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Ora, nesse período acontecem profundas mudanças sob todo os aspectos na sociedade

brasileira: (i) o maior êxodo rural da história; (ii) a proletarização de contingentes de


trabalhadores antes não imaginado; (iii) a mecanização da lavoura, que expulsou centenas de
milhares de famílias de suas casas; (iv) Reforma Bancária, que indexou formalmente todos os
níveis de pessoas, vinculando a regulação da vida nacional com a regulação do setor
financeiro; (v) a regulação da produção cultural, pesquisa acadêmica e propriedade intelectual,
desencadeando a constituição de monopólios de regulação cultural e ideológica.

Sob o ponto de vista político, a visão tradicional dos PCs (PCB e PCdoB) no final da ditadura,
para além do extermínio por prisões e exílios, encontra-se enfraquecida também por não
posicionar-se na nova conjuntura, mantendo teses que não mais se sustentavam nas frentes
de luta e resistência popular à ditadura: (i) a tese do etapismo, isto é, de que existe uma etapa
‘preliminar’ na construção do socialismo, e essa etapa passa por fortalecer o modo de
produção capitalista, corrigindo certos anacronismos nas relações de produção; (ii) o modelo
nacionalista, que identificava, pelos preceitos do etapismo, a burguesia nacional como aliada,
tanto para desenvolver as forças produtivas quanto para enfrentar a ‘burguesia internacional’.
O Partido Comunista havia já realizado amplas e populares campanhas em defesa do solo e
sub-solo frente à internacionalização de recursos. A campanha “O petróleo é nosso” foi tão
intensa, que fez parte mesmo do “Ideal de Salvação Nacional”, colocado em prática pelos
militares durante a Ditadura.

Esse modelo do comunismo brasileiro foi chamado de “Nacional e Democrático” (Cf. p.ex.: a
resolução do PCB 1976; MORAES 2007; Rezende 2010; Santos 2011).

Por outo lado, tais setores acusam a ascensão do movimento camponês, na expressão do
confronto urbano aberto e na radicalização de determinados enfrentamentos de caráter
ideológico, a “influência do pensamento althusseriano”.

Se o nome de Althusser já se tornara um trauma, após o terrível episódio da morte de sua


esposa — estrangulada por ele durante um surto psicótico — o seu pensamento na produção
intelectual brasileira sempre foi um incômodo. Uma transição entre o descartável e o
deplorável.

De tempos em tempos, sob pretexto de participar de algum tipo de resgate de seu


pensamento, a mídia e a mesma turba enfurecida se manifesta, no sentido de cutucar para ver
se tal pensamento está morto mesmo — e de preferência recoberto com uma boa quantidade
de cal e terra batida de esquecimento —, pelo menos sete palmos abaixo da teoria
estabelecida e consagrada.

Mais um ponto a favor: estudar Althusser não como memória, mas sim como a construção
dela a partir de um apagamento.

No entanto, recentemente, algumas teses centrais e muito originais de seu pensamento


reaparecem, respondendo a questões não apenas contemporâneas hoje, mas
contemporâneas também de trinta anos atrás, numa espécie de retomada helicoidal de
temporalidade.
Com a peculiar curiosidade de continuar a causar extremo mal-estar em diversos cantos onde
repercute. Talvez pela força redutiva do dito — não existe fora da ideologia, tudo é ideologia
— que pode remeter nossas mais caras certezas e verdades ao campo da visão ideológica.

Althusser nos coloca diante de um impasse. Não se pode abordar a ideologia de dentro, pois a
visão do observador, neste caso, já se acha comprometida; mas parece não haver lugar fora
dela que permita observá-la. Pascal, de forma metafórica perguntaria quem pode estabelecer
um ponto fixo dentro de um barco à deriva?

Ou seja, parece verdadeiro o fato de que nós não vivemos sem ideologias. E, segundo
Althusser, é também fato que elas são materiais. Mas não porque existam como objetos no
mundo, mas porque se EXPRESSAM e ORGANIZAM materialmente a vida das pessoas.

Sua conclusão vai em duas mãos: existe um condicionante de vai e vém do corpo na formação
de tais ideologias. e de tais ideologias na forma de vida.

Por exemplo frente ao seu conceito de ‘ideologia’, que não se dá por falsa consciência, mas
pela capacidade social de estabelecer rotinas e aparatos que controlem os corpos, aparatos
estes físicos ou simbólicos, ou mesmo no controle mais abstrato da linguagem. Pensadores
notáveis como o professor Safatle, por exemplo, em seu Cinismo e Falência da crítica bem
reconhece este valor, com o elogio complementar de nisso, pelo menos, estar em acordo com
Adorno (SAFATLE 2008)

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