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Acordo Mercosul – União Europeia.

Fruto de uma negociação de mais de 20


anos, ele surge como um dos principais acontecimentos da Política Externa
atual e envolve grandes números, objetivos e opiniões. Mas o que, afinal,
significa esse acordo? Por que ele demorou tanto tempo para ser firmado? E,
na prática, o que se sabe sobre ele até então?

O Acordo Mercosul – União Europeia


No dia 28 de junho de 2019, 20 anos após o início das negociações, foi firmado, em
Bruxelas, em meio a 14ª Cúpula do G20, o acordo entre o Mercosul e a União
Europeia. Esse acordo se coloca como o segundo maior acordo do mundo em relação
ao PIB somado de seus participantes, atrás apenas do PIB do acordo entre a União
Europeia e o Japão. Mas por qual razão esse acordo demorou tanto tempo para ser
finalizado?

A Construção do acordo
No resumo do acordo, disponibilizado pelo Itamaraty, podemos encontrar uma linha do
tempo que ajuda a esclarecer as diversas fases desse acordo:
Ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso, após uma aproximação na década
de 1990, o acordo começou a ser pensado, em 1999.

Conforme resumido por Daniel Rittner, repórter do Valor Econômico, em entrevista ao


programa Xadrez Verbal, na primeira fase, de 2001 e 2004, as negociações
avançaram em paralelo com as negociações da ALCA (Área de Livre Comércio das
Américas), que era pensada pelos Estados Unidos. A força de barganha que uma
negociação dava a outra (como alternativa) era importante ao seu prosseguimento.

Quando a negociação da ALCA parou, dessa forma, houve também um esfriamento


da negociação entre o Mercosul e a União Europeia. Os grandes pontos de discussão
nesse momento eram os subsídios agrícolas fornecidos pela Europa, que poderiam
prejudicar os concorrentes brasileiros e as proteções através de barreiras
tarifárias e não tarifárias concedidas sobretudo à indústria pelo lado dos países
do Mercosul.

Em 2010 as negociações foram retomadas, com avanços nos textos, mas sem
grandes avanços práticos. Os governos de Dilma Rousseff, no Brasil e Cristina
Kirchner, na Argentina, mantiveram posturas protecionistas, visando defender
os produtores e incentivar o desenvolvimento local. Da mesma forma que em
momentos anteriores, essas barreiras conflitavam com os interesses europeus.

Em relação à essa postura protecionista, um dos fortes argumentos dos que a


defenderam ao longo dos últimos 20 anos é o medo de uma reprimarização da
economia. Ou seja, tendo em vista que os produtos europeus, em média,
possuem maiores investimentos, infraestrutura produtiva e bagagem
tecnológica que os produtos locais, uma entrada deles sem barreiras poderia
representar uma competição desleal sobretudo aos industriais brasileiros.
Dessa forma, não conseguindo competir a nível industrializado, o país estaria
fadado a produzir permanentemente produtos primários.

No governo Temer essa não foi uma grande preocupação. Com a maior
propensão a abertura econômica, houveram novos avanços nas negociações,
com diálogos em uma maior variedade de temas.

Por fim, seguindo na proposta de abertura, o Acordo Mercosul – União


Europeia foi um dos objetivos buscados pela Política Externa do governo Jair
Bolsonaro, tendo sua assinatura concluída em 28 de junho.

Documentos Existentes

Até o momento ainda não existe um documento oficial contendo todos os pontos do
Acordo Mercosul – União Europeia. Apesar disso, algumas versões iniciais já podem
ser encontradas.

No dia 4 de julho, no entanto, o Itamaraty divulgou um resumo de elaboração própria.


Você pode conferi-lo no link: Resumo do Acordo Mercosul – União Europeia.
Oito dias depois, no dia 12 de julho o Itamaraty também disponibilizou uma série de
documentos tratando sobre os principais pontos debatidos no acordo comercial,
elaborados pelo Mercosul. Os 27 documentos divulgados seguem abaixo, com seus
respectivos links, para o caso de o leitor querer maior aprofundamento.
1. Cláusula de Integração Regional
2. Comércio de Bens
3. Anexo sobre Taxas de Exportação
4. Anexo sobre Monopólios de Importação e Exportação
5. Anexo sobre Comércio de Vinhos e Bebidas Alcoólicas
6. Protocolo sobre Regras de Origem
7. Requisitos Específicos de Origem
8. Cláusula Antifraude
9. Aduanas e Facilitação do Comércio
10. Protocolo sobre Assistência Administrativa Mútua em Matéria Aduaneira
11. Barreiras Técnicas ao Comércio
12. Anexo Automotivo
13. Medidas Sanitárias e Fitossanitárias
14. Diálogos
15. Defesa Comercial e Salvaguardas Globais
16. Salvaguardas Bilaterais
17. Comércio de Serviços e Estabelecimento
18. Compras Governamentais
19. Transações Correntes e Movimento de Capitais
20. Política da Concorrência
21. Subsídios
22. Empresas Estatais
23. Comércio e Desenvolvimento Sustentável
24. Transparência
25. Pequenas e Médias Empresas
26. Solução de Controvérsias
27. Anexos de Solução de Controvérsias
Além disso, a União Europeia, em seu site, também disponibilizou uma série de
documentos, dentre os quais estão o Agreement in principle (Acordo em
princípio), Questions and answers (Perguntas e respostas) e Key facts about the
agreement (fatos chave sobre o acordo).

Alguns pontos importantes do Acordo Mercosul – União Europeia:


 Atualmente, o mercado sul-americano é altamente protegido, e, nos documentos
divulgados, a Europa enxerga uma grande oportunidade competitiva com o acordo,
que reduzirá esse protecionismo. Alguns exemplos de tarifas existentes no Mercosul
no momento, que serão removidas são: 35% sobre carros, 14 – 18% sobre peças
de carros, 18% sobre produtos químicos, 14% para produtos farmacêuticos.
 Em números, 92% das importações provenientes do Mercosul entrarão livres de
tarifas na União Europeia. Da mesma forma, 91% das importações provenientes da
União Europeia entrarão livres de tarifas no Mercosul.
 As tarifas serão parcialmente removidas, no caso da UE em cestas de 0, 4, 7 e
10 anos e no caso do Mercosul em cestas de 0, 4, 8, 10 e 15 anos.
 Em relação ao setor agrícola, principal setor do Mercosul, alguns produtos terão
suas tarifas eliminadas. Alguns deles são:
 Desgravação imediata: uvas de mesa, óleos vegetais, peixes, crustáceos
 Em 4 anos: café torrável e não solúvel, abacates, fumo não manufaturado
 Em 7 anos: limões e limas, fumo manufaturado, melões e melancias
 Em 10 anos: maçãs
 Outros produtos como carnes, açúcar, etanol, arroz, mel e milho terão quotas
(valores máximos) de entrada na Europa.
 No setor industrial, a Europa liberará 100% de suas tarifas em 10 anos e o
Mercosul liberalizará 91% do comércio em volume e linhas tarifárias.
 O acordo trata também de questões de serviços, compras governamentais,
barreiras técnicas, medidas fitosanitárias, propriedade intelectual, entre outros
temas.
 Um ponto importante foi a discussão sobre regras de origem, que estabelece
que alguns nomes de produtos só podem ser utilizados por produtos que sejam
produzidos na região daquele nome específico. O exemplo clássico é o champagne,
que o espumante produzido na região de Champagne, na França. O Brasil
conseguiu manter o uso do termo “queijo parmesão”, assim como o reconhecimento
da origem de produtos como a cachaça.
 O acordo mantém o “princípio da precaução” que dá direito a governos de
proteger a saúde humana, animal e vegetal, quando houver percepção de risco
proveniente das exportações
 A questão ambiental é um ponto importante ressaltado no acordo. A presença
dos países do Mercosul no Acordo de Paris, por exemplo, é requisito para sua
realização.
Quando entra em vigor?

Uma vez que foi assinado, o acordo necessita ser ratificado por parte dos Estados
membros tanto dentro da União Europeia quanto dentro do Mercosul. Tendo isso em
vista, a estimativa de tempo para que as ratificações sejam feitas (caso nenhuma das
partes decida barrá-las) é de 2 a 3 anos.

E o que está sendo dito sobre o acordo?


Algumas declarações favoráveis ao Acordo Mercosul – União Europeia:
 O presidente argentino, Maurício Macri, conforme trazido pelo jornal
argentino Perfil defendeu o acordo como parte de uma necessidade de
globalização. Da mesma forma, conforme discurso relatado pelo jornal G1 enxerga
esse acordo como uma porta para outros, como um acordo com os Estados
Unidos.

Se não estamos globalizados e integrados ao mundo, hoje não temos futuro como
país. Por isso vos digo que como empresários e líderes, vocês tem que saber que o
acordo Mercosul – UE é um desafio para que os argentinos se superem. (Perfil)

O ministro de Relações Exteriores me disse que estamos falando com o Brasil para
termos um acordo de livre comércio com os Estados Unidos. O mundo se interessa
por se relacionar conosco (G1)
 O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, pelo Twitter, enxergou o Acordo
Mercosul – União Europeia como uma grande conquista:

 O Ministério das relações Exteriores brasileiro, em nota, enxerga possibilidades


de grandes ganhos ao Brasil, em competitividade e em acesso ao mercado
europeu, além de benefícios comerciais:

Segundo estimativas do Ministério da Economia, o acordo MERCOSUL-UE


representará um incremento do PIB brasileiro de US$ 87,5 bilhões em 15 anos,
podendo chegar a US$ 125 bilhões se consideradas a redução das barreiras não-
tarifárias e o incremento esperado na produtividade total dos dos fatores de produção.
O aumento de investimentos no Brasil, no mesmo período, será da ordem de US$ 113
bilhões. Com relação ao comércio bilateral, as exportações brasileiras para a UE
apresentarão quase US$ 100 bilhões de ganhos até 2035.
 O acordo também foi elogiado pelo vice-presidente da Confederação Nacional
da Indústria (CNI), Paulo Afonso Ferreira:
É um momento histórico para o Brasil e precisa ser comemorado, pois movimentará
toda a cadeia produtiva local, com agricultura, indústria, comércio, transporte e
serviços, e refletirá em ganhos para a economia, possibilitando crescimento, geração
de emprego, desenvolvimento socioeconômico e produtos mais acessíveis ao
consumidor final.
Algumas declarações contrárias ao Acordo Mercosul – União Europeia:
 O ex-chanceler brasileiro, Celso Amorim, em entrevista à BBC, enxerga como
ruim a assinatura do tratado em um momento de fragilidade negociadora dos
membros do Mercosul

O momento é o pior possível em termos da capacidade negociadora do Mercosul,


porque os dois principais negociadores, Brasil e Argentina, estão fragilizados política e
economicamente.

Acho que por isso a União Europeia teve pressa. Porque sabe que estamos em uma
situação muito frágil. E quando se está em uma situação frágil, se negocia qualquer
coisa. Isso me deixa preocupado. Eu temo que tenham sido feitas concessões
excessiva
 O economista e ex-Ministro da Fazenda Luis Carlos Bresser-Pereira, em artigo,
definiu o acordo como um desastre para o Brasil, que o condenará ao atraso:

Na verdade, esse acordo é um desastre para o Brasil; é mais um passo no sentido de


desindustrializar o sonho dos Ocidente imperial e do liberais dependentes brasileiros
de tornar o Brasil um mero exportador de commodities cujo PIB continuará crescendo
a uma taxa anual por habitante de apenas 1 por cento ao ano, ficando, dessa maneira,
cada vez mais para trás não apenas dos demais países em desenvolvimento mas
também dos países ricos
 O setor siderúrgico, na voz do Instituto Aço Brasil, conforme noticiado pelo
portal Terra também se manifestou contrário ao acordo:

Com o acordo, a indústria brasileira do aço perde a preferência em relação ao


Mercosul e ainda corre o risco de ter material de países fora do bloco da União
Europeia, entrando no mercado por meio de empresas da região travestido de material
local
 Pelo lado europeu, a Copa Cocega, principal sindicato agrícola da UE, afirmou,
conforme trazido pelo G1, que o acordo é uma:

política comercial de dois pesos e duas medidas, que aumenta a brecha entre o que
se pede aos agricultores europeus e o que se tolera dos produtores do Mercosul
 O Acordo Mercosul – União Europeia também enfrenta forte oposição na
França, tanto por parte de agricultores como membros do governo. Conforme
trazido pelo BBC:
“O acordo só será ratificado se o Brasil respeitar seus engajamentos. Nós vamos
esmiuçar o texto”, afirmou François de Rugy, ministro da Transição Ecológica.

“Não teremos um acordo a qualquer preço. A história ainda não terminou”, afirmou o
ministro francês da Agricultura, Didier Guillaume.
Como todo grande acordo, o Acordo Mercosul – União Europeia continuará
movimentando debates nos próximos anos. A expectativa é que uma versão oficial do
documento seja elaborada nas próximas semanas.

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