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DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

Seleção Diária da Imprensa Nacional


Quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA 4


BBC News Brasil – O que o Brasil perde e ganha se entrar na OCDE, o ‘clube dos países ricos’ 4
Gazeta do Povo – Selo da OCDE será uma conquista importante / Artigo / Rodrigo Constantino 9
O Estado de S. Paulo – ‘Adesão do Brasil deve se dar no governo Bolsonaro’ / Entrevista / Marcos
Troyjo 9
O Estado de S. Paulo – Gesto ajuda Bolsonaro a defender aposta na parceria com EUA / Análise /
Oliver Stuenkel 10
O Estado de S. Paulo – Itamaraty confirma apoio dos EUA ao Brasil na OCDE 11
O Estado de S. Paulo – OCDE e os resultados / Coluna / William Waack 12
O Globo – Após OCDE, Trump deve adotar novas medidas de apoio ao Brasil 13
O Globo – OCDE é vitória política de Bolsonaro / Coluna / Merval Pereira 15
O Globo – Prioridade dos EUA para candidatura do Brasil pode destravar processo de expansão da
OCDE, diz Itamaraty 16
Valor Econômico – Em Davos, um trunfo e a promessa de mais reformas 18
Valor Econômico – Secretário crê que o Brasil conseguirá adesão à OCDE até 2022 20

EDITORIAIS 21
Valor Econômico – Produção agrícola promete um novo recorde neste ano / Editorial 21

AGRONEGÓCIO 23
O Globo – Acordo entre EUA e China pode afetar agronegócio 23
Valor Econômico – Otimismo na xícara 25

AMÉRICA DO SUL 25
Carta capital – Bolívia: Justiça amplia mandato de presidente até posse de novo governo 25
O Estado de S. Paulo – Oposição diz ter sido alvo de tiros na Venezuela 26
O Globo – Ex-braço direito de Morales afirma que é ‘um preso político’ 26
O Globo – Governo do Chile propõe reformar sistema de aposentadorias em resposta a protestos
sociais 28
Valor Econômico – Sinais vindos da Argentina são ruins, diz Marcos Troyjo 29

ESTADOS UNIDOS 30
O Estado de S. Paulo – EUA ameaçaram europeus para pressionarem Teerã 30
O Globo – Senado recebe acusações e começa a julgar Trump 31
Valor Econômico – O quase desastre de Trump com o Irã / Artigo / Elizabeth Drew 33

AMÉRICA CENTRAL, CARIBE E MÉXICO 35


O Estado de S. Paulo – Caravana de migrantes segue para México 35

EUROPA 35
O Globo – ‘Presidente vai manobrar para ver quem é mais apto’ / Entrevista / Angelo Segrillo 35
Valor Econômico – Putin indica que mudará de cargo, mas seguirá no poder 37

ÁFRICA 38
Valor Econômico – Petrobras encerra presença de quatro décadas na África 38

ORIENTE MÉDIO 40
Gazeta do Povo – Síria acusa Israel de ter disparado mísseis contra bases militares 41
O Globo – E se, em vez do Irã, fôssemos nós? / Coluna / Guga Chacra 41

ORGANISMOS INTERNACIONAIS E MECANISMOS REGIONAIS E


INTERREGIONAIS 42
O Globo – Governo Bolsonaro tira país de órgão regional 42
O Globo – Negociadores pretendem discutir reforma da OMC 43

DIREITOS HUMANOS E TEMAS SOCIAIS 44


Veja – EUA ‘continuaram a retroceder em direitos’ em 2019, diz relatório mundial 44

TEMAS MIGRATÓRIOS E CONSULARES 45


O Globo – Brasileiros residentes em Portugal chegam a número recorde de 151 mil 45

COMÉRCIO INTERNACIONAL E PROMOÇÃO COMERCIAL 45


Exame – Acordo entre EUA e China: bipolaridade e trégua para o comércio global / Artigo / Renata
Amaral 45
O Estado de S. Paulo – EUA e China assinam 1ª fase de acordo comercial 48
Valor Econômico – EUA e China assinam acordo que dá alívio à guerra comercial 49
Valor Econômico – Trégua na guerra comercial é só parcial e não desfaz danos 52
Valor Econômico – No Brasil, impacto do acordo entre China e EUA deve ser limitado 54
Valor Econômico – Piora do déficit externo tem de ser monitorada, diz IFI 55
Valor Econômico – Acordo não deve prejudicar venda de manufaturados à China 56

ASSUNTOS FINANCEIROS, ECONÔMICOS E INVESTIMENTOS 57


O Estado de S. Paulo – PIB – 2010-2019, a pior de 12 décadas / Artigo / Roberto Macedo 57
O Globo – Bolsa tem saída recorde de estrangeiros: R$ 4,6 bi 59
Valor Econômico – A recuperação é sustentável? / Artigo / Mario Mesquita 60

MEIO AMBIENTE E ENERGIA 62


O Estado de S. Paulo – Década foi a mais quente da história 62
O Estado de S. Paulo – ONG critica governo em área ambiental 63
O Globo – O Brasil e as crises do petróleo / Coluna / Décio Oddone 63
O Globo – Perdas na Amazônia podem superar US$ 3 tri 65
Valor Econômico – Liderança global aponta clima como risco maior 66
Valor Econômico – Na Alemanha, ministra da Agricultura defende ações sustentáveis do governo 68

CIÊNCIA E TECNOLOGIA 69
O Globo – Governo construiu nova estação na Antártica sem limpar área contaminada por incêndio em
2012 69
O Globo – Verbas para projetos na Antártica preocupam 70

COOPERAÇÃO JURÍDICA E SEGURANÇA 72


Gazeta do Povo – Acusado de ataque ao Porta dos Fundos só volta ao Brasil com prisão revogada, diz
jornal 72

OUTROS TEMAS 73
Crusoé – Paris, Viena, Lisboa e Miami: a agenda de viagens dos ministros 73
2
O Globo – Para atrair turistas, Embratur quer outdoors em Times Square 73

BLOGS E SITES 74
Brasil 247 – Chanceler russo defende entrada do Brasil no Conselho de Segurança da ONU 74
Brasil Sem Medo – EUA anunciam prioridade à entrada do Brasil na OCDE 75
BR Político – Viagem de Bolsonaro à Índia deve render resultados imediatos 76
Conversa Afiada – Chanceler de Bolsonaro deixa de ir a Davos para comparecer a evento estratégico
para Trump 77
Diário do Centro do Mundo – Advogados japoneses de Ghosn se retiram de seu caso 77
Metrópoles – Itamaraty diz esperar rapidez para a entrada do Brasil na OCDE 78
O Antagonista – Bolsonaro parabeniza Boris Johnson 78
Renova Mídia – Brasil e Qatar terminam com exigência de visto 79
Terça Livre – Maduro diz que vai ‘arrebentar os dentes’ de Brasil e Colômbia em caso de interferência
79
UOL – Brics atingiram a maturidade e se fortaleceram internacionalmente, diz Rússia 80
UOL – Opinião: Mais um estrago patrocinado por Trump / Artigo / Andreas Rostek-Buetti 80
Nexo – O papel da Flórida em barrar a laranja brasileira nos EUA 82

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POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA

BBC News Brasil – O que o Brasil perde e ganha se entrar na


OCDE, o ‘clube dos países ricos’
Nathalia Passarinho
Da BBC News Brasil em Londres

Depois de o Brasil fazer uma série de concessões importantes aos Estados Unidos ao longo
de 2019, o governo Donald Trump anunciou que vai priorizar o pleito brasileiro de ingresso
na OCDE, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico.

O Brasil é um dos seis candidatos a iniciar o processo de entrada nesse organismo


internacional, mas os EUA vinham defendendo que Argentina e Romênia entrassem
primeiro. Agora, parecem ter mudado de ideia e substituído o pleito argentino pelo
brasileiro.

"Os EUA querem que o Brasil se torne o próximo país a iniciar o processo de adesão à
OCDE. O governo brasileiro está trabalhando para alinhar as suas políticas econômicas aos
padrões da OCDE enquanto prioriza a adesão à organização para reforçar as suas reformas
políticas", disse, em nota, o Departamento de Estado dos EUA.

O governo Bolsonaro estaria, finalmente, colhendo um retorno da série de concessões e


acenos que fez a Trump.

Entre esses gestos do lado brasileiro estão a eliminação de visto para americanos que
visitam o país, a renúncia ao tratamento diferenciado que o Brasil tinha em negociações na
Organização Mundial do Comércio (OMC) e, mais recentemente, o apoio à ação militar dos
EUA que assassinou o general iraniano Qasem Soleimani, no Iraque.

Essa decisão relacionada à OCDE pode ajudar a amenizar críticas que o governo brasileiro
vem recebendo pelo alinhamento automático com os Estados Unidos. Recentemente, o
presidente da Câmara, Rodrigo Maia, disse que o Brasil estava fazendo concessões demais
ao governo americano sem receber compensações.

Especialistas em comércio exterior e relações internacionais também afirmavam que a


relação de "amizade" entre Bolsonaro e Trump parecia "desigual", com o Brasil cedendo
sem receber algo substancial em troca.

Em postagem no Twitter, o ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, disse que o


apoio manifestado pelos EUA pela entrada do Brasil na OCDE demonstra que a estratégia
brasileira é capaz de trazer benefícios ao país.

"Anúncio americano de prioridade ao Brasil para ingresso na OCDE comprova uma vez
mais que estamos construindo uma parceria sólida com os EUA, capaz de gerar resultados
de curto, médio e longo prazo, em benefício da transformação do Brasil na grande nação
que sempre quisemos ser", afirmou.

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Mas quais são, concretamente, as vantagens de entrar no chamado "clube de países
ricos"?

E o que o Brasil pode perder se acabar, de fato, ingressando na OCDE?

Investimentos e juros baixos para empréstimos internacionais


A OCDE, com sede em Paris, foi criada em 1961 e reúne 36 países-membros, a maioria
economias desenvolvidas, como Estados Unidos, Japão e países da União Europeia. A
organização é vista como um "clube dos ricos", apesar do ingresso de vários emergentes.
Chile e México são os únicos representantes da América Latina.

A organização é conhecida por defender a democracia representativa e a economia de


mercado. É também um importante local de produção de pesquisa orientada para criar e
melhorar políticas públicas.

Esse 'fórum internacional' realiza estudos e auxilia no desenvolvimento de seus países-


membros, fomentando ações voltadas para a estabilidade financeira e a melhoria de
indicadores sociais.

Com o apoio americano, o Brasil precisa agora garantir o aval dos demais membros da
organização, principalmente países europeus.

Se houver uma chancela ao início do processo de entrada, o país passará a ser avaliado
por comissões temáticas quanto ao cumprimento de recomendações da OCDE em diversos
setores, como meio ambiente, saúde, responsabilidade fiscal e combate à lavagem de
dinheiro.

Todo esse procedimento pode levar de 3 a 5 anos.

"O Brasil coopera com a OCDE desde os anos 1990. A OCDE tem 253 instrumentos
jurídicos, que são recomendações e decisões, e o Brasil já aderiu a 80 desses
instrumentos, o que é 30% deles", disse à BBC News Brasil o embaixador Carlos Márcio
Cozendey, representante do Brasil na OCDE.

Para economistas, o ingresso do país na organização funcionaria como uma espécie de


"selo de qualidade" na economia, o que potencialmente pode atrair investimentos e
melhorar a nota do Brasil em consultorias de risco que avaliam o quão seguro é transferir
dinheiro para os países avaliados.

Vários fundos de investimentos estrangeiros possuem regras internas que dificultam a


aplicação de recursos em nações que não integram a OCDE, por exemplo. Por isso, a
entrada no "clube dos países ricos" pode significar novas oportunidades de negócios e de
obter empréstimos bancários a juros mais baixos, por exemplo.

Segundo Leonardo Trevisan, doutor em ciência política pela Universidade de São Paulo e
professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) em SP, o ingresso na
OCDE pode também melhorar as estatísticas que são produzidas sobre o Brasil — o que,
por sua vez, tende a elevar a confiabilidade do país.

Isso porque a OCDE faz uma série de checagens do que é produzido em seus países-
membros.
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Adesão a programas para dar eficácia a políticas públicas

A OCDE tem um corpo técnico de grande qualidade, produzindo pesquisas sobre políticas
públicas em diferentes áreas, como saúde, educação, saneamento básico, etc.

Esses estudos orientam ações domésticas dos países-membros e o Brasil poderia utilizar
isso para desenvolver estratégias de melhoria de indicadores sociais e econômicos, diz o
embaixador Márcio Cozendey.

"A organização tem várias funções, e a principal delas é a de identificação de melhores


práticas de políticas públicas. Então, uma primeira vantagem é você estar exposto a essas
políticas, trocar informações, ter suas políticas avaliadas", explicou à BBC News Brasil.

"A OCDE faz um trabalho de assistência, comparação, aperfeiçoamento de políticas


públicas do qual é muito bom poder participar."

Além disso, como país-membro, o Brasil poderia influenciar na decisão sobre as áreas que
a organização deve priorizar em suas análises. Ou seja, se o país deseja focar
investimentos em educação na primeira infância, pode eventualmente pressionar por
pesquisas e avaliações de políticas públicas nesse setor pela OCDE.

"Como membro você ganha adicionalmente o poder de direcionar os temas que vão ser
discutidos, a agenda", diz o embaixador brasileiro.

Ter voz nas discussões que definem padrões internacionais


Por incluir alguns dos países mais poderosos do mundo, as resoluções adotadas pela OCDE
acabam se tornando referência internacional e até padrão de comportamento exigido para
acordos e empréstimos internacionais.

Ao fazer parte da OCDE, o país-membro passa a ser visto como cumpridor dessas normas
ou "melhores práticas". Ao mesmo tempo, tem a oportunidade de participar das discussões
que definem esses padrões, podendo eventualmente evitar o estabelecimento de
exigências que seriam prejudiciais ao país.

"Uma segunda função da OCDE é que, a partir das discussões de análise de políticas
públicas, você muitas vezes chega a recomendações ou padrões mínimos de
comportamento em determinadas áreas", diz o representante do Brasil na OCDE.

"Esses padrões acabam tendo um impacto global e sendo aplicados em outros países do
mundo. Então é interessante você ter algum controle na formulação deles, ter o poder de
direcionar quais vão ser os padrões, evitando aquilo que não te interessa."

Mas a professora de Relações Internacionais da PUC-SP Elaini Gonzaga da Silva destaca


que só integrar a OCDE não é garantia de que o Brasil será ouvido e terá capacidade de
influenciar decisões.

"A questão é saber se um país de menor porte e com problemas efetivos na sua
consistência de desenvolvimento vai ter, efetivamente, uma voz ouvida, uma voz própria,
e a chance de se colocar nesse debate", observa.

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"Não basta ser membro, você tem que ter um determinado status, daí a importância dessa
confiança atribuída pelos outros Estados naquilo que você tem a dizer, que é aquilo que as
pessoas chamam de soft power (capacidade de influenciar decisões internacionais pelo
prestígio, sem usar força bélica ou econômica)."

Contribuição econômica
Mas fazer parte desse clube não sai de graça. Se o Brasil conseguir entrar na OCDE,
passará a ter de contribuir anualmente para o orçamento da instituição. Há contribuições
obrigatórias, que levam em conta, nos cálculos, o tamanho do PIB, e outras que são
voluntárias.

A contribuição anual obrigatória do México, por exemplo, é de cerca de US$ 5,5 milhões. É
razoável estimar que o Brasil, por ter um Produto Interno Bruto (PIB) maior, terá que fazer
um investimento maior que os mexicanos. No caso dos Estados Unidos, maior financiador
da OCDE, a soma ultrapassa US$ 80 milhões.

Se o Brasil iniciar o processo de entrada na organização, as práticas do país em diversas


áreas, como meio ambiente, saúde e gestão fiscal, serão analisadas por comissões
temáticas.

Os custos dessa fase de negociação e avaliação, que pode durar até cinco anos, também
são arcados pelo Brasil.

Ou seja, entrar para a OCDE trará gastos para o país, embora alguns especialistas
acreditem que eles serão compensados pelos retornos econômicos que fazer parte desse
organismo trará.

Falta de flexibilidade para gerir a economia


No processo de negociação para entrada na instituição, o Brasil vai ter que demonstrar que
aderiu à grande parte das recomendações feitas em diferentes áreas, sobretudo a
macroeconômica.

Isso significa que o Brasil vai ter que seguir orientações sobre o grau de interferência do
Estado na economia e práticas relacionadas a controle de taxa de juros, de câmbio e
tributação de capital estrangeiro.

O professor Nelson Marconi, coordenador-executivo do Fórum de Economia da Fundação


Getúlio Vargas (FGV), explica que, na prática, fazer parte da OCDE vai limitar a liberdade
que o governo tem de gerir a economia, porque essa organização internacional defende
intervenção minima do Estado e liberalização do fluxo de capitais.

E o controle sobre a entrada e saída de dinheiro no Brasil já foi usado, por exemplo, para
conter os efeitos da crise internacional de 2008.

Marconi lembra que, naquela época, o Brasil aumentou o Imposto sobre Operações
Financeiras (IOF) para reduzir a entrada de dinheiro especulativo, ou seja, de recurso que
não visa investimento de longo prazo e que pode sair de repente do país, causando quedas
na bolsa e valorizações ou desvalorizações repentinas do real frente ao dólar.

A OCDE é contra medidas como essa e se opõe controles sobre importações e taxas de
câmbio em momentos de crise — instrumentos que o Brasil tende a usar menos na gestão
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de Paulo Guedes como ministro da Economia, mas que já foram utilizados no passado em
momentos de turbulência.

"Quando você entra na OCDE você tem que obedecer certos padrões e você não vai, por
exemplo, poder colocar controles sobre o fluxo de capitais. Se, em algum momento do
país, você tiver algum ataque especulativo ou se você quiser evitar uma valorização muito
grande da nossa moeda, o Brasil não vai poder impor uma taxação sobre entrada de
capital", disse à BBC News Brasil o professor da FGV.

"Esse tipo de estratégia relacionada ao controle de capitais já foi muito usada por países
asiáticos, com a Coreia do Sul, e até pelo Chile, que todo mundo diz que é mais liberal. E
essas medidas trazem uma estabilidade de câmbio, que é uma coisa importante para nós,
do ponto de vista macroeconômico, para o exportador e o importador."

Renúncia do tratamento diferenciado na OMC


Não foi nada barato arrancar esse apoio dos Estados Unidos e, para alguns analistas, os
ganhos com a entrada na OCDE podem não compensar as concessões que o Brasil teve
que fazer ao governo Donald Trump.

A concessão com maior potencial de impacto econômico foi a renúncia ao tratamento


diferenciado, como país em desenvolvimento, nas negociações da Organização Mundial do
Comércio, a OMC.

O tratamento diferenciado prevê benefícios para países emergentes em negociações com


nações ricas. O Brasil tinha, por exemplo, mais prazo para cumprir determinações e
margem maior para proteger produtos nacionais.

"A gente tinha uma série de vantagens em termos de compras de produtos com conteúdo
local por parte do setor público e uma série de benefícios tarifários por ter status de país
em desenvolvimento e de que a gente abriu mão para entrar na OCDE. E a gente abriu
mão para não ter praticamente nenhuma garantia do outro lado", critica Nelson Marconi,
da FGV.

"Isso pode prejudicar muito a gente do ponto de vista comércio, da indústria e do próprio
processo de desenvolvimento."

Além do impacto direto nas futuras negociações comerciais brasileiras, essa decisão afetou
a relação com países do Brics — grupo formado por Brasil, Rússia, China, Índia e África do
Sul.

Isso porque essas nações vão acabar sendo mais pressionadas a também abrir mão do
tratamento diferenciado após a decisão brasileira. E a Índia já está retaliando o Brasil.

"Na OMC, a Índia já vetou outro dia a nomeação de um embaixador brasileiro para
negociar questões na área de pesca e foi um veto ligado exatamente a essa negociação
entre Estados Unidos e Brasil pela entrada na OCDE", explica o professor de Relações
Internacionais Marco Vieira, que leciona na Universidade de Birmingham, no Reino Unido.

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Gazeta do Povo – Selo da OCDE será uma conquista importante /
Artigo / Rodrigo Constantino
O governo norte-americano confirmou à Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE) seu apoio formal ao ingresso do Brasil no grupo, com
prioridade sobre outros postulantes. Uma carta já foi enviada à organização, de acordo
com informações confirmadas pela Embaixada americana à Globo News.

A movimentação reafirma acenos feitos em 2019 pelo presidente dos EUA, Donald Trump,
mas que não ganharam contornos mais definidos até então (especialmente por causa de
sinalizações contrárias, que acabaram negadas por autoridades do país). A entrada do
Brasil na OCDE é considerada prioritária pelo governo de Jair Bolsonaro, mas para isso o
país precisa desbancar outros países que já estão formalmente na fila para iniciar o
processo de adesão, como Argentina, Peru, Romênia, Bulgária e Croácia.

Trata-se de um importante selo de qualidade, ainda que o reconhecimento pela OCDE seja
mais uma consequência do que uma causa dos avanços do país. Ou seja, não basta ser
membro para melhorar nossa situação; mas ser membro significa que estamos
caminhando na direção certa e, se isso for visto assim pelos investidores, poderemos atrair
mais capital para o país, e também sinalizar aos congressistas como é importante seguir
com a agenda de reformas.

Os responsáveis pela política externa do governo comemoraram nas redes sociais, com
razão. O ministro Ernesto Araújo enfatizou a importância da aproximação com o governo
americano:
O assessor para assuntos externos da Presidência, Filipe Martins, aproveitou para alfinetar
a mídia:
O presidente Jair Bolsonaro ressaltou que o Brasil está na frente da Argentina e bastante
adiantado em relação aos critérios para entrar na OCDE. "São mais de cem requisitos para
você ser aceito. Estamos bastante adiantados, inclusive na frente da Argentina. E as
vantagens para o Brasil são muitas. Equivale ao país entrar na primeira divisão", afirmou
Bolsonaro.

O fato de um grupo esquerdista radical ter voltado ao poder na Argentina certamente


influenciou a postura do governo americano, mostrando que a ideologia importa. Comentei
sobre o caso no Jornal da Manhã hoje.

O Estado de S. Paulo – ‘Adesão do Brasil deve se dar no governo


Bolsonaro’ / Entrevista / Marcos Troyjo
Marcos Troyjo, secretário especial de Comércio Exterior

Adriana Fernandes Idiana Tomazelli / BRASÍLIA


O secretário especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais, Marcos Troyjo, prevê
em entrevista ao Estadão/Broadcast, concluir a adesão do Brasil à Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) ainda na primeira administração do
governo Jair Bolsonaro. Troyjo diz ainda que a inflexão política na Argentina ajudou a
acelerar o processo de apoio dos americanos à candidatura brasileira. A seguir, os
principais trechos da entrevista.

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O que mudou do fim do ano para cá após os EUA terem colocado a Argentina na frente na
lista de apoio à adesão na OCDE? Quando houve o momento de aproximação estratégica
dos presidentes Bolsonaro e Trump, a Argentina já era candidata. É natural que tenha um
critério cronológico. No momento em que a Argentina tem uma inflexão e todas as suas
sinalizações de política pública parecem se afastar dos princípios que são preconizados pela
OCDE, é natural que a maior economia da OCDE tenha de priorizar outro candidato, que no
caso é o Brasil.

Qual é o caminho agora? É uma mistura de coordenação com os países-membros. Muitos


deles já endossaram formalmente seu apoio ao Brasil: Japão, Alemanha, Reino Unido, etc.
Acelerar as reformas ainda mais, e aí é um processo natural.

Quando tempo levará esse processo?

No âmbito dessa primeira administração Jair Bolsonaro.

O que representa a decisão dos EUA de formalizarem o apoio à adesão do Brasil à OCDE?

É um processo muito importante de acessão do Brasil à OCDE. Entrar na OCDE é igual a


ficar sócio de um clube. Você tem de apresentar uma documentação, mas você não pode
levar um não dos sócios. Havia a resistência de alguns países, e essa visão do presidente
Bolsonaro de reconstruir uma aliança com os EUA. São as duas maiores democracias do
Ocidente e economias da América. Deveriam ter um intercâmbio comercial muito maior. Os
americanos estavam jogando com um critério cronológico. Transcorreu-se um período de
ciclo eleitoral na Argentina e isso permitiu agora o apoio ao Brasil. A Argentina estava na
frente. E teve toda a polêmica com o fato de o Brasil ter aberto mão do tratamento
especial na OMC...

A crítica que se fez no 2.º semestre de 2019 me parece mal findada porque de um lado os
EUA nunca deixaram de apoiar o Brasil, e mais uma vez entrar na OCDE é um processo. É
mais parecido com um rali do que com uma prova de tiro de curta distância. Você ganha
no final se cumprir todas as etapas. Em relação à OMC, se esse tratamento especial e
diferenciado fosse tão importante, por que não somos uma potência comercial?

O Estado de S. Paulo – Gesto ajuda Bolsonaro a defender aposta


na parceria com EUA / Análise / Oliver Stuenkel
É PROFESSOR DA FGV

A decisão do governo americano de colocar o Brasil na frente da Argentina, alterando sua


ordem de preferência no processo de adesão de novos membros da OCDE, é uma notícia
bem-vinda para o governo Bolsonaro. Afinal, o presidente brasileiro acumulou uma série de
derrotas importantes na política externa até agora, entre elas o mal-estar desnecessário
criado na relação com a China e o mundo árabe (seguido por tentativas de consertar o
estrago) e o isolamento diplomático crescente no Ocidente. Críticos também questionam a
aposta na aproximação com o governo Trump, decisão quixotesca no momento em que a
maioria dos principais aliados dos EUA busca reduzir sua dependência do presidente
americano, que é visto como errático e pouco confiável.

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A preferência americana pelo Brasil na corrida pelo ingresso na OCDE é um dos poucos
resultados positivos da investida de Bolsonaro na aproximação com o governo Trump, que
deixou de gerar frutos pela relutância americana de abrir seu mercado para produtos
brasileiros e pela incapacidade brasileira de ajudar os EUA a limitarem a influência chinesa
na região – única contribuição geopolítica relevante que Bolsonaro poderia oferecer a
Trump. O gesto de Trump de preterir a Argentina praticamente não teve custo político para
Washington. A equipe econômica do governo Alberto Fernández ainda está se formando,
mas já se sabe que a candidatura à OCDE dificilmente será uma prioridade para o novo
presidente argentino. Diferente do Brasil, onde a OCDE evoca paixões no debate público,
sendo vista por alguns como uma ameaça à autonomia estratégica do País e, por outros,
como símbolo de uma superação da política externa petista – ambas ideias que não se
baseiam em evidências –, na Argentina o tema nunca chegou a ser discutido fora do
pequeno círculo de especialistas. Como o apoio americano à candidatura brasileira é
apenas um fator em um processo de expansão lento que depende de vários outros
requisitos a serem cumpridos, ainda é incerto se a adesão ocorrerá durante a presidência
de Bolsonaro, ou se fica para depois.

O Estado de S. Paulo – Itamaraty confirma apoio dos EUA ao


Brasil na OCDE
Segundo o governo, uma carta dos americanos pedindo que o País fosse priorizado foi
entregue ao conselho da organização em Paris

Julia Lindner / BRASÍLIA Beatriz Bulla CORRESPONDENTE / WASHINGTON

Depois de o Brasil fazer uma série de concessões aos Estados Unidos ao longo de 2019, o
governo Donald Trump anunciou que vai dar prioridade ao pleito brasileiro de ingresso na
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).

De acordo com o Itamaraty, uma carta com o pedido para dar prioridade ao Brasil foi
apresentada pelos americanos em reunião do conselho da OCDE com representantes dos
países-membros, na manhã de ontem, em Paris. Sob a alegação de que o processo é
confidencial, os EUA não confirmaram oficialmente a informação.

O Brasil é um dos seis candidatos, além de Romênia, Croácia, Bulgária, Argentina, Peru e
Ucrânia, a iniciar o processo de entrada nesse organismo. Os EUA vinham defendendo que
Argentina e Romênia entrassem primeiro. Agora, parecem ter mudado de ideia e
substituído o pleito argentino pelo brasileiro.

O pedido formal para ingressar na OCDE foi feito pelo Brasil em meados de 2017. A OCDE
atua como uma organização para cooperação e discussão de políticas públicas e
econômicas. Para entrar na OCDE, é necessário a implementação de uma série de medidas
econômicas liberais, como o controle inflacionário e fiscal. Em troca, o país ganha um
“selo” de investimento que pode atrair investidores.

Em nota, o Ministério de Relações Exteriores informou que a proposta dos EUA, “de início
imediato do processo de acessão do Brasil” à OCDE, “trata-se de passo fundamental para
destravar o processo de expansão da organização”.

11
Até hoje, o governo Trump vinha se comprometendo com o apoio ao pleito brasileiro de
entrar na OCDE, sem indicar que posição o Brasil ocuparia na “fila” de candidatos, o que
deixava o País no limbo.

A mudança acontece depois de um ano em que o governo Bolsonaro mostrou alinhamento


com os americanos, apesar de viver percalços na relação com a Casa Branca, e depois de o
Itamaraty ter apoiar a ação americana no Iraque.

Segundo um auxiliar de Bolsonaro, a notícia veio em “ótima hora”, considerando que


ocorre algumas semanas após os EUA recuarem da decisão de sobretaxar o aço brasileiro –
algo que tinha colocado em xeque a relação entre Trump e Bolsonaro. O próximo passo, de
acordo com o interlocutor do presidente, será oficializar a negociação de um acordo
comercial entre Mercosul e EUA.

Cronograma. O secretário especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais, Marcos


Troyjo, disse ao Estadão/Broadcast que o Brasil quer montar um cronograma para firmar
um acordo comercial com os EUA. Segundo ele, Bolsonaro e Trump já deram sinalização
positiva para as negociações. O avanço, porém, dependerá ainda de uma flexibilização no
Mercosul que permita ao Brasil e aos demais membros negociar tarifas e cotas
independente do bloco – o que o secretário chama de “Mercosul flex”.

Ontem, o presidente Bolsonaro afirmou que o Brasil está “bastante adiantado” nos critérios
para entrar na OCDE, “inclusive na frente da Argentina”. “São mais de cem requisitos para
você ser aceito. Estamos bastante adiantados. E as vantagens para o Brasil são muitas.
Equivale ao País entrar na primeira divisão.”

De acordo com o Ministério da Economia, foi feita uma avaliação da compatibilidade da


legislação brasileira com acervo e padrões da OCDE. Segundo a área econômica, 82,6%
dos instrumentos não representam conflito para o País. Entre os desafios está uma
simplificação do sistema tributário brasileiro, tema que ainda está em discussão no
Congresso.

O Estado de S. Paulo – OCDE e os resultados / Coluna / William


Waack
Dá para entender a empolgação do governo brasileiro com a renovada garantia verbal de
Washington de apoiar o Brasil como primeiro da fila para ingresso na OCDE. Trata-se de
comemorar algum carinho vindo de Trump, depois de vários tapas.

A OCDE congrega aproximadamente 80% do comércio e investimentos mundiais, e aí estão


incluídos os 36 integrantes da organização e seus “key partners”, entre os quais figuram
Brasil, China, Índia, Indonésia e África do Sul. Na América Latina, o México faz parte desde
1994, e o Chile, desde 2010. A Colômbia foi convidada oficialmente em 2018 e, desde
2015, a OCDE negocia a entrada da Costa Rica.

A mais recente adesão foi da pequena Lituânia, completando o “cerco” de países bálticos
junto à Rússia, cujo acesso foi congelado em 2014 logo após a anexação da Crimeia. É
óbvio que é um gesto político a aceitação de países na organização – cuja lista de
membros iniciais em 1961 obedecia às principais alianças políticas e militares ocidentais da
Guerra Fria (mais as então “neutras” Áustria e Suíça).

12
A Índia tem relutância de caráter doméstico em integrar-se ao grupo, enquanto a entrada
da China é parte de uma formidável relação geopolítica com os Estados Unidos, mas os
dois gigantes asiáticos são alvo de resistência americana por uma outra questão que
envolve o Brasil: é a designação como “país em desenvolvimento” aplicada pela
Organização Mundial do Comércio. Essa definição, que garante tratamento preferencial a
esse grupo dentro da OMC (e interessa, obviamente, ao Brasil), é alvo de Trump.

Em outras palavras, Trump acha que um país não merece fazer parte da OCDE
(“desenvolvidos”) e, ao mesmo tempo, desfrutar de tratamento preferencial na OMC, cujo
sistema de regras multilaterais o Brasil se esforçou durante décadas para desenvolver e
consolidar e está agora sob feroz ataque do amigão na

Casa Branca. Onde teremos de ceder?

Em questões de comércio, aliás, o Brasil recebeu as piores bofetadas verbais do presidente


americano, que acusou o País (sem justificativa) de “manipulador da própria moeda”. A
quase infantil alegria com que a diplomacia brasileira se alinha a Trump em votações na
ONU (como o voto contra resolução anual da ONU que condena o embargo econômico a
Cuba, posição que uniu todos os governos civis brasileiros) contrasta com o pragmatismo
com que vários setores manobram no amplo e complexo campo das relações bilaterais com
os EUA.

Os militares brasileiros, interessados em garantir acesso a tecnologias, não aderiram ao


esforço americano (entre outros países) de limitar por princípio o direito do Irã de
desenvolver métodos de separação de isótopos (enriquecimento de urânio), pois isso
significaria colocar sob risco o próprio sistema de propulsão nuclear do projeto de
submarino brasileiro. Os acordos para a utilização da Base de Alcântara pelos americanos
não incluem restrições ao desenvolvimento de mísseis pelo Brasil, uma velha e tradicional
pressão americana.

Pragmática em relação a Washington tem sido sobretudo a postura dos setores dinâmicos
do agronegócio, que frearam arroubos diplomáticos brasileiros de apoio a Trump
equivalentes a uma espécie de vassalagem quando se trata de posturas sobretudo na
intrincada situação do Oriente Médio. Produtores brasileiros são os principais competidores
dos Estados Unidos na produção de grãos e proteínas, num difícil jogo para profissionais
que envolve a União Europeia e, claro, o principal parceiro comercial, a China – os
interesses do agronegócio foram, até aqui, a principal oposição a alguns aspectos
relevantes da política externa de Bolsonaro.

Todo mundo reconhece que relações entre países dependem de gestos também. Mas
resultados práticos contam mais ainda.

O governo brasileiro comemora um gesto amistoso do governo americano

O Globo – Após OCDE, Trump deve adotar novas medidas de


apoio ao Brasil
Segundo fonte do Itamaraty, ideia é se contrapor às críticas de que alinhamento a Trump
só é benéfica ao lado americano

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ELIANE OLIVEIRA BRASÍLIA

EUA podem aproximar Brasil da Otan e acelerar acordo bilateral e fim do embargo bovino,
diz fonte do Itamaraty.

A escolha do Brasil, pelos Estados Unidos, para ter prioridade na próxima rodada de
expansão da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico( OCDE) faz
parte de um conjunto de medidas a serem adotadas pelo governo americano para se
contrapor às críticas de que o alinhamento entre Brasília e Washington é prejudicial ao lado
brasileiro.

CARNE BOVINA E OTAN

Nas últimas semanas, o governo de Donald Trump emitiu algumas sinalizações importantes
ao governo brasileiro, segundo uma fonte do Itamaraty. Entre elas, estão o apoio a uma
eventual candidatura do Brasil a parceiro global da Organização do Tratado do Atlântico
Norte (Otan), fim do embargo à carne bovina in natura ainda este ano e uma atenção
maior às negociações para um acordo bilateral de livre comércio.

Ao mesmo tempo, os EUA querem que o Brasil mantenha seus compromissos e seu voto
favorável aos americanos nos fóruns internacionais. Por exemplo, o governo brasileiro
abriu mão do tratamento especial dado a nações em desenvolvimento na Organização
Mundial do Comércio (OMC) em troca do apoio à candidatura à OCDE.

Além disso, o Brasil rompeu uma tradição de quase 30 anos e se colocou a favor do
embargo a Cuba e, mais recentemente, ao lado de Washington no assassinato do general
iraniano Qassem Soleimani, chefe da Força Quds da Guarda Revolucionária.

Não há decisão em Brasília quanto à possibilidade de se tornar um parceiro global da Otan,


embora o assunto esteja em análise. Porém, a Casa Branca deixou claro que, se houver
interesse, o Brasil poderá contar com os EUA.

No caso da carne bovina in natura, o Brasil havia começado a vender o produto ao


mercado americano no início de 2017, após mais de 15 anos de negociação. Porém, as
autoridades daquele país suspenderam as importações, alegando questões sanitárias, em
meados daquele ano. A sinalização dos EUA é que o embargo poderá ser levantado ainda
neste semestre. A ordem dada pelo governo americano foi para que as autoridades
sanitárias daquele país acelerassem a elaboração do relatório final. Técnicos do Ministério
da Agricultura garantem que os problemas apontados pelos americanos já foram
resolvidos.

Existe uma projeção conservadora de que as exportações de carne bovina fresca para os
EUA rendam US$ 100 milhões em exportações. O valor é considerado pequeno, mas o que
importa é entrar no mercado americano, pois isso aumentaria a credibilidade do produto
brasileiro junto a outros parceiros internacionais.

Quanto à OCDE, o governo brasileiro não acredita que os europeus vão atrapalhar a
candidatura do país. No entanto, avalia que eles vão exigir que um país da Europa —
provavelmente a Romênia, que pede para entrar na OCDE há cerca de 20 anos — inicie o
processo de adesão junto com o Brasil.

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Como os EUA defendem o início imediato dos trâmites de ingresso do Brasil, é possível que
o início do processo de adesão brasileira se dê em maio deste ano, quando haverá uma
reunião ministerial da OCDE. A expectativa é que ele esteja concluído até o fim do
mandato de Bolsonaro, em 2022. Em nota divulgada ontem, o Itamaraty enfatizou que a
decisão dos EUA poderá facilitar o processo de expansão da OCDE.

‘BASTANTE ADIANTADOS’

Mais cedo, ao sair do Palácio da Alvorada, Bolsonaro disse que a notícia foi “muito bem-
vinda”. Em outubro do passado, Washington dera prioridade às candidaturas de Argentina
e Romênia.

—São mais de cem requisitos para você ser aceito, estamos bastante adiantados, inclusive
na frente da Argentina. E as vantagens para o Brasil são muitas. Equivale ao nosso país
entrar na primeira divisão —disse ele.

O chanceler Ernesto Araújo disse que o governo brasileiro está no caminho certo para
tornar o Brasil uma “grande nação”.

O Globo – OCDE é vitória política de Bolsonaro / Coluna / Merval


Pereira
Assim como foi um golpe político negativo para o governo Bolsonaro o anúncio, no ano
passado, de que os Estados Unidos estavam apoiando a entrada da Argentina na OCDE
(Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), em detrimento da
promessa feita de apoio ao Brasil, hoje, com a mudança de planos de Trump, também o
governo Bolsonaro tem seu momento de vitória política.

Importante notar que a política externa brasileira, desta vez, curvou-se aos interesses
econômicos do país e não reagiu intempestivamente contra o anúncio dos Estados Unidos.
O que parecia uma submissão, na verdade, era informação. Silenciosamente, a equipe
econômica continuou trabalhando, preparando os documentos necessários para a entrada
na OCDE.

O reconhecimento da relevância regional do Brasil tem um significado político importante,


e a estratégia dos Estados Unidos fica clara. Ao anunciar o apoio à Argentina, dava um
voto de confiança ao governo Macri, na tentativa de reverter a eleição argentina, naquela
altura já amplamente favorável ao peronista Alberto Fernández.

Eleito o governo de esquerda, com Cristina Kirchner como eminência parda na vice-
presidência, Trump volta-se para o Brasil, reforçando a política externa do governo
Bolsonaro, que deu demonstrações seguidas de adesão aos Estados Unidos nesse primeiro
ano de governo. A ponto de ter abandonado a cautela para apoiar publicamente a ação dos
Estados Unidos que culminou na morte do general Soleimani, o mais importante ator do
terrorismo iraniano.

“O governo brasileiro está trabalhando para alinhar as suas políticas econômicas aos
padrões da OCDE enquanto prioriza a adesão à organização para reforçar as suas reformas
políticas”, justificou a embaixada dos EUA em Brasília.

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O Brasil já é o país não membro com maior cooperação e atuação no âmbito da OCDE.
Participa de vários conselhos setoriais e comitês da entidade, como o de agricultura e
investimentos. Já aderiu a 31 instrumentos legais da organização, sendo um dos mais
importantes a Convenção de Combate ao Suborno de Funcionários Públicos Estrangeiros
em Transações Internacionais.

Foi devido à sua convenção de combate à corrupção que a OCDE ficou preocupada com a
decisão, afinal revertida, de impedir que a Unidade de Inteligência Financeira (ex-Coaf) e a
Receita Federal tivessem autonomia para acessar dados para investigações. O governo
brasileiro, que desde a gestão de Michel Temer pede sua aceitação ao chamado “clube das
melhores práticas internacionais”, considera que a adesão à OCDE pode melhorar a
imagem do país no exterior, favorecendo investimentos internacionais e as exportações.

A captação de recursos no exterior a taxas de juros menores pode acontecer até mesmo
antes da entrada formal na OCDE, que pode durar até quatro anos. Um ganho importante
para um governo reformista na economia como vem demonstrando ser o de Bolsonaro com
Paulo Guedes é incentivar as reformas no país, algumas delas fundamentais para o novo
membro ser aceito.

Mas não há consenso sobre a adesão do Brasil à OCDE. O problema é que, com ela, o país
terá necessariamente que sair do G77 mais a China, grupo de países em desenvolvimento
e pobres em que o Brasil tem posição de liderança. Com o acordo, o país terá que abrir
mão do tratamento diferenciado que recebe na Organização Mundial do Comércio (OMC)
por ser tecnicamente um emergente.

O governo Bolsonaro, no entanto, parece preferir reforçar a credibilidade no campo


econômico e dar demonstrações de que é um país sério, em que se pode confiar. O
governo Lula, por exemplo, embora nunca tenha deixado de cooperar com a OCDE, dizia
publicamente que não queria fazer parte do clube de elite internacional por preferir manter
sua posição de liderança dos emergentes.

Também a China não faz parte da OCDE, e tanto ela quanto o Brasil estão entre os países
que mais atraem investidores estrangeiros. O governo Temer queria entrar na OCDE, mas
não aceitava ter que abrir mão das vantagens que o país tem em organismos
internacionais como país emergente.

Já a política econômica de Paulo Guedes prefere ser rabo de baleia a cabeça de sardinha.

Silenciosamente, a equipe econômica continuou trabalhando, preparando os documentos


para entrar na OCDE

O Globo – Prioridade dos EUA para candidatura do Brasil pode


destravar processo de expansão da OCDE, diz Itamaraty
Governo brasileiro acredita que Europa não criará obstáculos ao ingresso do país, mas
decisão só deve sair em maio

Eliane Oliveira

BRASÍLIA — Em nota divulgada nesta quarta-feira, o governo brasileiro enfatizou ter


recebido com satisfação a notícia de que os Estados Unidos apresentaram hoje ao Conselho

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da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) a proposta de
início imediato do processo de acessão do Brasil à organização. Para o Ministério das
Relações Exteriores, a decisão dos EUA poderá facilitar o processo de expansão da OCDE.

"Trata-se de passo fundamental para destravar o processo de expansão da organização.


Esperamos que todos os membros da organização cheguem rapidamente a um
entendimento que permita o início do processo de acessão do Brasil", destacou o Ministério
das Relações Exteriores em um trecho do comunicado.

A nota refere-se às divergências entre os Estados Unidos e os países europeus sobre a


velocidade da expansão do chamado "clube dos ricos". O governo de Donald Trump tem
defendido um processo mais lento para a adesão de novos membros, enquanto a Europa
vem propondo desde junho de 2019 a definição imediata de um calendário para o ingresso
dos seis países que estão na fila: além de Brasil, Argentina, Romênia, Peru, Bulgária e
Croácia.

Os europeus exigem que, para cada país de fora de continente que seja aceito na OCDE,
seja incluída também uma nação europeia.

O governo brasileiro não acredita que os europeus vão atrapalhar a candidatura do país.
No entanto, avalia que eles vão exigir que um país da Europa — provavelmente a Romênia,
que pede para entrar na OCDE há cerca de 20 anos — inicie o processo de adesão junto
com o Brasil. Como os EUA defendem o início imediato dos trâmites de ingresso do Brasil,
é possível que o início do processo de adesão brasileira se dê em maio deste ano, quando
haverá uma reunião ministerial da OCDE. A expectativa é que ele esteja concluído até o
fim do mandato de Bolsonaro, em 2022.

Segundo o comunicado do Itamaraty, a posição dos EUA reflete o amadurecimento de uma


parceria que vem sendo construída desde o início do governo Bolsonaro, baseada em
"coincidência de visões de mundo". De acordo com o governo brasileiro, trata-se de uma
relação estratégica de longo prazo, que se desenvolve em torno de três eixos principais:
valores/democracia, crescimento econômico, e segurança/defesa.

Os dois principais auxiliares do presidente Jair Bolsonaro na formulação da política externa


do governo comemoraram a decisão dos EUA de mudar sua posição e pôr o Brasil à frente
da Argentina entre os preferidos para entrar na OCDE, ao contrário do que haviam feito em
outubro, antes das eleições presidenciais argentinas.

O assessor internacional da Presidência da República, Filipe Martins, atacou a imprensa, e o


ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, disse que a medida comprova que Brasil
e EUA constroem uma parceria sólida. O governo Bolsonaro vinha sendo criticado por se
alinhar automaticamente aos Estados Unidos em todas as grandes questões internacionais,
além de fazer concessões em vistos e comércio, sem receber nada em troca.

"Com o anúncio de que os EUA priorizam o ingresso do Brasil na OCDE, se desfaz mais um
dos factoides criados pelo histérico establishment midiático p/ criticar a equipe de política
externa do PR Bolsonaro e tentar minar a nova posição de abertura do Brasil na arena
internacional", disse Martins em uma rede social.

Já o chanceler de Bolsonaro optou por uma linguagem diplomática, para destacar que o
governo brasileiro está no caminho certo no sentido de tornar o Brasil uma "grande nação".
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"Anúncio americano de prioridade ao Brasil para ingresso na OCDE comprova uma vez
mais que estamos construindo uma parceria sólida com os EUA, capaz de gerar resultados
de curto, médio e longo prazo, em benefício da transformação do Brasil na grande nação
que sempre quisemos ser", disse Araújo.

Mais cedo, ao sair do Palácio da Alvorada, Bolsonaro disse que a notícia foi "muito bem-
vinda" e que o Brasil está mais adiantado que a Argentina nos requisitos para entrar na
organização. Em outubro do passado, Washington dera prioridade às candidaturas da
Argentina e da Romênia.

— A notícia foi muito bem-vinda. Vinha trabalhando há meses em cima disso, de forma
reservada, obviamente. Houve o anúncio. São mais de cem requisitos para você ser aceito,
estamos bastante adiantados, inclusive na frente da Argentina. E as vantagens para o
Brasil são muitas. Equivale ao nosso país entrar na primeira divisão — disse o presidente.

A carta do secretário de Estado americano formalizando que o Brasil deve ser o próximo
país a entrar na OCDE foi entregue nesta quarta-feira, momentos antes da reunião do
conselho do organismo. No documento, o governo dos EUA ressalta que as autoridades
brasileiras estão fazendo reformas econômicas importantes para que o país se torne
membro da organização e lembra o compromisso do presidente Donald Trump no sentido
de apoiar o Brasil.

O presidente Jair Bolsonaro ouviu de Trump a promessa de apoio dos EUA à candidatura
brasileira em uma visita a Washington em março do ano passado. Em troca, Bolsonaro se
comprometeu a abdicar do status de nação em desenvolvimento, com direito a tratamento
especial, na Organização Mundial do Comércio (OMC).

Valor Econômico – Em Davos, um trunfo e a promessa de mais


reformas
Entrada na OCDE consolida a possibilidade de investimentos no Brasil, diz secretário

Por Daniel Rittner e Fabio Graner — De Brasília

O governo brasileiro chegará à reunião anual de Davos, na Suíça, com a promessa de


amplificar sua agenda de reformas estruturais e um trunfo nas conversas com a elite
reunida no Fórum Econômico Mundial. “Fomos recebidos com entusiasmo no ano passado,
mas também com dúvidas legítimas se teríamos capacidade para construir a viabilidade
política dessas reformas. Agora a gente sobe a montanha levando na bagagem um
patrimônio de realizações”, diz o secretário especial de Comércio Exterior e Assuntos
Internacionais do Ministério da Economia, Marcos Troyjo.

“Uma parte importante do mundo vai se fechando em barreiras protecionistas, cria


barreiras para fluxos de investimentos, aumenta o papel do Estado em suas economias e
tem dificuldade em equacionar seus sistemas de seguridade social”, afirma o secretário.
Enquanto isso, segundo ele, o Brasil anda na contramão e esse é um grande diferencial em
uma economia internacional com liquidez, mas grande aversão ao risco. “Apertamos o
botão de reiniciar no governo Jair Bolsonaro. A maior dinâmica de reformas estruturais no
mundo hoje acontece no Brasil”, comenta.

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Com a ausência de Bolsonaro, o ministro Paulo Guedes será a principal autoridade
brasileira neste ano em Davos. Além de participação em sessões públicas do fórum,
Guedes protagonizará o tradicional almoço oferecido pelo Itaú em um hotel de luxo do
vilarejo alpino para empresários com especial interesse no Brasil.

O ministro também agendou encontros individuais com uma série de pesos-pesados da


iniciativa privada: os CEOs de multinacionais como o banco UBS, a Microsoft, a gigante de
logística UPS, a petroleira Chevron, a siderúrgica ArcelorMittal e o fundo de pensão
canadense CPP Investment Board.

“Nossa mensagem é que vamos intensificar essa agenda de reformas e de maior


integração com o mundo. A questão das reformas é a grande diferenciação”, argumenta
Troyjo, homem de confiança do ministro para o setor externo e que o acompanhará na
reunião de Davos. “Há um estoque enorme de liquidez no mundo e o Brasil é a maior
fronteira de investimento em infraestrutura.”

A conclusão da Previdência, a Lei da Liberdade Econômica, o fechamento do acordo de


livre-comércio Mercosul-União Europeia e o cumprimento do objetivo de US$ 20 bilhões em
privatizações são alguns dos resultados que o Brasil pretende apresentar.

Sobre a saída de dólares do país, que no ano passado foi recorde histórico, Troyjo apontou
que isso ocorre devido à redução do diferencial de juros interno e externo, decorrente da
taxa Selic em mínimas históricas. E rebate com outro número: o investimento direto
estrangeiro caiu em todo mundo em 2019, mas registrou aumento no Brasil.

O secretário considera que a entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e o


Desenvolvimento (OCDE) contribuirá para reforçar essa diferenciação do Brasil junto aos
investidores internacionais. “A entrada na OCDE consolida a possibilidade de investimentos
no Brasil.”

A equipe econômica prevê que o Brasil deverá conseguir até o fim de 2022, quando
termina o mandato de Bolsonaro, acesso pleno como membro da organização. Em sua
avaliação, a entrada na organização tem três impactos concretos para o Brasil.

Primeiro, funciona como um “acelerador de reformas” no âmbito doméstico. Segundo, abre


as portas para determinadas fontes de investimentos que hoje não podem aplicar no país.
Por estatuto, segundo ele, muitos fundos estrangeiros só podem colocar dinheiro em
mercados da OCDE.

Em terceiro lugar, menciona, a participação na entidade dará ao Brasil voz no seleto grupo
de nações que estão definindo normas e critérios na nova economia global. “Os acordos
comerciais do futuro, por exemplo, têm muito mais a ver com padrões do que com tarifas
e cotas”, afirma Troyjo. A adesão à OCDE, com consequente adequação do país às práticas
preconizadas no grupo, fortaleceria a “musculatura” do país para novos tratados
comerciais.

O secretário lembrou ainda que nenhum outro candidato já avançou tanto como o Brasil na
adoção de normativos da OCDE.

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Valor Econômico – Secretário crê que o Brasil conseguirá adesão
à OCDE até 2022
Para Marcos Troyjo, nenhum outro candidato já avançou tanto como o Brasil na adoção de
normativos da OCDE

Por Daniel Rittner e Fabio Graner — Brasília

A equipe econômica prevê que o Brasil deverá conseguir até o fim de 2022, quando
termina o mandato do presidente Jair Bolsonaro, acesso pleno como membro da
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento (OCDE). O prazo foi dado pelo
secretário especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais, Marcos Troyjo, em
entrevista ao Valor.

Na avaliação de Troyjo, homem de confiança do ministro Paulo Guedes para o setor


externo, a entrada na organização tem três impactos concretos para o Brasil. Primeiro,
funciona como um “acelerador de reformas” no âmbito doméstico. Segundo, abre as portas
para determinadas fontes de investimentos que hoje não podem aplicar no país. Por
estatuto, segundo ele muitos fundos estrangeiros só podem colocar dinheiro em mercados
da OCDE.

Em terceiro, Troyjo menciona que a participação na entidade dá ao Brasil voz no seleto


grupo de nações que estão definindo normas e critérios na economia global. “Os acordos
comerciais do futuro, por exemplo, têm muito mais a ver com padrões do que com tarifas
e cotas”, afirma.

Para ele, nenhum outro candidato já avançou tanto como o Brasil na adoção de normativos
da OCDE. Argentina, Peru, Romênia, Bulgária e Croácia também pleiteiam entrada na
entidade sediada em Paris. Os Estados Unidos apontaram o Brasil como país prioritário na
adesão ao “clube”.

Reformas

Sobre o Fórum de Davos, Troyjo disse que o Brasil “subirá a montanha mágica” de Davos
neste ano com o que considera um patrimônio de realizações após o primeiro ano do
governo Bolsonaro. Para ele, no ano passado o país chegou na Suíça debaixo de dúvidas se
o novo governo conseguiria entregar as reformas prometidas, mas considera ter o que
mostrar, como a conclusão da Previdência, a lei da liberdade econômica, o acordo
Mercosul-União Europeia e o cumprimento do objetivo de US$ 20 bilhões em privatizações.
“O Brasil é o país mais dinâmico do mundo em termos de reformas estruturais”, afirmou.

Segundo ele, o dinamismo em relação às reformas é um grande diferencial em um mundo


com elevada liquidez, mas com maior aversão ao risco. “Nossa mensagem é que vamos
intensificar essa agenda de reformas e maior integração com o mundo. A questão das
reformas é a grande diferenciação”, disse. “Há um estoque enorme de liquidez no mundo e
o Brasil é a maior fronteira de investimento em infraestrutura”, acrescentou.

Para Troyjo, o Brasil está positivamente na contramão de grande parte do mundo, fazendo
reformas, ampliando sua abertura ao comércio e reduzindo o tamanho do Estado. Nesse
sentido, o secretário ressalta que o país já está sendo claramente diferenciado, pois tem

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tido crescimento de investimento estrangeiro direto em um mundo no qual os fluxos
globais para esse tipo de investimento estão em queda.

Sobre a saída de dólares do país, que no ano passado foi recorde histórico, Troyjo apontou
que isso ocorre por conta da redução do diferencial de juros interno e externo, decorrente
da taxa Selic em mínimas históricas.

Em Davos, o secretário confirmou que o ministro da Economia, Paulo Guedes, se


encontrará com os comandantes das seguintes instituições: UBS, Microsoft, UPS, Arcelor
Mittal, Chevron e Canadian Pension Investment Board.

Argentina

Para Troyjo, o governo do presidente Alberto Fernández na Argentina, que acaba de


completar um mês, tem enviado “sinais ruins” em matéria de economia e comércio. Mas
não entrou em detalhes. “Se eu ainda fosse acadêmico, ainda poderia falar. Agora não dá
mais”, brincou.

Uma das primeiras medidas de Fernández desde que assumiu, no dia 10 de dezembro, foi
aumentar as retenções (impostos sobre as exportações) de produtos agrícolas. Ele
manteve e intensificou, ainda, o controle de preços e sobre a compra de dólares.

Troyjo afirmou, no entanto, que o Brasil não deve diminuir o ritmo no Mercosul e no
relacionamento do bloco com parceiros extrarregionais. “Não topamos andar em velocidade
de comboio, ou seja, em um processo no qual a velocidade de todos é determinada pelo
veículo mais lento”.

O secretário lembra um termo popularizado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
que pregava “paciência estratégica” do Brasil na relação com a Argentina, que adotou uma
série de barreiras comerciais na gestão do petista (2003-2010). “Hoje temos uma
impaciência estratégia”, afirmou Troyjo, referindo-se ao desejo de inserção competitiva do
país nas cadeias globais de produção.

Para ele, a revisão da Tarifa Externa Comum (TEC) e outros temas do Mercosul – como a
eliminação de taxas aduaneiras – dependerá de conversas nos fóruns adequados e grupos
institucionalmente estabelecidos do bloco, que ainda vão ocorrer neste semestre.

Troyjo enfatiza que o governo brasileiro não colocará nenhum freio em negociações de livre
comércio com países como Canadá e Cingapura, em estágio adiantado,
independentemente da vontade da Argentina. Em todos os casos, os sócios do Mercosul
discutem esses acordos em conjunto.

EDITORIAIS

Valor Econômico – Produção agrícola promete um novo recorde


neste ano / Editorial
Os números mostram também que a torcida para a melhora da economia brasileira neste
ano pode contar com o suporte da agropecuária

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O Brasil caminha para marcar mais um recorde na produção agrícola, indicam as previsões
mais recentes. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou na semana
passada a estimativa de que a safra 2019/20 de grãos vai atingir 248 milhões de
toneladas, projetando crescimento de 2,5% em relação à anterior, acima do que havia
previsto em dezembro. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também
elevou os números anteriores e agora prevê aumento de 0,7% da safra, para 243,2
milhões de toneladas.

Uma combinação de clima favorável, disponibilidade de crédito, aumento da área plantada


e da produtividade sustentam o novo recorde. De acordo com os dados da Conab, a área
plantada total estimada aumentou 1,5%, para 64,2 milhões de hectares, e a produtividade
média, calculada em 3.864 quilos por hectare, avançou 1% na mesma base de
comparação.

Os registros recordes serão puxados pela soja, desta vez, e não pelo milho como foi no ano
passado. A colheita da soja desta safra começou nos últimos dias em Mato Grosso,
principal produtor do país, com algum atraso (Valor 13/10). A falta de chuva retardou o
plantio em várias regiões, mas a comercialização está adiantada. O Instituto Mato-
Grossense de Economia Agropecuária (Imea) notou que já há negociação até da próxima
safra, estimulada pela elevação dos preços na bolsa de Chicago, pela boa relação de troca
com fertilizantes e pelo comportamento do câmbio. O bom desempenho da produção em
Mato Grosso vai neutralizar os resultados do Rio Grande do Sul, que serão prejudicados
pelas chuvas irregulares no período de plantio.

A soja responde por nada menos que 1,1 milhão do aumento de aproximadamente 1,4
milhão de toneladas previsto pela Conab no volume total da safra deste ano. A colheita da
oleaginosa alcançará o recorde de 122,2 milhões de toneladas, um aumento de 6,3% em
relação à safra 2018/19. Os números do IBGE não são muito diferentes: estima uma
colheita de soja em 122,4 milhões de toneladas, com aumento de 7,8% acima do
registrado no ano passado.

Avaliações do setor privado são ainda mais otimistas. A Agroconsult fala em uma colheita
de soja de 124,3 milhões de toneladas, impulsionada pelo aumento de 2,2% da área
plantada -36,7 milhões de hectares. Há quem veja nisso reflexo do comportamento do
mercado em 2019, quando os chineses ampliaram as compras do Brasil, resultado do atrito
comercial com os EUA, outro grande produtor de grãos. Agora que os dois gigantes
parecem se encaminhar para normalizar as relações, resta saber os reflexos na produção
brasileira. A intenção dos produtores brasileiros é liderar a exportação de soja.

Já a produção de milho deve ser menos exuberante, mesmo sobre uma base de
comparação elevada. Somando a primeira, segunda e terceira safras, a Conab prevê 98,7
milhões de toneladas de milho produzidos, 0,3% acima do projetado em dezembro, mas
1,3% menor que o da safra anterior. O resultado será prejudicado porque a segunda safra
tende a sofrer redução de 3,1%, para 70,9 milhões de toneladas, em consequência do
clima.

Em relação aos demais principais produtos agrícolas, poucas foram as mudanças nas
previsões. A Conab ajustou a projeção para o algodão para 2,8 milhões de toneladas, um
aumento de 1,1% em relação à temporada passada. No caso do arroz, a colheita foi
ajustada para 10,6 milhões de toneladas, 1% mais que em 2018/19; no feijão, o volume
total das três safras do ano foi mantido em 3 milhões de toneladas. Já no caso do trigo, do
22
qual o Brasil é um dos grandes importadores, a Conab reduziu levemente a estimativa para
a colheita.

Estudo do Bradesco mostra o Brasil como responsável por mais de um terço da produção
mundial de soja, à frente dos Estados Unidos, responsável por quase 30%. O Brasil
exporta pouco mais da metade da produção da oleaginosa e quase 20% do algodão,
enquanto a China concentra 57% das importações globais da primeira e 24% do segundo.
Das exportações brasileiras de soja, 75% vão para a China e 10% para a Europa. Os
números expõem bem como o Brasil é afetado pelo clima das relações entre os Estados
Unidos e a China.

De toda forma, os números mostram também que a torcida para a melhora da economia
brasileira neste ano pode contar com o suporte da agropecuária, que tem um peso de
5,5% no Produto Interno Bruto (PIB), quase o mesmo dos 5,4% da construção civil. O PIB
da agropecuária deve crescer ao redor de 2% neste ano, acima do esperado para 2019.

AGRONEGÓCIO

O Globo – Acordo entre EUA e China pode afetar agronegócio


Brasil pode ter uma perda de US$ 10 bilhões em exportações

LEO BRANCO SÃO PAULO E WASHINGTON *Com agências internacionais

Depois de 18 meses de impasse, Pequim e Washington fecharam um acordo comercial que


prevê que a China aumente em US$ 30 bilhões a compra de produtos agrícolas americanos
em dois anos. Medida pode prejudicar as exportações do agronegócio brasileiro.

Oacordo comercial fechado ontem entre Washington e Pequim, que pôs fima uma disputa
que já durava 18 meses, prevê que a China compre mais US$ 200 bilhões em produtos
americanos em até dois anos. Desse total, US$ 32 bilhões são de produtos agrícolas como
carne, soja e outros grãos, itens tradicionais da pauta exportadora do Brasil ao país
asiático. Ou seja, o agronegócio pode ser afetado. Nas contas do economista-chefe para
América Latinada consultoriainglesa Oxford E cono mics,M arcos Casar in, há um risco para
US$ 10 bilhões em exportações brasileiras.

Esse é o volume que os chineses passaram a comprar do Brasil em retaliação às tarifas


adotas pelos Estados Unidos ao longo de 2019. Trata-se de cerca de 5% do valor
exportado pelo Brasil no ano passado —US$ 223 bilhões.

— É algo marginal, mas sinaliza o fim de uma boa vontade que os exportadores brasileiros
vinham tendo até agora dos compradores chineses por causa da pressão americana —
explica Casarin.

Mas há quem pondere que o fato de a economia brasileira ser uma das mais fechadas do
mundo deve proteger o país, ao menos em parte, de solavancos na balança comercial. O
comércio exterior do Brasil representa cerca de 20% do PIB, uma fração do patamar de
outros países emergentes, como o México.

Particularidades do agronegócio poderão atenuar as consequências do acordo para o Brasil,


diz o economista Carlos Primo Braga, pesquisador da Fundação Dom Cabral. Uma delas é a

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estagnação da safra de grãos americana em 2019, devido a uma seca severa nos estados
do Meio Oeste, que concentram as lavouras. Além disso, o apetite dos chineses para
matérias-primas como soja e carne continua elevado na esteira da gripe suína, epidemia
que reduziu estoques de proteína animal por lá — e, por aqui, elevou a inflação.

—Em algumas matérias primas, como a soja, o Brasil já exporta à China mais do que os
Estados Unidos. O acordo comercial pode trazer alguma redução no volume dos
embarques, mas nada muito significativo —diz Braga.

Para Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil e sócio da consultoria


Barral M Jorge, por ora, a assinatura do acordo comercial deve ter como efeito ajudar o
presidente Donald Trump a mostrar algo aos eleitores na campanha eleitoral deste ano.
Resta saber se os chineses de fato vão ampliar as compras de produtos americanos,
deixando de lado itens de outros países, como o Brasil.

— As negociações entre China e Estados Unidos devem continuar. Por ora, a China se
comprometeu a comprar mais US$ 200 bilhões em bens manufaturados, energia, produtos
agrícolas e serviços. Desses, o Brasil só exporta substancialmente produtos agrícolas para
a China —explica Barral.

Na chamada Fase 1 do acordo, assinado ontem por Trump e o vice-premier chinês,

Liu He, o ponto mais importante é o compromisso da China de comprar mais US$ 200
bilhões em produtos agrícolas e outros bens e serviços dos EUA ao longo de dois anos,
ante uma base de US$ 186 bilhões em 2017. Serão US$ 76,7 bilhões no primeiro ano e
US$ 123,3 bilhões no seguinte.

— Juntos, estamos corrigindo os erros do passado e entregando um futuro de justiça


econômica e segurança para os trabalhadores e fazendeiros americanos e suas famílias —
afirmou Trump.

O acordo inclui US$ 32 bilhões em compras adicionais de produtos agrícolas americanos,


mais US$ 38 bilhões em serviços, US$ 78 bilhões em manufaturados e US$ 54 bilhões em
suprimentos de energia, como petróleo. Os produtos industriais a serem adquiridos pela
China incluem maquinário industrial, equipamentos elétricos, produtos farmacêuticos,
aviões, automóveis, aço, ferro e instrumentos médicos e ópticos.

Segundo Liu, os chineses podem comprar até US$ 40 bilhões em produtos agrícolas
americanos nos próximos dois anos, “com base em condições de mercado”.

‘CARTAS NA MANGA’

Ainda que o acordo seja considerado o começo de uma nova era nas relações entre os dois
países, há questões que não foram abordadas. Por exemplo, os subsídios chineses a suas
empresas estatais, e a prática de inundar mercados internacionais com produtos baratos.

Mas, segundo Trump, a China prometeu enfrentar o problema da pirataria de produtos. O


acordo ainda inclui forte proteção a direitos de propriedade intelectual.

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Depois da cerimônia, Liu He disse ao canal estatal chinês CGTN que os dois lados precisam
negociar seus problemas e que as tarifas não são uma boa solução. E elogiou uma medida
anunciada por Washington na véspera:

—É a decisão correta para os EUA remover a China da lista de manipuladores de moedas.

Com o acordo, ficam canceladas as tarifas americanas sobre smartphones, brinquedos e


laptops feitos na China. E os EUA reduziram de 15% para 7,5% a taxa sobre TVs de tela
plana, fones Bluetooth e calçados. Permanecem, porém, as taxas de 25% sobre US$ 250
bilhões em outros produtos.

—Estou mantendo essas tarifas porque, do contrário, não temos cartas na manga com que
negociar — disse Trump. — Mas elas cairão assim que terminarmos a Fase 2.

“Sinaliza o fim de uma boa vontade que os exportadores brasileiros vinham tendo até
agora dos _ chineses” Marcos Casarin, economista-chefe para América Latina da Oxford
Economics

Valor Econômico – Otimismo na xícara


As exportações brasileiras de café em 2020 deverão repetir o recorde de 40,6 milhões de
sacas alcançado em 2019, considerando o café verde, solúvel e torrado e moído, projetou
ontem Nelson Carvalhaes (foto), presidente do Conselho dos Exportadores de Café do
Brasil (Cecafé). “Um pouco mais que esse volume podemos embarcar com certeza”,
afirmou, sem estimar o quanto. Considerando apenas o café verde, os embarques
somaram 32,5 milhões de sacas, superando o recorde de 29,2 milhões de 2015. “Com a
crescente demanda e a redução de oferta, reflexo da crise de preços baixos, vamos ter
preços melhores e uma boa safra em 2020/21”, disse. Na avaliação de Carvalhaes, o
aumento das cotações nos últimos dois meses na bolsa de Nova York deve se refletir nos
preços do grão exportado pelo país no primeiro semestre deste ano.

AMÉRICA DO SUL

Carta capital – Bolívia: Justiça amplia mandato de presidente até


posse de novo governo
A decisão será referendada nos próximos dias pelo Congresso e promulgada como lei pelo
Executivo

O Tribunal Constitucional da Bolívia ampliou nesta quarta-feira os mandatos da presidente


interina, Jeanine Áñez, e dos parlamentares até a posse do governo que sairá das eleições
de maio, o que provavelmente ocorrerá em julho ou agosto.

“Se estabeleceu que corresponde prorrogar o período do mandato das autoridades dos
órgãos do poder público em nível central e ‘subnacional’, Executivo e Legislativo, até a
posse das novas autoridades eleitas nas eleições gerais” de 3 de maio, diz a decisão lida
pelo juiz do Tribunal Constitucional Carlos Alberto Calderón. A decisão será referendada
nos próximos dias pelo Congresso e promulgada como lei pelo Executivo.

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Áñez assumiu a presidência após a renúncia de Evo Morales, que abandonou o país em
novembro em meio a uma onda de protestos, após ser reeleito em votação considerada
fraudulenta, no dia 20 de outubro. Morales, que a princípio fugiu para o México, hoje está
asilado na Argentina.

O Estado de S. Paulo – Oposição diz ter sido alvo de tiros na


Venezuela
Deputados iam para Parlamento quando foram atacados por gangues chavistas

CARACAS

Deputados de oposição ao governo de Nicolás Maduro denunciaram ontem que foram


atacados com tiros, paus, pés de cabra e pedras por grupos de milícias chavistas quando
tentavam chegar à sede da Assembleia Nacional, em Caracas, onde participariam de uma
sessão convocada pelo líder opositor, Juan Guaidó.

Os deputados disseram que seguiam em comboio até o local da sessão quando foram
atacados. “Eles atiraram com armas. Há vídeos, há as janelas de uma van blindada
destruídas. Denunciamos perante o mundo o cerco ao Parlamento”, declarou o deputado
Carlos Prosperi, depois de escapar sem ferimentos dos ataques.

Sem conseguir chegar ao Legislativo, Guaidó presidiu uma sessão em um anfiteatro do


bairro de El Hatillo, no leste de Caracas, enquanto a Assembleia Nacional Constituinte,
composta apenas por chavistas e não reconhecida por parte da comunidade internacional,
realizaria outra sessão na sede do Parlamento.

“Há um disparo na janela do motorista do meu veículo. É um atentado da ditadura”, disse


Guaidó. A congressista Delsa Solórzano, que fazia parte do comboio atacado, também
denunciou no Twitter que a caravana tinha sido alvejada.

Enquanto isso, o segundo vice-presidente do Parlamento, Carlos Berrizbeitia, denunciou a


cumplicidade das forças policiais regulares, que teriam se aliado a civis armados, e pediu
ao ministro da Defesa, Vladimir Padrino, uma explicação para o ataque.

“Padrino, esse uniforme que você veste pertence a todos os venezuelanos. Como você
pode estar escondendo o fato de que terroristas estão atirando com armas de fogo?”,
questionou Berrizbeitia. Segundo ele, integrantes da Polícia Nacional Bolivariana (PNB), da
Guarda Nacional Bolivariana (GNB) e da contraespionagem militar (DGCIM)
testemunharam os ataques de milicianos – e não fizeram nada para impedi-los.

Diosdado Cabello, chefe da Assembleia Constituinte, elogiou o ataque durante a sessão de


ontem, chamando a oposição de “louca” e “acabada”. Os grupos de civis armados, que são
chamados de “coletivos”, se dizem defensores da revolução bolivariana e são considerados
paramilitares pela oposição.

O Globo – Ex-braço direito de Morales afirma que é ‘um preso


político’
Carlos Romero, ex-ministro de Governo, foi preso na noite de terça-feira

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Carlos Romero, um poderoso ministro do governo de Evo Morales preso na terçafeira,
afirmou ontem em um breve contato com jornalistas que suade tenção tem motivações
política seque sua vida corre perigo.

—Sou um político perseguido, eles forjaram um trecho do processo para fazer parecer que
não havia falhas processuais. Temo pela minha vida — disse Romero.

O ex-ministro de Governo da Bolívia, que exerceu cargos de alto nível durante os três
governos de Morales e era considerado braço direi todo então presidente, teve uma ordem
de prisão emitida porque não se apresentou à Justiça em um caso ligado à Unidade
Executora de Luta Integral Contra o Narcotráfico (Uelicn).

Romero, que se isolou em sua casa desde que Morales deixou a Presidência em 10 de
novembro do ano passado, estava internado no período da intimação e afirma que não se
apresentou por motivos de saúde. Em 9 de janeiro, uma vigília foi montada em frente a
sua casa por opositores de Morales que pediam sua prisão. No dia 10, ele foi internado de
emergência, com úlcera, ansiedade e depressão.

Ele foi levado do hospital para depor na Promotoria anteontem. De lá, foi transferido para
um presídio judiciário, onde espera uma audiência que decidirá se sua prisão será
convertida em provisória, comopediu o Ministério Público boliviano. O órgão o acusou de
descumprimento de deveres, entre outros crimes, e anunciou que solicitará sua detenção
preventiva por seis meses.

De acordo com o procurador Ruddy Terrazas, Romero fez uso indevido de sua influência
em contrato assinado pela Uelicnc oma empresa Horizontal de Aviación Bolivia SRL. Já a
defesa afirma que o ex-ministro teve direitos violados e procedimentos foram
descumpridos na sua prisão.

Desde que Morales renunciou após semanas de protestos e sob pressão de militares, no dia
10 de novembro, o Executivo interino, comandado pela senadora Jeanine Áñez, tem
promovido diversas ações judiciais contra o ex-presidente e membros de seu governo, em
uma campanha que seus opositores denunciam como “uma caça às bruxas”.

Na semana passada, o governo interino da Bolívia anunciou que vai investigar cerca de 600
autoridades do governo Morales por suposta corrupção. Também ontem, a procuradoria
convocou o ex-ministro da Coordenação de Movimentos Sociais, Alfredo Rada, aprestar
depoimento hoje, em uma investigação por suposta sedição e terrorismo.

O Ministério Público disse que o interrogatório busca obter informações relacionadas a


supostos crimes cometidos quando ele era vice-ministro de Juan Ramón Quintana, o
principal investigado no processo. Quintana encontra-se asilado na casa do embaixador do
México desde a renúncia de Morales, e denuncia que é vítima de perseguição política.

MANDATO ESTENDIDO

Também ontem, o Tribunal Constitucional aprovou a extensão do mandato do governo de


transição de Áñez, dos deputados e dos senadores, assim como de outros representantes
eleitos mediante sufrágio. Os mandatos constitucionais dos órgãos executivos e legislativos
da Bolívia expirariam em 22 de janeiro, quando terminava também o mandato de Morales.
A prorrogação possibilita a extensão dos mandatos até a eleição marcada para 3 de maio.
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O Globo – Governo do Chile propõe reformar sistema de
aposentadorias em resposta a protestos sociais
(Com El Mercurio)

Em nova resposta a manifestantes, Piñera diz que país foi 'injusto' com idosos e propõe
'mudança estrutural' do sistema previdenciário

AFP e O Globo

SANTIAGO - O presidente chileno, Sebastián Piñera, disse na noite desta quarta-feira que
enviará um projeto ao Congresso nesta semana para modificar o controverso sistema de
aposentadorias do país, uma das principais demandas que alimentaram os protestos
sociais que abalaram o país desde outubro.

Em um pronunciamento transmitido no rádio e televisão — com a mensagem


"#AumentemosAsAposentadorias" no canto da tela —, o governante conservador explicou
que será proposto um aumento de 6% na contribuição por trabalhador, cujos recursos
virão dos empregadores e serão administrados por uma entidade pública autônoma.

— O Chile tem sido injusto com nossos adultos mais velhos — disse Piñera, afirmando que
o plano beneficiará um milhão de aposentados. — Esta nova reforma representa uma
mudança estrutural e cria um novo sistema de aposentadoria.

O novo sistema de aposentadoria se baseia em três pilares. Um deles será financiado pelo
Estado; outro será o Pilar Individual de Poupança, financiado por trabalhadores e
empregadores; e, finalmente, o Pilar de Poupança Coletiva e Solidária será financiado pelos
empregadores e com uma contribuição inicial do Estado.

Duas contribuições adicionais serão criadas. Primeiro, uma contribuição de 3% adicional e


gradual do empregador, que será adicionada aos atuais 10%, e complementará o dinheiro
economizado. Piñera destacou que a nova contribuição “significará um aumento de 30%
nas aposentadorias”.

Será criado também um Fundo de Poupança Coletiva e Solidária, que será financiado por
outra contribuição adicional de 3%, também paga pelo empregador, e uma contribuição
inicial do Estado. Este fundo terá o objetivo de se somar à pensão financiada com recursos
próprios, com o objetivo de beneficiar mulheres, a classe média e idosos com forte
dependência.

Segundo Piñera, o aumento será de 56.600 chilenos (R$ 303) por aposentado, o que
significa um aumento médio de 20% de suas aposentadorias e beneficiará mais de 500 mil
pensionistas. No caso das mulheres, o benefício deve ser de 70.800 pesos chilenos por mês
(R$ 382), o que significa um aumento médio de 32% de suas aposentadorias e beneficiará
mais de 350 mil aposentadas.

Piñera também especificou que "em casos muito excepcionais, como doenças terminais, a
expectativa de vida será recalculada e será possível retirar antecipadamente parte da
economia da aposentadoria".

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O presidente também anunciou que a reforma contempla uma abertura para novos atores
do sistema para competir com os criticados Administradores de Fundos de Pensões (AFP).

O sistema de pensões e as AFPs foram duramente criticadas nos protestos que começaram
em meados de outubro e deixaram pelo menos 26 pessoas mortas, milhares de detidos e
danos materiais substanciais, incluindo 347 manifestantes com lesões oculares graves. A
reforma previdenciária também acaba com algumas comissões dos administradores dos
fundos e os obriga a se tornarem solidários em caso de baixa rentabilidade dos fundos.

O presidente chileno mudou radicalmente sua agenda em função dos protestos, adotando
uma série de políticas que alteram as leis liberais vigentes desde a ditadura de Augusto
Pinochet. Na primeira semana de janeiro, ele apresentou um projeto de lei para reformular
o sistema público de saúde do país. O governo também convocou um plebiscito para uma
reforma constitucional para o próximo dia 26 de abril.

Piñera disse que a modificação legal terá um custo "significativo" para o Estado, sem
especificar os números.

Valor Econômico – Sinais vindos da Argentina são ruins, diz


Marcos Troyjo
Para secretário, Brasil tem ‘impaciência estratégica

Por Daniel Rittner e Fabio Graner — De Brasília

O governo do presidente Alberto Fernández, que acaba de completar um mês na Argentina,


tem enviado “sinais ruins” em matéria de economia e comércio, segundo a avaliação da
equipe econômica no Brasil. “Estão criando restrições ao comércio e taxando exportações.
Os sinais não parecem ser aqueles de um país que queira integrar sua economia aos
mercados internacionais”, afirmou o secretário especial de Comércio Exterior e Assuntos
Internacionais, Marcos Troyjo, em entrevista ao Valor.

Trata-se da primeira crítica pública de uma alta autoridade brasileira ao país vizinho depois
da posse de Fernández, no dia 10 de dezembro, e das tentativas de distensão do
relacionamento entre os dois países após uma campanha eleitoral com agressões mútuas.

Troyjo fez referência a um termo frequentemente usado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva - “paciência estratégica” - quando o Brasil era afetado por barreiras protecionistas
da Argentina. Para ele, o Brasil agora tem “impaciência estratégica” para se integrar à
economia mundial e às cadeias globais de produção. “Nós temos uma determinação:
comércio sem viés ideológico e inserção competitiva do Brasil no mundo. O que nós não
topamos? Andar em velocidade de comboio, ou seja, em que a velocidade de todos é
determinada pelo veículo mais lento”, observa.

Sem entrar em detalhes sobre as medidas do governo Fernández que considera ruins, o
secretário até vê espaço para um “Mercosul flex”, no qual novos acordos comerciais
possam ter velocidades diferentes de liberalização em cada sócio. Ele enfatiza, porém, que
é cedo para ensaiar respostas sobre o futuro do bloco e avisa apenas que o Brasil está com
o “radar ligado para detectar” esses sinais negativos vindos da Argentina. A própria
institucionalidade do Mercosul (reuniões ministeriais e cúpulas de presidentes), nota
Troyjo, se encarregará de dar essas respostas.

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Segundo ele, as negociações do Mercosul para um tratado de livre-comércio com o Canadá
estão avançadas e podem ser concluídas neste ano. Paralelamente, o Brasil continua
interessado em uma revisão da Tarifa Externa Comum (TEC). Se novos acordos e um
processo de abertura serão feitos com ou sem Argentina, Troyjo deixa em aberto: “Vamos
trilhar com quem estiver nesse mesmo movimento”.

Qualquer reposicionamento das alíquotas de importação, no entanto, obedecerá três


princípios: gradualidade; uniformidade (“somos contra a escolha de campeões nacionais,
mas também não queremos perdedores nacionais”); e coordenação com uma agenda de
competitividade interna (custo do crédito, modernização tributária, melhoria da
infraestrutura disponível).

O ex-presidente Mauricio Macri planejava lançar um de seus ministros, Rogelio Frigerio,


como candidato à presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). A
sucessão do colombiano Luis Alberto Moreno será definida em setembro.

O Brasil já pensava em ter um nome próprio na corrida, como o Valor antecipou em março
do ano passado, e agora reforça essa posição - embora ainda não tenha nomes. “Estamos
avaliando fortemente uma candidatura.”

ESTADOS UNIDOS

O Estado de S. Paulo – EUA ameaçaram europeus para


pressionarem Teerã
Trump disse que imporia tarifa sobre automóveis da Europa se países não acionassem
mecanismo de acordo nuclear

WASHINGTON WP /
Na semana passada, antes de Alemanha, França e Reino Unido acusarem formalmente o
Irã de descumprir o acordo nuclear de 2015, o governo de Donald Trump enviou uma
ameaça privada que chocou diplomatas dos três países. Se eles rejeitassem advertir Teerã
e acionar o mecanismo de disputas do acordo, os EUA poderiam impor uma tarifa de 25%
sobre os automóveis europeus.

A ameaça foi revelada ontem pelo Washington Post com base em fontes europeias. Na
terçafeira, os três países acusaram o Irã formalmente de violação, acionando um recurso
que poderia levar ao restabelecimento de sanções e enterrar o pacto alcançado no governo
de Barack Obama.

Os esforços dos EUA para coagir a política externa da Europa por meio de tarifas, uma
medida que os funcionários europeus qualificaram de “extorsão”, representam um novo
nível de táticas dos EUA contra antigos aliados, destacando a tumultuada relação
transatlântica.

Anteriormente, Trump ameaçou impor a tarifa de 25% sobre os automóveis europeus para
obter mais benefícios nas relações comerciais com a União Europeia, mas nunca ditou a
política externa do continente. Não ficou claro se foi a ameaça que levou os europeus a
tomar a decisão, que eles já vinham considerando.

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Os EUA consideram o mecanismo para solução de disputas, previsto no acordo de 2015,
um fator crítico para a imposição de sanções após 65 dias. Os europeus, porém, veem a
medida como a última chance de salvar o pacto que eles consideram vital para reduzir as
tensões e limitar o programa nuclear do Irã.

“A ameaça de impor tarifas é uma tática da máfia. Não é assim que o relacionamento entre
aliados funciona”, disse Jeremy Shapiro, diretor de pesquisas do European Council on
Foreign Relations.

Quando questionado sobre a ameaça de Trump, um funcionário de alto escalão da Casa


Branca disse que os EUA deixaram claro que o acordo nuclear com o Irã era “horrível”.

Funcionários europeus disseram privadamente que a ameaça de Trump somente complicou


a decisão de acionar o mecanismo, que tenta obrigar o Irã a voltar a negociar os termos do
acordo. Se a disputa não for solucionada em no máximo 65 dias, as sanções da ONU serão
reimpostas ao Irã, incluindo o embargo de armas.

No ano passado, após os EUA deixarem o acordo, o Irã começou gradualmente a


descumprir as limitações para pressionar os europeus a manter suas promessas de
amenizar as sanções. O acordo limita o número de centrífugas que o Irã pode ter, o teor de
enriquecimento de urânio, além da quantidade de material estocado.

Máfia

“A ameaça é uma tática da máfia. Não é assim que o relacionamento entre aliados
funciona”
Jeremy Shapiro
EUROPEAN COUNCIL ON FOREIGN RELATIONS

“A medida pode afetar a habilidade da Europa de servir de mediadora entre Irã e EUA”
Ali Vaez
INTERNATIONAL CRISES GROUP

O Globo – Senado recebe acusações e começa a julgar Trump


Câmara, de maioria democrata, indicou sete deputados para atuarem como promotores
contra o presidente, que chama o processo de ‘farsa’; ainda há divergências sobre as
regras do julgamento, que terá início hoje

Acusação. A presidente da Câmara, Nancy Pelosi (de vermelho), com os deputados que
atuarão como promotores, incluindo o líder do grupo, Adam Schiff (centro)
A presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, a democrata Nancy Pelosi,
anunciou ontem os nomes dos sete parlamentares que terão um papel equivalente ao de
promotores no julgamento do presidente Donald Trump no Senado. A Casa
majoritariamente democrata validou a escolha de Pelosi, aprovando os nomes selecionados
por 228 votos a favor, 193 contra e 15 abstenções. Com isso, as duas acusações contra
Trump foram encaminhadas formalmente ao Senado, dando o pontapé inicial no
julgamento, que poderá se estender por semanas.

A decisão de Pelosi põe fim a quase um mês de impasse desde que a aprovação das
acusações na Câmara abriu caminho para o processo de impeachment do presidente. Ele
foi acusado de abuso de podere obstrução do Congresso, depois que uma investigação
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legislativa concluiu que pressionou o governo da Ucrânia para que investigasse o ex-vice-
presidente Joe Biden (2009-2017), seu potencial rival nas eleições deste ano. A acusação
sustenta que Trump reteve um pacote de ajuda à Ucrânia de quase US$ 400 milhões e
também usou como barganha uma visita do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, à
Casa Branca.

Os sete deputados escolhidos, todos democratas, são liderados por Adam Schiff, da
Califórnia, e Jerry Nadler, de Nova York — presidentes respectivamente das Comissões de
Inteligência e de Justiça da Câmara.

—A ênfase está no nível de conforto no tribunal. A ênfase está em construir o argumento


mais forte possível para proteger e defendera Constituição em nome do povo americano —
disse Pelosi ao apresentar os nomes.

Depois de serem formalmente empossados ontem à tarde, os parlamentares atravessaram


o Capitólio e entregaram ao Senado, formalmente, as acusações contra Trump. O
julgamento terá seu início hoje, co malei turadas acusações no plenário e com juramentos
de“justiça imparcial ”. Os procedimentos deverão tomar fôlego de fato apenas na próxima
terça, após o feriado do Dia de Martin Luther King, em 20 de janeiro.

Pelosi justificou a demora para enviar as acusações ao Senado afirmando que esperava
“receber a cortesia” desa beras regras do julgamento com antecedência. Apesar disso não
ter acontecido, ela disse que o “tempo foi nosso amigo”, pois trouxe à tona novas “provas
incriminantes”, que evidenciariam a campanha de pressão de Trump na Ucrânia.

A principal divergência entre democratas e republicanos, que têm maioria no Senado, diz
respeito à convocação de testemunhas que não depuseram na investigação da Câmara,
como o ex-assessor de Segurança Nacional John Bolton. Os republicanos, que esperam
comandar um processo de curta duração, ainda não concordaram com essa convocação.

A resposta de Trump ao avanço do processo de impeachment veio no Twitter: “Aqui vamos


de novo, uma nova falcatrua dos democratas que não fazem nada”. Mais tarde, o
presidente chamou o processo de“farsa ”. Em nota, aporta-voz da Casa Branca, Stephanie
Grisham, qualificou o processo de “ilegítimo”. Ela disse que o presidente está ansioso para
te rum julgamento jus tono Senado e espera ser exonerado, pois “não fez nada de errado”.

Os sete deputados apresentarão o caso investigado na Câmara aos senadores, que atuarão
como jurados. Trump será defendido por seus advogados de defesa, e o presidente da
Suprema Corte, o juiz John Roberts, presidirá o julgamento — função em grande parte
cerimonial. Para que o Senado aprove o afastamento do presidente — algo que seria
inédito na História dos EUA —, serão necessários dois terços dos votos. Dada a maioria
republicana de 53 assentos, parece improvável que 67 dos cem senadores votem pelo
impeachment.

NOVAS REVELAÇÕES

Novos detalhes sobre o imbróglio ucraniano vieram à tona à tona nesta semana. Dezenas
de páginas de recados, mensagens de texto e outros registros mostram o trabalho
realizado pelo advogado pessoal de Trump, o ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani e
seu sócio, Lev Parnas, ao representar o presidente naquele país. Os documentos incluem
uma carta enviada por Giuliani em maio de 2019, pedindo um encontro com o presidente
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ucraniano. Na correspondência, o que-Trump tinha “conhecimento e dado autorização”
para assuas ações—o primeiro documento que veio a público que diz isso.

Valor Econômico – O quase desastre de Trump com o Irã / Artigo


/ Elizabeth Drew
Trump e seus acólitos estão acusando os seus críticos de serem simpáticos ao Irã

Elizabeth Drew é jornalista lotada em Washington e autora, mais recentemente, de


“Washington Journal: Reporting Watergate and Richard Nixon’s Downfall”.

Os tensos e perigosos incidentes recentes entre os Estados Unidos e o Irã tiveram muito a
revelar sobre o rumo que Donald Trump dá à sua política externa. A principal conclusão é a
de que ele não tem um rumo. Decisões importantes são tomadas com base em reações
emocionais e em impulsos muitas vezes contraditórios - por exemplo, que buscam
simultaneamente o acordo e ameaçam usar a força. Se há qualquer visão ou filosofia
dominante, é a de que ele quer evitar mais uma guerra longa e onerosa. Mas, seja como
for, ele quase incorreu em uma.

Quando fez campanha para presidente, Trump prometeu trazer soldados americanos para
casa. Às vezes se recusou a responder a provocações, especialmente as de grupos
apoiados pelo Irã em torno do Oriente Médio. Isso acalmou os iranianos - e quase todos os
demais -, fazendo-os pensar que ele continuaria a dar a outra face. No fim, alguns
membros da ala direita de seu Partido Republicano, e, o que é mais importante, os
comentaristas da Fox News, qualificaram-no de fraco. É uma coisa perigosa a se dizer
sobre Trump: seu governo como presidente mostra por que uma pessoa insegura não
deveria ser eleita para esse cargo.

Trump e seus acólitos estão acusando os seus críticos de serem simpáticos ao Irã. Mas,
atualmente, há sinais de que a opinião pública não está comprando essa acusação. A
maioria acha que o episódio deixou os EUA menos seguros, e poucos acreditam que a
trégua vai durar

Outra característica da conduta de Trump em política externa é o fato de ele estar rodeado
atualmente por um círculo de medíocres. Não há uma mente de longo alcance, um
pensador estratégico criativo ou um espírito independente entre eles. Trump está agora
com seu quarto assessor de segurança nacional de três anos, seu segundo secretário de
Defesa e seu segundo secretário de Estado; vários outros postos fundamentais em relações
externas permanecem desocupados. A lição, para os outros, está clara: a única maneira de
durar ao lado de Trump é não contestá-lo. Sua expectativa de deferência cega é ainda
mais problemática quando o presidente sabe pouco e não tem curiosidade em saber.

Mike Pompeo, o presunçoso secretário de Estado, é visto em amplos círculos como o mais
exímio bajulador dentre os principais assessores de Trump. Pompeo, um antigo membro da
Câmara dos Deputados dos EUA, também é um indiscreto bacharel da “bancada da
mudança de regime” do Irã no Congresso. Ficamos sabendo a posteriori que Pompeo vinha
pressionando Trump há algum tempo a determinar o assassinato de Qassem Suleimani, o
comandante da Força Quds do Irã, qualificada pelos EUA como uma organização terrorista
externa. De acordo com um relato, quando Trump finalmente decidiu de fato determinar o
assassinato do segundo dirigente político mais importante do Irã, no dia 3, “a nova equipe

33
estava coesa e menos inclinada do que seus predecessores a se opor aos desejos do
presidente”.

Na falta de uma declaração de guerra ao Irã, o assassinato de uma autoridade externa -


por meio de um ataque de drone ao território do Iraque - foi, talvez, ilegal. Mas essas
nuances não perturbam Trump. As evidências são de que a decisão de Trump foi tomada
sem considerar possíveis consequências. O sistema de segurança nacional, consolidado no
mandato de Dwight D. Eisenhower (1953 a 1961) e concebido para evitar essas medidas
impensadas, foi reduzido à não existência, enquanto um poder crescente foi colocado nas
mãos do presidente. Se esse presidente for instável, o mundo inteiro enfrentará um
problema muito grave.

Na verdade, uma guerra total com o Irã foi evitada por pouco porque os dirigentes
iranianos foram mais espertos do que Trump. A maior perda de vidas nesse episódio
perigoso foi causada pela trágica derrubada de um voo civil ucraniano que acabara de
decolar do aeroporto de Teerã, que matou todos os 176 passageiros a bordo. O avião tinha
sido autorizado a partir por autoridades do setor aéreo iraniano cerca de três horas após o
Irã ter disparado mísseis sobre bases militares iraquianas que abrigavam soldados
americanos. Essa retaliação cuidadosamente direcionada - ninguém morreu - pela morte
de Suleimani, aliada a mensagens em tempo real transmitidas pelos EUA por
intermediários suíços, sinalizou que os iranianos queriam pôr fim à perigosa escalada. Eles
perderiam uma guerra com os EUA, mas quase certamente infligiriam graves prejuízos a
ativos americanos, inclusive por meio de ciberataques. Um aliviado Trump aceitou o recado
dos iranianos e seguiu seu exemplo.

Um Congresso atordoado exigiu informações do governo sobre os motivos para matar


Suleimani, e a falta de um motivo claro teve reflexos adversos sobre Trump e suas
autoridades de segurança nacional. Foram oferecidos argumentos conflitantes e mutáveis,
e o governo não conseguiu convencer os parlamentares de que uma ameaça “iminente”
tinha forçado o presidente a tomar essa decisão. Isso, aliado ao característico desprezo do
governo pelo Congresso e pelo dever constitucional de seus membros de fazer o Poder
Executivo responder por seus atos, e pelo poder constitucional exclusivo do Legislativo de
declarar guerra, levou a um novo movimento do Congresso para reduzir os poderes do
presidente de declarar guerra no caso do Irã. Mas é pouco provável que a Câmara dos
Deputados e o Senado (que é controlado por aliados republicanos de Trump) concordem
em torno de uma posição, menos ainda que criem uma medida capaz de sobreviver a um
veto presidencial.

Por outro lado, o relacionamento entre os EUA e o Irã está pior do que nunca, uma vez que
os EUA perderam mais desde que mataram Suleimani. O Irã anunciou que deixaria de
cumprir os limites a seu programa nuclear, e reduziu o tempo estimado que levaria para
desenvolver uma ogiva em relação aos quase 15 anos, determinados quando Trump tomou
posse, para apenas cinco meses. Os EUA estão sendo cada vez mais pressionados a retirar
suas tropas do Iraque - há muito tempo o objetivo de Suleimani. O treinamento militar,
pelos EUA, de forças iraquianas para combater o Estado Islâmico - o motivo pelo qual os
EUA foram convidados a voltar ao Iraque no mandato de Barack Obama - está atualmente
em suspenso. Em vez de retirar soldados do Oriente Médio, como prometeu, Trump
comprometeu-se a enviar milhares de novos efetivos para a região.

Por outro lado, inevitavelmente, Trump e seus acólitos estão cantando vitória e acusando
críticos de serem simpáticos ao Irã e até de serem inclinados em favor do cruel Suleimani.
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Atualmente, há sinais de que a opinião pública não está comprando essa acusação. A
maioria acha que o episódio deixou os EUA menos seguros, e eles podem estar com a
razão: embora as hostilidades entre os EUA e o Irã - bem como entre seus vários títeres -
tenham cessado, poucos acreditam que a trégua vai durar. (Tradução de Rachel
Warszawski)

AMÉRICA CENTRAL, CARIBE E MÉXICO

O Estado de S. Paulo – Caravana de migrantes segue para


México
CIDADE DA GUATEMALA

Centenas de hondurenhos entraram na Guatemala ontem após formarem nova caravana


de migrantes em busca de melhores condições de vida nos EUA, apesar das barreiras
impostas pelo presidente Donald Trump em colaboração com os governos da América
Central.

Cerca de 400 homens, mulheres e crianças se reuniram em Corinto, na fronteira de


Honduras com a Guatemala, mas um contingente policial bloqueou sua passagem. Um
oficial pediu que eles fossem ao escritório de migração para se registrar antes de cruzar a
fronteira. Mas os migrantes romperam o cerco da polícia e conseguiram entrar na
Guatemala. Uma dúzia de policiais guatemaltecos esperava por eles na beira da estrada,
mas os deixaram passar. Outros migrantes que mais tarde chegaram a Corinto de San
Pedro Sula foram detidos por policiais que pediram documentos.

A modalidade de migração de caravanas começou em Honduras em 14 de outubro de


2018, com cerca de 2 mil pessoas fugindo do desemprego e a violência de gangues e
traficantes de drogas que dominam vastas áreas do território hondurenho.

Ao êxodo em massa se somaram salvadorenhos, guatemaltecos e mexicanos, o que


provocou a ira do presidente Trump, que mobilizou militares para reforçar a segurança da
fronteira na tentativa de impedir a passagem dos migrantes.

A colaboração dos governos de El Salvador, Guatemala e México para dificultar o êxodo


havia dissuadido os migrantes, motivo pelo qual o comparecimento à nova convocatória
surpreendeu. O México informou ontem ao governo guatemalteco que não permitirá a
entrada dos migrantes.

EUROPA

O Globo – ‘Presidente vai manobrar para ver quem é mais apto’ /


Entrevista / Angelo Segrillo
Angelo Segrillo, PROFESSOR DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DA USP

FILIPE BARINI

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Para o professor de História Contemporânea da USP Angelo Segrillo, especializado em
Rússia, as ações de Putin podem ser vistas como o caminho para depois que ele deixar o
poder. Por enquanto, ele não vê turbulências em um futuro próximo.

O que está por trás desta reforma?

A lógica mais imediata é a de que Putin vai tirar o poder do presidente para depois voltar
como primeiro-ministro. Eu acredito que ele vá seguir o modelo do Cazaquistão. O
[Nursultan] Nazarbayev [ex-presidente cazaque] saiu, deixou de ser presidente, mas usou
um modelo chinês, do Deng Xiaoping, onde não ocupava nenhum cargo oficial, mas ficava
por trás das ações de governo. Putin vai ter mais idade e sabe que o sistema não pode
depender de apenas uma pessoa. É como na época do [Josef] Stalin, que não deixou
nenhum sucessor, algo comum na história russa.

Toda vez que um líder como Pedro, o Grande ou Ivan, o Terrível morria, vinha um período
horrível. Putin quer que essa sucessão tenha um certo controle. Se ele quisesse ser
primeiro-ministro, não precisaria fazer tudo isso, como ele não precisou fazer em 2008.

Por que então ele retirou o atual premier, Dmitri Medvedev, do cargo?

A relação de Putin com Medvedev sofreu um pouco de desgaste: eles eram amigos,
trabalharam juntos, mas ocorreu um desgaste com o tempo. Há um contexto de
dificuldades econômicas, sanções, crise mundial, e os russos colocam uma boa parcela da
culpa dos problemas no premier. Pela Constituição, é ele o responsável pela economia
nacional, e a situação não é a mesma da primeira década do século. A mudança é uma
forma de não ficar ligado a esse desgaste.

O sucessor de Putin já apareceu?

Creio que não, acho que o presidente vai manobrar para ver quem é mais apto. (O novo
premier) Mikhail Mishustin é um tecnocrata, mas o próprio Putin era um quando apareceu,
vindo do serviço de segurança. Acabou sendo um grande político. Não devemos descartar
Mishustin, ele foi muito eficiente no cargo. A Rússia tem um sistema fiscal elogiado, que
simplifica e eleva a arrecadação de impostos. O ex-presidente Boris Yeltsin fez o mesmo
com Putin, se encontrava muito desgastado e, de repente, surge alguém “de fora do
sistema”. Uma forma de pôr alguém que não está “queimado” com a política. Mas não
acredito que a indicação tenha o objetivo de torná-lo presidente no futuro. É uma boa
aposta para transição, alguém com este perfil.

Qual o papel da oposição neste processo?

Vejo que a oposição está muito enfraquecida, especialmente a liberal. Há razões para isso.
Desde a época de Yeltsin, quando houve uma depressão econômica, há o medo de retornar
a esse cenário, então os grupos liberais se enfraqueceram. A oposição “de verdade” seria o
Partido Comunista, o partido mais forte nos anos 1990. Mas Putin, ao ser mais
nacionalista, puxou para si parte do eleitorado que votava nos comunistas para defender o
Estado russo. Ao mesmo tempo, fez com que alguns desses mesmos comunistas o
apoiassem em questões específicas. Há uma oposição nas ruas, fora do Parlamento, que de
vez em quando estoura em protestos, mas não tem massa crítica para afetar o sistema.

Isso pode mudar em algum momento?


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A economia tem um peso muito forte, e se as coisas piorarem, a conjectura muda. O país
ainda não está em uma situação similar à dos anos 1990. A chance da oposição é se a
economia se deteriorar de forma significativa.

Valor Econômico – Putin indica que mudará de cargo, mas


seguirá no poder
Putin propôs reformas constitucionais para reduzir o poder do próximo presidente e ampliar
o do Parlamento e do premiê. Isso sinaliza que ele deve se manter no poder ao fim do
mandato, em 2024, mas em outro cargo

Por Leonid Bershidsky — Bloomberg

Em seu discurso sobre o estado da nação, ontem, o presidente russo, Vladimir Putin,
propôs uma ampla reforma constitucional que lhe daria várias opções para manter-se no
poder depois de 2024, quando seu mandato terminará.

O anúncio foi seguido pela renúncia do premiê Dmitri Medvedev e de seu Gabinete, o que
indica que uma reforma ampla do sistema de governo da Rússia está em andamento. E
que Medvedev não sucederá a Putin como presidente, como em 2008, por um mandato.

A maioria das propostas de Putin deixaria a Rússia, cuja Constituição atual dá ao


presidente poderes quase ditatoriais, com uma Presidência menos poderosa - e regras
mais restritivas para a escolha de futuros presidentes.

Primeiro, Putin sugeriu que só poderiam concorrer à Presidência pessoas que tenham
residido na Rússia continuamente por mais de 25 anos e nunca tenham tido passaporte
estrangeiro ou permissão de residência permanente em outro país. A Constituição atual diz
que uma segunda cidadania não limita nenhum direito.

A proposta de Putin excluiria da disputa um grande número de russos ricos e instruídos.


Segundo deficientes estatísticas oficiais, 543 mil russos têm uma segunda cidadania ou
residência no exterior.

A reforma também eliminaria a enorme comunidade de russos no exterior, que a ONU


estima em 10,5 milhões, o equivalente a cerca de 7% da população da Rússia.

Isso faz parte do que Putin vê como um pacote de reforço da soberania. E não só o
presidente, mas também o premiê, ministros, governadores e juízes devem ser proibidos
de ter dupla cidadania e permissão de residência no exterior.

Putin também quer que as leis russas tenham prioridade sobre convenções, tratados e
decisões judiciais internacionais. Hoje, a Constituição prioriza obrigações internacionais, o
que resulta num fluxo constante de decisões adversas do Tribunal Europeu de Direitos
Humanos. Sentenças do ano passado custaram à Rússia cerca de US$ 11,4 milhões em
indenizações. O valor é relativamente pequeno, mas houve uma série de constrangimentos
políticos. Além disso, houve alguns fiascos caros em vários tribunais econômicos, como a
perda de US$ 2,6 bilhões da estatal de gás natural Gazprom para a Naftogaz, dona do
sistema de transporte de gás ucraniano.

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Putin quer tornar impossível para qualquer ator externo - tribunais, emigrados russos,
governos, instituições ocidentais - ter qualquer influência no funcionamento interno da
Rússia.

Hoje, cabe ao presidente escolher o premiê (a Duma, câmara baixa do Parlamento, apenas
dá o seu “consentimento”) e nomear os membros. Putin propôs que todo a escolha do
premiê seja feita pela Duma. Os ministros seriam escolhidos pelo premiê e não pelo
presidente. Este último seria obrigado a aceitar a decisão do Parlamento.

Putin também indicou sua aprova uma mudança que eliminaria a brecha que lhe permitiu
retornar ao Kremlin em 2012: a fórmula que proíbe um presidente de cumprir mais de dois
mandatos consecutivos. Putin quer eliminar a palavra “consecutivo”, o que o impediria de
concorrer à Presidência em 2030, quando ter 78 anos.

A renúncia do premiê Medvedev e a oferta que lhe foi feita por Putin - de assumir como o
número 2 no Conselho de Segurança da Rússia, um importante órgão consultivo, mas não
crucial - significam que Medvedev não deverá ser o escolhido para suceder Putin.

Ao propor restrições aos poderes presidenciais, Putin abre três caminhos para si depois de
2024, que são menos diretos do que um simples prolongamento de seus poderes, como
ocorreu na Bielorrússia e em vários países da Ásia Central que foram soviéticos.

Um é se tornar premiê com poderes fortalecidos e ficar no cargo indefinidamente. Outro é


tentar governar o país como presidente do Parlamento. O terceiro é governar dos
bastidores, como líder do partido dominante no Parlamento - que é como Jaroslaw
Kaczynski, líder do Partido da Lei e da Justiça, comanda a Polônia.

Todas essas opções exigem um controle continuado sobre o sistema político da Rússia,
para que o Parlamento continue a ser, de fato, um organismo de partido único.

Como afirmou o analista político Kirill Rogov num post: “Num sistema não competitivo,
sem acesso livre a eleições para partidos e candidatos e com eleições injustas e fraudadas,
a transferência de poderes para o Parlamento provavelmente significa a transferência
desses poderes ao líder do partido que controla o Parlamento.”

Há uma razão para Putin divulgar todas essas ideias. O establishment russo está
preocupado com a transição e com as intenções de Putin. Agora, deve ficar claro que ele
está pronto para buscar um papel diferente do da Presidência, mas acima da disputa
política.

Não interessa a Putin anunciar exatamente qual, mas é importante para ele sinalizar que
está no comando do processo e que ele pretende ficar na ativa depois de 2024 mesmo que
em outra função.

ÁFRICA

Valor Econômico – Petrobras encerra presença de quatro


décadas na África
Após venda da PetroÁfrica, estatal se prepara, agora, para desinvestir no Uruguai e Bolívia

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Por André Ramalho — Do Rio

Ao concluir a venda da PetroÁfrica, por US$ 1,45 bilhão, a Petrobras encerrou um ciclo de
quatro décadas em território africano. Ao longo desse tempo, a estatal passou por dez
países africanos diferentes, na maioria deles sem sucesso, numa trajetória que
acompanhou por vezes o movimento da política internacional do governo brasileiro,
demandou investimentos bilionários e foi parar, nos últimos anos, nas investigações da
Operação Lava-Jato. Após sair do continente, a petroleira volta a sua atenção agora, no
âmbito internacional, para a venda de ativos na América do Sul. Argentina, Bolívia e
Uruguai são alguns dos alvos do programa de desinvestimentos da empresa.

Com a venda da PetroÁfrica, a Petrobras se desfaz de uma produção de 34 mil barris


diários de petróleo. O volume é oriundo dos ativos da empresa na Nigéria e representa
cerca de 1,5% da meta de produção da estatal para 2020.

O primeiro destino da petroleira brasileira na África foi Angola, em 1979, ainda durante
o regime militar

O negócio representa mais um passo da estatal na estratégia de redução de sua presença


no mercado internacional. Desde 2015, em resposta a sua crise financeira, a estatal já fez
oito desinvestimentos no exterior, no valor de US$ 5,2 bilhões.

A petroleira saiu de países como Chile, Paraguai, Japão e Nigéria, mas ainda mantém uma
base de ativos nas Américas, incluindo redes de distribuição de combustíveis no Uruguai e
Colômbia e alguns ativos de exploração e produção de petróleo e gás natural na Bolívia,
Estados Unidos, Argentina e Colômbia.

O próximo país a sair da base de ativos da Petrobras promete ser o Uruguai. A companhia
já abriu o processo de venda de seus ativos de distribuição de combustíveis no país e
fechou um acordo com o governo local para devolver as concessões de gás canalizado.

Na Argentina, a empresa caminha para se desfazer da MEGA, ativo de separação de gás


natural. A Petrobras, contudo, ainda mantém uma fatia de 33,6% no ativo de exploração e
produção de gás não convencional do Rio Neuquén.

Com a venda da PetroÁfrica, a produção internacional da estatal virá a partir de agora


basicamente da Bolívia e do Golfo do México, nos EUA. O futuro da empresa no país
vizinho, porém, é incerto. Isso porque a venda de ativos na Bolívia entrou no horizonte do
plano de negócios 2020-2024. Foi a primeira vez que a diretoria da estatal mencionou
abertamente a inclusão dos ativos bolivianos no seu programa de desinvestimentos. A
empresa não deu maiores detalhes sobre o negócio. No país andino, a petroleira detém
fatia de 11% na GTB, proprietária da parte boliviana do gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol), e
contratos de produção nos campos de San Alberto e San Antonio.

Nesse contexto de venda de ativos, a Petrobras já se desfez, nos últimos cinco anos, de
boa parte de sua carteira global construída ao longo das décadas passadas. As operações
na África, por exemplo, remontam ao fim dos anos 1970, ainda no regime militar. O
primeiro destino da petroleira brasileira foi Angola, em 1979, num contexto de uma década
marcada pela independência do país africano e pelo segundo choque do petróleo - que
estimulou as petroleiras internacionais a buscarem diversificar suas reservas.

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O segundo passo de “africanização” da Petrobras só correu duas décadas depois, em 1998,
já no governo Fernando Henrique Cardoso, quando a estatal brasileira entrou na Nigéria -
país onde ela teve o seu maior sucesso no continente. Toda a produção da PetroÁfrica, nos
anos mais recentes, vinha exclusivamente daquele país.

A internacionalização da Petrobras na década de 1990 ocorre num outro contexto de seus


negócios, quando ela ainda não havia descoberto os grandes recursos do pré-sal. Sem
expectativas de contar com suficientes reservas de óleo e gás no Brasil, a empresa saiu em
busca de alternativas na África e Bolívia, por exemplo.

Foi nos anos 2000, no governo Luiz Inácio Lula da Silva, porém, que a presença da
petroleira no continente africano se acentuou. Presente até então na Nigéria e Angola, a
Petrobras entrou na atividade de exploração de óleo e gás na Tanzânia (2004), Líbia
(2005), Moçambique (2006), Guiné Equatorial (2006), Senegal (2007) e Namíbia (2009).
Essa expansão, embora em menor medida, continuou no governo Dilma Rousseff, quando
a empresa entrou no Gabão (2011) e Benin (2011). A exceção de Angola e Nigéria, a
Petrobras jamais produziu nos demais países.

A expansão da Petrobras na África, nesse período, acompanhou os passos da política


externa do governo Lula, que diversificou as relações internacionais do Brasil e pregava a
cooperação Sul-Sul. O foco da Petrobras era nas atividades de exploração e produção de
óleo e gás, mas em Moçambique a parceria também incluía os biocombustíveis.

Já no início dos anos 2010, com o pré-sal no centro do seu plano de negócios, a África
começou a sair, aos poucos, do radar da estatal. Foi nesse contexto que, em 2013, a
Petrobras formou uma joint venture (50%/50%) com o BTG, para investir, junto com um
parceiro, e não mais sozinha, no desenvolvimento de um novo campo na Nigéria, que
exigiria US$ 3 bilhões.

Sete anos depois, o negócio se encerra. Não sem parar, antes, nos relatórios da Lava-Jato.
Uma das linhas de investigação de uma das fases da operação, desencadeada em 2019,
aponta para possíveis ilícitos envolvendo a formação da joint venture com o BTG. A partir
de análise de documentos apreendidos, foram identificados indícios de que o banco
comprou em 2013 a sua parcela de 50% nos ativos da Petrobras na África por um valor
“substancialmente inferior àquele que havia sido avaliado por instituições financeiras de
renome no início do processo de venda”, segundo o Ministério Público Federal (MPF). De
acordo com os investigadores, o preço dos ativos havia sido avaliado entre US$ 5,6 bilhões
e US$ 8,4 bilhões.

O montante tomado como referência pelo MPF havia sido estimado por bancos em processo
de potencial oferta pública inicial (IPO) da empresa na África e considerava premissas
diferentes daquelas consideradas pelo BTG. Ao fim, a venda dos 50% da Petrobras na
PetroÁfrica para a Petrovida foi concluída por praticamente o mesmo valor nominal que o
BTG pegou à estatal, em 2013 - embora num cenário diferente de preços do barril do
petróleo (que na ocasião superavam os US$ 100) e parte das reservas já consumidas.

ORIENTE MÉDIO

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Gazeta do Povo – Síria acusa Israel de ter disparado mísseis
contra bases militares
Por Gazeta do Povo

Um oficial do exército sírio acusou militares israelenses de terem atacado uma base na
província de Homs nesta terça-feira, 14. Vários mísseis teriam sido interceptados, mas
quatro atingiram área em aeroporto na região de fronteira entre Síria e Iraque.

A denúncia foi publicada pela agência estatal Sana. Segundo a fonte militar, o ataque
aconteceu por volta das 22h de terça, no horário local, quando aviões de guerra
israelenses teriam disparado mísseis contra o aeroporto T4, no interior de Homs. A maior
parte dos mísseis teriam sido interceptados pelo sistema de segurança, mas quatro deles
atingiram bases militares, deixando apenas danos materiais.

O governo de Israel não comentou as acusações. Após a crescente tensão no Oriente


Médio, com ataques americanos e iranianos, Israel teme que a Síria receba operações
militares do Irã.

O Globo – E se, em vez do Irã, fôssemos nós? / Coluna / Guga


Chacra
Imagine se, em 1979, a ditadura militar do Brasil tivesse sido deposta por um clérigo em
uma revolução. Imagine se estes revolucionários instalassem um regime religioso e
enforcassem opositores. Imagine se mantivessem 52 diplomatas americanos como reféns
na Embaixada dos EUA em Brasília por 444 dias.

Imagine se, na década seguinte, a ditadura religiosa brasileira travasse uma guerra contra
a ditadura de Pinochet, apoiada por Ronald Reagan, e centenas de milhares de pessoas
morressem nos combates. Imagine se houvesse uma Guarda Revolucionária que apoiasse
milícias religiosas envolvidas em terrorismo em outras nações.

Imagine se este regime religioso proibisse o carnaval e impusesse regras para aforma
como as mulheres deveriam se vestir, perseguisse seu irmão por ser homossexual e
torturasse outro por ter criticado um governante em artigo no jornal. Imagines e você não
pudesse levara sua filha para torcer pelo Botafogo contra o Fluminense no Maracanã
porque as autoridades considerariam pecado alguém do sexo feminino assistira futebol.
Imagine se a sua outra filha apanhas seda polícia religiosa por ter ousado ir de biquíni ver
o pôr do sol no Arpoador. Imagines e a música Garota de Ipanema fosse censurada.

Imagine se você, enfrentando problemas financeiros decorrentes da crise econômica,


tivesse de pagar impostos para o regime religioso apoiar uma milícia chamada Partido de
Deus no México. Imagine se você fosse contra todo este regime.

Você ainda seria alvinegro e contaria para a sua filha dos tempos em que a avó dela o
levava ao Maracanã para ver a genialidade do Garrincha contra a academia palmeirense do
Ademir da Guia. Você ainda mostraria a seus filhos as canções da Bossa Nova e do
Tropicalismo quando estivessem trancados dentro do apartamento. Como volume baixo
para o vizinho extremista religioso não o denunciara o regime. Você ainda sonharia coma
liberdade em seu país.

41
Mas imagine que, apesar de seu filho ser totalmente contra a ditadura religiosa, ele fosse
proibido de entrar nos EUA para um doutorado em biologia porque Donald Trump proibiria
a entrada de todos os brasileiros no território americano. Imagines e você fosse acusado
de pertencera um regime que tanto condena quando estivesse no exterior. Imagine se o
acusassem de ser terrorista por ser brasileiro. Imagine se sanções impostas pelos EUA
impactassem na sua capacidade de pagar o aluguel.

Imagines e dissessem que acultura brasileira fosse atrasada e pregasse o ódio. Imagine se
ignorassem seus músicos, seus escritores e suas tradições como se nada disso houvesse
existido e o Brasil se restringisse a um regime religioso.

Obviamente, este é um paralelo com o drama de muitos iranianos que não estiveram no
funeral de Qassem Soleimani. São contra o regime dos aiatolás, assim como também
muitos deles condenavam as atrocidades da Savak (polícia secreta) na ditadura do xá. Não
suportam a intolerância com mulheres e gays. Querem ter liberdade e o fim da tortura.
Não querem que o dinheiro dos seus impostos seja usa dopara armar o Hezbollah em vez
de melhorara Saúde.

Admiram a educação americana e repudiam ataques a americanos, mas não se esquecem


do golpe armado pela CIA para derrubar Mossadegh. Sabem também da hipocrisia de
Washington ao apoiara ditadura d e Saddam Hussein na Guerra Irã-Iraque e da aliança
com o sanguinário saudita Mohammad bin Salman enquanto finge defendera democracia
no Irã.

Muitos iranianos são contra o regime dos aiatolás, mas não esquecem a hipocrisia dos EUA
ao apoiarem outras ditaduras

ORGANISMOS INTERNACIONAIS E MECANISMOS


REGIONAIS E INTERREGIONAIS

O Globo – Governo Bolsonaro tira país de órgão regional


Ditaduras seriam causa de saída da Comunidade de Estados Latino-Americanos e
Caribenhos

(Eliane Oliveira)

O governo do presidente Jair Bolsonaro decidiu retirar o Brasil da Comunidade de Estados


Latino-Americanos e Caribenhos (Celac). Fontes com conhecimento no assunto disseram
que a medida se deve, entre outros motivos, à presença de ditaduras no bloco, como Cuba
e Venezuela — esta última representada na Celac pelo chavista Nicolás Maduro. A nova
posição teria sido comunicada na última terçafeira aos associados.

Criada em fevereiro de 2010, durante uma reunião de cúpula do Grupo do Rio, no México,
a Celac tem 33 membros. Na época, o presidente do Brasil era Luiz Inácio Lula da Silva,
hoje um dos maiores adversários políticos de Bolsonaro.

Um dos idealizadores da Celac, o então presidente do México, Felipe Calderón, defendia


que a comunidade tivesse como objetivo projetar globalmente a região em temas como o
respeito ao direito internacional, a igualdade entre Estados, o respeito aos direitos
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humanos e a cooperação. Os principais pilares eram a solidariedade, a inclusão social e a
complementaridade.

Desde então, o contexto político na América Latina mudou, com a eleição de governos à
direita no Uruguai, no Brasil e no Chile. O Brasil e vários países da região, por exemplo,
não reconhecem o governo do venezuelano Nicolás Maduro, e apoiam o autoproclamado
presidente da Venezuela, Juan Guaidó, que é reconhecido por mais de 50 governos.

O regime comunista cubano também é rechaçado por Bolsonaro. O presidente já desfechou


vários golpes contra Havana, sendo os mais conhecidos o fim do programa “Mais Médicos”
e o apoio ao embargo econômico a Cuba pelos Estados Unidos.

O Globo – Negociadores pretendem discutir reforma da OMC


Em agenda paralela ao Fórum, debate incluirá subsídios domésticos a produtores agrícolas
e a criação de novos acordos globais

ELIANE OLIVEIRA BRASÍLIA

Enquanto o ministro da Economia, Paulo Guedes, representará o presidente Jair Bolsonaro


no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, negociadores brasileiros terão uma
agenda paralela ao evento, junto com ministros e altos funcionários das principais
economias do planeta. O objetivo é discutira reformada Organização Mundial do Comércio
(OMC).

A crise no sistema multilateral de solução de controvérsias, os subsídios domésticos


concedidos pelas nações desenvolvidas a seus produtores agrícolas e a confecção de novos
acordos globais, com destaque para o comércio eletrônico, fazem parte da pauta que será
debatida nos dias 23 e 24.

Coma participação de atores como Estados Unidos, Brasil, China, Índia, África do Sul,
Japão e algumas nações europeias, uma reunião ministerial —com 20 a 30 associados ao
organismo —buscará resultados que, até o momento, não apareceram. Segundo uma
fonte, as conversas sobre o contexto atual estão ocorrendo em Genebra, na Suíça, sede da
OMC, mas a ideia é aproveitara presença de autoridades do alto escalão nesses debates
para leva radiante as discussões e “sentir o clima ”.

Há expectativa de sair um comunicado dos exportadores de produtos agrícolas condenando


o nível de subsídios domésticos. O documento está sendo alinhavado pelo chamado Grupo
de Cairns, formado por 20 membros, entre os quais Brasil, Canadá, Argentina, África do
Sul, Canadá e Colômbia. China e Índia estão, junto com União Europeia e EUA, entre as
nações que mais subsidiam a agricultura.

Outro problema que deverá ser abordado é a paralisação, desde dezembro, do Órgão de
Apelação da OMC. Última instância de um contencioso comercial, o órgão está parado
devido ao boicote dos EUA à nomeação de novos árbitros desde o ano passado. Por conta
disso, restou apenas um juiz para decidir os recursos, quando o mínimo exigido são três.
Além disso, Washington bloqueou a liberação de recursos orçamentários para o pagamento
dos juízes em 2020.

Também haverá uma reunião específica sobre comércio eletrônico. Há um acordo em


negociação no âmbito da OMC. Em outubro, o Brasil apresentou sugestões para facilitar as
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operações de compra e venda por meio de tecnologias digitais. Na avaliação de fontes do
governo brasileiro, essas tecnologias vão facilitar e encurtar o tempo de desembaraço de
bens, além de reduzir a documentação exigida.

O governo brasileiro vai propor aos EUA a inclusão do e-commerce na agenda bilateral.
Segundo um técnico, os dois países têm pontos de convergência: são contra a cobrança de
tributos no comércio de produtos digitais, como download de videogames e livros, e não
concordam com a obrigatoriedade de o servidor se localizar dentro do país onde a
transação é efetuada. Brasil e EUA defendem o livre fluxo de dados na internet, sem
restrição.

DIREITOS HUMANOS E TEMAS SOCIAIS

Veja – EUA ‘continuaram a retroceder em direitos’ em 2019, diz


relatório mundial
Relatório anual do Observatório dos Direitos Humanos destaca governo de Xi Jinping, na
China, como 'ameaça global' aos direitos humanos

Ao longo de seu terceiro ano de mandato, em 2019, o presidente americano, Donald


Trump, levou os Estados Unidos a “continuar a retroceder em direitos”, afirma relatório
anual da organização não-governamental Observatório dos Direitos Humanos (HRW) sobre
a condição dos direitos humanos em mais de 100 países, divulgado na terça-feira 14. O
HRW ressaltou as políticas migratória e externa como destaques negativos do republicano.

“O governo Trump promoveu políticas de imigração desumanas e narrativas falsas que


perpetuam o racismo e a discriminação”, afirma o HRW. Além da “traumatizante” política
de separação de famílias, implementada já em 2018, os Estados Unidos “firmaram acordos
para enviar requerentes de asilo para Honduras, El Salvador e Guatemala, apesar das
condições precárias de segurança nesses países”.

Em relação à política externa, a organização criticou Trump por pouco promover os direitos
humanos pelo mundo e “continuou a enfraquecer instituições multilaterais”. Em abril, os
Estados Unidos pressionaram o Conselho de Segurança das Nações Unidas a não
reconhecer o direito de reprodução e de saúde de vítimas de violência sexual em conflitos
armados.

Além, a insistência dos Estados Unidos em barrar a nomeação de novos juízes para a
Organização Mundial do Comércio (OMC) resultou, em dezembro, na paralisação ainda em
vigor do órgão responsável por resolver as disputas comerciais entre os membros da
entidade.

Trump “desrespeitou os direitos humanos internacionais e o direito humanitário ao se


associar a governos abusivos [como Arábia Saudita e Hungria]”, disse o HRW. Como cita o
relatório, com base em reportagem do jornal The Wall Street Journal, o presidente
americano teria chamado o presidente do Egito, Abdel Fattah al-Sisi, de “meu ditador
favorito” durante um encontro na Casa Branca em abril.

A entidade ressalva que Trump sancionou indivíduos e governos por cometer abusos contra
os direitos humanos, como a China. Em março, os Estados Unidos acusaram os chineses de

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construirem campos de concentração para prender integrantes da minoria étnica uigur,
povo muçulmano que habita a província de Xinjiang, no noroeste chinês.

‘Ameaça Global’
Sob o governo do presidente Xi Jinping, a China foi descrita como uma “ameaça global”
pelo diretor-executivo do HRW, Kenneth Roth. No domingo 12, Roth foi barrado por
autoridades chinesas de ingressar em Hong Kong — palco de onda de protestos contra a
China desde junho —, onde divulgaria o relatório anual da organização.

“Em casa, o Partido Comunista Chinês, preocupado com o fato de permitir a liberdade
política comprometer seu poder, construiu um estado de vigilância de alta tecnologia e um
sofisticado sistema de censura na Internet para monitorar e suprimir as críticas públicas.
No exterior, [o governo] usa sua crescente influência econômica para silenciar seus
críticos”, afirma Roth.

TEMAS MIGRATÓRIOS E CONSULARES

O Globo – Brasileiros residentes em Portugal chegam a número


recorde de 151 mil
Emigração qualificada faz dobrar quantidade de médicos do Brasil em terras portuguesas
Gian Amato, especial para O Globo

LISBOA — O número de residentes brasileiros em Portugal aumentou 43% em 2019 e


chegou ao recorde de 150.864 mil. Os brasileiros emigrantes nesta nova onda de pedidos
de residência em Portugal têm um perfil profissional extremamente qualificado. Deixam
seus empregos no Brasil em busca de maior qualidade de vida, chegam em família e, por
vezes, preferem receber no recomeço um salário menor em troca de segurança para a
família.

Uma das classes de profissionais que mais aumentou foi a dos médicos brasileiros. É um
movimento planejado para tentar ocupar as vagas abertas pelos médicos portugueses que
deixam o país em busca de melhores condições e salários. E não são apenas brasileiros
nesta diáspora profissional: Portugal tem agora o maior número de médicos estrangeiros
no Sistema Nacional de Saúde (SNS), com cerca de 2 mil – metade do efetivo.

A pediatra intensivista do Instituto Nacional de Câncer (INCA), Márcia Dornelles, é uma


delas. Aos 41 anos, pediu licença de três anos ao INCA para fazer um mestrado e obter a
licença para exercer a medicina em Portugal. No último dia 10, Dornelles, que se mudou
com a família para Lisboa, cumpriu a terceira etapa de equivalência de diploma na
Universidade de Lisboa, requisito para trabalhar na área.

COMÉRCIO INTERNACIONAL E PROMOÇÃO COMERCIAL

Exame – Acordo entre EUA e China: bipolaridade e trégua para o


comércio global / Artigo / Renata Amaral
Acordo pode trazer tempos de paz para o comércio entre os países, mas mundo sentirá os
reflexos da tratativa, escreve Renata Amaral, da American University

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Renata Amaral é doutora em Direito do Comércio Internacional, professora Adjunta na
American University, em Washington DC e fundadora da rede Women Inside Trade

Aparentemente, 2020 começa com mais um gol do presidente dos Estados Unidos, Donald
Trump. Pelo menos é nesse tom que ele tem feito muito barulho sobre o acordo de
comércio entre Pequim (China) e Washington. Assinada nesta quarta-feira (15), na Casa
Branca, a primeira fase do acordo comercial entre os dois gigantes tem causado tensão dos
mercados e expectativas ao redor do globo.

Desde dezembro do ano passado, quando Trump anunciou a conclusão da primeira fase de
um mega acordo entre Estados Unidos e China, o mercado aguarda ansiosamente pela
liberação do texto que revelará o compromisso entre os países. Naquele momento, o
documento que foi divulgado pelo USTR (sigla em inglês do Escritório da Autoridade
Comércio dos EUA) indicava um “acordo histórico” com compromissos chineses que
precediam reformas estruturais e mudanças em aspectos econômicos. Entre eles, temas
sensíveis de propriedade intelectual (como a transferência de tecnologia), compras de
produtos agrícolas e bens manufaturados americanos, energia, remoção de barreiras a
serviços financeiros americanos e uma significativa expansão de comércio entre as duas
economias.

Sem atacar problemas de fundo que os americanos têm com a administração da economia
por parte do governo chinês, os números relativos a expansão de comércio que constava
na publicação do USTR indica o compromisso dos asiáticos de importar vários bens e
serviços dos Estados Unidos nos próximos dois anos em um valor total que excede o nível
anual de importações da China para esses bens e serviços em 2017 (antes da guerra
comercial). Serão nada menos que US$ 200 bilhões ao longo de dois anos, com vistas a
reduzir um déficit comercial bilateral dos Estados Unidos que chegou a US$ 420 bilhões em
2018. Um dos principais objetivos desta primeira fase do acordo, portanto, é justamente
amenizar o déficit comercial americano em relação à China.

Acordo entre Estados Unidos e China e a campanha eleitoral de 2020


Estados Unidos e China tem excelentes negociadores, e não são só os americanos que
ganham com a assinatura desse acordo. Aliás, já na última segunda-feira (13) o Tesouro
americano retirou a China da lista de países manipuladores de moeda, um primeiro sinal
dos benefícios conferidos aos chineses. Como parte do acordo, Pequim se comprometeu a
não manipular o valor da moeda em troca de uma suspensão parcial das taxas
alfandegárias impostas por Washington sobre os bens importados da China.

O texto assinado hoje na Casa Branca confirma o que já havia sido antecipado pelo
documento de 1 página e meia divulgado em dezembro do ano passado. Sua assinatura,
aliás, foi um claro ato eleitoreiro por parte de Trump. Não à toa, o vice-presidente, Mike
Pence, começou seu discurso dizendo que aquele seria bom dia para a América, para a
China e para o mundo, e o presidente Trump fez questão de dedicar boa parte do discurso
dizendo aos agricultores e produtores americanos que não precisariam mais se preocupar.

Para além da redução de tarifas, o acordo impulsiona compras chinesas e foca em alvos
numéricos: a compra por parte dos chineses de US$ 200 bilhões em bens fabricados nos
EUA nos próximos dois anos, compra de US$ 75 bilhões em manufaturados, compra de
US$ 50 bilhões em energia e compra de até US$ 50 bilhões em produtos agrícolas.

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A celebração de hoje, no entanto, não significa o fim da guerra comercial, tampouco anula
a maior parte das tarifas impostas pelos EUA de aproximadamente US$ 360 bilhões sobre
produtos originários da China. Também não inclui problemas estruturais do sistema
econômico chinês – como subsídios às empresas domésticas e uma economia de mercado
não capitalista -, parte central das reclamações do governo americano. Ou seja, os
problemas de fundo não são resolvidos e o acordo apenas exige que o governo chinês
reoriente suas compras para os EUA.

O acordo com a China era uma das promessas de campanha de Trump para 2020.
Claramente, o que se viu hoje traz respostas e acalenta uma parte importante de sua base
eleitoral, que é formada pelos agricultores. Com efeito, um dos resultados da guerra
comercial travada com a China desde 2018 foi a perda de mercado de produtos agrícolas
americanos para outros concorrentes internacionais importantes, como o Brasil. Muitos
produtores sentiam-se traídos pelo presidente e estavam considerando, inclusive, votar em
um democrata. Pelo menos por enquanto, os ânimos irão se acalmar.

Onde fica o Brasil nesse quebra-cabeça? O agro e a OCDE


O Brasil aproveitou de benefícios concretos da guerra comercial entre EUA e China nos
últimos dois anos. Com efeito, 2018 e 2019 registram recordes para nossas exportações de
carne, soja, algodão e outras commodities para a China. Vale observar que, nos produtos
do agronegócio, fatores alheios à guerra comercial, como a peste suína na China,
colaboraram expressivamente para o aumento das nossas exportações de carne de porco
para o país no último ano. De qualquer maneira, os números registrados pelo Brasil
indicam que o país foi beneficiado pela batalha entre os gigantes (o que não passou
despercebido nem por Trump, nem pelos produtores norte-americanos) e esse acordo
agora deve respingar em nossas exportações para a China.

Com todos esses sinais, é tarefa do Brasil procurar incrementar seu acesso a outros
mercados importantes da Ásia (e Oriente Médio – já na mira do atual governo). O setor
privado soube aproveitar as oportunidades temporárias advindas da guerra comercial, mas
agora é bom momento de o Brasil ser criativo, aproveitar o otimismo dos mercados. É hora
de usar as bases e redes criadas, o potencial exportador, a reputação e competitividade do
nosso agronegócio para acessar novos mercados e consolidar pontes deixadas em segunda
plano em razão do êxtase com as compras feitas da China dos últimos dois anos.

Ainda sobre o Brasil, importa destacar que também hoje, em reunião em Paris, os Estados
Unidos decidiram apoiar irrestritamente a entrada do Brasil na Organização para
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), um possível ato de simpatia para com
o país despois de tantas declarações de boa vontade por parte do Brasil em 2019 sem
reciprocidade (lembremos, por exemplo, do aumento da quota de etanol para os Estados
Unidos e a liberação de visto para os americanos).

Para o Brasil a notícia é boa. Acelerar a adesão do país à OCDE fará bem à imagem
internacional do país, significa estímulo à melhoria do ambiente de negócios e ao
alinhamento à melhores práticas regulatórias internacionais. Também contribui para o
fortalecimento das instituições brasileiras e do compromisso do Brasil com mudanças
internas e estruturais há muito tempo desejadas.

Problemas com compromissos de ambos os países na OMC

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A falta de transparência, e o claro tratamento discriminatório entre os membros da
Organização Mundial do Comércio (OMC) estão entre as aparentes violações do Acordo
Comercial entre China e EUA perante as regras do comércio multilateral.

Um dos pilares das regras da OMC é justamente que seja concedido tratamento não-
discriminatório entre todos os seus 164 membros. O comércio administrado entre Estados
Unidos e China, com promessas de compras e vendas entre os dois países e concessão de
benefícios bilaterais que não serão estendidos a outros membros da OMC ferem
diretamente um dos pilares da organização sediada em Genebra. A ver como se
comportarão países terceiros nessa nova formatação do comércio bilateral entre os dois
gigantes, uma formatação que afetará o comércio do mundo inteiro.

Finalmente, é interessante observar que ao passo que hoje os EUA assinam acordo com a
China sem dar importância para os seus compromissos perante a OMC, ontem, 14 de
janeiro, Robert Lighthizer, Representante de Comércio dos Estados Unidos, Kajiyama
Hiroshi, Ministro da Economia, Comércio e Indústria do Japão, e Phil Hogan, Comissário
Europeu para o Comércio, reuniram-se em Washington e publicaram uma declaração
conjunta sobre a necessidade de fortalecer as regras da OMC sobre subsídios industriais.
Basicamente, essas autoridades afirmam que a lista atual de subsídios proibidos, prevista
no Artigo 3.1 do Acordo sobre Subsídios e Medidas Compensatórias (ASCM) da OMC, é
insuficiente para combater os subsídios que distorcem o mercado e o comércio, e que há
necessidade de revisão e expansão da lista.

Mesmo com uma trégua temporária entre os dois maiores players do mundo e uma
calmaria bem recebida pelas bolsas internacionais (já que cerca de 40% do PIB mundial
está, teoricamente, em “paz”), 2020 promete ainda mais fortes emoções para quem
acompanha o comércio internacional.

O Estado de S. Paulo – EUA e China assinam 1ª fase de acordo


comercial
Pequim se compromete a comprar US$ 200 bi em bens e serviços americanos, enquanto
Washington reduz tarifas a produtos chineses

Beatriz Bulla CORRESPONDENTE / WASHINGTON

Estados Unidos e China oficializaram ontem, em cerimônia na Casa Branca, a chamada


“fase 1” de um acordo que coloca fim a uma guerra comercial que se arrastou por quase
dois anos. Desde 2018, a disputa entre as duas potências provocou uma escalada de
tarifas impostas pelos EUA a US$ 360 bilhões de produtos chineses e retaliações por parte
de Pequim, com reflexos na economia mundial.

Pelo acordo, os chineses aceitaram aumentar a compra de bens e serviços americanos –


incluindo produção agrícola dos EUA– e em avançar na proteção de tecnologia, um pleito
dos americanos. Já os EUA vão suavizar as tarifas impostas nos últimos meses, mas
manter boa parte das sobretaxas em pé, com a ameaça de punição extra caso a China
descumpra o acordado.

O presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou que as tarifas ainda em vigor são uma
forma de manter as negociações para a chamada “fase 2” do acordo, mas disse que está
pronto para retirar todas as sobretaxas assim que os dois países chegarem a um acordo

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final. “Francamente, a China e eu vamos começar a negociar (próxima fase) muito em
breve”, disse.

Trump sela a trégua com os chineses a menos de onze meses da disputa presidencial de
2020, que pode conduzi-lo a mais quatro anos na Casa Branca. O setor rural, eleitorado
importante do presidente, tem pressionado o governo por soluções sobre a disputa
comercial. Os agricultores do Meio-Oeste sofreram com a retaliação chinesa às tarifas
impostas pelos EUA e viram uma queda drástica nas exportações, mas serão beneficiados
pelo acordo inicial com os chineses em pleno ano eleitoral.

Os chineses prometem a compra de US$ 200 bilhões de bens e serviços dos EUA nos
próximos dois anos, sendo um incremento de US$ 12,5 bilhões em produtos agrícolas
americanos para além da base de importação de 2017, na casa de US$ 24 bilhões. Isso
apenas no primeiro ano do acordo. No ano que vem, o incremento é de US$ 19,5 bilhões
sobre a base de 2017.

Fora o incremento de compras pelo governo chinês, os americanos conseguiram conquistas


como abertura de mercado para alguns setores, como o de biotecnologia e o de carne
bovina. Os chineses também se comprometem a não forçar empresas americanas a
fornecer informações de sua tecnologia para poder operar na China. Os dois países se
comprometem ainda a não desvalorizar moedas para obter vantagem competitiva no
mercado internacional.

Em troca, os EUA cancelaram uma nova leva de tarifas que entraria em vigor e reduziram
de 15% para 7,5% a sobretaxa de US$ 110 bilhões imposta em setembro. Mas as tarifas
de 25% impostas a US$ 250 bilhões de produtos chineses continuam em vigor.

O mercado espera por sinais concretos do aumento das exportações, pois o acordo
divulgado ao público não discrimina quanto o governo chinês pretende comprar de cada
produto. “A assinatura do acordo é positiva para reduzir os atritos entre as duas maiores
economias do planeta e dá otimismo aos mercados, mas vários questionamentos
permanecem: qual a quantidade a ser comprada de cada produto, por quanto tempo e qual
será o andamento da 'fase 2' do acordo entre os dois países” afirma Tarso Veloso, analista
baseado em Chicago da ARC Mercosul, consultoria de commodities.

O presidente da União Nacional dos Fazendeiros dos EUA, Roger Johnson, ainda hesita em
comemorar. “Sem detalhes mais concretos, estamos profundamente preocupados que todo
o sofrimento possa não ter valido a pena”, afirmou em nota.

Valor Econômico – EUA e China assinam acordo que dá alívio à


guerra comercial
O acordo serve de cessar-fogo a uma guerra comercial de dois anos, mas deixa em vigor
as tarifas cobradas pelos EUA sobre US$ 370 bilhões em produtos chineses, cerca de 75%
das exportações da China para os EUA

Por Bob Davis, Lingling Wei e William Mauldin — Dow Jones Newswires, de Washington

EUA e China assinaram um acordo comercial que, segundo autoridades, levará a um


aumento acentuado das vendas de produtos e serviços americanos à China, abrirá mais o

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mercado chinês a empresas estrangeiras - principalmente no setor de serviços financeiros -
e trará mais proteção a segredos comerciais e à propriedade intelectual.

O acordo, de oito partes, serve de cessar-fogo a uma guerra comercial de dois anos que
agitou os mercados e afetou o crescimento mundial. Mas deixa em vigor as tarifas
cobradas pelos EUA sobre cerca de US$ 370 bilhões em produtos chineses, cerca de 75%
das exportações da China para os EUA.

Possíveis reduções tarifárias ficarão para eventuais negociações posteriores, que abarcarão
uma série de problemas espinhosos que estão no centro da batalha comercial, incluindo
subsídios da China às suas empresas. Não se prevê que essas negociações comecem em
breve, menos ainda que sejam concluídas antes da eleição presidencial americana de
novembro.

À uma enorme plateia de líderes empresariais e políticos na Casa Branca, o presidente


Trump disse que as tarifas remanescentes “vão todas cair” se as negociações levarem a
uma segunda fase. Ele chamou o acordo de “um passo muito importante, que nunca foi
dado com a China, na direção de um futuro de comércio leal e recíproco”.

O presidente chinês, Xi Jinping, enviou carta a Trump na qual disse que o acordo mostra
que os dois países conseguem “lidar com os problemas e solucioná-los devidamente, com
eficácia, com base na igualdade e no respeito mútuo”.

O vice-premiê chinês, Liu He, que assinou o acordo, destacou a necessidade de os dois
países atuarem juntos para enfrentar desafios como terrorismo, envelhecimento da
população e proteção ambiental. “A China implementou um sistema político e um modelo
de desenvolvimento econômico que atende a suas próprias características”, disse Liu. “Mas
isso não significa que China e EUA não possam trabalhar juntos.”

Embora o acordo traga claros ganhos para os EUA, o fato de a maioria das tarifas sobre
produtos importados da China continuar em vigor enfraquece a perspectiva de retomada
dos investimentos empresariais entre os dois países, disse John Frisbie, especialista em
China da consultoria Hills & Co. “A incerteza geral não diminui muito, porque não houve
retirada das tarifas existentes e pelas dúvidas sobre se a China poderá comprar a
quantidade de produtos e serviços que o governo americano quer”.

As ações americanas dispararam desde que os países anunciaram o acordo. Em Nova York,
o índice Dow Jones fechou ontem pela primeira vez acima dos 29 mil pontos. Mas a reação
do mercado à assinatura efetiva foi contida, o que sugere que os investidores viram pouca
surpresa no texto final.

“Basicamente reiteraram que esse acordo tinha sido concluído”, disse Mike O’Rourke,
estrategista de mercado da JonesTrading.

A Casa Branca vê o acordo comercial como uma vitória política que terá impacto na eleição
de novembro. Trump poderá enaltecer o acordo e dizer que ele é o único capaz de
pressionar Pequim com sucesso por mais concessões. “O presidente viu uma oportunidade
de avançar com a posição dos EUA, numa época em que os chineses vivem grande
turbulência política e econômica”, disse Jason Miller, ex-porta-voz da Casa Branca.

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Mas o ex-vice-presidente Joe Biden, presidenciável pelo Partido Democrata, deixou claro
que tentará evitar que Trump capitalize o tema. Ele criticou as cláusulas do pacto como
“vagas, fracas ou incluídas em anúncios anteriores e em acordos preexistentes”.

O acordo está estruturado como se fosse entre iguais, mas é Pequim que está fazendo
quase todas as concessões política e de compras. O pacto se concentra intensivamente nas
reclamações dos EUA de que o governo e as empresas da China obrigam as americanas a
entregar tecnologia a concorrentes.

Pequim nega essa coerção e se comprometeu outras vezes a garantir que não haverá
pressão. As duas páginas sobre transferência de tecnologia vão além de outros acordos
assinados pela China que tratavam da questão. Segundo o acordo, “nenhuma das partes
exigirá ou pressionará” pela transferência de tecnologia para que negócios sejam
concluídos ou em troca de aprovações regulatórias.

No entanto, a seção sobre o tema não obriga a China a alterar nenhuma lei ou
regulamentação para cumprir suas obrigações.

Em troca, os EUA concordaram em reduzir pela metade as tarifas sobre o equivalente a


US$ 120 bilhões em produtos chineses, para 7,5%, e desistiram de outras tarifas que
tinham planejado. Esses compromissos não constam do texto.

O acordo está escrito num jargão jurídico e comercial que será analisado minuciosamente
por especialistas em comércio e direito.

Em outras seções, a China concordou em reforçar a proteção de segredos comerciais e


avaliar sanções penais por “apropriação intencional indevida de segredo comercial”. O
aumento das sanções era uma prioridade do governo Trump. Mas boa parte da seção sobre
propriedade intelectual é pouco específica sobre regras para novas áreas. A parte
farmacêutica não incluiu alvos específicos e não continha expressões sobre a defesa de
medicamentos ante os genéricos, um objetivo importante dos grandes laboratórios
americanos.

O acordo também exige que a China seja rápida em aceitar o ingresso de cartões bancários
e de sistemas de pagamentos interessados em ter acesso ao mercado chinês, e o texto cita
Mastercard, Visa e American Express especificamente. Os EUA já tinham movido processos
na Organização Mundial do Comércio (OMC) para conquistar esse acesso para provedores
de pagamentos americanos, mas a China não finalizou a permissão de acesso para as
empresas em nenhum dos casos.

Os EUA também prometeram continuar a abrir seu mercado para o sistema UnionPay, da
China, num dos poucos compromissos dos EUA no acordo.

As disposições do acordo estão sujeitas a um mecanismo para garantir seu cumprimento,


que prevê várias rodadas de consultas. Se os dois lados não chegarem a um acerto, a
parte reclamante poderá adotar “medidas de reparação de maneira proporcional” - jargão
comercial para voltar a impor tarifas. Na prática, os EUA devem ser a parte a apresentar
queixas, porque é a China que se compromete a fazer alterações e aumentar suas
compras.

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Desde que a imposição de tarifas seja de boa-fé, Pequim concordou em não retaliar. Mas
os requisitos de boa-fé e proporcionalidade dão à China bastante espaço para agir. Em vez
de retaliar com tarifas, o acordo diz que a parte cujas ações levaram à queixa pode se
retirar do acordo.

Mas não está claro se as empresas americanas, temerosas de uma possível retaliação da
China, encaminharão eventuais disputas para o mecanismo de garantia de cumprimento do
acordo. A maioria dos acordos comerciais usa painéis de arbitragem para resolver suas
disputas, por considerar eles que podem ser imparciais.

“A seção de resolução de disputas terá o mesmo problema que sempre enfrentamos: as


empresas americanas relutam em tornar-se garotos propaganda para os problemas de
acesso ao mercado ou de tratamento discriminatório”, disse James Green, ex-negociador
comercial dos EUA em Pequim sob o governo Trump.

A maior seção do acordo cobre as compras chinesas (veja quadro ao lado). Pequim se
comprometeu a comprar US$ 200 bilhões adicionais em mercadorias, divididos entre 2020
e 2021; o acordo prevê US$ 77 bilhões em compras extras no primeiro ano e US$ 123
bilhões no segundo ano.

Ao longo desses dois anos, as metas são de que a China eleve as suas compras em cerca
de US$ 78 bilhões em produtos manufaturados, em US$ 32 bilhões em produtos agrícolas,
em US$ 52 bilhões em energia e em US$ 38 bilhões em serviços, a partir dos níveis de
2017. Pelo acordo, foram acertadas metas específicas para setores, mas o governo
informou que essas metas não foram divulgadas para evitar distorções nos mercados.

Em 2017, os EUA exportaram US$ 186 bilhões em bens e serviços. Para cumprir as metas
do acordo, as exportações para a China teriam de subir para US$ 263 bilhões em 2020 e
US$ 309 bilhões em 2021, uma alta sem precedentes na história do comércio dos EUA.

O aumento exorbitante projetado para as exportações provocou ceticismo em alguns


beneficiários potenciais. Por exemplo, Liu disse que as compras não seriam feitas à custa
de outros países. Isso poderia tornar mais difícil para Pequim cumprir as metas de compra.

“É um otimismo muito cauteloso”, disse Nathan Jeppson, executivo-chefe da Northwest


Hardwoods, um dos maiores produtores americanos de madeira para construção. “Não
vamos mudar nada sobre nossos planos de produção.” disse Michelle Erickson-Jones,
produtora de trigo de Montana que fala pelo grupo antitarifas Farmers for Free Trade
(agricultores pelo livre comércio). “As promessas de compras elevadas são animadoras,
mas agricultores como eu só vão acreditar nisso quando virem.”

Valor Econômico – Trégua na guerra comercial é só parcial e não


desfaz danos
Acordo traz a esperança, ainda que débil, de que as coisas não vão piorar ainda mais. Mas
os danos à economia mundial não serão desfeitos pela trégua comercial entre EUA e China

Por Financial Times

Para um autodeclarado negociador de mão cheia como o presidente Donald Trump, poder
exibir como troféu uma trégua comercial com Pequim talvez seja o principal objetivo de

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sua longa e prejudicial guerra comercial. Para todos os demais, isso significa pouco mais do
que uma esperança - e uma esperança, de todo modo, débil - de que as coisas não vão
piorar.

O acordo assinado ontem é anunciado como a “fase um” de um pacto maior. Por si só,
porém, ele deixa as relações comerciais entre EUA e China em situação pior do que quando
Trump assumiu. Deixa os níveis médios das tarifas, de ambos os lados, em cerca de 20%.
Há dois anos, a média cobrada pelos EUA de produtos chineses estava em 3%; a China
cobrava em média 8% de produtos dos EUA.

O acordo traz um bem-vindo alívio de que as relações comerciais podem deixar de se


agravar. Mas isso não significa que elas estejam boas. Embora o acordo imponha a Pequim
compromissos de melhorar o respeito à propriedade intelectual e atenuar pressões por
transferência de tecnologia, ele deixa em vigor danos significativos. Devido às tarifas e
retaliações, a recessão da indústria dos EUA está se agravando, o crescimento da China
diminuiu e outras países dependentes do comércio exterior foram pegos no fogo cruzado.

Além do impacto econômico direto, há as distorções políticas criadas pelo lobby setorial
americano em favor de compensações e isenções - além do foco estatista de Trump em
compras administradas pelo governo de produtos agrícolas e industriais americanos.

O acordo não elimina as incertezas criadas por Trump. A trégua pode, claro, ser seguida
por negociações da fase dois, destinadas a desfazer uma parte maior do dano. Mas pode
também abrir o caminho para novas agressões, que ocorrerão quando uma das partes
alegar que a outra não cumpriu o pactuado. A natureza altamente unilateral da maioria das
obrigações traz pouca confiança de que Pequim mudará seu comportamento na medida
que a Casa Branca parece esperar. E, se Trump realmente quiser desfazer as complexas
cadeias de suprimentos de EUA e China, poderá deixar que tarifas ampliadas façam isso.

Para além de qual será o próximo episódio das relações EUA-China, a grande interrogação
é se a trégua encoraja Trump a extravasar seu protecionismo instintivo com outros
parceiros. Ele parece, em especial, saborear a ideia de uma disputa comercial com a
Europa. A ameaça de retaliar a adoção, pela França e por alguns outros países da União
Europeia (UE), de impostos sobre o faturamento de empresas digitais, que afetarão
algumas gigantes tecnológicas americanas, é apenas o mais recente “casus belli”
identificado pelo presidente dos EUA.

Nesse sentido, há dois motivos para alguma esperança. Um é que EUA, UE e Japão estão
defendendo, como causa comum, o endurecimento das regras da Organização Mundial de
Comércio (OMC) contra subsídios estatais. A disposição de superar obstáculos por meio de
uma entidade normalmente difamada por Trump mostra que os EUA não abandonaram
totalmente o multilateralismo. A compreensão de que regras comuns podem ser do
interesse dos EUA seria uma mudança bem-vinda.

O outro ponto positivo é a visita do comissário de Comércio da UE, Phil Hogan, a


Washington, nesta semana, em missão de “retomada” das relações. Talvez ele possa criar
um diálogo capaz de adiar, se não desarmar, qualquer intenção de Trump de escalar as
tensões comerciais com a UE. Quando a paz é fugidia, os defensores do livre comércio têm
de estabelecer tréguas onde for possível.

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Valor Econômico – No Brasil, impacto do acordo entre China e
EUA deve ser limitado
Aquisição adicional de US$ 32 bi em produtos agrícolas dificilmente será cumprida à risca
por Pequim

Por Marina Salles, Marcela Caetano, Naiara Albuquerque e Camila Souza Ramos — De São
Paulo

O acordo de “primeira fase” firmado ontem entre Washington e Pequim foi recebido com
ceticismo pelos investidores, mas entusiasmo por produtores americanos, que esperam
retomar o mercado chinês perdido para os produtos agrícolas do Brasil. As perdas para o
agronegócio brasileiro, no entanto, podem ficar limitadas à redução do valor dos prêmios,
já que o pacto entre as duas potências ainda guarda muitas lacunas e os excedentes
exportáveis brasileiros podem ser direcionados a outros países, conforme analistas.

Os prêmios (valor adicional às cotações internacionais pago nos portos) sobre a soja -
carro-chefe do agronegócio brasileiro - devem voltar aos patamares habituais, entre US$
0,30 e US$ 0,40 por bushel no primeiro semestre e US$ 0,60 a US$ 0,80 no segundo,
projetou Vitor Ikeda, analista do Rabobank. “Nos últimos dois anos, os prêmios superaram
US$ 1. Em 2018 [auge da disputa entre os dois países], chegaram próximos de US$ 2”,
lembrou.

Nas bolsas americanas, os preços das commodities mais afetadas pela guerra comercial
indicaram que os investidores aguardarão mais sinais de que o acordo é mesmo para valer.
Em Chicago, os contratos mais negociados de soja recuaram 1,4%, a US$ 9,2875 o bushel.
Em Nova York, o preço do algodão caiu 1,5%, para 70,32 centavos de dólar a libra-peso.

A guerra comercial tirou US$ 5 bilhões dos EUA em exportações de soja. Em volume, foram
20 milhões de toneladas do grão exportadas a menos à China ao ano. Em tese, é o
potencial que os americanos têm para recuperar mercado de forma a restaurar as
condições que vigoravam antes da disputa, afirmou Guilherme Bellotti, gerente de
consultoria de agronegócio do Itaú BBA.

Diante da relação tumultuada entre os dois países, o analista não acredita que os chineses
concentrarão as importações de soja nos EUA, ampliando o volume para além dessas 20
milhões de toneladas - seria necessário um volume significativo para cumprir os termos do
acordo. “Não faz sentido para a estratégia da China”, argumentou ele.

De qualquer forma, o Brasil pode reduzir as vendas à China. Para Luiz Fernando Roque,
analista da consultoria Safras & Mercado, a perda pode ficar entre 10 milhões e 15 milhões
de toneladas - com a guerra comercial, embarques de soja do Brasil aos chineses
passaram de 54 milhões de toneladas para mais de 60 milhões de toneladas por safra.
“Voltaremos a ver a soja americana competindo”.

No entendimento da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), porém, o


país não deve perder espaço na preferência dos chineses. “A nossa soja é mais
competitiva, tem logística mais barata e mais teor de proteína. É o que os chineses vão
procurar”, disse Bartholomeu Braz, presidente da associação.

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Na área agrícola, o acordo é considerado de difícil execução. Os chineses se
comprometeram a comprar US$ 32 bilhões adicionais em produtos agrícolas dos EUA em
dois anos, mas há muitas dúvidas sobre o cumprimento desse objetivo. As exportações
precisariam dobrar em relação ao pré-guerra. Em 2017, a receita com os embarques de
produtos do setor foi de US$ 19,5 bilhões, segundo dados do Departamento de Agricultura
dos EUA.

Pelos termos do acordo, a China aumentaria as compras de produtos agrícolas americanos


em US$ 12,5 bilhões neste ano - o tratado toma como base o ano de 2017. No ano que
vem, um novo aumento das compras agrícolas dos chineses ocorreria, agregando US$ 19,5
bilhões sobre a base pré-conflito.

A despeito do montante expressivo, o acordo comercial está longe de resolver a disputa


entre as duas potências. As tarifas sobre os produtos chineses - pedra de toque da guerra
comercial - serão mantidas até a assinatura de uma eventual segunda fase do pacto, que
não tem data para acontecer, admitiu ontem o presidente americano, Donald Trump.

Diante desse cenário, há quem tenha visto o acordo com bons olhos. “Foi uma tremenda
notícia positiva para o Brasil. O acordo não tem serventia alguma e mais parece um
protocolo de intenções, usado para fazer palanque eleitoral”, afirmou Carlos Cogo, da Cogo
Consultoria.

De acordo com ele, ao não definir volumes específicos para as compras, o acordo não deve
se concretizar. “Com os produtos listados eles não chegam ao volume da meta, seria
impossível”. Além da soja e do algodão, carnes, cereais, etanol e produtos de pouca
relevância compõem a lista de itens que podem entrar no bolo das aquisições de Pequim.
Na semana passada, quando já se cogitava o compromisso de compras agrícolas dos
chineses, o sócio-diretor da Agroconsult, André Pessôa, minimizou o potencial. “Não fecha
a conta, não tem produto americano para isso”, ressaltou.

Segundo Jack Scoville, da consultoria Price Futures Group, o compromisso da China de


aumentar as compras de produtos americanos não é visto como suficiente para que os EUA
retomem as vendas registradas antes da guerra comercial, quando os chineses compraram
31,7 milhões de toneladas de soja do país.

Também não passou desapercebida dos analistas a fala de ontem do vice-primeiro ministro
da China, Liu He, sinalizando que o país asiático comprará onde obtiver melhores preços e
que a demanda terá de justificar a compra. “Ele deixou uma mensagem subliminar”,
resumiu César Castro Alves, do Itaú BBA. (Colaborou Luiz Henrique Mendes)

Valor Econômico – Piora do déficit externo tem de ser


monitorada, diz IFI
Para entidade, alta pode trazer problemas no futuro como pressões sobre a taxa de câmbio

Por Estevão Taiar — De Brasília

O avanço do déficit em conta corrente da economia brasileira é “um risco a ser


monitorado", segundo a Instituição Fiscal Independente (IFI). “Dado o baixo crescimento
da economia em 2018 e 2019, a piora no déficit em transações correntes chama a atenção
e deve ser monitorada”, disse o órgão em relatório divulgado ontem.

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As transações em conta corrente são consideradas um dos principais indicadores de
fragilidade ou robustez externa de uma economia. Elas medem a diferença entre o que o
país gastou e o que recebeu nas transações internacionais relativas a comércio, rendas e
transferências. Quando um país tem gastos maiores do que receitas em suas transações
com o resto do mundo, por exemplo, ele precisa de investimentos ou empréstimos para
cobrir a diferença.

De dezembro de 2017 até novembro do ano passado, o déficit passou de 0,73% do


Produto Interno Bruto (PIB) para 2,78% do PIB. Para Alexandre Andrade, analista da IFI, a
alta pode trazer problemas no futuro, como “pressões sobre a taxa de câmbio”. No
momento, porém, a deterioração não é o cenário principal da IFI. Outros economistas têm
adotado tom ligeiramente mais otimista, afirmando que o saldo negativo está longe de ser
uma fonte de riscos.

“Ainda não dá para saber o que acontecerá com o preço das commodities, mas as
exportações de manufaturados para a Argentina devem continuar caindo", diz Andrade. A
tendência é que a queda de vendas para o país vizinho, se confirmada, diminua ainda mais
o superávit da balança comercial. Economistas também têm destacado que, com a
atividade interna ganhando alguma força, o volume de importações deve aumentar. Assim,
ambos os movimentos diminuiriam o superávit comercial e, consequentemente, elevariam
o déficit em conta corrente. Entre o ano retrasado e 2019, o superávit comercial caiu de
US$ 47,1 bilhões para US$ 34,7 bilhões.

“Fica muito clara a piora no saldo em transações correntes a partir de 2018 em razão do
desempenho menos favorável da balança comercial”, diz a IFI.

Para o órgão, entretanto, a deterioração da conta corrente "não é motivo de preocupação


se existirem fontes de financiamento estáveis ao déficit”. Economistas consideram que a
principal dessas fontes são os Investimentos Diretos no País (IDP), dos quais fazem parte
recursos para a participação no capital e empréstimos concedidos por matrizes de
multinacionais às suas filiais no país e vice-versa. O retorno de investimento brasileiro no
exterior também integra essas estatísticas.

O IDP ficou praticamente estável, na casa dos US$ 70 bilhões, entre janeiro e novembro do
ano passado e o mesmo período de 2018, o. O montante foi, portanto, mais do que
suficiente para financiar os déficits de US$ 45 bilhões e US$ 35,4 bilhões, respectivamente.

Valor Econômico – Acordo não deve prejudicar venda de


manufaturados à China
Para especialistas, Brasil não concorre nos itens do protocolo entre chineses e americanos

Por Anaïs Fernandes — De São Paulo

O efeito do acordo assinado ontem entre EUA e China deve se concentrar mesmo nas
exportações brasileiras agrícolas, dizem especialistas. Para eles, as vendas de produtos de
maior valor agregado ao país asiático - ainda bastante modestas - não devem ser
prejudicadas pelo pacto.

56
A primeira fase do acordo prevê um adicional de US$ 200 bilhões na compra de produtos
americanos pelos chineses no período de dois anos. Entre itens agrícolas, o incremento
seria de US$ 40 bilhões a US$ 50 bilhões. Em manufaturados, há previsão de compras
adicionais de US$ 75 bilhões, além de US$ 50 bilhões em suprimentos de energia e de US$
40 bilhões a US$ 50 bilhões em serviços, sobretudo financeiros.

A China é o principal destino dos produtos básicos brasileiros - em 2019, respondeu por
47% das exportações do tipo, com US$ 55,90 bilhões. Entre as vendas de manufaturados,
no entanto, representa 1,50% (US$ 1,16 bilhão) das exportações. “Nossa competição
[para acessar o mercado chinês] não está em produtos ligados à alta tecnologia”, diz Lia
Valls, pesquisadora da área de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da
Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

Antes de o acordo ser anunciado, a agência Reuters noticiou, citando fontes, que a
exigência de compra de manufaturados pela China incluia automóveis, autopeças,
aeronaves, máquinas agrícolas, aparelhos médicos e semicondutores. “O Brasil não
concorre nesses itens. Onde o Brasil tem disputa na China é no setor agrícola”, diz Welber
Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil e sócio da Barral M Jorge.

Apesar de a China ser o maior parceiro econômico do Brasil, Barral afirma que o país ainda
tem muito espaço para crescer no fornecimentos de produtos manufaturados e de serviços
ao país.

Um entrave é o chamado “custo Brasil”, isto é, burocracias, barreiras comerciais,


complexidades tributárias, riscos judiciais e outros elementos que, segundo especialistas,
corroem a competitividade global dos produtos nacionais. “Esperamos que comece a haver
alguma mudança nesse custo e consequentemente na balança a partir do fim de 2020 e
começo de 2021 com a aprovação das reformas”, afirma José Augusto de Castro,
presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).

Os especialistas aguardam para saber, porém, como se dará na prática a primeira fase do
acordo EUA-China e como serão as negociações para a próxima etapa. “O Brasil observa. É
um acordo ainda muito de retórica e de narrativa midiática. Tem muito problema nas
negociações pela frente e não sabemos se a China vai respeitar tudo com o que já se
comprometeu”, diz Roberto Dumas, professor de economia internacional do Ibmec-SP.

ASSUNTOS FINANCEIROS, ECONÔMICOS E


INVESTIMENTOS

O Estado de S. Paulo – PIB – 2010-2019, a pior de 12 décadas /


Artigo / Roberto Macedo
É ECONOMISTA (UFMG, USP E HARVARD), CONSULTOR ECONÔMICO E DE ENSINO
SUPERIOR, E PROFESSOR SÊNIOR DA USP

Volto a esse tema, abordado também em entrevista para a jornalista Márcia De Chiara
publicada na última segunda-feira neste jornal (Década passada foi a pior para PIB do país,
pág. B3) e que se estendeu na web (estadão.com.br/e/pior_decada). Os dados básicos
para obter 12 taxas decenais de variação do produto interno bruto (PIB) estão em

57
www.ipeadata.gov.br, onde há a série “Produto interno bruto (PIB) a preços de mercado:
variação real anual ... de 1901 até 2018”, em %.

Com essas taxas, cheguei a taxas médias anuais de crescimento do PIB em cada década,
sendo que para a primeira foram usados dados de 1901 a 1909, e para 2019 a previsão de
1,17% do Boletim Focus, do Banco Central, de 3/1/2020.

Um gráfico mostrou essas taxas em dois movimentos. O primeiro, de forte tendência de


aumento, vai da primeira década, com taxa média de 4,6%, até a de 1970, quando chegou
a 8,8%, a maior de todo o período. No segundo, a taxa cai fortemente para 3% na década
de 1980, e fica perto ou até bem abaixo desta nas décadas de 1990 (1,8%), 2000 (3,4%)
e 2010 (1,4%), esta a menor das 12 décadas desde a de 1900!

É de estagnação esse período de 1980 a 2010. Meu dicionário diz tratar-se de “situação em
que o produto nacional não cresce à altura do potencial econômico do país”. É claramente
o caso do Brasil. Seriamente desarrumado, poderia crescer bem mais, mas está aí,
estagnado, a ponto de ser disseminada a satisfação com a perspectiva de uma taxa perto
de 2,5% em 2020 e daí para a frente. É muito pouco! O economista Manoel Pires, do
Ibre/FGV, disse que o País vive fase de “expectativas rebaixadas”.

Internacionalmente, também está por baixo. No portal do Fundo Monetário Internacional


encontrei comparação das taxas de crescimento do Brasil nessas quatro décadas e a média
geral decenal das mostradas por 155 economias emergentes ou em desenvolvimento, que
foram de 3,20 (1980), 3,63 (1990), 6,10 (2000) e 5,11 (2010), sempre superiores às do
Brasil, já citadas, e muito superiores nas duas últimas décadas.

Márcia De Chiara foi muito feliz ao tratar também a questão social, da qual falei sobre
questões como o desemprego e a dificuldade de ascensão social com a queda do
crescimento econômico. Mas foi além. Levantou-se bem cedo e foi até uma paróquia que
dá a primeira refeição do dia a moradores de rua, cujo número vem aumentando bastante,
e entrevistou dois deles, que relataram suas enormes dificuldades.

Ascensão social é conceito mais operacional que o da desigualdade social, esta de solução
muito mais difícil. Se houver crescimento bem mais acelerado, virão mais e melhores
oportunidades de trabalho e as pessoas de renda mais baixa também terão condições de
seguir em frente e melhorar de vida, até mesmo ascendendo socialmente, sem ficarem
paradas a observar e invejar minorias que conseguem manter seu status social mais alto.

Quanto ao que fazer para crescer bem mais, além de reformas como as pregadas por Paulo
Guedes, e de outras que deveriam ser efetivadas, como as do Legislativo e do Judiciário,
um grande esforço deveria voltarse, com senso de urgência, para desenvolver e aplicar um
plano estratégico de desenvolvimento para o Brasil. Um plano desse tipo deve incluir
objetivos, metas, o que deve ser feito para alcançá-los e como será gerenciado,
implementado e cobrado de seus executores.

Os temas iriam bem além daqueles hoje mais discutidos no Brasil. Uma questão crucial
será o aumento da capacidade produtiva do País, mediante investimentos públicos e
privados, o que também geraria renda para fatores de produção, como capital e trabalho,
renda essa que, assim, também sustentaria o crescimento pelo lado da demanda. E
entrariam outros temas típicos de um processo de desenvolvimento sustentável, como as
inovações, o aumento da produtividade e da competitividade interna e externa, a educação
58
com foco em competências, a ampliação do comércio exterior, a defesa do meio ambiente,
o enfrentamento de desigualdades sociais e o papel das instituições nesse processo.
Instituições em sentido lato, o das regras do jogo que precisam favorecer os investimentos
e o crescimento.

Hoje o debate econômico está por demais focado na análise macroeconômica, que trata de
políticas de curto e médio prazos, como a fiscal e a monetária, mais voltadas para
movimentos cíclicos da economia. Cabe uma visão também focada no crescimento de
prazo mais logo e sustentável, que nos cursos bem estruturados de Economia não cabe à
disciplina Macroeconomia, mas à de Desenvolvimento Econômico. A literatura também é
diferente. Caberiam livros como o de Daron Acemoglu e James Robinson Por que as nações
fracassam e o de David Landes A Riqueza e a Pobreza das Nações – Por que algumas são
tão ricas e outras tão pobres.

Não tenho pretensão de ter uma receita cobrindo todos os aspectos envolvidos, o que
exigiria uma ampla equipe, e não só de economistas, mas de cientistas das várias áreas
envolvidas, e de praticantes como funcionários governamentais, empresários, profissionais
liberais e outros, com toda a argumentação sustentada por evidências científicas.

Dadas as “expectativas rebaixadas”, seria o caso de contar também com psicólogos para
atuarem na recuperação da autoestima do Brasil e dos brasileiros, concitando todos a
assumirem o compromisso de melhorar e atuar nessa direção, com atenção especial aos
governantes. Quanto a estes e a grande parte da classe política, cabe pregar-lhes a
fundamental importância de eticamente lutarem pelo bem comum, e não por atenderem à
ampla privilegiatura que atua em sentido contrário.

Num país que teve forte recessão de dois anos, embutida numa depressão já com cinco e
passando por estagnação de 40, há muito, muito o que fazer.

Nosso produto interno bruto está em depressão há 5 anos e em estagnação há 40

O Globo – Bolsa tem saída recorde de estrangeiros: R$ 4,6 bi


Volume registrado nas sete primeiras sessões do ano é o maior, pelo menos, desde 2008.
Em 2019, resgates atingiram R$ 44,5 bi

GABRIEL MARTINS* RIO E SÃO PAULO *Com Bloomberg News

Os investidores estrangeiros retiraram R$ 4,6 bilhões da Bolsa de Valores de São Paulo, a


B3, até 10 de janeiro, segundo dados compilados pela Bloomberg. É a maior saída líquida
de recursos estrangeiros para as primeiras sete sessões da Bolsa em um ano pelo menos
desde 2008.

A saída ocorre após uma retirada recorde no ano passado. Em 2019, excluídos os
investimentos feitos via ofertas iniciais ou secundárias de ações, os estrangeiros
resgataram R$ 44,5 bilhões da B3 — o maior patamar desde 2004. Considerando as
ofertas de ações, o resultado é negativo em R$ 4,7 bilhões.

A demora nas reformas estaria por trás desse movimento dos investidores estrangeiros,
dizem analistas.

59
— Mesmo com a Previdência aprovada, a demora no avanço de reformas importantes,
como a tributária, e a insegurança jurídica afastam a entrada de recursos no país —diz
Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos, citando ainda os juros baixos, com a
taxa básica Selic na mínima histórica de 4,5% ao ano. — Com as revisões para baixo dos
juros, a relação de risco e retorno (carry trade) fica menos vantajosa. Isso também explica
a saída de estrangeiros da Bolsa.

Carry trade éa operação na qual o investidor pega um empréstimo em países com juros
baixos (como EUA e Japão) e aplica aquantia em títulos de países emergentes, que
geralmente têm taxas elevadas. Com aquedados juros no Brasil, o mercado local fica
menos atraente para os estrangeiros. A alta de 31,58% na Bolsa brasileira em 2019 foi, na
verdade, puxada pelos investidores brasileiros.

— O estrangeiro não se animou tanto quanto o investidor local — diz Pedro Sales, sócio e
gestor da Verde Asset Management. — A Bolsa se tornou muito mais interessante para o
brasileiro, que viu o seu custo de capital (a taxa de juros) sair de um patamar superalto
para um patamar superbaixo.

Para 2020, analistas preveem o quinto ano seguido de resultados positivos na Bolsa. E
acreditam que uma retomada mais consistente da economia brasileira poderá atrair os
estrangeiros.

Ontem, porém, o Ibovespa, principal índice da Bolsa, fechou em queda de 1,04%, aos
116.414 pontos, enquanto o dólar comercial teve valorização de 1,32%, a R$ 4,184. Pesou
o crescimento de 0,6% na Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) referente a novembro, a
metade do estimado por analistas.

Valor Econômico – A recuperação é sustentável? / Artigo / Mario


Mesquita
O crescimento seguirá sendo liderado pela demanda doméstica, consumo e investimento

Mario Mesquita é economista-chefe do Itaú Unibanco

A economia brasileira terminou 2019 em um ritmo mais robusto, o PIB do quarto trimestre
deve ter apresentado alta de aproximadamente 0,5% ante o trimestre anterior, com ajuste
sazonal. Esse crescimento deve ter sido exacerbado pelos efeitos do desembolso dos
recursos do FGTS, e pode apresentar certa acomodação no primeiro trimestre de 2020.
Contando com tal acomodação, os economistas do Itaú projetam crescimento de 2,2% no
ano. A economia deve reacelerar ao longo de 2020, terminando com um ritmo próximo a
3% ao ano.

Esse crescimento seguirá sendo liderado pela demanda doméstica, consumo e


investimento, visto que o crescimento dos gastos públicos deve continuar contido e que a
economia global não deve acelerar muito. Especificamente, projetamos que o consumo das
famílias cresça 2,5%, enquanto o investimento deve apresentar alta de 4,0%. Para tanto,
será preciso que continuemos observando crescimento do crédito para o setor privado a
um ritmo de 10% ao ano para o consumo e 17% para o investimento. Note-se que não se
tratam de projeções muito agressivas, visto que, no momento, estimamos que o crédito ao
consumo já esteja crescendo a uma taxa próxima a 10% ao ano, enquanto o crédito
privado ao investimento (empréstimos imobiliários residenciais, crédito para pessoas

60
jurídicas com prazo superior a um ano e emissão de debêntures de infraestrutura) se
expande a um ritmo de 14% ao ano - esse último conceito inclui operações de mercado de
capitais, então trata-se de um indicador de condições de financiamento, o que vai além do
crédito bancário propriamente dito.

O crescimento seguirá sendo liderado pela demanda doméstica, consumo e investimento

A questão é saber se há incentivos para a expansão do crédito, ou obstáculos para a sua


continuidade. Do lado dos incentivos, o principal determinante é a taxa de juros. Com o
avanço da flexibilização monetária e das reformas fiscais, as taxas de juros tendem a
permanecer em patamares reduzidos. Com as expectativas de inflação 12 meses à frente
estáveis, um pouco abaixo de 4% ao ano, as taxas de juros reais de curto prazo estão um
pouco abaixo de 1% ao ano, e um pouco acima desse patamar se considerarmos as taxas
de dois anos (implícitas em contratos de derivativos de taxas de juros). Muito importante,
as taxas de juros longas também caíram: as taxas de juros nos títulos públicos indexados
vincendos em 2050 caíram de 7,4% para 3,5% desde janeiro de 2016.

Esse patamar de taxas de juros pressiona instituições financeiras, em busca de retornos, a


aumentar seus empréstimos. Investidores, visando elevar os ganhos de capital, tendem a
reduzir sua exposição a títulos públicos e diversificar, expandindo as alocações para títulos
de dívida corporativa e ações.

A crise fiscal, e a consequente redução do ritmo de crescimento dos gastos públicos, bem
como a desaceleração do crédito subsidiado, aumentaram consideravelmente a eficiência
da política monetária. Estimamos que a elasticidade média do PIB em relação à taxa Selic,
que era 0,6 antes da crise de 2008, caiu para quase zero no período do hiperativismo fiscal
e auge da expansão do crédito publico, entre 2011 e 2014, e subiu mais recentemente
para próximo da unidade. A aceleração do PIB, como resultado da flexibilização monetária,
só não foi maior porque a economia mundial não tem ajudado.

Dito isto, cabe considerar fatores que podem inviabilizar o crescimento do crédito, mesmo
que existam condições de oferta favoráveis. Considerando o financiamento ao consumo, as
perspectivas de crescimento do crédito dependem da evolução do emprego. Em linhas
gerais, consideramos que a taxa de desemprego não vai se alterar muito em 2020, caindo
de 11,9% para 11,5% (final de período), com média também relativamente estável
(11,7% em 2020, ante 12,0% em 2019).

O que oferece alento, no que se refere à sustentabilidade do crédito, é a expectativa que o


processo de crescente formalização do mercado de trabalho, que teve início em agosto
passado, se acentue: enquanto o emprego com carteira assinada cresceu menos que o
sem carteira em 2019 (1.4% ante 2.2%), em 2020 o comportamento deve se inverter, o
emprego com carteira assinada deve crescer a um ritmo quase duas vezes mais rápido do
que o emprego sem carteira. Cabe notar que estas projeções são baseadas em séries
históricas, e no relacionamento tradicional entre atividade econômica e emprego, e podem
não captar os efeitos da reforma trabalhista, que favorece a maior formalização, com
plenitude. Com o aumento da formalização, e certa alta da massa salarial real (2,4% em
2020), em ambiente de juros baixos, o comprometimento de renda das famílias com o
serviço de dívidas deve seguir contido, e o mesmo vale para a inadimplência - projetamos
que estes encontrem-se em 4,7% e 20,6% respectivamente ao final do ano.

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Considerando-se o financiamento às empresas, o indicador amplo de endividamento, que
inclui empréstimo bancário e mercado de capitais, no Brasil e internacional, recuou de
57,6% do PIB, em janeiro de 2016, para cerca de 52% recentemente - sendo que a
tendência de alta verificada mais recentemente esteve associada às operações de mercado
de capitais voltadas para o alongamento de prazos e redução dos custos financeiros.

O grau de endividamento de famílias e empresas não parece, no momento, oferecer


maiores restrições para a continuidade da expansão do crédito. Entretanto, um
arrefecimento do processo de formalização no mercado de trabalho, bem como uma alta
inesperada da taxa de juros, que elevaria o custo de financiamento para empresas e
famílias, seriam riscos para tal cenário e, em termos mais amplos, para o próprio ritmo de
recuperação da economia.

MEIO AMBIENTE E ENERGIA

O Estado de S. Paulo – Década foi a mais quente da história


2019 foi o segundo ano com mais calor da série histórica e tendência é de alta

A década de 2010 a 2019 foi a mais quente já registrada e a previsão é que o ano de 2020
siga a mesma tendência. Os dados foram divulgados ontem pela agência espacial
americana (Nasa) e a Administração Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA).

Nos últimos meses, incêndios florestais na Austrália e protestos pelo mundo têm elevado a
pressão sobre autoridades para que revejam metas de controle do aquecimento global.

Segundo os levantamentos, o ano passado foi o segundo mais quente desde que se iniciou
o registro de temperaturas, em 1880. Apenas 2016 foi mais quente que 2019. No ano
passado, a média de temperatura foi 0,95°C superior à do século 20.

Os dados mostraram ainda que a temperatura global média em 2019 estava 1,1°C acima
dos níveis pré-industriais. “A Austrália teve o ano mais quente e seco já registrado, em
2019, estabelecendo o cenário para os enormes incêndios florestais que foram tão
devastadores”, disse o secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial, Petteri
Taalas.

Na América do Sul, a temperatura média em 2019 ficou 1,24ºC acima da do século 20.
Cientistas já demonstraram que cada meio grau de aumento da temperatura faz crescer a
intensidade ou a frequência de tempestades, secas e inundações.

Para Deke Arndt, chefe de monitoramento do clima da NOAA, os dados levam à conclusão
de que “com quase total certeza a década que vem será ainda mais quente”.

Compromissos. O Acordo de Paris, de 2015, busca limitar o aquecimento a 2°C ou 1,5°C


acima dos níveis pré-industriais, mas, mesmo que os 200 países que assinaram o acordo
respeitem seus compromissos, a alta pode superar 3°C. Apesar desta constatação, a
Conferência Climática da ONU (COP25), realizada em dezembro, não revelou
compromissos ambiciosos diante da urgência climática.

62
O Estado de S. Paulo – ONG critica governo em área ambiental
HRW aponta alta do desmate na Amazônia como um dos principais problemas; governo
não comentou relatório

Paula Felix

A ONG Human Rights Watch fez críticas ao primeiro ano do governo Jair Bolsonaro em
relação às questões ambientais e de segurança pública ontem durante o lançamento do
Relatório Mundial 2020, que analisou a situação dos direitos humanos em mais de cem
países.

Com base em dados de órgãos públicos, como o Ibama, imagens de satélite e informações
dadas por moradores e autoridades locais, a entidade afirmou que o governo tem adotado
medidas contra a “liberdade de expressão” e que ameaçam o meio ambiente, com
destaque para a Amazônia.

Em nota, o Ministério do Meio Ambiente disse que ainda não analisou o relatório e “poderá
se pronunciar após ter realizado a leitura do documento”. Procurado pelo Estado, o
Ministério da Justiça e Segurança Pública não se posicionou até as 20 horas de ontem.

“Uma das áreas mais preocupantes que as instituições democráticas não foram capazes de
barrar foi o meio ambiente. A destruição é feita por redes criminosas que lucram com a
extração da madeira, invadem terras e corrompem agentes públicos. Essas máfias são
perigosas e estão se apropriando de algo que é público”, diz Maria Laura Canineu, diretora
da ONG no Brasil.

Segundo ela, medidas devem ser tomadas de forma emergencial. “A gente espera que
tenha um plano nacional, com ação do Ministério Público Federal e órgãos estaduais para
ter a proteção dos nossos recursos naturais e acabar com esse estado de ilegalidade.” A
entidade informou que dados preliminares de alertas de perda florestal apontam alta de
80% no desmate na Amazônia no período de janeiro a dezembro de 2019. Enquanto isso,
conforme números do Ibama analisados pela ONG, houve queda de 25% nas multas
aplicadas por desmate ilegal de janeiro a setembro de 2019, ante o mesmo período de
2018.

“Bolsonaro criou a obrigação da realização de audiências de conciliação para processos


administrativos por infrações das leis ambientais. Desde outubro, quando entrou em vigor,
todos os processos estão parados”, diz César Muñoz, pesquisador sênior da organização.

Violência. Muñoz avalia que o País tem queda no total de mortes violentas – em 2018, a
redução foi de 11% comparada ao ano anterior, mas o Brasil ainda precisa enfrentar a
criminalidade e evitar o discurso que incentiva a violência. “Também não pode haver
impunidade quando houver casos de abusos”, afirma.

O Globo – O Brasil e as crises do petróleo / Coluna / Décio


Oddone
Durante décadas, o Brasil dependeu de petróleo importado. As crises dos anos 70
resultaram na década perdida dos 80. Desde então, esse fantasma sempre esteve
presente. Em 2018 um aumento nos preços contribuiu para uma greve que paralisou o
63
país. Em setembro, o ataque com drones a instalações na Arábia Saudita provocou
inquietação. A crise EUA-Irã traz as incertezas de volta. Há aumento da instabilidade e do
risco de ações terroristas, possibilidade de um conflito mais aberto e longo e implicações
para o mercado de petróleo.

No ataque de setembro, os preços subiram, mas logo retrocederam. Ficou a sensação de


aumento do risco, que se materializou agora. Mais uma vez houve um impacto inicial, mas
limitado, nos preços.

No entanto, a situação agora é distinta. A partir dos anos 70, problemas no Oriente Médio
criaram choques no preço e crises econômicas. Se considerava que o petróleo era um bem
finito e que haveria um pico de produção, a partir do qual o preço tenderia a subir. No
entanto, desde a revolução do shale nos EUA, houve um choque de oferta. O país, que
importava mais de 10 milhões de barris por dia, passou a exportar. Outros, como o Brasil,
estão aumentando a produção. A oferta de gás natural em países politicamente estáveis
como os EUA e a Austrália cresceu.

A diversificação das fontes e a maior segurança no suprimento mudaram a geopolítica do


petróleo. A dependência do Oriente Médio e o interesse americano pela região caíram.
Entrou-se na era do “fim do petróleo caro”, pois se os preços subirem muito, a produção
pode reagir rapidamente, decretando que choques de preço tendem a ter vida curta.

Além das mudanças na oferta, também houve transformações na demanda. A transição


energética e o crescimento das fontes renováveis começam a colocar no horizonte visível o
pico de demanda por petróleo. Assim, se passou de um cenário de pico de produção para
um de pico de demanda.

Ultimamente, conflagrações têm produzido volatilidade, não altas desenfreadas dos preços.
Para que haja um choque de efeito mais prolongado, é preciso que o conflito se aprofunde
e perdure, com reflexos na produção na região e no fluxo de petróleo pelo Estreito de
Ormuz. Mas esse não parece ser o cenário mais plausível. Por isso, o mais provável é que
essa crise produza mais volatilidade, com impacto limitado no preço.

Mas não foi só no mundo que esse mercado mudou. No Brasil a transformação foi ainda
mais profunda. O país agora é autossuficiente e exporta mais de 1,1 milhão de barris por
dia. Em dez anos deve se tornar um dos cinco maiores produtores e exportadores. A
balança comercial do setor, deficitária por décadas, passou a ser positiva. A renda do
petróleo vai se multiplicar. Era de cerca de R$ 50 bilhões em 2018. Pode superar R$ 300
bilhões em 2030.

Altas nos preços dos derivados impactam a atividade econômica e o consumidor. Todavia,
aumentos no petróleo produzirão receitas capazes de compensar potenciais reajustes nos
preços do diesel, da gasolina e do gás de cozinha, se a decisão fosse usar esses recursos
para mitigar impactos ao consumidor. Ao longo da década, com a produção crescendo mais
que o consumo, essa diferença vai se acentuar. Resta saber se, em tempos de transição
energética e de busca de competitividade, estimular o consumo de combustíveis fósseis,
dando sinais de preço equivocados ao mercado, seria o melhor destino para esses
ingressos extraordinários. A relação da economia brasileira com o petróleo mudou, para
melhor. É preciso que as estratégias nacionais reflitam essa nova realidade.

64
Décio Oddone é diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e
Biocombustíveis

N. da R.: Ascânio Seleme volta a escrever dia 30

O Globo – Perdas na Amazônia podem superar US$ 3 tri


Relatório do Fórum Econômico Mundial mede custo do desmatamento em um horizonte de
30 anos, caso não sejam adotadas ações para combater prática. Meio ambiente aparece
pela primeira vez entre os cinco maiores riscos para o crescimento global

O Globo16 Jan 2020 VIVIAN OSWALD Correspondente vivian.oswald@oglobo.com.br


LONDRES E BRASÍLIA

Custo. Vista aérea de área desmatada na Amazônia: floresta perdeu cerca de 17% de sua
extensão nos últimos 50 anos

Um ano depois de ouvir do presidente Jair Bolsonaro, em seu début internacional, que o
Brasil é um país que preserva o meio ambiente, o Fórum Econômico Mundial divulgou
ontem o novo Relatório de Riscos Globais 2020, cheio de recados ao governo brasileiro. O
documento afirma que a perda abrupta da cobertura da Amazônia pode ter custo
econômico superior a US$ 3 trilhões. O estudo de referência usado pelo texto fala em um
horizonte de 30 anos, mas não detalha o impacto para o Brasil, que detém a maior fatia da
floresta.

No mesmo trecho em que trata da Amazônia, o relatório destaca riscos para os mercados
agrícolas, lembrando que o Brasil é um dos maiores exportadores de commodities como
soja, milho e carne. “Um declínio significativo na produtividade agrícola brasileira pode
aumentar a volatilidade dos preços de alimentos, o que a História mostra que pode
desencadear instabilidade e contribuir para deterioração de longo prazo na segurança”. E
completa: “As comunidades indígenas que dependem da floresta tropical podem sofrer e,
possivelmente, desaparecer. A indústria do turismo, crítica para as economias da América
do Sul, pode ser seriamente afetada.”

O texto afirma que a Amazônia é o ecossistema mais diverso do mundo, habitat de 10%
das espécies terrestres, e que a sua destruição significa um potencial perdido para novas
descobertas de cura para doenças.

“Incêndios e alagamentos mais intensos na região, assim como o comportamento mais


imprevisível dos fluxos de água, podem acontecer. Tudo isso pode abalar a produção de
alimentos, aumentar a escassez de água e reduzir a geração de energia hidrelétrica, com
custo econômico de mais de US$ 3 trilhões”, diz o relatório.

30 CAMPOS DE FUTEBOL

Diante da necessidade de ação global com relação às ameaças climáticas, Peter Giger, um
dos autores do relatório e especialista-chefe do Departamento de Risco da Zürich
Insurance, afirmou que o Brasil não pode repetir os erros que outras nações cometeram no
passado:

— O Brasil é um exemplo diferente. Da perspectiva do risco, está repetindo erros do


passado, de centenas de anos atrás. Isso é sempre uma tragédia. No Brasil, a questão é
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não repetir os mesmos erros como sociedade global e como parar o desmatamento antes
que seja tarde demais.

Pela primeira vez em dez anos, as ameaças para o meio ambiente estão entre os cinco
principais itens da lista de riscos prováveis de longo prazo para o crescimento da economia
global. “As consequências de curto prazo da mudança do clima se somam a uma urgência
planetária de perdas de vidas, tensões sociais e políticas, e impactos econômicos
negativos”, afirma o relatório.

Segundo o documento, cerca de 12 milhões de hectares de floresta tropical foram perdidos


mundo afora em 2018, o que equivale a 30 campos de futebol por minuto. A Amazônia
sozinha, destaca, perdeu aproximadamente 17% da sua extensão nos últimos 50 anos, e
os índices de desmatamento subiram desde 2012. A Amazônia agora absorve cerca de um
terço amenos de carbono do que fazia uma década atrás, segundo o documento.

Apesar da preocupação de investidores com o quadro ambiental, a prioridade do governo


em Davos será focar nos resultados da agenda econômica. O ministro do Meio Salles, não
participará da comitiva brasileira.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, buscará apresentar na Suíça a mensagem de “casa


arrumada” aos investidores, com menções à aprovação da reforma da Previdência, a queda
dos juros e medidas de simplificação das relações de trabalho.

POLARIZAÇÃO ECONÔMICA

Os 750 especialistas ouvidos no relatório traçam um cenário econômico sombrio e não


veem munição para que os países lutem individualmente contra uma potencial recessão.
No curtíssimo prazo, vislumbram novos confrontos econômicos e políticos, menos
flexibilidade para estímulos monetários que impulsionem as economias e mais riscos de um
prolongado período de baixo crescimento.

Para os especialistas, a economia mundial começa o ano sob a ameaça de mais polarização
econômica e política, doméstica e internacional. “As turbulências geopolíticas estão nos
levando para um mundo unilateral instável, de grandes rivalidades, em um momento que
os líderes empresariais e de governo precisam se concentrar com urgência em ações
conjuntas que reduzam os chamados riscos compartilhados”, diz o texto.

— Trata-se de um conjunto complexo de riscos para o mundo. As desigualdades dificultam


as ações —disse o presidente do Fórum Econômico Mundial, Borge Brende.

Valor Econômico – Liderança global aponta clima como risco


maior
Pela primeira vez em 10 anos, pesquisa de riscos globais do fórum elegeu itens ligados às
mudanças climáticas entre as cinco principais preocupações

Por Sérgio Tauhata — De São Paulo

Quando o Fórum Econômico Mundial (WEF), realizado anualmente na cidade suíça de


Davos, aponta como as cinco maiores preocupações das principais lideranças globais temas
ligados às mudanças climáticas isso tem implicação gigantesca. Significa que países,

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empresas, investidores e organizações de todos os setores estão prestes a começar a se
mover em direção a mudanças regulatórias, transformações de indústrias inteiras,
revolução nos hábitos de consumo e realocação de capital para modelos de negócios
melhor adaptados aos novos tempos.

Esses cenários estão previstos no 15º relatório de Riscos Globais do Fórum Econômico
Mundial, conduzido pelo grupo Marsh & McLennan e pela seguradora Zurich Insurance
Group, junto com consultores da Universidade de Oxford, na Universidade Nacional de
Cingapura e no Centro de Processos de Decisão e Gerenciamento de Risco Wharton da
Universidade da Pensilvânia. Pela primeira vez em 10 anos, os cinco primeiros lugares da
lista de ameaças com maior probabilidade de ocorrer foram dominados por itens
relacionados às mudanças climáticas.

O levantamento ouviu 750 especialistas e tomadores de decisão globais, entre CEOs,


representantes de governos, líderes de organizações multilaterais e acadêmicos e coloca os
eventos climáticos extremos, como inundações e tempestades, no topo das preocupações.
Em seguida, aparece a falha na mitigação e adaptação às mudanças climáticas. Na terceira
posição, surgem os grandes desastres naturais, como tsunamis, furacões e terremotos.
Uma grande perda de biodiversidade e colapso do ecossistema ocupa o quarto lugar entre
os principais riscos para os próximos anos. Por fim, danos e desastres ambientais causados
pelo homem fecham a lista.

Não por acaso, temas como “Evitando um Apocalipse Climático” e “Forjando um Caminho
Sustentável em Direção a um Futuro Comum” deixam de ser tópicos mais associados às
Conferência das Partes da Nações Unidas (COP) e passam a dominar também a
programação do encontro anual do Fórum Econômico, que começa no dia 20 e se estende
pelos próximos quatro dias.

Segundo Eugenio Pascoal, CEO da Marsh Brasil e presidente da Marsh & McLennan
Companies no país, a pesquisa mostra que “o mundo chegou a um momento de mudança”.
Na visão do executivo, as discussões de Davos vão funcionar como um gatilho para as
empresas no mundo todo começarem a se mobilizar em relação às mudanças climáticas e
suas consequências econômicas e sociais. “A forma de fazer negócio mudou e está
mudando.”

De acordo com Edson Franco, CEO da Zurich no Brasil, “os riscos são interconectados e
empresas e governos têm de olhar de maneira prática essas questões”. Conforme Peter
Giger, diretor de riscos da Zurich, a atividade humana já causou a perda de 83% de todos
os mamíferos selvagens e de metade das plantas que sustentam os sistemas de produção
de alimentos e medicamentos. “Ecossistemas biologicamente diversos capturam grandes
quantidades de carbono e fornecem enormes benefícios econômicos estimados em US$ 33
trilhões por ano - o equivalente ao PIB dos EUA e da China juntos”, aponta o executivo no
relatório.

O levantamento do fórum mostra que as gerações mais jovens têm uma visão mais
alarmante. Segundo a pesquisa, os nascidos após 1980, conhecidos como “millenials”,
classificaram os riscos ambientais em um grau bem mais elevado do que outros
entrevistados, no curto e longo prazo. Quase 90% desse grupo de entrevistados acreditam
que “ondas de calor extremo”, “destruição de ecossistemas” e “saúde impactada pela
poluição” serão agravadas em 2020. Conforme mudam as gerações, os percentuais caem
para faixas entre 77% e 67%.
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O presidente do Fórum Econômico Mundial, Borge Brende, alerta para as consequências.
“Os últimos cinco anos estão no caminho para serem os mais quentes já registrados,
desastres naturais estão se tornando mais intensos e mais frequentes e, no ano passado,
testemunhou-se um clima extremo sem precedentes em todo o mundo.”

Brende ressalta que as temperaturas globais caminham para um aumento médio de três
graus centígrados no fim do século, o dobro do que os especialistas alertam ser o limite
para evitar consequências econômicas, sociais e ambientais graves. Para o executivo, os
impactos da elevação incluirão perda de vidas, tensões sociais e geopolíticas e impactos
econômicos negativos.

Valor Econômico – Na Alemanha, ministra da Agricultura defende


ações sustentáveis do governo
Tereza Cristina participa da abertura da Semana Verde Internacional

Por Rafael Walendorff — De Brasília

Em mais uma tentativa de responder às críticas internacionais à atuação do governo


Bolsonaro na área ambiental - sobretudo no agronegócio -, o Ministério da Agricultura fez
uma apresentação ontem, durante um seminário promovido pela embaixada brasileira na
Alemanha, sobre as principais diretrizes da Pasta para o desenvolvimento sustentável da
agropecuária brasileira.

Um documento lançado no evento mostra resultados do Plano ABC e aborda a atuação da


atual gestão do Ministério em três pilares: inclusão produtiva de pequenos produtores,
regularização ambiental e fundiária e o estímulo à inovação no campo.

Entre os desafios listados para avançar nestas áreas estão a implementação do Código
Florestal e do pagamento por serviços ambientais (PSA). O Ministério ainda reforçou a
meta de ampliar em 300% as áreas sobre concessões florestais e a intenção de estruturar
de novos instrumentos para financiamento de atividades sustentáveis como green bonds e
climate bonds.

A peça vai nortear o discurso de hoje de Tereza Cristina na abertura Green Week, a 85ª
Semana Verde Internacional, na Alemanha. Ela também será discutida no Fórum Global
para Alimentação e Agricultura (GFFA), com cerca de 200 ministros e secretários de
Agricultura de todo o mundo. Reuniões bilaterais e um encontro com representantes do
G20 também estão na agenda europeia da ministra.

“Os problemas são muito comuns entre os países, mas é importante ouvir o que o mundo
quer, como vamos fazer comida daqui para frente, qual será o modelo. É importante saber
o que os países estão pensando e tirar desse fórum um alinhamento para a agricultura”,
disse ao Valor a ministra Tereza Cristina.

Segundo ela, o desafio é aumentar a produtividade dos sistemas. “Independentemente do


problema do Brasil, o problema maior é a fome no mundo. Temos que ter mais produção,
mais produtividade, e continuar abastecendo e preservando o meio ambiente”, pontuou.
“Vamos ter a oportunidade de falar o que estamos fazendo, sobre a agricultura moderna e

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sustentável que temos e que é ignorada propositalmente ou não. Vamos levar o nosso
norte”, destacou a ministra.

Apesar de o documento não mencionar as queimadas e desmatamentos na Amazônia, a


ministra deve comentar ações tomadas pelo governo brasileiro em 2019 - como o envio de
9 mil homens do Exército para a região e estabelecimento da GLO ambiental -e as medidas
que serão adotadas para enfrentar o problema no período seco deste ano. O intuito é
desvincular o agronegócio do problema tratado pela Pasta no âmbito da regularização
fundiária.

No documento, o Ministério da Agricultura argumentou que, ao colocar sob o guarda-chuva


da Pasta instituições como o Incra e o Serviço Florestal Brasileiro, “o governo brasileiro
ampliou a importância da sustentabilidade na agropecuária”. A incorporação dessas
instituições, no entanto, sempre foi alvo de críticas de ambientalistas, por submetê-las à
influência dos ruralistas.

CIÊNCIA E TECNOLOGIA

O Globo – Governo construiu nova estação na Antártica sem


limpar área contaminada por incêndio em 2012
Ibama ainda não definiu como irá remover óleo, localizado sob a base inaugurada ontem

Renato Grandelle

RIO — Debaixo dos laboratórios de ponta da Estação Comandante Ferraz, a nova base
científica brasileira na Antártica, repousam poluentes das antigas instalações, destruídas
por um incêndio em fevereiro de 2012.

Uma análise encomendada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais
Renováveis (Ibama) à Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) estima que,
sob a construção inaugurada ontem, há cerca de 7 mil metros cúbicos — volume que
preencheria três piscinas olímpicas — de sedimentos contaminados.

As substâncias estão dispersas em uma área de 8 mil m² e são encontradas na superfície


ou a até três metros de profundidade.

Técnicos da Cetesb foram oito vezes ao continente gelado desde a explosão da base, que
ocorreu em uma operação de transferência de combustível. A última visita foi em janeiro
de 2019. O objetivo era coletar amostras de compostos orgânicos presentes no óleo diesel,
principal responsável pela contaminação do solo.

As substâncias foram estudadas e sua área já é conhecida, mas poucas ações foram
tomadas para retirar os poluentes. O governo federal ainda não definiu que método será
usado para decompor o óleo, nem estabeleceu um prazo iniciar qualquer projeto com esta
finalidade.

Patricia Iglesias, presidente da Cetesb, assinala que a companhia fez relatórios após cada
operação, entregando o material ao Ministério do Meio Ambiente (MMA).

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— Fizemos um trabalho contínuo para detectar os compostos presentes no óleo e
investigar toda a área afetada pelo incêndio — explica. — Este foi o nosso papel. Agora,
cabe ao governo acionar um plano de intervenção, que fará a limpeza do solo.

Área poluída pode ser maior


Segundo Patricia, é possível que a região com poluentes no solo seja ainda maior,
abrangendo também o entorno dos contêineres para onde foram levadas as pesquisas que
não foram destruídas pelo fogo. Ainda assim, ela acredita que os cientistas não deveriam
interromper os seus trabalhos:

— Seria contraproducente parar tudo. Já havíamos identificado os locais mais críticos.

O GLOBO pediu acesso aos relatórios, mas a Cetesb afirmou que a solicitação deveria ser
encaminhada ao MMA, para quem a companhia prestou contas no trabalho de cooperação.
O ministério não forneceu os documentos até o fechamento da reportagem.

O plano de intervenção, porém, ainda não foi formulado. Segundo Luiz Ernesto Trein,
analista ambiental do Ibama, os esforços foram destinados à construção da nova estação,
erguida sobre sua antecessora.

— A área contaminada está localizada exatamente onde foi construída a nova estação,
junto ao canteiro de obras — revela. — Não havia condições de tomarmos iniciativas de
intervenção no subsolo nesse período.

A nova estação foi construída em uma estrutura elevada, portanto o solo contaminado
ainda é acessível. O Ibama consultou universidades sobre técnicas de biorremediação — ou
seja, o uso de organismos vivos para remover o óleo acumulado no local. O instituto,
porém, ainda não decidiu qual estratégia será adotada, já que a Antártica tem um
ecossistema frágil e peculiar.

— Precisamos pesquisar que tipo de micro-organismo é o mais indicado para degradar o


óleo. Na Antártica, há uma série de restrições sobre qual organismo devemos acolher. Não
podemos usar o mesmo modelo de biorremediação aplicado no Brasil — assinala.

Para escolher a biorremediação adequada, o Ibama cogita recorrer a produtos químicos


ricos em nitrogênio, como o fosfato e o potássio. Eles seriam usados como "adubos",
facilitando o desenvolvimento de micro-organismos capazes de destruir o óleo sem
prejudicar o meio ambiente. Também é possível que o governo recorra à colaboração
internacional.

Helena Spiritus, bióloga do Greenpeace, alerta que a Antártica "não é só gelo", e sim um
ambiente rico em biodiversidade, submetido a um "frágil equilíbrio", inclusive na cadeia
alimentar, o que pode afetar animais como baleias, focas e pinguins.

— Para remediar o derramamento de óleo ou de diesel, parte do solo teria que ser retirado,
e isso, por si só, já é um impacto no ecossistema — explica. — A Antártica precisa ser mais
estudada e protegida de atividades humanas que podem gerar abalos a longo prazo.

O Globo – Verbas para projetos na Antártica preocupam


Nova base empolga cientistas, mas verba para pesquisa preocupa

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ELCIO BRAGA* E RAFAEL GARCIA ILHA REI GEORGE (ANTÁRTICA) E SÃO PAULO

A trajetória física do Brasil à Antártica é longa, mas o percurso acadêmico para se tornar
um cientista antártico é ainda mais difícil, e a atual escassez de verba para ciência no
Brasil lança uma incerteza de longo prazo para os pesquisadores.

As novas instalações da Estação Comandante Ferraz, reinaugurada ontem após


investimentos de US$ 99,6 milhões (R$ 407 milhões, no câmbio atual), representam uma
melhoria de infraestrutura para receber cientistas, e a demanda por acomodações e
laboratórios deve aumentar. Mas essa é só uma parte da história para quem quer
pesquisar o continente gelado.

O primeiro passo para trabalhar por lá é entrar em um dos 19 projetos em andamento que
compõem a pesquisa do Programa Antártico Brasileiro (Proantar). A cada três ou quatro
anos, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) lança
editais. Quem tem o projeto aprovado ganha acesso à nova estação e à infraestrutura
oferecida pela Marinha. Mas o trabalho in loco requer preparo.

— O estudante precisa ser perseverante. Trabalhar aqui é muito difícil. Para chegar é no
mínimo uma semana de viagem. Uma fase da operação dura um mês, e você consegue
trabalhar só três ou quatro dias. O clima não deixa vocêa tuarem campo. Às vezes, às 8h,
o céu está azul, às 9h, neva e, logo depois, aparecem ventos de 150 km/h. Exige
preparação —conta o professor Luiz Rosa, da Universidade Federal de Minas Gerais, há 12
anos pesquisando fungos antárticos.

CONFORTO E PRATICIDADE

Os cientistas se entusiasmaram com as novas instalações. Os biólogos, por exemplo,


conseguem coletar o material em campo e examiná-lo com equipamentos adequados. No
caso da botânica, é possível extrair o DNA das plantas e estabilizar amostras para enviá-las
ao Brasil para o sequenciamento genético.

— Se a pessoa vier bem organizada, pode coletar os dados, processar as análises e já sair
com um artigo científico pronto —diz o botânico Paulo Câmara, da Universidade de Brasília
(UnB), que estuda há seis anos as 116 espécies de plantas na região.

Para Rosa, a estação brasileira na Antártica talvez esteja “entre as três mais bem
equipadas do mundo”.

No entanto, o trabalho por lá historicamente representa menos de 30% da pesquisa


brasileira na Antártica. O restante é feito no navio Almirante Maximiano ou em
acampamentos, com recursos modestos. O Brasil possui também um pequeno módulo de
pesquisa atmosférica, o Criosfera 1, instalado a 2.500 km ao sul de Comandante Ferraz, no
meio do continente antártico, área inóspita que só acomoda visitas no verão.

A verba para essas outras atividades não está garantida. O Criosfera 2, por exemplo, que
complementa o primeiro módulo, já foi construído, mas está parado em Porto Alegre. A
falta de verbas atrasou sua instalação.

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O Proantar tem atualmente aporte de verbas previsto até 2022, situação relativamente
confortável se comparada ao atual cenário de escassez de verba para ciência no Brasil. A
preocupação, porém, éc oma instabilidade de recursos no longo prazo.

—Você imagina que vai terminara pesquisa em três anos, só que dura mais dois, e o
dinheiro não aumenta — observa Câmara, que lembra que ainda não é possível fazer
100% da pesquisa in loco: — No meu caso, de DNA, o sequenciamento precisa ser
concluído no continente. Quem normalmente faz esses estudos são os alunos, através dos
programas de pós-graduação oferecidos pelas universidades federais. E, para isso, a gente
precisa das bolsas.

ÁREAS PRIORITÁRIAS

Hoje é possível um aluno de iniciação científica desenvolver um trabalho de campo na


Antártica, algo que nem sempre foi possível. Jefferson Simões, o coordenador da área
científica do Proantar, já tem 30 anos de experiência no continente, e lembra de quando as
viagens não eram tão frequentes.

— Demorei para pisar na Antártica pela primeira vez porque fiz meu doutorado antes. A
primeira vez foi em 1990, quando voltei de Cambridge —conta.

Simões foi um dos cientistas que definiram o planejamento estratégico para a pesquisa
antártica, e lista as áreas prioritárias agora.

— Os principais estudos estão nas conexões do clima antártico com o brasileiro, como
implementar modelos meteorológicos e climáticos para avaliação do mar congelado
antártico —explica ele: —Outra é a questão do impacto do derretimento de gelo da
Antártica no nível médio dos mares. Isso tem implicações para a costa brasileira.

*Enviado especial

COOPERAÇÃO JURÍDICA E SEGURANÇA

Gazeta do Povo – Acusado de ataque ao Porta dos Fundos só


volta ao Brasil com prisão revogada, diz jornal
Por Gazeta do Povo

Eduardo Fauzi, acusado pela Polícia Civil do Rio de Janeiro de participação no ataque à
produtora do humorístico Porta dos Fundos, só volta ao Brasil em caso de revogação do
pedido de prisão temporária contra ele. A afirmação foi feita ao jornal O Estado de S. Paulo
nesta quarta-feira (15) por advogados do suspeito. Fauzi fugiu para a Rússia em 29 de
dezembro, cinco dias após o atentado contra a sede do grupo no Rio; a ordem de prisão foi
expedida dois dias mais tarde. De acordo com a defesa, Eduardo Fauzi espera o
julgamento de habeas corpus apresentado ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro para
que ele responda em liberdade. Se o pedido for negado, a orientação dada a Fauzi pela
defesa é para que permaneça fora do país.

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OUTROS TEMAS

Crusoé – Paris, Viena, Lisboa e Miami: a agenda de viagens dos


ministros
Helena Mader

Pelo menos sete ministros farão viagens internacionais até fevereiro. Entre os destinos dos
integrantes do primeiro escalão do governo Jair Bolsonaro estão cidades como Viena, Paris,
Lisboa e Miami.

O ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República,


general Augusto Heleno, vai a Viena, na Áustria, em fevereiro, para participar de uma
conferência internacional sobre segurança nuclear. Ele ficará fora do Brasil durante cinco
dias.

O ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, está na Antártida, para a inauguração


das novas instalações da Estação Comandante Ferraz. Serão três diárias pagas pelo
Planalto. Já o chefe da Economia, Paulo Guedes, vai esta semana a Palo Alto, nos Estados
Unidos, para uma reunião da Mont Pelerin Society e, na sequência, seguirá para Davos, na
Suíça, para a reunião do Fórum Econômico Mundial. Guedes ficará fora do país entre 15 e
23 de janeiro.

Em fevereiro, a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves,


ficará afastada durante cinco dias para uma viagem a Paris, na França. Ela vai participar da
Conferência de Alto Nível sobre combate à violência contra as mulheres, promovida pela
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, recebeu aval para viajar a Nova Delhi,
na Índia, entre 19 e 29 de janeiro, para reuniões com autoridades locais para divulgar as
oportunidades de investimento nos setores de petróleo e gás natural. Ele também
participará de seminário empresarial e realizará visitas a empresas indianas de
biocombustível e de geração de energia.

Já o chefe da pasta do Meio Ambiente, Ricardo Salles, está em Lisboa desde 10 de janeiro,
onde participa de reuniões na Agência Portuguesa do Ambiente e realiza visitas técnicas. O
objetivo, segundo o ministério, é debater possibilidades de parcerias e cooperação entre o
Brasil e Portugal.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ficará em Miami até 20 de janeiro,
para dar palestras na Universidade de Miami e participar de reuniões com investidores.

O Globo – Para atrair turistas, Embratur quer outdoors em Times


Square
Agência fará campanha publicitária sobre o Brasil em ao menos 15 países

NAIRA TRINDADE E BELA MEGALE BRASÍLIA

EUA. Réveillon na Times Square: peças abordarão extinção do visto para americanos

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Mirando aumentar o número de turistas estrangeiros no Brasil, o presidente da Embratur,
Gilson Machado Neto, decidiu traçar um plano de investimentos de recursos em 2020 em
campanhas publicitárias no exterior. As iniciativas do governo vão desde espalhar anúncios
em aeroportos de ao menos 15 países a instalar outdoors na Times Square e até produzir
longas em Hollywood para divulgar as belezas naturais do país.

Para colocar as ações em prática, a Embratur diz ter um orçamento de R$ 120 milhões em
2020. A agência ainda não delimitou, porém, quanto será investido em cada campanha.
Antes, em 2019, o orçamento do órgão era de R$ 8 milhões. Segundo Machado Neto, o
crescimento de 1.140% na verba da Embratur vai favorecer que mais recursos sejam
usados para captar turistas. O cálculo é que, para cada dólar investido em publicidade para
turistas, US$ 27 retornem ao país com os gastos de turistas. O presidente da agência,
porém, diz que as iniciativas para contratar publicidade no exterior ainda estão em fase
inicial e que os editais de licitação estão em estudo.

Uma das principais apostas é instalar outdoors de LED na Times Square, importante
avenida comercial de Nova York, nos EUA, para reforçar a informação ao americano de que
ele não precisa de visto para visitar o Brasil. A Embratur detém um estudo que mostra que
só 3% dos americanos sabem que não é mais necessário emitir o documento para visitar o
Brasil. A exigência foi extinta pelo presidente Jair Bolsonaro em 2019.

A Embratur avalia divulgar anúncios na CNN e na FOX, empresas de comunicação


americanas, e produzir longas em HollyWood. O presidente da agência diz contar com a
ajuda do embaixador da Embratur em Los Angeles, Fred Lapenda, para a produção das
peças. Machado Neto diz não saber ainda quanto custarão.

INFLUENCIADORES

A empresa prevê também modernizar e contratar influenciadores digitais setorizados para


fazer divulgações específicas nas redes sociais. A ideia é contratar médicos influencers, por
exemplo, para disseminar informações sobre medicina no Brasil ou escolher uma
especialista em moda para falar para seu público sobre a moda do país.

Entre as metas para 2020 está também a abertura de cinco escritórios para ajudar na
divulgação do Brasil no exterior em Miami, Argentina, Portugal, China e nos Emirados
Árabes.

BLOGS E SITES

Brasil 247 – Chanceler russo defende entrada do Brasil no


Conselho de Segurança da ONU
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, pediu nesta quarta-feira a
inclusão de Brasil, Índia e algum país africano como membros permanentes do Conselho de
Segurança da ONU
16 de janeiro de 2020, 08:10 h

247 - Ao participar do Raisina Dialogue, um fórum político e econômico organizado pelo


governo indiano em Nova Délhi, o chanceler russo Sergey Lavrov defendeu mudanças nas

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relações internacionais, com a inclusão de Brasil, Índia e um país da África no Conselho de
Segurança da ONU.

Lavrov também criticou as "sanções unilaterais" impostas por alguns países potências a
outros e contra a construção da ordem mundial baseada na "força bruta".

"Eu diria que a principal deficiência do Conselho de Segurança é a baixa representação dos
países em desenvolvimento. Reiteramos a nossa posição de que Índia e Brasil merecem
absolutamente estar no Conselho juntamente com um candidato africano", disse o
ministro, segundo a EFE.

Brasil Sem Medo – EUA anunciam prioridade à entrada do Brasil


na OCDE
Fernando de Castro

Por meio da Embaixada dos EUA, governo americano informa que apoiará o Brasil como
próximo país a ingressar na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
Em comunicado divulgado pela Embaixada dos EUA em Brasília na noite desta terça-feira
(14), foi anunciado o apoio do país à entrada do Brasil na Organização para a Cooperação
e Desenvolvimento Econômico (OCDE). “Os Estados Unidos querem que o Brasil seja o
próximo país a iniciar o processo de acessão à Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE)”, comunicou a embaixada.

Na nota, os diplomatas americanos também afirmam: “Nossa decisão de priorizar a


candidatura do Brasil, agora, como próximo país a iniciar o processo é uma evolução
natural do nosso compromisso, como reafirmado pelo secretário de Estado [Mike Pompeo]
e pelo presidente Trump em outubro de 2019”.

A Embaixada prossegue: “Os EUA querem que o Brasil se torne o próximo país a iniciar o
processo de adesão à OCDE. O governo brasileiro está trabalhando para alinhar as suas
políticas econômicas aos padrões da OCDE, enquanto prioriza a adesão à organização para
reforçar as suas reformas políticas”.

O apoio americano à entrada do Brasil na OCDE foi anunciado em março de 2019, quando
o presidente Jair Bolsonaro realizou sua primeira visita de Estado aos EUA. Na ocasião, ao
lado do presidente brasileiro, Trump comunicou a decisão em favor do Brasil.

“Nós vamos apoiar. Vamos ter uma boa relação em diferentes formas. Isso é algo que
vamos fazer em honra ao presidente (Bolsonaro) e ao Brasil”, afirmou Trump em março de
2019.

Vitória da esquerda na Argentina facilitou a decisão

Em outubro de 2019, secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, enviou um


documento ao secretário-geral da OCDE, Ángel Gurría, comunicando a defesa de
Washington às candidaturas imediatas da Argentina e Romênia. O Brasil, até então, ficou
de fora da solicitação.

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Embora os EUA nunca tivessem mencionado quando iriam oficializar o apoio, naquele
momento muito se falou sobre a decisão dos EUA, cogitando-se, inclusive que a relação de
Bolsonaro e Trump estava ruidosa.

Com a vitória do peronista Alberto Fernandez, que derrotou o liberal Maurício Macri, as
autoridades americanas perceberam a ação do novo governo argentino nas intervenções
mais consideráveis na economia e no sentido de não priorizar a entrada do país na OCDE,
diferentemente de Macri que, apesar da crise enfrentada pela Argentina, buscava preparar
o país para entrar na entidade.

Os êxitos da política econômica comandada por Paulo Guedes, além da relação entre
Bolsonaro e Trump, fizeram com que o Brasil terminasse “furando a fila” para ingressar na
Organização.

BR Político – Viagem de Bolsonaro à Índia deve render resultados


imediatos
Cassia Miranda

Com o cancelamento da ida ao Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, a viagem do


presidente Jair Bolsonaro à Índia será a principal agenda que ele terá neste começo de
ano. A comitiva brasileira estará em Nova Délhi entre os dias 24 e 27 deste mês.

Segundo a Secretaria de Comunicação da Presidência, a agenda do grupo ainda está sendo


montada. Já é certo, contudo, que Bolsonaro vai depositar flores no túmulo do pacifista
Mahatma Gandhi, principal líder da independência indiana, assim como fizeram FHC e Lula,
quando foram presidentes.

Bolsonaro é convidado de honra do primeiro-ministro Narendra Modi para as


comemorações do Dia da República da Índia, celebrado em 26 de janeiro. Além de uma
visita diplomática, a ida ao país asiático terá também um forte apelo comercial. Assim
como o Brasil, a Índia faz parte dos Brics, bloco de países emergentes, formado em 2006,
integrado também por Rússia, China e África do Sul.

Se considerados o crescimento da Índia nos últimos anos e a participação de Bolsonaro no


Fórum Econômico Mundial de 2019, há bons motivos para acreditar que os frutos colhidos
nesta viagem devem ser maiores do que uma eventual participação no fórum deste ano,
apesar de serem eventos com naturezas diferentes.

“É uma excelente viagem para início de ano”, avalia o gerente-executivo de Comércio


Exterior da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Diego Bonomo. “Basta pensar que
no ano passado, o presidente visitou e depois recebeu visitas também no Brasil de países
que representam 54% do nosso comércio exterior. Mas alguns países, claro, ficaram de
fora. Um deles é a Índia. Então, começar o ano com essa viagem a um mercado grande e
que tem esse simbolismo da visita, do convite e da data escolhida, é muito importante. É
uma visita que a gente tem expectativa de ter bastante resultado”, diz.

De acordo com relatório do Fundo Monetário Internacional de julho de 2019, para este ano
a perspectiva de crescimento econômico da Índia (7,1%) é superior à da China (5,9%).
Diesel, inseticidas e poliéster são os principais produtos que o Brasil compra da Índia.
Daqui, saem principalmente: petróleo, soja e ouro. “A Índia é um dos dez mercados

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estratégicos para indústria. É o segundo maior mercado consumidor do mundo, só perde
para China, e até o meio do século ela deve superar a China e se tornar o maior mercado
consumidor do mundo”, aponta Bonomo.

A previsão é de que a comitiva seja composta pelos ministros das Relações Exteriores,
Ernesto Araújo, da Agricultura, Tereza Cristina, da Economia, Paulo Guedes, de Ciência e
Tecnologia, Marcos Pontes, e de Minas e Energia, Bento Albuquerque, além do secretário
especial de Comércio Exterior, Marcos Troyjo. O peso da comitiva revela as intenções.

Ao menos três negociações encaminhadas devem ser anunciadas durante a viagem. A


primeira é o acordo de cooperação e facilitação de investimentos (ACFI). Outra é um
acordo previdenciário, que permite às empresas recolher uma única vez para a seguridade
social e aos empregados expatriados contabilizar o período de trabalho para a
aposentadoria. A terceira negociação é um acordo para pôr fim à bitributação entre os dois
países. A expectativa de Bonomo é de que a viagem traga resultados imediatos para o
comércio e indústria do Brasil.

Agricultura. Em dezembro, a ministra Tereza Cristina havia dito que a parceria na produção
de etanol seria um dos temas tratados. “Um dos pedidos do primeiro-ministro (Modi)
quando esteve aqui (durante a Cúpula do Brics) foi tratar de bioenergia”, disse a ministra.

Outro assunto é a perspectiva de venda de carne de aves para os indianos, que abriram o
mercado para os produtos brasileiros. Em 2019, a Índia consumiu cerca de 5 milhões de
toneladas de carne, montante superior ao volume exportado de carne brasileira de frango
para outros países, de 4 milhões de toneladas em 2018.

Conversa Afiada – Chanceler de Bolsonaro deixa de ir a Davos


para comparecer a evento estratégico para Trump
EUA querem apoio na América Latina para ofensiva contra o Irã

O (suposto) chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, dará mais um passo para aprofundar o
processo de submissão do Brasil aos Estados Unidos.

Segundo Guilherme Amado, da revista Época, Araújo deixará de comparecer ao Fórum


Econômico Mundial de Davos, na Suíça, para prestigiar a Conferência Hemisférica
Antiterrorismo, em Bogotá, na Colômbia.

Como se sabe, o Itamaraty aplaudiu a decisão dos Estados Unidos de assassinar o general
iraniano Qasem Soleimani. Agora, esse evento na Colômbia tem peso estratégico para o
governo de Donald Trump consolidar o apoio da região à sua ofensiva contra o Irã.

Diário do Centro do Mundo – Advogados japoneses de Ghosn se


retiram de seu caso
Da AFP.

O advogado japonês de Carlos Ghosn, Junichiro Hironaka, anunciou nesta quinta-feira (16)
a retirada de seu escritório do caso de Carlos Ghosn, como resultado da fuga para o Líbano
do ex-CEO da Renault-Nissan.

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“Hoje entregamos ao tribunal de Tóquio uma carta com a renúncia de todos os advogados
do gabinete de Hironaka para todos os assuntos relativos a Carlos Ghosn”, explicou o
advogado em comunicado.

Hironaka não escondeu sua “estupefação” pela fuga de Carlos Ghosn no final de dezembro.

Essa decisão não é realmente uma surpresa, já que Hironaka, de 74 anos, disse que se
retiraria após a fuga de seu cliente.

Metrópoles – Itamaraty diz esperar rapidez para a entrada do


Brasil na OCDE
O país recebeu, nessa terça-feira (15/01/2020), apoio dos Estados Unidos para fazer parte
do bloco econômico

TÁCIO LORRAN
BRUNA AIDAR

O Ministério das Relações Exteriores informou esperar que todos os membros do conselho
da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) cheguem
“rapidamente” a um entendimento da entrada do Brasil no bloco.

O governo dos Estados Unidos decidiu, nessa terça-feira (14/01/2020), priorizar a entrada
do Brasil na OCDE. O primeiro da fila de postulantes era a Argentina.

Em nota enviada ao Metrópoles, a pasta comandada pelo ministro Ernesto Araújo disse ter
recebido “com satisfação” a notícia.

“Trata-se de passo fundamental para destravar o processo de expansão da organização.


Esperamos que todos os membros da OCDE cheguem rapidamente a um entendimento que
permita o início do processo de acessão do Brasil”, complementou.

Em aceno ao presidente norte-americano Donald Trump, o Itamaraty afirmou que a


posição dos Estados Unidos reflete o “amadurecimento” de parceria construída no governo
Bolsonaro.

Em outubro do ano passado, uma carta assinada por Mike Pompeo, secretário de Estado da
administração Trump, causou polêmica por só apoiar expressamente a entrada de Romênia
e Argentina na OCDE.

Isso porque, meses antes, Bolsonaro e Trump anunciaram, em declaração conjunta, o


apoio estadunidense à candidatura brasileira para se tornar membro da organização. A
ausência brasileira na carta de Pompeo foi vista como um recuo no acordo.

O Antagonista – Bolsonaro parabeniza Boris Johnson


No Twitter, Jair Bolsonaro disse ter conversado hoje com Boris Johnson e cumprimentado o
primeiro-ministro “por sua grande vitória nas eleições britânicas”…

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“Discutimos as ótimas perspectivas para nossa relação bilateral e concordamos em manter
estreito contato para fortalecer ainda mais a histórica parceria entre nossos países”,
escreveu o presidente brasileiro.

Renova Mídia – Brasil e Qatar terminam com exigência de visto


Tarciso Morais

Acordo foi fechado durante visita de Bolsonaro ao Qatar em outubro do ano passado.
Brasil e Qatar acabaram com a exigência de visto para portadores de passaportes dos dois
países. O acordo foi publicado no Diário Oficial da União desta terça-feira (14).

O documento foi assinado durante a visita do presidente da República, Jair Bolsonaro, ao


Qatar, em outubro do ano passado.

Com a medida, os cidadãos brasileiros e qataris, com passaporte comum válido por um
período mínimo de seis meses, podem visitar as duas nações, sem necessidade de visto,
para fins de turismo, trânsito ou negócios, informa o portal R7.

O acordo ainda prevê que qualquer parte pode suspender a isenção dos vistos,
principalmente por razões de segurança pública ou mediante a reintrodução de novos
requisitos.

Terça Livre – Maduro diz que vai ‘arrebentar os dentes’ de Brasil


e Colômbia em caso de interferência
Bruna de Pieri

O ditador venezuelano Nicolás Maduro disse nesta terça-feira (14) que conhece os planos
“imperialistas” da Colômbia e do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro e que a Força Nacional
Armada Bolivariana está pronta para “arrebentar seus dentes”.

A declaração foi proferida durante discurso de Maduro em mensagem anual na Assembleia


Constituinte, composta somente por chavistas aliados do governo.

Nicolas Maduro reafirmou que Brasil se envolveu no ataque a uma base no sul da
Venezuela em dezembro de 2019.

“Um grupo de terroristas, mercenários, desertores, traidores apoiados, financiado e


amparado pelos governos de Jair Bolsonaro do Brasil e Iván Duque da Colômbia assaltaram
um quartel no estado Bolívar”, declarou. “Roubaram fuzis, lançadores de morteiros e
mísseis estratégicos. Em uma sanha assassina, mataram um jovem soldado de nossa Força
Armada Nacional Bolivariana.”

O ditador declarou ainda que o regime “conseguiu capturar a maioria dos terroristas e
recuperar 95% das armas roubadas”. “O resto foi levado para o Brasil, amparados pelo
governo fascista de extrema direita de Jair Bolsonaro”, falou, sem apresentar provas.

À época, o Itamaraty negou qualquer envolvimento do Brasil no episódio, no entanto,


concedeu refúgio a um grupo de militares desertores da ditadura venezuelana, que
desagradou o ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Jorge Arreaza.

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Maduro ameaçou que caso haja algum tipo de intervenção da Colômbia ou do Brasil, a
Venezuela vai “arrebentar seus dentes para que aprendam a respeitar a Força Armada
Nacional Bolivariana”.

(Com informações do Poder360)

UOL – Brics atingiram a maturidade e se fortaleceram


internacionalmente, diz Rússia
Moscou, 15 jan (EFE).- O fórum dos Brics - composto por Brasil, Rússia, Índia, China e
África do Sul - atingiu a maturidade após dez anos de existência e se inseriu na
"arquitetura das relações internacionais", disse nesta quarta-feira o vice-ministro das
Relações Exteriores russo, Sergei Ryabkov.

"Para nós, é indiscutível que os Brics concluíram a sua etapa de formação como uma
parceria multilateral e multidimensional. Concluíram a fase de busca da própria identidade.
Hoje, ninguém concebe a arquitetura das relações internacionais sem eles", argumentou o
vice-ministro durante a 11ª edição do Fórum Gaidar.

Ryabkov declarou que no mundo atual, abalado por conflitos e um pouco imprevisível, os
Brics - presididos pela Rússia em 2020 - funcionam como "uma parceria que trabalha
exclusivamente com base nos princípios e abordagens compartilhados em relação às
questões internacionais".

"Trata-se, fundamentalmente, de multilateralismo, de defesa do direito internacional e do


consenso. Nunca impomos nada a ninguém", ressaltou.

O vice-ministro russo observou que alguns especialistas acusam os Brics de não tomar
partido em certos assuntos, e respondeu que isso se deve ao fato de esses países
"respeitarem as particularidades uns dos outros e a particularidade das abordagens em
relação a vários aspectos da agenda". Segundo o diplomata, este é "o lado forte" dos Brics.

UOL – Opinião: Mais um estrago patrocinado por Trump / Artigo


/ Andreas Rostek-Buetti
Autor: Andreas Rostek-Buetti (as) / Deutsche Welle

Pouco importa o que vier de fato a sair do acordo entre China e EUA: ele é um ataque a
mecanismos internacionais de resolução de conflitos econômicos e produz estragos por
toda parte, opina Andreas Rostek-Buetti.Talvez os mercados sejam, às vezes, de fato mais
inteligentes do que os observadores dos mercados: no dia em que negociadores dos EUA e
da China mais ou menos celebraram, na Casa Branca, um acordo inicial sobre a guerra
comercial insuflada pelo presidente Donald Trump, as bolsas deram de ombros – tanto em
Hong Kong como em Xangai ou Frankfurt.

Na Ásia foram registradas pequenas quedas. Também na Alemanha o DAX caiu 0,2%. Não
é o que se possa chamar de clima de festa.

À primeira vista, o resultado apresentado por Trump e seus negociadores de fato


impressiona: a China se compromete a comprar muito mais produtos dos Estados Unidos.

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Fala-se de um aumento de 100 bilhões de dólares por ano. A China garante concessões na
proteção tanto de propriedade intelectual de empresas dos EUA, como de tecnologia já
transferida. E Pequim acena com o incremento da compra de produtos agrícolas
americanos. Os produtores americanos saberão ser gratos a Trump.

E, no início da semana, os chineses já haviam apresentado dados que podem ser lidos
como uma justificativa para o acordo da "fase um" dessa guerra comercial que ainda
deverá durar muito: queda nas exportações para os EUA, e crescimento historicamente
fraco do comércio exterior do país. A consequência é um crescimento econômico de apenas
6%, fraco para os padrões chineses.

Sem crescimento forte não há segurança política no império do Partido Comunista – é,


quem sabe seja assim tão simples.

A verdade, porém, é que ainda não está claro o que acontecerá com todas as promessas
do acordo. Trump é um líder errático. Os poderosos chineses vão fazer de tudo para não
entregar as cartas que de fato querem manter: o objetivo deles é, por todos os meios
disponíveis, crescer tanto econômica quanto politicamente para tornar a China a líder
mundial no mundo digital – e assim se manterem no poder.

Mais do que qualquer outra coisa, o que esse chamado acordo deixa claro, são os sintomas
dos problemas que ele deveria resolver.

Belzebu Trump mostra – e isso já é sua marca registrada – um menosprezo explícito por
qualquer acordo internacional e multilateral no qual não seja ele quem dita as regras. O
instrumento chamado sanção se tornou seu pé-de-cabra favorito: "Se não quer colaborar
por bem, vai colaborar na marra."

O economista alemão Gabriel Felbermayr chamou o acordo fechado em Washington de


"nonsense bilateral num mundo multilateral". Uma definição melhor é impossível. E, em
Pequim, o presidente da Câmara de Comércio da União Europeia na China, Jörg Wuttke,
cunhou a acertada expressão "comércio dirigido" – é isso que sai desse acordo comercial
entre Washington e Pequim.

Houve um tempo em que, para conflitos comerciais como esse que está sendo "resolvido"
agora na Casa Branca, havia mecanismos de arbitragem internacionais, em especial a
Organização Mundial do Comércio (OMC). É verdade que nem tudo está em ordem na
OMC. Só que também por lá foi Trump quem agiu para paralisar de vez as coisas.

Os países que haviam aceitado esses mecanismos internacionais logo se viram


recompensados, lembram os economistas. O instituto econômico alemão IfW calculou esse
efeito positivo: no total, ele gira em torno de 855 bilhões de dólares por ano para os 180
países da OMC, os quais apresentam uma média de crescimento econômico anual de 4,5%.

A guerra comercial do presidente americano é um ataque direto a essa conquista, pouco


importando o que seja decidido na Casa Branca. A chance de uma resolução multilateral de
problemas se torna menor e não maior. O resultado pode ser visto na balança comercial da
China e também – em outros setores – no Iraque, Irã, Brasil ou na Hungria e Polônia.

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America first destrói conquistas internacionais que poderiam ser usadas para resolver
problemas globais decisivos, e isso em troca de (talvez) uns 40 bilhões de dólares a mais
para os produtores agrícolas dos Estados Unidos.

O voto deles pode garantir a reeleição de Trump. É, quem sabe seja assim tão simples.

Nexo – O papel da Flórida em barrar a laranja brasileira nos EUA


Camilla Silva Geraldello15 de jan de 2020(atualizado 15/01/2020 às 22h25)

Esta dissertação revela como interesses locais de citricultores da Flórida conseguiram


influenciar a política externa de comércio dos EUA contra o suco de laranja brasileiro

Dissertação: Medidas antidumping e política doméstica: o caso da citricultura


estadunidense

Autora

Camilla Silva Geraldello, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”


Lattes

Orientador

Tullo Vigevani

Área e sub-área

Ciência Política e Relações Internacionais, Análise de política externa

Publicado em Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Programa de Pós-


Graduação em Relações Internacionais “San Tiago Dantas” – Unesp-Unicamp-PUC/SP
05/03/2015

Esta dissertação de mestrado, realizada no Programa de Pós-Graduação em Relações


Internacionais “San Tiago Dantas” (Unesp-Unicamp-PUC/SP), revela como a política
doméstica de um país pode ter desdobramentos para a política externa, a partir de um
estudo de caso da citricultura norte-americana.

Segundo a autora, apesar de a citricultura não ter participação expressiva na economia dos
Estados Unidos, a sua importância no estado da Flórida teve papel em implantar um
sistema de influência de organizações do setor sobre o Congresso Nacional. Foi assim que,
entre 2009 e 2011, os EUA foram levados a contrariar acordos da OMC (Organização
Mundial do Comércio) em favor de um protecionismo da produção local, impondo medidas
antidumping e fitossanitárias contra o suco de laranja brasileiro.
A qual pergunta a pesquisa responde?

Apesar de os Estados Unidos promoverem cooperação e liberalização econômica,


constantemente utilizam-se do protecionismo direto e indireto no segmento agrícola,
contrariando os acordos da OMC (Organização Mundial do Comércio). Este trabalho aborda
um exemplo desse comportamento: as medidas antidumping e fitossanitárias impostas ao
suco de laranja brasileiro. Medidas antidumping são aquelas destinadas ao combate da
prática comercial de dumping, que ocorre quando um país vende produtos ou serviços para
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outro país a preços extraordinariamente baixos, com o objetivo de dominar esse mercado
estrangeiro. Mas por que a citricultura dos EUA, predominante na Flórida, foi protegida com
uma metodologia de cálculo de dumping condenada pela OMC? Como um setor com
pequena participação na economia nacional dos EUA conseguiu superar as preferências de
livre comércio das indústrias de exportação de alto valor agregado, se, para a economia
estadunidense e seus consumidores, seria mais interessante que o produto brasileiro
entrasse sem taxas extras? Com o uso de medidas fitossanitárias, os EUA estariam
buscando transformar as regras do comércio internacional, realizando protecionismo e ao
mesmo tempo tentando obedecer à legislação internacional pró-liberalização? Ou são
medidas tomadas devido à importância política doméstica do estado da Fl��rida?
Por que isso é relevante?

O problema levantado é relevante, pois muitas vezes o comércio internacional não depende
apenas das grandes negociações entre os burocratas estatais nas conferências
intergovernamentais, sendo importante considerar as dinâmicas domésticas dos países
envolvidos. No caso dos Estados Unidos, sua organização político-burocrática doméstica
(agências e suas estruturas e organização da sociedade civil) pode levá-lo a agir de modo
contrário ao expresso no regime internacional de comércio, visando atender demandas
internas, seja de seus cidadãos ou empresas nacionais, para protegê-los quando esses
grupos possuem grande influência ou poder político. Todavia, o grau de participação na
economia nacional dos setores demandantes internos afetará a maneira em que ocorrerá a
ação no âmbito internacional: setores que articulam cadeias complexas nacionais, como a
cotonicultura e a milhocultura, terão uma defesa mais ferrenha; enquanto setores que não
articulam cadeias nacionais, como a citricultura, terão uma defesa mais "branda", de
menos confronto.
Resumo da pesquisa

O objetivo desta dissertação é analisar o funcionamento da dinâmica política dos Estados


Unidos no processo de tomada de decisões de política externa comercial, no contencioso
caso do suco de laranja na OMC, ocorrido entre 2009 e 2011, visando compreender como
tal dinâmica influenciou o embate internacional. A utilização pelos EUA de metodologia já
condenada pelo regime internacional de comércio para o cálculo de direitos antidumping
sobre o produto brasileiro denota que, embora o segmento citricultor não articule cadeias
produtivas na economia nacional, sua importância no estado da Flórida e a importância
estratégica desse estado na dinâmica política interna estadunidense são suficientes para
que o setor consiga superar as preferências de livre comércio das indústrias, garantindo
proteção. Desta forma, mostraremos como os interesses dos citricultores da Flórida se
organizaram e manipularam um conjunto de informações, buscando influenciar tanto as
instituições responsáveis pela formulação da política externa comercial, quanto a dinâmica
política estadunidense na defesa de suas demandas.
Quais foram as conclusões?

A pesquisa procurou demonstrar que as barreiras impostas pelos EUA à importação do suco
de laranja brasileiro são decorrentes da força de grupos de interesse domésticos na
dinâmica política dos EUA e de sua estrutura institucional, que permite que tais grupos
tenham suas demandas atendidas e defendidas em órgãos multilaterais. Assim, apesar dos
diversos reveses, a citricultura na Flórida consegue se manter graças ao forte apoio
governamental, representado pelo Departamento de Cítricos da Flórida, pelo investimento
contínuo em propagandas que privilegiam o produto nacional, e pela aprovação de leis no
Congresso que beneficiam o setor. Em contrapartida, a citricultura faz contribuições
financeiras ou propagandas para candidatos nas eleições, os quais contam com os votos
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dos eleitores ligados à citricultura. É um ciclo: os citricultores contribuem para as
campanhas e votam nos candidatos identificados com a citricultura, os quais, ao serem
eleitos, devem tomar ações que beneficiem o setor para assim receberem novamente os
votos e recursos na próxima eleição. E vencer na Flórida tem sido fundamental desde 1976
para todos os candidatos à presidência.

Quem deveria conhecer seus resultados?

O trabalho pode auxiliar aqueles que se interessam pela interação entre política doméstica
e política externa, destacando-se indivíduos da área de relações internacionais, ciência
política, direito e economia. Além disso, grupos de interesse que se relacionam com os
Estados Unidos também podem ter nesta pesquisa mais um ponto de apoio para analisar
suas estratégias, bem como técnicos de comércio exterior no Brasil.

Camilla Silva Geraldello é doutoranda em ciência política na USP (Universidade de São


Paulo). Professora de relações internacionais no Centro Universitário Moura Lacerda -
Ribeirão Preto/SP. Editora-assistente da BJIR (Brazilian Journal of International Relations).
Mestra pelo Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais "San Tiago Dantas",
Unesp-Unicamp-PUC/SP. Graduada em relações internacionais pela Unesp (Universidade
Estadual Paulista). Pesquisadora do Igepri (Instituto de Gestão Pública e Relações
Internacionais); do GEICD (Grupo de Estudos Interdisciplinares sobre Cultura e
Desenvolvimento); da Equipe de Relações Internacionais do Cedec (Centro de Estudos de
Cultura Contemporânea); e da Repri (Rede de Pesquisa em Política Externa e
Regionalismo).
Referências:

KEYSSAR, A. O direito de voto: a controversa história da democracia nos Estados


Unidos. São Paulo: Editora Unesp, 2014.
LANGEVIN, M. Será que as laranjas e a cana-de-açúcar da Flórida azedam o livre
comércio? Uma análise de ratificação de nível II da política comercial dos Estados Unidos
com o Brasil. Contexto Internacional, Rio de Janeiro, v. 28, n. 1, jun. 2006.
LIMA, T. Desafios internacionais à política agrícola norte-americana: O contencioso do
algodão entre Brasil e Estados Unidos e o CAFTA-DR. Dissertação (Mestrado em Relações
Internacionais). Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais ‘San Tiago
Dantas’ UNESP-UNICAMP-PUC/SP. São Paulo, 2008.
THOMAZ, L. F. A influência do lobby do etanol na definição da política agrícola e
energética dos EUA (2002-2011). São Paulo: Cultura Acadêmica, 2012.

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