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LISE, MLZ et al.

Artigo de Revisão

O abuso de esteróides anabólico-androgênicos em atletismo


M.L.Z. LISE; T.S. DA GAMA E SILVA; M. FERIGOLO; H.M.T. BARROS

Trabalho realizado na Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre, RS.

U NITERMOS: Doping. Esteróides. Testosterona. Andro- tiva de tratar ou prevenir lesões decorrentes da
gênios. Abuso de drogas. prática de esportes3. Os EAA têm sido abusados,
também, por não atletas com fins estéticos, pelo
KEY WORDS: Steroids. Doping. Testosterone. Androgens. desejo de ganhar peso e melhorar a aparência 3,4,8,9,
Drug abuse.
sendo muitas vezes associados ao uso de álcool,
cocaína e outras drogas ilícitas para promover
agressividade 3,4. É particularmente perturbador o
aumento da freqüência do seu uso entre os adolescen-
INTRODUÇÃO
tes10, conforme detectado em estudos internacionais.
Os EAA chegam ao Brasil provenientes dos Es-
Os esteróides anabólico-androgênicos (EAA) são tados Unidos, Alemanha, Espanha, França, Ar-
um grupo de compostos naturais e sintéticos for- gentina, Uruguai ou Paraguai com muita facilida-
mados pela testosterona e seus derivados 1 . A de e sem qualquer tipo de fiscalização. De acordo
testosterona é sintetizada desde 1935 e durante a com a Secretaria de Vigilância Sanitária, até hoje
2ª Grande Guerra foi utilizada pelas tropas alemãs não há qualquer disposição legal ou regulamentar
para aumentar a agressividade dos soldados. Seu que imponha controle de comercialização e uso de
uso terapêutico até esta época, restringia-se ao tais substâncias, ou seja, o Brasil não tem legisla-
tratamento de pacientes queimados, deprimidos ção específica no controle sobre anabolizantes 11.
ou em recuperação de grandes cirurgias 2. Nos anos Em reunião realizada dia 6 de novembro de 1997,
50, foi utilizada sob forma oral e injetável no o Conselho Federal de Entorpecentes (CONFEN)
tratamento de alguns tipos de anemia, em doenças propôs que os EAA sejam avaliados pelo Ministério
com perda muscular, bem como em pacientes pós- da Saúde para posterior medidas por parte das
cirúrgicos para diminuir a atrofia muscular se- autoridades quanto ao controle mais rígido da
cundária 2 . comercialização e importação dos produtos farma-
Em 1939 foi sugerido que sua administração cêuticos que os contém. Também foi proposto que
poderia melhorar a performance de atletas 2 , mas a o Ministério Extraordinário dos Esportes promova
primeira referência ao uso de hormônios sexuais campanha nacional de esclarecimento das conse-
para melhorar o desempenho de atletas ocorreu qüências do uso e abuso dos EAA e a realização de
em 1954 1,3, em um campeonato de levantamento de exames anti-doping nas competições nacionais 11.
peso em Viena, e seu uso tornou-se difundido com Em nosso meio, no Serviço de Informação de
este fim a partir de 1964 1,4. No Brasil, os EAA são Substâncias Psicoativas (SISP), o número de solici-
considerados “doping”, segundo os critérios da tação de informações sobre os EAA vêm crescendo
Portaria 531, de 10 de julho de 1985 do MEC 1,6, gradativamente, pois o uso indevido tem sido en-
seguindo a legislação internacional. O termo “do- contrado entre frequentadores de academias de
ping” deriva de um dialeto africano e refere-se a musculação, atletas de halterofilismo, pessoas de
uma bebida estimulante usada em cerimônias re- baixa estatura, na tentativa de melhorar a aparên-
ligiosas 1. O Comitê Olímpico Internacional define cia, ou com o fim de melhorar a performance sexual
como “doping” o uso de qualquer substância exó- ou para a diversão. No entanto, o uso abusivo e
gena ou endógena em quantidades ou vias anor- indiscriminado pode ocasionar efeitos colaterais
mais com a intenção de aumentar o desempenho do graves, os quais são desconhecidos por muitos usu-
atleta em uma competição 5 . ários. Este trabalho tem como objetivo contribuir
O uso ilícito dos EAA dá-se por atletas na crença para divulgar informações sobre tais substâncias.
de que essas drogas aumentam a massa muscular,
a força física e a agressividade em competições, e Epidemiologia
diminuem o tempo de recuperação entre exercícios A incidência de uso dos EAA parece ter aumen-
intensos 1,7. Também é descrito o uso pela expecta- tado consideravelmente nos últimos anos nos Es-

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ESTERÓIDES ANABÓLICO-ANDROGÊNICOS

tados Unidos da América3,10. No entanto, a obten- hormônio e da espermatogênese e levando a atro-


ção de estatísticas fidedignas sobre o abuso de fia testicular 12. Outros estímulos também podem
drogas por adolescentes é difícil, especialmente interferir neste ciclo. Há aumento significativo da
pelo temor destes de serem afastados do esporte3. testosterona plasmática após períodos de estresse
A freqüência de uso destes agentes é variável agudo como em competições, no entanto, este au-
entre 3% a 37% por populações de estudantes de mento não traz implicações para os testes de urina
primeiro (elementar), segundo (secundário) ou antidoping 13.
terceiro graus (universitários) e atletas,2,3,8,9. Maior A testosterona não é sustância ativa; na circula-
consumo ocorre entre indivíduos do sexo masculi- ção age como pró-hormônio na formação de duas
no, e há relação com a progressão da escolaridade, classes de esteróides: andrógenos 5-α- reduzidos
o que pode ser devido à mudança do nível de (dihidrotestosterona), que são mediadores intra-
competição3. Os atletas semi-profissionais, de ní- celulares da maioria das ações androgênicas, e
vel universitário, fazem uso mais intenso de EAA, estrógenos (estradiol), que potencializam alguns
podendo haver, entre eles, diferenças da intensi- efeitos androgênicos, enquanto bloqueiam ou-
dade do consumo de drogas relacionado ao tipo de tros 12. A testosterona é convertida em vários ou-
esporte praticado, havendo índices mais elevados tros metabólitos ativos como estradiol, andros-
entre o jogadores de futebol americano. terona, 3-α-hidroxi-5-β-androsta-17-ona e andros-
No Brasil, ocorre uso indevido de especialida- tenediona.
des médicas vendidas livremente nas farmácias ou As substâncias ativas, inclusive metabólitos re-
de fórmulas obtidas em farmácias de manipulação, duzidos (5-α-redutase) atravessam a membrana
que utilizam sais legalmente importados, como celular e ligam-se com alta especificidade e baixa
oxandrolona, estanozolal e testosterona. Também afinidade a receptores citoplasmáticos para este-
se encontra abuso de substâncias destinadas a uso róides. O complexo droga-receptor é translocado
veterinário, principalmente para eqüinos de com- para o núcleo e liga-se à cromatina, induzindo a
petição. É preocupante a compra de produtos im- transcrição do RNA e a produção de proteínas
portados ilegalmente ou compra ilegal de produtos específicas e ocasionando seus efeitos 12.
fabricados em outros países, alguns com bula em Todos os esteróides anabolizantes sintéticos e
língua estrangeira ou sem bula. Alguns destes semi-sintéticos comercializados são derivados da
produtos são falsificados e vendidos em ampolas testosterona2,12,14. Estas substâncias são produzidas
não esterelizadas11. Não existem publicações por por indústrias farmacêuticas no hemisfério norte.
órgãos oficiais ou na literatura médica recente que Também existem laboratórios ilegais e que suprem
explicitem a real situação do uso indevido dos EAA o “mercado negro”3. Para fins de doping, os EAA são
no Brasil e suas conseqüências físicas e psíquicas. geralmente usados por via oral ou parenteral. No
entanto, estão descritas diversas tentativas de uso
Bases farmacológicas para o uso correto clínico e de abuso com as mais variadas formas de
As gonadotrofinas hipofisárias luteinizantes administração destas drogas: via retal, implante de
(LH) e folículo estimulante (FSH) regulam o cres- cápsulas, nasal, transdérmica12 para suplantar o
cimento testicular, a espermatogênese e a esteroi- metabolismo de primeira passagem no fígado.
dogênese. O LH aumenta a síntese de AMPcíclico Para minimizar ou excluir o metabolismo hepá-
nas células intersticiais do testículo, o que aumen- tico, a própria indústria farmacêutica também
ta a conversão de colesterol para estrógenos. O estudou modificações na estrutura molecular dos
FSH promove a espermatogênese e aumenta a compostos, originando três grupos de derivados:
atividade da LH, aumentando a síntese de testos- A) ésteres do grupo 17- β- hidroxil; B) a alquilados
terona. Os andrógenos secretados pelas células na posição 17-α; C) com o anel esteróide alterado 1.
intersticiais atingem os túbulos seminíferos e a A alquilação e a alteração do anel esteróide são
circulação, virilizando o indivíduo 12. usadas preferencialmente nas preparações via
Nos mamíferos, a secreção de testosterona é oral (etinilestradiol, fluoximeterona, metandros-
pulsátil e regulada por retroalimentação negativa. tenolona, oximetolona, metiltestosterona, stano-
Quando há deficiência de testosterona, ocorre es- zolol). A alquilação na posição 17-α retarda marca-
tímulo do hipotálamo que, através da secreção de damente a metabolização hepática, aumentando a
hormônio liberador de gonadotrofinas, estimula a efetividade oral14. Estes derivados têm boa absor-
glândula pituitária a liberar LH e FSH, aumen- ção gástrica, sendo excretados rapidamente devi-
tando a síntese de testosterona12 . O excesso de do a sua meia-vida curta, sendo altamente poten-
testosterona suprime a secreção de ambas gonado- tes, porém mais tóxicos ao fígado do que os injetá-
trofinas, diminuindo a produção endógena do veis. A esterificação é útil nas preparações paren-

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terais (ciprionato ou propionato de testosterona, características secundárias masculinas 8, em cri-


nandrolona) 1,15 . A esterificação do grupo 17-β- anças com retardo de puberdade e adultos com
hidroxil com ácidos carboxílicos diminui a polari- insuficiência testicular 1,4,8. Quando há necessida-
dade da molécula tornando-a mais solúvel nos de de reposição androgênica, as preparações pa-
veículos lipídicos para preparações injetáveis de renterais (IM) são as mais efetivas. Também po-
liberação lenta do esteróide na circulação e, ocasi- dem ser utilizados sob forma de filmes de testos-
onam menor toxicidade hepática que os orais, além terona aplicados sobre a pele do escroto, permitin-
de terem menor potência. Mas, quanto maior a do a manutenção da concentração plasmática em
cadeia carbônica do éster, mais lipossolúvel se níveis normais 12. Devido a seu maior risco, menor
torna o esteróide e mais prolongada sua ação 4. Os eficácia clínica e maior preço, os EAA orais (deri-
ésteres 17-β-hidroxilados da testosterona que têm vados 17-α-alquilados) não devem ser usados para
mais longa duração de ação, como o enantato e o tratamento da deficiência de androgênios8 , deven-
cipionato de testosterona, são as preparações mais do-se preferir os derivados de ésteres de testoste-
efetivas, seguras e práticas disponíveis para o rona exceto no tratamento do angioedema heredi-
tratamento da deficiência de testosterona8. tário em que os andrógenos orais são indicados.
Nem todos produtos citados estão sendo comer- Os EAA aumentam a eritropoiese, podendo ser
cializados legalmente no Brasil, podendo-se en- utilizados no tratamento de anemias refratárias8 .
contrar preparações contendo ciprionato, deca- Esse efeito é compartilhado por todos os androgê-
noato, undecanoato ou propionato de testosterona, nios ativos12. São utilizados no tratamento da ane-
nandrolona, metiltestosterona e oximetolona, por mia por falência de medula óssea, mielofibrose,
exemplo 15. insuficiência renal e anemia aplástica 6,8,12. Os EAA
As diferenças farmacocinéticas também são de também são úteis no tratamento de certos cânce-
importância em relação aos testes antidoping. Um res como o de mama, em mulheres, e em outras
terço de todas as substâncias banidas detectadas condições ginecológicas como a endometriose e no
nos testes antidoping de instituições credenciadas tratamento da osteoporose 8. Os EAA podem ser
junto ao Comitê Olímpico Internacional no início úteis no tratamento da insuficiência renal aguda,
dos anos 90 era constituído de EAA. A testos- por causarem diminuição da produção de uréia,
terona, nandrolona metandienona, stanozolol e a com a conseqüente diminuição das diálises neces-
metenolona foram as subtâncias mais frequente- sárias em alguns pacientes8. Contudo, seu uso a
mente detectadas deste grupo, em ordem decres- longo prazo não demonstrou benefícios em estados
cente 16. Os grupos de atletas olímpicos onde o catabólicos quanto a promoção de anabolismo em
abuso de EAA foi mais detectado foram os que trauma grave e depleção protéica associada à
fazem musculação e em levantadores de peso ou doenças crônicas1 . Por outro lado, são contra-indi-
arremessadores de peso. Por outro lado, é clamado cações ao uso de EAA: homens portadores de cân-
que em outras situações com menos controle legal, ceres sensíveis (dependentes) a andrógenos, como
há maior uso com fins recreacionais ou em muscu- o câncer prostático e o câncer de mama e em
lação 17 . Estes testes são feitos em urina. Os EAA mulheres gestantes, uma vez que estes fármacos
injetáveis, mais lentamente absorvidos e excreta- cruzam a placenta e podem causar masculinização
dos, são mais facilmente detectáveis e por período de em fetos femininos12.
tempo mais longo após o uso em testes antidoping. Vários são os métodos de administração utiliza-
Estas preparações podem ser identificadas até um dos para aumentar o efeito dessas drogas e evitar
mês após a descontinuação, enquanto que a dose oral a detecção durante os testes antidoping 5. A eficá-
permanece identificável por quatorze dias. cia das diversas técnicas é controversa. Dentre as
técnicas de uso indevido dos EAA salientam-
Indicações de uso e formas de abuso se1,2,5,14 : a) “Empilhamento” (Stacking), quando há
A FDA (Federal Drug Association) lista as se- uso de duas ou mais substâncias concomitante-
guintes indicações médicas aprovadas para o uso mente e/ou combinação do uso oral e injetável; b)
de EAA: ganho de peso por portadores de SIDA; “Pirâmide”, o EAA é iniciado em baixa dosagem
diminuição da dor óssea na osteoporose; catabo- aumentando até 10-100 vezes o valor inicial atin-
lismo induzido por corticosteróide; anemia grave; gindo um pico, com retorno gradual às doses inici-
angioedema hereditário; câncer de mama metas- ais; c) “Ciclos” (cycling), em que há uso por 6 a 12
tático ou deficiência hormonal masculina 2,14. semanas, interrupção por 3-4 semanas e repetição
Os EAA são utilizados primariamente em indi- do ciclo com suspensão do uso com algumas sema-
víduos do sexo masculino com deficiência androgê- nas antes da competição; e d) “Mista”, uma combi-
nica para o desenvolvimento e manutenção das nação destes esquemas.

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ESTERÓIDES ANABÓLICO-ANDROGÊNICOS

As diferentes formas de uso dos EAA com outros esteróides deveriam, portanto, saber da importân-
medicamentos também são problemáticas. Os EAA cia de manter uma dieta rica em calorias e pro-
são freqüentemente utilizados por atletas conco- teínas a fim de obter o maior benefício possível do
mitantemente com outras substâncias como hor- efeito anabolizante 1,5. Também é importante res-
mônio do crescimento ou gonadotrofina coriônica saltar que há discussões quanto a eficácia destes
humana e tamoxifen para mascarar os efeitos hormônios em aumentar a força física. Nem au-
colaterais ou potencializar os efeitos anabólicos 13. mento de peso, nem aumento de força podem ser
Por outro lado, existem várias combinações de consistentemente observados quando atletas
EAA com vitaminas, estrógenos e outros medica- usam andrógenos em doses farmacológicas em es-
mentos12. As altas doses que costumam ser utiliza- tudos duplo-cego, conforme revisado por outro
das, 10-100 vezes maiores que a dose terapêutica, autor. No entanto, ainda faltam estudos em que a
justificam os efeitos tóxicos adicionais, uma vez administração dos EAA é feita com um dos padrões
que os receptores farmacológicos específicos são habitualmente utilizado pelos atletas, o que pode-
saturados com doses bem inferiores a estas1. ria comprovar esta eficácia dos agentes em ques-
tão 19 . É reconhecido que os EAA podem aumentar
Efeitos desejados e indesejados dos EAA a força muscular através de efeitos psicológicos 1,
Os andrógenos desempenham diferentes fun- mas existe dúvida se os EAA melhoram a força
ções conforme o período da vida. No período embri- muscular na ausência de exercícios concomitan-
onário viriliza o trato genital, desenvolvendo o tes. O aumento da força e da massa muscular deve-
fenótipo masculino. No período neonatal, prova- ria, portanto, ser estimulado com exercícios especí-
velmente está envolvido no desenvolvimento de ficos, o atleta deveria ser treinado intensivamente
funções cérebrais, determinando os comportamen- antes do regime com esteróides e deveria continuar
tos masculinos. Na puberdade leva ao desenvolvi- o treinamento durante o uso, sempre mantendo uma
mento físico, promovendo a virilização externa12. dieta hipercalórica e hiperproteica 1,5.
Apesar de não existirem esteróides anaboli- Os efeitos adversos físicos e psicológicos dos
zantes puros, como salientamos, já que todos EAA EAA permanecem incompletamente documenta-
agem em um único receptor que modula de forma dos, havendo mais comumente envolvimento he-
indissociável os efeitos androgênico e anaboli- pático, endócrino, músculo-esquelético, cardio-
zante1,2,4, a separação destes dois efeitos pode ser vascular, imunológico, reprodutivo e psicológico 1,
feita com objetivos didáticos. Dentre os efeitos que podem ser divididos em três tipos, conforme
anabólicos, destacam-se o aumento da massa mus- detalhamos no quadro 1: efeitos virilizantes; efei-
cular, da concentração da hemoglobina, do hema- tos feminilizantes, mediados pelos metabólitos
tócrito, da retenção de nitrogênio, da deposição de estrogênicos do esteróide; e efeitos tóxicos, geral-
cálcio nos ossos e diminuição das reservas de gor- mente mediados por mecanismos incertos12.
dura do corpo. Dentre os mecanismos anabólicos Dentre os efeitos virilizantes, salientam-se o
desencadeados para aumento da massa muscular, aumento da libido, aumento do pênis, tom de voz
incluem-se: aumento da síntese protéica via RNA mais grave, distribuição masculina dos pêlos pu-
mensageiro, balanço nitrogenado positivo, inibi- bianos, aumento de secreção das glândulas sebáce-
ção dos efeitos catabólicos na massa muscular as e aumento dos pêlos faciais. A acne, comum em
esquelética, estimulação da formação de osso, ini- usuários, está relacionada ao aumento das glându-
bição do catabolismo protéico e estímulo da eritro- las sebáceas e a maior secreção por estas 12 . Dentre
poiese. Os efeitos anabólicos ocasionam retenção os efeitos virilizantes em mulheres, salienta-se a
de nitrogênio, um constituinte básico da proteína, irreversibilidade do aumento do clitóris e da alte-
promovendo assim crescimento e desenvolvimento ração da voz para um tom mais grave 4.
de massa muscular através da uma melhor utiliza- A administração de hormônio exógeno, a partir
ção da proteína ingerida. Esse é um fenômeno de 15 a 150 mg/dia, já causa significativa dimi-
temporário devido aos mecanismos homeostáticos nuição da testosterona plasmática, intensifican-
do organismo. Os EAA têm efeito anticatabólico do os efeitos feminilizantes. Há atrofia testicular
sobre os tecidos corporais por competirem pelos que pode ser irreversível (castração química) e
receptores dos glicocorticóides que são liberados azoospermia por inibição da secreção de gonado-
durante os episódios de estresse dos exercícios trofina, bem como pela conversão dos andrógenos
intensos. Este efeito contribui para aumentar a em estrógenos 12 . A ginecomastia é freqüente-
massa muscular através da inibição da degradação mente irreversível enquanto que o tamanho testi-
protéica 1. cular tende a normalizar após a descontinuação
Os atletas que fazem uso de anabolizantes do uso 23. A ginecomastia subareolar, que pode ser

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Quadro 1 – Efeitos adversos dos EAA: V- Virilizantes; F- Feminilizantes; T- Tóxicos.

Endócrino/Reprodutivo1,6,7,10,20,21,26 * Peliose hepática (formação de “saculações de conteúdo sangüí-


Homens: neo” que podem romper matando por hemorragia- mais de 6
meses de uso) (T)
* Menor produção de hormônios (F) * Hepatoma, adenoma hepático(T)
* Atrofia testicular (F) * Hepatite (T)
* Oligo/Azoospermia (F) * Sangramento de varizes por hipertrofia porta secundária à
* Ginecomastia (F) hiperplasia nodular regenerativa (T)
* Hipertrofia prostática (V)
* Carcinoma prostático Renal 2
* Priapismo (V) * Elevação da creatinina (T)
* Alteração do metabolismo glicídico (resistência à insulina, intole- * Tumor de Wilms (T)
rância à glicose) (F)
* Alteração do perfil tireoideo (diminuição de T3, T4, TSH e TBG) Dermatológico2,12.
* Impotência (F) * Acne (V)
* Acne * Alopécia (V)

Endócrino/Reprodutivo1,6,7,21 Psicológicos1,2,3,4,7,12,24,25
Mulheres: * Comportamento agressivo (V)
* Masculinização (V) * Aumento/diminuição da libido
* Hirsutismo (V) * Flutuações repentinas do humor (T)
* Voz mais grave (V) * Dependência (T)
* Hipertrofia de clitóris (V) * Psicose (T)
* Atrofia mamária (V) * Episódios maníacos e/ou depressivos (T)
* Irregularidades menstruais (oligo/amenorréia) (V) * Ideação/tentativa de suicídio (T)
* Aumento da libido (V) * Depressão quando da retirada (T)
* Diminuição das gorduras corporais (V) * Ansiedade (T)
* Alteração do metabolismo glicídico (resistência à insulina, intole- * Euforia (T)
rância à glicose) (F) * Irritabilidade (T)
* Alteração do perfil tireoideo (diminuição T3, T4, TSH e TBG)
Subjetivo1,2,
Cardiovascular/Hematológico1,2,6,7,9 * Edema (T)
* Espasmo muscular
* Aumento do colesterol total * Aumento do débito urinário
* Diminuição do colesterol HDL * Uretrite
* Aumento do colesterol LDL * Dor escrotal
* Hipertensão (retenção de sódio e água) * Cefaléia (T)
* Anormalidades hematológicas, como aumento da agregação * Tontura (T)
plaquetária, com aumento das proteínas de coagulação facilitan- * Náusea (T)
do a possibilidade de trombose e IAM
* Infarto miocárdico Músculo-esquelético 1,2,6,22

* Hipertrofia de ventrículo esquerdo * Risco aumentado de lesão musculotendinosa

* Acidente cerebrovascular * Necrose avascular de cabeça femoral


* Fechamento prematuro das epífises (adolescentes) (V)
1,2,6,7,8,21
Hepático
* Lesão hepática (T) Miscelânea 2,7,8,21,25
* Testes de função hepática alterados (T) * Transmissão de HIV por compartilhar agulhas
* Icterícia colestática (T) * Possivelmente maior risco para doenças malignas
* Carcinoma hepatocelular (mais de 24 meses de uso) (T) * Podem piorar ou induzir apnéia obstrutiva do sono

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ESTERÓIDES ANABÓLICO-ANDROGÊNICOS

uni ou bilateral, deve-se a conversão dos estró- estudantes que usam álcool, tabaco e outras dro-
genos em estradiol e estrona no tecido extra- gas, incluindo EAA, são mais facilmente envolvi-
glandular. O tratamento médico com agentes dos em atitudes imprudentes e comportamento
anti-estrogênicos como tamoxifen, pode ser ten- socialmente inapropriado3 . Alguns estudos suge-
tado para a redução do tamanho e da dor causada rem que os EAA podem causar hipomania 23 e,
pela ginecomastia, mas quando o aumento da talvez, sintomas psicóticos enquanto estão sendo
mama torna-se um problema psicológico ou esté- usados 4,12. Por outro lado, a sua interrupção deter-
tico para o paciente, a mastectomia subcutânea é mina uma síndrome de abstinência caracterizada
o tratamento recomendado 1,20 . por sintomas adrenérgicos e craving (“fissura”)4,25,
O extenso metabolismo dos EAA orais leva a podendo, além disso, causar depressão maior 4,12.
hepatotoxicidade importante 1. A icterícia deve-se
a estase e acúmulo de bile em porções centrais dos CONCLUSÃO
lóbulos hepáticos, sem obstrução dos ductos maio-
res e, se ocorre, é geralmente após 2 a 5 meses de Os potenciais riscos de uso de altas doses de
uso. Os testes de função hepática como a bilirru- EAA ultrapassam os possíveis benefícios para a
bina e fosfatase alcalina mostram-se elevados. A performance atlética e seu uso deve ser desenco-
severidade das alterações é dose dependente. As rajado firmemente.
anormalidades na função hepática são geralmente Dados sugerem que os atletas usuários de EAA
reversíveis com a descontinuação da droga 1 . A participam de atividades esportivas menos por
colestase está quase sempre associada ao uso de prazer e mais por fatores “extrínsecos”- melhorar
derivados 17-α-alquilados, mas o mecanismo de o currículo ou para agradar às expectativas de
ação não está claro. A colestase induzida por pais, treinadores e amigos. A pressão intensa a que
esteróides é, usualmente, rapidamente reversível esses indivíduos estão submetidos pode, conscien-
após a parada do uso, raramente perdurando por te ou inconscientemente, encorajar atletas adoles-
vários meses 21. centes a assumirem um comportamento de superi-
Verificou-se também um aumento nas lesões oridade competitiva. Portanto, tentativas de parar
músculo-tendinosas em usuários, explicada pelo ou prevenir o uso de EAA devem incluir não só
aumento da força muscular com concomitante di- atletas, mas também contatos significativos, como
minuição da elasticidade dos tendões, gerando colegas, familiares, supervisores e treinadores.
maior risco de ruptura e distensões1. Os efeitos dos Parece claro que, atualmente, informações er-
EAA na indução de patologia de tendões, em com- radas ainda prevalecem sobre as informações
binação com exercícios, está bem documentada em farmacológicas corretas nos círculos esportivos. É
experimentos com animais, relacionada com alte- necessária informação, educação e divulgação das
rações ultraestruturais nas fibras colágenas e implicações do uso insdicriminado e não-terapêu-
acompanhada de alterações nas propriedades me- tico destas drogas para melhorar a habilidade de a
cânicas22. lidar com os problemas técnicos e de saúde associ-
Os esteróides, particularmente quando utiliza- ados ao uso destas por atletas e não-atletas.
dos em grandes doses por atletas, podem causar Apesar do CONFEN ter solicitado providências
sérios distúrbios do humor, com substancial mor- a Secretaria de Vigilância Sanitária (29.6.95) para
bidade para estes e, possivelmente, para as víti- que se estabeleça possível controle na comer-
mas de sua irritabilidade ou agressão 23 , havendo cialização de tais produtos - esteróides, anabo-
uma maior associação entre uso de EAA e persona- lizantes e “hormônios” - através de receituário e
lidade anti-social e narcisismo patológico 24. Estu- adequação dos locais de venda, ainda hoje discute-
dos entre atletas usuários e não-usuários de EAA, se se os EAA devem ou não ser considerados subs-
demonstraram que os primeiros apresentam maior tâncias semelhantes aos psicotrópicos, e devem
agressividade, impulsividade e menor cooperati- ser tão intensamente regulados e fiscalizados. Não
vidade do que os demais 10 . A agressividade, um resta dúvida, no entanto, que os malefícios do
sintoma muito freqüente, foi implicada em mais de abuso durante a adolescência podem ser graves o
um caso em que usuários cometeram crimes, inclu- suficiente do ponto de vista físico e psicológico
sive assassinatos 1,3,23. Não se sabe, entretanto, se para que seja feita a regulamentação da distribui-
há maior agressividade nos indivíduos que usam ção do medicamento para esta faixa etária.
EAA ou se indivíduos mais agressivos fazem mais
uso de EAA, bem como não se sabe se é o uso dos Adendo: "Conforme a Portaria 344, de 12 de
EAA, especificamente ou de outras drogas associa- maio de 1998, publicada no Diário Oficial da
das, que geram tais comportamentos, uma vez que União, emitida no dia 1 de fevereiro de 1999,

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o controle e fiscalização da produção, comér- 10. Burnett KF, Kleiman ME. Psychological characteristics of
cio, manipulação ou uso das substâncias adolescent steroid users. Adolescence 1994; 29: 81-9.
11. Ministério da Justiça. Conselho Federal de Entorpecentes.
anabolizantes serão executadas em conjunto Processo n o: 08000.003408/95-25. Confederação Brasileira de
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