Вы находитесь на странице: 1из 114

Ouvindo o coração das coisas

1 A PSICOTERAPIA PSYCOLITICO ............................................................................................................................ ...........2


1 No lugar de um prefácio.............................................................................................................................................................. 2
2 A primeira e a última pergunta..................................................................................................................................................... 4
O que voçê realmente quer?................................................................................................................................................. 5
Confinado às normas............................................................................................................................................................ 5
3 Os guardas da entrada, Medo e obstinação..................................................................................................................................... 9
Preso na armadilha da conformidade.................................................................................................................................. 10
Sobre a evolução do ser humano........................................................................................................................................ 10
O medo de ser um intruso................................................................................................................................................... 12
A ressurreição da obstinação.............................................................................................................................................. 14
4 Confussão de sentimentos ........................................................................................................................................................ 18
Da confusão à clareza......................................................................................................................................................... 20
Sobre sentimentos repressivos............................................................................................................................................ 23
No labirinto........................................................................................................................................................................ 25
Sobre vício.......................................................................................................................................................................... 30
O Que é saudável e o que é doentio?.................................................................................................................................. 33
Sobre depressão.................................................................................................................................................................. 34
Sobre neurose..................................................................................................................................................................... 36
E ainda mais sentimentos................................................................................................................................................... 36
5 O portao para o ser: sobre morte e renascimento............................................................................................................................ 40
O que a loucura quer nos ensinar?...................................................................................................................................... 42
Desenvolvimento em saltos ou de momento a momento.................................................................................................... 46
Uma experiencia transpessoal............................................................................................................................................ 48
Sentimentos suprimidos...................................................................................................................................................... 48
Sobre nascimento e morte.................................................................................................................................................. 50
As diferentes entradas........................................................................................................................................................ 52
2 ALÉM DA DUALIDADE O DESPERTAR DO AMOR......................................................................................................... 57
1 Sobre poder............................................................................................................................................................................ 57
2 Sobre o fascínio do inconsciente................................................................................................................................................. 62
3 Sobre relacionamentos e sexualidade........................................................................................................................................... 66
4 Sobre o amor.......................................................................................................................................................................... 75
5 O pensar e a ausência de conceitos.............................................................................................................................................. 82
6 Sobre parar de usar.................................................................................................................................................................. 86
3 O QUE É TERAPIA PSICOLITICA ?.......................................................................................................................... .........91
1 Os sacramentos: sobre a forma que as substâncias psicolIticas funcionam........................................................................................... 91
Empatogênicos................................................................................................................................................................... 92
Psicodélicos........................................................................................................................................................................ 92
2 O contexto pessoal e o cenário nos rituais..................................................................................................................................... 96
A fase preparatoria.............................................................................................................................................................. 97
A sessao psicolítica............................................................................................................................................................. 97
O acompanhamento posterior............................................................................................................................................. 99
3 O terapeuta e sua influência..................................................................................................................................................... 100
4 O estatus de trabalho corporal.................................................................................................................................................. 103
5 O uso de música.................................................................................................................................................................... 106
6 Incidentes, contra-indicacões. do tratamento e outras aplicacoes não terapeuticas............................................................................... 108
Contra-indicações............................................................................................................................................................. 109
Indicações......................................................................................................................................................................... 110
Incidentes e efeitos colaterais........................................................................................................................................... 111
Terapia de usos laterais..................................................................................................................................................... 112
Quando o amor vos chamar, seguí-o, embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados. E quando ele vos falar, acreditai
nele. Embora sua voz possa despedaçar vossos sonhos como o vento do norte devasta o jardim, Pois da mesma forma que o
amor vos coroa, assim ele vos crucifica. E da mesma forma que ele contribui para vosso crescimento, trabalha para vossa
poda.
O amor nada dá senão de si próprio e nada recebe senão de si próprio. O amor não possui e não se deixa possuir. Pois o
amor basta-se a si mesmo. E não imagineis que possais dirigir o curso do amor, pois o amor, Se vos achar dignos,
determinará, ele próprio, o vosso curso.

O amor não tem outro desejo, senão o de atingir a sua plenitude. Se, contudo amardes e precisardes ter desejos, sejam
estes os vossos desejos. De diluirdes no amor e serdes como um riacho que canta sua melodia para a noite; De conhecerdes a
dor de sentir ternura demasiada. De ficardes feridos por vossa própria compreensão do amor.
Kahlil Gibran

1 A psicoterapia psycolitico
1 No lugar de um prefácio.
Deve alguém, ou mais especificamente, devo eu escrever um livro afinal de contas? Esta pergunta ficou na minha cabeça
por algum tempo, desde que eu senti a necessidade de me expressar, antes de eu ter realmente começado a escrever. As razões
contra mais um livro pareciam óbvias. Tudo que se relacionava ao meu assunto - autodescoberta e os caminhos para tal - já
tinha sido dito e não tinham feito nenhum bem! Pelo menos não muito, me pareceu, quando eu olhei para o mundo. Também
não parecia haver nada para acrescentar que pudesse ser expresso em palavras. Estes foram os pensamentos e sentimentos
sobre os quais me vi ponderando por um tempo antes de eu começar a escrever o livro.
Por tudo isto, eu finalmente decidi escrever meus insights. Considerando que nada tenho a oferecer que já não tenha sido
expresso, vou dizer o que ja foi dito e tambem o indizivel mais uma vez porem da minha maneira pessoal e na minha própria
linguagem. O processo poderia ser útil de duas formas.
A primeira seria falar sobre o que eu vi e descobri em meu próprio desenvolvimento, lutar com a linguagem e procurar as
formulações corretas em minha tentativa, serve para ampliar meu próprio crescimento, que é em si mesmo um passo
significativo para mim. A segunda seria minha própria jornada para dentro de mim mesmo que tornou-se possível através de
todo um mosaico de livros que me levaram na direção de um quadro que se preenche gradualmente com o despertar da minha
consciência. Com cada nova e única expressão da verdade, eu me acho capaz de absorver ainda um outro aspecto dela. Então,
eu também devo dar um primeiro passo, esperando, como espero, que minha tentativa seja útil para os outros. O que
realmente me convenceu a começar foi um sonho.
Eu estava em pé em um jardim, muito provavelmente na casa dos meus pais no meio de um campo que havia sido colhido
e estava cheio de galhos de repolho secos. Eu estava olhando para cima para uma janela no primeiro andar. De lá vinha o
som da mais maravilhosa música de guitarra, o que me cativou bastante. Na cena seguinte, os músicos - quatro jovens
artistas pop - estavam comigo no jardim. Um deles era claramente o líder e empresário do grupo. Era óbvio que os outros o
obedeciam, mas era igualmente evidente que eles eram músicos extraordinariamente talentosos e com méritos próprios. O
relacionamento entre todos eles parecia caloroso e amoroso e eles pareciam orgulhosos da música que eram capazes de
criar. Então eles me mostraram um velho arquivo quase todo comido por traças no qual quatorze LPs e vinte sete compactos
tinham sido arquivados. Eu estava estupefato ao descobrir que eles ainda não tinham tido nenhuma das suas músicas
produzidas e me perguntava pelo o que eles estavam esperando. Chamei a atenção do líder para o fato de que mesmo se a
música fosse de grande valor ou com grande possibilidade de ser um sucesso, novos desenvolvimentos em tecnologia e som
fariam com que mais tarde, ela se tornasse obsoleta. O líder riu orgulhosamente, guardou tudo e disse, "nossa música é de
valor permanente".
Em uma última imagem eu pareço estar em um quarto escuro, ouvindo a conversa entre duas pessoas, obviamente numa
sala ao lado. Eles falavam de uma pessoa incapaz de se expressar, apesar de ter todos os meios ao seu dispor. Ele tinha algo
a dizer e realmente nenhuma dificuldade em dizê-lo. Ele simplesmente precisava se expressar, mas isto era exatamente o que
ele não conseguia fazer.

2
Deixe-nos começar então com uma estória, uma estória sobre fronteiras.
Eu ouvi que em algum lugar, não posso dizer exatamente onde, dois homens chegaram simultaneamente a uma fronteiras
que eles desejavam cruzar. Eles não se conheciam e nada tinham a ver um com o outro. Um parecia bem equipado com tudo
que precisava. Para começar ele estava bem nutrido, seu corpo grande e bem desenvolvido coberto com roupas quentes e
grossas para protegê-lo do frio. Como se não fosse suficiente, ele vinha com um estoque de armas e uma grande quantidade
de bagagem, que claro ele não tinha que cuidar ele mesmo, pois tinha um ajudante para carregá-la para ele. Este homem
especificamente, alem do seu trabalho, não tinha maior significância e quase não recebia atenção de ninguém. Os oficiais da
alfândega nas fronteiras usavam uniformes e como o homem, estavam bem armados. Eles rapidamente reconheceram o
primeiro homem como um deles e o deixaram passar sem problemas.
O outro homem que tinha uma aparência menos imponente - assim diz a estória - com roupas menos imponentes além de
ter chegado lá, sem armas e sem bagagem, na verdade sem nada. Isto chamou a atenção dos guardas como algo altamente
suspeito. Eles não o reconheceram como um deles. Eles o examinaram e interrogaram e finalmente como ele não tinha
maiores credenciais, educadamente não o deixaram passar.
Meu livro, falando de forma geral, tem a ver com o caminho interior, com o autoconhecimento, com o descobrir-se ou o
que quer que você queira chamá-lo. É sobre um dos muitos caminhos que aqueles que querem se descobrir podem seguir - isto
é, o caminho da psicoterapia, a qual com suas várias facetas é o meio mais comum no ocidente, atualmente de se alcançar este
objetivo. Minha descrição da jornada interior neste livro, traz a tona tudo que eu vi pessoalmente em mim mesmo e também
das experiências de meus clientes ate agora. Muito tem a ver com minhas próprias descobertas diretas. Muito também foi
inspirado pelos insights de outras pessoas, por livros, palestras e assim por diante. O que eu percebi até agora é pouco em
relação a toda a verdade, a verdade sendo algo que eu reconheço até agora apenas de forma turva, pois como todas as outras
pessoas, ainda me encontro em processo de crescimento. Minha visão, na verdade, é como a informação contida em uma
secção de um holograma. Apesar da parte refletir toda a figura, a informação que ela contém tende a ser indistinta, pois é
apenas parte de um todo que ela enfatiza. Meu ponto de vista é, além do mais, não apenas uma visão pessoal. Quando você e
eu olhamos, nós vemos a mesma coisa, como o diagrama figura 1 que aconteceu de eu gravar em algum lugar, e em algum
ponto aparece. Contudo, cada um de nós tem sua própria forma e meio pessoal de descrever o que vemos. Cada um de nós
dará a ele um outro nome e uma outra forma, o expressaremos em outra linguagem, que também está bem, porque a forma na
qual algo é expresso não é a coisa vista porem algo muitas vezes confundida por ela. Portanto é bom se familiarizar com toda
descrição da verdade em todas as diferentes versões, cada uma das quais tem seu valor. Apesar de nenhuma delas poder
alcançar o todo. Para um terapeuta, como resultado, é importante dominar várias linguagens e ser capaz de traduzir de uma
para outra. A verdade se expressa de várias maneiras. Algumas, por exemplo, preferem vê-la como religiosa em sua natureza,
outras como física. Um terceiro tipo de pessoa a veria como psicológico, um quarto como místico, o próximo como esotérica
ou como algo a ver com energia.
Na figura 1, diferentes personalidades são representadas na forma de picos. O que fica acima do eixo horizontal
representa a mente consciente enquanto que abaixo está o inconsciente. Pessoas com personalidades similares, almas gêmeas,
que estão próximas umas das outras, intersectam-se umas com as outras inicialmente na área do consciente, enquanto aquelas
com diferentes personalidades se sobrepõem (ou se encontram) apenas na região do inconsciente, criando a impressão de que
talvez eles não tenham nada em comum um com o outro. Isto, é claro, não é verdade! Não importa a que distância os picos
estejam um do outro acima do eixo horizontal, eles vão tão longe nas profundezas eternas que são obrigados a se cruzarem em
algum ponto. A área onde eles finalmente se intersectam é bem maior do que a que separa os picos - portanto pode-se
realmente desconsiderar a última como um produto do condicionamento. Pois assim que estas diferentes personalidades, que
estão tão separadas, mergulham nas profundezas, ou seja, assim que elas são empurradas para o infinito, elas descobrem o
inconsciente coletivo que nos une a todos. No caso de dois indivíduos separados sofrendo de neurose de ansiedade, por
exemplo, nós encontramos muitas similaridades na área do consciente assim como na do inconsciente pessoal. Elas
geralmente compartilham um historia, uma situação de vida similar e uma estrutura de personalidade similar. O mesmo é
verdade sobre dois neuróticos depressivos ou compulsivos e assim por diante. Portanto dois neuróticos ansiosos e dois
depressivos se encontrariam, de acordo com a figura 1, perto um do outro e se sobreporiam um ao outro ambos na região do
consciente e na do inconsciente pessoal. Ao contrário, contudo, um neurótico ansioso e um depressivo exibiriam pouco em
comum nessas secções. Na figura 1, eles ficariam separados, mas nas áreas profundas dos ser, no alcance do coletivo
inconsciente, eles mais uma vez provariam serem idênticos - como todos os outros.
Este livro não lida primariamente com nenhuma linha específica de psicoterapia. Ao contrário, ele tenta diminuir a grande
cisão entre a psicologia e psiquiatria e melhorar as crueldades e insensibilidades que resultaram desta cisão. Ele não lida com
um novo conceito ou com novos métodos, mas com a integração de todas as linhas, das partes separadas. É na verdade sobre
uma psicologia do coração, que tem muito a ver com a eterna filosofia (philosophia perennis), com a autentica "religio " com
a verdadeira "esotérica ", com o caminho da vida e do coração em geral.
Problemas psiquiátricos na verdade não existem. Se temos que enfrentá-los é porque os problemas humanos não têm sido
aceitos e integrados, mas ao invés negados e colocados de lado. Como resultado, encontra-se os mesmos em sua forma mais
extrema em psiquiatras e em outros guetos, notavelmente prisões, comunidades de imigrantes e assim

3
por diante. O problema humano é comum a todos nós, mas como queremos simplesmente nos livrar dele ao invés de nos
dispormos a aceitá-lo, ele afeta mais ou menos todos nós adversamente. Esta é a razão do caos no mundo. Quando olho para
isto seriamente, é o problema humano que me preocupa. Ele concerne em descobrir como eu posso me entender e me
relacionar com os outros afim de que possamos viver completamente livres, em paz e com alegria. Substâncias psicodélicas
são um auxilio extremamente potente nesta jornada da auto-descoberta como veremos. Mas por causa do medo que elas
trazem consigo (medo das mudanças arrebatadoras que elas implementam.) elas estão no momento totalmente fora de
alcance .
Este livro é construído ao longo das seguintes linhas: na primeira parte detalhada você encontra uma descrição do
caminho para a verdade interior e para cada sentimento que e possível que encontremos no percurso.
Camada por camada daremos uma olhada em nossas personalidades, da forma em que a figura 3A mais adiante a
simboliza. Da mesma forma que a abertura da camadas da cebola revela mais e mais do seu interior. Nos vamos das camadas
mais externas da conformidade, na qual a maioria das pessoas vivem, ate os sentimentos proibidos que ficam por baixo,
inicialmente por defesa interna e depois para os sentimentos que são suprimidos. A reintegração de toda a gama de
sentimentos, incluindo o fenômeno no domínio transpessoal, finalmente levando-o ao âmago da nossa personalidade.
A segunda parte, que é mais curta, lida com este âmago. Ele diz algo sobre nossa verdadeira natureza, pura e livre de
ilusões, e a maneira correta de alinhá-la com nossos relacionamentos e com o mundo. E sobre o amor, sobre energia. É sobre o
fluxo. É sobre o que é mais importante e é, portanto a parte central deste livro.
Na terceira secção eu tento descrever o trabalho com enteogneos que eu assim como muitos dos meus clientes
experimentamos, e que pode ser muito útil ao longo do caminho descrito. Isto inclui algo sobre procedimentos práticos, sobre
a natureza do trabalho e sobre indicações e contra-indicações. Contudo esta secção não será detalhada, pois não tenho intenção
de escrever um livro texto, e sinto que a aprendizagem só pode acontecer em situações práticas e através da experiência direta.
O verdadeiro conteúdo desde livro não pode ser transmitido através de palavras, e isto se aplica a psicoterapias em geral.
Este livro é meramente um estímulo. Para alguns talvez ele poderia servir como um trampolim, para outros como uma
indicação ou mesmo um obstáculo que pode levá-los a refletir mais profundamente sobre o caminho no qual eles já pisaram.
Para clientes poderia fornecer ajuda em sua procura pelo método certo, o terapeuta certo e assim por diante. Para o terapeuta
sugere a possibilidade do caminho psicolitico, que é algo que ele tem negligenciado até agora.
Novamente considerando que cada insight neste livro tem suas raízes dentro de mim, eu sinto que não é importante
documentar os detalhes de suas origens, e achando que referencias literárias não são necessárias, eu as abandonei como
mencionei no fim do livro. Para mim um livro é mais que um veículo para informação. É um trabalho artístico pessoal, o
mesmo eu penso sobre psicoterapia como uma forma de arte também e não apenas uma forma de subsistência. Já que notas de
rodapé apenas sobrecarregam o texto e o espírito, devo deixá-las de fora.
Contudo, como um psiquiatra eu preciso usar expressões técnicas de vez em quando. Elas são parte de mim. Não
intenciono esclarecê-las também. Elas não são realmente importantes para o fluxo de meus pensamentos. Eu sugiro que você
simplesmente leia sem se importar com elas. Pois o texto fala por si. Se você não conseguir ignorá-las, você deve, com certeza
encontrar um livro de referencia apropriado.

2 A primeira e a última pergunta


Uma outra estória sobre fronteiras.
Em outra ocasião eu ouvi que três pessoas diferentes, que tinham chegado à fronteira conhecida por nós, tinham pedido
para serem deixados passar para a terra desconhecida. Todos três foram interrogados pelos guardas que patrulhavam as
fronteiras, sobre de onde eles tinham vindo e para onde estavam indo.
O primeiro, um homem, pode fornecer aos guardas informações precisas. Ele tinha viajado de uma cidade próxima, a
negócios, ele disse. Ele agora pretendia procurar uma cidade conhecidamente similar nas adjacências. Os guardas o
deixaram passar sem problemas, pois ele tinha sido claro. Eles o entenderam perfeitamente.
A segunda pessoa, supostamente uma mulher, respondeu que ela tinha saído da noite e que procurava pela terra dos
sonhos. Irritados com esta resposta, os guardas na fronteira debateram o assunto por um certo tempo, e finalmente
chamaram um psicólogo. Segundo eu ouvi a mulher foi mandada para um hospital psiquiátrico.
Então veio a terceira pessoa. Se era homem ou mulher não se sabe. Dizem que não era possível distinguir. Perguntado de
onde vinha e para onde pretendia ir, ponderou por um longo tempo, eventualmente disse que realmente não sabia. Parecia
que tinha esquecido. Quanto a onde estava indo, também não sabia dizer exatamente, parecia que estava a procura de suas
origens.
Desta vez os guardas da fronteira foram unânimes em sua reação. A pessoa pareceu altamente suspeita para eles. Por
segurança o encaminharam para a polícia. O que realmente aconteceu com ele nunca foi comentado.

4
O que voçê realmente quer?
O que tentaremos fazer neste livro é passarmos por uma psicoterapia juntos. Ao fazê-lo, devo falar diretamente com você
freqüentemente. Como Peter Orban , um terapeuta, disse em uma palestra que deu em Lanzerote: "nossa almas gostam de
serem contatadas diretamente." Eu devo tentar acompanhar você nesta jornada, experienciando, sentindo e tentando adivinhar
junto com você de que se trata.
Bem, sobre o que poderia ser, senão sobre ser? Sobre estarmos juntos, e isto quer dizer todos os problemas que estar
juntos implica. Em outras palavras, nossa eventual incapacidade ou dificuldade de simplesmente sermos do jeito que somos,
ou conforme seja o caso, estarmos juntos em uma relação, e é assim que poderíamos considerar sofrimento psíquico de uma
forma mais abrangente. Mas também inclui toda a gama de problemas que surge da obstrução do senso de estar juntos. Mais
ainda, nos dá uma idéia de como as coisas deveriam ser se conseguíssemos superar estes obstáculos.
A diferença entre o sofrimento psíquico e o bem estar psíquico não é tão qualitativo quanto quantitativo. Pessoas que
estão emocionalmente doentes estão freqüentemente fixadas meramente em uma parte de suas existências, e esta parte parece
exagerada em comparação com o que está excluído.
A primeira questão a ser feita, portanto - e também a última questão que surge neste contexto, como veremos - é se você e
eu queremos a final de contas, se nós queremos estar juntos com o que esta dentro de nós, se nós - você e eu - estamos
realmente dispostos a estarmos juntos, seja face a face como na psicoterapia ou metaforicamente falando, através da minha
escrita e da sua leitura deste livro.
Até que esta questão esteja esclarecida nós não seremos capazes de acharmos um caminho que nos ligue um com o outro,
e nem que nos ligue a nós mesmos, o que, como descobriremos, é a mesma coisa, no final das contas. Nós, ou nos
descobriremos presos em oposições ou cairemos na armadilha do oportunismo. Ou nos pegaremos compartilhando o mesmo
espaço sem estarmos realmente lá. É, portanto, importante entendermos esta questão deste o inicio e agirmos de acordo com
nosso entendimento da situação. Eu quero fazer o que estou fazendo no momento (ou finjo fazer) ou não? Eu realmente quero
escrever este livro agora e você quer realmente lê-lo, ou eu estou fazendo-o por motivos falsos, que não são claros, que não
tem nada a ver com meu verdadeiro ser, tais como ambição, a necessidade de obedecer, dependência, pressão, ou medo?
Se ambos realmente queremos - e para sabermos já devemos estar preparados para procurar fundo dentro de nós mesmos -
podemos ir mais longe juntos. Se não devemos nos separar, e cada um de nós deve seguir seu caminho. Ambas as alternativas
resultam em uma situação clara, simples e genuína. Para pessoas que estão bloqueadas em sua habilidade de simplesmente ser,
ou conforme o caso, de estar junto com outros (e a maioria de nós está em maior ou menor grau), esta pergunta não está
realmente esclarecida pois não faz nem muito tempo que ela foi colocada. Você aprendeu a não perguntar, por que a resposta
não era desejada, e perguntar resultaria em conseqüências desagradáveis, em punições ou em ser privado do amor. Talvez você
cresceu de tal forma que hoje nem passa pela sua cabeça se perguntar se você quer realmente fazer o que esperam que você
faça. E você só continua a se adaptar ao seu ambiente. Se ainda houver um pouco de resistência em você, talvez você a usou
para simplesmente fixar-se em uma atitude de negação, não percebendo que você continua tão restrito desta forma como
ficaria de outra. Talvez você seja especialmente esperto, ou se considera ser. Bem então, o que você aprendeu a fazer foi se
privar, no sentido de você está presente sem estar lá, e sem notar o quanto você trai sua existência e o prazer de viver, ao fazer
isto.
Portanto através desta primeira pergunta, sem sombra de dúvida, nós entramos em contato com o problema dos nossos
sistemas hierárquico e autoritário tenderem para o conformismo. Ao fazermos esta pergunta nós aprendemos a ver através
destes sistemas e a entendê-los. Ao estudarmos nossa relação com esta questão, podemos entender, a forma como toda nossa
sociedade e toda sua maquiagem psicológica, que nós carregamos dentro de nós, é construída. Nós logo entendemos que o que
evitamos quando nos esquivamos de fazer esta pergunta, é o medo que é cultivado em nós como um primeiro guarda, afim de
nos privar do prazer de seguirmos nosso próprio caminho e de vivermos em liberdade. Portanto agora nos vemos em contato
com sentimentos que por um longo tempo iram governar nossas vidas e nossas discussões, isto é, se nos realmente decidimos,
se nós realmente queremos nos entregar a nós mesmos.

Confinado às normas
Com este tópico, somos confrontado com todas as questões de nossa criação, que mais ou menos serve para restringir
nossa existência como indivíduos a uma extensão limitada de todas as nossas possibilidades. Todos nós aprendemos a nos
adaptar a pensamentos e sentimentos padronizados e a trair nosso próprio self. Às vezes esta adaptação acontece com afeição e
entendimento, outras vezes com brutalidade. Algumas pessoas ficam muito limitadas, outras se vêem com mais espaço
enquanto operam dentro da norma. Porém o que nós sempre encontramos são evidências de restrições e supressões. De acordo
com cada caso individualmente, nós encontramos pessoas com restrições simples ou patológicas. Mas nunca encontramos
indivíduos que são completos, livres e independentes. Dependendo da força da inclinação repressiva e quanto o ser verdadeiro
tinha permissão de se revelar, nos vemos em cada caso um problema diferente ou, em termos psicoterapéuticos, outra
categoria diagnóstica que requer uma forma de abordagem diferente.

5
No mundo ocidental (e provavelmente no mundo em geral), é considerado bem normal aprisionar todos os sentimentos
poderosos, todos os chamados sentimentos negativos (excluindo-se alguns contextos que chamam por destruição, tais como a
guerra), morte, e transformação e também todas as experiências transpessoais. Nós somos impulsionados a nos ver como
espíritos isolados e limitados. As pessoas consideradas doentes são simplesmente aquelas que, sob a pressão das situações de
sua infância, aprenderam a se fecharem mais do que é normalmente aceito. O próprio corpo, por exemplo, ou a sexualidade,
sentimentos padronizados, a percepção desanuviada dos outros. Ser doente desta forma é descrito como ser neurótico. Leva a
conflitos correspondentes em relação a situações normais da vida diária e é claro é dependente dos desvios da norma de
acordo com a qual cada subgrupo se define. Outros também considerados doentes são aqueles que expoem o que seria
normalmente bloqueado e que ao mesmo tempo não conseguem lidar com a situação sem entrar em situações difíceis. Isto
significa que eles não obtiveram sucesso em seu estilo de vida. Estas pessoas são então consideradas psicóticas. Considerando
que eles sejam um sucesso entre seus companheiros, tais indivíduos,via de regra, são vistos como almas iluminadas, como
artistas, ou homens geniais, geralmente obtendo o respeito das pessoas.
Disto segue-se que o "normal", quando medido contra a verdade, não é necessariamente menos doente do que aquele que
está realmente doente, mas que doença medida contra a norma parece patológica para nós e novamente, até que a verdade em
si não pode se relacionar apropriadamente com a norma, ela também é tida como algo doente. Portanto você se depara com
instruções e escolas de pensamento em psicoterapia que parecem se preocupar com desenvolvimentos conflitantes. Uma
pessoa pode ter sido tão oprimida quando estava crescendo que ele ou ela foi incapaz de construir o que nós geralmente
achamos ser um ser estável (ego). Ele teria então que reforçar seu ego integrando aquelas partes de si mesmo que foram
despedaçadas, o lado sombrio, o corpo, o meio ambiente e assim por diante. Distúrbio ao nível do ser junto com distúrbios na
capacidade de estar juntos, por exemplo entre o terapeuta e o cliente, são basicamente distúrbios de percepção. Certamente
alguém está comigo, mas digamos, mesmos enquanto estamos juntos, que ele deixa meu corpo fora de sua percepção, senão
de outra forma ele se sentiria bloqueado, ou ele pode se apaixonar, ou se achar impedido de alguma outra forma. Ou
novamente, uma pessoa em um grupo obviamente exclui uma outra de sua percepção, pois senão ele seria confrontado com
toda uma gama de sentimentos suprimidos ou alienado que ele tenha experimentado em relação a seu pai, e que ele pode agora
transferir para esta pessoa. Com pessoas que tenham conseguido desenvolver um ego normal, é exatamente o contrário.
Quando eles não se sentem confortáveis com esta normalidade, então eles procuram um terapeuta. Com tais indivíduos o
difícil é quebrar a rígida estrutura do eu (ego) normal ou falso, e em fazê-los voltar ao verdadeiro eu. O que abarca tudo e que
leva consigo um sentimento de singularidade.
Estes dois processos normalmente se misturam um com o outro, sobretudo porque em uma sociedade autêntica ainda
precisaríamos construir um ego para nossas vidas diárias, apesar de podermos fazê-lo sem perder de vista nossa verdadeira
natureza.
Tudo isto é representado de forma aproximada na figura 2. Ela tenta mostrar de forma diagramatical variações em
estruturas de personalidade e a maneira como elas se demarcam do lado de fora, como no caso de um "neurótico normal", um
neurótico patológico, um psicótico e uma pessoa completa, madura. O diagrama B mostra o self normal médio com um ego
solidamente construído. Ele é caracterizado por ser rigidamente separado das partes que deseja excluir e por ser severamente
limitado a uma secção de nossa personalidade, que é caracterizada como a normal. Como uma regra, esta personalidade não
sabe nada ou sabe pouco sobre as partes que não estão integradas, mas ela acha que elas existem e, portanto tem medo da
loucura e da doença psicológica e daqueles que parecem as representar. O anel externo fino simboliza, em sua forma fechada,
a separação do meio ambiente e de outras pessoas: o estado de não estar alerta sobre a unidade básica de todos os seres.
Em contraste o diagrama A mostra o verdadeiro self a personalidade madura e crescida, consciente de si mesmo. Tal
personalidade é bem centrada, encontra paz dentro de si sem estar fixada em um centro limitado e rígido. Ela não requer um
centro assim, por que ela permanece em um estado de percepção de flutuação livre. As fronteiras que protegem as normas
foram neste caso, quebradas. A verdadeira personalidade está certamente familiarizada com as fronteiras e é capaz de lidar
com elas confortavelmente. Contudo não está presa a ela. Também está familiarizada com as fronteiras externas da
personalidade. Mas estas também foram rompidas e a personalidade, novamente, não está amarrada a elas. Está muito
familiarizada com a normalidade e domina sua relação com ela perfeitamente, mas ao mesmo tempo ela também percebeu a
natureza final e sem fronteira do nosso ser.
Os diagramas C e D mostram duas variedades do ser neurótico patológico, isto é , de uma pessoa que, do ponto de vista
do neurótico normal parece restrito e limitado. Em C você encontra partes adicionais que pertencem ao campo aceito como
normal: partes que foram suprimidas ou despedaçadas. Além do mais, a demarcação contra as partes negadas é mais rígida do
que no neurótico normal. Ou seja, o medo do verdadeiro self que se registra como medo ou loucura é muito maior do que na
pessoa que está na media. A principio achamos o mesmo problema em D. Em contraste com as restrições gerais em C, D
reflete partes muito específicas, que são afetadas mas, sendo específicas o processo funciona mais profundamente e sob a
superfície. Estes tipos de restrições são freqüentemente encontrados em subgrupos com práticas e ritos especiais.
Os diagramas E e F mostram duas variações de um self psicótico. Eles também revelam uma separação com

6
relação ao meio ambiente, uma ignorância sob a natureza verdadeiramente ilimitada do nosso ser. Nisto todas as pessoas,
independentemente de terem sua personalidade desperta são iguais. O problema parece estar relacionado com uma supressão
básica que afeta a maioria dos seres humanos. O diagrama E revela um self psicótico do tipo que se encontra em paranóicos. O
paranóico está relacionado com a pessoa completa no sentido de que ele também não tem centro. Contudo, ao contrário da
pessoa madura, o paranóico não é centrado, mas perdido na condição caótica de sua personalidade, que é isolada do mundo
exterior. O diagrama F mostra o que acontece em psicose catatônica. Neste caso a pessoa afetada tenta controlar seu caos
interior se separando completamente dele. É claro que neste caso perde a inteireza de sua personalidade.
Então agora definimos sofrimento psíquico de forma geral, como a incapacidade de simplesmente ser, e de estar juntos de
qualquer forma que seja, e psicoterapia como um processo de aprendizagem que ajuda a corrigir esta falha.
Naturalmente há muitas outras alternativas. Levando-se em conta nós, aqui do oeste, a psicoterapia se transformou na
forma principal. O processo de mudança, contudo faz vir a tona grandes obstáculos, tais como medo, orgulho e obstinação que
devem ser vencidos. A primeira questão que invariavelmente aparece é sempre se alguém realmente quer esta mudança, se
alguém está realmente disposto a perseguir esta mudança apesar das dificuldades internas que com certeza aparecerão e se a
pessoa as quer também, mesmo levando em conta as dificuldades externas que tais mudanças podem causar. Quando a
psicoterapia é o que realmente tem que ser, não arranha simplesmente na superfície. Ela vira de cabeça para baixo todos
aqueles que realmente se entregam a ela, e o processo as liberam como novas pessoas.
A maior parte das pessoas está pronta para ser corrigida quando se encontra em uma crise e quando toda a mentira de suas
vidas ameaça se desintegrar. Mas assim que recuperam sua compostura elas retornam ao velho padrão. Este tipo de disposição
não leva muito longe. Somente aqueles que, nos cruzamentos, sempre escolhem o caminho mais arriscado ao invés do
caminho fácil da segurança, aqueles que escolhem em favor da vida e do amor ao invés de se conformar com a moralidade
burguesa, terão energia suficiente para viajar longas distâncias nesta estrada.
Como regra, devemos começar discutindo os obstáculos que estão conectados com a nossa perda da habilidade de
simplesmente sermos, e de estarmos juntos. Com isto criamos um espaço para discussões e consultas no qual juntos
encontramos um pacote; um pacote que contém toda a gama de problemas ligados aos relacionamentos humanos. Na sua
maior parte, contudo, nós devemos logo logo chegar a um ponto onde caímos em silencio, onde não queremos mais falar
porque percebemos que isto não muda mais nada e que em ultimo caso, falar é novamente, evitar estar juntos sem arrodeios
Neste estágio nos sentimos bem amedrontados ou ficamos envergonhados. Começamos a olharmos para nos mesmos
diretamente, ou pelo menos nos conscientizamos de não ousar fazê-lo. Levantamos nosso olhar do pacote, vemos a outra
pessoa a nossa frente, e nos encontramos novamente confrontados com a pergunta: Será que de alguma forma eu quero tudo
isto, mesmo se me amedrontar? E com esta pergunta e com esta descoberta, começa a coisa que a psicoterapia constitui: um
processo combinado de aprendizagem, de crescimento combinado em relacionamento, em estarmos juntos.
***

Eu gostaria de fechar este capitulo também com uma discussão sobre substancias empatogênicas, e até que ponto elas
podem ajudar a responder esta primeira e talvez até ultima pergunta, juntamente com um estudo de caso apropriado.
Se você quiser descobrir primeiro o que é um empatogênico e como ele difere de um alucinógeno, ou melhor, de uma
substancia psicodélica, você pode se referir ao primeiro capítulo na terceira parte.
Um empatogênico é mais apropriado para esclarecer a primeira questão do que uma substancia psicodélica. A questão é
mais uma vez, se queremos fazer o que estamos fazendo? Queremos estar aqui? Estar juntos? Queremos realmente nos
submeter a uma psicoterapia? Queremos dar preferência ao prazer de viver ao invés de segurança? Queremos dar prioridade
ao amor acima de tudo mais, e assim por diante. Na psicoterapia que não é apoiada por tais substancias demora-se um ou dois
anos de trabalho ate que estas questões sejam colocadas clara e abertamente. São necessárias longas e intensivas
argumentações para se elucidar estas questões e para ficar claro para uma pessoa o que tudo isto significa afinal.
Naturalmente, vez por outra aparece alguém que já tomou tal decisão, tendo percorrido outros caminhos antes de optar pela
terapia. A maioria das pessoas, contudo, chega querendo se entregar aos seus problemas. Portanto devemos primeiro entender
que um problema não some, que problemas psíquicos não podem ser dissolvidos, entregues para alguém ou desfeitos. Eles só
podem ser elucidados. Se forem totalmente aceitos, juntamente com todas as conseqüências que o processo traz consigo, eles
se. Na verdade nos podemos mudar a nós mesmos muito pouco - mudanças são possíveis apenas na superfície. Mudanças
reais só acontecem somente quando nós começamos a nos aceitar da forma que somos.
Esta fase da psicoterapia pode ser encurtada e intensificada através do uso de um empatogênico, por que ela deixa claro
em que cruzamento da estrada a pessoa está. Exige-se da pessoa que tome uma decisão contra ou a favor de si mesmo e isto
em um curto espaço de tempo. A decisão não é necessariamente facilitada pela experiência.Em qualquer

7
nível ela demanda uma profunda procura interior. Por outro lado, a motivação para se fazer uma escolha em favor si é
fortalecida, por que a experiência com a substância também pode revelar as recompensas de se atingir o objetivo. A substância
traz consigo, de formas diferentes, uma clarificação e explicação que ajuda muito e que geralmente não se consegue através de
outros meios. Com muitas pessoas, as restrições neuróticas, como são retratadas na figura 2C são tão extensas e rígidas que as
defesas dificilmente podem ser quebradas através de meios convencionais ou mesmo suavizadas o suficiente para que a pessoa
possa ter algum insight. Neste sentido, o método psicolítico é realmente a escolha certa para muito do sofrimento psíquico.
Levando-se em consideração quanto a supressão pessoal massiva é característica do nosso tempo e nossa civilização, o
crescimento deste método de cura também é essencial para o nosso mundo.
Aqui está um estudo de caso para acompanhar.
Anna era uma mulher de 42 anos, para quem 21 anos, ou seja, metade de sua vida tinha vivido em uma excessiva
dependência de drogas, psicofarmacológica e álcool. Quando ela tinha 21 anos, seu marido, com quem tinha se casado a um
ano foi morto durante o serviço militar e ela ficou sozinha com um filho recém nascido. Daí por diante, apesar de ambos
serem financeiramente seguros , a mãe não consegue se recuperar deste golpe do destino. Na conseguia se libertar das
lembranças a fim de começar uma nova vida.
Naturalmente, isto tem a ver com mais do que simplesmente esta tragédia. A raiz desta incapacidade de agir foi
encontrada na sua primeira infância e por volta da época do seu nascimento. Mesmo com a idade de 42 anos ela ainda era
completamente dependente da mãe, e teve a maior dificuldade de se libertar dela, quando a mãe morreu durante o período
que ela estava fazendo terapia.
Por mais de 20 anos e procurou ajuda em uma forma de psiquiatria repressiva, que a auxiliou, com a ajuda e
tranqüilizantes, para suprimir ate onde possível a dor que ela sentia - pois junto de seus mentores iniciais e de seus a
auxiliares psiquiatras, ela se convenceu que o que nós descobrimos em nós mesmos é muito doloroso para ser diretamente
encarado. Conseqüentemente isto era algo a ser reprimido mesmo se correndo o risco de estragar a própria saúde ou o
prazer de se viver.
Anna me foi recomendada por um colega que tinha se mudado. Quando eu a conheci ela estava extremamente entediada,
quase uma pessoa morta. Seu vício a ajudou a manter um senso de equilíbrio apesar dela mal conseguir levar um miserável,
infeliz e sem sentido. Como nosso relacionamento girava em torno de prescrições e estava reduzido a simples
questionamentos sobre quanto ela deveria tomar de cada droga. Eu tinha pouca vontade de trabalhar com ela e intencionava
recomendá-la para outro colega que quisesse ter uma existência tão sem vida como ela queria.
Como também era minha vida, que eu passava com os clientes, eu me recusava a levar adiante uma discussão que não
era na verdade uma discussão. Na véspera da sua saída, (que eu realmente esperava que acontecesse) na sua saída eu a
confrontei claramente com sua miséria, insensibilidade e a vida que ela tinha perdido. Eu também enfatizei que ela poderia
continuar suprimindo seus sentimentos, mas que por outro lado havia uma forma de acabar com toda aquele sofrimento.
Contra minhas expectativas, ela demonstrou algum interesse e até aceitou minha sugestão dela participar de uma sessão
psicolítica.
Durante esta sessão todo o pesar não trabalhado sobre a morte do marido, que ela havia segurado todos estes anos, veio
à tona em uma catarse. Ninguém esperava isto, muito menos ela mesma. Ela chorou por horas, ela quis cancelar a
experiência mas depois resolveu continuar, mesmo com toda dificuldade, com o apoio físico e emocional que nós (minha
esposa e eu que estávamos liderando a sessão) oferecemos a ela ao invés de ter seu esforço abortado.
Esta experiência transformou a cliente completamente. Ela abruptamente reduziu seu uso de substancias aditivas para
um mínimo. Atrás da fachada morta, dava para ver um ser vivo, interessante, inteligente e questionador. Apesar dos quase
insuportáveis sentimentos que tinha resistido, ela queria continuar a trabalhar e também participar de outras sessões
psicolitica. Nossas conversas ganharam vida e centraram-se no sofrimento dela e não mais nos seus jogos que só serviam
para protegê-la do seu sofrimento.
A primeira e a ultima questão estava respondida: ela queria isto. Ela queria se entender. Ela queria por um fim em seu
sofrimento aceitando-o. Com esta decisão ela havia ganho um aliado, eu. Então eu estava pronto e interessado em trabalhar
com ela. No que concernia minha vida, fazia sentido trabalhar junto com ela, também. Muitas outras sessões se sucederam
(com e sem substâncias) nas quais as camadas mais profundas dos problemas dela podiam ser explorados e entendidos. Sua
personalidade começou a lentamente de desdobrar.
O caso com esta mulher também, de acordo com o sofrimento dela, teria sido revalidado pela figura 2 diagrama C assim
como também parcialmente pelo diagrama D (por exemplo a supressão da morte do marido e toda a tristeza ligada a ela). O
seu exemplo mostra, tipicamente, quão sólidas estas defesas podem geralmente ser, e como sem o método psicolítico
dificilmente teria havido uma ruptura. No caso dela, também fica claro como o tratamento psiquiátrico de longa duração tinha
sido colocado a serviço de sua defesa e não a serviço de sua cura. Como já foi mencionada, a questão acima concerne uma
psicoterapia que é desejada, desejada pela nossa sociedade, e que, portanto tornou-se um baluarte dentro da estruturas
existentes nesta mesma sociedade. Infelizmente, tratamentos psicofarmacologicos encontra-se também neste campo.

8
A tranqüilidade infinita de um dia frio de janeiro se estende diante da janela do quarto onde eu trabalho, tudo parece
imóvel e em descanso, contudo há movimento na quietude. Os galhos negros dos pés de maçã e de ameixa se balançando
suavemente ao vento de forma quase imperceptível. As crianças da vizinhança fazendo brincadeiras com as ovelhas dos seus
avós berrando incessantemente.
Uma ave rara voa do telhado em frente até uma castanheira cujos galhos eu mal consigo ver e o gato preto do outro lado
tenta escapar da brincadeira selvagem das crianças. Uma neblina baixa, cinza, pesada e amorfa, que se estende até o rio Aare e
além- até onde a vista alcança - no infinito. Dentro da casa eu ouço e sinto a presença dos meus companheiros. Mesmo assim
tudo está tranqüilo, cheio de uma tranqüilidade capaz de conter toda a vida.
O dia é como uma promesa: como um convite, uma pergunta que eu tenho a libertade para responder ou deixar em aberto.

3 Os guardas da entrada, Medo e obstinação


E novamente, um outro conto sobre fronteiras, como forma de introdução
Há ainda outra fronteira da qual ouvi falar, uma fronteira muito bem guardada. Ambos os lados estão fechados para
novas pessoas que chegam. É uma fronteira absoluta, completamente selada. Cada pais esta familiarizado apenas consigo
mesmo, o outro permanece quase desconhecido para o povo. Como resultado há muitas historias sobre ele.
Há as versões oficiais que dizem que no outro pais moram os inimigos cuja intenção é conquistar o território das
pessoas, para sub-julgar as mesmas. Isto seria aterrorizador e terrível, por que o governo da terra vizinha deve ser violento e
tirano.
Alem disso há historias sobre contrabandistas e outros fora-da-lei rondando por lá como ladrões na noite. Dizem que os
dois paises não são muito diferentes. Há variações, é claro, como sempre haverá entre duas nações diferentes, mas elas não
são de forma nenhuma significativa. Ao invés disto o que é de se espantar é a similaridade; em ambos os paises o povo está
convencido que do outro lado da fronteira está o inimigo, que quer destruí-los. Em ambos os países o povo vive com muito
medo de seus vizinhos.
Antes de começarmos nossa jornada ao nosso ser interior, deixe-nos primeiro ter uma visão geral das estações pelas quais
teremos que passar no caminho. Há uma terceira figura para nos ajudar, uma representação esquemática de uma estrutura de
personalidade média.
A figura 3, tenta representar de forma diagramática a diferença entre uma pessoa na média (um neurótico normal) e uma
pessoa completa e consciente assim como também o caminho do primeiro ao segundo estado. O caminho será discutido de
forma mais completa no próximo capítulo.
Em termos de evolução cada um de nós começou como um ser intacto sem fronteiras, um ser que, contudo, não tinha
consciência de si mesmo. Diagramaticamente, o todo seria similar aquele da parte B, que mostra como seria a aparência de
uma pessoa consciente de si e completa. Ao nível pessoal também, pelo menos quando se desconta a carga cármica,
começamos nossas vidas, sem as limitações que adquirimos mais tarde. Durante o percurso do nosso crescimento e de nosso
condicionamento, contudo nós, lentamente, desenvolvemos uma estrutura de personalidade como a simbolizada no diagrama
A. Tanto pessoalmente quanto em termos evolucionais esta alienação serve para nos tornar mais conscientes, a medida que o
self luta para superar a alienação e não descansará até que ele encontre uma forma de fazê-lo e até que a pessoa completa
desperte.
O bebe (novamente, se levarmos em conta a carga cármica) existe apenas como uma semente. O confronto desta semente
indefesa com as personalidades restritas que a circundam é o que leva a construção das camadas externas. A terceira camada, o
âmbito transpessoal, está ligado experiências negativas de estar a mercê de alguém e de estar sobrecarregado, que é algo -
muito puxado para uma criança - que deve ser combatido. É desta forma que a segunda camada surge. A camada que consiste
de sentimentos defensivos de ódio, ciúme e assim por diante. Já que eles normalmente não são tolerados pelos mais velhos, a
criança é forcada a suprimi-los também. Conseqüentemente surge o anel mais externo: a camada da adaptação (a primeira
neste caso) isto corresponde ao ego, que como resultado de sermos bem limitados, levanta fronteiras de personalidade rígidas
entre si mesmo e o meio ambiente, e barreiras igualmente rígidas contra o reconhecimento das camadas do self interior.
Estas fronteiras são mantidas reduzindo-se a percepção de ambos, tanto o lado de dentro como do lado de fora. A pessoa
normal vive apenas na camada mais externa, que é caracterizada pela superficialidade, e perdeu o acesso ás partes internas de
sua personalidade. Ele ou ela tem ate medo destas partes interiores, que é a razão pela qual o medo, juntamente com a
obstinação, como veremos mais adiante, forma o primeiro dos guardas que proíbem o acesso ao âmago do seu próprio ser. As
outras camadas também são protegidas por sentinelas específicos, como devemos compreender mais à frente.
No percurso trilhado pela psicoterapia, uma pessoa gradualmente descobre suas camadas interiores, ao tempo que vencem
os leões-de-chácara que ficam nas entradas, integrando o conteúdo emocional destas camadas internas. A arrumação da
personalidade continua sendo feita, porem a pessoa é capaz de lidar com ela mais conscientemente. As

9
fronteiras entre as camadas individuais não são mais tão rígidas. Todas elas estão abertas, tanto para o interior como para
o exterior afim de que a pessoa possa sentir que é nada, assim como pode sentir que é todo, o que afinal são a mesma coisa.
O texto em si, proverá um entendimento mais profundo deste diagrama.

Preso na armadilha da conformidade


A maioria das pessoas se deixa ficar, como mostra a figura 3, na parte mais externa de suas personalidades, num estado de
conformidade, firmemente espremido entre a fronteira de personalidade rígida e uma barreira igualmente rígida contra
realmente reconhecer o mundo exterior. Isto significa que eles são cortados tanto do seu mundo interior quanto do seu mundo
exterior. Eles não conseguem se relacionar realmente nem com eles mesmos e nem com o ambiente.
A ânsia de se ajustar também é um impulso emocional e tem, portanto, como todo outro sentimento um conteúdo interno
positivo absoluto quando se olha para ele. Conformidade só é negativo quando ele suprime e vai contra nossa verdadeira
natureza. A capacidade de se adaptar é em si uma característica muito positiva que, como seres humanos, nós possuímos
bastante. Estamos em uma posição de nos adaptarmos a cada situação extrema e isto é uma boa coisa porque ela segura nossa
sobrevivência. Infelizmente, esta capacidade tornou-se ser a razão de nossa ruína. A adaptação da qual estamos falando agora
não é mais uma boa coisa, mas uma submissão à algo que é estranho a nossa natureza, uma subjugação de demanda a
destruição do nosso verdadeiro ser. Este tipo de conformidade até destrói nossa verdadeira capacidade de se adaptar. Nossa
existência, reduzida a meramente a camada adaptativa, torna-se um tipo de comportamento neurótico. Na verdade, neuróticos
são caracterizados por sua perda da habilidade de se adaptar.
Como chegamos a tal estado restrito de ser? Como podemos nos comprometer com um sistema de crenças que nos
descreve como objetos limitados, não mais capazes de perceber que poderíamos ser definidos de forma muito mais completa,
através dos nossos relacionamentos e nossas conexões, do que através da nossa simples presença material?
Como é possível termos condicionado nossas crianças, através dos séculos, a uma forma tão pequena de pensar, que nos
aliena da vida em si?
Além da implicações evolucionarias e culturais que evoca, esta forma de pensar naturalmente tem a ver com questões
concernentes a psicologia desenvolvimental. Neste momento as implicações culturais e evolucionarias não nos interessa
muito, mas nós vamos nos referir a ela de forma sucinta.
Hoje em dia somos confrontados com uma situação na qual seres humanos no mundo todo vivem cada vez menos em
harmonia com sua própria natureza, ao mesmo tempo em que também vivem em menos harmonia com a natureza em si.
Geralmente, eles se isolam cada vez mais do que eles realmente são, e apesar do enorme progresso tecnológico,
psicologicamente eles continuam sendo bárbaros. A primeira vista isto é incompreensível. Olhando para isto mais de perto,
chegamos a pensar que isto pode ter algo a ver com um processo de alienação pelo qual é importante passarmos, pois é isto
que possibilita o desdobramento de nossa consciência. Não é apenas nosso desenvolvimento individual que parece seguir este
padrão. Toda a evolução da consciência parece se desdobrar ao longo destas linhas: experiência inconsciente do paraíso,
expulsão do paraíso, alienação e finalmente a reentrada no paraíso, mas num nível mais alto de consciência, que nos dá uma
base nova e mais completa de integração para a personalidade.
Este evento naturalmente inclui todo progresso concebível, incluindo falsos começos e becos sem saída: armadilhas nas
quais nós podemos e na verdade caímos. Culturalmente parecemos andar pra frente em pulos aos quais nos referimos hoje em
dia como mudança de paradigma. Com o passar do tempo uma nova perspectiva se instala, se opondo à anterior, que está
provado não ser mais satisfatória que a anterior a ela mesma.
Isto gradualmente se solidifica novamente e se torna tão rígida quanto a recém abandonada, com seus agentes debatendo-
se contra a luta renovada por mudanças, exatamente como suas predecessoras fizeram. Este tipo de desenvolvimento nos
dominará tanto ao nível individual quanto ao nível coletivo, até o momento em que a consciência se desenvolva ao ponto onde
não haja lacuna entre o reconhecimento e a ação, na qual tempo e pensamento podem se apoiar, isto é, até que seja possível
um processo contínuo inquebrável que não se deixe mais se pego pela armadilha do hábito. Mas isto é apenas um pequeno
desvio. Deixe-nos agora retornar a nossa preocupação principal: o assunto de desenvolvimento pessoal.

Sobre a evolução do ser humano


Quando uma criança nasce, ela existe, psicologicamente falando, apenas como a semente interior (como o self, incluindo
os níveis transpessoais como mostrado na figura 3. Ela se funde diretamente, simbioticamente com o meio ambiente. Não há
fronteiras, nenhuma barreira contra a percepção. Porém ela não é consciente de si mesmo, ou, se o for, o é apenas de forma
limitada. Sua tarefa na vida consiste em se tornar consciente de si mesmo. Se aceitarmos a possibilidade da reencarnação, o
núcleo da consciência incluiria todas as experiências até o momento do nascimento, e sua tarefa de vida seria, então,
desenvolver mais, a já existente consciência. Se excluirmos esta possibilidade, se alguém

10
tem outra explicação para o fenômeno transpessoal, pode-se olhar para a semente como uma folha em branco e para a
vida como a única chance que se tem de se tornar consciente. Devemos falar mais sobre isto mais adiante.
Este semente logo entre em conflito com seu meio ambiente, com as pessoas que a criam, e acima de tudo com seus
conceitos. Um bebe recém-nascido não sabe nenhuma palavra. Ele vê, ele ouve, ele sente, mas sua percepção é, ainda, pura
percepção e ainda não foi irremediavelmente conectada a palavras e conceitos como os adultos. Neste estágio há apenas cores,
sons, padrões, toque, dor, sensação. As coisas não têm nenhum significado ainda. Como um adulto eu vejo uma cadeira, uma
mesa, uma montanha, uma pessoa ou qualquer outro objeto. O padrão, a cor não pode mais ser separado do objeto que é
percebido e reconhecido. A percepção não é mais pura e imediata, é sempre ligada a experiências passadas e, portanto quase
nunca diretas.
É exatamente a mesma coisa com som e sensação. Eu ouço um piano, ou a voz da minha mãe, por exemplo. Eu sinto o
toque de uma mão. O conflito de uma criança com o mundo dos adultos consiste no fato de que os adultos tendo perdido
contato com este tipo de percepção original, insiste que a criança deve aprender a forma de percepção deles, porque de outra
forma, não haveria nenhum entendimento possível entre eles.
Isto em si não seria um problema, porque, afim de se tornar consciente de si mesmo, a criança deve aprender a
conceitualizar e ao fazê-lo, experienciam a sensação de alienação. O reconhecimento do bom e do mal só é possível quando
você faz uma compensação pela expulsão do paraíso. O verdadeiro problema é que o adulto perdeu acesso ao mundo da
criança, e até tem medo dele pois ele tem apenas um vaga lembrança dele. Sob a pressão da maneira como fomos criados,
aprendemos a esquecer o mundo infantil e a recear uma volta e ela com uma falha.
Você só tem que pensar sobre todas as experiências de não encontrar as palavra certas na escola, ou de perder o fio da
meada no meio de uma frase ou de não lembrar um poema. Lá estava você, em pé, corado, confuso, exposto até o âmago do
seu ser. E você aprendeu que aquilo não era de forma alguma uma coisa boa de se sentir.
Através da falta de entendimento do mundo infantil, e até mesmo medo dele, o adulto, longe de ser simpático e
compreensível, se torna rígido com relação à criança. Ele não aceita a aprendizagem de uma nova dimensão, mas ao contrario
força a criança de uma forma suave ou menos suave, para que ela abandone a mais verdadeira de todas as realidades. Ele não
lembra que ele carrega em si uma realidade muito mais abrangente do que a da qual ele está afastando a criança, que ainda não
consciente de si, tem um acesso intuitivo a este estado. Desta forma a criança logo aprende a negar seu verdadeiro self, e a se
virar para para o mundo adulto. Naturalmente, isto não acontece sem conflito e este conflito leva a sentimentos negativos,
como veremos no próximo capitulo. Estes sentimentos não são nada mais que o efeito da fricção no fluxo de energia que não
tem permissão para fluir livremente.
Tais sentimentos são negativos de duas formas, primeiramente há sentimentos de impotência e desamparo, de ter que se
render a pressão imposta pelos desafios dos adultos. Em segundo lugar há os sentimentos defensivo como ódio, obstinação e
inveja que são reações à sensação de estar a mercê de alguém. Desta forma um camada inicial de alienação se forma ao redor
da semente interna (figura 3 A, segunda camada: confusão de sentimentos). Isto, novamente, é claro que não é desejado no
mundo adulto, pois pode causar muitos distúrbios. Portanto a criança aprende rapidamente, novamente sob pressão, a
restringir estes sentimentos também, a suprimi-los, a desintegrá-los ou baní-los ou se livrar deles de alguma forma. Então
finalmente a terceira camada aparece. A camada adaptativa que é marcada rigidamente, tanto interna como externamente, e é
dominado por uma primeira camada de comportamento superficial, ambicioso, invejoso, orgulhoso, artificial e falso. (figura
3A a camada da conformidade.) vivemos nesta camada e é dela que se forma nossos relacionamentos e comportamento social.
As camadas inconscientes que a sustentam então cuidarão para que ela se libere de forma destrutiva, como acontece, por
exemplo, em guerras e atos de violência. Mais raramente, isto resulta em liberação de verdades como, por exemplo, quando o
fundador de uma religião aparece em um local ou quando acontece uma motim social. Contudo tais atitudes estão sempre
condenadas ao fracasso, pois elas são sempre reabsorvidas e remodeladas por atitudes adaptativas, e, portanto elas
rapidamente se solidificam em uma estrutura que mais uma vez é rígida, falsa e isenta de vida. Na camada superficial
encontramos apenas uma fachada: adaptação e sua contraparte, oposição, o que representa o outro lado da moeda. Porque
enquanto a resistência tenta proteger um pouco de verdade já que ela superficialmente se opõe a pressão para o conformismo,
ela se congela em uma atitude perante a vida que é tão fixa e rígida como a que ela se propõe a substituir.
Dependendo do tipo de pressão exercida, se mais suave ou mais violenta, aparecem distúrbios psíquicos ou variações nos
padrões de comportamento baseados em adaptações, que, por exemplo são responsáveis por acordos sociais. As pessoas que
foram criadas para obedecer, por exemplo, aquelas que foram suprimidas, via de regra criam os filhos da forma que foram
criadas. Pessoas menos moldadas que foram criadas através da negacao do amor e não da força, isto é, pessoas que foram
orientadas para comandar, por sua vez, cria comandantes. Isto, é claro, caso o indivíduo não se liberte do seu condicionamento
por si mesmo.
Por este ponto de vista perturbações psíquicas devem sempre ser redirecionados às mesmas perturbações básicas. As
diferenças se relacionam mais ao tempo e tipo de pressão que entrou no condicionamento. Neste ponto tem ainda que ser
entendido que não só violência mas também a negação, a retirada do amor, e assim por diante,constitui métodos efetivos de se
fazer os seres humanos se adaptarem.
Muito cedo, a repressão massiva ou omissão leva a configurações patológicas tais como as encontradas em

11
doenças psicóticas ou depressão endógena. O ataque esquizofrênico não é nada mais que uma regressão para o nível da
semente pelo indivíduo que sob repressão massiva ou inapropriada ou por falta de orientação, não foi capaz de construir uma
neurose normal sólida. (figura 2E e 2F). De vez em quanto construções provisórias desmoronam quando sob pressão, e uma
viagem de volta interna acontece, para a parte dele que está doendo. Como toda eclosão de doenças, um ataque psicótico é na
verdade uma tentativa de cura. Contudo, esta tentativa não pode ter sucesso porque o adulto, isto é o modo limitado de pensar
que surgiu no momento, atrapalha, porque há o medo da regressão, porque um movimento de fluxo livre entre o ego e o núcleo
não é possível.
A combinação entre a experiência em si e o pensamento interpreta erroneamente é responsável por alucinações e outros
sintomas da esquizofrenia, que não são nada mais que uma tentativa de romper o núcleo. Tentativas falsificadas de forma
bizarra através de padrões de pensamento restritivos. É muito similar ao que acontece com outros distúrbios psíquicos, a
diferença estando primeiramente em que ponto no tempo o trauma ocorreu. Quanto mais cedo o primeiro grande trauma, mais
forte e portanto menos compreensível e mais amedrontante a regressão. Quanto menos sólida a fundação neurótica for, pior
será o colapso da estrutura. Com distúrbios fronteiriços o estrago é causado num estágio posterior do que com
esquizofrênicos, e o mesmo acontece com psicose maníaco-depressiva e depressão endógena. A última mostra uma regressão
ao sentimento de impotência, encontrada bem na entrada do núcleo (a ser descrito mais adiante). Porém este não é um
movimento sem impedimentos que poderia proporcionar a cura em seu despertar, mas uma tentativa perturbada por
pensamento adulto, que cria confusão. Portanto esta tentativa leva a pesadas e incompreensíveis formas de depressão cujo
conteúdo interno, a impotência, deve ser trabalhada, por exemplo, em psicoterapia. A cura só pode acontecer quando os
sentimentos que estão sendo afastados tiverem sidos totalmente integrados.
Tentativas posteriores ou mais suaves levaram a diferentes padrões neuróticos ou talvez apenas a neurose normal. Isto é,
uma pessoa cresce e não se sente confortável em se restringir à camada mais externa da consciência (ver figura 3A) mas é
capaz de funcionar nela, e se torna uma defensora de todas as normas que são protegidas por esta camada e com a visão de
mundo relacionada a ela.
Mesmo um neurótico normal poderia se perder muito, por ter negado sua verdade pessoal por um longo período de tempo.
Ele também deve então pagar o alto preço exigido pela revelação desta mentira em sua vida, a fim de achar seu caminho
novamente. O preço é o colapso e o questionamento de toda sua situação de vida.
Os pontos de transição das camadas individuais no diagrama A da figura 3 são ocupados por poderosas resistências que se
certificam que ninguém possa atravessar. Eventualmente, a mudança para uma nova camada na evolução pessoal sempre
ocorre quando a discrepância entre o próprio ser de alguém e as exigências para se conformar levam a sensações intoleráveis
que têm que ser evitada a qualquer preço, e que portanto ninguém quer reviver voluntariamente. Ai, encontra-se o grande
problema mas também toda nossa liberdade: em última instância sou eu quem decide que rumo minha vida tomará, e é
exatamente como eu quero que seja, ou que não seja a cada momento.
Eu gostaria de acrescentar uma palavra sobre o conceito de doença e categorias diagnósticas. Até onde eu sei, eles só têm
valor descritivo e fazem parte de um ponto de vista que está ultrapassado e que pensa em termos de objetos ao invés de
relacionamentos. Eu os uso apenas para poder traduzir linguagem psiquiátrica em linguagem de emoções e vice-versa. Na
verdade não há configurações patológicas separadas deste tipo.
Todo problema psíquico denota uma experiência de sofrimento a um nível altamente pessoal que só pode ser entendido
individualmente. Categorias diagnósticas não nos ajuda a ter acesso a um verdadeiro entendimento, ao contrario elas os
esconde. Ela criam um obstáculo e portanto tem o tipo de autoridade que só se justifica em termos práticos. Isto significa que
muitos distúrbios são curáveis teoricamente mas não na pratica, porque a pessoa afetada não é capaz de achar um caminho
para si mesmo, ou porque não quer ou porque não recebe a ajuda necessária para o processo. Do ponto de vista prático estes
distúrbios conseqüentemente levam a uma deficiência que também deve ser aceita como tal.
Vamos lidar rapidamente com esta questão de porque uma pessoa reage a uma situação estressante se tornando
depressiva, outras se tornando psicóticas, uma terceira apresentando sintomas psicossomáticos ou compensando de forma
neurótica, e assim por diante. Como vimos, isto se relaciona, acima de tudo, ao ponto no tempo em que o trauma ocorreu no
desenvolvimento emocional da pessoa. Por outro lado, padrões de comportamento familiares que foram desenvolvidos e
passados através de gerações também têm seu papel. Disposições genéticas que a final de contas nada mais são que padrões
consolidados a nível bioquímico e portanto herdados, possivelmente também exercem sua influencia paralelamente.

O medo de ser um intruso


Agora, quando você entra em psicoterapia ou começa uma jornada de alguma outra forma, você logo encontra o que quer
que tenha estado lhe atrapalhando de percorrer este caminho até o momento. Você se depara, assim dizendo, com os sentinelas
que guardam a entrada do seu verdadeiro ser, do reconhecimento do seu ser. Seu leão de chácara é aquele sentimento que você
mais suprime, do qual você mais gostaria de se livrar.
Seu medo é provavelmente o primeiro sentimento com o qual você terá contato. O sentinela defendendo sua

12
camada adaptativa, tanto contra o mundo interior quanto contra o mundo exterior, é medo. (figura 3A).
Na verdade, medo quase não é um sentimento. Ele toma o lugar de sentimentos que são reais mas não presentes, porque
não são permitidos. Medo é o buraco em seu estômago, que ganha vida quando o conteúdo, o sentimento por traz dele, não
tem permissão de ser. O medo está sempre relacionado com o tipo de pensamento que une a realidade alcançada por sua
educação, que você agora apóia. A conseqüência pessoal deste medo é que você perde a chance de aproveitar algo que é único
para você, sua vontade, sua vida, seu próprio ser. A conseqüência é que vivemos em um estado de paranóia com todas as
demarcações e as guerras resultantes delas. As pessoas que são defendidas por seus medos são as que os aceitam. São os tipos
que sofrem muito, que contra seu próprio bom senso, permitem que um Hitler aconteça, porque vêm autoridade e poder como
estando fora deles e não dentro.
Do que temos medo então? Assim que aceitamos o medo ao invés de suprimi-lo, nós reconhecemos que temos medo de
ser o que realmente somos, de fazer o que realmente queremos fazer, porque temos medo das conseqüências indesejadas que
seguem; a expectativa do que foi martelado em nós durante o período de nossa criação e condicionamento.
O medo se faz presente quando eu não tenho a permissão de existir em termos de minha energia e sentimentos, porque eu
aprendi que isto ameaça minha sobrevivência na sociedade. Assim, novamente a questão vem a tona se quero aceitar o medo e
se, enfrentando as conseqüências, eu quero negar a mim mesmo ou se prefiro me confirmar na experiência que eu não sou
mais uma criança, mas que de fato, como um adulto (na maior parte das vezes) eu tenho muito mais alternativas: eu posso
suportar ser mais solitário, eu tenho muito mais chances de formar relacionamentos que a criança que está fixada
exclusivamente naqueles que o criaram e que não podem ir embora.
Inicialmente você pode até nem reconhecer seu medo, como medo. Possivelmente você procurou ajuda por causa de
vertigens ou tonturas crônicas, uma expressão psicossomática freqüente do medo, ou o medo de deixar-se cair em si mesmo.
Talvez também, você lute com desgosto, com horror, que o segue em todo lugar, o que também é uma expressão de medo não
percebido.
Em psicoterapia entramos em contato com o medo muitas vezes. Especialmente no começo, porem mais adiante também
encontramos um grande problema: que muitas pessoas permitem que toda suas vidas sejam ditadas por medo. Quando estão
com medo de algo eles a evitam, já que o medo parece ser para eles um sentimento terrível demais para ser confrontado. Se
você lidar com seu medo desta forma, se você se deixar ser levado por ele, então você está perdido. Eu conheci pessoas que
não podiam mais fazer nada, porque tinham medo de tudo mas ainda tentavam escapar. Não há nada pior do que ter o inimigo
em suas costas. Pode ser uma boa coisa evitar uma briga quando ela não é importante, mas quando ela é inevitável, devemos
enfrentá-la.
Estamos sempre com medo de algo que queremos fazer, ou de algo que poderia acontecer. Bem, não podemos primeiro
destruir o medo e depois agir. Mas gradualmente nós perdemos este medo quando agimos apesar dele, quando fazemos o que
achamos ser certo, mesmo estando com medo. Isto não significa que devemos reprimi-lo, pois isto seria falso e nos tornaria
indiferentes. Isto significa que devemos encontrar o medo, deixando-nos ser aconselhados por ele, mas sem esquecer que ele é
apenas uma voz e não todo o coral da nossa verdade interior. Uma pessoa que queira achar seu próprio caminho neste mundo,
que quer se perceber, automaticamente se torna um intruso. Ele sai fora da norma, o que é um pouco assustador inicialmente.
Eu estou sempre vendo pessoas enfrentarem este problema, sem acharem nenhuma ajuda. Este é um ponto muito importante,
um terapeuta só pode lhe ajudar a descobrir as conexões, mas ele não pode tirar os seus medos. O que ele pode fazer, junto
com você é iluminar o abismo, mas quando você pula, você está absolutamente sozinho.
Como aquela cliente trágica que me visitou um dia. Ela tinha 43 anos de idade, com boa situação de vida, bem casada,
eles tinham duas crianças, uma grande casa e assim por diante, mas ela estava presa numa jaula de ouro, como ela mesmo
expressou. Na jaula da segurança, a fachada de convenção burguesa. Por razões que remontavam a sua infância, ela havia
desenvolvido uma enorme necessidade de segurança e dado mais importância a isto em sua vida do que a necessidades que
estavam mais próximas a ela. Agora não estava mais funcionando. Ela estava insatisfeita. Insatisfeita com seus
relacionamentos, insatisfeita com as restrições dentro das quais ela vivia, insatisfeita com as expectativas dos outros com os
quais ela era forçada a conviver, e que ela tinha que corresponder. Ela estava com medo de suas insatisfações.
Ela queria deixar o marido, compensar experiências perdidas, ser auto-suficiente, trabalhar por conta própria, e assim por
diante. Mas ela tinha medo. Ela mantinha este medo sob controle com tranqüilizantes que ela consumia em grande quantidade.
Ela finalmente chegou até a mim pelo vicio em drogas. Nós pudemos trazer a tona seus problemas, entendê-los, torná-los
visíveis, e ela podia até falar sobre eles até certo ponto, com seu marido. Porem ela não ousava se arremessar, ela continuava
dependente, escolheu o caminho de uma dependência ainda mais profunda. Ela continuou presa na camada da adaptação
mostrada na figura 3A. Ela acabou em uma clínica psiquiátrica para desintoxicação, depois, novamente por causa de seus
medos e depressão presa entre a casa e a clínica, permaneceu viciada e satisfazia- se mais e mais com teorias que serviam de
desculpas para seu sofrimento como algo endógeno, como um golpe do destino. Possivelmente, tudo isto trazia para ela pelo
menos um pouco de conforto - eu não sei. Eu perdi contato com ela. O meu é um caminho diferente, nós realmente não
poderíamos nos encontrar.

13
Você pode lidar com o medo como lida com todos os outros sentimentos. Você pode suprimi-lo, como acontece com
neuróticos compulsivos (esta categoria também inclui neuróticos normais), neuróticos histéricos, etc. você pode dividi-los
como pode acontecer com narcisismo, pessoas limítrofes, e distúrbios psicóticoa. Você pode se submeter a ele da forma que
neuróticos depressivos e ansiosos fazem, projetar como os fóbicos fazem e também como os psicóticos fazem e assim por
diante. Ou você pode aceitá-lo e integrá-lo sem julgar ou dar a ele nenhum direito. Você pode favorecê-lo, ouvi-lo sem
nenhuma reação defensiva ou justificativa. Você pode tentar entendê-lo e tomá-lo como parte de você mesmo. Uma parte que
tem voz, mas que não é o seu todo. Você pode se aproximar dele como se aproximaria de uma criança com medo em sua
frente, com afeto e carinho. Então ele encontra seu nicho e lentamente mostra seu valor intrínseco, que como todo sentimento
é parte de sua verdade. Ele então se transforma em carinho, cuidado e solicitude em sua vida, em - bem - uma qualidade
beneficente, e ele perde seu aspecto amedrontador. O medo não é uma doença para ser destruída ou suprimida com drogas
como se faz. O medo tem seu significado. Ele deve ser entendido e observado com amor, então ele não será mais um inimigo e
sim um amigo.
O guarda na porta se torna então um companheiro em sua jornada, que perpetuamente lhe lembra de ser cuidadoso, e que
cuida para que você não bata sua cabeça ao andar pela margem. Rejeitado isto se transforma em um poder muito perigoso
agindo do inconsciente de forma descontrolada e de maneira não saudável, como acontece mais e mais no mundo. Quando
integrado, ajuda o todo e na verdade não é mais medo, mas ao invés mostra apenas seu significado interno, o que nós
encontramos em tudo que é chamado negativo, se nos o aceitarmos e o examinarmos. Assim que o medo é totalmente aceito, o
que quer que esteja realmente escondido atrás dele se torna visível.
Muitas vezes vejo pessoas fracassarem por deixarem suas vidas serem dirigidas pelo medo. Eles deixam de fazer as coisas
que gostariam de fazer, afim de não enfrentarem seu medo. Eles querem primeiramente vencer seu medo e depois agir. Mas
eles não conseguem ter sucesso desta forma. O medo só pode ser vencido quando se aprende a agir apesar dele e com ele, sem
suprimi-lo nem obedecê-lo. Rani, uma mulher com quem tive a chance de aprender muito, sobretudo como corrigir minhas
falhas sociais, às vezes expressa desta forma: você não espera ate ter aprendido a esquiar antes de colocar os skis. Você tem
que começar de um ponto a respeito do qual você não saiba nada.
O medo coloca barreiras tanto externas (fronteiras de personalidade) como internas (barreiras para o reconhecimento)
(figura 3 A). Ambas são fronteiras de percepção que foram levantadas pela pressão de se conformar. A contradição entre a
experiência de uma pessoa e as expectativas de outras causou tanto medo, de um tipo tão desagradável que como criança você
foi obrigado a evitar ficar face a face com ele. Como adulto você tem que aprender a encontrá-lo novamente. O medo, quando
você não consegue enfrentá-lo lhe priva de ver a verdade, a sua verdade.
Em psicoterapia, eu posso, portanto começar meu trabalho como terapeuta em duas frentes. Eu posso confrontá-lo com o
fato de que você realmente não vê, ouve ou sente, que você não consegue perceber de forma contínua o que acontece fora de
você, que você não está realmente conectada com o mundo exterior, que você não me reconhece como eu sou, que tem medo
de mim ou me deixa de fora. Ou posso afirmar que você não ouve, vê ou sente o que acontece dentro de você, que você não
está permanentemente alerta ao que acontece dentro de você, que você não está genuinamente conectado com você mesmo,
com seus dedos dos pés, seu estômago, que você deixa de fora outras partes, que você vive apenas na sua cabeça ou nos seus
genitais, que você tem medo de si mesmo, etc.
É melhor começar com ambos. Começamos observando quais os seus medos, o que é que o seu guarda está defendendo,
que tipos de conseqüências você terá que enfrentar, tanto interna, quanto externamente. É interessante como logo devemos
perceber, e com crescente clareza, que as fronteiras demarcando o lado de fora são as mesmas que demarcam o lado de dentro.
Você não consegue perceber claramente o mundo externo, seus relacionamentos e sistema social no qual você vive, sem
reconhecer seu eu interior, e você não consegue entender o eu interior e simultaneamente manter seus olhos fechados em face
de toda miséria do mundo. Aqui nós logo nos deparamos um fato muito interessante! Aquilo do qual você se defende no
mundo externo é também aquilo do qual você se defende no mundo interno. O que não é permitido ser verdade internamente
não existe no mundo externo também. Sua sombra está do lado de fora tanto quanto dentro de você, ou para colocar de forma
mais positiva, se encontrar a si mesmo é descobrir o universo; estar com você mesmo é finalmente estar completamente com
todos os outros, dentro e fora, levando-se em conta que você é completo, um movimento singular; não há separação, não há
fronteiras definidas.

A ressurreição da obstinação
Um segundo leão-de-chácara que normalmente guarda a entrada é obstinação. Obstinação e resistência, como medo,
geralmente ficam bem na porta que leva a camada adaptativa, e de fato novamente, tanto na direção interna quanto na direção
interna.
Quando o medo esta de guarda, obstinação encontra-se logo atrás dele. É de fato, isto, que se teme. Porque sua força - se
tivesse a permissão de viver - mudaria o mundo. Nós encontramos o medo brincando de leão-de-chácara em todas as pessoas
que tiveram sua resistência quebrada de alguma forma. Eles temem o "não" que devem dar contra a compulsão ao
conformismo. Eles têm medo de perder o controle sob o poder escondido das suas negações, o não escondido. Uma vez que
eles reconheçam sua teimosia, não havia como segurá-los.
As pessoas na quais a obstinação monta guarda, podiam preservar uma porção remanescente de sua energia para se opor a
pressão externa. Mas elas são fixadas e engaioladas apenas nesta oposição. Com tais pessoas é o medo que se

14
esconde atrás da teimosia. Eles usam seu poder para afastar o medo. Eles desperdiçam sua energia em oposição
superficial; eles ficam contentes em meramente criar desordem e confusão em seu ambiente, várias e várias vezes, sem nunca
se libertarem daquilo a que se opõem. Eles não têm consciência de sua dependência. Eles se dizem livres, mas, na verdade não
são. Eles ainda têm que entender que resistir à dependência não é o mesmo que liberdade, mas que é outra forma de repressão.
Estas são as pessoas que constantemente conseguem jogar suas vidas e a sociedade na desordem.
Há um outro grupo de pessoas nas quais a obstinação monta guarda, que acharam uma forma de usar esta energia
insuprimível a serviço da conformidade. Eles teimosamente defendem a fronteira contra os mundos externo e interno. Eles
estão, portanto, entre aqueles membros da sociedade que se entrincheiraram em posições de poder, desesperadamente usando
suas posições para não deixar entrar nada estranho, da forma que eles uma vez defenderam seus direitos a suas idiossincrasias
como crianças. Elas são poder, cresceram para serem poderosas, mas não para usar seu poder a favor da vida e do ilimitado,
mas contra a vida, contra o amor, contra o infinito. Atrás do poder em tais pessoas, está o medo, que é geralmente, uma forma
de obstinação também. Em não defender e em tentar entender sua teimosia, ele teriam que desistir de algumas coisas.
Quando alguém vive baseado em um sentimento fixo, seja obstinação, medo, ou qualquer outro sentimento, ele ou ela não
está - ou está apenas parcialmente - consciente disto. O sentimento dirige a pessoa ocultamente. Quando não está consciente
de forma alguma a pessoa funciona bem. Quando se sente perturbada diversas vezes, por se tornar consciente, acha que está
emocionalmente desequilibrada. Uma fixação é mantida exatamente através da supressão. Com uma fixação a energia vital
não flui. Os sentimentos vêem à tona através de um momentâneo bloqueio desta energia. Com a energia fluindo livremente,
eles desaparecem e a totalidade acontece. A fixação, o ato de estar constantemente apegado a um sentimento, só é possível
através do bloqueio dele a um nível inconsciente.
Posso tratar a obstinação da mesma forma que eu trataria o medo. Ao invés de evitá-lo eu devo me aproximar dele, levá-lo
a sério. Ele contém uma energia poderosa: uma energia que permanece insatisfeita contanto que algo esteja errado; uma
energia que nega tudo que não for verdade. Ela diz, eu não quero isto, isto não é o que eu quero; eu quero algo, tudo bem, mas
algo mais. Quando o ouvimos, quando o deixamos contar sua estória, ele nos tira da submissão e também é transformado de
carcereiro em companheiro. Então ele coloca seu poder ao nosso dispor, a fim de nos empurrar para bem dentro de nossa
própria verdade. Porém, quando bloqueado, sua energia é direcionada contra nós mesmos. Nutrida pelo medo, que fica atrás
dela, esta energia cria o que é provavelmente o problema humano mais fundamental: nossa contínua necessidade de perpetuar
tudo que é belo e prazeroso, e de evitar tudo que não o for.
A obstinação que se ficou muito oculta não está pronta para suportar as conseqüências de suas próprias decisões. Ela leva
coerção, a neurose de compulsão obsessiva, a tirania e mantém viva todas as estruturas de poder do mundo. Desta forma ela
contribui essencialmente para a energia destrutiva em nossa sociedade.
A integração da obstinação, do não, freqüentemente leva a superação de juramentos de vida profundos, que originalmente
eram significativos, mas que subseqüentemente tornou-se destrutivo. O "não" tem sua utilidade e não devemos abrir mão
dele. Ao contrario, ele precisa ser entendido ao nível consciente, a fim de que ele também encontre seu lugar, seu caminho de
casa.
Inicialmente cada um de nós resiste ao processo de se tornar consciente, o processo de evolução, já que fomos magoados
e amedrontados no passado. Portanto precisamos de terapeutas para quem esta resistência possa ser transferida. Um terapeuta
pode lhe levar ao âmago da sua negação para que você seja capaz de chegar a uma decisão nova e livre. Se então você chegar
a um ponto onde você ainda insista em se prender ao seu "não", ninguém poderá lhe ajudar mais. É aí que sua liberdade
começa. Sempre há resistências no inicio, resistência contra aceitar um sentimento, um insight, sua verdade. Mais tarde ele
evita que você se libere em favor mais mudanças. Aqui a conexão com nossa necessidade de segurança mais uma vez se torna
clara.
Sua resistência vem disfarçada talvez como uma afirmação: eu certamente quero, mas não posso. Se você experiencia sua
resistência como uma incapacidade, isto significa que você ainda não descobriu o "não querer" que se esconde atrás dela. Em
resumo, você permanece vitima de si mesmo. O que vai liberar você é o reconhecimento do "não" atrás da sua atitude de
vítima e resistir e enfrentar a força que se esconde atrás deste tipo de impotência.
Quando o "não" se torna total em você, ele pode se transcender. Como o medo, que ao se tornar total se transforma em
cuidado e carinho, a integração da obstinação levará a respostas claras e simples em sua vida, a um "sim" ou "não" sem medo,
a cada vez. Integrar o não, libera você da conformidade. Você sai do caminho dominado por "eu devo, eu tenho que" ou "eu
não posso, eu não devo" e passa a percorrer o caminho caracterizado por "eu quero" ou "eu não quero".
Sentimentos são transitórios por natureza. Eles logo se dissolvem quando não nos apegamos a eles ou não os evitamos.
Quando eles são evitados ou aprisionados, ficamos fixados neles. Por outro lado eles são como compartimentos em nossa
consciência. Estão sempre presentes. Posso me deparar com eles várias e varias vezes eles não se permitem ser esquecidos -
isto seria como evitá-los. Quando consigo conhecê-los bem, com o tempo eu aprendo a deixar estes cômodos de sentimentos
abertos, sem entrar neles. Já que não podemos acabar com eles de uma vez por todas, nós temos um medo crônico de que os
sentimentos poderiam ficar para sempre se nos rendermos a eles.

15
Sua resistência, naturalmente, toma as mais variadas formas, porque ela quer ganhar incondicionalmente. Ela nunca
desiste. Ela raramente se mostra como realmente é. Às vezes ela vem disfarçada de respeito, de moralidade ou as vezes como
um intelectual esperto, então novamente, como uma criancinha carente ou como um poderoso opressor. Porém ela também
gosta de assumir o papel de um pai cuidadoso ou de um palhaço. Precisamos gradualmente penetrar em todos estes
mecanismos de defesa e constantemente descobrir a obstinação atrás deles, para apontá-la e explicá-la. Mesmo assim a
obstinação não desiste e é certo que ela não o faça, porque ainda não foi colocada no seu lugar certo. Somente quando a
obstinação for transformada, como o medo, de um leão-de-chácara em um aliado e tiver a permissão para se mostrar
diretamente e a falar diretamente, e a dizer o que quiser e o que não quiser, ela encontrará a paz. Então haverá mais e mais
momentos transcendentes no qual a vontade se tornando mais consciente de si mesma reconhece suas fronteiras e permanece
quieta. Ela aceita o estado de indecisão e não pede por mais nada, ao contrário começa a viver com o que é. Depois ela
prossegue com o movimento da vida, com o maior, ao invés de com seu próprio pequeno movimento. A vontade então está por
um lado, completamente desenvolvida e livre, e por outro lado, precisamente por causa disto, capaz de se submeter a forma de
ser do todo ou a seguir junto dele.
Seu medo e obstinação retornarão em cada cruzamento na estrada, primeiramente, provavelmente disfarçada de astúcia,
como um mal-conselheiro, um bagunceiro ou um sedutor. Mesmo assim você deve ouvi-los atentamente, pois ambos sempre
ganham. Ou porque você os ajudou a conseguir o que é direito deles ou porque eles se enraízam a um nível inconsciente na
forma de energia destrutiva. Quando você dá ao medo e à obstinação o que é direito deles e permite que eles se expressem
diretamente, eles lhe aconselharão bem, e você ficará espantado de ver a clareza com a qual eles se comunicam e a prontidão
deles em se retirar ao silêncio quando a ajuda deles não for mais necessária.
Através deles você também aprenderá de forma crescente que de qualquer forma você não tem escolha. Você pode
certamente se negar a chance de ir pelo seu próprio caminho, como pode por outro lado percorrer seu caminho com boa
vontade. Se você for a frente voluntariamente, você se verá levando uma vida descomplicada, boa e rica em si. Se você tirar de
si mesmo a oportunidade de seguir seu próprio caminho, você será forçado pela vida a ir contra sua resistência, e se verá
tropeçando pela vida de um obstáculo a outro, como a maioria das pessoas faz. Porém isto não depende da resistência que já
existe em você. A formula para se libertar não é matar a resistência, como muitos pensam, mas entender e integrá-la, ouví-la,
dar a ela o lugar que tem, ao invés de deixá-la funcionando por baixo onde ela se tornará destrutiva.
Visto na luz, toda resistência é uma forca positiva e contém nada mais que sua disposição de viver, sua energia de vida,
sua capacidade, seu "sim" e seu "não". Resistência nada mais é que sua disposição, seu pensamento, que cruza o fluxo de
energia da vida, criando um dique no processo. Você se segura firmemente, mas simplesmente não consegue se soltar também,
como alguns podem lhe aconselhar a fazer. Você deve entender a resistência e o medo conectado a ela. De certa forma eles
estão corretos, mas não completamente. Eles estão mais errados que certos, mas não completamente errados também. Isto
precisa ser entendido e experienciado de forma satisfatória.
A teimosia se dirige para a camada da adaptação (figura 3A) tanto quanto para o lado de fora como para o lado de dentro.
Terapeuticamente, pode-se começar em ambas as frentes: ao nível externo você não quer me amar como seu terapeuta, a nível
interno você não ama a si mesmo.
Sentimentos que foram renegados geralmente têm a ver com problemas psicossomáticos. O medo, a nível físico,
geralmente induz a problemas de estômago, de gastrite a úlceras gástricas. Porém dores reumáticas, colites ulcerosa e outras
doenças também são principalmente conseqüências de medo renegado. Diarréia e problemas de rins também são comuns.
Obstinação que não tenha sido realmente experienciada leva, via de regra a doenças intestinais como constipação crônica com
todas as suas conseqüências. Colites ulcerosas podem ser vistas como uma doença resultante de medo extremo, controlado e
suprimido de uma obstinação extrema que uma pessoa evitou. Câncer do reto e intestino pode ser visto como resultado e
decomposição final de uma obstinação perpétua bloqueada com sucesso durante toda a vida. Sentimentos que foram
reprimidos encontram sua expressão no corpo, e podemos concluir desta expressão também, que tipos de sentimentos foram
evitados.
Ao nível energético, partindo-se do insight que somos, em última análise, feixes de energia, podemos ser percebidos
como tal e nos entendermos desta maneira. Há uma deficiência no fluxo de energia do órgão em questão. O centro energético
sob o plexo solar é afetado especialmente quando os sentimentos são bloqueados. Às vezes são quase que completamente
fechados.
Agora, o que a integração destes dois guardas traz a tona? Traz uma abertura, um novo fluxo de energia vital, uma nova
conexão com o interior e o exterior, um efeito relaxante, uma liberação e com isto um sentimento de liberdade, de espaço, de
conexão, gratidão e totalidade. O trabalho de forma alguma está acabado ainda. Ele acabou de começar. O primeiro dos
guardas se tornou um aliado. O primeiro estágio da iluminação já foi alcançado.
Talvez a abertura leve você a se apaixonar pelo seu terapeuta. Se isto acontecer você já terá se perdido em uma nova
ilusão à qual você quer se apegar e por causa deste apego você logo se depara com o próximo problema. A camada interna de
sentimentos negativos (figura 3A segunda camada). Através da integração destes guardas você se tornou livre para começar a
aprender: aprender a ter medo, a ser teimoso, em geral, aprender a ter sentimentos; aprender a simplesmente ser, a estar junto;
aprender a ser voce mesmo, lidar consigo mesmo e com os outros, sem conflito.

16
Isto é psicoterapia!
***

Quando se trata de se confrontar os guardas, medo e obstinação, uma substância empatogênica pode ser usada muito
efetivamente. Além do mais, é somente com sua ajuda que um acesso para estes sentimentos obstruídos pode ser criado. Estes
sentimentos então se tornam mais visíveis, com todas as suas conexões com a vida diária, com os relacionamentos e com o
passado. Os diferentes cômodos dos sentimentos podem então ser mais bem explorados e o cliente ganha clareza sobre si
mesmo. Também as dimensões perdidas da vida, por trás do medo e da obstinação, podem ser despertadas, para que o cliente
encontre motivação para enfrentar o trabalho. Quando este estado feliz de ser for, subseqüentemente, perdido novamente, isto
servirá como um indicador. O cliente agora sabe do que se trata, no que concerne a ele, qual seu objetivo, para que ele está
trabalhando. Empatogênicos são um auxilio ideal para o primeiro passo em psicoterapia.
O que é geralmente importante é confrontar a pergunta se alguém gostaria de se submeter a esta experiência. Muitos
clientes ligam, e estão quase sempre certos, tais experiências com a idéia de que ela tem a ver com a hora da verdade, o "ponto
sem retorno", e assim por diante. Isto naturalmente ativa todos os medos e resistências que brotam de tal proposta, que podem
ser trabalhadas com antecedência, assim como outras decisões, como por exemplo, participar de um grupo ou um exercício de
andar no fogo, ou fazer terapia. Portanto quando chega o dia da sessão de terapia, o medo e a resistência já foram vencidos em
grande parte, a fim de que o que está diretamente por trás deles possa ser visto mais claramente. Portanto a proposta de tal
experiência geralmente se torna uma ferramenta importante na psicoterapia em si.
Aqui está outro estudo de caso para ilustrar este ponto:
Katha,, com 33 anos estava entre aqueles clientes que não tinham consciência disto, mas tinham uma idéia fixa em suas
cabeças, de que deveriam provar que o terapeuta era incapaz de lidar com eles, pois tinham necessidade de transformar tudo
em um jogo de poder. Ela já tinha sabotado todos os esforços da parte do terapeuta e tinha vitoriosamente se submetido a
uma variedade de métodos de terapia. A explicação da impotência por parte do terapeuta, havia surtido um efeito positivo
apenas superficialmente. Na essência, ela se pegava ao seu rígido controle, mesmo quando conseguiam um pouco de
progresso, quando os sintomas tinham relaxado um pouco, ou quando pelo menos tinham sido empurrados para trás.
A sugestão para que ela participasse de uma sessão com um empatogênico chegou ate ela como uma bomba. Não
apenas surgiu uma violenta crise de confiança com relação ao terapeuta, que ousara sugerir que ela ao menos considerasse
tal proposta, mas durante os meses subseqüentes seguiu-se uma explosão de agressões e transferência que precisavam ser
trabalhadas. Katha também imaginou que perderia o controle completamente e seria completamente entregue nas mãos do
seu terapeuta, que era exatamente o que ela queria evitar a qualquer custo. Depois de ter lido intensamente sobre o assunto,
falado - naturalmente - com oponentes e exaurido todos os seus argumentos contra, permaneceu no fim de tudo mais uma
vez, o lamentável fato de que ela na verdade não sabia, de forma alguma, como continuar sua vida, que ela precisava de
ajuda de qualquer forma, e a noção sempre repetida pelo terapeuta de que ele poderia ajudá-la, desta ou daquela forma
(com ou sem substâncias) somente caso ela se deixasse ser ajudada. Seus problemas consistiam, como é bem comum, em não
querer se tornar dependente, em não querer se submeter. O problema não era a falta de ajuda apropriada. Vencida em sua
resistência e preparada durante um período de vários meses, ela finamente foi capaz de esclarecer sua vontade de participar
de uma sessão de grupo, porém, sem que ela mesma tomasse a substância. Esta foi a primeira ruptura. Ver como os outros se
deixavam serem ajudados, em um clima relaxante de submissão, liberou algo dentro dela. A próxima sessão na qual ela
poderia realmente participar não estava mais muito distante, e com isto ela começou o que era certamente um processo
longo e difícil de autodesenvolvimento, mas ela tinha começado finalmente.
Com esta decisão ela tinha dado um passo fora da camada adaptativa (figura 3A), tinha dado uma olhada em seus medos
e com isto tinha começado a vencê-los. O extraordinariamente duro e rígido anel de limitações neuróticas (figura 2C) que
provavelmente nunca teria sido quebrada através de meios convencionais, foi de alguma forma suavizada.
O vale para o qual tínhamos nos dirigido para uma viagem de esqui parece escuro e claustrofóbico hoje. Nuvens pesadas
no céu circundavam os picos onde véus de neblina brincavam desordenadamente. A montanha e a floresta abaixo pareciam
escuro e ameaçadoramente perto. Somente onde o vale se abria para a floresta e sua capa de nuvens se tornava azul: um azul
profundo e escuro, do qual mal se consegue desviar o olhar. De vez em quando o lençol de nuvens se abria um pouco e
deixando escapar um azul claro um tanto pálido e um tênue raio de luz do sol. O vale instantaneamente, parecia se estender e
os campos de neve refletiam a luz pálida., mas por um momento antes da abertura de fechar novamente. O dia escuro e
sombrio esvaia-se.
Além da própria respiração, ouvia-se apenas bater dos mastros de esqui na neve e as pranchas deslizando pelas trilhas.
Ocasionalmente ouvia-se a canção de gralhas da montanha ou o crocitar de um corvo. De vez em quando o barulho
apaziguador de um córrego da montanha que aparecia ao nosso lado.

17
Parecia que você poderia e de fato deveria continuar para sempre desta forma, sem saber para onde está lhe levando. Há
apenas o caminho, nenhum objetivo, nenhum começo e nenhum fim.

4 Confussão de sentimentos
Aqui, mais uma vez, está uma estória que eu ouvi sobre fronteiras.
Era uma vez dois paises que travavam uma guerra um contra o outro e entre eles havia uma terceira nação. Isto é
enquanto um travava a guerra o outro provavelmente sabia pouco sobre isto, pois era habitado por muito poucas pessoas que
levavam uma vida selvagem e solitária. Mas as pessoas na distante terra dominada pela guerra não sabiam disto. Eles só se
interessavam por eles mesmos, mantinha fronteiras rígidas, e eram governadas por um governo forte e poderoso.
Para a terra do meio, era um tempo difícil. A estranha guerra causava muita confusão e sofrimento. Ninguém sabia
exatamente por que eles brigavam. Também na terra do meio as pessoas eram terrivelmente ocupadas consigo mesmas e não
conheciam bem seus vizinhos. Como não havia nenhum outro acesso à terra pela qual brigavam, o pais do meio
freqüentemente tinha tropas assassinas e saqueadoras marchando por seu território. Como resultado, um número crescente
de refugiados do pais do meio gradualmente começou a procurar por segurança e proteção na terra dos guerrilheiros (por
mais incrível que possa parecer) e se sujeitavam a sua autoridade tirana. Acredita-se que somente uns poucos cruzaram para
a outra terra, onde uma existência frugal porém pacífica esperava por eles. Com o tempo, o território do meio tornou-se tão
pouco populoso quanto o terceiro. Supostamente a guerra gradualmente foi perdendo força; mas as fronteiras com os novos
territórios inimigos foram ainda mais fechadas.
Ninguém sabia realmente o que havia do outro lado da fronteira, mas terríveis estórias eram ditas de boca em boca.
Estas estórias provavelmente confortavam as pessoas e as distraiam um pouco do fato de que sua terra tinha se tornado tão
estreita e repressora que eles mal tinham sido deixados com algum espaço livre para eles mesmos.
Estimulado por minha primeira experiência psicodélica, mais de 18 anos atrás, em 1969, eu comecei a seguir de forma
crescente o caminho interno em minha própria vida pessoal. Ao fazer isto, primeiro passei por um outro desenvolvimento
intelectual poderoso. Influenciado por uma variedade de autores especialmente por Herman Hesse, Wilhelm Reich, Alan
Watts, Carlos Castaneda e mais tarde por Jiddu Krishnamurti, eu acreditava que eu havia endentido tudo. Eu falava muito, e
meus insights faziam sucesso com as pessoas ao meu redor. Eu também me destacava por meu discurso fluente nas sessões de
psicoterapia individual e de grupo nas quais eu estava envolvido na época. Eu mal percebia que minha vida então, como antes,
permanecia confusa, insatisfatória e vazia, e que este entusiasmo intelectual formava uma espécie de defesa contra os
sentimentos que estavam escondidos por trás.
Como normalmente acontece quando nos recusamos a aprender de livre e espontânea vontade, as circunstancias de minha
vida me levaram, incrivelmente e de uma forma própria e maravilhosa, a uma esquina de onde muitas coisas que eu não tinha
sido capaz de admitir por medo podiam agora se revelar. Cada vez mais eu perdia o controle sobre minha vida. Meus
relacionamentos se acabaram. Eu tinha que estar sempre mudando de um apartamento para outro, meus estudos pareciam sem
sentido para mim, eu fiquei doente, e assim por diante. Eu não sabia mais, como continuar.
Mais uma vez foi em uma viagem com um psicodelico que eu consegui romper a primeira barreira. Eu comecei a ser
dominado pelo sentimento de que eu não poderia escapar. Finalmente em total estado de desespero eu desisti de toda
resistência e me rendi completamente ao sentimento. Então algo bem inesperado aconteceu. Meu estômago pareceu abrir ao
nível do plexo solar e a se livrar energeticamente de seu conteúdo. Inicialmente era como se uma porção de pus saísse dele.
Isto durou talvez uma hora ou duas. Depois disto sensações que eram mais claras e mais bem definidas emergiram. Acima de
tudo havia muita raiva e tristeza, mas também sentimentos de amor. Além disto, tive minhas primeiras experiências
transpessoais. Enquanto o barulho de um bonde de repente me levou com ele, eu tive muita dificuldade em permanecer
comigo mesmo. Eu percebi pela primeira vez, que eu poderia viajar do nível do meu estomago. Fiquei pasmado ao me
conscientizar desta nova experiência. Eu também senti que eu tinha sido puxado para um nível completamente novo e
desconhecido para mim, e percebi que, mais uma vez, que eu tinha que começar desde o começo, que tudo que eu já sabia em
minha cabeça agora queria ser entendido em termos de sentimentos.
Neste momento eu também aprendi como manter o acesso a este nível e como sempre encontrá-lo novamente. Muitas
vezes eu precisei chegar àquele ponto em minha mente onde eu simplesmente não sabia mais como continuar, o que
significava entrar em contato comigo mesmo a um ponto onde o pensamento ficou parado, porque tinha admitido sua
inabilidade de resolver um problema. Aqui, eu tive sucesso mais facilmente quando eu concordei completamente com o que
meu corpo todo estava sentindo. A partir da consciência desta tensão, todos os sentimentos que estavam renegados naquele
exato momento, e os insights conectados a eles, rapidamente vieram a tona. A total consciência de minha corporalidade me
permitiu mudar de nível.
O ano seguinte não foi fácil apesar de eu sentir intensamente, ao mesmo tempo, o caminho para o qual tudo isto estava me
levando. Esta foi uma experiência em minha vida que se aprofundava de forma crescente e que parecia pertencer ao lado
inexplicável e místico da vida. De repente portas se abriram em todo lugar e tudo que eu precisava viver e integrar a este novo
nível dentro de mim parecia estar ali. Eu abandonei meus estudos por um ano a fim de trabalhar na comunidade terapêutica.
Além do mais, para sobreviver eu estava trabalhando meio horário como designer.

18
Dentro deste contexto eu consegui dispor uma boa parte de meu tempo a esta nova experiência, que era absolutamente
essencial. Eu fui levantado e carregado por uma rede de relacionamentos com pessoas que estavam indo pelo mesmo caminho.
Para começar eu me conscientizei de um sentimento atrás do outro que ate então eu tinha evitado. Sentimentos que
subseqüentemente revelaram toda sua implicação pessoal e social. Eles se atiravam em minha consciência, quer eu gostasse ou
não, e me possuíam, corpo e mente, o que as vezes era um grande peso e permanecia assim até que eu os aceitasse
completamente como parte de mim mesmo. O mais desagradável foi que eu comecei a compreender as pessoas e seus
humores diretamente pelo meu estômago. Cruzei com muitas pessoas que pareciam carregar em sua aura um sentimento
principal no qual eles estavam fixados porque tentaram renegá-lo. Eu era apresentado a pessoas que eram a encarnação do
ciúme, ou avareza, ou frustração, ou obstinação, ou alguma outra coisa, e eu me sentia incapaz de construir qualquer defesa
contra este fenômeno, eu era incapaz de lidar com ele, pois primeiro que tudo eu precisava transformar este sentimento em um
aliado. Eu não tinha escolha senão aprender como um louco. Depois de tais encontros eu era forçado a me refugiar em um
toalete e momentaneamente ir completamente para dentro de mim mesmo, porque de outra forma eu teria me destruído
fisicamente. Eu tinha percebido que era desta forma que eu poderia me livrar dos sentimentos liberados pelos outros e das
energias que eu tinha absorvido deles.
Eu logo aprendi que eu só poderia ser atacado por aqueles sentimentos que não estavam ainda integrados em mim mesmo.
Os outros eu podia perceber sem ser afetado. Eles passavam direto por mim, como eu já era permeável no tocante a sua
oscilação de energia. Contanto que eu conseguisse me manter livre de meus medos sem ter que me defender, contanto que eu
não começasse a pensar, mas simplesmente deixasse acontecer, este processo de integração e as ondas de insight que vinham
com ele recuavam sem que eu tivesse que ser trabalhado ou escapar ou ter que desenvolver insuportáveis sintomas corporais.
Eu era como uma abertura que era muito pequena para deixar passar as balas formadas por estes humores e sentimentos
com suas respectivas oscilações de baixa freqüência, mas eu me abri incrivelmente através da integração de novos mísseis que
me levaram a um novo nível de vibração de alta freqüência. Ao mesmo tempo, eu gradualmente percebi que eu podia me
proteger ao nível do estômago no sentido que eu podia me resguardar lá, com a energia que eu já havia conseguido acumular
sem me perder por completo. Até onde eu podia admitir todos os sentimentos, eu acumulei energia, é claro. o que eu podia
depois usar contra sentimentos vindo dos outros. Eu aprendi que todas as pessoas que eu conheci eram apenas partes de mim
mesmo, que eles eram um espelho e que todos vivemos apenas uma parte do que somos, ao invés de vivermos por inteiro. Eu
aprendi que basicamente, desconsiderando-se diferenças superficiais, somos todos iguais, na verdade, idênticos e que todos
carregamos dentro de nós, toda a historia da raça humana e todas as possibilidades. Eu aprendi que abertura e aceitação são a
chave para o entendimento (figura 1). Mais ainda, eu logo entendi que podemos trabalhar com estas energias através do
estômago. Acima de tudo, durante as viagens, eu vi que eu não era desamparadamente sujeito às energias dissipadas por meus
companheiros, mas que eu podia reuni-las na região do meu estômago fundi-las e enviá-las de volta na forma de energias
purificadas que os outros eventualmente confrontariam a fim de serem capazes de olharem para o que quer que eles não
queriam ver neles mesmos. Pelo menos era possível desta forma, no que concernia à vibração energética, alcançar um clima
puro e pacífico. Desta forma eu comecei a lentamente descobrir o potencial de um terapeuta energético. Porem faltava anos
para que eu pudesse ir longe o suficiente para dominar este trabalho de alguma forma. Passou-se um longo tempo até que eu
entendesse como fazer a mesma coisa sem as substâncias também. A experiência com as substâncias sempre me mostrava o
caminho. Em seguida eu tinha a árdua tarefa de colocar em prática o que eu tinha visto, dentro da rotina normal da minha vida
diária, permitir que viesse de dentro de mim mesmo. Só assim as experiências com substâncias fazem sentido, de outra forma,
apesar de fascinante, no final elas se mostram insignificantes.
No inicio, contudo, eu estava envolvido em todos os tipos de acontecimentos malucos isto é, transpessoais, com outras
realidades surgindo, como fantasmas,mudanças de tempo, e assim por diante, eu tive que encontrar uma forma de lidar com
isto. Por cerca de um ano eu estava completamente ocupado em me orientar gradualmente neste novo nível de ser. Mais tarde
as coisas ficaram um tanto mais calmas, e pude continuar e concluir meus estudos. Durante minha residência e mais tarde
como chefe dos médico, eu aprendi mais, com muito maior paz de espírito e com um poder crescente. Porém passaram-se dez
anos até que eu pudesse dominar o assunto até certo ponto. Dez anos de confusão emocional. Mesmo hoje em dia o processo
não está completo. Provavelmente nunca estará. De vez em quando eu me deparo com um sentimento que ainda é novo e
desconhecido, um sentimento que precisa ser explorado para ser entendido, ser integrado e que ainda faz falta no todo.
Sentimentos que foram mais e mais claramente definidos e mais bem graduados para se tornarem visíveis. Hoje, este processo
não é de forma alguma um problema, pois mais tarde eu aprendi a trabalhar em outros níveis: o nível do coração e o do
terceiro olho. Veremos mais sobre isto com a continuidade.
Neste capitulo eu gostaria de recontar alguma coisa sobre a confusão emocional na qual cai, na época - confusão que
encontramos quando abandonamos a camada de conformidade e já começamos a fazer amizade com os guardas, medo da
obstinação, mas antes de estarmos conscientes de nosso próprio centro. Cada pessoa que deseja se entender deve atravessar
este deserto. Cada sentimento ao meu alcance abre um compartimento em minha consciência no qual eu posso me perder ou
me fortificar ou do qual posso escapar. Somente quando eu tiver entendido totalmente, quando eu tiver me familiarizado com
cada ângulo deste compartimento e depois abandonado-o - por entender que ele não

19
representa o meu todo - somente quando eu puder sair sem fechar a porta, quando eu aprender a manter abertos todos os
compartimentos emocionais sem afundar neles e ficar no centro entre todos eles, que eu estarei livre. Primeiro eu devo estar
pronto para aceitar um sentimento, mesmo se ele parecer terrível, então eu devo estar disposto a deixá-lo ir novamente, mesmo
quando ele parecer incrivelmente sedutor e agradável.
Explorando os compartimentos emocionais desta forma eu ganho o insight de tudo que o pensamento criou em minha vida
pessoal, assim como tudo que ele criou em geral. Eu reconheço todas as conexões em minha vida, meus relacionamentos,
todas as conexões sociais, históricas e culturais, e assim por diante. Em uma única palavra, e me tornei esclarecido.
Aqui, já estamos gradualmente entrando no reino transpessoal, com o qual vamos lidar mais adiante. Para entender isto
melhor, contudo, segue um diagrama que me atraiu muito durante uma palestra dada por Peter Orban.
A figura 4 mostra o habitual, significando a fixação normal e neurótica no tempo e na dualidade, como é dado, por
exemplo no ponto A. Uma pessoa que está no ponto A vive, como é normalmente o caso, mais ou menos cronicamente no
passado, e no que se refere a dualidade, constantemente tenta estar junto a tudo que é prazeroso, bom e normal, enquanto
afastam o mal, o desagradável e o anormal do inconsciente. Ele encontra apenas passagens estreitas e ocasionais através do
ponto Omega onde cada dualidade acaba, onde o passado e o futuro se dissolvem no eterno presente. A posição de tal pessoa
em relação ao tempo é na sua maioria não fixada cronicamente, exceto no caso de pessoas patologicamente neurótica.
Normalmente, ele estará, as vezes bem perto e às vezes longe no futuro, mas nunca por muito tempo na intemporalidade do
ponto Omega. As secções 1 - 4, a caminho do centro caracteriza o caminho interior, ou o caminho da psicoterapia. É o mesmo
já mostrado na figura 3, simbolizando a jornada da personalidade através das diferentes camadas. Acompanhando a
confrontação de uma pessoa com sua historia pessoal, com sua compreensão do nascimento e morte, e com a exploração do
espaço transpessoal, o caminho leva a camada mais interna da personalidade, que é idêntica à totalidade e à singularidade do
universo. De acordo com o ponto de vista de uma pessoa, esta penetração na camada mais interna será experienciada como
algo insignificante ou ao contrário como tudo. Porque o todo e o nada são em última análise a mesma coisa. A linha ondulada
que passa pelo ponto Omega na figura representa a terceira dimensão levando da frente da página, passando pelo ponto Omega
até a parte de trás da página.
Na vida real tem a ver com o movimento sem fim do agora, em singularidade, em intemporalidade e amor, que sempre
esteve lá, está sempre lá e sempre estará lá, no qual eu posso penetrar a qualquer momento e da qual eu posso sair a qualquer
momento que eu quiser. É ai que reside nossa verdadeira liberdade: em sermos capazes de andarmos pelo caminho livremente
com este movimento que existe de qualquer forma, ou em sermos capazes de nos fecharmos para ele, apesar de sem mudar a
natureza de sua realidade.

Da confusão à clareza
Muitos se engancham em algum lugar no caminho em sua confusão emocional, ao olharem para ela como o objetivo final
da jornada. Eles estão contentes em simplesmente viajarem no inconsciente coletivo, sempre abrindo novas portas, eles não
percebem que todos estes compartimentos são o resultado do pensamento e permanecem sendo o produto de nossa defesa
contra o todo, e que o objetivo da jornada é abandonar todos estes cômodos. Eles estão tão fascinados pela clareza que
adquiriram que não notam o fato de que a clareza é também apenas uma parte e não o todo. A jornada tem a ver com observar
de perto estes compartimentos, precisamente com a intenção de evitar o perigo de alguém se perder neles. Cada chamado,
sentimento negativo contém uma camada interna de verdade. Isto precisa ser descoberto e assimilado. Este é o poder que eu
ganho com estas confrontações. É só o poder que conta. Ele me ajuda a mudar para planos ainda mais altos de consciência
onde os compartimentos emocionais desaparecem completamente e não tem mais nenhum significado. Assim como
encontramos solicitude e precaução no coração do medo e um simples SIM e NAO esperando para ser descoberto por trás da
obstinação, assim também devemos cavar nossa verdade de trás de cada sentimento negativo. Quando toda sombra tiver sido
integrada, a força da vida flui livremente. Então somente a energia permanece e a vida se tornou algo bem diferente. Porém
veremos mais sobre isto mais adiante.
A mudança de um nível para outro é sempre experienciada como um sentimento de ser liberto. Mas, então presumimos
que é o estágio final da iluminação, e não notamos inicialmente que estamos novamente empoleirados em uma nova ilusão,
que a iluminação final é alcançada precisamente no ponto onde desistimos de querer alcançar o objetivo final e onde nos
entregamos a eterna transformação, ao infinito processo de vida, de aprendizagem e insight.
Ao mudarmos do nível de conformidade para o nível de confusão emocional, nós progressivamente vencemos o medo.
Este é o primeiro estagio da iluminação. Com isto ganhamos uma crescente clareza, que agora parece ser o objetivo de toda a
jornada. Porém como veremos mais tarde, a clareza logo se transforma em resistência que deve do mesmo modo ser
conquistado, a fim de que a força da vida possa fluir em nós sem obstáculos. Logo que mergulhamos neste córrego,
experienciamos uma segunda iluminação, mas mesmo então estamos longe do fim. A tentação do poder ainda nos aguarda.
Somente quando tivermos reconhecido que aqui também não encontraremos a iluminação, quando também tivermos deixado
isto para trás e com ele ter experienciado uma terceira iluminação, nós nos tornamos apenas pessoas completas e comuns que
não tem mais nada a fazer do que finalmente seguir o movimento da vida no aqui e agora, na unidade, para resistir ao processo
de envelhecer, que eventualmente chegará para todos nós novamente. Nenhum de nós será capaz de resistir a este teste final
em nossas vidas, todos nos sucumbiremos a ele.

20
Quando você constantemente enfrenta confusões em seus sentimentos, a confusão pode ser resolvida. Isto significa que
você encara o fato de você não entender mais nada, e que você, portanto sente-se amedrontado. Você não sabe de nada, não
sabe o que quer ou o que deve fazer, nada. Você não sabe quem você ama, quem é seu amigo, com quem você deve se
relacionar. Você não sabe em quem acreditar, em quem confiar. Você não pode nem confiar em si mesmo. Você não sabe mais
o que é certo e o que é errado. Você não vê claramente, você não sabe se deve ir para a direita ou para a esquerda, se pede
ajuda ou não, que tipo de ajuda é real, se você deve se esforçar ou se a solução é não fazer nada, e assim por diante. Você não
tem mais o senso de nada além da sua confusão, que pesa como uma pesada nuvem de estupidez sobre sua cabeça e isto o
deixa com medo, com medo de se perder no caos, com medo de perder sua cabeça , com medo de morrer, e assim por diante.
Então o que você pode fazer?
Fique com a confusão, com o caos, o medo, tanto quanto você puder. Segure-se. Você não tem nada alem da confusão o
caos do mundo, que é criado pelo pensamento, que existe em cada ser humano e o coroe. O caos está ao seu redor e dentro de
você. Não há escapatória, não há esperanças, nada. Há apenas aquilo que é, isto é tudo.
Quando você chegar a este ponto, não se mate, e não pule novamente para dentro dos pensamentos, dos vícios, ou de um
relacionamento. Ao invés disto fique onde você está por um curto período de tempo. De qualquer forma não importa mais.
Não tem mais nenhum significado, você já está no fim, acabou com sua mente esperta, com pensamentos e com tudo que o
pensamento tenha agregado. Quando você estiver lá. Desça até ele, como em um cruzamento quando você não consegue saber
em que direção ir, quando você se recusa a tomar qualquer decisão por estar realmente muito confuso para fazê-lo, quando
você se recusa a procurar pelas razões da sua confusão ao seu redor e dentro de você, porque você vê que dentro do estado
estonteante que você se encontra você só poderia encontrar explicações confusas, que não lhe serão úteis de forma alguma, e
quando você se recusa (com esta negação total você finalmente encontra um uso significativo para a obstinação.) a escapar
para qualquer lugar porque você entende que há confusão em todo lugar, o que acontece então? Então em primeiro lugar, você
fica quieto. A paz que você tanto desejava, entra, você não tem mais nada a perder. Você já perdeu.
Você desiste, você se acalma, você fica em paz, o pensamento fica em silêncio e você vê. Você observa a confusão em
você e ao seu redor, atentamente, sem querer explicar. Muito simplesmente, você vê o que é. Com isto tudo fica claro para
você no meio da confusão. Nada sobre a confusão pode ser mudado. Porém você a reconhece e está portanto clara, e através
disto, emergem da neblina. Então de momento a momento você sabe, através desta clareza o que deve ser feito. Porém, não
adiantavoce ter soluçoes previamente planejadas para os problemas futuros, pois na hora que a cas pega fogo, as decisões
devem ser tomadas de acordo com o momento. Porém naquele momento você vê com clareza. Pelo fato de você está vendo
isto claramente você sabe o que vem depois da confusão, ou seja a beleza da casa queimando e o sofrimento das outras
pessoas, e por você agora está tão aberto, você agora se interessa por tudo isto. Como resultado, o amor também está presente
e o ajuda a cada momento a tomar decisões certas. O medo e a confusão aparecerão algumas vezes até que você tenha
percebido e entendido completamente a realidade. Porém você pode também simplesmente sentar-se novamente e
reconquistar sua paz e a clareza, a beleza e o amor virão até você novamente.
Através dos anos tenho sido acompanhado por uma parábola maravilhosa sobre a confusão de sentimentos, que várias
vezes me mostrou o caminho. Ela vem dos "Ensinamentos de Don Juan", na primeira parte do conto de Carlos Castaneda.
"Pode alguém ser um homem de conhecimentos?" Castanedaperguntou a Don Juan.
"Não, ninguém", o outro respondeu.
"Então o que se deve fazer para se tornar um homem sábio?"
"Ele deve desafiar e vencer seus quatro inimigos naturais. Sim um homem pode se dizer um homem sábio somente se
conseguir vencer todos os quatro."
"Então, qualquer um que vença estes inimigos pode ser um sábio ? "
"Qualquer pessoa que os vença torna-se um sábio.
"Mas, há alguns requisitos que um homem deve preencher antes de lutar com estes inimigos?"
"Não, qualquer um pode tentar se tornar um sábio; muito poucos na verdade conseguem, mas isto é natural. Os inimigos
que encontramos no caminho da aprendizagem são realmente formidáveis; a maioria dos homens sucube a eles."
"Que tipo de inimigos são eles, Don Juan?"
"Quando um homem começa a aprender ele não tem claro na mente seus objetivos, seu propósito é errado, sua intenção
é vaga. Ele espera recompensas que nunca se materializarão, pois ele nada sabe das dificuldades da aprendizagem."
"Ele lentamente começa a aprender - aos poucos inicialmente, depois em grande quantidade. Seus pensamentos logo
entram em choque. O que ele aprende nunca é o que ele pensou ou imaginou e, portanto ele começa a ter medo. A

21
aprendizagem nunca é como se espera. Cada passo do aprender é uma nova tarefa. O medo que se experiencia começa a
crescer sem pena, sem dar trégua. Seu propósito se torna um campo de batalha."
"Então ele esbarra no primeiro dos seus inimigos naturais: medo! um terrível inimigo traiçoeiro e difícil de vencer. Ele
fica escondido em toda esquina do caminho, espreitando, esperando. Se o homem, aterrorizado em sua presença, foge, seu
inimigo terá colocado um fim em sua busca."
"O que acontecerá com o homem se ele fugir com medo."
"Nada acontecerá com ele, exceto que ele nunca aprenderá. Ele nunca se tornará um sábio. Ele provavelmente se
tornará um brigão ou um homem inofensivo e amedrontado. De qualquer forma ele será um homem vencido. Seu primeiro
inimigo terá posto um fim ao seu desejo."
"E o que ele pode fazer para vencer o medo?"
"A resposta é muito simples. Ele não deve fugir. Ele deve desafiar seu medo, e apesar dele, ele deve dar o próximo passo
rumo a sua aprendizagem, e os próximos passos também. Ele deve estar completamente amedrontado e mesmo assim não
deve parar. Esta é a regra! Chegará um momento em que seu primeiro inimigo recua. O homem começa a se sentir seguro de
si. Sua intenção se fortalece. Aprender não é mais uma tarefa amedrontante."
"Quando chega este momento de prazer, o homem pode dizer sem hesitação que ele venceu seu primeiro inimigo
natural."
" Isto acontece de uma vez ou de pouco a pouco, Don Juan?"
"Ele acontece pouco a pouco, mas o medo é vencido de repente e rapidamente."
"Mas o homem não ficará com medo novamente se alguma coisa nova acontecer com ele?"
"Não, uma vez que o homem tenha vencido o medo, ele está livre dele pelo resto da vida. Ao invés do medo, ele adquiriu
clareza - uma clareza de mente que afasta o medo. Neste momento o homem conhece seus desejos; ele sabe como satisfazer
estes desejos. Ele pode antecipar os novos passos da aprendizagem, uma clareza nítida circunda tudo. O homem sente que
nada está escondido."
"E então ele encontra o seu segundo inimigo: a clareza, aquela clareza de mente que é tão difícil de se obter, afasta o
medo, mas também cega".
"Ele força o homem a nunca duvidar de si mesmo. Ela dá a ele a certeza de que ele pode fazer qualquer coisa que ele
deseje, pois ele vê tudo claramente. E ele é corajoso porque ele é claro, e ele não para por nada porque ele está lúcido.
Porém tudo isto é um engano. É como algo incompleto se o homem se entregar a este poder ilusório, ele terá sucumbido
ao seu segundo inimigo e vai se atrapalhar em seu aprendizado. Ele se apresará quando deveria ser paciente, ou será
paciente quando deveria se apresar. Ele se atrapalhará tanto no seu aprendizado que terminará incapaz de aprender mais. "
"O que acontece com um homem que é derrotado desta forma, Don Juan? Ele morre como conseqüência.?"
"Não, ele não morre. Seu segundo inimigo fez com que ele friamente parasse de tentar se tornar um sábio, ao invés disto
o homem pode se tornar um guerrilheiro ou um palhaço. Contudo a clareza pela qual ele pagou tanto, nunca mais se
transformará em medo ou escuridão novamente. Ele terá clareza enquanto ele viver, mas ele não mais aprenderá ou desejará
nada."
"Mas o que ele tem que fazer para evitar ser derrotado?"
"Ele deve fazer como fez com o medo: ele deve desafiar sua clareza e usá-la apenas para ver, e esperar pacientemente e
medir cuidadosamente antes de dar um novos passos; ele deve pensar, sobre tudo, que sua clareza é quase um engano.
Chegará um momento em que ele entenderá que sua clareza foi apenas um ponto diante dos seus olhos. Assim ele terá
vencido seu segundo inimigo, e chegará a um ponto onde nada poderá prejudicá-lo mais. Isto não será um engano. Não será
apenas um ponto diante dos seus olhos. Será poder verdadeiro."
"Ele saberá, a esta altura, que o poder que ele tem procurado há tanto tempo é finalmente dele. Ele pode fazer com ele,
o que quer que ele queira. Seu aliado está sob seu comando. Seu desejo é a regra. Ele vê tudo que está a seu redor. Mas ele
também cruzou com seu terceiro inimigo: o poder!"
"O poder, é o mais forte de todos os inimigos, e a coisa mais fácil a fazer é ceder; afinal de contas, o homem é realmente
invencível. Ele comanda; ele começa assumindo ricos calculados, e termina fazendo regras, porque ele é um mestre."
" Um homem neste estágio, dificilmente nota que o seu terceiro inimigo está cercando-o. De repente, sem saber ele terá
perdido a batalha. Seu inimigo o terá transformado em um homem cruel e caprichoso."
" Ele perderá seu poder?"

22
" Não ele nunca perderá sua clareza ou seu poder. "
" Então o que o distinguirá de um sábio?"
" Um homem que é derrotado pelo poder, morre sem realmente saber como lidar com ele. O poder é apenas um peso em
seu destino. Tal homem não tem comando sob si mesmo, e não sabe quando ou como usar este poder. "
"Ser derrotado por qualquer um desses inimigos é uma derrota definitiva?"
"É claro que é definitiva, uma vez que qualquer um destes inimigos controle o homem, não há nada que ele possa fazer."
"E possível, por exemplo, que um homem que foi derrotado pelo poder possa ver seu erro se corrigir?"
"Não uma vez que um homem se entregue, ele está acabado."
" Mas e se o poder o cegar temporariamente, e depois ele o recusar?"
" Isto significa que a batalha ainda está acontecendo, isto significa que ele ainda está tentando se tornar um sábio. Um
homem só é derrotado quando ele não tenta mais e se abandona."
" Mas então, Don Juan, é possível que um homem se entregue ao medo por anos mas finalmente o vença."
"Não, isto não é verdade. Se ele se entregar ao medo, ele nunca o conquistará porque ele evitará os ensinamentos e
nunca mais tentará novamente. Porém se ele tentar aprender durante anos em meio aos seus medos, ele eventualmente
conseguirá, pois ele nunca o terá realmente abandonado."
" Como ele pode derrotar seu terceiro inimigo, Don Juan?"
" Ele tem que desafiá-lo deliberadamente. Ele tem que perceber que o poder que ele parece ter conquistado na realidade
não é dele. Ele deve se manter alinhado o tempo todo. Lidando cuidadosamente e fielmente com tudo que ele aprendeu. Se
ele puder ver que clareza e poder, sem seu controle sob si mesmo, soa piores que erros, ele atingirá um ponto em que tudo
estará sob seu controle. Ele saberá então quando e como usar seu poder. Então ele terá vencido seu terceiro inimigo."
" O homem estará então no fim de sua jornada de aprendizagem, e quase sem ser avisado ele se deparará com seu
último inimigo: a velhice! Este inimigo é o mais cruel de todos, o que ele não conseguirá derrotar totalmente, mas apenas
combater."
" É ai então que o homem não tem mais medos, não tem mais a impaciente clareza de mente, - um tempo em que todo
seu poder está em cheque, mas também um período em que ele tem um desejo incontrolável de descansar. Se ele se entregar
totalmente a seu desejo de deitar e esquecer, se ele se entregar ao cansaço, ele terá perdido seu ultimo round, e seu inimigo o
transformará em uma criatura velha e fraca. Seu desejo de se retirar dominará toda sua clareza, seu poder e seu
conhecimento. "
" Mas se o homem vencer seu cansaço e encarar seu destino, ele pode ser chamado um homem sábio, mesmo se apenas
pelo curto momento em que ele consegue lutar contra seu ultimo inimigo invencível. Aquele momento de clareza, poder e
sabedoria é o suficiente."
É so até aqui que vai a estória de Don Juan.

Sobre sentimentos repressivos


Agora tentaremos classificar os sentimentos que encontramos em nós mesmos. Muito aproximadamente, eu diferenciaria
entre sentimentos que foram suprimidos e aqueles que suprimem. O que encontramos no âmago de nossa personalidade não
são sentimentos no senso comum, apesar de eu me referir a eles como sentimentos do âmago. Sentimentos suprimidos sempre
estão em relação direta com o núcleo e constroem o acesso ao verdadeiro eu. Discutiremos estes sentimentos e o núcleo
também em capítulos posteriores. Neste capítulo falaremos sobretudo a respeito de sentimentos secundários ou repressivos
que foram suprimidos. Eles sempre estão ligados a pensamentos defensivos. Atrás deles sempre encontramos um outro
sentimento, ou um que foi evitado também ou um que foi diretamente suprimido. Em sua jornada, portanto, você aprenderá
lentamente a distinguir entre aqueles sentimentos que estão realmente dentro de você e os sentimentos que você produz com
seus próprios pensamentos afim de evitar outros que estão realmente dentro de você.
Com pessoas que estão bem avançadas no processo de suprimir o que sentem, e existem muitas, quase não encontramos
mais sentimentos, mas sintomas como perturbação sexual, perversões, compulsões, fobias, e toda a gama de distúrbios
psicossomáticos, casos de desincorporação, suicídio e assim por diante. Quando a supressão é direcionada para o interior; por
outro lado, violência, subjugação de outras pessoas, mau uso do poder, entre outros, acontecem quando a supressão é
direcionada para o exterior (compare isto também com a figura 3A).
Na figura 3 você encontrará uma visão geral que vem do diagrama que usamos antes sobre a estrutura de personalidade.

23
A figura 5 tenta conectar as camadas da personalidade mostradas na figura 3 com os sentimentos que estão conectados a
eles. No diagrama A nós encontramos os sentimentos do âmago no topo, que como veremos mais tarde, têm a ver com as
características do amor. Se estes sentimentos do âmago forem empurrados para trás através de condicionamento ou educação,
sentimentos suprimidos vêem à tona, por exemplo sensação de ser rejeitado, ou de estar a mercê de alguém. Quando estes
sentimentos são suprimidos por serem por demais insuportáveis a pessoa produz sentimentos repressivos tais como ódio,
inveja, ciúme, etc. Como, via de regra estes sentimentos não são tolerados pelos mentores, isto leva ao que chamamos a
personalidade normal, que suprimiu mais ou menos, toda uma gama de sentimentos e subseqüentemente desenvolveu
sintomas para substituí-los. Quando a supressão funciona mais internamente, o que vai de acordo primariamente com
condicionamento repressivo, os sintomas resultantes são aqueles tais como distúbios psicossomáticos ou sexuais, perversões,
compulsões, fobias, vicio, e finalmente total desincorporação ou suicídio. Quando a supressão funciona mais ao nível externo,
o que tem a ver com um tipo de condicionamento de dominação - então o tipo de sintoma que vem em seguida como resultado
são jogos de poder, violência, supressão e subjugação de outras pessoas, ou como reação obediência incondicional.
O diagrama B mostra a mesma situação mais uma vez, mas desta vez, perto dos níveis de personalidade na figura 3. No
núcleo, nós novamente encontramos os sentimentos do âmago em cujas fronteiras residem os sentimentos suprimidos de
onipotência. Mais tarde veremos como é apenas a conquista do poder acompanhando estes sentimentos suprimidos de
onipotência que libera a entrada neste núcleo. Sentimentos suprimidos, como desespero ou se abandonado, estão ligados a
região transpessoal da personalidade. Quando estes sentimentos também são empurrados para baixo, o acesso a este fenômeno
é bloqueado. A fronteira do próximo nível de personalidade suprime a consciência de nascimento e morte, que pode da mesma
forma ser reconhecida mais claramente num estágio posterior. É aqui que a segunda camada que consiste de sentimentos
suprimidos, começa. Estes sentimentos vêem à tona através de um esforço para controlar os insuportáveis sentimentos do
terceiro nível. Como já vimos medo e obstinação criam os guardas desta entrada. A maioria das pessoas permanece
primariamente na camada de adaptação na qual os sentimentos são quase totalmente suprimidos. Eles são criados para rejeitar
até mesmo os sentimentos repressivos e para considerá-los impulsos anti-sociais. O medo de sansões sociais, que surgem
quando alguém não atinge o sucesso, formam um estabilizador questionável para tal personalidade. O medo restringe a
percepção tanto do interior quanto do exterior e levanta barreiras apropriadas.
Agora, querermos dar uma olhada geral em todos os sentimentos repressivos que você encontra em sua jornada e acessar
seu verdadeiro conteúdo sem se perder neles. Cada indivíduo fará esta jornada sozinho. Nenhum livro poderá guiá-lo por este
deserto. Para cada pessoa ele parecerá um pouco diferente. Ninguém poderá deixar de entender todos estes sentimentos.
Porém cada pessoa enfrentará grande dificuldade em lidar com alguns deles. Algumas pessoas não terão problema em lidar
com alguns destes sentimento, outras talvez tenham muitas dificuldades exatamente naqueles mesmos pontos.
Minha lista de sentimentos certamente não está completa. Eu selecionei aqueles com os quais eu mais me confrontei.
Sentimentos e caráter não estão geralmente separados de forma clara. Na verdade estão quase sempre ligados.
Sentimentos que foram evitados levam a padrões de comportamento, fixações crônicas e estruturas de caráter. Uma atitude
sempre expressa o sentimento que foi repelido, que é vivido de forma obscura apesar de não conscientemente.
É impossível analisar todo o sentimento desta forma em particular. Finalmente, é claro, são apenas palavras que usamos
para descrevê-las enquanto que aquilo com que estamos realmente lidando são fatos experienciais. Muitas das palavras usadas
também se tornaram ambíguas, foram mau usadas, perderam seu sentido original, ou receberam significados adicionais. Não
se pode esperar mais nada, considerando a pobreza de sentimentos na qual vivemos normalmente. A maioria dos meus
clientes, quando passo a conhecê-los mal distinguem entre o que é agradável e ou que é desagradável., sem perceber que não
são sentimentos e sim sensações. Um sentimento como retidão por exemplo, que originalmente tinha uma conotação saudável
e que poderia ser incluída entre os sentimentos do âmago, adquiriu através do nosso uso dela um tom desconceituado e
moralista. A palavra luxúria também - luxuria sendo algo certamente primordial- não pode mais ser usada hoje, sem a
conotação extra porque muitas pessoas orientam sua vida pela luxúria, e usam a luxúria ou o que eles acham ser a luxúria para
suprimir seu verdadeiro ser. Eu preferiria chamar tal luxúria de lascívia, e isto tem mais a ver com vicio do que com luxúria.
De qualquer modo, é importante definir estas palavras precisamente, quando as usamos.
Como já mencionado, sentimentos repressivos também foram bloqueados pela média das pessoas e estão sendo mantidos
por uma atitude de conformismo, cheio de medo (camada 1 na 3 A). Uma vez que eles sejam descobertos, descobre-se que
eles vão contra outros sentimentos que no processo de desenvolvimento foram considerados insuportáveis demais. O
problema básico por trás de todos estes confusos problemas psíquicos, parece ser a solidão que rejeitamos e junto com ele a
experiência de morte, e a grande quantidade de sentimentos ao redor dele.
Todos nós evitamos a solidão, o abismo dentro de nós, que nós conhecemos bem demais, porém que nenhum de nós quer
ter. Em nossos relacionamentos sempre tentamos deixá-lo para a outra pessoa. O que nós chamamos de relacionamento são na
verdade nossos jogos para evitar a solidão. Nós vivemos em um mundo que parece consistir de duas partes que estão
entrelaçadas e existem juntas uma da outra mas que parecem não tocar uma a outra. A primeira é a

24
que procura evitar a si mesma. No inicio há solidão e o fato de um não querer. Então desta fraqueza todos os sofrimentos
do mundo aparecem. A segunda quase não acha mais lugar em nosso mundo humano, mas está sempre lá: o mundo da solidão,
da unicidade, do ar glacial, do qual optamos para encontros, sempre novos, sem nunca permitir que isto se transforme em um
hábito. Este é um mundo de solidão abençoada, de amor, de beleza, de quietude, de paz e inteligência. Este mundo está aberto
para nós o tempo todo, até quando estivermos prontos a aceitar nossa solidão. Solidão é o medo de não ser amado. Ele é
essencialmente diferente de uma solidão agradável. Solidão evita a solitude porque não pode suportá-la, porque seria de outra
forma confrontada pela verdade que é suprimida: o amor que falta em nosso mundo e em nossos relacionamentos pessoais.
Somente por causa da solitude que é a solidão aceita e integrada, um verdadeiro encontro pode acontecer.
A origem desta supressão primordial lida, por um lado, com um problema humano básico, que nós também temos que
vencer no curso da evolução. Por outro lado, ela se reforça através da experiência de vida, geralmente pelo surgimento da
experiência em si. (veja mais tarde). Como crianças, até mesmo bebes, muitos, talvez a maioria de nós, vivemos eventos no
qual nós experienciamos o sentimento característico deste estágio da vida .- como o de estar a mercê de alguém - não como
algo maravilhoso e positivo mas como um terrível sentimento de ser abandonado. Ao experienciar estas impressões negativas,
nós também repelimos o sentimento mais ou menos correspondente, tanto violentamente como de forma mais suave, e isto faz
surgir sentimentos defensivos. Porém ao fazer isto, nós também nos privamos da corrente da vida, da percepção de que somos
parte de um universo na verdade amistoso e prazeroso. Nós nos iludimos em ver o universo como hostil, e nos encontramos,
portanto, em uma batalha eterna com a natureza. Quando fazemos um caminho diferente daquele que foi suprimido e andamos
pelo caminho dos que foram repelidos, ele liberta a fonte destes eventos, apaga o passado em nós, nos reconcilia com o que
aconteceu e nos libera para um novo começo com nós mesmos, com a vida e com o universo.
Nós não somos responsáveis por estes sentimentos suprimidos, pela dor imposta a nós. Estamos a mercê deles. No final,
contudo, é uma decisão nossa nos livrarmos destes sentimentos e portanto, é apenas o reconhecimento de nossa
responsabilidade e uma decisão nova e consciente que pode realmente nos libertar.

No labirinto
No começo deste manuscrito, eu tive que me ocupar mais uma vez com tecnologia de computadores e programas relativos
ao texto, mas não a nível prático, que eu por sorte poderia deixar para Robi, Bárbara, e Vreni, que tinham se oferecido para me
ajudar. No tocante ao entendimento interno contudo, em ter que confrontar esta parte do mundo, se desdobrou mais uma vez o
problema básico com o qual nos deparamos em todo lugar; a falta de amor. A tecnologia moderna, computadores, a mídia e
todo o sistema de comunicação nos provê basicamente com oportunidades maravilhosas. Eles poderiam nos ajudar a
estabelecer conexões em nosso planeta e às vezes faz isto bem. Eles diminuem as distâncias de tempo e espaço entre os seres
humanos. Eles poderiam nos aproximar mais uns dos outros e através daquilo que eles conseguem fazer eles poderiam nos
libertar, nos dar liberdade de tempo e espaço para apenas sermos e para estarmos mais uns com os outros. Porém não é isto
que fazem de forma alguma.
A que se poderia dever isto? Para onde quer que você olhe, você vê seres humanos desalmados que estão sob pressão
adicional precisamente pelo uso destas ferramentas, que vivem apenas na cabeça, que, é claro, estão cheios de informações
mas ao mesmo tempo a ponto de perder toda união, toda conexão verdadeira ao nível de sentimento e energia. Estamos
correndo o perigo de finalmente passarmos nossa vida em uma tela de computador sem realmente nos encontrarmos mais uns
com os outros. Isto tem a ver com estes aparelhos? Não, tem a ver conosco, em nosso estado de pobreza espiritual, usamos
estas ferramentas, fascinantes por si mesmas, para nos explorarmos e aos outros mais e mais, para conseguir ganhar ainda
mais dinheiro e de forma mais rápida e eficientemente. Este planeta na verdade poderia ser um paraíso, mas em nossas mãos
tudo se transforma em horror, e a culpa não é da terra e sim nossa. Nossas mãos e nosso espírito está empobrecido. O amor
ameaça ser completamente perdido neste mundo, e sem amor, a melhor ferramenta se transforma em uma perigosa arma,
como podemos ver em todo lugar, não apenas com a tecnologia de comunicação, mas também, por exemplo, com energia
atômica, pesquisa espacial e a industria armamentista. Se não tivermos juízo, se falharmos novamente em descobrir nosso
bom senso e em apreender a qualidade sensual do mundo; se falharmos em voltarmos a nos comunicarmos com nossos
corações, todo o esforço de nossa mente em se comunicar, o outro resultado útil de nosso intelecto assim como aqueles
resultados que ela continua a produzir, se transformarão em um peso que finalmente nos oprimirá e nos destruirá.
Agora que você está fazendo esta viagem através desta confusão de sentimentos, você cruzará com ela de maneira bem
confusa. Elas estão enterradas em você, entrelaçadas uma com a outra, costurada uma na outra de cabeça para baixo, em todo
lugar. Elas ficam uma em cima da outra, com exatamente a mesma configuração que você construiu na sua infância quando
você teve que suprimi-los. Agora você terá que desvendar este mistério. Gradualmente você se conscientizará de cada
sentimento até você entendê-los completamente e penetrar no conteúdo positivo de seu núcleo.
Já que como todo mundo, você adoeceu por dentro e nos seus relacionamentos, você agora terá que trabalhar, não tanto
sozinho mas em relação ao seu terapeuta, talvez também seu parceiro de vida ou seus amigos. Seus sentimentos se abrirão
para a observação.
Para empregar uma imagem, é como se você tivesse que andar por um corredor sem fim. De ambos os lados há um

25
número sem fim de portas levando a muitos quartos. Seu problema é que quando as portas estão fechadas você anda
tateando no escuro, mas quando as portas estão abertas você fica tão absorvido com o que vê, tanto atraído como repelido pelo
que vê, que não consegue ir adiante. Você se perde no quarto e esquece seu trabalho e seu caminho. Somente quando você
tiver aprendido a manter todas as portas abertas, e a olhar dentro delas sem medo, sem se deixar ser seduzido e seguir seu
caminho sem se perturbar, que você estará livre para caminhar na luz. Então tudo começará de novo, só então você começará a
aprender mais uma vez, como um ser recém-nascido, sobre energia, sobre nossa existência no plano da energia ou da luz,
como você inicialmente experienciou a existência de sentimentos. Porém veremos mais sobre isto nos próximos capítulos.
No fim de sua vida, incidentalmente, durante a experiência de morte, você se iluminará como um raio, mais uma vez
através deste corredor. Se você tiver aprendido a fazer isto Durante sua vida, você achará seu caminho para a luz. Se não, ou
você se perderá no escuro ou será sugado pelo túnel de sentimentos que lhe fará prisioneiro e lhe levará até sua próxima
encarnação.
Você nunca será capaz de sair do quarto de sentimentos. Eles estão sempre presentes no seu caminho, como os efeitos da
fricção entre seu fluxo livre de energia e o canal criado para ele por suas normas e sua vida diária. Eles estão sempre
aparecendo novamente, mas a forma de você lidar com eles torna-se cada vez mais impecável e isto o liberta várias vezes.
Nos relacionamentos nos quais você mais trabalhará, você lentamente reconhecerá que seus sentimentos com relação aos
outros sempre - e eu realmente quero dizer sempre - tem a ver com transferências, projeções do passado e aquela parte do seu
ser que você ainda não integrou. Pouco a pouco você perceberá que a única maneira pela qual você encontrar os outros sem
conflito, nem para você e nem para o outro, tem que vir direto do âmago do seu ser, do seu coração. Isto significa basicamente
se encontrar sem expectativas, sem o tipo de comportamento que surge de reações, sem papeis, para se encontrar varias vezes
diretamente e de novas maneiras.
Eu devo agora tentar formular minha própria compreensão pessoal referente a esta confusão de sentimentos.
Inicialmente encontramos sentimentos que são conhecidos por todos nós. Inveja, ódio, ciúme com certeza, ficam bem a
frente dos sentimentos repressivos. Eles são considerados sentimentos negativos e desagradáveis que não devemos ter e
contudo eles dominam o mundo. Como todos os sentimentos, eles são bons quando não são fingidos, mas melhor quando os
encaramos com a forca de nossa vontade de os entender.
Possivelmente estes sentimentos se auto anunciem inicialmente dando a impressão que você tem o demônio encarnado
em seu corpo, ou que você é Judas reencarnado, ou talvez você tenha medo de se transformar em um bruxo ou um monstro.
Isto depende de quais principais figuras negativas foram implantadas em você em sua infância. Se você se identifica com tais
imagens, temporaria ou permanentemente você será visto como um esquizofrênico. Porém se você se projeta neles apenas até
o ponto de entender o princípio por trás da figura de liderança, e depois se liberta dele novamente, você terá integrado uma
parte do transpessoal e crescido consideravelmente por causa dele.
Para mim pessoalmente a confrontação com Judas, o oponente de Jesus, que teve grande significância em minha criação
fortemente sectária, fez vir à tona profundos insights sobre o verdadeiro papel que este homem tem no mistério cristão.
Mesmo nesta pessoa, um conteúdo interno me foi revelado, que encontramos em todas as pessoas, um conteúdo que é talvez
confundido, mesmo assim nobre quando olhamos para ele mais de perto.
Judas não foi um traidor, mas um dos membros de um grupo de doze pessoas, ou em outros termos, parte de toda uma
época, que carregou consigo um acontecimento místico e único. Ele não foi a pessoa terrível que fizeram e ainda fazem que
seja, mas uma pessoa que pegou para si não apenas uma tarefa particularmente difícil, mas uma tarefa particularmente
importante, a fim de que a profecia pudesse ser cumprida. Durante este período eu fiz uma transferência de Cristo para o meu
próprio terapeuta. Na terapia que surgiu, cada vez mais eu entendi que a identidade heróica de Judas, que era modesta e menos
gloriosa que a de Cristo, foi precisamente por causa disto, seu igual, e que os dois se complementam.
Como traidor, Judas teve que enfrentar os mesmos terríveis sentimentos que Jesus na cruz, ou seja, um total abandono, o
sentimento de não ser entendido e de ser excluído. É apenas a reconciliação com estes sentimentos que abrem a porta para o
amor que, com seu mistério, deve mais uma vez ocupar um lugar neste mundo.
Como resultado de trabalhar esta identificação na transferência, eu pude me reconciliar e abandonar estas duas figuras
tanto a negativa quanto a positiva de minha infância.
Eu experienciei algo similar na confrontação com o diabo absoluto: com o demônio. Meu terapeuta na época, também
teve que sofrer a transferência divina, a fim de que eu pudesse novamente integrar o diabo em mim mesmo com amor. Como
parte da unicidade de Deus. Foram sessões longas e difíceis, mas eu tinha insights extremamente interessantes e instrutivos
sobre o meu inconsciente pessoal e o inconsciente coletivo, que me levou a divergências transpessoais e históricas de
interesse.
Uma olhada crítica na figura de Hitler, que tinha não apenas manipulado as massas, mas que também tinha sido um
representante, um mensageiro e depois também uma válvula de escape de neuroses de massa, me ajudou a consolidar

26
um novo entendimento mais profundo da historia retirado de mim mesmo. Da mesma forma, meu confronto com o grupo
Baader Meinhof e outros terroristas marginais despertou simpatias ocultas que eu tinha por tais grupos e os tornaram
compreensíveis para mim. Neles eu pude reconhecer crianças com trágicos problemas de criação e aprendi a amá-las.-
crianças que só queriam o melhor, com toda forca de sua teimosia e obstinação. Eu compreendi como respeitar estas forcas em
tais pessoas, que estavam tão presas em suas confusões que estavam preparadas para pagar por suas convicções com suas
vidas.
Qualquer pessoa que se aproxime deste fenômeno com verdadeira compreensão, compreenderá mais sobre nossa cultura e
história do que seria possível aprender nos livros de historia ou em palestras na universidade.
Uma impressionante estória escrita por Erwin Reisner, "O Deus e o ídolo" lida com este tema. Achei-o tão interessante
que gostaria de relatá-la aqui.
É o momento em que o eclipse do sol precede o terremoto. O corpo pálido do Deus morrendo brilha fosforescente pela
noite, mas ele brilha sem iluminar nada. Até mesmo as estrelas perderam sua luz, porque ELE retirou todo o brilho para si
mesmo.
Solidão circunda a cruz e a terra parece que secou. Sua morte vocifera o chamado do salvador pelo deserto: "Deus, meu
Deus! Porque vós me abandonaste?"
Seu pedido não encontra resposta. A natureza não reconhece mais a voz como também não reconhece mais a luz. Do
escuro surge, gradualmente o anti-Deus. Do seu trono de nuvens negras, ele paira diante da cruz. É Shiva o destruidor, é
Priapos com o símbolo obsceno, com a máscara irônica em sua face, daquilo que os homens chamam de amor.e a deidade
pagã diz:
Quem você está chamando? Somente nós ainda estamos lá; somente eu e você , sua eterna antítese, nada mais sobrou.
Você visita o Deus que está dentro de você. Em sua luta pela sua própria religiosidade, você tirou o Deus do mundo; aonde
ainda existe Deus, fora de você?
Você queria arrancar seu ódio de dentro de você, mas a medida que você levantou sua espada contra ele, você também
caiu nas mãos dele. Agora sua criação se virou contra você mesmo e lhe pregou na cruz. Veja eu sou sua criação, a cria de
seu ódio. Você queria me destruir mas ao invés disto você me engordou.
" Quando eu inicialmente te prometi os tesouros do mundo, quando você poderia ter caído perante mim, você o
desprezou, porque você já odiava os trabalhos daquele que você agora chama. Porque você queria ser igual a ele. Lá você o
encarou com desprezo. Está escrito: você deve rezar para o senhor seu Deus e somente a ele se submeter.
"Quem é seu senhor agora, se não eu? Pois fora de nós não há nada".
"Eu também devo desaparecer instantaneamente, como você está morrendo." Mas foi este todo o trabalho orgulhoso de
sua vida? É claro, você ensinou que devemos amar nossos inimigos! Agora me ame, seu último e pior inimigo.
" Você me criou desta forma horrível e contorcida que você vê em sua frente, somente porque seu amor não era
completo. Naquele tempo, no deserto, eu era bonito. Agora eu mais uma vez eu comando que você reze por mim. Me ame.
Perceba que eu sou seu Deus, seu pai."
Então Jesus lentamente levanta sua cabeça e seus olhos se fixam no amedrontador semblante do inimigo. Então
transfigurado com amor sem fim ele fala com ele: "pai em tuas mãos eu entrego meu destino.
E a luz que sai do corpo sagrado começa novamente a iluminar o mundo. O sol aparece novamente e as nuvens negras,
o trono do anti-Deus se dissolvem do nada.
O grande ruído de trovão estremece o ar, a terra sobe, as cortinas do templo se rasgam e lá aberto aos olhos de quem
tem fé está o sagrado dos sagrados.
O olhar explosivo do salvador, agora liberado, envolve a natureza e sua voz soa alto: " está consumado "
O ódio me parece energia de vida que foi contida. Eu começo a odiar quando minha dependência e necessidade são
rejeitadas. Talvez isto me aconteceu quando criança e isto me machucou. Então eu não quero viver isto novamente e por causa
disto eu odeio. Quando eu reconheço este mecanismo, ele é insignificante e como ele me bloqueia, ele desaparecerá de mim.
Minha inteligência natural me protegerá para não cometer o mesmo erro repetidas vezes, e eu aceitarei o sentimento que
neguei, a dor por traz dele, e o perseguirei mais adiante. Porém no momento devemos nos preocupar com sentimentos que
reprimem, e não com aqueles que foram suprimidos. Inveja, este sentimento angustiante é, sem duvida algo que eu
experimentei pela primeira vez quando fui comparado com outros, talvez com meus colegas de escola que eram melhores que
eu, e eu tive que dolorosamente reconhecer que em nosso mundo, que é baseado em competição e rivalidade, o melhor é mais
amado, ou pelo menos parece ser. Desta maneira eu aprendi a me comparar com outros e aterrisei no turbilhão de
pensamentos que domina a maioria de nós incessantemente e nos mantêm presos ao conjunto de normas e pensamentos que
compara, mede constantemente, diz quem é melhor, quem não é tão bom, quem está mais acima, quem está mais bem vestido,
etc. Você aprendeu a viver com a ambição como um

27
substituto barato para o entendimento. Sentimentos de inferioridade e superioridade combinam com inveja e são um
resultado de comparações. Eu aprendi que só existem os melhores e aqueles que perderam.
Talvez eu encontre ajuda na admiração, que é amor do invejoso, uma substituição da capacidade perdida de realmente
gostar de alguém, e em um relacionamento, traz para a pessoa admirada todo o peso da solidão. Mais uma vez, por ser
agonizante demais, eu perdi o contato com a dor por trás dela. Porém se eu quiser encontrá-la novamente, eu conseguirei
porque minha inteligência e o insight que despertou, me mostraram que uma vida diferente daquela de comparação é muito
mais satisfatória. Este também será um longo processo de aprendizagem até que este quarto de sentimentos especifico tenha
sido explorado o suficiente, e já esteja a uma boa distância atrás de mim que de agora em diante eu tateie por ele apenas
raramente. É uma tarefa difícil aprender em nosso mundo, que alguém pode estar em segundo lugar e também ser feliz em
nosso mundo.
Você só terá sucesso em percorrer o caminho completo quando, por um lado você realmente quiser isto totalmente,
quando você decidir a favor disto sem nenhuma reserva e também quando por outro lado,você perceber repetidas vezes que
você não pode fazer nada para conseguir isto. Somente quando ambas estas condições forem alcançadas a busca poderá chegar
ao fim, e somente quando a busca chega ao fim completamente você pode aprender sobre chegar e, portanto ser livre, ser
apenas energia.
Inveja tem a ver com o sentimento de ser excluído, por exemplo, quando os outros têm mais sucesso que você. De modo
similar o sucesso também pode ser conectado com o mesmo sentimento de exclusão quando faz par com um sentimento de
superioridade e não modéstia. Por causa disto vemos que o que tem sucesso e o invejoso se combinam, eles vivem um do
outro. A inveja não existe sem admiração: elas são mutuamente dependentes. O invejoso precisa se lançar contra alguém que
tenha sucesso, a fim de repelir seu sentimento de ser deixado de fora e a pessoa que é sucesso precisa fazer o mesmo, banindo
o invejoso várias vezes à posição de intruso.
Se ambos pudessem aceitar a exclusão como uma possibilidade em suas vidas, como um sentimento com o qual somos
ocasionalmente confrontados, este mesmo sentimento logo os levaria para suas essências, para o amor. Se ambos aceitassem a
exclusão poderiam se reconciliar com eles mesmos e um com o outro e encontrarem um ao outro em um lugar onde há amor.
Eles poderiam então se abraçarem ao invés de um brigar com sua própria exclusão e desta forma o sentimento de ser excluído
terminaria para ambos.
Atrás da inveja se esconde a frustração de não ter o que os outros têm, de ser excluído do que quer que seja por
comparação com os outros, não importando se referente a uma competência, uma posse, amor de e pelos outros, etc.
Sentimentos de inferioridade estão portanto geralmente ligados a inveja. Por trás disto também há o medo de ser para sempre
colocado na posição de invejoso, de sempre ter que ficar em segundo lugar.
A inveja, mesmo assim, nos mostra algo bom. Ela nos revela o fato de que não temos algo, que estamos infelizes, que
devemos nos comparar com os outros por causa do sentimento que esta nos faltando de alguma forma.Somente podemos
mudar quando nos tornamos tudo isto - aquele que tem, aquele que pode, aquele que é, em resumo, quando nos tornamos um
entidade completa e capaz. Quando vamos fundo o suficiente, descobrimos que o sentimento de ter não tem tanto a ver com
coisas superficiais e externas mas que pode ser encontrado no estado de amor. Portanto a raiz da inveja, o solo no qual este
sentimento de inferioridade floresce, é na nossa inabilidade de amar. Quando entramos em contato com ela, bem, o amor já
está lá. Então a inveja e a inferioridade desaparecem, não porque elas foram resolvidas - nenhum problema se deixa ser
resolvido - mas porque eles se tornam supérfluos e não são mais necessários.
O ciúme também, nos leva para o que não temos e, juntamente com ele, ao nosso sentimento de sermos separados da
fonte. Quando reconhecemos o fato de estarmos de fora, então ganhamos acesso direto a este manancial, então a fonte se abre
para nós e não temos mais razão para sermos ciumentos ou invejosos.
Quando não temos e não amamos, dependemos de vários agentes para satisfazer nossa necessidade de amor: terapeutas,
gurus, drogas, relacionamentos.e outras coisas. Quando somos dependentes nestas áreas onde deveríamos ser livres, odiamos
aquele de que dependemos, o invejamos e assim por diante. A única coisa que pode ajudar é nós desvendarmos o enigma de
nossas próprias almas. Quando todos os segredos dentro de nós dão lugar para a claridade, nós estamos abertos para o amor.
É melhor não comparar, e sim observar cada coisa e cada ser como uma entidade auto-suficiente. Quando começamos a
fazer isto devemos ir até o fim, e isto significa aprender a olhar precisamente para quem é mais forte e quem é melhor, quem é
mais capaz ou quem tem mais energia, e aprender em um nível completamente consciente, a aceitar o próprio lugar. Há
sempre alguém melhor que nós e a nossa frente, e há também pessoas que nos acompanham. É a mesma coisa para cada um de
nós e é bom que seja assim. Desta forma cada um tem a oportunidade de aprender como dar e como receber.
Problemas com autoridade são bem comuns já que todos sofremos ou fomos humilhados por alguma autoridade. Tais
problemas aparecem sob a forma de rebelação crônica contra autoridade, na forma de adaptação falsa ou esperteza, ou como
verdadeira subjugação. Escondida atrás disto está sempre a inabilidade de aceitar alguém como sendo melhor que você
mesmo, ou o medo de que alguém realmente seja melhor que você. Isto como referência ao que quer que

28
desencadeie conflitos com autoridades. Pode ter a ver com uma habilidade ou situação em particular ou pode estar ligado
a minha força e capacidade em geral, em comparação com uma outra. Quando começamos a comparar, quando perdemos
nossa inocência atraves da inveja, só temos que aprender a julgar com absoluta clareza e também aceitar quando outra pessoa
(homem ou mulher) é melhor ou mais forte que nós, e devemos ser capazes de saber, sem nos sentirmos superiores, quando eu
mesmo tenho algo a ensinar ao outro, quando a energia flui de mim em direção a eles. Isto requer humildade mas também
coragem. Estas duas coisas estão ligadas contanto que coragem não se transforme em atrevimento e humildade em falsidade.
Nossos relacionamentos são sempre relacionamentos terapêuticos. Há sempre algo a aprender, geralmente, especialmente
para um dos participantes, mas quando suas capacidades estão balanceadas então um pode aprender tão bem quanto o outro.
Então relacionamentos genuínos podem acontecer. Se tais relacionamentos fossem realmente comuns nós não precisaríamos
de terapeutas mais. Assim a falsa pretensão desta instituição poderia desaparecer do mundo. Nós não teríamos que pagar por
algo que deveria ser, na verdade, um presente de um para o outro. Qualquer terapeuta que não trabalhe para fazer sua própria
ocupação desaparecer está errado em não fazê-lo.
É certo não aceitar nenhuma autoridade, é certo não confiar em ninguém inerentemente, é certo testar tudo e cada pessoa
cuidadosamente. Mas eu sou confrontado por mais amor, com mais força que a que eu mesmo tenho, então eu devo me juntar
a eles, devo me submeter a eles ou perco minha própria essência, eu me oponho a mim mesmo.
Na verdade, não é bonito nos depararmos com alguém, de vez em quando, que posa me ajudar a ir mais longe em meu
caminho e me dar alguma coisa.? Mas eu não devo confiar cegamente nesta pessoa ou me torno dependente dela ao invés de
desfrutar uma maior liberdade dentro de mim mesmo. Já que a outra pessoa também não está quase nunca completa e portanto
também precisa ser cuidadosamente avaliada, é essencial estar constantemente alerta e sempre pronto para duvidar. Ciúme
também, é um sentimento muito tirânico, não é realmente um sentimento, mas um sentimento agregado de outras pessoas. Ele
contem ódio, medo e dor, do qual ódio, que é o desejo de controlar, sempre tem uma posição superior, tanto que o medo da
perda e a dor de ser abandonada quase nunca pode se tornar visível. Este sentimento, portanto sempre lhe mantem em um
estado de suspense. Você está bloqueado, você foi pego em uma armadilha. Aqui também, é apenas quando você libera,
quando você admite a existência destes sentimentos profundamente enraizados que foram marginalizados que você se tornará
livre e pronto para um novo entendimento.
Talvez você não consiga experienciar seus sentimentos de forma nenhuma, porque o acesso a eles foi perdido, ou porque
você suprimiu totalmente seus sentimentos durante seu crescimento. Então não restou nada mais para você fazer que abrir a
entrada para eles novamente, através das sensações físicas que você ainda tem. Talvez você só sinta tensão ou um vazio, mas
você esta sempre fugindo destas sensações desagradáveis e caso seja verdade você deve primeiro enfrentá-las.
Talvez o problema principal que precisa ser encarado é que você está em um estado de espírito agitado, inquieto,
impaciente, héctico ou sob pressão e estressado. Mesmo este seu estado de extrema alienação pode lhe abrir para um pouco da
sua verdade, quando você a escutar. Atrás de todas estas sensações corporais você descobrirá seu medo que lhe persegue e
pelo qual você se permite ser minado. Quando você permite que ele o leve pela mão você se adianta no caminho, como já
vimos.
É aqui nesta região que foi negligenciada e negada que você encontrará todos os sintomas psicossomáticos. Estas
dificuldades também, quando você se dedicar a ela com atenção, lhe apontarão o caminho para os seus sentimentos. Atenção é
a essência do caminho interior. Quando você começa a ouvir cuidadosamente, quando você para de deixar sua energia ser
drenada por estes problemas, eles o levarão às profundezas da sua alma.
Talvez você primeiro fique consciente de suas perturbações sexuais ou preferências perversas, então você vai perceber
como você mantém seus sentimentos trancados a sete chaves com a ajuda e maquinação deles. Aborde estas perturbações com
amor e compreensão e elas perderão sua qualidade de terror, e seu conteúdo interno, que sempre aponta para a área de
sentimentos repelidos, se abrirá.
Talvez você pertença aquele grupo de pessoas mais pobres que estão tão alienados de si mesmo que mal percebem seus
corpos mais e estão ocupados apenas com compulsões, fobias, e outras obsessões. Talvez você seja parte daqueles que se
desviaram presos em pensamentos confusos ou em loucura. Quanto mais distanciado você estiver de si mesmo, mais difícil
será encontrar o fio da meada novamente, que você terá que puxar a fim de desemaranhar todo o tecido. Porém é sempre
possível e válido. Mesmo que você provavelmente não resolva tudo em toda sua vida, você terá resolvido uma pequena parte
de seu problema, que você teria que fazer em algum momento de sua vida. Quanto mais você percorre esta estrada, mais você
percebe que o significado e o objetivo da vida não é trabalhar diligentemente, ficar famoso, ganhar muito dinheiro ou obter
poder; não, o sentimento de que a vida faz sentido vem quando você percorre o caminho da consciência. Onde quer que você
precise começar, imediatamente fará sentido, quando você encontra suas compulsões e fobias e etc. com interesse e estando
alerta, ao invés de se entregar a elas.
Se você estiver entre aqueles que tentam manter seus sentimentos totalmente sob controle, ao ponto deles exercerem
poder, subjugarem e suprimirem outros, exercerem violência, ou ao contrário, se você se subjugar ou prezar obediência, você
aprenderá muito sobre nosso sistema social que foi construído em cima de autoridade e rivalidade, contanto que você esteja
pronto para observar este poderoso ser dentro de você, ao invés de vê-lo apenas fora de você

29
mesmo e viver com medo dele.
Quando aceitamos um sistema onde há autoridade, devemos escolher sermos ou o sujeito ou a autoridade. Ser suprimido é
algo que conhecemos desde a nossa infância e da época que estávamos na escola, isto é algo que não queremos mais. Por
causa disto tentamos ser autoridades e figuras poderosas e quando conseguimos isto, percebemos, talvez que sofremos da
mesma forma e que o coitado e a autoridade são, ao nível intuitivo, idênticos. Talvez aí percebamos que nosso sistema é o
problema, que nossos pensamentos são o problema, mas estámos enganchados no meio de tudo isto. Projete-se ao menos uma
vez numa figura de autoridade e veja que tipo de estresse ela sofre. Na verdade ninguém quer isto. Não é ai que achamos o
bem estar. Mal temos escolhas. Ser alguém é algo terrível. Psicologicamente falando, ser nada é a única forma de vida que nos
faz feliz. Nós não somos nada, isto é um fato, apenas não queremos ver e quando vivemos de acordo com este fato quando o
enfrentamos honestamente. Não somos nada e somos felizes. Mas isto já nos traz para o fim da jornada que acabamos de
iniciar.
Sobre vício
Eu gostaria de dizer algo sobre vício também, que em nosso mundo, é talvez a forma mais comum de suprimir nossos
sentimentos. A primeira infância é marcada por total dependência, quando as primeiras necessidades infantis não são
satisfeitas o suficiente, ou seja, quando a dependência natural não pode ser plenamente vivida, a frustração excessiva deve ser
quebrada a fim de a criança sobreviver. Isto faz surgir ganância oral, que é o que sobrou do que foi repelido e suprimido.
Portanto há uma fixação baseada na dependência da primeira infância que nunca é trabalhada e liberada. A pessoa afetada não
se torna autoconfiante e por toda vida tenta preencher este vazio sublimemente tangível. Permanece um sentimento
perpetuamente adormecido até que esta necessidade seja conscientemente experienciada em terapia ou de alguma outra
maneira, e possa ser abandonada. Nós evitamos dor, tristeza, insatisfação, abandono e solidão, porque como crianças talvez
nós não pudéssemos aceitá-los como fatos inalteráveis, e como adultos, ainda não queremos aceitá-los como tal.
Agentes aditivos - deste a heroína até o álcool, de chocolate a trabalho, de sexo a religião - tentam preencher este vazio, o
que, é claro, eles nunca conseguem. Além disto, isto só serve para fortalecer mecanismos de defesa contra sentimentos que
foram repelidos e leva a um gerenciamento falho do conflito. O viciado é um fugitivo, uma pessoa que constantemente escapa.
Ele nunca enfrenta uma batalha, isto é, ele nunca realmente confronta seu ser interior, e tenta usar de todos os meios possíveis
para fugir dele. Nenhuma droga por si só leva a dependência, apesar de várias vezes dizerem que isto acontece. O viciado se
volta para a droga que parece mais apropriada para seu próprio vôo pessoal de si mesmo. Se estamos viciados e aprendemos a
realmente entendermos este vicio, nós descobrimos algo bem diferente em nós mesmos: nós aprendemos a distinguir entre
dependência patológica , que resulta do vôo da nossa realidade intuitiva, e nossa verdadeira dependência, relacionada com
nossas respectivas idades, que não deve ser dissolvida. Verdadeira dependência nos poe novamente em contato com
sentimentos que foram evitados, como abandono, estar a mercê de alguém, etc. entendê-los nos trará para bem próximo do
nosso âmago.
Devemos, contudo, examinar tendências ao vício bem de perto. Quando elas desaparecem, nossas necessidades é claro
não desaparecem com elas. Sabe-se que o vicio vem de sentimentos desagradáveis que foram repelidos. Também vêm de
sentimentos agradáveis que foram evitados por serem proibidos. O problema é nosso controle sobre eles. Quando este controle
é examinado, descobrimos que este sentimento desagradável que foi rejeitado deve ser reconhecido e tolerado novamente. Isto
também é conhecido. Porém além disto, o sentimento agradável que foi evitado deve novamente ter permissão para aflorar e
ser aceito.
Quais são estes sentimentos que foram impedidos? Como criança, eu sou curioso, eu quero descobrir o mundo, conquistá-
lo, me familiarizar com tudo, testar as coisas, conhecer, colocar tudo em minha boca, lamber tudo, e assim por diante. Tudo
isto foi mais ou menos suprimido. Era proibido. O resultado foi que nós não sabíamos mais para onde ir com nossos impulsos
indesejáveis, e no maior desespero, nós os negamos. Estes impulsos, que você não consegue explicar como sendo o desejo que
está junto com o vício, deve realmente ser libertado. O conteúdo mais interno da insatisfação crônica que vive em você, é
positivo e saudável; você não quer descansar, e sim seguir adiante, descobrir mais, sempre descobrir algo novo que o fascine.
E este não é um desejo que surja do vicio. Ele está muito próximo ao vicio e as vezes se misturam, e é de fato extremamente
difícil separar um do outro. Este desejo é sua curiosidade saudável, seu prazer de viver, sua disposição para descobrir, que
nunca o deixa em paz, nunca está contente. É a vida dentro de você.
Talvez você descubra que está interessado em perversões sexuais ou homossexualidade ou outros chamados desvios.
Porém se você não se encolher de medo deles, você descobrirá em tais curiosidades, não apenas o fator controlador e a
tendência para o vicio que está por trás dela, mas também a curiosidade natural para entender este lado da sexualidade, a
diferenciar o falso do verdadeiro, e ser capaz de compreender este lado da vida totalmente.
Em nossos relacionamentos, nós realmente gostaríamos de ter alguém com quem pudéssemos compartilhar todo este
fenômeno curioso que está dentro de nós, alguém para quem pudéssemos revelar todos os nossos segredos. Já que não
suportamos admitir o fato de que a maioria não vive com esta pessoa, mas que ao invés, moramos com alguém que se conecta
com o proibido em nos, nos contentamos com menos. Esta é a tendência ao vicio. Não temos nada em nossas vidas que seja
completo, apenas uma porção de coisas pela metade. Ou vivemos subjugados, ou somos rasgados,

30
vivemos uma parte com uma pessoa e a outra parte com outro alguém, e a mão esquerda não tem permissão de saber o
que a mão direita faz.
Mais uma vez, encontramos em nós mesmos duas razões para agirmos. Duas correntes de motivação que nos levam a
ação. Uma está enraizada na necessidade de evitar sentimentos desagradáveis, acima de tudo, ligados a dependência e a estar a
mercê de alguém que leva a atitudes viciantes com todas as suas conseqüências. A outra está enraizada na curiosidade natural
que reside na força da vida em si. Ela não pode ser questionada.
Ambas tendências muitas vezes foram suprimidas em nós, como resultado elas se misturaram e temos muita dificuldade
em distinguir uma da outra. Explorar ambas com precisão, entender e novamente separá-las a fim de aprender a lidar com
ambas adequadamente e se curar. A curiosidade natural, o ímpeto de descobrir coisas novas, de examinar, de olhar, de tocar,
uma única palavra, compreender o mundo de forma sensual, sem impor limites, foi suprimido por nossos instrutores ou por
nós mesmos, sob pena de punição ou negação de amor e, portanto colocado sob controle.
Nós fizemos isto em total desespero, sem saber o que mais poderíamos ter feito. Primeiramente suprimimos este ímpeto
estes sentimentos ao nível muscular. Depois o colocamos no nível automático dos sintomas psicossomáticos, por exemplo, os
intestinos, os sintomas correspondentes resultantes, diríamos é constipação. Obstinação também tem a ver com isto e fechar a
percepção do próprio corpo, e no caso dos intestinos, percepção do anus. Tendências ao vicio surgem, por um lado, por rachar
este desespero, mas também por repelir outros sentimentos que estão mais aprofundados: de sermos abandonados nas
emboscadas, de não sermos entendidos. Estes sentimentos também devem ser mantidos sob controle, pois não foram tolerados
por aqueles que nos criaram. Acontece da mesma forma. Desespero que foi evitado leva a controle muscular que acontece por
vontade, mais tarde levando a um deslocamento ao nível de controle involuntário, por exemplo, nos intestinos, e como tal
assim também para rejeição e supressão de sentimentos corporais desagradáveis conectados a ele.
O alivio só poderá acontecer quando o processo for entendido e concluído. Isto significa primeiro começar a incluir o que
foi rejeitado, por exemplo, no caso dos intestinos, tudo que tem a ver com o anus. Aqui já existe um reacordar de nossa
curiosidade natural.
Em segundo lugar os sentimentos pervertidos que surgem dele devem ser reconhecidos. No caso de controle anal, sobre
tudo tem a ver com a necessidade de dominar, de controlar e de exercer poder, atrás de tudo naturalmente está o sentimento de
impotência que foi reprimido. Isto leva a dramáticas mudanças ao nível do corpo, por exemplo, através de diarréia ou dor nos
intestinos, e finalmente ao deslocamento do controle de volta para onde há escolha, isto é, na musculatura. A vontade foi
reconquistada.
Em terceiro lugar, nossa tendência ao vicio e nossa curiosidade natural são reavivadas simultaneamente. Depois então
chegamos a um processo que envolve separar as duas. A tendência ao vicio pode ser libertada quando decidimos suportar o
sentimento que está por trás e não agirmos como se eles não existissem. Com a curiosidade natural devemos fazer exatamente
o oposto.devemos dar a estes sentimentos e ímpetos total liberdade para se revelarem.
Em quarto lugar, o sentimento original e as forcas impetuosas são então liberadas. No caso de uma analidade fixada,
provavelmente tem a seguinte aparência: surge um interesse, por exemplo, em sexualidade anal, amarrada a um sentimento de
vergonha e culpa, e com isto a impressão de que alguém é perverso. As energias impetuosas são tão poderosas, que você
finalmente começa a falar nelas, e ao fazê-lo você talvez experiencie ser rejeitado e julgado, que é o que toda raiva suprimida
e desespero fazem surgir. Finalmente depois de você ter reconhecido e banido as tendências viciantes evasivas em todas as
direções - comer, masturbação, etc. - talvez você procure alguém que entenda suas necessidade. Quando você chegar a este
ponto, você experimentará fortes descargas dos intestinos e finalmente na região da musculatura. Fortes sentimentos de poder
e impotência serão liberados. Você também descobrirá seu próprio anus novamente e começará a integrá-lo com amor, na
consciência da sua corporalidade. Ao testá-lo ficará ainda mais claro para você como o problema de poder contra impotência,
a necessidade de dominar e de controlar são dissolvidos e como sempre, o conteúdo interno é positivo, a total rendição a si
mesmo e a seu parceiro torna-se uma realidade. Quando feito grosseiramente, na ausência de relacionamentos verdadeiros,
sexo anal dói, isto é, quando ele é uma defesa contra a devoção ou uma tentativa de forçá-lo. Pode ser agradável apenas
quando feito calmamente e isto significa quando está relacionado a uma parceria total e mutua, a um total entendimento e a
um acordo mútuo. Então o reconhecimento desta fonte de prazer leva a maior aproximação, maior intimidade, e assim por
diante. É como um jogo com algo perigoso. Não para ferir, mas para fazer o bem ao invés, é uma arte que pode ser
especialmente bem praticada neste campo.
Sabe-se que dor e prazer estão ligados um ao outro e são acessíveis através dos mesmos receptores, eles têm a mesma
qualidade, mas uma intensidade diferente, que é guiada por gentileza (sem ser fraco) ou por grosseria, respectivamente.
Um pouco de curiosidade, um pouco do prazer de viver, é reconquistado. O fluxo de energia da vida cresceu
enormemente, especialmente na região dos intestinos onde ela estava sempre dolorosamente bloqueada. Um resíduo do seu eu
escondido também se libertou. A vergonha pela necessidade escondida desapareceu. Você pode falar a respeito, você agora
sabe que não há nada perverso e nada de mal no que você queria, e que talvez uma pessoa que se fechou a

31
esta experiência restrinja sua vida. Não que todos devam viver sexo anal ao máximo, mas talvez seja importante para você
expandir a sexualidade com seus vários jogos. Para muitas pessoas a liberdade é conquistada pela sexualidade. Com outras
pessoas poderia ser diferente. Talvez a necessidade desapareça ao final, da mesma forma que ela veio. Porém se você não a
tivesse reconhecido, ela teria torturado você para sempre. A necessidade pode desaparecer novamente, por que no meio tempo
você se percebeu que inconscientemente você queria forçar a devoção, pelo esforço e simultaneamente, a incapacidade de se
entregar.
Por isto a penetração, o perfurar o abrir a força lhe traz prazer. Talvez quando você tiver tido este insight você desista de
suas necessidades novamente, ou talvez você a curta mais. O que quer que você faça está certo, por que você o faz com amor.
Eu escolhi este exemplo de um processo psicossomático porque o tópico ainda é muito envolto em fortes tabus. Apenas a
remoção deles pode revelar o âmago. Todas as perversões possuem um núcleo interior, que é saudável, e que quando vivido
de forma correta, traz prazer. É exatamente a supressão deste núcleo que cria perversão. Há algo mais ou menos alienante ou
violento sobre elas dependendo de quanto foram suprimidas.
Perversão está sempre ligada à repetição compulsiva. Sobreviver na superfície perversa é uma repetição constante
objetivando o sonho inconsciente de experienciar novamente o núcleo interior. (a estagnação e devoção). Contudo enquanto o
amor e a compreensão não forem simultaneamente desenvolvidos, isto nunca levará para o sucesso.
Nosso estado social, pelo que lutamos como uma reação ao sistema repressivo, também me parece parcialmente uma
expressão de nosso comportamento viciante comum. Estado social não significa nada mais que o estado em que uma mãe ou
pai anônimos deve satisfazer nossas necessidades. Nos dão férias, lazer, rendas, aposentadoria e seguro de saúde. Eles
carregam a responsabilidade por todos nós, como um conforto, um substituto para um sentimento que falta, de sermos criados
e cuidados em uma estrutura social verdadeiramente pessoal na qual cada um de nós pensa nos outros também, e não procura
traí-los sempre que possível. Também é um substituto para o sentido perdido de auto- responsabilidade, a capacidade perdida
de ser adulto. Uma perda que sofremos depois que nossa vontade é quebrada pela primeira vez. Se tivéssemos trabalhos que
realmente nos servissem, e se pudéssemos realmente viver como seres humanos, não precisaríamos nem de férias nem de lazer
nem de aposentadoria. Sempre nos sentiríamos bem. Ao invés disto estabelecemos condições em que é quase impossível viver,
e como consolação nos permitimos sermos mimados. O que precisamos é de uma vida satisfatória, contudo não lutamos por
isto, mas por um substituto satisfatório, porque não sentimos mais nossas necessidades originais. Estamos contentes em
permitir que um estado social substitua o que nos falta. Isto tem a ver com comportamento viciante, com perturbações
narcisísticas e mais adiante com problemas com autoridade. Ao invés de assumir a responsabilidade nos mesmos, tornamos o
estado responsável. Esquecemos que o estado somos nós mesmos. Ser responsável por alguém é dar o que se precisa. Porém
não somos capazes de fazer isto, porque esquecemos como fazê-lo e estamos acostumados a ceder alegremente para os
substitutos.
Ouve-se muitas vezes que não devemos mimar crianças. Muito pelo contrário! Devemos mimá-las, para que elas só se
satisfaçam com o melhor, com o que elas realmente precisam. Não devem se contentar com substitutos, com ninharias, com
pouca qualidade, com o consumo do muito ao invés do que com o que é autêntico e necessário em pequenas quantidades.
A educação, agora como antes, apesar de algumas mudanças superficiais, se baseia primariamente na supressão de
impulsos e paixões, porque ainda não se pensa no animal humano como confiável. Pessoas que conseguiram viver vidas bem
pacíficas mostram todos os sinais que, longe de suprimirem suas paixões, elas se tornaram mais consciente delas. O animal
humano, cuja vontade e paixão foram quebradas, é geralmente uma fera dependente e viciada, não mais em verdadeiro contato
com suas necessidades. A educação deveria ao invés, ajudar a criança a encontrar o acesso consciente para o animal que está
dentro de si. O caminho da supressão tem sido seguido repetidamente, apesar de nunca ter levado ao sucesso. Hoje em dia,
assim como antes nosso mundo está cheio de violência e guerras, e cheio de pessoas que através da supressão de impulsos e
sentimentos particulares são limitadas em todo seu potencial.
Como não acreditamos na integridade básica do seres humanos, todas as nossas tentativas de resolver problemas de
drogas, por exemplo, não têm sucesso. Construímos grandes sistemas que devem suprimir o problema, e por outro lado,
enormes instituições de serviço que devem curá-los. Com isto trazemos ainda mais dependência, e, portanto uma quantidade
crescente de estresse para o mundo. Liberdade e responsabilidade por si mesmo devem existir desde o começo ou
descobriremos que com cada solução nos acabamos novamente em um estado de dependência. Por e sta razão a liberação das
drogas é a única solução prática; cada pessoa deve saber o que faz. Deve-se começar por ai! Porém isto é a única coisa que
nunca tentamos fazer. Aqueles que são poderosos lutam contra isto, porque têm interesse na dependência, eles não querem
realmente resolver o problema. O poder reside na dependência. Só podemos ganhar dinheiro na dependência e com isto
satisfazemos nossos próprios desejos.
Um grande problema que sempre enfrentamos na sociedade é o fato de que mesmo nossas forças positivas (eu não quero
falar aqui de forma alguma sobre as energias negativas e em tudo que resulta delas) a maioria oriundas não de nossa
profundeza como ser humano mas de uma das nossas camadas (figura 3A). Vemos isto em movimentos como socialismo ou
comunismo, em movimentos como feminismo, os partidos políticos ambientalistas, a onda da nova era, etc. Qualquer que seja
a preocupação deles - seja um serviço para o terceiro mundo, a luta contra a poluição ambiental,

32
ou a tentativa de acabar com pornografia ou a opressão das mulheres, seja a indignação contra drogas, ou o aumento do
numero de crimes violentos ou o que quer que seja - o que mais está faltando é a disposição e a capacidade e mergulhar
totalmente no problema mesmo, porque isto faria com que nos condicionássemos a entender nossas almas profundamente.
Aqui todos os movimentos organizados também estão sujeitos a julgamentos muito amplos, a generalizações, que sobrepõem
a verdade e o pessoal. Poucos parecem ver que a poluição ambiental, doenças relacionadas ao vício, a aumento no número de
crimes violentos, a opressão de mulheres e muito mais, são apenas uma expressão superficial de um problema mais profundo e
que estes problemas não podem ser resolvidos enquanto a raiz do mal não for atacada. Atacar o mal pela raiz significa
entender nosso próprio ser e agir baseado nele. Quando um sintoma se apresenta, não é por acaso. Quando tentamos livrar o
mundo dele através de medidas defensivas, através de proibições, através de leis, reações, indignação moral ou o que quer que
seja, não será resolvido e se expressará em outro lugar de outra forma. É bom que assim seja porque um sintoma sempre quer
nos tornar conscientes de alguma coisa. Por esta razão todo antagonismo já sinaliza a falta de compreensão. Mesmo quando
estamos cheios de ódio em um caso particular porque estamos vendo injustiça, destruição, e violência, nossa reação a isto
somente somará sofrimento. Se nos não começarmos a ver a dor pro trás de todo poder aparente, levaremos adiante a ilusão e
a destruição.
Mesmo jovens, pessoas alternativas, reformadores, etc. não vão muito adiante com suas rebeliões. Eles descobrem alguns
sentimentos fortes e acima de tudo suprimidos sob a superfície. Brigam por seus direitos de poderem viver misturados em
muitas identificações de grupos, gritar para o mundo, trazê-los para fora na forma de uma ação de protesto, que consiste de
musica alta, ou na maioria apenas fumaça de cigarro e imaginar que eles se acharam. Eles também conhecem apenas os
momentos mais raros de felicidade, e talvez nem isto, em suas vidas. Eles acabam na mesma mediocridade que seus pais, eles
vivem na mesma miséria. Este tipo de rebelião não vai fundo o suficiente. Apenas aqueles que ousam negar totalmente, para
serem completamente insatisfeitos, encontram talvez o que todos nós, geralmente sem estar consciente, tanto sentimos falta,
que é o amor.
A perda da confiança leva de forma crescente, em nosso mundo, à burocracia e ao estresse, como podemos observar, por
exemplo, mesmo em nossas escolas. Não se confia mais nos instrutores que se tem, geralmente por eles não terem mostrado
serem pessoas confiáveis. Então tentamos substituí-los, por exemplo, através de sistemas de exames complicados. Tentamos
observar a competência do indivíduo e limitar sua capacidade de tomar decisões, como devemos sempre considerar a
possibilidade de ser abusado de outra forma. o problema contudo, não é a competência e o poder de tomar decisões do
indivíduo de forma nenhuma, mas a falta de confiabilidade.
Todo o problema só pode ser realmente resolvido através da educação pela auto-responsabilidade, autoconfiança,
emancipação, e através disto o fato de abrir mão do poder e da pressão como ferramentas. Isto destruiria toda a estrutura de
nossa sociedade. Temos que aceitar que leis são rígidas e inflexíveis, e que eles não são substituição para a flexibilidade de
uma decisão humana individual. O problema é que decisões humanas causam medo, porque são feitas por pessoas desumanas,
não pode ser vencido. As leis sempre tentam substituir o amor que está faltando, mas eles nunca têm sucesso. Onde há amor,
não há necessidade de leis.
Uma sociedade precisa de uma moldura que seja clara. Mas estas regras devem ser aplicadas de uma forma extremamente
flexível para que casos individuais possam ser negociados de forma apropriada. Isto por sua vez, daria a certos indivíduos
muito poder e isto só é possível quando podemos partir do ponto de que os indivíduos que tomam decisões e exercem o poder
são realmente confiáveis. Enquanto nos prendermos a um sistema que confirma a capacidade que se tem de julgar, somente
quando o faz de uma forma em particular - da forma que se espera - e a partir do momento que o julgamento de uma pessoa
não se baseie em sua própria consciência e avaliação, não resolveremos o problema.
É verdade que no fim das contas o pobre sempre se alimenta daquilo que o poderoso esquematizou. Contudo é verdade
que uma pessoa pobre sempre tem a escolha, também, de decidir por ele mesmo em favor da vida, do amor e da verdade,
exatamente como o poderoso e o rico. Não tenho certeza se a decisão é mais fácil para o rico, pois um rico tem muito mais a
perder. Cada um pode decidir em favor da verdade a qualquer momento, quando ele estiver pronto para suportar as
conseqüências. Eu nada posso fazer sobre o fato de que eu talvez tenha que sofrer por conta dele, ou ser perseguido, morto ou
qualquer outra coisa, mas posso permanecer fiel a mim mesmo. Não que eu teria que, eu também posso me livrar das
conseqüências para evitá-las, mas nunca posso dizer que não tive escolha.

O Que é saudável e o que é doentio?


Uma criança provavelmente se adapta em vez de ir ao fundo dos sentimentos insuportáveis que são mexidos lá dentro.
Por um lado, por causa dos instintos básicos de sobrevivência dentro de nós, e por outro por causa do nosso comportamento
social inerente. Nenhum de nós quer ser solitário, e todos queremos ser amados. Quando uma criança está sob constante
pressão para se adaptar, a fim de, por exemplo, suportar um medo extremo, o que ela fará?
Você sabe que medo é um sentimento, mas também uma sensação corporal desagradável, algo que absolve totalmente
uma pessoa, aleija intelectualmente uma pessoa, aprisiona uma pessoa. Uma criança não pode viver com isto por muito tempo
pois ela se tornaria psicótica, severamente neurótica e talvez até nem sobrevivesse - e isto acontece também, quando ela é
incapaz de suprimir seus sentimentos. Sua vontade de sobreviver a ajuda a encontrar uma saída

33
para o problema: suprimindo sentimentos, uma capacidade humana muito útil, que num estágio mais adiantado pode criar
tantos problemas caso se transforme em compulsão. A criança para de perceber seus medos, para que sua cabeça e suas ações
sejam liberadas, e ela possa se voltar para outras coisas. Então permanece apenas o desconforto físico, restrições corporais e a
tensão que o medo traz consigo. Quando o medo persiste por um período de tempo muito longo, a supressão de sentimentos
não ajuda o suficiente. Com o tempo, mesmo desta maneira, a criança tem muito pouca liberdade. Por causa disto, seu corpo e
sua consciência procuram novas soluções e a encontram ao ponto de a tortura física ser controlada também. Isto é possível
bloqueando a energia, o fluxo de vida na parte do corpo em questão. O resultado é couraça muscular ou algo ainda mais
eficiente, um bloqueio na área dos órgãos internos (por exemplo os intestinos).
É neste ponto que o trabalho corpora começa, em psicoterapia. Percebemos que na região afetada pela supressão dos
sentimentos não há mais percepção física. Ao invés de uma forte pulsação apenas um leve sinal pode ser sentido. O que é
interessante é que a capacidade de suprimir sentimentos, que intencionava prevenir a neurose ou psicose, e a capacidade de
rompê-las que originalmente intencionava evitar dor física, é revertida quando se transforma em compulsão e causa
exatamente o que deveria evitar. Pode-se dizer que a vida encontra um novo ponto de mudança que explica a qualidade
caricaturada da doença na qual algo saudável parece se esconder e que não parece inteiramente estranha. Os resultados da
supressão são de qualquer forma neuroses de todos os tipos de sofrimentos psicossomáticos, (asma, bronquite crônica, ulceras,
problemas reumáticos, ataques cardíacos, enxaquecas, acumulo de doenças infecciosas, varizes, e também câncer e etc.) que
são os resultados de se rachar as psicoses.
Portanto, uma aflição em particular pode ser ligada, sem problema, aos sentimentos suprimidos correspondentes que estão
por trás dela. Aqui também achamos uma discrepância entre o verdadeiramente saudável e o chamado saudável. A pessoa
supostamente saudável, o neurótico normal, é geralmente um ser humano mecânico, composto apenas do intelecto e do corpo,
e acima de tudo, é claro, de uma sexualidade terrivelmente restrita, uma pessoa que suprimiu todo seu psique, que não quer
reconhecer as secções do meio do seu ser que ele liberta apenas parcialmente e relutantemente. É esta pessoa que criou a visão
de mundo mecânica, com a qual ele ameaça destruir toda a natureza que encontramos em nossos hospitais, já velhas, sofrendo
dos numerosos efeitos desta supressão de sentimentos e que destrói a si mesmo e a seus companheiros espalhando guerra e
estresse continuamente de modo desalmado.
Tratar da supressão e da fuga de sentimentos é tentar direcionar a consciência novamente para os compartimentos
psíquicos e partes do corpo apropriados, que é uma forma difícil e problemática. Ao fazer isto todos os sintomas que foram
causados pelas circunstâncias que envolvem a supressão aparecem novamente, como, por exemplo, medo, ligado a impressão
de que ter que suportá-lo é uma ameaça ao corpo e mente de alguém, sendo a supressão, a única forma de sobreviver. Isto
também explica a extrema oposição que tem que ser superada durante psicoterapia ao tentar desvendar tudo isto. A impressão
de que sentimentos suprimidos vão durar para sempre quando reconhecidos, é um sinal típico que acompanha o processo de
descoberta.
Qualquer coisa que ajude a trazer de volta a consciência é boa psicoterapia, seja trabalho corporal, conversas, gritos,
massagens, ou qualquer outra coisa. Apesar da maioria das vezes ser algo muito desgastante, e geralmente totalmente
desesperador.
Nossa necessidade de sermos amados a qualquer custo nos seduz a nos adaptar ao impossível. Quem está
psicologicamente doente nos diz com seu ser que anteriormente ele não obteve sucesso em seu relacionamento com seus
instrutores, e atualmente conosco, para ser qualquer outra coisa alem de um maluco (esquizofrênico) ou talvez uma pessoa que
é muito reservada, um indivíduo teimoso, alguém amedrontado, estúpido (neurótico) mas também alguém senil, educado, um
homem de poder (um neurótico normal).
Mesmo se não tivermos contribuído com o desenvolvimento deste estado de ser, por exemplo, através de educação,
mesmo assim ainda somos responsáveis por ele. Ai reside também nossa chance de sermos bons companheiros, ou bons
terapeutas: levar nossa responsabilidade a sério, isto significa fazermos tudo que pudermos para melhorar a relação. O
neurótico normal que é considerado normal é na verdade o que consegue dizer ao psicologicamente saudável: "eu posso viver
melhor sem nenhum relacionamento com você. E assim que eu me sinto melhor. Não consigo mudar". Desta forma pode-se
também dizer que todos nós sofremos, estranhamente, por causa da nossa maneira de tratar relacionamentos. A pessoa que é
realmente sadia se relaciona precisamente parando de querer ser ou ter que ser algo em particular. Com cada pessoa que ele
encontra ele tenta ser um oposto, para ser exatamente aquilo que junto com o outro o faz completo.

Sobre depressão
Voltando para nossos sentimentos repressivos que queremos descobrir. Depressão, este estado de ser sem sentimentos, é
um mal comum, espalhado em nosso mundo. Esta indiferença esconde todo um conjunto de sentimentos como medo, culpa,
inferioridade, obstinação, raiva, dor, insensibilidade. O sentimento relacionado de frustração esconde acima de tudo,
insatisfação, mau humor, tristeza, solidão, e novamente obstinação e insensibilidade. Pesar, autopiedade, melancolia
combinam com ele, e o mesmo acontece com tendências masoquistas e, portanto impulsos naturalmente sádicos também.
Sentimentos de insignificância, de isolamento sempre combinam com ele também.
Como sempre com estes estados emocionais que são compostos de vários sentimentos, encontramos um bloco no

34
qual sentimentos mais dominantes e repressivos são inseparavelmente ligados com sentimentos menos notadamente
suprimidos. Quando você os revela, quando você penetra neles, você entende as conexões, entende o estado aparentemente
insensível em conexão com seus relacionamentos, seu passado e sua vida diária. Quando você entra em cada sentimento
particular que ele inclui e o drena de seu conteúdo, quando você ouviu toda estória, ele revelará a você a beleza interior e a
profundidade que ele sempre contém.
Insatisfação é um enorme poder quando você não o dirige contra você mesmo, ou contra algo, insensatamente, mas
quando você entende o que ele realmente significa em sua vida, então, como obstinação, ele se torna seu aliado, ele se torna
sua força, que lhe ajuda a dominar sua vida.
Insensatez também é um sentimento maravilhoso quando você realmente vai atrás dele. Ele diz a você tudo que é
insensato em sua vida. Quando você escutar, você logo saberá o que você precisa mudar para que sua vida tenha sentido.
Porém o medo - o medo que você tem das conseqüências de seus insights, vai lhe prender em solidão, dor, ou sentimentos de
culpa com os quais você terá de lidar. Neste ínterim, é claro que você entendeu que medo é algo que você só encontra até o
ponto em que você o enfrenta e talvez também que se você não o fizer ninguém poderá fazer para você, nem mesmo seu
terapeuta. Também vale a pena seguir sentimentos de culpa. Eles mostram, sem ambigüidade onde sua culpa realmente está,
de que você é culpado. Onde há sentimentos de culpa, há com certeza culpa a ser encontrada, com a qual vale a pena você
começar a lidar. Contudo na maioria das vezes culpa não tem a ver com o que você pensa. Talvez você se sinta culpado porque
você quer deixar seu/sua parceiro(a), você tem que seguir um caminho novo. Porém você nunca é culpado por querer fazer o
que você quer, ou o que se sente impelido a fazer; mas talvez você deva a seu parceiro(a) uma confrontação totalmente
honesta, talvez, bem simplesmente, você deva a ele a verdade, e por você estar com medo dela, você continue devendo isto e
ele(a). Sentimentos de culpa não estão geralmente ligados a nenhuma ofensa tangível, real. Porem quando você olhar para ela
de perto, você perceberá, que você deve isto a si mesmo e aos outros, o fato de ser claro em suas atitudes, de dar aos outro um
claro sim ou um claro não. Se for certo para você, não há nenhum problema em dizer um não, mas se você se sente culpado a
respeito disto, você ainda deve claramente dizer não porém sem negar seu sentimento. Por que não se sentir culpado? Eu não
preciso ser seduzido por culpa a uma ação que não é certa para mim. É um grande alivio ser capaz de enfrentar a culpa e
mesmo assim fazer o que se quer.
Quando você se empurra para a sua depressão desta forma você se livrará dela, até você chegar aos sentimentos mais
íntimos que você evitou, e isto abrirá a porta da sua completude novamente. A depressão sempre anda mão a mão com um
conflito entre insights exatos sobre sua infelicidade, ou pelo menos uma parte de seu sofrimento que não pode mais ser
suprimida, e a falta de disposição para aceitar e defender estes insights. Depressão é a recusa de se tornar triste. Vai mais ou
menos por esta linha: eu tenho pensamentos que me amedrontam, que são sombrios, dos quais eu preferia me livrar. É claro,
quando você os encara da forma certa, você reconhece que é da verdade que você gostaria de se livrar. Talvez você perceba
que como criança você foi criado e condicionado tendo como base que você na verdade não era confiável e, portanto tinha que
ser domesticado e domado através da supressão, medo, violência, chantagem e infelicidade crônica. Talvez você perceba que
isto oferece uma péssima predisposição a um comportamento social e uma vida feliz, e você vive em um estado de medo e
pesar crônicos. Você possivelmente também percebeu que um tipo de condicionamento muito diferente teria sido possível, que
poderíamos ver nossos filhos como confiáveis, sociais e bons e que poderíamos sair deste ponto de vista: que eles poderiam
não apenas permanecer daquela forma, mas tornar- se ainda mais se fossem criados na base da confiança, amor e afeição.
Talvez você então veria que nossa vida social juntos seria automaticamente baseada nesta fundação. Talvez você sofra por
conta de uma eterna briga de um com o outro como vemos, você está consciente, na política, na economia, e na sua vida
privada, ao invés de realmente nos importarmos um com o outro para que pudéssemos viver felizes juntos. Apesar de você
reconhecer tudo isto, você tem medo de se opor a ele, de ir contra ele, de nadar contra a maré, e por causa disto você tenta
suprimir sua realização, mas sem sucesso. Você fica pendurado entre os dois, incapaz de dizer sim ou não.
A depressão não pode ser curada através da supressão, nem com conversas nem com medicamentos. Só pode ser curada
quando se vai com ela até o fim. A única forma de se livrar da tristeza, do medo, do sofrimento em geral, de todos os
sentimentos indesejáveis, é reconhecê-los, expressá-lo e ao fazê-lo, liberá-los para libertar-se deles. Então algo novo pode
começar. Libertar-se da depressão não traz a cura. Deve-se persistir. Enquanto houver fome que não foi saciada, nem cliente
nem terapeuta devem estar satisfeito ou fazer concessões. Enquanto sua fome não for realmente saciada e que você procurar
por um substituto, você acaba novamente no vício. A receita contra depressão é ir até o fim. Então o novo começa. Aqui a
psicoterapia encontra uma conexão com o "religio" porém não com o tipo organizado e morto, mas com a que esta viva em
cada ser humano. A nova coisa que começa poderia ser descrita com uma palavra que é muito mal utilizada - amor. O amor
por si só poderia acabar com a fome. Não o do tipo que você quer, mas o tipo que brota em você. Ele também coloca um fim
no vicio, já que ele não precisa de nada.
Quando você está deprimido, você também se torna uma pessoa muito obstinada, você sempre que ser a vitima e escondo
o seu lado que faz as coisas. Você não quer assumir nenhuma responsabilidade acima de tudo nem por sua própria verdade.
Você quer escapar dela. Você quer continuar provocando pena e abandonado a qualquer custo. Você não quer dar nada, você
simplesmente que retirar. Somente quando você redescobrir sua teimosia, só quando você vê como você se deprecia é que
você descobrirá a saída.

35
Ao final das contas depressão é desespero que foi colocado de lado, do qual flui medo, obstinação, frustração, e assim por
diante. Estar neste mundo e ver a verdade em nossos relacionamentos, em nós mesmos, na sociedade, em nossas instituições,
no meio ambiente, em guerras, é se desesperar. Realmente ver e não se desesperar é evitar a verdade. Este é o problema de
pessoas depressivas, e que todos nos enfrentamos. Nos não queremos permanecer em desespero o resto de nossas vidas, mas
não queremos ficar deprimidos também, o que é o resultado de se evitar desespero. Nós vemos muito pouco. Devemos ir mais
fundo. Desesperar-se, ir com ele até o fim, é reconhecer que desespero é apenas uma parte de mim, não é o meu todo. Quando
eu olho desta parte do meu ser, eu não reconheço o todo. O desespero é um par de óculos coloridos, como a obstinação ou o
medo.
Só vejo claramente quando o desespero se dissolve no todo. E isto acontece quando eu vou com ele até o fim; quando eu
realmente me desespero totalmente, então o amor desperta em mim. Quando eu cedo completamente a tudo que a vida traz, e
finalmente, para o amor, então a vida e o amor me abraçarão e cuidarão de mim.

Sobre neurose
Se prender a um velho padrão que fez sentido em seu tempo, apesar de não ser mais útil, simplesmente por medo, ou por
qualquer outra razão - isto é neurose. A capacidade de se adaptar a flexibilidade que nos possuímos em grande parte é perdida
exatamente por esta rígida adaptação a um certo padrão, ou pelo menos ele se torna muito restrito ficando fixo em uma atitude
em particular.
Deixe-nos, por exemplo, pegar uma pessoa que cresceu em uma região pobre e teve muito pouco dinheiro. Se ele se
adaptou completamente a sua situação, ele terá se tornado muito econômico, até uma pessoa miserável, que aprendeu a dividir
tudo. Considerando que ele tenha pouco dinheiro, este é um bom traço de caráter. Agora suponhamos que este homem de
repente ganha muito dinheiro através de uma herança ou de alguma outra forma. O que ele fará? O ideal é que ele se adapte à
nova situação, e de acordo com sua riqueza recém-descoberta, viva de uma forma mais generosa. Porém se a capacidade de se
adaptar dele for limitada ele se torna ou um gastador - ele extrapola - ou ele se torna um avarento, mesquinho. Nos últimos
dois casos, teríamos que descrevê-lo como sendo neurótico, por que ele se prende a um padrão de comportamento que não
corresponde à situação atual. Caso ele se transforme em um esbanjador ele logo ficará sem dinheiro, se ele permanecer um
miserável, ele providenciará para que ele perca sua fortuna a fim de se enquadrar em seu padrão comportamental original
novamente, a menos que ele tente se iludir em pensar que é pobre, a fim de justificar sua atitude e também manter seu
dinheiro. Portanto ele tenta recriar sua situação original, para provar para ele mesmo e para o mundo que não é necessário
corrigir seu caráter e comportamento, porque isto faria com que ele se sentisse com medo. A psicologia fala sobre repetição
compulsiva, da tentativa de continuar sempre em frente produzindo a situação original à qual a estrutura adquirida é adaptada.
Porque isto acontece assim? Ter que se adaptar a uma nova situação, ter que mudar, obviamente faz o neurótico ter medo. O
sintoma principal do neurótico portanto é o medo, a falta da confiança original na vida e em si mesmo. Como se chega até
aqui? Novamente, aterrissamos nas feridas da primeira infância, que destruíram a confiança primitiva. Contudo não devemos
antecipar nada mas sermos ainda um pouco pacientes. O problema principal do neurótico, conflitos não trabalhados é que esta
no fato de que toda a questão foi suprimida do eu, como uma tentativa inapropriada de resolver o problema. Quando você
enfrenta seu problema, por exemplo avareza ou depressão, você ira expor todas estas conexões.

E ainda mais sentimentos


Quando você se engaja em seus sentimentos, não será o suficiente fazê-lo apenas uma vez. Você terá que fazê-lo várias
vezes, centenas de vezes até você penetrar completamente em seus sentimentos e até você ter entendido tudo que quer se
desdobrar deles.
Quando você rastreia seus sentimentos, você descobrirá uma riqueza infinita em suas gradações. Junto das que já são
conhecidas, como ódio, inveja, ciúme, você ainda conhecerá inumeráveis sentimentos menos importantes que foram
suprimidos.
Por exemplo, há estreiteza de visão, estupidez, teimosia, tédio, hábito, negação e superficialidade. Há também letargia,
preguiça, indolência, melancolia, falta de interesse, ou vergonha, perplexidade, acobertamento, justificação, fantasia e ilusão.
Todos eles lhe protegem de suas formas especificas, de perceber a verdade em você mesmo ou em seu ambiente. Se você for
estúpido você simplesmente não entende e, portanto não tem que assumir responsabilidades por seu entendimento. Sua
estupidez o protege disto. Se você esta entediado, é sempre porque seu verdadeiro interesse está em algo proibido. Quando
você rastrear seu tédio, você descobrirá apenas isto, e novamente você deve enfrentar seu medo para deixar sua curiosidade
despertar apesar da proibição. Você terá que aceitar seu medo, estar preparado para querer estar com o que lhe queima em
você, onde o movimento em você deve ser encontrado naquele momento.
Letargia, preguiça, indolência, melancolia e falta de interesse são assim uma resultante direta do fluxo de energia sendo
controlada e canalizada, do prazer da vida em você sendo suprimido e controlado através de tabus. Eles o levam a fixar-se em
hábitos, a uma rotina, que é o que destrói sua vida.
Ao ficar perplexo ou envergonhado, você não encontrará nada além de uma tentativa de esconder seu entusiasmo proibido
pela vida, fazendo com que ele não fique visível para você, e acima de tudo para os outros. E quando você se conscientizar
disto, você terá contato com uma verdade que urgirá que você a consuma e da qual você tem medo.

36
Teimosia e estreiteza de visão protegem você de ter que admitir quando você emperrado, quando você cometeu um erro.
Porém reconhecer o erro e assumi-lo o libertará para as necessárias correções que de inicio podem ser um tanto dolorosas, mas
depois, finalmente vive-se melhor com a verdade.
Os dois últimos, teimosia e estreiteza de visão levam ainda para outro grupo de sentimentos repressivos aos quais
pertencem os de responsabilidade e dever, respeitabilidade, um senso de honra, moralidade, complacência, a sensação de ser
influente ou piedoso, sentimentos de lealdade, discernimento, disciplina, retidão, franqueza, mas também probidade, e
sentimentos de desinteresse ou ser reticente sobre as coisas. Tudo isto funciona para apóia visões sociais e morais que
restringem sua vida a uma certa área, a uma atitude em particular, que retira nossa liberdade e que garante segurança em seu
lugar. Quando se chegar ao fundo deles, você descobrirá o quanto eles são mesquinhos, mas também verá a liberdade do outro
lado da fronteira, e seu medo dela. Você verá atraves de toda estrutura social e reconhecerá que toda verdadeira natureza quer
expulsá-la, mas que você está com medo das conseqüências. Você prefere ser morno que carregar um fogo dentro de você,
apesar de que sem o fogo você nunca será realmente feliz. Você se prende a responsabilidades e trabalho, porque eles
garantem vínculos seguros, e você não confia nos vínculos de incerteza que o amor cria.
Com franqueza, disciplina, firmeza, moral e um senso de honra, você tenta criar em você mesmo, assim como em pessoas
próximas a você, qualquer que seja a verdade que gostaria de explodir de você e dos outros.
Repetidamente nosso pensamento perspicaz encontra novas capas nas quais deixar o que não é verdadeiro parecer
verdade. Piedade, complacência e influencia provêm tais oportunidades.
Discernimento em si é algo muito bom, quando ele surge da percepção direta da verdade e tem a ver com cuidar dos
outros. Quando ele serve para diplomaticamente deixar a verdade no escuro, ele faz parte dos sentimentos repressivos. O
mesmo acontece com retidão. Quando ele é genuíno, é um grande sentimento, uma maravilhosa atitude de vida; quando ela se
torna apenas uma ferramenta da moralidade e respeitabilidade ele é falso e esconde a mentira. Honradez é basicamente uma
boa qualidade em nós, mas geralmente serve nosso próprio interesse e não é genuína.
O mesmo acontece com esperteza, traição, arrogância, superioridade, desdém, astúcia, habilidade, falsidade, egoísmo,
fraude, artificialidade, infidelidade, baixeza. Eles compõem um grupo de sentimentos repressivos que estão relacionados uns
com os outros. Orgulho nada mais é que uma forma de obstinação que se disfarça em sua atitude de negação. Atrás dele
novamente, naturalmente, esconde-se a incapacidade e o medo de se prender ao próprio "sim" e "não", e atrás dele, é claro,
esta a expressão direta de sua vontade. Outros sentimentos neste grupo são também de uma forma ou de outra ligados a não
sermos leais a algo, a não querermos ver a verdade de algo, a querermos ter vantagens sem termos que agüentar as
conseqüências. Traímos aqueles a quem não conseguimos ser fieis, enganamos aqueles que não queremos aceitar dentro de
nós, nos tornamos astutos, nos tornamos espertos e artificiais quando queremos pegar algo sem pagar e falsos quando
queremos parecer para os outros algo que na verdade não somos. Quando começamos a observar estes sentimentos em nós ao
invés de agirmos de acordo com eles. Nosso background pessoal se destravará e nós, mais uma vez, nos depararemos com
nosso medo de viver com "o que é" e confronta a questão de se nos queremos isto ou não. Nossa única liberdade consiste
basicamente em sermos sempre capazes de dizer "não" ou "sim" para aquilo "que é" sem é claro, sermos capazes de mudar o
que é. Com o tempo iremos entender isto mais e mais também. Quando dizemos "não" mais cedo ou mais tarde seremos
forcados pela vida a aprender precisamente o que nos recusamos a aprender de livre e espontânea vontade. Sob a pressão de
uma situação da vida, contudo, será com certeza, muito mais dolorosa.
Ainda existe toda gama de sentimentos agressivos como o desejo de dominar, a raiva, destruição, brutalidade, aspereza
violência, maldade, destruição, impudência atrás de que sempre está escondido um ser extremamente calado, que pensa apenas
em termos do "eu", que apesar de manter todas suas energias trancadas não consegue se manter completamente suprimido.
O que é impressionante é que por trás de todos estes terríveis sentimentos e formas de comportamentos, nós finalmente
encontramos, por repetidas vezes, a energia da vida saudável funcionando, que, contudo, por causa das limitações impostas a
ela, mostra apenas uma forma pervertida. Quanto mais nos pegamos a isto melhor seremos capazes de aceitar outras pessoas
da forma que são. Precisamos lutar menos e menos com eles. Estamos então em contato com o âmago deles, porque vivemos a
partir do nosso próprio âmago; ou ao contrario; quando reconhecemos os outros completamente, também nos reconhecemos a
nós mesmos. Quando vemos o todo, quando vemos as profundezas do crime, da guerra, da violência, teremos compaixão e
não mais lutaremos contra nada disto. Perceberemos o desespero dentro deles e não o mal superficial, que é claro não significa
que podemos extenuar ou justificar este mal.
Com o vicio e a avareza que já discutimos também fazem parte ganância, insaciabilidade, avareza, luxuria se prendendo
muito, por exemplo, em relacionamentos, e também o contrario, deixando os outros pra lá quando deveríamos apoiá-los.
Todos estes sentimentos e atitudes nos leva aos nossos desejos e à solidão, que não queremos incluir em nossa totalidade.
Uma reação bem comum, que geralmente domina nosso mundo, é o ressentimento: ficar com má vontade com alguém,
não ser capaz de perdoar, ser inflexível, e trapacear. No cerne destes sentimentos encontramos a reconciliação que dá paz,
tanto a nós mesmos, como às pessoas com quem nos relacionamos, a ponto de aprendermos a não colocar

37
nossas vontades em primeiro lugar.
A vontade também é uma atitude dominada pelo sentimento que ao olharmos mais de perto resulta na cristalização dos
nossos desejos. Quando colocamos nossos desejos de lado, descobrimos a forma como nossos pensamentos funcionam em
geral, e vemos que ele tende a maquinar planos e depois encaixar a vida nesses planos. Quando isto não funciona nos ficamos
mal e ressentidos. Quando perseguimos este processo interior vamos reconhecer que apesar do pensamento e da nossa vontade
serem menos importante, eles tentam se ficar em primeiro lugar. Na verdade eles têm que se submeterem ao processo da vida,
ao todo, pois o pensamento é apenas uma ferramenta de trabalho, um auxílio para nos tornarmos completos e não a totalidade
em si. Quando conseguirmos isto, seremos capazes de passar pela vida muito mais calmamente e com mais dignidade.
Falta de confiança em si mesmo e nos outros destrói nossa vida. Atrás desta falta de confiança, contudo, está escondido
uma clarividência. Alguém que não vê claramente deve ser desconfiado. Quando eu agüento ver em quem eu posso confiar e
em quem eu não posso, eu não preciso ser suspeitoso. Para fazer isto, contudo, eu devo ser capaz de tolerar este insight, e isto
significa que eu devo estar pronto para reconhecer todas as velhas feridas que me foram infligidas por pessoas que se
mostraram indignas de confiança no passado, e que me põem novamente em contato com a dor, que já há algum tempo eu
havia decido não mais sentir. A desconfiança deixa de existir quando eu começo a confiar em mim mesmo.
Eu considero o entusiasmo como parte dos sentimentos repressivos. Ele é geralmente considerado um bom sentimento,
porém ele tem a ver com o medo e se torna facilmente fanático, e isto novamente tem conexão com nossa necessidade básica
de perpetuar o agradável e evitar o desagradável. O entusiasmo se instala quando o prazer já desapareceu. O prazer, como
todos os sentimentos do âmago, só pode existir onde ele tem liberdade. Entusiasmo é um substituto para o prazer perdido; tem
a ver com o medo de encarar esta perda e com o desejo de forçar um prazer. Isto facilmente nos tira da rota e nos leva a
extremos.
Sarcasmo, cinismo, ironia: eles destroem o humor porque seu efeito é evitar a aproximação, misturá-la com a malícia,
amedrontar sua honestidade, e se esconder com vergonha de sua verdade Em sua raiva distorcida, o humor perde sua beleza e
calor, a proximidade que ele queria trazer vai embora.
Bem no final eu gostaria de falar sobre se apaixonar, sobre este estado abençoado que rapidamente se transforma em algo
horrível, como todos nos sabemos.
Geralmente acontece em psicoterapia do cliente se apaixonar pelo terapeuta, especialmente e naturalmente quando o
terapeuta é do sexo oposto e corresponde na idade à imagem mental de um parceiro do cliente. O mesmo acontece porem de
forma menos dramática quando o terapeuta é do mesmo sexo, ou quando por alguma outra razão ele não é considerado um
possível parceiro para um casamento ou algo assim. O desejo, então, pode se dirigir mais rapidamente para uma amizade ou
alguma outra relação de laços forte.
Isso acontece porque um processo de abertura acontece durante a psicoterapia, para o âmago da pessoa, e junto com isto,
no relacionamento também. Todos nos ansiamos por esta abertura, mesmo quando não sabemos mais nada sobre ela, mas
também temos medo dela. Se você se lança no caminho da psicoterapia, e se você não experiência uma abertura destas há
anos, desde a sua infância, ou talvez nunca experimentou, é muito natural que a primeira pessoa com quem isto aconteceu se
torne muito importante. Quando você está perdido há anos no deserto e você finalmente encontra outro ser humano, ele
parecera ser para você alguém muito especial e você se aproxima dele com os sentimentos mais positivos. Isto em si não seria
um problema. Apaixonar-se é um bom sentimento até certo ponto, porém se apaixonar não é o amor em si. Se apaixonar é
penetrar em seu âmago sem se entendido, sem que seja claro. Este estado emocional de coisas depois se mistura com ilusões e
vôos de imaginação que você tem em sua cabeça. Então você e facilmente levado a acreditar que seu relacionamento com o
terapeuta é o ponto central, sem perceber que são os acontecimentos internos que são importantes.
Você vai querer se apegar a este sentimento de estar apaixonado, de possuí-lo, mas com isto o desânimo já começa a se
instalar. Logo logo os sentimentos bons desaparecem, ficando apenas seu apego. Com isto você já está convidado a dar o
próximo passo, que você não quer dar, pelo menos não imediatamente e de boa vontade que seria confrontar-se com
sentimentos difíceis como ciúme. Observá-lo irá desiludi-lo e depois de uma longa jornada levá-lo a um ponto onde você se
abre novamente e forja o caminho até o seu âmago, porem desta vez com clareza, a fim de que você não se apaixonará mais,
mas você começará a amar. Talvez seu terapeuta seja novamente a primeira pessoa que você amará, simplesmente por ele estar
ali, porque ele merece seu amor e fez parte da sua jornada; mas este amor não vai querer possuí-lo, ele o libertará, e isto
significa que você prestará atenção ao que realmente quer acontecer entre vocês. Talvez então, amar signifique se afastar um
do outro, separar-se, talvez signifique encontrar um lugar na vida da outra pessoa, mas um lugar diferente daquele que você
queria inicialmente, e talvez signifique que o que você sempre quis, acontecerá entre vocês. Isto porém será a exceção ao
invés da regra, porque seu terapeuta, em circunstancias normais, já terá na vida dele se envolvido em suficientes
relacionamentos amorosos satisfatórios para fazer com que provavelmente pareça certo que vocês dois se separem.
É até ai que vai, no que concerne sentimentos repressivos. Muito provavelmente há outros, muitos mais e há
provavelmente muito a ser dito sobre eles. Porém, no final das contas, elas são apenas palavras que devem ser um

38
ímpeto para realmente empreender a jornada, e na jornada você experienciará estes sentimentos de forma bem mais
distinta, de forma bem mais pessoal, e depois você vai quere expressá-las em suas próprias palavras.
***

Eu gostaria de encerrar este capitulo também, observando até que ponto enteogenos podem ajudar a penetrar na confusão
de sentimentos, em atravessá-la, e finalmente deixá-la para trás. Esta é a principal preocupação da psicoterapia e também a
mais importante no tocante a aplicação de substâncias psicolíticas.
Empatogenos podem ajudar você a descobrir seus sentimentos e torná-los mais visíveis, enquanto apontam a forma em
que seus sentimentos estão ligados ao seu passado ou ao seu presente e assim por diante. Uma experiência pode fazer com que
você temporariamente tenha muita clareza, a fim de que você veja o caminho mais uma vez - e ainda melhor - no qual você
queira e deva mais tarde trabalhar.
Substâncias psicodélicas também pode ser usado nesta parte do trabalho, especialmente em pequenas dosagens. Se você
ainda não integrou sua historia pessoal ou seu passado pessoal você terá contato com eles através da ajuda proporcionada pela
substância. Dosagens mais altas, provavelmente o lançarão diretamente nelas e você cairá diretamente em níveis transpessoais
de uma natureza extrema que você ainda não será capaz de integrar. Se você já tiver ido fundo nos seus sentimentos, um
psicodelico o mostrará o caminho até lá. Empatogênicos são portanto um meio de lhe ajudar a vencer estes primeiros passos
na jornada, porque agora, como antes, e ai que nos encontramos. Na ausência de empatogênicos, psicodélicas podem ser
usadas em pequenas doses, porém elas são apropriadas para mais adiante na jornada.
Aqui está mais um estudo de caso no tocante a sentimentos defensivos, a forma de lidar com eles, e o uso de
empatogênico para libertá-lo
Angelika, uma jovem professora, entra em contato comigo porque freqüentemente ela é tomada por sentimentos de
insensibilidade e acima de tudo de vazio. De forma extrema, devo admitir, ela consegue levar sua vida razoavelmente, mas
lhe parece um tanto sem graça não valendo a pena ser vivida. Ela própria se sente inferior e na verdade despreparada para
viver. Seus relacionamentos são duradouros porém baseados em dependência, e eles não a preenchem. Por causa deste vazio
ela procurou ajuda. Conversas psicoterapéuticas mostraram que ela era uma pessoa inteligente, revelaram também certos
insights sobre seu passado, seu sofrimento, mas isto muda muito pouco.A forma maciça com a qual ela bloqueou seus
sentimentos não é para ser quebrada nem com outros métodos. Trabalho corporal e outras abordagens similares trazem
apenas um relaxamento temporário, mas na verdade não traz muita mudança.
O empatogênico ajudou muito o cliente a ir mais longe. O que tinha sido trabalhado ao nível intelectual em uma série de
sessões de conversas, agora abria caminho para seu estomago. De repente ela entende sobre o que estávamos falando o
tempo todo; ela sente não apenas seu vazio, mas também como surgem as condições e o que esta escondido atrás deste vazio.
Sua vida muda completamente, ela, de repente está cheia de vida, foi tomada por uma poderosa tempestade de sentimentos.
Isto não torna as coisas mais fáceis mas as torna mais significativa. Come ela está muito envolvida e motivada, ela também
se prende a ele e faz seu caminho gradualmente e de forma útil através do caos que às vezes surge. Naturalmente, apesar do
uso de um empatogênico, este processo acontece a seu próprio tempo. Ao final a duração do seu tratamento foi de alguma
forma encurtada pelo uso repetido do empatogênico. porém este não é de forma alguma o ponto essencial. O que parece
importante para mim é que os sentimentos dela não poderiam jamais ter sido acessados atraves de outro método. Ela
possivelmente teria se submetido a psicoterapia durante anos, e após momentos de iluminação temporários e efêmeros teria
permanecido desapontada - e o terapeuta também - e finalmente, ela teria provavelmente se matado. Ao invés disto, hoje ela
é uma pessoa feliz, animada e muito comprometida.
Faz parte dos fatos trágicos da profissão de psicoterapeuta conseguir um cliente de vez em quando com anos de trabalho
anterior e a ter que admitir que nada mudou até hoje a não por um pouco de trabalho mental.
O sofrimento deste paciente teria, é claro, se encaixado no diagrama C na figura 2. As medidas de defesa foram tantas que
uma situação quase como a do diagrama F foi alcançada. Isto tornou a abordagem por métodos convencionais praticamente
impossível. Mais tarde ficou claro para este mesmo cliente, que primeiro teve que passar da camada de adaptação para a
camada de seus sentimentos defensivos (figura 3), de que a profunda ancoragem na defesa também teve algo a ver com
envolvimentos cármicos aos quais ela só conseguiu ter acesso atraves da aplicação de psicodelico e o trabalho correspondente
em fenômenos transpessoais que o acompanha.
Hoje é dia de "Chesslete" e nosso filho Cyrill que logo completará seis anos, naturalmente quer participar das atrações de
carnaval pela primeira vez. Esta frio e humido e tem nevado direto sem intervalo. Um vento forte sopra do oeste. Ficamos
protegidos dele em uma peguena velha cidade, mas ao cruzarmos o rio Aare ele penetra nossas roupas e nos toca a face com
bolhas de neve. Cinco horas da manhã; a noite ainda está escura, o amanhecer ainda parece estar longe.
A atividade barulhenta da multidão, vestida uniformemente, libera sentimentos estranhos em mim. Está frio e

39
minhas mãos estão úmidas pois eu esqueci as luvas e eu as aqueço de instante em instante entre minha pele e meu
pulôver. Sinto arrepios por causa da roupa que lentamente vai ficando molhada e meus pés estão frios, pois estou usando os
sapatos errados. Porém tudo isto não é meramente desagradável: há uma mistura confusa de sentir-se a si mesmo, de estar vivo
e desprotegido; um sentimento profundo de estar desabrigado, mas também seu oposto: o conhecimento de estar em casa,
sobretudo no coração, com imagens de fogo de chaminés aquecendo e união familiar.
Com Cyrill um novo laço está se formando ao experienciar algo extraordinariamente junto. Há as muitas faces
desconhecidas e surpresa sobre quanto charme, prazer e curiosidade há nas pessoas e como isto está refletido em suas faces
esta manhã. É surpreendente o quanto a natureza incomum desta situação pode despertar esta beleza que de outra forma
estaria escondida. Ela desperta uma nova esperança em mim, me atrai para cada pessoa presente. Eu me sinto como se eu
pudesse ficar sossegado com cada uma delas para sempre. O desconforto do mundo, que de outra forma torna a vida tão
opressora, nos leva de volta a origem. Porém o pesar também está presente, traços dele devem ser vistos em muitas faces,
mesmo que estejam felizes agora. Está tudo lá em um dado momento, o destrutivo também, que ao passar sente-se compelido
a rapidamente destruir algo; o excessivo que nunca tem o suficiente; o instável que ameaça sair da linha. Banhar-se nesta
massa é banhar-se em sentimentos. As vezes você está circundado por um mar raso que vem com fumaça de cigarro, e nuvens
de álcool ao respirar; então vemos a face inocente e pasma de uma criança ou você se deixa pelo sussurro quente
acompanhado de uma voz agradável de uma mulher. Está tudo aí. Tudo sempre está aí. A cofusao de sentimentos.
E então chega outra manhã, cheia de clareza e intensidade. O mundo parece ser mais colorido do que o normal. O céu se
abriu, como se dividido em dois; ao noroeste, torres de nuvens escuras e ameaçadoras se espalham em direção ao leste em
sombras cinzas e véus de chuva. A outra metade do céu está aberta; ao sudeste, vê-se o amanhecer, e uma primeira nuvem
azul suave com uma borda dourada que assume formas bizarras em direção ao sudoeste são formadas pelo vento nas alturas
em padrões malucos. De onde eu estou o sol ainda não pode ser visto, mas seus primeiros raios podem se refletem nas árvores
do caminho; enormes árvores verdes enferrujadas, completamente desprovidas de folhas, para enfrentar o dia de inverno. Elas
estão iluminadas, mal se consegue tirar os olhos de seus tons opalescentes. Os telhados da velha cidadezinha brilham ao sol
também. É um momento em que tudo está parado; um momento que lhe permite sentir o sentido profundo da vida no eterno
presente.
E então gradualmente, um arco-iris aparece sobre a intensa luz acima das árvores e na frente da escura parede de nuvem;
ela começa hesitante e suavemente ao oeste e se espalha lentamente revelando-se em toda sua gloria e lentamente desaparece
novamente.
Os pássaros e o mundo das plantas também parecem estar cientes da beleza única e extraordinária desta manhã. Cada
arbusto, cada árvore se destaca, a fim de se revelar um pouco mais que o normal; cada pássaro gorjeia ou fica em silêncio
como se aquela fosse sua primeira e única contribuição ao desabrochar da existência. Uma manhã cheia de beleza
contraditória. Os sentimentos silenciam-se, os pensamentos silenciam-se, há apenas a percepção. Está tudo lá. Tudo sempre
está lá, a confusão se acaba.

5 O portao para o ser: sobre morte e renascimento


Aqui mais uma estória sobre fronteiras.
Eu ouvi falar de outra fronteira. Que supostamente não estava guardada. Ela não precisava ser, pois era muito difícil
cruzá-la. Ela consistia de um abismo sem fim, ao qual não havia como se aproximar senão por uma íngrime parede de pedra,
que de repente desmoronava, e que parecia levar ao nada. Olhando de lá e para mais adiante só se via um vazio, somente um
vácuo.
Mais uma vez, estórias estranhas são relatadas sobre estas fronteiras: um peculiar redemoinho de água deve lhe levar
desta terra para o nada. Ninguém sabe se ela realmente existe. Porém muito freqüentemente ela atrai viajantes que tendam
descer o abismo. A razão que se ouve, é que uma vez na fronteira, sente-se uma sensação estranha de ter chegado, de estar
em casa. Descer, aquilo que a razão percebe como algo impossível e amedrontador, de repente, sobre a influencia da
sedução, parece bem normal.
Dizem que muitos já tentaram. Primeiramente há os montanheiros que vão por conta própria. Supostamente eles
falharam e ficaram pendurados nas paredes desesperados ou caíram. Há os loucos, que acham que podem voar, e que
simplesmente pulam, eles também acabam morrendo. Somente aqueles que perseveram, esperam, duvidam, procuram
possibilidades, finalmente se desesperam e mesmo assim não conseguem desistir, às vezes ficam sentados na beira da
fronteira por anos, meditando - estas pessoas deveriam ocasionalmente desaparecer, não se sabe como, elas são pessoas que
afirmam que viram como foram levadas pela escuridão da noite, como se estivessem em um tapete mágico, e como elas
sumiram.
Aqui vai um sonho para acompanhar esta estória.
Eu estou voando, completamente sozinho, de maneira simples e sem nenhum esforço. Não é que eu queira voar,
simplesmente acontece. Eu vôo em um maravilhoso céu de verão, leve e feliz, realmente como um passaro. De repente eu
percebo o que eu estou fazendo. Eu penso comigo mesmo isto não pode ser verdade, e começo então a cair. Bem acima da
terra eu sinto que na verdade não seja verdade. Eu me desespero, eu sinto minha impotência, meu desespero.

40
Desta vez ele voa novamente, me leva com ele, me carrega. Eu não sei como. Isto acontece várias vezes e eu aprendo, eu
entendo que isto não pode ser entendido; e o entendimento apodera-se dos limites do entendimento e é acalmado pela
maravilha dele mesmo. No lugar do entendimento, há contemplação e surpresa, de momento a momento.
Talvez eu pudesse permanecer sempre lá, onde a beleza de ser levado para o desconhecido se descortina em um estado
maior de ser. Onde impotência e libertação deixam de parecer estados tão amedrontadores face a crueldade humana, e se torna
graça diante do mistério de ser. A porta é morte, aquele amigo maravilhoso que sempre me leva com ele, quando eu não posso
mais. Talvez eu pudesse viver como um morto, me submeter como se faz na morte, ao invés de morrer continuamente na vida.
Talvez a dúvida realmente exista. Talvez as dúvidas realmente existam. Talvez eu seja a dúvida. Talvez a duvida queira ser
apanhada por mim. Talvez tudo que eu tenha que fazer e ter duvida. Ou eu deveria ao invés pelo suor do meu rosto... ?
Eu gostaria de lhe contar mais uma vez sobre uma experiência psicodélica central em minha vida. Alguns anos após eu ter
embarcado no caminho interior e estar fazendo muito progresso, quando eu tinha conseguido lidar mais ou menos com a
confusão de meus sentimentos, uma nova experiência se desabrochou em mim a um nível que eu tinha tido pouco acesso
anteriormente. Os sinais já apontavam nesta direção ha algum tempo, antes de eu ter uma experiência chave. Como sempre
acontece com experiências especialmente importantes, chegar a ela não foi fácil. Eu estava mais uma vez na minha razão e
não sabia como agir. Tinha a ver com problemas de relacionamentos e com sexualidade. Parecia não haver como eu ter uma
vida realmente em paz e feliz neste aspecto, e eu estava muito chateado com tudo, quando nós um grupo de pessoas morando
juntas em uma comunidade, decidimos embarcar em uma viagem com um psicodelico.
Bem no começo eu fui tomado por uma frustração sexual que eu simplesmente não podia mais evitar, e que se manifestou
em mim em forma de uma forte revolta. Esta descarga, contudo, levou-me para longe do problema e indicou uma região para
mim que logo se tornaria muito mais importante do que a sexualidade tinha sido. Ao mesmo tempo, paradoxalmente, me levou
a fundações para relacionamentos realmente felizes. Depois que minha insatisfação se libertou em uma forte descarga de
energia e imagens orgíacas e me levou a algo como um orgasmo cósmico, veio em seguida uma experiência de morte, como
eu já havia experienciado em outros contextos. Do ponto de vista energético parecia que eu estava a ponto de me desintegrar.
Este processo de dissolução, contudo, foi muito mais longe que eu poderia imaginar que ele fosse, e acima de tudo abriu
alguns aspectos totalmente novos. Começou com mudanças em minha percepção ótica, mas não no sentido de alucinações.
Era, ao invés, como se eu tivesse encontrado meu caminho de volta para a maneira como um bebe recém nascido perceberia as
coisas. Todo o padrão de condicionamento, toda a forma de conceitualizar sumiu perante meus olhos. As conexões que
fazemos de cores, forma e padrão com os símbolos que damos às coisas foram naquele momento completamente dissolvidas.
Eu percebia o mundo ao meu redor apenas como um campo de luz e de energias dançantes, como eu já conhecia de
experiências anteriores. Porém, desta vez, as conexões com o mundo dos pensamentos tinham desaparecido completamente,
então ver era ainda mais comovente, mais sensual e colorido.
Finalmente, eu experienciei uma expansão, como eu nunca tinha visto antes. Eu me senti não apenas conectado com o
mundo ao meu redor, eu mesmo era este mundo - e a um grau inimaginável. Eu não era apenas a casa onde eu estava com seus
habitantes, eu me sentia todo o vilarejo, toda a paisagem onde vivíamos, as montanhas, o lago e todo o céu acima. Foi uma
experiência maravilhosa, libertadora e para mim nova. Não era como se eu tivesse me libertado do meu corpo e vagasse pela
paisagem, mas, muito mais como se eu tivesse me expandido do centro de meu corpo e percebesse nele todo o meio ambiente
em um circulo de vários quilômetros.
Depois de eu me entregar a experiência por algum tempo e ter ficado maravilhado e feliz por causa dela, meus
pensamentos submergiram novamente e de repente havia esta pessoa: "agora você está realmente louco, agora você já era, isto
não pode ser verdade, tal coisa não pode acontecer." Somente muito mais adiante eu vim perceber que este estado não podia
ser reconciliado com o pensamento. A expansão só é possível quando os pensamentos permanecem em silencio; o pensamento
só é possível sem criar problemas quando eu restrinjo a consciência ao pequeno espaço do meu corpo.
Os pensamentos que surgiram neste estado de consciência portanto tinham um poder destrutivo. O estado expandido de
consciência foi imediatamente perdido, sem que eu pudesse reunir e centrar minha energia. Eu me vi em um universo que me
parecia estranho e algo falso. Tudo estava lá, como tinha estado antes: eu mesmo, as coisas, a paisagem, mas tudo parecia ser
apenas forma externa. O conteúdo interno, o sentido tinha sido perdido. Eu me senti um homem muito velho, como se eu
tivesse me perdido e não conseguia me encontrar novamente.
Eu precisei de quase 14 dias para me recuperar um pouco desta experiência. Por diversas vezes eu perdi meu centro e cai
em um universo morto, e tive que novamente aprender, como um maluco a compreender o que tinha acontecido e como lidar
com ele. Com o tempo eu compreendi que o problema era o pensar, que eu havia sido jogado em um campo onde o pensar,
como eu conhecia previamente, não tinha mais lugar, mas pecisava ser substituído pela observação, através de atenção
máxima para ouvir e ver, e através de um processo de ganhar insight, que começou com o contato e me centrar neste novo
nível. Depois de 14 dias o pior tinha passado, mas demorou muito tempo até que eu pudesse

41
integrar a experiência e tornar minha a energia que tinha sido liberada através da experiência.

O que a loucura quer nos ensinar?


Aqui eu devo novamente apresentar alguns pensamentos sobre o desenvolvimento da personalidade, e sobre como surge o
sofrimento psíquico, em particular a esquizofrenia, como entendi através de meus próprios insights.
Inicialmente um bebe é um bando de reflexos. Sua percepção é totalmente indiferenciada, desestruturada. Ele não
conhece barreiras entre ele e o ambiente. Ele é apenas sensação sem pensamento, e por isto sem medo também. Como adultos
é inimaginável perceber as coisas como os bebes, por não conseguirmos mais separar nossos conceitos e as coisas que elas
denotam. Nós aprendemos a diferenciar nós mesmos do mundo, a separar a unidade do todo entre sujeito e objeto e a não
viver mais com as coisas mas, acima de tudo, com os nomes que damos a elas.
A criança ainda é uma, ela se encontra na matriz original. Ela é um "objeto do ser". Como também foi chamada. Ela está
num estado de amor. Só pode ser distinguida de uma personalidade completa e desperta apenas no sentido de que ela não se
maravilha de seu ser.
Nos primeiros poucos meses de sua vida, um processo de diferenciação emocional acontece. Ela aprende a ouvir e ver
ativamente, a ativamente agarrar coisas. Logo ela fica conhecendo os objetos e seu significado, e mais tarde tornase consciente
do senso de tempo e de sua própria personalidade, suas próprias limitações. Ela distingue o ambiente dela mesma. Porém,
agora, como antes, sua infinitude é um fato. As restrições que aprendeu são apenas coisas de sua imaginação, que
correspondem a realidade de apenas um estado de consciência e não a outro. Este processo de demarcação é a formação do
"eu", no qual uma cisão ocorre entre o sujeito e o objeto. A este processo pertencem também em ultima análise, o
desenvolvimento da fala e do pensamento.
A fim de viver em nosso mundo material, é essencial que esta "formação do eu" seja lançado da forma mais ideal
possível. O problema é que este processo de consciência do ilimitado original em nós é perdido e mais tarde rejeitado como
uma ameaça amedrondante. Isto tem a ver com o confronto da criança com personalidades adultas que perderam seu próprio
senso de unicidade e portanto não conseguem lidar corretamente com a unicidade da criança.
No começo, especialmente a mãe, e mais tarde toda a família e o sistema social, criaram um ambiente mais ou menos
propício ao crescimento da criança, no qual as necessidades referentes a sua idade são mais ou menos adequadamente
satisfeitos, e no qual ele tem que enfrentar os medos e perturbações menos possíveis. Mesmo quando o desenvolvimento não é
terrivelmente perturbado, sofrimento é causado via de regra pela difundida e falsa idéia de que a realidade baseada
exclusivamente na separação do sujeito-objeto é a única realidade possível. Como resultado, a outra realidade, a da unidade e
da natureza ilimitada da existência, é imbuída de medo, já que a criança logo nota que enquanto ela perceber a realidade desta
maneira, ela não é entendida pelos adultos.
Quando as perturbações adicionais se instalam, por que a mãe, o sistema social, ou a família não podem corresponder
adequadamente às necessidades da criança, danos em uma escala maior vêem em seguida. Pode ser, por exemplo, se dever a
outras noções falsas que reinam no ambiente social ou ao estresse ou a exigências pesadas presentes no ambiente, ou talvez
porque a mãe sofra ou esteja sobrecarregada por conta de seus próprios conflitos não resolvidos, por ela não ter apoio e ajuda
suficiente do marido ou daqueles que a circundam e como resultado não está suficientemente disponível para a criança.
Conseqüentemente, a formação do EU e o discurso na criança não se desenvolve de forma adequada.
No começo o bebe aprende a diferenciar do estado de sua matriz original, entre bons e maus impulsos e, apenas mais
tarde que tais impulsos vêem do próprio bebe, do sujeito assim como também dos outros, dos objetos. Ainda mais adiante ele
aprende que impulsos bons e maus surgem do mesmo sujeito ou objeto, que o EU bom e o ruim, assim como o você bom e o
ruim são idênticos. Se um grande trauma ocorre nestas fases, não pode ocorrer a formação normal do eu e o desenvolvimento
intuitivo posterior acontecerá na base de uma fundação inadequada, a fim de que mais tarde leve a mais problemas, por
exemplo inadequação social. Estes progressos foram diferenciados pelos psicanalistas, especialmente por Kohut e Kernberg.
O problema principal, contudo, é o medo difuso pelo o qual tais pessoas substituem sua antiga confiança, e a desunião e
falta de totalidade associada a ela, e que são acima de tudo expressas ao nível físico.
Perturbações psíquicas estão sempre enraizadas nos mesmos mecanismos básicos. A variação permanece na diferenciação
do impacto da dor e do ponto no tempo no qual a perturbação ocorreu. Quanto mais cedo na vida ela ocorra, mais sérios serão
os resultados. Toda perturbação psíquica retorna ao mesmo problema básico. Se alguém se torna neurótico, desenvolve uma
perturbação fronteiriça ou parece psicótico, tem a ver apenas com em que ponto da vida ele ocorreu e a força do trauma que
ele teve que sofrer, e que ele não conseguiu integrar. Pessoas saudáveis, ou seja, neuróticos normais, são aquelas nas quais o
trauma aconteceu mais tarde na vida, em doses medidas, e durante um período mais longo de tempo.
Aqui estamos falando sobre dificuldades psíquicas, é claro, causadas por eventos na primeira infância. Ate o momento
sabe-se através de pesquisas com psicodelico que eventos cármicos podem também ser responsáveis por sofrimentos
psíquicos. Contudo, a principio, a incorporação destas reflexões não muda nada, apenas adia o inicio do

42
progresso.
Uma criança que não conseguiu tornar efetivo sua formação-EU corre perigo de mais tarde se tornar um psicótico. Em
ataques psicóticos, que é sempre desencadeado por estresse interno ou externo, a ordem interna conhecida do mundo, que não
é muito funcional e que foi desajeitadamente, emendado, é quebrada pelo desenvolvimento perturbado. Segue-se uma
regressão à fase de desenvolvimento exatamente anterior à fase da doença. É por isto que durante um ataque psicótico, o
paciente sempre cria uma impressão de estar mais animado e mais saudável do que o normal - apesar disto não se dá no que
concerne manter sua situação de adulto. Ele regressa a uma fase de desenvolvimento no qual não há fronteiras rígidas e na
qual a percepção ainda está desestruturada. Isto acontece, porém, do ponto de vista do adulto que está próximo e a mão e é
portanto associado ao medo e ao estado de espírito de dia do juízo final. O adulto, primeiramente, não sabe ou entende nada
do que está realmente acontecendo com ele mais. Em segundo lugar, ele sente corretamente que o que está acontecendo com
ele não está de acordo com seu estado de adulto, e que a longo prazo isto torna sua sobrevivência impossível no nosso mundo,
baseado apenas na realidade da separação do sujeito- objeto. Para se tornar saudável, não apenas o esquizofrênico, mas
também o neurótico, e a pessoa normal também deve de vez em quando voltar ao ponto no qual o trauma ocorreu, e se ligar
novamente onde ele parou de ver a realidade completa, onde ele intuitivamente parou de se desenvolver, onde ele havia
começado a suprimir, a dividir, etc. e tinha começado a crescer apenas intelectualmente ou de outras formas patológicas. A fim
de fazer isto ele deve primeiro entender o que está acontecendo com ele, e se livrar do medo que tenha disto, antes de ir
adiante passo a passo, para evitar uma catástrofe. É precisamente em doenças psicóticas que as conexões cármicas geralmente
parecem acontecer, que é uma das razoes pela qual tais doenças ainda são consideradas incuráveis pela psicoterapia
convencional. Como mencionei anteriormente, levar em consideração um passado ilimitado, não altera, realmente, o princípio
deste conceito de forma alguma. Assim que nos abrimos para informações que possivelmente venham de encarnações
anteriores, ela esta lá, e ninguém sabe realmente como explicar este fenômeno.
Esta visão torna claro que cruzar do sadio para o neurótico ou o esquizofrênico, conforme seja o caso, acontece ao longo
de um processo continuado. Cada individuo se desenvolve mudando de um ser sem controle a um ser restrito, vai de uma
percepção não estruturada para uma estruturada, da falta de linguagem para a linguagem, da matriz do eu-objeto sobre a
ruptura do sujeito-objeto para uma relação sujeito-objeto intrapsiquica integrada, e assim por diante. Ele esquece, mas ao nível
do inconsciente a experiência permanece viva. Já que este processo de aprendizagem é mais ou menos uma batalha para todos
nós - especialmente quando se fala do desenvolvimento da linguagem, mesmo sob condições ideais - uma batalha que todos
temos medo de perder ou de se sair mal em comparação com os outros. Estamos todos inconscientemente com medo.
Dogmatismo, ambição e supervalorização do intelecto estão diretamente relacionada ao fato. Maud-Mannoni, portanto falou
do psicótico como uma pessoa que falhou no desenvolvimento da linguagem. Isto também explica porque os esquizofrênicos
tem freqüentemente (mas não sempre), dificuldade de comunicação, especialmente no inicio da doença quando no estado
defectivo. Este medo, o medo de falhar, o medo de que a ordem possa ser quebrada, o medo da loucura, e algo que todos
conhecemos. Normalmente o controlamos; contudo nas psicoses o medo se irrompe e controla o psicótico. Porém é o mesmo
medo. Quando menos o individuo puder suportar o medo e quando menos ele puder experimentar a confiança original dos
estados de dependência da sua primeira infância, maior o medo.
O Ideal é que se alcance este estado prístino sem medo, em estado de relaxamento. Isto seria uma regressão normal a um
nível mais alto mais diferenciado de personalidade. Se, contudo, a demanda interna consciente e inconsciente para dominar o
mundo da linguagem e de conceito não for satisfeita, o medo surge. Se as varias imagens que se tem de si mesmo e da própria
capacidade não forem corrigidas - isto seria ligado a pesar e em ultima análise a aceitar as próprias fronteiras - isto terminaria
em uma batalha desesperadora para alcançar e manter estes ideais. Isto leva a uma neurose, isto é, a um endurecimento sem
meios de relaxar, por que relaxar seria retornar a um estado indiferenciado, que causa medo. Quando nenhuma das imagens
pode ser corrigida nem a demanda alcançada, o resultado é um ataque psicótico que é a regressão não desejada ao estado pré-
traumático, ligado ao medo, que é claro não é o estado puro, já que é constantemente influenciado por pensamentos adultos de
medo. O psicótico não consegue interpretar corretamente o que é realmente um processo de cura positiva. Ele vê através de
óculos pintado com seu medo e as idéias que aprendeu, e isto turva sua clareza de visão. Os óculos do medo também são
responsáveis por alucinações e idéias malucas, que não são nada mais que a percepção de seu próprio descontrole, falsificado
pelo pensamento. Alucinações concernentes ao corpo podem também ser interpretada desta maneira, isto é, como uma ruptura
da sensação normal que eram transformadas em tabu, como sensações sexuais, ou novamente, a percepção de fronteiras sendo
dissolvidas. Elas são ligadas ao medo e elas resultam em processos paranóicos.
Por trás dos sintomas mais complicados e incompreensíveis sempre há coisas simples. Sintomas nada mais são que o
resultado da defesa, que o psiquiatra novamente, geralmente confronta, como defesa de outro, sistema de pensamento
chamado de cientifico mas especialmente complicado. Aqui a conexão entre doente e saudável revela-se novamente,
juntamente com o fato de que a pessoa saudável construiu para si mesma um sistema de defesa assim como a pessoa doente. O
ego saudável também serve para se defender contra a realidade e as solicitações da coisa maior. Nós acreditamos que este
sistema de defesa é essencial para nossa sobrevivência. Esta opinião foi questionada diversas vezes e mais ainda ultimamente,
por exemplo, no livro de Carlos Castaneda, Don Juan ensina que é bem possível oscilarmos contra e a favor sem medo e
defesas, entre o mundo de conceitos e o mundo desestruturado de percepção

43
direta, de flutuar livremente entre o mundo da linguagem e o mundo das coisas.
Mais um pensamento no medo do saudável: medo, como uma atitude básica de vida, produz um sistema muito específico
de desilusões do qual nossa história tem sido carimbada até hoje. Tal sistema coletivo de ilusões cria uma atual realidade de
vida. Visto do ponto de vista do sistema do medo, do amor ou da confiança, como possíveis atitudes básicas de outro tipo
parecem na mesma proporção uma ilusão. O estranho é por um lado isto é realmente verdade. O amor poderia ser uma
desilusão coletiva, que por sua vez poderia atrair uma realidade correspondente por traz dele.
De outro ponto de vista, o do amor, tudo ligado ao medo parece louco. O que é importante é percebermos que estamos
sempre imaginando coisas; somente nossos fantasmas realmente existem, mas nossa imaginação cria nossa realidade atual, a
pessoal e a coletiva. Do sistema desilusório do medo ao sistema desilusório do amor é o que a próxima mudança de paradigma
afetará, contanto que a evolução não caia neste processo. A experiência com o fisicamente doente realmente ameaça dentro da
extensão do medo pessoal. Portanto quanto maior o medo coletivo, maior a ameaça coletiva, que se manifesta como tal em
nossa realidade. Contudo, o mesmo acontece ao contrário. Quando o amor está presente, medo e perigo desaparecem, e com
eles finalmente as manifestações correspondentes no nível material. Entender e acabar com esta loucura significa enfrentar o
medo, e ir com ele até o fim. Então a mesma coisa acontece que quando o depressivo vai até o fim de seu sofrimento.
Sofrimento e medo são transformados no fato de que eles não são mais tão envolventes. Ao invés eles aparecem como parte
da realidade, parte de uma realidade muito mais ampla. Neste sentido o amor é na verdade mais real, isto significa dizer
menos ilusório, por que ele inclui mais, inclui até a faceta do medo. Se quisermos saber a verdade, acabaremos infalivelmente
nos deparando com o fato de que tudo circunda ao redor do amor, que o amor e nada mais que ele pode resolver nossos
problemas.
Agora, como pode um tal ataque psicótico, um colapso do mundo dos conceitos ser redimido.
Na maioria das vezes uma olhada cuidadosa facilmente revela um conflito interno entre a realidade interna de uma pessoa
e os insights corretos por um lado, e do outro lado um se apegar a idéias adquiridas e aprendidas, especialmente sobre si
mesmo. Portanto tem a ver com um conflito entre identificar-se com um papel e com o verdadeiro ser. No diagrama A na
figura 3 este conflito é revelado como uma ruptura entre o reconhecimento da verdadeira natureza de uma pessoa (seu âmago)
e o dever à camada adaptativa através de sentimentos de medo e culpa. Este conflito não pode se estabelecer o que significa
que nenhuma decisão é feita em favor de nenhuma das atitudes. Uma tensão enlouquecedora resulta desta ambivalência, que
finalmente não pode ser tolerada e leva a regressão. Tem, portanto, a ver com uma situação de estresse interna, que é
normalmente ocasionada por uma situação externa.
Um estudo de caso para ilustrar isto:
Edward, um pesquisador químico, era uma boa pessoa para se trabalhar, mas ele tinha uma grande dificuldade em
formular seus pensamentos por escrito. Logo após o fechamento dos relatórios de uma pesquisa, ele caiu num estado
psicótico, que acima de tudo trouxe consigo desilusões megalomaníacas. Ele fantasiou que fora nomeado para o premio
Nobel, se deixou ser cumprimentado pela esposa do chefe, e até comprou uma passagem para Oslo. Com dificuldade e muito
trabalho conseguimos finalmente descobrir as conexões.
Edward não conseguia se libertar do conflito entre a imagem de ele criou se si mesmo, que correspondia ao ideal social
(eu sou inteligente, tenho sucesso em meu trabalho e com o sexo oposto, sou bonito, sei usar bem as palavras, em uma única
palavra: o melhor) e seu próprio insight verdadeiro. (eu tenho medo, sou restrito, eu às vezes preferiria fugir. Eu não consigo
fazer tudo, em uma única palavra: eu não sou ideal.). A tensão resultante leva a ataques regulares. O ato de tornar estas
conexões conscientes, o pesar por suas próprias limitações e a admissão estas restrições em seu local de trabalho, finalmente
levaram a uma solução. O ataque psicótico não era mais necessário.
A figura 6 mostra esta atitude ambivalente entre a noção adquirida e o insight pessoal. Não conseguindo agüentar a tensão
resultante da falta de decisão por um lado ou por outro leva à ruptura de personalidade, ao ataque psicótico Ver a tensão
acabar, o que se aprende a fazer durante o curso da terapia com um psicolítico, leva a uma genuína transcendência do
problema. O problema, então, tem permissão para ser da forma que realmente é, da forma como é percebido e expressado e de
como se resiste a ele. E por tudo isto ele deixa de ser um problema. A solução consiste do fato de que o psicótico para de
querer resolver o problema. Pelo contrario ele libera-se. Durante o ataque psicótico, em contraste, há uma
pseudotranscendência no qual o psicótico se liberta do problema também. Contudo não é liberado depois de ter resistido, mas
é parte da tentativa de escapar da tensão. Aqui você encontra uma semelhança que lhe põe em dúvida entre um ataque
psicótico e uma ruptura que é genuinamente curadora, engenhosa ou iluminadora.
O ataque esquizofrênico sempre expressa um confronto entre os insights saudáveis e validos de uma pessoa em relação a
um problema e a informação estabelecida. Contudo os insights são insuportáveis. Por outro lado sempre há um retorno a uma
fase anterior do desenvolvimento, a fim de evitar o insuportável. Os insights que parecem insuportáveis são na verdade mais
saudáveis, mais alertas, mais conscientes, que o não perceber de muitas pessoas chamadas normais. Por esta razão
esquizofrênicos são na sua maioria pessoas muito interessantes, inteligentes, e sensíveis: eles são pessoas profundas. Contudo,
sua inabilidade de enfrentar seus insights é doentia, ou conforme o caso, leva a problemas. Também há muito pouco interesse
em confrontar a questão novamente em virtude do medo, e isto por sua vez é doentio e novamente leva a dificuldades. Laing
disse que esquizofrênicos sempre constroem uma forte defesa contra situações que o adoecem, e contra o que quer que não
consigam suportar, simplesmente para ficarem bem. Pode-se dizer, aqui,

44
que a intenção é certamente boa, mas os meios são impróprios. O resultado é que o esquizofrênico eventualmente adoece,
e que ele não consegue mais lidar com seu problema.
Esta defesa leva a retornos regressivos de relacionamentos ao invés de a liberdade e, portanto não leva a verdadeiros
insights do jogo social que jogamos. O paranóico ou o louco torna-se uma caricatura do "metanoide", do homem esperto, do
gênio, ou do homem santo (o ultimo possivelmente uma citação de Norman Brown?)
Sendo a puberdade uma fase muito ligada a psicoses, constitui um tipo de critério e uma oportunidade útil relativa a
perturbações psíquica. Um forte turbilhão de emoções é experienciado durante este período. O pensamento independente
surge, a inteligência começa a florescer. Se o jovem atingiu um estado suficientemente estável, foi cuidado, ele se torna como
os pais, isto é, normal. Ele participa da neurose em massa. Nos casos em que ele não é estável o suficiente ou passa por um
turbilhão de insights poderosos na puberdade, um conflito ocorre entre seu conhecimento interior e o que ele aprendeu. Este
confronto acontece em todo mundo, e é o que leva à conhecida crise da puberdade. Mais cedo ou mais tarde o jovem deve
chegar a uma decisão, ou contra ou a favor de seu conhecimento interno. Nos casos em que ele decide a favor de si mesmo
ele, usando sua própria energia ou através da ajuda da psicoterapia, poe em funcionamento um processo de aprendizagem de
vida que idealmente finalmente levara a clareza e auto confianca. Se ele decidir contra si mesmo, ele desenvolve, até onde ele
contem sua estabilidade, uma neurose compulsiva. Até o ponto em que ele perca sua estabilidade total ou parcialmente, ele se
torna esquizofrênico ou maníaco, eventualmente ele é pego em algum lugar entre os dois. Estamos então falando de pacientes
fronteiriços. É claro que outros mecanismos também têm seu papel, tais como a transferência impensada de situações
anteriores de família para situações de vida posteriores, ou a ruptura de conexões cármicas ou outros fenômenos transpessoais,
que eu já apontei. Contudo não quero entrar neste mérito neste ponto.
Mais uma vez, pode-se ver aqui que estar doente não é qualitativamente de forma alguma diferente de ser normal. Cada
um de nós deve decidir contra ou a favor nosso conhecimento interno e com certeza varias vezes questionam o que
aprendemos e adquirimos.
Infelizmente, segundo meu ponto de vista, a maioria das pessoas continuam decidindo contra eles mesmos e esta é a
verdadeira doença de nossa sociedade. A percepção de nossa verdadeira natureza é proibida e portanto verdadeira psicoterapia,
afinal de contas, não é desejada.
Regredir ao mundo da criança, ou melhor dizendo, entrar nele a um nível mais consciente e flutuar livremente entre o
mundo de pura energia e o mundo de limitações materiais, é considerado loucura. É por esta razão que pessoas normais têm
tanto medo de pessoas loucas. A habilidade de entender a loucura portanto depende também de termos reconhecido nosso
potencial para tal.
Outra percepção pertence a estes insights proibidos, a de que como indivíduos, eu sou realmente totalmente dependente,
não de forma doentia, mas absolutamente dependente mesmo assim, do todo. Isto é hoje também confirmado pelas ultimas
percepções da física, química, misticismo, psicologia, e sociologia. Mesmo assim este insight continua a inspirar medo, e a
ficção social continua a ser mantida de que um indivíduo pode ser um agente independente. Tenta-se, agora como antes,
definir um ser humano como um objeto que é separado do seu meio ambiente e se fecha para os insights mencionados acima
que surgem mais e mais, até mesmo nas ciências materiais. A física moderna sabe hoje que um objeto é muito melhor definido
não como um objeto, mas por suas relações. Para o homem esta percepção deveria incluir a prontidão para perceber que por si
só não se é nada.
Apesar de nossa sociedade está doente, e ser vista como tal por muitos, todas as tentativas de mudá-la falharam. Isto
porque estruturas sociais são uma expressão de nossos pensamentos, e a única coisa que pode trazer uma verdadeira mudança
é uma profunda transformação no nosso pensamento. Por esta razão todas as tentativas de corrigir a sociedade, feitas nas
últimas décadas, deixaram para traz um sentimento de insatisfação. De alguma forma, tudo, no fim das contas parece
adaptações superficiais e cosméticas. Mudanças no sistema e na sociedade não mudarão muito, a nós, as pessoas. Eu sou o
problema e quando assumos a responsabilidade por meus próprios problemas, mesmo se eles forem determinados pelo meio
ambiente - quando eu os resolvo, e desta forma transformo a sociedade de dentro para fora - eu serei um outro alguém.
Em psiquiatria também, as reformas de longo alcance que aconteceram nas últimas décadas se mantiveram na superfície.
Isto se revela pelo fato de ainda haver enormes tabus contra a verdadeira psicoterapia, por ser proibido o uso de psicoterapia
psicolítica, de ainda se rir de trabalhos corporais e pela psiquiatria tradicional adaptativa, que sustenta o sistema, ainda ocupar
o maior espaço.
Um assunto freqüentemente discutido é se nossa sociedade é doente e se é portanto responsável pela doença do indivíduo.
Certamente, nossa sociedade é doente. Me parece que uma sociedade na qual a maioria das pessoas não se sentem bem, uma
sociedade na qual tanta destruição é causada pro matanças mutuas perpétuas, na qual as pessoas estão constantemente
trabalhando contra ao invés de um com o outro, uma sociedade que se baseia em rivalidade, competição, e ambição, ao invés
de em cooperação, pode ser descrita como doente, ou sob todas as formas como subdesenvolvidas. Mesmo assim o individuo
que se torna doente nesta sociedade, não é o saudável, mas o que luta contra o que está doente, sem poder se libertar dela. Isto
é particularmente visível no caso da esquizofrenia. Perturbações emocionais não são apenas expressões de contradições
sociais. Quem quer que diga isto, esta transferindo

45
a responsabilidade para uma sociedade anônima, que é separada do indivíduo, que por sua vez é simplesmente visto como
vitima e não como uma pessoa que também conta para a sociedade. As contradições sociais e perturbações emocionais são
muito mais expressões de contradições internas. Isto leva a ações mútuas, a círculos viciosos, nos quais contradições internas
produzem contradições sociais, e que por sua vez influencia os indivíduos. No começo ela começa, contudo, com o interno
produzindo o externo, que é a sociedade. Nós somos a sociedade, nós não somos separados dela, mas, ao contrário somos
responsáveis por ela.
Estruturas sociais são a expressão de nossos pensamentos e sentimentos. Para que eles mudassem, seria necessário uma
transformação individual (e pessoal) poderosa em larga escala. Como não é o caso, renovações, onde quer que aconteçam,
permanecem de natureza superficial e cosmética, como aconteceu nas ultimas décadas.
Há problemas e dificuldades relacionadas ao indivíduo; se descrevemos isto como doença ou não foge do ponto. Porém os
problemas não são míticos, eles realmente existem. Nossas instituições sociais geralmente fazem as pessoas adoecerem e
prolongam suas doenças. Psiquiatria e psicologia são também ferramentas geralmente usadas em nossa sociedade neste
sentido. Elas geralmente servem não para nos curar mas para expelir forças que são vistas como improdutivas e que não estão
adaptadas a sociedade.
De qualquer forma, quando cura o doente emocional, deve-se considerar, juntamente com as legítimas solicitações do
doente, a situação do chamado saudável, que tem que pagar por isto. Na prática, isto freqüentemente significa que o
sofrimento psíquico, que poderia teoricamente ser curado com boa vontade e a um alto custo, deve ao nível prático, ser visto
como um deficiente emocional permanente, porque nem o dinheiro, nem as pessoas, nem as facilidades são colocadas ao seu
dispor par que a tarefa seja cumprida. Por outro lado deve ficar claramente colocado que muito mais energia poderia ser
liberada para este fim se pudéssemos retirá-la dos poderes destrutivos em nossa sociedade (por exemplo, os militares, a
burocracia, de instituições espúrias em geral. Contudo agora como sempre, fortes tabus existem em todo lugar na sociedade e
impedem a descoberta do verdadeiro problema. Por esta razão, terapias psicolíticas ainda não são bem vindas.

Desenvolvimento em saltos ou de momento a momento.


Assim como o indivíduo precisa enfrentar sua historia pessoal a fim de resolver seus problemas, o mesmo devemos fazer,
como sociedade, olharmos para nossa historia, que suprimimos. A historia é algo de que se ter vergonha. Quando
acompanhamos a historia da psiquiatria encontramos a mesma coisa de quando observamos a historia humana em geral: cada
geração por diversas vezes acredita que encontrou a sabedoria que faltava o que à luz da historia torna-se apenas um outro
erro. Da mesma forma como ajuda o paciente a levantar sua própria estória saindo de um estado de supressão, mesmo quando
causam vergonha, poderia nos ajudar como uma sociedade se pudéssemos perceber nossa historia sem nenhuma ilusão.
A historia sempre se caracteriza por fases mais curtas ou mais longas de estabilidade maiores ou menores mudanças de
paradigma. A palavra paradigma foi definida por Fritjof Capra da seguinte forma: paradigma é a palavra Grega para padrão. O
que entendemos dele é a totalidade de pensamentos, idéias, percepções e avaliações consciente e inconsciente, que entram na
forma de ver a realidade de uma sociedade em particular em um dado tempo. Nos seres humanos tentamos entender a
realidade e explicá-la dentro de tal linha de pensamento, contudo este ponto de vista não é a realidade em si, mas uma idéia
aproximada dela. Nós seres humanos temos a tendência de esquecer isto e finalmente aceitamos a construção de nossos
pensamentos pela própria realidade. Por causa disto, e também por encontrarmos segurança em nossa própria perspectiva, uma
resistência severa surge para uma mudança na perspectiva. Com isto acontece repetidamente de cientistas, filósofos, e místicos
que têm uma visão de vida mais ampla, uma teoria de vida mais efetiva são perseguidos como heréticos. Apesar disto, a raça
humana de vez em quando experimenta maiores ou menores mudanças de paradigmas, já que a longo prazo os padrões antigos
não conseguem resistir à nova maneira de pensar. A razão para isto é que a consciência tanto humana como universal, estão
em processo de evolução. De vez em quando ela chega a novas perspectivas, que no que concerne lidar com velhos
problemas, parece mais efetivo do que os as velhas, mas que sempre inclui a velha perspectiva como parte da verdade, como
parte de uma visão nova e mais ampla.
Todo paradigma progressivo em algum ponto se torna reacionário; ele se refere a um desenvolvimento dialetal, a
resistência da tradição e a ruptura revolucionaria do novo são transpostos. O estado deplorável das coisas na psiquiatria por
exemplo, leva em algum ponto a mudanças de paradigma. Via de regra a mudança vem com conflito e finalmente com a
aceitação do novo ponto de vista. Uma correção é feita, traça-se uma nova trilha. Uma estrutura nova e rígida surge, que,
quando o desenvolvimento tiver finalmente avançado, leva novamente ao mesmo estado de coisas, que faz surgir uma nova
mudança de paradigma.
Agora a questão importante é se este desenvolvimento dialético não é em si próprio um problema. ou se ele não cria um
problema precisando ser vencido pelos seres humanos. Pois uma nova idéia para eventualmente fossilizar é, certamente, como
já dito, um desenvolvimento neurótico. Nós aprendemos a viver com esta neurose normal que consiste, acima de tudo, na
solidificação de pontos de vista e na formação de normas, ideologias e tradições resultantes dela; e nós resistimos em mudá-
las mesmo quando elas, há tempo, já provaram serem ineficazes. Esta constante perda de flexibilidade, que leva a mudanças
violentas, é um traço neurótico. A questão é, se não podemos nos desenvolver de

46
alguma outra maneira que não seja neurótica. Ou se o fato de sermos neuróticos é o que necessita esta forma de
desenvolvimento, e se outra forma não seria imaginável. Se nós não perdemos a flexibilidade original, o desenvolvimento
espasmódico de nosso pensamento de um falso paradigma para outro poderia ser a expressão de nosso desenvolvimento como
seres humanos, que não foi longe o suficiente, para sermos capazes de evoluir e nos tornarmos um não-neurótico, de forma
continua e não espasmódica.
Isto significa, contudo, que assim como o neurótico aprende com sua historia pessoal, nós também, como sociedade,
poderíamos aprender alguma coisa da historia de nossas mentes e mais ainda, da psiquiatria também. Isto é , nos poderíamos
ver com humildade que nós, a geração presente, não encontramos e não possuímos o mais recente pedaço de conhecimento,
mas que formamos uma passagem para o curso da evolução. Esta visão nos daria mais flexibilidade e evitaria que idéias se
solidificassem fazendo surgir contradições. A novidade seria se distanciar da correção e da revolução, sair para o aberto, de
forma completa, supressões básicas que periodicamente recorrem, e ir enfrentando o problema de uma forma completamente
diferente, a fim de não haver calcificações, nem cimentação. Desta forma haveria atenção constante e continua aos ajustes
feitos a tudo. Isto significaria estar sempre completamente lá, no presente, estar completamente atento, e não tomar decisões
sobre o presente baseado no passado; entender o passado ao invés de suprimi-lo, para que ele realmente seja fechado e não
fique forçando seu retorno para o presente e decida o presente baseado em alguma questão não resolvida (compare figura 4
também, este progresso seria similar a entrar no ponto Omega.)
Esta visão é ao mesmo tempo muito otimista. A atual situação miserável do homem seria deste ponto de vista apenas um
estágio transitório, que pertence ao nosso desenvolvimento. Esta visão nos mostra que um progresso, um despertar, realmente
parece estar acontecendo. Mesmo maiores regressões não podem obscurecer o fato de que o espírito humano ou melhor ainda,
o espírito universal, obviamente continua batalhando para se entender melhor. O próximo passo neste desenvolvimento do
espírito humano seria o desenvolvimento de uma noosfera, como afirma Pierre Tailhard de Chardin, ou de um sistema Gaia,
que é hoje descrito como pessoas do sistema. Isto tem a ver com a seguinte visão: que a "eu-formação " que aconteceu durante
nosso desenvolvimento, foi importante até uma certa parte do caminho. Contudo, hoje está se tornando um obstáculo e tem
que ser novamente removida a fim de que a unidade original possa ser rearrumada a um nível mais alto de integração, como a
consciência do planeta (na figura 4 isto seria equivalente ao movimento do ponto Omega até uma nova dimensão de unidade).
A "Eu-formação" provavelmente aconteceu por medo da morte, que acompanha o despertar da consciência da existência
individual de uma pessoa. A "Eu-formação" é idêntica ao desenvolvimento da humanidade e deve ser vista como uma reação
ao desdobrar-se da consciência, que, por sua vez, será vencida. A unidade original que estava presente em um nível mais baixo
de consciência foi destruída no curso do desenvolvimento, e agora apesar das mudanças de paradigmas e pelo processo de
alienação ocasional, esta unidade será estabelecida a um nível mais alto.
Uma mudança de paradigma em larga escala, e que é urgente para a sobrevivência nesta terra, está bem a mão. Por
milhões de anos, fomos programados para a batalha, para a segurança, para o medo, a defesa, a preservação do self e das
espécies, as limitações, e assim por diante. Por muito tempo isto foi útil para o desenvolvimento biológico. Esta prontidão para
o conflito é cada vez mais um problema hoje em dia, pois está ameaçando a continuação do nosso desenvolvimento. Uma
mudança de paradigma então teria de ocorrer, baseado no insight de que lutar não é mais útil hoje em dia, e sim um obstáculo.
Ao invés de lutar, do medo, da segurança, da defesa, da preservação do self e das espécies, das restrições, aparece então a
ajuda mútua, o carinho, o amor, incerteza, variabilidade, fluxo, percepção total, viver para o todo, unindo-se ao todo,
responsabilidade pelo todo. A presente estrutura de nossas mentes, de nossas mentes comuns, teria de ser quebrada e sua
inflexibilidade teria que dar lugar para uma vida total. O desenvolvimento dialético na historia seria quebrado desta forma. Ao
invés haveria percepção total e total envolvimento com o presente. Isto também poderia levar a um aumento no pessimismo e
no medo. Guerras ameaçadoras, catástrofes nucleares, usinas nucleares defeituosas, destruição ambiental e assim por diante,
podem ser respectivamente vistas como parte desta transição, que é importante e inevitável, mas que não significa o fim. O
"nós" se torna mais importante que o "eu", a morte do "eu" leva a morte do "nós", à noosfera que significa para a consciência
do todo. O todo, na verdade, não apenas inclui a consciência individual, mas a expande (ver também figura 4 e figura 1). Estes
pensamentos não contêm nada que já não tenha sido apontado por Freud. Freud deve ser pensado até o fim. Aquilo que é
suprimido deve ser trazido à tona totalmente. Se vivida a partir da coisa, do principio de prazer, do narcisismo primário, a vida
deve alcançada a um nível mais alto de integração. O dualismo de morte e vida como o do corpo e alma deve desaparecer
(veja figura 4). O principio da realidade não é nada mais que a supressão do principio do prazer. É, contudo, também, mais um
passo no desenvolvimento do principio do prazer a um nível mais alto. Não superar o principio da realidade seria total
pessimismo pois a "coisa" nunca desistiria de seus objetivos, mas se destruiria para sempre perante o principio da realidade.
Isto é algo que Freud já tinha entendido em sua época.
Uma mudança em nosso ponto de vista também traria com sigo uma mudança em nossa imagem de homem. Até
recentemente nossa figura de homem, que também funcionava na psiquiatria, era impressa com a visão de vida mecanicista.
Isto também é expresso em nosso vocabulário. Fala-se de alguém ser cortado, sobre alguém estar quebrado, uma pessoa
perdendo sua calma, saindo de sua pele, tendo um parafuso solto, etc. Perde-se a cabeça, o coração de uma

47
pessoa sai pela boca, alguém se deita pesadamente de barriga para baixo, algo desce pela espinha dorsal e assim por
diante. Aqui, o discurso já dá uma dica da visão mecanicista do homem. A nova visão sublinha o todo da natureza, o fato de
que nosso corpo junto com a nossa alma forma uma unidade indivisível, e acima de tudo, que nosso sofrimento não é separado
do sofrimento do resto do mundo. Ao contrario está entrelaçado em algo maior, como por exemplo, com o da família, do
grupo social, com a natureza e finalmente com o universo. Físicos modernos nos ensinam hoje em dia, da mesma forma que
os místicos faziam antes deles, que o universo é um todo inseparável, que nunca pode ser entendido através de análise, através
de pensamento reducionista linear ou através do pensamento em geral, mas apenas através de uma visão holística repentina.
Eles nos ensinam que não podemos mais distinguir entre coisas vivas e mortas, mas que as fronteiras são fluidas, e que
finalmente a consciência universal habita em tudo que o universo contem.

Uma experiencia transpessoal


Uma noite eu acordei e me vi numa fenda glacial. Eu não notei imediatamente mas me ocorreu que eu estava circundado
de uma luz esverdeada e que acima de mim estava ficando cada vez mais claro, somente quando eu olhei ao meu redor
surpreso, eu percebi que eu deveria estar em uma fenda glacial. Eu entendi então que eu não era eu mesmo, mas um homem
mais velho de cerca de 65 anos de idade, com um boné na cabeça colocado de uma forma que eu nunca usaria e uma jaqueta
que eu não reconhecia. Eu também me sentia diferente. Eu era este homem, eu conhecia este homem em mim, e ao mesmo
tempo ele era um estranho. Simultaneamente eu sabia, contudo, que eu, da forma que eu me conhecia, estava deitado na cama,
acordado.
Eu me achava simultaneamente em duas realidades e eu sabia que elas eram realidades e não o resultado de imaginação
ou fantasia. A fenda realmente estava lá; eu a sentia, eu sentia sua frieza, eu sentia o quanto era estreita, enquanto me
pendurava nela como um sapo. Eu sabia que eu tinha caído nela e de repente percebi que não havia escapatória. Eu morreria
ali. Ninguém me encontraria. Fui tomado pelo pânico. Eu não queria morrer. Eu me prendia a vida, à vida deste homem. O
homem logo percebeu que o pânico fazia sua situação ficar ainda pior, sem fazer nada para mudá-la. Ele ficou mais quieto,
entendeu que deveria aceitar o inevitável, sabia também que congelar até a morte não era uma forma ruim de morrer, e se
preparou para aceitar seu destino. Então novamente o pânico, a recusa de aceitar o inevitável, até finalmente o insight de que
sua resistência só o faria se sentir mal o deixou em paz novamente.
Gradualmente eu entendi que eu, o "eu" deitado na cama, era como este homem na fenda, pendurado a sua vida da mesma
forma que eu estava pendurado à minha, deitado na cama. O "eu " deitado na cama, contudo poderia facilmente soltar a vida
deste homem. Daí veio que era absurdo não ser capaz de soltar minha própria vida também, tanto como este homem ou com
eu mesmo, da maneira que eu experienciava a mim mesmo agora.
Demorou um pouco até que eu entendesse tudo, me deslocando entre pânico e entendimento varias vezes. Assim que eu
pude ver a verdade a fenda começou a se dissolver, a identificação com o velho desapareceu, e apenas eu, da forma que eu me
conhecia, permanecia assustado na cama.
Isto não foi sonho, não foi experiência imaginaria, e eu não estava sob influencia de substâncias também. (apesar de que
isto não teria diminuído a verdade da experiência para mim). Eu não estava doente, eu sabia que tinha realmente acontecido.
Como explicá-la é uma pergunta que terá que permanecer sem resposta. Dois dias antes eu havia lido no jornal sobre um velho
de 65 anos ter sumido por anos sido ejetado de um glacial. A estória tinha obviamente me interessado. Teria eu sido este
homem na época? Isto era uma prova de reencarnação? Ou tinha minha consciência sintonizada com a freqüência desta
experiência que ocorreu naquela época e a tinha resgatado? Possivelmente tudo que esteve na consciência foi guardado ao
nível da energia original do universo, ao nível das partículas elementares, e podem ser recebidas por nosso sistema nervoso
ajustando-se à freqüência correta, da forma como acontece com um radio. Qual é a explicação correta?
Não há explicação correta. Há apenas explicações e explicações não são fatos em si.
Toda explicação tem algo nela, e clareia um aspecto da verdade. muitas clarificações diferentes certamente chegam mais
perto da verdade que apenas uma. Contudo não devemos esquecer que uma explicação não é a verdade ou nos perdemos
rapidamente na batalha de opiniões sem sentido. O fato é que eu tinha estado deitado na cama e eu mesmo era ao mesmo
tempo este homem velho, cuja vida chegou ao fim na fenda.
Como quer que você olhe para isso, ele precisa de uma explicação? Em primeiro lugar foi uma experiência maravilhosa,
algo bem profundo e único, e em segundo lugar foi uma estória instrutiva, que mostrou e ensinou me algo bastante essencial.
A vida é uma coisa maravilhosa, uma maravilha mágica e mística. Porque não a aceitamos como tal? Porque realmente
queremos explicá-la?

Sentimentos suprimidos
Com o tempo você terá lentamente resolvido e entendido os sentimentos reprimidos em sua jornada. É claro que eles
nunca desaparecerão totalmente de sua vida, simplesmente porque eles são parte de você, mas você colocará cada vez uma
maior distancia entre eles e você. Ao invés disto um outro grupo de sentimentos toma o centro de sua vida. Eles são os que
tinham sido suplantados pelos sentimentos reprimidos, para ser mais preciso os sentimentos suprimidos. Eles o colocam em
contato com um aspecto de sua historia completamente diferente, de sua vida em geral, e de

48
conexões sociais que você entenderá durante sua confrontação com eles, da mesma forma que a integração de sentimentos
repressivos o ajudou anteriormente a entender seu mundo adulto tão bem quanto o mundo pessoal e coletivo que o circunda.
Deixar entrar os sentimentos suprimidos leva você a sua primeira infância: também o coloca em contato com lembranças de
seu nascimento e da época em que você estava no ventre de sua mãe. Serão lembranças bem menos concretas, já que
remontam a uma época em que você não conseguia perceber com toda a capacidade dos seus órgãos de percepção e de
pensamento, mas quando você existia a um nível de sentimento muito mais difuso. As lembrança serão registradas da seguinte
forma: muito difusa, vaga, em desenhos partidos, não verdadeiramente determinável. Mas isto também não é importante. A
única coisa importante é você aprender como integrar estes sentimentos em sua totalidade também.
Como seus sentimentos defensivos já o colocaram em contado com alguns fenômenos transpessoais, os sentimentos que
você suprimiu farão isto ainda mais. Quando você retorna mais uma vez para a figura 3 você vê que você está entrando numa
região fechada. Sentimentos suprimidos o abrem para um reino inteiramente transpessoal. Esta região forma a entrada para o
self, os guardas na porta são a morte do ego, que você deve inicialmente aceitar, e o renascimento do self, que você em
seguida experienciará. Todos os sentimentos que você encontra nesta região são característicos desta fase de transição: cada
um constrói uma outra entrada, levando diretamente para o âmago do seu ser.
Primeiramente você ficará aterrorizada diante deles, e os banirá de você como sendo totalmente inaceitáveis porque você
teve experiências tão ruins com eles no passado. Então você penetrará seu conteúdo interno e reconhecerá finalmente que eles
são na verdade sentimentos bons, e que cada um deles o leva diretamente para o seu âmago, para o self. Da mesma forma
como sentimentos defensivos já lhe deram insights de suas conexões históricas e culturais - e com isto você já começou a
ultrapassar suas fronteiras de tempo e espaço - você agora, na confrontação com estes sentimentos defensivos, confiará muito
mais profundamente em seu caminho na direção daquilo que é chamado a dimensão transpessoal de seu psique. Porém a chave
para estas câmara de consciência são novamente seus sentimentos, que você terá que varias vezes enfrentar apesar do medo se
arrastando bem ao seu lado. Você logo conhecerá toda esta região fascinante, que Stanislaf Grof tão precisamente descreveu
em seus livros, especialmente na Aventura da auto- descoberta.
Se tem a ver com cruzar fronteiras de espaço através da identificação com outras pessoas, outros grupos, plantas, nosso
planeta ou o universo, se tem a ver com transcender fronteiras de tempo linear, no qual você se encontra em seu
desenvolvimento embrionário e fetal, ou nas estórias de seus ancestrais, ou sua raça, ou se você experienciou encarnações
anteriores novamente, ou entendeu toda a historia da evolução, penetrar a consciência de células e órgãos, totalmente
abandonam as fronteiras da realidade objetiva e entram por experiências espirituais, entram em contado com espíritos guias,
ou com outros universos, sempre será seu sentimento e sua sensação corporal que lhe darão acesso a esta imensurável riqueza
que é o inconsciente coletivo neste livro, não queremos ir muito profundamente neste fenômeno. Na verdade só estaríamos
lidando com palavras. Seria melhor e valeria mais a pena para você, fazer estas experiências você mesmo. Aqui estamos mais
preocupados com a entrada para estas experiências, e isto significa com seus sentimentos. Além disto, estes compartimentos
em nossa consciência, fascinantes e imensuráveis como possam parecer, são na verdade apenas domínio que lhe afastam de
sua verdadeira vocação, empurrando você pra frente para o âmago do seu ser. O fascínio com estes fenômenos podem lhe
desviar, você pode se perder nestes cômodos. Na verdade, quando isto acontece, você perde seu verdadeiro propósito. Porém
falaremos disto mais adiante.
Como nos cômodos dos sentimentos repressivos, as portas devem estar abertas aqui também, afim de que toda a luz que
brilha deles possa iluminar você; e para evitar ser pego por eles você deve ficar conhecendo eles precisamente. Porém agora
como sempre seu caminho o leva ao corredor no qual você passa e onde sempre há mais luz. Não é nos cômodos que ficam
nas laterais amedrontantes ou fascinantes, como possam ser. Apenas tem a ver com abrir as portas para estes cômodos a fim de
receber a luz deles. O objetivo não é nenhum destes cômodos únicos; de forma alguma! O objetivo para você continua sendo
fazer seu caminho entre os cômodos.
Talvez você se pergunte porque você deve entrar por esta região, que sentido há nela? Na verdade é exatamente o mesmo
com a conquista dos sentimentos repressivos. Uma vez que você tenha integrado-os, quando você aceitar e entender sua
estória, então não há nada mais estúpido que se ocupar mais com eles. Sua vida se baseia no presente no agora. O passado é
importante apenas ate o ponto em que ele impede você de viver no presente porque ainda esta invencível. É importante então
passar por ele, a fim de soltar os nós, para que ele realmente se torne passado, para que ele acabe e não deixe nenhum traço de
si para trás. Quando todas as portas dos compartimentos puderem ficar abertas, quando nenhuma precise mais ficar fechada,
então tudo se encherá de luz e isto é o que é essencial. Enquanto um dos compartimentos internos permanecer inexplorado, ele
esta na escuridão dentro de você, você deve prestar atenção a ele! Ou então as perturbações que são dirigidas de seu
inconsciente arruinarão o curso de sua vida e seu desenvolvimento uma pessoa raramente aterriza profundamente no reino
transpessoal com a ajuda de psicoterapia convencional, apesar de para muitas pessoas isto ser possível. Nas ultimas décadas,
métodos foram desenvolvidos através dos quais pode-se conseguir isto, por exemplo, com a terapia da reencarnação, ou com
os muitos métodos de hiperventilação que estão atualmente em uso. A meditação também pode levá-lo até lá, naturalmente,
psicolíticos, que ao explorar estes cômodos fez uma contribuição muito essencial. Para muitas pessoas ou para o sofrimento
das pessoas que está localizado bem no fundo de seu caráter ou ancorado em expressões psicossomáticas, as ferramentas
psicolíticas me parecem a mais

49
apropriada, se não as únicas, que conseguem abrir esta dimensão. Infelizmente, devo também dizer aqui que muitos dos
métodos convencionais mencionados (hyperventilação, meditação, trabalhos corporais) são mau utilizados e enfraquecidos.
Procura-se um deles, é claro, e é um bom sinal fazê-lo, mas fica-se com vergonha de ver que tudo permanece um jogo e que
sentimentos genuínos não são dissolvidos. Com isto o banimento é cumprido, mais uma vez uma ferramenta útil é mau
utilizada.
Querer se forçar é similar ao físico que quer analisar matéria. Quanto mais fundo você empurra, mais poderosa fica a
resistência que tenta mostrar que mais divisão é impossível. Enquanto conseguimos partir um pedaço de pedra em pequenas
outras partes de forma relativamente fácil, isolar seus átomos individualmente é bem mais difícil. Analisar isto mais
profundamente é um gigantesco empreendimento, todavia é algo que pode liberar enormes quantidades de energia.
É exatamente a mesma coisa quanto se quer chegar ao fundo de si mesmo. Entender a superficialidade de seus
relacionamentos e da sua historia é algo que qualquer um com um pouco de interesse pode fazer, mas isto não vai colocar em
movimento nenhuma mudança básica em sua vida. Quando você investiga o reino do transpessoal, contudo, sua resistência e
medo se tornam enormes. Em compensação a energia que pode ser liberada, e a luz que você traz para sua vida através disto é
enorme. Quanto mais perto você chegar do santuário, mais difícil a aproximação, e não podia ser diferente, ou o santuário não
seria santuário. Somente quando você se limpou através de uma busca intensa, se esvaziou, e provou que estava realmente
motivado, seu centro está preparado para lhe receber.
Esta também é a razão pela qual eu aceito a proibição de enteogenos sem muita dificuldade; enquanto elas permanecerem
um tabu, somente aquelas pessoas que a considerarem importante o suficiente para estarem preparadas para pagarem o alto
preço por elas ousarão se aproximar - não apenas por quererem satisfazer suas ambições. Pois se você quer evoluir nestas
áreas, esta condição deve ser observada ou você será destruído.
Me parece que a vida, por diversas vezes, coloca questões novas e mais difíceis para lhe testar em sua jornada interior. De
vez em quando você será examinado para se saber até onde você esta pronto para ir se submetendo ao amor. No começo você
talvez decida se você está pronto para desistir de um relacionamento, ou mudar de emprego, e enfrentar os medos ligados a
isto. Porém somente quando estas questões difíceis se tornam mais importantes para você do que qualquer outra coisa é que
você está realmente pronto para a vida e o amor. Quando, se preciso for, você está preparado para seguir na jornada sozinho,
quando, caso necessário, você não desistiria de sua vida por eles e daria tudo, somente então você está realmente pronto.
Esta preparação deve ser testada primeiramente em você. De outra forma você se jogara em uma região na qual sua
sobrevivência depende desta entrega incondicional, e você poderia perder sua vida caso esta entrega não estivesse presente.
Na maioria das vezes, sua prontidão é então o suficiente e o tributo não lhe é cobrado, mas o fato de você ser capaz lhe dá a
força necessária para lidar com as forças inerentes a tal risco, ao qual você será exposto, afim de poder tomar todo o universo
em você. Se você não quer isto, e seu desejo não é tão forte a este ponto, é melhor você se manter longe disto.

Sobre nascimento e morte.


Devemos agora dar uma olhada nos diferentes sentimentos suprimidos. Aqui também, cada um encontrará experiências
totalmente diferentes, de acordo com sua experiência pessoal de vida. Porém o padrão básico, que você conhecerá, é sempre o
mesmo. Em essência tem a ver com enfrentar a morte do ego, e com reconhecer que você é mais do que aquilo que até agora
acreditava ser: o todo, o somatório de todas as experiências unidas em algum lugar, em algum tempo, e que basicamente você
tem acesso a tudo que a consciência criou no universo e talvez mais além. Você vai perceber que sua mente funciona como um
radio: quando você se sintonizar na freqüência certa você será capaz de recuperar tudo que a consciência contém, que parece
penetrar em tudo. A energia primitiva do universo parece ser o veiculo direto para a consciência. Cada partícula elementar
contem toda a informação e é ao mesmo tempo o lugar de criação. Nosso sistema nervoso possui a mais inutilizada capacidade
para ser capaz de perceber esta informação e pode portanto simultaneamente, ser criador e criatura. Porém o pré-requisito para
encontrar a entrada para esta região é sua morte psicológica pessoal. A experiência de morte deve ser primeiramente integrada.
Você pode esperar por ela ate o fim da sua vida, ou você pode antecipar e experienciá-la agora. Você pode suprimi-la e depois
perder sua consciência meses ou dias antes de você está realmente morrendo corporalmente, e então passar por este portão em
estado inconsciente, ou você pode praticar agora, para quando isto realmente acontecer você possa passar pelo portal em
estado bem consciente. Parece-me que aprender sobre isto é o verdadeiro sentido desta vida ao nível material e uma parte do
nosso verdadeiro chamamento. O compartimento no qual você é admitido depois da morte parece depender de seu estado de
alerta a tudo isto. Quando você passar por esta experiência você entenderá o nascimento como um fenômeno psicológico.
Você absorverá intensamente seu nascimento pessoal assim como a experiência de ter nascido em geral. Você morrerá
todas as mortes, absorverá todos os nascimentos, e entenderá a sexualidade como uma dança criativa do cosmo. Você
conhecerá a unidade do amor e da morte.
Stanislaf Grof descreveu as fase do nascimento muito bem. Em um caso ideal, você se encontra no ventre de sua mãe,
inicialmente maravilhosamente sustentado. Durante a primeira fase do nascimento você experiência o ato de ser retirado desta
unidade como uma perturbação amedrontante. Então na segunda fase, você entra no cana do nascimento, onde você é
realmente confrontado com uma situação de vida e morte - ou você empurra fazendo seu caminho para

50
novos níveis, ou você morre - e finalmente você experiência o nascimento como a terceira fase, que é simultaneamente a
morte da velha existência e renascimento de uma nova maneira. Nestas três fases, nas quais não vou me aprofundar (ao invés
recomendo os trabalhos de Stanislaf Grof mais uma vez, que examina o assunto de forma bem completa), muitas perturbações
podem ser causadas por diferentes influencias, que podem então transmitirriências basicamente diferentes para você.
A experiência de nascimento normal consiste em você experiência-la de tal forma que um estado harmonioso de coisas se
transforme em uma nova situação de harmonia, através de perturbação , expulsão e batalha. Inicialmente você se sente bem,
depois vem um choque que ameaça quase destruir você e depois vem o bom novamente. Desta forma você escolheu um
padrão muito básico de experiência durante seu nascimento em relação a uma situação posterior de conflito. Se você tivesse
que sofrer outro tipo de situação, seria provável que influenciasse seu comportamento em tal situação de conflito no futuro de
forma bem significativa. Se por exemplo, você experiencia ser retirado dessa unidade (com sua mãe) e isto quase custa sua
vida, foi difícil para você por muito tempo depois disto, e talvez nunca mais foi completo novamente, porque você foi retirado
de sua mãe e colocado bruscamente em uma incubadora, você terá integrado um padrão básico que o acompanhará em outras
vidas, que diz: tenho que ter em mente que se as coisas estiverem indo bem para mim uma perturbação aparecerá mais cedo ou
mais tarde, e nunca mais tudo ficará bem. Isto o influenciará de tal forma em situações de conflito que você perderá a coragem
ou terá medo de entrar em conflitos. São em tais eventos básicos que nossas experiências posteriores na vida, são
fundamentadas, para que padrões rígidos se formem dentro de você que dirijam sua vida e que você dificilmente consegue
romper, até que você faca seu caminho até eles através de seus sentimentos.
Uma vez que você tenha entendido completamente os sentimentos repressivos, ficou tudo claro. você já entende muito
sobre si e sobre as relações sociais. Esta clareza lhe fascinará. Da mesma forma que você experienciou a conquista do medo,
inicialmente, como o objetivo de sua viagem, você também considerará obter a clareza, inicialmente, como o fim de sua
jornada. É aí onde mora o perigo. Com sua crescente clareza você vai começar a explorar as regiões transpessoais e você não
vai perceber de forma alguma que desta maneira você se perder nos infinitos cômodos que estão no seu caminho, e que o
próprio caminho está fora do alcance da vista. Quando você percebe isto gradualmente, quando você presta mais e mais
atenção para aqueles sentimentos que abrem os cômodos, nos quais se fundamentam - sentimentos suprimidos, os mais
difíceis de integrar - você também lentamente perceberá que apesar da aparência deste fenômeno ser certamente fantástica, ele
são no final das contas, irreais, porque pertencem a um tempo ou a um espaço diferente do seu. Finalmente você os deixará
para trás e encontrará seu caminho para aquilo que fica escondido imediatamente por baixo destes sentimentos suprimidos:
forca, energia, amor.
Com isto você conquistou sua clareza. Você não foi destruída por ela, mas você experienciou uma segunda iluminação,
que não será a ultima.
A clareza é conquistada através da experiencia de morte e renascimento. Como já mencionado, ela acontece aqui também
da mesma forma que com sentimentos repressivos: você terá que enfrentar um sentimento não apenas uma vez, mas centenas
de vezes, até você entendê-lo completamente. O mesmo acontece com a morte e o renascimento. Você morrerá
psicologicamente centenas de vezes, e nascerá novamente até que você entenda totalmente o que é a experiencia de morte, até
que o medo de deixar o conhecido desapareça de você, porque cada vez mais você reconhece a morte como uma amiga, que
está muito presente, quando simplesmente não pode ser de nenhuma outra forma; um amigo que esteja presente quando você
entender que morte e nascimento são um só, que a morte do velho é condição básica para que o novo aconteça, que somente o
desaparecimento do conhecido cria espaço para o surgimento do desconhecido. O entendimento desta unidade de nascimento
e morte, então leva você completamente para o movimento infinito da vida. Você reconhece que cada momento é um morrer e
renascer, e você começa a ficar muito amigo deles, a viver com eles a reconhecer sua beleza. Você abandona o principio
estático da supressão e vive com o dinâmico com liberdade. Inicialmente ela ainda lhe amedronta. Você tem medo de não
encontra nenhuma estabilidade, mais nenhuma continuidade, medo de ser apenas uma folha ao vento. Mas é claro que você
vai entender mais e mais que não há apenas o equilibrio estável mas também um tipo de equilíbrio flexível.
No equilíbrio estável, como mostra a figura 7 você é mantido apertado, restrito, rigidamente preso. Em troca você se sente
mais securo, você não consegue cair de forma alguma. No equilíbrio flexível (figura 7B) você esta em descanso da mesma
forma, mas sem a segurança. Você perde seu equilíbrio com o menor choque. Por outro lado você está livre, sua estabilidade
esta baseada em seu próprio estado de alerta.
Você permanecerá cada vez mais na incerteza e se sentirá incrivelmente à vontade com ela, e seguirá seus passos com
muita atenção, como um gato você sempre estará pronto para se levantar e ir embora quando algo não estiver certo para você.
Assim como acontece com sentimentos repressivos, você descobrirá as diferentes camadas na qual sentimentos
suprimidos também são envolvidos e em seguida colocados um em cima do outro, naturalmente, de forma completamente
pessoal, da mesma forma como foram colocados um em cima do outro durante seu desenvolvimento. Você terá que esclarecer
esta confusão e com isto você mais uma vez ganhará um pouco de clareza, perderá mais um pouco de seu medo e ganhar ainda
mais um pouco de força.

51
Por exemplo, atrás de seu medo você descobre violência, e depois você reconhece que esta violência cobre outra camada
de medo, atrás da qual está a tristeza, enquanto que por baixo desta tristeza o medo novamente se torna visível, e tenta
novamente controlar um sentimento ainda maior de desespero e assim por diante. Vai demorar muito tempo até que você
consiga dissolver esta confusão completamente, e se você terá ou não sucesso não tem a menor importância. O que é
importante é que você tenha mais uma vez encontrado sua vocação verdadeira, o sentido de sua vida, a descoberta de si
mesmo, tornar-se consciente de si mesmo. Ate que ponto do caminho você venha é outra questão. Talvez , na verdade, nós
tenhamos todo o tempo do mundo; talvez seremos capazes de fazer isto em outra vida ou a um outro nível o que não
conseguimos atingir neste nível. Quando você escuta lá no fundo do seu ser, ao coração de todas as coisas, você de qualquer
forma descobrirá algo que sempre esteve lá e sempre estará, algo que nunca pode se acabar: sua consciência se expandindo e
aprendendo.
Sentimentos repressivos sempre têm a ver com o pensar. Eles são criados pelo pensamento, e por causa disto, não são bem
sentimentos, liberados pelo processo da vida, mas são reações a ele. Eles também são limitados por uma espécie de energia
possessiva e gananciosa. Os sentimentos que foram suprimidos, ao contrário, não são criados pelo pensamento, eles são
originais em sua natureza, não podem mais ser questionados, eles vêem da luz e sempre conduzem diretamente de volta para a
luz.
O problema com todos nós é que nós lidamos com nossos sentimento de forma errada. Nós tentamos evitá-lo ao invés de
aceitá-los, resistirmos com eles, irmos com eles até o fim. Quando nós o toleramos nós experienciamos a estória deles. Eles
nos ensinam algo, e depois eles desaparecem novamente. Sentimentos têm um caráter transitório quando não nos apegamos a
eles ou os excluimos. Nenhum sentimento é eterno, mesmo se assim parecer. Porém quando tentamos aprisioná-los ou
empacotarmos em algum lugar. Eles ficam para sempre na porta esperando para entrar. A única forma de lidar com eles é
aceitá-los incondicionalmente, observá-los cuidadosamente, não evitá-los de forma alguma, acompanhar o movimento deles, e
ao fazê-lo empurrar cada vez mais pra frente e mais profundamente em direção ao nosso centro, onde os sentimentos não terão
mais muito sentido, onde estamos em contato direto com nosso âmago. Sentimentos surgem apenas na margem do âmago,
como um efeito da fricção entre o âmago e o meio ambiente, acima de tudo, quando ele lida conosco de forma áspera. Quanto
mais vivermos em nossa essência, do centro de nosso âmago, mais as fronteiras perdem seu significado.

As diferentes entradas
Devemos agora observar tais sentimentos reprimidos separadamente. Fúria pertence na maior parte das vezes a
sentimentos repressivos e ela suprime na maioria das vezes a dor. Em sua essência ela leva contudo aos sentimentos que foram
evitados e ela mesma as vezes é suprimida. Fúria que mal consegue ser diferenciada de desespero, fúria sobre o fato de que a
verdade simplesmente não tem chance em nossas vidas e relacionamentos, já é muito parecida com desespero, quase idêntica a
ele.
Se nos aprofundamos no desespero, descobriremos que não é um sentimento amedrontante para ser escondido, mas pelo
contrário, um sentimento maravilhoso que nos leva diretamente ao nosso centro. Quando estou diante de uma injustiça e dos
horrores de nosso mundo e não me fecho para eles, quando não fecho meus olhos para eles, então eu posso apenas me
desesperar. Desespero combina com tristeza, com dor, mas também com impotência, fraqueza e estar a mercê de alguém.
O que é dor, este sentimento queimando na região do meu coração? Me parece nada mais além da ultima resistência
contra a total abertura desta área. É como se o amor quisesse nascer do meu coração, mas a abertura ainda não está grande o
suficiente e portanto ainda causa dor. Quando eu encaro desta maneira, eu consigo aceitar esta dor, porque eu sei que ela me
expande e prepara para algo melhor e portanto chegará a um fim. Portanto, a dor também tem a mesma qualidade que o amor.
Eles não devem ser totalmente separados, um flui para o outro e são da mesma natureza.
Impotência também, este sentimento que é tão difícil de integrar, me abre para uma verdade significativa quando eu
aprendo a escutá-la. Então eu percebo que estar impotente não significa apenas estar sem poder.mas se colocar perante o poder
do outro, e isto finalmente significa o poder do universo, com o qual posso me conectar, e pelo qual posso me permitir ser
transportado.
O mesmo acontece com estar a mercê de alguém. Todos estes sentimentos geralmente têm uma conotação negativa para
nós porque experimentamos eles de forma mais ou menos negativa. Cada um de nós sabe como é estar a mercê de alguém
terrível. Contudo, quando nos entregamos profundamente a este sentimento, podemos deixar de nos defender dele, nós
percebemos que esta dificuldade pode também significar ser levantado, que impotência pode levar a sentimentos genuínos de
ser transportado, também. Não haver garantia, é logicamente outro problema. Mas quando eu aceito estes sentimentos, eu
descobrirei acima de tudo, que nunca haverá garantia, que todoas as tentativas de nos assegurarmos terminam novamente em
um estado estático, em ficarmos encouraçados, um estado em que nos sentimos cada vez menos bem do que quando estamos
realmente vivos, e estamos para sempre vulneráveis. Sabendo disto, eu devo desenvolver uma preparação cada vez maior para
resistir minha infelicidade e minhas velhas feridas, meus incontáveis desapontamentos e insultos que sofri, e também correr o
risco de novos. Eu devo estar preparado para simplesmente estar aberto, e com isto devo experienciar, por diversas vezes, que
mesmo neste terrível mundo em que vivemos, nem sempre eu serei ferido, mas que eu também posso às vezes experienciar o
sentimento de ser transportado.

52
Você também descobre de forma crescente, que quando você permite que a vida o guie, ela dominará e o levara por todos os
horrores do mundo. Isto não significa que você não deva tomar responsabilidade por si mesmo em primeiro lugar, e que você
pode se jogar como um bebê nos braços da vida. Desta maneira você se afogará. A vida precisa de pessoas adultas com quem
trabalhar, o amor precisa de seres maduros. Por diversas vezes ela se questionará para testá- lo, e descobrir o quanto você se
tornou constante.
Cada um destes sentimentos suprimidos é como uma pergunta de um teste. Ou você aceita-a, você pode enfrentá-la, ou
você pode fugir dela. Quando você foge dela, você ainda não está forte o suficiente para seguir o fluxo da vida.
No desespero você encontrará muitas variações diferentes destes sentimentos, cada um dos quais vai querer ser entendido
por si mesmo. De acordo com a experiencia pela qual você passou, especialmente na sua primeira infância, durante o período
que você era um bebê, durante a gravidez de sua mãe, ou talvez por experiências de morte já de muito tempo, você terá mais
ou menos dificuldade de se integrá-las. Na mesma proporção do seu sucesso você será incapaz de se fechar do mundo exterior
também, quando você vir outras pessoas sofrendo dos mesmos sentimentos. Você então se transforma não apenas em um
receptor destes sentimentos de ser transportados no universo, mas também um veículo, uma ferramenta do todo, que lhe leva
onde é necessário carregar algo. Abandono, ser abandonado, ser rejeitado, fome, sede, não ter um teto, privação, não ser
entendido, se dar mal, ser feito de bobo, sentimentos de vergonha, de timidez, incerteza, ser exposto, nudez, ser um estranho,
desesperança, estar perdido, não ser confortado, estar precisando, são ótima variações com as quais você terá contato. Ser
tocado pelo reconhecimento de todas estas variações em si mesmo e nos outros lhe curará. Ao se perceber, você se sentirá
reconhecido, você sempre estará se reconciliando com você mesmo de forma crescente. Seja capaz de perdoar e com isto você
não apenas será curado, mas afetará a cura do caos ao seu redor. Reconciliar-se mentalmente com seus pais, por exemplo, é
algo maravilhoso, reconciliar-se com a própria história, a rescinde.
Talvez você se depare com sentimentos ainda piores em você, de estar quebrado, de ser traído, de não ter estabilidade, de
estar perplexo, confuso, de ser destruído, de caos e total insensibilidade, antes de você encontrar a total inevitabilidade, o
medo da morte, e antes que a morte psicológica o leve com ela, como um amigo para um novo nível.
Mesmo quando estes sentimentos são muito difíceis de aceitar, e você quase sente que não consegue deixar de se defender
contra eles, você novamente encontrará grande beleza neles quando você os reconhecer.
Insensibilidade: quando você permite que estes sentimentos falem com você, digam o que eles têm a dizer, eles nos
mostrarão tudo que não faz sentido em nossas vidas, em sua vida, em nossa sociedade, em nossas estruturas; como perdemos o
senso pela forma como ordenamos a nos mesmos. Isto permitirá que você diga não a tudo que não faz sentido e com isto
descobrir um novo sentido: sentido como um aspecto da unidade com seu âmago. Cada um destes terríveis sentimentos que
parecem terríveis vem de uma direção diferente até a unidade do âmago. Cada um lhe mostra outras características da verdade
e da inverdade que deve ser entendida.
A coisa terrível sobre a insensibilidade que um deprimido experiencia, por exemplo, é que ele permanece preso a ela, não
consegue mais se separar dela, mas ao mesmo tempo também não consegue aceitá-la também. Quando ele vai com ela até o
fim, ela abre seu maravilhoso conteúdo: o sentido, mas ele só chega a isto quando morre totalmente para a insensibilidade. Só
então pode um senso de significado despertar nele novamente.
Talvez você tenha que se ocupar por um longo período com sentimentos de ser rasgado, ser dividido, de ser pego em
discussão, ou ser pego inconsciente, de estar cheio de dúvidas antes de você poder realmente se liberar. Estes também são
bons sentimentos. Contanto que eles se anunciem de forma que você perceba que a verdade e a inverdade não estão bem na
ordem. Enquanto você tiver dúvidas é importante que você os tenha. Se você não os tivesse você sempre seria levada para o
caminho errado. Ouça suas dúvidas. Elas lhe darão bons conselhos, mas não as obedeça, pois elas formam apenas uma parte,
apenas um conselheiro. Não são o todo, e obediência é, um sentimento relacionado a um comportamento que é repressivo.
Nesta região você descobrirá a desobediência, uma nova teimosia, uma nova onipotência, que você deve explorar em si
mesmo. Você saberá onde você é o perdedor e onde você é o vencedor, onde vale a pena vencer e onde você precisa perder. E
isto é bom, pois antes de você empurrar completamente para dentro do seu núcleo, você tem que ter clareza sobre o poder e
tudo que se relaciona a ele. Porém mais sobre isto mais tarde.
Eu gostaria de entrar especialmente no assunto de ser excluído: este sentimento que todos experimentamos em
relacionamentos, e que não queremos reviver novamente e que nos impede em nossa capacidade de viver relacionamentos
verdadeiros, e na nossa capacidade de viver realmente em grupos. Quando você consegue se tornar amigo dele, você descobre
nele ao invés um sentido de pertencer, você descobre que é seu medo e defesa que faz com que você se exclua, e que nada
nem ninguém pode realmente lhe manter de fora quando você inclui tudo. Incluir, contudo, significa incluir tudo em certas
circunstancias, mesmo aquelas que excluem você quando a vida assim o exige de você.
Nossos pensamentos e sentimentos nos isolam do todo. Quando nos forçamos em direção ao nosso âmago, todos os
sentimentos consequentemente chegarao a um fim; não para sempre, mas pelo momento. Sempre podemos sair deste estado. O
sentimento de ser abandonado também constrói uma entrada para o âmago. O sentimento de ser abandonado de não ser
desejado mostra-me o terrível isolamento no qual eu vivo, enquanto eu for "eu ". "Eu" e o todo são separados um do outro. O
"eu" sempre se mantem em oposição ao todo, sempre é separado dele. Somente quando o "eu" deixa de

53
ser, eu me conecto, eu sou o todo, eu sou meu núcleo. Enquanto carregarmos um passado não resolvido dentro de nós,
seja de necessidades infantis, desejos sexuais reprimidos ou o que quer que seja, não podemos morrer. Quando não podemos
morrer, nos mantemos isolados, somos pegos na confusão de sentimentos e do transpessoal, que não se liga realmente a nós,
mas na melhor das hipóteses escurece a separação. Daí concluímos que sentimentos são em ultima analise de natureza ilusória.
Estes sentimentos suprimidos não são ainda toda a nossa verdade, apesar de serem bem próximo do que é realmente verdade.
somente quando vistos do âmago ele podem se tornar parte do todo. Enquanto vivermos com eles, eles parecem o todo e isto é
uma ilusão.
Eu também quero elucidar mais uma vez a questão da dependência. Há dependência do tipo que quer se agarrar a algo
que você não recebeu, a dependência patológica que domina o mundo, e da qual já falamos a respeito, que pertence às atitudes
repressivas. Quando você a entende completamente, você também descobre seu conteúdo mais íntimo: a verdadeira
dependência que foi suprimida, o medo de estar a mercê do todo. Você vê através da ficção social de ser capaz de funcionar
como pessoa independente e reconhecer a medida sem fronteira de sua dependência no universo, no ambiente, nos seus
companheiros, em tudo e em todos. Inicialmente, isto novamente o faz ter medo até que você perceba que você não é mais um
bebe que mama, enviado para o ambiente dele indefeso, mas que você é um adulto e pode exercer sua influencia sobre onde
você vai resistir. Sempre haverá o risco de estar a mercê de algo terrível, é claro. há também a esperança de que a experiencia
seja positiva .
Mesmo quando todo o mundo parece falar contra, provavelmente ainda vale a pena ceder a ela, porque não são as
possíveis conseqüências que determinam sua vida em primeiro lugar, mas sua atitude para com a vida. Estar aberto faz
sentido, mesmo quando as circunstancias para as quais você está aberto são hostis. Bem lá dentro, então, você encontra
solidão e desejo forte. Um desejo por um mundo melhor, ser bem cuidado com laços sociais e familiares cordiais. Você
reconhecerá que você viajou todo este caminho na esperança de satisfazer este desejo, e de repente você percebe que ele não
se torna realidade, que agora, assim como ante você vive em um mundo terrivelmente brutal, no qual o amor ameaça ser
completamente perdido. Quando você consegue controlar totalmente este desejo, ao invés de ceder a ele e deixar que ele o
leve a algum tipo de vicio, terminando em mediocridade, ele o levará a perfeição. Ele se tornará uma chama ardente dentro de
você, que já é a chama que lhe consumirá totalmente no fim, a fim de que você não seja nada mais que a chama.
Com ela você é confrontado com a solidão. Você percorreu todo o percurso, por que você se comprometeu com o amor,
porque você esperava se conectar com toda as pessoas do mundo no final! E foi isto que aconteceu com você é agora, porém
de uma forma insuportável. O último teste lhe será imposto: você está disposto a ir sozinho também quando não houver
ninguém com quem compartilhar seu amor? Você ainda se prende ao amor quando ele não é vivenciado por duas pessoas ou
na intimidade familiar? A solidão me parece o teste mais básico e também nosso problema mais básico. Somente quando ele
está completamente integrado, quando você não tem mais que evitá-lo mas simplesmente vivê-lo, quando ele está presente,
que o amor pode crescer em você de forma integral. Só então você para de correr o perigo de ceder ao desejo e de acabar no
vicio. Só então você encontra os outros - quando você os encontra - pela solidão e não mais por tentar evitá-lo.
Eu gostaria de acrescentar alguns insights a este tema de sentimentos enraigados e bloqueados tirados de minhas
anotações de uma experiencia psicolitica com uma substancia que trabalha profundamente e que é pouco conhecida no grupo
de derivados de Phenylethyl, dentro de um programa de treinamento da sociedade suíça de médicos a favor de psicoterapias
psicolíticas.
Não verdadeiras fronteiras entre o sofrimento dos outros e o meu próprio, já que somos psicologicamente idênticos,
mesmo quando um tem mais problemas neste sentido e o outro em outros sentidos. Quando vou fundo em minha tentativa de
entendê-lo, eu determino que o que há por trás de meu medo é uma frustração total que me foi negada e rejeitada:
desapontamento total e inevitável, que surgiu de minha historia pessoal. A paz só pode retornar quando isto tiver sido
trabalhado. Isolamento total, um sentimento de ser completamente excluído. Não adianta fingir. Está sempre presente, quando
eu renego o outro ou quando o outro me renega. É a parte mais intima de nos mesmos que nós repudiamos, e é com isto que
somos confrontados quando estamos juntos com a outra pessoa.
A frustração total de nunca ser aceito pelo que eu realmente sou, só ser aceito pelos meus esforços, meu bom
comportamento, meu show e assim por diante. O desapontamento infinito de ter que ver sem ilusão que eu nunca fui
realmente amado, e que agora eu raramente sou, e saber que eu não posso contar com ser amado no futuro, por que eu não
tenho absolutamente nenhuma influencia sobre o fato destas coisas realmente acontecerem. É neste insight que a capacidade
de amar de uma pessoa desabrocha, incondicionalmente e sem restrições.
O amor é algo tão raro, algo do qual eu sou totalmente dependente, que não consigo mais achar nenhuma razão para retê-
lo. Só então ele pode ser. Amar sem reservas, não significa dispensar os limites. O melhor amigo também tem limites. Eu não
sou uma mina para alguém explorar. Eu dou tudo que tenho e às vezes ainda mais, tirando das minhas reservas, e isto não é
bom. Eu quero dar o que eu tiver vontade de dar e o que eu for capaz de dar. Quem não estiver satisfeito deve me deixar
sozinho, ir embora, procurar em outro lugar. Isto também está ok. Pois eu mesmo pego apenas aquilo de que preciso, tudo
mais eu passo para aqueles que precisam.
Dizer sim, sem reservas, para o amor e para a vida inclui dizer não para tudo que não está em sintonia e que

54
ultrapassa minhas fronteiras. E mais, o não, o não total a tudo que não for certo, é uma condição para que o sim aconteça.
Negação significa que eu não vou mais pagar pelo amor, de forma alguma. Eu sou quem eu sou. Quando eu for amado, tudo
bem, quando não, é triste, mas não há nada que eu possa fazer a este respeito. Por esta razão eu não devo me mudar nem um
pouco, e isto significa dizer, apesar de tudo, um incondicional "sim", amar sem reservas e seguir meu caminho. É bom se
entregar, é bom se dedicar, morrer pelo outro; mas se entregar apenas àquilo que esta em total sintonia, se submeter sem se
comprometer apenas ao que for verdadeiro, morrer apenas para aquela dimensão do amor que não contem ilusão, não ter mais
decepções. Isto é SIM e NÃO em um só. SIM e NÃO estão unidos, aqui. É aqui que eu me torno um: em total entrega, mas ao
mesmo tempo totalmente definido e marcado.
Não sou eu que sou excluído pelo amor, mas eu que excluo o amor, e isto que temos que ver. Enquanto eu estiver lá, ele
não pode entrar; não há espaço o suficiente para "o outro" e para "mim", é um ou outro. O "eu", que é o pensamento, o velho,
o passado, não desaparece; apenas permanece calado.! Ele fica pronto para ficar calado, para ficar pra trás, porque ele percebe
que ele não é o todo, mas apenas uma parte; o todo pode portanto existir, quando eu sou apenas uma parte. Quando eu estou
em silencio, o todo pode existir.
Eu não devo mais ter obrigações ou compromissos com ninguém. Contudo não sou um egoísta; não os quero mais, porque
eu preferiria me dar de presente, que é o que eu faço na verdade, quando desejos em troca relacionamentos como presentes.
De alguma forma alguém não consegue dar este último passo, desistir do último medo, da última reserva, e de
simplesmente confiar novamente. Para ter certeza, eu me dei desta maneira uma vez antes, como um bebê, ou foi muito antes
disto? E o que eles fizeram comigo? Mas agora eu sou um adulto; quando eu me entrego, eu não me torno dependente por
conta disto, ou em todo caso, se eu sou dependente, é apenas do meu destino, do meu caminho, do todo. Será que eu posso
confiar neles? Isto ainda me amedronta!
Falsa criação em relação à limpeza, hábitos alimentares e sexualidade basicamente destruíram nossa confiança em nossa
corporalidade, e ao mesmo tempo na natureza, e finalmente no universo. Agora a mente tenta perpetuamente exercer o
controle. Eu só devo me curar quando a mente aprender a permanecer em silencio novamente. Quando ele se retirar, aprender
a confiar na corporalidade, para que ela possa funcionar por si só. Então a fiscalização não será mais necessária.
Há ainda um medo muito mais enraigado, mais básico, maior que o medo de não ser amado. É o medo de não se
encontrar mais por estar perdido na confusão na qual se foi e ainda se é abandonado. O que cura é o contato com este medo.
A dor de não ter sido amado, que permanece lá no fundo, não pode ser destilada por eu ser amado hoje. Como um vicio,
eu estou, é claro, sempre a procura do amor, mas quando ele acontece, eu nunca me sinto satisfeito. A dor existe em si mesmo,
independentemente da presença de quem quer que seja, e deve ser enfrentada solitária e independentemente de qualquer outra
coisa.
Ai está o âmago disto, "não ter sido tocado o suficiente", esta fome irreconciliável por carinho de mãe, este desejo na
superfície da pele pelo que estava faltando. Porém nada substitui, nada tão real, destila esta fome, porque a fome não foi
saciada na época. Isto deve ser enfrentado e deve ser trazido para a consciência e as lembranças em si apagadas. É importante
se reconciliar com elas, ou a fome permanecerá insaciada para sempre, seguida do vício que inevitavelmente traz todo
sofrimento com ele.
Medo de ser, medo de despertar as características únicas sem reservas, de alguém! Medo do transbordar, de ser inundado.
Medo da própria força, da própria vontade, da própria agressividade; medo do amor, medo da vida, medo de ser!
Medo, que é pensado, esconde o estado de ser. O ser e o medo não podem existir ao mesmo tempo. O medo exclui o ser e
com ele, o amor, que é a vida em sua inteireza, e no lugar introduz o tempo. Ser inclui medo, pensamento, tempo. Através
dele, eles se tornam partes que estão ligadas ao todo. Portanto o medo não é mais o medo que exclui, mas precaução, que
serve ao todo. Medo em sua forma purificada, como cuidado, então se transforma em uma constante companhia; como
solicitude, vigília, atenção.
E então: a total quietude das noites aqui, a primeira, cheia da profundeza da solidão, a segunda com o despertar explosivo
do seu centro interno. Também; os véus suaves da neblina sobre as montanhas cobertas de neve, e nos galhos das árvores, na
primeira manhã após o despertar. O sol do entardecer nos gravetos perante a janela e por trás o estalido do fogo no cômodo.
Então o segundo dia, um radiante dia de sol, cheio do júbilo de todo o mundo dos pássaros.
Tanto para o registro.
Da mesma forma que o confronto com sentimentos defensivos, do ponto de vista energético pode ser associado com o
plexo solar. O trabalho com sentimentos bloqueados pertence ao nível do chakra cardíaco. Quanto mais fundo nós formos para
entender estes sentimentos, mais o centro energético sobre o coração se abrirá até que um último fluxo totalmente livre
aconteça. Juntamente com o chakra solar e cardíaco, o chakra da garganta deve se abrir também, ou a pessoa continua
contrariada e bloqueada na expressão de seus sentimentos. A percepção desbloqueada destes

55
sentimentos é checada novamente assim como também o fluxo livre. Assim que os sentimentos bloqueados estão
completamente integrados, a energia se move automaticamente para os centros mais altos com dos quais ela se ocupa: não
com sentimentos, mas com o reconhecimento das qualidades do amor e a existência em um mundo de pura energia, assim
como também todas as suas conexões e trabalhos com esta energia.
Os sentimentos bloqueados também se expressam, de vez em quando, ao nível psicossomático. Com estas considerações
em mente assume-se que um problema emocional, que é bloqueado ao nível psíquico, é levado ao plano somático. A depender
do tipo de sintomas e da localização da doença pode-se determinar também a dificuldade intuitiva.
Por exemplo, problemas de estômago sugere que eu engoli demais, seja diretamente, ao nível físico, ou psíquico, no
sentido de que eu coloquei muito estresse sobre mim mesmo.
Com sentimentos suprimidos com dor, fraqueza, estar a mercê de alguém, que primariamente afetam a região do coração,
encontraremos, acima de tudo a síndrome do coração partido, o ataque cardíaco, seus precursores e seus resultados. Porém
todas as outras doenças e sofrimentos que nos confrontam com tais sentimentos devem ser encontrados aqui também. Porque
não queremos vê-lo por nossa própria vontade. Eu estou pensando em imperfeições, digamos assim, que acompanham um
acidente ou um ataque apopléctico, mas também em todo o sofrimento que resulta em uma total decomposição de organismos,
sobre tudo do sistema de defesa (por exemplo, câncer ou doenças infecciosas severas.)
Uma doença moderna em particular que tem provocado muita discussão em um passado recente é AIDS. Nesta doença a
defesa contra agentes patogênicos falha totalmente ao nível somático. Quando transpomos isto para o nível psicológico,
significa que quem sofre de AIDS não admite a falha de seu sistema imunológico a este nível, que significa que ele não pode
admitir vulnerabilidade, dependência ou estar a mercê de alguém, como sendo uma experiencia humana primária. Por trás
disto devemos encontrar mais uma vez experiências individuais ruins que tem a ver com estar a mercê de alguma pessoa
terrível, na maioria das vezes na primeira infância, e um distúrbio narcisista básico do tipo que é bem difundido hoje em dia.
AIDS então não é apenas para aqueles que são afetados, mas um alerta para todos e um aviso que a vida não se deixa suprimir
e ser negada sem dar o troco.
Nossos sintomas não são nossos problemas. Quando nós os aceitamos, eles são a solução dos nossos problemas, e é isto
que não queremos reconhecer.
Um dia, muitos anos atrás. Eu acordei de repente e percebi como era único estar acordado e como a maioria das pessoas
dormiam constantemente e ficavam no escuro. Desde então eu me preocupo em me manter acordado de toda forma possível,
afundar novamente na escuridão, que não me deixa mais em paz, encontrar a luz por diversas vezes, e às vezes ela está
totalmente lá. Então eu me sento sozinho na luz e fico triste por os outros não conseguirem ver e eu estou sozinho. Com isto eu
também estou de volta a escuridão, a escuridão da tristeza. Este é meu maior problema, e ao mesmo tempo, minha maior
oferenda para os outros, pois eu não posso ainda permanecer solitário na luz: a solidão de
meu coração, que eu gostaria de compartilhar com os outros.
***

Antes de eu encerrar este capítulo, eu devo mais uma vez usar um estudo de caso para discutir uma sessão de terapia na
qual os sentimentos descritos neste capitulo estavam em primeiro plano, e na qual o uso de substancias empatogênicas
alcançou uma ruptura. Terapias nas quais isto pode acontecer já são progressivas. Uma ruptura nesta região mesmo quando
acontece inconscientemente, está sempre ligada a liberação de muita energia.
Helga era mulher jovem e mãe de duas crianças que, juntamente com seu marido, havia começado a muito tempo atrás um
terapia de casais, comigo e minha ex-esposa. Alem de visitar minha esposa para sessões individuais, ela participou pela quarta
vez de uma sessão psicolitica, com uma combinação de substancias que ainda são legais, mas que não pretendo descrever mais
detalhadamente aqui. Tratava-se de duas substancias empatogênicas que, quase imperceptivelmente, aprofundavam um pouco
mais que um empatogênico, mas que no geral tinha efeito similar. O problema de Helga, tinha a ver com adaptação, sua
tendência de se comparar com as expectativas das outras pessoas e, quando percebia, de reagir e elas se rebelando. Ela tinha
muito pouco contato com sua própria vontade, suas próprias aspirações, e desta forma tinha organizado para si uma vida que
não era bem dela. Ela tinha um marido e uma família sem saber realmente se ele era seu marido, ou se ela tinha realmente
decidido criar sua própria família. Ela tinha freqüentado a universidade e tinha se qualificado profissionalmente sem saber se
era o que realmente queria. Na época das sessões psicolíticas ela tomou a decisão de começar um novo período de crescimento
com seu marido, já que isto era o que ele tinha decidido para si mesmo. A cliente teve enormes dificuldades em perceber se ela
também queria ir por este caminho, ou se mais uma vez ela estava simplesmente se adaptando ao seu marido, e o seu próprio
caminho a separava do caminho dele. Era neste ponto que ela estava quando participou da sessão psicolitica, juntamente com
ele.
Ela se isolou, não permaneceu perto do marido, estava a procura de solidão, ela se confrontou com muito medo no inicio
da sessão. Minha esposa que conhecia bem a clientes das sessões individuais, percebeu que algo em Helga queria aflorar,
então ambos fomos nos sentar ao seu lado sem dizermos nada; simplesmente estávamos lá ligados a ela através do corpo e do
contato energético. Isto levou a uma massiva intensificação de seu medo, e então veio a ruptura. Helga

56
começou a respirar profunda e rapidamente, e a finalmente gemer, e a chorar, quando o tom torturado de sua voz suavizou
tornando-se um tom de desejo e entrega.
Todo o grupo presente se sentiu atraído pela intensidade e também pela beleza do que estava acontecendo. Helga foi
enaltecida e ao mesmo tempo se libertou e ficou autônoma interiormente. Era uma experiencia extática. A velha Helga
adaptada, morreu, e uma nova despertou, mais forte e auto-confiante. Também, todo o problema sexual com o qual a paciente
estava familiarizada, sua falta de entusiasmo, sua incapacidade de se entregar, foram levados a uma solução. Pela primeira vez
ela experienciou um evento orgástico que era total, que abrangeu todo seu corpo. Ela não consegui perceber desta forma, é
claro, nessa primeira ruptura, permaneceu inconsciente. Mas as trilhas foram abertas para experiências posteriores.
Naturalmente, com a primeira ruptura, seus problemas não foram varridos, mas uma abertura fora criada para sua energia
vital, que nos meses seguintes permitiram que ela moldasse sua vida novamente.
O que deve ser enfatizado repetidamente é que nenhum problema pode ser resolvido através apenas do trabalho
psicolítico. Quando seu conteúdo não é integrado à vida diária atraves de um trabalho de acompanhamento, ele permanece
uma experiencia única, talvez linda, porem insignificante. Helga, eventualmente, faria esta ruptura mais cedo ou mais tarde
através da terapia convencional, mas a experiencia psicolitica possibilitou que a energia construísse um caminho mais rápido e
mais suave.
Em outros casos a resistência é tão grande que provavelmente eles nunca teriam sucesso em romper da forma normal.
Para Helga, de qualquer forma começou depois disto, um período de intenso viver. Percebia-se claramente que algo havia
despertado nela, que nunca mais morreria. Na figura 3A esta experiencia seria similar a segunda camada (confusão de
sentimentos) se irrompendo com a terceira camada (região transpessoal) e para dentro do núcleo. Esta ruptura sempre
acompanha a experiencia de morte, de nascimento e de eventos orgásticos cósmicos.
Eu me lembro daquela noite em Zakyntos: por um lado havia um clima relaxante de férias, mas por outro medo de
começar de novo num momento difícil da vida, ligado a separação, partir, soltar.
Eu acordo à noite, está escuro. Uma noite escura, quente e silenciosa, a porta da varanda está aberta. Dentro o sentimento
difuso de bem estar, emanando de meus companheiros adormecidos, despertam sentimentos de solidão em mim. Do lado de
fora algo bem diferente força sua entrada: há os barulhos noturnos, sons suaves, gentis e indefinidos e no fundo o surf no mar.
Há também as impressões óticas: o magnífico céu noturno, o movimento das folhas de eucalipto a vento macio.a intensa
escuridão.
Porem, mais que tudo, algo que não pode ser realmente visto força sua entrada. É mais um sentimento que algo tangível,
contudo está realmente lá, poderoso e exigindo sua entrada. É como se o universo, toda a energia contida nele, quisesse me
ocupar, me preencher, me arrebatar, como se quisesse me levar consigo.
Então vem o medo, o medo de se soltar completamente, de se render completamente a ele, de confiar. Algo em mim ainda
não quer, ainda não confia, tem medo de perder o controle. Algo em mim não quer ir com o desconhecido, não quer morrer
ainda, ainda quer proteger meus direitos.
Por outro lado há o desejo pelo desconhecido, por este sentimento de ser enaltecido, de ser transportado, de ser anexado,
que paira no ar como um convite. Algo ainda não está pronto. Esperar é inevitável; medo e desejo ainda não de dissolveram
em unidade; o convite passa ainda sem resposta.

Sem amor só ha feiúra


e pobreza em seu próprio coração e mente.
Porém quando há amor e beleza, o que quer que você face está certo,
o que quer que você faça está em ordem.
Se você souber como amar, então você pode fazer o que gostar,
porque brevemente o amor resolverá todos os outros problemas.

Jiddu Krishnamurti

2 Além da Dualidade o despertar do amor


1 Sobre poder

A seguinte estória me ocorreu sobre o assunto de poder e, como sempre, tem a ver com fronteiras, é assim:

57
Duas crianças emigraram com seus pais para uma terra estranha. Elas ouviram por diversas vezes seus pais dizerem
que estavam em um país hostil, e que tinham que ser cautelosos, desconfiados e reservados. Uma das crianças se apegou a
estas instruções, e experienciou seu ambiente como hostil, e desenvolveu uma atitute beligerante como estratégia para lidar
com a situação. Como adulto, a pessoa não esperava ser atacada, mas adotava uma postura geralmente agressiva e tentava
tomar tudo que queria e se tornava fechada e desconfiada. A pessoa tinha sucesso nesta estratégia, especialmente
profissionalmente, ganhava poder e respeito, mas permanecia solitário, não tinha amigos e finalmente morria amargurado e
sem nunca ter sido feliz.
A criança mais velha ouvia seus pais com a mesma atenção mas também ouvia as pessoas ao redor, com quem mantinha
uma relação de cabeça aberta. Por causa disto, suas experiências eram bem diferentes das da outra criança. Ela fez amigos,
logo esqueceu que era um estrangeiro, e se sentiu em casa no novo país. A segunda criança não estava de forma alguma cega
para as atitudes hipócritas que ocasionalmente via nos outros, mas varias vezes ela experienciava situações que a faziam
mais feliz e mais confiante que a outra criança. Ela aprendeu que era bom ser aberta. Como adulta ela fez seu caminho pela
vida exatamente como a outra, apesar de ter menos sucesso, menos poder e menos medo, porém tinha mais lazer, mais sorte,
mais prazer, e morreu depois de levar uma vida rica, em paz consigo mesmo e com aqueles que o cercavam; em casa e não
em um pais estrangeiro.
Aqui eu também gostaria de começar com uma descrição de uma de minhas próprias experiências. Desta vez com minha
primeira experiencia com um empatogênico. Eu entrei em contato com esta substância relativamente tarde no meu processo
de desenvolvimento, em 1985, por eu já ter começado minha prática e trabalhar como terapeuta.
A maneira que reagimos a uma substancia em particular, mesmo se pudermos ou não recebermos seu conteúdo
completamente ou não, depende muito de quanto já tenhamos percorrido nosso caminho de desenvolvimento pessoal, na
direção de nosso núcleo. Tendo alcançado nosso núcleo, toda boa substancia tem um efeito semelhante em nós. As diferenças
iniciais são relacionadas mais aos nossos diferentes pontos de partida.
A experiencia também ocorreu na hora certa em minha vida. o confronto com sentimentos tinha em grande parte
terminado e eu geralmente tinha acesso a energia pura e já entendia bem como trabalhar com ela ao nível do plexo solar. Eu
também havia encontrado uma forma pacifica de percorrer toda a região transpessoal, com os problemas relacionados a
expansão, e portanto, a dimensão do terceiro olho. Contudo faltava algo em minha vida. eu já sentia isto há algum tempo, mas
não conseguia descrever de forma satisfatória. Eu tinha discussões intensas com minha parceira sobre nossa posição em
relação ao outro. Nós nos sentíamos limitados por conceitos sobre relacionamentos, mas também percebíamos que não
conseguíamos simplemente nos libertar deles.
Eu tive minha primeira experiencia com empatogênico sozinho com ela. Nós estávamos na verdade a procura de uma
substancia terapeuticamente útil, pois até aquele momento não havíamos recebido permissão para trabalharmos com
psicodelicos. Como já tínhamos tido varias experiências desagradáveis com outras substâncias inúteis, foi com grande
relutância que resolvemos experimentar um empatogênico que foi recomendada por um amigo. Tínhamos jurado que seria
nossa ultima tentativa e que desistiríamos de tudo se esta experiencia não funcionasse. Pessoalmente eu estava de mal humor e
nossa relação estava em crise.
Mas meu coração se abriu. Até então eu estava acostumado a sentir tudo através de meu estômago e a estar a mercê dos
humores e sentimentos que os outros gerassem em meu ambiente, apesar de naquele momento eu ter aprendido a encarar isto
sem problemas. Eu tinha também gradualmente descoberto que deveria haver algo mais que esta existência lunar, na qual eu
apenas reflito os sentimentos dos outros, mas eu tinha descoberto o acesso a isto apenas em parte e apenas ocasionalmente.
Pela primeira vez, através da experiencia com um empatogênico eu pude agora entender completamente o espaço no qual
todo trabalho com sentimentos ao nível do estômago acontecia, onde ele acabava e o fluxo de energia podia fluir dentro de
mim, de forma completa e livremente, saindo do nível do coração. Este acontecimento irresistível naturalmente trouxe com
ele um período de intensa integração e de solução das coisas, até que fosse completamente entendido e liberado de todas as
ilusões, e até tornar possível sem substâncias. Daí por diante eu estava cada vez mais aberto para a capacidade não apenas de
perceber ao nível do estômago, mas também de distribuir o sempre presente fluxo de energia através de meu coração.
Depois de uma experiência posterior com empatogênico dentro dos padrões da recém formada Sociedada Suíça de
Médicos para Terapia Psicolítica, eu anotei o seguinte (é normal e útil escrever os dados sobre tais experiências - mais sobre
isto na parte III).
No início, um sentimento de abertura me veio rapidamente, que me permitiu perceber todos os sentimentos da presentes
na sala. De onde eu estava, não achei difícil localizar de onde vinham também e absorver bem o contexto psicodinâmico que
tinham originado estes sentimentos. Eu me percebi como um tipo de transformador. Eu absorvi, pelo meu estômago, toda a
energia conturbada. Dentro de mim, e sem eu fazer nada, num estado de não fazer nada , elas eram transformadas e finalmente
irradiadas de volta através do meu corpo, especialmente através do meu coração, na forma de energia harmonizada. Eu notei
que a energia, que tinha sido mudada desta forma, fluía de volta para o lugar de onde ela havia sido transmitida. Lá, desde que
nenhuma resistência tenha sido criada, ela induzia um processo catalisado na consciência, que ajudava as pessoas preocupadas
em trabalharem e integrarem o inconsciente.

58
Me parecia que as energias perceptíveis na sala eram fragmentadas e voláteis, e que estes processos na consciência
levavam a um aprofundamento e portanto a uma purificação do clima da sala. Eu finalmente me senti como um embarcação
totalmente aberta pela qual uma energia dourada fluía e que eu conseguia até ver dentro de mim mesmo. A energia entrava,
sobretudo, pela cabeça e pelo estômago e saia novamente primeiramente pelo coração e pelas mãos. Quando eu tinha contato
corporal esta energia era totalmente intensificada. Nesta forma de percepção energética eu podia abandonar totalmente a
diferença entre homem e mulher. Com a queda desta barreira conceitual o fluxo de energia mais uma vez crescia
notavelmente. Neste estado eu comecei a participar dos variados processos internos pelos quais os outros estavam passando.
Por diversas vezes eu percebi que eu havia direcionado insights para a psique do outro. Acontecia também de freqüentemente
a energia difusa de uma outra pessoa ficar focada em meu estômago onde elas eram transformadas e devolvidas para o outro
de uma tal forma que o outro podia confrontá-las. Desta maneira, testemunhando passivamente o efeito da substância. Eu,
ocasionalmente tinha a forte impressão de ter aterrizado em uma situação de atividade altamente passiva. Isto significava que
a substância não estava mais exercendo uma influencia em mim, mas que eu poderia usá-la para um processo de
harmonização, de dissolvição e criação, um processo ao qual eu estava de alguma forma subordinado e com a qual eu estava
passivamente associado, mas ao qual ao mesmo tempo, eu era aproveitado de uma forma criativa. Eu consegui por um longo
período de tempo chegar a este estado de ser, entender e despertar para o que me parecia a tarefa mais significativa em relação
a tais substancias (sobretudo como terapeuta.)
O suficiente dos meus próprios dados na época.
Esta abertura de coração, uma vez integrada em mim, me trouxe uma liberdade nova e maior e uma forma de vida que era
muito mais feliz. Pessoalmente eu não estava a mercê das energias e sentimentos que deveriam ser encontrados em todo lugar,
já que a energia fluindo do meu coração parecia formar um escudo protetor ao meu redor. Além disto, meus relacionamentos e
minha visão da vida começou a mudar mais uma vez de forma fundamental. Meu trabalho, assim como meus relacionamentos
e minha vida em geral eram caracterizados de forma crescente por uma falta de conceitos. Cada vez mais eu superei o
principio estático, que nós geralmente tentamos manter em nossas vidas, e começamos a acompanhar o movimento no
momento presente e na unidade. Cada vez mais eu entendi a vida não como algo que podia fazer mas como algo que eu
deveria permitir acontecer para mim. Experiências referentes ao terceiro olho também ganharam um novo significado desde
ponto de vista do coração e novos horizontes começaram a se abrir.
Vamos agora nos ligar ao santuário que trazemos dentro de nós. Depois de lentamente integrar os sentimentos que
evitamos, e ter perdido nosso medo deles, nós reconhecemos cada vez mais em nossa jornada o âmago de nossas
personalidades (veja figura 3A). É a isto que agora desejamos nos dedicar de coração. A integração de cada sentimento
repelido revela ainda outra forma de nos aproximarmos de nós, uma nova característica do amor. Desda maneira aprendemos a
conhecer o fluxo de pura energia e cada vez mais as qualidades do amor. Contudo, antes de podermos entrar lá sem
obstáculos, um ultimo confronto nos aguarda. Nós devemos vencer este terceiro guarda, o poder, e mandá- lo para o lugar
certo dentro de nós.
Quando encontramos o amor, logo percebemos que nunca poderemos realmente conhecê-lo, que nós podemos meramente
nos abrir para ele, mas nunca possuí-lo. O amor não nos pertence, somos nós que pertencemos a ele. Nós participamos dele,
podemos nos fundir a ele, mas também estamos ao seu mercê, ou expressando de uma forma mais positiva, somos edificados
por ele. O amor é o poder que dirige o todo, não nós. Às vezes ele está lá e então ele desaparece novamente, especialmente
quando o prendemos com forca e tentamos engaiolá-lo; então percebemos por diversas vezes que não podemos fazer nada
para trazê-lo de volta. Podemos nos abrir para ele, nos manter prontos para ele, porém sua vinda estar em seu poder, não no
nosso. É o amor que nos convida, não somos nos que o convidamos.
Inicialmente não percebemos isto muito rapidamente, o contato inicial com a energia que começa a nos preencher, nos dá
a ilusão que ele está em nosso poder que agora podemos fazer o que quizermos. A conquista do poder com certeza nos colocou
em contato com ele: experimentamos uma segunda iluminação, mas ainda não estamos no fim da jornada. O poder ainda
precisa ser entendido completamente, ou não poderemos lidar com ele. Encontramos o terceiro guarda: o poder. Apenas a
integração do poder nos leva a totalidade. É nossa ultima grande tentação - não ter que nos dá ao todo, mas pensarmos em nós
mesmos como o todo. Emquanto não vermos claramente esta região, não saberemos quando devemos esperar pacientemente, e
quando é hora de ação efetiva. Desta forma não seremos capazes de lidar com a energia, e seremos destruídos por ela.
Somente quando aprendermos a não abusar dela, quando nos subordinarmos a ela e a empregarmos apenas para expandir
nossa consciência e a dos outros, ele se revelará inteiramente para nós, e este então será nossa terceira iluminação. Ao mesmo
tempo não será mais uma iluminação, porque a esta altura ficará claro para nós que não existe realmente um ponto final de
chegada.
Estamos continuamente, alguns mais outros menos, alguns espalhafatosamente outros de forma menos evidente,
condicionados a seguir um programa que controla nossa ação através um processo ininterrupto na mente, que diz: você deve!
Você não deve! Você pode! Você não pode! E assim por diante. Quando vamos de encontro ao que diz este programa, nos
sentimos com medo e culpados. Quando cedemos a ele nos sentimos melhor, porém não somos nós mesmos quando
começamos a reconhecer o fato de sermos programados em sua totalidade, isto é, quando percebemos que não é como um
processo de pensamento mas como uma realidade que pode ser sentida dentro de nós, quando sentimos as ordens e o que é
proibido em nós, ele concorda em ser corrigido. Talvez nós vejamos que criamos uma vida

59
para nós mesmos que não é nossa, e com a qual, como resultado, nunca podemos nos sentir à vontade. Apesar do medo e
da culpa, apesar das proibições e das ordens que sentimos dentro de nós, nós começamos gradualmente a substituir o
programa existente por uma nova atitude: o que eu quero? O que eu não quero? Como é bom para mim? Quando eu não me
sinto bem? Estas são as perguntas cautelosas que começam a dirigir o processo de ação daqui por diante. É exatamente isto
que são, perguntas e não comandos ou proibições. No inicio será difícil para mim, saber o que eu quero. O conhecimento
sobre isto a muito tempo foi perdido. Eu devo me envolver em incontáveis ilusões, porque eu acho que quero algo, só para
mais a frente, perceber que meus desejos são falsificados, por medos, culpa e outros sentimentos ainda não reconhecidos.
Então, com certeza, um novo movimento surge em mim, muito suavemente, que cria uma nova vida para mim, bem
minha. Talvez muitos ajustes sejam necessários; talvez eu descubra que não é a minha profissão que eu estou seguindo, mas, a
do meu pai, que não é com minha esposa que eu vivo, mas com a mulher que minha mãe aprovou para mim, que eu não passo
meus momentos de lazer da forma que eu quero mas da forma que se deve fazer. Talvez eu tenha que virar minha vida de
cabeça para baixo para me encontrar e este não será um processo fácil. Tem muito a ver com o relaxar ou com o deixar ser,
com o deixar acontecer.
Quando você chegar até aqui, você vai começar a reconhecer gradualmente que seu bem estar chega ao máximo quando
você conseguir deixar acontecer o que quer que queira acontecer, quando você ver que na verdade você não tem escolha, a não
ser coordenar sua vontade com o que quer que apareça em sua vida por vontade própria. Quando você segue o movimento do
todo, do que quer acontecer, quando você segue junto com isto você encontra seu maior bem estar; quando você vai de
encontro a isto, você acaba novamente onde você começou, e de forma alguma se sente bem. Você descobre cada vez mais
que a vontade de alguém é apenas uma forma mais obstinada de "você deve!". Quando mais você vencer a dualidade do
observador e do observado em você mesmo, e quando mais você florescer na unidade, mais coisas como deixar fluir e se
segurar firme perde seu significado. Não há mais ninguém lá que se segure firme e ninguém para deixar fluir também e de
qualquer maneira a que devemos nos apegar ou deixar fluir? Então só ha isto que acontece, somente movimento de qualquer
que seja.
Seus instrutores estavam convencidos que você não poderia confiar na vida com a liderança, por que não era considerada
digna de confiança, eles portanto acreditavam que deveriam implantar em você a idéia de como você deveria dirigir a vida.
agora, cada vez mais você quer tomar a liderança e ao fazer isto, você reconhecerá ainda escondido lá dentro está a falta de
confiança na vida que foi inicialmente imposta a você. Você não quer ser levado e sim pegar as rédeas em suas próprias mãos.
Você se tornou muito mais forte tendo descoberto sua própria vontade, mas agora você também está correndo perigo de ser
destruído por ela.
Primeiro você terá que libertar seu coração totalmente, ou você nunca descobrirá o movimento livre da vida. Pra começo
de conversa você não pode desistir de algo que você ainda não conquistou. E talvez você fique preso nesta obstinação e seja
engolido pelo poder. Talvez seja ai que estejam suas fronteiras, e você não conseguira transpô-las nesta vida.
Quando sentimento suprimidos de onipotência que retornam para a primeira infância são liberados, você inicialmente
talvez se perceba como Jesus, como o próprio Deus, talvez como Buda, de acordo com a figura de liderança que foi
implantado em você na infância. Isto porque estes sentimentos não foram realmente integrados a você. Os sentimentos
onipotentes se registram como aquela parte de você que diz: você não deve ter nenhum outro Deus junto a mim. Esta parte é
geralmente muito fortemente suprimida. Sua integração libera sua energia totalmente, com a qual, inicialmente, você tem
dificuldade em lidar. Portanto você tropeça neste ponto, quando você encontra seu poder novamente, primeiro sob os
problemas de força, antes que você possa finalmente descansar em paz no âmago de seu ser. Se você se identificar totalmente
com as figuras de liderança associadas com seu sentimento de onipotência, você será declarado um esquizofrênico - de
qualquer
Forma, se você não tiver sucesso com os outros. Contudo quando você só se identifica com o principio destas figuras, e
consegue abrir mão da identificação com eles depois de ter visto pelo processo de aprendizagem , que você integrou um pouco
do transpessoal e ao fazê-lo você cresceu. A tentação do poder é sua ultima chance de salvar seu ego, de escapar da ilusão do
seu ego, antes de você finalmente se dissolver em seu núcleo.
Quando você realmente aprende como lidar com o poder, quando você vê que não é seu poder pessoal mas a energia do
universo que está ao seu dispor, então você também aprenderá quando é tempo de esperar, quando é tempo de relaxar e ir
embora e quando é tempo de agir. Se você não consegue encontra uma resposta para estas questões, você se tornará vitima de
seu próprio poder, e não será capaz de permanecer na luz. O amor também pode ser paciente e esperar, quando ele tiver que,
mas o mesmo não acontece com o poder!
Abrir mão do poder tem muito a ver com abrir mão do principio estático e aceitar o principio dinâmico do universo.
Entramos finalmente no grande movimento infinito do aqui e do agora, no movimento do um. (ver figura 4). Nos deixamos ser
levados pelo fluxo da vida e nos reconhecemos como seres humildes para sempre aprendendo do e com o fluxo. Esta jornada
não tem objetivo, não há ponto de chegada, a sensação de estar em casa está em aceitar totalmente o caminho, em aceitar
totalmente que eu sou para sempre um viajante, em uma viagem sem fim. O amor não é para ser apossado. Cada encontro com
ele, traz um novo entendimento, um novo movimento.

60
Quando você percorreu seu caminho até aqui, você vai parar de se esforçar, de batalhar. Você não mais estará preparado
para pagar por tudo que recebeu da vida, ao contrario você apenas aceitará presentes, como você se dará como um presente. Se
tornando bem consistente nesta atitude, você realmente recebe presentes; a vida e o amor em si se tornarão um presente. Com
este entendimento, a psicoterapia chega a um fim. Você definitivamente se liberará dela, como esta última incongruência de
pensamento - tentar comprar um relacionamento amoroso - também desaparecerá.
Com seu psiocoterapeuta você está em uma encruzilhada onde vocês ou se separarão, pois é assim que a vida quer que
seja, ou vocês ainda ficaram juntos como amigos, porque isto é o que parece ser certo. A psicoterapia se dissolve neste ponto
no processo de sua evolução pessoal e coletiva. Ela assume uma postura profundamente primordial e religiosa, se transforma
na vida em si, e já que ela era apenas o meio para se chegar a este ponto, você deve agora deixá- la partir. O mesmo,
naturalmente, é verdade das substâncias que nos acompanharam no percurso. Elas não têm valor intrínseco, seu único valor é
o de terem sido os mediadores.
O sentimento, também, de estar apaixonado pelo terapeuta, do qual já falamos anteriormente, se dissolve definitivamente
com o insight de que ele não tem nada a ver com a pessoa do terapeuta, mas com a maneira, o percurso junto no qual todos
estamos engajados.
***

Ao fechar este primeiro capítulo da segunda parte, eu gostaria de recontar algo sobre um cliente que entrou em contato
com o problema do poder e teve que aprender como lidar com ele.
O uso de enteogenos pode ser muito útil, mesmo em tais casos, ao empurrar pra frente para a parte mais intima de seu
núcleo, e para o confronto que surge neste ponto. Quando envolve uma experiencia do âmago, uma substancia psicodélica é
mais apropriada que um empatogênico, já que o psicodelico é mais capaz de comunicar profundos insights sobre estas coisas.
Anton se encontrava perto do fim de seu processo de psicoterapia. Ele havia estado por vários anos intensamente ocupado
consigo mesmo. Ele havia tido algumas experiências psicolíticas e juntamente com algumas discussões individuais com o
terapeuta havia participado das mais variadas experiências de grupo. Os problemas mais difíceis com ele mesmo tinham sido
vencidos, sua vida estava aparentemente estável novamente e reorganizada da forma que ele queria enquanto seus
relacionamentos estavam em paz. Ele ainda estava dando o toque final em perguntas bem formuladas, mas era capaz de andar
o resto do caminho sozinho. No grupo que ele freqüentava toda semana, assim como nas ocasionais sessões individuais que
tínhamos, havia muita conversa sobre partir e sobre deixar fluir.
Anton descobria cada vez mais sua própria força, sua própria vontade, suas qualidades e capacidades e com isto se tornou
muito mais forte em seus relacionamentos. A mesma coisa acontecia na terapia de grupo também. Ele assumia cada vez mais o
papel de co-terapeuta, que naturalmente causava inveja e confronto com os outros membros do grupo sobre questões de
autoridade. Sua situação havia mudado tanto, mesmo no trabalho, que ele se viu de repente confrontado cara a cara com
tarefas que exigiam liderança.
O confronto com o poder havia começado. Neste ponto, Anton aprendeu fácil e rapidamente, tropeçando somente
algumas vezes em seu entusiasmo em querer puxar os outros consigo. Então, quando os outros o rejeitavam, ele se
confrontava novamente com a solidão.
Ele foi confrontado com todo este problema de forma muito seria durante uma sessão com um psicodelico. No inicio ele
experienciou, pela primeira vez uma enorme expansão e sentiu toda sua força. Ele se iludiu por uns instantes se vendo como
Deus e começou a pregar fervorosamente para os outros, seu sermão, é claro, mesclado com seu medo do imensurável com o
qual ele havia entrado em contato. Por causa disto, seu discurso era um tanto agressivo e despótico e, pela mesma razão, ele
era rejeitado pelos outros. Esta rejeição o trouxe de volta para a terra onde ele começou humildemente a perceber que ele não
poderia dominar o mundo inteiro, mas que ele só poderia se entregar ao mundo. O trabalho com a tristeza relacionado a esta
experiência, e o sentimento de vergonha com relação ao grupo, o
levaram um pouco mais pra frente em seu percurso.
***

Aqui, onde eu trabalho hoje, corrigindo meus manuscritos, adicionando uma coisa aqui e ali, mudando e expandindo-o
uma tempestade se irrompeu. Para um dia de junho está extremamente quente. O dia todo parece mos espremer com umidade
e um peso. Não se consegue enxergar muito longe. O lago à distância e a paisagem montanhosa que marca o horizonte
encobertos de uma bruma azulada. Uma briza leve se move nas folhas e galhos das arvores e arbustos ao redor do nosso local
de trabalho. Assim como nós, as lagartixas também se banham na quentura do meio- dia. Reina uma paz única. No céu algo
parece estar sendo tramado. Um barulho de trovão, que se ouvia ocasionalmente por volta do meio dia, chega mais perto.
Grossas e escuras paredes de nuvem se formam ao sul e a oeste elas formam torres brancas, enquanto que ao norte e a leste
hordas de forças militantes parecem se unir no céu que de repente parece dominar toda a paisagem. Tudo ma terra se recua
para o subsolo ante um enorme poder eminente. Inicialmente o sol ainda brinca com seus vapores escuros iluminado por
muitas cores cujas bordas são de uma intensa cor dourada, mas logo isto desaparece rápida e completamente. A escuridão
toma conta, as cores parecem mais ameaçadoras, as nuvens parecem perseguir umas às outras de forma mais ativa. As
primeiras gotas começam a cair. Cheira a verão.

61
2 Sobre o fascinio do inconsciente
Eu gostaria de começar este capitulo também com uma estória sobre fronteiras.

Contaram-me uma historia sobre um pais único que deve existir em outra realidade, e não na realidade material que
conhecemos. Por causa disto, a fronteira, que tem que ser cruzada por qualquer um que queira viajar por lá, não é fácil de
achar. Muito se disse sobre esta terra. As conversas são parcialmente sobre seus perigos, mas inicialmente ouvem-se estórias
espirituosas sobre ela que despertam interesse e desejo. Muitos, portanto gostariam de alcançá-la, muitos anseiam por esta
terra e alguns até fazem o percurso até ela. Mas tendo que procurar a entrada dentro de si, a maioria das pessoas receia
fazê-lo também. O desejo de chegar a este país deve criar a trilha que guiará a pessoa até sua entrada. Um grande número
de pessoas que fazem o percurso até lá, faz com que sejam desviados por seu desejo que uma companhia tão sedutora. Ele
aponta para todas as possibilidades no percurso que são meio caminho andado para a satisfação, sussurrando em seu ouvido
que esta é a porta que você estava procurando, portanto aquele que procura se perde facilmente em tudo que encanta seu
coração, e o objetivo é rapidamente esquecido.

Quem quer que realmente chegue lá, contudo, cai por seu próprio centro como se por um buraco negro. Ele morre lá,
completamente solitário e perdido, se dissolve em dor e em agonia e então renasce em outra dimensão. Ninguém sabe como
realmente é aquela terra desconhecida. Quem quer que retorne de lá está com certeza prazerosamente mudado. Para ele é
como se ele tivesse tido um sonho prazeroso. Contudo é um sonho que foi agora esquecido. Quem quer que esteja lá não pode
estar aqui ao mesmo tempo, e então acontece que, ao tentar fazer seu percurso até lá, somos obrigados a correr riscos
novamente.

Para ilustrar o inacreditável fascínio daquilo que não está normalmente acessível a nossa consciência, eu gostaria de mais
uma vez relatar sobre uma experiencia que tive muitos anos atrás. Tem a ver com uma ruptura no "ver". Isto é, abraçar nossa
realidade objetiva de uma forma completamente diferente do normal. Apenas com a forma normal de ver, nossos olhos são os
agentes desta forma de ver também. Ao mesmo tempo, a percepção acontece com todo o corpo, com todos os sentidos, ou
mesmo com todas as energias inerentes a nós. Portanto é na verdade a oscilação de energia que pode ser vista.

Como geralmente ou talvez como sempre acontece, uma importante ruptura é precedida por uma fase de confusão, de
impotência, de desespero. Chega-se ao fim, não se sabe mais e deixa-se fluir, que é a única coisa que possibilita transcender
para outro nível. Todas as estórias pessoais que eu mencionei neste livro têm a ver com tais rupturas, que ocorreram
exatamente no momento em que os conceitos mantidos até então não podiam mais segurar aquilo que a consciência agora
estava em processo de absorver.

Foi durante uma oficina de grupo da qual participei, no sul da França. Eu estava envolvido em um relacionamento sem
sucesso e estava também sobrecarregado com muitos outros problemas, quando cheguei a tal passagem, sem saída. Neste
estado de espírito eu participei de um ritual de um psicodelico dentro dos limites desta oficina. Sob sua influencia eu fui
fortemente confrontado por este bloqueio. Eu me senti completamente restrito, incapaz, em desespero. Depois de eu procurar
em vão todas as possíveis vias de escape, quando nada mais parecia ajudar e eu estava realmente afundando na desesperança,
o mundo de repente se abriu de uma forma que eu nunca havia percebido. De alguma forma eu havia deixado fluir, que me
permitiu cair num estado de consciência no qual por um momento, eu me senti totalmente livre e liberado. Eu estava ao ar
livre no meio da maravilhosa terra de Provence, quando de repente eu percebi que esta paisagem era uma das muitas
dimensões simultâneas dentro umas das outras que existia no mesmo lugar. Eu reconhecia, apenas vagamente, outras
perspectivas que pertenciam ou ao passado ou ao futuro ou a uma outra dimensão completamente diferente da dimensão
material. Todas existiam simultaneamente no aqui e agora. O mundo material havia se tornado transparente e eu vi através da
terra percebendo apenas a energia passageira, que havia se condensado temporariamente em estruturas materiais.

Ao mesmo tempo, me conscientizei nas ligações energéticas entre eu e os outros membros do grupo que tinham assim
como eu vagado pela paisagem. Era como se estivéssemos ligados pelos nossos estômagos através de um tipo de tubulação
interna ou fios iluminados que se ligavam mesmo a grandes distâncias. Eu também vi os campos de energia dos outros e
parcialmente, o meu próprio.

Logo em seguida, um membro do grupo, que eu sabia que tinha obviamente tendências paranóicas, chegou perto de mim.
Eu fiquei no limite da trilha, e olhei para a pessoa, enquanto observava a forma em que ela lentamente se aproximava de mim.
Eu a via, mas ao mesmo tempo, eu também via seu campo energético. Ele estava enormemente expandido, como uma enorme
bola, com cinqüenta metros ou mais de diâmetro em cujo centro a mulher se movimentava. Este campo energético continha
incontáveis mísseis que pareciam espadas que - eu reconhecia em um flash - eram causados por sentimentos que a pessoa
havia tentado negar e desconsiderar. Eu também reconhecia de

62
passagem como esta negação se mostrava nela tanto corporalmente como também através das expressões faciais.

Eu estava naturalmente perplexo por conta desta nova forma de ver as coisas. Por um momento meus próprios problemas
desapareceram completamente. Contudo, os mísseis pretos e similares a uma espada que chegavam até a mim e começavam a
forçar sua entrada em mim me assustavam. Naquela época eu não sabia que enquanto eu permitisse que elas voassem pelo
meu campo de energia, elas não poderiam fazer qualquer coisa comigo, mas que, se eu tentasse ir contra, elas se prenderiam a
mim e eu teria então que lutar contra o conteúdo destes sentimentos repudiados. Eu tentei me proteger contra eles e o resultado
foi que fiquei preso e infectado. Por causa disto a "visão" desapareceu imediatamente, tão rapidamente quando ela tinha vindo,
e eu caí em um terrível estado de alienação e exclusão como nunca tinha acontecido antes. Apesar de ser verão, ficou
extremamente frio. Eu achei que iria congelar. Somente num confronto posterior com o terapeuta, onde tudo estava muito
confuso, eu retornei ao meu estado normal.

Provavelmente, há anos você esta preocupado, em psicoterapia com seus sentimentos. Você tem se preocupado não
apenas com seus sentimentos mas também com tudo que você experienciou, diversas vezes, em um determinado momento,
que significa que, com a totalidade de sua percepção, isto inclui sentimentos, acontecimentos psicossomáticos, pensamentos e
percepções de todo o processo externo e tudo que ele gere. Através da presença de um psicoterapeuta, que de alguma forma
era mais completo e total que você, ou que lhe mantinha em rédea curta, você entrou em contato, repetidas vezes com "o que
é" e isto abriu os compartimentos do inconsciente para você. Então ao longo do caminho, você também reconheceu onde seu
terapeuta era genuíno e onde as abstinências psicoanalíticas eram não apenas uma defesa contra os medos dele e uma
expressão de seus limites, mas também um espelho de você mesmo, e com esta percepção, você se tornou igual a ele. Andar
por estes cômodos do inconsciente e explorar todas estas experiências era importante, até que todas as implicações pessoais,
sociais, históricas e transpessoais fossem entendidas. Agora tudo isto está muito claro. Porém você também vê entender não é
o objetivo, a abertura do inconsciente coletivo não é a ultima revelação, apenas um efeito colateral inevitável, e isto é até um
perigo de entrar em cômodos tão fascinantes. Mesmo quando você atingir capacidades de clarividente ou as habilidades de um
médium, você vai perceber que deve novamente abrir mão destas coisas quando elas ameaçam colocar em perigo seu
desenvolvimento futuro. Todo o inconsciente por mais brilhante e rico que possa parecer, no final das contas contêm as
mesmas trivialidade quanto o consciente. Ambos são restritos da mesma forma que o pensamento que os criou, é restrito. Seu
verdadeiro objetivo é entender precisamente esta limitação de pensamento, em romper a restrição do "eu" e em se abrir para o
imensurável, para o maravilhoso, para o eterno presente, que gostaria de penetrar no inconsciente, sempre novamente. Seu
verdadeiro objetivo é pisar nas fronteiras do entendimento e ir para o inominável, para deixar a miséria da vida se tornar
visível para você.

Com este entendimento, todos os cômodos internos que haviam sido abertos, se fecharam mais uma vez, o que significa
que eles permanecem abertos apenas para deixar que você obter a luz que você precisa e que vem de lá, só que você não pisa
mais nele. Através da percepção do "que é" abre o único verdadeiro cômodo, o espaço absolutamente verdadeiro que une o
interno e o externo, de momento a momento, no fato de que o interno e o externo se tornam totalment idênticos, onde a
separação entre o observador e o observado desaparecem completamente e abre-se uma expansão infinita e imensa, que é ao
mesmo tempo um movimento infinito e imenso. Você toma o universo como uma de suas posses ou ainda melhor se permite
ser possuído por ele. Somente neste espaço verdadeiros relacionamentos podem acontecer, porque cada um que entrou nisto
encontra o outro que também pisou nisto, exatamente no mesmo lugar, ou seja, no aqui e no agora, e porque nenhum deixará
mais o movimento do aqui e do agora. Você finalmente se liberta de todas as ideologias pessoais, conceitos,
condicionamentos, preconceitos, avaliações e assim por diante, os quais lhe prendem em um universo completamente pessoal
no qual você não pode realmente encontrar ninguém além de você mesmo, e você se abre para "o que é", penetra no
verdadeiro universo, que todos compartilhamos e que lhe permitirá ter relacionamentos verdadeiros pela primeira vez. Como a
maioria das pessoas está, contudo, imprisionada em sua própria forma nebulosa de ser, você freqüentemente ficará sozinho lá,
sozinho no meio dos outros.

Quando você se encontra em uma situação que não parece bem certa para você, tanto uma situação profissional, um
relacionamento ou qualquer outra coisa, sempre vale a pena voltar para o começo do caso a fim de entender o que o levou a
esta situação.no começo você sempre encontra uma falsa decisão em virtude de confusões, medos e etc. que você tem que
corrigir, que você tem que reconhecer, a fim de que sua vida volte ao normal. Mesmo se, por exemplo, como criança, você
fosse muito desatendo para ter decidido conscientemente, mesmo se você estivesse talvez, na época, exausto e impossibilitado
de assumir as coisas, cabia a você desistir e perder contato consigo mesmo, com seu amor e verdade. Com certeza é um peso
não ter sido amado, ou ter sido negligenciado ou ter sido confrontado com a violência, porem se desistirmos de nos mesmos
por causa disto, é porque foi, de uma certa forma, uma decisão nossa. Quando procuramos bem no fundo destas coisas, nós
reconhecemos de qualquer maneira e com uma acuidade crescente, que, no nível espiritual, somos nós que determinamos o
curso de nossas vidas mesmo se tivermos esquecido disto.

É importante ser absolutamente claro sobre isto porque é aqui que estão nossas verdadeiras liberações. Temos que

63
aprender a voltar e nos mantermos por nós mesmos e pelo amor. Ser amado nos ajuda em nossa cura, porem somente
quando aprendermos a amar novamente e que realmente nos libertamos.

Ser pego na fascinação de alguém pelo transpessoal ainda é escapar de si mesmo e do verdadeiro destino. Projetar a
consciência de alguém em identificação com tudo pode ser bem significativo, a fim de aumentar o entendimento do todo em
uma pessoa e dissolver os nós e entrelaçamentos em uma pessoa. Porém se eu me ocupar primariamente com isto por que isto
me ajuda a escapar de mim mesmo e da minha situação altamente pessoal no momento, eu perco a essência de meu chamado.
Também é sempre impressionante ver como podemos usar tudo que encontramos no caminho como defesa, mesmo aquilo que
tomamos como amor, quando na verdade nada sabemos sobre ele. Mesmo o amor pelos outros pode ser uma escapatória se
desconsiderar alguém, se ignorar a forma de ser de alguém. Se eu amar porque prefiro estar com os outros que sozinho, algo
não está muito certo. Significa que há algo em minha vida que eu preciso por em ordem. Neste caso meu amor não é bem
amor mas apenas permanece apenas uma escapatória um vicio. Somente em um estado de amor se é completo com os outros,
porque se é completo consigo mesmo; neste estado de amor você esta totalmente consigo mesmo, enquanto está totalmente
com os outros.

Deste que o problema básico por trás de todos os problemas - a integração da solidão - não for resolvido e enquanto você
fugir dele, você termina, por diversas vezes em um vicio. Portanto o problema do vicio é o maior problema de nossa sociedade
em todos os níveis. Nós somos uma sociedade viciada. Toda a luta para classificar problemas humanos em diferentes
perturbações psíquicas tem apenas uma superfície de validade. Quando penetramos mais profundamente sempre encontramos
apenas um problema, que na superfície se mostra das mais variadas formas: o problema relacionado com o vicio, a escapatória
da solidão, do medo de não ser amado.

Como a comparação mencionada anteriormente com Don Juan, nos trabalhos de Carlos Castaneda, há outras descrições
da forma que constantemente tenta-se mostrar qual o verdadeiro objetivo e alertar sobre os perigos envolvidos, como por
exemplo, o fascínio que surge do inconsciente coletivo. A seguinte passagem reproduzida de " Mapas para quem busca " que
acredita-se foi composta por um mestre Sufi Al Ghazali, 1000 anos atraz, faz o mesmo:

1.O primeiro vale - O vale do conhecimento.


Aqui quem acumula conhecimentos está preso. Falta a capacidade de entender e de estar alerta.

2.O segundo vale - O vale do arrependimento.


Com o despertar vem um poderoso sentimento de arrependimento sobre as coisas que fizemos erradas. A nossa
verdadeira consciência desperta, não a que a sociedade nos impôs. Aqui, aqueles que permanecem culpados, que tão muito
peso ao passado ficam emperrados. Aquele que vê o que fez de errado, e percebe ao mesmo tempo que agiu sem consciência,
vai mais longe.

3. O terceiro vale - O vale dos obstáculos.


Há quatro deles:
- a "tentação mundana " que podem drenar nossa energia.
- a "dependência das pessoas", que, é claro, não significa viver juntos: ou amar;
- o "intelecto", que Al Ghazali chama de Satã. O intelecto é um mecanismo que originalmente deveria ter garantido
nossa sobrevivência, mas que tomou a cadeira de diretor e agora, usando qualquer meio, dirige em direção a própria
sobrevivência. Ele se tornou nosso mestre, e nos seus serventes.
- o "ego", um dos maiores obstáculos no caminho dos que procuram. O errado é lutar contra o "eu".Entendimento e
insight do mecanismo do "eu " são suficientes.

4. O quarto vale. - O vale dos tormentos.


Nós vimos para o domínio do inconsciente. A jornada agora se torna mais difícil. Nos entramos em um mundo maluco,
que escondemos de nós mesmos. Nos podemos conseguir sozinhos, sem um mestre até o terceiro vale. Agora, é importante
termos um. Ainda nem temos nossa própria luz e torna-se escuro. "A noite escura da alma" começa, também conhecida como
a "meia-noite da alma". Pode-se ficar preso aqui quando a dúvida, entrando seriamente pela primeira vez, toma o comando.
Mesmo quando você procura mais luz, fica escuro! Não se sabe mais nada. Desaparece o chão sob os nossos pés. Agora
sentimos: "talvez tudo esteja errado, talvez não exista nenhum Deus, talvez eu me enganei, talvez eu esteja fazendo algo
completamente errado. Era melhor possuir as coisas, ter tido uma reputação, ter curtido o poder, o dinheiro, a sexualidade".
Quem está sem um mestre aqui, que constrói uma defesa, - também contra

64
a "grande morte" da qual um primeiro lampejo aparece aqui - será jogado de volta ao terceiro vale e o medo que ele
desenvolveu fará com que ele não tente subir novamente.

O quinto vale - O vale do trovão.


No quarto vale se vinha para dormir, agora se vem para morrer. Ou em terminologia moderna: no quarto, entra-se no
inconsciente pessoal, no quinto pisa-se no inconsciente coletivo. Agora se tem medo de se perder a individualidade. No
quarto, perde-se a luz, mas ainda se está lá, no quinto nos perdemos. É o maior pesar que se pode sentir. O que é negativo
aqui é se prender ao self. Neste estágio o que os Sufis chamam, "Fana" entra no jogo: "morrendo". Temos que nos
prepararmos para este desaparecimento, não apenas estando pronto para ele, mas com um profundo senso de boas vindas, de
prazer e da própria liberdade. Neste ponto pode ficar claro, o quanto é importante se comunicar com o mestre.

6. O sexto vale.- O vale do abismo.


No quinto vale, nos aproximamos da morte, no sexto, a morte entra. Passa-se pelo vácuo. Passa-se pela maior dor e não
consegue acreditar, pois até certo ponto se é, e até certo ponto não se é mais. O paradoxo é levado ao extremo. Para os
cristãos é a crucificação, os Hindus a chamam de "samadhi", no Zen é "satori". A parte negativa é a reclamação, o
murmúrio. A parte positiva é um profundo agradecimento.

7. O sétimo vale - O vale dos hinos.


O renascimento, a ressurreição, acontecem. A dualidade desaparece. A unidade surge em seu lugar. O homem se tornou
aquilo que ele sempre foi.

Aqui está um resumo de um relatório pessoal para acompanhar isto, de uma de nossas sessões de treinamento na
Sociedade Medica de Psicolíticos na Suíça que nos fundamos para nosso crescimento pessoal e profissional.

Pode-se tomar substâncias a fim de ter novas experiências sempre e vagar pelo fascinante domínio do inconsciente.
Muitos fazem isto, mas isto não leva a muito além de mais confusão.
Contudo, pode-se usar substâncias para entender melhor o que se é, como um todo, sem ter que ficar conhecendo- se
separadamente, e sem querer mudar-se. Então o entendimento "do que se é" se desdobra mais e mais. Nada pode ser
mudado, ou seja, as mudanças sempre são possíveis apenas na superfície, não profundamente. Basicamente apenas um
entendimento "do que é" é possível e ai está o fim para "o que é", nós todos fazemos jornadas similares: todos ficamos
conhecendo os sentimentos e pensamentos que uni o nosso mundo, nosso consciente e nosso inconsciente, que constrói nossa
historia e nosso futuro e assim por diante. Não nossos pensamentos e sentimentos pessoais, mas o impessoal, que pertence ao
consciente humano geral. No inicio não vemos isto. Inicialmente consideramos tudo como experiências nossas e altamente
individualizadas. Portanto nos também aprendemos primeiro sobre nosso ser pessoal, nossa historia pessoal.até que através
de nosso entendimento de nascimento e morte (não ao nível do pensamento mas através de insights), nos forçamos a entrada
nas regiões transpessoais.
Aqui devemos distinguir entre dois campos principais. Primeiro ficamos conhecendo tudo que tem a ver com o impessoal
a condição humana geral de"ser": historia, evolução, cultura, política, guerra e assim por diante. Depois quando isto
também está entendido nós eventualmente alcançamos o ponto onde nada permanece, quando entendemos tudo; há o vazio,
inicialmente um vazio morto, depois um vazio que é cheio. Neste ponto tudo que fica além da confusão transpessoal se abre,
ou em outras palavras, o que inclui o transpessoal com tudo mais no todo: aquilo que não pode mais ficar junto por
pensamento e tempo, ou seja o entendimento infinito do universo em seu eterno movimento, e o amor.

***

Para encerrar este capitulo, eu gostaria de mostrar, com a ajuda de um estudo de caso, como substâncias psicolíticas que
podem ser bem úteis também são mal utilizadas e podem levar alguém a ficar perdido em fantasias e nas regiões do
inconsciente.

Erwim era quase mais um amigo que um cliente, uma daquelas pessoas que não chegaram até a mim da forma normal,
ou seja, pela minha prática, mas alguém com quem entrei em contato através das circunstancias da vida. Ele era um tanto
mais jovem que eu e o que nos uniu foi nosso interesse comum por enteogenos. Porem a forma como ele lidava com elas não
a de um guerreiro impecável, como diria Don Juan nos trabalhos de Castaneda mas a de um viciado. Ele alguma vezes
ingeria as mais variadas substancias psicodélicas varias vezes por semana e ficava

65
entusiasmado com cada novo efeito. Ele não conseguia distinguir entre uma boa substancia, que seria útil para o
trabalho, e uma substancia destrutiva, que só causava confusão. Ele mesmo vivia em uma tremenda confusão e era
extremamente caótico em seu ser e em sua forma de viver. Estar com ele exigia muito esforço, porque ele dispersava energias
que carregava com ele em sua aura e eram muito infecciosas e exigiam muita atenção e vigilância. Diagnosticamente, ele
teria sido considerado uma personalidade fronteiriça, com claras tendências paranóicas. Seu entusiasmo tinha a ver com
suas fantasias e com o inesgotável fluxo de imagens que surgiam das profundezas de seu inconsciente. Ele as perseguia. Em
seus pensamentos ele viajava por universos e conhecia os mais loucos dos mundos. Seu objetivo era o prazer; he celebrava o
hedonismo; a vida e a existência eram para ele uma grande piada, que ele celebrava com um constante sorriso no rosto que
tinha quase se congelado e se transformado em uma máscara. Ele lidava mal com a proximidade, na verdade ele escapava
dela constantemente. Da alegria tranqüila, da reverencia e do amor ele nada sabia e nem fazia idéia do que fosse.
Através dos anos, he tramava para engolir os mais diversos alucinógenos - considerando sua forma de empregá- los este
seria o termo certo - sem realmente ir mais fundo em seu ser, em seus sentimentos. Ao contrário, o uso das substancias tinham
a muito se transformado em parte de sua defesa. Ele tinha se perdido no reino de suas imagens, ele estava satisfeito com o
labirinto tortuoso, e não temia nada, mais do que ter que sair dele, e pisar no universo real com sentimentos verdadeiros e
relacionamentos genuínos.
O exemplo acima mostra como mesmo este recurso pode ser mal utilizado, apesar deste ser um caso meio raro.
Normalmente não se tem sucesso em aproveitar a substância inteiramente a serviço da defesa psíquica de alguém. Mais cedo
ou mais tarde se invade o temido espaço dos sentimentos. Uma pessoa acostumada ao mal uso teria, neste ponto, em ultimo
caso, que se afastar de tais substancias, ou teria que se entregar e aprender sobre si mesmo.
Assim foi com Erwin também. Depois de anos de confrontos incidentais e meio-terapeuticos ele começou, ainda que
gradualmente, a se aprofundar na realidade de seus sentimentos. Ao fazer isto, ele foi ajudado pelo fato de que o mal uso
destas substancias lentamente o exauriu, o que evitou que ele mantivesse o entusiasmo que também era uma defesa. Seguindo
uma fase de reflexão e depressiva, que durou alguns anos e na qual ele teve que reformular sua vida,
ele lentamente encontrou o caminho para seu verdadeiro ser.
***

Eu tirei uma folga do árduo trabalho de corrigir meus manuscritos, com uma caminhada de lazer que me levou para uma
trilha bem fechada pela vegetação e que se fechava cada vez mais à medida que me aprofundava na floresta de castanheiras. É
uma pequena floresta bem charmosa formada por muitas castanheiras. Há enormes arvores perto de troncos amarrados
parecendo duendes dos quais surgem incontáveis pequenos galhos. Outros crescem como arbustos ou em fileiras como
pequenas faias. Todas juntas criam um telhado de folhas pelo qual passa a luz do sol da tarde. Está agradavelmente fresco aqui
dentro. O chão está coberto de samambaias, cada uma se protegendo sozinhas e crescendo estranhas e luxuosamente altas na
direção da luz. As mais altas escalam a montanha, quanto mais calma mais intocada a floresta. Da pra sentir que raramente
alguém vem aqui. Aos poucos uma clareira permite uma visão do vale e do lago e do céu e o teto de folhas é refletido em uma
pequena lagoa escura.
Em um certo local, a floresta cria uma grossa parede de folhas contraria à trilha desgastada que quase lhe atenda a forçar
passagem por entre ela revelar seus segredos escondidos. De fato um esconderijo fascinante se encontra aqui. Uma pequena
trilha, quase invisível, leva até a parede verde viva e bem de repente, você está numa terra de fadas. Uma tranqüilidade muito
especial reina aqui. Uma atmosfera muito especial. Aqui também as castanheiras florescem misturadas com bétulas e
ocasionalmente com arvores como o pinheiro. O leito seco de um córrego perfaz seu caminho tortuoso pelo chão coberto de
musgo, que aqui, apenas ocasionalmente é coberto de com samambaias. Ao invés há incontáveis pequenos arbustos com frutos
azulados. No meio desta terra de contos de fadas, limitado pela floresta remanescente, encontra-se uma enorme castanheira
oca muito crescida em todas as direções, com um tronco com vários metros de largura.
Fica-se estático ao se entrar neste lugar e prende-se a respiração. É difícil dizer do que constitui a estonteante beleza desta
pequena clareira. Ela transpira algo extraordinariamente fascinante, como os contos de fada, encantadores. De alguma forma,
tudo parece correto. Sente-se algo sagrado, algo maravilhoso, mas também algo misteriosamente incomum que não pode ser
explicado. Quase não se tem a coragem de ir adiante, poder-se-ia ficar aqui para sempre.
Porém, contudo quando, depois de algum tempo, toma-se o caminho novamente, chega-se, após a ultima escalada, ao pico
da montanha, de onde se pode sair da floresta, sob o céu livre, onde a vista do lago e suave paisagem das colinas se abrem. E
agora, sente-se que realmente chegamos e pode-se deixar seduzir pela idéia de descansar ao lado das pedras que permanecem
convidativamente no caminho.

3 Sobre relacionamentos e sexualidade


Aqui está ainda mais uma estória para introduzir o tema de relacionamentos e, com sempre, ela tem a ver com fronteiras.
Dois homens deixaram suas famílias para viajar para uma terra estranha e distante onde eles queriam fazer

66
negócios. Ao contrario das expectativas eles não voltaram na hora marcada. Ninguém sabia o que tinha acontecido com
eles. Suas duas esposas esperavam. No inicio os amigos das esposas ficavam ao lado delas, muito preocupados; depois de um
tempo, contudo, eles aconselharam as esposas a esquecerem seus maridos. As duas mulheres esperaram mais um tempo.
Lentamente rumores chegavam de que os maridos tinham se estabelecido no estrangeiro e constituído família com outras
mulheres. Ou que eles tinham se acidentado ou algo similar. Uma das mulheres se deixou persuadir pelos amigos. Ela
esqueceu seu companheiro e se uniu a um outro, com o qual se sentia tão feliz e satisfeita quanto tinha sido anteriormente
com o marido agora desaparecido. A outra mulher esperou mais, porem seu marido não apareceu, mesmo assim ela esperou,
ele nunca vinha, ela esperava.
Ela esperava porque lá no fundo ela sentia que deveria esperar. Ela sentia que a estória ainda não havia ainda chegado
ao fim. Finalmente ela desistiu de todas as esperanças, mas não de sua espera.
E olhem, um dia ele apareceu. Ele chegou, livre da prisão na qual tinha caído no estrangeiro, ele e seu companheiro. O
outro até o momento tinha se acostumado no estrangeiro, tinha conhecido outra mulher e tinha ficado por lá. O marido desta
mulher ao contrario, tinha voltado, porque ele tinha sentido que sua mulher estava esperando por ele.
Em seus relacionamentos também, tudo para o que você havia se preparado por um longo período de confusão, se tornará
realidade. Você não mais entrará em um relacionamento por dependência novamente, porque você aprendeu a olhar a solidão
nos olhos e não mais a evitá-la. Você conheceu e aceitou a solidão, a liberdade e o amor e somente deste ponto é que você
agora entra em seus relacionamentos, negando tudo que não corresponde à totalidade. Você não usa mais a violência para
moldar seus relacionamentos, você não força mais nada, você está pronto para deixar as coisas acontecerem. Desta forma seus
relacionamentos não são mais marcados pela dependência, que é motivado pelo movimento que diz: "você deve, você não
deve, você pode, você não pode". Muito mais que isto, estes relacionamentos são recebidos por um movimento
completamente diferente que diz: "eu quero ou eu não quero", e daí por diante eles se unem em um caminho em conjunto a
uma descoberta em conjunto do que realmente quer acontecer entre você e os outros e em uma maior preparação para deixar
realmente acontecer mesmo quando aconteçam coisas diferentes daquelas que você consideraria certo acontecer para você.
Sua vontade se sintoniza cada vez mais com a energia, com a vontade do todo.
Relacionamentos são muito importantes em nossas vidas de duas maneiras. Por um lado, a maioria de nos sofre
silenciosamente neles e por causa deles, e por outro eles oferecem um grande potencial e serve enormemente para inseminar e
estimular nosso crescimento espiritual. O relacionamento homem-mulher via de regra nos causa grandes problemas. Eu já
falei algo sobre isto. Aqui eu gostaria de resumir mais uma vez e completar o que disse.
Via de regra, vemos o significado de nossos relacionamentos com nossos parceiros como um preenchimento de nossos
desejos e necessidades. Para mim, isto parece ser enganoso e falso; na melhor das hipóteses isto constitui um efeito colateral
positivo. Em minha opinião, o significado de relacionamentos está na habilidade deles de nos confrontar com o que nós temos
que aprender sobre nós mesmos no encontro com o "você", e nos ajudar a descobrir quem realmente somos, e como podemos
viver em paz um com o outro. Isto é verdade sobre relacionamentos em geral e nos relacionamentos homem-mulher em
particular. Se os considerarmos como instituições para a satisfação de nossas próprias necessidades, é porque estamos fugindo
do medo de sermos abandonados, de nossa solidão da fome insaciada por satisfação, resultante de falhas na primeira infância
e estamos procurando por segurança e proteção que não podem ser perdidas. Por causa disto, transformamos todos os nossos
relacionamentos em prisões, especialmente relacionamentos matrimoniais e relacionamentos baseados em laços familiares.
Nós nos prendemos um ao outro numa dependência mútua, dominamos e possuímos um ao outro e deixamos o ciúme reinar
no lugar da afeição e do carinho. A violência, a miséria e o vicio que resultam disto são bem conhecidos.
Não há nada especial sobre reagirmos com ciúme quando somos abandonados ou quando nossos parceiros se voltam para
uma outra pessoa. O verdadeiro problema é que nós justificamos nosso ciúme, suas demandas se tornam leis em nossos
relacionamentos e nós falhamos em vê-lo como um traço humano difícil que precisa ser abordado com boa vontade e
interesse. Nenhum processo de relacionamento pode acontecer desta forma, já que leva a supressão. Quando observamos o
processo interno em nossos relacionamentos de forma precisa, descobrimos que não é amor e afeição, nem atração sexual ou
simpatia, que são os elementos mais constringentes em nossos relacionamentos, mas nossa tentativa de nos vingarmos de
nossos parceiros pelo que nos foi feito antes.
Nós vivemos em um tempo de grande confusão, especialmente no que se refere a relacionamentos e sexualidade. Esta é
em si, uma grande oportunidade que, contudo - e realmente acontece desta forma - leva a grande caos quando nosso interesse
maior não é o crescimento de nossa consciência. Suas conseqüências são todas as aberrações como se experiencia hoje em dia
em relacionamentos e sexualidade.
Eu não quero fornecer uma receita para resolver estes problemas, eu não quero me sucumbir ao perigo de formar um
novo conceito sobre como deve ser. Um conceito que por sua vez surge apenas do medo da insegurança e que nos leva a um
novo espaço, talvez um pouco mais habitável, que de qualquer forma é uma prisão. Eu não acho que exista uma solução
coletiva, há apenas soluções pessoais. Para alguns, uma coisa está certa, para outros, uma outra esta. Mesmo no curso de uma
vida grandes chances podem acontecer. Durante os meses que eu estive trabalhando neste

67
livro, por exemplo, um maior progresso já aconteceu em minha vida pessoal. Contanto que não nos paralisemos, somos
governados por constantes mudanças, uma continua renovação que nos leva a novos e maiores insights. Por causa disto, eu
tive que desenhar uma linha em algum lugar a fim de trazer o livro para um fechamento e dizer: "Este é o fim do livro, mas
não o fim do meu desenvolvimento".
Dependendo de onde você esteja neste momento, no desenvolvimento de sua consciência, uma forma diferente de vida
poderia ser certa para você. É exatamente ai que está o maior problema: que simplesmente não queremos aceitar isto. Não
queremos reconhecer que relacionamentos podem chegar a um fim, apesar de experienciarmos isto, entra dia sai dia. Não
queremos reconhecer que nossas necessidades mudam com o passar do tempo. Não queremos ver que nós temos pouco
controle sobre quando e onde e com quem perdemos nosso coração. Varias vezes encontramos nossa inabilidade de aceitar a
incerteza, transformação e mudança como fatores principais em nossas vidas em geral e em particular em nossos
relacionamentos. Não podemos reconhecê-lo quando nossos parceiros têm que tomar uma nova rota porque se sente
compelido a aprender algo diferente do que poderia aprender conosco. Não podemos dar ao outro o direito de decidir na vida o
que é necessário para o próprio crescimento. E, portanto, não experienciamos verdadeira segurança em nossos
relacionamentos mas apenas miséria e frustração.
Eu também reconheço outra grande dificuldade. Que é não conseguirmos diferenciar entre o plano do coração e o plano
sexual e constantemente confundirmos os dois. Do meu coração, eu posso amar todo mundo contanto que eu ame totalmente.
Aqui todos estão incluídos, já que eu sou mais verdadeiro ao amor em si do que para a pessoa que eu amo. Todo mundo tem
um lugar, ninguém precisa se sentir excluído. O nível sexual também está incluído aqui. Porém assim que eu decido entrar nos
relacionamentos pelo outro nível (do nível sexual exclusivamente), outras leis começam a entrar em vigor, outra ordem deve
ser encontrada. Finalmente apesar de todas as tentativas ao contrario só se vai pra cama com uma pessoa de cada vez, que
equivale a dizer que neste nível, alguém fica de fora, neste nível eu tenho que decidir, neste nível fidelidade é para uma certa
pessoa, e não para um principio. O nível sexual é também um nível muito mais escravizador. Se pensamos nisto ou não, com
cada conexão sexual nos poderíamos, através da criação de uma criança, produzir uma situação que nos prende por vários
anos e nos envolve em uma responsabilidade. Portanto precisa-se de uma ordem completamente diferente a este nível, que não
significa necessariamente fidelidade, especialmente não o tipo de fidelidade forcada, mas uma forma mais direta e verdadeira
de lidar um com o outro desde o começo. Se aprendêssemos a nos conhecermos e nos expressarmos a cada momento em
nossos relacionamentos, por um lado e por outro a aceitar dos outros o que cada um de nos quer, o que ele realmente quer e o
que não quer, já ajudaria muito. Se nosso querer e não querer pudesse formar o movimento de nossos relacionamentos no
presente, ao invés do "você deveria" e do "você não deveria", e colocarmos de lado a oposição secreta contra ele e as falsas
promessas, uma ordem individual logo surgiria. Mas isto presume precisamente, que dizemos SIM e NÃO e que por sua vez
podemos aceitar um SIM e um NÃO. Isto pressupõe que a prontidão para negar a si mesmo uma experiencia agradável
quando não for realmente certa para ambas as partes e isto pressupõe a vontade de querer saber se é certo ou não. Para que isto
aconteça, a qualidade viciada teria que primeiro desaparecer de nossos relacionamentos. A partir do ponto que entremos nos
relacionamentos tentando escapar da solidão não seremos capazes de lidar com ele honestamente. Se pudéssemos integrar a
solidão e entrar em um relacionamento do estado fundamental de nossa solidão, a fim de compartilhar isto um com o outro, ao
invés de fugir dele, nossos relacionamentos seriam dotados de muito mais carinho e afeição mútuas. Se tivéssemos ordem em
nossos compromissos, que vêm do nível sexual, não precisaríamos demandar fidelidade também. Poderíamos ao invés dá-la
com um presente um para o outro. Não precisaríamos limitar a liberdade do outro, mas poderíamos deixá-lo ser. Não
esperarmos nada e conseguirmos mesmo assim são qualidades do coração que poderiam dar forma aos nossos relacionamentos
mais íntimos também.
Freqüentemente me ocorre, em meu trabalho com meus clientes e em meus relacionamentos particulares, que nossa
capacidade de estarmos em um relacionamento triangular, de estarmos muito próximos de um trio, é limitado. A partir do
momento que esta capacidade falhe em formar as bases do nosso estar junto com o todo, nunca seremos capazes de existir sem
conflito em nossos relacionamentos. Nos podemos aprender sobre ele quando estamos prontos para ele, quando entramos nele.
Então podemos descobrir muito sobre as conexões na relação pais-filhos como todos experienciamos. Quando somos um trio,
no coração, quando realmente aprendemos a ser desta maneira, então ninguém precisa se sentir mais excluído. Mas quando se
trata de quem vai para a cama com quem, ou conforme o caso, quem começa uma relação sexual com quem, então a este
ponto alguém é excluído. Se não precisamos nos defender contra exclusões, então não é um problema, então eu estou
simplesmente sozinho no momento. Se eu preciso repelir este sentimento de exclusão, ou eu me transformo numa criança,
experienciando os outros como os pais excludentes, ou eu me experiencio como o adulto que as outras duas crianças
brincando uma com a outra deixaram de fora da brincadeira, e com quem eu tenho que brigar. Por não conseguirmos estar em
um trio e, portanto não sermos realmente capazes de estarmos em um grupo, nos geralmente forçamos a outra pessoa, em tal
situação, para a posição de intruso afim de não sermos nós mesmos os intrusos. Ninguém quer este status, e, portanto sempre
tentam deixá-lo para a outra pessoa. Como resultado, vivemos em constante estado de medo e somos sempre, por um lado
excluídos e do outro, limitados em nosso estilo. A verdadeira solução que daria a todos nos um verdadeiro sentimento de
pertencer e um genuíno sentimento de união, seria aceitar o sentimento de ser excluído e não querer passar adiante, mas ao
contrario incluí-lo em nos mesmos.
Eu acho que AIDS, a doença venérea de nosso tempo que forca as pessoas afetadas a serem marginais, quer nos

68
ensinar algo sobre o problema de lidarmos com nossa sexualidade e nossos relacionamentos.
Também encontramos este problema em psicoterapeutas que trabalham apenas em duplas e não são capazes de trabalhar
em grupos. Eles não conseguem realmente ajudar seus clientes a lidar com problemas de relacionamentos. Eles não os liberta,
no máximo os torna dependentes.
Eu não quero falar muito mais sobre isto, porque relacionamentos são coisas tão individuais e pessoais que não podem ser
realmente entendidos dentro do conceito generalizado. Nossos relacionamentos talvez não fossem de nenhuma outra forma,
talvez não fossem tão diferentes, se aprendêssemos a passar por elas conscientemente, em termos de sentimentos. Ainda nos
aproximaríamos, nos afastaríamos um do outro, nos atritaríamos um com o outro, teríamos filhos e cuidaríamos deles,
aprenderíamos um com o outro e assim por diante, mas poderíamos fazer isto com muito menos conflitos, por que poderíamos
cuidar melhor um do outro, estar mais preocupado um com o outro, lidar um com o outro de uma forma mais amorosa; a
violência e o sofrimento poderiam ter um fim. É sempre a mesma coisa: não podemos fazer grandes mudanças em nós
mesmos de forma nenhuma. Não precisamos fazer grandes mudanças em nós mesmos também. Dito isto, está tudo bem, até o
ponto que podemos realmente ser do jeito que somos. A grande mudança não acontece fora de nós, mas precisamente com o
fato de aprendermos a conviver com a forma de sermos. Isto como conseqüência, trará grandes mudanças no externo.
Sermos totalmente honestos com nós mesmos e com os outros em nossos relacionamentos, é a receita certa. As vezes isto
é doloroso, pelo menos no inicio, até que a dor esteja totalmente integrada. Porém quando estamos realmente prontos para a
honestidade, nossas vidas e nossos relacionamentos ficam em ordem e esclarecidos. Demorará um pouco até que esta
harmonia possa se estabelecer, no mundo externo também, mas a verdade interna empatará com a externa em seu despertar.
Outro problema comum é que nos freqüentemente vemos o estado de estarmos em um relacionamento como a coisa
primaria normal, e estarmos sozinhos, ao contrario, como algo secundário e a ser evitado. Isto está errado. Basicamente
estamos sozinhos, e estar sozinho não é sofrer mas ao contrario, um fato simples, que não deve ser imposto. Relacionamentos
é um acontecimento secundário, um presente, algo adicional, que as vezes acontece e às vezes, de fato, não. Por estarmos
viciados, não conseguimos esperar até que ele escolha entrar em nossas vidas; porque não podemos estar sós, por que ao se
estar sozinho sofremos ao invés de explorarmos a sua beleza, devemos compulsivamente procurar relacionamentos. Devemos
extorquí-lo dos outros.
Por carregarmos necessidades não satisfeitas em nós, desde a infância, nos prendemos a relacionamentos que não nos faz
muito bem. Se pudermos esperar, descobrimos a capacidade em nós mesmos de sentir precisamente onde somos atraídos, se a
atração é certa, ou se não corresponde as nossas expectativas, se nos sentimos à vontade nele ou não, se é melhor no momento
estarmos sozinhos ou se estarmos juntos é o certo para o momento. Então não estamos mais prontos para tolerar tudo, se não
pelo bem de estarmos com os outros. Podemos então reivindicar alto, e ganharmos momentos valiosos. O presente que é um
relacionamento significa muito para nós, assim como estarmos sozinhos. Então não desperdiçamos nenhum deles mas
valorizamos o que há de precioso em ambos. A solidão nos abre para a natureza, para o estarmos juntos do que nos circunda,
nos abre para a profundidade do presente, para o espaço no qual a solidão desabrocha. Para que isto se torne possível em
nossas vidas, sentimentos básicos de culpa implantados em nós, no que se refere a solidão deve desaparecer. Querer ficar só é
tido como algo anormal, algo anti-social, quase doentio. É disto que devemos nos libertar.
Parece-me particularmente trágico que tenhamos tão pouca capacidade de dar um ao outro a oportunidade de ser capaz de
explorar os conteúdos saudáveis e verdadeiros de um relacionamento. Cada vez que conheço uma pessoa, eu espero que isto
aconteça e estaria disposto a fazer qualquer coisa para tal. Então os antigos padrões ocorrem novamente. Ele tenta me colocar
em seu caminhos estreitos, quer ser dependente de mim ou quer me dominar, ser minha criança ou que eu seja a criança. Ele
me transforma em um terapeuta e ele em um paciente. Ele tenta se encaixar onde pode e tudo bem. Mesmo assim é muito
triste que a psicoterapia, trabalhar os problemas em relacionamentos, seja na maioria das vezes o melhor possível em nosso
contato um com o outro, que nós tão raramente tenhamos a chance de experienciar o que viver juntos em liberdade, na
verdade e no amor poderia significar
A princípio, devo ser capaz de relatar para todo mundo, porque basicamente somos todos iguais. Isto estabelece as bases
da nossa capacidade de nos relacionarmos um com o outro. Quando eu aprendi isto, contudo, eu também devo ser seletivo -
seletivo no sentido de que eu me mantenho livre para relacionamentos nos quais há muitas possibilidades, nos quais eu posso
encontrar desenvolvimentos, nos quais o amor possa acontecer. Minha oferta de um relacionamento com o outro é algo muito
precioso, um presente especial. É assim que devemos encará-lo, cada um deve sentir que ele ou ela veio ao mundo como um
presente, não como um peso ou uma imposição ou algo parecido e desagradável.
Por enquanto alguns pensamentos sobre mulheres que não devem ser levados muito a serio. Na verdade eles se aplicam a
qualquer pessoa que seja dependente, não particularmente as mulheres, mas, como alguém afetado, eu talvez possa me dar ao
trabalho de formular esta acusação na forma de uma parodia, afim de expressar meu desconforto também sobre algumas
afirmações feministas freqüentes, que da mesma forma que eu faço aqui, sobrecarregam os homens com problemas comuns a
todo ser humano, e portanto criam mais confusão do que clareza no processo.
Mulheres são criaturas estranhas, quando você depende delas como homem, quando você precisa delas, elas o

69
levam prisioneiro. Elas o transformam em animais domésticos, um animal útil, que elas precisam, que podem ser
ordenhados e abusados. Se você tiver sorte, elas até mimam você e fazem suas vontades, cuidam de você, lhe dão tudo que
você precisa, mas elas não o amam. Em seus corações elas desprezam você, porque você não é um verdadeiro homem, porque
elas podem fazer o que quiserem com você, porque você se permite rebaixar a posição de cão da casa. Elas nunca se dão
completamente a você, por você ser muito pequeno. Elas guardam seus corações para um homem de verdade, que de qualquer
forma elas nunca encontrarão.
Mas caso, certa ou erradamente, elas o considerem um destes, elas tem medo de você. Elas ficam tímidas, elas o admiram,
elas o idolatram, elas o transformam em um herói, elas o transformam no mestre ou no profeta delas. Se você tiver sorte, elas
o mimam e cuidam novamente de você, mas novamente elas não o amam. Elas o admiram e isto não é amor.
Então, como homem, você sempre permanece solitário em volta de mulheres. Se você for fraco, você não tem escolha, a
única vida que lhe sobrou foi a de um animal doméstico desprezado. Se você for forte, você pode escolher se prefere ser um
cachorro domestico mimado ou um mestre admirado. Em qualquer dos casos você permanece sozinho.
Se você quiser ser amigo delas, se você as quiser como amigas - e eu quero dizer amiga e não amante - então elas se
sentem rejeitadas como mulheres e lhe rejeitam completamente. Quando você as deseja como mulheres, contudo, elas
reclamam que você as quer apenas como objetos sexuais. Você já viu um homem que realmente tivesse uma amiga mulher? A
mulher sempre vai dizer que isto tem a ver com a incapacidade do homem para relacionamentos. Mas não será que depende de
ambos?
Você não tem chance de chegar a um acordo com elas. Se você conseguir e não se desprezar por isto, você pode
facilmente traí-las e fazer com que elas acreditem que você é diferente de todos os outros; elas confiam em você prontamente.
Porém quando você dizer a verdade, quando você dizer a forma que é, mostrar a elas quem você realmente é, então elas
odiaram você, então você é inimigo delas e elas brigam com você e não ficam em paz enquanto não tiverem perturbado você.
A maior punição delas é isolar você, negarem a você a companhia delas que apesar de tudo seria a coisa mais bonita que este
mundo desconfortável dos seres humanos tem a oferecer. Quando elas não têm sucesso nisto também, então você se torna o
super mestre delas, o mestre de todos os mestres, e possivelmente você seja isto, realmente, mas você está completamente
solitário, mais que nunca.
Estes pensamentos não devem ser levados muito a sério, por que naturalmente eles não se aplicam exclusivamente às
mulheres. O mesmo acontece com homens também. Isto é verdade para as pessoas em geral especialmente daquelas que são
dependentes. Aqueles que são dependentes sempre querem lhe possuir, aprisionar você, usar você, precisar de você, abusar de
você, e quando você mesmo é dependente eles têm sucesso. Pessoas que são dependentes prendem-se, constroem para si
mesmos e para os outros prisões que eles decoram e adornam com os mais belos papeis de parede. Pessoas dependentes,
fazem de você um mestre quando você está livre e um inimigo quando você os diz a verdade. Quando você está livre, você
sempre tem mesma escolha trágica, você pode ser um escravo ou um mestre ou um inimigo, mas ninguém o quer como um
amigo, ninguém realmente o ama, porque ninguém entende nada sobre o amor e a amizade. E com isto, o que se achava ser
uma parodia inicialmente, se transformou em algo bem serio no final.
Quando você sentiu apenas uma vez o que poderia acontecer se algumas pessoas realmente se ligassem em
relacionamento e em amor, você simplesmente não pode mais estar satisfeito com todos os jogos que acontecem nos
relacionamentos.
Por enquanto aqui está mais um relatório de uma sessão psicolitica que lida com o tópico de relacionamentos triangulares.
Relacionamento no sentido de um laço baseado em dependência e resultando de uma fuga da solidão sempre acaba em
conflito. Vale a pena superar isto. A confusão que é criada pelas estruturas em nossos relacionamentos originadas da interação
de tabus, medos e desejos deve ser esclarecida. Para mim, a base de um relacionamento livre no qual a solidão não é evitada,
mas no qual encontra-se a si mesmo através da própria solidão, pareceria ser a capacidade de se encontrar a um nível
realmente profundo em um relacionamento triangular. (não primariamente sexuais, mas no qual a confrontação com a
sexualidade devesse estar incluída no todo.) Infelizmente, ao nível adulto, nós raramente temos a oportunidade de experienciar
a nós mesmos em encontros que não sejam em duplas, que incluam interações verbais e olho no olho em total abertura e
proximidade com pouca distância entre os participantes. O que é possível, são encontros triangulares de natureza simbiótica,
mas na maioria das vezes elas formam a semente para uma interação triangular incipiente. Já que se desenvolvem a partir da
dependência. O que atrapalha aqui são nossas experiências com o triangulo edipiano, que vivenciamos quando crianças e que
ainda não digerimos.
Quando três pessoas estão juntas de ambos os sexos, duas são sempre do mesmo sexo e um do oposto. Via de regra isto dá
à pessoa que esta sozinha uma posição mais forte em relação às outras duas. O sentimento de estar a mercê da outra que
acompanha esta situação é temida pelos dois outros. Portanto nunca estamos prontos para um verdadeiro compromisso entre
os três, exceto quando as relações são restritas e declaradas com antecedência, que contudo, destrói o animo e a chance de
desenvolvimento inerente a tais encontros. Somente quando mergulhamos na completa verdade de um relacionamento
triangular, em uma conexão profunda e de amor, assim como na tristeza, em trabalhar juntos e, por ültimo mas não menos
importante, num abandono alegre, não alcançaremos este objetivo.

70
Se levarmos o amor realmente a sério, uma mudança básica deve acontecer em nós. Na maioria das vezes brigamos nos
relacionamentos dos outros porque não queremos estar sozinhos, sermos abandonados. Este processo pode chegar a um fim, e
nós então nos vemos capazes de apoiar a relação dos outros ao invés de brigar com elas. A prontidão para se tornar parte de
um trio, é a base para estarmos com o todo, mas nos põe em contato com o medo que os outros pudessem se unir, tornarem-se
figuras parentais e nos transformar em crianças, ou pior, nos transformar na figura parental, pai ou mãe e eles nossas crianças.
O pior é que eles realmente fazem isto, por diversas vezes. Então vale a pena integrar este sentimento de ser abandonado, da
traição, e ser amoroso mesmo neste ponto; de ser um pai quando se preferia ser um parceiro; de estar sozinho quando se
preferiria compartilhar a solidão; carregar e proteger o que quer que seja que ainda não pode nos carregar. Permanecer
sozinho, mesmo quando se estiver junto com os outros, é a base e o pré-requisito para a felicidade pessoal. A infelicidade
sempre surge quando eu me identifico com um nível que seja diferente do da percepção direta. Nós somos pura percepção,
percepção que não tem fronteiras, que por causa disto, é solitária.
Freqüentemente durante sessões de grupo com empatogênicos, eu testemunho a experiência de dissolução entre duas ou
mais pessoas, ou de todos os presentes, contanto que haja preparação para serem parte de um trio. Freqüentemente a
dissolução ocorre ao nível simbiótico, pré-lingual de um bebê que uma total dissolvicao a um nível de experiencia anterior a
fixação do "eu". Mais rara é a experiencia de ver devocao total no grupo que se desenvolve a partir do "eu" maduro. Este é
contudo o verdadeiro objetivo. A primeira dissolução simbiótica tem um efeito curador, e o segundo tipo leva mais para o
desabrochar de uma pessoa madura dentro de nós. Ambos servem para nosso crescimento: o primeiro no sentido de corrigir o
estrago dentro de nós, o segundo, no sentido de experienciarmos com a presença madura dentro de nós mesmos.
Ternura, sensibilidade, uma forma amorosa de lidar um com o outro, ao invés da convivência rotineira, é o que estamos
realmente procurando, é o que precisamos e realmente temos que aprender. Mas a oportunidade para tal coisa esta em falta no
nosso mundo. Há muito poucas pessoas com quem isto pode acontecer. Temos que conseguir ver este fato muito claramente.
Porque é tão difícil de suportar, tão frustrante, nós nos contentamos cada vez mais com menos. Nós nos empenhamos e
aceitamos dores para adquiri-los e geralmente tentamos fazer em favor da outra pessoa também, isto é, nós tentamos fazer o
que só a outra pessoa pode fazer por si mesmo.
Não está presente, você tem que ver este fato, o amor quase desapareceu do nosso mundo! Todo esforço para adquiri-lo
deve cessar, ele deve vir por vontade própria, livre, sem esforço, como um presente e não ser algo obtido gradualmente: ou
está lá ou não está. O amor não pode ser desenvolvido.
Devemos nos manter livres para ele quando ele entra em nossas vidas. Se nos satisfizermos com um substituto, estaremos
restringidos por este substituto. Então quando o amor vier mesmo, não estaremos livre, mas ocupados. As vezes, quando não
há chances reais de um relacionamento, devemos tentar ficarmos sozinhos afim de vermos o fato claramente de que a coisa
certa não é procurar relacionamentos, e então podemos aprender a aceitar esta situação, por que é exatamente vendo e
trabalhando com os sentimentos ligados a ele, que ficamos livres para o amor. E então ele pode entrar em nossa vida, sempre
que ele quiser. Se o amor não quiser entrar em nossa vida desta forma, devemos conviver com este fato. Porém, é claro que só
teremos sucesso quando pudermos acabar com o vicio em nós mesmos. A ânsia pelo substituto. Então, apesar de não tê-lo nos
sentiremos melhor, porque não estamos presos, porque estamos livres, e podemos ter encontros genuínos em vários lugares.
A separação e a dor da separação me parece necessária e importante em nossos relacionamentos a fim de criar a distância
certa entre as partes, das quais a extraordinariedade novamente se torna possível para nós experienciarmos em nossos
encontros um com o outro. A conclusão previa presume que o habito deve novamente desaparecer da relação. Há tantas
solicitações possessivas escondidas nele. A relação se torna mundana e perde seu valor. Cada encontro deve ser novo, único,
muito procurado, ou não terá nem lustre nem ânimo. Se tivermos atingido uma proximidade que é garantida e que é baseada
em hábitos que podemos esperar com antecedência, então a separação é importante. Porque tal proximidade não é uma
proximidade real. Talvez ela ofereça segurança, mas também é raza e, por causa disto, deve desaparecer novamente e dar lugar
a uma nova extraordinariedade.
O segredo é atingir os outros a si mesmo diretamente e não quere nada mais. Aceitar e entender tudo sem nenhum motivo
ulterior. Temos que estar preparado, contudo, a fim de ser capaz de incluir cada possibilidade de desenvolvimento. Nos só
podemos fazer isto na ausência de tabus e medos. Primeiro devemos ser capazes de querermos tudo e de fazermos tudo. Só se
pode desistir do que se tem. Depois talvez, encontraremos uma forma de não querermos mais nada, mas estarmos prontos para
tudo. Damos prioridade a obtermos algo que achamos que o outro gostaria de ter. Seria muito melhor alcançá-lo via um estado
de voluntariedade em querer experienciar com ele o que parece certo em um dado momento e o que quer vir a ser por conta
própria.
As fronteiras são necessárias em relacionamentos? É importante sermos capazes de separar a nós mesmos de todas as
solicitações em relacionamentos que são feitas a nos não por motivos que sejam puros, isto é, por amor, mas por um vicio, por
exemplo. Contrastando com isto, nenhuma fronteira é quando outra pessoa se aproxima de mim com amor. O amor não
conhece fronteiras! Mas quanto ele não está presente, quando não preenche um relacionamento, então as fronteiras dominam e
são um substituto para a interação. Quando você me impões limites em um relacionamento, e quando, depois de um
interrogatório completo, eu reconheço que meus motivos com relação a você egoístas, e portanto

71
não impõe limites, então você restringe as possibilidades de nossos relacionamentos. Você então tem o controle e você
pode decidir como nosso relacionamento deve ser e assim por diante. Eu terei que aceitar isto mas então eu posso pensar nesta
limitação como sua neurose. O resultado é que ou trabalhamos nisto - em sua mesquinhez - neste caso teremos uma
relacionamento terapêutico, ou que teremos pouco a ver um com o outro, porque meu objetivo na vida é pesquisar o ilimitado
em relacionamentos e eu posso aceitar limites apenas como um problema terapêutico ou como um papes em jogos sociais. Em
relacionamentos limitados, eu tenho muito pouco interesse. Eu me mantenho livre para relacionamentos completos, para o
ilimitado, para uma devoção completa. Talvez isto só aconteça em minha vida quando eu me ver insatisfeito por diversas
vezes com o incompleto, quando eu estiver pronto para estar absolutamente sozinho, e isto significa, sobre tudo, ficar sem
sexo quando ele não acontecer. Quando eu estiver completamente sozinho, quando eu me aceitar e me expressar
completamente e sem condições, quando eu estiver no centro de minha vida e os outros fizerem o mesmo, só então poderá
ficar claro com que intensidade e de que forma nos encontraremos. Então nossos encontros estarão em ordem e produzirão
união ao invés de caos. Só então nosso querer mútuo, que agora é idêntico a vontade universal, determinará nosso caminho
juntos.
Se pudéssemos enfrentar o todo do nosso ser em um único momento e este momento contivesse todos os nossos
sentimentos, toda nos expressão psicossomática, tudo, então talvez nós pudéssemos perceber que todo o nosso esforço para
entender nossa tristeza, ou para dissolvê-la, sempre nos levaria por um caminho errado, porque estamos errados deste o
começo. Todos os nossos sintomas correspondem a um tipo de apego, um não ser capaz de relaxar e libertar, que se expressa
como uma tensão interna e contêm muito medo. Que fica em nosso corpo como uma doença.
A que nos apegamos na verdade? A nada! Isto também é algo que podemos claramente perceber. Há o medo de ser nada, e
há o esforço constante de ser algo, de ser importante, de se apegar a algo que não existe, para não ser NADA.
Este é o ego, o "EU". É a partir deste centro que nós constantemente tentamos resolver nossos problemas e parecemos ter
um considerável sucesso, mas quando olhamos mais precisamente, percebemos que o centro em si é o problema e que nós
estamos bloqueado dentro dele.
Quando nos permitimos ser colocados de lado por estes bloqueios, ele se torna quieto e tranqüilo naquele curto espaço , e
então somos aquilo que inevitavelmente somos: o não ser capaz de relaxar e liberar, este se apegar ao nada, esta tensão, esta
doença, sempre imutável, sem esperança, inescapável. Todo o passado, tudo que já foi pensado, tudo que eu já fui e sou, se
torna fútil. Eu não tenho mais chance, eu sou NADA. Nisto surge um novo movimento. O centro se dissolve, a estrutura cai,
se dissolve em medo e finalmente não há NADA.
Nova esperança? Isto não é novamente um esquema esperto planejado pelos velhos padrões de comportamento? A
liberação está realmente próxima? Tudo que eu queria deste centro foi procurado em vão. O que era importante em toda a
jornada era apenas descobrir o que este centro queria, e acima de tudo quebrar o tabu que dizia que não era permitido querer
nada. O centro foi suprimido através da educação. Agora através da sua liberação fica claro que o centro em si não vale nada.
O querer em si é o problema e você tem que liberar. O que acontecerá então, por exemplo em relacionamentos, que nunca esta
claro antecipadamente, se revelará e esta certeza flui do amor, e será o que eu quero porque o que eu quero é também o que
quer acontecer, o que quer que esteja certo, o que é o amor.
A liberdade surge quando nós aceitamos as proibições que carregamos em nós, quando eu reconheço, sem emoções, por
quem as ordens e as proibições são estabelecidas, que esperou e espera algo de mim. Com que tipo de ultimato e
conseqüências eu fui e sou ameaçado. Quando eu me revolto, quando eu me subjugo ou tenho medo, eu internalizo as ordens.
Quando eu as aceito como algo que está e estava no mundo externo, e algo sobre a qual eu nada posso fazer externamente, e
quando eu estou preparada para enfrentar as possíveis conseqüências, então eu estou livre, então a ordem escorrega do meu
interior e eu estou completamente liberada.
Então torna-se claro: podemos fazer o que quisermos sob uma condição, qual seja, de estarmos realmente livres para fazer
isto, isto é que descobrimos o que realmente queremos; e isto se torna claro quando vemos as proibições e as ordens,
aceitamo-las, e ao fazê-lo, as empurramos para seu lugar de origem. Então podemos fazer o que queremos e estará sempre
certo.
Então eu percebo, talvez, que outra pessoa queira me proibir de fazer algo, mas isto não me afeta, é problema dela. Se ela
me ameaçar com conseqüências, tudo bem, devo saber suportá-las, não preciso ficar com medo, não preciso me subjugar ou
ser cabeça dura; eu vejo e estou livre.
Deixar fluir significa não querer as coisas a qualquer preço, e ao mesmo tempo não rejeitar nada. Querer algo a qualquer
preço tem a ver com estabelecer tabus. Uma proibição funciona de tal forma que eu quero a coisa proibida sob qualquer
circunstancia. Por outro lado, desejos necessitam de proibições internas e externas sobre a coisa desejada. Desistir da
proibição acaba com o desejo, desistir do desejo faz a proibição desaparecer.
Parece-me que este é o ponto onde o conflito interno entre o cão de cima e o cão de baixo, como Perls chamou, ou o
Super Ego e o Id, como Freud se referiu, entre sentimentos de medo e culpa por um lado e a ânsia por liberdade do outro,
revolvem entre si enquanto ambos colidem, dissolvem-se um no outro e desaparecem para alcançar um novo cume de
sentimentos, um novo nível. Apesar do cachorro de cima e do cachorro de baixo persistirem, eles são dissolvidos, mas sua
unificação os faz transcender para outro nível para que eles percam seu significado. A dicotomia

72
para de existir. É por exemplo: como com fantasmas: se eu acreditar neles, eles existem para mim. Eles são reais e
poderosos em minha vida. Se eu não acreditar neles, não muda o fato de eles existirem ao nível do consciente, só que eu estou
em um outro nível e por causa disto, a existência deles se torna insignificativa para mim.
Quando proibições e desejos coincidem uns com os outros, eu me torno um comigo mesmo. O conflito entre medo e
culpa e minha luta por liberdade, como toda atividade trabalhosa que resulte dela, entra em colapso com esta coincidência e eu
estou livre. Proibições e querer as coisas ao meu preço são idênticos ao nível interno, psicologicamente e em termos de
energia e ela se expressam através da tensão interna, câimbras, e como uma divisão. É em estar junto a esta divisão que surge
a transcendência o alinhamento consistente com a coisa e os sentimentos certos surge.
Na maior parte das vezes começamos um relacionamento de dependência que é caracterizado por eterna tristeza,
frustração e conflito e na melhor das hipóteses por uma felicidade simbiótica temporária. Quando eu quero ficar satisfeito em
meus relacionamentos, eu devo transferir relacionamentos baseados em dependência para o nível correto. Isso significa que eu
posso assumir o papel de terapeuta, ou do pai, ou conforme seja o caso, de um cliente ou uma criancinha; então está tudo bem,
está claro: o relacionamento já está estabelecido e contem a distancia certa entre as partes.
Relacionamentos amorosos são de uma natureza completamente diferente. Eles só surgem quando a solidão do coração
foi aceita e vencida, e quando nós nos encontramos não para escapar do amor mas por sua essência. Nestes relacionamentos,
tanto eu quanto a outra pessoa mostra respeito um pela solidão básica do outro, sensibilidade ao querer e à luta do outro; tais
relacionamentos são governados essencialmente por afeto, amor e alegria. Eu devo também ser capaz de esperar por tais
relacionamentos por que eles não dependem somente de mim, eles não podem ser feitos, podem apenas acontecer. Isto
significa aceitar a solidão. Assim que a dependência penetra em um relacionamento, a distancia se faz necessária novamente e
ao mesmo tempo a separação e a dor da separação.
Um SIM total significa um SIM total para o si mesmo, para o próprio amor, aonde quer que ele queira ir, que significa
dizer sim à situação na qual eu estou no dado momento, e a todas as mudanças que surgem com ela.
A necessidade, o desejo de ser amado, a procura por relacionamentos que surge disto, tudo fica claro em toda sua
insensibilidade. Este padrão de comportamento deve ser destruído sem compromissos se eu quiser me libertar. Inicialmente
nada permanece. Então o amor surge e fica claro o que realmente significa estar em uma relação adequada: eu assumo uma
relação porque eu amo, porque o amor me leva a isto, ou porque eu sinto que alguém me mostra o amor e eu com prazer o
aceito, ou eu fico sozinho. Eu não quero mais estar com ninguém que não ame, que não possa me deixar em um estado de
solidão. Se eu mesmo não amar, eu prefiro estar sozinho e se eu amar, eu prefiro estar com alguém que também ame ou
gostaria de ser amado, ou pelo menos com alguém que gostaria de aprender a amar ou com uma pessoa particularmente
querida para mim.
Deve-se fazer tudo como se fosse a primeira, a única ou a ultima vez, então se faz com a sensibilidade e graça necessárias,
e só desta forma toda a beleza e qualidade única da vida desabrocham.
Cada um de nós gostaria de um relacionamento completo. Ele será completo quando eu e você renunciarmos nossa
escolha de eventualmente nos separarmos um do outro quando você não gostar mais, quando você permanecer na relação a
qualquer custo, mesmo quando aquilo que você mais teme acontecer: a repetição de tudo que você não queria mais
experienciar tais como sentimentos de sua infância, de estar a mercê de algo insuportavelmente terrível, isto significa
renunciar a coisa que assegurou sua sobrevivência na época, ou seja, ter a escolha de querer ou não sentir. Hoje isto significa
ser capaz de fugir ou de não ir, mas ficar. Renunciar esta aparente liberdade não é liberdade de forma alguma, mas uma
compulsão a ter que escolher, a renuncia que é a única coisa que torna a liberdade verdadeira possível, a liberdade de não ter
mais uma escolha, de ser inevitavemente completo, a liberdade de se comprometer.
Desta forma você se torna todo, sua vida se torna completa, seus relacionamentos também. Você diz um SIM total quando
você está pronto para o todo. Não no ponto em que você encontra alguém que quer ser todo juntamente com você, não - mas
quando você encontra alguém com quem você realmente quer, independentemente dele querer ou não. Você simplesmente
quer com ele porque ele está ali na sua vida. você entrega seu coração para ele totalmente. É sob este aspecto que estamos
todos doentes, da forma que sempre procuramos nos outros, quando só podemos encontrar em nós mesmos. Totalidade numa
relação não significa possuir o outro para sempre, mas ser total no momento e a todo momento e em todo lugar, onde quer que
você esteja e em todo relacionamento. Isto significa que você está inteiro, e por causa disto, a sua vida também está e também
estão seus relacionamentos. Você perdeu seu coração para a vida, para o movimento eterno e ininterrupto da vida.
***

Enteogenos, primariamente empatogênicos, podem ser muito úteis ao se trabalhar com relacionamentos também. Nos
geralmente trabalhamos em pares, mais raramente com famílias e nos com prazer usamos ferramentas psicolíticas para este
fim.
Empatogênicos pode ajudar de muitas maneiras quando se fala do processo de relacionamento, em relacionamentos que

73
estão perigando terminar a troca entre os dois parceiros pode lançá-los em uma nova e profunda experiencia juntos. Com a
mesma freqüência e com grande clareza, pode surgir o insight de que a relação acabou, e que as partes afetadas estão se
segurando apenas por medo e uma necessidade de segurança e que desta forma eles estão se privando de se desenvolverem
mais. Em relacionamentos que não estão tão em risco, isto tem a ver, via de regra, com se trabalhar um ciclo de problemas
específico. A clareza e proximidade de coração que pode surgir numa relação através do empatogênico na maioria das vezes
permite ao casal mergulhar fundo em seu passado para descobrir um nova forma de passar por este entendimento que eles
adquiriram.
Eu gostaria de ilustrar isto, relatando algo sobre uma família na qual a filha mais velha, de quatorze anos, estava doente com
anorexia nervosa.
Normalmente, nós não usamos substâncias psicolíticas com pessoas menores de vinte anos para não perturbar ou
influenciar o processo de desenvolvimento normal de puberdade e pós-puberdade. Nesta idade de qualquer forma, há
geralmente muito acontecendo, portanto não é necessário prover este tipo de estimulo. Além disto - excluindo-se as exceções -
vemos que, mesmo se manuseamos estas substancias com responsabilidade e cuidado, sua aplicação é proibida quando se trata
de pessoas não adultas. Esta família era uma dessas exceções.
Na família de Natalie e com a própria Natalie nós encontramos os problemas normais de famílias com casos de anorexia.
Natalie tinha dois irmãos mais novos que nós incluímos muito esporadicamente no tratamento. Normalmente víamos os pais e
a filha juntos. Minha esposa geralmente trabalhava sozinha com a filha e eu sozinho com os pais. A vida familiar se
caracterizava por uma enorme pobreza de emoções. Por conta de sua criação o pai não podia mostrar nenhum tipo de
sentimento. A mãe, marcada por sua família, vivia também em um estado de grande ansiedade e medo de que seus verdadeiros
sentimentos irrompessem, que se projetavam nas mais variadas situações na vida e no ambiente. O mesmo acontecia com o
bem estar dela e das crianças. Ela vivia quase que totalmente pelos outros, ela mesma quase não existia. A família inteira não
tinha como expressar sua vida sentimental e existiam apenas em relação ao mundo material. O filho mais novo era o único que
ainda não tinha penetrado no mundo da supressão e que expressava seus sentimentos diretamente, e que era, portanto,
considerado o mais difícil na família.
A filha era uma garota muito sensível e inteligente que na verdade tinha muitos sentimentos. Ela era uma excelente
estudante e tinha ate então se dedicado completamente a aprender e trabalhar duro. Com o inicio da puberdade, e o despertar
da própria personalidade, ela tropeçou em sua inabilidade de encontrar uma saída do banco escolar para a vida. Ela não estava
preparada para o despertar de sua sexualidade, não sabia como lidar com suas necessidades de relacionamentos e tinha medo
do desconhecido que chegava até ela. Inicialmente não havia nada a fazer a não ser suprimir tudo que estava brotando nela. A
forma que ela acho de fazer isto foi sua mania de ser magra. Fazendo isto ela expressava o problema familiar apontando para o
físico, e portanto, é claro no plano falso o quanto ela estava faminta, e presionava a família a confrontar o temido problema.
Depois de nos conhecermos em varias sessões e termos despertado o entendimento das dificuldades e suas razoes, nós
sugerimos, depois de longas e deliberadas considerações e apesar da idade da cliente principal, que a família participasse de
uma sessão com um empatogênico. Em um sábado, mãe, pai e filha compareceram para participarem de uma sessão tomando
a substância. O que já havia sido preparada via discurso brotou de forma definida na sessão. Acima de tudo o pai e a mãe
puderam, pela primeira vez realmente mostrar seus sentimentos em geral e particularmente um para o outro. Com a mãe, foi
inicialmente um grande medo de si mesmo que ficou obvio, e que nos momentos seguinte levou a crise depressiva e de medo.
Isto por sua vez levou a uma situação na qual os pais tiveram que se preocupar muito intensamente um com o outro em seu
relacionamento durante os meses seguintes.
Então o problema foi relegado ao seu lugar correto. A anorexia da filha tinha cumprido seu propósito. Ele rapidamente
ganhou peso e se sentiu bem emocionalmente. Ela se tornou cada vez mais interessada em todas as coisa da vida e se voltou
com curiosidade para sua vida como adulta e para sua vida de mulher que se iniciava. Ela também queria, e por conta própria,
encerrar seu tratamento conosco o mais rápido possível, pois ela sabia que conosco seus pais estavam em boas mãos por um
certo tempo. Exceto por lapsos menores ocasionais, ela provou ser uma "boa terapeuta" sempre que os pais mostravam
novamente tendências a suprimir os problemas e tirá-los de vista. Havia com certeza muito trabalho para eles cumprirem,
tanto neles como na relação, que eles assumiam cada vez com mais entusiamo, para que a filha pudesse agora ser liberada da
responsabilidade na qual ela havia se colocado.
Nesta estória também uma ruptura poderia acontecer mais cedo ou mais tarde, sem o uso do empatogênico já que as
forcas da vida burguesa, especialmente na filha, precisava uma solução rápida. Temos que assumir, contudo, que a mudança
teria sido muito mais difícil e demandaria uma forma de tratameto muito mais exaustiva, se não tivesse sido usado o
empatogênico. Parece claro para mim que as dificuldades da filha não só foram totalmente superadas mas que o empatogênico
tornou possível liberar Natalia muito mais rapidamente de seu tratamento e a fez voltar ao processo
normal de vida. que contem um potencial muito mais natural para curar do que a melhor psicoterapia.
***

Está chovendo, nuvens grossas deslizam lentamente sob o céu do inicio do verão. Não está particularmente frio e, de vez
em quando, retalho de azul fica visível no horizonte. Certamente não demorará muito até que o sol apareça

74
novamente. Eu me sento embaixo do telhado frontal da casa em um pequeno intervalo de minhas escritas. Tem um cheiro
bom aqui, de terra fresca, de floresta e de jasmim.
O chão da entrada esta coberto de pedras, elas são especiais, relativamente grandes e particularmente bonitas. Quando se
examina elas de perto tem-se a impressão de que elas são perfeitos seixos cinzas, mas cada seixo que se pega na mão é uma
pedaço único do trabalho de arte da natureza. Ha pedras ovais e redondas, mais raramente pedras quadradas, quebradas,
pontiagudas. São pintadas de preto, de marrom, algumas parecem ovos de pássaros; verdes, vermelhos, marrons, mas também
completamente brancos, ou da cor de âmbar; pedras que parecem pedaços de raízes dado nós, e então novamente, lisas ou
pintadas. Muitas delas tem linhas prateadas ou douradas que as percorrem, que ao sol que esta surgindo agora, se iluminam em
diferentes cores.
Eu peguei uma pedra, uma especialmente bonita, que eu gostaria de dar para alguém. É uma escolha difícil. Cada uma é
tão única, cada uma é de alguma forma a mais bonita. É difícil escolher. Se eu escolher uma, eu perco o resto. Finalmente, eu
tenho cerca de quarenta das pedras mais bonitas a minha frente. Há muitas, a beleza do individual já está perdida no cinza
comum da anonimidade. Eu me sinto rasgado, dividido, é difícil escolher, difícil determinar. Porem se eu não quero que tudo
caia por água abaixo, eu não poderei evitar esta escolha. Cada uma é a mais bonita, mas só uma pode ser a escolhida. Eu
nunca terei certeza se a outra teria sido uma escolha melhor.
Assim também é nos relacionamentos. Se eu não escolher, se eu não conseguir realmente decidir, se eu me permitir cegar
novamente por uma nova faísca, uma nova beleza, eu perco a chance de finalmente descobrir a beleza em sua inteireza de
provar uma delas em sua profundidade.
Finalmente, eu escolho uma que é lisa, oval e pintada de preto. As partes pretas são completamente lisas e brilham na luz.
Então eu as escolhi, fazendo portanto dela a mais bonita, a mais adorável para mim. Eu deixo as outras novamente, lentamente
vou esquecendo delas. De vez em quando eu apanho uma novamente, sou encantado pela inspiração nova e inesperada da
natureza. Minhas decisões não mudam mais. Tendo escolhido estou novamente em paz.

4 Sobre o amor.
Eu gostaria de começar o quarto capítulo da segunda parte com uma estória muito especial sobre fronteiras.
Me contaram sobre uma terra extraordinária. Supostamente muito difícil de ser encontrada já que não tinha nenhuma
fronteira. Ninguém sabe exatamente aonde ela é o quem mora lá, porem ela existe. Deveria ser em todo lugar e ao mesmo
tempo em lugar nenhum, emaranhada no resto do mundo, sempre na esquina. Dizem que seus habitantes mal sabem que
pertencem a ela; não há passaportes, não há imigração ou nada deste tipo e contudo quando os habitantes se encontram eles
se reconhecem. Acredita-se que fica visível aos olhos: um brilho especial, uma estranha profundidade, algo transparente,
quase perdido; uma presença que é quase uma ausência. Eles não se encontram em lugar nenhum, não há acordos, não ha
lugares de encontros, nenhum lugar aonde se congregarem, não há tempo, nem rituais, nem protocolos, nem status, nem
constituições, nem conceitos. Não há nem mesmo nenhum laço de família ou deveres morais; e mesmo assim encontros
acontecem. Nunca onde se espera que aconteçam, contudo em todo lugar, sempre nos limites, fora dos muros da cidade, bem
no caminho.
O que é exatamente o amor? É uma pergunta muito difícil de responder. O amor não se permite definir. Só podemos
chegarmos perto de entendê-lo. Ao fazer isto podemos tomar dois caminhos. Por um lado, podemos tentar entender tudo que
ele não é. Então, ele é o que restar depois de negarmos tudo que ele não é. Negar tendo tudo reconhecido, compreendido e
liberado. O amor é nossa natureza mais básica e real, que via de regra foi bloqueada. Quando eu me descubro, eu descubro o
amor. O inteiro domínio do inconsciente e o transpessoal é apenas um tipo de anti- câmera. É somente quando eu consigo
simultaneamente abraçar o todo que eu sou "eu", que eu sou amor. Antes disto, eu vagueio perdido no todo, sabendo cada vez
menos quem eu sou.
O amor não é dependência, não é ciúme, não tem nada a ver com laços, com prazer e coisas assim.
Krishnamurti foi um mestre ao descobrir o amor no negativo. Em seus livros achamos capítulos emocionantes onde ele
tenda fazer isto. Deixe-me especialmente apontar-lhe o capitulo sobre o amor em " Liberdade do conhecido", assim como
também ambos os seus "diarios."
Por outro lado eu também posso tentar descrever o amor da forma positiva, tentando descrever suas qualidades e suas
características, que continuam a se abrirem para mim através de um longo processo que vincula o reconhecimento de cada
uma das partes. Esta será a próxima coisa que eu farei. As características do amor não são nada além dos conteúdos internos
positivos que encontramos em sentimentos suprimidos. Nos já apontamos repetidas vezes que quando vamos com nossos
sentimentos até as profundezas, somos levados diretamente para o amor. Esta é a rua principal da psicoterapia, que a muito
nos ocupa. Quando este conteúdo interno começa a se abrir, o trabalho se torna muito mais simples. As defesas são então
quebradas, nem sempre temos que procurar do lado de fora a fim de termos insights. O conteúdo interno então começa a se
liberar por si mesmo e a sair, o que leva a uma grande aceleração dos eventos.

75
Se a terapia ainda não chegou ao fim, podemos, neste ponto, começar a trabalhar com suas qualidades, para descobrir seu
chamado e seu significado ao invés de trabalharmos com suas defesas. Este é um processo muito mais Feliz que o leva muito
mais longe e muito mais rapidamente, já que agora estamos em contato direto com o poder original.
Ao nível da energia, isto tem muito a ver com o centro de terceiro olho onde acontece os insights eu posso descrevê-lo,
porém apenas de forma limitada, como eu mesmo não aprendi tudo que há para aprender neste campo. É possível trabalharmos
aqui diretamente com a energia sem termos que brigar mais com os sentimentos. A partir deste nível um contato muito mais
direto surge com quem quer que se oponha a você, e não brota mais de sentimentos ou de empatia mas de percepção direta.
Os sentimentos do âmago não são mais sentimentos; ao invés são características do amor. Pode-se apenas enumerá- los,
eles falam por si mesmos, não podem ser mais questionados.
Sempre conhecemos a consciência, a vigilância a atenção e o cuidar como sendo qualidades do amor. Estes sentimentos se
revelam para nós quando entramos mais fundo no nosso âmago pelo portão do medo, que é então redimido através deste
processo.
A entrega, estar protegido, ser aceito, receber, ser cuidado, ter o suficiente, ter chegado, sentir-se em casa, ser transportado
e ser contido são também estados que conhecemos quando entramos pelo portão que é constituído por sentimentos como
entrega, impotência e fraqueza.
Você pode experimentar o prazer de participar com os outros, se preocupar com os outros, afeição, familiaridade,
compromisso, paciência, ternura, intimidade, empatia, sensibilidade, e sentimentos de gentileza que surgem em seguida se seu
coração transbordar e assim que você mesmo tiver recebido dos outros.
Atrás da porta criada pela solidão, pode-se encontrar sentimentos de solidão, deliberação, de paz e calma, espaço,
expansão, eternidade, e a serenidade de pensamento, a totalidade, a força, a energia e o fluxo.
Alegria, paz, felicidade, tranqüilidade, inteireza, gratidão, clareza, beleza, devoção, insight, inteligência e liberdade então
preencherão este espaço e o levará até a verdade e a autenticidade, a criatividade e a criação mas também à simplicidade e a
humildade.
A verdadeira paixão, verdadeira compaixão, isto não sofrer de forma alguma, honestidade, generosidade, coragem,
gentileza, indulgência, integridade isto não está preso a respeitabilidade, solenidade, isto está livre da depressão e também uma
sensação de ser despreocupado determinarão e formarão seu ser cada vez mais. Você terá encontrado a segurança. Você terá
encontrado segurança entrando pelas portas da insegurança. Você encontrará sentido aceitando realmente o insensato. Você
encontrará o centro entre estar equilibrado e ser levado. Você sentirá seu valor.
O amor não é nada, não é nem dar nem receber. O amor simplesmente está ai, ele nem obedece nem comanda, ele não
sofre, ele simplesmente é, o amor não é nada, e isto não é um pensamento, mas uma percepção de sentimentos, de outra forma
não é real. O amor é livre e se mantem livre. Não prende nem a si mesmo nem aos outros. Se mantem por si mesmo e não quer
nada mais que se manter livre. O amor é alegria, o amor é uma vastidão muito ampla, o amor é o nada.
Até termos descoberto nossa camada mais interna e até que isto esteja livre em nós, nós nada mais somos que impressões
do passado, estória que foram enroladas e seladas. Não pode haver imediação, o presente não pode se desdobrar e brotar em
nossas vidas; continuamos sendo apenas papeis e programas, e apenas raramente temos momentos de ruptura para outros
níveis de consciência.
O amor vai embora de onde não há lugar para ele, ele não insiste, preferindo a solidão à companhia quando a companhia
não esta preenchida com ele. O amor não faz acordos. No que se refere a verdade ele é impiedoso, apesar de eternamente
indulgente quando você precisa dele e quando você se abre para ele. O amor não tem orgulho e está sempre pronto para
começar novamente. Ele não conhece fronteiras e portanto contem toda beleza. Ele destrói implacavelmente tudo que é fixo e
penetra tudo mas contudo proteje tudo que é fino e puro. Sem ele a nossa vida não faz sentido, não tem significado, sem ele
não encontramos nossa verdadeira
Vocação, e nossa vida é como uma folha ao vento ou como um muro esquecido no caminho: não tem nenhuma utilidade.
Mesmo assim o amor evita o jugo da utilidade. Ao invés disto, ele deve ser encontrado lá onde nada de significante
acontece. Nós o encontramos em todos os lugares, ele se expressa de toda forma concebível. Quando deixamos que ele
aconteça, ele domina nossas vidas e portanto nossa inteligência também, ele se recria a partir das próprias raízes. Ele limpa
nosso pensar, esclarece nossa confusão, fortalece nossas mãos para o trabalho e suaviza nossos corpos para sua expressão
erótica. Ele nos mostra como devemos viver, nutre-nos da forma certa e nos presenteia com tudo que precisamos. Ele tira de
nós o que é desnecessário, nos ensina a saber quando devemos esperar e quando é hora de agir. Ele nos permite ficar por cima
das coisas e nos traz grandeza quando temos algo para aprender com ele. Você não pode fazer nada sobre o fato de ele estar
com você e contudo o amor não o procurará até que você tenha tentado de tudo para alcançá-lo. Somente quando você tiver
feito isto, você verá que não é possível obter amor desta maneira e então desiste

76
da tentativa. O amor é força, o amor é poderoso, mas apesar de ser forte, ele também tem a capacidade de se mover como
água. Ele agüenta cair, ser inadequado, desistir. O amor, portanto, é livre - livre em expressão; ele não precisa ser perfeito e
exatamente por causa disto, ele é completo.
O amor vem até você varias vezes e pergunta se você deseja seguir com ele. Como terapeuta eu sempre tenho que lidar
com pessoas que têm que tomar tal decisão. Por diversas vezes vejo a presunção das pessoas que acham que têm escolha, que
consideram se querem ou não, que imaginam que eles podem decidir se querem o amor ou não e não percebem que é o amor
testando-as para ver se elas são de alguma serventia para seus próprios objetivos. Então, quando o amor desaparece, quando o
sentido desaparece de suas vidas, eles reclamam e acham que o terapeuta pode devolver a eles o que eles rejeitaram. O
processo de conscientização em que todos nos encontramos geralmente me parece uma serie de situações na qual somos
repetidamente testados a respeito de nossa adequação para colaborarmos com o amor. Esta é talvez a maior tragédia da
profissão de terapeuta, sempre ter que testemunhar a maneira despreocupada pela qual as pessoas desperdiçam sua
oportunidade de fazer isto.
O amor só pode vir para nossas vidas e transformá-las quando nós não impomos condições a ele. O sentimento e
inevitabilidade, que mais tememos, nos leva diretamente a ele. Não sentir mais reservas em si mesmo, ser capaz de dizer SIM
totalmente, que não significa ser descuidado ou não critico, nos liberta para o amor.
Isto me lembra de algo que aconteceu em uma sessão de terapia: eu estava sentado pela enésima vez com uma pessoa que
não podia e não queria se abrir. Nós tínhamos observado as conexões por diversas vezes, eu havia explicado tudo, feito tudo
que precisava ser feito no sentido de preparação, e mesmo assim nada acontecia: a pessoa em minha frente permanecia
fechada, em uma postura totalmente defensiva. Um sentimento de insatisfação brotou em mim, eu comecei a me bloquear com
relação à esta pessoa como a vida com esta pessoa em geral. Me parecia terrível estar preso neste estado incomunicável, que
outras pessoas normalmente traziam com elas. Viver com as paredes, que os outros normalmente construíam. E me
conscientizei do desejo de ficar só. Se a verdadeira união não era possível, eu pensei, pelo menos eu não queria estar preso a
uma estreiteza de mente como esta.
Neste momento o sol surgiu por detrás das nuvens e caiu através da janela numa planta atrás da cadeira da outra pessoa.
Toda a sala se iluminou e começou a irradiar; era um momento sublime. A outra não notou nada disto e permaneceu presa em
si mesma. Quanto a mim, eu me senti de repente livre, não mais presso ao espaço estreito que o outro criara. Mas sozinho
comigo mesmo, exatamente como eu queria que fosse. A pressão para estar juntos e a insatisfação associada a ela,
desapareceram. Eu percebi que, é claro, eu sempre podia estar sozinho, mesmo quando junto com mais alguém, e que eu
poderia me aproximar do outro a partir deste estado de solidão, eu descobri a alegria da solidão, que contudo, sempre contém
um pouco de tristeza sobre a oportunidade perdida de um encontro.
Isto nos leva a meditação, que é um expressão do amor, meditação um conceito muito usado e muito mal utilizado hoje
em dia. O que é realmente a meditação?
Não é um sistema, não é um ritual, não é uma tradição. O caminho interior que descrevemos, está contido na meditação.
Enfrentar a totalidade da percepção, dentro e fora, entrar na corrente de eventos internos e externos, incluir tudo que acontece
dentro de mim e ao meu redor, fazer nada, estar intimamente em contato com a vida ao invés de estar pensando nela, isto é
meditação. A meditação está no inicio da jornada, quando você começa a sentir a tensão e o vazio dentro de você que você
evitou até agora. A meditação também é o fim da jornada quando você se entrega a totalidade da vida que flui através de você
como uma córrego sem fim.
Meditar sobre um tom, uma figura, uma musica, um mantra, pode lhe ajudar a acalmar pensamentos confusos, ma na
verdade isto não é meditação. Isto poderia se visto como auto-hypnose, como um anódino. Meditação nada tem a ver com
condutas em particular, com rituais ou com costumes e métodos mesmo se estes ajudarem. Meditação é um estado de ser, é se
abrir para o processo da vida como um todo e é amar. Uma pessoa que ama, é uma pessoa que medita continuamente, uma
pessoa para a qual a meditação se transformou numa atitude de vida. Isto equivale a dizer, não é muito útil meditar por uma
hora apenas de vez em quando se leva uma vida estressante. Assim como o amor, com o qual está intimamente ligado, a
meditação se origina do lazer e se une novamente ao lazer. Lazer e indolência, coisas que são geralmente dispensadas, são
ambas expressões do amor. Ter lazer é ter tempo para si, para os outros, para a vida, para ser. Quem não tem tempo não sabe o
que é meditação e nem o que é o amor. Ter tempo é o inicio da eternidade, o começo do eterno presente ao qual a verdadeira
meditação conduz.
Se você precisar meditar, e quizer um método a todo custo, então comece a se abrir para o que está acontecendo dentro de
você sem suprimir nada, sem censuras. Observe seus pensamentos, esteja com suas sensações corporais, com sua energia,
junto com seus sentimentos sem evitar nenhum deles; então comece a escutar, deixe que escutar as coisas externas seja um
processo continuo e ininterrupto. Fique atento ao que está dentro e fora. Atenção e vigilância, leva a meditação, mais tarde
você pode extender o sentimento e ver o externo até que você possa unir tudo que está em você e
que acontece ao seu redor, até que você seja tudo isto, até que você simplesmente seja.
***

Nós poderíamos continuar com a descrição do amor infinitamente. Ao invés disto, vamos permitir que outros amigos
falem.

77
Gilmare, um homem jovem muito intuitivo com quem eu estive profundamente ligado por um tempo, com quem aprendi
e ao mesmo tempo ensinei algumas coisas me escreveu o seguinte sobre o amor exatamente quando eu me ocupava deste
capítulo.
Me parece que o amor tende a se estender, mas somente na hora certa. Não é algo que devemos possuir ou querer; ele
acontece inteiramente por si mesmo. O amor conquista tudo, o todo da vida, todo o universo, todo poder, todas as energias,
boas e más, porque o amor criou tudo. É importante reconhecermos o amor e a forma como ele funciona. Quando alguma
outra coisa se torna mais importante para nós, nós teremos as chamadas dificuldades. Mas quando as aceitamos elas nos traz
de volta para o amor. Nossa união também surgiu do amor. O que vem dele simplesmente virá para passar, não é como se
tivéssemos que fazer. Vem inteiro e por si só.
Cada pessoa que tem um problema, tem nele a ordem para retornar ao amor. Nos seres humanos emergimos desta energia:
do amor. Nosso objetivo é nos tornarmos conscientes de sua natureza, encontrarmos o nosso caminho de volta para ele. Esta é
a coisa mais importante. Tudo o mais, todo o nosso mundo, o resto de nossa existência, todo o caso energeticamente lento
chegou a um ponto onde não pode mais continuar como estava antes. A coisa toda se tornou muito pesada. As pessoa são cada
vez mais forcadas a pensarem de outras formas de pensar, não podem mais viver puramente no nível material, sem
sentimentos, ou serão arruinados. Isto contudo, não acontecerá porque o amor não deseja que ninguém sofra. Ao contrario, o
amor quer juntar todas as energias perdidas. Por esta razão nosso planeta nunca será totalmente destruído. Deve-se, ao
contrário, esperar que durante os próximos anos, o amor se estenda consideravelmente sobre a Terra. Estamos no ponto de
uma violenta mudança, quando a existência de cada indivíduo está ameaçada. Nossa vida não é mais verdadeira, não é mais
genuína; algo básico não está certo.
É importante que resolvamos qualquer problema que surja em nosso caminho através do amor e da energia. É somente
através do amor que todas as nossas dificuldades se permitem ser resolvidas. Somente o amor pode resolver nossos problemas.
Sua cabeça sempre o irritará, sempre lhe persuadirá a obter alguma vantagem dela, mas o amor não precisa de vantagem,
porque ele é puro. Quando você é puro você não precisa de vantagens, pois você tem tudo. E você tem aquilo que você deseja
e quer. Você então não se misturará com isto mas, como a água, como o rio, como o mar, você flui com o que é. O amor é um
mar, você não consegue apreendê-lo, segurá-lo, ele tem que poder fluir, e a hora é certa para que ele flua.
Aproxima-se o ponto de mudança. Um número cada vez maior de pessoas está sendo atraído para esta mudança. Não será
mais possível evitar a energia porque o amor é ao mesmo tempo delicado e forte. Ele realmente não se deixa suprimir. Mesmo
se uma pessoa tentar nunca terá sucesso. Ele é muito genuíno; ele é a verdade absoluta. Uma vez que você se permita superar
por ele, você jamais poderá voltar, ele nunca mais lhe deixará em paz novamente.
O amor é a coisa mais importante, deve-se dizer isto varias vezes. Ele não é material, mas está em cada um de nós. Isto é
o que é mais importante. Cada ser humano e animal, arvores e plantas também, tudo surge do amor. Tudo é criado dele. Nossa
tarefa não é destruir tudo e sim aproveitá-lo, olhar para ele, e curtir tudo dele. Não devemos construir e destruir mas sim
receber e integrar "o que é": o todo. Devemos reconhecer que o amor criou tudo isto e que foi criado para nós.
Para entendermos o todo, é importante ter reconhecido o amor em nós mesmo em sus totalidade. Então poderemos
aprender a entendê-lo ainda mais. Ele então sai do nosso planeta para o universo. A expansão, o cosmo, a infinidade pode ser
entendido. Beleza, tristeza e dor também são parte dele. De um certo modo nos existimos na Terra e simultaneamente no
cosmo também. De uma certa forma o Terra está lá, de outra não. O amor é um fluxo que nos mostra tudo; uma vez que
tenhamos experienciado ele, ele nos atrairá de volta a ele repetidas vezes.
O amor e a energia, pessoalmente, me permitem reconhecer as cores da alma de uma pessoa e a encontrar acesso através
disto para as pessoas e a revelar isto para elas. Desta forma eu posso apontar seus problemas para elas, as chamadas cores
negativas, que podem mais uma vez levar ao amor quando reconhecidas. O amor é como uma luz que você pode ligar ou
desligar. Uma vez que você tenha entendido isto, você a deixará acessa e permanecerá na luz. Inicialmente se tem um pouco
de medo dele por ser tão irresistível e por nos rasgar por dentro. Então de repente uma porta se abre e você simplesmente o
tem e terá que aprender a lidar com ele.
A maneira como eu o recebi foi muito difícil para mim no começo aceitar e entendê-lo. Porém é como um chamado, você
não consegue evitá-lo e nos indicaram para experienciar a expansão do amor no presente.
Não precisamos na verdade ter medo, só devemos pegar o amor e mantê-lo, então se encontra as pessoas certas. Isto só
pode acontecer gradualmente, não de repente, porque as pessoas devem primeiro resolver seus problemas. Só então elas
podem encontrar a luz: o amor não pode realmente nos encontrar antes disto já que não conseguimos entendê-lo mesmo.
Quando alguém conheceu o amor, ele não tem escolha. Ele tem que manifestá-lo e expandi-lo. Ele não pode querê-lo, ele só
pode deixá-lo acontecer. É assim que deve ser. Alem disto não há nada a fazer.
No momento a Terra se caracteriza por uma total mudança. A mudança virá e é certo que deva. Não se pode deixar
ninguém se perder ou ir pelo caminho errado. Deve-se desenvolver confiança em si mesmo, sentir por si mesmo.
Junto ao amor que sinto dentro de mim eu também sinto um tipo de tristeza. Há ainda muita gente que luta e que se une
ao diabo. Mas por outro lado, tem que ser assim. O diabo os confronta novamente com exatamente os mesmos

78
problemas que eles ainda têm que resolver. Através disto eles conseguirão alcançar a luz. Cada pessoa terá que fazer seu
percurso para finalmente alcançar a luz. Cada um é sozinho. Só se pode ir sozinho. Não se pode viajar com mais ninguém,
pode-se mostrar para o outro; o outro pode aceitar ou não, mas você não pode levá-lo com você.
Se você quiser, e se você se liberar internamente se preparando para isto. Você encontrará acesso direto a esta energia, ao
amor. Por muito tempo, talvez, você se prendeu apenas as maçãs da árvore do amor, repetidamente você se prendia a uma.
Porem em algum momento você terá acesso à macieira e portanto acesso direto à fruta. Você deve ser capaz de encarar a
incerteza para que você possa então dizer: "se eu estiver ali naquele lugar amanha, será bom, e se eu estiver em outro lugar
será tão bom quanto". Quando você encara um problema, você só deve reconhecer o que ele quer dize a você. Quando você
tiver entendido ele poderá lhe abandonar. Portanto você está sempre livre novamente.
O amor sempre o levará para o lugar onde você possa estar o mais próximo possível dele, quando você estiver pronto.
Talvez ele destrua seus laços, ele lhe presenteará problemas, lhe colocará perguntas e através de todos estes testes, você
chegará ainda mais perto do amor. Desta forma você cresce no poder do amor através do qual você se torna mais completo.
Ser completo em nosso corpo humano não é possível. É possível apenas quando você não tiver mais nenhum interesse
material, e isto significa quando você estiver separado de seu corpo.
Quando você morre e se encontra no estado de amor, você ira como se por um túnel em cujos lados você encontra todos
os problemas da vida alinhados; mas como você reconheceu a luz você flutuará pelo túnel. Nennhum problema mais poderá
atingi-lo. Você não terá mais problemas para resolver, mas será capaz de apenas deslizar. Num espaço de tempo de um
segundo você poderá reconhecer tudo que os outros - ou você mesmo - tiveram que lutar com grande dificuldade durante
muitas vidas. Então você conseguirá chegar ao outro lado do túnel em absoluta luz e se unir a ela. Você ainda pode decidir
retornar à Terra depois disto. Ninguém será capaz de achar erros em você; você é livre e você determina sua vida.
Na verdade nada é ruim. Mesmo o pior de tudo que é ruim - magia negra, o diabo - é criado pelo amor. Nosso problema é
apenas ser capaz de fazer uma ponte para o amor, descobrir sua faísca em nós. No fim assim como toda gota de água flui de
volta para o mar, toda gota de amor encontrará seu caminho de volta para o oceano do amor. Tudo é tão simples, mas
exatamente por ser tão simples, é tão difícil de entender. Porque é a coisa mais fácil do mundo parace tão complicada para nós.
E para esta fonte de toda existência em nós que devemos avançar, então só aproveitaremos a essência, só nos deixaremos ser
levados pela vida. Então você nasceu para curtir e não mais para resolver algum problema.
É bom se aproximar de pessoas com pontos de vistas basicamente positivos do mundo, mesmo que não se compartilhe da
mesma idéia e veja a tendência como idealismo ilusionário, por medo de estar a mercê do destino de alguém. Eu também acho
que uma maior evolução da consciência trará em algum ponto o completo desabrochar do amor em nosso planeta. Na verdade
já está aqui, e acabará se instalando em nós e também ao nosso redor. Eu estou convencido porem que ainda falta muito
caminho, apesar de haver sinais de transformações no presente, estas me parecem ser de uma natureza muito superficial,
geralmente apoiadas em um espírito fantasioso e narcisista. Transformações que vão fundo e são de verdadeiro valor são,
agora como sempre, difíceis de se encontrar, e provavelmente permanecerá assim por um tempo. De qualquer forma eu vejo
como acontece ao nosso redor na vida, como os velhos padrões nos empurram repetidamente e somente muito poucas pessoas
se dão ao trabalho de
alcançarem um entendimento intransigente de si mesmo. Da forma certa de viver e da verdadeira espiritualidade.
***

Manoel Schoch foi meu professor por muitos anos e hoje ele é um dos meus melhores amigos. Enquanto eu escrevia o
capitulo sobre o amor, ele organizou uma oficina sobre o tema, da qual eu participei. Como sempre é interessante ouvir outra
pessoa se expressar sobre o mesmo tema de sua própria maneira, eu devo tentar citá-lo aqui. Ele descreve o amor da seguinte
forma
O amor não é um sentimento. Não é a interação entre dar e receber. O amor não é nada alem da mais fina e mais alta
vibração de energia da qual o universo é feito, que constitui e penetra tudo. O amor se manifesta de acordo com certas leis
universais que variam de acordo com o nível de existência da pessoa. Muito sofrimento e mal-entendidos poderiam ser
evitados através de um melhor entendimento destas leis cósmicas. Todo ser humano, sendo uma manifestação do amor, pode
colocar sua consciência em contato com este delicado nível de vibração e experiencia, que é o que significa ser natural: não
apenas se opor ao fluxo de energia e não apenas querer ser outra coisa alem do que já se é.
Enquanto vivermos neste mundo material, o amor se manifesta em três níveis diferentes: ao nível do corpo como ternura e
sexualidade, ao nível do corpo energético e da aura como compaixão e afeição e ao nível espiritual como tranqüilidade e
sabedoria.
Manoel cita a sabedoria Sufi: o amor é um caminho para a verdade, para a sabedoria e para a ação, mas só aquele que
conhece o verdadeiro amor (ou seja, o amor entre as pessoas) podem chegar perto destas coisas. Da mesma forma

79
ele menciona uma frase de Krishnamurti: No amor não há passado.
Ele vai mais longe: dizer qualquer coisa sobre o amor é presunçoso porque o amor só pode ser experienciado. Nenhuma
teoria sobre ele pode substituir o entendimento dele nos próprios sentimentos de alguém. Cada definição do amor é apenas um
modelo e é pessoal. cada um que experiencia o descreverá de uma nova forma.
Eu poderia gravar a definição de Manoel aproximadamente desta maneira: cada ser humano é por natureza uma
manifestação do amor. O amor não é nada mais que uma corrente em fluxo-livre de energia. Ela surge entre outras coisas
através do prestar atenção, através do ouvir, através da paciência e de ser capaz de esperar, mas também através do humor,
coragem e honestidade, e acima de tudo através da coragem de ser vulnerável e à habilidade de correr riscos. É caracterizada
pela renuncia de julgamento, pela não posse interior, pela disciplina interna e a capacidade de perdoar. Também modéstia, por
exemplo, a negação do sucesso, leva ao amor, exatamente como faz aceitando as próprias fronteiras, que não significa
aquiescer mas aceitar estas coisas e não lutar contra elas, o amor se expressa sendo simultaneamente palhaço, criança, e adulto
em um só.
Amor é crescimento. Fixação em qualquer coisa impede o crescimento e com ele, o amor. O amor é o fluxo que surge
quando dois seres se conectam um com o outro, o amor surge nos relacionamentos.
O amor não conhece esforço, ele pode apenas curtir. Ele não impõe nenhuma condição. O amor é empático e se expressa.
Sem expressão não há amor. Não se expressar é uma forma indireta de julgamento.
A maioria dos distúrbios psíquicos tem a ver com nossa incapacidade de amar e não com não termos sido amados. O amor
sempre se manifesta através da expressão de alguém, e por isto, ser reservado na própria expressão é um empecilho para ele e
um julgamento do amor.
O amor é serenidade. A tristeza é sempre um primeiro passo para o amor, assim como raiva é um primeiro passo para a
tristeza.
O amor não tem inicio nem fim. Ele se auto-satisfaz. O tédio surge quando o amor está ausente.
Liberar, no sentido da energia, não é nada mais que não fazer nada. Portanto o amor tem a ver com a impotência. Dele o
crescimento surge. O amor pode se manifestar nisto.
Amor e morte estão conectados porque, com o amor assim como com a morte, deve-se abandonar as próprias idéias, deve-
se abrir mão de algo. O amor que trazer apoio para os outros, trazer o que é positivo nos outros à realização. O amor também
pode falhar e é portanto livre em sua expressão porque não tem que deixar de fora este aspecto.
Toda nossa luta, quer estejamos conscientes ou não, é direcionada para sermos amados e sermos capazes de amar.
O amor não aceita nenhuma condição. Ele está pronto a dar o primeiro passo. Quem não conseguir viver o amor, afeição e
amizade em seus relacionamentos não tem verdadeiro acesso à dimensão espiritual do amor. Em nenhum lugar se pode
aprender sobre o amor quanto numa relação. A sexualidade é um incentivo a que nos engajemos em relacionamentos. O fluxo
de energia que se torna perceptível em uma relação pertence a ambos. É falso achar que um dos dois é quem o faz acontecer e
o outro o receptor. Quanto mais se curte, mais forte o fluxo.
Em si mesmo, o amor é um fluxo de energia puro, livre de qualquer inclinação para ser isto ou aquilo. O amor, ao nível
dos relacionamentos acontece em duplas. Contudo, é baseado em atração e simpatia. Eu não consigo compartilhar esta
expressão dele com todo mundo, mas por outro lado eu posso certamente compartilhar o fluxo de energia.
Como cada um de nos é uma manifestação do amor, cada um também influencia o todo, tem acesso ao todo.
Isto é tudo de Manoel
***

O amor pode entrar em nossas vidas se deixarmos que aconteça. Para encerrar este capitulo, eu devo portanto relatar algo
sobre um cliente que, durante o curso de sua psicoterapia, teve que aprender tudo sobre liberar, a experiencia com
empatogênico, que na qual ela participou apesar do enorme medo, a ajudou a relaxar lentamente de uma forma que ela não
teria conseguido com nenhum outro método.
Jolanda tinha cerca de 40 anos e era mãe de duas crianças. Eu a conheci depois que ela se separou do marido. Ela se sentia
cada vez mais desconfortável na relação e finalmente simplesmente foi embora. Porem a facilidade superficial com a qual ela
partiu, como logo apareceu, estava junta de uma profunda tendência a se apegar ao que tinha perdido. Depois da separação ela
logo se confrontou com sua solidão, sua dependência e seu medo destes sentimentos, que na época ela não conseguia
conscientemente perceber, mas que ela transferia para o plano somático na forma de uma fobia sobre seu coração. Ela tendia a
ficar extremamente fixada em relacionamentos com homens e a se apegar a eles. A primeira vitima foi o medico da família, a
próxima um homem casado. Ambos tinham um relacionamento sexual com ela.
Ela com certeza tinha medo de ser deixada sozinha mas também tinha tanto medo de ser enganada quando permitia

80
uma maior aproximação. Por esta razão ela só se sentia atraída por homens basicamente inatingíveis. Ela podia então
projetar todo seu desejo neles, que poderia depois colocar em ação com a colaboração deles.Isto era expresso de tal forma que
ela na verdade não pensava ou sentia mais nada alem de se manter ocupada com seus relacionamentos. Em troca isto a protegia
do vazio, da insignificância que ela realmente sentia. Corporalmente ela estava toda travada e ela também se defendia
inicialmente contra seus insights sobre suas conexões internas com suas atitudes de vida que eram sobretudo relacionadas ao
seu pai.
Ela se confrontou por diversas vezes com o medo, sobretudo depois de eu ter proposto uma sessão com um empatogênico.
Apesar disto foi possível motivá-la e durante o curso de alguns anos, ela participou de varias sessões. Isso ocasionou um lento
soltar, um gradual relaxamento em todos os níveis. Ela passou a aceitar seus insights sobre suas verdades pessoais cada vez
mais e seu corpo relaxou. Seus sintomas e medos desapareceram e a tendência a se apegar a seus relacionamentos com amigos
se normalizou. Mesmo assim o padrão básico de seu problema não se resolveu e ela caiu por diversas vezes no velho
padrão.de comportamento. Apesar de parecer que o problema estava resolvido, as raízes ainda não haviam sido tocadas de
alguma forma. Ela se movimentava em círculos, em crescente desespero, enquanto via claramente como ela se bloqueava,
porém ela não conseguia se libertar e começar uma nova vida.
Foi neste estado de espírito que ela participou de uma oficina de uma semana que organizamos e que também se centrava
no uso de enteogenos. Durante a sessão, na qual tomamos uma combinação de dois empatogênicos, uma primeira ruptura
aconteceu em seu âmago. Inicialmente ela foi confrontada com sua solidão, seu medo e com o vazio que ela sentia dentro de
si. Contudo a tendência de evitar tudo isto não era mais muito forte. Ela havia aprendido ate certo ponto a tolerar seus
sentimentos. Ela podia portanto, finalmente, se ajustar a esta situação onde não havia solução para seu problema e ela só podia
deixar permanecer neste estado que abriria o caminho para a transcendência para outro nível.
Depois de um certo tempo ela saiu da sala e foi lá pra fora. A oficina aconteceu em um lugar maravilhoso no norte da
Itália. Ela sentou-se no meio daquela linda paisagem, sentiu seu vazio, sua solidão, sua morosidade, viu que nada podia ser
feito para mudar e simplesmente aceitou. Neste momento seu coração e seus olhos se abriram e, como ela disse mais tarde, ela
viu o mundo pela primeira vez. Ela viu o céu, as arvores, as cores, a natureza e se sentiu parte dela, se sentiu parte do todo.
Cuidada pelo todo. Seus problemas não desapareceram, eles não tinham mudado, absolutamente nada tinha acontecido, mas
de repente ela os viu de outro ponto de vista, de outra perspectiva, de onde eles tinham perdido todos seus significados. Esta
experiencia foi o começo de uma transformação em sua vida que ela desejava a muito tempo.
Tal experiencia pode ser melhor conduzida por uma substancia psicodélica. Como na época não tínhamos nenhuma
disponível usamos um empatogênico. Este exemplo mostra que mesmo uma substancia que é adequada a um propósito menos
específico pode prover tal experiência quando a pessoa que a toma esta preparada para isto. Cada substancia tem um certo
espectrum dentro do qual ela é primariamente efetiva. Porém, em última análise é a disposição do cliente que determina a
experiencia.
***

Ao acordar esta manhà e dito alguma linhas antes de ir para o trabalho, eu me sinto muito especial. Eu tinha estado um
pouco adoentado na ultimas semanas e esta manha acordei me sentindo bem novamente. Eu estou de volta em casa e sinto que
de alguma forma eu retornei, que eu simplesmente estou aqui.
Apesar da manha de verão há uma nevoa la fora, apesar da nevoa não ser muito densa. Um pálido disco de sol força seu
caminho por entre nuvens de vapor, as vezes grossa, as vezes fina. Os prados, campos e árvores no meio ambiente, de cores
pasteis, flutuam uns sobre os outros, os outros verdes que são mais intensos, agora parecem bem únicos em contraste com os
véus de nevoa que embrulha tudo. Um grande sentimento de paz prevalece o relógio faz tic tac na cozinha onde eu bebo meu
chá. Lá fora ouve-se um corvo e os primeiros barulhos de pássaros. Uma grande castanheira e um pé de nozes em frente a
janela da cozinha lentamente emergem da palidez uniforme da nevoa da manhã e se mostram em suas cores luminosas.
Eu me sinto extraordinariamente bem. Agradavelmente normal. não há nada de especial, nada de grandioso sobre esta
manhã. Porém não é também um dia comum e sem graça; ele é calmo e fácil. A estória Zen sobre as montanhas, arvores e
sobre apanhar água do rio faz sentido para mim agora. Ela diz que antes de você começar no caminho interior, as árvores são
árvores, as montanhas são montanhas, e que você tem que apanhar água do rio. Depois quando você começa e se aprofundar
em si mesmo, as montanhas param de ser montanhas, as árvores não são mais árvores e pegar água do rio tornou-se algo
incomum também. Quando você chega ao fim da jornada contudo, tudo está como antes e mesmo assim não é o mesmo. As
montanhas são novamente montanhas, as arvores são novamente arvores, e é tarefa sua pegar água do rio. Paz finalmente, diz
meus sentimentos - finalmente a paz. Porem então o dia começa, o trem passa fazendo barulho, o sol sobe nais alto no céu, o
dia começou e trará novamente novas confusões, mas isto também tem um lugar, não perturba ninguém, pertence ao dia. No
infinito movimento da vida, de ser, tudo é igual, todo estado de ser é o mesmo. Este ser igual é uma maravilhosa expressão,
um sentimento maravilhoso. Quando se vê isto da forma certa, tudo tem valor igual.

81
5 O pensar e a ausência de conceitos.
Até agora falamos muito sobre fronteiras supérfluas, mas há também as fronteiras que são necessárias e que realmente
existem. É melhor que se reconheça e aceite-as e se aprenda como lidar com elas ou logo logo se cai em dificuldades. É sobre
isto a próxima estória sobre fronteiras.
Eu ouvi falar de uma terra onde os habitantes não se sentem a vontade. Freqüentemente as pessoas deste pais emigram
para as terras vizinhas afim de construírem uma nova vida para si. Inicialmente os habitantes que eram aventureiros e
gostavam de correr riscos cruzavam as fronteiras sem estarem conscientes delas já que as fronteiras não eram bem sinalizadas.
Contudo, como o governo não estava muito feliz sobre os cidadoes se mudarem as fronteiras foram desenhadas e mais
precisamente definidas, e mais tarde, a serem guardadas. As pessoas querendo imigrar não achavam tão fácil mais cruzar as
fronteiras, eles tinham que provar boas razoes para passarem ou eram enviados de volta. Como não se podia conter a onda de
fugitivos mesmo com estas restrições, a fronteira então foi rigidamente regulada e controlada por guardas.. porem ainda havia
uma porção de pessoas coléricas, apesar de menos agora do que antes, que decidiam deixar o pais, alguns tentavam trapacear
para passar, outros cavavam túneis sob as fronteiras, e outros ainda tentavam passar a força. Um grupo destes diabinhos
realmente conseguiu cruzar o rio desta forma especialmente aqueles que tinham se preparado bem, quando estudaram as
fronteiras e os hábitos do guardas bem de perto. A maioria deles foi, contudo, morta em um atentado ou levados prisioneiros
pelos oficiais da imigração. Em sua maioria eles eram aqueles que tinham decidido deixar um aviso e tinham partido com
muita coragem mas com pouca preparação.
Em cima de tudo isto havia também o tipo de pessoa que se encontra em todo lugar: aquelas que tiram vantagem e
transformam toda situação em um negocio, que prometia as pessoas que queriam emigrar mas não queriam correr riscos, uma
transferência garantida por um certo preço. Tais pessoas as vezes são sortudas, especialmente quando os organizadores se
consideram tão sérios com as fronteiras quanto com o dinheiro que querem ganhar. As vezes contudo eles não são tão
sortudos, isto é, não acontece da forma que eles queriam.
Mais uma vez eu devo começar o capítulo descrevendo uma experiencia com substâncias psicodélicas, uma experiencia
que me forçou a repensar sobre tudo, a deixar cair conceitos, a corrigir a figura de apenas um lado que a minha educação tinha
me dado do mundo.
Isto aconteceu meio que no começo de minha experiencias com as substâncias. Tendo já entendido a profundidade à qual
minhas experiências me levariam, eu tomei uma dose media de um psicodelico sozinho. Era um feriado. Inicialmente nada
espetacular aconteceu. Eu senti uma pressão peculiar na altura do plexus solar que eu reforcei intencionalmente. Isto me
empurrou para um estado de consciência inexplicável. Eu me senti levemente tonto e um sentimento surgiu em mim que eu
não conseguia absorver de ter entendido algo fundamental. Eu estava brincando com esta experiencia quando algo muito
poderoso se irrompeu abruptamente em minha consciência. Todo o inferno se quebrou, literalmente, enquanto eu estava
deitado em meu quarto numa pacífica casa suburbana numa regiam agradável. Eu não via nada, é verdade, mas ouvia e sentia
energias monstruosas que começavam a se juntar a meu redor e a me atacar. Instintivamente eu sabia que minha forca pessoal
não seria o suficiente para lidar com estas forças e que elas poderiam conseqüentemente me prejudicarem. Eu também sabia
instintivamente me proteger. Eu nunca tinha me envolvido com tais rituais, mas de repente eu sabia como jogar pra trás um
feitiço para que uma pessoa fosse salva. Finalmente deitei-me em minha cama protegido do tumulto ao meu redor mas
morrendo de medo. Uma grande tentação tomou conta de mim. Eu sabia sem dúvida, como eu havia reconhecido a
possibilidade de usar o feitiço e era apenas uma questão de decidir ver ou não as energiam que circulavam ao meu redor. Vê-
las, contudo, teria significado subjugá- las o que por sua vez significava ter muita força pessoal. Minha tentativa de dominá-
las também significava estar a mercê delas.
A tentação era grande e o poder havia ai, era uma oferta irresistível. Eu tinha uma leve impressão que tinha algo a ver com
a historia da minha raça, centenas de anos atrás. Eu não conseguia decidir imediatamente, e a tempestade de energias
continuava aumentando. Somente quando o feitiço quase não conseguia mais me proteger e as energias começavam a atacar
meu corpo que eu devolvi a proposta - e novamente eu sabia com absoluta certeza como se fazia isto - e decidi não ter mais
nada a ver com isto. Foi uma decisão muito básica, contra o poder, e portanto, em favor do amor. A partir daí, o barulho que eu
sabia que estava lá, mas que somente eu e não as outras pessoas da casa podiam escutar, cresceu assustadoramente mais uma
vez e depois sumiu. Lá fora, apesar de eu saber e ver que estava um lindo clima de primavera, uma colossal tempestade
apareceu; ela atacou com trovoes sem dar trégua, furiosos ventos batiam na janela do meu quarto e a chuva batia na terra
continuamente. Eu também sabia sobre esta tempestade, o fato de que ela existia apenas para mim, e isto, apesar de eu não
puder explicar, na verdade nunca aconteceu. Eu também sabia que a decisão que eu havia tomado era apenas temporária, que
de agora em diante, eu não seria mais afetado por estes poderes, mas que, mais adiante quando eu tivesse obtido mais forca
pessoal eu seria confrontado por eles novamente, mas da próxima vez eu estaria forte o suficiente para também ver estes
poderes, forte o suficiente para dominar o que me aparecesse. Depois destes insights, todo o pesadelo cessou, assim como
tinha começado, e eu permanecia as horas remanescentes de minha viagem de forma prazerosa e pacifica.
Podia-se descrever esta experiencia como um ataque psicótico induzido por substâncias e até certo ponto isto é verdade,
porem não se pode parar ai. Assim como com todas as outras experiências como esta, as impressões são tão

82
reais, a existência simultânea em dois níveis de consciência tão claramente e a forma de lidar com ela tão evidente que eu
não tenho duvidas sobre ela ter a ver com percepções extraordinárias da realidade que nós geralmente excluímos de nossa vida
diária. De qualquer modo, eu tive que conseqüentemente mudar meus conceitos, minhas idéias, minha visão do mundo e de
mim mesmo, a fim de que estas experiências pudessem encontrar um lugar dentro desta nova moldura de pensamento que
gradualmente começou a tomar forma em mim. Se eu não tivesse sido capaz de fazer isto, eu teria provavelmente me tornado
um psicótico. As pessoas que ficam psicóticas são geralmente aquelas que não conseguem resolver o conflito entre seus
próprios novos insights e os pensamentos que adquiriram através de aprendizagem, que foram transplantados neles.
Não se pode simplesmente desistir do pensamento, no máximo pode-se suprimi-lo, mas o amor não tem que suprimir
nada. Temos que aprender a pensar certo; tudo gira em torno disto e o que acontece quando entendemos o pensamento
completamente.entendê-lo não significa mergulhar nele intelectualmente mas ter um entendimento simpático dele. Explicar
sentimentos não é muito útil; explicações servem na sua maioria como uma fuga deles. Quando entendemos o pensamento
completamente, ele vai para o seu lugar certo; ele se retira quando não tem mais função a cumprir e quando ele está lá, ele
funciona de forma ordenada. A mente, desta maneira, se torna tranqüila, o pensamento cessa e há percepção imediata.
É exatamente a mesma coisa com conceitos que, por exemplo, nos sempre temos sobre o futuro. Não podemos
simplesmente desistir porque nossa mente funciona automaticamente assim. Elas têm seu lugar em nosso planejamento
pessoal. não precisamos lutar contra eles. É muito mais importante reconhecer que são meros conceitos e não querer se
prender a eles, não se identificar com eles, não se subjugar a eles, mas ao invés, usá-los para o que são: ferramentas de
trabalho.
Quando nos encontramos em um estado de tensão, na maioria das vezes é porque estamos pensando muito. Quando
continuamos a pensar nisto, acumulamos ainda mais tensões. A única forma de diminuir a tensão é não fazer nada. Quando o
fluxo de energia é reativado pelo não fazer, tudo que estava bloqueado vem para a consciência. Portanto tentemos a bloquear
novamente, por que nos dá medo.
A maioria de nós vive com muito estresse. Precisa-se de tempo para se deixar desabrochar. Sob tensão, mesmo uma hora
de meditação ou psicoterapia toda semana não traz muitos resultados. Nós precisamos de lazer para nos encontrarmos, para
nos reconciliarmos com nos mesmos, com a vida, um com o outro. Para ser e para estar juntos uns com os outros, devemos ter
tempo. No estado de não fazer, um processo de esquecimento acontece, que não é supressão, mas esquecimento, que é um tipo
de reconciliação.
Você agora talvez se pergunte como seria a vida em nosso planeta, como seria nossa vida social se cada um de nós
começássemos a viver a partir do nosso âmago, ou pelo menos você possa estar interessado em descobrir como você mesmo
poderia existir a partir deste âmago, no meio de um mundo sem amor e parecido com um deserto. Estas são questões perigosas
que lhe levam a utopia e apenas cobre seu medo, que não estão totalmente vencidos medo de enfrentar a vida de forma
verdadeira sem conceitos, de estar realmente incerto, nunca saber com antecedência, mas sempre descobrir com curiosidade e
surpresa o que a vida quer nos mostrar em seguida.
Quando o amor desperta em você no meio desde mundo exaustivo, você encontrará um forma de viver com ele, de
ensiná-lo, de dá-lhe algo mais. Ninguém pode lhe dizer como será o caminho a frente. Você o descobre de momento a
momento; a inteligência, que o amor contem e da qual você participa, lhe guiará.
Como seria a sociedade se não fosse governada pela estupidez, o ciúme, a inveja e a rivalidade, e as batalhas resultante
disto, como é o caso em nosso mundo, como seria se a própria vida tomasse as rédeas, ninguém saberia dizer. Muitas
estruturas, muitas instituições, ate o ponto de que eles expressam nosso mecanismo de defesa, certamente desapareceria,
outras se formariam totalmente novas. A atitute que as vezes aceitamos em política e em todos os lugares, que o fim jutifica os
meios, cessaria de ter significado, porque neste caso, funcionaríamos a partir do insight que os meios já contem o fim. Se nos
conseguirmos mudança através da violência, nós perpetramos a violência. A não violência não pode ser estabelecida através da
violência, e isto significa que nada mais que a liberdade, o amor, a inteligência, insights e beleza devem estar no inicio e não
no fim. Isto implica que se eu quero mudar o mundo eu devo começar a viver sozinho, em meu próprio lugar, como se ela já
tivesse mudado e que eu devo dizer NÃO a tudo não estiver ok. Sua vida com certeza se tornará simples. Quase tudo cairá por
terra, porque quase tudo não está certo. Você certamente viverá mais comtemplativamente, esteja muito sozinho mas não
solitário. Se cada um de nós começar a viver a partir de sua própria solidão, mas sem ser isolado, então o paraíso no qual nos
na verdade vivemos já começaria a florescer.
***

Aqui estão alguns trechos de um relatório pessoal sobre a experiencia do amor e a perda de conceitos, que novamente foi
originada dentro do contexto de uma sessão psicolitica da Sociedade Suíça de médicos para terapia psicolitica.
Ver o que esta dentro de mim, em meus relacionamentos e no mundo, sem reserva, sem chamar de bom ou ruim, sem
brigar com ele, simplesmente aprender a olhar para ele, parece-me algo extraordinariamente importante. Se

83
confrontar com o que é inevitável sem nenhuma ilusão tem uma qualidade não só alarmante mas também extraordinária.
Explicações só nos distancia dos fatos; o pensamento nunca está em uma posição para entender o todo. Para se entender o
todo, o pensamento deve aprender a se calar.
Se eu não começar a fazer isto agora, eu nunca farei, mesmo quando eu me enganar e pensar que antes de fazer isto eu
só quero procurar melhores condições para mim.
Em relacionamentos que significam aceitar sem resistência o que realmente somos e podemos ser um para o outro, para
primeiro descobrir e ter certeza disto, e depois viver de acordo com nossas descobertas em um processo ininterrupto. Que
podíamos ser "nada" um para o outro também é uma possibilidade que deve ser incluída. Viver incondicionalmente com" o
que é" é amor. No amor não há nem poder nem impotência, há apenas situações de aprendizagem e um senso de crescimento
vivo que sempre se apresenta de um nova forma e que o homem o homem só pode encontrar em estado de alerta e com auto-
responsabilidade. Amar significa acima de tudo, deixar o outro ser absolutamente livre, aceitá-lo e não capturá-lo em
expectativas e projeções. Amar é ser completo, é se unir ao todo. Ser completo significa ser capaz de agir num sentido total,
ser capaz de dizer uma SIM total e um NAO total. Apenas um ser humano total pode entrar em relacionamentos totais, por
isto ser total vem em primeiro lugar. Portanto a metade também é bom, porque nela está escondido o caminho para o todo.
Ser completo nem sempre significa a mesma coisa, como existem diferentes planos de integração. Cada pessoa deve
tornar-se completa em tempos diferentes, de maneiras diferentes. O medo da entrega final, da qual temos a tendência de nos
defendermos repetidamente, é o medo do amor. Lá você encontra o apego interno, este controle que sempre causa
manifestações psicossomáticas: um apego a idéias, conceito sobre si mesmo, sobre relacionamentos, sobre a vida e assim por
diante, sempre tem a ver com certo e errado, se eu devo ser desta ou daquela maneira.
Este apego geralmente se projeta para fora o que depois leva a apegos em relacionamentos e a ser dependente da
opinião de outras pessoas, organizações etc. Nos apegamos a tudo que oferece segurança - a segurança de não estar perdida
numa confusão, segurança de saber o jeito que as coisas são. Isto geralmente leva a dogmatismo, a diferenças de opinião, a
defesa agressiva, assim que eu sou ameaçado com um caos.
É como se pudéssemos sentir a criança dentro de nós. Apreensiva por causa de todas as outras opiniões e pontos de
vistas comunicados a ele e solicitados dela, sobre como deve e como não deve ser. Até que não consiga mais ser do jeito que
era mas poderia apenas mergulhar ansiosamente, procurando desesperadamente por alguém que pudesse amavelmente dizer
do que se tratava, como as coisas devem ser, e etc. Ao mesmo tempo podemos aceitar o que leva a constante revolta, a
odiarmos dos quais dependemos, as nossas ações iniciais para libertarmo-nos que nos faz mergulhar num caos ainda maior.
O que realmente precisamos fazer é observar o medo, observar a criança suprimida muito cuidadosamente, e depois
observar da mesma maneira o caos por trás disto, sem nenhum conceito sobre como deve ser, simplesmente observar. Então o
caos não é mais caos. O caos surge porque eu começo a sentir medo e começo a agir no pânico (correr descuidadosamente).
Quando eu simplesmente observo o caos, eu eventualmente reconheço, sem medo, a corrente de vida desestruturada que flui
através de mim, que nunca pode ser conhecida, que nunca pode ser mantida na imaginação de alguém ou entendida através
de um conceito.
Eu reconheço que eu não posso nunca saber ao certo ou absorver eu mesmo ou outra pessoa o sentido da vida como um
todo, que ao contrario eu devo desistir disto afim de ficar livre, para poder realmente observar sem nenhum empecilho.
Somente de momento a momento posso entender o que acontece comigo ou com os outros, ou o que realmente é a vida. Assim
que eu formule um conceito sobre ela, a compulsão aparece, que impede a vida de se desenvolver mais.
Não saber, mas observar com curiosidade, é a atitude na qual eu realmente começo a entender e da qual eu nunca devo
me desviar. Todas as afirmações feitas a meu respeito são portanto inválidos, não importa quem os fez, assim que alguém diz
saber como o homem realmente é, como eu sou, como a vida é ou deve ser levada, ele certamente esta errado e ele revela o
fato de que ele coloca um conceito baseado no medo, que ele tenta subjugar outros com seu conceito, baseado em sua
necessidade de segurança (é assim que igrejas, partidos políticos, órgãos e escolas publicas surgem).
Quem quer que realmente saiba observará junto comigo sem manter nenhum conceito ou opinião - isto sendo uma forma
de violência. Você não pode fazer nenhuma afirmação definitiva sobre "como somos", "como devemos ser", ou "como
devemos viver"- nunca! Podemos meramente aprender a entender a cada momento, nos abrirmos para a forma pela qual a
vida gostaria de desabrochar em nós e deixá-la tomar a o próprio rumo. Problemas não surgem porque a vida flui onde
queira, mas porque no tentamos abarcá-la, de alguma forma. Ao reconhecer este processo, toda dependência, todo vicio é
dissolvido. Você se torna único. O vazio, o nada que sempre procuramos evitar através de relacionamentos, por exemplo, se
transforma em um vazio que é estático e preenchido.
Se voltar para a vida, para si mesmo, para tudo, é a solução de todos os problemas. Estar aberto, estar sensível, estar
atento, ficar atento a toda tendência de violar a vida, esta realmente é a solução. Não a solução para os próximos 50 ou 100
anos, mas a solução para cada momento. Não há segurança, mas também não há necessidade para ela. A

84
necessidade de segurança também acaba aqui. Este mal básico da raça humana simplesmente para de existir, porque foi
reconhecido que a maior e a única chance de segurança está em aceitar a incerteza e a mudança.
Problemas psicológicos não podem realmente ser resolvidos. Eles se dissolvem por si mesmo neste processo de
liberação, não sendo resolvidos, mas deixando de serem problemas, porque você vê que eles não são problemas mais, quando
você libera o causador do problema.
Aceitar estar a mercê de alguém ou de alguma coisa completamente parece terrível inicialmente, mas com o tempo perde
esta característica. Então se vive neste mundo terrível com o espírito de um bebe inocente. Geralmente tem que se sofrer com
enxofre e fogo, no barulho, na violência, mas pode-se com freqüência fugir do mundo dos humanos e se sentir transportado
pela corrente da vida, que se encontra na natureza sozinha, independentemente das pessoas. A se abre em toda sua imensidão
O desejo pelo todo, por um mundo completo e saudável, é algo estranho. Por um lado é um vicio. Quando abrimos mão e
o satisfazemos ele desaparece e acabamos em uma mediocridade satisfeita ou em frustração. Quando por outro lado,
podemos deixar acontecer, ela nos consome, torna-se pura chama, que rasga o coração abrindo-o e preparando para a fonte
dourada do amor e da vida que então começa a fluir, auto-suficiente, surgindo para os outros, se dando e compartilhando.
A solidão do coração é um sentimento maravilhoso quando podemos nos abrir para ela totalmente. Ela tem grande
beleza e profundidade e se abre numa imensurável expansão em nós. Reconhecer o fato de minha solidão, vê que eu
realmente preciso dos outros, me abre para a amizade, que para mim contem uma solidariedade sentida no coração em total
liberdade.
O vicio resulta de um bloqueio criado por não sermos capazes por um lado, de tolerar, e por outro por não termos sido
capazes de compartilhar a solidão, isto é, ela surge do conflito entre o desejo e o medo da intimidade, que se encontram lado
a lado. Um conflito, enquanto não for resolvido, leva a isolamento interior.
Ainda há muito a dizer, sobre tudo porque nunca se pode dizer tudo, por exemplo, sobre as primeiras horas da manha na
lagoa cuja água enlamaçada parecia sustentar toda a vida, sobre o verde escuro das velhas arvores recém despertadas, ou
sobre o canto incansável do melro na floresta de pinho por trás da casa.
Em outro dos meus relatórios eu encontrei insights sobre a quietute que eu gostaria de compartilhar com vocês aqui.
Eu perdi todas as palavras e pensamentos. Tudo parecia estar parado. Eu estava perfeitamente vazio, pura observação,
junto com aquilo que é. Ao contrario das duas ultimas sessões o que eu observava não despertava nenhum sentimento trágico
mais, apenas o nada. Simplesmente estava ali, o comentarista interno ficou em completo silêncio. Eu permaneci por muito
tempo neste estado, sem imagens, nada, um efeito que não tinha absolutamente nada de espetacular, que era quase
imperceptível.
O vazio interno era simultaneamente uma completude na qual tudo estava contido, um sentimento de perfeita unicidade
na qual eu me liberei completamente. Apenas o outro estava lá. Neste meio tempo, lá do fundo, ondas de insights surgiam que
tinham menos a ver com pensamentos do que com expressões diretas de consciência de alguma forma como uma maneira
direta de ver: "o velho deve cessar completamente, para que o novo possa surgir. Todos os velhos padrões devem morrer
completamente, afim de que o novo venha. A morte é vida, é amor. Estar totalmente próximo de si é estar totalmente próximo
do outro. Em completa devoção ao outro. Eu desapareço completamente. Sem esta preparação, a disposição para
compartilhar, para compartilhar-se e para participar, uma sociedade baseada no amor,na harmonia e sem conflitos nunca
pode surgir"
Eu fico em meu lugar, neste estado, a maior parte do dia, fisicamente totalmente imóvel acompanhado de uma grande
sensação de bem estar. De vez em quando alguém vinha me ver, segurava minha mão, trocava alguma palavras; mas tudo
isto era incidental. A verdadeira comunhão acontecia de coração a coração. Com meu coração eu estava próximo aos outro
assim como estava próximo de mim mesmo.
E novamente aqui, de outro relatório, estão alguns pensamentos sobre loucura no mundo
No mundo eu vejo duas visões basicamente diferentes:
a) Existe um mundo, uma vida, um estado de ser, no qual as seguinte regras se aplicam:
Eu estou aqui como um objeto limitado e eu vivo com outros objetos limitados. Eu sou, eu devo fazer minha vida, eu devo
ter tudo sob meu controle e assim por diante. Nossa união esta marcada pelo medo, inimizade e coisas similares.
Talvez esta visão corresponda a verdade, talvez seja uma ilusão, de qualquer forma quando eu vejo o mundo desta
maneira, ele é assim, e eu me sujeito às leis que esta visão das coisas implica.
b) Também existe um mundo, uma vida, um estado de ser, no qual outras leis se aplicam: leis holisticas.
Eu sou o todo. Cada um é o todo. Não há fronteiras, E; você e eu estamos em boas mãos com Ele, dualidade cessa, não
ha separação entre o observador e o observado. Tudo se move por si

85
Mesmo, milagres acontecem, a vida é uma maravilha mágica que não pode ser absorvida, entendida, explicada ou presa.
O amor, a paz e a alegria determinam nossa vida juntos
Talvez esta visão seja para se manter com a verdade, talvez seja uma ilusão. Em qualquer caso estas são as leis que se
aplicam quando eu vejo o mundo desta maneira. Talvez ambas sejam ilusões e a questão é em favor de que ilusão eu decido:
a ilusão da segurança ou a ilusão do amor. Porque por qualquer uma que eu opte é a que eu terei.
Talvez ambas sejam validas, ambas têm seu lugar, a mesquinhez , a pequena, o "eu" tem seu lugar onde pode mostrar
suas capacidades, onde pode governar e onde pode ser efetivo e quando mais ampla a presença imensurável, se desdobra ali
onde o pensamento fica na retaguarda e em silencio.
Talvez nossa doença é que o pegueno quer tomar todo o espaço, e negar o espaço pequeno onde ele deveria estar
realmente funcionando, ou que nossos sintomas são expressões de um maior tentar empurrar em nossas vidas enquanto um
menor resiste.
***

Já deveria, na verdade, ser verão agora. Os dias deveriam estar quentes, e as noites frescas com andorinhas voando alto.
De vez em quando tempestades deveriam se descarregar sobre as abundantes plantações de milho e o cheiro de fresco deveria
ter acompanhado a diligente atividade de fazendeiros querendo trazer a colheita antes do escurecer.
Já deveria, na verdade, ser verão. De fato é verão, mas os dias estão frescos e as noites frias. Vestido em um grosso
pulôver de inverno, eu estou no lado de fora da casa de campo esta noite na qual durante os últimos poucos meses eu as vezes
encontrei um lar.
Muitos estão com raiva por o tempo não estar como deveria estar. Muito tem sido dito sobre ele. Mas será que eles vêem a
beleza desta noite que não esta do jeito que deveria estar?
Apesar de um forte vento balançar as cerejeiras em frente da casa. Está estranhamente quieto. Há uma totalidade que
envolve a floresta e os campos e o céu acima também. O céu revela pintas azul escuras que são quebradas por vezes pela luz,
lampejante, nuvens inquietas que não se sujeitam a nenhuma ordem ou unidade em seus padrões. Neste momento, as
montanhas de pedras escuras e pontudas no fundo parecem leves e quase espirituais, por causa do sol da tardinha que parecem
brilhar por entre elas e as sujeitam a constantes mudanças. Agora ele ilumina um pico, e os outros se retiram para a sombra e
então aquele surge novamente e este parece desaparecer. Uma batalha mágica de gigantes!
Os campos refletem uma cor indefinível, mal se sabe se já é amarelo ou ainda verde. Somente um fazendeiro permanece
do lado de fora; ele coloca a grama para dentro. Ao longo do caminho da casa um passaro de tamanho médio pula de um pé de
milho para outro. Sua plumagem marrom é quebrada por uma pinta vermelha no peito e na cabeça ele carrega um topete
branco. Sua dança parece estar relacionada com a dança das montanhas escuras e também com a dança da cortina de bambu
que inclui a varanda onde eu estou sentado e que se move com o vento, fazendo um leve barulho, ao mover-se. A dança dos
pássaros parecem muito ligadas também ao movimento de sobe e desce das nuvens prateadas assim como também com o
sussuro do vento nas folhas da cerejeira ou nos pés de milho do campo. Há algo que lhe preenche completamente e lhe
envolve quando você se abre para ele. Uma tristeza também, que não contem nada de triste, mas sim algo puro e limpo que lhe
deixa prazerosamente vazio. É uma noite que é tão extraordinária quanto qualquer outra, quando eu a percebo - apesar de não
ser como deveria ser.

6 Sobre parar de usar


Me contaram algumas coisas sobre uma fronteira muito definitiva. Uma fronteira muito estranha que nem pode ser
exatamente localizada nem descrita. Não é uma fronteira material ancorada na realidade, mas uma fronteira em espírito.
Encontra-se em todo lugar, tanto em relacionamentos como na solidão, na natureza como nos trabalhos humanos, em
pensamentos como em sentimentos. É uma fronteira que não é guardada porem não é fácil de se atravesar. É bem aberta e
transparente mas é claro somente quando vista de onde você está agora. Porem primeiro ela tem que ser encontrada.
Geralmente não se pode atravessá-la simplesmente por que não se consegue reconhecê-la
Uma vês cruzada você está lá, tem um aspecto totalmente diferente. Então você certamente sabe aonde é, mas não há
retorno. A passagem de volta esta fechada e selada. É claro que não é por ser guardada do outro lado. A dificuldade de cruzar
consiste em você ter sido transformado quando atravessou a fronteira afim de que você possa não mais voltar. É como se ao
passar por uma pequena porta você se expandiu enormemente e agora não pode voltar por ela por que você ficou muito grande
para ela.
Na verdade isto não deve ser um problema já que quase ninguém quer voltar. Já que você se tornou muito grande para a
porta, você não se adequa mais à terra de onde veio. Instintivamente você sabe que não mais se sentirá bem lá, portanto logo
após cruzar a fronteira você rapidamente esquece de lá apesar de antes ter procurado tão intensamente.
Em minhas jornadas interiores, substâncias psicolíticas foram minhas companhias e agentes mais fieis. Portanto é difícil é
mais difícil deixá-las. Mesmo assim tem que se fazer isto. Deixar, quando se faz da forma certa, é um processo longo. Aqui,
nada se quebrou, ninguém foge, estes sentimentos também. Que têm a ver com a separação e liberar,

86
demandam que sejam totalmente apreciados e totalmente entendidas. No curso de meus confrontos pessoais com eles, eu
abandonei estas substâncias diversas vezes. Primeiramente, foi uma questão de abandonar em termos de tempo, que
coincidiam com fases de duvida ou intensos períodos de trabalho em outros níveis. Nos últimos poucos anos a ultima vez que
abandonei este úteis aliados ficavam cada vez mais próximas. As experiências dramáticas e fascinantes ficavam cada vez mais
raras e eram substituídas por eu deslizar em um estado de paz resoluta, que nao continha mais nada de espetacular. Este estado
era cada vez menos distinguido do estado no qual eu normalmente me encontrava. Muito gradualmente eu aprendi a estar
presente em todo momento, a estar totalmente com o que é, pois minha consciência tinha se esvaziado pouco a pouco. Eu
endenti e absorvi meu "ser nada" e ao mesmo tempo o movimento interno e externo tornou-se o mesmo.
Naturalmente, sai-se deste estado varia vezes, e portanto gostaria-se de ter a oportunidade de ser ajudado. Não se quer
ficar inteiramente sozinho ou ainda assumir toda a responsabilidade. É portanto difícil abandonar estas substâncias que
revelaram e deram tanto. A clareza de insights, a profundidade de sentimentos também, não está sempre lá no estado normal
de ser. A tendência ao vicio e o sentimento de que gostaríamos de ter isto para sempre, continuam surgindo. Também o
sentimento de impotência de conviver com o que está no mundo é muito difícil de aceitar, portanto ha sempre uma tentativa de
escapar desta situação através de falsas esperanças que também são nutridas por estas substâncias sedutoras.
Eu lentamente descobri, contudo, que tomar estas substancias não me estimulavam como antes, mas me deixavam exausto
e começavam de fato a drenarem minha energia. Cada vez mais eu precisava de fases mais longas para me recuperar de uma
viagem. Para ser eu novamente. Então eu comecei, inicialmente meio contra minha vontade, mais tarde com interesse e
ultimamente como sempre com insights, para reconhecer o fato de que chegara o tempo de me despedir, de deixar ir, que se eu
não o fizesse, meus amigos úteis se transformariam em inimigos que poderiam me destruir e que eu deveria abandoná-los
totalmente. De guias significativos eles se reverteram em serem remédios normais que não tem valor para aqueles que não
precisam dele no momento. A viagem ainda não acabou, em um certo sentido só agora ela começa a decolar por si só. Sem
nenhuma ajuda.
Um último relatório para ilustrar como o insight surgiu que me levou a abandonar as substâncias.
Eu sou AQUILO, cada vez mais eu sou AQUILO; aquilo que é, aquilo que é no momento. Isto se torna verdade em minha
vida, com ou sem substâncias. Eu preciso deste ultimo cada vez menos. Sinto isto fortemente. Eu sou AQUILO de qualquer
jeito, eu sou de qualquer forma o que é. As vezes eu preciso fugir do mundo.
Ir para a tranqüilidade, para me recuperar sozinho no isolamento, na solidão, na natureza. Lá eu encontro aquilo do que eu
ainda não estou cheio. A profundidade, o espaço, o movimento infinito, o amor, a totalidade. Mas a tristeza também
acompanha este isolamento, que ainda não é totalmente aceito, que ainda me separa da coisa. Lá eu encontro uma dor
embrutecedora por conta da raiva, enorme falta de entendimento que é para ser encontrada em todo lugar. Aqui a compaixão
também acorda, que novamente me leva de volta para as outras pessoas que repetidamente sussurram para mim que com
certeza vale a pena suportar tudo isto, as lutas e batalhas infindáveis, os conflitos, a eterna superficialidade, a má vontade, a
inveja, o ciúme, a ambição, as paredes por toda parte. Para suportar tudo isto e para trabalhar para desmontar tudo isto, é
contudo necessário apesar de parecer impossível ser capaz de explicar mesmo para uma única pessoa de que se trata.
Impossível que alguém absorva o significado ou veja ou entenda. Portanto é necessário sempre aprender mais sobre o
sofrimento e a miséria em nós mesmos e no mundo e cavar mais fundo naquilo que é e se tornar parte dele; ser aquilo, ser
amor. Participar de suas maravilhas, enquanto estando com medo dele, escapar cada vez menos. Simplesmente ser.
E a noite quando você está lá completamente parado, sentindo a amplidão e a calma da paisagem, quando o ego
finalmente adormece e silencia, você escuta a coruja chamar na floresta próxima. Seu chamado é eterno, com um desejo forte,
que dói. Então você é aquilo. Ele leva você embora e você entende, você é a coruja, você sente seu desejo, sua busca, que
também é sua. Você não está separado de tudo isto. Você é enaltecido como a coruja pelo silencio da noite e tremenda alegria
surge por ter permissão para viver, para participar e uma infinita tristeza toma conta de você quando se pensa o quanto
raramente se tem permissão para se estar com os outros seres humanos, o quanto eles não percebem e o quanto não podem
compartilhar. Esta alegria e esta tristeza se misturam novamente em compaixão que prepara você novamente para o próximo
dia cheio de maravilhas, mas também, infelizmente cheio de horror também.
Não é todo dia que um terapeuta tem a oportunidade de acompanhar alguém pelo que foi descrito aqui na segunda parte
deste livro. Terapia, terapeuta, cliente, estudo de caso, todos estes conceitos são dissolvidos nesta experiencia juntamente com
as estruturas e padrões de relacionamentos. Eles devem se dissolver a fim de esta experiencia se tornar possível. O amor só
pode ocorrer em um relacionamento genuíno e o relacionamento terapêutico é comprado e não dado, vendido e não doado.
Um terapeuta é uma prostituta exaltada. Ele tira vantagens de um estado deplorável de coisas, do fato de que
relacionamentos não têm mais lugar no mundo. Ele usa isto e vive disto. Se ele não estiver consciente disto, e portanto não
trabalhar em dissolver sua profissão, ele é perigoso. Ele é então um mini guru que cultiva a dependência ao invés de ajudar a
superá-la. Este padrão deve desaparecer: é por causa disto que encontros de amor incondicional não acontece com freqüência
em psicoterapia.

87
Acontece freqüentemente que clientes neste ponto na relação procuram uma oportunidade para agir como amigo com
você como terapeuta, para seguir um caminho pela vida juntos ao invés do caminho terapêutico. A maioria das vezes isto leva
a separação e à dor que ela implica que temos que integrar no todo. Mais rara é a possibilidade de algo diferente surgir deste
relacionamento terapêutico . deve-se permitir que isto ocorra. Quando eu sou pessoalmente confrontado por meus clientes
com perguntas que provocam divisão tais como: posso ser seu amigo? Eu tenho uma resposta simples que, via de regra, deixa
muito claro até que ponto esta necessidade surge de uma tentativa de ser capaz de resgatar sentimentos não resolvidos de
dependência na vida adulta. Eu solicito que eles comecem simplesmente por serem meus amigos, se quiserem! De fato quem
rejeitaria um pessoa que realmente quer ser amigo? Na maioria das vezes há um silencio e a conversa se vira para a separação
e a dor da separação.
Dependência psíquica surge em psicoterapia porque padrões de comportamento infantis são reativados juntamente com
suas necessidades inssaciadas. No fim da psicoterapia quando estes padrões, juntamente com todos os sentimentos que estão
relacionados são trazidos para a consciência e foram trabalhados e integrados, significa dizer adeus, digerir a dor envolvida em
resolver o relacionamento simbiótico e trocá-lo pelo prazer de ser capaz de ficar sozinho. No final a dependência deve ser
totalmente dissolvida. Com este entendimento a questão de ser psiquicamente dependente de substâncias empatogênicas e
psicodélicas também clareia. Não é a substancia que faz você dependente. É a dependência, já a mão que se desdobra na
pessoa que calha de tomar a substancia, a dependência consistindo do fato de que ele carrega sentimentos não resolvidos com
ele, que ele gostaria que alguém interceptasse para ele.
A pessoa, portanto se tornará psiquicamente dependente do terapeuta, da psicoterapia, das substancias, do grupo e
finalmente de tudo, na necessidade de realmente se conhecer. O que há de errado com isto? É simplesmente inevitável assim
como qualquer outra forma de psicoterapia.
Por esta razão o problema está em algum outro lugar completamente diferente. O perigo é que dependência, assim como
em outros métodos, não é trabalhada e resolvida, mas vivenciada e que ela poderia se transformar em uma resistência contra ir
adiante. Toda dependência não resolvida tem um potencial perigoso de onde as guerras e todos os horrores de nosso mundo
procedem. Portanto estas substâncias, exatamente como a verdadeira, isto é, a indesejada psicoterapia, tem um potencial
perigoso. Perigoso no sentido de que são um perigo para toda falsa estrutura que são fundadas na resistência em resolver
dependência (igreja, família, festas, etc.) mas perigoso também no sentido negativo de que elas podem ser realmente mal
utilizadas. Levando a prejudicar futuros progressos.
As substâncias que acompanharam-nos ao longo do caminho não têm valor em si mesmas; seu valor está apenas no papel
de intermediários. É inevitável que nós finalmente nos libertemos pois enteogenos e o trabalho com elas também oferecem
grande perigo de cair na ilusão. Cada forma de terapia tem seus próprios truques. Um dos truques do método psicolitico é que
estas substâncias transmitem esperança, por causa disto, elas impedem a aceitação final da impossibilidade da inevitabilidade
do que é. Percebe-se facilmente quando chega a hora de abandoná-las, ao se prestar atenção ao próprio bem estar. De repente a
experiencia com substâncias não traz mais alivio, não traz mais insight, e leva cada vez mais à exaustão. Então é hora de parar,
completamente ou temporariamente. Talvez você passe por uma segunda ou terceira fase então, na qual o acesso a estes
agentes se tornem importantes novamente. Mas em algum momento você chegará ao ponto onde toda a verdade que estes
instrumentos podem revelar já são do seu conhecimento e então finalmente é hora de dizer adeus ou então haverá o perigo de
sua mente criar lodo, pois aqui, assim como em qualquer outro lugar ao longo do percurso é verdade que se segurar a algo
bom que já serviu seu propósito, transforma o bom em um veneno que dali em diante nos prejudicará.
Cada forma de terapia produz sua própria forma de resistência e, nas mãos de um terapeuta dependente que não deixou
ele mesmo sua infância, torna-se um obstáculo a um maior desenvolvimento. O mesmo acontece com a ferramenta psicolitica.
É pouco provável porém que alguém as utilize erroneamente por muito tempo por que a pessoa afetada eventualmente não
será capaz de suportar fisicamente e cairá. Contudo um terapeuta, até que ele mesmo ou seu cliente tenha alcançado este
ponto, pode causar muito dano. Por esta razão é importante que ele seja um sr humano maduro.
Agora poderia-se começar novamente com todo o jogo da segurança: criar instituições, inventar critérios para treinar
terapeutas que garantam que ele ou ela estão ok e assim por diante. O que por sua vez terminaria se transformando em uma
estrutura de poder que perpetua o oposto do que é realmente necessário e atrai apenas pessoas dependentes que não querem
crescer. Portanto não há nada mais a se fazer que começar a distribuir responsabilidades com cada indivuduo, o cliente assim
como o terapeuta. O que não começa com liberdade também não termina em liberdade. Quando o objetivo é a liberdade, os
meios para ele também deve conter a liberdade. Compulsão nunca atingirá liberdade - de forma nenhuma!
Aqui está um sonho maravilhoso que um dos meus clientes Beat, teve e que tem a ver com abandonar a segurança das
instituições e da dependência de estruturas sociais. É um sonho que tem a ver com limites que poderiam também oferecer uma
estória profundamente significativa sobre eles. Beat foi confrontada de forma muito forte com fronteiras, sobretudo com
fronteiras que valem a pena cruzar se quisermos deixar a segurança do conhecido em favor de vivermos a qualidade do
desconhecido!
Beat se encontra em uma instituição - poderia ter sido uma escola ou um quartel - longe de casa na fronteira com

88
outra terra. Ele sai da instituição para dar uma caminhada pelo bosque. Ele sabe que fazendo isto ele cruzará a não muito
definida fronteira, calmamente, sem ser notado e sem empecilhos. Depois de um longo passeio, ele espera cruzar com a saída
em algum outro lugar, para encontrar seu caminho de volta para a instituição de onde havia saído. Aconteceu assim também!
Ele alcançou a fronteira novamente mas está chocado em observar que durante sua volta ele escalou em uma espiral e agora na
verdade está bem em frente ao quartel, mesmo assim separado dele por um perigoso declive. Ele tem a escolha - ele ainda tem
a escolha - de voltar ou de procurar outra forma de descer. Pelo bem do conforto ele escolhe a segunda possibilidade. Ele logo
reconhece de qualquer forma - ele agora vagueia cuidadosamente num cume de pedra - que não ha retorno. Ele chegou ao
ponto que não tem volta. Assim que ele percebe isto, ele cai; sua energia o abandona, ele morre e enquento está morrendo
começa a chover.
Este sonho nos aponta para o sonhador que está diante de uma decisão importante. Ele abandonou a segurança de regras e
regulamentações, a proteção de instituições e partiu em seu próprio caminho. Porém ate agora ele só brincou com os sonhos,
agora está ficando serio. Se o medo dele for muito grande ele ainda pode voltar, nada acontecerá a ele se ele fizer isto. Mas ele
deve saber que ir adiante é uma decisão irreversível. Que ele decide ir adiante baseado em um sentimento de indolência que
revela a ele a extensão de seu descuido. Ele paga por isto, na verdade com sua morte; mesmo assim foi uma boas decisão até o
ponto que seja uma decisão genuína. Se ele não tivesse decidido ele teria morrido de medo e terror. Se ele tivesse certeza sobre
si mesmo sua morte teria sido uma transcendência para um novo nível. Não há mais retorno, ele finalmente disse adeus. Adeus
para a neurose, adeus para a velha melodia.
E com isto voltamos para o inicio do livro, fechamos nossa viagem de ida e volta e novamente nos deparamos com a
questão decisiva: " você realmente quer ou não quer?". É a primeira e a última pergunta na vida e na psicoterapia. Tudo que
nos acontece depende da resposta a ela.
***

Como já foi mencionado, quando o amor vem a ser, não é mais psicoterapia, mas um processo da vida em si. Eu não
consigo ilustrar isto com um caso aqui. Ao invés disto eu um resumo de um relatório de um parceiro meu de muitos anos,
Vreni. Aconteceu no contexto de uma sessão de treinamento da sociedade psicolitica para médicos. O texto fala por si e não
necessita de explicações complementares.
Eu devo apenas apontar que, mesmo nesta conjuntura, o uso, acima de tudo de substâncias psicodélicas mas também de
substancias empatogênicas pode ser de grande ajuda, apesar de naturalmente ser apenas neste ponto que abandonar a
substância está sempre um passo mais perto. Contudo, tudo que era verdade nas outra encruzilhadas também é verdade sobre
esta: passa-se por cada pedaço do caminho centenas de vezes antes de se poder finalmente abandoná-lo.
O que devemos nós, seres humanos aprender, ou o que falta em nós que devemos aprender com psicoterapia? Na verdade
coisas muito simples, na verdade. É trágico e inacreditável que tenhamos perdido o mais simples deles. Em psicoterapia você
será ensinado a simplesmente ser, a coisa mais fácil do mundo, simplesmente estar presente, não fazer nada, estar junto com
os outros, ser capaz de se divertir. Você será instruído a perceber. Você aprende a ouvir, a ver, a cheirar: coisas que você já está
perfeitamente equipado para fazer quando veio ao mundo e que, com o encorajamento necessário você teria desenvolvido
mais. Você aprende a sentir: a lidar com os outros e com você mesmo, e depois a amar - sobretudo amar, a coisa mais fácil de
todas. É de sua natureza amar e você não tem que fazer nada porque está em você amar. Mas por causa disto, a coisa mais
simples, foi perdida, você tem que aprender novamente, por exemplo, em psicoterapia. Simplesmente ser, ser comum.ser nada,
tornou-se algo muito extraordinário, porque mal se consegue encontrar isto em nosso mundo. Quando você consegue isto -
simplesmente ser você mesmo, você parecerá de alguma forma muito especial perante os outros, na verdade você será alguém
especial, porque ser especial tem muito mais facetas do que qualquer papel que tenhamos pensado para nós mesmos.
Então agora, vamos ao relatório da Vreni, que ela escreveu após tomar uma substancia psicodélica que é legal e que
geralmente tem um efeito profundo, mas que eu não gostaria de descrever mais detalhadamente aqui.
Uma profunda tristeza surgiu muito lentamente do meu estômago, subindo por todo o meu corpo, que era a minha tristeza
e a tristeza de todos os outros por não podermos nos abrir um para os outros. Mais a frente eu me experienciei como um feixe
de sentimentos: surgiu sentimento de impotência, de ser abandonado, de fraqueza, de frieza e de ser jogado num processo
vivo.
Uma enorme dor veio em seguida, parecendo uma dor primitiva, que tomou todo o meu corpo. Eu era apenas dor e tudo
se acabou nesta dor. O amor e a aproximação e apoio que recebi de alguns dos presentes me ajudou e uma grande confiança
foi despertada em mim. A dor começou a se transformar em um fluxo que eu chamaria de amor. Eu me senti preenchido de
amor. Muitas coisas ficaram claras, coisas que eu antes não conseguia entender totalmente: muito sobre aproximação e
distância e sobre nosso maior medo, de se entregar a outro ser humano e à vida e sobre os nossos medos profundos de sermos
feridos novamente. Esta incapacidade de me render é algo com o qual eu me deparo em todo lugar, mas um profundo desejo
foi despertado em mim de experienciar uma total devoção com alguém.
Estamos todos procurando por isto, mas o fato de termos sido ferido, varias vezes, nos segura e nós ficamos presos na
mediocridade. Se eu não quero que isto aconteça, eu devo arriscar tudo novamente. Eu percebo a minha disposição

89
para decidir cada vez mais a favor disto e percebo como minha vida sempre se torna mais rica e como os medos iniciais se
dissolvem no nada.
Aqui também, neste momento, a tensão se dissipa mais e mais. Eu me sinto redimido e posso reconhecer uma profunda
aproximação com os outros, porque eu me sinto profundamente próximo de mim mesmo. Eu estou constantemente
impressionado com o sentimento indescritível que surge entre eu a as duas pessoas que estão próximas a mim, também quando
somos um trio, contanto que estejamos com nós mesmos. Eu também sinto que os outros poderiam se unir a nós a qualquer
momento, se trouxessem com eles a disposição para a completa devoção que engloba tudo.
Da minha pélvis, uma grande dor interna parece se abrir e ascender. Ao chorar pude liberar esta dor. Onda após onda
surgia e fluía embora. Eu me senti protegido e transportado com as pessoas ao meu redor. Ficou claro para mim como a dor
pode ser oprimente em uma relação e quanto mais eu me entregar aos meus sentimentos suprimidos, mais minha liberdade
interna cresce.
Por um certo tempo meu tema tem sido a solidão que é possível dentro do contexto de um relacionamento: ser capaz de
agir completamente a partir de mim mesmo quando exige um grande esforço de minha parte, de não fugir de mim mesmo para
os outros, não me entregar e sofrer sentimentos desagradáveis. Às vezes eu tenho medo de estar num relacionamento e as
vezes tenho medo de não estar num relacionamento. Isto significa estar comigo mesmo a cada momento e a não evitar o medo.
Um livro inteiro se abriu para mim sobre as possibilidades que temos de fugir. Tudo esta se resolvendo em mim: as
possibilidades de escapar, que eu já entendi, e aquela pelas quais eu ainda estou dominado.
Quanto mais completo o livro fica, mais eu me solto de todas as estruturas e normas da sociedade e às vezes eu devo ficar
completamente sozinho. Então eu devo agir a todo momento a partir da minha alma e não devo saber de nada antes da hora.
Eu sinto que não há nada a esconder e eu posso procurar por todos os pequenos ângulos que eu me permito ver dentro de mim.
Minha cegueira interna me torna cego para o externo. Fica claro para mim o quanto é importante também, não reagir a como
os outros são, mas apenas observá-los. Então tudo se completa e tudo termina em amor.
Isto flui em mim durante todo o dia. Às vezes numa fração de segundos eu percebo os muitos sentimentos de uma sala,
tais como: ódio, ciúme, ira, ambição, alegria, luxuria, tristeza, dor e eles se transformam em um fluxo de amor que engloba
tudo. Geralmente eu encontro tentações que me fazem perder um pouco minha forca. De vez em quando me permito ser tirado
do meu centro, simplesmente por não quere aceitar algo no momento, muito trabalho ainda é necessário, muito abandono,
tristeza e dor até a solidão final, onde eu devo me conectar com os seres humanos apenas em termos energéticos. Com alguns
será bem forte e com outros mais fraco. Eu devo ser transportado pelo todo e estar pronto para morrer a cada momento.
***

Fazendo uma pausa no fim deste ultimo capítulo da segund parte, eu sinto uma forte sensação de alivio. A gestação
resistiu, a criança nasceu.
Vem uma lembrança a minha mente sobre uma experiencia da beleza da natureza no Egito. Numa pequena ilha no Nilo. A
confusão no hotel, os pedaços de beterraba e grama maravilhosamente colocados são todos parte da cena enquanto um
caminho bastante desgastado, seco e enlamaçado me leva ate as margens do rio azul profundo fluindo sob estranhas arvores
que eu desconhecia. Onde a luz e a sombra brincam. De repente inesperadamente, a paisagem e o céu se abrem
simultaneamente. Na verdade não há nada de especial par ser visto: um campo cultivado diligentemente no qual algumas
plantas escassas crescem. Um terreno pantanoso cheio de canas, onde o rio se esvazia pelo interior. Do outro lado há um
campo cheio de bananeiras; tudo está verde - um verde rico e brilhante. Acima disto uma expansão de céu. Uma sombra de
azul que permite que o imensurável brilhe através dela, sem uma nuvem. Na verdade não é nada especial! Nem mesmo os
burrinhos que pastam pacificamente em algum lugar; nem mesmo um homem do local que olha para mim com curiosidade e
se mistura na paisagem como se nunca tivesse mais nada para fazer a não ser simplesmente estar ali. Nem mesmo os carneiros
aqui e ali, nem as abóboras : na verdade, nada ha de especial nisto tudo.
Mesmo assim minha respiração fica parada e por um momento não sou capaz de ir adiante. Há apenas percepção,
entrando, respirando. Uma totalidade colossal da terra, da vegetação, do céu acima, pode ser sentida aqui. Uma totalidade, uma
harmonia jamais vista dos sentimentos de ter chegado, de nunca ter estado fora, de estar em casa, se estende. Está no ar, que
parece estar prenho de energia por todo lugar; está na atmosfera, que une tudo indescritivelmente um com o outro; está no ser.
Há um longo tempo, eu simplesmente estou lá, é apenas lá e é incrível, indescritível. Na verdade não é nada especial, e
mesmo assim de uma beleza e complitude de tirar o fôlego. Há êxtase, vazio e cheio ao mesmo tempo. Alguma coisa
começou; alguma coisa acabou; alguma coisa é.

90
Se pessoas o suficiente se preocupassem realmente em examinarem-se e transformarem-
se, possivelmente que algum dia tivéssemos um outro mundo.
Stanislav Grof

3 O que é terapia psicolitica ?


1 Os sacramentos: sobre a forma que as substâncias psicolíticas funcionam.
Para ilustrar a forma como enteogenos funcionam e para mostrar por que faz sentido usá-las eu encontrei esta bonita e
bem escrita estória Zen.
Um professor de filosofia foi a um mestre Zen e fez a ele varias perguntas sobre Deus e o mundo. O mestre só ouvio e
depois que o filósofo tinha terminado, disse, "já que você veio de longe e parece estar cansado, eu devo primeiro lhe preparar
uma xícara de chá". O homem letrado queria questionar mais, porem o sabio o aconselhou a esperar. Ele sugeriu que beber o
chá,em si, poderia responder algumas perguntas. Enquanto o mestre lhe trazia o chá o professor já se perguntava se não teria
feito a viagem em vão, já que esta pessoa não parecia estar preparada para discutir suas questões com ele.
O mestre Zen simplesmente colocou o chá na xícara até que começasse a esborrar e a bebida encheu o pires abaixo, até
que o professor finalmente gritou "cuidado, você não está vendo que a xícara está cheia e que o chá está derramando no
pires?"
A isto o mestre respondeu simplesmente, "você é como a xícara, muito cheio. Não faz sentido responder suas perguntas.
Primeiro deve surgir espaço em você, para que você possa receber algo novo. Volte quando você tiver se esvaziado."
Enteogenos são ferramentas potentes que podem servir para criar este vazio. Por diversas vezes eu me surpreendo com o
numero de pessoas que se ocupam teoricamente com questões esotéricas, com a psicologia transpessoal, com livros sobre
psycolyticos em geral, e assim por diante. Estas pessoas estão fascinadas por estas coisas, possuem verdadeiras bibliotecas
sobre o assunto, são familiarizadas com os autores e as pesquisas de tal forma que me faz sentir bem ignorante perto delas,
mas elas nunca se entregaram realmente, elas têm muito medo e não percebem que o conhecimento as afasta da experiência
que na verdade tanto desperta o interesse delas.
Eu agora venho para a terceira parte da minha dissertação, isto é, descrever as aplicações práticas da psicoterapia
psicolitica, conhecimento que eu adquiri com o passar dos anos junto com amigos e com parceiro Vreni. Como com tudo há
diferentes maneiras de entender tal tratamento. Cada terapeuta descobrirá a sua maneira e desenvolverá seu próprio ritual.
Assim como s psicoterapia em geral, este trabalho também nunca pode ser totalmente entendido dento de uma única estrutura
porque a coisa mais importante é entender o cliente individual e a situação em um dado momento. Além disto, os terapeutas
também desenvolvem continuamente; lado a lado com sua própria transformação eles também mudarão a forma de lidar com
as pessoas que querem ajudar, que novamente pressupõe uma atitude flexível para cada método possível. Cada terapeuta,
portanto desenvolverá suas próprias regras e criará seus próprios rituais.
Contudo, há certas regras básicas que em nossa opinião devem ser observadas se o objetivo for alcançar todo o potencial
da substância psicolítica.
Antes de discutir o método de trabalho psicolítico, aqui estão alguns esclarecimentos sobre a forma pela qual as
substâncias psicolíticas são efetivas, vistas do ponto de vista cientifico e psicológico. Empatogênicos e substâncias
psicodélicas não são medicamentos no sentido normal, eles são na verdade sacramentos e devem ser vistos e usados como tal.
Se quisermos que ele nos leve ao nosso santuário interno, devemos primeiramente nos prepararmos para isto. O que é
importante é uma certa seriedade sem perder o humor. As substâncias não devem ser usadas de forma leve ou incidentalmente.
Não é por esta razão que eu falo de sacramentos e rituais. Há sempre o perigo de que os rituais possam se tornar mais
importantes do que o evento que acontece em nossa consciência. Contudo este perigo não desaparece com comportamentos
superficiais. Os rituais têm um objetivo que é direcionar aquele que ali estão para um centro comum de atenção. Se utilizamos
música ou se introduzimos exercícios para se alcançar este objetivo, cantar juntos o tocar um congo ou outra coisa, o ritual em
si é pouco significativo - poderia também ser algo bem diferente; o que importa é a atitude com que se conduz, a total atenção
de todos os participantes, os espaços comuns em que entramos por causa dele. Portanto cada pessoa deixa seu universo
pessoal e entra no único universo comum a todos nós. Este é certamente o objetivo de todo o trabalho: descobrir aquele espaço
comum em que o amor e os relacionamentos genuínos podem acontecer. Se quisermos alcançar este objetivo, os meios
utilizados já devem conter isto como parte de sua essência. É por isto que eu falo de sacramentos !
Para uma boa sessão acontecer, uma situação que torne possível uma grande intimidade assim como encontros pessoais e
sentimentos extraordinários, têm que ser criada primeiro.

91
Como as substâncias psicoativas em geral, enteogenos, com descritas por Wolfgang Schlichter por exemplo em um artigo
de revista (Phonix No. 2, 1987) desdobram seus efeitos na consciência através de sua afinidade pelos receptores da célula
nervosa. Esta afinidade é devida a similaridade entre estruturas moleculares destas substâncias e os transmissores, que passam
adiante a mensagem entre as células nervosas. Os efeitos de uma substância são, portanto sempre baseados na inundação de
todo o sistema nervoso central por uma molécula em particular. Já que uma substancia em particular não é igualmente atraída
por todas as áreas da conexão, cada substancia, de acordo com isto, resultará em um padrão específico de distribuição, que o
usuário, juntamente com as diferentes experiências pessoais, aprenderá a diferenciar a seu tempo como os efeitos da
substancia.
Uma boa substância psicolitica tem nenhum efeito em particular em si, mas meramente abre as barreiras da percepção
para que possamos ter uma melhor percepção de nós mesmos. Uma boa substancia psicolitica só nos torna visíveis para nós
mesmos. É claro que ela utiliza uma rota diferente, de acordo com seu padrão específico de distribuição, no que concerne os
receptores largamente ativados, mas o estado de consciência finalmente induzido é sempre o mesmo. Uma substancia ruim, ao
contrário, também desenvolve um efeito especifico apenas dela - isto é, ela também permite que nos experienciemos, contudo
não exatamente da forma que somos por natureza, mas da forma que formos mudados pelo efeito específico da substância.
Exemplos de substâncias psicolíticas ruins, incluiriam em minha opinião álcool em pequena quantidade, anfetamina pura e
provavelmente cocaína também, com as quais eu não estou familiarizado.
Também me parece importante considerar o fato de que cada substancia psicolitica pode ser efetiva apenas porque temos
receptores para elas. Isto é, nós produzimos substancias em nossos corpos que são muito similares às substâncias usadas. Por
causa disto os estados induzidos são estados que são muito familiares a todos nós. Ainda não se sabe muito sobre estas
correlações. Sabe-se que os psicodelicos está relacionado à serotina e é aceito por seus receptores. Empatogênicos, ao
contrário, estão relacionados aos receptores de dopamina e adrenalina. Uma substancia psicolítica ideal teria a estrutura que
fosse o mais parecido possível com o próprio neuro-transmissor, mas que se desintegrasse mais lentamente para que os
receptores estivessem ocupados por mais tempo. A mudança no estado de consciência então percebido se baseia, acima de
tudo, em uma mudança na provável distribuição de ocupação dos receptores. Esta mudança também pode ser alcançada direta
e mentalmente e pode, portanto ser vista como parte da consciência em si.

Empatogênicos
Empatogênicos não têm um efeito alucinógeno. Raramente eles levam a regiões transpessoais extremas e, via de regra,
eles não despertam experiências perinatais também. Eles são freqüentemente mais efetivos na área diária da personalidade,
que eles ajudam a tornar mais transparentes e que obviamente nos ajudam a obtermos insights. Um bom empatogênico não
têm efeito em si, funcionam apenas como catalizadores, que faz com que o padrão de condicionamento do indivíduo fique
mais visível. Ao se abrir um pouco a cortina do inconsciente aparece o que quer que esteja por baixo da superfície. Por esta
razão, cada experiência com estas substâncias é única e não pode ser repetida; uma boa substância não produz nenhum efeito
por si só, apenas torna visível para uma pessoa em que ponto ela está em relação ao seu desenvolvimento e seus sentimentos.
Farmacologicamente os empatogênicos, no tocante a seu efeito nos sistemas biológicos, é considerado o protótipo de uma
nova classe de agentes que, como se diz, pode esclarecer sentimentos. Não é uma substância psicodélica. Praticamente nunca
leva a distorções visuais ou auditivas, como outras substâncias relacionadas a ela. Ao contrário, aumenta em muito a
capacidade empática de uma pessoa, com perturbações mínimas dos processos sensoriais normais e por esta razão parece uma
ferramenta ideal na psicoterapia. É particularmente ideal para os primeiros passos no percurso. Assim que for criada base
suficiente para confiança, ela pode ser usada num cenário apropriado. É também, contudo, útil como companhia nos longos
períodos de estradas turbulentas antes de ser substituído pelo psicodelico, um ajudante que pode ser usado acima de tudo em
ocasiões especiais ou no fim da jornada, como devemos ver mais adiante.
É bem difícil descrever a maneira como tais substancias funcionam porque ela tem a ver com percepções intuitivas e não
com palavras. Regressões profundas, que ocorrem com psicodelico, acontecem ocasionalmente, mas quase não se tem
registros. O cliente na maioria das vezes experiencia muitos insights apenas relacionados com sua atual situação de vida,
voltando às vezes à infância; experiências de nascimento e aspectos de situações perinatais são mais difíceis de acontecer. A
substancia parece afrouxar, temporariamente, as resistências e barreiras contra os insights em regiões e relacionamentos
intuitivos, tornando possível se trabalhar com experiências não resolvidas e emocionalmente bloqueadas. Via de regra, pode-se
reconhecer uma grande melhora na comunicação tanto ao nível de intuição verbal como no de intuição direta. Auto estima e
uma forma positiva de encarar a vida são encorajadas. A expansão da perspectiva espiritual, por um lado, e o aumento da
afeição e do calor humano entre os participantes, por outro, geralmente leva a um claro e continuo alívio relacionado a
problemas originados no passado. Como resultado, o uso de substancias viciantes é também freqüentemente muito reduzida.

Psicodélicos
Substâncias psicodélicas na verdade não funcionam como alucinógenos também, razão pela qual eu prefiro não usar o
temo alucinógeno de forma nenhuma. Elas funcionam assim apenas quando o usuário tende a fragmentar seus

92
sentimentos e a projetá-los. Assim que ele tenha aprendido a reter suas energias dentro de si, as alucinações, e finalmente,
as imagens internas em geral param. Por causa disto, é provavelmente melhor falar em termos de substâncias psicodélicas ou
psicolíticas. Elas também, enquanto forem úteis, agem apenas como catalisadoras.
Anfetaminas, por exemplo, são substâncias que não são adequadas para terapia, por que além de seu efeito catalisador
elas parecem ter um forte efeito especifico da substância. Seu efeito catalisador é enormemente falsificado através da
especificidade inerente à substância. Anfetaminas induzem fortes sentimentos de onipotência e induzem uma visão mecânica
do mundo.
Testar um substancia é bem difícil porque você precisa experienciá-la várias vezes e ter a capacidade de realmente
diferenciar e distinguir entre o que vem da substancia e o que vem da personalidade. Não há outro instrumento com o qual
explorar isto, além da sensibilidade e do espírito humano, que são contudo, ao mesmo tempo os objetos da pesquisa.
Substancias psicodélicas, acima de tudo em altas doses, levam rapidamente, para fora do campo diário e abre largas portas
para as regiões inconscientes, a fim de que o usuário possa ter experiências que parecem muito estranhas para ele. substâncias
psicodélicas levam acima de tudo para regiões transpessoais e geralmente trazem à tona experiências perinatais. Por causa de
sua intensidade, o cliente é normalmente pego despreparado, especialmente no inicio do tratamento, tanto que ele nao
consegue integrar emocionalmente a experiência, rejeitando-a. Elas facilmente aparecem como alucinações, as partes do ser
que foram separadas, sendo vistas como ameaças vindas do externo.
Substancia psicodélicas, da mesma forma, fazem uma pessoa ficar muito sensível e cheia de insights, mas primeiramente
a pessoa é na maioria das vezes abarrotada de percepções que freqüentemente não conseguem ser suficientemente integradas e
são portanto perdidas novamente.
Por causa destas diferentes formas de agir, empatogênico e psicodelico não podem ser usadas na mesma área de
indicação. Enquanto o psicodelico pode ser primeiramente usado em tratamentos progressivos, para ajudar com a morte e
transcendência do ego, o empatogênico é suficiente para embarcar na psicoterapia, não apenas para esclarecer as primeiras
perguntas mas também para a integração das partes separadas da personalidade, que por sua vez levam ao fortalecimento do
ego, ou melhor ainda , ao fortalecimento da personalidade. Se apenas uma substancia estiver ao seu dispor, contudo, ela pode
ser sempre usada como substituto já que a eficácia é fortemente dependente da orientação terapêutica, do contexto pessoal e
do cenário. No fim do tratamento, quando todas as resistências foram em grande parte enfraquecidas e quebradas, as maiores
diferenças na forma como estas substâncias funcionam também desaparecem. Assim que a entrada para o núcleo da
personalidade é liberado de alguma forma, o consumos destas substancias levam muito rapidamente a esta região. O fato de
experienciar este espaço interno não depende de que trilha você percorreu a fim de chegar e portanto não depende também da
substancia em si; apesar da experiencia ser sempre nova, é também sempre a mesma.
Empatogênico é especificamente indicado para pessoas com fobias e todas aquelas com tendências paranóicas.
Psicodelico se presta menos nestes casos, como tais pessoas tendem a se perderem em suas visões internas e a se sentirem bem
com isto, mas é precisamente ao fazerem isto que elas evitam seus problemas atuais de medo da intimidade ou medo de entrar
em relacionamentos. O empatogênico os confronta de forma mais forte neste plano e por esta razão faz com que tenham medo.
Enfrentar este medo os cura. Por esta razão, empatogênico é a escolha certa para o tratamento deles.
A fim descobrir o modo de operar do empatogênico e do psicodelico mais precisamente, eu devo descrever algumas de
minhas próprias experiências. Eu me familiarizei com empatogênico depois de já ter tido experiências por muitos anos com os
psicodelicos. Com a ajuda de tais substâncias eu finalmente penetrei em todos os estados de consciência ao ponto que
consumir estas substâncias nao me trazia novas experiências, apenas as vivenciava mais intensamente do que no meu dia a dia
normal ou que eu achava ser o dia a dia normal na época. As experiências mais profundas que eu tinha tido sob a influencia do
psicodelico foram aquelas nas quais eu parecia ter me tornado único com todo o universo, no qual eu conseguia capturar toda
a expansão do espaço cósmico em mim e no qual eu me tornei uma parte do processo que incessantemente cria o cosmo e tudo
que ele contem, do nada.
Estas experiências me atraíram tanto que no inicio eu não queria voltar destes reinos para a realidade da vida diária e
ficava deprimido com a desesperança e a mesquinhez de nossa vida neste planeta. Mais tarde isto foi revertido. Eu tinha medo
destas experiências exatamente por que ela ameaçavam me alienar demais de minha existência material e ficava preocupado
em não conseguir gerenciar adequadamente isto, caso parecesse muito insignificante para mim.
Mais tarde, quando eu fiquei conhecendo o empatogênico, eu pude resolver este profundo dilema e suprir os elos que
faltavam na corrente. O psicodelico tinha me levado muito rapidamente ao domínio de unificação cósmica antes de eu
chegasse a um acordo com a desesperadora situação do nosso mundo diário. Isto levou a um desejo temporário de morte e
mais tarde, como minha vontade de viver era muito forte, a um bloqueio destas experiências.
O empatogênico trouxe a tona uma completa reconciliação com o nível de existência corporal. Ele conseguiu liberar os
aspectos aprisionados de amor e de sensibilidade ao nível humano, que levou a grandes mudanças em meus relacionamentos,
sobretudo com homens, mas também com mulheres e mais uma vez com a natureza e com meu

93
trabalho, assim como também com relacionamentos sociais.
A Terra definitivamente deixou de ser um vale de sofrimentos e se tornou um lugar feliz e agradável. Eu reconhecia cada
vez mais oportunidades de levar uma vida harmoniosa, sem conflitos, no meio da confusão, mo meio do sofrimento em si, que
nos circunda. Eu entendi ainda mais claramente que nós temos um paraíso absoluto neste planeta se o reconhecermos, e que
este paraíso já está ai para quem quiser perceber; está ai junto ao tumulto com o qual temos que simultaneamente encontrar
uma forma de lidar. Que esta atitude mais positiva e afirmativa e especialmente a atitude de afirmar nossa existência material e
sensual se tornarem possível, tinha a ver essencialmente com o fato de que o empatogênico me levava a regiões bem concretas
de minha vida diária e me mostrava claramente onde os velhos padrões de disposição para sofrer, de tabus, proibições,
sentimentos de culpa e assim por diante ainda funcionavam e estragavam a minha alegria de viver.
Quando eu entrei mais uma vez em contato com o psicodelico depois de algum tempo, e depois destes sentimentos
positivos terem sido integrados, eu tive experiências totalmente novas. A primeira vez, eu tive a oportunidade de dirigir uma
sessão no exterior na companhia de algumas pessoas. Era uma reunião que preenchia todos os requisitos para uma experiencia
profunda, e realmente foi. Nesta época eu também experienciei a união com o universo, eu absorvi a infinitude do espaço,
participei tanto do processo de criação como do poder destrutivo de renovação dos eventos primitivos do universo. Havia,
contudo, uma diferença essencial das primeiras experiências de natureza similar. A alegria, o imenso amor do qual o cosmo foi
feito era o mesmo que preenchia minha existência material. Estar lá era o mesmo que estar aqui. Não havia mais desejos. Eu
não queria ir para lá por que não gostasse daqui; o aqui e o lá haviam se tornado a mesma coisa. Ao contrario, eu estava
prazerosamente repleto de vontade de sempre retornar de lá para cá, em nosso mundo material, já que era aqui que estava o
sentido para mim e meu chamado. O conhecimento de que como parte do todo eu nunca posso estar completamente feliz
enquanto outros sofrem me preenchia mais que nunca e ao mesmo tempo a tarefa de ajudar as partes aprisionadas a se
libertarem se tornou mais um ato de alegria, que eu escolhi de boa vontade do que um peso que eu tinha que carregar.
A unidade de estar lá e aqui ao mesmo tempo, está comigo deste então e tem se aprofundado através das experiências com
psicodelico. Em minha vida diária, ela se manifestou através de uma crescente harmonização de todas as regiões do meu ser. A
possibilidade de realmente viver aqui no paraíso, de ir adiante no meio do sofrimento, e de ser realmente feliz, ficou ao
alcance. Eu também experienciei o significado de sincronicidade com um maior entendimento, o que significa ser guiado pela
vida, experienciar o sentimento de estar em boas maos dentro de um processo infinito que está totalmente ao meu dispor, no
qual eu posso me deixar ser levado e que simultaneamente me convoca a assumir tarefas de liderança, até o ponto em que eu
estou pronto para me conectar com ele.
Isto não significa que todos as dificuldades desapareceram, que elas poderiam desaparecer definitivamente de minha vida.
O conflito termina quando eu paro de produzir discrepâncias em minha mente. Quando eu me certifico que precisamente tudo
em que eu me envolver, no tocante a mim mesmo e àqueles com quem eu me relaciono, esteja certo. Então o conflito
desaparece completamente de minha vida. Porém as dificuldades permanecem da mesma forma. A vida no plano material é
problemática. O processo de vida neste nível é doloroso. Porém é fácil de suportar quando é significativo fazê-lo.
Para mim há sentido nele porque eu perdi algo aqui. Eu me perdi e me achei aqui novamente. Eu perdi você e você
gostaria de se encontra também, novamente. Sem você, eu não posso ser completo.
***

Para encerrar este primeiro capitulo da terceira parte deste livro, aqui estão algumas impressões de um relatório de um
cliente da primeira sessão psicolitica dele que mostram que tipo de enorme energia pode às vezes ser liberada com uma única
experiencia.
Na verdade eu não havia me preocupado muito, anteriormente com o que iria acontecer ontem. Eu tinha decidido
participar apenas uma vez de tal "sessão com substâncias" talvez para provar para mim mesmo e para os outros que eu
também tenho a capacidade para assuntos não convencionais e esotéricos. Eu queria expandir a paleta de experiências de
minha vida. uma experiência que não passasse de uma brincadeira, apenas para poder relatar em ocasiões especiais similar
a alguém relatando suas experiências de um safári no Kenya.
Agora os efeitos começaram a acontecer. Onde eu consigo diferenciar claramente entre o eu e o não eu, agora eu não
sentia mais, tão claramente, minha pele como a fronteira de meu corpo. Que lentamente acordava na sala no colchonete no
chão. Esta mudança, esta variação era morna e agradável.
Então o casal de terapeutas veio até a mim. Eu não queria eles comigo pois eu ainda queria estar sozinho. Eu quase teria
tido: "Por favor voltem mais tarde". Então olhei para eles mais de perto. Eu me senti ameaçado, achei que eles esperavam
algo de mim. Eu olhei para ele, pálido, com este sorriso bobo, amigável, descompromissado. Ele tinha sido meio colocado de
lado tanto que ele sentou-se meio separado de nós na sala. Ela sentou na frente, perto de mim, grande mas não ameaçadora.
Eu notei que ela estava lá, que ela simplesmente estava lá, sem exigir nada de mim. Eu queria muito tocá-la mas não
confiava em mim porque eu estava com medo de que não coubesse tocar, já que tocar tinha algo de sexual. Com certeza não
queria agarra-la entre as pernas; eu só queria seu calor, sentir a maravilhosa

94
redondeza de seu corpo. Então toquei seu joelho, sua perna e era realmente muito bonita, da forma que eu esperava que
fosse.
De repente eu senti as duas mãos do terapeuta apoiando minhas costas. Porém não com firmeza o suficiente. Tentei
acomodar minhas costas, sem fugir da terapeuta porque eu não queria perder a sensação de tocá-la, mas as mãos ficavam
cada vez mais fracas.
Este pai desnaturado, este merda, este covarde simplesmente vai embora e não apóia mais minhas costas, não me apóia
onde eu preciso tanto.
E agora até a mãe vai embora, se afasta de mim, me deixa sozinho, totalmente sozinho, e tinha sido tão lindo. A puta vai
embora, ela não me dá seu calor, deixa-me sozinho. Sua puta nojenta, sua puta nojenta de merda, puta nojenta... o que é isso
me faz nascer e depois não me dá o que eu preciso, sua porca. O que você pensa, me usar para seus objetivos perfeitos e
frustrações, sua puta nojenta. Eu só tinha que ser bom, ser sempre sabido. Bravo! Criança modelo. Eu fiz tudo para
conseguir seu amor. Porém você, você não me deu nada. Quando o papai estava longe, eu tinha permissão para dormir com
você. Por que você não me deu algo então? Além de seu rosto e sua mão eu não me lembro de nunca ter sentido nenhuma
parte de seu corpo. Por que você fez isto? Você mesma é uma pobre porca se afinal não foi capaz de fazer isto, ms isso é
problema seu. Não me interessa. Eu só estou interessado no que você fez para mim e isto é uma coisa terrível, suja e
monstruosamente mal, tudo sob uma capa de hipocrisia esta moralidade pequeno burguesa mentirosa e este catolicismo
hipócrita. Sua puta nojenta, eu odeio você. Não, eu não odeio você, isto é muito pouco, eu nem sequer lhe desejo a morte,
porque seria o fim de tudo. Algo lento, por exemplo um tipo de tortura, como ter os cabelos arrancados, eu desejo algo assim
para você. Mas agora você está velha e doente você não consegue se defender contra minhas repreensões. Isto me deixa sem
ação, eu tenho medo de realmente lhe praguejar...
Enquanto fico aqui assim, o casal de terapeuta se aproxima novamente. Ela sentou-se bem perto de mim mas ele não me
interessou, acho que ele foi logo embora. Eu poderia segurá-la com os dois braços e apertá-la forte. Eu estava com medo
que ela fosse imediatamente embora e me deixasse abandonado. É claro que ela não fez isto. Eu me cansei de segurá-la
firme e a soltei um pouco e ela não foi embora! Simplesmente ficou ali... eu estava feliz de estar com ela, de ser aceita por
ela. Eu me deitei junto dela, me espreguicei um pouco e a segurei firme com apenas um braço e ela ficou, esta mulher
maravilhosa. Eu teria com prazer me aconchegado mais,porém fiquei com medo de muita aproximação. Eu estava morrendo
de medo de não conseguir me afastar rapidamente dela quando não suportasse mais a aproximação mas sabia que não a
tinha perdido.
Como eu descrevo, eu de repente senti uma pontada de consciência: eu não sou um terrível egoísta, que precisa de uma
mulher para poder sugá-la e que decide tudo sozinho, e por ele mesmo, quando e quanta aproximação ele precisa... ?
Em casa à noitinha eu estava muito ocupado com meu pai, eu disse a ele o que achava dele! O covarde nojento, seu
merda que fugia de casa para seu clube musical a fim de não ter de sofrer nenhum conflito com a puta nojenta. Agora estão
casados há 40 anos e se gabam de nunca terem tido uma briga. Estes idiotas que provocam pena. Eu tive esta fantasia: na
noite de entretenimento da sociedade musical. Eu gostaria de manchar minha mãe em sua roupa mais elegante na frente de
todos, de cima a baixo com um grande cocô. Apenas isto, dos mais fedorentos, a coisa mais nojenta que eu pude pensar.
Minha mãe me deu tanto. Foi dela que eu vim, eu a suguei, a drenei. Ela uma vez me disse que depois de mim, a terceira
e ultima criança, ela sofreu de uma seria deficiência de cálcio. Eu me alimentei dos ossos que ela teria precisado para ficar
firme e forte novamente. Ela deve ter me odiado incrivelmente. Um ladrão descarado que tira quase tudo que faz a vida
agradável, incluindo liberdade, porque meu irmão era alguns anos mais velho que eu. O que se deve fazer com uma
criaturinha em quem se tem que investir tanto. Que requer tanto? Faz-se o melhor, no verdadeiro sentido da palavra. Ela não
pode me odiar, a igreja católica é contra e em geral toda a sociedade pequeno burguesa e norma decentes falam claramente
contra isto. Bem então, transforma-se o ódio em virtude. Exigir-se de uma criança até que ele não consiga mais obrigar.
Tirar o bom de dentro dele e reprovar o mal totalmente, proibir, destruir. Uma recompensa na forma de prestigio social por
certo. Uma compensação pelo que a pequena besta que está crescendo tirou de sua mãe...
Este é apenas um pequeno resumo de um longo relatório de uma sessão psicodélica que resultou em uma intensa fase de
terapia. O cliente, um acadêmico, anteriormente viveu uma vida bem ajustada e realmente sem nenhum grande problema,
apesar de ter separado da esposa um pouco antes disto. Ele na verdade sofria de um severo distúrbio narcisista, mas
anteriormente não havia se conscientizado da pobreza do seu mundo de sentimentos. Como ele trabalhava na área medica ele
tinha ouvido falar de nosso trabalho e se inscreveu para uma sessão por curiosidade apenas. Isto o jogou completamente e
inesperadamente para fora do caminho. Ele caiu, de acordo com a figura 3A, das camadas adaptativas, nas quais ele
normalmente se encontrava, para as camadas subjacentes de sentimentos repressivos com ocasionais incursões nas regiões
mais profundas. Por esta razão ele se ocupou primariamente com seu ódio suprimido por seu pai e por sua mãe que ele aliviou
na situação de transferência com o casal de terapeutas. A tristeza que estava por trás só pode ser mexida numa fase muito
posterior da terapia. A coisa mais importante sobre esta sessão, para o cliente, foi o re-despertar que ele vivenciou. Ele foi
acordado de seu sono frágil de saber tudo, de didtancia

95
irônica, de alienação narcisista, de adaptação superficial, e decidiu depois daquele dia a entrar em um trabalho intensivo
consigo mesmo, que antes ele não via sentido em fazer. Sessões posteriores se centraram em discussões e trabalhos corporais
que trouxeram à tona seus sentimentos mais profundamente bloqueados.

2 O contexto pessoal e o cenário nos rituais


As condições mais importantes para terapeutas assim como para clientes, afim de irem mais fundo dentro de si durante
uma sessão psicolitica é ser capaz de aceitar tudo. A seguinte estória Zen diz algo sobre isto.
Na vila em que morava o mestre Zen Hakuin, dizem que uma vez uma jovem ficou grávida. Como o pai a forçou a dizer
quem era culpado, ela disse que era Hakuin. Então depois que nasceu o pai da garota levou o bebe para Hakuin e a deu a ele
repreendendo-o de acordo. O mestre apenas disse, "então é assim que é", tomou posse da criança e cuidou dela. No processo
Hakuin perdeu muitos seguidores mas não desperdiçou nenhuma palavra com isto. A garota sofreu com a separação do bebê
e finalmente confessou para o pai o nome da pessoa que era na verdade um amigo dela. O pai saiu para se desculpar com
Hakuin. "Então, é assim que é" e devolveu a criança.
Em terapia psicolítica, inclui-se sob o termo set (contexto pessoal) todos os fatores psicológicos que podem influenciar o
curso da sessão, como as expectativas e idéias que o cliente traz consigo, não apenas dele mas também as do terapeuta sobre o
tipo de experiencia e sobre o objetivo que se quer alcançar, além da preparação e programação da sessão. O termo setting
(cenário) refere-se ao verdadeiro cenário no qual a substância foi administrada.
Como já foi mencionado, cada terapeuta que se ocupa com tais substancias desenvolverá seu próprio ritual. É disto que o
curso que a sessão tomará vai depender. Como acontece também em psicoterapia, a atitude do terapeuta no tocante às suas
expectativas influenciará fortemente o curso do tratamento em certos casos. Se por alguma razão ele isolar experiências
religiosas e místicas por exemplo, elas apareceram menos freqüentemente.
Durante os anos em que estive envolvido neste trabalho eu aprendi que esta forma de terapia poderia seguir duas direções
que eu gostaria de discutir brevemente.
Há terapeutas que usam isto mais para desencadear processos, em geral processos de grupo ao nível psicodinâmico. Eles
ativam conversação, que de outra forma fica bloqueada, e também outros níveis de expressões e interações entre os
participantes assim como entre cliente e terapeuta. muito se diz dos rituais abrangerem sobretudo exercícios de bioenergética,
cantar juntos e assim por diante. Em minha opinião, mesmo se útil, esta é uma abordagem limitada e não fará justiça às
oportunidades inerentes a esta forma de terapia.
Esta primeira abordagem também tem um papel dentro das outras direções principais que também consideraremos em
nosso trabalho. Porem ele não é o ponto focal, fica na periferia. Nós lutamos por uma experiencia profunda, interna e mística
que se expressa num ser pacifico e meditativo consigo mesmo e com os outros, e somente ocasionalmente encontra expressão
em processos de dinâmica de grupos, especialmente mais pro fim da sessão e também depois da sessão. O encontro consigo
mesmo e com os outros ocorre menos freqüentemente ao nível do pensamento combinado e corporalidade combinada do que
ao nível da percepção direta relacionado com energia e consciência. O nível de dinâmicas de grupo está sempre como pano de
fundo nesta abordagem, mas também está inclusa. Nos meus últimos comentários eu devo descrever especialmente a segunda
destas duas direções principais.
De acordo com nossa experiência, terapeutas que ainda têm que lutar com seus próprios problemas de vício ou serem
viciados em relacionamentos, primariamente se encaixam na situação de dinâmicas de grupo. Um bom trabalho pode ser feito
aqui expondo, acima de tudo, sentimentos repressivos, como mostra na figura 3A mas enquanto o próprio terapeuta tende a
evitar sentimentos profundos, especialmente sua própria solidão, ele, e com ele o grupo também, vê o objetivo do trabalho na
forma de relacionamento e não no estado de solidão, não na integração de cada indivíduo.
O cenário meditativo é gerado para levar para estas regiões profundas e, em suas aplicações estritas, não é adequado para
pessoas com fobias e para aqueles com tendências paranóicas, que tem medo da aproximação e a evitam com alegria em sua
pseudo solidão. Terapeutas que têm eles mesmos problemas nesta área tendem a usar este método como moda rígida. Se bem
entendido, contudo, o procedimento inclui as dinâmicas do processo do grupo e um terapeuta que não tem que evitar nenhum
sentimento por razoes pessoais saberá que cada vez é necessário fazer mais trabalho na área de relacionamentos mas, assim
que possível, novamente convidará os participantes a irem mais fundo em si mesmos.
Outra controversa, que se espalhou anteriormente, tem a ver com a questão de se é melhor trabalhar em um formato
individual ou em grupo. sobre o que se pode dizer o seguinte: o formato individual poderia talvez ser muito apropriado para a
primeira ou talvez as primeiras duas ou três sessões psicolíticas, por exemplo com um empatogênico. Quando uma criança
vem ao mundo, ela é cuidada, em circunstâncias normais, principalmente pela mãe. Só mais tarde ela é realmente aceita pelo
grupo e confrontada por ele. É de se desejar que fosse assim no processo terapêutico também. Manter toda a atenção e
preocupação do terapeuta durante uma sessão inteira, torna possível passar por um processo muito individual, e via de regra o
cliente se vê rapidamente nas profundezas de sua personalidade. Se o individuo tiver que também confrontar o grupo na
primeira sessão, então o começo se torna extremamente difícil. Infelizmente, por razoes econômicas e por causa de restrições
de tempo, o procedimento acima descrito não é, em sua maioria, possível, então nós começamos de qualquer forma com o
grupo. Terapia é na verdade um relacionamento que é comprado. Não é

96
o relacionamento de uma mãe com sua criança, mas o de uma enfermeira com um recém-nascido numa creche quando a
mãe tem que trabalhar logo depois de dar a luz. É um substituto que pode suprir totalmente mas não é "a coisa verdadeira".
Isto se expressa pelo fato de que sessões individuais com clientes, na maioria das vezes não é possível. Mesmo assim, se pode
embarcar neste tipo de trabalho sem grandes problemas, especialmente quando um único novato pode ser recebido num grupo
de pessoas experientes. É claro que eles se confrontam com mais trabalho no começo, mas eles podem, com o tempo, se
equilibrar.

Mais adiante, nos parece totalmente necessário para nós trabalharmos em um grupo. Especialmente no caso dos
empatogênicos, já que ele o leva ao plano de relacionamento. Um grupo oferece infinitas oportunidades de transferência, mas
que um formato individual. Este enriquecimento não deve ser desprezado. Mesmo quando se trabalha com enteogenos, que
inicialmente leva para a solidão, deve inevitavelmente acontecer em um grupo, pelo menos numa fase posterior. Aprende-se a
se ficar completamente consigo mesmo, a permanecer completamente consigo mesmo no meio de uma grande agitação. Se eu
só conseguir manter contato comigo mesmo quando eu estiver sem nada me perturbando, eu devo continuar perdendo na vida
diária. Me parece que isto é um processo de aprendizagem muito importante: se manter dentro de uma rede de
relacionamentos, sem ter que abandonar o próprio centro no processo.
Terapeutas que têm a tendência a trabalhar exclusivamente individualmente, em nossa opinião, evitam algo que está
enraizado em sua própria personalidade. Via de regra eles preferem trabalhar exclusivamente em relacionamentos de apenas
duas pessoas, ele e o cliente, em sessões psicodélicas assim como em psicoterapia em geral, porque eles mesmos não
superaram completamente seu complexo de Édipo. Já que eles tendem a se perderem rapidamente em situações triangulares, e
como resultado não conseguem passar por elas eficientemente, seu acompanhamento profissional, neste ponto, é restrito. No
que se refere ao seus problemas triangulares eles não poderão ajudar muito seus clientes. Novamente, por outro lado,
terapeutas que defendem formatos de grupo totalmente, têm medo da inevitável natureza de relacionamentos de apenas duas
pessoas.
Em referencia à figura 3A pode-se resumir dizendo mais uma vez que no geral o formato que usa dinâmicas de grupo
funciona primariamente na passagem da camada adaptativa para a camada subjacente de sentimentos repressivos, que sem o
ambiente meditativo, o domínio mais profundo do transpessoal e o do núcleo mal podem ser absorvidos. Pode-se mais ainda
dizer que o formato individual é acima de tudo apropriado quando regressões profundas são muito necessárias e que, sem um
formato de grupo, a solidão dentro de um grupo não pode ser suficientemente exercida nem o complexo de Édipo totalmente
resolvido.

A fase preparatoria
Além de sessões que são conduzidas com candidatos para treinamento, e outras exceções, como eu devo explicar no
último capítulo, o cliente passa por um período de intensa preparação antes de sugerirmos que faça uma sessão psicolitica. O
trabalho psicolitico é sempre desenvolvido dentro de uma estrutura convencional, psicoterapêutica que inclui acima de tudo
um relacionamento de confiança com o terapeuta. Esta estrutura, via da regra, inclui uma psicoterapia conversada em um
formato individual, e geralmente também trabalho corporal e terapia de grupo ou trabalhos energéticos. Em que ponto uma
sessão psicolitica é proposta depende de onde o cliente está no inicio do tratamento e como sua relação com o terapeuta se
desdobra. Com algumas pessoas nós sugerimos que eles participem de uma sessão psicolitica bem no inicio. Com outras tal
convite surge um pouco mais tarde. Não pode haver regras quanto a isto. A decisão certa só pode surgir após sentir a situação e
o indivíduo. De qualquer forma, uma das condições mais importantes é que o relacionamento entre o cliente e o terapeuta deve
ter uma base de confiança suficiente para que ele diga um sim mesmo quando isto evoque nele os mais terríveis medos. O
cliente também deve estar suficientemente centrado dentro de uma situação diária estável, a fim de que ele esteja em uma
posição tal que possa observar as coisas pacificamente.

A sessao psicolítica
A verdadeira sessão psicolitica acontece durante todo um dia em nosso local de trabalho retirado. Com empatogênicos,
uma sessão que dure de nove para dez horas é preferível, o efeito da substância durando cerca de seis horas. Com substancias
psicodélicas que na maioria tem um efeito mais longo, as sessões são equivalentemente mais longas.
O que é ideal mas nem sempre possível, parece-nos, é conduzir tais sessões dentro de uma estrutura de uma oficina de
pelo menos 48 horas na qual a pessoa se encontra com o grupo preparatório na tarde do primeiro dia, e a verdadeira sessão é
conduzida no segundo dia. Uma discussão pós-sessão acontece na manha do terceiro dia antes de todos finalmente se
separarem. As sessões de auto conhecimento e treinamento que acontecem sob supervisão da sociedade suíça de médicos para
a terapia psicolitica acontecem desta maneira. Só conseguimos organizar um período tão longo de tempo de contato com
nossos clientes, ocasionalmente.
Como já foi mencionado anteriormente, sempre temos estas experiências psicolíticas em grupos. Por um lado isto
acontece por razoes econômicas e por outro, apesar de ter a ver com uma jornada interior e com a auto experiencia, parece-nos
que o grupo também é importante para a experiencia do individuo. O sentimento intimo de união com um

97
grupo de pessoas que são geralmente desconhecidas umas das outras no inicio da sessão cria um autêntica base que evita
a tendência que se tem de perder em ilusões. Além disto, em um grupo, há um potencial energético muito maior, assim como
também uma troca muito mais intensa por causa das possíveis transferências e projeções.
A sessão acontece em um ambiente levemente escurecido iluminado com velas. Cada participante deita no chão em seu
colchonete e se foca bastante em si mesmo.
Antes de começarmos, o grupo fica em círculo. As substâncias são distribuídas e as ultima instruções dadas. Nos sempre
pedimos ao nossos clientes para não fazerem nada, para simplesmente estarem lá, por um lado se deitarem da forma mais
quieta possível, e por outro deixar que o que quer que queira acontecer, aconteça. Somente na calma é que os insights
realmente profundos podem surgir. Estar fisicamente imóvel cria as condições para ser capaz de estar profundamente consigo
mesmo. Muita atividade e movimento durante o curso da sessão é sempre um sinal de um conteúdo intuitivo que está sendo
evitado. Por outro lado, não se pode bloquear a expressão, proibindo movimentos. Uma paz rígida, mantida por tabus e ordem
não é um genuína tranqüilidade. Este é o problema de conscientizar o cliente do paradoxo entre estar em paz e deixar as coisas
acontecerem. Se segurar ainda tem muito a ver com ser capaz de suportar e conseqüentemente não evitar a si mesmo, não
escapando de si mesmo. Isto é o que é possível, é claro, sob a influencia destas substâncias.
Catarse genuína, êxtase genuína, que se mostra muito poderosa através dos sentimentos sob certas circunstancias, sempre
se expressa na tranqüilidade e retorna para a tranqüilidade. Expressões genuínas não destrói a tranqüilidade, mas ao invés
permanece nela. Isto sempre pode ser visto claramente quando um cliente começa a demonstrar ser muito autentico no grupo.
todo o grupo então tem sua atenção no acontecimento. Um clima muito denso surge que une todomundo um com o outro e
cada participante diretamente com seu processo intuitivo, que agora se torna o ponto focal. Diversas vezes, a principal
resistência a ser quebrada, exatamente como na psicoterapia convencional, são por um lado, o desejo de evitar a experiência e
não querer enfrentá-la, e por outro lado não ser capaz de deixar as coisas acontecerem e impedirem a expressão. A solução é
não fazer nada, aprender a simplesmente estar lá e não fazer nada. A substância ajuda a chegar neste estado de ser, mas
também precisa de boa vontade e insight por parte da pessoa em questão, ou isto não pode acontecer.
Nós não temos nenhuma outra regra, além da que ninguém pode sair da casa ou da sessão e que fumar não é permitido na
sala onde acontece as sessões. Pede-se aos fumantes que observem o sentimento que os esta pressionando a fumar, ao invés de
sempre ceder a esta necessidade, mas se eles querem fumar a qualquer preço eles têm que sair da sala. Se um membro do
grupo quer estabelecer contato com outro, ele pode fazê-lo sem obstáculos, mas deve primeiramente sondar o outro e observar
se ele está pronto para um encontro. Caso não, esta rejeição deve ser respeitada. Não temos outras regras. Elas surgem por
estarmos juntos e das interações que acontecem entre cada pessoa e a outra. Até hoje não tivemos nenhum incidente que possa
ter levado a crises de violência incontroláveis.
Nós começamos a sessão com um ritual, mais um exercício de meditação para energizar e centrar as pessoas. Que as leva
para a tranqüilidade e para dentro de si mesmos, mas que ao mesmo tempo, também os desperta para sua presença no grupo.
Quando há muito medo e distância no grupo, já de inicio, nós preferimos começar com visualizações de grupos (Katathymes
Bilderleben) ou com um exercício de respiração. Aqui também não há regras. O procedimento é determinado pelo que está
acontecendo no grupo no momento. Porém sempre propomos alguns exercícios que servem como introduções. Rituais nos
parecem muito importantes como um principio para organizar e unir o grupo.
Também, quando as energias estão muito dispersas, e muitas atividade acontece durante o dia, nós convocamos os
presentes para uma meditação em conjunto ou algo similar. Isto imediatamente faz surgir um aprofundamento, uma
intensificação e mais tranqüilidade. Geralmente isto surge através de algo muito simples, como simplesmente sentar-se num
circulo, talvez, ou ouvir juntos uma música especial.
O que acontece numa sessão psicolítica depende, para o indivíduo, muito da composição e da dinâmica do grupo. como
numa situação normal, nenhuma pessoa pode se retirar do grupo sem acabar em isolamento. Se abrir inteiramente para si
mesmo é a final o mesmo que se abrir para os outros. Se fechar para os outros é o mesmo que se fechar em relação a si
mesmo. Na maior parte contudo, é necessário uma longa e intensa experiencia para que este insight seja percebido e que se
possa agir. As melhores sessões, tanto para o individuo como para o grupo, e naturalmente para o terapeuta também,
acontecem quando há o mínimo possível de defesa e muito disposição para se ouvir, ouvir o coração das coisas. Então a calma
não é um problema. ela vem por si mesma, e tudo que se expressa nesta calma é parte dela.
No final da sessão, nós conduzimos um ritual de fechamento que une novamente todo o grupo. Consistindo de na maior
parte das vezes dez a doze membros. Sempre nos sentamos um pouco em circulo, e quando desejamos, trocamos experiências
e insights ou simplesmente ficamos quietos juntos. É muito importante que experiências intuitivas também encontrem
expressão, que cada pessoa esteja pronta e se esforce para formular suas experiências internas em palavras, para ele mesmo e
para os outros. Auto experiência que não resulta em expressão é uma coisa isolada e não vai muito nem muito longe, nem
muito profundamente. É precisamente com tais trabalhos, que é tão contemplativo, que devemos ter cuidado e ver que a
postura meditativa é genuinamente calma e não um tipo de vergonha bloqueada. Esta expressão geralmente fica aquém do que
se podia esperar este é um dos perigos deste tipo de terapia. Nós nos protegemos dela

98
pedindo aos nossos clientes um relatório da sessão onde eles tentam expressar o que experienciaram com relação a si
mesmo e com relação ao terapeuta. ao fazerem isto cada um é levado a lembrar mais uma vez todos os diferentes estágios no
percurso e também a lutarem com a linguagem para fazerem isto. Na sociedade psicolítica, que fundamos para nosso
desenvolvimento os relatórios finais são trocados entre os participantes, o que é um grande enriquecimento adicional e acima
de tudo, também ajuda a esclarecer projeções e transferências na interação dos diferentes pontos de vista de um evento.
Ajuda muito conduzir a sessão em par, e melhor ainda quando os terapeutas são um homem e uma mulher. Com minha
parceira Vreni, as coisas se desenvolveram muito bem. Nós trabalhamos na maioria das vezes juntos com o mesmo cliente,
que tem várias vantagens. Por um lado nós parecemos figuras parentais, provocando todas as transferências que vem com elas.
Por outro, todas as complicações que surgem ligados a mecanismos de defesa erótica permitem que possamos manuseá-los
facilmente. Como inicialmente pedimos aos nossos clientes para não terem contato verbal com os outros, então mantemos o
mesmo principio. Se nada dramático nos chama para nenhum cliente em particular, nós vamos de um em um e primeiramente
apenas nos sentamos silenciosamente perto da pessoa, fazendo contato com ele depois, diretamente através do corpo, através
dos sentimentos e através da energia nós trabalhamos diretamente com o cliente. Se necessário nós falamos também. Mas isto
fica como pano de fundo. Geralmente também a conversa é unilateral, o que significa que nós simplesmente ouvimos. Acima
de tudo, pessoas que estão fechadas para expressão verbal devem primeiro aprenderem a se expressarem apropriadamente.
Quanto a trabalho corporal e à musica que acompanha e que deve ser ouvida o dia inteiro, interrompida por fases de
silencio, devo falar delas num outro capítulo devotado a este tema. Elas também fazem parte de um ritual que serve para
acalmar as energias, que por sua vez é o que permite que mergulhemos nas camadas mais profundas do inconsciente. Um
outro ritual comum é a refeição em conjunto. Depois que passa o efeito principal, nós nos sentamos para uma refeição leve,
apesar de na maioria da vezes não estarmos com muita fome. Isto tem um efeito de dar vida e ao mesmo tempo marca o
começo da fase final. Aqui pedimos que os participantes para entrarem mais uma vez dentro de si mesmos e ficarem quietos.
Como todos estão cansados, isto não normalmente um problema. Esta fase suplementar é muito importante porque é neste
ponto que todos pensam que tudo acabou, e sentimentos que estavam presos são liberados. Então, exceto em raras situações,
no conseguimos evitar recebermos chamadas emergenciais à noite, ou no dia seguinte, ou ter uma crise. Contudo podemos ser
contatado pelos participantes durante um período de 48 horas depois do workshop.

O acompanhamento posterior
O acompanhamento já começou com a discussão de fechamento na sessão, que é na verdade na maioria das vezes apenas
uma meditação em conjunto. Se a sessão for incorporada a uma oficina de maior duração, uma discussão pós- sessao mais
intensa com o grupo acontece na manhã seguinte. Nós aconselhamos nossos clientes a deixarem a noite e o dia seguinte ao da
sessão livres o quanto possível a fim de poderem ruminar suas experiências um pouco, junto com seus parceiros ou sozinhos.
Durante este tempo, eles reúnem os relatórios dos quais eu tenho resumos impressos, no final de cada capítulo na terceira
parte deste livro. Estes relatório são posteriormente discutidos nas sessões individuais que continuam na terapia. Geralmente
conversas animadas acontecem durante as semanas e meses seguintes a tal sessão. Por outro lado, às vezes também acontece
que alguém se fecha rapidamente e tem pouco em que se segurar. Sessões psicolíticas são introduzidas no processo
terapêutico, em dados intervalos, que geralmente duram dois, três e as vezes mais anos. De acordo com as dificuldades e
estrutura de caráter do cliente, apenas uma única sessão psicolitica pode acontecer, mas geralmente é mais: duas ou quatro,
sendo no máximo seis ao ano. A duração da terapia não é necessariamente significativamente diminuída por causa da
experiencia psicolitica, exceto quando tem a ver com processos puramente catárticos. O processo de insight e reconhecimento
tem sua própria dinâmica. Como todas as boas coisas, o processo de maturação também é um evento que leve o tempo que
precisa. O crescimento não pode ser acelerado. O tempo ganho com o trabalho psicolítico é muito limitado, o verdadeiro
ganho está no acesso mais aprofundado às regiões que geralmente permanecem fechadas. Em nossa opinião , não há outra
forma de tratar sofrimentos relacionados a caráter ou que estejam enraigados ao nível psicossomático (neurose compulsiva,
neurose de caráter, anorexia, fobias severas, etc.) ou de lidar com pessoas que tiveram traumas em fases anteriores
(personalidade
fronteiriças, psicoses, depressão endógena, autismo, etc.)
***

para encerrar este segundo capitulo, hera estão os resumos de relatórios de uma sessão que levou a um nível profundo de
regressão em um cliente.
Eu vim para a terapia proposta com sentimentos misturados. Por um lado havia medo, por outro, esperança. Quando
sentamos em circulo, o medo diminuiu. Eu me sentia apoiado no grupo mas lá dentro eu estava sozinho...
A incerteza me dá medo. Eu sento lá, ouço os sons tocando, reflito na luz da vela. Eu sinto falta do calor, eu não consigo
ouvir meu interior. Os tons me levam para o mar, fica quente. Contudo eu logo me vejo em cavernas on pinga, é frio e úmido.
A um certo ponto eu acho que estou voando.
Eu me sinto tonto e com calor, logo está frio novamente. Sinto-me longe de todo mundo. Com certeza tudo está ao

99
meu redor e eu só sinto a mim mesmo. Pensamentos vêm e vão. Eu não consigo mais realmente ver o mundo externo.
Tudo está longe, tudo está tão longe. Eu não consigo mais descrever as pessoas próximas a mim. Eu me pergunto porque e
logo esqueço a pergunta novamente. Eu estou procurando um ninho quente. Eu preciso dele, eu não quero estar triste, não
quero estar sozinho, apesar de lá no fundo eu acreditar que estou. Bem fundo dentro de mim, eu sinto minha solidão. Um
desejo por proteção é despertado. Dor, tristeza me vem. Eu escuto cada som, cada tom claramente, mas nada posso fazer com
ele. Tudo fica calmo novamente, eu estou sozinho. Lá dentro eu sinto a dor, minha garganta se fecha, respirar é um esforço.
Está frio, eu procuro calor e encontro.
Minhas pernas ficam mais curtas, eu fico menor. Eu gostaria de ficar ainda menor,bem menor. Eu me sinto carregado nos
braços de alguém a dor de ficar ainda menor se intensifica. Eu ainda preciso de mais segurança, estou dividido aqui e ali,
entre dois mundos. Logo logo não conseguirei mais agüentar, então eu grito por alguém, apesar de não poder vê-lo, não
conseguir imaginá-lo, só senti-lo.
Agora eu me vejo no corpo de minha mãe - bem pequeno e coberto, tudo ao meu redor é luz, vermelha e morna; eu
escuto batidas de coração; eu gostaria de ser ainda menor; simplesmente não voltar.
De repente esta frio novamente ao meu redor, não consigo mais continuar e gostaria de desistir. Eu procuro álcool, vejo
mesas, mas tudo está vazio. Eu estou sozinho e novamente, eu estou perto do calor dos braços de alguém; eu me agasalho e
fico calmo novamente, agora está tudo bem novamente, mas por quanto tempo?
Gradualmente eu escuto pessoas falando novamente, mas não quero sair deste lugar bonito, eu percebo que minhas
pernas estão normais novamente e lentamente fico triste novamente. Mesmo assim me sinto mais leve, mas as dores do desejo
são algo que eu não gostaria mais de experienciar novamente. Eu estou precisando tanto de alguém em quem eu possa me
encostar. Não consigo pensar em ninguém que eu ame. Não consigo senti-los também. Tento varias vezes mas não é possível.
Porque...?
Este relatório foi escrito por um cliente de 44 anos de idade que tinha vindo ate mim para um tratamento por causa de seu
vicio por alcool. Ele era uma pessoa muito sensível, que tinha feito muito progresso e tinha vencido o problema rapidamente.
O relatório do qual usei uma parte foi escrito depois de uma de suas primeiras sessões com empatogênico.
O evento descrito tem a ver com uma profunda regressão, algo que acontece bem raramente com empatogênico. No
diagrama A da figura 3 o cliente se encontra no ponto inicial da região transpessoal. Ele experiencia a dissolução do seu ego e
regressa de volta para um estágio no qual ele está no corpo da mãe, onde o estrago e a negação já haviam começado. A dor não
digerida e o desejo não saciado que resultou disto formou a base de seu vicio, como ele claramente reconhece aqui. Este
insight deu inicio ao processo de dissolução de sua estrutura de personalidade viciada e o libertou para construir um novo ser
baseado na capacidade de amar.

3 O terapeuta e sua influência


Uma estória bem conhecida sobre Lao- Tse ilustra bem a função de um terapeuta em geral e, em particular, sua função na
terapia psicolitica. Eu gostaria de recontá-la de forma simplificada.
Lao - Tse estava a caminho de algum lugar com seus discípulos. Eles passaram por uma floresta, onde lenhadores
estavam ocupados cortando as arvores. Já haviam devastado uma enorme área, com exceção de uma poderosa e velha
arvore. Perguntado por Lao -Tse porque aquela arvore não tinha sido derrubada, os lenhadores responderam que não podia
ser usada para nada. Nem se podia fazer alguma coisa da madeira pois tinha muitos nós, nem se podia achar outro uso para
ela. Por isto a tinham deixado lá.
Lao - Tse instruiu seus alunos a serem como aquela árvore. Se puderem aproveitar você, você será empregado, se você
for útil, você será usado, se você for bonito, você será transformado em um produto e assim por diante; seja então como esta
arvore, impraticável, que não dá lucro, a ultima coisa, invalido, um nada. Então muitos encontraram sombra embaixo de seus
galhos.
O efeito de um terapeuta não pode ser facilmente percebido. Eu já dei varias dicas, na primeira parte do livro, do meu
entendimento desta função. Vou tentar resumi-las aqui novamente.
Alem do conhecimento que um terapeuta trás consigo e das técnicas que ele domina - ambas as quais são na verdade
pouco importante no processo terapêutico - ele é para o cliente, acima de tudo, um objeto de transferência e uma superfície no
qual projetar. É nesta reflexão, ou seja, até o ponto que ele aprenda a entender seu relacionamento com o terapeuta, que um
paciente se conhece. O terapeuta não precisa fazer muito de forma alguma, ele simplesmente está lá e, tanto quanto possível, é
apenas ele mesmo. Isto é verdade em toda psicoterapia e não apenas da do tipo psicolitica.
Em terapia psicolitica, contudo, há ainda outras dimensões, níveis mais profundos de associação entre o cliente e o
terapeuta. A chamada região transpessoal também é explorada neste relacionamento.
Ken Wilber, em seu livro " Nenhuma fronteira ", conseguiu unir lindamente que tipos de terapia podem lhe ajudar em
cada estagio do percurso. Em principio, terapia psicolitica pode acompanhar você e cobrir todo o percurso do
desenvolvimento interno, mas um terapeuta que conduz terapia psicolitica também se acha em algum lugar em sua

100
própria jornada e pode melhor ajudá-lo na área que ele superou mas não ha muito tempo. é importante para você saber
que você nunca pode desistir da responsabilidade completamente. Um terapeuta que não penetrou totalmente o coração das
coisas sempre carrega um resíduo maior ou menor de confusão consigo mesmo, e tudo que ele faz ou diz é permeado com esta
confusão. Isto não significa que ele não pode ajudá-lo por causa disto - ao contrario, mas significa que você tem que se manter
responsável por si mesmo. Só quando se age a partir de um estado de amor, ele para de cometer erros. O que ele faz está certo
de toda maneira, mas possivelmente tal pessoa não está particularmente mais interessada em terapia.
Exatamente como eu posso mergulhar nos meus próprios problemas nao fazendo nada, isto é, simplesmente partindo de
meus sentimentos, não pensando, o que significa não produzindo nenhuma defesa e apenas indo mais fundo no conteúdo que
acabou de ser aberto completamente e se tornou consciente, eu posso, exatamente da mesma forma, absorver para mim mesmo
um problema externo, uma outra pessoa, uma instituição, ou alguma outra coisa e penetrar nela. É exatamente ai que começa a
psicologia transpessoal. Esta capacidade lhe permite, como terapeuta a entender profundamente seu cliente. Você é ele e
naquele momento você é mais ele que ele mesmo, porque você está mais consciente e aos poucos você vai passando para ele
essa consciência. Este estágio é terrivelmente cansativo tanto para você quanto para o cliente. Ele normalmente permanece
intelectual já que você passa tudo para ele em palavras.
O que vai mais fundo e demanda menos esforço é uma outra arte, contudo demanda capacidade ainda maior de "não
fazer". Você não mais direciona sua atenção especificamente para o problema que seu cliente incorpora mas no todo. Você está
completamente presente e não faz nada. Ao fazer isto você já absorveu o problema mas apenas parcialmente. Você não dirige
toda a sua atenção para ele. Desta forma você é como um buraco negro. Visto energeticamente, você atrai tudo que está fixado
e não resolvido num certo nível. Com isto o fixo se tornará consciente de sua natureza fixa, e isto levará ou para uma defesa
consciente e ao mesmo tempo à separação de você, ou a desistir da resistência e portanto diluição do fixo. Vendo de outro
ângulo, isto também significa que você funciona como um espelho no qual o problema pode se reconhecer e é forcado a fazer
um comentário. Um problema ou quem o tem, não pode entrar em contato com você sem tomar uma decisão.
Em um caso ideal, então, você não tem que fazer absolutamente nada além de apenas "fazer nada" o que demanda muita
atenção e energia. "Fazer nada" é provavelmente a "ocupação" mais difícil que há. O resto acontece naturalmente e não é mais
tão importante para você entender tudo que acontece. Você não trabalha mais com clareza, mas com energia direta, e deixa
para o outro conseguir esclarecer o processo e fazê-lo por ele, que uma experiencia muito mais profunda para ele também.
Não fazer nada, contudo, deve ser realmente "não fazer nada". É de fato, idêntico à abstinência analítica como Freud já
descreveu. Porém eu não gosto de usar este termo porque ele é freqüentemente usado para justificar a rejeição, um
comportamento embaraçoso do terapeuta que tem mais a ver com sua incapacidade de se expressar, sua agressividade, medo e
defesa bloqueadas do que com verdadeira abstinência.
Às vezes este processo de "não-fazer" é algo comum, você simplesmente está ali, e absorve as energias perturbadas e
fragmentadas que estão criando o caos e você as transforma e harmoniza. Isto serve para acalmar toda a situação, sem
ninguém trabalhar especificamente em nada porque talvez falte a disposição para isto. Desta maneira você pode ter certeza
toda vez, quando estiver com um grupo de dez a doze pessoas que não haverá nenhum acidente desfavorável, porque quando
você aceita todas as energias presentes, no inicio de uma sessão, você sente muito claramente se há forças presentes que você
não consegue dominar ou que querem conscientemente lhe prejudicar. Neste caso, você não deve começar a comandar a
sessão até que este problema tenha sido sanado. Sua clareza e sua disposição para a clareza, como regra, trazem uma solução
sem ter que chegar a um confronto. A outra pessoa de repente vai embora ou não tem mais tempo, ou algo parecido.
Então às vezes, enquanto alguma coisa penetra em sua consciência. Você de repente se sente compelido a trabalhar mais
concretamente. Então você sabe que alguém está disposto a ver de forma mais precisa. Talvez você vá ate ele, e encare ele
diretamente com sua percepção energética. Geralmente isto ocorre por si só, sem que você tenha que fazer nada. Então é como
se você o mantivesse preso no relacionamento. Ele não consegue evitar. Naquele momento você é intuitivamente o que a outra
pessoa não quer ser, ou o que ele está tentando evitar, e ele ou ela é o elemento difícil que resiste. Então você aquenta até a
resistência ser quebrada e seu oponente o deixar entrar. Em cada pessoa nós encontramos uma parte que está bloqueada ou
repudiada, que atrapalha o desenvolvimento de seu ser mais intimo. Como terapeuta eu posso, no encontro com o outro, ser o
que o outro gostaria de evitar a qualquer preço, o que ele tenta jogar fora, e ao fazê-lo, o confrontá-lo exatamente com isto.
Certamente se parte do principio de que como terapeuta, eu mesmo não tenho que bloquear o que o cliente bloqueia. Portanto
um psiocoterapeuta só pode ajudar uma pessoa cujos problemas ele mesmo tenha superado até certo ponto. Desta forma
quando o cliente o deixa entrar, ele mesmo pode se deixar entrar também, isto é, deixar entrar a parte de seus sentimentos que
o terapeuta temporariamente incorporou para ele, e que ele, antes, teve que evitar.
As vezes como terapeuta, você usa seu poder para simplesmente derramar um pouco de luz sob seu cliente e
Entendê-lo intuitivamente, e empurrá-lo para algo vigorosamente. Porém você não faz isto realmente, isto acontece com
você e depende da vontade da outra pessoa no momento.

101
Desta forma você nem sempre tem que ter claro em sua mente o que está realmente acontecendo, o cliente pode fazer isto
ele mesmo. Finalmente tem a ver com o processo de se esclarecer. Então você pode poupar esta energia e usá- la para outra
coisa. Se necessário você pode, adicionalmente, mergulhar toda vez no conteúdo das energias com as quais você tem que
lidar, mas geralmente isto não é necessário de forma alguma. É suficiente, por exemplo, confrontar o outro com seus
sentimentos de ser abandonado, que ele tenta evitar dentro de si mesmo, sem entender mais precisamente qual é a estória de
fundo. Desta forma você economiza muito esforço desnecessário.
O caminho para o todo é ver, ouvir e sentir. Quando este processo se torna contínuo, ininterrupto e completo, ha um
estado de alerta atenta, que leva a consciência e ao todo. Quando o insight e a introspecção se transformam em um processo
ininterrupto, uma transformação acontece ao nível energético. Como terapeuta, eu simplesmente estou lá. Eu atraio toda a
energia fragmentativa e dissipativa, as transformo e as devolvo como energia harmonizada. Estas energias são retiradas ao
nível do plexus solar e devolvidas ao nível do coração, o insight, ao nível do terceiro olho. É como está em pé no fogo, como
agüentar por si mesmo ou apenas ser um fogo que puxa tudo que é impuro, queima e une.
Eu não quero falar muito mais sobre o efeito do método de trabalho de um terapeuta. pois só são palavras que podem ser
mal entendidas e não podem fazer o acesso a estas regiões acessível. Há, é claro, muitas outras qualidades que podem ajudar
um terapeuta a ser uma ferramenta útil para seu cliente. Eles são idênticos às ferramentas usadas em psicoterapias
convencionais. A capacidade de resistir quando estiver difícil, a prontidão para enfrentar tudo e permanecer leal às exigências
do amor são certamente os pontos mais importantes.
O que funciona em psicoterapia é amor; o que é eficaz é o ser humano amoroso no terapeuta. Quanto mais esta entidade
amorosa puder se sobressair, mais abertamente ele pode se revelar, quanto mais desenvolvido ele for como terapeuta mais
completo seu efeito. Isto não se aplica apenas a psicoterapia. É verdade em relacionamentos em geral na vida em geral.
sempre é o amor, a ruptura deste poder, que cria o bem, o bom e o todo. Podemos confiar nele como quisermos, sempre
seremos confrontados por este fato. Podemos explicá-lo com a terminologia mais complexa, podemos produzir mais e mais
análises cientificas sobre o que faz um professor ser professor, um terapeuta ser um terapeuta, um ser humano ser um ser
humano. Porém nem o treino, nem conhecimento, nem técnicas, nem métodos, podem substituir o amor e a alegria na outra
pessoa quando estão faltando. Se você precisa de um terapeuta, você pode pegar a próxima pessoa que você encontrar e testá-
la para ver se ela ama ou não. Ela pode trabalhar numa fábrica, seu um diretor geral, uma dona de casa, ou uma policial; se ela
amar, ela poderá lhe ajudar; se ela não amar ela o desviará do caminho.
***

Novamente aqui está um resumo de um relatório para encerrar este capítulo. A primeira sessão de um cliente.
Um encontro com a verdade e com a absoluta veracidade. A parede ao meu redor desapareceu facilmente e de forma
inesperada, e se dissolveu no nada. Atrás dela um mundo maravilhoso: a experiencia do amor sem nenhum objetivo, de troca
sem exploração. Inicialmente, quase uma hora de calmaria. Mais tarde eu chamaria de esvaziamento.
Então de repente uma mulher a minha frente; ela quer segurar minhas mãos, que estão quentes e úmidas e cheias de
energia e sensibilidade. Ainda há um pouco de suspeita em mim. Melhor dizendo, eu ainda não ouso olhar nos olhos dela.
Então o terapeuta vem até a mim. Sentir, explorar suas mãos, sentir sem resistência. A mão de um homem estranho, que
eu apenas acho interessante, mas ainda há um pouco de falta de confiança quando nossos olhos se encontram, mas tudo
bem, deve ser assim ; uma fronteira que eu percebo como sendo certa sentindo que ele também acha a mesma coisa.
Uma cena com três pessoas: a terapeuta e a mulher de antes e eu mesmo. Uma cena mutante de exclusão... Um de nós
está sempre excluído. Tudo se torna transparente como um cristal para mim e sinto isto rapidamente como um raio. Eu digo
instantaneamente alto também, sem medo, sinto a atenção destas duas mulheres e suas intenções idênticas. Não tem a ver
com ganho aqui, tem a ver com perceber o que é certo; e também que isto é a pré condição para o amor. Olhar nos olhos um
do outro, esta mudança de tristeza para luxúria e depois para folia; tudo da vida está nisto, claro como água. Perceber estes
movimentos da eterna verdade, não como o desejo de se fundir e nem com a mente turva pelo medo de ser restrito, tão
intensamente, tão livre. Eu descobri um paraíso para mim mesmo, uma verdade que foi enterrada e que era dada como
morta, a fonte de tudo que vive; incluindo a perda, saber sobre o fim que está para chegar, que resulta no fluxo da vida. Não
quero me segurar a nada neste ponto. Eu tenho confiança em mim mesmo com a qual eu posso passar confortado pela vida.
A mudança de solidão para estar juntos, e novamente para solidão, mas não traumática como em minha vida diária. É
bonito quando eu consigo confiar em minha própria verdade e na dos outros.
Eu mal consigo acreditar que o fato de estar juntos possa ser acompanhado por tal confiança. Ao mesmo tempo eu sinto
a fronteira da outra pessoa e a minha própria também, e simplesmente as aceito. Portanto não há exploração. O que eu
consigo compartilhar é verdadeiro. O desejo de compartilhar tudo não está presente. Há tristeza em estar sozinho. A
amargura que o outro não consegue preencher todas a minha expectativas não está mais presente. Eu

102
experiencio a separação como uma lei que foi imposta a minha existência . "eu devo ir, eu não consigo mais suportar a
proximidade", a mulher diz e vai embora. Eu, contudo, não estou abandonado. O que aconteceu é verdade e é bom e então eu
posso liberá-la, me sentido confortado.
Claramente, o erótico está inserido no todo: como uma oportunidade para se encontrarem. Não de forma ameaçadora,
não exclusivamente. Eu consigo discernir suas intimidações em mim e na pessoa à minha frente também. Se estiver tudo bem,
podemos interagir... Aqui também eu sinto a fronteira muito claramente, que o verdadeiro "fazer amor" não está presente,
talvez pudesse chegar com maior confiança; eu possuo esta confiança que nada acontece simplesmente, só assim. Quando
está tudo certo para isto acontecer, então acontecerá. A sexualidade entre em cena, não mais um corpo estranho, não mais
batalhas. Estas são coisas maravilhosas de perceber! Enquanto isto sempre a certeza de que minha vida diária permanece. O
desejo de experienciar este meu estado o máximo possível; de absorver tudo que está acontecendo comigo. De recuperar
minha força. Tremendo desejo também de me movimentar: eu me balanço, me avalio, descubro os movimentos como uma
dança, passo a mão no cabelo bem charmoso, muitas risadas, uma incontrolada alegria de viver, energia e bem estar.
Mais tarde: um choro seco e sem lágrima, enroscado como uma bola nas coxas da terapeuta. Eu sinto a secura desta dor.
Eu respiro fundo. Eu sei que estou hiperventilando; não me assusta, eu sei disto; eu posso deixar minha respiração correr
solta - e as lágrimas vêm. Elas me fazem bem - a umidade, o fluxo, eu estou triste por algo irrecuperável; eu sinto e penso ao
mesmo tempo. Eu estou sozinho.
Eu preciso de resistência, eu bati minha cabeça contra a coxa da terapeuta; meus sentimentos mudam. Eu consigo fazer
algo! Eu consigo me conter. Eu tiro você de mim! E a raiva também, agora isto me molda, a resistência de suas coxas me
deixa louco de raiva. E fico maior e mais quieto. Eu posso fazer contato com ela. Eu posso olhar para ela em paz e cheio de
amor, nos olhos. Eu agora sou igual a ela; Eu a sinto em frente a mim, com toda a dor de ser. Um momento sagrado: um
homem e uma mulher se olham.
Estes resumos do relatório de um cliente muito distinto e inteligente, que já havia tido algumas experiências com
psicoterapia, revela muitas das características da primeira sessão com empatogênico. Normalmente a primeira sessão pega o
cliente de surpresa; ele não sabe o que o espera, ele não pode se ajustar, e por causa disto está no padrão mental correto, aberto
e curioso com relação ao novo. É exatamente isto que torna possível uma boa experiencia, que depois, normalmente aponta o
caminho para mais desenvolvimento. Desta forma, ele sempre tem insights profundos que, apesar de ser um presente, deve ser
dolorosamente trabalhado. Este olhar de relance do paraíso, contudo, ajuda-o - como Moisés no deserto- a manter sua
motivação em momentos posteriores mais difíceis. Geralmente a segunda sessão já é muito mais difícil para ele, por causa da
expectativa que ele agora tem - ele agora sabe de que se trata - bloqueia sua preparação para receber o que agora é presente.
Somente devagar, depois de uma confrontação exaustiva com sigo mesmo, ele talvez entenda que a abertura é precisamente o
que é mais importante, que a disposição para aceitar tudo da forma que vem é o que proporciona o maior bem estar e que esta
lei natural é verdade na vida da mesma forma numa viagem quimicamente induzida.
Que os insghts são um presente que ainda não foram recebidos é claro no final do relatório, o cliente sofreu de uma
perturbação narcisista. A tristeza seca e a raiva da mãe, que ele transferiu para a terapeuta mulher, o manterá ocupado por um
bom tempo mais. O cliente, que se encaixa no diagrama mostrado na figura 3A, primeiramente confronta os sentimentos
bloqueados em sua forma pura sem grandes implicações transpessoais - como normalmente acontece com o empatogênico.
Com relação ao diagrama na figura 4 ele entende muito sobre o ponto Omega e o movimento ligado a isto que leva a unidade
do aqui e do agora.

4 O estatus de trabalho corporal


Aqui também, uma pequena estória para começar, que me parece se encaixar no tema de trabalho corporal e energético
em psicoterapia.
Um mestre sufi estava viajando no deserto com seu servente e um camelo. A noite eles chegaram em uma pousada. O
mestre se retirou e com de costume ordenou ao servente que tomasse conta do camelo. Como este homem também já estava
muito cansado ele preferiu ir pelo que o mestre sempre ensinou: " tudo será feito, Alá certamente o fará. Você só precisa
deixar que aconteça". Pela manhã o camelo havia desaparecido. Chamado pelo mestre para dar conta disto, o servente
justificou o que tinha acontecido. O mestre simplesmente lhe mostrou seu erro. Alá não tem mãos para cuidar do camelo. Ele
precisa das nossas mãos para cuidar do camelo. Ele precisa de nossas mãos. As mãos do servente são as mãos de Alah, até o
ponto que você permita que aconteça.
Em trabalhos corporais nossas mãos também são, contanto que permitamos que aconteça o que precisa acontecer, corpo e
energia ocupam um lugar importante em nossa profissão, e não apenas durante sessões psicolíticas, mas em geral. Não
usamos nenhum método especial. Tudo que pode ser dito sobre trabalhos corporais se aplica aqui também. Qualquer
abordagem gentil, que tenha a ver com cuidar, abraçar e aconchegar e simplesmente com estar juntos, é especialmente
apropriado. Em raras ocasiões algo mais robusto é necessário, o que está mais na natureza de lutar e de esforço de um com o
outro. Como na psicoterapia em geral, aqui também é especialmente verdadeiro que nenhum método pode construir uma
estrada ao cliente. Só podemos fazer a coisa certa quando percebemos diretamente o sentimento e o estado de consciência, no
aqui e agora, do ser humano à nossa frente. Isto nunca pode ser entendido

103
através de um conceito e sempre encontra uma expressão altamente pessoal. Tem a ver com induzir rupturas, com apoiar
processos que já estão em andamento, rompendo barreiras, tabus e coisa que tenham nascido proibidas. Deficiências ao nível
do toque pode ser equilibrada, lagunas na habilidade de perceber com o corpo podem ser preenchidas.
Geralmente é o suficiente para nós nos sentarmos como pais perto do cliente, para simplesmente estar com ele, em
contato intuitivo e silencioso. Geralmente é simplesmente assim que sentimentos fortes e processos e insights ab- reativos
sobre ferimentos do passado são tocados. Muitas pessoas foram privadas do calor, da afeição e do toque na infância, mas não
tem consciência disto. Eles apenas sentem um leve sentimento de desapontamento. Só quando receberem o que desejam fica
claro para eles do que realmente se trata e isto permite que o processo de cura tenha inicio. Em tal situação, contudo, surge
uma atitude de consumidor. Clientes como este são como um poço sem fundo; nunca têm o suficiente e eles ficam viciados em
afeição. Eles não querem entrar em contato com a dor de não ter tido nada em primeiro lugar, e da chance agora estar perdida
irrevogavelmente de jamais ter uma. Nesta fase do tratamento, rejeição, não ter tempo por ter que cuidar de outra pessoa é
muito mais efetivo do que afeição. Nós também só trabalhamos com a mão na massa, ao criarmos um laço energético com os
centros de energia do cliente. Com esta conexão o resto acontece por si só. Inicialmente há geralmente não apenas o medo de
ser tocado, medo de se dissolver no outro, mas também tabus que devem ser vencidos, especialmente os que se referem ao
erótico. Mais tarde o próprio cliente começa a ser capaz de decidir o que ele precisa, e a obtê-lo. Neste ponto começa o
trabalho em suas enormes procuras, seu ciúme e assim por diante. Ele regressa ao nível da criança e deve aprender novamente
como viver sua corporalidade e sensibilidade em estar junto com o casal de pais e com outras crianças. O terapeuta será capaz
de ajudar nisto até o ponto em que ele mesmo venceu seus próprios problemas na área de corporalidade e sensibilidade. Numa
situação ideal, ele ficaria totalmente sem tabus, mas ao mesmo tempo seria capaz de defender suas próprias fronteiras. Além
disto ele não precisaria levar suas próprias exigências para os relacionamentos, experienciando como ele experiencia,
suficiente afeição em sua vida. Qualquer outra postura levará a complicações ou, pelo menos, formará uma barreira contra
resolver certas dificuldades.
O trabalho com o corpo e com as energias pode ser ligado muito bem a exercícios respiratórios, sobre tudo, com
hiperventilação, durante sessões psicolíticas assim como também de outras formas. Não ha regras para ajudar um terapeuta a
reconhecer quando ele deve fazer o que, ou quando uma certa sugestão está certa. É sempre a abordagem direta para a situação
presente que responde estas perguntas. A capacidade de reconhecer isto por sua vez depende do quanto o terapeuta está em
contado com sua própria corporalidade, sua sensibilidade e por fim com sua natureza energética, sem tabus, sem restrições,
mas claramente de uma maneira harmoniosa. A maioria do tempo, ele não simplesmente trará consigo estas capacidades, mas
as adquirirá aos poucos quando fizer um esforço. Na verdade, as adquirirá trabalhando com seus clientes. Seus clientes o
mostraram o caminho quando as portas de sua percepção não estiverem fechadas. Ele crescerá com elas.
Muitos problemas criados por sensibilidade suprimida, geralmente expressos através de uma tendência a introduzir um
elemento erótico na intimidade são facilmente superados quando o terapeuta trabalha em pares. Em nossa experiencia tem sido
melhor quando um casal de terapeuta aparece junto. Isto ativa simultaneamente toda a gama de problemas ligados ao triangulo
de Édipo e abre trabalhos nesta área. Aqui também é verdade que qualquer teoria deve permanecer totalmente como pano de
fundo, ou seria um atraso na terapia. É suficiente chegar até uma situação e depois deixá-la para o cliente para ver o que libera
nele. Ele então toma a liderança porque ele carrega sua estória com ele. Teoria, conhecimento, clareza e consciência surgiram
então, de acordo com a necessidade, surgindo de forma nova em cada situação, e isto é muito melhor do que quando o
terapeuta usa a teoria como uma defesa ou sufoca o cliente com ela. Ao estar junto, o que não é permitido, o que tem que
acontecer a qualquer custo, e o que não é permitido ser percebido, mesmo assim acontece e se torna perceptível muito
rapidamente. Quando aprendemos a simplesmente estar com tudo isto, a não evitá-lo, mas observá-lo, tudo se torna muito
simples e simplicidade tem sua propria forma de agir. Assim como se torna importante para o cliente aprender a encarar seus
próprios sentimentos sem escapar deles, ou, conforme seja o caso, a gradualmente ajudá-lo em sua tendência a escapar e,
portanto eliminá-la, o terapeuta também aprende em seu relacionamento com o cliente a tolerar o sentimento do outro, e ao
mesmo tempo a lidar com eles com tanto cuidado quanto o que tem com os próprios, o que significa não escapar deles, ou
pelo menos a progressivamente entender sua tendência de escapar, e assim superar uma situação. O cliente experienciará este
processo de aprendizagem mais tarde, em outra situação, talvez em um grupo ou ao se tornar ele mesmo um terapeuta. Cada
um de nós passará por todos os degraus do crescimento como um curso natural quanto não vamos de encontro ao processo.
Eu não quero escrever um livro texto sobre trabalho corporal ou sobre trabalho com energia, portanto estas poucas dicas
serão suficientes para discutir seu status na área de terapia psicolitica. Me parece importante deixar claro que o consumo de
uma substância não tem em si potencial para a cura, ou se o tem é muito limitado. Também, com este trabalho, o
relacionamento com o terapeuta, com uma pessoa que é um pouco mais completa, mais desperta e consciente que o cliente, é
um fator decisivo. A substância serve apenas para ajudar o cliente assim como o terapeuta a ser mais capaz de usar esta
ferramenta. É tarefa do terapeuta ligar os efeitos indiferenciados da substância de tal forma que o cliente possa realmente
sondar as profundezas de suas dificuldades escondidas. Isto não acontece necessariamente por si só. Naturalmente, isto pode
ser feito de uma forma melhor quando o terapeuta também tomou a substância e por causa dela, se encontra no mesmo estado
de consciência. Isto de qualquer forma presume que o terapeuta pesquisou o

104
seu próprio inconsciente o suficiente e o esvaziou de tal forma que não esteja abarrotado de energias que são liberadas,
mas que possa lidar com elas como um mestre.
Nós mesmos não tomamos nenhuma substância quando estamos com nossos clientes, ao contrário, trabalhamos em um
estado mental sóbrio. Isto por três razões: primeiramente, nós preferimos ter nossas próprias experiências com pessoas que já
estejam bem desenvolvidas nos desdobramentos de sua consciência, e em segundo lugar, nos parece muito importante
aprender também a lidar com estas energias sem ter tomado nenhuma substância. Provavelmente seja um esforço
inicialmente, mas eventualmente algo muito possível. Quando nos sintonizamos idealmente com um cliente, podemos
entendê-lo profundamente, quando ele mesmo tomou a substância, nos podemos participar da liberação energética sem termos
que consumir nada nós mesmos. Pela experiencia podemos dizer que com o tempo, simplesmente estando junto das pessoas
que tomaram a substância pode ser quase a mesma coisa do estado de consciência que se atinge ao se tomar mesmo a
substância. Em terceiro lugar, não seria muito saudável para o terapeuta tomar estas substâncias freqüentemente. Apenas um
terapeuta dependente tenderia a fazer isto. Como já mencionei, é extremamente importante manter em mente que dependência
destas substâncias tem que ser superada tanto pelo cliente como pelo terapeuta. Só então conseguiremos a abordagem correta
de se trabalhar que torna possível alcançar este objetivo
***

Uma cliente, escreveu o seguinte relatório depois de uma sessão.


Inicialmente, por um bom tempo eu senti apenas meu não teimoso, obstinado e desesperado! Contra todos os outros da
sala. Eu me sentia como alguém que tinha disparado um circuito de alta voltagem e agora estava sendo puxado pra lá e pra
cá e não conseguia largar. Eu também vi claramente as atrocidades às quais minha teimosia me levaria em um caso extremo.
Terrível!
Não tenho nenhum grande sentimento. Com o passar do tempo eu percebi que quando eu desistia de resistir às pessoas,
absolutamente nada restava de mim. Não, não é bem assim: apenas o cansaço e a confusão permaneciam. Eu mal consigo
falar mais, mal consigo dar uma resposta, não entendo mais nada.
Eu realmente nada tenho para oferecer. Eu só gostaria de fechar meus olhos, fazer nada, nem mesmo olhar mais. A
única coisa que eu posso oferecer e meu rosto Alguém pode olhar par ele, eu não gosto mais de escondê-lo. Eu percebi
claramente como é difícil para mim, simplesmente estar cansada, me deitar sem estar fazendo algo para os outros. Eu estou
acostumada a estar sempre atenta, ouvindo os outros, a estar ativa, a cozinhar, a entreter, etc. Agora eu sinto a necessidade
de dizer a todo mundo nesta sala que eu vou dormir um pouco, mas não me esqueçam! Eu descobri que meus pais me
passaram o sentimento de que eu não era amada por ser quem eu era, mas pelo que eu fazia. Especialmente com minha mãe
havia uma constante avaliação se em um certo momento eu estava em alta ou em baixa na estima dela. Para mim o amor
nunca foi garantido, ou evidente, mas dependia das minhas ações.
Minha mãe aparece. Repreende, sentimentos de culpa: "sempre nesta sala. Nenhum interesse na vida familiar, egoísta..."
eu obedeço relutantemente, participo da vida familiar, que significa TV, tensão constante, vazio. Eu me deixo pra trás nesta
sala, participo apenas como uma concha, me divido em diferentes partes. Então hoje, esta parte, este "eu" está exatamente
ali, onde eu não estou.
Cena de cozinha: estou deitada, desprotegida, no chão, minha mãe me chuta e grita ao mesmo tempo, "criatura
nojenta". Na época eu acreditei nela, mas agora sei que não sou. Ela não devia fazer isto, mesmo sendo minha mãe.
Depois minha falta de confiança nos homens. O grande medo de ser abusada se eu não tivesse mais resistência ou
controle. Eu acredito que até hoje eu ainda não consegui "deixar um homem entrar". Meus dentes batem por alguns minutos
por eu ter cerrado eles deste o inicio dos tempos; agora sinto como minha boca suave e verdadeira lentamente aparece. Mais
tarde eu reconheço umas poucas verdades sobre meu relacionamento com meu pai, claramente como vidro. Entre outras, que
ele não me queria, mas também que ele não permitiria que eu fosse de mais ninguém. Que ele constantemente me monitorava
no passado, e ainda me monitora, como uma figura interna, em casa e na escola e hoje. Que ele me deu o sentimento de que
eu não valia nada, que ele estava me jogando para os cães, etc. Que ele ainda é provavelmente O homem em minha vida, o
maior, o melhor. Todos os outros homens se transformam em garotinhos de escola na frente dele, que ele coloca de volta em
seus lugares.
O que é realmente o elo de conexão entre meu pai e eu? Uma mistura de poder (ele era o poderoso, eu nunca ousei me
opor a ele), humilhação, algo sadomasoquista e amor. Eu acredito que eu amei muito meu pai quando criança.
Mais tarde. Parece-me que eu escrevo minha sentença de morte novamente todo dia. Sou eu quem está me destruindo.
Eu sou responsável por isto.
Será que sou culpada? Eu percebo que este auto ódio será mortal para mim se eu não me perdoar. De repente morro de
medo de mim mesmo. Eu não quero morrer, mas também não quero viver, como até agora. Sinto claramente. Eu ainda não
disse sim completamente; na verdade a sentença de morte está claramente perante meus olhos, tudo leva ao perdão, mas eu
não desisto, como pode ser?

105
Mal consigo tolerar o sentimento que segue. Estou morrendo de medo deste estado de tristeza e impotência. Com medo
de ser deixada sozinha. Finalmente consigo chorar. Sinto-me ferida a ponto de morrer. Os lugares dentro de mim que eu
destruí e deixei se estragar com meu ódio durante anos, acordam de seu estupor e começam a doer. Nunca senti uma dor
destas antes em toda minha vida. No começo pensei que eu não suportaria, que eu morreria de dor, mas eu não morri.
Durante a fase da terapia na qual ocorreu esta sessão e da qual surgiu este resumo, esta mulher teve que confrontar os
sentimentos repressivos que dominavam seus sentimentos mais profundos que haviam sido descartados e evitados, com
freqüência e intensamente. Da mesma maneira que ela dominava seus sentimentos, ela controlava seus relacionamentos com
os outros, e todo o espaço de sua vida. Acima de tudo, sua obstinação e orgulho ferido. Que tinham relação com os juramentos
de vida mais profundamente suprimidos, tais como: "pelo menos eu não devo deixar eles perceberem nada". Ou "se eu não
puder conquistar você, pelo menos eu não devo deixar você vê minha derrota".O que fez que ficasse quase impossível para ela
deixar fluir seus sentimentos mais profundos. As conexões com infância, com as relações com o pai e a mãe fez com que
ficasse claro para ela. Ficar consciente de todos estes mecanismos, finalmente leva suas forcas e ao mesmo tempo prepara o
caminho para a ruptura. Não há solução para estes problemas, apenas a liberação que vem através do reconhecimento
consciente dos problemas. Portanto, a dor, que o cliente experiencia como quase insuportável, se torna lentamente acessível.
Visto em relação ao diagrama na figura 3 A, isto tem a ver com a transição do nível do repressivo ao nível dos
sentimentos repudiados. Portanto tem também a ver com integrar os guardas nesta fronteira, com a integração da morte e do
nascimento. Por esta razão, também surge o sentir bem no fim do relatório, que temos que morrer. Ele lida com a morte do
ego, com resolver o eu neurótico que tem que ceder, se a cura completa tiver que acontecer. Mas esta experiencia ainda não
está matura. Será possível que a ruptura só aconteça mais tarde. Falando de energia, o plexus solar ainda não está livre o
suficiente para uma ruptura que possa acontece ao nível do coração.

5 O uso de música
Aqui novamente está uma estória que ilustra as funções mais importantes da musica em terapia psicolítica.
Um homem chegou ao paraíso e, sem saber, sentou-se sob uma árvore que podia tornar seus desejos realidade. Como ele
estava cansado, primeiro ele dormiu um pouco. Quando ele acordou, ele sentiu fome e desejou que tivesse algo para comer.
Imediatamente, a comida mais deliciosa apareceu de nada e flutuou em sua direção, como ele estava com muita fome, ele
nem se preocupou em descobrir como aquilo tinha acontecido, mas começou a comer. Quando estava satisfeito, ele percebeu
que estava com sede também, e desejou algo para beber, e lá estava o vinho. Depois de ter matado sua sede, finalmente ele
começou a se perguntar "alguma coisa não está bem certa, não é assim que as coisas normalmente acontecem. Pode até
haver fantasmas aqui!" E logo eles apareceram! Eles eram amedrontantes e ele pensou, "eles com certeza me mataram", e foi
exatamente o que aconteceu.
Sob a influencia de enteogenos, pensamentos têm um efeito muito direto em nossa vida sentimental. Dentro de um curto
espaço de tempo, elas podem no arremessar do mais alto padrão mental ao mais profundo desespero. Isto acontece mesmo sob
circunstancias normais mas em um estado de consciência alterada, como geralmente é criado através de enteogenos, nós
percebemos estas coisas muito mais claramente. Portanto, psicoterapia em geral, e particularmente terapia psicolitica, tem a
ver, acima de tudo, com acalmar o pensamento, e permitir que ele permaneça assim. Entendendo totalmente como ele
funciona. Assim que o pensamento para, o resto acontece por si só. Todos os rituais, todos os métodos têm mais ou menos este
objetivo: apaziguar o pensamento, afim de que o processo de purificação possa acontecer sem obstáculos.
Sob a influencia de enteogenos nós somos, primeiramente, jogados por nossos próprios pensamentos nos mais variados
estados mentais, até que tenhamos aprendido que é este pensamento que produz estes estados.
O principal papel da música, portanto, que usamos em nossas sessões, é capturar a atenção a fim de trazer de volta
temporariamente o pensamento. A musica traz de volta a balaustrada na qual o espírito, mesmo inconsciente e incapaz, pode
se segurar, afim de não ficar flutuando por aí como uma folha ao vento.
Isto é verdade, acima de tudo, no inicio de psicoterapia psicolitica e psicodélica. Musicas calmas e meditativas se
adaptam a esta fase.
Por causa de sua capacidade de capturar a atenção, e acalmar o pensamento, a música em geral tem um enorme efeito
curador. Durante o tratamento psicolitico, a musica é usada gradualmente e mais espaçadamente, porque os clientes aprendem
com o tempo a serem totalmente conscientes e atentos, e não precisam mais usar a balaustrada para terem em que se apegar.
Quando ele alcança este ponto, ele nota que a música normalmente não o leva a um estado mental mais profundo, ao
contrário, o desvia, o retira de seus acontecimentos internos e por causa disto, ele às vezes, simplesmente prefere a quietude,
prefere, quero dizer, meditar sobre os sons de seu ambiente, para estar completamente com o que quer haja no momento. Ele
então está em condições de dominar sua capacidade de prestar atenção e parar de ser um joguete de seus próprios
pensamentos. A música será então um enriquecimento que ele gostaria de empregar em doses que o ajudasse a não se perder
em seus próprios pensamentos e não é mais um constante dever ou uma parte essencial das sessões psicolíticas.

106
Nós vemos duas possibilidades principais para o uso de música: cada música tem seu próprio conteúdo intuitivo, que
depende do estado mental do criador e dos seus interpretes. Os processos que acontecem durante uma sessão psicolitica
podem ser promovidos, apoiados, ou chamados tocando-se a musica certa. Que foi originada a partir do mesmo sentimento
que se quer passar para o cliente. Se for tristeza, raiva, ou sentimentos que são sublimes, a música apropriada evocará estas
fontes no cliente. Confrontos com impressões pessoais ou coletivas também podem ser despertados, por exemplo, com a ajuda
de musicas clássicas ou religiosas de uma época em particular. Músicas rituais de outras culturas chamarão sob certas
circunstâncias, experiências transpessoais. Esta é a possibilidade que nós usamos de qualquer forma, apesar de raramente,
porque , em minha opinião, tem uma forte influência manipulativa, que não é nos manter com nossa atitude completa. Mas
mesmo assim deve ser dito que o cliente geralmente sabe como se proteger desta manipulação muito bem, no fato de ele
trabalhar com a música que é tocada de outra maneira. Tem sido nossa experiência que musicas românticas suaves pode ser
interpretada como musica de cowboys ou musicas profundamente sagradas como musica de harém Árabe, quando o cliente se
encontra no momento em estados de consciência correspondentes.
Contudo, no geral, nós preferimos uma outra possibilidade menos manipulativa de usar. O efeito manipulativo quase
nunca poder ser anulado, pois a música em si tem algo de sedutor e manipulador. Nós selecionamos música que incorporam
plenitude, beleza, amor e coração, que não tenta exercer nenhuma influencia em particular, mas ao contrário, como o amor, se
sustente por si só, e com isto, torne possível ao ouvinte ver onde ele está em relação ao todo e o que o separa da unicidade. Por
causa disto, ele se tornará consciente de sua isolação e será impulsionado a observar o que evita que ele se conecte, se é sua
historia pessoal não resolvida, a experiencia de nascer, ou aspectos transpessoais que penetram em sua consciência.
A música que incorpora totalidade tem um efeito similar ao do terapeuta que age a partir do seu núcleo, a partir do amor.
Um terapeuta "completo" (holístico) é o melhor instrumento terapêutico. Enquanto faltar para ele a plenitude, ele pode
acompanhar o cliente, estimulando e apoiando processos nele, os quais ele acompanha empaticamente. Mas ele mesmo
sempre estará preso numa certa confusão. Quando ele mesmo está pleno, ele só precisa estar lá e tornar visível para o cliente,
com sua plenitude, a existência e a natureza desta separação. Portanto do ponto de vista do cenário, nós temos o cuidado de
confrontarmos o cliente com o máximo possível de plenitude, isto é, de criar uma situação que, até onde possível, tenha o selo
de tudo que seja certo e autentico. Isto também se aplica a musica também. A musica abre os domínios do inconsciente em
nós, áreas de sentimentos, do espaço em geral, quando estamos prontos para tal. Portanto apenas ouvindo música é que
poderemos aprender a permanecer no espaço no qual a musica, no qual ouvir acontece e no qual consciência também
acontece. Quando é música criada no coração, ela também abre primeiramente o espaço no qual se encontra o amor. Apenas
ouvindo tal música, aprendemos a viver neste espaço. Porem uma pré -condição para isto é que devemos ouvir com o coração
e não apenas com nossos ouvidos.
O grande problema consiste de encontrarmos música que seja plena, música que seja escrita a partir do coração,
interpretada com o coração e cantada com o coração. Isto não é tão fácil. Encontra-se isto em todo lugar, em todo tipo de
música, tanto na música pop, quanto na clássica, em música sagrada como nas de culturas estrangeiras. Pode-se encontrar este
tipo de música em diversos tipos de lugar, porém não é fácil encontrá-la. Como em todas as outras áreas de nossa vida
também. O amor e a plenitude não têm muito espaço em nosso mundo, mas eles podem ser encontrados em todo lugar:
especialmente não onde você acha que ele possa estar, mas logo ali, após a esquina. Não ha critério para tal música também. O
único critério é o coração de própria pessoa. Assim como ela tem que ser escrita e interpretada com o coração, ela também
deve ser procurada e ouvida pelo coração. A descoberta de tal música é em si um processo de vida altamente interessante. Por
diversas vezes tivemos a experiência de encontrarmos a música que precisamos, exatamente quando precisamos dela. Portanto
não quero falar muito mais sobre isto. Musica é um assunto muito intimo para se lidar com ela de forma tão generalizada.
Outra dificuldade é que temos que continuarmos encontrado novas músicas. Um ouvinte atento e consciente sempre
poderá se entregar novamente a mesma música, não os nossos clientes, especialmente não no começo de seu tratamento. Ha
uma grande tendência a cairmos em atitudes habituais, que devem, portanto, no inicio, serem combatidas com efeitos e novos
e inesperados. Na verdade o mesmo acontece em outros níveis, por exemplo, o nível de trabalho corporal. Sob certas
circunstancias, nos podemos induzir uma grande ruptura num paciente ao usarmos inicialmente o trabalho corporal
inesperadamente. Se, contudo, tentamos ir adiante, entusiasticamente para a sessão seguinte, nada mais acontece, porque o
efeito surpresa foi perdido e ele já começou a controlar as possibilidades novamente. Com música também, cairá rapidamente
no "nós já conhecemos esta", até que ele aprenda a reconhecer cada momento como absolutamente novo. O mesmo fenômeno
pode ser reconhecido em sessões psicolíticas. Geralmente a primeira sessão tem um enorme efeito surpresa porque o cliente
não consegue imaginar em que ele entrou e, portanto libera uma porção de coisas. Se a experiencia foi satisfatória, então ele
participa da próxima sessão esperando passar pela mesma coisa. Se a experiencia foi desapontadora, ele vai a segunda vez
com medo que tenha que experienciar as mesmas coisas novamente. Isto o bloqueia então, a tal ponto que no inicio
freqüentemente, nada acontece até que ele se torne consciente da resistência de se esconde em tal atitude. Somente quando
tivermos encontrado e experienciado o ponto Omega na figura 4 será capaz de retornar novamente para as mesmas palavras, a
mesma voz, o mesmo som, o mesmo rosto, e com isto nós descobriremos, como Heráclito tão habilmente disse, que nunca
entramos no mesmo rio duas vezes, porque a água do rio é sempre renovada.

107
***

Finalmente, aqui está um relatório da quinta sessão de um cliente um empatogênico, que a levou a tremendas rupturas.
Somente quando o terapeuta veio e sentou-se comigo foi que tudo começou. Ficou ameaçador para mim. Eu tive que
berrar, eu estava triste. O homem colocou minha cabeça em suas mãos e a mulher colocou a mão sobre a minha em meu
peito. Mesmo assim eu não conseguia me soltar, minha cabeça não permitia, estava pensando. Logo depois disto, as coisas
começaram a andar. Meu peito se abriu, parecia que havia um enorme e profundo buraco em meu tórax, do qual fluía algo
quente. Eu respirava profundamente, eu chorava, eu gritava, eu reclamava. Simplesmente saia de mim, eu não conseguia
mais controlar. Alguma coisa havia tomado conta de mim. Eu me senti totalmente estranha. Isto era eu? Eu estava lá deitada
e sentia claramente uma pressão dos meus ombros para o peito, como dois braços me apertando. Eu olhei mas não havia
ninguém me apertando. Eu senti câimbras em minhas mãos e braços, mas não fiz nada para evitá-las. Eu definitivamente
senti a vida em mim. Eu pensei "deixe-me viver, isto não é ruim de forma alguma. Eu estou gritando e gemendo mas na
verdade não é ruim, é parte da vida. deixe-me viver, não me aperte, não me pressione, deixe-me livre, deixe-me mover, eu
tenho que me mover...".
Eu sinto que ha outros ao meu redor, junto aos terapeutas, mas não os percebo claramente. Eu só sinto a presença deles.
É que eles me deixam viver, que eles criam espaços de sobrevivência para mim; eu estou livre. A tempo, as câimbras relaxam
e eu fico mais pacífico, mas ainda não acabou, meus dentes ainda batem, e eu ainda preciso me mexer.
De repente todos os outros vão embora, eles simplesmente saem. O terapeuta acabou de colocar um disco,
especialmente para mim, ele diz. Eu devo ouvir o texto, diz ele. Eu não acredito muito nele, mas escuto mesmo assim. Ele me
penetra totalmente. Eu queria estar livre, sem laços (ela diz) não queria filhos, nem família, não queria viver uma vida tão
boa e tão certa, como as outras famílias. Mas eu a vivo. Eu tenho que gemer novamente. Sim, dói; eu vivo de uma forma que
eu não gostaria de viver de forma alguma. Meus dentes começam a bater fico lá deitada e solidária, completamente nua e
recem nascida, sozinha. Todo mundo me abandonou. Portanto o mesmo deve sentir um bebe. Como nossas pobres crianças;
eu as deixei sozinhas também, incapazes de tolerar sua dor e seus gritos.
Agora eu sei o que é ser deixada sozinha, deitada lá tão nua e indefesa e a gritar. De repente alguém me dá uma mão.
Senta-se perto de mim e me dá uma mão. Simplesmente está comigo e segura minha mão; sem me sufocar. Eu não vejo quem
é, é bonito, e eu não estou mais sozinho. Eu estou feliz por ela estar comigo. Eu digo isto para ela. E digo a ela que eu não
pude ficar com minhas crianças daquela maneira. Eu os deixo muito pra baixo. Eu tinha muito medo das pequenas criaturas
que gritam. Como deve ter sido horrível...
Aqui, este cliente, que já havia progredido muito em seu tratamento psicoterapeutico, experiencia sua primeira ruptura
para dentro do seu âmago, do seu centro, dela mesmo. Todas as barreiras ao nível do coração caíram, se resolveram. Através
deste processo a cliente ganha profundos insights não apenas em cima de sua própria tristeza, mas também em seu
relacionamento com suas crianças. Seu entendimento, sua inteligência natural, seu amor e alegria de viver, sua capacidade de
amar, despertaram. Depois desta primeira ruptura, ela terá, é claro, que trabalhar esta condição. Porem a energia que vem de
dentro acelerara o processo enormemente. Em relação ao diagrama na figura 3, ela primeiro empurra para as camadas mais
internas de sentimentos repudiados e depois logo vai adiante ate o núcleo também. Com resultado ela se torna mais
autoconfiante e logo termina sua terapia.
Sua vida baseada em autoconfiança mais cedo ou mais tarde a levara até os portões de seu núcleo, onde o guarda, o
problema do poder, também exigirá seus tributos dela. Mas primeiro ela poderá curtir a energia recém despertada, livremente.

6 Incidentes, contra-indicações, do tratamento e outras aplicacoes não terapeuticas


Novamente, aqui está uma estória zen para começar ilustrando uma das complicações que pode aparecer no andamento
do tratamento psicoterapeutico em geral e por causa disto, naturalmente em terapia psicodélica também.
Dois monges estavam em viagem e tinham que atravessar um riacho. Uma linda e jovem mulher também queria chegar
ao outro lado, mas estava com medo de cruzar o fluxo turbulento de água. Então, um dos monges a levantou e a carregou
nos ombros até a outra margem. O outro monge ficou furioso, ele não disse nada, é claro, e ficou quieto. Ele estava
enraivado porque eles eram proibidos de tocarem em mulheres e por que seu companheiro de viagem tinha feito isto. Um
pouco antes de eles chegarem ao destino, ele finalmente falou, ameaçando seu companheiro que ele teria que falar com o
mestre sobre esta transgressão. Inicialmente o companheiro não o entendeu e perguntou sobre o que eles estavam falando.
"Você carregou aquela mulher em seus ombros", o outro respondeu. Impressionado o primeiro respondeu "eu carreguei, mas
a deixei na margem do rio algumas horas atrás. Você parece ainda esta carregando-a. "
Em terapia psicolitica, como na psicoterapia em geral, geralmente não é fácil de forma alguma, como terapeuta a não se
tornar vitima das projeções dos clientes ou de outros mecanismos similares. O que ele tem que aprender é a lidar com isto
impecavelmente. Aqui também, a solução é não-fazer, observar tudo que o outro distorce, não entende, e interpreta mal, sem
se deixar influenciar por isto, sem entrar em maiores explicações ou se defender. Ser capaz de

108
deixar o outro em seu erro, geralmente acalma a situação.
Eu não pretendia escrever um livro cientifico normal, como eu já indiquei. Eu estou mais engajado na ciência da intuição,
que segundo nos aponta C.G. Jung; é uma ciência que se volta para pesquisa pessoal, subjetiva e baseada em insights, que
infelizmente ainda é considerada não cientifica, porque não pode prover os meios pelo qual ser testada. Mesmo assim esta
ciência preenche totalmente os principais critérios aos quais a ciência está sempre sujeita. Os resultados de uma pesquisa são
considerados como cientificamente verificáveis, quando eles podem ser obtidos a qualquer outro momento por outro
pesquisador sob as mesmas condições. Este critério é preenchido pela ciência da intuição de qualquer forma. Cada um que se
enverede pelo caminho interno e conseqüentemente penetre as regiões mais profundas perceberá, quando ele finalmente
colocar em ordem os insights multifacetados que obtiver, que ele não descobriu nada novo, mas apenas penetrou em sua
próprio caminho pessoal, a verdade de nosso ser, que já estava lá. O problema é que um cientista intuitivo não está estudando
um objeto separado dele mesmo. Ele tem que se auto- examinar, sua própria vida e consciência. Ele mesmo deve seguir o
caminho que ele gostaria de descrever. Por causa disto, a cisão entre o observador e o observado, entre o pesquisador e a coisa
pesquisada, é totalmente eliminada, o que leva a uma unidade. Mais uma vez, isto mostra que se nós queremos chegar a uma
unidade no final da nossa jornada, nós já temos que começar com unidade. Interessantemente, este fato também é cada vez
mais descoberto pelas ciências tradicionais. Sobretudo, a física moderna sabe muito precisamente hoje que o pesquisador não
pode se separar da experiencia, mas deve ser incluído como um fator na experiência.
Então, não devo falar muito ou com muita precisão medica sobre as indicações e contra indicações de terapia psicolitica.
Ao invés eu devo recomendar a vocês os excelentes livros de Stanislav Grof e Hans-Karl Leuner. Eu quero tocar mais em
algumas questões de interesse geral e apresentar alguns dos nossos resultados pessoais.
Contra-indicações.
Em nosso trabalho, incluímos mais ou menos as seguintes contra indicações: gravidez, problemas sérios de coração e
circulatórios, problemas graves no fígado, idade inferior a vinte anos, psicoses agudas e sob certas condições, epilepsia.
Quando observamos estas condições mais precisamente, imediatamente reconhecemos que elas se dividem em três
categorias.
Com exceção de gravidez e ser muito jovem, têm a ver puramente com medidas preventivas, acima de tudo com se
proteger, que até onde se pode julgar hoje em dia, ao serem examinadas mais de perto, provavelmente provarão serem
desnecessárias. Também já reconhecemos exceções para estas regras sem complicações.
Mesmo depois de excluir psicoses agudas e epilepsia, por um lado, ela se referem a medidas preventivas, que até onde
vemos, hoje, provavelmente não se justificam. Por outro lado, tais situações precisariam ser tratadas em um esquema diferente
do da pratica psiquiátrica; ou seja, mais intensamente, mais cuidado pessoal teria que ser possível.
Nos já tratamos epilépticos com resultados bem razoáveis e confirmamos nosso palpite, que epilepsia, em maior ou menor
escala, tem a ver com eventos psicossomáticos, que o ataque epiléptico é um tipo de orgasmo extra genital - como chamou
Wilhelm Reich - ou mais de forma mais ampla, que ele representa uma experiencia inconsciente e extática, e que a freqüência
de ataques diminuem depois de sessões psicolíticas, quando as conexões psíquicas sobre o ataque se tornam conscientes e são
integradas.
Nos teríamos com muita boa vontade lidado mais freqüentemente com psicoses agudas, por que achamos que poderíamos
obter bons resultados aqui também. Isto, porem, está muito além da capacidade de nossa prática e exceto por um ou dois casos
que poderiam ser considerados sucesso, ainda estaríamos adivinhando.
Também, quando olhamos para isto do ponto de vista de psicossomáticos, o terceiro grupo de contra indicações, como
doenças cardíacas e circulatórias e problemas de fígado, tem a ver, via de regra, com resultados tardios de sentimentos
suprimidos e com consciência negada por anos, que levou a sofrimentos crônicos. Particularmente no caso de problemas
cardíacos e circulatórios, não é o uso de substâncias, mas os poderosos sentimentos que elas evocam que poderiam levar a
morte. Se tratamentos psicolíticos de uma condição tão psicologicamente enraigada se expressa através de resultados
desastrosos, é provavelmente porque a hora da correção passou e aquele tratamento não é mais possível.
Esta é uma questão interessante em geral, já que ela não se refere apenas ao nosso destino individual, mas também ao
coletivo. Quando, durante o nosso desenvolvimento chegamos a um ponto onde não é mais possível retificar a situação, onde a
dinâmica do evento já se tornou tão poderosa que só podemos deixar que nossos próprios infortúnios nos dominem? Isto pode
ser observado muito precisamente quando estoura uma guerra ou lutas menores: em algum ponto se alcança uma situação onde
a batalha, a luta, a guerra se torna inevitável e nenhuma outra forma de correção é possível. As conseqüências então devem
surgir. A questão que sempre surge, hoje em dia, no que se refere ao nosso desenvolvimento coletivo é se nós já fomos longe
demais ou se ainda é possível salvar o todo. Quando teremos ido longe demais?
Rani, que eu já mencionei anteriormente, sempre comparou isto graficamente com maionese. Quando você está

109
batendo maionese e você derrama muito óleo, antes de estabilizar tudo com vinagre e limão, há o perigo de estragar o
molho e você não poderá mais salvá-lo. Ninguém sabe exatamente quando este ponto acontece, mas quando você chega nele,
você não tem mais chance. Você pode jogar fora a maionese.
Portanto, não conhecemos nenhuma contra-indicação absoluta. Ao contrario, geralmente chegamos a conclusão que os
estados de consciência que as substâncias como psicodelico e empatogênicoprovocam, podem ajudar todos os nossos clientes
e não somente nossos clientes, mas também para nós mesmos, e na verdade para qualquer pessoa que queira encarar as
dificuldades para se descobrir. O mesmo acontece aqui, Como com tudo que dissemos sobre psicoterapia em geral:
Psicoterapia e, em particular, terapia psicolitica, é algo tão bom que deveria ser usada também por pessoas saudáveis.
Por outro lado, o que é bom não deve ser forcado em ninguém. Nisto eu vejo a única e a mais absoluta contra indicação.
Se alguém não quer se submeter ao caminho interior, se alguém não consegue aceitar estes meios para ele mesmo no caminho,
deve-se respeitar isto. Mesmo se eu estiver certo como terapeuta que seja uma decisão falsa, que é uma decisão baseada no
medo e na defesa, ainda é a decisão da outra pessoa e como tal é incontestável. Se aprovarmos compulsão como um meio, ou
do tipo suave ou disfarçada de sedução, o que alcançaremos não é nosso objetivo de um mundo saudável, mas novamente uma
sociedade baseada em compulsão, como a que já temos.

Indicações
Com isto, a questão da indicação já foi na maioria respondida. Eu recomendaria estas substancias hoje para qualquer
pessoa que esteja interessada no caminho interno. Isto não significa que seja a única solução. Eu encontrei pessoas, que já
andou um longo percurso sem elas. Por muitos anos, especialmente no nosso mundo ocidental, o potencial psicolitico parece
ser de grande ajuda. Por causa disto, eu recomendaria que todo mundo pelo menos experimentasse. Infelizmente nossas leis
não permitem isto, apesar de, como mencionei no primeiro capítulo da primeira parte, nos poderíamos com a ajuda da
sociedade Suíça para terapia psicolitica receber uma autorização especial para o uso destas substancias em psicoterapia, suas
aplicações, agora como antes, ainda são muito restritas. Ela só é fornecida em casos difíceis de psicoterapia e para clientes
com os quais outros métodos já foram testados sem sucesso. Isto significa dizer que, sobre tudo o saudável o normal são
excluídos dos benefícios deste método. Eu espero que aqueles que são saudáveis, sejam saudáveis o suficiente para rejeitar
esta atitude com o passar do tempo.
Com relação às indicações específicas dentro da estrutura da terapia psicolitica, nós descobrimos que o que Grof e outros
também disseram foi confirmado. Nós temos conseguido um sucesso especial com estados depressivos, com neuroses severas
ou caráter fixo com pacientes de fronteira, com os que sofrem de anorexia e psicossomáticos e sobre tudo com pacientes
viciados. Em geral podemos dizer que os resultados mais impressionantes são obtidos por aqueles clientes nos quais o contato
com suas dores está tão profundamente enterrado que a entrada não pode ser desobstruída por métodos convencionais. Quando
a pessoa então se libera muito rapidamente com a ajuda de enteogenos, mudanças dramáticas e impressionantes acontecem.
Com outros clientes, nos quais o processo de conscientização continua mesmo sem o uso de enteogenos, seu uso é geralmente
enriquecedor e serve para acelerar o processo, sem contudo levar a uma ruptura dramática. Aqui deve ser dito, da mesma
forma, que certas áreas de nossa consciência estão totalmente fechadas para nós mesmos, e que se quisermos entendê-las,
devemos percorrer um caminho não convencional. A terapia psicolitica é um deles.
O que podemos dizer particularmente, baseado em nossa experiência até hoje, sobre indicações para o uso de ferramentas
psicolíticas é o seguinte: alcançamos ótimos resultados com todas as formas de depressão. Muito melhores do que com
qualquer outra maneira convencional, tivemos sucesso em torná-las aceitáveis para os depressivos para passarem pela
depressão como uma alternativa para fugir da dor, que era o que eles geralmente tentavam fazer anteriormente sem sucesso.
Geralmente ele recebia insights suficientes sobre a conexão interna de sua depressão em uma única sessão e percebia que
resistir a sua dor, um processo que o comprometeria por meses, o levará ao amor, que por si só resolverá todos os seus
problemas. Nós vemos curas particularmente impressionantes com depressivos que sofrem com sentimentos fortemente
controlados e geralmente endurecidos pelo uso de psicofarmaceuticos (tranqüilizantes e anti-depressivos). Grande descargas
catárticas pode alterar a pessoa totalmente no espaço de uma ou duas sessões. Isto é verdade de todo sofrimento psíquico que
tem a ver com energias bloqueadas.
Para começar, é preferível tratar depressivos com empatogênicos. Mais pro fim do tratamento, também vale a pena usar
substâncias psicodélicas sobre tudo para abrir o território que é novo e contem sentido e significado. Ao ser confrontada com
este tipo de terapia, a maioria das pessoas começa a se preocupar muito intensamente com questões esotéricas, religiosas,
filosóficas e políticas.
Depressão endógena também (que em nosso ponto de vista na verdade não existe realmente) se beneficia enormemente
desta forma de tratamento. Em nossa opinião, tem a ver com problemas profundos e de muito tempo. Que, via de regra, não é
para ser acessado de forma alguma por métodos convencionais. Com terapia psicolítica por outro lado, sobretudo com o uso
de substâncias psicodélicas psicodelico, geralmente se obtém sucesso, de qualquer forma, quando o cliente está motivado.
Problemas narcisísticos, especialmente os que incluem tendências paranóicas, e também fobias e neurose do medo, são
novamente, preferivelmente tratadas com empatogênicos empatogênico. Eu já apontei que pessoas com este tipo de

110
aflição, por causa de seu extremo medo da aproximação, podem facilmente usar enteogenos para escapar, entrando numa
produção ilimitada de imagens internas com as quais sentem-se bem confortáveis. Contudo, a distancia que estas substâncias
os ajudam a manter na verdade os faz adoecer. Paradoxalmente, empatogênico torna estas pessoas muito mais amedrontadas,
por que quase as compele a confrontar a aproximação indesejada com os outros e conseqüentemente com eles mesmos, que
eles excluíam. Com pessoas que sofrem destas doenças, psicodélicos devem ser usados apenas no comecinho da terapia
quando os padrões básicos foram largamente resolvidos e então novamente, a fim de abri-los para um novo espaço que mostre
a eles um reino mais significativo. Geralmente, até uma combinação de empatogênico e psicodelico é muito útil nestes casos.
O mesmo se aplica a psicolíticos com os quais, como mencionei antes, nós não pudemos ter muita experiencia. Em dois casos,
o núcleo psicolítico se permitiu ser recebido sob a influencia da substância, e em sendo subseqüentemente trabalhada, poderia
ser totalmente resolvida.
Pessoas com problemas fronteiriços que são uma extrema forma de distúrbio narcisístico devem também ser manuseados
da mesma forma. Com eles pode-se também alcançar muito bons resultados com o uso de um empatogênico ou substancias
similares. Como no caso de depressão endógena, estamos convencidos que terapia psicolitica é a escolha certa para estas
enfermidades graves por que o núcleo da doença não pode ser acessada de forma alguma com métodos convencionais ou pelo
menos, só com grande dificuldade.
Não apenas neuróticos compulsivos e neuróticos de caráter, mas também neuróticos normais respondem a este método de
tratamento. Com eles também a couraça neurótica pode ser quebrada muito mais facilmente e nos casos mais graves é a única
forma concebível. Através deste método, o cliente tem seus próprios insights sobre seu sofrimento que também é mais
profundo e muito mais rápido e que mostra a ele o caminho e confirma o significado do seu trabalho em si mesmo. Isto
também acelera a preparação e suaviza a estrutura neurótica que é essencial para resolver o problema. O processo de resolver
pode ser forçado até um certo limite. Isto é um processo de crescimento, que acontece a seu próprio tempo. O processo de
quebrar as resistências, contudo, pode ser auxiliado, sem maiores cerimônias. Não é verdade, como normalmente se diz, que
uma quebra rápida de resistências possa levar a severas descompensacoes, pelo menos não quando pode ser trabalhada em
uma relação de apoio. Estes medos, que são geralmente expressos, são principalmente medos do terapeuta de suas próprias
rupturas essenciais e, por causa disto, também projeções nos clientes, que são falsas.
Com neuroses de caráter severas ou psicossomaticamente fixadas, o uso de um psicodelico ou substância às vezes, em
altas doses e no começo em si, são geralmente úteis. Desta forma, pessoas que foram engessada em uma forma muito estreita
de condicionamento pode temporariamente se libertar para terem de volta uma visão mais ampla. Uma dimensão perdida. O
conhecimento sobre isto, mesmo quando a experiencia não pode inicialmente ser contida em suas consciências, os motiva
fortemente a trabalharem mais, o que este processo novamente acelera. Alem do mais é verdade com os neuróticos,
especialmente os com fixação psicossomática, que o uso inicial de empatogênico, ou substancia similar é muito útil a fim de
suavizar a estrutura neurótica.
Viciados à primeira vista, quase paradoxalmente, mostram desenvolvimento positivo sob terapia psicolitica. O uso de
substancias aditivas é geralmente logo minimizadas por que o desejo do viciado pode ser acalmado, acima de tudo com o uso
simultâneo de trabalhos corporais psicolise. psicodelico e empatogênico se adaptam a eles igualmente. O melhor é
provavelmente combinar ambas as substâncias ou usá-las sucessivamente. Com viciados, contudo o relacionamento com o
terapeuta é também um fator especialmente importante no tratamento psicolitico. Que mesmo pessoa com doenças fatais ou
moribundas podem se abrir para novas maneiras de ver e para uma dimensão desconhecida que oferece significação através do
uso de psicolíticos tem sido amplamente provado através dos trabalhos de Stanislaf Grof. empatogênico e psicodelico me
parecem igualmente adequados para este trabalho. Empatogênicos poderia talvez servir em uma urgente reconciliação entre os
seres humanos, enquanto o psicodelico ajuda a uma pessoa se entregar ao desconhecido, ao que ainda virá.
Nós alcançamos particularmente bons resultados também com pacientes anorexos. Aqui, é acima de tudo o uso do
empatogênico que ajuda especialmente, tanto quanto possível numa sessão com toda a família. A melhora dos relacionamentos
entre pais e entre pais e filhos afetados trazendo mudanças rápidas e tremendas.
Empatogênicos também se mostrou ser útil em relacionamentos e crises conjugais, não apenas para esclarecer iminentes
separações, mas também para melhorar a comunicação e a comunhão em um relacionamento ainda possível.
Eu gostaria, mais uma vez, de enfatizar o fato de que o uso de enteogenos pode ser de grande ajuda em praticamente
todos os sofrimentos psíquicos. E com as dificuldades enfrentadas por pessoas normais, quando se trata de encontrar sentido e
clareza no que se refere a questões humanas. Porém também é importante ver que em diferentes enfermidades meios
convencionais podem criar acesso apenas com grande dificuldade e que, por causa disto, em nossa opinião terapia psicolitica é
a terapia certa para estas doenças. Isto se aplica a depressão endógena, caráter severo ou neurose fixadas psicosomaticamente,
enfermidades compulsivas graves, psicoses e personalidades fronteiriças, viciados e anorexos.

Incidentes e efeitos colaterais


Eu acho que terapia psicolitica, quando feita da forma correta do ponto de vista do ambiente e da forma de fazer, é uma
forma muito segura de tratamento. Em mais de 600 sessões que comandamos nenhum acidente aconteceu que

111
levasse a conseqüências indesejadas. Este número é baseado na posição de 1989. Ato o momento, nós lideramos muito
mais sessões. Não houve incidentes desagradáveis a serem observados em nenhuma delas também.
Naturalmente, alguns clientes têm alguma dificuldade por alguns dias ou algumas semanas seguintes a sessão. Isto,
contudo não pode ser evitado e acontece da mesma forma em toda psicoterapia convencional. Tem a ver com sentimento
suprimidos a muito tempo e difíceis de digerir vindo a tona que primeiro têm que ser integrados. Com a abordagem correta e o
direcionamento terapêutico certo, isto, contudo não é um problema, contanto que não se tome a ruptura ocasional da vida
profissional de uma pessoa por uns dias ou semanas como uma tragédia. Incidentes desagradáveis que foram parcialmente
descritos na literatura, e acima de tudo na imprensa, sempre tem a ver com tomar estas substâncias num contexto errado e sem
os relacionamentos de apoio com as pessoas que acompanham. Quando estas condições são satisfeitas precisamente, nunca há
nenhum incidente! Novamente também é importante aqui, esclarecer totalmente a questão antes de tudo, sobre se o cliente
quer realmente se submeter a este tipo de tratamento. Dificuldades aparecem primeiramente quando a pessoa em questão não
está realmente pronta e quer sair fora, quando alguma coisa vem a tona durante a sessão.
Com empatogênico nós não temos tanta certeza. Alguns dos efeitos colaterais que foram observados tais como câimbras
musculares, dores de cabeça, depressão subseqüente, não tem nada a ver com a substancia, mas com a constituição psicológica
do cliente. Geralmente eles teriam que aparecer de outra forma. Até o tencionar das mandíbulas, um efeito colateral que dizem
ter o empatogênico nos parece mais uma expressão psicossomática de nossa tendência a cerrar, do que um efeito da
substância. Interessantemente, esta tensão nas mandíbulas desaparece depois de um suficiente numero de sessões, na verdade
por si mesmo. Parece com isto que a freqüência de ocorrência pode ser rastreada diretamente a um efeito preciso do
empatogênico.

Terapia de usos laterais.


Eu já apontei anteriormente que trabalhar com substâncias psicolíticas poderia ser útil e desafiante para muitas pessoas.
Eu gostaria de mencionar especialmente aqui o treinamento de pessoas empregadas no setor psicoterapeutico ou em alguma
outra profissão de ajuda. O treinamento em psicoterapia não consiste de adquirir tanto conhecimento ou, na aprendizagem de
tantos métodos quanto possível. Isto é meramente para prática posterior ou para levar adiante a profissão, um efeito colateral
as vezes útil. Mas geralmente também obstrutivo. O verdadeiro treinamento é auto- experiência. Um terapeuta pode
acompanhar seus clientes apenas até onde ele mesmo já esteve. Com pessoas que estão trabalhando na profissão terapêutica e
que participaram de nossas sessões, nós observamos que a forma de trabalhar deles geralmente muda de forma bem básica
depois destas experiências, que a forma deles abordarem seus clientes melhora enormemente. Então eu acho uma grande pena
que o confronto proposto por substâncias psicolíticas não formem uma parte integral do treinamento de psicoterapeutas, de
psiquiatras ou psicólogos como também para ajuda psiquiátrica, trabalhadores sociais, padres e assim por diante. Em nossa
opinião, isto seria de grande ajuda para o enriquecimento do programa seco em tais instituições e a colocar mais vida neles. Eu
também lamento o fato de instituições psiquiátricas, (mesmo quando elas tenham passado por um processo de renovação
recentemente) ainda sejam instrumentos de supressão - especialmente quando eu penso como com o mesmo resultado, e com
muito mais
prazer, o contrario seria possível para todas as partes.
***

Para encerrar, aqui está mais uma vez um relatório de uma sessão. A cliente experienciou seu nascimento novamente.
Eu estou com medo, muito medo. Eu fecho meus olhos e me entrego aos meus medos. É como se alguém quisesse apertar
meu coração. Eu nunca senti um medo destes antes. Aperta minha garganta também. Não posso nem gritar. Sinto um suor frio
em minhas mãos. Eu tenho medo de não ser amada.
Algo em mim se fecha com toda sua força. As vezes eu acredito que eu comecei a me abrir, mas quase nada acontece.
Estou realmente furiosa comigo mesmo e fico incrivelmente irritada com meu próprio comportamento. Realmente neste ponto
algo realmente acontece. Agora que eu admito minha raiva, eu me abro. Um sentimento de dor e impotência me vem. Eu não
sei onde estou. Eu rolo no chão e choro. O terapeuta vem até a mim. Ela me toma nos braços e pergunta. "Onde você está?"
"Está escuro", eu digo e me mexo. "O que mais?" Ela pergunta. "Quente", eu digo, mas não consigo mais falar, eu só sei que
eu quero sair. Eu gemo! "Eu quero sair!" Finalmente eu consigo dizer. Ela me balança levemente. Finalmente eu estou mais
livre, eu estou exausto, mas não sinto este aperto ao meu redor. Então eu a tomo em meus braços e só consigo balbuciar uma
palavra, "mãezinha" repetidas vezes: "mãezinha". Eu acaricio sua face e lentamente me acalmo. "Você se sente melhor
agora?" Ela me pergunta. Eu balanço a cabeça, ela continua a massagear meus braços e mãos, pois eles estão bem frios.
Agora eu me sinto bem e me deito calmamente e bem sozinha e me entrego a meus sentimentos. Está tudo ok, eu me sinto bem
do jeito que estou, eu me amo. O momento para mim é um pouco da eternidade, na qual eu gosto de estar, tão completamente,
tão absolutamente sozinha.
Mais tarde eu fico inquieta novamente, de repente me sinto dividida; o que me deixa incerta, me faz ter medo novamente.
Agora eu sei que foi meu nascimento que eu revivi durante a primeira experiencia da sessao de hoje. Eu

112
acho que eu superei o choque de nascer. De qualquer forma não sinto mais um peso nesta experiencia. Agora, contudo,
eu estou consciente da total rejeição de minha pessoa por meu pai quando eu o roubei de sua paz com meu jeito barulhento.
Isto está ligado a sentimentos terríveis. Ele nada fez a respeito, isto com certeza teria perturbado sua paz, e agora chega sua
filhinha e ousa se opor a ele e a mãe dela e a causar problemas. Ele não tinha feito isto, porque em nome de Deus, eu tenho
que ser barulhenta? Não pode ser! E se você quer ser amada, não contradiga seus pais. Que criança não quer ser amada? Eu
de qualquer maneira queria; mas eu era amada? Contudo eu nunca me comportei bem o suficiente para ter sucesso. Eu sinto
isto claramente hoje. Eu era ameaçada com o inferno e o diabo, quando eu não me comportava, me mostravam os chifres do
diabo que cresceriam em minha testa, se eu ousasse em ser teimosa. Então quando a filha não se comportava, um deles ia
diligentemente para a igreja pedir o perdão de Deus.
Frustração! Porque? Eu sinto rejeição, a rejeição do meu pai a mim, que cresceu em mim todos estes anos, mas isto me
deixa com medo! Porque? É porque, eles dizem, não se pode odiar o próprio pai! É isto, agora eu sei; bem não, eu já sabia
disto ha muito tempo, mas não queria acreditar, eu tento admitir este ódio. Mexo nas almofadas do chão com ódio, mas,
merda, é tão difícil me manter fiel a este sentimento. Eu chego ao insight de que eu não consigo resolver este problema
totalmente hoje, mas que eu quero resolvê-lo de qualquer forma e devo, se eu não quiser ficar emperrada na frustração. Eu
estou absolutamente exausta e algo como a paz me chega.
A ruptura para o reino transpessoal (veja figura 3A) que veio com as lembranças de parte de seu nascimento tornou
possível para este cliente esclarecer as camadas superficiais. O ódio de seu pai, profundamente temido e nunca admitido, foi
acessado somente depois dela ter enfrentado o medo da morte no seu canal de nascimento. O reconhecimento desta
experiencia básica a abriu para um tipo de observação, na qual o ódio por seu pai não parecia mais tão excepcional. Este é um
fenômeno que é geralmente percebido! O trabalho nestas camadas profundas (veja figura 3A) geralmente não acontece
diretamente, mas aos pulos. Às vezes um nível muito profundo é trabalhado, que é a única coisa que torna possível para o
conteúdo do inconsciente se romper para uma camada mais superficial, e às
vezes, o trabalho ao nível superficial leva novamente diretamente ao núcleo.
***

Aqui está outra estória para encerrar este livro, do jeito que eu a conto a meu filho Cyrill de cinco anos de idade. Ele me
vem todo dia e pede: " conte-me uma estória. Eu gostaria de uma na qual Zora a vermelha, Caro o gato, a rainha malvada, os
caça tanques, branca de neve e os sete anões e também os smurfs aparecessem."
Nós introduzimos buracos negros em nossas estórias, através do qual cada figura que se entedia com ela, pode mudar
para outra e encontrar amigos lá.
Uma manhã, Zora vermelha saiu de sua cerca de amoreiras junto com Branco, bocejou e se espreguiçou e disse, "nós
realmente devemos fazer algo especial novamente, eu estou entediado. É a mesma coisa todo dia. "junto com Branco, ele tem
a idéia de organizar uma grande festa para todos os seus amigos, que eles conhecem de outras estórias, com quem eles já
viveram muitas aventuras e confrontos.
Eles escolheram um buraco negro, se arrastaram por ele e aterrizaram juntamente com Carlo Gato. Ele está muito feliz
com esta visita inesperada e com o convide para a grande festa que Zora quer organizar. Os caca tanques, por falar nisto,
moram no momento com Carlo Gato e também são convidados. Zora e Branco agora se arrastam de uma estória para a
outra e dizem a todo mundo sobre sua festa. A mais terrível de todas as terríveis rainhas, Gundula de Erzhausen, com quem
se poderia naturalmente ter chegado a um acordo amigável há muito tempo, e seu parceiro o príncipe Eberhard de
Schweiningen, são convidados assim como os sete anões com sua branca de neve, o filho dos Millers, com seu bastão em seu
saco, o burro, o cachorro, o gato, e o galo, os músicos de Bremen e também a Sra. Holle e Cinderela. Mas depois também os
"smurfs", Daniel Dusentrieb e o comissário de policia não deveriam também ser esquecidos. Mesmo Remington Stelle, que
era um detetive e advogado e tinha freqüentemente ajudado o grupo de Zora a se livrar de enrrascadas, esta lá. Todos estão
convidados, é uma festa realmente grande e bonita. No fim, Zora e Branco retornam para suas estórias para preparar tudo
que é necessário para a festa em seu castelo.
Logo chega o grande dia, eles vêm de todas as estórias, se encontram aqui, na estória de Zora, estão felizes, celebram
juntos, bebem, comem e dançam até as primeiras horas da manhã. Antes de se separem, é decidido que dali em diante, uma
festa destas acontecerá todo ano, na primavera e no outono. E de fato, cada vez em uma estória diferente. Da próxima vez os
músicos de Bremen convidaram todos os outros para sua casa e no outono seguinte Gundula de Erzhausen para seu castelo
mágico. E assim, chegará um tempo em que todo mundo conhecerá e entenderá todo mundo. As fronteiras estão presentes
com certeza e também os buracos negros através dos quais eles podem ser quebrados. Finalmente, cada um retorna para
suas estórias, para cumprir sua missão, para cumprir suas atividades. Porem quando um precisasse do outro ou estivesse
entediado, imediatamente aparece um buraco negro embaixo do nariz da pessoa, e quando se arrasta por ele não se sabe
exatamente onde vai chegar. Não é que sempre acabe harmoniosamente, as vezes você tem que vencer batalhas difíceis, e as
vezes você tem que levar em consideração a mágica da pior das rainhas. Mas mesmo se tudo terminar em morte, amanhã se
achará uma forma, e ele deve ser encontrado para deixar o morto voltar a viver. Ou então você sabe, nossa estória, a minha
e a de Cyrill não poderia continuar...

113
Sim, e a parte que vai com o fim de todas estas estórias: foi assim, não poderia ser de outra forma, e no geral...

114

Вам также может понравиться