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Nº 1/2015
BRASIL
O Trabalho no Futuro
Reiner Hoffmann
OUTUBRO DE 2015
Mas algumas coisas já estão claras: a experiên- Além de promover o desenvolvimento pro-
cia da crise financeira global mostrou que não fissional e pessoal, bem como aumentar a
estamos, de maneira nenhuma, indo em dire- qualidade do trabalho, esforços especiais são
ção a uma sociedade nova, baseada apenas em necessários para criar condições de trabalho
serviços. Talvez isso nem seja desejável. Sem saudáveis. As estatísticas médicas indicam
dúvida, a reestruturação econômica terá con- que os últimos anos testemunharam um au-
siderável impacto na composição setorial da mento brutal do estresse mental relacionado
economia e as estruturas setoriais tenderão a ao trabalho. Suas principais causas são o au-
se tornarem cada vez mais fluidas. Por outro mento da pressão e esforços inadequados na
lado, os serviços orientados pela produção de- correta estruturação das tarefas, na provisão
sempenharão um papel cada vez maior, com dos meios para realizá-las e na organização do
os elos entre a indústria e os serviços tornan- trabalho. Os aspectos sociais das condições de
do-se cada vez mais próximos. trabalho são outro fator de estresse.
É preciso muito esforço para tornar o emprego Educação e qualificação têm sido tópicos
em “emprego de feição humana” como rei- destacados de nosso debate público há mui-
vindicado muito tempo atrás, em 1994, pela tos anos. Há uma boa razão para isso: o nível
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situação em que, todos os dias, os emprega- turo que sejam compartilhados por grandes
dores abandonam um acordo salarial. Muitos parcelas de nossas sociedades.
deles não estão mais organizados em associa-
ções patronais ou então pleiteiam um status O setor de baixos salários da Alemanha é um
de membro especial que os libera de respeitar dos maiores da Europa. O desemprego, que
acordos coletivos. A opção de ser membro es- ainda afeta quase três milhões de pessoas (um
pecial tem que ser impedida. milhão delas desempregados de longo prazo),
precisa ser enfrentado também. Se formos
Reformular a política de negociação tam- bem-sucedidos em enraizar o valor do trabalho
bém é crucial para adaptar as condições de em nossos debates sociopolíticos, estaremos
trabalho a diferentes faixas etárias, em parti- bem equipados para responder a esses desafios.
cular a empregados mais antigos. O número
crescente de acordos coletivos com base em 6. O Trabalho do Futuro precisa regular o
questões demográficas, de saúde e de qualifi- trabalho digital, não combatê-lo
cações ilustra a importância da questão. Esses
acordos tratam das questões da customização A digitalização afeta todas as áreas do traba-
do trabalho a empregados de diferentes gru- lho e da vida. Ela não se limita aos empregos
pos etários – inclusive aqueles próximos da tradicionais da indústria, mas cobre quase to-
aposentadoria – e da estruturação do trabalho dos os serviços, conquanto ainda em graus va-
das pessoas tendo por base as diferentes fases riados. Não há dúvida de que os vetores mais
da vida. fortes da mudança econômica fundamental
e da mudança no local de trabalho ensejam
5. O valor do trabalho deve estar no centro enorme potencial de abuso e de desdobra-
do debate sociopolítico mentos indesejáveis com sérias consequên-
cias. Na interface entre as pessoas e as máqui-
Queremos uma política de emprego que seja nas, a mudança tecnológica e a digitalização
viável para o futuro e que reflita as profundas do trabalho irão, cada vez mais, reduzir os
mudanças estruturais que estão ocorrendo no empregados a executores de tarefas menores
mundo do trabalho: mudança demográfica, no processo de trabalho e gerar desemprego
rápido desenvolvimento tecnológico refletido em massa em setores envolvendo tarefas ro-
nos conceitos de “Indústria 4.0” e de “Ser- tineiras de alta automação, isto é, as tarefas
viços Inteligentes”, bem como de mudanças executadas principalmente por trabalhadores
fundamentais nas cadeias de valor e na di- de baixa ou média qualificação. Ao mesmo
visão do trabalho a reboque de globalização tempo, a força de trabalho “digitalmente pre-
crescente. cária” – autônomos (freelancers) trabalhando
sem seguridade social – continuará a crescer
Dados esses desafios, a política de emprego rapidamente.
precisa estar firmemente ancorada na socie-
dade se queremos reter as ferramentas para Um bom exemplo de digitalização avançada
forjar o local de trabalho do futuro. Para esse é o crowdsourcing, que essencialmente é um
propósito, os formuladores de políticas devem novo tipo de terceirização de serviços de vá-
discutir sobre o valor do trabalho, da partici- rias áreas do conhecimento a um grupo de
pação e de um bom equilíbrio entre trabalho pessoas (crowd, em tradução livre do inglês,
e vida. Eles também precisam desenvolver multidão) conectadas através da internet. Pla-
modelos sustentáveis para o trabalho do fu- taformas (intermediários) de crowdsourcing
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Sobre o autor Responsável
Friedrich-Ebert-Stiftung (FES)
A Fundação Friedrich Ebert é uma instituição alemã sem fins lucrativos, fundada em 1925. Leva
o nome de Friedrich Ebert, primeiro presidente democraticamente eleito da Alemanha, e está
comprometida com o ideário da Democracia Social. Realiza atividades na Alemanha e no exte-
rior, através de programas de formação política e de cooperação internacional. A FES conta com
18 escritórios na América Latina e organiza atividades em Cuba, Haiti e Paraguai, implementa-
das pelos escritórios dos países vizinhos.