Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
A Nova
humanidade
Estágios evolutivos do homem, desde o homem animal,
através do homem hominal até o homem crístico.
UNIVERSALISMO
Sumário
Advertência
O Mistério do Gênesis
O Jardim do Gozo
“Crescei e Multiplicai-vos”
Do Ritual ao Espiritual
A conhecida lei de Lavoisier diz que “na natureza nada se crea nada se
aniquila, tudo se transforma”; se grafarmos “nada se crea”, esta lei está certa,
mas se escrevemos “nada se cria”, ela resulta totalmente falsa.
Por quê?
Uma dessas premissas falsas tem quase 2000 anos no mundo ocidental. A
outra tem apenas um século de existência. Sobre qualquer uma dessas bases
fictícias, o homem é incompreensível.
A primeira premissa é a idéia de que Deus tenha colocado aqui na terra uma
creatura excepcional em toda a sua perfeição definitiva. Essa “coroa da
creação” é considerada como uma creatura divinamente perfeita, cuja única
tarefa era conservar a perfeição que Deus lhe dera. E, se esse homem perfeito
tivesse continuado no estado em que Deus o creara, a humanidade toda seria
uma humanidade perfeita e feliz – por obra e mercê de Deus.
Quem admite essa teoria não pode fugir à conclusão de que Deus foi derrotado
pelo diabo. E, apesar de ter Deus prometido redimir o homem, a idéia da
derrota de Deus continua e se agravou, porque o diabo também derrotou o
redentor; porquanto a humanidade cristã destes quase 20 séculos não é em
nada melhor do que a humanidade não cristã.
Por isto, a teoria de que o homem tenha vindo do animal, como efeito vindo de
sua causa, é matematicamente inaceitável.
2. Como é de conhecimento dos leitores dos meus livros, não uso o galicismo
híbrido “evoluir”, “involuir”, tão generalizado entre nós, mas a clássica palavra
latina “evolver” e “involver”. Imagine-se que alguém dissesse: Você me deve
devoluir o dinheiro que lhe emprestei; ou: Você deve desenvoluir os seus
talentos; ou mesmo: Revolua esta pedra e encontrará um tesouro. Pela mesma
razão, não uso evoluir, involuir, mas evolver e involver. Se o verbo fosse
evoluir, o substantivo seria evoluição, assim como de diluir, vem diluição. Os
melhores escritores lusitanos só escrevem evolver.
Objeta-se que o menor pode causar o maior, como acontece com uma
semente que causa a planta, ou com um ovo que causa a ave.
A ciência, por seu turno, aceita as potencialidades animais para o homem, mas
não compreende que uma potencialidade não pode desenvolver-se sem a
Potência.
O Gênesis deve ter nascido durante os 40 anos que Moisés passou na Arábia
como pastor dos rebanhos de seu futuro sogro Jetro.
Não é provável que um homem de tão alta genialidade tenha passado este
longo período apenas em guardar os rebanhos de um sheik árabe; ele deve ter
peregrinado ao extremo Oriente, como insinuam diversas palavras do Gênesis,
de radical sânscrito, antiga língua sagrada da Índia.
Aliás, o próprio texto grego da Septuaginta diz que os Elohim fizeram o homem
do “chous”, isto é, da substância orgânica da terra.
Desde o século passado, fala-se muito em evolução. Muitos acham que foi
Charles Darwin o pioneiro dessa idéia. Cerca de 14 séculos antes do cientista
inglês, um filósofo africano havia desenvolvido magistralmente o conceito da
evolução do mundo e do homem – e isto com a grande vantagem de ter
combinado perfeitamente a creação com a evolução, em vez de substituir uma
pela outra, como fazem certos darwinistas modernos. Agostinho demonstra,
com uma logicidade impecável, que a creação é o início e a evolução é a
continuação do mesmo fenômeno; não pode haver evolução sem que lhe
preceda a creação, assim como não pode haver canais com água sem que
exista uma fonte produtora de água.
Com a eclosão do “sopro divino” começou algo que estava incubado no mundo
animal. E isto despontou a verdadeira humanidade.
Fases Evolutivas da Humanidade
À luz dos livros sacros, como já vimos, o sopro divino foi insuflado a um ser
vivo. A superação da antiga vitalidade pela nova espiritualidade, naturalmente,
originou uma luta evolutiva entre a “descontinuidade e a continuidade da vida”
(Teilhard de Chardin).
Esta insuflação espiritual pode ser concebida em forma de uma eclosão após
longa incubação; isto é, o único ato creador, todo simultâneo, se manifestou
sucessivamente em efeitos vários, durante a evolução, através dos períodos
cósmicos, no dizer de santo Agostinho. De maneira que a chamada insuflação
espiritual não foi um novo ato creador, mas a eclosão temporal do único ato
creador eterno, desde o princípio contido na incubação, ou seja, uma
atualização evolutiva da única potencialidade creadora. Nessa sucessiva
evolução e superação hominal sobre a animalidade, há numerosas fases, há
altos e baixos, há uma luta entre o elemento vital antigo e o novo elemento
espiritual, determinando diversos aspectos da humanidade em evolução.
Nesta segunda fase, o homem ainda se reproduz como o animal, mas com um
ingrediente, maior ou menor, do elemento hominal, de amor associado ao
instinto.
As leis cósmicas atingem infalivelmente o seu ponto final, mas o seu itinerário
vai através de um longo caminho determinado pela creatividade, positiva ou
negativa, da creatura dotada de livre arbítrio, representada, aqui na terra, pelo
ser humano.
O Gênesis à Luz da Bhagavad Gita
O livro do Gênesis nasceu há uns 1500 anos antes do Cristo, na Arábia, escrito
pelo hebreu-egípcio Moisés.
Estes dois livros giram em torno do problema “homem”, sua natureza, sua
origem, sua evolução, seu destino.
Por outro lado, quem considera o homem simplesmente como um animal mais
evolvido, como certos cientistas modernos, não faz jus ao sentido profundo dos
livros dos maiores gênios da humanidade.
Segundo a Bíblia, viveu Moisés, nas estepes da Arábia, do seu 40º até ao 80º
ano, “em plena juventude”, guardando os rebanhos do seu sogro Jetro.
É provável que, durante esse longo período vivido no Oriente Médio, tenha ele
visitado o Oriente longínquo, sobretudo, a Índia, ou, pelo menos, ter entrado
em contato com a filosofia hindu, que, nesse tempo, já tinha cerca de 3500
anos de existência.
Na Índia ouviu Moisés falar da naja, nome que os hindus dão a umas
serpentes, e, no Gênesis hebraico, essa palavra aparece como nahash,
significando a misteriosa entidade que falou com Eva e sugeriu que comesse
do fruto que as Potências Creadoras haviam proibido.
Moisés diz genialmente que no meio do Éden havia duas árvores e que os
homens tinham proibição de saborearem da primeira árvore. Essa árvore, que
estava no meio do paraíso, se refere aos órgãos sexuais, localizados no meio
da parte inferior do corpo, ao passo que a árvore da vida está localizado no
meio da parte superior, na base da testa. A inconsciência animal subiu até a
semiconsciência hominal, localizada nos centros superiores da coluna
vertebral, mas não atingiu ainda o centro supremo da consciência crística.
Das relações sexuais vem o “bem e o mal”, o nascer e o morrer, porque o sexo
não pode gerar vida eterna.
O primeiro casal teve ordem de não usar o sexo por libido, mas de “crescer”
hominalmente, a fim de procriar por amor. Mas estagnaram na procriação
animal, que hoje em dia se chamaria “pecado original”, do qual não liberta
nenhum batismo, mas tão-somente o “novo nascimento”, que garante vida sem
nascimento nem morte, um eterno VIVER.
O Jardim do Gozo
A Septuaginta grega diz que havia, no paradeisos eden, duas árvores, ambas
no meio do paraíso.
A Vulgata Latina traduziu o paraíso ou paraíso éden por “hortus voluptatis”, isto
é, jardim de gozo, porque o vocábulo eden é uma forma da palavra grega
hedoné (edone) que significa gozo.
Estas duas fontes de gozo estão no meio do corpo, na base da testa (olho de
Shiva, o olho simples), e na base do corpo, os órgãos genitais.
A concepção hominal, em sua perfeição, não seria pela libido sexual, mas pelo
amor espiritual, embora, no princípio, ainda houvesse uma mescla de libido e
amor. A concepção perfeitamente hominal, de “Filho do Homem”, seria
exclusivamente pelo amor hominal, sem libido animal, isto é, uma concepção
astral, como foi a do corpo de Jesus.
É evidente que o homem perfeito não pode ser vítima de doenças e duma
morte compulsória. Sabemos que nenhum desses dois homens foi vítima de
doenças, e nenhum deles sucumbiu a uma morte compulsória.
Moisés, segundo a Bíblia, viveu 120 anos “em plena juventude”; depois disto
transformou o seu corpo material em corpo imaterial.
De Jesus não consta uma única doença, e ele afirma repetidas vezes que
ninguém lhe pode tirar a vida, que ele mesmo, voluntariamente, depõe a sua
vida quando ele quer, e a retoma quando quer, como realmente aconteceu.
O Gênesis lança a terrível maldição ao abuso do sexo, “Maldita seja a terra por
tua causa”; ao passo que Jesus, no Evangelho, exclui do Reino dos Céus todo
homem que abuse da propriedade, “Mais fácil é um camelo passar pelo fundo
de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus... Não podeis servir a
Deus e às riquezas”.
O Talmude judaico não aceita que Moisés tenha sido um adam (ego, filho de
mulher), mas sim um Ish (Eu, filho do Homem), por sinal que reconhece em
Moisés o produto de uma tele-fecundação. O texto bíblico considera Moisés
filho de hebreus, mas a princesa egípcia lhe dá o nome moshe, isto é, “filho”
tirado das águas, não do Nilo, mas da substância do mundo astral, que na
Bíblia se chama água. E, por ser ele moshe tele-concebido, ela o educou e
instruiu carinhosamente em toda a sabedoria dos egípcios durante 40 anos, o
que seria incompreensível se Moisés fosse filho de escravos hebreus.
A maldição lançada à mulher é esta: “Em dores darás à luz a teus filhos e terás
muitos incômodos com a gravidez; serás dominada pelo homem, e contudo
terás desejo dele”.
Segundo a opinião geral, o fruto que os Elohim haviam proibido era o uso do
sexo, suposição essa inadmissível, porquanto as Potências Creadoras haviam
dado ordem explícita ao primeiro casal de se multiplicar – e que outra
possibilidade haveria senão o acasalamento? De resto, essa desobediência
não provocaria jamais um anátema que envolvesse a humanidade de todos os
tempos.
O motivo real das maldições deve ter sido outro, que comprometesse o próprio
plano cósmico da creação do homem. E a raiz da culpabilidade não devia estar
no corpo, mas sim numa inteligência subversiva que tivesse contaminado a
natureza humana, por sinal que a primeira das maldições é fulminada à
inteligência, condenada a rastejar eternamente nas baixadas e nutrir-se das
coisas da terra, enquanto vivesse.
Que foi que a inteligência subversiva inspirou à mulher, e que esta transmitiu
ao homem?
Alegam certos mestres modernos que a prática da libido como fim, facultada
pela pílula anticoncepcional, leva o homem à sua plena realização.
Esta alegação é a mesma ilusão e perversão com que a serpente seduziu Eva,
dizendo: “Se comerdes deste fruto serás igual a Deus”. Eva, porém, depois de
obedecer à inteligência serpentina, reconheceu: “A serpente me enganou”.
Bem disse o Cristo: “O dominador deste mundo, que é o poder das trevas, tem
poder sobre vós – mas sobre mim não tem poder algum porque eu já venci
este mundo”.
Bios, Psyché, Zoé
Bios é o vocábulo para designar a vida em geral. Poderíamos dizer que o bios
pode ser mineral, vegetal, animal.
Psyché é, geralmente, traduzido pela Vulgata latina por anima, tanto no sentido
puramente vital, como também no sentido espiritual. Quem quiser salvar a sua
anima (psyché), perdê-la-á; mas “quem a perder por causa de mim, salvá-la-á”
– nesse contexto a palavra anima significa a psyché vital, a vida física. “Que
aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se chegar a perder a sua própria
anima (psyché)”? Aqui a anima é a alma espiritual.
O pai do filho pródigo diz que seu filho estava morto, e ficou vivo, isto é, reviveu
espiritualmente, depois de estar espiritualmente morto.
Jesus recomenda ao jovem que, antes de o seguir, quer sepultar seu pai
falecido: “Deixa os mortos sepultar os seus mortos”, deixa que os
espiritualmente mortos sepultem os fisicamente mortos.
“Eu vim para que os homens tenham a vida, e a tenham na maior abundância”
– estas palavras de Jesus fazem nítida distinção entre o Bios e a Psyché do
ego e a Zoé do Eu.
Diz Arthur Avalon, no seu livro monumental, The Serpent Power (O Poder da
Serpente), que a serpente da Vitalidade Cósmica se manifesta no homem de
três modos:
E, como “nada há no intelecto que antes não tenha estado nos sentidos”, como
diz a filosofia, o sensorial-intelectual de Eva se manifestou como sexo, a sua
serpente kundalini vital comeu do fruto da árvore do conhecimento. O sexo,
quando passa do instinto para o intelecto, perde a orientação.
Adam, depois de ter recebido o “sopro divino”, que os Elohim lhe insuflaram na
face, se tornou “imagem e semelhança de Deus”, entrou no estado inicial da
kundalini espiritual. Por isto, o Gênesis não menciona nenhum contato de
Adam com a serpente; todo o colóquio entre a mulher e a serpente corre à
revelia do homem.
Eva era ainda mais acessível à influência da kundalini horizontal, porque, como
diz o texto assírio do Gilgamech, fora tomada da “vitalidade” (ti) de Adam.
O que dissemos sobre o processo de Eva não é uma explicação do fato: são
apenas uns fragmentos de matéria-prima, que talvez possam servir de setas no
caminho rumo a uma experiência intuitiva.
E eles poderiam realizar esse crescimento hominal; pois Adam tinha recebido o
pneuma ou sopro divino. Se esta semente divina tivesse brotado e crescido
devidamente, os descendentes deste “filho de Deus”, como o Evangelho de
Lucas chama Adam, nasceriam como “filhos do homem”, e não como “filhos de
mulher”, como Jesus chama os atuais descendentes de Adam, referindo-se ao
maior dentre eles, João Batista.
A humanidade dos nossos dias, salvo raras exceções, não se libertou ainda
dessa maldição, porque ainda não “cresceu” rumo à evolução hominal.
Quem pode deve, e quem pode e deve e não faz cria débito. A humanidade
pode procriar hominalmente; se continuar na procriação puramente animal, ela
é culpada solidariamente, como um organismo total – ela está ainda no seu
velho “pecado original”.
Era vontade das Potências Cósmicas que Adam, brotado do espírito divino,
conduzisse e sublimasse Eva até essa altura, a fim de iniciar uma nova
categoria de creaturas terrestres.
O imperativo “crescei” dos Elohim é, pois, uma ordem de homificação, que era
possível, porque já existia em Adam o germe do sopro divino.
Muitas vezes ocorre no Novo Testamento, tanto, nos Evangelhos como nas
Epístolas Apostólicas, essa mesma palavra “crescei”, “crescimento” – e em
todos os casos se trata de um crescimento espiritual, de um engrandecimento
do espírito, e não do corpo do homem. Haja vista os tópicos seguintes: 1Cr 2,6;
2 Cr 9,10; Mt 13,32; 6,28; Mc 4,8; Lc 1,80; 2,40; 12,27; At 7,17; 6,7; 12,24;
19,20; Ef 12,21; 4,15; 1 Pd 2,2; 2 Pd 8,18.
Aqui o Gênesis introduz uma alegoria genial que revela toda a mentalidade da
filosofia oriental, que certamente não era desconhecida a Moisés. Desperta em
Eva a kundalini dos chakras inferiores. O diálogo entre a mulher e a serpente
se dá à revelia do homem, que nunca viu a serpente. Para compreender esse
diálogo, convém não esquecer que Eva era de uma origem posterior, ainda
próxima do mundo animal, e não recebera o sopro divino.
Com três expressões típicas tenta o Gênesis dizer que Eva sentiu durante o
colóquio com a serpente da sua kundalini sexual, o “fruto proibido” que em
grego aparece como xylon, e, em latim, como lignum. Diz o texto que ele viu
que esse fruto era bom para comer, agradável aos olhos e de vez para ser
provado. Em grego esta três expressões aparecem como kalón, que o latim
traduz por bonum; o grego arestón, que a Vulgata chama pulchrum; e como
haráion, que o latim não traduziu, mas parafraseou vagamente por aspectu
delectabile. A expressão mais típica é precisamente a última, que, na
Septuaginta grega, fiel tradução do original hebraico de Moisés, é horáion
katanoesai, isto é, literalmente: na hora certa, ou, de vez, para ser provada.
Esta expressão indica exatamente o que Eva sentiu durante o diálogo com a
sua serpente sexual: ela estava de vez, em plena puberdade e cio feminino,
para provar o sabor.
Aqui revela Moisés quão familiarizado ele estava com os mistérios da yoga
tântrica da Índia, que ele não podia ignorar. É sabido que certos mestres
orientais recomendam aos iniciandos na mística superior a prática de
interromperem o orgasmo erótico precisamente em seu ponto culminante, e
entrarem abruptamente na experiência mística, aproveitando assim a
impetuosa onda sexual para uma grande experiência espiritual. Este sobre-
humano desafio, dizem eles, quando devidamente realizado, introduz o
iniciando diretamente da culminância da animalidade para o ponto culminante
de uma perfeita hominalidade. Mesmo no caso em que o casal complete,
depois, a união sexual, e se esta se realizar pelo amor hominal sem nenhuma
libido animal, a prole assim concebida será um ser perfeitamente humano, de
corpo imortal.
Moisés, porta-voz dos Elohim, visa a uma perfeita eugenia humana, a creação
de homens de corpo perfeito, como era o dele, sem doenças, nem morte
compulsória, consoante os ditames dos mestres da yoga tântrica.
Possivelmente, Enoch, Elias, Moisés, Babagi e outros super-homens, tenham
sido gerados deste modo, sem falar do corpo de Jesus, que, segundo os
Evangelhos, foi concebido astralmente.
O Gênesis apresenta Eva como protagonista duma procriação animal, ela era
de origem posterior e não recebera ainda o sopro divino.
Posteriormente, quando chamada a contas pelos Elohim, Eva alega que foi
iludida pela serpente; Adam é censurado por ter atendido ao convite da Mulher,
isto é, de não ter sublimado a libido em amor, e ele culpa os Elohim, que lhe
haviam dado uma fêmea tão primitiva. A serpente é a única que não se
desculpa, mas responde silenciosamente por seus atos plenamente
conscientes.
De outros tópicos dos livros sacros consta que os filhos de Deus se acasalaram
com os filhos dos homens, e geraram uma raça de homens abrutalhados.
No primeiro encontro com a serpente, foi a mulher enganada por ela, isto é,
sucumbiu à libido animal e induziu o homem à luxúria baseada na árvore do
conhecimento do bem e do mal, em que se encontra ainda hoje a primeira
humanidade.
Mais tarde, porém, os Elohim declaram solenemente que porão inimizade entre
a serpente e a mulher, entre os descendentes da serpente e os descendentes
da mulher.
Aqui não se trata mais da primeira Eva enganada pela libido, mas de uma outra
Eva que já superou o poder da serpente.
Quanto a Moisés, diz uma mensagem esotérica, um escultor hebreu, Itamar, foi
o pai astral dele. Se invertermos este nome resulta Ramati, entidade astral da
Índia que pode ser considerada como o gabri-el do Evangelho. Rama, em
sânscrito, é sinônimo de Deus; ti, quer dizer, em Assírio, vitalidade. Ramati
seria a vitalidade divina que atuou através de Itamar. A princesa egípcia diz
que tirou das águas seu filho, isto é, do mundo astral.
Sendo que a inteligência induziu Eva a uma procriação animal, inspirada pela
libido animal intelectualizada, declaram os Elohim que essa inteligência,
baseada nos sentidos, não conseguirá jamais elevar-se por si mesma acima
deste mundo material. Ela só seria sublimada pela razão espiritual, se se
integrasse totalmente nela.
Entre libido animal e amor hominal pode haver diversas relações: pode a prole
ser um produto de 100% de libido e 0% de amor, e pode esta proporção variar
de muitos modos, como 50% de libido contra 50% de amor, etc.
Quando a libido sexual é usada como meio para a procriação, está ela de
acordo com as leis cósmicas, como acontece no mundo animal, que
desconhece libido como fim, e por isto o animal selvagem, não contaminado
pelas auras humanas, não conhece doenças.
Quando Adam tinha 130 anos de idade1, diz o Gênesis, gerou Seth, que era
feito à imagem de Adam, porque foi concebido com muito amor e pouca libido;
pois nessa idade avançada, deviam Adam e Eva usar o sexo mais por amor
hominal d oque por libido animal.
1. Não tem sentido a alegação de que os anos da Bíblia fossem um período diferente do ano
atual. Todos os povos contaram sempre o ano de uma a outra primavera, compreendendo um
círculo completo da terra ao redor do sol. Os homens antigos podiam viver séculos, porque
viviam em perfeita harmonia com as leis da natureza. Ainda hoje há animais que vivem séculos
inteiros.
Seth, quando era idoso, gerou Enos, que, segundo a Bíblia, foi o primeiro
homem que começou a invocar o nome de Deus.
Abraão e Sara não tinham filhos, e eram de idade avançada: Abraão com 100
anos e Sara com 90; além disto, Sara era estéril. Na sua velhice geraram o
único filho Isaac, o “sorriso” (Isaac) do seu amor vespertino, que se tornou um
dos ascendentes de Jesus.
***
A verdadeira geração hominal é antes uma creação por amor do que uma
criação por libido.
A Tele-Fecundação à Luz da Física Moderna
Nas páginas deste livro nos referimos muitas vezes à tele-fecundação, por via
astral ou indução vital, como ocorreu com Jesus, e provavelmente com Moisés,
sem excluir outros casos esporádicos da história humana.
A fim de tornar mais plausível esta idéia, lembramos que há, em nossa física, e
sobretudo na eletrônica, fenômenos parecidos.
Na língua alemã, se chama wirklich (real) aquilo que wirkt (atua); o real é o
atuante, ou ativo, exatamente segundo o conceito de Einstein.
Se há uma fecundação material por que não haveria uma fecundação real
imaterial?
Numa humanidade mais evolvida que a que atualmente povoa o planeta terra,
fecundação pode ser perfeita ou energética, continuando a ser plenamente
real.
A tele-fecundação real prevista na futura humanidade nada tem que ver com
uma suposta indecência ou imoralidade das relações sexuais; nem visa à
preservação da virgindade da mulher.
A que nasce da energia está isento das taras da matéria, como doenças e
morte compulsória.
A grandeza do homem não consiste naquilo que ele é atualmente, mas sim
naquilo que ele pode vir a ser futuramente; e esse estágio de futura atualidade
não seria possível se não existisse já, agora, em forma potencial. Ninguém se
torna explicitamente o que não é implicitamente. Toda a grandeza do homem
está na sua potencialidade, que é ilimitada, onde impera o livre-arbítrio.
O Paralelismo Entre a Humanidade do Joio
e a do Trigo
Por isto, não permitiu o dono do campo que os operários arrancassem o joio do
meio do trigo; ordenou que a erva daninha crescesse até o fim no meio do
trigal, para que este atingisse o zênite da sua maturidade.
O sopro dos Elohim e o sibilo da nahash seguem a sua antidromia, uma corrida
aparentemente contrária ao destino do homem, mas realmente complementar
para realizar o homem integral.
No homem o Uno do Universo não atua sem o Verso, porque o Creador quer
não só creaturidade, mas também creatividade.
Uma única creatura auto-creadora que se realiza plenamente reverte em maior
glória do Creador do que todas as creaturas alo-creadas.
A nossa humanidade planetária está ainda no seu primeiro nível evolutivo, não
conseguiu ainda realizar um equilíbrio harmonioso entre os dois pólos da sua
natureza: entre o sopro dos Elohim e o sibilo da nahash. Mas não nos
esqueçamos da grande verdade: que a evolução vai com passos mínimos em
espaços máximos. E quanto maior for a potencialidade de um ser, tanto mais
se dilata o processo da sua evolução.
***
Durante todos os milênios da sua evolução, como dizíamos, não haverá vitória
nem derrota definitiva, porque ambas as humanidades têm direito à sua plena
evolução, tanto no bem como no mal. Somente na colheita final, no fim do ciclo
evolutivo, haverá uma decisão definitiva e diametralmente oposta uma à outra
– e esta decisão vem da intrínseca natureza do trigo e do joio, do íntimo ser do
Eu divino e do ego humano. O trigo do Eu divino, plenamente realizado, irá
para a vida eterna – e o joio serpentino, plenamente desenvolvido, sucumbirá à
morte eterna1. Os destinos das duas humanidades é o transbordamento
externo da sua natureza interna. Não há intervenção de um Deus ou anti-deus
exterior. Todo o destino desta e daquela humanidade depende do Deus
imanente ou do anti-deus imanente no homem.
1. Note-se que “eterno” (em grego aionios) quer dizer “de longa duração” ou “duradouro”, não
implica a idéia de “sem fim”. Essa “eternidade”, esse aion (eon) pode designar um longo ciclo
evolutivo.
É este o mistério da creatividade, positiva ou negativa, do livre-arbítrio humano.
A evolução – embora se realize com passos mínimos em espaços máximos –
prossegue incessantemente, com absoluta precisão e infalibilidade.
O Gênesis e a Psicologia Moderna
Freud só conhece a libido sexual como fonte única de energia creadora. Para
ele, todas as grandes conquistas do homem – ciência, arte, religião, etc. – são
manifestações da libido. A única fonte de energias creadoras, para Freud, é o
subconsciente, o instinto, o id, que visa a procriação racial. Se Moisés se
tivesse encontrado com Freud, teria proibido o homem de permanecer no nível
da “árvore do conhecimento do bem e do mal”, porque esta árvore só produz a
vida mortal, o limitado espaço entre o nascer e o morrer, que é do animal. Mas
o homem representa uma nova categoria de seres capaz de crear imortalidade
individual.
Freud deve ter percebido vagamente esta verdade quando escreveu o seu livro
enigmático “Eros e Thánatos”, isto é, “Erótica e Morte”; deve haver Eros (libido)
para suprir o déficit da vida causado pela morte.
Sendo que o corpo imaterial é o corpo imortal, é também esse corpo imaterial
que dá origem à formação do corpo humano para que este seja imortal. A
fecundação material não tem o poder de formar um corpo imortal. Por isto
disseram os Elohim “se comeres do fruto desta árvore (da fecundação por
luxúria), será mortal”.
A fecundação ordenada pelos Elohim era uma fecundação corporal, mas não
uma fecundação material; era uma fecundação genuinamente hominal, mas
não uma fecundação animal.
Sendo que a nossa humanidade ainda não desenvolveu seu corpo hominal,
imaterial, vive ainda no chamado “pecado original” e não é corporalmente
imortal. Alguns indivíduos humanos desenvolveram em si o corpo imaterial e
imortalizaram o seu corpo hominal; mas esta imortalização é apenas uma
conquista da consciência individual de poucos, quando devia ser um patrimônio
universal de toda a humanidade.
Se é o corpo astral ou o corpo luz que é imortal, é lógico que a sua origem se
deva a uma energia imaterial, e não à matéria, como são os veículos da vida
chamados espermatozóides e o receptor material da vida chamado óvulo. Um
veículo doador imaterial atua sobre um receptor imaterial, que existem em todo
o ser humano, embora não desenvolvidos atualmente.
Em face dessa essencial diferença do ser, diferente devia ser também o agir do
homem. Quem pode deve, e quem pode e deve e não o faz, cria débito – e
todo débito gera sofrimento.
Pela inteligência, o homem não se torna bom, mas apenas erudito. O grosso da
humanidade, até hoje, é apenas intelectual, mas não espiritual; a serpente
derrotou o espírito. O homem se acha ainda no primeiro estágio da sua
evolução hominal.
Para provocar o fim do mundo não se requer nenhuma bomba atômica: basta
estancar os mananciais da vida e saúde da humanidade, pela luxúria sexual,
pelo luxo material e pelo lixo social.
Enquanto o homem for culpado, será ele um sofredor. E o homem será culpado
enquanto estagnar no nível infra-hominal. E a culpa de muitos é o sofrimento
de todos.
A velha humanidade, ainda dominada pelo poder das trevas, da ilusão do ego,
continua a dominar este mundo; não foi ainda liberta pela luz da verdade:
“Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”.
Esta convivência é necessária para que o homem, que foi creado o menos
possível, se possa crear o mais possível. Durante a evolução terrestre há
convivência – mas, no dia da “colheita” haverá separação. A creatura creadora
não pode ser alo-determinada, como as creaturas creadas; ela deve ser auto-
determinante.
A velha humanidade, ainda dominada pelo poder das trevas do ego ilusório,
deve vencer essas trevas e libertar-se pelo poder da luz do Eu.
O nóos da inteligência do ego será liberto pelo lógos da razão, que o quarto
Evangelho identifica com o Cristo: “No princípio era o Lógos”.
Sobre nós, os representantes da velha humanidade, o dominador deste mundo
tem poder, porque nós não vencemos ainda este mundo da ilusão e das trevas
do ego adâmico, pelo poder da luz do Eu crístico.
As leis cósmicas não podem ser burladas: quem comete maldades tem de
sofrer males. Toda a culpa gera sofrimento. A culpa é do homem anticósmico –
os sofrimentos são a reação do cosmos contra o culpado.
E ainda que alguns homens não tenham mais culpa própria, sofrem pelos
culpados, sofre o justo pelo pecador, sofrem os inocentes pelas culpas alheias
– é esta a lei da solidariedade cósmica. Ninguém pode herdar culpas alheias –
mas todos podem sofrer pelas culpas dos outros.
Quão longe estamos dessa nova humanidade – uma humanidade sem males e
sem maldades...
Já ao entrar neste mundo do homem velho, estava Jesus liberto do poder das
trevas. Mas, durante os 33 anos que aqui viveu, libertou-se cada vez mais, não
da maldade, mas dos males, até completar a sua total libertação, dizendo:
“Está consumado”.
Do mundo dos fatos, diz Einstein, não conduz nenhum caminho para o mundo
dos valores; porque estes vêm de outra região.
O grosso da humanidade atual se guia pelo mundo dos fatos; nada sabe do
mundo dos valores. E, segundo Einstein, do mundo dos fatos não conduz
nenhum caminho ao dos valores.
Diz a Bhagavad Gita, que o ego é o pior inimigo do Eu, mas que o Eu é o
melhor amigo do ego.
Se a primeira parte desta frase nos desanima, a segunda parte nos enche de
esperanças. Se o meu Eu é amigo do meu ego, então há uma porta aberta
para a minha evolução ascensional. Se o ego, devido à sua ignorância, é
inimigo do Eu, este, graças à sua sapiência, é amigo do ego.
Surge agora a magna pergunta: como pode o Eu revelar a sua sapiência e seu
amor ao ego? Quando aceitará o nosso ego ignorante e hostil a sapiência e o
amor do nosso Eu sábio e amigo? Quando podemos esperar um tratado de paz
entre o nosso Eu e o nosso ego, que nos abra as portas para o homem
integral, para a nova humanidade?
Esse tratado de paz será feito quando o nosso ego resolver abrir as portas à
visita do nosso Eu. Abrir as portas é a única coisa que o nosso ego pode fazer,
já que ele não pode subir às alturas do Eu, uma vez que não há caminho de
baixo para cima, do ego para o Eu.
Quando o ego descobrir que ele não é a causa da semente, mas sim o germe
vivo, então abrirá as portas para a grande verdade: Eu e a planta somos um; a
vida da planta está em mim e eu estou na planta; eu sou potencialmente o que
a planta é atualmente; a nossa essência é a mesma, apenas a nossa
existência é diferente; eu, que sou hoje potencialmente a planta de amanhã,
serei amanhã o que a planta é atualmente hoje.
Quando o ego fechar os olhos para as suas periferias ilusórias, para o seu
invólucro sensorial-mental, e focalizar intensa e diuturnamente o seu Eu central
e real, o seu germe vivo – então este germe começa a brota, como uma
semente brota ao calor solar. O germe vivo do ego brota, germina e cresce,
desenvolve-se em planta, embora em estado potencial ontem, e em estado
atual hoje.
O ego, após à sua desintegração, nada perdeu, e muito ganhou com essa
integração no Eu. “Quem perder a sua vida, por amor do Cristo, ganhará sua
vida”.
O desvalor do ego pode ser valorizado pelo valor do Eu. A irrealidade pode ser
realizada pela realidade do Eu.
O invólucro da semente é uma proteção para o germe vivo. Mas, o que ontem
lhe foi auxílio, hoje lhe será empecilho, se a casca da semente se recusar a ser
desintegrada para que o germe possa ser integrado na planta.
Por isto, o presente capítulo, que trata duma fecundação por indução vital, e
não por contacto físico, não é para os machos e as fêmeas da humanidade
animal. Para esses é coisa absurda e insípida, porque “o conhecido está no
cognoscente segundo a capacidade do cognoscente” – e a capacidade do
cognoscente atual para este assunto é provavelmente nula. O homem e a
mulher da humanidade atual não têm, geralmente, capacidade para
compreender as páginas seguintes, que se referem a uma nova humanidade
ainda não existente no planeta terra, embora vislumbrada pelos grandes
videntes de todos os tempos.
É pois certo que o corpo humano de Jesus foi originado por duas creaturas
humanas, masculina e feminina. É também isto que supõem as genealogias
milenares que Mateus e Lucas traçam de Jesus. Se José não tivesse tido parte
alguma na fecundação de Maria, inútil teria sido traçar essas genealogias, que
são as genealogias de José.
Entretanto, os livros sacros negam que José tenha tido relação sexual física
com Maria, que, apesar de grávida, continuava virgem.
Este fato nada tem que ver com um suposto horror ao sexo, que era
desconhecido na antiguidade, sobretudo entre as mulheres hebreias, que,
acima de tudo, queriam ser mães.
A razão por que os livros sacros falam duma fecundação não-física não visa a
conservação da virgindade da mulher, mas tem por fim indicar o início de uma
nova humanidade, essencialmente superior ao animal.
Os livros sacros que se referem à origem dum ser humano não-animal, usam
palavras como ekstasis, hypnos, onar, isto é, êxtase, sono, sonho. Essa
fecundação tem que ver com um estado extra-sensorial; ocorre em estado
extático, hipnótico, onírico.
Nesse estado ocorre uma espécie de desligamento relativo entre o corpo físico
e o corpo bioplásmico do homem. Ultimamente, sobretudo depois das
experiências do casal russo Kirlian, a ciência admite que existe nos seres vivos
um substrato vital que produz o corpo material, podendo ser fotografado com
aparelhos especiais. Esse corpo astral, ou bioplásmico, consiste num substrato
fluídico, ou seja, numa aura imaterial que plasma a sua duplicata material.
***
Embora esse processo continue a ser misterioso para nós, podemos contudo
vislumbrar até certo ponto esse evento, que marca uma antecipação para a
nova humanidade.
Pela primeira vez, vislumbra José o mistério de uma fecundação real não
carnal. E obedece à ordem recebida extraconscientemente.
Esta concepção virginal nada tem que ver com tais ou quais pruridos de
piedoso virginismo, nem sexofobia, como alguns supõem. Indica simplesmente
a possibilidade de uma concepção genuinamente hominal, já insinuada no
Gênesis, e o prelúdio de uma nova humanidade.
Nascer de Água e Espírito
A princesa egípcia que tirou um menino das águas deu-lhe o nome de Moshe
(Moisés), “porque o tirei das águas”, diz o Gênesis. Daí concluíram alguns que
Moshe quer dizer “tirado das águas”.
Na verdade, Moshe quer dizer “filho”. A princesa real diz que este menino é
chamado “meu filho”, porque ela o tirou das águas. A expressão “tirado das
águas” é profundamente esotérica.
E porque Moisés não foi fruto de uma concepção animal, por isto o Talmud
judaico não o considera Adam, mas sim Ish, não um homem-ego, mas um
homem-Eu. Também o Ish ou “filho do homem”, necessita de um pai humano,
mas a sua concepção não obedece a um contacto carnal, e sim a um processo
hominal. Nada sabemos do pai de Moisés. Segundo uma tradição nebulosa, o
escultor hebreu Itamar serviu de intermediário para a concepção de Moisés
através da princesa egípcia.
Tales de Mileto, séculos antes da Era Cristã, iniciou a filosofia do ocidente com
a afirmação que toda a vida nasceu da água.
Sabemos que o átomo do hidrogênio, que forma 2/3 da água, é o átomo mais
simples que a ciência conhece, composto de apenas 1 próton e 1 eléctron. O
hidrogênio é comparável à luz incolor de que derivam as cores. Assim como a
luz incolor é simples por plenitude, o átomo do hidrogênio é simples por
abundância, podendo figurar como matéria-prima da mais poderosa das
energias nucleares.
Se a princesa egípcia tirou o menino da água, não insinua isto a idéia de uma
concepção astral ou bioplásmica?
Tudo que sabemos da vida de Moisés faz crer num super-homem, espécie de
precursor do “Filho do Homem”, cujo corpo também não nasceu da carne
material de homem e mulher, mas de um pneuma hagion, de um “sopro
sagrado”, como diz o médico grego Lucas.
De Moisés não consta uma única doença, nem se fala da morte dele; no alto do
monte Nebo ele se desmaterializou, e 1500 anos mais tarde aparece em corpo
astral, no Tabor, ao lado de Jesus transfigurado.
A Escritura Sagrada insiste em afirmar que, aos 80 e aos 120 anos, estava
Moisés em plena juventude, sem um sinal de decadência senil.
Nos livros sacros, as palavras água, abismo e caos aparecem como sinônimos
ou homônimos: “Havia trevas sobre o abismo, e o espírito dos Elohim pairava
sobre as águas”. Esse “pairar” indica uma incubação sem contacto direto, uma
tele-fecundação.
Qualquer cientista intuitivo sabe que, todos os dias, se repete esse processo de
fecundação e vitalização pela fotossíntese: quando a luz solar se casa com a
água da planta, no esmeraldino tálamo nupcial da clorofila das folhas, nasce
vida, o inorgânico se transforma em orgânico, produzindo substância viva.
Todos os dias, na vastidão do Universo, o espírito da luz paira sobre as trevas
da água, incubando-a e fazendo nascer vida.
Antes desse consórcio entre o espírito da luz e o abismo das trevas d’água, diz
a Septuaginta grega, a terra era aóratos e akataskéuastos, literalmente:
invisível e sem ordem, palavras que a Vulgata Latina traduziu por inanis et
vacua. A terra era mera potencialidade amorfa e neutra. A luz do espírito
catalisou a potencialidade das trevas da água primeva do abismo tenebroso.
No início do Gênesis, lemos que os Elohim crearam o céu e a terra, mas que a
terra era invisível e sem ordem; em grego: aóratos e akataskéuastos. Nenhuma
das nossas traduções, nem mesmo a Vulgata Latina, reproduz a palavra
aóratos, invisível; a Vulgata diz vagamente que a terra era inanis et vacua, isto
é, inane e vazia; e todas as traduções modernas copiam, com certas variantes,
o texto da Vulgata; nenhuma segue o texto grego da Septuaginta, que
representa a tradução fiel do original hebraico de Moisés.
O seio receptivo da água, fecundado pelo espírito dos Elohim, gerou a matéria
visível; o mundo potencial invisível materializou-se no atual mundo visível.
Não se trata, portanto, duma água material, mas sim duma água energética,
que poderíamos chamar bioplásmica ou astral. A ciência moderna provou que
o corpo bioplásmico é água em elevado estado de sublimação.
A antiga intuição de Tales de Mileto, vendo na água a origem da vida, se
referia, pois, à água-energia, e não à água-matéria; a vida nasce da água
bioplásmica ou astral – como acontece todos os dias ainda hoje, quando, na
clorofila das folhas, nascem substâncias vivas, oriundas do conúbio da água e
da luz (fotossíntese).
Moisés, Isaías, Mateus, João, Lucas, Jesus – todos eles se referem a uma
humanidade cuja origem e evolução divergem da do animal e da humanidade
atual.
Moisés, cerca de 3500 anos antes da nossa era, se refere à maldição dos
Elohim, pelo fato de se ter o homem multiplicado sem a evolução superior
exigida pelas Potências Creadoras: “Evolvei e multiplicai-vos”.
Isaías, o profeta do exílio babilônico, uns 2600 anos antes do nosso tempo, diz
ao rei Acaz que o princípio da nova humanidade será quando “a virgem tiver
um filho no útero”. A Vulgata Latina diz, quando a “virgem conceber”, o que não
seria nada de extraordinário, se se toma virgindade e gravidez em sentido
sucessivo; Isaías, porém, frisa a simultaneidade da virgindade e a gravidez (he
parthenos en gastri exei – a virgem terá no útero) como uma concepção
extraordinária. Apenas no Evangelho de Mateus, a Vulgata reproduziu
fielmente o texto do profeta: “virgo in útero habebit”.
Jesus diz a Rabi Nicodemus que o homem novo deve nascer de água e
espírito, aludindo a um nascimento diferente daquele que é feito de carne e
carne, como no animal e no homem atual. Refere-se o Mestre a uma
fecundação astral ou bioplásmica, como a que ocorreu com o corpo dele,
quando o “sopro sagrado” de José atuou sobre o elemento feminino de Maria,
mediante um envolvimento áurico do corpo da virgem.
Por isto, nesse terceiro estágio evolutivo, não há mais quantificação extensiva,
mas apenas qualificação intensiva do homem cósmico, cuja evolução visa
cristificação cada vez maior.
Toda a erótica horizontal será absorvida pela mística vertical. Todas as alo-
realizações culminarão em auto-realização.
Segundo os livros sacros, o planeta terra será, um dia, o cenário duma nova
humanidade, expurgada das escórias do homem primitivo. A nova humanidade
cósmica dificilmente compreenderá que seres humanos, seus ascendentes,
pudessem ser vítimas das tragicidades da humanidade atual, como
possessividade, agressividade, sexualidade, enfermidades, alcoolismo,
tabagismo, etc.
E, como na terra haverá um novo céu pelo espírito, haverá também uma nova
terra pela matéria. Os querubins e a espada flamejante, que vedavam o
ingresso no novo paraíso, permitirão ao homem o acesso à árvore da vida
eterna. A serpente rastejante, que parecia ser inimiga dos Elohim e afastar o
homem do seu grande destino de imagem e semelhança de Deus, essa
serpente horizontal será verticalizada, e todos os que forem mordidos pelas
serpentes mortíferas do velho ego serão redimidos pela serpente vivificante do
Eu, pela nova creatura em Cristo.
A visão de Moisés no Gênesis está ainda nos seus primeiros estágios e terá de
percorrer ainda muitos estágios tenebrosos e dolorosos, até atingir as alturas
visadas pelas Potências Creadoras. As incompreensíveis antíteses do passado
e do presente serão solucionadas pela surpreendente síntese do futuro. Não há
evolução sem resistências, dificuldades, sofrimentos, enigmáticos paradoxos.
Todas as culpas e pecados, que agora nos desorientam, serão culpas felizes e
pecados necessários, porque Deus escreve direito pelas linhas tortas dos
homens. Todas as aparentes derrotas de Deus serão vitórias, e todas as
aparentes vitórias dos homens serão derrotadas por Deus.
Paulo de Tarso, na Epístola aos Filipenses, diz que o Cristo se despojou dos
esplendores da Divindade e se revestiu de roupagem humana, tornando-se
homem, servo, vítima, crucificado – e que por isto foi ele exaltado
soberanamente acima de todas as creaturas celestes, terrestres e infra-
terrestres. Nenhuma alusão à redenção da humanidade, ainda que, em horas
não inspiradas, Paulo recaía à tradição do “bode expiatório” do povo hebraico.
Por esta mesma razão também não deixou o Cristo aqui na terra o seu Jesus,
mas integrou-o definitivamente em seu Cristo divino, de maneira que podemos
dizer que ao menos num espécime, da nossa natureza, a humanidade está
plenamente redimida, realizada, cristificada. Ocorreu um precedente, que pode
ter os seus consequentes. E não dizia ele: “Vós fareis as mesmas obras que eu
faço, e fareis obras ainda maiores que estas”?
Durante os 33 anos da sua vida terrestre não permitira Jesus que seus inimigos
o matassem antes do tempo. Mas, na última quinta-feira, à sombra do
Getsêmane, disse ele a seus agressores: “Esta é a vossa hora e o poder das
trevas”. E, a partir deste momento, suspendeu os seus poderes e se entregou à
violência de seus inimigos, que fizeram desse Eu divino tudo o que o ego
humano pode imaginar em matéria de crueldade e torpeza, porquanto “o ego é
o pior inimigo do Eu”. Essas crueldades, tão vividamente descritas pelos
evangelistas, não eram premeditadas por Deus ou Jesus para pagar os nossos
pecados, mas eram o transbordamento natural do ego adâmico para manifestar
o ódio e sua vingança contra o Eu crístico, que para aquele era uma tácita
acusação e um terrível exame de consciência. Nenhum pigmeu tolera ser
eclipsado pela sombra de um gigante, e, se não o pode matar, pelo menos lhe
joga uns salpicos da lama em que jaz. O ódio que o ego inferior tem ao Eu
superior não é outra coisa senão a voz da sua consciência atormentada, que
lhe diz: tu és um covarde – e ele é um herói. Nunca o ego humano é tão cruel
como quando ele vê diante de si um Eu divino, que, com sua simples presença,
lhe diz como ele deveria ser, mas como não é. Todos os horrores da paixão e
morte de Jesus correm por conta do ego adâmico, e nada tem que ver com um
plano premeditado de pagamento dos nossos pecados.
Nas bodas de Caná, Maria diz a Jesus: “Eles não têm vinho”, a que ele replica:
“Mulher, que temos nós com isto?”. Mas não deixa de atender à sugestão dela.
Em certa ocasião, dizem a Jesus: “Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e
desejam falar contigo”, ao que ele responde: “Quem é minha mãe e quem são
meus irmãos? Quem ouve a palavra de Deus e a realiza, esse me é mãe,
irmão e irmã”.
Na hora da morte, Jesus vê ao pé da cruz sua mãe e seu discípulo João, e diz
a ela: “Mulher, eis aí teu filho”.
Nem uma única vez, referem os Evangelhos que Jesus tenha chamado José
seu pai e Maria sua mãe. É que ele era o “Filho do Homem”, cuja relação de
filiação era profundamente diversa da relação de filiação dos “filhos de mulher”;
e, como os homens conheciam só esta última, Jesus evita sistematicamente
usar a palavra pai e mãe, que os ouvintes poderiam tomar no sentido
tradicional.
A teologia cristã de certa igreja inventou uma relação entre Jesus e Maria que o
Evangelho ignora; chegou mesmo ao ponto de fazer de Maria, não apenas mãe
de Jesus, mas a mãe de Deus, a rainha dos céus, a medianeira de todas as
graças. A apoteose que o “Dia das Mães” costuma fazer da maternidade
humana não existia entre Jesus e Maria. Dificilmente sintonizaria Jesus com os
dulçorosos sentimentalismos do nosso poeta:
Aliás, a julgar por certos indícios, Jesus nunca se sentiu realmente ambientado
entre os homens da terra. A natureza cósmica do Cristo se revestiu da
natureza telúrica de Jesus, mas o seu alheiamento se revela sempre de novo
durante os 33 anos do seu exílio terrestre. Durante os três dias depois da
Páscoa, quando José e Maria procuravam o menino, deve ele ter tido o seu
silencioso colóquio com o Pai celeste; só no último dia entrou em discussão
com os chefes da Sinagoga. O longo período, de 12 a 30 anos, mais da
metade da sua vida terrestre, é uma vasta lacuna anônima feita de silêncio; a
profissão de Jesus era a de carpinteiro, mas a sua vocação era de um místico
cósmico, e durante esse período o voluntariamente exilado sentia saudades da
pátria cósmica.
Os três anos da sua vida social foram iniciados por 40 dias de silêncio e
solidão, em que apenas o corpo de Jesus estava na terra, ao passo que o
espírito do Cristo habitava na alma do Universo.
Lucas frisa a circunstância que essa eclosão crística se deu depois que os 120
discípulos, em obediência à ordem do Mestre, haviam permanecido em
silenciosa meditação durante 9 dias consecutivos, no cenáculo de Jerusalém.
De modo análogo, para que seu Cristo divino pudesse ser integrado por seus
discípulos, devia o Jesus humano ser primeiramente desintegrado pela morte
voluntária, consoante suas próprias palavras: “Convém a vós que eu me vá
embora, porque, se não for, não poderá vir a vós o espírito da verdade”.
Nem adianta apelar para as palavras “isto é meu corpo, isto é meu sangue”; na
língua aramaica, usada por Jesus, está: “isto, meu corpo – isto, meu sangue”,
porque as línguas antigas costumavam omitir o verbo, como também ocorre em
sânscrito, por exemplo no conhecido “Hino a Brahma”. O que Jesus queria
dizer é: este pão simboliza meu corpo, este vinho simboliza meu sangue.
E como ninguém pode assimilar a alma (calorias) do alimento sem lhe destruir
o corpo – assim não podeis vós, meus discípulos, assimilar o meu Cristo divino
se o Jesus humano não for primeiro destruído.
Todo o ser humano é potencialmente livre por sua própria natureza – mas
poucos homens da atual humanidade são realmente livres.
O livre-arbítrio não nega a lei de causa e efeito. Nos seres não-livres a causa
eficiente age de fora (alo-determinismo), ao passo que, nos seres livres, a
causa age de dentro (auto-determinação). O ser livre é auto-causante, ao
passo que os seres não livres são alo-causados. A causação extrínseca é
necessidade; a causação intrínseca é liberdade. Os seres não-livres são
determinados por circunstâncias alheias, ao passo que o ser livre se determina
por sua substância própria.
Por isto, o livre-arbítrio não é contra a lei de causa e efeito, como muitos
supõem erroneamente.
Em face disto, costuma-se objetar: se a grande massa dos homens não age
em virtude duma liberdade atual, eles não são culpados de serem maus,
porque agem necessitados pelas circunstâncias.
Segundo as leis cósmicas, quem pode, deve; e quem pode e deve e não faz,
cria débito, culpa. Se todo o homem é potencialmente livre em virtude da sua
natureza humana, deve tornar-se atualmente livre. Se não se libertou, quando
podia libertar-se, é culpado, não agiu de acordo com as leis cósmicas, que
dentro do homem se manifestam pela consciência.
Albert Einstein escreveu: “Do mundo dos fatos (das was ist) não conduz
nenhum caminho para o mundo dos valores (das was sein soll); porque estes
vêm de outra região”. Valores são a Realidade. A liberdade é um valor, e não
apenas um fato. Mas os nossos cientistas vivem na ilusão, anti-lógica e anti-
matemática, de que a soma total dos fatos seja idêntica à Realidade ou ao
valor.
Por isto, disse um filósofo moderno: “Deus creou o homem o menos possível
para que o homem se possa crear o mais possível”. Deus deu ao homem
liberdade potencial para que o homem conquiste liberdade atual.
Da Crença Para a Experiência
A ciência é da adolescência.
A razão é da maturidade.
A elite dos experientes sabe que essa experiência do mundo superior não é um
ato transitório, mas uma atitude permanente do homem, uma abertura ou
receptividade em face do mundo superior. Para ter experiência da Realidade
invisível, deve o homem ser invadido pela alma do Universo, que é Deus.
E, para que aconteça ao homem essa invasão cósmica, deve ele oferecer ao
invasor canais abertos; somente o homem invadível pode ser invadido pela
alma do Universo. Esta invadibilidade ou disponibilidade cósmica do homem
consiste num total ego-esvaziamento, que, segundo leis infalíveis, preludia a
cosmo-plenificação, que certas teologias chamam “graça”.
Desde o tempo dos Vedas, que remontam há 25.000 anos, a Índia conhece
avatares que encarnaram na terra através de concepções imateriais, como
Krishna e Buda, que se homificaram sem contacto carnal entre homem e
mulher.
O “filho de mulher”, cujo maior, segundo Jesus, era João Batista, pode iniciar-
se no Reino dos Céus, mas não pode realizá-lo plenamente sem “renascer de
água e espírito”, como “Filho do Homem”. A tara congênita da geração carnal
não permite a formação de um corpo perfeito, sem mazelas e morte
compulsória. Quem foi materialmente concebido não pode ser desconcebido,
para ser reconcebido.
Por esta razão, todo avatar, quanto mais liberto interiormente, tanto maior
desejo tem de se escravizar externamente, descendo a mundos inferiores que
o desafiam a encontrar resistência ou sofrimento.
A chamada “vida eterna“ não é uma meta final, mas uma jornada
indefinidamente progressiva. Não é um indolente gozo gozado, mas um
dinâmico gozo sofrido, voluntariamente sofrido por amor a uma auto-realização
sempre ulteriormente realizável.
“Não devia então o Cristo sofrer tudo isto para assim entrar em sua glória?”
O homem profano é devorado pelo mundo, porque é mais fraco do que ele.
Os Mestres exigem que seus discípulos renunciem a tudo que têm; que se
despossuam de todas as posses.
Ninguém pode renunciar a algo que não têm, nem pode despossuir-se de algo
que não possui. O ego é ter e possuir – o Eu é ser. E nesse processo de ter e
não ter, de possuir e não possuir consiste a gloriosa libertação, que conduz o
homem à sua auto-realização.
Se o filho pródigo não tivesse atingido o zênite da sua libertação por ter
descido ao nadir da escravidão, seriam incompreensíveis os festejos com que
o pai celebra à sua realização – solenidades que o irmão mais velho do jovem
não pôde compreender, porque nunca chegara a uma escravização pleni-
consciente. “Tudo que é meu é teu”, lhe diz o pai, com profunda sabedoria.
Quem não atingiu a plenitude do seu ego nada sabe de “meu”; tudo que é de
Deus é dele, mas nada é dele como posse pessoal, porque quem não maturou
o seu ego não tem senso de possessividade. E, como nada possui
conscientemente, de nada se pode despossuir voluntariamente, para atingir “a
gloriosa liberdade dos Filhos de Deus”.
Quando uma linha horizontal cruza a linha vertical, resulta uma cruz, que é o
símbolo do sofrimento, da crucificação – mas é também o símbolo da glória e
da vida eterna. A cruz telúrica, ainda presa à terra com o tronco mais comprido,
é sofrimento. A cruz cósmica, com os quatro braços iguais, flutuando
livremente no espaço, é glória e vida imortal.
“Não devia o Cristo sofrer tudo isto para assim entrar em sua glória?”
Está nas mãos do homem o seu destino individual – mas o destino cósmico do
Universo transcende todas as bondades e maldades da creatura e se realiza
infalivelmente, com o homem, sem o homem ou contra o homem.
Este canal condutor dos fluidos crísticos, dizem eles, deve ser contínuo, sem
interrupção, através dos séculos, para que os fluidos do Cristo cheguem até
nós.
O homem do ex opere operantis sabe que ele pode afirmar a soberania da sua
substância divina sobre todas as tiranias das circunstâncias humanas. A nova
humanidade sabe que todo o seu valor está na substância interna, a despeito
das circunstâncias externas. Sabe que o espiritual é um valor, ao passo que o
ritual é apenas um fato.
Einstein, o pai da era atômica, escreveu: “Do mundo dos fatos não conduz
nenhum caminho para o mundo dos valores, porque os valores vêm de outra
região”.
No Evangelho, esse centro aparece como Pai em nós, o Reino de Deus, a Luz
sob o velador, o Tesouro oculto, a Pérola preciosa.
***
Há um permanente paralelismo entre a física e a metafísica, entre o mundo
material e o mundo espiritual.
Outrora, a força do bem e do mal era considerada como algo que viesse de
fora do homem. O autor do pecado era Satanás – o autor da redenção era o
Cristo. Uma força externa maligna fizera o homem pecador – uma força interna
benigna havia redimido o homem.
Paulo de Tarso afirma que, até o presente, a natureza geme e sofre dores de
parto, porque ainda não nasceu o homem divino. O homem da humanidade
atual é apenas um nascituro, e não ainda um nato; o homem pleni-nato em
espírito e em verdade não é o homem-ego do primeiro Adam, que apenas
comeu do fruto do conhecimento do bem e do mal; o verdadeiro homem que
comeu da árvore da vida é um pleni-nato; por ele sofre e anseia a natureza em
gestação até que nasça o homem cósmico, o homem que atualizar a sua
filiação divina e se tornar realmente imagem e semelhança de Deus. Todos os
seres humanos possuem essa potencialidade divina, mas poucos a
atualizaram. E por isto a natureza continua a gemer e estorcer-se em dores de
parturição, até que nasça de suas entranhas o homem ideal, previsto desde o
Gênesis, através do Evangelho, até ao Apocalipse: “A nova creatura em
Cristo”.
Essa sobrevivência não prova a imortalidade, mas prova que a entidade real do
homem não coincide com a destruição do seu invólucro feito de ossos e carne,
de nervos e pele. A certeza da imortalidade não vem de experiências
científicas, mas de uma experiência espiritual. O destino do homem é
imortalizar-se. Quem pode, deve; e quem pode e deve e não faz, cria débito – e
todo débito gera sofrimento.
Esta imortalização tem o seu início aqui no estágio da nossa encarnação
terrestre, e deve consumar-se durante o ciclo total da existência humana, que
pode ser de milhares e milhões de séculos ou milênios. O destino da
sobrevivência é a imortalização. Se, para essa imortalização definitiva são
necessárias reencarnações terrestres, é uma hipótese não provada. A
imortalidade é um valor, que não é produzido por fatos, na expressão de
Einstein, porque fatos não produzem valores; os valores vêm de outra região,
da região metafísica da consciência, e não dos fatos físicos da ciência. A
consciência é um atributo da alma, que funciona independentemente da
matéria. A alma humana pode imortalizar-se em qualquer ambiente e invólucro,
material ou imaterial. E se, para essa evolução rumo à imortalidade, for
necessário o sofrimento, não nos esqueçamos de que o mundo astral é
precisamente a zona clássica dos sentimentos, positivos ou negativos, gozosos
ou dolorosos – a tal ponto que até as teologias dogmáticas localizaram o
inferno e o purgatório precisamente no mundo astral.
Gandhi passou 20 anos no sul da África; para lá foi como um ego escravizado
pelo dinheiro e pelo desejo de fama – de lá voltou liberto do seu ego humano
pelo poder do seu Eu divino. Embarcou para a África para voltar milionário – e
voltou de tanga, desegoficado e cristificado. Quando Rabindranath Tagore, que
conhecera o Doutor Karamchand Gandhi, viu o Gandhi espiritualizado,
exclamou: “Eis aí uma grande alma (mahatma) em trajes de mendigo!” Desde
então se popularizou na Índia e no mundo inteiro o apelido “mahatma” (grande
alma).
A libertação da Índia, que ocorreu quase meio século mais tarde, foi apenas um
corolário, um transbordamento natural, da libertação individual de Gandhi. E
tão pouca importância deu Gandhi à libertação política de sua pátria, que nem
assistiu à proclamação da Independência Nacional de seu país, que se deu à
meia-noite de 14 a 15 de agosto de 1947, enquanto Gandhi andava longe da
Capital, do outro lado da Índia.
Quando Ramana Maharishi foi perguntado por um cientista inglês qual era o
melhor modo de fazer bem à humanidade, respondeu o grande vidente de
Arunáchala: “O único modo de fazer bem é ser bom”. Ser bom quer dizer
realizar-se em Deus, porque esta realização em Deus é o único modo de fazer
bem aos homens.
Todos os altruísmos sem auto-realização são outros tantos zeros: 000000; mas
a auto-realização é o grande valor 1, que valoriza todos os zeros: 1000000.
O Reino de Deus e sua Justiça
Uma das mais grandiosas perspectivas que o Cristo abre a seus discípulos da
nova humanidade é o seguinte:
Segundo esta perspectiva, os bens necessários à vida material não mais virão
dos canais das previdências humanas, embora possam fluir através deles; os
bens da vida virão da fonte da providência de Deus. O homem Cristo-realizado
receberá tudo da Fonte Primária do Creador, em vez de se preocupar com os
canais secundários das creaturas.
A citada maldição, que consta do Gênesis, se refere ao ego adâmico; mas essa
maldição é suplantada pela bênção do Eu crístico. A natureza, hostil ao homem
profano, é amiga do homem sacro e o favorece de todos os modos.
Para que funcione a justiça ou harmonia do Reino de Deus, deve o homem ser
incondicionalmente espiritual, sem a menor intenção de prosperidade material.
As coisas materiais não podem ser o fim e o alvo da atividade espiritual. Os
bens materiais da vida são um transbordamento espontâneo e não
intencionado pelo homem espiritual; eles apenas lhe acontecem, quase à
revelia dele mesmo.
Amar é ser
Amor é auto-compreensão.
Amor é auto-realização.
Afirmam os livros sacros que “Deus ama a si mesmo com infinito amor”.
Se esse auto-amor, esse amor próprio, fosse egoísmo, seria Deus o rei dos
egoístas. Mas auto-amor é santidade, é perfeição, é auto-realização. E, como
Deus é a infinita Realidade, é ele necessariamente a infinita auto-afirmação, o
auto-amor absoluto.
Quem descobriu o seu Eu como seu Deus imanente, descobre esse mesmo
Deus também em qualquer Tu humano, e mesmo em todas as creaturas,
porque uma só é a Essência Infinita em todas as existências finitas.
“Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros assim como eu
vos amei – e por isto hão de os homens conhecer que sois discípulos meus”.
Quem não se ama a si mesmo misticamente não pode amar eticamente a seu
semelhante, porque lhe falta base e o ponto de referência para seu amor
alheio.
Amar a seu próximo como a si mesmo, e amar a si mesmo como seu Deus
imanente – nestes dois mandamentos está toda a religiosidade e toda a auto-
realização do homem.
Zeros, 000000, serão eternas nulidades. Mas, se colocarmos o valor “1” diante
desses desvalores, estes serão valorizados, 1000000.
Numa das suas alocuções, disse o antigo presidente Médici que vislumbrava,
nos horizontes do futuro, uma nova forma de democracia, uma democracia
superior.
Quer dizer, entre cidadãos cosmocráticos não haveria conflito possível. Haveria
unidade na diversidade, harmonia. Cada cidadão seria como uma linha
paralela, independente das outras, mas não contrária; persistiria a
personalidade, mas essa personalidade seria orientada pela individualidade
unificadora. A diversidade personal seria orientada pela unidade individual.
A Religião não mais será uma parte da vida a ser praticada em certos dias e
em certos lugares, de acordo com certos ritos – Religião será a própria
essência da vida diária, porque o homem de consciência cósmica se sentirá
espontaneamente “religado” ao Infinito Transcendente pelo Infinito Imanente,
sentirá o Uno da Divindade em todo o verso do mundo – o homem cósmico é o
homem universificado pelo próprio Universo.
E esta Religião não terá o fim de libertar o homem dos seus pecados e salvar
sua alma para a vida eterna; de preservá-lo do inferno e fazê-lo entrar no céu –
porque a certeza da imortalidade estará em cada alma, aqui e agora, assim
como a luz está nos seus olhos.
Dúvida sobre Deus e a vida eterna será tão impossível como a dúvida na
própria existência. Já não haverá discussões sobre teísmo ou ateísmo, sobre
materialismo ou espiritualismo – porque o homem de consciência cósmica
superou todas as escolas primárias e secundárias da vida terrestre e ingressou
na Universidade da Realidade Cósmica.
A chamada morte não é, para ele, o fim da vida, mas a transição duma semi-
vida na matéria para uma pleni-vida em outras regiões do Universo, porque o
homem cósmico sabe por experiência própria o que quer dizer “na casa de
meu Pai há muitas moradas”.
Huberto Rohden
Nasceu na antiga região de Tubarão, hoje São Ludgero, Santa Catarina, Brasil
em 1893. Fez estudos no Rio Grande do Sul. Formou-se em Ciências, Filosofia
e Teologia em universidades da Europa – Innsbruck (Áustria), Valkenburg
(Holanda) e Nápoles (Itália).
Rohden não está filiado a nenhuma igreja, seita ou partido político. Fundou e
dirigiu o movimento filosófico e espiritual Alvorada.
Ao fim de sua permanência nos Estados Unidos, Huberto Rohden foi convidado
para fazer parte do corpo docente da nova International Christian University
(ICU), de Metaka, Japão, a fim de reger as cátedras de Filosofia Universal e
Religiões Comparadas; mas, por causa da guerra na Coréia, a universidade
japonesa não foi inaugurada, e Rohden regressou ao Brasil. Em São Paulo foi
nomeado professor de Filosofia na Universidade Mackenzie, cargo do qual não
tomou posse.
Nos últimos anos, Rohden residia na capital de São Paulo, onde permanecia
alguns dias da semana escrevendo e reescrevendo seus livros, nos textos
definitivos. Costumava passar três dias da semana no ashram, em contato com
a natureza, plantando árvores, flores ou trabalhando no seu apiário-modelo.
Maravilhas do Universo
Alegorias
Ísis
Por mundos ignotos
Coleção Biografias
Paulo de Tarso
Agostinho
Por um ideal – 2 vols. autobiografia
Mahatma Gandhi
Jesus Nazareno
Einstein – o enigma do Universo
Pascal
Myriam
Coleção Opúsculos
Catecismo da filosofia
Saúde e felicidade pela cosmo-meditação
Assim dizia Mahatma Gandhi (100 pensamentos)
Aconteceu entre 2000 e 3000
Ciência, milagre e oração são compatíveis?
Auto-iniciação e cosmo-meditação
Filosofia univérsica – sua origem sua natureza e sua finalidade