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Negro

O
V
O
P

Paulo Jares- Abril Imagens

A CINDERELA NEGRA

“A estudante Ana Flávia Peçanha de Azeredo, negra, 19 anos,


filha do governador do Espírito Santo, segurou a porta do elevador
social de um edifício em Vitória enquanto se despedia de uma amiga.
Em outro andar, alguém começou a esmurrar a porta do elevador.
Ana Flávia decidiu então soltar a porta e, depois de conversar mais
alguns instantes, chamou o outro elevador, o de serviço. Ao entrar
nele, encontrou a empresária Teresina Stange, loira, olhos verdes, 40
anos, e o filho dela, Rodrigo, de 18 anos.[...] Segundo Ana Flávia
O ENTÃO
contaria mais tarde, Teresina foi logo perguntando quem estava
GOVERNADOR DO prendendo o elevador. ‘Ninguém’, respondeu a estudante. ‘Só de-
ES, ALBUÍNO

AZEREDO E A FILHA,
morei um pouquinho.’ A empresária não gostou da resposta e come-
ANA FLÁVIA çou a gritar. ‘Você tem de aprender que quem manda no prédio são

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PETER FRY

O que a
Cinderela negra
tem a dizer sobre
a “política
racial” no Brasil PETER FRY é
professor do Instituto
de Filosofia e
Ciências Sociais da
UFRJ.

os moradores, preto e pobre aqui não tem vez’, avisou. ‘A senhora Quero agradecer a Fernando
Rosa Ribeiro, Guy Massart,
Olívia Gomes e Patrícia Fari-
me respeite’ retrucou a filha do governador. Teresina gritou nova- as, que leram o texto em tem-
po mínimo e fizeram críticas e
mente: ‘Cale a boca. Você não passa de uma empregadinha.’ Ao sugestões muito importantes.

chegar ao saguão, o rapaz também entrou na briga. ‘Se você falar


mais alguma coisa, meto a mão na sua cara’, berrou. ‘Eu perguntei
se eles me conheciam e insisti que me respeitassem’, conta Ana
Flávia. Rodrigo ameaçou outra vez: ‘Cale a boca, cale a boca. Se
você continuar falando meto a mão no meio de suas pernas’. Teresina
segurou o braço da moça e Rodrigo deu-lhe um soco no lado esquer-
do do rosto. [...] A polícia abriu um inquérito a pedido do governa-
dor. Se forem condenados [Teresina e Rodrigo], os dois podem
pegar de um a cinco anos de cadeia” (Veja, 7 de julho de 1993).

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A INTERPRETAÇÃO DE MICHAEL dos, a política de raça [the politics of race],
HANCHARD ajudam a constituir a modernidade e o
processo de modernização no globo intei-
Michael Hanchard, autor de um livro re- ro. Utiliza fenótipos raciais para avaliar e
cente sobre o movimento negro brasileiro julgar pessoas como cidadãos e não-cida-
(Hanchard, 1994a), publicou no ano passado dãos.[...] Esta é a política racial entre bran-
um artigo que parte de uma discussão do “caso cos e negros no apagar do século vinte, e
Ana Flávia” para comentar a situação “raci- o Brasil não é nenhuma exceção. Para
al” brasileira em termos mais gerais (idem, Ana Flávia, o relógio marcou meia-noite
1994b). Arregimentando um batalhão de no momento em que nasceu” (pp. 182-3).
teóricos, desde Jürgen Habermas a Edward
Thompson, ele avança três argumentos. O A estreita relação entre racismo e
primeiro é que “afro-brasileiros têm recebido modernidade tem sido magistralmente anali-
acesso contingente à esfera pública, um do- sada por Louis Dumont, que tem insistido que
mínio que tem sido definido explicitamente e racismo é a hierarquia presente nas socieda-
implicitamente como branco” (p. 166). O caso des igualitárias.
de Ana Flávia o faz afirmar que o Brasil não
representa nenhuma exceção a essa regra, e “No Ocidente moderno, não só os cida-
que a batalha de porta de elevador “colocou dãos são livres e iguais de direito, mas
mais um prego no caixão da ideologia da também a noção de igualdade de princí-
democracia racial brasileira” (p. 165). Um pio entre todos os homens acarreta, no
segundo objetivo do artigo de Hanchard é de nível da mentalidade popular pelo menos,
argumentar uma “racialização crescente da a da identidade profunda de todos os ho-
prática cultural afro-brasileira” e uma “pola- mens, porque eles não são tomados como
rização racial crescente na sociedade brasi- os modelos de uma cultura, de uma soci-
leira”. Ana Flávia, ele afirma, sendo “filha de edade, de um grupo social, mas como in-
um homem negro [black] e uma mulher bran- divíduos existentes em si e por si. Dito de
ca, poderia ser considerada uma mulata no outro modo, o reconhecimento de uma
Brasil do passado e do presente. Sua negritude diferença cultural não pode mais justifi-
[blackness] aos olhos dos seus atacantes im- car etnocentricamente uma desigualdade.
plica um alargamento da categoria negro no Observa-se que, em certas circunstâncias
Brasil e, mais importante, uma polarização [...], uma diferença hierárquica continua
crescente das categorias raciais” (p. 178), um a ser colocada, mas que ela se liga desta
ponto de vista compartilhado por Thomas feita aos caracteres somáticos, à
Skidmore (1993). No bojo desta constatação, fisionomia, à cor da pele, ao ‘sangue’”
comenta o surgimento de “organizações e (Dumont, 1992[1961], p. 314).
expressões culturais que não eram nem brasi-
leiros nem nacionais mas Afro-diaspóricos”, Mas, mesmo assim, o problema que vejo
como os blocos afro da Bahia (p. 181). Con- com o argumento de Hanchard, e que está
clui que presente também no de Dumont, é na tendên-
cia de ambos a não reconhecerem suficiente-
“Através da segregação e de outras for- mente as distinções dentro e sobre a
mas de alienação racial, esferas públicas “modernidade” e o “Ocidente”. Como bem
alternativas operam dentro de uma esfera aponta Mariza Peirano, distintos autores fa-
pública largamente definida. Grupos mar- lam sobre a “modernidade” na tradição desta
ginalizados criam comunidades modernidade à qual pertencem, o que faz com
territoriais e epistemológicas para eles que ela, ao comparar os escritos de Norbert
próprios como uma conseqüência da sua Elias e do próprio Louis Dumont, possa le-
posição subordinada na esfera pública vantar “alguns pontos da ideologia intelectu-
burguesa. Assim, afro-brasileiros cons- al alemã (simbolizada por Elias) e francesa
truíram esferas públicas deles próprios, (através de Dumont)” (Peirano, 1991, p. 243).
que criticam as normas societárias e polí- A aproximação entre a “política racial”
ticas brasileiras” (p. 167). “As lutas entre do Brasil e dos Estados Unidos que Hanchard
grupos raciais dominantes e subordina- propõe parece plausível basicamente porque

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a linguagem utilizada para descrever e anali- descent”, “black subjectivity”, “Afro-
sar a situação brasileira está repleta de signi- diasporic populations”, “African-derived
ficações advindas dos próprios Estados Uni- populations”, “blacks”, “African-
dos e porque a análise, essencialmente Brazilians”, “blackness”, “African-American
funcionalista, privilegia casos concretos de communities of the New World”, “whites”,
discriminação “racial” sobre o conjunto da “nonwhites”, “racial phenotypes” e “racial
sociedade, sobretudo suas representações. Há groups” são carregados de valor no contexto
sinais, sem dúvida, de que um modo bipolar da “política racial” norte-americana. Por essa
de definir “raças” no Brasil esteja cada vez razão, os conceitos e categorias utilizados
mais em evidência. Enquanto termino este fazem muito mais do que descrever e anali-
artigo, leio no jornal um comentário do mi- sar; remetem ao sistema de significações e
nistro Pelé: “Se o negro quer melhorar seu relações sociais do qual fazem parte. A sua
nível social, é preciso colocar gente nossa no dimensão semântico-referencial ofusca a sua
congresso” (Jornal do Brasil, 15/11/95). Mas dimensão pragmática ou indexical - seguin-
mesmo assim acredito que um olhar mais do Vincent Crapanzano, que define o semân-
cuidadoso sobre o caso Ana Flávia, em parti- tico-referencial como “aquela dimensão ou
cular sobre a própria reportagem da Veja ci- função (intencional) de um enunciado onde o
tada por Hanchard, possa mostrar que no sentido está com exceções triviais indepen-
Brasil a “política racial” continua sui generis dente do seu contexto extralingüístico”
no contexto do mundo moderno como um (Crapanzano, 1992, p. 15). O pragmático ou
todo. indexical se “refere à dimensão ou função
(extencional) de um enunciado onde o senti-
OS PERIGOS DA LINGUAGEM do depende do seu contexto extralingüístico”
(idem, ibidem)(1).
A regra fundamental do método socioló- A dimensão pragmática das palavras uti-
gico e antropológico é manter uma clara dis- lizadas por Hanchard para descrever a situa-
tinção entre os conceitos e categorias analíti- ção brasileira efetua, sub-repticiamente, uma
cas e descritivas da linguagem do narrador/ transmogrificação dos sentidos locais nos
analista e os conceitos e categorias utilizados sentidos do lugar de origem das palavras,
pelos personagens da sua história. A grande assim erradicando a possibilidade de enxer-
maioria dos textos escritos sobre “raça” e gar possíveis (ou melhor, prováveis) diferen-
“relações raciais” quebra essa regra sistema- ças mais ou menos radicais. É uma situação
ticamente. O exemplo mais claro disso é o análoga à descrita por Dumont, em que o sis-
“descuido” com o termo “raça” em si. Ape- tema de castas indianas perde a sua
sar de todos concordarem que tal conceito especificidade quando descrito como um caso
pertence ao reino das categorias nativas e é de “estratificação social”. As categorias
definido social e historicamente de maneira blacks, whites e racial groups, por exemplo,
diversa de lugar para lugar, e que não tem, pressupõem que, no fundo, os brasileiros se
portanto, nenhuma validade “científica” como pensam divididos e classificados desta for-
conceito universal, este pseudoconceito aca- ma. Será? People of African descent também
ba sempre se infiltrando nos textos como pressupõe um sistema binário de classifica-
conceito descritivo e, às vezes, analítico. ção no Brasil, baseado, como nos Estados
Mesmo neste texto de Hanchard, que é um Unidos, em critérios de descendência. Será?
dos autores mais sofisticados, encontra-se A expressão Afro-Brazilian life pressupõe que
descrito como racial group, race e racial os afro-brasileiros (e aqui se insinua de novo
difference sem itálico, sem aspas. a existência de um grupo estanque) partici-
O texto de Hanchard, como tantos outros, pam de um estilo de vida distinto do resto da
é prejudicado ainda mais pelo fato de que população, como é o caso dos Africano-Ame-
muitos dos termos utilizados para descrever ricanos. Será? African-American
1 Minha utilização destes con-
e analisar a situação brasileira num artigo communities of the New World assinala na ceitos derivados do traba-
lho de Silverstein (Silver-
escrito em inglês e publicado nos Estados mesma direção, insinuando uma “essência” stein, 1979) se deve a lon-
Unidos também são categorias nativas da comum entre todos aqueles com antepassa- gas conversas com Vin-
cent Crapanzano e à leitu-
“política de identidade” dos Estados Unidos. dos africanos. Será? African-derived ra de um trabalho recente
de Robin Sheriff (Sheriff,
Termos e expressões como “people of African populations sugere alguma comunhão entre 1995).

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a “África” (e deixo ao leitor a tarefa de ima- mas voltarei oportunamente a este assunto.
ginar qual África) e aqueles milhões de indi- As representações não são menos reais
víduos que, conscientemente ou não, têm um que as relações sociais; antes, pelo contrário,
antepassado africano. Será? são, ou devem ser, o ponto de partida para
As respostas a estas questões deveriam qualquer análise sociológica ou antropológi-
resultar de pesquisa. Mas a utilização de ca. A diferença, como diz Dumont, entre uma
categorias nativas americanas disfarçadas de abordagem antropológica comparativa e o
descritores na sua dimensão puramente se- “materialismo sumário” ou o “funcionalismo
mântico-referencial faz com que tais ques- enfraquecido” está em “estudar homens que
tões sejam respondidas antes mesmo de se- pensam e agem” e “estudar comportamentos,
rem colocadas. Aliás, a linguagem utilizada como se faria com insetos, com a condição de
proíbe a própria colocação destas questões. salpicar com representações indígenas mais
A linguagem opera, por si só, uma elisão entre ou menos epifenomenais” (Dumont, op. cit.,
a situação brasileira e a situação norte-ame- p. 23). Vista dessa maneira, a democracia
ricana, induzindo o leitor a pensar o Brasil da racial não é menos “real” que a discriminação
“democracia racial” e das múltiplas categori- “racial”. Enquanto a democracia “produz”
as de classificação “racial” como, na pior das uma sociedade sem segregação “racial” e le-
hipóteses, uma espécie de erro ou aberração, galmente universalista, a discriminação só é
e, na melhor, como uma etapa de um caminho possível porque existe, anteriormente a ela,
evolucionário que desembocará na plenitude uma outra “ideologia” que contesta a ideolo-
do tempo na situação atual dos Estados Uni- gia da democracia racial. Essa “ideologia”
dos: a “modernidade”. hierarquiza os corpos de acordo com sua “apa-
rência”. As desigualdades entre os mais cla-
REALIDADE E IDEOLOGIA ros e os mais escuros, entre Teresina e Ana
Flávia, são o resultado de um “mercado de
O efeito lingüístico de aproximar o Brasil cores”, livre em princípio (a “democracia
dos Estados Unidos é reforçado por uma abor- racial”), mas restrito na prática pela contra-
dagem funcionalista que atribui às relações ideologia da hierarquização das “raças” (o
sociais maior “realidade” que as representa- “racismo”).
ções, interpretando as segundas em função
das primeiras. No caso em questão me refiro CINDERELA NOVAMENTE
à interpretação da “democracia racial” feita
por Hanchard e pela maioria dos que escre- Em primeiro lugar é importante observar
vem sobre “relações raciais” no Brasil. Quan- que Michael Hanchard não foi o primeiro a
do Hanchard observa que o caso Ana Flávia perceber que o caso Ana Flávia se prestava
“colocou mais um prego no caixão da ideolo- para falar das relações “raciais” no Brasil em
gia da democracia racial brasileira”, ele parte termos mais gerais. A própria Veja faz exa-
do pressuposto de que a discriminação “raci- tamente isso no artigo sobre o caso Ana Flá-
al” empiricamente constatada ou subjetiva- via e num segundo artigo que o segue. Minha
mente experimentada (interessantemente ig- análise parte, portanto, de uma leitura deta-
nora as inúmeras instâncias de amizade e con- lhada desse texto, que vai muito além de uma
graçamento entre pessoas de aparências físi- descrição do caso Ana Flávia para uma aná-
cas - o que ele chama “fenótipos raciais” - lise bastante interessante sobre a “política
distintas) é mais “real” que a “democracia racial” do país.
racial”, que é definida como “ideologia”. Procurarei analisar o artigo da Veja cita-
Como a “realidade” é considerada mais forte do por Hanchard para ver como as dimensões
que a “ideologia” (a “razão” deve sempre pragmático-indexicais e semântico-
prevalecer sobre a “superstição”), ela aca- referenciais funcionam para compor a histó-
ba por enterrá-la morta. Aliás, me pergunto ria e falar da “política racial” no Brasil. Para
porque Hanchard quer enterrar a democra- tanto, darei preeminência aos termos nativos
cia racial. Será que a idéia da semelhança do texto, tentando controlar a dimensão prag-
de todos é tão nociva assim? Ela inclusive mática da minha própria linguagem, mesmo
teve um breve momento de popularidade que isso implique num certo pedantismo e
nos Estados Unidos na década de 1960 - numa profusão de aspas e itálicos (que serão

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usados sempre que se trate de um termo enun- oso salão (supomos que seja no Palácio do
ciado no texto), e mesmo consciente de que a Governador), ela está sentada numa cadeira
dimensão pragmática, como a “objetividade” dourada com seu pai, em pé, ao seu lado. Na
em si, são mais metas ideais que realizações página do lado há duas fotografias menores,
concretas possíveis. Como diz Crapanzano: uma da Teresina Strange num sofá de chintz
“Não pode, na minha opinião, haver um pon- com o dedo em riste, a outra, menor, do rosto
to de vista verdadeiramente externo, nenhum do seu filho Rodrigo. Nesta página, há tam-
ego transcendental, nenhuma verdadeira pos- bém um quadro chamado “Quem tem mais
sibilidade de uma redução transcendental, ou preconceito?”, contendo porcentagens tira-
epoché. Pode haver apenas a evocação de das da pesquisa a respeito a opinião de “bran-
tais transcendências, que têm que ser vistas, cos” e “negros” sobre qual dos dois tem mais
ironicamente, dentro da nossa linguagem que preconceito. Dos brancos entrevistados, 40%
engloba tudo” (Crapanzano, 1992, p. 3). admitem que eles próprios têm mais precon-
ceito, 36% acham que os “negros” são mais
A ESTRUTURA DO TEXTO preconceituosos e 3% culpam mais os “mula-
tos”. Dos “negros” entrevistados, 55% di-
“A Cinderela Negra” ocupa seis páginas zem que os brancos têm mais preconceito,
da revista, igualando em tamanho o artigo de 27% afirmam que são os “negros” e 9% cul-
capa sobre a expedição de mandado de prisão pam mais os “mulatos”.
contra P. C. Farias. Começa com uma Nas páginas seguintes, há mais três tabe-
etnografia do caso, que citei no início deste las, uma sobre beleza, outra sobre escolha de
trabalho. Em seguida, o articulista fala das parceiro em casamento e a última sobre opor-
personagens, uma por uma. Depois, emite as tunidades no mercado de trabalho. Nesta últi-
suas opiniões sobre o preconceito “racial” no ma, 71% dos “brancos” e 81% dos “negros”
Brasil. Fala de duas interpretações “quase concordam que o “negro” “leva a pior” na
antagônicas” correntes, uma que “afirma que concorrência para emprego. Nestas páginas
não há racismo no país” e outra que “diz que há também duas fotografias, uma de um ho-
o racismo está apenas dissimulado. Justa- mem “pretíssimo” abraçado com uma menina
mente por não ser explícito, o preconceito “loiríssima”, e outra do empresário José Bar-
seria pior. E nada ficaria a dever àquilo que bosa num bar. Na legenda da segunda, o em-
se vê em países de violentos conflitos raci- presário é citado: “As pessoas não admitem
ais” (p. 67). Conclui que as duas interpreta- que eu, que sou negro, tenha sucesso profissi-
ções são falsas, reconhecendo a existência de onal. Já me disseram que tenho os lábios finos,
um grau de miscigenação “impensável” num que eu sou só mulato”. Nas últimas duas pági-
país como a África do Sul sem que isso “anu- nas, aparece mais uma tabela sobre a presença
le o fato de que exista preconceito bastante de “negros” em instituições de prestígio (qua-
pronunciado no Brasil, revoltante em alguns se não há), e mais quatro fotografias de pesso-
casos, exemplar em outros, como o da filha as que sofreram discriminação.
do governador” (p. 67). Depois de terminar a Chamado de “Baile de Máscaras”, o arti-
discussão do caso Ana Flávia com uma dis- go seguinte a “A Cinderela Negra” procura
cussão sobre a sua passagem pelo Instituto chocar o leitor apresentando fotografias de
Médico Legal para exames e a fuga temporá- algumas personagens famosas com as suas
ria dos réus, dedica as últimas duas páginas feições alteradas pelo computador. O papa
da reportagem aos resultados de uma pesqui- aparece com os olhos “achinesados,” o Pelé
sa de opinião pública na qual 6.268 pessoas com a cara de Robert Redford, a Xuxa com a
foram entrevistadas acerca das suas atitudes pele escurecida (“Xuxa Meneghel Mandela”),
quanto às relações “raciais” no Brasil. Dis- e Michael Jackson com cabelos loiros e pele
cute números, conta outros casos de discri- definitivamente branca. A “brincadeira” do
minação e castiga o PT por ter apenas “um artigo está ligada ao argumento de que “as
negro na comissão executiva.” diferenças genéticas entre as raças são ape-
O artigo é fartamente ilustrado com nove nas cosméticas”. Cita um “biólogo molecular”
fotografias e cinco tabelas da pesquisa. Na norte-americano que afirma que não há nada
primeira página, há uma grande fotografia de no DNA que defina as “raças” e que o racis-
Ana Flávia e seu pai. Num enorme e suntu- mo é “um fenômeno cultural e social”. O

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artigo termina com uma afirmação do cres- rios, que hoje se transformou em uma das
cente “branqueamento” do mundo. maiores empresas do ramo na América
Latina”(p. 67).
AS PERSONAGENS DESCRITAS
E CLASSIFICADAS Waldicéia, sua esposa, aparece apenas
como “uma branca”. Nestas descrições, o
As várias personagens são descritas pri- articulista privilegia a origem familiar, a pro-
meiro pelo articulista (anônimo) e segundo fissão e a “aparência” das personagens. O
pelas próprias personagens através do termo “aparência” é apropriado porque é
narrador. muito usado no Brasil e porque foge de qual-
Ana Flávia aparece primeiro como “estu- quer apriorismo “racial”. Como a beleza está
dante, negra, 19 anos, filha do governador do no olhar de quem vê, a “aparência” não é nunca
Espírito Santo, Albuíno Azeredo”, (p. 66). objetiva. É sempre um juízo de valor, possi-
Mais tarde no artigo, o articulista acrescenta bilitado pelas categorias culturais e pelas
que é “uma menina baixinha de cabelos lisos particularidades sociais de quem olha e de
e bem compridos e é estudante de Engenharia quem é visto.
Civil da Universidade Santa Úrsula, no Rio O narrador “constrói” as duas protagonis-
de Janeiro” (p. 68). tas principais (Ana Flávia e Teresina) através
A segunda protagonista, Teresina Strange, de uma série de pares de oposições. Em ter-
é apresentada como uma “empresária, loira, mos de família, Ana Flávia é filha de um
olhos verdes, 40 anos”(p. 66) e, mais tarde, homem “negro” e governador e mãe “bran-
“descendente de alemães, dona de uma agên- ca”, enquanto Teresina é “descendente de
cia de turismo em Vitória e de um apartamen- alemães”. No que diz respeito à profissão,
to de 400 metros quadrados no luxuoso con- notamos a diferença de geração. Ana Flávia
domínio Pietrângela, na Praia da Costa, o lugar é “estudante” e Teresina “empresária”. Mas é
onde ocorreu a confusão”. A única informa- na aparência que as duas divergem mais. Ana
ção sobre o filho é seu nome, Rodrigo, e sua Flávia, “negra”, “baixinha” e com “cabelo
idade de 18 anos. Presume-se que é também liso e bem comprido”, se opõe a Teresina,
“descendente de alemães”. uma “loira” com olhos verdes. A descrição
O governador aparece assim: das protagonistas é, então, nada inocente:
produz imagens contrastantes de vítima e
“Casado há 22 anos com uma branca, algoz através da dimensão pragmática da lin-
Waldicéia, pai de um rapaz e duas moças, guagem. A invocação da descendência ale-
Azeredo é um caso raro de ascensão soci- mã de Teresina, junto com os seus olhos ver-
al entre 45% da população brasileira com- des e a sua loirice, evoca uma imagem do
posta de negros e mestiços. Nasceu em estereótipo do alemão do sul do país. É de se
uma família pobre no Morro da Argola, perguntar se o articulista queria, através da
perto de Vitória. Perdeu o pai aos 11 anos. insistência na descendência alemã de
A mãe lavava roupas para fora e a avó Teresina, salvar as outras mulheres “loiras”
fazia doces, que ele vendia nas ruas da “verdadeiramente brasileiras” da pecha do
cidade. Foi vendedor ambulante de pe- racismo inato!
dreira e jogador de futebol. Muito inteli- Na construção do governador e de sua
gente, passou em terceiro lugar no con- esposa Waldicéia, o articulista privilegia da-
curso para oficiais da Academia Militar dos da origem familiar e história profissional
de Agulhas Negras, Aman, mas abando- do marido, restringindo a descrição das suas
nou a escola 45 dias depois, sem dar ex- aparências à constatação de que ele é “negro”
NA OUTRA
plicações. Até hoje o governador não gosta e ela “branca”. Mas, mesmo assim, é o ser
PÁGINA, ANA
de comentar o assunto, mas a família sus- “negro” do governador que justifica tamanho
FLÁVIA AZEREDO,
peita que existe uma história de precon- interesse na sua ascensão social vertiginosa.
QUE SOFREU ceito racial no episódio. Depois disso, Afinal, como diz o narrador, o governador “é
AGRESSÃO FÍSICA E formou-se em Engenharia Ferroviária e um caso raro de ascensão social entre 45% da
MORAL NO SAGUÃO fez carreira na Companhia Vale do Rio população brasileira composta de negros e
DE UM PRÉDIO EM Doce. Em 1974, abriu um pequeno escri- mestiços”. O que chama a atenção na lingua-
VITÓRIA, EM 1993 tório de consultoria em projetos ferroviá- gem utilizada nesta descrição é o efeito prag-

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mático de enunciar a ascensão social do go- supostos negativos” (Freyre, 1986, p. 39).
vernador e seu casamento com “uma branca” Uma tia paterna da Ana Flávia é também
na mesma frase. Remete o leitor diretamente entrevistada. Ela “acha que a sobrinha deve
à “ideologia” do branqueamento, formulada sofrer muito, porque no atual círculo de ami-
por Oliveira Viana e parte do ideário brasilei- zades dela não há outras meninas pretas” (p.
ro até hoje. 68). Diz ainda: “ela é complexada e quase
Há um outro aspecto da linguagem descri- não vai à praia” (p. 68). Comenta também
tiva do articulista que merece destaque. Quan- que “o irmão, Albuíno Junior, de 17 anos, é
do se trata da “aparência” das personagens, ele chamado pelos amigos do curso de pré-vesti-
utiliza termos que descrevem aspectos dos bular de ‘Neguinho da Beija-Flor’ e ‘Criolo’
corpos visualizados (“olhos verdes”, “cabelo [sic]” (p. 68).
liso e bem comprido”) e apenas três termos de É a primeira-dama quem tem mais a falar
classificação: “loira”, “branca” e “negra(o)”. sobre o incidente:
Quando fala da descendência, utiliza também
o termo “mulato” para se referir aos três filhos “No Brasil existe um apartheid velado. A
do governador “negro” e sua esposa “branca”. posição social, o dinheiro e o poder po-
(De fato também utiliza o termo “mestiço” dem diminuir o preconceito, mas não aca-
quando se refere à raridade da ascensão social bam com ele. É como se as pessoas tives-
do governador.) Este ponto merece destaque sem passado um verniz, debaixo do qual
quando observamos que se Ana Flávia é “mu- o preconceito continua intacto. Já enfren-
lata” em termos da sua descendência, é “ne- tei muitas barras pesadas por causa da
gra” quando descrita pelo narrador como per- discriminação contra minha família. To-
sonagem da história. pei todas as brigas, mas nunca imaginei
As personagens citadas pelo narrador tam- que uma filha minha acabasse agredida
bém falam de si mesmas e descrevem as ou- por ser negra. Quando soube da notícia,
tras. Ana Flávia conta que Teresina a cha- senti dor e humilhação, mas agora quero
mou de “empregadinha” e falou “preto e po- ver os dois atrás das grades. Isso tem de
bre não têm lugar aqui. É o lugar dos mora- acabar um dia” (p. 68).
dores”, assim sugerindo que os moradores
são “brancos” e “ricos”. A dimensão pragmá- Os termos utilizados pelas personagens
tica destes termos é evidente: remonta a uma para se descreverem e para descreverem as
oposição bastante familiar no Brasil. A com- outras se aproximam e se distanciam daqueles
binação dos termos “preta”, “pobre” e utilizados pelo narrador. Teresina e a tia uti-
“empregadinha” se refere a uma categoria lizam termos como “bronzeada”, “preta”,
social considerada por muitos como de “neguinho da Beija-Flor”, e “criolo”. O go-
baixíssimo status social (Rezende, 1995), vernador, ao falar da sua infância, se queixa de
opondo-a ao empregador “branco” e “rico”. ter sido chamado de “macaco” e “saruê” quan-
Quando Teresina se defende das acusa- do era menino pobre. É a esposa do governa-
ções de racismo, ela procura palavras menos dor que utiliza os mesmos termos do articulis-
pragmáticas: “Em primeiro lugar, para mim a ta, referindo-se à sua filha como “negra”.
Ana Flávia não é preta. É só uma menina Ficando um tanto perplexo com a varieda-
bronzeada” (p. 68)! Ou seja, a cor dela é mais de de termos utilizados para descrever as per-
“adquirida” que “adscrita”. Teresina segue, sonagens, e surpreso com a ausência do
inconscientemente ou não, uma tradição bra- descritor “moreno”, tão comum na linguagem
sileira comentada por Gilberto Freyre: a que cotidiana do Rio, conduzi uma pequena enquete
valoriza o bronzeamento das mulheres. “O junto a alguns vizinhos meus de Santa Teresa,
bronzear da pele [tem] se tornado, entre brasi- no Rio de Janeiro. Cobrindo o título da maté-
leiras de todos os grupos sociais que compõem ria com um papel branco, mostrei as fotogra-
a população feminina do Brasil, um quase rito fias para eles perguntando como descreveriam
religiosamente estético, que vem agindo, quer a aparência das personagens. Um estofador,
como superação de importâncias outrora atri- que se definiu como “pardo”, disse que o go-
buídas a origens e situações sociais, quer vernador era “pardo”, e a filha dele “morena”.
como revelação, no caso de mulheres Chamou a cor “morena” de “cor internacio-
miscigenadas, dos positivos, ao contrário de nal”. Uma empregada doméstica que se decla-

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rou “branca” achou o governador “moreno “pardo”, “criolo”, “neguinho”, “loira” e
fechado”, e a menina “morena clara, como se “preto(a)” para colocar as personagens numa
diz”. Dois garagistas, que se definem como gama de categorias bem mais ampla (3).
“negros”, divergiram. Um achava o governa- Chamo a primeira maneira de classificar de
dor “mulato”, e a menina “morena”. O outro “modo binário”, e a segunda de “modo múl-
inverteu a ordem. Um vendedor confirmou tiplo”. Evito falar em sistemas de classifica-
que o governador era “mulato” e a filha “mo- ção, por não estar seguro, após a leitura de um
rena”. O que mais me espantou é que todos os recente artigo de Robin Sheriff, de que o modo
homens acharam Teresina “morena”, até que múltiplo, pelo menos, possua qualquer
me dei conta de que, na fotografia, os seus sistematicidade (Sheriff, 1995).
cabelos parecem escuros! Apenas a emprega- Há também um terceiro modo de classifi-
da doméstica me confiou que era “branca, não cação, uma espécie de redução do modo múl-
é?”. Mais tarde ela me procurou para saber se tiplo, ou ampliação do modo bipolar, que con-
a resposta dela era correta. Evidentemente não siste em três categorias: “negro”, “branco” e
tinha certeza e achava que eu, como professor, “mulato.” Este é também o modo oficial do
saberia a “verdade”! censo brasileiro, que pede às pessoas que se
No final da breve conversa com os gara- classifiquem como “pretas”, “brancas” ou
gistas “negros”, caiu o papel que cobria o tí- “pardas” (quando não “amarelas” ou “outras”).
tulo do artigo. Leram o título da reportagem Nota-se um deslizamento das categorias “ne-
com espanto, comentaram “que absurdo” e, gro” e “mulato” para “preto” e “pardo”.
ato contínuo, riram às gargalhadas. Não inda- Por estes dados e por outros extrínsecos
guei sobre o motivo do riso, mas ficou mais ao caso, pode-se levantar a hipótese de que o
ou menos óbvio que os “cabelos longos e li- modo múltiplo seria dominante nas camadas
sos” da Ana Flávia e a sua presença em um “populares”, por assim dizer, e o modo bipolar
ambiente tão obviamente “rico” a dominante entre as classes médias
“desqualificavam” do título de “negra”. intelectualizadas urbanas. Essa hipótese é
Os dados até agora apresentados apontam razoável quando se lembra que são justamen-
para alguns princípios que guiam a descrição te as classes médias intelectualizadas as mais
das pessoas. Em primeiro lugar, todas as influenciadas pelo Movimento Negro e os
personagens são descritas de acordo com a cientistas sociais concernidos com relações
sua aparência física, com a exceção de “raciais” no Brasil. Estes, desde os trabalhos
Teresina Strange, cuja descendência alemã é de Florestan Fernandes, têm adotado os ter-
evocada. Ana Flávia, por exemplo, aparece mos “negros” e “brancos” nos seus escritos
como “preta”, “negra” e “bronzeada”, mas (Maggie, 1988). Em círculos universitários,
nunca como uma “pessoa de descendência por exemplo, o modo bipolar é o “politica-
africana”, ou “africano-brasileira”. Este pro- mente correto”.
cedimento apenas confirma a atualidade das Mas outros dados extrínsecos ao “caso
observações feitas por Oracy Nogueira no seu Ana Flávia” complicam a hipótese. O ter-
famoso mas lamentavelmente pouco lembra- mo eminentemente popular “pessoas de
do artigo, em que contrasta os sistemas norte- cor” e a expressão “quem passa de branco,
americano e brasileiro de relações “raciais”, preto é” sugerem que, mesmo entre aqueles 2 Veja, nesse sentido, um ar-
tigo recente de Maria Laura
mostrando que os brasileiros classificam a que costumam empregar o modo múltiplo, Viveiros de Castro
partir da “aparência” da pessoa (a “marca”), há um recurso bipolar também disponível. Cavalcanti (1995).

enquanto os norte-americanos privilegiam a As observações de Robin Sheriff num mor- 3 Na pesquisa conduzida por
Nelson do Valle Silva so-
descendência (a “origem”)(2). ro do Rio de Janeiro mostram que o modo bre os dados da PNAD de
1976, em que os entrevis-
Mesmo se todos prestam mais atenção à bipolar pode ser invocado, bem como o tados se autoclassificaram
em termos de “cor”, 135 ca-
“marca” que à “origem” é possível distinguir modo múltiplo (Sheriff, 1995). Mesmo tegorias apareceram. 95%
duas maneiras de classificação. O narrador e assim, a bipolaridade popular é diferente das respostas recaíram,
mesmo assim, em apenas
Waldicéia distribuem as personagens em da bipolaridade do Movimento Negro, pois sete categorias: as quatro
categorias do censo, bran-
apenas duas categorias: “negros” e “brancos”. a popular é invocada situacionalmente; co, preto, pardo e amare-
lo, e três outras, mais cla-
As demais personagens e os meus vizinhos desta forma convive com o modo múltiplo. ro, moreno claro, moreno .
utilizam categorias muito comuns na vida A bipolaridade do Movimento Negro é Nos restantes 5% apare-
ceram categorias como
cotidiana brasileira como “moreno”, “more- impositiva e militantemente contrária ao alvo, alvo escuro, alvo ro-
sado, bronze, café com
na clara”, “mulato(a)”, “mulato fechado”, modo múltiplo. leite, etc.

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Os modos bipolar militante e múltiplo são vida baseado na crença de que a aparência
radicalmente distintos um do outro. O modo das pessoas não deveria influir sobre as suas
múltiplo permite que indivíduos possam ser escolhas e carreiras, mesmo se se comparti-
classificados de distintas maneiras de situa- lha outra crença, igualmente forte, nas restri-
ção a situação. Além disso, permite o que ções terríveis que se impingem às “mais es-
podemos chamar da “desracialização” da curas” (citado em Maggie, 1988, p. 84).
identidade individual. Os termos “moreno” e Entretanto, e apesar do modo múltiplo e do
“moreninho” podem ser aplicados, como vi- modo “censitário” se localizarem mais forte-
mos acima, a uma grande gama de “aparênci- mente entre as “camadas populares”, e o modo
as”, a uma “descendente de alemães”, bem bipolar entre os militantes do Movimento
como, na vida cotidiana, aos indivíduos com Negro e universitários em geral, na prática os
as feições associadas à África. O bipolar três modos coexistem na sociedade como um
militante se aproxima do modo norte-ameri- todo. De situação em situação, um ou outro
cano, na medida em que divide a sociedade pode aparecer em modo “puro”, ou todos po-
dicotomicamente entre “brancos” e “negros”. dem ser encontrados “misturados”. As tabelas
Difere, como já argumentou Oracy Noguei- apresentadas no artigo “A Cinderela Negra”
ra, porque se baseia nas aparências físicas dos são ilustrativas nesse sentido. Os que respon-
indivíduos, e não primordialmente na sua deram ao survey são classificados de acordo
descendência. Do ponto de vista do Movi- com o modo bipolar como “negros” e “bran-
mento, o modo popular é anátema. Catego- cos” (não se sabe se esta classificação foi efe-
rias como “moreno” e “mulato”, vistas como tuada pelos pesquisadores ou pelos
resultado das ideologias da democracia raci- pesquisados), mas as perguntas às quais res-
al e do branqueamento, são consideradas ar- pondem contêm a categoria “mulato”.
mas para ocultar a verdadeira “identidade Reproduzo duas tabelas à guisa de exemplo:
negra”, o que Hanchard chama de “black
subjectivity”. É o caso do empresário citado O JULGAMENTO DA BELEZA
acima, que se ressente de ser chamado de “só Em qual das raças você acha que há uma maior
mulato” por causa dos seus “lábios finos”. proporção de pessoas bonitas?

O Movimento Negro, então, quis romper A opinião dos brancos A opinião dos negros
com o modo múltiplo, mudando as regras do
45% dos entrevistados 27% dizem que os mulatos são
jogo. E fez com tanta energia que começou a mais bonitos
dizem que é entre os
negar qualquer especificidade brasileira, des- brancos mesmo
crevendo o país como “pior que o apartheid”,
25% afirmam que há mais 22% acham que são os brancos
por exemplo (a segunda interpretação do ra- gente bonita entre os mulatos
cismo no Brasil mencionada no artigo da Veja
3% dizem que há mais 17% afirmam que há mais gente
e citada acima). Januário Garcia, antigo líder negros bonitos bonita entre os negros
do movimento do Rio e ex-presidente do Ins-
tituto de Pesquisa da Cultura Negra (IPCN),
A ESCOLHA DO PARCEIRO
reconhece quão difícil tem sido fazer ressoar
a mensagem bipolar do movimento: “A mas- Entre uma pessoa branca, mulata ou negra,
qual seria o seu parceiro ideal?
sa não veio comigo porque não sei como me
Os brancos preferem Os negros preferem
comunicar com ela. [...] Não conseguimos
mais nos comunicar com a massa porque não 53% parceiros brancos 37% parceiros negros

nos identificamos com massa. [...] Era prin- 27% parceiros mulatos 31% parceiros mulatos
cipalmente uma questão de linguagem”.
3% parceiros negros 14% parceiros brancos
Garcia acertou em cheio, pois parece mesmo
exatamente uma questão de linguagem na sua
dimensão pragmática. A dificuldade de fazer Estas tabelas, cujas colunas estranhamente
valer uma linguagem que fala de “negros” e não somam 100%, apresentam dados impor-
“brancos” para quem fala uma linguagem de tantíssimos sobre a dificuldade mencionada
“morenos”, “pretos”, “mulatos”, “crioulos”, por Januário Garcia em fazer valer a mensa-
etc., é exatamente a dificuldade de fazer com gem do Movimento Negro em grande escala.
que as pessoas abram mão de um modo de Demonstra que, quando as pessoas pensam a
vida ao qual estão habituadas, um modo de beleza (aparência) e a escolha de parceiro(a?)

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ideal, a categoria “mulato(a?)” surge entre um próximos da “Europa” são vistos como supe-
número nada desprezível de pessoas. Resta sa- riores. Está contido justamente nos descritores
ber, mesmo assim, quantos dos “negros” e “bran- “bom” e “ruim” do cabelo; é a contra-ideo-
cos” que responderam consideram-se “mulatos”! logia racista à qual me referi acima.
O modo bipolar militante não é “correto”.
AS CONSEQÜÊNCIAS Não existe retidão universal no mundo das
taxinomias e classificações, mesmo as ditas
O modo bipolar e o modo militante têm científicas. Ambos os modos, baseados em
seu locus classicus nos Estados Unidos (na noções neo-lamarckianas de descendência,
África do Sul existem coloureds). Lá, a são racistas, mas o modo múltiplo é mais
taxinomia racial consiste em apenas duas consistentemente neo-lamarckiano na medi-
categorias, “negro” (agora “africano-ameri- da em que reconhece múltiplas entradas “ra-
cano”) e “branco”. Assim, mesmo tendo sete ciais” na constituição da pessoa através da
bisavós europeus e um africano, é este que descendência. O modo americano/militante/
determina o status de africano-americano. bipolar endossa a noção racista de que basta
Este modo de classificação se produziu num uma gota de “sangue negro” para “poluir” a
contexto intelectual em que se acreditava que, “pureza branca” e produzir um mundo de
na prole das uniões sexuais entre indivíduos “raças” essencializadas.
de “raças” distintas, a “raça inferior” seria Se se pensa que o problema das desigual-
sempre a dominante, “manchando” a “pureza dades raciais no Brasil deve ser resolvido
branca”. Se os cientistas do final do século através do conflito, então o modo bipolar
XIX não tivessem sido tão preocupados com aparece como necessário. Ou, como afirma
a superioridade e inferioridade das “raças”, Hanchard, “as lutas entre grupos raciais do-
teriam provavelmente inventado um outro minantes e subordinados, e a política de raça
sistema em que os indivíduos seriam classifi- ajudam a constituir a modernidade e os pro-
cados em termos de porcentagens, o que de jetos modernizantes no globo inteiro”. Espe-
fato ocorreu nas colônias espanholas. Se isso ro ter levantado a suspeita, a partir da discus-
tivesse acontecido, hoje em dia um neto de são em torno do caso Ana Flávia, de que as
um africano, um inglês e duas escocesas seria coisas não são tão simples assim no Brasil e
denominado um “africano 25% inglês, 25% que, apesar da visibilidade do modelo bipolar,
escocês e 50% americano”. Este absurdo outras maneiras de definir as pessoas conti-
imaginário apenas coloca em relevo a arbi- nuam fortes ainda.
trariedade real do modo de classificação ra- A antropologia oscila entre o
cial nos Estados Unidos como em qualquer universalismo das suas grandes teorias e o
outro lugar. Mas como esta taxinomia é per- particularismo dos seus estudos etnográficos
cebida como natural, os americanos ficam empíricos. Creio que é a tensão entre estes
surpresos que não a encontrem no Brasil. dois pólos que lhe confere a possibilidade de
Acham eles, e, devo dizer, um número cres- evitar os piores excessos da etnocentricidade,
cente de brasileiros acólitos deste pensamen- de estar ciente de uma possível
to, que a maneira de classificar brasileira, tão “transcendência”. A “política racial” norte-
complexamente construída em cima de apa- americana parece ter optado definitivamente
rências, apenas “mascara” a verdadeira dis- pelo particularismo das “raças”. Se não, como
tinção natural entre “negros” e “brancos”. explicar as reações ao julgamento de O. J.
Ficam perplexos de não existir um movimen- Simpson (a maioria dos “negros” o achou
to negro de massas. inocente e a maioria dos “brancos” o achou
É possível argumentar que o modo múlti- culpado, como se culpa criminal fosse coisa
plo é mais coerente, menos ambíguo e até de “raça”), ou a marcha de um milhão de
menos racista que o bipolar dos Estados Uni- homens negros em Washington, sob a co-
dos. O modo múltiplo efetivamente utiliza ordenação do segregacionista Louis Farrakan
um sistema de porcentagens não e seu Reino do Islã? O universalismo conti-
quantificadas: assim, “cabelo bom”, “nariz nua forte no Brasil, na sua constituição e na
chato”, “lábios finos” e “cor clara” acabam idéia da democracia racial, mesmo se há si-
reconhecendo a herança genética africana e nais (se Hanchard e Skidmore têm razão) de
européia. O racismo entra quando os mais uma crescente polarização no país.

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A MORAL DA HISTÓRIA expressão de Roberto daMatta. Como tal, é
seguramente nada desinteressante num mun-
Não acredito que seja possível ser soció- do assolado pelos particularismos “raciais”,
logo ou antropólogo e ficar sem opinião neste “étnicos” e “sexuais” que alhures produzem
debate, simplesmente porque nossas discipli- sofrimento e morte no pretenso caminho da
nas são construídas sobre duas pedras funda- igualdade.
mentais: a universalidade da humanidade e a
desconexão total entre genética e cultura. É POST SCRIPTUM
nossa incumbência, portanto, não ficarmos
calados perante todas as modernas formas de Logo depois de terminar este artigo, no
essencialismo e racismo, mesmo se isso im- sábado, dia 25 de novembro, estava voltando
plica em assumir posições temporariamente para minha casa em Santa Teresa, de carro,
“politicamente incorretas”. Afinal, racismo acompanhado por um amigo negro, quando
é racismo, e é tão perigoso quando invocado vi no retrovisor um carro com um único farol
em favor dos fracos quanto dos fortes. Afi- muito alto. Tapei o espelho retrovisor para
nal, os fracos de hoje podem muito bem ser os proteger os meus olhos. Após alguns minu-
fortes de amanhã. tos o tal carro acendeu luzes vermelhas que
Kwame Anthony Appiah, filósofo e filho piscavam no seu teto. Polícia! Fui mais deva-
de pai ganês e mãe britânica, professor da gar para que ele pudesse me ultrapassar. Mas
Universidade de Harvard, está aborrecido com não ultrapassou. Parou ao meu lado e me
a perpetuação do discurso militante forçou a parar. Saltaram de um Opala velho
essencialista no seu país adotivo, que nos dias dois policiais armados com revólveres, que
de hoje presencia um caloroso debate univer- logo começaram a me xingar por não ter pa-
sitário sobre o suposto “eurocentrismo” dos rado. Com arrogância e brutalidade exigiram
currículos, o que tem produzido um nossos documentos e vistoriaram o carro.
“afrocentrismo” reativo. Comenta: “A res- Minhas tentativas de exigir civilidade apenas
posta correta ao eurocentrismo não é certa- aumentaram a agressividade deles. Quando
mente um afrocentrismo reativo mas uma nada ilegal acharam (tomei o cuidado de se-
4 Tenho em mente aqui a im- nova compreensão que humanize todos nós guir seus passos caso quisessem “depositar”
portantíssima questão das
diferenças entre as colôni- através de uma aprendizagem de pensar além algo), relutantemente nos deram autorização
as portuguesas e as ingle-
sas, questão essa tratada de raça” (Appiah, 1993). para seguir viagem. Anotei o número do
atentadamente por Gilber-
to Freyre. Para trabalhos Hanchard afirma que “o Brasil não é ne- Opala. Os policiais então anotaram a placa
recentes sobre essa ques- nhuma exceção” a uma “política racial” ge- do meu e ameaçaram me multar por ter recu-
tão ver: Ribeiro, 1994; e Fry,
1991. neralizada neste final de século. Peço perdão, sado parar!
5 Root alega que o surgimento mas acredito que a “política racial” não pre- Cheio de raiva, desci de novo para a cida-
de uma população “racial-
mente mista” está mudan- cisa seguir os rumos do mundo anglo-saxão de. No caminho, sugeri ao meu amigo que
do a “face” dos Estados
Unidos. Lança mão do con-
(4). Os Estados Unidos vivem “surtos” de era um caso de racismo. Ele disse que não
ceito de “ecologia racial”
para rever a sociedade nor-
universalismo dentro do seu particularismo queria comentar isso, mas que era mesmo.
te-americana. “The ‘racial histórico, como, por exemplo, no movimento Ele teria visto o Opala quando passamos por
ecology’ is complex in a
p h e n o t y p i c a l l y dos direitos civis na década de 1960, e mes- ele na subida. Certamente os policiais dedu-
heterogeneous society that
has imbued physical mo agora, vozes de pessoas que se conside- ziram que um “branco” e um “negro” no
differences with significant
meaning in a convention
ram “misturadas racialmente”, ainda tímidas, mesmo carro só poderiam ser “bandidos” de
that benefits selective surgem para reivindicar identidades sociais um tipo ou outro.
segments of the society”
(Root, 1992, p. 4). Esta vi- além das categorias “raciais” existentes (Root, Fiquei arrasado por ter escrito um artigo
são “brasileira” dos Estados
Unidos (isto é: identidade 1992)(5). O Brasil vive “surtos” de apelando para a “realidade” da democracia
está nas aparências) não
surgiu do nada; afinal é particularismo dentro de seu universalismo racial!
conhecido que, mesmo na constitucional e consentido; afinal, como reza De volta à cidade, entramos num bote-
bipolaridade dos Estados
Unidos, sutis diferenças de o ditado popular, “na prática a teoria é outra”. quim, um botequim cheio de gente de todas
“aparência” são notadas,
mesmo se nem sempre Mas nem por isso precisamos descartar a as “aparências” possíveis, velhos e moços,
verbalizadas. Poder-se-ia
levantar a hipótese de que “democracia racial” como ideologia falsa. mulheres e homens, de todas as cores possí-
o Brasil e os Estados Uni-
dos diferem da seguinte
Como mito, no sentido em que os antropólo- veis. O ambiente de convivência bem-
maneira: no Brasil o modo
bipolar continua dominado
gos empregam o termo, é um conjunto de humorada foi o mais perfeito antídoto à bati-
pelo modo múltiplo enquan- idéias e valores poderosos que fazem com da policial. Aos poucos fui relaxando.
to nos Estados Unidos a
situação é a inversa. que o Brasil seja o “Brasil”, para aproveitar a Um negro velho veio me pedir um real

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“para o ônibus”. Espontaneamente começou quim, aconteceram na mesma cidade com a
a me contar da sua vida de capoeirista com a diferença de alguns minutos entre um e outro.
navalha escondida entre os dedos do pé. Ato Mas é isso mesmo. O ideal da democra-
contínuo, se referiu a sua cor, dizendo que cia racial e a brutalidade do racismo coexis-
não tolera quem o “desfaz”. Partiu, então, para tem de tal forma que é a situação - umas são
um longo discurso, sem pieguice, sobre a previsíveis, outras não - que determina qual
igualdade de nós todos perante Deus. vai prevalecer. Não tenho dúvidas de que os
Dei-me conta, então, de que meu artigo dois policiais, ambos “escuros,” jamais ad-
tinha algum sentido. mitiriam qualquer racismo. Não duvido
Os dois eventos, a brutalidade da polícia tampouco que bebam fraternalmente nos
racista e a civilidade da “mistureba” do bote- botequins da vida.

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