Вы находитесь на странице: 1из 5

ASPECTOS CONTROVERTIDOS EM

RELAÇÃO À ATUAL REDAÇÃO DO ARTIGO


618 DO CÓDIGO CIVIL DE 2002 E SUA APLICAÇÃO
Arthur Senra Jacob¹
Omar Narciso Goulart Júnior²

RESUMO: Pretende-se discorrer acerca da revogação do artigo 1.245 do Código Civil de 1916, em função da entrada em vigor do Código atual,
em 2002, que passou a regular a matéria em seu art. 618. A partir da análise do parágrafo único que lhe foi acrescentado desde então, o pre-
sente estudo tem por escopo indicar as inovações da Lei Civil que indicam não ser mais possível o entendimento consubstanciado na Súmula
194 do STJ, a respeito do prazo prescricional aplicável à espécie.

ABSTRACT: This paper intends to discourse about the revocation of the section 1.245 from the Brazilian Civil Code, from 1916, due to the prom-
ulgation of the current Code, in 2002, which passed to regulate the subject in its section 618. From the analysis of the unique paragraph added to
it since then, this study has as is goal to indicate the innovation in the Civil Law which indicate that the rule contained in the precedent 194, from
STJ, about the limitation period which should be applied to the case, should not be observed anymore

PALAVRAS-CHAVE: contrato de empreitada; garantia; direito de ação;


responsabilidade do empreiteiro.

KEYWORDS: works contract; guarantee; action right; contractor’s responsibility

SUMÁRIO: 1-Considerações Iniciais; 2-Da natureza do quinquênio previsto no caput do art. 618 do código civil; 3- Do prazo para a propositura
de ação contra o empreiteiro; 4-Do prazo prescricional aplicável; 5- Considerações Finais; 6- Bibliografia.

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS 2 DA NATUREZA DO QUINQUÊNIO PREVISTO NO CAPUT DO


Ao dispor sobre a responsabilidade do empreiteiro pela segu- ART. 618 DO CÓDIGO CIVIL
rança e solidez da obra entregue ao proprietário, o Código Civil de Da leitura do caput, infere-se que o dispositivo legal em epígrafe
1916 trazia em seu artigo 1.245 a seguinte previsão: estatuiu um quinquênio irredutível, dentro do qual fica o empreiteiro de
“Nos contratos de empreitada de edifícios ou outras constru- materiais e execução responsável pela solidez e segurança do traba-
ções consideráveis, o empreiteiro de materiais e execução lho, assim em razão dos materiais, como do solo.
responderá, durante cinco anos, pela solidez e segurança do Em que pese tenham sido travadas discussões acerca de qual
trabalho, assim em razão dos materiais, como do solo, exceto, seria a natureza jurídica do quinquênio em questão à época, inexis-
quanto a este, se, não achando firme, preveniu em tempo o tem dúvidas atualmente de que se trata de simples prazo de garantia,
dono da obra.” despido de qualquer natureza prescricional ou decadencial, dentro
do qual responde objetivamente o empreiteiro por quaisquer vícios
Com a entrada em vigor do Código Reale, em 2002, a matéria relacionados à solidez e segurança da edificação.
passou a ser tratada no artigo 618 da nova codificação, oportunidade Nesse sentido, foi aprovado na 3ª Jornada de Direito Civil, pro-
na qual o dispositivo teve seu texto alterado, passando a vigorar nos movida pelo Conselho da Justiça federal no ano de 2004, o enunciado
seguintes termos: 181, elaborado nos seguintes termos:
“Nos contratos de empreitada de edifícios ou outras constru- 181 – Art. 618: O prazo referido no art. 618, parágrafo único,
ções consideráveis, o empreiteiro de materiais e execução do CC refere-se unicamente à garantia prevista no caput, sem
responderá, durante o prazo irredutível de cinco anos, pela so- prejuízo de poder o dono da obra, com base no mau cumpri-
lidez e segurança do trabalho, assim em razão dos materiais, mento do contrato de empreitada, demandar perdas e danos.
como do solo”.
No tocante ao âmbito de abrangência da garantia legal em
Parágrafo único. “Decairá do direito assegurado neste artigo o questão, deve ser prestigiado o entendimento segundo o qual devem
dono da obra que não propuser a ação contra o empreiteiro, nos cen- ser excluídos de sua tutela jurídica os defeitos de menor monta para a
to e oitenta dias seguintes ao aparecimento do vício ou defeito.” estrutura do edifício, assim considerados aqueles insuficientes a com-
Diante de tal alteração promovida pela edição do novo Código, prometer segurança ou solidez da obra, ou da saúde e bem estar de
controvérsias surgiram acerca da interpretação do dispositivo, seu quem a venha habitar.
âmbito de abrangência, bem como da intenção legislativa ao incluir Nesse sentido, merecem destaque as palavras de Arnaldo Riz-
em seu novo parágrafo único um prazo para a propositura de ação zardo sobre o assunto:
em face do empreiteiro com vistas ao exercício do direito assegurado “A responsabilidade prevista no artigo 618 deve estar relacio-
ao dono da obra. nada à segurança e solidez da edificação. Envolverá vícios de

LETRAS JURÍDICAS | V. 3| N.2 | 2O SEMESTRE DE 2015 | ISSN 2358-2685 CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA
43
fundamental importância para o prédio, e que comprometam teiro objetivamente responsável pelos vícios relacionados à solidez e
as partes estruturais, a ponto de colocar em risco a integridade segurança da edificação, e não por todo e qualquer vício que porven-
do prédio e a vida dos ocupantes. Nesta categoria, incluem-se tura surgir.
o emprego de materiais inapropriados e de qualidade inferior, Já o parágrafo único do mencionado artigo prevê que “Decairá
a falta de fundações profundas e que encontrem resistência no do direito assegurado neste artigo o dono da obra que não propuser
solo, a utilização de tijolos inconsistentes na estrutura, a insufi- a ação contra o empreiteiro, nos cento e oitenta dias seguintes ao
ciência de ferragens nas vigas, a desproporção da medida na aparecimento do vício ou defeito.”
mistura de areia e cimento, a ausência de liga entre as paredes Diante da literalidade do dispositivo, surgem dúvidas a respeito
e de impermeabilização do teto.” da harmonização entre a garantia prevista no caput e o prazo deca-
(...) dencial previsto no parágrafo único.
Entende-se por prazo de natureza decadencial aquele que se
“Nos vícios do artigo 618 não estão compreendidas as imper- destina ao exercício de um direito potestativo pertencente á esfera
feições na qualidade, no aspecto externo, no acabamento, jurídica de seu titular, sendo certo que, ao contrário dos prazos pres-
que denotam desídia, levando a entregar obra não condi- cricionais, os decadenciais, em regra, são inexoráveis, o que importa
zente com o padrão prometido. Inconcebível que se admita dizer que não admitem suspensão, interrupção ou impedimento.
um prazo tão longo para simples defeitos, como problemas No tocante á distinção entre direitos potestativos e subjetivos,
de pintura, manchas nas paredes, mau funcionamento das Agnelo Morim leciona que: “Segundo CHIOVENDA (Instituições, 1/35
fechaduras, vazamento nas torneiras, riscos no assoalho, ins- e segs.), os direitos subjetivos se dividem em duas grandes catego-
talação elétrica e hidráulica, e mesmo o emprego de certos rias: A primeira compreende aqueles direitos que têm por finalidade
materiais de uma qualidade inferior, desde que não se dê o um bem da vida a conseguir-se mediante uma prestação, positiva
comprometimento da segurança e da solidez.” (ARNALDO;RI- ou negativa, de outrem, isto é, do sujeito passivo. Recebem eles, de
ZZARDO;2011;p.517) CHIOVENDA, a denominação de “direitos a uma prestação”, e como
exemplos poderíamos citar todos aqueles que compõem as duas nu-
Sendo assim, se por desídia do empreiteiro vier a obra a ser ma- merosas classes dos direitos reais e pessoais. Nessas duas classes
culada por tais imperfeições de menor relevância, o dono da obra de- há sempre um sujeito passivo obrigado a uma prestação, seja positiva
verá observar os prazos decadenciais previstos no art. 26, do Código (dar ou fazer), como nos direitos de crédito, seja negativa (abster-
de Defesa do Consumidor, para exigir sua correção em tempo hábil, se), como nos direitos de propriedade. A segunda grande categoria
já que o referido dispositivo consumerista dispõe sobre a reclamação é a dos denominados “direitos potestativos”, e compreende aqueles
por vícios aparentes ou de fácil constatação. poderes que a lei confere a determinadas pessoas de influírem, com
“ Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de uma declaração de vontade, sobre situações jurídicas de outras,
fácil constatação caduca em: sem o concurso da vontade dessas. Desenvolvendo a conceituação
I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de pro- dos direitos potestativos, diz CHIOVENDA: Esses poderes (que não
dutos não duráveis; se devem confundir com as simples manifestações de capacidade
II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de jurídica, como a faculdade de testar, de contratar e semelhantes, a
produtos duráveis. que não corresponde nenhuma sujeição alheia), se exercitam e atu-
§ 1° Inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da am mediante simples declaração de vontade, mas, em alguns casos,
entrega efetiva do produto ou do término da execução dos com a necessária intervenção do Juiz. Têm todas de comum tender
serviços. à produção de um efeito jurídico a favor de um sujeito e a cargo de
§ 3° Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se outro, o qual nada deve fazer, mas nem por isso pode esquivar-se
no momento em que ficar evidenciado o defeito. àquele efeito, permanecendo sujeito à sua produção. A sujeição é um
estado jurídico que dispensa o concurso da vontade do sujeito, ou
Caso não se trate de uma relação de consumo, poderá dono da qualquer atitude dele. São poderes puramente ideais, criados e con-
obra rejeitar a coisa, redibindo o contrato, ou reclamar abatimento pro- cebidos pela lei..., e, pois, que se apresentam como um bem, não há
porcional em seu preço, conforme dispõem os arts. 441 e seguintes excluí-los de entre os direitos, como realmente não os exclui o senso
do Código Civil, onde se encontra a disciplina dos vícios redibitórios. comum e o uso jurídico. É mera petição de princípio afirmar que não
Afirmativa em sentido contrário importaria violação à intenção do se pode imaginar um direito a que não corresponda uma obrigação.
legislador, que, ao instituir garantia de tamanha extensão no caput do (Instituições, trad. port., 1/41, 42).”
artigo 618, CC, tinha por objetivo proteger o dono da obra em face de Ao estabelecer que o dono da obra decairá do direito á garantia
vícios que, dada a sua gravidade, poderiam comprometer a estrutura quinquenal assegurada no caput do art. 618, CC, caso não venha a
da edificação e, eventualmente, causar sua ruína, podendo represen- ajuizar a ação contra o empreiteiro nos cento e oitenta dias seguintes
tar real risco á vida humana. ao aparecimento de eventual vício ou defeito na edificação, o pará-
Por tal razão, conferir a vícios de menor relevância, muitas vezes grafo único daquele artigo impõe um limite temporal para o exercício
de caráter predominantemente estético, a mesma proteção jurídica, de um direito potestativo por parte do dono da obra, qual seja, o de
consistiria em medida contrária aos princípios da razoabilidade e pro- acionar a referida garantia, impondo ao empreiteiro de materiais e
porcionalidade. execução um dever de sujeição ao referido direito.
Em relação ao prazo de 180 dias para propositura da ação com
3 DO PRAZO PARA A PROPOSITURA DE AÇÃo CONTRA O vistas a exercer o direito à garantia contemplada pelo caput do artigo
EMPREITEIRO. 618, constante do parágrafo único que lhe foi acrescido, há de se
Conforme se depreende do que já foi exposto no presente estu- elogiar, ainda, a opção do legislador que, ao fazê-lo, rendeu homena-
do, o caput do artigo 618, Código Civil, prevê tão somente um prazo gens ao secular princípio do neminem laedere, o que, nos dizeres de
de garantia, cuja extensão é de 05 anos, durante o qual fica o emprei- Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves de Farias:

LETRAS JURÍDICAS | V. 3| N.2 | 2O SEMESTRE DE 2015 | ISSN 2358-2685 CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA
44
“... revela uma visível preocupação com a boa- fé objetiva do algum defeito passível de convalidação, prefere-se seu saneamento à
dono da obra perante o empreiteiro. Pois bem, respeitando a resolução contratual, ainda que por via judicial.
confiança do empreiteiro, caso o empreitante descubra algum Perceba-se que o prazo decadencial em debate diz respeito
defeito dentro do prazo legal de garantia (cinco anos), terá o tão somente ao exercício do direito de ação pelo dono da obra,
direito potestativo de reclamá-lo em cento e oitenta dias, con- caso este deseje acionar a garantia irredutível de que se trata no
tados de sua descoberta” (ROSENVALD; NELSON; CHAVES presente estudo. Caso se esvaia o prazo de cento e oitenta dias,
DE FARIAS; CRISTIANO; 2013; p.849). somente o direito à garantia será extinto, o que não impede a pro-
positura da ação discutindo dever de reparação civil, pois esta sub-
Por todos os motivos já expostos, é possível afirmar com vee- mete-se somente ao prazo prescricional de 03 anos previsto no §3º
mência a natureza decadencial do prazo em análise, já que consiste do art. 206, Código Civil, ou, tratando-se de relação de consumo,
em um lapso temporal conferido ao empreitante para o exercício de ao prazo prescricional de 05 anos previsto no art. 27 do Código de
um direito potestativo, qual seja, o direito de reclamar pela existência Defesa do Consumidor.
dos vícios através do exercício da ação com vistas ao acionamento da Portanto, o acionamento de tal garantia é feito sem que se dis-
garantia quinquenal estatuída pelo caput do art. 618, in verbis: cuta a existência de culpa por parte do empreiteiro em relação aos
“Nos contratos de empreitada de edifícios ou outras constru- vícios apontados na edificação. Assim, caso pretenda o dono da obra,
ções consideráveis, o empreiteiro de materiais e execução além de acionar a garantia legal em voga, obter em juízo reparação
responderá, durante o prazo irredutível de cinco anos, pela so- por perdas e danos oriundos da má execução contratual, tratar-se-á
lidez e segurança do trabalho, assim em razão dos materiais, do exercício de pretensão à reparação civil, cuja inércia por parte do
como do solo”. titular ensejaria, por sua vez, a ocorrência de prescrição, eis que, nos
termos do artigo 189 do Código Civil de 2002 “Violado o direito, nasce
Nesse ponto, surge a seguinte pergunta: Qual seria o efeito prá- para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos
tico do acionamento de tal garantia? prazos a que aludem os arts. 205 e 206.”
Para responder a tal indagação, faz-se pertinente a seguinte De tais afirmativas, infere-se que, na hipótese sob análise, inci-
menção á obra de Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves de Farias: dem de forma concomitante três prazos legais de distintas naturezas,
“É de se notar que são prazos de diferentes naturezas. O pra- quais sejam, uma garantia legal, de cinco anos, um prazo decadencial
zo de garantia (caput do art. 618 do Código Civil) é de cinco de cento e oitenta dias para que se proceda ao acionamento de tal
anos, contados da entrega da obra. Durante este lapso tem- garantia, o que deverá ser feito mediante ação judicial, conforme exi-
poral, surgindo algum vício de solidez e segurança o empre- gência do próprio dispositivo de lei, e, por fim, um prazo de natureza
endedor responde. Já o prazo decadencial para a reclamação prescricional para o exercício de eventual pretensão reparatória, se
de defeitos de solidez e segurança na obra (Parágrafo Único houver, sobre o qual paira atualmente forte controvérsia, o que será
do artigo 618 da Lei Civil) é de cento e oitenta dias, a contar abordado em tópico específico deste estudo.
do conhecimento do vício. Então, se o vício é constatado após Em caso de esgotamento da garantia quinquenal prevista no
quatro anos e dez meses da entrega do prédio, o empreitante art. 618, estabelecida em favor do dono da obra, naturalmente res-
disporá do prazo de cento e oitenta dias a partir de então para tará ao dono da obra apenas o direito de reparação por eventuais
exercer o direito de resolução contratual, apesar de já ter sido perdas e danos experimentados, a ser exercido dentro do prazo
superado o quinquênio da garantia. prescricional pertinente, cuja contagem se iniciará a partir do co-
nhecimento do defeito.
Ou seja, se a obra foi entregue há um ano e o defeito é des- Nessa situação, não se haveria de cogitar a existência de res-
coberto, a partir desse momento fluirá o prazo decadencial de ponsabilidade objetiva do empreiteiro pela reparação civil, já que
cento e oitenta dias para que se reclame o defeito, com o des- aquela contempla como regra geral a modalidade subjetiva, somente
fazimento do negócio jurídico (ação redibitória) ou o abatimen- podendo ser elidida por previsão legal ou convenção em sentido con-
to do preço (ação estimatória ou quanti minoris). Ultrapassado trário, a não ser que se trate de relação consumerista, onde impera a
esse prazo de cento e oitenta dias, a garantia restará esvaída, regra de responsabilidade objetiva.
não sendo possível ao dono da obra reclamar o desfazimento
do contrato. Nada impedirá, de qualquer sorte, que reclame 4 DO PRAZO PRESCRICIONAL APLICÁVEL
eventuais perdas e danos, no prazo prescricional comum (três No que diz respeito aoprazo prescricional para o exercício do
anos, se o contrato de empreitada for civil, e cinco anos, em se direito à reparação civil, as opiniões dividem-se sensivelmente.
tratando de relação consumerista). (ROSENVALD; NELSON; Quando ainda encontrava-se em vigor o Código de 1916, o Su-
CHAVES DE FARIAS; CRISTIANO; 2013; p.850). perior Tribunal de Justiça, através da edição da súmula 194, afirmou
que seria aplicável à situação em análise o prazo de vinte anos, con-
De acordo com os citados autores, uma vez descoberto o defei- cernente à regra geral de prescrição existente à época.
to, inicia-se a fluência do prazo decadencial de cento e oitenta dias, “STJ Súmula nº 194 - 24/09/1997 - DJ
dentro do qual incumbe ao dono da obra intentar ação redibitória, 03.10.1997
com vistas a desfazer o negócio jurídico, ou ação estimatória, com Prescrição - Construtor - Indenização
vista á obtenção de abatimento proporcional no preço. - Defeitos da Obra
No entanto, tal entendimento é passível de uma pequena corre- Prescreve em vinte anos a ação para obter, do construtor, inde-
ção, já que, nos termos em que afirmado pelos doutrinadores, incum- nização por defeitos da obra.”
biria ao autor da ação optar entre o desfazimento do negócio ou seu
regular prosseguimento com o devido abatimento no preço, de acor- Em decorrência da referida orientaçãohá quem permaneça sus-
do com o que lhe fosse mais conveniente, o que consistiria em afronta tentando o entendimento de que, mesmo após o advento do Novo
ao princípio da conservação dos contratos, segundo o qual, diante de Código, o prazo a ser aplicado à espécie permanece sendo a regra

LETRAS JURÍDICAS | V. 3| N.2 | 2O SEMESTRE DE 2015 | ISSN 2358-2685 CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA
45
geral de prescrição, que foi reduzido de vinte para dez anos com a geral de responsabilidade civil do direito brasileiro (CC,
entrada e vigor da nova codificação. art 927.). Nesse caso, o prazo para exercício da preten-
Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não são indenizatória será de três anos, se o negócio estiver
lhe haja fixado prazo menor. submetido ao Código Civil, ou de cinco anos, quando o
contrato estiver caracterizado como uma relação de con-
Para ilustrar o que ora se expõe, colaciona-se o seguinte sumo. Numa hipótese ou na outra, o termo inicial para a
o voto da lavra do Desembargador José Arthur Filho, da 9ª Câ- sua fluência é o conhecimento do fato,aplicada a tese da
mara Cível do TJMG, relator no julgamento da Apelação Cível actio nata.
1.0027.09.208941-9/001, ocasião na qual foi acompanhado na
íntegra por seus pares. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - INDENIZAÇÃO - VÍCIO Das informações expostas no presente estudo, infere-se
DE CONSTRUÇÃO - DANOS MATERIAIS - DECADÊNCIA - que a responsabilidade objetiva do empreiteiro de materiais e
PRESCRIÇÃO - APLICAÇÃO DO CÓDIGO CIVIL 2002. Aos execução pela solidez e segurança de seu trabalho, que dá en-
defeitos verificados antes da entrada em vigor do Código sejo á garantia com duração de, no mínimo, cinco anos, da qual
Civil de 2002, não se aplica o prazo de decadência pre- o dono da obra é beneficiário, somente poderá ser invocada em
visto no § único do art. 618, sem correspondente no Có- se tratando de vícios de maior monta, que, dada a sua gravidade,
digo revogado. Na pretensão de reparação de danos por poderiam comprometer a estrutura da edificação e, eventualmen-
defeitos construtivos em imóvel, o prazo prescricional a ser te, atentar contra a integridade física dos ocupantes do imóvel.
observado é o vintenário, previsto no art. 177 do Código A referida garantia quinquenal, conforme exaustivamente
Civil de 1.916, ou o decenal, previsto no art. 205 do Códi- afirmado ao longo do texto, é despida de qualquer natureza pres-
go Civil de 2002, respeitada a regra de transição prevista cricional ou decadencial, sendo certo que consiste tão somente
no art. 2028 deste último. STJ. (TJMG - Apelação Cível em prazo dentro do qual responde objetivamente o empreiteiro
1.0027.09.208941-9/001, Relator(a): Des.(a) José Arthur Fi- por quaisquer vícios relacionados à solidez e segurança da edi-
lho , 9ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 10/03/2015, publi- ficação, não se admitindo discussão sobre quaisquer elementos
cação da súmula em 23/03/2015)” subjetivos de sua conduta por parte do dono da obra ao acioná
-la, o que será feito mediante o exercício do direito de reclamação
Em que pese sejam inúmeros os arestos provenientes dos tribu- por eventuais vícios.
nais pátrios a sufragar entendimento idêntico ao aqui exposto, pare- Ademais, percebe-se que, para poder exercer seu direito á
ce-nos tratar-se de grave equívoco interpretativo, a desconsiderar as garantia supracitada, o dono da obra é obrigado, por força da
novas regras de prescrição trazidas no bojo do Código Reale. previsão contida no Parágrafo Único do artigo 618, Código Civil,
Observe-se que o Código Civil de 2002 traz inovadora previsão a intentar ação contra o empreiteiro nos cento e oitenta dias se-
em relação aos prazos prescricionais, passando a dispor especifica- guintes ao aparecimento do vício ou defeito, o que significa dizer
mente sobre o prazo de três anos para o exercício de pretensão à re- que o Código inovou ao estabelecer prazo decadencial ( e não
paração civil, fenômeno que jamais havia ocorrido durante a vigência prescricional ) para o exercício de um direito de ação específico.
de seu antecessor: E, no tocante ao prazo prescricional a ser aplicado a even-
“Art. 206. Prescreve: tual pretensão á reparação civil, formulada pelo dono da obra em
(...) face do empreiteiro, caso a invocação da garantia quinquenal
§ 3º Em três anos: prevista no caput. do art. 618 não se mostre suficiente á resolu-
V - a pretensão de reparação civil;” ção de todos os problemas decorrentes dos vícios apontados na
obra, ressalta-se através deste trabalho, a necessidade de que
Desta feita, é compreensível que, ante a inexistência de re- seja aplicado à espécie, atualmente, o triênio prescricional con-
gra específica de prescrição aplicável ao direito de reparação por templado no artigo 206 do
danos oriundos da má execução do contrato de empreitada de Código Civil de 2002 em detrimento do vintênio previsto na
edifícios ou outras construções consideráveis, tenha o STJ, em antiga súmula 194, STJ, por ser o único entendimento amparado
1997, chegado à conclusão de que a melhor opção seria aplicar à pela Lei Civil atualmente em vigor.
hipótese em estudo, residualmente, a prescrição vintenária, con-
sistente na regra geral vigente à época. BIBLIOGRAFIA
O que se mostra de impossível compreensão é o fato de Rosenvald, Nelson; Farias, Cristiano Chaves de. Curso de Direito Civil, Teoria

que, mesmo após ter sido promulgada a nova Lei Civil, extrema-
Geral e Contratos Em Espécie, 3ªed., Salvador: Juspodium, 2013.
mente inovadora ao prever um triênio prescricional que perfeita-
mente se amolda ao objeto do presente estudo, seja tal previsão Agnelo Amorim Filho, Critério científico para distinguir a prescrição da decadên-
legal ignorada pelos tribunais pátrios para que se continue a pres- cia e para identificar as ações imprescritíveis. Revista de Direito Processual Civil.
tigiar a já defasada súmula 194, STJ. São Paulo, v. 3º, p. 95-132, jan./jun. 1961.

Em defesa da aplicação do triênio prescricional nos dias atu-


Rizzardo, Arnaldo. Condomínio Edilício e Incorporação Imobiliária, 1ª Ed., Gen,
ais, contado da data do fato, assevera Nelson Rosenvald (2013): 2011.
“De qualquer sorte, superado o prazo de garantia (cinco
anos) – estabelecido em favor do dono da obra ou de ter- Tartuce, Flávio. Teoria Geral dos Contratos e Contratos Em Espécie - Vol. 3, Gen,
ceiro adquirente neste período -, o empreiteiro continua- 2013.

rá respondendo pelos eventuais vícios existentes na obra,


Enunciado 181 do Conselho da Justiça federal, 2004 (http://www.cjf.jus.br/CEJ-
desde que provada sua culpa (responsabilidade subjetiva Coedi/jornadas-cej/enunciados-aprovados-da-i-iii-iv-e-v-jornada-de-direito- ci-
com culpa provada pela vítima), como consagra o sistema vil/compilacaoenunciadosaprovados1-3-4jornadadircivilnum.pdf)

LETRAS JURÍDICAS | V. 3| N.2 | 2O SEMESTRE DE 2015 | ISSN 2358-2685 CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA
46
Repositório Oficial de Jurisprudência do Tribunal de Justiça de Minas Gerais.
(Apelação Cível 1.0027.09.208941-9/001, Relator(a): Des.(a) José Arthur Fi-
lho, 9ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 10/03/2015, publicação da súmula em
23/03/2015)”

Código Civil de 1916

Código Civil de 2002

Súmula 194, Superior Tribunal de Justiça.

Notas de fim
1
Acadêmico da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva.

2
Professor da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva.

LETRAS JURÍDICAS | V. 3| N.2 | 2O SEMESTRE DE 2015 | ISSN 2358-2685 CENTRO UNIVERSITÁRIO NEWTON PAIVA
47

Вам также может понравиться