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20/04/2019 Portal Secad

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COMPULSÃO ALIMENTAR E DEFICIÊNCIAS EM


HABILIDADES SOCIAIS
JULIANA D’AUGUSTIN

■ INTRODUÇÃO
Problemas associados a interações sociais parecem ter um importante papel nos transtornos alimentares. Em particular, os déficits em
habilidades sociais e as formas disfuncionais de manejo do afeto negativo têm desempenhado um papel importante no desenvolvimento e na
manutenção dos transtornos alimentares e nas formas de comportamento alimentar disfuncional, como, por exemplo, a compulsão alimentar.
Assim, este artigo visa a apresentar uma revisão da literatura sobre os déficits em habilidades sociais em pacientes com transtornos
alimentares, enfatizando, principalmente, o impacto desses déficits na compulsão alimentar. Além disso, será discutida a inclusão do
treinamento dessas habilidades do tratamento dos transtornos alimentares e as suas consequências na melhora da compulsão alimentar e
do funcionamento social do indivíduo.

■ OBJETIVOS
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de
■ reconhecer as relações entre os déficits em habilidades sociais e a compulsão alimentar;
■ identificar os principais déficits associados aos episódios de compulsão alimentar;
■ analisar a inclusão do treinamento das habilidades sociais no tratamento da compulsão alimentar.

■ ESQUEMA CONCEITUAL

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■ RELAÇÕES INTERPESSOAIS E QUALIDADE DE VIDA


As relações interpessoais são cruciais para a qualidade de vida do ser humano e constituem elemento-chave para a realização
pessoal, para o sucesso profissional e para as relações mais gratificantes, além de terem uma estreita relação com a saúde mental. Por
outro lado, dificuldades no vínculo com outras pessoas podem estar associadas a vários problemas emocionais e psiquiátricos.1,2
A presença de relacionamentos interpessoais prejudicados em pessoas com transtornos psicológicos vem sendo mencionada na literatura há
algum tempo. Alguns autores sugerem que tais dificuldades interpessoais podem anteceder problemas emocionais e funcionar como
vulnerabilidades para a formação de transtornos psicológicos. Outros afirmam que esses problemas emocionais ou transtornos psicológicos
podem favorecer a ocorrência de problemas interpessoais.1-3

Segundo Falcone,4 o indivíduo socialmente habilidoso é capaz de obter ganhos com maior frequência, desempenhar o mínimo
possível de tarefas indesejáveis, além de desenvolver e manter relacionamentos mutuamente benéficos e sustentadores. Assim,
indivíduos socialmente habilidosos buscam constantemente a satisfação pessoal sem, no entanto, descuidar da qualidade de suas
interações. Portanto, um bom repertório de habilidades sociais parece ser fundamental para relacionamentos sociais competentes.

Segrin e Taylor2 investigaram, em um estudo, a relação das habilidades sociais nos relacionamentos interpessoais e a sua associação com o
bem-estar psicológico. Participaram desse estudo 703 adultos voluntários, que responderam a questionários que avaliavam habilidades
sociais, relações positivas com outras pessoas, bem-estar psicológico e qualidade de vida. Os resultados mostraram que as habilidades
sociais estão fortemente associadas às interações positivas com os outros e ao bem-estar psicológico.
Segrin e Taylor concluem que indivíduos capazes de entender os estados emocionais do outro, de comunicar suas próprias ideias e
sentimentos, além de manejar estados emocionais em situações sociais terão mais sucesso nas suas relações interpessoais, minimizando,
portanto, a ocorrência de problemas emocionais ou psicológicos.2
Em resumo, a literatura mostra que a qualidade de vida está estreitamente associada aos relacionamentos interpessoais, os quais
dependem de habilidades sociais.

■ HABILIDADES SOCIAIS
As habilidades sociais são de grande importância para a saúde e para a qualidade de vida e são relacionadas, com frequência, à maior
realização pessoal, ao sucesso profissional e a relações interpessoais mais gratificantes.4

Segundo Del Prette e Del Prette,5 as habilidades sociais são classes de comportamentos existentes no repertório de um indivíduo,
que incluem

■ habilidades de comunicação (iniciar, manter e encerrar conversação, gratificar, elogiar);


■ civilidade (apresentar-se, cumprimentar, agradecer, despedir-se);
■ exercício de direitos e cidadania (expressar opinião, concordar, discordar, desculpar-se, admitir falhas, interagir com autoridades,
encerrar relacionamento, expressar desagrado);
■ trabalho (coordenar grupo, falar em público, resolver problemas, tomar decisões, mediar conflitos);
■ expressão de sentimentos positivos.

■ ASSERTIVIDADE E EMPATIA
Segundo Alberti e Emmons,6 a assertividade tem uma definição muito ampla, e muitos a consideram uma mera técnica para conseguirem o
que desejam. De acordo com os autores, a verdadeira assertividade estimula a preocupação com o direito de todos. Dessa forma, o
comportamento assertivo deve promover a “igualdade nas relações humanas, permitindo que as pessoas possam agir de acordo com os
seus interesses, defender as suas posições sem ansiedade, expressar os seus sentimentos de maneira honesta e tranquila e exercer os
seus direitos pessoais sem negar o dos outros”.6

Outra definição semelhante de assertividade é oferecida por Lange e Jakubowski. Segundo eles, a assertividade é a “capacidade de
defender os próprios direitos e de expressar pensamentos, sentimentos e crenças de forma honesta, direta e apropriada, sem violar
os direitos da outra pessoa”.7

A assertividade aumenta o sentimento de autoconfiança, em oposição à vulnerabilidade, uma vez que reduz a ansiedade nos
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relacionamentos e os sintomas físicos que estão relacionados ao comportamento não assertivo. Pesquisas mostram que a pessoa que tem a
capacidade de defender suas posições e fazer as coisas por iniciativa própria se valoriza como pessoa, além de se tornar mais saudável,
seguro e espontâneo na hora de expressar seus sentimentos. Mesmo não atingindo suas metas, o indivíduo agindo de forma assertiva
aumenta as chances de ambas as partes saírem ganhando.6,7

O comportamento assertivo diferencia-se do comportamento agressivo e do comportamento passivo.

O comportamento passivo caracteriza-se pela violação dos próprios direitos e das necessidades. O indivíduo não se mostra capaz de
expressar seus próprios pensamentos, sentimentos e crenças. Mostra também uma sutil falta de respeito pela habilidade do outro em lidar
com frustrações e desapontamentos. O objetivo principal do comportamento passivo é evitar conflitos a todo custo e satisfazer as
necessidades do outro.7,8

O comportamento passivo gera algumas consequências negativas, como sentimentos de culpa, ansiedade, depressão, raiva e baixa
autoestima. Isso ocorre porque o indivíduo passivo tende a ter uma autoavaliação negativa, sentimentos de inferioridade, uma
tendência a manter papéis submissos nas relações com os outros, além de ser excessivamente dependente do apoio emocional dos
demais e apresentar uma ansiedade interpessoal excessiva.6,8

O comportamento agressivo envolve a expressão de pensamentos, sentimentos e crenças de forma hostil e inapropriada, violando os
direitos dos outros.7,8 O objetivo do comportamento agressivo é a dominação, o vencer, forçando a outra pessoa a perder. As consequências
imediatas da conduta agressiva podem ser positivas, como, por exemplo, a expressão emocional, o sentimento de poder e a satisfação dos
objetivos e das necessidades. Por outro lado, as consequências a longo prazo são sempre negativas, incluindo tensão nas relações
interpessoais e possível afastamento das pessoas.8

Vários estudos mostram que a assertividade melhora a autoestima e reduz a ansiedade e a depressão, por meio da expressão
sincera dos próprios sentimentos, desejos e direitos – o que provoca o aumento do nível de aceitação pessoal e da habilidade de se
comunicar com os outros.6 No entanto, em contextos em que há conflitos interpessoais, a conduta assertiva provavelmente não
apresentará efeitos positivos.

Nas circunstâncias apresentadas, torna-se necessário controlar as próprias emoções e fazer um esforço para compreender e validar os
sentimentos e a perspectiva da outra pessoa, antes da manifestação dos próprios sentimentos e perspectivas. Essa disposição para abrir
mão, por alguns instantes, dos próprios interesses, sentimentos e perspectivas e se dedicar a ouvir e compreender, sem julgar, o que a outra
pessoa sente, pensa e deseja, constitui o que é conhecido como empatia.4

A empatia pode ser definida como “a capacidade de compreender, de forma acurada, bem como de compartilhar ou considerar
sentimentos, necessidades e perspectivas de alguém, de tal maneira que a outra pessoa se sinta compreendida e validada”.9 Essa
definição contempla componentes cognitivos (tomada de perspectiva e flexibilidade interpessoal), componente afetivo (sentimentos
de compaixão) e componente comportamental (expressão verbal e não verbal).9

A tomada de perspectiva caracteriza-se pela capacidade de inferir, com precisão, os sentimentos e os pensamentos de outra pessoa, sem
experimentar necessariamente esses mesmos sentimentos e pensamentos.9 Para que a tomada de perspectiva aconteça, é necessária a
diferenciação entre o eu (autoconsciência) e o outro (consciência do outro). Mesmo havendo alguma identificação temporária, não existe
confusão ou fusão desses estados.

O desenvolvimento da autoconsciência e da consciência do outro acontece nos anos pré-escolares e está relacionado aos processos
que servem para monitorar e controlar pensamentos e ações, como a autorregulação e a flexibilidade cognitiva.

Segundo Decety e Jackson,10 é importante regular a própria perspectiva, ativada pelas interações com os outros, assim como as emoções.
Tal regulação permite a flexibilidade afetiva e cognitiva, o que, por sua vez, possibilita efetivamente a avaliação da perspectiva do outro.

O componente afetivo pode ser definido como a capacidade de experimentar sentimentos de simpatia, compaixão e preocupação
com o bem-estar da outra pessoa.

Segundo Falcone e colaboradores,9 o componente afetivo não implica necessariamente experimentar os sentimentos do outro, mas sim
experimentar um entendimento desse outro. É, portanto, diferente do contágio emocional ou da angústia pessoal, que são consideradas
reações pré-empáticas. Por fim, o componente comportamental da empatia envolve a expressão verbal e a não verbal de entendimento.
Ele é fundamental para que a outra pessoa se sinta compreendida.9

O desenvolvimento de um repertório adequado de habilidades sociais sofre influência direta do ambiente e das relações sociais que o
indivíduo tem ao logo da vida.

O primeiro grupo social ao qual o indivíduo tem acesso é sua família. Nela ocorrem os primeiros intercâmbios de conduta social e afetiva,
valores e crenças que vão influenciar, de maneira decisiva, o comportamento social dessa pessoa.11,12 Esse comportamento constitui-se num
aprendizado contínuo de padrões cada vez mais complexos, que vão incluir aspectos cognitivos, afetivos, sociais e morais, adquiridos
por meio de um processo de maturação e aprendizagem em permanente interação com o meio social.11,12
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po e o de u p ocesso de atu ação e ap e d age e pe a e te te ação co o e o soc a

Segundo Caballo,11 as habilidades sociais devem ser consideradas dentro de um contexto cultural determinado, uma vez que padrões de
comunicação variam de cultura para cultura. Assim, o desempenho social é situacional e culturalmente determinado. Ele será apropriado
se estiver de acordo com as normas sociais e papéis desempenhados naquele local, e será eficaz por atingir os objetivos na interação.
Portanto, um comportamento considerado habilidoso em uma situação pode ser inapropriado em outra.11

■ DÉFICITS EM HABILIDADES SOCIAIS


Vários autores apontam a importância das habilidades sociais para o ajuste psicossocial.13-17 A pessoa inábil socialmente carece de um
repertório comportamental e/ou utiliza respostas inadequadas porque não aprendeu ou o fez de maneira inadequada. Como consequência,
realiza avaliações pobres e distorcidas sobre os outros e sobre si mesmo. As consequências disso ao longo da vida do indivíduo podem ser
psicologicamente graves e causar inibição social, insegurança e baixa autoestima.12
Argyle13 aponta que as deficiências em habilidades sociais atingem de 25 a 30% dos pacientes com transtornos mentais. Ou seja,
deficiências em interagir socialmente parecem estar relacionadas a uma variedade de transtornos psicológicos, como a depressão,9,11,13 a
ansiedade social,11,13,15 os transtornos de personalidade14 e a esquizofrenia.11,13-15
Uma revisão de pesquisas feita por Caballo e Irurtia18 conclui que o funcionamento social pobre pode levar à psicopatologia, em vez de
originar-se dela. Assim, a deficiência em habilidades sociais pode ser um fator que antecede ou predispõe o desenvolvimento de diversos
transtornos psicológicos. Estudos mostram que existe correlação entre crianças que tiveram um desenvolvimento pobre em habilidades
sociais e diversos distúrbios psicopatológicos na vida adulta, como ansiedade social, timidez, depressão, problemas de agressividade, entre
outros.12
Hidalgo e Abarca12 afirmam que o comportamento social e a saúde mental têm uma estreita relação. Uma conduta social efetiva é capaz
de desenvolver redes de apoio social, o que é fundamental para o bem-estar do indivíduo e seus relacionamentos sociais,19 e o
desenvolvimento de habilidades sociais é necessário para a obtenção desse apoio, uma vez que é preciso desenvolver e manter uma
relação satisfatória em uma determinada situação.
As constatações anteriores têm motivado a construção de programas de treinamento em habilidades sociais (THS), com o objetivo de
tornar os indivíduos mais capacitados socialmente. Segundo Caballo,11 a melhora no funcionamento interpessoal pode contribuir para a
melhora no funcionamento psicológico. Dessa forma, a aplicação do THS abrange diversos problemas, como ansiedade, fobia social (FS),
depressão, esquizofrenia, problemas conjugais, entre outros.11
As técnicas frequentemente empregadas compreendem o fornecimento de instruções, o ensaio comportamental, o feedback verbal, a
reestruturação cognitiva, as tarefas de casa, as técnicas para solução de problemas e relaxamento,11 com vistas a modificar componentes
comportamentais, cognitivos e fisiológicos típicos dos déficits em habilidades sociais.

O THS deve contemplar as habilidades sociais especificas com seus componentes cognitivos, comportamentais e afetivos.

1. Em que medida as dificuldades nas relações interpessoais podem afetar a qualidade de vida do ser humano?

2. Analise as afirmativas a respeito do que o indivíduo socialmente habilidoso é capaz, segundo Falcone.
I – Obter ganhos com maior frequência.
II – Desempenhar o mínimo possível de tarefas indesejáveis.
III – Desenvolver e manter relacionamentos mutuamente benéficos e sustentadores.
Qual(is) está(ão) correta(s)?

A) Apenas a I.
B) Apenas a I e a II.
C) Apenas a II e a III.
D) A I, a II e a III.
Resposta no final do artigo

3. O que são as habilidades sociais e o que elas incluem?

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4. Analise as afirmativas a seguir sobre a assertividade. Assinale as verdadeiras com V e as falsas com F.
( ) Seu conceito é muito amplo, e muitos a consideram uma mera técnica para conseguirem o que desejam.
( ) A assertividade é, segundo Lange e Jakubowski, a capacidade de defender os próprios direitos e de expressar pensamentos,
sentimentos e crenças de forma honesta, direta e apropriada, sem violar os direitos da outra pessoa.
( ) Nem sempre eleva o sentimento de autoconfiança, uma vez que aumenta a ansiedade nos relacionamentos e os sintomas físicos
que estão relacionados ao comportamento não assertivo.
( ) O comportamento assertivo diferencia-se do comportamento agressivo e do comportamento passivo.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.

A) V – V – V – F
B) V – V – F – V
C) V – V – F – F
D) V – F – F – F
Resposta no final do artigo

5. Quais são as consequências negativas do comportamento passivo?

6. A empatia é considerada uma habilidade social importante, principalmente quando existe um conflito interpessoal. Nessas
circunstâncias, torna-se necessário controlar as próprias emoções e fazer um esforço para compreender e validar os sentimentos
e a perspectiva da outra pessoa, antes da manifestação dos próprios sentimentos e perspectivas. A capacidade de inferir, com
precisão, os sentimentos e os pensamentos de outra pessoa corresponde

A) ao componente afetivo da empatia.


B) ao componente comportamental.
C) à flexibilidade interpessoal.
D) à tomada de perspectiva.
Resposta no final do artigo

7. Com relação às deficiências em habilidades sociais, marque V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas.
( ) Argyle aponta que as deficiências em habilidades sociais atingem cerca de 10% dos pacientes com transtornos mentais.
( ) Uma revisão de pesquisas feita por Caballo e Irurtia atesta que o funcionamento social pobre pode levar à psicopatologia, em vez
de originar-se dela.
( ) A deficiência em habilidades sociais é um fator que sempre antecede o desenvolvimento de diversos transtornos psicológicos.
( ) Hidalgo e Abarca afirmam que o comportamento social e a saúde mental têm uma estreita relação.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.

A) V – V – V – F
B) V – V – F – V
C) F – V – F – V
D) F – F – F – F
Resposta no final do artigo

■ DÉFICITS EM HABILIDADES SOCIAIS E COMPULSÃO ALIMENTAR


Os transtornos alimentares (TA) são caracterizados por graves perturbações no comportamento alimentar, que, em geral, são de início
precoce e curso duradouro.

A anorexia nervosa, a bulimia nervosa (BN) e o transtorno da compulsão alimentar periódica (TCAP) são exemplos de TA.20

A etiologia multifatorial do TA compreende aspectos socioculturais, familiares, genéticos e psicológicos; e suas consequências, na vida do
indivíduo, são graves. Além das complicações clínicas associadas, muitos aspectos apresentam sérios problemas interpessoais, que podem
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d duo, são g a es é das co p cações c cas assoc adas, u tos aspectos ap ese ta sé os p ob e as te pessoa s, que pode
contribuir para a manutenção do transtorno.

A compulsão alimentar está presente tanto na BN quanto no TCAP, e é caracterizada pela ingestão, em um período limitado de
tempo (por exemplo, dentro de um período de duas horas), de uma quantidade de alimentos definitivamente maior do que a maioria
das pessoas consumiria em um período similar, com uma sensação de falta de controle.20

Os determinantes psicossociais da compulsão alimentar têm despertado bastante interesse de pesquisadores. Algumas teorias foram
elaboradas para explicar os aspectos psicológicos envolvidos nos episódios de compulsão alimentar. A maioria centra-se na dificuldade em
manejar o afeto negativo e nos problemas interpessoais como gatilhos dos episódios de compulsão alimentar.
A teoria da regulação do afeto pressupõe que os episódios de compulsão alimentar estão associados a uma dificuldade para regular as
emoções de forma adaptada, configurando tais episódios como uma estratégia inadequada para aliviar sofrimento e reduzir afetos intensos.21
Pesquisadores indicam que um terço das mulheres com compulsão alimentar come em resposta a emoções negativas, mais especificamente
raiva, tristeza e ansiedade. A compulsão alimentar teria como função regular a experiência emocional, reduzindo a consciência da
emoção.22,23 Segundo Yu e Selby,24 os estados emocionais estão frequentemente envolvidos em um contexto interpessoal.
Segundo o modelo interpessoal, as dificuldades interpessoais estão envolvidas no desenvolvimento e na manutenção da compulsão
alimentar.25 De acordo com esse modelo, problemas interpessoais favoreceriam a ocorrência de experiências interpessoais mais aversivas,
e elas, por sua vez, contribuiriam para a ocorrência de estados de humor mais negativos que possibilitariam os episódios de compulsão
alimentar.

O modelo interpessoal também propõe que a melhora no funcionamento interpessoal estaria relacionada à diminuição dos sintomas
alimentares disfuncionais. Dessa forma, discute-se a necessidade de se identificarem os déficits sociais específicos e sua relação
com a sintomatologia alimentar.3

A terapia interpessoal encontrou resultados positivos na melhora dos sintomas alimentares em pacientes com BN e TCAP. A sua premissa
baseia-se na melhora da capacidade de o indivíduo utilizar sua rede de apoio social e manejar os déficits interpessoais. Dessa forma, a
sintomatologia do transtorno também terá uma melhora.
Os protocolos cognitivo-comportamentais também acrescentaram um módulo para trabalhar com as dificuldades interpessoais inerentes ao
transtorno. Apesar do esforço em melhorar o funcionamento social dos pacientes e das evidências – que mostram que quanto maiores são
as dificuldades sociais, mais grave é a sintomatologia alimentar –, pouco se sabe sobre os problemas interpessoais específicos.

Arcelus e colaboradores3 sugerem que melhorar o repertório de habilidades sociais dos indivíduos com TA e, portanto, sua
capacidade de manter relacionamentos satisfatórios e duradouros pode contribuir para a manutenção da melhora dos sintomas
alimentares.

Uma revisão de estudos feita por D’Augustin e Falcone26 mostra que pacientes com TA frequentemente apresentam vários déficits em
habilidades sociais, como
■ dificuldades para identificar e expressar pensamentos e sentimentos;
■ deficiências na conversação;
■ dificuldade para fazer perguntas, recusar pedidos, responder a críticas;
■ dificuldade em defender direitos;
■ dificuldade em resolver problemas.

Os referidos déficits contribuem para a ocorrência de baixa autoestima, ansiedade, depressão, retraimento social, insegurança, o que
dificulta também o desenvolvimento de uma rede de apoio social e relações afetivas satisfatórias.19,27-29
Grisset e Norvell19 investigaram as redes de apoio social e os relacionamentos interpessoais de mulheres bulímicas e compararam com as
de um grupo-controle. O estudo utilizou questionários de autoinforme que avaliavam o apoio social percebido, a qualidade dos
relacionamentos, as habilidades sociais e a psicopatologia.
Os resultados obtidos no estudo de Grisset e Norvell19 mostraram que as bulímicas relatam receber menos apoio da família e dos amigos
nos seus relacionamentos interpessoais, quando comparadas com o grupo-controle normal. Elas também descreveram mais conflitos
sociais, menor competência social em uma variedade de situações interpessoais, menor confiança na sua habilidade para formar
relacionamentos íntimos, assim como diminuição da probabilidade de realizar encontros sociais. As autoras sugerem que o fato de essas
mulheres não receberem apoio social e ainda terem interações aflitivas poderiam levá-las ao engajamento e/ou à manutenção de
comportamentos bulímicos.19
Steiger e colaboradores30 compararam o comportamento social de pacientes com BN, pacientes em remissão e com controles normais.
Nesse estudo, além de preencherem questionários de autorrelato, as pacientes registraram as modificações de humor apresentadas durante
suas interações sociais do dia a dia, além da ocorrência de episódios de compulsão alimentar. As pacientes com BN avaliaram suas
interações sociais como sendo mais inadequadas e apresentaram humor e autoconceito mais negativos, em comparação com as pacientes
em remissão e os controles normais.
Steiger e colaboradores observaram que as interações sociais avaliadas negativamente e o aumento do humor negativo associado a essas
interações estavam relacionados com a ocorrência da compulsão alimentar.

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Em outro estudo, Herzog e colaboradores31
observaram que pacientes com BN relataram grau de ajustamento social significativamente pior,
em comparação com controles normais, havendo associação positiva entre a frequência aumentada de compulsão alimentar e o menor grau
de ajustamento social.
As evidências obtidas nos estudos mencionados indicam uma associação entre experiências sociais negativas e ocorrência de episódios de
compulsão alimentar em pacientes com BN.
Rorty e colaboradores32 sugerem que um aumento no funcionamento social estaria associado à melhora do comportamento bulímico. Esses
autores apontam que, além da vergonha pelos sintomas bulímicos, as deficiências em habilidades sociais estariam comprometendo a
capacidade de construir e manter redes de apoio, especialmente em nível emocional. Os resultados dos estudos desses autores mostram
que mulheres bulímicas apresentam funcionamento social prejudicado, em comparação com os controles normais.

Mulheres bulímicas em recuperação apresentam melhoras no funcionamento social, mas, mesmo assim, quando comparadas a
controles normais, seu funcionamento social ainda é pior. Talvez essas dificuldades possam influenciar a ocorrência do
comportamento alimentar disfuncional. Além disso, elas indicam que o relacionamento interpessoal com os familiares são
potencialmente piores, em comparação com o relacionamento com amigos.

Uma revisão de estudos feita por Strigel-Moore e colaboradores28 relata que a autoavaliação negativa induzida por experiências sociais
aversivas favorece episódios de compulsão alimentar em bulímicas. Tal comportamento parece ser uma estratégia para lidar com os afetos
negativos.
Duchesne e colaboradores33 investigaram os níveis de habilidades sociais e a empatia em indivíduos obesos com e sem TCAP.
Os resultados obtidos por Duchesne e colaboradores33 mostram que obesos com TCAP apresentam – quando comparados a obesos sem
TCAP e com controles normais – maiores dificuldades em situações que demandam a afirmação e a defesa de direitos e em situações que
envolvem a autoexposição a pessoas desconhecidas. Também foram observados déficits na tomada de perspectiva, sugerindo que obesos
com TCAP apresentam dificuldades para compreender a perspectiva, os sentimentos e os comportamentos das outras pessoas e na
flexibilidade interpessoal, indicando maior dificuldade para tolerar diferenças de comportamentos, atitudes e pensamentos dos outros,
particularmente quando eles são provocadores de frustração.

A tomada de perspectiva e a flexibilidade interpessoal são componentes cognitivos da empatia e são importantes para o
estabelecimento de relações interpessoais bem-sucedidas.34

Para Duchesne – considerando-se a importância da assertividade, da capacidade para lidar com situações novas, da tomada de perspectiva
e da flexibilidade interpessoal para um adequado funcionamento social e para a obtenção de metas em diversas situações interpessoais –,
pode-se especular que os déficits de habilidades sociais observados poderiam estar associados com níveis aumentados de ansiedade, raiva,
frustração e tristeza em diversas situações do dia a dia.
Como afetos negativos estão implicados na ocorrência da compulsão alimentar, é possível que os déficits de habilidades sociais encontrados
possam, de fato, favorecer a ocorrência da compulsão alimentar. Corroborando essa hipótese, déficits de tomada de perspectiva e
flexibilidade interpessoal mostraram-se associados a um aumento de sintomas de depressão e de ansiedade e a uma maior gravidade da
compulsão alimentar, sugerindo que déficits de empatia podem ter relação com a compulsão alimentar.
Resultados semelhantes foram encontrados por D’Augustin.35 Nesse estudo, obesos com TCAP também apresentaram dificuldades em
situações que demandam a afirmação e a defesa de direitos e em situações que envolvem a autoexposição a pessoas desconhecidas, além
de dificuldades no autocontrole da agressividade, esse último apenas quando comparado a controles de peso normal (Quadro 1).33,35
Quadro 1

TRANSTORNO DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA


Dificuldades em situações de afirmação e de defesa de direitos
Dificuldades na autoexposição a pessoas desconhecidas
Dificuldades no autocontrole da agressividade
Déficits na tomada de perspectiva

Além dos obesos com TCAP, o estudo de D’Augustin também avaliou mulheres com BN. Elas apresentaram maiores dificuldades em
situações de afirmação e de defesa de direitos, na expressão de afeto positivo e afirmação da autoestima, em situações de iniciar, manter e
encerrar conversações, na autoexposição a pessoas desconhecidas e no autocontrole da agressividade em situações aversivas (Quadro
2).35
Quadro 2

BULIMIA NERVOSA
Dificuldades em situações de afirmação e defesa de direitos
Dificuldades na expressão de afeto positivo
Dificuldades na autoexposição a pessoas desconhecidas
Situações de conversação e desenvoltura social
Déficits na tomada de perspectiva

A capacidade de tomar a perspectiva do outro também se encontrou prejudicada em pacientes com BN. Também foram encontradas
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A capacidade de tomar a perspectiva do outro também se encontrou prejudicada em pacientes com BN. Também foram encontradas
correlações negativas entre a gravidade do comportamento bulímico e os níveis elevados de assertividade e de tomada de perspectiva.35

A capacidade de lidar com situações interpessoais que demandam a afirmação e a defesa de direitos e a autoestima são um indicador
de assertividade. Além disso, o autocontrole da agressividade, ou seja, a capacidade de reagir aos estímulos aversivos com razoável
controle da raiva ou agressividade não significa deixar de expressar essa raiva ou desagrado, mas sim fazê-lo de forma apropriada.

Em obesos com TCAP, estudos apontam para níveis elevados de raiva para fora, quando essa amostra foi comparada com obesos sem
TCAP e controles normais. Segundo Fassino e colaboradores, autores desse estudo, parece haver uma tendência à impulsividade nos
obesos com TCAP, que poderia estar favorecendo a ocorrência de episódios de compulsão alimentar.23
Estudos com amostra clínica de bulímicas também encontraram relações entre raiva e episódios de compulsão alimentar. Miotto e
colaboradores sugerem que as dificuldades em expressar a raiva e a tendência a comportamentos agressivos podem estar relacionadas aos
baixos níveis de assertividade.36
Le Coco e colaboradores37 também avaliaram a relação entre compulsão alimentar e problemas interpessoais em obesos com TCAP e
encontram evidencias dessa relação, principalmente quando os problemas interpessoais envolviam um grau maior de hostilidade.

Duchesne34 sugere que déficits na assertividade, na tomada de perspectiva e na flexibilidade interpessoal são importantes para um
funcionamento social adequado. Tais déficits poderiam estar associados a emoções negativas, as quais poderiam favorecer a
ocorrência dos episódios de compulsão alimentar.33,34

O estudo realizado por Yu e Selby24 avaliou a relação entre problemas interpessoais e compulsão alimentar em uma amostra de 47
estudantes universitárias, sem diagnóstico de TA. Cada participante recebia um palm top que estava programado para apitar cinco vezes ao
dia. Quando isso acontecia, cada participante teria que responder aos questionários da pesquisa que avaliavam a emoção, os episódios de
compulsão alimentar e os problemas interpessoais.
Os resultados encontrados corroboram estudos anteriores, que sugerem que a presença de emoções negativas e de problemas
interpessoais antecediam os episódios de compulsão alimentar. Além disso, as autoras identificaram problemas interpessoais específicos
que estariam relacionados à compulsão alimentar. Entre esses problemas, podem ser citados:
■ ser criticado ou insultado;
■ ser rejeitado;
■ receber ordens;
■ receber um “olhar atravessado”;
■ desapontar-se com alguém.

Berger e colaboradores38 também investigaram meninas adolescentes e sem diagnóstico de TA. Os autores encontraram relações entre
problemas interpessoais, depressão e alexitimia nas adolescentes que apresentavam perda de controle no comer. Segundo eles, essas
adolescentes apresentavam maiores riscos para ganho excessivo de peso e TCAP. Isolamento social e relacionamentos sociais
conflituosos foram os pontos principais relacionados à falta de controle no comer.

Pessoas que apresentam características alexitímicas têm dificuldades em identificar e descrever seus próprios sentimentos.39,40 Essa
autoconsciência é um importante componente cognitivo das habilidades sociais. Van Strien e Ouwens41 sugerem que a dificuldade em
identificar os próprios sentimentos esteja associada à ingestão excessiva de comida e à impulsividade em situações de grande angústia.

8. Como são caracterizados os TA?

9. Sobre os aspectos compreendidos na etiologia multifatorial do TA, analise as alternativas a seguir.


I – Socioculturais.
II – Familiares.
III – Genéticos.
IV – Psicológicos.
Qual(is) está(ão) correta(s)?

A) Apenas a I.
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B) Apenas a II.
C) Apenas a III.
D) A I, a II, a III e IV.
Resposta no final do artigo

10. A compulsão alimentar tem sido relacionada, por uma série de estudos na literatura, a problemas interpessoais. Tal relação
parece ser mediada pela

A) presença de afeto negativo.


B) presença de afeto positivo.
C) rede de apoio social presente.
D) presença de estratégias de solução de problemas.
Resposta no final do artigo

11. O que a teoria da regulação do afeto pressupõe?

12. Sobre o déficit em habilidades sociais e a compulsão alimentar, analise as seguintes afirmações.
I – Pesquisadores indicam que metade das mulheres com compulsão alimentar come em resposta a emoções negativas, mais
especificamente raiva, tristeza e ansiedade.
II – A compulsão alimentar teria como função regular a experiência emocional, reduzindo a consciência da emoção.
III – O modelo interpessoal propõe que dificuldades interpessoais estejam envolvidas no desenvolvimento e na manutenção da
compulsão alimentar.
IV – A terapia interpessoal encontrou resultados positivos na melhora dos sintomas alimentares em pacientes com BN e TCAP.
Qual(is) está(ão) correta(s)?

A Apenas a I.
B) Apenas a I e a II.
C) Apenas a II e a III.
D) Apenas a II, a III e a IV.
Resposta no final do artigo

13. Uma revisão de estudos feita por D’Augustin e Falcone mostra que pacientes com TA frequentemente apresentam vários déficits
em habilidades sociais. Cite dois deles.

■ EXEMPLOS CLÍNICOS
Os dois exemplos clínicos a seguir ilustram algumas dificuldades experienciadas por uma paciente TCAP e outra com BN.

EXEMPLO CLÍNICO 1

Sílvia, 35 anos de idade, inicia terapia após encaminhamento da psiquiatra. Ela apresentava dificuldades para perder peso e iniciou o
tratamento psiquiátrico para depressão. Após quatro meses, Sílvia continuava engordando e relatava episódios recorrentes de
compulsão alimentar, sendo diagnosticada com TCAP.

Sílvia era casada há sete anos. Parou de trabalhar, pois seu marido achou melhor. Não tinha amigas. Sua única companhia era a
irmã mais nova que morava no mesmo prédio.
Seus episódios de compulsão, em geral, aconteciam quando estava sozinha. Relatava sentimento de solidão e muita tristeza.
Quando recebia os amigos do marido em casa, achava que todos a julgavam por estar gorda. Sempre que possível, se isolava. Tinha
dificuldades em falar para o marido o que pensava e como se sentia.
Frequentemente Sílvia abdicava de suas necessidades para agradar ao marido e à irmã. Dividia um carro com a irmã e sempre ficava
sem o veículo pois não conseguia dizer à irmã que queria usá lo naquele dia Nessas ocasiões relatava sentir muita raiva o que
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sem o veículo, pois não conseguia dizer à irmã que queria usá-lo naquele dia. Nessas ocasiões, relatava sentir muita raiva, o que
desencadeava episódios de compulsão alimentar.

14. Sílvia apresentava algumas dificuldades interpessoais que favoreciam a ocorrência de episódios de compulsão alimentar. Em
qual habilidade social ela apresentava deficiência?

A) Assertividade.
B) Empatia.
C) Altruísmo.
D) Tomada de perspectiva.
Resposta no final do artigo

EXEMPLO CLÍNICO 2

Bruna, 17 anos de idade, busca tratamento para BN, após conversa com professora da faculdade.

Desde os 14 anos, Bruna faz balé e relata que a preocupação com o peso foi aumentando à medida que seus treinamentos no balé
se intensificavam. Começou a restringir a alimentação para uma apresentação de fim de ano da companhia de dança. A partir desse
momento, começou a ter episódios de compulsão alimentar, os quais aumentavam sua preocupação com o peso.
Para compensar o excesso de comida ingerida, Bruna induzia vômitos e usava laxantes. Depois de um tempo, começou a anotar
tudo que comia e a contar as calorias: “Minha vida se resumia a contar o que comi. Se passasse da meta, tinha que colocar pra fora”
(sic).
Bruna é a filha mais velha. Tem um irmão de 11 anos de idade. Seu pai foi diagnosticado com depressão grave desde que ela era
criança. Bruna conta que ele passava a maior parte do tempo deitado no sofá. A mãe não ligava muito para os filhos, e, naquele
momento, não estava trabalhando, pois pediu demissão, em função de o seu trabalho ser muito estressante. Decidiu que era o
momento de cuidar dela mesma, e isso significava não se estressar com os filhos também. Três meses após o início do tratamento, a
mãe de Bruna saiu de casa, pois não aguentava mais tantos problemas. Bruna ficou morando com o pai e com o irmão.
Bruna não tem muitos amigos. Diz que ninguém é confiável e que todos no fim a decepcionam e a abandonam. Sempre que se
desentende com algum colega, acha que o motivo é sua aparência e diz se sentir constantemente rejeitada e sozinha. Ela relata
várias dificuldades sociais como, por exemplo, de falar em público, de fazer novas amizades e de receber críticas. Não respeita
nenhum limite e, quando é contrariada, responde de forma bastante agressiva.
Uma amiga da faculdade a acompanhou na terapia e relatou que Bruna “sufocava” a todos, sempre exigindo atenção. Nos trabalhos
em grupo, sempre iniciava o conflito argumentando que todos deixavam a pior parte para ela. Não cumpria com os combinados,
deixando todos os colegas “na mão”. A frequência dos episódios bulímicos aumentou para, em média, duas vezes por dia, todos dias.
Recentemente, Bruna trancou a faculdade e responsabiliza seus colegas por não a terem ajudado quando ela precisava.

15. Bruna relatava vários conflitos sociais no seu dia a dia. Frequentemente esses conflitos contribuíam para o aumento dos
episódios bulímicos. Uma das habilidades deficitárias em Bruna é a assertividade. Como esse déficit em assertividade apresenta-
se no comportamento dela?

A) Comportamento agressivo.
B) Comportamento passivo.
C) Comportamento empático.
D) Comportamento indiferente.
Resposta no final do artigo

■ TREINAMENTO EM HABILIDADES SOCIAIS


As habilidades sociais foram reconhecidas como fator de proteção no curso do desenvolvimento humano. Diversos estudos
demonstraram a eficácia de programas de treinamento de habilidades sociais para a prevenção primária, secundária e terciária.42

A té i f t
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As técnicas frequentemente empregadas nos programas de treinamento de habilidades sociais compreendem o fornecimento de
instruções, o ensaio comportamental, o feedback verbal, a reestruturação cognitiva, as tarefas de casa, as técnicas para solução de
problemas e relaxamento,11 visando a modificar componentes comportamentais, cognitivos e fisiológicos típicos dos déficits em
habilidades sociais. Dessa forma, um treinamento em habilidades sociais deve contemplar as habilidades sociais específicas com
seus componentes cognitivos, comportamentais e afetivos.

Shiina e colaboradores40 avaliaram um programa de tratamento em grupo para BN utilizando a terapia cognitivo-comportamental padrão,
combinada ao treinamento em habilidades sociais, o qual incluiu treinamento assertivo para lidar com problemas interpessoais, treinamento
em resolução de problemas focalizado em situações interpessoais e aumento da autoestima. Além disso, acrescentaram algumas sessões
para trabalhar com as características alexitímicas, conduzindo role-playing, nas quais as pacientes eram encorajadas a reconhecer as
próprias emoções e a tentar expressá-las para as outras participantes.
Os resultados das sessões do programa de tratamento apontaram para uma melhora tanto no comportamento bulímico quanto no
funcionamento social dessas pacientes.
Outro estudo com pacientes internadas mostrou que o treinamento em habilidades sociais promoveu diminuição da ansiedade, da depressão
e do medo de avaliações negativas. O objetivo principal do treinamento em habilidades sociais era melhorar a comunicação dos pacientes
internados. Foram feitas sessões, conduzido role-playing, nas quais os próprios pacientes treinavam habilidades de comunicação com os
funcionários do hospital ou com os familiares.43
Assim, parece que o desenvolvimento de habilidades sociais favorece a modificação da qualidade das relações interpessoais, o aumento da
autoestima e o desenvolvimento de crenças de autoeficácia, permitindo que vários fatores comecem a ter um papel maior no sistema de
autoavaliação, reduzindo, assim, a importância atribuída à alimentação e ao formato corporal.44

16. Cite algumas das técnicas frequentemente empregadas nos programas de treinamento de habilidades sociais.

17. Shiina e colaboradores40 avaliaram um programa de tratamento em grupo para BN utilizando a terapia cognitivo-comportamental
padrão, combinada ao treinamento em habilidades sociais, que incluiu treinamento assertivo para lidar com problemas
interpessoais, treinamento em resolução de problemas focalizado em situações interpessoais e aumento da autoestima. O que os
resultados apontaram?

■ CONCLUSÃO
A revisão da literatura apresentada aponta para a relação entre déficits em habilidades sociais e problemas interpessoais. Em relação aos
TA, muito se tem discutido acerca do impacto de tais problemas no desenvolvimento e na manutenção da compulsão alimentar, assim como
na sua gravidade.
Alguns modelos já foram apresentados e demonstraram uma relação entre problemas interpessoais e compulsão alimentar. Alguns autores
argumentam que a melhora do funcionamento social teria um impacto na sintomatologia alimentar. Estudos que avaliaram a eficácia da
terapia interpessoal corroboram essa hipótese.25
A melhora dos relacionamentos interpessoais pode colaborar para o aumento da rede de apoio social. Tal apoio pode ser importante na
adesão ao tratamento, assim como para reduzir os sintomas e manter essas condições. A literatura sugere que os déficits em habilidades
sociais comprometem a habilidade de manter essas redes de apoio, que auxiliam o paciente, especialmente em nível emocional.19 Além
disso, muitos indivíduos carecem das habilidades sociais básicas, o que contribui para o aumento dos conflitos sociais. Portanto, torna-se
evidente a importância de se desenvolver um repertório adequado de habilidades sociais, em pacientes com TA, como uma forma de
promover a formação de vínculos saudáveis com outras pessoas.
Situações sociais aflitivas foram relacionadas ao aumento da frequência de episódios de compulsão alimentar. Alguns autores sugerem,
inclusive, que o afeto negativo mais relacionado à compulsão alimentar seria aquele disparado em uma situação interpessoal de conflito.
Na revisão da literatura, só foram encontrados dois estudos que avaliaram o treinamento das habilidades referidas em pacientes com TA. Os
dois estudos priorizaram situações sociais que envolviam conversação e focaram, principalmente no treinamento da assertividade e na
resolução de problemas.
Shiina e colaboradores40 avaliaram um tratamento em grupo baseado na terapia cognitivo-comportamental, o qual englobava psicoeducação,
reestruturação cognitiva e treino em assertividade para enfrentamento dos problemas interpessoais e treinamento em solução de problemas.
H lh d t t li t i d f i t i t l t t t ã h li ã l
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Houve melhora do comportamento alimentar, assim como do funcionamento interpessoal; entretanto, não houve uma avaliação a longo prazo
para verificar se tais melhoras foram mantidas.
Takahashi e Kosaka43 avaliaram um treinamento em habilidades sociais em pacientes internados na ala psiquiátrica de um hospital geral. O
treinamento não era exclusivo para pacientes com TA. Além disso, não era um grupo fechado, mas sim aberto, ou seja, o paciente decidia se
gostaria de participar da sessão. Também não existia um número certo de sessões, uma vez que o período de internação poderia variar.
Mesmo assim, os resultados mostraram melhora nas habilidades sociais.
Nos protocolos de atendimento cognitivo-comportamental para TA, inclui-se o treinamento em resolução de problemas. Segundo os
estudos, a melhora dessa habilidade auxilia a diminuição dos episódios de compulsão alimentar, uma vez que reduz a ocorrência de conflitos
e, como consequência, estados emocionais aversivos.45,46 No entanto, não foi encontrado nenhum estudo avaliando o desenvolvimento da
empatia nesses pacientes. O desenvolvimento dessa habilidade, principalmente da tomada de perspectiva, componente cognitivo da
empatia, pode resultar na diminuição do autofoco.

A dificuldade em prestar atenção às necessidades do outro pode contribuir para a ocorrência dos comportamentos sociais
inadequados, cujas consequências negativas podem ser interpretadas como resultado da avaliação negativa do outro em relação à
sua aparência.

Os resultados encontrados em dois estudos brasileiros mostram que apenas o componente cognitivo da empatia se encontra prejudicado.
Entretanto, em relação aos outros componentes da empatia, eles se aproximam dos controles normais.
Como já foi apontado anteriormente, para a manifestação da empatia é necessária a presença dos três componentes – cognitivo, afetivo e
comportamental. Talvez a tomada de perspectiva dessas pacientes que participaram dos estudos seja prejudicada pela preocupação em
serem aceitas, pois isso facilita a tendência de perceber o outro como rejeitador e crítico de seu formato corporal, o que contribui para a
ocorrência de comportamentos socialmente inadequados e a avaliação de seus relacionamentos pessoais como negativos.
A literatura tem sugerido haver uma tendência, característica de indivíduos ansiosos, ao autofoco, o que impossibilita a atenção dirigida à
perspectiva e aos sentimentos dos outros. Uma vez que essas pacientes – como estão constantemente preocupadas com a rejeição dos
outros e com o impacto que sua aparência pode causar – provavelmente tenderão a prestar pouca atenção às necessidades daqueles com
quem interagem, o que prejudica a capacidade de compreender o outro de forma acurada.
Programas para o desenvolvimento de habilidades sociais têm sido desenvolvidos para promover a saúde mental.42 Incluir o treinamento
dessas habilidades nos protocolos de tratamento padrão para TA pode auxiliar na melhora do funcionamento social dos pacientes.

Déficits de tomada de perspectiva e flexibilidade interpessoal, diminuição da assertividade, dificuldades para expressar sentimentos
positivos e dificuldades para lidar com autoexposição a situações novas foram relacionados aos episódios de compulsão alimentar.33-35 O
treinamento dessas habilidades pode contribuir para a melhora do desempenho social, o que contribui para o aumento da autoestima,
qualidade de vida e satisfação nos relacionamentos interpessoais.2

Os dados apresentados neste artigo ressaltam a importância de se desenvolver um repertório adequado de habilidades sociais em
pacientes com compulsão alimentar, como uma forma de promover a formação de vínculos saudáveis com outras pessoas, reduzir os
conflitos interpessoais e, portanto, as emoções negativas que favorecem a ocorrência de episódios de compulsão alimentar. A identificação
de tais déficits pode contribuir para o desenvolvimento de estratégias de tratamento que complementem os protocolos atualmente
utilizados no tratamento do TCAP e da BN.

■ RESPOSTAS ÀS ATIVIDADES E COMENTÁRIOS


Atividade 2
Resposta: D
Comentário: Segundo Falcone,4 o indivíduo socialmente habilidoso é capaz de obter ganhos com maior frequência, desempenhar o mínimo
possível de tarefas indesejáveis, além de desenvolver e manter relacionamentos mutuamente benéficos e sustentadores. Assim, indivíduos
socialmente habilidosos buscam constantemente a satisfação pessoal sem, no entanto, descuidar da qualidade de suas interações. Portanto,
um bom repertório de habilidades sociais parece ser fundamental para relacionamentos sociais competentes.
Atividade 4
Resposta: B
Comentário: A assertividade aumenta o sentimento de autoconfiança, em oposição à vulnerabilidade, uma vez que reduz a ansiedade nos
relacionamentos e os sintomas físicos que estão relacionados ao comportamento não assertivo.
Atividade 6
Resposta: D
Comentário: A empatia pode ser definida como “a capacidade de compreender, de forma acurada, assim como de compartilhar ou considerar
sentimentos, necessidades e perspectivas de alguém, de tal maneira que a outra pessoa se sinta compreendida e validada”. Essa definição
contempla componentes cognitivos (tomada de perspectiva e flexibilidade interpessoal), componente afetivo (sentimentos de compaixão) e
componente comportamental (expressão verbal e não verbal). A tomada de perspectiva caracteriza-se pela capacidade de inferir, com
precisão, os sentimentos e os pensamentos de outra pessoa, sem experimentar necessariamente os seus mesmos sentimentos.
Atividade 7
Resposta: C
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20/04/2019 Portal Secad
Resposta: C
Comentário: Argyle aponta que as deficiências em habilidades sociais atingem de 25 a 30% dos pacientes com transtornos mentais. Ou seja,
deficiências em interagir socialmente parecem estar relacionadas a uma variedade de transtornos psicológicos, como a depressão, a
ansiedade social, os transtornos de personalidade e a esquizofrenia. A deficiência em habilidades sociais pode ser um fator que antecede ou
predispõe o desenvolvimento de diversos transtornos psicológicos.
Atividade 9
Resposta: D
Comentário: A etiologia multifatorial do TA compreende aspectos socioculturais, familiares, genéticos e psicológicos; e suas consequências
na vida do indivíduo são graves. Além das complicações clínicas associadas, muitos apresentam sérios problemas interpessoais, que podem
contribuir para a manutenção do transtorno.
Atividade 10
Resposta: A
Comentário: De acordo com o modelo interpessoal, problemas interpessoais favoreceriam a ocorrência de experiências interpessoais mais
aversivas, que, por sua vez, contribuiriam para a ocorrência de estados de humor mais negativos, que favoreceriam os episódios de
compulsão alimentar. A compulsão alimentar seria uma estratégia disfuncional para reduzir a intensidade desse afeto negativo.
Atividade 12
Resposta: D
Comentário: Pesquisadores indicam que um terço das mulheres com compulsão alimentar come em resposta a emoções negativas, mais
especificamente raiva, tristeza e ansiedade.
Atividade 14
Resposta: A
Comentário: A assertividade pode ser definida como a capacidade de defender os próprios direitos e de expressar pensamentos,
sentimentos e crenças de forma honesta, direta e apropriada, sem violar os direitos da outra pessoa. Sílvia não conseguia expressar o que
sentia e o que pensava, aumentando sua tristeza e raiva, o que quase sempre antecedia os episódios de compulsão alimentar.
Atividade 15
Resposta: A
Comentário: O comportamento assertivo caracteriza-se pela expressão dos próprios pensamentos e sentimentos, mas sempre considerando
os direitos da outra pessoa. Bruna apresentava dificuldades em respeitar os limites dos seus colegas de faculdade e amigos, comportando-
se de forma agressiva com eles.

■ REFERÊNCIAS
1. Lange, T. M. & Couch, L. L. (2011). An assessment of links between components of empathy and interpersonal problems. The New School
Psychology Bulletin, 8(2), 83-90.
2. Segrin, C. & Taylor, M. (2007). Positive interpersonal relationships mediate the association between social skills and psychological well-
being. Personality and Individual Differences, 43(4), 637-646.
3. Arcelus, J., Haslam, M., Farrow, C., & Meyer, C. (2013). The role of interpersonal functioning in the maintenance of eating
psychopathology: a systematic review and testable model. Clinical Psychology Review. 33(1), 156-167.
4. Falcone, E. (2000). Habilidades sociais: para além da assertividade. In Wielenska, R. C. (Org.) Sobre comportamento e cognição:
questionando e ampliando a teoria e as intervenções clínicas e em outros contextos (pp.211-221). v. 6. Santo André, SP: ESETec.
5. Del Prette, A., & Del Prette Z. A. P. (2001). Psicologia das relações interpessoais: vivências para o trabalho em grupo. Petrópolis: Vozes.
6. Alberti, R. E. & Emmons, M. L. (2008) Como se tornar mais confiante e assertivo. Rio de Janeiro: Sextante.
7. Lange, A.J. & Jakubowski, P. (1976). Responsible assertive behavior. Illinois: Research Press.
8. Lega, L. I., Caballo, V. E., & Ellis, A. (1997). Teoría y pratica de la terapia racional emotivo-conductual. Madrid: Siglo Veintiuno de España.
9. Falcone, E. M. O., Ferreira, M. C., Luz, R. C. M., Fernandes, C. S., Faria, C. A., D’Augustin, J. F., et al. (2008). Inventário de Empatia (I.E.):
Desenvolvimento e validação de uma medida brasileira. Revista Avaliação Psicológica, 7(3), 321-334.
10. Decety, J. & Jackson, P. L. (2004). The functional architecture of human empathy. Behavioral and Cognitive Neuroscience Reviews, 3(2),
71-100.

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