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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ


INSTITUTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS
FACULDADE DE DIREITO

DIELLY DE CASTRO SILVA

A ESPOLIAÇÃO URBANA NO BRASIL COMO PRODUTO DO CAPITALISMO


PERIFÉRICO.

“Paper” referente à avaliação da Disciplina de


Sociologia jurídica, sobre o seguinte tema: A
espoliação urbana no Brasil como produto do
Capitalismo Periférico. Disciplina: Sociologia
jurídica. ICD. Prof. Dr. Ricardo Evandro S.
Martins.

Belém-PA
2018
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INTRODUÇÃO

Quando elaborou seu estudo profícuo o sistema capitalista que se desenvolvia a


passos largos na Europa do século XIX talvez nem o próprio Karl Marx tenha sido capaz
de mensurar que suas ideias ultrapassariam seu século e se converteriam em um dos
caminhos para a compreensão das sociedades no atual estágio do sistema econômico
capitalista. Há de se ter em conta que o método do materialismo histórico dialético preza
por um estudo que parta do abstrato para aquilo que se opera no plano concreto, logo, o
contexto estudado por Marx ensejou em modelos explicativos que alcançam a realidade
por ele observada.
Isto quer dizer que embora as concepções do sociólogo possam ser utilizadas para
o entendimento de questões atuais, a aplicação do método marxista exige a necessidade
de se considerar as peculiaridades do contexto ao qual se deseja refletir. O sistema
capitalista é pautado no acúmulo de capital por parte daqueles que detém os meios de
produção, este acúmulo é proveniente da exploração da força de trabalho, ocorre que o
mecanismo de exploração capitalista vem se modificando ao longo do tempo para poder
se adaptar as dinâmica da vida social e garantir sua permanência enquanto modelo de
econômico.
Ao passo que se modifica, também se refina e se desenvolve de diferentes formas
incorporando as peculiaridades de cada região. O capitalismo dos países que outrora eram
colonizadores e figuram hodiernamente como países centrais não é o mesmo dos que
foram colonizados e hoje são considerados periféricos. A marca da colonização está
impressa na forma com a qual esse sistema atuou e atua nestes países, esta é uma
constatação inegável e que constitui um ponto de partida para uma reflexão dos elementos
que envolvem o capitalismo periférico.
Pensando nisto, este texto objetiva realizar uma reflexão em como se opera o
capitalismo periférico no Brasil e como seus impactos se reproduzem em diversos
aspectos da vida da classe trabalhadora. Será tomado como exemplo as questões
habitacionais experienciadas pela classe trabalhadora, a partir da categoria espoliação
urbana desenvolvida por Lúcio Kowarick se buscará demonstrar de que forma o
desenvolvimento do capitalismo periférico intensifica a pauperização da classe
trabalhadora.
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1. Capitalismo periférico

Karl Marx ficou eternizado como expoente principal do funcionamento do sistema


capitalista, de acordo com SELL (2015), Marx se diferenciou dos demais sociólogos
porque suas análises foram desenvolvidas considerando a realidade do movimento
operário da Alemanha do século XIX como evidenciado no seu método, o materialismo
histórico e o materialismo dialético onde ele alinha teoria e realidade demonstrando de
que forma estas se condicionam.
Em sua obra O capital, Marx elabora uma de suas mais importantes teses sobre o
processo de produção e circulação do capital, suas ideias perduram até os dias de hoje e
embora inúmeras sejam as críticas que se constroem em seu entorno, muito do pensado
por ele pode ainda ser utilizado como ponto de partida para análise do sistema capitalista.
Na concepção marxista o sistema produz mercadorias que possuem valor de uso
e valor de troca. O valor de uso relaciona-se com a sua capacidade de satisfazer
determinada necessidade, já o valor de troca com a capacidade que uma mercadoria tem
de poder ser trocada por outra, desta forma tem-se um problema, que é a dificuldade de
valorar e concluir quais mercadorias podem ser trocadas de maneira equivalente, ao que
Marx resolve, afirmando que o fator diferenciador é a quantidade de trabalho empregado
para a produção daquela mercadoria, ou seja, em seu entendimento o tempo de trabalho
será diretamente proporcional ao valor de troca.
O dinheiro surge então como um intermediário que permite que ocorra o
intercambio de mercadorias, ele é pensado por Marx como um equivalente geral na troca,
uma mercadoria, pela qual todas podem ser trocadas, é como se todas passem a
representar seu valor na mercadoria dinheiro. Neste raciocínio dinheiro é mercadoria e
mercadoria é trabalho. Em determinado momento o dinheiro perde relação com o
trabalho, ocorrendo o fenômeno conceituado fetichismo da mercadoria, que tem como
efeito imediato a alienação do indivíduo da produção de sua existência, deixando de
perceber a relação entre capital e trabalho. O homem passa a condição de objeto e a
mercadoria dinheiro a sujeito.
A partir dessa lógica, Marx demonstra que a fonte de lucro no sistema capitalista
é exploração do trabalho humano, aprimorando assim seu conceito de mais- valia. A
sociedade para o sociólogo alemão divide-se em classes, de um lado aqueles que possuem
acesso aos meios de produção e de outro os que detêm a força de trabalho foram assim
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nos sistemas econômicos anteriores ao capitalismo, e segue sendo no atual sistema.


Enquanto os capitalistas dominam os meios de produção, aqueles que detêm a força de
trabalho são levados a transformá-la em mercadoria que será trocada no mercado pela
mercadoria dinheiro, permitindo assim que o trabalhador possa acessar as demais
mercadorias que o manterão atuante no sistema. Ocorre que neste esquema, que Marx
descreve com profundidade ao longo de suas produções, a exemplo do Capital, a
mercadoria dinheiro é um equivalente geral, no entanto não equivale ao valor real do
trabalho empregado pelo trabalhador, em todas as rotinas de trabalho, haveria um tempo
excedente não remunerado, que o capitalista se apropriaria e reverteria em lucro.
A classe trabalhadora que compunha o campo de análise de Marx eram os
operários Alemanha em processo de industrialização e ele concluía em linhas gerais que
a maior parte do que era recebido por tais trabalhadores apenas o mantinham como força
produtiva do sistema, ainda que enfrentassem longas e exaustivas jornadas de trabalho
não receberiam nada além do necessário para estarem ali no outro dia, aptos a produzir
para os capitalistas.
Carlos Eduardo Martins (2013) nos apresenta ao sociólogo Ruy Mauro Marini
que se baseando nos estudos de Marx, desenvolveu uma brilhante análise decolonial do
desenvolvimento do sistema capitalista na América Latina durante o século XX,
tornando-se assim um importante expoente do chamado capitalismo periférico,
caracterizado como o modelo de sistema capitalista que se desenvolveu e se desenvolve
nos países da América Latina, englobando suas características herdadas principalmente
de um histórico forjado na experiência colonial, escravocrata que os situaram em
condição de subalternidade frente aqueles países do centro. Marini desenvolve uma teoria
intitulada teoria da dependência onde afirma que mesmo após deixarem a situação de
colônia, a economia dos países periféricos encontra-se dependente dos países centrais.
A industrialização dos países centrais incorporou tecnologias no modelo
produtivo e reduziu a quantidade de trabalho socialmente necessário para se produzir
mercadorias o que reduziu o custo de produção, em contra partida, o mesmo não ocorreu
nos países periféricos. Apesar de baixarem os custos na produção, os países centrais não
reduziram o valor das mercadorias no momento de realizar as troca no mercado mundial
e os produtos dos países periféricos tiveram que manter seu preço.
Desta forma se estabelece uma forma de intercambio desigual de mercadorias
entre centro e periferia no contexto mundial, e o capitalismo periférico, explica Marini,
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resolve isso por meio da superexploração do trabalho ao invés de aumentar a capacidade


produtiva. O que Marini faz é adaptar a teoria de Marx a peculiaridade que o capitalismo
da América Latina apresenta, a superexploração então se daria por meio da extensão das
jornadas de trabalho e a intensificação da expropriação de parte do que necessita o
trabalhador para viver e isto se consolidaria em aumentar o tempo de trabalho excedente.
Nesta dinâmica, a superexploração que se reproduz no cenário capitalista
brasileiro se desdobra em diferentes planos da vida social, um deles é a efetivação de
políticas públicas para a redução da desigualdade social que enfrenta diversos entraves
provenientes do fato de não levar em consideração as implicações da superexploração da
classe trabalhadora brasileira na manutenção da desigualdade cujo maior ônus sabrecai
na própria classe. Quando refletimos, por exemplo, na questão habitacional no Brasil e
nas políticas de habitação em curso atualmente, nos seus reais impactos percebemos a
necessidade de se incluir a análise da categoria da superexploração que leva a um
processo de espoliação urbana da classe trabalhadora no Brasil.

2. O processo de espoliação urbana da classe trabalhadora no Brasil.

Para os moradores urbanos que habitam o entorno das grandes cidades, a questão da
moradia é permeada de problemas que vão desde a consolidação dos modelos de
habitação informal, a ausência do Estado na garantia de infraestrutura básica para a
população, da segurança, do transporte público eficiente. À medida que o sistema
capitalista se apropria das cidades parte da classe trabalhadora desprovida de meios de ali
permanecer devido ao aumento do custo de vida, tende a se afastar do centro, procurando
áreas mais distantes, no entanto mais acessível para se viver.

Assim sendo é fundamental entender que o imaginário criado sobre os entraves


que contornam o problema da habitação no Brasil carregam um forte viés ideológico, sem
o qual o capital dificilmente se apropriaria do espaço urbano da forma com a qual ele se
desenvolveu e se perpetuou até os dias atuais. Além disso, é importante destacar o papel
do Estado na função de produtor da infraestrutura necessária para que o capital e os
fenômenos decorrentes do uso indevido do espaço urbano se consolidassem como uma
realidade latente nas cidades. As vicissitudes do ordenamento jurídico também são,
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portanto, um mecanismo fundamental para se entender a lógica da exploração urbana e,


consequentemente, o problema habitacional.
De acordo com Kowarick (1993), o ideal de desenvolvimento econômico
fortemente difundido no Brasil do século XX foi um dos instrumentos de legitimação que
o Estado usou para promover políticas públicas que se comprometiam com uma falsa
sensação de progresso, o qual promovia muito mais um crescimento do capital em
detrimento da garantia dos direitos da classe trabalhadora, dentre estes o direito à moradia.
Nesse contexto, de acordo com Kowarick, o sistema capitalista, em suas contradições,
constrói mecanismos para que haja cada vez mais uma desvalorização da força de trabalho
enquanto mercadoria e, consequentemente, uma pauperização da classe trabalhadora.
Desse modo, um dos principais fenômenos que se estabelece no espaço urbano e atua
ativamente na desvalorização do trabalhador é a especulação imobiliária, pois, por
intermédio da potencialização do processo de expulsão do trabalhador da cidade para as
periferias, ela proporciona o desenvolvimento de fenômenos tais como a autoconstrução,
a qual atua o sentido de promover a desvalorização da força de trabalho
instrumentalização do sistema capitalista no que tange à busca pelo acúmulo de capital se
refina ao passo que as contradições do modo de produção se tornam cada vez mais
institucionalizadas. Dessa maneira, o papel que o Estado assume enquanto provedor e
legitimador das condições materiais necessárias para que o capital se aproprie do espaço
urbano, e desenvolva nele é uma atividade voltada exclusivamente para o lucro e sem
comprometimento com a sustentabilidade social necessária para que a cidade se
desenvolva no sentido de diminuir as contradições do espaço urbano. Logo, por trás do
discurso desenvolvimentista de reformulação e revitalização do espaço urbano, encontra-
se latente a potencialização do fenômeno da gentrificação, o qual é extremamente
destrutivo para as cidades, uma vez que, ao invés de usar recursos para promover
melhores condições de vida para a população que já habita o espaço, o que se faz é um
beneficiamento do espaço urbano a fim de promover a especulação imobiliária e,
consequentemente, a expulsão das pessoas de baixa renda dos locais nos quais o
“progresso” se faz presente.
O processo de mercantilização do direito à moradia, tendo como um dos seus
principais agentes a especulação imobiliária, é um dos principais fatores que concorrem
para que o trabalhador seja obrigado a se afastar do centro para habitações criando
habitações em locais afastados da cidade com precárias condições de infraestrutura e uma
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rede de transportes que não proporciona o exercício da cidadania e o usufruto dos serviços
da cidade, como é a realidade dos programas habitacionais no país.
Kowarick utiliza a categoria espoliação urbana para caracterizar a:
“Soma de extorsões que se opera através da inexistência ou
precariedade de serviços de consumo coletivos socialmente necessários em
relação aos níveis de subsistência e que agudizam ainda mais a dilapidação que
se realiza no âmbito das relações de trabalho (KOWARICK, 1993, p59)

A análise que Kowarick faz do problema habitacional no Brasil está alinhada com
as relações de trabalho, o autor demonstra de que forma o crescimento econômico leva a
pauperização da classe trabalhadora evidenciando a moradia uma das necessidades para
a reprodução da classe trabalhadora.
Quando o trabalhador enfrenta um tempo considerável para ir e voltar do trabalho
em um transporte público ineficaz, ele está sendo espoliado, quando ele enfrenta em seu
cotidiano a falta de saneamento básico está sendo espoliado, quando seu bairro não é
atendido pelo serviço público de saúde, por escolas, por coleta regular de lixo, ele está
sendo espoliado, pois todos estes são elementos fundamentais para sua reprodução social,
ele não os tem, mas isso de maneira alguma pode ser um entrave para que deixe de
cumprir sua jornada regular de trabalho. A mercadoria dinheiro que recebe não é
suficiente para que ele desfrute das vantagens da cidade, de morar próximo do trabalho
evitando o desgaste do transporte. O tempo que o trabalhador emprega para chegar ao
trabalho e a energia que emprega para nele se manter não serão restituídos em seu salário.
É nisto que consiste a espoliação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
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O pensamento desenvolvido na colônia sempre foi orientado pela perspectiva do


que pensava a metrópole. Foi do ponto de vista do colonizador que a colônia começou a
pensar suas questões sociais, não por acaso os clássicos das diversas áreas de
conhecimento possuem em sua maioria nacionalidade europeia. Não se trata de afirmar
a superação desses autores, até porque não são chamados clássicos à toa, trata-se
simplesmente da urgente necessidade de atualizá-los a partir de uma contextualização
com as experiências hodiernas de legitimação de dominação.

Refletir o capitalismo periférico se converte em exercício de estimulo ao


pensamento decolonial, é o que demonstra Ruy Mauro Marini quando atualiza o
pensamento marxista ao contexto Latino Americano. Os países considerados periféricos
como o Brasil, vivenciam um modelo diferenciado de capitalismo que se reflete
diretamente no seu alto nível de desigualdade social, à medida que o capitalismo se
desenvolve, gera a maior pauperização da classe trabalhadora, pois na análise de Marini,
o capitalismo periférico está pautado na intensificação da superexploração do trabalho.
Kowarick por sua vez ilustra muito bem a situação habitacional que vivencia a classe
trabalhadora no Brasil demonstrando como esta questão está diretamente alinhada com
as relações de trabalho que se constroem no seio do sistema capitalista.

REFERÊNCIAS
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KOWARICK, Lúcio. A espoliação urbana. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993.

MARTINS, Carlos Eduardo. O pensamento social de Ruy Mauro Marini e sua atualidade:
Reflexões para o século XXI. Revista Crítica Marxista, n.32, p.127-146, 2011.

______________________. O pensamento de Ruy Mauro Marini e sua atualidade para


as Ciências Sociais. In: Desenvolvimento e dependência: cátedra Ruy Mauro Marini
/ Organizador: Niemeyer Almeida Filho. – Brasília: Ipea, 2013. P 15-49.

SELL, Carlos Eduardo. Sociologia clássica: Marx, Durkheim e Weber. 7. ed. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2015.

SOUZA, Jessé. Ralé brasileira: quem é e como vive / Jessé Souza; colaboradores André
Grillo... [et al.] — Belo Horizonte : Editora UFMG, 2009.

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