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Unidade III
7 POLÍTICAS PÚBLICAS
A diferenciação social é algo distintivo das modernas sociedades e é esse fator que gera, entre
os seus participantes, os conflitos decorrentes da heterogeneidade social, considerando sexo,
nível de escolaridade, cor, origem, valores éticos e morais, ideias etc. Cabe à esfera pública tentar
resolver ou ao menos atenuar esses confrontos, contudo, não se pode deixar de considerar que as
políticas públicas são definidas e executadas num ambiente de complexas relações entre o Estado
e a sociedade.
Conforme afirma Matias-Pereira: “Para que a sociedade possa sobreviver e progredir, o conflito
deverá ser mantido dentro de limites toleráveis, o que vai exigir a utilização da coerção pura e simples
da política” (2012, p. 194).
Veremos, a seguir, que vários são os envolvidos nas políticas públicas, como:
• políticos;
• Agentes internacionais: Organização das Nações Unidas (ONU), Organização Mundial do Comércio
(OMC), Unesco – órgão da ONU voltado à educação, cultura e ciência, FMI e Banco Mundial – que
oferece recursos financeiros e assistência técnica a regiões e países carentes ou voltados ao seu
desenvolvimento sustentável.
Essa palavra foi sofrendo grandes mudanças ao longo do tempo, permitindo descrições de fatos e
atos, de maneira estrita ou global, dependendo do contexto em que se realiza a análise.
Observação
Tanto política quanto políticas públicas estão relacionadas com os conceitos de Estado, conflito e
poder social, mas política é um conceito mais amplo, geral, ao passo que as políticas públicas equivalem
a soluções específicas para o tratamento dos assuntos públicos.
Na língua inglesa, há palavras distintas que propiciam, no nosso entender, um melhor entendimento
da variação conceitual entre os termos:
Saiba mais
• Policy: é, na verdade, a ação executada pelo governo, que se destina, apoiada na sua legitimidade,
ao atendimento das demandas da sociedade.
É importante considerar que existem conflitos permanentes na sociedade que não conseguem
ser resolvidos pelas políticas públicas, que procuram reduzi-los e orientá-los para suas formas não
destrutivas tanto para os partidos quanto para a coletividade em geral.
Lembrete
Tendo isso em mente, podemos nos referir às políticas de educação, saúde, assistência social, agrícola,
industrial, fiscal etc., que interferem no bem-estar da coletividade.
166
CONTABILIDADE SOCIAL
A política, pois, implica a possibilidade de os conflitos serem resolvidos de forma pacífica. Cabe,
contudo, ao Estado, desde que legitimado, exercer o monopólio da força, a universalidade (que especifica
que suas decisões devem ser cumpridas pela sociedade) e a inclusividade (conceito que estabelece o
poder do Estado de intervir em qualquer grupo, tendo em vista alcançar o bem esperado).
Wright (1942 apud MATIAS-PEREIRA, 2012, p. 202) define o conceito de política como “a arte de
influenciar, manipular ou controlar grupos com a intenção de avançar os propósitos de alguns contra
a oposição de outros”. Tendo em vista esse conceito, a análise política deve estar relacionada com as
preocupações e atuações dos policy makers (elaboradores de políticas).
“Um sistema político é [assim,] um tipo de governo em que a política busca garantir estabilidade e
ordem” (MATIAS-PEREIRA, 2012, p. 201).
Os maiores problemas enfrentados por uma sociedade usualmente estão correlacionados com
questões de natureza econômica, social, ambiental, política. Cada problema social afeta determinado
número de pessoas que podem, ou não, se mobilizar para tentar resolvê-los, dado que a sociedade não
consegue fazê-lo por sua própria conta e risco.
Tal como ocorre com política, de forma global, não há um consenso sobre o que são realmente as
políticas públicas. Sobre isso, mencionam Dias e Matos (2012, p. 4) que “[...] o objetivo dos políticos, sejam
quais forem seus interesses, consiste em chegar a estabelecer políticas públicas de sua preferência, ou
bloquear aquelas que lhes sejam inconvenientes”.
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Unidade III
Saiba mais
LASSWELL, H. D. Politics who gets what, when and how. Londres: Peter
Smith, 1911.
Política pública envolve um grande conjunto de assuntos interdisciplinares e seu entendimento mais
firme passa pelo do conceito de público. Dias e Matos (2012, p. 5) comentam que “O público compreende
aquele domínio da atividade humana que é considerado necessário para a intervenção governamental
ou para a ação comum”.
Pode-se, pois, definir políticas públicas como um elenco de princípios, critérios e linhas de ação
visando à garantia e permissão da gestão do Estado na solução dos problemas da sociedade.
Meny e Thoenig (1992 apud MATIAS-PEREIRA, 2012, p. 205) consideram que uma política pública
é representada também pelos “não atos” de uma autoridade pública com relação a um problema ou
conflito social.
Admitida essa proposta, podemos caracterizar casos de inação diante de um problema público, o
que, obviamente, não pode ser confundido com negligência ou descuido de quem tem a obrigação de
enfrentá-lo, principalmente quando se trata de gestor público.
A primeira abordagem refere-se à obrigatoriedade de tratamento por órgão público. Para a segunda, porém,
o mais relevante é se o assunto ou problema a ser tratado é público e não quem é encarregado de conduzi-lo.
Naturalmente, essas políticas devem contemplar todas as ações de governo, que sobressai em relação
aos demais agentes sociais no estabelecimento e implantação dessas políticas. Uma primeira e bem
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CONTABILIDADE SOCIAL
simples definição de uma política pública pode ser expressa como uma diretriz elaborada para enfrentar
um problema público. Outra definição de políticas públicas pode ser encontrada em Sebrae (2008, p. 5):
“[a] totalidade de ações, metas e planos que os governos (nacionais, estaduais ou municipais) traçam
para alcançar o bem-estar da sociedade e o interesse público”.
As políticas públicas podem ou não ser iniciadas pelos próprios governos e indicam o que eles
pretendem fazer e o que escolhem não realizar. De fato, o Estado moderno tem se constituído no
principal agente delineador e executor de políticas públicas. Entre as razões que poderíamos destacar
como justificativas para essa situação, temos que:
• grande parte dos recursos financeiros e de outra ordem de um país ou região é controlada pelo Estado.
Política governamental é, pois, uma política pública estabelecida por um agente da administração
pública, de qualquer um dos três poderes da Federação (União, estados e municípios).
Políticas públicas
Políticas
governamentais
Usa-se muito o termo em inglês policymakers para identificar os agentes (do setor público ou
privado) envolvidos com as políticas públicas.
Um problema público, pela sua complexidade, muitas vezes, faz com que sejam necessárias não uma,
mas várias políticas públicas que precisam ser coordenadas entre si.
Política pública
Política Política
pública Política pública
pública
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Unidade III
Há situações em que determinado problema público pode ser visto como particular, quando
ocorre, por exemplo, em eventuais casos de dispensas em grande número de funcionários por uma
empresa de grande porte. Nesse caso, eventualmente, nem a administração pública nem outra
entidade da iniciativa privada acabam considerando-o como um problema merecedor de uma
política pública.
Uma política pública, portanto, pode ser entendida como um programa de ação de um determinado
governo, que pode ser realizada por ele ou suas unidades constituintes ou organizações do Terceiro
Setor, como as ONGs, Oscips, fundações etc., com poder e legitimidade para estabelecer acordos e
parcerias com o Estado.
Lembrete
Outro ponto a considerar é que as políticas públicas variam conforme o nível de diversificação da
economia, do regime social, visão dos governantes com relação e condições de atuação dos diversos
grupos sociais (partidos políticos, associações de classes etc.).
As discussões relacionadas com o estabelecimento de políticas públicas devem, pois, levar em conta
os aspectos:
Alguns fatores são determinantes para o sucesso de uma política pública, como:
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CONTABILIDADE SOCIAL
Tem sido observado um aumento significativo do interesse no Brasil pelo conhecimento das políticas
públicas, em função do maior envolvimento e do aumento da conscientização social sobre os seus
efeitos na vida de cada indivíduo, seja no âmbito federal ou subnacional.
Finalmente, devem ser ressaltados o forte interesse dos agentes sociais e políticos, além dos aspectos
técnico e administrativo, à medida que o governo deve proceder a escolhas relacionadas com:
Bolivar Lamounier (1986 apud MATIAS-PEREIRA, 2012, p. 206) entende que o significado das
políticas públicas pode ser entendido com base na atuação técnico-administrativa, voltadas à eficiência
dos gastos, aos resultados práticos e ao reconhecimento de que toda política pública é um maneira de
intervenção do governo nas relações sociais, na qual o processo decisório condiciona e é condicionado
por interesses e expectativas sociais.
Entre outros aspectos, a qualidade do processo político irá determinar o desempenho da administração
pública e será dependente do comportamento dos agentes sociais.
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Unidade III
O capital social é constituído por redes, por organizações civis e pelos níveis de integração e de
confiança compartilhados entre os frutos a partir de suas próprias interações sociais.
De pronto, podemos salientar que uma política pública normalmente envolve várias decisões e
ações estratégicas para a sua execução. Cumpre, contudo, ressaltar que a CF/1988 não contém políticas
públicas, mas garante o direito a elas, como os direitos humanos, sociais e ambientais. O mesmo acontece
com as constituições dos estados e dos municípios (nesse caso, identificadas como leis orgânicas – LOM).
Não se pode falar de uma política pública ideal, dado que ela depende da conjuntura – contingência
– e do momento vivido – pela região ou pais. Como advertem Dias e Matos (2012, p.15) “[...] o que pode
funcionar em dado momento da história, em um determinado país, pode não dar certo em outro lugar,
ou no mesmo lugar em outro momento”.
É sempre importante frisar que as políticas públicas são compostas por decisões e ações capazes de
serem efetivadas em função da soberania do Estado.
Observação
Uma política de governo irá se tornar uma política pública desde que, entre outros aspectos:
• contenha critérios, linhas de atuação e normas adequadas, inclusive no que tange à sua
possibilidade de consecução;
• obedeça às constituições e leis e regulamentos a ela correlacionados, quer sejam dos poderes
locais, regionais e nacionais.
O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) aponta como características das políticas públicas:
• estabilidade: alterações devem ser feitas apenas nos casos em que houver modificações nas
condições socioeconômicas;
• coerência e coordenação: necessitam ser compatíveis com outras políticas, o que requer uma
comunicação adequada entre os responsáveis e idealizadores de cada uma delas;
• consideração do interesse público: nível de atendimento ao bem-estar geral com os bens públicos
que gera;
• eficiência: o Estado deve alocar os recursos disponíveis na sociedade, atentando para a sua
escassez, naquilo que ofereça os melhores retornos, inclusive os de natureza social.
Vários autores entendem que as políticas públicas são derivadas da política, de forma geral. Outros,
porém, entendem que a relação é exatamente inversa, no sentido de que são as políticas públicas que
determinam a política que se estabelece globalmente na sociedade. É o caso, por exemplo, de Secchi
(2010). Podemos, portanto, utilizar vários critérios para estabelecer os tipos de políticas públicas.
Todavia, não podemos considerar apenas a atuação relacionada com macro orientações de cunho
estratégico, como é o caso, por exemplo, da política monetária adotada pela União, pois também há
problemas ou situações de menor incidência ou impacto, retratadas por problemas municipais e locais.
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Unidade III
Conforme a Teoria das Arenas de Poder, de Lewi (apud SECCHI, 2010, p. 17), cada tipo de política
admite diferentes participações e, dessa forma, teríamos os seguintes tipos de políticas públicas:
Essas políticas definem padrões de comportamento, bens ou serviços, tanto para agentes públicos
quanto privados.
As discussões e aprovações relacionadas com esse grupo de políticas ocorrem em espaço em que
a capacidade de sua validação é proporcional à relação de força e poder entre os agentes econômicos.
• Distributivas: geram benefícios concentrados em grupos de agentes sociais, com custos difusos
para os demais.
Aqui, as discussões se devolvem em uma arena de menor conflito, visto que o pagamento pela
política é de responsabilidade da sociedade como um todo. Podemos mencionar como um exemplo de
política distributiva a construção de uma estrada vicinal, secundária, tendo em vista interesses e trocas
de apoios políticos.
Estão aqui classificadas as políticas públicas que geram benefícios concentrados a alguns tipos
de atores ou agentes sociais, mas que determinam custos para outros. Nesse caso, as discussões
ocorrem em ambiente considerado elitista, com confronto entre os que querem e os que não desejam
o desenvolvimento da política. Como exemplos desse grupo de políticas públicas podem ser citados,
no Brasil, os programas Bolsa-Família, a reforma agrária, o seguro-desemprego e as cotas raciais para
ingresso em universidades públicas.
• Constitutivas ou estruturadoras: estabelecem regras que devem ser obedecidas por outras
políticas públicas, por isso são também denominadas metapolíticas.
Não é visível de forma totalmente clara a separação entre esses tipos de políticas. Secchi (2010, p. 18)
menciona o exemplo de uma política de contratação de pessoal, que normalmente contém elementos
regulatórios e redistribuitivos.
James Quinn Wilson (apud Secchi, 2010, p. 19) foi outro estudioso que procurou separar as
várias políticas públicas, adotando como critério a distribuição dos custos e benefícios de suas
aplicações na sociedade.
O quadro a seguir, adaptado de Secchi (2010, p. 19), apresenta as alternativas de políticas públicas
propostas por esse autor:
Custos Benefícios
Distribuídos Concentrados
Distribuídos Política majoritária Política clientelista
Concentrados Política empreendedora Política de grupos de interesses
As políticas majoritárias apresentam tanto os custos quanto os benefícios espalhados pela sociedade,
podendo ser mencionadas as que implementam atendimentos educacionais e médicos.
Outra forma de classificar as políticas públicas consiste na sua divisão conforme as suas finalidades,
isto é:
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Unidade III
Estão enquadradas nesse tipo as políticas públicas relacionadas, entre outras, com salários, emprego,
saúde, saneamento, educação e nutrição.
Como integrantes deste grupo, podemos exemplificar, entre outras, as políticas relacionadas com
previdência social, alfabetização, habitação, assistência ao menor, apoio aos idosos, proteção das
gestantes e qualificação profissional.
Como exemplos, nesses casos, podemos apontar os programas Bolsa Família, Bolsa Escola e
Vale‑refeição.
Também podemos classificar as políticas públicas levando em consideração o alcance de suas ações
e então teremos:
• Focalizadas: atendimento restrito a determinados grupos sociais, em função dos seus níveis
particulares de necessidades ou condições especiais, como é o caso, no Brasil, entre outros, dos
programas Bolsa Família, Assistência ao Menor e Alfabetização de Adultos.
Nesse caso, podemos citar, entre outros exemplos, as políticas relacionadas com saúde, educação e
assistência social.
Cabe também mencionar os casos de novas políticas públicas, surgidas como decorrência do aumento
da complexidade das sociedades e das suas demandas com relação ao Estado.
• Turismo.
Destacam-se, ainda, os casos de políticas dirigidas a grupos específicos (como é o caso de pessoas
com problemas físicos ou mentais e grupos indígenas), nos quais há a ativa participação de unidades
como as fundações e as ONGs.
Uma teoria que engloba as explicações e conceitos de políticas públicas é a neoinstitucional, que
atenta para a relevância das instituições para a compreensão da ordem social e política do Estado. Os
temas fundamentais tratados por essa teoria são:
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CONTABILIDADE SOCIAL
• normas e regulação das entidades públicas e seu relacionamento com os atores sociais;
Em todos os tipos aqui apresentados, observa-se uma mescla de objetivos técnicos e políticos.
A globalização, assim como tem ocorrido com a sociedade como um todo, exerce notável influência
sobre a Constituição e o rumo das políticas públicas. Nesse aspecto, é possível, inclusive, considerar que
elas afetam mais as políticas locais, comparativamente, que as influências nacionais.
[...] muitas políticas públicas [...] têm um marco de referência cuja origem
são os diversos organismos que integram a estrutura de governança global
[...] esse quadro de referências global não pode ser ignorado, pois o processo
de globalização e a consequente integração [...] em todos os aspectos –
políticos, econômicos, cultural e social – é irreversível e tende a se consolidar
cada vez mais (DIAS; MATOS, 2012, p. 23).
É importante atentar para o fato de que essas influências globais não afetam todos da
mesma forma e na mesma intensidade. O que se tem visto é o caso de entidades subnacionais
obtendo empréstimos e financiamentos externos voltados à execução de políticas econômicas,
as quais são bem aceitas internacionalmente, notadamente quando se referem a expectativas
de maior desenvolvimento econômico e social das regiões. Há casos, também, de municípios que
aumentam a sua divulgação no exterior, visando atrair recursos (notadamente financeiros) para
suas localidades. Conforme apontam Dias e Matos (2012, p. 25): “Ocorre uma interdependência
cada vez maior entre unidades locais de diversos países e organizações internacionais, entre
outras articulações globais”.
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Unidade III
As políticas públicas são de responsabilidade de todos os três poderes da Federação. Assim, cabem à
União as políticas globais, relacionadas, por exemplo, com a defesa do país e a proteção dos potenciais
energéticos, financeiros e comunicativos. É a União, também, que atua como centralizadora das políticas
regionais considerando, notadamente, sua adequação às prioridades e à macroeconomia em longo prazo.
Os Estados, por outro lado, respondem pelo desenvolvimento regional e fiscalizam as políticas locais
(dos municípios).
Os municípios são dotados de uma LOM e representam as unidades da Federação mais próximas da
população, usufruindo de autonomia em relação aos poderes superiores. Eles podem estabelecer suas
próprias políticas públicas, arrecadar e controlar os tributos a seu cargo, mas, por outro lado, respondem
pelo desenvolvimento regional e fiscalizam as políticas públicas. Em seus territórios, podemos distinguir
as áreas urbanas e as rurais.
O fato é que, paulatinamente, ao contrário do que era previsto, os governos municipais exercem
um papel mais significativo no estabelecimento de políticas públicas, inclusive em associações com
entidades do Terceiro Setor e, como vimos, até obtendo empréstimos e recursos financeiros externos
de entidades como o Banco Mundial. Sobre esse papel de grande importância, Dias e Matos (2012, p.
33) afirmam que “[...] o local assume o papel de ator de peso na consolidação de uma perspectiva de
desenvolvimento nacional”.
As políticas públicas costumam tratar, por exemplo, de problemas coletivos, tais como educação,
saúde, habitação, assistência social, previdência, transportes, saneamento, turismo, esporte, cultura,
segurança, trabalho e emprego. As perguntas frequentes feitas com relação a elas são, por exemplo:
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CONTABILIDADE SOCIAL
• Atendem aos cidadãos de forma adequada? Caso contrário, o que deve ser feito para combater a
restrições e barreiras?
• São suficientes os recursos, principalmente os financeiros, para a execução das políticas públicas
de interesse da coletividade? Elas são distribuídos de forma satisfatória?
As políticas sociais têm suas raízes nos movimentos populares do século XIX
voltadas aos conflitos surgidos entre capital e trabalho, no desenvolvimento
das primeiras revoluções industriais (MATIAS-PEREIRA, 2012, p. 225).
Como exemplos das variadas alternativas de políticas públicas voltadas ao aspecto social
e de redistribuição de renda destacam-se, entre outras, as voltadas à educação e à saúde, que
trataremos a seguir.
Lowi (1972 apud MATIAS-PEREIRA, 2012, p. 18) destaca algumas importantes características
das políticas redistributivas, como o fato de estas serem direcionadas para o conflito social.
Historicamente, o Estado brasileiro não cumpriu de forma adequada a sua responsabilidade de
redistribuição social, pois, entre outros fatores, considerava-se até pelo menos a década de 1970
que o desenvolvimento da produção e o próprio processo de industrialização seriam indutores
naturais da inclusão social.
A CF/1988 alterou essa visão, determinando grandes avanços em termos de políticas e conquistas sociais.
Muita coisa foi alterada desde essa época até os dias atuais, mas constatam-se, ainda, grandes dificuldades do
poder político no estabelecimento de políticas que reduzam a concentração de riquezas na sociedade.
Várias ações governamentais têm sido adotadas no Brasil para a inclusão e melhora do nível de
atendimento à população, como ocorre na educação profissional (tecnológica).
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Unidade III
Saiba mais
<http://portal.mec.gov.br/>
• Prouni: criado em 2004, visa à concessão de bolsas de estudo integrais e parciais em cursos de
graduação e sequenciais de instituições privadas de ensino superior a quem não possui diploma
de educação universitária.
• Sisu: oferecimento de vagas pelas instituições públicas de ensino superior para participantes do
Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), criado em 1998 visando à avaliação de desempenho dos
estudantes no final do período da educação básica.
O Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado em 1990 pela Lei n° 8.080, que normatiza:
• condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde;
• organização e o funcionamento dos respectivos serviços;
• direção, gestão, competência e atribuições de cada nível da Federação;
• participação complementar do sistema privado.
Além disso, ligada a ela está a Lei nº 8142 de 1990, que dispõe sobre:
• participação da comunidade na gestão do SUS;
• transferências intergovernamentais de recursos financeiros;
• instituição dos conselhos de saúde.
Além das políticas com objetivos fundamentalmente sociais, mencionadas no item anterior, é
importante considerar que as políticas públicas estão também relacionadas com a solução ou tratamento
das chamadas falhas de mercado (externalidades e não oferta de bens públicos).
A externalidade positiva deve-se à atuação de um agente econômico que gera melhoras nos
resultados de outro, traduzindo, assim, um benefício social maior do que o privado. O governo deve
intervir na economia para que sejam alcançadas os objetivos desejados pela sociedade.
Os bens públicos são aqueles que, por incapacidade ou falta de interesse (muitas vezes devido
aos retornos financeiros mais lentos), não são oferecidos pela iniciativa privada. Estão nesse campo
compreendidas as macropolíticas monetária, fiscal, tributária, cambial, de rendas etc.
O grau de intervenção do Estado nas atividades econômicas está diretamente relacionado com o seu
contexto ideológico (liberalismo, conservadorismo, marxismo e nacionalismo).
Muitos estudiosos, porém, argumentam que a menor participação do setor industrial se deve à sua
perda de importância comparativamente ao de outros setores, principalmente o de serviços.
O quadro a seguir, adaptado de Bacha e Bolle (2013, p. 91), apresenta propostas de alternativas de
políticas públicas para o desenvolvimento do setor industrial:
182
CONTABILIDADE SOCIAL
Observação
O governo federal tem procurado estabelecer políticas públicas de incentivo ao setor (notadamente
aos pequenos produtores – a chamada agricultura familiar), com programas como:
183
Unidade III
Saiba mais
<http://portal.mda.gov.br/portal/saf/programas/>
Pelo seu dinamismo, tem sido difícil para o Estado responder de forma adequada às demandas sociais
para esse setor. Assim, muitas vezes, a participação nas políticas públicas acaba sendo conduzida de forma
mais atuante pelas entidades do Terceiro Setor. Um dos aspectos que tem sido considerado é o de que
a falta de um planejamento mais rigoroso não constitui problemas na cobertura de solicitações desse
segmento, comparativamente a outras políticas públicas, como aquelas voltadas à educação, saúde etc.
Há ainda muita carência com relação aos estudos que medem e avaliam o impacto das políticas
direcionadas ao turismo na vida de uma coletividade, no que se refere a aspectos como:
• índice de satisfação;
• benefícios culturais;
• mudanças sociais;
Contudo, não é difícil reconhecer os benefícios diretos e indiretos para a comunidade, à medida que são
geradas inovações e incrementadas as interações entre culturas diferentes, em termos de melhor convivência
dos indivíduos com relação a tolerância, respeito e reconhecimento da diversidade entre os povos.
Uma política voltada ao desenvolvimento do turismo, por exemplo, deve ser coordenada considerando
os aspectos:
• entretenimento: propiciar o surgimento de novos serviços voltados ao lazer, com base, por
exemplo, em espetáculos, festivais etc.;
• cívicos: aumentar a participação social, incluindo a população local nas decisões relativas ao
desenvolvimento do turismo, promovendo a constituição de organizações democráticas e
parceiras da administração pública.
Os municípios são os entes da Federação com maior aptidão para a promoção dessas políticas
públicas, dada a maior facilidade de interação com a sociedade onde o turismo é realizado.
• administração de museus;
• etc.
185
Unidade III
Podemos elaborar um diagrama que representa as fases de desenvolvimento até uma eventual
extinção de certa política pública. A figura a seguir demonstra a interação entre essas várias etapas:
Estruturação do Avaliação
problema
Conjunto de Implementação de
possíveis soluções decisão
Análise de Tomada de
soluções decisão
Podemos também caracterizar um problema público como algo que pode surgir sem a interferência
dos agentes sociais, como é o caso das inundações. O problema pode, também, ganhar importância
gradativamente, passando a tornar-se algo que preocupa os integrantes da sociedade. Podemos, ainda,
considerar o caso de um problema antigo, mas que nunca recebeu a devida prioridade para o seu
tratamento via políticas públicas.
São vários os agentes, tanto do setor privado quanto público, que participam e influenciam as
decisões sobre políticas públicas, sejam eles indivíduos ou pessoas jurídicas visando atender aos seus
próprios interesses ou do grupo social que representam. No caso de pessoas jurídicas, podemos indicar,
por exemplo, a presença de empresas, grupos, organizações, movimentos, partidos etc., que tenham ou
não finalidades de lucros que participam de políticas públicas.
Esses agentes, com diferentes interesses, lançam mão de diversos instrumentos para o sucesso em
suas empreitadas, desde a pressão simples, através do lobby, como greves, mobilizações, participação em
reuniões, eventos etc.
186
CONTABILIDADE SOCIAL
Há pleitos que são mais facilmente defendidos, como é o caso, por exemplo, da proposta de iluminação
em uma via urbana. Caso, por exemplo, haja uma proposta para a construção de um aeroporto numa
cidade do interior, poderão existir fortes resistências de grupos preocupados com aspectos ecológicos
ou sociais, entre outros.
Assim, é necessário que se atente para a correlação de forças entre os agentes envolvidos
nas formulações de políticas públicas. O comportamento desses agentes poderá ser reforçado ou
inibido por:
Cada vez mais percebe-se a participação de organizações do Terceiro Setor na disputa pela solução
de problemas públicos, normalmente em áreas sociais, como saúde, educação, meio ambiente, proteção
de minorias, cultura. Entre as organizações do Terceiro Setor, destacam-se as fundações privadas e as
entidades filantrópicas.
Nos processos de decisões sobre as políticas públicas, a atuação do Terceiro Setor é notada na
elaboração dos planejamentos e orçamentos participativos e nos conselhos gestores setoriais. Existem
várias maneiras de classificar esses agentes, conforme pode ser visto a seguir:
187
Unidade III
188
CONTABILIDADE SOCIAL
Com relação aos agentes anteriormente indicados, podemos considerar, também aqueles que
indicamos a seguir.
Os agentes fundamentais são representados pelos políticos e pela alta administração pública
(presidente, governadores, prefeitos, ministros, secretários, senadores, deputados e vereadores) que têm
legitimidade para opinar, atuar e defender interesses de seus representados.
Os políticos e suas equipes de trabalho permanecem em seus cargos durante um período determinado
(mandato) que, no caso dos chefes do Poder Executivo, pode ser prorrogado por meio de reeleição
dependendo da manutenção da confiança junto a seus eleitores.
Os integrantes do Poder Legislativo, além de canalizar as demandas sociais, individuais ou dos grupos
que representam, têm a seu cargo as tarefas de aprovação e promulgação das normas e leis relacionadas
com as políticas públicas. Eles também controlam a execução orçamentária do Estado.
Muitos políticos, contudo, exercem suas funções em nome de uma determinada classe ou categoria social.
Partidos políticos são constituídos por grupos de pessoas com iguais interesses e têm o objetivo de
exercer o poder político no Estado. Apesar de serem muito criticados (uma vez que fazem a intermediação
entre a administração e a sociedade civil), são agentes muito importantes no processo de formulação de
políticas públicas, as quais influenciam direta ou indiretamente.
Lembrete
Também são afetadas pelos partidos as decisões governamentais, quer seja na condição de partido
aliado, quer na de opositor. Muitos partidos contam com institutos responsáveis pela elaboração de
propostas de políticas formuladas em conformidade com os interesses de seu eleitorado.
189
Unidade III
Políticos
Designados politicamente
Burocratas
São funcionários temporários ou de confiança dos chefes dos poderes e não possuem vínculo com o
setor público, constituindo os chamados cargos de livre provimento, ocupados por servidores de carreira
ou por pessoas externas.
A equipe técnica representa o que é denominado de burocracia pública, formada por funcionários de
carreira ou que tenham disponibilidade para lidar continuamente com questões públicas.
7.2.1.5 Juízes
O cargo de juiz também está incluído na categoria dos servidores públicos. Sua função possui a
competência para interpretar determinada norma ou lei, considerando-a justa ou injusta. Os juízes
costumam ser alvo de pressões de grupos de interesse e partidos políticos.
190
CONTABILIDADE SOCIAL
Lembrete
Cabe aos juízes, entretanto, como a todos os funcionários públicos,
manterem-se fiéis ao princípio da eficiência da administração pública,
direcionando suas ações à obtenção do bem comum.
Estados Unidos da América e Inglaterra atuam dentro do sistema conhecido como Common
Law, ou seja, grande parte de sua implantação de políticas públicas é decidida nos tribunais, o que
é devido, por exemplo, à existência de leis menos detalhadas, que requerem mais interpretação
para sua aplicação.
Nos países em quer vigora a chamada Civil Law, como é o caso do Brasil, dado o maior detalhamento
da legislação, diminuem, no geral, as dificuldades de interpretação das normas e leis.
7.2.1.6 Mídia
O papel da mídia é manter a sociedade informada e contribuir para o exercício da cidadania e para o
próprio fortalecimento da democracia, de forma que a sociedade possua controle social sobre a atuação
da administração pública. Os agentes midiáticos são os maiores divulgadores dos sucessos e fracassos
das políticas públicas. Reportagens de revistas, jornais etc. de grande audiência são meios eficazes para
a propagação de informações das políticas públicas, contribuindo para o seu sucesso (ou fracasso, em
alguns casos).
É importante o papel de controle exercido pela mídia sobre a esfera pública e as ações da administração
pública, via, por exemplo, jornalismo investigativo, que, entre outros, denuncia atos de corrupção e
ajuda a priorização das políticas públicas.
7.2.1.7 Empresas
As empresas podem exercer influência nos processos eleitorais e mesmo após a posse dos eleitos.
191
Unidade III
Os centros de pesquisa podem ser privados, administrados por universidades ou ligados diretamente
ao setor público ou a organizações do Terceiro Setor, podendo, neste último caso, ser mencionados,
entre outros, os exemplos: Greenpeace, Human Rights Watch, Anistia Internacional, Médicos sem
Fronteiras, Fundação Abrinq etc.
Grupos de pressão diferenciam-se dos partidos políticos por não almejarem o poder político e por
defenderem temas bastante específicos (DIAS; MATOS, 2012, p. 57). Eles podem atuar também com base
em lobbies.
Alguns são formalmente constituídos, como os colegiados profissionais, associações comerciais etc.
Já outros são tipicamente informais, como é o caso dos que lutam por mais rigidez ou mais relaxamento
no tratamento de questões ecológicas ou ambientais.
Esses grupos, usualmente, dispõem de recursos, que podem ser utilizados em suas práticas de incentivo
a determinadas políticas públicas. Entre esses recursos e possibilidades, podemos destacar os financeiros, os
de conhecimento mais específico da questão que está sendo tratada e os de capacidade de planejamento.
Esse tipo de agente social é denominado policy taker e, embora possam atuar de forma passiva, em
muitas situações conseguem um poder de articulação que lhe possibilita influenciar os processos de
formulação e decisão de novas políticas públicas.
192
CONTABILIDADE SOCIAL
O processo de definição de uma política pública é representado por várias rodadas de negociações
entre os agentes nela envolvidos, que podem ser formais (em ministérios, no Legislativo etc.) ou informais
(em praças, espaços públicos).
As políticas públicas visam atender às demandas da sociedade, que podemos identificar como sendo:
• novas: inclusão de novos agentes (que antes não atuavam na arena política) ou problemas
(inundações, crises externas etc.);
• recorrentes: aquelas que revelam problemas que não merecem atenção e prioridade devidas,
ou que nunca foram resolvidas satisfatoriamente, mas que frequentemente afetam a vida em
sociedade, como trânsito caótico, atendimento médico insuficiente etc.;
• reprimidas: são aquelas que acontecem em comunidades sem força política para alterar a situação
e obter uma solução para os problemas.
Observação
193
Unidade III
Para o tratamento da política pública pode ser usado, à semelhança do que é feito na iniciativa privada,
um modelo simples conhecido como ciclo de políticas públicas. Nesse modelo, o desenvolvimento de
uma política pública é dividido em fases ou etapas, cujo número recomendado varia, segundo estudiosos
do assunto. O que parece constituir um padrão mais aceitável é a distribuição em cinco etapas:
• avaliação dos resultados da implantação – reações à ação priorizada e juízo de valor sobre os seus
efeitos na sociedade.
Certamente não é incomum que o resultado de uma determinada fase ou etapa influencie a próxima
e/ou a sequência do projeto. Adaptada a partir de Procopiuck (2013, p. 1142), o quadro a seguir comenta
as diferentes fases de um processo de políticas públicas:
Fases Características
Pensamento criativo sobre o problema.
Definição de objetivos.
Iniciação Identificações de alternativas.
194
CONTABILIDADE SOCIAL
Conclusão Comparar o que foi necessário com o que foi requisitado, em termos
dos recursos utilizados pela política pública.
Para que um problema entre na agenda do governo é necessário que se torne político, o que se
consegue, muitas vezes, pela mobilização dos agentes envolvidos com o processo.
Todo problema público é sempre uma construção social que apresenta uma
sequência: primeiro, adquire certo nível de generalidade, como problema
público; depois, adquire reconhecimento social; e, em terceiro lugar, torna-
se susceptível de ser parte da agenda política a ser institucionalizada (DIAS;
MATOS, 2012, p. 68).
Para Cobb e Elder (apud SECHHI, 2011, p. 36) existem dois tipos de agendas:
• política: problemas ou assuntos que a sociedade entende que devem ser tratados de forma
prioritária pelos governos;
Secchi (2011, p. 36) menciona também a agenda da mídia, em função das divulgações de problemas
e dos assuntos de interesse público nos meios de comunicação (rádio, TV, jornais, revistas etc.).
A segunda forma de entrada de questões ocorre através do próprio processo político, visando
angariar a simpatia do eleitorado.
A terceira forma é a própria ordenação dos assuntos na agenda política, notadamente para os
processos que demandam aspectos técnicos e de pesquisa mais severa.
Outra forma de entrada é a antecipação dos problemas e conflitos latentes no universo dos assuntos
públicos, determinando, pois, a constituição de políticas proativas, como são os casos relacionados com
distribuição de renda, disponibilização de moradias etc.
É muito frequente que os problemas envolvam mais de uma área. Assim, uma questão inicialmente
relacionada com a educação pode gerar ações do governo também na área de saúde.
É preciso que sejam feitas análises técnicas, políticas e econômicas para se identificar a prioridade
de atenção à política pública e à sua inclusão na agenda de governo. Conforme apontam Dias e Matos:
“Toda construção de agendas envolve um processo altamente seletivo, em que concorrem os problemas
com diversas hierarquias de prioridades, que em geral são bastante heterogêneas” (2012, p. 73).
Podem ser identificadas pelo menos 5 características para que um problema passe a merecer uma
atenção maior da sociedade:
• grau de generalização;
• escopo da importância;
• relevância temporal;
• grau de complexidade;
• precedência categórica; problemas com precedentes parecidos atingirão mais rapidamente uma
maior atenção.
196
CONTABILIDADE SOCIAL
Vale salientar, também, que nem todos os temas de uma agenda são convertidos em programas.
Usualmente, inclusive, poderemos ainda ter mais de uma agenda:
Analisando a evolução da agenda pública no Brasil nos últimos 80 anos, Matias-Pereira (2012, p.
234) separa as seguintes fases:
Uma vez incluída na agenda a escolha de alternativas para as políticas públicas a serem implantadas,
passa-se à fase de escolha de alternativas que serão adotadas para o seu planejamento e execução.
Trata-se de uma etapa em que, além dos fatores de mobilização política, entram em ação os técnicos e
especialistas no assunto, que construirão cenários alternativos para a solução dos problemas cobertos
pela política pública.
197
Unidade III
É fundamental que haja um balanço adequado “entre os dois lados da moeda” – o técnico e
o político.
É na fase de montagem das alternativas de solução de um problema que são definidos métodos,
estratégias ou processos visando alcançar os objetivos pretendidos com a sua solução. Cada uma
delas irá requerer diferentes composições de recursos e apresentará diferente probabilidade de
ser bem-sucedida.
Novamente, é fundamental mencionar que deve existir um balanço adequado “entre os dois lados
da moeda” - técnico e político. Ambos têm importância na decisão que será adotada e precisam ser
contemplados ou ao menos tratados pelos responsáveis pela política que foi priorizada.
Existindo os problemas, as decisões de enfrentá-los podem ser feitas com base nos seguintes modelos:
Considera-se que a tomada de decisões deve ser entendida como um esforço entre opções
satisfatórias, não necessariamente ótimas. O quadro a seguir compara as duas alternativas
anteriormente indicadas:·
Condições de Modalidade de
Análise das Critério de
Modelos conhecimento do escolha entre as
alternativas decisão
tema alternativas
Análise completa,
Racionalidade Certeza com cálculos de Cálculo Otimização
absoluta consequências
Comparação das
Racionalidade Incerteza Pesquisa sequencial alternativas com as Satisfação
limitada expectativas
198
CONTABILIDADE SOCIAL
A legitimação da decisão ocorre com base em votação ou assinatura autorizada a decidir com relação
a variadas alternativas, propostas pelos técnicos e políticos que tiverem analisado os problemas sociais.
É no momento de implantação que são produzidos os efetivos resultados das políticas públicas.
Novamente, essa etapa envolve não apenas componentes técnicos administrativos, mas, também, e
muitas vezes, em maior número, de natureza política.
No Brasil, costuma-se falar de “leis que não pegam”, quando ocorre uma descaracterização da
política que está sendo implementada.
O modelo top down considera que as políticas públicas, desde que adequadamente definidas e
decididas, auxiliam e tornam mais rápida a implementação com base em um conjunto de processos
administrativos e técnicos, visando à solução do problema.
De outra parte, o modelo bottom up, ao reconhecer, por exemplo, as limitações tecnológicas,
propicia maior liberdade de atuação dos agentes da administração pública e dos diversos atores sociais
no desenvolvimento dos processos de implantação das políticas públicas. Muitos consideram que esta
autonomia é necessária para que se tenha sucesso na implantação da solução.
A avaliação de uma política pública deve considerar os critérios que foram estabelecidos, assim
como os resultados obtidos em comparação com indicadores padrões.
199
Unidade III
• equidade: avalia se houve distribuição equitativa de benefícios (ou punições, se for o caso) entre
os destinatários da determinada política pública.
De acordo com Subirats (apud SECCHI, 2011, p. 50) os processos de avaliação podem ser feitos
com foco jurídico ou legal, técnico ou gerencial, ou sob o ponto de vista político. Devem ser
estabelecidos padrões para o acompanhamento das entradas, saídas e dos resultados da política
pública, padrões esses que propiciam uma referência comparativa com os indicadores em cada
caso e podem ser:
Os procedimentos de avaliação das políticas públicas são realizados com base em modelos e conceitos,
que englobam aspectos sociais, políticos e econômicos.
200
CONTABILIDADE SOCIAL
Rossi, Freeman e Lipsey (apud MATIAS-PEREIRA, 2012, p. 213) entendem que a avaliação das políticas
públicas corresponde à
Obviamente, a avaliação deve ser considerada um passo essencial para se conhecerem os resultados
trazidos por determinada política pública e não deve ser feita apenas no final do processo, mas durante a
sua construção. Entre outros aspectos, esse é um momento de aprendizado e pode fornecer informações
valiosas para a realização de eventuais correções, tendo em vista o alcance dos objetivos estabelecidos
para a política.
• constatam a utilização eficiente dos recursos (escassos) usados nas etapas do projeto de
implantação da política pública;
• promovem o diálogo entre todos os agentes, individuais e coletivos, envolvidos com determinada
política pública.
201
Unidade III
Considerando que a avaliação também conta com um grande determinante de natureza política,
naturalmente, além dos aspectos quantitativos, é necessário que a avaliação da política pública considere
o lado qualitativo da questão, considerando diferentes possibilidades, como:
202
CONTABILIDADE SOCIAL
Os fatores culturais estabelecidos historicamente pela sociedade são também de grande importância
no processo de avaliação das políticas públicas, dadas as diferenças no que tange à aceitação, rejeição
etc. de determinados processos.
Concluída a avaliação, a política pública pode continuar, ser alterada ou, em alguns casos, ser extinta.
[...] pode-se dizer que são poucas as políticas públicas cuja vigência cessa
definitivamente, ao passo que muitas acabam por ser mais ou menos
profundamente reestruturadas e outras ainda perduram por inércia (DIAS;
MATOS, 2013, p. 90).
A partir das décadas de 1970 e 1980, houve grande questionamento sobre a eficácia de muitas
políticas sociais iniciadas após a Segunda Guerra Mundial em vários países, com destaque para os da
Europa ocidental, por apresentarem custos maiores do que os benefícios por elas trazidos, conforme a
opinião de vários estudiosos.
Giuliani (2005 apud SECCHI, 2011, p. 53) define como causas para a extinção de uma política
pública:
• um problema que tenha dado origem à priorização de uma política e já tenha sido resolvido;
• problema público que tenha deixado de ser importante ou prioritário em relação a outros.
De qualquer forma, não é fácil desativar uma política pública, dada a contrariedade dos eventuais
beneficiados ou a morosidade das instituições e os obstáculos de natureza jurídica e legal. Especialmente,
é difícil a desimplantação de medidas distributivas pela mobilização dos favorecidos e as dificuldades
práticas da coletividade em lutar contra essa concentração de interesses.
• muitas vezes, é difícil conseguir uma separação entre os efeitos das políticas públicas e de outros
fatores delas dissociados, para a solução de problemas;
203
Unidade III
• a resistência dos avaliados costuma dificultar muito o sucesso dos resultados das políticas públicas;
• o tempo decorrido para que sejam materializados os recursos e percebidas as mudanças com
base, por exemplo, no comportamento dos atores das correspondentes políticas públicas pode
atrapalhar o processo.
O analista de políticas públicas pode responder aos questionamentos de tipo territorial relacionados
com o município, estado ou país em que as medidas tiverem sido implantadas. Outra possibilidade é
considerar a esfera de poder na qual a política foi formulada, isto é, governamental (Executivo, Legislativo
ou Judiciário) ou não governamental. Conforme aponta Secchi: “[...] conhecer o contexto onde a política
acontece é muito importante para entender a dinâmica política, os comportamentos dos atores e os
efeitos das políticas públicas” (2011, p. 61).
As instituições podem ser vistas, por outro lado, como sendo o conjunto de regras, estatutos e leis e
também de políticas públicas anteriormente implantadas. São, também, importantes os regulamentos e
costumes das arenas onde a política pública é definida.
A cultura política, isto é, o conjunto de predisposições que legitimam o comportamento dos agentes,
é um fator distintivo das instituições, bem como o fato de serem formais ou informais.
O quadro a seguir representa uma classificação que define os tipos de culturas políticas:
Grupo
Coeso Frágil
Densidade das Cultura política Cultura política do
normas Alta hierárquica tipo fatalista.
Cultura política Cultura política
Baixa equalitária individualista
As políticas hierárquicas muitas vezes são viabilizadas com base em coerção legal, enfrentamento
dos riscos e promoção de solidariedade. A cultura equalitária é aquela em que as políticas públicas são
fundamentadas predominantemente no voluntarismo dos agentes.
204
CONTABILIDADE SOCIAL
Já a cultura do tipo fatalista conduz ao uso da força legal, dado o alto nível de desconfiança quanto
à possibilidade de uma cooperação voluntária dos agentes.
O que se nota, também, é uma crescente mobilização social ao redor de temas de natureza local que,
mais diretamente e em prazo mais curto, afetam a vida dos cidadãos.
Naturalmente, essa maior participação acaba fazendo com que mudem a atuação e as
responsabilidades do Estado, dado que a participação da sociedade passa, cada vez mais, a ser um
elemento decisivo no processo de escolhas de políticas públicas. Ela também causa uma melhora
nas informações sobre o assunto tratado pela política pública, revelando de forma mais concreta
as suas necessidades, limitações e potenciais. Além disso, outro de seus efeitos é fazer com que
haja maior envolvimento (e maior responsabilização) dos agentes sociais.
Dias e Matos (2012, p. 161) mencionam um documento do BID, divulgado em 2001, sob o título
Redução da Pobreza e fortalecimento do capital social, que aponta as seguintes vantagens decorrentes
da participação social nas políticas públicas:
205
Unidade III
• não existência de um modelo “fechado” e único de participação capaz de ser aplicado na totalidade
dos casos, dadas as especificidades de cada política, das características e objetivos dos agentes
com ela envolvidos;
• conhecimento de vários casos em que essa participação foi mais intensa do que o habitual, o que
contribuiu para uma maior aproximação e cooperação entre a sociedade e o poder público;
• espaços públicos não estatais não reduzem o poder do Estado, nem o seu funcionamento, mas,
antes disso, o legitimam e contribuem para o aumento da sua eficiência;
• a maior participação e a melhora nos processos educacionais podem representar a fonte para a
ocorrência de mudanças significativas na sociedade, à medida que fortalecem o capital humano,
auxiliam a formação do capital social e a disseminação de cultura democrática e solidária.
A CF/1988 trouxe um incentivo a essa maior participação dos agentes sociais, através de mecanismos
de iniciativa popular e compartilhamento de decisões.
• conferências;
• ouvidorias para o recebimento de críticas, sugestões etc., visando melhorar os serviços públicos;
• consultas e audiências públicas – busca de soluções para as demandas sociais relacionadas com a
discussão ligada à execução de obras e de políticas públicas.
206
CONTABILIDADE SOCIAL
A atuação dos conselhos nos setores de saúde, educação, criança e adolescente, assistência social e
trabalho é diferenciada de acordo com o respectivo município, no que tange a:
• poder de decisão;
• normativa: estabelecer normas e diretrizes para as políticas, assim como para o gerenciamento de
recursos;
• paritária: são as organizações constituídas por igual número de participantes (da sociedade e da
administração pública).
• alimentação escolar;
• saúde;
• Fundeb (controle e aplicação de recursos educacionais, como despesas, censo anual, transportes,
atendimento a jovens e adultos);
• assistência social.
207
Unidade III
Quando os atores políticos usufruem de liberdade para a escolha de determinado estilo de política
pública, é melhor que seja um modelo capaz de atender aos anseios da arena política, considerando
aspectos como eficiência, flexibilidade, equidade etc.
Quem analisar as políticas públicas deve ser apto a identificar os elementos cruciais dos diferentes
estilos, de forma a estabelecer comparações ou diferenciar políticas públicas.
Richardson, Gustafsson e Jordan (apud SECCHI, 2011, p. 108) distinguem os estilos de políticas
públicas adotados em países ou regiões, considerando que variam:
Consensual
Proativo Reativo
Impositivo
208
CONTABILIDADE SOCIAL
Para que ocorra o desenvolvimento sustentável é necessário que as políticas públicas sejam
orientadas para a promoção do bem-estar humano, da qualidade de vida e da justiça social. Esses
objetivos ambiciosos revelam a dificuldade de adoção desse tipo de políticas, gerando, inclusive,
muitas discussões na sociedade. Conforme consta na Agenda 21 (CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS
SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 1992): “O desenvolvimento sustentável é definido como
aquele que atende às necessidades presentes sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras
atenderem suas próprias necessidades”.
Saiba mais
209
Unidade III
É necessário que exista um forte relacionamento das políticas públicas com a responsabilidade social,
que deve ser alcançada com a formalização de políticas e sistemas de gestão nas áreas econômica, social
e ambiental, objetivando, entre outros, a transparência de informações a repeito dos resultados e a sua
legitimação pela sociedade.
A partir dos anos 1990, recrudesceram as preocupações globais com a questão da responsabilidade
social, principalmente após a conferência sobre ecologia e o meio ambiente realizada no Rio de Janeiro
em 1992.
Como um agente que atua regularmente no sistema econômico e social, cabe ao Estado uma grande
parcela do cumprimento dos tópicos relacionados com a responsabilidade social. Como empregador, o
chamado Estado-empresário desempenha papel equivalente ao de qualquer empresa e, como tal, deve
estar atento às consequências de degradação do meio ambiente, eventualmente propiciadas pelas suas
atividades produtivas.
E, finalmente, como regulador, cabe ao Estado exercer o seu poder de legislador, visando estabelecer
padrões de respeito às condições de trabalho e à proteção ao meio ambiente.
Os dez princípios
Os Dez Princípios do Pacto Global nas áreas dos direitos humanos, trabalho, meio
ambiente e combate à corrupção gozam de um consenso universal e se baseiam no seguinte:
210
CONTABILIDADE SOCIAL
O Pacto Global pede às empresas para aceitar, apoiar e aplicar, dentro da sua esfera de
influência, um conjunto de valores fundamentais nas áreas de direitos humanos, padrões
trabalhistas, meio ambiente e combate à corrupção:
Direitos Humanos
Princípio 2 – certificar-se de que não são cúmplices em abusos dos direitos humanos.
Trabalho
Meio Ambiente
Combate à Corrupção
211
Unidade III
Um artigo da revista Isto É Dinheiro, sob o título Cofres fechados para a poluição, exemplifica o
aumento da conscientização mundial para a questão da sustentabilidade:
Cumpre ressaltar, ainda, a questão relacionada com a necessidade de fazer compras sustentáveis
a fim de proteger o máximo possível os recursos naturais. Nesse âmbito, é importante a atuação dos
gestores públicos nesse processo, considerando, inclusive, a sua grande participação como compradores
de bens e serviços.
• No estado do Amazonas: Lei Estadual de Mudanças Climáticas, Lei nº 3.135/2007; prevê proteção
do clima com a utilização de diversos instrumentos, entre eles a licitação sustentável, com
proibição da compra de madeira proveniente de desmatamento e da utilização na construção
civil de materiais que sejam considerados ambientalmente inadequados pelo Estado;
• No município do Rio de Janeiro: a Lei nº 4.499/2007 proíbe que o município adquira papel em cujo
processo de fabricação tenha sido utilizado cloro molecular;
A ideia de sustentabilidade é mais ampla do que as relações com o meio ambiente, que representa,
todavia, a sua visão mais compreendida. Nesse sentido, podemos considerar, por exemplo, também a
sustentabilidade empresarial e a corporativa.
As políticas públicas voltadas ao desenvolvimento das pequenas e médias empresas (PMEs) não se
referem apenas às estratégias de atuação, pois também se debruçam sobre criação de entidades que
visam disseminar técnicas, métodos e apoio tecnológico.
212
CONTABILIDADE SOCIAL
Essas políticas ganharam maior destaque no Brasil a partir dos anos 1990, quando, na verdade, mudou
definitivamente o nosso sistema econômico voltado à substituição de importações – ele foi trocado por
um modelo de incentivo a exportações e à cobertura das necessidades dos mercados internos. A maior
facilidade de cumprimento das regras tributárias, com a introdução do Simples Nacional, para essas
organizações, foi um dos marcos dessa mudança.
Observação
Conforme indicado no site da Receita Federal, o Simples Nacional:
[...] é um regime compartilhado de arrecadação, cobrança e fiscalização
de tributos aplicável às microempresas e empresas de pequeno porte,
previsto na Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006. Abrange
a participação de todos os entes federados (União, estados, Distrito Federal
e municípios).
A tendência que se verifica nisso é o não direcionamento a políticas de cunho vertical, prevendo
programas verticais de apoio a setores escolhidos e a empresas líderes.
O desenvolvimento tecnológico passou, então, a ser visto como um instrumento bem mais eficaz
do que o protecionismo tarifário como estímulo ao crescimento da produção e do emprego nas PMEs.
O Sebrae, que é o órgão representativo dessas alterações, ganhou grande reforço financeiro. Contudo, o
que se observa, na prática, é que há ainda um grande número de atividades não incorporadas aos novos
programas, não obstante a contínua divulgação feita pelo Sebrae.
A partir de 1998, ocorreram novas mudanças no apoio às PMEs, para o apoio individual a grupos de
empresas, com a criação dos denominados arranjos produtivos locais (APLs).
A partir do século atual, o apoio aos APLs passou a compor a própria política tecnológica e
industrial do país, com o intuito de adicionar competitividade e valor às diferentes cadeias produtivas e
promover o desenvolvimento regional. Surgiram, então, diversos programas de apoio à comercialização,
modernização produtiva, inovação tecnológica, qualificação profissional e certificação de qualidade
para empresas e produtos.
Ainda há muito que se fazer nesse sentido, considerando, principalmente, a importância das PMEs
na geração de empregos no Brasil, aliando, assim, benefícios econômicos aos sociais.
Saiba mais
Um maior detalhamento dos comentários relacionados com o histórico
e a adoção de políticas de incentivo às PMEs pode ser encontrado no
trabalho elaborado pelos pesquisadores do IPEA que indicamos a seguir:
213
Unidade III
Reza a teoria econômica que, num sistema concorrencial de livres mercados, é atingida a eficiência
econômica. A concorrência constitui-se, assim, num fator de inegável importância para o desenvolvimento
de uma região ou país.
• sob o prisma do produtor: a possibilidade de atuar com mais liberdade e servir-se de seus próprios
méritos para aumentar sua participação nos mercados;
Em todo o mundo, mas mais pronunciadamente nos Estados Unidos da América, é forte o papel
exercido pelos órgãos antitruste, que começaram a atuar no início do século passado, à medida que
aumentava a concentração de empreendimentos industriais e de outros setores.
214
CONTABILIDADE SOCIAL
É preciso que haja uma adequada articulação entre os órgãos encarregados da defesa da concorrência
e as demais unidades da administração pública nos três níveis (federal, estadual e municipal),
especialmente com as agências reguladoras.
8.7 Paradiplomacia
O conceito de paradiplomacia relaciona-se com o envolvimento cada vez mais natural e crescente
de unidades subnacionais com o exterior para, inclusive, obter recursos para o desenvolvimento de
suas políticas públicas. No passado, havia algo como um monopólio, que reservava à União esse tipo de
interação, considerando que a diplomacia era algo reservado a unidades soberanas. Percebe-se, porém,
na atualidade, no Brasil e em vários outros países, o incremento das ações de promoção comercial ou
turística de cidades ou províncias.
Entre algumas iniciativas voltadas a esse relacionamento mais próximo com entidades externas,
podemos mencionar:
Essa maior atuação das entidades subnacionais em atividades relacionadas com o exterior tem
provocado mudanças, como o surgimento de novas unidades na administração pública.
Indicadores sociais são importantes para a verificação da adequada concepção e andamento das
políticas públicas e permitem o emprego de critérios técnicos nos processos decisórios. O surgimento
desses indicadores está relacionado com o próprio desenvolvimento do sistema de planejamento das
atividades do setor público, a partir do século XX.
215
Unidade III
O indicador é representado, normalmente, por uma medida quantitativa que objetiva quantificar
um conceito social. Sua função é auxiliar o diagnóstico e a firmação das prioridades de elaboração e
implementação de políticas públicas que atendam às demandas da sociedade.
Assim, constata-se a criação de indicadores voltados às áreas como saúde, educação, mercado de
trabalho, habitação etc.
• relevância social;
• validade;
• confiabilidade;
• capacidade de cobertura;
• sensibilidade aos problemas.
Com a estabilização trazida pela implantação do Plano Real, em 1994, começaram a crescer as
expectativas de crescimento em longo prazo e, nesse sentido, a inovação desempenha um papel de
significativa importância.
Saiba mais
Você pode obter mais informações sobre o Programa de Estímulo à
Interação Universidade–Empresa para Apoio à Inovação através do site que
indicamos a seguir:
FINEP. Verde-amarelo o que é. 2012. Disponível em: <http://www.finep.
gov.br/pagina.asp?pag=fundos_verdeamarelo>. Acesso em: 24 abr. 2014.
216
CONTABILIDADE SOCIAL
Os atuais instrumentos de política não têm bastado para realizar os saldos da estrutura produtiva
requerida pelo padrão atual da competição internacional (DELFIM NETTO, 2011, p. 21).
São grandes as transformações que vêm ocorrendo na gestão pública brasileira, determinada pela
redemocratização do país e reforma do Estado. A própria CF/1988 conduziu a mudanças de cunho
descentralizador, contribuindo para uma maior participação da sociedade nas decisões sobre as políticas
públicas.
O debate acerca da necessidade de modernização da administração pública, no Brasil, nos três níveis
de governo (federal, estadual e municipal) vem se acentuando a partir dos anos 1990. Nessa década, foi
elaborado o Plano Diretor de Reforma do Estado (Mare), cujos resultados podem ser considerados, até
os dias atuais, como insuficientes para o atendimento à crescente demanda dos cidadãos.
Os governos locais têm contribuído com a formação de novos arranjos institucionais e processos
de gestão, com benefícios retratados na ampliação de espaços de cidadania, na atenção às minorias
excluídas e na democratização da gestão pública.
Tem-se verificado que as parcerias ou alianças tendem a ser mantidas mesmo após as alterações
de governos, evitando-se descontinuidade na condução das políticas públicas. Com isso, é possível
obter um maior grau de institucionalização, materialização da democracia e estabelecimento de novos
padrões de governança no envolvimento entre as entidades estatais e não estatais.
Com a LRF de 4 de maio de 2000, foram criados os Conselhos de Gestão Fiscal, integrados por
representantes do Estado e entidades da sociedade civil, com o intuito de patrocinar a avaliação
continuada da gestão das políticas públicas. Esses conselhos são também muito importantes como
instrumentos de controle social sobre as atividades estatais, viabilizando um canal de participação da
população nos processos de formulação, implantação e controle da execução das políticas públicas, de
forma que elas possam estar mais coordenadas com as demandas dos variados segmentos sociais.
Já a lei 11.107, de 6 de abril de 2005, disciplinou os consórcios públicos, tendo em vista o Art. 241
da CF/1988. Esses consórcios dão a estados e municípios a possibilidade de executar, em conjunto,
empreendimentos de infraestrutura, combinando seus recursos físicos e financeiros.
217
Unidade III
A atuação coordenada entre Estado e mercados foi alvo da lei 11.079, de 30 de dezembro de 2004,
que tratou das parcerias público-privadas, aumentando as possibilidades de estruturação de arranjos
para a execução dos serviços públicos e das atividades de exploração econômica e de relevância pública,
além de atendimentos sociais e culturais.
A sociedade brasileira, assim, privilegia a opinião pública e não mais somente as elites, como no
passado. Nessa mudança podem ser notadas características da democracia participativa ou republicana,
incentivando a participação de mais atores nas políticas públicas.
O próprio crescimento da globalização torna esse desafio mais difícil e, por isso, os sucessivos
governos vêm adotando medidas pontuais, trabalhando em cada caso específico.
Resumo
219
Unidade III
Exercícios
Após três dias de encontros na Cúpula Mundial de Legisladores, promovida pela GLOBE
International – uma rede internacional de parlamentares que discute ações legislativas em relação
ao meio ambiente —, os participantes assinaram um protocolo que tem como objetivo sanar as
falhas no processo da Rio 92.
A) os acordos internacionais relativos ao meio ambiente são autônomos, não exigindo de seus
signatários a adoção de medidas internas de implementação para que sejam revestidos de
exigibilidade pela comunidade internacional.
D) a atuação dos parlamentos dos países signatários de acordos internacionais restringe-se aos
mandatos de seus respectivos governos, não havendo relação de causalidade entre o compromisso
de participação legislativa e o alcance dos objetivos definidos em tais convenções.
220
CONTABILIDADE SOCIAL
E) a Lei de Mudança Climática aprovada recentemente no México não impacta o alcance dos
resultados dos compromissos assumidos por aquele país de reduzir as emissões de gases do efeito
estufa, de evitar o desmatamento e de se adaptar aos impactos das mudanças climáticas.
A) Alternativa incorreta.
B) Alternativa correta.
Justificativa: o Poder Executivo precisa da aprovação das leis promulgadas pelo Poder Legislativo.
De acordo com o livro-texto, na página 8, Meirelles apud Paludo (2012, p. 21), classifica as unidades
públicas organizadas segundo o regime federativo, como ocorre no Brasil, como:
Independentes: são estabelecidas pela Constituição e não estão sujeitas às hierarquias superiores,
como são os casos da Presidência da República, do Congresso Nacional, do Senado, da Câmara dos
Deputados (ou dos Vereadores, em se tratando de municípios) e dos tribunais ligados ao Poder Judiciário.
Superiores: são unidades que exercem funções de comando, direção e controle, subordinadas à
autoridade superior na hierarquia dos poderes. São exemplos os gabinetes, as diretorias, as secretarias
e as coordenadorias.
Subalternas: não detêm poder, atuando, basicamente, na execução das atividades a seu
cargo, sob sua responsabilidade, como ocorre, por exemplo, com as portarias e as seções de
atendimento ao público.
C) Alternativa incorreta.
Justificativa: o texto não informa se isso aconteceu de fato em todos os países signatários.
D) Alternativa incorreta.
Justificativa: as convenções internacionais são assinadas por representantes das diversas nações e
em nome delas. Quando um país adota o sistema democrático e há alternância de partidos políticos no
poder o compromisso nacional permanece.
221
Unidade III
E) Alternativa incorreta.
A) Marketing social.
B) Mobilização social.
C) Reconhecimento social.
D) Publicidade institucional.
A) Alternativa incorreta.
Justificativa: o marketing social diz respeito à divulgação de ações positivas das empresas ou do
governo em relação às minorias ou aos problemas do meio ambiente.
B) Alternativa incorreta.
Justificativa: a mobilização social é um movimento público ou privado que organiza seus participantes
para ações no espaço público, como manifestações ou passeatas.
C) Alternativa correta.
Justificativa: podemos consultar na página 144 do livro-texto a seguinte citação: “Todo problema
público é sempre uma construção social que apresenta uma sequência: primeiro, adquire certo nível
de generalidade, como problema público; depois, adquire reconhecimento social; e, em terceiro lugar,
torna-se susceptível de ser parte da agenda política a ser institucionalizada” (DIAS; MATOS, 2012, p. 68).
D) Alternativa incorreta.
Justificativa: a publicidade institucional é aquela realizada por empresas ou por governos no sentido
de divulgarem suas imagens públicas.
222
CONTABILIDADE SOCIAL
E) Alternativa incorreta.
Justificativa: a publicidade de utilidade pública é aquela que informa sobre os benefícios ou malefícios
de algum comportamento ou de algum produto. Os avisos dos malefícios do cigarro nos maços de
cigarro, os avisos contra o consumo de álcool ao dirigir e os anúncios de utilização de preservativos
durante o carnaval são exemplos de publicidade de utilidade pública.
223
FIGURAS E ILUSTRAÇÕES
Figura 2
BRESSER-PEREIRA, L. C.; NAKANO, Y. Contabilidade social. São Paulo: FGV/SP, 1972. Apostila. p. 4. Disponível
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Figura 3
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Campus/Elsevier, 2008. p. 6.
Figura 4
FEIJO, C. Contabilidade social: o novo sistema de contas nacionais do Brasil. 3. ed. Rio de Janeiro:
Campus/Elsevier, 2008. p. 8.
Figura 5
Figura 6
Figura 7
Figura 8
Figura 10
Figura 11
Figura 12
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA (IBGE). Sistema de Contas Nacionais: Brasil 2010-
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225
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Figura 18
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2011. Contas Nacionais n. 44. Rio de Janeiro: IBGE, 2015d. Contas Nacionais n. 44. p. 42. Disponível
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Figura 19
Figura 20
Figura 21
Figura 22
226
Figura 23
Figura 24
Figura 25
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Figura 34
PAULANI, L. M.; BRAGA, M. B. A nova contabilidade social. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 261.
Figura 35
PAULANI, L. M.; BRAGA, M. B. A nova contabilidade social. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 261.
Figura 42
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Exercícios
237
238
239
240
Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000