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Eixo – Didática
Agência Financiadora: CAPES/Fundação Aráucaria
Resumo
O presente estudo faz parte de uma pesquisa de mestrado em andamento, o qual estuda a
prática pedagógica da professora alfabetizadora iniciante na cidade de Ponta Grossa,
enriquecida pelos estudos feitos em um curso de extensão que dialoga sobre as obras de Paulo
Freire. Os estudos teóricos realizados por meio da pesquisa, somados aos conhecimentos
construídos na dialogicidade do curso, originou inquietações sobre a teoria de Freire, frente à
prática pedagógica. Portanto, o objetivo principal desse trabalho é apresentar algumas
reflexões teóricas sobre duas obras de Freire, como ponto de partida para a problematização
da prática pedagógica: Pedagogia da Autonomia (1996) e Pedagogia do Oprimido (2011).
Como objetivo específico definiu-se, identificar, na teoria freiriana, as concepções sobre
educação problematizadora e educação bancária, compreendendo que ensinar é um processo
que envolve muitos saberes. Como metodologia, utilizou-se Lima e Mioto (2007) que
esclarecem que para trabalhar com a pesquisa bibliográfica é necessário organizar alguns
caminhos, para que o estudo não se faça de forma aleatória, pois a pesquisa requer critérios
claros e bem definidos: a) elaboração do problema e plano de estudo; b) coleta de informações
contidas nas obras; c) análise explicativa das informações; d) síntese integradora. Sendo que
alguns vídeos sobre Paulo Freire também foram essenciais para esclarecer algumas dúvidas. A
partir deste estudo compreendemos a importância da teoria de Freire para a prática
pedagógica. Foi possível analisar que as obras Pedagogia da autonomia e Pedagogia do
oprimido possibilitam reflexões pertinentes ao processo de ensino e à formação dos
professores, por meio de uma práxis dialógica e humanizadora, a qual Freire sempre buscou
explicitar tanto em seus escritos como nos seus diálogos com diferentes sujeitos, por diversas
partes do mundo.
1
Mestranda em Educação pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. Membro GEPTRADO; Práxis educativa:
dimensões e processos. E-mail: josyscos@hotmail.com.
2
Doutorado em Educação pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCar. Profa. Adjunta do Departamento
de Pedagogia – DEPED, da Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG/PR, líder do Grupo de Estudos e
Pesquisas sobre Educação em Espaços Escolares e Não Escolares –GEPEDUC, vinculada ao NUPEPES –
Núcleo de Estudos, Pesquisa e Extensão em Educação Social e Pedagogia Social e ao Grupo de Estudos e
Pesquisas sobre Trabalho Docente – GEPTRADO – UEPG/PR e à Rede Interinstitucional de Pesquisadores e
Formação de Professores – RIPEFOR. E-mail: lucrispaula@gmail.com
ISSN 2176-1396
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Introdução
Este trabalho apresenta estudos de uma pesquisa em andamento que tem como objeto
a prática pedagógica do professor alfabetizador iniciante. Esses estudos foram enriquecidos
pelas discussões geradas em um curso de extensão intitulado “Paulo Freire: fundamentos de
uma práxis educativa transformadora na formação de educadores (as)”. O conjunto de
experiências originou inquietações sobre os estudos realizados, bem como reflexões sobre o
quanto a teoria se faz fundamental para entender como ocorre o movimento da prática
pedagógica por meio da pespectiva problematizadora de Paulo Freire.
Assim, o presente trabalho possui o objetivo de refletir sobre o referencial teórico de
Paulo Freire, por meio de suas obras: Pedagogia da Autonomia (1996) e Pedagogia do
Oprimido (2011). Como abordagem metodológica, o estudo se caracteriza como exploratório
e descritivo, de natureza bibliográfica “(...) que, para Lima e Mioto (2007), é um
procedimento metodológico, que possibilita ao estudioso uma reflexão sobre um problema,
por meio de um movimento dialético, propiciando ao pesquisador/estudioso uma constante
revisão sobre sua leitura e interpretação dos dados obtidos.
No entanto, é fundamental considerar que a pesquisa bibliográfica não se constitui
numa mera repetição de estudos já realizados sobre um determinado assunto. “Como todos os
demais tipos de pesquisa a bibliográfica exige do pesquisador a reflexão crítica sobre os
textos consultados e incluídos na pesquisa”. (MOREIRA e CALEFFE, 2006, p. 74).
contidas nas obras; c) análise explicativa das informações; d) síntese integradora. A fim de
garantir o levantamento e a análise rigorosos das informações, Salvador (1978) elenca cinco
etapas de leitura do material, que ofereçam a identificação, a codificação, a organização e a
síntese dos dados: leitura de reconhecimento do material bibliográfico; leitura exploratória;
leitura seletiva; leitura reflexiva ou crítica; leitura interpretativa.
Seguindo tais etapas metodológicas de leitura, identificamos que, na obra Pedagogia
da Autonomia, Freire (1996) utiliza-se de uma linguagem poética e política para fazer um
chamamento crítico aos educadores e educadoras sobre o ato de ensinar, destacando questões
essenciais para a formação dos professores, entendendo-os como sujeitos que aprendem a
ensinar nas relações que estabelecem com os educandos. Ao assumirem-se como educadores-
educandos, vão refletindo criticamente sobre as práticas pedagógicas e recriando novos
caminhos para ela, de forma humilde, curiosa e metodicamente rigorosa. Nesse sentido, a
práxis freiriana coloca a necessidade de processos educativos que caminhem para a
humanização, por meio de um processo de ensinar e aprender com os educandos, alimentado
pela pesquisa e pela problematização.
Freire (1996) aborda na obra Pedagogia da Autonomia, a importância do educador
ensinar com competência profissional, comprometimento político, disponibilidade para o
diálogo e ética. Entre outros elementos destacados no decorrer da obra, que se fazem
essenciais para atuação do professor, Freire (1996) considera importante que o professor se
posicione por meio do engajamento político libertador, atuando no sentido de posicionar-se
como sujeito do processo educativo, juntamente com os alunos. Ele explica isso por meio da
relação docência-discência.
No mesmo sentido, referente ao livro Pedagogia do Oprimido, Freire (2011), faz uma
análise sobre o funcionamento das classes sociais e indica os caminhos para uma pedagogia
competente e comprometida com a aprendizagem de todos os alunos. È uma pedagogia
pautada no diálogo entre os sujeitos cognoscentes do processo educativo – educadores e
educandos – mediados pelo objeto cognoscível. Nesse processo, o diálogo é praticado entre
todos para o conhecimento da razão de ser do objeto que os mediatiza, para o seu
desvelamento, buscando a compreensão crítica de sua totalidade.
Freire (2011) enfatiza a importância de pensar o educando e o educador como
pertencentes a um contexto real, que fazem e refazem suas realidades, ao mesmo tempo em
que são condicionados por elas, construindo suas histórias e a história de seus contextos,
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Narração de conteúdos que, por isto mesmo, tendem a petrificar-se ou afazer-se algo
quase morto sejam valores ou dimensões concretas da realidade. Narração ou
dissertação que implica num sujeito - o narrador- e em objetos pacientes, ouvintes -
os educados. A narração, de que o educador é o sujeito, conduz os educandos à
memorização mecânica do conteúdo narrado. Mais ainda, a narração os transforma
em “vasilhas”, em recipientes a serem “enchidos” pelo educador. Quanto mais vá
“enchendo” os recipientes com seus “depósitos”, tanto melhor educador será.
Quanto mais se deixem docilmente “encher”, tanto melhores educandos serão.
(FREIRE 2011, p.79-80)
Essas visões, de que o educando representa um ser passivo, sem direitos e sem voz,
necessitam ser transformadas no espaço escolar. É preciso que o professor, no espaço escolar,
ao se deparar com práticas bancárias, procure dialogar com seus pares e mostrar aos mesmos
que práticas dialógicas são possíveis de serem realizadas, constituindo-se por meio de uma
transposição didática reflexiva e alicerçada em uma práxis emancipatória. ‘’A práxis, porém é
reflexão e ação dos homens sobre o mundo para transformá-lo. Sem ela, é impossível a
superação da contradição opressor-oprimidos’’ (FREIRE, 2011, p.52). A reflexão sobre a
prática pedagógica faz-se essencial ao professor, para que a educação torne-se significativa.
Desse modo, é possível pontuar o quanto Freire (2011) se preocupava com uma
educação na qual a relação entre educandos e educadores, mediados pelo objeto cognoscente,
é central. Assim o autor enfatiza a importância de um diálogo entre professor e aluno, que
representa uma libertação por parte dos sujeitos. “Não é uma palavra a mais, oca, mitificante.
É práxis, que implica a ação e a reflexão dos homens sobre o mundo para transformá-
lo’’(FREIRE, 2011, p.93). Portanto, é um diálogo refletido, que possibilita uma ação do
homem frente a sua condição de sujeito histórico, transformador de mundo.
Frente à concepção problematizadora Freire (2011) acentua que educador e
educandos são sujeitos do processo educativo e ambos ensinam e aprendem. Os alunos são
vistos como investigadores críticos e os professores refletem sobre suas práticas. Também
esta percepção propõe a problematização e o desvelamento da realidade por meio de atos
cognoscentes intencionais, com a finalidade da emancipação dos sujeitos e de suas inserções
críticas na realidade.
O ensino contextualizado pela teoria problematizadora fundamenta-se na relação
dialógica entre o professor e o aluno, possibilitando, em todo processo de aprendizagem, a
comunhão de saberes, em que todos contribuem para uma visão mais crítica e integradora,
totalizante de mundo Na concepção problematizadora há uma a mediação estabelecida pelo
objeto de conhecimento em que ambos – educadores e educandos - se detêm a investigar,
superando o autoritarismo do educador, o que propicia a ambos a superação do
intelectualismo alienante.
Por isso é que esta educação, em que educadores e educandos se fazem sujeitos do
seu processo, superando o intelectualismo alienante, superando o autoritarismo do
educador ‘’bancário’’, supera também a falsa consciência do mundo. [...] ‘’ é a razão
por que a concepção problematizadora da educação não pode servir ao opressor’’
(FREIRE, 2011.p.105).
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discutir as diferenças entre as classes sociais. Isso possibilita aos sujeitos uma visão crítica do
mundo, promovendo situações desafiadoras, pois o espaço escolar se constitui em um local
de humanização.
Portanto, na concepção humanizadora defendida pelos aportes freirianos, “(...) fazer
e o pensar sobre o fazer” (FREIRE, 1996, p.38). “a prática docente crítica implicante do
pensar certo, envolve o movimento dinâmico, dialético, entre o fazer e o pensar sobre o
fazer”. (FREIRE, 1996, p.38). Desse modo, a prática docente; se constitui por meio de uma
reflexão crítica sobre os conhecimentos que a fundamentam, é o momento em que os
educadores se distanciam da própria prática e transitam de uma curiosidade ingênua para uma
curiosidade epistemológica. É por meio do pensar sobre o fazer que o ato da reflexão crítica
sobre a prática produz aprofundamentos ao professor sobre o agir docente.
Assim, Freire (1996) explicita que a prática se realiza como uma ação política, e não
pode ser vista como um ato mecânico, mas sim ser realizada em favor da construção de
sujeitos que estão inconclusos, tanto alunos, quanto professores. Portanto, cabe a esse
profissional inconcluso se dispor a aprender com o aluno, por meio de uma formação
permanente em sala de aula e fora dela também.
Considerações finais
As concepções de Paulo Freire explicitam o quanto o autor lutou por uma educação
popular e humanizadora. Desse modo, o recorte das obras Pedagogia da Autonomia (1996) e
Pedagogia do Oprimido (2011) demonstra o quanto o autor esteve comprometido com uma
educação transformadora dos homens e das mulheres, em quaisquer contextos educativos, a
partir de uma perspectiva antropológica de cultura que considera a leitura de mundo como
ponto de partida para o desvelamento da realidade.
Por fim, tanto na obra Pedagogia da Autonomia, quanto na obra Pedagogia do
Oprimido, foi possível perceber que as concepções de Paulo Freire sustentam a construção de
uma educação humanizadora, a qual os sujeitos fazem parte do processo de ensino e
aprendizagem, como sujeitos que vivem em um coletivo, ajudando a constituí-lo por meio das
relações que estabelecem entre si, ao mesmo tempo em que constituem seus contextos. Assim,
por meio da relação entre a leitura de mundo dos educandos e a leitura da palavra, o professor
poderá transformar a sua prática educativa, problematizando o mundo com os alunos e
colegas de profissão, nos momentos de diálogos, que se caracterizam em reflexões e ações,
que possibilitam a transformação das pessoas, instigando-as a pensar sobre o seu papel na
sociedade e a sua importância como sujeitos produtores de culturas, valores e ideias.
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REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 50. ed. rev e atual :Rio de Janeiro: Paz e Terra,
2011.
LIMA. Telma Cristiane Sasso de; MIOTO Regina Célia Tamaso. Procedimentos
metodológicos na construção do conhecimento científico: a pesquisa bibliográfica. Rev.
Katál. Florianópolis v. 10 n. esp. p. 37-45 2007. Recebido em 20.02.2007. Aprovado em
03.04.2007. Disponível em:< www.scielo.br/pdf/rk/v10nspe/a0410spe.pdf >. Acesso em: 02
jun. 2017.