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I. Considerações metodológicas
A forma especial da história da filosofia, entretanto, não está firmada ainda com
estas observações. Um historiografia da filosofia que se vê menos comprometida
com a tradição hermenêutica do aclaramento do sentido de uma única obra ou de
uma obra conjunta de um pensador, mas muito mais com a tradição da história
dos problemas, interrompida no início do século XX, tem de fazer frente
inicialmente à tarefa da constituição de seu objeto – seja de um problema em
detalhe, que irrompeu na filosofia em um determinado tempo e cujas condições
de origem e posterior desenvolvimento cabe esclarecer, seja do complexo de
problemas de uma das épocas da história da filosofia ou, finalmente, da
constituição da própria filosofia.
1
Hegel: Vorlesungen über die Geschichte der Philosophie. Fragment
einer Einleitung (1823). In: Hegel: Gesammelte Werke. Bd. 18. Hrsg.
von Walter Jaeschke. Hamburg 1995, 100.
2
Immanuel Kant: Lose Blätter zu den Fortschritten der Metaphysik.
Akademie-Ausgabe Bd. XX. Berlin 1942, 341.
3
Friedrich Engels: Ludwig Feuerbach und der Ausgang der klassischen
deutschen Philosophie (1886/88). Marx-Engels-Werke. Berlin 1973,
Bd. 21.
-Jaeschke-2-
Esta observação poderia indicar que as épocas da história da filosofia talvez não
possam ser compreendidas em geral por intermédio de um conceito de filosofia.
Mas esta objeção é afastada, quando se compreende um conceito de época, não
por uma unidade indiferenciada, mas por uma unidade que se medeia por sobre
quebras e rejeições. Conceitos de época da história da filosofia não teriam então
certamente o grau de expressividade que parece poder ser alcançado pela
história da ciência, apesar de muitas dúvidas. Mas o trabalho com tais conceitos
teria – ao lado da função da periodização da história da filosofia – ao mesmo
tempo a função de poder delinear de maneira mais contrastante e plástica a
imagem de uma época por meio dos contrastes característicos de um tal
conceito. Entretanto não se pode pressupor tais conceitos de época como dados,
mas apenas como resultado do trabalho da história da filosofia. O parâmetro para
seu julgamento não se encontra em sua adequação a objetos reais, mas
tão-somente em sua fecundidade para a nossa compreensão dos problemas.
Com a expressão „filosofia alemã clássica“, portanto, ligo-me – por falta de uma
designação melhor – a um uso lingüístico dado, ainda que não dominante na
Alemanha de hoje. Designo com ela aquela filosofia que, no fim do século
XVIII, substituiu a filosofia racionalista de escola: portanto a filosofia
transcendental de Kant, bem como suas transformações, incluindo a veemente
crítica que ela sofreu por vários de seus contemporâneos. Na consciência dos
contemporâneos, bem como na da geração seguinte, até a historiografia
filosófica que precede a 1848, este contexto de discussão constitui uma unidade
de pensamento. Trata-se para mim de examinar esta pressuposição e,
eventualmente, compreendê-la de forma mais significativa. Fora de questão está
nisto pelo menos uma coisa: caso se trate na filosofia alemã clássica de uma
unidade de pensamento, então essa não se encontra na concordância de princípio
entre os filosofantes, mas na complexa ligação entre acordo e desacordo. Em sua
fase final, Schelling disse – decerto com a paixão de um dos atores principais,
mas não sem razão: „nunca se combateu um combate externo e interno tão
grande em torno dos tesouros mais elevados do espírito humano“. 5
4
Walter Jaeschke: »Zur Genealogie des Deutschen Idealismus.
Konstitutionsgeschichtliche Bemerkungen in methodologischer
Absicht.« In: Materialismus und Spiritualismus. Philosophie und
Wissenschaften nach 1848. Hrsg. von Andreas Arndt und Walter
Jaeschke. Hamburg 2000, 219-234.
5
Schelling: Sämtliche Werke. Hrsg. von Karl Friedrich August
Schelling. Stuttgart und Augsburg 1861, Bd. 10.73.
-Jaeschke-3-
6
Friedrich Schlegel: Über Jacobi (1822). In: Friedrich Schlegel:
Kritische Ausgabe. Bd. VIII. Eingeleitet und herausgegeben von Ernst
Behler und Ursula Struc-Oppenberg. München, Paderborn, Wien,
Zürich 1975, 594.
7
Kant an Marcus Herz, 21. Februar 1772, Akademie-Ausgabe Bd.
X.129-135.
8
Ernst Cassirer: Das Erkenntnisproblem in der Philosophie und
3
Wissenschaft der neueren Zeit. Bd. II. 1922, Nachdruck Darmstadt
1974, 659.
-Jaeschke-4-
Por isto, esta compreensão, que introduziu o conceito do sujeito – ao menos pelo
lado da subjetivação generalizada da relação humana ao mundo – na
problemática fundamental da filosofia, já não é contornável, desde que foi
alcançada. Além disto, ela é independente do julgamento da capacidade de
realização de um conceito de razão que se pode ligar ao conceito do sujeito.
Certamente se pode voltar para trás desta compreensão, mas já não se pode fazer
com que não tenha acontecido – a não ser que queiramos nos engajar em um
realismo ingênuo ou até mesmo voltar a empenhar o deus-máquina como
preenchedor das lacunas de uma teoria do conhecimento inconsistente, na base
de um crasso dualismo ontológico. Uma vez tornada expressa a refração de
nossa relação ao mundo pela subjetividade, seria necessária, para voltar atrás, a
demonstração de que a subjetividade não tem nenhuma importância para o ato
do conhecimento. Mas certamente seria em vão que se procuraria uma
demonstração deste tipo. Até mesmo a suposta dispensa do paradigma da
subjetividade em nossos dias e sua substituição pelo discurso da
„intersubjetividade“ ou „razão comunicativa“ não trouxeram de forma alguma
uma tal demonstração.
9
Johann Gottlieb Fichte: Ueber den Begriff der Wissenschaftslehre
(1794). In: Fichte: Gesamtausgabe. Hrsg. von Reinhard Lauth und
Hans Jacob. Abt. II, Bd. 2. Stuttgart 1965, 147.
-Jaeschke-5-
10
[Gottlob Ernst Schulze:] Aenesidemus oder über die Fundamente der
von dem Herrn Prof. Reinhold in Jena gelieferten
Elementar-Philosophie. [Helmstädt] 1792; ders.: Die Hauptmomente
der skeptischen Denkart über die menschliche Erkenntnis (1805). In:
Transzendentalphilosophie und Spekulation. Der Streit um die Gestalt
einer Ersten Philosophie (1799-1807). Hrsg. von Walter Jaeschke.
Hamburg 1993 (Philosophisch-literarische Streitsachen. Bd. 2/1),
356-383.
11
Walter Jaeschke: Substanz und Subjekt. In: Tijdschrift voor Filosofie
62 (2000), 439-458.
-Jaeschke-6-
12
Hegel: Vorlesungen über die Ästhetik I. Theorie-Werkausgabe. Bd. 13.
Frankfurt am Main 1970, 84.
-Jaeschke-7-
E, uma vez que „razão“ é inicialmente apenas uma palavra para os atos
espontâneos do sujeito cognitivo e volitivo, o designado por ela também é mais
primitivo do que a linguagem. Excetuando-se a instância contrária que foi
Johann Georg Hamann, a relação entre razão e linguagem permanece, para a
filosofia alemã clássica, sob o primado do pensamento – até mesmo em um
pensador como Herder, que figura mais como filósofo da linguagem do que
como filósofo da razão: o homem fala, porque é um ser pensante.13 A inversão
desta relação de fundamentação ficou reservada para o século que acaba de
chegar ao fim. Em vista da disputa pela prioridade entre razão e linguagem,
pode-se estar inclinado a procurar refúgio no bem conhecido dito de Fichte: a
filosofia que se tem depende do homem que se é. 14 Mas é igualmente conhecido
que esta afirmação não reproduz a opinião de Fichte.
13
Johann Gottfried Herder: Vernunft und Sprache. Eine Metakritik zur
Kritik der reinen Vernunft. Leipzig 1799 (Suphan-Ausgabe Bd. XXI).
14
Fichte: Versuch einer neuen Darstellung der Wissenschaftslehre.
Fichte: Gesamtausgabe der Bayerischen Akademie der
Wissenschaften. Hrsg. von Reinhard Lauth u.a. Abt. I, Bd. 4.
Stuttgart-Bad Cannstatt 1970, 195.
15
Hegel: Berliner Antrittsrede. In: Hegel: Gesammelte Werke. Bd. 18.
Hrsg. von Walter Jaeschke. Hamburg 1995, 12.
-Jaeschke-8-
Tornou-se moda há algum tempo expressar a suspeita de que a razão, uma vez
que tenha estabelecido seu tribunal, procura submeter tudo o que lhe é estranho,
não apenas à sua jurisdição, mas também ao seu domínio absoluto. Kant pensava
diferente a este respeito. Ele caracterizou o assim chamado domínio da razão –
inicialmente – como domínio conforme à lei: ele não significa simplesmente
arbítrio e aleatoriedade, mas subordinação da razão às leis que ela mesma se
dá.16 Além disto, ele é mais do que um mero domínio conforme à lei, a saber, um
domínio republicano. O tribunal da razão não é ocupado por um único juiz,
dotado de competências irrestritas: “Mas com que e com quanta correção nós
haveríamos de pensar, se não pensássemos como que em comunidade com
outros, aos quais comunicamos nossos pensamentos, e os quais nos comunicam
os seus!“17 Por isto, o uso público da razão é uma pressuposição, embora não
para que se pense em geral, certamente para que o uso da razão leve a resultados
confiáveis. A sentença proferida pela razão em seu tribunal „nada mais é em
todo caso do que a concordância de cidadãos livres“. 18 Mais próximo do que o
domínio coercitivo encontra-se, por isto, o contrário: pois a razão é, como Kant
concede ironicamente, em comparação com outras autoridades palpáveis, uma
coisa invisível – e por isto reinaria, em um povo filosofante que reconhecesse
apenas a razão como seu senhor, inevitavelmente a anarquia. 19
16
Kant: Was heißt: Sich im Denken orientiren? In: Kant:
Akademie-Ausgabe. Bd. VIII. Berlin 1923, 145.
17
Ebd. 144.
18
Kant: Kritik der reinen Vernunft. B 766.
19
Kant: Über eine Entdeckung, nach der alle neue Kritik der reinen
Vernunft durch eine ältere entbehrlich gemacht werden soll (1790). In:
Kant: Akademie-Ausgabe. Bd. VIII.247.
20
Kant: Kritik der reinen Vernunft, B 27.
-Jaeschke-9-
sujeito: ela é, falando com Hegel, algo produzido pelo sujeito, mas com o
sentido de ser, não produzido, mas em si mesmo. Não é preciso ir nisso tão longe
como Kant, que se refere à razão no Opus postumum como „deus in nobis“;21
pode-se também expressá-lo com a distinção certeira entre razão substantiva e
adjetiva, feita por Jacobi: embora seja certo que o homem possui razão, é
igualmente certo que a razão possui o homem.22 E essa razão, que possui mais o
homem do que esse a possui, tem de ser atribuída a uma forma da realidade e a
uma objetividade que precedem a subjetividade e a fundam. Um indício para
tanto é o fato de que suas determinações, os princípios da razão pura, não podem
ser obtidas de forma alguma por análise do conceito de subjetividade, ou ao
menos tornadas plausíveis. Em contrapartida, elas se deixam desdobrar,
abstraindo-se da circunstância de serem determinações do pensamento
produzidas pelo sujeito, em uma lógica, a qual então já não se entende como
lógica transcendental, mas como a disciplina que a sucede.
(5) Se, porém, é possível atribuir à razão uma forma de realidade própria para lá
do horizonte da subjetividade, então é natural que esta forma não determina
apenas a esfera do pensamento, mas se estende também à realidade além do
pensamento. Com este – quinto – passo do pensamento, não é abandonado,
entretanto, o programa do „sistema de todos os princípios da razão pura“; bem
mais é ele complementado por um „sistema de todos os princípios da razão
demonstráveis na realidade“ – por uma lógica da realidade. A filosofia como
razão subjetiva procura os vestígios de uma razão objetiva na realidade e os
compreende como o propriamente real em toda realidade. Através disso, a
filosofia se torna, para lá do sistema dos princípios puros da razão, a „filosofia
real“ ou ciência da realidade – mesmo se esses princípios jamais podem ser
senão pensados.
Também esta nova virada para a realidade, ligada ao nome de Hegel, não
significa uma ruptura com os começos da filosofia alemã clássica – apesar do
abandono da restrição transcendental-filosófica em vista do conhecimento da
realidade. A filosofia transcendental sempre elaborou os princípios a priori, não
apenas para si, mas igualmente na natureza e no mundo dos costumes. E mesmo
o sistema hegeliano não estende o domínio dos „costumes“ a uma filosofia
abrangente do espírito para deduzir a totalidade do real a partir do conceito, mas
para conhecer nas diversas esferas deste todo em cada caso os princípios
metafísicos.
21
Kant: Opus postumum. In: Kant: Akademie-Ausgabe. Bd. XXII. Berlin
1938, 130.
22
Jacobi: Werke. Gesamtausgabe. Hrsg. von Klaus Hammacher und
Walter Jaeschke. Bd. 1. Hamburg/Stuttgart 1998. 259. - Zur
Interpretation siehe Birgit Sandkaulen: Grund und Ursache. Die
Vernunftkritik Jacobis. München 2000. 229-263.
23
Hegel: Vorlesungen über Rechtsphilosophie 1818-1831. Edition und
Kommentar in sechs Bänden von Karl-Heinz Ilting (nur vier Bände
erschienen). Bd. 4. Stuttgart-Bad Cannstatt 1974, 925.
-Jaeschke-10-
a esfera do real: ele tem de constituir – ao lado da lógica propriamente dita – uma
lógica das ciências ordenadas de forma enciclopédica, que incluem, então, ao
lado das ciências da natureza e dos costumes, também uma ciência da história,
da arte e da religião, sim, até mesmo um retorno a si mesmo na forma de uma
filosofia da filosofia como uma „história da filosofia“.
Apenas poucos anos após o lançamento da Crítica da razão pura, Kant se viu
forçado a tomar posição frente a uma primeira forma de uma tal crítica externa
da razão – decerto também porque viu sendo entendida mal sua própria crítica da
24
Na qual conto também a crítica da razão que Friedrich Heinrich Jacobi
exerceu por toda a sua vida – desde sua primeira crítica ao iluminismo
tardio, passando por sua discussão com Espinosa e Leibniz, até a
discussão com Kant, Fichte e, finalmente, Schelling e Hegel.
-Jaeschke-11-
razão, como se ele quisesse recomendar que se renunciasse de todo a tal razão,
devido à sua inevitável dialética, e como se ele quisesse, com sua crítica
imanente da razão, tornar-se cúmplice da crítica externa da filosofia da razão ou
da filosofia em geral. Contra uma tal transgressão ou subversão do conceito de
razão ele exclama por isto: „Amigos do gênero humano e daquilo que lhe é mais
sagrado! Adotai o que vos parece mais fidedigno após cuidadosa e honesta
prova, sejam fatos, sejam fundamentos racionais; só não recuseis à razão aquilo
que a torna o sumo bem sobre a terra, a saber, a prerrogativa de ser a pedra de
toque última da verdade.“ 25 E ainda: „Homens de aptidões espirituais e de
mentalidade aberta! [...] refletistes bem sobre o que fazeis e para onde tendem
vossos ataques à razão?“26
Essas palavras, proferidas com patos quase apostólico, Kant voltou contra o
culto da genialidade e o devaneio, dos quais temia o comprometimento de uma
sólida aliança entre uma filosofia orientada pelos conceitos-chave de liberdade e
razão e o Estado esclarecido – mesmo se nem sempre com razão. Mas também
em outras condições históricas suas palavras não perdem nada de sua atualidade
– e sobretudo então, quando a própria filosofia se põe a aceitar de bom grado a
posição da minoridade como lhe competindo propriamente. Também hoje ela
não se deve deixar persuadir, da parte de interessados, de que ela seria
predestinada a permanecer nos nichos que lhe são deixados por outras instâncias
– até que ela, em obediência antecipatória, deixa de ocupar até mesmo esses
nichos. Desta maneira, a razão retornaria ao estado de minoridade culposa, cuja
superação ela tinha compreendido como sua tarefa no começo da filosofia alemã
clássica.
25
Kant: Was heißt: sich im Denken orientieren? In: Kant:
Akademie-Ausgabe. Bd. VIII.146.
26
Ebd. 144.