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Escola Tomista – Apenas para uso dos alunos Página | 1

Escola Tomista
Professor Carlos Nougué
Aula 50
Bem-vindos à 50ª aula de nossa Escola Tomista. Estamos no Tratado do
Peri Hermeneias, ou Sobre a Interpretação ou Sobre a Enunciação II. Não será
um Tratado longo. Mais longos serão os outros Tratados. Este não é tão longo,
mas é de grande importância, fundamental que o entendamos minimamente
para que consigamos seguir com segurança no caminho de nossa Escola, rumo
à Sabedoria, ou ao menos, ao preparar-se para a Sabedoria. Pois bem!

No Tratado das Categorias ou Predicamentos, tratamos o relativo à


Primeira Operação do Intelecto, ou da Razão, como se queira, pode dizer-se por
dois ângulos. Pois bem, e quando se entra no Tratado da Interpretação, ou seja,
do Peri Hermenéias, já se estão no âmbito da Segunda Operação do Intelecto,
ou seja, o Juízo ou Composição e Divisão.

Peri Hermenéias, que como disse, conquanto eu escreva separadamente,


Peri Hermenéias, há os que escrevam, como o Padre Calderón, junto,
Periermenéias tudo junto, ou uma só palavra. Se se trata de uma só palavra
junta, então veremos que não se trata de preposição, mas de prefixo. Se é
separado, temos então uma preposição mais um substantivo. Pois bem!

Como dito, o nome do Tratado - recapitularei a aula passada - como dito, o


nome do Tratado traduz-se mais literalmente, ou seja, em latim, ad litteram, como
Sobre a Interpretação, Acerca da Interpretação, A Respeito da Interpretação.
Mas Boécio ajuda-nos, dizendo que se chama Interpretação a voz significativa,
que significa algo per se, por si, seja essa voz complexa, seja essa voz
incomplexa. Por conseguinte, as preposições, diz Aristóteles - e o segue Santo
Tomás - as preposições, conjunções e coisas semelhantes não são
interpretações, ou seja, não são dicções ou palavras, porque não significam por
si mesmas. Já lhes falei de que enquanto se tratava de línguas declináveis,
línguas casuais como o latim e o grego, de fato era mais difícil, digamos assim,
perceber que as preposições e conjunções - conquanto seja isso mesmo que diz
Santo Tomas, ou seja, sejam como pregos que unem as partes de um móvel, ou
as partes de um navio de maneira, conquanto as preposições e conjunções
sejam isso mesmo, não quer isso dizer, porém, que elas não tenham carga
semântica. Claro, elas não significam exatamente por si, porque sua carga
semântica é relacional. As preposições, por exemplo, relacionam dois termos,
não é? O livro está sobre a mesa. O livro está sob a mesa. Mas, se não fora a
carga semântica das preposições “sobre” e “sob”, não se teria a distinção nestas
duas orações. O livro está mesa. O livro está mesa. São absolutamente iguais.
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O que é que as faz distinguir? Justamente a preposição sobre (em cima de) e a
preposição sob (embaixo de).

Então, há de fazer, parece-me, esta precisão ao dito por Aristóteles e por


Santo Tomas, precisão que faço longamente, detidamente, na Suma Gramatical
da Língua Portuguesa. Pois bem, disso já se falou suficientemente na aula
passada. Mas agora, sim, tampouco são vozes, ou seja, as interpretações, as
dicções ou palavras, são vozes que signifiquem naturalmente, como as que
emitem os animais, os brutos. Nem muito menos um gemido de dor que
podemos nós, os humanos, emitir – é uma voz “ahhh”, “uhhh”- isso é uma voz,
e, no entanto, não é uma interpretação. E, no entanto, não é uma dicção, e, no
entanto, não é uma palavra. Quanto às interjeições como ai, ah, oh participam
um pouco desta voz natural animal mas, estas sim, estas exclamações ah, oh,
ai, elas são palavras, elas são vozes. Atenuadas, é verdade. Diminuídas, é
verdade. Mas são vozes significativas, sim! Tanto o são que entram como
verbetes dos dicionários. Nenhum animal diz ahh, ohh, com as diferenças que
podem ter entre si essas exclamações. Ai, ohh, ahh…nenhum deles. Eles fazem
outras coisas, emitem sons naturais sempre iguais. Se se isola um ratinho de
sua mãe, assim que ele nasce, e se lhe dá comida, alimentação, de modo que
ele não morra separado da mãe - eu sei porque há um caso aqui em casa, de
um gatinho cuja mãe morreu, e, no entanto, lhe deram alimentação e ele
sobreviveu meio milagrosamente. Pois bem, esse gatinho mia exatamente igual
à mãe, faz os mesmos sons - dependendo da situação - faz os mesmos sons
que fazia sua mãe morta, sem nunca ter convivido com ela, ou melhor, conviveu
três ou quatro dias, e depois a mãe morreu envenenada, aliás. Então, os animais
já nascem assim, com sua fala, digamos assim. Nós, não. Nós somos, como
dizia Aristóteles, uma tabula rasa, assim, tudo sem acento. Rasa em que é um
quadro, é uma lousa em branco, em que é preciso escrever tudo. Nós
precisamos aprender tudo. Naturalmente, há coisas mínimas, que os humanos
já nascem sabendo, por exemplo, o bebê busca o seio materno para a sucção
do leite instintivamente, isso sim, mas são coisas mínimas, de modo que sem a
presença dos pais, da família e da sociedade, nenhum humano pode crescer e
desenvolver-se. É diferente dos demais animais. Pois bem, se assim é, então,
são vozes significativas, são interpretações, são dicções, apenas os nomes e os
verbos. Nomes, quando digo nomes, digo substantivos, adjetivos e, às vezes,
advérbios. E quando digo verbos, a coisa é notória. Mas, se se pensar bem, os
nomes e os verbos, eles são partes, princípios da oração. E mais, têm
importância aqui enquanto são princípios de certa oração: a oração perfeita. Mas
não basta que a oração seja perfeita para que nos interesse aqui, senão que é
preciso que seja, como dito na aula passada, uma oração enunciativa. Ou seja,
aquela oração em que, por conter, por encerrar um verbo, expressa algo
verdadeiro ou falso. As demais orações - optativa, imprecativa, imperativa –
ordenam-se antes a expressar o afeto, o sentimento que o intelecto. Por isso é
que, como diz o Padre Calderón, o Tratado da Interpretação deve entender-se -
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ou Peri Hermenéias, Sobre a Interpretação, Acerca da Interpretação, deve


entender-se, antes, como o Tratado da Enunciação. E, neste mesmo Tratado,
hão de tratar-se suas partes ou princípios, ou seja, o Nome e o Verbo também,
porque onde se trata o todo, trata-se as partes.

Pois bem, vamos a estas partes ou princípios da Enunciação. Insista-se em


que as vozes são algo natural, mas não nos interessam senão enquanto são
usadas como signos. Mas a significação das vozes, ou pode ser natural, ou
artificial. Naturalmente, interessa-nos aqui a artificial, aquela que é produto da
arte humana, ou seja, da Linguagem e da Gramática.

Pois bem, a Lógica trata o nome, verbo, as orações e etc., e a razão destas
coisas pertence às vozes não enquanto tenham uma significação natural, mas
enquanto significam por instituição humana. Já vimos que, aqui neste ponto,
digamos que Aristóteles tem certa má vontade com seu mestre, Platão.
Voltaremos a tratar disto. E que é plenamente possível como já no-lo assinala,
nos indica o mesmo Santo Tomás, é possível a conciliação, conciliação que o
Pe. Calderón faz do seu lado, que eu faço na Suma Gramatical e que faço longa,
muito longamente no livro Da Arte do Belo. Mas o que é importante, agora e aqui,
é entender que os Nomes e os Verbos significam os conceitos, imediatamente
os conceitos intelectuais e mediatamente as coisas. Por que é assim? Porque
sendo signos elas são – os Nomes e os Verbos – são signos de nossas
concepções, que são, por sua vez como semelhanças das coisas. Com efeito,
como dizia Aristóteles, nossa alma são todas as coisas. Nossa alma é ou são
todas as coisas. Por quê? Porque todas as coisas são concebidas em nossa
mente por uma efetiva semelhança. Este é o erro dos modernos: eles não estão
enganados ao dizer, contra certo realismo exagerado, eles não estão enganados
ao dizer que as palavras significam nossas concepções. Eles estão enganados
ao dizer que, portanto, nossas palavras são falhas, são falaciosas, porque elas
não significam as coisas mesmas, senão que significam as nossas concepções,
mas o que eles esquecem de dizer é que nossas concepções – isso vem de
Kant, mas já tinha o pé no Nominalismo – o que eles esquecem de dizer é que,
se significam, sim, imediatamente, nossas concepções, acabam por significar
mediatamente as coisas porque, justamente porque nossas concepções não são
falazes. Elas são efetivamente, semelhança das coisas extra mentais. Enquanto
são convencionais, os signos atendem, antes, a razão de instituição, elas são
instituídas humanamente. Mas os conceitos, as nossas concepções intelectuais,
têm sim razão de semelhança. As coisas não nos podem ser conhecidas na
alma, em nossa alma, senão por alguma semelhança que nela exista, esteja esta
semelhança presente nos sentidos, pelas espécies sensíveis – voltaremos a ver
isto – seja no intelecto, pelas espécies inteligíveis.
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Pois bem, vejamos qual é a definição de Nome (Aristotélica): “o Nome é


uma voz significativa a beneplácito, sem tempo, nenhuma de cujas partes
significa separadamente”. Traduzo livremente, de uma maneira que me parece
de mais fácil assimilação. Repita-se, a definição de Nome: é a voz significativa a
beneplácito, sem tempo, nenhuma de cujas partes significa isoladamente ou
separadamente. Voz é o gênero remoto, assim como a substancia é o gênero
remoto de tudo. E significa, dentro do remotíssimo gênero dos sons, um som
emitido pela boca de algum animal, associado a certa imaginação, a certa
imagem. Mas, quanto ao que nos interessa, ou seja, o Nome, além de ser
significativa, esta voz é a beneplácito. E nisto se distingue das vozes com
significado natural, por exemplo, repita-se, um gênero. Já vimos que este –
conquanto os signos de nossa linguagem sejam sempre por instituição,
convencionais, a beneplácito, feitos a beneplácito, eles, no entanto, não são
feitos primeiro antinaturalmente. Nenhum artista faz algo antinaturalmente. O
artífice que faz uma bigorna, aquilo onde se malha ferro, faz a bigorna com certa
forma apropriada justamente para malhar metais. Ora, as palavras também
devem servir para algo, hão de servir para algo, e como tal, devem ser feitas não
antinaturalmente, ou seja, não contra o fim para o qual elas são feitas, elas têm
de ter algo associado a seu fim, elas devem fazer-se em ordem a seu fim. Mas
mais que isso, como mostra Platão no Crátilo, de modo – para mim – definitivo,
como mostra Platão, as palavras primitivas (ao menos elas), feitas pelo que ele
chamava O Legislador – Adão – mais que feitas não antinaturalmente, elas
tinham alguma semelhança com a concepção que, por sua vez, tinha alguma
semelhança com a coisa. A concepção mental é a semelhança da coisa extra
mental e as palavras primitivas – ao menos elas – tinham alguma semelhança
com esta concepção. O exemplo dado por Sócrates, um deles, é muito
convincente, é glycose (γλυκόζη), ou seja, o açúcar. Diz ele que este som “gly” é
apropriado para expressar o doce. Isso não significa exatamente onomatopéia.
Onomatopeia só se pode dar – a onomatopéia – com concepções, conceitos, de
coisas em movimento, em geral, com os verbos. Daí que, no inglês, tantos
verbos são onomatopéicos. Mas também pode dar-se de outra maneira. Por
exemplo, a nossa palavra, no Rio, se diz roleta, em outros lugares, borboleta, e
em São Paulo, creio que é catraca. A palavra catraca é obviamente
onomatopéica. “Catraca”- cada vez que se move ela faz um som assim, catraca.
Então, vejam, isto é uma onomatopéia. Mas não é disto que tratava a
personagem Sócrates no dialogo Crátilo, de Platão.

Pois bem, quanto a que nenhuma de cujas partes significa isolada ou


separadamente, distingue a dicção simples, ou seja, tanto o Nome como o
Verbo, da Oração. A Oração é composta: Este livro está fechado. Cada uma
destas palavras significa por si, ao passo que os Verbos e os Nomes, conquanto
tenham partes também, estas partes também não significam por si isoladamente,
separadamente, dentro dela. Fora, pode. Por exemplo, repita-se o exemplo que
dei na aula passada: Sanguessuga. Se se trata de palavras separadas, suga é
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o verbo sugar, e sangue é o sangue. Mas quando se juntam numa só palavra


para significar uma só coisa, algo simples, a concepção é composta,
sanguessuga, mas significa algo simples, então cada uma destas partes
constitutivas da palavra sanguessuga não significa por si, senão que só significa
em conjunto com a outra ou as outras partes. Convido-os, é um tema muito
fascinante, árduo, deu-me muito trabalho quando escrevi a Suma Gramatical,
realmente creio que há ali umas vinte páginas sobre isso. Realmente deu-me
muito trabalho, mas foi gratificante. Creio que o resolvo cabalmente na Suma
Gramatical. Mas, de fato, em sanguessuga, em puro-sangue, guarda-chuva, por
exemplo, há uma aparência de composição, há uma aparência de complexidade.
Parece que se trata de partes que significam separadamente, ao passo que em
elefante, em cisne, não há partes que pareçam, segundo a aparência, significar
separadamente. Esta é a única diferença entre elefante e sanguessuga, entre
guarda-chuva e automóvel. Automóvel, não, aí já é um pouco diferente. Entre
guarda-chuva e mesa, por exemplo.
Pois bem, da definição de Nome estão excluídos, primeiro, aquilo que
Aristóteles chamava o Nome Indefinido e em latim se diz Nome Infinito, ou seja,
é aquele que não significa uma natureza determinada, mas a negação desta
mesma natureza, por exemplo a palavra não homem, que se vê melhor se
estiverem estas duas palavrinhas, não e homem, ligadas por hífen. Se estão
ligadas por hífen nota-se claramente que é uma palavra com duas partes, uma
negativa, etc. e tal, mas quando não se tem hífen, como na ortografia moderna,
a coisa fica mais difícil. Mas o fato é que, seja como for, a palavra que nega uma
natureza, que significa uma concepção negativa de dada natureza, de
determinada natureza, não se inclui entre os homens: não elefante, não homem,
não agradável. Nada disto pode entrar na definição de Nome, por exemplo. Não
é propriamente significativo, não existe na realidade – é um ente de razão.

Tampouco entram na definição de Nome os Casos dos Nomes. É assunto


polêmico, já falei dele na aula passada. O Nominativo não é caso; o Nominativo
é que é o Nome. Aliás o próprio nome, Nominativo, já diz isso, né? Todos os
demais - Genitivo, Ablativo, e tal, em outras línguas, Locativo, etc. – todos eles
são Casos. Casos vem de caier, caem obliquamente. Assim como em Português
há os pronomes retos e os pronomes oblíquos. Os pronomes retos é que são
Nomes, ao passo que, certos Nomes - é complicado, também, a questão do
pronome, vejam a Suma Gramatical – ao passo que os pronomes oblíquos,
átonos e tônicos, são oblíquos, caem também, são casos dos pronomes retos.

Pois bem, comecemos então, agora, por definir o Verbo. Verbo é a voz
significativa a beneplácito - agora diferentemente do Nome – com tempo,
nenhuma de cujas partes significa separadamente e - atenção, eis algo que não
há na definição de Nome – e é sempre uma notificação do que se predica de
outro. Vamos de novo, com paciência. Verbo é uma voz significativa a
beneplácito (por instituição), com tempo (ao contrario do Nome que é sem
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tempo), nenhuma de cujas partes significa separada ou isoladamente, e que é


sempre uma notificação do que se predica de outro. Vamos uma a uma destas
partículas. Pois bem, assim como o Nome, o Verbo é dicção simples. Mas o fato
é que, diferentemente do Nome, o Verbo está para a enunciação, para a oração
enunciativa, assim como a Forma está para a Matéria, enquanto o Nome é,
antes, uma parte material. Por quê? Porque assim como é a Forma o que dá à
coisa que ela seja aquilo que ela é, assim como é a alma que dá ao homem que
ele seja homem, assim é o verbo o que dá à oração enunciativa que ela o seja,
que ela seja oração enunciativa. Enquanto o nome está para esta oração assim
como a matéria está para nós. Mas por isso mesmo, porque o verbo é como uma
parte formal da oração enunciativa, da enunciação, enquanto o nome é uma
como parte material, que se pode ter uma oração só com um verbo, com nada
mais.

Vejam um exemplo: Anda! Caminha! Dormiu. Vejam. Mas este não é o


exemplo radical. O exemplo radical no-lo dá Aristóteles e no-lo dá Santo Tomás
de Aquino. É o caso da mal-chamada “Oração sem Sujeito”. Por exemplo,
Chove! Veja que não há nome aí, e aliás, aparentemente, não há sujeito. E é
assim que nós aprendemos nos nossos péssimos manuais escolares
gramaticais, é assim que aprendemos com a nossa falha tradição gramatical.

Mas, antes de prosseguir, é preciso então entender - coisa que não o faz
perfeitamente, conquanto nos indique Santo Tomás - não o faz Aristóteles. Já
Santo Tomás indica a saída para este beco-sem-saída que é a oração sem
sujeito. Porque, vejam, se como acabo de dizer, o verbo está para a enunciação
ou oração enunciativa assim como a forma ou como a alma, e o nome está como
a matéria, uma oração sem sujeito implicaria que houvesse forma sem matéria.
E isto é possível? É complexo o assunto e eu o trato detidamente na Suma
Gramatical da Língua Portuguesa, uma vez mais, e lhes deixo aí o documento
desta aula, o documento único, que é exatamente sobre isto. Peço-lhes que
tenham-na em mãos ou diante dos olhos este documento que lhes deixo aí, está
certo? Peço-lhes que me acompanhem, vai ser um pouquinho longo, porque é
preciso entender claramente isto de oração sem sujeito. Porque, se há oração
sem sujeito, de fato, então isto quer dizer que a própria doutrina do Peri
Hermenéias é manca, é falha. Falta-lhe algo. Pensei manco em espanhol,
manco em espanhol é quem não tem uma mão, não é o que manca. Bom, é
falho, falta-lhe algo, algo essencial. Com efeito, nós aprendemos nos nossos
manuais escolares gramaticais - péssimos manuais - e nas mesmas melhores
gramáticas falhas em tantas coisas, no entanto que, oração, é assim que
aprendemos, que oração é aquilo constituído de sujeito e predicado. Todos
aprendemos isso. O sujeito é aquilo que se predica o predicado e o predicado é
aquilo que se predica do sujeito. Pois bem, e no entanto, pouco depois, vêm as
mesmas gramaticas e manuais dizer-nos que há oração sem sujeito, então, isto
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quer dizer que o predicado da oração se predica de nada, o que é uma


absurdidade.

Entendamo-lo. Acompanhem-me na leitura, eu vou lentamente para que se


faça mais seguro este passo de nosso Tratado. É o trecho da Suma Gramatical
da Língua Portuguesa, página 404/405, sobre a chamada Oração Sem Sujeito.
De tudo isto, obviamente, voltaremos a falar, já nem lembro do que seja. Mas o
que por ora importa afirmar é que, para que se constitua a oração no sentido que
tomamos aqui, hão de estar os dois termos: o sujeito e o predicado. Trata-se de,
como eu ponho entre aspas, “circuito fechado”. Pode, todavia, objetar-se: se
assim fosse, não se entenderia porque as gramaticas falam de oração sem
sujeito, e de fato há orações aparentemente sem sujeito, como Chove.
Amanhece. Há dois livros sobre a mesa. Há/Faz dois anos que se casaram. Tem
feito dias muito quentes. E tantas outras que tais. Estes são os exemplos
clássicos de orações “sem sujeito”. É preciso, pois, justificar nossa afirmação. E
também deveriam fazê-lo com respeito à sua, tais gramáticas, que primeiro
dizem que sujeito e predicado são os dois termos básicos ou essenciais da
oração, para depois dizer que há oração sem sujeito. Se a há, das duas uma: ou
o sujeito não é termo essencial da oração, ou a oração que não o tenha, não é
oração. Para nos livrarmos de tal aporia ou beco-sem-saída intelectual, é que
diremos o que se segue. Estamos outra vez diante de tensão entre figura e
significado. Que quero dizer com isso? Isso eu trato longamente antes. Figura é
a quarta espécie da qualidade, do acidente qualidade, do predicamento
qualidade, que também a quarta espécie do predicamento, qualidade, é a forma
ou figura e já tratamos esta particularmente complexa parte. As fronteiras, às
vezes, entre forma e figura - não forma substancial, mas forma como espécie de
qualidade - às vezes não são muito nítidas. Mas demos uma solução ao
estudarmos o predicamento. O problema é que, se se trata de palavras, como
voltaremos a ver, o significado já está para o corpo da palavra assim como a
forma está para a matéria ou como a alma para o corpo. Portanto, eu prefiro aqui
sempre chamar figura à quarta espécie da qualidade, para reservar o nome
forma ao significado das palavras. É uma opção em ordem à clareza da
exposição.

Pois bem. Figura aqui, então, é a forma ou figura da palavra, o corpo da


palavra, enquanto forma, quando eu disser forma, se tratará do significado ou
significação da palavra. Pois bem, estamos outra vez diante de tensão entre
figura e significado. Muitas vezes, na língua, há tensão entre figura e significado.
Nos exemplos aduzidos, aqueles que eu dei ali (Chove. Amanhece. Há dois
livros sobre a mesa. Há/Faz dois anos que se casaram. Tem feito dias muito
quentes), segundo a figura, de fato, não há sujeito. Se eu digo Chove, segundo
a figura, cadê o sujeito? Não há. De fato, não há. Mas, segundo a significação o
há, sim. Qual é o sujeito de Chove? Cai a chuva. Sujeito, chuva. Qual é o sujeito
de Amanhece? Amanhece o dia. O dia é o sujeito. Ou Raia a manhã. Amanhã é
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o sujeito de raia. Há dois livros sobre a mesa. Vejam, na Análise Sintática,


quando analisamos esta oração Há dois livros sobre a mesa, dizem os manuais:
não há sujeito, oração sem sujeito. Há é verbo, dois livros sobre a mesa, objeto
direto do verbo haver. Mas isto segundo a figura. Segundo o significado ou
significação, os dois livros que estão sobre a mesa é que são o sujeito. De que
verbo? Estar. É por uma convenção, por uma tradição multissecular, que se usa
o verbo haver em lugar de estar e no singular. Isto resulta de uma antiga
confusão em nossas línguas, com o verbo haver em latim, que queria primeiro
dizer ter para depois querer dizer existir, e então estar. Mas, não sei se o explico
aqui, mas na Suma Gramatical, em alguma altura, há uma explicação detalhada
da origem de construções como essa, Há dois livros sobre a mesa, em vez de
hão dois livros sobre a mesa, que é errado. Mas Há dois livros sobre a mesa,
que segundo a figura é sem sujeito e tem dois livros sobre a mesa como objeto
direto, na verdade, segundo o significado, dois livros sobre a mesa é o sujeito do
verbo estar: Dois livros estão sobre a mesa. Pois bem, em vez de faz ou há dois
anos desde que se casaram, decorreram dois anos desde que se casaram. Logo,
sujeito: dois anos desde que se casaram decorreram. Vejam, Tem feito dias
muito quentes. Vejam que tem feito, está sem o chapeuzinho, sem o circunflexo
lá em cima. Mas têm, com o chapeuzinho, ocorrido dias muito quentes. Dias
muito quentes têm ocorrido: este é o sujeito segundo o significado. Segundo a
forma, e não segundo a figura. Explique-se cada um desses exemplos, eu vou
explicá-los.
Em Chove, estamos no 2.3.1.a, trata-se de cristalização do sentido numa
figura anômala, ou seja, que se dá sem sujeito. E tanto é assim, quer dizer, tanto
se trata de anomalia, que as línguas indo-européias (línguas indo-européias são
aquelas que, supostamente, vieram de uma língua comum, e estão entre elas as
línguas indo-indianas, indo-iranianas, as eslavas – russo, búlgaro, tcheco – as
línguas germânicas – alemão, sueco, norueguês - o grego, as línguas latinas –
latim e neolatinas - o grego antigo e o grego novo, o português, o espanhol, o
italiano, romeno, etc). E tanto é assim, quer dizer, tanto se trata de anomalia,
que nas línguas indo-européias, as línguas sempre tenderam a suprir a figura
faltante do sujeito por um pronome “esvaziado de sentido”. Por que eu pus entre
aspas esvaziado de sentido? Porque isso se entenderá melhor mais adiante,
tampouco é completamente esvaziado de sentido. Mas que, sendo a figura, faz
as vezes de sujeito. Vejam, em francês il pleu, em espanhol (antigo) el jueve, em
português antigo se dizia ele chove, e não chove. Veja – esse ele, alguns querem
interpretar como Zeus que faz chover, são os deuses, não é nada disso. Em
grego poderia ter algum sentido isto. Mas na nossa língua não, já ninguém
acredita em Zeus. Em nossa língua punham-se, como até hoje em inglês e em
francês, como se vê ali, mas em espanhol e português, se punha ele, ele chove,
para como que preencher essa lacuna anômala da falta de sujeito. Em francês
e em inglês é impossível uma oração sem sujeito, ainda que o sujeito seja um
pronome “esvaziado de sentido”. É uma maneira de preencher essa anomalia
lacunar que se dá em verbos que, em orações que, segundo a figura, parecem
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não ter sujeito, conquanto, segundo a forma ou significação sempre o tenham.


Pois bem, 2.3.1.b) Na oração Amanhece, trata-se ou de elipse do sujeito,
supressão do sujeito, elisão do sujeito, trata-se ou de elipse do sujeito, o dia, o
dia amanhece, ou ainda de figura anômala também, como no caso de Chove,
em lugar de Raia a manhã ou qualquer construção semelhante. Se se considera
elipse, sê-lo-á cristalizada, cristalizou-se essa elipse. Ela já se usa
cristalizadamente. Como quer que seja, como seja, as línguas indo-européias
também sempre tenderam a suprir-lhe a ausência, segundo a figura de sujeito,
por pronome esvaziado de sentido, é o que se dá em francês ou inglês até hoje.
Mais complexo - assim eu falo disso, mais complexo é o caso de Há dois livros
sobre a mesa. No Português atual, como alias no Espanhol atual, dois livros
sobre a mesa é, segundo a figura, e como voltaremos a ver adiante, objeto direto
do verbo Há, razão por que o verbo não concorde em número e em pessoa com
ele. Para entender, todavia, como se chegou a isso, deve saber-se que o étimo
de nosso Haver, ou seja, o verbo latino – não tem problema, essas duas linhas
eram para estar juntas – o verbo latino Habeo, aí está toda a maneira de expor
o verbo, habeo, significava ter, possuir (habere). Por isso, originalmente, Há dois
livros sobre a mesa significava – atenção – alguém tem dois livros sobre a mesa,
ou com o indefinido arcaico. Homem tem dois livros sobre a mesa. Antigamente
se dizia homem. Hoje, dizemos assim: Vende-se casa. Antigamente, se diria:
Homem vende casa. O homem era um indefinido. Isto se dava também em
espanhol. E em francês, o pronome indefinido ON também é a palavrinha
homem, reduzida. Aquele ON em francês que é um indefinido universal, tão útil,
que falta temos o espanhol e o português como um pronome tão útil como esse
ON zinho. Ele é, na verdade, uma redução da palavra HOMME, ou seja, homem,
em francês. Com o tempo, todavia, haver passou a significar também estar,
existir, ocorrer e correlatos. O moderno Há dois livros sobre a mesa tem por
significado Estão dois livros sobre a mesa, mas mantém por figura ou
configuração externa, há se usava com haver, quando tinha o sentido de ter,
possuir. Como seja, a figura unipessoal (de uma só pessoa) e uninumérica (de
um só número) sempre será Há dois livros sobre a mesa, Há um livro sobre a
mesa, Há trezentos livros sobre a mesa, Há três trilhões de livros sobre a mesa,
então a figura unipessoal e uninumérica de haver, no sentido de estar, de existir
ou de ocorrer é a única aceita atualmente pelos melhores escritores e pelas
gramaticas, eu não nego, e obviamente devemos seguí-los. Mas em registros
menos formais ou menos gramaticalizados, ou seja, errados, quer na oralidade,
quer na escrita, não raro se ouve ou se lê um Haviam dois livros sobre a mesa.
Em alguns lugares do espanhol isso é mais ainda encontrado, por exemplo, no
Chile. Se usa muito Habían dos libros. Pois é, mas isto é errado, tanto em
espanhol como em português. E dá-se o mesmo em certas regiões ou em certos
países de fala hispânica, como o Chile. Aqui está: Habían dos libros sobre la
mesa. E veja-se como se diz em francês: Há dois livros sobre a mesa – Il y a
deux livres sûr la table. Como já se disse em português: Ele há dois livros sobre
a mesa. Il y a, em francês, ele há. Vejam que é a mesma coisa. Il y a, ele há, até
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sonoramente se assemelham. Vamos lá. Desculpem-me a linha não corrida, mas


creio que não prejudicará tanto.
2.3.1.b) Também em Há/Faz quase dois anos que se casaram e Tem feito
dias muito quentes, temos pura figura anômala, que se resolve como mostrado
mais acima – decorreram dois anos desde que se casaram; têm ocorrido dias
muito quentes. Com respeito à chamada oração sem sujeito, baste, por ora, o
dito.
Então, parece-me que, com isso, se resolve essa questão da mal-chamada
oração sem sujeito, ou melhor, não é tão mal-chamada, ela é chamada
corretamente segundo a figura. Sem sujeito, segundo a figura. Ela é sem sujeito,
de fato. Mas, segundo a forma ou significado ela tem sim, sujeito.

Pois bem, diferentemente do nome, o verbo cossignifica tempo. Às vezes,


uma ação se significa ao modo de coisa. Por exemplo, caminhada, corrida, luta.
Quando falamos ou ouvimos luta, corrida, caminhada, conquanto entendamos
que se significa, por cada uma destas palavras, uma ação, não a entendemos
com tempo. Conquanto a ação se dê no tempo, nós abstraímos o tempo nos
nomes. Em nomes de ação, são justamente os nomes de ação, chamados como
caminhada, corrida, luta, etc. Mas estes nomes não cossignificam tempo. E não
são verbos, senão que são nomes. Mas o verbo corro, caminhas, lutam,
significam, sim, ação, por modo de ação e cossignificando tempo. Significam,
assim como caminhada, luta, corrida, significam ação, assim também corro,
lutas, caminham, significam ações, mas diferentemente de corrida, caminhada e
luta, significam com tempo, enquanto aqueles, significam sem tempo.

Pois bem, a ultima partícula, que é um pouquinho mais difícil, diz que o
verbo é sempre uma notificação do que se predica de outro. O que se predica
de outro é o predicado e o outro é o sujeito. O sujeito é o que se predica do
predicado enquanto o predicado é aquilo que se predica do sujeito. Pois bem,
esta última partícula é sempre uma notificação do que se predica de outro,
distingue o verbo não apenas do nome, dos substantivos, adjetivos e tal, mas
também dos particípios. Feito, que de certo modo cossignifica tempo, mas pode
usar-se como sujeito. Então vejam, O dito estava correto. O dito por alguém
estava correto. Veja, dito é um particípio que está ali como sujeito. Mas já vimos
que, para que, de fato, entendamos que tempo o particípio quer expressar, quer
o chamado particípio presente, quer o chamado particípio passado, é preciso
que isso seja indicado por outro verbo. Mas o verbo só pode estar como sujeito
se for tomado como nome. Por exemplo, correm é verbo. Cossignifica tempo.
Mas eu posso usá-lo como sujeito se eu for substantivar, ou seja, se eu tratar
assim: O “correm” foi usado muitas vezes por fulano em seu texto. Ou seja, o
termo correm foi usado muitas vezes (só assim), e aí perdeu a capacidade de
cossignificar tempo, está certo? Pois bem, esta partícula de definição quer dizer
que o verbo sempre conota predicação de outro. Que outro? O sujeito. Indica a
ação procedente de um sujeito ou a paixão inerente ou padecida por um sujeito.
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Então, indica ou a ação procedente de um sujeito, ou a paixão inerente a um


sujeito, ou a paixão que um sujeito padece. Devemos então excluir da definição
de verbo os verbos indefinidos ou infinitos, tais como os nomes indefinidos ou
infinitos. Não homem, temos aqui um não correm. Mas também, eis o mais
importante: os verbos no futuro, ou no pretérito, ou no passado. Disse eu que os
casos do nominativo, do nome, são quedas suas, e que não são eles mesmos
nomes, são casos do nome. Verbo, propriamente dito, só o presente do
indicativo. Não é nem o pretérito, nem o futuro, nem o subjuntivo, incluído o
presente do subjuntivo. Verbo, propriamente dito, em ordem ao que nos
interessa aqui, ou seja, quanto à enunciação, verbo propriamente dito, só o
presente do indicativo – corro, corres, corre, corremos, correis, correm. Vejo, vês,
vê, vemos, etc. Isto, sim, é o que se inclui no verbo. E por que é assim? Porque
assim como os casos do nome - genitivo, ablativo, etc. - são quedas oblíquas do
nominativo, assim também os tempos passado ou pretérito e futuro, e os demais
modos verbais, subjuntivo e etc., são certas quedas, são certas obliquidades do
verbo. Verbo, portanto, propriamente dito, é aquele que cossignifica tempo
presente. Ao passo que a variação de número e pessoa - eu saio, tu sais, eles
saem - estas variações não constituem caso, porque não são variações da parte
da ação, mas são variações apenas da parte do sujeito que pratica a ação. Essas
distinções são importantíssimas e, no entanto, parece que, ao enunciá-las,
quando as enunciamos, falamos hoje como um grego porque, creio, são dois mil
e quinhentos anos de negação dessa verdade. Apenas Santo Tomás e os
principais tomistas repetiram Aristóteles. Assim que morre Aristóteles, como que
estas distinções caem no esquecimento. Já os estóicos a negam, os platônicos
a negam, os neoplatônicos a negam, os próprios aristotélicos as vão negar, em
grande parte, e ao longo de toda a história do pensamento cristão até Santo
Tomás também se negou tudo isso. Por quê? Por exemplo, o famoso João, o
Gramático, era um neoplatônico estoicizante, que negava exatamente essas
coisas. Eu falo dele na Suma Gramatical da Língua Portuguesa. E estas
concepções equivocadas se deram ao longo de todo o Trivium, desde a
Didaskalion de Clemente de Alexandria, em Alexandria, a primeira escola para
pagãos. Desde então esse erro foi se reproduzindo. E depois da morte de Santo
Tomás, isso não voltou, ou seja, continua o mesmo erro.

Até hoje, no ensino do latim e no ensino do português e nas demais línguas,


vamos considerar igualmente verbos não só o presente do indicativo, mas todos
os seus casos – o pretérito do indicativo, passado do indicativo ou futuro do
indicativo, ou os demais modos, como o subjuntivo. E vamos, no ensino do latim
ou do grego, continuar a aprender que o genitivo, o ablativo, o dativo, o
acusativo, o locativo, etc., são casos tanto como o é, ou como seria o nominativo,
ao passo que, de fato, como visto, o nominativo não é caso, é um nome. Todos
os demais é que são casos, assim como o presente do indicativo é um verbo,
sendo tudo mais, todos os demais tempos e os demais modos, casos seus,
obliquidades suas. Pois bem, paremos a aula por aqui, muito obrigado pela
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atenção. Eu acho que esta aula ficou ainda mais clara - permitam-me a crença
ou suposição, que na aula passada - e na aula que vem, estudaremos a oração,
ou seja, o princípio formal da Enunciação. Já vimos algo da oração na aula
passada com aquele longo documento que extraí da Suma Gramatical.
Voltaremos a vê-lo detidamente, para depois estudar a Enunciação em si
mesma, a oposição das Enunciações, tudo muito importante em nosso caminho
que conduz à Sabedoria. Muito obrigado a todos pela atenção e até a nossa
próxima aula.

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