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2019
Sumário
1 Introdução 3
Introdução 3
2 Equilı́brio Geral 4
Introdução 4
3 O modelo de trocas 6
3.1 A Estrutura do Modelo de Trocas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
3.2 Funções de Excesso de Demanda e o Equilı́brio Walrasiano . . . . . . . . . . . . 12
3.3 Desvios em relação à H1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
3.4 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
6 Economias replicadas 72
6.1 Definições e Teoremas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
6.2 O Teorema do Limite do Core . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
6.3 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
1
8 Bem-estar e escolha social 110
8.1 Teoria da Escolha Social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111
8.2 Teorema da Impossibilidade de Arrow . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114
8.3 Teorema de Gibbard-Satterthwaite . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119
8.4 Relaxando as Condições do Teorema de Arrow . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119
8.5 Escolhas Coletivas: A Cardinalidade Revisitada . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128
8.6 Funções de Bem-estar Utilitaristas e Rawlsianas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129
8.7 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 138
9 Justiça 141
9.1 Definições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141
9.2 Teorias da justiça . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 144
9.3 Escolha Social sob Incerteza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 144
9.4 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145
10 Externalidades 146
10.1 Externalidades no Consumo e na Produção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147
10.2 O Problema dos Recursos Comunitários . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155
10.3 Internalização das Externalidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161
10.4 Mercados Incompletos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165
10.5 O Teorema de Coase . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 166
10.6 Outras Formas de Correção das Externalidades: Regulação dos Monopólios . . . 172
10.7 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 174
Introdução
3
2
Equilı́brio Geral
Every individual... intends only his own gain, and he is in this as in many other
cases led by an invisible hand to promote an end which was no part of his intention.
By pursuing his own interest he frequently promotes that of society more effectually
than when he really intends to promote it.
Adam Smith, Wealth of Nations, 1776
A análise de equilı́brio geral busca responder a seguinte questão: de que forma, um grande
número de indivı́duos, cujas decisões são aparentemente não relacionadas, se coordenam para
igualar ex-post a oferta e a demanda e produzir uma alocação eficiente dos bens e serviços.
Considerando-se que o consumo e a produção baseiam-se em fatores distintos, tais como pre-
ferências e tecnologia, não há nenhuma razão para que, ex-post, a demanda de bens e serviços
ajuste-se à disponibilidade efetiva desses bens, dada pela oferta. Torna-se, pois, necessário a
existência de algum mecanismo de racionamento que garanta que, no conjunto da economia, a
igualdade entre oferta e demanda prevaleça.
Existem, claro, várias formas de racionar a demanda, sendo o sistema de fila o mais
conhecido. Porém, desde o fracasso das economias centralizadas, as formas de racionamento
focadas em limites de quantidade praticamente desapareceram, não somente das economias
reais, mas também como objeto de estudo. Nas economias modernas, caracterizadas pela
tomada de decisão descentralizada, os mercados privados utilizam primordialmente o sistema
de preços, para compatibilizar a oferta e a demanda nos diferentes mercados. A investigação
do mecanismo de preços como forma de racionamento é, pois, o ponto central da teoria do
equilı́brio geral.
Vários economistas se debruçaram sobre esse tópico. Desde o trabalho seminal de Adam
Smith, até o modelo proposto por Walras, eles argumentam que o sistema de preços desempe-
nha um papel crucial na coordenação das decisões econômicas, de forma a garantir a existência
do equilı́brio geral da economia, particularmente, em ambientes competitivos. De acordo com a
teoria econômica consolidada, consumidores e produtores confrontam-se com os mesmos preços,
que constituem a informação comum a todos os agentes econômicos. Acredita-se que o meca-
nismo de preços, ao refletir e sintetizar as condições do mercado, permite conciliar decisões
individuais distintas relativas à demanda e a oferta de bens e serviços. Esse mecanismo repre-
senta, assim, a única informação necessária para calcular o equilı́brio simultâneo em todos os
mercados, para uma dada economia.
No âmbito dessa discussão, um resultado clássico refere-se ao fato de que o equilı́brio geral
competitivo, obtido por meio do funcionamento do mecanismo de preço, é também eficiente, de
uma forma que outros sistemas - particularmente aqueles usados nas economias centralizadas
- não conseguem sê-lo. O conceito de eficiência, formalizado por Pareto (1909), culmina no
4
primeiro teorema fundamental da teoria do bem-estar, de acordo com o qual as noções de
equilı́brio competitivo e eficiência são equivalentes.
Esta parte contém os capı́tulos 2 a 5. No capitulo 2, as ideias básicas da teoria do
equilı́brio geral em uma economia de trocas serão desenvolvidas sob a forma de definições e
teoremas. O Capı́tulo 3 discute a eficiencia do modelo competitivo e o núcleo da economia. No
capı́tulo 5, investigaremos tópicos como a existência, a unicidade e estabilidade do equilı́brio.
Para nos aproximarmos melhor do modelo original walrasiano, o capı́tulo 5 replica a econo-
mia original tratada nos capı́tulos 2 e 3, para um número finito de agentes e discutiremos as
implicações desse procedimento sobre o equilı́brio geral e a eficiência. Por fim, o Capı́tulo 6
amplia a análise para incluir a produção.
3
O modelo de trocas
The propensity to truck, barter and exchange one thing for another is common
to all men, and to be found in no other race of animals.
6
O modelo de trocas
7
O modelo de trocas
Segue-se, então, que a procura pelo equilı́brio walrasiano deve se fazer ao longo da curva
de contrato. No entanto, nem todas as alocações situadas sobre a curva CC / ) qualificam como
equilı́brio walrasiano. Considere o segmento cc/ da curva de contrato. Qualquer redistribuição
de bens do ponto e para outra alocação fora do segmento cc/ melhorará a situação de um
consumidor às expensas do outro consumidor. Como as trocas são voluntárias, o consumi-
dor prejudicado recusará a mudança e, portanto, a troca não se realizará. Observe, agora, as
alocações situadas dentro da lente formada pelas curvas de indiferença que passam pela dotação
(ponto e), delimitadas pelo segmento cc/ . Redistribuições a partir do ponto e permitem me-
lhorar, simultaneamente, a situação dos dois consumidores (ou melhorar a situação de um sem
prejudicar o outro). Ambos os consumidores têm, pois, interesse em negociar suas dotações
para atingir nı́veis mais elevados de satisfação. Porém, nem todas as alocações contidas nesta
lente são candidatas ao equilı́brio. Aquelas que estão fora da curva de contrato são dominadas
pelas que estão sobre o segmento cc/ . A procura pelo equilı́brio será, pois, limitada ao segmento
cc/ da curva de contrato.
Uma redistribuição da dotação e para o ponto Ew , situado sobre o segmento cc/ , eleva
as utilidades dos dois consumidores em relação ao ponto de dotação e, fazendo com que ambos
se beneficiem com as trocas. Considere agora a linha de preços relativos, P P / que passa pelo
ponto e, de dotação inicial, cuja inclinação é −p1 /p2 . Esta linha de preços tangencia a curva
de indiferença dos dois consumidores no ponto Ew . Dada a dotação inicial e as preferências,
a linha P P / , viabiliza a distribuição ótima dos bens entre os agentes 1 e 2, representada pelo
ponto Ew . Além disso, verifica-se facilmente que as vantagens das trocas se exaurem em Ew .
Trata-se, pois, do equilı́brio geral da economia: neste ponto, a demanda agregada é igual a
dotação agregada.
8
O modelo de trocas
Definição Alocações Factı́veis Uma alocação x é factı́vel se, e somente se, para uma dada
dotação inicial, x ∈ F (e), o conjunto das alocações factı́veis, definido como:
( )
X X
i i
F (e) ≡ x| x = e (3.1)
i∈I i∈I
Isto é, para cada bem, a quantidade total consumida não deve exceder a dotação total,
possuı́da pelos I consumidores. Estamos implicitamente supondo que os bens são de livre
descarte (free disposal ). Isso não implica que todos os bens serão, necessariamente, consumidos:
apenas que, se houver quantidades não consumidas, essas quantidade poderão ser descartadas
sem custo algum.
A renda do consumidor corresponde ao valor de sua dotação inicial, avaliado aos preços
de mercado. Esta renda é variável diferindo, pois, da renda definida nos modelos de equilı́brio
parcial. O conjunto orçamentário do agente i é B(p, ei ), definido como:
9
O modelo de trocas
Este conjunto contém todas as cestas de consumo que o consumidor i poderá comprar, aos
preços p ≡ (p1 , . . . pk , . . . pK ).
Definição Correspondências de Demanda x(p, pei ) = {x ∈ B(p, ei )} se não existe y ∈
B(p, pei )i | y i x, com y, x ∈ R+ .
A correspondência de demanda para o consumidor i são regras que associam os preços às
alocações factı́veis de consumo, xi ; a definição acima afirma que não existe, pois, cesta de
consumo factı́vel, y, tal que y seja preferı́vel à cesta xi . Supondo-se que as preferências do
i-ésimo consumidor são representadas pela função de utilidade, ui (xi ), podemos redefinir a
expressão acima como:
Definição x(p, pei ) = {x ∈ B(p, ei )} se não existe y ∈ B(p, pei )i | y i x, com ui (y) > ui (x).
R+ .
Vamos, agora, impor condições fortes sobre as preferências, representadas pelas funções de
utilidade, ui (xi ). Embora, na maioria dos casos, resultados similares possam ser obtidos usando
hipóteses mais fracas, condições mais fortes implicam que as correspondências de demanda
constituem, de fato, funções de demanda o que simplifica a análise. A Hipótese 1, doravante
mencionada como H1, resume estas condições:
H.1 A função de utilidade ui é contı́nua, fortemente crescente e estritamente quase-côncava
em <n+ (reais positivos). Cada consumidor resolve o seguinte problema, dado p:
max ui (xi )
x∈<K
+
As condições sobre as preferencias sintetizadas em H.1 nos são familiares pela teoria do consu-
midor. A intuição básica para a exigência da continuidade da função de utilidade é excluir a
possibilidade de reversões súbitas de preferências. Isto é, se considerarmos duas cestas de bens,
x, y ∈ X, se x y, então, pequenos desvios a partir da cesta x ou da cesta y, não modificarão
a ordem das preferências.
A segunda condição diz respeito à monotonicidade das preferências, cuja intuição é ”mais
é melhor.”Aumentado-se a quantidade de alguns bens não reduz a satisfação dos consumidores;
uma maior quantidade de todos os bens é estritamente desejável. Note-se que o fato de ui (xi )
ser fortemente crescente implica monotonicidade forte das preferências, isto é, ∀x, ∀y ∈ X, se
xk ≥ yk , e x 6= y, então, xk yk .
A quase concavidade estrita da função de utilidade, ui , assumida em H.1, substitui a
hipótese mais forte de concavidade estrita. Esta hipótese exclui a possibilidade de curvas de
indiferenças com segmentos planos garantindo, assim, que o equilı́brio do consumidor i seja
único.
As condições impostas por H1 podem ser substituı́das por hipóteses mais fracas. Assim,
por exemplo, a monotonicidade forte pode ser substituı́da pela hipótese de não saciedade local
e a quase concavidade estrita pode ser mudada para quase concavidade. Condições mais fracas
permitem incluir outros tipos de preferências, distintos daqueles inclusos em H1. Desvios em
relação a H1 serão tratados em seção subsequente. Respeitando-se H1, o consumidor i maxi-
miza ui (xi ) sujeito a sua restrição orçamentária (pei ). Resultam desse processo, as demandas
individuais, representadas por xi = (p, pei ), pelos diferentes bens.
10
O modelo de trocas
Teorema 3.1 Propriedades Básicas da Demanda Se ui satisfaz H.1, então para todo p,
tal que p 0, o problema do consumidor tem uma solução única, xi (p, pei ).
No modelo com dois bens, a Figura 3.2 ilustra graficamente o equilı́brio do consumidor i.
Verifica-se, facilmente que, no equilı́brio ponto E - H1 é satisfeita.
Exemplo 3.2 Considere uma economia de troca com dois bens e três consumidores. Ana
sempre demanda uma quantidade igual dos dois bens. Bernardo gasta com o bem 1, o dobro do
que gasta com o bem 2. Carlos nunca consome o bem 2.
1. Descreva o mapa de indiferença dos três consumidores e sugira funções de utilidade consis-
tente com suas preferências;
2. Suponha que as dotações originais são (5; 0), (3; 6) e (0; 4); compute a relação de preços
de equilı́brio;
3. Qual seria o efeito sobre os preços de equilı́brio e os nı́veis de utilidade, caso Ana e Carlos
recebam 4 unidades adicionais do bem 1?
Solução: suponha que o bem 2 seja o numerário de sorte que os valores serão mensurados em
termos do bem 2; defina p1 /p2 = p. A restrição orçamentária de Ana é:
pxA A
1 + x2 = 5p (3.5)
Sabendo-se que xA A
1 = x2 e usando 3.5, tem-se que:
5p
xA A
1 = x2 = (3.6)
p+1
11
O modelo de trocas
uA = min{xA A
1 , x2 } (3.7)
pxB B
1 + x2 = 3p + 6 (3.8)
uB = 2logxB B
1 + logx2 (3.10)
pxC C
1 + x2 = 4 (3.11)
Usando 3.11 e o fato de que Carlos nunca consome o bem 2, tem-se que:
4
xC
1 = ; xC
2 = 0 (3.12)
p
A função de utilidade consistente com o comportamento de Carlos é:
uC = xC
1 (3.13)
Podemos agora calcular o excesso de demanda pelo bem 2: z2 (p) = z2A (p) + z2B (p)
5p
z2 (p) = + p + 2 − 10 (3.14)
p+1
Anulando-se a expressão acima, e lembrando que p >> 0, encontramos os preços walra-
sianos, p = 4. As alocações de equilı́brio walrasiano e as utilidades de Ana, Bernardo e Carlos
são:
5p
xA A
1 =x2 = = 4; uA =4
p+1
4
xB
1 =2 + = 3; xB
2 = p+2 = 6 uB =3log(3) + log(2) = 1, 7324
p
4
xC
1 = = 1; xC
1 = 0; uC =1
p
12
O modelo de trocas
bem. Nas economias de trocas, isso equivale à subtrair a dotação agregada (oferta), da demanda
total para o bem considerado. Repetindo-se o procedimento para os K − 1 bens, obtém-se as
demandas lı́quidas, nos K mercados da economia ε. Anulando-se simultaneamente estas de-
mandas lı́quidas, encontra-se o vetor K-dimensional de preços, p, doravante mencionados como
preços walrasianos. As demandas dos K bens, avaliadas aos preços walrasianos, representam
as alocações de equilı́brio walrasiano (AEW), x(p∗ ). Elas asseguram que a demanda agregada
iguala-se à oferta agregada em cada mercado.
No que se segue, descreveremos, formalmente, as funções de demanda lı́quida, agregadas
por consumidor. Para tal, considere-se o bem k ∈ K. O excesso de demanda agregado para
esse bem, zk (p), define-se como:
Se zk (p) > 0, existe um excesso de demanda positivo para o k-ésimo bem. Ocorre o contrário
quando zk (p) < 0; tem-se, então, um excesso de oferta para o bem k. Agregando-se a função
zk (p) sobre os bens, obtém-se a função de excesso de demanda agregado do conjunto da econo-
mia:
Prova A continuidade de z(p) decorre de H1. Resta agora demonstrar que z(p) satisfaz a
Lei de Walras e é homogênea de grau zero nos preços.
I X
X K
pk (xik (p, pei ) − eik ) = 0
i=1 k=1 zk
XK X I
pk (xik (p, pei ) − eik ) = 0
k=1 i=1
XK
pk zk (p) = 0
k=1
13
O modelo de trocas
Prova por contradição: Suponha que p∗j > 0. Então, p∗j zj (p∗ ) < 0. Isto implica pz(p∗ ) < 0,
contradizendo a Lei de Walras. Logo o bem j é um bem livre.
Isto é se o preço de um dado bem é zero, o excesso de demanda por este bem é estrita-
mente positivo. Segue-se, então, que:
Prova Suponha que z(p∗ ) < 0. Então, pela Proposição 3.2.1 p∗j = 0. Porém, pela definição de
desejabilidade, z(p∗ ) > 0, o que gera contradição.
max ui (xi )
x∈<K
+
14
O modelo de trocas
Multiplicando-se todos os preços por λ não altera a restrição orçamentária dos consu-
midores. Portanto, o problema 3.17 é equivalente ao problema (3.4). Sendo os excessos de
demanda individuais homogêneos de grau zero nos preços, o excesso agregado de demanda
também o será, isto é,
I I
p1 ei1 + p2 ei2 − p1 xi1
X X
xi2 =
i=1 i=1
p2
" I I
#
1 X X
= p1 (ei1 − xi1 ) + p2 ei2
p2 i=1 i=1
" I
#
1 X
= p2 ei2
p2 i=1
Finalmente:
I
X I
X
xi2 = ei2
i=1 i=1
15
O modelo de trocas
Exemplo 3.3 Seja o conjunto de funções z1 (p) = (p2 + p3 )/p1 , z2 (p) = (p1 + p3 )/p2 , z3 (p) =
(p2 + p1 )/p3 . Estas expressões qualificam como funções de excesso de demanda?
Solução Para resolver esta questão, deve-se verificar se as funções acima satisfazem o Teo-
rema 3.2. Multiplicando-se todos os preços por λ > 0, vê-se que estas funções são homogêneas
de grau zero nos preços. Porém, verifica-se facilmente que elas não respeitam a Lei de Walras
violando, assim, o referido teorema. Segue-se, pois, que o conjunto de funções deste exemplo
não qualificam como funções de excesso de demanda.
Em virtude da Lei de Walras, a função de excesso de demanda do bem 1 (ou do bem 2) contém
toda a informação necessária para calcular os preços walrasianos, p = p1 /p2 . Supõe-se que o
numerário é o bem 2, de sorte que p2 = 1. Como as preferências satisfazem H.1 e p1 , p2 0, o
equilı́brio geral existe e é único. A Figura 3.2.3 ilustra este equilı́brio.
Neste gráfico, o excesso de demanda para o bem 1, agregado sobre consumidores, z1 (p)
está representado no eixo vertical; o preço p1 está afixado no eixo horizontal. Quando o preço
do bem 1 é inferior a p∗1 , a demanda é superior à dotação (oferta) sendo, pois, o excesso de
demanda positivo. Ocorre o contrário, quando p1 > p∗1 ; o preço muito elevado resulta em
excesso de demanda negativo (excesso de oferta). Quando p1 = p∗1 , a demanda total do bem
1 iguala-se a sua dotação; portanto, o excesso de demanda é zero e p∗1 constitui o equilı́brio
walrasiano.
Exemplo 3.4 Em Arrowlândia, dois consumidores consomem os dois únicos bens disponı́veis.
Suas preferências e dotações são dadas pelas seguintes expressões,
16
O modelo de trocas
17
O modelo de trocas
Então, x(p∗ ), denominada alocação de equilı́brio walrasiano, situa-se em W (ε), que corresponde
ao conjunto das AEWs, para a economia ε, isto é:
Exemplo 3.6 Considere uma economia com dois consumidores e dois bens, descrita pelas
seguintes funções de utilidade indireta:
V 1 = ln m1 − a ln p1 − (1 − a) ln p2
V 2 = ln m2 − b ln p1 − (1 − b) ln p2
As dotações dos bens x1 e x2 são: e1 = (1, 1) e e2 = (1, 1).
18
O modelo de trocas
am1 bm2
z1 (p) = + −2=0 (3.31)
p1 p1
O equilı́brio walrasiano, dado pelo vetor de preços (p1 , p2 ) = (p1 /p2 , 1) é:
a+b
,1 (3.32)
2 − (a + b)
p1 z1 (p) + p2 z2 (p) = p1 z11 (p) + p1 z12 (p) + p2 z21 (p) + p1 z22 (p) = 0 (3.33)
Lema 3.1 Factibilidade da AEW Seja p∗ um equilı́brio walrasiano, para uma economia com
dotação inicial e. Seja x(p∗ ) a AEW associada ao vetor de preços p∗ . Então, x(p∗ ) ∈ F (e).
o que contraria a Lei de Walras estabelecendo, assim, a contradição. Portanto x(p∗ ) ∈ F (e).
19
O modelo de trocas
2. ui (y i ) ≥ ui (xi∗ ) =⇒ py i ≥ pxi∗
Prova
Condição 1: ui é estritamente crescente, então, u(y i (p∗ )) > u(xi (p∗ )) ⇐⇒ y i (p∗ ) > xi (p∗ ).
Porém, nesse caso, a cesta y custa mais que a cesta x, isto é, p∗ y i > p∗ xi . Portanto, a condição
1 prevalece.
Condição 2: Suponha, por contradição, que ui (y i ) ≥ ui (xi∗ ) e py i < pxi∗ . Considere ỹ i = y i +ε
e pỹ i < pxi∗ . Como ui é estritamente crescente, ui (ỹ i ) > ui (y i ) ≥ ui (xi∗ ) e pỹ i < py i < xi∗ .
Porém isso violaria a Condição 1, ui (ỹ i ) > ui (xi∗ ) =⇒ pỹi > pxi∗ . estabelecendo, assim,
a contradição. Segue-se, pois, a desigualdade expressa pela Condição 2 prevalece. De fato,
se, pelo menos um consumidor preferir qualquer outra alocação factı́vel à AEW, então, esta
alocação não cabe no seu orçamento. Daı́, se conclui que a AEW é preferida a qualquer outra
alocação factı́vel.
Exemplo 3.7 Considere a economia ε2 , definida nos R2+ . As preferências são dadas pela
função de utilidade ui (xi1 , xi2 ) = xρ1 + xρ2 ; 0 < ρ < 1; i = 1, 2. As dotações iniciais dos consu-
midores 1 e 2, são, respectivamente, e1 = (1, 0); e2 = (0, 1), com e 0. Compute o equilı́brio
geral para esta economia.
pr1 pr−1
1 p2 1 pr−1
2 p1 pr2
x11 = ; x 2
= x = ; x 2
=
pr1 + pr2 1 pr1 + pr2 2 pr1 + pr2 2 pr1 + pr2
1
Definindo agora o bem 2 como numerário, de modo que p̃ = p2
p, tem-se que:
p1 p2
p˜1 =
; p˜2 = =1
p2 p2
No equilı́brio walrasiano temos que:
20
O modelo de trocas
Exemplo 3.8 Exemplo 5.20 Reny-Jehle: Considere uma economia de trocas com dois bens
(x1 , x2 ) e dois consumidores (1,2). As funções de utilidade e as dotações iniciais dos agentes
1 e 2 são as seguintes:
O i-ésimo consumidor requer sik unidades do bem k pra a sua sobrevivência. Embora tenham
preferências idênticas, os consumidores diferem no mı́nimo exigido, de sorte que (s11 , s12 ) 6=
(s21 1, s22 ).
1. Suponha que existe apenas um consumidor, cujas preferências e dotação inicial são u =
∂u
(x1 − s1 )α (x1 − s1 )α e e = (e1 , e2 ), com sj = s1j + s2j , j= 1,2. Calcule ∂x1
∂u e avalie esta
∂x2
expressão no ponto (x1 , x2 ) = (e1 , e2 ). Denomine o resultado obtido p∗ ;
2. Mostre que p∗ deve ser um preço de equilı́brio walrasiano para o bem 1, na economia de
trocas anteriormente descrita.
Solução
Exemplo 3.9 Considere uma economia de trocas com dois bens (x1 , x2 ) e dois consumidores
2
(1,2). Seja X = R+ . As funções de utilidade e as dotações iniciais dos agentes 1 e 2 são as
seguintes:
Solução: Em razão da homogeneidade das funções de demanda, (p1 , p2 ) = (p, 1), onde p = pp21 .
Consumidor 1: A maximização da utilidade sujeita à restrição orçamentária envolve o seguinte
Lagrangeano:
L = x1 + x2 + x1 x2 − λ(p − px1 − x2 ) (3.38)
As condições de primeira ordem - Condições de Kuhn-Tucker - são dadas pelas seguintes
expressões:
1 + x2 − λp ≤ 0, x1 ≥ 0, x1 (1 + x2 − λp) = 0
1 + x1 − λ ≤ 0, x2 ≥ 0, x2 (1 + x1 − λ) = 0
21
O modelo de trocas
1
2. x1 > 0; x2 = 0; p − px1 − x2 = p =⇒ x1 = 1; 1 + x2 − λp ≤ 0 =⇒ λ = p
≥ 2. Segue-se,
pois, que p ∈ (0, 12 ].
1 1 1 1
EW = [(p1 , p2 ), (x11 , x12 ); (x21 , x22 ) = (1, 1), ( , ), ( , )] (3.40)
2 2 2 2
Exemplo 3.10 As funções de utilidade e as dotações iniciais dos agentes 1 e 2 são as seguintes:
2p + 8 4p + 16
(x11 , x12 )
= , (3.43)
p+2 p+2
2 2 18 6p
(x1 , x2 ) = , (3.44)
3p + 1 3p + 1
Em virtude da lei de Walras, função de excesso de demanda para o bem x1 é dada pela
seguinte equação:
6p − 8
z1 (p) = (3.45)
3p2 + 7p + 2
Anulando-se o excesso de demanda no mercado de bem 1, obtém-se os preços e a alocação
de equilı́brio walrasiana:
4 16 32 24 24
[(p1 , p2 ), (x11 , x12 ); (x21 , x22 )] = [( , 1), ( , ), ( , )] (3.46)
3 5 5 5 5
22
O modelo de trocas
s.a. px x1 + py y 1 = px
O consumo ótimo dos bens x e y ocorre no vértice das curvas de indiferença dado pela
equação y 1 = x21 . Substituindo esta expressão na restrição orçamentária, obtém-se x1 e y 1 .
Procedendo de forma análoga para o agente 2, o consumo ótimo dos bens x e y para os agentes
1 e 2 são, respectivamente,
2px px
x1 = ; y1 = (3.47)
2px + py 2px + py
py 2py
x2 = ; y2 = (3.48)
px + 2py px + 2py
A função agregada de excesso de demanda para o bem x é:
2px py
zx (px , py ) = + −1
2px + py px + 2py
px py − (py )2
=
(2px + py )(px + 2py )
Supondo-se que o preço do bem y é o numerário, isto é py = 1. Os preços walrasianos
(p = px /py , 1) são obtidos, anulando-se a função de excesso de demanda para o bem x. É fácil
verificar que p = 1. As alocações de equilı́brio walrasianas são obtidas substituindo-se os preços
walrasianos nas demandas dos bens x e y. O equilı́brio geral da economia pode ser descrito
como:
2 1 1 2
EW = {(px , py ) = (1, 1); (x1 , y 1 ) = ( , ), (x2 , y 2 ) = ( , )} (3.49)
3 3 3 3
3.4 Exercı́cios
I. Verdadeiro ou falso: justifique sua resposta.
1. Supondo-se que as preferências dos consumidores Xavier e Zélia são dadas pelas funções
uX = xρ1X + xρ2X e uZ = xρ1Z + xρ2Z e que as dotações são eX = (1, 0) e eZ = (0, 1), então
no equilı́brio walrasiano, os preços dos bens 1 e 2 são iguais.
2. Suponha que ui é estritamente crescente em <K i
+ e que x é bem definida em p 0.
Considere a alocação x̂i ∈ <K i i i i i i
+ . Neste caso, se u (x ) > u (x̂ ), então, px > px̂ .
3. Seja uma economia de trocas com dois bens de consumo (x e y) e um consumidor.
Suponha, ainda, que a preferência do consumidor é dada pela função de utilidade
u(x, y) = ln x + ln y. Então, se as dotações de x e y forem positivas, o excesso de
demanda pelo bem y será infinito quando py → 0 e negativo quando py → ∞. Esse
resultado se mantém quando a dotação inicial do bem y for zero.
23
O modelo de trocas
uA = 60xA A 2 A
1 − 2(x1 ) + x2
uB = 30xB B 2 B
1 − (x1 ) + x2
24
O modelo de trocas
7. Considere uma economia com dois bens e dois consumidores cujas preferências são:
u1 = x11 + x12 ; u2 = min{x21 , x22 }. As dotações dos bens x1 e x2 são: e1 = (1, 2) e
e2 = (3, 1).
i. Construa o conjunto de alocações Pareto Eficiente. Ilustre graficamente o equilı́brio
dessa economia.
ii. Calcule o preço de equilı́brio do bem 2 em relação ao preço do bem 1 se a dotação
de cada consumidor aumentar em uma unidade.
8. Considere a economia ε = ui (x, y); ei , i ∈ I, com I = 2. Os dois agentes consomem ape-
nas os bens x e y. As funções de utilidades e as dotações iniciais são, respectivamente,
para o indivı́duos 1 e 2, representadas pelas seguintes funções: u1 (x, y) = x + y; e1 =
(2, 1); u2 (x, y) = min{x, y}; e2 = (1, 2). Pede-se:
i. os preços walrasianos, p = (px , py );
ii. o conjunto das alocações de equilı́brio walrasiano, W (ε).
25
4
Uma alocação x é Fracamente Pareto Eficiente (FPE) se não existe uma alocação factı́vel,
y, que seja preferida por todos os consumidores à cesta original, x. Dito de outra forma, uma
alocação não é FPE se existir outra alocação factı́vel, na qual todos os agentes estejam em
melhor situação.
A definição de PE (ou Eficiência Forte de Pareto) implica que x é PE se não existe outra
alocação factı́vel, y preferida por pelo menos um consumidor à cesta x, sendo os os demais
agentes indiferentes entre as cestas x e y. Ou, alternativamente, uma alocação não é PE se
é possı́vel encontrar outra alocação factı́vel que melhore a situação de pelo menos um agente,
sem prejudicar os demais.
Vamos, agora, examinar a relação entre essas duas definições de eficiência. Em primeiro
lugar, uma alocação fortemente eficiente no sentido de Pareto sempre é uma alocação FPE. Isto
porque, se uma alocação é fortemente PE, não é possı́vel melhorar a situação de um consumidor,
26
Eficiência dos mercados competitivos
sem piorar a situação dos demais. Obviamente, nesse caso, não é possı́vel melhorar a situação
de todos os consumidores, como exigido pelas alocações FPE.
Além disso, se as preferências forem contı́nuas e fortemente monotônicas, então, uma
alocação FPE é também Pareto-eficiente (Fortemente Pareto-Eficiente).1 . Veja-se que estas
condições estão incluı́das em H.1. Por essa razão, sob esta hipóteses, vamos considerar apenas
as alocações PE (Fortemente PE).
Formalmente, sob H1, pode-se definir o conjunto das alocações pareto-eficientes como o
vetor (x1 , x2 , . . . , xI ) que resolve o seguinte problema:
max ui (xi )
x∈<n
+
L = ui (xi ) + λ1 [u1 (x1 ) − u¯1 ] + . . . + λj [uj (xj ) − u¯j ] + . . . + λI [uI (xI ) − u¯I ]
I
X I
X
i
+ µ[ x ≤ ei ], ∀j 6= i
i=1 i=1
Quando existe um ótimo interior, as condições de primeira ordem com respeito à xgarantem
que as taxas marginais de substituição entre dois bens quaisquer - k e l, por exemplo - se igualem
entre dois consumidores quaisquer, isto é:
∂ui ∂uj
i ∂xik ∂xjk j
T M Sl,k = ∂ui
= ∂ui
= T M Sl,k (4.2)
∂xil ∂xjl
27
Eficiência dos mercados competitivos
Solução 4.1 Parte A: Suponha que x̂ ∈ P E, porém x̂ não é um solução para o problema 4.3.
Então, existe,
I
X I
X
i i i i j j j i
x | u (x ) > u (x̂i ); u (x ) ≥ u (x̂), ∀j 6= i e x ≤ ei
i=1 i=1
Parte B: Seja x̂, a solução para o problema 4.3. Suponha que a alocação x̂ 3 P E. Então,
existe,
XI X I
i i i i i j j j i
x | u (x ) > u (x̂ ); u (x ) ≥ u (x̂), ∀j 6= i e x ≤ ei
i=1 i=1
Contradizendo, assim, o fato de que x̂ é uma solução para o problema 4.3. Portanto, a alocação
x̂ é pareto eficiente se, e somente se, esta alocação é uma solução para o problema 4.3.
Exemplo 4.2 Exercı́cio 5.11, Reny-Jehle Considere uma economia com dois bens e dois
consumidores, cujas preferências e dotações são as seguintes:
28
Eficiência dos mercados competitivos
Solução 4.2 Aplicando-se a condição de eficiência expressa pela equação 4.2, tem-se que:
x12 x22
= (4.6)
x11 2x21
10x11
x12 = (4.8)
(42 − x11 )
10x11
P E(e) = {(x11 , x12 ), (x21 , x22 ) | x12 = 1
, 0 ≤ x11 ≤ 21, x11 + x21 = 21, x12 + x22 = 10} (4.9)
(42 − x1 )
Solução A Figura 4.2 torna mais claro a descrição do conjunto P E. A partir deste gráfico,
pode-se construir os limites do conjunto PE, definidos em termos de x11 e x12 .
Considere a área compreendida entre as retas y11 = 2x11 e x21 = 3x22 , até o ponto em que
elas se cruzam no equilı́brio walrasiano ( 16
5 5
, 32 ), isto é quando x11 ∈ [0, 16
5
]. Esta área pode ser
representada pelas seguintes desigualdades:
2x11 ≥ x12
29
Eficiência dos mercados competitivos
x21 ≥ 3x22
Expressando a segunda inequação em termos de x11 e x12 , o sistema de inequações torna-se,
então:2
2x11 ≥ x12
x11 16
+ ≥ x12
3 3
Combinando-se estas duas inequações tem-se que:
x11 16
2x11 ≤ x12 ≤ + (4.10)
3 3
Na área entre as retas y11 = 2x11 e x21 = 3x22 , quando x11 ∈ [ 16
5
, 4], prevalecem as seguintes
desigualdades:
x12 ≤ 2x11
x11 16
+ ≤ x12
3 3
As inequações acima reescrevem-se como:
x11 16
+ ≤ x12 ≤ 2x11 (4.11)
3 3
Por fim, quando x11 ∈ (4, 8),
2x11 ≥ x12
x11 16
+ ≤8
3 3
De maneira análoga, x12 deve obedecer as restrições abaixo:
x11 16
+ ≤ x12 ≤ 8 (4.12)
3 3
Combinando-se os três casos considerados, o conjunto das alocações pareto-eficientes é dado
pela expressão abaixo:
x11 16 16
2x11 ≤ x12 ≤ + , se x11 ∈ [0, ]
3 3 5
x11 16 16
+ ≤ x12 ≤ 2x11 , se x11 ∈ [ , 4]
3 3 5
x11 16
+ ≤ x12 ≤ 8. se x11 ∈ [4, 8]}
3 3
Exemplo 4.4 Considere uma economia com dois consumidores e dois bens. As preferências
dos agentes 1 e 2 são idênticas e representadas pela função de utilidade ui (xi1 , xi2 ) = min{xi1 , xi2 }.
As dotações inciais dos dois bens são, respectivamente, 1 unidade do bem 1 e duas unidades
do bem 2. Explicite, na caixa de Edgeworth, o conjunto das alocações eficientes no sentido de
Pareto.
2 x11 16
A expressão 3 + 3 foi obtida a partir do vértice do consumidor 2, x21 = 3x22 , expresso em termos de x11 .
30
Eficiência dos mercados competitivos
Solução Embora os bens sejam usados nas mesmas proporções pelos agentes 1 e 2, como
a oferta do bem 2 é o dobro da dotação do bem 1, a Caixa de Edgeworth é retangular. O
conjunto das alocações eficientes, definido em termos de x11 e x12 , situa-se entre as retas (y11 = x11 )
e (y11 = 1 + x11 )3 . A Figura 4.3 ilustra este caso.
P E(e) = {(x11 , x12 ) | x11 + x21 = 1, x12 + x22 = 2, x11 ≤ x12 ≤ x11 + 1, x11 ∈ [0, 1]}
Substitutos Perfeitos Quando os bens são substitutos perfeitos para todos os consumi-
dores, o conjunto PE(e) difere dependendo da condição de eficiência: se as taxas marginais
de substituição forem iguais entre agentes, independentemente da dotação inicial, as curvas de
indiferença são coincidentes em cada ponto da Caixa de Edgeworth; o exemplo abaixo ilustra
este caso:
Solução Nesta economia, as taxas marginais de substituição entre os bens x e y são idênticas
e iguais à unidade. Portanto as curvas de indiferença do consumidores 1 e 2 coincidem. Segue-
se, pois, que todas as alocações dentro da Caixa de Edgeworth são eficientes no sentido de
Pareto, conforme mostrado na Figura 4.4.
3
Reescrevendo-se o vértice para o consumidor 2, x22 = x21 como 2 − x12 = 1 − x12
31
Eficiência dos mercados competitivos
1 2
Figura 4.4: Conjunto PE: Substitutos Perfeitos com T M Sy,x = T M Sy,x
Exemplo 4.6 Substitutos Perfeitos com T M Sy,x Distintas: modifique, agora, as pre-
ferências da economia descrita no exemplo 2.1, de sorte que:
u1 = x1 + 2y 1 ; u2 = 2x2 + y 2
Desenhe os mapas de indiferença e o conjunto das alocações pareto-eficientes.
Figura 4.5: Alocações Eficientes nas Bordas da Caixa de Edgeworth - TMS Distintas
32
Eficiência dos mercados competitivos
A Figura 4.5 mostra que qualquer ponto no interior da Caixa de Edgeworth é ineficiente.
Somente as alocações situadas na borda desta caixa são eficientes. No lado esquerdo da Figura
4.5, as curvas de indiferença do consumidor 2 são mais inclinadas que as do agente 1. Con-
sequentemente, as alocações pareto-ótimas implicam que as dotações devem ser redistribuı́das
de forma a transferir o bem y para o consumidor 1 e o bem x para o agente 2. Para um dado
nı́vel de utilidade do consumidor 2, movendo-se ao longo da curva de indiferença do agente 2, o
nı́vel máximo de utilidade do agente 1 situa-se na borda da caixa de Edgeworth em que y = 3
e x = 0. Portanto, a curva de contrato corresponde ao ângulo formada pelas linhas em negrito
ilustradas na Figura 4.5. Portanto, a curva de contrato desta economia corresponde ao ângulo
formada pelas linhas em negrito ilustradas na figura citada.
Exemplo 4.7 Considere a economia ε = {%i , ei }. Mostre que se as preferências forem forte-
mente monotônicas, ∀i ∈ I, então, o equilı́brio walrasiano é um quase equilı́brio.
Exemplo 4.8 Prove a seguinte afirmação: ”Se as preferências forem estritamente monotônicas
e contı́nuas para cada consumidor i, então, o conjunto das alocações eficientes (PE(ε)) é igual
ao conjunto das alocações fracamente eficientes, FPE(ε)”.
33
Eficiência dos mercados competitivos
Podemos, agora redefinir o segmento cc/ , que contém as alocações não bloqueadas, como
o Núcleo (Core) da economia ε ≡ (% i, xi , ei ):
p∗ x̃i > p∗ ei ,
com pelo menos uma desigualdade estrita. Somando-se esta expressão sobre os consumidores,
temos que X X
p∗ x̃i > p∗ ei
i∈S i∈S
X X
x̃i > ei
i∈S i∈S
A aplicação deste teorema não se restringe aos casos em que o equilı́brio competitivo
é único, mas aplica-se também quando existem equilı́brios múltiplos. Nesse caso, o Teorema
2 estabelece que todos esses equilı́brios devem situar-se no core da economia ε. Vamos agora
investigar um contra-exemplo:
34
Eficiência dos mercados competitivos
Contra-exemplo Seja uma economia com dois bens, x e y, e três consumidores. As dotações
iniciais são, respectivamente, e1 = (0, 2); e2 = (1, 1) e e3 = (1, 1). Os três agentes têm
preferências idênticas representadas pela função de utilidade ui {xi , y i } = xi y i , com xi , y i ≥ 0
Considere, agora, duas trocas possı́veis que conduzem a uma alocação, na qual as pos-
sibilidades de trocas se exaurem, isto é não existe possibilidade de arbitragem:
a) Os agentes 1 e 2 concluem a seguinte transação: o agente 1 dá 3/2 do bem y para
o agente 2 e este agente dá 1/4 do bem x para o consumidor 1. A utilidade dos agentes 1 e
2 passa de 0 para 1/8 e de 1 para 15/8, respectivamente. As quantidades consumidas pelos
agentes, depois da troca,são (1/4, 1/2) e (3/4,5/2) e (1,1) respectivamente, para os agentes 1,2
e 3.
b) Os agentes 2 e 3 concluem a seguinte transação: o agente 3 dá 1/4 do bem x para
o agente 2 e este agente dá 1/4 do bem x para o consumidor 3. As utilidades do agentes 2 e
3 passam de 15/8 para 2 e de 1 para 9/8, respectivamente. As quantidades consumidas pelos
agentes, depois da troca, são (1/4, 1/2) e (1,2) e (3/4,3/2) respectivamente, para os agentes
1,2 e 3.
Verifica-se, facilmente, que o equilı́brio resultante dessas duas trocas representa um ótimo
distributivo associado aos preços (px , py ) = (2, 1). Porém, este equilı́brio não situa-se no core
porque é bloqueado pela coalizão entre os indivı́duos 1 e 3. Se eles combinam suas dotações,
então esses agentes podem realizar as alocações (1/4,1) e (3/4,2) que é claramente superior à
alocação obtida em (b).
Exemplo 4.9 Continuando o exercı́cio 5.11 encontra-se o núcleo dessa economia. Para tal,
é preciso incluir uma outra restrição ao problema definido em 4.1, a saber, a restrição de
racionalidade individual. Lembrando que de acordo com esta hipótese, no decorrer das trocas, os
agentes só aceitarão alocações que lhes assegure pelo menos o nı́vel de utilidade correspondente
às suas dotações inciais, isto é:
Resolvendo-se a equação acima, para x11 temos o limite inferior do core, isto é, x11 = 14, 16. Resta
agora, calcular o limite superior do core. Para tal, vamos utilizar a equação 4.19, expressando-a
em termos do consumo e da dotação do consumidor 1:
u(e21 , e22 ) = x21 [x22 )]2 = e21 [e22 ]2 = 3[6]2 = (21 − x11 )(10 − (x12 ))2 = (21 − 18)(10 − 4)2 = 108 (4.23)
Ou ainda:
10(42 − x11 ) − 10x11 )
(21 − x11 )[ = 108 (4.24)
42 − x211
35
Eficiência dos mercados competitivos
Resolvendo a equação acima, tem-se que x11 = 15, 21.4 Portanto, os limites inferior e superior do
core, expressos em termos de x11 são, respectivamente, 14,16 e 15,21. O conjunto das alocações
contidas no núcleo da economia analisada, C(e) é dado por:
10x11
C(e) = {(x11 , x12 ), (x21 , x22 ) | x12 = , 14, 16 ≤ x11 ≤ 15, 21, x11 + x21 = 21, x12 + x22 = 10}
(42 − x11 )
(4.25)
A Figura 4.6 ilustra este caso:
Vamos agora computar o equilı́brio walrasiano. Para tal, vamos considerar o bem 2
como numerário fazendo p2 = 1. As funções de demanda para os bens 1 e 2 são dadas pelas
seguintes expressões:
36
Eficiência dos mercados competitivos
14, 16 < x11 = 14, 5 < 15, 21; < x12 = 5, 27 <; (4.35)
5, 79 < x21 = 6, 5 < 6, 84; < x22 = 4.73 <; (4.36)
u1 (e1 ) = x1 + 2y 1 = 4
u2 (e2 ) = min{x2 , y 2 } = 1
x1 + 2y 1 = 4
x2 = y 2 = 3 − x1 = 3 − y 1 =⇒ x1 = y 1
x1 + 2y 1 = x1 + 2x1 = 3x1 = 4
4
x1 =
3
Para o limite superior de x1 , tem-se que:
x2 = y 2 =⇒ x2 = y 2 = 1
x1 = 3 − x2 = 2
37
Eficiência dos mercados competitivos
Exemplo 4.11 Ambos os bens são complementos perfeitos: continuando o exemplo 3.10, des-
creva o conjunto das alocações do core C(ε), como um subconjunto de PE(ε), no qual se impõe
racionalidade individual, isto é,
Solução Note-se que para o indivı́duo 1, u(e1 ) = 2x11 =⇒ x11 = 2. Segue-se, pois, que a
x21
parede inicial do core requer que 2 ≤ x11 ≤ 16
5
. Na parede final do core, tem-se que x 2
2 = 3
=
0 =⇒ x22 = 0, x21 = 0. Consequentemente,
x11 16 16
2x11 ≤ x12 ≤ + , se x11 ∈ [2, ]
3 3 5
x11 16 16
+ ≤ x12 ≤ 2x11 , se x11 ∈ [ , 4]
3 3 5
1
x1 16
+ ≤ x12 ≤ 8. se x11 ∈ [4, 8]}
3 3
A Figura 4.8 ilustra as três partes do core da economia cujos agentes consideram os bens 1 e 2
como complementos perfeitos.
38
Eficiência dos mercados competitivos
Exemplo 4.12 Considere a economia descrita no exemplo 3.11. Compute o conjunto C(e),
formado pelas alocações situadas no core, e mostre que ele coincide com o conjunto das alocações
eficientes, PE(e).
x1
Solução: o Gráfico 4.9 facilita a visualização do core, situado entre as retas y 1 = 2
e y1 =
2x1 − 1:
39
Eficiência dos mercados competitivos
eficientes, isto é, o limite inferior de x1 que delimita o core é zero e o limite superior é igual à
1.
x1 1
0 ≤ y1 ≤ , se x11 ∈ [0, ]
2 2
1
x 1 2
2x1 − 1 ≤ y 1 ≤ , se x11 ∈ [ , ]
2 2 3
1
x 2
≤ y 1 ≤ 1, se x11 ∈ [ , 1]}
2 3
Este teorema pode ainda ser enunciado como: se as preferências forem localmente não saciadas,
então, todo equilı́brio competitivo é também eficiente no sentido de Pareto.
40
Eficiência dos mercados competitivos
e finalmente,
p∗ y i > p∗ ei (4.46)
o que contradiz 4.44. A alocação y, embora factı́vel, não cabe no orçamento do i-ésimo consu-
midor. Portanto, x(p∗ ) ∈ C(e), isto é W (e) ⊂ C(e). Como as alocações pertencentes ao core
são eficientes, isto é, não são bloqueadas por nenhuma coalizão de consumidores, concluı́mos,
pois que toda AEW é também Pareto-eficiente.
Este resultado sintetiza a eficiência dos mercados competitivos. A Figura 4.10 ilustra
este teorema. A alocação de equilı́brio walrasiano situa-se no core sendo, pois, eficiente no
sentido de Pareto.
41
Eficiência dos mercados competitivos
dotações, qualquer alocação Pareto eficiente, pode ser considerada um equilı́brio walrasiano.
Trata-se da volta do primeiro teorema. A questão é saber sob que condições uma alocação
Pareto eficiente pode ser viabilizada como um equilı́brio walrasiano.
0
O gráfico 4.11 ilustra este ponto. Considere a AEW x , situada no core da economia,
sendo a dotação inicial dada pelo ponto e. Suponha que, por alguma razão, a sociedade prefere
0
a alocação x̄ à AEW x ; na alocação x̄, as curvas de indiferença de ambos os agentes são
p∗
tangentes aos preços walrasianos − p1∗ . Note-se que a alocação x̄ situa-se sobre a curva de
2
contrato sendo, pois, eficiente. Porém, com a dotação original e, é fácil verificar que a alocação
x̄ viola a restrição orçamentária do agente 1. Para viabilizá-la como um equilı́brio é preciso
modificar a dotação inicial de e para e∗ . Nesse caso, a alocação x̄, além de eficiente, constitui
∗1
agora um equilı́brio walrasiano, aos preços pp∗2 .
Σi e∗i = Σi ei 0 (4.47)
Prova : x̄ é PE, então é factı́vel (Σi x̄i = Σi ei 0). O Teorema 4.2 garante que existe uma
alocação x̂i , tal que x̂i é AEW em (ui , x̄i )i∈I . Resta provar que x̂i = x̄i . Como x̂i é AEW,
temos que:
u(x̂i ) > u(x̄i ), ∀i ∈ I (P.1)
x̂ é AEW, x̂ ∈ F (e), logo i=1 x̂i = Ii=1 ei = i x̄i (x̄i ∈ F (e) na economia original). Ade-
PI P P
mais, x̂i não melhora (nem piora) a situação de nenhum consumidor, caso contrário não seria
PE. Portanto, a desigualdade em (P.1) deve se satisfazer na igualdade:
42
Eficiência dos mercados competitivos
(x̂i > x̄i contraria H1 – maximização da utilidade). Portanto, sob as condições do Teorema
4.3 se x̄ é PE, então x̄ é AEW para algum vetor p̄, depois da redistribuição da dotação para
e∗ ∈ F (e), tal que p̄e∗i , ∀i ∈ I.
A descentralização das alocações PE exige não somente a correção dos preços, mas requer
também redistribuições entre os agentes, o que limita a aplicação desse teorema. Observe-se
que a convexidade desempenha um papel central para estabelecer o 2o teorema do bem-estar.
De fato, este teorema constitui uma aplicação direta do Teorema de Separação, onde o vetor
de preços de equilı́brio em x̄ separa as alocações PE do conjunto das alocações preferidas à x,
para pelo menos um consumidor. Na ausência de convexidade, o Segundo Teorema não mais
se aplica. Isto pode ser visto no gráfico 4.12:
No gráfico 4.12, a alocação x∗ é Pareto-eficiente, porém não constituiu uma AEW. Isto
porque, aos preços p, existem alocações que são preferidas pelo agente 1, pois situam-se sobre
curvas de indiferenças mais elevadas. Isto ocorre porque as preferências do individuo 1 não são
convexas.
Exemplo 4.13 Considere uma economia de troca com dois consumidores - Tito (T) e Be-
renice (B). As preferências desses agentes são dadas pelas seguintes funções de utilidade:
1/3 2/3 2/3 1/3
uT = x1T x2T e uB = x1B x2B . Tito possui 1 unidade do bem 1 e nenhuma do bem 2.
Berenice tem apenas 1 unidade do bem 2:
i. Calcule o equilı́brio geral dessa economia;
T 1 4 B 1 1
ii. Mostre que as alocações xP E = , e xP E = , são eficientes no sentido de
2 5 2 5
Pareto;
iii. Como essa economia satisfaz as condições do Segundo Teorema Fundamental da Teoria do
Bem estar, é possı́vel realocar as dotações para viabilizar a alocação citada no item b como
um equilı́brio de mercado. Isto porque deve existir um sistema de transferências T1 e T2 ,
tais que quando as dotações fatoriais forem dadas por eT = (1−T1 , T2 ) e eB = (T1 , 1−T2 ) , a
WEA dessa economia é exatamente xP E = xTP E , xB P E , citada no item anterior. Encontre
o equilı́brio walrasiano dessa economia e as transferências T1 e T2 (Att: pode existir varias
combinações de transferências que viabilizam a alocação xP E = xTP E , xB P E como equilı́brio
de mercado. Se for o caso, escolha uma delas). Discuta, brevemente, seus resultados.
43
Eficiência dos mercados competitivos
Solução: Fazendo p = pp12 , deriva-se facilmente as demandas de Tito e Berenice para os bens 1
e 2. Sabe-se que, neste tipo de preferências, Tito gasta um terço de sua renda com o bem 1 e
dois terços de sua renda com o bem 2; ocorre o inverso com Berenice, que dispende 2/3 de sua
renda com o bem 1 e o restante com o bem 2. As funções de demanda de Tito e Berenice são
dadas pelas funções abaixo:
1 2p
xT1 = xT2 = (4.48)
3 3
2 1
xB
1 = xB
2 = (4.49)
3p 3
A função de excesso de demanda agregado para o bem 1 é:
1 2
z1 (p) =
+ −1 (4.50)
3 3p
Anulando-se o excesso de demanda, tem-se que p = 1. Substituindo-se p nas funções
de demandas individuais, obtém-se as alocações de equilı́brio walrasiano (xT1 , xT2 ) = ( 13 , 32 ).
Portanto, o equilı́brio geral desta economia é:
1 2 2 1
EW = {(p11 , p12 ) = (1, 1); (xT1 , xT2 ) = ( , ), (xB B
1 , x2 ) = ( , )} (4.51)
3 3 3 3
Resta agora provar que uma redistribuição adequada da dotação inicial
mediante
o uso
T 1 4 B 1 1
de transferências lump-sum permite viabilizar a alocação xP E = , e xP E = ,
2 5 2 5
constituem um equilı́brio de mercado. Lembrando que as novas dotações iniciais são eT =
(1 − T1 , T2 ) e eB = (T1 , 1 − T2 ), respectivamente para Tito e Berenice, as demandas consistentes
com estas dotação são as seguintes:
1 (1 − T1 )p + T2 2 (1 − T1 )p + T2
xT1 = xT2 = (4.52)
3 p 3 1
2 pT1 + (1 − T2 ) 1 pT1 + (1 − T2 )
xB
1 = xB2 = (4.53)
3 p 3 1
T 1 4 B 1 1
Trata-se, agora, de viabilizar a alocação PE xP E = , e xP E = , como um
2 5 2 5
equilı́brio de mercado. Dividindo xT1 por xT2 e considerando os valores de xT1 e xT2 da alocação
PE, tem-se que:
1
1 xT1 5
= T = 24 = (4.54)
2p x2 5
8
Segue-se, pois, que p = 45 . Substituindo-se este preço nas novas demandas, encontram-se
as combinações das transferências, T1 e T2 que viabilizem a alocação PE como um equilı́brio
walrasiano. Usando a demanda de Berenice para o bem 2, tem-se que:
1 4 1
xB2 = [ T1 + (1 − T2 )] = (4.55)
3 5 5
Rearrumando-se os termos da expressão acima, tem-se que:
2 4
T2 = + T1 (4.56)
5 5
Valores de transferências que satisfazem a equação acima são, por exemplo, (T1 , T2 ) =
2
(0, 5
), ( 12 , 0), ( 18 , 21 ).
44
Eficiência dos mercados competitivos
Exemplo 4.14 Considere a economia descrita no exemplo 3.4. Compute as dotações e trans-
ferências exigidas para que a alocação que iguala as utilidades seja um equilı́brio competitivo.
x21 x12
= 2 =1 (4.60)
x11 x2
Lembrando que a dotação total é igual a cinco unidades do bem 1 e 3 unidades do bem
2, tem-se que:
5 5
x11 = x21 = (4.61)
2 2
3 3
x12 = x22 = (4.62)
2 2
A implementação da alocação x1 = (5/2, 3/2), x2 = (5/2, 3/2) como um equilı́brio com-
petitivo exige que:
γx12 3γ 3γ p1
T M ST2,1 = − 1
=− = = (4.63)
(1 − γ)x1 5(1 − γ) 5(1 − γ) p2
Escolhendo o bem 1 como numerário, a restrição orçamentária exigida pela nova cesta
de consumo para o agente 1 é:
1 3γ 1 3γ 5 3 3
e1 + e2 = + = (4.64)
5(1 − γ) 5(1 − γ) 2 2 2(1 − γ)
4.5 Exercı́cios
I. Verdadeiro ou falso? justifique sua resposta
1. Se aos preços p, a alocação x for uma AEW, então, ela encontra-se sobre a curva de
contrato da economia.
2. Se p∗ for um equilı́brio walrasiano de uma economia, cuja dotação inicial é igual a E,
então, a AEW associada a este equilı́brio, x(p∗ ) é factı́vel.
3. Se (x, p) é um equilı́brio Walrasiano, então, x é Pareto eficiente.
4. Se uma alocação x ∈ C(e), então esta alocação também está no core das réplicas dessa
economia.
5. Considere a economia ε = {ui , ei }, i ∈ I. Então, W (e) ⊂ C(e) prevalece, onde W(e) e
C(e) são, respectivamente, o conjunto das AEW e o conjunto das alocações pertencentes
ao núcleo de ε
45
Eficiência dos mercados competitivos
1. Sabe-se, pelo Primeiro Teorema Fundamental da Teoria do Bem Estar, que se as pre-
ferências forem estritamente convexas, ∀i ∈ I, então, uma alocação de equilı́brio wal-
rasiano é também eficiente no sentido de Pareto. Sob as mesmas hipóteses, é possı́vel
afirmar que um equilı́brio walrasiano é também um quase equilı́brio?
2. Em uma economia de trocas com dois bens e dois consumidores, Haroldo e José, as
preferências são dadas pelas seguintes expressões:
uH = ln xH + 2 ln z H e uJ = 2 ln xJ + 2 ln z J
√ √ √
u1 = x + y + z e1 = (4, 16, 4)
u2 = ln xy + z e2 = (1, 2, 20)
u3 = xy + yz e1 = (1, 6, 2)
46
Eficiência dos mercados competitivos
iii. Encontre a quantidade do bem 2 que deve ser transferida do consumidor 2 para o
consumidor 1.
7. Considere uma economia com dois bens e dois consumidores cujas preferências são:
u1 = x11 + x12 ; u2 = min{x21 , x22 }. As dotações dos bens x1 e x2 são: e1 = (1, 2) e
e2 = (3, 1).
i. Construa o conjunto de alocações Pareto Eficiente e a curva de contrato. Ilustre
graficamente o equilı́brio dessa economia.
ii. Calcule o preço de equilı́brio do bem 2 em relação ao preço do bem 1 se a dotação
de cada consumidor aumentar em uma unidade.
8. Suponha uma economia de troca com dois agentes com funções de utilidade idênticas
e iguais à U (x1 , x2 ) = (xρ1 + xρ2 )1/ρ , onde ρ = 0, 5. As dotações totais do bem 1 e do
bem 2 são, respectivamente, ω1 = 16 e ω2 = 8.
i. Calcule a taxa marginal de substituição entre os bens 1 e 2;
ii. Derive a curva de contrato e ilustre-a graficamente.
47
5
5.1 Existência
Cabe indagar se, de fato, o equilı́brio walrasiano existe e, no caso afirmativo, que hipóteses
são exigidas para a sua existência. O ponto central, a ser explorado nesta seção, é investigar
as condições que garantem que a economia tenha, pelo menos, um equilı́brio. A resposta a
essa questão foi, primeiramente, dada por Walras, ao supor que o sistema de equações formado
pelas funções de excessos de demanda tinha uma solução, desde que o número de equações
independentes fosse igual ao número de variáveis (preços relativos).
Ora, como ficou posteriormente demonstrado, mesmo neste caso, não se pode garantir a
existência de uma solução (Wald,1936). Em uma economia com dois bens e dois consumidores,
pode-se visualizar graficamente um caso que não existe equilı́brio walrasiano. A Figura ilustra
esse caso, para o mercado do bem 1 1 .
1
Pela Lei de Walras, quando K = 2, as informações sobre o mercado do bem 1 são suficientes para calcular
o equilı́brio walrasiano
48
Existência, unicidade e estabilidade
Não se pode, pois, ex-post, igualar a demanda e a oferta agregada do bem 1, para
determinar os preços walrasianos. É fácil verificar que z1 (p) viola uma das condições do Teorema
3.2: esta função é descontı́nua no intervalo relevante, isto é, na parte em que z1 (p) cruzaria a
linha pontilhada, que representa a dotação fixa do bem 1. Segue-se, pois, que a determinação
do equilı́brio walrasiano exige a continuidade das funções de excesso de demanda agregado.
Porém, a continuidade de z(p) não é o único requisito para a existência do equilı́brio
walrasiano. Outras condições são exigidas para assegurar que existe um vetor p 0 que
elimina os excessos de demanda dessa economia. Assim, por exemplo, mostra-se facilmente
49
Existência, unicidade e estabilidade
(c)
(d)
que, na ausência de convexidade, pode não existir um vetor de preços de equilı́brio. A Figura
5.3 ilustra esse caso:
Vê-se, nesta figura, que as preferências do consumidor 1 não são convexas; aos preços
p, existem duas alocações em que ele maximiza a utilidade, dado a sua restrição orçamentária.
No entanto, nenhuma dessas alocações garante que a demanda iguala-se à oferta. Torna-se,
pois, necessário, impor condições para a existência de equilı́brio. O Teorema 5.1 enumera essas
condições.
Prova As condições 1 e 2 são garantidas pelas propriedades das funções de excesso de demanda,
descritas no Teorema 3.2.
A imposição desta condição tem o propósito de evitar que os preços de alguns bens sejam
nulos, o que resultaria em excessos de demanda excessivamente elevados para esses bens. A
estratégia da prova consiste em demonstrar que a sequência de excessos de demanda para o
50
Existência, unicidade e estabilidade
0 0
bem k , zk (pm ), associada à sequência de vetores de preços, [pm ], é limitada para cima. Esta
demonstração conduz à contradição desejada concluindo-se, pois, que a sequência de excesso
0 0
de demanda para o bem k , [zk (pm )] é ilimitada para cima.
xm = xi (pm , pm ei ) → x∗
Como xm maximiza ui sujeito à restrição orçamentária e ui é fortemente crescente (mo-
notonicidade forte das preferências), a restrição orçamentária deve ser satisfeita na igualdade:
p m xm = p m e i , ∀m
Portanto, xm = xi (pm , pm ei ) é a escolha ótima do consumidor i. Tomando-se os limites,
quando m → ∞, x∗ → xm e pm → p̃:
Além disso, como p̃k = 0, para algum k, a alocação x̂, embora preferida à alocação x∗ ,
custa o mesmo que x∗ . Nesse caso, a equação 5.1 implica que:
51
Existência, unicidade e estabilidade
p̃k0 = lim pm
k0
=0
m→0
52
Existência, unicidade e estabilidade
Note-se que à medida que ε → 0, mais e mais preços são incluı́dos na análise. E fácil
verificar que neste conjunto, os preços normalizados são não nulos. Resta provar que o conjunto
Sε é compacto, convexo e não-vazio.
Prova
1. Sε é compacto porque fechado e limitado.
2. Sε é convexo: ∀p1 , p2 , ∈ Sε , =⇒ pv = tp1 + (1 − t)p2 ∈ S, t ∈ [0, 1]. Fazendo p1 = 2/K,
p2 = (K − 2)/K, t = 0, 4; pv = 0, 4( K2 ) + 0, 6( K−2
K
) = 0, 4. Lembrando que para K = 2,
no conjunto Sε , pk é dado pela expressão: pk > 1+2×2 =⇒ pk > 5ε . pv = 0, 4 > 5ε , porque
ε
ε < 1.
1
3. Sε é não vazio: o vetor de preços K
, ∀k ∈ K, pertence ao conjunto Sε . De fato,
K
X 1 K
= =1
k=1
K K
1
Ademais, o vetor de preços K
satisfaz
ε
pk > , porque ε < 1
1 + 2K
1 ε 1 1/K + 2
> , = .
K 1 + 2K K 1 + 2K
Provaremos, agora, que existe um equilı́brio geral da economia, isto é, um vetor de preços
p que elimina os excessos de demanda, simultaneamente, em todos os mercados. Na busca de
p, vamos nos limitar ao conjunto Sε . Para cada bem k ∈ K, e ∀p ∈ Sε , defina uma função fk (p)
como:
ε + pk + max{0, zk (p)}
fk (p) = (5.7)
Kε + 1 + K
P
m=1 max{0, zm (p)}
53
Existência, unicidade e estabilidade
A interpretação econômica da equação 5.7 é direta: ela afirma que se houver excesso de
demanda para um dado bem, o seu preço será elevado. De fato, o numerador dessa expressão
mostra que se houver excesso de demanda para o k-ésimo bem (zk (p) > 0), ele será somado ao
preço pk , elevando-o. Se, ao contrário, houver excesso de oferta (zk (p) < 0), o preço do bem k
não se altera. O numerador de fk (p) simula, pois, o tateamento walrasiano.
O denominador de fk (p) - diferente de 0, porque seu valor mı́nimo é 1 - corresponde à
soma sobre k ∈ K do numerador. Depois que o numerador de fk (p) calcula os novos preços
relativos, o denominador normaliza-os para que a sua soma seja igual à unidade. Segue-se, pois,
que a equação 5.7 define os preços relativos dos K − 1 bens transacionados na economia. A
inclusão do parâmetro ε garante que os preços são não nulos. Segue-se, então, que a função f é
uma função contı́nua, que mapeia o conjunto compacto, convexo e não vazio, Sε , nele mesmo.
De fato, definindo-se σ como
ε
σ= (5.8)
Kε + 1 + K × 1
O denominador de σ corresponde ao da equação 5.7, avaliado quando zm (p) = 1. Rees-
crevendo (5.7) como:
ε + pk + zk (p)
fk (p) = P (5.7a)
Kε + 1 + m z m (p)
Note-se, por fim, que a função fk (p) normaliza os preços. Sendo f (p) = (f1 (p), . . . , fK (p))
e somando-se a equação 5.7 sobre os preços, temos que:
K
X
fk (p) = 1
k=1
Concluı́mos, pois, que a função fk (p) mapeia o conjunto Sε nele mesmo. Resta, agora,
encontrar o equilı́brio walrasiano, isto é o vetor de preços p∗ , tal que z(p∗ ) = 0. Isso equivale e
encontrar um ponto fixo para a função f . Dentre os muitos teoremas do ponto fixo, dois nos
interessam particularmente: Teorema de Brouwer e o Teorema de Kakutani.
Teorema 5.3 Teorema do Ponto Fixo de Brouwer Considere um conjunto convexo, compacto,
não vazio, X (um subconjunto do espaço euclidiano) e uma função contı́nua f de X → X
Então, f tem um ponto fixo, isto é, existe x∗ ∈ X tal que f (x∗ ) = x∗ .
54
Existência, unicidade e estabilidade
A Figura 5.5 ilustra o teorema de Brouwer. Este teorema garante que o gráfico de f (x)
cruzará a linha de 45o pelo menos uma vez dentro do quadrado [a, b] × [a, b]. Note-se que a
função f (x) cruza a linha de 45o três vezes dentro do quadrado [a, b] × [a, b]. Segue-se, pois,
que embora o Teorema de Brouwer garanta a existência de equilı́brio, ele não assegura sua
unicidade.
Teorema 5.4 Teorema do Ponto Fixo de Kakutani: A função f de Brouwer é substituı́da pela
correspondência que associa a cada ponto x ∈ X, um subconjunto não vazio f (x) ⊆ X. Esse
teorema afirma que se f for uma função semi-contı́nua superior e convexa, então ela tem um
ponto fixo x para cada x ∈ X.
A sequência de vetor de preços [pε ] é limitada (pε ∈ Sε , 0 < pε < 1). Existe, pois, alguma
subsequência de [pε ] que converge para p∗ , quando ε → 0. Note-se que p∗ > 0 e p∗ 6= 0. No
limite, quando ε → 0, a expressão anterior converge para:
55
Existência, unicidade e estabilidade
p∗k { K ∗
P
m=1 max[0, z m (p )]} = max[0, z k (p)]
X K
X K
X
∗ ∗
pk zk (p ){ max[0, z m (p)]} = zk (p∗ ){max[0, z k (p)]}
k m=1 k=1
PK
Pela Lei de Walras, k=1 p∗k zk (p∗ ) = 0. Nesse caso a expressão acima reduz-se a:
m
X
zk (p∗ ){max[0, z k (p)]} = 0 (5.12)
k=1
No lado esquerdo desta expressão, cada termo da soma ou é zero, ou é zk (p) > 0.
Portanto, para que a soma do lado esquerdo da expressão seja 0, respeitando-se o lado direito
da mesma expressão, é preciso que cada termo desta soma seja igual a zero. Nesse caso, a única
forma de atender a equação 5.12 é fazer com que zk (p∗ ) 6 0. Combinando este resultado com a
condição 3 do teorema 5.1, p∗ 0, =⇒ zk (p∗ ) = 0. Portanto, existe pelo menos um equilı́brio
para a economia descrita.
Sabe-se, pelo Teorema 5.1, que p∗ 0. Vamos proceder à prova de que p∗k >> 0.
Prova p∗ 0 não se aplica. Para algum bem k, p∗k0 = 0. Porém, a condição 3 (Teorema 5.1),
afirma que se p∗k0 = 0 =⇒ zk (pε ) é ilimitada para cima, quando ε → 0. Uma vez que pε → p∗
implica que pεk0 → 0, o lado esquerdo de da expressão 5.10 tende para zero. Porém, o mesmo
não ocorre com o lado direito (zk (p) = 1). Como os dois lados são iguais, p∗k 6= 0 e p∗k 0 .
Exemplo 1: Considere uma economia de trocas com dois consumidores Aretê e Bia que
consomem os bens virtude: bem 1 e poder: bem 2, transacionáveis no mercado. As preferências
de Aretê são representadas pela seguinte função de utilidade: uA = xA1 . Sua dotação de recursos
é igual a eA = (1, 0). A função de utilidade de Bia é igual a: uB = xB B
1 x2 , cuja dotação inicial é
eB = (0, 1). O bem poder serve como numerário. Mostre que nesse caso, não existe p∗ = (p1 /p2 )
que represente um equilı́brio Walrasiano.
Solução: Como Aretê não consome o bem 2, ela gasta a totalidade de sua renda com o bem
1 (virtude). Neste caso, tem-se que as demandas pelo bem 1 de Aretê e Bia são:
p2
p 1 xA
1 = p1 =⇒ xA
1 = 1; xB
1 = (5.13)
2p1
Verifica-se, facilmente, que a função de demanda agregada pelo bem 1 é:
p2
z1 (p1 , p2 ) = (5.14)
2p1
56
Existência, unicidade e estabilidade
5.2 Unicidade
Na seção anterior, provamos que existe pelo menos um equilı́brio walrasiano para uma econo-
mia de trocas ”bem comportada”, regida por H1. Resta agora mostrar que esse equilibro é
único. Este ponto é relevante porque a unicidade do equilı́brio walrasiano permite responder,
de forma inequı́voca, questões relevantes de estática comparativa tais como: o que ocorreria
com o consumo de um dado agente, se a sua dotação inicial fosse modificada. Ou ainda, como
esse mesmo agente mudaria sua demanda caso a dotação inicial de um outro agente fosse re-
duzida. A multiplicidade de equilı́brios não nos ensinaria nada sobre essas questões, exceto o
fato de que esses equilı́brios seriam Pareto-eficientes. Essa situação pode ser ilustrada na caixa
de Edgeworth, apresentada na Figura 5.6. Vê-se que, para uma dada dotação, e, existem pelo
menos três equilibrios.
Nada impede, no entanto, a existência de muitos outros equilibrios, já que as preferências
ilustradas na Figura 5.6 implicam que o mapa de indiferença é denso. De fato, para a dotação
inicial, e, todas as alocações situadas sobre a curva de contato são potenciais candidatos ao
equilı́brio. Terı́amos, então, nesse caso, a existência de um número infinitos de equilı́brios
walrasianos.
Felizmente, este caso somente ocorre quando se busca um equilı́brio globalmente único.
Embora esta definição de unicidade seja o foco da literatura clássica, ela aplica-se, apenas, em
casos bem particulares, que exigem hipóteses muito restritivas sobre as preferências.
57
Existência, unicidade e estabilidade
o Axioma Fraco de Preferência Revelada garantem também que o vetor de preços walrasianos
é único. No que se segue, estas condições serão discutidas.
58
Existência, unicidade e estabilidade
59
Existência, unicidade e estabilidade
p01 > p1
p02 > p2
..
.
0
pK−1 > pK−1
0
Nesse caso, calculada aos preços p , a demanda agregada, x(p0 ) < x(p). Segue-se, pois,
que zk (p0 ) < zk (p) = 0, o que estabelece a contradição.
Definição Unicidade Local Um equilı́brio é dito localmente único se não existe nenhum outro
vetor de preços walrasianos, que seja próximo ao equilı́brio original. Ou, de outra forma, um
equilı́brio não qualifica como localmente ótimo, se o vetor de preços p constitui o limite das
sequencias de outros vetores de preços walrasianos.
60
Existência, unicidade e estabilidade
Porém, embora a existência de um equilı́brio localmente único exija hipóteses mais fracas
do que as requeridas para a existência de um equilı́brio globalmente único, mesmo assim, nem
sempre é possı́vel estabelecer a unicidade do equilı́brio local. A Figura 5.7 ilustra esse caso, no
modelo 2x2.
Defina o preço do bem 1 como o numerário, de sorte que p = (1, p2 ). Neste gráfico, a
função de excesso de demanda z2 (p2 ) se anula em três pontos, cada um deles correspondente
a uma diferente relação de preços. Temos, então, três equilı́brios. No entanto, é possı́vel
representar uma função de excesso de demanda agregado, que teria uma uma infinidade de
equilı́brios, como é o caso da Figura 5.8. Porém, este caso degenera, como mostraremos a
seguir.
61
Existência, unicidade e estabilidade
negrito. Esta nova curva não mais corta o eixo horizontal em um número finito de vezes (três
vezes).
Concluı́mos, então, que em presença de um continuum de equilı́brios, poderı́amos limitá-
los por meio de pequenas variações nas dotações iniciai dos agentes. Nesta nova economia, os
equilı́brios seriam localmente únicos.
Na mesma linha de argumentação, MasColell (1985) propôs uma solução intermediária,
que limita o número de equilı́brios locais. Em uma economia nas quais as dotações iniciais
são aleatoriamente selecionadas, a existência de infinitos equilı́brios é praticamente uma coin-
cidência. Este resultado está sumariado no Teorema 5.7.
Teorema 5.7 Equilı́brios Finitos Em uma economia de trocas, onde as dotações iniciais
são aleatoriamente selecionadas, existe um número impar e finito de equilı́brios.
De acordo com esse teorema, para a maioria das economias, pequenas perturbações em
torno de um dos finitos equilı́brios walrasianos, o equilı́brio único da economia perturbada
situar-se-á muito perto da economia original, permitindo fazer análises de estática comparativa
locais, para dotações aleatoriamente selecionadas. Isto pode visualizado na Figura 5.9:
2p + r − p1/9
x11 = ; x12 = p1/9 (5.23)
p
1
x21 = ( )1/9 ; x22 = rp + 2 − p8/9 (5.24)
p
Note-se que a demanda do individuo 1 pelo bem 1 é crescente no preço deste bem.
Resolvendo-se as equações acima para o mercado do bem 2, tem-se que a demanda lı́quida
agregada para este bem é dada pela expressão abaixo:
62
Existência, unicidade e estabilidade
Anulando-se a função acima, verifica-se que os equilı́brio walrasiano não é único, já que
conta com duas soluções exatas (p = 1) e (p = 2) e uma solução numérica (p = 0, 5). O gráfico
5.10 ilustra esta situação.
Exemplo 5.2 Considere uma economia com dois bens e dois consumidores, no qual o preço
do bem 1 é normalizado em termos do preço do bem 2 (p = pp12 ). A função de excesso de
demanda pelo bem 1 é dada pela seguinte expressão:
Compute o equilı́brio walrasiano e verifique se ele é único e se z1 (p) atende às condições do
Teorema 3.2.
63
Existência, unicidade e estabilidade
1. Homogeneidade: z(p) = z(λp). Lembrando que p = p1 /p2 = λp1 /λp2 . Portanto z(p) =
z(λp).
2. Lei de Walras: a soma dos valor do excessos de demanda total para os bens 1 e 2 pode
ser reescrita como
p[(p − 1)2 (1 − 2p)] + z2 (p)
Usando as restrições orçamentárias dos dois consumidores, z2 (p) escreve-se como:
Solução A resposta ao item i requer a derivação das funções de excesso de demanda para os
dois bens. Iniciando com a função de excesso de demanda pelo bem x e derivando-a em relação
à py , tem-se que:
∂zx (px , py ) 2p3x − px p2y − 4p2x py
= (5.26)
∂py [(2px + py )(px + 2py )]2
Como o denominador da equação 5.26 é positivo, precisamos mostrar quo o numerador
é também positivo, isto é:
2p3x − 7px p2y − 4p2x py > 0
Isto equivale a determinar limites para os preços relativos px /py . Dividindo ambos os
membros da expressão acima por por px e multiplicando por −1, tem-se que:
64
Existência, unicidade e estabilidade
5.3 Estabilidade
”It remains only to show that, for production or exchange equilibrium that this
problem to which we have given a theoretical solution is just which in practice is
solved in the market place by the mechanism of free competition”
Até o momento, mostramos que a consistência das decisões individuais são garantidas desde
que os mercados sejam competitivos e os preços de equilı́brio sejam realizados nos mercados
dos bens e serviços. Porém, não há nada nas discussões anteriores que garanta que desvios em
relação aos preços walrasianos serão rapidamente absorvidos, de sorte a restabelecer o equilı́brio
walrasiano. Pode ocorrer também que estes afastamentos sejam duradouros, provocando dese-
quilı́brios nos mercados que levarão a racionamentos da demanda dos consumidores. Torna-se,
então, necessário impor restrições para que o equilı́brio walrasiano, além de único, seja também
estável.
A questão relevante para analisar a estabilidade do equilı́brio walrasiano é saber se
os preços convergem para seus valores de equilı́brio, mesmo quando, inicialmente, eles não
65
Existência, unicidade e estabilidade
Walras, sugeriu que as mudanças de preços fossem realizadas por meio do mecanismo de
tateamento (tâtonnement) walrasiano, similar aos utilizados nas bolsas de valores mobiliários.
Este mecanismo baseia-se na ideia de que o preço de um dado produto aumenta (diminui)
quando a demanda for superior (inferior) à oferta. Supondo-se que o mercado é gerenciado por
um leiloeiro walrasiano, o mecanismo de tateamento funciona da seguinte maneira: o leiloeiro
anuncia os preços, recolhe as demandas, compara-as com a oferta, calcula os desequilı́brios e,
com base neles, anuncia os novos preços de mercado. Permanecendo os desequilı́brios a estes
preços ajustados, o procedimento é repetido, até que se encontrem os preços de equilı́brio, p∗ ,
tal que z(p∗) = 0.
Samuelson (1946) foi o primeiro autor a tratar o processo de ajustamentos dos preços
como um sistema de equações diferenciais. Nessa linha de raciocı́nio, as análises posteriores
baseiam-se em teorias que examinam a estabilidade de sistemas dinâmicos de equações. Dentre
as teorias existentes, a Teoria da Estabilidade de Lyapunov é amplamente usada para avaliar
a estabilidade do equilı́brio geral, por meio do uso de uma função auxiliar, conhecida como
Função de Lyapunov. No que se segue, aplicaremos essa teoria para definir as condições que
regem a estabilidade do equilı́brio walrasiano.
66
Existência, unicidade e estabilidade
∂pk
= g(zk (p)), ∀k ∈ N (5.28)
∂t
A função g preserva o sinal de z(p). Ela mostra que se o excesso de demanda pelo bem
k for positivo, então, pela lei da demanda, existe escassez desse bem, o que faz com que seu
preço aumente. Considere, agora um caso especial de g:
ṗ = z(p), ∀k ∈ N (5.29)
A resolução do sistema dinâmico de equações diferenciais descrito pela equação 5.29
permite avaliar a estabilidade de um ponto crı́tico deste sistema, em nosso caso, o equilı́brio
geral walrasiano. Note-se que, sob a Lei de Walras, a soma dos quadrados dos preços permanece
constante ao longo do processo de ajustamento, isto é:
K
∂ / ∂ X 2
(p p) = p
∂t ∂t k=1 k
K
X ∂pk
=2 pk
k=1
∂t
K
X
=2 pk ṗ
k=1
= 2pz(p)
Pela Lei de Walras,a expressão acima torna-se,
∂ /
(p p) = 0 (5.30)
∂t
Este resultado mostra que embora o vetor de preços relativos se modifique, seu compri-
mento não se altera: a trajetória de preços restringe-se à esfera k-dimensional. Trata-se, pois,
de uma outra forma de normalização dos preços.
Definições e Teoremas
67
Existência, unicidade e estabilidade
Exemplo 5.4 Ainda sobre a economia descrita no exemplo 3.11, avalie a estabilidade do
equilı́brio walrasiano.
Solução Lembrando que as funções de excesso de demanda agregada pelos bens x e y são
dadas, respectivamente, pelas seguintes expressões:
2px py py (px − py )
zx (p) = + −1= (5.32)
2px + py px + 2py [(2px + py )(px + 2py )]
px 2py px (py − px )
zy (p) = + −1= (5.33)
2px + py px + 2py [(2px + py )(px + 2py )]
Os autovalores da matriz acima são 2/9 e zero 2 . Vê-se, então, que estes valores violam
a expressão 5.31. Aumentos de px elevam o excesso de demanda pelo bem x, o que contribui
para elevar ainda mais px e zx (p). Ao invés de convergência de p para o seu nı́vel de equilı́brio
(p∗x , p∗y ) = (1, 1), tem-se uma divergência cada vez maior, o que gera instabilidade. O lado
esquerdo da Figura 5.13 ilustra este caso. A função de excesso de demanda é positivamente
inclinada, gerando instabilidade.
Conforme anteriormente mencionado, o ponto de dotação é crucial para a determinação
da estabilidade. Modificando-se a dotação para e1 = (0, 1) e e2 = (1, 0), a função de excesso de
demanda torna-se, então,
2 p
zx (p) = + −1 (5.34)
2p + 1 p + 2
Anulando-se zx (p), obtém-se o equilı́brio walrasiano:
68
Existência, unicidade e estabilidade
Instabilidade Estabilidade
Vamos, agora, utilizar a teoria da estabilidade de Lyapunov para mostrar que o equilı́brio
geral é globalmente estável. A aplicação do método de Lyapunov à dinâmica dos preços walra-
sianos é direta e envolve propriedades já discutidas tais como a Substituição Bruta na Demanda
e o AFPR.
Lema 5.2 Considere um equilı́brio walrasiano p∗ . Diz-se que p∗ é globalmente estável se cada
trajetória que satisfaz 5.28 converge para p∗ , ou para αp∗ , para algum α > 0.
Teorema 5.9 Equilı́brio Globalmente Estável Suponha que z(p∗ ) = 0 e p∗ z(p) > 0, para
todo p não proporcional a p∗ . Então, p∗ é globalmente estável.
Prova Considere que a equação 5.29 descreve um sistema de Lyapunov: A função z : <n → <n
tem um único equilı́brio, p∗ , satisfazendo z(p∗ ) = 0. Vamos, agora definir a Função de Lyapunov,
que será usada para demonstrar o Teorema 5.9.
V (p∗ ) = 0;
V (p) > 0, ∀p 6= p∗ ;
∂V (p(t))
< 0, ∀p(t) 6= p∗ .
∂t
O teorema de Lyapunov sumaria a relação entre estabilidade de preços e a função auxiliar
de Lyapunov.
Teorema 5.10 Teorema de Lyapunov Se existir uma função de Lyapunov para o sistema
ṗ = z(p), o ponto estacionário único dessa função é globalmente estável.
69
Existência, unicidade e estabilidade
K
∂V (p(t)) X 1
=2 (pk − p∗k )[ck zk (p)] (5.38)
∂p(t) k=1
c k
n K
∂V (p(t)) X X
=2 [pk zk (p)] − 2 p∗ zk (p) (5.39)
∂t k=1 k=1
PK
Como, pela lei de Walras k=1 pk zk (p) = 0, então
n
∂V (p(t)) X
= −2 p∗k zk (p) < 0 (5.40)
∂t k=1
para p(t) 6= p∗ .
Encontramos, pois, uma função de Lyapunov para o sistema de equações diferenciais ṗ =
p, com z(p∗ ) = 0. Portanto, pelo teorema de Lyapunov, o ponto estacionário p∗ é globalmente
estável.
Exemplo 5.5 Com a ajuda de uma função de Lyapunov mostre que o equilı́brio walrasiano da
economia descrita no exemplo 3.11 [(px , py ) = (1, 1)] é instável.
Solução: Seja V = (px − 1)2 + (py − 1)2 , a função de Lyapunov para o problema considerado.
Neste caso,
∂V (p(t)) ∂V ∂px ∂V ∂py
= +
∂t ∂px ∂t ∂py ∂t
∂p(t)
Lembrando que ∂t
= z(p), podemos reescrever a expressão acima como:
∂V (p(t)) py (px − py ) px (py − px )
= 2(px − 1) + 2(py − 1)
∂t (2px + py )(px + 2py ) (2px + py )(px + 2py )
2
2(px − py )
=
(2px + py )(px + 2py )
Para p 6= 1, a expressão acima é positiva violando, assim, a condição 5.40. O equilı́brio
walrasiano é, pois, instável global e localmente.
Por fim, a hipótese de substituição bruta ente os bens, a exemplo da questão da unici-
dade, também desempenha um papel importante para a estabilidade do equilı́brio walrasiano.
De fato, quando os bens são substitutos brutos, o equilı́brio é estável no sentido de Hicks. Este
tipo de estabilidade define-se como:
70
Existência, unicidade e estabilidade
Definição Estabilidade Hicksiana o mercado para o k-ésimo bem é perfeitamente estável se,
mantendo-se os demais preços constantes, prevalecem as seguintes condições:
∂ 2 zk (p)
1. p2j
<0
Teorema 5.12 Substituição Bruta e Estabilidade Se (−1)K |DK | > 0, onde |DK | é K-ésimo
menor principal da matriz de Slutsky, então, a economia é estável no sentido hicksiano.
5.4 Exercı́cios
1. Prove a seguinte proposição: (P1) – Unicidade do equilı́brio. Se z(p) satisfaz a propriedade
de Substituição Bruta (Gross Substitution), então, o equilı́brio walrasiano é único, i.e,
z(p) = 0 tem, no máximo, uma solução.
3. Seja z(p), a demanda agregada lı́quida em uma economia de trocas com dois bens; z(p)
satisfaz a Lei de Walras.
p2
z1 (p) = −1
p1
p2 p2 1
z1 (p) = [ ]2 − +
p1 p1 8
Compute o equilı́brio walrasiano desta economia nos dois casos propostos e verifique se
ele é globalmente estável.
4. Em Camalote existem apenas dois bens (lazer (x1 ) e um bem de consumo (x2 )) e três
consumidores - Arthur, Guinevere e Lancelot. A tecnologia usada para produzir o bem
de consumo é tal que (−1, 1) ∈ Y . As preferências e as dotações iniciais são dadas pelas
seguintes expressões:
71
6
Economias replicadas
72
Economias replicadas
6.1.1 Definições
Definição A r-ésima réplica de uma dada economia Seja I = (1, . . . , I) o conjunto de
consumidores. A r-ésima réplica, εr , corresponde à economia com r consumidores de cada tipo,
1, . . . I. Para i ∈ I, todos os r consumidores têm as mesmas preferências %i em <n+ e idênticas
dotações fatoriais ei >> 0. Supõe-se ainda que %i são representadas por ui satisfazendo H1.
Note-se que o core de εr é não vazio; pelos teoremas 5.2 e 4.2, a alocação de equilı́brio walrasiano
(AEW) da economia original existe e situa-se no core de εr que é, portanto, não vazio.
Definição Dois consumidores são do mesmo tipo se, e somente se, eles têm preferências
idênticas e as mesmas dotações iniciais, isto é xi1 = xi2 = . . . = xiq e ei1 = ei2 = . . . = eiq ,
∀i ∈ I e r = 1, . . . q.
Prova por contradição Considere I=2 e ε2 a réplica de ordem 2 da economia ε1 (economia origi-
nal), com dois consumidores de cada tipo. Suponha ainda que a alocação x = (x11 , x12 , x21 , x22 )
situa-se no core de ε2 . Nesse caso, x é factı́vel:
Para gerar a contradição, vamos supor que a alocação x não atribui as mesmas cestas
para consumidores idênticos (isto é, a alocação x viola o Teorema 6.1):
x11 %1 x12 ; x21 %2 x22
73
Economias replicadas
Supondo-se que x11 6= x12 , na alocação x, o consumidor 2 do tipo 1 está em pior situação,
quando comparado com o consumidor 1, do mesmo tipo. Nesta mesma alocação, o consumidor
2 do tipo 2 obtém uma cesta inferior (ou, no máximo, igual à do consumidor 1, do tipo 2). Eles
têm, pois, interesse em formar uma coalizão para bloquear a alocação x. Resta agora mostrar
que a cesta x não se situa no core de ε2 . Para tal, considere a cesta x, definida como:
x11 + x12 x21 + x22
x12 = e x22 =
2 2
Vamos agora atribuir a cesta x12 ao consumidor 2, do tipo 1. Então, por convexidade estrita
das preferências, tem-se que:
x12 1 x12
De forma análoga, para os consumidores do tipo 2:
x21 %2 x22
Podendo-se ter x21 = x22 . Portanto, as cestas x12 , x22 melhoram estritamente a situação do
consumidor 12, sem piorar (podendo melhorar) a situação do consumidor 2 do tipo 2. A Figura
6.1 ilustra este caso:
74
Economias replicadas
Na economia original, ε1 , o core é representado pela linha cc. A alocação x̃,, embora
pertença ao core da economia original, tem o mesmo nı́vel de utilidade da dotação inicial, que
é a ”pior”alocação factı́vel para os consumidores. Na economia replicada, x̃ é dominada pela
alocação x. Ela não mais situa-se no core da réplica, pois é bloqueada pela cesta x, que oferece
um nı́vel maior de utilidade. Repetindo-se o procedimento, outras alocações sairão do core da
réplica-r.
Para demonstrar o estreitamento do core, na replica de ordem 2 da economia ε, defina
x e x12 como as cestas de consumos dos agentes 1 e 2 do tipo 1. O core de ε1 contém as
11
alocações AEW e as que não são AEWs. A alocação x e ∈ C(ε1 ), por exemplo, não é AEW,
porque aos preços, p, ela não é um ponto de tangência entre as curvas de indiferença dos dois
tipos de consumidores, mas, mesmo assim situa-se no core. Vamos verificar, se ao replicarmos
ε, essa alocação ainda permanece no core de ε2 .
Considere a alocação x, que é a cesta corresponde ao ponto médio entre e e x e. Em
razão da existência de convexidade estrita das preferências, x x e. Para verificar esse ponto,
considere a coalizão S, formada pelos dois consumidores do tipo 1 e um consumidor do tipo 2,
S = {11, 12, 21}. Defina, agora as cestas x, para os consumidores pertencentes à coalizão S:
x11 ≡ 12 (e1 + x
e11 ) e x12 ≡ 21 (e1 + x
e12 )
Por convexidade estrita das preferências, temos que:
x11 1 x
e11 , x12 1 x
e12 e x21 ∼ x
e21
É fácil mostrar que x é factı́vel, na :
1 1 11
x11 + x12 + x
e21 = 2( e1 + x e21
e )+x
2 2
75
Economias replicadas
e11 ∼ x
Porque x e12 (Tratamento Igual no Core). Rearrumando a expressão acima:
x11 + x12 + x
e21 = e1 + x
e11 + x
e21 (6.4)
Como x
e está no core de ε1 , ela deve ser factı́vel na economia original.
e11 + x
x e21 = e1 + e2 (6.5)
x11 + x12 + x
e21 = e1 + (e1 + e2 ) (6.6)
x11 + x12 + x
e21 = 2e1 + e2 (6.6a)
Portanto, para os membros da coalizão S = (11, 12, 21), a cesta x é factı́vel e bloqueia
x
e. Portanto, na economia replicada, a cesta x e não mais se encontra no core de ε2 . É fácil
verificar que a medida que a economia se expande, somente as alocações de equilı́brio walrasiano
permanecerão no core da economia replicada.
Considere a alocação x̃, agora situada no interior do core da economia original, definido
0
pelo segmento cc . Considere a restrição orçamentária - e a relação de preços correspondente
- que passa pelo ponto e1 e x̃. Note-se que a cesta x̃ é Pareto-eficiente, já que as curvas de
indiferença dos dois consumidores se tangenciam neste ponto. Porém, obviamente, esta cesta
não é AEW porque os preços relativos, dados pela inclinação da restrição orçamentária (-p1 /p2 ),
não constituem um equilı́brio walrasiano. As taxas marginais de substituição na alocação x̃
diferem da relação de preços (p1 /p2 ). Nesse caso
76
Economias replicadas
1 2 p1
T M S1,2 = T M S1,2 <
p2
No ponto A, a restrição orçamentária (a linha de preços, no segmento e1 x̃) corta a curva
de indiferença do consumidor do tipo 1. Em razão da convexidade estrita das preferências, a
alocação x̃ é dominada pela cesta x̂ e, portanto, não mais qualifica como pertencente ao core da
economia replicada. Pode-se facilmente verificar que isso também ocorre, quando se considera
as alocações situadas no core que não são AEWs na economia original. A exceção é a cesta x∗ ,
que representa o equilı́brio walrasiano em ε1 .
Vamos, agora, generalizar este resultado para o caso em que existem muitos consumidores
de cada tipo. Para tal, considere a economia εr , na qual existem r agentes de cada tipo.
Considere a alocação x, situada no core de εr . Usando o Teorema 6.1 (Tratamento Igual no
Core), a alocação x assume a seguinte forma:
A alocação acima é simplesmente a cópia r-vezes da alocação (x1 , ..., xI ) em ε1 , isto é:
Portanto, à medida que a economia se expande, core da economia replicada se reduz. Formal-
mente, O Lema 6.1 ilustra esse caso:
Prova A prova do Lema 6.1 deve mostrar que para r > 1, Cr ⊆ Cr−1 , isto é, todo elemento
de Cr é também elemento de Cr−1 ). Suponha que a a alocação x = (x1 , ..., xI ) ∈ Cr . Então,
a cópia de ordem r desta alocação não pode ser bloqueada na réplica de ordem r da economia
original. De forma análoga, a cópia de ordem r-1 tampouco pode ser bloqueada na réplica de
ordem r-1 de ε1 . De fato, pelo lema 6.1, qualquer coalizão que bloqueia a cópia de ordem r cópia
de ordem r-1 da alocação x na réplica εr−1 também bloqueia a cópia de ordem r da alocação x
em εr . Isto porque todos os membros da coalizão bloqueadora são também membros de εr .
77
Economias replicadas
O Lema 6.1 mostra, pois, que o conjunto das alocações não bloqueadas não se expande quando
r aumenta.
Lema 6.2 AEW na economia replicada Uma alocação x constitui uma AEW para a eco-
nomia εr se, e somente se, ela assume a seguinte forma:
Prova Se x é AEW para εr , então, pelo Teorema 4.2, a alocação x ∈ Cr e satisfaz a propriedade
de igual tratamento no core (Teorema 6.1). Portanto, x deve ser uma cópia r-vezes de alguma
alocação em ε1 , a economia original. Replicando-se a economia, o conjunto das AEWs consiste
em cópias da economia original. Pela definição do core, a WEA original ε1 está também em
Cr. Comparando-se Cr com o conjunto W (εr )
O Lema 6.2 afirma que a medida que à economia é replicada, o conjunto das AEWs
(W (ε)) não se altera porque ele é constituı́do unicamente por cópias da alocação de equilı́brio,
na economia original. Consequentemente, W (εr ) acompanha de perto W (ε1 ). Podemos, agora,
comparar os conjuntos Cr e W (εr ), para os membros de Cr que são alocações da economia
básica, com o conjunto W (ε1 ). Utilizando-se o Lema 6.1, temos que C1 ⊃ C2 W (ε1 ). Pelo Lema
6.2 a cópia de ordem r de W (ε1 ) pertence ao core de εr . Pela definição de Cr , isto implica que
a AEW original situa-se no core da sua réplica de ordem r.
Considere agora a cesta x̂, situada na linha e1 x̃. Pela convexidade estrita das pre-
ferências, temos que:
x̂ 1 x̃
A cesta x̂ pode ainda ser escrita como uma combinação linear de e1 e x̃, com 1r + 1 − 1
r
=
1.
1 1 1
x̂ = e + 1 − x̃
r r
Ou ainda, para o consumidor do tipo 1:
1 1 1 r−1 1
x̂ = e + x̃ , ∀r > 1
r r
Temos, então, que
x̂1 1 x̃1
Considere agora a réplica εr , de ε1 (economia original), com r consumidores de cada tipo.
Como estamos supondo que x̃ ∈ Cr , então a r-ésima cópia de x̃ também estará no core de εr .
Para verificar, vamos encontrar uma coalizão S de consumidores que bloqueie x̃, composta de r
consumidores do tipo 1 e (r − 1) do tipo 2. Vamos, então, atribuir a cesta x̂ a cada consumidor
do tipo 1, de sorte que
x̂1 1 x̃1
Aos consumidores do tipo 2 daremos a cesta x̃2 = x̃. Nesse caso
x̃2 ∼ x̃
78
Economias replicadas
x̃1 + x̃2 = e1 + e2
Substituindo a expressão acima em (6.9):
Como a alocação proposta (x̂1 , x̃2 ) é estritamente preferida à (x̃1 , x̃2 ) e ela é factı́vel, a
coalizão S, composta de r consumidores do tipo 1 e (r − 1) do tipo 2, bloqueia a alocação x̃.
A alocação x̃, situada no núcleo da economia original, não está no core da economia replicada.
Sobram apenas as alocações factı́veis e não bloqueadas. Portanto, se x ∈ Cr , ∀r, então x é
WEA.
Debreu e Scarf (1963) 1 ampliaram a discussão sumariada nos Lemas 6.1 e 6.2 para o
caso em que a economia original é replicada indefinidamente. De acordo com estes autores,
quando r → ∞, somente as alocações de equilı́brio walrasiano permanecem no core. Este
importante resultado, conhecido como o Teorema do Limite do Core (Teorema da Equivalência
no Core) mostra que o conjunto das alocações do core converge para o conjunto das alocações
de equilı́brio walrasianas. O Teorema 6.2 sumaria este ponto.
79
Economias replicadas
Prova Suponha, por contradição, que a desigualdade 6.11 é violada. Neste caso, para algum
consumidor i ∈ I, tem-se que:
5 ui (x̃i ) = λi p̃ (6.13)
Combinando as equações 6.12 e 6.13 tem-se que:
λi˜[pei − p̃x̃i ] ≤ 0
Dividindo-se ambos os lados por λi e rearrumando-se os termos:
A desigualdade 6.14 deve ser satisfeita na igualdade. De outra forma, somando-se esta
desigualdade sobre os consumidores,
X X
p̃ x̃i > p̃ ei (6.15)
i∈I i∈I
80
Economias replicadas
Exemplo 6.1 Considere uma economia ε = {ui , ei }, com dois bens, 1e2 e três consumidores,
cujas preferências e dotações são idênticas e iguais à:
ui (xi1 , y1i ) = log xi1 + log xi2 ; e1 = (1, 4) e2 = (4, 1) e3 = (1, 1) (6.17)
Mostre que a alocação igualitária é Pareto eficiente, porém não se encontra no core de ε.
1
1 5 5
u x11 , x12 =u , = 0, 796 > u1 (e1 ) = log(1) + log(4) = 0, 602
2 2
u1 (x11 , x12 ) > ui (2, 2) = 0, 602
5 5
u2 (x21 , x22 ) = u2 ( , ) = 0, 796 > u2 (e2 ) = log(4) + log(1) = 0, 602
2 2
2 2 2 i
u x1 , x2 > u (2, 2) = 0, 602
Como a alocação igualitária xi = (2, 2), ∀i ∈ I é bloqueada pela coalizão dos indivı́duos 1 e 2,
ela não situa-se no núcleo de ε.
Exemplo 6.2 Seja ε = {ui , ei } uma economia com dois bens, x e y e dois consumidores,
cujas preferências e dotações são:
u1 (x1 , y1 ) = x1 + y1 + x1 y1 ; e1 = (1, 0)
u( x2 , y2 ) = x2 y2 ; e2 = (0, 1)
81
Economias replicadas
max u1 (x1 , y 1 )
x1 ,y 1 ,x2 ,y 2 ∈<n
+
s.a. u2 (x2 , y 2 ) = u
x1 + x2 = 1
y1 + y2 = 1
O Lagrangeano associado a esse problema é:
L = x1 + y 1 + x1 y 1 + λ1 (x2 y 2 − u) + λ2 (1 − x1 − x2 ) + λ3 (1 − y 1 − y 2 )
As condições de primeira ordem exigem que:
1 + y1 y2
= (6.19)
1 + x1 x2
Usando a condição de factibilidade, a expressão acima torna-se:
1 + y1 1 − y1
= (6.20)
1 + x1 1 − x1
Segue-se, pois, que x1 = y 1 . o conjunto PE escreve-se, então:
P E = {(x1 , y 1 ), (x2 , y 2 ) ∈ (R)4+ | y 1 = x1 , 0 ≤ x1 ≤ 1, x1 + x2 = 1, y 1 + y 2 = 1} (6.21)
O conjunto das alocações individualmente racionais IR é:
IR(e) = {(x1 , y 1 ), (x2 , y 2 ) ∈ (R)4+ | x1 +y 1 +x1 y 1 ≥ 1, x2 y 2 ≥ 0, x1 +x2 = 1, y 1 +y 2 = 1} (6.22)
O conjunto das alocações pertencentes ao núcleo de ε inclui as alocações PE eficientes
e racionalmente individuais. Para o consumidor 1, a delimitação do core exige, pois, que as
equações abaixo sejam satisfeitas:
y 1 =x1 ; x1 + y 1 + x1 y 1 ≥ 1 (6.23)
y 2 =x2 ; x2 y 2 ≥ 0 (6.24)
Para o consumidor 1, tem-se que:
(x1 )2 + 2x1 − 1 ≥ 0 (6.25)
√
Resolvendo-se a expressão acima obtém-se x1 ≥ 2 − 1 = 0, 414. Temos, então, o
limite inferior de x1 para que a alocação situe-se no core. Procedendo de forma análoga para o
consumidor 2, tem-se que:
x2 y 2 = (1 − x1 )(1 − y 1 ) = x1 y 1 − x1 − y 1 + 1 ≥ 0 (6.26)
= (x1 )2 − 2x1 + 1 ≥ 0 (6.27)
Resolvendo-se a inequação acima para x1 , encontra-se o limite superior, expresso em
termos do consumo do bem x pelo agente 1 (x1 = 1). O conjunto das alocações situadas no
núcleo da economia é:
C2 = {(x1 , y 1 ), (x2 , y 2 ) ∈ (R)4+ | x1 = y 1 , 0, 414 ≤ x1 ≤ 1, x1 + x2 = 1, y 1 + y 2 = 1} (6.28)
Para mostrar que a alocação (0.414, 0,414) não pertence ao core da réplica de ordem 2
da economia original, basta mostrar que esta alocação não é uma AEW na economia replicada.
82
Economias replicadas
6.3 Exercı́cios
I. Verdadeiro ou falso: Justifique sua resposta.
1. Se uma alocação x ∈ C(e), então esta alocação também está no core das réplicas dessa
economia.
2. Somente as alocações WEA permanecem no core da economia replicada.
uh (x, y) = min{ax, y}
um (x, y) = x + y
84
7
If God had meant there to be more than two factors of production, He would
have made it easier for us to draw three-dimensional diagrams.
R. Solow
7.1.1 Tecnologia
Nesta seção, descreveremos a tecnologia utilizada no processo produtivo. Vamos iniciar com a
definição da produção lı́quida (netput), y, conceito básico em uma economia com produção:
Este conceito aplica-se tanto para um processo produtivo particular, como para a produção
agregada da economia. Se a quantidade do bem k produzida for maior (menor) do que a quan-
tidade desse mesmo bem usada como insumo, então, yk é positivo (negativo). Considerando-se
uma única firma, um insumo, y1 e um produto, y2 , a produção lı́quida da firma y = (y1 , y2 ) =
(−7, 3) indica que o plano de produção da firma citada requer 7 unidades do bem 1 para
produzir 3 unidades do bem 2.
Ampliando-se esta economia para incluir J firmas, J = [1, . . . , j, . . . J], o plano de
produção da j-ésima firma é y j ∈ <K ; ykj < 0 indica que o k-ésimo bem é um insumo para
a firma j. Definindo-se Y j , com j ∈ J , como o conjunto de possibilidades de produção da
j-ésima firma, a hipótese H2 delimita este conjunto:
85
Equilı́brio geral com produção
1. 0 ∈ Y j ⊆ <K .
3. Y j é fortemente convexo.
0∈Yj
/ Yj
0∈
Para ilustrar esse caso, considere o seguinte exemplo: a produção da firma j requer o uso
da água lı́quida como insumo. Sabe-se que a água congela a zero grau e ferve quando a tem-
peratura atinge 100 graus centı́grados. A temperatura da água é determinada pela intensidade
do seu bombeamento: quanto maior (menor) a intensidade, maior (menor) a temperatura. O
processo produtivo utiliza água lı́quida, excluindo-se, pois, o uso de gelo e vapor. Neste caso,
embora o conjunto de produção da firma j seja aberto, para fins práticos é conveniente fi-
xar limites para a temperatura, tais como [0, 1◦ ; 0, 99◦ ], o que torna o conjunto Y j fechado,
justificando, assim, o uso da condição 2.
Ainda sobre a condição 2, ela afirma que Y j é limitado, excluindo-se, assim, a possibi-
lidade de o vetor y j ∈ Y j ter quaisquer elementos infinitos. Alguns autores argumentam que,
embora a imposição de limites seja razoável em um horizonte de tempo finito, esta condição é
desnecessária e pode ser substituı́da pela imposição de limites à produção agregada, definida
como:
y j , y j ∈ Y j }.
P
Definição Produção Agregada Y = {y | y = j∈J
86
Equilı́brio geral com produção
a expansão dos planos de produção das firmas, que precisam contratar mais trabalhadores para
viabilizar o aumento da produção. Pode-se, então, contra-argumentar que as empresas também
confrontam-se com restrições ao seu potencial de produção. O conjunto de produção Y j , seria,
então, limitado. Conclui-se, pois, que o conjunto de produção da j-ésima firma é compacto,
porque fechado e limitado.
Resta, agora examinar a terceira condição que implica convexidade forte do conjunto de
produção da j-ésima firma. Considere dois planos de produção, y 1 e y 2 . A condição 3 implica
que:
/ Yj
0∈
max py j
j
(7.1)
s.a. yj ∈ Y j
Πj (p) ≡ max
j j
py j (7.2)
y ∈Y
87
Equilı́brio geral com produção
Isto é, o plano de produção y maximiza os lucros se, e somente se, esse agregado pode
ser decomposto nos planos de produção individuais das firmas, y j .
Prova Considere y ∈ Y que maximiza os lucros aos preços p; defina y ≡ j∈J y j , y j ∈ Y j .
P
Suponha que y k não maximiza os lucros da k-ésima firma. Nesse caso, existe um outro plano
0
de produção, y k ∈ Y k , que garante lucros maiores para esta firma. Tem-se, então, que:
0 0
X
y = yk + yj ,
j6=k
o que contradiz o fato de que y maximiza os lucros aos preços p. Portanto, aos preços p, y k
maximiza os lucros da k-ésima firma.
Resta agora provar a parte final do teorema. Suponha que os planos de produção
(y 1 , . . . , y j , . . . y J ) maximizam Π(p) aos preços p. Então,
py j > py j , y j ∈ Y j , ∀j ∈ J
Somando-se a expressão acima sobre j
X X
py j > py j
j∈J j∈J
py > py, y ∈ Y
De sorte que y maximiza os lucros agregados aos preços p.
88
Equilı́brio geral com produção
Exemplo 7.1 Jehle-Reny, 5.23: Se o conjunto de produção de uma dada firma for forte-
mente convexo e o vetor de preços estritamente positivo, então, existe, no máximo, um plano
de de produção que maximiza os lucros.
Solução: Seja Y ⊆ <K , um conjunto de produção fortemente convexo. Para qualquer p ∈ <K++ ,
1 2
defina y e y como dois planos de produção distintos que maximizam lucros de uma dada firma.
Portanto, py 1 = py 2 ≥ py, ∀y ∈ Y . Como Y é fortemente convexo, existe y ∈ Y | ∀t ∈ (0, 1),
tal que:
y > ty 1 + (1 − t)y 2
Multiplicando ambos os lados por p:
7.2 Consumidores
No que diz respeito ao comportamento dos consumidores, as hipóteses utilizadas na descrição
da economia de trocas se mantêm. Porém, a renda dos consumidores se modifica porque agora,
além da renda gerada pela dotação inicial, deve-se considerar também a renda do capital, que
corresponde aos lucros distribuı́dos aos acionistas das empresas. Esta renda define-se como:
X
πi = θij Πij , j ∈ J
j∈J
max xi ∈ <K
+
X
s.a pxi ≤ pei + θij π j (p)
j∈J
Cada firma j aufere lucros não-negativos (porque pode escolher y j = 0). Consequente-
mente mi (p) ≥ 0 porque p ≥ 0 e ei ≥ 0. Sob as hipóteses 1 e 2, a solução para o problema
acima é única sempre que p >> 0. Segue-se então, o teorema 7.4
89
Equilı́brio geral com produção
Teorema 7.4 Propriedades da demanda com participação nos lucros Para cada
Y j satisfazendo H2 e ui satisfazendo H1, a solução do problema max xi ∈ <n+ , s.a pxi ≤ mi (p)
existe e é única para ∀p >> 0. Ademais, xi (p, mi (p)) é contı́nua em p, definidos em <K
++ .
A descrição da economia com produção está completa e pode ser representada como:
Prova A prova desse teorema é similar à do Teorema 5.1. As condições 1 e 2 do teorema 5.1
decorrem da homogeneidade de grau zero (nos preços) das funções de excesso de demanda e da
lei de Walras (Teorema 3.2). Vamos, pois, nos concentrar na condição 3, que garante que os
preços são estritamente positivos.
À exemplo da economia de trocas, deve-se mostrar que as funções de excesso de demanda
em uma economia com produção são ilimitadas para cima. Considere uma sequência de preços
estritamente positivos pm , convergindo para p̃ 6= 0, tal que pk = 0, para algum bem k. Precisa-
0
mos mostrar que para algum outro bem k , a sequência zk/ (pm ) é ilimitada. Considerando que
90
Equilı́brio geral com produção
Sabendo-se que, ∀p ≥ 0, mi (p) e π j (p) são bem definidos, podemos definir a renda
agregada da economia como:
!
X X X
mi (p̃) = p̃ei + θij π j (p̃)
i∈I j∈J
X XX
i
= p̃e + θij π j (p̃)
i∈I i∈I j∈J
X X
= p̃ei + π j (p̃)
i∈I j∈J
X
≥ p̃ei + p̃y
i∈I
Exemplo 7.2 Considere uma economia com dois bens, I consumidores e J firmas. Suponha,
ainda, que ei = (2, 0). As preferências dos consumidores são dadas pela função de utilidade
ui = xi1 xi2 . Os lucros das empresas são repartidos igualmente entre os I consumidores. A
tecnologia empregada pelas firmas é a seguinte:
1/2
y2j = −y1j
i. Calcule as escolhas ótimas dos consumidores e das firmas e vetor de preços de equilı́brio;
ii. Mostre que, nesse caso, o equilı́brio walrasiano independe da distribuição das dotações
iniciais.
iii. Qual será o impacto sobre a relação de preços de equilı́brio caso: i) o número de consumi-
dores aumente; ii) o mesmo ocorra com o número de firmas.
91
Equilı́brio geral com produção
Solução: O problema da j-ésima firma é maximizar seu lucro, dada a restrição tecnológica,
isto é
max
j j
p1 y1j + p2 y2j +
y1 ,y2 ,
(7.7)
s.a. y2j = [−y1 ]1/2
Substituindo-se a restrição tecnológica, na equação de lucros, as condições de primeira
ordem são:
∂Πj 1 j − 12
= p 1 − p 2 [−y 1 ] =0
∂y1j 2
Rearrumando os termos na expressão acima, tem-se que
2p1 −2 p2 2
y1j = −[ ] = −[ ] (7.8)
p2 2p1
Utilizando a expressão acima na função de produção da j-ésima firma, obtém-se o seu
nı́vel de produção:
p2 2 1/2 p2
y2j = −[[− ]] = (7.9)
2p1 2p1
Substituindo-se os nı́veis ótimos de y1j e y1j na equação de lucros, obtém-se o lucro máximo
da empresa j, isto é:
p2 2 p2
ΠJ = p1 [−[ ] ] + p2 [ ]
2p1 2p1
2p1 p22 − p1 p22
=
(2p1 )2
p2
= 2
4p1
Resta agora definir as rendas e demandas dos consumidores, considerando a nova res-
trição orçamentária, composta da dotação inicial do insumo 1 e da sua parcela nos lucros das
empresas:
mi = 2p1 + Πi , ∀i ∈ I (7.10)
2p1 + Πi
xi1 = (7.11)
2p1
2p1 + Πi
xi2 = (7.12)
2p2
Como firmas e consumidores são idênticos, a função de excesso de demanda agregado no
mercado do bem 2 pode ser escrita como:
2p1 + Πi p2
z2 (p) = I[ ] − J[ ] (7.13)
2p2 2p1
Lembrando, ainda, que o lucro do i-ésimo acionista é dado pela expressão abaixo:
1 p2
Πi = [J 2 ] (7.14)
I 4p1
Substituindo a equação acima na equação 7.13, podemos reescrever z2 (p) como:
2
J p2
2p1 + I 4p1 p2
z2 (p) = I[ ]−J (7.15)
2p2 2p1
92
Equilı́brio geral com produção
2p1 p2 p2
= I[ ] + J[ 2 ] − J[ ] (7.16)
2p2 8p2 p1 2p1
p1 p2 p22
= I − J[ − ] (7.17)
p2 2p1 8p1 p2
p1 4p2 − p22
= I[ ] − J[ 2 ] (7.18)
p2 8p1 p2
Anulando-se as funções de excesso de demanda, e dividindo ambos os lados da expressão
acima por p1 , obtém-se os preços walrasianos:
p2 2 8I
[ ] = (7.19)
p1 3J
p2 8I
= [ ]1/2 (7.20)
p1 3J
p2 √4 ,
Para I = 10, J = 5, p = p1
, p= 3
o equilı́brio walrasiano é:
4 4 1 2 4 2
EW = {(p1 , p2 ) = (1, √ ); (xi1 , xi2 ) = ( , √ ); Πi = ; (y1j , y2j ) = (− , √ }
3 3 3 3 3 3
ii. O equilı́brio walrasiano independe de mudanças na distribuição das dotações fatoriais: 0
EW requer que:
I
X p1 ei + Πi p2
[ ]=J (7.21)
i=1
2p 2 2p 1
93
Equilı́brio geral com produção
Os lucros serão positivos se 2p2 > 1, isto é, p2 > 12 . A Figura 7.3.1, que mostra o lucro
da firma em função de p2 , ilustra este caso.
Na Figura 7.3.1, para p2 < 1/2, os lucros são negativos; consequentemente, a firma fixa
y1 = y2 = 0. Quando p2 = 21 , o lucro da firma é zero; ela utilizará qualquer nı́vel de y1 . Por
fim, se p2 > 12 , os lucros serão positivos e y1 → ∞. Portanto, quando p = 21 , a firma atinge
seu ponto de break-even. Para qualquer outro preço diferente de p2 = 21 , o nı́vel de produção
da firma será zero ou uma quantidade ilimitada do bem 2. Segue-se, pois, que em presença de
retornos constantes de escala, existe somente um preço que produzirá uma quantidade positiva
e limitada do produto; neste caso, os lucros auferidos pelo produtor serão nulos.
94
Equilı́brio geral com produção
entre a oferta de trabalho e a demanda de lazer. Note-se, que, inicialmente, ele não possui
nenhum coco (y = 0). Supõe-se, ainda, que os lucros da firma que produz y são inteiramente
repassados para o consumidor, cuja renda total compõe-se da renda do trabalho (wh) acrescida
destes lucros.
O conjunto de produção da firma RC Ltda., que coincide com o conjunto de produção
da economia robinsonianaY, é descrito pela seguinte expressão:
com b > T e α ∈ (0, 1). O parâmetro b limita o conjunto de produção; α representa a tecnologia
utilizada no processo produtivo. Assim, por exemplo, o vetor de produção (−2, 2α ) ∈ Y produz
2α unidades de y usando 2 horas de trabalho (h = 2, y = 2α > 0). A Figura 7.4 ilustra este
caso:
py + wh = wT + π (7.28)
95
Equilı́brio geral com produção
Pré-lucros Pós-lucros
onde β ∈ (0, 1), h é o número de horas consumidas como lazer. Note-se que u(y, h) não satisfaz
H1, já que não esse tipo de função não é fortemente crescente nem tampouco estritamente
quase-côncava em <2+ . No entanto, as funções de excesso de demanda geradas por esse indicador
de utilidade satisfazem o teorema 7.5. Consequentemente existe um vetor de preços (w∗ , p∗ )
estritamente positivo que garante a existência de equilı́brio walrasiano.
max π = phα − wh
h
96
Equilı́brio geral com produção
α
α 1−α 1
αp 1−α
α
= pp 1−α −w
w w
α
α 1−α 1
αp 1−α
α
1+ 1−α
=p −w
w w
α 1 1 1
1
α 1−α α
1−α w 1−α
αp 1−α
=p 1−α
1 1 −w
w w 1−α α 1−α w
" 1
#
α
1
α 1−α w 1−α
= p 1−α 1 −w
w α 1−α
1
h α −1 −α 1
i
= p 1−α α 1−α α 1−α w 1−α w 1−α − w
1
= p 1−α α−1 w − w
1 1
= p 1−α w −1
α
py + wh = wT + π(w, p) (7.34)
97
Equilı́brio geral com produção
α φ
1−α
(1 − β) + 1 = T − T + βT
w α
α φ (1 − β) (1 − α) + α
= βT
w α
φ (1 − β) (1 − α) + α
α = wφ
αβT
φ1
φ φ (1 − β) (1 − α) + α
1
α =w
αβT
1−α
(1 − β) (1 − α) + α
α =w
αβT
e, finalmente, 1−α
1 − β − α + αβ + α
w=α
αβT
1−α
∗ 1 − β(1 − α)
w =α
αβT
O vetor (w∗ , p∗ ) = (w∗ , 1) equilibra todos os mercados.De fato, no equilı́brio
hc + hf = T
yc = yf
A Figura 7.3.2 ilustra, graficamente, o equilı́brio walrasiano em uma economia com produção.
98
Equilı́brio geral com produção
99
Equilı́brio geral com produção
Resta, agora, calcular a condição de eficiência no uso dos fatores capital e trabalho. As
condições de primeira ordem para a maximização dos lucros requer que:
1 f1,l w
T M STk,l = = (7.46)
f1,k r
2 f2,l w
T M STk,l = = (7.47)
f2,k r
1 2
Note-se que T M STk,l = T M STk,l . As taxas marginais de substituição técnica entre
os fatores capital e trabalho devem ser iguais entre as diferentes indústrias. De outra forma,
poder-se-ia elevar o bem-estar transferindo os fatores das firma em que são menos produtivos
para aquelas nas quais eles têm uma maior produtividade relativa.
Podemos, agora computar a taxa marginal de transformação entre os bens 2 e 1. Dividindo-
se p1 f1k = r por p2 f2k = r e p1 f1l = w por p2 f2l = w, tem-se que:
p1 f2k k
= = T M T2,1 (7.48)
p2 f1k
p1 f2l l
= = T M T2,1 (7.49)
p2 f1l
Combinando-se as condições de equilı́brio para cada consumidor e para cada insumo
obtém-se o equilı́brio geral da economia, no qual as taxas marginais de substituição no consumo
igualam-se às taxas marginais de transformação entre os bens 1 e 2:
1 2 p1 k l
T M S2,1 = T M S2,1 = = T M T2,1 = T M T2,1 (7.50)
p2
100
Equilı́brio geral com produção
Exemplo 7.4 Munoz-Garcia(2017) Considere uma economia com dois bens e dois consu-
midores, cujas preferências são idênticas e iguais à ui = xi1 xi2 . Para satisfazer a demanda dos
consumidores, duas firmas utilizam os fatores capital(k) e trabalho(l) para produzir os bens 1 e
2, por meio das seguintes funções de produção:
3/4 1/4
Firma 1 y1 = k1 l1 (7.51)
1/4 3/4
Firma 2 y2 = k1 l1 (7.52)
As dotações dos consumidores dos fatores capital e trabalho são, respectivamente, (k 1 , l1 ) =
(1, 1) e (k 2 , l2 ) = (2, 1). Encontre o equilı́brio walrasiano desta economia.
max
1 1
ui (xi1 , xi2 ) = xi1 xi2
x1 x2 ,
As condições de primeira ordem para este problema são dadas pelas seguintes expressões:
3 −1/4 1/4
r = p1 k1 l1 (7.57)
4
1 3/4 −3/4
w = p1 k1 l1 (7.58)
4
Combinando as equações acima, obtém a condição de tangência para a maximização dos
lucros, isto é
r 1 l1
= T M STl,k =3 (7.59)
w k1
1
onde T M STl,k corresponde à Taxa Marginal de Substituição Técnica entre os fatores k e l para
a firma 1.
101
Equilı́brio geral com produção
Resolvendo-se a expressão acima tem-se que k1 = 3k2 . Usando o fato de que as alocações
dos fatores são factı́veis (k1 + k2 = k 1 + k 2 = 3), tem-se que:
9
k1 = 3[3 − k2 ] =⇒ k1 = (7.67)
4
1 3
k2 = k1 =⇒ k2 = (7.68)
3 4
Procedendo de forma análoga para achar a alocação ótima do trabalho entre as firmas
1 e 2, vamos igualar a equação 7.55 com a equação 7.65:
1/4 3/4 −1/4 1/4
p1 k2 l2 p1 k1 k2 p1
= 3/4 1/4 = =3 = (7.69)
p2 k1 l1 p2 l1 l2 p2
Rearrumando os termos da expressão acima tem-se que l1 = 13 l2 . Usando a restrição de
factibilidade (l1 + l2 = l1 l2 = 2), a alocação ótima do trabalho é:
1 1
l1 = [2 − l2 ] =⇒ l1 = (7.70)
3 2
3
l2 = 3l1 =⇒ l2 = (7.71)
2
102
Equilı́brio geral com produção
−1/4 1/4
3 −1/4 1/4 3 9 1
r = p1 k1 l1 = 0, 82 = 0, 42 (7.73)
4 4 4 2
3/4 −3/4
1 3/4 −3/4 1 9 1
w = p1 k1 l1 = 0, 82 1 = 0, 63 (7.74)
4 4 4 2
Para finalizar este exemplo, vamos agora computar as alocações de equilı́brio walrasianas.
Usando as condições de tangência - equações 7.53 e 7.54 - as restrições orçamentárias dos
consumidores:
1 p1 1
x2 = x ; 0, 82x11 + 0, 82x11 = 1, 64x11 = rk1 + wl1 = 0, 42 + 0, 63 = 1, 05 (7.75)
p2 1
2 p1 2
x2 = x ; 0, 82x21 + 0, 82x21 = 1, 64x21 = rk2 + wl2 = 0, 42 + 0, 63 = 1, 57 (7.76)
p2 1
103
Equilı́brio geral com produção
Prova Suponha que a alocação (x, y) é AEW aos preços p∗ , mas não é Pareto eficiente.
Neste caso, existe uma alocação factı́vel (x̂, ŷ) tal que:
ui (x̂i ) ≥ ui (xi )
com pelo menos uma desigualdade estrita. Usando o Lema 3.2, temos que:
p∗ x̂i ≥ p∗ xi , ∀i ∈ I (7.77)
A alocação (x, y) é AEW sendo, pois, factı́vel, isto é, (x, y) ∈ F (e, y), ocorrendo o mesmo
com a alocação (x̂, ŷ). Então:
X X X
xi = yj + ei (7.79)
i∈I j∈J i∈I
X X X
x̂i = ŷ j + ei (7.80)
i∈I j∈J i∈I
p∗ ŷ > p∗ y
o que contradiz o fato de que y maximiza os lucros aos preços p∗ . Portanto, toda AEW é
também eficiente no sentido de Pareto.
Exemplo 7.5 Continuando o exemplo 7.4, mostre que a alocação de equilı́brio walrasiano
satisfaz o primeiro teorema fundamental da teoria do bem- estar.
Solução De acordo com este teorema, a AEW é eficiente no sentido de Pareto, isto é, ela
satisfaz as seguintes condições:
1 2 1 2
T M S2,1 = T M S2,1 ; T M STl,k = T M STl,k
É fácil verificar que a AEW referente ao exemplo 7.4 satisfaz as condições acima:
1 x12 0.53 1 l1 2
T M S2,1 = 1
= = 0.82, T M STl,k =3 1
=
x1 0, 64 k 3
104
Equilı́brio geral com produção
2 x22 0.74 2 1 l2 2
T M S2,1 = 2
= = 0.82, T M STl,k = 2
=
x1 0, 90 3k 3
Como T M S2,11 1
= T M S2,1 1
= 0.82 e T M STl,k 2
= T M STl,k = 23 , concluı́mos que a alocação
de equilı́brio walrasiana do exemplo 7.4 satisfaz o primeiro teorema fundamental da teoria do
bem-estar.
Vamos, agora, mostrar que mediante transferências apropriadas, toda alocação eficiente
no sentido de Pareto constitui um equilı́brio de mercado. Trata-se, pois, do segundo teorema
fundamental da teoria do bem-estar:
Teorema 7.7 Segundo Teorema Fundamental daP Teoria do Bem-Estar com Produção
Suponha que u satisfaz H1 e Y satisfaz H2; y + i∈I ei >> 0 para algum y. Consi-
i j
X X X
xi = x̂i + yj
i∈I i∈I j∈J
X X
= x̂i + (ỹ j − ŷ j )
i∈I j∈J
X X X
= x̂i + ỹ j − ŷ j
i∈I j∈J j∈J
Note-se que a alocação (x̂, ŷ) é factı́vel na economia original. Neste caso,
X X X
x̂i = ei + ŷ j .
i∈I i∈I j∈J
105
Equilı́brio geral com produção
Segue-se, então, que o lucro do i − esimo consumidor é zero. Somando-se sobre i, vemos
que o lucro total da economia também é zero.
XX
θij py j = 0 (7.83)
i∈I j∈J
Note-se que lucros nulos implicam que y j = 0 (para p 0). A demonstração da primeira
parte do Segundo Teorema Fundamental da Teoria do Bem-estar, está completa:
Resta mostrar que as transferências totais são nulas, caracterizando, assim, um problema
de redistribuição. Fixando-se Ti = px̂i − mi (p), a transferência para o i-ésimo consumidor, cuja
renda é m (p) = pe + j∈J θ pŷ j , é dada pela expressão 7.84:
i i ij
P
!
X
Ti = p̄x̂i − p̄ei + θij p̄ŷ i (7.84)
j∈J
T = p̄ [(x̂ − (e + ŷ)]
Por fim, usando-se o fato de que a alocação (x̂, ŷ)(x̂ = e + ŷ) é factı́vel:
T =0
106
Equilı́brio geral com produção
Exemplo 7.6 Ainda sobre o exemplo 7.4. Considere a seguinte alocação: (xˆ11 , xˆ12 , xˆ21 , xˆ12 ) =
(0.75, 0.61, 0.79, 0.65). Mantendo-se os preços walrasianos dos bens e dos fatores, mostre que
esta alocação pode ser uma alocação de equilı́brio walrasiano, desde que sejam implementadas
as transferências apropriadas entre consumidores.
Solução: Seja T 1 , a transferência para o consumidor 1. Neste caso, sua restrição orçamentária
é:
p1 xˆ1
= 2 = 0.82 =⇒ xˆ12 = 0.82xˆ11 (7.86)
p2 xˆ11
7.5.1 Exercı́cios
I. Verdadeiro ou falso: justifique sua resposta.
107
Equilı́brio geral com produção
1. Considere uma economia privada com um bem de consumo (c), uma firma e um con-
sumidor. Suponha, ainda, que a preferência do consumidor é dada pela função de
utilidade u(c, l) = ln c + 0, 5 ln l, onde l representa√o seu consumo de lazer. A tecnologia
empregada pela firma é a seguinte: c = f (h) = 4 h, sendo h o número de horas traba-
lhadas. Suponha que o consumidor dispõe de 16 horas para alocá-las entre o trabalho
e o lazer. Verifique se essa economia satisfaz H1 e H2 e encontre os preços walrasianos.
2. Considere uma economia competitiva composta de um número igual de capitalistas e
trabalhadores. Essa economia produz dois bens de consumo. A oferta de trabalho é
LT e l é lazer. A renda dos capitalistas é igual ao lucro e os trabalhadores recebem
unicamente a renda do trabalho. As preferências dos capitalistas são dadas pela função
uC = xC C
1 x2 . A função de utilidade dos trabalhadores é u
T
= xT1 − (T − lT )2 . A
A
oferta dos bens é igual a yi = 2 pi e função de lucro da firma é dado pela expressão
[p2 + p22 ]
Π=A 1 . O salário, w, é igual à unidade.
4
i. Mostre que as funções de excesso de demanda são iguais à:
Π 1 A
z1 (p1 , p2 ) = + 2 − p1
2p1 2p1 2
Π A
z2 (p1 , p2 ) = − p2
2p2 2
1/3
p1 √ 3
ii. Mostre que no equilı́brio = 3 e p1 = .
p2 2A
iii. Compare a renda monetária dos capitalistas com a dos trabalhadores.
3. Considere uma economia com um único consumidor que consome dois bens, C e H,
onde C representa o consumo e H é o lazer. As preferências dos consumidores são
dadas pela função de utilidade u = ln C + ln H. O consumidor dispõe de T horas para
alocar entre o lazer e o trabalho. A tecnologia empregada pela única firma é a seguinte:
C = AL1/2
108
Equilı́brio geral com produção
109
8
G. Stigler
A discussão das escolhas sociais, desenvolvida a seguir, envolve duas questões centrais: a pri-
meira diz respeito aos problemas derivados da agregação das preferências individuais em pre-
ferências coletivas. A segunda questão concentra-se na procura das escolhas sociais ótimas. Em
outras palavras, trata-se de responder a seguinte questão: dentre as muitas alocações factı́veis,
como ordená-las de sorte a viabilizar a escolha de um ótimo social? Que critérios deveriam ser
utilizados nesta ordenação?
O critério de eficiência de Pareto tem a vantagem de ser praticamente indiscutı́vel.
Afinal, toda alocação ineficiente envolve desperdı́cio de recursos escassos e deveria, pois, ser
unanimemente rejeitada pela sociedade. Este argumento, no entanto, não prevalece, quando
agregamos as preferências dos indivı́duos. Além de neutra do ponto vista distributivo - na
Figura 8, os pontos α2 , α3 e α∗ são eficientes, porém implicam repartições distintas das utilidades
- a norma de eficiência paretiana não garante uma ordenação inequı́vocas das escolhas sociais.
O Princı́pio de Pareto, também referido como Pareto-Dominância, afirma que uma dada
alocação αi é preferı́vel a uma αj , se a alocação αi domina, no sentido de Pareto, a alocação
αj . Embora a superioridade de Pareto constitua um critério intuitivo para ordenar as escolhas
sociais, ele não permite uma ordenação completa das alocações porque algumas delas não são
comparáveis. Esse é o caso das alocações Pareto eficientes, citadas no parágrafo anterior. Por
110
Bem-estar e escolha social
definição, não existe alocação factı́vel que domine as alocações α2 , α3 e α∗ , situadas sobre a
curva de possibilidades de utilidade, na Figura 8. Portanto, nenhuma delas é Pareto-superior
às demais.
Torna-se, pois, necessário definir um sistema de preferências sociais contendo, além de in-
formações sobre as utilidades individuais, dados adicionais que permitam a ordenação completa
das escolhas sociais factı́veis. Sob hipóteses relativamente fracas, isto pode se fazer por meio
do uso de funções de bem-estar social, baseadas em preferências cardinais comparáveis. Dentre
estas funções, a função de bem-estar social de Bergson-Samuelson1 é amplamente utilizada para
definir as escolhas sociais.
Mimetizando o enfoque cardinal das preferências, este indicador de bem-estar é função
das utilidades individuais. Na Figura 8, as curvas de iso-bem-estar associadas às funções
Bergson-Samuelson, W W 1 e W W ∗ , permitem analisar e selecionar de forma inequı́voca a es-
colha social ótima, α∗ . Note-se, ainda, que a inclusão de uma função de bem-estar social nos
leva a um resultado surpreendente. Não se pode mais garantir que uma alocação eficiente no
sentido de Pareto seja superior a uma determinada alocação ineficiente. Comparando-se, por
exemplo, as alocações α1 e α2 , a alocação Pareto eficiente (α2 ) é preterida pela (α1 ), situada
sobre uma curva de iso-bem-estar mais elevada.
A teoria moderna da escolha social, fortemente ancorada no trabalho seminal de Arrow
2
(1951) , surgiu como uma complementação e crı́tica à abordagem de Bergson-Samuelson. Em
particular, as restrições impostas à função de bem-estar social, no âmbito da teoria das escolhas
coletivas, levou ao célebre Teorema da Impossibilidade de Arrow, uma generalização do Paradoxo
de Condorcet. De acordo com este paradoxo, as escolhas coletivas nem sempre podem ser
ordenadas de forma inequı́voca. Arrow generaliza esse paradoxo e demonstra que não existe
sistema de preferência que atenda a todas as restrições, exceto no caso em que as preferências
sociais coincidam com aquelas de um único indivı́duo, o ”ditador”, que as impõe ao resto da
sociedade.
8.1.1 Definições
Considere uma sociedade constituı́da de I indivı́duos de sorte que I = (1, . . . , i, . . . I). Seja X =
(a . . . , b, . . . , x, y, z), o conjunto de estados sociais. R é o conjunto das preferências racionais em
1
Bergson, A., 1938; Samuelson, p.1938
2
Arrow, K.J. 1951, Social Choice and Individual Values, Second Edition, 1963, New York: Wiley.
3
Borda, J.Ch, 1784. Mémoire sur les élections au scrutin, in Histoire de l Académie des Sciences, 1781, Pa-
ris: Imprimerie Royale, pp. 657-65.
4
Condorcet, J.A.N.de Caritat, Marquis de 1785, Essai sur l Application de l Analyse à la Probabi-
lité des Décisions Rendues à la Pluralité des Voix, Paris: Imprimerie Royale.
111
Bem-estar e escolha social
Definição Preferências Sociais Supõe-se que as relações de preferências sociais entre dois
estados sociais x e y, denotadas por %S , são relações binárias completas sobre X, isto é:
ui (xi ) > ui (y i ), ∀i ∈ I
Definição Estado Social Ótimo Um estado social x é ótimo no sentido de Pareto, se não
existe nenhum outro estado social dominante y 6= x ∈ X, tal que y ∈ F (e). De outra forma, o
estado social x é sub-ótimo.
A crı́tica principal que faz ao critério de Kaldor-Hicks é o fato dele ser baseado em trans-
ferências lump-sum, de dificil aplicação nas economias modernas, caracterizadas pela aversão à
desigualdade.
112
Bem-estar e escolha social
C.2 Voto sincero: eleitores revelam verdadeiramente suas opções sociais preferidas ao invés
de votar estrategicamente;
C.3 Agenda aberta: os indivı́duos escolhem entre diferentes pares de opções sociais, por meio
de votações pairwise.
A Tabela 8.1 contém perfis de preferências, cuja agregação ilustra este paradoxo:
1 x y z
2 y z x
3 z x y
Nos perfis de preferências desta tabela, a escolha social obtida por maioria simples não
gera uma ordenação inequı́voca das escolhas sociais. A votação pairwise pode levar a diferentes
resultados, dependendo da ordem em que as alternativas são lançadas, isto é:
ii. (z, y): y S z, a opção y ganha (indivı́duos 1 e 2) e confronta-se, agora com a opção x:
(y, x): x S y e x é o vencedor (indivı́duos 1 e 3) =⇒ x é a escolha social;
iii. (x, z): z S x, a opção z ganha (indivı́duos 2 e 3) e confronta-se, agora com a opção y:
(z, y): y S z e y é o vencedor (indivı́duos 1 e 2) =⇒ y é a escolha social;
113
Bem-estar e escolha social
x S a1 S a2 , . . . , S aj S ak , . . . , S x
Não existe Vencedor de Condorcet porque todas as alternativas sociais são vencidas por uma
outra opção.
Teorema 8.2 Todas as vezes em que não existe um vencedor de Condorcet, tem-se um Ciclo
de Condorcet.
Prova Considere três opções sociais, x, y, z. Suponha que dentre estas alternativas nenhuma
delas é um Vencedor de Condorcet. Então, x S y e z S x, caso contrário x seria um Vencedor
de Condorcet. Confrontando as opções z e y, sabe-se que y S z porque se z S y, z seria
um Vencedor de Condorcet. Temos, então, que x S y, z S x e y S z. Isto implica que
x S y S z S x, configurando, assim, um Ciclo de Condorcet.
Portanto, em presença de Ciclos de Condorcet não existe uma opção social que seja
sempre preferida, de forma inequı́voca, às demais alternativas.5 O Paradoxo de Condorcet
revela, pois, que as decisões coletivas, decorrentes da agregação das preferências individuais,
podem não ser racionais. Longe de ser uma particularidade da análise de Condorcet, este
paradoxo mostrou-se de grande relevância na teoria da escolha social. Desde então, vários
autores buscaram mecanismos que identifiquem, claramente, a melhor escolha social, de acordo
com critérios pré-estabelecidos. Esta busca levou a um dos resultados mais importantes da
teoria da escolha social: oTeorema da Impossibilidade de Arrow, que será apresentado na seção
seguinte.
114
Bem-estar e escolha social
Ciclos de Condorcet. O cerne da análise de Arrow pode ser sintetizado na seguinte questão:
que processos de escolhas coletivas atendem as condições exigidas para que a agregação das
preferências individuais produza uma escolha social única. Em particular, Arrow mostrou que
se as preferências sociais constituı́rem um pré-ordem completo (relação de preferência estrita),
então, a função de agregação das preferências individuais corresponde à função de bem-estar
social de Arrow.
Definição Função de Bem-estar Social A função de bem-estar f é uma regra que atribui
uma relação de preferência social i ∈ R a qualquer perfil de preferências individuais ∈ A, isto
é, (i) se x %S y, então x é socialmente pelo menos igual a y e (ii) se y S x não se aplica, x é
socialmente preferido a y.
Supondo-se que os conjuntos I e X sejam finitos, para uma dada ordenação completa
das preferências individuais, a função de bem-estar social fornece uma ordenação completa das
preferências sociais.
As funções de bem-estar social que satisfazem as condições (1) a (4) implicam Bem-Estar
Estrito (Strict Welfarism).
115
Bem-estar e escolha social
Teorema 8.3 Teorema da Impossibilidade de Arrow Seja I > 2 e considere pelo menos
três estados sociais. Então, não existe função de bem-estar social que simultaneamente satisfaça
as condições: U = Domı́nio Irrestrito, T = Transitividade, PFP = Princı́pio Fraco de Pareto,
IAI = Independência de Alternativa Irrelevante e D = Ausência de Ditador. Dito de outra
forma, se existem pelo menos três indivı́duos e três opções sociais, então, toda função de bem-
estar social que satisfaz as condições 1 a 4, é ditatorial.
Existem muitas provas do Teorema da Impossibilidade. Uma das provas mais simples e
mais utilizada é de Geanakoplos (1996)6 . Como as demais provas, ela baseia-se no indivı́duo
pivô, isto é aquele que ao mudar unilateralmente sua ordenação dos estados sociais, faz com que
um estado social situado em último (primeiro) lugar nas preferências coletivas seja conduzido
ao topo da ordenação social(última posição).
A prova do Teorema da Impossibilidade de Arrow se fará em quatro etapas. Na Etapa
1, o Lema dos Extremos será demonstrado. A Etapa 2 identifica o individuo Pivô ou Decisivo.
Por fim, a Etapa 3, mostrará que as preferências coletivas serão as do agente decisivo, que será
denotado como ditador, já que impõe sua ordenação individual como preferências coletivas,
independentemente da ordenação dos demais agentes. Por fim, a Etapa 4 refaz as etapas
anteriores, para outra opção aleatória, situada nos extremos da distribuição.
1 2 3 4 5 ... I−1 I S
b b b b b ... b b b
.. .. .. .. .. .. .. .. ..
. . . . . . . . .
a a a a a ... a a a
.. .. .. .. .. .. .. .. ..
. . . . . . . . .
c c c c c ... c c c
116
Bem-estar e escolha social
indivı́duos 1 e 2 sem alterar a posição relativa das opções a e b. Portanto, b é ainda a escolha
social. A posição relativa entre as opções a e b não se modificou, com b S a, por unanimidade,
já que c passou da última para a primeira posição.
1 2 3 4 5 ... I−1 I S
c c b b b ... b b b
.. .. .. .. .. .. .. .. ..
. . . . . . . . .
b b a a a ... a a a
.. .. .. .. .. .. .. .. ..
. . . . . . . . .
a a c c c ... c c c
Suponha, por contradição, que nesse perfil, a ordenação social, S , coloca a opção c
na posição intermediária, isto é, existe pelo menos uma alternativa a e uma opção b com
a, b 6= c ∈ X, tal que a S c e c S b. Por transitividade a S b. Porém, por IAI, como a
opção c encontra-se em posições extremas, sua mudança da última posição para a primeira não
deveria alterar a posição relativa das opções a e b, nos Perfis 1 e 2. De fato, em ambos os perfis,
b S a por Unanimidade gerando, assim, a contradição desejada. Segue-se, pois, que a opção
c deve situar-se nas posições extremas.
Vamos, agora, iniciar a prova do teorema de Arrow propriamente dita. Para tal, vamos
usar o Lema dos Extremos e definir o agente decisivo ou pivô.
Definição O indivı́duo pivô, dito ainda decisivo, é aquele que, ao mudar seu perfil de pre-
ferência, passando uma dada opção social da última (primeira) para a primeira (última) posição,
promove esta opção social para o topo (última posição) das preferências sociais.
A imposição das condições U, PFP e IAI gera um agente pivô. Considere o Perfil de
Preferências 2, mostrado na Tabela 8.3. Suponha agora que o indivı́duo 3 move a opção c da
última para a primeira posição, sem alterar a posição relativa entre os demais estados sociais
(Lema 8.1), e assim sucessivamente para os indivı́duos 4, . . . A opção b ainda se mantém como
a escolha social. Em um certo momento, quando um dos agentes mudar sua ordenação da
opção c, respeitando o Lema dos Extremos, esta alternativa passará a ser a escolha social. Este
agente, denotado como i(p), é o primeiro individuo que, ao mover a opção c para o topo de
sua ordenação, faz com esta opção passe a ser a escolha social. As Tabelas 8.4 e 8.5 ilustram a
situação antes e depois de o pivô mudar a opção c para o topo de suas preferências:
117
Bem-estar e escolha social
Comparando-se os dois perfis de preferências (Perfis 3 e 4), vê-se que a nova ordenação
social deve colocar a opção c no topo da ordenação da sociedade (Lema 8.1), isto é:
De fato, é isso que ocorre. Na Tabela 8.5, c é a nova escolha social por maioria, isto é,
c i b, (i = 1, 2, 3) =⇒ c S a, por maioria. Portanto a nova ordenação social é c S b S a.
Note-se que esta ordenação social coincide com a do indivı́duo pivô. A ordenação das demais
opções não se altera, desde que respeitado o Lema 8.1.
118
Bem-estar e escolha social
Por IAI, a ordenação social das alternativas a e c deve ser a mesma que prevalecia, antes
que o pivô movesse a opção c para o topo de suas preferências (Perfil de Preferências 3, Tabela
8.4). Neste perfil, a ordenação das alternativas a e c é a mesma que prevalece no Perfil de
Preferências 3, para todos os agentes i 6= i(p), antes que o pivô mudasse a opção c do último
lugar para o topo de suas preferências. Segue-se, pois, que a S c.
De forma análoga, a ordenação social entre as opções c e b para cada agente é a mesma
que prevalece no Perfil 4, logo depois que o pivô passa a opção c para o topo de suas preferências.
Por IAI, o ordenamento social de c e b deve ser o mesmo deste perfil, isto é, c S b, já que a
opção c encontra-se no topo das preferências. Por transitividade, a S c.
Finalmente, por IAI, conclui-se que o ordenamento social é a S c S b, idêntico ao do
indivı́duo decisivo, i(p). De fato, isto ocorre sempre que We can then place c anywhere in the
ranking while keeping a b, by the independence of irrelevant alternatives.
Note-se que a ordenação social S põe a opção a acima da alternativa b, embora no
Perfil 4 todos os indivı́duos, com exceção do Pivô, i(p), prefiram a alternativa b à opção a.
Portanto, o indivı́duo Pivô é um ditador.
Esta etapa refaz as etapas anteriores, substituindo a opção c por outra opção social, aleatori-
amente selecionada, situada nos extremos das ordenações individuais. Concluı́mos, pois, que
se um sistema de preferências sociais satisfizer U, PFP e IIA, então existe um Ditador, no
sentido que: ∀i ∈ I, ∀a, b ∈ X, a i(p) b =⇒ a S b, independente das preferências dos demais
indivı́duos.
119
Bem-estar e escolha social
A intuição para esta definição é a seguinte: existe uma alternativa social x que representa
o máximo de satisfação para o agente i; esta satisfação aumenta quando nos aproximamos
deste ponto ideal. Basicamente, esta hipótese requer a quase-concavidade estrita da função de
utilidade.
Definição Relação de Ordem Linear Uma relação binária > em X é de ordem linear se, e
somente se, > é reflexiva (x > x), transitiva (x > y > z =⇒ x > z) e total (para x, y distintos
∈ X, x > y ou y > x, porém não ambos).
Definição Preferências Single-Peaked Uma relação de preferências racionais é single peaked
com respeito à ordem linear sobre o conjunto de estados sociais X , se existir uma alternativa
x(αi ) ∈ X, crescente com respeito à ordem linear ≥, no conjunto de opções situadas abaixo de
x, {y ∈ X |x ≥ y}, e decrescente com respeito à ordem linear > sobre o conjunto de alternativas
situadas acima de x, {y ∈ X |y ≥ x}, isto é:
∀y, z ∈ X | z < y ≤ x(αi ) ou
∀y, z ∈ X | z > y ≥ x(αi )
=⇒ u(z, αi ) < u(y, αi )
7
Black, D 1948. On the rationale of group decision making, The Journal of Political Economy 56, 23-34
120
Bem-estar e escolha social
A intuição para a existência de preferências single-peaked pode ser vista com a ajuda de
um exemplo simples. Suponha as opções sociais são ordenadas em uma linha de sorte que A ¡
B ¡ C. Suponha que os agentes do tipo 1 ordenam estas opções de sorte que B 1 A 1 C. para
os agentes do tipo 2, a ordenação é B 1 C 1 A. Então se as preferências forem single-peaked,
a opção B encontra-se claramente no meio.
Exemplo 8.1 No exemplo considerado no parágrafo acima, se todas as preferências respeita-
rem a condição de single-peakedness, é possı́vel que a escolha social seja A 1 B 1 C?
Não, porque neste caso, a opção não estaria no meio.
Definição Preferências single crossing- preferências Um perfil de preferências sobre escolhas
unidimensionais satisfaz a condição de single crossing se, e somente se, existe uma ordem linear
0
> no conjunto das opções sociais e uma ordem linear > no conjunto dos agentes, tal que
0
∀i, j ∈ I, tal que j > i (o agente i situa-se à esquerda do agente j) e ∀x, y ∈ X, tal que y > x,
y %i x =⇒ y %j e
y i x =⇒ y j
Exemplo 8.2 Suponha que o governo decide fixar a parcela orçamentária que será destinada
à saúde pública, xs . O conjunto de opções X = (0, . . . , xs , . . . , 1) ∈ [0, 1], isto é, ele fixa xs
entre zero e a unidade. A utilidade de cada indivı́duo é dada pela expressão:
ui (xs , αi ) = −(xs − αi )2 (8.2)
onde αi corresponde à parcela ideal para o i-ésimo indivı́duo. Mostre que estas preferências são
single-peaked e os agentes fixam xs = αi , ∀i ∈ I . Ilustre graficamente sua resposta.
Solução Neste tipo de função, se a parcela fixada pelo governo for igual à αi , o nı́vel de
utilidade é zero. Se xs for inferior ou superior à αi , a utilidade de i é negativa. Esta função é,
pois, single peaked em xs = αi . A Figura 8.2 ilustra este exemplo para uma comunidade com
três indivı́duos. Assumindo-se α1 = 0.45, α2 = 0.55, α3 = 0.35, vê-se que as preferências de
todos os agentes são maximizadas em seu ponto ideal, único, e igual à αi .
Exemplo 8.3 Single-peaked sem single-crossing Considere uma sociedade com três cidadãos
I = {1, 2, 3} e quatro escolhas sociais X = {x, y, z, w}, cujos perfis de preferências são descritos
na Tabela 8.4
1 2 3
z y x
y x w
x w z
w z z
121
Bem-estar e escolha social
Mostre que estas preferências satisfazem a condição de single peaked, porém violam a
condição de single crossing. Ilustre graficamente sua resposta.
Solução: Observando-se o Gráfico ??, verifica-se facilmente que estas preferências são single-
peaked com respeito à ordem linear z < y < x < w.
Exemplo 8.4 Single-crossing porém não single-peaked Considere uma sociedade com três ci-
dadãos I = {1, 2, 3} e quatro escolhas sociais X = {x, y, z, w}, cujos perfis de preferências são
descritos na Tabela 8.4
1 2 3
x xy z
y z xy
z
Mostre que estas preferências satisfazem a condição de single peaked, porém violam a
condição de single crossing. Ilustre graficamente sua resposta.
122
Bem-estar e escolha social
Definição Eleitor Mediano Suponha que o número de indivı́duos é impar e que as pre-
ferências são single-peaked. Ordenando-se cada indivı́duo de acordo com seu ponto ideal, x(αi ),
o eleitor mediano é aquele que tem exatamente I−1 2
pontos ideais a sua esquerda e I−1
2
pontos
ideais a sua direita.
Teorema 8.4 Teorema do Eleitor Mediano - preferências single peaked Suponha que o número
de indivı́duos é ı́mpar e o espaço das escolhas sociais é unidimensional. Se as preferências in-
dividuais forem single-peaked, então, a Regra de Voto Majoritário produz uma ordenação social
não ditatorial, satisfazendo IAI, na qual o estado social preferido pelo eleitor mediano é um
Vencedor de Condorcet.
Prova A prova do teorema do eleitor mediano é feita por meio do uso do argumento de se-
paração e envolve os seguintes passos.
P1. Considere um número ı́mpar de agentes, I. Ordene-os de acordo com o seu ponto ideal
(bliss point), x(αi ).
P2. Denomine x(αm ), o ponto ideal do eleitor mediano. Como I é impar, x(αm ) é unicamente
definido;
P3. Suponha que existe uma votação entre x(αm ) e uma outra opção social y(αi ) < x(αm ).
Por definição das preferências single-peaked, para cada agente com y(αi ) > x(αm ) =⇒
u(x(αm )) > u(y(αi ));
P4. Por C.2 (voto sincero), estes agentes votarão pela opção x(αm ). Junto com o eleitor
mediano, estes agentes formarão uma maioria em favor da opção x(αm ). A escolha social
social será, pois, a escolha do eleitor mediano.
P5. Considere agora uma votação entre x(αi ) e uma outra opção social y(αi ) > x(αm ). A
mesma argumentação se aplica, prevalecendo a escolha do eleitor mediano como escolha
social.
Exemplo 8.5 Considere uma economia pública, na qual o governo tributa a renda dos cidadãos
à alı́quota tributária t. Sendo f (y),Ra distribuição Rda renda dos contribuintes, a arrecadação
do governo por contribuinte é R = tyf (y)dy = t yf (y)dy = ty. Os custos decorrentes da
tributação são iguais à t2 δ. O governo utiliza os impostos unicamente para financiar o bem-
público de sorte que r = ty − t2 δ = g. Os contribuintes gastam a totalidade de sua renda com
os bens privado e público.
123
Bem-estar e escolha social
1. Mostre que a alı́quota ótima do eleitor depende da diferença entre a renda média e a renda
mediana.
Solução O problema do eleitor mediano é encontrar a alı́quota ótima t que maximiza o seu
consumo total, isto é,
max ymed (1 − t) + ty − t2 δ (8.3)
t
As condições de primeira ordem para este problema implicam que y − ymed = 2δt.
Rearrumando-se os termos, podemos computar a alı́quota ótima:
y − ymed
t= (8.4)
2δ
Observe-se que t aumenta com a renda média e decresce com a renda do eleitor mediano.
Isto significa que em presença de fortes desigualdades de renda, a renda média é superior à
mediana, contribuindo, assim, para elevar t e os gastos públicos (ou o tamanho do governo).
A intuição para este resultado decorre do fato de o eleitor mediano contribuir com uma fração
menor de sua renda para o financiamento do bem público. Supondo-se que o bem público é
um bem normal, uma redução do seu preço implica maior consumo.
Teorema 8.5 Teorema do Eleitor Mediano - preferências single crossing Suponha que o
número de indivı́duos é ı́mpar e o espaço das escolhas sociais é unidimensional. Se as pre-
ferências individuais forem single-crossing, então, a Regra de Voto Majoritário produz uma
ordenação social não ditatorial, satisfazendo IAI, na qual o estado social preferido pelo eleitor
mediano é um Vencedor de Condorcet.
124
Bem-estar e escolha social
Para incluir a noção direitos individuais na teoria da escolha social arrowiana, Sen(1970)8 ex-
pande as fonteiras do welfarismo por meio da imposição de restrições adicionais sobre as funções
de bem-estar social. Estas condições são liberalismo, ou liberdade individual e o Liberalismo
Mı́nimo que é versão mais fraca do liberalismo, de acordo com a qual, existem pelo menos dois
indivı́duos que atendem ao princı́pio anterior. Estes princı́pios, fundamentais para o desenvol-
vimento da teoria das escolhas coletivas fora do escopo welfarista, são definidos a seguir.
Definição Liberalismo Para ∀i ∈ I, existem pelo menos dois estados sociais, x e y ∈ X, tal
que x S y sempre que x i y.
Definição Liberalismo Mı́nimo Existe pelo menos dois indivı́duos i e j, dois estados sociais
x e y para o individuo i e dois estados sociais, m e z para o individuo j, tal que:
Exemplo 8.6 Considere o perfil de preferências descrito na Tabela 8.7, para cinco consumi-
dores distintos, sobre as opções a, b, c, d.
Solução: c a para os eleitores 1,2,5; c b para 2,3,4; c d para 1,3,4. Portanto, no voto
majoritário, a opção c é o vencedor de Condorcet.
A votação entre a e b, ganha b (somente os indivı́duos 2 e 4 preferem mais de a do que b.
Note-se que b é a opção preferida do eleitor 1. Os eleitores 3 e 5 (que preferem b a a) aliam-se
ao eleitor 1, o que implica que b ganha. De fato, ordenando as escolhas sociais por ordem
alfabética, de sorte que a < b < c < d, tem-se que o eleitor mediano é o eleitor 1; contudo ele é
derrotado pelo voto majoritário que elege a alternativa c. Segue-se, pois, que a opção preferida
pela mediana dos eleitores não coincide com o vencedor de Condorcet.
Com respeito à condição de Eficiência Fraca de Pareto, é fácil verificar que as preferências
sociais descritas na Tabela 8.7 não satisfazem esta condição: os eleitores 2, 3 e 4 preferem a
opção c, mas os eleitores 1 e 5 preferem a alternativa b.
Exemplo 8.7 Exercı́cio 6.12 - Jehle & Reny. A regra de Borda é muito usada para fazer
escolhas coletivas. Cada agente atribui um contador de Borda B i (x) para cada alternativa
disponı́vel, onde x ∈ X, i ∈ I. B i (x) é o número de alternativas em X para as quais a opção x
é preferida pelo agente i. As opções sociais são, então, ordenadas de sorte que, ∀x, y ∈ X,
8
Sen, A.K. 1970. The impossibility of a Paretian liberal, Journal of Political Economy, 78, 152-158
125
Bem-estar e escolha social
X X
x S y ⇐⇒ B(x) = B i (xi ) ≥ B(y) = B i (y i ), ∀i ∈ I, x, y ∈ X (8.5)
i i
Encontre o vencedor quando se usa a Regra de Borda e mostre que esta regra satisfaz U,
PFP e D, porém viola IAI.
Solução: Na regra de Borda, cada agente atribui escores para cada opção social disponı́vel. A
escolha do Vencedor de Borda se faz da seguinte forma: com n opções, cada eleitor atribui n
pontos para sua primeira escolha, n − 1 pontos para a sua segunda escolha e, assim sucessi-
vamente, para as demais escolhas. Para ilustrar esta regra, considere os perfis de preferências
da Tabela 8.8. No lado direito desta tabela (Perfil I), os contadores de Borda para as opções
sociais x, y, z e a são dados pelas expressões abaixo
X
B(x) = B i (xi ) = 4 + 3 + 4 + 4 = 15
i
X
B(y) = B i (y i ) = 3 + 2 + 2 + 3 = 10
i
X
B(z) = B i (z i ) = 2 + 4 + 1 + 1 = 8
i
X
B(a) = B i (ai ) = 1 + 1 + 3 + 2 = 7
i
Ordenando-se os contadores de Borda tem-se que B(x) > B(y) > B(z) > B(a). Segue-
se, pois, que a escolha social é x S y S z S a. O Vencedor de Borda é a opção x.
Resta agora verificar se a Regra de Borda satisfaz U, PFP e D. Esta regra satisfaz U
(Domı́nio Irrestrito). De fato, as preferências dadas pelo perfil de preferências do lado direito
da Tabela 8.8 satisfazem a condição de domı́nio universal. Para o eleitor 1, z 1 a enquanto
que para o eleitor 4, a 4 z.
Com respeito ao Princı́pio Fraco de Pareto, verifica-se facilmente que estas preferências
satisfazem PFP, isto é, x 1 y, x 2 y, x 3 y, x 4 y. Por unanimidade, a escolha social
também ordena a alternativa x na frente da opção y, isto é, x S y.
Além disso, este perfil de preferências satisfaz a condição D. O eleitor decisivo é o agente
1. De fato, a escolha social, pela Regra de Borda, coincide com as preferências deste eleitor,
x 1 y 1 z 3 a. Ademais, vamos mover a opção a que passa da última posição para a
primeira, sem alterar a posição relativa das demais alternativas. Quando o eleitor 2 passa esta
opção para o topo, o vencedor de Borda continua sendo a opção x : B(x) = 14 > B(a) = 10 >
B(y) = 9 > B(z) = 7 >. Porém, quando o eleitor 1 passa a opção a para o topo, esta opção
126
Bem-estar e escolha social
passa a ser a escolha social já que temos B(a) = 13 ≥ B(x) = 13 > B(y) = 8 > B(z) = 7. A
escolha social é a %S x S y S z, novamente coincidindo com as preferências do eleitor 1.
Porém, a regra de Borda viola IAI. Para mostrar que esta condição não se aplica, consi-
dere os perfis de preferências para 16 eleitores, sobre quatro estados sociais x, y, z e a, descritos
na Tabela 8.9:
Eleitores Eleitores
5(1) 4(2) 4(3) 3(4) 5(1) 4(2) 4(3) 3(4)
x
y z y x
x z y
z
x y z z a y z
y a a x y
y a x
a z x a a z x a
Perfil IV Perfil V
Portanto, B(y) > B(z) = B(x) > B(a). Segue-se, pois, que a escolha social pela regra
de Borda é y S z S x S a. O vencedor de Borda, neste exemplo, é a opção y. Vamos, agora,
modificar a posição relativa das opções x e y, para os eleitores do tipo 2. O novo perfil encontra-
se no lado direito da Tabela 8.9. Vamos denominá-lo Perfil V. Neste perfil, os contadores de
Borda são:
X
B(x) = B i (xi ) = 5(4) + 4(4) + 4(1) + 3(2) = 46
i
X
B(y) = B i (y i ) = 5(2) + 4(2) + 4(3) + 3(4) = 42
i
X
B(z) = B i (z i ) = 5(3) + 4(2) + 4(4) + 3(3) = 44
i
X
B(a) = B i (ai ) = 5(1) + 4(3) + 4(2) + 3(1) = 28
i
127
Bem-estar e escolha social
fu (x) > fu (y) ⇐⇒ W (u1 (x), . . . , uI (x)) > W (u1 (y), . . . , uI (y))
Vamos, agora, examinar algumas condições que as funções de bem-estar social, baseadas
nas preferências cardinais, devem satisfazer para permitir comparações interpessoais de utili-
dade. Em primeiro lugar, estas funções devem atender aos requisitos de invariância, descritos
abaixo:
Definição Invariância da Função de Bem-estar Social - INU: uma FBES é invariante com
o nı́vel de utilidade (INU) se ela é invariante a transformações estritamente crescentes das
funções de utilidade, ψ(u), desde que essas transformações sejam idênticas, para os diferentes
indivı́duos.
Definição Invariância nas Diferenças de Utilidade - IDU: uma FBES apresenta invariância
em relação a diferenças de utilidade (IDU) se ela é invariante a transformações estritamente
crescentes da forma ψ i (ui ) = ai + bui , com b igual para todos os indivı́duos. Nesse caso, a
função f depende somente da ordenação das diferenças de utilidade entre indivı́duos
Além disso, vamos explicitar as restrições éticas que devem ser satisfeitas pelas pre-
ferências sociais, descritas na equação 8.6. Dentre elas, destacam-se a condição de Anonimato
e a Equidade de Hammond. Seja u, ũ, vetores distintos de dimensão I.
128
Bem-estar e escolha social
Observe-se que nesta figura a opção social x envolve uma maior desigualdade entre os
agentes 1 e 2, quando comparada com o estado social y, situado mais perto da linha de 45o
graus, que indica a igualdade de utilidades entre os agentes 1 e 2. Segue-se que pela Equidade
de Hammond, W (y) > W (x).
u2 = W − u1 (x) (8.8)
Ademais, ela satisfaz Anonimato e Invariância. O teorema 8.6 sumaria estas condições.
Teorema 8.6 A função de bem-estar utilitarista, W = Ii=1 ui (x), satisfaz A e IDU:
P
129
Bem-estar e escolha social
[a1 + bu1 (x)] + [a2 + bu2 (x)] ≥ [a1 + bu1 (y)] + [a2 + bu2 (y)]
Prova O teorema 8.7 é o reverso do teorema anterior. A prova deste teorema será feita para o
modelo com dois agentes. Considere a Figura 8.6. Seja u = (u1 , u2 ), um ponto qualquer sobre
a linha de 45o . Defina γ ≡ u1 + u2 e considere o conjunto de pontos Ω ≡ {(u1 , u2 )|u1 + u2 = γ},
sobre a reta AB, cuja inclinação é −1. Defina os pontos ũ e ũT , onde ũT é a permutação de ũ.
130
Bem-estar e escolha social
Prova: Supondo-se, por contradição, que W (u) > W (ũ). Como f satisfaz IDU, o ordena-
mento de u e ũ deve ser invariante à transformações do tipo:
Lembrando que u situa-se sobre a reta de 45o , isto é, u1 = u2 , e que ũ e ũT situam-se
em Ω, o termo 2u1 pode ser reescrito como:
131
Bem-estar e escolha social
Teorema 8.8 Uma função de bem-estar social, contı́nua e estritamente crescente satisfaz Equi-
dade de Hammond - EH, se, e somente se, esta função é do tipo Ralwsiana, com W =
min u1 (x), . . . , uI (x) , isto é W (u) > W (ũ) se, e somente se, W (u1 , . . . , uI ) > W (u˜1 , . . . , u˜I )
Prova Considere a Figura 8.7. A exemplo do caso utilitarista, vamos selecionar um ponto
arbitrário na linha de 45o , digamos, o ponto a. Deve-se mostrar que todos os pontos sobre a
linha horizontal aA e todos os pontos sobre o segmento vertical aB têm os mesmos nı́veis de
bem-estar que o ponto a. No raio OR, W (u1 ) ∼ W (u2 ), porque u1 = u2 ; ocorre o mesmo no
segmento aA.
Seja u = (u1 , u2 ), um ponto situado sobre o segmento aA. Nas regiões I e II, da Figura
8.7, W (I) ≥ W (u) e W (II) < W (u). É preciso mostrar que W (u) = W (a). Para tal, considere
10
Rawls, J. A, 1971. A Theory of Justice, Belknap, USA.
132
Bem-estar e escolha social
A expressão acima é parte da definição de Equidade de Hammond e implica que W (ũ) >
W (u), isto é, o ponto ũ situa-se mais perto da linha de 45o , na qual a dispersão de utilidades é
menor, quando comparada com u.
Como ũ é um ponto arbitrário em I, pode-se estender este raciocı́nio para todos os pontos
na regiões I e II, de sorte que:
Vamos, agora, examinar os pontos situados na fronteira entre as regiões I e II, tais como
o ponto a. Para cada ponto situado na linha au, existem pontos arbitrários na região I, cuja
utilidade social é maior ou igual à u. Na região II, vimos que existem pontos cuja utilidade
social é menor que W(u). Como W é crescente e contı́nua, cada ponto na reta au deve ter a
mesma utilidade social do ponto u. Segue-se, pois, que W (a) = W (u).
O mesmo procedimento pode ser repetido para os diferentes pontos no segmento vertical
aB, considerando-se as regiões I e III. Consequentemente, os segmento aA e aB pertencem à
curva de iso-bem-estar associada à função de bem-estar rawlsiana, u = min{u1 , u2 }. A função
rawlsiana satisfaz a Equidade de Hammond.
uk = ũk , ∀k 6= i, k 6= j
ui < ũi < ũj < uj
=⇒ W (ũ) > W (u)
Teorema 8.9 A função de bem-estar Rawlsiana W (x) = min{u1 (x), . . . , uI (x)} satisfaz Ano-
nimato e Invariância ao Nı́vel de Utilidade, INU.
O k-ésimo indivı́duo atinge o menor nı́vel de utilidade quando a opção social é x. É fácil
verificar que permutando-se as identidades destes agentes e minimizando-se o nı́vel de utilidade,
o menor nı́vel de utilidade é, ainda, igual à uk (x). A permutação dos elementos de u não altera
o valor da função rawlsiana.
133
Bem-estar e escolha social
Pode-se mostrar que, nesse caso, INU prevalece. De fato, aplicando-se a transformação
acima, tem-se que:
W [ψ(u1 ), . . . , ψ(uI )] = ψW [u1 , . . . , uI ]
A transformação ψ é posta em evidência já que ela aplica-se a todos os agentes. Conse-
quentemente,
ψW [(u1 (x)), . . . , (uI (x))] > ψW [u1 (y), . . . , uI (y)]
Dividindo-se ambos os lados da expressão anterior por ψ, obtém-se a seguinte expressão:
11
Atkinson, A. How progressive should the income tax be? in Parkin (ed.) Essayson Modern economics ,
1973; Felstein, M. On the optimal progressivity of the income tax. Jounal of Public Economics, 1973.
134
Bem-estar e escolha social
Função utilitarista (ν = 1)
É fácil verificar que se ν for igual à 1, a função de bem-estar social descrita pela equação 8.31
torna-se a função utilitarista: X
W = ui (8.32)
i∈I
Função Bernoulli-Nash (ν = 0)
Y
W = ui (8.33)
i
∂W 1 1
j
= [. . .] v −1 v(uj )v−1 (8.35a)
∂u v
∂W 1 1
k
= [. . .] v −1 v(uk )v−1 (8.35b)
∂u v
Dividindo (8.35b) por (8.35a) tem-se que
v−1
W/uk ∂uj uk
= − = (8.36)
W/uj ∂uk uj
1−v
∂uj uj
=− k = (8.37)
∂u uk
∂uj uj
− = (8.37a)
∂uk uk
que é exatamente igual à expressão (8.34). Portanto, quando v = 0, a FBES expressa em (8.31)
torna-se a função de Bernoulli-Nash.
135
Bem-estar e escolha social
Rawlsiana (ν → −∞)
W = min{ui }
∂W ∂W
Nessa função se uj < uk , então, W = uj ; ∂uj
= 1; ∂uk
= 0. A T M Sk,j (trade-off ) é
∂W/∂uj 1
− k
= → −∞
∂W/∂u 0
Na função de bem-estar social de A-F temos que
j v−1
∂W/∂uj ∂uk u
− k
= j
=
∂W/∂u ∂u uk
uj
Nesse caso, se uj < uk , W = uj , uk
< 1. Quando ν → −∞, v − 1 → −∞ e
1 1 ∂W ∂W
→ → ∞; = 1; k = 0.
(uj /uk )∞ 0 ∂u j ∂u
uk 1
Quando uk > uj , uj
> 1; ∞
= 0;
∂W ∂W
W = uk =⇒ k
= 1; j = 0
∂u ∂u
Exemplo 8.10 Suponha que as preferências do planejador social sejam dadas pela expressão:
(u1 )ε (u2 )ε
W = + , ε<1 (8.38)
ε ε
1. Qual será o impacto de um aumento do parâmetro ε sobre a curvatura das curvas de
indiferença sociais?
2. Interprete o parâmetro ε.
136
Bem-estar e escolha social
du2
= (u1 )−(1−ε) (1 − ε)(u2 )−ε − (u2 )1−ε (u1 )ε−2
du1
Rearrumando os termos da expressão acima tem-se que:
" #
d h du2 i (u2 )−ε du2 (u2 )1−ε
− 1 = (1 − ε) − (8.40)
du1 du (u1 )1−ε du1 (u1 )2−ε
Utilizando-se a equação 8.39 na equação 8.40 e rearranjando-se os termos:
2 2 " !#
d du d 101−ε 5ε
= (1 − ε) 2−ε 1 + ε (8.45)
dε d(u1 )2 dε 5 10
(8.46)
Vê-se a curvatura das curvas de indiferença decresce com o parâmetro ε, conforme ilus-
trada na Figura 8.6.4.
137
Bem-estar e escolha social
8.7 Exercı́cios
I. Verdadeiro ou falso? Justifique sua resposta.
1. Uma escolha coletiva que satisfaz a Condição de Topo (Top Condition) - uma opção
nunca estará entre as escolhas sociais se ela não for preferida por pelo menos um
consumidor - além de compatı́vel com a regra de pluralidade, seleciona também um
vencedor de Condorcet.
2. Se a função de bem-estar social é uma função crescente da utilidade de cada indivı́duo,
então, toda alocação que maximiza a função de bem-estar social é eficiente no sentido
de Pareto.
3. Uma função de bem-estar social anônima deve ter curvas de indiferenças simétricas em
torno da linha de 45. A alocação ótima baseada neste tipo de FBS é equitativa.
4. A condição U (Domı́nio Irrestrito) é eticamente aceitável quando alguns eleitores têm
preferências polı́ticas extremas.
5. O principio daPequidade de Hammond é incompatı́vel com as FBES, dada pela ex-
pressão: W = N 1
i=1 1−ν mi
1−ν
.
6. O viés igualitário incorporado na função de bem-estar social de Atkinson decorre do
fato de sua FBES ser utilitarista.
1
7. Quando as preferências são dadas pela função de utilidade: U i = 1−ν mi 1−ν , então, uma
função de bem-estar utilitarista conduz à igualdade de renda entre indivı́duos.
8. Se uma alocação x∗ maximiza W , a função de bem-estar social, então, x∗ is eficiente
no sentido de Pareto.
9. No tocante à escolha social, tanto o método de Condorcet como a existência de um
ditador satisfazem as condições de eficiência fraca de Pareto.
II. Questões Abertas
1. Face à crescente insegurança, um condomı́nio residencial decide contratar serviços de
segurança privada. Para esta finalidade, os moradores precisam destinar um percentual
da receita do condomı́nio, xk ∈ [0, 1]. As preferências dos moradores são idênticas e
iguais à:
ui (xk , θi ) = −[xk − θi ]2
onde θi ∈ [0, 1] representa o percentual ideal para o i-ésimo condômino.
i. Mostre que nesta comunidade, a escolha de xk pelo voto majoritário produz uma
solução única que constitui um vencedor de Condorcet.
ii. Represente graficamente estas preferências.
2. Considere um sistema de votação por ordenação, com três estados sociais, α, β e γ,
onde a pior opção recebe um ponto, a segunda pior 2 pontos e, assim, sucessivamente.
A alternativa vencedora é a que recebe o maior número de pontos. Baseando-se nesse
tipo de votação, Tito e Berenice fazem seus ordenamentos no verão e no inverno, com
respeito aos estados sociais α, β e γ, conforme explicitado no quadro abaixo. Tito
modifica suas preferências ao longo das estações, porém as de Berenice não se alteram.
Verão Inverno
Tito Berenice Tito Berenice
α β α β
β α γ α
γ γ β γ
138
Bem-estar e escolha social
139
Bem-estar e escolha social
votação anterior e realize uma nova votação contra a alternativa que ficou de fora da
primeira votação.
i. Mostre que tal procedimento é manipulável. Isto é, mostre que o resultado varia
com a ordem de votação; podemos influenciar a escolha social.
ii. Considere agora a preferência social, definida pelo perfil de preferencias acima des-
crito. Mostre que ela satisfaz as condições de eficiência fraca de Pareto e IAI (In-
dependência de Alternativa Irrelevante), mas ainda assim é manipulável. Explique
porque isso ocorre.
140
9
Justiça
9.1 Definições
Definição Inveja Um agente i inveja o agente j se i prefere a cesta de j à sua:
xj i xi
Uma alocação x é equitativa (envy-free) se cada agente prefere sua própria cesta à dos demais
agentes
141
Justiça
Nesse exemplo,
x 1 x−1 ; x 2 x−1
o que implica que
u1 (x) > u1 (x−1 ); u2 (x) > u2 (x−1 )
Teorema 9.1 (Existência: Alocação Justa) Seja (x∗ , p∗ ) um equilı́brio competitivo. Sob a
hipótese de mão saciedade local, se todos os indivı́duos têm a mesma renda (p∗ e1 = p∗ e2 =
. . . = peI ), então x∗ é uma alocação estritamente justa.
porque
p∗ e 1 = . . . = p∗ e k = . . . = p∗ e I
Definição Uma alocação x ∈ <n+ é uma alocação walrasiana igualitária (equal income) se
existe um vetor de preços tal que
142
Justiça
1
ei (dotação média)
P
1. pxi 5 pe, onde e = I i∈I
Note-se que a alocação acima descrita encontra-se no core da economia: xi i ei porque ui (xi ) >
i i
u (e ). Porém, o consumidor 2 inveja o consumidor 1 porque:
u2 (x1 ) > u2 (x2 )
6, 66 > 6
Portanto a distribuição igualitária dos recursos não garante que as alocações sejam equi-
tativas – no exemplo, viola-se H1 (preferências são convexas, porém não estritamente conve-
xas).
143
Justiça
ou ainda:
N
X N
X
i i
u [x(e )] > ui [y(ei )] (9.6)
i=1 i=1
Temos então, que x S y. Nota-se que nesse caso, temos a regra utilitarista. Considere agora
o caso rawlsiano. Lembrando que Rawls rejeita a regra utilitarista: nas decisões tomadas sob
o véu de ignorância, somente deve prevalecer o interesse do indivı́duo ou grupo rawlsiano, isto
é, x S y, se e somente, se,
min u1 [x(e1 )], . . . , uN [x(eN )] > min u1 [y(e1 )], . . . , uN [y(eN )]
(9.7)
A hipótese de Rawls é um caso particular da abordagem de Harsanyi, onde prevalece a aversão
total ao risco. De fato, o objetivo aqui é maximizar o payoff mı́nimo. Considere ui (x) uma
função de utilidade sob incerteza do i-ésimo indivı́duo. Uma transformação monotônica de
ui (x), pode ser expressa como:
v i (x) = −ui (x)−a (9.8)
3
Harsanyi, J.C. 1953. Cardinal utility in welfare economics and in the theory of risk taking. Jour-
nal of Political Economy, 61, 434-435; Harsanyi, J.C. 1955. Cardinal utility, individualistic ethics, and inter-
personal comparisons of utility, Journal of Political Economy, 63, 309-321.
4
Von Neumann, J. e O. Morgenstern 1953, Theory of Games and Economic Behavior, Princeton: Prin-
ceton University Press.
144
Justiça
para a > 0. Suponha ainda que v i (x) é VNM sob incerteza. Nesse caso temos que:
N
X N
X
i
v (x) ≡ − ui (x)−a (9.9)
i=1 i=1
É fácil verificar que o grau de aversão ao risco (GAR) é crescente com o parâmetro a, onde:
−v 00
GAR = (9.10)
v0
∂v ∂ ∂v
onde v 0 = e v 00 = .
∂u ∂u ∂u
Suponha, agora, como Harsanyi que a probabilidade de se ter nova identidade é igual a
η para todos os indivı́duos. Nesse caso, uma transformação monotônica crescente de W pode
ser expressa como:
" N #− a1
1
X
W = (−W )− a = ui (x)−a (9.11)
i=1
1
que é exatamente a forma flexı́vel da FBES, anteriormente discutida, onde σ = é a
1+ρ
elasticidade de substituição social entre indivı́duo. Se ρ −→ (−∞) então teremos a função de
bem-estar Rawlsiana [a −→ (+∞)]. Portanto, a hipótese de Harsanyi baseia-se em funções de
bem-estar social flexı́veis (invariantes à transformações monotônicas crescentes que envolvem
percentuais de utilidades), que contemplam diferentes formas de FBES, incluindo as formas
utilitarista, Bernouilli-Nash e ralwsianas.
9.4 Exercı́cios
I. Verdadeiro ou falso: justifique sua resposta.
1. Considere uma economia de trocas com dois bens e dois consumidores, na qual se dispõe
de 1 unidade do bem x e uma unidade do bem y. As preferências dos consumidores são
representadas pelas seguintes funções de utilidade:
i. Defina as alocações eficientes no sentido de Pareto para esta economia;
ii. Defina as alocações justas.
145
10
Externalidades
There’s so much pollution in the air now that if it weren’t for our lungs there’d
be no place to put it all.
Robert Orben
O teorema do limite do core garante que o núcleo das economias replicadas contém somente
as alocações de equilı́brio walrasiano. Dito de outra forma, replicando-se suficientemente a
economia original, a hipótese competitiva prevalece e garante que a alocação produzida pelos
mercados privados é também eficiente no sentido de Pareto. Porém, em presença de externa-
lidades, os mercados privados são ineficientes para alocar os recursos. Externalidades ocorrem
quando o consumo e/ou a produção de um determinado bem afeta os consumidores e/ou pro-
dutores em outros mercados, e esses impactos não são considerados no preço de mercado do
bem.
As externalidades podem ser positivas (benefı́cios externos) ou negativas (custos exter-
nos). Assim, por exemplo, uma empresa de fundição de cobre, ao provocar chuvas ácidas,
prejudica a colheita dos agricultores da vizinhança. Esse tipo de poluição representa um custo
externo porque é a agricultura, e não a indústria poluidora, que sofre os danos causados pe-
las chuvas ácidas. Danos que não são considerados no cálculo dos custos industriais, que
inclui apenas itens como matéria-prima, salários e juros. A não inclusão dos danos impostos
à coletividade nos custos privados conduz à subestimação dos custos verdadeiros, doravante,
mencionados como custos sociais. Consequentemente, o nı́vel de produção da indústria é maior
do que aquele que seria socialmente desejável.
A educação, por outro lado, gera externalidades positivas. Os membros de uma sociedade
- não somente os estudantes - auferem os diversos benefı́cios que resultam de uma população
mais educada. Uma ampla literatura, utilizando diferentes metodologias mostra que a educação
contribui para melhorar os nı́veis de saúde de uma determinada população. Nı́veis mais elevados
de escolaridade materna reduzem as taxas de mortalidade infantil. A educação concorre também
para reduzir a criminalidade. Todos esses benefı́cios indiretos da educação, por não serem
apreçados pelo mercado, não são computados nos benefı́cios privados. Portanto, os benefı́cios
sociais são superiores aos benefı́cios privados, que incluem apenas as vantagens pessoais da
educação, como por exemplo, os salários obtidos em função do nı́vel de escolaridade.
Os produtores podem causar externalidades sobre consumidores e vice-versa. Assim,
por exemplo, a poluição provocada pela indústria de cobre aumenta a incidência de tuberculose
entre a população. Também, os fumantes contribuem para a disseminação de doenças entre
os não fumantes (fumantes passivos); nesse caso, temos a geração de externalidades entre
consumidores. Por fim, o uso de automóveis privados congestiona o tráfego e contribui para
reduzir a velocidade do transporte de mercadorias e, portanto, representa um exemplo de custos
externos para os produtores, gerados pelos condutores.
146
Externalidades
As externalidades levam os agentes que não estão envolvidos em sua geração a usarem
recursos para corrigir os efeitos dos custos (benefı́cios) externos, o que leva a distorções na
alocação de recursos. Assim, por exemplo, os custos de internações hospitalares, decorrentes
de doenças relacionadas à poluição, embora representem, efetivamente, gastos para os doentes,
não são contabilizados nos custos da empresa de fundição de cobre. Ou ainda, os inúmeros
benefı́cios para a humanidade decorrentes da descoberta da vacina contra a poliomielite, não
são inteiramente apropriados, pelo seu inventor, o cientista Albert Sabin, e dificilmente podem
ser apreçados.
ui (x1 , . . . , xi , . . . , xI ). (10.1)
Neste tipo de economia, ignorar os efeitos externos viola a condição de eficiência pare-
tiana. Para facilitar a exposição, o modelo com dois bens bens (x, y) e dois indivı́duos (A, B)
será utilizado. Suponha que o consumo do bem x seja o causador das externalidades, isto é:
max uB (xA , xB , yA )
x∈<4++
s.a. xA + xB 6 ex
yA + yB 6 ey
uA (xA , xB , yA ) > uA (xA , xB , yA )
147
Externalidades
∂L
= ey − yA − yB > 0; λy > 0; λy (ey − yA − yB ) = 0 (10.8)
∂λy
∂L
= uA − uA > 0; η > 0; η(uA − uA ) = 0 (10.9)
∂η
Usando a expressão 10.6 temos que:
∂uB
λy = > 0 ∴ λy > 0 =⇒ ey = yA + yB (10.10)
∂yB
Como esperado, não ocorre destruição do bem y, já que ele não gera externalidades ne-
gativas. Combinando as expressões 10.5 e 10.6, podemos mostrar que η > 0, já que corresponde
à razão entre duas utilidades marginais, por hipótese, positivas:
∂uB ∂uA
η= (10.11)
∂yB ∂yA
Dividindo-se a equação (10.3) pela equação (10.5) e usando (10.10) e (10.11):
∂uB ∂uB ∂uA ∂uA
+
λx ∂xA ∂yB ∂yA ∂xA
= (10.12)
λy ∂uB ∂uA ∂uA
∂yB ∂yA ∂yA
De forma análoga, usando (10.4), (10.6), (10.10) e (10.11):
∂uB ∂uB ∂uA ∂uA
+
λx ∂xB ∂yB ∂yA ∂xB
= (10.13)
λy ∂uB
∂yB
148
Externalidades
O sistema de equações 10.19 permite encontrar o consumo Pareto eficiente dos bens, em
presença de externalidades. As condições expressas neste sistema envolvem consideram três
diferentes situações, envolvendo o consumo do bem x:
149
Externalidades
A B
Neste caso, T M SSy,x = T M SSy,x > 0. O multiplicador de Kuhn-Tucker λx é positivo.
λx > 0 implica xA + xB = ex ; não é pois, necessário destruir o bem x.
Proposição 6 Em uma economia de troca, supondo-se que as funções de utilidade são contı́nuas,
diferenciáveis e estritamente quase-côncavas, satisfazendo:
∂ui (.)
> 0, i = A, B
∂xi
tem-se que:
i
• Se as T M SSy,x são positivas nas alocações Pareto-eficientes, então, não é necessário
destruir o bem x para se atingir x∗ , a alocação Pareto-eficiente.
i
• Se as T M SSy,x são negativas para toda alocação satisfazendo xA +xB = ex e yA +yB = ey
torna-se necessário destruir a dotação do bem x para se atingir o seu consumo eficiente.
Isto é, x∗A + x∗B < ex , com x∗ é determinado por yA + yB = ey .
150
Externalidades
Solução A condição de eficiência social requer o cômputo dos efeitos externos e das taxas
marginais de substituição individuais:
1/2 r
∂uA ∂uA −1 yA yA
= 1/2 −1/2
= −2 = −2
∂xB ∂xA (1/2)xA yA xA xA
r
∂uB ∂uB yB A yA B yB
= −2 ; T M Sy,x = ; T M Sy,x =
∂xA ∂xB xB xA xB
Combinando as expressões acima, tem-se que:
r r
yA yB yB yA
−2 = −2 (10.23)
xA xB xB xA
Rearrumando os termos e somando 1 em ambos os lados, tem-se que::
r r r 2 r 2
yA yA yB yB yA yB
+2 +1= +2 + 1 =⇒ +1 = +1 (10.24)
xA xA xB xB xA xB
yA ey − yA
= (10.26)
xA x − xA
yA ey
= (10.27)
xA x
Os benefı́cios marginais sociais(Bmg S ) derivados da produção de x são dados pela ex-
pressão abaixo:
r r
S ∂uA ∂uB 1 −1/2 1/2 1 −1/2 1/2 1 yA yB
Bmg = = xA y A xB y B = (10.28)
∂xA ∂xB 2 2 4 xA xB
O custo marginal social (Cmg S ) decorrente da produção do bem x é dado pela equação
10.29
∂uB ∂uA
Cmg S = = (−1)(−1) = 1 (10.29)
∂xA ∂xB
Podemos agora comparar as expressões 10.28 e 10.29. No ótimo social, o custo marginal
social iguala-se ao benefı́cio marginal social. Isto implica que:
r r
1 yA yB
=1
4 xA xB
151
Externalidades
Segue-se, pois, que o ponto crı́tico de x = e4y (ponto crı́tico de x). Nesse caso, as
TMSS são nulas e pode haver destruição do bem x. Para ex > x, o benefı́cio marginal social é:
r r r r
1 yA yB 1 ey ey ey ∂uA ∂uB ∂uA ∂uB
= = <1 =⇒ <
4 xA xB 4 x x 4x ∂xA ∂xB ∂xB ∂xA
Portanto, ocorre destruição do bem x. .
Exemplo 10.2 Na turma de Microeconomia II, o número de alunos (I) varia a cada semestre.
h2
Nesta disciplina, cada aluno estuda hi horas, o que gera uma desutilidade de 2i . A aprendizagem
no curso depende não somente P do resultado do aluno, mas também do desempenho da classe,
isto é u( hhi ), ∀i ∈ I, onde h = I1 Ii=1 hi . A função ui (.) é crescente e côncava.
i. Calcule o equilı́brio de Nash simétrico;
iii. Explique porque o equilı́brio de Nash simétrico envolve um esforço maior quando comparado
com o exigido na solução socialmente ótima.
h2i h2i
i i hi hi
max U (h , h−i ) = u − =u 1 −
h h 2 [h + H]
I i
2
A condição de primeira ordem exige que:
" #
hi
∂U h − I 0 hi
= 2 u − hi = 0 (10.30)
∂hi h h
No equilı́brio simétrico, hi = hj = h, ∀i, j e H = (I − 1)h. Tem-se, então que:
" #
1 h
−
I
(Ih) I 0 h
1 u 1 −h=0 (10.31)
I
(Ih) I
Ih
152
Externalidades
se um aluno se esforça mais do que a média da classe, ele obtém um ganho de utilidade; porém,
ao elevar seu esforço, ele também aumenta a média e seu custo, o que reduz sua utilidade.
Assim, se todos os alunos elevarem seu esforço, no final todos perderão. Segue-se, pois, que o
nı́vel socialmente ótimo de esforço é zero. Este exemplo ilustra o caso de um jogo de competição
destrutivarat race.
Exemplo 10.3 Externalidades positivas Considere duas cidades vizinhas que devem escolher
conjuntamente os recursos utilizados (ri ), na manutenção de um colégio intermunicipal que
atende alunos das duas cidades. O benefı́cio lı́quido deste colégio e o beneficio médio são
dados, respectivamente, pelas expressões abaixo:
i i j rj
i ri
π (r , r ) = ri [10 − r + ] − (10.34)
2 2
j
i r
πm (ri , rj ) = [10 − ri + ] (10.35)
2
O custo marginal por real utilizado é igual à 1/2. O benefı́cio médio do colégio é crescente
i
em r
Exemplo 10.4 Considere uma economia com duas firmas, cada uma produzindo um bem a
partir de um recurso não produzido, z, de forma que:
√ √
x = z; y = max( Z − z − αx, 0) (10.6)
3. Supondo que os consumidores são idênticos, derive o mapa de indiferença para o qual a
alocação eficiente em um pseudo mercado para externalidades.
154
Externalidades
Exemplo 10.5 Considere uma economia com duas firmas que produzem um produto homogêneo.
A tecnologia das firmas 1 e 2 é sumariada nas seguintes funções de custo:
Solução
Um caso particular de externalidades é aquele que envolve os recursos comunitários, cuja propri-
edade não é individualizada. Desde o artigo seminal de Harding(1968)1 , a sobre utilização destes
recursos vem sendo amplamente discutida, tanto na academia como na esfera governamental.
Na raiz do problema, encontra-se a ausência de direitos de propriedade bem estabelecidos que
impede a exclusão, embora tais recursos sejam rivais. A impossibilidade de exclusão faz com
que os agentes não levem em conta todos os custos e benefı́cios derivados da apropriação dos
recursos comunitários. Portanto, eles não têm incentivos para usá-los de forma eficiente. A
propriedade conjunta dos recursos comunitários conduz, pois, ao seu uso indiscriminado.
Um exemplo clássico desse problema é o caso das aves silvestres ameaçadas de extinção,
em razão da caça predatória no passado. Para um caçador individual é vantajoso prender
um desses animais, cujo preço de venda é elevado. Porém, se todos assim o fizerem, este
1
Hardin, G. The tragedy of commons, Science 13, 1968.
155
Externalidades
Exemplo 10.6 Considere o problema da aves silvestres descrito anteriormente. Seja p(x) =
a − bx, com a, b > 0, preço de mercado dessas aves. Suponha que a função de custo da captura
seja c(xn , x−n ) = cxn (1 + αx−n ), com c > 0, α ≥ 0. Encontre o nı́vel ótimo de captura, quando
os efeitos externos não são considerados.
156
Externalidades
A expressão 10.14 mostra que a receita marginal agregada deve ser igual ao custo margi-
nal agregado. Note-se, que esta agregação leva em conta o fato de que uma maior apropriação
por parte da enésima firma reduz a receita marginal e eleva os custos das demais empresas.
Subtraindo-se da equação 10.19, a expressão 10.14, tem-se que:
0
X X ∂c(xk , x−k )
− p (x∗ ) xk + >0 (10.15)
k6=n k6=n
∂xn
157
Externalidades
0
Lembrando que p (x) < 0 e os custos são crescentes em xn , a expressão acima é positiva
indicando, assim, que o equilı́brio de mercado conduz à apropriação excessiva do recurso x.
Esse resultado, conhecido como a Tragédia dos Recursos Comunitários, tem ampla aplicação
em várias áreas da economia, particularmente, na economia pública. Note-se que a expressão
∗
acima permite considerar diferentes estruturas de mercado. Assim, por exemplo, para xM n > xn ,
supondo-se que a lei da demanda se aplica e a apropriação da firma n não alterar os custos das
outras firmas, temos o resultado clássico do cartel, no qual as firmas determinam conjuntamente
a produção de cada uma delas. A equação 10.15 torna-se, então:
0
X
− p (x∗ ) xk > 0 (10.16)
k6=n
Solução Vamos supor que a comunidade deseja maximizar os lucros agregados. Neste caso, o
nı́vel socialmente ótimo de apropriação dos recursos corresponde à solução do seguinte problema:
" N
# N N
X X X
max Π = a − b( xn ) xn − c (1 + αxn ) (10.18)
xn ,xk
n=1 n=1 n=1
Π(xn , x−n ) = a[xn + x−n ] − b[xn + x−n ]2 − c[xn (1 + αx−n ) + x−n (1 + αxn )]
= a[xn + x−n ] − b[xn + x−n ]2 − c[xn + x−n + 2αxn x−n ]
2(cα + b) a−c
xn [1 + (N − 1)] =
2b 2b
xn [2b + 2(cα + b)(N − 1)] =a − c
a−c
xn =
2b + 2(cα + b)(N − 1)
Exemplo 10.8 Seja uma economia com J ≥ 2 firmas. Estas firmas, que exploram um recurso
comunitário, confrontam-se com a seguinte função de demanda de mercado p(Q) = 1 − Q,
onde Q = q1 + q2 + . . . + qJ representa a produção total. A função de custos da firma j é
c(qj , q−j ) = θqj2 , com θ ≥ 1. As empresas desejam maximizar seus lucros.
2. O que ocorrerá se a apropriação da recursos comunitário for feita por uma única firma?
159
Externalidades
Se a firma j for a única firma no mercado (q−j = 0), o nı́vel ótimo de qj será igual à:
1
qj = (10.23)
2(1 + θ)
1 J −1
q= − q (10.24)
2(1 + θ) 2(1 + θ)
Resta agora computar o número ótimo de firmas. Maximizando-se o lucro agregado com
respeito à J, tem-se que:
∂Π (1 + θ)[1 + 2θ − J]
= =0 (10.29)
∂J [J + 1 + 2θ]3
Resolvendo-se a expressão acima para J, tem -se que:
J = 1 + 2θ (10.30)
max Π = [1 − (qj + q−j )][qj + q−j ] − θ(qj + q−j )2 − d[qj + q−j ]2 (10.32)
qj ,q−j
A condição de primeira ordem para a maximização dos lucros é dada pela seguinte
expressão:
∂Π
=0 (10.33)
∂qj
160
Externalidades
Πx = px x − cx (x) − tx
max Πx = px x − cx (x) − tx
Na expressão acima, o benefı́cio marginal iguala-se ao custo marginal social que inclui,
além dos custos marginais privados, o custo da externalidade, z 0 (x). Restaura-se, assim, a
condição de eficiência social, apresentada na equação 10.5.
Exemplo 10.9 Imposto pigouviano sobre o consumo Considere uma economia com dois con-
sumidores - Andrômaca e Céfisa - cujas preferências são representadas pelas seguintes funções
de utilidade:
1 1
uA = log(xA ) + y A − log(xC ); uC = log(xC ) + y A C − log(xC );
2 2
O consumo do bem x gera externalidades negativas para ambos os consumidores, cujas rendas
são idênticas e iguais a M . Suponha, ainda, que os preços dos bens x e y são normalizados a
unidade.
ii. Mostre que no ótimo social, quando a função de bem-estar é utilitarista, (xA A
1 , x2 , ) =
1 1
(2, M − 2)
161
Externalidades
iii. Mostre que o ótimo social computado no item anterior pode ser atingindo mediante o uso
de um imposto t sobre cada unidade consumida do bem 1.
Solução: Andrômaca maximiza sua utilidade levando em conta a sua restrição orçamentária.
O Lagrangeano associado a este problema é:
1
L = log(xA ) + y A − log(xC ) − λA [xA + y A − M ] (10.34)
2
As condições de primeira ordem são:
∂L 1 ∂L 1 ∂L
A
= A − λA = 0; A
= A − λA = 0; =0 (10.35)
∂x x ∂y y ∂λ
L = uA + uB − λA [xA + y A − M ] − λC [xC + y C − M ]
1 1
= log(xA ) + y A − log(xC ) + log(xC ) + y C − log(xA )
2 2
A A A C C C
−λ [x + y − M ] − λ [x + y − M ]
162
Externalidades
1
xC = ; yC = M − 1 (10.40)
1 + tx
Podemos, agora, calcular o imposto tx corretivo que permita restaurar a eficiência nesta
economia. Para tal, tx deve ser fixado de modo a garantir que a produção do bem x = xso , isto
é:
1 1 1 1
xA = = ; xC = = ; (10.41)
1 + tx 2 1 + tx 2
Verifica-se, facilmente, que o imposto tx = 1.
O problema com a correção pigouviana advém do fato de que as autoridades fiscais não
conhecem o custo da externalidade z(x) para que possam igualá-la ao imposto ótimo. Trata-se,
pois, de um problema de informação privada. É preciso que se proponha incentivos que levem
a firma causadora das externalidades a revelar z(x) corretamente de sorte que a compensação
devida à firma prejudicada (beneficiada) pela externalidade seja t = z 0 (x).
Varian (1994) propôs um mecanismo de compensação em dois estágios 2 para induzir os
agentes a revelarem o verdadeiro custo (benefı́cio) externo, de sorte a restabelecer a eficiência
paretiana. No que se se segue, o mecanismo de compensação de Varian será descrito.
2. Estágio 2 Escolha da produção do bem x: Se a firma 1 produz x unidades, ela deve pagar
t2 x para a firma 2. A firma 2 recebe da firma 1 t1 x como compensação pela produção de
x. A priori, não há nenhuma razão de se supor que as duas empresas avaliam os danos
(benefı́cios) marginais da mesma forma, sendo t1 x 6= t2 x.
Com o intuito de reduzir seus gastos, a firma 1, causadora da externalidade, tem interesse
em reduzir a compensação à ser paga para a empresa 2 pelo dano causado; seu pagamento
tende a ser inferior ao que seria eficiente. Ocorre o contrário com a empresa 2, prejudicada pela
produção de x: ela tende a maximizar seu dano para auferir uma compensação acima da que
seria eficiente.
Para evitar este tipo de comportamento, o mecanismo de Varian fixa uma penalidade a
ser paga pela empresa que sobrestimam (subestimam) o dano gerado. Torna-se, pois, necessário,
punir as empresas quando elas anunciam erroneamente as compensações marginais (t1 , t2 ). Esta
penalidade (P) baseia-se na diferença entre as compensações marginais anunciadas, t1 e t2 ,
respectivamente, pelas empresas 1 e 2:
P = (t1 − t2 )2 (10.42)
2
Varian, H. A Solution to the Problem of Externalities When Agents Are Well-Informed. The American
Economic Review 84, p. 1278-1293.
163
Externalidades
Os payoffs das duas firmas são dados pelas expressões 10.43 e 10.44:
∂Π1
= px − c0x (x) − t2 = 0
∂x
Rearrumando a expressão acima, a firma 1 escolherá x(t2 ), fixando o preço do bem x ao
custo marginal social, que inclui o imposto pigouviano t2 :
Definindo ∂x
∂t2
= x0 (t2 ), tem-se que:
−1
x0 (t2 ) = <0
c00x (t2 )
Por convexidade estrita da função de custos, c00 (x) > 0. A firma 2 escolherá y de modo a
satisfazer py = c0 (y). Tendo escolhido x(t2 ), volta-se ao Estágio 1, no qual cada firma escolherá
t1 , t2 de modo a maximizar seus payoffs:
Firma 1: a Firma 1 escolhe t1 de forma a maximizar seu payoff, definido pela expressão
10.43. Para tal, ela resolve o seguinte problema:
max px x − cx (x) − t2 (x(t2 )) − (t1 − t2 )2
t1
A condição de primeira ordem exige que:
∂Π1
= 2(t1 − t2 ) = 0 =⇒ t1 = t2 (10.46)
∂t1 t2
∂Π2 ∂x(t2 ) ∂z ∂x
= t1 − − 2(t1 − t2 )(−1) = 0
∂t2 ∂t2 ∂x ∂t2
t1 x0 (t2 ) − z 0 [x(t2 )]x0 (t2 ) + 2(t1 − t2 ) = 0
{t1 − z 0 [x(t2 )]}x0 (t2 ) + 2(t1 − t2 ) = 0
164
Externalidades
Como t∗ = t∗1 = t∗2 e lembrando que −1/c00 (x) < 0, a expressão acima reescreve-se como:
t∗ − z 0 (x(t2 )) = 0
E finalmente:
t∗ = z 0 (x(t2 )), com t∗ = t∗1 = t∗2 (10.47)
que é a condição de eficiência na produção. As firmas são levadas a declarar t1 e t2 de forma
a compensar exatamente as externalidades. Note-se que se a firma 1 não revelar o verdadeiro
custo que ela impõe à firma 2, será do interesse desta firma manipular o comportamento da
firma 1, não havendo, pois equilı́brio.
A interpretação deste resultado deve-se ao fato de que as firmas, no primeiro estágio,
anunciam os custos marginais da externalidade: a firma 1 baseia seu pagamento à firma 2, com
base no custo marginal que ela declara, t1 ; a firma 2, por sua vez, anuncia seu custo marginal
que servirá para fixar o imposto pigouviano, t2 sobre a firma 1. Um exemplo simples ilustra
este caso.
Suponha, inicialmente, que a firma 1 acredita que a firma 2 sobrestimará o dano sofrido
elevando t2 ; a firma 1 também reportará t1 elevado, em razão da penalidade se basear nas
diferenças entre as compensações devidas e exigidas. Porém, se a firma 2 pensar que a firma
1 irá declarar custos marginais elevados, ela será incentivada a tributar menos a firma 1 com
o intuito de elevar a produção do bem x e, consequentemente, seus ganhos, já que ela será
sobrecompensada. Esta compensação excessiva induzirá a firma 1 a produzir mais do bem x
e reduzir os custos marginais da externalidade, t1 . Porém isto contradiz a suposição inicial de
que a firma 1 imagina que a firma 2 irá sobre-estimar o dano causado pela produção do bem
x. Raciocı́nio análogo aplica-se ao caso em que supõe-se, primeiramente, que a firma 2 acredite
que a firma 1 subestimará t1 .
Em suma, no mecanismo de Varian, a existência de penalidades induz as firmas a sempre
declararem t1 e t2 idênticos, minimizando, assim, a penalidade. Segue-se, então, que o único
0
equilı́brio possı́vel é aquele no qual t1 = t2 = z (x), com penalidade nula.
165
Externalidades
Π1 = px x1 − pz x1 − c1 (x1 ) (10.48)
Π2 = py y + pz x2 − z2 (x2 ) − cy (y) (10.49)
166
Externalidades
estão, pois, bem definidos. Cabe à companhia compensá-lo. A companhia área pode, inici-
almente, propor indenizá-lo como base no estipulado pela mesma convenção, que na maioria
dos casos, sequer repõe o valor do conteúdo da bagagem. Você decide não aceitar e faz uma
contraproposta: ela deve lhe reembolsar todas as despesas feitas em Paris para substituir o
conteúdo da mala e ainda lhe oferecer duas passagens de cortesia no mesmo trecho. Depois de
algum tempo de negociação o acordo é fechado, com apenas uma passagem de cortesia, além
do reembolso das compras realizadas para viabilizar sua estadia em Paris.
O exemplo acima é um caso onde o Teorema de Coase se aplica porque os custos de
transação são baixos, existem apenas duas partes envolvidas e os direitos de propriedade estão
claramente definidos. Os limites das soluções privadas anteriormente discutidas decorrem da
presença de vários fatores. Em particular, quando a externalidade envolve bens públicos puros,
a impossibilidade de exclusão (e sua indesejabilidade) exige a presença de uma força coercitiva
que possa assegurar a provisão do bem ou serviço em questão. Por outro lado, a ausência de
direitos de propriedade bem estabelecidos, como é o caso dos recursos comunitários - faz com
a solução privada não seja eficiente no sentido de Pareto justificando, assim, a intervenção do
estado. Por fim a existência de informação imperfeita e de custos de transação elevados pode,
também, inviabilizar a correção das externalidades sem passar pela intervenção do governo.
10.5.2 Eficiência
Considere uma economia com N bens e I consumidores, cuja dotação inicial é ei ∈ I. Defina h
como a ação do indivı́duo 1 que afeta o consumo dos demais agentes, porém não impõe custos
5
Stigler, G. The Theory of Price. Macmillan, New York, 3rd edition, 1966
6
J. S. Chipman e G. Tian (2012). Detrimental externalities, pollution rights and the Coase Theorem.
Economic Theory 49, p. 309-327
7
Hurwicz, L. What is the Coase theorem? Japan and the World Economy, 7:60-74, 1995
167
Externalidades
monetários ao indivı́duo 1, como, por exemplo, a música alta do nosso baterista. A função de
utilidade do i-ésimo agente torna-se, então,
ui (x1i , . . . , xN
i , h) (10.56)
Para os agentes que sofrem com o barulho causado pelo agente 1, h constitui um efeito
i
externo decorrente do comportamento deste agente, isto é ∂u ∂h
6= 0, ∀i 6= 1. Seja vi (p, ei , h), a
função de utilidade indireta do i-ésimo agente. O problema do consumidor i é:
vi (ei , h) = max ui (xi , h)
xi
(10.57)
s.a. pxi 6 pei
Como as preferências são estritamente quase-côncavas, Φ00i (h) < 0. As condições de primeira
ordem associadas ao consumo da externalidade, h, são dadas pelas expressão 10.59:
∂vi (ei , h) ∂Φi (h)
= = 0 =⇒ Φ01 (h∗ ) = 0 (10.59)
∂h ∂h
onde Φ0i (h) = ∂Φ∂h
i (h)
. Nesse caso, a atividade que produz a externalidade será consumida até
anular o seu benefı́cio marginal. Vê-se, então, que o equilı́brio competitivo não é pareto-eficiente
porque envolve o consumo excessivo da atividade h.
O nı́vel socialmente ótimo de h pode ser obtido maximizando-se a soma das utilidades
dos consumidores sobre h, isto é:
I
X
max[Φ1 (h) + Φ2 (h) + . . . + ΦI ] = max[Φ1 (h) + Φi (h)]
h h
i=2
I
0
X
Φ01 (hP E ) = − Φi (hP E ) h∗ > hP E : a externalidade é negativa
i=2
(10.60a)
h∗ < hP E : a externalidade é positiva
168
Externalidades
Prova A prova do teorema de Coase será feita no âmbito da teoria dos contratos, por meio da
criação de um mecanismo que garanta que as negociações entre as partes resultem no consumo
socialmente ótimo de h. Distinguiremos dois casos: no Caso 1, os demais consumidores detêm
os direitos de propriedade: eles podem, inclusive, proibir o consumidor 1 de produzir h. Porém,
ao invés dessa proibição, elem pode negociar esse direito em troca de uma transferência Ti
reais para cada agente,i 6= 1, i ∈ I, paga pelo consumidor 1. O Caso 2 atribui os direitos de
propriedade ao consumidor 1, que deverá ser compensado pelos demais agentes para modificar
o nı́vel de h.
O consumidor 1 aceitará o contrato (T2 , h2 ) se, e somente se, esta oferta lhe assegurar
um nı́vel de utilidade pelo menos igual ao que seria obtido na ausência de acordo (h = 0), isto
é:
φ1 (h2 ) − T2 ≥ φ1 (0) (10.61)
O consumidor 2 escolherá (T2 , h2 ) de forma a maximizar sua utilidade sujeito à restrição
expressa na equação 10.61:
max φ2 (h2 ) + T2
T2 ,h2
(10.62)
s.a. φ1 (h2 ) − T2 ≥ φ1 (0)
Porém, como o consumidor 2 deseja maximizar T2 , no ponto ótimo, a restrição acima
será respeitada na igualdade, isto é,
169
Externalidades
de produzir h lhe é assegurado. Caso o consumidor 2 não possa arcar com a compensação
garantida no contrato (T1 , h1 ), o contrato é rejeitado, prevalecendo a solução privada h = h∗ .
Por essa razão, examinaremos apenas o caso em que o agente 2 aceita a oferta proposta. O
problema do agente 2 é maximizar sua utilidade garantindo ao consumidor 1, pelo menos, o
benefı́cio marginal que ele obteria na solução de mercado, isto é:
max φ2 (h1 ) − T1
T1 ,h1
(10.65)
s.a. φ1 (h1 ) + T1 ≥ φ1 (h∗ )
170
Externalidades
Note-se que ui (xi , h) não é quase-linear em xi . Supondo-se que ∀h ∈ {0, n}; b1 (h) >
0; b2 (h) < 0; e b0i (h) < 0; b1 (0) + b2 (0) > ζ; b1 (n) + b2 (n) 6 ζ, tem-se que:
∂ui
=e−h > 0 (10.73)
∂xi
∂u1
= − x1 e−h + b1 (h)e−h > e−h [ζ − x1 ] ≥ 0 (10.74)
∂h
∂u2
= − x2 e−h + b2 (h)e−h < 0 (10.75)
∂h
8
Theodore Bergstrom and Richard Cornes. Independence of allocative efficiency from distribution in the
theory of public goods. Econometrica, 51(6):1753-1765, 1983; Bergstrom and Cornes, 1983; Chipmam and
Tian, 2012
171
Externalidades
172
Externalidades
1 − (c + t) 1−c 1−c
= =⇒ t = [2d − 1] = [2d − 1]xso (10.82)
2 1 + 2d 1 + 2d
O imposto t é positivo se d > 12 . Isto ocorre quando a externalidade decorrente do
dano ambiental supera a falha de mercado decorrente da falha de competição. (monopólio).
No caso inverso, d < 12 , a subprodução do bem x decorrente da monopolização é maior que o
dano causado pela externalidade; o bem x é, então, subsidiado para que o monopolista eleve a
produção de x.
173
Externalidades
Resolvendo-se a equação acima para x̂, tem-se que que a quota ótima é x̂ ≥ 34 .
Suponha que, ao invés da quota, o regulador decide cobrar um imposto sobre a produção
de álcool: para cada litro, o governo cobra t reais. Expresse a quantidade produzida em termos
deste imposto, supondo que o lucro esperado da firma alcooleira é dado pela seguinte expressão:
Resolvendo a expressão acima tem-se que x ≥ 43 . Usando este resultado na equação 10.90,
obtém-se o valor ótimo para o imposto, t = 8. Note-se que o resultado obtido para a variável x
é idêntico ao obtido por meio da cota; no entanto, seus impactos sobre o bem-estar são distinto.
10.7 Exercı́cios
I. Verdadeiro ou falso: justifique sua resposta.
1. O problema das externalidades pode ser tratado como uma questão de mercados in-
completos.
2. Se os custos de transação forem zero e os direitos de propriedade bem definidos, mesmo
em presença de externalidades, a alocação de recursos produzida pelos mercados pri-
vados é Pareto eficiente.
3. Em uma economia com dois consumidores, cujas funções de utilidade são u1 = [x1 , y1 ]α [x2 , y2 ]1−α
e u2 = [x2 , y2 ]α [x1 , y1 ]1−α , o equilı́brio de mercado é eficiente, apesar da presença de
externalidades.
174
Externalidades
1. Com base nos resultados do exemplo apresentado na subseção 9.6.1, compare as duas
formas de regulação, a fixação de uma quota e a imposição de um tributo, em termos
das perdas bem-estar associadas às duas formas de regulação.
2. Construa um modelo para explicar porque as frentes das casas no Brasil costumam ser
mais limpas e mais organizadas, comparando-se com a parte de trás ou de lado das
residências.
3. Em grandes cidades, as pessoas podem decidir se usam o metrô ou o carro para seus
deslocamentos. Suponha que para ir ao trabalho de metrô, estas pessoas levam 70
minutos, independentemente do número de usuários deste meio de transporte. Se elas
usarem o carro, o tempo gasto (T) para o trabalho depende do trânsito, isto é:
onde x representa a proporção de pessoas que vão de carro para o trabalho, com
0 ≤ x ≤ 1.
i. Desenhe as curvas de deslocamento quando as pessoas usam o carro e o metrô;
ii. Supondo-se que os consumidores decidem, de forma independente, minimizar seu
tempo no trajeto, qual a proporção de pessoas que usarão seu próprio carro?
iii. Qual a proporção de usuários de carro que minimiza o tempo total de transporte?
4. Considere uma escolha binária referente à permissão/proibição da emissão de agentes
poluentes, por uma dada empresa. O custo da poluição para os consumidores é igual à
C = 2000 e constitui informação privada para os indivı́duos. O benefı́cio da poluição,
que também representa uma informação privada para a empresa, é B = 2300.
i. caso ambas as partes revelem suas verdadeiras preferências, permitir a emissão de
agentes poluentes é eficiente no sentido de Pareto?
ii. Construa um esquema de revelação mediante o uso de um sistema de impos-
tos/subsı́dios, no qual dizer a verdade constitui uma estratégia dominante. Mostre
que este esquema de revelação assegura que a produção de externalidades seja
ótimo.
iii. Mostre que o esquema proposto implica que o imposto paga pela firma é inferior
aos subsı́dios pagos aos consumidores.
175
Externalidades
5. Considere o seginte texto: ”. . . Ah, os problemas tão duros das celebs! Em setembro, a
caminho das férias na Grécia (paı́s onde realizou o antológico ensaio para a Playboy, em
1995), Adriane Galisteu teve um problema com a conexão em Roma. O voo atrasou, ela
perdeu mais de oito horas no aeroporto e resolveu não esperar mais: gastou 11000 reais
com passagens para a famı́lia toda. Na volta ao Brasil, trouxe o novo bronzeado junto
com a vontade de processar a companhia aérea. Em apenas 28 dias, a ação indenizatória
de 31000 reais se transformou em um acordo de 18000. ”Ela não quer briga”, diz o advo-
gado do caso, Guilherme Strenger.”https://veja.abril.com.br/blog/veja-gente/adriane-
galisteu-processa-e-faz-acordo-com-companhia-aerea/
i. Identifique o instrumental teórico ilustrado no texto e construa um modelo teórico
para o problema.
ii. o que poderia ocorrer caso ela ”quisesse briga”?
6. Nos Estados Unidos, a Lei do Ar Puro de 1990 estabeleceu um mercado limitado para
os direitos de poluição ao permitir que as firmas negociem os créditos de emissão de
poluentes, fornecidos pelo governo. Construa um modelo para mostrar que esta lei
eleva o nı́vel de eficiência da economia americana.
176
11
Bens públicos
Paul Romer
177
Bens públicos
xi + g i = e i (11.1)
I
X
gi = v (11.2)
i=1
A firma produz uma unidade do bem público por meio da seguinte tecnologia, que
transforma o insumo v no bem público y:
178
Bens públicos
(
1 se Σi∈I g i > v
y= (11.3)
0 de outra forma
Vamos agora determinar se a decisão de produzir y será pareto-dominante em relação à
de não produzi-lo:
ui (ei − gi , 1) > ui (ei , 0), ∀i ∈ I (11.4)
Definindo ri como a disponibilidade máxima do i-ésimo consumidor a pagar pelo bem
público ri deve satisfazer:
ui (ei − ri , 1) = ui (ei , 0) (11.5)
Se a decisão de produzir o bem público, y, domina a decisão de não produzı́-lo, tem-se
que:
ui (ei − g i , 1) > ui (ei − ri , 1), ∀i ∈ I (11.6)
Pela monotonicidade de ui , temos que:
ei − gi > ei − ri
e finalmente:
ri > gi (11.7)
Somando-se a expressão acima sobre i,
X X
ri > gi > c (11.8)
i∈I i∈I
179
Bens públicos
X f 0 (v) ∂ui
=1
i
∂ui /∂xi ∂y
e finalmente:
X ∂ui /∂y 1
=
i
∂ui /∂xi f 0 (v)
180
Bens públicos
X
i
T M Sy,x = T M Tx,y(v) = T M Sy,v
i∈I
X
xi + v 6 i ∈ Iei (11.14)
i∈I
y = f (v)
ui = ai ln y + ln xi
y=v
Ressalte-se que neste caso, o nı́vel socialmente ótimo do bem público, y não é unicamente
determinado, já que depende da quantidade consumida dos bens privados. Somente em presença
de separabilidade forte, como é caso das preferências quase-lineares, o nı́vel do bem público é
independente de x e de sua distribuição entre indivı́duos.
Exemplo 11.2 Vamos, agora, modificar as preferencias do exercı́cio anterior para incluir a
hipótese de separabilidade forte. As preferências quase-lineares descritas na equação 11.2 aten-
dem este requisito:
ui = ai ln y + xi ;
Com as novas preferências, verifica-se facilmente que a condição de Bowen-Lindahl-
Samuelson é:
X ∂ui /∂y ∂ui ai ∂ui
i i
= 1; = ; i
= 1;
i∈I
∂u /∂x ∂y y ∂x
X ai X
= 1; =⇒ y = ai
i∈I
y i∈I
Nesse caso, o nı́vel do bem público y é unicamente determinado, pois não depende de xi .
181
Bens públicos
Exemplo 11.3 No divórcio amigável de Ana e Bernardo, ficou decidido que Ana ficaria com
Zoé, a cadelinha da famı́lia, sendo os gastos com Zoé, compartilhados. As preferências de Ana
e Bernardo são dadas pelas seguintes funções de utilidade:
uA = z α y A ; uB = z β y B ;
i Ana, temporariamente, não pode contribuir para a manutenção de forma que Bernardo arca
com a totalidade dos gastos de Zoé. Sua renda mensal de R$ 10000,00 é gasta com o seu
consumo e o de Zoé (z). Expresse a restrição orçamentária de Bernardo e determine os
nı́veis de z e y B .
ii Ana volta a trabalhar e recebe um salário de R$12000, 00. Ana escolhe sua contribuição, z A ,
ao observar a contribuição de Bernardo, z B . Bernardo reage de forma análoga. Sabendo-se
que z A + z B = z, encontre as funções de reação de Ana e Bernardo que caracterizam as
alocações Pareto eficientes.
iii Encontre uma alocação da renda de Ana e Bernardo que os deixe mais felizes que aquela
encontrada no item anterior - pecuniariamente, é claro!
iv Em caso de rompimento do acordo, que dificuldades teria a justiça para implementar uma
solução eficiente no sentido de Pareto.
Solução: O item 1 considera que Bernardo arca com a totalidade dos custos de Zoé, de sorte
que z B = z e z A = 0. Neste caso, tem-se que:
" #
B 1 yB
T M Sy,z = =1 (11.16)
3 z
yB + z = 10000, 00 (11.17)
zA + zB = z
Função de reação de Ana:
!
A yA
T M Sy,z =α = 1 = T M Ty,z (11.1)
zA + zB
1
12.000 = zA + yA ; α= (11.2)
4
Substituindo equação 11.2 na equação 11.2, temos:
182
Bens públicos
" #
1 12.000 − zA
=1
4 zA + zB
!
B yB
T M Sy,z =β = 1 = T M Ty,z (11.4)
zA + zB
yB + zB = 10.000 (11.5)
Substituindo a equação 11.5 na equação 11.4, temos:
" #
1 10.000 − zB
= 1 ⇒ 3zA + 3zB = 10.000 − zB
3 zA + zB
10.000 3
4zB = 10.000 − 3zA ⇒ zB = − zA
4 4
Logo, a função de reação de B:
3
zB = 2.500 − zA (11.6)
4
183
Bens públicos
zA = 1.000
Encontrando zB pela equação 11.6:
3
zB = 2.500 − (1000) = 1750
4
ou,
5
zB = 3.000 − (1000) = 1.750
4
Usando a equação 11.2 e substituindo zA , encontra-se yA :
yB + zB + yA + zA = 22.000
Solução de PE em termos de problema de distribuições, três variáveis — yB , yA , zA . Em
duas equações requer regras de distribuição.
184
Bens públicos
∗
max ui (xi , gi + g−i ) (11.7)
xi ,gi
sujeito a: xi + gi = ei
0 ≤ gi ≤ e i
Neste problema, cada consumidor supõe que a contribuição dos outros(gi∗ ) seja dada; ele
pode, então, ser representado como um jogo não cooperativo, do tipo:
Para o jogo Γ = (gi , Φi )Ii=1 , a estratégia g ∗ = (g1∗ , g2∗ , . . . , gI∗ ) é um equilı́brio de Nash se
Φi (gi∗ , g−i
∗ ∗
) = Φi (gi , g−i ), ∀gi ∈ Gi , ∀i ∈ I
185
Bens públicos
i
T M Sy,x = T M Ty,x (11.15)
O payoff de cada individuo é dado pela expressão ri − g i , nas duas situações acima
consideradas. A decisão de contribuir ou não para o financiamento do bem público e os payoffs
associados podem ser representados pela matriz de ganhos:
186
Bens públicos
2
Contribui Não contribui
Contribui (25, 25) (−50, 100)
1
Não contribui (100, −50) (0, 0)
Embora a decisão de adquirir o bem público seja pareto dominante, r1 + r2 + r3 = 110 >
100 = v, ela não será implementada pela regra de votação majoritária; por essa regra, o bem
público não será comprado, pois será vetado pelos condôminos 2 e 3, cujos payoffs lı́quidos são
negativos.
Exemplo 11.4 Considere uma economia pública, na qual os consumidores consomem dois
bens distintos, o bem público y e o bem privado (x). Suponha que um imposto Lump sum
(T = T i , ∀i ∈ I) é usado para financiar o bem público. A função de utilidade é ui (x, y) =
[M i − T i ]1−α g α , onde M i é a renda bruta do i-ésimo indivı́duo e 0 < α < P
1. Considere que os
preços de ambos os bens são iguais à unidade de sorte que y = py y = g = N i
i=1 g .
i. Mostre que a solução de voto majoritário requer que a quantidade de bem público seja
y = αN Mlmed , onde Mlm ed representa a renda liquida do eleitor mediano (dica: verifique
se as preferências têm pico único).
ii. Suponha que o bem público é financiado por um imposto proporcional ti = tM i sobre a
renda bruta, onde t é a alı́quota de tributação da renda. Mostre que o resultado do voto
majoritário é y = αN M , onde M representa a renda média da sociedade.
187
Bens públicos
∂ui
h
i g i−α 1 α α−1
h
i g i1−α
= (1 − α) M − − g + αg M − =0 (11.18)
∂g N N N
Rearrumando-se a expressão acima, tem-se que:
1 α α−1
h
i gi
(1 − α) g = αg M −
N N
(1 − α)
g = NMi − g
α
g ∗ = αN M i
X y
y=T =t M i = tM = N M =⇒ t = (11.19)
i∈I
NM
−α 1−α
∂ui Mi
y i α α−1 y i
= (1 − α) 1− M − y + αy 1− M = 0 (11.22)
∂y NM NM NM
Manipulando-se a expressão acima, podemos reescrevê-la como:
i
M α α−1 y i
(1 − α) y = αy 1− M
NM NM
Mi
y = Mi
αN M
y = αN M
188
Bens públicos
ii. Suponha que Berta consiga invadir o computador de Armando e piratear a sua produção
musical diária, estabelecida no item anterior. Derive o excedente do consumidor para
Armando e Berta (dica: compare seus resultados com os obtidos na ausência da produção
de música).
iii. Derive as condições marginais que caracterizam a alocação Pareto eficiente entre o consumo
de música e os demais bens; avalie o excedente total do consumidor no nı́vel de produção
socialmente ótimo.
iv. Suponha que Berta concorde em transferir t reais para Armando de modo a garantir que
a produção de música seja Pareto eficiente. Determine os pagamentos que produzem
alocações no core, assim como o excedente do consumidor, em função de t.
A ∂c(y)
T M Sx,y =8−y =4=
∂y
Resolvendo-se a expressão acima, tem-se que o número de horas é igual à 4. Caso Berta
consiga piratear a produção musical de Armando, o aumento do excedente do consumidor de
Berta e Armando será igual à:
y =0 ⇒ uA = xA ; u B = xB ;
y =4 ⇒ uA − cA (y) = xA + 32 − 16; uB = xB + 280
A A
ECy=4 − ECy=0 = uA A A
y=4 − uy=0 − C (y) = 16
B B
ECy=4 − ECy=0 = uB B
y=4 − uy=0 = 280
A condição socialmente ótima requer a soma das taxas marginais de substituição entre
os bens privado e público seja igual ao custo marginal relativo do bem público, isto é
T M S − x, y A + T M Sx,y
B
= (8 − y) + (12 − y) = 4
Resolvendo-se a expressão acima tem-se que yP E = 8. O excedente do consumidor
yP E = 8
EXCEDENTE DO CONSUMIDOR
u(y = 0) − u(y = 8)
189
Bens públicos
" #
1
ûA = xA − xA + 8(8) − 82 ⇒ ûA = xA − xA − 64 + 32
2
1
cSA = xA + 64 − 64 − xA 32 ⇒ cSA = 32 − 32 = 0
2
1
cSB = xB + (12 × 8) − 82 − xB ⇒ cSB = 96 − 32 = 64
2
cS = cSA + cSB = 0 + 64 = 64
cSA = ûA + T
cSB = ûA − T
max W = ui (xi , y)
x1 ,g 1 ,y
s.a. x1 = e1 − g 1 (11.23)
y = ζ(g 1 + g 2 )
x1 ≥ 0; g 1 ≥ 0
∂u1
=λ (11.24)
∂x1
∂u1
=µ (11.25)
∂y
0
λ = µζ (g 1 + g 2 ) (11.26)
g 1 = ξ(g 2 ) (11.27)
g 2 = ϑ(g 1 ) (11.28)
190
Bens públicos
Isto ocorre quando as funções de reação de cruzam. Para o consumidor 1, a condição de oti-
malidade do problema 11.23 define sua contribuição ótima em função do montante pago pelo
agente 2. Esta condição escreve-se como:
∂u1
∂y 1 1
∂u1
= 0 = 0 (11.29)
∂x1
ξ (g 1 2
+g ) ξ (G)
Esta igualdade mostra que a produção privada de bens públicos não satisfaz a condição
de Bowen-Lindahl-Samuelson (ver equação 11.2). Isto porque o consumidor 1 contribui para o
financiamento do bem público de forma a igualar o benefı́cio marginal relativo do bem público
1
ao seu custo marginal, em termos do bem privado, ξ0 (G) , sem levar em conta os benefı́cios
(prejuı́zos) da provisão do bem público para o resto da sociedade. Procedendo de forma análoga
para o consumidor 2, tem-se que:
∂u2
∂y 1 1
∂u2
= 0 = 0 (11.30)
∂x2
ϑ (g 1 2
+g ) ϑ (G)
Este resultado é facilmente estendido para todos os consumidores; cada um deles con-
tribuirá com um montante inferior (superior) ao benefı́cio marginal social. Concluı́mos, pois,
que a descentralização da provisão do bem público leva à produção ineficiente deste bem. For-
malmente, o montante investido na compra do bem público é tal que:
∂u1 ∂u2 ∂u1 ∂u2
1 ∂y ∂y 1 ∂y ∂y 1 1
0 = ∂u1
= ∂u2
= 0 ≤ ∂u1
+ ∂u2
= 0 P E
+ 0 PE (11.31)
ξ (G) ∂x1 ∂x2
ϑ (G) ∂x1 ∂x2
ξ (G ) ϑ (G )
Como ξ(g 1 +g 2 ) é crescente em (G = g 1 +g 2 ), o montante correspondente ao equilı́brio de
Cournot Nash, G é inferior ao investimento ótimo no bem público, isto é GP E . Este equilı́brio
é também conhecido como Equilı́brio de Subscrição, no qual os consumidores contribuem vo-
luntariamente para o financiamento do bem público. Este resultado pode ser ilustrado pelo
seguinte exemplo:
Exemplo 11.6 Considere uma economia com dois consumidores (i=A,B), cuja renda é
M A = M B = M = ei . Eles consomem dois bens, o bem privado x e o bem público y, cu-
jos preços são normalizados à unidade. Suponha que as funções de utilidade e as contribuições
de cada indivı́duo são expressas pelas seguintes equações:
Compute o equilı́brio de subscrição para esta economia e compare-o com o equilı́brio eficiente.
max uA = uA (xA , g A )
xA ,y,g A
s.a xA + g A = M
gA + gB = y
Este consumidor escolhe o seu consumo do bem privado xA e sua contribuição, g A para
a compra do bem público, de forma à maximizar sua utilidade sujeito à restrição orçamentária
191
Bens públicos
192
Bens públicos
É fácil verificar que no Equilı́brio de Cournot-Nash, a alocação entre bens públicos e bens
privados não é eficiente no sentido de Pareto. Para demonstrar esse ponto, vamos comparar as
contribuições ótimas neste equilı́brio com as que prevalecem no equilı́brio socialmente eficiente.
Para tal, considere uma função de bem estar utilitarista,tal que:
W = uA + uB (11.40)
Neste caso, o governo deseja encontrar as contribuições que asseguram o nı́vel eficiente
do bem público. Isto equivale a resolver o seguinte problema:
193
Bens públicos
sujeito a: xi + y = ei + g−i
y ≥ g−i
Teorema 11.1 Teorema da Neutralidade Suponha que as contribuições gi∗ sejam inici-
almente um equilı́brio de Nash. Considere uma redistribuição de renda entre contribuintes
(gi > 0). Esta distribuição se faz mediante transferências de bens privados, Ti , tal que:
I
X
Ti = 0
i=1
gi∗ = 0 =⇒ Ti = 0, Ti < gi∗
No equilı́brio pós-transferências, cada agente têm exatamente a mesma cesta que detinha antes
da redistribuição, isto é, ∀i ∈ I:
gi∗ (T ) = gi∗ − Ti
x∗i (T ) = x∗i
y ∗ (T ) = y ∗ (T )
Prova: Suponha que ∀i 6= j, a nova contribuição é gj∗ (T ) = gj∗ −Tj > 0. Como ´
P
j6=i Tj = −Ti ,
a restrição orçamentária do agente i torna-se
xi + gi = ei − Ti (11.44)
∗ ∗
xi + gi + g−i (T ) = ei − Ti + g−i (T ) (11.45)
∗ ∗
P
Porém, g−i (T ) = − Tj ) = −Ti . Então,
j6=i (gj
X
xi + gi + gj∗ − Ti = xi + y − Ti = ei − Ti + g−i
∗
(11.46)
j6=i
onde y = gi + j6=i gj∗ . Consequentemente, o agente i escolhe o par (gi , xi ) de sorte a resolver
P
o seguinte problema:
max ui (xi , y)
xi ,y
sujeito a: xi + y = ei +∗−i
∗ ∗
y ≥ g−i (T ) = g−i + Ti
que é similar ao problema 11.7, P exceto pela fato de a restrição de positividade da contribuição
∗
ser y ≥ g−i (T ), já que −Ti = j6=i Tj . Como supõe-se que gi∗ ≥ Ti , é possı́vel obter o equilı́brio
anterior, y ∗ = gi∗ + g ∗ −i ≥ Ti + g ∗ −i = g ∗ −i(T ). Dois casos merecem destaque:
a. Ti > 0: imposto que reduz o conjunto orçamentário. Pelo principio da revelação das pre-
ferências, y ∗ , como o equilı́brio anterior é ainda factı́vel no equilı́brio pós-transferências, ele
continua sendo preferı́vel às demais opções.
b. Ti < 0: transferências que expandem o conjunto orçamentário. Suponha que existe (x̂i ŷ), |
ui (x̂i ŷ) > ui (x∗i , y ∗ ). Por convexidade estrita das preferências, para α ∈ (0, 1), T = 0, temos
que
ui [(αx̂i + (1 − α)x∗i ), (αŷ + (1 − α)y ∗ )] > ui (x∗i , y ∗ )
Porém, para α suficientemente pequeno,
194
Bens públicos
Exemplo 11.7 Considere um economia pública com dois consumidores que gastam sua
renda com um bem público (y) e um bem privados (x). Os preços dos bens públicos e privados
são ambos iguais à unidade. Supondo-se preferências quase lineares, as funções de utilidades
√ √
desses indivı́duos são, respectivamente, u1 = x1 + 2 y e u2 = x2 + y. A renda total (M)
é igualmente distribuı́da entre os agentes 1 e 2. Aplicando-se a condição B-L-S e a regra de
factibilidade, tem-se que:
1 1
√ + √ =1 (11.47)
y 2 y
x1 + x 2 + y = M (11.48)
Ilustre graficamente a curva de possibilidades de utilidade e mostre que a Regra B-L-S produz
um equilı́brio único nesta economia.
Solução É fácil verificar que a Regra B-L-S garante que existe um nı́vel único ótimo do
bem público, y = 94 . Utilizando o valor ótimo de y, podemos computar as demandas pelo bem
privado dos agentes 1 e 2, a saber, x1 = x2 = M2 − 49 . A fronteira de possibilidades de utilidades
que corresponde a este problema é:
√
u1 + u2 = x1 + x2 + 3 g
"r #
M 9 9
=2 − +3
2 4 4
=M
Vamos, agora, exemplificar o caso das preferências não paralelas. Considerando-se ape-
nas dois consumidores e um bem público, produzidos sem nenhum custo desde que a quantidade
se situe entre zero e duas unidades. Neste caso, o conjunto das alocação factı́veis é:
195
Bens públicos
onde M representa a renda agregada da economia. As preferências são dadas pela seguinte
expressão:
2
ui (xi , y) = xi e−αi (y−1) , α1 > α2 > 0; (11.50)
u (x ,y) i i
O consumo do bem privado para o i-ésimo individuo é xi = −α 2 . Utilizando a equação
e i (g−1)
11.49 e somando sobre consumidores, podemos representar a fronteira de possibilidades de
utilidade, contingente ao valor de y como:
u1 u2
M= (y−1)2
+ (11.51)
e−α1 e−α2 (y−1)2
com y ∈ [0, 2]. A Figura 11.5.2 ilustra esta fronteira. A linha AB representa a curva de
2
possibilidade de utilidade, contingente ao valor de y = 0, isto é, u1 + u2 = M/[e−α2 (y−1) ]. A
medida que o valor de y aumenta, a inclinação da fronteira aumenta, quebrando a paralelidade.
Exemplo 11.8 Considere uma economia na qual todos os agentes têm a seguinte função de
utilidade:
I
X
i α
u (xi , y) = y [xi + βi y + γi ]; 0 < α < 1; βi = 0; γ > 0; (11.53)
i=1
Suponha que uma unidade do bem público pode ser produzida sacrificando-se uma unidade do
bem privado. A dotação inicial de bens privados é igual a W. Encontre a quantidade produzida
do bem público que satisfaz a regra de Bowen-Lindahl-Samuelson. Mostre que o resultado obtido
independe da distribuição de recursos entre os bens privados.
Solução: A taxa marginal de substituição entre o bem privado e o bem público é:
i α
T M Sx,y = [xi + βi + γi ] + βi (11.54)
y
196
Bens públicos
" I I
#
X X
y=α xi + γi (11.55)
i=1 i=1
representa a parcela do preço do bem público paga pelo i-ésimo consumidor, de sorte que
i
P
i∈I τ = 1, de sorte que:
X X
qi = q = gi
i∈I i∈I
Supondo-se que o bem público é produzido por uma única empresa, cuja função de custo
é c(y) = pv, com y = f (v). O problema da firma é:
max qy − pv
y
s.a y = f (v)
y ≥ 0; v ≥ 0
197
Bens públicos
do bem público y, enquanto que no equilı́brio de subscrição, ele paga o custo total de y. O
problema do consumidor torna-se, então:
max
i
ui (xi , y)
x ,y
(11.57)
s.a. xi + τ i q y
τ iq = qi
Definição Equilı́brio de Lindahl Uma alocação (xi , y), suportada pelos preços (p, q1 , . . . , qI )
é um Equilı́brio de Lindahl se, e somente, se:
pxi + q i y 6 pei
(x̃i , ỹ) i (xi , y) =⇒ px̃i + q i ỹ > p ei
q y − pv = 0
X X
pv = p ei − p xi ;
i∈I i∈I
Note-se que o equilı́brio walrasiano pode ser visto como um caso especial do Equilı́brio
de Lindahl, no qual existem bens públicos.
Teorema 11.2 Todo equilı́brio de Lindahl, definido pela alocação (x, y) e pelos preços (p, q1 , . . . , qI )
é fracamente Pareto-Eficiente e, sob não saciedade local, é Pareto-Eficiente.
Prova Por contradição. Suponha que o equilı́brio de Lindahl, sob não saciedade local, é
ineficiente. Nesse caso, existe (x̃i , ỹ) tal que:
198
Bens públicos
" I I
#
X X X
p x̃i − ei + q i ỹ > 0 (11.61)
i=1 i=1 i
Lembrando que a tecnologia utilizada para produzir o bem público apresenta retornos constan-
tes de escala, os lucros são nulos, isto é:
q ỹ − pṽ ≤ qy − pv = 0 (11.63)
e, finalmente, " #
X
(x̃i − ei ) + ṽ > 0 (11.64)
i
o que contradiz a hipótese de factibilidade da alocação (x̃, ỹ). Portanto, a alocação de Lindahl
(x, y) é eficiente no sentido de Pareto.
199
Bens públicos
que é exatamente a condição de Lindahl-Samuelson obtida quanto o bem público y era ofertado
pelo governo. A Figura 11.5 ilustra o Equilı́brio de Lindahl.
Exemplo 11.9 Considere uma economia, cujas preferências, tecnologia e restrição orçamentária
são as seguintes.
O preço do bem privado serve como numerário, isto é, p = 1. Compute o equilı́brio de
Lindahl desta economia.
200
Bens públicos
q i y L = (1 − αi )ei (11.3)
Exemplo 11.10 Considere um condomı́nio rural com cinco moradores que partilham uma
grande área verde, cuja manutenção requer apenas pesticidas naturais(y). As funções de utili-
dade dos condôminos são dadas pelas expressão:
1
ui (xi , y) = xi − [αi − y]; α1 = 30; α2 = 27; α3 = 24; α4 = 21; α5 = 18. (11.7)
2
Os pesticidas, produzidos em mercados competitivos, custam py = R$40, 00 o galão. Norma-
lizando preço do bem x à unidade, mostre que haverá um nı́vel ótimo único de y. Compute
o equilı́brio de Cournot-Nash e mostre que esta solução é ineficiente. Calcule os preços de
Lindahl.
201
Bens públicos
202
Bens públicos
∂u1 ∂u1 ∂q 1
1
∂u (·) 1 ∂u1 ∂y
=− 1 y− q −
∂r1 ∂x ∂r1 ∂x1 ∂y ∂r1
1
∂u /∂y
Lembrando que τ 1 py = q 1 = ∂u 1 /∂x1 , a expressão acima torna-se:
∂u1 ∂u1 ∂q 1
1 1
∂u1 ∂y
∂u ∂u /∂y
=− 1 y− − (11.6)
∂r1 ∂x ∂r1 ∂x1 ∂u1 /∂x1 ∂y ∂r1
De modo que:
∂u1 ∂u1 ∂q 1
1
∂u1 ∂y
∂u
= − 1 1y − −
∂r1 ∂x ∂r ∂y ∂y ∂r1
Finalmente:
(+)
∂u1 ∂u1 ∂q 1 (+)
=− 1 y (11.7)
∂r1 ∂x ∂r1
∂u1 ∂q 1
Note-se que na expressão (11.7) o sinal de ∂r1
deve ser contrário ao sinal de ∂r1
.
∂q 1 ∂u1
< 0 =⇒ >0
∂r1 ∂r1
O indivı́duo 1 tem interesse em mentir com respeito à r1 , sua informação privada. Ele
pode, por exemplo, fingir que gostaria de ter menos bens públicos do que ele realmente deseja -
afinal ninguém poderá contraditá-lo! Agindo assim, ele reduz q 1 , o seu preço personalizado de
Lindahl, deslocando parte de seu gasto com o bem público para o agente 2. Consequentemente,
para uma dada quantidade de y, uma parte maior de sua renda poderá ser destinada ao consumo
do bem privado, elevando, assim, seus nı́veis de utilidade. Daı́ o problema do ”carona”.
Segue-se, pois, que no equilı́brio de Lindahl os indivı́duos têm incentivo a mentir (não
revelar suas verdadeiras preferências) porque assim procedendo eles elevam seus nı́veis de utili-
dade. Concluı́mos,então, que é necessário estabelecer mecanismos de revelação de preferências,
para remediar o problema do ”carona”.
11.9 Exercı́cios
I. VERDADEIRO OU FALSO: JUSTIFIQUE SUA RESPOSTA.
1. Todo equilı́brio de Lindahl (x∗ , y ∗ ), suportado pelo sistema de preços (p∗ , q1∗ , . . . , qI∗ ) é
fracamente Pareto-Eficiente e, sob não saciedade local, é Pareto-Eficiente.
2. A oferta de bens públicos determinada por voto majoritário é eficiente no sentido de
Pareto.
3. Quando um bem público é financiado por meio de contribuições voluntárias, a quanti-
dade ótima deste bem satisfaz a regra de Bowen-Lindahl-Samuelson.
4. Se as preferências individuais forem single peaked, todos os contribuintes votarão, de
forma unânime, por mesma quantidade do bem público.
203
Bens públicos
5. Quando as preferências são separáveis entre o bem público e bem privado, o equilı́brio
de Bowen - Lindahl - Samuelson depende da repartição dos bens privados entre os
indivı́duos.
6. Dois consumidores idênticos partilham um bem público; no equilı́brio de Lindahl cada
um contribuirá para financiá-lo com o equivalente ao seu beneficio marginal privado.
1. Suponha que José e Haroldo gastam sua renda com um bem público (y) e bens privados
(x). Os preços dos bens públicos e privados são ambos iguais à unidade. Supondo-
se que as funções de utilidades desses indivı́duos sejam dadas, respectivamente, por
√ √
uJ = xJ + 2 y e uH = xH + y e que a renda é igualmente distribuı́da entre Haroldo
e José.
i. Determine a quantidade Pareto ótima de G.
ii. Escreva uma expressão para a fronteira de possibilidades de utilidade. Ilustre
graficamente sua resposta.
2. Suponha que os alunos do PPGE decidam comprar uma cafeteira Nespresso,N , para
colocar na sala de estudos do programa. Considere que você e alguns alunos são viciados
em café, estando, pois, mais dispostos contribuir para ter a máquina, que os outros
estudantes, não viciados. O custo da máquina de café é c. A disponibilidade a pagar
dos alunos - viciados ou não - pela cafeteira constitui uma informação privada. A função
de alocação é binária de sorte que N ∈ {0, 1}, isto compra-se, ou não, a cafeteira. Seja
ti a transferência para o i-ésimo aluno, cuja função de utilidade é ui (N, θi , ti ) = N θi −ti .
Suponha que i = 0 é o vendedor da cafeteira.
i. Encontre uma regra de decisão na qual (i) cada aluno reporta sua avaliação e (ii)
a cafeteira é comprada se, e somente, sua compra é eficiente no sentido de Pareto.
Suponha que i = 1, . . . , I alunos cuja avaliação privada é θi ∼ u(0, 1).
ii. Existe uma regra de repartição dos custos que incentiva os alunos a revelarem suas
verdadeiras preferências em relação à compra da máquina?
iii. Considere uma regra igualitária, na qual a cafeteira é comprada e seu custo repar-
tido igualmente entre os alunos.
iv. Mostre que no caso anterior, a transferência é ti (θ) = Ic N (θ).
v. Seja v i = v i (θ̃|θi , θ−i )i o payoff do aluno i quando ele reporta v i (θ̃), ao invés de sua
verdadeira avaliação, θi ; os demais alunos revelam verdadeiramente, θ−i . Mostre
que:
c
v i (θ̃) = [θi − ]N (θ˜i , θ−i ) (11.8)
N
3. Anita, Berenice e Carol dividem uma casa no Castelo Branco. Eles desejam contratar
um serviço de TV a cabo (y) que será instalado na casa. O custo deste serviço eleva-se
a R6, 00 para qualquer nı́vel não-negativo de y. As preferencias de Anita, Berenice e
Carol são dadas pela seguinte função:
u = xi + ri log y, rA = 4; rB = 8; rC = 36 (11.9)
onde x é o valor gasto com os demais bens; ri , as disponibilidades a pagar dos estudantes
pelos serviços de TV, são rA , rB e rC . Cada um deles dispõe de R40, 00 para gastar
com a TV paga.
i. Determine os nı́veis de serviços de TV a cabo consistentes com a otimalidade de
Pareto, para y > 0;
204
Bens públicos
205
12
”Mechanism design is the art of designing the rules of the game so that the
desirable outcome is reached despite the fact that each agent acts in his own self-
interest.”
T. Sandholm
206
Mecanismos para a provisão de bens públicos
v i = ui (a) − ti (12.1)
Definição Factibilidade dos mecanismos Um mecanismo é factı́vel se ele não gera déficit
fiscal, isto é:
Xn
ti (u) > 0 (12.3)
i=1
207
Mecanismos para a provisão de bens públicos
max ui (xi , y) = xi − ei + ri y
x,y
s.a xi + g i y = ei + ti
ui (ti , y) = ti + ri y − g i y
= ti + (ri − g i )y
= ti + v i y
Groves (1973) propôs um mecanismo no qual os agentes declaram seus benefı́cios lı́quidos,
b que podem diferir do valor verdadeiro v i . Seja M i = A, o espaço de decisão do agente i,
i
208
Mecanismos para a provisão de bens públicos
v 1 = 20 − 50 = −30
v 2 = 40 − 50 = −10
v 3 = 100 − 50 = 50
A ampliação dos jardins é uma decisão socialmente ótima visto que a soma dos benefı́cios
marginais lı́quidos é positiva.
O mecanismo de Clarke-Groves induz à revelação das verdadeiras preferências porque
não mentir constitui uma estratégia dominante para todos os agentes. Considere o payoff do
indivı́duo 1: (
v 1 + r2 + r3 se r1 + r2 + r3 ≥ 0
π1 =
0 se r1 + r2 + r3 < 0
onde ri é a valoração declarada do agente i; v i é a valoração verdadeira. Supondo-se que os
agentes 2 e 3 dizem a verdade, r2 = v 3 ; r3 = v 3 . O payoff do agente 1 torna-se, então:
(
v 1 + v 2 + v 3 = 10 se r1 + 40 ≥ 0 ⇒ r1 ≥ −40
π1 =
0 se r1 + 40 < 0 ⇒ r1 < −40
A expressão acima corresponde à compensação que deve ser feita pelo i-ésimo agente
quando ele impõe sua escolha preferida (por exemplo, a opção a) aos demais agentes. Para os
agentes lesados, esta transferência equivale à diferença entre a soma das utilidades da opção
b (segundo termo da equação 12.7) e a soma dos payoffs associados à opção imposta pelo i-
ésimo agente aos demais (primeiro P termo da equação 12.7).PNote-se que a função
P dej bem estar
social é utilitarista, isto é W = N
i=1 u i
. Definindo u N = N
i=1 u i
e u N −i = j6=i u , podemos
reescrever a equação 12.7 como
209
Mecanismos para a provisão de bens públicos
Prova O mecanismo VCG é eficiente (por definição: ver equação 12.2). Vamos, agora,
provar que ele é factı́vel. Somando-se a equação (12.8) sobre i, temos que:
n
X n
X X
ti (u) = − uN −i [a(u)] + max[uN −i (x)] (12.9)
x∈A
i=1 i=1 i
Pn
Porém, o termo i=1 uN −i [a(u)] da expressão acima pode ser rescrito como:
n
X N
X
uN −i [a(u)] = [uN [a(u) − ui (a(u))]]
i=1 i=1
XN n
X
= uN [a(u)] − ui [a(u)]
i=1 i=1
= N uN [a(u)] − uN [a(u)]
= (N − 1)uN [a(u)]
n
X
ti (u) = −(N − 1)uN [a(u)] + (N − 1)max uN [(x)] (12.11)
x∈A
i
A expressão acima garante que que a restrição orçamentária é respeitada, isto é:
n
X n
X
uN −i [a(u)] 6 max{uN −i (x)}
i=1 i=1
210
Mecanismos para a provisão de bens públicos
ui (a) − [−uN −i (a) + maxA (uN −i )] > ui (b) − [−uN −i (b) + maxA (uN −i )]
ui (a) + uN −i (a) > ui (b) + uN −i (b)
A expressão acima é verdadeira porque a(u) = maxx∈A [uN (b)]. Conclui-se, pois que o
mecanismo de Clarke é não manipulável.
Solução Note-se que este exercı́cio é uma aplicação direta do mecanismo de Clarke,P em que
ui (y) assume dois valoes: ui (0) = 0 e ui (1) = bi − nc . Definindo bN = N j
P
b
i=1 i , b N −i = j6=i b ,
o resultado (y,t) pode ser escrito como:
bN ≤ c =⇒ y = a(u) = 0
N −1
ti (u) = −0 + max 0, bN −i − c
N
bN > c =⇒ y = a(u) = 1
N −1
ti (u) = −0 + max 0, bN −i − c
N
Como anteriormente visto, o bem público será provisionado se, e somente se, os benefı́cios
para a sociedade derivados do seu consumo forem superiores ao seu custo, isto é,
n
X
se bi ≤ c =⇒ y = 0 (12.17)
i=1
A expressão acima considera dois casos. No primeiro caso, a exclusão do i-ésimo agente
não modifica a decisão dos demais agentes, que também preferem não produzir o bem público,
já que o benefı́cio total da provisão de y para estes agentes não cobre o seu custo. O agente i não
sendo pivô - sua exclusão não altera a decisão dos demais agentes - não precisa compensá-los.
O imposto de Clarke é zero (ti = 0).
No segundo caso, o beneficio total dos demais agentes supera o custo; estes agentes
preferem y = 1. A inclusão do agente i faz com que y = 0 modificando, assim, a decisão dos
demais agentes. O agente i é pivô devendo, pois, compensar os demais. O imposto de Clarke
corresponde a diferença entre os benefı́cios lı́quidos de custos associados à decisão de provisão
de y = 1 e aqueles decorrentes da não provisão deste bem (y = 0).
211
Mecanismos para a provisão de bens públicos
2. Considere o mecanismo [a(u), t(u)] tal que a(u) é eficiente ∀u e ti (u) = −un−i [a(u)]+ηi (u−i ),
∀i, ∀u.
Prova : não manipulável (exercı́cio) O fato de ser não manipulável implica que o mecanismo
de Clarke é também da classe dos mecanismos de Groves.
O Teorema 12.1 afirma que um mecanismo eficiente e não manipulável, em uma economia
que linear, é membro da classe dos mecanismos de Groves.
Nota-se que o Teorema 12.2 afirma que os mecanismos de Groves são tipicamente desbalancea-
dos (geram excedentes). Esses mecanismos não são Pareto Eficientes, mas constituem soluções
de second-best.
212
Mecanismos para a provisão de bens públicos
Solução: Note-se, em primeiro lugar, que os municı́pios pagarão até a soma dos payoffs em
termos absolutos para que a escola seja construı́da em sua localização preferida. Assim, por
exemplo, o municı́pio 1 pagará até 30 para mudar a localização da escola para a: (20+10) = 30,
isto é ele terá um payoff de 20 e deixará de perder 10, caso a opção escolhida seja b. De forma
análoga, os municı́pios 2,3 e 4 pagarão no máximo 20, 22 e 4 para que a escolha recaia sobre suas
opções favoritas. Como as preferências são quase-lineares podemos acrescentar uma constante
diferente para cada função de utilidade, de sorte que:
ui (a) + ui (b) = 0, ∀i ∈ M
Assim, por exemplo, somando-se −5 aos payoffs de 1, implica que os novos ganhos deste
municı́pios são, respectivamente, (20 − 5) = 15; −10 + (−5) = −15. Procedendo de forma
análoga para as demais cidades, podemos reescrever a matriz normalizada de payoffs como:
Verifica-se
P i facilmente que na matriz normalizada, a localização a é eficiente, isto é,
i
P
i u (a) > i u (b):
X X
ui (a) = 15 + 10 − 11 − 2 = 12 > ui (b) = −15 − 10 + 11 + 2 = −12
i i
213
Mecanismos para a provisão de bens públicos
Vamos, agora, mostrar que o mecanismo eficiente é manipulável. Suponha que as cidades
2, 3 e 4 revelem suas verdadeiras preferências, ui (a) = 3, i 6= 1. Se o municı́pio 1 reportar v 1 (a),
ao invés de uˆ1 (a), ele pode reduzir seu imposto, t1 . Vejamos:
Neste caso, o imposto do municı́pio pode ser calculado pelas expressão abaixo:
Nesta coalizão, a opção a é a escolha dos municı́pios, já que i6=4 ui (a) > i6=4 ui (b). O
P P
mesmo ocorre se a cidade 1 junta-se aos municı́pios 2 e 4, formando a coalizão S−3 ,
214
Mecanismos para a provisão de bens públicos
(P
ui (a) = 15 + 10 − 2 = 23
Coalizão (1, 2, 4) Pi∈S1 i
i∈S1 u (b) = −15 − 10 + 2 = −23
Novamente, a decisão eficiente é a locação a. Este resultado não se altera se uma nova
coalizão excluir a cidade 2, isto é, S−2 :
(P
ui (a) = 15 − 11 − 2 = 2
Coalizão (1, 3, 4) Pi∈S3 i
i∈S3 u (b) = −15 + 11 + 2 = −2
t1 = (−10 + 11 + 2) − (10 − 11 − 2) = −6
t2 = t3 = t4 = 0
+∆t1 = 6 − 12 = −6
(a) (b)
−∆t1 = 6; custo: +15 −(−15) = 30
O benefı́cio lı́quido do agente 1 não declarar sua verdadeira preferência (a) é:
ˆ − cmg
bmg ˆ = 6 − 30 = −24
Portanto, o bmg lı́quido é negativo, de modo que o melhor para o agente 1 é revelar sua
verdadeira preferência.
Agente 3: Suponha que esse agente exagere sua desutilidade da decisão (a), declarando
u3 (a) = −25
Nesse
P i caso, P
é fácil verificar que o agente 3 se torna pivot. (b) é, então, a decisão eficiente
( u (b) > ui (a)). Porém, agora, como 3 é pivotal, ele deve pagar o imposto t3 :
(a) (b)
t3 = (15 + 10 − 2) − (−15 − 10 + 2)
t3 = (25 − 2 + 15 + 10 − 2)
t3 = (40 + 10 − 4) = 46
215
Mecanismos para a provisão de bens públicos
2. O grupo A tem interesse em não revelar suas verdadeiras preferências? Se a resposta for
afirmativa, como induzi-lo a revelar a verdade?
Solução: na Tabela 12.3, se GM = 1, o custo total é 120. Supondo-se que estes custos são
repartidos igualmente entre residentes, cada grupo paga 40. Os benefı́cios totais lı́quidos para os
grupos A, B e C são,respectivamente, [60-40=20] e [120-40=80] [80-40=40]. Raciocı́nio análogo
pode ser feito para as opções 0, 2, 3. Examinando-se a tabela citada, verifica-se, facilmente,
que o beneficio social lı́quido é maximizado quando o número ótimo de guarda municipais é
igual a 2.
Resta, agora, identificar o individuo pivô. Isto equivale a verificar se a solução ótima é
modificada quando excluı́mos um dos grupos. Suponha que o grupo A seja o grupo excluı́do.
A Tabela 12.4 mostra os benefı́cios sociais lı́quidos da criação da guarda municipal com e sem
este grupo.
Duas tabelas auxiliares compõem a Tabela 12.4. A tabela da esquerda inclui todos
grupos; na tabela situada à direita, o grupo A foi excluı́do. Comparando-se as tabelas auxi-
liares, nota-se que a exclusão do grupo A não altera a escolha socialmente ótima. De fato, o
216
Mecanismos para a provisão de bens públicos
benefı́cio social liquido é maximizado quando GM = 2. Segue-se, pois, que o grupo A não é
pivô. Isto implica que para este grupo, a tributação de Clarke-Groves é nula. Replicando-se o
procedimento para o Grupo B, tem-se que:
Segue-se, pois, que o imposto do grupo C é igual à diferença entre a soma dos benefı́cios
lı́quidos dos demais grupos quando GM = 1 e esta mesma soma quando GM = 2, isto é
60 − 50 = 10. A Tabela 12.7 sumaria estes resultados:
217
Mecanismos para a provisão de bens públicos
218
Mecanismos para a provisão de bens públicos
D= {g i |g i ∈ (0, 1, 2, . . . , K)}
A contribuição voluntária de cada gente é g i , com G = Ii=1 g i . Os agentes tomam suas decisões
P
com base nas seguintes regras:
Esse tipo de jogo tem um equilı́brio de Nash Pareto-eficiente. Além disso, os equilı́brios,
perfeitos e não dominados, situam-se no core da economia. Um exemplo simples permite ilustrar
este ponto:
Exemplo 12.5 Considere um jogo com dois jogadores e a seguinte matriz de payoffs:
2
D C
A (1, 1) (−1, −1)
1
B (0, 3) 0, 3
Solução Este jogo tem dois equilı́brios de Nash: (A, D), cujos payoffs são (1, 1), e (B, C),
cujos payoffs são (0, 3). Destes dois equilı́brios, apenas o par de estratégias (A, D) é perfeito.
Isto pode ser visto por meio da forma extensiva desse jogo:
4
Bagnoli, M. and Lipman, B. Provision of Public Goods: Fully Implementing the Core through Private
Contributions. Review of Economic Studies, 1989, 56, pp. 583?601.
219
Mecanismos para a provisão de bens públicos
(a) (b)
1 2
A B D C
2 2 1 1
D C D C A B A B
(1, 1) (−1, −1) (0, 3) (0, 3) (1, 1) (0, 3) (−1, −1) (0, 3)
Suponha que o jogador 1 inicia o jogo (painel (a)). Por indução backward, o indivı́duo 1
escolhe a estratégia A (não há retaliação porque o jogador 2 também perde se jogar C (−1, −1)).
Por outro lado, 1 não escolherá B. Ocorre o mesmo com o jogador 2, no painel (b). O jogador
2 sempre jogará D, sua estratégia dominante. Portanto, o equilı́brio perfeito em sub-jogos é o
par de estratégia (A, D). A estratégia C nunca é uma melhor resposta para o jogador 2, face
ao jogador 1 jogando A com probabilidade (ε > 0) e B com probabilidade (1 − ε). Vejamos:
u2C = ε(−1) + (1 − ε)3 = −ε + 3 − 3ε = 3 − 4ε
u2D = ε + 3(1 − ε) = 3 − 2ε
Portanto, u2D > u2C . A estratégia D é também a melhor resposta do jogador 2, quando o jogador
1 joga A.
Feita a digressão sobre os equilı́brios perfeitos em sub-jogos, vamos agora usar as regras
do Mecanismo de Bagnoli-Lipman para encontrar as contribuições ótimas que viabilizam a
provisão do bem público.
Solução Vamos construir os payoffs: Se ambos não pagam, ou se o que pagam não é
suficiente para custear o bem público, o payoff será 0. Se o Jogador 1 pagar 1/3 e o 2 pagar
2/3, os payoffs são:
2 1 1 2 2
u1 = r1 − g 1 = − = ; u2 = r 2 − g 2 = − =0
3 3 3 3 3
220
Mecanismos para a provisão de bens públicos
Esse raciocı́nio se estende para as demais combinações de payoffs. Nesse caso, a forma
normal do jogo é:
Indivı́duo 2
0 1/3 1/2 2/3
0 (0, 0) (0, 0) (0, 0) (0, 0)
1/3 (0, 0) (0, 0) (0, 0) (1/3, 0)
Indivı́duo 1
1/2 (0, 0) (0, 0) (1/6, 1/6) (1/6, 0)
2/3 (0, 0) (0, 1/3) (0, 1/6) (0, 0)
Jogador 2
1/3 1/2
1/3 (0, 0) (0, 0)
Jogador 1
1/2 (0, 0) (1/6, 1/6)
Portanto, o equilı́brio de Nash restante é o par de estratégias (1/2, 1/2) cujos payoffs
são (1/6, 1/6). O custo do bem público é repartido igualmente entre os contribuintes. Neste
caso, o equilı́brio de Nash é não-dominado, de modo que ele encontra-se no core da economia.
12.4 Exercı́cios
I. VERDADEIRO OU FALSO: JUSTIFIQUE SUA RESPOSTA.
221
Mecanismos para a provisão de bens públicos
2. Considere uma economia pública com dois indivı́duos e um bem público. Este bem será
ofertado se, e somente se, b1 + b2 ≥ 4, onde bi são as disponibilidades a pagar pelo bem
público, reportadas pelos dois agentes. O valor lı́quido do bem público para o agente
1 é v 1 = 2. Mostre que declarar sua verdadeira disponibilidade a pagar constitui
uma estratégia dominante para este agente, se o pagamento pelo bem público segue as
seguintes regras:
1 se b2 ≥1 e b1 + b2 ≥4
4 − b2 se b2 <1 e b1 + b2 ≥4
b2 − 3 se b2 ≥1 e b1 + b2 <4
0 se b2 <1 e b1 + b2 <4
222
Mecanismos para a provisão de bens públicos
223
13
Provas resolvidas
224
Provas resolvidas
13.2 Referências
Arrow, K.J. 1951, Social Choice and Individual Values, Second Edition, 1963, New York: Wi-
ley.
225