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R$ 10,00

Ano I
Número 2
Dez 07/
Jan 08

totum

TAVEX
Empresa do
Grupo Santista
quer vestir a
MARKETING Europa com
O café do seu denim
Cerrado
ganha espaço HISTÓRIA
no Japão Há 200 anos,
o Brasil passou
a existir para
o mundo
CARREIRAS
Brasileiros
aprendem
na escola a
fazer negócios
globais

O efeito
O álcool abriu caminho
e o Brasil emerge

etanol
como potência na
corrida pela energia
limpa no mundo.
A oportunidade é real –
é só fazer a coisa certa
U M A N OVA
MARCA, OS MESMOS
VA L O R E S . A nova marca da Vale vai levar
para o mundo sua ousadia, ética,
disciplina nos investimentos
e compromisso socioambiental.
A Vale é apaixonada pelo
que faz e busca a permanente
superação para transformar
recursos minerais em elementos
essenciais para o nosso dia-a-dia.

www.vale.com
Sumário
Antena
Ilustração: marcelo calenda

12 Oskar Metsavaht, Amazônia


e Fundação Dom Cabral
TENDÊNCIAS
20 Estudo dos economistas Jeffrey Sachs
e Karl Sauvant prevê aumento do fluxo
mundial de dinheiro
ESPECIAL
reportagem de Capa 26 A Tavex, controlada pela

32
brasileira Santista, quer cobrir
O etanol limpa a Europa com seu denim
a estrada Por Adriana Setti, de Casablanca
O Brasil tem a chance de liderar a
MARKETING
revolução mundial da energia limpa.
O domínio do ciclo tecnológico do mais 48 O café do Cerrado brasileiro
eficiente substituto da gasolina (que enche as xícaras no Japão
Por Nely Caixeta
começa com a produtividade da lavoura
da cana-de-açúcar e se completa com HISTÓRIA
a capacidade de fabricar as destilarias 52 Há 200 anos, o Brasil passou
de álcool mais modernas do mundo) a fazer parte do mundo
é o grande trunfo nessa corrida. Novos Por Ricardo Galuppo

combustíveis são testados e práticas NOVOS MERCADOS


mais modernas chegam à lavoura. 56 Os passos para ingressar
Por João Paulo Nucci, Marcelo Cabral, no poderoso mercado chinês
Vicente Vilardaga e Armando Mendes Por Juliana Valle, de Beijing
CARREIRA
58 O treinamento dos expatriados
da Petrobras para viver no exterior
62 Internacionalização se aprende
na faculdade
IDÉIAS
66 As eleições nos EUA mexem cada
vez menos com a economia do Brasil
Por Paulo Moreira Leite
FINANÇAS
Marco Pomárico; Divulgação; ilustração de marcelo calenda e divulgação

Operário
da Tavex,
68 O Itaú se firma no mercado chileno
no Marrocos 26 48 71 Empresas com grau de investimento
ganham o mundo mais depressa
Marino, OPINIÃO
do Itaú:
no Chile 74 A inovação é a chave para
o sucesso no mercado global
Por Bruno Reis, de Nova York
77 A importância de conhecer
as leis do país de destino
Globe-Trotter
78 O Brasil pelo mundo
Em trânsito

52 68 82 Toque humano
Por Chieko Aoki

4 PIB
O caminho para o sucesso pode ser longo.
Ou pode estar s— a 12 horas de dist‰ncia*.

* Londres: o maior centro


financeiro da Europa.

65% das 500 maiores empresas


citadas pela revista Fortune
possuem escritório no
Reino Unido.

Mais de 300 idiomas falados por


uma sociedade multicultural.

Fuso horário que coloca sua


empresa em contato com o
mundo a qualquer hora.

Reino Unido, destino


das empresas que
buscam crescimento
global e presença
internacional.

O Governo Britânico orienta e apóia empresas brasileiras que queiram


estabelecer ou expandir negócios no Reino Unido (UK).
www.ukinvest.gov.uk
Editorial
Totum
Excelência Editorial
Clayton Netz
Nely Caixeta
Ricardo Galuppo

Na onda da PIB

energia limpa
Presença Internacional
do Brasil
Revista bimestral de economia
e negócios internacionais
da Totum Excelência Editorial
Editores
Clayton Netz • clayton@revistapib.com.br
A revista PIB nasceu com o objetivo de registrar o Nely Caixeta • nely@revistapib.com.br
Ricardo Galuppo • ricardo@revistapib.com.br
que se passa na ponta mais moderna da economia Colaboraram nesta edição
brasileira: a das empresas dispostas a disputar espaço Adriana Setti, de Barcelona e Casablanca, Andréa Flores,
de Paris, Armando Mendes, Bruno Reis, de Nova York,
no concorrido mercado internacional – no qual o rigor Chieko Aoki, Habih Nasser, João Paulo Nucci, Juliana
Garçon, Lia Vasconcelos, Lucianne Carneiro, de Londres,
da competição aumenta à medida que se multiplicam Juliana Vale, de Beijing, Marcelo Cabral, Marco Losso,
Maria Helena Tachinardi, Mário Grangeia, Paulo
as possibilidades de lucro. A repercussão do primeiro número – que pode Moreira Leite, Patu Antunes, de Barcelona, Rachel
Verano, de Valência, Rebeca de Moraes, Renata Penna
ser aferida pela quantidade de cartas encaminhadas à redação e pela quali- Franca.
Projeto Gráfico e Design
dade das pessoas que as assinam – comprovou a existência de espaço para Maurício Fogaça / Karina Gentile
Página Mestra
uma publicação como a nossa. Isso ficou claro para nós, editores da publi- Capa e Ilustrações
cação, desde o lançamento do nosso primeiro número, em um evento no Marcelo Calenda

Centro Brasileiro Britânico, em São Paulo, que contou com a presença do edição de fotografia
Mônica Maia - Revelar Brasil
ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jor- preparação de texto e Revisão
Márcia Melo
ge; do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab; do Lord Mayor de Londres, Tradução e edição em inglês
John Stuttard; do empresário Marcelo Odebrecht, presidente da Constru- Brian Nicholson

tora Norberto Odebrecht; e do então PUBLICIDADE


secretário de Comunicação de São Arines Garbin
Consultora
Paulo, Hubert Alqueres, representan-
São Paulo e outras localidades
te do governador José Serra. (55-11) 3097.0849
publicidade@revistapib.com.br
O processo da internacionaliza- Av. Brigadeiro Faria Lima, 1903 cj 33
Jardim América - 01452-911 - São Paulo - SP
ção que atrai nossa atenção vai mui- Rio de Janeiro
to além do movimento que as empre- Paulo Avril • pavril@terra.com.br
(55-21) 2557.8580
Evento de sas mais modernas e competitivas Rua Silveira Martins 156/704 - Flamengo -
Álvaro Motta

22221-000 - Rio de Janeiro - RJ


lançamento da PIB: do Brasil vêm realizando em direção Impressão:
representatividade a outros países do mundo. Ele se dá, PROL Editora Gráfica
Av. Papaiz, 581 - CEP 09931-610 - Diadema - SP
também, na modernização do merca- Operação em bancas no Brasil
Assessoria: Edicase - www.edicase.com.br
do interno a partir da convivência com parceiros internacionais relevantes. Distribuição exclusiva: Fernando Chinaglia
É o que vem acontecendo, por exemplo, no campo superestratégico da pro- Distribuição Dirigida: Postal House
Rua Benta Pereira, 431 – São Paulo – SP
dução da energia limpa. Pela primeira vez na História, o país está diante 02451-000 – www.postalhouse.com.br

da oportunidade de liderar uma onda econômica relevante para o mundo.


Apoio à Redação
Essa oportunidade vai muito além da produção de etanol. Ela passa pelo Eliane Montes e Etiene Colhado
domínio do ciclo completo desse combustível, mas também inclui, como Cartas para a redação
Av. Brigadeiro Faria Lima, 1903 cj. 33 -
mostra o conjunto de reportagens de capa desta edição, a liderança na pro- CEP 05426-100 São Paulo SP
redacao@revistapib.com.br
dução de máquinas e equipamentos destinados a produzir o álcool. Passa Artigos assinados não representam, necessariamente,
a opinião dos editores.
pela inteligência que viabilizou o motor flex. Se completa com a preocu- PIB reserva-se o direito de editar e resumir
pação em avançar na produção de outro combustível limpo – o biodiesel –, as cartas encaminhadas à redação.
Jornalista responsável:
com a comercialização dos créditos de carbono e com a intenção de levar Ricardo Galuppo (MTb 3528-MG)
para o setor agrícola relações de trabalho tão modernas quanto o combus- PIB - Presença Internacional do Brasil é uma
publicação da Totum Excelência Editorial -
tível feito a partir da cana-de-açúcar. Av. Brigadeiro Faria Lima, 1903, cj. 33 -
CEP 05426-100 - São Paulo, SP
Boa leitura. (55-11) 3097.0849. contato@totumex.com.br

Tiragem desta edição


Em Português - 18.000 exemplares
OS EDITORES Em Inglês - 7.000 exemplares
Tiragem auditada pela PricewaterhouseCoopers

8 PIB
Cartas

nacionais
do Insead, o criador do conceito de empresas meta
As idéias de José Santos,
A revista PIB explora
R$ 10,00

Ano I
Gostei muito da
Número 1
Set/Out
2007
um campo novo do Brasil apresentação gráfica
novo. Espero e torço para e das reportagens
totum
que dê certo. Vocês três, escolhidas. A revista vai
Ricardo, Nely e Clayton, ser um sucesso, tenho
têm história de vida de certeza. Desejo-lhes muitas
sucesso. A revista não realizações profissionais
pode ser diferente. nesse novo projeto.
Maílson da Nóbrega Ordélio Azevedo Sette
ex-ministro da Fazenda Azevedo Sette Advogados
e sócio da Tendências – Belo Horizonte – MG
Consultoria Integrada
São Paulo – SP É gratificante saber
que o Brasil ganhou
A revista PIB está ótima. uma publicação

_PbbR^TbbbÆaX^b
Tive o prazer e o orgulho como a PIB para
de lê-la na ante-sala mostrar interna

]T
_PaP`dT\`dTa
do presidente de uma
empresa no Panamá.
Parabéns a todos.
e externamente o
potencial do país na
conquista do mercado
VP]WPa^\d]S^ José Dirceu internacional.
Ex-ministro da Casa Civil Parabéns a vocês
er o
íve g :
l v ia d
de
st ner L
bu e O
m ce N

e consultor de empresas pela iniciativa e pela


co do ETA

Carreira: exemplos
Aprenda com a para se tornar um
Arezzo a pôr São Paulo – SP concretização desse
A

executivo global
os pés na China
projeto. Vocês contam
Tenho a honra de acusar o com a nossa torcida.
recebimento do primeiro Kiki Moretti e equipe
número da revista PIB – In Press Porter Novelli
Desejo todo o sucesso à PIB, Brazilian Companies São Paulo – SP
que é lançada no momento Go International.
É de fato uma grande Parabenizo e agradeço
certo da história do Brasil,
ononon idéia publicar a revista o envio da revista PIB
em que a internacionalização
nonononono em inglês e fornecer um Brazilian Companies Go
de seus negócios caminha material de pesquisa International. É, além
sobre negócios de informativa, bonita
a passos rápidos. de grande valor. de ver. As empresas
John Stuttard Bali Moniaga brasileiras e o Brasil
Lord Mayor da City de Londres Embaixador da República merecem.
The Mansion House da Indonésia Liu Wei Ling Kao
Londres. Reino Unido Brasília – DF Beijing – China

Presente a um evento Queria registrar os


em Washington, recebi meus votos de sorte na
Foi um prazer participar do uma revista muito empreitada da PIB, que já
lançamento da revista PIB. Desejo interessante: PIB. nasce com nome de quem
Parabéns pela revista tem planos ambiciosos
sucesso na nova empreitada. e um grande abraço. para o futuro.
Marcelo Odebrecht Armando Guerra Jr. Fred Melo Paiva
Construtora Norberto Odebrecht Consultor de empresas O Estado de S. Paulo
São Paulo – SP São Paulo – SP São Paulo – SP

10 PIB
Vocês são craques, Estava folheando Parabéns!!! O visual Acabo de receber a PIB,
camisas 10. Tudo bom: revistas na banca, aqui está dez e as matérias que está ótima. Parabéns
texto, arte, escolha dos em S. Carlos, também estão ótimas. ao time todo.
assuntos. Sorte no novo quando a PIB chamou Fico feliz de ver uma Ricardo A. Setti
empreendimento. minha atenção e fui publicação com uma Jornalista
Luiz González ver o expediente. Ao mentalidade tão
Lua Branca ler o nome da equipe, moderna. Fiquei muito feliz em
São Paulo – SP nem precisei olhar mais. Patricia Y. Malentaqui vê-los realizando um
Comprei e levei pra casa. Acting Executive Director grande projeto. Parabéns.
Parabéns pela nova Parabéns pela brilhante Brazil Information Center Espero que tenham muito
revista! Adorei idéia e pelo conteúdo. Washington. EUA sucesso com a PIB.  
a idéia da PIB. Genial! Cláudia Vassallo
Laurel Wentz Jorge Reti Gostei muito da revista Diretora de Redação
Advertising Age Assessor de Imprensa PIB. A entrevista com o Revista EXAME
Nova York. NY Embrapa Pecuária Sudeste José Santos ficou ótima. São Paulo – SP
São Carlos – São Paulo Excelentes nomes:
A revista está leve, Paulo Sotero, Maria Li a revista, que ficou
bonita, bem diagramada Tive o prazer de receber Helena Tachinardi. legal. Parabéns e vida
e bem editada. Vocês um exemplar da primeira Plinio Mario Nastari longa!
formam um time edição da PIB. Gostei Datagro Ricardo Arnt
de primeira linha e muito da revista e São Paulo – Brasil Assessor de Comunicação
tenho certeza que acredito que o mercado da Presidência da Natura
triunfarão também como ganha uma publicação Parabéns pela revista São Paulo – SP
empreendedores. realmente nova, que – tema mais do que
Silvana Quaglio estava fazendo falta oportuno, excelentes Recebi um exemplar
Análise Editorial para quem procura boas colaboradores e da PIB durante uma
São Paulo – SP opções de informação e boa cara. Desejo à reunião na Câmara
leitura. Parabéns a todo publicação vida longa e de Comércio Árabe-
Bela revista, a PIB. E já o time da Totum. saudável. Brasileira em São Paulo.
com belos anunciantes. Valdeci Verdelho Adélia Borges Voltei para Brasília,
Parabéns! Vice-Presidente Jornalista, consultora de onde resido, e a li. Gostei
Hermes Zambini Andreoli Manning design e ex-presidente muito da publicação.  
Volume 4 Selvage & Lee Publicis Groupe do Museu da Casa Brasileira Liliane Oliveira
São Paulo – SP São Paulo – SP São Paulo – SP Brasília – DF

De leitor a colaborador
Entre as várias cartas encaminhadas à redação sobre o
primeiro número da PIB, uma chamou a atenção. O autor era
Bruno Koltai Reis, um paulista de 30 anos que escrevia de Nova
York. Doutorando pela FEA-USP, Reis participa de um programa
de visiting scholar na Columbia University. Ali, sob a supervisão
de Albert Fishlow e outros professores, ele se dedica ao tema
da internacionalização das empresas brasileiras. Mestre em
Relações Internacionais pela Université de Paris I Sorbonne,
ele sugeriu a possibilidade de colaborar com a PIB, por meio de
artigos, pesquisas e entrevistas com personalidades ligadas ao
mundo acadêmico e empresarial. A sugestão foi aceita, como
mostra o artigo publicado na página 74 desta edição.

PIB 11
Antena

Fashion-made man
Quando se fala no carioca Oskar Metsavaht, pode-se usar sem medo
o velho chavão e dizer que ele é o homem certo no lugar certo. Sem nunca
deixar de surfar ou de se aventurar pelas montanhas nevadas do planeta –
suas grandes paixões –, Metsavaht construiu uma das marcas brasileiras de
maior sucesso no exterior, a Osklen. A receita foi mesclar as tendências do
mundo da moda ao estilo brasileiro, usando slogans como “brazilian soul”
ou “cool and brazilian”.
O sucesso da marca de roupas esportivas e de seu dono no exterior é in-
discutível. Em 1997, Metsavaht foi convidado pela Chrysler para projetar
uma série limitada de veículos off-road. Nascia assim o Jeep Cherokee
Osklen Series. Quatro anos mais tarde, foi chamado pela Andy
Warhol Foundation para criar uma coleção de verão inspirada
no mestre da arte pop. Depois de ser homenageado pela grife
Cartier, Metsavaht foi procurado pela joalheria H.Stern para
criar o conceito e o estilo de uma linha de relógios esportivos.
Já encontrou o estilista Valentino nos bastidores de seus desfi-
les espalhando elogios sobre a marca aos quatro cantos. Calvin
Klein já se declarou seu fã e consumidor assumido. E no ano pas-
sado, quando Mick Jagger desapareceu no Rio de Janeiro depois
da apresentação dos Rolling Stones em Copacabana, com quem
ele estava? Com Metsavaht, claro. Um jantar de amigos.
O começo foi em 1986, quando, aos 25 anos de idade,
Metsavaht era apenas um médico especializado em medicina espor-
tiva e, por acaso, desenvolveu um casaco de neve para uma expedi-
ção ao Monte Aconcágua. Dois anos depois nascia a Osklen, com uma
loja em Búzios, no litoral do Rio de Janeiro. O primeiro projeto fora do Brasil
foi inaugurado em 2002 no Chiado, o bairro da moda de Lisboa. Hoje já são
sete lojas: três em Portugal, uma nos Estados Unidos, uma na Suíça e duas
na Itália, sua aposta mais recente.
No final de 2007 foram dados mais dois passos importantes: a abertura

Léo Pinheiro/Valor/Folha Imagem


de uma loja em Tóquio e mais um espaço em Milão – desta vez, para acomo-
dar a Royal Label, a grife de luxo da Osklen. Se depender da imprensa italia-
Metsavaht: na, será mais um tiro certeiro. Metsavaht foi chamado de “o Ralph Lauren do
império Brasil” pelo Il Giornale. Não há notícias de que o estilista americano escale
construído sem montanhas ou pratique surfe mundo afora, mas sem dúvida o tino para os ne-
deixar de surfar gócios é o mesmo. (Rachel Verano, de Valência)

Não acredito na possibilidade de resolvermos


problemas complexos de harmonização
de políticas sociais, ambientais e econômicas
pelo puro jogo das forças de mercado
I gnac y S achs , p r o f esso r emé r i t o da E scola de A l t os E s t u dos em C i ê ncias S ociais
de P a r is e c r iado r do C en t r o de P es q u isas sob r e o B r asil C on t empo r â neo

12 PIB
O tênis que pegou no pé dos franceses
Um brasileiro legítimo brilhou justeplanete.org) e logo correram
no Ethical Fashion Show, feira para pôr as idéias em prática.
que reuniu em outubro, em Paris, Nasceu então o Veja, um
marcas adeptas do chamado tênis produzido com algodão
comércio justo. A estrela foi o ecológico cultivado por pequenos
Veja, um tênis made in Brazil que produtores familiares no Ceará,
caiu nas graças dos fashionistas borracha selvagem da Amazônia e
franceses desde o seu lançamento, couro ovino do Rio Grande do Sul.
em fevereiro de 2005, e tem A marca adquire 4 toneladas por
provocado um corre-corre às lojas ano de matéria-prima cultivada Amazônia para
mais moderninhas do país.
O Veja, ou “Vejá”, como dizem
de acordo com técnicas que
preservam o meio ambiente. americano ver
os franceses, está fazendo sucesso São fabricados 50 mil pares por A principal metrópole
no exterior antes mesmo de ser ano, o que movimenta € 1 milhão. do mundo vai abrigar,
lançado em sua terra natal. “Por O tênis custa US$ 85, pois entre abril e julho do ano
causa da revista homônima, ainda o preço da matéria-prima é que vem, uma representativa
não podemos vendê-lo no Brasil”, propositalmente mais alto, mostra da principal floresta
tropical do mundo.
Tênis Veja: O evento Amazônia Brasil,
comércio justo patrocinado pela Alcoa, vai
e sucesso no ocupar alguns dos espaços
mundo fashion mais nobres de Nova York,
divulgação

como o prédio das Nações


Unidas, o Pier 17 e o museu
Smithsonian. Promovido
pelo Centro de Estudos
Avançados de Promoção
Social e Ambiental, entidade
baseada em Santarém, no
Pará, que reúne centenas
de organizações não-
governamentais do
diz Aurélie Dumont, responsável para dar boas condições norte do país, o evento
pela área de comunicação da Veja. de vida aos produtores. pretende, além de mostrar
“Temos de mudar a marca.” Com muito marketing, o a diversidade cultural dos
Inspirados nos tênis de Veja extrapolou os limites da povos da floresta amazônica,
vôlei fabricados no Brasil nos comunidade ecológica para invadir alertar para a ameaça
anos 1970 e com um toque dos o mundo fashion. Seu lançamento da mudança climática
modelos clássicos da Adidas e envolveu desde uma festa de sobre seu ecossistema.
da Puma, o Veja é uma criação da arromba no badaladíssimo O pavilhão principal, que será
dupla francesa François Ghislain Palais de Tokyo, em Paris, até a instalado no Pier 17, terá até
Morillion e Sébastien Kopp. Depois participação em feiras renomadas reproduções de uma típica
de terminarem a faculdade, os como a Bread & Butter, de vila ribeirinha e de uma toca
garotos de 28 anos deram a volta Barcelona, e o convite à estilista indígena. No ano passado,
ao mundo estudando iniciativas Christine Phung para assinar uma uma exposição semelhante
de comércio sustentável. Eles coleção. Afinal, a publicidade – ocorreu na Alemanha e atraiu
reuniram toda essa bagagem mesmo a “orgânica” – ainda é a 120 mil visitantes.
no projeto Juste Planéte (www. alma do negócio. (Adriana Setti)

PIB 13
Kátia Ferreira - Grife Apoena
Projeto Exportador Apex-Brasil/ABIT
A Apex-Brasil leva o meu
produto para o mundo.

Quando descobri a Apex-Brasil, também descobri um novo mundo.

Por meio de feiras, eventos e rodadas de negócios, divulgo o colorido e a

qualidade de minha grife no mundo inteiro. Hoje eu exporto com sucesso

para o Kuwait, Espanha e Emirados Árabes, graças ao trabalho de inteligência

comercial que identificou novos mercados e adequou minha coleção

às exigências internacionais. Apex-Brasil. Parceira do exportador.

Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior
www.apexbrasil.com.br
Antena

A vanguarda da internacionalização
O setor siderúrgico está na vanguarda do processo transnacionalidade o volume de vendas, o tamanho dos
de internacionalização das empresas brasileiras. Gerdau ativos e a quantidade de empregados que cada compa-
e Vale, com suas megaoperações na América do Norte, nhia mantém no estrangeiro. O índice, é claro, é pro-
lideram o ranking das transnacionais com sede no país, porcional ao tamanho de cada empresa. Por isso uma
preparado pela Fundação Dom Cabral (FDC), de Belo Ho- companhia média do setor químico como a Artecola,
rizonte, em parceria com a Columbia University, dos Esta- por exemplo, aparece entre duas gigantes (Andrade Gu-
dos Unidos. É a segunda vez que o ranking é elaborado. E é tierrez e CSN).
a segunda vez que a Gerdau aparece na ponta. A edição de O que chama atenção à primeira vista no ranking (que
2006, porém, possuía critérios diferentes, o que impede exclui empresas financeiras) é a diversidade de setores re-
o cotejo dos dados. “Adequamos presentados. Além da siderur-
nosso estudo para torná-lo pas- gia, estão lá empresas da cadeia
sível de comparação com outros Na arena global automobilística como a Sabó, a
12 países emergentes que estão Conheça as empresas brasileiras mais Marcolopo e a Randon, grandes
preparando rankings semelhan- internacionalizadas, segundo a Fundação Dom Cabral empreiteiras como Odebrecht,
tes”, diz o professor Luiz Carlos Empresa Índice de Camargo Corrêa e Andrade Gu-
Ferreira de Carvalho, coordena- Transnacionalidade* tierrez e companhias produtoras
dor do Núcleo de Negócios Inter- 1 Gerdau 0.464 de tecnologia sofisticada, como
nacionais da FDC. a Embraer, do setor aeronáutico,
2 Vale 0.292
O trabalho brasileiro, que e a Itautec e a Totvs, ambas liga-
leva em consideração dados de 3 Sabó Autopeças 0.285 das à tecnologia da informação,
2006, foi o primeiro a ficar pron- 4 Marcopolo 0.274 entre outros. “É uma diversida-
to no projeto coordenado pela 5 Odebrecht 0.273 de em setores de alto nível”, diz
Columbia que vai redundar num o professor Lical.
6 Embraer 0.233
ranking internacional de com- Apesar da presença da pe-
panhias transnacionais. O estu- 7 Weg 0.218
quena Bematech (de automa-
do deve ser concluído até 2010. 8 Tigre Tubos e Conexões 0.202 ção comercial) no ranking, o
“Cada país enfrenta dificulda- 9 Camargo Corrêa 0.190 professor observa que os ne-
des próprias para fazer o traba- 10 Duas Rodas 0.176 gócios de menor porte são os
lho. Obter informações na China, grandes ausentes do proces-
11 Andrade Gutierrez 0.172
por exemplo, é bastante compli- so de internacionalização bra-
cado”, diz Lical, como é mais co- 12 Artecola 0.169 sileiro. “As pequenas e médias
nhecido o professor Carvalho. 13 CSN 0.162 ainda precisam descobrir que
No Brasil, o método utiliza- 14 Metalfrio 0,158 globalização das atividades é
do foi colher informações direta- um caminho para o crescimen-
15 Itautec 0.149
mente com as empresas, já que to e as condições hoje são mui-
o universo de companhias que 16 Portobello 0.146 to favoráveis.” Segundo ele, o
são obrigadas a publicar ba- 17 Natura 0.135 câmbio no nível atual torna o
lanço ainda é pequeno no país. 18 Petrobras 0.119 investimento em outros países
Foram enviados questionários mais acessível. Além disso, tan-
19 ALL 0.117
para 90 das cerca de 800 em- to bancos oficiais quanto os pri-
presas brasileiras que possuem 20 Perdigão 0.110
vados possuem linhas de crédi-
alguma atividade além-mar. As 21 Método Engenharia 0.086 to específicas para investimen-
32 que responderam constam 22 Lupatech 0.069 tos no exterior. “É uma janela
do ranking (veja relação com as 23 Aracruz Celulose 0.067 que deve ser aproveitada”, diz
25 primeiras ao lado). Lical. “As condições não vão
24 Votorantim Participações 0.060
São levados em considera- ficar favoráveis para sempre.”
ção na formação do índice de 25 Totvs 0.042 (João Paulo Nucci)
* Média das razões entre ativos, empregados e vendas (excluídas exportações a partir do Brasil) no exterior sobre ativos, empregados e vendas totais do grupo empresarial.

16 PIB
Brasil abre canal no Panamá
A ampliação do Canal do Panamá, prevista para
começar em 2010, deverá contar com a participação de
empresas brasileiras. Grandes empreiteiras como Camargo
Corrêa, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão e Odebrecht
estão se preparando para fazer parte do consórcio que vai
realizar o mais ousado projeto de infra-estrutura da América
Latina das próximas duas décadas. A obra, que consiste na
construção de uma terceira eclusa e na instalação de uma
refinaria de petróleo, está avaliada em US$ 15 bilhões.
Além das construtoras gigantes, uma série de pequenas
e médias empresas nacionais deverá fazer parte do projeto.
O embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima e o presidente da
Latinlink Consultoria, Ruy Coutinho, estão prospectando
prestadoras de serviço que dêem suporte às empreiteiras
em diversas tarefas.
Harvey Lloyd/Getty Images

A obra ocorre num bom momento para o Panamá, que


Panamá: centro
tem crescido de maneira acelerada. Nos últimos anos,
financeiro puxa
crescimento
513763_202x133_316.pdf December 1, 2007 02:08:33 o país passou a abrigar diversas instituições financeiras
1 de 1
da capital globais. Seu centro financeiro cresce a uma taxa de 18%
ao ano. (Renata Penna Franca)

PIB 17
Antena

O mundo
menos seguro
O aquecimento global e suas
catástrofes de grandes propor-
ções – as mais recentes são as
enchentes no México e os incên-
dios na Califórnia – já provocam
impacto direto no setor global
de seguros, segundo lorde Peter
Levene, presidente da Lloyd’s of

Fotos: divulgação
London Eye: o London, o principal mercado de
Bradesco chega à seguros e resseguros do mundo.
capital britânica Enquanto crescem as vulnerabi-
lidades dos ativos, os preços de
Base em Londres, olhos no Oriente apólices continuam caindo. “A
década atual já se estabeleceu
O Bradesco aguarda apenas o aval do Banco Central para a como a década dos desastres”,
abertura de uma corretora em Londres, o que permitirá o início de suas afirmou em palestra feita em
atividades já no primeiro trimestre de 2008, após a aprovação nos São Paulo no final de outubro.
órgãos reguladores britânicos. O banco possui uma corretora em Nova “Há uma gama crescente de ce-
York, a Bradesco Securities, desde 2002. nários capazes de gerar perdas
O objetivo é ampliar a distribuição de títulos de empresas brasileiras e o da ordem de US$ 100 bilhões.”
acesso a investidores não apenas da Europa, mas também do Oriente Mé- Como o Brasil está fora
dio. “Londres é hoje um dos principais centros financeiros do mundo”, diz da rota dos furacões e longe
Luiz Galvão, diretor do Banco Bradesco de Investimento (BBI). “Um núme- da ameaça dos terremotos,
ro importante de grandes fundos está estabelecido na cidade.” A operação lorde Levene veio tratar da
vai consumir, inicialmente, US$ 5 milhões em investimentos. tão almejada liberalização
Além da base européia, o banco está fortalecendo sua presença no Chi- do mercado de resseguros
le. Um acordo com o Banco do Chile vai permitir a administração de recursos no país. “Existe um forte
e desenvolvimento de produtos de investimento. O foco principal é atrair a interesse local em trabalhar
atenção dos polpudos fundos de pensão locais. (Lucianne Carneiro, de Londres) com Londres desde já.” Por
enquanto, o Lloyd’s atua no país
garantindo seguros de setores
Contato virtual dessa sinuca de bico, a Dental Rio
Branco passou a expor seus pro-
como petrolífero, marítimo,
automobilístico e aeronáutico.
Estabelecida em Rio Branco, dutos no Balcão de Comércio Ex-
capital do Acre, a 250 quilôme- terior, serviço criado pelo Banco Lorde Levene: “Vivemos
tros da fronteira com a Bolívia, a do Brasil na internet com o obje- a década dos desastres”
Dental Rio Branco enfrentava di- tivo de aproximar empresas bra-
ficuldades para vender no exterior sileiras de possíveis parceiros em
os equipamentos médico-hospi- outros países. Seu primeiro gran-
talares e materiais cirúrgicos que de negócio no sistema foi a venda
comercializa no Brasil. A empre- para um hospital boliviano de uma
sa só atendia aos pedidos median- unidade de tratamento intensivo
te pagamento prévio dos estran- (UTI) no valor de US$ 3,6 milhões.
geiros. Estes, por sua vez, não se Além de servir de vitrine para os
sentiam seguros para enviar o di- produtos brasileiros, o Balcão
nheiro sem ter a certeza do recebi- oferece consultoria e serviços di-
mento das encomendas. Para sair versos. (Juliana Garçon)

18 PIB
Tendências

A marcha acelerada
dos investimentos
Estudo dos economistas Jeffrey Sachs e Karl Sauvant prevê aumento no fluxo
internacional de dinheiro, a despeito das turbulências financeiras  Ma r c e lo C ab r al

A
o longo de 2007, a consultoria recente turbulência nos mercados financei-
Economist Intelligence Unit ros internacionais, imediatamente seguida
produziu um estudo com o por um ciclo de expansão acelerada. A ten-
objetivo de antecipar as ten- dência, daqui por diante, é que as coisas fun-
dências do fluxo mundial de cionem num ritmo mais tranqüilo.
Investimento Estrangeiro Direto (FDI, na Entre as razões do crescimento estão os
sigla em inglês) – aquele dinheiro destina- investimentos de empresas em países em
do por empresas, bancos e fundos desenvolvimento, atrás de mão-de-obra
de investimento a projetos em mais barata, e o aumento da modalidade
diversos países − até o ano de offshore em operações de serviços. As
2011. Realizado em conjunto pressões competitivas e pelas melho-
com os professores Jeffrey Sa- rias nos ambientes de negócios na
chs e Karl Sauvant, da Univer- maior parte dos países também
sidade Columbia, o trabalho contam. No caso do Brasil, 14º
publicado em setembro de maior destino de investimen-
2007 prevê queda do nível tos, o trabalho reconhece
de investimentos em 2008. a existência de fatores
Isso se deve, sobretudo, à positivos – o cenário

20 PIB
1 - Fluxo de Investimento Direto global
Estimativa, em US$ bilhões

1.650
1.604

1.575 1.536

1.500 1.474 1.470

1.406
1.425

1.350
2007 2008 2009 2010 2011

macroeconômico e o crescimento
das multinacionais brasileiras – que
contribuem para ampliar os fluxos de 2 - Maiores destinos dos investimentos mundiais
FDI. Esse crescimento, no entanto, é
Valor Porcentagem do
limitado pela falta de reformas estru- Colocação País
(em US$ bilhões) total global
turais (veja gráficos 1 e 2).
1ª EUA 251 16,7%
No entanto, a médio prazo, o
estudo mostra que as medidas pro- 2ª Reino Unido 113 7,5%
tecionistas, os casos de violência 3ª China 87 5,8%
política, as tensões geopolíticas e as 4ª França 78 5,2%
instabilidades governamentais po- 5ª Bélgica 72 4,8%
dem comprometer o crescimento do
6ª Alemanha 66 4,4%
fluxo de FDI no mundo. O setor que
7ª Canadá 63 4,2%
apresenta mais riscos é o de energia.
Com o preço do barril do petróleo 8ª Hong Kong 48 3,2%
em um patamar muito elevado, al- 9ª Espanha 45 3,0%
guns países estão impondo renego- 10ª Itália 42 2,8%
ciações de contratos e promovendo 14ª Brasil 27 1,8%
a renacionalização de reservas na-
turais. Os fluxos de investimento
para alguns deles – Bolívia e Vene- 3 - Investimento em novos projetos em 2006
zuela, por exemplo – já registraram Em número de projetos
decréscimos importantes em 2006.
Esse quadro tende a se agravar ao 1.500
longo dos próximos anos. 1.378
1.200
Dragões do Oriente
Embora os países desenvolvidos 900 979
ainda sejam os maiores destinos do
FDI, são os asiáticos que aparecem 600
725
668
com o maior número de novos pro- 582
jetos de investimento. Sete entre
300
as dez cidades que mais recebem
dinheiro estrangeiro novo estão na 145
0
Ásia, conforme mostrou a edição china índia EUA Inglaterra França brasil
passada de PIB. A mesma regra vale

PIB 21
Tendências

para os países. China e Índia lideram


4 - Fluxo de investimentos para o ranking de novos projetos para in-
a América Latina em 2006 Em US$ bilhões vestimentos, enquanto o Brasil está
apenas na 21ª colocação, com 145
novos projetos (veja gráfico 3).
A China deve liderar esse quadro
méxico 18,8% ao longo dos próximos anos. O país é
argentina 4,8% o destino preferencial da maior parte
colômbia 6,3% das empresas e está comprometido
em alcançar os padrões comerciais
chile 8,1% estipulados pela OMC. Além disso,
os preços de seus produtos devem
brasil 19%

Busca de
mão-de-obra
mais barata em
países emergentes
5 - Investimentos estrangeiros no Brasil motiva expansão
Em US$ bilhões internacional
de empresas
40
34
continuar muito competitivos. A Ín-
dia, por outro lado, enfrenta dificul-
30 27
25 25 26 dades. Embora seu potencial para
atrair FDI seja vasto, há problemas
18 18 em seu ambiente de negócios, como
20 16 resistência política a programas de
15
privatização, leis trabalhistas infle-
10
xíveis e infra-estrutura obsoleta.
10 Assim, o objetivo governamental de
alcançar US$ 25 bilhões em FDI em
2008 dificilmente será atingido.
0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Motores latinos
A América Latina deve registrar um
aumento de 20% nos fluxos de FDI
6 - Países com melhor ambiente para negócios este ano, capitaneada, claro, pelo
Brasil e pelo México. Aliás, o estu-
Colocação País Nota
do registra uma forte aceleração nos
1ª Dinamarca 8,76
investimentos destinados ao Brasil,
2ª Finlândia 8,75 turbinados pela combinação de boas
3ª Cingapura 8,72 condições macroeconômicas, mer-
4ª Suíça 8,71 cado de capitais crescente e fortes
5ª Canadá 8,70 investimentos em alguns setores
como mineração. Também foram
46ª Brasil 6,69
concluídos vários negócios impor-

22 PIB
Melhor do que saber que estamos no topo
é termos a certeza de que não passamos
por cima de nenhum dos nossos valores
para chegar até aqui.

PricewaterhouseCoopers, eleita pela sexta vez consecutiva


a Empresa de Auditoria Mais Admirada do Brasil.

pwc.com/br
© 2007 PricewaterhouseCoopers. PricewaterhouseCoopers refere-se ao conjunto global de firmas PricewaterhouseCoopers, cada uma delas constituindo uma pessoa jurídica separada e independente.
Tendências

tantes, como a compra da Arcelor


Brasil pela Arcelor Mittal holande- 7 - Ambiente de negócios no Brasil
sa (US$ 4,5 bilhões) e a da Serasa
Setor Nota (0 a 10) Posição no ranking mundial
pela britânica Experian, por US$ 1,2
bilhão (veja gráfico 4). Ambiente político 6,2 40ª
Sobre o Brasil, o estudo mostra
Ambiente macroeconômico 8,0 25ª
como as reformas da última déca-
da colocaram o país no rumo de Oportunidades de mercado 7,1 18ª
um crescimento sustentado porém
Políticas sobre a livre-iniciativa 6,5 41ª
moderado. A previsão é de que o se-
gundo mandato de Luiz Inácio Lula Políticas sobre o FDI 7,3 39ª
da Silva não consiga melhorar suas
Comércio exterior 7,8 51ª
limitações de infra-estrutura nem
resolver o problema da sobrecarga Impostos 4,7 78ª
de impostos. Essas deficiências de-
Financiamentos 7,0 43ª
vem fazer com que o fluxo de FDI
pare de crescer, além de dificultar Mercado de trabalho 6,5 48ª
a meta do governo de fazer o PIB Infra-estrutura 5,8 52ª
crescer 5% ao ano (veja gráfico 5).
O estudo põe o dedo em uma Média Total 6,69 46ª
ferida conhecida, que certamente
reduz a atração de FDI pelo país. negócios de fusões e aquisições glo-
Trata-se de fatores como a legisla- bais, e o volume de suas operações
ção trabalhista anacrônica, o am- Estudo mostra que ainda é pequeno, comparado aos gi-
biente político volúvel e a falta de
clareza nas regras tributárias. Por
reformas da última gantes do Norte. Mas o número vem
aumentando de modo significativo
esse motivo, o Brasil aparece apenas década levaram nos últimos anos, especialmente o
na 46ª posição mundial em matéria ao crescimento das empresas brasileiras e mexica-
de ambiente para negócios, atrás de
países como Chipre, Estônia e Costa
moderado, porém nas. A compra da mineradora cana-
dense Inço pela Companhia Vale do
Rica (veja tabelas 6 e 7). sustentado, da Rio Doce (atual Vale), por exemplo,
Assim, o maior destaque do país economia brasileira foi a quarta maior operação do tipo
fica mesmo para as operações inter- registrada no ano de 2006. Mais do
nacionais de suas empresas. Aliás, como um fenômeno importante. que nunca, as empresas represen-
o trabalho classifica o surgimento Ainda há relativamente poucas des- tam a ponta-de-lança do Brasil no
de multinacionais de países do Sul sas companhias na lista dos maiores mundo (veja tabela 8). z

8 - Maiores operações de fusão e aquisição em 2007*


Empresa Valor da operação
Empresa compradora País País Setor
comprada (em US$ bilhões)

Iberdrola Espanha Scottish Power Reino Unido 28,9 Energia

KKR EUA Alliance Boots Reino Unido 24,2 Bens de consumo

Japan Tobacco Japão Gallaher Group Reino Unido 19,5 Bens de consumo

Vale Brasil Inço Canadá 16,7 Mineração


* Até junho

Astrazeneca Reino Unido Medimmune EUA 14,7 Farmacêutico

24 PIB
É assim que o Governo Federal leva Investir em quem mais
mais Brasil para mais brasileiros. Ele agora pode precisa é investir em
construir imóveis,
um País mais justo e
com financiamentos
mais baratos para desenvolvido para todos.
Com mais pessoas famílias como
comprando materiais a da catarinense
de construção,
1) Redução dos
4 Daiane.
comerciantes do setor, impostos em mais
como o Luiz Antônio, de 50 itens de materiais
de Brasília, aumentam para construção.
2 suas vendas.
2) De janeiro a julho,
as vendas do comércio
aumentaram 9,7%.

3) Crescimento de
9,6% nas vendas do
comércio de materiais de
construção, acumulado
até agosto de 2007.

PDE
4) R$ 853 bilhões ENE

disponíveis para
crédito no País.

1 A redução
A Denise e o de impostos
Gustavo, da Bahia,
3 também beneficia
vão gastar menos na construtores por
casa nova graças à todo o País, como o
queda de impostos paulista Pedro. More Brazil
dos materiais de for more
construção. brazilians

www.maisbrasil.gov.br

*Personagens e casos reais.


Especial

Os desafios do
do denim
A fusão da Santista Têxtil com a espanhola Tavex deu origem a uma das
maiores fabricantes mundiais do tecido usado na produção de jeans,
controlada pela empresa brasileira. Com a consolidação do modelo
de gestão e ajustes na estratégia, a meta agora é invadir os mercados
da Ásia e dos Estados Unidos  A d r iana S e t t i , d e C asablanca

urante o mês do Ramadã, o mun- frenético entrelaçar de fios dos teares e das gigan-
do muçulmano jejua durante o tescas máquinas responsáveis pelo acabamento
dia e se dedica à reflexão e ao do denim, o tecido que serve como matéria-prima
estreitamento dos laços fami- para a peça mais importante da indumentária
liares pela noite. Mas o período, contemporânea: a calça jeans. A pressa tinha um
celebrado este ano entre as segun- motivo. “Quinze de novembro era a data marcada
das quinzenas de outubro e novem- para o início das novas operações”, diz o marro-
bro, não impediu que os funcionários da fábrica quino Said Messal, diretor técnico da fábrica. “E
marroquina da Tavex, fincada na cidade de Settat, a partir de 1° de janeiro temos de funcionar com
trabalhassem a todo o vapor. Aparentemente imu- 100% de nossa capacidade”, completa.
nes à fome e à sede, os trabalhadores da fábrica, O desafio ao qual se refere Messal é significa-
que pertence à Santista Têxtil, do grupo Camargo tivo. Após uma ampliação, a unidade deve passar
Corrêa, de São Paulo, davam duro em meio ao a produzir 20 milhões de metros

26 PIB
Bênção: fábrica no
Marrocos operou à
carga plena mesmo
durante o Ramadã

anuais de denim. Trata-se de um aumento de nada me- 14 plataformas da maior produtora mundial de denim,
nos que 54% em relação à marca atual, de 13 milhões. com 3,5% do mercado em receitas e intenção de am-
Tanto tecido vai alimentar um mercado sedento, que pliar a cifra para 10% a 15% até 2011. Tais números são
consome 4,5 bilhões de metros anuais, com os quais se resultado da fusão entre a espanhola Tavex Algodonera
produz 1,7 bilhão de calças jeans em todo o mundo. Ao e a brasileira Santista Têxtil, controlada pela Camargo
final das obras, as proporções da moldura dourada em Corrêa. O casamento entre as duas gigantes foi uma das
estilo barroco que adorna a figura do rei Mohammed VI, operações mais ágeis e fulminantes de que já se teve
pendurada na recepção da fábrica (aproximadamente notícia. Os primeiros flertes partiram dos brasileiros,
2 metros por 1,5), serão, por fim, mais condizentes com motivados pela perspectiva de ampliar sua presença
as instalações que a cercam. nos mercados têxteis da Europa e dos Estados Unidos,
A ambiciosa empreitada é apenas um aperitivo para onde a espanhola concentrava sua atuação através de
o que está por vir, mas ilustra com precisão o momento fábricas na Espanha, no Marrocos e no México. Por
vivido pela empresa. A fábrica marroquina é uma das iniciativa da Camargo Corrêa, as conversas iniciais

Salto: produção de
denim da Tavex em
Settat vai crescer
54% em 2008
Fotos: Mario Pomárico

PIB 27
Especial

Dois mundos: fábrica


marroquina está
localizada a “um

160
pulinho” da Europa

ocorreram na capital espanhola em de 2008”, diz o suíço abrasileira-


novembro de 2005. Um mês depois, do Herbert Schmid, ex-presidente
uma equipe da Tavex já estava de da Santista e CEO da nova Tavex.
malas prontas para São Paulo, onde milhões de metros “Mas o processo de adaptação só
conheceria sua pretendente. de denim por ano deve estar concluído em três anos.”
é a capacidade No primeiro semestre deste ano, a
Casamento de peso de produção da Tavex empresa apresentou um lucro lí-
Em março de 2006, as duas compa- quido de R$ 600 mil, ante as perdas
nhias assinaram um protocolo de de R$ 1,7 milhão no mesmo período de
fusão, ratificada em seguida pela as- 2006. Na prática, a integração está sendo
sembléia de acionistas da Tavex em Madri, no dia 20 feita em várias frentes. A mais emblemática delas é a
de junho. Imediatamente após o processo, a Camargo criação de cinco comitês, cada um formado por cinco
Corrêa passou a deter 59% do capital da nova empresa, membros fixos, de ambas as procedências – além de al-
participação que atualmente está na marca dos 54,5% guns convidados especiais –, que representam os cinco
e, segundo os acordos iniciais, tem o compromisso de pilares da estrutura da empresa (Recursos Humanos
baixar de 50% nos próximos meses. Sob a bandeira da e Gestão, Marketing, Vendas e Desenvolvimento, Su-
Tavex, com sede em Madri e o espanhol (e o portu- primentos, Industrial e Finanças e Tecnologia da In-
nhol) como idioma oficial de comunicação interna, a formação). Cada comitê promove uma reunião mensal
nova potência têxtil tem capacidade para produzir 160 através de videoconferência e um encontro “físico” por
milhões de metros anuais de denim, além de outros semestre, desde agosto do ano passado. “Esses grupos
40 milhões de metros de tecidos para roupas esporti- buscam identificar e capturar sinergias, além da troca
vas e de trabalho. A companhia tem, ainda, quase 6 mil de experiências e conhecimentos”, diz o brasileiro Nel-
funcionários e uma carteira de clientes invejável, que son Tambelini Junior, diretor de Recursos Humanos da
inclui titãs da moda internacional como Levi’s, Diesel, Tavex. “Eles também discutem maneiras de unificar os
Miss Sixty, Blue Cult e Zara, sem falar de brasileiras de indicadores de resultados.”
renome como Forum e Zoomp. Com áreas de atuação complementares e culturas
“Os primeiros resultados estão começando a apa- empresariais aproximadas, Santista e Tavex estão em-
recer, mas o impacto maior deve ser sentido a partir penhadas em fundir os pontos fortes de seus respectivos

28 PIB
Fugindo do Velho Mundo
É possível percorrer em cerca de 40 minutos
os 57 quilômetros de asfalto que ligam Casablan-
ca, maior cidade do Marrocos, com 3,2 milhões de
habitantes, à fábrica da Tavex em Settat. Somando-
se às duas horas de vôo de Madri até Casablanca,
constata-se: a fábrica marroquina está a um pulinho
da Europa. Isso reflete, na prática, a estratégia da
empresa de transferir suas operações para regiões
de baixo custo de produção que estejam, ao mesmo
tempo, próximas a seus clientes. “Um dos impactos
iniciais será deslocar a produção da Espanha para
Fotos: Mario Pomárico
o Marrocos”, diz o CEO Herbert Schmid. “Estamos
investindo € 17 milhões nessa operação. Esperamos
Qualidade: Santista
reduzir os custos em 30%.”
vai implantar seus
processos na Tavex Com a valorização do real e o fim do Acordo de
Têxteis e Vestuário (ATV), que acabou com as cotas
de importação dos produtos procedentes das nações
ricas no final de 2004, a Santista Têxtil vinha assistin-
do à queda gradativa de sua lucratividade. A entrada
estilos de gestão em um mesmo caldeirão. “Sem dúvida, dos produtos estrangeiros havia derrubado o preço do
a Santista tem muito a ensinar sobre sua metodologia denim em 15%, baixando a margem bruta da Santista
de trabalho, processos e programas de controle de qua- de 28% em 2002 para 17% em 2005. Enquanto isso,
lidade”, diz Tambelini. “E isso se refere não apenas à a Tavex também se encontrava em maus lençóis por
busca de certificações, como o sistema ISO, mas tam- causa da concorrência asiática no Velho Continente.
bém à adoção das políticas de trabalho e métodos de A fusão foi uma questão de sobrevivência para as duas.
avaliação de desempenho, que sempre foram caracte- Segundo estatísticas da Associação Internacional dos
risticamente bem delineados dentro da empresa.” Por Produtores de Têxteis (ITMF), 89% de todos os equipa-
sua vez, a Tavex entra com um forte posicionamento no mentos de tecelagem vendidos no ano de 2006 foram
mercado – especialmente o know-how parar nas mãos de produtores asiáti-
de produção e o portfólio recheado de cos. A China sozinha produz 43% de
clientes no mundo da alta moda – do Nosso objetivo toda a fibra mundial. As cerca de 300
denim diferenciado, conhecido como
premium. Esse segmento de luxo é o
é estar próximo fábricas chinesa de denim são respon-
sáveis por um terço do que se produz
que possui o maior valor agregado e, também do no mundo. No entanto, 90% de sua
portanto, gera mais rentabilidade. É mercado asiático fabricação é concentrada nos produ-
também a vertente de produção que dá tos básicos, deixando espaço para os
asas à imaginação dos criadores e per- Herbert Schmid, fabricantes de tecidos premium.
mite que a indústria de jeans se renove CEO da Tavex “Já estamos perto de três grandes blo-
constantemente. Um modelo de calça cos comerciais e nosso objetivo é estar
jeans premium pode chegar a custar US$ 300. Enquan- presente também no mercado asiático”, diz Schmid.
to isso, um exemplar básico varia de US$ 10 a US$ 25. Além da proximidade com o Japão, onde o consumo de
Atualmente, a Tavex detém 15% do mercado premium modelos de luxo representa 25% das vendas de jeans
europeu e cerca de 3% do mercado norte-americano. no país (mesma porcentagem da Europa e dos Estados
Com a recente aquisição de duas fábricas no México – Unidos), a China é o mercado doméstico que mais cresce
embalada pela oportunidade do acordo conhecido como no mundo, tanto em relação a produtos básicos quanto
CAFTA (Central America Free Trade Agreement) –, a em artigos diferenciados. É motivo de sobra para tomar
meta é chegar aos 15% em dois anos. z coragem e encarar a fúria do dragão chinês.

PIB 29
Capa

O combustível que p
A cana-de-açúcar influencia a economia brasileira desde sempre.
Agora que o mundo inteiro procura fontes limpas de energia,
a matéria-prima do etanol é o pilar de uma cadeia produtiva
dominada de ponta a ponta pelo país e prestes
a se globalizar  J oão Pau lo N u cci

A
tenção: o que você leu no tí- pontas da indústria do combustível do futuro. Tem a
tulo desta reportagem e lerá lavoura mais avançada e dispõe de terras em abun-
neste texto agora não é um dância para abrigar novas plantações. Concentra
discurso ufanista! O Brasil as destilarias mais modernas e produtivas do
está diante, sim, de uma pos- mundo. A indústria brasileira fabrica equi-
sibilidade real de participar, pamentos para a montagem de usinas de
na condição de líder, de uma álcool em dezenas de países. E mais:
revolução relevante para a foram os departamentos de en-
economia mundial. A constatação de que o aque- genharia das montadoras de
cimento global não é conversa chata de ecologista, automóveis instaladas no
mas uma ameaça concreta à vida no planeta, encon- Brasil que desenvolve-
trou o país de posse das condições mais favoráveis
do mundo para a produção de energia limpa e reno-
vável. E, o que é melhor, de posse de uma tecnologia
que, se replicada em outros países, tem a capacida-
de de reduzir de forma significativa a emissão dos
gases responsáveis pelo problema.
Maior produtor de cana-de-açúcar do planeta
(de cada três plantas do gênero existentes no mun-
do, uma brotou em uma lavoura brasileira), o Brasil
tem nas ruas, há mais de 30 anos, carros movidos
a álcool. Além disso, por adicionar álcool à gaso-
lina (nos últimos anos, a proporção variou de 20%
a 25%, dependendo da oferta do produto), tem o
combustível menos poluente do mundo. A produção
brasileira de etanol é de 16 bilhões de litros – que
rendem mais de US$ 6 bilhões por ano para as usi-
nas do país. “A oportunidade para nosso setor não se
restringe ao etanol”, diz Marcos Sawaya Jank, pre-
Ilustração: Marcelo Calenda

sidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar


(Unica). “Nossas tecnologias também permitem,
por exemplo, transformar a biomassa da cana-
de-açúcar em energia elétrica.”
As possibilidades, como se vê, são
imensas e o país se destaca em todas as

32 PIB
ode mudar o mundo
as grandes transações com os novos combustíveis – a
exemplo do que acontece com o petróleo. E ainda ha-
verá muita conversa antes de o etanol ser transformado
em uma commodity com preços válidos para o mundo
inteiro. E, para que isso aconteça, os produtores bra-
sileiros terão de levar para a mesa de negociação uma
postura diferente daquela que se habituaram a adotar
no mercado interno. “Uma coisa é ser esperto em Pi-
racicaba”, diz o embaixador e ex-ministro da Fazenda
ram o motor flex – capaz de funcionar tanto a álcool Rubens Ricupero, referindo-se à cidade do interior pau-
quanto a gasolina – que equipa a quase totalidade dos lista que é um dos centros da indústria brasileira de
carros zero-quilômetro vendidos no Brasil (veja repor- álcool. “Outra, muito diferente, é ser respeitado como
tagem à pág. 40). E mais: começa a dar atenção a um parceiro nas mesas de negociação dos grandes organis-
outro combustível limpo, o biodiesel. Por uma decisão mos internacionais.”
do governo federal, a partir de 2008 todo o diesel ven-
dido internamente deverá receber 2% de mistura de Estrela mundial
biodiesel. À medida que essa proporção se expandir, Seja como for, o etanol virou uma estrela mundial entre
haverá um efeito visível, e positivo, na qualidade do ar os combustíveis de fonte renovável e todos os setores
das grandes cidades. que integram a cadeia do álcool vivem seu melhor mo-
A longo prazo, e com outros países adotando pro- mento histórico. “O Brasil hoje produz usinas que são,
gressivamente uma postura semelhante, isso poderá ter por larga margem, mais modernas e mais bem equipa-
uma contribuição efetiva para a redução do aquecimen- das que as de qualquer outro país”, diz Plínio Nastari,
to global – da mesma forma que outra criação brasileira, consultor em agronegócios da Datagro. “A indústria su-
o mercado de créditos de carbono (veja reportagem à croalcooleira global vem ao Brasil buscar tecnologia”,
pág. 42), também poderá ter uma participação efetiva afirma. É líder, mas não está sozinha. Segundo Nastari,
nessa questão. A verdade é que, nesse campo, o mundo a indústria local possui competidores de peso em de-
deseja aquilo que o Brasil é capaz de oferecer. O que terminados equipamentos, como os Estados Unidos na
isso significa? Aparentemente, existe um caminho de- produção de caldeiras e a Turquia em difusores. “Mas
simpedido pela frente e a consolidação do Brasil como ninguém domina a cadeia produtiva de ponta a ponta,
a grande potência energética do século 21 parece ser como o Brasil.”
apenas uma questão de tempo. Sobretudo depois da re- Estima-se que exista uma centena de projetos de
cente confirmação do potencial do campo petrolífero usinas já contratados, o que criou uma espécie de fila
de Tupi, em águas profundas da Bacia de Santos, que de espera no setor. Hoje, é impossível obter um equipa-
incluirá o país no clube dos exportado- mento completo antes de dois anos, en-
res de petróleo, as condições tornaram- quanto a média histórica para entrega
se mais favoráveis ainda: o Brasil pode, é de dez meses. As exportações repre-
ao mesmo tempo, liderar a produção
do combustível limpo e ser um grande
Brasil tem chance sentam cerca de 10% do setor, mas esse
número tende a aumentar muito nos
produtor da fonte mais tradicional de única de liderar próximos anos. “A grande virada será a
energia. Será que é isso mesmo? Será uma revolução partir de 2015, quando os Estados Uni-
que é tão simples assim? É preciso cau-
tela para avaliar esse cenário.
energética dos podem se tornar compradores de
etanol”, diz Nastari. O maior mercado
Em primeiro lugar, ainda não exis- em escala consumidor do mundo deve passar a
te no mundo um mercado formal para internacional importar quando esgotar sua capaci-

PIB 33
Capa

dade de produzir álcool a partir do


milho, possivelmente em meados
da próxima década.
Enquanto isso, as empresas
brasileiras vão se estruturando
para atender à demanda crescen-
te. Principal fabricante brasileira
de usinas, a Dedini Indústrias de
Base saiu de um faturamento de
R$ 450 milhões em 2003 para R$
1,8 bilhão em 2007. Cerca de 70%

PAULO LIEBERT/AE
Usina em São Paulo:
desse montante vem da indústria o mundo procura a
sucroalcooleira. O crescimento tecnologia brasileira
previsto para 2008 é espantoso:
60%. “Estamos participando de
vários projetos de infra-estrutura em segmentos como tecnológico e industrial do setor no mundo. A Dedini,
petróleo, gás, mineração, papel e celulose”, diz Sérgio que mantém cinco unidades em sua Piracicaba natal,
Leme dos Santos, vice-presidente corporativo da Dedini, opera em Sertãozinho sua principal fábrica de equipa-
que tem sede em Piracicaba e 86 anos de história. “Mas mentos pesados. Sua concorrente Caldema, fabricante
o salto virá, principalmente, nos segmentos de energia especializada em caldeiras, também vive um momen-
e sucroalcooleiro.” to brilhante. “Crescemos 100% em faturamento nos
Investimentos de mais de R$ 100 milhões feitos a últimos três anos”, diz Alexandre Martinelli, gerente
partir de 2003 permitiram à empresa dobrar sua capa- comercial e de marketing da Caldema. A empresa não
cidade de produção de 12 para 24 usinas por ano. Até revela o valor de suas vendas. Mas tem 500 funcionários
2010, a capacidade instalada deverá chegar a 33 unida- e ampla tradição no setor. Foi fundada em 1972 por Et-
des completas por ano. Em agosto, o presidente Luiz tore Zanini, o mesmo que fundou a Zanini ao lado dos
Inácio Lula da Silva participou da inauguração na Ja- Biagi, nos anos 1950.
maica de uma entre as inúmeras usinas que a Dedini já Turbinada pela indústria de base do etanol, a eco-
instalou mundo afora. nomia do município avança como nunca. Entre 2001
e 2004, o PIB de Sertãozinho cresceu 38,7%, segundo
Volta por cima dados do IBGE. Entre 2005 e 2006, foram criados 5 mil
O atual cenário na Dedini, controlada pela família novos empregos com carteira assinada. Nos primeiros
Ometto, é diametralmente oposto ao que se anunciava oito meses de 2007, apenas a indústria gerou um saldo
no final dos anos 1980. A empresa, que no auge tivera positivo de 5 mil novas vagas. A atual capacidade de
11 mil funcionários, virou os anos 1990 afundada em produção das indústrias locais já está plenamente con-
dívidas. Sua principal concorrente à época, a Zanini, da tratada até 2010.
família Biagi, também enfrentava dificuldades. Chegou A fase é tão boa que a histórica marca Zanini está
a fundir suas operações com a Dedini, mas acabou su- sendo reativada pela família Biagi, dona da Crystalsev
cumbindo à redução da demanda pelos carros a álco- e da Santelisa Vale, duas das principais empresas pro-
ol. A Zanini quebrou e, de seu espólio, surgiram mais dutores de açúcar e álcool nacionais. Desde setembro, o
de 500 empresas que atuam nesse setor. Quase todas nome Zanini batiza uma holding que abriga os negócios
estão estabelecidas na cidade paulista de Sertãozinho de bens de capital do grupo. Por enquanto, são apenas
(na região de Ribeirão Preto, um importante pólo cana- duas empresas (Sermatec e Renk Zanini), mas o apetite
vieiro) e foram fundadas por ex-funcionários da Zanini. (e o caixa) do grupo para investimentos no setor de base
Você pode sair com uma usina completa de Sertãozinho, é grande. Da Zanini original, restou o pavilhão em Ser-
sem ter de comprar nada fora daqui”, diz o empresário tãozinho que sedia hoje os principais eventos do setor, a
Mário Garrefa, presidente do Centro das Indústrias de Fenasucro e a Agrocana, que ocorrem simultaneamente.
Sertãozinho (Ceise). Na última edição, em setembro passado, mais de R$ 1,8
A cidade, com pouco mais de 100 mil habitantes e bilhão em negócios foram realizados em apenas quatro
rodeada de canaviais, é considerada o principal pólo dias. Isso dá a dimensão do tamanho desse negócio. z

34 PIB
Capa

Uma longa estrada pela frente


O Brasil tem tudo No momento em que as usinas brasileiras começam a espalhar
pelo mundo a experiência adquirida ao longo de quase 40 anos
para liderar a nova de implantação e amadurecimento da indústria do etanol, um
onda do combustível grupo de empresas inicia aquela que pode se tornar uma segunda
limpo. A dificuldade – e importantíssima – onda na corrida pelo combustível limpo. O
biodiesel produzido a partir da gordura animal, da soja, do dendê,
é achar a matéria- do amendoim e de dezenas de outras plantas oleaginosas pode
prima que faça pelo vir a se tornar, dentro de muito pouco tempo, uma estrela incandescente
biodiesel o que a cana- nesse cenário. Conforme dados da Agência Nacional do Petróleo, existem
no Brasil cerca de 150 usinas que produzem esse combustível – e os pedidos
de-açúcar fez pelo de instalação de novas plantas não param de chegar.
etanol  Ma rc e lo C ab r al Das fábricas instaladas já saem perto de 180 milhões de litros – quantida-
de ainda insuficiente para atender à determinação do governo, de adicionar

36 PIB
Eduardo Nicolau/AE
Desafio: produção não
pode tomar lugar das
plantações de alimentos

dar a partida. (A propósito: em 1898, cosméticos”, diz César Abreu, dire-


o engenheiro alemão Rudolf Diesel tor industrial da usina.
levou o motor que inventara no ano Para completar o cenário, o mun-
anterior para uma exibição em Pa- do precisa do biodiesel – e, como no
ris e o pôs para funcionar com óleo caso do álcool, o Brasil oferece as
de amendoim.) condições ideais para produzi-lo:
Acrescente-se a isso o fato de a tem vocação agrícola, terras dispo-
tecnologia utilizada para produção níveis e uma experiência industrial
do combustível ser conhecida, ba- bem-sucedida na produção de com-
rata e relativamente simples. Basta bustíveis limpos. E mais: na esteira
que se retire dos óleos de origem ve- da discussão sobre maneiras de pre-
getal e animal uma de- venir o aquecimento
terminada substância global, acredita-se
– a glicerina – para que que a demanda pelo
Estação de biodiesel
Tecnologia
Maurício Lima/AFP

eles garantam ao motor biodiesel venha a ex-


da Petrobras: país já
produz 180 milhões
um rendimento que, na
opinião dos mais entu-
é barata, plodir. Literalmente.
Numa recente discus-
de litros por ano
siasmados, chega a ser conhecida e são promovida pela
superior ao dos deri- de simples Agência de Inovação
2% desse óleo ao diesel de origem vados de petróleo. E as
mineral a partir de janeiro de 2008. primeiras movimenta-
execução da Universidade Es-
tadual de Campinas, o
O Brasil consome atualmente cerca ções para produzir o engenheiro químico
de 40 bilhões de litros de diesel por óleo em larga escala já começaram a Expedito José de Sá Parente, que
ano. Mesmo assim, o cenário parece surgir. O frigorífico Bertin, um dos em 1983 foi o titular da primeira pa-
promissor. Por qualquer lado que se gigantes da produção de carne no tente brasileira para a produção do
olhe, a primeira impressão é de que Brasil, inaugurou em agosto deste biodiesel, estimou que a demanda
esse é o combustível da vez. ano a Bertin Biodiesel, no municí- pelo combustível deve ser de algo
Há várias razões para pensar as- pio paulista de Lins, a 440 quilôme- em torno de 700 bilhões a 800 bi-
sim. A principal delas é de natureza tros da capital. A fábrica, que cus- lhões de litros nos próximos 15 anos.
técnica: enquanto o motor a gasoli- tou R$ 42 milhões, tem capacidade Hoje em dia, o mundo inteiro não
na teve de passar por uma série de para produzir 110 milhões de litros produz mais do que 5 bilhões de li-
adaptações para tornar-se confiável do combustível por ano a partir de tros do combustível.
e eficiente quando movido a álcool, um dos subprodutos menos nobres Descrito dessa maneira, o quadro
as máquinas a diesel não necessi- da carne: o sebo. “A glicerina que parece promissor. O mundo deseja
tam de reparo algum. É só abastecer sobra da produção é usada como o óleo. E, a partir do momento em
o tanque com o combustível limpo e matéria-prima pela indústria de que empresas do porte da Bertin co-

PIB 37
Capa

meçam a se interessar pelo biodiesel,


parece não haver mais obstáculos
que impeçam produção em larga
escala. É de esperar, portanto, que
o biodiesel venha dentro de muito
pouco tempo a ter para a cadeia de
combustíveis limpos a mesma im-
portância já alcançada pelo etanol,
não é mesmo? Infelizmente, não é No laboratório:
muita pesquisa
tão simples assim.
para descobrir a
matéria-prima ideal
Estágio infantil
É preciso ter claro que, ao contrário
do que pode parecer à primeira vista,
os obstáculos existem, são considerá-
veis e se não forem contornados não
haverá avanços significativos. “O bio-
diesel ainda está no estágio infantil,
dando seus passos iniciais”, diz Mar-
cos Jank, presidente da União da In-
dústria de Cana-de-Açúcar (Unica).
A lista de obstáculos é extensa. Em
primeiro lugar, ainda não se chegou
a um acordo quanto à matéria-pri-
ma mais adequada para a produção
do óleo. Até mesmo investimentos
como o da Bertin, por mais promis-
sores que sejam como parte de uma
cadeia produtiva, são limitados pela
oferta de matéria-prima.
Mesmo se o sebo de todos os 40
Petrobras/Divulgação

milhões de cabeças de gado abatidos


anualmente pelos frigoríficos brasi-
leiros for transformado em biodiesel,
ainda será necessário procurar outras
fontes de matéria-prima. E quando
se analisam as outras matérias-pri-
mas possíveis percebe-se que todas mações de destinar um alimento po- o mesmo que usar o azeite de oliva
têm algum potencial, mas nenhuma pular como o dendê para a produção mais nobre, um produto de alto valor,
consegue, sozinha, ser a procura- de combustíveis. como combustível”, compara o agrô-
da “cana-de-açúcar do biodiesel”. A Entre outras alternativas, o pro- nomo Mário Fontes, diretor da Bloo-
matéria-prima mais utilizada, a soja, blema é diferente. A mamona, por mingtrade, empresa especializada na
produzida em larga escala no Brasil, exemplo, seria o tipo da planta ideal: comercialização do biodiesel no mer-
é de todas as oleaginosas a que tem não tem utilidade como alimento cado externo.  “Um desperdício.”
a menor taxa de conversão. Apenas e quase metade de sua composição A Europa, que tem 70% de sua
18% de cada grão é óleo. O restante, (44%) é óleo. No entanto, esse óleo é frota de automóveis movida a diesel,
proteína. No caso do óleo de palma um lubrificante finíssimo, utilizado é o lugar do mundo onde o consu-
(dendê), a presença de óleo no cacho pela indústria aeroespacial e muito mo do biodiesel é mais estimulado.
é de 28%. Mas, além de a produção caro. Queimá-lo no motor de um ca- Um estudo da International Energy
não ser extensa, poderia haver recla- minhão seria um desperdício. “Seria Agency mostrou que para substituir

38 PIB
tem potencial para abastecer mais
da metade do mercado mundial,
caso consiga viabilizar sua produção
em larga escala”.
Os primeiros sinais de que eles
podem ter razão já começam a apa-
recer. “As petrolíferas européias têm
carência de óleo diesel e, cada vez
mais, vão precisar do biodiesel”, ex-
plica o agrônomo Mário Fontes. Um

Dado Junqueira/AE
exemplo disso é a espanhola Repsol
Na prática: a partir de
janeiro, 2% do diesel
YPF, que vem buscando contatos com
deverá ter origem vegetal produtores nacionais que possam lhe
fornecer biodiesel. A suíça Gebana
também já anunciou a compra de 1,5
5% do diesel europeu por biodiesel milhões na produção de mudas de milhão de litros de um grupo de pe-
seria preciso destinar 15% de toda a pinhão-manso no Brasil. quenos produtores formado por 300
área agrícola do continente exclusi- famílias da região de Capanema, no
vamente para a plantação de cano- Primeira remessa norte do Paraná. A Gebana vai pagar
la – outra virtual fonte de matéria- A situação dos outros países é, na um valor acima do mercado porque
prima. Uma impossibilidade prática opinião dos especialistas, a princi- os produtores utilizam técnicas que
em um continente onde cada palmo pal carta que o Brasil tem na manga não agridem o meio ambiente.
de terra disponível é disputado. para entrar nesse jogo na condição A Petrobras fechou um acordo
Existe a possibilidade de reapro- de favorito. Segundo eles, potencial para fornecer biodiesel à petroleira
veitamento do óleo utilizado em fri- para isso é o que não falta. “O Brasil portuguesa Galp. As duas empresas
turas – mas ainda não se conseguiu pode ser um gigante devido aos seus também vão criar uma joint-ven-
dimensionar a capacidade de produ- diferenciais competitivos”, diz We- ture para comercializar o produto
ção desse mercado. “O reaproveita- ber Amaral, diretor do no mercado europeu
mento desse óleo pode se tornar uma Pólo Nacional de Bio- e incentivar o uso
alternativa importante em algumas combustíveis. “Como desse combustível
regiões que precisam dar um destino mais de 70% do custo Brasil tem terra, em países africanos
para muito resíduo oleoso”, diz Ri-
cardo Dornelles, diretor do Departa-
do biodiesel é forma-
do pela matéria-prima,
tecnologia, como Angola e Mo-
çambique. A maior
mento de Combustíveis Renováveis, produzir mais barato clima e fabricante nacional,
do Ministério de Minas e Energia. gera um preço mui- mão-de-obra a Brasil Ecodiesel,
Uma alternativa sempre comen-
tada é a do pinhão-manso, uma olea­
to menor no final.” O
diretor executivo da
adequados também já anunciou
que deverá exportar
ginosa que tem sua origem no nor- União Brasileira do à produção sua primeira remes-
deste no Brasil, mas não está cadas- Biodiesel (Ubrabio), sa até o final do ano,
trada no Registro Nacional de Culti- Sérgio Tadeu Cabral Beltrão, con- com destino à Alemanha. Outra boa
vares, do Ministério da Agricultura. corda: “Somos o único país que possibilidade para as empresas na-
Tudo indica que a pendência será combina o melhor de quatro fatores cionais é a exportação da tecnologia
removida e as movimentações em diferentes: terra, tecnologia, clima e nacional na área. Um exemplo desse
torno da produção dessa oleaginosa mão-de-obra. Outros países podem tipo de negociação foi feito pela Bio-
já começaram. No final de novembro, ter um ou outro, mas não essa com- com, que este ano vendeu dez mi-
a CIE, que é a maior produtora de binação”. Há quem vá ainda mais niusinas de fabricação de biodiesel
biodiesel da Espanha, fechou com a longe. Para Alessandro Teixeira, pre- para os Estados Unidos. O valor to-
NNE Minas Agro Florestal um acor- sidente da Agência de Promoção de tal do negócio girou na casa do US$
do pelo qual serão investidos, num Exportações e Investimentos (Apex- 1,3 milhão. Ou seja: pelo sim, pelo
primeiro momento, quase US$ 4 Brasil), “sozinho, o Estado do Pará não, o negócio promete. z

PIB 39
Capa

Transferência: o brasileiro

GM/Divulgação
Riedel (de camisa azul)
ensina colegas americanos
sobre o motor flex

De aprendizes
a professores
Engenheiros brasileiros da indústria automobilística para aprender. “A engenharia bra-
sileira se destaca porque o mercado
repassam a tecnologia do motor flex às americano está voltado para os mo-
matrizes no exterior  V ic e n t e V ila r dag a tores flex”, afirma Riedel. “Buscam-
se motores menores, mais eficientes,
que utilizem combustíveis limpos e
O engenheiro brasilei- exemplar uma importante mudan- sejam até mais potentes, como os
ro Paulo Riedel passa ça de status da engenharia brasilei- brasileiros.” A GM já oferece mode-
seus dias no laboratório ra, que deixou de ser importadora los com os novos motores em pra-
de motores da General para se tornar, nos últimos tempos, ticamente todos os segmentos de
Motors em Michigan exportadora de conhecimento. É mercado nos Estados Unidos.
(EUA). Ele dá expedien- um movimento que não se restrin- A Ford, por sua vez, mantém em
te na sede global da di- ge à GM. As principais fábricas de Camaçari, na Bahia, um núcleo res-
visão Powertrain (motor e câmbio) veículos instaladas no Brasil se- ponsável  pela criação, desenvolvi-
da montadora, um núcleo de desen- guem a mesma trilha de venda de mento, certificação e homologação
volvimento de produtos que reúne serviços técnicos para outras subsi- de veículos para o mercado sul-ame-
90 técnicos e concentra o conheci- diárias. Definitivamente, as monta- ricano, México e Austrália. Cerca de
mento das inovações alcançadas por doras locais viraram referência na 700 pessoas trabalham no centro,
suas subsidiárias mundo afora. É um manufatura de carros compactos que inclui estúdio de design, labora-
centro de excelência que interage com alta eficiên- tórios de elétrica e
com os outros três pólos globais de cia ambiental. eletrônica e pistas
desenvolvimento da GM e traz me- Em sua primei- A GM do Brasil faturou de testes. Enge-
lhorias para os modelos oferecidos
no mercado americano.
ra viagem a Michi-
gan, no início da
US$ nheiros brasileiros
cuidam dos testes,

200 mi
Riedel, com 43 anos de idade e década de 1990, das calibrações de
23 de GM, é um profissional expe- Riedel foi apren- motores e prestam
riente. Especialista em motores flex der. Agora, a po- consultoria inter-
e no uso de biocombustíveis, está sição se inverteu. em 2006 com a venda na para todos os
nos Estados Unidos pela segunda Ele foi mais para de serviços para mercados da Amé-
vez. Sua trajetória exibe de forma ensinar do que o exterior rica Latina.

40 PIB
aos mercados emergentes. Atual-
mente, cerca de 15 engenheiros da
divisão brasileira de Powertrain da
GM estão atuando em outras subsi-
diárias. Na fábrica da Opel, em Rüs-
selsheim, na Alemanha, também há
técnicos brasileiros.

Capacidade inovadora
Hoje, a engenharia brasileira está
preparada para desenvolver proje-
tos completos e para atender a de-
mandas altamente especializadas de
outros mercados. A GM do Brasil é
responsável pelo desenvolvimento
Motor flex: mercado
dos motores de última geração Flex-

gm/divulgação
americano está
interessado em adotar
power da marca. Volkswagen, Ford
combustíveis limpos e Fiat também desenvolveram novas
gerações de motores no Brasil que
são utilizados em veículos vendidos
Trabalho remoto como executivo na China, na área de no mundo inteiro. Os novos propul-
Alguns engenheiros brasileiros da planejamento da montadora. sores da GM equipam os veículos
GM tornaram-se profissionais glo- “O intercâmbio é antigo, mas re- brasileiros exportados para outros
bais, que contribuem para os fóruns centemente se intensificou. Existe países da América Latina e são utili-
internos de discussão técnica e via- uma conjunção de fatores, como o zados pela montadora no México. A
jam permanentemente para apoiar o aumento da demanda por veículos GM Powertrain também vende ser-
desenvolvimento de produtos em ou- baratos com requisitos ambientais viços para terceiros – casos da Fiat,
tros países e para fazer a calibração nos mercados emergentes”, afirma no Brasil, e da Suzuki, no Japão.
de motores, o principal Vicente Lourenço, di- Por enquanto, nenhum outro país
serviço prestado pela retor de engenharia emergente apresenta a mesma capaci-
divisão Powertrain. da GM Powertrain. dade inovadora do Brasil na indústria
Muitos técnicos A engenharia A equipe de enge- automobilística. A Índia e a China, por
passam um curto perío-
do em outras fábricas e
brasileira está nharia de Powertrain
da GM do Brasil con-
exemplo, ainda têm um longo cami-
nho a percorrer em eficiência de ma-
voltam. O trabalho re- preparada para ta com cerca de 300 nufatura e qualidade de componentes.
moto, on-line, também desenvolver engenheiros, 10% dos E os outros fabricantes tradicionais
está se intensificando.
Mas uma parte acaba
projetos quais estão totalmente
dedicados a projetos
de veículos (Europa, Estados Unidos
e Japão) não dispõem das mesmas
embarcando em uma completos sob no exterior. O restan- competências brasileiras, como a es­
carreira internacional demanda de te do pessoal está con- pecialidade em carros pequenos. Se-
e mudando de país. Na
GM chinesa há pelo
outros países centrado no mercado
interno, mas também
gundo Lourenço, a vantagem atual da
engenharia brasileira é de experiên-
menos dois engenhei- acaba participando cia e flexibilidade. “A indústria auto-
ros brasileiros em cargos de coman- de projetos de desenvolvimento de mobilística no Brasil tem 50 anos de
do na divisão de motores. Antônio plataformas globais. Alguns moto- existência e muito conhecimento acu-
Ribeiro já está há oito anos no cen- res criados originalmente pela Opel mulado”, diz. “Mas precisamos nos
tro de engenharia da montadora em européia e fabricados no Brasil pas- aprimorar constantemente e manter
Xangai, o Patac, e é responsável por saram a ser produzidos no México e nossos custos competitivos, senão
uma linha de produtos. Jean Laun- na China a partir dos projetos “tro- mais cedo ou mais tarde a China ou a
berg é outro brasileiro que trabalha picalizados” brasileiros, adaptados Índia podem nos alcançar.” z

PIB 41
Capa

CO2 = $$$
créditos de carbono para compensar
a poluição que produzem”, disse na
ocasião o diretor de Mercado Am-
biental do Fortis, Seb Walhain.
A demanda, como se vê, está
aquecida. Mas para chegar a esse
Mercado de crédito de carbono, nascido no ponto foi preciso um longo proces-
so de aprendizado das comunidades
Brasil, amadurece e deve girar US$ 30 bilhões financeira e ambiental, dada a com-
até 2012  J oão Pau lo N u cci plexidade exigida pelas normas esta-
belecidas. Segundo os especialistas,
embora esteja numa fase de amadu-
Os cidadãos de Nova cofres R$ 34 milhões, gerados em recimento, o mercado de carbono
Iguaçu, na Baixada Flu­ meio às toneladas e toneladas de já deve se preparar para mudanças
minense, no Estado do lixo do aterro Bandeirantes. Quem num futuro relativamente próximo
Rio de Janeiro, não ti- ganhou a parada foi o banco Fortis, − as regras atuais expiram em 2012,
nham como imaginar de origem belgo-holandesa, que pre- quando termina a vigência do Pro-
que estavam fazendo tende repassar os certificados para a tocolo de Kyoto. “Até agora, estáva-
história, no início dos frente. “Temos uma lista crescente mos no formato de comprar barato e
anos 1990, ao colocar o lixo para de clientes que precisam comprar vender caro”, diz o consultor Marco
fora de casa. É que o aterro sanitá-
rio da cidade, destino dos dejetos
gerados pelos 830 mil habitantes do
município, serviu de base, em 2004,
para o primeiro projeto aprovado
pela Organização das Nações Uni-
das (ONU) para emissão e venda
de créditos de carbono. O projeto,
financiado pelo governo holandês,
foi estruturado pela EcoSecurities,
uma empresa global que tem entre
seus fundadores o brasileiro Pedro
Moura Costa, e deu início a um
mercado que vai movimentar US$
30 bilhões (cerca de R$ 54 bilhões)
no mundo inteiro até 2012.
Os créditos de carbono foram
criados no âmbito do Protocolo de
Kyoto, assinado em 1997, mas demo-
raram a engrenar. Os novos alertas
da comunidade científica sobre a
saúde do planeta, porém, deram
um novo impulso às transações.
Em setembro deste ano, um leilão
de créditos feito pela Prefeitura de
São Paulo na Bolsa de Mercadorias
& Futuros atraiu nada menos que 14
interessados, principalmente insti-
tuições financeiras internacionais.
A capital paulista colocou em seus

42 PIB
Antonio Fujihara, do Instituto To- ma que existam com- outras burocracias, o
tum (que não tem nenhuma relação pradores para até 3,5 leilão não é o único
com a Totum Excelência Editorial).
“Agora, as empresas estão descobrin-
bilhões de toneladas
nas atuais condições”,
Leilão da caminho possível. O
governo do Estado
do que é possível colocar créditos de afirma Cunha e Silva. Prefeitura do Amazonas lançou
carbono como componente da estru- O leilão da Prefei- de São Paulo em junho passado um
tura financeira dos projetos.”
O problema é que 2012 não tar-
tura de São Paulo é
considerado um mar-
atraiu 14 projeto chamado Bol-
sa-Floresta, que prevê
da a chegar, e não existem garantias co para a relação do compradores remunerar as popula-
de que a atual estrutura do merca- setor público brasilei- e rendeu ções estabelecidas em
do prevalecerá. “A expectativa é
que haja uma mudança de regras a
ro com o mercado de
carbono. “Esperáva-
R$ 34 milhões áreas de conservação
para que ajudem a
partir de então”, diz Nuno Cunha e mos três compradores, manter a natureza in-
Silva, diretor para a América do Sul apareceram 14”, diz Stela Goldstein, tocada. O projeto, capaz de beneficiar
da EcoSecurities. Mas ainda existe secretária adjunta de governo. Novos 60 mil famílias, vai contar com finan-
uma demanda a ser atendida sob as leilões devem ocorrer em breve, com ciamento baseado nos créditos de car-
regras atuais. “Os projetos existen- lotes adicionais de créditos gerados bono. Mas, nesse caso, como reduções
tes estão prontos para gerar em cer- no aterro Bandeirantes e, um pouco de emissões resultantes da preserva-
tificados o equivalente 2,7 bilhões de mais tarde, com o início da operação ção de florestas não são autorizadas
toneladas de CO2, enquanto se esti- de projeto semelhante no outro ater- oficialmente pelo Protocolo de Kyoto,
ro da capital, o São João. o governo estadual pretende se lançar
stockxpert

Conservação: Amazonas “Abrimos uma trilha que numa espécie de mercado paralelo de
pretende usar créditos poderá ser seguida por carbono – mais conhecido como mer-
para preservar floresta outras prefeituras e go- cado voluntário.
vernos”, diz Stela. A idéia é usar uma motivação
Chegar na BM&F diferente da habitual (a adequação
para vender os créditos a Kyoto) para vender os créditos.
como fez a prefeitura “Queremos atrair governos, empre-
paulistana, porém, é sas e indivíduos preocupados com
a­penas a parte final de a responsabilidade social”, afirma
uma longa e exaustiva o secretário do Meio Ambiente do
trajetória. São Paulo Amazonas, Virgílio Viana. Segundo
saiu na frente, pois pos- ele, quem aderir ao Bolsa-Floresta
sui aterros muito maio- receberá um documento do go-
res que os de qualquer verno que comprova o seqüestro
outra cidade brasileira. de carbono com o desmatamento
Com isso, possui grande evitado. Acredita-se que esse tipo
escala na queima do gás, de documento passará a ter valor
o que permite inclusive equivalente aos créditos oficiais em
a geração de energia futuras versões do Protocolo. Toma-
a partir do lixo. “Além ra que isso ocorra. Afinal de contas,
disso, houve todo um a despeito dos progressos recentes,
trabalho de gestão do o desmatamento da floresta amazô-
aterro para permitir a nica representou 75% do 1,4 bilhão
implantação do projeto”, de toneladas de dióxido de carbono
diz a secretária Stela. emitido pelo Brasil em 2006, o que
Apesar de facilitar colocou o país em quinto lugar en-
as coisas para a admi- tre os maiores poluidores do mun-
nistração pública, pois do. Caso o Bolsa-Floresta emplaque,
dispensa licitações e certamente o planeta agradecerá. z

PIB 43
Capa

O atraso da
vanguarda
A cadeia da cana-de-açúcar convive com um
paradoxo: de um lado, usinas modernas.
Do outro, relações de trabalho arcaicas.
Isso já está mudando  A r m ando M e nd e s*

Colher cana é trabalho chefe – o álcool combustível, ou eta-


pesado e exaustivo. Um nol, na versão de exportação – uma
cortador de cana dá de 6 dupla e contraditória fisionomia. De
mil a 10 mil golpes de fa- um lado, ela aparece na vanguarda
cão por dia, abaixando-se tecnológica, capaz de abastecer um
e levantando a cada movi- país gigante com um combustível
mento. Anda pelo menos limpo e renovável, meta ainda dis-
4 quilômetros, ao longo das linhas de tante para países muito mais ricos.
plantação do canavial, para tirar do De outro, contribui para manter re-
chão 12 toneladas de cana diárias, em lações de trabalho ultrapassadas e
média (há 20 anos, a média era de 6 degradantes. Um paradoxo tão bra- dernas, com produtos limpos, como
toneladas, mas a concorrência da co- sileiro quanto a feijoada e um desafio o açúcar, o álcool e a eletricidade.”
lheita mecanizada obrigou o trabalha- urgente – as chances de o Brasil se Kjeld Jakobsen, ex-presidente do
dor manual a aumentar a produção). firmar no mundo como grande pro- Instituto Observatório Social, ligado
O esforço, sob sol forte e poeira, dutor e exportador viável de álcool à Central Única dos Trabalhadores
pode causar cãibras, doenças e até combustível dependem da resposta (CUT) e ao Departamento Intersin-
mortes. O número varia conforme a que o país vai dar a esse dilema. dical de Estatística e Estudos Socio-
fonte (e os produtores contestam o econômicos (Dieese), vai na mesma
dado), mas sindicatos e ONGs con- Contradição histórica linha. “É preciso lembrar que, há
tam de 17 a 19 óbitos por sobrecarga Representantes dos trabalhadores e cento e poucos anos, quem cortava
de trabalho em São Paulo, nos últi- dos patrões vão à mesma fonte his- a cana era o escravo”, diz ele. “E o
mos três anos. Imagens na televisão tórica ao comentar a contradição. “A trabalho manual ainda é desvalori-
e na imprensa mostram esses traba- cana está aqui há 500 anos e puxa zado no Brasil, mesmo nas cidades.”
lhadores cobertos dos pés à cabeça por fatos tristes, como a escravidão”, O Instituto, como o próprio nome in-
com roupas velhas, para se proteger admite Marcos Jank, presidente da dica, monitora o comportamento tra-
do sol e dos cortes da afiada palha União da Indústria balhista e ambiental
da cana. Também são freqüentes as de Cana-de-Açúcar de empresas e seto-
denúncias de que, em casos espalha- (Unica), que repre- res da economia.
dos pelo país, eles têm seus direitos senta os usineiros Muitos produtores Nos dias de
atropelados, suportam condições paulistas, o maior tentam repassar ho­je, cortar cana
abusivas e, algumas vezes, são sub-
metidos a trabalho forçado.
produtor de cana e
álcool do país. “Ao
a responsabilidade é u­ma atividade
que atrai trabalha-
Essa situação empresta à agroin- mesmo tempo, é das pelos problemas dores pouco qua-
dústria brasileira da cana e seu carro- atividades mais mo- socioambientais lificados, muitos

44 PIB
deles migrantes em busca de em-
pregos temporários. Cerca de 40%
dos 243 mil trabalhadores volantes
empregados em 2005 em São Paulo
vinham de Minas Gerais, dos sertões
nordestinos e do oeste da Bahia. Ga-
nhavam, em média, de R$ 620 a R$
800 mensais, em temporadas de até
oito meses no ano.
Esses trabalhadores temporários
são apanhados num sistema próprio
da agroindústria canavieira: gros-
so modo, quem planta a cana não é
quem produz o álcool (e o açúcar).
As usinas produtoras compram par-
te da matéria-prima de fornecedores
externos, plantadores que por vezes
recorrem a intermediários – os “ga-
tos” – para contratar mão-de-obra
migrante. E muitos produtores, quan-

Joel Silva/Folha Imagem


Cortadores de cana, do confrontados com problemas tra-
no interior
balhistas e ambientais em sua cadeia
de São Paulo:
trabalho pesado
produtiva, tentam passar a responsa-
e exaustivo é a rotina bilidade adiante.
“Nem sempre eles se sentem res-
ponsáveis pelas práticas dos presta-
dores de serviços que contratam os
bóias-frias”, constata Clarissa Lins,
Agenda sustentável diretora executiva da Fundação Bra-
Cinco passos que o setor de etanol precisa dar para convencer sileira para o Desenvolvimento Sus-
o país e o mundo de que o Brasil produz bioenergia limpa e justa tentável (FBDS), do Rio de Janeiro.
A FBDS apresentou em setembro o

1 Aceitar a responsabilidade
pelas ações de fornecedores e
prestadores de serviços terceiri-
imagem pública de todo o setor sai
manchada, no Brasil e no exterior,
quando as piores empresas são
documento “Sustentabilidade Corpo-
rativa no Setor Sucroalcooleiro Brasi-
leiro”. Nele, avalia a situação do setor
zados. Queira ou não, a empresa expostas na mídia. por meio de entrevistas e questioná-
responderá, diante da opinião rios com diretores e gerentes de 12
pública, por quem trabalha para ela
na cadeia produtiva.
4 Entender que, para uma
empresa se dizer sustentável,
não basta praticar boas ações na
grandes grupos produtores de açúcar
e álcool. O trabalho aponta os danos
provocados pelo uso de intermediá-
2 Prestar contas de suas ações
para dentro e para fora das
empresas (aos funcionários e à
comunidade. Sustentabilidade é
mais do que assistencialismo ou
filantropia.
rios nas relações entre os produtores
e empregados. “Com efeito, nesse elo
da cadeia surge a maior parte dos
sociedade). É preciso reconhecer
problemas e ser transparente;
é importante mostrar as boas
5 Incorporar os conceitos e
as práticas sustentáveis ao
planejamento estratégico e ao
problemas de aliciamentos irregula-
res, empregos de baixa qualidade e
trabalho forçado”, diz o estudo.
iniciativas.
funcionamento cotidiano da em- No ano passado, o Instituto Ethos,

3 Trabalhar em conjunto
para generalizar as boas
práticas sociais e ambientais. A
presa. O núcleo dirigente e todos os
funcionários precisam conhecer e
participar dos processos.
de São Paulo, em parceria com a Uni-
ca, orientou um grupo de 30 usinas
paulistas a fazer uma auto-avaliação

PIB 45
Capa

de suas práticas gerenciais, sociais e Em 2005, com a marca mancha-


ambientais. O balanço revelou que da por uma campanha internacional
as usinas acompanham o padrão do de boicote a seus produtos, a Nike
mercado brasileiro na qualidade da finalmente cedeu. Não só publicou
gestão corporativa – metade delas, uma investigação com os problemas
na verdade, teve resultados acima da encontrados em sua cadeia produ-
média. Mas o quadro muda nas ava- tiva como assumiu a responsabili-
liações sociais e ambientais: o pior dade por melhorar as condições de
resultado das usinas surgiu no tema trabalho nas fábricas terceirizadas,
meio ambiente; o segundo pior, no aceitando submetê-las a inspeções
das relações com fornecedores, em independentes. Trabalhadores da Brenco
uniformizados, em Mineiros
que se enquadram os plantadores De volta ao Brasil, os estudos
(GO): novos investidores
que vendem cana. indicam que a consciência já existe, ajudam a consolidar

Goyzinho
“A maior parte delas não traba- mas a ação ainda é irregular. “Há o a modernidade no setor
lha essas questões com sua cadeia entendimento do problema em fa-
produtiva; ainda predomina a visão zendas e usinas, mas ele ainda não
de que o fornecedor externo não é está, às vezes, refletido em mudanças usinas no estado. “Alguns vão sair na
problema da usina”, resume Mau- gerenciais, práticas”, aponta Clarissa, frente”, diz Jank. “Os outros vão olhar
rício Mirra, do Ethos, coordenador da FBDS. “Há uma grande dispersão para o lado, ver o vizinho mudar, e não
técnico do projeto. O trabalho con- de comportamento, práticas diferen- vão querer ficar para trás.”
firma que os empregados diretos tes dentro do setor.” Mirra, do Ethos, Na opinião de Clarissa, a interna-
das usinas costumam ter melhor aponta sinais de mudança. Ele consi- cionalização do setor também pode
qualificação e benefícios do que os dera positivo o fato de que 30 usinas ajudar na contaminação. Novas em-
trabalhadores terceirizados. Mas são, se dispuseram a fazer uma auto-ava- presas de capital estrangeiro entra-
em geral, técnicos industriais e fun- liação rigorosa e abrangente de seu ram no setor recentemente, bancadas
cionários administrativos que não comportamento. Este ano, mais oito por investidores já acostumados a li-
trabalham no campo. empresas passam pela prova. dar com demandas de transparência
Jank, o presidente da Unica, aposta e sustentabilidade. Uma delas é a Bra-
Nós complicados na contaminação positiva. Ele dá como zilian Renewable Energy Company
Para Jakobsen, do Observatório So- exemplo o ritmo de adesão das usinas (Brenco), cujo principal investidor
cial, é uma questão de aplicar a lei: a ao protocolo assinado é Vinod Khosla, um
atividade-fim da empresa não pode em junho deste ano dos fundadores da
ser terceirizada, e quem contrata é entre a entidade e o Sun Microsystems,
responsável pelos atos do contrata-
do. Esse problema não é exclusivo
governo de São Paulo,
que antecipa a data-
A Unica está gigante americana
de informática. Hen-
do Brasil. Trata-se, na verdade, de limite para as usinas negociando com ri-Philippe Reichstul,
um dos nós mais complicados da deixarem de queimar a os trabalhadores ex-presidente da Pe-
globalização. Uma situação análoga
quase abateu a poderosa Nike, mar-
cana antes da colheita
– um fator importante
a proibição da trobras, é seu prin-
cipal executivo. A
ca mundial de tênis e equipamentos de poluição ambiental. terceirização da Brenco está criando
esportivos, patrocinadora da seleção Pelo protocolo, o fim mão-de-obra cinco novas agroin-
brasileira de futebol. A empresa ame- da queima da cana re- dústrias em Goiás,
ricana foi acusada, nos anos 1990, de cua de 2021 para 2014 (ou de 2031 para Mato Grosso e Mato Grosso do Sul,
fechar os olhos ao emprego de traba- 2017, no caso de terrenos mais incli- nas quais pretende plantar 400 mil
lho escravo e infantil nas fábricas asi- nados). Dezessete usinas do grupo hectares e moer 24 milhões de to-
áticas onde sua produção era terceiri- Cosan, o maior do setor, deram a par- neladas de cana por ano. Humberto
zada – as mal-afamadas sweatshops tida às adesões em setembro. No final Bortoletto, diretor da Brenco, afirma
da China e do Vietnã. E tardou em de outubro, 96 usinas já tinham ade- que sua empresa não vai, em hipótese
admitir que o problema era dela, Nike, rido ao protocolo, e o número chegou alguma, infringir legislação nenhuma.
e não só dos fornecedores. a 117 em novembro, de um total de 158 “O segmento está mudando e tem evo-

46 PIB
Jank, da Unica:

Vidal Cavalcante/AE
“Os outros verão
o vizinho mudar
e não vão querer
ficar para trás”

luído bastante”, diz Bortoletto. “Vai de-obra. As entidades firmaram no Londres, na Inglaterra, Richard Oxley,
haver uma mudança de patamar, e a ano passado um protocolo para tratar diretor da Sugaronline, uma consulto-
gente é parte desse processo.” desse e de outros pontos de atrito en- ria do setor. “Vejo risco de pressão se
tre trabalhadores e empresas, como o o fornecimento de etanol não estiver
Condições básicas pagamento por produção e o sistema claramente ligado a métodos éticos de
Cumprir a lei, nesse caso, significa de aferição da produtividade de cada produção.” A Comunidade Européia
seguir, ente outras, a NR-31, a norma cortador. No começo de 2008 pode prepara-se para substituir petróleo
brasileira que regulamenta o trabalho ser anunciada uma redução da pro- por biocombustíveis importados nos
no campo e determina que as empre- porção de trabalhadores terceirizados próximos anos (a maior parte dos
sas forneçam transporte seguro, co- no campo. A Unica já recomendou a países europeus quer misturar pelo
mida quente, água gelada, sanitários suas filiadas que reduzam essa forma menos 5,25% de etanol à gasolina, até
higiênicos, uniformes e equipamen- de prestação de serviço. A entidade 2010, e 10%, até 2020).
tos de proteção aos trabalhadores também iniciou um projeto-piloto O futuro passa ainda pela certifi-
rurais. Para um trabalhador urbano, na Usina Vale do Rosário, na região cação da produção de etanol, como
não há nada de novo nisso. Mas para de Ribeirão Preto, com o Instituto acontece hoje com a madeira, o café e
o campo brasileiro, tradicional e con- Ethos e o Banco Mundial, para testar outros produtos agrícolas. É a maneira
servador, exceções à parte, pode ser maneiras de trabalhar em conjunto mais viável de informar ao consumi-
quase uma revolução. com os fornecedores. dor que um produto foi feito de forma
“A grande maioria dos produtores Jank afirma que dessas iniciati- ambientalmente limpa e socialmente
vai ter de ser tão eficiente e susten- vas pode resultar um conjunto de justa. No caso da cana, passa também
tável quanto os melhores exemplos”, padrões de agroindústria sustentável pela mecanização quase total da co-
prevê Marcelo Vieira, diretor da Ade- para o setor, a ser seguido por todos lheita. As máquinas vão eliminar o
coAgro, empresa que tem entre seus os associados. Ele é um especialista trabalho exaustivo, mas produzirão
maiores investidores o financista em comércio e negociações interna- desemprego, se o trabalhador migran-
Geor­ge Soros. “Vamos ter de nos mo- cionais que, na direção da Unica, tem te não for preparado para outras fun-
dernizar; quem ficar para trás ficou.” dedicado a maior parte do tempo à ções. Até lá é preciso estender a esse
A AdecoAgro explora mais de 20 mil sustentabilidade social e ambiental. trabalhador os cuidados e proteções
hectares de terras no Brasil e planeja “É a prioridade número um da agen- que já existem para outros setores.
produzir açúcar e álcool em Minas e da”, diz. “E tema fundamental para Afinal, petroleiros e eletricistas tam-
Mato Grosso do Sul. abrir mercados.” bém têm atividades perigosas; mas
A Unica negocia agora com a Fe- Os mercados lá fora, é verdade, es- não se ouve falar de tantos problemas
deração dos Empregados Rurais As- tão de olho no Brasil. “O lobby verde nessas profissões. z
salariados do Estado de São Paulo (Fe- e o comércio justo estão se tornando
raesp) o fim da terceirização de mão- cada vez mais próximos”, afirma, em *Colaborou Lucianne Carneiro, de Londres

PIB 47
Marketing

Com um pé no Japão
Ao se associar a uma empresa japonesa,
cafeicultores do Cerrado Mineiro garantiram mercado
e preços atraentes para seus cafés especiais 
N e ly C ai x e ta , D e Pat r oc í nio

E
m setembro passado, 15 adequados à sua clientela no Japão.
pequenos torrefadores Ao embarcar de volta, aproveitaram
japoneses de cafés es- para levar fotos das plantações e dos
peciais participaram de proprietários das fazendas.
um programa periódico Fazer às vezes de olhos e ouvidos
de visitas a fazendas do Alto Para­ do consumidor é uma tarefa que o Ferrero, com
naíba, na região do Cerrado Minei- grupo de torrefadores desempenha torrefadores japoneses:
rastreabilidade dá
ro. Durante cinco dias, os visitantes, com naturalidade. “Ao lado do bal-
segurança ao consumidor
clientes da Cerrad Coffee do Japão, cão onde o cliente é servido, coloca- e ienes a mais na venda
importadora na qual um grupo de mos sempre um cartaz com o rosto
cafeicultores mineiros detém parti- do produtor e um resumo da histó-
cipação, receberam explicações de- ria da fazenda”, diz Yukihiro Matsu- cuidados como esses ajudam a ga-
talhadas sobre sistemas de plantio, moto, dono de uma torrefadora em rantir muitos ienes a mais na hora da
tipos de adubação, emprego de mé- Kobe. “Mostrar que conhecemos a venda. Cem gramas de café especial
todos naturais de controle de pragas procedência do café é uma maneira do Cerrado Mineiro importado pela
para redução de uso de defensivos, de assegurar a qualidade do produ- Cerrad Coffee e torrado em Kobe sai
formas de colheita e cuidados am- to que nossos clientes estão levando por volta de 400 ienes (R$ 6,80), o
bientais. Também compartilharam para casa.” Numa época em que ex- dobro da cotação de cafés comuns
duas sessões de degustação para pressões como segurança alimentar do Brasil e de outras procedências
encontrar os lotes de cafés mais e rastreabilidade entraram na moda, que costumava vender até há quatro

Uma ponte para a Ásia


Com duas lojas em Tóquio, o Café do Centro
põe em marcha projeto de expansão

O nome no toldo e os petiscos seriam familiares a


qualquer freqüentador da região das Bolsas, no Cen-
tro Velho de São Paulo, mas a vizinhança não poderia
estar mais distante – os arredores do Palácio Imperial
de Tóquio. Foi aí, no bairro central da capital japonesa,
que Rodrigo e Rafael Branco Peres deram o primeiro
passo para tornar conhecida fora do Brasil a marca do
Café do Centro, tradicional torrefadora paulista com-
prada em 1995 pelo grupo Branco Peres, produtor de
suco de laranja, açúcar e álcool e exportador de café.
Divulgação

Para aventurar-se no mercado japonês, os primos


procuraram sócios locais. Mais de cinco anos se passa-
O Café do Centro, em Tóquio: identidade brasileira em alta ram entre o começo das conversas e a abertura do pri-

48 PIB
Association of America, que vai de
80 a 100 pontos (veja quadro). Na ne-
gociação, conduzida pelo Conselho
das Associações dos Cafeicultores do
Cerrado (Caccer), os japoneses foram
autorizados a usar a marca Café do
Cerrado em troca do compromisso
de buscar compradores para os cafés
produzidos na região.
Surgia, assim, a Cerrad Coffee
do Brasil, com sede na cidade de
Patrocínio, na região do Alto Pa-
ranaíba, e integrada inicialmente
por 16 cafeicultores (hoje são 20).

Marcelino Araújo/Observat
O capital investido foi dividido em
cotas de exportação. Cada uma de-
las dava direito a pouco mais de 6%
dos embarques destinados ao Japão.
No primeiro ano, foram exportadas
apenas 500 sacas (de 60 quilos).
Hoje, chegam a 25 mil por ano. A
anos, quando descobriu o produto da região adquiriu 15% do capital da maior parte com qualidade de mais
da região dos cerrados. Cerrad Coffee Japan, criada anos an- de 80 pontos. Os cafés exportados
Yukihiro faz parte de uma estraté- tes por um grupo de investidores do para o Japão são vendidos em lojas
gia de comercialização que os cafei- Japão que plantava café em Paracatu, especializadas, ao lado de grãos de
cultores de Minas vêm desenvolven- no noroeste do Estado. O objetivo era países reconhecidos por sua pro-
do para garantir mercado e preços abastecer o mercado japonês com dução de qualidade superior, como
atraentes a seu produto. O início foi cafés especiais – aqueles cujas ca- Quênia, Guatemala e Colômbia. Ali
marcado por uma decisão arrojada. racterísticas se enquadram na escala são torrados por especialistas para
Em 1987, um grupo de produtores de classificação da Specialty Coffee extrair o máximo de sabor e aro-

meiro ponto, em junho de 2006. Por sugestão dos sócios, duas, em Tóquio. O segundo ponto foi aberto há seis me-
a loja ganhou identidade muito tupiniquim. O cardápio ses em Ayoama, bairro de embaixadas e lojas de grife.
oferece pão de queijo, pastéis, coxinhas, caldo de feijão na Acredita-se que, se o produto for bem-aceito em Tó-
cumbuca, caipirinha e suco de manga e maracujá. quio, repetirá o sucesso no continente. Uma vez estabe-
O café, claro, das principais regiões produtoras do lecida a marca, abre-se o caminho para introduzir o café
Brasil, é o mesmo servido em restaurantes estrelados de moído e torrado em redes de supermercados do Japão
São Paulo como o D.O.M, A Bela Sintra e La Tambouille. e, quem sabe, de seus vizinhos. “Para isso, é importante
A música, clássicos da bossa nova, é interpretada quase ter uma marca bem estabelecida” afirma Rodrigo. “Mas,
sem sotaque por uma cantora japonesa. “Nossos sócios primeiro, temos de consolidar o negócio no Japão.”
queriam algo que se diferenciasse de tudo o que havia em A perspectiva inicial era atingir 500 freqüentado-
Tóquio”, explica Rodrigo Branco Peres. res por dia no prazo de um ano; a meta foi alcançada
A concorrência é pesada. Os japoneses descobriram quatro meses após a abertura da primeira cafeteria.
o café há apenas 15 anos, mas são o terceiro mercado As duas lojas exigiram investimento de US$ 1,5 mi-
mundial da bebida, atrás apenas dos Estados Unidos e do lhão e têm faturamento médio mensal de US$ 90 mil,
Brasil. Nos próximos dez anos, os Branco Peres querem com tendência a crescer. “Não estamos impacientes”,
espalhar cem cafeterias de sua bandeira por países como diz Rodrigo. “No Japão, o tempo
China, Vietnã, Coréia, Filipinas e Cingapura. Para isso, de maturação do negócio é
precisam acelerar o ritmo de expansão – hoje têm apenas mais longo que no Brasil”.

PIB 49
outros países asiáticos”, diz Ferrero.
A idéia da Cerrad Coffee do
Japão surgiu de uma constatação
singela. O café, muito mais do que

Marcelino araújo/observat
a soja e outras commodities ven-
didas a toneladas, permite grande
agregação de valor desde que tra-
tado com os cuidados necessários
para convertê-lo em produto nobre.
Com essa idéia na cabeça, investido-
Hora da prova: cuidados garantem bebida de aroma e sabor superiores res japoneses, que desenvolviam um
projeto agropecuário na região de
ma. Nas cafeterias de Tóquio, uma dade”, diz Ferrero. “A parceria com Paracatu em meados da década de
xícara desse tipo de bebida não sai os japoneses foi importante para 1980, começaram a plantar café e a
por menos de US$ 6. Uma parte dos reafirmar essa consciência.” Ele foi investir pesadamente na qualidade
cafés, importada pela UCC, uma um dos primeiros a utilizar em larga da bebida. Foram eles que introdu-
das maiores torrefadoras do Japão, escala terreiros suspensos para se- ziram no Brasil o método de cafés
é transformada em bebida gelada cagem de café no Brasil, sistema em despolpados em escala comercial,
vendida em lata na rede de lojas de que uma tela de sombrite é estendi- à semelhança do que fazem os pro-
conveniência 7 Eleven. da a um metro do chão, para evitar dutores da Colômbia e de países da
O paulista Wagner Crivelenti contaminação do solo. América Central. Foram pioneiros
Ferrero, bisneto de italianos que Os grãos de Ferrero foram pre- também na disseminação de novida-
ajudaram a implantar os primeiros miados várias vezes nos concursos des como sistemas de irrigação para
cafezais na região de Ribeirão Pre- de qualidade promovidos há 13 anos a cafeicultura e de colheita seletiva
to, investiu cerca de US$ 135 mil na pela italiana Illy Cafe, vencidos, ma- das cerejas no mesmo estágio de
compra de uma cota e meia na Cer- joritariamente, por produtores da maturação, de forma a garantir uma
rad Coffee do Brasil, há 12 anos. Em região dos Cerrados. Das 25 mil sa- qualidade homogênea dos grãos.
sociedade com a mãe e dois irmãos, cas de café que produz por ano, em A resposta a esses tratos foi anima-
ele toca 250 hectares de café no mu- média, ele exporta 2 mil para torre- dora. Numa plantação normal, sem
nicípio de Patos de Minas. A família fadores no Japão, entre os quais a quaisquer cuidados especiais, conse-
possui também cafezais em outros UCC. De um ano para cá, o grupo de guem-se naturalmente 5% de cafés
550 hectares espalhados pela região produtores brasileiros contratou um especiais, que acabam misturados aos
da Alta Mogiana, em São Paulo, e por trader para desenvolver novos mer- grãos de menor qualidade. Nos cafe-
outra fazenda próxima ao sul de Mi- cados fora do Japão. “Estamos ten- zais de Paracatu, graças a todas essas
nas. “Nosso lema é produzir quali- tando abrir mercados na China e em inovações, foi possível obter de 30%
a 50% de grãos de qualidade superior.
Atestado de procedência Mesmo assim, a fazenda pagou um
preço alto pelas inovações feitas num
Como ocorre com os bons vinhos, o café da região
do Cerrado Mineiro quer ter Denominação de Origem momento de cotações internacionais
em baixa e acabou sendo vendida.
z formada por 155 mil hectares “Muito do sucesso dos cafés especiais
espalhados por 55 municípios de hoje resulta desses experimentos
z produz 3,7 milhões de sacas pioneiros repassados para esse gru-
de café por ano po de produtores do Cerrado”, diz o
z responsável por 11% da paulista Akio Yamaguchi, de 46 anos,
produção nacional diretor da subsidiária da Cerrad Co-
z a única região cafeeira com ffee Japan, em Patrocínio. “Criamos
Indicação de Procedência do INPI, uma base sólida de qualidade e, desse
o primeiro passo para a certificação
de Denominação de Origem modo, foi possível conquistar e fideli-
zar uma clientela exigente.” z

50 PIB
Empreendedorismo

no Rio de Janeiro, foi fechada para


reestruturação. Por enquanto, os
brasileiros só têm acesso à marca
no exterior, em pontos-de-venda
do mercado de luxo ou em grandes
lojas multimarcas como a inglesa
TopShop e a norte-americana Urban
Outfitters. Para 2008, está prevista a
inauguração de duas lojas: uma em
São Paulo e outra no Rio.
Outro fator que deverá impul-
sionar as vendas é a parceria de li-
cenciamento fechada com o grupo

Nelson Perez/ LUMINAPRESS


italiano Braccialini, fabricante de
Recomeço: Ângela,
bolsas de luxo, para a distribuição
à frente de sua equipe,
está disposta a rodar
dos produtos da AmazonLife pelo
o mundo outra vez mundo. A capacidade de produção,
atualmente na casa das mil bolsas

DNA brasileiro
por mês, será ampliada.

Borracha sobre lona


A marca nasceu no âmbito do projeto
Couro Vegetal da Amazônia, criado em
Na Alpargatas, Ângela Hirata ajudou a transformar as 1991 pela ambientalista Bia Saldanha.
Havaianas em febre mundial. Agora, sócia da AmazonLife, Em visita ao Acre, ela conheceu a prá-
tica dos seringueiros locais de aplicar
usa o apelo ambiental para converter sua linha de bolsas borracha sobre lona. O produto resul-
e acessórios em outro sucesso  Rebeca de Moraes tante é bastante parecido com o cou-
ro. A estréia da marca, ainda informal,

A
ocorreu durante a Eco-92, no Rio de
executiva Ângela Hirata presente nos 67 produtos da empre- Janeiro. Foi um sucesso instantâneo.
quer fazer pelas bolsas sa é um diferencial que, segundo a Bia chegou a fornecer a matéria-pri-
e acessórios da Ama- executiva, poderá garantir boas ven- ma, em 2004, para a grife Hermès, que
zonLife, marca carioca das nos quatro países em que já atua preparou uma coleção especial sobre
que usa matéria-prima (Japão, Estados Unidos, Inglaterra e a Amazônia. O negócio sucumbiu no
natural extraída (legalmente, diga- Itália). “Desde as Havaianas, o que ano seguinte, porém, à má adminis-
se) da Amazônia, o que já fez pelas eu vendo no exterior é o Brasil”, afir- tração e à falta de recursos.
sandálias Havaianas. Como diretora ma Ângela. “O produto muda, mas o O anjo da guarda da AmazonLife
de comércio exterior da Alpargatas DNA tem de ser brasileiro, o que dá foi o executivo e investidor Paolo Dal
entre 2001 e 2005, ela foi responsável um tom despojado e irreverente.” Pino, então presidente da operado-
por internacionalizar o sucesso do Nos 12 meses à frente da marca, ra de celulares TIM Brasil. Dal Pino
calçado de borracha, protagonista de Ângela já promoveu uma verdadeira comprou a empresa por conta de seu
uma das maiores viradas de posicio- revolução interna. Os produtos e a apelo universal. “A marca Amazon-
namento de marketing da história. comunicação da AmazonLife foram Life era desconhecida, mas cheia de
Para transformar as Havaianas reformulados neste ano pela equipe conteúdo e simples para comunicar”,
num ícone da moda, Ângela correu do OEstúdio, uma agência carioca afirma. Ainda assim, os negócios
mundo. E está disposta a repetir a composta por publicitários que tam- permaneceram com dificuldades. A
dose, agora vestindo a camisa – e bém atuam como estilistas. Além solução foi trazer Ângela, que se tor-
carregando a bolsa – da AmazonLife, disso, a única loja que a AmazonLife nou sócia minoritária, e sua enorme
onde está há um ano. A brasilidade tinha, no bairro do Jardim Botânico, experiência no mercado global. z

PIB 51
História

O rei que
sua chegada) e ensaiou os primeiros
passos em direção à vida adulta. Foi
a partir de dom João VI que o Brasil

inventou o Brasil
deixou de fazer parte exclusivamente
do Império Português e passou a fa-
zer parte do mundo. Nem todo o seu
legado é merecedor de elogios. Ele
nada fez, por exemplo, para eliminar
Com a chegada de dom João VI, 200 anos atrás, o ou pelo menos amenizar o sistema de
Brasil deixou de pertencer apenas ao império português escravidão, que, além de desumano
e indecente, foi um dos responsáveis
e passou a fazer parte do mundo  Rica r do Galu p p o pelo atraso econômico brutal do Bra-
sil em relação a outros países do mun-

O
do. Um atraso que só agora, no século
ano de 1808 tem para o unidade cultural e política do Brasil 21, começa a ser deixado para trás. De
Brasil uma importância do que qualquer outro governante. E, qualquer forma, o monarca fez muita
muito mais vigorosa do também, mais do que qualquer herói, coisa importante. E positiva.
que pode supor alguém anterior ou posterior a ele, da história
que tenha passado pe- do país. Por motivos compreensíveis O martelo e a bigorna
los livros de História sem prestar − que começam, naturalmente, pelas Tudo isso, claro, deve ser observado
atenção à quantidade e à qualidade dificuldades de comunicação im- à luz das circunstâncias que fizeram
das medidas tomadas por dom João postas pela própria metrópole −, o
VI assim que pisou pela primeira em Brasil que Tiradentes sonhou liber-
sua colônia sul-americana. Ou me- tar do jugo português começava no
lhor, em suas colônias de além-mar. coração de Minas Gerais e se estendia
Com as medidas que adotou depois até o litoral. O Brasil que Frei Caneca
de sua chegada ao Brasil, que com- desejava ver republicano ia, na me-
pleta 200 anos em lhor das hipóteses, do
2008, com as leis que Ceará a Alagoas. Na
revogou e, sobretudo, mão oposta, o general
com o peso da decisão Dom João Bento Gonçalves, anos
de transformar o Rio fez pela mais tarde, não pre-
de Janeiro na capital tendeu unir mas, ao
de seu reino, o en- unidade do país contrário, separar o
tão príncipe regente mais do que Rio Grande do Sul do
– primeiro soberano qualquer país. Se o Brasil teve a
europeu a colocar os unidade política e cul-
pés em uma colônia herói brasileiro tural que conserva até
americana e, mais do os dias de hoje, isso se
que isso, o único a dar a ela uma im- deve, em primeiro lugar, a dom João.
portância equivalente à da metrópo- Príncipe regente de Portugal des-
le – foi o governante que deu o em- de 1792 − ano em que sua mãe, a rai-
purrão para que o Brasil começasse nha Maria I, foi considerada demente
a se transformar em um país. −, dom João tornou-se rei a partir de
O soberano (que aportou no Rio 1816, quando foi coroado no Rio de Ja-
de Janeiro no dia 8 de março de 1808, neiro. Foi com dom João VI, que pas-
à frente de mais de 10 mil súditos, de- sou à História com fama de medroso
pois de uma longa e penosa travessia e hesitante, que o Brasil saiu da infân-
marítima), fez mais para assegurar cia (em que foi mantido ao longo dos
a extensão territorial e para forjar a 308 anos que vão do descobrimento à

52 PIB
com que dom João, toda a família real os maiores estímulos e pressões para mento, os navios de nações com as
e pelo menos 10 mil súditos em com- a transferência da família real, dese- quais Portugal mantivesse relações
pleto desespero embarcassem em 14 java que o país permanecesse como estáveis poderiam atracar nos por-
navios da frota portuguesa no cais de estava. Paris exigia que Portugal cor- tos brasileiros sem correr o risco de
Lisboa e se lançassem pelo Oceano tasse o comércio com a Inglaterra naufragar sob o tiro das fortalezas
Atlântico à aventura que os condu- e aceitasse os termos de Napoleão: costeiras. A medida significou, no
ziu ao Brasil. Dom João não decidiu a entrega do próprio trono portu- primeiro momento, o estabeleci-
transferir a sede da coroa para o Bra- guês. Dom João temia ter o mesmo mento de relações comerciais di-
sil porque desejava ficar mais perto destino de seu cunhado, o soberano retas entre o Brasil e a Inglaterra e
do coração econômico do império espanhol Fernando VII, apeado do gerou alguns abusos. O comerciante
que, já se sabia em Lisboa, pulsava trono de forma humilhante. Não re- inglês John Luccock, que chegou ao
nas colônias tropicais. Saiu porque conhecido por Napoleão, Fernando Brasil poucos meses depois da corte
era uma lâmina de ferro entre o mar- VII, que era irmão da princesa Car- portuguesa e permaneceu por dez
telo inglês e a bigorna francesa. lota Joaquina, mulher de dom João, anos no país, descreve que, logo
As duas potências européias, foi à França negociar sua posição e após a abertura dos portos, a In-
em guerra, desejavam que Portugal acabou preso até o fim da guerra. glaterra exportou para o Brasil um
pendesse para um dos dois lados. A primeira medida tomada por monte de quinquilharias inúteis nos
Portugal era, na época, um aliado dom João em território brasileiro, trópicos. Coisas como patins de ge-
solitário da Inglaterra, sua velha em sua passagem por Salvador, foi lo, agasalhos pesadíssimos e um tipo
parceira comercial, no continente a assinatura da Carta Régia de 28 de engenhoca abastecida com brasa,
europeu. Londres, de onde partiram de janeiro de 1808. Por esse docu- utilizada para aquecer as camas nas
noites frias do inverno europeu.
Além da má-fé de negociantes
Autor: Geoff Hunt RSMA / Proprietário: Kenneth Light

Travessia: a família ingleses, isso refletia a ingenuidade


real aportou com de um país embrionário, que ficara
10 mil súditos no Rio séculos impedido de manter relações
em março de 1808 comerciais estáveis com qualquer
nação que não fosse Portugal. Pouco
depois, países importantes passaram
a manter relações diplomáticas com
a nova capital do reino. Em abril de
1809, os Estados Unidos escalaram o
diplomata Thomas Sumter para ser
seu primeiro representante no Brasil.
E, à medida que a influência de Napo-
leão sobre a Europa começou a decair,
aumentaram os países que passaram
a ter negócios com o Brasil.

Os Brasis e o Brasil
A maioria dos brasileiros reconhece
em dom João VI o responsável pela
abertura dos portos às nações amigas e
pela fundação do Banco do Brasil. Sabe
que ele mandou instalar um Poder
Judiciário, criou as primeiras escolas
superiores de ensino leigo, autorizou
a implantação das primeiras indústrias,
financiou as primeiras pesquisas para
a aclimatação de espécies vegetais ao

PIB 53
História

clima dos trópicos, implantou a Im-


O REINO DO BRASIL prensa Régia e a Biblioteca Nacional
Com a chegada de dom João VI, as capitanias − e apenas isso já bastaria para assegu-
brasileiras, que antes obedeciam ordens de rar-lhe um lugar de honra na História.
Lisboa, passaram a ser comandadas do Rio de No entanto, ele foi muito além. “Culpar
Janeiro. Isso ajudou a desenvolver o sentimento dom João VI de não haver sido mais do
de unidade que, antes, esbarrava nas medidas que um monarca bem intencionado e
restritivas de Portugal. Para se vingar de Na- tachar de modesta sua obra reforma-
poleão Bonaparte, dom João ordenou a dora seriam duas injustiças pelas quais
invasão da Guiana Francesa. Ao os brasileiros não podem assumir a
sul, reforçou a presença responsabilidade”, afirma o historia-
dor Manuel de Oliveira Lima, autor de
um dos mais importantes livros escri-
tos sobre o período.
Até a chegada do príncipe regen-
te não existia Brasil. Existiam os Bra-
sis, onde viviam cerca de 2 milhões
de habitantes, grande parte deles
escravos. Antes, a maior autoridade
portuguesa na colônia americana era
o vice-rei, que despachava no Rio de
Janeiro. No entanto, ao contrário do
que a pompa do título é capaz de
sugerir, o poder do vice-rei não se
estendia sobre todas as colônias. Ele
começava e terminava no território
fluminense. O vice-rei não tinha au-
toridade sobre os capitães-gerais que
governavam as outras 16 unidades da
colônia (veja mapa). Cada capitania
recebia ordens diretamente de Lis-
boa e apenas a Lisboa devia obediên-
cia. Era um sistema muito parecido
com o adotado pela América Espa-
nhola, que, ao libertar-se de Madri,
viu-se fragmentada em nove países
apenas na parte sul do continente.
brasileira na Província Cis- Com a transferência da corte, o
platina (a futura República do papel que era exercido por Lisboa
Uruguai). Foi iniciada, ainda, passou a ser cumprido pelo Rio de
a construção de estradas em Janeiro. E muitas das situações an-
ritmo acelerado. Uma delas tes proibidas passaram a ser esti-
partia de Goiás em direção a Be- muladas. Foi revogada, por exemplo,
lém. Outra, facilitou as ligações de São uma lei que vigorava desde o ano de
Ilustração: Marcelo Calenda

Paulo com o sul de Minas. Uma fundição 1733 e vedava qualquer tipo de co-
de ferro foi instalada no Tijuco, Minas Gerais. municação ou intercâmbio entre as
Foi autorizada a criação de uma escola de medi- capitanias. A mesma lei proibia – a
cina em Salvador. A abertura dos portos bene- pretexto de impedir o contrabando
ficiou o comércio do Rio de Janeiro e estimulou, de ouro e de pedras preciosas – a
também, o comércio por Salvador e pelo Recife. construção de estradas no interior.

54 PIB
Trabalho e alegorias
UMA CORTE EUROPÉIA Os 13 anos em que dom João perma-
neceu no Rio de Janeiro foram fun-
NOS TRÓPICOS damentais para que o país se tornas-
A fuga de Lisboa, as dificuldades da travessia, se o que é. E suas influências − tanto
a chegada ao Brasil e as mudanças promovidas por positivas quanto negativas − ficaram
dom João VI no ambiente político, econômico e social impressas no perfil do estado e da
do Brasil estão descritas em detalhes nas páginas do nação. Datam da presença da corte
livro 1808, escrito pelo jornalista Laurentino Gomes portuguesa no Brasil, e do impacto
(Editora Planeta, R$ 31,80). Trata-se de uma das espetacular que isso significou na po-
visões mais abrangentes já lançadas sobre o período pulação do Rio de Janeiro, as primei-
em que o Brasil pavimentou o caminho que o conduziria à Independência. ras observações sobre a falta de arrojo
Gomes mostra com precisão o cenário da época e seu relato não fica para o trabalho dos brasileiros bem de
restrito apenas ao ambiente do Rio de Janeiro. Na medida do possível, ele vida. De qualquer forma, a mania de
procura explicar a influência da presença do rei sobre outros pontos do delegar tudo aos escravos está na ori-
Brasil. É um mergulho na História. gem de manifestações grandiosas da
cultura brasileira. O inglês Luccock,
Em seu best-seller 1808, o jornalista época) e, conforme aponta Oliveira por exemplo, revela espanto e destila
Laurentino Gomes observa que, a Lima, de um plano para assegurar o ironia diante das comemorações, em
despeito de haver construído os ali- replantio das espécies abatidas. Foi, 1810, do casamento de Maria Tereza,
cerces do Estado pesadão e ineficien- provavelmente, a primeira autorida- filha de dom João, com Pedro Carlos,
te que o Brasil jamais deixaria de ter, de a se preocupar com a necessidade primo da princesa Carlota Joaquina.
o príncipe regente foi extremamente de promover o manejo sustentável Foram montadas, e colocadas sobre
feliz ao se fazer cercar por um grupo da Amazônia – uma providência que carros, maquetes que reproduziam as
de auxiliares competentes e laborio- até hoje, mais de 200 anos depois, fortalezas portuguesas pelo mundo. E
sos. O primeiro ministério nomeado não foi implantada. o poder do soberano foi mostrado por
por dom João, relata Gomes, tinha a Sob dom João, com as estradas grupos cujas roupas aludiam aos po-
responsabilidade de “criar um país a que abriu e a centralização do poder vos americanos, europeus, africanos
partir do nada”. E foi em suas mãos, foi es- e asiáticos sob seu domínio.
o que ele fez. tabelecida a unidade Comemorações como essa, re-
Entre os auxi- do território – que pletas de gente fantasiada e com
liares de dom João, O ministro Souza seu governo tentou grandes alegorias montadas, eram
o mais destacado Coutinho já a­largar ainda mais. especialmente caras a dom João VI.
talvez tenha sido Por influência de Retire-se dos desfiles a pompa com
Rodrigo de Souza queria promover Rodrigo Souza Cou- que a monarquia pretendia cercá-la
Coutinho, o conde o manejo tinho, ele mandou e some-se a isso um fundo musical
de Linhares. É uma sustentável da os exércitos por- com base nos batuques, que à época
figura notável, pela tugueses sediados eram duramente reprimidos, e no rit-
capacidade de enxer- Amazônia no Brasil marchar mo que os negros brasileiros criariam
gar na frente. Em 22 em 1796 contra a Guiana anos mais tarde, e se tem aí o embrião
de novembro de 1796, Francesa, ao norte, de uma escola de samba. Os histo-
na condição de ministro responsável e ocupar, ao sul, a Banda Oriental do riadores ainda não se debruçaram
pela Marinha portuguesa, ele expe- Rio da Prata (o atual Uruguai). Assim sobre o tema. Caso o façam, é muito
diu de Lisboa um aviso a seu irmão, como conquistara, acabou perdendo provável que se chegue à conclusão
Francisco de Souza Coutinho, então os territórios. E passou a ter, ao norte que dom João VI, com sua mania de
governador do Pará. No aviso, o mi- e ao sul, os atuais limites do Oiapo- alegorias, tenha deixado suas digitais
nistro determinava a implantação de que e do Chuí. (O desenho definitivo até mesmo no carnaval carioca, que,
um sistema de controle para o corte da fronteira oeste só foi traçado algu- mais tarde, se tornaria uma das prin-
de árvores da floresta (a matéria-pri- mas décadas mais tarde, no final do cipais marcas culturais da presença
ma para a construção de navios na Império e início da República.) internacional do Brasil. z

PIB 55
Reportagem

Olhos e ouvidos do cliente


Cresce o número de empresários brasileiros interessados em pôr os pés na China.
Com eles, proliferam as empresas de assessoria especializadas em farejar negócios,
indicar parcerias, vistoriar produtos e aplainar diferenças culturais  Juliana Vale, de Beijing

A
China tornou-se a grande “fábrica
do mundo”. Seduz até empresários
do outro lado do planeta, como os
brasileiros, com custos tentadores
para todo tipo de operação indus-
trial. Mas, para fazer negócio com os chineses,
é preciso decifrar um complicado sistema fis-
cal, entender leis que não fazem muito sentido
fora do contexto asiático e aprender a negociar
preços e prazos de uma forma bem diferente do
estilo ocidental. E, de quebra, ser capaz de dri-
blar as barreiras da língua. Por isso, na mesma
proporção em que aumenta a demanda pelos
fornecedores chineses, cresce a quantidade de
empresas chamadas de “China Entry”.
São firmas de pequeno e médio porte que se
dedicam a facilitar a vida de quem quer operar
na China, mas não tem capital ou know-how
suficiente para montar uma operação pró-
pria. Algumas prestam assessoria estratégica,
outras lidam diretamente com os intermediá­
rios locais, facilitando a operação comercial
e aduaneira para os clientes de outras partes
do mundo. “Na hora de fechar negócios, aju-
da muito saber que você pode contar com um
compatriota já estabelecido aqui”, diz o sino-
brasileiro Sit Si Wei, sócio da consultoria Oping
Group, de Xangai, especializada em questões
financeiras, contábeis, legais e fiscais.
Com quase duas décadas de experiência no
exterior, Sit ajuda os empresários estrangeiros
a entender o mercado chinês. “A complexidade
legal e fiscal é enorme, e as regras mudam con-
tinuamente”, diz. Além disso, os chineses têm o
hábito de só fechar um contrato depois de longas
maratonas de negociação. “Até conseguir que eles
assinem um compromisso, passam-se meses”, diz Linha de montagem:
falta de confiança na
o consultor, fluente em mandarim e cantonês.
produção local garante
Quem freqüenta feiras comerciais na China contratos para as
pode encontrar também dois cariocas, Renato “China Entry”
Castro e Cláudio Meirelles, que trabalham no
AFP

56 PIB
mesmo ramo. Eles abandonaram acaba frustrado com
empregos executivos no Brasil para o controle de quali-
montar a Baumann, em Pequim, que dade”, diz ele.
já conta com cinco profissionais. A busca por in-
“Somos uma espécie de setor de mar­ formação local tam-
keting e logística de nossos clientes bém explica por que
aqui na China”, afirma Meirelles. as consultorias es-
tabelecidas na Chi-
Tomas: de
Desconfiança no selo divulgação
Campinas para
na estão em alta. O
Castro e Meirelles trazem ainda Shenzhen conhecimento do
clientes potenciais do Brasil para país pode fazer uma
feiras e exposições de negócios. Fa- grande diferença na
zem uma espécie de pacote, com to- artigos comprados na China é boa, os hora de introduzir uma marca ou um
dos os preparativos da viagem e um importadores pagam agentes locais produto no mercado chinês. Há casos
estudo de mercado personalizado para controlar cada compra e ad- em que a informação mais básica faz
para cada cliente. Podem também ministrar eventuais problemas com falta. Até a Coca-Cola foi vítima das
montar uma agenda de visitas téc- artigos defeituosos. O caso da norte- diferenças culturais. Segundo uma
nicas aos potenciais fornecedores americana Mattel, que recentemente notória anedota local, o refrigerante
chineses. Já atenderam mais de foi obrigada a fazer um recall de mais teria falhado na tradução do nome
60 clientes brasileiros, entre eles e de 18 milhões de brinquedos fabrica- para o mercado chinês. Foi rebati-
Construtora Norberto Odebrecht, o dos na China, é o exemplo máximo de zado, inicialmente, de “Kekekenla”.
Grupo Wheaton Brasil, a papelaria algo que ocorre com certa fre­qüência. Só depois de impressos milhares de
ABC de Brasília e diversas pequenas Já foram tirados de circulação pneus, peças de publicidade, os encarrega-
e médias empresas. rações animais, xaropes, entre outros dos do marketing da empresa des-
Nascido em Campinas, no inte- artigos produzidos com produtos no- cobriram, ao ouvir colaboradores
rior paulista, Tomas de Mello, 36 civos à saúde ou com defeitos graves locais, que o novo nome significava
anos, é outro desses facilitadores que de fabricação. A China está geográfi- algo como “morda um girino de cera”
vivem entre dois mundos. Ele fun- ca e culturalmente distante do dia-a- ou “égua recheada de cera”, depen-
dou a Midas Global, empresa com dia do empresário ocidental. Por isso, dendo do dialeto. De última hora, o
sede em Shenzhen, no sul da China, quando estouram escândalos, é uma refrigerante acabou sendo batizado
para prestar assessoria a quem quer missão quase impossível descobrir de “Kekou-kele”, que significa algo
comprar produtos manufaturados. em que etapa da produção – alta- como “felicidade na boca”.
“Vamos atrás dos fornecedores chi- mente terceirizada – as especifica- No caso dos brasileiros, esse tipo
neses que melhor se encaixam na ções foram desrespeitadas. de desafio ainda acontece de forma
descrição desejada”, diz Mello. bem discreta. “São pouquíssimas as
A Midas Global abriu as portas no Diferenças culturais marcas com poder para isso”, diz Sit.
início de 2006. Com cinco funcioná- Para o americano Kent Kedl, diretor “Na China, então... Nem as Havaianas
rios, seu faturamento nos últimos da consultoria estratégica Techno- são conhecidas aqui!” Excetuando
seis meses cresceu 160% em relação mic Asia, a responsabilidade também as companhias já internacionaliza-
ao primeiro ano. Um resultado aci- é da empresa contratante. Com mais das − como Vale, Petrobras, Embraco,
ma da expectativa mesmo para Mello, de duas décadas na Ásia, ele aponta Embraer ou Sadia −, a maioria das
que veio para a China como funcio- uma contradição básica: os ociden- empresas brasileiras procura a Chi-
nário de uma empresa similar e logo tais querem terceirizar a fabricação na para encontrar produtos e mão-
percebeu que poderia faturar mais de produtos na China especialmen- de-obra baratos. Ou para montar
trabalhando por conta própria. te por causa dos baixos custos. Mas uma filial e usar a expansão chinesa
A falta de confiança dos compra- acabam esquecendo que uma das para se abrir para o mundo. “Bem ou
dores na manufatura chinesa acaba principais razões da competitivida- mal, o fato é que aqui o empresário
sendo uma fonte importante de con- de chinesa é a mão-de-obra barata. recebe incentivos e tem muita faci-
tratos para esse tipo de empresa. Para “No dia em que o importador vem à lidade para exportar”, afirma Sit Si.
certificar-se de que a qualidade dos China checar a linha de produção, “No Brasil, é o contrário.” z

PIB 57
Carreiras

Expatriação
aditivada
Como a Petrobras prepara seus funcionários
para atuar em outros mercados, oferecendo
conhecimento sobre realidades diferentes para
evitar choques culturais  Ma r io G r an g e ia

T
er o passaporte em dia taram-se com maior facilidade a um
tornou-se um requisito novo estilo de vida.
indispensável para um Quando um funcionário vai ser
número cada vez maior expatriado, a área de mobilidade in-
de executivos brasilei- ternacional da estatal assume duas
ros – e não só por causa das viagens tarefas: a primeira é oferecer apoio
de negócios, mas das expatriações, logístico para questões práticas
aquelas valorizadas oportunidades como a escolha da casa e da escola
de trabalho em unidades de mul- dos filhos. A segunda, promover en-
tinacionais no exterior. Checar o contros para preparar a família para
passaporte, porém, é apenas uma uma realidade diferente. Essas me-
das muitas providências encaradas didas beneficiam tanto expatriados
pelos profissionais de primeira viagem
em mudança para como veteranos. O
países com cultura, vice-presidente de
idioma e hábitos di- Passaram até exploração e pro-
ferentes. Para ajudar dução da Petrobras
seus executivos e fa-
agora pelo America, João Fi-
miliares nesse tipo programa de gueira, que viveu
de situação, empre- treinamento quase metade de
sas globais criaram seus 25 anos de
programas a fim de
146 expatriados empresa em cargos-
prepará-los para as da estatal chave em Luanda, a
novidades da transi- capital de Angola, e
ção. Com atuação em mais 26 países, em Londres, na Inglaterra, atribui
a Petrobras instituiu um programa ao programa a maior tranqüilidade
com esse objetivo em 2005, depois de sua última mudança, em feve-
de identificá-lo como uma necessi- reiro, para Houston. Uma empresa
dade devido à acelerada expansão local, especializada na alocação de
da atividade internacional, pelo expatriados, foi contratada para dar
qual já passaram 146 expatriados da consultoria na acomodação dele, da
companhia (atualmente há 176 deles mulher e dos dois filhos e em deve-
no exterior). De lá para cá já vem co- res como as vacinas e os documen-
lhendo resultados: seus profissionais tos equivalentes aos utilizados no
sentem-se mais aptos para atuar em Brasil. “Com as questões adminis-
outros mercados e as famílias adap- trativas delegadas, podemos nos

58 PIB
Figueira: de
Houston para
a passarela,
na convenção
da Petrobras
ambientar mais cedo e dar logo tema atesta que a capacidade téc-
os resultados esperados”, afirma nica da pessoa às vezes deve pesar
Figueira, cuja unidade terá investi- menos do que a flexibilidade e a
mentos de US$ 4,9 bilhões até 2012, disposição para tomar decisões di-
equivalentes a 32% do orçamento ferentes das que costuma adotar”,
internacional da Petrobras. diz a coordenadora de mobilidade
As expatriações anteriores do internacional do RH da Petrobras,
executivo exigiram mais dele e da a argentina Elsa Maria Sola, há
família. Na primeira, ao partir como dez anos trabalhando com esses
geofísico para Luanda em 1984, ig- vaivéns. Segundo ela, o programa
norava o que ia encontrar. Além de de expatriados da companhia, que
resolver as obrigações do dia-a-dia, não se baseou em outros casos (na
era preciso administrar as diferen- Europa e nos EUA, a prática não é
ças culturais com os colegas ango- nova), é aprimorado com relatos de
lanos e belgas, sócios da Petrobras seus funcionários e obras de auto-
numa nova joint-venture para ex- res como a dupla Fons Trompena-
ploração de petróleo. “Não havia ars e Charles Hampden-Turner e
um acionista liderando a operação, o americano Dean Foster, que deu
o que requeria jogo de cintura para uma palestra lá dois anos atrás. É
negociar cada decisão”, lembra o de Foster a projeção de que uma ex-
executivo. Figueira permaneceu lá patriação de três anos mal-sucedida
até 1987 e por cerca de dois anos no pode custar mais de US$ 1 milhão ao
fim da década passada. negócio (a cifra nem inclui as perdas
de acordos e projetos fracassados).
Flexibilidade Um desafio inevitável, segundo
Ser flexível é decisivo para um pro- os especialistas, é lidar com outros
fissional credenciar-se para uma ritmos e prazos, modos de solicitar
expatriação. “A literatura sobre o tarefas e níveis de aprovação. “O ex-
patriado precisa estar pronto para
fazer um diagnóstico logo que en-
frenta uma situação nova”, observa
a antropóloga Carmen Migueles,
professora da Fundação Dom Cabral
com experiência nesses treinamen-
tos. “Essa capacidade é necessária
na vida profissional e na pessoal,
como quando é preciso entender um
filho incapaz de verbalizar seu des-
conforto com as mudanças.” Ao de-
parar com diferenças culturais, en-
contrar uma nova abordagem para
o problema pode ser imprescindível.
Exemplo disso foi a resistência dos
funcionários americanos em fazer
Fotos: petrobras/divulgação

exames médicos anuais, como no


Brasil. “Em vez de tentar impor essa
Hércules, gerente
rotina, que lá não está prevista em
em Angola: “Somos
embaixadores
lei, foi preciso trabalhar a consciên-
informais do país” cia das pessoas para convencê-las de
suas vantagens”, lembra Figueira.

PIB 59
Carreiras

Atenta para minimizar as difi- da Fundação Getulio Vargas (FGV) uma recepção aos colegas em casa, o
culdades de adaptação, a Petrobras no Rio de Janeiro. “O certo é que é gerente-geral na Líbia, Iran Garcia,
promove encontros para troca de um tempo valioso, um grande ganho fez sucesso ao saudá-los vestido com
idéias entre expatriados e repa- para todo currículo, que não pode uma túnica longa e sandálias. “Ao
triados (aqueles que voltam). Foi ser desperdiçado pelo profissional.” mostrar atenção com a cultura do
assim que a família Uma solução país, surpreendi a todos de maneira
de Hercules Silva, ge- encontrada para bem positiva”, lembra. A gerência de
rente-geral em Ango- diminuir a impres- comunicação da área internacional
la, viajou há dois anos A globalização, são de “peixe fora da Petrobras aproveitou exemplos
e meio sabendo das d’água” entre os como esse para estimular 100 de seus
condições adversas ao contrário expatriados – e, de executivos a valorizar outras modas.
de um país recém-saí- do que se pensa, quebra, cativar os No último encontro anual do quadro
do de uma guerra civil não atenuou funcionários locais gerencial, num clima bastante des-
de 27 anos. “Leva-se – foi aderir aos tra- contraído, muitos deles participaram
o dia todo para fa- as diferenças jes típicos em cer- de um desfile de trajes típicos e for-
zer as compras, pois culturais tas ocasiões. Ao dar mais e todos receberam uma cartilha
é preciso ir a vários
supermercados para achar tudo
que se quer”, lamenta o executivo,
que gasta três horas na ida e volta
do trabalho. “O trânsito é muito
saturado, pois Luanda tem dez ve-
zes mais que os 500 mil moradores
para os quais foi projetada.” Para
ele, o encontro entre as famílias
permite antecipar prós e contras
da mudança, mas não aplaca uma
eventual sensação de desconforto.
“Quem compara sua vida antes e
depois pode sofrer, mas recomendo
a todos que percebam o que há de
bom por aqui”, diz Silva.
Como ponto positivo, ele des-
taca as boas casas em condomínios
fechados e o uso de carros com
motorista, bancados pela empresa,
que participará da perfuração de
pelo menos 11 novos poços offshore,
onde investirá de US$ 200 milhões
a US$ 350 milhões. Especialistas
garantem que ter informação é a
principal arma para evitar o risco
de frustrar-se com a reviravolta de-
sencadeada pela expatriação. “Ler
sobre a cultura do país e conversar
com quem mora ou esteve lá são
Vestindo a camisa:
cautelas necessárias, por mais que
Daniel Vides/AFP

marca patrocina
a experiência dos outros seja in- o River Plate,
transferível”, diz Moisés Balassia- na Argentina
no, professor de gestão de carreiras

60 PIB
a sós. Mas, mesmo atento à cultura
Diplomacia cotidiana do país, ele não conseguiu evitar
um incidente na hora de contratar
Conheça algumas orientações práticas da Petrobras para seus
uma mulher como gerente (hoje
funcionários que atuam no exterior
são duas, no RH e na comunicação).
Cartão de visita :: nos países árabes, não entregue cartões com “Tive de descartar candidatas sem
a mão esquerda, considerada impura por ser usada na higiene pessoal; lenço na cabeça ou com uma saia
no Japão, a entrega com as duas mãos é sinal de respeito. inapropriada”, afirma Garcia. “Só
contratamos mulheres que adotem
Negociação :: os japoneses valorizam a linguagem indireta e podem
as regras do Corão.” Atualmente, ele
“desconversar” mesmo com notícias positivas. Para os indianos, respostas
conta com seis libianas numa equi-
evasivas são comuns e os argumentos que apelam a sentimentos e crenças
pe de 21 funcionários (entre eles,
são mais convincentes que os fatos objetivos.
três brasileiros).
Gestos inadequados :: na Índia, é um insulto apontar com o dedo (use Diferenças culturais como essa
a mão estendida ou o queixo) e acenar com a palma da mão para a frente são vividas mais intensamente
(coloque-a para baixo e mova os dedos). Assoviar é inaceitável e piscar devido à globalização, ao contrá-
o olho, insulto ou proposta sexual. rio do senso comum de que todos
se tornariam iguais, conforme
Atenção aos pés :: no mundo árabe e na Índia, não mostre a sola dos sapa-
observa Dean Foster em seu site
tos, pois é um insulto. Para os indianos, a planta do pé é impura.
Learn About Cultures. A crescen-
Fonte: cartilhas da Petrobras

Cores perigosas :: no Japão, não use roupa marrom (cor associada te internacionalização da Petro-
a frustrações); na Malásia, nada de amarelo-ouro (cor do rei), branco (luto) bras levou-a a acompanhar essa
ou preto; na Índia, branco e preto sinalizam falta de sorte (já o vermelho tendência criando, em 2006, um
e o amarelo são sinal de felicidade). programa de educação intercultu-
Presente proibido :: jamais presenteie um chinês com um relógio, ral voltado a funcionários na sede.
pois ele o associa à morte. Com a proposta de sensibilizá-los
para a diversidade, a iniciativa in-
clui workshops sobre distância e
de dicas para preparar malas e vestir- indireta é a essência da comunica- inserção cultural, cursos de idio-
se adequadamente. Esse guia reflete ção local, e para a inconveniência mas focados no trabalho e até um
um traço comum entre os expatria- em ressaltar demais suas virtudes MBA em negócio internacional,
dos: uma preocupação a mais com e feitos, pois a humildade é valo- ministrado pelo Ibmec. Embora
a imagem no trabalho. Eles alegam rizada ao extremo. Uma atitude não dirigido exclusivamente aos
que a natureza da companhia lhes dá absolutamente proibida entre os expatriados, o programa facilitará
um papel de representante do Esta- funcionários é comentar política a vida de quem for para o exterior.
do brasileiro lá fora. “A apresentação no exterior. Certa vez, um profis- “Conhecendo outras realidades, o
é muito importante, pois somos vis- sional criticou o modelo político e funcionário pode calibrar a forma
tos como embaixadores informais do a estrutura econômica em Cuba e de apresentar-se. Para os america-
país”, diz Hercules Silva. a estatal local solicitou sua retirada nos, ele assume a Petrobras como
da ilha. A situação foi contornada empresa de mercado, enquanto na
Entrelinhas através da conversa, mas nem por China pode ressaltar a ligação dela
O cuidado para evitar deslizes isso foi esquecida na empresa. com o Estado”, afirma José Augus-
diplomáticos, entre expatriados No mundo árabe, o rigor da re- to Carrinho, gerente setorial de
e enviados a missões, levou à pu- ligião islâmica e o tratamento dife- gestão do conhecimento de RH.
blicação de cartilhas focadas em renciado à mulher são as principais Torna-se claro, portanto, que
peculiaridades de outras culturas. barreiras culturais no caminho dos conhecer outras culturas e estar
A mais recente, sobre o contato expatriados. Em dois anos de Líbia, pronto para assimilá-las é hoje o
com japoneses, alerta para a im- Iran Garcia já viu que a mulher cede verdadeiro passaporte para o pro-
portância de “ler nas entrelinhas” a vez para o homem entrar no ele- fissional ser bem-sucedido no mer-
as negociações, pois a linguagem vador, evitando que os dois fiquem cado externo. z

PIB 61
Carreiras

Campeões C
ada vez mais, no mundo
corporativo, a palavra de
ordem é recrutar, treinar

de audiência
e desenvolver líderes
capazes de atender às
demandas de um mercado globali-
zado. Quais são os parâmetros que
vão guiar essa busca? Evidentemen-
Cresce a procura pelos cursos de Relações te, a economia sem fronteiras impõe
Internacionais e MBAs voltados à formação de uma renovação das qualificações ne-
cessárias para gerir negócios no ex-
profissionais e executivos globais  L ia Vasconc e los terior. Não é por outra razão que os
cursos voltados à formação de exe-
cutivos internacionais, na graduação
e na pós, nunca foram tão procura-
dos por estudantes e profissionais
brasileiros como agora. Entre 2000
e 2005, por exemplo, 126 cursos de
graduação em Comércio Exterior e
100 em Relações Internacionais (RI)
foram abertos país afora. Sinal dos
tempos: na Universidade de Brasí-
lia (UnB), as aulas de RI, cujo pú-
blico antes era predominantemente
formado por alunos que sonhavam
com a carreira diplomática, agora
recebem também jovens interessa-
dos em atuar no setor privado e em
organismos internacionais.
Ano após ano, o curso de RI tem
sido um dos mais disputados nos
vestibulares das universidades de
primeira linha, superado apenas
pelos tradicionalíssimos Medicina,
Direito e Administração. Na seleção
da Fuvest para matrícula na Univer-
sidade de São Paulo em 2008, foi o
terceiro curso com maior número
de inscrições, atrás apenas de Jor-
nalismo e de Publicidade. A mesma
situação se repete em outra escola
superior paulista, a Fundação Ar-
mando Álvares Penteado (Faap): ao
lado do curso de Moda, o de Rela-
ções Internacionais já é o mais co-
biçado pelos vestibulandos, ultra-
Fernanda: sonho
passando inclusive o próprio curso
Nélio Rodrigues

de trabalhar em
órgãos internacionais
de Economia, a cuja faculdade o de
mais próximo RI está vinculado. “Damos ênfase a
temas como negociação, cooperação

62 PIB
internacional e finanças nacionais e
internacionais”, diz o professor Luiz
Alberto Machado, vice-diretor da
Faculdade de Economia da Faap.
De acordo com o professor Ma-
chado, os alunos estão de olho nas
empresas que vêm se internacio-
nalizando. “Nosso objetivo é criar

Danilo Verpa/Folha Imagem


líderes criativos”, afirma. “Prepa-
ramos todos para ser ou executivos,
ou empreendedores.” É exatamente Fuvest: RI é o
o que quer Paulo Caselato, estudan- terceiro curso mais
te do quarto ano de RI da Faap. Aos procurado para 2008
22 anos, Caselato encara duas pos-
sibilidades para seu futuro profis- entrou na faculdade de RI sonhan-
sional: trabalhar em uma empresa
privada ou criar uma empresa que
A carreira do em virar diplomata ou trabalhar
em algum organismo internacional.
fomente o comércio entre Brasil a um clique Do sonho de ser diplomata logo de-
e Rússia, país no qual vislumbra Sites de alguns dos cursos sistiu porque se desinteressou pela
grandes oportunidades de negócio. de Relações Internacionais mais carreira e percebeu que passar no
Caselato, que estagiou durante um requisitados do país Instituto Rio Branco seria difícil.
ano e meio na Bolsa de Mercadorias Durante a faculdade, descobriu a
z Universidade de São Paulo:
& Futuros (BM&F), em São Paulo, parte acadêmica da carreira. “Um
www.usp.br
e toma aulas regulares de russo, doutorado fora do Brasil pode me
pretende, assim que terminar sua z Pontifícia Universidade Católica abrir caminho para trabalhar em
graduação no meio do ano que vem, de São Paulo: www.pucsp.br/ri/ organismos internacionais, como
fazer um mestrado sobre processos planejei desde que entrei na facul-
z Fundação Armando Álvares
globais na Universidade de Moscou. dade”, diz Fernanda.
Penteado: www.faap.br
“Ainda preciso achar um nicho de
mercado”, diz Caselato. z Universidade de Brasília: Sala de aula global
www.unb.br A experiência internacional para
Cinco estrelas z Pontifícia Universidade
quem procura preparar-se para uma
Criado em 1996, o curso de Relações carreira global pode começar já na
Católica de Belo Horizonte:
Internacionais da Pontifícia Univer- graduação. Os cursos de RI e de Co-
www.ri.pucminas.br
sidade Católica de Belo Horizonte mércio Exterior são boas portas de
(PUC-BH) foi apontado como um entrada. Com 12 anos de existência,
dos dois melhores do Brasil, com não deixa de lado as demandas do o curso de RI é um dos mais pro-
avaliação cinco estrelas (excelen- mercado de trabalho. Ao todo, o curados no vestibular da PUC-SP −
te), pela edição de 2007 do Guia do curso de Relações Internacionais em 2002 ficou em quarto lugar em
Estudante, da Editora Abril. Ao lado possui 428 alunos matriculados e números relativos, à frente de ra-
do curso da UnB, destacou-se pelo abriu neste ano sua primeira turma mos tradicionais como Engenharia,
currículo abrangente e pela realiza- de mestrado. São, em média, sete Direito e Economia. Um convênio
ção de pesquisas avançadas. “Cerca candidatos que disputam todo ano entre a universidade brasileira e o
de 90% do corpo docente do nosso cada uma das 120 vagas oferecidas Institut d’Études Politiques de Paris
departamento está envolvido em no vestibular. (Sciences Po) permite que estudan-
algum projeto de pesquisa”, afirma Uma dessas alunas é Fernanda tes de RI obtenham, em cinco anos,
Javier Alberto Zadell, coordenador Cinini Salles, de 22 anos, que está no diplomas das duas instituições. Há,
do departamento. De acordo com oitavo período, prestes a se formar. ainda, a possibilidade de realização
ele, embora tenha um perfil aca- Cinini, que já é dona de um diplo- de um estágio profissional na Fran-
dêmico, o currículo da graduação ma de bacharel em Ciências Sociais, ça, com duração de um semestre.

PIB 63
Carreiras

A globalização das salas de aula quatro universidades estrangeiras,


é mais freqüente, no entanto, nos Megumi ocupava o cargo de geren-
cursos de MBA e pós-graduação, te de relacionamento do banco. Em
que dão ao aluno a possibilidade de seguida, recebeu a missão de mudar
fazer módulos de especialização em completamente de atividade para
escolas e universidades estrangei- desenvolver a estrutura de negócios
ras. O objetivo, como sempre, é fa- da corretora do Votorantim em Nova
zer dos alunos cidadãos do mundo. York. O desafio foi encarado com na-
Os MBAs com módulos internacio- turalidade. “Ter feito o MBA foi fun-
nais têm funcionado como bons e damental para me dar a autoconfian-
eficientes passaportes, oferecendo ça que as novas atribuições exigiam”,
aos alunos, desde o começo de sua diz Megumi. “Perdi, por exemplo, o
vida profissional, a oportunidade de medo de enfrentar reuniões com in-
criar relações fora do país. vestidores estrangeiros.”
Foi o que aconteceu com a exe- O MBA com módulos internacio-
cutiva Megumi Wadade, 41 anos, ge- nais capacita não apenas os execu-
rente de desenvolvimento de negó- tivos que querem trabalhar fora do
cios do Banco Votorantim em Nova país como também os empreende-
York. Antes de se transferir para os dores que almejam expandir seus
Estados Unidos, onde vive e traba- negócios para além do território
lha há cerca de um ano, ela cursou nacional. Esse é o caso de Carlos Al-
o OneMBA da Escola de Adminis- berto Elias Júnior, diretor-geral do
tração de Empresas de São Paulo da grupo Elias, de Tangará da Serra, em
Fundação Getulio Vargas (Eaesp- Mato Grosso, que revende produtos lia. “Meu objetivo de curto a médio
FGV). Na época em que freqüentava agropecuários e industriais. Elias Jú- prazo é estruturar uma trading para
o curso, oferecido e financiado pelo nior decidiu fazer o OneMBA depois exportar soja e importar insumos
Grupo Votorantim, com módulos em que assumiu os negócios da famí- básicos”, diz.

Globalização se aprende na escola


Conheça alguns dos cursos de MBA e pós-graduação para formar executivos internacionais
1. OneMBA 2. MBA Global Partners 3. MBA In-Company
Instituição :: Escola de Instituição :: Instituto de Instituição :: Ibmec
Administração de Empresas Pós-Graduação e Pesquisa Mais informações ::
de São Paulo da Fundação em Administração (Coppead), www.ibmecsp.edu.br/mba/
Getulio Vargas da Universidade Federal
Turma :: 110 pessoas nas cinco do Rio de Janeiro (UFRJ) 4. Pós-Graduação em
escolas parceiras – FGV, Instituto Turma :: 20 a 30 pessoas nas Gestão de Comércio Exterior
Tecnológico de Monterrey, três escolas parceiras – Coppead, Instituição :: Senac-SP
México, Rotterdam School Institut d’Administration dês Turma :: 20 no mínimo
of Management, Holanda, Enterprises, da Universidade Duração :: um ano e meio
Universidade da China, Hong Sorbonne, França, e Robinson Preço :: R$ 570,00 mensais
Kong, e Universidade da Carolina College of Business da Universidade Taxa de inscrição :: R$ 50
do Norte, Estados Unidos da Georgia, Estados Unidos Processo seletivo :: até 14/2/2008
Duração :: 21 meses Duração :: 12 meses Matrícula :: 20 a 23/2/2008
Preço :: R$ 90 mil Preço :: US$ 35 mil Início das aulas :: a partir de 23/2
Mais informações :: Mais informações :: Mais informações :: www.sp.senac.br
www.eaesp.fgvsp.br www.coppead.ufrj.br E-mail :: posgraduacao@sp.senac.br

64 PIB
nhum brasileiro ter se matriculado
no programa do Coppead. É que a
maior parte do curso é ministrado
fora do Brasil. São sete meses nos
Estados Unidos, um mês no Rio de
Janeiro e outro na França, além de
duas semanas na China. “Felizmen-
te, agora estão começando a apare-
cer alguns brasileiros interessados.”

Pequenas no mundo
Enfrentar os desafios da internacio-
nalização não é uma exclusividade
dos executivos de grandes grupos
nacionais, como Votorantim, Ger-
dau, Odebrecht ou Embraer ou de
quem pretende trabalhar para eles.
Nos últimos tempos, é crescente a

Epitácio Pessoa/AE
inserção externa de empresas de
Caselato: curso
de russo para
pequeno e médio porte. De olho
conquistar Moscou nesse nicho, o Senac São Paulo ins-
tituiu a pós-graduação em Gestão
de Comércio Exterior, que passará
Ainda que em moldes um tan- da ocupação dos bancos escolares a funcionar já em 2008. “O objetivo
to distintos, o Ibmec São Paulo anima os responsáveis pelo Global é preparar traders, analistas e em-
também oferece a seus alunos de Partners MBA, mantido pelo Insti- presários por meio da imersão em
MBA a possibilidade de passarem tuto de Pós-Graduação e Pesquisa comércio internacional, com o es-
por uma experiência fora do Brasil em Administração (Coppead), da tudo de operações de importação e
durante a fase de aprendizado: são Universidade Fede- exportação e técni-
os cursos in-company, elaborados ral do Rio de Janeiro cas de negociação”,
e desenvolvidos de acordo com as (UFRJ). Surgido em diz Ana Carolina
necessidades das empresas em que 2003, na esteira da Empreendedores Duarte, coordena-
eles trabalham. Os programas cor- onda mais recente de olho no dora do programa. 
porativos customizados existem
desde 2003 e, a partir de 2005, seus
de internacionaliza-
ção, o curso abriga
exterior também O principal dife-
rencial do curso, na
alunos contam com a possibilida- uma turma anual de se beneficiam visão dela, é trans-
de de fazer um rápido intercâmbio 20 a 30 estudantes. dos cursos formar um execu-
no exterior. O programa geralmen- Com um detalhe: até tivo que já tenha
te dura dois anos e comporta uma hoje não teve alunos brasileiros – na traquejo na parte operacional em
turma de 30 pessoas. “Preparamos turma atual, 50 % são americanos alguém em condições de buscar
gestores para atuar em outros paí- e 50% de vários outros países. “Em novos negócios e intermediar acor-
ses”, afirma Silvia Ethel, coordena- sua maioria, são empreendedores dos no exterior para as pequenas e
dora de novos negócios da área de que querem internacionalizar seu médias empresas. Outra caracterís-
programas corporativos do Ibmec negócio e, em menor proporção, tica não menos importante é o in-
São Paulo, que mantém parcerias executivos que buscam uma colo- centivo ao empreendedorismo. “O
com universidades nos Estados cação no exterior”, afirma Victor executivo será formado tanto para
Unidos, França e China. Almeida, coordenador do Global trabalhar em uma empresa como
A expectativa de que esse inte- Partners MBA. trader quanto para abrir o próprio
resse das companhias brasileiras se Há uma boa explicação, segundo negócio e prestar consultoria”, afir-
traduza num aumento ainda maior Almeida, para o fato de até agora ne- ma Ana Carolina. z

PIB 65
Idéias

A miragem americana
Em vésperas de eleições nos Estados Unidos sempre Ali se aprendia desde os tempos do
New Deal de Franklin D. Roosevelt
se pergunta o que é melhor para o Brasil: vitória que a política comercial americana
dos democratas ou dos republicanos? É bom saber obedecia a duas Igrejas. A protecio-
que, em matéria de política comercial, os dois lados nista, dos democratas. A de mercado,
quando é a vez dos republicanos. As
nunca foram tão parecidos   Pa u lo Mo r e i r a L e i t e * últimas décadas mostraram uma mu-

C
dança nesse quadro. Descontando as
onsiderando que os brasi- espetaculares de Bill Clinton. Isso aberrações típicas da gestão George
leiros não têm título elei- ajuda a explicar a popularidade dos W. Bush, republicanos e democratas
toral para participar da presidenciáveis democratas, a come- caminham em direção ao centro po-
escolha do ocupante da çar pela senadora Hillary Clinton. lítico, tomando distância das postu-
Casa Branca, convém en- Para os países em busca de alavan- ras extremadas do passado.
carar a próxima eleição presidencial cas para o desenvolvimento, a suces- Foi o republicano Ronald Reagan,
americana sem perder de vista o lado são de Bush não promete novidades. considerado o patrono internacional
de baixo do Equador. O alto índice de Sobretudo naquele terreno em que as da desregulamentação e da economia
rejeição a George W. Bush e ao Parti- frases de efeito são despidas de ade- de mercado, quem tornou rígidas as
do Republicano é um fator relevante. reços enganadores para ser reduzidas regras para a entrada de automóveis
Confirma a recusa à política externa a fatos concretos – o comércio inter- japoneses no país – forçando, inclusi-
do atual governo, que produziu o nacional. Democrata ou republicano, ve, que as montadoras abrissem fábri-
atoleiro do Iraque e ameaça o plane- o próximo presidente dos Estados cas em território americano. Por outro
ta com uma permanente elevação da Unidos dificilmente tomará iniciati- lado, coube ao democrata Bill Clinton
temperatura política. No plano inter- vas de grande porte nesse terreno.  consumar o Nafta, o acordo de livre
no, o governo Bush foi marcado por A experiência recente ensina que comércio que abriu as fronteiras dos
um crescimento econômico medío- é preciso atualizar a cartilha dos Estados Unidos para os produtos do
cre, quando comparado com os anos calouros dos estudos diplomáticos. Canadá e do México. Ou seja: nos
exemplos acima nem o republicano
Reagan agiu de acordo com a cartilha
liberal nem o democrata Clinton re-
zou pela bíblia do protecionismo.
Os dois partidos, hoje em dia,
comungam a noção de “liberação
competitiva” – um esforço para abrir
fronteiras que assegure contraparti-
das compensadoras para a economia
americana. A idéia é abrir – desde
que seja para não perder. Um exem-
plo cruel, mas limitado, dessa políti-
ca foram os acordos com os países da
América Central, o chamado Cafta
RD. Pelas regras em vigor, a impor-
Paul Richards/AFP

tação de roupas fabricadas em países


centro-americanos está liberada nos
Estados Unidos. Mas é preciso cum-
prir uma condição – o fio deve ser
Semelhanças: democratas e republicanos comungam a noção de “liberação competitiva” produzido nos Estados Unidos. Sem

66 PIB
esse certificado de origem, o tecido
será taxado normalmente.
No terreno estratégico dos subsí-
dios agrícolas, é difícil encontrar dife-
renças notáveis entre Clinton e Bush.
Para os países pobres, o prejuízo pro-

Mandel Negan/AFP
vocado por esse tipo de subsídios é
conhecido. Torna os preços ameri-
canos artificialmente imbatíveis no
mercado internacional, dificulta as
exportações para os Estados Unidos Hillary Clinton e Barak Obama: popularidade estimulada pela rejeição ao governo Bush
e desencoraja a produção nos países
menos desenvolvidos. Nos quatro caminhoneiros mexicanos enfrentam dá pouco espaço para conflitos dou-
anos do segundo mandato de Bill todo tipo de barreira para transportar trinários de alto risco. Nas regiões
Clinton, a previsão de ajuda direta do mercadorias pelo lado americano da industriais, onde o voto operário é
governo aos agricultores cresceu sete fronteira graças à pressão do podero- importante e os empregos podem ser
vezes. No seu primeiro ano de man- so (em diversos sentidos) sindicato de ameaçados por acordos ruins do pon-
dato, George Bush inaugurou uma caminhoneiros dos Estados Unidos. to de vista local, republicanos e de-
política agrícola com um reforço de Esses conflitos têm originado a mocratas têm um discurso parecido
80% no nível de subsídios, com previ- crítica de que os Estados Unidos não e defendem medidas semelhantes. O
são de acumular US$ 180 bilhões nos praticam em sua própria alfândega mesmo ocorre em áreas rurais, onde
dez anos seguintes. Essa intervenção aquilo que cobram dos parceiros parlamentares dos dois partidos não
incluiu desde o aumento em mais de comerciais. É uma visão tentadora, admitem a diminuição de um centavo
40% na ajuda máxima por agricultor, tem base em fatos, mas precisa ser no pacote de benefícios destinado à
o auxílio em caso de queda nos pre- mais bem calibrada. Nenhum país agricultura. O deputado americano é
ços, a ampliação da área beneficiada de grande porte cobra taxa zero ou forçado a buscar apoio do eleitor de
e mais um punhado de medidas to- próximo disso para 40% de suas im- seu distrito a cada dois anos – e não
madas na mesma di- portações, como em quatro, como em muitos países –,
reção. Exemplos de fazem os america- o que só diminui sua disposição para
atitudes como essa nos. Os subsídios provocar mau humor entre a popu-
não faltam. No terreno dos para o setor rural lação. Por fim, o voto é voluntário,
A exportação de americano cobrem, sendo usado pelo eleitor mais poli-
camarões brasileiros subsídios agrícolas, em média, 11% da tizado, que acompanha os interesses
já enfrentou proble- é difícil encontrar renda do setor. Na de sua região e sabe quem votou no
mas, nos Estados diferenças notáveis União Européia, quê, quando, por qual razão.  
Unidos, em função o subsídio chega Esse sistema político voltado
de uma denúncia de entre os a 32%. (No Brasil, para os interesses internos impõe
que nossos pesca- dois partidos fica em 6%.) limites à área externa. O  comércio
dores não respeita- A força desse americano pode produzir ótimas no-
vam o ambiente natural onde viviam sistema reside nas instituições políti- tícias para seus parceiros, como tem
as tartarugas marinhas, vizinhas de cas do país, que privilegiam o debate ocorrido inclusive com o Brasil nos
oceano. Forçada a abrir uma fábri- em torno de interesses locais. Pela le- últimos anos. Mas a visão de um sal-
ca nos Estados Unidos para poder gislação, o Congresso tem direito à úl- to de qualidade nas relações de troca,
vender sua mercadoria naquele país, tima palavra em matéria de comércio capaz de jogar a economia de países
a renomada indústria italiana de te- exterior, assunto sempre prioritário em desenvolvimento num novo pa-
cidos Loro Piana já enfrentou ações no país que abriga a maior economia tamar graças ao acesso ao mercado
pesadas de produtores da Carolina do do planeta. Nos Estados Unidos, vi- americano, ameaça manter-se como
Norte nos tribunais comerciais – pela gora o sistema de voto distrital puro, sempre foi – uma miragem. z
mesma razão. Embora o Nafta assegu- que privilegia o debate em torno das
re o livre comércio entre os países, os questões concretas de cada eleitor e * Paulo Moreira Leite é jornalista

PIB 67
Finanças

A conquista
do oeste
A pergunta: o que o Itaú tem a ganhar no Chile, quando
poderia lucrar mais se ampliasse seus negócios no Brasil?
A resposta: muito mais do que dinheiro  J u liana Ga rçon

E
m Roma, diz o velho dita- casa do Brasil. Por mais robustas,
do, aja como os romanos. modernas, confiáveis e lucrativas que
Pois foi mais ou menos o as instituições brasileiras tenham se
que fez o Banco Itaú ao tornado nas últimas décadas, isso
cruzar a Cordilheira dos não era percebido com clareza nes-
Andes rumo ao Oeste, em busca de sa parte dos Andes, onde a marca
espaço no disputado mercado ban- Itaú era, de acordo com as pesqui-
cário do Chile. A missão teve início sas, identificada com uma agência
em maio de 2006, logo após anúncio de viagens, não com um banco. Num
do acordo pelo qual o segundo maior ramo de atividade em que a confian-
banco privado do Brasil assumiu as ça é a base do negócio, esse era um
operações do BankBoston na região. problema considerável. “O Chile e o
Isso incluiu, além dos negócios que Uruguai estão de costas para o Bra- “A médio prazo, o cenário deve
a instituição ameri- sil e de peito aberto mudar e a presença dos bancos bra-
cana tinha no Brasil, para Ásia, Europa sileiros no exterior, aumentar”, diz o
as agências instala- e Estados Unidos”, professor Alexandre Fialho, diretor
das no Uruguai e no diz Ricardo Marino, de Relações Institucionais da Funda-
Chile. Identificado,
Desafio maior diretor da área ex- ção Dom Cabral. “Até porque a hege-
no Brasil, principal- do banco foi terna do Itaú. “É de- monia mundial dos Estados Unidos
mente com as ope- substituir uma safiador fazer uma vem sendo questionada no mundo
rações de varejo em transição e um tra- inteiro.” Enquanto isso não aconte-
larga escala, o Itaú
bandeira balho de aceitação ce, a solução encontrada pelo Itaú foi
precisou se armar de norte-americana, da marca.” se adaptar às exigências do cenário
alguma cautela e de sinônimo de A entrada no a ponto de ter a cautela que adotou
muito planejamento mercado chileno fez para ingressar no mercado chileno
para buscar o suces-
solidez para parte de um pacote confundida por alguns observadores
so no novo mercado. os chilenos que incluiu, além das distantes com dificuldade para se fir-
O acordo signifi- agências locais, as mar no novo mercado.
cava mais do que uma simples troca 140 agências do BankBoston no Bra-
de logomarcas nas fachadas das 50 sil e outras 15 no Uruguai. Em troca, Cores sóbrias
agências que o BankBoston tinha em o banco brasileiro emitiu ações e O banco, que no Brasil se apresen-
território chileno. Significava, para transferiu 7,44% de seu capital para ta ao público com uma cor forte,
início de conversa, a substituição de o Bank of America, o controlador do o laranja, e com uma mensagem
uma instituição de origem americana BankBoston. O Itaú também assu- de instituição jovem, inovadora
(cujo sistema bancário é visto pelos miu, por meio de sua subsidiária na e parceira, assumiu um modelo
chilenos como um dos mais sólidos e Europa, as operações do BankBos- de comportamento mais discreto.
bem-regulados do mundo) por uma ton em Miami e Nassau. “Fizemos pesquisas para entender

68 PIB
onde tem presença de destaque des-
de os anos 1990. O modelo de atuação,
no entanto, será mais parecido com o
da bandeira “Personnalité” − que no
Brasil é voltada para os segmentos de
renda mais elevada. Outro ponto im-
portante: todos os gerentes, executi-
vos de conta e de produtos da antiga
rede do BankBoston foram mantidos
para que a instituição “mudasse sem
mudar”. “Trocamos a fachada e as
cores, mas a essência permanece”,
diz Marino. “Os valores e a missão
são os mesmos.”
Aparentemente, a estratégia está
sendo bem-sucedida. Num país com
pouco mais de 15 milhões de habi-
tantes − uma população menor que a
da região metropolitana de São Paulo
−, disputado por instituições locais e
Marino, do Itaú:
estrangeiras (veja quadro), é natural
itaú/ Divulgação
recorde de abertura
de contas no Chile
que os números do Itaú no Chile se-
desde abril jam mais modestos do que no Brasil.
Hoje o banco tem pouco mais de 60
mil contas de pessoas físicas e quase
13 mil de pessoas jurídicas − um to-
PESOS E MEDIDAS tal de 10 mil a mais que na época em
que assumiu a rede do BankBoston.
Em matéria de volume de negócios, a operação do Itaú no Chile
O crescimento previsto para 2007
está a quilômetros de distância dos negócios no Brasil. Mesmo assim,
é de 20%. A própria quantidade de
é fundamental para a estratégia do banco a presença a oeste dos Andes
agências vem se expandindo. Eram
50 em meados de 2006. Até março de
Itaú no Brasil Itaú no Chile 2008 serão 60. Está, ainda, abrindo
z Agências: 2.678 agências e 747 z Agências: 53 uma corretora. “Desde abril mante-
postos de atendimento bancário z Funcionários: 1.791 mos recordes de abertura de contas,
z Funcionários: 63.164 z Clientes: 74 mil o que nunca havia acontecido em
z Clientes: 21 milhões z Ativos: R$ 7,3 bilhões duas décadas de presença do Bank-
z Ativos: R$ 255,4 bilhões z Patrimônio líquido: Boston no Chile”, diz Marino.
z Patrimônio líquido:  R$ 778 milhões
R$ 26,5 bilhões Grau de investimento
A pergunta necessária é: para que
como pensa o cliente chileno”, diz menos agressivos e o público, por sair em busca de um lugar ao sol
Marino. “Os estudos revelaram que natureza, um pouco mais conser- em mercados menores e mais dis-
os correntistas herdados do Boston vador que o brasileiro. putados do que o brasileiro quando
não podiam ser colocados no mes- Para encurtar a história, o banco é possível ter, na própria casa, um
mo portfólio da maioria de nossos optou por conservar, no Chile, a mar- dos terrenos mais férteis que um
clientes brasileiros.” No Chile, a cor ca Itaú, que lhe garante visibilidade e, banco pode encontrar pela frente
viva foi substituída por um pratea- de acordo com as pesquisas, é vista em todo o planeta? O lucro que o
do sóbrio − muito mais adequado como um sinal de solidez e de cre- Itaú obteve no mercado brasileiro
a um mercado onde os bancos são dibilidade no Brasil e na Argentina, nos primeiros nove meses de 2007

PIB 69
Finanças

− de R$ 6,4 bilhões de reais − é mais timento” outorgado pelas agências estratégia”, diz Tâmara Berenholc,
ou menos igual a todos os ativos de rating internacionais que o Brasil analista da Standard & Poor’s para o
que o banco assumiu ao colocar os deve conquistar dentro de alguns me- setor bancário. “Sua busca por novos
pés no mercado chileno. Além do ses. Além disso, é um mercado mais mercados pode ser vista como uma
mais, o espaço para crescimento é estável e maduro que o brasileiro − forma de diluir o risco.”
maior no Brasil, onde as operações com taxas de juros mais modestas Enquanto, no Brasil, os bancos
de crédito equivalem a apenas 30% tanto para quem toma quanto para lucram horrores com a transação
do PIB. No Chile, chegam a 60% e, quem aplica dinheiro. Uma pesqui- de títulos públicos, o crescimento
nos Estados Unidos, são superiores sa da agência Standard & Poor’s pu- no mercado chileno é puxado pelos
a 100% do PIB. “Um banco não deve blicada em outubro do ano passado empréstimos a pessoas físicas e às
buscar apenas a expansão de mer- indica o mercado financeiro chileno pequenas e médias empresas. Um
cado e de lucratividade”, diz Fialho, como o de menor risco na região da exemplo: o crédito imobiliário, base-
da Fundação Dom Cabral. “Ele pre- América Latina. Isso se deve à exis- ado em hipotecas, representa apenas
cisa se preocupar, também, com ou- tência de marcos regulatórios bem 2% das operações bancárias no Brasil.
tros aspectos, como a diversificação definidos, aos sólidos fundamentos No Chile, são 15%. No Brasil, as pri-
do portfólio.” macroeconômicos do país e ao con- meiras linhas de financiamento com
Há, ainda, um detalhe que não senso político que reduz o risco de prazos de 25 anos foram anunciadas
pode ser desprezado. O Chile conta mudanças abruptas no sistema fi- há poucos meses. No Chile, são nor-
há alguns anos com o “grau de inves- nanceiro local. “O Itaú não mudou de mais os financiamentos de casa pró-
pria com linhas de 30 a 40 anos.
Versão prata: cores A consolidação do mercado local,
fortes usadas no com diversificação de ativos, já vem
Brasil (abaixo) foram sendo explorada por outros bancos
trocadas por tons nesta década. Em 2002, o Santander
mais sérios no Chile Chile comprou o Banco de Santiago
e se tornou o maior do país. O Ban-
co de Chile se fundiu com o Banco
Edwards e ocupou a segunda posi-
ção. Juntas, as duas instituições fica-
ram com 40% do mercado. O setor é
altamente concentrado em relação
ao brasileiro, mas a entrada de no-
vos agentes − o Fallabella em 1999, o
Ripley em 2002, o Monex e o HNS
em 2003, e Penta e o Paris em 2004
− indica que há espaço para bancos
interessados em atender nichos es-
pecíficos de mercado.
O Itaú tem atualmente mais de
US$ 5 bilhões investidos no exterior
e presença em países da Europa, no
Japão e nas cidades chinesas de Xan-
gai e Hong Kong. Também opera nos
Estados Unidos. A expansão começou
nos anos 80, quando o banco brasilei-
Fotos: Itaú/Divulgação

ro entrou no mercado americano. Em


meados da década seguinte, começou
a atuar na Argentina. “O movimento
está vinculado à globalização de nos-
sos clientes”, diz Marino. z

70 PIB
Finanças

Fábrica da AmBev:
cervejaria foi a primeira

Alaor Filho/AE
brasileira a atingir grau
de investimento

Em busca constitui causa e efeito da percepção


positiva da Votorantim nos meios fi-

do santo grau
nanceiros internacionais. Em maio
de 2004, quando 65% de sua dívida
bruta, de R$ 12 bilhões, venciam em
24 meses e corroíam o fluxo de caixa,
a companhia iniciou um esforço de
É árduo o caminho para ingressar no seleto clube reorganização das finanças das áreas
das companhias ungidas pelas agências de industriais com o objetivo de alon-
classificação de risco, mas as boas notas são gar prazos e reduzir custos de endi-
vidamento. Um ano depois, quando
fundamentais para atrair investidores e facilitar havia encolhido a parcela de curto
a expansão internacional  J u liana Ga rçon prazo da dívida para 42%, recebeu
da agência de classificação de risco

A
americana Standard & Poor’s (S&P)
Votorantim, o quarto zinco com cinco usinas nos Esta- o grau de investimento – uma espé-
maior grupo empresa- dos Unidos e outra em instalação cie de atestado de bom pagador.
rial do Brasil, tem de- na China. Com isso, a participação A partir daí, viu aumentar o nú-
monstrado um fôlego das operações internacionais nas mero de investidores interessados em
e tanto. Em outubro receitas da empresa elevou-se para comprar seus títulos de dívida emiti-
passado, anunciou investimentos 40%. Outros US$ 500 milhões serão dos no exterior e tratou de fazer três
de R$ 25,7 bilhões para expandir investidos para aumentar a capaci- operações para melhorar a estrutura
suas operações industriais espalha- dade de mineração em Cajamar- de financiamento: emitiu US$ 400
das pelo país nas áreas de cimento, quilla, no Peru, um milhões em bônus
metais, celulose e papel, suco de la- passo a mais rumo de 15 anos, obte-
ranja e energia. Fora das fronteiras à consolidação da ve uma linha pré-
nacionais, o apetite do conglome- empresa no pelotão Graças à boa aprovada (standby
rado por novas aquisições tem sido de frente dos produ- facility) de US$ 300
igualmente notável. Meses depois tores mundiais. avaliação, número milhões e tomou
de desembolsar US$ 491 milhões Toda essa movi- de investidores um empréstimo
pelo controle acionário da siderúr-
gica colombiana Acerías Paz del Rio,
mentação, sinal ine-
quívoco de saúde
da Votorantim de mais US$ 400
milhões da Corpo-
adquiriu em novembro, por US$ 295 financeira e dispo- cresceu ración Andina de
milhões, a U.S. Zinc, produtora de nibilidade de capital, dez vezes Fomento (CAF).

PIB 71
Finanças

A atratividade do grupo brasileiro Vale), Aracruz Celulose, Votoran-


continuou crescendo, enquanto seu tim Participações, Alcoa, Embraer,
custo de captação passou a declinar. Companhia Siderúrgica de Tubarão,
No ano passado, a Fitch Ratings, ou- Gerdau Açominas, CSN, Petrobras
tra certificadora americana de peso, e Grupo Gerdau. “Obter essa clas-
concedeu-lhe o grau de investimento. sificação qualifica o grupo a captar
Finalmente, em agosto deste ano, foi recursos no mercado internacional
a vez de receber a avaliação positiva a um custo mais baixo, além de am-
da Moody’s. Para a Votorantim, as pliar o leque de investidores insti-
classificações resultaram numa re- tucionais em condições de comprar
dução de até 30 pontos básicos ao os títulos que venham a ser emitidos
ano no custo geral de endividamen- pela companhia em uma eventual
to do conglomerado. “Entramos em captação de recursos”, afirma Mau-
um novo universo”, comemora Luis ricio Werneck, diretor financeiro
Felipe Schiriak, diretor corporativo da Gerdau. A empresa, que obteve a
Gerdau: captação a
financeiro do grupo. classificação da Fitch em janeiro e a um custo mais baixo
Graças às boas notas das três da S&P em junho, estava trabalhan- no mercado global
agências, o número de possíveis com- do havia dois anos para melhorar sua
pradores dos títulos emitidos pela Vo- classificação de risco, com um plano
torantim, inclusive fundos de pensão para alongar o perfil da dívida. abalos da economia. Isso significa,
autorizados, finalmente, a comprar As brasileiras que ostentam o ró- entre outras coisas, que conseguiram
seus papéis, multiplicou-se por dez. tulo de grau de investimento livra- ter parte considerável de suas receitas
“As empresas que não alcançam essa ram-se do peso histórico represen- em moeda estrangeira. Esse é um dos
classificação limitam-se a ficar no ra- tado pela vulnerabilidade externa do pontos examinados pelos analistas
dar dos investidores especializados Brasil, refletido no chamado “teto so- das agências de rating ao fazer uma
em países emergentes ou em junk berano”, que limita as notas das em- radiografia da empresa avaliada. Na
bonds”, afirma Schiriak. São aplica- presas à avaliação obtida pelo setor imersão, que dura cerca de um mês
dores que recebem juros mais altos público – a nota soberana. Esta, por e tem honorários de seis dígitos, eles

9
em troca do risco de inadimplência sua vez, indica a capacidade e dis- dissecam a contabilidade das com-
inerente a empresas ou posição do governo para panhias e avaliam perspectivas de
países da classe “risco honrar dívidas. Após su- crescimento, reputação, estrutura de
especulativo”, abaixo do cessivas elevações, a nota capital, política financeira, vulnerabi-
grau de investimento. No do país já beira o grau de lidade frente a mudanças tecnológicas
mercado, o deságio nes- investimento, mas ainda e distúrbios no mercado de trabalho.
ses papéis é de ao menos está em grau especulati- As agências são amplamente acredi-
150 pontos básicos. empresas vo. Ou seja, reflete ain- tadas como idôneas e impermeáveis
brasileiras já da certa desconfiança a influências das companhias que as
Peso histórico atingiram grau quanto à capacidade contratam, embora tenham se torna-
A primeira brasileira a de investimento do país de cumprir suas do alvo de críticas desde o início da
chegar à classificação obrigações futuras. Para crise das hipotecas nos EUA.
de grau de investimento e usufruir as empresas, isso é péssimo. Sem o Centenas de fundos de pensão,
desse tipo de vantagem foi a AmBev. aval das agências de rating ao go- seguradoras e outros investidores de
A S&P a chancelou em 2004, após verno, os investidores institucionais grande porte de todo o mundo, res-
anúncio de compra da cervejaria estrangeiros são impedidos de com- ponsáveis por cerca de 90% do flu-
canadense Labatt pela brasileira, o prar ações de companhias brasileiras xo financeiro global, só consideram
que elevou a 30% a parcela da re- listadas na Bovespa. comprar bônus, debêntures e outros
ceita em moeda forte. Seguiu-se um Aquelas que conseguiram superar títulos de dívida em emissões de
ciclo de melhora de notas (upgrades) os inconvenientes da nota soberana companhias com notas aprobatórias.
que beneficiou empresas como a saíram com musculatura reforçada e Em geral, os investidores institucio-
Companhia Vale do Rio Doce (atual capacidade de resistir aos habituais nais exigem selos de duas agências

72 PIB
rência na divulgação de dados fi-
nanceiros. Foi o que ocorreu com a
Votorantim. Na condição de empresa
familiar, a Votorantim não está sujei-
ta às normas de transparência que
disciplinam as companhias de capi-
tal aberto – a maioria entre as classi-
ficadas com grau de investimento. O
grupo, no entanto, aderiu a procedi-
mentos de divulgação mais transpa-
rentes. O esforço valeu a pena, pois
permitiu-lhe surfar na alta liquidez
internacional dos últimos dois anos
para acertar as contas.

gerdau/divulgação
O mesmo caminho foi trilhado
por outras companhias cujos ne-
gócios estão ligados a commodities
como ferro, aço, alumínio, níquel e
petróleo, cujas altas
de rating antes de comprar papéis clube – AmBev, Ara- consistentes no mer-
das empresas que fazem emissões in-
ternacionais de bônus de dívidas. As
cruz, Petrobras, Vale,
Votorantim Participa-
Antes de partir cado internacional
deixaram seus fluxos
grifes S&P, Moody’s e Fitch revezam- ções e VCP (a indústria para incursões de caixa mais con-
se nas mãos de analistas financeiros. de papel do Grupo Vo- pelo mundo, fortáveis. A boa fase
“O rating depende da avaliação de
um grupo de pessoas, que leva em
torantim) e os bancos
Bradesco, Itaú e Itaú
é preciso pôr propiciou condições
para a reestrutura-
consideração critérios e metodolo- BBA. Não é coincidên- a casa ção de dívidas, alon-
gias que variam de uma agência para cia que o seleto clube em ordem gamento de prazos e
outra”, afirma Daniel Araújo, analis- de brasileiras que re- queda nos custos dos
ta da S&P. “Mesmo assim, o inves- ceberam o grau de investimento de débitos, aponta estudo da Sociedade
tidor quer comparar as análises.” A alguma das agências internacionais Brasileira de Estudos de Empresas
nota pode favorecer até empresas seja integrado, em sua quase totali- Transnacionais e da Globalização
que pretendem fazer a expansão dade, por empresas que há anos ul- Econômica (Sobeet).
internacional com capital próprio. trapassaram as fronteiras brasileiras Com os recentes abalos nos
Os bancos, mesmo tendo as pró- e requerem, para se expandir inter- mercados desencadeados pela crise
prias equipes de avaliação, sempre nacionalmente, pesados volumes de do setor de hipotecas nos Estados
observam a opinião de uma agência financiamento – a maioria faz aquisi- Unidos, o enxugamento da liquidez
de rating. “Companhias em busca de ções com capital de terceiros. Como global e, portanto, a redução das
uma associação acabam encontran- acesso e custo do dinheiro dependem, oportunidades de reestruturação
do parceiros mais confortáveis por- e muito, da avaliação de crédito, as das dívidas, a porta para o upgrade
que levam consigo a opinião de um corporações tendem a pôr a casa em se estreitou. Isso não significa que
agente independente”, diz Ricardo ordem antes de partir para incursões outras brasileiras não possam ter
Carvalho, diretor sênior de avaliação internacionais. “O investidor olha a uma melhor avaliação das agências
de empresas da Fitch no Brasil. qualidade de crédito da empresa e de risco. Indústrias que exigem pe-
como ela ficará depois da aquisição. sados investimentos e significativos
Clube seleto Daí vem o cálculo do que está dispos- ganhos de escala continuarão em
Conquistar o grau de investimento to a pagar pelos bônus emitidos pela busca das boas notas, já que sua
das três agências não é um feito qual- companhia”, diz Carvalho, da Fitch. sobrevivência depende, em grande
quer. No Brasil, contam-se nos dedos Faz parte da arrumação, por medida, da capacidade de consolidar
as companhias que fazem parte do exemplo, permitir maior transpa- seus negócios pelo mundo. z

PIB 73
Opinião

Na acomodação é cais passassem a competir com as


multinacionais dos países desenvol-

que mora o perigo


vidos. A disparidade entre elas era
significativa e, em muitos casos, as
empresas dos países em desenvolvi-
mento perderam mercados, faliram
ou foram vendidas.
Inovação e diferenciação são as chaves para Os desafios impostos aos países
o sucesso na arena global  B r u no Koltai R e is* emergentes e a suas indústrias eram,
de forma geral, semelhantes entre si.

O
Entretanto, devido a suas caracterís-
ue posição o Brasil bretudo pelo papel exercido na in- ticas específicas, cada país respon-
ocupará na economia trodução de novas tecnologias, pela deu de forma diferente aos desafios
global nas próximas promoção de novos produtos e pela e cada um desenvolveu as próprias
décadas? A resposta inserção de novas formas de orga- estratégias para tentar se adaptar ao
para essa pergunta é nização empresarial, as empresas novo contexto.
difícil de ser encontrada e depende multinacionais dos países desen- No Brasil, o desenvolvimento
de inúmeras variáveis. Entretanto, volvidos consolidaram sua posição econômico foi historicamente base-
é certo que a capacidade de o país de liderança justamente pelo fato ado na proteção à indústria nacional.
alcançar (finalmente) o pelotão de de já operarem internacionalmente, Entretanto, esse modelo não corres-
frente das economias mundiais está contarem com um know-how admi- pondia mais a realidade à economia
baseada, em grande parte, no suces- nistrativo superior, possuírem um internacional no início dos anos
so do processo de internacionaliza- 1990. Nesse período, foram promo-
ção de suas empresas. É justamente vidas importantes reformas, que in-
a capacidade de um número signi- dependentemente das críticas que
ficativo de empresas brasileiras de Não podemos possam ser feitas, quanto a forma e
atuar como atores globais, amplian-
do a oferta e agregando valor a seus
sucumbir ao caminho prazos, foram fundamentais para a
modernização do país. Sem a aber-
produtos, que fará com que isso mais fácil: exportar tura da economia e o conseqüente
aconteça. As oportunidades, assim matérias-primas choque de produtividade provocado
como os desafios, são inúmeras. Ca-
berá ao Brasil saber aproveitá-las.
e alguns poucos nas empresas, teria sido impossível,
por um lado, romper o processo in-
A partir do processo de globali- produtos de alto flacionário, e por outro, empreender
zação, iniciado na passagem da dé- valor agregado a reestruturação produtiva a que foi
cada de 1980 para a de 1990, com a submetida a indústria nacional.
liberalização dos mercados e o apa- avanço tecnológico importante e, Essas transformações contribuí­
recimento das novas tecnologias, conseqüentemente, estarem mais ram para a mudança do perfil das
ocorreu uma verdadeira “revolução aptas a usufruir das oportunidades empresas brasileiras. Uma das mu-
produtiva” no mundo todo. Essa re- oferecidas pelo contexto econômi- danças mais significativas da reestru-
volução transformou profundamen- co externo. turação da indústria nacional foi que,
te o ambiente econômico internacio- Esse contexto, pautado pela glo- em vez de gerar uma especialização
nal e, como em toda transformação, balização e pela queda das barreiras regressiva, produziu exatamente o
surgiram vencedores e perdedores. protecionistas, foi um período de oposto: as empresas que sobrevive-
Os “vencedores” desse processo, ao grandes desafios para as indústrias ram ao período de transição reestru-
menos em sua fase inicial, foram as dos países em desenvolvimento. As turaram suas operações, exploraram
grandes empresas multinacionais, economias desses países passavam novas oportunidades. Tudo isso,
sobretudo aquelas originárias dos por um período de transição e suas somado ao aumento das escalas de
países desenvolvidos. empresas enfrentavam dificuldades. produção, em função das novas tec-
Historicamente fundamentais A integração na economia interna- nologias, levou-as a se equiparar às
no desenvolvimento econômico, so- cional fez com que as empresas lo- melhores práticas da concorrência

74 PIB
internacional. Tornaram-se, assim,
muito mais preparadas para com-
petir internacionalmente.
A globalização e seu funciona-
mento, ao contrário dos anos 1990,
já não são novidade para ninguém.
A liberalização dos mercados e a
competição internacional são tão
familiares aos países desenvolvidos
quanto o são para aqueles em de-
senvolvimento. E as regras do jogo,
ficando mais claras, levam os “retar-
datários”, agora já reestruturados, a
correr atrás do tempo perdido.

Emergentes globais
É nesse cenário que algumas empre-
sas originárias de países em desen-
volvimento vêm se tornando com-
petidoras globais importantes e ocu-
pando posições expressivas ou até
de liderança em diferentes setores,
Exemplos desses novos emergentes
globais não faltam: empresas chi-
nesas, como Huawei e Lenovo; in-
dianas, como Infosys,Tata e Mittal;
mexicanas, como Cemex e America
Movel; ou brasileiras, como Ambev,
Embraer e Vale são algumas delas.
A ascensão dos países emergen-
tes, sobretudo a dos mais importan-
tes entre eles (os conhecidos BRIC:
Brasil, Rússia, Índia e China), em
razão de seu tamanho, população e
potencial de crescimento, com es-
pecial destaque para a China, está
alterando o status quo da economia
mundial, até então dependente qua-
se exclusivamente da tríade Estados
Unidos, Japão e Europa Ocidental.
Esses países emergentes têm
surgido como grandes produtores,
Ilustração: Marcelo Calenda

consumidores e exportadores. Ao
mesmo tempo, esses países, que em
tese seriam importadores líquidos de
capital, têm sido fonte de importan-
tes somas de investimento direto no
exterior (IDE). Essa nova realidade,
completamente diferente da de 20
anos atrás, obriga os mais diferentes

PIB 75
Opinião

países a repensar suas formas de in- O Brasil modernizou-se. Agora,


serção na economia internacional. é preciso dar um salto qualitativo e
A nova competitividade de mer- fazer com que deixe de ser uma eco-
cados emergentes é extremamen- nomia majoritariamente dependente
te significativa e oferece enormes de commodities e manufaturas. Os
oportunidades e riscos ao Brasil e a demais países estão se adaptando e
suas empresas. Caberá ao país saber preparando suas empresas para ser
aproveitá-las, se não quiser perder vencedoras no mercado internacio-
os espaços que foram tão duramente nal. Se o Brasil não seguir o mesmo
conquistados. Por um lado, terá aces- exemplo, correrá o risco de ficar
so a mercados ainda relativamente “prensado” entre os países exporta-

Ilustração: Marcelo Calenda


inexplorados, que somam bilhões de dores de matérias-primas e os de alta
consumidores potenciais, e a uma de- tecnologia. Assim, faz-se imperioso
manda quase inesgotável por maté- que, antes de mais nada, diversifique
rias-primas e commodities. Por outro, sua pauta de exportação e agregue
o crescimento econômico de alguns valor a seus produtos.
países emergentes e a transformação Para alcançar esse objetivo é ne-
de suas empresas em grandes multi- cessário desenvolver uma verdadei-
nacionais fazem com que se tornem ra política de internacionalização
nossos competidores ferozes. de empresas e realizar elevados in-
O Brasil pode ficar vestimentos em inovação e diferen-
Celeiro do mundo “prensado” entre os ciação. Só assim as empresas brasi-
O contexto atual, pelo menos a cur- exportadores de leiras poderão se internacionalizar
to prazo, é extremamente favorável em diversos segmentos e competir,
ao Brasil. A conjuntura econômica e commodities e os na maioria deles, em igualdade de
a especialização produtiva interna- de alta tecnologia condições frente aos grandes atores
cional estão sendo grandes aliadas internacionais, independentemente
do país. Primeiro, porque os preços especial os asiáticos, não escondem de suas origens. A regra do jogo é
das commodities e das matérias-pri- suas intenções: apóiam, investem e uma só: competitividade interna-
mas, segmento em que o país é, de contam com o crescimento de suas cional. O país não pode sucumbir à
fato, altamente competitivo, estão multinacionais como peça central tentação do caminho mais fácil: fi-
muito altos devido à grande deman- de seu projeto de desenvolvimen- car apenas como exportador maciço
da internacional. Segundo, porque to econômico. Baseados em seus de matérias-primas, contando com
as economias dos principais países enormes superávits, investem ma- apenas alguns poucos e bons exem-
emergentes são ainda, mais do que ciçamente em inovação e agregam plos de sucesso em produtos de alto
rivais, complementares. Utilizan- valores a seus produtos. Da mesma valor agregado. Cabe-lhe escolher o
do uma analogia bastante difundida forma, as empresas dos países de- próprio caminho, ciente tanto dos
pelo jornalismo econômico, pode- senvolvidos, cientes da ameaça que riscos e oportunidades que corre
mos considerar, de um modo geral, esses novos atores representam, es- como do fato de que essa conjuntura
a China como a “fábrica do mundo”, tão se preparando para uma disputa externa favorável é apenas aparente
a Índia o “escritório”, o Brasil o “ce- global por mercados que se apresen- e não durará para sempre. É justa-
leiro” e a Rússia a responsável pelo ta altamente competitiva. mente na tentação de acomodar-se
abastecimento energético. Em vista disso, ao que tudo in- que mora o perigo. z
O importante neste momento dica, as empresas brasileiras terão
é ter a consciência de que essa con­ de enfrentar, num futuro próximo,
juntura favorável é passageira. Este as empresas altamente competitivas * Bruno Koltai Reis é mestre pela
“equilíbrio estratégico” entre as dos países desenvolvidos e as novas Universidade Paris I Sorbonne, na
e­co­nomias emergentes começa a (e com grande apetite) multinacio- França, doutorando pela FEA-USP e pela
mudar e os países do BRIC, assim nais dos países emergentes. A com- Universidade de Grenoble (FR), visiting
como outros países emergentes, em petição se anuncia dura! scholar na Columbia University (USA)

76 PIB
Artigo

Como ser legal regulatório é fundamental. Ele en-


volve não só as leis em vigor, mas

em terra estranha
também a forma como elas são in-
terpretadas e aplicadas pelas auto-
ridades locais.
Isso impõe um novo desafio aos
Conhecer o ambiente jurídico e regulatório local é assessores legais das empresas bra-
vital para quem pretende se estabelecer em outro país  sileiras que estão se internacionali-
zando. Apesar de não se poder pres-

O
Rabih A . N ass e r *
cindir de auxílio jurídico no país em
uando pensou em com- in the United States (CFIUS) é uma que está sendo realizado o negócio,
prar a canadense Inco comissão governamental encarrega- o acompanhamento desse trabalho
Limited, certamente a da de rever investimentos estrangei- pelos advogados brasileiros pode
Companhia Vale do Rio ros que possam afetar a segurança garantir maior tranqüilidade aos
Doce (atual Vale) não ti- nacional. Seu alcance foi estendido executivos responsáveis pelas deci-
nha uma idéia precisa do conjunto de em julho deste ano a quaisquer ope- sões. A vantagem principal está na
regras que deveria observar. O que é rações que envolvam ativos de infra- possibilidade de comparar as regras
natural, pois o negócio teria de ser fei- estrutura “críticos”. existentes no outro país com as leis
to de acordo com o direito canadense, brasileiras, com as quais a empresa
que é pouco conhecido no Brasil. está familiarizada.
A contratação de um escritório Mas não é só o direito interno do
de advocacia local permitiu à Vale país de destino que conta. Também
passar pelos trâmites legais necessá- o direito internacional é relevante.
rios e concretizar a maior aquisição Para uma melhor avaliação do am-
já feita por uma empresa brasileira biente regulatório, importa saber
no exterior. Não sem antes assumir quais convenções e tratados inter-
compromissos perante o governo nacionais foram ratificados e como
canadense, para convencê-lo de que eles são aplicados na prática.
o negócio seria benéfico para o seu Matérias como Direito Compa-
país. Entre eles, a manutenção de rado e Direito Internacional adqui-
alguns postos de direção nas mãos rem uma importância que nunca
de executivos canadenses, a preser- tiveram no Brasil. Sempre foram
ablestock

vação de certos níveis de emprego pouco ensinadas e despertavam in-


e o compromisso de levar adiante teresse limitado. Tradicionalmente,
determinados projetos de investi- os advogados empresariais brasilei-
mento no Canadá. Esse maior controle foi um des- ros estão acostumados a assessorar
A negociação dessas condições dobramento da tentativa da Dubai multinacionais que investem no
com as autoridades locais baseou-se Ports World de adquirir, em 2005, Brasil, em temas de direito brasilei-
no Investment Canada Act. Trata- a operação de terminais portuários ro. A internacionalização das em-
se de uma lei que tem por objetivo nos EUA. Inicialmente aprovada presas brasileiras lhes impõe novos
garantir que esses negócios contri- pela CFIUS, a aquisição foi poste- desafios. O sucesso em superá-los
buam efetivamente para o desenvol- riormente vetada pelo Congresso poderá garantir maior qualidade e
vimento canadense. por se tratar de uma empresa do segurança nesse processo de inser-
Leis desse tipo existem também mundo árabe. ção global. z
em outros países, em especial os Esses exemplos mostram que,
mais desenvolvidos, e podem ser embora dados econômico-finan- * Rabih A. Nasser, doutor em Direito
um empecilho para investimentos ceiros e considerações estratégi- Internacional pela Universidade
de empresas de países emergentes. cas sejam os fatores determinantes de São Paulo, é professor da Escola
Nos Estados Unidos, por exemplo, o para a decisão de comprar um ativo de Direito da FGV/SP e sócio da
Committee on Foreign Investment no exterior, o ambiente jurídico e Albino Advogados Associados

PIB 77
Globe-Trotter

Fotos: divulgação
Beleza pura:
presença marcante
em shopping
de Nova York

As Havaianas
O mercado externo tem se
mostrado um terreno fértil para a
Alpargatas. Um par de Havaianas, na
são do mundo Europa, custa entre € 20 e € 30 (entre
R$ 55 e R$ 80), enquanto no Brasil
Vis é uma ilhota de menos de 5 mil habitantes e 80 quilômetros o produto sai por R$ 25, no máximo.
de costa banhados pelas águas transparentes do Mar Adriático, a 45 Quem mora fora tem, hoje, mais
quilômetros do litoral da Croácia. Com suas colinas forradas de vinhedos, opções de escolha de modelos do que
casas de pedra, ruínas romanas e, principalmente, praias idílicas de fazer os habitantes do Brasil. São 72 tipos
inveja às vizinhas ilhas gregas, transformou-se nos últimos verões num dos espalhados pelo mundo, enquanto
destinos mais descolados da Europa. Quem desembarca no charmoso porto por aqui há cerca de 50 à disposição.
de Vis terá, como uma das primeiras visões do lugar, uma chamativa loja “Temos estampas diferentes e
das sandálias Havaianas. desenhos com cores mais sóbrias,
Sete anos depois de desembarcar em solo europeu, as sandálias especialmente pensadas para os
brasileiríssimas já ditam moda no continente e estão presentes nos mercados do hemisfério norte”,
cantos mais exclusivos. Os corredores mais badalados do Velho Mundo, diz Carla. Muitas idéias acabam
como o Quadrilatero d’Oro, em Milão, a Champs-Elysées, em Paris, e as nascendo no exterior por sugestões
Ramblas, de Barcelona, são passarelas habituais das Havaianas. Estrelas dos próprios representantes da
de Holywood como Nicole Kidman e Julia Roberts ajudaram a propagar o marca. É o caso das Havaianas de
fenômeno pelo mundo, ao serem flagradas usando as sandálias produzidas tiras fluorescentes e cores cítricas,
pela São Paulo Alpargatas. idéia que veio da Austrália e por
A empresa, controlada pelo grupo Camargo Corrêa, começou a exportar há enquanto existe apenas por lá.
dez anos o produto, criado em 1962 sob inspiração das tradicionais sandálias As sandálias viraram tamanha
zori japonesas (feitas de palha de arroz ou madeira). Hoje as Havaianas estão mania nos quatro cantos que até já
presentes em 79 países, em mais de 20 mil pontos-de-venda. Dos 200 milhões despertaram o interesse do criativo
de pares produzidos anualmente pela única fábrica da marca, em Campina mercado paralelo. Marcas como
Grande, na Paraíba, 17 milhões são vendidos no exterior. “Três em cada quatro “Bahianas”, “As Originais” ou “The
brasileiros compram um novo par de Havaianas por ano”, diz a diretora da Same” já fazem parte do portfólio
unidade de sandálias da Alpargatas, Carla Schmitzberger. “Nossa maior de vendedores ambulantes e lojas
oportunidade de crescimento agora é no exterior.” de suvenires europeus – com direito
De olho nesse mercado, a marca inaugurou, em junho, sua primeira à tradicional bandeirinha do Brasil
subsidiária internacional, em Nova York. Serão investidos entre R$ 50 estampada nas tiras, claro.
milhões e R$ 100 milhões nos próximos cinco anos para impulsionar as
vendas no maior mercado consumidor do planeta. Rachel Verano, de Valência

78 PIB
Willkommen, Brasilianer
Apesar de sediar multinacionais de Goethe é a maior economia e o
gigantes como Daimler, BMW, maior mercado da União Européia,

Anna G. Hausmann
Siemens e Adidas, a Alemanha possui rede de infra-estrutura
tem a força da sua economia eficientíssima, a melhor conexão Jeanine: doutorado
baseada nas pequenas e médias para países do Leste Europeu, o e trabalho duplicado
empresas, responsáveis por quarto melhor ambiente jurídico
85% dos negócios feitos no país. no mundo e um farto campo O fascínio
Antenadas com essa realidade,
empresas brasileiras de pequeno
para a pesquisa – 277 patentes
registradas para cada milhão de Barcelona
porte já tiram proveito disso, ao de habitantes. Soma-se a isso o Nunca se viram tantos
usá-la como plataforma para fato de os alemães associarem estudantes e jovens profissionais
conquistar o mercado europeu. sempre algo positivo com o nome brasileiros em Barcelona, a capital
A MN Própolis, de Mogi das Brasil, gostarem de produtos da Catalunha, a região mais
Cruzes, e a Native, de Sertãozinho, ecologicamente corretos e terem próspera da Espanha. Entre esses
cidades do interior de São Paulo, um setor empresarial de pequeno estudantes há um grupo singular de
são dois exemplos do acerto dessa e médio porte eficiente e bastante brasileiros. Eles estão em Barcelona
estratégia. A primeira vende aberto a parcerias internacionais. por aquilo que a cidade tem de
própolis, produtos naturais, mel Há problemas, porém. melhor: sua tradição de arquitetura
composto e derivados e destilados O sistema fiscal rígido e as leis arrojada, conhecida mundialmente
alcoólicos para as mesas e bares trabalhistas ainda atrapalham pelas fantásticas obras de Antoni
alemães. Já a Native – o braço alguns negócios. “Tudo bem, você Gaudí; um design que já faz frente
de produção orgânica do grupo vai precisar de um Steuerberater ao das metrópoles que sempre
sucroalcooleiro Balbo – exporta (consultor fiscal) e de um advogado dominaram esse campo, como
açúcar, café e suco de laranja para local, mas não é muito diferente Londres e Nova York; uma agenda
a Alemanha e outros 50 países. daquele praticado no Brasil”, cultural privilegiada, para todas
Para atrair mais empresas afirma a advogada Anneliese as idades e gostos; a sensação de
brasileiras, a Câmara de Comércio Moritz, da Felsberg & Associados. estar em um ambiente cosmopolita,
e Indústria Brasil-Alemanha “Com a vantagem de que lá o dotado das facilidades de uma
promoveu no início de novembro sistema é mais transparente, cidade bem organizada e com boas
em São Paulo, em parceria com o menos burocrático e a empresa oportunidades de trabalho. E é
escritório de advocacia Felsberg sabe para onde vai seu imposto e claro: pela praia e pela facilidade
& Associados, o encontro “Como para quem está pagando.” com o idioma.
Conquistar o Mercado Alemão”. Mais informações no site da Jeanine Caminha, 32 anos,
Peter Sester, consultor alemão Câmara Brasil-Alemanha: www. doutoranda pela Faculdade de
e professor de Direito Societário ahkbrasil.com. (Marco Justo Losso) Arquitetura da Universidade
europeu e de Direito Econômico, Politécnica da Catalunha (UPC),
desfiou as vantagens de começar Native: orgânicos é um bom exemplo dessa leva de
a busca por um lugar ao sol no na Alemanha e expatriados. Empregada há três
mercado externo pela Alemanha. mais 50 países anos no escritório do arquiteto
Com um PIB de € 2,2 trilhões e Carlos Marti, ela também coordena
82 milhões de habitantes, a terra projetos para o escritório Intercon,
responsável por dar cara nova à
rede de hotéis de luxo Dostyk,
do Cazaquistão. “Não conheço
um amigo arquiteto que esteja
desempregado”, diz Jeanine.
(Patu Antunes, de Barcelona)

PIB 79
Globe-Trotter

Novela brasileira com sotaque francês?


Para os brasileiros que insistem alta. “Queremos criar um diálogo com Universidade de São Paulo (USP). A Câ-
em enxergar a França pelos clichês – todas as classes sociais, e não somente mara de Comércio Brasil-França e a Se-
positivos ou negativos – construídos ao com a média e alta”, diz Poivre d’Arvor. cretaria de Cultura de São Paulo tam-
longo dos séculos, é bom prestar aten- “Assim, conseguiremos atingir o maior bém devem aderir ao evento.
ção no que vem por aí. No rastro do su- número de pessoas possível.” Uma das O Brasil será o primeiro país da
cesso que foi o Ano do Brasil na Fran- idéias defendidas por Anne Louyot e por América Latina a ter um ano inteiro de
ça, realizado em 2005, chegou a vez Yves Saint-Geours, que representaram programações culturais francesas e, se
do Ano da França no Brasil. a iniciativa der certo, poderá
O evento está previsto para Mão dupla: em ser levada a outros lugares. A
2009 e será uma ótima opor- 2005, o Brasil programação ainda está em
tunidade de os brasileiros co- brilhou na França fase de elaboração – mas al-
nhecerem o que a França do gumas idéias estão pratica-
século 21 vem produzindo em mente confirmadas. Uma de-
campos que vão da cultura à las é uma exposição de Henri
tecnologia de ponta, da pes- Matisse, um dos nomes mais
quisa avançada ao desenvol- importantes das artes plásti-
vimento sustentável. O es- cas francesas entre o final do
critor Olivier Poivre d’Arvor, século 19 e a primeira meta-
diretor de Culturesfrance – de do século 20. Pelo cálculo
instituição responsável pela inicial, o evento custará pelo
organização do evento –, menos € 10 milhões. Mas
acredita que os shows, ex- esse valor pode subir se for
posições e feiras de negócios posta em prática a mais ou-
programados para ocorrer sada de todas as idéias dis-
em pelo menos 15 das principais cida- o lado francês numa reunião recente, no cutidas pelos organizadores: a que pre-
des brasileiras conseguirão atrair um Brasil, é promover uma caravana fran- vê a produção de uma telenovela fran-
público de 40 milhões de pessoas. cesa para percorrer algumas cidades do co-brasileira. “As novelas fazem parte
absolutvision

O cálculo parece excessivamente interior do país. Para garantir o sucesso da cultura brasileira e essa seria uma
otimista (exagerado, até), mas, de qual- dos eventos já foram negociadas algu- ótima maneira de levar a França para
quer maneira, indica que a aposta dos mas parcerias estratégicas com entida- dentro de todas as casas”, explica Poi-
organizadores no sucesso do evento é des como o Sesc, de São Paulo, e com a vre d’Arvor. (Andréa Flores, de Paris)

Os encantos
do País de Gales
Quando se fala sobre negócios no Reino
Unido, a imagem que primeiro vem à mente é
a da poderosa City de Londres, uma das sedes
do capitalismo global. Mas outros locais
na Grã-Bretanha podem ser tão atraentes
quanto a capital inglesa, de acordo com Paul
Viggers, diretor da International Business
Wales (www.ibwales.com), consultoria ligada
ao governo do País de Gales.

80 PIB
Inteligência é o nome do jogo
Desde que substituiu o empresário Juan Quirós à fren-
te da Agência de Promoção das Exportações e Investimen-
tos do Brasil (Apex/Brasil), o economista Alessandro Teixeira
tem batido com insistência em algumas teclas. Ele pretende
ampliar os investimentos em inteligência comercial e, além
do trabalho de promoção, quer contribuir para mudar a forma
como alguns organismos brasileiros enxergam a internacio-
nalização. Conheça algumas opiniões de Teixeira:

INTELIGÊNCIA COMERCIAL | No passado, o Brasil


não tinha meios de fazer uma análise criteriosa sobre
os melhores destinos para seu produto. Nós investimos em
inteligência comercial. Acabamos de concluir um estudo
sobre 111 países, com renda, salário, crescimento médio e
outros dados. E com análise sobre o padrão de crescimento.

Fotos: divulgação
Não interessa apenas saber que um país cresce 20% em um Teixeira: nova
ano. É preciso saber para onde vai a renda. Se há distribui- abordagem à
ção de renda, venderemos frango, feijão e soja. Se a renda é frente da Apex
concentrada, vendemos aviões e artigos de luxo.

VOCAÇÃO INTERNACIONAL | Uma empresa de OBSTÁCULOS | Hoje, nenhuma trading pode partici-
Cingapura já nasce com DNA internacional. A em- par dos trabalhos da Apex. Só empresas. Então que-
presa brasileira, ao contrário, nasce voltada para o mer- remos trazer as tradings, que é uma forma de ter resultado
cado interno e só depois vai se internacionalizar. Isso no curto prazo.
precisa mudar.
CENTROS DE DISTRIBUIÇÃO | A idéia é excelente.
AJUDA ÀS PEQUENAS | Quando pensamos na in- Mas pode ser aperfeiçoada. Vamos mudar o nome:
ternacionalização da economia brasileira, temos de passará a ser Centro de Negócios. Hoje a empresa para fa-
pensar, por exemplo, na expansão das cadeias de varejo do zer parte do centro tem de contratar o pacote completo: o
país. Por que elas não se expandem pela América Latina? escritório, o showroom e o balcão de distribuição. Agora,
Se isso acontecer, poderão abrir espaço para os produtos passará a pagar separadamente pelos serviços, de acordo
brasileiros no exterior. com sua necessidade. (NC e RG)

Durante sua estada no Brasil no em setores como tecnologia da advogada brasileira Victoria Nabas.
final de novembro, ele enumerou informação, mercado de capitais A firma atende especialmente
as vantagens oferecidas a quem e infra-estrutura.” E o melhor: pequenas e médias empresas que
resolve estruturar operações e Cardiff, a capital, fica apenas a queiram exportar ou se instalar
fazer negócios sob a bandeira do duas horas de viagem de Londres. na Inglaterra. “Nos últimos anos
País de Gales. “Somos totalmente A aprazível cidade tem 315 mil tem havido um fluxo enorme de
integrados ao sistema financeiro habitantes e um ritmo de vida empresários que buscam abrir um
londrino e oferecemos um custo oposto ao da metrópole britânica. negócio em terras britânicas, como
bem mais baixo, tanto em termos Por falar em Londres, uma boa pequenos supermercados”, revela
de operação quanto de mão-de- opção para orientar quem deseja Victoria. Ou seja: em qualquer
obra”, afirma Viggers. “Além se instalar por lá é a Nabas Legal ponto do território, o Reino Unido
disso, o País de Gales é hoje um Consultancy, escritório instalado pode significar bons negócios para
dos centros de excelência europeus em Londres há cinco anos pela o Brasil. (Marcelo Cabral)

PIB 81
Em Trânsito • Chieko Aoki*

O toque humano
O novo viajante espera encontrar num hotel muito mais do que boas
instalações, alta gastronomia e recepcionistas poliglotas. Ele valoriza, cada
vez mais, sutilezas do atendimento e atitudes que sensibilizam o espírito
Nunca os serviços diferenciados foram Recentemente, pude testemunhar o prazer de poder servir, tão
tão valorizados como agora. Nossos viajantes presente na cultura oriental, em três hotéis de alto luxo inaugura-
querem mais. Muito mais do que mimos, mas- dos em Tóquio. Ali, trava-se uma saudável “guerra” por oferecer
sagens, gastronomia regional e internacional, os melhores serviços, ambientes, instalações e atitudes. Chamou
bons vinhos, equipamentos fitness de última minha atenção o foco na individualidade, na personalização do
geração e recepcionistas poliglotas. Querem serviço, no cuidado com o detalhe dos detalhes para, no conjunto,
também atitude que sensibilize o espírito e agu- demonstrar a preocupação constante com o bem-estar do hóspe-
ce os sentidos, como aquele toque mágico que de. Buscam-se, com pequenas atitudes e criatividade, formas de
faz brilhar os olhos das crianças (e também de encantar o hóspede em suas diferentes situações – no pressupos-
adultos) que visitam a Disney pela primeira vez. to de que a mesma pessoa pode não querer o que quis antes, por-
O mundo de fato mudou! Essa é a verdade que o momento é outro.
que mais se ouve nas escolas de administração, Fiquei fascinada com a postura da equipe do hotel na interação
marketing e publicidade. Transformaram-se as com o cliente: no jeito de se curvar em estilo japonês, de se apro-
expectativas, e os hotéis tiveram de ir atrás. Há ximar para conversar, de se despedir. No restaurante, a forma de
uma ampla gama de serviços voltados para esse conduzir o cliente até a mesa, com o molejo do corpo cuidadosa-
novo consumidor com anseios da espiritualida- mente treinado. As funcionárias, com um toque muito feminino, e
de. Ele quer muito mais do que boas instalações os homens, com elegância. Tudo isso gerou um clima de aconche-
e tecnologia − quer também um toque humano. go, relaxamento e confiança, ingredientes muito importantes para
uma estada ou um jantar.
Nos spas e nos salões de beleza, busca-se também total har-
monia. A voz suave das atendentes respeita o momento do clien-
te e a serenidade pretendida. Com as esteiras colocadas junto
às grandes janelas de vidro, tem-se a impressão de estar corren-
do nas ruas de Tóquio. No salão, a simples lavagem de cabelo
transforma-se em ritual de descanso. Quando se senta na cadeira
confortável como uma cama, a luz do teto é reduzida e o xampu-
massagem é acompanhado de música suave e, quando menos se
espera, você está cochilando.
Outro detalhe que encanta é a beleza das vistas em todos os
ambientes. Nos apartamentos, nos restaurantes e nas áreas so-
ciais, as janelas muito grandes emolduram a paisagem de Tóquio.
divulgação

Hotéis surgem a toda hora, em todos os lugares, mas o que real-


mente cria a percepção diferente de um para o outro são os de-
talhes na atenção, na postura, nos valores, nas coisas certas nos
lugares certos. Camas não apenas arrumadas, mas com visual de
qualidade, que passa a sensação de serenidade. Essa capacidade
de “falar” sem emitir som, de transmitir sentimento, de oferecer
momentos de pura tranqüilidade e o prazer de fazer o cliente sentir-
se atendido nos anseios do corpo, da mente e do espírito – é o que
acredito ser a verdadeira hospitalidade do século 21. z

*Chieko Aoki é presidente do Conselho de Administração da rede de hotéis Blue Tree

82 PIB
Onde tem Brasil tem PIB
A vitrine dos negócios e das tendências brasileiras na economia global
cionais
empresas metana
do conceito de
ead, o criador
é Santos, do Ins
As idéias de Jos
R$ 10,00

Ano I
Número 1
Set/Out
2007

R$ 10,00
totum
Ano I
Número 2
Dez 07/
Jan 08

totum

TAVEX
Empresa do
Grupo Santista
MARKETING quer vestir a
O café do Europa com
Cerrado seu denim
ganha espaço
no Japão HISTÓRIA
Há 200 anos,
o Brasil passou
a existir para
o mundo

_PTbbR^TbbbÆaX^b
CARREIRAS
Brasileiros

]
aprendem
na escola a
_PaP`dT\`dTa
fazer negócios
d]S^ globais
VP]WPa^\
O efeito
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st er L:

de
bu en O
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O álcool abriu caminho


m ce N

etanol
co do ETA

Carreira: exemplos e o Brasil emerge


um
Aprenda com a para se tornarbal como potência na
A

Arezzo a pôr na executivo glo corrida pela energia


os pés na Chi limpa no mundo.
A oportunidade é real –
é só fazer a coisa certa

Edições da PIB em 2008

Fechamento Data de
publicitário circulação
Edição nº 3
(março/abril) 19/02 04/03
Edição nº 4
(maio/junho) 23/04 06/05
Edição nº 5
(julho/agosto) 17/06 01/07
Edição nº 6
(setembro/outubro) 19/08 02/09
Edição nº 7
(dezembro 08/janeiro 09) 18/11 02/12

São Paulo e outras localidades Rio de Janeiro


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