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CADERNOS

ORTOPEDIA N.º 21 // OUT' 14 // TRIMESTRAL

REPARAÇÕES DE
NERVOS PERIFÉRICOS

CIRURGIA
ARTROSCÓPICA
NO JOELHO ARTRÓSICO

TENDINOPATIA
CALCIFICANTE DO OMBRO
EDITORIAL
PRESTAÇÃO DE CUIDADOS
DE SAÚDE EM PORTUGAL
CORPO CLÍNICO
O PAPEL DE UM SERVIÇO
Cirurgia da Coluna
Prof. Doutor Jorge Mineiro DE ORTOPEDIA PRIVADO
Dr. João Cannas
Dr. Luís Barroso

Cirurgia do Ombro O Serviço Nacional de Saúde (SNS) permitiu uma enorme melhoria na
Dr. António Cartucho qualidade de vida dos portugueses, nos seus 30 anos de existência. Contudo,
Dr. Nuno Moura o crescimento dos custos - muito acima do crescimento da economia -
Dr. Marco Sarmento ameaça a qualidade e universalidade do SNS. Para garantir esta qualidade
e universalidade, o Governo teve que reduzir as despesas (redução de 3,4%
Cirurgia da Mão e Punho/ face ao ano 2013 na despesa no SNS, representando menos 282 milhões de
/Cirurgia Plástica euros, embora tendo aumentado o peso da saúde na despesa geral do Estado
Dr. J. Mota da Costa de 11,2% para 11,3%). É, por isto, fundamental, que os recursos disponíveis
Dr.ª Ana Pinto sejam melhor utilizados, evitando desperdícios, ou seja, melhorando a gestão,
Dr. Hugo Freitas a transparência e a responsabilização pelo uso de dinheiros dos cidadãos.
(In Portal do Cidadão – i saúde).
Cirurgia da Anca Infelizmente a racionalização dos custos não tem relação direta com a
Dr. Dimas de Oliveira
melhoria dos cuidados de saúde, antes pelo contrário, pelo que é natural que
Dr. Pedro Dantas
quer os utentes quer os profissionais de saúde se sintam descontentes com o
desempenho do SNS. Por outro lado vemos que as parcerias público privadas
Cirurgia do Joelho/
na área da saúde, se revelaram catastróficas para o Estado pelo que num
/Traumatologia Desportiva
futuro próximo não se vislumbram outras possibilidades de desenvolvimento
Dr. Ricardo Varatojo
nesta área...
Dr. R. Telles de Freitas
Poderia então perguntar-se qual o papel da medicina privada no contexto
Dr. Mário Vale
da saúde em geral? Se é certo que cerca de 30% dos cuidados de saúde são
Ortopedia e Traumatologia abrangidos pelos chamados “seguros de saúde”, a grande fatia dos cuidados
Infantil médicos continua a ser prestada pelo SNS tendo a medicina privada pura
Dr. M. Cassiano Neves praticamente deixado de ter expressão.
Dr. Delfin Tavares A verdade é cada dia vivemos numa sociedade mais evoluída, com maior acesso
Dr.ª Monika Thüsing á informação, e que exige respostas para os seus problemas, pelo que o nível
Dr.ª Susana Norte Ramos de exigência aumenta na razão do desenvolvimento da população, obrigando
a uma maior responsabilização dos cuidados prestados indo de encontro ás
Cirurgia do Pé e Tíbiotársica expectativas dos utentes.
Dr. M. Cassiano Neves Esse tem sido e será sempre o principio da Unidade de Ortopedia do Hospital
Dr. Delfin Tavares CUF Descobertas. Com uma equipa de 18 cirurgiões cobrindo todos os diferentes
Dr. Manuel Resende Sousa tópicos da Ortopedia e Traumatologia, procuramos uma prática baseada na
qualidade tentando assim satisfazer os doentes que procuram a Unidade.
Ortopedia Oncológica
Dr. José Portela Dr. Cassiano Neves

CADERNOS ORTOPEDIA
out'14
out'14 3
CADERNOS
SUMÁRIO
ORTOPEDIA
O5
CIRURGIA ARTROSCÓPICA NO
FICHA TÉCNICA

JOELHO ARTRÓSICO
DR. RICARDO VARATOJO Propriedade
Centro de Ortopedia
Rua Mário Botas, Parque das Nações
1998-018 Lisboa

09
REPARAÇÕES DE NERVOS
centrodeortopedia@hcd.com

Direção e Coordenação
PERIFÉRICOS Prof. Doutor Jorge Mineiro
DR.ª ANA PINTO Dr. João Cannas
Dr. Mário Vale

Edição
12
ANAFILAXIA INTRA-OPERATÓRIA
News Farma
newsfarma@newsfarma.pt
www.newsfarma.pt
DR. MÁRIO MORAIS-ALMEIDA
Impressão
e acabamento
RPO
14
TENDINOPATIA CALCIFICANTE Tiragem
3500 exemplares
DO OMBRO
DR. NUNO MOURA
Periodicidade
Trimestral

18
Proibida a reprodução total ou parcial do
conteúdo desta revista sem autorização
CUIDADOS DE ENFERMAGEM prévia do editor.
ENF.ª MARTA ALMEIDA

Apoio exclusivo

CADERNOS ORTOPEDIA
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out'14
CIRURGIA
ARTROSCÓPICA NO
JOELHO ARTRÓSICO DR. RICARDO VARATOJO
COORDENADOR DA UNIDADE DE CIRURGIA
DO JOELHO E TORNOZELO, ARTROSCOPIA E

QUAL O SEU PAPEL EM 2014


TRAUMATOLOGIA DESPORTIVA
DO HOSPITAL CUF DESCOBERTAS..
ASSISTENTE HOSPITALAR GRADUADO
EM CONSULTOR DE ORTOPEDIA

Quando se aborda e discute este tópico exis- remover ou desbridar tecido intra-articular. escolha da amostra e por ser realizado com
tem na minha opinião, duas realidades. A O papel da artroscopia na lavagem articular veteranos de guerra com eventuais interesses
primeira reflexão é analisando e refletindo é controverso, contudo é um gesto cirúrgico económicos subjacentes.
sobre as opções existentes para o tratamento isolado pouco realizado pela comunidade or-
de doentes jovens (idade inferior a 50 anos) topédica. Os estudos retrospetivos revelam DESBRIDAMENTO CIRÚRGICO
e ativos que querem manter a prática despor- que mais de 50% dos doentes sentem melho- ARTROSCÓPICO
tiva. Nestes doentes a realização de cirurgia ria sintomática com a duração de 1 a 5 anos, Consiste na irrigação articular com soro para
protésica deve ser evitada pelas limitações sendo aparentemente mais eficaz se realizada remover todos os fragmentos intra-articula-
para uma vida ativa, especialmente a prática em estádios precoces da artrose. Um estudo res e a utilização de instrumentos mecânicos
desportiva com impacto. em que foi comparada a lavagem artroscó- para remover cartilagem, osso ou tecidos
A segunda realidade resulta da dúvida de pica e a fisioterapia, demonstrou claramente moles danificados (fragmentos cartilagíneos
sobre quantos dos nossos gestos cirúrgicos melhor alívio da dor no primeiro grupo. instáveis, menisco degenerado, corpos livres,
estão realmente validados por estudos pros- O estudo vedeta de Moseley de 2002, pros- sinovial exuberante e osteófitos).
petivos e randomizados, contudo aceites pela petivo e randomizado com grau de eviden- É um tratamento temporário da artrose do
prática clínica e a avaliação subjetiva e obje- cia I, assim como outros estudos, parecem joelho, com resultados favoráveis na lite-
tiva dos resultados. demonstrar a ausência de beneficio na rea- ratura em 40/75% dos doentes. Existe uma
lização de lavagem articular artroscópica na diminuição significativa da dor e a melhoria
LAVAGEM ARTROSCÓPICA artrose do joelho sem causa especifica ou no da função articular, mantendo-se este efei-
A lavagem articular artroscópica remove os diagnóstico isolado de artrose sintomática to paliativo positivo por um período de 2 a
fragmentos cartilagíneos e as citoquinas in- do joelho. 5 anos, sendo mais uma vez mais eficaz em
flamatórias causadoras de sinovite, sem uti- O estudo de Moseley pode ser contestado estágios precoces da doença assim como nas
lização de instrumentos para mecanicamente pelo pequeno número de participantes, a lesões localizadas no côndilo femoral interno.

FIG. 1
LESÃO DE CARTILAGEM
TIPO II DE OUTBRIDGE
(FIBRILHAÇÃO)

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FIG. 2
MICROFRATURAS

A artrose como processo degenerativo crónico mento conservador e a ausência de outras As indicações formais são as lesões isoladas
produz contração capsular originado rigidez opções cirúrgicas. A artrose evoluída, defini- de toda a espessura cartilagínea unipolares
articular, dor, desalinhamento patelar e per- da pela redução de mais de 50% da interli- ou bipolares, sem lesão difusa cartilagínea
da de amplitude articular. Neste contexto o nha articular, é uma contraindicação exceto articular associada. As lesões devem ter um
desbridamento cirúrgico artroscópico é um em doentes muito jovens, com sintomas muro circundante com cartilagem intacta e
gesto complexo e abrangente em que se rea- clínicos intoleráveis e sem alternativa tera- estável na periferia.
liza também expansão do volume articular e pêutica válida. As evoluções clínicas menos favoráveis estão
libertação de aderências intra-articulares. Na associadas a lesões de dimensão superior a 2
sua experiência, Steadman afirma que pode TÉCNICAS DE ESTIMULAÇÃO MEDULAR/ centímetros quadrados, às localizações fému-
atrasar a realização de uma artroplastia total /MICROFRATURAS ro-patelares, às lesões crónicas com duração
do joelho pelo período mínimo de 2 anos. O seu êxito resulta da fácil e pronta dispo- de sintomatologia superior a 1 ano e os doen-
Em estudos de evidência de grau I e II, de nibilidade, o baixo custo e de ser um proce- tes com idade superior a 35-40 anos.
Moseley em 2002 e revisão Cochrane de 2008, dimento realizado num só tempo operatório, Os resultados demonstrados nos estudos dis-
não parece demonstrar diferença quando sendo portanto um tratamento de primeira poníveis, revelam que na artrose do joelho
comprada com cirurgia placebo e não existir linha no tratamento das lesões cartilagíneas. moderada existe um aumento da interlinha
benefício em artrose do joelho de causa in- A reparação é feita com fibrocartilagem, e não articular e uma melhoria da função articular.
discriminada. cartilagem hialina, tendo este tecido caracte- Os parâmetros clínicos melhoram com o tem-
Contudo em estudos de evidência de grau rísticas mecânicas inferiores. po até período de um ano pós-operatório.
V, consenso de opiniões de peritos, a me- Os bons resultados desta técnica das micro- Mithoefer demonstra uma melhoria funcio-
niscectomia parcial e a remoção de corpos fraturas parece dependente da ausência de nal efetiva pelo período de pelo menos 2
livres é uma opção correta e válida na artrose produção de calor associada às técnicas de anos e Steadman, em dois estudos, mostra
sintomática do joelho com sinais e sintomas furagens que originam necrose óssea térmi- que esta melhoria existe em qualquer grau
primários de rotura meniscal e ou corpo livre ca. Parece ter também um efeito favorável de artrose, contudo não existem estudos clí-
intra-articular. Doente com sintomas mecâ- a preservação da arquitetura subcondral e a nicos que especificamente avaliem o papel
nicos, nomeadamente de bloqueio articular, maior área de exposição óssea favorável á fi- das microfraturas em estádios precoces da
especialmente se de curta duração tendem a xação do coágulo sanguíneo. artrose do joelho.
ter uma evolução clínica favorável.

TÉCNICAS DE REPARAÇÃO CARTILAGÍNEA


Este conjunto de técnicas está indicado na O PAPEL DA ARTROSCOPIA NA LAVAGEM ARTICULAR É
artrose precoce do joelho, no compartimento CONTROVERSO, CONTUDO É UM GESTO CIRÚRGICO ISOLADO
fémuro-tibial, perante o insucesso do trata- POUCO REALIZADO PELA COMUNIDADE ORTOPÉDICA

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FIG. 3
VISÃO ARTROSCÓPICA
DE CILINDROS
OSTEOCARTILAGENEOS
EM MOSAICOPLASTIA

TÉCNICAS DE TRANSPLANTE a introdução das pastilhas osteocartilagineas MATRIZES CARTILAGÍNEAS


OSTEOCONDRAL deve ser realizada a 90 graus com a superfí- Estas matrizes são biocompatíveis, estrutu-
TRANSPLANTE AUTOLOGO- cie articular. ralmente e mecanicamente estáveis e incor-
MOSAICOPLASTIA/OATS A indicação para este procedimento cirúrgico poram fontes específicas de células cartila-
Esta técnica de transferência de cilindros de são as lesões focais de toda a espessura da gíneas e moléculas bioativas. Em algumas
cartilagem realizada no joelho do próprio cartilagem, em estádios precoces de artrose, técnicas é possível a aplicação cirúrgica por
doente de zonas de colheita de cartilagem sendo uma contraindicação formal a artrose via artroscópica.
saudável sem carga, usualmente a região evoluída de grau III / IV. Os doentes ideais de- As indicações cirúrgicas são a artrose do joe-
periférica supero-interna do côndilo femoral vem ter menos de 50 anos, os defeitos com a lho em estádios precoces, doentes com idade
interno/tróclea, para as zonas doentes sub- dimensão inferior a 2 centímetros quadrados, inferior a 55 anos que apresentam lesões car-
metidas a carga, é muito exigente e difícil pela disponibilidade limitada, e localizados a tilagíneas comprovadamente sintomáticas.
de realizar por via artroscópica. Aconselho a nível dos côndilos femorais. As lesões isoladas de toda a espessura de
deixar no consentimento informado assinado Existem muito poucos resultados apresen- cartilagem, perifericamente estáveis são as
pelo doente a opção de cirurgia aberta. tados especificamente no tratamento da ar- indicações ideais
A localização das lesões, nomeadamente a trose do joelho. São usualmente cirurgias de Neste momento existem na literatura somen-
nível dos côndilos femorais, com a obtenção recurso em atletas profissionais, sem outras te resultados a curto prazo, não especifica-
de um ângulo de ataque cirúrgico correto das opções disponíveis, com sinais e sintomas mente no tratamento da artrose e maiorita-
mesmas, são o único garante de um resulta- incapacitantes de artrose do joelho. Apresen- riamente casos clínicos.
do clínico positivo criticamente dependente tam uma melhoria funcional e álgica inferior
do restabelecimento da anatomia biconvexa mas significativa, contudo um terço sofre um MATRIZES MENISCAIS
dos côndilos femorais e da congruência arti- processo degenerativo artrósico radiográfico A aplicação destas matrizes meniscais, cujos
cular. Para atingir este objetivo a colheita e no seguimento pós-operatório. nomes comerciais são Menaflex/Actifit, está
indicada nas perdas de mais de 25% do te-
cido meniscal devido a trauma ou cirurgia na
ausência ou presença de lesão cartilagínea
A LOCALIZAÇÃO DAS LESÕES, NOMEADAMENTE A NÍVEL DOS
minor ( Kellgren-Lawrence grau I/II e/ou Ou-
CÔNDILOS FEMORAIS, COM A OBTENÇÃO DE UM ÂNGULO tbridge I/II ).
DE ATAQUE CIRÚRGICO CORRETO DAS MESMAS, SÃO O É uma contraindicação para este procedi-
ÚNICO GARANTE DE UM RESULTADO CLÍNICO POSITIVO mento a ausência da inserção dos cornos
CRITICAMENTE DEPENDENTE DO RESTABELECIMENTO DA anteriores ou posteriores dos meniscos assim
ANATOMIA BICONVEXA DOS CÔNDILOS FEMORAIS E DA como de um muro periférico estável, pois é
CONGRUÊNCIA ARTICULAR nestas estruturas que se vai obter uma fixa-

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FIG. 4
ALOENXERTO MENISCAL
CONGELADO

ção primária sólida necessária a cicatrização to do joelho com deficit de tecido meniscal, -operatório não mostra evolução da degrada-
do enxerto. especialmente menisco externo. Na recons- ção cartilagínea ou evolução da artrose su-
Os grupos de médicos associados ao desen- trução cirúrgica do LCA na presença de me- gerindo um efeito potencial condroprotetor
volvimento destes enxertos meniscais sin- niscectomia subtotal interna esta indicação do transplante meniscal, contudo ainda não
téticos reportam bons resultados mas não também se coloca. demonstrado.
especificamente no tratamento da artrose do Nesta técnica são contraindicações aceites a Os procedimentos cirúrgicos artroscópicos
joelho. Estes resultados devem ser avaliados degenerescência cartilagínea avançada com são tentadores para médicos e doentes pela
com prudência em primeiro lugar pela alta artrose grau III/IV da escala de Kellgren-La- baixa morbilidade e rápida recuperação fun-
taxa de insucesso e em segundo lugar pela wrence, com evidencia radiográfica de oste- cional. Para ambas as partes fica a sensação
dificuldade da demonstração e comprovação ófitos exuberantes e retificação dos côndilos que vale a pena tentar, contudo em termos
da origem da sintomatologia dolorosa á insu- femorais, São também contraindicações a económicos poderá ser pouco vantajoso,
ficiência de tecido meniscal. obesidade (IMC superior a 30), doença infla- pois a curto ou médio prazo poderá neces-
matória local ou sistémica, artrite sética ou sitar de novo procedimento cirúrgico dupli-
TRANSPLANTE MENISCAL HETERÓLOGO metabólica e os imaturos esqueléticos. cando custos.
Os aloenxertos meniscais congelados de ca- A literatura apresenta resultados favoráveis É importante enfatizar que a cirurgia artros-
dáver, tem indicação em doentes jovens (ida- com alívio significativo da dor e melhoria da cópica no tratamento da artrose do joelho
de inferior a 45-50 anos), com antecedentes função articular no curto e médio prazo em não impede, limita ou dificulta a realização
de meniscectomia e com dor localizada e ori- 88% dos doentes. de qualquer cirurgia definitiva realizada pos-
ginada comprovadamente no compartimen- A avaliação radiológica e por RMN no pós- teriormente.

BIBLIOGRAFIA:
Bradley JD et al; Tibial irrigation as treatment for knee osteoarthritis: a sham-controlled,randomized,double-blinded evaluation.; Arthritis and Rheumatism 2002
Chang RW et al; A randomized controlled trial of arthroscopic surgery versus closed-needle joint lavage for patients with osteoarthritis of the knee ; Arthritis and
Rheumatism 1993
Dawes PT et al;Saline washout for knee osteoarthritis: results of a controlled study: Clinical Rheumatology 1987
Gomoll AH et al; Surgical treatment for early osteoarthritis.Part I: cartilage repair procedures; Knee Surg Sports Traumatol Arthosc 2012
Gomoll AH et al; Surgical treatment for early osteoarthritis.Part II: allografts and concurrent procedures; Knee Surg Traumatol Arthrosc 2012
Hubbard MJ et al; Articular debridment versus washout for degeneration of the medial femoral condyle.A five-year study.; The Journal of Bone and Joint Surgery, BV
1996
Ike RW et al ; Tidal irrigation versus conservative mediacal management in patients with osteoarthritis of the knee: a prospective randomized styudy; Journal of
Rheumatology 1992
Laupattarakasem W et al; Arthroscopic Debridment for knee osteoarthrits ( Review ) ;The Cochrane Library 2009 issue 1
Moseley JB et al;arthroscopic treatment of osteoarthritis of the knee: a prospective,randomized,placebo-controlled trial.Results of a pilot study; American Journal of
Sports Medicine 1996
Moseley JB et al; A controlled trial of arthroscopic surgery for osteoarthritis of the knee. ; The New England Journal of Medicine 2002
Ravaud P et al; Effects of joint lavage and steroid injection in patients with osteoarthritis of the knee: results of a multicenter,randomized,controlled trial; Arthritis and
Rheumatism 1999
Reichenbach S et al ; Joint lavage for osteoarthritis of the knee ( Review );The Cochrane Library 2010
Richmond J et al; Treatment of Osteoarthritis of the Knee ( Nonarthroplasty ); J Am Acad Orthop Surg 2009

CADERNOS ORTOPEDIA
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REPARAÇÕES DE
NERVOS PERIFÉRICOS DR.ª ANA PINTO

NA MÃO E NO PUNHO HOSPITAL CUF DESCOBERTAS,


ORTOPEDIA UNIDADE
DO PUNHO E MÃO

INTRODUÇÃO internamente há o perinervo que cobre gru- Na axonotmese habitualmente a compres-


As lesões nervosas são altamente incapaci- pos de fibras nervosas ou fascículos, e mais são é mais intensa e duradoura, levando a
tantes, quer sejam sensitivas, motoras ou internamente ainda, cada axónio é coberto degeneração local dos axónios. No entanto,
mistas. Coisas tão simples como sentir o frio pelo endonervo. o endonervo está preservado, pelo que se a
do congelador ou o calor do forno, tornam-se As lesões traumáticas nervosas podem ser compressão for removida, há capacidade de
potenciais problemas e podem ser causadoras divididas em 3 tipos consoante o comprome- regeneração, que demora semanas ou meses,
de maiores lesões nas mãos. timento das estruturas do nervo e da inten- dependendo da distância a ser percorrida
O primeiro a distinguir nervos e tendões foi sidade das manifestações clínicas (Seddon). pelas fibras nervosas desde o local da lesão
Galeno (130-200 d.c), e os grandes avanços Na neuropraxia há habitualmente uma com- ao topo distal da fibra e a desorganização do
no seu estudo foram realizados com a 1.ª e pressão (intrínseca ou extrínseca), de curta nervo causada pela lesão.
2.ª Guerras Mundiais. duração e que leva a alterações dos vasos Na neurotmese todas as camadas do nervo
sanguíneos nervosos com anoxia local. No ficam lesadas (epinervo, perinervo e endo-
CONSIDERAÇÕES HISTOLÓGICAS entanto a estrutura interna do nervo fica pre- nervo), podendo ser por compressão ou por
Os nervos periféricos são constituídos por fi- servada e não há degeneração walleriana do secção. Assim deixa de haver potencial para
bras nervosas, que são cobertas externamen- nervo pelo que este se auto-regenera ao lon- regeneração espontânea e é necessário re-
te por tecido conjuntivo denso - o epinervo; go de 4 a 6 semanas. construir o nervo lesado.

FIG. 1
MÃO EM GARRA
POR LESÃO DO
NERVO CUBITAL

CADERNOS ORTOPEDIA
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FIG. 2 fibrilhações, que se vão alterando consoante
há ou não regeneração.
O tempo de regeneração é variável consoante
o tipo de lesão: em contusões ou isquemias
transitórias habitualmente a partir da 2.ª se-
mana inicia-se a recuperação. Já em secções
nervosas, após a sutura, não há recuperação
durante 1 mês e depois há uma regeneração
de cerca de 1 mm/dia. Ou seja, nas lesões ner-
vosas a regeneração demora sempre semanas
a meses.

TIPOS DE REPARAÇÃO NERVOSA


A reparação nervosa é habitualmente realiza-
da com o uso de lupas ou do microscópio para
ampliação das estruturas nervosas. São por
isso usados instrumentos de microcirurgia.
- Neurólise: é realizada quando o nervo está
envolvido por tecido cicatricial, seja por fratu-
ras, infeções, hematomas ou fibroses. Chama-
-se epineurolise se o epinervo é aberto e se
expõem os fascículos, mas mais frequente-
Muitas vezes as lesões são mistas, ou seja, Outros mecanismos possíveis são o choque mente é realizada a neurólise externa sem
com diferentes graus de lesão. Assim, se há elétrico (em electrocussões), a compressão abertura do epinervo. É geralmente usada
recuperação até ás 6 semanas podemos pre- (por talas gessadas ou posições viciosas em nas lesões em que há continuidade do tecido
sumir tratar-se de neuropraxia e a partir desta acamados) e a injeção de fármacos perto de conjuntivo nervoso e visa melhorar a circula-
data haverá axonotmese ou neurotmese. nervos (com maior frequência o ciático). ção do tronco nervoso.
Se a regeneração não se der ou se o nervo - Sutura direta: usada em lacerações nervosas
não for reparado, para além de degeneres- DIAGNÓSTICO agudas para coaptação dos topos nervosos.
cência das fibras nervosas vai havendo tam- É feito pela clínica e por estudos eletrofisioló- Visa a aproximação do endonervo de modo
bém alterações histológicas das fibras mus- gicos. Clinicamente há alterações sensitivas, a favorecer a passagem das fibras nervosas
culares a partir da 3.ª semana de lesão. Caso alterações de movimento ou mistas. Depen- onde há uma solução de continuidade e é a
a lesão se mantenha as células musculares dendo do nível de lesão vamos encontrar le- melhor maneira de reparar um nervo perifé-
vão reduzindo o seu diâmetro, perdendo sões mais ou menos incapacitantes mas sem- rico (Figura 2). Deve ser usada sempre que
peso e retraindo, perdendo a contratilidade pre bastante incomodativas quer pela perda a aproximação dos cotos for possível desde
e fibrosando, sendo que aos 18 meses há sensorial quer pela perda motora (Figura 1). que fiquem sem tensão. Está provado que a
uma total substituição de músculo por te- O estudo mais frequentemente utilizado é sutura epineural é tão boa como a perineural
cido cicatricial. o EMG (eletromiograma) que estuda os po- ou a fascicular, sendo mais fácil e rápida. Uma
tenciais de ação do músculo e que quando vez que há infiltração fibroblástica nas linhas
MECANISMO DE LESÃO desenervados trazem alterações no EMG aos de sutura podendo comprometer a sutura,
Os 2 mecanismos de lesão mais frequentes 2-3 dias de lesão. É um exame que deve ser atualmente realizam-se uma técnica mista de
são a laceração/contusão e o estiramento. Na realizado de forma seriada uma vez que não sutura com nylon de 8 a 10/0 e cola de fibrina,
laceração há objetos cortantes ou fragmentos há atividade elétrica imediatamente após ou apenas a coatação dos topos nervosos com
ósseos que vão secionar total ou parcialmen- uma lesão completa, mas após 2-3 semanas cola de fibrina.
te o nervo. São possíveis as lesões do nervo podem aparecer potenciais de desenervação e - Enxertos nervosos: usados quando não é
radial por fracturas do úmero, ou em quedas
em que se cai com um copo na mão lesan-
do os nervos digitais, ou ainda por armas de
fogo. Já o estiramento é mais frequente em SE A REGENERAÇÃO NÃO SE DER OU SE O NERVO NÃO
acidentes de mota, em que há tração do plexo FOR REPARADO, PARA ALÉM DE DEGENERESCÊNCIA DAS
braquial durante o embate do ombro no chão FIBRAS NERVOSAS VAI HAVENDO TAMBÉM ALTERAÇÕES
ou em árvores, ou durante o parto em mano- HISTOLÓGICAS DAS FIBRAS MUSCULARES A PARTIR DA 3.ª
bras para extração do bebé. SEMANA DE LESÃO

CADERNOS ORTOPEDIA
10 out'14
possível a sutura direta, dada esta ficar sob FIG. 3

tensão ou quando houve perda de substância


nervosa. São considerados o Gold Standard
das reparações que não podem ser realizadas
sem tensão. Vão funcionar como um condu-
tor para os axónios em regeneração possam
atingir o coto distal do nervo lesado. Implica
a colheita de um nervo sensitivo mas com a
morbilidade da zona de colheita - perda da
sensibilidade da zona da colheita e cicatrizes
(habitualmente usados o nervo sural, o me-
dial cutâneo e o lateral cutâneo do antebra-
ço). Têm ainda os inconvenientes de neces-
AS LESÕES NERVOSAS PERIFÉRICAS ORIGINAM PERDAS
sitarem de 2 anastmoses e a necessidade de
um leito vascularizado para o receber.
SENSORIAIS E A PERDAS MOTORAS. UMA INTERVENÇÃO
Os enxertos colhidos do doente chamam-se PRECOCE VAI MINIMIZAR AS CONSEQUÊNCIAS DESTES
autoenxertos. Os enxertos podem ser em ca- TRAUMATISMOS
bos, tronco, enxerto nervoso vascularizado,
enxerto interfascicular ou enxerto livre. Habi-
tualmente é usada uma técnica de anastmose
mista com suturas e colo de fibrina, sendo
que nos enxertos em cabo é atualmente mais
utilizada a cola de fibrina. estão a ser construídos condutores tubula- AVALIAÇÃO DA RECUPERAÇÃO NERVOSA
- Enxerto muscular: Usado quando o au- res, ou a serem colocadas substâncias que A recuperação nervosa é avaliada pela recu-
toenxerto nervoso não é possível ou para melhorem o neurotrofismo, ou seja, que me- peração motora (medida de M0 a M5), recu-
construir pontes em lesões curtas mas tem a lhoram a capacidade do coto distal libertar peração sensitiva (medida de S0 a S4 e pela
desvantagem técnica do local fornecedor do substâncias que atraiam o coto regenerativo distância de discriminação entre 2 pontos),
tecido muscular. proximal. pelo sinal de Tinel (quando á percussão sobre
- Tubos neurocondutores: são a par da cola o trajeto do nervo há referência a parestesias
de fibrina, as principais inovações e melho- MOMENTO DE REPARAÇÃO distalmente ao ponto de percussão), pelo
rias técnicas neste tipo de reparações. São Em casos de contusão ou estiramento habi- reaparecimento da sudorese e pelos exames
alternativas ao uso de autoenxertos e a tualmente o tratamento não é realizado na eletrofisiológicos (estimulação nervosa, ele-
sua principal vantagem é evitar o local de fase aguda, aguardando-se de 3 a 4 semanas troneurografia e eletromiografia).
colheita. São atualmente construídos com até 3 meses. Isto permite a resolução dos
materiais biodegradáveis como o colágeneo, elementos de neuropraxia, a cicatrização de CONCLUSÕES
ácido poliglicólico ou caprolactona (Figura outras lesões associadas em particular ósseas As lesões nervosas periféricas originam per-
3). São usados essencialmente em nervos ou vasculares, e ainda que o cirurgião possa das sensoriais (com dor, desconforto e altera-
sensitivos, de pequeno diâmetro e em gaps avaliar durante a cirurgia o estímulo elétrico ção da perceção ao calor, frio, toque..) e a per-
menores de 3 cm. realizado diretamente no nervo. das motoras (com paralisia muscular e conse-
Atualmente há inúmeros estudos em curso Em casos de secção, a exploração deve ser quente atrofia). Uma intervenção precoce vai
de maneira a tentar que os bons resultados realizada de imediato e desde que a lesão minimizar as consequências destes traumatis-
em nervos sensitivos, pouco diferenciados seja limpa, habitualmente são realizadas mos. A intervenção pode ser cirúrgica ou de
e em gaps pequenos, possam ser transpos- suturas diretas. Neste caso uma vez que ain- fisioterapia consoante o tipo de lesão.
tos para gaps maiores de 3 mm, em nervos da não houve retração dos cotos nervosos é A reabilitação nervosa pode ser melhorada
motores e/ou sensitivos e de maiores dimen- possível a sutura e não haver necessidade de com a eletroestimulação, com exercícios lo-
sões como o mediano ou o cubital. Para isso imobilização. cais e ampliando a reabilitação sensorial.

BIBLIOGRAFIA:
Diao E, Vannuyen T. Techniques for primary nerve repair. Hand Clinic 2000;16(1): 53-66
Lee Sk, Wolfe SW.Periferal nerve injury and repair. Am Acad ortho Surg 2000;8(4):243-52
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CADERNOS ORTOPEDIA
out'14 11
ANAFILAXIA INTRA-
-OPERATÓRIA DR. MÁRIO MORAIS-ALMEIDA

EM 5 QUESTÕES CENTRO DE ALERGIA, CUF


DESCOBERTAS HOSPITAL, LISBOA

CO-AUTORAS: DRAS. ÂNGELA GASPAR,


MARTA CHAMBEL, INÊS MOTA
CENTRO DE ALERGIA, CUF
DESCOBERTAS HOSPITAL, LISBOA

QUESTÃO 1: QUAL É O RISCO DA GRAVES DURANTE UMA INTERVENÇÃO nificativamente, tal como ocorreu no nosso
OCORRÊNCIA DE UMA REAÇÃO ALÉRGICA CIRÚRGICA? país. Como referido, pode provocar reações
GRAVE DURANTE UMA INTERVENÇÃO São limitados os agentes que desencadeiam de início mais tardio, que por vezes não são
CIRÚRGICA? a quase totalidade das reações anafilácticas, reconhecidas mas que devem ser sempre con-
Em cada dia são imensos, vários milhares, os cujos sintomas podem ser de gravidade vari- sideradas.
procedimentos cirúrgicos que são realizados ável, sendo mais frequentes as de início ime- As reações aos anestésicos locais, conside-
e, nas últimas duas décadas, na literatura diato, nos primeiros minutos ou até 1 hora do rando a frequência de utilização, são raras,
internacional, foram reportados menos de início da anestesia. E não devemos esquecer tal como o são aos agentes anestésicos ha-
10.000 casos de reações alérgicas graves, que uma reação anafiláctica grave pode ins- logenados. Outras causas possíveis de ana-
IgE-mediadas, constituindo estas mais de talar-se sem lesões muco cutâneas. Reações filaxia intra-operatória são os desinfetantes
metade de todos os casos de hipersensibili- tardias, menos frequentes, estão mais relacio- como a clorexidina (cada vez mais utilizada),
dade imediata. Ou seja, na “minha atividade nadas com o uso de corantes ou produtos de os anti-inflamatórios não-esteroides e os co-
cirúrgica" a incidência de reações alérgicas contraste e desinfetantes, bem como com a rantes (por ex. azul de metileno) ou os con-
graves intra-operatórias vai ser baixa, poden- exposição ao látex. trastes iodados.
do ocorrer em cerca de 1:10.000 a 1:20.000 Os fármacos que, analisada a literatura in-
dos procedimentos realizados com recurso a dexada, mais frequentemente desencadeiam QUESTÃO 3: NO NOSSO HOSPITAL TÊM
anestesia geral ou local. estas reações são os bloqueadores/relaxan- SIDO ESTUDADOS CASOS DE REAÇÕES
No entanto 2 fatores devem ser considera- tes neuromusculares (>60%; o suxametónio ALÉRGICAS IMEDIATAS GRAVES INTRA-
dos que realçam muito a importância desta é classicamente o mais referido, embora os OPERATÓRIAS? QUAL É A NOSSA
temática: fármacos atualmente mais utilizados, como o REALIDADE?
1º) O número de relatos tem vindo a aumen- atracúrio, possam provocar reações mesmo na No Centro de Alergia do Hospital CUF Desco-
tar nos últimos anos, a par com a maior sensi- primeira administração; a reatividade cruzada bertas efetuámos a revisão de casos de anafi-
bilidade para notificar, referenciar e viabilizar é elevada entre esta classe de fármacos), os laxia intra-operatória avaliados nos últimos 3
o diagnóstico de quadros suspeitos; antibióticos (>10%), os hipnóticos (<10%), anos, os quais foram investigados no hospital
2º) A mortalidade pode ser o desfecho destas os substitutos/expansores do plasma (<5%) e de dia do Centro de acordo com as recomen-
reações alérgicas graves, estimando-se que os opiáceos (<5%). dações estabelecidas pelo European Network
ocorra em até 10% dos eventos anafilácticos, Nas últimas décadas o látex foi responsabi- for Drug Allergy (ENDA) da Academia Euro-
sendo esta habitualmente evitável, seja pela lizado por múltiplas reações (>10%), em es- peia de Alergia e Imunologia Clínica.
atuação imediata face a uma reação anafiláti- pecial na idade pediátrica em que continua Foram confirmados 13 casos de anafilaxia
ca (que não será discutida neste artigo), seja a ser a primeira causa de anafilaxia intra- intra-operatória grave, com idade média
pela necessária referenciação para a especia- -operatória, nomeadamente em crianças com de 39 anos (SD±13 anos; mín. 15; máx. 62),
lidade de Imunoalergologia. malformações congénitas precocemente su- sendo 62% do género feminino. Os agentes
jeitas a múltiplas cirurgias. Mais recentemen- anestésicos (relaxantes neuromusculares-4:
QUESTÃO 2: QUAIS SÃO OS AGENTES te, devido a várias medidas preventivas que atracúrio-3, rocurónio-1; anestésicos locais-2:
MAIS RESPONSABILIZÁVEIS PELA se revelaram muitos eficazes, a sua incidência ropivacaína-1, bupivacaína-1; midazolam-1)
OCORRÊNCIA DE REAÇÕES ALÉRGICAS como agente causal tem vindo a diminuir sig- e os antibióticos (cefazolina-3) foram os prin-

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12 out'14
cipais agentes identificados (77% dos doen- mas deve ser considerada a existência de re- rentabilizando a investigação subsequente. A
tes). As restantes causas incluíram o anti-in- atividades cruzadas (lembrar o caso das sen- reatividade cruzada entre agentes é sempre
flamatório não esteróide metamizol (n=2), o sibilizações, por vezes graves, aos anti-infla- considerada e avaliada, sendo fundamental
frio (n=1) e o látex (n=1). Numa doente fo- matórios não esteroides, que podem justificar quer na avaliação diagnóstica quer na identi-
ram identificados 2 agentes: atracúrio e látex. uma avaliação diagnóstica prévia para identi- ficação de alternativas seguras para utilização
As reacções IgE-mediadas foram responsáveis ficação de alternativas seguras) e os casos de em atos médicos posteriores.
por 85% dos casos. Ocorreram reações alér- alergia múltipla a fármacos. O doente, ou o seu representante legal, é
gicas sistémicas durante os procedimentos Não existe qualquer relação entre a existência sempre informado de todos os procedimen-
de diagnóstico. de alergia alimentar, nomeadamente ao ovo, tos, sendo obtido o consentimento informa-
à soja, ao marisco ou ao peixe, e o uso de do para a realização de alguns métodos de
QUESTÃO 4: EXISTEM GRUPOS fármacos anestésicos. diagnóstico invasivos. É obrigatoriamente
DE RISCO PARA QUE EXISTA MAIOR efetuada uma notificação da reação alérgica
PROBABILIDADE DE OCORRÊNCIA QUESTÃO 5: IDENTIFICADA UMA REAÇÃO no Catálogo Português de Alergias e Reações
DE REACÇÃO ANAFILÁCTICA INTRA- ANAFILÁCTICA INTRA-OPERATÓRIA Adversas (CPARA), de acordo com as boas
-OPERATÓRIA? OU EXISTINDO UMA FORTE SUSPEITA práticas clínicas subscritas pela Ordem dos
A anafilaxia intra-operatória é rara em idade CLÍNICA, O QUE DEVO ENTÃO FAZER? Médicos e pelos organismos do Ministério
pediátrica e mais frequente a partir da 4ª dé- Doentes com quadros suspeitos de anafilaxia da Saúde.
cada de vida e no género feminino, existindo intra-operatória devem ser imediatamente É sempre elaborado um relatório médico que
algumas situações que nos devem alertar para sinalizados e referenciados, mesmo sabendo detalha todas as informações clínicas dispo-
um risco aumentado da sua ocorrência, no- que em alguns casos a realização de exames níveis e a investigação diagnóstica efetuada.
meadamente doentes com alergia a fármacos complementares poderá ser programada ape- A anafilaxia intra-operatória, apesar de ocor-
já diagnosticada ou com suspeita baseada na nas 4 a 6 semanas após a reação. Para do- rência excecional na prática cirúrgica, consti-
história clínica, em particular perante sinais e cumentar a reação anafiláctica, é importante tui um desafio diagnóstico pela diversidade
sintomas ocorridos em atos cirúrgicos prévios efetuar uma colheita sanguínea 30 a 90 mi- de agentes a que o doente é exposto, farma-
(tal como por exposição a outras substâncias/ nutos após o início da reação alérgica para cológicos e outros, podendo colocar a vida
/agentes usados em procedimentos médicos); doseamento da tríptase sérica, devendo ser em risco.
alérgicos ao látex e indivíduos sujeitos a múl- feita nova colheita após a resolução da mes- É essencial uma análise aprofundada, no
tiplas cirurgias (nomeadamente crianças com ma e 24 horas depois. sentido de identificar os agentes etiológicos,
espinha bífida/mielomeningocelo) ou com Deve ser este um trabalho coordenado en- conhecer os fatores de risco e encontrar al-
sintomas alérgicos após a ingestão de frutas/ tre a equipa cirúrgica e os alergologistas. ternativas. Embora a maioria das reações seja
/vegetais, nos quais o risco de sensibilização Quanto mais detalhada a informação sobre IgE-mediada, podem existir casos de reações
ao látex é elevado. as manifestações clínicas e as substâncias não-IgE mediadas, com provas de provocação
É de referir que na população geral, sem aler- utilizadas maior a probabilidade de êxito positivas após testes negativos. A ocorrência
gia a fármacos ou outros fatores de risco, não diagnóstico. O protocolo anestésico/cirúr- de reações sistémicas durante a realização
existe indicação para efetuar avaliação diag- gico deve ser disponibilizado. Quanto mais dos procedimentos diagnósticos, testes cutâ-
nóstica prévia aos atos cirúrgicos para pesqui- cedo o caso for discutido melhor, sabendo neos e provas de provocação, aliada à neces-
sa de sensibilização aos fármacos/agentes que que esta é das poucas situações clínicas em sidade de uma investigação rigorosa implica
irão ser usados. que a colheita da anamnese junto do doente que estes doentes sejam referenciados para
Do mesmo modo, a existência de uma aler- é pouco rentável. centros diferenciados.
gia a fármacos não indica necessariamente A caracterização do tipo da reação e do even- Um diagnóstico correto aumenta a segurança
a necessidade de estudar sensibilizações aos tual agente(s) responsável(eis), permite pers- dos cuidados prestados e a satisfação, quer
produtos a usar durante a cirurgia/anestesia petivar qual a etiopatogenia mais provável, dos doentes, quer dos profissionais de saúde.

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out'14 13
TENDINOPATIA
CALCIFICANTE DR. NUNO MOURA

DO OMBRO ORTOPEDISTA, ESPECIALISTA


DA UNIDADE DE PATOLOGIA
DO OMBRO E COTOVELO
DO HOSPITAL CUF DESCOBERTAS

FIG. 1
INTRODUÇÃO RX DE CALCIFICAÇÃO DE TIPO
B, DE GRANDES DIMENSÕES
A tendinopatia calcificante do ombro (tam- E ADJACENTE AO TROQUITER,
MAS SEM APARENTE
bém conhecida como tendinite cálcica, ten- OSTEOLISE DO MESMO
(MELHOR PROGNÓSTICO)
dinitis calcarea ou Doença de Duplay) é uma
patologia muito frequente, embora várias
particularidades desta doença sejam ainda
objeto de controvérsia.
Tem uma incidência que varia entre 3 a 20%
(segundo trabalhos que analisaram ombros
sintomáticos ou assintomáticos), com uma
predominância do sexo feminino, com um
claro pico de incidência entre os 30 e 50 anos,
não existindo praticamente descrição desta
doença acima dos 70 anos. Para se ter uma
ideia da elevada frequência desta patologia
estima-se que 20% dos ombros dolorosos na
faixa etária entre os 30 e 40 anos sejam por
tendinite calcificante.
Pode atingir todos os tendões da coifa dos
rotadores mas com um claro predomínio do
supraespinhoso (75-80%), seguido do infra-
espinhoso (15-20%) e subscapular (5%), po-
dendo estar presente em mais de uma locali-
zação em 15-25% dos casos.
É importante ter em atenção que nem todos
os depósitos cálcicos na região do ombro são
por tendinopatia calcificante, uma vez que
podem existir depósitos de cálcio nas mar-
gens de algumas roturas transfixivas da coifa,
chamadas calcificações distróficas, que repre- ETIOLOGIA das calcificações, depósitos de apatites carbo-
sentam um sinal de mau prognóstico para es- Existem vários aspetos desconhecidos em re- nadas de tipo B (diferente da hidroxiapatite)
tas mesmas roturas, bem como calcificações lação a este tema. Inicialmente foi descrita separadas por um tecido fibrocartilagíneo
massivas que são observadas em artropatias como uma doença degenerativa, associada a relativamente avascular. Existem, no entan-
muito avançadas da coifa, o chamado “ombro processos repetitivos de necrose celular e fi- to, sérias reservas em relação a esta teoria,
de Milwaukee”. brose, principalmente pelo aspeto histológico pela existência de uma reação vascular com

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14 out'14
células gigantes multinucleadas na fase de funcional podem durante entre 3-8 semanas.
reabsorção, que recuperam o tendão até uma A outra fase que pode motivar o recurso ao or-
estrutura próxima do normal. Outras teorias topedista é a fase formativa, na qual a presen-
envolvem aspetos como zonas de compressão ça dos depósitos de cálcio pode originar quei-
mecânica, fatores metabólicos, defeitos de xas de conflito subacromial, nomeadamente
mesoderme ou clusters de células cartilagíne- pela localização mais superficial dos depósitos
as, sem que exista ainda consenso nesta área. no tendão, queixas estas que podem preceder
em muito uma eventual crise hiperálgica.
CLÍNICA É curioso, no entanto, que não está compro-
Embora a primeira manifestação clínica de vada nenhuma relação direta entre as dimen-
uma tendinopatia calcificante possa ser uma sões da calcificação e a intensidade dos sinto-
crise hiperálgica, existe bastante variabilida- mas, pelo que mesmo calcificações pequenas
de na forma de apresentação desta patologia. podem ser muito sintomáticas. Existem no
Pode distinguir-se habitualmente uma evolu- entanto alguns sinais de mau prognóstico FIG. 2
RMN DO OMBRO COM
ção em 4 fases, com sintomas distintos. que sugerem uma evolução mais complicada UMA TENDINOPATIA
CALCIFICANTE, ALTERANDO
O CONTORNO BURSAL DO
Na primeira fase, a fase pré-calcificante, e sintomática, como a presença de osteólise SUPRAESPINHOSO
ocorrerá provavelmente uma transformação na região do troquiter adjacente à calcificação.
dentro do tendão, com metaplasia dos tenó-
citos em condrócitos, sendo esta fase perfei- MEIOS COMPLEMENTARES sentarão mais entesopatias de inserção e não
tamente assintomática. DE DIAGNÓSTICO calcificações propriamente ditas.
Na fase formativa ocorrem os depósitos de O estudo radiográfico do ombro representa Não é habitualmente necessário qualquer ou-
cálcio, geralmente com aspeto de giz, po- nesta patologia um valor muito significativo, tro meio complementar de diagnóstico para o
dendo ser assintomática ou estar associada por permitir a deteção dos depósitos cálcicos estudo desta patologia, embora a capacidade
a algumas queixas álgicas, principalmente e um estudo adequado das características da de deteção de depósitos cálcicos da ecografia
em repouso e noturnas mas também, depen- calcificação. seja muito superior, permitindo muitas vezes
dendo da sua localização e dimensões, poder É necessária a realização de um estudo em AP a deteção de “micro-calcificações” não visí-
originar dor de caráter mecânico por conflito com rotação interna e externa, associados a veis no estudo radiográfico. Estes depósitos
subacromial. uma incidência axilar e uma transescapular, cálcicos poderão representar resquícios pós-
A fase de reabsorção é habitualmente a fase para conseguir avaliar corretamente todas as -reabsorção de uma calcificação mas podem
mais sintomática, pelo aumento da reação localizações possíveis para as calcificações. igualmente representar uma entidade clínica
inflamatória associada à reabsorção do cál- É igualmente com base no estudo radiográfi- diferente. O estudo por TAC ou RMN não é
cio por macrófagos e células gigantes mul- co que foram elaboradas as classificações uti- necessário para o diagnóstico desta patologia,
tinucleadas. Nesta fase os depósitos cálcicos lizadas nesta patologia, como a classificação podendo apenas ser utilizado no caso de diag-
têm um aspeto menos consistente, tipo pasta de D. Molé, que classifica esta patologia em nósticos diferenciais ou patologia associada.
dos dentes, podendo ocorrer extravasão dos quatro subtipos:
cristais de cálcio para a bolsa subacromial e Tipa A (20%) – a calcificação é densa, homo- DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
provocar um quadro álgico muito intenso e génea e de contornos bem definidos O quadro álgico agudo da tendinopatia cal-
quase constante, podendo mesmo estar asso- Tipo B (44%) – a calcificação é densa, de cificante pode estar acompanhado por sinais
ciado a febre e mal-estar geral. aspeto polilobulado, com contornos bem de- inflamatórios exuberantes, que ocasional-
Podemos depois distinguir uma fase pós- finidos mente fazem levantar as suspeitas de estar-
-calcificante, na qual ocorre um processo de Tipo C (32%) – a calcificação é heterogénea, mos perante um artrite sética ou uma artrite
reparação e cura, que pode ser acompanhado com contornos mal definidos gotosa, podendo ser necessária a realização
por alguma rigidez e dor residual, com reso- Tipo D (4%) – calcificação distrófica junto à uma aspiração do líquido subacromial se
lução das alterações presentes no tendão. inserção do tendão, muito densa e com conti- houver uma distensão importante desta re-
Existem essencialmente duas fases em que nuidade em relação ao troquiter. Estas repre- gião para excluir as patologias referidas.
o doente procura ajuda médica nesta pato-
logia, sendo a mais exuberante a fase de re-
absorção, na qual a dor é muito intensa e de
aparecimento súbito, levando o doente a ten- É IMPORTANTE TER EM ATENÇÃO QUE NEM TODOS OS
tar não mobilizar o ombro, que pode até ter DEPÓSITOS CÁLCICOS NA REGIÃO DO OMBRO SÃO POR
algum aumento da temperatura local. Tem TENDINOPATIA CALCIFICANTE, UMA VEZ QUE PODEM EXISTIR
uma duração habitual de 2-3 semanas, mas DEPÓSITOS DE CÁLCIO NAS MARGENS DE ALGUMAS ROTURAS
a dor um pouco menos intensa e a limitação TRANSFIXIVAS DA COIFA

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out'14 15
FIG. 3
IMAGEM ARTROSCÓPICA
SUBACROMIAL QUE
para este tipo de tratamento.
REVELA UMA CALCIFICAÇÃO O Needling ou a punção percutânea da cal-
DEFORMANDO A FACE
BURSAL DA COIFA
cificação, realizada habitualmente sob con-
trolo ecográfico ou fluoroscópico, associada
ou não lavagem do espaço subacromial tem
sido referido como uma técnica com sucesso
em algumas publicações (habitualmente rea-
lizada por radiologistas ou reumatologistas),
com resultados positivos em 60 a 70% dos
casos. É igualmente referida como uma técni-
ca habitualmente dolorosa, pelo que alguns
autores advogam a realização de uma infil-
tração subacromial com corticoide no final do
tratamento. O principal fator prognóstico do
sucesso da técnica é a remoção de quantida-
des significativas de material cálcico durante
a aspiração e o timing ideal para a sua reali-
zação a fase aguda (de reabsorção) em que
os depósitos cálcicos têm uma consistência
mais fluida – esta será uma das limitações
para confirmar o sucesso desta técnica, uma
TRATAMENTO CONSERVADOR desde os ultrassons (por um mecanismo de vez que na fase de reabsorção muitos doentes
Na maioria dos casos esta doença tem uma ativação celular ou pelo aumento do metabo- irão evoluir positivamente de forma espontâ-
evolução autolimitada, pelo que o principal lismo local) ou a iontoforese (por um meca- nea, independentemente dos procedimentos
papel do ortopedista é controlar o quadro nismo de acidificação do pH local, induzindo realizados.
álgico e impedir a descompensação dos com- a reabsorção da calcificação), embora sem
plexos mecanismos estabilizadores da articu- eficácia clínica completamente comprovada. TRATAMENTO CIRÚRGICO
lação do ombro. As ondas de choque extracorporais ou radiais A remoção artroscópica dos depósitos cálci-
O controlo do quadro álgico é fundamental, têm sido utilizadas na tendinopatia calcifican- cos está reservada para os casos resistentes
tentando minimizar o período em que é ne- te, com alguns estudos prospetivos e contro- à abordagem conservadora que mantenham
cessário utilizar uma suspensão braquial para lados que revelam uma melhoria nas dimen- um quadro álgico e impotência funcional sig-
controlo sintomático. Os analgésicos e anti- sões das calcificações. Existe no entanto ainda nificativos.
-inflamatórios não-esteróides poderão ser efi- muita variabilidade nos protocolos utilizados É geralmente realizada inicialmente uma ar-
cazes embora nas fases híper-álgicas possam (quantidade de energia fornecida, profun- troscopia glenoumeral diagnóstica, onde por
não ser suficientes. didade atingida, número ou frequência dos vezes é possível encontrar na face articular da
A injeção subacromial de um anestésico de choques) o que torna difícil a sua uniformi- coifa, no loca da calcificação, uma área hiper-
longa duração poderá proporcionar um alívio zação e comparação com outros tratamentos, vascular (denominado cherry spot). Hoje em
temporário mas o mais comum é a utilização cirúrgicos ou não. Os mecanismos pelos quais dia não é aconselhável a realização de mar-
de um corticoide subacromial. Embora exis- as ondas de choque atuam nesta patologia cação da calcificação com agulha sob visuali-
tam algumas preocupações teóricas associa- também não estão completamente esclareci- zação intra-articular, uma vez que permite a
das à utilização dos corticoides por bloquea- dos, podendo os estímulos mecânicos indu- passagem de depósitos cálcicos para dentro
rem o processo inflamatório, que poderá estar zir uma fragmentação da calcificação e pas- da articulação, facto que está associado a uma
envolvido na reabsorção da calcificação e no sagem para a fase de reabsorção ou apenas percentagem significativamente superior de
mecanismo de reparação, não existe ainda atuar como indutor do processo de reparação capsulites pós-operatórias.
consenso neste aspeto e a sua utilização con- (como resposta à “agressão” tecidual mecâ- Outro ponto importante é a realização de um
tinua a ser muito útil no controle das fases nica) de uma forma semelhante ao racional estudo radiográfico pouco tempo antes da in-
hiper-álgicas desta patologia. de aplicação das ondas de choque para outras tervenção cirúrgica, para confirmar a sua pre-
A fisioterapia tem logicamente um papel mui- patologias crónicas com défice de resposta re- sença e localização e facilitar a sua remoção.
to importante na preservação e recuperação paradora intrínseca. A remoção é feita habitualmente através da
funcional do ombro, embora a sua indicação Estas limitações, associadas ao facto da apli- incisão da face bursal da coifa num sentido
esteja principalmente reservada para quando cação ser habitualmente dolorosa e de vários longitudinal em relação às fibras do tendão,
se atinge um controle do quadro álgico. casos terem uma completa ausência de res- após o que se aspiram os depósitos cálcicos.
Vários agentes físicos têm sido utilizados, posta, limitam grandemente as indicações A realização de gestos complementares está

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16 out'14
FIG. 4
sempre relacionada com patologia específica IMAGEM ARTROSCÓPICA
SUBACROMIAL REVELANDO
associada. A realização de uma acromioplastia A REMOÇÃO DOS DEPÓSITOS
CÁLCICOS
não parece ter qualquer benefício, exceto em
casos em que se verifique uma deformidade
muito marcada do acrómio ou nos casos em
que não seja possível encontrar a calcificação.
Hoje em dia parece igualmente não existir
benefício em realizar qualquer tipo de repa-
ração da coifa na região onde foi removida
a calcificação, pela capacidade intrínseca que
esta tem para a cicatrização ao contrário das
verdadeiras roturas da coifa.
A remoção das calcificações por via artros-
cópica é uma cirurgia que exige um curto
tempo de internamento e pode mesmo ser
realizada em cirurgia do ambulatório. No
pós-operatório é colocada uma suspensão
braquial apenas para alívio sintomático, po-
dendo-se iniciar precocemente mobilização
FIG. 5
passiva e mesmo ativa assistida, assim que a IMAGEM ARTROSCÓPICA
SUBACROMIAL NO FINAL
dor permitir. DESTE DESBRIDAMENTO, SEM
ALTERAÇÕES ESTRUTURAIS
SIGNIFICATIVAS DA COIFA

CONCLUSÃO
A tendinopatia calcificante é uma das causas
de omalgia mais frequentes, nomeadamente
numa faixa etária mais jovem (30-50 anos)
mas muito ainda se mantém desconhecido
em relação à sua etiologia.
O controlo rápido das crises de dor muito in-
tensa torna-se uma urgência ortopédica pela
intensidade que pode atingir, habitualmente
com medicação e/ou infiltração subacromial
com corticoide.
O objetivo deve ser sempre o controle sinto-
mático, com ou sem remoção da calcificação,
que assume primordial importância quando o
tratamento conservador falha e as queixas se
mantém. Nestes casos de falência, a remoção
artroscópica da calcificação origina excelentes
resultados funcionais, com um período de in-
capacidade relativamente reduzido.

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out'14 17
CUIDADOS
DE ENFERMAGEM
ENF.ª MARTA ALMEIDA

NA UTILIZAÇÃO ENFERMEIRA ADJUNTA DA UNIDADE


DE CIRURGIA AMBULATÓRIA
HOSPITAL CUF DESCOBERTAS

DE NEURAGEN®

FIG. 1
INTRODUÇÃO DEMONSTRAÇÃO DA
TÉCNICA CIRÚRGICA
O Neuragen® consiste num tubo com matriz
de colagénio que se aplica como enxerto,
para atuar como guia de nervo, na reparação
de nervos periféricos seccionados.
Este tubo condutor permite reconstruir um
nervo lesado, preenchendo o espaço resultan-
te entre os dois bordos seccionados.
Apresenta várias vantagens em contraponto
ao autoenxerto.
O autoenxerto, consome tempo cirúrgico e
expõe o doente a riscos adicionais, como se-
jam, a lesão do nervo peroneal, dor, perda de
função no território do nervo e infeção.
Assim, a utilização de uma matriz tubular
de colagéneo, com apresentações de vários O NEURAGEN® CONSISTE NUM TUBO COM MATRIZ DE
diâmetros e comprimentos, é uma vantajosa COLAGÉNIO QUE SE APLICA COMO ENXERTO, PARA ATUAR
alternativa. COMO GUIA DE NERVO, NA REPARAÇÃO DE NERVOS
O Neuragen® apresenta-se em vários tama-
PERIFÉRICOS SECCIONADOS
nhos, que vão desde 1,5 mm a 7 mm de di-
âmetro, e comprimentos entre os 2 cm e os
3 cm.
ao(s) nervo(s) a reparar. Habitualmente, dois ção do cirurgião.
CUIDADOS DE ENFERMAGEM tamanhos próximos do diâmetro do nervo, de - Deve evitar fumar, pois atrasa a cicatrização,
PERIOPERATÓRIOS acordo com o previsto e solicitado pelo cirur- bem como, expor-se a temperaturas baixas.
Geralmente, as neurorrafias, são procedimen- gião. Por, exemplo, se for um nervo digital, - Deve cumprir a medicação prescrita e as in-
tos cirúrgicos realizados em regime ambu- deve existir um tubo de diâmetro 1,5 mm e dicações pós-operatórias fornecidas.
latório, sob anestesia regional (bloqueio do um de 2 mm. Se for um nervo mediano, opta- - Será contactado, via telefónica, por um en-
plexo braquial) ou geral. -se por diâmetros maiores, de, 4 mm, 5 mm, fermeiro da UCA, 24h após a cirurgia.
Deste modo, o doente deve reunir as condi- ou 6 mm. A técnica cirúrgica de aplicação de guia de
ções gerais para cirurgia neste regime, nome- O doente deve ser informado de que: nervo tubular é efetuada com garrote pneu-
adamente, estar informado do cumprimento - A recuperação sensorial e motora é progres- mático, aplicado na raiz do braço, sob moni-
de jejum, trazer consigo os MCDT´s realizados, siva, podendo ser necessário tratamento de torização permanente da pressão e do tempo
fazer-se acompanhar de um adulto responsá- fisioterapia para completa recuperação senso- (não deve exceder os 90 minutos de garrote).
vel e possuir meio de transporte próprio. rial/funcional. Procede-se à incisão, desbridamento e mo-
Deve estar disponível, no dia da cirurgia, o(s) - Será necessário usar uma suspensão de bra- bilização das extremidades do nervo seccio-
tubo(s) guia de nervo do tamanho adequado ço e manter a mão elevada até nova indica- nado.

CADERNOS ORTOPEDIA
18 out'14
As extremidades são colocadas dentro do FIG. 2
APÓS REALIZAÇÃO
DAS SUTURAS
tubo de guia de nervo selecionado, medin-
do o comprimento necessário a aplicar sem
exercer tensão.
O comprimento ideal deve ser ligeiramente
superior, em alguns milímetros, ao intervalo
entre os bordos do nervo seccionado.
A extremidade proximal é colocada dentro do
guia de nervo e fixada com sutura horizontal
em U, com nylon 8/0 (eventualmente, nylon
9/0).
Preenche-se o tubo com soro fisiológico. Su-
tura-se, do mesmo modo, a extremidade dis-
tal e instila-se, novamente o tubo com soro
fisiológico.
Antes de encerrar, irriga-se a incisão, com so-
lução salina.
O penso é realizado com gaze gorda sobre a
incisão, aplicação de compressas secas, liga-
dura sintética de base de gesso, ligadura auto
aderente e imobilização com tala sintética.
O braço deve ser colocado em suspensão, e a
mão elevada.
Geralmente, a tala de imobilização perma-
nece 1 a 2 semanas, por forma a impedir a
extensão/flexão completas.

EVENTOS ADVERSOS APÓS CIRURGIA


- Inflamação, edema, infeção, hemorragia
- Atraso na cicatrização
- Extrusão do guia de nervo GERALMENTE, AS NEURORRAFIAS, SÃO PROCEDIMENTOS
- Dor e irritação local CIRÚRGICOS REALIZADOS EM REGIME AMBULATÓRIO, SOB
- Reações alérgicas ANESTESIA REGIONAL (BLOQUEIO DO PLEXO BRAQUIAL)
- Hipersensibilidade na área reenervada OU GERAL

BIBLIOGRAFIA:
Bushnell, Brandon; McWilliams, Andrew; Whitener, George; Messer, Terry. Early clinical Experience Whith Collagen Nerve Tubes in Digital Nerve Repair. J Hand Surg
2008;33A:1081-1087.
Haug, Adina; Bartels, Antje; Kotas, Jacek; Kunesch, Erwin. Sensory Recovery 1 Year After Bridging Digital Nerve Defects With Collagen Tubes. J Hand Surg 2013;38A:90-
97.
Wang, Pei-Hwa; Tseng, I-Ling; Hsu, Shan-hui. J Medical and Biological Engineering, 2011;31 (3): 151-160.

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