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ESTE LIVRO
*
A PRINCESA ISABEL
"A REDENTORA"
t 5.ª BRASILIANA Vol. 207
, LIOTECA PEDAGóGICA BRASILEIRA
PEDRO CALMON
DA ACADEMIA BRASILEIRA
PRINCESA ISABEL
ºA REDENTORA''
EDIÇÃO ILUSTRADA
~ste livro IX
I - Nasceu uma princêsa 1
II - Herde.Ira do trono 9
III - Educação de rainha 19
IV - Um princlpe romantica 31
V - Gaaton de Orléans 43
VI - A primeira viagem 49
VII - Fal~wa a glória . 63
VIII - Razões de Estado . 67
IX - Um marechal, para o triunfo 77
X - As desilusões do conde d'Eu 83
XI - Quas! e. rebelião . _ . 96
XII - No governo uma mulher .
' 101
107
XIII - :Mães escravas
XIV - A questão dos bispos 113
XV - Outra vez Regente 121
XVI Uma familia pacifica 135
XVII - A grande crise 146
XVIII - As camélie.s da liberdade 153
XIX - Naquela serena Europa 169
XX - A sucessão antecipada 163
XXI - A borrasca da Abolição 169
VIII ÍNDICE
P. C.
Julho de /940.
1.
HERDEIRA DO TRONO
EDUCAÇÃO DE RAINHA
Põe na virtude,
Filha querida,
De tua vida
Todo o primôr.
UM PRINCIPE ROMANTICO
GASTON DE ORLÉANS
Chegaram em 2 de Setembro.
O conde d'Eu parecia contente; mas, no seu diá-
rio, de si para comsigo, se confessava consternado.
Viéra de Inglaterra .... Os portos mosqueados de ne-
gros e mestiços, as ruas coloniais, o pacifico aspecto
das sentinelas que lhe apresentavam armas, o ar emo-
liente e humilde do Rio de Janeiro lhe doeram os ner-
vos trepidantes. Sorriu ao padre preto que lhe mostra-
ram em Recife, e notou: estranha facilidade na ascen-
são dos homens de côr. . . Corespondeu na Bahia á
continencia de um soldado, e observou: poucas disposi-
ções militares devia ter o constitucional governo de
Sua Majestade. . . Dirigindo-se para S. Cristovão na
mesma tarde da chegada, uma multidão lhe correu so-
bre a sége .de Estado, curiosa: agra,deceu, de máo hu-
môr. E perguntou: porque não mandavam os desocu-
pados para Goiaz e Mato Grosso? Decididamente,
não o seduzira ainda o Imperio. Achou S. Cristovão
uma semsaboria. D. Pedro II e a Imperatriz sensi-
bilizaram-no com a sua bondade. Mas as meninas ...
No dia 6, confiava á mana Margarida: "As prin-
cesas são feias; mas a segunda "decidly", menos
bem que a outra, menor, mais forte, em suma menos
simpática. Tal a minha primeira impressão, antes, é
certo, de saber as intenções do Imperador a meu res-
44 PEDRO CALMON
A PRIMEIRA VIAGEM
RAZÕES DE ESTADO
QUASI A REBELIÃO
MÃES ESCRAVAS
A GRANDE CRISE
AS CAMELIAS DA LIBERDADE
A SUCESSÃO ANTECIPADA
A BORRASCA DA ABOLIÇÃQ
A POLITICA DE ISABEL
L ; •
espancado pdos policiais. E~celente materta prima
de uma "questão de classe" - acudiram abolicionistas
e republicanos : e logo a imprensa tomou, esfuziante,
a defêsa da marinha ... insultada.
O protesto estendeu-se, entrou o Arsenal, galgou
o portaló dos navios de guerra, a ·e scola naval, e na
rua do Ouvidor marinheiros e aspirantes gritaram a
sua indi,g nação - numa rusga temerosa.
-Coelho Bastos, em atenção a esses motins, de-
mitiu o comandante -da estação ,p olicial. O presidente
do Conselho, porém, continuou a prestigiar Coelho
Bastos. Foi então ,que a princesa, irritada, interveiu
-com uma 1carta famosa.
Em 20 de Março, narrando o sucedido ao duque
de Nemours, o principe recapitulou: "Como não tí-
nhamos tido conhecimento desses fatos senão pelos
jornais, Isabel jul.gou dever escrever uma carta ao
ministro da Justiça fazendo observações se>bre a con-
-d. uta irregular 'e ineficaz da policia; ,e foi o que levou
o ministério a -dar a sua demissão ,q ue o Presidente do
Conselho v-eiu trazer a S. Cristovão, quando aí fomos
a 7, e que só cumpria a•ceitar" (1).
Mais claras são as palavras da princêsa em con-
fidencia que escreveu: "os acontecimentos precipita-
vam-se, tive vergonha de mim mesma, que talvez por
um excesso de comodismo, para evitar uma estralada,
o que sempre me é desagradavel, descuidava fazer com
que se retirasse um Ministerio que sentia não fazia
em _primeiro logar o bem do país, depois -com ele me
arrastava para o abismo. Do sr. barão de Cotegipe
não obtinha esclarecimento algum sobre a questão da
(1) Notas da prlnceza, cf. ·Heitor Lyra, op. cit., III, 156.
A PRINCESA lsABEL 187
REDENTORA
DEPOIS DA FESTA
A ROSA DE OURO
A GUARDA NEGRA
O ULTIMO ALVITRE
DECADENCIA
15 DE NOVEMBRO DE 89
***
A princesa Isabel escreveu uma intensa página
de memórias sobre os sucessos de 15 de Novembro.
Poz-lhe uma epigrafe comovida: "Quando os primei-
ros dias de angustia estão passados, e meu espirito
e coração acabrunhados pela dôr pódem exprimir-se
a não ser por lágrimas, deixai-me filhinhos -que lhes
conte como se deu a maior infelicidade de nossa vida!"
Que seja de sua pêna, portanto, o histórico que
vamos lêr. Mais do que uma narração, é um depoi-
mento. O seu testemunho - resumido, para os filhos,
-que não tinham idade para bem entender aquilo -
revela-a toda: na sua mágoa, na sua reflexão, nós
seus impulsos. Indica uma surprêsa confusa, uma
reação embebida em perplexidade e um protesto agi-
tado - de mulher e rainha. Então, as camelias da
Abolição, a rosa de ouro, as juras de Patrocínio? Por-
que não lhe tinham dito nada?
"Eram 10 da manhã do dia 15 de Novembro de
1889 (começa o escrito) - quando á casa chegaram
o visconde da Penha e o barão de Invinheima, decla-
rando-nos ·que diziam parte do Exercito insurgido, e
na Lapa achar-se um batalhão ao qual se tinham reu-
nido os estudantes da Escola Militar armados. Pouco
depois chegaram o Tosta, Mariquinhas e Eugeninha,
pouco depois o White. Foram então chegando suces-
sivamente o Ismael Galvão, Miguel Lisbôa, Pandiá
Ca:logeras e senhora, Lassance, major Duarte, barão
do Cattete, Carlos de Araujo, Drs. Rebouças e Arau-
jo Góes. -As noticias que chegavam eram tais que
a nós pareciam exageradas. O Miguel Lisbôa ofereceu-
se então para ir ao proprio Campo d'Aclamação saber
256 PEDRO CALMON
UM INVERNO, NO EXILIO
A MORTE DO IMPERADOR
HORIZONTES DE FOGO
(1) Souza e Silva, op. cit., p. 158. "Dous dias antes dEl'
explodir o movimento foi ele (Custodio) abordado sucessiva-
mente por dous chefes monarquistas de prestfgi,o - que lhe
vinham oferecer cooperação. Melo declarou-lhes que "em caso-
algum trabalharia pela restauração d~ Monarquia e que seu
intuito era .promover a paclff.cação d,o pat:s". Sõ nessas condi-
ções aceitaria o auxilio que lhe quizessem prestar - no que
concordaram. Perguntou-lhes Melo o que pensava Saldanha;
responderam-lhe ambos "que o Ignoravam" ... - Prova isso-
não sõ que Saldanha nenhum entendimento tinha com o ele-
,n1-ento monarquista e nem conspira,·a ou nutria proposltos
prura uma restauração monarqulca como que nenhuma combi-
nação ou compromisso existia entre ele e Mell.o .. . " (Souza e
Silva, ibd., p . 161) . Uma vez allâs Saldanha. respondeu, a um.
oficial que, gracejando, lhe díssêra q·ue o seu proposlto era a
restauração. . -
- Estâ enganado. Não foi a politica; foi o desespero de
ver a nossa !arda enlameada. (Dunshee de Abranches, A Re-
volta tio Armndn e n Revolnçllo Rfo-grandense, I, 6, Rio 1914).
(2) José Jul!o Silveira :M-artlns, Silveira Martins, p. 3182-,3.
302 PEDRO CALMON
ALGUNS VELHOS .. .
*
* *
Havia uma compensação para aquele exilio: o con-
de d'Eu repatriára-se. Um quarto de seculo vivera a
sua aventura tropical; cumpria agora á princêsa pro-
var, por um prazo equivalente, o seu clima europeu.
Os Orléans eram excelentes pessôas; porém o isola-
mento do conde de Paris em Stowe House, a velhice
de Nemours, a doença da princesa Margarida - Czar-
toryska -, os revézes politicos lhes punham n'alma
uma tristêza inve,ncivel. A admiravel geração que vira
1848 extinguia-se.
As portas de Paris, na sua "vila" de Boulogne-
sur-Seine, Isabel e Gaston tinham sempre a companhia
do ,duque octogenário. Aparentava uma resistencia per-
feita; e continuava a dar aos gestos calmos a dignidade
elegante d'um ,general ,do "ancien régime". Mas a
morte da filha, em 24 de Outubro de 1893, prostrou-o,
para nunca mais recuperar a sua sevéra energia. Ou-
(1) Exemplar na Casa de Ruy Barbosa, cm. por Amerlco
Lacombe, devotado diretor do estabelecimento.
(2) Carta de 10 de Ma.rço de 1905, Francl·sco Venanclo
Filho, Eucllde• da Cunha a •eu• amlgoa, p. 15-i, S. Paulo
1938.
A PRINCESA ISABEL 317
A "MOCIDADE TEMERARIA"
EPILOGO
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Duas comunicações ainda recebeu João Alfredo do
~castelo d'Eu.
..) Em 22 de Novembro de 1917, um telegrama, que
era quasi uma conciliação.
" Veuillez publier en portugais c'est avec satisfac-
tion et émotion que je suis mon cher Brésil dans cette
guerre pour Ie droit et Ia Iiberté, priant Dieu de le pro-
teger. Isabelle, comtesse d'Eu!'
A PRINCESA ISABEL 343