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Macroeconomia Aplicada

Autores: Prof. Adalberto Oliveira da Silva


Profa. Camila Kimie Ugino
Prof. Marcos Paulo de Oliveira
Colaborador: Prof. Maurício Felippe Manzalli
Professores conteudistas: Adalberto Oliveira da Silva / Camila Kimie Ugino /
Marcos Paulo de Oliveira

Adalberto Oliveira da Silva

Mestre em Economia Política pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC‑SP). Atualmente é professor adjunto
da UNIP – Universidade Paulista, no curso de Ciências Econômicas, e leciona disciplinas de Macroeconomia Aplicada, História
Econômica Geral e Técnicas de Pesquisa em Economia.

É técnico do Departamento Intersindical de Estudos Estatísticos e Socioeconômicos (Dieese), em que atua em pesquisas sobre
mercado de trabalho. Suas áreas de interesse são: teoria econômica, desenvolvimento econômico, economia brasileira e políticas
públicas. Também atua como revisor técnico no projeto da Biblioteca Universitária Pearson para a confecção de material didático
de cursos superiores.

Camila Kimie Ugino

Possui graduação em Ciências econômicas pela Universidade Estadual de Campinas (2005), mestrado em Economia Política
(2011) e doutorado em andamento na área de Ciências Sociais com ênfase em ciência política pela Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo. Atualmente é professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e da Universidade Paulista, ministrando as
disciplinas de Introdução à Economia, Economia Política, Economia Internacional e Economia do Setor Público. Tem experiência na
área de Economia, com ênfase em Economia dos Programas de Bem‑Estar Social, Economia Política e Políticas Públicas.

Atuou no mercado financeiro nos bancos Unibanco e Citibank nas áreas de planejamento corporativo e na área de risco, e
também em empresa privada em Campinas no ramo farmacêutico veterinário.

Marcos Paulo de Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas pela UNIP – Universidade Paulista com mestrado em Economia Política pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo – PUC‑SP.

Leciona na UNIP desde o ano de 2002 em várias disciplinas, dentre elas, Contabilidade Social, Economia e Gestão do Setor Público,
Macroeconomia Fechada, Macroeconomia Aberta, Macroeconomia Aplicada. Trabalhou no setor privado na área de atacado, importação
e exportação, e no setor público com políticas públicas de geração de trabalho, emprego e renda, bem como nas áreas de planejamento e
gestão pública como gerente de indicadores econômicos e sociais, e como gerente de acompanhamento das receitas e dos gastos públicos.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

S586m Silva, Adalberto Oliveira da.

Macroeconomia Aplicada. / Adalberto Oliveira da Silva, Camila


Kimie Ugino, Marcos Paulo de Oliveira. – São Paulo: Editora Sol, 2017.

176 p., il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXIII, n. 2-038/17, ISSN 1517-9230.

1. Macroeconomia aplicada. 2. Modelo monitarista. 3. Modelos


macroeconômicos. I. Ugino, Camila Kimie. II. Título.

CDU 330.101.541

© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
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Unip Interativa – EaD

Profa. Elisabete Brihy


Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli

Material Didático – EaD

Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão:
Marcilia Brito
Juliana Mendes
Sumário
Macroeconomia Aplicada

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................7

Unidade I
1 MODELO MONETARISTA................................................................................................................................ 11
1.1 Taxa natural de desemprego............................................................................................................. 19
1.2 Expectativas adaptativas.................................................................................................................... 22
1.3 Curva de oferta agregada de curto e longo prazos................................................................ 24
1.4 Curva de Phillips (curto e longo prazos)...................................................................................... 25
1.5 Recomendações de política.............................................................................................................. 32
1.6 Críticas e evidência empírica............................................................................................................ 35
2 MODELO DE EXPECTATIVAS RACIONAIS (MODELO NOVO‑CLÁSSICO)....................................... 36
2.1 A ofensiva novo‑clássica e a estrutura de seus modelos..................................................... 37
2.1.1 A hipótese de expectativas racionais............................................................................................... 39
2.1.2 Market clearing contínuo e a hipótese da oferta agregada.................................................. 42
2.2 Modelo macroeconômico geral com expectativas racionais.............................................. 45
2.2.1 Políticas antecipadas e choques não antecipados..................................................................... 45
2.2.2 Curva de oferta de Lucas...................................................................................................................... 49
2.2.3 Modelo de “ilhas” (oferta) de Lucas................................................................................................. 51
2.2.4 Curva de Phillips com expectativas racionais.............................................................................. 55
2.3 Implicações político‑econômicas da abordagem novo‑clássica........................................ 58
2.4 Críticas ao enfoque de expectativas racionais.......................................................................... 61
3 TEORIA DOS CICLOS ECONÔMICOS REAIS............................................................................................. 62
3.1 Introdução e características básicas.............................................................................................. 63
3.2 Modelo básico de ciclos econômicos reais................................................................................. 66
3.3 Choques reais (positivos e negativos)........................................................................................... 72
3.4 Neutralidade e não neutralidade da moeda.............................................................................. 74
3.5 Críticas ao enfoque dos ciclos reais............................................................................................... 75
4 MODELOS NOVO‑KEYNESIANOS................................................................................................................ 77
4.1 Modelos de preço rígido (custos de menu)................................................................................ 78
4.2 Modelos de salário de eficiência..................................................................................................... 79
4.3 Modelos insider‑outsider ou incluído‑excluído e histerese................................................ 82
4.4 Modelos de contratos sobrepostos de Taylor............................................................................ 84
Unidade II
5 COMPARAÇÃO E SÍNTESE DOS DISTINTOS MODELOS MACROECONÔMICOS......................... 92
5.1 Modelo monetarista............................................................................................................................. 92
5.2 Modelo novo‑clássico de expectativas racionais..................................................................... 95
5.3 Modelo de ciclos econômicos reais.............................................................................................102
5.4 Modelo novo‑keynesiano................................................................................................................104
5.5 Comparativo dos modelos macroeconômicos........................................................................106
6 KEYNESIANOS, MONETARISTAS, NOVO‑CLÁSSICOS E NOVO‑KEYNESIANOS:
UMA LEITURA PÓS‑KEYNESIANA................................................................................................................108
6.1 Hipótese da instabilidade financeira...........................................................................................116
7 TÓPICOS INTERMEDIÁRIOS DE MACROECONOMIA APLICADA...................................................120
7.1 Ciclos econômicos, ciclos reais de negócios e política econômica.................................120
7.2 Consumo, investimento e governo: a utilização de fundamentos
microeconômicos por meio da escolha intertemporal para o
crescimento econômico...........................................................................................................................130
7.2.1 Consumo e escolha intertemporal................................................................................................. 130
7.2.2 Investimento e a decisão de investir............................................................................................ 137
7.2.3 Governo e restrição orçamentária intertemporal................................................................... 138
8 AVANÇOS RECENTES: A CONTRIBUIÇÃO DA MACROECONOMIA DA
DEMANDA EFETIVA............................................................................................................................................144
8.1 Distribuição de renda e acumulação do capital.....................................................................145
8.2 Princípio da demanda efetiva a curto e a longo prazo.......................................................149
8.3 Crescimento liderado pelo investimento...................................................................................157
8.4 Crescimento liderado pelos gastos autônomos......................................................................159
8.5 Restrição externa e crescimento econômico...........................................................................161
APRESENTAÇÃO

A disciplina de Macroeconomia Aplicada tem como objetivo aprofundar os conhecimentos do aluno


com a discussão teórica no campo da macroeconomia após a revolução keynesiana no pós‑Segunda
Guerra. A disciplina discute cada escola do pensamento econômico que se desenvolve, como as
escolas monetária e novo‑clássica, bem como as novas correntes teóricas dentro de cada escola, como
pós‑keynesiana e novo‑keynesiana.

A macroeconomia aplicada estuda o desenvolvimento teórico da macroeconomia com base na


história econômica, isto é, o debate sobre flutuação econômica, inflação, desemprego, entre outras
problematizações, leva à análise macroeconômica a passar por um período fértil de novas hipóteses,
suposições, conceitos, categorias metodológicas dentro de um debate sobre o papel de cada política
econômica e sua eficiência.

Como objetivo geral, a disciplina apresenta ao aluno os fundamentos dos modelos macroeconômicos
contemporâneos para lhe prover a capacidade de elaborar análises comparativas entre os diversos modelos
apresentados, e como objetivos específicos apresenta cada escola de pensamento macroeconômico e
seus modelos monetaristas, de expectativas racionais, de ciclos econômicos reais, da linha de pesquisa
dos pós‑keynesianos e novo‑keynesianos.

Faz‑se uma comparação entre os diversos modelos estudados na macroeconomia aplicada,


como forma de explicitar as diferenças teóricas entre eles e apresenta tópicos intermediários, isto
é, a utilização de fundamentos microeconômicos, além de apresentar os avanços recentes nesse
campo de estudo.

INTRODUÇÃO

A macroeconomia é uma das grandes áreas do curso de Ciências Econômicas. Neste livro‑texto,
o objetivo é apresentar de maneira didática as discussões controversas acerca da macroeconomia
contemporânea. Ademais, é proposto para o aluno o desafio de elaborar análises comparativas entre os
diversos modelos apresentados nas disciplinas anteriores de macroeconomia, tais como contabilidade
social, macroeconomia fechada e macroeconomia aberta.

Considerando o objetivo principal e o conhecimento prévio acumulado a partir das disciplinas


já estudadas, acredita‑se que o aluno seja capaz de usar esses conceitos para discutir e analisar, por
exemplo, por que a economia apresenta, de tempos em tempos, uma flutuação econômica. Ora com
mais crescimento e emprego, ora com menos crescimento e emprego. As flutuações conjunturais
da economia são objeto de análise para muitos economistas, principalmente, a partir do início dos
anos 1970, quando a economia mundial capitalista passou a oscilar mais frequentemente e as teorias
macroeconômicas não eram suficientes para explicar esses fenômenos.

Após a Crise de 1929 e a Grande Depressão dos anos 1930, o enfoque keynesiano era a base de
análise macroeconômica e das prescrições de políticas macroeconômicas. Um dos argumentos centrais
da teoria geral de Keynes era a afirmação de que as economias de mercado são inerentemente instáveis
7
e que, em geral, não apresentam um equilíbrio com pleno emprego dos fatores de produção por períodos
prolongados de tempo. Esse consenso keynesiano prevaleceu no debate econômico principalmente até
o final dos anos 1960.

Desde os anos 1950, Milton Friedman resgatou os pressupostos da teoria quantitativa da moeda
e a recolocou no centro do debate macroeconômico. Em outras palavras, os monetaristas, cujo
principal expoente foi Friedman, defendiam que os teóricos keynesianos atribuíam pouca importância
macroeconômica à oferta de moeda. Dessa maneira, os monetaristas reafirmaram a importância
econômica da moeda e, portanto, das políticas monetárias para explicar a demanda agregada e a renda
nacional.

Principalmente a economia dos Estados Unidos apesentava uma crise econômica com fenômenos,
inicialmente, impossíveis de serem simultâneos, quais sejam, a inflação e o desemprego elevados, que
ficaram conhecidos como estagflação. No bojo das alternativas à crise dos anos 1970, diversas ideias que
resgatavam a crença na capacidade de economias de mercado alcançarem estabilidade macroeconômica
ganharam espaço no debate acadêmico no campo da economia. Essas teorias resgatavam os fundamentos
microeconômicos para o desenvolvimento das teorias macroeconômicas.

Após os monetaristas, o pensamento novo‑clássico radicalizou as análises dos enfoques monetarista


e keynesiano, e introduziu novas hipóteses para explicar os ciclos econômicos como a de expectativas
racionais. Houve também a escola novo‑keynesiana que retomou a análise da demanda agregada para
analisar as flutuações cíclicas.

Com os rumos do debate macroeconômico, os autores pós‑keynesianos recuperaram o legado


de Keynes para entenderem a dinâmica de uma economia monetária da produção, uma vez que a
macroeconomia discute os problemas econômicos da economia real e monetária e as possíveis soluções
para esses pontos.

Essa disciplina não é trivial, pois, além de ser extremamente contemporânea, apresenta questões
candentes de nosso tempo. Questões essas que são subjacentes à análise macroeconômica, como refletir
sobre as possibilidades de crescimento e desenvolvimento econômicos numa sociedade capitalista. Esse
dilema requer o conhecimento detalhado do debate da teoria macroeconômica contemporânea, pois,
numa economia capitalista, não existe uma solução rápida e fácil. Necessariamente é crucial se apropriar
dos debates mais recentes da macroeconomia, como também considerar a formação social e histórica
para se chegar a um diagnóstico dos problemas a serem enfrentados para se encontrar uma solução
econômica e social viável.

É corriqueiro observar economistas discutindo e divergindo sobre como garantir crescimento


econômico estável, isto é, sem que haja o desenvolvimento de um processo inflacionário. Ou, ainda,
quais seriam os melhores mecanismos de política econômica para superar uma crise e por que há
tantas flutuações econômicas. A macroeconomia garante embasamento teórico para responder a essas
questões a partir das diversas teorias, desde as de cunho liberal e pró‑mercado até as intervencionistas,
com fundamento keynesiano.

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Primeiramente o foco é expor e debater as teorias macroeconômicas contemporâneas, começando
pela teoria monetarista, passando pelos novo‑clássicos e pelos teóricos dos ciclos reais de negócios, que
analisam os fundamentos macroeconômicos principalmente pelo lado da oferta. Após isso, essa parte é
encerrada com a exposição dos teóricos da escola novo‑keynesiana.

Posteriormente, o objetivo é centrar no balanço das escolas apresentadas e nas críticas pós‑keynesianas.
Para, por último, porém não menos importante, apresentar e discutir questões avançadas e atuais sobre
ciclos econômicos, papel da moeda, da dívida pública e da inflação e sobre a teoria macroeconômica da
demanda efetiva.

9
MACROECONOMIA APLICADA

Unidade I
1 MODELO MONETARISTA

Durante os anos 1950 até, pelo menos, meados dos anos 1960, a economia keynesiana sintetizada
pelo modelo da síntese neoclássica (IS‑LM) foi a força dominante na evolução da macroeconomia em
de teorização e prescrições de políticas macroeconômicas. Um dos pontos centrais da Teoria Geral de
Keynes era a afirmação de que as economias de mercado são inerentemente instáveis e que não podem
apresentar um equilíbrio com pleno emprego por períodos prolongados de tempo.

Essa instabilidade seria resultado das flutuações da demanda agregada, oriundas de variações no
investimento e consumo autônomo. Uma depressão, como a dos anos de 1930, reflete um cenário
de queda acentuada do nível de investimentos associada a um elevado desemprego que refletiriam
a insuficiência da demanda agregada. Para isso, abandonavam a tradição, que via nas variações da
quantidade de moeda, através da teoria quantitativa da moeda, as explicações para as flutuações de
renda e emprego da economia.

Durante os anos 1950 e 1960, Milton Friedman, mais do que qualquer outro economista, foi
responsável por revisitar os pressupostos da teoria quantitativa da moeda e recolocá‑la no centro do
debate macroeconômico. Em outras palavras, os monetaristas liderados por Friedman defendiam que os
primeiros economistas keynesianos atribuíam pouca importância macroeconômica à oferta de moeda.
O monetarismo representa uma tentativa de reafirmar a importância econômica da moeda e, portanto,
das políticas monetárias que foram usurpadas com a revolução keynesiana.

Nesse esforço de reabilitação da teoria quantitativa da moeda, inaugura‑se uma forma de interpretar
as flutuações econômicas com novas propostas de políticas. Ao listarmos as principais proposições do
monetarismo que norteiam o desenvolvimento de seu modelo, destacam‑se:

• A oferta de moeda como a principal influência sobre a renda nominal.

• A longo prazo, a influência da moeda revela‑se, basicamente, nos preços e em outras magnitudes
nominais. A longo prazo, variáveis reais, como o produto real e o nível de emprego, são determinadas
por fatores reais e não monetários.

• A curto prazo, a oferta de moeda influencia variáveis reais. A moeda é o fator dominante que
causa movimentos cíclicos na produção e no nível de emprego.

• O setor privado é inerentemente estável. A instabilidade na economia resulta, basicamente, de


políticas econômicas governamentais inócuas ou ineficientes.

11
Unidade I

Numa breve análise das proposições, a primeira decorre da reformulação da Teoria Quantitativa da
Moeda (TQM) realizada por Friedman (1985), consolidando a TQM como uma teoria de demanda por
moeda, em vez de uma teoria estritamente ligada ao comportamento do nível geral de preços, como se
pregava sua utilização no modelo clássico.

A segunda proposição monetarista afirma que, a longo prazo, o nível de atividade econômica,
medido em unidades monetárias reais (corrigidas da inflação), não depende da quantidade de moeda.
Portanto, a longo prazo o nível de produto real será determinado por fatores reais, como o estoque de
bens de capital, o tamanho e a qualidade da mão de obra, e o padrão tecnológico.

A terceira proposição diz que, a curto prazo, o produto real e o nível de emprego são fortemente
influenciados por mudanças no estoque de moeda. Os preços também são afetados, mas a curto prazo,
tanto os preços como os salários não são plenamente flexíveis, logo, quando a quantidade de moeda se
altera os preços não sofrem o ajuste completo, que só ocorrerá a longo prazo.

Por fim, a quarta proposição monetarista afirma que o setor privado – empresas e famílias – não
representa fonte de instabilidade na economia. A instabilidade seria produzida predominantemente pela
operação do setor governamental, já que o governo causa instabilidade na economia, principalmente,
por permitir instabilidade no crescimento do estoque de moeda, o principal determinante do nível de
atividade econômica. Somam‑se a isso as interferências que o governo realiza nos mecanismos normais
de ajuste do setor privado. Dentre elas, os controles de preços e salários, influências nos níveis das taxas
de juros e leis de regulamentação do salário mínimo.

Na teoria clássica, a Teoria Quantitativa da Moeda (TQM) explicava somente as variações de preços
causadas por modificações na oferta monetária. Para Milton Friedman, no entanto, a TQM pode explicar
a renda nominal a curto prazo, enquanto a longo prazo valeriam as conclusões clássicas.

Dessa forma, Friedman (1985) promove a substituição do Princípio da Demanda Efetiva


de Keynes pela TQM como fator explicativo de oscilações do produto e do emprego. A TQM
transforma‑se em uma teoria monetária da renda nominal, e a inflação é entendida como um
fenômeno puramente monetário. Então, pode‑se afirmar que o Monetarismo possui duas teorias:
uma para o longo prazo, em que variações da oferta de moeda afetam somente os preços, e outra
para o curto prazo, em que a política monetária afeta a renda nominal ou monetária, não se
especificando claramente se a variação dessa renda será nos preços ou nos produtos e empregos.
No entanto, as oscilações de curto prazo são interpretadas como meros desequilíbrios, e não
como crises econômicas.

No primeiro estágio de reformulação da TQM, o monetarismo buscou centrar a sua redefinição


levando em conta alguns aspectos da posição de Keynes. Assim, para Friedman (1985), no debate da
teoria monetária, devia‑se ressaltar o significado da equação quantitativa (MV = PT), principalmente, com
atenção sobre o termo da velocidade de circulação (V) acreditando-se que ela poderia ser considerada
muito estável; assim, independentemente dos outros fatores da equação, explicitaria que mudanças nas
quantidades de moeda seriam refletidas nos preços ou no nível de produção.

12
MACROECONOMIA APLICADA

Mas ao mesmo tempo se percebia a necessidade de reformular a teoria quantitativa lhe agregando
algumas das contribuições de Keynes, sempre com o intuito de reafirmar a importância da moeda. Essa
concepção deveria contradizer o papel da moeda na análise do sistema keynesiano, pois, nesse modelo,
a velocidade de circulação da moeda não seria constante, nem independentemente determinada, já que
teria sua determinação pelo próprio sistema econômico.

Saiba mais

Sobre a teoria monetária do modelo keynesiano, leia:

FROYEN, R. T. Macroeconomia: teorias e aplicações. 2. ed. São Paulo:


Saraiva, 2013.

Contrário à posição keynesiana, para Friedman (1985), a demanda por moeda seria estável, logo
significava uma oposição ao conceito de armadilha da liquidez. O autor argumenta que a elasticidade
da demanda por moeda em relação aos juros certamente não era infinita e, na realidade, seria bem
pequena. Portanto, a própria quantidade de moeda seria o principal fator na explicação das flutuações
da atividade econômica (FROYEN, 2013, p. 235).

Para chegar a tais conclusões, Friedman (1985) empreende uma reformulação da teoria quantitativa
da moeda clássica. Nessa versão, a teoria quantitativa seria centrada na demanda por moeda, numa
relação caracterizada pela seguinte equação:

Md = kPy

Nessa expressão teríamos uma relação proporcional entre a demanda por moeda (Md) e o nível
de renda nominal, caracterizado pelo preço (P) vezes a renda real (y). Um fator de proporcionalidade,
denominado k, seria constante a curto prazo. Assim, Friedman (1985) transforma a teoria quantitativa
em uma teoria da demanda por moeda, como base na equação de Cambridge. Como destaca
Froyen (2013, p. 237), sendo k considerada uma constante, nos desenvolvimentos dos economistas
de Cambridge, adotando‑se também que a oferta nominal de moeda (M) seria determinada
exogenamente pelas autoridades monetárias, esta nova equação poderia ser transformada em
uma teoria da renda nominal:

M = Md = kPy

Rearranjando,

1
M = Py
k

13
Unidade I

Sendo também verdadeira uma forma alternativa, em que a velocidade da moeda (V) seria igual a (1/k):

MV = PY

Dadas essas ponderações, Friedman (1985) buscou mostrar quais mudanças deveriam ser realizadas na
teoria quantitativa, após os desenvolvimentos de Cambridge, sob a luz da teoria da demanda por moeda
de Keynes. Isso representaria o caminho correto para transformá‑la numa teoria da renda nominal.

Friedman (1985) examinou as mudanças que deveriam ser feitas na teoria da demanda por moeda de
Cambridge, à luz da teoria da demanda por moeda de Keynes e, então, mostrou como essa versão revista
da teoria de Cambridge poderia ser transformada em uma teoria da renda nominal. Essa conclusão
não era possível dentro da teoria de Keynes, pois esse autor adotava o fato de a taxa de juros ser o
determinante de k, que afetaria o montante de saldos monetários que as pessoas iriam requerer num
dado nível de renda.

Assim, ainda nessa concepção de Keynes, mudanças na taxa de juros motivariam alterações na
velocidade de circulação da moeda, que representaria uma variação em k, que, portanto, não seria uma
constante, logo a equação de Cambridge não forneceria uma teoria da renda nominal.

Mas uma das contribuições de Keynes, respectivamente, a ênfase no papel da moeda como um ativo,
seria aceita por Friedman (1985) no desenvolvimento de sua teoria. Sendo tal ênfase uma de suas bases,
Friedman (1985) formula sua própria teoria da demanda por moeda. Primeiramente, a renda seria um
dos determinantes da demanda por moeda, buscando assim uma análise que fornecesse uma teoria
sobre os fatores que determinariam k, ou seja, os estoques de moedas requeridos como proporção da
renda nominal.

Com esse intuito, Friedman (1985) constrói sua função de demanda por moeda que corresponde à
seguinte expressão:

Md = L(P, Y, rB, rA, rD)

Em que:

P = nível de preço

Y = renda real

rB = taxa de juros nominal sobre títulos

rA = retorno nominal das ações

rD = retorno nominal dos bens duráveis

14
MACROECONOMIA APLICADA

Tal equação implica que a demanda por moeda depende da renda nominal, expressa pelo produto
dos dois primeiros fatores da função demanda. Dito isso, casos de aumentos na renda nominal levariam
a elevações da demanda por moeda. Como nos alerta Froyen (2013, p. 238):

Para um dado nível de renda nominal, Friedman acredita, assim como


Keynes, que a quantidade de moeda demandada depende da taxa de retorno
dos outros ativos. A função demanda por moeda é uma simplificação da
equação de Friedman, e inclui as taxas de retorno das principais alternativas
à moeda como ativo.

Dentre as alternativas podem figurar títulos, ações e bens duráveis, que podem compreender bens
de consumo duráveis, terras e imóveis. No caso dos bens duráveis, seu retorno monetário seria expresso
pelo aumento esperado no seu preço em determinado horizonte de tempo, diferentemente das outras
aplicações que são remuneradas por uma taxa de juros explícita.

Assim, os níveis de preços da economia, ou seja, a taxa esperada de inflação também se torna
um fator de determinação da demanda por moeda. Por exemplo, um aumento na taxa de retorno de
qualquer um desses ativos alternativos faz a demanda por moeda declinar.

Por conta disso, a teoria de Friedman distancia‑se em vários aspectos da teoria de Keynes. Um
destes aspectos será o fato de Friedman considerar a função demanda por moeda como estável.
Portanto, as variáveis da equação determinariam a quantidade de moeda que será demandada, logo
a função de demanda por moeda não necessitaria sofrer deslocamentos. Já para Keynes, a função de
demanda por moeda apresenta‑se instável, como reflexo das mudanças de confiança por parte dos
agentes econômicos.

Friedman (1985) não segmenta a demanda por moeda em componentes que representam saldos para
transações, demanda especulativa e demanda por precaução. A moeda como um ativo apresenta uma
série de atributos que expressam sua utilidade, não sendo um artifício proveitoso especificar demandas
separadas para cada uso da moeda. Por fim, a terceira diferença entre as teorias da demanda por moeda
de Friedman e Keynes é que o primeiro inclui rendimentos separados para títulos, ações e bens duráveis.
Keynes centrou‑se somente na escolha entre moeda e títulos. Friedman explicita a possibilidade de
outras substituições, dentre elas, considerar a substituição direta da demanda por moeda pela demanda
por bens duráveis atendendo a mudanças nas taxas de retorno.

Após tais apontamentos, podemos apresentar a reformulação da equação de Cambridge com base
na teoria da demanda por moeda proposta por Friedman (1985) com base na respectiva expressão:

Md = k(rB, rA, rD)PY

Nessa expressão, agora k será representado como uma função das taxas de retorno dos ativos
alternativos à moeda, e não mais um k constante. Por exemplo, no caso de um aumento na taxa
de retorno de qualquer um dos ativos alternativos faz k declinar, refletindo um aumento no desejo
de manter o ativo alternativo. Nesses termos, pode‑se entender que Friedman (1985), levando em
15
Unidade I

conta a análise keynesiana do papel da moeda como um ativo, reformulou a teoria quantitativa,
oferecendo uma explicação sistemática para k. Demarcando, portanto, as diferenças perante a
análise keynesiana.

Na visão de Friedman, como descreve Froyen (2013, p. 239) um teórico quantitativista precisa
acreditar nas seguintes conclusões:

• A função demanda por moeda é estável.

• Essa função demanda desempenha um papel importante na determinação do nível de


atividade econômica.

• A quantidade de moeda é fortemente afetada por fatores de oferta de moeda.

Decorre disso que a versão de Friedman (1985) para a equação quantitativa corresponde a uma
condição de equilíbrio no mercado monetário, dado por:

M = Md = k(rB, rA, rD)PY

A partir dessa condição, sendo a função demanda por moeda estável, qualquer aumento exógeno do
estoque de moeda leva, consequentemente, a uma elevação em PY, também sendo possível um declínio
dos retornos dos demais ativos (rB, rA, rD), caracterizando um aumento de k, com efeitos indiretos em PY.

Um teórico quantitativista precisa acreditar que a função demanda


por moeda é realmente estável e que mudanças no estoque de moeda
derivam basicamente do lado da oferta, como resultado de políticas do
Banco Central. Por fim, deve acreditar que mudanças na quantidade de
moeda são importantes para a determinação da renda nominal e que
boa parte do efeito de uma mudança em M reflete‑se em alterações em
PY (FROYEN, 2013, p. 239).

Resumindo os pontos até aqui, na teoria monetarista acredita‑se que a função demanda por
moeda seja estável e que a quantidade de moeda seja um determinante importante do nível de
atividade econômica. Além disso, Friedman (1985) pontua que a elasticidade da demanda por moeda
em relação à taxa de juros é baixa, fato esse que não validaria a ocorrência da armadilha da liquidez
proposta por Keynes.

Se levadas ao extremo, as proposições monetaristas a curto prazo não atenderiam à visão clássica da
proporcionalidade de moeda e preços, embora aceitem sua aplicação a longo prazo. Será essa posição
forte da teoria quantitativa que difere, de forma marcante, da posição keynesiana moderna. Nessa
posição, a teoria quantitativa transforma definitivamente uma teoria da demanda por moeda em uma
teoria da renda nominal.

16
MACROECONOMIA APLICADA

Essa transformação, proposta por Friedman (1985), será garantida quando as outras variáveis em sua
função demanda por moeda além da renda nominal (rB, rA, rD) tiverem pouco impacto sobre a demanda
por moeda. Quando obedecido esse caso, as variáveis dos retornos dos ativos terão pouco efeito sobre
k. Como decorrência, o montante de moeda mantido pelos agentes, como proporção da renda (K), será
praticamente constante. Mas como ressalta Froyen (2013, p. 240):

Friedman não acredita que a demanda por moeda seja completamente independente de (rB, rA, rD), a
teoria da renda nominal (resultante da suposição de que k seja constante) deve ser percebida como uma
aproximação. Mas qualquer teoria é apenas aproximadamente correta.

Baseado nesse posicionamento e após realizar diversos trabalhos empíricos, Friedman (1985) e
outros autores monetaristas expressaram essa posição forte da teoria quantitativa reformulada como:

1
PY = M
K

Tal expressão sintetiza a prova necessária para as conclusões monetaristas, que estariam sustentadas
pela ideia de que mudanças apreciáveis na taxa de crescimento do estoque de moeda seriam a condição
para as mudanças nas taxas de crescimento da renda monetária.

A posição forte da teoria quantitativa é um elemento central do monetarismo. Decorrem dela todas
as conclusões de política econômica do modelo monetarista, em contraposição às defendidas pelas
visões keynesianas.

Como forma de situar o debate entre as duas posições, vamos representar a posição forte da teoria
quantitativa no esquema IS‑LM e na estrutura de oferta e demanda agregadas, que poderá nos facilitar
as comparações entre monetaristas e keynesianos.

A figura a seguir ilustra as curvas IS‑LM, com base no modelo monetarista, na visão de um teórico
quantitativista forte. A curva LM é quase, mas não completamente vertical, refletindo a visão de Friedman
(1985) de que a elasticidade da demanda por moeda em relação à taxa de juros é bastante baixa.
r LM
Taxa de juros

IS

Renda y

Figura 1 – IS/LM: uma versão monetarista

17
Unidade I

Também vemos uma divergência em relação à teoria keynesiana no tocante à curva IS. Na figura
a curva IS é mais plana, sendo consistente com a posição monetarista de que a demanda agregada é
bastante sensível a mudanças na taxa de juros. Até esse ponto, as diferenças entre os keynesianos e os
monetaristas compreendem somente as diferenças entre os graus de inclinação das duas relações.

Os monetaristas afirmam que a posição keynesiana restringe os canais pelos quais a taxa de juros afeta
a demanda agregada somente ao efeito de mudanças nos custos de empréstimos sobre os investimentos.
Já os monetaristas julgam que essa seja uma interpretação muito limitada dos efeitos das taxas de juros,
em razão de os keynesianos pensarem o conceito de títulos como uma classe de ativos financeiros, em vez
de incorporarem todos os ativos diferentes da moeda. Portanto, como ressalta Froyen (2013, p. 242):

Em sua teoria da demanda por moeda, Friedman não agrupou todos os ativos
não monetários em uma única categoria. Ele considerou separadamente
títulos, ações e bens duráveis. Os monetaristas acreditam que, se uma mudança
na taxa de juros é, realmente, uma mudança em todas essas taxas de retorno,
seus efeitos vão além dos efeitos de uma mudança nos custos de empréstimos
para firmas que compram bens de investimento. Além disso, uma mudança
na taxa de juros significa uma mudança nos preços das ações privadas e no
retorno previsto dos imóveis e dos bens duráveis. Os monetaristas acreditam
que a taxa de juros desempenha um papel mais importante na determinação
da demanda agregada do que lhe era atribuído no modelo keynesiano.

Essa representação contempla várias características do modelo monetarista, mas seria deficiente
em um aspecto. Os diagramas de IS‑LM mostram as determinações do produto real e da taxa de juros,
com o nível de preços mantido constante. Mas, no caso monetarista, um nível de preços constante não
representaria uma aproximação satisfatória nem a curto prazo, logo não é um pressuposto assumido
pelos monetaristas.

A figura a seguir mostra como a visão monetarista seria representada na estrutura de oferta e
demanda agregadas. Três posições da curva de demanda agregada são mostradas, Yd(M0), Yd(M1), Yd(M2),
correspondendo a três valores diferentes da oferta de moeda, M0, M1 e M2.
P

Ys

P2
P1
P0
Yd(M2)
Yd(M1)
Y (M0)
d

Y
Y0 Y1 Y2

Figura 2 – Oferta e demanda agregadas: a visão monetarista

18
MACROECONOMIA APLICADA

Se retornarmos à formula monetarista, representada pela equação:

1
PY = M
K

Para uma dada renda nominal, a posição monetarista afirma que alterações na oferta de moeda
(M) levam a deslocamentos significativos da curva de demanda agregada. Portanto, a moeda é a única
influência sistemática sobre a demanda agregada.

Pelo lado da oferta agregada, a sua posição seria determinada pelas variáveis reais da economia
e, portanto, estes também determinariam o nível do produto a longo prazo, como afirma a segunda
proposição monetarista. Para uma melhor caracterização da oferta agregada, devemos analisar
o comportamento do mercado de trabalho, tanto pelo lado da oferta de mão de obra quanto pela
demanda de mão de obra dentro do modelo monetarista.

1.1 Taxa natural de desemprego

Ao resgatar a teoria quantitativa da moeda, o modelo monetarista de Friedman (1985) adota que
as mudanças de curto prazo na oferta de moeda são os determinantes primários de flutuações no
produto e no emprego. Já a longo prazo, também em conformidade com a TQM, a influência da moeda
é basicamente sobre o nível de preços e outras variáveis nominais.

No que concerne às variáveis reais, principalmente o nível de produto e o emprego, o comportamento


a longo prazo seria determinado por fatores reais e não monetários. Tal solução do modelo monetarista
baseia‑se na teoria das taxas naturais de desemprego e produto desenvolvida por Milton Friedman.
Como bem resume Froyen (2013, p. 251):

De acordo com a teoria da taxa natural, existe um nível de equilíbrio do


produto e uma taxa de emprego a ele associada, determinados pela
oferta de fatores de produção, tecnologia e instituições da economia
(isto é, determinados por fatores reais). Esta é a taxa natural de Friedman.
Mudanças na demanda agregada, que Friedman acredita serem dominadas
por mudanças na oferta de moeda, causariam movimentos temporários na
economia, afastando‑a da taxa natural.

As mudanças na demanda agregada poderiam ser oriundas de políticas monetárias expansionistas,


que, nesse caso, poderiam mover o produto da economia para um nível acima de sua taxa natural,
deslocando, consequentemente, a taxa de desemprego para baixo de sua taxa natural. O aumento da
demanda, após a política expansionista, também resulta numa elevação de preços.

Nesse ponto, os monetaristas divergem do modelo clássico ao não aceitarem a posição de que o
produto é completamente determinado pela oferta, mesmo a curto prazo. No caso clássico, acredita‑se
que o ajuste dos preços não seria completo, já que os aumentos na demanda causariam elevação nos
preços sem nenhum impacto no produto.
19
Unidade I

Em sua crítica, Friedman (1985) acredita que o processo de ajuste ocorra num horizonte de período
mais amplo onde as forças de equilíbrio do mercado fazem os níveis de produto e emprego retornarem a
sua taxa natural. Aqui reside uma das proposições monetaristas, quanto à visão equivocada dos governos
em utilizarem os instrumentos de política monetária para manter a economia permanentemente com
uma taxa de desemprego abaixo da taxa natural. Se tomarem tal caminho, os formuladores de políticas
econômicas deverão estar dispostos a aceitar uma taxa de inflação sempre crescente.

Um dos pontos fundamentais da análise de Friedman (1985) está em reconhecer que a explicação do
desemprego persistente tem fundamento no mercado de trabalho, e não no mercado de bens. A ideia é
que o mercado de trabalho, em última análise, seria o lugar relevante para entender a negociação entre
a força de trabalho e os empregadores, com os empregados transmitindo os seus sinais sobre os salários.
Nesse sentido, não concorda com a análise de Keynes, desenvolvida na teoria geral, sobre a ocorrência
de situações de desemprego involuntário.

Observação

Para Keynes, o nível de emprego e o nível de desemprego são determinados


pela demanda efetiva no mercado de bens e pelo cruzamento da curva
de oferta agregada com a curva de demanda agregada. Insuficiência de
demanda efetiva ocasiona desemprego involuntário.

Para Friedman (1985), o sinal relevante no mercado de trabalho consiste no comportamento do salário
real, e não no do salário nominal. Portanto, a definição da taxa natural de desemprego representaria a
taxa de desemprego consistente com o equilíbrio na estrutura de salários reais da economia. Assim, a
taxa natural de desemprego, ou a taxa natural de emprego correspondente, estará em um nível em que
o salário real de equilíbrio seja tal que iguale a demanda com a oferta de mão de obra. Essa situação é
representada na figura a seguir.
WIP
PMgN  W 
Ns  e
 P = P 
Salário

(WIP)*

PMgN

N
N*
Emprego

Figura 3 – Taxa natural de desemprego

20
MACROECONOMIA APLICADA

A curva de demanda por mão de obra, como deduzida no modelo clássico, é a já conhecida curva
do produto marginal do trabalho (PMgN). No ponto N*, que corresponde à taxa natural de emprego,
a demanda por mão de obra será igual à oferta, pois nesse ponto temos o intercepto com a curva de
oferta de mão de obra, dada por Ns 
W 
, ocasionando que o nível esperado de preços seja, para
 Pe = P 
 W
os ofertantes de mão de obra, igual ao nível de preços efetivo   . Portanto, apenas nesse nível de
P
emprego não existe tendência de mudança no salário real. A demanda e a oferta de mão de obra são
equivalentes.

Quando ocorre esse equilíbrio no mercado de trabalho, os ofertantes de mão de obra têm uma
expectativa correta quanto ao nível de preços. Se esse não fosse o caso, haveria uma tendência de
mudança da oferta de mão de obra, quando os trabalhadores percebessem que suas expectativas
estavam erradas, ora ofertando mais trabalho, ora diminuindo tal oferta.

A taxa natural de desemprego pode ser encontrada simplesmente pela subtração da quantidade
de trabalhadores empregados da força de trabalho total, portanto como expressão de um número
correspondente a uma porcentagem da força de trabalho total. Usando outra fórmula conhecida, a
função produção (y = F(K, N)) descrita na figura a seguir, podemos encontrar o nível de produto que
resulta de um nível de emprego N*. Essa é a taxa natural de produto, y*.
y

F(K,N)

y*
Produto

N
N*
Emprego
Figura 4 – Taxa natural de produto

Como vimos nas figuras anteriores, as taxas naturais de produto e emprego dependem da oferta de
fatores de produção e da tecnologia, que compõem o lado da oferta, também denominadas variáveis
reais. É por isso que o modelo monetarista defende que as taxas naturais de produto e emprego não
dependem do nível de demanda agregada. Isso corresponde praticamente às conclusões originadas pelo
modelo clássico, com uma simples diferença: para os monetaristas a economia a curto prazo pode não
se encontrar necessariamente nos níveis naturais de emprego e produto.

Em conformidade com o modelo keynesiano, os monetaristas adotam que os ofertantes de mão de


obra não têm informações perfeitas sobre o nível do salário real. Eles tomam suas decisões de oferta
21
Unidade I

 W
de mão de obra com base no salário real esperado  e  . Ressalva‑se, portanto, que a curto prazo a
P
oferta de mão de obra pode não ser dada pela curva de oferta, porque Pe pode ser diferente de P, logo o
emprego e o produto podem desviar de suas taxas naturais.

A taxa natural de desemprego é um conceito crucial na análise macroeconômica de Milton Friedman,


já que constitui o equilíbrio estável que suporta não só a versão da curva de Phillips monetarista, mas
também a hipótese geral de que só os determinantes reais da economia têm importância a longo prazo.
Desta maneira, se a taxa natural perder seu significado, o edifício teórico de Friedman não se sustentará.

Para entendermos melhor tal mecanismo, será de vital importância entender como são construídas
as previsões acerca dos preços e no nível do salário real numa situação em que os salários nominais
podem mudar rapidamente. Com isso, podemos reconhecer a maneira como os trabalhadores elaboram
suas expectativas sobre o comportamento dos preços, conjuntamente com os empresários; em ambos os
casos as previsões são imprecisas e diferentes ao longo do tempo. É isso que veremos na apresentação
da hipótese das expectativas adaptativas.

1.2 Expectativas adaptativas

Em sua formulação do modelo monetarista, Friedman (1985) incorpora o papel das expectativas
formuladas por Keynes, mas adaptando suas implicações na dinâmica econômica para harmonizar‑se
com os pressupostos do modelo clássico. Nesse ponto, também divide a economia a curto e a longo
prazos, dando origem à Hipótese das Expectativas Adaptativas (HEA).

Sua principal constatação postula que a curto prazo a renda nominal será afetada, já que depende
da política monetária atual e da realizada nos períodos passados, tendo, portanto, efeitos mediatos,
além de imediatos, na economia. Para Friedman (1985), esses encadeamentos seriam garantidos pelos
mecanismos de propagação expressos pelas expectativas adaptativas. No caso do longo prazo, o
modelo clássico iria vigorar, já que não teríamos mais impactos das expectativas em conformidade
com políticas econômicas acomodatícias ou previsíveis, principalmente, quanto à política monetária.

Se, por exemplo, as pessoas fizessem uma previsão de uma dada variável em um dado período
cuja estimativa fosse muito baixa, elas se adaptariam elevando a sua expectativa do valor da
variável para o período seguinte. Essa variável, na maioria dos casos, compreende o nível de preços
da economia (inflação).

Segundo a Hipótese das Expectativas Adaptativas (HEA), as pessoas estimam a inflação futura com
base na expectativa sobre a inflação presente, que em todo esse processo compreende os erros entre
os níveis da inflação estimada e da efetiva no presente. Se expressarmos a HEA em equação, teremos:

(
πet+1 = πet + v π t – πet )

22
MACROECONOMIA APLICADA

e e
Sendo π t+1 a expectativa da inflação no período t+1 futuro, π t a expectativa da inflação para o
período t atual, πt a inflação atual efetiva e v um fator de correção que expressa a velocidade de revisão
das expectativas.

Em outras palavras, com expectativas adaptativas os agentes econômicos assumem que o futuro seja
determinado pelo passado e pelo presente. Quando aplicado ao comportamento dos preços, isso implica
que tais agentes consideram que os preços futuros (expectativas inflacionárias) dependem somente das
dinâmicas presente e passada. Nesse sentido, as pessoas corrigem suas expectativas em resposta aos
erros cometidos no passado.

Existem tanto efeitos imediatos como mediatos na economia que se expressam ao longo do tempo
como um mecanismo de propagação. Supondo com base na equação uma simplificação do fator de
correção v igual à unidade, ocorrendo uma diferença entre a inflação presente efetiva e a esperada, isso
provocaria impactos imediatos na expectativa de inflação futura, de forma que esta se tornasse igual à
inflação presente efetiva.

Ao adotar a hipótese das expectativas adaptativas, o modelo monetarista nos mostra que
somente num ambiente de frustração de expectativas, ou seja, se a variação do nível de preços
fosse diferente da esperada por parte dos agentes econômicos, isso levaria a uma alteração da
renda com impactos nos níveis de produto e emprego. Isso ocorre porque os agentes precisam
decidir a curto prazo sem que possuam informações completas, de forma que suas decisões são
tomadas com base em expectativas.

Iremos perceber que Friedman (1985) não se importa com o debate sobre o problema da rigidez
de salários e preços, já que ao adotar a teoria quantitativa da moeda as variações dos salários
nominais compreendem um subproduto das variações da oferta monetária. Além disso, mesmo que
os mercados funcionassem perfeitamente, ainda existiria certa demora de ‘o-s agentes econômicos
obterem informações completas.

É esta demora que pode levar a frustrações de expectativas a curto prazo, produzindo as oscilações
na renda, no produto e no emprego. A HEA explica o ajuste entre valores estimados, ocorridos e
permanentes das variáveis, que leva tempo e, portanto, explica as flutuações cíclicas de curto prazo nas
variáveis macroeconômicas.

Já na análise de longo prazo, no modelo monetarista as expectativas não se frustram, uma vez
que as informações são perfeitas, por definição, caso em que a renda real evolui com as variações dos
recursos e da tecnologia, vigorando as implicações do modelo clássico da economia em pleno emprego.

Contudo, os problemas do mundo real, a curto prazo, fazem Friedman (1985) admitir que a política
monetária tenha importância, pois as mudanças na quantidade de moeda originam uma ilusão
monetária que contribui para os erros de estimativas dos agentes. No entanto, essa política deve seguir
uma regra, com o intuito de evitar ou minimizar as frustrações de expectativas e, portanto, as oscilações
do produto, da renda ou do emprego e da inflação.

23
Unidade I

A oferta monetária, em síntese, deve seguir as necessidades impostas pela evolução da renda real
de longo prazo, como regra, fato que veremos com mais detalhe quando examinarmos as prescrições
de políticas. Mas antes, veremos que a adoção das expectativas adaptativas terá impactos na oferta
agregada de curto e longo prazos no modelo monetarista.

1.3 Curva de oferta agregada de curto e longo prazos

O modelo do mercado de trabalho, apresentado por Friedman (1985), admite como hipótese básica
uma assimetria no conjunto de informações dos trabalhadores e dos empregadores: os trabalhadores
oferecem sua força de trabalho com base no nível de preços esperado, enquanto os empregadores
contratam a mão de obra conhecendo de antemão os preços dos bens que irão produzir. As equações do
mercado de trabalho são, então, dadas por:
W
Demanda de mão de obra: = g(Nd )
P
Oferta de mão de obra: W = h(Ns )
Pe
Equilíbrio de mercado: Nd = Ns

Graficamente a figura a seguir descreve o funcionamento do mercado de trabalho. Quando os


trabalhadores acertam nas suas expectativas, Pe = P, o volume de emprego é igual a N.
W
P D(P)
S(Pe>P)
S(Pe=P)

S(Pe<P)
S(Pe>P)

S(Pe=P)
D(P)
S(Pe<P)
N1 N N0 N

Figura 5 – Funcionamento do mercado de trabalho sob expectativas adaptativas

Nessas circunstâncias, existe equilíbrio tanto a curto quanto a longo prazo, pois ambos os
lados do mercado estão nas suas posições preferidas. Quando os trabalhadores antecipam um
nível de preços menor do que aquele que efetivamente ocorre, eles oferecem um volume de mão
de obra acima do nível de pleno emprego, pois esperavam um salário real elevado que na verdade
representou uma mera ilusão.

24
MACROECONOMIA APLICADA

Essa situação não é de equilíbrio de longo prazo, porque os trabalhadores acabarão por reconhecer que
tomaram uma decisão errada e irão rever o volume de emprego que desejam oferecer diante das novas
condições da economia. Quando os trabalhadores antecipam um nível de preços superior ao que ocorreu, o
volume de emprego é inferior ao de pleno emprego e suas decisões serão revistas em face do erro de previsão.

No modelo de Friedman (1985) os níveis de emprego e de produto real variam, a curto prazo, em
virtude dos erros de previsão dos trabalhadores. Para um dado nível de preços esperado (Pe), quanto
maior o nível de preços (P), maior será o produto real da economia. Quando o nível de preços for igual
ao valor antecipado pelos trabalhadores (P = Pe), o produto real será igual ao produto de pleno emprego.

A figura seguinte mostra as curvas de oferta agregada de curto prazo, que são positivamente inclinadas, e
a curva de oferta agregada de longo prazo, que é vertical, como no modelo clássico; portanto, contemplando
as proposições monetaristas, já que a longo prazo só fatores reais podem mudar os níveis de produto.
P

(
S P1e > P0e)
S (P )
e
0

P1e

P0e

(
S P1e > P0e )
( )
S P0e

y y
Figura 6 – Oferta agregada: modelo monetarista

Assim, devido ao funcionamento do mercado de trabalho sobre a hipótese de expectativas


adaptativas, podemos derivar a curva de Phillips aceleracionista desenvolvida por Friedman (1985) com
base na oferta agregada monetarista.

1.4 Curva de Phillips (curto e longo prazos)

Após a apresentação dos principais pressupostos do modelo monetarista, podemos avançar para o
exame da dinâmica macroeconômica vigente nesse modelo. Para tanto, o papel da curva de Phillips na
versão aceleracionista proposta por Friedman (1985) toma o centro desta análise.

Numa breve recordação, a tradicional curva de Phillips resultou de um trabalho empírico realizado por
Phillips e aperfeiçoado por Lipsey, a partir dos anos de 1950. Isso originou um instrumento que mostrava
a existência de um trade‑off entre inflação e desemprego, bem como a existência, a curto prazo, de uma
taxa de desemprego natural. Na realidade, os trabalhos de Phillips e Lipsey apenas observaram uma relação
inversa entre a taxa de desemprego (u) e a taxa de variação dos salários nominais (W).
25
Unidade I

A partir disso, em situações de recessão, em que temos altas taxas de desemprego, as variações
salariais serão baixas, enquanto em períodos de crescimento as taxas de desemprego são baixas e os
salários nominais crescem mais, em conformidade com a oferta e a demanda de mão de obra no mercado
de trabalho. Nesta primeira versão da curva de Phillips, ilustrada na figura a seguir, é a demanda efetiva
que determina o nível de emprego e que afeta a taxa de variação do salário nominal, o que lhe dá um
caráter keynesiano.
∆W

Figura 7 – Curva de Phillips keynesiana

Esse mecanismo foi contestado e modificado por Friedman (1985) e Phelps (1970) de forma a
gerar‑se uma curva de Phillips monetarista. Aqui, o comportamento dos preços e do desemprego
seria afetado pela vigência da teoria quantitativa da moeda revisitada alterando a dinâmica do
ajustamento a curto e longo prazo. Logo, qualquer política econômica que visasse ao pleno emprego,
através de uma maior oferta de moeda, somente a curto prazo, poderia aumentar a renda nominal
da economia.

No entanto, se essa política exceder as necessidades monetárias da taxa de crescimento da renda real
de equilíbrio de longo prazo, a inflação eliminará qualquer estimulo adicional à produção. Entretanto, a
curto prazo, os estímulos à produção com menores taxas de juros e maiores preços elevariam a demanda
por mão de obra, o que permitiria um aumento de salários nominais.

Com base nas expectativas adaptativas, o modelo pressupõe a existência de uma ilusão
monetária por parte dos trabalhadores, de forma que estes perceberiam o aumento nominal como
um aumento dos salários reais, resultando numa elevação da oferta no mercado de trabalho. Ao
mesmo tempo, os empresários só aumentariam o emprego com salários reais menores, os quais os
trabalhadores não percebem, visto que a oferta de trabalho depende não do salário real efetivo,
mas do salário real esperado, como conceituado por Friedman (1985). Como resultado do aumento
da oferta e da demanda de mão de obra, a curva de Phillips de curto prazo se deslocaria para a
esquerda, de CP1 para CP2:

26
MACROECONOMIA APLICADA

∆W

LP

un
u

CP1

CP2

Figura 8 – Curva de Phillips revisada

Mas essa situação só ocorre a curto prazo, pois quando os trabalhadores se desfazem de sua
ilusão monetária, ao perceberem que os preços também se elevaram, ocasionando uma situação
em que os salários reais não cresceram, apesar dos aumentos nominais, voltam, neste momento,
a diminuir sua oferta de mão de obra, fazendo a curva de Phillips deslocar‑se de volta para a
direita. Como resultado disso, os impactos reais sobre a produção e o emprego se revelam nulos
com o passar do tempo.

Assim, qualquer aumento do estoque de moeda levaria somente a maiores salários nominais e a
um aumento do nível de preços, mas com salários reais constantes. Dessa forma, a longo prazo, em
razão das expectativas adaptativas, não temos frustrações das expectativas, logo não ocorre o trade‑off
inflação‑desemprego e a taxa de desemprego não pode diminuir além de certo patamar, resultando no
aparecimento de uma curva de Phillips de posição vertical.

Será neste processo de ajustamento, num dado nível de equilíbrio de longo prazo, que se revelará a
existência da já citada taxa natural de desemprego (un) compatível com o equilíbrio de pleno emprego,
dadas as características estruturais e as imperfeições dos mercados de trabalho e de bens. Segundo
Friedman (1985, p. 390),

[...] a “taxa natural de desemprego” [...] não é uma constante numérica,


mas se apoia em fatores “reais” em oposição aos monetários: a eficácia
do mercado de trabalho, o nível de competição ou de monopólio, os
obstáculos ou incentivos ao trabalho em várias ocupações, e assim
por diante.

Dessa forma, os fatores determinantes da “taxa natural de desemprego” podem ser, por exemplo,
os benefícios aos desempregados, os salários mínimos fixados acima do nível salarial de equilíbrio,
o poder sindical, a incidência de impostos sobre os salários e a folha salarial, fatores demográficos
ou migratórios, as diferenças entre oferta e demanda setoriais por trabalho e a ocorrência de
histerese no desemprego.

27
Unidade I

Observação

Histerese são as consequências defasadas de mudanças de variáveis.


O sentido é de que a posição das variáveis no presente depende não
somente do que esteja acontecendo no presente, mas também do que
aconteceu no passado.

Dessa maneira, no modelo monetarista, estímulos ao aumento da renda nominal a curto prazo
gerariam, de forma transitória, mais empregos, produzindo também inflação, que faz a curva de Phillips
de curto prazo ainda apresentar o trade‑off entre inflação e desemprego.

No entanto, a versão apresentada na figura anterior é apenas uma primeira aproximação da


curva de Phillips monetarista. Ela poderia levar à ilusão de que para se obter uma menor taxa
de desemprego se poderia admitir alguma taxa de inflação maior, porém estável. Os teóricos
monetaristas afirmam que esta opção é impossível, visto que a inflação tenderia a crescer
continuamente. A versão completa da curva de Phillips monetarista incorpora as expectativas
adaptativas.

Com isso, a equação da curva de Phillips passa a expressar uma tendência de aceleração da inflação em
toda a tentativa de manter o desemprego abaixo da sua taxa natural. Dessa forma, a taxa de desemprego
só pode ficar abaixo da taxa natural com políticas expansionistas que aumentem continuamente não
somente o nível de preços, mas também a sua taxa de variação.

Na figura a seguir, temos a representação da curva de Phillips aceleracionista com a incorporação


da hipótese das expectativas adaptativas. Partindo‑se de uma situação com taxa de desemprego
natural e inflação nula, uma política expansionista poderia produzir um aumento no emprego a
curto prazo, considerando‑se a ilusão monetária dos trabalhadores, mas ao custo de um aumento
de preços.

Quando os trabalhadores se dão conta de que os salários reais não aumentaram, eles diminuem a
oferta de mão de obra, e a taxa de desemprego volta a subir para a natural. No entanto, como foi gerada
uma taxa inflacionária, as expectativas extrapolam essa inflação para o período seguinte (trabalhadores
e empresas embutem esta expectativa na negociação salarial e em seus aumentos de preços, por
exemplo), de forma que a curva de Phillips vai se deslocar, gerando uma situação de equilíbrio com taxa
de desemprego natural e taxa de inflação positiva (a curva de curto prazo CP2 não vai voltar para CP1,
mas deslocar‑se para CP3).

28
MACROECONOMIA APLICADA

πe
un

CP3
CP1
CP2

Figura 9 – Curva de Phillips aceleracionista

Portanto, existiria sempre uma taxa natural de desemprego, determinada por fatores reais,
que vigora quando as expectativas se realizam e que é compatível com qualquer nível de preços
ou de inflação; portanto, neste caso, a moeda seria neutra. No entanto, de acordo com Friedman
(1985, p. 404):

[...] mudanças não esperadas na demanda agregada nominal e na


inflação causarão erros sistemáticos de percepção tanto por parte dos
empregadores como dos empregados, que inicialmente desviarão o
desemprego na direção oposta à sua taxa natural. Neste sentido, a moeda
não é neutra. Todavia, tais desvios são transitórios, embora possa levar um
longo tempo até que eles sejam revertidos e, finalmente, eliminados com
o ajuste das previsões.

A curva de Phillips monetarista poderia, portanto, explicar a tendência aceleracionista dos


preços como o resultado de políticas econômicas equivocadas de demanda dos governos, e o
desemprego como resultante não da escassez de demanda, mas de problemas relacionados ao
lado da oferta.

Em complemento a essa ideia, devemos levar em conta que o desemprego a curto prazo pode ser
influenciado por fatores relacionados à demanda e também à oferta agregada de curto prazo, já que a
longo prazo somente a oferta agregada importaria. Dessa forma, tanto choques de demanda quanto de
oferta poderiam alterar o equilíbrio da taxa natural de desemprego e dos preços.

Por exemplo, um choque positivo de demanda gera, a curto prazo, aumento de preços e de emprego,
enquanto um choque negativo de oferta gera aumento da inflação e redução de emprego, ou seja,
estagflação. Seria justamente isso o que teria ocorrido nos anos 1970, com os aumentos de preços do
petróleo e das commodities. O trade‑off inflação‑desemprego existe somente com choques de demanda,
de forma que a estagflação teria sido gerada pelo choque de oferta.

29
Unidade I

A constatação da tendência aceleracionista do nível de preços expressa pela curva de Phillips


monetarista gerou outro nome para a taxa natural de desemprego, a chamada Nairu – sigla em inglês
para Non‑Accelerating Inflation Rate of Unemployment –, ou seja, a taxa de desemprego que não
acelera os níveis de inflação. É a taxa que corresponde a um equilíbrio macroeconômico, quando a
inflação efetiva é igual à esperada.

A Nairu pode ser entendida como uma taxa de desemprego estrutural, uma vez que é causada por
fatores de médio e longo prazo que são decorrentes da estrutura imperfeita dos mercados de trabalho
e de bens. Em contraposição aos fatores conjunturais, de curto prazo, que são provocados por erros
expectacionais sobre preços ou salários ou devido a processos de substituição intertemporal, entendidos
como as variações da taxa de desemprego acima ou abaixo da Nairu, de forma que esse seria um
desemprego cíclico.

Somente uma taxa superior à Nairu, ou seja, um desemprego cíclico, poderia ser reduzida com
políticas macroeconômicas. As políticas keynesianas de pleno emprego que não levassem em conta a
Nairu causariam inevitavelmente inflação. Para a redução da Nairu, ou seja, do desemprego estrutural,
seriam necessárias medidas microeconômicas, ou políticas estruturais, que combatessem suas causas,
principalmente na órbita da função de oferta de trabalho.

O custo de políticas expansionistas que tentem reduzir a taxa de desemprego abaixo de seu nível
natural, obviamente, seria alto, portanto, não só por gerar uma espiral inflacionária, mas também
porque, mesmo se o governo voltar atrás e eliminar a política expansionista, o desemprego voltará
ao seu nível natural, mas a taxa de inflação não recuará do patamar alcançado, deixando somente de
aumentar ainda mais. A taxa de desemprego natural é compatível com uma taxa estável de inflação, e
não somente com inflação nula.

Por isso, a curva de Phillips de longo prazo é vertical, e não somente um ponto sobre a abscissa,
demonstrando que qualquer taxa de inflação é compatível com a taxa de desemprego natural. Não
existe um trade‑off estável entre inflação e desemprego. Dessa forma, para que a taxa de inflação fosse
reduzida, o desemprego teria de ser elevado acima da taxa natural, sendo este o custo ou a taxa de
sacrifício para uma desinflação.

Em princípio, enquanto as variações da Nairu são pouco frequentes, o desemprego cíclico tem
movimentos muito frequentes. A Nairu depende de variáveis estruturais, de longo prazo, como o valor
e a duração dos benefícios aos desempregados, as formas de barganha salarial e a cobertura sindical,
por exemplo. No entanto, mudanças temporárias, como as da órbita da oferta agregada (por exemplo,
variações nos preços do petróleo), também afetam a Nairu. Dessa forma, admite‑se que choques de
oferta também alterem o nível da Nairu por um breve período de tempo.

Exemplo

Como adotado pela teoria monetarista, um esforço para diminuir a taxa de desemprego através de
políticas econômicas ativas gera, a longo prazo, um aumento do nível de preços na economia.

30
MACROECONOMIA APLICADA

Suponha que a taxa de crescimento da oferta de moeda aumente além da taxa compatível com a
estabilidade de preços. Vamos imaginar que a economia em equilíbrio apresente uma taxa de desemprego
igual à taxa natural de 6%, com nível de preços estáveis (πe= 0), e a taxa de crescimento da oferta de
moeda suba de 3% para 5%. O aumento da taxa de crescimento estimula a demanda agregada com
diminuição da taxa de desemprego e com elevação da inflação.

Conforme a figura a seguir, a economia move‑se do ponto A para o ponto B num novo equilíbrio de
curto prazo, com desemprego reduzido para 4% e uma taxa de inflação de 2%. Mas para os monetaristas
essa situação é temporária, pois os trabalhadores acabam por observar que o nível de preços elevou‑se
e demandarão salários monetários mais altos. Se o crescimento da oferta de moeda continuar em 5%,
a economia retornará à taxa natural de desemprego de 6%, mas com uma taxa de inflação de 2% dada
pelo ajuste que ocorre quando a economia se move do ponto B para o ponto C.
CP(πe=2%) CP(πe=6%)
CP(π =0)
e
CP(π =4%)
e
CP(πe=π)
8

(F)
6 (G)
π(taxa de inflação)

(D) (H)
(E)
4

(B) (C)
2

(A)
2 4 6 8
µ(taxa de desemprego)

Figura 10 – Curva de Phillips de curto prazo e longo prazo monetarista

Se os formuladores de políticas insistirem em diminuir a taxa de desemprego, abaixo da taxa natural,


aumentarão novamente a taxa de crescimento da oferta de moeda. Supondo aumentos no crescimento
da moeda, para 5%, depois 7%, depois 9%, teremos reduções temporárias no desemprego (movimentos
de C para D e de E para F, ilustrados na figura anterior). Mas a longo prazo a economia retornará à
taxa natural de desemprego, com uma taxa de inflação aumentada para πe = 6% (9% de crescimento
monetário menos 3% de crescimento da renda real). A curva de Phillips torna‑se vertical, a longo prazo,
com deslocamento do ponto E para o ponto G, por exemplo.

Portanto, como ilustrado, para os monetaristas uma política monetária expansionista só move a
taxa de desemprego para baixo da taxa natural temporariamente e sofrerá com elevação nos níveis
de inflação.

31
Unidade I

1.5 Recomendações de política

Como vimos ao longo da apresentação do modelo monetarista, essa estrutura em comparação à


teoria keynesiana produz visões bastante diferentes sobre a efetividade das políticas macroeconômicas,
dentre elas, a política fiscal e monetária. Desse modo, no modelo monetarista, o papel da política fiscal
seria ineficiente, ao passo que a política monetária deveria seguir uma regra, principalmente, por seus
impactos a curto prazo no nível de produto e emprego.

Sobre a política fiscal, o modelo monetarista prega que o estado do orçamento não tem nenhum
efeito significativo sobre o curso da renda nominal ou das flutuações cíclicas. Portanto, não aceita a
proposição keynesiana sobre a eficácia da política fiscal, sendo adotado por Friedman (1985) o discurso
de total rejeição dessa proposição, já que, neste caso, a política fiscal seria totalmente ineficaz e o
importante seria a quantidade de moeda.

Se a política fiscal tivesse algum efeito, este seria certamente temporário e por isso não mereceria
nenhuma atenção. Na explicação dessa situação, quando o modelo monetarista discute os efeitos de
uma política fiscal, o caminho centra‑se nos efeitos de variações no orçamento governamental, em
situações de onde a quantidade de moeda continua constante.

Supondo um aumento nos gastos públicos, num caso em que a arrecadação tributária não seja
alterada, tais gastos devem ser financiados pela emissão de moeda ou por meio da venda de títulos. De
modo similar, em uma redução na arrecadação com os gastos se mantendo inalterados, as receitas de
impostos que foram perdidas devem ser substituídas pela venda de títulos ou por emissão de moeda
(FROYEN, 2013, p. 243).

Quando os casos de corte de impostos ou de aumento de gastos forem financiados pela emissão de
moeda, caracterizaria uma ação de política monetária, pelo aumento de M, conjuntamente, com uma
ação de política fiscal com aumento de G ou diminuição de T. Reproduzindo essa situação no diagrama
da IS‑LM, teríamos um deslocamento simultâneo das curvas IS e LM. Até esse ponto, os monetaristas
não afirmariam que há uma ineficácia da mudança de política, mas que o efeito da política é motivado
pela alteração que promoveu no estoque de moeda.

A divergência com a teoria keynesiana, quanto à política fiscal, seria relacionada ao efeito de uma
mudança totalmente de origem orçamentária; logo, que fosse realizada sem alteração na quantidade
de moeda. Nas palavras de Froyen (2013, p. 244):

Isso significa, no caso de um corte dos impostos ou de um aumento nos


gastos, que o déficit criado por essas medidas seria completamente
financiado pela venda de títulos ao público. A posição monetarista é que
tais ações de política econômica terão pouco efeito sistemático sobre a
renda nominal (preços ou produto real) a curto prazo, em um período de,
por exemplo, um a três anos.

32
MACROECONOMIA APLICADA

As razões pelas quais os monetaristas chegam a tal conclusão estão ilustradas na figura a seguir:
Taxa de
juros (r)
LM 0

r1
r0
IS 1
IS 0

Nível de
Y0 Y1 renda (Y)

Figura 11 – Efeitos de um aumento nos gastos do governo: o caso monetarista

Nessa figura, temos os efeitos de um aumento nos gastos do governo quando aceitamos as proposições
monetaristas que determinam as inclinações das curvas IS e LM. Com um aumento nos gastos do governo,
de G0 para G1, temos o deslocamento da curva IS para a direita, de IS0 para IS1. Temos neste movimento
que o efeito, pela ótica monetarista, será produzir uma elevação da taxa de juros, neste caso, de r0 para r1.
Quando ao nível de renda, sua mudança será muito pequena, do ponto Y0 para Y1.

Mas quais as razões que motivam o pequeno crescimento do produto? A explicação oferecida reside
nas inclinações das curvas IS e LM; portanto, leva‑se em consideração a elasticidade‑juros da demanda
por moeda e da demanda por investimentos.

No modelo monetarista, a elasticidade‑juros da demanda por moeda é considerada pequena,


resultando numa curva LM bastante inclinada. Nessa situação, inicialmente temos um aumento da
demanda agregada em razão do aumento dos gastos do governo. Mas conforme a renda começa a
elevar‑se, a demanda por saldos para transações também aumenta. No caso de uma oferta de moeda
fixa, tais aumentos implicam uma alta das taxas de juros, que continuará se elevando até que a oferta
e a demanda por moeda sejam novamente coincidentes. Além disso, quanto mais inelástica a demanda
por moeda for, em relação aos juros, maiores serão os aumentos necessários na taxa de juros para
reequilibrar a demanda por moeda no mesmo patamar da oferta de moeda que continuou fixa.

Sendo a curva IS quase plana, a demanda por investimento apresenta uma alta sensibilidade em
relação à taxa de juros; assim, num segundo momento, a elevação das taxas de juros irá forçar uma
diminuição da demanda agregada do setor privado, via diminuição dos investimentos, quando os gastos
do governo começavam a estimular o crescimento da renda. Essa redução na demanda agregada do
setor privado é o conhecido efeito crowding out ou efeito deslocamento. Em outras palavras, os gastos
públicos expulsariam os gastos privados anulando os efeitos da política fiscal sobre o nível de produto.

33
Unidade I

Em termos líquidos, o resultado é que a demanda agregada e a renda aumentam muito pouco em
razão de um aumento nos gastos do governo. Portanto, para os monetaristas a política fiscal não seria
recomendada, por mostrar‑se ineficaz em seu intuito, podendo ocasionar distúrbios na economia pela
ação unilateral dos governos.

Já no tocante à política monetária, a posição monetarista diverge da posição keynesiana; além disso,
ressalta seus efeitos sobre as flutuações econômicas. A diferença atual entre keynesianos e monetaristas
com relação às políticas monetárias não questiona se a política monetária pode afetar a renda, mas se
refere ao modo pelo qual a política monetária deve ser usada para estabilizar a renda.

Como vimos anteriormente, para os monetaristas as mudanças na quantidade de moeda representam


a principal causa das alterações da renda nominal e, a curto prazo, também nas alterações da renda real.
Nas palavras de Froyen (2013, p. 245):

Disso decorre que a estabilidade no comportamento do estoque de moeda


seria muito importante para produzir estabilidade no crescimento da renda.
Friedman atribui a maior parte da instabilidade passada no crescimento da
renda a um crescimento instável da oferta de moeda.

Por conta disso, a prescrição seria que as autoridades monetárias utilizassem os instrumentos
necessários para evitar as oscilações da oferta de moeda, tendo uma postura de realizar uma política para
obter uma taxa de crescimento específica em um estoque monetário específico. Seria, portanto, adotar a
máxima de Friedman (1985) em que os valores precisos da taxa de crescimento, assim como do estoque
monetário, não seriam importantes perante a adoção de uma taxa definida e conhecida por todos.

Para dar um exemplo, as autoridades monetárias poderiam anunciar e cumprir uma meta para a
taxa de crescimento de M1 (moeda corrente mais depósitos a vista) de 5% ao ano. Friedman acredita
que o crescimento da renda nominal seria, então, de aproximadamente 5% ao ano. Se a tendência de
crescimento da renda real fosse de 3% ao ano, o nível de preços subiria cerca de 2% ao ano. O nível de
5% não é essencial, mas, qualquer que seja o nível escolhido, Friedman quer uma taxa de crescimento
constante do estoque de moeda.

Outros monetaristas propuseram, recentemente, regras alternativas para o crescimento da moeda,


menos inflexíveis do que a regra de taxa de crescimento constante da moeda de Friedman (1985).
Apesar destas divergências, há um elemento comum nas propostas monetaristas que consiste na defesa
de um crescimento do estoque de moeda estabelecido por uma regra, ficando imune ao arbítrio dos
formuladores de políticas econômicas. Além disso, lembre‑se de que os monetaristas acreditam que,
deixado sozinho, o setor privado seja bastante estável.

Por outro lado, os monetaristas também advertem sobre os abusos de utilizar‑se das políticas
monetárias. Esses autores acreditam que mudanças no estoque de moeda tenham forte efeito sobre a
renda, mas acreditam que a moeda afete a renda com alguma defasagem. O efeito mais significativo
de uma ação monetária adotada hoje será sentido, acreditam eles, somente após um período de seis a
dezoito meses (FROYEN, 2013).
34
MACROECONOMIA APLICADA

Assim, para compensar um pequeno choque, é preciso ser capaz de prever seu tamanho e
quando ele irá afetar a economia, com muito tempo de antecedência. Nesse ponto, os monetaristas
acreditam que não haja conhecimento suficiente para empreender tal evento. Portanto, as tentativas
de compensar pequenos choques, no passado, levaram as autoridades monetárias a causar uma
desestabilização da renda.

1.6 Críticas e evidência empírica

De modo geral, a influência monetarista sobre as políticas econômicas centrou‑se na regra de


controle da oferta de moeda. Esse expediente foi adotado, no ano de 1979, pelo Banco Central Americano
(Federal Reserve), assumindo‑se um controle da oferta de moeda para conter uma aceleração da taxa de
inflação em sua economia. Medida que também foi seguida pela economia do Reino Unido no mesmo
ano. Assim, entendia‑se que a relação moeda‑renda apresentava um comportamento estável e que o
controle surtiria efeito.

Mas no período pós‑1980, a influência dos monetaristas diminui, já que em testes empíricos a
relação moeda‑renda mostrava‑se crescentemente instável. Portanto, a realidade contestava uma das
principais bases da teoria monetarista, ou seja, a estabilidade da velocidade da moeda ao longo do
tempo. No modelo monetarista, se a oferta de moeda e o produto movem‑se praticamente juntos, a
velocidade de circulação da moeda, dada pela razão (PY/M), deveria apresentar‑se estável.

Contudo, a velocidade estava sujeita a uma considerável instabilidade após os anos 1980. Quando
os economistas passaram a estudar a velocidade da medida do M1 da oferta de moeda nos Estados
Unidos, entre os anos de 1979 e 2005, constataram‑se fortes declínios da velocidade nos períodos entre
1985‑1987 e 1989‑1993 e, depois, um aumento da velocidade entre 1994 e 2001. Logo, ferindo uma
das principais bases do modelo monetarista e desacreditando suas regras de política macroeconômica
(FROYEN, 2013).

Devido à constatação dessa instabilidade da relação entre a moeda e a renda, muitas instituições e
o próprio meio acadêmico decretavam de certa forma o desaparecimento do monetarismo. Tal situação
forçou os monetaristas a reconsiderarem suas posições em alguns pontos, o que não levou a mudança
no que tange a suas concepções fundamentais.

Com essa constatação, muitos monetaristas passaram a defender regras mais flexíveis para
o crescimento da moeda, em detrimento da regra da taxa constante de crescimento da moeda.
Explicitamente, alguns autores advogavam regras voltadas diretamente para o controle da taxa de
inflação, que em grande parte contribuiu para os modernos sistemas de metas de inflação.

Mas também ocorreu de alguns monetaristas continuarem apoiando as conclusões teóricas de


Friedman (1985), que nesse período ressaltava que esse episódio só ratificava a importância da moeda
e, portanto, não poderia ser deixada totalmente a cargo das autoridades dos bancos centrais, devido
à influência governamental sobre tais instituições. Logo, ainda seria importante a adoção da regra de
crescimento constante da moeda.

35
Unidade I

De forma conclusiva, podemos constatar, mesmo com as críticas que foram movidas ao monetarismo,
sua grande influência no debate macroeconômico e, especificamente, o modelo de Milton Friedman
tornando‑se parte do senso comum sobre as políticas monetárias, ainda que suas recomendações
tenham perdido influência. Como destaca Froyen (2013, p. 249):

Políticas monetárias baseadas em regras ganharam popularidade entre os


economistas acadêmicos e autoridades de bancos centrais. O papel dominante
da política monetária na determinação da inflação foi amplamente aceito.
As concepções de Friedman sobre as limitações de políticas de estabilização
também permanecem fortemente influentes.

2 MODELO DE EXPECTATIVAS RACIONAIS (MODELO NOVO‑CLÁSSICO)

Eric Hobsbawm, no capítulo dedicado às décadas de crise (aberta nos anos 1970) de sua obra Era do Extremos
(1995), afirma que “a história dos vintes anos após 1973 é a de um mundo que perdeu suas referências e resvalou
para a instabilidade e a crise” (HOBSBAWN, 1995, p. 393). É nesse contexto de “perda de referências” que aquilo
que se apresentou como compromisso (ou consenso) keynesiano, e que marcara os chamados Anos Dourados
(ou “os trinta anos gloriosos”, do pós‑guerra até meados dos anos 1970), sofreria duras críticas teóricas e práticas.

Questionamentos acerca de por que a economia mundial teria se tornado menos estável ou se
Can “It” Happen Again? (Pode acontecer de novo?), título de uma famosa obra do economista Hyman
Minsky, publicada no início dos anos 1980, eram constantes.

Ainda que, segundo Hobsbawm (1995), não tenha sido imediatamente óbvia a profundidade das
mudanças conjunturais da economia (que, posteriormente, abririam reflexões a respeito de possíveis
alterações estruturais), uma série de economistas e de forças políticas buscavam apontar alternativas
teóricas e políticas à crise que se manifestara.

No bojo das alternativas à crise dos anos 1970, ideias que resgatavam a crença na capacidade
de economias de mercado alcançarem estabilidade macroeconômica, sem significativas intervenções
estatais e que ressaltavam justamente os equívocos produzidos pelo ativismo político no campo da
macroeconomia, adquiriam um espaço acadêmico inimaginável nos quinze anos anteriores.

Tais ideias significaram uma nova volta no parafuso da “contrarrevolução” monetarista (abordada
anteriormente) e originaram um sistema teórico relativamente novo na área da macroeconomia, que
se difundiu como escola (de pensamento) novo‑clássica. Ao contrário dos economistas monetaristas,
os novo‑clássicos estabeleceram suas análises numa crítica generalizada à eficiência (e eficácia) das
políticas ativas de estabilização, adotando um viés totalmente contrário ao pensamento keynesiano.

O questionamento à eficácia de políticas econômicas keynesianas ocorrera já com o monetarismo


(dos anos 1950 e 1960), porém, mesmo o monetarismo ainda relegava algum papel (particularmente
a curto prazo) a políticas econômicas ativas e pautadas pela discricionariedade (apesar de destacada
baixa efetividade). De certo modo, é possível afirmar que o pensamento novo‑clássico radicalizou
certas diretrizes analíticas abertas no monetarismo. A principal delas era que o keynesianismo teria
36
MACROECONOMIA APLICADA

sido incapaz de explorar as implicações mais profundas das expectativas endogenamente formadas
pelo comportamento dos agentes econômicos. Na perspectiva novo‑clássica, o ativismo presente no
pensamento keynesiano seria, portanto, demasiadamente ambicioso e fundamentalmente falho. A única
forma aceitável de incorporar expectativas em modelos macroeconômicos seria adotar alguma variação
da hipótese de “expectativas racionais” inaugurada, em 1961, por John Muth (SNOWDON; VANE, 2005).

John F. Muth (1930‑2005) publicou seu artigo seminal “Rational Expectations and the Theory of Price
Movements” (Expectativas Racionais e a Teoria do Movimento de Preços) na revista Econometrica em 1961.

A hipótese apresentada nesse trabalho é de que a economia geralmente não desperdiça informações,
e as expectativas dependem da estrutura total do sistema (informação é escassa e não pode ser
desperdiçada). O modo como expectativas são formadas depende da estrutura relevante do sistema
descrito, e uma previsão pública não tem impacto substantivo sobre a operação do sistema econômico
(expectativas individuais estão mais sujeitas a erros do que a teoria).

Além disso, Muth apontava que, como as expectativas são prognósticos informados por eventos
futuros, elas são essencialmente semelhantes a prognósticos de teoria econômica. Para evitar confundir
essa hipótese (puramente descritiva) com uma afirmação do que as empresas devam fazer, ela é chamada
de expectativa “racional”. Essa hipótese poderia ser entendida da seguinte maneira: a probabilidade
subjetiva de uma distribuição de resultados tende a ser, para o mesmo conjunto de informações,
semelhante às predições da teoria (isto é, “distribuições objetivas de probabilidades de resultados”).

A partir de Muth, e seguindo destacadamente as contribuições de Thomas Sargent e de Robert E. Lucas


Jr., a combinação de expectativas racionais, princípios teóricos de equilíbrio e a noção de market clearing
contínuo (ajuste flexível de preços perfeito e instantâneo) definiram as bases teóricas da análise novo‑clássica.

Como destacam Snowdon e Vane (2005), ainda que Lucas tenha usado explicitamente a hipótese de
expectativas racionais em 1965 (ao analisar políticas ótimas de investimento), foi a partir da incorporação
de um quadro de equilíbrio geral walrasiano, já nos anos 1970, que a hipótese de expectativas racionais
ficou efetivamente clara. Avançando para o campo de análise de flutuações econômicas agregadas,
natureza do desemprego e ênfase destacada no equilíbrio voluntário (de mercados).

Essas modificações teóricas, aliadas a trabalhos empíricos, permitiram estabelecer esse modo de
questionamento ao pensamento keynesiano dominante como “revolução lucasiana”, muito mais
profunda do que teria sido a crítica monetarista dos anos 1960, a despeito da significativa influência de
Friedman (1985) nessa nova tradição de pensamento macroeconômico.

2.1 A ofensiva novo‑clássica e a estrutura de seus modelos

De acordo com Snowdon e Vane (2005), o modo pelo qual a abordagem novo‑clássica se desenvolveu
no início dos anos 1970 apresentou as seguintes características importantes:

• Forte ênfase na teorização macroeconômica baseada em microfundamentos (postulados da teoria


neoclássica da escolha inseridos em um quadro geral de equilíbrio walrasiano).
37
Unidade I

• Adoção do pressuposto neoclássico de que todos os agentes econômicos são racionais (isto é, os
agentes são “otimizadores contínuos”, sujeitos aos constrangimentos que enfrentam, as empresas
maximizam lucros e otimizam mão de obra e as famílias maximizam utilidade).

• Agentes não sofrem de “ilusão monetária” (como reconhecia, por exemplo, o pensamento monetarista)
e, portanto, somente as magnitudes reais (preços relativos) importam para otimizar decisões.

• Flexibilidade de preços e de salários contínua, o que garante o market clearing adequado (isto é,
o mercado se mover em direção a um preço no qual a quantidade ofertada é igual à quantidade
demandada), na medida em que os agentes esgotam os benefícios mútuos de ganho do comércio
(não existindo, portanto, oportunidades rentáveis inexploradas).

Como sabemos, um elemento de destaque nas tradições de pensamento inspiradas em Keynes é


que em uma economia monetária de produção (baseada na iniciativa privada e mediada por moeda)
a demanda agregada pode e deve ser administrada pelos governos. Contudo, dadas as suposições
teóricas novo‑clássicas, alterações na quantidade de moeda devem ser neutras e são as magnitudes
reais (independentemente de variáveis nominais) que influenciam as decisões dos agentes; isto é, os
valores de variáveis reais como emprego, produto e renda são insensíveis a políticas sistemáticas de
administração da demanda agregada (política fiscal, monetária etc.), mesmo a curto prazo, o que Froyen
(2006) denomina postulado novo‑clássico da ineficácia das políticas econômicas.

Ainda segundo Snowdon e Vane (2005), podem‑se resumir os principais elementos da abordagem
macroeconômica novo‑clássica como: a aceitação conjunta das sub‑hipóteses principais: i) expectativas
racionais; ii) suposição de “compensação do mercado” (market clearing) contínua; e iii) hipótese de
oferta agregada de Lucas (ou “curva de oferta de Lucas”).

Hipótese de expectativas racionais


Macroeconomia novo‑clássica

John Muth (1961)


(1ª geração)

Market clearing contínuo

Hipótese da oferta agregada


(“Curva de oferta de Lucas”)

Figura 12 – A estrutura dos modelos novo‑clássicos

Observação

Snowdon e Vane (2005) advertem que, embora os novo‑clássicos


aceitem todas essas hipóteses mencionadas, é possível que economistas
de outras orientações teóricas também aceitem a hipótese de expectativas
racionais, sem necessariamente admitir as demais.
38
MACROECONOMIA APLICADA

A seguir abordaremos esses elementos que conformam o corpo teórico original do pensamento
novo‑clássico.

2.1.1 A hipótese de expectativas racionais

Para entendermos o significado do conceito de expectativas racionais e os demais fundamentos


da macroeconomia novo‑clássica é interessante recapitularmos brevemente algumas das conclusões
estabelecidas pela macroeconomia keynesiana sobre efeitos das políticas econômicas.

Nos modelos keynesianos tradicionais uma política de expansão da demanda agregada baseada,
por exemplo, no aumento do estoque (oferta) de moeda produz deslocamentos na curva de
demanda agregada.

A) Mercado de produto

B) Mercado de mão de obra

NS(Poe)
Y2D
Y1D
Salário monetário (W)
Nível de preços (P)

P2 W2

P1 W1 PMgN(P2)

PMgN(P1)

Y1 Y2 Produto (Y) N1 N2 Emprego (N)

A) Mercado de produto B) Mercado de mão de obra

Figura 13 – Expansão da demanda agregada no modelo keynesiano

Observando a figura anterior, a expansão da demanda agregada gera aumentos nos níveis de produto,
de emprego e de preços. Como o nível de emprego aumenta, há impactos sobre a curva de Phillips – a
taxa de desemprego diminui e o nível de salários nominais se eleva. O que se pode extrair, ao analisar a
figura, é que como expansões da demanda agregada elevam no nível de preços, quanto mais rápida for
a taxa de crescimento da demanda, maior tenderá a ser a taxa de inflação. Tem‑se, com isso, uma das
conclusões centrais do modelo keynesiano: o trade‑off entre inflação e desemprego (alto crescimento
corresponde a baixo desemprego, mas também a altas taxas de inflação).

Contudo, há ainda uma diferença no comportamento da curva de Phillips entre o curto prazo e
o longo prazo (ela tem inclinações diferentes). A análise de curto prazo supõe a constância do nível
esperado de preços (P0e da Figura 13B, que determina as características da curva de oferta de mão de
obra), motivo pelo qual os efeitos apresentados seriam específicos a essa situação. A longo prazo, é
39
Unidade I

necessário considerar os feitos também do nível de preços esperados, o que não aparece na Figura 13B,
mas que (recapitulando) denota a diferença da curva de Phillips a curto e a longo prazos, como mostra
a figura a seguir.

CP longo prazo

Taxa de inflação (π)

CP curto prazo

Taxa de desemprego (µ)

Figura 14 – A curva de Phillips na perspectiva keynesiana

A questão crucial para que os resultados, no modelo keynesiano, de curto prazo e longo prazo
sejam diferentes está na expectativa do nível de preços. A suposição usual era de que o nível esperado
de preços seria determinado fundamentalmente pelos preços observados no passado, sem grandes
destaques para as ações esperadas da política econômica atual. Esse foi justamente um dos pontos
de ataque do pensamento novo‑clássico, não aceitando as conclusões keynesianas (e nem mesmo as
monetaristas, particularmente no que se refere à política monetária) de diferentes efeitos sobre produto
e emprego a curto e a longo prazos. A arma da crítica seria o modo de formação de expectativas.

A formação das expectativas para o nível de preços nos “modelos convencionais” (keynesianos e
monetaristas) pressupõe que os ofertantes de mão de obra (no caso da curva de Phillips) tomem suas
decisões com base em comportamentos passados. De modo que o ajuste de expectativas pode ser
trabalhado como um processo lento e, por conseguinte, possibilitar a algumas modelagens tomarem as
expectativas como fixas (que, no caso, é própria definição de “curto prazo”).

Na visão dos novo‑clássicos essas formulações sobre expectativas seriam extremamente limitadas e,
no limite, equivocadas. A pergunta colocada pelos novo‑clássicos seria: por que os agentes econômicos,
sendo racionais, se baseariam apenas em valores passados do nível de preços para formarem suas
expectativas sobre níveis futuros? Ora, se os agentes são racionais, não faz sentido supor que eles
continuarão a cometer “erros” no futuro, como o da chamada “ilusão monetária”, após uma experiência
que demonstre os limites dessas “ilusões”.

Na verdade, os novo‑clássicos vão além. Nessa perspectiva, dado que praticamente todas as
decisões econômicas envolvem algum tipo de tomada de decisão no presente envolvendo retornos
futuros incertos, as expectativas sobre o futuro são cruciais nesse processo de tomada de decisão.
Como destacam diversos precursores do pensamento novo‑clássico, sendo as expectativas informadas
40
MACROECONOMIA APLICADA

por previsões de eventos futuros, é razoável considerar que elas têm a mesma consistência que as
previsões da teoria econômica relevante (daí a afirmação de John Muth de que a probabilidade subjetiva
de uma distribuição de resultados tende a ser, para o mesmo conjunto de informações, semelhante a
distribuições objetivas – leia‑se: predições teóricas).

Um exemplo ilustrativo desse raciocínio, destacado por autores novo‑clássicos e mencionado por
Snowdon e Vane (2005), diz respeito a negociações salariais entre sindicatos e empregadores: se um
negociador sindical subestimar a taxa de inflação vigente durante o período (futuro) a ser acordado, os
trabalhadores estarão propensos a avaliar que eles obtiveram um aumento nominal, mas sem ganhos
reais (o que significa uma avaliação de que a negociação implicou, na verdade, cortes reais de salário).

A rigor, os autores identificáveis como novo‑clássicos retomam duas questões fundamentais para a
modelagem macroeconômica, que envolvem a questão das expectativas: i) como os indivíduos adquirem,
processam e usam informações com vistas a formarem expectativas de variáveis‑chave; ii) qual a forma
da hipótese sobre expectativas que devemos usar em modelos (SNOWDON; VANE, 2005).

A atratividade da hipótese de expectativas racionais é oferecer uma alternativa à hipótese, até então
dominante à época, de expectativas envolvendo erros sistemáticos. O que implicava algum tipo de
limitação à racionalidade dos agentes (ou, no limite, se apresentava como hipóteses não racionais), algo
que não se ajustava plenamente aos pressupostos mais gerais dos modelos neoclássicos.

Como destacamos, um tema caro à macroeconomia é o das expectativas. Até o início dos anos 1970,
o tratamento dado às expectativas pela macroeconomia era basicamente de dois tipos: i) expectativas
como animal spirits (espírito animal), expressão consagrada na Teoria Geral, de Keynes, a qual sugeria
que as expectativas são importantes, porém impossíveis de serem plenamente explicadas racionalmente
— a incerteza é (um fenômeno) fundamental, porém impossível de ser reduzido a um conjunto de
probabilidades ou ter seu tratamento reduzido a avaliação de “riscos”—, ou tomadas simplesmente
como uma variável exógena aos modelos; ii) as expectativas têm uma natureza retrospectiva, já
que uma expectativa se ajusta (lentamente) ao comportamento passado da variável; isso significa a
existência de expectativas estáticas (esperança de que o futuro fosse igual ao presente, e esse por sua
vez reproduzia as informações passadas) ou expectativas adaptativas (se a previsão de determinada
variável se mostrasse distante do que efetivamente ocorreu, supunha‑se que os agentes se adaptariam,
alterando a estimativa realizada anteriormente).

Observação

A hipótese de expectativas racionais foi uma inovação na macroeconomia,


pois alterou a natureza de tratamento dado às expectativas. De estáticas
ou mesmo adaptativas, portanto de natureza retrospectiva (observação de
informações passadas), as expectativas passaram a ser tratadas como se
dispusessem de uma natureza prospectiva – agentes econômicos utilizam
todas as informações relevantes disponíveis e avaliam inclusive as informações
sobre política econômica e teorias econômicas relevantes.
41
Unidade I

No interior das discussões sobre expectativas racionais há pelo menos duas versões sobre essa
hipótese: a “versão fraca” e a “versão forte”. Como afirmam Snowdon e Vane (2005), a ideia central
subjacente à “versão fraca” é que, para a formação de previsões ou expectativas sobre o valor futuro
de determinada variável, os agentes econômicos racionais farão o melhor uso (mais eficiente) do
conjunto de informações disponíveis sobre os fatores que considerarem influenciar o comportamento
da variável em questão; as expectativas são “racionais” por seguirem um padrão de comportamento
maximizador de utilidade. Por exemplo: se os agentes considerarem que a taxa de inflação é
determinada basicamente pela expansão da oferta monetária, eles usarão todas as informações
publicamente disponíveis sobre as taxas de expansão monetária para formarem suas expectativas de
taxas futuras de inflação.

Já na “versão forte”, que é aquela assumida pelos expoentes do pensamento novo‑clássico, as


expectativas formadas subjetivamente pelos agentes econômicos serão essencialmente idênticas
às previsões da teoria econômica relevante, como afirma Muth em seu texto de 1961, coincidindo,
portanto, com as expectativas objetivas do comportamento da variável em questão.

Uma questão que pode surgir diz respeito à chamada “teoria econômica relevante” e nos ajuda a
entender a diferença entre expectativas racionais e previsão perfeita do futuro. Para estabelecerem
suas expectativas, por exemplo, sobre inflação, os agentes tomarão o que eles consideram ser o modelo
macroeconômico “correto”, o que pode implicar erros nas suas previsões; além disso, mesmo agindo de
forma inteligente, os agentes se deparam, via de regra, com informações escassas e/ou incompletas.
Porém, esses erros não significam que todas as previsões estavam incorretas. Na “versão forte” da
hipótese de expectativas racionais, esses erros passíveis de previsão não têm relação com o conjunto
de informações disponíveis no momento em que as expectativas foram formadas, isso porque, na
média, as expectativas estarão corretas, com valores formados idênticos aos valores reais observados.
As expectativas que foram formadas incorretamente não serão “adaptadas”, mas os agentes mudarão a
forma de elaboração de suas expectativas, eliminando os erros (SOWDON; VANE, 2005).

Na seção seguinte examinaremos algumas das implicações analíticas da incorporação das


expectativas racionais e possibilidades de utilização de “erros” na formação de expectativas, com
enfoque em decisões de política econômica. Agora, cabe examinarmos o segundo elemento constitutivo
dos modelos novo‑clássicos, o market clearing (em tradução literal, “compensações de mercado”, mas
que pode ser entendido por nós como “equilíbrio de mercado”) contínuo.

2.1.2 Market clearing contínuo e a hipótese da oferta agregada

As duas outras suposições, além das expectativas racionais, que compõem o corpo teórico originário
da macroeconomia novo‑clássica são o market clearing contínuo, que para fins de simplificação
podemos tratar como equilíbrio de mercado contínuo (desde que lembremos que se trata de um processo
intertemporal, e não de situações estáticas de equilíbrio, o que envolve compensações contínuas das
interações entre oferta e demanda), e os pressupostos presentes na análise da curva de oferta (difundida
usualmente como “curva de oferta de Lucas”, em referência a Robert E. Lucas Jr., um dos formuladores
e principais difusores dessa reavaliação da curva de oferta).

42
MACROECONOMIA APLICADA

À primeira vista, a questão do equilíbrio de mercado pode parecer não ser algo de destaque;
afinal, uma das características básicas das teorias neoclássicas (pelo menos em suas versões mais
“puras”) seria justamente a adoção de alguma noção de equilíbrio. Contudo, a ênfase colocada
pelos novo‑clássicos é muito mais intensa e com significativas implicações para a análise de
políticas econômicas.

No caso do equilíbrio de mercado, os modelos consideram os agentes como “tomadores de


preços”, isto é, os preços de mercado são dados aos variados agentes (empresas, trabalhadores,
consumidores etc.), os quais não dispõem de poder de mercado para influenciar o nível de preços.

Seguindo a tradição de pensamento walrasiana, os modelos consideram a existência de uma


estrutura de mercado de concorrência perfeita (em que a produção ótima é ponto de equilíbrio entre
custo marginal e receita marginal, dado o preço de mercado).

Observação

Marie‑Ésprit Léon Walras (1834‑1910) foi um dos fundadores da


teoria da utilidade marginal e também responsável pela introdução de
significativa formalização matemática na economia. É considerado um
dos primeiros economistas a desenvolver uma teoria geral (abstrata)
do equilíbrio econômico através de uma combinação de equações
funcionais e da teoria do valor‑utilidade. Junto com William Stanley
Jevons e Carl Menger, é tido como responsável pela “revolução
marginalista”. Em sua obra Elementos de Economia Política Pura
(1874), Walras aponta que, em um mercado competitivo, o equilíbrio
se dá em um preço específico que iguala a quantidade ofertada à
quantidade demandada e que atende ao desejo dos consumidores
racionais de que as utilidades marginas sejam iguais.

Desconsiderando possíveis externalidades, os preços de mercado são determinados exclusivamente


pela interação de oferta e demanda. Supondo que essas condições se apliquem a todos os mercados, já
que os agentes otimizam seus resultados de acordo com as restrições dadas, o sistema econômico pode
ser tratado como em estado contínuo de equilíbrio (SNOWDON; VANE, 2005).

Recuperando alguns elementos de microeconomia conhecidos por nós, o destaque dado


pelo pensamento novo‑clássico é de que o equilíbrio contínuo de concorrência perfeita
significa justamente uma situação eficiente no “sentido de Pareto”. Esse raciocínio é ilustrado
na figura a seguir:

43
Unidade I

A) B)

(P)

O O

Pd
Excedente do
Preços (P)

consumidor
Pe Pe
Excedente
do produtor
Ps

D D

Qe Quantidade (Q) Q1 Qe (Q)

Figura 15 – Eficiência de Pareto

A estrutura competitiva de mercado determina uma quantidade ótima de Pareto (em Qe, o preço
que alguém está disposto a pagar para comprar uma unidade adicional do bem é igual ao preço que
alguém pode receber para vender essa unidade). Nas situações com os preços Pd ou Ps, tem‑se perda
de excedente econômico, que é capturado pelos produtores (em Pd) ou pelos consumidores (em Ps);
além disso, como as situações não são de equilíbrio, por exemplo, no caso de Ps, existem consumidores
dispostos a pagar mais para terem uma unidade adicional do bem e há também produtores capazes de
ofertarem mais Q1, desde que o preço seja superior a Ps.

Um aspecto importante é que, seguindo a hipótese de expectativas racionais, o preço e a quantidade


de equilíbrio (bem como a posição das curvas de oferta e de demanda) serão determinados pela
expectativa dos agentes. Caso suponhamos que os agentes disponham de informações imprecisas ou
incompletas, de modo que as expectativas, à primeira vista, pareçam estar incorretas, o argumento
novo‑clássico é de que, apesar de essas limitações (ou “erros”) na formação das expectativas terem
gerado um preço diferente daquele que haveria se as informações fossem completas, a situação seria
de equilíbrio, pois os agentes estariam fazendo o melhor que pudessem com as informações a sua
disposição. Assim, como enfatizam Snowdon e Vane (2005), racionalidade gera maximização, o que, por
sua vez, produz equilíbrio contínuo.

Um pressuposto polêmico do equilíbrio contínuo de mercado é o da livre flutuação dos preços.


Diferentemente de abordagens keynesianas (ou mesmo monetaristas), que problematizam a questão
dos possíveis desequilíbrios de mercados, por exemplo, produzidos por rigidez de alguns preços, ou
discutem o tempo necessário para o ajuste dos preços (que pode ser mais ou menos lento), nos modelos
novo‑clássicos essas discussões não bloqueiam a hipótese de equilíbrio contínuo – o que, diria um
keynesiano, significa tratar o desemprego como unicamente voluntário, sem incorporar as questões
candentes colocadas por Keynes em sua Teoria Geral.

44
MACROECONOMIA APLICADA

Por fim, o último elemento de destaque característico da abordagem novo‑clássica é a hipótese


de oferta agregada. Também por trás dessa hipótese estão dois pressupostos microeconômicos
convencionais: i) os comportamentos das firmas e dos trabalhadores são reflexos de suas decisões
racionais; ii) a oferta de mão de obra dos trabalhadores e a oferta de produção das firmas dependem
dos preços relativos (SNOWDON; VANE, 2005).

No caso do mercado de trabalho, que envolve a decisão dos trabalhadores de quanto tempo pretendem
alocar entre trabalho e “lazer”, argumenta‑se que caso o salário real corrente esteve acima do nível esperado de
salário real, tem‑se um estímulo a se trabalhar mais no presente antecipando (afinal, está presente, a hipótese
de expectativas racionais) para trabalhar menos no futuro, quando se espera que o salário real seja menor que
o presente. Nesse modelo de substituição intertemporal (entre tempos presentes e futuros de trabalho e “lazer”),
as mudanças no nível de emprego são explicadas, como se destacou anteriormente, em termos “voluntários”.

No caso do mercado de bens e serviços, o destaque é dado ao caráter das informações disponíveis para
as empresas. O pensamento novo‑clássico assume que uma empresa seja capaz de saber efetivamente
o preço atual apenas de seus próprios produtos, enquanto o nível geral de preços dos outros mercados
apenas se torna conhecido com uma defasagem.

Desse modo, quando a empresa se depara com uma elevação do preço de seu produto pela demanda
do mercado, ela deve avaliar e decidir se essa mudança no preço reflete uma efetiva mudança na
demanda por seu produto (o que permite aumentar o preço de sua produção em relação aos demais
preços de mercado) ou se ela reflete apenas uma elevação nominal de preços em todos os mercados
(não fazendo sentido elevar sua produção).

Essa questão envolvendo a decisão de produção dada uma alteração no preço é chamada de
problema da extração de sinais, que significa que as empresas devem distinguir entre mudanças nos
preços relativos ou no nível geral de preços (preço absoluto).

Discutidas as hipóteses estruturantes do pensamento novo‑clássico, podemos passar para a próxima seção, de
discussão do modelo macroeconômico geral, na qual será exposta graficamente a curva de oferta novo‑clássica.

2.2 Modelo macroeconômico geral com expectativas racionais

2.2.1 Políticas antecipadas e choques não antecipados

Para o entendimento do modelo macroeconômico geral na análise novo‑clássica é interessante recuperar


o exemplo da negociação salarial. Considerando a hipótese de expectativas racionais, os ofertantes de mão
de obra, ao estabelecerem a previsão futura do nível de preços para o período corrente, utilizarão todas as
informações passadas relevantes, e isso vai muito além da simples análise do comportamento dos preços:
leva em consideração também a política econômica prevista (esperada) por suas estimativas de preços
– o que, cabe frisar, significa que os ofertantes de mão de obra compreendem a relação entre políticas
econômicas e nível de preços (FROYEN, 2006). Porém, antes de estabelecermos análises mais profundas,
é importante diferenciar se as políticas que examinaremos são antecipadas ou não antecipadas pelos
agentes, posto que tal diferença produz efeitos distintos sob a hipótese de expectativas racionais.
45
Unidade I

Suponha que a autoridade monetária expanda o estoque de moeda como reação a um aumento
do desemprego. Tem‑se, portanto, uma política expansionista, que pode ter sido anunciada
previamente ou que as próprias informações públicas já indicassem. A diferença entre os modelos
keynesianos e o caso novo‑clássico, como já podemos imaginar, dada a hipótese de expectativas
racionais, está inicial e centralmente nas variáveis que determinam as curvas de oferta agregada e
de oferta de mão de obra.

No caso do modelo keynesiano, supõe‑se que a oferta de mão de obra dependa do salário real
esperado, isto é, o salário monetário já conhecido dividido pelo nível de preços esperado no futuro.

 W
NS = t  e 
P 

A oferta de mão de obra (Ns) é uma função (t) da razão entre salário nominal (W) e nível esperado
de preços (Pe). Como lembra Froyen (2006), no caso de aumento no nível esperado de preços, tem‑se
o deslocamento tanto da curva de oferta de mão de obra quanto da curva de oferta agregada para a
esquerda (ou para cima, de acordo com o modo de observarmos a expressão gráfica). Isso porque um
aumento no nível esperado de preços corresponde a um salário real esperado mais baixo (com preços
maiores, o mesmo salário nominal terá menor poder de compra). Como o aumento nos preços esperados
reduz o emprego, ele também reduz o produto ofertado (o que significa justamente que a curva de
oferta agregada se desloca para cima e para a esquerda).

Já no modelo novo‑clássico, o nível esperado de preços depende de um conjunto mais amplo


de variáveis. Como estamos tratando de uma possível política monetária expansionista, os agentes
examinarão, além do nível esperado de moeda, também o nível de gastos, de arrecadação e de
outras variáveis consideradas relevantes (por exemplo, de algumas commodities, como o preço
do petróleo).

O2(M1, ...)

O1(M0, ...)
Pd
Nível de preços (P)

P2’

P1
D2(M1, ...)

D1(M0, ...)

Y1 Y2’ Produto (Y)

Figura 16 – Efeito de um aumento no estoque de moeda na oferta e a demanda agregadas

46
MACROECONOMIA APLICADA

Um aumento do estoque de moeda (de M0 para M1) desloca a curva de demanda agregada
D1 para (à direita) D2. Ao supor que a curva de oferta não se deslocasse, mantendo‑se em O1, o
produto cresceria para Y2’, porém o nível de preços também subiria, de P1 para P2’. Contudo, dada
a elevação do nível de preços, devemos supor que a curva de demanda por mão de obra também
se desloque.

Como o aumento do estoque de moeda foi previsto pelos agentes, devemos considerar que, na
verdade, a curva de oferta agregada se deslocou para a esquerda, de O1 para O2. Desse modo, o ponto de
equilíbrio entre D2 e O2, que são as curvas de demanda e oferta agregadas após o aumento do estoque
de moeda e os efeitos sobre o mercado de mão de obra, mantenham o mesmo nível de produto (Y1) com
tão somente um nível de preços superior (P2).

Lembrete

Nos modelos keynesianos e também monetaristas, em que não há


a hipótese de expectativas racionais, o nível esperado de preços não
tem uma relação direta com o valor efetivo das variáveis analisadas
pelos agentes para tomada de decisão, produzindo efeitos somente
a longo prazo, quando todas as variáveis são consideradas móveis; a
curto prazo tanto a oferta agregada quanto a oferta de mão de obra
seriam fixas.

Ns(M1e, ...)
Ns(M0e, ...)
W2
Preços (P)

W2’

W1 Nd (P2)
Nd (P2,)

Nd (P1)

N1 N2’ Emprego (N)

Figura 17 – Efeito de um aumento no estoque de moeda no mercado de mão de obra

Observando o mercado de mão de obra, a elevação no nível de preços (de P 1 para P2’) deslocaria
a curva de demanda por mão de obra de Nd(P1) para Nd(P2’), e o nível de emprego subiria para N2’.
Mas como o aumento do estoque de moeda foi previsto, a curva de oferta agregada de mão de
obra se desloca para a esquerda, de Ns(M0) para Ns(M1). Emprego e produto voltaram para seus
níveis iniciais e, no caso do mercado de mão de obra, a diferença é que agora o salário nominal
47
Unidade I

subiu de W1 para W2 (mas o salário real manteve‑se o mesmo, já que houve uma elevação do
nível geral de preços).

Como a elevação do estoque de moeda já era esperada, os ofertantes de mão de obra,


entendendo o efeito inflacionário dessa política, não tiveram nenhuma “ilusão monetária”
com a elevação dos salários nominais. O impacto da hipótese de expectativas racionais é que
as medidas de política econômica com efeitos potenciais sobre a demanda agregada, caso
previstas pelos agentes, não são capazes de afetar o produto real e o nível de emprego nem
mesmo a curto prazo.

E se, então, a modificação na política econômica, com o aumento da oferta de moeda, não tivesse sido
prevista pelos agentes? Quais seriam os efeitos se os agentes tivessem uma surpresa na política monetária?

De início, os efeitos seriam semelhantes àqueles que vimos anteriormente. O aumento no


nível de oferta de moeda deslocaria a curva de demanda agregada para a direita (na figura
anterior, de D1 para D2). Essa elevação da demanda agregada elevaria também a demanda por
mão de obra (na anterior, Nd(P1) para Nd(P2’)), mas não ocorreriam os deslocamentos nas curvas
de oferta agregada e de oferta de mão de obra. Como a política monetária expansionista em
questão não foi prevista pelos agentes, ela não afetou as expectativas dos ofertantes de mão de
obra sobre o nível esperado de preços e, portanto, para os mesmos níveis de oferta de mão de
obra os trabalhadores não exigirão salários nominais maiores e não teremos impactos de curto
prazo na curva de oferta agregada. Isso significa que, no caso de uma “surpresa monetária”, pelo
menos a curto prazo, temos impactos sobre produto e emprego (o nível de produto iria para Y2’
e o nível de emprego iria para N2’).

Observação

No caso de um choque não antecipado pelos agentes, tem‑se


no modelo novo‑clássico um resultado semelhante ao previsto nos
modelos keynesianos e monetaristas. Porém, no caso novo‑clássico, os
efeitos seriam apenas de curto prazo e resultado da não antecipação
pelos agentes do efeito inflacionário decorrente da política, enquanto
nas perspectivas keynesiana e monetária os efeitos de curto prazo
sobre produto e emprego valem para qualquer tipo de alteração na
demanda agregada.

No quadro a seguir são sintetizados os efeitos observados.

48
MACROECONOMIA APLICADA

Quadro 1 – Efeito de um aumento no estoque de moeda (a curto prazo)

Mudança política antecipada Mudança política não antecipada


(Alteração esperada no nível de oferta monetária) (Nível não esperado de oferta monetária)
þ Curva de demanda agregada se desloca para a direita, þ Curva de demanda agregada se desloca D1 para D2
de D1 para D2
ý Curva de oferta agregada não se desloca, þ Curva de oferta agregada não se desloca,
mantendo‑se em O1 mantendo‑se em O1
þ Curva de oferta agregada se desloca para a esquerda, ý Curva de oferta agregada se desloca para a esquerda,
de O1 para O2 de O1 para O2
ý Produto aumenta de Y1 para Y2’ þ Produto aumenta de Y1 para Y2’
þ Produto mantém‑se em Y1 ý Produto mantém‑se em Y1
ý Nível de preços sobe de P1 para P2’ þ Nível de preços sobe de P1 para P2’
þ Nível de preços sobe de P1 para P2 ý Nível de preços sobe de P1 para P2
ý Curva de demanda por mão de obra se desloca de þ Curva de demanda por mão de obra se desloca de
Nd(P1) para Nd(P2’) Nd(P1) para Nd(P2’)
þ Curva de demanda por mão de obra de Nd(P1) para ý Curva de demanda por mão de obra se desloca de
Nd(P2) Nd(P1) para Nd(P2)
þ Curva de oferta de mão de obra se desloca para a ý Curva de oferta de mão de obra se desloca para a
esquerda esquerda
ý Curva de oferta de mão de obra mantém‑se a mesma. þ Curva de oferta de mão de obra mantém‑se a mesma.
ý Nível de emprego sobe para N2’ þ Nível de emprego sobe para N2’
þ Nível de emprego mantido em N1 ý Nível de emprego mantido em N1
Emprego e produto mantêm seus níveis iniciais (Y1 e N1) Emprego e produto se expandem (Y2’ e N2’)

2.2.2 Curva de oferta de Lucas

A hipótese novo‑clássica da curva de oferta agregada é que ela tem um caráter vertical a longo
prazo. Intuitivamente já é possível imaginarmos o porquê.

A formação de expectativas no modelo novo‑clássico não se dá apenas em referência ao passado,


mas também se projetam sobre o futuro: quando os agentes têm informação sobre uma política
econômica que será implementada, eles a incorporam em suas expectativas, o que altera o resultado da
política. Seguindo o exemplo de política utilizado na subseção anterior (aumento da oferta de moeda),
as expectativas subjetivas correspondem às expectativas objetivas preconizadas pela teoria econômica
e que, no caso, sugere que o aumento de moeda provoca inflação.

Desse modo, a sinalização da política de expansão monetária apenas transmite uma mensagem aos
agentes de que o nível de preços e os salários nominais se elevarão. Os agentes racionais, dispondo dessa
informação, já se anteciparão à política e elevarão preços e salários. O resultado é que a política não terá
efeito algum sobre produto e emprego.

As expectativas sobre o nível esperado de preços, dadas as expectativas sobre o comportamento


da demanda agregada e do mercado de mão de obra, permitem a determinação de um nível de
salário nominal compatível com o nível esperado de preços (que garante o emprego eficiente dos
fatores de produção).
49
Unidade I

A curva de oferta agregada (também conhecida como “curva de oferta de Lucas”) pode ser expressa
pela seguinte equação:

( )
Y = YN + α P − Pe , α > 0

Em que:

Y = nível de produto;

YN = produto natural (nível de produto potencial à taxa natural de desemprego);

P = nível corrente de preços;

Pe = nível esperado de preços;

α = sensibilidade de resposta do produto a alterações inesperadas (“surpresa”) do nível de preços.

No caso em que o nível corrente de preços se revela superior ao nível esperado, os agentes individuais
(dada a “surpresa”, por exemplo, da política adotada) confundirão esse aumento geral dos preços com
uma elevação do preço relativo de sua própria produção (lembremos do problema da extração de sinais,
mencionado anteriormente), o que resulta em um aumento no nível de oferta agregada e de emprego
da economia. Caso não ocorram surpresas, o nível de produto corrente será igual ao nível de produto
natural (nível potencial, dado o desemprego natural).

YN OA (Oferta agregada)
Nível de preços (P)

Pe

Y1 Produto (Y)

Figura 18 – A curva de oferta de Lucas

A curva de oferta de Lucas indica que, a curto prazo, é possível se obter níveis superiores de produto,
desde que sejam aceitos níveis superiores de preços também. De todo modo, recuperando o que já
vimos, a elevação de produto é possível apenas através de políticas não antecipadas pelos agentes.
50
MACROECONOMIA APLICADA

Mas, afinal, por que a curva de oferta agregada, no modelo novo‑clássico, tem um caráter vertical
a longo prazo? Dispensando a intuição, podemos recuperar aquilo que já abordamos através da Figura
16 (Efeito de um aumento no estoque de moeda na oferta e demanda agregadas). Retomando aquele
caso, que era o de uma política antecipada de elevação do estoque de moeda, podemos considerar que
os agentes incorporam o nível esperado de preços (inflação) ao nível corrente.

Dispondo dessas informações, podemos incluir os efeitos de longo prazo, na figura a seguir:
OA (oferta agregada de longo prazo)

OA2 (curto prazo)

OA1 (curto prazo)


P2(= Pe) E’
Nível de preços (P)

P2’

P1 E
D2

D1

Y1 Y2’ Produto (Y)

Figura 19 – Efeito de um aumento no estoque de moeda na oferta e demanda agregadas a curto e a longo prazos

Como os agentes estabeleceram expectativas futuras corretamente, a curva de oferta agregada se ajustou
ao novo nível de preços esperado (em decorrência, fundamentalmente, de alterações no mercado de mão de
obra). Além disso, as expectativas ajustaram o nível corrente de preços ao nível esperado (P = Pe), logo o nível de
produto (Y1) é igual ao produto natural (YN) – que é o nível de produto potencial à taxa natural de desemprego.

Por isso, mesmo a curto prazo, a hipótese novo‑clássica da oferta agregada é de que ela tem um
caráter vertical, é como se a curva de oferta de longo prazo se aplicasse instantaneamente.

2.2.3 Modelo de “ilhas” (oferta) de Lucas

Apesar das considerações estabelecidas anteriormente, por que, então, em determinadas situações,
o produto aumenta quando o nível geral de preços também aumenta?

É possível afirmar que parte da resposta está naquela questão da “extração de sinais” – empresas
devem distinguir entre mudanças nos preços relativos e no nível geral de preços. O “problema” é que
as empresas geralmente observam apenas os preços de seu próprio mercado. Trata‑se, portanto, de
uma questão, no fundo, de informação imperfeita: um preço elevado pode se dar por uma elevação
da demanda particular de mercado, à qual a empresa deve responder elevando sua produção, ou pode
simplesmente representar uma elevação geral dos preços, caso em que a empresa deveria manter sua
produção inalterada.
51
Unidade I

A questão da informação imperfeita é que, quando a empresa observa uma elevação de preço do seu
produto, ela pode não ser capaz de avaliar se isso se deve a uma demanda mais alta ou ao nível geral de
preços mais elevados. Racionalmente, a empresa age como se a elevação fosse parcialmente causada por
cada um desses fenômenos e amplia sua produção em um montante pequeno (DORNBUSCH; FISCHER;
STARTZ, 2009).

Do ponto de vista agregado, uma política não antecipada que gera aumento do nível de preços
é geralmente interpretada (“erroneamente”) como um possível indicador de elevação da demanda
particular de mercado.

Para explicar esses efeitos, frutos de informação imperfeita, Robert Lucas Jr. utilizou a uma parábola
para se referir às empresas: cada uma estaria em uma ilha isolada. Os moradores de cada ilha produzem
bens e podem se encontrar num local específico para realizarem trocas. Nesse modelo, os trabalhadores
da ilha i estão dispostos a trabalharem mais quando esperam que o produto de sua ilha atinja um preço
(pi) alto, em relação ao nível geral de preços da economia (p).

Se os habitantes da ilha i soubessem o nível geral de preços (p), a oferta de produto da ilha i poderia
ser representada da seguinte forma:

yi = α (pi – p)

Porém, esses habitantes não sabem, de antemão, o nível geral de preços. Eles fazem, na prática, um
prognóstico desse nível. Podemos definir esse prognóstico como uma expectativa do nível de preços
(com base nas informações disponíveis da ilha i). Desse modo, a oferta de produto é representada de
outra maneira:

yi = α[pi – E (p|ilha i)]

O preço pago pelos bens da ilha i depende do nível geral de preços (p), bem como de um possível
choque de demanda dos bens particulares produzidos pela ilha i (que podemos definir como zi).

Suponha que os habitantes da ilha saibam o seu preço local (pi) e não observem nem um choque de
demanda (zi) nem uma alteração do nível geral de preços (p). O nível geral de preços pode ser, portanto,
inferido a partir do próprio pi.

Caso haja uma elevação de pi, isso pode significar que zi é alto ou que p é alto. Assim, quando os
habitantes observam uma alta de pi, eles elevam sua expectativa do nível de preços (p), mas não muito,
já que esse valor de pi pode ser resultado de uma alta de zi (com níveis normais de p).

O melhor prognóstico para p pode ser expresso desta forma:

1
E (p|pi ) = k 0 + βpi , 0 < β < 1
a

52
MACROECONOMIA APLICADA

Em que:

E(p|pi) = indica que a única informação usada para fazer o prognóstico é o preço local;

a = é uma constante que reflete as inclinações das curvas de oferta e de demanda;

b = é o valor principal para a inclinação da curva de oferta agregada.

Observação

O k0é o “coeficiente linear da reta” (ponto de intercepto da função no eixo


das coordenadas), ele não tem nenhum interesse especial para nossa análise.

Como no modelo os habitantes da ilha i não têm nenhuma informação


agregada, podemos supor implicitamente que a taxa esperada de inflação
seja 0 [se tivessem, eles saberiam qual é o p e, portanto, poderiam definir
suas ações a partir de yi = a(pi – p)].

O valor de b expressa a origem dos movimentos em pi. Se esses movimentos vêm mais de p, b é
mais próximo de 1 (o que significa um aumento do preço), mas se esses movimentos provêm mais de
zi, o b é mais próximo de 0 (o que significa um aumento da produção). Se b for igual a 1, a curva de
oferta agregada será vertical. A figura a seguir apresenta visualmente três relações possíveis entre o pi
observado e o prognóstico estabelecido E(p).

E(p)
Informação perfeita (b = 1)

Informação parcial

nenhuma informação (b = 0)

pi

Figura 20 – Formação de uma expectativa no modelo de ilhas

Combinando a função de oferta:

yi = a[pi – E(p|pi)]

53
Unidade I

Com a função de prognóstico:

1
E (p|pi ) = k 0 + βpi
a

É possível apresentar a oferta de produto como:

  1 
yi = α pi −  k 0 + βpi  
  a 

Podemos também agregar o pi da seguinte maneira:

 β  
yi = α 1 −  pi − k 0 
 a  

A demanda pelo produto da ilha i depende do produto agregado (y), do choque de demanda (zi) e do
preço relativo do produto da ilha (pi – p). Ela pode ser expressa assim:

yi = y + zi – γ(pi – p)

O preço de equilíbrio da ilha i é encontrado ao se igualar a oferta com a demanda:

 β  
α 1 −  pi − k 0  = y + zi − γ (pi − p)
 a  

A equação anterior expressa a relação de equilíbrio entre choques, preços e produto de uma ilha
específica. Contudo, cada ilha é representativa da economia de modo geral; elas diferem entre si apenas
por conta de seus choques específicos, mas a economia agregada é formada pela média das economias
de cada ilha. Assim, o produto agregado y é a média dos vários yi e o nível geral de preços (p) é a média
dos vários pi, além de que, a média dos choques (zi) é zero (DORNBUSCH; FISCHER; STARTZ, 2009).

Pode‑se concluir parcialmente que a inclinação da oferta agregada depende tanto da inclinação das
ofertas individuais (α), quanto da importância relativa de choques agregados versus choques individuais
(β). Se choques do nível geral de preços forem dominantes (em relação aos choques de demanda), β será
próximo de 1 e a curva de oferta agregada será quase vertical, o que significa que quando a maioria dos
choques de preços for atribuída à mudança no nível de preços, os choques (de demanda) individuais
serão, em grande parte, neutros, portanto, com pouco efeito sobre o nível de produto agregado. Ora, isso
significa justamente que a moeda é neutra.

Supondo informação imperfeita, em que os agentes não têm certeza se um aumento de seu preço se
deve ao aumento da sua demanda específica ou a um aumento do nível geral de preços, são atribuídos

54
MACROECONOMIA APLICADA

pesos não nulos às duas causas possíveis dos aumentos. O resultado é que aumentos não antecipados em
p geram aumentos parciais no nível antecipado de preços (pe) e no produto (y). É essa associação positiva
entre aumentos em p e em y que constitui a observação empírica da curva de Phillips (DORNBUSCH;
FISCHER; STARTZ, 2009).

Nosso próximo passo é examinar a estrutura da curva de Phillips com as expectativas racionais e a
hipótese de curva de oferta de Lucas.

2.2.4 Curva de Phillips com expectativas racionais

Nos modelos de oferta e demanda agregada a análise da inflação é mais difícil de ser visualizada.
A curva de Phillips é uma estrutura analítica que busca justamente apresentar a relação entre inflação
e desemprego. Como sabemos, tradicionalmente, a curva de Phillips tem uma inclinação negativa, pelo
menos a curto prazo – como foi mostrado anteriormente pela Figura 14 (A curva de Phillips na perspectiva
keynesiana). Acontece que, considerando a hipótese da oferta agregada (“oferta de Lucas”) e a de
expectativas racionais, a equação de oferta pode ser desenvolvida incorporando a chamada “lei de Okun”.

Observação

A chamada “Lei de Okun” é derivada da formulação desenvolvida nos


anos 1960 pelo economista Arthur Okun, que relaciona crescimento do
produto a variações no desemprego. A “lei” propõe que o hiato do produto
(diferença entre produto potencial e produto efetivo) é proporcional à
diferença entre a taxa de desemprego efetiva e a taxa natural de desemprego.

A função oferta de Lucas (como visto) é:

Y = YN + a (P – Pe), a > 0

Podemos reorganizar (YN – Y) para o lado esquerdo:

YN – Y = –a (P – Pe)

A Lei de Okun determina que:

µ − µN = λ( YN − Y )

Em que:

µ = taxa efetiva de desemprego;

µN = taxa natural de desemprego;

55
Unidade I

Y = nível de produto;

YN = produto natural (produto potencial à taxa natural de desemprego);

λ = sensibilidade do produto em relação ao desemprego;

Combinando a função oferta de Lucas à Lei de Okun, temos que:

(
µ − µN = λ  − α P − P e 
  )
Reorganizando mais uma vez:

(P − P ) = αλ
e −1
(µ − µ ) N

1
A expressão αλ representa a sensibilidade dos preços a variações na taxa de desemprego. Podemos
substitui‑lo simplesmente por ϕ.

P = Pe − ϕ(µ − µN )

Como o objetivo não é capturar o nível de preços, mas as variações, podemos fazer o seguinte:

P −P−1 = Pe − P−1 − ϕ(µ − µN )

Incluir – P‑1 nos dois lados da equação não altera nossos resultados. Assim, temos (P – P‑1), que é a
diferença entre o nível de preços presente e o nível passado, ou seja, a inflação (π).

π = πe − ϕ(µ − µN )

Observação

Caso não tenha entendido completamente o processo de transformação


da função de oferta agregada na curva de Phillips, não se preocupe.
Essa formalização não é indispensável ao entendimento, mas é uma
oportunidade para se exercitar a capacidade de acompanhamento de
raciocínios abstratos em economia; algo que, como sabemos, é mais usual
do que muitos gostariam.

56
MACROECONOMIA APLICADA

Observando a equação da curva de Phillips, é possível considerar duas grandes causas da inflação:
i) ela pode ocorrer porque os agentes acreditam que ela ocorrerá (as expectativas πe são positivas); ii) o
nível de desemprego (µ) se encontra abaixo do seu nível natural (µN) – isso significa que o produto está
acima do produto potencial, provocando a elevação dos preços. Poderíamos ainda incorporar outros
elementos (externos ao modelo) que podem influenciar a inflação, por exemplo, choques de oferta
(como preço do petróleo etc.), mas as conclusões centrais da curva de Phillips na versão novo‑clássica
podem ser alcançadas desconsiderando esses elementos externos.

Numa situação em que πe = 0, a única explicação (desconsiderando choques de oferta) está no nível
de emprego. Caso se tenha inflação com πe = 0, isso significa que o desemprego está abaixo de seu
nível natural. Em outra situação, em que πe > 0, mesmo que a taxa de desemprego seja igual a sua taxa
natural, teremos inflação por conta das próprias expectativas.

Recuperando aquela discussão sobre versões novo‑clássicas das expectativas racionais (versão fraca
e versão forte), caso se acolha a versão forte da hipótese, tem‑se que as agentes sempre acertam
(na média) o valor efetivo das variáveis analisadas. A distribuição subjetiva de resultados tende a ser
igual à distribuição objetiva presente na teoria econômica relevante. O resultado pode ser ilustrado
ao combinar o que foi exposto na Figura 19 (Efeito de um aumento no estoque de moeda na oferta e
demanda agregadas a curto e a longo prazos) com o sentido atribuído à discussão da curva de Phillips,
como é apresentado na figura a seguir.

A) Curvas de oferta de curto e longo prazos B) Curva de Phillips vertical (Versão Lucas)

OA (LP)
(P) π
OA2 (CP)

OA1 (CP)
E2

Ex

E1
D2

D1

YN Y’ (Y) U’ UN (U)

Figura 21 – Efeitos de política econômica (expansão de moeda) sobre oferta de curto e longo prazos e a curva de Phillips

Os resultados observáveis desse modelo simples permitem, agora, qualificar um postulado


destacado pelo pensamento novo‑clássico: a ineficácia das políticas econômicas. O argumento é
que tanto o produto quanto o nível de emprego (variáveis reais) não são afetados por modificações
sistemáticas (e previsíveis) nas políticas relacionadas à demanda.
57
Unidade I

Como estão em cena as hipóteses de expectativas racionais, equilíbrio contínuo de mercado e da


curva de oferta, os formuladores de políticas econômicas não são capazes de influenciar variáveis para
além do próprio nível de preços (isto é, produzir inflação), caso a política adotada seja antecipada
pelos agentes. Somente nos casos de alguma política surpresa os efeitos de curto prazo (presentes nos
modelos keynesiano e monetarista) podem alterar variáveis como emprego e renda. Essa diferença entre
políticas antecipadas e não antecipadas pode induzir as autoridades econômicas a adotarem políticas
não sistemáticas e aleatórias.

Porém, a posição defendida pelo pensamento novo‑clássico é fortemente contrária a medidas


intervencionistas. Mas se políticas não antecipadas podem surtir efeitos, por que não se assumir
um caráter mais discricionário e aleatório à condução da política econômica? Essa pergunta será
respondida a seguir.

2.3 Implicações político‑econômicas da abordagem novo‑clássica

Suponha uma determinada política fiscal de estímulo da demanda agregada de caráter não
antecipado pelos agentes. Pelo que já se viu, é possível afirmar que ela teria efeitos sobre emprego e
renda, pelo menos a curto prazo?

A resposta é sim. Porém, há um elemento destacado pelo pensamento novo‑clássico que aponta
como essa linha política pode ser prejudicial.

Trata‑se do impacto que ela produz sobre as próprias expectativas (no caso, provoca maior incerteza).
Políticas “erráticas” aumentam a incerteza sobre futuro, comprometendo as condições de formação de
expectativas racionais. Como os agentes não cometem erros sistemáticos, políticas aleatórias tenderiam
a aumentar o nível esperado de preços futuros.

Por exemplo, a ocorrência de um déficit fiscal no presente permitiria aos agentes considerar
que, em algum momento, o governo terá de ajustar seu orçamento (elevando a carga tributária
e, portanto, reduzindo a renda pessoal disponível); isso já é um desestímulo à expansão da
demanda, já que uma parcela da renda dos agentes será destinada ao pagamento dessa variação
na carga tributária. Além disso, déficits orçamentários significativos exigiriam que a autoridade
monetária atuasse para ajudar a financiar o déficit, por exemplo, através de uma expansão
monetária. Ora, considerando esse comportamento previsível dos agentes, o governo seria, na
verdade, obrigado a ratificar as expectativas formadas (de uma maior demanda por moeda)
para evitar a escassez de liquidez. O resultado seria maior inflação e efeito quase nulo sobre
emprego e renda.

A medida de política econômica mais adequada seria a definição de uma regra monetária (para
a condição dessa política). Como toda tentativa de afetar emprego e renda apenas aumenta a
variação dessas duas variáveis em torno das suas respectivas taxas naturais (desemprego natural
e de produto natural), o que significa inflação, para essa abordagem, é indispensável examinar os
custos da “desinflação”.

58
MACROECONOMIA APLICADA

A inflação, dentro do arcabouço novo‑clássico, é um fenômeno monetário fundamental. Afinal, mais uma
vez, as expectativas são racionais e o equilíbrio de mercado é contínuo – com uma curva de oferta, mesmo de
longo prazo, vertical –, restando a gestão da oferta monetária como elemento explicativo central.

Nesse quadro de reflexão, um elemento de destaque passa a ser justamente a credibilidade


da autoridade econômica; isto é, uma política anti‑inflacionária apenas será bem‑sucedida se os
agentes privados acreditarem nas autoridades. Se a política anunciada não dispuser de credibilidade,
as expectativas futuras de inflação não serão reajustadas e, portanto, os custos da “desinflação”
não ocorrerão, o que implica a manutenção de desequilíbrios diante das taxas naturais de emprego
e produto.

O raciocínio elaborado por essa tese da credibilidade pode ser formalizado como um jogo estratégico
(dinâmico) estabelecido entre autoridade monetária e agentes econômicos privados (lembrando que
essa formalização incorpora a curva de Phillips na versão de Lucas, a hipótese de expectativas racionais
e o equilíbrio contínuo de mercado.

Nesse jogo dinâmico, cada player escolhe uma estratégia que indica como ele se comportará durante
o próprio jogo (SNOWDON; VANE, 2005). A formalização de um jogo entre a autoridade monetária
(Banco Central) e os agentes privados pode ser ilustrada da seguinte maneira:

Banco Central anuncia


uma política de baixa
expansão monetária

Anúncio acreditado Anúncio não acreditado.


Agentes privados Alternativas Agentes privados
estabelecem contratos com baixo do mercado estabelecem contratos com maior
crescimento salarial trabalho crescimento salarial
Alternativas
do Banco
Central
Baixa Alta Baixa Alta
expansão expansão expansão expansão
monetária monetária monetária monetária

Alta inflação. Baixa inflação.


Baixa inflação. Alta inflação.
Desemprego Desemprego
Desemprego na Desemprego na
abaixo da taxa acima da taxa
taxa natural taxa natural
natural natural

Figura 22 – Jogo praticado entre autoridade monetária e negociadores de salários

A tese da credibilidade conduz à discussão sobre a reputação da autoridade econômica. Se os


economistas “concordam” que a inflação é determinada fundamentalmente pela expansão monetária,
por que os governantes permitem que ocorra tal expansão?

59
Unidade I

A resposta está no objetivo político que os governantes podem buscar alcançar a curto prazo, a despeito
dos custos de longo prazo que a política pode trazer. Os gestores da política econômica podem avaliar
(motivados por razões eleitorais, por exemplo) que os resultados imediatos e os passageiros de uma política
sobre o nível de emprego e renda são mais valiosos que a credibilidade nas regras de política.

Como os agentes não sabem efetivamente o tipo de comportamento governamental que eles podem
enfrentar, eles analisam vários sinais, na forma de ações políticas e anúncios, observam a reputação da
autoridade econômica. Temos assim o conhecido trinômio: credibilidade – reputação – delegação.

Dado o risco de implementação de políticas inconsistentes com a posição de equilíbrio (correspondente


à taxa natural de desemprego), muitos autores novo‑clássicos defendem a independência do Banco
Central (BC) – plena liberdade de ação para que as autoridades monetárias possam buscar seu objetivo
único, que é o combate à inflação.

Como destacam Snowdon e Vane (2005), é importante estabelecer uma distinção entre “independência
de objetivo” e “independência de instrumento”. A primeira indica que o BC define seus próprios objetivos
(ou seja, dispõe de independência política); já a segunda se refere à independência em relação aos vários
mecanismos de política monetária (independência econômica).

Os meios para se estabelecer formas de independência dos BCs são variados, como a diferenciação
apontada anteriormente já sugere. Um exemplo de superação do viés inflacionário (presente no jogo
não cooperativo estabelecido entre autoridade monetária e agentes privados) pode ser a delegação da
política monetária a um “banqueiro central conservador”; a esse agente é delegada a tarefa de manter a
reputação e a credibilidade das regras monetárias (reduzindo a variabilidade do produto e favorecendo
o controle da inflação). Um “banqueiro central conservador” significa um agente cujas preferências
são mais avessas à inflação do que a média da sociedade, o que seria capaz de inclusive sustentar uma
taxa de variação do nível de preços menor do que aquela que ocorreria caso o presidente do BC tivesse
preferências semelhantes às sociais (CARVALHO et al, 2012).

Em qualquer um dos casos, tanto de independência de objetivos quanto de independência de


resultados, a tese decorre do trinômio credibilidade – reputação – delegação, em que a questão central
é buscar eliminar a possibilidade de implementação de políticas monetárias inconsistentes com as taxas
naturais (de emprego e produto), isto é, de eliminar o viés inflacionário.

A essa altura você pode estar se perguntando se as políticas econômicas não são capazes de afetar variáveis
reais, dadas as várias razões já vistas. De que modo se pode aumentar a produção e reduzir o desemprego?

Como o papel da política monetária não é tentar reduzir o desemprego de forma permanente (mas sim
controlar a inflação) e ela sequer é capaz de afetar o produto, a perspectiva novo‑clássica oferece como
resposta as medidas de políticas microeconômicas, como melhores alternativas – fundamentalmente
aquelas capazes de reduzir distorções no mercado de trabalho. Afinal, o desemprego é tomado como um
resultado de equilíbrio, que reflete as decisões ótimas de trabalhadores que escolhem entre trabalho e lazer
a partir dos movimentos dos salários reais correntes e futuros (SOWNDON; VANE, 2005). Desempregados
não passam de agentes que voluntariamente optam por não trabalhar pelo salário real corrente.
60
MACROECONOMIA APLICADA

Dados os preços relativos, mudanças no nível de produção e de emprego são resultados das decisões de
equilíbrio de trabalhadores e empresas. Portanto, seguindo o raciocínio novo‑clássico, medidas políticas
adequadas para elevar produção e emprego são aquelas que geram incentivos microeconômicos para
as empresas e os trabalhadores.

2.4 Críticas ao enfoque de expectativas racionais

Como toda questão de impacto teórico e prático na área das ciências econômicas, as propostas —
para alguns autores, revolucionárias — da abordagem novo‑clássica suscitaram uma série de críticas,
particularmente contra a hipótese de expectativas racionais (HER).

Snowdon e Vane (2005) destacam três críticas concernentes à HER:

A primeira refere‑se aos custos (em tempo, em esforços ou monetários) para a aquisição de todas
as informações públicas disponíveis com vistas a se estabelecer alguma previsão futura de variáveis
relevantes, como a inflação.

Muitos economistas keynesianos negam a hipótese de que os ofertantes individuais de mão de obra
(trabalhadores individuais) sejam capazes de dispor de um conhecimento do funcionamento da economia como
do comportamento dos formuladores de políticas econômicas. Mesmo que a hipótese de expectativas racionais
fosse realista, ela apenas o seria a longo prazo; pois, a curto prazo, pelo menos para os trabalhadores individuais, o
custo de coletar e processar informações pode ser expressivamente grande, de modo que esses agentes poderiam
escolher utilizar, a curto prazo, basicamente o comportamento passado de preços como fonte de informação.

Todavia, cabe destacar que, seguindo a “versão fraca” da HER, não é rigorosamente necessário que os agentes
utilizem todas as informações públicas disponíveis. Aliás, nem mesmo os proponentes da HER tinham em mente
a efetiva utilização, pelos agentes, de todas as informações. O destaque está no fato de que, sendo os agentes
racionais, eles buscarão fazer o melhor uso (mais eficiente) dessas informações, o que implica justamente
uma seleção mais significativa (relevante) e menos extensiva (em quantidade) do conjunto de informações –
podemos, inclusive, operar sob a lógica de custos e benefícios marginais (agentes serão incentivados a usar mais
informações até o ponto em que o benefício marginal dessa utilização se iguale ao custo marginal).

Portanto, no caso da “versão fraca” da HER, uma resposta novo‑clássica poderia ser a de que sequer
é necessário que todos os agentes individuais realizem essa seleção das informações. Muitos agentes
podem ter acesso a um conjunto relevante e significativo indiretamente, por exemplo, através das mídias.

Uma segunda crítica aborda a questão de como, especificamente, os agentes adquirem conhecimento
sobre o modelo econômico correto, pois é usual que os economistas, com base em teorias e análises
concretas diferentes, apresentem discordâncias entre si. Ainda segundo Snowdon e Vane (2005), no
caso dessa crítica, é importante sublinhar que na “versão forte” da HER não é necessário que os agentes
econômicos saibam efetivamente qual é o modelo econômico correto; o que é destacado por essa
versão da HER é que os agentes racionais não formarão expectativas que se mostrem sistematicamente
equivocadas. Assim, a proposição sobre modelo correto indicaria que as expectativas são formadas
como se os agentes soubessem qual é o modelo adequado.
61
Unidade I

Contudo, a crítica ainda persiste. Apesar do argumento “como se”, que ainda mantém certo grau de
incerteza sobre a correção do modelo, e se consideramos a primeira crítica (sobre os custos de obtenção
e processamento de todas as informações), existiria a possibilidade de os agentes formarem expectativas
sistematicamente erradas; uma hipótese alternativa que é, inclusive, defendida com base em testes
empíricos críticos à HER.

A terceira crítica está associada particularmente ao pensamento macroeconômico pós‑keynesiano, que


sustenta que o sistema econômico no qual estamos inseridos é complexo, marcado pela irreversibilidade
do tempo histórico e pela não ergodicidade – que, em linhas gerais, significa que cada evento histórico é
único e não repetitivo –, posto que a incerteza tem um caráter fundamental, não sendo possível calcular
distribuições de probabilidades. Como a hipótese de expectativas racionais assume que os agentes sejam
capazes de formular distribuições probabilísticas, aquilo que os novo‑clássicos poderiam chamar de
incerteza seria, na verdade, risco.

Outra crítica é destacada, por exemplo, em Froyen (2006); ela se refere à questão do mercado de
trabalho como um leilão ou como uma articulação contratual.

A perspectiva novo‑clássica, como vimos, estabelece que as livres flutuações do salário monetário
são capazes de rapidamente equilibrarem o mercado de trabalho. Porém, segundo a visão contratual
keynesiana, os salários não são definidos de forma a permitir o equilíbrio de curto prazo do mercado,
pelo contrário, eles são fortemente condicionados por determinantes de longo prazo, que envolvem,
inclusive, as relações empregado‑empregador.

Como na abordagem contratual os salários são determinados com referência ao longo prazo, o salário
monetário deve ser visto como rígido, pelo menos para a variação para baixo (é necessário considerar nos
modelos a relutância dos trabalhadores a aceitarem cortes no salário monetário – um argumento que
pode ser vislumbrado mesmo intuitivamente). Com efeito, ajustes no mercado de trabalho, provenientes
de uma queda na demanda agregada, produzem redução no nível de emprego, e não a queda no salário
monetário (como preconizam os novo‑clássicos através da hipótese de equilíbrio contínuo de mercado).
O destaque keynesiano está, portanto, nos elementos institucionais que caracterizam o mercado de
trabalho e que reduzem a efetividade de práticas como a demissão de atuais funcionários e a contratação
de novos trabalhadores por salários mais baixos.

3 TEORIA DOS CICLOS ECONÔMICOS REAIS

A partir dos anos 1970, principalmente a partir da segunda metade da década, três escolas
de pensamento se destacam no debate da macroeconomia, quais sejam: os novo‑clássicos, os
novo‑keynesianos e os pesquisadores da nova teoria do crescimento.

Tanto Friedman (1985) como Lucas haviam discutido as causas das flutuações. Para ambos, essas
oscilações macroeconômicas estavam fundadas em choques de demanda agregada ou ainda em choques
monetários. Porém, em vez de defenderem a persistência de políticas expansionistas de demanda
agregada para ajustarem a economia, eles defendiam o uso de políticas do lado da oferta, a fim de
atingir as metas de emprego de equilíbrio.
62
MACROECONOMIA APLICADA

Diante dos ciclos econômicos, a escola novo‑clássica se renovou a partir dos modelos de ciclos reais
de negócios (real business cycle) que colocaram a causa das flutuações na oferta, e não na demanda
agregada. A questão era conseguir explicar as flutuações econômicas com base em choques competitivos
com preços e salários completamente flexíveis, e não rígidos.

Os principais economistas expoentes dessa teoria foram Finn Kydland (Universidade de Carnegie
Mellon) e Edward Prescott (Universidade de Minnesota) que publicaram, em 1982, o artigo “Time to
Build and Aggregate Fluctuations” na prestigiosa revista Econometrica. Eles utilizaram a teoria dos jogos,
numa economia artificialmente em concorrência perfeita, para supor o ajuste dos agentes racionais
diante de repetidos choques de produtividade. Outros economistas também contribuíram para o avanço
dessa escola: Charles Plosser, John Long e Alan Stockman, da Universidade de Rochester; Robert King, da
Universidade de Boston; Sérgio Rebelo, da Universidade Northwestern; e Robert Barro, da Universidade
de Harvard (SNOWDON; VANE, 2005).

3.1 Introdução e características básicas

Segundo esses modelos, as flutuações econômicas são originadas nos choques reais, principalmente
os de origem tecnológica, pelo lado da oferta, e não da demanda.

Ao contrário das explicações oferecidas nos anos 1960 e 1970, quando as flutuações econômicas
eram explicadas – por Friedman (1985) e por Lucas — pelos choques monetários e seus efeitos sobre a
demanda agregada nominal, os ciclos reais de negócios não procuram explicações para as flutuações
pela demanda agregada, mas pela oferta agregada.

De acordo com Blanchard (2011), é importante destacar dois pressupostos do modelo:

• Metodologicamente, os modelos macroeconômicos devem ser desenvolvidos a partir de


microfundamentos. Por exemplo: maximização de utilidade dos trabalhadores, dos empresários e
expectativas racionais.

• Conceitualmente, as flutuações econômicas têm como origem os choques na oferta, e não na


demanda, como supunha boa parte da literatura macroeconômica até meados dos anos 1980,
por exemplo, choques tecnológicos. Prescott acreditava que as alterações no produto real da
economia fossem na realidade movimentos naturais do produto, e não desajustes ou desvios do
nível natural.

Por essa teoria, os choques reais na economia provocam flutuações no produto, assim os mercados
devem se ajustar rapidamente para permanecerem sempre em equilíbrio. Uma diferença desse modelo
é que essas flutuações constituem posições de equilíbrio, e não de desvios do nível de equilíbrio natural.
Recuperando as considerações críticas estabelecidas pelo pensamento novo‑clássico, alterações
antecipadas de política monetária não teriam efeitos reais sobre a economia, mas somente mudanças
não antecipadas teriam esses efeitos, que seriam rapidamente corrigidos. Logo, choques na demanda
não seriam muito importantes.

63
Unidade I

Considerando que os pensadores dos ciclos reais de negócios defendem as flutuações econômicas
como processo de ajuste racional dos agentes econômicos, isto é, rejeitam a visão de falhas de mercado,
essas flutuações econômicas reproduzem o movimento de ajuste racional dos agentes econômicos a
novos pontos de equilíbrio de pleno emprego. Esses movimentos são determinados por choques de
produtividade, sucedidos de avanços aleatórios da tecnologia.

Os choques de oferta alteram a função de produção da economia, gerando flutuações do produto


agregado e do emprego à medida que os agentes econômicos racionalmente respondem aos novos
preços relativos, modificando inclusive suas escolhas de ofertar trabalho e de consumo.

Essas mudanças de posição geram instabilidades que são posições de equilíbrio ótimas de Pareto.
A flutuação do produto representa um contínuo equilíbrio de pleno emprego que se move diante dos
choques de oferta (ALÉM, 2010).

Lembrete

Repare a semelhança com os resultados observados anteriormente,


quando foram abordadas as implicações político‑econômicas do
pensamento novo‑clássico.

Segundo Froyen (2006, p. 318):

Os teóricos dos ciclos reais de negócios interpretam essas flutuações como


“originárias de variações nas oportunidades reais da economia privada”. Tais
mudanças podem ser causadas por fatores como choques na tecnologia,
variações nas condições ambientais, alterações nos preços reais (relativos)
de matérias‑primas importadas (por exemplo, petróleo bruto) e mudanças
nas alíquotas tributárias. Mudanças nas preferências individuais – por
exemplo, preferência por bens em relação ao lazer – também implicam
flutuações no produto.

Como destacado, as causas das flutuações têm origem na economia real. A diferença entre os teóricos dos
ciclos reais e os da escola novo‑clássica é que os novo‑clássicos interpretavam essas variáveis como estáveis
a curto prazo e se alteravam lentamente a longo prazo, portanto não geravam alterações no produto e no
emprego. Já os defensores dos ciclos reais de negócios acreditavam que essas variáveis flutuassem inclusive
a curto prazo e que fossem as variáveis explicativas das flutuações do emprego e do produto.

Os novo‑clássicos não descartam mudanças no lado da oferta a curto prazo, mas enfatizam as mudanças
não previstas na demanda agregada como principal fonte das flutuações cíclicas no produto da economia.

Para os economistas dos ciclos reais de negócios, as análises empíricas que comprovam as origens das
flutuações econômicas pela mudança na demanda agregada são muito confusas. No limite, essa ideia parece
conflitar com o postulado de que os agentes racionais otimizam suas utilidades. Para os teóricos dos ciclos reais
64
MACROECONOMIA APLICADA

de negócios, mudanças não previstas na demanda agregada dificilmente geram flutuações grandes e custosas
no produto. De acordo com Barro (1989 apud FROYEN, 2006, p. 319): “se as informações sobre a moeda e o
nível geral de preços importassem muito para as decisões econômicas, as pessoas poderiam gastar recursos
relativamente baixos para obtê‑las rapidamente”. Considerando que os agentes não atuam dessa maneira,
Barro sugere, então, que talvez isso seja secundário ou mesmo que os agentes não estejam maximizando.

Há duas interpretações para a teoria dos ciclos reais de negócios:

• Fatores reais são mais relevantes que os nominais do lado da demanda para explicarem os ciclos
econômicos. Para eles, essa escola é um aprofundamento da escola novo‑clássica.

• Choques monetários ou nominais do lado da demanda não explicam os ciclos econômicos. Há inclusive
alguns modelos dos ciclos reais de negócios que não incorporam a moeda como uma variável relevante.

Os efeitos de um choque tecnológico positivo podem ser observados de forma sugestiva antes
mesmo de examinarmos o modelo básico de ciclos reais considerando fundamentalmente a função de
produção proveniente dos conhecimentos introdutórios de macroeconomia. Lembrando brevemente as
características da função de produção da economia, ela é basicamente o produto marginal da mão de
obra. Vejamos como um choque tecnológico (que eleva a produtividade) desloca a curva de produção:

f (K, N)1

Y1 f (K, N)0
Nível de produto (Y)

Y1’
Y0

N0 N1 Emprego (N)

Figura 23 – Efeito de um choque tecnológico positivo sobre a função de produção

Observando a figura apresentada, um choque tecnológico positivo – que desloca a função de produção
para cima, de f(K,N)0 para f(K,N)1 – permite um nível de produto maior com a mesma quantidade de
trabalho (de Y0 para Y1’). O que veremos é que, segundo os economistas dos ciclos reais, se o agente
econômico perceber essa mudança (o que será pressuposto que sim), ele reagirá trabalhando ainda mais
(elevando o nível de mão de obra de N0 para N1) com vistas a um produto maior (Y1).

A seção seguinte desenvolve justamente o modelo básico da escola de ciclos reais de negócios, que
defende essa perspectiva.
65
Unidade I

3.2 Modelo básico de ciclos econômicos reais

No modelo de ciclos reais de negócios, pressupõe‑se um agente representativo – seja esse um agente,
uma família ou uma empresa (que são grupos homogêneos) – que tem como objetivo maximizar a sua
utilidade ou o seu lucro, subordinado às restrições de recursos e às possiblidades de produção. O ponto
de partida são os fundamentos microeconômicos explicativos dos ciclos econômicos.

Seguindo Snowdon e Vane (2005), os modelos de ciclos reais apresentam as seguintes


características gerais:

• Os agentes formam expectativas racionalmente e não sofrem de assimetria de informação. De


todo modo, apesar de os preços esperados serem iguais aos preços reais, os agentes podem ainda
enfrentar um problema de extração de sinal para decidir se um choque particular de produtividade
é (ou não) temporário ou permanente.

• A flexibilidade de preços garante os ajustes contínuos de mercado, de modo que o equilíbrio


sempre prevalece. Ademais, não existem barreiras ou custos de transação.

• As flutuações do produto agregado e de emprego são movidas por grandes mudanças aleatórias na
tecnologia de produção disponível (choques tecnológicos exógenos atuam como os mecanismos
de impulsão desses modelos).

• Uma variedade de mecanismos de propagação leva adiante o impacto do impulso inicial.

• Flutuações no emprego refletem mudanças voluntárias no número de horas que as pessoas


escolhem dedicar ao trabalho (lazer e trabalho são considerados altamente substituíveis ao longo
do tempo).

• A política monetária é irrelevante, já que ela não é capaz de influenciar variáveis reais (ou seja, a
moeda é neutra).

• As diferenças entre curto e longo prazos nas análises de flutuações e tendências econômicas
são abandonadas.

Nesse modelo, a produção agregada de um único bem, que pode ser feita tanto para fins de consumo
como para investimento, é realizada a partir do pressuposto neoclássico de rendimentos de escala
constante, respeitando a seguinte equação:

Yt = AtF (Kt, Lt)

Em que:

Yt = produto da economia;

66
MACROECONOMIA APLICADA

Kt = estoque de capital;

Lt = quantidade de trabalho no tempo t;

At = fator de desvio de produtividade estocástico (ou choque). Por exemplo: choques de tecnologia,
fatores ambientais ou mudanças em regulamentações governamentais que afetam a produtividade e
mudanças na disponibilidade de matérias‑primas.

O choque pode ser representado por:

A t+1 = ρA t + ε t+1, 0 < ρ < 1

Considere ε um choque aleatório, o nível tecnológico no período t depende do nível tecnológico do


período anterior ajustado por um choque aleatório.

No modelo simples, supõe‑se um agente representativo que busca maximizar sua utilidade em cada
período de sua vida. A utilidade se dá entre a alocação de seu tempo em trabalho e lazer (há um modelo
trade‑off entre trabalho e lazer). Esse agente representativo se depara com a seguinte equação de utilidade:

Ut = U (C t ,Let ) , f ’(C t ) > 0 , f ’ (Let ) > 0

Em que:

U = utilidade;

Ct = unidades de consumo;

Let = horas de lazer.

Como o agente, para consumir, precisa trabalhar para gerar produto, o problema desse agente
representativo é maximizar a sua utilidade numa escolha intertemporal (a soma descontada da sua
utilidade atual e futura em um horizonte infinito de tempo), o que é dado por:

 ∞ 
Ut = maxEt ∑βt+ jµ ct+ j ,1 − L t − j  ' t  ,0 > β > 0
 j= 0 

Em que:

Ct = nível de consumo do agente representativo;

Lt = número de horas de trabalho;

67
Unidade I

1 – Lt – j = horas consumidas de lazer;

Et {.}= operador de esperança matemática;

Ωt = conjunto de informações nas quais as expectativas têm bases;

β = fator de desconto do agente representativo.

A função utilidade apresentada anteriormente é uma formalização da vontade do agente


representativo de substituir o consumo por lazer. O problema de escolha para o agente representativo é
como maximizar a utilidade (subjetiva) do seu tempo de vida (infinito), dadas as restrições de recursos
mostradas nas equações a seguir:

C t + It ≤ A tF (K t ,L t )

Essa equação indica que a soma do total do consumo (Ct) e do total do investimento (It) não pode
ser maior que o total da produção (Yt).

Lt + Le ≤ 1

O total de horas disponíveis para trabalho (L) e lazer (Le) é 1.

Já a evolução do estoque de capital (Kt+1) depende dos investimentos no período corrente (It), que
por sua vez dependem da poupança, e da taxa de depreciação, dada por δ:

K t+1 = (1 − δ )K t + It

Até aqui é importante entender que uma mudança na produtividade – por exemplo, um choque
tecnológico – irá resultar em uma resposta dinâmica do agente representativo ao maximizar sua utilidade.
O efeito disso é uma variação na produção, nas horas trabalhadas, no consumo e no investimento ao
longo dos períodos.

Para exemplificar o modelo, suponha um mundo onde não haja moeda nem instituições financeiras
e que esteja isolado. Caso ocorra um choque exógeno (alteração do At da equação do produto agregado),
haverá um aumento da produtividade do trabalho, o que significa que, a partir da mesma quantidade
de horas dedicadas ao trabalho, o agente econômico consegue produzir mais comparativamente ao
momento anterior ao choque de produtividade.

Dessa maneira, o agente, numa escolha intertemporal, prefere dedicar mais horas ao trabalho
no período corrente, reduzindo as horas usadas em lazer. O agente realizou com isso a substituição
intertemporal de lazer por trabalho. Na hipótese de o agente interpretar esse choque como temporário
e curto, ele substitui ainda mais lazer por trabalho, ou seja, intensifica essa substituição.

68
MACROECONOMIA APLICADA

Considerando que uma parte do aumento do produto agregado se transforme em poupança, isso
posteriormente se converterá em investimento no futuro ou ainda em ampliação de capital para os
períodos seguintes. Isso significa que um choque no período corrente, mesmo temporário, gera efeitos
para o futuro.

Observe que esse efeito se deveu basicamente a uma resposta do agente representativo diante da
percepção de um choque de produtividade. Portanto, os economistas dos ciclos reais apontam que, dado
esse aumento do produto e do investimento, essa expansão ocorreu a despeito de quaisquer intervenções
governamentais na economia. Desse fato, o agente racional é capaz de chegar a uma escolha ótima de
Pareto sem a necessidade de estímulos governamentais (lembrando que nessa economia não há moeda
nem instituições financeiras, mas que também não foram necessárias para estimular a economia).

De acordo com essa teoria, os agentes fazem escolhas intertemporais, de maneira que, quando o
salário real está mais alto, os agentes escolhem trabalhar mais no momento corrente em substituição
ao lazer e, quando o salário real está mais baixo, preferem lazer a trabalho.

Observação

Para entender um caso de substituição intertemporal de trabalho,


suponha que durante um período bienal os trabalhadores estejam
planejando trabalhar 4.000 horas (50 semanas x 40 horas x 2 anos) ao
salário vigente.

Se o salário não flutuar nesse período bienal, eles trabalharão


uniformemente, 2.000 h em cada ano, dado que se planejam para otimizar
a utilidade. Entretanto, se o salário no primeiro ano for somente 2% mais
alto que no segundo ano, eles preferirão trabalhar 2.200 h no primeiro ano
(eliminando as férias e fazendo horas extras) e apenas 1.800 h no segundo
ano. Substituindo entre os anos, trabalha‑se o mesmo tempo total, mas se
aumenta o rendimento.

A questão: é por que isso ocorre? Uma das explicações possíveis para esse fenômeno é que o
trabalhador, para consumir bens e serviços, precisa antes trabalhar. Dado que a restrição do consumo
é limitada pela renda, então, a depender do salário, os trabalhadores alocarão mais tempo para o
trabalho ou para o lazer. Alguns teóricos enfatizam o papel da taxa de juros reais nessa escolha
intertemporal com preços flexíveis. Havendo um aumento da taxa real de juros, há um incentivo para
que os trabalhadores ofertem mais trabalho no período corrente, devido ao aumento do salário diário
em relação ao futuro.

A oferta de trabalho pode ser expressa por:

SL = SL (W / P, r)

69
Unidade I

Em que:

SL = oferta de trabalho;

W/P = salário real;

r= taxa de juros.

Para entender a escolha intertemporal dos trabalhadores diante de uma mudança da taxa de juros,
basta resgatar uma relação da matemática financeira – valor presente e valor futuro – para expressar o
preço relativo intertemporal (PRI):

 W
 
P 1
PRI = (1 + r)
 W
 
P 2

Em que:

r = taxa de juros;

(W/P)1 = salário real corrente;

(W/P)2 = salário real futuro.

Supondo que (W/P)1 = 100, r1 = 0,05 (5% a.a.) e (W/P)2 = 100; havendo um aumento da taxa real de
juros para r2 = 0,1 (10% a.a.), então:

 W
 
100 P 1
(1 + 0, 05) = (1 + 0,1)
100 100

 W
 
P 1
(1, 05) =
100

 W
  = 100 x 1, 05 = 105
P 1

Dada essa equação, havendo um aumento da taxa real de juros, o salário real no presente será
maior conforme houver um aumento da taxa de juros (veja que partimos de um salário real no futuro
70
MACROECONOMIA APLICADA

dado e igual a 100; o salário real corrente saiu de 100 para 105). Portanto, há um incentivo para que o
trabalhador oferte mais trabalho no período corrente, em detrimento do futuro.

Observação

Taxa de juros, para a teoria de escolha intertemporal, expressa a escolha


intertemporal entre o consumo presente e o futuro. Portanto, a taxa de
juros é o prêmio que se recebe ao abrir mão do consumo presente para
consumir no futuro. Caso a taxa de juros esteja alta, dada esta teoria, é
preferível consumir no futuro, pois o prêmio é alto e, em detrimento disso,
reduz‑se o consumo presente.

Assume‑se que o consumidor seja forward‑looking e escolha o consumo


para o presente e o futuro a fim de maximizar o nível de satisfação ao
longo de toda a vida.

Outra maneira de entender esse processo e que está representada em Dornbusch, Fischer e Startz
(2009) supõe analisar inicialmente a restrição orçamentária do trabalhador. Essa restrição é dada pela
soma do consumo de toda a vida do trabalhador que se iguala à remuneração de toda a sua vida. Veja:

C t + C t+1 + C t+2 + … = wtL t + wt+1L t+1 + wt+2L t+2 + …

Em que:

Ct = consumo no período;

wt = salário no período;

Lt = quantidade de horas dedicadas ao trabalho.

O trabalhador se depara a cada período com o problema de maximizar utilidade entre horas dedicadas
ao trabalho ou ao lazer, sujeito à restrição orçamentária dada pela equação apresentada.

As utilidades marginais do consumo e do lazer podem ser expressas por:

Ut
UMgconsumo = γC tγ −1 ( L − L t ) = γ
Ct

βUt
UMglazer = βC tγ ( L − L t )
β −1
=
L − Lt

71
Unidade I

Para que a escolha seja um ótimo de Pareto:

UMglazer βU
= wt L − Lt = t
UMgconsumo ou γwt

Lembrando que UMg é a utilidade marginal, γ e β são coeficientes do consumo intertemporal e são
positivos, L são as horas dedicadas ao trabalho e Lt as horas disponíveis.

Se o trabalhador abrir mão de uma hora de lazer no período corrente, isso significa que ele ganhará wt a
mais que permite que ele acrescente wt / wt+1 de lazer no período seguinte. Isso pode ser representado por:

wt
UMglazer1 = ( wt+1) xUMglazer t+1

Igualando as utilidades marginais do lazer presente com o futuro, tem‑se a equação de substituição
intertemporal de lazer do trabalhador, dada por:

1− γ
L − L t  wt+1  1− γ −β
=
L − L t+1  wt 

Essa equação demonstra que caso o salário no período t+1 aumente 1%, considerando que o
1− γ
salário se mantenha inalterado nos outros períodos, o lazer no período t+1 reduzirá em . Se o
1− γ − β
lazer será mais ou menos sensível a mudanças temporárias do salário real, isso vai depender dos valores
de γ e β.

Os parâmetros γ e β são chamados de parâmetros estruturais na literatura de ciclos econômicos reais. Os


economistas que defendem essa abordagem argumentam que os modelos econômicos deveriam depender
justamente dos parâmetros que descrevem as preferências dos consumidores‑trabalhadores e dos que descrevem
a função de produção das empresas. No caso do modelo simples apresentado, se γ + β estiver próximo de 1, a
substituição intertemporal de lazer por trabalho será muito forte, de modo que os mecanismos de propagação
traduzirão choques tecnológicos relativamente pequenos em impactos maiores sobre do produto.

3.3 Choques reais (positivos e negativos)

Como os teóricos dos ciclos reais de negócios adotam algumas das principais hipóteses dos modelos
novo‑clássicos, aceitam certos resultados destes, particularmente o postulado da ineficácia das políticas
econômicas que atuam sobre a demanda agregada. Qualquer intervenção do governo, a partir de
políticas fiscai, por exemplo, pode levar a um desequilíbrio com redução do bem‑estar. Ora, dado que a
moeda é neutra a curto e a longo prazo, a política monetária também não apresenta efeito real sobre a
economia. Portanto, qualquer alteração sustentável do nível de produto envolve a alteração, no fundo,
do produto potencial, que para se modificar depende dos fatores de oferta.
72
MACROECONOMIA APLICADA

As flutuações são explicadas pela substituição intertemporal de lazer, por exemplo. Caso haja um
choque tecnológico com aumento de produtividade, ao salário real maior, os trabalhadores estarão
mais dispostos a substituir lazer por trabalho ao longo do ciclo econômico, o que gera um aumento
do produto potencial. Eles se preocupam com o esforço (quantidade de trabalho) total, mas não se
incomodam com quando trabalhar. Observe, contudo, que a substituição intertemporal do lazer não
implica que a oferta de trabalho seja sensível a mudanças permanentes no salário.

Esse choque temporário, em apenas um período, representado por At, dados Kt e Lt pode ser
representado na figura a seguir:

Y1 A1t (Kt, Lt)

Y1’ A0t (Kt, Lt)


Y0

N
N0 N1

Figura 24 – O efeito de um choque tecnológico positivo em um modelo de ciclos reais de negócios

O efeito do choque positivo leva a um deslocamento da curva de produção, conforme apontado pela
seta vermelha. Além disso, o próprio choque de produtividade gera um aumento da produtividade dos
fatores de produção, por exemplo, do trabalho, o que faz a curva ser mais sensível para qualquer nível
de trabalho.

A substituição intertemporal de lazer gera grandes movimentos na quantidade de trabalho realizado


em resposta a pequenas mudanças nos salários reais, mostrando que a elasticidade é elevada.

Outro exemplo que se pode examinar é em caso de um choque de produtividade negativo, como por
exemplo, uma externalidade positiva no fato do estabelecimento de uma lei ambiental ou um aumento
do custo das matérias‑primas, uma nova tributação sobre a produção. Esses atos aumentam o custo
para o produtor, o que leva a uma redução do produto potencial.

O efeito multiplicador dos ciclos econômicos é estimulado por perturbações que alteram os níveis
de equilíbrio do produto e do emprego em mercados específicos e na economia em geral. Principais
perturbações consideradas: choques sobre produtividade, ou choques da oferta e choques sobre a
despesa pública.

73
Unidade I

3.4 Neutralidade e não neutralidade da moeda

Uma pergunta que surge, após tudo o que já foi visto sobre keynesianos, monetaristas e novo‑clássicos,
sobre moeda e políticas econômicas, é: como os economistas dos ciclos reais lidam com a aparente
influência da moeda sobre as flutuações econômicas? Afinal, seus modelos mais simples sequer supõem
a existência de moeda.

O início da resposta já pode ser intuído pelo caráter neutro da moeda, uma propriedade que já havia
sido enfatizada pelos economistas novo‑clássicos. A questão é que, pelo menos até o final dos anos 1970,
importantes economistas, de variadas escolas de pensamento, concordavam que pelo menos a taxa de
crescimento da oferta de moeda tinha efeitos reais na economia e desempenhava um papel importante
em qualquer explicação das flutuações da produção (SNOWDON; VANE, 2005). As polêmicas davam‑se
em torno da força e do caráter da relação entre moeda e produção, bem como das capacidades das
políticas econômicas. Na verdade, desde a contrarrevolução monetarista difundiu‑se a ideia de que a
instabilidade monetária seria a principal razão de instabilidade real (aqui se referindo a impactos sobre
variáveis reais).

Sem embargo, a correlação positiva, bastante estabelecida, entre moeda e produto agregado pode
simplesmente indicar o fato de que a oferta agregada responde à atividade econômica (e não o contrário).
Assumir essa relação de “resposta monetária” à atividade significa tomar a moeda como um fenômeno
endógeno ao ciclo econômico. Isto é, sendo a relação de causalidade inversa, seriam as expectativas de
expansão futura da produção o que provocariam o aumento da oferta de moeda.

Segundo os teóricos dos ciclos reais de negócios, a demanda por moeda se expande durante
expansões dos negócios e provoca uma resposta flexível da oferta de dinheiro (SNOWDON; VANE, 2005).
Diversos estudos de caso foram realizados com resultados que sustentaram essa hipótese.

Seguindo as explicações de Snowdon e Vane (2005), vale destacar que, apesar de os modelos
iniciais de ciclos reais de negócios terem sido construídos sem características monetárias, muitos
modelos posteriores concluíram que a inclusão de um setor monetário seria desnecessária, na medida
em que não alteraria as conclusões centrais dos modelos: a relação entre moeda e produto refletiria
justamente a endogeneidade da moeda. Uma maneira de formalizar essa característica é, por exemplo,
ao definir o setor financeiro como uma indústria que fornece um fluxo de serviços contábeis voltados
para facilitar as operações de mercado. Aliás, como os serviços financeiros podem ser produzidos
mais rapidamente que os demais produtos finais, a própria variação de depósitos bancários seria um
indicador importante dos ciclos de negócios (é de se esperar que a expansão dos serviços financeiros
ocorra antes da expansão da produção).

Curiosamente, o argumento dos ciclos reais de negócio de que a moeda é endógena corresponde
a uma das principais proposições do pensamento pós‑keynesiano. Tomando como referência a teoria
quantitativa da moeda (TQM), tanto os teóricos pós‑keynesianos quanto os do ciclo real de negócios
pareceriam concordar com o argumento de que a TQM (MV = PY) deveria ser lida, em termos causais,
da direita para a esquerda.

74
MACROECONOMIA APLICADA

Contudo, as aparentes semelhanças param por aí. Isso porque, segundo Charles Plosser (economista
americano e um dos expoentes da teoria dos ciclos reais), por exemplo, mesmo a capacidade de os
governantes implementarem políticas de surpresa (algo reconhecido pelos novo‑clássicos) não existiria
(CARVALHO et al., 2012).

Como os agentes formam expectativas racionais (e não desperdiçam informações, vale lembrar),
eles incorporam em suas decisões o modelo decisório dos dirigentes do Banco Central, que com o
tempo se torna conhecido para todos os agentes, de modo que as flutuações de produto não podem ser
explicadas pela falta de informação (expressa por uma política não antecipada).

Nesse caso, recuperando o que vimos sobre os novo‑clássicos, a função oferta de Lucas, em termos
de taxa de desemprego, seria a seguinte:

( ) ( )
Ut = UN + α P − P e + β , restrição: P − P e = 0

Não existindo sequer a possibilidade de decepção de expectativas de preços, a moeda se torna


superneutra (CARVALHO et al, 2012). Afinal, os choques estão do lado da oferta, e não da demanda,
portanto as variações de produto e emprego não decorrem de choques monetários, sejam eles
supostamente antecipados ou não antecipados.

3.5 Críticas ao enfoque dos ciclos reais

A observação da estrutura das proposições da teoria dos ciclos reais (especialmente seus pressupostos),
bem como diversas de suas conclusões, denotam, para muitos economistas, uma radicalidade extrema.

A crítica mais evidente é que considerar os ciclos econômicos (reais) como fenômenos de
equilíbrio é uma noção inconcebível. As mais variadas abordagens macroeconômicas convencionais
destacam que as flutuações têm fundamentos da demanda agregada e da oferta agregada e que,
portanto, é importante a ação diante dos desvios custosos em relação ao produto potencial (ou
para alcançar esse patamar).

Como destacam Snowdon e Vane (2005), a análise neoclássica convencional de oferta de mão de
obra destaca dois efeitos opostos de um aumento no salário real. Por um lado, um salário real mais
elevado induz um aumento na oferta de mão de obra (por meio do efeito‑substituição, entre trabalho
e lazer); por outro, um salário real maior também tem um efeito‑renda, o que estimula o trabalhador a
dedicar mais horas ao lazer. No caso dos modelos de ciclos econômicos reais (CER), o efeito‑substituição
deve ser superior ao efeito‑renda; caso contrário, não é possível justificar que choques tecnológicos
induzam variações no nível de emprego. Uma crítica, baseada em evidências tratadas em vários trabalhos,
é que a elasticidade de substituição intertemporal da oferta de trabalho aponta uma fraca resposta
a mudanças salariais transitórias. Ora, se essa elasticidade de substituição intertemporal é baixa, os
choques tecnológicos tendem a produzir uma variação muito maior nos salários reais do que no nível
de emprego, ele a observação empírica aponta grandes variações no emprego – o que indicaria que a
explicação não está na substituição intertemporal.

75
Unidade I

Além disso, outros críticos apontam que a taxa de juros não é uma variável tão importante na tomada
de decisão dos ofertantes de mão de obra. Como é possível os agentes estabelecerem expectativas
futuras precisas das taxas de juros e dos salários reais a fim de tomarem suas decisões de substituição
intertemporal? Um crítico mais franco poderia responder que isso somente é possível nos modelos pelos
próprios pressupostos heroicos estabelecidos neles.

Outra questão que é objeto de severas críticas é a dependência dos choques tecnológicos pelos
modelos de CER. Como destacam Snowdon e Vane (2005), muitos economistas duvidam que os
choques tecnológicos necessários para impulsionar os fenômenos trabalhados pelos CERs sejam mesmo
suficientemente grandes ou razoavelmente frequentes. Podemos destacar aqui pelo menos três razões
para essa dúvida:

• As observações sugerem que a difusão tecnológica tende a ser lenta.

• O processo de difusão tecnológica, no agregado, tende a produzir resultados suaves no


produto agregado.

• A regressão técnica necessária para produzir recessões (afinal as flutuações econômicas são
fundamentalmente causadas por choques tecnológicos) não encontra microfundamentações plausíveis.

O que nos leva a outra crítica, relacionada à ideia de recessões como períodos de regressão
tecnológica. Como as recessões são eventos importantes no sistema econômico, elas detêm grande
atenção tanto dos formuladores de política quanto dos meios de comunicação. Contudo, não existem
discussões sobre queda da tecnologia disponível; se ocorresse efetivamente algum choque tecnológico
negativo, a sociedade já saberia.

Uma resposta dos teóricos de CER é que choques tecnológicos significam quaisquer alterações nas
funções de produção (ou de modo mais geral, dos conjuntos de possibilidades de produção rentáveis).
Desse modo, como exemplo de choque tecnológico, poderiam ser elencadas alterações de marcos legais
e institucionais ou barreiras regulatórias (SNOWDON; VANE, 2005).

O tema do desemprego também não passa incólume às críticas. Nos modelos de CER o
desemprego é voluntário ou completamente ausente. Tomando como referência experiências
históricas marcantes, por exemplo, a Grande Depressão nos Estados Unidos, argumentar que
aquele processo histórico se deveu, economicamente, a choques de produtividade e substituição
intertemporal desafiaria a credulidade de qualquer pessoa sensata, diria um economista crítico
e franco. Aliás, tomando algumas referências históricas, a crítica à inexistência de desemprego
involuntário nos modelos teóricos de CER se aplica também aos modelos novo‑clássicos (fatos
estilizados sobre desemprego na Europa nos anos 1980 demonstram a existência de um expressivo
volume de desemprego involuntário).

A variedade de críticas aos CERs é grande. Uma delas se refere à tese da superneutralidade da
moeda, que à semelhança da tese de neutralidade dos novo‑clássicos é recorrentemente criticada pelo
pensamento pós‑keynesiano (para citar apenas uma tradição crítica a esse tipo de tratamento da moeda).
76
MACROECONOMIA APLICADA

Outro elemento estruturante dos modelos de CER que é bastante criticado é o uso generalizado
da noção de agente representativo. Com esse recurso os teóricos de CER se desviam dos problemas de
agregação inerentes às análises macroeconômicas, apoiando‑se na hipótese de que as escolhas desse
agente coincidem com as ações agregadas de milhões de agentes heterogêneos. Desaparecem assim
problemas caros ao debate macroeconômico, como coordenação, associação e informação assimétrica
(SNOWDON; VANE, 2005).

4 MODELOS NOVO‑KEYNESIANOS

A economia novo‑keynesiana é uma linha de pesquisa que surge na década de 1980, cujo
arcabouço teórico incorpora elementos da teoria microeconômica e agentes econômicos que formam
expectativas racionais, entretanto considera os elementos centrais da teoria keynesiana. Faz‑se uma
crítica aos economistas novo‑clássicos e, principalmente, a sua teoria dos ciclos reais de negócios, mas
consideram‑se preços e salários rígidos a curto prazo.

A economia novo‑keynesiana faz um contraponto à economia novo‑clássica que surgiu nos anos
1970, em que retoma os postulados de racionalidade dos agentes econômicos da escola neoclássica
ou marginalista, cujos agentes formam suas expectativas sobre as variáveis econômicas com base em
preços e salários flexíveis, e informações simétricas ou perfeitas.

A formação de expectativas sustenta a necessidade de agentes econômicos racionais e com capacidade


analítica para criar e entender o processo de formação de preços e a possibilidade de mercados em
equilíbrio. Esse ponto torna a teoria macroeconômica dependente dos fundamentos microeconômicos.

Para se contraporem à escola novo‑clássica, os economistas novo‑keynesianos iniciam seus estudos


pelo pressuposto dos preços e salários rígidos e desequilíbrio dos mercados, por exemplo, o mercado
de trabalho em que há trabalhadores desempregados de forma involuntária, portanto em desequilíbrio,
e não em pleno emprego. Portanto, o debate teórico entre os novo‑clássicos e novo‑keynesianos
apresentou avanços significativos, mas restritos à microeconomia, cuja macroeconomia é a análise das
variáveis agregadas, e não das variáveis de alguns mercados em que a escola novo‑keynesiana faz
críticas à teoria dos ciclos reais de negócios e resgata elementos da teoria keynesiana.

Keynes, em seu livro A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda (1936), procura explicar a
existência do desemprego involuntário e a rigidez de salários, por meio da tese da demanda efetiva,
segundo a qual a demanda agregada determinaria o produto e impactaria o nível de emprego. Conforme
Froyen (2006, p. 328‑329):

Uma queda na demanda agregada por mercadorias, por exemplo, leva a


uma queda na demanda por mão de obra. Como resultado da existência
de contratos de trabalho com salários fixos, e das expectativas de preços
retrospectivas dos trabalhadores, o salário monetário não cairá o suficiente
a curto prazo para manter o nível de emprego inicial. Emprego e produto
cairão. O desemprego aumentará.

77
Unidade I

A linha de pensamento econômico novo‑keynesiana tem como principal objeto de pesquisa


o desemprego involuntário. O campo de pesquisa tem sido a microeconomia como forma de
contrapor as críticas novo‑clássicas à teoria keynesiana e evidenciar os pontos microeconômicos da
macroeconomia keynesiana.

Os pontos microeconômicos baseiam‑se em agentes racionais e preços e salários rígidos que


pressupõem uma estrutura de mercado em concorrência imperfeita para o mercado de bens e serviços.
A rigidez não é apenas de variáveis nominais, como o salário monetário corrente, mas também de
variáveis reais, como o salário real, ou dos preços relativos das empresas diante de mudanças na
demanda agregada.

4.1 Modelos de preço rígido (custos de menu)

A teoria econômica keynesiana, ao tratar a economia em uma situação de desequilíbrio, isto é, a


demanda agregada efetiva abaixo da demanda agregada de pleno emprego, demonstra que o salário
monetário não era flexível, ou seja, em uma situação de crise, uma redução dos salários não levava a um
ajuste nos níveis de produto e emprego, e muito menos ao equilíbrio da economia.

Observação

A teoria clássica, ao adotar os pressupostos de concorrência perfeita,


agentes racionais e preços e salários flexíveis, afirmava que em uma crise
a queda dos salários leva as empresas a contratar mais trabalhadores, e a
queda dos preços eleva a demanda por bens e serviços.

A questão dos preços rígidos é um ponto essencial para os novo‑keynesianos, pois permite analisar
a economia em estruturas de concorrência imperfeita. Na concorrência perfeita, os preços são
determinados pelas forças de oferta e demanda, em que empresas são tomadoras de preços e não têm
poder para formar os preços de bens e serviços, sendo as curvas de demanda elásticas. Se os preços
apresentarem uma tendência de queda, todas as empresas reduzirão os preços.

Entretanto, analisando o mundo real, há várias empresas com poder de mercado (monopolisticas,
oligopolistas e concorrentes monopolísticos) que não reduzem preços diante de uma queda no nível de
atividade. Há situações em que as empresas mantêm os preços de bens e serviços constantes, mesmo
diante um cenário de queda da demanda agregada, pois a mudança de preços representa um custo
adicional que supera o benefício da redução de preços.

Esses custos adicionais ao alterar preços são chamados de custo de menu pela linha
novo‑keynesiana, em alusão aos restaurantes que trabalham com menus sofisticados, cuja alteração
de preços exigirá a impressão de novos menus. Outro exemplo são as empresas que trabalham com
listas de preços e ao alterá‑los necessitam da confecção de novas listas de preços, tendo, por
consequência, custos adicionais.

78
MACROECONOMIA APLICADA

Alterações constantes de preços podem gerar a perda de clientes e consumidores, que podem
considerar a empresa exploradora. Outro fato relacionado a alterações de preços é que as empresas
que passam a reduzir preços são seguidas por outras, resultando em uma guerra de preços, fato que
acontece muito em estruturas de mercado oligopolista.

Caso a alteração de preços represente custos altos, haverá rigidez de preços. A queda da demanda
agregada causa redução de produtos e empregos, e não diretamente alterações de preços, principalmente,
em setores com estruturas de mercado imperfeitas.

Saiba mais

Sobre rigidez de preços e salários, leia:

DATHEIN, R. O crescimento do desemprego nos países desenvolvidos


e sua interpretação pela teoria econômica: as abordagens neoclássica,
keynesiana e schumpeteriana. 2000. Tese (Doutorado em Economia) –
Instituto de Economia, Unicamp, Campinas, 2000.

4.2 Modelos de salário de eficiência

O salário eficiência (e) na teoria novo‑keynesiana é o salário acima da média de mercado e que
gera maior produtividade e reduz a rotatividade do trabalhador, portanto a eficiência desse trabalhador
possui uma relação positiva com o salário que ele recebe.
e

e2

e1

w/p 1 w/p 2 w/p

Figura 25 – Relação entre eficiência do trabalhador e salário real

79
Unidade I

A formalização dessa premissa da teoria novo‑keynesiana pode ser expressa da seguinte forma:

e = e(w/p), em que:

e = é o índice de eficiência ou produtividade do trabalhador;

w = é o salário nominal;

p = é o índice de preço;

w/p = é o salário real.

O produto é determinado pela quantidade de fatores de produção. De forma clássica, os fatores de


produção estão divididos entre capital e trabalho. Como o produto depende desses dois fatores, cujo
trabalhador está em função do salário real que recebe, podemos formalizar como o índice de eficiência
determina o produto da seguinte forma:

y = F[K, e(w/p) N] em que:

y = é o produto

K = é o fator de produção capital;

e(w/p) = é o índice de eficiência do trabalhador em relação ao salário real;

N = é o fator de produção trabalho.

Como o produto (y) também é determinado pela quantidade de mão de obra (N), também será
medido em unidades de eficiência do trabalhador ou mão de obra, que é igual ao número de unidades
físicas (N), isto é, mensurado em trabalhador/horas multiplicado pelo índice de eficiência. Assim, o
produto tende a aumentar com o aumento do número de trabalhadores (N) e/ou com o aumento da
eficiência da força de trabalho, e(w/p). Segundo Froyen (2006, p. 333)

[...] a meta da firma é estabelecer o salário real de forma que o custo de uma
unidade de eficiência de mão de obra seja minimizado ou, dizendo de outro
modo, maximizar o número de unidades de eficiência de mão de obra compradas
com cada unidade monetária despendida na folha de pagamento. Isso é feito
aumentando o salário real até o ponto em que a elasticidade do índice de
eficiência e(w/p) em relação ao salário real seja igual a 1.

Isso significa que uma mudança percentual em cada uma das variáveis, isto é, a eficiência de mão
de obra e o salário real, alteram o produto, sendo necessário um ponto que maximize a produtividade
(produto) a um nível de salário ótimo ou salário eficiência ótimo, (w/p)*. Podemos formalizar a elasticidade
da seguinte forma:
80
MACROECONOMIA APLICADA

Elasticidade e(w/p), (w/p) = [∆% e(w/p) / ∆% (w/p)]

Fazemos a leitura da equação apresentada da seguinte forma: dada a variação percentual (∆%) do
salário real, w/p, qual é a variação percentual (∆%) no índice de eficiência do salário real, e(w/p)?

Observação

A elasticidade representa a sensibilidade entre duas variáveis. Aqui,


a relação é entre salário real e produtividade, isto é, dado um salário real
acima da média de mercado, o trabalhador apresenta maior produtividade.
Podemos concluir que esse trabalhador e a sua produtividade são sensíveis
ao salário real que está sendo pago e é considerado como salário‑eficiência.

A ideia é que um aumento de 10% do salário real eleve em 20% a eficiência do trabalhador, logo empresa
irá beneficiar‑se desse aumento devido ao aumento da produtividade, isto é, cada unidade monetária da
folha de pagamento compra o dobro em unidades de eficiência. Esses aumentos adicionais na folha de
pagamento serão realizados até um ponto ótimo (elasticidade unitária), em que os ganhos em eficiência
começarão a ser decrescentes. Por exemplo, no ponto em que um aumento de 10% no salário real levar
apenas aos mesmos 10% de aumento na eficiência. Já no ponto em que um aumento de 10% no salário real
levar a 5% de aumento na eficiência, a empresa não considerará ótimo aumentar ainda mais o salário real.

Analisando o mercado de trabalho, em muitos casos, o pressuposto do salário‑eficiência, ou melhor,


a determinação dos salários reais de alguns trabalhadores e setores ocorrem com base na produtividade
do trabalho, isto é, na eficiência. Não são os salários reais que se ajustam para equilibrar o mercado de
trabalho, as empresas é que determinam o salário real acima da média salarial ou o equilíbrio de mercado,
cujo resultado pode ser o desemprego involuntário persistente em forma de menos trabalhadores e
maior produtividade.

Froyen (2006, p. 334‑335) apresenta algumas explicações lógicas dos salários‑eficiência:

O modelo da leniência. Definindo o salário real acima do nível vigente no


mercado (isto é, a próxima melhor oportunidade para o trabalhador), a firma
dá ao funcionário um incentivo para não “fazer corpo mole” no serviço. Se
ele fizer, poderá ser demitido, e ele sabe que seria difícil encontrar outro
emprego com um salário tão alto. Se as firmas só tiverem condições de
monitorar o desempenho no trabalho de forma imperfeita e com algum
custo, essa estratégia de salários altos pode ser lucrativa.

Modelos de custos de rotatividade. Ao pagar um salário acima do nível de


mercado, as firmas podem reduzir as taxas de abandono de emprego e, assim,
os custos de recrutamento e treinamento. O salário alto também permite
que elas desenvolvam um contingente de mão de obra mais experiente e,
portanto, mais produtivo.
81
Unidade I

Modelos de reciprocidade. Outra explicação para a eficiência depender


do salário real centra‑se no estado de ânimo dos trabalhadores. De
acordo com essa argumentação, se a firma pagar um salário real
acima do salário de equilíbrio de mercado, melhorará o moral dos
trabalhadores, que se esforçarão mais. A firma dá aos trabalhadores o
presente de um salário acima do mercado, e os trabalhadores retribuem
com uma maior eficiência.

Essas lógicas podem ser aplicadas em várias ocupações do mercado de trabalho. Por exemplo,
ocupações com elevada qualificação, seja de ensino superior ou ensino técnico, como diretores de
empresas, metalúrgicos e petroquímicos, entre outras. O salário‑eficiência passa a ser importante, pois
representa o salário real definido acima do salário do nível de equilíbrio de mercado, o que poderá
causar o desemprego involuntário, levando trabalhadores a procurar empregos com altos salários e a
não aceitar empregos com salários médios e mais baixos.

Dado que o salário real é fixado com base na eficiência, em alguns casos, podemos afirmar que os
modelos de salário‑eficiência explicam a rigidez real devido a uma parte dos trabalhadores não aceitar
trabalhar para ganhar a média salarial, portanto a rigidez real pode explicar o desemprego involuntário.

Entretanto, a rigidez do salário real referente ao pagamento de salários‑eficiência não explica como
ocorrem às oscilações na demanda agregada, que, por sua vez, impactam os níveis de produto e emprego,
que, sendo uma queda da demanda agregada, resulta em desemprego involuntário.

Caso o Banco Central adote uma política monetária contracionista, isto é, reduza a base monetária,
haverá uma redução nominal da demanda agregada, pois as empresas tendem a reduzir preços para
manter as vendas, bem como diminuição do salário monetário ou nominal na mesma proporção dos
preços para manter o salário real igual ao salário‑eficiência, (w/p)*. No entanto, as empresas podem não
reduzir preços devido aos custos de menu, e o salário real vinculado ao salário‑eficiência será mantido
constante devido ao fato de o salário monetário ou nominal ser fixo. Nesse caso, a redução na demanda
agregada provoca uma queda dos níveis de produto e emprego, elevando o desemprego involuntário.

Dessa forma, o salário monetário constante ou fixo caracteriza a rigidez nominal que, relacionada
aos custos de menu, provoca a rigidez do salário real e dos salários‑eficiência, em que a combinação
desses fatores provoca o desemprego involuntário.

4.3 Modelos insider‑outsider ou incluído‑excluído e histerese

A agenda de pesquisa keynesiana tem constatado a persistência de elevadas taxas de desemprego


da década de 1980 em diante, quando comparado ao período do Pós‑Segunda Guerra (1945‑1975),
conhecido como “os anos dourados do capitalismo” ou “trinta anos gloriosos”.

Há a hipótese de que a taxa de desemprego presente tenha uma relação com a taxa de desemprego
passada, em que economias podem estar em armadilhas de desemprego que persistem por um longo
período, caracterizando uma taxa de desemprego natural (Nairu).
82
MACROECONOMIA APLICADA

Utiliza‑se o termo histerese para tratar variáveis que apresentam uma variação e tendência
que se afasta de um valor ou média inicial e não volta a apresentar tendência de retorno para
esse mesmo valor ou média iniciais, mesmo quando a conjuntura econômica volta a ser a mesma,
em que modelos de histerese voltados para a taxa de desemprego explicam a persistência de altas
taxas de desemprego dentro desse contexto. Por exemplo, se a média de desemprego é de 7% ao
ano dentro de uma conjuntura em que a economia cresce 5% ao ano, mas, numa dada recessão
econômica, a taxa de desemprego sobe para 10% ao ano e permanece a mesma em um cenário no
qual a recessão econômica é superada, isto é, com crescimento econômico, denominaremos esse
fato de histerese.

Um dos modelos que explicam a histerese na taxa de desemprego é o modelo insider‑outsider ou


incluído‑excluído, que é um modelo de preços rígidos em um ambiente de concorrência imperfeita nos
mercados de trabalho e de bens e serviços. Veja o exemplo de Froyen (2006, p. 336):

[...] vamos examinar uma situação com um sindicato no lado dos


empregados e poucas firmas empregadoras; por exemplo, a indústria
siderúrgica alemã. Os membros do sindicato, que chamaremos de
incluídos (de dentro), têm poder de negociação com os empregadores
porque é caro substituí‑los por excluídos (de fora – nesse caso,
trabalhadores não pertencentes ao sindicato). O custo de substituí‑los
é um custo de recrutamento e treinamento de novos trabalhadores.
Os membros do sindicato também podem impor custos aos excluídos
que tentem aceitar empregos por salários mais baixos, fazendo uso de
piquetes, por exemplo.

Pressupõe‑se que os incluídos usem seu poder de negociação para empurrar


o salário real para cima do nível de equilíbrio do mercado, o que resulta em
um grupo de excluídos desempregados. Os incluídos só empurrarão o salário
real para cima até certo ponto, porém, porque quanto mais alto o salário
real, menos incluídos estarão empregados.

O sindicato formado pelos incluídos tem informações do total de trabalhadores incluídos e do


seu nível salarial, por isso acompanham tanto o nível de empregos quanto a demanda por mão
de obra das empresas. Há uma relação negativa entre demanda por trabalho e o salário real, por
isso, quando o salário real sobe, poderá haver queda da demanda por mão de obra, causando o
desemprego involuntário.

Os sindicatos tentam negociar com as empresas um nível de salário que mantenha o nível de
emprego de todos, entretanto, uma queda na demanda agregada da economia leva a uma queda do
produto e do emprego, que eleva o desemprego involuntário dos trabalhadores incluídos. Portanto, o
modelo incluído‑excluído estuda o desemprego, que é resultado das questões salariais, isto é, do salário
real acima do salário de equilíbrio somado a crises de demanda agregada, resultando em desemprego
involuntário de trabalhadores incluídos e excluídos.

83
Unidade I

As crises econômicas dos anos 1980 em diante elevaram o contingente de trabalhadores


desempregados, em que trabalhadores sindicalizados deixaram os sindicatos e tornaram‑se excluídos. Esse
fato reduz o número de trabalhadores incluídos. Em uma conjuntura econômica favorável, os sindicatos
lutam por salários reais mais elevados que o nível salarial vigente no período de crise econômica. Com
menor contingente de trabalhadores sindicalizados na ativa (incluídos), há uma tendência de um salário
real mais alto, mas com o nível de emprego mais baixo, cujos excluídos não são levados em conta e
elevam a taxa de desemprego.

Saiba mais

A questão do desemprego é um grande problema econômico. O Banco


Mundial, em seus estudos de casos, vem pesquisando uma tendência nos países
de crescimento econômico sem emprego, conhecida como jobless growth.

Para aprofundar seus conhecimentos a respeito do tema, leia:

VERME, P. et al. Labor mobility, economic shocks, and jobless growth:


evidence from Panel Data in Morocco. The World Bank, 2014. Disponível
em: <http://documents.worldbank.org/curated/pt/608451468062117236/
pdf/WPS6795.pdf>. Acesso em: 18 nov. 2016.

Nesse caso, a taxa de desemprego passada eleva a taxa de desemprego presente ao transformar
trabalhadores incluídos em excluídos, ou seja, causa histerese e armadilha do desemprego.
Devido à falta de força política e econômica dos trabalhadores excluídos, eles não participam do
processo de negociação salarial e assim não conseguem, mesmo com uma proposta salarial mais
baixa, voltar à ativa.

Os modelos que trabalham com a hipótese de histerese na taxa de desemprego, isto é, o modelo
insider‑outsider ou incluído‑excluído, passaram a explicar as elevadas taxas de desemprego em países
europeus, as quais se mantiveram a longo prazo.

4.4 Modelos de contratos sobrepostos de Taylor

Há modelos afirmando que a concorrência imperfeita no mercado de trabalho é que poderia explicar
os aumentos das taxas de desemprego de longa duração, em que os contratos de trabalho que fixam
salários são geradores de rigidez e desemprego involuntário.

Nessa linha de pensamento, o modelo de contratos sobreposto de John Taylor tem como base a
teoria dos ajustes nominais incompletos que explica a elevação da demanda agregada por meio de uma
política monetária expansionista que eleva o produto interno bruto, ao contrário da teoria quantitativa
da moeda (TQM), em que a moeda é neutra.

84
MACROECONOMIA APLICADA

Esse modelo leva em conta expectativas racionais, preços e salários rígidos, e procura analisar o
comportamento dos preços e salários no produto real. Na questão dos salários, evidencia que o processo
de ajustamento ocorre por meio da interação dos trabalhadores com as empresas e que há vários
contratos de trabalho com diferentes ajustes salariais entre os trabalhadores.

Na questão de preços, o modelo de John Taylor explica que a premissa de rigidez existe, mas pode ser
falha em alguns mercados, pois há preços que mudam, mas não todos no mesmo período, isto é, não há
uma sincronização devido às várias estruturas de mercado diferentes e que adotam políticas de preços
diferentes em cada setor. Segundo Silva (2012, p. 7):

Com base em sua revisão das teorias e estudos empíricos, Taylor (1999)
chega a algumas conclusões: (1) a incidência de salários rígidos é mais
frequente que a de preços rígidos, o que não indica qual dos dois é
mais importante. Enfatiza ainda que, para que os salários e preços
sejam perfeitamente flexíveis, é necessária a informação completa, e
na ausência desta, tais variáveis são temporariamente rígidas; (2) há
heterogeneidade na formação de salários e de preços, além disso, estes
mudam a depender do setor; (3) nem os preços e nem os salários são
sincronizados, exceto para casos em que a economia é sindicalizada,
e, deste modo, os empregados possuem algum poder de barganha; e,
finalmente, (4) a frequência na mudança de preços e salários depende
da taxa de juros.

John Taylor apresenta resultados que estão próximos da teoria novo‑keynesiana, em que afirma que
choques monetários impactam tanto a inflação como o produto real. Portanto, a política monetária
impacta variáveis reais e os preços não são totalmente flexíveis, logo a neutralidade da moeda não
explica as variações da demanda agregada, mas a teoria do ajuste nominal incompleto e sua análise sobre
a política salarial adotada pelas empresas se aproximam de uma melhor explicação do comportamento
dos níveis de emprego e salários, e da demanda agregada.

O modelo de John Taylor também tem como base os estudos sobre a persistência da taxa de
desemprego nos Estados Unidos no período do pós‑guerra, cujos modelos econômicos empíricos
de flutuações econômicas trabalham com rigidez de preços e salários, e assimetria de informação.
Segundo Silva (2012, p. 9), o modelo de Taylor trabalha dentro de um contexto de expectativas
racionais supondo duas hipóteses principais:

1) Os contratos de trabalho são sobrepostos, de forma que as decisões de


salários da economia não serão feitas conjuntamente;

2) As decisões salariais são tomadas com base no nível de salário


que se encontra em vigor no conjunto de firmas, o que transfere
os efeitos dos choques de um contrato para outro, [...] como um
contrato multiplicador.

85
Unidade I

Simonsen e Cysne (2009) afirmam que o modelo de contratos justapostos ou sobrepostos de Taylor
com expectativas racionais não implica a neutralidade da política monetária esperada, em que admite
que ajustes dos contratos salariais entre os vários trabalhadores de diversos setores são formalizados
em períodos diferentes, resultando em uma inércia fraca, isto é, preços e salários estão vinculados aos
valores passados em função dos contratos que vencem e são atualizados.

Portanto, os contratos salariais geram a rigidez de salários, em que o aumento salarial não é
em conjunto, sendo a política monetária importante instrumento de determinação da demanda
agregada nominal e dos níveis de produto e emprego, ao elevar os salários nominais e reduzir o
desemprego involuntário.

Resumo

O modelo monetarista busca reafirmar a importância econômica


da moeda e, portanto, das políticas monetárias na explicação das
flutuações econômicas. Para tanto, Friedman (1985) empreendeu uma
reformulação da teoria quantitativa clássica, originando assim uma
equação quantitativa que é a base para uma teoria da demanda por
moeda, mais do que uma teoria da determinação do nível de preços e
da renda nominal.

Suas principais proposições admitem que a oferta de moeda tenha


influência sobre as variações da renda nominal, a curto prazo, e que a
longo prazo só afetaria os preços e variáveis nominais. Além disso, adota o
pressuposto de que o setor privado seria inerentemente estável.

Através da hipótese de expectativas adaptativas, os monetaristas


explicam as variações do emprego e do produto, a curto prazo, em razão
de desequilíbrios no mercado de trabalho originados por erros de previsão
sobre a inflação esperada, mas a longo prazo adaptariam suas expectativas
quanto aos níveis de preços e salários.

No debate sobre a curva de Phillips, o monetarismo formula uma


versão aceleracionista que poderia explicar a aceleração da inflação
como o resultado de políticas econômicas equivocadas de estímulo à
demanda, com o intuito de diminuir a taxa de desemprego além de sua
taxa natural.

No modelo monetarista, o papel da política fiscal seria ineficiente ao


passo que a política monetária deveria seguir uma regra, principalmente,
por seus impactos a curto prazo no nível de produto e emprego. Essa regra
consiste no controle da quantidade de moeda.

86
MACROECONOMIA APLICADA

O pensamento novo‑clássico, marcado destacadamente pela chamada


“revolução das expectativas racionais”, pode ser lido como uma grande crítica à
economia keynesiana (pelo menos àquela desenvolvida até o final dos anos 1960).

Essa abordagem, que se pretendeu revolucionária, não apenas criticou


as bases teóricas do modelo keynesiano, como buscou radicalizar as
hipóteses já presentes na “contrarrevolução monetarista”.

Enquanto os “keynesianos” utilizariam como regra a noção de que o


preço esperado seria uma função do comportamento passado dos preços,
os novo‑clássicos radicalizam a hipótese de expectativas (adaptativas), já
sugerido por Friedman (1985), lançando a ideia de expectativas racionais.
Além disso, a noção de que os salários (e preços) seriam “rígidos” é
substituída pela noção de preços flexíveis – todos os mercados, incluindo o
de mão de obra, continuamente se equilibram.

Baseado na hipótese de expectativas racionais, de equilíbrio contínuo


de mercado e da curva de oferta de curto prazo vertical (curva de Lucas),
o programa de investigações novo‑clássico procurou estabelecer respostas
alternativas àquelas difundidas pela “revolução keynesiana” sobre por que
existiriam desvios prolongados tanto do produto quanto do emprego em
relação aos níveis de pleno emprego dos fatores.

Desse programa de investigação surgiram as considerações sobre


a ineficácia das políticas econômicas, dada a incapacidade das políticas
macroeconômicas de afetarem decisivamente variáveis reais, além de
provocar novos debates em torno das características da curva de Phillips.

Como apenas as políticas não antecipadas seriam capazes de produzirem


efeitos de curto prazo, elas poderiam induzir as autoridades a adotarem
posturas aleatórias e erráticas na condução da política, sem avaliarem os
custos posteriores da desinflação e os variados prejuízos produzidos por
taxas significativas e persistentes de inflação. Visando superar esse viés
inflacionário se difundiram as ideias de independência do Banco Central,
baseadas no trinômio credibilidade – reputação – delegação.

Mesmo supondo informação imperfeita, como é o caso do modelo de


“ilhas” de Lucas, os resultados seriam muito semelhantes àqueles previstos
sob o pressuposto de informação perfeita. As proposições clássicas de
políticas não intervencionistas tinham agora um reforço com a introdução
do pressuposto de expectativas em substituição ao pressuposto de
informação perfeita, mantendo os resultados mais evidentes: políticas
significativas de administração e intervenção na demanda agregada não
são capazes de produzir efeitos sobre emprego e produto.
87
Unidade I

A teoria dos ciclos reais de negócios foi formulada a partir do início dos
anos 1980 dando uma nova interpretação para os ciclos econômicos. De
acordo com esta escola, os ciclos se originam do lado da oferta, e não da
demanda, como supunham os teóricos monetaristas, e os novo‑clássicos.

Há uma dupla interpretação do papel dos choques de demanda para


explicar as flutuações econômicas: por um lado, coloca‑se o choque de
demanda como secundário, diante do papel dos choques de produtividade
do lado da oferta; por outro, despreza‑se totalmente o papel da demanda
agregada no processo.

Entre os pressupostos do modelo, pode‑se destacar que, apesar de os


choques reais na economia provocarem flutuações no produto, ainda assim
os mercados devem se ajustar rapidamente para permanecerem sempre em
equilíbrio. Uma das diferenças desse modelo é que essas flutuações constituem
posições de equilíbrio, e não de desvios do nível de equilíbrio natural.

É dessa maneira que alterações antecipadas de política monetária


não teriam efeitos reais sobre a economia; logo, somente mudanças
não antecipadas teriam efeitos sobre a economia, mas esses efeitos são
rapidamente corrigidos. Assim, choques na demanda não são muito
importantes para entender os ciclos econômicos.

Os teóricos dos ciclos reais de negócios defendem que o processo de


ajuste racional dos agentes econômicos gera flutuações econômicas, isto
é, rejeitam a visão de falhas de mercado, pois essas flutuações econômicas
reproduzem o movimento de ajuste racional dos agentes econômicos a novos
pontos de equilíbrio de pleno emprego. Esses movimentos são determinados
por choques de produtividade, sucedidos de avanços aleatórios da
tecnologia. Os choques de oferta alteram a função de produção da economia,
gerando flutuações do produto agregado e do emprego à medida que os
agentes econômicos racionalmente respondem aos novos preços relativos,
modificando inclusive suas escolhas de ofertar trabalho e de consumir.

Essas mudanças de posição geram instabilidade, que são posições de equilíbrio


ótimas de Pareto. A flutuação do produto representa um contínuo equilíbrio de
pleno emprego que se move diante dos choques de oferta.

Os choques de produtividade são, na maioria das vezes, tecnológicos,


mas também podem ser fatores como variações nas condições ambientais,
alterações nos preços reais (relativos) de matérias‑primas importadas (por
exemplo, petróleo bruto) e mudanças nas alíquotas tributárias. Mudanças
nas preferências individuais – por exemplo, preferência por bens em relação
ao lazer – também implicam flutuações no produto.
88
MACROECONOMIA APLICADA

O livre funcionamento do mercado assegura que as melhores


posições sejam atingidas para todos. Dessa forma, não há a necessidade
de intervenções governamentais para estimular a demanda agregada ou
mesmo para regular a economia.

A política monetária não apresenta efeitos reais sobre a economia,


dado que a moeda é neutra ou mesmo superneutra, mesmo a curto prazo.
Portanto, uma política monetária não antecipada não apresenta efeitos
consistentes na economia. Esse elemento é muito semelhante ao efeito da
política monetária num modelo novo‑clássico.

O produto potencial pode flutuar, mas necessariamente está em


equilíbrio de pleno emprego. O que ocorre não são desvios do equilíbrio,
mas um passeio ou uma flutuação do próprio produto potencial.

O trabalhador, quando faz sua escolha intertemporal entre trabalho e


lazer, decide a partir do salário real vigente e esperado. Assim, quando há
um choque positivo com aumento de produtividade, o trabalhador tende
a trabalhar mais e alocar menos horas para o lazer, aumentando o produto
potencial. No geral, esses choques são tecnológicos, conforme apontado
pelos teóricos dos ciclos reais de negócios.

Choques negativos também podem ocorrer, com redução de


produtividade, queda de salário real, redução de oferta de trabalho e maior
alocação de horas para lazer, o que impacta negativamente o produto
potencial. Outros exemplos de choques de produtividade negativos:
introdução de uma lei ambiental que aumenta o custo de produção,
aumento do preço das matérias‑primas e aumento da tributação sobre a
produção ou sobre o trabalho.

Exercícios

Questão 1. A respeito da Curva de Phillips e da oferta agregada, avalie as afirmativas.

I – Quando os preços são rígidos, a oferta agregada não é positivamente inclinada.

II – Na ausência de assimetrias de informação, a curva de oferta agregada de curto prazo torna‑se


mais inclinada na medida em que os salários ajustam‑se mais rapidamente a variações no desemprego.

III – A longo prazo, a possibilidade de que políticas ativas de administração da demanda sejam
utilizadas para reduzir a taxa de desemprego, trazendo‑a para um nível inferior à taxa natural, independe
do formato da curva de Phillips, afinal, no modelo original da curva, o trade‑off entre inflação e
desemprego é permanente.
89
Unidade I

IV – Se os salários nominais fossem mais flexíveis, uma política monetária expansionista seria mais
eficaz em reduzir a taxa de desemprego.

V – A redução da tributação numa curva de Phillips negativamente inclinada expande a demanda


agregada, reduz o desemprego, mas eleva a taxa de inflação.

Está correto apenas o que se afirma em:

A) I, IV e V.

B) II e IV.

C) II e V.

D) I, II e III.

E) IV e V.

Resposta correta: alternativa C.

Análise das afirmativas

I – Afirmativa incorreta.

Justificativa: na hipótese de preços rígidos, a curva de oferta agregada apresenta inclinação positiva.

II – Afirmativa correta.

Justificativa: a função oferta agregada vertical resulta das suposições do modelo clássico
sobre mercado de trabalho. Supõe‑se que a oferta e a demanda por trabalho dependam
exclusivamente do salário real, que é conhecido (não existe assimetria de informações) e que
o salário monetário e os preços sejam perfeitamente flexíveis, ajustando‑se rapidamente para
igualar a demanda à oferta.

III – Afirmativa incorreta.

Justificativa: a possibilidade de políticas ativas de administração de demanda permite ao governo


alterar a produção, o desemprego e a inflação a curto prazo. Se o governo tentar exaustivamente aceitar
um pouco mais de inflação para conseguir um menor desemprego, fará que os agentes ampliem suas
expectativas de inflação. A longo prazo, o desemprego volta à sua taxa natural, e não há opção conflitiva
entre inflação e desemprego, sendo a curva de Phillips uma linha vertical posicionada no nível da taxa
de desemprego natural.

90
MACROECONOMIA APLICADA

IV – Afirmativa incorreta.

Justificativa: quanto maior a flexibilidade de salários na economia, menor a possibilidade de uma


política monetária expansionista em reduzir a taxa de desemprego. No modelo clássico, por exemplo,
os salários são totalmente flexíveis e qualquer tentativa de política monetária em atingir o mercado
de trabalho seria inócua. Nesse caso, uma expansão monetária resultaria em um excesso de mão de
obra, levando imediatamente ao declínio do nível de salário real e ao restabelecimento do equilíbrio no
mercado de trabalho.

V – Afirmativa correta.

Justificativa: uma redução da tributação eleva a renda disponível ou torna o investimento mais
promissor. Logo, haverá uma expansão da demanda agregada e, portanto, da renda. Com uma
atividade econômica em alta, além de um produto elevado, tem‑se um maior nível de emprego.
Produção em alta e nível de desemprego em baixa levarão a uma pressão no nível de preços e, por
conseguinte, da inflação.

Questão 2. (Anpec, 2006). A respeito das teorias das flutuações econômicas, avalie as proposições:

I – De acordo com a teoria dos ciclos reais, flutuações no produto são devidas a choques de
produtividade ou na política fiscal.

II – Choques negativos de produtividade diminuem o produto e os preços, enquanto choques


positivos aumentam o produto e os preços.

III – De acordo com a teoria dos ciclos reais, a política fiscal e a política monetária crível influenciam
apenas os preços, não o produto.

É correto o que se afirma apenas em:

A) I.

B) II.

C) III.

D) I e II.

E) I, II e III.

Resolução desta questão na plataforma.

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