Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
PUC-SP
SÃO PAULO
2012
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
SÃO PAULO
2012
Banca Examinadora
_____________________________________
_____________________________________
_____________________________________
DEDICATÓRIA
Keywords: life trajectory after the street situation, accessed and used as homeless
people, homelessness
LISTA DE QUADROS
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10
1
Serviço que oferece acolhimento provisório com espaço para pernoite e estrutura para garantir
privacidade às pessoas em situação de rua do mesmo sexo ou grupo familiar, com ou sem crianças,
respeitando o perfil do usuário, bem como sua orientação sexual. É dividido em três modalidades:
Centro de Acolhida para Adultos I por 16 horas; Centro de Acolhida para Adultos II por 24 horas; e
Centro de Acolhida Especial. (PLAS 2009-2012)
10
III – a garantia da supressão de todo e qualquer ato violento e de
comprovação vexatória de necessidade;
IV – a não discriminação no acesso a quaisquer bens e serviços,
principalmente os referentes à saúde, não sendo permitido tratamento
degradante ou humilhante;
V – subordinar a dinâmica do serviço e garantia da unidade familiar;
VI – o direito do cidadão de restabelecer sua dignidade, autonomia, bem
como sua convivência comunitária;
VII – garantir a capacitação e o treinamento dos recursos humanos que
operam a política de atendimento à população de rua.
11
A Política Nacional para Inclusão Social da População em situação de Rua,
aprovada pelo Decreto 7053/2009 (BRASIL, 2009) destaca como princípios: a
dignidade da pessoa humana, a garantia da cidadania e direitos humanos; o direito
ao convívio familiar e comunitário; garantia da cidadania; direito ao atendimento
humanizado e universalizado; e garantir a não discriminação de qualquer natureza,
prevendo para isto, dentre outras ações, a estruturação da rede de proteção. No que
concerne à assistência social ressaltam-se dois itens referentes à rede de
acolhimento:
13
de direitos e respostas políticas para o segmento. Desde então um percurso foi
trilhado, o enfrentamento da questão população em situação de rua na cidade de
São Paulo assume de uma nova configuração histórica, política e social.
Decerto se pode considerar que as duas últimas décadas marcam uma
trajetória que cumpriu o papel de mexer com a realidade da população em situação
de rua na cidade de São Paulo. Abordar a temática não significa mais falar de
sujeitos desprovidos de direitos, “os invisíveis” aparecem e escrevem em jornais,
participam de atos de repúdio, exigem direitos ao Presidente da República pela
própria voz, reclamam por qualidade nos serviços, avaliam e decidem Políticas,
conquistam espaço político e políticas, são sujeitos capazes de história própria.
Longe de negar a exclusão e vulnerabilidade social que submete a população
em situação de rua a viver indignamente ou querer “falar das flores”, assumir o atual
contexto da população em situação de rua nos permite iniciar a discussão sobre o
processo de saída da rua e de reconstrução de vida reconhecendo seu lugar
histórico que não se limita a impossibilidades e restrições, determinadas pela
condição de pobreza e exclusão que vivenciam no “miúdo da vida cotidiana” dos
sujeitos que experimentam essa condição.
[...] no tempo miúdo da vida cotidiana, travamos o embate, sem certeza nem
clareza, pelas conquistas fundamentais do gênero humano; por aquilo que
liberta o homem das múltiplas misérias que o fazem pobre de tudo: de
condições adequadas de vida, de tempo para si e para os seus, de
liberdade, de imaginação, de prazer no trabalho, de criatividade, de alegria
e de festa, de compreensão ativa de seu lugar na construção social da
realidade. Uma vida em que além do mais, tudo parece falso e falsificado,
até mesmo a esperança, porque só o fastio e o medo parecem autênticos.
(MARTINS, 2008, p.11)
14
“demolindo direitos que mal ou bem garantem prerrogativas que compensam a
assimetria de posições nas relações de trabalho e poder, e fornecem proteções
contra as incertezas da economia e os azares da vida”. (TELLES,1999, p.02)
Segundo Sposati (2009) “o sentido de proteção (protectione, do latim) supõe
antes de tudo, tomar a defesa de algo, impedir sua destruição, sua alteração”. Nesse
sentido, a qualidade da proteção oferecida ou não pelos serviços de atenção
sociassistencial à população em situação de rua implica em articulações que
considerem não só as vulnerabilidades da população como seu potencial de
enfrentamento dessa situação dentro das condições objetivas, no caso, da
metrópole de São Paulo.
No presente trabalho é desenvolvido um estudo de trajetórias, tomando como
referência a história de vida de dois sujeitos que retomaram o processo de
escolarização durante o processo de recuperação da condição de morador de rua,
enfrentando as instabilidades de permanência em serviços, dificuldades com
transporte e outras garantias necessárias para o ingresso na universidade.
Considerando que ultrapassar essas barreiras para recuperar a defasagem escolar
quando não concluída em idade regular e em condições favoráveis se torna ainda
mais complexo.
Os serviços socioassistenciais ofertam local para dormir, comer, realizar
higiene pessoal, lavagem e secagem de roupas, atividades socioeducativas
diversas, acompanhamento social, atividades com profissionais da área de
psicologia, núcleos de inserção produtiva onde a grande maioria trabalha com a
questão da reciclagem do lixo ou mesmo confecção de artesanato com esse
material, cursos voltados para área de construção civil, frentes de trabalho
temporárias, núcleos de convivência e restaurantes comunitários. Um conjunto de
serviços que, embora diversificados para atender necessidades emergenciais da
população em situação de rua, tem um funcionamento pautado em regras e horários
rígidos de caráter imediatista que acabam vinculando autonomia e possibilidade de
saída da rua, exclusivamente ao retorno de forma precária ao mercado de trabalho.
Maria Conceição d’Incao ao avaliar a questão “Potencial de Transformação
Social” no I Seminário Nacional sobre População de Rua em 1992, apontava para o
aspecto da “integração/não integração” da população em situação de rua aos pro-
cessos sociais dominantes, onde a crítica à ação das instituições, à época, estava
no fato de “passar por cima das especificidades dos homens de rua, procurando in-
15
tegrá-los ao mercado de trabalho de forma autoritária e, consequentemente, inefi-
caz”, quadro pouco alterado nos dias atuais. (CADERNOS do CEAS n.151, p.34)
Portanto, se o fenômeno população em situação de rua, por um lado é vincu-
lado aos processos de precarização e fragilização do trabalho, por outro lado, sendo
o trabalho elemento constitutivo do ser social tem um sentido fundamental para o
homem, conforme aponta Iamamoto.
Por meio do trabalho o homem se afirma como ser criador não só como
indivíduo pensante, mas como indivíduo que age consciente e
racionalmente. Sendo o trabalho uma atividade prático-concreta e não só
espiritual, opera mudanças tanto na matéria ou no objeto a ser
transformado, quanto no sujeito, na subjetividade dos indivíduos, pois
permite descobrir novas capacidades e qualidade humanas. (IAMAMOTO,
1998, p.60)
16
preocupações deste estudo, ao permitir demonstrar a possibilidade do espaço
institucional em efetivar direitos e “resgate de autonomia”. A sua apresentação
vocalizando representar um grupo composto por outros colegas que também
vivenciaram processo semelhante e que alcançaram a universidade, alertou para o
reconhecimento de que existem diferenças que levaram um coletivo a encontrar no
estudo a possibilidade de fortalecimento e saída da situação de rua. Aqui se
apresentavam trajetórias a serem analisadas no contexto da cidade de São Paulo.
No âmbito da sociologia urbana, afirma Telles (2006), ao dialogar com
estudos sobre mobilidades urbanas e trajetórias sociais que as novas realidades
extrapolam o alcance de categorias de análise que se tem utilizado, exigindo não
inventar novas teorias, mas reposicionar as novas questões e problemas num
campo investigativo capaz de captar linhas de forças que entrecruzem essa
realidade em transformação.
2
Persiste a orientação na Secretaria de Desenvolvimento e Assistência Social em não permitir
acesso às informações para o desenvolvimento de estudos e pesquisas.
19
1. VIVER NA RUA – SAIR DA RUA, UMA EQUAÇÃO COMPLEXA
20
significa inserir a questão da população em situação rua num território que “pode
constituir processos emancipatórios, mas pode atuar também na mesquinhez de
preconceitos e apartações sociais que provocam erosões nos padrões de civilidade”.
(KOGA e NAKANO, 2006, p.99)
O padrão de acumulação industrial das décadas de 1950 e 1970 refletiu em
acelerado crescimento migratório em São Paulo, num momento de plena expansão
do processo de industrialização e urbanização. A localização geográfica e a
disponibilidade de recursos existentes na cidade eram condições favoráveis para
dinamizar o sistema produtivo que avançava rumo a um capitalismo que se
propunha moderno. Nesse contexto de instalação de um modelo tardio e
contraditório de desenvolvimento econômico, novos contornos demográficos e
espaciais redesenhavam uma metrópole paulistana cada vez mais dinâmica e
complexa à medida que mudavam também, os padrões de organização e relações
de trabalho.
São Paulo é a sexta maior cidade do planeta (11.253.503 habitantes),
comparada às grandes metrópoles mundiais é a décima cidade mais rica do mundo
representa 12,26% de todo o PIB brasileiro. Seus inúmeros atrativos e diversidade
cultural contrastam com retratos diversos de um município que de um lado, revela
99,1% da população vivendo em áreas urbanizadas, com infraestrutura de
transporte público composta por uma frota de 14.934 ônibus municipais 3, rede de
metrô com 69,6 quilômetros de extensão, 60 estações, e capacidade para atender
“mais de 3,5 milhões de pessoas por dia, número equivalente a toda população de
Paris, na França, e Munique, na Alemanha4”, além de um sistema de trens com 89
estações, ao longo de 260,8 quilômetros de linhas operacionais que cruzam 22
municípios da região metropolitana. Apesar desta cobertura, o tempo médio gasto
no trânsito para realizar todos os deslocamentos diários pode chegar a 3 horas e 33
minutos em regiões da zona leste da cidade5.
A fundação Seade com base nos dados do IBGE mostra que 93,6% dos
domicílios contam com banheiro interligado à rede de esgoto e ampla cobertura de
energia elétrica (100%). Ainda assim 1.280.400 pessoas residem em domicílios
3
http://www.sptrans.com.br/indicadores
4
Dados Relatório da Administração 2010, disponível em:
www.metro.sp.gov.br/empresa/relatorio/2010/raMetro2010.pdf
5
Fonte:
www.nossasaopaulo.org.br/portal/arquivos/Apresentacao_Quadro_da_Desigualdade_em_SP.pdf
21
particulares ocupados em aglomerados subnormais6, modo como é conceituado pelo
IBGE a diversidade de moradias irregulares (favelas, invasões, grotas, baixadas,
comunidades, vilas, ressacas, mocambos, palafitas, entre outros) e 3,0% do total de
1,1 milhões de pessoas de todo Estado continuam vivendo em condição de extrema
pobreza, submetidos a situações de vulnerabilidade e riscos sociais.
Segundo o censo da população em situação de rua realizado pela Fundação
Instituto de Pesquisa Econômicas (Fipe) para a Prefeitura de São Paulo, em 2009,
foram encontradas 13.666 pessoas ocupando as ruas da cidade. Os números
apresentados vêm demonstrando um aumento gradativo. O censo de 2000 registrou
8.706 pessoas. A contagem, em 2003, indicou 10.394 pessoas nas ruas da cidade
de São Paulo.
Entre as pessoas pesquisadas no último censo (2009), 6.587 (48,2%)
continuavam utilizando logradouros públicos e 7.079 (51,8%) estavam inseridas nos
serviços de acolhimento da rede de atenção à população em situação de rua.
Destas 6.254 (88,9%) estavam em centros de acolhida e centros de acolhida
especial e 435 (4,9%) em Repúblicas e hotéis sociais, significando que a grande
maioria das pessoas permanecia em serviços considerados como “porta de entrada”
de acolhimento ou albergues.
A precarização das condições de vida na cidade de São Paulo é, sem dúvida,
ampla no seu impacto à população do que somente àqueles que vivem em situação
de rua, mas a estes fica o desafio redobrado de sair da precariedade da rua é
sobreviver à precariedade da cidade.
6
Fonte: http://www.ibge.gov.br/cidadesat
22
separação de grupos sociais em áreas relativamente homogêneas e distantes entre
si no território da cidade. A penalização da violência pelo Estado e a produção de
estigmas territoriais são importantes aspectos considerados relevantes no processo
de segregação. (Cf. MARQUES, apud WACQUANT, 2009)
O autor segue sua análise investigando a interferência das articulações
relacionais em situações de pobreza. Considera que a variedade e os tipos de rede
são componentes importantes para ampliar a sociabilidade e as oportunidades de
acesso tanto no mercado quanto fora dele, gerando maiores possibilidades de
integração e redução do isolamento.
O modo como se estrutura e organiza a vida pública em diferentes contextos
sociais e o tipo de sociabilidade estabelecida no meio urbano entre os diferentes
grupos sociais são definidos a partir de um novo padrão de segregação social no
espaço. Caldeira (2000) identifica pelo menos três formas diferentes de segregação
ao longo do século XX: o primeiro (final do século XIX – 1940) com a concentração
de diferentes grupos sociais separados por tipo de moradia; o segundo (anos 40 –
anos 80) diferentes grupos sociais separados pela distância centro-periferia e; a
terceira forma os diferentes grupos sociais que não interagem entre si, pois apesar
da proximidade estão separados por muros e tecnologias de segurança. (Raichelis,
apud Caldeira, 2007)
A configuração do tecido urbano para Marques (2009) forma um mosaico,
com espaços considerados, na perspectiva de Caldeira, enclaves fortificados – a
proximidade entre grupos sociais distintos separados por muros e grades – e
espaços periféricos mais heterogêneos combinando espaços muito precários com a
melhoria das condições de habitabilidade e infraestrutura urbana.
Paugam (2003) associa ao conceito de exclusão social a noção de trajetória
enquanto um processo que deve ser visto longitudinalmente, onde os estigmas
sofridos por indivíduos que vivem em territórios precarizados podem produzir uma
identidade negativa levando à segregação.
Vera Telles, analisando a questão da segregação para além da concentração
da pobreza no espaço, seguindo as questões propostas por Flávio Villaça (2001) diz
que:
7
Conceito introduzido por Neil Smith (1996) “a cidade revanchista é representativa de uma violência
vingativa e reacionária contra várias populações acusadas de roubar a cidade das classes superiores
[de cor branca]” Loschiavo, 2009:146
24
A reprodução da vida privada - comer, trabalhar, dormir, relacionar-se – no
espaço público, também apontada por Vieira et all (2004), segundo análise de Justo
(2005) subverte a regra da sociedade e faz dessa ocupação um fator de conflito.
A falta de privacidade também repercute nos que vivem na rua sua condição
de expostos permanecentes à curiosidade, à intromissão, à agressão, o que
os tornam particularmente vulneráveis às manifestações do poder repressivo
difuso, isto é, exercido por qualquer pessoa, e do poder repressivo
monopolizado institucionalmente, isto é, o da polícia. (ZALUAR, 1992, p.23)
25
segregação e higiene, os movimentos sociais reivindicam a ocupação
destes espaços apoiados na existência de imóveis vazios, e, assim,
centenas de milhares de pessoas que moram em cortiços, hotéis, pensões
e apartamentos precários, para não falar naqueles que habitam nas ruas ou
em abrigos públicos, pleiteiam sua ocupação. Diante da enorme oferta de
empregos e da facilidade de acesso a eles, desenvolvem falas e atuações
baseadas em uma concepção de reforma urbana em função de direitos de
cidadania. A Cidade deveria ser franqueada também para as camadas
pobres da população. (KOWARICK, 2009, p.154)
Um sonho que, pode ser até ilusão, mas como eu gostaria de possuir pelo
menos um barraquinho, coisa que eu nunca consegui. Possuir os móveis,
as coisas. Mas um sonho que a gente vê assim, tão difícil de realizar porque
ninguém dá chance. Até escrevi falando sobre isto: a gente só alcança
algum lugar com a ajuda de alguém. Sem ajuda não consegue. Aí ninguém
quer ajudar a gente. Muitos passam é carão na gente por ter cinco crianças,
mas fazer o que agora? Se alguém desse um pouquinho de chance a gente
vencia. Mas sem nenhuma chance, como vai vencer? Se eu ganhasse um
salário já era alguma coisa. Mas sem ganhar nada como é que vai vencer?
Não vence nem a fome do dia-a-dia. Eu busco e não estou encontrando
porque ninguém dá chance. Geralmente as pessoas falam: se tivesse só
duas crianças era mais fácil. Que é ao contrário, poderia dar mais chance
para quem tem muita criança. Tem hora que eu penso que é determinado
por Deus mesmo se a criança vem ao mundo. Só que o ensinamento é
outro. Interessante que quando é de rico é determinado por Deus e quando
26
8
é de pobre é porque não pensa. Não sei qual é a realidade disto . (jornal “O
Trecheiro”, 05/2003 página 02)
8
Depoimento de uma família que saiu a pé de Marabá para São Paulo à procura de moradia e
trabalho e acabaram em um serviço de acolhimento na zona Leste da cidade.
27
As diferenças nas condições de vida dos pobres trabalhadores e
desempregados que viviam nos cortiços da região central da cidade, e aqueles que
se viam obrigados a ocupar as regiões desprovidas de qualquer tipo de
infraestrutura, não são facilmente medidas, mas é claramente demonstrada sob a
possibilidade de acessar oportunidades de trabalho e garantias centralizadas em
regiões específicas da cidade.
O cortiço foi durante muito tempo o principal tipo de moradia popular.
Entendida como “habitação das classes pobres”, indicava o modo como os
imigrantes de várias origens, a depreciada mão de obra nacional e, sobretudo,
negros e mulatos – libertos e ex-escravos habitavam no final do século XIX.
(KOWARICK, 2009)
A relação desse tipo de moradia com a pobreza e necessidade de acesso ao
trabalho marca sua localização na região central da cidade em que pese ser
considerada, atualmente, uma área degradada “com o deslocamento de muitos
empreendimentos para as Avenidas Paulista, Faria Lima e Berrini”, a região central
ainda é considerada propícia para o desenvolvimento comercial dada sua
infraestrutura e o volume de pessoas que por ali circulam diariamente.
SANTOS (2010) ao analisar as respostas governamentais ao movimento
sem-teto nos anos 80 avalia que uma das dificuldades enfrentadas estava
relacionada ao preconceito dos técnicos e da sociedade que estigmatizava as
famílias como bandidos, maloqueiros, que não trabalhavam, ou não possuíam
endereço e viviam em albergues e na rua.
Os movimentos articularam diversas ações mostrando suas ações e lutas,
esse processo culminou na realização de uma pesquisa sobre as famílias que viviam
nos cortiços, constatando que elas representavam 2% da população do município de
São Paulo, sendo composta por trabalhadores, jovens e com renda. “As 200 famílias
pesquisadas foram divididas em três grupos que foram enviados para um modelo
embrião de moradia na zona leste de São Paulo. O primeiro grupo foi para a região
da Sapopemba, divisa com Santo André, o segundo Cidade Tiradentes, Santa
Etelvina e o terceiro Jardim das Oliveiras”. (SANTOS, 2010, p.89)
O processo de periferização, segundo Kowarick e Ant (1988) é decorrente de
uma série de fatores: o avanço da industrialização concentrando diferentes pólos na
cidade, desencadeando o surgimento de pequenos centros populacionais; o intenso
crescimento demográfico com o aumento migratório; a busca por moradias mais
28
baratas diante do alto custo do aluguel; a construção de ruas e avenidas viabilizando
a expansão dos meios de transporte e acesso entre as regiões longínquas e o
emprego. As moradias autoconstruídas nas periferias de modo lento e à custa de
muitos sacrifícios físicos e financeiros das famílias configura o que Kowarick
conceitua como “espoliação urbana”.
29
A rua como espaço de moradia torna visível a precária condição de muitos
brasileiros, ocultada por frágeis paredes sem estrutura para sustentação,
construídas com restos de materiais, por vezes impróprios (madeira, papelão,
plástico), que embora possa expressar em alguma medida, parafraseando Marisa
Monte um “Universo infinito e particular”, também pode se apresentar tão indigno,
que viver na rua ou em serviços de acolhimento pode significar um modo de vida
“melhor”.
30
defendido por Anísio Teixeira e Lourenço Filho, reivindicando direito para todos à
educação elementar, o quadro pouco se alterou. (SCHLEGEL, 2010, p.92)
O projeto educacional do país é marcado pela desigualdade de acesso,
grande parte da população trabalhadora acessou tardiamente a escola, recebendo
uma educação vigiada e controlada para construir “passivos” trabalhadores.
Os movimentos de educação popular, iniciados no meio rural a partir da
referência metodológica de Paulo Freire, ganharam força no meio urbano por
desvincular a educação da qualificação profissional ampliando para a formação
política e cidadã. Todavia esta perspectiva não foi incorporada ao processo de
escolarização formal.
A escolaridade das pessoas em situação de rua é apontada como baixa na
pesquisa Fipe/2009, todavia ela não aponta distância do poder de desenvolvimento
escolar da população brasileira .
9
Os dados apresentados se referenciam à pesquisa qualitativa realizada ao lado do censo e trabalha
uma amostragem aleatória realizada na região central da cidade, não correspondendo ao universo da
população em situação de rua de São Paulo. Nesse sentido, os índices sobre educação são
referenciais não censitários.
31
mobilidade social e de reprodução de desigualdades”. (SCHLEGEL, 2010, p.106
apud BOURDIEU e PASSERON, 1990; RIBEIRO, 2007)
Seguindo as orientações compactuadas entre os líderes mundiais sobre os
Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, o Brasil mantém o foco na educação
básica. Um dos desafios apontados no objetivo número 2 de Universalização da
educação primária tem como diretriz corrigir as “falhas do passado que ainda são
mensuráveis na educação hoje. Globalmente cerca de 796 milhões de adultos não
sabem ler ou escrever”10. (2010, p.03)
A escolarização da população em situação de rua não difere da realidade
brasileira, de modo que ter como sujeito de pesquisa estudantes universitários não
significa atribuir à formalização educacional o caminho para o combate à pobreza,
trata-se de perceber como esse processo fortaleceu os sujeitos.
10
www.efareport.unesco.org
32
situação de rua conduziu à forte pressão da sociedade, exigindo providências por
parte do Estado.
O governo do Estado criou em 1972 a Central de Triagem e Encaminhamento
– CETREN, voltado prioritariamente aos migrantes, atendia durante três dias
homens, mulheres e crianças em situação de rua. A população atendida era
tipificada de acordo com a classificação da Coordenadoria de Assistência Social
(CAS): migrante, não migrante, itinerante e indigente.
Essas nominações institucionais caracterizaram o modo de identificar a
população em situação de rua durante muito tempo na cidade, contribuindo para
reforçar estigmas já vivenciados pela condição de rua e não pertencentes à cidade,
ou seja, àqueles a quem não cabe os direitos e “benefícios” de viver num lugar que
não lhes pertencem.
Migrante – “pessoa que deixa um determinado sistema social onde a rede de
interações lhe é familiar, trocando-o por outro [...] com intenções declaradas de
fixação no local de recepção, além de ter em mente pelo menos um esboço dos
objetivos que pretende ali alcançar”;
Não Migrante –“pessoa que estivesse residindo em São Paulo no mínimo há
seis meses ou mais, e declarasse nela pretender domiciliar-se ou continuar
domiciliado”;
Itinerante – “pessoa que revelasse incertezas quanto ao local onde
procuraria se fixar, além de ausência ou indefinição dos objetivos a serem
alcançados”;
Indigentes – “individuo não-migrante que se apresenta numa condição de
analfabetismo, baixa escolaridade, sem profissão ou ocupação definida, sujeito às
flutuações do mercado de trabalho ou às próprias condições de saúde para
encontrar meios de subsistência, sendo que o seu período de ausência de trabalho,
se constituiria não em situações esporádicas, mas em tônica constante no que se
refere à vida produtiva. Sua capacidade de consumo de bens vitais é zero ou
tendente a zero, o que o transforma em verdadeiro mendigo [...] 11”. (REIS, 2008,
p.41)
11
A classificação apresentada por Reis (2008) foi retirada do Relatório de Pesquisa realizada junto à
população atendida na Central de Triagem e Encaminhamento da Coordenadoria de Assistência
Social do Estado de São Paulo (1978).
33
Na gestão Luiza Erundina (1989 – 1992) ocorre o reconhecimento da
responsabilidade da Prefeitura na atenção à população em situação de rua. Não só
pela primeira contagem de 1992 (VIEIRA, et all, 2004) como pela iniciativa de
instalação de centros/casas de convivência em sistema de parcerias com
organizações da sociedade civil.
Pereira relata em sua dissertação que as casas de convivência nasceram de
propostas conjugadas entre os representantes do poder público municipal,
representantes de entidades que já tinham experiência com esse segmento, o
Programa de Estudos Pós-Graduados em Serviço Social da PUC/SP e o Centro
Latino Americano de Saúde Mental. (PEREIRA, 1997)
34
de iniciativas interligadas que pudessem conduzir à qualificação da rede de serviços
socioassistenciais:
35
0800 e a Central de Acolhida Permanente e por fim a rede de serviços construída
nas três vertentes.
Neste período dois projetos diferenciados foram implantados na cidade para
atender esse novo paradigma de trabalho com a população de rua, o “Projeto
Oficina Boracea” e o Programa “A Gente na Rua”:
Projeto Oficina Boracea - localizado em uma área de 17 mil m², funcionava 24
horas por dia, sob a coordenação da Secretaria de Assistência Social e com um
mecanismo de gestão compartilhada em parcerias com órgãos públicos e da
sociedade civil, já que reuniu no mesmo espaço serviços para fornecer alimentação,
abrigo, higiene, cultura, arte, educação e qualificação profissional.
A centralidade da proposta do projeto estava em imprimir um padrão de
qualidade no atendimento de modo que todas as atividades contribuíssem para
alcançar acolhimento, convívio e autonomia. Abrigo com flexibilidade de horário;
núcleo de catadores aberto para comunidade e outros centros de acolhimento, com
espaço para guarda de carroça e permanência de animais de estimação; dormitório
dos idosos adaptados e com banheiros individuais; restaurante escola com
capacidade para duas mil refeições monitorado por nutricionista; lavanderia
profissional atendendo outros serviços da região, funcionando como escola de
capacitação profissional; centro de convívio com sala de cinema, oficina de teatro e
música, oferecendo também curso de formação profissional aberto para outros
serviços e estágio na própria rede de serviços.
O Programa “A Gente na Rua”12 foi desenvolvido junto à Secretaria Municipal
de Saúde, como uma Estratégia Saúde da Família em situação de rua. O Programa
contava com médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, assistentes sociais,
psicólogos e agentes comunitários, as pessoas contratadas para o trabalho de
abordagem de rua eram moradores de rua, que passavam por treinamento. As
atividades dos agentes consistiam em abordar pessoas em situação de rua,
identificando problemas de saúde, encaminhando-os para as Unidades Básicas de
Saúde de referência que compreendiam as regiões Sudeste e Centro Oeste de São
Paulo.
Do ponto de vista nacional, a partir de 2004, a Política Nacional de
Assistência Social (PNAS/2004) insere os serviços de acolhimento para população
12
www.acolher.org.br
36
em situação de rua na rede de proteção especial de média e alta complexidade,
considerando o grau de vulnerabilidade a que estão expostos.
Neste mesmo ano, em agosto, a sociedade civil da cidade de São Paulo é
mobilizada por um dos atos que mais expressou a crueldade vivenciada diariamente
pela população de rua – “Massacre da Sé”. As reações à violência e assassinatos de
moradores de rua que dormiam nas escadarias da Sé exigiam um posicionamento
do poder público diante das vulnerabilidades da população de rua. (ROSA, 2005)
Os fóruns e encontros de discussões sobre população em situação de rua
foram se consolidando como espaços de participação e monitoramento das políticas
públicas direcionadas à população em situação de rua e fortalecendo o segmento
com a formação do Movimento Nacional da População em Situação de Rua
(MNPR), o Movimento Estadual da População em Situação de Rua e o Conselho de
Monitoramento da Política de Direito da Pessoa em Situação de Rua.
Desde então importantes momentos podem ser elencados no processo de
luta por direitos e reconhecimento da população em situação de rua:
37
2012 – Criada a Defensoria Pública para População em Situação de Rua na
cidade de São Paulo.
38
Quadro 1: Serviços para População em Situação de Rua.
Serviço Proposta Equipamentos por região
13
Quadro 2 construído com base no Guia de Serviços para população em situação de rua disponível em
www.defensoria.sp.gov.br Acesso em 09/02/2012.
39
2. O ESTUDO DAS TRAJETÓRIAS
Este capítulo tem por objetivo apresentar as trajetórias dos sujeitos a partir de
dois eixos de análise considerados significativos para compreensão da articulação
entre os processos que levam a pessoa à situação de rua e o percurso que se deu
para a ocorrência dos processos de saída da rua e de reconstrução de vida nos
planos pessoal e social.
Silva (2009) apresenta uma discussão sobre o fenômeno população em
situação de rua no Brasil, no contexto das mudanças no mundo do trabalho e outras
transformações promovidas pelo capitalismo contemporâneo. Baseada
principalmente na referência marxiana para aprofundar sua análise sobre as
condições histórico-estruturais de origem e reprodução no fenômeno nas sociedades
capitalistas, sustenta que “o fenômeno população em situação de rua surge no seio
do pauperismo generalizado vivenciado pela Europa Ocidental, ao final do século
XVIII, compondo as condições históricas necessárias à produção capitalista.” (Silva,
2009, p.96).
Em seu trabalho reúne as principais características do fenômeno e da
população em situação de rua identificadas por autores como Burstyn (2000); Rosa
(1995); Snow & Anderson (1998); Varanda (2003) Vieira et alli (2004); bem como os
dados encontrados nos resultados de Censos e contagens da População em
Situação de Rua da cidade de São Paulo, Porto Alegre e Belo Horizonte entre os
anos de 1992 e 2005.
De acordo com o conceito de Vieira, ao tratar do fenômeno população de rua
afirma que:
40
deficiência, antes em situação de rua, puderam alcançar o Benefício de Prestação
Continuada – BPC. Há ainda o alcance do Programa de Transferência de Renda
Bolsa Família para situações em processo de saída das ruas. Todavia, como
registra a autora, esses avanços não cobrem nem a todos, nem todas as
necessidades para que possam reconstruir suas vidas.
Diferentes autores registraram características dessa população ou da
ocorrência do fenômeno:
43
2.2 O Caminho da Rua: Singularidades que Diferenciam Experiências Sociais
Coletivas
44
Os fatos foram narrados pelos sujeitos de acordo como eles percebem sua
própria história e a significação dos fatos atribuídos por eles em suas histórias de
vida, sendo que as intervenções do pesquisador foram poucas, somente no sentido
de elucidar algumas dúvidas e não se perder da questão norteadora. Para além de
uma opção metodológica, entende-se como uma forma de compreender e respeitar
a travessia de cada um na superação dessa condição.
A análise das narrativas foi organizada em dois momentos ou fases: a chegada à
rua e a saída da rua. Na primeira fase da análise procura-se identificar como os
sujeitos vivenciaram os processos de fragilizações e rupturas que resultaram na
situação de rua em São Paulo. Na segunda busca-se identificar por elementos de
força objetivos e subjetivos que contribuíram para “saída da situação de rua”, tendo
presente que estes não ocorrem desvinculados do movimento contrário que tenciona
para fragilidade e rompimento. Trata-se de um contínuo processo que se desenvolve
num contexto contraditório e, desde sempre, desigual. Nesse sentido, na segunda
fase da análise busca-se identificar fatos, situações, sentidos e movimentos que
mobilizaram, em alguma medida, o fortalecimento dos sujeitos, levando à saída da
situação de rua.
FAMÍLIA
14
Ficar na rua – circunstancialmente; estar na rua – recentemente; e ser de rua – permanentemente.
46
Sujeito 1
Eu vim de Feira de Santana, para São Paulo com 19 anos. A cidade que
nasci era pequena, o povoado era de roça, não tinha água encanada, não
tinha luz, não tinha telefone. Então quando eu cheguei a São Paulo eu fui
seduzido pela cidade. Se você perguntar alguém que foi de São Paulo, fui
eu. Tudo me encantava, os prédios, as ruas, o metrô, os trens. Lá eu
ganhava na época o equivalente a 50 reais, eu cheguei aqui no primeiro
mês eu ganhei, trabalhando na construção civil de ajudante geral, 800 reais.
Então eu olhei 800 reais na minha mão, eu podia comprar tênis, eu podia
comprar a calça que eu queria, o sapato que eu queria, a roupa que eu
queria. E comecei cada vez mais, quanto mais eu ganhava dinheiro mais eu
me afastava da minha família, aí caí na noite, bebida, prostituição.
[...] nos dois primeiros anos eu via minha mãe de seis em seis meses eu
viajava, passei para um ano, um ano e meio, depois eu ligava para minha
mãe, dizia que tinha um filho aqui por isso eu não ia visita-la, e era mentira.
Doeu muito porque minha mãe, ela chegou a pesar 48 quilos, para você ter
uma ideia. Por que ela não sabia se eu tinha morrido, eu não falei pra
ninguém.
Sujeito 2
E aí o que acontece é que meu pai nunca respeitou muito a minha mãe, ele
a fazia sofrer, ele bebia, vivia na rua, largado, jogado e ela vivia atrás dele
tentando ajudar de alguma forma e nesse processo veio primeiro eu, depois
meu irmão, depois a minha irmã e assim foi...
Essa situação de vida era bem difícil, eles brigavam muito e tudo mais, até o
dia que minha mãe resolveu ir embora, só que quando ela resolveu ir
embora não teve condições de ficar com três filhos, então o que ela fez? Ela
entregou a nossa guarda para o juizado, tanto eu quanto meus dois irmãos.
E nesse processo da entrega da guarda acho que o mais difícil para mim é
que separaram a gente, puseram eu e meu irmão para um lado e minha
irmã para o outro e nós ficamos cerca de 1 ano e pouco separados.
Depois nos juntaram numa instituição Estadual. Você sabe que a FEBEM
antigamente ela não era só para casos de infração, ela tinha também um
núcleo para casos que eles chamavam de carentes, que é aqueles filhos
que os pais abandonavam e órfãos. Sempre foi tudo complicado lá porque
minha família não ia visitar a gente.
47
Eu morava, em uma edícula na empresa, eu trabalhava de segurança à
noite e durante o dia eu dormia no fundo da empresa.
Sujeito 2
Foi extremamente difícil porque na rua você encontra muitas pessoas que
estão lá para fazer qualquer coisa que precisar então foi bem horrível assim
essa parte e aí foi quando eu resolvi que ia ficar com a minha mãe e fiquei
num processo de instituição casa, casa e instituição.
Eu fiquei mal [referindo-se a depressão] e fui internado duas vezes em
hospital psiquiátrico. E depois desse processo de hospital psiquiátrico, eu
estava numa instituição que não foi capaz de lidar com toda essa situação e
preferiu jogar para frente e eu passei por um processo de eu mesmo tentar
me reerguer sozinho, então não voltei para instituição, não voltei para casa
da minha mãe, não voltei para lugar nenhum. Eu comecei com essa minha
história de morar um pouco aqui, um pouco ali, conhecia alguém morava um
pouco lá, fiquei em vários lugares.
[...] eu me envolvi com movimento de moradores do movimento de invasão
né! Fui morar num prédio invadido, eu fiz parte do grupo.
Foi quando também eu decidi que ia embora, que ia fazer alguma coisa da
minha vida, eu queria ir embora fazer qualquer outra coisa, aí eu comecei a
“mochilear”, eu fui embora para o Chile e fiquei 2 anos lá. Quando eu voltei,
aí sim, a coisa ficou bem complexa porque eu não fazia mais parte do grupo
[...] quando eu voltei não tive nada, não encontrei ninguém e aí eu
realmente fiquei assim meio perambulante.
E era assim, era tudo muito violento, lembro bem que as pessoas não
tinham carinho assim, sabe!? Não é amor, não é... (Sujeito 2)
Sujeito 1
Comecei a namorar com pessoas só por interesse. E chegou um momento
que se eu visse duas pessoas eu não sabia para quem eu tinha falado a
verdade, para quem eu tinha falado mentira.
Eram envolvimentos seculares, visavam interesses.
No dia que ouve o massacre em que meus amigos foram assassinados na
rua, pessoas que eu vivia ali. Eu cheguei na quarta de manhã e achei meus
amigos assassinados [...]
Sujeito 2
48
era uma forma de talvez, buscar afetividade, carinho, alguma coisa de afeto,
então sexo para mim naquele momento era assim. Depois de um tempo foi
uma questão de diversão e de prazer porque era fácil. E aí num terceiro
momento já era uma necessidade de explicar alguma coisa para mim.
Como eu sou? O que acontece é que a questão sexual nos abrigos, na
instituição é bem difícil, bem complicado por que as pessoas têm desejos
igual a todo mundo, mas é tratado como algo nulo.
Identidade/Reconhecimento
O que foi bom, o lado positivo disso é que eu nunca me envolvi com drogas,
por que eu não quis e eu nunca me envolvi... não que eu não tenha
experimentado ou usado, sim, mas eu nunca me envolvi mesmo,
fortemente, e nem com roubo, nem com nada, nunca fui preso, não tenho
antecedentes criminal, mas passei por todo esse processo difícil com
pessoas, lugares. (sujeito 2)
Sujeito 1
Sujeito 2
A coisa começou a ficar bem complexa quando eu fiz 18 anos, fiquei adulto,
você já não é mais criança, as pessoas já não te olham mais da mesma
forma e você precisa se virar [...]
Eu sempre fui meio “riponga”, então para mim um chinelo, uma bermuda e
uma camiseta estava ótimo, não precisava de mais nada.
Eu não me aceitei [...] Achava que isso foi um dos fatores de ser infeliz e foi
por isso que eu fiquei com depressão, muita depressão, porque eu
realmente não aceitava e aí foi difícil, uma fase bem difícil e eu acho que foi
também um dos fatores que me levaram a ficar largado por aí.
49
Trabalho
Sujeito 1
Um dia eu fui cobrar meu pagamento para o dono da obra, ele falou assim
“Você é burro, você não tem nem o ensino fundamental completo, se você
sair daqui hoje, você não vai fazer nada, você vai voltar a ser peão de obra
novamente”. Eu pedi as contas do serviço. Na época, eu tinha quatro anos
no emprego, mas não significava nada diante das dívidas acumuladas que
eu tinha e das pessoas que eu tinha magoado. Acho que foi o que mais
feriu, foi o acordar e ver que essas pessoas que não estavam meu lado
eram importantes.
Sujeito 2
50
Para decodificação das narrativas adotou-se como procedimento a
diferenciação entre elementos objetivos e subjetivos, a partir das seguintes
distinções:
51
Os sujeitos entrevistados têm em comum em suas trajetórias duas
instituições: a utilização do serviço Boracea que ofertava cursos profissionalizantes,
associados a aulas de cidadania, bem como a conclusão do ensino médio no
mesmo CEEJA Dona Clara Mantelli.
Motivações
Sujeito 1
Sujeito 2
Eu penso que não é uma questão do diploma só, no meu caso eu penso
que é a educação mesmo, a educação mexe mesmo com a pessoa, ela faz
a pessoa querer se movimentar, querer viver e no meu caso o estudar tem
a ver com querer salvar minha vida mesmo. Porque a partir do momento
que eu tive contato com a filosofia eu comecei a entender uma série de
coisas que eu não entendia até mesmo em mim, comecei a ver porque
eu sou tão complexo, todo meu processo de vida, todas as “merdas”
que eu passei e todas as coisas boas também, todas as pessoas que eu
encontrei. Talvez pudesse ser diferente, mas eu não quero que seja.
Eu acho que estudar é você esclarecer uma série de (...) esclarecer - não
porque eu não gosto dessa palavra - acho tão preconceituosa, é
reconhecer, reconhecimento enquanto pessoa, enquanto ser humano e
também uma pessoa que é culta e sabe se expressar, que fala
corretamente, que entende as coisas, ela tem mais chances de vivenciar
muito mais coisas na vida do que aquela que vai ficar deixada num canto.
Queriam que eu fizesse curso técnico e eu não quis.
Sujeito 1
Eu acho que a maior motivação para que eu entrasse na faculdade não foi
da família, não foi de amigos, mas foram de amigos aí da instituição e dos
amigos da rua.
[...] a gente tinha uma professora que dava aula de cidadania e após a
aula ela dava orientação, escuta. Acho que o projeto de vida começou a
ser formado na aula de cidadania, a partir dali você vai tomando normas,
diretrizes, onde você vai procurar, de que forma vai procurar, o que é
preciso fazer, você escuta o profissional dizer que nada é a curto prazo,
existe curto, médio e longo prazo e ela fala se você quer um curso técnico
53
você vai ter 3 anos, se você quer faculdade você vai ter 8 anos, você só
está com o ensino fundamental incompleto, então leva um tempo, requer
persistência, paciência.
Sujeito 1
Tinha um grupo, era eu o “O.” que está fazendo medicina em Cuba, o “M”
que hoje é agente comunitário e o “Z” que é auxiliar de enfermagem, então
tinha um grupo. [...] essa turma fazia parte do gueto da biblioteca do centro
cultural Vergueiro, a gente ia muito para o centro cultural.
Sujeito 2
54
Eu falei, “mas como eu vou fazer inscrição na faculdade se eu ainda nem
tenho o ensino médio?”
E foi, ele que me indicou o Clara Mantelli.
55
garantia o suprimento das necessidades de alimentação, higiene e acolhida, porém
o retorno ao trabalho parecia-lhe impossível diante do preconceito em relação a sua
atual condição. Essa situação adversa reforçou seu desejo e a percepção do estudo
como um caminho para efetivar a saída da rua e reconstrução de sua vida.
Para o sujeito 2 o trabalho em uma galeria de artes aparece como um marco
que despertou outras possibilidades, mudando sua forma de compreender o
trabalho. Realizar uma atividade com a qual se identificava, aparece em sua
narrativa como uma forma de integrar um sentimento de valor e dignidade, pois tinha
a oportunidade de fazer algo que realmente gostava. Porém o baixo salário
repercutiu em tentativas de saída da rua baseadas no acesso a formas de moradias
precárias e provisórias devido a irregularidade do trabalho e o baixo salário, o que
interferia inclusive na concretização do desejo de concluir o curso universitário que
precisou interromper, retomando posteriormente.
Os serviços de acolhimento que utilizou apresentaram relativa efetividade
interventiva no planejamento e organização dos seus projetos de vida. Seus
referenciais estão nos contatos com profissionais específicos e pela possibilidade de
conhecer pessoas e criar novos vínculos relacionais por estar vinculado a um projeto
que, segundo ele, contava com uma diversidade de organizações e voluntários que
participavam do projeto.
Os serviços socioassistenciais de atenção à população em situação de rua é
o campo de trabalho mais aberto para inclusão dos entrevistados no mercado
profissional, demarcando uma passagem da condição de usuário para funcionário,
que vai lidar diretamente com questões as quais sua experiência é fundamentada
pela própria vivência.
Na pesquisa de doutorado realizada por Medeiros (2010) sobre processo de
saída da rua, dentre os 8 sujeitos entrevistados por ela, 6 estavam inseridos em
trabalhos vinculados à rede de serviços socioassistenciais de atenção à população
em situação de rua.
A proposta de inserir a própria população em situação de rua como parcela da
mão-de-obra da rede socioassistencial está presente no “Projeto Agente na Rua”,
avaliando que há maior facilidade de vinculação com pessoas que já estiveram ou
estão em condição semelhante, o que poderia promover êxito na abordagem de rua
realizada para encaminhar aos serviços de saúde. Outras iniciativas estão nas
frentes de trabalho do Estado, na forma de programa provisório e sem vínculo
56
profissional e casos isolados de contratações que passam pela avaliação das
instituições e sua liberdade de contratação.
As organizações do terceiro setor como fonte de trabalho e renda, não
garantem a estabilidade, cada vez menos presente no mercado de trabalho de modo
geral, e trazem algumas questões específicas. Os aspectos negativos e positivos
que permeiam a relação de parceria público-privado também demarcaram a
estabilidade no trabalho: a possibilidade de perda de convênio da organização em
mudanças de governo; situações de atraso no repasse da verba; descompasso
entre reajustes orçamentários e os custos para manter um serviço de qualidade;
falta de capacitação e reconhecimento profissional, além de aspectos mais
subjetivos relacionados a sentimento de frustração com os resultados da atividade
profissional desenvolvida. Por outro lado, é um campo que insere o trabalhador na
esfera dos direitos garantidos pelo emprego formal com registro em carteira, bem
como possibilita seu reconhecimento social, elaboração de projetos e sonhos e o
acesso aos bens e serviços obtidos no mercado.
As narrativas revelam que a retomada ao trabalho é uma forma de reparos
materiais através do pagamento de dívidas e também, pessoais à medida em que
exige retratações que podem ser importantes para os sujeitos reconstruírem suas
histórias.
Motivações
Sujeito 1
A partir do momento que eu fiz o curso de pintura eu sabia que eu
queria faculdade. Eu olhava e dizia, “bom, eu preciso chegar na
faculdade”, existe um caminho a ser percorrido, eu sabia que eu tinha
que eliminar o ensino fundamental, depois o ensino médio e aí arrumar um
meio de entrar na faculdade. Para isso eu sabia que precisava estar
trabalhando, mesmo desempregado num albergue eu sabia que precisa de
um trabalho. Só que aí também vem a discriminação, eu acho que se não
fosse uma parceria público - privado hoje, talvez, eu não seria segurança
[falando da profissão que também já exerceu], porque mesmo quando eu
estava no albergue, eu fiz um curso de segurança com o dinheiro que
ganhei do curso de pintura, fui procurar emprego e não me deram porque
meu endereço era de albergue, então instituição privada não te dava
emprego. Se você der endereço de albergue 99% das instituições vão te
negar, vai se fechar o mercado de trabalho.
57
esse trabalho, porque eu poderia trabalhar de segunda a sexta feira das
08:00 ás 17:00, carteira assinada,com a população de rua que eu tinha
vivido, ia fazer uma coisa que eu gostava e poderia estudar, então
quando eu vi que tinha todo esse apoio da assistente social, eu disse “é
aqui que eu vou!” Eu lembro que na época da entrevista a assistente social
perguntou, “você trabalhou de segurança durante 10 anos?” Eu disse que
sim, ela falou “você não tem cara de agente comunitário”, eu falei “se não
me derem oportunidade não vão saber”, e graças a Deus me aceitaram.
Eu não tenho uma casa ainda, estou em busca. Hoje eu moro em uma
casa alugada, pago com o salário do meu trabalho e já me inscrevi na
“Minha Casa minha vida”, a Caixa vai me chamar daqui a pouco e, se “Deus
quiser”, no final de 2012 e eu estou com minha casa própria.
Sujeito 2
Então conheci a Assistente Social, expliquei a situação para ela. Ela falou:
“olha, tem projeto que está nascendo aí, chama Boracea”. No primeiro
58
momento fiquei com raiva, falei “você vai me jogar em qualquer canto aí e
seja o que Deus quiser”, mas depois não, depois deu super certo lá, aí eu
fui fazer um curso [...] Acho que foi de pintura e teve umas coisas de
cidadania, tinha umas passeatas e foi bem legal. Nessa época eu conheci
eu conheci duas pessoas, um professor que dava aula lá e eu peguei
maior amizade com ele e com uma outra mulher que me levou para fazer
uns trabalhos numa galeria lá na Sumaré. Esse projeto tinha vários
voluntários, pessoas que iam e ajudavam.
60
universidade permitiam relacionar as situações pessoais e individuais a questões
gerais.
Motivações
Sujeito 1
Estou com a mala pronta e amanhã eu vou viajar com meu sobrinho para
ver minha mãe. Em 2006 quando eu passei oito anos sem vê-la, eu
cheguei em casa, levei um presentinho para minha de sobrinha de três anos
que eu não a conhecia, ai ela falou assim: “se você vai me dar esse
presente e não vai mais ver minha avó, eu não quero seu presente”. E, hoje
eu vou poder viajar com meu sobrinho ele e vou poder retribuir isso. Acho
que Deus me deu essa oportunidade. Independente da religião de vocês
eu acredito em Deus, assim e ele esta me dando o presente de voltar hoje
e dizer assim: Obrigado pela oportunidade da senhora [mãe] me
perdoar, do meu pai ter me aceitado, da minha família ter me aceitado.
A família é tudo, tenho uma irmã que mora no interior e outro que mora
aqui em São Paulo, tem meus pais que moram na Bahia, a família é a
base de tudo.
Sujeito 2
Eu refiz o contrato com minha mãe, entendi o que ela viveu, ela mora
aqui bem próximo, a gente se fala sempre. Eu restabeleci a conexão com
meu pai, também, depois de anos. Quando eu passei a entender que
independente da situação ou das coisas que nós vivemos a gente tem
que, realmente, resgatar um pouco da história, e eu resgatei um pouco da
minha história. Eu passei um tempo resgatando história dos outros. Por que
não fazer isso com a minha própria? Eu queria entender, a filosofia me
despertou para uma curiosidade maior.
61
que ela passou. E ela também explicou porque ela não pôde visitar, e fora
isso ela também teve os erros dela.
É bem complicado, com a nossa família é mais complexo, pois exige algo
que às vezes você não pode dar. [...] Mas fortalece porque todo mundo
veio de algum lugar... Eu sou muito ansioso, porque querendo ou não, todo
mundo vai pensar na sua mãe, no seu pai, nos seus irmãos. Eu sou o
primeiro filho dela. Ela sempre me viu de uma forma muito diferenciada, a
gente tem uma ligação muito grande.
Apoios
Sujeito 1
Nas primeiras vezes que eu apareci, para minha mãe eu era um fantasma,
lembro que eu tinha uma irmã de 11 anos, passei oito sem ir lá, quando eu
cheguei na porta de casa apareceu aquele mulherão enorme na minha
frente, ela estava com 18 anos e eu não sabia quem era. Foi à instituição
que me ajudou muito, a forma de acolhida e o atendimento social e
psicológico. Por que eu não tinha coragem, sozinho, eu tinha que ouvir
da assistente social e psicóloga. Eu tinha preocupação, passei 10 anos
sem ir em casa e eu ia chegar sem nada, só a minha pessoa, eu não estava
financeiramente bem para voltar e eu tinha na cabeça que eu tinha que
voltar com alguma coisa.
Sujeito 2
Minha tia tem comigo uma coisa muito próxima [...] durante muito tempo
ela dizia para eu conhecer minha história, “vai desenvolver isso que é
importante para você”. Porque tem pessoas que aconselham a gente de
forma favorável. [...] Foi quando eu comecei a rever minha família, fui
procurar meus irmãos também e a coisa começou a funcionar de outra forma.
62
3. CONSIDERAÇÕES SOBRE PARADIGMAS DE ATENÇÃO À POPULAÇÃO EM
SITUAÇÃO DE RUA
64
às necessidades biológicas, indicando que não há um patamar em que o
homem é animal. O sofrimento deles revela o processo de exclusão
afetando o corpo e a alma, com muito sofrimento, sendo o maior deles o
descrédito social, que os atormenta mais que a fome. O brado angustiante
do “eu quero ser gente” perpassa o subtexto de todos os discursos. E ele
não é apenas o desejo de igualar-se, mas de distinguir-se e ser
15
reconhecido. (SAWAIA, 2004, p.115)
15
SAWAIA, Bader. O sofrimento ético-político como categoria de análise da dialética
exclusão/inclusão. In SAWAIA, Bader (Org.) As artimanhas da Exclusão: análise psicossocial e ética
da desigualdade social. São Paulo: Vozes, 2004.
65
Nesse mesmo eixo analítico de apoio institucional, um indicador subjetivo da
atenção refere-se ao vínculo entre usuários e profissionais. Pode-se observar na
avaliação desse sujeito, como esse vínculo se expressou na sua trajetória e o
sentido dessa atenção para si.
67
A vantagem é que essa escola é de presença flexível, eles escolhem o
horário que podem estudar e a escola fica aberta para atender. Nesse ano
de 2012 ela ficará aberta das 10 da manhã às 22hs e eles têm livre acesso
dentro da escola, podendo realizar provas, participar de oficinas, tirar
dúvidas com os professores a qualquer momento. Outra vantagem é que
apesar da presença flexível eles podem ficar aqui porque tem refeitório, tem
como se alimentar tanto no período da manhã quanto da noite. [...] Como o
tempo é ditado por eles, eu acho que a grande vantagem deles virem para
cá é essa. A hora que eles conseguirem se desenvolver e se empenhar
para realizar o curso eles concluem. (Direção do Centro Educacional de
Educação para Jovens e Adultos Clara Mantelli)
68
Eu penso que é a educação mexe mesmo com a pessoa, ela faz a pessoa
querer se movimentar, querer viver e no meu caso o estudar tem a ver com
querer salvar minha vida mesmo. (Sujeito2)
Quando foi para iniciar o Projeto Boracea, pensamos num projeto que
pudesse envolver a comunidade, na época nos chamamos os vizinhos que
moravam nas casas próximas por que a região da Barra Funda é uma
região que tem muitas casas tradicionais, então tinha muita gente que
morava naquela região há muitos e muitos anos [...] Eles sugeriram que a
entrada do projeto fosse pela Rua Norma Gianotti. (Supervisora Regional do
Projeto-entrevista realizada)
71
Aí, você encontra um profissional da área social que lida com reinserção
social, são pessoas que podem mudar a situação social e que impedem
você de estudar. Elas dizem olha nós não estamos aqui prontos para que
você vá tomar banho depois das 10 e não podemos guardar uma
alimentação para que você jante. Se você chegar as 10 vai dormir com
fome, então para mim foi assustador encontrar profissionais nessa situação.
(Sujeito 1)
72
serviços, o que resultaria na valorização dos sujeitos, na flexibilidade das regras em
conformidade com sua demanda, na escuta, no fortalecimento de sua capacidade de
decisão.
73
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARVALHO, Maria do Carmo Brant de. Gestão Social: alguns apontamentos para o
debate. In: Gestão Social: uma questão em debates. São Paulo: EDUC, IEE, 1999.
GIORGETTI, Camila. Moradores de rua: uma questão Social? São Paulo: FAPESP,
EDUC, 2006.
74
JUSTO, Marcelo Gomes. “Exculhidos”: ex-moradores de rua como camponeses num
assentamento do MST. Tese (Doutorado em Geografia Humana) Departamento de
Geografia, Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo,
2005.
______. As lutas sociais e a cidade. São Paulo: passado e presente. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1988.
MARTINELLI, Maria Lúcia. Serviço Social: Identidade e alienação. 13 ed. São Paulo:
Cortez, 2009.
75
MARTINS, José de Souza. A Sociabilidade do homem simples. Cotidiano e história
na modernidade anômala. 2 ed. revisada e ampliada. São Paulo: Contexto, 2008.
MESZÁROS, István. A educação para além do capital. São Paulo: Boitempo, 2006.
NETTO, José Paulo. Para a crítica da vida cotidiana. In: CARVALHO, Maria do
Carmo Brant de; NETTO, José Paulo. Cotidiano: Conhecimento e crítica. 8 ed. São
Paulo: Cortez, 2010.
PAUGAM, Serge. Desqualificação Social: Ensaio sobre a nova pobreza. São Paulo:
Cortez; EDUC, 2003.
PEREIRA, Potyara A. P. Política Social: temas & questões. São Paulo: Cortez, 2009.
76
REIS, Daniela. O Sistema de Informação – SISRUA – Uma contribuição para a
Política de Assistência Social na Cidade de São Paulo. Dissertação (Mestrado em
Serviço Social) Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2008.
ROSA, Cleisa Moreno Maffei. Vidas de Rua. São Paulo: Hucitec, 2005.
SILVA, Maria Lucia Lopes da. Trabalho e População em Situação de Rua no Brasil.
São Paulo: Cortez, 2009.
SPOSATI, Aldaíza. Vida Urbana e Gestão da Pobreza. São Paulo: Cortez, 1988.
77
______. O Caminho do Reconhecimento dos Direitos da População em Situação de
Rua: de indivíduo à população. In: Rua, aprendendo a contar: Pesquisa Nacional
Sobre População de Rua. Brasília: MDS/SAGI/SNAS, 2009.
TELLES, Vera da Silva. Direitos Sociais: afinal do que se trata? Belo Horizonte:
Editora da UFMG, 1999.
______.Os sujeitos sociais em questão. Revista Serviço Social & Sociedade, ano
XIII, n. 40. São Paulo: Cortez, 1992.
78
______. Pobreza e Exclusão Social: expressões da questão social no Brasil. In:
Temporalis n. 3 (ABEPSS). Brasília: 2001.
ZALUAR, Alba. Quando a Rua não Tem Casa. In: Essas Pessoas a Quem
Chamamos População de Rua. Caderno CEAS n. 151, I Seminário Nacional sobre
População de Rua. São Paulo, 1992.
Documentos
79
______. Prefeitura Municipal de São Paulo, Secretaria Municipal da Assistência
Social. Plano de Assistência Social da Cidade de São Paulo PLASsp 2009-2012.
São Paulo, 2009
Sites
SÃO PAULO. (Municipal) Olhar São Paulo. Contrastes Urbanos. Disponível em:
<http://smdu.prefeitura.sp.gov.br/contrastes_urbanos/>. Acesso em 13 dez 2011.
80