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Unthinkable – análise e alguma especulação /JCA

Filme de 2010, realizado por Gregor Jordan. Com Samuel L. Jackson, Michael Sheen e Carrie-Anne Moss.

Personagens:~
H. ou Henry Harold Humphries, o interrogador/torturador especial.
Steven Arthur Younger (Yusuf), cidadão americano, ex-militar das Forças Especiais e
especialista em dispositivos militares e armas nucleares, com actividades na Rússia e no Irão; a
sua esposa, Jehan; tem dois filhos, um casal de crianças.
Helen Brody – Agente do FBI
Alvarez, ajudante de H.; Charlie Thompson, superior de H.
Nina, a mulher bósnia de H.
Jehan, esposa de Yusuf.

Sinopse
Um pretenso terrorista, Steven Arthur Younger, assim chamado inicialmente pois acabará por
mudar de nome por sua própria iniciativa, passando a chamar-se Yusuf, é um cidadão
americano, ex-militar das Forças Especiais e especialista em dispositivos militares e armas
nucleares, que anuncia, num video que ele próprio difunde, ter colocado três pequenas
bombas nucleares em três cidades dos EUA que ele não identifica. O pretenso terorista acaba
por se entregar às autoridades, deixando-se capturar num centro comercial.
H. é chamado a interrogar o terrorista. Para obter a sua confissão, vamos assistir a uma
escalada nos meios de tortura utilizados. Até chegarmos a meio verdadeiramente impensáveis.
Aí, as opiniões dividem-se.

Os fins justificam os meios?


Os meios, quaisquer meios, mesmo os mais chocantes, os mais impensáveis, podem encontrar
justificação nos resultados que se pretendem alcançar?
Quando está em causa a vida de milhões de pessoas, a população de três cidades, devemos
recorrer a todos os meios para obter a confissão de um terrorista que anunciou que tinha
colocado três pequenas bombas nucleares em três cidades americanas? Ou existem limites em
relação aos meios empregues?

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Critica-se a tortura por não atingir resultados fiáveis ou critica-se a tortura, não pela qualidade
dos resultados, mas porque é imoral em qualquer circunstância sujeitar o nosso semelhante à
dor e ao sofrimento? Ou será que surge justificada se alcançar resultados?...
Face aos resultados que se pretendem atingir, são aceitáveis todos os meios? Perante o
silêncio dum terrorista que ameaça a morte de dez milhões de pessoas inocentes, justifica-se o
emprego de todos os meios para obter a sua confissão? Mesmo os meios impensáveis?

São os terroristas que estão em causa ou somos nós e a nossa sociedade?


O terrorista acredita e não duvida; não escarnece da religião; aceita o seu destino. Por isso,
afirma H. que se trata das nossas fraquezas: “Não se trata do inimigo, mas de nós. Das nossas
fraquezas”. E o pior é que estamos do lado que está a perder.

Porque nos horrorizamos?


O nosso horror perante o que está a acontecer a Yusuf alimenta aquilo que designam como as
nossas fraquezas. A fraqueza do Ocidente é essa imediata solidariedade e horror que sentimos
em relação ao indivíduo torturado. Facilmente nos esquecemos que ele se prepara para matar
10 milhões de pessoas. Está provado pela investigação em psicologia sobre as nossas emoções
que “os suplícios de um só indivíduo identificável [são] muito mais marcantes para nós do que
os de um número elevado de pessoas que não podemos identificar” (Peter Singer, Ética no
Mundo Real, Lisboa, Edições 70, 2018, p. 212).
É por isso que “as crianças que não conhecemos nem podemos conhecer e que serão infetadas
pela malária sem mosquiteiros, não afetam as nossas emoções como a criança com leucemia
que podemos ver na televisão. É um defeito da nossa estrutura emocional, que evoluiu ao
longo de milhões de anos quando só podíamos ajudar pessoas que podíamos ver à nossa
frente. Não é uma justificação para ignorar as necessidades de estranhos distantes.” (Peter
Singer, op. cit., pp. 212-213).

Tudo normal?
O processo de tortura é normalizado, abordado como se tratasse de um procedimento normal,
que não tem nada de especial, um procedimento como mudar o óleo do carro ou substituir a
torneira do lava-loiça. H. e Alvarez, no início do processo de tortura, trocam impressões banais

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sobre a vida, sobre o verão passado. Tudo é normal. Cortar um dedo é apenas cortar um dedo,
ou melhor, como H. se justifica, “nem é o dedo todo”.
Tudo normal: como normais eram os homens (vizinhos) que violaram Nina, a bósnia mulher de
H. É tudo normal. No intervalo da sessão de tortura, H. está a almoçar com Nina, no exterior,
sentados na relva, como num piquenique ao ar livre. H. conversa através da net com os filhos
que estão em causa e ninguém esconde o amor mútuo. Os filhos aproveitam até para lhe
mostrar um desenho que tinham feito na escola. Nina consola H.: «Não tens dormido,
coitadinho!» (Ao mesmo tempo, lá dentro, dão um choque elétrico a Yusuf porque tinha
adormecido.)
Tudo normal. H. é um homem normal. O que ele faz é normal, é trabalho. E alguém o tinha de
fazer. De facto, alguém o faz, oculto do nosso olhar.

O limite: somos todos seres humanos


O processo de tortura segue em escalada. Começa com um dedo, com uma parte de um dedo.
Leva choques elétricos. São-lhe arrancados alguns dentes. Simula-se o seu afogamento. A
mulher de Yusuf, Jehan, é degolada. No auge deste processo, H. agarra nos filhos de Yusuf.
Para a agente Brody é o limite, a linha vermelha que não pode ser ultrapassada: «Somos seres
humanos. Não podemos fazer isto!» Mesmo que o director da CIA lhe diga que são apenas
duas crianças e que estão em causa milhões de cidadãos americanos, Brody (e Alvarez)
recusam continuar. É também nesse momento que H. diz a Yusuf que ele ganhou. Os outros
passaram para o lado dele.
«Somos seres humanos!». Eis o limite para a agente Brody. Mas que limite é esse? O que nos
leva a salvar duas crianças quando isso pode representar a morte de milhares de crianças, de
milhões de seres humanos, homens e mulheres, crianças e idosos? Porque não se poupa a vida
destes milhões de inocentes, que habitam as cidades onde se situam as bombas e que
desconhecem completamente o que está a acontecer, prosseguindo a sua vida, normalmente.
A vida dos filhos de Yusuf, que soluçam convulsivamente às mãos de H., aos olhos de todos,
vale mais que a vida de milhões de seres humanos? Dois valem mais que dez milhões?
Ou esta questão não tem sentido?
Avaliamos as ações segundo os seus resultados, as suas consequências? Ou existe um outro
nível, uma outra instância que suporta a avaliação que faço das ações do homem e que
impede que H. prossiga?
«Somos seres humanos!». Está aqui o limite. Na nossa humanidade? Na nossa razão que nos
caracteriza e distingue enquanto seres humanos? Não devemos continuar porque somos seres

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humanos… É aqui, também, que o Ocidente revela a sua fraqueza? Numa razão abstrata que
nada significa, afinal, perante a miséria e o sofrimento reais de muitos seres humanos? Como
apelar à nossa humanidade perante duas crianças, quando milhares de crianças morrem todos
os dias perante a nossa indiferença? Ou será que esta questão não tem sentido?

Algumas questões que se levantam:


- Os fins justificam os meios? Todos os fins? Todos os meios? Mesmo os meios impensáveis?
- É a tortura um meio aceitável ou admissível?
- É a tortura um meio eficiente para obter resultados? Se sim, isso torna-a admissível?
- Tem sentido neste âmbito distinguir a tortura física e a tortura psicológica?
- Que limites num processo de tortura para a obtenção duma confissão?
- Onde situar o limite? Que direitos ou valores ou princípios são inalienáveis, absolutos,
intocáveis?
- Que limites são esses?
- Onde ou em quê fundar esses limites? Numa convenção, em legislação internacional? Nos
costumes? Ou no coração do homem? Ou na sua racionalidade?

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