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DONGHI, Túlio Halperín. Reforma y disolución de los imperios ibéricos. Madrid: Alianza Editorial, 1975.

Cap. 4 – Las revoluciones hispanoamericanas - p.115-153

El derrumbe progresivo de la metrópoli

* p.115: a dupla abdicação não criou de imediato uma crise institucional na relação entre a Espanha e
as Índias. A lealdade dinástica e o completo controle britânico do Atlântico tiraram a relevância da
alternativa oferecida por Napoleão.
 A primeira autoridade que veio a substituir ao monarca ausente nas áreas que resistiam à solução
francesa foi um Conselho de Regência, que buscou organizar-se sob linhas tradicionais, o qual só
logrou em parte, já que entre os magnatas laicos e eclesiásticos com os quais deveria constituir-se eram
frequentes as reticências frente ao movimento anti-francês. Em setembro de 1808, uma Junta Suprema,
com sede em Sevilha, se constituía depositária da soberania. Contava com o reconhecimento britânico
e foi obedecida em todas as Índias.
* p.116: embora não tenha vindo em sentido separatista, o desaparecimento do monarca e a instalação
da guerra no território metropolitano abriram a crise do laço colonial. Esta não termina ao acatar uma
autoridade metropolitana cujo futuro dependia do curso incerto da guerra. A nova autoridade não
gozava de uma posição segura no topo da pirâmide administrativa.
 Os conflitos no topo da administração e na sociedade das diferentes colônias ocorreram entre 1808
e 1810. As razões são várias e variam conforme a região, mas em todas influi a transformação da relação
institucional entre metrópole e colônia, tanto que as magistraturas locais sabem que tratam agora com
uma autoridade suprema que necessita mais delas que no passado.
Todo o aparelho administrativo foi sacudido pela instalação de Juntas regionais e urbanas, forçada em
algum caso pela defecção dos burocratas de carreira, que se dispunham a continua-la sob o rei José. O
acatamento à Junta Suprema Metropolitana não parece, pois, ser incompatível com a introdução de
mudanças análogas nas Índias.
* p.117: Nueva España – em 15 de setembro de 1808, o vice-rei Itturigaray, de pouca popularidade, é
deposto. Alguns dos nobres criollos que se pronunciaram pela criação de uma autoridade local que
governasse em nome do rei prisioneiro foram presos. O corpo que havia executado o golpe, os
Voluntários de Fernando VII, que agrupava os empregados dos maiores almaceneros, se constituiu em
pilar permanente da nova solução política.
Os partidários da conservação do pacto colonial sem mudanças como as circunstancias o permitissem
ganharam a primeira escaramuça e limitam gravemente as possibilidades do rival antes de que este
mesmo possa se organizar.
* p.118: Buenos Aires – a transformação da França em inimiga deixa Liniers, de linhagem francesa, mas
fugido da Revolução, em uma situação delicada. Os capitulares logo fazem acusações de traição e elas
são invocadas em Montevideo para a instalação de uma Junta dissidente, liderada pelo governador
Elío.
* p.119: no início, os regimentos criollos, criados nas lutas contra os britânicos em 1806 e 1807,
dominam em Buenos Aires, e mantê-los se torna no mais caro, mas também mais urgente, dever da
administração vice-reinal. Esta deve acudir ao patrimônio do Consulado e ainda ao de alguns grandes
comerciantes, indignados de ter que manter a base político-militar de seus vitoriosos adversários.
 Partido da Independência, que, se ainda não se definiu assim, já havia feito contatos com a irmã de
Fernando VII e com Carlota Joaquina. Esta reivindica a regência do trono vago.
* p.120: o contra-ataque em 1809: vitórias no Alto Peru; a Junta de Montevideo se dissolvia
espontaneamente.
 Logo, as revoluções libertadoras proclamariam que para elas só havia duas alternativas: a vitória ou
a morte.
* p.121: Quito, agosto de 1809: Junta toma medidas contra o fisco régio: baixa de impostos e abolição
do estanco do tabaco. Derrubada em outubro.
* p.121: “A perda da metrópole, de fato, aboliu a dimensão mercantil do pacto colonial de modo mais
radical que nas situações de isolamento esporádico ocorridas no passado. Por razões econômicas e
financeiras, as Índias não podem, no entanto, permanecer completamente isoladas”.
Grã-Bretanha via favoravelmente qualquer abertura das terras espanholas da América a seu comércio.
Ao mesmo tempo, a revogação, provisória, do pacto colonial, antagoniza o alto comércio ligado à
Península que, por toda a América, se constituiu no mais sólido aliado da burocracia imperial na defesa
do vínculo metropolitano.
* p.122: as autoridades procuraram contornar esse problema, caso a caso, buscando dar oportunidade
de cimentar ou ampliar alianças entre funcionários e mercadores, com vantagens por vezes meramente
políticas, mas às vezes também financeiras. Só em Buenos Aires uma liberalização mais geral vai ser
decretada pelo vice-rei, com nações aliadas e neutras. Abria os portos do vice-reinado à navegação
mercantil estrangeira e permitia a comerciantes estrangeiros introduzir produtos a outros espanhóis
e devidamente registrados no Consulado. O motivo principal era fiscal, pois as revoluções no Alto Peru
diminuíram o fluxo de prata para o tesouro vice-reinal, além de precisar pagar os regimentos criollos,
pilares do regime.

Eclipse de la metrópoli y apertura de la guerra revolucionaria.

* p.122: em 1810, a crise do governo espanhol que lutava contra o avanço francês abre o processo de
independências. Por quê? Em parte, porque aquele lapso havia dado oportunidade para uma definição
mais nítida das linhas entre quem viam sua presença e gravitação nas Índias como solidaria com a
sobrevivência do vínculo colonial e quem considerava a possibilidade de sua abolição sem alarme ou
com esperança.
* p.123: a disputa pela sucessão de um poder que se acreditava extinto convoca à ação muitos que não
se sentiriam dispostos a um combate frontal com a antiga ordem, mas essas figuras a quem a
excepcionalidade do momento que se vive arrancou a prudência dão a ação dos poderes sucessores.
* p.124: os defensores do antigo vínculo começam por vencer em quase todas as partes frente aos porta-
vozes de uma revolução que só excepcionalmente ousa dizer seu nome. O caminho da emancipação
vai ser inesperadamente longo e tortuoso, e interrompido pelo cruel parêntese de reconquistas em
nome do poder metropolitano.

La revolución en el Río de la Plata

* p.124: que o movimento que se desencadeia em Buenos Aires sobreviva tem a ver que só Buenos Aires,
dos centros que se subleva em 1810, concentra um poder militar de peso significativo no marco
americano, e que só ali esta força desde sempre está com a causa revolucionária.
* p.125: 22 de maio de 1810 – deixava-se a criação de uma nova autoridade nas mãos do Cabildo. Este
designou uma Junta presidida pelo vice-rei e com mais quatro membros, dos quais só dois eram
partidários inicialmente da ruptura. Os protestos populares seguem, e em 25 de maio, a revolução
triunfa, pois se apoia em um poder militar organizado e localmente incontestável. Mas este poder é
novo em sua origem e mantem vínculos excepcionalmente íntimos com a sociedade urbana de onde
surgiu.
* p.126: a revolução incorpora logo o exército regular. A nova função incide em seu recrutamento: a
incorporação é menos aprazível, e os marginais e rurais, recrutados à força, se fazem mais abundantes.
Isso contribuiu para um esfriamento da popularidade dos governantes revolucionários.
A Junta de Buenos Aires decide que as missões destinadas a anunciar sua instalação sejam apoiadas
por expedições militares. Resistências esporádicas são observadas no interior, como em Córdoba. No
Paraguai, a expedição de Belgrano é derrotada, e seu resultado é criação de um centro de poder que
defende o seu isolamento e autonomia.
* p.127: Banda Oriental – as forças navais espanholas impõem uma oposição ao Cabildo, que busca
unir-se ao movimento de Buenos Aires. Por sua vez, o predomínio de Montevideo encontra crescente
oposição entre os rurais, afetados pelo recrutamento e as novas contribuições para sustentar a causa
da velha ordem. Buenos Aires decide apoiar Artigas, que faz um levante. Elío busca ajuda portuguesa,
e a situação termina em um acordo, no qual Montevideo mantem o controle da campanha da Banda
Oriental e de Entre Rios. Artigas, que não foi consultado, retira-se para Entre Rios com metade da
população da campanha, fato que o transforma em chefe dos orientais e lhe dá a liderança para os
acontecimentos futuros. Em 1813, com os portugueses retirados, a aliança entre Artigas e Buenos Aires
cerca Montevideo.
* p.129: a partir do final de 1811, começam a chegar oficiais criollos vindos de Cádiz, via Londres,
trazendo uma nova organização para as tropas, as quais os oficiais da América não tinham acesso.
Entre esses nomes estão San Martin e Alvear, que defendem que os recursos devem colocar-se ao
serviço de um esforço militar voltados à América, e não ao local.
* p.130: novembro de 1815 – derrota das tropas rio-platenses no Alto Peru. Nunca mais voltariam.
Julho de 1814: rendição de Montevideo às forças de Buenos Aires. Artigas cerca Montevideo,
conseguindo toma-la e unificar a Banda Oriental sob seu comando em fevereiro de 1815.
San Martin está longe de contar com a confiança dos dirigentes da política revolucionária em Buenos
Aires, até o ponto de tentar remove-lo da intendência de Cuyo.
* p.131: a Assembleia de 1813 decreta importantes mudanças, como a liberdade de ventres, proibição
de importar escravos, fim dos açoites, abolição da Inquisição, criação de símbolos nacionais e
cunhagem de moedas sem o símbolo real. Porém, não declara a independência, pois o impensável está
prestes a ocorrer: o fim do cativeiro de Fernando VII. A audácia reformadora termina em um ano e
meio, por fatores externos e internos.
 Alvear entra como diretor supremo, e está disposto a liquidar essa experiencia, seja mediante o
aceite do protetorado britânico, seja via retorno à obediência ao rei da Espanha.
* p.132: “A história dos primeiros cinco anos que se seguem à crise do Antigo Regime é a dos fracassos
dos movimentos que buscaram fazer dessa crise o ponto de partida para uma reformulação radical da
ordem vigente”.

En Chile: surgimiento y caída de la Patria Vieja

* p.132: Chile era uma das regiões mais prejudicadas dentro do marco administrativo e mercantil após
as reformas de 1780. Enquanto a reforma mercantil havia significado pouco mais que a substituição do
vínculo subordinado a Lima por outro mais complexo, mas igualmente subordinado, que incluía a
Buenos Aires, os avanços da nova estrutura burocrática se fizeram sentir especialmente pelo aumento
da carga fiscal. O estancamento da economia fazia impossível o surgimento de grupos conscientes de
seu poder e que desejassem usá-lo em seu benefício, como os fazendeiros da Venezuela.
* p.133: 18 de setembro de 1810 – Cabildo Abierto – linguagem nada revolucionária, e muitos de seus
membros certamente não estavam certos de criar uma Junta de governo. Convoca um congresso de
representantes dos vários pueblos do reino do Chile.
Desde o princípio, o grupo que buscava um desenlace revolucionário (criação de um poder local
baseado na soberania popular e edificado sobre as ruínas de um vínculo imperial que se tinha como
rompido para sempre) era minoria no consenso que viria a comprovar a dissolução de fato desse
vínculo, que nem todos julgavam definitiva. Esses elementos eram mais fortes no sul, onde vai se
destacar Bernardo O´Higgins, que havia trazido da Europa uma formação mais ilustrada que liberal, e
estava inspirado em Francisco de Miranda, líder venezuelano.
Em fevereiro de 1811, o comércio com navios estrangeiros é liberado, por razões fiscais. Em julho, abre-
se um Congresso Nacional.
* p.134: em 1812, os chilenos acordaram um armistício com reincorporação à monarquia espanhola no
marco constitucional de Cádiz. Rebelião, com derrota em Rancágua (1-2 de outubro de 1814).
* p.135: porém, a Restauração lograria o que a revolução não havia conseguido: criar a consciência de
uma separação irrevogável.

Venezuela, de la Patria Boba a la Guerra a Muerte

* p.135: em 19 de abril de 1810, cria-se uma Junta de Governo, apoiando-se em um tumulto urbano.
Caracas certamente foi a primeira cidade a reagir à queda da metrópole pela facilidade de
comunicações com a Espanha.
 Ascensão econômica anterior à guerra, no meio de transformações sociais intensas: enquanto havia
a expansão das fazendas com mão de obra escravizada, parte dos negros livres participava na nova
prosperidade com maior êxito do que desejava a elite.
* p.136: tentativas de rebelião anteriores derrotadas. A elite criolla, os mantuanos, não compactuava
com isso. Mas os ricos de Caracas, os mais ricos de toda a América, com exceção dos da Nueva España,
viviam mais do que outros a vida de um império em profunda transformação.
 Declaração de independência em 5 de julho de 1811, por um congresso eleito por proprietários com
patrimônio não inferior a 2 mil pesos. Influência da Sociedade Patriótica e de Bolívar, que inclusive
não permitiram a volta de Francisco de Miranda ao país.
* p.137: medidas – fim do tráfico de escravos, mas não da escravidão; ações que combinavam o
radicalismo político com o conservadorismo social.
 Realistas estavam dispostos a fomentar e até a legitimar rebeliões de escravos em zonas de
plantação. Em março de 1812, o terremoto que assoma Caracas é visto pelo clero como sinal da cólera
divina frente ao movimento. A partir daí, começou a queda. A primeira república sucumbe a sua
própria debilidade e incoerência, antes da força de inimigos, que estava longe de ser imponente. Esta
é a lição que Bolívar deduziu dessa primeira derrota da causa que ele, talvez mais do que ninguém,
definiu como revolucionária.
* p.139: a derrota da primeira república impulsionou a acentuar dentro de seu sistema de ideias os
motivos democráticos e também os autoritários. A Pátria Boba havia sido uma república patrícia, em
que o poder era zelosamente monopolizado e internamente dividido por uma oligarquia fechada. Isso
havia trazido duas consequências: impedira a nova ordem de conquistar os setores populares, e tirou
toda a capacidade de enfrentar a luta sem trégua que poderia ter salvado o regime.
* p.140: 1813 – 6 de agosto entra em Caracas; só Maracaibo e Guayana ficam em mãos realistas. Desde
Caracas, Bolívar restaura uma república, mas bem diferente da Pátria Boba: república com poderes
fortemente concentrados no Executivo, e guerra sem trégua (guerra a muerte), separando os
peninsulares dos nativos. Porém, logo vem as resistências a Bolívar, como a dos llaneros, liderados por
Boves, que contestava a legislação de direitos de propriedade e os deveres dos peões sem terras,
perigosas não só para esses últimos, pois muitos dos proprietários pastavam seu gado em terras sem
dono, e mais de um dos grandes proprietários se apoiavam em títulos nebulosos. A fraqueza das tropas
de Bolívar faz Caracas cair nas mãos dos llaneros em julho de 1814.

Nueva Granada: la revolución en guerra contra sí misma

 Vários centros de poder na revolução em Nova Granada. Dificuldade de coordenar suas ações e
subordinar-se a um único poder diretivo. Foi a única revolução que não nasceu na capital, e era a
incapacidade desta para integrar eficazmente sob seu controle as heterogêneas regiões da Nova
Granada o mais pesado legado da antiga ordem ao novo estado de coisas.
* p.143: em setembro de 1811, Cundinamarca já levara boa parte dos demais centros, unidos em
federação. Porém, a ameaça realista dá um tempo nas discussões internas. A prisão de Nariño após a
Batalha de Pasto, vencida pelos espanhóis, decapitou Bogotá, tomada em dezembro de 1814. Logo, os
realistas irão tomar a área costeira. A revolução fracassa pela falta de consistência das forças
revolucionárias.

La primera revolución mexicana

* p.144: o movimento mexicano está marcado pelo êxito inicial dos defensores da velha ordem, quem
já em 1808 havia derrotado os partidários da mudança e criado corpos militares, os Voluntários de
Fernando VII, na capital e em Oaxaca, para defender o poder peninsular. Dessa forma, um desafio ao
poder vigente não poderia surgir na capital.
* p.144-145: Bajío – Conspiração de Querétaro, descoberta antes de ser lançada; ante a ameaça da
repressão, decide-se lança-la, mas sem a liderança das milícias locais, lideradas pelos membros das
classes proprietárias. Quem toma a frente é um padre ilustrado, Miguel Hidalgo. Estava claro que o
movimento atrairia antes as massas que as elites. Hidalgo tocou as massas em um local que sofria com
o estancamento da atividade mineira, a crise da produção têxtil artesanal e uma súbita piora do estado
de subsistência. Desde o começo, o movimento era anti-peninsular, que se orientava tanto contra o
patrimônio quanto contra as pessoas. Em 16 de setembro de 1810, abolia-se o tributo indígena, herança
duradoura da revolução, inclusive aceita pelo vice-rei, que via nisso uma tentativa de cooptar os
revolucionários.
* p.146: porém, Hidalgo não consegue levar seu movimento ao norte, com a oposição de forças realistas
e das classes proprietárias. Derrotado em Puente de Calderón, em janeiro de 1811, e capturado em
março, será executado em Chihuahua. Seu fracasso se deveu à unidade que suscitara entre todos os
privilegiados do México (em número maior do que se imaginara), mas também porque não criara uma
solidariedade igual entre os despossuídos.
 A atração maior do movimento foi no Bajío e em Jalisco, onde uma sociedade camponesa estava se
consolidando e se corroía a solidez da organização comunitária. A área em que a revolução encontraria
um novo foco seria aquela que afrontava a difícil adaptação aos avanços da agricultura de plantação,
terras que hoje são chamadas de Morelos, fértil área subtropical próxima à Cidade do México.
* p.147: estratégia de Morelos – forças reduzidas e aguerridas em uma tática que preferia a guerrilha à
batalha campal, tática mais adequada ao terreno ondulado do sul do México; necessitava contar com
o apoio da população local.
Morelos tentou definir o movimento como uma empresa comum de todos os americanos contra os
peninsulares. Aos criollos lhes prometia esse monopólio das posições políticas e administrativas, cujo
acesso se acusava o antigo regime de fechá-los. Por sua vez, convidava os seus seguidores a respeitar o
prestígio e o patrimônio dos espanhóis americanos que se somassem ao movimento. Porém, a
revolução necessita de recursos, que só podem vir dos ricos.
* p.148: o conteúdo social da revolução deve incluir uma transformação profunda da situação dos
camponeses.
 A sociedade deveria ser substituída por uma comunidade única, englobando a todos, é uma nova
ordem, substituindo a Nova Espanha pela República de Anáhuac. A Virgem de Guadalupe conserva o
papel de inspiradora e protetora que Hidalgo lhe havia reservado, assim como a defesa da religião segue
figurando entre os objetivos do movimento. Com o tempo, o objetivo passa a ser a independência
republicana, e não mais a defesa do bom governo monárquico contra os servidores do rei.
* p.149: independência da República de Anáhuac em 6 de novembro de 1813, mas já na defensiva, o que
se confirma no ano seguinte. Porém, as forças contrarrevolucionárias, que derrotam Morelos, vão
reinstaurar a ordem absolutista, o que decepciona membros da elite criolla.
 “A guerra entre os que tem e os que não tem, em que a revolução mexicana se converteu contra os
desejos de seus dirigentes, não só lhes revelou com brutalidade quais são suas solidariedades básicas
dentro da ordem social mexicana, se não que atenuou os motivos de sua insatisfação. O movimento
que liderou Hidalgo e protagonizaram seus seguidores despossuídos deveria ser o de elites provinciais
apoiadas em milícias cujo corpo de oficiais dominavam; o que movia essas elites à ação política era sua
marginalidade na ordem colonial”.
* p.150: Morelos será executado em dezembro de 1815, acusado de rebelião e heresia. Em 1816, foi
proclamada a anistia, para atrair os últimos rebeldes. Só Vicente Guerrero continua a resistência.
 Contra as rebeliões plebeias se consolidara uma ordem monárquica, criolla e absolutista que parecia
haver ganho o jogo. No outro antigo vice-reinado, o peruano, os defensores da antiga ordem haviam
realizado uma façanha ainda maior: fazer dele a base para poderosas contraofensivas que contribuíram
para reduzir as áreas revolucionárias que ainda resistiam no Rio da Prata.

La constitucionalización de la contrarrevolución

* p.150: a constitucionalização do sistema de governo e administração criava problemas novos em dois


aspectos fundamentais. Em primeiro lugar, acolhia uma série de liberdades civis e políticas que
limitava a autoridade dos governantes em meio de uma guerra civil ainda não concluída. Em segundo
lugar, impunha uma reestruturação profunda desse sistema: a superposição de funções legislativas,
executivas e judiciais características da antiga ordem, e pressente tanto nas de vice-reis como nas de
Audiências e autoridades de menor grau, era modificada em homenagem ao novo princípio da
separação de poderes.
* p.151: sufrágio restrito e eleições indiretas; ainda assim, esse principio era reconhecido como legítimo
e assembleias municipais e diputaciones provinciais eletivas substituíam os Cabildos e criavam uma
autoridade nova ao lado da puramente burocrática do Intendente. Esta inovação, somada à ampliação
das liberdades políticas, entre as quais a de imprensa, se revelava a mais significativa, criava sérios
problemas aos vice-reis na Cidade do México e em Lima.
* p.152: Peru –oposições ao vice-rei, mas nem perto do que se passava na Nova Espanha; no Caribe e
na América Central, a experiencia constitucional foi mais tranquila, faltava a guerra em curso.
* p.153: “Desde 1814 a 1820, a causa espanhola nas Índias se identifica com a da Restauração; nesses
anos, a causa adversária busca distanciar a secessão, que obstinadamente persegue, da revolução com
a que havia começado a identificar-se”.
Capítulo 5 – La guerra secesionista. Desenlace de la revolución – p.155-186

* p.155: se os movimentos secessionistas aspiram sobreviver e alcançar um lugar na nova ordem


mundial, deverão adaptar-se como podem ao novo clima de ideias que a Restauração trouxe consigo,
se não fazendo seus esses princípios, ao menos evitando sua recusa frontal.
Após alguns anos desses exercícios de adaptação, o governo de Buenos Aires pode aspirar a algo mais:
a encontrar na amizade da França um contraponto à influência britânica sobre o novo Estado. A
aspiração não se cumpre.
* p.156: junto a essas considerações, vem o temor às consequências da incorporação da metrópole à
luta que uma facção colonial travou em seu nome com mínimos auxílios peninsulares. O futuro dos
movimentos secessionistas depende cada vez mais única e exclusivamente de sua capacidade
guerreira. A vitória depende da capacidade de organizar de forma eficaz os recursos humanos e
materiais que novas mobilizações políticas não ampliariam.
 A guerra é o que sobrevive da revolução. Seu objetivo segue sendo o que havia marcado o extremo
da radicalização política: a independência. Constitui um vínculo entre uma etapa e outra, mas não
conserva o mesmo significado que se tinha antes. A independência não se apresenta como a aspiração
de dar corpo em um Estado novo aos princípios políticos e sociais da revolução, mas o desenlace
natural de um movimento secessionista.

El Río de la Plata

* p.156-157: em abril de 1815 se derruba o governo instaurado em 1810. Com a dissidência artiguista na
Banda Oriental e nas províncias do Litoral, surge um modelo alternativo de poder revolucionário,
baseado na oposição ao centralismo, uma adesão mais firme aos princípios democráticos que a que
houve em Buenos Aires. Com a queda de Alvear, há uma etapa de incertezas e crise profunda na elite
portenha, no qual se esboça uma aproximação ao bloco artiguista, entendendo uma importante lição:
a necessidade de se enraizar nos territórios mediante entendimentos com setores influentes das elites
locais. Isso vai funcionar em Córdoba, mas não em Entre Rios e Corrientes.
* p.158: as forças do vice-rei do Peru ameaçam a fronteira de Salta; as forças locais compensarão a
debilidade do poder central, obrigando o último a aceitar um modelo político semelhante ao praticado
por Artigas.
* p.159: para enfrentar o poder de Artigas, se dá carta branca a Portugal, abrindo mão da soberania
sobre a Banda Oriental.
* p.160: para a elite de Montevideo, a terra ainda não é uma das bases de seu poder econômico; Artigas
delega a administração da Província Oriental a essa elite, porém a relação entre ambos não está livre
de tensões. A lenda de que a elite estava sob o cativeiro de um caudilho anárquico e antissocial é
construída posteriormente.
Buenos Aires invade as províncias do litoral: em Santa Fé, com êxito e devastação, mas de resultado
efêmero. Em Corrientes e Entre Rios, fracassam, permitindo a consolidação dos setores artiguistas.
* p.161: a suspeita de que o regime de Puyerredón encaminhava-se por uma via monárquica e
contrarrevolucionária acentua as reticencias e as resistências frente ao Diretório. A Constituição de
1819, do Congreso de Tucumán, é centralista e muito pouco democrática, e gera resistências abertas
no Litoral e outras menos explicitas no interior.
Mas o que vai gerar o descrédito de Pueyrredón é a seriedade com a libertação do Chile. Esse
compromisso, pensava o diretor, era o que asseguraria a sobrevivência da revolução rio-platense.
Porém, as constantes exações (direitos aduaneiros e exações arbitrárias) para manter o esforço de
guerra minam o consenso social necessário para o governo funcionar.
* p.162: fevereiro de 1820 – Batalha de Cepeda – vitória das forças do litoral, que tomam Buenos Aires.
A área disputada por dois centros rivais (e dois modelos políticos alternativos) agora se divide em uma
multiplicidade de centros que desenvolverão relações extremamente complexas, marcadas pela
necessidade de manter bases próprias de poder e de integrar-se de alguma forma em redes mercantis,
cujas quebras significariam o marasmo econômico e financeiro, e cuja sobrevivência requer que
aprendam a conviver mantendo seus conflitos dentro de limites toleráveis.
 A expedição metropolitana de janeiro de 1820 que deveria colocar o Rio da Prata na linha é
bloqueada pelo levante liberal de Riego na Espanha. Enquanto para o resto da América abre uma nova
fase no processo de independência, no Rio da Prata marca seu fim. O êxito da campanha chilena e a
certeza de que não haverá expedição recolonizadora tiram a urgência da luta.

La liberación de Chile

* p.163: San Martín pensava que o caminho do Peru passava necessariamente pelo Chile. Por isso, cruza
os Andes e vence os realistas em Chacabuco, em 12 de fevereiro de 1817, libertando Santiago. San
Martín reconhece O´Higgins como futuro governante do Chile.
* p.164: O´Higgins propõe um autoritarismo inovador e sem atenuações de despotismo ilustrado. A
guerra de libertação exige disciplina política e social, a qual também é necessária na nova ordem. Mas
essa disciplina não é a subordinação das ordens inferiores às mais altas; segue sendo, como na
monarquia ilustrada, a de uma sociedade inteira a um Estado disposto a transformá-la profundamente.
* p.165: a guerra exaspera, e também mascara, o conflito entre a sociedade e o Estado. O exaspera
porque o Estado deve extrair da sociedade os recursos para a guerra; mascara porque ambos encontram
na guerra um terreno de coincidência, enquanto a ameaça realista está presente. O descontentamento
segue, pois os realistas seguem no sul até 1826, enquanto após a liberação do centro em 1818, os
recursos são drenados para a campanha do Peru. Isso, da mesma forma que no Rio da Prata, minará o
poder de O´Higgins, acelerando sua queda.
Em 1818, O´Higgins proclama uma constituição autoritária, na qual o poder do diretor supremo é
limitado apenas pela presença de um Senado consultivo, de designação diretorial.

Liberación de Peru: primera etapa

* p.166: com poucos recursos rio-platenses e mais chilenos, a causa emancipadora contava, em 1818,
com uma marinha de guerra comandada por Lord Cochrane, sustentada em grande parte por
atividades corsárias. Quando se iniciou a campanha por terra, a partir de 1819, o domínio do mar
tornava vulnerável qualquer ponto da costa peruana.
* p.167: o poder realista se encontrava debilitado pela experiencia constitucionalista de 1812-14, assim
como pelas insurreições regionais que a acompanharam, em especial a de Cuzco e de Huánuco,
liderados por criollos que mobilizam com êxito o apoio indígena.
* p.168: divisão do Peru – nos trinta anos anteriores à crise imperial, no Peru Central há uma expansão
da mineração, que protegeu Lima da perda de seu domínio mercantil sobre o Alto Peru; já o Peru
Meridional sofre com as consequências deste fato.
* p.169: porém, na capital, somente os círculos de altos burocratas se identificavam fervorosamente
com a causa realista, assim como os altos comerciantes peninsulares. Contudo, sem motivo para
agradecer à Coroa, que havia arbitrado contra seus interesses ao dar a Buenos Aires o que era seu
hinterland, o Alto Peru. Todavia, sabiam que a emancipação seria ainda pior.
Desde 1810, o vice-rei Abascal se aferra à velha ordem mercantil. Isso leva a um crescente isolamento,
o que afeta a mineração, pois esta era dependente das importações de mercúrio que a metrópole não
podia fazer. Também afeta o alto comércio de Lima, que com a reincorporação do Alto Peru obtem
uma vitória vazia, porque não podem abastecer essa região com produtos importados. Essa anemia
crescente dos setores mais mercantilizados da economia peruana afeta também a um fisco cujas
necessidades aumentam com a guerra.
* p.170: a solução poderia ser a abertura dos mercados. Porém, o vice-rei vai contra, pois considera que
o monopólio mercantil metropolitano é a própria base da relação colonial, e esta não poderia
sobreviver sem aquela. San Martín espera, com esse processo e com o início de sua campanha,
desagregar esse poder, convencendo esses setores de que a restauração da antiga ordem é impossível.
Porém, não consegue fazer com que haja uma oposição militante desses grupos, e, mesmo com a queda
de Lima, em novembro de 1820, não há a queda do Peru.
* p.171: no Norte, Trujillo e Guayaquil se proclamam pela independência.
* p.172: a reconstitucionalização da metrópole abre caminho a negociações. Os emissários do poder
real argumentam que a Constituição satisfaz as aspirações dos domínios americanos, e que se deve
reunificar as Índias sob governo do rei. Porém, essas negociações agravam as tensões nas forças
realistas, no Peru, Venezuela, Nova Granada e México, pois os apoios da facção realista na sociedade
local, os altos burocratas e o alto comércio, temem transformar-se nas vítimas da reconciliação entre
a Espanha e os seus adversários locais.
* p.173: a libertação de Lima abre caminho para a penetração britânica, mas tem efeitos limitados, por
conta da penúria do entorno da capital e pelo seu isolamento em relação ao sul peruano e ao Alto Peru,
solidamente controlados pelos realistas. Nem a economia privada, nem as finanças públicas se
beneficiam da liberalização. A libertação de Lima trouxe rápidas e profundas decepções. A riqueza
móvel dos ricos, antes mesmo da capitulação, começara a tomar o caminho do oceano; antes e depois,
os navios britânicos serviram como veículos para a fuga de metal. A falta de abastecimento agrícola,
tanto dos arredores como vindo do Chile, trouxe extrema escassez alimentar.
* p.174: a declaração de independência do Peru, no Cabildo de Lima, foi sem grande entusiasmo, e
encontrou pouco eco na população. Refletia a consciência na elite de sua marginalidade, que lhe vedava
o papel arbitral que San Martín lhe havia outorgado e que a condenava a um certo oportunismo.
* p.175: fracasso da tentativa realista de levantar o sítio a Callao leva à concentração das forças
monárquicas na serra. Em 1822, a causa revolucionária estava abalada pelo prolongamento indefinido
de um conflito sem final a vista. No final do ano, San Martín pede ajuda a Bolívar para acabar de vez
com esse impasse.

El retorno ofensivo de la revolución venezolana: de Guayana a Potosí

* p.175: setembro de 1815 – Cartas da Jamaica – Bolívar faz um balanço da revolução venezuelana.
* p.176: Bolívar fica um tempo no Haiti. Deveria levar consigo o compromisso de libertação dos
escravos, o que não ocorreu.
Em 1816, Bolívar volta a Venezuela, chegando a Guayana. Na terceira república, a causa
independentista é sustentada por chefes locais, cuja disposição a subordinar-se a Bolívar é duvidosa.
* p.177: com o comando de José Antonio Paez, as tropas dos Llanos serão a base das forças militares
libertadoras, que fracassaram por dois anos nas tentativas de tomar o norte venezuelano. Bolívar
decide uma nova estratégia: atacar Bogotá. A vitória em Boyacá, em agosto de 1819, leva ao início do
controle da Nova Granada, com poucas exceções (extremo norte e sul). Nos dois anos seguintes,
completa-se a libertação da Venezuela. Em 24 de junho de 1821, a vitória na Batalha de Carabobo dá o
controle de Caracas.
* p.178: depois de Carabobo, volta-se à Nova Granada, com o Panamá e Quito (Batalha de Pichincha,
em maio de 1822), seguindo-se a queda de Pasto. Completava-se a independência da Nova Granada,
sob o controle de Bolívar, o qual poderia por suas forças em ação para terminar a libertação da América
do Sul.
* p.179: entrevista de Guayaquil entre San Martín e Bolívar em julho de 1822. No seu retorno a Lima,
San Martín deu por terminada sua carreira pública, por conta da erosão de sua base política e pela
necessidade de forças externas para terminar com a guerra. Em junho de 1823, perdida Lima, entregou-
se o poder a Sucre, vindo com as forças bolivarianas, e em setembro Bolívar entra em Lima. Ele
reorganiza as forças militares, que estavam divididas e cansadas.
* p.180: em 1824, vitórias em Junín e Ayacucho, acabando com a resistência realista no Baixo Peru. No
Alto Peru, Sucre deveria completar o serviço, e o fez, declarando a independência, com os apoios
criollos que antes estavam nas forças realistas. Bolívar não concordou com esse fato, pois o combinado
era que se respeitariam os antigos limites territoriais; porém, Buenos Aires, em guerra com o Brasil e
debilitado pelos conflitos internos, resignadamente aceitou a separação. Em outubro de 1825, Sucre e
Bolívar se encontram em Potosí para colocar um ponto final na aventura iniciada quinze anos antes.

La tardía independencia de Mexico

* p.181: a partir de 1816, a normalidade retorna a maior parte do território mexicano. Essa normalidade
não é tanto um retorno ao passado. A luta contra a insurreição criou um exército a partir das antigas
milícias provinciais, das quais foi preciso retirar os grupos armados que iam combater em uma luta já
mais que local, e distanciar-se por vezes muito tempo de suas zonas de origem. A desmobilização desse
exército nunca foi seriamente tentada.
Todas as dúvidas eram legítimas em quanto a seu lugar em um México reconciliado com a ordem
espanhola: razões políticas (a inconveniência de criar no ultramar organismos militares de demasiado
enraizamento local) e outras financeiras (custo excessivo) justificariam a eliminação desse elemento
novo no equilíbrio de forças militares.
* p.182: o fim da guerra também afrouxava a solidariedade nunca unanime das elites da Nova Espanha
contra uma causa que fora vista como a da plebe perigosamente desbordada.
 A calma que o vice-rei Apodaca confia para refazer lentamente a legitimidade da antiga ordem vai
ser interrompida pelo retorno do constitucionalismo na metrópole. Isto sim desencadeia finalmente a
separação da Nova Espanha.
* p.182-183: coroado o processo de independência, este não conduziu a nenhuma restauração do antigo
regime, que no México independente nem os conservadores mais extremos queriam, entendendo
antigo regime não como o laço colonial, mas sim os elementos básicos da ordem legal da Nova Espanha,
como a sanção de diferenças de casta, um sistema diferencial de impostos, e a manutenção da unidade
da fé.
* p.183: a emancipação propõe uma saída de reforma moderada similar a das áreas hispano-americanas
que chegaram à independência pela revolução. Esta solução moderada ganha a emancipação o
consenso decisivo do topo da sociedade: o reduzido grupo de magnatas territoriais e mercantis da
capital.
Porém, não será esse setor o que vai tomar a iniciativa; ela vem de Agustín de Iturbide, que proclama
em fevereiro de 1821 o Plan de Iguala, que propõe a separação do México como império; Fernando VII
era convidado a ocupar o trono, ou seus irmãos; mantém o foro eclesiástico, propõe a permanência de
funcionários e empregados em suas posições e a segurança de pessoas e suas propriedades.
Três garantias: independência, catolicismo e união (entre peninsulares e mexicanos), com a tutela de
um exército.
* p.184: dias depois, Iturbide entrega Iguala às forças do vice-rei. No entanto, seu apoio vai crescendo
entre a força militar; em poucos meses, a base de poder do vice-rei se limitava aos corpos peninsulares.
Com o tempo, ganha o apoio dos antigos rebeldes, que esperam reiniciar a luta em condições mais
favoráveis.
* p.185-186: em 24 de agosto de 1821, Iturbide entra na Cidade do México sem resistências. As
promessas de Iguala, de fato, se orientam no sentido de garantir a cada um alguma coisa, o que garante
uma unanimidade momentânea.

Capítulo 6 – La herencia de la emancipación hispanoamericana – p.187-204

* p.187: superar a herança de uma sociedade em desintegração, e aprender a viver com ela, é a primeira
tarefa daqueles que tomaram a cargo governar a essa irreconhecível Hispano América.

El legado de la guerra

* p.188: exceto em poucos locais, os destroços causados pela luta foram pouco consideráveis, pois foi
uma guerra com meios de combate escassos e arcaicos. As consequências menos diretas foram mais
importantes: subtraiu mão de obra da esfera produtiva, em especial dos escravizados; o rompimento
da mita como consequência da instabilidade.
* p.189: porém, isso teve menos efeito que a subtração dos capitais para a produção agrícola e mineira.
A exação direta vem acompanhada de retração: em uma economia de plantation como a da costa
peruana, que exporta para outras regiões da América, a prudência aconselha a limitar o investimento;
a mesma prudência ocorre nas zonas mineiras. A reabilitação exige investimentos caros. Os tesouros
privados começam a emigrar, em grande quantidade. A expansão econômica cubana e a economia
metropolitana oferecem destino a esse metálico.
Isso leva a que a América enfrente o pós-guerra com seu sistema produtivo debilitado e sem recursos
para reabilitá-lo rapidamente. A transferência de recursos, de homens e de capitais da economia
produtiva ao Estado que os utiliza na guerra não supõe a destruição desses recursos, mas sim uma
redistribuição.
* p.190: a guerra se revela como um estímulo para a ampliação dos gastos de consumo, para os quais se
canalizaram os tesouros acumulados na etapa colonial, que não podiam ser utilizados antes pois o
pacto colonial o limitava.
A abertura mercantil resulta mais eficaz para ampliar o consumo que a produção (e, precisamente, na
medida que amplia o consumo, tira recursos da produção). A guerra soma assim seus efeitos aos da
abertura mercantil.
 Quanto aos efeitos sociais, a guerra faz com que figuras e setores marginais ganhem destaque no
processo militar e político. Porém, as mudanças no equilíbrio social foram menos catastróficos e mais
amplos do que o previsto. Afetaram o equilíbrio inter-regional e o interno de cada grupo social ou
étnico, mas só provocaram enfrentamentos frontais entre grupos em poucos episódios locais.
* p.191: não é somente a distribuição do poder que foi profundamente tocada; as bases do poder
também. Respeito a uma autoridade legítima a qual foi delegada pelos mesmos que lhe outorgam
obediência.
 A militarização da base do poder foi uma consequência inevitável da longa luta, e ela é, sem dúvida,
o determinante mais importante das mudanças na distribuição do influxo político dentro da
sociedade. Isso ocorreu não somente nas zonas que foram diretamente afetadas pela guerra, mas
também na retaguarda.
A militarização tem duas consequências: além da complexa (e localmente variável) transferência de
poder dentro da sociedade, a imposição de uma nova e custosa atividade ao Estado ou seus fragmentos;
neste aspecto ameaça contrariar com excesso as vantagens derivadas da supressão do vínculo político
com uma metrópole que havia obtido rico botim fiscal em suas colônias.
* p.192: algumas das tentativas mais eficazes de limitar o custo e o poderio da nova presença militar se
levaram adiante com discrição tão admirável como a tenacidade que se pôs nelas.
Uma militarização mais rigorosa e uma trajetória guerreira mais prolongada tendiam a crescer a
autonomia frente aos setores de origem, ao mesmo tempo em que diminuía o recrutamento dos oficiais
dentro da antiga elite. As forças militares eram então instrumentos de combate e não organismos de
aparelho e os talentos militares adquiriam uma relevância nova.
* p.193: esses deslizamentos na liderança – que se dão especialmente do núcleo a setores marginais da
antiga elite, mas que em alguns casos alcançam a ultrapassar os limites desta – são óbvios no caso de
militarizações mais ou menos espontâneas (Venezuela, Uruguai), mas também ocorrem em processos
mais controlados. Essa mudança na origem social dos dirigentes, que a militarização trouxe consigo,
denota às vezes mais uma ascensão de áreas antes marginais que uma mudança na posição política e
social dos grupos que procedem.
 “A militarização contribuiu para criar uma nova elite política e a introduzir figuras novas na elite
econômica, mas não afeta suas estruturas e funções? A resposta negativa se impõe, mas é difícil avançar
mais nessa questão”.
* p.194: golpe dado à escravidão como instituição; também dificulta a reconstrução de vários setores
econômicos.
 “Não se trata somente de que os antigos domínios da coroa de Castela são agora república; uma
ordem baseada no reconhecimento de status diferentes de acordo com a origem étnica e no de
organismos corporativos ditados de personalidade legal vigorosa é também julgado inaceitável. A
lealdade política ao principio de igualdade e a jurídica ao de individualidade impunham então uma
reestruturação radical da sociedade hispano-americana. [...] governo representativo e no
reconhecimento em favor dos cidadãos e habitantes de certas liberdades não só civis, mas também
políticas, que o antigo regime desde logo havia ignorado”.

El nuevo orden politico-social

* p.194: suas duas consequências políticas mais visíveis são a aparição da imprensa e das consultas
eleitorais; ambas parecem, em um primeiro momento, afetar somente setores reduzidos da população;
porém, observadas mais atentamente, se nota porque tantos consideravam-nas ameaças à estabilidade
político-social.
* p.195: a existência de prazos e ocasiões eleitorais modificava o teor da vida política; obrigava os
governos a superar essas provas, que traziam consigo uma agudização do conflito faccioso, e aos
dirigentes, a conservar laços com setores que excediam os limites reduzidos da elite, via favores e
atenção social, mostrando que era necessária a aquiescência de setores fora da elite.
* p.196: as diversas tentativas de domesticar a soberania popular mediante o sufrágio restrito e a
profusão de eleições indiretas se mostraram irrelevantes.
 Havia três traços da antiga ordem que a nova devia encontrar dificilmente pessoas que aceitassem:
a escravidão, a organização de duas sociedades idealmente paralelas de nativos e espanhóis, e a
presença de sujeitos corporativos laicos e eclesiásticos, dotados de patrimônios importantes.
* p.197: os novos Estados queriam sustentar-se em nações homogêneas, o que supunha um esforço de
assimilação da república de naturais à que havia sido de espanhóis. Os dirigentes das novas repúblicas
não duvidavam de que este último era o núcleo em torno do qual devia constituir-se cada nova
nacionalidade.
* p.198: a crise da emancipação causou dano irreparável no sistema de prestações regulares pelo poder
administrativo e imposta às comunidades indígenas. A mita não sobrevive; nos casos mais favoráveis,
as prestações desaparecem; em outros, se canalizam através de sistemas que gozam de sanções sociais,
mas que não são por isso menos eficazes.

La apertura de la economia

* p.199: abertura mercantil significava abertura à Grã-Bretanha. A ilha necessitava mercados para seus
produtos industriais, esperando obter retorno em metálico.
* p.200: como consequências, queda de preços, que provocou a mudança dos antigos comerciantes, e
aumento do consumo, incorporando novos grupos consumidores.
* p.201: essa nova presença estimulava desse modo o avanço na monetarização da economia; para isso
contribuía, além das mercadorias baratas, somas em metálico trazidas para acelerar e facilitar o
processo. O resultado final desse avanço era paradoxal: enquanto que estimulava a monetarização,
retirava uma maior soma de metálico e circulante do que introduzia no circuito; quanto mais completo
era o seu êxito, mais extremos e tornava esse paradoxo.
* p.203: a abertura mercantil foi uma força democratizadora mais eficaz que a adoção de uma nova
ideologia. Igual que na guerra, haveria, no entanto, que sublinhar os limites, bastante estreitos, de sua
eficácia. A nova ordem mercantil pode ter feito a vida mais amável aos consumidores, aliviado a
tecedoras serranas de uma obrigação odiosa, assegurado um honroso passar a uma plebe prospera
rapidamente em clara expansão numérica nas cidades.
* p.204: à destruição da velha ordem devia seguir a construção da nova, que sistematizaria as inovações
revolucionárias e ampliar a gravitação da nova economia metropolitana, cuja força transformadora
havia sido menos vigorosa e menos uniformemente benéfica do que o esperado só porque não se havia
aplicado com suficiente intensidade.

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