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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO (UFRJ)

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTES DA CENA (PPGAC-ECO)

IAN CALVET MARYNOWER

DUAS CIDADES:

VILA AUTÓDROMO E RIO OLÍMPICO.

Rio de Janeiro

Julho de 2018

Trabalho de conclusão do curso “Arte e


Política da Cena” Ministrada pela Profª.
Dra. Adriana Schneider Alcure.
Resumo

É no contexto das Olimpíadas do Rio de Janeiro de 2016 que foi intensificado o


processo de remoções de comunidades, supostamente, “irregulares”. As ações de
desapropriação do governo são marcadas pela arbitrariedade e o autoritarismo, em que
se verifica, por de trás do discurso falacioso e legitimador de tais abusos, um projeto
elitista de cidade. Vila Autódromo vivenciou, e vivência, confrontos – disputas - com
esse modelo ideológico elitizado. Na busca por compreender as entrelinhas destes
diferentes modos de construção de cidade, esse artigo visa analisar dois projetos: o
projeto do governo , “Rio-Cidade Olímpica” - especificamente a ampliação da via
“Transolímpica” e o “Parque Olímpico”- e o Plano Popular da Vila Autódromo – plano
de desenvolvimento urbano, econômico, social e cultural; desenvolvido pelos próprios
moradores da comunidade.

2
Um histórico de investidas contra a Vila Autódromo.

A Vila Autódromo foi fundada oficialmente no ano de 1987 através da criação


de sua associação de moradores (AMPAVA – Associação de Moradores e Pescadores
da Vila Autódromo). Ela está localiza entre a Avenida Salvador Aliende ( uma avenida
que liga o bairro da Barra da Tijuca à região Norte de cidade), a lagoa de Jacarepaguá,
e o antigo autódromo Nelson Piquet – atual Parque Olímpico. Constituída por pessoas
vindas de diferentes lugares da cidade e do país, com maior ênfase na região nordeste, a
Vila cresceu em um processo lento, desde os anos 70, e veio se configurando aos
poucos como um bairro – com padaria, mercado, praça, uma igreja católica e etc.
Apesar disso, o local nunca foi reconhecido como bairro pelos órgãos governamentais.
A construção e o desenvolvimento da Vila é fruto das necessidades internas dos seus
próprios moradores, é resultado do convívio em (na) comunidade.
A tônica do processo de constituição da Vila, da busca pela legitimação de seus
territórios, foram as constantes ameaças de sua própria aniquilação. O governo,
principalmente o municipal, em diferentes momentos da história, sempre declarou a
necessidade de remoção da comunidade – seja através de ameaças diretas ou de
discursos ideológicos incapazes de acolher as idiossincrasias do lugar. Um pequeno
histórico sobre as investidas contra a Vila Autódromo se faz necessário na busca de
analisar e contrastar dois modelos de projetos de cidade distintos: de um lado, dois
projetos do governo apoiados pelos mais altos setores econômicos do mercado
imobiliário no contexto das olimpíadas de 2016 e, do outro, o Plano Popular da Vila
Autódromo.
Em 1993, o então subprefeito da região da Barra da Tijuca Eduardo Paes, abriu
uma ação pública, oferecida pelo município, no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro,
sob a alegação que a Vila Autódromo causaria “danos estéticos e ambientais” ao seu
entorno. Para além da esdrúxula alegação de um maleficio estético atribuída a uma
comunidade, ressalta-se que o processo demorou vinte e quatro anos em jurisdição, só
sendo arquivado no ano passado – quando a comunidade já havia sido quase
completamente aniquilada pelo próprio proponente do processo, Eduardo Paes, agora
então na condição de prefeito da cidade 1

1
Fonte:http://www4.tjrj.jus.br/consultaProcessoWebV2/consultaMov.do?v=2&numProcesso=1993.001.0
78414-7&acessoIP=internet&tipoUsuario (Visualizado em 29/07/2018)

3
Em 1993, a Organização das Nações Unidas (ONU) abriu um inquérito para
apurar 36 assassinatos ocorridos desde junho de 1991 de lideranças de
comunidades carentes instaladas em terrenos ocupados, a maioria na região
da Barra da Tijuca, Recreio dos Bandeirantes e Jacarepaguá. (COSENTINO,
2015.p.57)

No mês seguinte, José Alves de Souza, mais conhecido como seu Tenório, então
presidente da associação de Moradores da Vila Autódromo, foi assassinado. “o
presidente da federação de favelas do Estado do Rio de Janeiro (...) acusou o
subprefeito Eduardo Paes de ter relações com o crime” (COSENTINO, 2015.p.57).
Paes, na época, negou veemente as acusações, afirmando a necessidade de encontrar o
verdadeiro assassino e, para além disso, que é necessário dar fim aquilo que chamou de
“indústria das invasões”.
Em 2002, ouve a confirmação do primeiro megaevento na cidade do Rio, o Pan-
americano de 2007. O então prefeito da época, César Maia, fez a seguinte afirmação a
respeito da região da Vila Autódromo: “Há um benefício que não se mede em obras: a
imagem da cidade. Outro benefício será a recuperação de centralidades esportivas que
o Rio de Janeiro havia perdido. Esses dois aspectos têm significado econômico, por
exemplo, em relação ao turismo. (...) o Complexo Esportivo do Autódromo vai gerar a
construção de hotéis e de centros comerciais, além de funcionar como um novo polo de
lazer e entretenimento"2. Nota-se um forte interesse econômico pela região, porém, a
centralidade do discurso está vinculada a uma construção da “imagem da cidade” que
serve, não aos moradores locais, mas sim, aos grandes investidores e turistas.
O discurso de Cesar Maia replica aquilo que sempre se planejou para a região da
Barra da Tijuca/Jacarepaguá desde o princípio do seu crescimento urbano, nos anos 70,
quando outro evento de peso internacional – a Expo 72 - estava sendo debatida no
intuito de ser sediada na região da Barra da Tijuca. A tônica é o desejo de construção
urbanista planejada e a formação de um lugar em que possa servir de epicentro aos
empreendimentos da cidade:
Através do histórico de ocupação da Barra da Tijuca é possível entender a
estrutura da região, que até hoje concentra grandes glebas em domínio de
poucos proprietários. A urbanização planejada pelo Estado, que se dá a partir
de 1970 através do Plano Lucio Costa, e o investimento em infraestrutura de
acesso dá início ao desenvolvimento da região com os primeiros grandes
condomínios fechados. Neste período, aventou-se a realização da exposição
internacional de 1972 que pretendia acelerar a expansão do bairro, mas que
acabou não acontecendo. Os argumentos do beneficio de se realizar grandes
eventos da cidade seriam resgatados mais tarde no Pan-americano de 2007 e
nas Olimpíadas de 2016. (COSENTINO, 2015.p.19).

2
Fonte: http://au17.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/132/o-pan-americano-de-2007-ira-trazer-
beneficios-ao-rio-de-22692-1.aspx (visualizada em 29/07/2018)

4
Em 2009, a eleição do prefeito Eduardo Paes – amplamente sustentada pelo setor
imobiliário - aliada ao recente anúncio de que a sede da Copa do Mundo de 2014 seria
no Brasil e que as olímpiadas de 2016 no Rio de Janeiro, configura-se o cenário ideal
para recomeçar as investidas do projeto do Estado em tornar a região da Barra um novo
polo econômico da cidade. “Em 2 de outubro daquele mesmo ano (2009) o prefeito
anunciou a meta de reduzir em 3,5% ( 1,6 milhão de metros quadrados, o equivalente a
duas rocinhas) as áreas ocupadas por favela no Rio.”3
Vale ressaltar que entre as empresas que financiaram a campanha do Eduardo
Paes para a prefeitura de 2008 e 2012 destacam-se as construtoras Cyrela e Carvalho
Hosken4, ambas, predominaram no setor de construção das obras das Olimpíadas –
sendo a Carvalho Hosken uma das responsáveis pelo Parque Olímpico. Nota-se
também que os donos destas empresas, Carlos Carvalho e Pasquale Mauro “faziam
parte de uma lista de quatro grandes proprietários que despontavam como os donos da
Barra na década de 1980 e, quase 40 anos depois, ainda mantêm latifúndios urbanos
em atividade especulativa na região” (MONTEIRO;CONSETINO,2017,p13). Além
disso, estes mesmos empreiteiros mantinham relação com Eduardo Paes no período em
que ele era subprefeito da Barra na década de 90, período em que Paes “conduziu uma
violenta política de remoção de favelas em benefício dos grandes proprietários
locais”.(MONTEIRO;CONSETINO,2017,p13)
Tais fatos históricos servem aqui como instrumentos de análise que revelam uma
tônica, uma mesma melodia da qual as associações espúrias entre Governo e empresas
privadas mobilizam, ao longo da história, incessantes investidas que impõem um projeto
de cidade incompatível com as necessidades singulares de sua população. A Vila
Autódromo, desde a sua existência, está fadada ao seu desaparecimento por ser um
obstáculo às intenções do empresariado. A partir da análise específica do projeto do
Parque Olímpico e da TransOlímpica, buscarei delinear com mais clareza qual é o viés
ideológico que propulsiona as investidas contra a comunidade.

3
Fonte: https://extra.globo.com/noticias/rio/plano-estrategico-paes-quer-reduzir-em-35-total-da-area-de-
favelas-ate-2012-207796.html#ixzz3kWxd9aCS (Visualizada em 29/07/2018)
4
Fonte: https://oglobo.globo.com/brasil/paes-recebeu-doacoes-de-construtoras-olimpicas-6691264
(Visualizada em 29/07/2018)

5
Os projetos “TransOlímpica” e o “Parque Olímpico”

Em 2011 a prefeitura lança um edital de licitação, na modalidade “parceria


público-privada” (contrato firmado entre o governo e a empresa privada que assume a
administração de determinado local com repasses financeiros públicos) para a
construção e manutenção do Parque Olímpico:
O edital previa como forma de remuneração do parceiro privado uma
contraprestação mensal de 265 milhões, mais o valor de 250 milhões pela
conclusão de etapas, e a transferência de 75% da área pública (...) após os
jogos. Tal área está destinada a empreendimentos habitacionais de alto
padrão a ser comercializado pela concessionária. (MÜNCH, 2017. p44)

Os ganhadores desta licitação foi o consórcio “Rio Mais”, composto pelas


empresas Odebrecht, Andrade Gutierrez e Carvalho Hosken (apoiadores na campanha
de Eduardo Paes). O Parque Olímpico seria a cede dos jogos em 16 modalidades, além
de abrigar o Centro Internacional de Transmissão das Olimpíadas (IBC). A Vila
Autódromo, nas margens da lagoa de Jacarepaguá, ocupava uma parte do perímetro
destinado para as obras.
Um dos planejamentos do Parque, feito no ano de 2014, excluía definitivamente
a comunidade do mapa, como se pode ver na imagem abaixo – o círculo em vermelho
foi colocado por mim para evidenciar o local da Vila Autódromo:

FOTO.1 - Fonte: COSENTINO, 2015.p.124.

Com a mesma violência, o projeto da ampliação da Transolímpica do consórcio


composto pelas empresas OAS Ltda., Odebrecht e Andrade Gutierrez5- a mesma

5
Fonte: https://viario.com.br/doc/demonstracoes_financeiras_2012.pdf (Visualizada em 29/07/2018)

6
empreiteira do parque Olímpico - fez um vídeo propaganda6 no qual previa a ampliação
da via através da seguinte forma:

FOTO.2 - Fonte: COSENTINO, 2015.p.126.

(No canto direito, atravessado pela linha amarela, está a Vila Autódromo)
A violência consiste, principalmente, na indiferença que esses projetos –
exibidos publicamente - têm para com os próprios moradores da Vila. Como pode uma
via atravessar uma comunidade? Como pode o concreto cinza do estacionamento de
uma construção, destinado em lei para ser “de alto padrão” – diga-se de outro modo,
“exclusivo para as elites” - ser os escombros de uma comunidade inteira?
Esses projetos escancaram um modo de gestão da cidade subserviente aos
interesses de uma elite, é uma “parceria” na qual o privado se sobrepõem ao público. O
Estado deixa de agir em benefício comum e estimula um projeto exclusivo de cidade. O
diálogo entre os órgãos de governo e a população, tão fundamental na construção de
uma política sadia, se verifica então como sofismo, uma falácia que esconde as reais
intenções, já previamente decididas as “portas fechadas” pelos governante e
empresários. É essa falaciosa escuta do Estado para com a comunidade da Vila
Autódromo que revela a supressão da própria política, dos modos horizontais de
construção do sensível. Rancière fala sobre a racionalidade política :
(...)o próprio da racionalidade política é que as deduções jamais se dão em
linha reta, elas são sempre tortuosas. A política, em última instância, repousa
sobre um único princípio, a igualdade. Só que este princípio só tem efeito por
um desvio ou uma torção específica: O dissenso, ou seja, a ruptura nas
normas sensíveis da comunidade. (RANCIÈRE,1996.P370.)

A política seria então uma construção entre os seus participantes, ela é


horizontal na medida em que acolhe as “rupturas nas normas sensíveis de comunidade”
(RANCIÈRE,1996.P370.) e se faz durante a ação. O agir é romper com aquilo que está

6
Link do Vídeo - https://www.youtube.com/watch?v=NNLS5CvKiHo (Visualizado em 29/07/2018)

7
preestabelecido, que está naturalizado, debater horizontalmente as idiossincrasias entre
os comuns - um processo mútuo de escuta e acolhimento dos dissensos- para produzir
acordos provisórios. Tais acordos estão sempre em possibilidade de serem rompidos,
para que o processo político nunca cesse, para que esteja sempre em movimento,
sempre reconfigurando a sua forma, nunca se cristalizando em consensos: “O consenso
não é nada mais do que a supressão da política”. (RANCIÈRE, 1996. P379.)
Neste sentido o governo não pode ser separado dos seus governados, ele não
pode ser propriedade de ninguém: “a autoridade politica não possui, em última
instância, outro fundamento senão a pura contingência.” (RANCIÈRE,1996.p370.) E a
contingência está implicada no aqui e agora do fazer político, nos processos dinâmicos
da construção e desconstrução dos sensíveis. O escapismo das convicções, das certezas
pré-estabelecidas, é o combustível para estar sempre tecendo, em comunidade, novos
horizontes possíveis – mas sempre inacabados, sempre em via de ser “outro(s)”.
Os projetos das olimpíadas, que reiteram a tônica da busca histórica para
aniquilar a Vila Autódromo, impõem um modelo ideológico que é a contramão desta
racionalidade política. É um projeto que visa reduzir o campo de diálogo com as
pluralidades e impor a força um sensível único, já previamente determinado pelo poder
e seus associados. É da urgência do governo em produzir um consenso que, neste urgir,
a violência é exercida nos seus diferentes modos.
Em um dos discursos do prefeito Eduardo Paes para os moradores da Vila
Autódromo, a legitimação de uma lógica autoritária travestida de diálogo político fica
evidente: “ A única desapropriação que tem totalmente relacionada as Olimpíadas é de
fato a Vila Autódromo (...) Deixar muito claro oh, a gente precisa fazer vias de acesso,
né?! Ao parque olímpico. Retirar aquilo que tá em faixa marginal de proteção e é isso
que a gente quer que saia. No lugar deve ter umas, 800, 700.. é no total umas 700
casas. Ai a gente fez o plano, a gente precisa no lugar dessas 700 casas tirar umas 250,
300, eu não sei o numero exato...”7
“A gente precisa fazer vias de acesso” a gente, quem? Seria essa “gente”, os
seus associados – Odebrecht, Andrade Gutierrez , Carvalho Hosken e OAS LTDA.?
Nota-se também o modo corriqueiro no qual o ex-prefeito se coloca: ele não desenvolve
os motivos concretos da necessidade em construir as vias de acesso, ele não coloca em
discussão se de fato isso é necessário ou se as pessoas realmente aceitariam morar em

7
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=nYtpw5pskCY (visualizado em 29/07/18)

8
um outro lugar. Paes, no avesso da política, utiliza-se da retórica para impor as decisões
já previamente definidas. Além disso, as casas são números que se confundem na
cabeça do prefeito, tão banais quanto as do projeto do Parque Olímpico ( foto 1), que
exclui uma comunidade inteira de acordo com a sua conveniência.
O estreito campo de diálogo entre o governo e a população, que reduz os modos
de disputa do sensível, é evidenciado nas críticas dos moradores da Vila Autódromo que
tentavam, sem sucesso, dialogar com o prefeito: “A gente faz uma pergunta sobre
alguma coisa que a gente quer saber e ele dá sempre a mesma resposta, ele não muda
a resposta. Você pode ir ali e ele vai dar a mesma resposta. Se você perguntar se eu
vou receber a indenização de uma quitinete, ele dá a mesma resposta... ”8
O que se verifica aqui são os modos nos quais o governo opera para suprimir a
estrutura política; mas, ele faz isso sem perder os moldes, a forma política. É o
surgimento de um estado com fortes características totalitárias. Hanna Arendt, nos anos
cinquenta, ao falar dos mecanismos totalitários em vista das reverberações devastadoras
do Estado nazista, elucida:
A História é compreendida, no sentido mais textual, como um fluxo da história.
A diferença entre esse difundido pensamento ideológico e as formas totalitárias
de Estado é que estas descobriram os meios políticos para encaixar os homens
no fluxo da História de tal maneira a ele ser compreendido, em relação à
‘liberdade’, ao fluxo livre‘ dela, exclusivamente como não podendo obstruir
esse fluxo, ao contrário, tornando-se um momento de sua aceleração. Os meios
pelos quais isso acontece são um processo externo de coação do terror e a
pressão exercida por dentro do pensamento ideológico, ou seja, um pensamento
que, bem no sentido do fluxo da História, também vem junto no íntimo, por
assim dizer. Esse desenvolvimento totalitário é, sem dúvida, o passo decisivo
no caminho da abolição da liberdade. (ARENDT,1950.P.15)

Para um Estado totalitário, a Vila Autódromo não pode obstruir este “fluxo da
história”; o papel do Prefeito é então deslocar quaisquer tipos de resistências exercidas a
este galopante fluxo, utilizando-as a favor das suas projeções. Trata-se em abolir a
liberdade de existir da comunidade em prol de um projeto dito “maior”, uma ideologia
que se impõem - seja pela propaganda ou pela força de um trator de demolição- como
fundamental e necessária. Em última instância, o falacioso diálogo proposto pelo
governo é o seu esforço para legitimar uma lógica de dominação, uma lógica totalitária,
naturalizando-a.
As marcas deste Estado totalitário se fazem perceber nitidamente através das
pichações que a prefeitura fazia nos muros e nas portas dos moradores da Vila com o

8
Fonte: https://www.youtu be.com/watch?v=h5OV xTIwMak. (Visualizado em 29/07/18)

9
escrito “SMH” (Secretaria Municipal de Habitação), indicado que aquela casa deveria
ser demolida. Esse modo de atuação do governo age em similitude aos utilizados por
Hitler, na Alemanha nazista, quando tatuavam números nas roupas, e até na pele dos
judeus. Diferente do Nazismo, o prefeito do Rio obedece aos ritos democráticos, ele foi
eleito, e isso deflagra o paradoxo deste modelo dentro da realidade brasileira, pois, é
nesta suposta democracia que ações totalitárias acontecem e são legitimadas dentro das
leis, que se revelam questionáveis e frágeis.9
A característica principal do Governo carioca no período olímpico é o
marketing, o Rio de Janeiro se torna uma mercadoria, um empreendimento que deve ser
gerido de acordo com as regras específicas do mercado. Sobre isso, Cosentino elucida:
A cidade como mercadoria precisa ser posta à venda num mercado
competitivo, em que outras cidades também estão à venda. O Marketing
urbano ganha assim destaque como determinante no processo de
planejamento e gestão. (...) O poder Público passa de regulador a parceiro e
promotor da iniciativa privada, internalizando uma lógica empresarial que se
expressa através das parcerias público privadas. (COSENTINO 2015,P.68-
80)

O Estado opera com “mão firme” no intuito de modificar a estrutura urbana da


cidade em prol da lógica de um mercado exigente, é a necessidade de produzir um
cenário fértil para atrair novos investidores. Neste sentido, a cidade se torna uma
marca - “Rio Cidade Olímpica” - da qual se é necessário agregar valor de mercado,
tornar o produto-cidade atraente. A imagem da cidade se torna o ponto central a ser
zelada por este modelo de gestão, uma “boa imagem” é fundamental para fomentar o
otimismo nos futuros investidores, abrindo também caminhos “seguros” para a
especulação financeira com a promessa de que aquelas terras permanecerão valorizadas
no futuro.
Portanto, o Estado é forte, contudo, serve prioritariamente as iniciativas
privadas, se inserindo dentro de uma lógica neoliberal, que, de acordo com o sociólogo
Loïc Wacquant é caracterizada como: “uma articulação entre Estado, mercado e
cidadania, aparelhando o primeiro para impor a marca do segundo à terceira.”
(WACQUANT ANO apud COSENTINO 2015. P70)
O marketing urbano opera em sintonia com uma lógica perversa da qual, a
valorização de uma determinada área implica, necessariamente, na exclusão das suas

9
A Vila Autódromo é apenas um exemplo entre vários de ações totalitárias dentro do Estado democrático
brasileiro, considero necessário – em um possível artigo a ser escrito – dar foco a outros exemplos que
possam delinear esta tônica e evidenciar ainda mais a falácia do modelo.

10
zonas de pobreza. Ao criar um centro mercadologicamente valorizado, uma área
exclusiva da elite econômica “de alto padrão”, cria-se também uma periferia destinada à
zona de pobreza, o lugar de acumulação dos “restos”, dos “detritos”. São áreas
afastadas do centro, com infraestrutura deficitária, longe dos lugares “vitrine” da
cidade. Michel de Certeau , fala sobre esse modo de organização funcional do espaço
urbano:
‘A cidade’, à maneira de um nome próprio, oferece assim a capacidade de
conceber e construir o espaço a partir de um número finito de propriedades
estáveis e articulas uma sobre as outras. Neste lugar organizado por
operações “especulativas” e classificatórias, combinam-se gestão e
eliminação. De um lado, existem uma diferenciação e uma redistribuição das
partes em função da cidade, graças a inversões, descolamentos e acúmulos,
etc; de outro lado, rejeita-se tudo aquilo que não é tratável e constitui
portanto os “detritos” de uma administração funcionalista ( anormalidade,
desvio, doença, morte etc.)(CERTEAU, 1998. P.173)

Compreende-se um modo de gestão que contempla em seu planejamento a


própria exclusão do indesejado, do “não tratável”. É o aprofundamento da cisão entre o
rico e o pobre que afirma a impossibilidade da coexistência de ambos dentro de um
mesmo território ou, de outro modo, só tolera a presença do pobre como sujeito
subalterno – varrendo o chão, servindo cafezinho, limpando banheiro; o pobre
uniformizado e de crachá.

Projeto Vila Autódromo

O plano Popular da Vila Autódromo – Plano de desenvolvimento urbano,


econômico, social e cultural; foi elaborado no ano de 2012 em uma inciativa da própria
associação de moradores e pescadores da Vila Autódromo (AMPVA). Na assessoria do
plano estava o Núcleo experimental de planejamento Conflitual do Laboratório ,
Trabalho e Natureza do Ensino e Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da
Universidade Federal do Rio de Janeiro; e o Núcleo de Estudos e Projetos
Habitacionais e Urbanos da Universidade Federal Fluminense.
É em meio às massivas intervenções do Estado na busca de desapropriar a
comunidade, dentro de uma Vila Autódromo bastante descaracterizada pelas demolições
de muitas de suas casas, que este projeto nasce com intuito de legitimar o direito
fundamental da comunidade existir: “ O plano afirma a existência da comunidade, e o
DIREITO DE CONTINUAR EXISTINDO, com condições adequadas de urbanização e
serviços públicos...”(AMPVA, 2012. p.5) Direito de existir, direito de escolher o local

11
para existir, direito de exercer a sua liberdade política dentro da cidade – isso é –
desenvolver um terreno fértil para o debate no intuito de equalizar as heterogenias para
dentro de um sensível comum , para dentro de um projeto: uma Vila Autódromo
possível para todos os seus moradores. Importante: equalização pela via do debate
horizontal, contrapondo com o malabarismo retórico realizado pela prefeitura.
A via desta construção de comum está claramente exposta no projeto, é a criação
de um dispositivo, uma metodologia clara com metas a se cumprir: inicialmente ocorreu
uma “Oficina de Diagnóstico”, na qual os moradores “divididos em grupos, discutiram
os principais problemas do bairro, necessidades, desejos, e possíveis soluções”
(AMPVA, 2012. p.13) A partir de uma foto aérea da comunidade, foi feita uma
“Cartografia Popular da Vila Autódromo”, em que eles começaram a identificar os
principais desafios para a concretização das demandas apresentadas. Além disso,
desenvolveram questionários para serem respondidos nos domicílios e assim,
ampliaram a escuta para além das pessoas que estavam presentes nas reuniões.
Posteriormente ao levantamento dos problemas, ocorreu a “Oficina de Propostas” na
qual, grupos de trabalho divididos por eixo temático debateram as alternativas possíveis
para sanar as adversidades da região.
A assessoria universitária sistematizou o levantamento feito pelas oficinas,
elaborando em conjunto o Plano Popular da Vila Autódromo (ainda em versão
preliminar). Após reuniões para aprofundar o debate e definir sobre o que seria melhor
para o coletivo, por meio de votações em assembleias, o projeto foi finalizado - dez
meses depois do seu início.
O projeto prevê modificações na organização do espaço urbano da comunidade,
em conciliação com as normas legais de urbanização - trata-se, por exemplo, da área de
proteção ambiental nas margens da lagoa da Jacarepaguá, onde algumas casas estavam
estabelecidas. A proposta do projeto é "Reassentamentos na própria comunidade dos
moradores das casas em faixa de proteção”(AMPVA, 2012. p.18). Além disso, o
projeto abre um campo de disputa, oferecendo de forma embasada uma contraproposta
ao projeto do Parque Olímpico: o planejamento popular da Vila Autódromo “ prevê
pequena alteração do projeto do Parque Olímpico com a revisão dos seus acessos, de
modo a não cortar a comunidade, nem isolar as casas da beira da lagoa”. (AMPVA,
2012. p.18).
O projeto se destaca também com um contundente programa habitacional, que
prevê a melhorias dos domicílios já existentes na comunidade, além da construção de

12
novas unidades habitacionais, estas, separadas em três diferentes categorias de acordo
com as necessidades específicas: “Cada família a ser reassentada poderá escolher o
tipo de moradia e a localização desejada. Os critérios para organizar o processo de
escolha serão discutidos e decididos pela comunidade” (AMPVA, 2012. p.19).
Diferente do projeto do governo, a liberdade do indivíduo, o direito de escolha e
o diálogo são preservados a fim de efetuar uma conversa conciliatória que equilibre os
interesses individuais, que por ventura possam se atritar, e o bem estar comunitário. O
projeto valoriza a constituição da identidade da Vila, a sua necessidade em se consolidar
enquanto um grupo unido. Avalio que esta construção identitária é fundamental para
que a comunidade seja legitimada; é necessário que ela crie alicerces para se fazer
reconhecida enquanto grupo e, mediante isso, ter maior influência nas disputas
políticas dentro de espaços mais amplos , dentro da própria cidade. Esta construção de
identidade, de comum, se dá pelo desenvolvimento de uma racionalidade política, no
sentido colocado por Rancière.
De fato, o plano Popular da Vila Autódromo teve o seu notório reconhecimento,
não por parte do governo brasileiro, mas sim, por entidades internacionais. Em 2013 a
comunidade recebeu o prêmio, Urban Age, uma iniciativa do Deustsche Bank, pela
criação do Plano Popular. Foi concedida a comunidade um valor de oitenta mil dólares
pelo reconhecimento da sua luta frente às incontáveis investidas de desapropriação
vindas dos órgãos governamentais Brasileiros. Mesmo com todo o prestígio que a
empresa Alemã creditou no projeto da Vila Autódromo, o prefeito Eduardo Paes não
quis agir com o mesmo intuito de reconhecer o mérito da comunidade: “Circularam
rumores que o finalista Plano Popular da Vila Autódromo havia vencido e que o
prefeito, que iria apresentar o projeto vencedor, tinha cancelado a cerimônia em vez de
apresentar o prêmio à comunidade, um gesto que teria efetivamente legitimado a luta
da Vila Autódromo para permanecer. “Entendemos que o prefeito cancelou a entrega
por que nós éramos os vencedores”, Inalva Mendes Brito, outra moradora e ativista de
longa data da Vila Autódromo explica: “Se tivesse sido outra comunidade a cerimônia
não teria sido adiada.”10
O Plano Popular da Vila Autódromo teve o seu orçamento total estipulado em
13,5 milhões para executar a construção de todas as casas, a reforma das já existentes,
além de fazer a recuperação da infraestrutura urbana da comunidade. A prefeitura do

10
Fonte http://rioonwatch.org.br/?p=9595 (Visualizada em 31/07/2019)

13
Rio de Janeiro, insistindo no não reconhecimento da comunidade, gastaria um valor
aproximado de 38 Milhões (previsto no ano de 2012)– valor esse que em 2015 havia
ultrapassado 200 milhões de reais11 – com a desapropriação da comunidade e o
reassentamento de seus moradores.
O plano popular deflagrou ainda mais o caráter totalitário do Estado e o desejo
de aniquilação da comunidade – custe o que custar. Está claro o contraditório da gestão
da prefeitura que, obedecendo á logica da “marca- cidade”, desperdiça dinheiro público
no intuito de exterminar a Vila Autódromo e, para além disso, aniquilar um projeto de
política, um modo reconhecidamente inovador de construção comunitária.
Quando o plano de desenvolvimento de uma comunidade é premiado
internacionalmente, esta comunidade passa a ser não somente um problema físico no
caminho do Estado, mas sim, uma ameaça ao seu projeto de poder. Cria-se dentro dele
uma fissura: a possibilidade de fazer diferente. O Plano da Vila Autódromo desarticula
o campo hegemônico e inviabiliza, mesmo que momentaneamente, a possibilidade do
Estado em naturalizar e impor unilateralmente o seu modelo.
A Vila estaria dentro daquilo que Arendt chamaria de “mundo das relações
humanas” (ARENDT, 1950. P.45) que surge a partir da coisa política – onde a
construção “entre” indivíduos é maior do que as próprias individualidades; isso é um
poder que, segundo a autora:
(...) pode ser enfraquecido por meio de todos os fatores possíveis, assim como
pode ser renovado de novo por meio de todos os fatores possíveis; só a força
pode liquidá-lo em definitivo, quando esta se torna total e não deixa,
textualmente, pedra sobre pedra, homem ao lado de homem. Ambas as coisas
estão na essência da dominação total que, em termos de política interna, não se
contenta em restringir o indivíduo, porém aniquila todas as relações inter-
humanas por meio do terror sistemático. (ARENDT, 1950. P.45)

Quando a Vila ganha potência, a ação totalitária do Estado a aniquila


definitivamente, pois, não pode deixar “pedra sobre pedra”, não pode haver resistências
atravessadas no seu caminho.
Em 2016, com exceção de uma casa, na qual os seus moradores conseguiram a
sua permanência, todas as construções da Vila foram destruídas. Cerca de vinte
famílias, que recusaram até o fim se retirar do local, tiveram novas casas reconstruídas
pela prefeitura – contudo - dentro de um perímetro restrito, afastadas da beira da lagoa e
sendo entregues com alguns problemas estruturais. O “Parque Olímpico” foi construído

11
Fonte: COSENTINO 2015.p132

14
e a ampliação da “TransOlímpica” não seguiu o traçado planejado pelo projeto (Foto
2.), não atravessou a Vila.

Estar na Vila

Em uma visita realizada à Vila Autódromo em Abril de 2018, no lugar onde


eram casas com ruas e vielas, crianças jogando futebol, senhores sentados nas praças,
pescadores ancorando seus barcos nas margens da lagoa, atualmente, é um gigantesco e
vazio estacionamento à céu aberto - no dia da visita, não havia um único carro
estacionado no local. Seu Luiz, um dos poucos moradores que resistiu dentro da Vila
Autódromo, estava me contando como era a Vila antes da demolição; ele me leva no
meio do estacionamento vazio de asfalto cinza, olha minuciosamente ao redor (parecia
estar calculando algo na cabeça) e fala com um tom leve, porém, contundente: “Minha
casa era aqui. Tá vendo? Eu sei, porque tem aquele pé de amendoeira lá que não foi
demolido. Eu via ele da mesma forma como eu tô vendo agora, só que antes eu estava
na varanda de casa.”
A meu ver essa cena faz surgir, de forma violenta e concreta, as reverberações
do projeto “Rio Cidade-Olímpica”; é a vitória do empreendimento do Parque Olímpico,
com sua construção imponente vista no horizonte da Vila Autódromo, e a derrocada
de uma comunidade inteira. O espaço público foi esvaziado, tornou-se concreto,
agredindo assim a experiência do corpo na cidade. O “estar” - condição física e afetiva
– dentro de uma teia de relações que é cultivada a partir da vivência de um corpo entre
seus comuns foi, violentamente, cindido.
Enquanto caminhávamos pela Vila, Luiz se esforçava em reavivar, pela
narrativa, os espaços aniquilados, traçando assim um mapa mnemônico na sua cabeça -
ele falava da antiga padaria, na qual, ia todas as manhãs comprar o pão; lembrava do
campo onde as crianças jogavam futebol, da casa aonde vivia a anciã da comunidade e
etc. Caminhar pelos espaços vazios ativava em seu Luiz inúmeras narrativas.
Caminhar é ter falta de lugar. É o processo indefinido de estar
ausente a procura de um próprio. A errância, multiplicada e
reunida pela cidade faz dela uma imensa experiência social de
privação de lugar – (...) posta sob o signo que deveria ser, enfim,
o lugar, mas é apenas um nome, a Cidade. (CERTEAU, 1998. P.183)

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O projeto da prefeitura e a euforia megalomaníaca das elites gerou ali um lugar
de ausência. Os nossos corpos em trânsito naquele espaço vazio e silencioso, buscavam
uma Vila Autódromo desaparecida no asfalto; a sua identidade foi usurpada pelo
conceito de “cidade-modelo”. Como uma palavra que se esvazia de sentido e fica
deslocada dentro de uma frase, o espaço ali está esvaziado de “cidade” ou de “política”,
ele deixa de sustentar vivências comunitárias – a proliferação das singularidades – e se
torna uma espécie de monólito, um único bloco de pedra, um concreto armado
estendido no solo. Neste sentido, Paola Jacques e Fabiana Brito falam de um “espaço
desencarnado”:
A redução da ação urbana, ou seja, o empobrecimento da experiência urbana
pelo espetáculo leva a uma perda da corporeidade, os espaços urbanos se
tornam simples cenários, sem corpo, espaços desencarnados. Os novos
espaços públicos contemporâneos, cada vez mais privatizados ou não
apropriados, nos levam a repensar as relações entre urbanismo e corpo, entre
o corpo urbano e o corpo do cidadão. (JACQUES; BRITO, 2009.p.340)

Vila Autódromo perde “corpo”, perde as suas referências, as suas raízes, a sua
arquitetura e consequentemente, parte de sua história que só poderia ser encontrada nas
imperfeições de seus muros, na vivência de suas destruídas edificações. Partindo deste
pensamento de Jacques e Brito, o projeto “Rio Cidade Olímpica” seria então o
espetáculo, o marketing que visa a privatização do público – como já dito
anteriormente.
É frente deste processo de “Desencarnação” do espaço, que iniciativas como a
produção do plano Popular da Vila Autódromo devem estar na ponta da lança, pois ele
é um proposta contundente que gera contrafluxos nas investidas ideológicas do Estado.
Para além do projeto em si, do seu conteúdo, é importante ressaltar os dispositivos
utilizados para o seu desenvolvimento; as chamadas “oficinas”, são propostas de ações
participativas que possibilitam outros modos de relacionamento entre o corpo e o seu
espaço, tais mecanismos intensificam as trocas dentro de um “corpo-comunitário” – é o
preenchimento deste corpo na contramão do seu esvaziamento.
Além disso, verifico uma profunda relação da construção do Plano Popular
com os modos de produção coletivas dentro do campo das artes cênicas12, em ambos os
casos, a horizontalidade no debate e o desejo da construção de “outros” possíveis-

12
Entrecruzamentos entre os modos de produção colaborativa da cena e a construção política em
comunidade devem ser devidamente aprofundados em outro possível artigo a ser elaborado.

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outras comunidades, outras convivências, outras narrativas, outras dramaturgias - é o
que propulsiona o encontro entre os indivíduos.
Trata-se também, nos dois casos, do agir na materialidade das coisas que se
apresentam, operar a partir das adversidades concretas num trabalho ruminante, em
uma interminável ação de experimentar: os encaixes, os desencaixes, as fusões, as
alquimias, os atritos, as diluições, as quebras.... É urgente produzir “outros” possíveis,
“outros” que devem ser temporariamente viáveis, mas que, a qualquer momento,
possam ser colocados em cheque, pois o que estamos falando aqui é de processos
políticos entre comuns que não podem ser enrijecidos, ideologizáveis, capturáveis por
modelos. O trabalho de agir sobre a matéria é sempre um recomeço, não para, não
cessa, não se interrompe; a arte, assim como a política, nunca pode perder velocidade e
seu jorro criativo nunca deve cessar . Um horizonte possível deve ser constantemente
reconstruído e a esperança de que “vilas autódromos” se expandam pelo mundo, se
regenerem e se multipliquem, é uma utopia a ser sempre cultivada.
Que a arte inspire a política e andem juntas.
Que venham milhares de “Vilas Autódromos”.
Governos fascistas, totalitarista - não passarão.

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BIBLIOGRAFIA

ARENDT, Hannah. “O que é política?”. IN: O que é política? - fragmentos de obras


póstumas. Bertrand Brasil, Rio de Janeiro: 1998.

Associação de Moradores e Pescadores da Vila Autódromo (AMPVA). Plano Popular


da Vila Autódromo: Plano de desenvolvimento urbano, econômico, social e cultural.
Rio de Janeiro, AMPVA, 2012.

CERTEAU, Michel de. “VII Caminhadas pela cidade”. IN: A invenção do cotidiano: 1.
Artes de fazer. Vozes, Petrópolis RJ, 2012.

CONSENTINO, Renato. “Barra da Tijuca e o Projeto Olímpico: cidade do capital”.


2015. Dissertação (mestrado em planejamento urbano e regional) – universidade
federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.

JACQUES, Paola; BRITO, Fabiana. “Corpocidade: arte enquanto micro-resistência


urbana” IN: Revista de Psicologia, v. 21 – n. 2, p. 337-350, Maio/Ago. 2009.

MONTEIRO, Poliana; CONSETINO, Renato. “Rio 2016: projeto, orçamento e


(des)legado Olímpico. Fundação Heinrich Böll Brasil. Rio de Janeiro, 2017.

MÜNCH, Marcela. “Direitos Humanos e a Colonização do Urbano – Vila Autódromo


na disputa.” Livraria e Editora Lumen Juris Ltda. Rio de janeiro: 2017.

RANCIÈRE, Jacques. “O dissenso”. IN: A crítica da razão. São Paulo: Companhia das
Letras; Brasília: Ministério da Cultura; Rio de Janeiro: Fundação Nacional de Arte,
1996.

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