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COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO
DE PESSOAL DE NÍVEL SUPERIOR
UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL
Políticas Públicas e
Gestão Educacional I
Bartolomeu José Ribeiro de Sousa
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO
DE PESSOAL DE NÍVEL SUPERIOR
UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL
Políticas Públicas e
Gestão Educacional I
Bartolomeu José Ribeiro de Sousa
Ministério da Educação
Universidade Federal de Mato Grosso
Universidade Aberta do Brasil
Núcleo de Educação Aberta e a Distância
Licenciatura em Pedagogia - Modalidade a distância
Carlos Rinaldi
Coordenador UAB/UFMT
Políticas Públicas e
Gestão Educacional
S729p
Sousa, Bartolomeu José Ribeiro de.
Políticas Públicas e Gestão Educacional I./
Bartolomeu José Ribeiro de Sousa. Cuiabá:
EdUFMT, 2013.
Referências ������������������������������������������������������������������������������������������130
Iniciando o diálogo
É com muita alegria que inicio com você o estudo da disciplina Políticas Públicas e Gestão
Educacional I, que compõe o Quarto Núcleo do seu curso – Gestão e Trabalho Pedagógico na Educação.
Você já sabe que o curso de Pedagogia lhe habilitará para o exercício da docência na Educação
Infantil, nos anos iniciais do Ensino Fundamental e na gestão educacional, tanto nos sistemas de ensino
como na escola. A partir de agora você se apropriará de conhecimentos sobre o campo da gestão da
educação e da escola e sobre o processo dinâmico de formulação e implementação de políticas públicas,
com destaque para as políticas públicas educacionais.
Para tanto, é fundamental uma consistente formação teórica que lhe dê subsídios para uma
compreensão crítica das atividades de planejamento, administração, coordenação, acompanhamento e
avaliação de planos, projetos, programas e políticas educacionais.
O objetivo principal desta disciplina é levá-lo a compreender criticamente a base legal em
que se assentam a educação e a escola no Brasil, bem como os planos, políticas, programas e projetos
direcionados à educação básica pública no Brasil e em Mato Grosso.
No primeiro capítulo, você ira compreender os conceitos de política, políticas públicas e
Estado. Nesse capítulo você irá conhecer a forma Federativa de organização do Estado Brasileiro, refletindo
sobre algumas implicações dessa forma de organização na formulação e implementação das políticas
educacionais, finalizando com a discussão sobre o conceito de gestão da educação.
No capítulo II, faremos uma incursão pela história do nosso país para (re) visitar os principais
fatos e ações da política educacional com o propósito de refletir sobre as influências e consequências
dessas ações no contexto atual da educação escolar.
No terceiro capítulo, vamos concentrar o nosso estudo no conhecimento da organização da
educação nacional, a partir dos dispositivos legais estabelecidos na Constituição da República de 1988
e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN). Nesse capítulo você também conhecera os
elementos e especificidades que constituem o sistema de educação de Mato Grosso.
No quarto e último capitulo, vamos tratar do financiamento da educação pública no Brasil.
O financiamento é o elemento que viabiliza e garante a sustentabilidade da política pública. Portanto,
conhecer as fontes de recursos, a legislação e o funcionamento das políticas de financiamento é
fundamental para a melhoria da qualidade da educação no nosso País.
Lembre-se de que o conteúdo deste fascículo, como nas outras disciplinas, representa apenas
o referencial básico para a sua aprendizagem. Exerça a sua autonomia acadêmica e enriqueça os seus
conhecimentos sobre as políticas públicas e gestão da educação básica com a leitura atenta e crítica de
outras fontes. Participe do Fórum de Dúvidas e dos demais fóruns de discussão no Ambiente Virtual de
Aprendizagem. Discuta e compartilhe os seus conhecimentos com os colegas e com os orientadores
acadêmicos.
Assim, esperamos tornar este material acessível e apropriado a esse curso, do qual você é parte
fundamental.
Música para ouvir Para saber mais Problematizando com Realize o exercício Consulte a internet Filme para assistir
os colegas
1| Estado, Sociedade e Políticas Públicas
Notas para um Debate Introdutório
POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO EDUCACIONAL I
sozinho, e todos precisam da companhia uns dos outros. Para os gregos antigos a
política se referia à vida na polis, ou seja, à vida em comum, às regras de organização
da vida social, aos objetivos da comunidade e às decisões sobre todos esses aspectos
(DALLARI, 1999).
Observe que a palavra política apresenta um significado amplo que
abarca desde as questões referentes ao Estado até os atos e relações humanas no
interior da sociedade. A política também é uma arte, porque comporta e exige
muita invenção e muita sensibilidade para o conhecimento dos seres humanos,
suas necessidades, suas preferências, caprichos e virtudes, visando encontrar o
modo mais conveniente de conseguir a concordância de muitos e promover o bem
comum. Pelas definições apresentadas acima, podemos entender que o conjunto
das ações humanas na sociedade é de natureza política, pois implica sempre em
escolhas e em tomada de posição.
Na língua inglesa existem duas grafias para distinguir os dois sentidos
principais do termo política. A palavra política, enquanto ação e responsabilidade
dos Poderes Públicos para com a sociedade, é grafada como policy, para diferenciar
de politics. Esta, por sua vez, se refere aos temas clássicos da política como eleições,
voto, partidos, governos. Na língua inglesa temos ainda a polity, como forma de
governo ou sistema político. Como na nossa língua os diferentes significados do
termo política são grafados com uma única palavra, temos que ter o cuidado de
qualificá-la, a fim de evitar imprecisões conceituais e analíticas.
A visão da política apenas como processo eleitoral ou disputa por
cargos no governo vem expressando um fenômeno extremamente prejudicial
aos interesses público. Em nosso país temos uma visão muito personificada da
política. Os processos eleitorais, em geral, são centrados em pessoas, ao invés de
ideias e projetos (partidos). Dessa forma, acreditamos que mudando as pessoas ou
os políticos estamos mudando os destinos do país. Os vários casos de corrupção,
desvios de recursos públicos, clientelismo, que temos conhecimento quase que
diariamente pelos meios de comunicação, levam as pessoas a um estado de
ceticismo e descrença com a política. Sob esse prisma, os partidos políticos são
vistos como “se fossem tudo a mesma coisa”.
Como não temos ainda uma cultura de participação, nas instâncias
decisórias e nos espaços de poder, reforçamos esse círculo vicioso.
POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO EDUCACIONAL I
O ANALFABETO POLÍTICO
“O pior analfabeto é o analfabeto político.
Sobre essa situação vamos refletir um pouco sobre o poema que segue:
Ele ouve, não fala nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida,
o preço do feijão,
do peixe, da farinha,
do aluguel, do sapato e do
remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e
estufa o peito dizendo que odeia a política.
Não sabe o imbecil, que da sua ignorância política nasce
a prostituta, o menor abandonado, o assaltante e o pior de todos
os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e o
lacaio das empresas nacionais e multinacionais.”
Bertolt Brecht
Quando alguém diz que não gosta de política, que não se interessa pela
política, está revelando uma grande falta de consciência. As pessoas que pensam
assim acreditam que é possível viver bem cuidando apenas dos seus interesses
particulares. Não entendem que questões do âmbito particular como emprego,
salário, condições de moradia, saúde, educação, dependem de decisões políticas de
governos. Como afirma Dallari (1999), não existe quem não sofra as consequências
das decisões de governo, que são essencialmente políticas. Permanecer-se alheio à
política é uma forma de dar apoio antecipado e incondicional a todas as decisões
de governo, o que é, em última análise, uma posição política. Assim, é importante
identificarmos a quem interessa o desinteresse político.
Aqui, é importante fazermos uma distinção entre a política enquanto
o conjunto de funções nacionais, daquela “política” de práticas nefastas e lesivas
ao interesse público, como o clientelismo, a compra de votos, etc., comumente
confundidas com política. Sobre isso veja o que diz Rui Barbosa:
POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO EDUCACIONAL I
Política e politicalha
A política afina o espírito humano, educa os povos, desenvolve nos
indivíduos a atividade, a coragem, a nobreza, a previsão, a energia, cria, apura,
eleva o merecimento.
Não é esse jogo da intriga, da inveja e da incapacidade, que entre nós
se deu a alcunha de politicagem. Esta palavra não traduz ainda todo o desprezo do
objeto significado. Não há dúvida de que rima bem com criadagem e parolagem,
afilhadagem e ladroagem. Mas não tem o mesmo vigor de expressão que os
seus consoantes. Quem lhe dará o batismo adequado? Politiquice? Politiquismo?
Politicaria? Politicalha? Neste último, sim, o sufixo pejorativo queima como ferrete,
e desperta ao ouvido uma consonância elucidativa.
Política e politicalha não se confundem, não se parecem, não
se relacionam uma com a outra. Antes se negam, se excluem, se repulsam
mutuamente. A política é a arte de gerir o Estado, segundo princípios definidos,
regras morais, leis escritas, ou tradições respeitáveis.
A politicalha é a indústria de explorar o benefício de interesses pessoais.
Constitui a política uma função, ou um conjunto de funções do organismo
nacional: é o exercício normal das forças de uma nação consciente e senhora de si.
A politicalha, pelo contrário, é o envenenamento crônico dos povos negligentes
e viciosos pela contaminação de parasitas inexoráveis. A política é a higiene
dos países moralmente sadios. A politicalha, a malária dos povos de moralidade
estragada.
Rui Barbosa.
Trechos escolhidos de Rui Barbosa. Edições de Ouro: Rio de Janeiro, 1964.
pesquisas e construir dados estatísticos (não por acaso, a palavra estatística provém
de Estado) cada vez mais precisos sobre eficiência e eficácia das ações estatais.
4) Um conjunto de condutas e comportamentos gerais e previsíveis
regulados pela máquina burocrática do Estado dentro de seu território, o que
ajuda a criar e manter uma cultura política comum a todos os que fazem parte da
comunidade nacional ou do que muitos chamam nação. (PEREIRA, 2008, p. 142,
com modificações).
Lembramos que esses elementos são utilizados para fins didáticos e
melhor compreensão do conceito de Estado. Este, como já foi assinalado, é uma
criação humana. Assim, é necessário não tratá-lo linearmente, em abstrato, ou
seja, desenraizado da realidade e da história. Na prática, os Estados têm grandes
dificuldades de exercerem os seus poderes políticos, regular a sociedade, aplicar
regras e controlar a entrada de elementos externos indesejáveis no seu território
(PEREIRA, 2008 p. 143).
Portanto, mesmo havendo concordância quanto a sua definição, torna-se
evidente que a existência do Estado não é tranquila, assim como não são as
ligações que ele mantém com seus elementos constitutivos. Com a sociedade,
com a qual estabelece constante e simultânea relação de antagonismo e de
reciprocidade, os seus liames são tensos (PEREIRA, 2008. p. 143).
O que é o neoliberalismo?
1. Abordagens mais todo, para toda a sociedade e, sobretudo, para os mais pobres. Nesses
recentes na Ciência
momentos, para “salvar” meia dúzia de bancos o Estado é obrigado a
Política consideram
que organizações
injetar dinheiro dos contribuintes (SILVA, 2010).
privadas, organismos
multilaterais também
podem ser protagonistas
1.2 O que são políticas públicas?
no estabelecimento A essa altura é necessário definir claramente o que são políticas públicas.
de políticas públicas.
Políticas Públicas são políticas de responsabilidade do Estado quanto à
Nesta disciplina
consideraremos como
formulação, implementação e manutenção, estabelecidas com base num processo
política pública as ações de tomada de decisões que envolvem organismos da sociedade política (Estado) e
emanadas no âmbito entidades da sociedade civil (DICIONÁRIO DE PEDAGOGIA UNIVERSITÁRIA, 2006).
estatal. Para mais As políticas públicas também podem ser definidas como o Estado
informações ver Secchi
em ação1 . Ao formular, implementar e manter as políticas públicas, o Estado
(2010) “Políticas Públicas:
conceitos, esquemas de
procura atender as demandas coletivas da população como as de saúde, educação,
análise e casos práticos”. segurança pública, geração de empregos, cultura, esporte, proteção ao meio
ambiente, entre outras.
Para esclarecer melhor o sentido público das políticas tomemos dois exemplos.
O projeto Amigos da Escola capitaneado pela Rede Globo de Televisão
pode ser definido, em linhas gerais, como uma política de educação, pois o mesmo
é voltado para as escolas públicas de todo o país. No entanto, esse projeto não é
uma política pública de educação. Trata-se de uma ação privada, ainda que seja
“revestida” de interesse público. Numa outra perspectiva o Programa Escola Aberta,
que incentiva e apoia a abertura de escolas públicas nos finais de semana para as
famílias dos alunos e comunidade é parte de uma política pública de fortalecimento
e valorização da escola pública e que potencializa a sua relação com a comunidade.
POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO EDUCACIONAL I
Fonte: www.brasilportais.net
POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO EDUCACIONAL I
2. Estrutura sujeita a Para operacionalizar a complexa cadeia das políticas públicas no âmbito
mudanças conforme a da estrutura do Poder Executivo, no nível federal, temos como responsáveis pelas
orientação e a política
políticas sociais os Ministérios da Saúde, da Educação, da Previdência Social, do
adotada por cada
governo. Desenvolvimento Social e Combate a Fome, do Esporte, da Cultura. A política
econômica, por sua vez, é implementada e assegurada pelos Ministérios da Fazenda,
do Planejamento Orçamento e Gestão, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior, das Minas e Energia e dos Transportes 2 . Temos ainda como responsáveis
pela política econômica o Banco Central e os bancos ou agências oficiais de fomento
ao crédito financeiro com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES).
Sobressai ainda o setor militar, responsável pela política de defesa.
O setor militar compreende o Ministério da Defesa, que reúne na sua estrutura
organizacional os Comandos das três forças militares do país: Exército, Marinha e
Aeronáutica. Para a realização das funções políticas o governo federal conta com o
Ministério das Relações Exteriores, Casa Civil e Secretaria de Relações Institucionais.
Os Ministérios da Ciência e Tecnologia, do Desenvolvimento Agrário, das Cidades
e das Comunicações desenvolvem políticas que envolvem a dimensão econômica
e social. Os governos estaduais e municipais, guardadas as devidas proporções,
costumam reproduzir no seu âmbito governamental a estrutura política e
administrativa do governo federal.
Parágrafo único - Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
Resumindo:
Funções do Estado
GOVERNO Três Poderes (atividade administrativa,
legislativa e judiciária)
Conjunto de órgãos e
Serviço público (atividade
ADMINISTRAÇÃO entidades que realizam
administrativa)
serviço público
desenvolvidas pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos municípios,
seja em termos de responsabilidades compartilhadas na oferta de ensino ou em
termos de outras ações no seu âmbito específico, incluindo as ações dos órgãos
normativos.
A gestão escolar, por sua vez, designa o conjunto de atividades
desenvolvidas no âmbito da escola, visando garantir os processos de ensino e
aprendizagem e a efetivação do direito a educação.
Fonte: http://www.lepanto.com.br/historia/brasil-500-anos/em-defesa-dos-500-anos-da-terra-de-santa-cruz/
dedicar apenas ao trabalho para garantir o luxo dos senhores na casa-grande, que
procuravam copiar e replicar aqui os padrões de vida das elites europeias.
Em 1808 o fato político mais importante foi a chegada da Família Real,
que veio fugindo das tropas de Napoleão Bonaparte. A permanência da Família
Real no Brasil de 1808 a 1820 teve algumas consequências importantes para a vida
econômica e social do país. Na educação, as principais medidas tomadas tinham
como finalidade a formação de quadros profissionais para as ações de execução e
apoio às funções típicas do Estado, ou seja, a formação da elite dirigente do país.
Dessa forma, D. João criou a Academia Real da Marinha (1808), a
Academia Real Militar (1810), os cursos superiores profissionalizantes de Medicina,
em São Paulo (1813) e na Bahia (1815), e cursos de Direito em São Paulo e Olinda.
A partir desse período delineia-se a opção política do país por um modelo de
educação superior não universitário, mas constituído de faculdades isoladas, até
hoje vigente.
Imperador, que tinha o apoio político dos fazendeiros e das oligarquias, por meio
da distribuição de títulos honoríficos, brasões de distinção e outros privilégios,
constituindo um misto de poder local e central. Os cidadãos, nesse período, eram os
que possuíam propriedades, como terras e outros bens imóveis, e que participavam
da administração local, nas Câmaras Municipais (SILVA, 2006). Fica evidenciada, a
partir desse período, a tensão entre centralização e descentralização que vem
marcando a política educacional brasileira.
Em 15 de outubro de 1827 foi publicada a primeira lei geral do ensino.
Essa lei determinou que “em todas as cidades, vilas e lugares mais populosos,
haverão as escolas de primeiras letras que forem necessárias”. Observa-se aqui um
dispositivo legal que até hoje não foi cumprido.
Art. 4o As escolas serão do ensino mútuo nas capitais das províncias; e serão
também nas cidades, vilas e lugares populosos delas, em que for possível
estabelecerem-se.
Proclamação da República
Regulamento das
1891 Benjamim Constant Instituições de ensino
jurídico
Transição entre a
oficialização completa
1911 Rivadávia Corrêa
do ensino e sua total
liberdade
Restabelecimento da
1915 Carlos Maximiliano
completa fiscalização
de 32, como ficou conhecido esse documento, constituiu-se na mais nítida tomada
de consciência da problemática educacional do país. Redigido por Fernando de
Azevedo e tendo entre os seus signatários Anísio Teixeira e Lourenço Filho, esse
documento propunha a reconstrução educacional no Brasil, traçando as linhas
gerais de um plano nacional de educação.
Como você já viu, alguns estados vinham realizando reformas nos seus
sistemas de ensino, que consistiram na criação das estruturas administrativas e das
bases didático-pedagógicas da educação escolar. No entanto, até então inexistia
uma política nacional de educação que prescrevesse diretrizes nacionais e as
elas alinhasse os sistemas estaduais. Os projetos implementados pela União, até
aquele momento, limitavam-se quase exclusivamente ao Distrito Federal e, embora
POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO EDUCACIONAL I
O INEP foi criado, por lei, no dia 13 de janeiro de 1937, sendo chamado
inicialmente de Instituto Nacional de Pedagogia. No ano seguinte, o órgão
iniciou seus trabalhos de fato, com a publicação do Decreto-Lei nº 580,
regulamentando a organização e a estrutura da instituição e modificando sua
denominação para Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos. Foi nomeado
para o cargo de diretor-geral do órgão o professor Lourenço Filho.
Segundo o Decreto-Lei, cabia ao INEP “organizar a documentação relativa
à história e ao estado atual das doutrinas e técnicas pedagógicas; manter
intercâmbio com instituições do País e do estrangeiro; promover inquéritos
e pesquisas; prestar assistência técnica aos serviços estaduais, municipais
e particulares de educação, ministrando-lhes, mediante consulta ou
independentemente dela, esclarecimentos e soluções sobre problemas
pedagógicos; divulgar os seus trabalhos”. Também cabia ao Inep participar da
POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO EDUCACIONAL I
*Verbete elaborado por Lalo Watanabe Minto para subsidiar o presente projeto.
Fonte: www.une.org.br
Realize o Exercício
Pra não dizer que não falei das flores – Geraldo Vandré
Disponível em:
http://migre.me/f08Vh
3| Organização e Regulação
da Educação Nacional
POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO EDUCACIONAL I
Saviani nos adverte que, diante das imprecisões e confusões que têm
marcado a utilização do termo “sistema” no campo educacional, é importante
esclarecer a noção de sistema, seguida da noção de estrutura, que lhe é correlata.
Para esse autor, o sistema não é um dado natural, externo ao indivíduo
e que existe a priori, mas é sempre um produto da ação humana.
De acordo com Saviani o sistema resulta da atividade sistematizadora.
Mas o que é atividade sistematizadora? Vamos lembrar que o homem é capaz
de assumir, perante a realidade, uma postura consciente. Portanto, a condição
primeira e essencial de possibilidade da atividade sistematizadora é a consciência
refletida. É, portanto, um ato intencional. O caráter intencional, no entanto, implica
também uma multiplicidade de elementos que precisam ser ordenados, unificados,
conforme se depreende da origem grega da palavra “sistema”: reunir, ordenar,
coligir. Sendo assim, sistematizar é dar, intencionalmente, unidade à multiplicidade.
regionais”.
Uma possibilidade concreta de instituição de um Sistema Nacional de
Educação surgiu com a Constituição de 1946 que fixou, como uma das atribuições
da União, estabelecer as diretrizes e bases da educação nacional. Por força de
mandamento constitucional, foi aprovada em 1961 a primeira LDB (Lei nº 4.024)
que, no tocante a organização da educação, determinou a criação do sistema federal
de ensino e dos sistemas estaduais e do Distrito Federal. A defesa dos intelectuais
liberais, principalmente Anísio Teixeira, pela descentralização do ensino, mesmo
isso não significando a desresponsabilização do governo central impediu, naquele
momento, a instituição de um Sistema Nacional de Educação.
A segunda possibilidade surge com a atual Constituição e em
decorrência do novo arcabouço constitucional, com a discussão de uma nova LDB.
O projeto que resultou na atual LDB foi protocolado na Câmara dos Deputados
ainda em 1988, logo após a promulgação da Constituição. O projeto da atual LDB,
assim como o primeiro, foi objeto de muitas disputas, de muitas idas e vindas entre
as várias comissões do Parlamento em que tramitou. Esse processo foi também
marcado por ampla participação popular e de entidades e movimentos sociais do
campo educacional, que se organizaram no Fórum Nacional em Defesa da Escola
Pública (FNDEP).
A pressão dos educadores por meio do FNDEP não foi suficiente para
impedir a aprovação do substitutivo do então senador Darcy Ribeiro, que foi apoiado
pelo governo. No substitutivo que foi aprovado, a organização do Sistema Nacional
de Educação não foi concretizada pela interferência governamental, que preferiu
uma LDB minimalista para não comprometer a política educacional já em curso,
que promovia a desresponsabilização da União com a manutenção da educação
pública (SAVIANI, 2010).
O Governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) orientou toda a sua
política educacional para a educação básica, por meio de uma forte descentralização,
que assumiu na prática um caráter desconcentrador de responsabilidades. Nesse
padrão descentralizante, o governo federal repassa a responsabilidade pela execução
de projetos e programas para os entes subnacionais (estados e municípios), sem o
devido aporte financeiro, concentrando as decisões estratégicas no âmbito do MEC
por meio de um Sistema Nacional de Avaliação, baseado em testes de larga escala.
Nestes termos, temos atualmente um Sistema Nacional de Avaliação
centralizado no MEC e suas autarquias, sobretudo o INEP, que compreende os
dois níveis da educação escolar (educação básica e superior), mas que não possui
articulação intrínseca com as avaliações realizadas pelos estados e municípios e,
contraditoriamente, não temos um Sistema Nacional de Educação.
POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO EDUCACIONAL I
6. De autoria do Poder de Educação deve ter como elemento articulador o Plano Nacional de Educação
Executivo o projeto de
(PNE) e o regime de colaboração entre os entes federativos, definindo diretrizes,
lei para o segundo Plano
objetivos, metas e estratégias de implementação, para assegurar a manutenção e
Nacional de Educação
com força de lei foi o desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades por
protocolado na Câmara meio de ações integradas dos poderes públicos.
dos Deputados em 20 de
dezembro de 2010. Esse
Com a nova redação dada pela EC nº 59 o PNE deverá visar:
projeto de lei recebeu
durante a tramitação 1. Erradicação do analfabetismo;
na Comissão Especial 2. Universalização do atendimento escolar;
da Câmara quase três 3. Melhoria da qualidade do ensino;
mil emendas. Um dos
4. Formação para o trabalho;
pontos mais discutidos é
a destinação de 10% do 5. Promoção humanística, científica e tecnológica do País;
Produto Interno Bruto 6. Estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em
para a educação durante educação como proporção do produto interno bruto.
a vigência do Plano.
falta de vagas, e os jovens na faixa etária do ensino médio que “não são acolhidos”
pela escola e que evadem também por motivos de trabalho e outros fatores.
Essa realidade aponta grandes desafios aos sistemas de ensino e
ao País como um todo. Será imprescindível que os sistemas de ensino adotem
mecanismos consistentes de planejamento, recenseamento da população escolar
para identificação da população fora da escola, em articulação com a área social,
ampliação do número de escolas, políticas de inovação e contextualização curricular.
Todas essas medidas implicam ampliação substancial do percentual de
recursos financeiros destinados à manutenção e desenvolvimento do ensino, o que,
em princípio, poderia estar resolvido com o fim da DRU. No entanto, cabe lembrar
que os recursos adicionais provenientes do fim da DRU irão para os cofres da União,
enquanto os encargos com a ampliação das matrículas recairão sobre os ombros de
estados e municípios.
Fonte: MEC
POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO EDUCACIONAL I
Sistema Único de Educação de Mato Grosso ainda não foi implantado, permanecendo
no horizonte político pedagógico dos profissionais da educação como um desafio
a ser vencido.
Quanto aos órgãos executivos do Sistema Estadual de Ensino de Mato
Grosso, a administração geral é exercida pela Secretaria de Educação, pela Secretaria
de Ciência e Tecnologia, pelo Conselho Estadual de Educação e pelo Fórum Estadual
de Educação.
Reforçando essas ideias, o Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado pela Lei
nº 10.172/01, ao definir diretrizes para o financiamento e gestão (cap. V, 11.2),
enfatiza:
“Para que a gestão seja eficiente há que se promover o autêntico federalismo
em matéria educacional, a partir da divisão de responsabilidades previstas na
Carta Magna. A educação é um todo integrado, de sorte que o que ocorre num
determinado nível repercute nos demais, tanto no que se refere aos aspectos
quantitativos como qualitativos. Há competências concorrentes, como é o caso
do ensino fundamental, provido por estados e municípios.”
Ainda que consolidadas as redes de acordo com a vontade política e capacidade
de financiamento de cada ente, algumas ações devem envolver estados e
municípios, como é o caso do transporte escolar. Mesmo na hipótese de
competência bem definida, como a educação infantil, que é de responsabilidade
dos municípios, não pode ser negligenciada a função supletiva dos estados (art.
30, VI, CF) e da União (art. 30, VI, CF e art. 211, § 1º CF). Portanto, uma diretriz
importante é o aprimoramento contínuo do regime de colaboração. Este deve
dar-se, não só entre União, estados e municípios, mas também, sempre que
possível, entre entes da mesma esfera federativa, mediante ações, fóruns e
planejamento interestaduais, regionais e intermunicipais.
(BRASIL. Programa Nacional de Capacitação de Conselheiros Municipais de
Educação, 2005).
POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO EDUCACIONAL I
Divisão de encargos:
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Planejamento Educacional:
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da educação brasileira. Esse termo surge pela primeira vez na atual Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional (LDB nº 9.394) aprovada em dezembro de 1996. No
entanto, a Constituição Federal (CF) de 1988 abre o caminho para que esta expressão
venha figurar na LDB ao utilizar os termos Ensino Fundamental e Ensino Médio, em
substituição aos termos ensino de 1º e 2º Graus, até então vigentes por força da Lei
nº 5.692, de 1971.
Para além de uma simples mudança de nomenclatura, a consolidação
da educação básica como o primeiro nível da educação escolar no Brasil precisa
ser compreendida à luz de mudanças econômicas, políticas, sociais e culturais, de
caráter mais amplo ocorridas em âmbito mundial, sobretudo a partir dos anos 1990,
que vêm redimensionando o papel do Estado, das políticas públicas, da educação
e da escola.
Dessa forma, analisar a educação básica não é empreendimento fácil
exatamente porque as circunstâncias e contingências que a cercam são múltiplas
e os fatores que a determinam têm sido objeto de muitas leis, políticas, projetos,
programas e ações, alguns dos quais em convênio com organismos de cooperação
técnica e financeira internacional (CURY, 2002, p. 169).
A Educação Básica no seu conjunto, como o primeiro nível da educação
escolar, representa um conceito novo, original e amplo na nossa legislação
educacional. Essa nova configuração legal é resultado de lutas e de muitos esforços
por parte dos educadores comprometidos com a garantia do direito à educação e
a transformação social.
O artigo 22 da LDB estabelece que a Educação Básica:
(...) tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação
comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhes meios para
progredir no trabalho e em estudos posteriores (BRASIL, 1996).
base que se pode ter uma visão consequente das partes (CURY, 2002, p. 170).
Os dados do Censo Escolar 2010, realizado pelo Instituto Nacional 8. Fonte: MEC/INEP/
de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) oferecem um retrato Deed - Não inclui
quantitativo da educação básica no Brasil. De acordo com os dados do INEP, o Brasil matrículas em turmas
de atendimento
registrou em 2010, 51.549.889 matrículas em toda a educação básica, distribuídas
complementar. O mesmo
por 194.939 estabelecimentos de ensino. Do total de matrículas, 43.989.507 (85,4%) aluno pode ter mais de
estão em escolas públicas, e 7.560.382, que equivale a 14,6% das matrículas, uma matrícula.
encontram-se em instituições da iniciativa privada. As redes municipais são
POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO EDUCACIONAL I
Fonte: MEC/INEP
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
E EDUCAÇÃO ESCOLAR
ENSINO MÉDIO
D QUILOMBOLA
(3 ou 4 anos de duração)
U
C EDUCAÇÃO BÁSICA DO
A CAMPO
Ç
à EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E
ENSINO FUNDAMENTAL
O TECNOLÓGICA
(9 anos de duração)
B EDUCAÇÃO ESCOLAR
Á INDÍGENA
S
I EDUCAÇÃO INFANTIL EDUCAÇÃO DE JOVENS E
C (Creches – 0 a 3 anos) ADULTOS
A (Pré-escola: dois anos de duração)
Pré-escola: 4 e 5 anos EDUCAÇÃO ESPECIAL
E PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU
D (Cursos de Mestrado e Doutorado)
U
C
A
PÓS-GRADUAÇÃO LATU SENSU
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Ç
à (Cursos de Especialização)
O
EDUCAÇÃO
S PROFISSIONAL E
U TECNOLÓGICA
CURSOS DE CURSOS CURSOS DE
P
GRADUAÇÃO SEQUENCIAIS EXTENSÃO
E
(3 a 6 anos - duração) EDUCAÇÃO A
R
I DISTÂNCIA
O
R PROCESSOS SELETIVOS
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ENSINO FUNDAMENTAL
O Ensino Fundamental obrigatório e gratuito na escola pública, com
duração de 9 (nove) anos, inicia-se aos 6 (seis) anos de idade. Essa etapa tem como
objetivo a formação básica do cidadão, mediante:
I. o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios
básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo;
II. a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da
tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade;
III. o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista
a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e
valores;
IV. o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade
humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social.
O Ensino Fundamental é organizado e tratado em duas fases: a dos 5
(cinco) anos iniciais e a dos 4 (quatro) anos finais.
A ampliação do Ensino Fundamental para 9 (nove) anos de duração,
com o ingresso da criança aos 6 (seis) anos de idade, requer, de todas as instituições
que trabalham com esta etapa e de todos os educadores, compromisso com a
elaboração de um novo projeto político pedagógico, bem como para o consequente
redimensionamento da Educação Infantil. O Ensino Fundamental de 9 (nove) anos é
um novo Ensino Fundamental o que exige, portanto, um novo currículo e um novo
Projeto Político Pedagógico.
Para orientar as escolas no período de transição, o Conselho Nacional
de Educação por meio da sua Câmara de Educação Básica (CEB) aprovou o Parecer
nº 7/2007, que admitiu a coexistência do Ensino Fundamental de 8 anos, em
extinção gradual, com o de 9 anos, que se encontra em processo de implantação e
POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO EDUCACIONAL I
Modalidades de Ensino
As etapas que compõem a Educação Básica têm previsão de idades
próprias, as quais, no entanto, são diversas quando se atenta para alguns aspectos
como o atraso na matrícula e/ou no percurso escolar, repetência, retenção, retorno
de quem havia abandonado os estudos, estudantes com deficiência, jovens e adultos
sem escolarização ou com esta incompleta. Temos ainda, condições geográficas
e sociais que exigem projetos pedagógicos diferenciados, para públicos como
os habitantes das zonas rurais, povos indígenas e quilombolas, adolescentes em
regime de acolhimento ou internação, jovens e adultos em situações de privação
de liberdade nos estabelecimentos penais (BRASIL, 2010). Para todo esse público
existem modalidades de ensino diferenciadas.
No tocante às modalidades, a LDB estabeleceu princípios apenas para
a Educação de Jovens e Adultos (Art. 37 e 38), Educação Profissional e Tecnológica
(Art. 36, 39, 40, 41 e 42) e Educação Especial (Art.58, 59 e 60), no entanto, todas
as demais modalidades já foram regulamentadas e possuem diretrizes curriculares
nacionais aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação.
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Realize o Exercício
Caso não exista CME criado, procure saber os motivos e se existe Sistema Municipal
Próprio de Educação criado por meio de lei municipal?
Disponível em:
http://migre.me/f08N5
4| O Financiamento da Educação
Pública no Brasil
POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO EDUCACIONAL I
tinham cem vacas, uma deveria ir para o rebanho do rei. Os tributos eram registrados em
tábuas de argila – os livros da época -, escritos em caracteres cuneiformes chamados,
significativamente, de “carga”. O poderio do Império Romano foi construído em grande
parte com os recursos provenientes dos tributos cobrados dos povos que dominava.
Até hoje o governo de um país só pode administrar o seu território e fazer
despesas porque tem uma receita. Guardadas as devidas proporções, o desafio dos
governantes é um pouco parecido com o dos chefes de família.
Você mesmo, para gerenciar bem o seu suado dinheiro e não deixar “sobrar
mês no fim do salário”, talvez recorra a uma cadernetinha dividida em duas colunas.
De um lado, registra a “receita” ou a “entrada”, ou seja, tudo o que recebe no mês; e de
outro a “despesa” ou “saída”, ou seja, tudo o que é preciso gastar no mês.
A receita da maioria das pessoas vem do trabalho delas. A maior parte da
população tira do trabalho os recursos com que procura satisfazer as necessidades
básicas de alimentação, saúde, educação, moradia, vestuário, lazer e outras mais.
E a receita de um governo – a receita pública – de onde vem? De onde o
governo federal (União) do Estado ou do seu município tira os recursos para construir
e manter as escolas, hospitais públicos e postos de saúde, fazer estradas, desenvolver
programas de assistência social e oferecer todos os “serviços gratuitos” de que nós,
cidadãos, precisamos? Dos tributos que os brasileiros e brasileiras pagam ao governo.
Todos nós temos de contribuir, entregando parte do que ganhamos ou
temos ao Poder Público. Por isso, somos chamados contribuintes. E o governo se
compromete a aplicar o dinheiro que lhe repassamos em forma de tributos em ações
que devem atender às necessidades de todos e todas as pessoas nas áreas de saúde,
educação, transporte, trabalho e emprego, meio ambiente, cultura, segurança pública
e outras. Essas ações, financiadas por nós contribuintes, são chamadas políticas
públicas. Nesse sentido, os serviços públicos não são “gratuitos”, pois nós os pagamos
com as nossas contribuições. Ter acesso a esses serviços é um direito de todos nós.
Até aqui você já deve ter observado que utilizamos apenas o termo
tributos ao invés de impostos, taxas ou contribuições. No nosso cotidiano
utilizamos, de um modo geral e de forma imprecisa, o termo imposto para designar
as diferentes espécies de tributos que são criados e arrecadados pelo Poder Público.
Apesar de semelhantes, são diferentes do ponto de vista jurídico. Imposto é apenas
uma espécie de um gênero ou categoria maior chamada tributo.
As taxas cobradas pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios, no
âmbito de suas respectivas atribuições, têm como fato gerador o exercício regular do poder
de polícia, ou a utilização, efetiva ou potencial, de serviço público específico e divisível,
prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição (Art. 77)
A contribuição de melhoria cobrada pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos
Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, é instituída para fazer face ao custo
de obras públicas de que decorra valorização imobiliária, tendo como limite total a despesa
realizada e como limite individual o acréscimo de valor que da obra resultar para cada imóvel
beneficiado (Art. 81).
POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO EDUCACIONAL I
Pagam 48,8% da sua renda em tributos Pagam 26,3% da sua renda em tributos
Isso acontece porque, como já foi dito, a maior parte da carga tributária
no Brasil é constituída de tributos indiretos e incide sobre o trabalho e o consumo. O
imposto indireto não apresenta um parâmetro para medir a capacidade econômica
do contribuinte. Dessa forma, ricos e pobres pagam igual valor se adquirirem a
mesma mercadoria (LIBÂNEO; OLIVEIRA E TOSCHI, 2005). Por exemplo, na compra
de uma geladeira, incide impostos indiretos como o Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI) e o ICMS, já incluídos no preço final do produto. O valor
dos impostos embutidos no preço final da geladeira independe da capacidade
econômica de quem compra a geladeira.
No Brasil, são os pobres e a classe média assalariada que sustentam o
Estado, contribuindo com quase metade da sua renda em impostos. Por outro lado
essa parcela da população tem acesso precário a serviços essenciais como saúde e
educação.
Apesar de ser a classe trabalhadora, sobretudo, os trabalhadores de
baixa renda (que recebem até 2 salários mínimos), a política econômica que segue
vigente concentra-se no pagamento de juros e amortizações da dívida pública,
priorizando com isso banqueiros, especuladores, grandes empresários, e o capital
financeiro internacional.
POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO EDUCACIONAL I
* Transferências Constitucionais
POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO EDUCACIONAL I
“LEI KANDIR”
Como nem só de fatos positivos vive a educação pública, conheça agora as principais
limitações que marcaram o FUNDEF:
5. Focalização no ensino fundamental regular. O FUNDEF deixou de fora
a educação infantil, o ensino médio e a educação de jovens e adultos,
quebrando dessa forma a unidade da educação básica.
6. Como o próprio governo federal não cumpriu a lei que regulamentou
o FUNDEF, o papel da União na composição do fundo foi decrescente ao
longo dos anos, chegando a menos de 1% em 2006.
7. Ausência de um mecanismo de defesa e melhoria do salário dos
POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO EDUCACIONAL I
9. Para uma análise Foram muitas as propostas de emenda à Constituição, visando alterar
detalhada das as bases legais do financiamento público da educação no Brasil durante os anos de
Propostas de Emenda vigência do FUNDEF9 . Uma parte dessas propostas propunha prorrogar a vigência
Constitucional a esse do FUNDEF, alterando percentuais de impostos que compunham o fundo; outra
respeito ver: Política
parte visava a criação de fundos específicos para cada uma das etapas da educação
de Financiamento da
Educação Básica no básica, ou seja, um fundo para a educação infantil, outro para o ensino fundamental
Brasil: do FUNDEF ao e outro específico para o ensino médio; e outras que visavam a criação de um fundo
FUNDEB, de Marisa único para toda a educação básica.
Rossinholi. Depois de muitas discussões durante a tramitação legislativa, foi
promulgada, em 19 de dezembro de 2006, a EC nº 53 criando o Fundeb. Além de criar
o Fundeb, essa emenda promoveu importantes alterações no texto constitucional.
O FUNDEB foi, inicialmente, regulamentado pela Medida Provisória nº
339, de 28 de dezembro de 2006, que foi convertida na Lei nº 11.494, sancionada
pelo Presidente da República em 20 de junho de 2007.
O Fundeb ampliou o percentual da subvinculação de impostos para 20%
incluindo novos impostos. Assim como no Fundef, os recursos são distribuídos aos
estados, Distrito Federal e municípios, conforme o número de alunos matriculados
nas respectivas redes, de acordo com os dados do último censo escolar. Dessa
forma, os municípios recebem os recursos do Fundeb com base no número de
alunos matriculados na educação infantil e no ensino fundamental, e os estados,
com base no número de alunos matriculados no ensino fundamental e no ensino
médio.
A implantação do Fundeb foi progressiva a partir de 2007 (1º ano)
alcançando a sua integralização a partir de 2010, conforme tabela abaixo.
POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO EDUCACIONAL I
Fonte: MEC
FUNDEF FUNDEB
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No bojo das lutas sociais dos anos 1980 e nas discussões do processo
Constituinte que resultou na atual Constituição Federal, o movimento social trouxe
para o cenário político além das bandeiras da democratização e publicização do
Estado, a necessidade do controle do Estado por parte da sociedade, também
chamado controle social. Esse controle deve se expressar em cinco dimensões:
formulação, deliberação, monitoramento, avaliação e financiamento das políticas
públicas (orçamento público). A Carta Magna transformou essas questões em
diretrizes de diversas políticas, especialmente as políticas de cunho social. Na
regulamentação dessas políticas, ocorrida nos anos 1990, incorporaram-se os
conselhos de políticas públicas ou conselhos gestores, os fundos contábeis e
as conferências, como mecanismos de democratização e de controle social,
constituindo uma verdadeira arquitetura institucional de participação.
O marco jurídico definido na Constituição Federal introduziu
mecanismos de democracia direta como plebiscito, referendo e iniciativa popular
de leis. A Carta Magna estabeleceu as formas e os mecanismos de controle da
Administração Pública. Lamentavelmente, uma parcela significativa da sociedade
POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO EDUCACIONAL I
Realize o Exercício
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