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Julho/2014

Direitos Sexuais e Reprodutivos, Autonomia Reprodutiva, Política e


(des) respeito ao Princípio da Laicidade
Beatriz Galli1 e Helena Rocha2

Introdução garantindo o acesso a serviços de qualidade


para tratar complicações derivadas desses
Os direitos humanos sexuais e reprodutivos abortos. No ano 2000, as Metas do Milênio
vêm sendo incorporados desde a década expressaram o nexo entre saúde sexual,
de 90 no âmbito internacional através da saúde reprodutiva, mortalidade materna e as
ratificação dos tratados internacionais de políticas de desenvolvimento.
direitos humanos e da adesão aos acordos
internacionais pelo governo brasileiro, que Contexto nacional
assumiu obrigações internacionais de tomar
medidas para a sua implementação através Desde que se iniciou o processo de
de leis e políticas públicas no ambito nacional. reabertura democrática no Brasil, em meados
No âmbito dos tratados e compromissos da década de 1980, organizações da sociedade
internacionais, a II Conferência Internacional civil que trabalham para a igualdade de direitos
de Direitos Humanos (Viena, 1993) enfatizou entre homens e mulheres e para a efetiva
que os direitos das mulheres são direitos implementação dos direitos das mulheres vêm
humanos e que, portanto, devem estar travando batalhas no campo democrático no
incluídos na agenda das políticas de direitos sentido de garantir que o Estado dispense a
humanos das nações. atenção devida aos temas que afetam direta
Em 1994, no Cairo, a Conferência e especificamente a saúde das mulheres, e os
Internacional de População e Desenvolvimento direitos sexuais e reprodutivos no Brasil. Como
(CIPD) consagrou os direitos reprodutivos resultado dessas batalhas, avanços foram
como direitos humanos e reconheceu o conquistados com a adoção do Programa
aborto inseguro como um grave problema de de Atenção à Saúde Integral das Mulheres
saúde pública. No ano seguinte, em Pequim, a (PAISM), as políticas de atenção à feminização
Conferência Mundial sobre Mulheres revelou a da epidemia de Aids, elementos da estratégia
distância das mulheres dos espaços de poder, Rede Cegonha, entre outros.
a relação entre o empoderamento de gênero Outro avanço proporcionado pela intensa
e a superação dos desequilíbrios mundiais, e participação de mulheres nos debates sobre
orientou os Estados no sentido de eliminar políticas públicas de saúde é a Norma Técnica
leis e medidas punitivas contra as mulheres de Atenção Humanizada ao Abortamento do
que tenham se submetido a abortos ilegais, Ministério da Saúde, que estabelece normas
gerais de acolhimento, orientação e atenção
clínica a mulheres que passaram por abortos
1
Relatora da Relatoria do Direito Humano à Saúde Sexual e – espontâneos ou provocados – e procuram
Reprodutiva da Plataforma de Direitos Humanos - Dhesca assistência em unidades de saúde públicas ou
Brasil. privadas. (Ministério da Saúde, 2010)
2
Assessora da Relatoria do Direito Humano à Saúde Sexual
e Reprodutiva da Plataforma de Direitos Humanos - Dhesca Esses pequenos passos adiante só
Brasil. foram possíveis porque a estrutura política

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brasileira prevê, legitimamente, que grupos Programa de Ação do Cairo – nas situações
organizados da sociedade civil trabalhem em que a lei não criminaliza a prática – é
para alterar, melhorar ou complementar a insuficiente para a eliminação das iniquidades
legislação existente ou vigente de modo e dos índices de mortalidade materna por
a atender melhor as necessidades desses aborto inseguro, além de violar a igualdade
mesmos grupos. De acordo com Maria Isabel de gênero e a autonomia reprodutiva e a
Baltar Rocha (2006), a redemocratização integridade corporal das mulheres. Avanços
do Brasil possibilitou um fortalecimento da foram alcançados pós Cairo, como foi o
sociedade civil, ainda que muitos dos diretos caso recente do Consenso de Montevidéu.
de cidadania não tenham sido efetivamente Entretanto, essa não constitui uma realidade
conquistados até hoje. “Se para melhor universal. É importante, portanto, ressaltar
qualificar a democracia tivermos como que o Estado deve garantir o direito de acesso
referência a questão da igualdade – como ao aborto para todas as mulheres, inclusive
diria Norberto Bobbio (1987), a democracia àquelas que vivem em países que criminalizam
substancial –, possivelmente encontraremos essa prática. Deve, para isso, reformar suas
nas desigualdades de gênero e de classes que legislações punitivas conforme recomendado
há no país uma das principais chaves das ainda pelo relator da ONU e, ainda, reafirmando a
restritas mudanças referentes à questão do recomendação estabelecida no Programa de
aborto”. Ação de Beijing.
Se transpusermos esta análise para os dias
atuais, podemos dizer que há um novo tipo de O marco legal e o impacto na saúde pública
desigualdade, ou de marcador identitário que
define o status social e político de pessoas na O Código Penal brasileiro é datado de 1940
sociedade brasileira, a identidade religiosa e estabelece que o aborto não seja punível em
– ou ausência dela. Continua Rocha dizendo dois casos específicos: quando haja risco de
que a formalização da democracia foi um morte para a mulher ou em caso de estupro,
processo necessário para que ocorressem conforme dispõe o artigo 128, incisos 1 e 2.
algumas mudanças parciais em relação ao Mesmo nesses casos, que são previstos em
aborto no Brasil, mas não foi suficiente para lei, as mulheres ainda encontram barreiras e
operar transformações mais profundas, “que dificuldade de acesso para realizar o aborto.
deverão estar associadas ao conteúdo dessa A condição de clandestinidade do aborto
democracia, no que diz respeito aos avanços no Brasil dificulta a definição de sua real
quanto à questão da igualdade nas relações dimensão, bem como da complexidade dos
sociais no Brasil.” aspectos, que envolvem questões legais e
A Constituição Cidadã de 1988 garante econômicas, sociais e psicológicas, exercendo
a livre manifestação do pensamento, impacto direto na vida e na autonomia das
assegurando-se o direito de resposta em mulheres. Além disso, dificulta o registro e a
caso de agravos; a liberdade de expressão alimentação do sistema de informação sobre
da atividade intelectual, artística, científica a mortalidade materna do Ministério da
e de comunicação, bem como a liberdade Saúde, contribuindo, assim, para a ocultação
de consciência e crença; a inviolabilidade dessa causa específica de morte materna,
da intimidade, da vida privada, da honra e que por vezes é mascarada por infecções e
imagem das pessoas; e, entre outras, a plena hemorragias, ou simplesmente contabilizada
possibilidade de reunião e associação para entre os óbitos por causas mal definidas.
fins lícitos. Entretanto, nas práticas sociais Apesar das dificuldades de notificação
e políticas contexto no qual se insere a desta causa de morte, a partir de estimativas
realização de um debate público consistente é possível projetar a magnitude dos abortos
que envolva e dialogue com a população e frente aos serviços públicos de saúde no Brasil.
com a sociedade sobre temas polêmicos. Estima-se que no país ocorram, anualmente,
Hoje, vinte anos depois, os dados entre 729 mil a 1 milhão de abortamentos
comprovam que o aborto seguro, se inseguros. Estes acontecem, na maioria
garantido apenas nos moldes propostos pelo das vezes, por meio de procedimentos sem

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assistência adequada, sem nenhuma segurança municípios do país.
e sem padrões sanitários adequados, gerando Desde o início da década de 1990, os
possibilidades de complicações pós-aborto, debates sobre os direitos relacionados
como hemorragia e infecção, infertilidade ou à autonomia sexual e reprodutiva foram
morte. É sabido que a criminalização e as leis se intensificando.Os direitos Sexuais e os
restritivas não levam à eliminação ou redução direitos reprodutivos fazem parte dos direitos
do número de abortos provocados, além de humanos e são ainda um campo de disputa
aumentar consideravelmente os índices de política no Brasil, que tem como marco a
morbidade feminina, representando, ainda, Constituição Federal de 1988 que incorpora o
uma das principais causas de morte materna direito a saúde no rol dos direitos sociais no
no Brasil. seu Artigo 6º. Estabelecendo que “a saúde é
Pesquisa realizada pela Universidade direito de todos e dever do estado, garantido
de Brasília em parceria com o Instituto Anis mediante políticas sociais e econômicas que
revela que, em todos os estados brasileiros, as visem à redução do risco de doença e de outros
mulheres que interrompem a gravidez são, em agravos e ao acesso universal e igualitário às
sua maior parte, casadas, têm filhos e religião, ações e serviços para sua promoção, proteção
estando distribuídas em todas as classes e recuperação”, no Art. 196.
sociais. Essa pesquisa aponta, ainda, que uma
em cada sete brasileiras com idade entre 18 (Des) respeito ao Princípio da Laicidade do
e 39 anos já realizou ao menos um aborto na Estado
vida. Isso equivale a uma multidão de cinco
milhões de mulheres. Na faixa etária de 35 O mandato do período 2012-2014 da
a 39 anos a proporção é ainda maior, sendo Relatoria do Direito Humano à Saúde
que uma em cada cinco mulheres já fizeram Sexual e Reprodutiva foi marcado por um
pelo menos um aborto ao longo da vida. Isso acirramento das forças políticas religiosas
demonstra a magnitude do abortamento no conservadoras tanto no âmbito nacional
Brasil, revelando que se trata de um problema quanto internacional, que apresentou
de saúde pública a enfrentar. diversos desafios para a defesa dos direitos
O Aborto é o segundo procedimento humanos relacionados à autonomia sexual
obstétrico mais realizado nos serviços e reprodutiva e o avanço na afirmação e
públicos de saúde do país. Segundo dados efetivação destes direitos e implicou numa
do Datasus, são cerca de 230 mil internações ação de incidência política de monitoramento
por ano para o tratamento das complicações das ameaças no ambito legislativo e de reação
decorrentes do aborto. Pesquisas têm coletiva através da mobilização de diversos
sugerido que aspectos referentes à saúde setores dos movimentos sociais organizados.
pública e aos direitos humanos ainda não Esta conjuntura atual é o resultado de
recebem a atenção e o aprofundamento acordos políticos firmados duante as eleições
devidos por parte dos legisladores, dos juízes, presidenciais do ano de 2010, quando houve a
dos gestores, dos profissionais de saúde, entre mobilização de setores religiosos dogmáticos
outros atores sociais. Muitos destes ainda se que inseriram temas relacionados a direitos
mostram resistentes a uma abordagem cujo sexuais e reprodutivos, como a legalização
foco central esteja nas mulheres e na sua do aborto e o casamento civil de pessoas do
autonomia sexual e reprodutiva. mesmo sexo. A intensidade dos debates foi
Em relação aos direitos sexuais, 20 anos grande levando a que a então candidata a
depois de Cairo, podemos afirmar que no presidência, Dilma Rousseff, recuasse em sua
Brasil avançamos em termos de formulação posição anterior de defesa da legalização da
de políticas de saúde e legislação em saúde prática. Naquela ocasião a candidata enviou
sexual e reprodutiva. O nosso maior desafio uma carta às igrejas cristãs, na qual afirmava
é a sua efetiva implementação para todas as ser pessoalmente contrária à interrupção da
mulheres, sem discriminação no acesso e na gravidez e que, uma vez eleita, não tomaria
qualidade da atenção nos serviços públicos iniciativa para modificar a legislação, e não
de saúde localizados em todos os estados e promoveria qualquer iniciativa que ameaçasse

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a proteção da família3. foi pautado por algumas iniciativas visando
Nesse sentido, na atual campanha o retrocesso nesses direitos conquistados,
presidenciável, o tema dos direitos em sua totalidade promovidas pelos setores
sexuais e reprodutivos volta com força conservadores, como destacamos abaixo:
e foi considerado como divisor de águas
dos posicionamentos dos candidatos, 1. A aprovação do Estatuto do Nascituro (PL
sendo apontado como “o momento mais 478/07) na Comissão de Finanças e Tributação
baixo desde a redemocratização do país”, da Câmara dos Deputados.
pois “escancarou as portas para todas as 2. A CPI do Aborto
leviandades e recuos que vieram depois, nos 3. A revogação da Portaria 415
temas relativos à saúde da mulher e ao respeito
à diversidade sexual” (BRUM, 2013). Desde O Estatuto do Nascituro
então temos presenciado diversas iniciativas
que demonstram este acirramento do Alguns projetos de lei foram objeto de
conservadorismo religioso e posicionamentos ações específicas da Relatoria do Direito
contrários aos direitos sexuais e reprodutivos, à Saúde Sexual e Reprodutiva no último
que demonstram ainda mais a necessidade mandato, como é o caso do projeto de lei
de afirmar e defender o princípio da laicidade denominado de Estatuto do Nascituro (PL
nas políticas públicas, e da receptividade do 478/07). O Estatuto do Nascituro busca
pluralismo e diversidade de idéias e visões conferir ao embrião o mesmo status jurídico
que refletem uma sociedade democrática, em de uma criança ou pessoa nascida e viva. O
especial, nos temas relacionados aos direitos projeto de lei recebeu emendas, foi aprovado
fundamentais. pela Comissão de Finanças e Tributação da
De fato, desde a sua eleição em 2010, a Câmara e tramita atualmente na Comissão
presidente vem cumprindo o que afirmou na de Constituição e Justiça da Câmara dos
carta às igrejas cristãs de 16 de outubro de Deputados. O projeto tem viés criminalizante
20104: o Poder Executivo não encaminhou sobre a prática do aborto e visa impor uma
proposta legislativa para ampliar o acesso visão religiosa sobre um tema de saúde pública,
ao aborto legal para outros casos além desconsiderando que o aborto inseguro é uma
dos já previstos no Código Penal brasileiro. das principais causas de mortalidade materna
Além disso, os projetos de lei existentes no no país, e viola diretamente os direitos
Congresso, em sua maioria, visam o retrocesso constitucionais e direitos reprodutivos das
dos direitos sexuais e reprodutivos. mulheres protegidos no nosso ordenamento
A atuação dos setores chamados jurídico, e ainda interferir negativamente no
conservadores e contrários aos direitos desenvolvimento científico e tecnológico no
sexuais e reprodutivos vem se dando campo da reprodução assistida.
principalmente através da atuação das Esta proposta legislativa viola direitos
Bancadas legislativas integrada por líderes fundamentais e viola os principais tratados
religiosos5. Segundo a organização não internacionais de proteção dos direitos
governamental Cfemea, em seu balanço humanos ratificados pelo Brasil que protegem
do Legislativo no Congresso Nacional, o o direito humano à saúde sexual e reprodutiva
tema dos direitos sexuais e reprodutivos da mulher e seus direitos humanos à liberdade,
autonomia, vida privada, saúde e integridade
3
Folha de São Paulo. Leia a nota “Mensagem de Dilma” na física e psicológica. Neste sentido, a Relatoria
íntegra. Caderno Poder, 16 de outubro de 2010. Disponível encaminhou um documento à Comissão de
em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po1610201010.
htm, acesso em 11/07/2014. Constituição e Justiça requerendo que a sua
4
Ibidem. análise tenha como parâmetros direitos e
5
Dentre as bancadas religiosas conservadoras destacamos: princípios fundamentais, inclusive a laicidade
Frente Parlamentar Evangélica, Frente Parlamentar em
Defesa da Vida e da Familia, Frente Parlamentar Mista em do Estado.
Defesa da Vida e contra o Aborto. Na última legislatura Alguns aspectos do Estatuto foram
foram eleitos 68 deputados e 3 senadores evangélicos, o que analisados em parecer da Relatoria
torna este grupo religoso a segunda maior bancada temática
do Congresso Nacional. (www.cfemea.org.br) encaminhado para o Relator do projeto,

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conforme descrito a seguir: à segurança e à propriedade”, entre outros
direitos e garantias igualmente distinguidos
a) Da proteção do direito à vida com o timbre da fundamentalidade (como
direito à saúde e ao planejamento familiar).
Mutismo constitucional hermeneuticamente
O referido projeto de lei se fundamenta na
significante de transpasse de poder normativo
proteção integral dos direitos, sem qualquer
para a legislação ordinária. A potencialidade
discriminação, do que denomina “nascituro”. de algo para se tornar pessoa humana já
Para tanto, vale-se da previsão constitucional é meritória o bastante para acobertá-la,
da inviolabilidade do direito à vida e do artigo infraconstitucionalmente, contra tentativas
4º do Pacto de San José da Costa Rica. levianas ou frívolas de obstar sua natural
Em primeiro lugar, cumpre realizar continuidade fisiológica. Mas as três realidades
um esclarecimento a respeito do termo não se confundem: o embrião é o embrião, o
“nascituro” utilizado na proposição legislativa. feto é o feto e a pessoa humana é a pessoa
De acordo com seu artigo 2º, “nascituro é humana. Donde não existir pessoa humana
o ser humano concebido, mas ainda não embrionária, mas embrião de pessoa humana.
O embrião referido na Lei de Biossegurança
nascido”, compreendendo “os seres humanos
(in vitro apenas) não é uma vida a caminho de
concebidos ainda que “in vitro”, mesmo antes
outra vida virginalmente nova, porquanto lhe
da transferência para o útero da mulher.” faltam possibilidades de ganhar as primeiras
Ou seja, o projeto de lei inicia com uma terminações nervosas, sem as quais o ser
confusão conceitual, pois se propõe a dispor humano não tem factibilidade como projeto
sobre normas de proteção, mas conforme de vida autônoma e irrepetível. O Direito
se depreende do texto do parágrafo único infraconstitucional protege por modo variado
do seu artigo 2º, que conceitua nascituro de cada etapa do desenvolvimento biológico do
modo a incluir os seres humanos concebidos ser humano. Os momentos da vida humana
ainda que “in vitro”, tratando indistintamente anteriores ao nascimento devem ser objeto
nascituro e embrião. Ora, nascituro e embrião de proteção pelo direito comum. O embrião
pré-implanto é um bem a ser protegido,
são coisas distintas. O primeiro diz respeito ao
mas não uma pessoa no sentido biográfico a
ser humano já no contexto de uma gestação,
que se refere à Constituição. (ADI 3.510, Rel.
o segundo se refere ao material biológico Min. Ayres Britto, julgamento em 29-5-2008,
proveniente da fecundação, do encontro dos Plenário, DJE de 28-5-2010.)
gametas masculino e feminino.
O Supremo Tribunal Federal já se opôs a Ao fundamentar a proposição legislativa,
esta equiparação conceitual ao julgar a Ação os seus autores afirmam que estariam dando
Direta de Inconstitucionalidade número 3510 cumprimento ao disposto no art. 4º do Pacto
(que foi julgada improcedente e, portanto, de São José, o qual dispõe que os Estados
considerou constitucional a pesquisa com devem proteger o direito à vida “pela lei e,
células-tronco embrionárias), destacando-se em geral, desde o momento da concepção”.
em sua manifestação o seguinte: Ocorre que, os autores olvidaram de
analisar qual a interpretação que deve ser
O Magno Texto Federal não dispõe sobre o
dada ao dispositivo de acordo com a Corte
início da vida humana ou o preciso instante em
que ela começa. Não faz de todo e qualquer
Interamericana de Direitos Humanos, único
estádio da vida humana um autonomizado órgão competente para interpretá-lo (art. 62
bem jurídico, mas da vida que já é própria de do Pacto de San José).
uma concreta pessoa, porque nativiva (teoria No caso fecundação in vitro (Artavia Murillo
“natalista”, em contraposição às teorias Y Otros Vs. Costa Rica), a Corte Interamericana
“concepcionista” ou da “personalidade determinou que, para os efeitos do Pacto de
condicional”). E quando se reporta a “direitos San José, o termo “concepção” não pode
da pessoa humana” e até a “direitos e garantias ser compreendido como um momento ou
individuais” como cláusula pétrea, está processo excludente do corpo da mulher,
falando de direitos e garantias do indivíduo- uma vez que o embrião não tem qualquer
pessoa, que se faz destinatário dos direitos
possibilidade de sobrevivência se não houver
fundamentais “à vida, à liberdade, à igualdade,
a implantação no útero (par. 187). Assim, a

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proteção prevista no artigo 4 só se aplica a satisfatória e sem risco; procriar, com
partir do momento de implantação do embrião liberdade para decidir fazê-lo ou não, quando
no útero, o que está em concordância com a e com que frequência; informação e acesso a
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal métodos seguros, eficientes e exequíveis de
sobre a matéria. planejamento familiar de sua escolha; e acesso
De qualquer forma, no mesmo caso a Corte a serviços de acompanhamento na gravidez e
estabeleceu que o termo “em geral”, usado no parto sem riscos.
no artigo 4 do Pacto, permite inferir exceções Tanto o Programa de Ação do Cairo quanto
à regra da proteção a partir da implantação e a Plataforma de Ação de Beijing são diretrizes
estabeleceu que os casos contemplados pela para ações governamentais na área da saúde
exceção deverão ser determinados a partir sexual e reprodutiva. Estes documentos
de técnicas de interpretação de normas que representam o consenso da comunidade
permitem exceções. Ou seja, usando técnicas internacional e definem conceitos que devem
de hermenêutica, como a razoabilidade e nortear a interpretação dos instrumentos de
proporcionalidade poder-se-ia chegar às direitos humanos, além de serem instrumentos
situações em que seria permitido, de acordo para ação política para o alcance da garantia
com o Pacto de San José, excepcionar a regra dos direitos sexuais e reprodutivos.
de proteção desde a concepção. Assim mesmo, tanto o Comitê da
Cumpre lembrar, que o Pacto San Convenção sobre Eliminação de todas as
José tem hierarquia supralegal, conforme Formas de Discriminação contra a Mulher
entendimento do Supremo Tribunal Federal. (Comitê CEDAW) quanto o Comitê do Pacto
Internacional sobre Direitos Econômicos
b) Proporcionalidade da restrição Sociais e Culturais (Comitê PIDESC) emitiram
opiniões específicas recomendando que o
A corrente constitucionalista moderna Estado brasileiro adote medidas que garantam
estabelece que em casos de colisão de o pleno exercício dos direitos reprodutivos.
direitos fundamentais, utilize-se a regra da Assim, o direito humano à autonomia
proporcionalidade, compreendida por critérios corporal deve ser visto sobre uma perspectiva
de utilidade, necessidade e ponderação. bifronte à luz de suas funções que, de um
Os direitos sexuais e reprodutivos lado, exigem um espaço de liberdade da
são considerados direitos humanos autodeterminação do livre exercício feminino
pelo Brasil, que assim os reconheceu na da reprodução humana e, de outro lado,
Conferência Internacional sobre População e demanda políticas públicas que assegurem a
Desenvolvimento, no Cairo, no ano de 1994 saúde sexual e reprodutiva das mulheres.
e, posteriormente, na Conferência Mundial Assim, qualquer análise de
sobre a Mulher, em Beijing, em 1995. Estas proporcionalidade deverá levar em
conferências mudaram o paradigma da saúde consideração a necessidade de uma leitura
sexual e reprodutiva feminina, que passou a sistemática da Constituição Federal e dos
compreender uma perspectiva de promoção tratados e documentos internacionais aqui
da igualdade formal e substancial entre citados. Notar-se-á em todas elas a existência,
homens e mulheres em todas as dimensões ao lado do direito à vida, do direito ao
de sua existência, como a autodeterminação respeito à integridade física, psíquica e moral,
sexual e reprodutiva, sem discriminação, direito à liberdade, direito à saúde, direito à
coerção ou violência. segurança pessoal, direito à vida privada e,
No Programa de Ação da Conferência nos documentos mais recentes, a proteção
Internacional sobre População e inclusive aos direitos sexuais e reprodutivos.
Desenvolvimento, estabeleceu-se como A atribuição de um peso absoluto à vida do
princípio que toda pessoa tem direito ao nascituro, além de contrariar a essência teórica
gozo do mais alto padrão possível de saúde dos direitos humanos e fundamentais que não
física e mental e definiu a saúde reprodutiva são absolutos pela vertente principiológica
como compreendendo o direito de mulheres que possuem, violaria, de pronto, outros
e homens de desfrutar de uma vida sexual direitos fundamentais garantidos às mulheres,

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entre eles seus direitos à saúde reprodutiva, importante destaca a posição do Comitê
autonomia, liberdade e vida privada. Neste de Direitos Humanos e do Relator Especial
sentido, é importante relembrar a especial sobre Tortura, Maus–tratos e Tratamento
importância que deve se dar à autonomia ou Desumano e Degradante das Nações Unidas,
liberdade individual da mulher, que segundo que consideram que a gravidez compulsória
Dworkin: “Uma mulher que seja forçada sujeita a mulher à condição análoga a da
pela sua comunidade a carregar o feto que tortura6.
ela não deseja não tem mais controle sobre No caminho inverso ao reconhecimento
seu próprio corpo. Ele lhe foi retirado para da liberdade e autonomia das mulheres, o
objetivos que ela não compartilha. Isso projeto pretende impor compulsoriamente
configura uma escravização parcial e uma a maternidade em caso de risco de vida e
privação de liberdade”. à saúde das mulheres, quando justamente
Contudo, a perspectiva da nessas circunstâncias é que a gestação deveria
proporcionalidade é reducionista, pois, em resultar de uma escolha livre, responsável e
verdade o conflito de interesses em jogo não informada. Verifica-se que no projeto há uma
é apenas entre os interesses da mulher e do clara ponderação pró-feto que novamente
feto, mas também entre o controle feminino reconduz a mulher à condição análoga à de
sobre o curso de sua vida e a conformação uma incubadora, sem autonomia, tornando-a
de uma sociedade, e por consequência de um objeto e lhe retirando a dignidade humana que
direito que a reflete, calcada em um padrão lhe é garantida no art. 1º, III, da Constituição
androcêntrico. brasileira.
Ainda assim, esta avaliação da Assim mesmo, os artigos 9º7 e 118 do referido
proporcionalidade apenas pode ser feita de projeto de lei pretendem garantir a proteção
modo constitucionalmente adequado dentro ao feto mesmo em caso de feto natimorto de
do espaço do estado democrático de direito anomalia que inviabilize a vida extrauterina,
que, necessariamente, para cumprir com seu obrigando a mulher a levar a gestação até o
desígnio democrático, deve ser laico. Como fim, em contraposição à interpretação dado
se sabe a laicidade estatal, abraçada pela pelo Supremo Tribunal Federal na Ação de
nossa Constituição, em seu art. 19, i, implica Descumprimento de Preceito Fundamental nº
na radical separação dos espaços público 54, na qual ficou estabelecido que:
do poder político e privado da fé. Nesse
aspecto convém ressaltar o caráter muitas Não se coaduna com o princípio da
vezes contramajoritário que o componente proporcionalidade proteger apenas um dos
democrático possui na proteção do pluralismo seres da relação, privilegiar aquele que,
e tolerância necessários às sociedades no caso da anencefalia, não tem sequer
expectativa de vida extrauterina, aniquilando,
contemporâneas.
em contrapartida, os direitos da mulher,
impingindo-lhe sacrifício desarrazoado. A
c) Pontos específicos de preocupação imposição estatal da manutenção de gravidez
cujo resultado final será irremediavelmente a
O artigo 12 da proposição normativa dispõe morte do feto vai de encontro aos princípios
que “é vedado ao Estado ou a particulares basilares do sistema constitucional, mais
causar dano ao nascituro em razão de ato
cometido por qualquer de seus genitores.”
Trata-se de tentativa de revogar a previsão 6
Report of the Special Rapporteur on torture and other
cruel, inhuman or degrading treatment or punishment, Juan
legal de aborto em caso de estupro, impondo E. Méndez. A/HRC/22/53. 1º de fevereiro de 2013. Disponível
a maternidade à mulher vítima de violência em http://daccess-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/
sexual. A maternidade deveria resultar de G13/105/77/PDF/G1310577.pdf?OpenElement.
7
Art. 9º - É vedado ao Estado e aos particulares discriminar
uma escolha livre e responsável, conforme o nascituro, privando-o de qualquer direito, em razão do
disposto no art. 226, §7º da Constituição. Sua sexo, da idade, da etnia, da origem, de deficiência física ou
imposição viola a autonomia reprodutiva e mental.
8
Art. 11- O diagnóstico pré-natal é orientado para respeitar e
a liberdade das mulheres de decidir sobre salvaguardar o desenvolvimento, a saúde e a integridade do
sua saúde reprodutiva. A este respeito, nascituro.

Relatoria do Direito Humano à Saúde Sexual e Reprodutiva Plataforma de Direitos Humanos 7


precisamente à dignidade da pessoa humana, sexualmente transmissíveis; realização
à liberdade, à autodeterminação, à saúde, ao de exame de HIV; acesso a informações
direito de privacidade, ao reconhecimento sobre direitos legais e serviços disponíveis
pleno dos direitos sexuais e reprodutivos na rede pública. Uma das medidas da lei
de milhares de mulheres. O ato de obrigar
prevê a “profilaxia da gravidez”, que mais
a mulher a manter a gestação, colocando-a
comumente implica na distribuição de
em uma espécie de cárcere privado em seu
próprio corpo, desprovida do mínimo essencial contracepção de emergência para evitar
de autodeterminação e liberdade, assemelha- a gravidez da mulher vítima de estupro,
se à tortura ou a um sacrifício que não pode mas também inclui o fornecimento de
ser pedido a qualquer pessoa ou dela exigido. informações sobre a possibilidade legal
(ADPF 54, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento de aborto em caso de estupros. A sanção
em 12/04/2012, Plenário.) da lei foi precedida de grande pressão dos
movimentos conservadores que ameaçavam
Finalmente, o inciso II do art. 13 e o retirar o apoio à candidatura da presidente
parágrafo único do mesmo artigo, que dispõe da república à reeleição em caso de sanção.
sobre o direito à pensão alimentícia do Por outro lado houve uma grande articulação
nascituro ou da criança já nascida resultante de dos movimentos sociais e feministas pela
um estupro, o que será de responsabilidade do aprovação da lei. Saímos vitoriosos, mas os
agressor – se identificado – violam a dignidade setores dogmáticos continuam atuando para
da pessoa humana, os direitos fundamentais revogar a decisão, por meio do Projeto de
à segurança e a integridade moral da mulher Lei 6.033/2013. Tal projeto visa revogar a lei
e a promoção do bem de todos ao legitimar 12.845/2013.
a violência contra a mulher e sujeitá-la a Dois dias após a publicação da Portaria
desenvolver relações pessoais com aquele que 415, que incluía o registro específico do
lhe dirigiu nefasta violência sexual, em virtude aborto previsto em lei na tabela de serviços
do reconhecimento legalmente determinado oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS),
de qualidade de pai do(a) filho(a) que ela o que representaria um avanço no acesso aos
potencialmente carrega. serviços de abortamento legal, o Ministério
da Saúde a revogou, cedendo a pressões de
A Lei 12.845 e a Portaria 415: avanços e parlamentares da bancada evangélica . O recuo
retrocessos no acesso ao aborto previsto em gerou uma nota de repúdio de organizações da
lei sociedade civil, que foi assinada pela Relatoria
do Direito à Saúde Sexual e Reprodutiva e pela
No ano de 2013 foi promulgada a Lei Plataforma de Direitos Humanos – Dhesca
12.845, que dispõe sobre o atendimento Brasil. É importante frisar que, além de ser
obrigatório e integral de pessoas em situação um crime tipificado em lei, a violência sexual
de violência sexual9. A lei obriga hospitais a no Brasil é um problema de saúde pública.
prestar atendimento multidisciplinar: além Estima-se que a cada 12 segundos uma mulher
de anticoncepção de emergência, o direito é estuprada e, de acordo com o Fórum
a diagnóstico e tratamento das lesões no Brasileiro de Segurança Pública, entre 2005
aparelho genital; amparo médico, psicológico e 2010 o número de estupros registrados no
e social; prevenção e combate de doenças Brasil aumentou em 168% (ANUÁRIO, 2013).

Nota da Relatoria
9
Dispõe sobre o atendimento obrigatório e integral de
pessoas em situação de violência sexual.
Art. 1º Os hospitais devem oferecer às vítimas de violência A Portaria revogada tem uma importância
sexual atendimento emergencial, integral e multidisciplinar, particular para os direitos sexuais e
visando ao controle e ao tratamento dos agravos
físicos e psíquicos decorrentes de violência sexual, e
reprodutivos das mulheres no Brasil.
encaminhamento, se for o caso, aos serviços de assistência A Portaria nº 415 criava registro específico
social.
Art. 2º Considera-se violência sexual, para os efeitos desta
Lei, qualquer forma de atividade sexual não consentida. A http://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/2014/05/24/psc-
10

Lei foi sancionada em 1/8/2013. deseja-tirar-aborto-legal-da-tabela-do-sus/

Relatoria do Direito Humano à Saúde Sexual e Reprodutiva Plataforma de Direitos Humanos 8


na tabela do Sistema Único de Saúde (SUS) de sofrerem complicações em consequência
do procedimento de aborto legal e constituía de abortos inseguros. A morte materna e a
um importante passo na regulamentação e morbidade evitáveis atingem especialmente
garantia dos direitos reprodutivos já previstos essas mulheres, que vivem em um país com
em lei no Brasil. A Portaria 415 estava em uma lei penal de 1940 que criminaliza o aborto,
conformidade com o Decreto nº 7.958, de 13 mas que também não tem garantido o acesso
de março de 2013, que estabelece diretrizes ao aborto seguro nos casos permitidos por lei
para o atendimento às vítimas de violência devido a falta de implementação de políticas
sexual pelos profissionais de segurança de saúde adequadas.
pública e da rede de atendimento do Sistema Com a revogação da Portaria 415, o
Único de Saúde. A identificação adequada Ministro da Saúde deu um passo atrás no
dos procedimentos também auxiliaria o cumprimento dos Objetivos do Milenio
desenvolvimento de estatísticas mais precisas relacionados a maternidade segura, a
nesta área para o desenho de políticas de igualdade de gênero e ao acesso universal à
saúde adequadas e contribuiria para diminuir saúde sexual e reprodutiva, em pleno ano de
a subnotificação destes casos que na sua celebração dos 20 anos do Programa de Ação
maioria ainda não são capturados pelos do Cairo, um marco na agenda internacional
sistemas de informação existentes na área da de população, desenvolvimento e direitos
saúde. A verdade é que as mulheres não tem o sexuais e reprodutivos.
respaldo necessário do estado para enfrentar
a gravidez indesejada através de políticas de A CPI do Aborto
saúde que atendam as suas necessidades.
A questão da interrupção da gestação Outra questão trabalhada durante este
indesejada e do direito de optar pelo mandato pela Relatoria em relação às ameaças
aborto nos casos previstos em lei vem de setores conservadores aos direitos
sofrendo resistência por parte de setores humanos relacionados à autonomia sexual e
conservadores que são contrários à autonomia reprodutiva foi a análise do Requerimento de
reprodutiva das mulheres no âmbito de sua Criação de Comissão Parlamentar de Inquérito
vida privada. Entretanto, a existência de n° 21/13 (conhecida como CPI do Aborto), que
um estado democrático de direito exige o foi apresentado com o objetivo de “investigar
respeito à laicidade estatal, abraçada pela a existência de interesses e financiamentos
nossa Constituição, em seu art. 19, i, o que internacionais para promover a legalização do
implica na radical separação dos espaços aborto no Brasil, prática tipificada como crime
público do poder político e privado da fé. no Código Penal Brasileiro, em seus artigos
Neste sentido, é dever do Estado brasileiro 124 a 127”.
proteger os direitos das mulheres opondo-se No dia 10 de abril, o Dep. Federal
as iniciativas conservadoras e contrárias na João Campos (PSDB/GO) apresentou à
área da saúde sexual e reprodutiva. Esse é um mesa diretora da Câmara dos Deputados,
passo necessário para a consolidação de um conjuntamente com o Dep. Salvador Zimbaldi
estado democrático, que respeite os marcos (PDT/SP), o Requerimento de Criação de
legais vigentes e as políticas de saúde para Comissão Parlamentar de Inquérito N° 21/13
todas as mulheres, com base no seu direito para “investigar a existência de interesses e
humano a igualdade no acesso a saúde e não financiamentos internacionais para promover
discriminação. a legalização do aborto no Brasil, prática
Os dados apontam que são as mulheres tipificada como crime no Código Penal
brasileiras que fazem parte dos segmentos Brasileiro, em seus artigos 124 a 127”.
mais vulneráveis, as mulheres negras, jovens, O requerimento contava com 223
solteiras ou sem companheiro fixo, moradoras assinaturas (45 assinaturas a mais do que as
de locais distante dos grandes centros necessárias para a instalação de uma CPI),
urbanos, com menor nível de escolaridade e bastando que o requerimento fosse lido pelo
piores condições socio-economicas, correm presidente da Casa, em plenário. Contudo, o
um maior risco de morte materna evitável e requerimento estava em 14o lugar na lista de

Relatoria do Direito Humano à Saúde Sexual e Reprodutiva Plataforma de Direitos Humanos 9


requerimentos de CPI na Casa, sendo que o uma semana de atividades em Brasília.
Regimento Interno permite, ao máximo, cinco
CPIs simultâneas. Os requerentes, porém, b. Análise da CPI do Aborto
declararam à imprensa que apresentariam um
requerimento de inversão de ordem à mesa O RCP 21/2013 se constrói sobre o
diretora da casa para que a CPI do Aborto argumento de que o interesse maior das
pudesse ser instalada ainda no ano de 2013. organizações feministas sobre a legalização
A justificativa apresentada pelos do aborto no Brasil seguiria uma estratégia
requerentes sugere que organizações formulada por organizações estadunidenses
internacionais teriam interesse em impor ao para implementar o controle populacional no
Brasil uma pauta que não seria de interesse Brasil, com fins de defesa política e militar do
da população, que estaria ameaçando a poder dos EUA, o que é uma falácia histórica.
soberania nacional e impondo uma política (Rocha, 1996) A regulação da fecundidade
de controle populacional para controle da como parte de políticas sociais tem sido
natalidade da população pobre. No texto, uma área de atuação das entidades privadas
solicitavam que quatro organizações da de planejamento familiar e controle de
sociedade civil brasileira fossem investigadas: natalidade foi um item bastante questionado
Centro Feminista de Estudos e Assessoria e criticado por setores progressistas da
(CFEMEA), Rede Feminista de Saúde, Católicas sociedade, sobretudo por movimentos
pelo Direito de Decidir no Brasil (CDD) e Ipas. feministas e profissionais da área da saúde, os
De acordo com o requerimento todas haviam quais foram ainda os principais responsáveis
recebido financiamento de agências de pela formulação do Programa de Atenção
fomento e organizações internacionais para Integral à Saúde da Mulher (PAISM). O
promover o debate sobre a descriminalização PAISM é uma política definida pelo Governo
do aborto no Brasil. Dentre as agências, citaram Federal em 1983 que já desde então tratava
instituições como a Fundação MacArthur, da questão da reprodução humana, mas
Fundação Ford, Fundo de Ação para o Aborto voltando para a atenção integral à saúde
Seguro (SAAF), Federação Internacional de das mulheres em todas as fases de sua vida,
Planejamento Familiar (IPPF) e a Bem-Estar sob a responsabilidade do Ministério da
Familiar no Brasil (Bemfam). Finalmente, os Saúde. O Programa já sofreu várias revisões e
requerentes esclarecem que esta iniciativa atualizações, mas enfrenta graves problemas
se dá no âmbito da Frente Parlamentar na sua implementação até os dias atuais.
Evangélica do Congresso Nacional e da Além de ser uma iniciativa questionável
Frente Parlamentar Mista em Defesa da Vida, do ponto de vista regimental e constitucional,
presididas pelos requerentes. há outros inconvenientes políticos que
certamente devirão de uma CPI deste tipo, caso
a. Da denúncia recebida pela Relatoria instalada. Se recordarmos a última campanha
presidencial, em 2010, lembraremos que o
No dia 17 de abril de 2013, a Relatoria do tema do aborto foi politizado a nível máximo
Direito Humano à Saúde Sexual e Reprodutiva como uma ferramenta de desqualificação
recebeu um e-mail do Centro Feminista do debate sobre as agendas políticas das
de Estudos e Assessoria (CFEMEA) acerca candidaturas de então. Durante semanas a
do requerimento e dos riscos de violações fio, o eleitorado brasileiro assistiu a um sem-
decorrentes de uma possível instalação da
CPI do Aborto. A Relatoria acolheu a denúncia
Direito de Decidir, Anis, Articulação de Mulheres Brasileiras,
como uma violação potencialmente grave Frente Nacional contra a Criminalização das Mulheres e pela
para os direitos sexuais e reprodutivos Legalização do Aborto, SOS Corpo, Centro Brasileiro de
de brasileiras e brasileiros. A partir desta Análise e Planejamento (CEBRAP), Comissão de Cidadania
e Reprodução (CCR), Comissão de Bioética e Biodireito
análise preliminar, o grupo de organizações da OAB/RJ, Rede Nacional de Advogados e Advogadas
envolvidas11 e a Relatoria decidiram realizar Populares (RENAP), Conselho Federal de Psicologia (CFP),
Centro Latino-americano e do Caribe em Defesa dos Direitos
das Mulheres (CLADEM), Liga Brasileira de Lésbicas (LBL),
11
CFEMEA, Ipas, Rede Feminista de Saúde, Católicas pelo Fundação Getúlio Vargas e Avaaz.org.

Relatoria do Direito Humano à Saúde Sexual e Reprodutiva Plataforma de Direitos Humanos 10


número de acusações e posicionamentos certamente armará todo o cenário para que as
retrocedidos, majoritariamente baseados em pautas dos movimentos ditos cristãos sejam
crenças morais perpassadas pela pressão de o centro de todas as atenções nas próximas
líderes cristãos que ameaçavam influenciar eleições, em detrimento da extensão de
os fiéis de suas paróquias a votarem no/a direitos a milhões de brasileiras e brasileiros.
candidato/a que mais clara e publicamente Movimentos como o “Brasil Sem Aborto”,
defendesse “a vida” e fosse contra o aborto, que articulam diversas denominações cristãs,
numa clara demonstração da sua capacidade entre católicas, evangélicas e espíritas, e as
de influenciar na agenda política pública a mobilizações políticas neopentecostais, como
partir de convicções dogmáticas, embora não as Marchas para Jesus que já ocorrem em todas
tenham demonstrado influência real sobre a as capitais brasileiras, e outros ajuntamentos,
decisão individual de voto. cada vez mais fortalecem a agenda
Por outro lado, outro ator no cenário conservadora e retrógrada dos quatro itens:
político hoje é o movimento evangélico, que se defesa da vida – contra o aborto em todos os
caracteriza como mais um grupo de pressão, casos; defesa da família tradicional – contra o
entre tantos outros, atuando politicamente casamento entre pessoas do mesmo sexo e as
inclusive dentro do Congresso Nacional, seja novas composições familiares; pela liberdade
como parlamentares organizados em Frentes de expressão e liberdade religiosa – contra a
e Bancadas, seja como grupos da sociedade criminalização da homofobia e pela liberdade
civil que começaram a ocupar os espaços de disseminar discursos de intolerância e às
públicos de poder para disseminar os valores vezes de ódio, incentivando práticas violentas
ligados às suas crenças religiosas. contra homossexuais e pessoas trans em
cultos e programas transmitidos por canais
O discurso religioso tal qual está sendo de rádio e tv aberta, concessões públicas que
apresentado relativizaria o seu lugar como
deveriam servir à informação qualificada,
produtor da verdade, assim como o lugar
educação e disseminação cultural ao povo
da ciência que de vocalizador da verdade na
modernidade, passaria a ser mais uma das brasileiro.
correntes de pensamento a oferecer um Caso haja sua instalação, a CPI investigará
discurso sobre ela. Nesse sentido, religião e e atacará as atividades de organizações que
ciência estariam disputando, em princípio, historicamente trabalham pela legalização
em posição de igualdade, a visão da verdade. do aborto no Brasil, notadamente as
E isto não é pouco. Isto amplia o desafio, em organizações feministas e de mulheres que
termos políticos e filosóficos, para os que defendem os direitos sexuais e reprodutivos,
buscam desconstruir o lugar da religião como e representará não só uma ameaça a estes
um grupo de pressão entre outros porque, direitos, como também da liberdade de
para tanto, os críticos da religião teriam que
associação, previsto no Art. 5º, incisos XVII e
defender um lugar hierárquico nos discursos
XVIII; e à liberdade de expressão conforme
sobre a verdade para a ciência ou para outro
grupo em oposição ao lugar do religioso. (Vital previsto no Art. 5º, incisos IV e IX da CF/88.
& Lopes, 2012) A Relatoria do Direito Humano à Saúde
Sexual e Reprodutiva da Plataforma Dhesca
Além disto, o fortalecimento do Brasil, assim como outras entidades nacionais
movimento evangélico no Congresso de classe, como o Conselho Federal de
Nacional, possibilitado pela ampliação da Medicina, Conselho Federal de Psicologia,
visibilidade do Partido Social Cristão e dos OAB e outras, entende que a promoção da
demais membros da Bancada Evangélica no legalização do aborto como política pública
parlamento, levaram o PSC a anunciar, em 14 de saúde no Brasil não constitui crime nem
de maio de 2013, que terá candidatura própria infração legal de nenhum tipo. Entende,
à Presidência da República em 2014, e que não ainda, que a instalação desta CPI fere vários
apoiará a base governista no próximo pleito. princípios constitucionais e da legislação
A instalação da CPI do Aborto além nacional vigente, como o direito de associação
de ameaçar diretamente alguns direitos para o debate de temas polêmicos, para
fundamentais ao exercício democrático, o questionamento da norma vigente e

Relatoria do Direito Humano à Saúde Sexual e Reprodutiva Plataforma de Direitos Humanos 11


proposição de alteração de leis, de produção sociedade civil como um agente de controle
de conhecimento sobre temas controversos social e construção de uma sociedade mais
e o direito a atuar politicamente junto aos justa e igualitária.
órgãos dos poderes legislativo e executivo
para o avanço na garantia dos direitos Conclusão
humanos, econômicos, sociais, culturais e
ambientais. Neste sentido, está trabalhando As iniciativas descritas anteriormente
em parceria com organizações da sociedade representam ameaças para a garantia dos
civil, feministas e de direitos humanos em direitos humanos relacionados à autonomia
geral, no sentido de garantir os direitos sexual e reprodutiva, que incluem: o direito
democráticos citados. a integridade corporal, o direito individual
A Relatoria do Direito à Saúde considera de viver a sexualidade de forma plena e
que iniciativas tais como a instalação de uma satisfatória, o de tomar decisões reprodutivas
CPI como a proposta pelos deputados João livres de coerção, violência ou criminalização,
Campos e Salvador Zimbaldi não servirão bem como de barreiras culturais, legais e
senão para polarizar posições radicais morais acerca dos comportamentos sexuais e
contra e a favor da legalização do aborto reprodutivos.
na sociedade brasileira, o que sabidamente O aborto inseguro é a quarta causa de
não contribui para o exame crítico e racional morte materna no Brasil, sendo que em
da dimensão do problema em termos de alguns estados é a segunda ou terceira. Em
saúde pública, de mortalidade materna e de 2011 houve um divisor de águas no enfoque
equalização dos direitos das mulheres em do tema, a partir da apresentação de um
relação aos direitos dos homens na sociedade relatório pelo Relator Especial Anand Grover,
brasileira. Ademais, corre-se o risco de que o sobre o “Direito de todos ao desfrute do mais
debate eleitoral vindouro (eleições 2014) seja alto nível possível de saúde física e mental”. O
novamente prejudicado em sua qualidade relatório traz observações e recomendações
e diversidade de temas a serem debatidos, aos países sobre os problemas relacionados à
caso o tema “aborto” e toda a argumentação criminalização dos comportamentos sexuais
moral que o envolve volte a dar a tônica das e reprodutivos, incluindo a criminalização da
campanhas presidenciais. A experiência de prática do aborto. O relatório é paradigmático
2010 já nos provou que esta é uma estratégia porque trata, pela primeira vez, o tema
“perde-perde”: perde a democracia brasileira do aborto como um tema de autonomia
em qualidade e força; perde-se a possibilidade reprodutiva das mulheres, para além da
de aprofundar o debate sobre este e outros pesquisa de saúde pública adotada no
temas que afetam diretamente a vida de Programa de Ação do Cairo, segundo o qual
milhões de cidadãs e cidadãos brasileiros o aborto deveria ser seguro nos casos que
em diversos aspectos da vida sociopolítica; fosse legal. O relator estabeleceu que as leis
perde o Brasil a chance de avançar na punitivas violam os direitos humanos das
implementação dos compromissos assumidos mulheres quando limitam o seu controle
em âmbito doméstico e internacional, em sobre seus próprios corpos e determinam que
nome de acordos políticos travados com elas continuem com uma gravidez contra a
setores conservadores na busca de uma sua vontade.
governamentabilidade que já tem se provado Nesse contexto, uma reflexão sobre a
frágil. eficácia da lógica criminalizante em relação ao
Neste sentido, a Relatoria de Saúde aborto, adotada pelo Código Penal de 1940,
Sexual e Reprodutiva entende que é de vital é urgente e necessária diante da magnitude
importância a parceria estabelecida entre as do fenômeno do aborto no Brasil, estimado
organizações feministas e de direitos humanos em um milhão ao ano. Os dados apontam a
estabelecida neste processo, bem como é condição de grave problema de saúde pública
importante o estabelecimento de parcerias e ineficácia da lei criminal restritiva.
com instituições governamentais para o Num cenário de ameaças constantes
fortalecimento da democracia brasileira e da de retrocesso em direitos já conquistados,

Relatoria do Direito Humano à Saúde Sexual e Reprodutiva Plataforma de Direitos Humanos 12


tem particular relevância o projeto de lei III, também devido a pressões de grupos
suplementar que propõe a reforma do Código religiosos sobre o Poder Executivo brasileiro
Penal (PLS 236/2012), elaborado por uma (ABONG, 2010).
comissão de juristas indicada pelo Senado
Federal e atualmente em debate no Congresso
Nacional, propõe o afastamento de ilicitude Referência
quando o aborto for realizado por vontade da
gestante até a 12ª semana da gestação, o que ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ONGs. Nota de
está em consonância tanto com os acordos repúdio às alterçãoes no PNDH3. Disponível
e documentos internacionais assinados em ABONG: <http://pndh3.com.br/geral/
pelo Estado brasileiro, quanto responde ao abong-%E2%80%93-associacao-brasileira-de-
princípio constitucional de se criar legislação organizacoes-nao-governamentais/>. Acesso
que responda a necessidades da população não em 17 de maio de 2013.
previstas na Constituição Federal de 1988 (art.
5o. inciso LXXI - CF/88). O Relator do projeto BRUM, Eliane. O Aborto e a Má Fé. Revista
de lei não incluiu no seu relatório previsão Época, 12 ago 2013. Disponível em: <http://
legal para além das previstas atualmente no epoca.globo.com/colunas-e-blogs/eliane-
Código penal, tendo apenas acrescentado a brum/noticia/2013/08/o-babortob-e-ma-fe.
possibilidade de interrupção da gravidez para html>.
os casos de anencefalia, conforme decisão do
Supremo Tribunal Federal na ADPF 54. CIDH. Segundo informe sobre la situación de
Vale ressaltar que a proposta da comissão las defensoras y defensores de los
de juristas em relação ao aborto está de derechos humanos en las Américas. OEA/
acordo, ainda com os compromissos firmados Ser.L/V/II. Doc. 66, 31 de dezembro de 2011.
pelo governo federal no Plano Nacional de Disponível em: http://www.oas.org/es/cidh/
Direitos Humanos III (2010), de “implementar defensores/docs/pdf/defensores2011.pdf
mecanismos de monitoramento dos serviços
de atendimento ao aborto legalmente Fórum Brasileiro de Segurança Pública. 7º
autorizado, garantindo seu cumprimento e Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
facilidade de acesso”12; e de “considerar o Disponível em: <http://www.forumseguranca.
aborto como tema de saúde pública, com a org.br/storage/download//anuario_2013-
garantia do acesso aos serviços de saúde”, corrigido.pdf>, 2013.
recomendando ao poder legislativo a
adequação do Código Penal para a legalização Rocha, M. I. A discussão política sobre o
do aborto13 (SDH-PR, 2010). Está de acordo, aborto no Brasil. Revista Brasileira de Estudos
também, com o expresso na versão anterior Populacionais , 23 (2), 369-374, 2006.
do Plano Nacional de Direitos Humanos
(PNDH II de 2002), de “apoiar a alteração VITAL, Christina e LOPES, Paulo Victor Leite.
dos dispositivos do Código Penal referentes Religião e Política: uma análise da atuação de
ao (...) alargamento dos permissivos para a parlamentares evangélicos sobre direitos das
prática do aborto legal, em conformidade mulheres e de LGBTs no Brasil. Rio de Janeiro:
com os compromissos assumidos pelo Estado Fundação Heinrich Boll, 2012.
brasileiro no marco da Plataforma de Ação de
Pequim14, texto que foi suprimido do PNDH Galli B. & Gonçalves T. O Estatuto do Nascituro
e os Direitos Humanos das Mulheres. Ano 13 -
nº 50 - Junho - Agosto – 2010, Associação de
12
PNDH III – Diretriz 17, Objetivo estratégico II: Garantia do Juízes para a Democracia (www.adj.org.br).
aperfeiçoamento e monitoramento das normas jurídicas
para proteção dos Direitos Humanos, página 143.
13
PNDH III - Objetivo estratégico III: Garantia dos direitos das Bobbio, N. (1987). Estado, governo, sociedade:
mulheres para o estabelecimento das condições necessárias para uma teoria geral da política. Rio de
para sua plena cidadania, páginas 91 e 92.
14
Propostas de ação governamental para MULHERES do Janeiro: Terra e Paz.
PNDH II, Anexo ao PNDH III, página 212.

Relatoria do Direito Humano à Saúde Sexual e Reprodutiva Plataforma de Direitos Humanos 13


CFM. Conselhos de Medicina se posicionam
a favor da autonomia da mulher em caso de
interrupção da gestação. Brasilia, DF, Brasil, 21
de março de 2013.

Diniz, D., & Medeiros, M. Aborto no Brasil:


uma pesquisa domiciliar com técnica de urna.
Ciência & Saúde Coletiva , 15 (Supl. 1), 959-
966, 2010.

IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de


Domicílios. Rio de Janeiro: IBGE, 2008.

Ministério da Saúde. Atenção humanizada


ao Abortamento: Norma Técnica. Brasília:
Ministério da Saúde, 2ª ed. atual. e ampl. ed.,
2010.

Ministério da Saúde. Mortalidade materna


atingiu em 2011 menor índice dos últimos 10
anos, calcula Saúde. Portal do Ministério da
Saúde . Brasilia, DF, Brasil, 23 de fevereiro de
2012.

Monteiro M, A. L. Estimativas de aborto


induzido no Brasil e Grandes Regiões.
Caxambu: XV Encontro Nacional de Estudos
Populacionais, pp. 1-10, 2006.

Rocha, M. I. A discussão política sobre o


aborto no Brasil. Revista Brasileira de Estudos
Populacionais , 23 (2), 369-374, 2006.

Secretaria Executiva
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