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g-ecarm-Sprtk 11-10-12—v.

final prd 18-10-12---prd2/11/12--

O setor bélico, o capital e a crise atual

Dois dados, ambos refletindo duas tendências internacionais, devem ser lembrados
quando o tema é corrida armamentista e gastos militares.
O primeiro deles foi estampado na edição eletrônica da revista The Economist do
primeiro semestre do ano passado: trazia um impressionante gráfico sobre gastos bélicos no
mundo; mesmo não se tratando de uma novidade, ali estava reiterado/atualizado o dado por si
só assustador, de que entre os 18 maiores orçamentos militares do mundo, os Estados Unidos,
sozinhos, gastam mais que todos os outros 17, somados.
Seu orçamento militar gira em torno dos US$ 700 bilhões, que correspondem a 4,8%
do PIB do país. É quase seis vezes o que gasta a China e mais que Rússia, Inglaterra, França,
Japão, Alemanha somados com mais onze países; os USA supera amplamente esta soma.
Sendo que há que considerar que estes dados se inserem em um processo de
escalada: ou seja, se os Estados Unidos gastam 700 bilhões de dólares, antes gastavam
menos. Na verdade se gasta bem mais que 770 bi: seriam quase 900 bi segundo outras fontes
também oficiais; confira no gráfico abaixo, sempre lembrando que se gasta muito mais que 700
ou 900 bi já que gastos militares ficam ocultos em outros orçamentos como por exemplo em
aposentadorias ou no Departamento de Energia etc. Por outro lado, o “democrata” Obama
fala em “redução” (pífia) de gastos nessa esfera, mas não se pode esquecer que os USA
gastavam 500 bilhões em 2003; ou seja, estamos em escalada e Obama superou os gastos
dos governos considerados mais à direita.

Figura 1
Gastos militares dos Estados Unidos desde 2001 (em bi de dólares)
(orçamento de Defesa e mais armas nucleares e parte das despesas em operações militares)

Fonte: Center for Arms Control and Non-Proliferation, maio 2010

Ou seja, nos fatos, o “corte” do orçamento bélico proclamado por Obama não passou
de um rearranjo interno dos gastos, uma redução de algo como 10 bilhões de dólares referente
a 2010, e especificamente vinculada a gastos com as guerras do Iraque/Afeganistão. Há
enxugamento e modernização das forças armadas, mas os gastos militares totais continuam
nos patamares da era W. Bush, nos níveis históricos: os 700 bilhões de dólares estimados
para Defesa em 2011, correspondem a 100 bilhões a mais do que 20091.
O segundo fato vem a ser a escalada midiática anti-Irã e de leis reacionárias nos
Estados Unidos, segundo denúncias de autores como Chossudovsky e Miguel Urbano
Rodrigues. Desde leis que permitem prender a qualquer “suspeito” de ligação com o terrorismo

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Estado de São Paulo de 8 jan 2011.

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até leis que permitem intervenção na internet, em redes sociais e assim por diante; além do
crescente protagonismo do Pentágono, agora dirigido por Panetta, o ex-diretor da CIA, que
vem reiterando que a Ásia é sua prioridade, ameaçando constantemente ao Irã com guerra, no
mesmo processo em que a economia norte-americana não consegue se recuperar; ao
contrário, navega em meio a um pântano onde sucessivas injeções astronômicas de crédito
não têm conseguido tirar o capitalismo da rota da crise.
Na verdade, o sistema vem adiando uma necessidade incontornável, historicamente,
que é a da colossal destruição de forças produtivas. Em sua fase senil, este é o fundo do
problema diante do qual o elixir bélico sempre será uma tentação para um sistema cuja
economia há muito não pode mais ser contida pelos marcos nacionais ou mesmo por
artefatos supra-nacionais do tipo União Europeia. Extremamente produtivo ao mesmo tempo
em que vê reduzida sua base histórica de extração de mais-valia absoluta (já que necessita do
desemprego estrutural), eis um modo de produção na encruzilhada da qual só pode sair por
recursos de ordem política (leia-se: recorrendo ao Estado policial – mesmo sob a forma de
democracia “civil”, caso Obama – e ao Estado militarista).
Estamos diante de um sistema com dificuldades históricas para ampliar as bases de
sua reprodução histórica. Pelo menos naquilo que decide seu futuro e seu funcionamento, isto
é, valorização do capital na mesma proporção em que este se acumula. E o fato, em grande
escala, é que a sobreacumulação de capitais veio se dando em um ritmo muito maior do que
sua rentabilidade global.
No essencial, keynesianismo “civil” ou “militar”, “produtivo” ou “financeiro” possuem
finalidade semelhante. Trata-se de gastos públicos executados de diferentes formas, mas com
uma finalidade que é basicamente a mesma: ganhar tempo, injetar crédito na economia. Não
se trata, por isso mesmo, para a classe trabalhadora, de uma escolha entre capital bom ou
capital ruim.
A diferença de forma entre aqueles gastos públicos é um dado que não muda sua
essência do ponto de vista do sistema: a de tentar impedir, com medidas de Estado, com
receitas macroeconômicas, que o capitalismo afunde como afundaria se seguisse seu
funcionamento automático. Ou seja, se não se valesse de tais despesas ou dirigismo estatal. E,
na crise atual, precisam, ao mesmo tempo, desesperadamente, de tratar de fazer os
trabalhadores pagarem pela crise do capital.
Nesta medida o capitalismo não mais pôde deixar de ser “keynesiano” – de socorrer-se
de gastos dissipatórios como explica Mészáros - e o uso deste receituário só é revelador do
acúmulo de graves contradições, expressão da sua senilidade, declínio. Trata-se muito mais
disso do que – como pensa certa esquerda keynesiana – de políticas imaginativas ou que
possam ser sistematizadas para quaisquer ocasiões, para hoje, por exemplo.
Ao mesmo tempo, o peso gigantesco e desproporcional alcançado pelo setor bélico
estadunidense – sustentado por aqueles gastos públicos igualmente astronômicos – é parte
integrante da crise mundial do sistema capitalista e, mais diretamente ainda, do processo de
declínio relativo da hegemonia norte-americana e de decadência de um sistema.
Estimulante econômico, agravante das contradições da crise econômica, meio de
consumo e de demanda para uma produção que tende, nas demais esferas, à estagnação,
seja qual for o ângulo, o setor bélico norte-americano e a economia armamentista só podem
ser ampla e profundamente entendidos na condição de elo ou expressão da magnitude
alcançada pela crise econômica e histórica do sistema capitalista, de seu acúmulo de
contradições.
Nos Estados Unidos o único setor cuja demanda não enfrenta crise é o da economia
armamentista. E, como se viu acima, vem se mantendo em crescimento mesmo na crise
iniciada em 2008, pelo menos até o momento, sem qualquer sinal de queda histórica em seus
gastos. Não depende do governo de plantão: a economia armamentista sempre está no alto e
aparece como impregnada, organicamente, à estrutura econômica do imperialismo
hegemônico.
Em uma palavra: o chamado PIB bélico estadunidense tornou-se uma expressão e
uma necessidade do capitalismo senil. Este setor se funda na destruição permanente de
forças produtivas ou no seu desvio (em vez de produzir mais forças produtivas voltadas às
mercadorias de consumo corrente, “normal”, o sistema necessita desviar forças econômicas
colossais para a produção chamada destrutiva). Tudo isso indicando que o sistema capitalista,
há muito tempo, já não pode funcionar desenvolvendo “livremente” as forças produtivas.
Parte fundamental das suas contradições é que, caso pudesse desenvolvê-las,
tenderia a mergulhar na deflação, na estagnação aguda e explícita. Esses limites históricos têm

2
a ver com a análise de conjunto de sua economia – que inclui todas as formas de
decomposição e parasitismo, desde a financeirizaçao nos níveis atuais até a narcoeconomia,
outro câncer que se espalha em várias direções.
Os gastos militares são fundados em forte endividamento norte-americano. Só que
aqui nunca será demasiado lembrar que gastos militares são de uma forma ou de outra, cedo
ou tarde, cobertos por impostos (e maior carga fiscal pressiona por mais inflação, mais dívida,
mais necessidade de cortes fiscais). É mecanismo de acumulação de crise e contradições.
Está longe de traduzir vitalidade, saúde ou qualquer forma de elixir que traga sustentabilidade
ou saúde econômica para o sistema.
E uma vez que tais gastos militares estão umbilicalmente vinculados à dívida pública é
preciso levar em conta que, neste caso, o endividamento que, ao contrário daquele da II
Guerra, não se traduza em guerra (com emprego maciço dessas armas), e portanto não se
traduza em queima de capitais na mesma proporção (destruição de parques industriais rivais
por exemplo) aponta inexoravelmente para agravamento da crise.

***

Todos esses elementos são manifestação, portanto, de uma tendência histórica que
somente pode ser detida pela revolução social. O sistema como tal e, historicamente, se
revela irreformável e se não for detido, empurrará a sociedade para níveis de barbárie e
destruição inenarráveis. Ao mesmo tempo não será a burguesia mas apenas a classe
trabalhadora e seus aliados pobres, e intelectuais progressistas é que pode conduzir a
economia e o planeta em outra direção, que seja social e ambientalmente sustentada.
Por outro lado, não se trata de um problema puramente de armas, isto é, de processo
linear: que possa ser reduzido à assimetria militar entre o imperialismo norte-americano e a dos
demais países. O dado militar é importante, mas há que considerar, com peso determinante o
grau alcançado pela luta de classes, ou seja, dos conflitos políticos que cada governo, a
começar dos europeus e norte-americano, enfrenta internamente e, ao mesmo tempo, o grau
de conflitos e tensões interestatais.
E mesmo na economia, no bojo da crise econômica, seus elementos atualmente em
marcha tendem a impactar o conjunto do sistema de tal forma que o processo não se define
estritamente pelo tamanho dos exércitos ou dos canhões e mísseis.
Um rápido exemplo é o da Alemanha, maior potência europeia, que ao mesmo tempo é
dependente do gás russo e muito vinculada aos capitais norte-americanos; da China, com o
maior exército do mundo, aplicando sua poupança nos USA, acumulando tensão social
explosiva e dependente do petróleo iraniano; ou dos Estados Unidos que precisa deter a
potência regional Irã, precisa forçar a China a importar; sendo que cada um destes depende,
para seguir adiante, de descarregar sua crise sobre a classe trabalhadora, sobre as massas e
também de rearrumar seu bloco de poder geopolítico. Lembrando que depois da queda da
URSS e o declínio relativo da hegemonia norte-americana, a Alemanha e a China alcançaram
um peso político e econômico que não possuíam. E a crise política está em marcha e tende a
crescer.
E mais ainda: cada bloco de poder, a começar dos USA, necessita que o outro, rival,
arque com a inevitável perda de capitais que a crise tende a impor; basta que se leve em
conta que a cada injeção de recursos na economia financeira, mais descolada esta fica da
economia real e mais brutal tende a ser o ponto crítico da crise, qualquer que seja a forma que
ela tome, seja de “aterrisagem forçada”, de crash ou simplesmente de grandes falências lado a
lado com uma depressão sustentada. Uma fração do próprio capital será forçada a assumir
parte do custo da crise. E todas elas se unem para massacrar a classe trabalhadora, sobretudo
seus setores mais explorados, de terceirizados, imigrantes a desempregados.
Para resumir: isso significa que o recurso ao elixir bélico, como parte da necessária
destruição de forças produtivas estará, nessa crise atual, invariavelmente na ordem do dia,
sendo que, no entanto, os desdobramentos da crise não estão para nada sob controle de
qualquer burguesia. Cabe à classe trabalhadora, dentro de uma estratégia de luta pelo poder
político, entrar nesse processo como sujeito para, em meio a toda essa convulsão, de uma vez
por todas, postular-se como alternativa e varrer do mapa, historicamente, o sistema do capital.
E varrer ao mesmo tempo a mancha histórica do chamado “comunismo” de Stálin e seus
seguidores, que nada teve a ver com a autêntica democracia operária e que ainda pesa como
um espectro a ser exorcizado do movimento operário.
G.Dantas, Brasília, 18-10-12

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