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© Direitos de Publicação Editora Thoth. Londrina/PR.


www.editorathoth.com.br e-mail: contato@editorathoth.com.br
Diagramação e Capa: Editora Thoth e Nabil Slaibi
Revisão: o autor
Editor Chefe: Bruno Fuga
Coordenador de Produção Editorial: Thiago Caversan Antunes

Conselho Editorial
Prof. Me. Bruno Augusto Sampaio Fuga Prof. Me. Thiago Caversan Antunes
Prof. Dr. Clodomiro José Bannwart Junior Prof. Dr. Celso Leopoldo Pagnan
Prof. Me. Thiago Moreira de Souza Sabião Prof. Dr. Fábio Fernandes Neves Benfatti
Prof. Me. Tiago Brene Oliveira Prof. Dr. Elve Miguel Cenci
Prof. Dr. Zulmar Fachin Prof. Dr. Bianco Zalmora Garcia
Prof. Me. Anderson de Azevedo Esp. Rafaela Ghacham Desiderato
Prof. Me. Ivan Martins Tristão Profª. Dr. Rita de Cássia Resquetti Tarifa Espolador
Prof. Dr. Osmar Vieira da Silva Prof. Me. Daniel Colnago Rodrigues
Profª. Dr. Deise Marcelino da Silva Prof. Dr. Fábio Ricardo R. Brasilino
Prof. Me. Erli Henrique Garcia Me. Aniele Pissinati
Prof. Me. Smith Robert Barreni Prof. Dr. Gonçalo De Mello Bandeira (Portugal)
Profª. Dra. Marcia Cristina Xavier de Souza Prof. Me. Arhtur Bezerra de Souza Junior
Prof. Me. Thiago Ribeiro de Carvalho Prof. Me. Henrico Cesar Tamiozzo
Prof. Me. Flávio Crocce Caetano Profª. Dr. Amini Haddad Campos
Profª. Me. Marion Bach

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

D598 Direito previdenciário: atualidades e tendências/ organizadores Renata S. Brandão
Canella, Sérgio Eduardo Canella. – Londrina, PR: Thoth, 2019.
305 p.

Inclui bibliografias.
ISBN 978-85-94116-32-1

1. Previdência social – Brasil – Legislação. 2. Previdência social rural. 3. Contribuição
previdenciária. I. Canella, Renata S. Brandão. II.Canella, Sérgio Eduardo.

CDD 344.8102



Ficha Catalográfica elaborada pela bibliotecária Rafaela Ghacham Desiderato
CRB 14/1437

Índices para catálogo sistemático
1. Previdência social : Legislação : 344.8102



Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização.
Todos os direitos desta edição reservados pela Editora Thoth. A Editora Thoth não se responsabiliza pelas
opiniões emitidas nesta obra por seu autor.




SOBRE OS ORGANIZADORES

RENATA BRANDÃO CANELLA
Advogada, graduada em Direito pela Universidade Estadual de Londrina (UEL),
Mestre em Processo Civil e Especialista em Direito Empresarial pela
Universidade Estadual de Londrina (UEL), Especialista em Direito do Trabalho
pela AMATRA, docente de Processo Civil e Direito Previdenciário na faculdade
UNINORTE nos anos de 2003 a 2007, escritora de artigos especializados,
palestrante, sócia e gestora do Escritório Brandão Canella Advogados
Associados, membro associado do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário
(IBDP), membro da Comissão de Direito Previdenciário da OAB Londrina de
2014 a 2016, presidente da Associação Brasileira dos Advogados
Previdenciários (ABAP)

SÉRGIO EDUARDO CANELLA
Advogado, graduado em Direito pela Universidade Estadual de Londrina (UEL),
Mestre em Direito Negocial e Especialista em Direito Empresarial pela
Universidade Estadual de Londrina (UEL), Especialista em Direito do Trabalho
pela AMATRA, docente de Processo Civil e Direito Empresarial na faculdade
UNOPAR nos anos de 2004 a 2007, escritor de artigos especializados, sócio e
gestor do Escritório Brandão Canella Advogados Associados.
SOBRE OS AUTORES

RENATA BRANDÃO CANELLA
Advogada, graduada em Direito pela Universidade Estadual de Londrina (UEL),
Mestre em Processo Civil e Especialista em Direito Empresarial pela
Universidade Estadual de Londri-na (UEL), Especialista em Direito do Trabalho
pela AMATRA, docente de Processo Civil e Direito Previdenciário na faculdade
UNINORTE nos anos de 2003 a 2007, escritora de artigos especializados,
palestrante, sócia e gestora do Escritório Brandão Canella Advogados
Associados, membro associado do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário
(IBDP), membro da Comissão de Direito Previdenciário da OAB Londrina de
2014 a 2016, presidente da Associação Brasileira dos Advogados
Previdenciários (ABAP)

SÉRGIO EDUARDO CANELLA
Advogado, graduado em Direito pela Universidade Estadual de Londrina (UEL),
Mestre em Direito Negocial e Especialista em Direito Empresarial pela
Universidade Estadual de Londrina (UEL), Especialista em Direito do Trabalho
pela AMATRA, docente de Processo Civil e Direito Empresarial na faculdade
UNOPAR nos anos de 2004 a 2007, escritor de artigos especializados, sócio e
gestor do Escritório Brandão Canella Advogados Associados.

ELISÂNGELA GUIMARÃES DE ANDRADE
Graduada em Direito pela Universidade Norte do Paraná. Pós-graduada em
Direito Tributário pelo Instituto Brasileiro de Estudos Tributários. Secretária da
Associação Brasilei-ra dos Advogados Previdenciários. Advogada associada ao
escritório Brandão Canella Advogados Associados.

EMERSON COSTA LEMES
Contador e pós-graduado em Direito do Trabalho e Previdenciário. Atuou por 20
anos com rotinas trabalhistas e previdenciárias, e desde 2006 ministra cursos,
palestras, aulas e treina-mentos nestes dois temas. Há mais de 10 anos atua como
perito judicial e extrajudicial nas áreas trabalhista, previdenciária e bancária
(CNPC 2344). Associado à APEPAR (Associação de Peritos, Avaliadores,
Mediadores, Conciliadores, Árbitros, Intérpretes e Interventores do Paraná),
exerce o cargo de 2º tesoureiro; no IBDP (Instituto Brasileiro de Direito
Previdenciário), atua como 1º Tesoureiro. É membro fundador do Observatório
de Gestão Pública de Londrina. Participou da criação do movimento Pela
Verdade na Previdência, e continua participando ativamente da discussão sobre a
reforma da previdência social brasileira. É professor convidado em programas de
pós-graduação de várias instituições: Atame (DF e GO), Damásio (SP),
FACCAR (PR), FAG (PR), IDCC (PR), IDS (RJ), IMED (RS), LFG (SP),
PUCPR (PR), Toledo (SP), Unicuritiba (PR), Unidavi (SC), Unipar (PR), entre
outras. Autor de livros, tem artigos publicados em obras coletivas e, desde 2016,
é vocalista da banda NB46.

ISABELA ROSSITTO JATTI
Graduada em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Pós-
graduada em Direito Previdenciário pela Universidade Estadual de Londrina.
Advogada associada ao escritório Brandão Canella Advogados Associados.

IAGO AUGUSTO FERREIRA BERTÃO
Advogado. Graduado em Direito pela Universidade Estadual de Londrina – UEL
Advogado associado ao escritório Brandão Canella Advogados Associados.

JAMILE SUMAIA SEREA KASSEM
Mestranda em Direitos da Personalidade pela Unicesumar. Pós-Graduada em
Direito Previdenciário pela Universidade Estadual de Londrina. Pós-Graduada
em Direito Aplicado pela Escola da Magistratura do Paraná. Possui graduação
em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Advogada.

JOÃO BADARI
Sócio fundador da Aith, Badari e Luchin Advogados. Graduado em Direito pela
UNI-FMU. Pós-graduado pela Faculdade Legale e pela Escola Paulista de
Direito. Especialista em Direito Público pelo Instituto Damásio de Jesus.
Cursando MBA em Direito Previdenciário na Faculdade Legale e MBA em
Previdência Social com direito do trabalho pela Instituição A Jurídica.

MALCON ROBERT LIMA GOMES
Graduado em Direito pela Universidade Estadual do Piauí. Especialista em
Direito Previdenciário. Professor de pós-graduações. Autor. Palestrante. Servidor
da Justiça Federal, Seção Judiciária do Piauí.

MURILO GURJÃO SILVEIRA AITH
Sócio da Aith, Badari e Luchin Sociedade de Advogados. Graduado em Direito
pela Fac-uldade Metropolitana Unidas (FMU). Pós-graduado em Direito
Previdenciário pela Escola Paulista de Direito Social (EPDS). Pós-graduado em
Direito Público pela Faculdade de Direito Damásio de Jesus. Pós-graduado em
Direito Tributário pela Unisal/SC. Membro da Comissão de Direito
Previdenciário da 38ª Subseção da OAB/Santo André. Membro do Comitê de
Seguro e Previdência da Associação Brasileira de Educadores Financeiros –
ABEFIN.

PEDRO PANNUTI
Advogado, Pós-Graduado em Direito Previdenciário e Processual Previdenciário
na PUC/PR. Graduado pela UFPR. E-mail: ppannuti@gmail.com.

RAFAELA AIEX PARRA
Advogada; Mestranda em Direito Negocial pela UEL/PR; Especialista em
Direito Aplicado pela EMAP; Pós-Graduanda em Agronegócios pela
USP/ESALQ; Aperfeiçoamento no MBA de Gestão Estratégica de Empresas
pelo ISAE/FGV; Representante da Sociedade Rural do Paraná nos Comitês de
Sustentabilidade e Leis e Regulamentos da Sociedade Rural Brasileira; Vice
Coordenadora da Comissão de Direito Agrário e Agronegócio da OAB
Londrina; Coordenadora Regional da UBAU – União Brasileira dos Agraristas
Universitários, no Estado do Paraná.

THIAGO LUCHIN
Advogado formado pela FMU/SP em 2008, sócio da Aith, Badari e Luchin
Sociedade de Advogados. É especialista em direito previdenciário, foi coautor da
obra “Desaposentação – Justiça Social para o Aposentado Brasileiro”.
Atualmente é membro da Comissão de Ética e Disciplina e Diretor Executivo da
Comissão de Direito Previdenciário da OAB de Santo André.

CRISTIANA GABRIELA BRANDÃO
Administradora de Empresas pela Universidade Filadélfia de Londrina. Personal
& Professional Coach pela Sociedade Brasileira de Coaching e Leader as Coach
pela Sociedade Brasileira de Coaching e Association for Coaching. Já atuou
como Gerente de Relacionamentos do Grupo Votorantim, hoje atua com
atendimentos de Life e Executive Coaching. Consultora de Empresas e
Palestrante.

CAROLINE ITO MARIANO DE SOUZA
Graduanda em Direito pelo Centro Universitário Filadélfia – UNIFIL, Pós-
Graduanda em Direito Civil e Direito Processual Civil pelo Centro Universitário
Filadélfia – UNIFIL. Aprovada no XXV Exame da Ordem dos Advogados do
Brasil.

LARISSA DOMINGUES CORREIA
Graduanda do curso de Direito da Universidade do Norte do Paraná. Aprovada
no XXVI Exame da Ordem dos Advogados do Brasil.

LUCAS ALBANO
Graduando em Direito pela Universidade Estadual de Londrina – UEL.
Aprovado no XXVI Exame da Ordem dos Advogados do Brasil.

ANA RITA DA SILVA VIEIRA
Graduanda do curso de Direito do Centro Universitário Filadélfia UNIFIL.

PREFÁCIO

Bertrand Russel nos ensinou que “quando um homem primitivo, nas
brumas da pré-história, guardou um naco de carne para o dia seguinte depois de
saciar a fome, aí estava nascendo a previdência”; pensar no futuro, no amanhã, e
principalmente se precaver para a próxima fase da vida é uma necessidade do ser
humano.
Com o advento da Revolução Industrial, surgem os contornos atuais do
chamado Direito do Trabalho, com a aprovação de Leis regulando as relações
entre empregadores e empregados, visando, sobretudo, à proteção dos últimos.
Porém, quando o cidadão perdia sua condição de trabalho, não havia quem o
protegesse; os Estados, então, passam a desenvolver formas de proteção social,
inspirando-se, na maioria dos casos, no modelo desenvolvido na Alemanha pelo
Chanceler Otto von Bismarck. Tal modelo se fixava em um tripé contributivo,
formado pelo governo, empregador e trabalhador; a partir de tais contribuições,
o sistema tinha condições de sustentar o cidadão quando este não tivesse mais
condições de se sustentar com os proventos obtidos em seu trabalho.
O Brasil adotou modelo semelhante a partir de 1923, quando foi publicada
a Lei Eloy Chaves, criando, em cada uma das empresas de estradas de ferro
existentes no país, uma caixa de aposentadoria e pensões para os respectivos
empregados. O sistema então criado não previa contribuições governamentais –
e hoje não é diferente: apenas cidadãos e empresas contribuem para que o
sistema se sustente.
Como em todas as áreas da existência humana, tal sistema protetivo
também evoluiu, acompanhando as mudanças da sociedade brasileira. Em 1988,
com o advento da Constituição Cidadã, o país também ganha um Sistema de
Seguridade Social, englobando todas as preocupações do Estado Brasileiro nas
áreas de previdência social, assistência social e saúde. Este Sistema conta com
um orçamento próprio, previsto também no texto constitucional, e que é
composto por contribuições feitas pelas empresas sobre folha de salários,
faturamento e lucro; contribuições feitas pelos trabalhadores e demais segurados;
parcela dos valores arrecadados por concursos de prognósticos; e imposto sobre
importações.
Temos, portanto, o Estado preocupado com a vida e a sobrevivência do
cidadão. Esta preocupação o leva a criar um sistema de proteção social,
sustentado em parte pelo próprio contribuinte que poderá se tornar, no segundo
momento, usuário desta proteção, seja requerendo um benefício por
incapacidade temporária para o trabalho, ou por incapacidade definitiva, ou por
idade avançada, ou ainda requerendo o sustento de seus dependentes, uma vez
que ele mesmo não tenha mais condições de sustentá-los.
Temos, igualmente preocupados, uma gama enorme de profissionais de
previdência, como advogados, atuários, contadores, economistas, assistentes
sociais, cientistas sociais, administradores, pessoas que estudam previdência
social e sua melhor forma de funcionamento e aplicação. Destacam-se entre
estes os estudiosos do Direito Previdenciário, ramo do Direito que se preocupa
com a aplicação das regras previdenciárias de forma justa. Este livro reúne,
capitaneados por minha querida amiga Renata Silva Brandão Canella, uma
pequena parte destes profissionais. Pessoas brilhantes, profundas conhecedoras
das áreas em que se propuseram a escrever, preparando artigos primorosos e que,
com toda certeza, servirão como referência para profissionais previdenciaristas
de todo o país.
Fiquei extremamente lisonjeado com o convite para prefaciar esta obra e
para tratar de um dos seus diversos temas. Espero que você, leitor, fique tão feliz
ao ler quanto eu quando fiquei ao ser convidado para estar no meio de pessoas
tão especiais, quanto os autores e organizadores desta obra!

Emerson Costa Lemes
Contador, Especialista em Direito do Trabalho e Direito Previdenciário

Sumário
SOBRE OS ORGANIZADORES
SOBRE OS AUTORES
PREFÁCIO
CAPÍTULO 1 APOSENTADORIA DA PESSOA COM
DEFICIÊNCIA
Introdução
1 Conceito de pessoa COM deficiência
2 Comprovação da deficiência
3 Benefícios previdenciários previstos na LC Nº 142/2013
3.1 Aposentadoria por idade da pessoa COM deficiência
3.2 Aposentadoria por tempo de contribuição da pessoa COM deficiência
4 Graus alternados de deficiência e períodos de atividade sem deficiência:
possibilidade de conversão
4.1 Alternância nos graus de deficiência
4.2 Conversão dos períodos com deficiência para a concessão das
aposentadorias por idade e por tempo de contribuição comuns
Considerações finais
Referências bibliográficas
CAPÍTULO 2
APOSENTADORIA POR IDADE HÍBRIDA
Introdução
1 Idade híbrida ou mista
1.1 Conceito
2 Do valor do benefício da aposentadoria por idade híbrida e fonte de custeio
3 Entendimento do INSS
4 Entendimento doutrinário
5 Entendimento jurisprudencial
Considerações finais
Referências bibliográficas
CAPÍTULO 3
APOSENTADORIA DO PRODUTOR RURAL
Introdução
1 Caracterização do produtor rural e a previsão quanto a seus recolhimentos
previdenciários
2 Dispensa da carência para o produtor rural, segurado especial, e a orientação
jurisprudencial correlata
3 Presença de recolhimentos sobre a comercialização da produção rural:
consequências
4 Condição de segurado urbano de membro do núcleo familiar: isso é
relevante para a aposentadoria do produtor rural?
4.1 Necessidade de início de prova material para demonstrar a
indispensabilidade da produção rural significativa
4.2 E se os rendimentos do consorte que exerça atividade urbana forem de
somente um salário mínimo?
Considerações finais
Referências bibliográficas
CAPÍTULO 4
FUNRURAL: OS ASPECTOS PREVIDENCIÁRIOS,
TRIBUTÁRIOS E OS TRAÇOS DA FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE
RURAL
Introdução
1 O modelo legal de propriedade rural no Brasil: a necessidade de adequação
da propriedade ao senso coletivo
2 FUNRURAL: do nascimento da cobrança às discussões atuais
Considerações finais
Referências bibliográficas
CAPÍTULO 5 CONTRIBUINTE INDIVIDUAL:
RECONHECIMENTO DE TEMPO E PAGAMENTO DE CONTRIBUIÇÕES
EM ATRASO
Introdução
1 Retrospecto histórico do contribuinte individual
2 O produtor rural pessoa física
3 O garimpeiro
4 O ministro de confissão religiosa
5 O brasileiro que trabalha no exterior para organismo oficial internacional
6 O empresário, o titular de empresa individual e o diretor de empresa
7 O autônomo
8 As contribuições do contribuinte individual à seguridade social
9 Os valores das contribuições devidas pelos contribuintes individuais
10 Reconhecimento de tempo de contribuição do contribuinte individual
11 O pagamento de contribuições em atraso
Referências bibliográficas
CAPÍTULO 6 EFICÁCIA DOS MEIOS DE PROVA NA
APOSENTADORIA ESPECIAL
Introdução
1 Traços característicos da aposentadoria especial
2 Aposentadoria especial e o direito intertemporal
3 Eficácia da prova
3.1 Enquadramento profissional e presunção da exposição
3.2 Periculosidade e a eficácia plena da prova
3.3 Documentos técnicos para a comprovação da exposição
Considerações finais
Referências bibliográficas
CAPÍTULO 7 ACIDENTE DE TRAJETO: A REFORMA
TRABALHISTA E OS IMPACTOS NO DIREITO PREVIDENCIÁRIO
Introdução
1 O acidente de trajeto na lei Nº 8.213/91
2 O acidente de trajeto e a responsabilidade do empregador no pacto laboral
3 O acidente de trajeto e os questionamentos da reforma trabalhista
Considerações finais
Referências bibliográficas
CAPÍTULO 8 ADICIONAL DE 25% NA APOSENTADORIA:
GARANTIA AOS APOSENTADOS DE TODAS AS MODALIDADES DE
APOSENTADORIA QUE COMPROVEM GRANDE INVALIDEZ
Introdução
1 Benefícios de previdência social e benefícios de assistência social
2 Incapacidade e aposentadoria por invalidez
3 Grande invalidez e adicional de 25% na aposentadoria
4 Princípais decisões judiciais sobre o adicional de 25% na aposentadoria
Considerações finais
Referências
CAPÍTULO 9 AÇÃO DE TODO O PERÍODO BÁSICO DE
CÁLCULO: BENEFÍCIO DA “VIDA TODA”
Introdução
1 Da consideração das contribuições vertidas pelo autor em todo o período
contributivo e não apenas após Julho/1994
2 Do direito ao melhor benefício
3 Documentação necessária à apuração da nova renda mensal inicial dos
segurados
4 Questões constitucionais
Considerações finais
Referências bibliográficas
CAPÍTULO 10 REAPOSENTAÇÃO: UMA REVISÃO
PREVIDENCIÁRIA FADADA AO FRACASSO OU NÃO
Introdução
1 O caráter contributivo e o princípio da solidariedade da previdência social
2 A diferença entre desaposentação e reaposentação
3 Teses favoráveis e contrárias à reaposentação
3.1 Princípio da legalidade
3.2 (Im)possibilidade da renúncia à aposentadoria
3.3 Restituição dos valores recebidos a título de aposentadoria
3.4 Princípio da prevalência da situação mais vantajosa ao segurado
4 Manifestações dos Tribunais Superiores quanto à matéria
Considerações finais
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAPÍTULO 11 REVISÃO DOS TETOS E O PRAZO
DECADENCIAL
1 Definição
2 Quem tem direito e qual a fundamentação
3 Óbice do prazo decadencial decenal do Art. 103 da Lei Nº 8.213/91
4 Da ação civil pública intentada, processo Nº 04911-28.2011.4.03.6183/SP, e
a contagem da prescrição quanto às parcelas vencidas
Considerações finais
Referências bibliográficas
CAPÍTULO 12 TRANSFORMAÇÃO DA APOSENTADORIA POR
IDADE EM APOSENTADORIA POR IDADE HÍBRIDA: REVISÃO DE
APOSENTADORIA
Introdução
1 Breve histórico
2 Modalidades de aposentadoria por idade
2.1 Aposentadoria por idade urbana
2.2 Aposentadoria por idade rural
2.3 Aposentadoria por idade híbrida ou mista: pressupostos
3 Revisão: transformação da aposentadoria por idade em aposentadoria por
idade híbrida
3.1 Da prova da atividade rural
Considerações finais
Referências bibliográficas
CAPÍTULO 13 RETROAÇÃO DA DATA DE INÍCIO DO
BENEFÍCIO: AÇÃO DO “MELHOR BENEFÍCIO”
Introdução
1 Da impossibilidade da aplicação do Art. 103, da Lei Nº 8.213/91, pela não
observância do melhor benefício no momento da concessão
2 Do preenchimento de requisitos e direito adquirido ao melhor benefício
3 Da tutela de evidência nos pedidos de retroação da data de início do
benefício
4 Questões constitucionais
Considerações finais
Referências bibliográficas
CAPÍTULO 14 REVISÃO DE BENEFÍCIOS COM ATIVIDADES
CONCOMITANTES NOS TERMOS DA LEI DE CUSTEIO
Introdução
1 A composição do salário de contribuição
2 Atividades concomitantes
3 Forma de cálculo adotada pelo INSS
4 Revisão do cálculo do benefício previdenciário concedido levando em conta
a somatória das atividades concomitantes nos termos da lei de custeio
Considerações finais
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAPÍTULO 15 PLANEJAMENTO DE APOSENTADORIA E
CONCESSÃO
1 Educação previdenciária
2 Pilares do direito previdenciário
3 Requerimento do benefício
4 Melhor benefício
5 Planejamento de aposentadoria
6 Passo a passo para elaborar um planejamento
7 Entendendo as dores
8 Cálculo da aposentadoria
9 Simulações
10 Investimento X retorno
Referências bibliográficas
CAPÍTULO 16
MARKETING JURÍDICO E A JORNADA DO CLIENTE: O QUE
ESPERAR DE UM ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA?
Introdução
1 A jornada do cliente
2 Conhecendo e entendendo seu cliente
3 Marketing jurídico: o seu produto é invisível
4 O marketing jurídico pessoal
5 Um pouco do modelo Disney de gestão aplicado a escritórios de advocacia
Considerações finais
Referências bibliográficas
CAPÍTULO 17
COACHING JURÍDICO: VERDADE, EMPATIA E PRESTAÇÃO
DE SERVIÇO DE QUALIDADE
Introdução
1 O processo
2 Deixando as regras claras
3 Uma única empresa
4 Ética no marketing jurídico
5 Equilibrando competências
6 E depois?
Referências bibliográficas
CAPÍTULO 18
HONORÁRIOS CONTRATUAIS NO DIREITO
PREVIDENCIÁRIO
Introdução
1 Das espécies de honorários
1.1 Dos honorários convencionados
2 Da cláusula quota litis
3 Dos honorários contratuais no direito previdenciário
Considerações finais
Referências bibliográficas
CAPÍTULO 19
EMPREENDEDORISMO, MARKETING JURÍDICO, GESTÃO
DE ESCRITÓRIOS DE ADVOCACIA E PASSOS PARA UMA ADVOCACIA
DE SUCESSO
Introdução
1 Especialização na advocacia
2 Networking
3 Profissionalismo
4 Proatividade
5 Time campeão
6 Clientes
7 Mind set de um advogado campeão
8 Marketing jurídico
9 Medir os resultados
Referências bibliográficas
CAPÍTULO 1

APOSENTADORIA DA PESSOA COM


DEFICIÊNCIA

ISABELA ROSSITTO JATTI
Graduada em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Pós-
graduada em Direito Previdenciário pela Universidade Estadual de Londrina.
Advogada associada ao escritório Brandão Canella Advogados Associados.
Introdução
A Emenda Constitucional (EC) nº 47, de 05/07/2005, ao dar nova redação
ao § 1º do art. 201 da Constituição Federal (CF), possibilitou a regulamentação,
por lei complementar, de adoção de critérios e requisitos diferenciados para a
concessão de aposentadorias aos segurados portadores de deficiência física.
Assim, o § 1º do art. 201 da Carta Magna veda:
A adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de aposentadoria
aos beneficiários do regime geral de previdência social, ressalvados os casos de
atividades exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a
integridade física e quando se tratar de segurados portadores de deficiência, nos
termos definidos em lei complementar.
Visando dar cumprimento ao comando constitucional, em 09/05/2013, foi
publicada a Lei Complementar (LC) Nº 142 que estabeleceu, no âmbito do
Regime Geral da Previdência Social (RGPS), a possibilidade de concessão da
aposentadoria por idade e por tempo de contribuição para as pessoas portadoras
de deficiência com requisitos concessórios diferenciados.
Posteriormente, em 03/12/2013, foi publicado o Decreto nº 8.145, que
incluiu a Subsecção IV-A ao Decreto nº 3.048/1999, detalhando a forma de
operacionalização dos aludidos benefícios e estabelecendo outras questões não
tratadas na lei complementar.
1 Conceito de pessoa COM deficiência
A Convenção Sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência patrocinada
pela Organização das Nações Unidas – ONU, aprovada pelo Brasil por
intermédio do Decreto Legislativo nº 186, de 09 de julho de 2008, nos termos do
§ 3º do art. 5º da Constituição Federal e, portanto, com equivalência de emenda
constitucional, trouxe ao ordenamento jurídico brasileiro novo conceito de
pessoa com deficiência.
O art. 1 da referida Convenção define pessoa com deficiência como:
Aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental,
intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem
obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições
com as demais pessoas.
Tal conceito foi reproduzido pelo art. 2º da Lei Complementar nº
142/2013 e consta também no § 3º do art. Art. 70-D do Decreto nº 3.048/99,
incluído pelo Decreto nº 8.145/2013.
Infere-se, assim, que o conceito de pessoa com deficiência para fins de
concessão dos benefícios previstos na LC nº 142/2013 não implica,
exclusivamente, incapacidade e invalidez. Pelo contrário, a definição de pessoa
com deficiência decorre de uma análise multidisciplinar que verifica não apenas
as limitações físicas do segurado, mas também sua reação e interação no meio
social, bem como a possibilidade de participação plena na sociedade em
igualdade com as demais pessoas.
Além de não equiparar deficiência com incapacidade, o novo conceito
trazido pela Convenção deixou de restringir deficiência ao aspecto médico,
incorporando também aspecto social, conforme observa Ricardo Tadeu Marques
da Fonseca:
(...) o próprio conceito de pessoa com deficiência incorporado pela Convenção, a
partir da participação direta de pessoas com deficiência levadas por Organizações
Não Governamentais de todo o mundo, carrega forte relevância jurídica porque
incorpora na tipificação das deficiências, além dos aspectos físicos, sensoriais,
intelectuais e mentais, a conjuntura social e cultural em que o cidadão com
deficiência está inserido, vendo nestas o principal fator de cerceamento dos
direitos humanos que lhe são inerentes. [1]
Desta feita, muitas pessoas são capazes para o trabalho e para a vida
independente; porém, o impedimento de longo prazo que apresentam pode
obstruir a participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições
com as demais pessoas.
Toma-se como exemplo o indivíduo com visão monocular. Apesar da
cegueira em um dos olhos não gerar invalidez total, tal condição acarreta
redução da percepção de profundidade, o que afeta o equilíbrio e diminui o
campo de visão periférico, fazendo o que o indivíduo encontre maior dificuldade
na realização de atividades cotidianas do que outra pessoa considerada saudável,
ensejando o enquadramento como pessoa com deficiência.
Sobre o assunto, inclusive, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) já decidiu
que “a visão monocular cria barreiras físicas e psicológicas na disputa de
oportunidades no mercado de trabalho”[2] o que garante ao portador de visão
monocular o direito de concorrer em concurso público às vagas reservadas aos
deficientes, entendimento que acarretou na edição da Súmula nº377.
2 Comprovação da deficiência
O art. 4º da LC nº 142/2013 expressamente prevê a necessidade de
avaliações médica e funcional como requisitos para a concessão dos benefícios
previdenciários de aposentadoria por idade e por tempo de contribuição da
pessoa com deficiência.
A Portaria Interministerial SDH/MPS/MF/MOG.AGU nº 01, de
27/01/2014 orienta que a avaliação médica e a funcional engloba a perícia
médica e o serviço social, objetivando examinar o segurado e fixar a data
provável do início da deficiência e o respectivo grau, bem como identificar a
ocorrência de variação no grau de deficiência e indicar os respectivos períodos
em cada grau.
O § 1º do art. 2º do Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº
13.146/2015) estabelece que a avaliação da deficiência será biopsicossocial,
realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar e considerará os
impedimentos nas funções e nas estruturas do corpo; os fatores socioambientais,
psicológicos e pessoais; a limitação no desempenho de atividades, e a restrição
de participação
Em regra, a perícia biopsicossocial é realizada por dois peritos: o médico e
a assistente social, que são encarregados pela avaliação do segurado.
A avaliação funcional é realizada com base no conceito de funcionalidade
disposto na Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde
- CIF, da Organização Mundial de Saúde, mediante aplicação do Índice de
Funcionalidade Brasileiro Aplicado para Fins de Aposentadoria - IF-BrA. Já a
avaliação das barreiras externas será feita por meio de entrevista com o segurado
e, se for necessário, com as pessoas que convivem com ele, podendo ser
realizadas ainda visitas ao local de trabalho[3].
Na prática, a avaliação funcional, ao utilizar o Índice de Funcionalidade
Brasileiro (IF-BrA), avalia 41 atividades realizadas pelo segurado conforme o
grau de independência para a realização. Dentre as atividades avaliadas, citam-
se: regulação da micção e defecção; relacionamentos íntimos; preparar refeições
tipo lanche; cuidar de partes do corpo; deslocar-se dentro de edifícios que não a
própria casa, dentre outras.
As atividades são pontuadas na escala de 100 a 25, da seguinte forma:
• 25 pontos: Não realiza a atividade ou é totalmente dependente;
• 50 pontos: Dependência parcial de terceiros - Realiza a atividade com o
auxílio de terceiros, participando de alguma etapa da atividade, ou se for
supervisionado/incentivado para a realização de determinada tarefa;
• 75 pontos: Independência modificada - Realiza a atividade de forma
adaptada (necessidade de modificação do ambiente ou na forma de
realização), diferente do habitual ou mais lentamente. Havendo adaptações,
não necessita do auxílio de terceiros nem para a colocação;
• 100 pontos: Independência completa - Realiza a atividade de forma
independente, sem adaptação, modificação ou redução de velocidade.
Cabe à avaliação médica averiguar, além da documentação médica, as
barreiras e impedimentos físicos do segurado na realização de determinada tarefa
e a interação da pessoa em sociedade a partir de suas limitações. Os
impedimentos são determinados pelo perito médico e poderão ser de 05 tipos, a
saber: auditivo, intelectual/cognitivo, físico/motor, sensorial/visual e mental.
Por fim, após a avaliação médica e funcional, somam-se a pontuações de
ambos os peritos e, quanto menor a pontuação, maior o grau de deficiência,
conforme tabela:
GRAU DE DEFICIÊNCIA PONTUAÇÃO
Grave Menor ou igual a 5.739
Maior ou igual a 5.740 e menor ou
Moderada
igual 6.354
Maior ou igual a 6.355 e menor ou
Leve
igual 7.584
Não há deficiência Maior ou igual a 7.585

Cumpre ressaltar que, apesar da regulamentação da aposentadoria especial
dos segurados portadores de deficiência ter surgido somente com a edição da LC
nº 142/2013, a existência de deficiência anterior à sua vigência, em 09/11/2013,
pode ser comprovada para concessão dos benefícios previstos na referida norma.
Nesse caso, conforme expressamente previsto nos §§ 1º e 2º do art. 6º da
LC nº 142/2013, na primeira avaliação, deve-se certificar a existência de
deficiência anterior à data da vigência da Lei Complementar, inclusive quanto ao
grau e a data provável do início, não se admitindo, para tanto, a prova
exclusivamente testemunhal.
Assim, conforme exemplifica Carlos Alberto Pereira de Castro e João
Batista Lazzari, uma segurada portadora de deficiência moderada que foi
contratada em 10/11/2000, com base na cota de deficientes (art. 93 da Lei nº
8.213/99), poderá, em 10/11/2024, se não houve interrupção do vínculo
empregatício e/ou do recolhimento das contribuições previdenciárias, requerer a
aposentadoria prevista no art. 3º, inciso II, da LC nº 142/2013[4].
Assim, é possivel observar que a realização de perícia é essencial à
concessão da aposentadoria especial dos segurados portadores de deficiência,
uma vez que é ela que irá determinar o grau de deficiência do segurado.
3 Benefícios previdenciários previstos na LC Nº 142/2013
A LC nº 142/2013 prevê duas espécies de aposentadorias com critérios
diferenciados para as pessoas com deficiência no âmbito do Regime Geral da
Previdência Social, tais quais: Aposentadoria por Idade e Aposentadoria por
Tempo de Contribuição.
Apesar de a lei complementar não ter especificado o período de carência
para a concessão dos benefícios, aplica-se a regra geral da Lei nº 8.213/91, que
estabelece a exigência mínima de 180 contribuições. No caso, a aplicação
subsidiária da Lei de Benefícios do Regime Próprio está prevista no art. 9º,
inciso IV, da LC nº 142/2013.
Também no que concerne à data de início do benefício, a LC nº 142/2013
não fixou regra específica, adotando-se a regra geral da Lei nº 8.213/91. Assim,
ambos os benefícios serão devidos ao empregado, inclusive o doméstico, a partir
da data do desligamento do emprego (quando requerido até 90 dias depois deste)
ou da data do requerimento (quando não houver desligamento do emprego ou
quando requerido após 90 dias) e, para os demais segurados, desde a data do
requerimento.
Conforme previsto no art. 70-A do Decreto nº 3.048/99, os benefícios de
aposentadoria por idade e por tempo de contribuição da pessoa com deficiência
somente serão concedidos se o segurado comprovar a condição de deficiente no
momento do requerimento administrativo ou quando implementado os
requisitos exigidos.
Impende frisar que a concessão de ambos benefícios não implica
reconhecimento de invalidez e, portanto, o segurado aposentado pode
permanecer em atividade.
Carlos Alberto Pereira de Castro e João Batista Lazzari destacam ainda
que não se aplica o disposto no art. 57, § 8º, da Lei nº 8.213/91, o qual veda a
continuidade de atividade ou operação sujeita a agentes nocivos por parte do
segurado que obtém aposentadoria especial, posto que essa regra, além da
duvidosa e discutida constitucionalidade, destina-se exclusivamente às
aposentadoria especias decorrentes do exercício de atividades com prejuízo à
saúde ou à integridade física e, não sendo regra geral, não pode ser adotada para
as aposentadorias previstas na LC nº 142/2013[5].
Ainda, é possível ao segurado com deficiência a percepção de qualquer
outra espécie de aposentadoria prevista na Lei nº 8.213/91 que lhe seja mais
vantajosa do que as opções apresentadas na LC nº 142/2013, desde que
cumpridos os requisitos. Por exemplo, caso o segurado fique inválido à obtenção
de aposentadoria por invalidez, cujo percentual é de 100% do salário de
benefício, poderá será mais vantajosa do que a concessão da aposentadoria por
idade do deficiente.
3.1 Aposentadoria por idade da pessoa COM deficiência
O inciso IV, do art. 3º da LC nº 142/3013, trata do benefício de
aposentadoria por idade urbana, o qual será concedido aos homens aos 60 anos
de idade e às mulheres aos 55 anos idade. Há, portanto, redução de cinco anos no
quesito etário em comparação à aposentadoria por idade urbana, prevista no art.
48 da Lei nº 8.213/91.
Exige-se, contudo, a comprovação de 15 anos trabalhados na condição de
pessoa com deficiência, independentemente do grau de deficiência (leve,
moderada ou grave).
O referido benefício pode ser concedido a todas categorias de segurados.
O § 3º do art. 70-F do Decreto nº 3.048/1999 possibilita, para a concessão
da aposentadoria por idade da pessoa com deficiência, a conversão do período de
exercício de atividade sujeita a condições especiais que prejudiquem a saúde ou
a integridade física, cumprido na condição de pessoa com deficiência,
exclusivamente para efeito de cálculo do valor da renda mensal.
O art. 8º, inciso II, da LC nº 142/2013, estabelece que o valor da
aposentadoria por idade observará o disposto no art. 29 da Lei nº 8.213/91, com
aplicação do percentual de 70% mais 1% do salário de benefício por grupo de
12 contribuições mensais até o máximo de 30%.
Desta feita, a apuração do salário de benefício segue a média dos 80%
maiores salários de contribuição desde julho de 1994, com observância do
mínimo divisor, para os segurados filiados antes da Lei nº 9.876/99, com a
aplicação do respectivo percentual (art. 8º, inciso II, da LC nº 142/2013) e
incidência do fator previdenciário se resultar em renda mensal de valor mais
elevado (art. 9º, inciso I, da LC nº 143/2013).
3.2 Aposentadoria por tempo de contribuição da pessoa COM deficiência
O art. 3º, incisos I, II e III da LC nº 142/2013 prevê a possibilidade de
concessão de aposentadoria por tempo de contribuição ao segurado com
deficiência, sendo que o grau da deficiência implicará maior ou menor número
de contribuições exigidos.
Assim, a aposentadoria por tempo de contribuição será concedida:
• Aos 25 (vinte e cinco) anos de tempo de contribuição, se homem, e 20
(vinte) anos, se mulher, no caso de segurado com deficiência grave;
• Aos 29 (vinte e nove) anos de tempo de contribuição, se homem, e 24
(vinte e quatro) anos, se mulher, no caso de segurado com deficiência
moderada;
• Aos 33 (trinta e três) anos de tempo de contribuição, se homem, e 28
(vinte e oito) anos, se mulher, no caso de segurado com deficiência leve.
Dessa maneira, o tempo de contribuição exigido para a concessão do
benefício de aposentadoria por tempo de contribuição do deficiente dependerá
do grau de deficiência do segurado aferido pela avaliação funcional e médica.
Diversamente do previsto para a concessão da aposentadoria por idade da
pessoa com deficiência, o art. 10 da LC nº 142/2013 e o art. 70-F do Decreto nº
3.048/99 vedam a cumulação da redução do tempo de contribuição para a
aposentadoria do deficiente, em relação ao mesmo tempo de contribuição, com a
redução prevista para o trabalhador exposto a agentes nocivos.
Nesse sentido, se o segurado com deficiência também estava exposto a
algum agente nocivo, não pode ter duas reduções no tempo de contribuição, qual
seja, por força do agente nocivo e por deficiência. Nesse caso, cabe ao segurado
a opção de escolha entre a redução da atividade sob condições especiais ou a
redução da atividade como deficiente.
Cabe ressaltar, contudo, que essa vedação aplica-se apenas quando se
tratar de mesmo período contributivo. Portanto, se os períodos contributivos
forem diferentes, não há qualquer proibição em converter um ou mais períodos
pela atividade especial e outro pelo exercício laboral como deficiente.
Quanto ao valor do benefício, o art. 8º, da LC nº 142/2013 estabelece que
o valor da aposentadoria observará o disposto no art. 29 da Lei nº 8.213/91 e, no
que concerne à aposentadoria por tempo de contribuição do deficiente, o inciso I
prevê a aplicação do percentual de 100%.
Desta feita, a apuração do salário de benefício segue a média dos 80%
maiores salários de contribuição desde julho de 1994, com observância do
mínimo divisor, para os segurados filiados antes da Lei nº 9.876/99, com a
aplicação do respectivo percentual (art. 8º, inciso I, da LC nº 142/2013).
O fator previdenciário, assim como ocorre no caso da aposentadoria por
idade do deficiente, não será aplicado, salvo se dele resultar renda mais elevada
(art. 9º, inciso I, da LC nº 143/2013).
4 Graus alternados de deficiência e períodos de atividade sem deficiência:
possibilidade de conversão
É possível e comum que o trabalhador, no curso de sua vida contributiva,
torne-se deficiente ou até mesmo tenha alterado o grau de deficiência.
Antevendo essa situação, a LC nº 143/2013, em seu art. 7º, possibilitou o
ajustamento (ou conversão) do período em que o segurado laborou sem
deficiência e dos períodos em que houve alternância nos graus de deficiência.
Os índices a serem utilizados para a conversão dos períodos trabalhados
com determinado grau de deficiência para outro que, porventura, o segurado se
encontre, bem como para período sem deficiência, foram estabelecidos pelo
Decreto nº 8.144/2013, que incluiu o art. 70-E ao Decreto nº 3.048/99.
O referido decreto trouxe ainda o conceito de grau de deficiência
preponderante, explicado pelo parágrafo primeiro do art. 70-E como sendo
aquele em que ocorreu de o segurado cumpriu maior tempo de contribuição.
Cabe destacar que só haverá conversão dos períodos vertidos ao Regime
Geral da Previdência Social (RGPS), não havendo previsão para conversão dos
períodos de contribuição do Regime Próprio (RPPS).
4.1 Alternância nos graus de deficiência
Quando o segurado comprovar a deficiência durante todo o tempo de
contribuição exigido, porém, apresentar alternância no grau de deficiência, o art.
7º da LC nº 142/2013 possibilita a conversão de tempo qualificado para
qualificado, levando-se em conta o grau de deficiência preponderante, que,
conforme conceito trazido pelo Decreto nº 8.145/2013, é aquela em que o
segurado cumpriu o maior tempo contributivo.
A solução adotada pela lei complementar, cujos índices de conversão
foram estabelecidos pelo Decreto nº 8.145/2013, que incluiu o art. 70-E ao
Decreto nº 3.048/99, é similar à regra prevista no art. 66 do Decreto nº 3.048/99,
que estabelece regras de conversão para o segurado que exerceu sucessivamente
duas ou mais atividades sujeitas a condições especiais sem complementar em
qualquer delas o prazo mínimo exigido[6].
A proporcionalidade e a conversão dos períodos encontram-se previstas
art. 70-E do Decreto nº 3.048/99 da seguinte forma:
MULHER
TEMPO A MULTIPLICADORES
CONVERTER Para 20 Para 24 Para 28 Para 30
De 20 anos 1,00 1,20 1,40 1,50
De 24 anos 0,83 1,00 1,17 1,25
De 28 anos 0,71 0,86 1,00 1,07
De 30 anos 0,67 0,80 0,93 1,00



HOMEM

TEMPO A MULTIPLICADORES
CONVERTER Para 25 Para 29 Para 33 Para 35
De 25 anos 1,00 1,16 1,32 1,40
De 29 anos 0,86 1,00 1,14 1,21
De 33 anos 0,76 0,88 1,00 1,06
De 35 anos 0,71 0,83 0,94 1,00


Como exemplo, toma-se um segurado, homem, que iniciou a vida
contributiva já com deficiência, apresentando deficiência leve no período de
01/01/1982 a 31/12/2004 (22 anos) e deficiência moderada no período de
01/01/2005 a 31/12/2015 (10 anos). O grau preponderante é o leve - período no
qual o segurado permaneceu por maior tempo contribuindo - e o período a ser
convertido para esse grau é o de deficiência moderada. Conforme tabela acima, a
fim de converter o período de deficiência moderada (que exige 29 anos de tempo
de contribuição para homem) para leve (que exige 33 anos de tempo de
contribuição para homem), aplica-se o índice de 1,14. Assim, multiplicando-se o
período de 01/01/2005 a 31/12/2015 (10 anos) por 1,14, atinge-se 11,4 anos, por
meio dos quais, somados ao tempo contribuído na condição de pessoa com
deficiência leve (22 anos), restam atingidos os 33 anos de contribuição
necessários para a concessão da aposentadoria por tempo de contribuição do
segurado que apresenta deficiência leve.
No referido exemplo, se tratando de segurada mulher, o multiplicador seria
de 1,17 (de deficiência moderada para leve).
Cumpre observar ainda que é possível, para a concessão dos benefícios
previstos na LC nº 143/2013, a conversão do tempo rural, tempo comum e tempo
especial. Ainda, os períodos em que o segurado esteve em gozo de benefício por
incapacidade, desde que intercalado com períodos contributivos, podem ser
convertidos.
Em tais casos, os índices previstos no art. 70-E do Decreto nº 3.048/99
atuarão como um redutor do tempo. Por exemplo, uma mulher que trabalhou
durante o intervalo de 01/01/1960 a 31/12/1965 (05 anos) na zona rural, na
condição de segurada especial e, ao iniciar sua vida contributiva, no ano de
1970, apresentava deficiência grave. Nesse caso, o período laborado no meio
rural, tido como comum, isto é, sem deficiência, pode ser convertido para
deficiência grave mediante aplicação do fator 0,67, com vista à concessão do
beneficio de aposentadoria aos 20 anos de tempo de contribuição (tempo
necessário ao deferimento da aposentadoria por tempo de contribuição da
segurada mulher com deficiência grave).
4.2 Conversão dos períodos com deficiência para a concessão das
aposentadorias por idade e por tempo de contribuição comuns
É possível ainda a aplicação da LC nº 142/2013 aos segurados - pessoas
que iniciaram a vida contributiva sem qualquer deficiência, mas que, por alguma
fatalidade, passaram a tê-la. Nessa situação, é pouco provável que o segurado
implemente os anos de contribuição exigidos pela lei complementar, sem que
antes se atinjam os requisitos para a aposentadoria por tempo de contribuição
comum.
Assim, caso o segurado não implemente os requisitos para a aposentadoria
na condição de deficiente, existe a possibilidade de conversão dos períodos
laborados na condição de pessoa com deficiência para a concessão das
aposentadorias por idade e por tempo de contribuição comum, previstas na Lei
nº 8.213/91.
Para tanto, utiliza-se a tabela do art. 70-E do Decreto nº 3.048/99:
MULHER
MULTIPLICADORES
TEMPO A CONVERTER
Para 20 Para 24 Para 28 Para 30
De 20 anos 1,00 1,20 1,40 1,50
De 24 anos 0,83 1,00 1,17 1,25
De 28 anos 0,71 0,86 1,00 1,07
De 30 anos 0,67 0,80 0,93 1,00



HOMEM
MULTIPLICADORES
TEMPO A CONVERTER
Para 25 Para 29 Para 33 Para 35
De 25 anos 1,00 1,16 1,32 1,40
De 29 anos 0,86 1,00 1,14 1,21
De 33 anos 0,76 0,88 1,00 1,06
De 35 anos 0,71 0,83 0,94 1,00


Infere-se que a tabela prevê a conversão do tempo de contribuição com
deficiência para tempo de contribuição sem deficiência, mediante aplicação dos
fatores de 1,50 (deficiência grave), 1,25 (deficiência moderada) e 1,07
(deficiência leve) para mulher, e dos fatores de 1,40 (deficiência grave), 1,21
(deficiência moderada) e 1,06 (deficiência leve) para os homens.
A título de ilustração, menciona-se um segurado que possui 17 anos de
contribuição para o RGPS e, após sofrer acidente de carro, trabalhou por mais 15
anos na acometido de deficiência moderada, implementando, assim, 32 anos de
contribuição. Nesse caso, não é possível a aposentação prevista no inciso II, do
art. 3º da LC nº 142/2013, posto que se exige do homem 29 anos de tempo de
contribuição laborados com deficiência moderada.
É possível, contudo, a conversão dos períodos trabalhados de duas formas.
A primeira possibilidade é a conversão do período trabalhado como deficiente
(15 anos) para tempo comum, mediante a aplicação do fator de 1,21, o que
resultará em acréscimo de 03 anos. Assim, o segurado passa a contar com 17
anos de tempo comum e 18 anos como deficiente, atingindo 35 anos de
contribuição, tempo suficiente para a concessão da aposentadoria por tempo de
contribuição comum. Nessa hipótese, exceto se atingida a pontuação prevista no
art. 29-C da Lei nº 8.213/91, há incidência do fator previdenciário.
A segunda hipótese é a conversão do tempo exercido sem deficiência, 17
anos (tempo comum), em tempo qualificado, mediante aplicação do fator de
0,83, que reduzirá o tempo em 2,89. O segurado passa a ter 14,11 anos de tempo
comum convertido para qualificado (17 anos - 2,89 anos) e 15 anos de tempo
laborado com deficiência, totalizando 29,11 anos de tempo qualificado, sendo os
29 anos previstos no inciso II, do art. 3º da LC 142/2013, para a deficiência
moderada. Nesse caso, o fator previdenciário será aplicado somente se aumentar
o valor do benefício.
Com efeito, a conversão do tempo laborado com a deficiência para tempo
comum visa facilitar a percepção de benefício previdenciário aos trabalhadores
que exerceram atividade laborativa na condição deficiente por certo período;
porém, não implementam, de forma isolada, os requisitos necessários à
concessão dos benefícios previstos na LC nº 142/2013.
Considerações finais
A fim de assegurar o tratamento diferenciado assegurado pelo art. 201, § 1º
da Constituição Federal, aos portadores de deficiência foi editada a Lei
Complementar nº 142/2013, que, juntamente com o Decreto nº 8.145/2013, o
qual incluiu a Subsecção IV-A ao Decreto nº 3.048/1999, regula a concessão da
aposentadoria da pessoa com deficiência com critérios diferenciados em relação
aos demais segurados da Previdência Social.
O conceito de deficiência adotado para a concessão dos benefícios
previstos na lei complementar é idêntico ao previsto no art. 1º da Convenção
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da ONU, que considera pessoa
com deficiência aquela que tem impedimentos de longo prazo de natureza física,
mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras,
podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de
condições com as demais pessoas e, portanto, não implica, exclusivamente,
incapacidade e invalidez.
A condição de deficiência do segurado é comprovada por avaliação médica
e funcional que visa aferir o grau de deficiência, se leve, moderado ou grave,
sendo passível de variação, além de fixar a data de início da deficiência.
A LC nº 142/2013 assegura a pessoa com deficiência duas espécies de
aposentadorias com critérios diferenciados para o RGPS: Aposentadoria por
Idade e Aposentadoria por Tempo de Contribuição.
Apesar de a lei complementar não ter especificado a carência, para ambos
os benefícios exige-se a carência mínima de 180 contribuições e data de início
observa-se a regra geral prevista na Lei nº 8.213/91.
A aposentadoria por idade da pessoa com deficiência é concedida com a
redução de cinco anos no quesito etário em comparação à aposentadoria por
idade urbana da Lei nº 8.213/1991 e exige-se que o segurado tenha trabalhado
por 15 anos na condição de pessoa com deficiência, independentemente do grau.
Quanto à aposentadoria por tempo de contribuição, é garantindo ao
segurado portador de deficiência uma redução no requisito contributivo a
depender do grau de deficiência aferido pela avaliação funcional e médica.
Constatada a alternância nos graus de deficiência pela avaliação médica e
funcional, os parâmetros para a concessão da aposentadoria serão
proporcionalmente ajustados, levando-se em conta a deficiência preponderante.
O segurado com deficiência que não implementar os requisitos para as
aposentadorias previstas na lei complementar poderá converter os períodos
laborados na condição de pessoa com deficiência para a concessão das
aposentadorias por idade e por tempo de contribuição comum previstas na Lei nº
8.213/91.
Merece atenção os segurados que recebem ou receberam auxílio-acidente
(antigo auxílio-suplementar). O benefício é concedido como indenização pela
perda parcial e permanente da capacidade laborativa e, portanto, pode ser um
indício de deficiência que, se comprovada, pode possibilitar a concessão dos
benefícios previstos na lei complementar ou ainda a conversão do período
laborado com deficiência para tempo comum para a concessão das
aposentadorias com regras gerais.
É possível ainda a revisão das aposentadorias concedidas após o advento
da lei complementar, caso o segurado seja pessoa com deficiência e não tenha
indicado essa condição quando do requerimento do benefício.
Referências bibliográficas
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1988. Documento eletrônico disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>
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da Previdência Social - RPS, aprovado pelo Decreto no 3.048, de 6 de maio de
1999, para dispor sobre a aposentadoria por tempo de contribuição e por idade
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BRASIL, Lei Complementar nº 142, de 08 de maio de 2013. Regulamenta o § 1o
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CAPÍTULO 2

APOSENTADORIA POR IDADE HÍBRIDA

ELISÂNGELA GUIMARÃES DE ANDRADE
Graduada em Direito pela Universidade Norte do Paraná. Pós-graduada em
Direito Tributário pelo Instituto Brasileiro de Estudos Tributários. Secretária da
Associação Brasileira dos Advogados Previdenciários. Advogada associada ao
escritório Brandão Canella Advogados Associados.
Introdução
Com o presente artigo, haverá primeiramente a explanação do motivo e a
necessidade pela qual surgiu a aposentadoria por idade híbrida ou mista, o
conceito desta, trazido com a inovação da Lei nº 11.718/2008, que alterou o
artigo 48, §3º, da Lei nº 8.213/91, o entendimento rígido do Instituto Nacional
do Seguro Social (INSS) e as recentes decisões dos Tribunais e entendimentos
mais facilitadores. Para tanto, é necessária a implementação de alguns requisitos,
os quais são discorridos ao longo deste estudo.
1 Idade híbrida ou mista
A aposentadoria por idade híbrida ou mista surgiu com a necessidade de
atender à determinada contingência de segurados, que, por terem exercido por
um determinado período o trabalho rural e o trabalho urbano, não
implementaram a carência necessária, estabelecida no art.142 da Lei nº 8.213/91,
tampouco alcançariam a aposentadoria por idade urbana ou rural, ambas do Art.
48 § 1º e 2º, sucessivamente, ou seja, não preenchem os requisitos para a tão
sonhada aposentadoria por idade, sendo necessária a mescla de ambos os
períodos para que o segurado faça jus à aposentadoria por idade híbrida ou
mista.
Contudo, embora seja permitida a mescla de ambos os períodos, rural e
urbano, para que se alcance a carência mínima de 180 contribuições mensais e a
comprovação de trabalho após a mescla dos períodos rural e urbano, o segurado
deverá, se homem, ter no mínimo 65 anos de idade e, se mulher, no mínimo 60
anos de idade.
1.1 Conceito
Repete-se que a aposentadoria por idade híbrida ou mista vem para
salvaguardar o direito daqueles que primeiramente exerceram atividade rural e
migraram para o meio urbano e, ainda que haja discussão acerca do assunto,
igualmente daqueles que por algum motivo migraram do âmbito urbano para o
rural. O tema é vasto para discussões, como se vê adiante.
Até a data de 20/08/2008, os segurados teriam que implementar os
requisitos para a aposentadoria por idade em um único período, seja ele urbano
ou rural. Veja-se o disposto no art. 48, §§ 1º e 2º, da Lei n 8.213/91, o qual
demonstra que somente existiam as aposentadorias por idade exclusivamente
rural ou urbana:
Art. 48. A aposentadoria por idade será devida ao segurado que, cumprida a
carência exigida nesta Lei, completar 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se
homem, e 60 (sessenta), se mulher. (Redação dada pela Lei nº 9.032, de 1995)
§ 1º. Os limites fixados no caput são reduzidos para sessenta e cinqüenta e cinco
anos no caso de trabalhadores rurais, respectivamente homens e mulheres,
referidos na alínea a do inciso I, na alínea g do inciso V e nos incisos VI e VII do
art. 11. (Redação Dada pela Lei nº 9.876, de 26.11.99).
§ 2º. Para os efeitos do disposto no § 1o deste artigo, o trabalhador rural deve
comprovar o efetivo exercício de atividade rural, ainda que de forma descontínua,
no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício, por tempo igual
ao número de meses de contribuição correspondente à carência do benefício
pretendido, computado o período a que se referem os incisos III a VIII do § 9o do
art. 11 desta Lei.
Pois bem, com o êxodo rural, e devido à escassez de trabalho no campo,
ou por buscarem melhorias de vida, o Congresso Nacional, na data de
20/08/2008, sentiu a necessidade de amparar esses trabalhadores que migraram
do campo para a cidade e que, por este motivo, não conseguiriam implementar a
carência necessária em um único período, seja no urbano ou rural. Então, houve
a inovação ao art. 48, com a inclusão do § 3º, introduzido pela Lei nº
11.718/2008. Nasce, com isso, a modalidade de aposentadoria híbrida ou mista,
in verbis:
§ 3º. Os trabalhadores rurais de que trata o § 1º deste artigo que não atendam ao
disposto no § 2º deste artigo, mas que satisfaçam essa condição, se forem
considerados períodos de contribuição sob outras categorias do segurado, farão jus
ao benefício ao completarem 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e 60
(sessenta) anos, se mulher.
A lei não faz restrição se o último trabalho foi na zona rural ou no âmbito
urbano, pois os requisitos para a concessão da aposentadoria por idade híbrida
ou mista são a idade mínima de 65 anos para homem e 60 anos para mulher, bem
como a carência exigida no art. 142 da Lei nº 8.213/91, conforme o ano de
implementação das condições e meses de contribuição exigidos. Importante
ressaltar que não há que se falar em decréscimo de idade em relação ao
trabalhador urbano, pois a totalidade do trabalho não foi exercida no âmbito
rural.
2 Do valor do benefício da aposentadoria por idade híbrida e fonte de
custeio
Nas palavras do nobre Professor Sérgio Martins:
O Direito da Seguridade Social é um conjunto de princípios, de regras e de
instituições destinado a estabelecer um sistema de proteção social aos indivíduos
contra contingências que os impeçam de prover as suas necessidades pessoais
básicas e de suas famílias, integrado por ações de iniciativa dos Poderes Públicos e
da sociedade, visando assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à
assistência social. [7]
Defende o professor Wagner Balera, que “trata-se de verdadeiro sistema
que confere cobertura a praticamente todos os riscos sociais mais relevantes:
doença, idade avançada, invalidez, morte, reclusão, maternidade, família e
desemprego” [8].
Ainda, nas palavras do nobre professor, “trata-se de universalidade da
cobertura e do atendimento, verdadeira ideia central, que quer conferir proteção
a todos os brasileiros, assim como aos estrangeiros que se integram ao mundo do
trabalho nacional” [9].
A garantia desses direitos está resguardada pelos art. 194 e 201, ambos da
Constituição Federal (CF), conforme se observa:
Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de
iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos
relativos à saúde, à previdência e à assistência social.
Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a
seguridade social, com base nos seguintes objetivos: I - universalidade da
cobertura e do atendimento; II - uniformidade e equivalência dos benefícios e
serviços às populações urbanas e rurais; III - seletividade e distributividade na
prestação dos benefícios e serviços;
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de
caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o
equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a:
I - cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada; (4)
Emenda Constitucional n.º 20/98.
Com o advento da Lei nº 11.718/2008, que trouxe a inovação do tema aqui
discutido, o § 4º do art. 48 dispões que:
§ 4º. Para efeito do § 3º deste artigo, o cálculo da renda mensal do benefício será
apurado de acordo com o disposto no inciso II do caput do art. 29 desta Lei,
considerando-se como salário-de-contribuição mensal do período como segurado
especial o limite mínimo de salário-de-contribuição da Previdência Social.
Ou seja, será calculado da mesma forma como se calcula a aposentadoria
por invalidez, com base na média aritmética dos 80% maiores salários de
contribuição. Contudo, para os períodos exercidos no âmbito rural, serão
considerados como salário de contribuição o valor do salário mínimo nacional e,
para os períodos exercidos em outras categorias ou em que há contribuições
vertidas, serão computados os respectivos salários de contribuição.
3 Entendimento do INSS
O INSS apresenta entendimento de que somente poderá ser utilizado para
efeito de carência o trabalho na zona rural posterior à Lei nº 8.213/91, devendo
ser este o último trabalho a ser realizado pelo segurado. A Autarquia restringe a
lei, indeferindo os requerimentos que divergem do seu entendimento. Entretanto,
a percepção do INSS não condiz com a realidade, ferindo diretamente o art. 5º
da Constituição Federal quanto ao princípio de isonomia e da dignidade da
pessoa humana.
Em contrapartida, a doutrina e a jurisprudência defendem a mescla do
trabalho urbano e rural, independente de qual foi o último a ser exercido pelo
segurado.
4 Entendimento doutrinário
A professora Jane Lúcia defende que a aposentadoria por idade híbrida ou
mista é “uma nova modalidade de aposentadoria por idade (sui generis, mista ou
híbrida)” [10], com a possibilidade de soma dos períodos de labor rural aos
períodos de labor urbano para fins de cumprimento da carência necessária para a
obtenção do benefício por idade.
Para o Juiz Federal e Docente José Antônio Savaris, com o advento da Lei
nº 11.718/2008, houve uma aproximação da realidade vivida pelos trabalhadores
rurais, que saíram em busca de novas oportunidades. Conforme suas palavras:
Em nosso modo de ver, a Lei 11.718/08, prestando-se, ao que se pode perceber,
como uma minirreforma aos direitos previdenciários dos trabalhadores rurais,
buscou aproximar o sistema normativo da nova realidade campesina. Com tal
desiderato e compenetrado na realidade de muitos trabalhadores que, nada
obstante tenham dedicado quase toda vida ao labor rural, não logravam
“comprovar o efetivo exercício de atividade rural, ainda que de forma descontínua,
no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício, por tempo igual
ao número de meses de contribuição correspondente à carência do benefício
pretendido” (Lei 8.213/91, art. 48, § 2º), o legislador previu hipótese de concessão
de aposentadoria por idade sui generis, para a qual se admite a soma do tempo de
trabalho rural não contributivo com o de trabalho urbano (tempo contributivo). A
predominância das correntes migratórias do campo para a cidade constitui
realidade fática do nosso país. O denominado êxodo rural é condição histórica e
qualidade inerente do ser humano, o qual incessantemente busca o progresso
pessoal. Seria insensível o desamparo previdenciário a tais segurados pela simples
descontinuidade na labuta rural e mudança de regime. Se assim for entendido, o
trabalhador seria prejudicado por passar a contribuir, o que seria um contrassenso
e, inclusive, se tornaria prejudicial ao próprio sistema arrecadatório da Previdência
Social. Sob qualquer prisma, o período campesino não deve ser desprezado na
obtenção da aposentadoria por idade, vez que exercido sob a égide da legislação
vigente, da qual não necessitava de qualquer contribuição para fins de carência,
devendo-se prevalecer o princípio do Tempus Regit Actum. [11]
Em que pese o entendimento rígido do INSS, que admite ser possível,
somente a concessão da aposentadoria por idade híbrida ou mista somente
quando da utilização do trabalho na zona rural como forma de carência em
momento posterior à Lei nº 8.213/91, devendo o labor rurícola necessariamente
ser exercido por último.
Contudo, o que se vê é que o presente tema é amplo para debates e para
aqueles que militam na área previdenciária, estes devem se valer dos
entendimentos jurisprudenciais, que têm sido favoráveis em prol dos segurados e
de suas particularidades, afastando o engessado entendimento defendido
administrativamente, o qual não acoberta grande parte daqueles que necessitam e
almejam a aposentadoria por idade.
5 Entendimento jurisprudencial
Inicia-se pelo intérprete máximo, o Superior Tribunal de Justiça, o qual
tem emanado decisões de que o trabalho pode ser mesclado, com alternância de
períodos rurais e urbanos, independente de qual regime foi exercido primeiro ou
por último.
Para o Ministro Mauro Campbell Marques, da 2ª Turma do Superior
Tribunal de Justiça, a Lei nº 11.718 criou a possibilidade de concessão de
aposentadoria por idade aos trabalhadores rurais que se enquadrem nas
categorias de segurado empregado, contribuinte individual, trabalhador avulso e
segurado especial, com observância da idade de 65 anos para o homem e 60 anos
para a mulher. O Ministro defendeu que “a finalidade foi a de criar mecanismos
facilitadores de formalização do contrato de trabalho envolvendo trabalhadores
rurais assalariados, compatibilizando a realidade do êxodo rural e seus fatores
econômicos, sociais e políticos”. Para ele, a inovação jurídica permite o mínimo
existencial àqueles que representam grande parte da população brasileira.[12]
Veja-se o entendimento do Tribunal Regional Federal da 1ª Região sobre o
tema:
PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR IDADE. HÍBRIDA OU MISTA.
TEMPO RURAL E URBANO. ART. 48 § 3º, LEI 8.213/91. INÍCIO DE PROVA
MATERIAL CORROBORADO POR PROVA TESTEMUNHAL.
FUNGIBILIDADE DOS BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS. JUROS DE
MORA E CORREÇÃO MONETÁRIA. 1. A situação posta nos autos se enquadra
exatamente na hipótese descrita no § 3º do art. 48, da Lei de Benefícios: a
aposentadoria por idade mista ou híbrida, na qual há a contagem híbrida da
carência (não contributiva rural e contributiva urbana), exigindo-se o requisito
etário sem o redutor dos cinco anos, isto é, 65 anos, se homem, e 60 anos, se
mulher. 2. Na hipótese, os documentos encartados aos autos dão conta de que a
parte-autora atingiu a idade mínima e cumpriu o período equivalente ao prazo de
carência exigido em lei, eis que completou 60 anos em 28/02/2011 e 65 anos em
28/02/2016. A atividade urbana foi comprovada pela CTPS (fls. 18/23) e CNIS (fl.
74), que atestam vínculos trabalhistas urbanos. A atividade rural restou
comprovada ante a apresentação de início razoável de prova material, representado
pelos documentos catalogados à inaugural, corroborado por prova testemunhal
idônea e inequívoca. 3. Em homenagem ao princípio da fungibilidade dos
benefícios previdenciários e tendo em conta que o INSS tem o dever de conceder
ao beneficiário a melhor opção que lhe cabe, não é defeso ao magistrado conceder,
de ofício, em ação previdenciária, a prestação pecuniária que é devida ao
jurisdicionado. Precedentes. 4. Preenchidos, portanto, os requisitos do art. 48, §3º,
da Lei 8.213/91, deve ser concedido o benefício de aposentadoria rural híbrida ou
mista à parte-autora. 5. O termo inicial do benefício será a partir da data em que a
parte-autora completou 65 anos (28/02/2016). 6. Os honorários advocatícios
devem ser fixados em 10% das prestações vencidas até a prolação da sentença de
procedência, ou do acórdão que reforma o comando de improcedência da
pretensão vestibular. 7. A correção monetária deve observar o novo regramento
estabelecido pelo Supremo Tribunal Federal, em sede de repercussão geral, no
julgamento do RE 870.947/SE, no qual restou fixado o IPCA-E como índice de
atualização monetária a ser aplicado a todas as condenações judiciais impostas à
Fazenda Pública. Juros de mora nos termos do Manual de Cálculos da Justiça
Federal. 8. Apelação do INSS desprovida e remessa oficial, tia por interposta,
parcialmente provida. Concessão da aposentadoria híbrida, de ofício, em razão do
princípio da fungibilidade dos benefícios.[13]
Também há o entendimento da questão em consonância ao emanado pelo
Tribunal Regional Federal da 3º região:
PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR IDADE HÍBRIDA.
VIABILIDADE. PREENCHIDOS OS REQUISITOS PARA A CONCESSÃO DO
BENEFÍCIO. - Pedido de aposentadoria por idade híbrida. - A questão em debate
consiste na possibilidade de somar período de labor rural da autora, sem registro
em CTPS, reconhecido na sentença, a períodos de efetiva contribuição, para o fim
de propiciar a concessão da aposentadoria por idade, nos termos do artigo 48 §3º e
§4º, da Lei 8.213/91. - A Autarquia não se insurgiu contra o período de labor rural
reconhecido na sentença (três anos), motivo pelo qual a questão não será
apreciada. - Deve-se considerar a viabilidade do cômputo de períodos de trabalho
rural e urbano para fins de concessão de aposentadoria nos termos do art. 48, §3º e
§4º, da Lei 8213/1991. - No caso da aposentadoria por idade híbrida, não há que se
falar em óbice ao cômputo de período de labor rural como carência, sendo
irrelevante, ainda, eventual predomínio do labor urbano no período de carência ou
o tipo de trabalho exercido no momento do implemento do requisito etário ou do
requerimento administrativo. - Conjugando-se a data em que foi implementada a
idade, o tempo de serviço comprovado nos autos e o art. 142 da Lei nº 8.213/91,
verifica-se que foi integralmente cumprida a carência exigida (180 meses). A
autora faz jus ao recebimento da aposentadoria pretendida. - Apelo da Autarquia
improvido. Jurisprudência/TRF3 - Acórdãos Vistos e relatados estes autos em que
são partes as acima indicadas, decide a Egrégia Oitava Turma do Tribunal
Regional Federal da 3ª Região, por unanimidade, negar provimento ao apelo da
Autarquia, nos termos do relatório e voto que ficam fazendo parte integrante do
presente julgado.[14]
Passa-se agora ao entendimento do Tribunal Regional Federal da 4º
Região, conforme segue:
PREVIDENCIÁRIO. REMESSA NECESSÁRIA. NÃO CONHECIDA.
APOSENTADORIA POR IDADE. TRABALHO URBANO E TRABALHO
RURAL. COMPROVADOS. IDADE MÍNIMA COMPLETADA.
1. Tratando-se de aposentadoria rural por idade, cujo benefício corresponde ao
valor de um salário mínimo, e resultando o número de meses entre a data da DER
e a data da sentença em condenação manifestamente inferior a mil salários-
mínimos, ainda que com a aplicação dos índices de correção monetária e de juros
de mora nas condições estabelecidas em precendentes do Supremo Tribunal
Federal, não está a sentença sujeita ao reexame obrigatório, nos termos do disposto
no art. 475, § 2º, do Código de Processo Civil. Não conhecida a remessa.
2. É devida a aposentadoria por idade mediante conjugação de tempo rural e
urbano durante o período aquisitivo do direito, a teor do disposto na Lei n.
11.718/08, que acrescentou § 3.º ao art. 48 da Lei n. 8.213/91, contanto que
cumprido o requisito etário de 60 (sessenta) anos para mulher e de 65 (sessenta e
cinco) anos para homem e a carência mínima exigida.
3. O direito à aplicação da regra do artigo 48, § 3º, da Lei 8.213/91 abrange todos
os trabalhadores que tenham desempenhado de forma intercalada atividades
urbanas e rurais. O fato de não estar desempenhando atividade rural por ocasião do
requerimento administrativo não pode servir de obstáculo à concessão do
benefício.
4. O Supremo Tribunal Federal reconheceu no RE 870947, com repercussão geral,
a inconstitucionalidade do uso da TR, determinando a adoção do IPCA-E para o
cálculo da correção monetária nas dívidas não-tributárias da Fazenda Pública,
5. Os juros de mora, a contar da citação, devem incidir à taxa de 1% ao mês, até
29-06-2009. A partir de então, incidem uma única vez, até o efetivo pagamento do
débito, segundo o índice oficial de remuneração básica aplicado à caderneta de
poupança.
6. Vedada a majoração dos honorários advocatícios quando ultrapassem os
respectivos limites estabelecidos no art. 85, §§ 2° e 3° do Código de Processo
Civil.[15]
Ainda, analisa-se o entendimento da Turma Nacional de Uniformização da
Jurisprudência dos Juizados Especiais Federais (TNU):
PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA HÍBRIDA OU MISTA. CONTAGEM
DE TEMPO RURAL PARA APOSENTADORIA URBANA. ATIVIDADE
RURAL OU URBANA ANTES DO REQUISITO ETÁRIO OU
REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO. INDIFERENÇA. IDADE MÍNIMA A
SER CONSIDERADA É A MESMA EXIGIDA PARA A APOSENTADORIA
POR IDADE DO TRABALHADOR URBANO. EXISTÊNCIA DE
REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA DA TNU. INCIDENTE
CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.[16]
Entretanto, ainda há tema a ser discutido, merecendo destaque a
possibilidade de se utilizar o trabalho exercido na zona rural anterior à vigência
da Lei nº 8213/91, ou seja, fora do período de carência.
O fato é que há uma discussão em relação ao período trabalhado na zona
rural anterior à Lei nº 8.213/91 para aproveitamento na aposentadoria por idade
híbrida ou mista. Ocorre que, em algumas instâncias de primeiro grau, os
pedidos têm sido julgados improcedentes, sob a alegação de que, o período rural
para ser aproveitado, tem que ser dentro do período de carência. Referidas
decisões, nesse sentido, deixariam um volumoso número de segurados que
migraram para a zona rural desemparados e sem o direito de percepção da
aposentadoria por idade. A inovação legislativa aqui discutida não acobertaria
esses segurados, em desconformidade com o preceito da norma criada e
consubstanciada pelo § 3º do art. 48 da Lei nº 8.313/91.
Deste modo, diante da vedação da concessão do benefício de
aposentadoria por idade híbrida ou mista, com pedido de averbação do trabalho
rural anterior à Lei nº 8.213/91, o Ministério Público Federal interpôs recurso
perante o Tribunal Regional Federal da 4ª Região, no ano de 2015, nos autos de
nº 5038261-15.2015.4.04.7100, para assegurar o direito à concessão da
aposentadoria por idade híbrida, com aproveitamento do trabalho rural anterior a
24/06/1991.
A decisão do Tribunal foi unânime, proferida pela 5ª Turma em julgamento
realizado na data de 06/07/2017, ante ao fato que o INSS e algumas instâncias de
primeiro grau apenas reconheciam a aposentadoria por idade híbrida quando o
último trabalho fosse exercido na zona rural, trazendo prejuízo aos segurados
que deixaram o meio campesino para migrar às cidades para exercícios de
atividades urbanas.
Com a decisão proferida nos autos acima referidos, o tempo de trabalho
exercido no campo, antes da Lei nº 2.213/91, poderá ser utilizado para a
concessão de aposentadoria por idade híbrida. A Procuradora da República Ana
Paula Carvalho de Medeiros, autora da ação, conseguiu sustentar a tese de que a
decisão do Instituto Nacional do Seguro Social feria a Constituição Federal, em
especial aos princípios da dignidade da pessoa humana, da uniformidade e da
equivalência de benefícios às populações urbanas e rurais.
O juiz federal Marcos Antônio Garapa de Carvalho, que presidiu sessão na
TNU, reconheceu a divergência, elencando julgados do Superior Tribunal de
Justiça (STJ) e da TNU. No REsp nº. 1.407.613/RS, o STJ firmou que:
(…) seja qual for a predominância do labor misto no período de carência ou o tipo
de trabalho exercido no momento do implemento do requisito etário ou do
requerimento administrativo, o trabalhador tem direito a se aposentar com as
idades citadas no § 3º do art. 48 da Lei 8.213/1991, desde que cumprida a carência
com a utilização de labor urbano ou rural. Por outro lado, se a carência foi
cumprida exclusivamente como trabalhador urbano, sob esse regime o segurado
será aposentado (caput do art. 48), o que vale também para o labor exclusivamente
rurícola (§§1º e 2º da Lei 8.213/1991)[17].
Tais decisões demonstram que os Nobres Julgadores têm se aproximado da
realidade fática dos segurados, julgando os casos no intuito de amparar parte da
população que poderia ficar em um limbo e sem amparo, demonstrando
claramente o caráter assistencialista da Seguridade Social.
Com a interposição do recurso ao Tribunal Regional Federal da 4º Região,
um dos argumentos defendidos foi que a situação de vulnerabilidade social não
se supera após o ingresso do trabalhador no meio urbano e que aqueles que
migram do campo para a cidade acabam por ficar à margem do chamado estado
de bem-estar social, razão esta que não deve haver óbice para o reconhecimento
e averbação do trabalho exercido na zona rural, para aproveitamento na
concessão da aposentadoria por idade híbrida. Frisa-se que tal vedação somente
existe para a aposentadoria por tempo de contribuição e não na problemática
aqui discutida.
O INSS sequer pode alegar desequilíbrio atuarial, pois, para comprovar tal
alegação, teria que ter uma metodologia específica, com a realização de auditoria
para a demonstração de alegado déficit previdenciário. Ademais, todos que
requererem a aposentadoria por idade híbrida a fazem em sua maioria com
observância mínima e equivalente à aposentadoria por idade urbana. O TRF4
julgou procedente a ação.
A TNU, no entanto, no PEDILEF nº. 5009416-32.20134.04.7200 (acórdão
publicado em 24/11/2016, Diário Oficial da União, Seção 1, páginas 92/411),
fixou a seguinte tese:
Para a concessão da aposentadoria por idade híbrida ou mista, na forma do art. 48,
§ 3º, da Lei n. 8.213/91, cujo requisito etário é o mesmo exigido para a
aposentadoria por idade urbana, é irrelevante a natureza rural ou urbana da
atividade exercida pelo segurado no período imediatamente anterior à
implementação do requisito etário ou ao requerimento do benefício. Ainda, não há
vedação para que o tempo rural anterior à Lei 8.213/91 seja considerado para
efeito de carência, mesmo que não verificado o recolhimento das respectivas
contribuições.
Desta forma, resta a este Juízo adequar-se ao entendimento de que o tempo de
serviço rural anterior ao advento da Lei 8.213/91 pode ser computado para fins de
carência necessária à obtenção da aposentadoria híbrida por idade, ainda que
remoto.[18]
Portanto, verifica-se o entendimento pacificado no sentido de que para a
concessão da aposentadoria por idade híbrida será somado o tmpo de trabalho
rural ao urbano, independente de qual foi exercido no período imediatamente
anterior a concessão do benefício.
Considerações finais
Este artigo tem o condão de trazer discussões acerca da aposentadoria por
idade híbrida ou mista, tratando de demonstrar a forma como o tema é tratado
pelos tribunais do país e pela doutrina previdenciária.
Aqueles que militam no ramo do Direito Previdenciário, ao se depararem
com situações em que o Instituto Nacional do Seguro Social demonstra entender
que somente é possível conceder a aposentadoria híbrida quando a última
atividade laborativa for exercida em âmbito rural, bem como não aceitar a
somatória do período com interregnos urbanos e impossibilitar o reconhecimento
do período rural anterior à vigência da Lei nº 8.213/91 para efeitos de carência
para a concessão do benefício pleiteado, devem valer-se das decisões emanadas
pelos Tribunais Superiores, em especial pelo entendimento do Superior Tribunal
de Justiça e da Turma Nacional de Uniformização da Jurisprudência dos
Juizados Especiais Federais.
A jurisprudência proveniente desses Tribunais já pacificou o assunto, no
sentido de viabilidade de mescla dos períodos de trabalho urbanos e rurais, ainda
que o trabalho rural seja exercido em momento anterior à Lei nº 8.213/91,
garantindo-se o cômputo para efeitos de carência, ante o não impedimento legal.
Tais medidas apenas possibilitaram a aproximação dos segurados que
ficaram excluídos da percepção da aposentadoria por idade, trazendo justiça e
protecionismo por meio do § 3º, do artigo 48, da Lei nº 8.213/91, criada para
resguardar os direitos desse tipo de segurado, amparando-os do risco social
configurado pela velhice, dando-lhes a devida subsistência.
Referências bibliográficas
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BRASIL, Lei nº 11.718, de 20 de junho de 2008. Acrescenta artigo à Lei nº
5.889, de 8 de junho de 1973, criando o contrato de trabalhador rural por
pequeno prazo; estabelece normas transitórias sobre a aposentadoria do
trabalhador rural; prorroga o prazo de contratação de financiamentos rurais de
que trata o § 6º do art. 1º da Lei nº 11.524, de 24 de setembro de 2007; e altera as
Leis nº 8.171, de 17 de janeiro de 1991, 7.102, de 20 de junho de 1993, 9.017, de
30 de março de 1995, e 8.212 e 8.213, ambas de 24 de julho de 1991.
Documento eletrônico disponível em: <http://www2.camara.leg.br>. Acesso em:
10 de julho de 2018.
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da Seguridade Social. 18ª. ed. São Paulo:
Malheiros Editores, 2014.
SAVARIS, José Antônio. Direito Processual Previdenciário. 6.ed. Curitiba:
Alteridade, 2016.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Aposentadoria por idade híbrida
beneficia trabalhadora rural. Documento eletrônico disponível em:
<https://stj.jusbrasil.com.br> Acesso em 24 de setembro de 2018.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. REsp: 1407613 RS 2013/0151309-1– 2ª
Turma – Recorrente: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL –
Recorrido: EVA ANGELINA GRAMINHO. Documento eletrônico disponível
em: <https://stj.jusbrasil.com.br> Acesso em: 24 de setembro de 2018
TURMA NACIONAL DE UNIFORMIZAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA DOS
JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS. Pedilef 5004318612012.404.7213.
Documento eletrônico disponível em: <https://tnu.jusbrasil.com.br> Acesso em:
24 de setembro de 2018.
TURMA NACIONAL DE UNIFORMIZAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA DOS
JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS. Pedilef 5009416-32.20134.04.7200.
Documento eletrônico disponível em: <https://www2.jf.jus.br> Acesso em: 24
de setembro de 2018.
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 1ª REGIÃO. TRF1 APELAÇÃO
CIVEL 0008810-85.2016.4.01.9199. AC / TO – 2ª Turma – Apelante:
INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – Apelado: ALCEU
SILVEIRA DOS SANTOS. Documento eletrônico disponível em:
<https://arquivo.trf1.jus.br> Acesso em: 24 de setembro de 2018.
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO. TRF3 APELAÇÃO
CÍVEL 2303526 / SP 0013193-09.2018.4.03.9999 – 8ª Turma – Apelante:
INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – Apelado: CLEUZA
GONCALVES DE LIMA. Documento eletrônico disponível em:
<http://web.trf3.jus.br> Acesso em: 24 de setembro de 2018.
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO. TRF4 5013382-
69.2018.4.04.9999 – 6ª Turma – Apelante: INSTITUTO NACIONAL DO
SEGURO SOCIAL – Apelado: ALTAIR OTAVIO DAVILA ORTIZ. Documento
eletrônico disponível em: <https://jurisprudencia.trf4.jus.br> Acesso em: 24 de
setembro de 2018.














CAPÍTULO 3

APOSENTADORIA DO PRODUTOR RURAL

MALCON ROBERT LIMA GOMES
Graduado em Direito pela Universidade Estadual do Piauí. Especialista em
Direito Previdenciário. Professor de pós-graduações. Autor. Palestrante. Servidor
da Justiça Federal, Seção Judiciária do Piauí.
Introdução
Discute-se aqui a questão do produtor rural pessoa física, uma das espécies
de segurado especial, tratando especificamente de uma das situações que
diuturnamente chegam ao Poder Judiciário, qual seja, a que envolve a questão da
comercialização da produção rural.
Afinal, sempre é obrigatória? Não sendo, o que seria necessário para tal
segurado obter benefícios previdenciários? Por sua vez, contribuindo para a
Previdência Social em cima do que produz, isso pode ser entendimento como um
fator negativo para a sua caracterização enquanto segurado especial?
Como se tem comportado a jurisprudência, seja nos Juizados Especiais
Federais, seja nos Tribunais?
Esses são, pois, alguns dos questionamentos levantados ao longo deste
artigo, para os quais se busca trazer respostas.
1 Caracterização do produtor rural e a previsão quanto a seus
recolhimentos previdenciários
O produtor rural é um dos trabalhadores rurais elencados na Constituição
Federal com direito a uma aposentadoria por idade com redução de 5 anos
relativamente aos trabalhadores urbanos, verbis:
Art. 201. § 7º É assegurada aposentadoria no regime geral de previdência social,
nos termos da lei, obedecidas as seguintes condições: (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 20, de 1998)
(...)
II - sessenta e cinco anos de idade, se homem, e sessenta anos de idade, se
mulher, reduzido em cinco anos o limite para os trabalhadores rurais de
ambos os sexos e para os que exerçam suas atividades em regime de economia
familiar, nestes incluídos o produtor rural, o garimpeiro e o pescador
artesanal. (Incluído dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) (grifo do
Autor)
Na própria Carta Magna, há indicação de que, também, sua contribuição
seria diferenciada, eis que teria como lastro a comercialização de sua produção
rural, não havendo imposição de contribuições mensais, como costuma ocorrer
com os demais segurados da Previdência Social, senão veja-se:
Art. 195, § 8º O produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais e o
pescador artesanal, bem como os respectivos cônjuges, que exerçam suas
atividades em regime de economia familiar, sem empregados permanentes,
contribuirão para a seguridade social mediante a aplicação de uma alíquota
sobre o resultado da comercialização da produção e farão jus aos benefícios nos
termos da lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) (grifo do
Autor)
Consentânea com tal previsão constitucional, a Lei de Custeio da
Previdência Social (Lei nº 8.212/91) estabeleceu os seguintes percentuais:
Art. 25. A contribuição do empregador rural pessoa física, em substituição à
contribuição de que tratam os incisos I e II do art. 22, e a do segurado especial,
referidos, respectivamente, na alínea a do inciso V e no inciso VII do art. 12 desta
Lei, destinada à Seguridade Social, é de: I - 1,2% (um inteiro e dois décimos por
cento) da receita bruta proveniente da comercialização da sua produção; (Redação
dada pela Lei nº 13.606, de 2018). II - 0,1% da receita bruta proveniente da
comercialização da sua produção para financiamento das prestações por acidente
do trabalho. (Redação dada pela Lei nº 9.528, de 10.12.97).
Por outro lado, a legislação relativa aos benefícios previdenciários da
Previdência Social, Lei nº 8.213/91, findou por mitigar a exigência da
contribuição mencionada.
No caso, faz-se referência às previsões contidas nos arts. 39 e 48 da Lei nº
8.213/91, bem como no art. 39 da Instrução Normativa (IN) INSS/PRES nº
77/2015, nesta ordem, verbis:
Art. 39. Para os segurados especiais, referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei,
fica garantida a concessão: I - de aposentadoria por idade ou por invalidez, de
auxílio-doença, de auxílio-reclusão ou de pensão, no valor de 1 (um) salário
mínimo, e de auxílio-acidente, conforme disposto no art. 86, desde que comprove
o exercício de atividade rural, ainda que de forma descontínua, no período,
imediatamente anterior ao requerimento do benefício, igual ao número de meses
correspondentes à carência do benefício requerido
Art. 48. A aposentadoria por idade será devida ao segurado que, cumprida a
carência exigida nesta Lei, completar 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se
homem, e 60 (sessenta), se mulher.
§ 1o Os limites fixados no caput são reduzidos para sessenta e cinquenta e cinco
anos no caso de trabalhadores rurais, respectivamente homens e mulheres,
referidos na alínea a do inciso I, na alínea g do inciso V e nos incisos VI e VII do
art. 11.
§ 2o Para os efeitos do disposto no § 1o deste artigo, o trabalhador rural deve
comprovar o efetivo exercício de atividade rural, ainda que de forma
descontínua, no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício, por
tempo igual ao número de meses de contribuição correspondente à carência do
benefício pretendido, computado o período a que se referem os incisos III a VIII
do § 9o do art. 11 desta Lei.
Art. 39. São considerados segurados especiais o produtor rural e o pescador
artesanal ou a este assemelhado, desde que exerçam a atividade rural
individualmente ou em regime de economia familiar, ainda que com o auxílio
eventual de terceiros.
§ 1º A atividade é desenvolvida em regime de economia familiar quando o
trabalho dos membros do grupo familiar é indispensável à sua subsistência e
desenvolvimento socioeconômico, sendo exercido em condições de mútua
dependência e colaboração, sem a utilização de empregados permanentes,
independentemente do valor auferido pelo segurado especial com a
comercialização da sua produção, quando houver (...). (grifo do Autor).
Assim, em que pese a legislação exija contribuições do produtor rural, tal
exigência poderá ser mitigada com base no art. 39 da Instrução Normativa
INSS/PRES nº 77/2015.
2 Dispensa da carência para o produtor rural, segurado especial, e a
orientação jurisprudencial correlata
Igualmente oportuno, também, citar a previsão do art. 26 da mesma Lei de
Benefícios que dispensou a carência para os benefícios devidos aos segurados
especiais, verbis:
Art. 26. Independe de carência a concessão das seguintes prestações:
(...) III - os benefícios concedidos na forma do inciso I do art. 39, aos segurados
especiais referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei; (grifo do Autor).
E tal contexto, logicamente, não passa despercebido pela jurisprudência
pátria, a exemplo do que se pode aferir no julgado do Superior Tribunal de
Justiça, segundo o qual “em relação às contribuições previdenciárias, é assente o
entendimento de serem desnecessárias, sendo suficiente a comprovação do
efetivo exercício de atividade no meio rural”[19], bem como:
PREVIDENCIÁRIO. RECURSO ESPECIAL. APOSENTADORIA POR TEMPO
DE SERVIÇO/CONTRIBUIÇÃO. SEGURADO ESPECIAL. AVERBAÇÃO DE
TEMPO RURAL. OBSERVÂNCIA DA SÚMULA 272/STJ.
OBRIGATORIEDADE DE RECOLHIMENTO DA CONTRIBUIÇÃO
PREVIDENCIÁRIA. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E NÃO PROVIDO.
(...)
5. A contribuição previdenciária do segurado obrigatório denominado segurado
especial tem por base de cálculo a receita bruta proveniente da comercialização de
sua produção.
6. Sob o parâmetro constitucional, o § 8º do artigo 195 da Constituição identifica a
política previdenciária de custeio para a categoria do segurado especial.
7. Os benefícios previdenciários pagos aos segurados especiais rurais constituem
verdadeiro pilar das políticas públicas previdenciárias assinaladas na Constituição
Federal de 1988. Por outro lado, é preciso contextualizar essas políticas públicas
ao sistema atuarial e contributivo do Regime Geral de Previdência Social. Assim,
os princípios da solidariedade e da contrapartida devem ser aplicados
harmonicamente, a fim de atender à dignidade do segurado especial, que,
anteriormente à Lei 8.213/1991, podia preencher o requisito carência com trabalho
campesino devidamente comprovado.
8. A contribuição do segurado especial incidente sobre a receita bruta da
comercialização da produção rural, conforme artigo 25, § 1º, da Lei 8.212/1991 e
artigo 200, § 2º, do Decreto 3.048/1999, é de 2% para a seguridade social e 0,1%
para o financiamento dos benefícios concedidos em razão do grau de incidência de
incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho. Acrescente-
se que o segurado especial poderá contribuir facultativamente, nas mesmas
condições do contribuinte individual, vale dizer, 20% sobre o respectivo salário de
contribuição.
9. O artigo 39, I, da Lei 8.213/1991, assegura aos segurados especiais referidos no
inciso VII do artigo 11 da mesma Lei, que apenas comprovem atividade rural, os
benefícios aposentadoria por idade, aposentadoria por invalidez, auxílio-doença,
auxílio-reclusão, ou pensão por morte, no valor de um salário mínimo, e auxílio-
acidente, desde que comprovem o exercício de atividade rural, ainda que de forma
descontínua, no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício,
igual ao número de meses correspondentes à carência do benefício requerido. Para
o benefício aposentadoria por tempo de serviço/contribuição ou demais benefícios
aqui elencados em valor superior ao salário mínimo, deve haver contribuição
previdenciária na modalidade facultativa prevista no § 1º do artigo 25 da Lei
8.212/1991.
10. Para os segurados especiais filiados ao Regime Geral de Previdência Social a
partir das Leis 8.212/1991 e 8.213/1991, na condição de segurados obrigatórios, é
imposta a obrigação tributária para fins de obtenção de qualquer benefício, seja no
valor de um salário mínimo ou superior a esse valor.
11. A regra da obrigatoriedade deve ser compatibilizada com a regra do artigo 39,
I, da Lei 8.213/1991, que garante a concessão ao segurado especial de benefício no
valor de um salário mínimo, caso comprove com tempo rural a carência
necessária. Neste caso, o segurado especial não obteve excedente a ser
comercializado, a norma que lhe garantiu o reconhecimento do direito ao benefício
no valor de um salário mínimo é a exceção prevista pelo legislador. Mas a regra é
a do efetivo recolhimento da contribuição previdenciária.
12. De acordo com § 8º do artigo 30 da Lei 8.212/1991, quando o grupo familiar a
que o segurado especial estiver vinculado não tiver obtido, no ano, por qualquer
motivo, receita proveniente de comercialização de produção deverá comunicar a
ocorrência à Previdência Social, na forma do regulamento.
13. Deve ser observada a Súmula 272/STJ que dispõe in verbis: o trabalhador
rural, na condição de segurado especial, sujeito à contribuição obrigatória sobre a
produção rural comercializada, somente faz jus à aposentadoria por tempo de
serviço, se recolher contribuições facultativas. (...)[20] (grifo do Autor)

E não é só o STJ que mantém tal entendimento, senão veja-se:
PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR IDADE RURAL. BENEFÍCIO
NÃO CONTRIBUTIVO. ARTIGO 143 DA LEI 8.213/91. NORMA
TRANSITÓRIA. TRABALHADOR RURAL. INÍCIO DE PROVA MATERIAL
CORROBORADO POR PROVA TESTEMUNHAL. CONSTITUIÇÃO DE
PESSOA JURÍDICA. ART. 11, VII, § 12, da LBPS. REQUISITOS
PREENCHIDOS. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. APELAÇÃO
DESPROVIDA.
- Discute-se o atendimento das exigências à concessão de aposentadoria por idade
ao rurícola, a saber: a comprovação da idade mínima e o desenvolvimento de
atividade rural no período imediatamente anterior ao requerimento, consoante o
disposto na Lei n. 8.213/91.
- A questão relativa à comprovação de atividade rural se encontra pacificada no
Superior Tribunal de Justiça, que exige início de prova material e afasta por
completo a prova exclusivamente testemunhal (Súmula 149 do STJ).
- De acordo com o que restou definido quando do julgamento do REsp.
1.321.493/PR, realizado segundo a sistemática de recurso representativo da
controvérsia (CPC, art. 543-C), aplica-se a súmula acima aos trabalhadores rurais
denominados “boias-frias”, sendo imprescindível a apresentação de início de prova
material, corroborada com provas testemunhal, para comprovação de tempo de
serviço.
- Ressalta-se que o início de prova material, exigido pelo § 3º do artigo 55 da Lei
8.213/91, não significa que o segurado deverá demonstrar mês a mês, ano a ano,
por meio de documentos, o exercício de atividade na condição de rurícola, pois
isto importaria em se exigir que todo o período de trabalho fosse comprovado
documentalmente, sendo de nenhuma utilidade a prova testemunhal para
demonstração do labor rural. - Admite-se, contudo, a extensão da qualificação de
lavrador de um cônjuge ao outro e, ainda, que os documentos não se refiram
precisamente ao período a ser comprovado. Nesse sentido, o REsp n. 501.281, 5ª
Turma, j. em 28/10/2003, v.u., DJ de 24/11/2003, p. 354, Rel. Ministra Laurita
Vaz.
- Segundo o RESP 1.354.908, realizado segundo a sistemática de recurso
representativo da controvérsia (CPC, art. 543-C), necessária a comprovação do
tempo de atividade rural no período imediatamente anterior à aquisição da idade.
- Em relação às contribuições previdenciárias, é assente o entendimento de serem
desnecessárias, sendo suficiente a comprovação do efetivo exercício de atividade
no meio rural (STJ, REsp 207.425, 5ª Turma, j. em 21/9/1999, v.u., DJ de
25/10/1999, p. 123, Rel. Ministro Jorge Scartezzini; e STJ, RESP n. 502.817, 5ª
Turma, j. em 14/10/2003, v.u., DJ de 17/11/2003, p. 361, Rel. Ministra Laurita
Vaz).
- O art. 143 da Lei 8.213/91 constitui regra transitória assegurou aos rurícolas o
direito de requerer aposentadoria por idade, no valor de um salário mínimo,
durante 15 (quinze) anos, contados da vigência da referida Lei, independentemente
do pagamento de contribuições previdenciárias. Assim, o prazo de 15 (quinze)
anos do artigo 143 da Lei 8.213/91 expiraria em 25/07/2006. - Entretanto, em
relação ao trabalhador rural enquadrado como segurado empregado ou como
segurado contribuinte individual, que presta serviços de natureza rural, em caráter
eventual, a uma ou mais empresas, sem relação de emprego, o aludido prazo foi
prorrogado por mais 02 (dois) anos, estendendo-se até 25/07/2008, em face do
disposto na MP 312/06, convertida na Lei 11.368/06. - Finalmente, a Medida
Provisória nº 410/07, convertida na Lei 11.718/08, estabeleceu nova prorrogação
para o prazo previsto no artigo 143 da Lei 8.213/91, até 31/12/2010, para o
trabalhador rural empregado e o enquadrado na categoria de segurado contribuinte
individual que presta serviços de natureza rural, em caráter eventual, a 1 (uma) ou
mais empresas, sem relação de emprego.
- Observe-se que o prazo estabelecido no referido artigo 143 passou a vigorar até
31/12/2010, mas não contemplou o trabalhador rural que se enquadra na categoria
de segurado especial (caso dos autos). De outra parte, para o segurado especial
definido no artigo 11, inciso VII, da Lei 8.213/91, remanesce o disposto no artigo
39 da referida lei. Diferentemente dos demais trabalhadores rurais, trata-se de
segurado que mantém vínculo com a previdência social mediante contribuição
descontada em percentual incidente sobre a receita oriunda da venda de seus
produtos, na forma do artigo 25, caput e incisos, da Lei nº 8.212/91. Vale dizer:
após 25/07/2006, a pretensão do segurado especial ao recebimento de
aposentadoria por idade deverá ser analisada conforme o disposto no artigo 39,
inciso I, da Lei 8.213/91.
- Ademais, não obstante o exaurimento da regra transitória insculpida no artigo
143 da Lei n. 8.213/91, fato é que a regra permanente do artigo 48 dessa norma
continua a exigir para concessão de aposentadoria por idade dos segurados
rurícolas, inclusive empregados, a comprovação do efetivo exercício de “atividade
rural, ainda que de forma descontínua, no período imediatamente anterior ao
requerimento do benefício, por tempo igual ao número de meses de contribuição
correspondente à carência do benefício pretendido”, consoante §1º e § 2º do
referido dispositivo. Trata-se, a bem da verdade, de norma que parece
confrontar com o caráter contributivo da previdência social, mas que não
incide ao presente feito.
- A parte autora completou a idade mínima de 60 (sessenta) anos em 25/2/2016,
segundo o critério etário da Lei nº 8.213/91. - Ademais, há início de prova material
presente na certidão de casamento do autor - celebrado em 25/2/1983 - onde foi
qualificado como lavrador e CTPS com alguns vínculos empregatícios rurais, nos
períodos de 8/4/1985 a 15/6/1986, 23/9/1986 a 9/5/1987, 24/11/1988 a 3/6/1989,
1º/9/1999 a 6/11/2000 e 20/1/2014 a 2/5/2014 (vide CNIS). Outrossim, notas
fiscais de produtor rural, emitidas desde 2006, referentes à venda de café em coco;
comprovante de inscrição e de situação cadastral, em que o autor, em companhia
de outros dois participantes, consta como produtor rural desde 12/4/2007, bem
como declaração cadastral - produtor, datada de 1º/4/2005.
(...)
- O fato do requerente ter constituído pessoa jurídica não tem o condão de
afastar sua qualidade de segurado especial, sendo insuficiente para
caracterizá-lo como grande produtor rural. Ao que tudo indica, o
comprovante de inscrição e de situação cadastral de f. 35 apenas demonstra
que o autor é contribuinte individual, cuja atividade econômica principal é o
cultivo de café, que somente pode ser comercializado com a emissão de nota
fiscal, sendo este o motivo pelo qual ele foi compelido a constituir uma
empresa.
- Como se vê pelas notas fiscais de produtor rural juntadas aos autos, a
produtividade é baixa. A produção se dá em área plantada de 5 hectares e a
comercialização do excedente do café não pode ser caracterizada de grande
monta. Não há nada que proíba o pequeno produtor rural, qualificado como
segurado especial, de comercializar, inclusive de forma lucrativa, o excedente
da produção agropecuária ou extrativista realizada para a subsistência do
grupo, em regime de economia familiar.
- Atualmente, nos termos do § 12, incluído ao artigo 11, VII, da LBPS, pela Lei n.º
12.873/2013, é possível, inclusive a participação do segurado especial em
sociedade empresária, em sociedade simples, como empresário individual ou como
titular de empresa individual de responsabilidade limitada de objeto ou âmbito
agrícola, agroindustrial ou agroturístico, considerada microempresa, não o exclui
de tal categoria previdenciária, desde que, mantido o exercício da sua atividade
rural na forma do inciso VII do caput e do § 1º, a pessoa jurídica componha-se
apenas de segurados de igual natureza e sedie-se no mesmo Município ou em
Município limítrofe àquele em que eles desenvolvam suas atividades.
- Em decorrência, concluo pelo preenchimento dos requisitos exigidos à concessão
do benefício pretendido.
- Fica mantida a condenação do INSS a pagar honorários de advogado, cujo
percentual majoro para 12% (doze por cento) sobre a condenação, excluindo-se as
prestações vencidas após a data da sentença, consoante súmula nº 111 do Superior
Tribunal de Justiça e critérios do artigo 85, §§ 1º, 2º, 3º, I, e 11, do Novo CPC.
Todavia, na fase de execução, o percentual deverá ser reduzido, se o caso, na
hipótese do artigo 85, § 4º, II, do mesmo código, se a condenação ou o proveito
econômico ultrapassar duzentos salários mínimos. - Apelação desprovida.[21]
(grifo do Autor)
PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA RURAL POR IDADE. SEGURADO
ESPECIAL. REQUISITOS. ATIVIDADE RURAL COMO MERO
COMPLEMENTO DA RENDA FAMILIAR. REGIME DE ECONOMIA
FAMILIAR NÃO CONFIGURADO.
1. Para a concessão de aposentadoria rural por idade, disciplinada nos
parágrafos do artigo 48 da Lei 8.213/91, deve o beneficiário demonstrar a sua
condição de segurado especial, atuando na produção rural em regime de economia
familiar, pelo período mínimo conforme tabela progressiva constante no artigo 142
combinado com o artigo 143, ambos da Lei de Benefícios) e o requisito idade, qual
seja, 60 anos para homens e 55 para mulheres. Para este benefício, a exigência de
labor rural por período mínimo é a carência, não se exigindo prova do
recolhimento de contribuições.
2. Para reconhecimento da condição de segurado especial, faz-se necessário
que o trabalhador esteja enquadrado nas definições previstas no art. 11, VII,
c/c § 1º, da Lei nº 8.213/91.
3. Descaracterização do regime de economia familiar, que pressupõe mútua
dependência e colaboração de todos os membros, exclusivamente para o sustento
do grupo familiar, sendo possível concluir que o eventual ganho obtido com o
produto da lavoura não é imprescindível à subsistência da família, constituindo
apenas mais um reforço da renda familiar.[22] (grifo do Autor)
Assim, concluí-se que, a despeito de previsão quanto à obrigatoriedade de
contribuição por parte do produtor rural pessoa física, este foi beneficiado pela
dispensa prevista na lei de benefícios, quando se cogitam prestações
previdenciárias de valor mínimo.
3 Presença de recolhimentos sobre a comercialização da produção rural:
consequências
Logicamente, a presença de tais contribuições jamais deveria ser vista
como descaracterizadora da condição de segurado especial, afinal, há expressa
previsão de tal possibilidade, na verdade, uma imposição, embora mitigada
favoravelmente.
Inclusive, mais uma vez se vale da IN nº 77/2015 para destacar que a
prova da comercialização é admitida como uma contundente prova material do
exercício de atividade rural, como se vê:
Art. 47. A comprovação do exercício de atividade rural do segurado especial,
observado o disposto nos arts. 118 a 120, será feita mediante a apresentação de
um dos seguintes documentos: (...) VII - comprovantes de recolhimento de
contribuição à Previdência Social decorrentes da comercialização da produção;
VIII - cópia da declaração de imposto de renda, com indicação de renda
proveniente da comercialização de produção rural; (grifo do Autor).
Entretanto, uma ressalva: não obstante haver expressa indicação no âmbito
administrativo no sentido de que não importaria o montante envolvido na
comercialização, a jurisprudência tem mitigado tal previsão. Como exemplo de
tais limitações, apresentam-se alguns julgados consentâneos:
PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR IDADE RURAL. BENEFÍCIO
NÃO CONTRIBUTIVO. ARTIGO 143 DA LEI 8.213/91. NORMA
TRANSITÓRIA. SEGURADA ESPECIAL. ARTIGO 39 DA REFERIDA LEI.
REGIME DE ECONOMIA FAMILIAR: PROVA NÃO CONCLUSIVA. VÁRIOS
IMÓVEIS RURAIS. OUTRAS FONTES DE RENDIMENTO. FATOS
CONSTITUTIVOS NÃO COMPROVADOS. REQUISITOS NÃO
PREENCHIDOS. APELAÇÃO DA PARTE AUTORA DESPROVIDA.
APELAÇÃO DO INSS PROVIDA. TUTELA ESPECÍFICA REVOGADA.
(...)
- Em relação às contribuições previdenciárias, é assente o entendimento de serem
desnecessárias, sendo suficiente a comprovação do efetivo exercício de atividade
no meio rural (STJ, REsp 207.425, 5ª Turma, j. em 21/9/1999, v.u., DJ de
25/10/1999, p. 123, Rel. Ministro Jorge Scartezzini; e STJ, RESP n. 502.817, 5ª
Turma, j. em 14/10/2003, v.u., DJ de 17/11/2003, p. 361, Rel. Ministra Laurita
Vaz).
(...)
- Início de prova material não conclusivo, decorrendo dúvida sobre o real regime
de produção da propriedade rural, indícios levando à conclusão de que não se
tratava de regime de economia familiar. As circunstâncias do caso são
incompatíveis a condição de regime de economia familiar, porque a autora possuía
plena capacidade contributiva de recolher contribuições à previdência social como
produtora rural.
- Da análise dos documentos trazidos aos autos pelo réu, depreende-se que sua
família era proprietária de vários imóveis rurais e urbanos.
- Analisando os documentos que instruíram o presente feito, verifico que eles são
aptos para refutar a pretensão da requerente, pois embora reconhecida a dedicação
da família da autora à atividade rural, entendo que não se fazia na forma de
agricultura de subsistência, indispensável à sobrevivência e ao sustento próprio.
- Não demonstrada a característica de pequena produtora rural, o qual produz para
satisfazer a própria subsistência e a de sua família. O que se conclui é que havia o
objetivo de comercialização dos produtos agrícolas e pecuários com fito
empresarial, posto que a autora não comercializava apenas excedentes de
produção, circunstância que colide com a afirmação de exercício de atividade rural
nos termos do art. art. 11, VII, §1º, da Lei n. 8.213/91.
- Não preenchimento dos requisitos exigidos à concessão do benefício de
aposentadoria por idade rural. - Apelação do INSS conhecida e provida. Recurso
da parte autora prejudicado. - Revogação da tutela antecipatória de urgência
concedida.[23] (grifo do Autor)
PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR IDADE RURAL. AUSÊNCIA
DE COMPROVAÇÃO DO EXERCÍCIO DA ATIVIDADE RURAL, AINDA
QUE DE FORMA DESCONTÍNUA, NO PERÍODO IMEDIATAMENTE
ANTERIOR AO REQUERIMENTO DO BENEFÍCIO. AUTOR PEQUENO
PECUARISTA. REQUISITOS DA LEI 8.213/91 NÃO ATENDIDOS.
(...)
Na hipótese dos autos, conforme consignou o magistrado sentenciante, “consta nos
autos grande comercialização de gado e as testemunhas asseveraram a existência
de gado de propriedade do autor. O requerente trouxe aos autos notas fiscais que
denotam o comércio de bois. Ora, sendo o autor proprietário de expressiva área
rural e com produção que supera o necessário à subsistência, descaracterizado o
labor rural em regime de economia familiar”. Portanto, incabível a concessão do
benefício.
3. Apelação a que se nega provimento. Sentença mantida por seus próprios
fundamentos.[24] (grifo do Autor)
PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR IDADE RURAL. SEGURADO
ESPECIAL. REQUISITOS DA LEI 8.213/91. FAZENDEIRO. MÉDIO
PRODUTOR RURAL. IMPOSSIBILIDADE DE CONCESSÃO. NÃO
PROVIMENTO.
(...)
8. As dimensões das Fazendas Santa Cruz e Fortaleza e o volume de grãos e leite
declarados pelo marido - variando os primeiros entre 1,5 e 14 toneladas anuais e o
segundo entre 3,8 e 5,8 mil litros anuais -, afastam a condição de trabalhador rural
em regime de economia familiar, em que o trabalho dos membros da família é
indispensável à própria subsistência e não há a contratação de empregados
permanentes (Lei 8.213/1991, art. 11, inciso VII).
9. A condição de fazendeiros e produtores rurais também é evidenciada pelos
depoimentos testemunhais, que, embora tenham sido prestados com a intenção de
ajudar a autora, acabaram por corroborar a constatação de que ela e o marido
sempre tiveram o auxílio de encarregados, diaristas e safristas, e também de
meeiros, sem os quais não seria possível tocar as propriedades, que, para citar
apenas a lavoura de café, mantêm cerca de 10 mil pés em produção. 10. A
testemunha Elcy Costa Bernardes, além de informar que na propriedade da autora
havia dois trabalhadores, um responsável por tirar o leite e outro que não sabe
dizer se era meeiro, disse que lá também morava outra pessoa de nome Mauro
Luiz Lucas Caetano, muito embora não tenha certeza de que se tratava de
funcionário, informação que acabou se confirmando no decorrer da instrução
processual, após a juntada dos interrogatórios produzidos na ação criminal em que
este último foi denunciado criminalmente e declarou sua condição de ex-
funcionário da autora, acusado de matar Vicente Florêncio da Silva, último
encarregado da fazenda (f. 176/183).
11. Verificado que o exercício de atividade rural supera os limites da atividade de
economia familiar, visando o lucro (não mera subsistência), resta impossibilitada a
concessão da aposentadoria rural por idade ao autor, que não se enquadra na
condição de segurado especial no estrito conceito do art. 11. VII, da Lei de
benefícios, apesar da existência de prova material e oral acerca do exercício de
atividade rural durante o período de carência (AC 0058824-15.2012.4.01.9199 /
MG, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL CANDIDO MORAES, SEGUNDA
TURMA, e-DJF1 p.172 de 20/04/2015).
(...)
13. Não provimento da apelação.[25] (grifo do Autor)
Contudo, verifica-se no dia-a-dia divergência quanto a tal situação; há
quem entenda pela descaracterização da condição de segurado especial ante a
ocorrência de citada venda, confundindo-o com um contribuinte individual, o
que é um erro crasso.
E tal confusão resta bem esclarecida na Instrução Normativa nº 77/2015
que diferencia o segurado especial do contribuinte individual, eis que este último
não teria qualquer relação com a produção rural, sendo mero intermediário. No
caso, faz-se referência à previsão contida no art. 20, XXIX, verbis: “aquele que,
na condição de pequeno feirante, compra para revenda produtos
hortifrutigranjeiros ou assemelhados”.
Portanto, sendo a pessoa que comercializa a mesma que produz, está-se
diante de um produtor rural, segurado especial. Por sua vez, tratando-se de
alguém que meramente adquire para comercializar a produção rural, ter-se-á um
contribuinte individual.
4 Condição de segurado urbano de membro do núcleo familiar: isso é
relevante para a aposentadoria do produtor rural?
Ainda tratando sobre este aspecto da comercialização, traz-se à colação
mais um ponto polêmico envolvendo: o fato do cônjuge, ou companheiro (a), ou
mesmo qualquer outro membro da família (não se utilizará grupo familiar, pois
se entende não ser o caso, afinal, ele(a) não o comporia) desenvolver atividade
urbana, descaracterizaria sua condição de produtor rural/segurado especial?
A Lei nº 8.213/91, o Decreto nº 3.048/99 e a Instrução Normativa
INSS/PRES nº 77/2015, todos, são unânimes em cogitar da possibilidade de
desenvolvimento da atividade rural tanto em regime de economia familiar,
quanto individualmente. Segue a previsão legal a respeito:
Art. 11. VII – como segurado especial: a pessoa física residente no imóvel rural ou
em aglomerado urbano ou rural próximo a ele que, individualmente ou em
regime de economia familiar, ainda que com o auxílio eventual de terceiros, na
condição de:
a) produtor, seja proprietário, usufrutuário, possuidor, assentado, parceiro ou
meeiro outorgados, comodatário ou arrendatário rurais (grifo do Autor).
No mesmo citado artigo, agora no correspondente §9º, tem-se a assertiva
de que “não é segurado especial o membro de grupo familiar que possuir outra
fonte de rendimento”, ou seja, somente tal pessoa seria excluída do grupo
familiar, não descaracterizando os demais parentes, que formariam um grupo
familiar à parte.
No entanto, insiste-se na ideia de que o exercício individual realizado
paralelamente ao trabalho de um parente do núcleo familiar – para usar o mesmo
termo da súmula 41 da Turma Nacional de Uniformização da Jurisprudência dos
Juizados Especiais Federais (TNU) - traria um requisito a mais para a
configuração do direito, mesmo sem previsão legal, pelo menos de forma
explícita.
De forma indevida, depreende-se da leitura que, uma vez verificado o
exercício de atividade diversa da rural por algum membro do grupo familiar do
pretendente ao benefício, há que se demonstrar a necessidade de que a produção
rural seja indispensável para se obter o benefício como segurado especial.
Até mesmo há, como antecipado acima, uma súmula da Turma Nacional
de Uniformização da Jurisprudência dos Juizados Especiais Federais
disciplinando tal linha de raciocínio; no caso, a súmula 41, verbis:
A circunstância de um dos integrantes do núcleo familiar desempenhar atividade
urbana não implica, por si só, a descaracterização do trabalhador rural como
segurado especial, condição que deve ser analisada no caso concreto.
E tal entendimento tem sido seguido pela jurisprudência, a exemplo do que
se pode conferir nos dois julgados abaixo, ambos de Turmas Recursais da 4ª
Região, verbis:
(...) Em seu apelo, defende o INSS defende a impossibilidade de reconhecimento
do tempo de labor rural, argumentando que não foi apresentado início de prova
material válido e suficiente à comprovação da atividade agrícola no período
deferido. Também destaca que a genitora do demandante passou a exercer vínculo
urbano de labor a contar de 01/11/1983, o que descaracteriza o regime de
economia familiar, mormente pelo fato de que não houve a devida demonstração
da indispensabilidade do labor agrícola ao sustento do grupo familiar, frente a essa
renda urbana. Sustenta, ainda que, a prova testemunhal não é idônea à confirmação
da qualidade de segurado especial do autor, haja vista que sequer mencionou a
existência dessa renda diversa da rural.
Pois bem, cumpre ressaltar, inicialmente, que não se desconhece o disposto na
Súmula n.º 41, da Turma Nacional de Uniformização, que dispõe o seguinte: “A
circunstância de um dos integrantes do núcleo familiar desempenhar atividade
urbana não implica, por si só, a descaracterização do trabalhador rural como
segurado especial, condição que deve ser analisada no caso concreto”.
Todavia, se, de um lado, a renda urbana de um dos membros da família não pode
impedir de forma absoluta a configuração do regime de economia familiar por
parte dos demais membros, por outro lado, isso impõe ao segurado o ônus da
prova não apenas da atividade rural, mas também da relevância da comercialização
de seus produtos, a ponto de permitir a constatação de que a renda agrícola era tão
ou mais importante ao sustento do grupo familiar.
Na situação trazida aos autos, o fato de a genitora do demandante ter efetivamente
exercido labor de cunho urbano, como segurada empregada, no período de
01/11/1983 a 22/04/1986 e, logo após, a partir de 01/05/1986, vinculação que
perdurou até o ano de 1999 (9-PROCADM1, pág. 67), indica que a manutenção do
núcleo familiar não girava, de fato, em torno da renda obtida mediante o
desempenho da atividade rural.
Isso porque não foram apresentadas notas fiscais que indiquem a importância da
comercialização dos produtos agrícolas frente a esse labor de cunho urbano de sua
genitora e, aparentemente, também de suas irmãs, conforme sua própria declaração
na entrevista rural processada na via administrativa (9-PROCADM1, pág. 62).
Aliás, há uma única nota fiscal colacionada ao feito, referente à venda de vagem
pelo genitor do requerente, no ano de 1988, mas, além de aparentemente não ter
havido a comercialização de uma quantidade expressiva desse produto, sequer há
informação sobre o valor total da venda, de sorte que esse documento não é válido
à comprovação de eventual importância da produção agrícola nem mesmo no ano
de 1988 (9-PROCADM1, pág. 58).
Em que pese ter sido juntada documentação escolar, referentemente aos anos de
1979 a 1990, indicando que a parte autora estudou em estabelecimento de ensino
situado em zona rural, bem assim que concluiu o 2º grau com habilitação em
Técnico em Agropecuária (6-PROCADM1, págs. 14-17 e 22-23), esclareço que,
embora consista em início de prova material potencialmente válido, esse tipo de
elemento, isoladamente, apenas comprovaria a residência da parte autora em
localidade rural e o desempenho das lides campesinas, mas não a importância do
labor em questão ao sustento dos integrantes da família.”
(5010804-16.2017.4.04.7107, PRIMEIRA TURMA RECURSAL DO RS, Relator
ANDRÉ DE SOUZA FISCHER, julgado em 11/04/2018).
“(...) Com feito, a parte autora não juntou ao feito Notas de Produtor Rural em
nome próprio ou em nome de terceiro que pudessem demonstrar a potencialidade
de comercialização da sua produção agrícola após o ano de 2010, tal qual exigido
pela Turma Regional de Uniformização:
PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO REGIONAL. PREVIDENCIÁRIO. REGIME
DE ECONOMIA FAMILIAR. TRABALHO URBANO DE MEMBRO DO
GRUPO FAMILIAR. DIVERGÊNCIA NÃO CONFIGURADA. INCIDENTE
NÃO CONHECIDO.
1. O acórdão recorrido considerou que o trabalho da parte autora não era
indispensável ao sustento do grupo familiar, uma vez que seu genitor
desempenhava atividade urbana, da qual provinha a única fonte de renda da
família já que não havia comercialização da produção agrícola.
2. Divergência não configurada, uma vez que a descaracterização do regime de
economia familiar não decorreu exclusivamente do exercício do labor urbano pelo
genitor da parte autora, mas, sim, do conjunto probatório constante dos autos, que
não aponta a existência de produção rural com potencialidade de comercialização,
indicando que o sustento do grupo familiar provinha do trabalho urbano do
genitor. 4. Incidente não conhecido.[26]
E, infelizmente, não é outra a orientação do Superior Tribunal de Justiça
(STJ) a respeito da matéria, senão a que segue:
PROCESSUAL E PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA RURAL POR
IDADE. CÔNJUGE QUE PASSA A DESENVOLVER ATIVIDADE URBANA.
PROVA MATERIAL. EXISTÊNCIA. REEXAME. SÚMULA 7 DO STJ.
1. A Primeira Seção desta Corte, no julgamento do REsp n. 1.304.479/SP,
proferido sob o rito do art. 543-C do CPC/1973, concluiu que o trabalho urbano de
um dos membros do grupo familiar não descaracteriza, por si só, os demais
integrantes como segurados especiais, devendo ser averiguada a dispensabilidade
do trabalho rural para a subsistência do grupo familiar.
2. Hipótese em que o Tribunal de origem considerou suficiente a prova material
colhida, a qual foi corroborada por robusta prova testemunhal, de modo que a
inversão do julgado demandaria o reexame de prova, inviável em sede de recurso
especial, nos termos da Súmula 7 do STJ.
3. Agravo interno desprovido.[27]
De todo modo, pontua-se que, se a atividade rural é desenvolvida
individualmente, pouco importa o que faça os demais membros do núcleo
familiar. E como reforço a tal assertiva, traz-se à colação trecho de um
julgamento monocrático recentíssimo do STJ, verbis:
(...) 14. Assim, ainda que os demais membros do grupo familiar exerçam
atividade remunerada de outra natureza, o membro que se dedique à
produção rural em regime individual será considerado segurado especial,
desde que comprove sua condição com documentos em seu nome.[28] (grifo do
Autor)
Portanto, tem-se que o desenvolvimento de atividade urbana por um dos
membro do grupo familiar não irá descaracterizar a atividade rural desenvolvida
por outro membro.
4.1 Necessidade de início de prova material para demonstrar a
indispensabilidade da produção rural significativa
Embora tenhamos constatada, ainda que de forma indevida, a exigência de
que há que ser demonstrada considerável produção para ter reconhecida sua
condição de segurado especial para aquele que tem algum parente componente
do núcleo familiar exercendo atividade urbana, é inaceitável exigir início de
prova material de tal produção.
Ou seja, não precisa ser o principal meio de manutenção do núcleo
familiar, senão se vê:
A hipótese não se amolda ao caso dos autos, eis que os elementos de prova
apresentados permitem concluir que a agricultura exercida pela parte autora
constitui mera complementação à renda percebida pelo seu esposo como
trabalhador e como beneficiário de aposentadoria por tempo de contribuição de
índole urbana. É dizer, o eventual ganho obtido com o produto da lavoura
não é imprescindível à subsistência da família, caracterizando-se mais como
reforço da renda obtida pelo marido, não justificando, portanto, o
reconhecimento do tempo de serviço rural.[29] (grifo do Autor)
Afinal, sequer há previsão legal de tal requisito, pelo que descabido exigir
início de prova material, a exemplo de comprovantes da correlata
comercialização, notadamente se observar que, sobretudo no Nordeste, esta não
é uma prática corriqueira, sendo eventual comércio desenvolvido muito
informalmente.
Deste modo, caberá à prova testemunhal, como regra, tal incumbência, ou
seja, demonstrar a necessidade da produção rural para a manutenção do
respectivo núcleo familiar, além de confirmar o exercício de atividade rural pelo
tempo mínimo exigido, cautela que se deve guardar quanto se patrocinar causas
com tal contexto.
4.2 E se os rendimentos do consorte que exerça atividade urbana forem de
somente um salário mínimo?
De outra banda, veladamente, tem-se excetuado tal rigor quando o aludido
membro ovelha negra receber benefício de até um salário mínimo, ainda que de
natureza urbana.
Embora ainda não se tenha encontrado a justificativa de forma clara a
respeito de relativização na maior parte dos julgados, arrisca-se dizer que tal
tratamento diferenciado derivaria do fato de que é dado ao segurado especial
produtor rural a percepção de alguns benefícios de até um salário mínimo, sem,
com isso, haver prejuízo no reconhecimento da condição de lavrador, previsão
contida no art. 11, §9º, da Lei nº 8.213/91, verbis:
§ 9º Não é segurado especial o membro de grupo familiar que possuir outra fonte
de rendimento, exceto se decorrente de: I – benefício de pensão por morte, auxílio-
acidente ou auxílio-reclusão, cujo valor não supere o do menor benefício de
prestação continuada da Previdência Social;
Daí que, como que antecipando o falecimento do cônjuge/companheiro(a),
não haveria nenhum óbice para o fato de este receber um salário mínimo a título
de rendimentos, afinal, se a morte do membro urbano não seria óbice, eis que
geraria uma pensão de valor mínimo a qual não descaracteriza a condição de
segurado especial do(a) pretendente ao benefício, não é razoável supor que em
vida fosse diferente. Nesse sentido, o seguinte julgado:
(...) Importante ter em conta também que, por força da nova redação dada ao art.
11 da Lei de Benefícios pela Lei 11.718, de 20.6.2008, e sua aplicação analógica,
somente o benefício de valor mínimo percebido por outro membro da família
não teria o condão de desqualificar o trabalhador rural da condição de
segurado especial:
‘§ 9º. Não é segurado especial o membro de grupo familiar que possuir outra fonte
de rendimento, exceto se decorrente de: (Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008): I -
benefício de pensão por morte, auxílio-acidente ou auxílio-reclusão, cujo valor não
supere o do menor benefício de prestação continuada da Previdência Social;
(Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008) (...)[30] (grifo do Autor)
Oportuno destacar que, conforme entendimento esposado na Instrução
Normativa INSS/PRES nº 77/2015, tal limitação é por benefício, bem como
sendo este rateado, por cota, nos termos do art. 42, VIII, “a” e §1º, verbis:
Art. 42. Não descaracteriza a condição de segurado especial:
(...)
VIII - a percepção de rendimentos decorrentes de:
a) benefício de pensão por morte, auxílio-acidente ou auxílio-reclusão, durante o
período em que seu valor não supere o do salário-mínimo vigente à época,
considerado o valor de cada benefício quando receber mais de um;
(...)
§ 1º Considerando o disposto na alínea “a” do inciso VIII deste artigo, nos casos
em que o benefício for pago a mais de um dependente, deverá ser considerada
a cota individual. (grifo do Autor).
E mais: sendo superior a um salário mínimo, mas, vindo a alcançar tal
patamar em razão das correções inferiores à aplicada ao piso mínimo, o
beneficiário voltará a ser segurado especial. Essa, inclusive, é a orientação do
INSS, como se vê:
IN 77/2015. Art. 43. O segurado especial fica excluído dessa categoria:
(...)
III - pelo período em que o benefício de pensão por morte auxílio-acidente ou
auxílio-reclusão foi recebido com valor superior ao salário-mínimo, observado o
disposto na alínea “a” do inciso VIII e § 1º, ambos do art. 42.
Não se pode deixar de registrar estranheza com tal situação: alguém que
sempre exerceu a mesma atividade, a depender do quanto receba a título de
benefícios previdenciários elencados taxativamente na lei, ora será segurado
especial, ora não. E, afinal, seria o quê, enquanto é beneficiário com montante
acima? Contribuinte individual?
Nesse sentido, traz-se trecho de um julgado em que se depara com tal
contexto:
(...) Assim, diante de todo o exposto, cotejando-se o início de prova material
apresentado com a prova testemunhal produzida - além da ausência de qualquer
notícia da existência labor de cunho urbano por algum dos integrantes da
unidade familiar, durante o período de 15/12/1979 a 31/10/1983 -, entendo que
o conjunto probatório coligido foi favorável ao convencimento positivo deste juízo
a respeito do labor rurícola, de sorte que vai mantido o reconhecimento sentencial
do intervalo telado.
Assim, por todo o exposto, diante da não comprovação de que a manutenção do
grupo familiar girava indispensavelmente em torno dos lucros advindos do labor
rural do grupo familiar, é de ser dado parcial provimento ao recurso da parte ré no
ponto, para afastar o tempo de serviço rural no lapso de 01/11/1983 a 12/12/1989.
[31]
(grifo do Autor)
Porém, ainda são necessárias algumas ponderações sobre tal contexto. A
restrição ora em comentário somente se faz presente enquanto estiver algum
membro do núcleo familiar exercendo atividade urbana, não prejudicando os
demais intervalos em que demonstrada a qualidade de segurado especial. O que
é lógico, afinal, se para o próprio requerente assim se entenderia, não seria
minimamente razoável prejudicar todo o lapso temporal comprovadamente
exercido no meio rural em razão de um terceiro.
Considerações finais
Diante do quanto foi brevemente exposto, deduz-se que ainda há muito a
se evoluir no que tange ao reconhecimento da condição do segurado especial que
tem em seu núcleo familiar alguém que exerça atividade diversa da rural, eis que
a jurisprudência tem, até mesmo, criado requisito sem qualquer respaldo legal,
comportamento que deve ser objeto de constantes críticas de sorte a que seja
repensado o requisito da indispensabilidade da comercialização da produção
rural, ou pelo menos seu caráter potencial.
Subsidiaria e igualmente digno de reparo a exigência, de igual maneira
ilegal, de que haja início de prova material de tal venda, pois em evidente
confronto com a cláusula pétrea de que ninguém é obrigado a fazer ou deixar de
fazer alguma coisa, senão em virtude de lei (art. 5º, II, da Constituição Federal).
E, ainda em caráter sucessivo, outrossim, é fundamental que, na defesa do
direito às citadas aposentadorias por idade, seja atentado que eventual exercício
de atividade urbana por membro do núcleo familiar somente possa ser,
ocasionalmente, um óbice intransponível ao reconhecimento da atividade rural
na condição de produtor rural pessoa física, durante o exercício de citado
desempenho laboral, mas não que “contamine” os demais períodos em que não
evidenciada atividade diversa da rural pelo(s) mencionado(s) membro(s).
Assim, há muito trabalho pela frente...
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TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO. 5001070-
14.2017.4.04.7213 – 2ª TURMA RECURSAL DE SC – Recorrente: VILMA
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em: 24 de setembro de 2018.
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO. 5010804-
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INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – Recorrido: JANARI
BORGES. Documento eletrônico disponível em:
<https://jurisprudencia.trf4.jus.br> Acesso em: 24 de setembro de 2018.



CAPÍTULO 4

FUNRURAL: OS ASPECTOS PREVIDENCIÁRIOS,
TRIBUTÁRIOS E OS TRAÇOS DA FUNÇÃO
SOCIAL DA PROPRIEDADE RURAL

RAFAELA AIEX PARRA
Advogada; Mestranda em Direito Negocial pela UEL/PR; Especialista em
Direito Aplicado pela EMAP; Pós-Graduanda em Agronegócios pela
USP/ESALQ; Aperfeiçoamento no MBA de Gestão Estratégica de Empresas
pelo ISAE/FGV; Representante da Sociedade Rural do Paraná nos Comitês de
Sustentabilidade e Leis e Regulamentos da Sociedade Rural Brasileira; Vice
Coordenadora da Comissão de Direito Agrário e Agronegócio da OAB
Londrina; Coordenadora Regional da UBAU – União Brasileira dos Agraristas
Universitários, no Estado do Paraná.
Introdução
O modelo estatal brasileiro traz consigo traços republicanos que impõem à
produção econômica submissão à regra tributária no país, a fim de que os
recursos obtidos possam servir de guarida, dentre outros, à previdência social.
Diante disso, a propriedade rural e a exploração econômica nela exercida
ficam adstritas, também, a estas regras de cunho contributivo social.
O objetivo, neste estudo, é, de modo declaratório, definir o conceito do
Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (FUNRURAL), analisar a
judicialização do tema e traçar os parâmetros das cobranças, passadas e futuras.
1 O modelo legal de propriedade rural no Brasil: a necessidade de
adequação da propriedade ao senso coletivo
A propriedade privada no Brasil é revestida por caráter relativo. Assim,
objetivamente, no que pertine ao presente estudo, diz-se que a propriedade rural
tem uma função social a atender.
Para Arnaldo Rizzardo:
A função social da propriedade envolve a adequação do direito de propriedade ao
interesse coletivo, de modo a lhe retirar o caráter visto essencialmente sob o
prisma individualista, excludente e absoluto que se formou ao longo da Idade
Moderna. [32]
Sobre a origem do termo, Eduardo Rodrigues Evangelista [33] explica que o
autor francês Léon Duguit, fez dura crítica à concepção individualista da
propriedade, sobretudo sobre a premissa de que somente concedendo ao
possuidor um direito subjetivo absoluto sobre o bem é que poder-se-ia garantir a
plenitude de sua autonomia individual.
De fato, o francês Duguit[34] faz oposição feroz - no campo doutrinário - ao
caráter Napoleônico de absolutismo da propriedade privada.
No Brasil, após a evolução desde a história das Constituições, passando à
modernidade, este viés relativo é dado à propriedade pelo artigo 5º da
Constituição Federal (CF) de 1988, pois, em seu inciso XXII, consagra o direito
à propriedade privada mas, logo na sequência, no inciso XXIII, condiciona a
exploração e a manutenção desta propriedade ao bom uso que atenda às regras
da chamada função social da propriedade rural.
O atendimento à função social pela propriedade rural é uma regra rígida,
pois advém de um comando constitucional (art. 186, CF) e engloba ditames
multisciplinares, por meio de imposição econômica, social e ambiental.
Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende,
simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos
seguintes requisitos: I - aproveitamento racional e adequado; II - utilização
adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III -
observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV - exploração
que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.
A obrigação de atendimento à função social da propriedade rural pode
assim ser interpretada:
[...] o art. 186 da CF/88 estrutura o conceito de função social a partir d eum
quadripé, para cujo o aperfeiçoamento reclama SIMULTANEAMENTE não só
valores ligados à produtividade, mas um componente referido à produtividade
(inciso I), um refeiro ao meio ambiente (inciso II), um referido ao trabalho (inciso
III) e um referido ao bem-estar (inciso IV), operando todos a molde de “sub-
funções sociais da propriedade”; sem a presenca de cada qual a função social não
se aperfeiçoa como conceito harmônico.[35]
Para Silvia Opitz e Oswaldo Opitz[36], o verdadeiro sentido da expressão
função social da propriedade é o de produzir a terra todos os bens que possam
satisfazer às necessidades presentes e futuras dos homens.
No campo da legislação, é possível notar a presença dos vários ramos do
Direito como auxiliares para a consecução da função social da propriedade rural,
como o Dieito Civil, Direito Penal, Direito Tributário, Direito Empresarial,
Direito Trabalhista, Direito Agrário, Direito Ambiental e, também, o Direito
Previdenciário.
A função do Direito Previdenciário, nesse sentido, decorre da previsão de
direitos sociais, anotados no art. 6º da Constituição de 1988.
Nesta construção teórica, pode-se enquadrar a contribuição previdenciária
do Funrural como meio para manutenção da função social da propriedade rural e
da atividade econômica que dela decorre, tanto pelo cuidado às relações de
trabalho, como pelo respeito aos direitos socias destes trabalhadores, que
laboram no campo e contribuem para que haja uma produção equilibrada entre o
econômico e o racional (art. 6º Lei nº 8.629/93) e o respeito, também, ao meio
ambiente (art. 225, CF).
2 FUNRURAL: do nascimento da cobrança às discussões atuais
A decisão do STF sobre a constitucionalidade da cobrança do
FUNRURAL tem causado insegurança jurídica ao setor do agronegócio no país.
Trata-se de temática com grande repercussão junto às pessoas físicas
produtores rurais, principalmente dos pecuaristas, e em especial àqueles que
comercializam matrizes, reprodutores, animais para cria, recria e engorda e,
também, dos agricultores, comercializadores de grãos, sementes e farelos.
Para começar, é necessário contextualizar o termo FUNRURAL no
espeque jurídico.
Diego Almeida da Silva expõe a base histórica para o nascimento do
termo, nestas palavras:
[…] o FUNRURAL, tributação importante do setor rural, alterou-se
significativamente ao longo de sua existência. Nasce na década de 60, por meio da
Lei nº 4.214, de 2 de março de 1963, antigo Estatuto do Trabalhador Rural. Recebe
este apelido que se perpetua hoje na prática da vida previdenciária por sua
destinação ao Fundo de Assistência e Previdência do Trabalhador Rural
(FUNRURAL).[37]
No entender de Pedro Puttini Mendes[38], embora popularmente
denominada FUNRURAL, a terminologia não é abarcada pela legislação
moderna, sendo correta a utilização do termo “contribuição previdenciária
rural”.
Isso porque houve a unificação da previdência social para contribuintes
urbanos e rurais a partir da Constituição de 1988, conforme ensina Arnaldo
Rizzardo[39].
Para fins didáticos, utilizar-se-á neste texto o termo FUNRURAL. Neste
sentido, o FUNRURAL é uma contribuição social destinada a custear a
seguridade geral (INSS), cobrada pela Receita Federal, devida tanto pelo
empregador rural pessoa física (art. 25 da Lei nº 8.212/91) quanto pelo produtor
rural pessoa jurídica (art. 25 da Lei nº 8.870/94).
Portanto, pode-se afirmar que a cobrança do FUNRURAL tem origem
tributária. Conforme as lições do professor Luciano Amaro[40], pode-se entender
tributo como objeto de uma relação jurídica, cuja cobrança é imposta por lei, nos
termos previamente definidos, com a finalidade de custear as despesas coletivas.
A Constituição Federal arrola quais são as espécies de tributos no
ordenamento juridico do país. Ora, partindo destas definições, é possível
enquadrar o FUNRURAL como uma contribuição social (art. 149, CF), que,
conforme já exposto, destina-se a custear a seguridade social, de forma direta e
teve sua edição por meio de lei ordinária, que definiu a base de cálculo, fato
gerador, por exemplo.
Seguridade Social, para Fábio Zambitte Ibrahim, “é o conjunto integrado
de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a
assegurar os direitos à saúde, à previdência e à assistência social”[41].
É relevante deixar claro que a contribuição destina-se à previdência social
como um todo e não de forma específica para fins de aposentadoria. Aquele que
recolhe o FUNRURAL somente poderá fazer uso dos benefícios da
aposentadoria caso faça o recolhimento, também, do Instituto Nacional do
Seguro Social, inclusive no que tange aos pequenos produtores e à agricultura
familiar.
Assim, com base na legislação vigente, ainda que o produtor rural se
aposente por suas contribuições como segurado, permanecerá a obrigação de
recolhimento do FUNRURAL, desde que o fato gerador (comercialização da
produção) continue existindo nas operações e enseje a cobrança.
Pois bem, esta é a composição atual do tributo:
• Alíquota pessoa física: 1,5% (1,2% INSS; 0,1% RAT; 0,2% SENAR);
• Alíquota pessoa jurídica: 2,05% (1,7% INSS; 0,1% RAT; 0,25% SENAR).
As operações entre criadores pessoas físicas eram isentas do denominado
FUNRURAL, cuja alíquota (total) atual é de 1,5%. A partir de 21 de setembro de
2008, com a entrada em vigor da Lei nº 11.718/2008, que revogou o § 4º do
artigo 25 da Lei nº 8.212/91, que previa a isenção nas operações entre produtores
pessoas físicas, estas operações passaram a compor o campo de incidência do
FUNRURAL, que passou a ser exigida dos produtores em todas as
comercializações, por meio de Guia da Previdência Social (GPS).
Foi a partir de então, com esta nova regra, que houve judicialização do
tema e a discussão foi levada até o Supremo Tribunal Federal (STF), para a
discussão acerca da constitucionalidade da cobrança desta contribuição
previdenciária.
O Julgamento do STF, considerando a cobrança do FUNRURAL
inconstitucional, ocorreu em 03/02/2010.
O próprio STF, em seu sítio eletrônico, publicou a seguinte notícia:
“Supremo desobriga empregador rural de recolher Funrural sobre receita bruta
de sua comercialização”, e forneceu as seguintes informações:
Por votação unânime, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) declarou, em
03.02.2010, a inconstitucionalidade do artigo 1º da Lei 8.540/92, que previa o
recolhimento de contribuição para o Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural
(FUNRURAL) sobre a receita bruta proveniente da comercialização da produção
rural de empregadores, naturais.
A decisão, que beneficiou os fornecedores de bovinos para abate, foi tomada no
julgamento do Recurso Extraordinário (RE) 363852, interposto pelo Frigorífico
Mataboi S/A, de Mato Grosso do Sul, e uma subsidiária sua. No recurso, elas
contestavam acórdão (decisão colegiada) do Tribunal Regional Federal da 1ª
Região (TRF-1), que manteve sentença proferida em Mato Grosso do Sul no
sentido da constitucionalidade do dispositivo legal impugnado.
No mesmo julgamento, o Plenário do STF negou, por maioria, pedido da
Advocacia Geral da União (AGU), que atuou em defesa do Instituto Nacional do
Seguro Social (INSS), para que a Suprema Corte modulasse os efeitos da decisão,
aplicando-a com efeitos ex nunc, ou seja de forma não-retroativa (nesse caso não
haveria devolução dos valores recolhidos, que simplesmente deixariam de ser
cobrados). A negativa da Suprema Corte abriu a possibilidade de outros produtores
ajuizarem ações pleiteando o mesmo direito obtido pelo Frigorífico Mataboi S/A,
o que de fato ocorreu.[42]
A decisão na ocasião foi esta:
Decisão: O Tribunal, por unanimidade e nos termos do voto do Relator, conheceu
e deu provimento ao recurso extraordinário para desobrigar os recorrentes da
retenção e do recolhimento da contribuição social ou do seu recolhimento por
subrrogação sobre a “receita bruta proveniente da comercialização da produção
rural” de empregadores, pessoas naturais, fornecedores de bovinos para abate,
declarando a inconstitucionalidade do artigo 1º da Lei nº 8.540/92, que deu nova
redação aos artigos 12, incisos V e VII, 25, incisos I e II, e 30, inciso IV, da Lei nº
8.212/91, com a redação atualizada até a Lei nº 9.528/97, até que legislação nova,
arrimada na Emenda Constitucional nº 20/98, venha a instituir a contribuição, tudo
na forma do pedido inicial, invertidos os ônus da sucumbência. Em seguida, o
Relator apresentou petição da União no sentido de modular os efeitos da decisão,
que foi rejeitada por maioria, vencida a Senhora Ministra Ellen Gracie. Votou o
Presidente, Ministro Gilmar Mendes. Ausentes, licenciado, o Senhor Ministro
Celso de Mello e, neste julgamento, o Senhor Ministro Joaquim Barbosa, com
voto proferido na assentada anterior. Plenário, 03.02.2010.[43]
Àquela época, ninguém poderia antever que esta decisão seria a
precursora para a consolidação da maior insegurança jurídica, quer em esfera
econômica, quer em esfera social, para a produção rurícola brasileira.
Pois bem, após a publicação desta decisão, mais de 15 mil produtores
rurais conseguiram perante o poder judiciário a desobrigação de recolhimento do
FUNRURAL, ainda que de maneira liminar.
Então, após 07 anos da decisão antecessora sobre o caso e, por forte
pressão política, o Supremo Tribunal Federal, em 30/03/2017, por maioria de
votos (6 a 5), no Recurso Extraordinário 718874/RS-RG, reconheceu a
constitucionalidade da contribuição exigida do produtor rural pessoa física
empregador, nos termos do artigo 25 da Lei nº 8.212/1991, denominada de
FUNRURAL, fixando a seguinte tese: “é constitucional, formal e materialmente,
a contribuição social do empregador rural pessoa física, instituída pela Lei
10.256/2001, incidente sobre a receita bruta obtida com a comercialização de sua
produção”[44].
Após a publicação da decisão, o secretário de Política Agrícola do
Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Neri Geller, disse, durante
a abertura do Fórum do Agronegócio, “O desafio de alimentar o mundo”, na
Exposição Rural e Agropecuária de Londrina 2017, que o setor teria “um
problema sério pela frente”, ao comentar a decisão do Supremo Tribunal Federal
(STF) a respeito da cobrança do Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural
(Funrural).[45]
A partir daí, a incerteza repousou quanto à aplicação da decisão,
principalmente em relação a possíveis efeitos retroativos. Desde então, o
FUNRURAL tomou lugar nas discussões do agronegócio de uma vez por todas.
O produtor e toda a cadeia produtiva ruralista voltaram-se à incerteza da
aplicação da decisão judicial que reconheceu constitucional a cobrança social e
que depois foi substituída pela mesma Corte.
O ponto mais crítico, superada a revolta pela própria institucionalização
jurídica do tributo, é a dúvida sobre o que será feito com os valores que
deixaram de ser recolhidos no interregno de 2010 (decisão do STF que
reconheceu insconstitucional o FUNRURAL) e 2017 (decisão do STF que
reconheceu constitucional o FUNRURAL), por aqueles que se beneficiaram de
liminares na justiça.
Os advogados habilitados no processo do Recurso Extraordinário
718.874/RS-RG, representantes da Sociedade Rural Brasileira e demais
entidades representativas do agronegócio, que são partes no processo, afirmaram
que iriam opor Embargos de Declaração, com o escopo de modular a decisão e
alterá-la. E assim o fizeram.[46]
Salienta-se que este manejo processual não suspendeu a decisão do STF e,
em 23/05/2018, o julgamento dos embargos de declaração aconteceu,
indeferindo o pedido de modulação temporal, para o abatimento e não a
cobrança dos débitos entre a primeira decisão do STF que reconheceu a
inconstitucionalidade da contribuição e a decisão sucessora, que sobreveio 07
anos após, alterando totalmente o cenário e considerando a cobrança
constitucional.
Na prática, é o que sucede. Logo após a decisão supra (que reconheceu a
constitucionalidade da contribuição), mesmo antes de sua publicação oficial, o
Governo Federal publicou a Medida Provisória (MP) nº 793, de 31 de julho de
2017, que instituiu o Programa de Regularização Tributária Rural junto à
Secretaria da Receita Federal do Brasil e à Procuradoria-Geral da Fazenda
Nacional. Em outras palavras, determinava as regras fiscais para que todos os
produtores rurais que não recolheram ou não tiveram descontadas as
porcentagens devidas ao FUNRURAL, entre 2010 e 2017, acertassem seu
passivo.
Com a manutenção da judicialização do caso, a iminência de julgamento
dos Embargos de Declaração e a esperança política de mudança do quadro
desfavorável, muitos produtores rurais não fizeram aderência ao Refis, o que
forçou o Governo a conceder novo prazo ao contribuinte, por meio da edição da
Medida Provisória nº 803, de 29 de setembro de 2017.
Esta nova medida provisória, posteriormente, foi convertida na Lei nº
13.606, de 9 de janeiro de 2018, que, dentre outras providências, fixou como
prazo de adesão ao Refis de confissão de dívida a data de 28 de fevereiro de
2018.
Novamente, houve dilação do prazo e, então, fora publicada a Lei nº
16.630 de 28 de fevereiro de 2018, que fixou o termo final de adesão ao
Programa de Regularização Tributária Rural (PRR) para 30 de abril de 2018.
Este prazo, mais uma vez, foi alterado. Dessa vez pela Medida Provisória
nº 828, de 27 de abril de 2018, que determinou como prazo final para a adesão
ao Programa de Regularização Tributária Rural a data de 30/05/2018.
Após a decisão dos Embargos de Declaração no RE 718.874/RS que não
concedeu o pedido para a modulação dos efeitos, ou seja, não concedeu o perdão
da dívida no período compreendido entre as duas decisões divergente do STF,
novamente o prazo para a adesão ao PRR foi alargado.
Dessa vez pela Medida Provisória nº 834, de 29 de maio de 2018, fixando
a data final de adesão, pelo produtor rural, às regras de adimplemento do débito
tributário para 30/10/2018.
Sem adentrar a discussão jurídica, ideológica e principiológica sobre a
cobrança em si e sobre seus reflexos ao agronegócio de maneira econômica
(tampouco falando sobre a Resolução nº 15/2017 do Senado Federal, que na
prática não tem quaisquer efeito), é possível verificar que tal discussão (sobre a
constitucionalidade ou inconstitucionalidade da legislação) traz consigo alta
carga de insegurança jurídica.
De um lado a cobrança ao produtor rural em total mudança de
jurisprudência do STF, e que vai onerar as operações econômicas do
agronegócio, trazendo prejuízo ao setor e reflexos para a sociedade como um
todo. E de outro lado o déficit esperado para a Previdência Social, que gerará
impacto direto nos benefícios previdenciários.
O STF com a brusca mudança de jurisprudência causou um enorme
desacerto tanto para o setor agrário produtivo quanto para os cofres públicos,
não se esquecendo que o agronegócio também é propulsor do PIB Brasileiro e,
portanto, responsável pela circulação de bens e serviços no país. Eventual
retração do setor pode trazer malefícios à popilação. O Brasil encontra-se entre a
“cruz e a espada” quando o assunto é FUNRURAL.
Ao que tudo indica, a discussão sobre a cobrança do FUNRURAL não tem
data para acabar. A notícia foi dada pelo site Consultor Jurídico, que diz:
Pouco mais de uma semana depois de o Supremo Tribunal Federal reafirmar a
constitucionalidade da contribuição ao Funrural, uma empresa do ramo de criação
e abate de aves e comércio de alimentos obteve liminar na Justiça Federal para
desobrigá-la da retenção e recolhimento da contribuição social do fundo. A decisão
foi proferida pela 4ª Vara Cível Federal de São Paulo.[47]
Embora a decisão não trate de discutir a inconstitucionalidade do tributo,
mas sim da sub-rogação, traz a tona toda a carga de tensão e insegurança jurídica
que é peculiar ao tema e gera reflexos, quer no aspecto econômico, quer no
aspecto social, inclusive no regime geral previdenciário.
O Procurador do Distrito Fedral e Mestre em Direito Agrário, Rogério
Anderson, traz a importante reflexão de que “a questão do FUNRURAL nos diz
mais sobre nós e nossa ordem jurídica do que gostaríamos, de certa forma
explica do que se compõe nosso tecido social, do que somos feitos” [48].
O mais importante é que em meio à panacéia de teses sobre a cobrança ou
não do FUNRURAL, não seja esquecido que:
O sistema politico brasileiro, em seu art. 2º da promulgada Constituição da
República de 1988, prevê, como direito fundamental, a divisão dos poderes, ipsis
litteris: “Art. 2º - São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o
Legislativo, o Executivo e o Judiciário”.[49]
As decisões judiciais não podem (e não devem) ser uma afronta à
Constituição Federal. O STF, além de resguardar a Carta Magna, também tem a
institucional função de manter a segurança jurídica do país (ou ao menos assim o
deveria).
Considerações finais
Todas as mais de 5 milhões de propriedades rurais cadastradas no Brasil
que fazem comercialização de produtos oriundos do agronegócio, entre
pequenas, médias e grandes foram atingidas pela decisão do STF sobre o
FUNRURAL.
Muitos representantes da classe produtora rural pronunciaram-se em
discordância à dita decisão e, principalmente, ao efeito negativo – em cascata –
que pode gerar a toda a sociedade.
Por todas as brechas da lei, de discussões que ainda podem ser suscitadas
judicialmente, o tema do FUNRURAL para o setor do agronegócio ainda está
longe de uma solução definitiva, cabendo aguardar os próximos capítulos.
Outrossim, lembra-se que este aumento de custo para a produção agrícola,
neste momento da Economia do país, pode levar os produtores a uma situação
muito complicada. O impacto do FUNRURAL, notadamente deste passivo de,
pelo menos, sete anos retroativos, pode levar a inviabilidade da produção de
muitos agricultores e ter um efeito cascata em déficit para todo o PIB Brasileiro.
Fora isso, é de se esperar todos os desdobramentos jurídicos e políticos
que envolvem a questão.
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UNIÃO – Recorrido: JOSE CARLOS STANISZEWSKI. Documento eletrônico
disponível em: <http://stf.jus.br> Acesso em: 24 de setembro de 2018
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Supremo desobriga empregador rural de
recolher Funrural sobre receita bruta de sua comercialização. Documento
eletrônico disponível em: <http://www.stf.jus.br> Acesso em: 03 de junho de
2018.

CAPÍTULO 5
CONTRIBUINTE INDIVIDUAL:
RECONHECIMENTO DE TEMPO E PAGAMENTO
DE CONTRIBUIÇÕES EM ATRASO

EMERSON COSTA LEMES
Contador e pós-graduado em Direito do Trabalho e Previdenciário. Atuou por 20
anos com rotinas trabalhistas e previdenciárias, e desde 2006 ministra cursos,
palestras, aulas e treinamentos nestes dois temas. Há mais de 10 anos atua como
perito judicial e extrajudicial nas áreas trabalhista, previdenciária e bancária
(CNPC 2344). Associado à APEPAR (Associação de Peritos, Avaliadores,
Mediadores, Conciliadores, Árbitros, Intérpretes e Interventores do Paraná),
exerce o cargo de 2º tesoureiro; no IBDP (Instituto Brasileiro de Direito
Previdenciário), atua como 1º Tesoureiro. É membro fundador do Observatório
de Gestão Pública de Londrina. Participou da criação do movimento Pela
Verdade na Previdência, e continua participando ativamente da discussão sobre a
reforma da previdência social brasileira. É professor convidado em programas de
pós-graduação de várias instituições: Atame (DF e GO), Damásio (SP),
FACCAR (PR), FAG (PR), IDCC (PR), IDS (RJ), IMED (RS), LFG (SP),
PUCPR (PR), Toledo (SP), Unicuritiba (PR), Unidavi (SC), Unipar (PR), entre
outras. Autor de livros, tem artigos publicados em obras coletivas e, desde 2016,
é vocalista da banda NB46.

“Arrancam-me tudo à força,
e ainda me chamam de contribuinte...”
(Millôr Fernandes)
Introdução
Sempre que se fala em previdência social, está a se falar em um sistema
que, em análise bem simplória, atenda cidadãos impossibilitados de manter sua
própria subsistência, por sofrerem algum tipo de incapacidade ou dificuldade
para o trabalho. O impedimento laboral pode decorrer de um acidente, de uma
enfermidade, do desemprego, ou até mesmo da idade avançada[50].
Como naturalmente é de se supor, este sistema precisa ser sustentado por
alguém – ou seja, precisa ter uma fonte de receita. Via de regra, os mesmos
beneficiários são também seus mantenedores, ou contribuintes. Não raras vezes,
os empregadores são chamados a colaborar com tal sistema.
O modelo brasileiro, consagrado na Constituição Federal (CF) de 1988, é
mais amplo: trata-se de um sistema de seguridade social, que atende às
necessidades do cidadão nas áreas de saúde, assistência social e previdência
social. Os três subsistemas podem ser assim resumidos: a) saúde para todos; b)
assistência para quem dela necessitar; e, c) previdência para quem contribuir. O
texto constitucional apenas menciona a obrigatoriedade de contribuição no
acesso à previdência (art. 201, CF); a assistência social e a saúde só exigem do
cidadão que ele comprove necessidade de tais serviços.
Este sistema de seguridade brasílico é financiado por contribuições sociais
pagas pelas empresas (e equiparados a empresas) sobre as remunerações pagas
às pessoas físicas que lhe prestarem serviços, sobre seu faturamento e sobre seu
lucro; contribuições pagas pelos empregados e demais segurados; contribuições
sobre os concursos de prognósticos; e contribuições do importador de bens e
serviços (art. 195, CF).
Este artigo vai tratar de um destes diversos contribuintes, o chamado
contribuinte individual.
1 Retrospecto histórico do contribuinte individual
A Constituição Federal inclui entre os contribuintes da seguridade social o
“trabalhador e os demais segurados da previdência social” (art. 195, II). A Lei de
Benefícios, por seu turno, detalha quem são estes contribuintes, classificando-os
em a) empregados; b) empregados domésticos; c) trabalhadores avulsos; d)
segurados especiais; e, e) contribuintes individuais, tema deste trabalho.
A figura do contribuinte individual é relativamente recente, é uma
evolução de contribuintes que foram sendo inseridos no sistema previdenciário,
com o passar dos anos e com a evolução e aperfeiçoamento do sistema. Explica-
se: no nascedouro da Previdência Social no Brasil, o sistema protegia
unicamente os empregados das estradas de ferro, ação inspirada no sistema de
proteção social implantado na Alemanha pelo Chanceler Otto Von Bismarck, no
século XIX. A Lei Eloy Chaves instituiu, em 1923, o primeiro sistema brasileiro
de proteção previdenciária, para os trabalhadores das ferrovias. Eloy Chaves era
um deputado paulista que tinha, entre seus principais eleitores, os operários que
trabalhavam nas estradas de ferro[51]. Ressalta-se também que toda a riqueza
produzida no país transitava por aquele meio de transporte (o modal rodoviário
praticamente não existia à época); logo, tais trabalhadores precisavam de uma
atenção especial por parte do Estado. Caso estes operários decidissem exercer o
seu direito de greve, tinham o poder de paralisar completamente o escoamento
da produção de todo o país[52]. Nos anos que se seguiram, outras categorias
profissionais foram conquistando também o direito de formar seus sistemas de
previdência, cada um deles com suas próprias regras e institutos autônomos.
Ainda na década de 1940, os técnicos destes diversos institutos discutiam a
criação de uma regra única para todos. Apenas em 1960 conseguiram
transformar esta ideia em Lei: em 26 de agosto daquele ano é aprovada a Lei nº
3.807/60, que dispõe sobre a Lei Orgânica da Previdência Social. Esta Lei
especificava os beneficiários da previdência social como sendo os “os que
exercem emprego ou atividade remunerada no território nacional, salvas as
exceções expressamente consignadas nesta Lei” (art. 2º) e seus dependentes.
Desta lista eram excluídos “os servidores civis e militares da União, dos Estados,
dos Municípios e dos Territórios, bem como os das respectivas autarquias”, os
trabalhadores rurais e os empregados domésticos (art. 3º). Os que exerciam
emprego ou atividade remunerada eram classificados como empregado
(conforme Consolidação das Leis do Trabalho (CLT)), trabalhador avulso e
trabalhador autônomo. É importante notar que o empresário não figurava entre
as pessoas protegidas pelo sistema. A mesma falta de proteção era sentida por
outras categorias, por exemplo, os ministros de confissão religiosa. A despeito
disso, pela primeira vez surge a proteção social a segurados não empregados.
Durante a conturbada década de 1970, foram incluídos no rol de segurados
os empresários, que deviam contribuir da mesma forma que os autônomos. No
início da década de 1980 os trabalhadores domésticos, bem como seus
empregadores passam também a contribuir obrigatoriamente para com a
previdência social.
Em 1988, a Constituição Cidadã cria o sistema de seguridade social, e seu
Ato das Disposições Constitucionais Transitórias promete que, em 30 meses, o
Congresso Nacional entregaria à nação uma nova legislação de seguridade social
(art. 59, ADCT). Como tudo no Brasil se atrasa, as Leis que deveriam ter sido
publicadas até 05/04/1991, foram publicadas em 24/07/1991. São elas: a Lei nº
8.212/91, que “dispõe sobre a organização da Seguridade Social, institui o Plano
de Custeio”, e a Lei nº 8.213/91, dispondo “sobre os Planos de Benefícios da
Previdência Social”. Na redação original, estas duas Leis descrevem como sendo
segurados obrigatórios (Lei nº 8.212/91, art. 12, e Lei nº 8.213/91, art.11): os
empregados, os empregados domésticos, os empresários, os trabalhadores
autônomos e seus equiparados, os trabalhadores avulsos e os segurados
especiais.
A década de 1990 foi um período de reformas neoliberais: depois de 15
anos de inflação alta, descontrole total da economia e uma sucessão de planos
econômicos que nada resolviam, uma equipe formada por grandes nomes,
técnicos da economia e do mercado financeiro consegue chegar a um pacote de
medidas que deu certo: o Plano Real.
Entretanto, os ajustes envolviam diversas alterações no Estado Brasileiro:
enquanto para a população, em geral, era apenas o controle da inflação (na
prática era o fato de os preços não mais mudarem todos os dias), os técnicos
enxergavam muito além disso: pensavam em diminuir o tamanho do estado,
reduzindo seus gastos, eliminando cargos públicos, vendendo empresas públicas,
culminando nas grandes privatizações daquela década.
O processo de reformas teve reflexos também na previdência social:
servidores públicos passam a contribuir obrigatoriamente para a previdência,
ajustes diversos se fizeram nos benefícios, houve inclusive uma tentativa de se
estabelecer uma idade mínima nas aposentadorias por tempo de serviço
(tentativa esta que se repete atualmente, com a discussão da PEC nº 287/16).
Face a um turbilhão de reformas, a Lei nº 9.528/97, equipara aos
trabalhadores autônomos o pequeno produtor rural e o garimpeiro que tenham
empregados, o ministro de confissão religiosa, o empregado de organismo oficial
internacional ou estrangeiro em funcionamento no Brasil e o brasileiro que
trabalha no exterior para o organismo oficial internacional do qual o Brasil é
membro efetivo.
Por fim, em 26/11/1999 é publicada a Lei nº 9.876/99, que elimina as
categorias de contribuintes empresário, autônomo e equiparado a autônomo e os
reúne sob o título de contribuintes individuais, adicionando ao art. 11 da Lei de
Benefícios e ao art. 12 da Lei de Custeio o inciso V:
V - como contribuinte individual: a) a pessoa física, proprietária ou não, que
explora atividade agropecuária ou pesqueira, em caráter permanente ou
temporário, diretamente ou por intermédio de prepostos e com auxílio de
empregados, utilizados a qualquer título, ainda que de forma não contínua; b) a
pessoa física, proprietária ou não, que explora atividade de extração mineral -
garimpo, em caráter permanente ou temporário, diretamente ou por intermédio de
prepostos, com ou sem o auxílio de empregados, utilizados a qualquer título, ainda
que de forma não contínua; c) o ministro de confissão religiosa e o membro de
instituto de vida consagrada, de congregação ou de ordem religiosa, quando
mantidos pela entidade a que pertencem, salvo se filiados obrigatoriamente à
Previdência Social em razão de outra atividade ou a outro regime previdenciário,
militar ou civil, ainda que na condição de inativos; d) revogada; e) o brasileiro
civil que trabalha no exterior para organismo oficial internacional do qual o Brasil
é membro efetivo, ainda que lá domiciliado e contratado, salvo quando coberto por
regime próprio de previdência social; f) o titular de firma individual urbana ou
rural, o diretor não empregado e o membro de conselho de administração de
sociedade anônima, o sócio solidário, o sócio de indústria, o sócio gerente e o
sócio cotista que recebam remuneração decorrente de seu trabalho em empresa
urbana ou rural, e o associado eleito para cargo de direção em cooperativa,
associação ou entidade de qualquer natureza ou finalidade, bem como o síndico ou
administrador eleito para exercer atividade de direção condominial, desde que
recebam remuneração; g) quem presta serviço de natureza urbana ou rural, em
caráter eventual, a uma ou mais empresas, sem relação de emprego; h) a pessoa
física que exerce, por conta própria, atividade econômica de natureza urbana, com
fins lucrativos ou não;
As descrições acima sofreram alguns ajustes nos anos seguintes.
Atualmente, a redação do inciso V é:
V - como contribuinte individual: (Redação dada pela Lei nº 9.876, de 26.11.99)
a) a pessoa física, proprietária ou não, que explora atividade agropecuária, a
qualquer título, em caráter permanente ou temporário, em área superior a 4
(quatro) módulos fiscais; ou, quando em área igual ou inferior a 4 (quatro)
módulos fiscais ou atividade pesqueira, com auxílio de empregados ou por
intermédio de prepostos; ou ainda nas hipóteses dos §§ 9º e 10 deste artigo;
(Redação dada pela Lei nº 11.718, de 2008); b) a pessoa física, proprietária ou não,
que explora atividade de extração mineral - garimpo, em caráter permanente ou
temporário, diretamente ou por intermédio de prepostos, com ou sem o auxílio de
empregados, utilizados a qualquer título, ainda que de forma não contínua;
(Redação dada pela Lei nº 9.876, de 26.11.99); c) o ministro de confissão religiosa
e o membro de instituto de vida consagrada, de congregação ou de ordem
religiosa; (Redação dada pela Lei nº 10.403, de 8.1.2002); e) o brasileiro civil que
trabalha no exterior para organismo oficial internacional do qual o Brasil é
membro efetivo, ainda que lá domiciliado e contratado, salvo quando coberto por
regime próprio de previdência social; (Redação dada pela Lei nº 9.876, de
26.11.99); f) o titular de firma individual urbana ou rural, o diretor não empregado
e o membro de conselho de administração de sociedade anônima, o sócio solidário,
o sócio de indústria, o sócio gerente e o sócio cotista que recebam remuneração
decorrente de seu trabalho em empresa urbana ou rural, e o associado eleito para
cargo de direção em cooperativa, associação ou entidade de qualquer natureza ou
finalidade, bem como o síndico ou administrador eleito para exercer atividade de
direção condominial, desde que recebam remuneração; (Incluído pela Lei nº 9.876,
de 26.11.99); g) quem presta serviço de natureza urbana ou rural, em caráter
eventual, a uma ou mais empresas, sem relação de emprego; (Incluído pela Lei nº
9.876, de 26.11.99); h) a pessoa física que exerce, por conta própria, atividade
econômica de natureza urbana, com fins lucrativos ou não; (Incluído pela Lei nº
9.876, de 26.11.99)
A seguir, serão tratados cada um destes personagens.
2 O produtor rural pessoa física
A alínea “a” do inciso V (descrito ao final do capítulo anterior) refere-se à
pessoa física que explora atividade agropecuária, mas que não se enquadra no
conceito de segurado especial[53]. Ela pode ter empregados e não há limite para o
tamanho da propriedade explorada.
Este segurado aufere renda decorrente da atividade rural e sobre esta renda
deve recolher contribuição à seguridade social.
3 O garimpeiro
Trata-se da pessoa física que explora atividade de extração mineral. A
exploração pode ser temporária ou permanente; o explorador pode contar com o
auxílio de empregados e pode, inclusive, nem trabalhar diretamente, mantendo
apenas prepostos para o representar no garimpo.
A atividade de garimpeiro lhe traz renda, sobre a qual ele deverá calcular e
recolher suas contribuições sociais.
4 O ministro de confissão religiosa
A redação legal é autoexplicativa: “o ministro de confissão religiosa e o
membro de instituto de vida consagrada, de congregação ou de ordem religiosa”.
Não há referência ou limitação a determinadas religiões: qualquer credo tem
seus líderes e, se estes são remunerados, são também contribuintes da seguridade
na condição de contribuintes individuais.
Com relação às contribuições destes, a Lei faz uma exceção:
Art. 22, § 13. Não se considera como remuneração direta ou indireta, para os
efeitos desta Lei, os valores despendidos pelas entidades religiosas e instituições
de ensino vocacional com ministro de confissão religiosa, membros de instituto de
vida consagrada, de congregação ou de ordem religiosa em face do seu mister
religioso ou para sua subsistência desde que fornecidos em condições que
independam da natureza e da quantidade do trabalho executado. (Incluído pela Lei
nº 10.170, de 2000).
§ 14. Para efeito de interpretação do § 13 deste artigo: (Incluído pela Lei nº
13.137, de 2015): I - os critérios informadores dos valores despendidos pelas
entidades religiosas e instituições de ensino vocacional aos ministros de confissão
religiosa, membros de vida consagrada, de congregação ou de ordem religiosa não
são taxativos e sim exemplificativos; (Incluído pela Lei nº 13.137, de 2015); II - os
valores despendidos, ainda que pagos de forma e montante diferenciados, em
pecúnia ou a título de ajuda de custo de moradia, transporte, formação
educacional, vinculados exclusivamente à atividade religiosa não configuram
remuneração direta ou indireta. (Incluído pela Lei nº 13.137, de 2015)
Em resumo, se o líder religioso não é remunerado por sua atividade
eclesiástica, mas recebe apenas ajuda de custo (seja para moradia, alimentação,
transporte, etc.), os valores recebidos não são considerados como remuneração.
Não sendo remunerado, ele também não é obrigado a contribuir com a
seguridade, deixando de ser classificado como contribuinte individual. Caso
queira contribuir, poderá fazê-lo, na condição de segurado facultativo[54].
5 O brasileiro que trabalha no exterior para organismo oficial internacional
O Brasil é membro de vários organismos oficiais internacionais, tais como
ONU, UNESCO, OIT, entre outras. Alguns destes organismos contam com
trabalhadores brasileiros em suas sedes fora do Brasil. A este trabalhador se
refere o presente capítulo, desde que seja domiciliado no país em que trabalha e
seja lá contratado.
Neste cenário há duas hipóteses: caso tenha sido contratado no Brasil e
transferido para o exterior, manterá a qualidade de empregado ante a previdência
social brasileira, porém, caso seja vinculado a regime próprio[55] de previdência,
também deixa de ser considerado contribuinte individual.
6 O empresário, o titular de empresa individual e o diretor de empresa
Há que se diferenciar o empresário de sua empresa. É muito comum o
empresário acreditar que ele e a empresa se confundem, mas isto não é verdade.
Empresa é a pessoa jurídica, que realiza negócios, contrata empregados, recolhe
tributos. O empresário é o proprietário ou sócio da empresa, podendo trabalhar
nela, inclusive gerindo o negócio, sendo remunerado por este trabalho. Nem
sempre o sócio trabalha na empresa; porém, quando trabalha, deve ser por ela
remunerado. Ou seja, a empresa remunera o empresário, e este, sobre tal
remuneração, deve recolher suas contribuições. Vale lembrar que, quando o
empresário é o único proprietário da empresa, ele continua tendo personalidade
jurídica separada de sua empresa – seja em uma empresa individual, ou em uma
sociedade unipessoal de advocacia.
A lei inclui neste mesmo conceito o diretor de cooperativa, associação ou
qualquer outro tipo de entidade, desde que remunerado, e o síndico eleito para
dirigir condomínio, desde que também receba por este trabalho. Vale lembrar
que a isenção de cota condominial do síndico representa remuneração. Logo,
sobre esta isenção deve haver contribuição à seguridade.
7 O autônomo
Trata-se da pessoa física que presta serviços de qualquer natureza, por
conta própria, à empresa ou outras pessoas físicas, sem relação de emprego.
A legislação previdenciária diz que esta prestação de serviços a empresas é
de caráter eventual; entretanto, a reforma trabalhista aprovada pela Lei nº
13.467/2017, esclarece que o autônomo pode prestar serviços de natureza
contínua à empresas, com ou sem exclusividade, ao introduzir na CLT o art. 442-
B, segundo o qual: “a contratação do autônomo, cumpridas por este todas as
formalidades legais, com ou sem exclusividade, de forma contínua ou não, afasta
a qualidade de empregado prevista no art. 3º desta Consolidação”.
É de extrema importância que este segurado tenha cuidado com suas
declarações de renda: a contribuição à seguridade incide sobre todo o
rendimento de seu trabalho.
8 As contribuições do contribuinte individual à seguridade social
É comum se ouvir a informação contribuição previdenciária, porém esta
expressão é errada: o correto é contribuição à seguridade social. Assim define o
artigo 195 da Constituição Federal, bem como a Lei de Custeio já referida neste
artigo. A única referência legal de contribuição previdenciária está na Lei
Complementar (LC) nº 123, ao tratar da contribuição da empresa, chamando-a
de “contribuição patronal previdenciária” (art. 13, VI).
Isto se dá pelo fato de que a Constituição Federal estabelece um único
orçamento para a seguridade (art. 165 e 195, § 2º), com receitas provenientes de
diversas fontes, como já referido na introdução deste trabalho.
Com relação ao contribuinte individual, a Constituição prevê:
Constituição Federal, Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a
sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos
provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, e das seguintes contribuições sociais: [...] II - do trabalhador e dos
demais segurados da previdência social, não incidindo contribuição sobre
aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de previdência social de que
trata o art. 201; (grifo do Autor)
Dentre os demais segurados citados estão os contribuintes individuais.
Até a publicação da Lei nº 10.666/2003, os segurados enquadrados como
contribuintes individuais eram responsáveis pelo recolhimento de suas
contribuições à seguridade. A partir da publicação desta Lei, passa-se a ter dois
grupos de contribuintes individuais: um, formado por aqueles que continuam
responsáveis pelo recolhimento de suas contribuições; outro, formado por
aqueles que sofrem retenção de tais contribuições na fonte, não sendo
responsáveis pelo recolhimento correspondente. A não responsabilidade decorre
do previsto no artigo 4ª da referida Lei:
Art. 4º. Fica a empresa obrigada a arrecadar a contribuição do segurado
contribuinte individual a seu serviço, descontando-a da respectiva remuneração, e
a recolher o valor arrecadado juntamente com a contribuição a seu cargo até o dia
20 (vinte) do mês seguinte ao da competência, ou até o dia útil imediatamente
anterior se não houver expediente bancário naquele dia.
§ 1º As cooperativas de trabalho arrecadarão a contribuição social dos seus
associados como contribuinte individual e recolherão o valor arrecadado até o dia
20 (vinte) do mês subsequente ao de competência a que se referir, ou até o dia útil
imediatamente anterior se não houver expediente bancário naquele dia.
§ 2º A cooperativa de trabalho e a pessoa jurídica são obrigadas a efetuar a
inscrição no Instituto Nacional do Seguro Social - INSS dos seus cooperados e
contratados, respectivamente, como contribuintes individuais, se ainda não
inscritos.
§ 3º O disposto neste artigo não se aplica ao contribuinte individual, quando
contratado por outro contribuinte individual equiparado a empresa ou por produtor
rural pessoa física ou por missão diplomática e repartição consular de carreira
estrangeiras, e nem ao brasileiro civil que trabalha no exterior para organismo
oficial internacional do qual o Brasil é membro efetivo.
Resumindo: quando o contribuinte individual presta serviços a uma
empresa, ou a uma cooperativa de trabalho, a entidade contratante deverá
descontar da remuneração devida ao segurado a sua contribuição, e recolhê-la
juntamente com as demais contribuições sobre folha de pagamento devidas pela
empresa. Na prática, a empresa ou cooperativa retém tal contribuição, informa-a
em sua Guia de Recolhimento do FGTS e Informações à Previdência Social
(GFIP), juntamente com os dados do contribuinte individual em questão, e
recolhe tais contribuições retidas ao lado das demais em guia Guia de
Recolhimento da Previdência Social (GPS)[56].
Os casos mais comuns aqui são: o empresário que recebe pró-labore (seja
em firma individual, em sociedade unipessoal ou em sociedade empresarial); o
prestador de serviços autônomo com contrato contínuo (bastante comum o
contador da empresa estar nesta situação); o autônomo eventual; o cooperado em
cooperativa de trabalho; o dirigente sindical que é remunerado pelo sindicato; o
ministro de confissão religiosa remunerado; o diretor de empresa nomeado; o
transportador autônomo que preste serviços a empresas.
Entretanto, quando trabalha por conta própria, prestando serviço a pessoas
físicas, ou a outros contribuintes individuais (ainda que equiparados a empresas),
ou a produtores rurais pessoas físicas, ou a missão diplomática, ou a repartição
consular estrangeira, ele é responsável pelo recolhimento de sua própria
contribuição. Deverá, portanto, preencher e recolher sua própria GPS mensal –
ou, em alguns casos excepcionais, trimestralmente. Enquadram-se aqui os
trabalhadores que prestam serviços diretamente a pessoas físicas, tais como a
costureira; o eletricista; o encanador; o jardineiro; também se enquadram nesta
categoria profissionais liberais que trabalhem apenas para pessoas físicas, a
exemplo de algumas classes de advogados; arquitetos; dentistas; psicólogos;
terapeutas, desde que prestem serviços diretamente a pessoas físicas.
Há ainda uma terceira situação, quando este contribuinte individual presta
serviço concomitantemente a pessoas físicas e jurídicas: em um exemplo, o
jardineiro que cuida do jardim de residências, mas também faz a jardinagem de
empresas, sem ter vínculo com nenhum dos contratantes de seus serviços.
Tais contribuições, em quaisquer casos, incidem sobre os respectivos
salários-de-contribuição, na forma do artigo 21 da Lei de Custeio. Por sua vez, o
artigo 28 da mesma Lei estabelece o salário de contribuição:
Art. 28. Entende-se por salário-de-contribuição: III - para o contribuinte
individual: a remuneração auferida em uma ou mais empresas ou pelo exercício de
sua atividade por conta própria, durante o mês, observado o limite máximo a que
se refere o § 5º;
Muitos contribuintes individuais ainda acreditam que podem recolher
contribuições sobre qualquer valor, mas o legislador foi claro: o recolhimento
deve ser apurado sobre “a remuneração auferida em uma ou mais empresas ou
pelo exercício de sua atividade por conta própria, durante o mês”, conforme
estabele o artigo supramencionado. Não resta discussão: soma-se a remuneração
auferida no mês e, sobre esta, calcula-se o tributo devido. Vale lembrar que tal
remuneração deve ser adstrita ao limite máximo do salário de contribuição
(popularmente conhecido como teto previdenciário).
9 Os valores das contribuições devidas pelos contribuintes individuais
A regra geral consta no art. 21 da Lei nº 8.212/91: “a alíquota de
contribuição dos segurados contribuinte individual e facultativo será de vinte por
cento sobre o respectivo salário-de-contribuição”. Portanto, a princípio, todo
contribuinte individual deve recolher 20% de sua remuneração aos cofres da
seguridade social. Entretanto, a mesma Lei estabelece algumas exceções, as
quais se vê a seguir.
A primeira exceção é o microempreendedor individual (MEI): ele
recolherá apenas 5% sobre um salário mínimo (art. 21, § 2º, II, a, Lei nº
8.212/91); porém, ao fazer tal recolhimento, estará abrindo mão do direito à
aposentadoria por tempo de contribuição[57]. Tal tributo é recolhido juntamente
com outros tributos devidos pelo MEI, por meio de um Documento de
Arrecadação do Simples Nacional (DAS). Importante lembrar que, neste caso, a
renda do MEI poderá ser superior a um salário mínimo[58], e recolher sobre um
salário mínimo não lhe acarretará qualquer problema tributário.
A segunda exceção é o autônomo não enquadrado como MEI, que não
preste serviços a pessoas jurídicas: este pode recolher apenas 11% de um salário
mínimo (art. 21, § 2º, I, Lei nº 8.212/91); todavia, a exemplo do MEI, também
estará abrindo mão do direito à aposentadoria por tempo de contribuição[59]. O
recolhimento deste tributo será feito por meio de GPS; se recolhimento mensal,
código 1163; se optar por recolhimento trimestral, código 1180. A Receita
Federal do Brasil entenderá que o contribuinte optou pelo recolhimento
trimestral. Ressalta-se que este segurado, a exemplo do MEI, poderá ter
rendimentos superiores a um salário mínimo, recolherá contribuições de 11%
sobre um salário mínimo, e isto não lhe acarretará qualquer problema tributário,
desde que utilize os códigos de recolhimento corretos. Caso este autônomo
decida prestar também serviços a empresas, o rendimento auferido nas empresas
vai se enquadrar no parágrafo seguinte.
A terceira exceção é o contribuinte individual que presta serviços a
empresas, sofrendo retenções na fonte (como visto na seção anterior). A
empresa, equiparada à empresa ou cooperativa, fará o pagamento da
remuneração contratada, já retendo desta a contribuição, que neste caso será de
11% sobre tal remuneração (devidamente limitada ao teto, como já visto
anteriormente). Esta exceção está prevista na inteligência do § 4º do art. 30 da
Lei de Custeio:
Art. 30, § 4º Na hipótese de o contribuinte individual prestar serviço a uma ou
mais empresas, poderá deduzir, da sua contribuição mensal, quarenta e cinco por
cento da contribuição da empresa, efetivamente recolhida ou declarada, incidente
sobre a remuneração que esta lhe tenha pago ou creditado, limitada a dedução a
nove por cento do respectivo salário-de-contribuição.
A redação é bem confusa, mas ao final o que ela prevê é que a retenção
será de apenas 11% sobre o salário de contribuição do segurado. Ressalta-se,
novamente, que este segurado não é obrigado a recolher sua contribuição: esta é
retida pela empresa contratante, e o contratante terá a responsabilidade de
repassar tais valores aos cofres da Seguridade Social.
Caso o contribuinte individual tenha, em um mesmo mês, prestado serviço
não só a pessoas físicas, como também a pessoas jurídicas, estas últimas farão as
retenções sobre os valores pagos, e o segurado deverá contribuir sobre o
rendimento auferido junto a pessoas físicas, limitando a remuneração total ao
teto previdenciário. Em um exemplo, considerando que tal limite máximo para o
ano de 2018 é de R$ 5.645,80, o segurado prestou serviços a uma empresa no
valor total de R$ 3.000,00; prestou também serviços a pessoas físicas que
somaram R$ 4.000,00; sua remuneração mensal foi de R$ 7.000,00. A empresa
reterá 11% dos R$ 3.000,00 que lhe pagou (R$ 3.000,00 x 11% = R$ 330,00);
ele, por sua vez, deverá contribuir por sua própria conta sobre a remuneração
restante, limitada ao teto. Sabendo que a remuneração total foi superior ao
referido limite (R$ 7.000,00 é superior ao teto de R$ 5.645,80), sua contribuição
pessoal será de 20% sobre o salário-de-contribuição de R$ 2.645,80 (R$
5.645,80 – R$ 3.000,00 já tributados pela empresa); recolherá, portanto, uma
GPS no valor de R$ 529,16 (R$ 2.645,80 x 20%).
10 Reconhecimento de tempo de contribuição do contribuinte individual
Na ânsia de obter benefício previdenciário, muitos cidadãos contribuem na
condição de contribuinte individual, alegando serem trabalhadores autônomos,
sem exercer atividade autônoma remunerada. Exemplo típico é o trabalhador
empregado que quer complementar suas contribuições, para ter uma
aposentadoria em valor mais vantajoso. Entretanto, isto não é possível – salvo se
ele realmente exercer outra atividade autônoma remunerada. Caso exerça, deverá
comprovar tal atividade ao INSS quando for requerer benefício previdenciário,
como se vê a seguir.
O Regulamento da Previdência Social prevê que o simples exercício de
atividade remunerada já configura filiação do contribuinte à previdência social:
Art. 20, § 1º A filiação à previdência social decorre automaticamente do exercício
de atividade remunerada para os segurados obrigatórios, observado o disposto no §
2º, e da inscrição formalizada com o pagamento da primeira contribuição para o
segurado facultativo.
Portanto, uma vez tendo prestado serviço, o contribuinte individual já
poderá se considerar inscrito no sistema, ainda que não recolha a contribuição
correspondente no tempo correto. Entretanto, o não recolhimento acarretará no
não reconhecimento deste tempo de serviço para fins de carência (tempo mínimo
de contribuição exigido para a obtenção de determinados benefícios
previdenciários). A carência só se considerará cumprida a partir do primeiro
pagamento de contribuição sem atraso (art. 27, II, Lei nº 8.213/91).
Ainda que o contribuinte individual tenha, durante todo o seu período
laboral, efetuado todas as contribuições corretamente, o Instituto poderá exigir
comprovação de atividades no momento de um requerimento de benefício:
Art. 18, § 6º A comprovação dos dados pessoais e de outros elementos necessários
e úteis à caracterização do segurado poderá ser exigida quando da concessão do
benefício.
Significa dizer que não basta ao segurado contribuir, ele precisa também
comprovar o exercício da atividade. Esta comprovação pode ser feita por meio
de documentos. A Instrução Normativa INSS/PRES nº 77, de 21.01.2015, traz,
em seu art. 32, formas de se comprovar a atividade como contribuinte individual:
• Inscrição em conselho de classe, para os profissionais liberais que exijam
tais inscrições (OAB, CRC, CRM, CREA, entre outros);
• Para o motorista, carteira de habilitação, certificado de propriedade ou
copropriedade do veículo, contrato de arrendamento ou cessão do veículo,
certidão do DETRAN ou outros documentos que comprovem a atividade;
• Para o ministro de confissão religiosa, o ato equivalente de emissão de
votos ou compromissos;
• O médico residente comprovará com o contrato de residência médica ou
declaração fornecida pela instituição de saúde responsável pelo programa;
• O titular de firma individual deverá apresentar documento registrado em
órgão oficial que comprove o início e, se for o caso, a baixa do registro;
• Para os empresários, contratos sociais, alterações destes ou documentos
equivalentes emitidos por órgãos oficiais;
• Para o autônomo que tenha prestado serviço a empresas, recibo com os
dados da empresa contratante dos serviços, contendo a razão ou
denominação social, o CNPJ da empresa contratante, a retenção da
contribuição efetuada, o valor da remuneração percebida, valor retido e a
identificação do filiado;
• O MEI comprovará por meio de Certidão própria, emitida pelo Portal do
Empreendedor – www.portaldoempreendedor.gov.br;
• Para o diretor de cooperativa, associação ou qualquer outra entidade, e
para o síndico eleito para direção de condomínio, estatuto da entidade e ata
de eleição ou nomeação, registrada em cartório;
• Para os autônomos em geral, inscrição na prefeitura (com os comprovantes
de recolhimento de ISS), declaração de imposto de renda ou outros
comprovantes do exercício da atividade.
As comprovações acima poderão ser exigidas e utilizadas em dois
momentos distintos, a saber: no momento do requerimento de benefício, ou no
pedido de recolhimentos em atraso, tema da próxima seção.
11 O pagamento de contribuições em atraso
Sempre que o contribuinte individual presta serviço e não efetua o
recolhimento da contribuição correspondente, será considerado inadimplente; a
falta de contribuições terá consequências negativas na concessão de benefícios
previdenciários. Nos casos em que a contribuição deveria ter sido retida e
recolhida pela empresa, muda apenas a responsabilidade do recolhimento, que é
do contratante dos serviços. Se a empresa não recolheu e também não informou
tal prestação na GFIP, as consequências aos benefícios serão igualmente
desastrosas.
Desde abril de 2003, o contribuinte individual que preste serviços a
empresas sofre retenção das contribuições correspondentes diretamente em sua
remuneração; logo, não é responsável pelo recolhimento das contribuições,
sendo esta responsabilidade da empresa que contratou os seus serviços. Esta
regra vale tanto para aqueles que prestaram serviços esporádicos quanto para os
que prestaram ou prestam serviços contínuos. O mesmo se aplica, igualmente, ao
sócio da empresa que seja remunerado com o pagamento de pró-labore. Cabe,
nestes casos, à empresa não só reter e recolher a contribuição, como
principalmente fazer tal informação em GFIP. Quando a prestação de serviços é
informada na GFIP, o Instituto a tem como verdadeira, não exigindo provas de
atividade ou recolhimento do segurado. Caso a empresa não tenha prestado tal
informação, o segurado deverá procurá-la requerendo que refaça a GFIP da
competência correspondente, incluindo nela a informação do serviço prestado,
no mês em que tal prestação aconteceu. A previdência poderá, ainda assim,
requerer que o segurado comprove, por outros meios, a prestação de tal serviço.
Não sendo responsabilidade da empresa, o contribuinte individual é o
responsável por recolher suas contribuições no prazo legal. Se não o fez, está em
débito com a Fazenda Pública, podendo sofrer as sanções tributárias decorrentes
deste ato, com os correspondentes reflexos no direito aos benefícios
previdenciários. De acordo com o Código Tributário Nacional, a prescrição para
cobrança de tributos é de cinco anos. Logo, estando em atraso dentro deste
período, o contribuinte individual poderá, espontaneamente, recolher seu tributo
em atraso – ou ser intimado pela Receita Federal do Brasil a fazê-lo. Em uma ou
outra situação, o tributo será recolhido com todos os encargos legais decorrentes
do atraso.
Quando tais contribuições já estão prescritas, a Fazenda não pode mais
efetuar a cobrança; de outro norte, o segurado também não poderá contar aquele
período para requerer benefícios previdenciários, afinal o sistema tem caráter
contributivo (art. 201, CF). O segurado, entretanto, pode recolher tais
contribuições prescritas. Para tanto, a Lei de Custeio prevê regra específica:
Art. 45-A. O contribuinte individual que pretenda contar como tempo de
contribuição, para fins de obtenção de benefício no Regime Geral de Previdência
Social ou de contagem recíproca do tempo de contribuição, período de atividade
remunerada alcançada pela decadência deverá indenizar o INSS.
§ 1º O valor da indenização a que se refere o caput deste artigo e o § 1º do art. 55
da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, corresponderá a 20% (vinte por cento): I –
da média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição, reajustados,
correspondentes a 80% (oitenta por cento) de todo o período contributivo
decorrido desde a competência julho de 1994; ou [...]
§ 2º Sobre os valores apurados na forma do § 1º deste artigo incidirão juros
moratórios de 0,5% (cinco décimos por cento) ao mês, capitalizados anualmente,
limitados ao percentual máximo de 50% (cinqüenta por cento), e multa de 10%
(dez por cento).
§ 3º O disposto no § 1º deste artigo não se aplica aos casos de contribuições em
atraso não alcançadas pela decadência do direito de a Previdência constituir o
respectivo crédito, obedecendo-se, em relação a elas, as disposições aplicadas às
empresas em geral.
Na prática, o segurado nestas condições deverá procurar uma agência do
INSS, informando que deseja indenizar contribuições prescritas. O Instituto,
então, pedirá ao segurado que apresente documentos que comprovem o exercício
de atividade remunerada no período que deseja indenizar. Comprovada a
atividade, o próprio instituto fará o cálculo previsto no § 1º, acima, com os
acréscimos previstos no § 2º, e entregará ao segurado a guia de recolhimento
correspondente, para que este recolha o tributo apurado e, então, tal período
passe a ser considerado para fins de concessão de benefício previdenciário. Caso
o segurado não faça o recolhimento da guia, tal período não será considerado
para a obtenção de benefício; entretanto, a Fazenda Pública também não poderá
exigir tal recolhimento, mesmo o segurado tendo comprovado atividade, pelo
fato da cobrança do referido tributo estar prescrita.
Referências bibliográficas
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.
Texto Constitucional promulgado em 5 de outubro de 1988. Documento
eletrônico disponível em:
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Acesso em: 27 de junho de 2018.
BRASIL, Decreto nº 3.048, de 6 de maio de 1999. Aprova o Regulamento da
Previdência Social, e dá outras providências. Documento eletrônico disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3048.htm>. Acesso em: 30
de junho de 2018.
BRASIL, Instrução Normativa INSS/PRES nº 77, de 21 de janeiro de 2015.
Estabelece rotinas para agilizar e uniformizar o reconhecimento de direitos dos
segurados e beneficiários da Previdência Social, com observância dos princípios
estabelecidos no art. 37 da Constituição Federal de 1988. Documento eletrônico
disponível em: <http://sislex.previdencia.gov.br/paginas/38/INSS-
PRES/2015/77.htm>. Acesso em: 30 de junho de 2018.
BRASIL, Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006. Institui o
Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte; altera
dispositivos das Leis no 8.212 e 8.213, ambas de 24 de julho de 1991, da
Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452,
de 1o de maio de 1943, da Lei no 10.189, de 14 de fevereiro de 2001, da Lei
Complementar no 63, de 11 de janeiro de 1990; e revoga as Leis no 9.317, de 5
de dezembro de 1996, e 9.841, de 5 de outubro de 1999. Documento eletrônico
disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LCP/Lcp123.htm>.
Acesso em: 30 de junho de 2018.
BRASIL, Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre a organização da
Seguridade Social, institui Plano de Custeio, e dá outras providências.
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BRASIL, Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de
Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. Documento
eletrônico disponível em:
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BRASIL, Lei nº 9.876/99, de 26 de novembro de 1999. Dispõe sobre a
contribuição previdenciária do contribuinte individual, o cálculo do benefício,
altera dispositivos das Leis nos 8.212 e 8.213, ambas de 24 de julho de 1991, e
dá outras providências. Documento eletrônico disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9876.htm>. Acesso em: 30 de junho
de 2018.
BRASIL, Lei nº 13.467, de 13 de julho de 2017. Altera a Consolidação das Leis
do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943,
e as Leis nos 6.019, de 3 de janeiro de 1974, 8.036, de 11 de maio de 1990, e
8.212, de 24 de julho de 1991, a fim de adequar a legislação às novas relações de
trabalho. Documento eletrônico disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13467.htm>.
Acesso em: 30 de junho de 2018.
PASSOS, Fábio Luiz dos. Previdência Social e Sociedade Pós-Industrial.
Curitiba: Juruá, 2013.

CAPÍTULO 6
EFICÁCIA DOS MEIOS DE PROVA NA
APOSENTADORIA ESPECIAL

PEDRO PANNUTI
Advogado, Pós-Graduado em Direito Previdenciário e Processual Previdenciário
na PUC/PR. Graduado pela UFPR. E-mail: ppannuti@gmail.com.
Introdução
Em sua gênese, a aposentadoria especial poderia parecer esbarrar na norma
constitucional de vedação da adoção de critérios diferenciados para a concessão
de aposentadoria. É a própria exceção constitucional, contudo, que a garante. As
atividades sob condições que prejudiquem a saúde ou integridade física geram
uma proteção ao trabalhador que as exerce, tanto pelo âmbito das relações de
emprego – adicional de remuneração, art. 7º, XXIII da Constituição Federal –
quanto pelo direito previdenciário – art. 201, § 1º da CF.
O sistema constitucional se estrutura atribuindo peso diferenciado às
atividades ofensivas ao trabalhador. Os direitos sociais enfatizam a proteção do
trabalhador a partir da potencialidade lesiva das atividades por ele
desempenhada, seja pela insalubridade, penosidade ou periculosidade[60].
Também pelo vértice constitucional é possível compreender a simples
previsão da aposentadoria especial como uma contradição. A jubilação
antecipada do segurado, submetido à condição efetivamente insalubre, mostra-se
como instrumento legitimador da violência frente à saúde do trabalhador,
esbarrando num ordenamento jurídico construído a partir do axioma da
dignidade da pessoa humana[61].
É dizer, num contexto de ampliação da expectativa de vida e de melhoria
no meio-ambiente laboral, a mera existência de atividades nocivas enseja uma
política de ações em saúde ocupacional para a sua eliminação. Sendo inegável,
porém, a existência de ambientes de trabalho insalubres, bem como incipientes
às formas de prevenção de nocividade, a Previdência Social apresenta
compensações legais a estes trabalhadores na figura da aposentadoria especial.
Trata-se da efetivação das normas constitucionais previdenciárias voltadas
à suficiência da proteção, que “consubstancia pressuposto fundamental de um
sistema de segurança social realmente comprometido com os valores que se
encontram nos alicerces de sua constituição”[62].
O último boletim estatístico da Previdência Social, divulgado com
referência ao mês de janeiro de 2018[63], apresenta os números de concessão de
aposentadorias, indicando que foram concedidos 90.380 benefícios no período
da competência, dos quais apenas 1.379 correspondem ao código B46:
aposentadoria por tempo de contribuição especial.
À primeira vista, não seria despropositado aventar a pouca expressão dos
benefícios concedidos a partir do reconhecimento exclusivo de tempo de
contribuição exercido com exposição aos agentes nocivos. Entretanto, são
incontáveis os casos em que há conversão do período especial em comum,
permitindo a concessão antecipada – ou de forma mais vantajosa – de outras
espécies de aposentadoria, nomeadamente por idade e por tempo de
contribuição.
É extremamente comum que o segurado ou a segurada tenha, durante
determinado período de seu histórico laboral-contributivo, exercido atividades
insalubres, perigosas ou penosas, sem reunir os requisitos para a aposentadoria.
O segurado obrigatório que tenha apenas um duradouro vínculo de emprego
merece detalhada análise do seu caso. É plenamente possível que alguns de seus
cargos ou funções ensejem o reconhecimento de especialidade do período.
Mesmo o empregado que tenha exercido exatamente a mesma função pode
ter direito à conversão de apenas uma parte dos períodos de trabalho. A título de
exemplo, duas situações: eventual alteração de layout do ambiente laboral –
mediante adoção de equipamentos coletivos de proteção ou modernização de
maquinário – pode retirar a nocividade antes existente; ademais, alteração
legislativa – que modifica o limite de decibéis para o reconhecimento da
nocividade física do ruído – é capaz de permitir ou negar o enquadramento de
determinada atividade no conceito de especial.
O breve retrato é apenas a demonstração do amplo terreno de discussão
envolvendo a especialidade do tempo de contribuição do segurado, que não raro
esbarra na dificuldade em comprovar as condições particulares de execução das
atividades do segurado.
Por conta dos diversos preceitos particulares à matéria; da miríade de
alterações legislativas promovidas; da solidificação de entendimentos
jurisprudenciais e da necessidade de se avaliar a exposição a agentes nocivos a
partir de conceitos mais frequentes na engenharia e medicina do trabalho e no
direito laboral, a aposentadoria especial se apresenta como um dos temas mais
complexos do direito previdenciário.
É justamente esse fato que legitima o corte metodológico proposto, o qual
necessariamente deve considerar que, quanto às aposentadorias especiais, a
necessidade alimentar pode vir acompanhada de um histórico laboral penoso,
capaz de desenvolver no segurado a sensação de diminuição e estigma.
Daí porque a tutela previdenciária revela a necessidade da correta
adequação da legislação aplicável às aposentadorias especiais, além da
capacitação e conhecimento dos sujeitos envolvidos, desde aos responsáveis
pelos registros ambientais de uma empresa até o servidor autárquico que
promove sua interpretação.
Tratando das características e os principais conceitos que permeiam a
aposentadoria especial, o estudo avança para a análise daquilo que se considera
ser digno de nota para uma análise do direito à especialidade dos períodos
trabalhados pelo segurado desde o momento anterior ao efetivo requerimento da
aposentadoria. É seguro afirmar que não há reconhecimento de tempo especial
sem a correspondente documentação, indicando o enquadramento das funções ou
a efetiva exposição do segurado aos agentes nocivos.
Com este objetivo definido, expõe-se ponto a ponto a previsão legal, para
então apresentar o entendimento jurisprudencial que a interpreta, tudo com o
intuito de demonstrar a teoria e a prática da aposentadoria especial, com
destaque para o fundamental papel do advogado na composição da solução mais
justa e adequada ao caso concreto.
1 Traços característicos da aposentadoria especial
Já foi exposto que o sistema constitucional de Seguridade Social é
concebido para prover uma série de prestações estatais com vistas a atender as
situações de necessidade enfrentadas pelos segurados.
Neste sistema previdenciário, reconhecido por estar estruturado sobre
fortes raízes orgânicas e de laços de solidariedade, eventual risco social existente
extrapola os limites subjetivos do indivíduo e devem ser prevenidos
considerando o conjunto social.
Referidos riscos sociais são eleitos pela Constituição e estão expostos, no
concernente à Previdência Social, no art. 201 e incisos, sem que se trate de rol
exaustivo, sendo possível ampliação da cobertura caso a evolução social o exija.
Há uma prestação previdenciária específica para cada risco social coberto,
estabelecendo os contornos gerais de organização da previdência social – a ser
regulamentada por lei competente – materializando assim uma série de
instrumentos hábeis, a garantir a manutenção da existência digna dos segurados.
É importante, todavia, estabelecer que o ponto de partida deste trabalho será o
art. 201, I e § 1º da CF.
Por brevidade, a discussão não se cingirá a minuciar todos os requisitos
para a concessão da aposentadoria, tampouco sua forma de cálculo – mormente
porquanto, por expressa disposição do art. 57, 1º da Lei nº 8.213/91, a renda
mensal inicial da aposentadoria especial corresponde a cem por cento do salário
de benefício.
Dito isso, vale ressaltar que a aposentadoria especial será devida ao
segurado que tiver trabalhado sujeito a condições especiais que prejudiquem a
saúde ou a integridade física durante quinze, vinte ou vinte e cinco anos, nos
termos da lei.
A verificação das condições especiais de trabalho que prejudicam a saúde
ou a integridade física do trabalhador, está preconizada pelo caput do indigitado
artigo.
Nesse passo, até a edição da Lei nº 9.032/95, para fins de reconhecimento
da especialidade da atividade desenvolvida pelo segurado, o tempo de serviço
especial poderia ser comprovado simplesmente com base na atividade
profissional do trabalhador ou então diante da submissão a alguns agentes
nocivos.
O enquadramento de atividade especial com base na categorial profissional
do segurado deixou de existir com a vigência da mencionada lei, que instituiu a
exigência de efetiva sujeição aos agentes nocivos, por meio de formulários (SB-
40 e DSS-8030) ou laudo técnico. A matéria obteve seus contornos definitivos
com o advento do Decreto nº 2.172/97, que tornou obrigatória a apresentação de
laudo técnico pericial para a comprovação da atividade especial.
Sintetizando a evolução legislativa afeita ao tema, cita-se precedente do
Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4):
PREVIDENCIÁRIO. ATIVIDADE ESPECIAL. CONVERSÃO. LEI Nº 9.711/98.
DECRETO Nº 3.048/99. CONCESSÃO DE APOSENTADORIA POR TEMPO
DE SERVIÇO/ CONTRIBUIÇÃO. (...) 2. Até 28/04/1995 é admissível o
reconhecimento da especialidade por categoria profissional ou por sujeição a
agentes nocivos, aceitando-se qualquer meio de prova (exceto para ruído); a partir
de 29-04-1995 não mais é possível o enquadramento por categoria profissional,
devendo existir comprovação da sujeição a agentes nocivos por qualquer meio de
prova até 05-03-1997 e, a partir de então, por meio de formulário embasado em
laudo técnico, ou por meio de perícia técnica. 3. Comprovado o exercício de
atividades sob condições especiais, as quais devem ser convertidas pelo fator 1,40,
somadas aos intervalos já reconhecidos na órbita administrativa pelo INSS,
assegura-se à parte autora o direito à concessão do benefício de aposentadoria por
tempo de serviço/contribuição integral, conforme opção mais vantajosa, a contar
da data do requerimento administrativo.[64]
Mas não se trata apenas de avaliar a existência de insalubridade. O agente
nocivo periculosidade corresponde à iminência do risco que o trabalhador pode
sofrer de forma violenta, prejudicando sua integridade física.
Considerando a incidência da legislação trabalhista em matéria
previdenciária, por força da redação do art. 58, § 1º da Lei nº 8.213/91, dada pela
Lei nº 9.732/98, tem-se que a periculosidade é regida pelo art. 193 da
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), regulamentado pelas Normas
Regulamentadoras (NR) nº 10 e 16 do Ministério do Trabalho e Emprego.
A NR nº10 estabelece os requisitos e condições mínimas das operações
envolvendo periculosidade, a objetivar a implementação de medidas de controle
e prevenção para garantir a segurança dos trabalhadores lotados em operações
que, por sua natureza, impliquem risco acentuado em virtude de exposição
permanente a inflamáveis e explosivos.
Neste sentido, convém colacionar recente precedente do E. TRF4.
Quanto à periculosidade, a jurisprudência assegurou a possibilidade de se
reconhecer a especialidade de atividades que sujeitam o trabalhador a condições
consideradas perigosas, como ocorre, consoante já referido, com o eletricitário e
com o vigilante que exerce as suas funções munido de arma de fogo. (...) Em
suma: (1) a Constituição da República valoriza especialmente o trabalho insalubre,
o penoso e o perigoso; (2) a valorização do trabalho insalubre está assentada pela
legislação e pela jurisprudência mediante parâmetros probatórios estabelecidos
(inicialmente, enquadramento profissional, depois, perícia); (3) a valorização do
trabalho perigoso, por sua vez, faz-se mediante a identificação jurisprudencial de
determinadas condições de trabalho (por exemplo, casos do eletricitário e do
vigilante armado); (4) a valorização do trabalho penoso, por sua vez, não só não
pode ser ignorada, como deve dar-se mediante o reconhecimento de determinadas
condições, procedimento já sedimentado quanto ao trabalho perigoso.[65]
Eis o embasamento legal a permitir que se reconheça a periculosidade
como elemento caracterizador de especialidade laboral, demonstrado o exercício
de atividade profissional em locais em que a rotina de trabalho impõe a sujeição
a risco potencial de acidente.
A jurisprudência é madura nesse sentido, principalmente desde que a
Turma Nacional de Uniformização da Jurisprudência dos Juizados Especiais
Federais (TNU) passou a reconhecer que a decisão do Superior Tribunal de
Justiça (STJ) no REsp 1.306.113, na verdade, prestou-se a reconhecer que a nova
redação do art. 57 da Lei nº 8.213/91 não limitou a considerar como tempo de
serviço especial apenas aqueles que fossem previstos em lei ou regulamento,
mas sim todos aqueles resultantes da ação de agentes nocivos ou associação de
agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física.
A partir daí, fixou a tese de que é possível o reconhecimento de tempo
especial prestado com exposição à agente nocivo perigoso em data posterior a
05/03/1997, desde que laudo técnico - ou elemento material equivalente –
comprove a permanente exposição à atividade nociva, independentemente de
previsão em legislação específica.
PREVIDENCIÁRIO. REVISÃO DE BENEFÍCIO. APOSENTADORIA.
AVERBAÇÃO DE TEMPO ESPECIAL. RECLAMATÓRIA TRABALHISTA.
PROVA PLENA. EXPOSIÇÃO AO AGENTE NOCIVO BIOLÓGICO. ÁREA
DE RISCO. INSALUBRIDADE E PERICULOSIDADE. EXPOSIÇÃO
INTERMITENTE. CONVERSÃO DE TEMPO ESPECIAL EM COMUM.
CABIMENTO. (...) 5. Durante a parcela de tempo em que o segurado realizava
funções administrativas, restou comprovada a periculosidade, pois o prédio em que
desempenhava as atividades era local de armazenamento de combustíveis
inflamáveis, estando evidenciado o risco de explosão.[66]
Expostos en passant os traços característicos da aposentadoria especial,
mostra-se oportuno tratar de temas espinhosos, a exemplo dos efeitos do direito
intertemporal no reconhecimento de tempo e concessão de aposentadoria
especial.
2 Aposentadoria especial e o direito intertemporal
A seção anterior dedicou-se a expor brevemente às exigências específicas
para a concessão da aposentadoria especial, entretanto, a hipótese deste artigo
está sustentada na premissa de que o óbice mais complexo do segurado se refere
ao regime probatório.
Da difundida lição de que não existe direito adquirido a regime jurídico,
derivada do julgamento da ADI 3104 pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em
2007[67], e desde muito, com a edição de sua Súmula nº 359 sobressaem uma
série de discussões. Quiçá a mais relevante seja o direito adquirido à contagem
diferenciada do tempo de contribuição para a aposentadoria especial.
Se por um lado não é possível defender que o segurado filiado ao Regime
Geral de Previdência Social antes da vigência da Lei nº 9.093/95 tenha direito
indiscriminado à qualificação do tempo por enquadramento profissional após sua
edição, é extremamente relevante definir qual a lei aplicável para qualificar o
tempo de serviço prestado. Esse ônus não é limitado pelo princípio do tempus
regit actum, segundo o qual o direito adquirido ao benefício previdenciário
exsurge tão somente com a reunião dos requisitos para a sua concessão de
acordo com a lei em vigor.
Ao contrário, o mesmo entendimento se aplica por similitude, no sentido
de garantir que a análise do tempo de contribuição também deve ser disciplinada
pela lei vigente à época em que efetivamente foi prestado, de modo a integrar o
patrimônio jurídico do segurado como direito autônomo[68]. Isso é, a cada dia de
trabalho, o segurado incorpora o direito de qualificar o tempo de contribuição
por conta das condições especiais em que foi prestado.
Como corolário disso, a comprovação do exercício de determinada
atividade também segue a sorte do princípio tempus regit actum, ainda que se
mostre menos benéfica ao segurado. Isso porque a jurisprudência pátria também
pacificou a irretroatividade da norma mais protetora, apesar dos protestos da
melhor doutrina.
Em tema de aposentadoria especial, mercê de sua função protetiva da saúde do
trabalhador, deve ser aplicada retroativamente a legislação que reconhece
determinada atividade como especial, ainda que não faça referência ao passado de
maneira expressa. Se uma nova disciplina da matéria passa a reconhecer que o
trabalho em determinadas condições ambientais provavelmente compromete a
saúde do trabalhador, inexiste razão para que não reconheça sua eficácia para o
passado, de modo a fazer a norma protetora cumprir sua finalidade.[69]
O caráter absoluto do princípio foi estampado em paradigmático julgado
quanto à sucessão de normas tratando do limite máximo de decibéis para a
caracterização do agente nocivo ruído. A TNU apreciou a matéria inicialmente,
editando a Súmula nº 32, segundo a qual, em sua redação original:
O tempo de trabalho laborado com exposição a ruído é considerado especial, para
fins de conversão em comum, nos seguintes níveis: superior a 80 decibéis, na
vigência do Decreto n. 53.831/64; superior a 90 decibéis, a partir de 5 de março de
1997, na vigência do Decreto 2.172/97; superior a 85 decibéis, a partir da edição
do Decreto n. 4.882, de 18 de novembro de 2003.[70]
Em seguida, por algum tempo a Súmula foi reformulada para aceitar a
retroação da norma mais protetora ao segurado, quando constou:
O tempo de trabalho laborado com exposição a ruído é considerado especial, para
fins de conversão em comum, nos seguintes níveis: superior a 80 decibéis, na
vigência do Decreto n. 53.831/64 e, a contar de 5 de março de 1997, superior a 85
decibéis, por força da edição do Decreto n. 4.882, de 18 de novembro de 2003,
quando a Administração Pública reconheceu e declarou a nocividade à saúde de tal
índice de ruído.
Nessa oportunidade, entendeu-se que o Decreto de 2003 haveria de ser
aplicado retroativamente, por explorar dados científicos mais recentes para a
diminuição do limite de 90dB desde a vigência do Decreto nº 2.172/97, que
havia aumentado o limite anterior de 80dB.
Ocorre que o STJ consolidou sua jurisprudência de acordo com a redação
original da Súmula, o que fez a partir da Pet 9.059/RS julgada em 28/08/2013,
estabelecendo que a atividade especial é caracterizada pela lei vigente ao tempo
da contribuição, não comportando exceções.
A título de conclusão deste tópico, cumpre ressaltar, ainda que de alguma
forma se antecipe o conteúdo da seção a seguir, a eficácia plena da prova de
exposição ao ruído, impossível de ser elidida pela comprovação do fornecimento
e utilização de equipamentos de proteção individual.
Após longa discussão sobre a eficácia dos equipamentos de proteção
individual, a possibilidade de anulação de insalubridade e ruído foi recentemente
pacificada. Há, especificamente em relação ao agente ruído, uma série de
estudos técnicos que sustentam que os equipamentos de proteção individual
(EPI) são ineficazes para a eliminação ou a neutralização da nocividade da
exposição do trabalhador a ruído para além dos limites de tolerância.
A eficácia dos EPI aos trabalhadores expostos a ruídos acima dos limites
legais difere da análise das demais insalubridades porque as condições ótimas de
utilização do EPI auricular são mensuradas em laboratório, ambiente no qual é
impossível considerar as variáveis de campo. Esse mesmo motivo fez o plenário
do STF desconstituir a presunção de eficácia do EPI pela observância de
parâmetros internacionais e pela sua simples certificação do Ministério do
Trabalho.
O STF negou provimento ao Recurso Extraordinário nº 664.335/SC,
naquela oportunidade, foi consignado que:
Ainda que se pudesse aceitar que o problema causado pela exposição ao ruído
relacionasse apenas à perda das funções auditivas, o que indubitavelmente não é o
caso, é certo que não se pode garantir uma eficácia real na eliminação dos efeitos
do agente nocivo ruído com a simples utilização de EPI, pois são inúmeros os
fatores que influenciam na sua efetividade, dentro dos quais muitos são
impassíveis de um controle efetivo, tanto pelas empresas, quanto pelos
trabalhadores.[71]
Assim, assentou-se a tese, segundo a qual, na hipótese de exposição do
trabalhador a ruído acima dos limites legais de tolerância, a declaração do
empregador de eficácia do EPI, no âmbito do PPP, não descaracteriza o tempo de
serviço especial para a aposentadoria.
3 Eficácia da prova
A este ponto já se tratou das balizas gerais da aposentadoria especial, bem
como sua relação com o direito intertemporal. É tempo de adentrar o tema
específico deste trabalho, primeiramente delineando as normas aplicáveis ao
âmbito administrativo da tutela previdenciária, expondo, de passagem, o calvário
que o regular processamento dos requerimentos pode enfrentar.
O grande desafio jurisdicional, mas também da defesa de interesses
perante a Administração Pública, sempre foi a habilitação do devido processo
legal em sua plenitude. Trata-se de princípio fundamental do processo civil,
previsto no art. 5º, LIV da CF, como base no qual os demais princípios se
sustentam, ou seja, gênero donde decorrem todas as espécies de garantias
processuais consequentes[72].
Não se olvida que a duração razoável do processo, compreendendo a busca
pela prestação da tutela jurisdicional de forma tempestiva, é norma do direito
constitucional processual[73]. A ideia de celeridade foi alçada a novo status no
sistema processual pela Emenda Constitucional (EC) nº 45/2004, incluindo-a no
rol de direitos e garantias fundamentais. Entretanto, na mesma medida que os
demais princípios processuais, sustenta-se no princípio do devido processo legal
e, bem por isso, não pode contrariá-lo.
Debate dos mais complexos, contudo, compreende o embate entre a
celeridade processual e os princípios e normas inerentes ao processo
administrativo. Veja-se a lição de José Antonio Savaris:
No processo administrativo previdenciário, se descontente com a prova pelo
requerente inicialmente apresentada, a entidade previdenciária tem o dever – não
apenas moral, mas igualmente jurídico – de instaurar processo de justificação
administrativa, de realizar diligências (observado contraditório) para investigar a
veracidade das informações, tem, enfim, o poder-dever de julgar-lhe a sorte de
acordo com os elementos de prova apresentados ou solicitados inicialmente. [74]
Isto é, a autarquia previdenciária – em que pese a sua publicizada
dificuldade com déficit estrutural e de pessoal, bem como necessidade de dar
andamentos às centenas de milhares de requerimentos mensais – não pode
restringir e prejudicar os segurados na obtenção de seus direitos por falta de
informação suficiente ao segurado, resultando no indeferimento ou na concessão
de benefícios que não revelam a real garantia legal do contribuinte.
Eis o dever de orientação, mitigando a formalidade absoluta do processo
administrativo. A administração pública deve orientar o segurado quanto a
eventuais falhas no seu requerimento, por força do art. 6º, parágrafo único da Lei
nº 9.784/99, além de prestar todos os esclarecimentos necessários para o
exercício de seus direitos, tais como documentação indispensável ao
requerimento administrativo[75]. Essa concepção deve estar permanentemente
presente ao se analisar a eficácia dos meios de prova na aposentadoria especial.
Não é apenas no âmbito administrativo, contudo, que se encontram
problemas para a efetivação dos direitos fundamentais previdenciários. Como
cediço, o tema proposto neste estudo enseja a análise da jurisprudência também
como meio garantidor da eficácia dos meios de prova na aposentadoria especial.
Ocorre que a própria fonte de direito em questão é alvo de críticas da doutrina
especializada.
Desde muito se discute a dificuldade da instituição de uma cultura de
respeito aos precedentes no direito pátrio. Ressalvada o embate de longa data
sobre a caracterização da jurisdição brasileira como um regime híbrido de
common law e civil law, ainda que com predominância deste, é praticamente
incontroversa a importância da estabilidade e adaptabilidade do direito[76].
O direito previdenciário, naturalmente, não escapa deste dilema,
merecendo destaque a lição da doutrina, ainda que específica ao microssistema
dos Juizados Especiais Federais:
Os incidentes de uniformização não se prestam apenas a fixar uma premissa de
direito para um único processo, mas visam a pacificação e a estabilização da
jurisprudência, servindo de fundamento para as decisões futuras a serem proferidas
em casos análogos e, até mesmo, para a modificação de decisões já proferidas,
contra as quais tenham sido interpostos incidentes de uniformização. (...)
No entanto, para que este efeito externo realmente seja sentido e implique maior
segurança jurídica, concretização do princípio da igualdade e celeridade
processual, é necessário que as instâncias uniformizadoras realmente exerçam seu
mister de estabilizar a jurisprudência.
Na prática, o que se tem testemunhado em inúmeras situações é uma oscilação de
jurisprudência dos colegiados uniformizadores que, ao invés de proporcionar
maior segurança jurídica, assegurar a aplicação do princípio da igualdade e a
agilização dos feitos, levam a um estado de insegurança que apenas fomenta o
manejo desnecessário e reiterados dos incidentes.[77]
Exemplo disso é a já exposta alteração de entendimento quanto aos limites
de ruído.
3.1 Enquadramento profissional e presunção da exposição
A partir do entendimento de que a caracterização do tempo de serviço
como especial deve observar a legislação vigente à época do seu exercício, a
primeira grande questão se refere à necessidade de demonstração da exposição
aos agentes prejudiciais à saúde.
Antes da nova redação dada ao art. 57, da Lei nº 8.213/91, pela Lei nº
9.032/95, a caracterização ocorria com base na presunção legal de exposição aos
agentes nocivos à saúde pelo mero enquadramento das categorias profissionais
previstas nos Decretos nº 53.831/64 e 83.080/79. Especificamente, o art. 60 do
Decreto nº 83.080/79 previa o enquadramento da atividade especial em razão do
exercício de atividade profissional específica ou exposição a agentes agressivos,
apresentando em seu anexo o rol de profissões e agentes agressivos.
É dizer, havia presunção absoluta de exposição aos agentes nocivos
relacionados nos anexos pelo simples fato do exercício da atividade profissional
lá prevista como perigosa, insalubre ou penosa, ou também pela comprovação da
efetiva exposição, mediante quaisquer meios de prova.
Neste ponto, falece de maiores digressões a análise sobre a eficácia da
prova da especialidade. Além da facilidade em comprovar o pertencimento à
categoria profissional prevista nos regulamentos, qualquer meio de prova,
inclusive a simples anotação em Carteira de Trabalho e Previdência Social
(CTPS), vigia a possibilidade de equiparação de outras atividades laborativas
não inscritas nos regulamentos. O ponto de partida era a Súmula nº 198 do
antigo Tribunal Federal de Recursos (TRF), que previa que “é devida à
aposentadoria especial, se perícia judicial constata que a atividade exercida pelo
segurado é perigosa, insalubre ou penosa, mesmo não inscrita em
regulamento”[78].
Mas além disso, a jurisprudência passou a interpretar de forma ainda mais
benéfica ao segurado, ao equiparar para todos os efeitos a demonstração de
especialidade. Ora, se a legislação previdenciária exigia qualquer meio de prova
para invocar a presunção legal de especialidade, da mesma forma a atividade
equiparada não pode ser obstada por exigência mais rígida – como a necessidade
de laudo pericial.
Eis o acórdão que conduziu este entendimento, lavrado pela Turma
Regional de Uniformização da Jurisprudência dos Juizados Especiais Federais
da 4ª Região (TRU):
Quando a jurisprudência federal estabelece equiparação a alguma categoria
profissional para a qual há presunção legal de especialidade, em face da
semelhança ou da identidade parcial de atribuições, admite que para a atividade
equiparada seja apresentada a mesma prova exigida para a comprovação do
exercício de atividade na categoria profissional listada na lei, ou seja, qualquer
meio de prova, para o período em que se admite esse enquadramento, podendo ser
pela apresentação do contrato de trabalho, CTPS, etc.[79]
As alterações legislativas que modificaram a lógica dos Decretos
anteriores, que até 1995 geravam a presunção juris et de juri relativamente às
categorias profissionais previstas na lei, consolidaram a insuficiência da mera
existência do agente nocivo para o enquadramento da atividade especial. Na
lição da doutrina, é:
Imprescindível provar que a exposição ao agente biológico possa causar prejuízo à
saúde. Não é necessário que a exposição se dê durante toda a jornada de trabalho,
mas que a permanência ao agente biológico possibilite a contaminação e o prejuízo
à saúde do trabalhador. [80]
A partir da Lei nº 9.032/95, além da exclusão do enquadramento por
categoria profissional, foi alterado o critério de reconhecimento do tempo
especial. Passou-se a exigir que o trabalho em condições prejudiciais à saúde ou
à integridade física fosse habitual, permanente, não ocasional nem intermitente.
Apenas o art. 65 do Decreto nº 4.882/03 esclareceu que a permanência não
exigira a exposição durante a totalidade da jornada de trabalho, mas estaria
atrelada à natureza do risco e sua intensidade inerente à atividade pelo qual o
segurado está exposto. De qualquer forma, ficou evidente o rompimento
referente ao direito intertemporal, uma vez que se editou a Súmula nº 49 da TNU
no sentido de que “para reconhecimento de condição especial de trabalho antes
de 29.04.1995, a exposição a agentes nocivos à saúde ou à integridade física não
precisa ocorrer de forma permanente”[81].
Por outro lado, hodiernamente é possível defender a permanência implícita
no PPP, uma vez que não há campo específico para anotar a permanência, sendo
redundante informá-la uma vez que há obrigação de informação do setor, função,
cargo e CBO. [82]
A nocividade da atividade, como já amplamente noticiado, é o que
complementa a permanência como critério indispensável para o reconhecimento
do tempo especial.
A prova na posse do segurado, assim, deverá ser suficiente para permitir a
avaliação do critério qualitativo ou quantitativo de incidência dos agentes
nocivos. O critério qualitativo enseja a presunção da nocividade, sempre que se
observar a presença dos elementos constantes nos Anexos nº 6, 13, 13-A e 14 da
NR nº 15, enquanto o critério quantitativo exige a ultrapassagem dos limites de
tolerância dos Anexos nº 1, 2, 3, 5, 8, 11 e 12 da mesma Norma
Regulamentadora.
3.2 Periculosidade e a eficácia plena da prova
Como mencionado, por conta da variação de regulamentação da matéria de
insalubridade e periculosidade, durante muito tempo era possível que
determinada atividade fosse classificada como insalubre para o direito do
trabalho e comum para a relação previdenciária. Essa disparidade foi eliminada
com a edição do Decreto nº 4.882/03, que inclusive determinou que a edição do
laudo técnico deve respeitar a legislação trabalhista.
O fato é que, demonstrada a efetiva nocividade do meio em que labora o
segurado, com possibilidade de prejuízo à higidez física, deve ser concedida a
aposentadoria especial.
PREVIDENCIÁRIO. ATIVIDADE ESPECIAL. PERICULOSIDADE.
INFLAMÁVEIS. RUÍDO. EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL.
APOSENTADORIA ESPECIAL. FONTE DE CUSTEIO. TUTELA
ESPECÍFICA. (...) 3. O simples fato de a parte autora trabalhar em ambiente onde
era armazenada grande quantidade de produtos inflamáveis (botijões de gás
liquefeito de petróleo), caracteriza a periculosidade decorrente do risco de
explosão destes produtos, devendo ser reconhecido o respectivo tempo de serviço
como especial. 4. Sendo caso de periculosidade ou de enquadramento por
categoria profissional, não se cogita de afastamento da especialidade pelos
Equipamentos de Proteção Individual.[83]
Não é demais relembrar que até 28/04/1995 a atividade de vigilante era
considerada equiparada à categoria profissional de guarda, tida por perigosa, nos
termos do código 2.5.7 do Quadro Anexo ao Decreto nº 53.831/64,
independentemente do porte de arma de fogo[84].
No julgamento do PEDILEF 0502013-34.2015.4.05.8302/PE, contudo, a
TNU fixou a tese de que:
É possível o reconhecimento de tempo especial prestado com exposição ao agente
nocivo periculosidade, na atividade de vigilante, em data posterior à vigência do
Decreto n. 2.172/92, de 05/03/1997, desde que laudo técnico (ou elemento
material equivalente) comprove a permanente exposição à atividade nociva.[85]
De qualquer forma, basta a comprovação da circunstância da
periculosidade no Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP), por exemplo,
pelo registro de desempenho de labor portando arma de fogo.
3.3 Documentos técnicos para a comprovação da exposição
É oportuno apontar que não é responsabilidade do segurado a produção do
laudo ambiental e dos relatórios profissiográficos exigidos para a comprovação
da atividade sob condições especiais após a edição do Decreto nº 2.172. São os
tomadores de serviço que têm o ônus de confeccionar e fornecer os documentos
aos segurados, sob pena de intervenção fiscalizatória do Ministério Público do
Trabalho ou determinação do Poder Judiciário.
Não é possível, contudo, atribuir valor absoluto aos formulários, de modo
a impedir o segurado de comprovar a especialidade do período. Nesse sentido:
Quando for materialmente impossível ao segurado a instrução do processo
administrativo ou judicial, devem ser-lhe deferidos os meios lícitos de prova da
atividade especial, como a realização de perícia técnica em ambiente laboral
congênere; ou ainda no acolhimento da chamada prova emprestada, com
aproveitamento de laudos ambientais de outros segurados que tenham realizado
atividades semelhantes em exposição aos mesmos agentes nocivos insalubres ou
perigosas.[86]
Nesta discussão se revela interessante a iniciativa de varas em criar e
disponibilizar bancos de laudos técnicos periciais das condições ambientais de
trabalho para a aposentadoria especial. Inicialmente criados e mantidos de forma
orgânica com mais publicidade pelas subseções da Justiça Federal da 4ª Região,
recentemente foi publicada a Resolução nº 7 de 7 de fevereiro de 2018 do
Tribunal Regional Federal da 4ª Região dispondo sobre a criação e manutenção
de Banco de Laudos Técnicos Periciais das Condições Ambientais do
Trabalho[87].
Eis o entendimento da jurisprudência sobre o tema.
Mostra-se legítima a produção de perícia indireta, em empresa similar, ante a
impossibilidade de obter os dados necessários à comprovação de atividade
especial, visto que, diante do caráter eminentemente social atribuído à Previdência,
onde sua finalidade primeira é amparar o segurado, o trabalhador não pode sofrer
prejuízos decorrentes da impossibilidade de produção, no local de trabalho, de
prova, mesmo que seja de perícia técnica. 3. Em casos análogos, é pacífico o
entendimento do Superior Tribunal de Justiça quanto à legalidade da prova
emprestada, quando esta é produzida com respeito aos princípios do contraditório
e da ampla defesa. Recurso especial improvido. [88]
Pois bem. Este tópico foi dedicado até o momento aos documentos
necessários para a comprovação da exposição, tornando eficaz a prova. Mostra-
se oportuno, todavia, tratar do imprescindível tema afeito à dificuldade do
segurado em comprovar a atividade especial.
Em teoria, por autorização do direito constitucional e processual civil, é
permitido ao segurado se valer de qualquer meio lícito de prova. Ocorre que,
além de se desincumbir do ônus processual da prova, o segurado pode enfrentar
outras dificuldades.
Não raro a empresa fornece os formulários preenchidos incorretamente ou
cujas informações não refletem o ambiente natural; a empresa não tinha laudo
técnico referente ao período do trabalho; a empresa fechou ou foi extinta.
A eficácia da prova fica, por assim dizer, condicionada à entrega pela
empresa. A esse respeito, filia-se à advertência e à sugestão da doutrina:
A ele cabe o ônus da prova, que, por sua vez, depende da empresa para que lhe
forneça o documento.
Assim como a criação do Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário – NTEP
pela Lei 11.430/06 transferiu o ônus da prova para a empresa em razão de
reiterados descumprimentos de não preenchimento da CAT pelo empregador,
deveria ser criado um mecanismo parecido, onde a presunção fosse favorável ao
segurado e ficasse a cargo da empresa provar que o ambiente não era nocivo. (...)
Temos um grande impasse. O segurado precisa da prova, mas depende de a
empresa querer lhe fornecer essa prova que trate fielmente o ambiente laboral.
Algumas empresas fazem corretamente e cumprem o seu papel. Outras, entretanto,
sequer respondem às solicitações e quando o fazem, entregam-lhe um formulário
irreal, sem qualquer possibilidade de reconhecimento como especial. Cometem um
crime, não pela questão penal, mas um crime de natureza social, em que o
trabalhador deixará de alcançar a prestação mais benéfica, mais vantajosa,
obstando-lhe um direito fundamental social![89]
Imagine-se, por exemplo, o caso de extinção da empresa ou comprovada
impossibilidade de obtenção do laudo técnico. A obtenção da plena eficácia da
prova técnica pode se dar por pelo menos de três formas. Em primeiro lugar, é
possível promover a perícia judicial por aferição indireta – na qual o perito
avalia tecnicamente objetos, documentos, livros fiscais e até depoimentos de
outros trabalhadores para aferir a existência de determinado agente nocivo no
ambiente de trabalho. Em segundo lugar, vale citar a possibilidade de
aproveitamento de laudo técnico elaborado por empresa similar, mediante efetiva
demonstração da similaridade no ramo da atividade, porte da empresa, funções
exercidas e recursos de trabalho disponíveis, assim, reconhecendo a
aplicabilidade da prova emprestada. Por fim, a perícia por similaridade, na qual
o perito designado examina empresa similar à extinta quanto à alegada presença
de determinado agente nocivo, exigindo outrossim a demonstração de
similaridade pela descrição do ramo da atividade, maquinário etc.
Veja-se o elucidativo precedente do TRF4 que demonstra o consagrado
entendimento:
PREVIDENCIÁRIO. TEMPO DE SERVIÇO ESPECIAL. CONVERSÃO DE
TEMPO DE SERVIÇO ESPECIAL PARA COMUM. PERÍCIA POR
SIMILARIDADE. LAUDO EXTEMPORÂNEO. FATOR DE CONVERSÃO.
ART. 64 DO DECRETO 357/91. APOSENTADORIA POR TEMPO DE
CONTRIBUIÇÃO. REAFIRMAÇÃO DA DER. [90]
Do corpo do voto se retira justamente a autorização, na impossibilidade de
coleta de dados in loco para a comprovação da atividade especial, de realização
de perícia por similaridade ou por aferição indireta das circunstâncias de
trabalho. A aceitação no Tribunal, aliás, deriva do entendimento consagrado na
Súmula nº 106 da Corte, segundo a qual “quando impossível a realização de
perícia técnica no local de trabalho do segurado, admite-se a produção desta
prova em empresa similar, a fim de aferir a exposição aos agentes nocivos e
comprovar a especialidade do labor”[91].
A força probante de laudo técnico extemporâneo é plenamente válida
quando se comprova que, à época em que foi prestado o serviço, o ambiente de
trabalho tinha iguais ou piores condições de salubridade. Neste ponto, inclusive,
importa ressaltar que o laudo pericial, em si, não necessita ser contemporâneo ao
período de trabalho, conforme pacificado pela Súmula nº 68 da TNU[92]. O
importante é traduzir fielmente as condições ambientais da época.
Outras formas de comprovar a atividade especial, sem prejuízo de
qualquer outra admitida em direito, também podem ser utilizadas pelo segurado.
Requerimento de inspeção pelo INSS à empresa (art. 68, §7º do Decreto nº
3.048/99); notificação extrajudicial para o fornecimento de documento, cuja
omissão enseja multa (art. 283 do mesmo Decreto); inspeção no local do
trabalho (art. 481 e ss do Código de Processo Civil); perícia judicial no processo
previdenciário, nos casos em que não houver sido constituída a prova
documental por meio dos formulários[93]
O último ponto de discussão deste trabalho é quanto ao uso do EPI,
somente será considerada a ação de EPI em demonstração ambiental emitida a
partir da MP nº 1.729/98, posteriormente convertida na Lei nº 9.732,98 e apenas
quando restar comprovado que elimine ou neutraliza a nocividade e seja
respeitada a Norma Regulamentadora 6 do MTE, que prevê atendimento às
medidas de proteção coletiva ou individual.
Dito de outra forma, os EPIs informados devem cumprir
concomitantemente as exigências do Ministério do Trabalho: tentativa de
implementação de medidas de proteção coletiva, justificando o EPI apenas por
inviabilidade técnica ou por caráter complementar ou emergencial; observação
das condições de funcionamento e uso ininterrupto do EPI ao longo do tempo,
conforme especificação técnica do fabricante; observação do prazo de validade,
conforme certificado de aprovação; observação da periodicidade na troca
definida pelos programas ambientais.
Não havendo comprovação de todos esses mandamentos, aplica-se o
Enunciado nº 21 do Conselho de Recurso da Previdência Social (CRPS):
O simples fornecimento de equipamento de proteção individual de trabalho pelo
empregador não exclui a hipótese de exposição do trabalhador aos agentes nocivos
à saúde, devendo ser considerado todo o ambiente de trabalho.[94]
Eis, portanto, o breve panorama proposto por este artigo, no sentido de
delinear os problemas e apontar possibilidades de atuação, respaldadas pela
jurisprudência, com vista a alcançar a eficácia da prova no requerimento de
aposentadoria especial.
Considerações finais
Traçados os principais pontos necessários para um entendimento não
exaustivo sobre a aposentadoria especial, apresentam-se algumas das
problemáticas envolvendo sua previsão legal dentro do sistema jurídico
previdenciário.
A partir do corte proposto, discutiram-se a criação e a evolução do instituto
no ordenamento jurídico; suas nuances e formas de aplicação nas diversas
situações jurídicas previdenciárias; a forma como a jurisprudência se assentou
sobre o tema.
Para tanto, mostrou-se imprescindível estabelecer historicamente a
evolução legislativa em relação ao tema. Além disso, dedicou-se capítulo à
análise do direito intertemporal no concernente ao assunto em pauta. A partir daí,
procurou-se demonstrar a pedra de toque da questão probatória diante das
nuances da aposentadoria especial, bem como a relevância do tema diante das
diversas situações enfrentadas na prática processual previdenciária.
Ao fim e ao cabo, procurou-se demonstrar a importância da atividade
proativa do advogado em auxiliar o segurado na obtenção dos documentos
necessários para a caracterização da especialidade do tempo de contribuição,
mas mais do que isso, indicar alternativas viáveis, nos casos de impossibilidade
de apresentação dos formulários exigidos normalmente.
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XAVIER, Flavia da Silva; SAVARIS, José Antonio. Manual dos recursos nos
juizados especiais federais. 2ª ed. Curitiba: Juruá, 2011.










CAPÍTULO 7
ACIDENTE DE TRAJETO: A REFORMA
TRABALHISTA E OS IMPACTOS NO DIREITO
PREVIDENCIÁRIO

SERGIO EDUARDO CANELLA
Advogado, graduado em Direito pela Universidade Estadual de Londrina (UEL),
Mestre em Direito Negocial e Especialista em Direito Empresarial pela
Universidade Estadual de Londrina (UEL), Especialista em Direito do Trabalho
pela AMATRA, docente de Processo Civil e Direito Empresarial na faculdade
UNOPAR nos anos de 2004 a 2007, escritor de artigos especializados, sócio e
gestor do Escritório Brandão Canella Advogados Associados.
Introdução
Após a Reforma Trabalhista introduzida pela Lei nº 13.467/2017 que
alterou pontos importantes da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), alguns
questionamentos surgiram haja vista o diálogo e a repercussão da referida norma
em outros ramos do Direito, especialmente, o Direito Previdenciário.
Nesse contexto, o objetivo deste trabalho é analisar os questionamentos
apresentados pós-reforma trabalhista, especificamente, na alteração dada pelo
parágrafo segundo do art. 58 da Consolidação das Leis do Trabalho, no tocante
ao acidente de trajeto e suas implicações ou impactos na norma previdenciária e
para o segurado.
Há que se distinguir a natureza das normas e a diferença das relações nas
quais elas se estabelecem, sendo uma para regulamentar as relações do pacto
laboral e outra para regular o os benefícios previdenciários da Seguridade Social
com fito de, entre outros, estabelecer as regras de concessão e manutenção de
benefícios para amparar aqueles que, por algum infortúnio, necessitem do
auxilio do Estado.
A interpretação equivocada da norma pode causar prejuízo não só ao
segurado, mas também ao empregador, por meio das sanções previstas em Lei.
Estabelecer a distinção da aplicação da norma previdenciária e trabalhista
é de suma importância para estabelecer e resguardar o segurado, diante do
princípio da universalidade da cobertura e do atendimento que norteia o Direito
Previdenciário, o qual prevê que a proteção social deve alcançar a todos os
eventos, cuja reparação seja necessária com o fito de dar subsistência àquele de
que dela necessita.
1 O acidente de trajeto na lei Nº 8.213/91
A Lei nº 8213/91 dispõe sobre os planos de benefício da Previdência
Social. O art. 18 apresenta o rol de prestações a serem pagas dentro do Regime
Geral da Previdência Social (RGPS) expressas em benefícios tais como as
aposentadorias, auxílios etc., além dos serviços.
O caput do art. 18 deixa claro que as prestações serão devidas inclusive
para os eventos decorrentes do acidente de trabalho.
Portanto, é certo que dentre os benefícios de prestação continuada pagos
pelo INSS são devidos àqueles decorrentes do acidente de trabalho que,
dependendo da lesão e o grau de incapacidade (definitiva ou temporária), poderá
vir a ser um auxílio-doença da espécie acidentária, auxílio-acidente ou
aposentadoria por invalidez decorrente de acidente de trabalho.
O art. 19 da Lei de Benefícios define o acidente de trabalho da seguinte
forma:
Art. 19. Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço
de empresa ou de empregador doméstico ou pelo exercício do trabalho dos
segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal
ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou
temporária, da capacidade para o trabalho.
O art. 21 da referida Lei traz em seu texto o rol de eventos que são
considerados como acidente de trabalho para efeitos previdenciários, sendo que
a letra “d” do inciso IV apresenta como tal: o acidente de trajeto.
Art. 21. Equiparam-se também ao acidente do trabalho, para efeitos desta Lei:
(...) IV - o acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e horário de
trabalho: (...) d) no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para
aquela, qualquer que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade
do segurado.
Da simples interpretação do texto normativo, é possível reconhecer que o
acidente ocorrido no trajeto ou percurso do local do trabalho à residência ou da
residência ao local de trabalho por qualquer tipo de locomoção, ou seja,
transporte público, a pé, bicicleta e até mesmo em veículo de propriedade do
segurado é equiparado ao acidente de trabalho, desde que provoque lesão
corporal ou perturbação funcional que cause a perda ou redução – permanente ou
temporária – da capacidade para o trabalho e, em última hipótese, a morte.
Por certo que, se houve um acidente com a ocorrência de danos materiais
apenas nos veículos ou em outro meio de deslocamento utilizado no trajeto (por
exemplo: colisão de veículos) e nenhuma lesão tenha sofrido o segurado, não
será emitida a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT).
Ocorrido o acidente de trajeto que, para fins previdenciários, é equiparado
ao acidente de trabalho, a empresa deverá comunicar o evento à Previdência
Social no primeiro dia útil após o acidente, mesmo que não haja o afastamento
do trabalho ou de forma imediata se ocorrer a morte do segurado, por meio da
CAT.
A empresa que não fornecer a CAT dentro do prazo legal estabelecido pelo
caput do art. 22 da Lei nº 8.213/91 estará sujeita à penalidade de multa.
Embora se saiba que, na falta da comunicação por parte da empresa,
podem emiti-la o próprio acidentado, seus dependentes, o sindicato ao qual o
trabalhador é filiado, médico que o atendeu, ou qualquer autoridade pública, na
prática, na maioria das vezes, isso não ocorre, até pelo desconhecimento do
segurado dessas possibilidades.
O emissor da CAT irá se referir ao acidente de trabalho ocorrido, que pode
ser: a) típico, por exemplo, o corte de um dos dedos da mão em uma serra
circular na construção civil; b) por doença profissional, como no caso de
saturnismo (intoxicação por chumbo em fábricas de bateria de automóvel); c)
doença do trabalho, que são desencadeadas em virtude de circunstâncias
especiais do trabalho como a surdez em ambiente extremamente ruidoso; c)
óbito imediato ou, por último, e) de trajeto, conforme já definido acima.
Observa-se que muitas empresas não emitem ou emitiam a CAT com a
finalidade de não ser penalizada perante o Fator Acidentário de Prevenção (FAT)
com uma alíquota maior e, também, para não gerar, após eventual afastamento
superior a 15 dias, a estabilidade empregatícia do trabalhador e a necessidade de
efetuar os depósitos mensais do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço
(FGTS) no período de afastamento como determina a Lei nº 8.036/90.
Veja que o segurado, ao receber o auxílio-doença comum ou não
acidentário, fica a mercê de uma demissão quando de seu retorno ao trabalho,
sendo substituído por outro em plenas condições de saúde.
Com vistas a resguardar o direito do segurado e ser realizada uma
comunicação fidedigna do acidente, por meio da Lei Complementar (LC) nº 150
de 2015, foi introduzido o art. 21-A à Lei nº 8.213/91, que dispõe sobre o nexo
técnico epidemiológico:
Art. 21-A. A perícia médica do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS)
considerará caracterizada a natureza acidentária da incapacidade quando constatar
ocorrência de nexo técnico epidemiológico entre o trabalho e o agravo, decorrente
da relação entre a atividade da empresa ou do empregado doméstico e a entidade
mórbida motivadora da incapacidade elencada na Classificação Internacional de
Doenças (CID), em conformidade com o que dispuser o regulamento
A autarquia previdenciária, mesmo sem a presença da CAT, poderá avaliar
o nexo técnico epidemiológico por meio da relação entre a lesão e a atividade
exercida pelo trabalhador. O segurado munido de um laudo ou atestado médico,
afirmando-se a incapacidade elencada na Classificação Internacional de Doenças
(CID), apresentará seu requerimento ao INSS para possibilitar a caracterização
do benefício como acidentário (espécie 91), que se trata daquele relacionado ao
trabalho.
Portanto, o referido acidente de trajeto, equiparado pela norma
previdenciária como acidente de trabalho, ao ser levado ao conhecimento da
Autarquia Previdenciária, por meio da CAT ou documentos médicos, em
havendo lesão corporal ou perturbação funcional que cause perda ou redução –
temporária ou permanente – da capacidade do obreiro, ou mesmo a sua morte,
será deferido dentro das hipóteses previstas na Lei de Benefícios, pois há direito
ao recebimento de um benefício previdenciário de prestação continuada.
2 O acidente de trajeto e a responsabilidade do empregador no pacto
laboral
Na esfera trabalhista, que regula as relações entre patrões e empregados,
tanto na doutrina quanto na jurisprudência, a posição em relação ao acidente de
trajeto é diferente daquela prevista na norma previdenciária.
Já houve um tempo em que se entendia que o acidente ocorrido no
percurso do trabalhador entre sua residência e o local de trabalho era de
responsabilidade da empresa.
Na seara trabalhista, para que o acidente de trajeto seja considerado
acidente de trabalho com a responsabilização civil da empresa, deve existir a
demonstração da conduta dolosa ou culposa do empregador e do dano
ocasionado ao obreiro.
O Código Civil (Lei nº 10.406/2002), aplicado de forma subsidiária ao
Direito do Trabalho, prescreve:
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de
culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos
de outrem.
Tome-se, por exemplo, um trabalhador que se desloca no percurso entre
sua residência e o local de trabalho e o empregador determina que ele faça algo
pelo caminho, alterando seu trajeto, e ocorra um infortúnio com lesão ao obreiro:
caracterizado está o acidente de trabalho.
Veja que é necessário que haja uma interferência (por ação ou omissão) do
empregador ou que nesta ocasião o empregado esteja a sua disposição ou sob o
seu controle para que seja considerado um acidente de trabalho.
Deve, portanto, para efeito da responsabilização civil do empregador,
restar demonstrada a presença de nexo causal e de conduta culposa ou dolosa,
seja por ação ou omissão do empregador em relação ao acidente ocorrido.
Nesse sentido, para um maior esclarecimento, é de se verificar o
posicionamento do Tribunal Regional do Trabalho da 9º Região (TRT9):
TRT-PR-24-06-2014 INDENIZAÇÃO. ACIDENTE DE TRABALHO POR
EQUIPARAÇÃO. ACIDENTE DE TRÂNSITO. TRAJETO RESIDÊNCIA-
TRABALHO-RESIDÊNCIA. NEXO CAUSAL NÃO CONFIGURADO(...) não
se há falar em pagamento de indenização quando não evidenciada qualquer
conduta culposa, por parte da ré, relacionada ao sinistro. No caso, a causa do
acidente não guardou relação com qualquer atitude, comissiva ou omissiva, da
empregadora, pois ocorrido fora das dependências da ré, quando o “de cujus”
colidiu, com sua motocicleta, na traseira de um caminhão. Tenha o acidente
decorrido de culpa exclusiva da vítima ou de fato de terceiro, ambos são fatores
excludentes de responsabilidade da ré e do consequente dever de indenizar, já que
inexistente, na situação, o imprescindível nexo de causal. Sentença mantida.[95]
Não é possível, por meio da tentativa de aplicação dos art. 18 e 21 da Lei
nº 8.213/91, buscar estabelecer a responsabilidade civil do empregador diante da
necessidade de verificação da natureza subjetivista da conduta nos termos dos
arts. 186, 197 e 927 do Código Civil para fins trabalhistas.
Por outro lado, se não há a comprovação da relação entre a conduta do
empregador e o acidente ocorrido no trajeto entre a residência do obreiro e seu
local de trabalho, ou ao contrário, haverá de qualquer modo impacto da norma
previdenciária no pacto laboral, e o empregado fará jus a estabilidade provisória,
se permanecer afastado por mais de 15 dias em gozo de benefício previdenciário
nos termos do art. 118 da Lei nº 8.213/91.
Art. 118. O segurado que sofreu acidente do trabalho tem garantida, pelo prazo
mínimo de doze meses, a manutenção do seu contrato de trabalho na empresa,
após a cessação do auxílio-doença acidentário, independentemente de percepção
de auxílio-acidente.
Assim, o acidente de trajeto ou de percurso é equiparado ao acidente de
trabalho apenas para fins previdenciários, como garante a Lei de Benefícios (art.
21, IV, ‘d’ da Lei nº 8.213/91) promovendo efeitos, inclusive, no pacto
empregatício, em razão do direito à garantia provisória de emprego que acaba
por gerar, nos termos do art. 118 do mesmo texto normativo.
3 O acidente de trajeto e os questionamentos da reforma trabalhista
No meio jurídico, têm-se suscitado alguns questionamentos que envolvem
as modificações introduzidas pela reforma trabalhista na Consolidação das Leis
do Trabalho e seu eventual e correspondente impacto nas normas
previdenciárias, sobretudo no tocante ao acidente de trajeto.
Pontualmente, a reforma trabalhista modificou o § 2º do art. 58 da CLT
(Decreto-Lei nº 5.452/43), que passou a vigorar com a seguinte redação:
Art. 58. § 2º. O tempo despendido pelo empregado desde a sua residência até a
efetiva ocupação do posto de trabalho e para o seu retorno, caminhando ou por
qualquer meio de transporte, inclusive o fornecido pelo empregador, não será
computado na jornada de trabalho, por não ser tempo à disposição do empregador.
Em um entendimento que não parece o mais adequado, para alguns, nesta
modificação introduzida na CLT, o empregado que se acidentar no trajeto, entre
a residência e o local de trabalho ou no seu retorno, não terá mais reconhecida a
responsabilidade do empregador, pelo fato de que o trabalhador nesta hipótese
não estar à disposição do empregador.
Por consequência, não sendo mais responsabilidade do empregador, não se
enquadrando como acidente de trabalho, este ficaria isento de emitir a CAT.
Primeiramente, a normativa do art. 58 da CLT faz alusão à jornada de
trabalho do obreiro. O dispositivo legal, mais especificamente em seu parágrafo
segundo, estabelece o fim das horas in itinere.
O revogado § 2º do art. 58 da CLT, previa que:
Art. 58. §2º. O tempo despendido pelo empregado até o local de trabalho e para o
seu retorno, por qualquer meio de transporte, não será computado na jornada de
trabalho, salvo quando, tratando-se de local de difícil acesso ou não servido por
transporte público, o empregador fornecer a condução.
A jurisprudência pátria reconhece, como horas in itinere, o cômputo do
tempo de deslocamento do empregado na jornada do trabalho, com o pagamento
de horas suplementares; quando o local de trabalho for de difícil acesso ou não
servido de transporte público regular, o empregador fornecer a condução.
Sem discutir neste momento se houve ou não a supressão definitiva das
horas in itinere pela reforma trabalhista, é certo que a norma não se presta a
regulamentar o acidente de trajeto.
O texto normativo, ao afirmar que o tempo de deslocamento não pode
mais ser considerado tempo à disposição do empregador, não trata de nenhuma
forma sobre o acidente de trabalho, mas, apenas, o regramento sobre jornada de
trabalho e eventual obrigatoriedade de pagamento de horas extraordinárias.
Assim, do ponto de vista da responsabilidade civil do empregador, tem-se
que fica mantida a verificação da conduta deste sobre o evento que resultou em
danos ao trabalhador nos deslocamentos entre a residência e seu local de
trabalho.
Da mesma forma, para os fins previdenciários, nada muda em relação à
reforma introduzida pelo § 2º do art. 58 da CLT, inicialmente porque não se trata
de norma alusiva a acidente de trajeto, uma vez que o art. 21, III, ‘d’ da Lei nº
8.213/91 equipara o acidente de trajeto ao acidente de trabalho.
O fato de o obreiro não estar à disposição do empregador durante o seu
deslocamento entre a sua residência e o local de trabalho, ao contrário, não traz
nenhuma consequência ou mudança, para o amparo que se dá ao segurado nas
normas previdenciárias.
Também, refuta-se qualquer interpretação extensiva de que a empresa não
estaria mais obrigada à emissão da CAT, haja vista que, por meio da reforma,
supostamente teria sido retirada a obrigatoriedade sob o fundamento de que a
CLT não considera mais o acidente de trajeto como acidente de trabalho.
Ora, o acidente de trajeto tem impactos diferenciados para as normas
previdenciárias e para o direito trabalhista. Há que se fazer esta distinção de
forma correta para que não haja prejuízo nem para o segurado acidentado,
tampouco para o empregador.
Permanece ao Direito Previdenciário a resguarda do segurado que sofreu
acidente do trajeto entre seu local de trabalho e sua residência, eis que a Lei de
Benefícios reconhece o acidente de trajeto como acidente de trabalho.
O empregador continua obrigado a emitir a CAT em decorrência do
acidente de trajeto, ainda que não possua, para fins trabalhistas, qualquer
responsabilidade sobre o evento, sob pena de sofrer as sanções previstas nas
normas previdenciárias.
Observe-se, ainda, que mesmo que o empregador não emita a CAT, o
interessado pode fazê-la por outros meios ou ingressar com seu pedido perante a
Autarquia Previdenciária, munido de atestado ou laudo médico com a indicação
da CID referente à patologia para que o INSS verifique o nexo técnico
epidemiológico para que se reconheça a natureza acidentaria do infortúnio.
Veja mais uma vez que independente dos problemas advindos do pacto
laboral, o segurado que se vê em meio a um acidente de trajeto, poderá ter o
amparo do Estado para sua subsistência por meio da Previdência Social, seja por
meio da concessão de um beneficio acidentário; seja pela garantia da
estabilidade após a sua alta médica e seu retorno ao trabalho.
Considerações finais
A interpretação dada ao § 2º do art. 58 da CLT não se mostra adequada,
quando afirma que a norma trabalhista não alberga mais o acidente de trajeto
como acidente de trabalho.
Como verificado, a modificação introduzida pela reforma trabalhista trata
tão somente da relação advinda do pacto laboral em relação à jornada de
trabalho.
Com o advento dessa alteração, o legislador quis afastar a hipótese de
reconhecimento das horas in itinere, afastando-se, também, a possibilidade do
pagamento de horas extraordinárias no deslocamento do obreiro de sua
residência ao local de trabalho, por qualquer meio e ainda que o fazendo
caminhando.
O acidente de trajeto será considerado acidente de trabalho com
repercussão na responsabilidade do empregador no pacto laboral, conforme
entendimento jurisprudencial dos Tribunais da Justiça Especializada do
Trabalho, quando pautado na verificação de culpa ou dolo (ação ou omissão) do
empregador a teor dos arts. 186, 197 e 927 do Código Civil e não no art. 58 da
CLT.
Por não estar mais à disposição do empregador no tempo de deslocamento
do trajeto, não significa que, em caso de infortúnio durante o percurso de sua
residência ao local de trabalho e que o impeça de trabalhar para auferir alguma
renda, ficará sem qualquer tipo de meio para a subsistência.
A Seguridade Social, por meio da Previdência Social, poderá garantir
medidas protetivas ao trabalhador enquanto este necessitar permanecer afastado
de suas atividades em decorrência de um acidente de trajeto, que para a norma
previdenciária é considerado um acidente de trabalho.
Nesse contexto, “para a proteção previdenciária não há necessidade de
existência de dolo ou culpa, sendo devido o benefício por incapacidade inclusive
nos casos de culpa da vítima” [96].
Permanece da mesma forma a obrigatoriedade de o empregador emitir a
CAT sob qualquer hipótese desde que haja um infortúnio no trajeto entre a
residência e o local de trabalho do trabalhador, sabendo-se que existem outros
meios para o obreiro emitir sua comunicação à Autarquia Previdenciária ou o
reconhecimento da natureza acidentária do evento.
Apesar de não ser um documento indispensável para o segurado, o
empregador pode sofrer as sanções decorrentes de sua omissão.
Portanto, não há que se fazer uma confusão entre a modificação
introduzida pela reforma trabalhista, seja para não reconhecer mais o acidente de
trajeto como acidente de trabalho ou retirar a obrigatoriedade do empregador
emitir a CAT, uma vez que, diante da natureza distinta das normas e da intenção
do legislador, permanece o amparo do obreiro perante a Previdência Social e a
responsabilidade civil do empregador nos termos do art. 186, 197 e 927 do
Código Civil.
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BRASIL, Lei nº 13.467, de 13 de julho de 2017. Altera a Consolidação das Leis
do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943,
e as Leis nos 6.019, de 3 de janeiro de 1974, 8.036, de 11 de maio de 1990, e
8.212, de 24 de julho de 1991, a fim de adequar a legislação às novas relações de
trabalho. Documento eletrônico disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13467.htm>.
Acesso em: 26 de setembro de 2018.
BRASIL, Lei nº 8.036, de 11 de maio de 1990. Dispõe sobre o Fundo de
Garantia do Tempo de Serviço, e dá outras providências. Documento eletrônico
disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8036consol.htm>.
Acesso em: 26 de setembro de 2018.
BRASIL, Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.
Documento eletrônico disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 26 de
setembro de 2018.
LAZZARI, João Batista; CASTRO, Carlos Alberto Pereira de. Manual de
Direito Previdenciário. 19. ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2016.
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 9º REGIÃO. TRT-PR-00738-
2013-643-09-00-8 – 6ª Turma. Documento eletrônico disponível em:
<https://www.trt9.jus.br/pesquisaprocessual/processo/exibirProcesso.xhtml>
Acesso em: 26 de setembro de 2018.


CAPÍTULO 8
ADICIONAL DE 25% NA APOSENTADORIA:
GARANTIA AOS APOSENTADOS DE TODAS AS
MODALIDADES DE APOSENTADORIA QUE
COMPROVEM GRANDE INVALIDEZ

RENATA BRANDÃO CANELLA
Advogada, graduada em Direito pela Universidade Estadual de Londrina (UEL),
Mestre em Processo Civil e Especialista em Direito Empresarial pela
Universidade Estadual de Londrina (UEL), Especialista em Direito do Trabalho
pela AMATRA, docente de Processo Civil e Direito Previdenciário na faculdade
UNINORTE nos anos de 2003 a 2007, escritora de artigos especializados,
palestrante, sócia e gestora do Escritório Brandão Canella Advogados
Associados, membro associado do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário
(IBDP), membro da Comissão de Direito Previdenciário da OAB Londrina de
2014 a 2016, presidente da Associação Brasileira dos Advogados
Previdenciários (ABAP)
Introdução
A identificação dos merecedores do adicional de 25% na aposentadoria
passa pelo conceito de incapacidade e de deficiência, bem como pelos requisitos
essenciais para a concessão do benefício, distinguindo-se os benefícios de
assistência social daqueles da previdência social. Assim, de início, este artigo
balizará conceitos de direito previdenciário, inclusive com a distinção entre os
benefícios de assistência social (ao deficiente e ao idoso) e de previdência social
(aposentadorias e suas subdivisões).
1 Benefícios de previdência social e benefícios de assistência social
A Aposentadoria por Invalidez, a Aposentadoria por Idade, a
Aposentadoria por Tempo de Contribuição, a Pensão por Morte, o Auxílio-
doença, o Salário-maternidade, o Auxílio-reclusão e o Auxílio-acidente são
considerados benefícios da Previdência Social e estão inseridos no rol de
benefícios da denominada Seguridade Social. Estes benefícios dependem de
contraprestação e estão intimamente ligados ao trabalho, bem como ao termo
segurado, que advém não de seguridade, mas, sim, de seguro.
A Previdência Social é um seguro público pago somente quando há
contraprestação pecuniária, e como um seguro, depende de carência, qualidade
de segurado e preenchimento de requisitos quanto ao tempo de contribuição e
idade. Para a concessão desses benefícios, há um rol de exigências legais a
serem preenchidos.
Importante destacar que a Previdência Social pode ser considerada, além
de um seguro público, um direito social, previsto como tal no art. 6º da
Constituição Federal (CF) de 1988. Sua principal função social é a proteção aos
trabalhadores em situação de risco (doença e idade avançada), garantindo a estes
e a sua família, renda não inferior ao salário mínimo nacional vigente nas
situações previstas no art. 201 da Carta Magna:
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de
caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o
equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a: I - cobertura dos
eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada; II - proteção à maternidade,
especialmente à gestante; III - proteção ao trabalhador em situação de desemprego
involuntário; IV - salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos
segurados de baixa renda; V - pensão por morte do segurado, homem ou mulher,
ao cônjuge ou companheiro e dependentes, observado o disposto no § 2º.
Já os benefícios de Assistência Social não são considerados
aposentadorias, pois não se caracterizam como espécies de seguro, mas como
espécies de programas sociais baseados em lei, que garantem um salário-mínimo
a pessoas portadoras de deficiência ou idosas que atendam ao critério de
miserabilidade. Nestes casos, não há contraprestação pecuniária, nem a
necessidade de prova de carência ou qualidade de segurado, apenas a prova da
deficiência ou da idade avançada e da condição de vida precária.
Especificamente quanto ao benefício assistencial, o conceito de deficiência
converge com o de incapacidade. A pessoa com deficiência não é só a pessoa
com restrições físicas e mentais severas, mas também o incapacitado para o
trabalho e para sua própria subsistência. Com efeito, para a concessão do
benefício assistencial ao deficiente, leva-se em conta a doença e a
empregabilidade. Para a concessão desta espécie de benefício assistencial (ou
LOAS, como popularmente é conhecido), há a necessidade de perícia médica
(no caso de LOAS para pessoa com deficiência) e assistencial.
Este benefício, por ser personalíssimo, não gera direito à pensão por morte,
ou seja, cessa com o óbito do titular. O valor do benefício assistencial sempre
será de 1 salário mínimo nacional vigente, afastando qualquer cumulação com
outros benefícios de Assistência Social (bolsa-família, vale-gás, etc.) e da
Previdência Social.
Dessa forma, os benefícios assistenciais, por não serem espécies de
benefícios previdenciários, não estando sequer previstos na Lei nº 8.213/91, não
conferem o direito ao adicional de 25%.
2 Incapacidade e aposentadoria por invalidez
A Lei nº 8.213/91, na seção V, subseção I, trata do benefício previdenciário
de aposentadoria por invalidez. Ao longo da lei, várias são as menções ao termo
incapacidade; porém, sem qualquer conceituação. O dispositivo que mais se
aproxima da suposta vontade do legislador, embora nem de longe seja uma
definição, é o art. 43, § 1º desta lei, que assevera:
Art. 43 A aposentadoria por invalidez será devida a partir do dia imediato ao da
cessação do auxílio-doença, ressalvado o disposto nos §§ 1º, 2º e 3º deste artigo.
§ 1 º Concluindo a perícia médica inicial pela existência de incapacidade total e
definitiva para o trabalho, a aposentadoria por invalidez será devida.
Para fins de aposentadoria por invalidez, com base na interpretação
teleológica do art. 43 da Lei nº 8.213/91, o que importa é a incapacidade total e
permanente para o trabalho habitual, a incapacidade para o retorno ao trabalho
que exercia anteriormente ou que comumente exerceu durante anos, ou que
tenha habilidade e qualificação para exercê-lo.
Um conceito importante, tanto para a concessão da aposentadoria por
invalidez quanto para a concessão do benefício assistencial ao deficiente, é o de
empregabilidade. Trata-se do potencial de uma pessoa conseguir um emprego
formal. Leva-se me conta a idade, a escolarização, a qualificação profissional, a
saúde física e mental etc.
Sobre o conceito de empregabilidade, Ramon de Oliveira atesta:
No sentido mais comum, ‘empregabilidade’ tem sido compreendida como a
capacidade de o indivíduo manter-se ou reinserir-se no mercado de trabalho,
denotando a necessidade de o mesmo agrupar um conjunto de ingredientes que o
torne capaz de competir com todos aqueles que disputam e lutam por um emprego.
[97]

Assim, a incapacidade, na seara do direito previdenciário, deve ser vista de


modo global, levando em conta o trabalho do segurado, o exame clínico pericial
(somado aos atestados médicos, exames, prontuários etc.) e a empregabilidade
(risco social, possibilidade de conseguir ou não retornar ao mercado de
trabalho).
3 Grande invalidez e adicional de 25% na aposentadoria
Convergindo ao tema do artigo, importante se faz destacar o conceito de
grande invalidez. Os segurados da previdência social que forem considerados
portadores de grande invalidez merecerão, em linhas gerais, o adicional de 25%
na aposentadoria.
Todavia, o INSS, em estrita observância ao art. 45 da Lei nº 8.213/91, só
concede este adicional administrativamente para aposentados por invalidez,
cujas doenças estejam no rol previsto no anexo I, do art. 45 do Decreto
nº 3048/99, que assim consta:
A N E X O I - RELAÇÃO DAS SITUAÇÕES EM QUE O APOSENTADO POR
INVALIDEZ TERÁ DIREITO À MAJORAÇÃO DE VINTE E CINCO POR
CENTO PREVISTA NO ART. 45 DESTE REGULAMENTO. 1 - Cegueira total.
2 - Perda de nove dedos das mãos ou superior a esta. 3 - Paralisia dos dois
membros superiores ou inferiores. 4 - Perda dos membros inferiores, acima dos
pés, quando a prótese for impossível. 5 - Perda de uma das mãos e de dois pés,
ainda que a prótese seja possível. 6 - Perda de um membro superior e outro
inferior, quando a prótese for impossível. 7 - Alteração das faculdades mentais
com grave perturbação da vida orgânica e social. 8 - Doença que exija
permanência contínua no leito. 9 - Incapacidade permanente para as atividades
da vida diária.
Em muitos casos, fica inviável a busca pela concessão do adicional de
25% administrativamente, visto que a moldura do órgão (INSS) torna
intransponível algumas situações não abarcadas por rols, instruções normativas
ou interpretações legislativas.
Para ser considerado portador de grande invalidez, o segurado deve provar
não só a incapacidade para o trabalho (comprovada em exame clínico pericial,
relacionada ao trabalho e à empregabilidade), mas também a incapacidade para a
vida independente. O segurado, neste caso, não pode conseguir trabalhar, bem
como gerir sua vida diária sem a ajuda de terceiros. A incapacidade neste
contexto é absoluta, diferente de outras possíveis relativizações existentes na
concessão dos benefícios anteriormente mencionados (aposentadoria por
invalidez e benefício ao deficiente).
Os exemplos mais comuns de doenças que geram a concessão do adicional
de 25% na aposentadoria são: cegueira total, alienação mental, perda de
membros, doenças que exijam permanência contínua em leito, câncer terminal,
doença de Alzheimer, sequelados por AVC, portadores de HIV em estágio
avançado da doença. Incluem-se, também, os aposentados internados em casas
de repouso, asilos e assemelhados, que, por alguma doença ou sequela,
dependam de cuidados 24 horas por dia.
Não há margens a dúvidas, para a concessão da benesse, o segurado deve
precisar de ajuda permanente de terceiros, além de ser segurado originário da
previdência social.
Observa-se que a natureza do adicional de 25% na aposentadoria é
protetiva e assistencial, visto não ter fonte de custeio própria, e pode ser devido,
ainda que o valor da aposentadoria atinja o teto máximo legal. Realmente é uma
benesse, prevista em Lei, concedida aos aposentados pelo INSS que apresentem
a chamada grande invalidez. Destaca-se aqui, novamente, o fato de que os
benefícios de assistência social não comportam cumulação com outros
benefícios, tanto de assistencialismo como previdenciário, inclusive com relação
ao adicional de 25%.
4 Princípais decisões judiciais sobre o adicional de 25% na aposentadoria
Conforme já mencionado, o adicional de 25% concedido à grande
invalidez é previsto na Lei nº 8.213/91, em específico no artigo 45, e,
literalmente, limita a benesse a aposentados por invalidez, dispondo que: “valor
da aposentadoria por invalidez do segurado que necessitar da assistência
permanente de outra pessoa será acrescido de 25% (vinte e cinco por cento)”.
No âmbito jurídico, afastando as decisões engessadas do INSS e a
literalidade do art. 45 da Lei nº 8.213/91 que prevê o acréscimo exclusivamente
para as aposentadorias por invalidez, os segurados, que recebem benefícios de
aposentadorias por idade ou por tempo de contribuição e que comprovem a
necessidade de acompanhamento permanente de terceiros no dia-a-dia, podem
conquistar o direito ao adicional de 25% na aposentadoria.
Isto porque, no dia 22/08/2018, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) deu
um grande passo rumo à pacificação do assunto com o julgamento do tema
repetitivo nº 982, decidindo, por maioria de votos, que comprovada a
necessidade de auxílio permanente de terceira pessoa no cotidiano (cuidador,
enfermeiro ou familiar) é devido ao acréscimo de 25% em todas as modalidades
de aposentadoria pagas pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), e não
apenas para a aposentadoria por invalidez.
Anteriormente, os processos que discutiam o adicional de 25% aos
aposentados que necessitam de assistência permanente de terceiros no cotidiano
estavam suspensos em todo o território nacional, por decisão do STJ, que havia
determinado a afetação do Recurso Especial 1.648.305, para o julgamento pelo
rito dos recursos repetitivos, previstos no Código de Processo Civil (CPC), art.
1.036. O tema repetitivo foi cadastrado sob o número 982 com a seguinte
redação:
Aferir a possibilidade da concessão do acréscimo de 25%, previsto no artigo 45 da
Lei 8.213/91, sobre o valor do benefício, em caso de o segurado necessitar de
assistência permanente de outra pessoa, independentemente da espécie de
aposentadoria. [98]
No julgamento do referido recurso repetitivo (Tema 982), ocorrido em
agosto de 2018, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) fixou a seguinte tese,
estendendo para todos os aposentados o direito ao acréscimo de 25%:
“comprovada a necessidade de assistência permanente de terceiro, é devido o
acréscimo de 25%, previsto no artigo 45 da Lei 8.213/1991, a todas as
modalidades de aposentadoria”[99].
O entendimento firmado pelo Tribunal Superior deverá ter aplicação em
todas as instâncias do judiciário (repercussão geral), inclusive nos Juizados
Especiais, para a solução de casos fundados na mesma controvérsia, nos termos
do art. 1.039 do Código de Processo Civil, que prescreve:
Art. 1.039. Decididos os recursos afetados, os órgãos colegiados declararão
prejudicados os demais recursos versando sobre idêntica controvérsia ou os
decidirão aplicando a tese firmada.
Parágrafo único. Negada a existência de repercussão geral no recurso
extraordinário afetado, serão considerados automaticamente inadmitidos os
recursos extraordinários cujo processamento tenha sido sobrestado.
Ainda, a consolidação do tema terá importante reflexo na admissibilidade
de recursos para o STJ e em outras situações processuais, por exemplo, a
concessão da tutela da evidência, prevista no art. 311, inciso II do Código de
Processo Civil, que poderá ser concedida logo no início da demanda, ou, como
ocorre na maioria das vezes, posteriormente à realização da perícia ou
juntamente com a sentença. Isso porque o art. 311 do Código de Processo Civil
possibilita a concessão da tutela de evidência quando as alegações se fundam em
tese firmada em julgamento de recurso repetitivo, senão vejamos:
Art. 311. A tutela da evidência será concedida, independentemente da
demonstração de perigo de dano ou de risco ao resultado útil do processo, quando:
(...) II - as alegações de fato puderem ser comprovadas apenas documentalmente e
houver tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em súmula vinculante;
Cumpre ressaltar que, no ano de 2016, a Turma Nacional de
Uniformização de Jurisprudência dos Juizados Especiais Federais (TNU) já
havia firmado entendimento favorável aos aposentados de qualquer categoria em
receber o adicional de 25%, desde que comprovassem a necessidade de ajuda de
terceiros no dia-a-dia. No Estado do Paraná alguns aposentados que requereram
a majoração, com base na decisão da TNU, já foram beneficiados e estão
recebendo o adicional há algum tempo.
Assim, a decisão do STJ reforçou várias outras decisões que já vinham
ocorrendo no mesmo sentido, qual seja: a concessão isonômica do adicional de
25% a todos os tipos de aposentadoria.
Segue a decisão da Turma Nacional de Uniformização, que já vinha
decidindo favoravelmente ao tema:
PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO NACIONAL INTERPOSTO PELA PARTE
AUTORA. TEMA AFETADO COMO REPRESENTATIVO DA
CONTROVÉRSIA. PREVIDENCIÁRIO. ADICIONAL DE 25% PREVISTO NO
ART. 45 DA LEI 8.213/91. EXTENSÃO À APOSENTADORIA POR IDADE E
POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO. CABIMENTO. APLICAÇÃO AO CASO
CONCRETO. QUESTÃO DE ORDEM 20. PROVIMENTO PARCIAL DO
INCIDENTE. RETORNO À TR DE ORIGEM PARA ADOÇÃO DA TESE E
CONSEQUENTE ADEQUAÇÃO [100]
A interpretação dada pelo STJ ao art. 45 da Lei nº 8.213/91 tem por base
os princípios da dignidade da pessoa humana e da isonomia (igualdade jurídica),
e defende que não deve haver diferença entre o aposentado por invalidez que
necessita de auxílio permanente de terceiro de outro aposentado, por qualquer
modalidade de aposentadoria, que também passe a sofrer de doença que lhe
torne incapaz de se cuidar sozinho. Observa-se a possibilidade do pleito para
aposentados com idade muito avançada, que também necessitem de auxílio de
terceiros no cotidiano.
Outro ponto importante é que o adicional de 25% é devido, mesmo que o
Valor do recebimento mensal (aposentadoria mais adicional) atinja o limite
máximo pago pela Previdência Social, permitindo-se que o valor da
aposentadoria seja superior ao teto legal. Também é devido o adicional, caso
comprovada a grande invalidez, aos aposentados que recebam apenas 1 salário
mínimo.
Ao contrário do que muitas pessoas pensam, o valor do adicional é
depositado juntamente com a aposentadoria do segurado, sendo destinado ao
próprio aposentado para auxiliar no custeio das despesas inerentes a sua grave
condição de saúde, não gerando nenhum vínculo ou benefício extra ao
acompanhante (cuidador, enfermeiro, familiar, etc.).
Por fim, cumpre salientar que os segurados que recebem o benefício de
Pensão por Morte não possuem o direito ao adicional, mesmo que dependentes e
incapazes, visto que a própria Lei nº 8.213/91 estabelece que o acréscimo se dará
somente aos benefícios originários e cessará com a morte do aposentado, não
podendo ser incorporado ao valor da pensão.
Considerações finais
Em linha de conclusão, terá direito ao adicional de 25% na aposentadoria a
pessoa que:
1) For aposentada pelo INSS em qualquer modalidade de aposentadoria
(por idade, por tempo de contribuição ou por invalidez);
2) For portadora de doença grave, deficiência (inclusive sequelados) ou
idoso que dependa da ajuda de terceiros no dia-a-dia (enfermeiros, cuidadores,
familiares, etc.).
Outras informações conclusivas:
3) A concessão do adicional pode gerar o recebimento de valores
superiores ao teto das aposentadorias do INSS;
4) O adicional não é devido a pensionistas e cessa com o óbito do titular
do benefício;
5) Benefícios assistenciais (benefício ao idoso ou ao deficiente) não dão
direito ao recebimento do adicional de 25%;
6) O recebimento do adicional pelo aposentado não gera nenhum vínculo
ou benefício extra ao acompanhante (cuidador, enfermeiro, familiar, etc.). O
adicional não está ligado, em hipótese alguma, à pessoa distinta do titular do
benefício.
Referências
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de
1988. Documento eletrônico disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>
Acesso em: 20 de junho de 2018.
BRASIL, Decreto nº 3.048, de 6 de maio de 1999. Aprova o Regulamento da
Previdência Social, e dá outras providências. Documento eletrônico disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3048.htm>. Acesso em: 14
de setembro de 2018.
BRASIL, Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de
Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. Documento
eletrônico disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm> Acesso em: 20 de
junho de 2018.
BRASIL, Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil.
Documento eletrônico disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm>
Acesso em: 20 de junho de 2018.
NOTÍCIAS, Superior Tribunal de Justiça. STJ vai decidir sobre adicional de
25% a aposentado que precisa de assistência permanente. Disponível em: <
http://www.stj.jus.br>. Acesso em: 13 de setembro de 2018.
OLIVEIRA, Ramon de. Empregabilidade. Disponível em:
http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/emp.html. Acesso em: 17
de setembro de 2018.
SILVEIRA, João Augusto Câmara da. O conceito de incapacidade no âmbito do
benefício previdenciário da aposentadoria por invalidez. Revista Direito e
Liberdade, Volume 17, I, 2015. Disponível em: <http://www.esmarn.tjrn.jus.br>.
Acesso em: 13 de setembro de 2018.
STRAZZI, Alessandra. Adicional de 25% na aposentadoria: quem tem direito?
Disponível em: <https://alessandrastrazzi.adv.br/direito-previdenciario/adicional-
de-25-na-aposentadoria/>. Acesso em: 13 de setembro de 2018.
TURMA NACIONAL DE UNIFORMIZAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA DOS
JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS. PEDILEF: 50008904920144047133.
Documento eletrônico disponível em: <http://www.cjf.jus.br/cjf/corregedoria-da-
justica-federal/turma-nacional-de-uniformizacao/temas-representativos> Acesso
em: 24 de setembro de 2018.
CAPÍTULO 9
AÇÃO DE TODO O PERÍODO BÁSICO DE
CÁLCULO: BENEFÍCIO DA “VIDA TODA”
JOÃO BADARI
Sócio fundador da Aith, Badari e Luchin Advogados. Graduado em Direito pela
UNI-FMU. Pós-graduado pela Faculdade Legale e pela Escola Paulista de
Direito. Especialista em Direito Público pelo Instituto Damásio de Jesus.
Cursando MBA em Direito Previdenciário na Faculdade Legale e MBA em
Previdência Social com direito do trabalho pela Instituição A Jurídica.
Introdução
Aos segurados que se filiaram ao Regime Geral da Previdência Social
(RGPS) antes de 29/11/1999 (data da publicação da Lei nº 9.876/99), ao apurar a
Renda Mensal Inicial (RMI), o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS)
efetuou o cálculo do benefício de aposentadoria na forma do art. 3º, da Lei nº
9.876/99, isto é, considerando “a média aritmética simples dos maiores salários-
de-contribuição, correspondentes a, no mínimo, oitenta por cento de todo o
período contributivo decorrido desde a competência julho de 1994”.
No entanto, entende-se que tal critério se mostra ilegal, na medida em que
se afigura extremamente desfavorável aos segurados, e, em se tratando de regra
de transição, deve ser oportunizado aos segurados optarem pela forma de cálculo
permanente, se esta lhes for mais favorável. A presente ação se refere a uma
derivação da ação do melhor benefício, pois a Autarquia dentro de duas ou mais
opções de cálculo da RMI deve realizar a mais vantajosa aos segurados.
Assim, no caso de segurados que tenham seus salários de contribuições
elevados na média, considerando o número de contribuições vertidas no período
anterior a julho de 1994, constata-se que a regra definitiva do cálculo do
benefício, pela aplicação do art. 29, II, da Lei nº 8.213/91, afigura-lhe mais
benéfica.
1 Da consideração das contribuições vertidas pelo autor em todo o período
contributivo e não apenas após Julho/1994
Na forma do art. 202, da Constituição Federal (CF), o período de apuração
do benefício de aposentadoria e demais benefícios de prestação continuada
passou a corresponder à média dos 36 últimos salários-de-contribuição.
Ocorre que esse procedimento, pelo curto período de cálculo envolvido,
não refletia com fidelidade o histórico contributivo do segurado, advinda, então,
a Emenda Constitucional (EC) nº 20/1998, que retirou o número de
contribuições integrantes do período básico de cálculo do texto constitucional e
atribuiu essa responsabilidade ao legislador ordinário.
Para regulamentar a questão, foi editada a Lei nº 9.876/99, cuja entrada em
vigor se deu em 29/11/1999, instituindo-se o fator previdenciário no cálculo das
aposentadorias e ampliando o período de apuração dos salários de contribuição.
Assim, para aqueles que se filiassem à Previdência a partir de sua vigência,
o período de apuração envolveria os salários de contribuição desde a data da
filiação até a Data de Entrada do Requerimento (DER), isto é, todo o período
contributivo do segurado.
No entanto, para os segurados filiados antes da edição da aludida Lei,
estabeleceu-se uma regra de transição, de acordo com a qual o período de
apuração passou a ser o interregno entre julho de 1994 e a DER.
Como se pode notar, o intuito das novas regras foi, simultaneamente,
garantir a saúde do sistema e beneficiar os segurados, possibilitando-lhes a
consideração de mais contribuições para a base de cálculo de sua aposentadoria.
Os aposentados que se filiaram ao INSS antes de 1999 tiveram seus
benefícios de aposentadorias concedidos segundo a Lei nº 9.876/99, sendo-lhes
aplicável, pois, a nova redação dada ao art. 29, I, da Lei nº 8.213/91, de acordo
com a qual, para os benefícios de aposentadoria por tempo de
contribuição, o salário-de-benefício deve ser calculado por meio da média
aritmética simples dos maiores salários de contribuição correspondentes a
oitenta por cento de todo o período contributivo.
Com efeito, o INSS realizou o cálculo do benefício de acordo com a regra
de transição prevista no art. 3º, da Lei nº 9.876/99, nos seguintes termos:
Art. 3º. Para o segurado filiado à Previdência Social até o dia anterior à data de
publicação desta Lei, que vier a cumprir as condições exigidas para a concessão
dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social, no cálculo do
salário-de-benefício será considerada a média aritmética simples dos maiores
salários-de-contribuição, correspondentes a, no mínimo, oitenta por cento de
todo o período contributivo decorrido desde a competência julho de 1994,
observado o disposto nos incisos I e II do caput do art. 29 da Lei nº 8.213, de
1991, com a redação dada por esta Lei.
Nota-se que a consideração da regra de transição não beneficia os
segurados, ao contrário, diminui sobremaneira a renda inicial. E isso se dá
porque seu maior período de contribuição está compreendido antes de julho de
1994.
Assim, ao ser considerada a regra de transição para os segurados, não foi
observada a regra definitiva do art. 29, I, da Lei nº 8.213/91, que é,
precisamente, o critério eleito pelo legislador, tanto para garantir a saúde
financeira do sistema quanto para garantir a consideração de mais contribuições
do segurado.
Como consequência prática, os segurados sofrem diariamente um prejuízo
na apuração de sua RMI, que é calculada em patamar menor do que seria se
considerasse o próprio critério definitivo eleito pelo legislador.
Frisa-se, nesse ponto, que a regra de transição foi estabelecida, justamente,
para proteger os segurados que, filiando-se à previdência na vigência da regra
contida na Emenda Constitucional nº 20/98, tivessem contribuições de baixa
monta no período antecedente, não fazendo o menor sentido aplicá-la ao
segurado que tivesse aportado contribuições maiores no passado, pois é ele,
justamente, quem, em um sistema de regime de caixa, contribuía efetivamente
para o pagamento dos benefícios que consideravam apenas os 36 meses do texto
original da Constituição.
Em outras palavras, o segurado que possuía suas contribuições mais
relevantes no período anterior a julho de 1994 acabou por contribuir apenas para
pagar os benefícios concedidos a outros aposentados com critérios mais brandos,
vendo-se totalmente desamparado quando essas suas contribuições de maior
vulto, descontadas mensalmente de seus salários, foram retiradas do cálculo de
sua RMI.
Repisa-se: as alterações da Lei nº 9.876/99 têm como principal justificativa
a manutenção do equilíbrio atuarial dos cofres da Previdência e, ao trazerem
regras mais rígidas para o cálculo da renda mensal dos benefícios, justifica-se o
estabelecimento de normas de transição para aqueles que se filiaram ao RGPS
antes da vigência da Lei. Este é o propósito do mencionado art. 3º, estabelecer
regras de transição que garantam que os segurados não sejam atingidos de forma
abrupta por normas mais rígidas de cálculo dos benefícios.
De certo, a lógica da norma de transição é minimizar os efeitos de novas
regras mais rígidas para aqueles que já eram filiados ao sistema, mas ainda não
haviam adquirido o direito de se aposentar pelas regras antes vigentes, mais
benéficas. Portanto, foram estabelecidas regras transitórias não tão benéficas
quanto às anteriores, nem tão rígidas quanto às novas. É essa premissa lógica
que deve nortear a interpretação da regra estabelecida no art. 3º, da Lei nº
9.876/99.
Nesse entendimento, podem-se citar outras regras de transição que
realmente se prestam à finalidade a qual foram instituídas, ou seja, abrandar a
nova regra mais rígida para os segurados já filiados ao sistema.
Com o advento da Lei nº 8.213/91, o requisito da carência foi aumentado
de 60 para 180 contribuições; porém, não seria justo que uma pessoa já filiada ao
sistema, para a qual já estivesse relativamente próxima à concessão da
aposentadoria, tivesse que completar esse novo período de carência.
Para que essa grande mudança não fosse feita de forma abrupta, foi
elaborada a tabela progressiva do art. 142 da referida lei, que a cada ano
aumentava em 6 meses o período necessário de carência. E assim foi de 1991 a
2011, quando se atingiram os 180 meses trazidos pela nova Lei, a partir de então
a regra se tornou definitiva.
A questão que realmente deve ser observada é que essa regra de transição
realmente beneficia o segurado desde a sua edição até o final de sua eficácia,
pois o período da carência se mantinha congelado no ano em que os requisitos
fossem alcançados, o que de fato não acontece com a regra de transição do art. 3º
da Lei nº 9.876/99.
Ocorre que a regra de transição discutida na presente demanda, no início
de sua vigência, foi benéfica para alguns segurados que se aposentaram com um
Período Básico de Cálculo (PBC) reduzido; entretanto, hoje, tal regra de
transição mostra-se mais prejudicial do que a regra definitiva.
Desta feita, deve ser assegurado o direito aos segurados de terem efetuados
ambos os cálculos, pela regra de transição e pela regra permanente, e que sejam
adotados aqueles mais favoráveis.
Atualmente, a regra de transição estabelecida pela Lei nº 9.876/99 para o
cálculo do salário de benefício considera como período contributivo apenas
aquele decorrido após o período de julho de 1994, o que não minimiza os efeitos
da nova regra, muito ao contrário, reduz o benefício de aposentadoria.
Frisa-se, por outro lado, que os segurados não pleiteiam a aplicação da
regra constitucional anterior, que considerava a média das 36 últimas
contribuições, mas, tão somente, a aplicação da regra definitiva do art. 29, I, da
Lei nº 8.213/91, apurando a média de 80% dos maiores salários de contribuição,
mas levando em consideração todo o PBC, o que atinge plenamente o objetivo
do legislador de conferir saúde e equilíbrio às contas da Previdência Social, ao
tempo em que protege o segurado que já era filiado ao sistema antes do advento
dessa nova regra.
Com efeito, a regra de transição não pode prevalecer na espécie, na medida
em que o benefício a ser concedido despreza todo o histórico contributivo do
segurado, sob pena de contrariar a finalidade da Lei nº 9.876/99.
Destarte, não há nenhuma coerência na aplicação de uma regra transitória
que seja mais prejudicial aos segurados do que a própria regra definitiva. E a
regra definitiva é a verdadeira regra, enquanto a regra de transição somente se
justifica para amenizar seus efeitos deletérios. Se a regra de transição é mais
prejudicial que a definitiva, aplica-se esta última, evitando-se situações de
extremo prejuízo ou extremo benefício aos segurados.
Nesse sentido, é a orientação jurisprudencial firmada ao interpretar a regra
transitória, prevista no art. 9º, da Emenda Constitucional nº 20/1998, que
estabeleceu, além do tempo de contribuição, idade mínima e pedágio, para a
obtenção de aposentadoria por tempo de contribuição integral, enquanto o texto
permanente contido no art. 201, § 7º, I, da Constituição Federal, exige tão
somente tempo de contribuição. O entendimento jurisprudencial determina a
aplicação da regra definitiva, já que a regra de transição é prejudicial ao
segurado, por exigir requisitos (idade mínima e pedágio) não previstos no texto
definitivo:
PREVIDENCIÁRIO. RECURSO ESPECIAL. CONVERSÃO DE TEMPO
ESPECIAL EM COMUM. TEMPO DE SERVIÇO POSTERIOR À EC 20/98
PARA APOSENTADORIA POR TEMPO DE SERVIÇO INTEGRAL.
POSSIBILIDADE. REGRAS DE TRANSIÇÃO. INAPLICABILIDADE.
RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO.
(...)
2. A Emenda Constitucional 20/98 extinguiu a aposentadoria proporcional
por tempo de serviço. Assim, para fazer jus a esse benefício, necessário o
preenchimento dos requisitos anteriormente à data de sua edição (15/12/98).
3. Com relação à aposentadoria integral, entretanto, na redação do Projeto de
Emenda à Constituição, o inciso I do § 7º do art. 201 da CF/88 associava tempo
mínimo de contribuição (35 anos para homem, e 30 anos para mulher) à idade
mínima de 60 anos e 55 anos, respectivamente. Como a exigência da idade mínima
não foi aprovada pela Emenda 20/98, a regra de transição para a aposentadoria
integral restou sem efeito, já que, no texto permanente (art. 201, § 7º, Inciso I), a
aposentadoria integral será concedida levando-se em conta somente o tempo de
serviço, sem exigência de idade ou “pedágio”.
4. Recurso especial conhecido e improvido.[101]
Outrossim, a orientação quanto ao embate entre a regra de transição e a
regra definitiva da Lei nº 9.876/99 segue na mesma linha, aplicando-se esta
quando aquela for desfavorável ao segurado.
Importante salientar que a metodologia de cálculo da regra de transição
fere um dos princípios basilares da seguridade social, o princípio da isonomia.
Todos os segurados são iguais sendo vedada a adoção de critérios diferenciados
para a concessão dos benefícios. Logo, aplicar regras totalmente diferentes para
segurados iguais que apenas se filiaram ao sistema em momentos distintos é uma
afronta ao princípio da isonomia.
Com efeito, não é justo que um segurado que começou a trabalhar antes e,
consequentemente, custeou o sistema por mais tempo, tenha seu benefício com
valor menor do que o de um segurado que apenas se filiou algum tempo depois.
Não há um justo motivo para essa diferenciação entre eles.
2 Do direito ao melhor benefício
O direito ao melhor benefício restou consolidado pelo Supremo Tribunal
Federal (STF), por meio do julgamento do recurso extraordinário 630.501, no
qual a Ministra Ellen Gracie, relatora, exarou voto favorável aos segurados,
mantendo o outrora já reconhecido direito ao melhor benefício para as
aposentadorias programáveis do RGPS.
APOSENTADORIA – PROVENTOS – CÁLCULO. Cumpre observar o quadro
mais favorável ao beneficiário, pouco importando o decesso remuneratório
ocorrido em data posterior ao implemento das condições legais. Considerações
sobre o instituto do direito adquirido, na voz abalizada da relatora – ministra Ellen
Gracie, subscritas pela maioria. ”
Aposentadoria: preenchimento de requisitos e direito adquirido ao melhor
benefício - O segurado do regime geral de previdência social tem direito adquirido
a benefício calculado de modo mais vantajoso, sob a vigência da mesma lei,
consideradas todas as datas em que o direito poderia ter sido exercido, desde
quando preenchidos os requisitos para a jubilação.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, proveu, em parte, recurso
extraordinário para garantir a possibilidade de os segurados verem seus benefícios
deferidos ou revisados de modo que correspondam à maior renda mensal inicial
(RMI) possível no cotejo entre aquela obtida e as rendas mensais que estariam
percebendo na mesma data caso tivessem requerido o benefício em algum
momento anterior, desde quando possível a aposentadoria proporcional, com
efeitos financeiros a contar do desligamento do emprego ou da data de entrada do
requerimento, respeitadas a decadência do direito à revisão e a prescrição quanto
às prestações vencidas.
Prevaleceu o voto da Min. Ellen Gracie - v. Informativo 617. Observou,
inicialmente, não se estar, no caso, diante de questão de direito intertemporal, mas
da preservação do direito adquirido em face de novas circunstâncias de fato,
devendo-se, com base no Enunciado 359 da Súmula do STF, distinguir a aquisição
do direito do seu exercício. Asseverou que, cumpridos os requisitos mínimos
(tempo de serviço e carência ou tempo de contribuição e idade, conforme o regime
jurídico vigente à época), o segurado adquiriria o direito ao benefício. Explicitou,
no ponto, que a modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprimiria o
direito já incorporado ao patrimônio do seu titular. Dessa forma, o segurado
poderia exercer o seu direito assim que preenchidos os requisitos para tanto ou
fazê-lo mais adiante, normalmente por optar em prosseguir na ativa, inclusive com
vistas a obter aposentadoria integral ou, ainda, para melhorar o fator
previdenciário aplicável. [102]
A decisão do STF consolidou o princípio do direito ao melhor benefício,
por meio da conjugação de princípios constitucionais e costumes administrativos
e, em especial, com a aplicação do disposto no art. 122 da Lei nº 8.213/91:
Art 122. Se mais vantajoso, fica assegurado o direito à aposentadoria, nas
condições legalmente previstas na data do cumprimento de todos os requisitos
necessários à obtenção do benefício, ao segurado que, tendo completado 35 (trinta
e cinco) anos de serviço, se homem, ou 30 (trinta) se mulher, optou por
permanecer em atividade.
Por mais que o dispositivo legal se refira, de forma direta, somente aos
benefícios concedidos com o tempo integral, por força dos vários princípios
constitucionais, é possível o entendimento extensivo para os benefícios com
renda proporcional ao tempo de serviço.
Dentre estes princípios, o da proibição do retrocesso, o da intangibilidade
do direito adquirido (art. 5°, XXXVI, CF), irredutibilidade do valor dos
benefícios (art. 194, par. único, IV, CF) e pela preservação do valor real dos
benefícios (art. 201, § 4°, CF).
Desta forma, consentir com a concessão de um benefício inferior ao que
teria direito desde a implementação das condições mínimas para o referido
benefício violaria a garantia constitucional do desenvolvimento social.
Nesse mesmo sentido, pode-se citar também o Enunciado nº 5 do
Conselho de Recurso da Previdência Social (CRPS), no qual fica clara a
necessidade de observar o melhor benefício para o segurado em todas as
situações:
ENUNCIADO 5/JR/CRPS - SEGURIDADE SOCIAL. CRPS. BENEFÍCIO.
CONCESSÃO DO MELHOR QUE O SEGURADO FAZ JUS. ORIENTAÇÃO
DO SERVIDOR. NECESSIDADE.
A Previdência Social deve conceder o melhor benefício a que o segurado fazer jus,
cabendo ao servidor orientá-lo nesse sentido. Referências: Dec. 611/92, art.
1º. Prejulgado 1. [103]
No caso em tela, o direito ao melhor benefício deve ser entendido e
aplicado de maneira que possa garantir ao segurado a melhor forma de cálculo
contida na lei, quando já preenchidos todos os requisitos para a concessão do
benefício.
Importante ressaltar que, para os segurados que cumpriram todos os
requisitos necessários para a concessão do benefício a melhor fórmula de cálculo
é aquela da regra permanente do art. 29 da Lei nº 8.213/91, não sendo admissível
que o segurado seja tão duramente penalizado por uma regra de transição que
não obedece a sua natureza jurídica, qual seja, a de realizar a transição de uma
regra para outra de uma maneira mais suave e menos prejudicial aos segurados.
3 Documentação necessária à apuração da nova renda mensal inicial dos
segurados
Desincumbindo-se do seu ônus probatório, os segurados em seus pleitos
judiciais, além de seus documentos pessoais, devem juntar os documentos
obtidos junto ao INSS com dados relativos ao seu histórico previdenciário
(CNIS detalhado e extrato de pagamentos).
Ademais, com relação ao histórico de contribuições, os segurados irão
apresentar apenas documento que engloba os salários de contribuição a partir de
1982, informando que os salários de contribuição dos períodos anteriores não
são apresentados, pois o sistema do INSS não era informatizado e tais dados não
podem ser localizados.
Assim, considerando que é apenas o INSS quem detém essas informações,
nos termos do art. 6º, VIII, da Lei nº 8.078/90 e do art. 11, da Lei nº 10.259/01,
caberá à Autarquia fornecer o histórico completo de salários de contribuição, que
o segurado não possa provar em juízo.
4 Questões constitucionais
A fim de proporcionar que a presente discussão chegue até as mais
elevadas Cortes, necessário se faz elencar seus fundamentos constitucionais para
a admissibilidade e julgamento de recurso, dentre eles citam-se:
O art. 5º, II e XXXVI, da Constituição Federal estabelece os princípios da
isonomia, legalidade e correta interpretação do instituto do ato jurídico perfeito,
por sua vez, o inciso XXXV indica que eventual improcedência do pedido
inicial, sob o argumento de que sua concessão afrontaria o disposto o princípio
da isonomia, tendo em vista que para aquele segurado a utilização de todas as
contribuições não seria tão vantajoso, ofende o princípio da inafastabilidade do
controle jurisdicional, haja vista que o direito do autor não pode ser negado em
função de um mesmo direito não ser vantajoso para outro segurado.
Já o art. 150, IV, da Constituição Federal institui a vedação ao confisco
tributário, ao passo que o art. 195, § 5º, da Constituição Federal estabelece a
regra da contrapartida, sendo complementado pelo art. 201, § 11, da Constituição
Federal segundo o qual a aplicação do princípio do caráter contributivo e
necessário reflexo das contribuições no benefício tendo em vista que boa parte
das contribuições vertidas pelo segurado não foram consideradas.
Considerações finais
A ação da vida toda tem como objetivo questionar a forma de cálculo do
benefício utilizado pelo INSS, pois muitos segurados que se filiaram antes de
1999 sofreram diminuição em sua renda pela aplicação da regra de transição no
cálculo dessa.
Ocorre que as regras de transição são criadas para beneficiarem àqueles
que já estão no sistema contribuindo, ou seja, no surgimento de novo regramento
legal elas devem ser aplicadas para não prejudicarem o segurado. Este é um
princípio basilar da criação de uma regra de transição; porém esta é aplicada
como regra, e prejudica a renda mensal inicial do segurado. Mostra-se
teratológico o uso de uma regra de transição menos vantajosa que a permanente.
Contudo, ao contrário do entendimento jurisprudencial firmado sobre a
definição de regra de transição, o Superior Tribunal de Justiça vem se
posicionando sobre os segurados filiados à Previdência Social antes da edição da
Lei nº 9.876/99, devendo para eles ser aplicada a regra de transição e não a regra
definitiva.
Em decisão proferida em 04/05/2017, a 2ª Turma do Superior Trubunal de
Justiça firmou o entendimento do Tribunal, conforme se pode verificar na
ementa da decisão abaixo:
PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO.
CÁLCULO DA RENDA MENSAL INICIAL. OBSERVÂNCIA DA REGRA DE
TRANSIÇÃO DO ARTIGO 3º DA LEI 9.876/1999.
1. “Para o segurado filiado à previdência social antes da Lei 9.876/1999, que vier a
cumprir os requisitos legais para a concessão dos benefícios do regime geral será
considerado no cálculo do salário de benefício a média aritmética simples dos
maiores salários de contribuição, correspondentes a, no mínimo, oitenta por cento
de todo o período contributivo decorrido desde a competência de julho de 1994. A
data-base correspondente a julho de 1994 se deu em razão do plano econômico de
estabilização da moeda nacional denominado Plano Real. A regra do artigo 29, I,
da Lei 8.213/1991 somente será aplicada integralmente ao segurado filiado à
previdência social após a data da publicação da Lei 9.876/1999.” (EDcl no AgRg
no AREsp 609.297/SC, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma,
DJe 2.10.2015). No mesmo sentido: AgRg no REsp 1.065.080/PR, Rel. Ministro
Nefi Cordeiro, Sexta Turma, DJe 21.10.2014; REsp 929.032/RS, Rel. Ministro
Jorge Mussi, Quinta Turma, DJe 27.4.2009.
2. Recurso Especial provido.[104]
Conclui-se, desta forma, que o INSS deveria aplicar ao segurado a regra do
melhor benefício, fazendo seu cálculo com a regra de transição e, também, a
definitiva, após tal análise, conceder o benefício utilizando a mais vantajosa. O
entendimento do Supremo Tribunal Federal é pela aplicação do melhor
benefício; todavia, a matéria sobre a aplicação dos salários de contribuição
anteriores a 1994 ainda não foi decidida pela Corte, espera-se que o julgamento
seja colocado em pauta para que haja aplicação dos critérios constitucionais que
fundamentam o direito dos segurados no afastamento da regra de transição.
Referências bibliográficas
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1988. Documento eletrônico disponível em:
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de setembro de 2018.
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<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc20.htm>.
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consumidor e dá outras providências. Documento eletrônico disponível em:
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previdenciária do contribuinte individual, o cálculo do benefício, altera
dispositivos das Leis nos 8.212 e 8.213, ambas de 24 de julho de 1991, e dá
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<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9876.htm>. Acesso em: 30 de junho
de 2018.
BRASIL, Lei nº 10.259, de 12 de julho de 2001. Dispõe sobre a instituição dos
Juizados Especiais Cíveis e Criminais no âmbito da Justiça Federal. Documento
eletrônico disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LEIS_2001/L10259.htm>. Acesso
em: 30 de junho de 2018.
CONSELHO DE RECURSO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, Enunciado nº 5, de
18 de janeiro de 1994. Documento eletrônico disponível em:
<https://www.legjur.com/sumula/busca?tri=crps&num=5>. Acesso em: 17 de
abril de 2018.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. REsp 797.209/MG – 5ª Turma –
Recorrente: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – Recorrido:
LEONIDIO MAGAO. Documento eletrônico disponível em:
<https://stj.jusbrasil.com.br> Acesso em: 27 de setembro de 2018
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. RE 630501/RS – Tribunal Pleno –
Recorrente: ALOYSIO KALIL – Recorrido: INSTITUTO NACIONAL DE
SEGURO SOCIAL - INSS. Documento eletrônico disponível em:
<http://www.stf.jus.br> Acesso em: 27 de setembro de 2018
CAPÍTULO 10
REAPOSENTAÇÃO: UMA REVISÃO
PREVIDENCIÁRIA FADADA AO FRACASSO OU
NÃO

JAMILE SUMAIA SEREA KASSEM
Mestranda em Direitos da Personalidade pela Unicesumar. Pós-Graduada em
Direito Previdenciário pela Universidade Estadual de Londrina. Pós-Graduada
em Direito Aplicado pela Escola da Magistratura do Paraná. Possui graduação
em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Advogada.
Introdução
Com o advento da Lei nº 9.032/95, nasceu a obrigatoriedade da
manutenção de contribuição previdenciária aos beneficiários que se mantêm no
mercado de trabalho após a concessão do benefício de aposentadoria. Por meio
deste artigo, verifica-se que os doutrinadores e juristas iniciam forte crítica a tal
característica, eis que oneraria o contribuinte, sem que lhe fosse ofertado
qualquer contraprestação pelo órgão previdenciário.
Atribui-se o nascimento do direito de reaposentação à compulsoriedade
contributiva instituída pela lei acima, eis que se observou um novo cenário, no
qual restam alterados os números de contribuições, a idade do beneficiário e, por
consequência, o índice do fator previdenciário, gerando na prática alteração nos
dados base utilizados para o cálculo do benefício vigente. No presente estudo,
interessa analisar o instituto da reaposentação, uma nova revisão de
aposentadoria, que dá direito ao segurado de usufruir de um benefício
previdenciário calculado, levando-se em conta as contribuições feitas
posteriormente à sua aposentadoria.
Numa breve análise do caráter contributivo e o princípio da solidariedade
do direito previdenciário, o princípio constitucional da universalidade da
cobertura e do atendimento, inicia-se o estudo, seguido da importante
diferenciação entre a desaposentação e a reaposentação, a fim de elucidar a nova
revisão de aposentadoria. Traz, ainda, teses favoráveis e contrárias que estão
sendo aplicadas ao instituto em comento. E, por fim, o entendimento do Tribunal
Regional Federal da 4ª Região (TRF4), que se posiciona ora favorável, ora
desfavorável.
O objetivo deste estudo é induzir a uma reflexão baseada nos preceitos dos
direitos constitucional, administrativo e previdenciário, acerca da viabilidade ou
não da reaposentação, sendo utilizada, para tanto, a metodologia de pesquisa
bibliográfica.
1 O caráter contributivo e o princípio da solidariedade da previdência social
O Regime Geral da Previdência Social (RGPS) é aplicável a todos os
trabalhadores da iniciativa privada, sendo a sede do direito à previdência social a
Constituição Federal (CF) de 1988, que institui os parâmetros básicos para o
financiamento do sistema previdenciário e o dimensionamento dos benefícios. O
sistema é estruturado em torno de dois vetores: o caráter contributivo e o
princípio da solidariedade.
A dimensão contributiva encontra-se prevista, de forma expressa, no art.
195, II, da CF[105], que determina a cobrança de contribuições previdenciárias dos
trabalhadores e demais seguradas do sistema. A menção ao aspecto contributivo
é reiterada no art. 201[106], que enuncia as coberturas mínimas do sistema e
algumas normas básicas quanto ao seu financiamento, a diretriz geral é a busca
por equilíbrio atuarial, de modo que a previdência seja sustentável, partindo-se
do princípio da universalidade da cobertura e do atendimento, estabelecido no
parágrafo único do art. 194 da CF[107].
Conforme esclarece Frederico Amado, a Seguridade Social “deverá
atender a todos os necessitados, especialmente através da assistência social e da
saúde pública, que são gratuitas, pois independem do pagamento de
contribuições diretas dos usuários” [108].
Ao conceituar a universalidade de cobertura e do atendimento, Sérgio
Pinto Martins afirma que:
Universalidade de cobertura deve ser entendida como as contingências que serão
cobertas pelo sistema, como a impossibilidade de retornar ao trabalho, a idade
avançada a morte etc. Já a universalidade do Atendimento refere-se às prestações
que as pessoas necessitam, de acordo com a previsão em lei, como ocorre em
relação aos serviços. [109]
Nesse sentido, verifica-se que a universalidade de cobertura está ligada às
situações da vida que precisarão de proteção (riscos e contingências que possam
gerar o estado de necessidade), e a universalidade do atendimento refere-se aos
titulares do direito à proteção social, devendo o sistema de a Seguridade Social
ser acessível a todos que se encontram em estado de necessidade.
Em harmonia com essa premissa, as aposentadorias que norteiam o
Regime Geral de Previdência Social (RGPS) são a aposentadoria por tempo de
contribuição, aposentadoria por idade urbana e aposentadoria especial,
condicionadas ao cumprimento dos requisitos de idade e tempo de contribuição,
do que decorre tanto uma exigência de aportes mínimos mensais, frente a uma
ilimitação do período de fruição dos benefícios.
A Emenda Constitucional nº 20/98 revogou a previsão de que seriam
considerados apenas os últimos trinta e seis salários de contribuição para o
cálculo da renda mensal inicial do benefício a ser concedido, passando a levar
em conta o histórico completo de contribuições de cada segurado, para o cálculo
de sua renda mensal inicial. Logo, todos os salários de contribuição considerados
para o cálculo do benefício devem ser atualizados, confirmando que o montante
das contribuições é um dos fatores determinantes para a definição das prestações
a que o segurado fará jus. Seguindo a mesma lógica, os próprios benefícios
devem ser atualizados com o objetivo de que se preserve o seu valor real.
Sem prejuízo disso, a Lei nº 8.213/91 prevê, em seu art. 11, § 3º [110], a
cobrança da contribuição social incidente sobre os rendimentos do trabalho
posteriores à aposentadoria, nos mesmos termos aplicáveis para os trabalhadores
em geral.
Do que se verifica que todo aquele que estiver exercendo atividade
remunerada é segurado obrigatório da previdência social e deve verter
contribuições a ela, da forma que lhe aprouver. Mesmo aqueles que já estão
aposentados, mas que continuam empregados, devem continuar tendo
descontado de seu salário as contribuições para o RGPS, pelo fato de que o
sistema é contributivo.
A segunda dimensão da Seguridade Social em geral, e do sistema
previdenciário em particular, é marcada pelo princípio da solidariedade. Em
termos abrangentes, essa dimensão pode ser reconduzida ao próprio dever estatal
de proteger a dignidade humana, no que se inclui a criação de uma rede social
mínima que impeça as pessoas de caírem em situações de indignidade.
De forma mais específica, esse aspecto pode ser extraído da previsão de
que a seguridade deve ser custeada por toda a sociedade, e não apenas pelos seus
beneficiários imediatos, que são aqueles segurados que estão em atividade
remunerada sem receber qualquer benefício da previdência social. Isso ganha
conteúdo concreto com a já mencionada possibilidade de emprego de recursos
dos orçamentos públicos e, sobretudo, pela autorização constitucional para a
criação de outras fontes de custeio, em paralelo com as contribuições sociais.
O sistema normativo descrito até aqui permite constatar que a Constituição
não teve a pretensão de impor uma fórmula rígida para o cálculo das
contribuições e dos benefícios, deixando uma ampla margem de conformação ao
legislador ordinário. De forma particular, não se extrai da ordem constitucional a
exigência de que haja correlação estrita entre os aportes dos segurados e as
prestações que receberão futuramente. De modo compatível com esse cenário
normativo, a legislação brasileira consagra, historicamente, a opção por um
modelo de repartição simples, em que todas as contribuições atuais formam um
fundo geral para o custeio das prestações devidas no presente. Inexistem, assim,
contas individuais vinculadas a cada segurado, todos contribuem para si e para
os outros.
Reforçando ainda mais essa perspectiva, as regras do sistema podem dar
origem a situações de aparente injustiça comutativa, nas duas direções. Com
efeito, é possível que os segurados contribuam durante toda a vida sem que isso
reverta em benefício algum – nos casos de falecimento antes da aposentadoria,
quando não haja pensionistas – mas também é possível que os beneficiários
recebam prestações, relevantes ou mesmo permanentes, a despeito de haverem
contribuído de forma incipiente – em casos de aposentadorias precoces por
invalidez.
A ideia geral, portanto, é a de um seguro social, que fornece coberturas
para situações adversas a partir de uma determinada fórmula de equilíbrio
atuarial, que inclui algumas variáveis aleatórias. Isso não significa, contudo, que
o legislador disponha de liberdade absoluta para formatar o sistema segundo
quaisquer critérios de conveniência. Em vez disso, há pelo menos dois limites
principais à sua atuação. Em primeiro lugar, a falta de uma comutatividade
absoluta ou rígida entre contribuições e benefícios não significa que a
correspondência possa ser inteiramente desprezada. Ao contrário, a Constituição
deixa claro que os salários de contribuição compõem a base de cálculo para a
definição das prestações previdenciárias e que estes, assim como os próprios
benefícios resultantes, devem ser atualizados, a fim de que preservem a sua
expressão econômica.
Em segundo lugar, e com maior relevância, o modelo concebido pelo
legislador precisa ser compatível com o princípio da isonomia, repartindo de
forma equitativa os ônus e bônus do sistema previdenciário. Essa é uma
exigência expressa do art. 201, § 1° da CF[111], que impõe a adoção de critérios
uniformes para a concessão de aposentadorias.
Assim, a solidariedade decorre, dentre outros fatores, do modelo de
financiamento, que abrange não apenas as contribuições dos empregados, mas
também dos empregadores, além de recursos orçamentários e outras fontes de
custeio. O caráter contributivo resulta do pagamento de contribuições pelos
empregados, em troca de coberturas a serem fornecidas pelo sistema, que
incluem a percepção de proventos com base no tempo e no valor das
contribuições. Em razão do princípio da solidariedade, não se exige uma
correspondência estrita entre contribuição e benefício, até porque o sistema
ampara pessoas que nunca contribuiriam ou contribuíram de maneira muito
limitada, pela forma de assistencialismo.
Por outro lado, tendo em vista o caráter contributivo do modelo, exige-se
algum grau de comutatividade entre o que se recolhe e o que se recebe. Como
consequência, não é legítima a cobrança feita ao segurado sem qualquer
contraprestação efetiva ou potencial como é feito, do que surge o instituto da
reaposentação de que se trata neste estudo, pelo fato de o segurado aposentado
continuar contribuindo para a previdência social e desejar uma contraprestação.
2 A diferença entre desaposentação e reaposentação
O tema da desaposentação por quase uma década permeou as discussões
jurídicas dos estudiosos e militantes do Direito Previdenciário, sepultada a tese
pela decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) no Recurso Extraordinário nº.
661.256/DF. (TEMA 503).
Como já afirmado, por conta da obrigatoriedade da manutenção de
contribuição previdenciária aos beneficiários que se mantêm no mercado de
trabalho após a concessão do benefício de aposentadoria, o direito tem se
legitimado a uma contraprestação, do que surgiu a desaposentação e atualmente
a reaposentação. São dois institutos diferentes, duas formas de revisão de
aposentadoria.
Com a desaposentação, a pretensão do segurado consistia em renunciar à
aposentadoria concedida para computar período contributivo posterior a sua
aposentação, conjuntamente com os salários de contribuição da atividade em que
permaneceu trabalhando, para a concessão do mesmo benefício com tempo de
contribuição superior e novos salários de contribuição. É um instituto que pode
ser conceituado como o ato de desfazimento da aposentadoria por vontade do
titular, para fins de aproveitamento do tempo de filiação em contagem para nova
aposentadoria, no mesmo ou em outro regime previdenciário, nas palavras de
Fábio Zambitte Ibrahim[112], é a possibilidade de o segurado renunciar à
aposentadoria vigente com o propósito de obter benefício mais vantajoso junto
ao RGPS.
Complementando o conceito acima, acrescenta o doutrinador Wladimir
Novaes Martinez:
Desaposentação é ato administrativo formal vinculado, provocado pelo interessado
no desfazimento da manutenção da aposentação, que compreende a desistência
com declaração oficial desconstitutiva. Desistência correspondendo a revisão
jurídica do deferimento da aposentadoria anteriormente outorgada ao segurado.
[113]

Advém deste instituto a intenção dos contribuintes, ora aposentados, em


renunciar o benefício de aposentadoria em gozo e, em consequência, requerer
novamente a concessão do mesmo benefício, contemplando, no novo pedido, o
período de contribuição, e demais índices (idade, fator previdenciário)
observados após a sua primeira aposentadoria.
Outrossim, a possibilidade da desaposentação encontrava-se condicionada
a diversos requisitos, dentre eles, destacam-se a manutenção da contribuição
previdenciária pelo beneficiário, o recebimento do benefício de aposentadoria
por tempo de contribuição e a renúncia do benefício em vigência.
Por fim, frise-se que a renúncia à aposentadoria, requisito para a concessão
do instituto da desaposentação, não alcança literalmente o tempo de contribuição
averbado na Previdência Social, contemplando somente o direito ao benefício já
concedido.
Por seu turno, a reaposentação, da nomenclatura nova aposentadoria,
surgiu após o sepultamento da desaposentação e pode ser entendida como o
implemento de novo requisito para fins de nova aposentadoria, estando o
segurado já aposentado. Explica-se, o segurado continua trabalhando e
recebendo aposentadoria por tempo de contribuição e, após 15 anos e
atingimento de 65 anos de idade, implementará novo requisito para fins de
concessão de aposentadoria por idade. Neste caso, ele renuncia ao seu benefício
e passa a receber um benefício totalmente novo, utilizando no cálculo dele
apenas as contribuições vertidas após a aposentadoria renunciada.
De acordo a sistemática vigente, o segurado aposentado que continuar a
exercer atividade vinculada ao RGPS deve recolher as contribuições
previdenciárias correspondentes, pelo fato de o sistema previdenciário ser
contributivo e pelo princípio da solidariedade, fazendo jus apenas ao salário-
família e à reabilitação profissional, quando empregado, nos termos do art. 18, §
2º, da Lei nº 8.213/91[114]. Entretanto, não usufrui diretamente das contribuições
vertidas posteriormente a sua aposentadoria, cujos recolhimentos são
obrigatórios.
Para a concessão de aposentadoria por idade urbana, devem ser
preenchidos dois requisitos: a) idade mínima (65 anos para o homem e 60 anos
para a mulher) e b) carência – recolhimento mínimo de contribuições. Não se
exige o preenchimento simultâneo dos requisitos etário e de carência para a
concessão da aposentadoria, visto que a condição essencial, para tanto, é o
suporte contributivo correspondente.
O idoso que preenche o requisito carência para a obtenção de
aposentadoria considerando somente o cômputo de contribuições vertidas, após a
obtenção de aposentadoria por tempo de serviço/contribuição, não pode ser
discriminado pelo fato de ter contribuído; sendo a aposentadoria por idade
estabelecida fundamentalmente em bases atuariais, a ele deve a lei, pena de
inconstitucionalidade, reservar tratamento idêntico àquele que ingressou no
RGPS mais tarde.
A reaposentação vem sendo praticada no judiciário, sendo de
conhecimento dos magistrados o termo e a sistemática do pedido, na esfera
administrativa, o Instituto Nacional da Seguridade Social (INSS) não desenvolve
esta tese, por conta disso, os argumentos são judiciais.
Verifica-se que os 2 institutos possuem nomenclatura e objeções
diferentes, o que faz deles pedidos diferentes, com propósitos diferentes, não
havendo óbice para comparação e equiparação entre eles.
3 Teses favoráveis e contrárias à reaposentação
Calorosas são as discussões acerca da reaposentação, alguns doutrinadores
e magistrados equiparam-na com a desaposentação e, com isso, afirmam que não
há direito. O INSS argumenta que ela é improcedente porque fere a garantia do
ato jurídico perfeito (art. 5º, XXXVI, CF), a sua concessão viola o princípio da
solidariedade (arts. 40, 194 e 195, CF), e o princípio da isonomia, aplicável entre
os segurados. De forma mais específica, o INSS sustenta que a legislação em
vigor, informada pelos elementos constitucionais acima referidos, contém
vedação expressa à reaposentação, assim como já foi reconhecida a vedação da
desaposentação, pelos mesmos argumentos. Como se viu na seção anterior, são
institutos diferentes, motivo pelo qual se verão aqui alguns dos argumentos
utilizados para o êxito da reaposentação.
3.1 Princípio da legalidade
O primeiro grande impasse doutrinário versa sobre o princípio da
legalidade disposto no art. 37, caput, da CF. Os detratores embasam sua
argumentação para negar a reaposentação e equiparam-na com a desaposentação,
na vinculação dos atos da Previdência Social aos princípios da Administração
Pública, em especial o da legalidade, apresentado no supracitado artigo,
especificamente o art. 18, § 2º, da Lei nº 8.213/91.
Por conta deste artigo, o STF negou o direito à desaposentação. Entretanto,
como já explanada a diferença entre os dois institutos, não é plausível que se
aplique a mesma fundamentação para a reaposentação.
Os defensores desta tese ostentam que tal princípio deve ser aplicado com
parcimônia, eis que a legislação vigente autoriza o particular a tudo que a lei
expressamente não vede, ou seja, aplica o princípio de maneira negativa,
possibilitando uma maior liberdade dos seus atos, conforme dispõe o art. 5°,
inciso II, da CF.
Observa-se então que o primeiro colapso se pauta na norma jurídica sob
dois aspectos, a saber, sobre o prisma público, diante da característica da
Previdência Social, e sobre a órbita privada, defendendo as características
inerentes ao contribuinte.
Defende-se que, a despeito da falta de uma vedação legal explícita, o art.
18, § 2º, da Lei nº 8.213/91, tornaria ilícita a renúncia à aposentadoria para fins
de obtenção de novo vínculo, mais vantajoso, que leve em conta contribuições
posteriores à concessão do benefício original. Já a cobrança de tais contribuições
seria válida, justificando-se pelo componente de solidariedade inerente ao
sistema. Com a devida vênia, essa construção radical não parece compatível com
as normas constitucionais que tratam do tema.
Isso porque é a própria Constituição que estabelece uma relação direta
entre a cobrança da contribuição prevista no art. 195, II, incidente sobre os
rendimentos do trabalho, e o direito ao conjunto de prestações da Previdência
Social – começando pela mais importante, que é o direito à aposentadoria.
Nessas condições, não é razoável que o Poder Público pretenda fazer incidir
plenamente a primeira parte do sistema – impondo aos aposentados que
continuem a trabalhar o dever de recolher a contribuição social, em paridade
com os demais trabalhadores –, mas paralise a segunda parte, esvaziando a
consequência jurídica favorável associada a essa forma de tributação vinculada.
A invocação genérica da ideia de solidariedade não é suficiente para autorizar
esse tipo de recorte ou aplicação seletiva das normas constitucionais.
Vale dizer: a Constituição criou uma tributação sobre os rendimentos do
trabalho e um conjunto de direitos daí decorrentes. O fato de a correlação entre
esses vetores não se materializar em uma equação comutativa estrita não
significa que o legislador infraconstitucional esteja autorizado a afastar a
correspondência mínima. É isso o que ocorre quando se cria uma classe de
pessoas que apenas contribuem em igualdade de condições com os demais
trabalhadores, mas não têm acesso a prestações minimamente semelhantes.
Além de não estar prevista nas normas constitucionais que tratam
especificamente do tema, esse tipo de disparidade seria de difícil
compatibilização com a diretriz de valorização da função social do trabalho,
prevista como um dos fundamentos da República e como princípio fundamental
da ordem econômica.
Tal simetria não se reproduz, todavia, no que concerne aos direitos. Nos
termos do art. 18, § 2º, da Lei nº 8.213/91, o aposentado que permaneça
trabalhando e contribuindo “não fará jus à prestação alguma da Previdência
Social em decorrência do exercício dessa atividade, exceto ao salário-família e à
reabilitação profissional, quando empregado”.
Ficam excluídas, portanto, as prestações mais típicas e relevantes, que
consistem na aposentadoria e na pensão. Ademais, os dois benefícios concedidos
são de fruição pouco provável por parte do universo de segurados em questão: o
salário-família pressupõe que o segurado tenha dependentes menores de idade, o
que não constitui situação corriqueira para indivíduos que já se aposentaram e
retornaram à atividade laboral; tampouco parece provável o uso efetivo da
reabilitação profissional, igualmente por razões etárias.
Em suma, é fato inequívoco que os aposentados em atividade contribuem
em igualdade de condições e têm acesso a benefícios inexistentes ou
extremamente limitados. Como referido, essa projeção leva em conta um cenário
em que os valores já recebidos seriam conservados pelos segurados. Mesmo que
essa variável fosse alterada, é evidente que admitir a reaposentação impactará o
financiamento do RGPS. Embora esse fator deva ser seriamente analisado, os
direitos que efetivamente decorram do sistema não podem ser apenas postos de
lado a partir do cálculo utilitário de que novos encargos devem ser evitados a
qualquer custo, ainda que disso resulte prejuízo inconstitucional para um
conjunto de beneficiários. O sistema previdenciário tem um de seus pilares
pautado na ideia de solidariedade, permitindo que a sociedade seja chamada a
contribuir para o custeio de uma rede social, em bases gerais e equitativas. Disso
não se extrai uma carta branca para legitimar o esvaziamento seletivo de direitos,
imputando ônus excessivos ou desproporcionais a determinados segmentos.
Outro ponto de contrariedade pauta-se na vedação apresentada no art. 18,
§2° da Lei 8.213/91, o qual dispõe que não será devido nenhum benefício ao
aposentado que permanecer contribuindo ao INSS, depois de adquirido o
benefício.
Extrai-se deste artigo que inexiste pelo instituto previdenciário qualquer
obrigação de contraprestação ao beneficiário que mantiver trabalhando, e, por
conseguinte contribuindo, eis que, as contribuições efetivadas auxiliaram para o
custeio da Seguridade Social.
Outrossim, aduzem os defensores que a vedação apresentada pelo citado
artigo se aplica tão somente ao recebimento de dois benefícios em
concomitância, ou seja, a cumulação de benefícios, motivo pelo qual inviabiliza
a extensão deste dispositivo ao instituto da reaposentação.
3.2 (Im)possibilidade da renúncia à aposentadoria
O segundo ponto de divergência encontra-se pautado no direito à renúncia
da aposentadoria vigente pelo beneficiário em prol de novo requerimento de
benefício, uma vez que na legislação previdenciária inexiste qualquer disposição
acerca da renúncia de benefícios.
Os detratores afirmam que a renúncia não pode ser aplicada como ato
unilateral pelo beneficiário, impondo que esta seja vinculada à aceitação da
Administração Pública, pois o direito previdenciário tem caráter público.
Em sentido contrário, alegam os defensores que o direito em voga, bem
como o ato da renúncia, constitui direito patrimonial, o qual oportuniza a
disponibilidade do direito por meio da declaração de vontade de seu titular.
Em suma: a possibilidade de renúncia a uma aposentadoria anterior para
requerimento de uma nova é uma decorrência do sistema normativo em vigor,
notadamente da combinação entre a imunidade dos proventos do RGPS em
relação à contribuição social incidente sobre os rendimentos do trabalho; a
cobrança da contribuição dos aposentados que retornam ao mercado de trabalho,
sob o mesmo regime dos demais trabalhadores; e a inexistência de benefícios
previdenciários específicos que justifiquem a incidência dessa tributação
vinculada. Por tudo isso, se a legislação ordinária vedasse a reaposentação de
forma expressa, a sua compatibilidade com o atual texto constitucional seria no
mínimo duvidosa.
O terceiro impasse jurídico versa sobre o artigo 181-B do Regulamento da
Previdência Social (Decreto nº 3.048/99), o qual dispõe que as modalidades de
aposentadorias por idade, tempo de contribuição e especial são irreversíveis e
irrenunciáveis.
Em restrita interpretação restritiva, os doutrinadores contrários à tese
afirmam que as características da aposentadoria por si só impossibilitam a
disposição do benefício em gozo em favor de outro mais vantajoso.
Em sentido contrário, observa-se que a norma que dispõe tal óbice
enquadra-se na qualificação de norma subsidiária, motivo pelo qual, não possui
o processo e procedimento adequado para criar, modificar ou extinguir direito,
extrapolando, visivelmente, os limites materiais passíveis de regulamentação.
3.3 Restituição dos valores recebidos a título de aposentadoria
Um dos maiores enfoques, que surgiu a partir dos julgamentos das
demandas, foi quanto aos valores recebidos pelos beneficiários, detentores do
direito à reaposentação, a título de aposentadoria.
Quanto a esta questão, dois posicionamentos se destacam, o primeiro aduz
que a renúncia opera efeitos retroativos, devendo o beneficiário restituir os
valores percebidos a título de aposentadoria. Vale ressaltar que a restituição dos
valores se pauta também na alegação de enriquecimento ilícito pelos
beneficiados, ante a afronta ao princípio da isonomia e na busca pelo equilíbrio
financeiro do atual sistema protetivo. Isto porque, com a concessão do benefício
de reaposentação, oneraria duplamente a Previdência Social, em razão da
incorporação de novo período e consequente nova concessão de benefício.
O segundo posicionamento consiste no real cumprimento do propósito da
previdência social, seja este a garantia de renda aos contribuintes que cumpram
os requisitos exigidos em lei. Ainda, pautam a tese na existência de manutenção
da contribuição previdenciária, injetando assim valores mensalmente ao instituto
previdenciário, motivo pelo qual não há que se falar em desequilíbrio
econômico.
Outro entendimento pactua da tese de que as decisões proferidas sobre a
reaposentação operam tão somente efeitos futuros, ex nunc, portanto, impossível
se faz a restituição dos valores. Frise-se que a doutrina pende no sentido da
impossibilidade de devolução, afirmando que, quando da concessão do benefício
de aposentadoria, foram preenchidos pelo beneficiário todos os requisitos
necessários, inexistindo, desta forma, qualquer irregularidade quanto a
concessão.[115]
Entre os dois extremos de negar a reaposentação ou permitir que seja feita
de forma ilimitada, a solução de que se tem cogitado é condicionar o
reconhecimento do novo vínculo previdenciário à restituição dos valores já
recebidos, devidamente atualizados. Essa é uma forma objetiva de restabelecer o
status quo ante, evitando enriquecimento indevido para ambas as partes. É
preciso reconhecer, contudo, que essa é uma providência de difícil realização
prática para a maioria dos contribuintes, sobretudo para os tenham permanecido
por um período adicional mais longo no mercado de trabalho – ou seja,
justamente aqueles que seriam mais prejudicados pela impossibilidade de
computar as contribuições posteriores.
3.4 Princípio da prevalência da situação mais vantajosa ao segurado
Os defensores da reaposentação, pautando-se em vários dispositivos da
redação original da Lei nº 8.213/91, no art. 56, §3° do Decreto n° 3.048/99,
alegam que deve ser aplicada ao beneficiário a situação mais favorável
apresentada, eis que a Previdência Social foi criada para auxiliar e beneficiar os
seus contribuintes.
Ademais, as contribuições outrora realizadas, após a concessão do
benefício de aposentadoria, destinam-se ao custeio da seguridade social,
decorrente dos princípios da universalidade do custeio social e da solidariedade,
conforme dispõe o art. 195, caput, da CF.
Em sentido contrário, a contra argumentação pauta-se na existência de ato
jurídico perfeito quando da concessão da aposentadoria ao beneficiário, fato este
que impossibilita a alteração unilateral do benefício.
4 Manifestações dos Tribunais Superiores quanto à matéria
Os Tribunais Superiores atualmente não possuem posicionamento
dominante, observando-se decisões em ambos os sentidos, as quais são pautadas
nas teses aqui explanadas.
No que se refere à desaposentação, tratava-se da renúncia à aposentadoria,
mas não ao tempo de serviço e aos salários de contribuição utilizados para a
concessão do benefício, ou seja, na sua essência é o recálculo do valor do
benefício por meio do cômputo das contribuições anteriores e posteriores à
aposentação.
Nesse sentido, no julgamento ocorrido em 26/10/2016, o pleno do STF
deu orientação definitiva acerca da matéria, decidindo, por maioria dos votos,
pela impossibilidade da aplicação do instituto da desaposentação. O
entendimento firmado foi de que somente por meio de lei é possível fixar
critérios para o recálculo de benefícios com base nas contribuições posteriores
à aposentação, sendo constitucional a regra do § 2º do art. 18 da Lei nº
8.213/91 (informativo nº 845 do STF).
Após a publicação do acórdão, o Instituto Brasileiro de Direito
Previdenciário (IBDP) – que participou no processo na condição de amicus
curiae – embargou. Um dos pontos alvo dos embargos é exatamente a
possibilidade de renúncia em casos em que o segurado não pretende utilizar o
tempo e os valores contribuídos antes da aposentadoria.
Assim, torna-se clara a distinção entre as matérias, pois, na nova teoria de
revisão, discute-se a possibilidade de cancelamento total de benefício
previdenciário previamente concedido, não havendo qualquer ofensa ao § 2º do
art. 18 da Lei nº 8.213/91, o qual deve ser interpretado no sentido de
impossibilitar o recálculo de benefício considerando as contribuições
posteriores à aposentação, conforme recente decisão do STF, bem como de
impossibilitar a percepção conjunta de mais de um benefício.
Para trazer mais segurança à teoria, saliento que o Tribunal Regional
Federal da 4ª Região possui jurisprudência no sentido da possibilidade de
cancelamento total de aposentadoria para posterior concessão de novo
benefício, com base apenas nas contribuições posteriores à primeira
aposentação:
PREVIDENCIÁRIO. RENÚNCIA À APOSENTADORIA PARA
RECEBIMENTO DE NOVO BENEFÍCIO. APOSENTADORIA POR IDADE
URBANA COM BASE NOS RECOLHIMENTOS POSTERIORES À
INATIVAÇÃO. POSSIBILIDADE. APOSENTADORIA POR IDADE URBANA.
REQUISITOS PREENCHIDOS. ART. 497 DO NCPC. 1. A concessão de
aposentadoria por idade urbana depende da implementação de requisito etário –
haver completado 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e 60 (sessenta)
anos de idade, se mulher, e a carência definida em lei. Requisitos preenchidos. 2.
Possível a outorga de aposentadoria por idade, com base apenas em tempo de
contribuição posterior à primeira inativação, que perfaz, como se extrai dos
autos, mais de 180 contribuições, tendo o autor implementado também o
requisito etário. 3. Considerando os termos do art. 497 do CPC/2015, que repete
dispositivo constante do art. 461 do Código de Processo Civil/1973, e o fato de
que, em princípio, a presente decisão não está sujeita a recurso com efeito
suspensivo (Questão de Ordem na AC nº 2002.71.00.050349-7/RS – Rel. p/
acórdão Desemb. Federal Celso Kipper, julgado em 09/08/2007 – 3.ª Seção), o
presente julgado deverá ser cumprido de imediato quanto à implantação do
benefício postulado, no prazo de 45 dias.[116] (grifo da Autora)
Antes de promover a revisão, a renda mensal inicial da nova
aposentadoria deverá ser cuidadosamente calculada, para fins de verificação da
viabilidade da aplicação da teoria para beneficiar o segurado, evitando assim
ações que não sejam vantajosas.
Diante da decisão acima disposta, observa-se uma tendência ao
reconhecimento do instituto da reaposentação. Entretanto, mais tardar paira a
insegurança jurídica, uma vez que passados alguns meses o mesmo TRF da 4ª.
Região profere decisão não acolhendo a reaposentação, vejam-se os argumentos:
DECISÃO: Trata-se de ação ajuizada em face do Instituto Nacional do Seguro
Social visando ao cancelamento do benefício de Aposentadoria por Tempo de
Contribuição atualmente percebido pelo segurado, com a subsequente concessão
de Aposentadoria por Idade considerando-se apenas os períodos laborados após a
inativação, sem devolução dos valores percebidos a título do benefício anterior. A
sentença de primeiro grau julgou improcedente liminarmente o pedido.
Irresignada, a parte autora interpõe recurso de apelação. É o relatório. Decido. A
questão controversa nos presentes autos cinge-se à possibilidade de renúncia, pelo
segurado, em relação ao benefício de Aposentadoria por Tempo de Contribuição
atualmente percebido, para fins de obtenção de renda mais
vantajosa, considerando-se exclusivamente os períodos de contribuição posteriores
à concessão original. Busca o autor a concessão de Aposentadoria por Idade,
com renúncia, inclusive, ao tempo de contribuição utilizado na concessão da
aposentadoria a que pretende renunciar. O Plenário do STF, no julgamento
conjunto dos Recursos Extraordinários 381.367, de relatoria do ministro Marco
Aurélio, 661.256, com repercussão geral, e 827.833, ambos de relatoria do
ministro Luís Roberto Barroso, considerou inviável o recálculo do valor da
aposentadoria por meio da chamada desaposentação. Por maioria de votos, os
ministros entenderam que apenas por meio de lei é possível fixar critérios para que
os benefícios sejam recalculados com base em novas contribuições decorrentes da
permanência ou volta do trabalhador ao mercado de trabalho após concessão da
aposentadoria. A tese jurídica fixada pelo STF foi a seguinte: “No âmbito do
Regime Geral de Previdência Social - RGPS, somente lei pode criar benefícios e
vantagens previdenciárias, não havendo, por ora, previsão legal do direito à
“desaposentação”, sendo constitucional a regra do art. 18, § 2º, da Lei nº
8.213/91”. Impõe-se, assim, avaliar se tal conclusão também se aplicaria
quando pretendida a renúncia à aposentadoria recebida para concessão de
nova aposentadoria, considerando-se somente o tempo de contribuição
posterior à outorga da inativação (reaposentação). Ao analisar a possibilidade
de reconhecimento da desaposentação, o Supremo Tribunal Federal julgou
conjuntamente os Recursos Extraordinários 661.256/DF, 381.367/RS e
827.833/SC. O primeiro e o último foram afetados ao regime da repercussão geral.
O RE 827.833 trazia situação de fato distinta da pertinente à desaposentação
propriamente. A Ministra Rosa Weber observou que, diversamente dos demais
recursos, não se teria naquele caso hipótese de desaposentação, mas de
reaposentação, em que apenas o período ulterior à primeira aposentadoria seria
suficiente, por si só, ao preenchimento dos requisitos estabelecidos pela norma
previdenciária para a outorga de novo benefício mais proveitoso (naquele caso,
uma aposentadoria por idade). Assim, em seu voto vista, a Ministra defendeu a
possibilidade do reconhecimento do direito ao desfazimento da prestação
previdenciária concedida e de recebimento de nova aposentadoria, o que, segundo
entendeu, não seria vedado pelo art. 18, §2º, da Lei 8.213/91. Esta distinção, feita
pela Ministra Rosa Weber, não foi considerada relevante nos votos dos demais
Ministros, inclusive nos que acompanharam o relator originário, Ministro Roberto
Barroso e resultaram vencidos. Entendeu-se por aplicar o mesmo entendimento
para todos os casos, ainda que a decisão inicial afetação da questão constitucional
ao regime da repercussão geral registrasse apenas a situação clássica de
desaposentação, em que se somariam tempos anterior e posterior à primeira
inativação, para a concessão da segunda. Os votos dos Ministros que negaram o
direito à desaposentação, e que resultaram vencedores, trataram da mesma forma a
hipótese de desaposentação e de reaposentação, pois seu pressuposto e fundamento
determinante foi de que seria constitucional o §2º do art. 18 da Lei 8.213/91,
segundo o qual, é vedada a concessão de qualquer benefício adicional ao já
aposentado, exceto salário-família e reabilitação. A constitucionalidade deste
dispositivo implica tanto na impossibilidade de desaposentação como de
reaposentação. Segundo entenderam os ministros, a possibilidade de outras
repercussões, além das já previstas, em benefícios previdenciários, que
decorreriam dos efeitos da permanência ou retorno do já aposentado ao mercado
de trabalho, dependeria de lei específica. Assim, a ratio decidendi acolhida pela
maioria dos ministros, aplica-se também à hipótese de reaposentação. A
hipótese é de precedente vinculante, impondo-se dar aplicação ao
entendimento adotado pelo Supremo Tribunal Federal. Por tais razões, frente
ao entendimento firmado pelo STF em repercussão geral, deve ser indeferido
o pleito de reaposentação. Das custas processuais e dos honorários advocatícios.
Sendo sucumbente a parte autora, deverá arcar com o pagamento das custas
processuais e dos honorários advocatícios. Quanto ao valor a ser atribuído à verba
honorária nas ações de desaposentação, a Terceira Seção deste Regional, em
sessão realizada em 25/10/2017, nos termos do voto-vista apresentado pelo E.
Desembargador Celso Kipper (EI 5053736-59.2011.4.04.7000), entendeu que,
tratando-se de sentença publicada na vigência da Lei nº 5.869/73, deve ser adotada
a orientação então vigente entre as Turmas Previdenciárias desta Corte, segundo a
qual os honorários advocatícios, em caso de improcedência do pedido do
segurado, nos termos do art. 20, §4º, do CPC/1973, deveriam ser fixados no valor
correspondente ao salário-mínimo. Entretanto, não sendo esse o caso dos presentes
autos, posto que a sentença foi publicada já sob a vigência do novo regramento
processual, e considerando o trabalho adicional em grau recursal realizado, a
importância e a complexidade da causa, nos termos do art. 85, §2º e §11º do
CPC/15, os honorários advocatícios devem ser majorados para que a faixa inicial
seja fixada em 15% da do valor da causa (art. 85, §2º c/c §3º, I, e §4º, III, do
CPC/15). Caso o valor atualizado da causa, por ocasião da liquidação, supere a
primeira faixa, o acréscimo deverá incidir na mesma proporção nas faixas mínimas
máximas subsequentes, na forma do art. 85, §5º, do CPC/15. Não desconheço que,
nas ações que visam a desaposentação, a forma de cálculo do valor da causa (“nas
ações que versam sobre desaposentação, o valor da causa deve corresponder à
soma das parcelas vencidas e 12 (doze) parcelas vincendas do benefício cujo
deferimento se requer, acrescida do montante cuja devolução venha a ser exigida
para a desaposentação pretendida” - TRF4, Conflito de Competência 5044717-
04.2016.404.0000, 3ª Seção) resulta em um montante desproporcionalmente
elevado, o qual, se tomado como base para o cálculo do valor da verba honorária,
acaba gerando extrema desigualdade entre as partes (pois, no caso de procedência
do pedido, a verba honorária devida pelo INSS seria fixada em 10% sobre o valor
da condenação, correspondente apenas à diferença entre o valor da RMI do
benefício renunciado e o valor da RMI do novo benefício). Por esse motivo, para
fins de fixação dos honorários sucumbenciais neste tipo de ação, adoto a solução
proposta pelo E. Desembargador Rogério Favreto, que consiste na consideração do
valor da causa sem a inclusão das verbas recebidas a título da primeira
aposentadoria (TRF4 5063345-18.2015.404.7100). Saliento, por fim, que, sendo a
parte autora beneficiária da gratuidade de justiça, fica suspensa a exigibilidade das
verbas aqui tratadas. Prequestionamento Para fins de possibilitar o acesso das
partes às instâncias superiores, consideram-se prequestionadas as matérias
constitucionais e legais suscitadas nos recursos oferecidos pelas partes, nos termos
dos fundamentos do voto, deixando de aplicar dispositivos constitucionais ou
legais não expressamente mencionados e/ou havidos como aptos a fundamentar
pronunciamento judicial em sentido diverso do que está declarado. Ante o exposto,
com base no art. 932, IV, b, do NCPC, nego provimento à apelação. [117]
Com estes posicionamentos, os Tribunais Superiores de todo o Brasil estão
proferindo decisões favoráveis e decisões contrárias, o que posiciona o militante
no direito previdenciário a fomentar esta tese em busca de fazer-se valer a
legislação e entendimentos já firmados.
Considerações finais
Após reflexões e análises que perpassam argumentos jurídicos e
jurisprudencial, imperioso se faz o reconhecimento de que a reaposentação é
uma revisão de aposentadoria apta a solucionar a inconformidade do aposentado
com o sistema previdenciário.
Das teses elencadas, a utilização do princípio da legalidade, afirmando que
não há vedação legal ou constitucional, permite a reaposentação, ao passo que o
tribunal Superior veda pela sua equiparação com a desaposentação, pelo mesmo
fundamento da legalidade.
Ainda, que assim o é, a reaposentação desconsidera o fato de o sistema ser
solidário e de repartição simples, haja vista que o segurado que continua ou
regressa ao mercado de trabalho direciona suas cotizações para o fundo único do
INSS, não havendo conta individualizada que garanta a ele a contraprestação de
suas contribuições. Estando a previdência pautada no pacto intergeracional, a
geração economicamente ativa contribui para o INSS, a fim de manter as
prestações pagas àqueles que estão na inatividade. Não há que se falar na
vinculação das contribuições, em relação direta entre custeio e benefício de cada
segurado.
Ademais, não obstante seja perfeitamente cabível a renúncia pelo
aposentado à percepção da aposentadoria, esta se torna impraticável frente à
impossibilidade de requerer o novo benefício mais vantajoso. Isto porque o que
se objetiva com a desconstituição do ato da aposentadoria é a nova
aposentadoria, com a utilização das contribuições posteriores à aposentação.
Diante do exposto, há que se falar que a criação desse novo instituto
previdenciário nada mais é do que a tentativa de amparo aos aposentados que
permanecem exercendo seu ofício e, por obrigatoriedade legal, vertendo
contribuições aos cofres do INSS. Por isso, faz-se importante a reflexão dos
juristas acerca da sua viabilidade ou não.
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74.2016.404.9999 – 6ª Turma – Apelante: INSTITUTO NACIONAL DO
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Documento eletrônico disponível em: <https://jurisprudencia.trf4.jus.br> Acesso
em: 24 de setembro de 2018.
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO. AC 5035452-
47.2018.4.04.7100– 6ª Turma – Apelante: IRINEU ANTONIO VIVAN –
Apelado: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL. Documento
eletrônico disponível em: <https://jurisprudencia.trf4.jus.br> Acesso em: 24 de
setembro de 2018.
VIANNA, João Ernesto Aragonés. Curso de direito previdenciário. 3. Ed. São
Paulo: Atlas, 2010.

CAPÍTULO 11
REVISÃO DOS TETOS E O PRAZO
DECADENCIAL

MALCON ROBERT LIMA GOMES
Graduado em Direito pela Universidade Estadual do Piauí. Especialista em
Direito Previdenciário. Professor de pós-graduações. Autor. Palestrante. Servidor
da Justiça Federal, Seção Judiciária do Piauí.
1 Definição
Esta revisão tem origem na elevação dos tetos do Regime Geral de
Previdência Social (RGPS) ocorrida com as Emendas Constitucionais nº 20/98 e
41/2003, fato este totalmente dissociado de qualquer hipótese de reajuste dos
benefícios em si. Verificam-se as correspondentes previsões, respectivamente:
Art. 14 - O limite máximo para o valor dos benefícios do regime geral de
previdência social de que trata o art. 201 da Constituição Federal é fixado em R$
1.200,00 (um mil e duzentos reais), devendo, a partir da data da publicação desta
Emenda, ser reajustado de forma a preservar, em caráter permanente, seu valor
real, atualizado pelos mesmos índices aplicados aos benefícios do regime geral de
previdência social.
Art. 5º O limite máximo para o valor dos benefícios do regime geral de
previdência social de que trata o art. 201 da Constituição Federal é fixado em R$
2.400,00 (dois mil e quatrocentos reais), devendo, a partir da data de publicação
desta Emenda, ser reajustado de forma a preservar, em caráter permanente, seu
valor real, atualizado pelos mesmos índices aplicados aos benefícios do regime
geral de previdência social.
Foi meramente a atualização do teto, sendo que em cada uma das duas
ocasiões se estabeleceu que o teto deveria ser elevado para o equivalente a 10
salários mínimos.
Mas, reitera-se: os benefícios em manutenção não foram objeto de
reajustamento na mesma data – meses de dezembro de 1998 e 2003,
respectivamente -, embora alguns tenham buscado em juízo tais correções.
E, corroborando o que ora se defende, traz-se à colação julgado do
Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) correlato:
PREVIDENCIÁRIO. REVISÃO DE BENEFÍCIO. RENDA MENSAL INICIAL.
RECUPERAÇÃO DOS EXCESSOS DESPREZADOS NA ELEVAÇÃO DO
TETO DAS ECS 20 E 41. CORREÇÃO MONETÁRIA. 1. O Pleno da Corte
Suprema, por ocasião do julgamento do RE 564354, no dia 08 de setembro de
2010, reafirmou o entendimento manifestado no Ag. Reg. no RE nº 499.091-1/SC,
decidindo que a incidência do novo teto fixado pela EC nº 20/98 não representa
aplicação retroativa do disposto no artigo 14 daquela Emenda Constitucional,
nem aumento ou reajuste, mas apenas readequação dos valores percebidos ao
novo teto. Idêntico raciocínio deve prevalecer no que diz respeito à elevação
promovida no teto pela EC 41/2003. (...). [118] (grifo do Autor)
E, dada a maestria com que foi definido o direito, bem como as valiosas
anotações, traz-se à apreciação trecho do voto da Juíza Federal Relatora da 4ª
Turma Recursal do Paraná, Luciana Kravetz, nos autos de n. 5000460-
84.2014.4.04.7008, verbis:
No julgamento do RExt 564.354/SE, com repercussão geral, o STF firmou o
seguinte entendimento:
Não ofende o ato jurídico perfeito a aplicação imediata do art. 14 da Emenda
Constitucional n. 20/1998 e do art. 5º da Emenda Constitucional n. 41/2003 aos
benefícios previdenciários limitados a teto do regime geral de previdência
estabelecido antes da vigência dessas normas, de modo a que passem a observar o
novo teto constitucional (Rel. Min. Carmen Lucia, j. 08/10/10).
O que se entendeu foi que a aplicação imediata do novo teto trazido pelas
Emendas Constitucionais, porque não afeta atos jurídicos já aperfeiçoados, não
implica retroatividade da lei, pois gera efeitos ex nunc. Foi reconhecida, então, a
possibilidade de aplicação das Emendas Constitucionais 20 e 41 àqueles que
percebem seus benefícios com base em limitador anterior, levando-se em conta os
salários-de-contribuição que foram utilizados para os cálculos iniciais (voto da
Min. Carmen Lúcia).
Desta forma, aqueles benefícios que estavam limitados, nos termos do art. 29, § 2º,
da LBPS, sofrerão reflexo, sem que possam, contudo, ultrapassar o novo teto. O
que se deve fazer é a adequação ao novo limite máximo da renda mensal, o que
implica uma espécie de descompressão.
Houve limitação ao teto do salário-de-benefício no momento da concessão, como
revela a informação prestada pela contadoria do juízo (evento 23, INF1). Neste
momento, o salário-de-benefício foi de R$ 760,60, sendo limitado ao teto de R$
582,86 previsto para a competência de 05/1995 (evento 23, CALCRIM2), gerando
uma diferença quanto à renda mensal, considerando a evolução do salário-de-
benefício e a consequente renda mensal inicial pelos ajustes ocorridos no período
da DIB, em 20/04/1995, até a 01/2014.
O entendimento adotado pelo STF se aplica também aos benefícios concedidos no
buraco negro (de 05/10/88 a 04/04/91), pois a decisão não fixou qualquer
diferenciação entre os benefícios em manutenção com base na data de concessão.
De outro lado, o novo regramento trazido pelas Emendas 20/98 e 41/03 não
restringiu a aplicação dos novos tetos a benefícios concedidos a partir de 16/12/98
ou de 19/12/03. Pelo contrário, a redação do art. 14, da EC 20/98, e do art. 5º, da
EC 41/03, estabelece que o novo teto se aplica aos benefícios em manutenção,
indistintamente.
A pretensão não implica aplicação retroativa dos novos tetos, mas a sua incidência
imediata aos benefícios em manutenção cujas rendas mensais iniciais hajam sido
comprimidas quando da concessão, pelos tetos então em vigor.
Neste sentido já decidiu a TRU da 4ª Região:
BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. LIMITAÇÃO DA RENDA MENSAL INICIAL.
APLICAÇÃO DOS NOVOS TETOS. EMENDAS CONSTITUCIONAIS Nº 20/98 E
41/03. 1. Aplicam-se os novos tetos dos benefícios previdenciários instituídos
pelas emendas constitucionais nº 20/98 e 41/03 aos benefícios concedidos
anteriormente à sua vigência, aos quais tenha sido aplicado o teto máximo. 2.
Aplicação do entendimento do supremo tribunal federal proferido nos autos do RE
n° 564.354/SE. 3. Incidente de uniformização provido. (5045499-
90.2012.404.7100, Turma Regional de Uniformização da 4ª região, relator p/
acórdão Ricardo Nüske, D.E. 07/08/2013)
Quando dos reajustes do benefício, deve-se levar em conta o valor do salário-de-
benefício, sem a limitação ao teto ocorrida. Feito o reajuste, numa segunda etapa,
deve haver a aplicação do percentual do benefício e a limitação pelo teto, para fins
de pagamento. [119] (grifos originais).
Portanto, nota-se que o reajuste dos tetos vêm sendo aplicado de maneira
certeira pelos Tribunais Pátrios.
2 Quem tem direito e qual a fundamentação
Em princípio, aqueles segurados ou dependentes que tiveram no cálculo
das correspondentes rendas mensais iniciais (RMI), o salário de benefício
limitado ao teto do salário de contribuição da época, embora estes tivessem
superado tal demarcação, o que decorria da diversidade de índices de correção
sobre aqueles (salários de contribuição) e sobre o referido teto. Ou seja, o índice
aplicado na atualização dos recolhimentos previdenciários era mais vantajoso
que o incidido sobre o teto de pagamento.
E aqui, antes de prosseguir, necessário fazer uma linha de corte. Para os
benefícios com Data de Início do Benefício (DIB) posteriores a 05/04/1991, o
direito à revisão em comentário não será constatado no momento da concessão,
mas na data do primeiro reajustamento, nos termos do quanto determinado no
art. 26 da Lei nº 8.870/94.
Explica-se: em razão de outra revisão que ficou conhecida como a do
“buraco verde”, lastreada na previsão do art. 26 da Lei nº 8.870/94, determinou-
se que os benefícios concedidos entre 05/04/1991 e 31/12/1993 tivessem direito
a recuperar, senão todo, pelo menos uma parte do prejuízo sofrido no ato
concessório à medida em que, no primeiro reajuste a ser aplicado ao benefício,
também se deveria fazer incidir o que foi chamado de índice-teto, que nada mais
é do que a proporção entre o valor efetivamente devido (salário de benefício sem
qualquer limitação) e o que foi aplicado quando da aposentadoria/pensão (salário
de benefício limitado ao teto).
Em outras palavras:
As contribuições e os benefícios previdenciários encontravam-se sujeitos a dois
limitadores distintos: a) limite máximo do salário de contribuição (atualizado por
diferentes índices utilizados para corrigir as contribuições pagas pelos segurados);
b) teto máximo do salário de benefício (em valor nominal até 2/2004), sendo em
vários períodos maior a correção do primeiro, do que a correção do segundo. [120]
Aliás, eis a redação do citado art. 26 da Lei nº 8.870/94, verbis:
Art. 26. Os benefícios concedidos nos termos da Lei nº 8.213, de 24 de julho de
1991, com data de início entre 5 de abril de 1991 e 31 de dezembro de 1993, cuja
renda mensal inicial tenha sido calculada sobre salário-de-benefício inferior à
média dos 36 últimos salários-de-contribuição, em decorrência do disposto no § 2º
do art. 29 da referida lei, serão revistos a partir da competência abril de 1994,
mediante a aplicação do percentual correspondente à diferença entre a média
mencionada neste artigo e o salário-de-benefício considerado para a concessão.
Parágrafo único. Os benefícios revistos nos termos do caput deste artigo não
poderão resultar superiores ao teto do salário-de-contribuição vigente na
competência de abril de 1994.
Exemplifica-se: José se aposentou por tempo de contribuição integral em
setembro de 1997. Seu salário de benefício, média dos últimos 36 salários de
contribuição – regra vigente à época - correspondeu a R$1.250,00; contudo, o
teto da época era R$1.031,87. Assim, seu benefício foi limitado ao teto:
R$1.031,87.
Porém, no ano seguinte, 1998, quando do primeiro reajuste, que naquela
data ocorria no mês de junho, ele teve acrescido o valor correspondente à divisão
entre R$1.250,00 (salário de benefício devido) e R$1.031,87 (salário de
benefício limitado ao teto da época), que resultou no índice 1,2113, isto é:
R$1.250,00 / R$1.031,87 = 1,2113.
Ou seja, em junho de 1998, o benefício sofreu o reajuste anual e ainda ser
acrescido do índice teto, ou seja, seriam R$1.031,87 + 3,59% (percentual
atribuído para os que se aposentaram em setembro de 1997, caso do exemplo,
nos termos da Portaria do (extinto) Ministério da Previdência e Assistência
Social (MPAS) nº 4.478/98) + 21,13% (que corresponde ao índice teto), no que
resultaria no montante de R$1.294,77.
Ressalta-se que, administrativamente, somente havia previsão legal para a
aplicação do chamado índice-teto no primeiro reajuste. Não se renovaria nos
reajustes posteriores.
Como o teto na época restou estabelecido em R$1.081,50, este seria o
novo valor do benefício, assim, ele não pode aproveitar todo o seu direito,
ficando com um crédito de R$213,27 - não passível, segundo o entendimento do
INSS à época, de ser aproveitado posteriormente, conforme suscitado acima -,
está-se diante de alguém que teria direito à revisão dos tetos, pois tal excedente
poderia ser aproveitado em duas oportunidades futuras: quando da Emenda
Constitucional (EC) nº 20/98 e, sendo o caso, em 12/2003, momento em que
houve elevações isoladas do teto, que passaram, nesta ordem, de R$1.081,50
para R$1.200,00 e de R$1.869,34 para R$2.400,00, nos termos dos arts. 14 da
EC nº 20/98 e 5º da EC nº 41/2003, verbis:
Art. 14 - O limite máximo para o valor dos benefícios do regime geral de
previdência social de que trata o art. 201 da Constituição Federal é fixado em R$
1.200,00 (um mil e duzentos reais), devendo, a partir da data da publicação desta
Emenda, ser reajustado de forma a preservar, em caráter permanente, seu valor
real, atualizado pelos mesmos índices aplicados aos benefícios do regime geral de
previdência social.
Art. 5º O limite máximo para o valor dos benefícios do regime geral de
previdência social de que trata o art. 201 da Constituição Federal é fixado em R$
2.400,00 (dois mil e quatrocentos reais), devendo, a partir da data de publicação
desta Emenda, ser reajustado de forma a preservar, em caráter permanente, seu
valor real, atualizado pelos mesmos índices aplicados aos benefícios do regime
geral de previdência social.
Por outro lado, para os que se aposentaram ou tiveram seus salários de
benefício limitados ao teto em data anterior a 05/04/1991, dada a inexistência da
previsão legal de incidência do índice-teto, a aferição do direito à revisão dos
tetos já é identificada no momento da concessão, isto é, todos que tiveram tal
limite em seu salário de benefício potencialmente tem direito à revisão em
destaque.
E, complementando: posteriormente, adveio a Lei nº 8.880/94, a qual
instituiu com regularidade a incidência do chamado índice teto, que vigora até os
dias atuais, verbis:
Art. 21, § 3º - Na hipótese da média apurada nos termos deste artigo resultar
superior ao limite máximo do salário-de-contribuição vigente no mês de início do
benefício, a diferença percentual entre esta média e o referido limite será
incorporada ao valor do benefício juntamente com o primeiro reajuste do mesmo
após a concessão, observado que nenhum benefício assim reajustado poderá
superar o limite máximo do salário-de-contribuição vigente na competência em
que ocorrer o reajuste.
Com a palavra, o Supremo Tribunal Federal (STF):
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO.
PREVIDENCIÁRIO. REVISÃO DE BENEFÍCIO. APLICAÇÃO DOS TETOS
ALTERADOS PELAS EMENDAS CONSTITUCIONAIS 20/1998 E 41/2003
AOS BENEFÍCIOS CONCEDIDOS ANTES DA ALTERAÇÃO. TEMA 76 DA
REPERCUSSÃO GERAL. ENTENDIMENTO APLICÁVEL AOS BENEFÍCIOS
CONCEDIDOS ANTES DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988.
MAJORAÇÃO DE HONORÁRIOS. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE
NEGA PROVIMENTO, COM APLICAÇÃO DE MULTA. I – O Supremo
Tribunal Federal, ao julgar o RE 564.3541-RG (Tema 76 da repercussão geral), de
relatoria da Ministra Cármen Lúcia, concluiu que não ofende o ato jurídico
perfeito a aplicação imediata do art. 14 da Emenda Constitucional 20/1998 e do
art. 5° da Emenda Constitucional 41/2003 aos benefícios previdenciários limitados
a teto do regime geral de previdência estabelecido antes da vigência dessas
normas, de modo a que passem a observar o novo teto constitucional. II –
Conforme a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, o único requisito para a
aplicação dos novos tetos aos benefícios concedidos anteriormente à sua vigência
é que o salário de benefício tenha sofrido, à época de sua concessão, diminuição
em razão da incidência do limitador previdenciário, o que alcança inclusive os
benefícios concedidos antes da Constituição Federal de 1988. III – Majorada a
verba honorária fixada anteriormente, nos termos do art. 85, § 11, do CPC. IV –
Agravo regimental a que se nega provimento, com aplicação de multa.[121] (grifo
do Autor)
A propósito, o direito ora configurado também se faz incidir no intervalo
que não restou coberto pelas Leis nº 8.870/94 e 8.880/94, porquanto “Cabível a
aplicação do artigo 26 da Lei 8.870/94 aos benefícios concedidos fora do
período compreendido entre 05-04-91 e 31-12-93” [122]. Aliás, até mesmo em
período anterior à Lei nº 8.213/91, somente não se falando para tal intervalo em
revisão do buraco verde, mas sim dos Tetos.
3 Óbice do prazo decadencial decenal do Art. 103 da Lei Nº 8.213/91
Como já assinalado, a razão de existir da Revisão dos Tetos advém da
“Revisão do Buraco Verde”; assim, tem-se no reconhecimento da não incidência
do prazo decadencial na “Revisão do Buraco Verde” um dos fundamentos para
igualmente se afastar aludida limitação temporal, prevista no art. 103 da Lei nº
8.213/91 e que, segundo o STF, seria constitucional e se aplicaria, inclusive, aos
benefícios concedidos antes da data da sua instituição e início dos seus efeitos,
no caso, 01/08/1997 (RE 626.489/SE).
Aproveita-se o ensejo, aliás, para fomentar o debate que se tem defendido
ao longo dos últimos anos: há várias revisões que guardam iguais fundamentos
para afastar o prazo decadencial não havendo razão alguma para se atribuir
tratamento distinto entre elas.
E, embora já se tenha assinalado inexistir qualquer discussão a respeito do
direito à revisão em si, pede-se vênia para colacionar trechos do voto do Relator,
Juiz Federal da 3ª Turma Recursal do Rio Grande do Sul, Gustavo Schneider
Alves, nos autos do Recurso Inominado n. 5005255-17.2011.404.7113/RS, o
qual traz valiosas lições, inclusive quanto ao mérito da revisão em questão:
A autora é titular de aposentadoria por idade concedida em 06/12/1993.
Dispõe o artigo 26 da Lei 8.870/94 que:
“Art. 26. Os benefícios concedidos nos termos da Lei nº 8.213, de 24 de julho de
1991, com data de início entre 5 de abril de 1991 e 31 de dezembro de 1993, cuja
renda mensal inicial tenha sido calculada sobre salário-de-benefício inferior à
média dos 36 últimos salários-de-contribuição, em decorrência do disposto no § 2º
do art. 29 da referida lei, serão revistos a partir da competência abril de 1994,
mediante a aplicação do percentual correspondente à diferença entre a média
mencionada neste artigo e o salário-de-benefício considerado para a concessão.
Parágrafo único. Os benefícios revistos nos termos do caput deste artigo não
poderão resultar superiores ao teto do salário-de-contribuição vigente na
competência de abril de 1994.”
A revisão do art. 26 da Lei nº 8.870/94 não se sujeita à incidência do prazo
decadencial, vez que entre o reconhecimento do direito (lei publicada em 1994) e a
concessão dos benefícios aos quais a Lei 8.870/94 se refere (aqueles com data de
início entre 5 de abril de 1991 e 31 de dezembro de 1993) não há prazo superior a
dez anos.
Sobre a decadência, esta Turma Recursal possui entendimento firmado no
sentido do voto proferido nos autos do processo nº 5003963-91.2011.404.7114,
de relatoria do Juiz Federal José Caetano Zanella, conforme o extrato da decisão
a seguir transcrito:
‘(...) embora a revisão prevista no art. 144 da Lei nº 8.213/91 importe na
revisão do ato de concessão do benefício, por implicar a alteração de sua
renda mensal inicial, forçoso é reconhecer que tal revisão se dá pelo influxo de
legislação superveniente a ser aplicada com efeitos retroativos devido ao
reconhecimento pelo legislador do direito de benefícios anteriores se
beneficiarem com a nova sistemática introduzida por legislação nova.
Ora, conforme a redação expressa do disposto no caput do art. 144 a revisão ali
prevista incide justamente sobre a renda mensal inicial, que antes da Lei nº
8.213/1991 era calculada de uma forma mais prejudicial aos segurados e depois da
Lei nº 8.213/1991 passou a ser calculada de uma forma mais benéfica aos
segurados. De sorte que o que o art. 144 fez foi dar efeitos retroativos parciais à
nova legislação, pois, conquanto tenha determinado precisamente a revisão do ato
de concessão do benefício (da RMI), não o fez com efeitos financeiros desde a
concessão, mas, sim, apenas com efeitos financeiros desde junho de 1992,
consoante o disposto no parágrafo único do art. 144.
Então a revisão do ato de concessão (RMI) mediante a aplicação do disposto
no art. 144 da Lei nº 8.213/91 não sofre a incidência de decadência por outro
motivo: o mesmo motivo que a revisão do art. 29, inciso II, da Lei nº 8.213/91,
ou seja, houve o reconhecimento inequívoco do direito à pretendida revisão,
sendo que no caso do art. 144 esse reconhecimento operou-se pelo legislador
previdenciário.
Noutros termos, o direito novo introduzido pelo art. 144 da Lei nº 8.213/91 não
existia quando do ato de concessão do benefício em conformidade com as regras
anteriores, o qual, repita-se, por ser um direito novo à época da concessão
inexistente não pode sofrer com os efeitos negativos de inércia impostos pela
decadência.
Ora, evidentemente inércia não houve e a própria lei obrigou o INSS a proceder a
tal revisão imprimindo efeitos retroativos parciais, tão somente a partir de junho de
1992.
Ocorre que a revisão determinada no art. 26 da Lei n. 8.870/94 se assemelha à
revisão do art. 144 da Lei n. 8.213/91, uma vez aquele artigo determina que “Os
benefícios concedidos nos termos da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, com
data de início entre 5 de abril de 1991 e 31 de dezembro de 1993, cuja renda
mensal inicial tenha sido calculada sobre salário-de-benefício inferior à média dos
36 últimos salários-de-contribuição, em decorrência do disposto no §2º do art. 29
da referida lei, serão revistos a partir da competência abril de 1994, mediante a
aplicação do percentual correspondente à diferença entre a média mencionada
neste artigo e o salário-de-benefício considerado para a concessão.”
Logo, como a revisão prevista no art. 144 da Lei nº 8.213/91 não se sujeita a prazo
decadencial, a revisão indicada no art. 26 da Lei n. 8.870/94 igualmente não se
sujeita a prazo decadencial.”
Assim, há que se afastar a decadência.
Quanto à questão de fundo, adoto como razões de decidir o seguinte julgado do
egrégio Tribunal Regional Federal da 4ª Região que confirmou a sentença de
procedência proferida nos autos do processo nº 5004089-52.2012.404.7100, cuja
ementa colaciono:
EMENTA: PREVIDENCIÁRIO. DECADÊNCIA. REVISÃO DE BENEFÍCIO
DE ACORDO COM ART. 26 DA LEI Nº 8.870/94. TETOS. EMENDAS
CONSTITUCIONAIS 20/1998 E 41/2003. 1. O prazo extintivo de todo e qualquer
direito ou ação previsto no art. 103, caput, da Lei 8.213/91 (com a redação dada
pela MP 1.523-9, de 27-06-1997, convertida na Lei nº 9.528, de 10-12-1997,
alterada pela Medida Provisória nº 1.663-15, de 22-10-1998, que por sua vez foi
transformada na Lei nº 9.711, de 20-11-1998), somente se aplica à revisão de ato
de concessão do benefício. 2. Cabível a aplicação do artigo 26 da Lei 8.870/94 aos
benefícios concedidos fora do período compreendido entre 05-04-91 e 31-12-93. 3.
Fixado pelo Supremo Tribunal Federal o entendimento de que o limitador (teto do
salário de contribuição) é elemento externo à estrutura jurídica dos benefícios
previdenciários, tem-se que o valor apurado para o salário de benefício integra-se
ao patrimônio jurídico do segurado, razão pela qual todo o excesso não
aproveitado em razão da restrição poderá ser utilizado sempre que alterado o teto,
adequando-se ao novo limite. Em outras palavras, o salário de benefício, expressão
do aporte contributivo do segurado, será sempre a base de cálculo da renda mensal
a ser percebida em cada competência, respeitado o limite máximo do salário de
contribuição então vigente. Isto significa que, elevado o teto do salário de
contribuição sem que tenha havido reajuste das prestações previdenciárias (como
no caso das Emendas Constitucionais 20/1998 e 41/2003), ou reajustado em
percentual superior ao concedido àquelas, o benefício recupera o que normalmente
receberia se o teto à época fosse outro, isto é, sempre que alterado o valor do
limitador previdenciário, haverá a possibilidade de o segurado adequar o valor de
seu benefício ao novo teto constitucional, recuperando o valor perdido em virtude
do limitador anterior, pois coerente com as contribuições efetivamente pagas.
(TRF4, AC 5004089-52.2012.404.7100, SEXTA TURMA, Relator JOÃO
BATISTA PINTO SILVEIRA, juntado aos autos em 10/07/2015)
Por oportuno, transcrevo o excerto do voto, condutor do acórdão:
“(...)
No mérito, para evitar tautologia adoto os fundamentos da sentença na parte que
assim dispôs:
(...)
- Mérito
3. Revisão do artigo 26 da Lei n° 8.870/1994 (buraco verde)
A ‘recuperação’ do coeficiente teto, em abril de 1994, tem previsão legal no
artigo 26 da Lei nº 8.870, de 15/04/1994, e no § 3º do artigo 21 da Lei nº 8.880,
de 27/05/1994, conhecida como revisão do ‘buraco verde’, in verbis:
Art. 26. Os benefícios concedidos nos termos da Lei nº 8.213, de 24 de julho de
1991, com data de início entre 5 de abril de 1991 e 31 de dezembro de 1993, cuja
renda mensal inicial tenha sido calculada sobre salário-de-benefício inferior à
média dos 36 últimos salários-de-contribuição, em decorrência do disposto no § 2º
do art. 29 da referida Lei, serão revistos a partir da competência abril de 1994,
mediante a aplicação do percentual correspondente à diferença entre a média
mencionada neste artigo e o salário-de-benefício considerado para a concessão.
Parágrafo único. Os benefícios revistos nos termos do caput deste artigo não
poderão resultar superiores ao teto do salário-de-contribuição vigente na
competência de abril de 1994.
Art. 21. Nos benefícios concedidos com base na Lei nº 8.213, de 1991, com data
de início a partir de 1º de março de 1994, o salário-de-benefício será calculado nos
termos do art. 29 da referida Lei, tomando-se os salários-de-contribuição expressos
em URV.[...]
(...)
§3º. Na hipótese de a média apurada nos termos deste artigo resultar superior ao
limite máximo do salário-de-contribuição vigente no mês de início do benefício, a
diferença percentual entre a média e o referido limite será incorporada ao valor do
benefício juntamente com o primeiro reajuste do mesmo após a concessão,
observado que nenhum benefício assim reajustado poderá superar o limite máximo
do salário-de-contribuição vigente na competência em que ocorrer o reajuste.
Além dos benefícios concedidos entre 05/04/1991 e 31/12/1993, que devem ser
revistos nos exatos termos dispositivos acima transcritos, a jurisprudência
atual consagra semelhante consequência a todos os benefícios que sofreram
limitação ao teto quando da concessão.
Com efeito, o Pleno do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE
564354/SE, em 08/09/2010, decidiu que o teto limitador não integra o cálculo do
benefício, motivo pelo qual, se houver alteração do teto, deve ser refletido no valor
do benefício previdenciário.
Desse modo, os reajustes da renda mensal têm por base o valor do salário-de-
benefício efetivamente apurado quando da concessão da prestação,
desconsiderando-se nos reajustes seguintes o limite máximo do salário-de-
contribuição vigente em cada uma das competências, que somente deverá ser
aplicado para efeitos de pagamento.
(...)
Acresço ainda o seguinte.
Recomposição dos valores desprezados pela limitação ao teto - novos tetos
introduzidos pelas Emendas Constitucionais 20/1998 e 41/2003
As contribuições e os benefícios previdenciários encontravam-se sujeitos a dois
limitadores distintos: a) limite máximo do salário de contribuição (atualizado por
diferentes índices utilizados para corrigir as contribuições pagas pelos segurados);
b) teto máximo do salário de benefício (em valor nominal até 2/2004), sendo em
vários períodos maior a correção do primeiro, do que a correção do segundo.
Como limitador do benefício, esse segundo teto somente pode incidir sobre a
quantia paga e não sobre o cálculo do montante devido. Pode assim ser calculado
como devido montante de benefício superior ao limitador de seu pagamento, o que
fará com que sejam pagos benefícios até esse teto, enquanto não majorado por
nova atualização - momento em que o quantum pago pode ser elevado até o novo
teto ou até o quantum devido, “pois coerente com as contribuições efetivamente
pagas” (CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de
Direito Previdenciário. 12 ed. Florianópolis: Conceito Editorial. 2010. p. 557/558).
Assim deve ser compreendida a regra do art. 29, § 2º da Lei nº 8.213/91, que
estipula limite de pagamento ao salário-de-benefício, que será majorado até o teto
sempre atualizado. Daí tampouco desrespeito há ao art. 21, §3º, da Lei 8880/94.
Note-se que como mera interpretação de disposição legal não é caso de
reconhecimento de inconstitucionalidades, sendo a interpretação do cálculo de
incidência imediata (e não retroativa) e tampouco criando benefício sem fonte
correspondente de custeio - é o pagamento correto que se garante.
Tampouco se tem pretensão de equivalência salarial, mas simples definição de que
o teto incide no pagamento e não no cálculo pertinente do montante devido.
Nesse sentido manifestou-se o Supremo Tribunal Federal:
DIREITOS CONSTITUCIONAL E PREVIDENCIÁRIO. REVISÃO DE
BENEFÍCIO. ALTERAÇÃO NO TETO DOS BENEFÍCIOS DO REGIME
GERAL DE PREVIDÊNCIA. REFLEXOS NOS BENEFÍCIOS CONCEDIDOS
ANTES DA ALTERAÇÃO. EMENDAS CONSTITUCIONAIS N. 20/1998 E
41/2003. DIREITO INTERTEMPORAL: ATO JURÍDICO PERFEITO.
NECESSIDADE DE INTERPRETAÇÃO DA LEI INFRACONSTITUCIONAL.
AUSÊNCIA DE OFENSA AO PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE DAS
LEIS. RECURSO EXTRAORDINÁRIO A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. Há pelo menos duas situações jurídicas em que a atuação do Supremo Tribunal
Federal como guardião da Constituição da República demanda interpretação da
legislação infraconstitucional: a primeira respeita ao exercício do controle de
constitucionalidade das normas, pois não se declara a constitucionalidade ou
inconstitucionalidade de uma lei sem antes entendê-la; a segunda, que se dá na
espécie, decorre da garantia constitucional da proteção ao ato jurídico perfeito
contra lei superveniente, pois a solução de controvérsia sob essa perspectiva
pressupõe sejam interpretadas as leis postas em conflito e determinados os seus
alcances para se dizer da existência ou ausência da retroatividade
constitucionalmente vedada.
2. Não ofende o ato jurídico perfeito a aplicação imediata do art. 14 da Emenda
Constitucional n. 20/1998 e do art. 5º da Emenda Constitucional n. 41/2003 aos
benefícios previdenciários limitados a teto do regime geral de previdência
estabelecido antes da vigência dessas normas, de modo a que passem a observar o
novo teto constitucional.
3. Negado provimento ao recurso extraordinário.
(RE 564354, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 08-09-
2010, REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-030 DIVULG 14-02-2011
PUBLIC 15-02-2011 EMENT VOL-02464-03 PP-00487)
Assim sendo, tendo em vista as razões expostas, conclui-se que o pedido inicial
realmente procede, razão pela qual resta mantida a sentença apelada que condenou
o INSS a proceder à revisão da renda mensal do benefício da parte autora, com a
incidência do artigo 26 da Lei nº 8.870, de 15/04/1994, com reflexos na aplicação
dos tetos introduzidos pelas Emendas Constitucionais 20/1998 e 41/2003”.[123]
(grifo do Autor).
E, como esperado, também a Turma Regional de Uniformização da 4ª
Região (TRU4) tem afastado o prazo decadencial da hipótese revisional em
comento, verbis:
PREVIDENCIÁRIO. INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO REGIONAL DE
JURISPRUDÊNCIA. DECADÊNCIA. ARTIGO 103 DA LEI Nº 8.213/91. NÃO
APLICAÇÃO NOS CASOS DE PEDIDO DE REVISÃO COM BASE NO
ARTIGO 26 DA LEI Nº 8.870/94. INCIDENTE PROVIDO. 1. A revisão prevista
no artigo 26 da Lei nº 8.870/94 não se sujeita ao prazo do artigo 103 da Lei de
Benefícios da Previdência Social, por não se tratar de revisão do ato de concessão.
2. Incidente provido. 3. Retorno à Turma de origem para fins de readequação. [124]
Em um único julgado, houve a oportunidade de corroborar inúmeras ideias
lançadas linhas atrás, daí a valia de trazer o extenso voto para a apreciação.
Mas, de volta ao prazo decadencial. Consoante verificado nas lições
acima, não há que se falar em prazo decadencial nas revisões do “buraco negro”,
“buraco verde” e “dos tetos” – entre outros fundamentos – por não terem
qualquer relação com o ato concessório, pois, consoante destacado no julgado
último, o direito a tais revisões “não existia quando do ato de concessão do
benefício, em conformidade com as regras anteriores, o qual, repita-se, por ser
um direito novo à época da concessão inexistente não pode sofrer com os efeitos
negativos de inércia impostos pela decadência.”
Ainda, também na linha defendida por alguns doutrinadores, acolhida pela
majoritária jurisprudência, trata-se a “revisão dos tetos” de pretensão com esteio
em reajustamento, pelo que, sendo posterior ao ato concessório, não há que se
falar em prazo decadencial, assertiva esta amparada, até mesmo, nas Instruções
Normativas do INSS. A reforçar tal afirmação, trazem-se decisões consentâneas:
PREVIDENCIÁRIO. RENDA MENSAL INICIAL. READEQUAÇÃO DO
LIMITE DE PAGAMENTO. RECUPERAÇÃO DOS EXCESSOS
DESPREZADOS NA ELEVAÇÃO DO TETO DAS ECS 20/1998 E 41/2003.
POSSIBILIDADE. PRECEDENTE DO STF. DECADÊNCIA. NÃO
INCIDÊNCIA. PRECEDENTES DO STJ E DO TRF4. PRESCRIÇÃO.
INTERRUPÇÃO DA PRESCRIÇÃO PARA A AÇÃO INDIVIDUAL A CONTAR
DE AJUIZAMENTO DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA. POSSIBILIDADE.
PRECEDENTES DO TRF4. 1. A pretensão de readequação do limite de
pagamentos dos benefícios aos novos tetos estabelecidos nas Emendas
Constitucionais nº 20/98 e 41/03 implica mera adequação no limite de pagamento
mensal do benefício e não constitui hipótese de revisão do ato de concessão da
Renda Mensal Inicial, pelo que não incide o prazo decadencial de 10 (dez) anos
previsto do art. 103 da Lei n. 8.213/1991. Precedentes do STJ (AgInt nos EDcl
no AREsp n. 171.864/PR, 1ª Turma, Rel. Ministro Napoleão Antunes Maia Filho,
julgado em 04/10/2016, publicado em 20/10/2016). Precedentes do TRF4 (Ação
Rescisória nº 0003356-97.2013.404.0000/SC, Rel. Des. Federal Rogério Favreto,
D. E. 01/09/2014). 2. No tocante à prescrição, o ajuizamento da Ação Civil
Pública nº 0004911-28.2011.4.03.6183, perante a 1ª Vara Federal Previdenciária
de São Paulo, em 05/05/2011, com objeto similar ao desta demanda, interrompeu o
prazo prescricional quinquenal, o qual somente voltará a correr depois do trânsito
em julgado da mencionada demanda coletiva, consoante preceituam os artigos 202
e 203, ambos do Código Civil. Nesse sentido, a prescrição atingirá apenas as
eventuais parcelas devidas anteriores ao quinquênio que antecedeu o ajuizamento
da ACP, ou seja, anteriores a 05/05/2006. Precedentes do TRF4 ((TRF4, AC
5074753-69.2016.404.7100, QUINTA TURMA, Relator ROGER RAUPP RIOS,
juntado aos autos em 14/06/2017; TRF4, AC 5051406-16.2016.404.7000, SEXTA
TURMA, Relatora SALISE MONTEIRO SANCHOTENE, juntado aos autos em
07/07/2017; (TRF4, AC 5017144-22.2016.404.7200, QUINTA TURMA, Relator
ROGERIO FAVRETO, juntado aos autos em 22/06/2017). 3. O Pleno do STF, por
ocasião do julgamento do RE 564.354/SE, em 08/09/2010, em sede de repercussão
geral, decidiu que a aplicação imediata do artigo 14 da EC nº 20/98 e do artigo 5º
da EC nº 41/03 aos benefícios previdenciários limitados a teto de pagamento do
Regime Geral de Previdência Social e concedidos antes da vigência dessas
normas, de modo a que passem a observar os novos tetos constitucionais, não
representa aumento ou reajuste, não ofende a garantia do ato jurídico perfeito e
apenas garante readequação dos valores de pagamento aos novos tetos. A mera
limitação de pagamento de um benefício previdenciário a um teto previdenciário
constitui elemento condicionante externo e posterior ao cálculo da renda mensal,
não envolvendo os elementos internos ao ato de concessão. 4. Na hipótese, o
efetivo reconhecimento do direito do segurado à readequação do limite de
pagamento da renda mensal do benefício aos novos tetos do salário-de-benefício
fica condicionado à demonstração de que o salário-de-benefício e a respectiva
renda mensal inicial tenham resultado em valor maior que o teto de pagamento
vigente na época da concessão, o que se dará na fase de liquidação/execução de
sentença. Para efetivação da pretendida readequação, que terá efeitos financeiros a
partir dos reajustes subsequentes à estipulação dos novos tetos pelas EC nº 20/98 e
nº 41/03, ou seja, nos reajustes de junho de 1999 e de maio de 2004, o salário-de-
benefício, sem incidência do teto aplicado na concessão, deverá ser atualizado
pelos mesmos índices de reajuste dos benefícios previdenciários até junho de 1999
e maio de 2004 (épocas em que serão aplicados, respectivamente, os tetos das
Emendas Constitucionais nº 20, de 1998, e nº 41, de 2003). [125] (grifos originais).
PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO INTERNO NOS
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
REVISÃO DE APOSENTADORIA. ADEQUAÇÃO DO BENEFÍCIO
PREVIDENCIÁRIO ÀS EMENDAS CONSTITUCIONAIS 20/1998 E 41/2003.
AFASTADA A DECADÊNCIA DO DIREITO À REVISÃO NOS MOLDES DO
CAPUT DO ART. 103 DA LEI 8.213/1991. AGRAVO INTERNO DO INSS A
QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. É firme a orientação desta Corte de que o prazo decadencial, previsto no
art. 103, caput da Lei 8.213/1991, aplica-se, somente, ao ato de revisão de
concessão ou indeferimento de benefício previdenciário.
2. Na hipótese dos autos, o autor não busca a revisão do ato administrativo, e,
sim, a adequação da renda mensal inicial aos novos tetos estabelecidos,
posteriormente ao ato concessório, pelas Emendas 20/1998 e 41/2003.
3. Em situações assim, o STJ assentou o entendimento de que se tratando de
causa superveniente à concessão do benefício, onde não se busca corrigir o ato
de concessão, somente a adequação dos efeitos da legislação superveniente,
não há incidência do prazo decadencial. Precedentes: REsp. 1.420.036/RS, Rel.
Min. SÉRGIO KUKINA, DJe 14.5.2015 e REsp. 1.506.092/SC, Rel. Min.
HERMAN BENJAMIN, DJe 20.3.2015.
4. Não é demais destacar que o INSS, em sua Instrução Normativa 45/2010,
corrobora tal diretriz, ao estabelecer em seu art. 436, que não se aplicam às
revisões de reajustamento e às estabelecidas em dispositivo legal, os prazos de
decadência de que tratam os arts. 103 e 103-A da Lei 8.213/1991.
5. Agravo Interno do INSS a que se nega provimento.
Acórdão
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira Turma
do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráficas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao agravo interno, nos
termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Benedito Gonçalves,
Sérgio Kukina (Presidente), Regina Helena Costa e Gurgel de Faria votaram com o
Sr. Ministro Relator.[126] (grifo do Autor)
Por fim, em arremate último, não se pode olvidar que o INSS firmou
acordo em uma ação civil pública envolvendo tal hipótese revisional, pelo que
não há mais que se cogitar de eventual prazo decadencial em referida situação,
afinal, conforme já se escreveu a respeito:
Embora o próprio favorecido não tenha sido parte na ACP, até mesmo por lhe
faltar legitimidade para tanto, é fato: a propositura da mesma os beneficia de forma
muito valorosa. Primeiro porque interrompe a seu favor a prescrição[3][4]
permitindo que, observado o prazo de 5 (cinco) anos após o respectivo trânsito em
julgado, se faça jus a receber bem mais do que os “normais” cinco anos de
parcelas vencidas, pois se retroagirá do ajuizamento da ACP e não da execução
individual de tal decisão. Segundo: a causa “já estará ganha”, não havendo mais
qualquer espaço para discussão sobre o direito, somente restando cobrá-lo.
Terceiro: caso seja julgada improcedente, não impede os beneficiários de
intentarem suas ações individuais na busca do mesmo direito inicialmente negado,
pois só se faz coisa julgada com transporte in utilibus, ou seja, se for para
beneficiar [5]– isso porque estamos falando de direitos individuais homogêneos.
E mais: caso se trate de ações que envolvam revisões de benefícios
previdenciários, tal “medida”, como regra, estanca a contagem do prazo
decadencial decenal. Digo estanca, e não interrompe, porque, uma vez decidido
sobre o direito, não há mais que falar em voltar a correr o prazo, pois isso não
acontece com prazos decadenciais. E mais, a prescrição para o recebimento das
parcelas vencidas igualmente é suspensa e permanece durante toda a tramitação do
processo.
(...)
Isso porque, com o ajuizamento da ACP, estancou-se, para todos os ‘interessados’,
o transcurso do prazo decadencial, previsão esta que já existia no Código de
Processo Civil – CPC de 1973 e que se repetiu, inclusive de forma mais clara – no
atual CPC, consoante já destacamos anteriormente.
Quem bem deixa claro isso é o saudoso Carlos Maximiliano[8] em sua obra sobre
hermenêutica jurídica, para quem:
A decadência, não só se não suspende, mas também se não interrompe como a
prescrição: os meios adequados a evitar esta não se aplicam àquela, cujos prazos
são improrrogáveis (2). alguns escritores excetuam um meio interruptivo – o da
propositura da ação competente. na realidade, em tal hipótese, o prazo cessa de
correr; porém isto, longe de constituir exceção ao preceito legal, afigura-se pura e
simplesmente o cumprimento do exigido em lei; esta impõe que o titular do direito
aja em determinado prazo; com acionar, ele age, faz o que a norma positiva lhe
impunha sob pena de decadência. tanto se não trata de interrupção, que o efeito da
propositura, nas duas espécies jurídicas, não é o mesmo: se o autor torna à inércia,
no decurso da causa, durante o lapso prescricional, o seu direito fenece; ao
contrário, um a vez proposta a demanda, estreme de nulidades, em juízo
competente, não mais se renova o curso da decadência, por mais longa que seja a
inatividade do pleiteante: há prescrição intercorrente, porém, jamais caducidade
posterior à contestação da lide. [127]
Já restando pacificada a não incidência de prazo decadencial nas revisões
dos tetos, passa-se agora a falar sobre o direito às parcelas vencidas, bem como
os efeitos da propositura da correspondente ação civil pública.
4 Da ação civil pública intentada, processo Nº 04911-28.2011.4.03.6183/SP, e
a contagem da prescrição quanto às parcelas vencidas
A respeito da revisão em destaque, foi proposta pelo Ministério Público
Federal (MPF) uma Ação Civil Pública (ACP) com o intuito de, após o
reconhecimento do direito pelo STF, impor ao INSS que promovesse as revisões
em nível nacional, sem a necessidade de milhares de ações individuais
revisionais.
Havendo o STF encerrado a discussão quanto ao direito em si à revisão
dos tetos, outro caminho não restou ao INSS senão propor um acordo no qual
esse se comprometeria a revisar os benefícios de ofício, mas, por outro lado,
propondo-se a quitar as parcelas relativas aos 5 anos que antecederam o
ajuizamento da ACP em comentário em suaves parcelas.
Todavia, em um primeiro momento, ainda persistindo em parte dos
Tribunais remansosa jurisprudência, sedimentou-se no sentido de que, caso se
opte por ingressar com ação revisional individual, é possível valer-se da
interrupção da prescrição promovida na ACP em questão, permitindo, assim, por
exemplo, que alguém que hoje buscasse tal direito pudesse receber 12 anos de
atrasados e não somente 05. Não se tem ainda uma posição consolidada a
respeito de tal interrupção, o que se pode perceber nessas duas decisões abaixo,
ambas do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, com conclusões totalmente
paradoxais, senão veja-se:
3. Versando sobre prestações de trato sucessivo, não há que se falar em prescrição
do fundo de direito. Outrossim, sendo da espécie “quinquenal”, a referida
causa extintiva alcança apenas as parcelas porventura devidas antes do
quinquênio que antecedeu o ajuizamento da Ação Civil Pública 4911-
28.2011.4.03.6183 (proposta com o objetivo de assegurar a readequação dos
proventos de aposentadoria aos tetos das EC’s 20/98 e 41/03).
(...)
11. Procedência da ação mantida. Apelações parcialmente providas para
acolher a arguição do autor no sentido de que a interrupção da prescrição
retroage à data da propositura da ACP 4911-28.2011.4.03.6183(05/05/2011)
(...)[128] (grifo do Autor)
(...) 7. O ajuizamento da ação Ação Civil Pública nº 0004911-
28.2011.4.03.6183/SP não autoriza a interrupção da prescrição quinquenal,
porquanto a parte autora optou por ajuizar ação individual postulando a
revisão do seu benefício previdenciário. Dessa forma, não mais se submeteu
aos efeitos da ação coletiva, inclusive no que tange à interrupção do prazo
prescricional, que somente contempla aqueles que não exerceram o direito
individualmente e que poderiam ser beneficiados em futura execução da
sentença favorável prolatada na ação coletiva. Assim, a prescrição atinge as
prestações anteriores ao quinquênio que antecedeu o ajuizamento desta ação,
nos termos do enunciado da Súmula 85 do STJ. (AC 0016158-60.2013.4.01.3800 /
MG, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL FRANCISCO DE ASSIS BETTI,
Rel. Conv. JUIZ FEDERAL CLEBERSON JOSÉ ROCHA (CONV.), SEGUNDA
TURMA, e-DJF1 p.398 de 03/02/2015).[129] (grifo do Autor)
E já há também decisões de primeiro grau adotando a mesma linha de
raciocínio restritiva quanto à prescrição quinquenal, no caso, perante a Justiça
Federal de São Paulo, como se vê:
(…) Aduz a parte autora a interrupção da prescrição quinquenal em razão do
ajuizamento de ação civil pública versando sobre a matéria discutida nesta
demanda.
No que toca à coisa julgada em ações coletivas, o artigo 103 do Código de Defesa
do Consumidor (lei nº 8.078/90) dispõe que, em se tratando de interesses ou
direitos individuais homogêneos - assim entendidos os decorrentes de origem
comum -, a procedência do pedido surtirá os efeitos erga omnes.
No entanto, para que sejam beneficiadas pelos efeitos da ação coletiva todas as
vítimas e respectivos sucessores titulares do direito material discutido é necessário
obedecer ao procedimento específico previsto no artigo 94 da mesma lei, verbis:
“Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a fim de que os
interessados possam intervir no processo como litisconsortes, sem prejuízo de
ampla divulgação pelos meios de comunicação social por parte dos órgãos de
defesa do consumidor”.
No mesmo sentido, dispõe o artigo 104 do CDC que os efeitos da coisa julgada
erga omnes não beneficiarão os autores das ações individuais se não for requerida
a suspensão destas ações no prazo de trinta dias, a contar da ciência nos autos do
ajuizamento da ação coletiva.
Assim, ao ajuizar ação individual posteriormente à ação civil pública, a
autora optou pela exclusão dos efeitos da coisa julgada coletiva, assumindo,
inclusive, o risco do resultado da demanda processual individual, razão pela
qual reconheço a prescrição das parcelas vencidas no quinquênio anterior ao
ajuizamento da demanda. (…)[130] (grifo do Autor)
Para o TRF4:
(…)2. No tocante à prescrição, o ajuizamento da Ação Civil Pública nº
0004911-28.2011.4.03.6183, perante a 1ª Vara Federal Previdenciária de São
Paulo, em 05/05/2011, com objeto similar ao desta demanda, interrompeu o prazo
prescricional quinquenal, o qual somente voltará a correr depois do trânsito em
julgado da mencionada demanda coletiva, consoante preceituam os artigos 202 e
203, ambos do Código Civil. Nesse sentido, a prescrição atingirá apenas as
eventuais parcelas devidas anteriores ao quinquênio que antecedeu o
ajuizamento da ACP, ou seja, anteriores a 05/05/2006. Precedentes do TRF4
((TRF4, AC 5074753-69.2016.404.7100, QUINTA TURMA, Relator ROGER
RAUPP RIOS, juntado aos autos em 14/06/2017; TRF4, AC 5051406-
16.2016.404.7000, SEXTA TURMA, Relatora SALISE MONTEIRO
SANCHOTENE, juntado aos autos em 07/07/2017; (TRF4, AC 5017144-
22.2016.404.7200, QUINTA TURMA, Relator ROGERIO FAVRETO, juntado aos
autos em 22/06/2017).[131] (grifo do Autor)
Por sua vez, para o TRF3:
(…) IV- Com relação à prescrição, é absolutamente pacífica a jurisprudência no
sentido de que o caráter continuado do benefício previdenciário torna
imprescritível esse direito, somente sendo atingidas pela praescriptio as parcelas
anteriores ao quinquênio legal que precede o ajuizamento da ação. Assim, não há
como possa ser considerada, para efeito de prescrição, a data do ajuizamento
ou da publicação da sentença da ação civil pública, tendo em vista que a parte
autora optou por ajuizar a presente ação individual, não aderindo à
mencionada ação coletiva. (…) [132] (grifo do Autor)
(…)3. Considerando que o benefício da parte, xxxxxxxxxxxx, sofreu referida
limitação, fazendo jus à revisão de sua renda mensal para que sejam observados os
novos tetos previdenciários estabelecidos pelas Emendas Constitucionais nºs.
20/1998 e 41/2003, com efeitos financeiros na data das referidas emendas,
respeitada a prescrição a contar da data do ajuizamento da ação (13/04/2012),
considerando não ser possível definir que a interrupção da prescrição
quinquenal ocorra a partir da Ação Civil Pública n. 0004911-
28.2011.4.03.6183, pois o presente feito consiste em ação individual e não em
execução daquele julgado. (...)[133] (grifo do Autor)
PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO INTERNO NO
RECURSO ESPECIAL. ENUNCIADO ADMINISTRATIVO 3/STJ. VIOLAÇÃO
DO ARTIGO 112 DA LEI 8.213/1991. AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 211/STJ. ADEQUAÇÃO AOS TETOS
CONSTITUCIONAIS. EMENDAS CONSTITUCIONAIS 20/1998
E 41/2003. AÇÃO COLETIVA. PARCELAS EM ATRASO. PRESCRIÇÃO
QUINQUENAL CONTADA DO AJUIZAMENTO DA AÇÃO INDIVIDUAL.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. MAJORAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE.
SÚMULA 7/STJ. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO.
1. Acerca da alegada violação do artigo 112 da Lei 8.213/1991, verifica-se que a
matéria não foi abordada pelo acórdão a quo.
Portanto, a pretensão recursal esbarra no óbice imposto pela Súmula 211/STJ que
dispõe in verbis: inadmissível recurso especial quanto à questão que, a despeito da
oposição de embargos declaratórios, não foi apreciada pelo Tribunal a quo.
2. No que toca a interrupção da prescrição pelo ajuizamento da ação civil
pública, o STJ, no julgamento do REsp 1.388.000/PR, sob a sistemática dos
recursos especiais repetitivos, firmou orientação no sentido de que a
propositura da referida ação coletiva tem o condão de interromper a
prescrição para a ação individual.
3. Contudo, a propositura de ação coletiva interrompe a prescrição apenas
para a propositura da ação individual. Em relação ao pagamento de parcelas
vencidas, a prescrição quinquenal tem como marco inicial o ajuizamento da
ação individual. Precedente.
4. A jurisprudência do STJ se firmou no sentido de não ser possível, por meio de
recurso especial, a revisão do critério de justiça e equidade utilizado pelas
instâncias ordinárias para fixação da verba advocatícia, pois tal providência
depende da reapreciação dos elementos fático-probatórios do caso concreto, o que
encontra óbice da Súmula 7/STJ. Precedentes.
5. Agravo interno não provido.[134] (grifo do Autor)
E tudo leva a crer que seja a orientação acima a prevalecente no âmbito do
STJ, por mais esdrúxula que possa parecer a fundamentação. Afinal, se não há
prescrição do fundo de direito, do que adianta interromper a prescrição para a
proposição da ação individual se tal circunstância não traz tal consequência e
qualquer efeito prático, financeiro?
Aliás, em dois julgados monocráticos do dia 14/05/2018, o STJ reformou
dois acórdãos do TRF4 no tocante ao direito de receber os últimos cinco anos
anteriores à propositura da ação civil pública relacionada à “Revisão dos Tetos”:
1.740.148/SC e 1.730.225/RS.
Mas há alternativa para que se assegure os pagamentos das parcelas
vencidas relativas à “revisão dos tetos” desde 05/05/2006. Não por ação
revisional individual, mas sim pela execução provisória individual da multicitada
ACP – pois ainda não transitou em julgado[135] - individual da multicitada ACP,
pelo que se afastaria a autonomia da ação revisional. A propósito, tal
possibilidade restou aventada em dois julgados que se destacou:
(...) considerando não ser possível definir que a interrupção da prescrição
quinquenal ocorra a partir da Ação Civil Pública n. 0004911-
28.2011.4.03.6183, pois o presente feito consiste em ação individual e não em
execução daquele julgado. (...) [136] (grifo do Autor)
(…) Dessa forma, não mais se submeteu aos efeitos da ação coletiva, inclusive
no que tange à interrupção do prazo prescricional, que somente contempla
aqueles que não exerceram o direito individualmente e que poderiam ser
beneficiados em futura execução da sentença favorável prolatada na ação
coletiva. Assim, a prescrição atinge as prestações anteriores ao quinquênio
que antecedeu o ajuizamento desta ação, nos termos do enunciado da Súmula 85
do STJ. (AC 0016158-60.2013.4.01.3800 / MG, Rel. DESEMBARGADOR
FEDERAL FRANCISCO DE ASSIS BETTI, Rel. Conv. JUIZ FEDERAL
CLEBERSON JOSÉ ROCHA (CONV.), SEGUNDA TURMA, e-DJF1 p.398 de
03/02/2015).[137] (grifo do Autor)
Quanto à possibilidade, em si, de se promover execução provisória de ação
coletiva, há precedentes do STJ em sentido favorável: REsp 1.318.917/BA e
AgRg no REsp 436.647/RS.
Oportuno registrar que a apelação do INSS alusiva à ACP em comento foi
recebida somente no efeito devolutivo[138].
E tal execução pode ser promovida em qualquer cidade do país, não sendo
imperativo que a interposição seja necessariamente na Seção Judiciária de São
Paulo, local no qual foi ajuizada a correspondente ACP. Essa também é a
orientação sedimentada no âmbito do STJ, verbis:
DIREITO PROCESSUAL. RECURSO REPRESENTATIVO DE
CONTROVÉRSIA (ART. 543-C, CPC). DIREITOS METAINDIVIDUAIS.
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. APADECO X BANESTADO. EXPURGOS
INFLACIONÁRIOS. EXECUÇÃO/LIQUIDAÇÃO INDIVIDUAL.
FORO COMPETENTE. ALCANCE OBJETIVO E SUBJETIVO DOS EFEITOS
DA SENTENÇA COLETIVA. LIMITAÇÃO TERRITORIAL.
IMPROPRIEDADE. REVISÃO JURISPRUDENCIAL. LIMITAÇÃO AOS
ASSOCIADOS. INVIABILIDADE. OFENSA À COISA JULGADA.
Para efeitos do art. 543-C do CPC: 1.1. A liquidação e a execução individual
de sentença genérica proferida em ação civil coletiva pode ser ajuizada no
foro do domicílio do beneficiário, porquanto os efeitos e a eficácia da sentença
não estão circunscritos a lindes geográficos, mas aos limites objetivos e subjetivos
do que foi decidido, levando-se em conta, para tanto, sempre a extensão do dano e
a qualidade dos interesses metaindividuais postos em juízo (arts. 468, 472 e 474,
CPC e 93 e 103, CDC). (...) [139]
Aliás, somente se falará em provisoriedade quanto aos pontos que foram
objeto da Apelação do INSS, não alcançando o que foi objeto de acordo
entabulado na citada ACP, a exemplo da correção imediata dos benefícios
compreendidos entre 05/04/1991 e 31/12/2003 com direito à revisão em
destaque, eis que fora homologado acordo envolvendo, entre outros tópicos,
esse[140]. Para os tópicos que não foram objeto de insurgência recursal, a
execução seria definitiva, pois já transitado em julgado os correspondentes
capítulos da sentença.
Por fim, uma ressalva: referida execução, seja provisória, seja definitiva, é
incabível no âmbito dos Juizados Especiais Federais, eis que nestes não
comporta ajuizamento de ações coletivas (art. 3º, §1º, I, da Lei nº 10.259/2001),
e, por consequência, as referidas execuções, dado o caráter acessório destas.
Considerações finais
No que toca ao direito à Revisão dos Tetos, após decisão do STF a
respeito, bem como o acordo homologado na Justiça Federal de São Paulo nos
autos da ACP nº 04911-28.2011.4.03.6183, não há qualquer dúvida quanto a tal
garantia.
Igualmente se pode dizer no que tange à inaplicabilidade do prazo
decadencial decenal em tal hipótese revisional, somente restando como ponto
controverso a questão da prescrição e sua interrupção pela ACP promovida pelo
MPF.
Quanto a tal aspecto, diante de tudo que foi exposto, conclui-se que é
necessário que seja revista a linha de entendimento atualmente aplicada pelo STJ
no que concerne à possibilidade de se entender pela interrupção da prescrição
quando ajuizada ação civil pública, pois totalmente ilógico e sem sentido o
posicionamento então assumido quanto a tal ponto.
Mas, até lá, deve se valer da fomentada execução provisória/definitiva da
ACP relativa à “revisão dos tetos”, o que é viável, consoante restou
demonstrado, para com isso se manter hígida a possibilidade de receber as
diferenças devidas desde o quinquênio que a antecedeu.
De toda sorte, não sendo acolhida a tese exposta, uma coisa é certa: o
direito é inconteste, bem como a garantia de se receber, no mínimo, as diferenças
correspondentes aos últimos 5 anos anteriores à propositura de eventual ação
revisional individual, a exemplo dos julgados trazidos e que assim foram
decididos.
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setembro de 2018.
TURMA REGIONAL DE UNIFORMIZAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA DOS
JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS DA 4ª REGIÃO. 5002621-
30.2011.4.04.7119 – Recorrente: RAMIRO EVANEZ DA SILVA – Recorrido:
INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL. Documento eletrônico
disponível em: <https://jurisprudencia.trf4.jus.br> Acesso em: 24 de setembro de
2018.

CAPÍTULO 12
TRANSFORMAÇÃO DA APOSENTADORIA POR
IDADE EM APOSENTADORIA POR IDADE
HÍBRIDA: REVISÃO DE APOSENTADORIA

RENATA BRANDÃO CANELLA
Advogada, graduada em Direito pela Universidade Estadual de Londrina (UEL),
Mestre em Processo Civil e Especialista em Direito Empresarial pela
Universidade Estadual de Londrina (UEL), Especialista em Direito do Trabalho
pela AMATRA, docente de Processo Civil e Direito Previdenciário na faculdade
UNINORTE nos anos de 2003 a 2007, escritora de artigos especializados,
palestrante, sócia e gestora do Escritório Brandão Canella Advogados
Associados, membro associado do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário
(IBDP), membro da Comissão de Direito Previdenciário da OAB Londrina de
2014 a 2016, presidente da Associação Brasileira dos Advogados
Previdenciários (ABAP)
Introdução
Este artigo tem o intuito de trazer à tona um novo tipo de revisão
previdenciária: a transformação da aposentadoria por idade em aposentadoria
por idade híbrida ou mista.
Antes, porém, faz-se necessário traçar alguns parâmetros sobre a
concessão da aposentadoria por idade e da aposentadoria por idade híbrida ou
mista.
A Lei nº 11.718/2008 trouxe nova redação ao art. 48 da Lei nº 8.213/91,
incluindo em seu § 3º uma nova espécie de benefício de aposentadoria por idade,
intitulada híbrida ou mista. Tal Lei contemplou os trabalhadores rurais que
migraram para a cidade e não tinham o período de carência suficiente para a
aposentadoria prevista para os trabalhadores urbanos nem para os trabalhadores
rurais, agindo como uma forma de tampão a um antigo limpo jurídico existente.
Assim, a aposentadoria híbrida ou mista é um benefício previdenciário
destinado ao trabalhador que não alcance a carência mínima necessária, ou seja,
180 meses ou 15 anos, estabelecida no art. 142 da Lei nº 8.213/91, em uma única
categoria laborativa, desde que completos os 65 anos de idade, se homem, e 60
anos, se mulher. Esta é a grande inovação trazida no § 3º: a não exigência de que
a carência seja implementada em uma única categoria de contribuição, sendo
permitida a soma dos períodos trabalhados em atividade urbana e rural.
Com a nova redação atribuída ao art. 48, também se tornou possível que os
segurados que se aposentaram por idade urbana com a aplicação do coeficiente
de cálculo relativamente baixo, 85%, por exemplo, que conseguiram computar
somente o tempo mínimo exigido como carência (180 contribuições –
equivalente a 15 anos de contribuição, em regra), possam requerer uma revisão,
pleiteando que seja averbado o trabalho rural realizado em data posterior à
vigência da Lei nº 8.213/91, sem a necessidade de indenização ao sistema, o que
irá, por conseguinte, resultar em uma nova renda mensal inicial diante da
incidência de novo coeficiente de cálculo, bem como no pagamento de valores
em atraso (observada a prescrição quinquenal).
1 Breve histórico
O Brasil é mundialmente reconhecido como um grande produtor de grãos,
cereais e cana de açúcar. Além da agricultura, a pecuária sempre forte
estabeleceu o grande lastro rural do país.
Os pequenos produtores desenvolviam a atividade agrícola com o auxílio
de suas famílias e, assim, desde muito cedo, os filhos ajudavam os pais nas
atividades rotineiras da zona rural, tais como, plantio, capina, colheita, dentre
outras. Os filhos cresciam no ambiente rurícola e muitos por ali permaneciam,
constituíam nova família e o ciclo se reiniciava. Tal cenário também se fazia
presente nas grandes propriedades, pois os fazendeiros, diante da grande
produção percebida, necessitavam cada dia mais de mão-de-obra e, com isso,
novas famílias iam se instalando na propriedade para trabalhar.
A partir da adoção de tecnologias agroindustriais mecanizadas, que acabou
por substituir parte do serviço braçal no campo, e também pelo duro cotidiano
ofertado pelo labor realizado na zona rural, muitos trabalhadores optaram por
migrar da zona rural para a área urbana, em busca de uma maior escolarização e
de melhores oportunidades de trabalho, influenciando sistematicamente o
processo do êxodo rural.
Estes trabalhadores deixaram para trás, em geral, muitos anos de labor
rural não regulamentado, fato que contribuiu para a redução do valor de sua
aposentadoria, sobretudo porque os segurados, anteriores à Lei nº 11.718/2008
(que estabeleceu a aposentadoria por idade híbrida), não conseguiam somar o
período laborado no âmbito rural ao período laborado na área urbana para fins de
carência e concessão da Aposentadoria por Idade.
2 Modalidades de aposentadoria por idade
2.1 Aposentadoria por idade urbana
A aposentadoria por idade urbana é o termo dado para o benefício
previdenciário anteriormente intitulado como “aposentadoria por velhice”.
Consiste na concessão de benefício previdenciário programável aos segurados
urbanos quando do preenchimento de dois requisitos cumulativos, quais sejam:
idade e carência, com fulcro no dispositivo legal do art. 48, caput, da Lei nº
8.213/91.
A idade exigida para o requerimento do supracitado benefício
previdenciário é de 65 anos para os homens e de 60 anos para as mulheres,
corroborada ao cumprimento da carência mínima fixada em 15 anos (180
contribuições), com excessão daqueles segurados que são abrangidos pela
aplicação da tabela progressiva (art. 142, da Lei nº 8.213/91, redação dada pela
Lei nº 9.032/95).
A concessão da aposentadoria por idade urbana se dá de forma
proporcional ao tempo contributivo (ou de serviço) e com a aplicação do fator
previdenciário somente em casos favoráveis (fator maior que 1).
A proporcionalidade da aposentadoria por idade ocorre da forma
mencionada no art. 50 da Lei nº 8.213/91, que diz:
Art. 50. A aposentadoria por idade, observado o disposto na Seção III deste
Capítulo, especialmente no art. 33, consistirá numa renda mensal de 70% (setenta
por cento) do salário-de-benefício, mais 1% (um por cento) deste, por grupo de 12
(doze) contribuições, não podendo ultrapassar 100% (cem por cento) do salário-
de-benefício.
Assim uma aposentadoria por idade urbana concedida a um segurado que
possuia somente 15 anos de contribuição (tempo exigido de carência para a
concessão desta espécie de benefício) será proporcional, ou seja, será calculada
pela média das contribuições efetuadas durante toda sua vida contributiva (regra
geral - embasamento para a revisão da vida toda) ou de julho de 1994 até a data
da aposentadoria (regra de transição), observado o mínimo divisor, com a
aplicação do coeficiente de 70% (setenta por cento) mais 1% (um por cento) por
ano trabalhado, ou seja, cumprida a carência mínima exigida para a concessão do
benefício previdenciário de aposentadoria por idade urbana, o segurado
perceberá um coeficiente de 85%, equivalente aos 15 anos laborados em
atividade urbana e que, consequentemente, verteu contribuições. Assim sendo,
para que um segurado alcance uma aposentadoria urbana de maneira integral,
necessitará possuir no mínimo 30 anos de contribuição, eis que o limite máximo
para a incidência do coeficiente é de 100%.
Ainda, incidirá sobre o salário-de-benefício do segurado, somente se
positivo, o fator previdenciário – fórmula que leva em conta a idade do
segurado, a expectativa de vida e o tempo de contribuição (art. 7º da Lei nº
9.876/99).
2.2 Aposentadoria por idade rural
O benefício previdenciário de aposentadoria por idade rural é concedido a
apenas uma restrita parcela de segurados, quais sejam: segurado empregado,
trabalhador eventual, trabalhador avulso e o segurado especial (art. 11, “h”, VII,
da Lei nº 8.213/91) que comprovem também o preenchimento de dois requisitos:
idade e carência.
Os supracitados segurados são beneficiados com a redução em 5 anos da
idade mínima exigida. Assim, para requerer o benefício de aposentadoria por
idade rural, os homens necessitam possuir no mínimo 60 anos de idade e as
mulheres, 55 anos de idade (§ 1º do art. 48, da Lei nº 8.213/91), e a carência
mínima exigida deve ser cumprida integralmente pelo trabalho rural (§ 2º do art.
48, da Lei nº 8.213/91).
Os segurados especiais são aqueles disciplinados pela Lei nº 8.213/91, em
seu art. 11, “h”, VII e suas alíneas, conforme segue:
Art. 11. São segurados obrigatórios da Previdência Social as seguintes pessoas
físicas: (...) VII – como segurado especial: a pessoa física residente no imóvel rural
ou em aglomerado urbano ou rural próximo a ele que, individualmente ou em
regime de economia familiar, ainda que com o auxílio eventual de terceiros, na
condição de: a) produtor, seja proprietário, usufrutuário, possuidor, assentado,
parceiro ou meeiro outorgados,comodatário ou arrendatário rurais, que explore
atividade: (Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008)
1. agropecuária em área de até 4 (quatro) módulos fiscais; (Incluído pela Lei nº
11.718, de 2008)
2. de seringueiro ou extrativista vegetal que exerça suas atividades nos termos
do inciso XII do caput do art. 2º da Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, e faça
dessas atividades o principal meio de vida; (Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008)
b) pescador artesanal ou a este assemelhado que faça da pesca profissão habitual
ou principal meio de vida; e (Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008)
c) cônjuge ou companheiro, bem como filho maior de 16 (dezesseis) anos de idade
ou a este equiparado, do segurado de que tratam as alíneas a e b deste inciso, que,
comprovadamente, trabalhem com o grupo familiar respectivo. (Incluído pela Lei
nº 11.718, de 2008)
Os segurados enquadrados no supracitado artigo, diante da sua
hipossuficiência frente à obrigatoriedade de recolhimento previdenciário mensal,
dispõem de uma maior proteção, eis que necessitam apenas comprovar o
desempenho de labor pelo mínimo da carência exigida (15 anos de trabalho em
regime de economia familiar), não sendo exigido o efetivo recolhimento
correspondente. Entretanto, receberão benefício previdenciário em valor mínimo
(salário-mínimo vigente), nunca superior a esse valor.
2.3 Aposentadoria por idade híbrida ou mista: pressupostos
Conforme já ventilado, a Lei nº 11.718/2008 redigiu o artigo o art. 48 da
Lei nº 8.213/91, incluindo em seu § 3º uma nova espécie de benefício de
aposentadoria por idade, intitulada híbrida ou mista, a favorecer os trabalhadores
rurais que migraram para a cidade e não tinham o período de carência suficiente
para a aposentadoria prevista para os trabalhadores urbanos, tampouco para os
trabalhadores rurais, agindo como uma forma de tampão legal.
Dessa forma, a aposentadoria híbrida ou mista é um benefício
previdenciário destinado ao trabalhador que não alcance a carência mínima
necessária, ou seja, 180 meses ou 15 anos, estabelecida no art. 142 da Lei nº
8.213/91, em uma única categoria laborativa, desde que completos os 65 anos de
idade, se homem, e 60 anos, se mulher. Esta é a grande inovação trazida no § 3º,
a saber, a não exigência de que a carência seja implementada em uma única
categoria de contribuição, sendo permitida a soma dos períodos trabalhados em
atividade urbana e rural. Segue o art. 48 da Lei nº 8.213/91, na íntegra, com as
alterações incluídas pela Lei nº 11.718/2008:
Art. 48. A aposentadoria por idade será devida ao segurado que, cumprida a
carência exigida nesta Lei, completar 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se
homem, e 60 (sessenta), se mulher.
§ 1º Os limites fixados no caput são reduzidos para sessenta e cinqüenta e cinco
anos no caso de trabalhadores rurais, respectivamente homens e mulheres,
referidos na alínea a do inciso I, na alínea g do inciso V e nos incisos VI e VII do
art. 11. (Redação Dada pela Lei nº 9.876, de 26.11.99)
§ 2º Para os efeitos do disposto no § 1º deste artigo, o trabalhador rural deve
comprovar o efetivo exercício de atividade rural, ainda que de forma descontínua,
no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício, por tempo igual
ao número de meses de contribuição correspondente à carência do benefício
pretendido, computado o período a que se referem os incisos III a VIII do § 9o do
art. 11 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 11,718, de 2008)
§ 3º Os trabalhadores rurais de que trata o § 1º deste artigo que não atendam ao
disposto no § 2º deste artigo, mas que satisfaçam essa condição, se forem
considerados períodos de contribuição sob outras categorias do segurado, farão jus
ao benefício ao completarem 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e 60
(sessenta) anos, se mulher. (Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008)
§ 4º Para efeito do § 3º deste artigo, o cálculo da renda mensal do benefício será
apurado de acordo com o disposto no inciso II do caput do art. 29 desta Lei,
considerando-se como salário-de-contribuição mensal do período como segurado
especial o limite mínimo de salário-de-contribuição da Previdência Social.
(Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008).
O artigo acima mencionado assegura que os trabalhadores rurais, que não
atendam à carência mínima exigida para a concessão do benefício de
aposentadoria por idade rural, façam uso dos períodos de contribuição anteriores
ou posteriores ao labor rural, em outras categorias de segurado (empregado,
doméstico, trabalhador avulso, contribuinte individual, facultativo, dentre
outras), para completar a carência exigida de 180 meses, com o acréscimo de 05
anos na idade, ou seja, a idade equivalente àquela exigida na aposentadoria por
idade urbana (60 anos para mulheres e 65 anos para homens).
Assegura também, em linha contrária, que os trabalhadores urbanos que
não atendam à carência mínima exigida para a concessão do benefício de
aposentadoria por idade urbana, porém já completaram a idade mínima de 60
anos para mulheres e 65 anos para homens, façam uso dos períodos trabalhados
na zona rural, para completar a carência exigida de 180 meses.
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) sedimentou jurisprudência no sentido
de que a aposentadoria por idade mista ou híbrida tem como finalidade
compatibilizar a realidade do êxodo rural, conforme precedente:
PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. RECURSO ESPECIAL.
APOSENTADORIA POR IDADE HÍBRIDA. VIOLAÇÃO DO ARTIGO 53 DO
CP. NÃO CARACTERIZAÇÃO. JULGAMENTO EXTRA PETITA NÃO
OCORRÊNCIA. ARTIGO 48, § 3º E 4º DA LEI 8.213/91, COM A REDAÇÃO
DADA PELA LEI 11.718/2008. OBSERVÂNCIA. RECURSO ESPECIAL
CONHECIDO E NÃO PROVIDO. 1. A Lei 1.718/208 introduziu no sistema
previdenciário brasileiro uma nova modalidade de aposentadoria por idade
denominada aposentadoria por idade híbrida. 2. Neste caso, permite-se ao
segurado mesclar o período urbano a período rural e vice-versa, para implementar
carência mínima necessária e obter o benefício etário híbrido. 3. Não atendendo o
segurado especial à regra básica para a aposentadoria rural por idade com
comprovação de atividade rural, segundo a regra de transição prevista no art. 142
da Lei 8.213/1991, o § 3º do art. 48 da Lei 8.213/1991, introduzido pela Lei
11.718/2008, permite que aos 65 anos, se homem e 60 anos, mulher, o segurado
preencha o período de carência faltante com períodos de contribuição de outra
qualidade de segurado, calculando-se o benefício de acordo com o § 4º do art. 48.
4. Considerando que a intenção do legislador foi a de permitir aos trabalhadores
rurais, que se enquadrem nas categorias de segurado empregado, contribuinte
individual, trabalhador avulso e segurado especial, o aproveitamento do tempo
rural mesclado no tempo urbano, preenchendo inclusive carência, o direito à
aposentadoria por idade híbrida deve ser reconhecido. 5. Recurso especial
conhecido e não provido.[141]
Para a concessão da aposentadoria por idade, na modalidade híbrida, não
importa, qual seja a atividade exercida pelo segurado ao tempo do requerimento
administrativo, se rural ou urbana, a Lei não prevê qualquer distinção quanto às
atividades exercidas, inclusive não impõe qualquer proporção, ou
predominância. Sobre este assunto a Súmula nº 103 do Tribunal Regional
Federal da 4ª Região (TRF4) pacificou o seguinte entendimento:
A concessão da aposentadoria híbrida ou mista, prevista no art. 48, §3º, da Lei nº
8.213/91, não está condicionada ao desempenho de atividade rurícola pelo
segurado no momento imediatamente anterior ao requerimento administrativo,
sendo, pois, irrelevante a natureza do trabalho exercido neste período.
Nesta espécie de aposentadoria, o segurado pode ter trabalhado no âmbito
rural em qualquer momento de sua vida laboral, inclusive quando jovem ou
criança (segundo novo entendimento do TRF4), não havendo idade mínima para
o início do computo da atividade rural em regime de economia familiar ou como
segurado especial rural, desde que o trabalho seja efetivamente comprovado por
documentos (prova material) e testemunhas.
Em recente decisão proferida em Ação Civil Pública (ACP) promovida
pelo Ministério Público Federal (MPF), sobre a possibilidade de ser computado
o período de trabalho para fins previdenciários sem limitação de idade mínima, o
Tribunal Regional Federal da 4ª Região decidiu da seguinte maneira:
DIREITO PREVIDENCIÁRIO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA MOVIDA PELO
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PARA AFASTAR A IDADE MÍNIMA
PREVISTA NO ART. 11 DA LEI 8.213/91 PARA FINS DE
RECONHECIMENTO DE TEMPO DE SERVIÇO E DE CONTRIBUIÇÃO.
INTERESSE DE AGIR DO MPF. RECONHECIMENTO. EFEITOS JURÍDICOS
DA SENTENÇA. ABRANGÊNCIA NACIONAL DA DECISÃO PROLATADA
EM AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ART. 16 DA LEI. 7.347/85. INTERPRETAÇÃO
DO ART. 7º, XXXIII DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. TRABALHO INFANTIL
X PROTEÇÃO PREVIDENCIÁRIA. REALIDADE FÁTICA BRASILEIRA.
INDISPENSABILIDADE DE PROTEÇÃO PREVIDENCIÁRIA ÀS
CRIANÇAS. POSSIBILIDADE DE SER COMPUTADO PERÍODO DE
TRABALHO SEM LIMITAÇÃO DE IDADE MÍNIMA. ACP
INTEGRALMENTE PROCEDENTE. JULGAMENTO PELO COLEGIADO
AMPLIADO. ART. 942 DO CPC. RECURSO DO MPF PROVIDO. APELO DO
INSS DESPROVIDO. (…) São inúmeras as crianças que desde tenra idade são
levadas ao trabalho por seus próprios pais para auxiliarem no sustento da família.
Elas são colocadas não só em atividades domésticas, mas também, no meio rural
em serviços de agricultura, pecuária, silvicutura, pesca e até mesmo em atividades
urbanas (vendas de bens de consumos, artesanatos, entre outros). 8. Além disso, há
aquelas que laboram em meios artísticos e publicitários (novelas, filmes,
propagandas de marketing, teatros, shows). E o exercício dessas atividades,
conforme a previsão do art. 11 da Lei nº 8.213/91, enseja o enquadramento como
segurado obrigatório da Previdência Social. 9. É sabido que a idade mínima para
fins previdenciários é de 14 anos, desde que na condição de aprendiz. Também é
certo que a partir de 16 anos o adolescente pode obter a condição de segurado com
seu ingresso no mercado de trabalho oficial e ainda pode lográ-lo como
contribuinte facultativo. 10. Todavia, não há como deixar de considerar os dados
oficiais que informam existir uma gama expressiva de pessoas que, nos termos do
art. 11 da LBPS, apesar de se enquadrarem como segurados obrigatórios, possuem
idade inferior àquela prevista constitucionalmente e não têm a respectiva proteção
previdenciária. (…) Aliás, é possível a proteção previdenciária nesses casos? No
caso de eventual ocorrência de algum acidente relacionado a esse tipo de trabalho,
a criança teria direito a algum benefício previdenciário, tal como o auxílio
acidente? 15. No campo da seguridade social extrai-se da norma constitucional
(art. 194, parágrafo único) o princípio da universalidade da cobertura e do
atendimento que preconiza que a proteção social deve alcançar a todos os
trabalhadores do território nacional que dela necessitem. Por corolário lógico,
incluem-se nessa proteção social aquelas crianças ou adolescentes que exerceram
algum tipo de labor. 16. A despeito de haver previsão legal quanto ao limite etário
(art. 13 da Lei 8.213/91, art. 14 da Lei 8.212/91 e arts. 18, § 2º do Decreto
3.048/99) não se pode negar que o trabalho infantil, ainda que prestado à revelia da
fiscalização dos órgãos competentes, ou mediante autorização dos pais e
autoridades judiciárias (caso do trabalho artístico e publicitário), nos termos dos
arts. 2º e 3º da CLT, configura vínculo empregatício e fato gerador do tributo à
seguridade, nos termos do inciso I do art. 195 da Constituição Federal. 17. Assim,
apesar da limitação constitucional de trabalho do infante (art. 157, IX da CF/46,
art. 165, X da CF/67 e art. 7º, XXIII, da CF/88), para fins de proteção
previdenciária, não há como fixar também qualquer limite etário, pois a adoção de
uma idade mínima ensejaria ao trabalhador dupla punição: a perda da plenitude de
sua infância em razão do trabalho realizado e, de outro lado, o não
reconhecimento, de parte do INSS, desse trabalho efetivamente ocorrido. 18.
Ressalte-se, contudo, que para o reconhecimento do trabalho infantil para fins de
cômputo do tempo de serviço é necessário início de prova material, valendo
aquelas documentais existentes em nome dos pais, além de prova testemunhal
idônea. 19. Desse modo, para fins de reconhecimento de tempo de serviço e de
contribuição pelo exercício das atividades descritas no art. 11 da Lei 8.213/91,
mostra-se possível ser computado período de trabalho realizado antes dos 12 anos
de idade, qual seja sem a fixação de requisito etário. 20. Recurso do INSS
desprovido. Apelação do MPF provida.[142]
Ao proferir seu voto, a Desembargadora Federal Salise Monteiro
Sanchotene, atestou que a decisão que suprimiu a idade mínima para fins
previdenciários produzirá efeitos erga omnes, ou seja, estendendo-se a todo
território nacional:
(…) o INSS figura no polo passivo da ação civil pública, bem como exerce suas
atribuições institucionais em âmbito nacional, impõe-se que a Autarquia cumpra a
sentença em relação a todos os seus segurados, independentemente de estes
situarem-se em local distinto da jurisdição do prolator do ato judicial.[143]
A prova do trabalho rural pode ser feita por diversos documentos, a
exemplo de certidão de casamento, histórico escolar de escola rural, título
eleitoral antigo, recibos de pagamento de salário ou diárias, certidões de
casamento e nascimento, etc., além de testemunhas.
Outro ponto de destaque é que o trabalho rural, na aposentadoria por idade
híbrida ou mista, pode ser computado mesmo sem a devida contraprestação aos
cofres públicos (sem o devido recolhimento previdenciário), inclusive após
1991, e poderá ser computado para fins de carência, bastando a comprovação do
labor campesino. Segue precedente da Segunda Turma do STJ sobre o tema:
PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. RECURSO ESPECIAL.
APOSENTADORIA POR IDADE HÍBRIDA. VIOLAÇÃO DO ARTIGO 535 DO
CPC. NÃO CARACTERIZAÇÃO. JULGAMENTO EXTRA PETITA. NÃO
OCORRÊNCIA. ARTIGO 48, §§ 3o E 4o DA LEI 8.213/1991, COM A
REDAÇÃO DADA PELA LEI 11.718/2008. OBSERVÂNCIA. RECURSO
ESPECIAL CONHECIDO E NÃO PROVIDO. 1. A Lei 11.718/2008 introduziu
no sistema previdenciário brasileiro uma nova modalidade de aposentadoria por
idade denominada aposentadoria por idade híbrida.
2. Neste caso, permite-se ao segurado mesclar o período urbano ao período rural e
vice-versa, para implementar a carência mínima necessária e obter o benefício
etário híbrido. 3. Não atendendo o segurado rural à regra básica para aposentadoria
rural por idade com comprovação de atividade rural, segundo a regra de transição
prevista no artigo 142 da Lei 8.213/1991, o § 3o do artigo 48 da Lei 8.213/1991,
introduzido pela Lei 11.718/2008, permite que aos 65 anos, se homem e 60 anos,
mulher, o segurado preencha o período de carência faltante com períodos de
contribuição de outra qualidade de segurado, calculando-se o benefício de acordo
com o § 4o do artigo 48. 4. Considerando que a intenção do legislador foi a de
permitir aos trabalhadores rurais, que se enquadrem nas categorias de segurado
empregado, contribuinte individual, trabalhador avulso e segurado especial, o
aproveitamento do tempo rural mesclado ao tempo urbano, preenchendo inclusive
carência, o direito à aposentadoria por idade híbrida deve ser reconhecido. 5.
Recurso especial conhecido e não provido.[144]
E ainda, o voto do Ministro Relator Mauro Campbell Marques[145], nos
mesmos autos, discorre especificamente sobre o tema e acerca da consideração
do período rural como carência e tempo, sem a necessidade de recolhimento de
contribuições previdenciárias.
Evita-se ignorar todo um passado de trabalho rural. Se o tempo de exercício de
atividade rural que faltava para o ex-trabalhador rural se aposentar por idade é
preenchido por contribuições efetivamente recolhidas para a seguridade social, é
devida a prestação previdenciária. O próprio legislador permitiu ao rurícola o
cômputo de tempo rural como período contributivo, para efeito de cálculo e
pagamento do benefício etário rural. Assim, sob o enfoque da atuária, não se
mostra razoável exigir do segurado especial contribuição para obtenção da
aposentadoria por idade híbrida, relativamente ao tempo rural. Por isso, não se
deve inviabilizar a contagem do trabalho rural como período de carência. No
período como trabalhador rural, diante da ausência de contribuições
previdenciárias, deve ser considerado para fins de cálculo atuarial o valor do
salário mínimo. Esta, no meu modo de sentir, a inteligência do § 4º do artigo 48 da
Lei de Benefícios.
E continua:
A modalidade híbrida trazida pela Lei 11.718/2008 permite uma adequação da
norma para as categorias de trabalhadores urbanos e rurais. Possibilitou ao
segurado especial a soma do tempo de atividade rural sem contribuições
previdenciárias ao tempo de contribuição em outra classificação de segurado, com
a finalidade de implementar o tempo necessário de carência. Essa a interpretação a
ser dada ao § 3o do artigo 48 da Lei 8.213/1991. Destarte, o segurado especial que
comprove a condição de rurícola, mas não consiga cumprir o tempo rural de
carência exigido na tabela de transição prevista no artigo 142 da Lei 8.213/1991 e
que tenha contribuído sob outras categorias de segurado, poderá ter reconhecido o
direito ao benefício aposentadoria por idade híbrida, desde que a soma do tempo
rural com o de outra categoria implemente a carência necessária contida na Tabela,
não ocorrendo, por certo, a diminuição da idade.
Pontua-se, ainda, que a qualidade de segurado não é requisito para esta
espécie de aposentadoria, não havendo diferença se a pessoa está ou não
exercendo atividade rural ou urbana no momento em que completa a idade ou
apresenta o requerimento administrativo, seguindo os moldes da aposentadoria
por idade urbana. Sobre o tema já se manifestou a Terceira Seção do TRF4, na
qual o Desembargador Federal Ricardo Teixeira do Valle Pereira, relator para o
acórdão, destacou:
Ao § 3º do artigo 48 da LB não pode ser emprestada interpretação restritiva.
Tratando-se de trabalhador rural que migrou para a área urbana, o fato de não estar
desempenhando atividade rural por ocasião do requerimento administrativo não
pode servir de obstáculo à concessão do benefício. A se entender assim, o
trabalhador seria prejudicado por passar contribuir, o que seria um contrassenso. A
condição de trabalhador rural, ademais, poderia ser readquirida com o desempenho
de apenas um mês nesta atividade. Não teria sentido se exigir o retorno do
trabalhador às lides rurais por apenas um mês para fazer jus à aposentadoria por
idade. O que a modificação legislativa permitiu foi, em rigor, o aproveitamento do
tempo rural para fins de carência, com a consideração de salários-de contribuição
pelo valor mínimo, no caso específico da aposentadoria por idade aos 60 (sessenta)
ou 65 (sessenta e cinco) anos (mulher ou homem). A verdade é que em uma
situação como esta, o segurado não deixou de trabalhar; apenas mudou de regime.
Não pode ser prejudicado pelo fato de ter passado a contribuir como trabalhador
urbano. Tivesse continuado a trabalhar como agricultor em regime de economia
familiar, sem efetuar qualquer recolhimento de contribuições, poderia ter obtido
aposentadoria em aos 55 (cinqüenta e cinco) ou 60 (sessenta) anos de idade sem
qualquer problema. Não há razão, assim, para que se negue o direito ao benefício,
em com requisito etário mais rigoroso, somente porque passou a recolher
contribuições. Assim, sob pena de se relegar ao desamparo quem jamais deixou de
exercer atividade laborativa, há de se adotar entendimento no sentido de
reconhecer o direito à aplicação da regra do artigo 48, § 3º, da Lei 8.213/91 a todos
os trabalhadores que tenham desempenhado de forma intercalada atividades
urbanas e rurais.” Quanto à natureza do benefício, no mesmo voto, observa: “Há
de se considerar, ainda, que a denominada aposentadoria mista ou híbrida, por
exigir que o segurado complete 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e
60 (sessenta) anos, se mulher, em rigor é uma aposentadoria de natureza urbana.
Quando menos, para fins de definição de regime deve ser equiparada à
aposentadoria urbana. Com efeito, a Constituição Federal, em seu artigo 201, § 7º,
II, prevê a redução do requisito etário apenas para os trabalhadores rurais.
Exigidos 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e 60 (sessenta) anos, se
mulher, a aposentadoria mista é, pode-se dizer, subespécie da aposentadoria
urbana. Esta constatação (da similaridade da denominada aposentadoria mista ou
híbrida com a aposentadoria por idade urbana) prejudica, como já anunciado, a
questão ligada à descontinuidade do tempo (rural e urbano) e bem assim, a
discussão sobre o fato de não estar desempenhando o segurado atividade rural ao
implementar o requisito etário.” A questão é objeto da Súmula nº 103 deste
Tribunal, literis: “A concessão da aposentadoria híbrida ou mista, prevista no art.
48, § 3º, da Lei nº 8.213/91, não está condicionada ao desempenho de atividade
rurícola pelo segurado no momento imediatamente anterior ao requerimento
administrativo, sendo, pois, irrelevante a natureza do trabalho exercido neste
período.” Decorrência, ainda, da inexigência de simultaneidade na implementação
dos requisitos, o fato de o tempo de carência a ser comprovado consolidar-se na
data da implementação do requisito etário: não possuindo nesta data o tempo de
contribuição exigido para aposentadoria, pode o segurado cumpri-lo
posteriormente pelo mesmo período então previsto, sendo incorreta a exigência de
novo enquadramento na tabela do art. 142 em função da data do requerimento
administrativo. [146]
Ademais, Carlos Alberto Pereira de Castro e João Batista Lazari lecionam
que:
Vale observar também que esse benefício possui sistemática de cálculo do salário
de benefício idêntica à prevista para concessão da aposentadoria por invalidez e
especial, conforme determina o § 4º do art. 48 da Lei n. 8.213/91, ou seja, poderá
até mesmo ter valor superior ao do salário mínimo.Assim, para o cálculo do salário
de benefício serão considerados os maiores salários de contribuição do segurado
equivalentes a 80% do total do período contributivo de julho de 1994 em diante
(art. 29, II,da Lei n. 8.213/91), assim entendidos: o valor do salário mínimo para os
períodos como segurado especial (sem contribuiçãofacultativa), para os outros
períodos de contribuição exercidos sob outras categorias de segurados, os salários
de contribuição respectivos referentes a tais categorias de segurados. O coeficiente
de cálculo será de 70% do salário de benefício, mais o acréscimo de 1% para
cadagrupo de 12 contribuições até o máximo de 100% do salário de benefício. No
caso, para efeito defixação do coeficiente, serão consideradas as contribuições
diretas e, também, os meses de efetivo exercício de atividade rural como segurado
especial. Exemplificando, no caso de um segurado que possua 10 anos de tempo
rural e 5 de tempo urbano, o coeficiente de cálculo será de 85%, aplicável sobre o
salário de benefício. Nesta forma de aposentadoria não se aplica o fator
previdenciário, mesmo que pudesse ser superior a 1,0 – pois a referência feita pelo
art. 48, § 4º, da Lei n. 8.213/91 (inserido pela Lei n. 11.718/2008) remete ao
critério de cálculo dos benefícios não sujeitos ao Fator Previdenciário. [147]
Portando, observa-se que a forma de cálculo do salário de benefício, na
aposentadoria por idade híbrida, é idêntica à prevista na aposentadoria especial e
na aposentadoria por invalidez, conforme art. 48, § 4 º da Lei nº 8.213/91,
podendo ser superior ao salário-mínimo. Não há a incidência do fator
previdenciário, mesmo que positivo. Para o cálculo do salário de benefício,
observa-se: a) o valor do salário-mínimo para os períodos como segurado
especial; e b) para os demais períodos, os salários de contribuição referentes a
outras categorias de segurados.
3 Revisão: transformação da aposentadoria por idade em aposentadoria por
idade híbrida
Traçados estes parâmetros, existe a possibilidade de o segurado
aposentado por idade urbana, com data de concessão posterior a Lei nº
11.718/2008, que não tenha computado os períodos laborados no âmbito rural na
concessão de sua aposentadoria o faça, por meio da realização de uma revisão de
benefício previdenciário, convertendo a aposentadoria por idade em
aposentadoria híbrida, com a majoração do coeficiente, caso este não tenha sido
limitado em 100%, objetivando assim um melhor benefício.
O voto proferido pela Desembargadora Federal Salise Monteiro
Sanchotene, no julgamento da Apelação Cível de nº 5025709-
52.2014.4.04.7100/RS, evidencia a possibilidade de transformação do benefício
de aposentadoria por idade urbana em aposentadoria por idade híbrida, conforme
segue:
PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR IDADE URBANA. REVISÃO.
APROVEITAMENTO DE TEMPO DE SERVIÇO RURAL SEM
CONTRIBUIÇÕES. IMPOSSIBILIDADE. ALTERAÇÃO PARA
APOSENTADORIA HÍBRIDA. ATIVIDADE RURAL NA DER E
CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. DESNECESSIDADE.
CONTRIBUINTE INDIVIDUAL. RECOLHIMENTO POSTERIOR À DATA DE
CONCESSÃO. APROVEITAMENTO. IMPOSSIBILIDADE. CORREÇÃO
MONETÁRIA E JUROS DE MORA. FASE DE CUMPRIMENTO DE
SENTENÇA. DIFERIMENTO. 1. A aposentadoria por idade urbana é possível
somente com tempo de contribuição, razão pela qual o tempo de serviço rural
desacompanhado de recolhimentos previdenciários em nada aproveitaria à parte
autora para fins de revisão da renda mensal inicial. 2. Contudo, é possível a
transformação do benefício para aposentadoria híbrida, pois na data da concessão
já se encontravam vigentes os §§ 3º e 4º do art. 48 da Lei 8.213/91, incluídos pela
Lei 11.718/2008, que regulam a aposentadoria por idade com mescla de tempo
urbano e rural, razão pela qual a autarquia poderia ter analisado a situação da parte
autora objetivando conceder o melhor benefício possível, ainda que não
expressamente requerido. 3. O fato de o segurado não ter retornado às lides rurais
ou de não estar desempenhando tais atividades quando efetuou o requerimento
administrativo não obsta, por si só, o deferimento da aposentadoria híbrida, uma
vez implementado o requisito etário (60 anos de idade para a mulher e 65 anos
para o homem) e sendo a soma do tempo de serviço urbano e rural superior ao da
carência exigida para a concessão do benefício de aposentadoria por idade, na
forma do art. 48, §§ 3º e 4º, da Lei nº 8.213/1991, incluído pela Lei nº
11.718/2008. Súmula 103 desta Corte e precedentes do STJ. 4. Os períodos de
atividade rural anteriores à edição da Lei 8.213/91 podem ser considerados, para
fins da carência necessária à obtenção da aposentadoria de que trata o art. 48, § 3º,
sem o recolhimento de contribuições. 5. Os requisitos para a concessão do
benefício devem estar implementados à data do requerimento, bem como o cálculo
da renda mensal inicial deve considerar os elementos então disponíveis. Tratando-
se de contribuições individuais, a responsabilidade pelo seu recolhimento é do
próprio segurado. Nada obsta que haja recolhimentos em atraso, mas estes devem
ser feitos antes da concessão da aposentadoria. O recolhimento a posteriori não
aproveita ao segurado, pois o direito reconhecido deve ser aquele incorporado ao
seu patrimônio jurídico até a data da concessão. Se a responsabilidade pelo
pagamento das contribuições fosse de outrem, não se exigiria do segurado o
adimplemento da obrigação. Todavia, a lei previdenciária atribui ao contribuinte
individual a total responsabilidade pelo recolhimento, da qual não se pode eximir.
(...) [148]
A revisão tem por objetivo ocasionar um aumento na renda mensal inicial
(RMI) e na renda mensal atual (RMA) do segurado, além do recebimento de
valores atrasados relativos aos últimos 5 anos, que serão calculados pela
diferença entre o benefício devido e o efetivamente recebido. Com a majoração
do coeficiente de cálculo, diante da averbação do tempo rural, a revisão objetiva
atingir o melhor benefício possível, com o aumento máximo de 15%, visto que a
aposentadoria por idade urbana sempre será concedida com pelo menos quinze
anos de tempo de contribuição (carência exigida para este tipo de concessão),
onde o cálculo é feito com o coeficiente de 70% acrescido de 1% por ano
trabalhado, gerando um coeficiente mínimo de 85%.
Não existe óbice legal para a concessão desta revisão, mas seu principal
requisito é que os segurados que a objetivam tenham se aposentado durante a
vigência da Lei nº 11.718/08, que estabeleceu a aposentadoria por idade híbrida
no ordenamento jurídico brasileiro. Assim, para se pleitear a revisão da
aposentadoria por idade, transformando-a em aposentadoria por idade híbrida, os
requisitos são: a) que a aposentadoria tenha sido concedida durante a vigência da
Lei nº 11.718/2008; b) que o aposentado tenha exercido atividade rural durante
algum período de sua vida (mas neste caso específico o ideal é ter prestado
serviço rural após a Lei nº 8.213/91); c) que tenha alguns documentos, que
servirão de início de prova material do trabalho rural, corroborados com a
produção de provas testemunhais.
Mencionada revisão se distancia de outra revisão semelhante e também
possível, que é a revisão da aposentadoria por idade urbana para a inclusão de
tempo rural exercido anteriormente a 1991 (antes da Lei nº 8.213/91). Para esta
revisão, a atividade rural pode ser somada, com a finalidade de majoração de
tempo e de coeficiente, após concedida a aposentadoria. Porém, a espécie de
aposentadoria não mudará, visto que continuará sendo uma aposentadoria por
idade urbana, somente com averbação de tempo rural, o qual será utilizado para
a majoração do coeficiente.
Nesta revisão, o trabalho rural obrigatoriamente deve ter sido exercido
anteriormente à Lei nº 8.213/91, haja vista a necessidade de indenização
(recolhimentos em atraso) no caso do computo do trabalho realizado após a
mencionada Lei.
Outra diferença é que esta revisão pode ser pleiteada por aposentados por
idade urbana e seus pensionistas a qualquer tempo, ou seja, não há a necessidade
de que sejam benefícios concedidos posteriormente à Lei nº 11.718/2008.
Na prática, ambas as revisões se convergem e geram resultado similar,
apenas com duas diferenças: a) no tocante ao modo de pedir (transformação em
aposentadoria por idade híbrida ou manutenção da aposentadoria por idade
urbana com averbação de período rural); b) na aposentadoria por idade urbana
com majoração pelo tempo rural, além do aumento do coeficiente, o acréscimo
de tempo faz aumentar o fator previdenciário, que pode elevar ainda mais a
aposentadoria do segurado, pela possibilidade de sua aplicação, caso positivo.
E qual a vantagem aproveitada pela revisão que transforma a
aposentadoria por idade urbana em aposentadoria por idade híbrida ou mista?
Pois bem, a vantagem se faz presente nos casos em que o coeficiente é inferior a
1 (inferior a 100%), eis que a majoração do coeficiente reflete de forma direta na
renda mensal inicial e, por conseguinte, na atual.
Em contrapartida, quando já incidente sobre o cálculo da aposentadoria
por idade urbana o coeficiente de 100%, mais benéfica se faz a revisão
pleiteando a averbação de tempo rural (trabalho rural anterior a 1991), tendo em
vista que o aumento no tempo de serviço ocasionará reflexos no cálculo do fator
previdenciário, que, caso se torne positivo, incidirá sobre o benefício percebido
(art. 7º da Lei nº 9.876/99), majorando-o.
Sobre a revisão da aposentadoria por idade urbana com a averbação do
período rural e o seu resultado na majoração do coeficiente e na aplicação de
novo fator previdenciário positivo (às vezes extremamente positivo), segue
jurisprudência, lembrando que o tema relativo ao fator previdenciário neste tipo
de revisão encontra-se pacificado:
PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR IDADE URBANA. REVISÃO.
CÔMPUTO DE TEMPO DE SERVIÇO RURAL EXERCIDO ANTES DA LEI
8.213/91. MAJORAÇÃO DA RMI. POSSIBILIDADE. MAGISTÉRIO. TEMPO
DE SERVIÇO ESPECIAL. CONVERSÃO EM TEMPO COMUM APÓS
09/07/1981. IMPOSSIBILIDADE. CONTAGEM RECÍPROCA. CERTIDÃO DE
TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO. ART. 130 DO DECRETO Nº 3.048/99.
1. Comprovado o tempo de serviço rural em regime de economia familiar,
mediante a produção de início de prova material, corroborada por prova
testemunhal idônea, faz jus a parte ao reconhecimento do respectivo tempo de
serviço. 2. A Lei 8.213/91 estabelece, conforme se extrai do § 2º do artigo 55, que
o tempo de serviço do segurado trabalhador rural, anterior à data de início da
vigência desta lei, será computado independentemente do recolhimento das
contribuições a ele correspondentes, exceto para efeito de carência, conforme
dispuser o Regulamento. O artigo 107 da própria Lei de Benefícios estabelece que
o tempo de serviço tratado no artigo 55 será considerado para cálculo do valor da
renda mensal de qualquer benefício. Dessa forma, possível a contagem do tempo
de trabalho rural exercido antes da Lei nº 8.213/91 com o objetivo de aumentar o
coeficiente de cálculo da aposentadoria por idade urbana, independentemente de
contribuição correspondente, desde que cumprida a carência durante o tempo de
serviço urbano. 3. A partir da publicação da Emenda Constitucional n° 18/81
(DOU de 09-07-1981), o tempo de serviço de magistério não pode mais ser
reconhecido como especial e convertido em tempo comum, mas apenas
computado como tempo diferenciado para efeito de aposentadoria especial de
professor. 4. O tempo de contribuição para Regime Próprio de Previdência Social
pode ser computado para o Regime Geral de Previdência Social (contagem
recíproca), desde que comprovado mediante a apresentação da certidão prevista no
art. 130 do Decreto nº 3.048/99 e respeitada a contagem não-concomitante com o
tempo de serviço vinculado ao RGPS. [149]
Importante também observar, no caso da transformação da aposentadoria
por idade em aposentadoria por idade híbrida, se existe vantagem na revisão, nos
casos em que o segurado efetuou recolhimentos contributivos extremamente
elevados, já que com a revisão serão incluídos no Período Básico de Cálculo
(PBC) valores de salário-mínimo que serão computados nos períodos de trabalho
rural. Em tal hipótese, a vantagem na transformação da aposentadoria só se
mantém se mencionadas contribuições forem efetivamente eliminadas por
ocasião do cálculo das 80% melhores contribuições, e se não for caso de
aposentadoria com a aplicação do mínimo divisor no cálculo da concessão, na
forma do § 2º do artigo 3º da Lei nº 9.876/99, que prevê:
Art. 3º Para o segurado filiado à Previdência Social até o dia anterior à data de
publicação desta Lei, que vier a cumprir as condições exigidas para a concessão
dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social, no cálculo do salário-de-
benefício será considerada a média aritmética simples dos maiores salários-de-
contribuição, correspondentes a, no mínimo, oitenta por cento de todo o período
contributivo decorrido desde a competência julho de 1994, observado o disposto
nos incisos I e II do caput do art. 29 da Lei no 8.213, de 1991, com a redação dada
por esta Lei. (...)
§ 2º No caso das aposentadorias de que tratam as alíneas b, c e d do inciso I do art.
18, o divisor considerado no cálculo da média a que se refere o caput e o § 1o não
poderá ser inferior a sessenta por cento do período decorrido da competência julho
de 1994 até a data de início do benefício, limitado a cem por cento de todo o
período contributivo.
Assim, concluindo, a revisão da aposentadoria pela transformação da
aposentadoria por idade em aposentadoria por idade híbrida pode gerar uma
majoração máxima de 15% no valor da RMI, com reflexos na RMA e com
pagamento dos valores atrasados dos últimos 5 anos.
Observa-se que uma variação no percentual do aumento da RMI (de 1% a
15%) poderá ocorrer diante do número de anos rurais comprovados em ação
judicial (1% a cada novo ano averbado). Assim, para o sucesso desta revisão, é
primordial a comprovação da atividade rural, e a majoração acontecerá de
acordo com o tempo provado (1% por ano até o limite de 15%, quando a revisão
ensejará um novo coeficiente de 100%).
Raro será se o INSS aceitar administrativamente esta revisão; porém, é
necessário o prévio requerimento administrativo, pelo fato de se tratar de revisão
em que se solicita a averbação de tempo rural não examinado quando da
concessão da Aposentadoria por Idade anterior, sob pena de extinção do
processo sem julgamento do mérito por falta de interesse de agir.
3.1 Da prova da atividade rural
Voltando ao aspecto da comprovação da atividade rural, observa-se que o
labor exercido no âmbito rural é de extrema informalidade, devendo a exigência
de farta prova material ser atenuada, de modo a não tornar inacessível ao
trabalhador rural o direito ao benefício previdenciário de aposentadoria ou a
revisão da aposentadoria. O STJ tem entendido que as provas materiais não têm
a obrigatoriedade de se referir à totalidade do período rural, servindo apenas para
corroborar as provas testemunhais que serão produzidas, ou seja, a comprovação
deve se dar com o início de prova material, conforme entendimento
jurisprudencial:
PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.
TRABALHO RURAL. RECONHECIMENTO DE PERÍODO ANTERIOR AO
DOCUMENTO MAIS ANTIGO JUNTADO PARA FINS DE INÍCIO DE PROVA
MATERIAL. POSSIBILIDADE. ENTENDIMENTO ASSENTADO NO RESP
1.348.633/SP, JULGADO SOB O RITO DO ARTIGO 543-C DO CPC/1973. 1. A
Primeira Seção do STJ fixou, no julgamento do REsp n. 1.348.633/SP (DJe de
05/12/2014), submetido ao rito do artigo 543-C do CPC/1973, o entendimento de
que é possível o reconhecimento de tempo de serviço rural mediante a
apresentação de um início de prova material, sem delimitar o documento mais
antigo como termo inicial do período a ser computado, contanto que corroborado
por prova testemunhal idônea capaz de ampliar sua eficácia. 2. No caso concreto,
os documentos trazidos aos autos pelo autor como início de prova material foram
corroborados por prova testemunhal firme e coesa e podem ser estendidos tanto
para períodos anteriores como posteriores ao documento mais antigo apresentado.
3. Agravo regimental não provido. [150]
De igual maniera é o entendimento aplicado pelo Egrégio Tribunal
Regional Federal da 4ª Região:
PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA RURAL POR IDADE.
TRABALHADOR RURAL. REQUISITOS LEGAIS. COMPROVAÇÃO. INÍCIO
DE PROVA MATERIAL, COMPLEMENTADA POR PROVA
TESTEMUNHAL. 1. É devido o benefício de aposentadoria rural por idade, nos
termos dos artigos 11, VII, 48, § 1º e 142, da Lei nº 8.213/1991,
independentemente do recolhimento de contribuições quando comprovado o
implemento da idade mínima (sessenta anos para o homem e cinquenta e cinco
anos para a mulher) e o exercício de atividade rural por tempo igual ao número de
meses correspondentes à carência exigida, mediante início de prova material
complementada por prova testemunhal idônea. 2. Hipótese em que a parte autora
preencheu os requisitos necessários à concessão do benefício. [151]
No mesmo sentido, a Súmula 14 da Turma Nacional de Uniformização da
Jurisprudência dos Juizados Especiais Federais tem o entendimento: “Para a
concessão de aposentadoria por Idade, não se exige que o início de prova
material corresponda a todo o período equivalente à carência do benefício”.
Em consonância com os julgados e o sumulado, vale citar uma breve
ponderação acerca do princípio da continuidade - que seria a presunção de
continuidade do exercício do labor rural - nas palavras dos autores Antônio
César Bochenek e Marcio Augusto Nascimento:
Não deve ser exigida a apresentação de um documento para cada ano da atividade
a ser comprovada (princípio da continuidade), e se for constatado pelos
documentos colacionados, ainda que alguns sejam extemporâneos, que a parte
autora e sua família sempre foram da lida rural, haverá início de prova material do
labor rural (pode ser, por exemplo, a certidão de nascimento do requerente, na qual
conste que os pais eram lavradores). [152]
A importância deste assunto, qual seja: prova do exercício da atividade
rural, incide no fato de que, para que a revisão de aposentadoria aqui descrita
ocorra de maneira efetiva, há de se provar o trabalho rural.
Nesse sentido, a instrução processual desta ação revisional deverá ocorrer
por meio de documentos e testemunhas, que deverão ser ouvidas em audiência
de instrução e julgamento.
Majorando-se o tempo, pela comprovação da atividade rural, haverá um
acréscimo no coeficiente. E, em linha de conclusão, se o trabalho rural foi
realizado após a Lei nº 8.913/91, a indicação é a revisão da aposentadoria por
idade com a transformação em aposentadoria por idade híbrida, haja vista que
não haverá a necessidade de indenização (recolhimento em atraso). Todavia, se o
trabalho rural foi realizado anteriormente à Lei nº 8.213/91 a revisão indicada é a
averbação de tempo rural na aposentadoria por idade urbana, mantendo-se a
aposentadoria na forma em que foi concedida, mas com aumento do coeficiente
e com a realização de novo cálculo do fator previdenciário, bem como sua
aplicação no salário-de-benefício, se positivo. Nas duas hipóteses de revisão, o
primordial é a comprovação do trabalho rural por meio de documentos,
testemunhas e a observação do princípio da continuidade.
Considerações finais
Tema revisional inédito, com fundamentação legal forte e com grande
possibilidade de sucesso, a revisão aqui descrita ainda engatinha no judiciário
brasileiro.
A revisão que busca transformar a aposentadoria por idade urbana em
aposentadoria por idade híbrida visa averbar o tempo laborado em âmbito rural,
antes incomunicável para com o urbano. Tal revisão ocasionará um aumento no
tempo de serviço percebido pelo segurado e, assim, poderá refletir em aumento
no coeficiente incidente sobre o cálculo da RMI do benefício.
Por exemplo, o segurado que conseguiu forçosamente se aposentar por
idade urbana com o coeficiente mínimo de 85% (média dos 70% acrescidos de
1% a cada novo grupo de 12 contribuições) que se refere a 15 anos de trabalho
em atividade urbana mediante o recolhimento de contribuições, poderá se
utilizar do tempo de labor despendido em âmbito rural, que antigamente (antes
da Lei nº 11.718/2008) ficava de fora quando da pretensão do segurado de se
aposentar, para aumentar o valor se sua aposentadoria.
Com a revisão, este mesmo segurado aposentado com 85% de sua média
contributiva poderá, com a utilização do tempo de trabalho rural devidamente
comprovado, alterar seu coeficiente para 100%, caso comprove 15 anos de
trabalho rural, ou, por exemplo, 95% caso comprove 10 anos de atividade rural,
ou seja, 1% a cada novo ano averbado.
A tese revisional busca, sobretudo, garantir aos segurados o direito de
majorar o coeficiente de cálculo, utilizando-se, para tanto, da inclusão ao
computo do tempo de contribuição do período laborado na zora rural,
independentemente de recolhimento previdenciário, mesmo que em período
posterior ao advento da Lei nº 8.213/91 (equiparação a prerrogativa do segurado
especial de apenas comprovar o efetivo exercício do labor) e que, anteriormente
ao advento da Lei nº 11.718/08, via-se integralmente desprezado quando da
concessão de aposentadoria por idade urbana. Possibilidade esta que acabará
ocasionando em reflexo direto na RMI concedida, bem como na RMA, tendo em
vista a inexistência de minoração do referido benefício pela aplicação do fator
previdenciário, eis que inexistente para este tipo de aposentadoria.
Referências bibliográficas
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Especiais Federais Cíveis. E-book. Porto Alegre: direito dos autores, 2011.
BONDARIK, Roberto. A geada negra de 1975. 17/10/2010. Disponível em:
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previdenciária do contribuinte individual, o cálculo do benefício, altera
dispositivos das Leis nos 8.212 e 8.213, ambas de 24 de julho de 1991, e dá
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<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9876.htm>. Acesso em: 30 de junho
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BRASIL, Lei nº 11.718, de 20 de junho de 2008. Acrescenta artigo à Lei nº
5.889, de 8 de junho de 1973, criando o contrato de trabalhador rural por
pequeno prazo; estabeleces transitórias sobre a aposentadoria do trabalhador
rural; prorroga o prazo de contratação de financiamentos rurais de que trata o §
6º do art. 1º da Lei nº 11.524, de 24 de setembro de 2007; e altera as Leis nº
8.171, de 17 de janeiro de 1991, 7.102, de 20 de junho de 1993, 9.017, de 30 de
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29.2013.4.04.7202 SC – 5ª Turma – Apelante:
CLELIA INES FANTONI BENCKE e INTITUTO NACIONAL DO SEGURO
SOCIAL – Apelado: OS MESMOS. Documento eletrônico disponível em:
<https://trf-4.jusbrasil.com.br> Acesso em: 25 de julho de 2018.
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO, APL
50685932720174049999 5068593-27.2017.4.04.9999 – TURMA REGIONAL
SUPLEMENTAR DE SC – Apelante: INTITUTO NACIONAL DO SEGURO
SOCIAL e MIGUEL PINTO- Apelado: OS MESMOS. Documento eletrônico
disponível em: <https://trf-4.jusbrasil.com.br> Acesso em: 25 de julho de 2018.
TURMA NACIONAL DE UNIFORMIZAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA DOS
JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS. Súmula 14. Documento eletrônico
disponível em:<http://www.jf.jus.br> Acesso em 24 de julho de 2018.
WACHOVICZ, Ruy Cristovam. História do Paraná. Editora Gráfica Vicentina
Ltda, 1995.
CAPÍTULO 13
RETROAÇÃO DA DATA DE INÍCIO DO
BENEFÍCIO: AÇÃO DO “MELHOR BENEFÍCIO”

JOÃO BADARI
Sócio fundador da Aith, Badari e Luchin Advogados. Graduado em Direito pela
UNI-FMU. Pós-graduado pela Faculdade Legale e pela Escola Paulista de
Direito. Especialista em Direito Público pelo Instituto Damásio de Jesus.
Cursando MBA em Direito Previdenciário na Faculdade Legale e MBA em
Previdência Social com direito do trabalho pela Instituição A Jurídica.
Introdução
O Intituto Nacional do Seguro Social (INSS) ao calcular o benefício dos
segurados deverá sempre realizar todos os cálculos possíveis desde a obtenção
do direito de aposentar-se, e deverá, ainda, orientar os segurados sobre o direito
ao melhor benefício. Como exemplo mais corriqueiro, cita-se que nem toda
aposentadoria integral é maior que a proporcional, pois em muitos casos na lei
anterior, por meio da qual o segurado já havia atingido as condições legais para
obter sua aposentadoria proporcional, o valor desta seria maior que a integral
obtida em lei posterior.
Contudo, dentre as opções de formas de cálculo possíveis para o valor da
Renda Mensal Inicial (RMI) do benefício, o INSS, em milhares de casos, não
utilizou a forma mais benéfica ao segurado.
Por esse motivo, os segurados se socorrem do judiciário para postularem a
readequação de seu benefício, para que seja calculado o valor da RMI na data e
na forma em que o benefício lhe for mais vantajoso, com base no direito
adquirido.
1 Da impossibilidade da aplicação do Art. 103, da Lei Nº 8.213/91, pela não
observância do melhor benefício no momento da concessão
O Enunciado nº 5 do Conselho de Recursos da Previdência Social (CRPS),
dispõe que: “a Previdência Social deve conceder o melhor benefício a que o
segurado fazer jus, cabendo ao servidor orientá-lo nesse sentido”[153].
Nesse diapasão, colaciona-se o entendimento do Superior Tribunal de
Justiça (STJ) referente ao Tema 334:
AgRg no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 549.306 – RS (2014⁄0182891-
6) RELATOR: MINISTRO HUMBERTO MARTINS/ EMENTA/
PREVIDENCIÁRIO. BENEFÍCIO. DECADÊNCIA. NÃO OCORRÊNCIA. ART.
103 DA ALEI N. 8.213⁄91. DECISÃO RECONSIDERADA. RECURSO
ESPECIAL PROVIDO.
(…)
Portanto, a discussão em torno do direito a uma renda mensal mais favorável
(por força de direito adquirido), não foi objeto da apreciação da
Administração, não ocorrendo decadência, abarcadas pelo art. 103 da Lei n.
8.213⁄91.[154] (grifo do Autor)
Colaciona-se, ademais, a Súmula 81 da Turma Nacional de Uniformização
da Jurisprudência dos Juizados Especiais Federais (TNU), referente às questões
não tratadas no momento da concessão do benefício, segundo a qual: “não incide
o prazo decadencial previsto no art. 103, caput, da Lei nº 8.213/91, nos casos de
indeferimento e cessação de benefícios, bem como em relação às questões não
apreciadas pela Administração no ato da concessão”.
Dessa forma, uma vez que não foi feita pela autarquia previdenciária uma
simulação da melhor data para a concessão da aposentadoria, quando do
processo administrativo, não há que se falar em decadência do direito dos
postulantes, exatamente por não ter sido objeto de apreciação do INSS, estando,
portanto, excluso do prazo decadencial previsto no art. 103, da Lei nº 8.213/91.
2 Do preenchimento de requisitos e direito adquirido ao melhor benefício
Os Autores não pretendem, com a ação judicial, revisarem o ato
concessório original, mas sim, com base no direito adquirido, buscam a
concessão do direito ao melhor benefício em uma data pretérita ao do
requerimento, quando também já havia implementado as condições mínimas
necessárias.
Isto porque, a partir do momento em que os segurados adquirem o direito à
aposentadoria, ainda que tenham optado por não requererem o benefício naquela
ocasião, devem ser garantidos o direito de optar pelas regras e pela data de
cálculo que lhe proporcionem o melhor benefício.
Entender de outra forma seria uma afronta à garantia constitucional da
intangibilidade do direito adquirido, amparado pelo art. 5º XXXVI, uma vez que
se estaria negando o direito de os segurados receberem uma aposentadoria mais
benéfica e para a qual preencheram todos os requisitos, unicamente porque em
outro momento também preencheu requisitos a outra aposentadoria que lhe é
menos vantajosa.
Com efeito, o direito à retroação da Data de Início do Benefício (DIB)
restou consolidado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), por meio do
julgamento do Recurso Extraordinário nº 630.501, no qual a relatora, Ministra
Ellen Gracie, exarou voto favorável aos segurados, mantendo o já reconhecido
direito ao melhor benefício para as aposentadorias programáveis do Regime
Geral de Previdência Social (RGPS), senão veja-se:
APOSENTADORIA – PROVENTOS – CÁLCULO. Cumpre observar o quadro
mais favorável ao beneficiário, pouco importando o decesso remuneratório
ocorrido em data posterior ao implemento das condições legais. Considerações
sobre o instituto do direito adquirido, na voz abalizada da relatora – ministra Ellen
Gracie, subscritas pela maioria. [155]
Dessa forma, o STF pacificou que o segurado do RGPS tem direito
adquirido ao benefício calculado de modo mais vantajoso, sob a vigência da
mesma Lei, consideradas todas as datas em que no direito poderia ter sido
exercido, desde quando preenchidos os requisitos para a aposentadoria.
Ademais, a Ministra observou que, in casu, não se está diante de questão
de direito intertemporal, mas da preservação do direito adquirido em face de
novas circunstâncias de fato, devendo-se distinguir a aquisição do direito, do seu
exercício.
Asseverou que cumpridos os requisitos mínimos (tempo de serviço e
carência ou tempo de contribuição e idade, conforme o regime jurídico vigente à
época), os segurados adquirem o direito ao benefício. E esclareceu que a
modificação posterior nas circunstâncias de fato não suprime o direito já
incorporado ao patrimônio dos seus titulares.
Assim, nas palavras da Ministra Relatora, os segurados poderiam exercer o
seu direito assim que preenchidos os requisitos para tanto ou fazê-los mais
adiante, normalmente por optarem em prosseguir na ativa, inclusive com vistas a
obter aposentadoria integral ou, ainda, para melhorar o fator previdenciário
aplicável.
Ademais, considerou que, uma vez incorporado o direito à aposentação ao
patrimônio dos segurados, a permanência na ativa não poderia prejudicá-los,
pois, ao não exercerem seus direitos assim que cumpridos os requisitos mínimos
para tanto, os segurados deixam de perceber o benefício mensal desde já e,
ainda, prossegue contribuindo para o sistema. Assim, não faria sentido que, ao
requerer o mesmo benefício posteriormente, o valor das suas RMI fosse inferior
àqueles que já poderiam ter obtido.
Com relação aos salários de contribuição que integrarão o novo período
básico de cálculo (PBC), estes deverão ser atualizados até a data em que for
reconhecido o direito adquirido, apurando-se nessa data a renda mensal inicial, a
qual deverá ser reajustada, nos mesmos meses e índices oficiais de reajustamento
utilizados para os benefícios em manutenção, até a DIB. A data de início de
pagamento deverá coincidir com a Data de Entrada do Requerimento (DER),
respeitada a sua prescrição quinquenal com relação aos atrasados pleiteados.
Fica comprovado que devem ser acolhidas as pretensões dos segurados de
terem reconhecidos o direito à concessão do melhor benefício e, assim, terem
concedidas suas aposentadorias nos termos da lei vigente à época em que já
restavam implementadas as condições necessárias para suas aposentações.
3 Da tutela de evidência nos pedidos de retroação da data de início do
benefício
É visível a imprescindibilidade da concessão de tutela de evidência na
presente questão, pois, de acordo com o inciso II, do art. 311, do Código de
Processo Civil (CPC), referida tutela será concedida quando as alegações do fato
puderem ser comprovadas apenas documentalmente e houver tese firmada em
julgamento de recursos repetitivos.
Com efeito, em que pese o art. 311, II, do CPC determinar que é aplicável
quando houver julgamento de recursos repetitivos, é perfeitamente cabível a
aplicação de forma análoga para o julgamento do tema nº 334 em sede de
repercussão geral, por meio do Recurso Extraordinário 630.501, em que o STF
reconheceu o direito do segurado ao benefício mais vantajoso.
Destarte, uma vez que a Corte Suprema reconhece o direito ao benefício
calculado de modo mais benéfico, consideradas todas as datas em que o direito
poderia ter sido exercido, é cediço que o direito dos segurados encontra o devido
amparo jurisprudencial, na medida em que se trata de tese firmada em
julgamento de Recurso Extraordinário de repercussão geral.
Ademais, com a juntada do CNIS, carta de concessão do benefício atual e
detalhamento de crédito do último recebimento, os segurados deverão apresentar
cálculo, demonstrando que, voltando a data do início do benefício, este teria hoje
um valor mais benéfico, fazendo jus à retroação da DIB para a concessão do
melhor benefício.
Resta claro, portanto, que preenchidos estão os pressupostos ensejadores
da concessão da tutela de evidência, tudo com base no artigo 311, inciso II, do
CPC.
4 Questões constitucionais
Mesmo com tese firmada no STF, existem muitos segurados que ajuízam a
ação de retroação da DIB e não têm seus direitos reconhecidos em primeiras
instâncias e Tribunais. A fim de proporcionar que a presente discussão chegue
até a mais elevada Corte, devem, em sua exordial, prequestionarem os seguintes
dispositivos constitucionais e legais, sob pena de nulidade da decisão e ofensa ao
art. 5º, LIV e LV e ao art. 93, IX, ambos da Constituição Federal, bem como aos
art. 371 e 489, do Código de Processo Civil.
Considerações finais
A retroação da data de início do benefício, ou ação do melhor benefício,
nada mais é do que a aplicação do direito adquirido aos segurados, que já
possuíam condições de se aposentar e optaram por continuar trabalhando e se
aposentaram em momento posterior menos vantajoso. A tese já foi reconhecida
pelo STF, pois se trata de direito fundamental alcançado constitucionalmente,
sendo encontrando no art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal, bem como na
Lei de Introdução as Normas do Direito, em seu art. 6º, § 2º.
Insta salientar que a própria Instrução Normativa da Autarquia determina
que o servidor aplique o melhor benefício aos segurados, pois se faz como uma
obrigação ao segurado na análise e concessão, e não uma faculdade como ocorre
em milhares de pedidos concedidos.
A ação do melhor benefício deve ser analisada para cada caso específico,
com possibilidade de requerer uma aposentadoria proporcional em detrimento da
aposentadoria integral que hoje recebem. Mesmo com o art. 122 da Lei nº
8.213/91 prevendo a retroação do período básico de cálculo nos casos de
aposentadoria integral, é possível a extensão desse direito aos casos de
concessão de aposentadoria proporcional, em face do princípio constitucional da
isonomia.
A obrigação do servidor se estende a diversos casos, nos quais os
segurados são a parte com menor conhecimento técnico para analisarem qual
seriam seus melhores benefícios, por exemplo, um médico que pretende
continuar trabalhando. Em muitos casos, é mais vantajoso este profissional da
saúde se aposentar por tempo de contribuição e ter a diminuição de seu benefício
pelo fator previdenciário, do que se aposentar com valor integral na
aposentadoria especial e não poder laborar mais exposto a agente nocivo para a
sua saúde.
Entende-se também que poderão ser utilizados aqueles períodos que não
foram averbados no momento da aposentadoria, como atividade rural ou
sentenças trabalhistas, desde que estas foram informadas ao servidor e este não
solicitou aos segurados os documentos que comprovam o alegado, pois o melhor
benefício também se dá nas informações que o servidor deve prestar, a fim de
aumentar o valor da renda mensal inicial.
Referências bibliográficas
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de
1988. Documento eletrônico disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>
Acesso em: 20 de junho de 2018.
BRASIL, Decreto-lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1972. Lei de Introdução às
normas do Direito Brasileiro. Documento eletrônico disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del4657.htm>. Acesso em: 12
de setembro de 2018.
BRASIL, Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de
Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. Documento
eletrônico disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm> Acesso em: 20 de
junho de 2018.
BRASIL, Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil.
Documento eletrônico disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm>
Acesso em: 20 de junho de 2018.
CONSELHO DE RECURSO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, Enunciado nº 5, de
18 de janeiro de 1994. Documento eletrônico disponível em:
<https://www.legjur.com/sumula/busca?tri=crps&num=5>. Acesso em: 17 de
abril de 2018.
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. RE 630501/RS – Tribunal Pleno –
Recorrente: ALOYSIO KALIL – Recorrido: INSTITUTO NACIONAL DE
SEGURO SOCIAL - INSS. Documento eletrônico disponível em:
<http://www.stf.jus.br> Acesso em: 27 de setembro de 2018
TURMA NACIONAL DE UNIFORMIZAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA DOS
JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS. Súmula nº 81. Documento eletrônico
disponível em: <https://www2.jf.jus.br/phpdoc/virtus/sumula.php?nsul=32>
Acesso em: 24 de setembro de 2018.
CAPÍTULO 14
REVISÃO DE BENEFÍCIOS COM ATIVIDADES
CONCOMITANTES NOS TERMOS DA LEI DE
CUSTEIO

SERGIO EDUARDO CANELLA
Advogado, graduado em Direito pela Universidade Estadual de Londrina (UEL),
Mestre em Direito Negocial e Especialista em Direito Empresarial pela
Universidade Estadual de Londrina (UEL), Especialista em Direito do Trabalho
pela AMATRA, docente de Processo Civil e Direito Empresarial na faculdade
UNOPAR nos anos de 2004 a 2007, escritor de artigos especializados, sócio e
gestor do Escritório Brandão Canella Advogados Associados.

ANA RITA DA SILVA VIEIRA
Graduanda do curso de Direito do Centro Universitário Filadélfia UNIFIL.

LARISSA DOMINGUES CORREIA
Graduanda do curso de Direito da Universidade do Norte do Paraná. Aprovada
no XXVI Exame da Ordem dos Advogados do Brasil.
Introdução
A Constituição Federal (CF) de 1988 traz entre os arts. 194 e 204 a
regulamentação da Seguridade Social, em que o art. 194, caput, aborda a sua
composição, quais sejam a Previdência Social, a Assistência Social e a Saúde
Pública, que visam, sobretudo, trazer maior segurança aos indivíduos em face
das vicissitudes da vida. Portanto, têm-se que a seguridade social é uma
obrigação constitucional do Estado Brasileiro.
O presente estudo se dedicará a esmiuçar os aspectos da Previdência
Social e a importância de seus princípios norteadores no âmbito da revisão
previdenciária pela atividade concomitante, gerando enfoque maior ao princípio
da equidade na forma de participação no custeio, que ora se confunde com o da
isonomia, visto que vem sendo palco de debates na esfera previdenciária.
O princípio da equidade ou da isonomia estabelece que o segurado deverá
recolher contribuições em consonância com a sua capacidade contributiva, ou
seja, que cada membro componente da previdência social deverá contribuir de
acordo com a sua capacidade econômica.
Entretanto, discute-se sobre a possibilidade de um segurado poder ou não
somar as contribuições realizadas simultaneamente quando da realização do
cálculo de seu benefício previdenciário, visto que desempenhava duas ou mais
atividades laborais conjuntamente e, assim, fomentava a base de financiamento
da previdência social como se fosse mais de um segurado.
A presente discussão advém da discrepância existente entre o art. 28 da Lei
nº 8.212/91, Lei de Custeio da Previdência Social, que dispõe acerca da
necessidade da realização da somatória das rendas auferidas pelo segurado para
compor o seu salário de contribuição vertido à Autarquia Previdenciária e às
disposições do art. 32 da Lei nº 8.213/91, Lei de Benefícios da Previdência
Social, que prevê a adoção de medidas diversas quando da ocorrência de
atividades laborais simultâneas por parte do segurado.
A divergência dos supracitados dispositivos legais vem sendo questão de
debate judicial, sobretudo quanto a forma de cálculo do salário de benefício
adotada pelo órgão concessor, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS),
quando do desempenho pelo segurado de atividades laborais simultâneas e, por
sua vez, de recolhimentos previdenciários simultâneos.
Nesses termos, este artigo visa abordar a tese revisional dos benefícios
previdenciários que possuíram em seu período básico de cálculo a presença de
atividades concomitantes, a fim de que seja realizada a somatória das rendas
para a composição do salário de contribuição, independentemente do
cumprimento dos requisitos para a concessão do benefício em todas as
atividades simultâneas.
1 A composição do salário de contribuição
O salário de contribuição, nos termos do art. 28 da Lei de Custeio, é
composto, sem prejuízo das demais hipóteses, pela remuneração auferida pelo
segurado em uma ou mais empresas, bem como traz em seu inciso I que a
composição do salário de contribuição conta com toda a renda percebida pelo
segurado, sendo esta advinda de uma ou mais empresas.
O próprio dispositivo legal, ao instituir o plano de custeio, dispõe que cada
segurado, assim que passa a auferir renda proveniente do trabalho, torna-se um
contribuinte. E ainda que, nos termos da Lei de Custeio da Previdência Social, o
salário de contribuição deve ser o resultado da soma da totalidade de
rendimentos auferidos no mês pelo segurado, em uma ou mais empresas.
Entretanto, a somatória dos salários de contribuições vertidos pelo
segurado deve se atentar a um valor limítrofe, ao qual é dada a nomenclatura de
“teto constitucional”, ou seja, uma previsão constitucional que denota uma
limitação para ser vertida a título de contribuição pelo segurado. Inclusive, por
desconhecimento, não raro, o valor limítrofe de contribuição é extrapolado por
segurados que exercem atividades concomitantes, eis que já contribuem no teto
constitucional e, quando do exercício de atividade simultânea a anterior, acabam
por verter desnecessariamente contribuições de novo.
Diante da corriqueira realização de descontos integrais por parte de cada
empregador quando do exercício de atividades laborais simultâneas, o que por
vezes pode levar ao recolhimento de contribuições excessivas, fora instituído no
Regulamento da Previdência Social (Decreto nº 3.048/99) o dever do segurado
de comunicar sua remuneração às empresas que labora, a fim de que sejam
realizados os descontos de forma correlata e até o limite legal, ou seja, até o
limite imposto pelo teto constitucional vigente.
2 Atividades concomitantes
Consideram-se atividades concomitantes aquelas desenvolvidas pelo
segurado ao mesmo tempo, ou seja, as atividades laborais exercidas pelo
segurado no mesmo período.
Acerca da realização de labor simultâneo, o artigo 11, em seu § 2º da Lei
8.213/91, disciplina que o agente que exercer atividade concomitante, ou seja,
mais de uma atividade remunerada, estará obrigatoriamente filiado ao Regime
Geral da Previdência Social (RGPS) para cada atividade.
E, assim, a legislação deixa cristalina a obrigatoriedade de contribuição
por parte do segurado para cada atividade desempenhada, salvo os casos em que
a primeira atividade desenvolvida já tenha atingido o limite constitucional/ limite
do teto.
3 Forma de cálculo adotada pelo INSS
Quando se verifica um histórico laboral em que exista o desempenho de
atividades concomitantes, é comum acreditar que na hora da concessão do
benefício previdenciário seja realizada a soma de todas as rendas auferidas pelo
segurado, tendo em vista a redação trazida pelo ar. 28 da Lei de Custeio, eis que
outrora, quando do momento do recolhimento foram somadas e, assim, o será
realizado para o cálculo do salário de benefício do segurado.
Entretanto, de entendimento distinto, partilha a Autarquia Previdenciária,
que, ao apurar o período básico de cálculo do segurado e constatar a presença de
atividades concomitantes, só realiza a soma dos salários de contribuições
vertidos se o segurado tiver cumprido a carência exigida pelo benefício
previdenciário pretendido em ambas as atividades. Do contrário, considera como
atividade principal aquela na qual o segurado tenha despendido o maior tempo
de contribuição e classifica as demais como secundárias, atribuindo-lhes menor
valoração.
Dessa forma, caso o segurado tenha cumprido todos os requisitos
simultaneamente em todas as atividades exercidas, inexiste prejuízo para este,
motivo pelo qual não há nada o que questionar por meio da tese revisional por
este estudo abordada. Entretanto, caso tenha sido prejudicado pela aplicação de
percentual oriundo da atividade secundária sobre a atividade principal, o
segurado poderá pleitear a revisão do benefício concedido, eis que fora
prejudicado pelo fato de ter laborado em atividades múltiplas e, assim, ter
vertido duplamente contribuições.
4 Revisão do cálculo do benefício previdenciário concedido levando em
conta a somatória das atividades concomitantes nos termos da lei de custeio
A tese revisional das atividades concomitantes funda-se naquelas hipóteses
em que o segurado tenha exercido atividades profissionais similares ou distintas
em mais de um estabelecimento simultaneamente e, por conseguinte, tenha
vertido de forma regular as contribuições referentes a cada atividade, ou seja,
quando do momento do custeio realizou a somatória das rendas e a recolheu para
a previdência social, entretanto, quando da chegada do momento de receber o
benefício previdenciário correlato, possuiu tratamento separado para cada
vínculo concomitante.
Nesta perspectiva, é claro o desrespeito ao princípio da isonomia, uma vez
que as normas de custeio tratam o segurado como único contribuinte e dele
exigem o recolhimento duplo no caso do exercício de duas ou mais atividades e,
no ato da concessão, acaba por desprezar o fato de um único segurado ter
recolhido de maneira equivalente a cada atividade desenvolvida.
A pretensão da tese revisional é a de garantir que o segurado tenha o
direito de possuir todos os seus salários de contribuição somados, a fim de que
formem um único para fins de utilização quando da realização do cálculo do
salário de benefício que, por sua vez, dará origem à renda mensal inicial (RMI) a
ser concedida.
A Lei de Custeio da Previdência Social (Lei nº 8.212/91), em seu art. 28, I,
discorre acerca do salário de contribuição dos benefícios previdenciários,
estando disposto:
Art. 28. Entende-se por salário-de-contribuição: I - para o empregado e trabalhador
avulso: a remuneração auferida em uma ou mais empresas, assim entendida a
totalidade dos rendimentos pagos, devidos ou creditados a qualquer título,
durante o mês, destinados a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma,
inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades e os
adiantamentos decorrentes de reajuste salarial, quer pelos serviços efetivamente
prestados, quer pelo tempo à disposição do empregador ou tomador de serviços
nos termos da lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de
trabalho ou sentença normativa; (Redação dada pela Lei nº 9.528, de 10.12.97).
(grifo do Autor)
O referido dispositivo evidencia, claramente, a existência de um único
salário de contribuição, que compreende a remuneração auferida em uma ou
mais empresas, ou seja, a totalidade dos rendimentos pagos, devidos ou
creditados durante o mês.
Confrontando as disposições do artigo evidenciado, a Lei de Benefícios da
Previdência Social (Lei nº 8.213/91), em seu art. 32, ao dispor sobre o exercício
de atividades concomitantes, infere a existência de mais de um salário de
contribuição, o que gera contradição normativa e, consequentemente,
insegurança jurídica, conforme se observa:
Art. 32. O salário-de-benefício do segurado que contribuir em razão de
atividades concomitantes será calculado com base na soma dos salários-de-
contribuição das atividades exercidas na data do requerimento ou do óbito, ou no
período básico de cálculo, observado o disposto no art. 29 e as normas seguintes: I
- quando o segurado satisfizer, em relação a cada atividade, as condições do
benefício requerido, o salário-de-benefício será calculado com base na soma dos
respectivos salários-de-contribuição; II - quando não se verificar a hipótese do
inciso anterior, o salário-de-benefício corresponde à soma das seguintes parcelas:
a) o salário-de-benefício calculado com base nos salários-de-contribuição das
atividades em relação às quais são atendidas as condições do benefício requerido;
b) um percentual da média do salário-de-contribuição de cada uma das demais
atividades, equivalente à relação entre o número de meses completo de
contribuição e os do período de carência do benefício requerido; III - quando se
tratar de benefício por tempo de serviço, o percentual da alínea “b” do inciso II
será o resultante da relação entre os anos completos de atividade e o número de
anos de serviço considerado para a concessão do benefício. (grifo do Autor)
Ora, se está estabelecido que o salário de contribuição compreende a soma
de todas as remunerações vertidas durante o mês, oriundas de um ou mais
vínculos empregatícios, o legislador foi contraditório ao estabelecer normas que
difere o cálculo do salário de benefício, o qual considera mais de um salário de
contribuição para os segurados que possuem contribuições concomitantes,
gerando instabilidade e consequente insegurança jurídica, motivo pelo qual se
verifica a necessidade do afastamento do art. 32 da Lei nº 8.213/91 e aplicação
do art. 28 da Lei nº 8.212/91.
Sobre a hipótese levantada, cabe menção ao posicionamento do STJ, no
julgamento do REsp 1135946 SP 2009/0073269-0, conforme ementa
jurisprudencial:
TRIBUTÁRIO. RESTITUIÇÃO DE INDÉBITO. CONTRIBUIÇÕES
PREVIDENCIÁRIAS. SEGURADO QUE EXERCEU SIMULTANEAMENTE
DUAS ATIVIDADES REMUNERADAS COM VÍNCULO EMPREGATÍCIO.
1. A questão debatida nos autos diz respeito à restituição de valores recolhidos a
maior a título de contribuição previdenciária prevista no art. 20 da Lei n. 8.212/91,
por segurado que exerce, concomitantemente, mais de uma atividade remunerada
sujeita ao RGPS.
2. O salário de contribuição de segurado com mais de um vínculo
empregatício corresponde à soma de todas as remunerações recebidas no mês,
observado o limite máximo do salário de contribuição.
3. Definido em lei o salário de contribuição, a alíquota prevista no Art. 20, da
Lei n. 8.212/91 deve ser calculada sobre o total das remunerações recebidas e
não sobre cada uma das remunerações individualmente, devendo o valor da
contribuição ser limitado ao teto do salário-de-contribuição, de acordo com o §
5º do art. 28, da referida Lei. Recurso especial parcialmente conhecido e
improvido.[156] (grifo do Autor)
Conforme se evidencia, o Superior Tribunal de Justiça (STJ), em
interpretação adequada da disposição legal contida na Lei de Custeio, entende
que o salário de contribuição do segurado com mais de um vínculo empregatício
corresponde à soma de todas as remunerações recebidas no mês, de modo que a
alíquota deve incidir sobre o total das remunerações e não sobre cada uma
individualmente, manifestando claramente desconsideração ao art. 32 da Lei nº
8.213/91.
Não obstante, levando em conta o referido dispositivo legal, tendo por
base uma situação hipotética, na qual o segurado empregado desempenha
concomitantemente atividade como contribuinte individual, ou mesmo que tenha
dois vínculos empregatícios, a disposição legal do art. 32, ao ser-lhe aplicada,
confere-lhe tratamento detrimentoso, se comparado a um segurado empregado
que ocasionalmente tivesse seu vínculo cessado e passasse a contribuir como
contribuinte individual ou facultativo, no teto previdenciário.
Esse fato decorre da gradual extinção da escala de salário base, promovida
pelo art. 2º da Lei nº 9.876/99, Lei que também modificou o art. 29 da Lei de
Benefícios, determinando que o salário de benefício consistisse na média
aritmética simples dos maiores salários de contribuição correspondentes a
oitenta por cento de todo o período contributivo desde a competência julho de
1994. Uma vez extinta a escala de salário base, em 01/04/2003 pela Medida
Provisória (MP) nº 83 de 12/12/2002, deixou de haver restrições ao recolhimento
por parte dos contribuintes individuais e facultativos, possibilitando a
contribuição sob qualquer valor, respeitados os limites mínimos (salário mínimo)
e máximos (teto do salário de contribuição).
Com base no inferido, evidencia-se que se um segurado empregado que,
por vezes, possui seu vínculo extinto, passa a contribuir no teto como
contribuinte individual ou facultativo, sem restrição alguma, acabará sendo
beneficiado pela Lei, quando comparado ao empregado que contribui
concomitantemente como contribuinte individual ou até mesmo que possua dois
vínculos empregatícios concomitantes, que sofrem as limitações a ele impostas
pelo dispositivo legal.
Assim, a aplicação do art. 32 da Lei de Benefícios da Previdência Social
consiste em ofensa ao princípio constitucional da isonomia ao conferir
tratamento desigual aos segurados, visto que ao contribuinte individual não há
restrição alguma quanto ao salário de contribuição e, por outro lado, ao segurado
que contribui concomitantemente, seja como contribuinte individual, ou por
outro vínculo empregatício, acabam sendo impostas as restrições do referido
artigo, prejudicando-o.
A derrogação do referido artigo pode ser evidenciada nas disposições
contidas no voto proferido pelo ilustríssimo Juiz Federal Relator Rogério
Favreto, demonstrando o posicionamento da Quinta Turma do Tribunal Regional
Federal da 4ª Região (TRF4), no julgamento da apelação de nº. 0016234-
59.2015.404.9999:
PREVIDENCIÁRIO. REVISÃO DE BENEFÍCIO. RENDA MENSAL INICIAL.
ATIVIDADES CONCOMITANTES. DERROGAÇÃO DO ARTIGO 32 DA LEI
8.213/91 A PARTIR DE 01/04/2003. LEI 9.876/99. MP 83/02 (LEI 10.666/03). IN
INSS/DC Nº 89/2003. IN RFB Nº 971/2009 1. Segundo estabelece o artigo 32 da
Lei de Benefícios (Lei 8.213/91), o salário-de-benefício do segurado que
contribuir em razão de atividades concomitantes deve ser calculado com base na
soma dos salários-de-contribuição das atividades exercidas, ou no período básico
de cálculo, quando satisfizer, em relação a cada atividade, as condições do
benefício requerido. 2. Não satisfeitas as condições em relação a cada atividade, o
salário-de-benefício corresponderá à soma do salário-de-benefício da atividade
principal, esta considerada aquela em relação à qual preenchidos os requisitos ou,
não tendo havido preenchimento dos requisitos em relação a nenhuma delas, a
mais benéfica para o segurado, e de um percentual da média do salário-de-
contribuição da atividade secundária, conforme dispõe o inciso II do artigo 32 da
Lei 8.213/91. 3. A Lei 9.876/99 estabeleceu a extinção gradativa da escala de
salário-base (art. 4º), e modificou o artigo 29 da LB (art. 2º), determinando que o
salário-de-benefício seja calculado com base na média aritmética simples dos
maiores salários-de-contribuição correspondentes a oitenta por cento de todo o
período contributivo, multiplicada pelo fator previdenciário (assegurada para quem
já era filiado à Previdência Social antes da Lei 9.876/96 a consideração da média
aritmética de oitenta por cento do período contributivo decorrido desde a
competência julho/94 - art. 3º). 4. A Medida Provisória 83, de 12/12/2002
extinguiu, a partir de 1º de abril de 2003, a escala de salário-base (artigos 9º e 14),
determinação depois ratificada por ocasião da sua conversão na Lei 10.666, de
08/05/2003 (artigos 9º e 15). 5. Extinta a escala de salário-base a partir de abril de
2003, deixou de haver restrições ao recolhimento por parte dos contribuintes
individual e facultativo. Eles passaram a poder iniciar a contribuir para a
previdência com base em qualquer valor. Mais do que isso, foram autorizados a
modificar os valores de seus salários-de-contribuição sem respeitar qualquer
interstício. Os únicos limites passaram a ser o mínimo (salário mínimo) e o
máximo (este reajustado regularmente). Nesse sentido estabeleceram a IN
INSS/DC nº 89, de 11/06/2003 e a Instrução Normativa RFB nº 971, de 13/11/de
2009. 6. Extinta a escala de salário-base, o segurado empregado que tem seu
vínculo cessado pode passar a contribuir como contribuinte individual, ou mesmo
como facultativo, pelo teto. Por outro lado, o contribuinte individual, ou mesmo o
facultativo, pode majorar sua contribuição até o teto no momento que desejar.
Inviável a adoção, diante da situação posta, de interpretação que acarrete
tratamento detrimentoso para o segurado empregado que também é contribuinte
individual, ou mesmo que tem dois vínculos como empregado, sob pena de ofensa
à isonomia. 7. Não há sentido em se considerar válido possa o contribuinte
individual recolher pelo teto sem qualquer restrição e, por vias transversas, vedar
isso ao segurado empregado que desempenha concomitantemente atividade como
contribuinte individual, ou mesmo que tem dois vínculos empregatícios. E é isso,
na prática, que ocorreria se se reputasse vigente o disposto no artigo 32 da Lei
8.213/91. 8. A conclusão, portanto, é de que, na linha do que estatui a Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro (antiga LICC), ocorreu, a partir de 1º
de abril de 2003, a derrogação do artigo 32 das Lei 8.213/91, de modo que a
todo segurado que tenha mais de um vínculo deve ser admitida, a partir da
competência abril/2003, a soma dos salários-de-contribuição, respeitado o
teto. 9. Hipótese em que tem a demandante o direito de somar os valores das
remunerações a partir da competência abril/2003, inclusive, respeitado obviamente
o teto de contribuição.[157] (grifo do Autor)
Observadas as disposições da ementa supramencionada, nota-se que não se
trata de uma questão acerca de juízo de constitucionalidade quanto ao art. 32 da
Lei nº 8.213/91, mas sim de que a referida norma deixou de ter vigência a partir
de 01/04/2003, haja vista a consolidação dos efeitos dos arts. 9 e 14 da Medida
Provisória (MP) nº 83/2002, que extinguiu definitivamente a escala de salário-
base e tornou inócuo o referido artigo, a esse respeito, veja-se:
Art.9º Fica extinta a escala transitória de salário-base, utilizada para fins de
enquadramento e fixação do salário-de-contribuição dos contribuintes individual e
facultativo filiados ao Regime Geral de Previdência Social, estabelecida pela Lei
nº 9.876, de 26 de novembro de 1999.
Art.14. Esta Medida Provisória entra em vigor na data de sua publicação,
produzindo efeitos, quanto aos §§ 1º e 2º do art. 1º e aos arts. 4º a 6º e 9º, a partir
do dia primeiro do mês seguinte ao nonagésimo dia da sua publicação.
No mesmo sentido da decisão supramencionada, decidiu a Terceira Seção
do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), no julgamento dos Embargos
Infringentes nº 5007039-68.2011.4.04.7003/PR:
PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS INFRINGENTES. LIMITES DA
INFRINGÊNCIA. PREVIDENCIÁRIO. REVISÃO DE BENEFÍCIO.
ATIVIDADES CONCOMITANTES. ART. 32 DA LEI Nº 8.213/91. 1. O salário
de benefício do segurado que contribuía em razão de atividades concomitantes era
calculado nos termos do art. 32 da Lei 8.213/91, somando-se os respectivos
salários-de-contribuição quando satisfizesse, em relação a cada atividade, as
condições do benefício requerido. No caso de o segurado não haver preenchido as
condições para a concessão do benefício em relação a ambas as atividades, o
salário-de-benefício correspondia à soma do salário-de-benefício da atividade
principal e de um percentual da média do salário-de-contribuição da atividade
secundária. 2. O sentido da regra contida no art. 32 da Lei 8.213/91 era o de evitar
que, nos últimos anos antes de se aposentar, o segurado pudesse engendrar
artificial incremento dos salários-de-contribuição que compõem o período básico
de cálculo (PBC), 36 meses dentro de um conjunto de 48 meses, e assim elevar
indevidamente o valor da renda mensal inicial da prestação. 3. Todavia,
modificado o período básico de cálculo pela Lei 9.876/1999, apurado sobre todas
as contribuições a partir de 1994 (as 80% melhores), já não haveria sentido na
norma, pois inócua seria uma deliberada elevação dos salários-de-contribuição,
uma vez ampliado, em bases tão abrangentes, o período a ser considerado. 4. No
cálculo de benefícios previdenciários concedidos após abril de 2003, devem ser
somados os salários-de-contribuição das atividades exercidas
concomitantemente, sem aplicação do art. 32, inclusive para períodos
anteriores a 1º de abril de 2003, e com observação, por óbvio, do teto do
salário-de-contribuição (art. 28, § 5º, da Lei 8.212/91). 5. No caso concreto, em
face dos limites da infringência, fica assegurado o direito da parte autora, de
adicionar os salários-de-contribuição das atividades concomitantes, a partir da
competência abril/2003, inclusive. [158] (grifo do Autor)
Constata-se portanto, que prevalece na 4ª Região Federal o entendimento
de que, no cálculo de benefícios previdenciários concedidos após abril de 2003,
devem ser somados os salários de contribuição das atividades exercidas
concomitantemente, inclusive para períodos anteriores a abril de 2003, com
observância do teto, em face da derrogação do art. 32 da Lei nº 8.213/91 pela
legislação superveniente que fixou novos critérios de cálculo da renda do
benefício, sobretudo a Lei nº 10.666/03, conforme se observa pelo trecho da
notícia a seguir, que decorre acerca da ratificação do entendimento pela Turma
Nacional de Uniformização da Jurisprudência dos Juizados Especiais Federais
(TNU):
(...) A Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais (TNU)
ratificou, por maioria de votos, a tese de que, no cálculo de benefício
previdenciário concedido após abril de 2003, devem ser somados os salários-
de-contribuição das atividades exercidas concomitantemente, sem aplicação
do artigo 32 da Lei 8.213/1991. A decisão foi tomada, por maioria, na sessão do
último dia 22 de fevereiro, realizada na sede do Conselho da Justiça Federal (CJF),
em Brasília. O processo foi julgado como representativo da controvérsia, para que
o entendimento seja aplicado a outros casos com a mesma questão de Direito.
O tema foi levado à TNU em pedido de uniformização ajuizado pelo Instituto
Nacional do Seguro Social (INSS) para reformar acórdão da 2ª Turma Recursal de
Santa Catarina, que manteve sentença garantindo a segurado o direito à revisão da
Renda Mensal Inicial (RMI) mediante a soma dos salários-de-contribuição
vertidos de forma simultânea. Na ação, o INSS alegou que o beneficiário não
preenchia todos os requisitos em cada uma das atividades por ele exercidas para a
concessão do benefício da forma pretendida e, por isso, o cálculo deveria se dar
pela soma do salário-de-contribuição da atividade principal com percentuais das
médias dos salários-de-contribuição das atividades secundárias.
Em seu voto favorável ao INSS, o relator do caso, juiz federal Guilherme Bollorini
Pereira, afirmou que a alegação do Instituto tinha respaldo na jurisprudência do
Superior Tribunal de Justiça (STJ). “A lei prevê expressamente que a soma dos
salários-de-contribuição dos períodos concomitantes somente é admitida caso o
segurado preencha em cada um deles os requisitos para a concessão do benefício
pleiteado. Fora daí, aplicam-se as regras a partir do inciso II do art. 32 da Lei nº
8.213/91. É esse fundamento que representa a jurisprudência dominante no
Superior Tribunal de Justiça”, disse o magistrado, cujo entendimento foi seguido
pelo juiz federal Atanair Lopes.
No entanto, em voto divergente, a juíza federal Luísa Hickel Gamba argumentou
que prevalece na 4ª Região da Justiça Federal o entendimento de que, no cálculo
de benefícios previdenciários concedidos após abril de 2003, devem ser somados
os salários-de-contribuição das atividades exercidas concomitantemente, inclusive
para períodos anteriores a abril de 2003, com observância do teto, em face da
derrogação do art. 32 da Lei nº 8.213/91 pela legislação superveniente que fixou
novos critérios de cálculo da renda do benefício, especialmente a Lei nº 10.666/03.
A magistrada ressaltou que o mesmo entendimento do TRF4 foi uniformizado pela
TNU, sendo a última decisão de 25 de outubro de 2017.
Quanto à alegada contradição à jurisprudência do STJ, Luísa Hickel Gamba
lembrou que a Corte superior ainda não deliberou sobre a matéria com o enfoque
específico do caso em análise, não sendo possível afirmar que a uniformização da
Turma contrarie o entendimento supostamente pacificado do Tribunal. “No
presente representativo de controvérsia, portanto, deve ser ratificada a
uniformização desta Turma Nacional, no sentido de que: tendo o segurado que
contribuiu em razão de atividades concomitantes implementado os requisitos
ao benefício em data posterior a 01/04/2003, os salários-de-contribuição
concomitantes (anteriores e posteriores a 04/2003) serão somados e limitados
ao teto”, concluiu a juíza.
O voto divergente foi seguido à maioria pela TNU. [159] (grifo do Autor)
Assim sendo, com fulcro nos entendimentos do Tribunal Regional Federal
da 4ª Região, bem como da Turma Nacional de Uniformização dos Juizados
Especiais Federais, verifica-se que as contribuições vertidas em todos os
vínculos por segurados que laboraram em atividades concomitantes devem ser
somadas, haja vista que correspondem a um só salário de contribuição, influindo,
então, em uma nova renda mensal inicial e, por conseguinte, em uma nova renda
mensal atual e ainda, no pagamento de atrasados ao segurado que obtiver a
implementação desta tese revisional.
Considerações finais
A fim de dar efetividade ao disposto no art. 28 da Lei de Custeio da
Previdência Social, os benefícios previdenciários que possuíram em seu período
básico de cálculo a presença de atividades simultâneas, também conhecidas
como concomitantes, que quando da realização do cálculo do salário de
benefício não se viram somados os salários de contribuição vertidos, merecem
ser revisados, conforme o entendimento da TNU.
A tese revisional, com embasamento na decisão supracitada, disciplina ser
devida a revisão dos benefícios previdenciários concedidos posterior ou até
mesmo anteriormente à derrogação do art. 32 da Lei de Benefícios
Previdenciários realizada pela Lei nº 10.666/03, em abril de 2003.
A realização da revisão acabará por repercutir no salário de benefício
auferido e, posteriormente, na renda mensal inicial concedida, ensejando,
inclusive, no pagamento das diferenças existentes entre o valor efetivamente
pago e o devido, observada a prescrição quinquenal.
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<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9876.htm>. Acesso em: 20 de julho
de 2018.
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO. RE em AC 0016234-
59.2015.404.9999/RS – VICE PRESIDENCIA – Recorrente: INSTITUTO
NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – Recorrido: MARIA REJANE FELI.
Documento eletrônico disponível em:
<https://jurisprudencia.trf4.jus.br/pesquisa/inteiro_teor.php?
orgao=1&documento=8986310>. Acesso em: 20 de julho de 2018.
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO. EInf 5007039-
68.2011.4.04.7003 – TERCEIRA SEÇÃO – Embargante: INSTITUTO
NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – Embargado: NILVA TEIXEIRA DOS
SANTOS PALANDRI. Documento eletrônico disponível em:
<https://jurisprudencia.trf4.jus.br/pesquisa/inteiro_teor.php?
orgao=1&documento=8104678>. Acesso em: 20 de julho de 2018.
CAPÍTULO 15
PLANEJAMENTO DE APOSENTADORIA E
CONCESSÃO

THIAGO LUCHIN
Advogado formado pela FMU/SP em 2008, sócio da Aith, Badari e Luchin
Sociedade de Advogados. É especialista em direito previdenciário, foi coautor da
obra “Desaposentação – Justiça Social para o Aposentado Brasileiro”.
Atualmente é membro da Comissão de Ética e Disciplina e Diretor Executivo da
Comissão de Direito Previdenciário da OAB de Santo André.
1 Educação previdenciária
Ao começar por este tema, é preciso voltar ao tempo e entender o que
motivou a criação dos antigos fundos de pensão que acabaram se tornando o
Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) como se conhece hoje.
Na década de 1920, o então Deputado Federal Eloy Chaves, em uma
viagem de trem, ouviu as aspirações dos trabalhadores da companhia de ferro e
dos passageiros que viajavam por ela. Longas jornadas de trabalho, riscos de
acidentes e até de morte precisavam ser compensados com uma segurança.
Foi desta forma que apresentou o Projeto de Lei que garantiria o seguro
aos trabalhadores e suas famílias.
Com o tempo, muita coisa mudou, principalmente nos últimos 30 anos,
com as políticas governamentais aplicadas aos benefícios previdenciários, que
passaram a ter correções menores, a perder o poder de compra e, até mesmo,
terem direitos sociais cortados.
Estas mudanças estão diretamente relacionadas com o dinamismo criado
nos novos mercados de trabalho, a economia moderna e, claro, com a
expectativa de vida dos brasileiros, que passou a ter um aumento significativo.
Devido a estas mudanças, muitos passaram a enxergar o INSS como um
ônus e não mais como um benefício e uma segurança para a família.
O que se vê atualmente são centenas, milhares de trabalhadores, sobretudo
os autônomos ou os que trabalham em empresas menores, optarem por ficar na
informalidade e deixarem de recolher a Previdência Social com a intenção de
economizar e se afastar do sistema previdenciário.
Esta é uma falsa impressão de economia e o erro por esta escolha só
costuma aparecer quando há a necessidade de ter um benefício, ou seja, quando
ocorre um acidente, uma incapacidade por doença, temporária ou não, quando
chega o momento de se aposentar e em caso de óbito.
Diante disso, faz-se necessário garantir proteção ao trabalhador e sua
família, por meio do sistema público de política previdenciária solidária,
inclusiva e sustentável, com o objetivo de promover o bem-estar social.
Todavia, como não existe, por parte do Governo, um programa de
educação previdenciária amplo e que atinja os trabalhadores de forma direta em
suas ansiedades, essas pessoas ficam à mercê dos acontecimentos e opiniões
alheias e sem fundamento, acarretando, em muitos casos, prejuízos irreversíveis
para o resto da vida.
Por bem, o planejamento de aposentadoria, principal pilar do direito
previdenciário e um dos que mais se fortalece, sobretudo por ser a base para os
demais, é considerado um trabalho de política pública que vem sendo aplicado
por escritórios de advocacia e advogados autônomos.
Como resultado, tem trazido benefícios adequados e mais justos a muitos
trabalhadores, desempregados e donas de casa que, com estes ensinamentos,
estão se vinculando corretamente ao sistema e passam a ter uma visão segura da
missão da Previdência Social, garantindo assim um seguro no futuro.
2 Pilares do direito previdenciário
Para uma compreensão do Direito Previdenciário em sua amplitude, ele
deve ser dividido em quatro pilares, sendo o primeiro pilar, como já dito, o
planejamento de aposentadoria. Isto porque, ele é a base da educação e do direito
previdenciário. Com ele, o trabalhador terá uma noção correta do que envolve
sua aposentadoria e outros benefícios, fazendo que atue no momento correto
para ter o benefício mais vantajoso e, com isso, uma segurança da Previdência,
tendo a possibilidade de evitar qualquer tipo de prejuízo.
O segundo pilar é o do ato da concessão de aposentadoria, ou qualquer
outro requerimento de benefício. Tal pilar se aplica para quem já atingiu os
requisitos para uma concessão, seja ela por tempo comum ou idade, bem como
para os que sofrem com uma patologia, recebendo benefícios por incapacidade
ou, ainda, são dependentes de segurado falecido.
O terceiro pilar trata da revisão da aposentadoria, e pode ser considerado
um dos mais amplos, uma vez que, atualmente, existem mais de 30 tipos de
revisões, além de teses revisionais que estão sendo discutidas e aguardam
julgamento dos Tribunais Superiores. Além do mais, há também as revisões
conhecidas como revisões de fato, que buscam corrigir erros cometidos pela
autarquia no ato concessório, como simplesmente deixar de computar
determinado salário de contribuição, analisar determinado período ou, então,
converter tempo especial, por exemplo.
O quarto e último pilar trata do direito previdenciário empresarial, tema
ainda pouco discutido, embora com grande abrangência, pois afeta de modo
direto todas as empresas, independentemente do tamanho.
3 Requerimento do benefício
Em 2017, o INSS registrou um aumento de mais de 30% nos pedidos de
aposentadoria em relação ao ano de 2016[160].
Este aumento ocorreu exclusivamente por conta da Proposta da Reforma
Previdenciária, que estava em trâmite no Congresso Nacional como Medida
Provisória (MP) nº 767 de 2017, cuja perspectiva era a de ajustar as contas
públicas fulminando diversos direitos sociais.
Pela já mencionada falta de educação previdenciária e, por conseguinte, a
falta de planejamento para se aposentar, o resultado foi caótico.
Inicialmente, para os servidores do INSS que não estavam preparados para
recepcionar essa quantidade de pessoas nas agências, com uma infinidade de
dúvidas e os mais diversos questionamentos e anseios, sendo um dos principais o
medo de ficar sem o benefício e não conseguir mais se aposentar um dia.
Já para esta enorme quantidade de segurados, o resultado foi ainda pior, foi
devastador! Isto porque, o medo da reforma e o pensamento coletivo de que
poderiam ficar sem se aposentar e, ainda, teriam uma diminuição de valores,
cumulado com o despreparo dos servidores, fizeram que, aos milhares,
tomassem a atitude de, às pressas solicitarem o requerimento de aposentadoria.
Como muitos já tinham os requisitos mínimos para a concessão do
benefício, infelizmente foram concedidos e estavam aposentados pelo INSS.
No primeiro momento, a sensação foi de alívio, uma vez que conseguiram
escapar e garantir a aposentadoria. Ocorre que a reforma não veio e, hoje, com o
passar do tempo, passaram a se questionar se foi a atitude correta, pois o
benefício ficou aquém do esperado.
O que se vê agora é uma procura desesperada por escritórios de advocacia
para tentar reverter a situação.
Lamentavelmente, quando o segurado saca o benefício, o PIS ou o FGTS,
entende-se que o benefício foi aceito, sem muitas perspectivas de reversão para
estes casos, salvas exceções como direito adquirido a outro benefício, por
exemplo.
Há um caso de agosto de 2017 que vale ser citado, haja vista que foi no
ápice da aprovação da reforma, em que o segurado correu para o INSS com
medo de perder o direito de se aposentar, deu entrada às pressas para se garantir
e conseguiu o benefício, pois já tinha os 35 anos de tempo de contribuição.
Ocorre que faltavam 4 meses para se enquadrar na Regra 85/95 que afastaria o
fator previdenciário.
Como ele não sabia, sacou o benefício e ficou contente no primeiro
momento, porque conseguiu garantir uma aposentadoria e escapou da malfadada
reforma.
Passado o tempo, a reforma não veio e começou a se questionar se fez a
atitude correta. Tristemente, com a aplicação do fator previdenciário, o benefício
ficou aproximadamente R$ 1.200,00 menor do que se tivesse completado o
tempo para a Regra 85/95.
Com o planejamento de aposentadoria, haveria a certeza de que já teria os
requisitos mínimos, o direito adquirido garantido e conseguiria determinar com
precisão o melhor momento para ter o benefício mais vantajoso, evitando um
prejuízo mensal que, agora, vai amargar para o resto da vida.
Assim como neste exemplo, outros tantos milhares de trabalhadores
tomaram esta atitude. No entanto, a reforma da previdência proposta pela MP nº
767, mesmo com todo o seu retrocesso social, garantiria o direito adquirido e
traria regras de transição, como o pedágio, para aqueles que não atingissem as
condições, mas estavam próximos de conseguir.
Esta é, sem dúvidas, a primeira obrigação para se garantir a segurança
jurídica e os direitos mínimos dos trabalhadores em qualquer reforma.
4 Melhor benefício
Naturalmente é muito bom ter uma renda a mais em qualquer momento da
vida e, assim, ter um alívio nas contas. Porém, quando se fala em aposentadoria,
é fundamental pensar a longo prazo e ponderar como estarão após 15, 20 ou até
mesmo 30 anos depois que se aposentarem.
Este pensamento é necessário, já que, em decorrência dos índices de
atualizações aplicadas às aposentadorias, elas tendem a perder o poder de
compra ao longo dos anos. Por esta razão, é muito comum o advogado
previdenciário se identificar com um questionamento recorrente ao atender um
cliente que já está aposentado há 20 anos ou mais, a saber: aposentei-me com 6,
7, 9 salários e hoje, estou recebendo 2, 3 ou 4.
Por esta razão, é fundamental que busquem o benefício mais vantajoso,
pois, ao se pensar em aposentadoria, deve-se pensar a longo prazo, momento que
será quando as pessoas mais vão precisar.
5 Planejamento de aposentadoria
O planejamento de aposentadoria consiste em determinar com precisão
qual é o melhor momento para se aposentar, buscando o benefício mais
vantajoso, no menor tempo e, quando possível, efetuando a menor contribuição.
O planejamento é possível, pois utiliza a matemática por meio de inúmeras
simulações decorrentes das diferentes regras de cálculo na aposentadoria. Ele
leva em conta os recolhimentos efetuados, o tempo de contribuição, a idade, a
Regra 85/95, o fator previdenciário e a proposta da reforma da previdência.
Ele é recomendado para todas as pessoas, trabalhadores ou não, com o
intuito de verificar a atual situação com clareza, levando educação
previdenciária, em tempo hábil para a eventual necessidade de correção.
Como o sistema do INSS e das empresas só começaram a ser
informatizados nas últimas décadas, ainda é muito comum encontrar
divergências nas informações que, se forem deixadas para corrigir no momento
da aposentadoria, podem acarretar atrasos, perda de informação e,
consequentemente, prejuízos.
Desta forma, é possível saber o valor correto que deverá pagar e o quanto
vai receber de aposentadoria, buscando o momento exato de se aposentar com a
melhor rentabilidade, para não ter prejuízos.
6 Passo a passo para elaborar um planejamento
Para elaborar um bom planejamento, o primeiro passo é fazer um
levantamento da documentação necessária; documentos pessoais, o Cadastro
Nacional de Informações Sociais (CNIS), carteiras de trabalho, carnês de
contribuição, perfil profissiográfico previdenciário (PPP) e outros documentos
que comprovem a atividade, a exemplo do termo de rescisão de contrato de
trabalho, holerites e até mesmo ficha de registro autenticada, se necessário.
Ainda, é fundamental ter um ótimo sistema de cálculo previdenciário, pois,
em alguns casos, serão necessárias uma infinidade de cálculos e simulações
futuras com as mais diversas variáveis.
Por fim, não se deve focar só no resultado dos cálculos passando esta
referência para o seu cliente, é preciso levar informação, educação e certeza de
que a pessoa terá o benefício mais vantajoso, é preciso ir além.
7 Entendendo as dores
Quando se trata de direito previdenciário, não existe uma regra fixa, cada
caso e cada segurado têm um perfil. Não existe uma mesma pessoa com as
mesmas características de idade, contribuições, vínculos ou erros, ou seja, não há
um modelo pronto; entretanto, pode-se montar um esqueleto para dar um
direcionamento.
Desta forma, por meio de uma boa entrevista, deve-se entender as dores da
pessoa. O que ela precisa, em que lugar ela quer chegar e já vislumbrar o que
será necessário e o que precisa ser corrigido.
Para isto, é fundamental um bom relatório extraído da ficha de
atendimento padronizada para a consequente qualificação do caso.
Já na qualificação, é possível identificar situações que merecem ser
corrigidas e precisam ser apontadas no relatório final do planejamento, para
garantir os direitos do segurado no momento em que chegar a aposentadoria.
Dentre elas, as mais comuns são os indicadores de pendências; vínculos
que constam em aberto no CNIS, recolhimentos extemporâneos, recolhimentos
equivocados, necessidade de solicitar perfil profissiográfico previdenciário ou
correção deste, entre outros.
Para a maioria das correções são exigidos o extrato analítico de FGTS,
Termo de Rescisão de Contrato de Trabalho, declaração de imposto de renda e
outros conforme o caso.
Feito isto, já com base nas simulações, faz-se necessário identificar qual é
a espécie de aposentadoria que melhor se enquadra ao caso e fazer uma
explicação clara e sucinta de como ela é para levar conhecimento ao segurado
que terá o benefício.
8 Cálculo da aposentadoria
Um fator importante é demonstrar as hipóteses de cálculos, por exemplo,
na aposentadoria por tempo de contribuição.
O cálculo para esta espécie de aposentadoria é feito com base na média
dos 80% maiores salários de contribuição devidamente atualizados, de 07/1994
até a data do requerimento, multiplicado pelo coeficiente 1 na opção integral e
pelo fator previdenciário, que leva em conta o tempo de contribuição,
expectativa de sobrevida, idade e alíquotas do INSS.
Se o segurado optar por afastar o fator previdenciário da aplicação do
cálculo, deverá contribuir até atingir os requisitos da Regra 85/95 progressiva,
estipulados pela Lei nº 13.183/2015, que considera a somatória do tempo de
contribuição e da idade.
Ela é progressiva, pois, a partir de 12/2018, passará a ser 86/96 até atingir
90/100 em 12/2026, quando se torna definitiva.
Levando em conta a regra de cálculo trazida pela proposta de reforma da
previdência MP nº 767, o valor do benefício parte de 60% do salário de
contribuição e tem ganhos crescentes ao longo dos anos, com a intenção de
incentivar a permanência no mercado de trabalho.
O adicional corresponde a 1,0 ponto percentual para cada ano entre 15 e 25
anos de contribuição; 1,5 pontos entre 25 e 30 anos; 2,0 pontos entre 30 e 35
anos e, para cada ano que superar os 35 anos de contribuição, serão acrescidos
2,5 pontos percentuais até chegar a 100% do salário.
9 Simulações
Para facilitar a compreensão, é possível citar um caso de planejamento
realizado em 11/2017, de uma mulher autônoma, com 30 anos de tempo de
serviço e com quase todo o período base de cálculo pelo teto, 52 anos de idade,
tendo, assim, os requisitos para conseguir uma aposentadoria. O questionamento:
será que devo me aposentar agora?
Se esta fosse a sua escolha, o benefício ficaria estimado em R$ 3.096,10.
Haveria uma redução de aproximadamente 38% da média dos salários de
contribuição em decorrência da aplicação do fator previdenciário.
Caso esta segurada faça a opção pela Regra 85/95 progressiva, ela terá que
aguardar até 12/2019 quando completa os 86 pontos. Como vantagem, afastará a
incidência do fator, gerando uma renda estimada que hoje corresponde a R$
5.050,00.
Ainda, se as contribuições restantes fossem realizadas pelo valor do teto, à
época R$1.106,26, o investimento total neste período seria de R$ 26.550,29 e a
recuperação deste valor se daria em 6 meses.
Se as contribuições fossem pagas pelo valor da metade do teto, R$ 553,13,
o benefício ficaria estimado em R$ 4.875,00. O investimento seria de R$
13.275,10, que seria recuperado em 3 meses.
Em um quarto cenário, se as 24 contribuições continuassem sendo pagas
pelo valor do salário mínimo, que correspondiam a R$ 187,40 à época, o
benefício seria de R$ 4.870,00 e investidos, neste caso, aproximadamente R$
4.500,00.
Agora, analisando a possibilidade de mudanças na legislação, a segurada
entraria na regra de transição que prevê idade mínima e pedágio de 30% sobre o
tempo de contribuição que falta de acordo com as regras dispostas. O requisito
para o requerimento desta aposentadoria ocorreria em 11/2018, quando a
segurada completar 53 anos de idade. Há uma redução de aproximadamente 21%
da média dos salários de contribuição.
Sendo assim, o salário de benefício ficaria estimado em R$ 3.500,00, se as
11 contribuições restantes fossem pagas pelo valor correspondente ao teto. O
investimento é de R$ 12.170,00 recuperados em 4 meses.
Se as contribuições forem pagas pelo valor da metade do teto, o benefício
seria de aproximadamente R$ 3.515,00. O investimento de R$ 6.100,00 seria
totalmente recuperado em 2 meses.
Caso o segurado contribua pelo valor do salário mínimo, o benefício
ficaria estimado em R$ 3.360,00. O valor do investimento seria de R$ 2.060,00.
O quadro abaixo visa ilustrar os possíveis benefícios que serão recebidos
dada a preferência das simulações explanadas:






















A nova proposta traz prejuízo à segurada, se comparada a outras hipóteses,
ainda, não é possível prever se haverá mudanças até a sua aprovação ou se ela
será aprovada; contudo, é possível ter uma visão ampla do direito adquirido, ou
seja, o mínimo já está garantido, é preciso ir em busca do benefício mais
vantajoso.
Para melhor elucidar as diferenças de ganhos obtidos a longo prazo, que é
o ideal na escolha de uma aposentadoria, pode-se observar o gráfico abaixo:











A partir da análise dos quadros e estimativas apresentadas, nota-se que o
valor que a segurada deixa de receber ao optar pela aposentaria em 01/2018 é
recuperado de forma gradual, caso a aposentadoria seja requerida
posteriormente.
De qualquer forma, a opção pela aposentadoria 2, 3 ou 4, enquadradas pela
Regra 85/95, tende a ser uma melhor escolha, pois vai trazer mais vantagem a
longo prazo, momento em que o aposentado mais vai precisar de uma boa renda.
10 Investimento X retorno
Diante das simulações apresentadas, é cristalino que o sistema
previdenciário brasileiro, em que pese todos os problemas noticiados, deve ser
tratado com a ideia de investimento e não apenas uma obrigação dos
trabalhadores com o Governo como se vem entendendo nos últimos anos. Por
meio de um planejamento de aposentadoria, é possível determinar, em algumas
situações, o valor que será investido e a taxa de retorno, como ocorre com
autônomos e empresários.
Para todos os casos, é possível determinar com precisão e segurança o
valor que passará a receber em qualquer tipo de aposentadoria, portanto,
devendo ser tratada como um investimento seguro para as donas de casa,
profissionais autônomos (dentistas, médicos, engenheiros, advogados, etc.),
brasileiros que moram no exterior, aqueles que têm múltiplas atividades e até
mesmo os desempregados.
É fundamental que o advogado presidencialista que levará este
conhecimento à população brasileira tenha sempre em mente incentivar o
segurado a não desistir da aposentadoria por conta do tempo que falta, pois o
tempo vai passar de qualquer forma.
Referências bibliográficas
CAMPOS JUNIOR, Geraldo. INSS aprovou apenas 38% dos pedidos de
aposentadoria. Gazeta Online, 2017. Documento eletrônico disponível em:
<https://www.gazetaonline.com.br/noticias/economia/2017/12/inss-aprovou-
apenas-38-dos-pedidos-de-aposentadoria-1014109882.html>. Acesso em: 28 de
setembro de 2018.
BRASIL, Lei nº 13.183, de 04 de novembro de 2015. Altera as Leis nºs 8.212,
de 24 de julho de 1991, e 8.213, de 24 de julho de 1991, para tratar da
associação do segurado especial em cooperativa de crédito rural e, ainda essa
última, para atualizar o rol de dependentes, estabelecer regra de não incidência
do fator previdenciário, regras de pensão por morte e de empréstimo consignado,
a Lei nº 10.779, de 25 de novembro de 2003, para assegurar pagamento do
seguro-defeso para familiar que exerça atividade de apoio à pesca, a Lei nº
12.618, de 30 de abril de 2012, para estabelecer regra de inscrição no regime de
previdência complementar dos servidores públicos federais titulares de cargo
efetivo, a Lei nº 10.820, de 17 de dezembro de 2003, para dispor sobre o
pagamento de empréstimos realizados por participantes e assistidos com
entidades fechadas e abertas de previdência complementar e a Lei nº 7.998, de
11 de janeiro de 1990; e dá outras providências Documento eletrônico disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-
2018/2015/Lei/L13183.htm> Acesso em: 20 de junho de 2018.
BRASIL, Medida Provisória nº 767, de 06 de janeiro de 2017. Altera a Lei nº
8.213, de 24 de julho de 1991, que dispõe sobre os Planos de Benefícios da
Previdência Social, e a Lei nº 11.907, de 2 de fevereiro de 2009, que dispõe
sobre a reestruturação da composição remuneratória da Carreira de Perito
Médico Previdenciário e da Carreira de Supervisor Médico-Pericial, e institui o
Bônus Especial de Desempenho Institucional por Perícia Médica em Benefícios
por Incapacidade. Documento eletrônico disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/Mpv/mpv767.htm>.
Acesso em: 3 de junho de 2018.
CAPÍTULO 16
MARKETING JURÍDICO E A JORNADA DO
CLIENTE: O QUE ESPERAR DE UM ESCRITÓRIO
DE ADVOCACIA?

RENATA BRANDÃO CANELLA
Advogada, graduada em Direito pela Universidade Estadual de Londrina (UEL),
Mestre em Processo Civil e Especialista em Direito Empresarial pela
Universidade Estadual de Londrina (UEL), Especialista em Direito do Trabalho
pela AMATRA, docente de Processo Civil e Direito Previdenciário na faculdade
UNINORTE nos anos de 2003 a 2007, escritora de artigos especializados,
palestrante, sócia e gestora do Escritório Brandão Canella Advogados
Associados, membro associado do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário
(IBDP), membro da Comissão de Direito Previdenciário da OAB Londrina de
2014 a 2016, presidente da Associação Brasileira dos Advogados
Previdenciários (ABAP).

CAROLINE ITO MARIANO DE SOUZA
Graduanda em Direito pelo Centro Universitário Filadélfia – UNIFIL, Pós-
Graduanda em Direito Civil e Direito Processual Civil pelo Centro Universitário
Filadélfia – UNIFIL. Aprovada no XXV Exame da Ordem dos Advogados do
Brasil.
Introdução
O presente artigo tem como objetivo traçar alguns pontos relevantes da
jornada do cliente em um escritório de advocacia, principalmente focado em
escritórios de advocacia de grande demanda, como os que atuam com o Direito
Previdenciário, parte-se do marketing realizado para fazer que o cliente chegue
ao escritório com toda a sua trajetória até o fim do processo.
Partindo dessa premissa, muito tem se falado sobre o modelo Disney de
gestão para todos os setores da economia, inclusive sobre a aplicação deste
modelo para os escritórios de advocacia.
Ao observar o modelo Disney de atendimento ao cliente, bem como a
jornada do cliente (turista) dentro de um parque da Disney, chega-se à conclusão
de que o acolhimento faz parte de uma jornada satisfatória e que tende ao retorno
dos turistas ao parque.
Alguns problemas são comuns nos parques da Disney: a) o turista que não
fala inglês e que precisa de ajuda; b) aquele que precisa esperar por diversas
horas em uma fila para brincar em apenas uma atração; c) o turista que está com
fome, mas as comidas dos parques não são do seu gosto; d) o turista que, mesmo
cansado, tem de ficar na fila exposto de sol a sol esperando sua vez de brincar,
etc.; porém, em que pesem esses problemas, eles não afastam os turistas nem
atingem a reputação do parque.
Fazendo um paralelo entre o escritório de advocacia e os parques da
Disney, a jornada do cliente no escritório é a experiência de férias na Disney.
Existem vários obstáculos e dificuldades a serem superadas num dia de parque
na Disney, mas o que faz o cliente voltar? O que a Disney faz para que a
experiência do cliente, mesmo que por alguns momentos desafiadora, seja
agradável de um modo geral? Para responder a essas perguntas, são necessárias
quatro palavras: segurança, cortesia, eficiência e show, que compõem o
encantamento do cliente.
Assim, este artigo objetiva demonstrar como o modelo de gestão Disney
pode ser aplicado à gestão de escritórios de advocacia e, como aliado a um bom
marketing jurídico, pode garantir a melhor experiência ao cliente, buscando sua
satisfação e fidelização.
1 A jornada do cliente
Como na Disney, a jornada do cliente em um escritório de advocacia tem
que ser de tal maneira satisfatória que ele queira voltar.
Esta tarefa se torna mais difícil quando se trata de processos judiciais que
muitas vezes envolvem experiências dolorosas para as partes envolvidas ou,
ainda, envolvem dinheiro, finanças, impostos, partilha de bens, entre outros, e
que, na maioria das vezes, extrapolam o limite de tempo razoável para a sua
conclusão.
Pois bem, mesmo diante das adversidades, o gestor do escritório de
advocacia tem de superar as expectativas do seu cliente e fazer que a jornada
dele seja satisfatória e acolhedora.
Entende-se por jornada do cliente o período de tempo que o cliente
percorre juntamente com o escritório e seus colaboradores, durante a duração do
seu processo, e pode ser dividida em atração, contratação e pós-venda.
Melhor dizendo, a jornada do cliente começa no marketing que o leva até o
escritório, sendo esta a fase da atração, a partir do atendimento telefônico,
quando ele marca horário, seguido pelo atendimento da secretária ou
recepcionista, até o primeiro atendimento com o advogado e assinatura do
contrato, tem-se a fase de contratação, tudo o que ocorre a partir daí, ou seja, a
busca de documentos, os diversos atendimentos, a propositura da ação, o
acompanhamento de audiências e perícias, a sentença, os recursos, a execução,
etc., até o término do processo (de forma positiva ou negativa para parte),
constitui a fase de pós-venda.
Cada escritório deve desenvolver técnicas de atendimento ao cliente e
estabelecer pontos de contato com ele, por exemplo, ao solicitar documentos,
informar a data de realização de perícia e audiência, se foi proferida sentença
procedente/improcedente, se o recurso foi provido/improvido, se houve
implantação de benefício, o valor dos atrasados, efetuar prestação de contas, etc.,
sendo importante tratar sobre os honorários contratuais em quase todo ponto de
encontro (de modo leve, como uma forma de relembrar o cliente dos valores
combinados).
É fundamental dar ciência ao cliente, desde o primeiro encontro, dos
momentos em que o escritório irá contatá-lo e as condições do serviço que será
prestado. Importante, também, estabelecer a forma de comunicação entre este e o
escritório, como redes sociais, e-mails, telefones, WhatsApp, etc.
Outro ponto importante são os honorários contratuais, que precisarão,
desde cedo, ser explicados, compreendidos e honrados, sempre de forma escrita,
assinado pelas partes e com o fornecimento de uma via ao cliente.
Uma boa experiência do cliente com o escritório é o que gera a fidelização
e possível retorno deste para uma nova ação, além de que um cliente satisfeito é
uma das melhores formas de marketing.
2 Conhecendo e entendendo seu cliente
Ao buscar um escritório de advocacia o cliente cria diversas expectativas
sobre como será atendido, portanto, deve-se estabelecer um padrão de excelência
no atendimento aos clientes, e isso começa desde o primeiro contato, uma vez
que se objetiva gerar a fidelização do cliente.
No primeiro contato, o cliente coloca à prova todos os aspectos que
observou do advogado, e é nesse primeiro contato que o advogado tem a
oportunidade ideal para despertar a confiança do cliente e mostrar que quer e
pode ajudá-lo, sempre lembrando que as primeiras palavras ditas para alguém
que não o conhece podem determinar a forma como esta pessoa vai vê-lo pelo
resto da vida.
Ainda, o contato entre advogado e cliente deve estar embasado na empatia
a partir de gestos, no tom de voz usado e na utilização de uma linguagem clara e
objetiva, sempre lembrando que o cliente não conhece os termos técnicos e não
apresenta o mesmo conhecimento jurídico que o advogado.
Em cada segmento da advocacia é possível observar um tipo diferente de
cliente, assim, é importante que o advogado, ao delimitar sua área de atuação,
busque pesquisar quem são seus possíveis clientes, e assim, poderá prestar um
atendimento ainda melhor e mais personalizado.
Para gerar a fidelização de clientes é preciso criar um “encantamento”. A
fidelização é um processo de médio a longo prazo que inclui, além da qualidade
do serviço, a construção de um vínculo duradouro, que somente é construído se
o escritório tem como valor principal o foco no cliente, ou seja, na jornada deste
cliente enquanto em contato com o escritório.
Focar no cliente é antecipar suas necessidades e saber lidar com a
ansiedade dele (tendo em vista que o processo judicial demora, e muito), sempre
trabalhando com a empatia e respeito, indicando os melhores caminhos a seguir
e descobrindo e resolvendo problemas que o cliente não havia conseguido
localizar.
Na medida em que o advogado engaja o cliente, este desenvolve maior
confiança em relação àquele. Quanto mais se conhece o público, mais
personalizado se torna o atendimento, e essa é uma das razões que fazem o
cliente voltar e indicar novos clientes.
3 Marketing jurídico: o seu produto é invisível
Investir na fidelização de clientes pode trazer muitas vantagens ao
advogado, uma vez que o maior bem do escritório é o cliente fiel, pois é ele que
pode garantir a prospecção de novos clientes. O bom desenvolvimento da
jornada do cliente e sua fidelização interferem diretamente no marketing jurídico
do seu escritório.
Ao contrário do que muitos pensam, o marketing jurídico não é proibido,
sendo expressamente permitido pelo Código de Ética e Disciplina da Ordem dos
Aadvogados do Brasil (OAB), porém, deve ser usado de maneira ponderada.
O Código de Ética e Disciplina da OAB possui capítulo específico para
tratar da publicidade profissional, e é complementado pelo Provimento nº
94/2000 da OAB.
O art. 39 do Código de Ética e Disciplina da OAB estabelece que “a
publicidade profissional do advogado tem caráter meramente informativo e deve
primar pela discrição e sobriedade, não podendo configurar captação de clientela
ou mercantilização da profissão”, a partir disso, é possível inferir que nem todas
as formas de publicidade são permitidas aos advogados.
O marketing de conhecimento (publicação de artigos em sites, revistas,
livros, etc.), por exemplo, é permitido, todavia, o mais eficaz é o chamado
marketing boca-a-boca. Com a fidelização dos clientes, estes se tornem os seus
melhores vendedores. Felipe Thomé[161] cita alguns benefícios desse tipo de
marketing:
a. Antigamente, o marketing boca-a-boca acontecia quase que
exclusivamente de um para um, hoje, porém, com as redes sociais, o
compartilhamento de ideias está cada vez mais público e abrangente, e um
comentário positivo atinge muito mais pessoas;
b. Devido à exaustiva quantidade de mensagens publicitárias a que se está
exposto diariamente, as pessoas tendem a buscar o que outras pessoas falam
sobre determinado serviço;
c. A recomendação de uma pessoa de confiança é muito mais impactante
do que qualquer mensagem publicitária;
d. O boca-a-boca irá potencializar os demais esforços de marketing
realizados, ou seja, se alguém já pensa em contratar seus serviços, ao receber a
recomendação de um conhecido, irá tomar a decisão de contratar mais
rapidamente.
Como forma de estabelecer uma conexão com o cliente, é importante
deixar à disposição deste, nos materiais do escritório (cartões de visita, blocos de
anotações, portifólio, etc.) todas as formas de contato, inclusive o site,
Instagram, Facebook, e outras redes sociais, para que possa ter acesso ao
conteúdo digital do escritório.
Além disso, surpreender o cliente é uma ótima forma de incentivar que ele
fale positivamente de seu escritório, bem como pedir para que ele compartilhe
seu conteúdo, crie conteúdo relacionado ao seu serviço, faça check-in quando for
ao escritório, escreva reviews, etc., isso auxilia o cliente a falar bem do
escritório, pois, muitas vezes, este quer fazê-lo, mas não sabe como.
Segundo o Estudo Global de Confiança em Publicidade realizado pela
Nielsen em 2015[162], 83% dos entrevistados afirmaram confiar completa ou
parcialmente nas recomendações de amigos e familiares, corroborando a ideia de
que o marketing boca-a-boca é uma das melhores formas de divulgação do
advogado.
Outra forma de marketing jurídico que vem sendo cada vez mais explorada
pelos escritórios é o marketing jurídico digital, autorizado pelo art. 46 do Código
de Ética e Disciplina da OAB.
Assim, é permitido que escritórios de advocacia e advogados divulguem
seu trabalho por meio de perfis e páginas em redes sociais e, também, com a
criação de sites próprios. Porém, Diego Martins ressalta que, para ter êxito no
marketing digital, é necessário que se tenha um site esteticamente bem
apresentável, posts focados em sua área de atuação e que se estabeleça uma
conexão com os seguidores, vez que estes são possíveis clientes[163].
Independente da forma de marketing escolhido é necessário traçar um
plano de atuação, que constitui em realizar uma avaliação do mercado em que se
está inserido, definir qual o público alvo que deseja atingir, escolher qual mídia
irá focar, traçar metas e objetivos e, por fim, verificar os resultados
alcançados[164].
Investir em um bom plano de marketing jurídico e em sua execução,
embora demande tempo e esforço, é essencial no atual mercado da advocacia, e
pode ser o diferencial que irá atrair cada vez mais clientes.
4 O marketing jurídico pessoal
Além dos pontos tratados anteriormente, os advogados devem considerar a
imagem pessoal em seu plano de marketing.
A imagem pessoal, a organização e a estrutura do escritório (ambiente de
recepção, organização física, utilização de uniforme pelos funcionários, etc.), são
pontos altos de sua comunicação com o cliente. Muito importante, também, é a
vestimenta, o cabelo, a limpeza, a maquiagem e, sobretudo, a etiqueta social de
todos os colaboradores do escritório.
Ademais, a etiqueta social está relacionada a diversos aspectos da vida em
sociedade, e é composta por um conjunto de regras de comportamento. Essas
regras são baseadas no bom senso, na cordialidade e no respeito ao próximo e
tornam mais fácil e agradável o convívio social e profissional. Em que pesem a
vestimenta e a imagem pessoal serem essenciais para a etiqueta social, outros
fatores são importantes: como gestos, linguagem corporal e verbal,
cumprimentos, etc., ressaltando que, no ambiente corporativo, não há lugar para
gritos, mal humor, gestos extravagantes ou palavrões, e todos devem ser tratados
com cordialidade e educação, com cumprimentos e tom de voz adequados.
É possível encontrar regras de etiqueta social para muitas situações, do
âmbito público ao privado, do real ao virtual, sendo que a aplicação dessas
regras no cotidiano transmite confiança e gera a admiração profissional do
cliente para com o advogado.
A questão é que existem códigos na sociedade e roupas têm a ver com isto. São
regras de conduta e cada trabalho exige uma adequação. O brasileiro tende a levar
tudo na informalidade. É importante ter em mente que existe uma seriedade, uma
formalidade que precisa ser respeitada. O dress code tem um propósito de ajudar
neste sentido. Na área jurídica esta formalidade é bem evidenciada. [165]
Para operadores do direito o chamado dress code é essencial, assim,
juntamente com a imagem organizacional do escritório, a imagem pessoal e a
etiqueta social compõem o marketing jurídico pessoal do advogado.
Conforme salienta Melissa Salzani, “comportamentos adequados e éticos
aumentam a confiança como ser sociável e profissional” [166], bem como, para a
consultora de imagem Caroline Pasetti:
A imagem é diretamente associada à qualidade dos relacionamentos e ao
profissionalismo que toda empresa deve buscar projetar junto aos seus clientes,
consumidores e parceiros. A falta da imagem adequada ou de etiqueta dentro de
uma empresa, pode sim, inviabilizar uma negociação, e a imagem adequada pode
comprovadamente ajuda a influenciar positivamente suas interações nos negócios.
[167]

Portanto, nota-se a importância do marketing pessoal para o dia a dia na


advocacia, seja para passar uma boa impressão ao cliente ou como forma de
obter respeito dos demais profissionais do ramo.
5 Um pouco do modelo Disney de gestão aplicado a escritórios de advocacia
Para a advocacia, é muito importante que se mantenha os clientes
satisfeitos, pois ninguém fala bem ou recomenda algo que não gosta, por isso é
necessário que o advogado procure sempre superar as expectativas, dar atenção e
se preocupar com o sucesso, saúde e o bem-estar do cliente. Ter um
relacionamento próximo e resolver rapidamente os problemas que venham a
surgir também irá passar uma boa impressão ao cliente. Possuir clientes
altamente satisfeitos é a base para todo tipo de marketing boca-a-boca.
O modelo Disney de gestão é pautado em 4 chaves, quais sejam:
segurança, cortesia, show e eficiência, e são o que garante a excelência do
serviço prestado e o alto índice de fidelização de clientes. Nesse modelo, estar à
disposição, identificar o problema de imediato e trazer uma solução eficaz passa
credibilidade e atenção.
Para Camila Berni[168], a aplicação do método de gestão Disney em
escritórios de advocacia consiste em especial atenção à jornada do cliente no
escritório, a utilização do marketing jurídico ético, a qualidade e cordialidade no
atendimento aos clientes e foco no cliente.
Conforme já mencionado, a jornada do cliente compreende todo o período
em que este mantém contato com o escritório e é essencial para a sua
fidelização. A Disney ensina que a chave para o sucesso da jornada do cliente no
escritório é superar suas expectativas, para tanto, é necessário que todos os
passos dessa jornada sejam bem delimitados e explicados desde o primeiro
atendimento, pois é essa organização que irá possibilitar ao advogado entregar
um serviço cada vez mais personalizado e satisfatório.
Seguindo o modelo Disney, a melhor forma de marketing é um cliente
satisfeito, já que uma boa indicação, recomendações e comentários positivos
darão maior credibilidade ao escritório, e, como consequência, atrairão cada vez
mais clientes.
Um dos pontos de referência, pelo qual a Disney é mundialmente
reconhecida, é a excelência no atendimento prestado por todos os seus
funcionários. Implementar essa cultura do atendimento de excelência e zelo pela
experiência do cliente no dia a dia do escritório de advocacia influenciará
diretamente na fidelização e satisfação desse.
Um cliente que foi bem atendido é mais propenso a retornar quando
precisar ingressar com nova ação ou indicar o escritório para outras pessoas.
Pode-se citar que na Disney, quando ocorre algum problema, o
funcionário, qualquer que seja, que tenha identificado o problema, vai seguir
com ele até conseguir encontrar uma solução ou uma pacificação.
É assim que os funcionários do escritório de advocacia, sejam advogados,
estagiários, serventes de limpeza, recepcionistas, etc., devem agir quando
localizarem um problema. Quem localizou o problema é responsável por
resolvê-lo até o fim, sem repasses, só assim o problema será resolvido a contento
e o mais rápido possível, garantindo a satisfação do cliente.
Além disso, como na Disney, todos os problemas devem ser cadastrados
no sistema, em todos os detalhes, isso evita distorções dos fatos e possibilita que
a resolução continue ocorrendo com presteza. Em escritórios de advocacia de
grande porte, isso é muito importante, pois, na maioria das vezes, o advogado ou
o funcionário não se lembra do nome dos clientes ou dos fatos ocorridos, assim,
com um acesso rápido ao sistema, isso pode ser resolvido e transmitido o
resultado efetivo ao cliente.
Outro ponto importante na Disney é a cordialidade, que é praticada por
todos os seus funcionários e deve ser praticada todos os dias no escritório,
pequenas ações como agradecer os clientes pela escolha do escritório, dizer bom
dia, boa tarde e muito obrigado, chamar o cliente pelo nome, perguntar sobre sua
família, se está precisando de ajuda, e, como na Disney: desejar feliz aniversário,
irão fazer que o cliente se sinta reconhecido pelo escritório e refletirão de
maneira positiva em uma eventual recomendação que esse venha a fazer.
Nota-se que a aplicação do modelo Disney de gestão ao escritório de
advocacia é possível desde o marketing jurídico e por toda a jornada do cliente
no escritório. Assim como na Disney, a primazia por um atendimento de
qualidade por todos os colaboradores do escritório é fundamental para que se
atinja um padrão de excelência, garantindo a satisfação e, por conseguinte, a
fidelização do cliente.
Considerações finais
A partir da discussão do presente artigo, é possível observar a importância
da gestão e do marketing jurídico para os escritórios de advocacia, com o foco
principal na experiência e satisfação do cliente.
Para que se obtenha a fidelização do cliente, ou seja, para que este retorne
ao escritório quando precisar ingressar com nova ação, ou para que faça uma boa
recomendação deste, é preciso entender o que o cliente espera do escritório e
organizar como será sua jornada, desde o marketing até a finalização do
processo.
Além do desenvolvimento de boas técnicas de atendimento pelo advogado,
é importante sempre trabalhar com empatia e respeito pelo cliente, antecipando e
resolvendo todos os problemas que venham a surgir, de forma rápida e eficaz. Os
colaboradores devem estar atentos à jornada do cliente, com qualidade e
comprometimento, identificando possíveis insatisfações e corrigindo-as com
prontidão.
Uma gestão focada e atenta à jornada do cliente irá refletir em novas
indicações e no retorno de clientes antigos para novas ações, gerando frequente
fidelização.
Referências bibliográficas
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eletrônico disponível em: <https://www.projuris.com.br/marketing-juridico-
codigo-de-etica/>. Acesso em: 17 de setembro de 2018.
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BERNI, Camila. O Marketing, a Disney e a Advocacia. Documento eletrônico
disponível em: <http://camilaberni.com.br/o-marketing-disney-e-advocacia/>.
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vendedores. Documento eletrônico disponível em:
<http://www.ideiademarketing.com.br/2015/08/27/marketing-boca-a-boca-seus-
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CAPÍTULO 17
COACHING JURÍDICO: VERDADE, EMPATIA E
PRESTAÇÃO DE SERVIÇO DE QUALIDADE

CRISTIANA GABRIELA BRANDÃO
Administradora de Empresas pela Universidade Filadélfia de Londrina. Personal
& Professional Coach pela Sociedade Brasileira de Coaching e Leader as Coach
pela Sociedade Brasileira de Coaching e Association for Coaching. Já atuou
como Gerente de Relacionamentos do Grupo Votorantim, hoje atua com
atendimentos de Life e Executive Coaching. Consultora de Empresas e
Palestrante.
Introdução
As pessoas buscam nos advogados respostas rápidas e resoluções de
problemas não tão simples assim e, muitas vezes, encontram falsas e imediatas
soluções, por diversos motivos. Os profissionais, por sua vez, podem até ser
competentes ao lidar com questões jurídicas, prazos e burocracias; porém, não se
sentem muito curiosos em saber se há algo a mais do que o cliente está
esquecendo de contar, ou não buscam nada além do atendimento de modo
tradicional e formal, não se atendando que ali está gerando expectativas e
esperanças que, talvez, sejam o acontecimento mais importante daquela vida
neste momento. Métodos alternativos de resoluções de conflitos e um
entendimento mais amplo das situações são sempre bem-vindos.
Ao tratar-se do direito em uma empresa, um escritório e até mesmo no
atendimento individual, costuma-se observar que ainda há uma relação
impessoal e com muitas formalidades, comportamento herdado da imagem que
se tinha do jurista de antigamente. O equilíbrio das competências técnicas com
competências de comportamentos é a chave para a construção de
relacionamentos, seja com clientes ou colaboradores, utilizando-se da
inteligência emocional e visão de negócios.
Este artigo pretende explanar e desmistificar o processo que mais vem
sendo utilizado em termos de desenvolvimento humano, abordando a relação
benéfica que tem o Coaching com os profissionais de direito, buscando
excelência e transparência no atendimento aos seus clientes. Revê a forma de
atendimento atual e explora as atualidades e dados do mundo jurídico, os quais
serão apresentados.
1 O processo
Muito se escuta sobre coaching nos dias de hoje, abrangendo todos os
segmentos, invadindo o mercado e até os programas de televisão. Mas afinal, o
que é e para que serve o coaching? Fala-se de um processo (que tem início,
meio e fim) de desenvolvimento que visa aumentar o nível de resultados
positivos, em todas as áreas da vida de um indivíduo, por meio de técnicas e
ferramentas cientificamente validadas, aplicadas por um profissional habilitado
(o coach), em parceria com seu cliente (o coachee).
A metodologia é baseada num mix de psicologia, recursos humanos,
sociologia e administração, e tem foco em provocar mudanças significativas, a
partir da realização de sessões e planejamento de ações acordadas com o cliente,
conforme observância e necessidade de desenvolver habilidades, que são
apontadas por meio dos questionamentos e resultados das ferramentas.
Primeiramente as metas são definidas, depois, o melhor caminho para
alcançá-las é via plano de ação. Durante o processo, o cliente passa por etapas de
autoconhecimento, desta forma consegue ter uma visão clara de suas qualidades,
valores, pontos de melhoria, comportamentos e crenças limitantes e, assim, com
a assessoria do coach, identificando e minimizando os obstáculos, sai do ponto A
para o ponto B e alcança o resultado desejado.
Por meio de suas perguntas poderosas, o coaching procura a motivação até
encontrar a responsabilidade da ação, gerando compromisso para que sejam
escolhidas as melhores e mais produtivas rotas, possibilitando a delimitação da
direção correta. Estas perguntas poderosas impactam em nosso sistema neuronal
de forma com que a solução seja encontrada.
Seguindo o pensamento de Anthony Robbins (famoso coach e estrategista
americano), as perguntas realizam três coisas específicas: mudam imediatamente
aquilo em que se concentra e, em consequência, a forma como se sente; mudam
as decisões sobre o que as coisas realmente significam; e por fim, definem quais
as decisões sobre o que fazer para criar os resultados que se deseja.
Sua vida muda no instante em que você toma uma decisão nova, coerente e
empenhada. Quem poderia imaginar que a determinação e convicção de um
homem tranquilo e modesto — advogado por profissão e pacifista por princípio —
teria o poder de derrubar um vasto império?
No entanto, a inabalável decisão do Mahatma Ghandi de libertar a Índia do
domínio britânico foi um autêntico barril de pólvora, desencadeando uma série de
eventos que mudariam para sempre o equilíbrio do poder no mundo. Muita gente
não sabia como ele podia concretizar seus objetivos, mas Ghandi não deixara a si
próprio outra escolha a não ser agir de acordo com a sua consciência. Não admitia
outra possibilidade.[169]
No meio jurídico, o coaching traz temas e benefícios que não são
abordados na faculdade de Direito. Pesquisas recentes da Fundação Getúlio
Vargas apontam que os advogados e estudantes de Direito, quando investem em
cursos ou especializações, priorizam o conhecimento jurídico, mas já em meados
das décadas de 1970 e 1980, o jurista não se mantém apenas nos conhecimentos
técnicos.
As faculdades de Direito, salvo raras exceções, formam futuros
advogados; porém, não focam no empreendedorismo e gestão de negócios. Os
problemas aparecerão no percurso da carreira jurídica, e o advogado precisará de
ferramentas de suporte para tratar destas questões.
Neste cenário jurídico, o coaching vem refletindo de forma positiva para
aqueles que acreditam e investem no processo.
O profissional Coach encoraja e motiva o advogado, sinalizando sobre
habilidades ou competências que melhorem as suas capacidades profissionais ou
pessoais, visando ao alcance de objetivos definidos no início. O processo atua na
gestão de tempo, analisando produtividade, gerenciamento de estresse,
promovendo maior organização e comprometimento.
Se for feita uma análise dentro dos processos de coaching que obtiveram
resultado para advogados, irá se descobrir que, dentre todos eles, há uma
semelhança de atitude, uma palavra que se torna chave para o caminho de
sucesso: a consistência.
Em meio a tantas informações que aparecem todos os dias, de novidades
de atendimento e divulgação dos escritórios, inúmeros sites, revistas, livros e
conselhos para criar um novo modelo ideal, é difícil enxergar um caminho
brilhante sem insistir e persistir muito nas novas ações. O que acontece é que
muitos até iniciam algo novo, mas brevemente, deixam de lado e retornam para
o atendimento padrão. Neste cenário, o coaching surge para despertar o
sentimento de mudança, apontando o que realmente funcionará em cada caso
específico, estabelecendo metas em um trabalho focado e contínuo, até que os
resultados esperados comecem a aparecer.
Um bom exercício para começarem essas mudanças é estabelecer um
padrão de excelência no atendimento aos clientes, e isto começa desde o
primeiro contato. As primeiras palavras que faladas para alguém que não se
conhece podem determinar a forma com que a pessoa vai nos perceber pelo resto
da vida.
O primeiro contato é um divisor de águas no relacionamento advogado-
cliente. Para o cliente, é o momento em que ele coloca à prova todos os aspectos
que observou sobre o profissional. E para o último é a oportunidade ideal para
despertar a confiança do cliente e mostrar que quer e que pode ajudá-lo.
A empatia pode ser estabelecida a partir de gestos, no tom de voz usada
(geralmente o ideal é que seja o mesmo do cliente para estabelecer um canal de
comunicação clara) e, principalmente, um ponto simples, mas que muitos ainda
não conseguem praticar: deixar o cliente falar. Além disso, falar na mesma
língua que o cliente é extremamente necessário, pois pessoas que não são da área
de direito terão dificuldades para entender expressões mais técnicas. Portanto,
elas devem ser evitadas para que a comunicação flua da maneira mais adequada
e transparente.
Os tempos são outros. A concorrência se tornou muito acirrada e a cada dia
os clientes buscam por diferenciais significativos entre escritório e os serviços
oferecidos para definirem suas escolhas e posteriormente se fidelizarem.
O preço hoje não é mais o grande diferencial. Assim, para gerar
fidelização de clientes é preciso criar um encantamento, e isso é um processo de
médio a longo prazo que inclui, além da qualidade do serviço, a construção de
um vínculo duradouro, que só consegue ser construído quando o escritório tem
como valor principal o foco no cliente - ativo, inativo e em potencial.
Um dos maiores entraves entre o advogado e o cliente é que o advogado
costuma ver no cliente somente a parte jurídica, sem explorar o conhecimento
detalhado. O modelo ideal seria uma visão mais global sobre a sua vida e seus
interesses, uma entrevista simples e assertiva com o cliente, a fim de descobrir,
por exemplo, a que classe social ele pertence; qual a ocupação normal desse
cliente; qual a maior perda ou dano no caso a ser tratado; quais os valores desse
cliente: morais, financeiros, familiares.
Tratando sobre o assunto, Camila Berni destaca: “conheça o seu cliente,
não só para satisfazê-lo, mas para superar as suas expectativas, para encantá-lo”
[170]
.
Desta forma, é possível antecipar as necessidades dos clientes, saber lidar
com a ansiedade e indicar os melhores caminhos que ele deve seguir,
descobrindo inclusive problemas que sozinho ele não conseguiria enxergar,
agregando valor ao atendimento e saindo da disputa por preço.
Na medida em que o advogado se engaja com o cliente, há um
desenvolvimento de maior confiança, quanto mais se conhece o público, mais
personalizado torna-se o atendimento, e essa é uma das razões que fazem o
cliente voltar.
2 Deixando as regras claras
Lembrando que é fundamental deixar as informações claras desde o
primeiro encontro: as condições em que o serviço deverá ser prestado; a forma
de comunicação; o valor dos honorários que precisarão ser compreendidos e
honrados etc. Nesta hora, a verdade dita claramente é a melhor prevenção de
problemas futuros.
Infelizmente ainda se pode encontrar em atendimentos advocatícios,
promessas e garantias de êxito. Advogados com este perfil não se mantêm ativos
no mercado por muito tempo. Transparência e verdade são essenciais num
atendimento seguro e profissional. E é aí que começa a campanha para ser
reconhecido como profissional de extrema qualidade, é aí que se inicia a
construção do nome e da carreira.
É importante mostrar ao cliente o quão preparado o escritório está para
atendê-lo, indicando cases de sucesso do mesmo tema (claro, sem identificar a
outra parte), passando mensagens de capacitação e solidez. O cliente também
precisa se sentir amparado no que diz respeito ao atendimento durante o
processo, precisa saber que terá o devido acompanhamento e que poderá entrar
em contato assim que desejar, ou quando houver alguma dúvida. Neste sentido, é
interessante deixar claro os canais de comunicação, telefones e e-mails e como o
escritório procede neste período de andamento do processo.
Durante o atendimento, utilizar frases de conforto são muito úteis na
comunicação, passam confiança e evitam que o cliente fique ansioso em
demasia, cobrando pareceres que ainda não existem.
3 Uma única empresa
Muito além de educação, atenção e cortesia, um atendimento com
excelência diz respeito à prestação de serviços com qualidade. É neste ponto que
entra o engajamento dos funcionários com a cultura estabelecida dentro do
escritório. É importante que todos entendam claramente a importância do cliente,
a partir do momento em que ele faz o primeiro contato telefônico, ou adentra a
empresa pela primeira vez; desde a secretária, estagiários, até o sócio
majoritário, todos devem trabalhar de forma harmônica e responsável,
orquestrando a busca de soluções.
O cliente precisa criar uma experiência positiva em todos os momentos em
que estiver passando pelo atendimento, superando as suas expectativas. Todos os
colaboradores são importantes para a entrega perfeita do serviço final, sendo
assim, devem apresentar-se atentos a qualquer palavra ou ação do cliente dentro
do ambiente de trabalho.
Os clientes fiéis são as joias mais preciosas dentro de um escritório, são
candidatos a trazerem novos processos e podem ser uma excelente fonte de
marketing gratuito. É por isso que a prospecção, atendimento, acompanhamento
e pós-venda devem ser impecáveis, gerando real fidelização. Toda experiência
bem-sucedida desperta no cliente desejo de repetição, recontratando os serviços
do escritório para outra demanda, que serão tratadas com soluções assertivas e
de qualidade.
Com o mapeamento pronto da experiência do cliente, fica mais clara a
definição da capacidade de produção atual do escritório, destacando pontos
favoráveis e alinhando estrategicamente os movimentos e os comportamentos,
tudo de acordo com as tendências de mercado. O que difere a qualidade do
serviço entregue na advocacia é a jornada excepcional que serão capazes de
oferecer, dentre a tantos prazos e processos que já são pré-estabelecidos.
Atualmente as pessoas buscam em relações comerciais uma experiência
memorável de atendimento. Nada mais poderoso que o marketing feito por um
cliente satisfeito, instrumento importantíssimo para a construção e reforço de
uma imagem positiva.
Hoje, já é possível a utilização de sistemas que avaliam e mensuram como
foi a experiência do cliente, identificando rapidamente as áreas de satisfação ou
insatisfação com o atendimento, permitindo prontamente uma resposta e
correção onde houver necessidade.
4 Ética no marketing jurídico
Respeitando o Código de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do
Brasil (OAB), o marketing jurídico é um grande aliado para prospecções e
divulgação de advogados e escritórios, que hoje podem ser vistos como uma
marca. Os advogados de hoje também são empreendedores. Em meio a tantas
mudanças no comportamento dos clientes, o marketing jurídico passou a ser
enxergado como uma poderosa ferramenta para ampliar a carteira de clientes, e
aumentar os resultados financeiros.
Entretanto, é preciso observar que, antes disso, faz-se necessário obter um
ambiente estruturado, um escritório capacitado e especializado na prestação de
serviço, com uma excelente gestão. Só assim é possível divulgar segurança,
excelência e produtividade. A gestão em si abrange o negócio como um todo:
marketing para captação, relacionamento com o cliente, eficácia técnica no
decorrer dos processos, pessoas treinadas, trabalho de equipe congruente, além
do acompanhamento da rotina interna, incluindo setor financeiro. A gestão,
trabalhada em parceria com a prestação de serviço, atua motivando os
colaboradores, fazendo escolhas assertivas e possibilitando uma visão mais
ampla de mercado e concorrência, incluindo a cobrança de honorários
compatíveis.
É preciso muito cuidado e cautela com o que é exposto nos perfis e redes
sociais, que envolvam o nome do escritório, os advogados e colaboradores. A
linha entre a divulgação de informações e mídias compradas, sorteios, em busca
dos famosos seguidores, é muito tênue dentro deste segmento. E então, é capaz
de tirar toda credibilidade do escritório ou do profissional, o que poderia ser uma
grande estratégia para posicionamento de mercado e comunicação com o público
e, ainda, desobedecer às ordens estabelecidas pelo Provimento nº 94/2000 da
OAB, que institui as normas para publicidade, propaganda e informação na
advogacia, para este tipo de divulgação:
Art. 1º. É permitida a publicidade informativa do advogado e da sociedade de
advogados, contanto que se limite a levar ao conhecimento do público em geral,
ou da clientela, em particular, dados objetivos e verdadeiros a respeito dos serviços
de advocacia que se propõe a prestar, observadas as normas do Código de Ética e
Disciplina e as deste Provimento.
Art. 2º. Entende-se por publicidade informativa: a) a identificação pessoal e
curricular do advogado ou da sociedade de advogados;
b) o número da inscrição do advogado ou do registro da sociedade; c) o endereço
do escritório principal e das filiais, telefones, fax e endereços eletrônicos; d) as
áreas ou matérias jurídicas de exercício preferencial;
e) o diploma de bacharel em direito, títulos acadêmicos e qualificações
profissionais obtidos em estabelecimentos reconhecidos, relativos à profissão de
advogado (art. 29, §§ 1º e 2º, do Código de Ética e Disciplina);
f) a indicação das associações culturais e científicas de que faça parte o advogado
ou a sociedade de advogados; g) os nomes e os nomes sociais dos advogados
integrados ao escritório; (NR. Ver Provimento n. 172/2016); h) o horário de
atendimento ao público; i) os idiomas falados ou escritos.
Ou seja, o intuito deve ser a divulgação de informações e não a captação
de clientes de forma direta (mesmo que indiretamente, isso seja refletido). Vale a
pena investir em publicações de conteúdos externos como notícias, link de blogs
que explorem temas jurídicos, mudanças na lei e tudo que agregue ao público.
Também vale ressaltar que a sensibilidade jurídica chama muita atenção
em meio a esses canais de comunicação, frases inspiradoras que façam o leitor
pensar e explorar o tema, criam uma conexão emocional, que pode ser revertida
em clientes e escolhas pelo seu trabalho.
E, então, surge a grande necessidade de o escritório ser especializado e
atuar dentro de um nicho mais fortemente. Mas atenção, é necessário estar ciente
de que esta área será o ponto de atração que, por atingir excelência, terá o
reconhecimento devido; mas precisará das demais áreas e atuações para compor
o mix de serviços completo, sempre com as necessárias qualificações técnicas.
Isto significa que o cliente que teve seu atendimento previdenciário concluído,
uma vez que buscou o escritório pelo seu nome reconhecido em tal serviço,
ficará extremamente satisfeito em saber que o seu filho poderá novamente
utilizar dos serviços prestados, neste momento, porém, dentro da área de Direito
Trabalhista. E isto não significa atirar para todos os lados, é uma ampla questão
de posicionamento de mercado. Seja especialista e reconhecido em uma área de
atuação e terá clientes para todas as áreas que desejar atuar, por meritocracia.
5 Equilibrando competências
Saber equilibrar competências técnicas e competências comportamentais é
o grande segredo para o sucesso de um profissional e, na advocacia, não soa
diferente. Capacidade de comunicação interpessoal, construção de
relacionamentos bilaterais, trabalho em equipe, aceitação de mudança, poder
visionário e inteligência emocional são alguns pontos cruciais a serem
trabalhados nos advogados e colaboradores.
A educação, desde a infância, é voltada para o desenvolvimento de
competências técnicas; já as comportamentais ficam esquecidas, ou são pouco
focadas, muitas vezes tardiamente. Neste caso, é preciso investir em ferramentas
que possibilitem este autodesenvolvimento, para depois encontrar o equilíbrio no
âmbito empresarial. Afinal, de nada adianta ser extremamente capacitado,
desenvolvendo extraordinárias teorias jurídicas, se não tiver o poder de se
relacionar.
No cenário de mercado atual, altamente competitivo e informatizado, o
advogado precisa atuar em todas as frentes de atendimento e prestação de
serviço, isto inclui captação, gerenciamento de conflitos da equipe, atendimento
no início, meio e fim do processo. Ou seja, não dá para escolher fazer uma coisa
só. Ser proativo é característica fundamental para o crescimento sustentável do
profissional e da empresa.
O desenvolvimento das habilidades de comportamento, bem como a
inteligência emocional permitem ao advogado tratar facilmente de resoluções
de problemas, conciliações, criando um clima amistoso no ambiente de
trabalho, permitindo, assim, que as pessoas percebam a diferença entre cuidar
apenas do técnico e pensar em todo o conjunto, servindo de exemplo com
atitudes e promovendo espelhamento.
6 E depois?
O trabalho de pós-venda analisa toda a interação que existiu entre o cliente
e o escritório, durante a prestação de serviço jurídico, desde a primeira conversa
até se encerrar o contrato.
Quanto mais qualidade se busca, maior o investimento em pós-venda. Ao
se analisar outros segmentos, verifica-se que a indústria e o varejo atuam
fortemente com essa ferramenta, priorizando atendimento ao cliente como uma
questão estratégica, mensurando qualidade de serviço e produtos que oferecem.
Na advocacia, este serviço ainda é tímido. Pode-se atribuir ao fato de os
advogados estarem mais preocupados com questões técnicas, dedicando menos
tempo a comportamento e a relacionamento. Mas, analisado por outro ângulo, o
pós-venda é o início de um novo negócio, como um ciclo vicioso, tendo um pós-
venda de qualidade, terá uma porta aberta. De forma bem pensada e executada, é
um grande diferencial para o escritório, transmitindo segurança, gerando
envolvimento e lembranças positivas, agregando valor e estreitando
relacionamentos, dando oportunidade ao cliente de contar sua experiência e,
posteriormente, voltar.
Trabalhar divulgando a marca, possibilitando a fidelização e a satisfação
do cliente, recebendo feedbacks de forma clara e eficiente (nada melhor que um
erro seu ser apontando diretamente a você), estreitando relacionamentos e
explorando novos clientes em potencial, é essencial para o sucesso na carreira.
A qualidade de serviços técnicos já não consegue sozinha, caminhar em
direção ao desejado. As habilidades vêm sendo cada vez mais exigidas, e o
concorrente está se capacitando. O atendimento de excelência e a prestação de
serviços impecáveis é o que faz a empresa se destacar.
A criação de uma nova mentalidade com foco na experiência e satisfação
do cliente, visando ao aumento de resultados financeiros, é a grande sacada da
advocacia moderna. A propaganda atrai o cliente ao escritório, uma excelente
gestão o mantém. Clientes querem atenção e compram experiências.
Como você pode começar hoje a criar uma jornada encantadora para seu
cliente?
Referências bibliográficas
BERNI, Camila. Gestão de Escritório de Advocacia. 2a ed. Florianópolis:
Empório do Direito, 2017.
ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL. Provimento nº 94, de 05 de
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em: 17 de setembro de 2018.
ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL. Resolução nº 02, de 19 de outubro
de 2015. Aprova o Código de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do
Brasil – OAB. Documento eletrônico disponível em: <
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ROBBINS, Anthony. Desperte seu gigante interior. 3a ed. Rio de Janeiro:
Record, 2009.
CAPÍTULO 18
HONORÁRIOS CONTRATUAIS NO DIREITO
PREVIDENCIÁRIO

IAGO AUGUSTO FERREIRA BERTÃO
Advogado. Graduado em Direito pela Universidade Estadual de Londrina – UEL
Advogado associado ao escritório Brandão Canella Advogados Associados.

LUCAS ALBANO
Graduando em Direito pela Universidade Estadual de Londrina – UEL.
Aprovado no XXVI Exame da Ordem dos Advogados do Brasil.
Introdução
Conforme disposições do art. 22 do Estatuto da Advocacia e da Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB) – Lei nº 8.906/94, os honorários destinados ao
advogado são classificados em três espécies, quais sejam, os honorários
convencionados, os honorários fixados por arbitramento judicial e os honorários
de sucumbência. Referidas espécies apresentam critérios diferenciadores
especificados pela legislação pertinente, apresentando destaque os honorários
convencionados, também denominados de honorários contratuais, único em que
o advogado e seu cliente acordam acerca dos valores a serem recebidos a título
de verbas honorárias.
O conceito da cláusula quota litis, muito utilizada pelos advogados
atuantes no ramo do Direito Previdenciário, faz surgir dúvidas nos profissionais
jurídicos acerca da fixação dos limites dos honorários contratados, ante o caráter
vitalício das prestações previdenciárias percebidas pelos seus clientes.
Perante isso, bem como ao risco comumente originário dos contratos que
apresentam a cláusula quota litis, o advogado deve fixar seus honorários no
chamado “real proveito econômico”, como se esmiuçará no presente artigo,
observados os limites estabelecidos pela ética profissional no exercício da
advocacia, bem como as referências mínimas e máximas para a fixação dos
valores dos contratos de honorários.
1 Das espécies de honorários
Inicialmente, para possibilitar a análise dos honorários contratuais no ramo
do Direito Previdenciário, faz-se necessária a compreensão do conceito da
palavra honorário, bem como a análise de suas espécies.
Os honorários contratuais podem ser compreendidos como uma forma de
provento oriunda do contrato de prestação de serviços, firmado em razão do
exercício profissional extrajudicial, o qual compreende consultoria e assessoria
jurídica, bem como o planejamento estratégico judicial. A representação
exercida pelo advogado no contencioso apenas se demonstra como uma das
variantes, muitas vezes terminante, da atuação do advogado na resolução dos
impasses jurídicos de seu cliente.
Afastando-se do conceito originário clássico de ser considerado como
prêmio ofertado a alguém em razão de ação sublime, o vocábulo “honorários”
apresenta definição contemporânea tecnicista, delineada pelo Dicionário Aurélio
como “retribuição aos que exercem uma profissão liberal” [171], por exemplo, os
advogados e os médicos. É nesse sentido que o art. 22 da Lei nº 8.906/94 refere-
se ao garantir formas de remuneração aos serviços profissionais exercidos pelo
advogado, baseadas na acepção de indispensabilidade de sustento do profissional
jurídico.
Mencionado artigo do Estatuto da Advocacia e da Ordem dos Advogados
do Brasil dispõe que “a prestação de serviço profissional assegura aos inscritos
na OAB o direito aos honorários convencionados, aos fixados por arbitramento
judicial e aos de sucumbência”.
Compreende-se da apreciação do dispositivo a garantia aos inscritos na
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de obterem uma correspondência de
caráter pecuniário resultante da prestação de serviços jurídicos prestados,
especificada na forma de honorários, divisos em três categorias: os
convencionados, os fixados por arbitramento judicial e os de sucumbência.
Os honorários por arbitramento judicial conjecturam-se pelo § 2º do art. 22
do Estatuto da OAB, prevendo sua fixação pelo juiz na ausência de estipulação
dos honorários pelas partes. Com isso, inexistente prévia convenção, incumbirá
ao juiz, por meio de arbitramento, a determinação das verbas honorárias em
consonância ao trabalho dispendido pelo patrono e ao valor econômico da
demanda, limitadas os limites estabelecidos pelo Conselho Seccional da OAB.
Por sua vez, os honorários de sucumbência, previstos no art. 85 do Código
de Processo Civil (CPC), são devidos em razão do julgamento, parcial ou total,
dos pedidos por meio da sentença. Não se configura como um direito da parte
litigante, decorrendo especificamente do êxito da demanda proveniente do
trabalho desenvolvido pelo profissional jurídico.
O juiz, portanto, delibera os honorários sucumbenciais por ser um direito
que emerge do disposto sentencial, condenando a parte vencida ao pagamento
dos honorários do advogado do vencedor. A caracterização das verbas de
sucumbência como um componente da sentença acaba por diferi-la dos
honorários por arbitramento judicial, por estes não apresentarem natureza
processual e, após indispensável solicitação ao juízo, serem concedidos qualquer
que seja do desfecho da lide.
Como última espécie, há os honorários convencionados, também
conhecidos por meio de contrato de honorários, os quais merecem melhor
atenção por serem o ponto basilar da discussão aqui suscitada. Diferente dos
tipos de honorários supramencionados, os convencionados não decorrem de
estipulação executada pelo juízo, mas entre o profissional jurídico e seu cliente,
conforme se verificará adiante.
1.1 Dos honorários convencionados
Os honorários convencionados são uma espécie que concerne a um
provento originado da prestação de serviços do advogado tanto na esfera
extrajudicial, com assessoramento, consultoria e elaboração de cálculos, quanto
judicial, com a promoção de ações em juízo.
Os honorários contratuais, independente do objeto da prestação do serviço,
não possui forma prescrita em lei, porém deve observar os requisitos mínimos do
art. 48, § 1º do Código de Ética e Disciplina da OAB. Veja-se:
Art. 48. A prestação de serviços profissionais por advogado, individualmente ou
integrado em sociedades, será contratada, preferentemente, por escrito.
§ 1º O contrato de prestação de serviços de advocacia não exige forma especial,
devendo estabelecer, porém, com clareza e precisão, o seu objeto, os honorários
ajustados, a forma de pagamento, a extensão do patrocínio, esclarecendo se este
abrangerá todos os atos do processo ou limitar-se-á a determinado grau de
jurisdição, além de dispor sobre a hipótese de a causa encerrar-se mediante
transação ou acordo.
Por meio do contrato firmado entre as partes, quaisquer objetos referentes
à prestação dos serviços advocatícios e sua forma de pagamento deverão estar
expressos, assentando os valores que se receberão como forma de pagamento do
trabalho exercido pelo advogado.
Ressalta-se o caráter alimentar dos honorários, haja vista serem a
remuneração pela prestação de serviços desenvolvidos pelo advogado,
considerando-se substancial à manutenção do profissional. Assim, garante-se
condições mínimas de se prover o sustento e desenvolvimento do advogado,
como é de se esperar de qualquer atividade econômica liberal.
É nesse sentido que os honorários contratuais devem ser estabelecidos, no
intuito de minorar os riscos do exercício da atividade jurídica. Convencionar os
honorários por escrito, tornando-os objetos da relação contratual, possibilita ao
profissional jurídico não apenas a preservação de sua relação perante o cliente,
mas atende aos preceitos éticos consubstanciados pelo art. 48 do Código de Ética
e Disciplina da OAB.
A previsão dos honorários contratuais por escrito garante maior segurança
ao advogado, tornando-os incontestáveis e possibilitando uma possível execução
judicial. Essa garantia, entretanto, não se observa na ocasião dos honorários
serem pactuados de forma verbal, na presença de testemunhas. Apesar da
natureza indubitável dessa forma de convenção de honorários, apresentarão uma
configuração mais voltada aos honorários por arbitramento nos casos de uma
possível execução, vista a imprescindibilidade do juízo para possibilitar a fiação
dos valores das verbas honorárias.
Ainda, deve-se frisar que a forma de contratação é livre, apresentando
poucos requisitos para se alinhar à eticidade de formalização contratual dos
honorários. O instrumento contratual apenas deve apresentar o nome e a
qualificação dos contratantes, os serviços para os quais o advogado está sendo
contratado e a forma de pagamento dos honorários convencionados. Caso esse
último requisito não se faça constar no contrato firmado entre as partes, a forma
de pagamento será regida pelo disposto no § 3º do art. 22 do Estatuto da OAB,
sendo os honorários pagos em três momentos: “um terço dos honorários é devido
no início do serviço, outro terço até a decisão de primeira instância e o restante
no final”.
2 Da cláusula quota litis
A cláusula quota litis está vinculada ao que se considera um contrato de
risco, estando a remuneração do advogado intimamente ligada ao sucesso da
demanda proposta. Nesse sentido, fixada a cláusula quota litis, caso não haja
proveito econômico para o cliente, o profissional jurídico, basicamente, também
deixará de obter rendimentos. O Estatuto da OAB não traz óbices a esta forma
de pactuação de honorários advocatícios, ocorrendo somente uma limitação
advinda do art. 50 do Código de Ética e Disciplina da OAB, in verbis:
Art. 50. Na hipótese da adoção de cláusula quota litis, os honorários devem
sernecessariamente representados por pecúnia e, quando acrescidos dos honorários
da sucumbência, não podem ser superiores às vantagens advindas a favor do
cliente.
§ 1º A participação do advogado em bens particulares do cliente só é admitida em
caráter excepcional, quando esse, comprovadamente, não tiver condições
pecuniárias de satisfazer o débito de honorários e ajustar com o seu patrono, em
instrumento contratual, tal forma de pagamento.
§ 2º Quando o objeto do serviço jurídico versar sobre prestações vencidas e
vincendas, os honorários advocatícios poderão incidir sobre o valor de umas e
outras, atendidos os requisitos da moderação e da razoabilidade.
Claramente identifica-se que, em se tratando da utilização de cláusula
quota litis, o ganho econômico do advogado nunca poderá ultrapassar os
proveitos de seu cliente.
Na pactuação dos honorários contratuais com a utilização da quota litis, o
profissional deve basear-se em certos critérios, relacionados no art. 49 do Código
de Ética e Disciplina da OAB. Os parâmetros estabelecidos impossibilitam não
somente condutas economicamente exploratórias por parte do advogado, mas
também impede a desvalorização da atividade profissional jurídica. Dispõe o
referido artigo:
Art. 49. Os honorários profissionais devem ser fixados com moderação, atendidos
os elementos seguintes: I - a relevância, o vulto, a complexidade e a dificuldade
das questões versadas; II - o trabalho e o tempo a ser empregados; III - a
possibilidade de ficar o advogado impedido de intervir em outros casos, ou de se
desavir com outros clientes ou terceiros; IV - o valor da causa, a condição
econômica do cliente e o proveito para este resultante do serviço profissional; V -
o caráter da intervenção, conforme se trate de serviço a cliente eventual, frequente
ou constante; VI - o lugar da prestação dos serviços, conforme se trate do
domicílio do advogado ou de outro; VII - a competência do profissional; VIII - a
praxe do foro sobre trabalhos análogos.
O art. 49 apenas demonstra a preocupação advinda do Código de Ética e
Disciplina da OAB em coibir o abuso na cobrança dos honorários advocatícios
contratuais por parte de certos advogados. Ademais, também acaba por impedir
a atuação de profissionais que atuam por valores ínfimos, denegrindo e
desvalorizando a classe advocatícia. Àqueles que exercem a advocacia de forma
a promover cobranças exorbitantes a seus clientes estão sujeitos à punição
disciplinar, conforma art. 48, § 6º do Código de Ética e Disciplina da OAB.
3 Dos honorários contratuais no direito previdenciário
Uma vez exposto o conceito de honorários contratuais e a aplicação das
chamadas cláusulas quota litis, passa-se à análise da aplicação destes contratos
no ramo do direito previdenciário.
A advocacia previdenciária, em regra, possui diversas peculiaridades se
comparada às demais áreas do Direito, haja vista a busca a concessão de
benefícios vitalícios, seja na esfera administrativa ou judicial.
Assim, surgem inúmeras dúvidas para a fixação do limite dos honorários
contratados, considerando-se o caráter da vitaliciedade presente em quase todos
os benefícios previdenciários, e o cálculo do real proveito econômico a ser
obtido em razão da concessão da medida judicial ou administrativa pleiteada, a
fim de que não haja qualquer abuso na cobrança dos honorários.
A real dificuldade na confecção destes contratos é estabelecer o que se
entende como o real proveito econômico de uma demanda desta natureza, visto
que, quase sempre, o benefício concedido é vitalício.
Para isso, há de se considerar que o Código de Ética e Disciplina da OAB
traz algumas interpretações sobre a aplicação dos limites máximo e mínimo que
são estabelecidos nas tabelas de honorários de cada uma das Seccionais da
Ordem dos Advogados do Brasil.
Há de se mencionar o art. 49 do Código de Ética e Disciplina, em especial,
há de se destacar os incisos I e IV do artigo supratranscrito, visto que a
complexidade das causas previdenciárias exige trabalhos extras com cálculos,
levantamento de muitos documentos, busca de diversos tipos de provas, entre
outros.
Da mesma forma, deve-se considerar que, em razão desta complexidade,
muitas vezes o advogado não tem como determinar o tempo e resultado da
demanda, uma vez que a legislação permite apenas uma estimativa deste
resultado, mas que não é certa. Há o grande risco de o advogado atuar em uma
demanda durante anos e não receber nada ao final, uma vez que os contratos
formulados são com base nas cláusulas quota litis, situação muito corriqueira
para os advogados que atuam nesta área.
Partindo desta sintética análise, a melhor forma para a fixação dos
honorários é a estimativa do chamado real proveito econômico, o qual, buscando
a melhor interpretação, equivale a todas as prestações a serem recebidas pelo
constituinte, parcelas vencidas e vincendas, incluindo ainda eventuais valores
recebidos por seus dependentes, seja pela via judicial ou administrativa, como
ocorre nos casos no benefício de pensão por morte.
Destaca-se a interpretação dada pela Associação Brasileira dos Advogados
Previdenciários (ABAP), em um parecer sobre a fixação dos honorários no ramo
do direito previdenciário:
A forma mais adequada e equânime para fixação dos honorários, é o balizamento
do “proveito econômico” auferido pelo constituinte, através da medida
administrativa ou judicial impetrada pelo advogado. Por esta razão, enfatizamos
sempre este elemento como o principal daqueles previstos no art. 49 do CEDOAB.
[172]

Estabelecidos alguns parâmetros a serem levados em consideração para a


fixação dos honorários, há de se considerar as regras para a fixação do mínimo e
do máximo a ser estabelecidos nos contratos.
A fim de evitar qualquer sucateamento da profissão e eventual captação de
clientes, o regulamento geral da OAB estabelece que as tabelas de honorários
advocatícios, confeccionadas por cada Conselho Seccional, define as referências
mínimas a serem cobradas.
De outro lado, o art. 50 do Código de Ética e Disciplina da OAB passou a
estabelecer uma interpretação sobre os percentuais máximos de honorários a
serem cobrados.
Salvo melhor entendimento, fixou-se a limitação dos honorários recebidos
pelo advogado no percentual de 50%, incluídos os valores recebidos a título de
honorários de sucumbência. Assim, como se vê na prática, é praxe dos tribunais
fixarem os honorários de sucumbência entre 10% a 20%, possibilitando ao
advogado cobrar em regra de 30% até 40% de honorários advocatícios
contratuais, levando-se em conta o grau de complexidade de cada causa.
Entretanto, conforme já exposto, a advocacia previdenciária possui certas
peculiaridades em comparação com os demais ramos do direito, uma vez que se
pleiteiam benefícios vitalícios, peculiaridades estas que devem refletir
diretamente na confecção dos honorários contratuais entre o advogado e cliente.
Isto exposto, há inúmeros questionamentos a serem elucidados, por
exemplo, como se chegar ao valor da condenação: o percentual de 30% ou 40%
sobre o que será cobrado? Do proveito econômico de um benefício vitalício?
Como estabelecer então sobre o que seria cobrado este percentual?
Para responder a alguns questionamentos, tem-se como exemplo a
OAB/PR que, na publicação da Tabela de Honorários (Resolução nº 23/2015),
prevê a possibilidade da cobrança da porcentagem dos honorários sobre o valor
final da condenação, incluindo-se parcelas vencidas e vincendas, limitadas até
uma anuidade, após a implantação dos benefícios. Ou seja, essas são regras
específicas para as demandas que versam sobre concessão de benefícios de
caráter vitalício.
Destacando-se, quase como regra, a atuação do advogado na fase
administrativa (que prevê pagamento de honorários em separado) e na fase
judicial, justificando-se assim a cobrança do percentual sobre a condenação
acrescidas das prestações mensais após a implantação. In verbis:
Nota 1 - Entende-se por anuidade a base de cálculo que utiliza como referência o
valor equivalente à 13 (treze) prestações da renda mensal do Benefício, tendo em
vista o 13º pagamento, ressalvados os casos de benefícios assistenciais(loas). Se o
cliente tiver recebido menos de 13 (treze) parcelas, considera-se como anuidade,
para os fins desta tabela, o total de prestações recebidas.
Nota 2 – Nas ações de prestação continuada (como aposentadorias e pensões) o
valor da condenação abrange parcelas vencidas e vincendas, sendo que estas
compõem a base de cálculo dos honorários, limitadas a uma anuidade após a
efetiva implantação ou revisão judicial do benefício; [173]
Assim, nota-se que em demandas previdenciárias há um grande proveito
econômico a ser obtido para o constituinte, uma vez que há a garantia de
recebimento de benefício vitalício, que possibilita uma renda mensal fixa no
decorrer dos anos ao cliente (ainda podendo gerar direito em eventual pensão por
morte), diferente de demandas oriundas de outros ramos do direito.
O que se pode apurar nestas causas é a realização de contratos de risco,
aqueles baseados em cláusulas quota litis, que dependem do sucesso do
advogado, o qual assume todo o risco de eventual improcedência da lide, não
recebendo quaisquer honorários pelo tempo empreendido na causa, sendo que,
nas demandas de procedência há casos em que os valores ganhos de atrasados
pelo cliente (que não correspondem ao valor da causa, condenação ou proveito
econômico total do cliente) podem ser inferiores a verba honorária recebida,
visto que devem ser levadas em considerações todas as situações da causa, e a
inclusão das prestações vencidas, abrangendo-se a concessão de antecipação de
tutela ou tutela de urgência e prestações vincendas, uma vez que se tratam de
demandas de benefício continuado.
Imprescindível ainda destacar acerca da interpretação do que se entende
por valores atrasados nestas demandas, no qual incide a porcentagem contratual
estabelecida para a fixação do valor dos honorários.
Em apertada síntese, as parcelas atrasadas são aquelas obtidas ao final da
causa, que compreendem o valor de todas as prestações vencidas desde a Data da
Entrada do Requerimento (DER), na fase administrativa, até o trânsito em
julgado da demanda.
Nestes casos, o cerne da questão é demonstrar que os valores recebidos em
caráter liminar, ou seja, na concessão da tutela antecipada, estão incluídos no
montante total obtido na demanda, incluindo assim nas chamadas parcelas
atrasadas. Assim, com a concessão do pedido liminar, o constituinte começa a
receber mensalmente o benefício pleiteado, ainda que em caráter provisório, até
o julgamento final da demanda.
Corroborando todos os fundamentos apresentados, há de se destacar
algumas das diversas Tabelas de Honorários das Seccionais da OAB, que
preveem as particularidades da celebração dos contratos da área previdenciária:
Tabela de Honorários OAB/PR
Nota 3 – No caso de concessão de tutela antecipada, os valores dessas parcelas
serão computados na base de cálculo dos honorários incidentes sobre valores
atrasados até o trânsito em julgado da demanda, podendo, ainda, alternativamente,
ser pactuada a incidência mensal do percentual de honorários durante o período da
tutela;4
Tabela de Honorários OAB/SC
Artigo 10. Nas ações em que houver condenação ao pagamento de prestações
vencidas e vincendas, o percentual será calculado sobre o total vencido, acrescido
do valor correspondente a 12 (doze) prestações vincendas, salvo se menor for o
prazo em que forem devidas.
Parágrafo único. Em caso de condenação antecipada por tutela liminar, o advogado
fará jus ao percentual sobre as parcelas que se vencerem durante o trâmite do
processo.5
Tabela de Honorários OAB/MS
POSTULAÇÃO ADMINISTRATIVA 20% a 40% do proveito econômico bruto
(sem deduções de encargos previdenciários e/ou fiscais) obtido pelo cliente com o
processo, seja por acordo e/ou condenação, incidente sobre todas as prestações
acumuladas e nas 12 (doze) primeiras prestações pagas após a implantação do
benefício.
POSTULAÇÃO JUDICIAL 20% a 40% do proveito econômico bruto (sem
deduções de encargos previdenciários e/ou fiscais) obtido com o processo, seja por
acordo e/ou condenação, incidente sobre todas as prestações acumuladas e nas 12
(doze) primeiras prestações pagas após a implantação do benefício.6
Tabela de Honorários OAB/MT
1 - Postulação administrativa
1.1 - Percentual de 20% sobre o valor efetivo ou real da causa ou proveito que for
pleiteado ou advier ao cliente - Mínimo: 3 URH R$ 2.640,15
2 - Postulação judicial
2.1 - Percentual de 20% sobre o valor efetivo ou real da causa ou proveito que for
pleiteado ou advier ao cliente - Mínimo: 5 URH R$ 4.400,25
2.2 - Qualquer espécie, sobre o valor do benefício pretérito acumulado, não poderá
ultrapassar 50% sobre do total de direito do cliente.
2.3 - O valor descontado nas parcelas futuras após implantação do benefício, não
poderá ultrapassar o máximo de 30 (trinta) vencimentos, respeitados percentuais
acima.7
Tabela de Honorários OAB/RJ
Nota 1: No caso de concessão de tutela antecipatória, nas ações de benefícios de
prestação continuada, os valores dessas parcelas serão computados na base de
cálculo dos honorários incidentes sobre os valores atrasados até o trânsito em
julgado da demanda, podendo, ainda, alternativamente, ser pactuada a incidência
mensal do percentual de honorários durante o período da tutela
Nota 3: Nas ações de prestação continuadas (como aposentadorias e pensões) será
pago além do valor do percentual contratual acordado sobre a condenação das
parcelas vencidas e vincendas, mas no mínimo o valor referente a prestação de
dois benefícios.8
Tabela de Honorários OAB/TO
15.9 Para os efeitos desta tabela, consideram-se como proveito econômico os
valores retroativos acrescidos da soma das 12 (doze) primeiras parcelas do
benefício auferido pelo cliente (art. 50, §2º, Resolução nº 002/2015 CFOAB).9
Desta forma, conforme se observa, é correto os contratos quota litis que
estipulam tanto a porcentagem dos valores recebidos a título de atrasados,
considerados desde a antecipação de tutela ou tutela de urgência, como a
cobrança de parcelas vincendas, limitadas até uma anuidade, uma vez que
benefício recebido passa a integrar todo o “real proveito econômico” pretendido
no processo.
Considerações finais
Levando-se em consideração todos os aspectos mencionados, verifica-se
que, durante a contratação de prestação de serviços advocatícios, há a
possibilidade de fixação de cláusulas quota litis, que remetem exclusivamente ao
sucesso da demanda, para o recebimento de quaisquer valores.
Destaca-se que o ramo da advocacia previdenciária possui diversas
peculiaridades em relação aos demais ramos do direito, refletindo diretamente
nas cláusulas contratuais e no proveito econômico obtido na causa.
Conforme demonstrado, a advocacia previdenciária busca, sinteticamente,
a obtenção de benefícios, em regra geral, vitalícios ao constituinte. Por este
motivo, o real proveito econômico obtido nestas demandas não pode ser auferido
corretamente por meio dos atrasados, uma vez que a parte receberá tal benefício
por tempo indeterminável.
Assim, diante de toda análise das peculiaridades das causas
previdenciárias, levando em consideração o seu alto risco, complexidade,
dificuldades em produção probatória e o caráter vitalício dos benefícios
concedidos, os proveitos obtidos podem ser de grande monta, tanto ao
constituinte, quanto ao advogado.
Ressalta-se ainda que, no momento da cobrança dos honorários referentes
às parcelas atrasadas concedidas, há de se considerar o recebimento da tutela
antecipada para auferir o real proveito econômico obtido na demanda, acrescidos
da cobrança sobre as prestações vincendas.
Referências bibliográficas
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Honorários Previdenciários. Parecer nº 01/2017, de 30 de agosto de 2017.
AURELIO, O mini dicionário da língua portuguesa. 4. ed. Rio de Janeiro, 2002.
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Advocacia e da Ordem dos Advogados do Brasil. Documento eletrônico
disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8906.htm>. Acesso
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ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL - CONSELHO SECIONAL DO
MATO GROSSO DO SUL, Resolução nº 03/2018. Dispõe sobre a Tabela de
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CONSELHO SECIONAL DO PARANÁ DA OAB, Resolução nº 23/2015.
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ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL - CONSELHO SECIONAL DO
RIO DE JANEIRO. Dispõe sobre a Tabela de Honorários Advocatícios do
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ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL - CONSELHO SECIONAL DE
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<http://www.oab-sc.org.br/arquivo/galeria/1_32_5a788ca12b475.pdf>. Acesso
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OLIVEIRA, Antônio José Xavier. Linhas gerais acerca dos honorários
advocatícios: generalidade, natureza alimentar, espécies e o novo Código Civil.
Documento eletrônico disponível em:
<http://www.egov.ufsc.br:8080/portal/sites/default/files/anexos/18365-18366-1-
PB.pdf>. Acesso em: 18 de setembro de 2018.
CAPÍTULO 19
EMPREENDEDORISMO, MARKETING
JURÍDICO, GESTÃO DE ESCRITÓRIOS DE
ADVOCACIA E PASSOS PARA UMA ADVOCACIA
DE SUCESSO

MURILO GURJÃO SILVEIRA AITH
Sócio da Aith, Badari e Luchin Sociedade de Advogados. Graduado em Direito
pela Faculdade Metropolitana Unidas (FMU). Pós-graduado em Direito
Previdenciário pela Escola Paulista de Direito Social (EPDS). Pós-graduado em
Direito Público pela Faculdade de Direito Damásio de Jesus. Pós-graduado em
Direito Tributário pela Unisal/SC. Membro da Comissão de Direito
Previdenciário da 38ª Subseção da OAB/Santo André. Membro do Comitê de
Seguro e Previdência da Associação Brasileira de Educadores Financeiros –
ABEFIN.
Introdução
A partir do presente capítulo, pretende-se expor com a máxima
objetividade e eficiência para quem ler, identificar-se e concluir ser possível
concretizar seu sonho de empreender no meio jurídico com o máximo controle
de gestão.
Importante mencionar que só é viável oferecer um atendimento de
excelência quando todos os setores do escritório estão funcionando
completamente. E, para que isso aconteça, é muito importante não descuidar da
gestão do escritório, dos prazos, dos clientes, da equipe, dos processos e do
financeiro.
Contar com um software jurídico completo, que reúne todas as ferramentas
para administrar tudo isso de forma integrada e com tranquilidade, é uma
excelente alternativa para que o tempo renda e os clientes sejam sempre bem
atendidos. Mas isso, também, é válido para quem já tem um certo caminho
percorrido e uma receita adquirida, pois há custo alto para se ter um software
completo. Enquanto não se tem este capital, há possibilidades gratuitas que
poderão auxiliar esse início no meio jurídico.
Um atendimento de excelência é fundamental para destacar o escritório
frente à concorrência. Por isso, a seguir serão demonstrados os principais pontos
de um advogado empreendedor, capaz de desempenhar com primazia o exercício
da advocacia.
De nada adianta realizar um trabalho ou um projeto se não há a
possibilidade de agregar pessoas que auxiliem na execução daquele projeto.
Ademais, a idealização e a execução devem envolver profissionais engajados e
que veem no advocacia uma atividade prazerosa, ainda que tenham de resolver
problemas jurídicos complexos.
O presente artigo versa sobre especialização, networking, produtividade,
profissionalismo, time campeão, clientes, mind set de um advogado campeão e
marketing jurídico. Tudo isso no intuito de intentar passar aos que começam e
aos que já estão na advocacia há um tempo e pensam em desistir, que não
importa quantos advogados novos surjam, se executar as tarefas e funções
inerentes ao meio jurídico de forma exemplar, com intensidade, continuamente,
o negócio terá vida longa.
Alguns passos para uma advocacia de sucesso são importantes de serem
seguidos.
1 Especialização na advocacia
Áreas novas ou pouco exploradas permitem tornar o escritório de
advocacia referência em um determinado campo de atuação. Quando o advogado
se torna especialista, vira referência, autoridade. Cresce a sua marca jurídica em
determinado campo, apesar disso não se tornar evidente aos clientes de forma
imediata. O profissional jurídico deve persistir com intensidade, para alcançar o
espaço que almeja e conquistar novos honorários.
Um escritório de advocacia ao se tornar referência atrai, inclusive, outros
profissionais da advocacia, os quais buscam opiniões e serviços pois sabem que
referido escritório domina o assunto, dando-lhe um lugar cativo. Um exemplo
são escritórios que desenvolvem serviços jurídicos voltados para a concessão de
Aposentadoria Especial, Aposentadoria por Idade, Aposentadoria por Tempo de
Contribuição, revisão de benefícios, concessão de benefícios voltados a
segurados especiais, a donas de casa, domésticas, etc. São assuntos
especializados e que torna referência quem desenvolve atividades voltadas a
esses assuntos.
Atuar apenas com o ramo do Direito Previdenciário já torna o advogado
um especialista. Porém, atuar com um determinado nicho dentro do próprio
Direito Previdenciário torna o profissional uma referência. Claro que isso é uma
construção, que pode levar anos. Faz parte da construção o trabalho da imagem
do advogado na internet, o que torna importante um bom marketing jurídico.
Inúmeros cursos e artigos gratuitos estão disponíveis para que o
profissional também crie uma linha coerente de marketing. Nesse contexto,
surgem dois cenários: ou o advogado acerta e, aos poucos, solidifica sua imagem
e a sua marca ou falha e acaba por manchar sua imagem para sempre. Deve-se
ter parcimônia ao construir o marketing do advogado e do escritório.
Deve-se explorar notícias recentes para se escrever artigos e publicá-los
em jornais, revistas, redes sociais, e-mails. Entretanto, imprescindível ter
extremo zelo para não infringir o Código de Ética e Disciplina da OAB, haja
vista que cada destinatário da publicação apresenta um jeito de receber a
mensagem.
2 Networking
O networing é essencial para o sucesso da advocacia. Quem não é visto,
não é lembrado. O profissional jurídico não pode sair do campo de visão das
pessoas e necessita divulgar sua marca. Além da necessidade de ser advogado no
círculo de relacionamentos em que está inserido, o profissional deve gostar de
estabelecer esse tipo de relacionamento de trabalho, o qual deve estar
diariamente inserido na vida do advogado.
Caso o advogado não tenha perfil, faz-se necessário ter alguém ou algum
sócio que saiba fazer. Frisa-se que não é networking com o intuito de se
promover, mas sim um orgânico, social, sincero e autêntico meio relacionamento
de trabalho. Nesse sentido, Adam Gramt esmiúça perfeitamente em sua obra
“Dar e receber”.
Em resumo, a relação de networking representa-se na figura de duas
pessoas distintas: a tomadora e a doadora. Aquelas são as que gostam mais de
receber do que dar (pessoas essas que se preocupam com o interesse próprio,
autopromovem-se e não se preocupam com o próximo). Já as pessoas doadoras
têm a reciprocidade na direção dos outros.
O networking sincero configura-se como o famoso “ganha ganha”, em que
os doadores estão no topo da escala de sucesso, apresentando-se como
verdadeiros campeões. Com isso, é possível que o indivíduo torne-se mais útil
para os outros do que esses para o indivíduo.
3 Profissionalismo
Algumas características são observadas na grande maioria dos
profissionais de sucesso:
• Trabalho técnico competente e de qualidade;
• Missão dada é missão cumprida;
• Não faça promessas impossíveis;
• Transparência absoluta ganha cliente;
• Advogado disponível valoriza a marca.
Uma petição evidencia-se como um trabalho técnico. Para ser considerada
como competente e de qualidade, a petição tem de ser aquela que um leigo da
área jurídica consiga ler e entender. Caso isso ocorra, ela pode ser considerada
uma petição de excelência, porque qualquer juiz, desembargador ou ministro
entenderá seu conteúdo.
A qualidade de uma peça é proporcional à quantidade de vezes que o
advogado exerce a habilidade da escrita. Quanto mais escrever diariamente,
melhor ficam as peças. Ademais, elaborar petições sem que hajam interrupções
externas também contribuem para um resultado final de qualidade.
Não cumprir aquilo que foi prometido ao cliente fará o advogado perder
credibilidade e, nesse sentido, portanto, não deve o profissional gerar falas
expectativas. A formação de apenas uma imagem negativa é capaz de arruinar a
carreira profissional de um advogado com determinado cliente ou, até mesmo,
perante todos os atuais e futuros clientes.
Advogado tem de ser, cada vez mais, disponível (respondendo e-mails,
telefonemas, WhatsApp e outras redes sociais). Isso valoriza de forma
exponencial o trabalho e a marca do escritório. Recomenda-se não passar de 48
horas para responder o cliente, para não passar a ideia de que o profissional não
se preocupa com ele.
4 Proatividade
O advogado é solucionador de problemas jurídicos. Um cliente procura o
profissional jurídico justamente quando apresenta algum tipo de problema,
porque vê no advogado a solução favorável para resolução da lide.
Isso tem efeito propagador no negócio do advogado. Isso porque um
grande escritório é feito de resultados favoráveis e, por nunca faltarem clientes, é
essencial demonstrar à pessoas que necessita do serviço jurídico que o advogado
responsável é o solucionador de todos os problemas.
5 Time campeão
As pessoas são a chave para o sucesso do seu escritório. O talento
individual não supera o talento de uma equipe sólida, consistente e engajada. Há
um provérbio africano que demonstra claramente a importância do grupo
profissional: “Se quer ir rápido, vá sozinho. Se quer ir longe, vá em grupo”.
Grandes escritórios são compostos por dezenas ou centenas de
colaboradores. Os sócios são convidados o tempo todo a participar de
absolutamente todas as atividades e decisões do ambiente de trabalho, estando
aliados a pessoas que fazem a marca jurídica crescer. Evidente sempre que o
talento em equipe supera o individual.
O advogado deve primorosamente executar suas funções e
responsabilidades, acompanhado de uma equipe engajada, fazendo-se valer
muito mais de comportamentos em conjunto em detrimento do individual. Eis a
chave para o sucesso da marca do advogado e de seu escritório.
Um advogado bem-sucedido não trabalha apenas com atividades voltadas
ao ambiente do escritório de advocacia. Pode ele se dedicar a outras atividades e
trabalhos, tais como participação de palestras, de workshops, de eventos e de
congressos, bem como da elaboração de artigos, livros e periódicos, que
naturalmente aparecem por conta do time campeão construído ao longo dos
anos.
Para o advogado chegar longe, sempre deve se superar e, para isso, tem de
ter pessoas boas em seu time campeão.
6 Clientes
Sem clientes, a advocacia do profissional jurídico morre. É uma fórmula
muito simples: sucesso = advogado + clientes.
Absolutamente nada tem valor se não for feito com foco no cliente, haja
vista serem eles que procuram o advogado para solução de problemas. Sendo o
cliente aquele que possibilitará retorno financeiro ao escritório de advocacia,
deve ser ele ponto de referência das relações profissionais.
É preciso ter tom de voz cordial com o cliente desde pessoalmente, no e-
mail, ao telefone, no WhatsApp, etc.
São 3 (três) pontos de concorrência que o advogado sempre deve levar em
consideração:
• Produto;
• Preço;
• Experiência.
As pessoas tendem a privilegiar a experiência, porque querem ter uma
incrível no escritório em que confiam. O cliente irá contratar o serviço jurídico
ofertado, possivelmente te indicará para pessoas que conhece e que passam pela
mesma situação e, por isso, quer ter algo fora da realidade comum, sendo a
experiência característica que oportunizará esse desejo do cliente.
Aqueles que lidam com clientes devem ter em mente que “quem vem por
preço, por preço vai embora”. Entretanto, o cliente que vem por valor acaba por
ficar. Após a geração de experiência, o cliente fideliza. Antes de pensar em
custo, persiga a receita.
7 Mind set de um advogado campeão
Na preparação para advocacia, o profissional tem de ter na mente a visão
de um advogado empreendedor campeão, bem como que nada ocorre de forma
imediata. É preciso entregar resultados favoráveis, preparar-se para os problemas
que surgirão e chegarão constantemente. Não se pode no início valorizar o sono,
o conforto, o medo. O trabalho constante faz parte do cotidiano do advogado, o
qual deve exercer suas funções com muita intensidade.
O medo absoluto pode paralisar o profissional. Entretanto, um advogado
empreendedor deve estar constantemente ativo. O jurista também pode se
deparar com o medo ótimo, o qual faz que o profissional siga adiante e alcance
seus objetivos, como forma de incentivo para obter o que deseja.
Segundo José Carlos Assis Dornelas:
Para a maioria das pessoas, as boas ideias são daquelas que vêm primeiro, por
sorte ou acaso. Para os visionários (os empreendedores), as boas ideias são geradas
daquilo que todos conseguem ver, mas identificaram algo prático para transformá-
las em oportunidades, por meio de dados e informações. [174]
Com o passar do tempo, o profissional mantém-se a mesma pessoas, salvo
por dois motivos: as pessoas com quem anda e os livros que lerá. De fato,
começa-se pequeno e, após sonhar grande, o caminho é feito mais rapidamente,
mas como passos lentos.
8 Marketing jurídico
Antes de mais nada, embora todo profissional da área jurídica deva saber
disso, o Código de Ética e Disciplina da OAB e o seu Estatuto proíbem a
propaganda para captar clientes. Aliado a isso, um marketing de conteúdo, que
presta informação jurídica relevante, tem de seguir passos importantes para ser
eficaz:
a) Definir o público-alvo: Se quiser agradar a todo mundo, não irá agradar
a ninguém. Deve-se definir o público-alvo, portanto, bem como, desde o início, a
marca do escritório. Aconselha-se ao profissional da advocacia ser um
especialista.
b) Objetivo da comunicação: A maioria dos advogados peca é em não
saber o motivo de fazer determinada publicação, fazendo-as aleatoriamente. Por
que escrever no blog? Por que no Instagram ou no Facebook? Toda
comunicação tem uma finalidade e a melhor forma de vender serviços é quando
o profissional não quer vender.
c) Elaborar mensagem: Sabendo-se quem é o público-alvo e a intenção que
se quer passar com a mensagem, chega o momento de elaborar referida
mensagem e postá-la nas redes sociais. É uma das mais eficazes formas de se
comunicar com o público a qual se quer focar. Entretanto, deve-se estudar a
finalidade de cada meio de comunicação, haja vista que, por exemplo, dentre as
redes sociais, o Facebook tem finalidade diversa do Instagram. Esse apresenta
uma comunicação mais rápida, enquanto aquele uma mais demorada, em que o
público alvo lê calmamente. O advogado empreendedor tem de estar onde seu
público-alvo está. Não adianta estar no Linkedin se o público não está nessa
rede, por exemplo.
É importante fazer um orçamento de quanto irá investir para estar nos
canais de comunicação. Deve-se estabelecer um valor mensal que se pode
investir, bem como provisionar este valor como gasto mensal fico, porque o
marketing é um ponto basilar dos negócios. Sem ele, o advogado demorará a ser
visto e, consequentemente, os clientes demoram a aparecer, o que pode gerar
desânimo ao profissional, pois, por mais que se diga que a carreira é uma
construção que leva tempo, deve o advogado querer o resultado um pouco mais
rápido.
9 Medir os resultados
Às vezes, o advogado acha que terá um determinado resultado porque
seguiu todas as orientações, fez os estudos prévios, fez o pagamento do
patrocínio, mas quando se dá conta, quase não tem resultados. Importante,
portanto, medir os resultados para saber onde mais é válido o investimento. Essa
medição tem de ser à risca, o que garantirá sucesso nas atividades jurídicas e
administrativas diárias exercidas pelos profissionais da advocacia.
Referências bibliográficas
DORNELAS, José Carlos Assis. Empreendedorismo: Transformando ideias em
negócios. 3.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.


[1]
FONSECA, Ricardo Tadeu Marques da. A ONU e o seu conceito revolucionário de pessoa com
deficiência, 2008, p. 263.

[2]
STJ. Recurso em Mandado de Segurança nº 19.291. Relator: FELIX FISCHER. Órgão Julgador: 5ª
Turma. Data do Julgado: 15/02/2017.

[3]
CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário,
2016.

[4]
CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário,
2016.

[5]
CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário,
2016.

[6]
CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário,
2016.

[7]
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da Seguridade Social. 18ª. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2014. p.
230.

[8]
BERWANGER, J. L. W.; FOLMANN, M.; SERAU JÚNIOR, M. A. Previdência em tempo de
reformas. In: BALERA, W. et al. Reforma previdenciária e o futuro do sistema de proteção social
brasileiro. 1.ed. Porto Alegre: Magister, 2015. p. 113.

[9]
BERWANGER, J. L. W.; FOLMANN, M.; SERAU JÚNIOR, M. A. Previdência em tempo de
reformas. In: BALERA, W. et al. Reforma previdenciária e o futuro do sistema de proteção social
brasileiro. 1.ed. Porto Alegre: Magister, 2015. p. 114.

[10]
BERWANGER, Jane Lúcia Wilhelm. Previdência Rural: Inclusão Social. Curitiba: Juruá, 2008.

[11]
SAVARIS, José Antônio. Direito Processual Previdenciário. 6.ed. Curitiba: Alteridade, 2016.

[12]
STJ, Aposentadoria por idade híbrida beneficia trabalhadora rural, 2015.

[13]
TRF1, APELAÇÃO CIVEL 0008810-85.2016.4.01.9199. AC / TO. Relator: DESEMBARGADOR
FEDERAL JOÃO LUIZ DE SOUSA, Órgão Julgador: Segunda Turma Recursal, Data do Julgado:
06/06/2018.
[14]
TRF3, APELAÇÃO CÍVEL 2303526 / SP 0013193-09.2018.4.03.9999, Relator(a):
DESEMBARGADORA FEDERAL TANIA MARANGONI, Órgão Julgador: OITAVA TURMA, Data
do Julgamento: 25/06/2018.

[15]
TRF4, AUTOS 5013382-69.2018.4.04.9999, Relatora: Taís Schilling Ferraz, Órgão Julgador: Sexta
Turma, Data do Julgamento 25/07/2018.

[16]
TNU, Pedilef 5004318612012.404.7213, Relator: Frederico Augusto Leopoldino Koeller, Órgão
Julgador: Turma Nacional de Uniformização. Data da decisão 30/08/2017.

[17]
STJ, REsp: 1407613 RS 2013/0151309-1, Relator: Ministro HERMAN BENJAMIN, Órgão Julgador:
SEGUNDA TURMA, Data de Julgamento: 14/10/2014.

[18]
TNU, Pedilef 5009416-32.20134.04.7200, Relator: Juiz Federal Ronaldo José da Silva, Órgão
Julgador: Turma Nacional de Uniformização. Data da decisão: 20/10/2016.

[19]
STJ, REsp 207.425, Relatora: Ministra Laurita Vaz, Órgão Julgador: 5ª Turma, Data de Julgamento:
14/10/2003, Data da Publicação: 17/11/2003.

[20]
STJ, RESP 201402317408, Relator: MAURO CAMPBELL MARQUES, Órgão Julgador:
SEGUNDA TURMA, Data da Publicação:14/12/2015.

[21]
TRF3, Ap 00429646620174039999, Relator: JUIZ CONVOCADO RODRIGO ZACHARIAS, Órgão
Julgador: NONA TURMA, Data da Publicação: 21/03/2018.

[22]
TRF4, AC 5032389-81.2017.4.04.9999, Relator DANILO PEREIRA JUNIOR, Órgão Julgador:
TURMA REGIONAL SUPLEMENTAR DO PR, Data da Publicação: 06/03/2018.

[23]
TRF3, Ap 00297760620174039999, Relator: JUIZ CONVOCADO RODRIGO ZACHARIAS, Órgão
Julgador: NONA TURMA, Data da Publicação: 08/02/2018.

[24]
TRF1, APELAÇÃO 00741695520114019199, Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL
FRANCISCO DE ASSIS BETTI, Órgão Julgador: 1ª CÂMARA REGIONAL PREVIDENCIÁRIA DA
BAHIA, Data da Publicação: 29/08/2017.

[25]
TRF1, APELAÇÃO 00593609420104019199, Relator: JUIZ FEDERAL JOSÉ ALEXANDRE
FRANCO, Órgão Julgador: 1ª CÂMARA REGIONAL PREVIDENCIÁRIA DE JUIZ DE FORA, Data
da Publicação: 06/03/2017.

[26]
TRF4, 5001070-14.2017.4.04.7213, Relatora ERIKA GIOVANINI REUPKE, Órgão Julgador:
SEGUNDA TURMA RECURSAL DE SC, Data do Julgado: 21/03/2018.

[27]
STJ, AgInt no REsp 1425642/PR, Relator: Ministro GURGEL DE FARIA, Órgão Julgador:
PRIMEIRA TURMA, Data do Julgado: 16/05/2017, Data da Publicação: 20/06/2017.

[28]
STJ, REsp 1.561.003/SE, Relator: Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Data da Publicação:
01.06.2018.
[29]
TRF4, AC 5032389-81.2017.4.04.9999, Relator DANILO PEREIRA JUNIOR, Órgão Julgador:
TURMA REGIONAL SUPLEMENTAR DO PR, Data da Publicação: 06/03/2018.

[30]
TRF4, AC 5032389-81.2017.4.04.9999, Relator DANILO PEREIRA JUNIOR, Órgão Julgador:
TURMA REGIONAL SUPLEMENTAR DO PR, Data da Publicação: 06/03/2018.

[31]
TRF4, 5010804-16.2017.4.04.7107, Relator ANDRÉ DE SOUZA FISCHER, Órgão Julgador:
PRIMEIRA TURMA RECURSAL DO RS, Data da Publicação: 11/04/2018

[32]
RIZZARDO, Arnaldo. Curso de Direito Agrário. 1ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2013. p. 47.

[33]
EVANGELISTA, Eduardo Rodrigues. A função social da propriedade e o conceito de princípio
jurídico. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 18, n. 3594, 4 maio 2013.

[34]
DUGUIT, Léon. Las transformaciones generales del Derecho privado desde el Código de Napoleón.
Pamplona, Espanha. Analecta, Ediciones y Libros, 2006.

[35]
PARRA, Rafaela Aiex. Função Social da Propriedade Rural | Noções Gerais do Aspecto Ambiental e
o Direito de Propriedade. Jundiaí: Grappe Editorial, 2017. p. 82.

[36]
OPITZ, Silvia Carlinda Barbosa; OPITZ, Oswaldo. Curso completo de Direito Agrário. 10ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2016. p. 201.

[37]
SILVA, Diego Almeida da. Da constitucionalidade da contribuição para o custeio da seguridade
social a cargo do empregador rural pessoa física (FUNRURAL): Uma Análise do Julgamento do
Recurso Extraordinário nº 363.852/MG. Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 26 set. 2011.

[38]
MENDES, Pedro Puttini. Interfaces jurídicas do Funrural e da contribuição previdenciária rural. in
PARRA, Rafaela Aiex (org.). Direito Aplicado ao Agronegócio: uma abordagem multidisciplinar. 1ª ed.
Thoth Editora, Londrina, 2018. p. 320.

[39]
RIZZARDO, Arnaldo. Curso de Direito Agrário. 1ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2013. p.402.

[40]
AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. 15ª edição. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 16.

[41]
IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de Direito Previdenciário. 12ª edição. Niterói, Rio de Janeiro:
Editora Impetus, 2008. p. 4.

[42]
STF. Supremo desobriga empregador rural de recolher Funrural sobre receita bruta de sua
comercialização.

[43]
STF, RE 363852, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Órgão Julgador: Tribunal Pleno, Data do
Julgado: 03/02/2010.
[44]
STF, RE 718874, Relator(a): Min. EDSON FACHIN, Relator(a) p/ Acórdão: Min. ALEXANDRE
DE MORAES, Órgão Julgador: Tribunal Pleno, Data do Julgado: 30/03/2017.

[45]
FOLHA DE LONDRINA. Para secretário, decisão sobre Funrural compromete produção.

[46]
SRB. Funrural: Orientação do Conselho Jurídico do IPA.

[47]
CONJUR. Empresa de abate de aves consegue liminar para suspender contribuição do Funrural.

[48]
ANDERSON, Rogério Oliveira. Funrural – uma temporada no purgatório. in PARRA, Rafaela Aiex
(org.). Direito Aplicado ao Agronegócio: uma abordagem multidisciplinar. 1ª ed. Thoth Editora,
Londrina, 2018. p. 356/357.

[49]
PARRA, Rafaela Aiex; CENCI, Elve Miguel. A separação entre poderes, as decisões judiciais e a lei
do Código Florestal: Intercessões de um debate necessário em uma sociedade democrática. Rev. de
Direito Agrário e Agroambiental. e-ISSN: 2526-0081. Maranhão. v. 3 . n. 2 . Jul/Dez. 2017. p. 99 – 115.

[50]
Prevê a Lei de Benefícios da Previdência Social, em seu Art. 1º: A Previdência Social, mediante
contribuição, tem por fim assegurar aos seus beneficiários meios indispensáveis de manutenção, por
motivo de incapacidade, desemprego involuntário, idade avançada, tempo de serviço, encargos
familiares e prisão ou morte daqueles de quem dependiam economicamente.

[51]
PASSOS, Fábio Luiz dos. Previdência Social e Sociedade Pós-Industrial. Curitiba: Juruá, 2013.

[52]
A partir da década de 1960 os caminhões passaram a substituir o transporte ferroviário na
movimentação de mercadorias e produtos, e hoje são o principal meio de escoamento da produção
nacional. Enquanto este artigo está sendo escrito, o Brasil sofre as consequências de uma paralisação
feita por caminhoneiros.

[53]
Segurado especial é, de forma bem resumida, o produtor rural que trabalha em regime de economia
familiar, explorando no máximo quatro módulos fiscais.

[54]
Art. 14. É segurado facultativo o maior de 14 (quatorze) anos de idade que se filiar ao Regime Geral
de Previdência Social, mediante contribuição, na forma do art. 21, desde que não incluído nas
disposições do art. 12. (Lei nº 8.212/91)

[55]
Regime próprio é o regime a que são submetidos os servidores públicos concursados.

[56]
Equivale ao DARF, utilizado pela Receita Federal do Brasil para arrecadar tributos.

[57]
Caso queira recuperar o direito a tal benefício, o MEI deverá complementar os 15% restantes de
contribuição, sobre um salário mínimo, com acréscimo de juros de mora (art. 21, § 3º, Lei nº 8.212/91).

[58]
Para o ano de 2018, o limite anual de renda do MEI é de R$ 81.000,00, o que equivale a uma renda
mensal média de R$ 6.750,00.

[59]
A exemplo do MEI, para recuperar o direito à aposentadoria por tempo de contribuição, este
contribuinte deverá complementar os 9%restantes, sobre um salário mínimo, também acrescidos de
juros de mora.

[60]
SAVARIS, José Antonio; ROCHA, Daniel Machado da. Curso de Direito Previdenciário, v. 1.
Curitiba: Alteridade, 2014, p. 192.

[61]
IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de Direito Previdenciário. 20ª ed. Rio de Janeiro: Impetus. 2015. p.
622.

[62]
SAVARIS, José Antonio; ROCHA, Daniel Machado da. Curso de Direito Previdenciário, v. 1.
Curitiba: Alteridade,2014, p. 193-194.

[63]
Boletim Estatístico da Previdência Social - Vol. 23 n. 01 – jan. 2018.

[64]
TRF4, APELREEX 5000020-42.2010.404.7004, Relator: Ricardo Teixeira do Valle Pereira, Órgão
Julgador: Quinta Turma, Data do Julgamento: 08/06/2012.

[65]
TRF4, 0009832-93.2014.4.04.9999, Relator: Francisco Donizete Gomes, Órgão Julgador: 5ª Turma,
Data do Julgamento: 30/05/2017.

[66]
TRF4, AC5002531-49.2011.404.7013, Relator: FERNANDO QUADROS DA SILVA, Órgão
Julgador: TURMA REGIONAL SUPLEMENTAR, Data do Julgado: 05/09/2017.

[67]
Naquela oportunidade, escorando-se em precedentes do próprio STF, foi julgada improcedente a ADIn
ajuizada pela CONAMP quanto aos critérios para aposentadoria do regime próprio de previdência,
reafirmando que inexiste direito adquirido a regime jurídico previdenciário, entendendo não haver
direito que pudesse se mostrar como adquirido previamente a reunião de todos os requisitos à
aposentadoria, estando sujeito à eventual alteração constitucional.

[68]
Nesse sentido, vide AgRg 1.184.213/SC, DJ 21.02.2011.

[69]
SAVARIS, José Antonio; ROCHA, Daniel Machado da. Curso de Direito Previdenciário, v. 1.
Curitiba: Alteridade, 2014, p. 321.

[70]
TNU, Data do Julgado: 09/10/2013.

[71]
STF, ARE 664335, Relator: Min. LUIZ FUX, Órgão Julgador: Tribunal Pleno, Data da Publicação:
12/02/2015.

[72]
NERY JR., Nelson. Princípios do processo civil na Constituição Federal. 3ª ed. rev. e aum. São Paulo:
RT, 1996. p. 28.

[73]
ASSIS, Araken de. Duração razoável do processo e reformas da lei processual civil. In: Revista
Jurídica, ano 56, n.º 372, outubro, 2008. p. 11-12.

[74]
SAVARIS, José Antonio, Direito Processual Previdenciário, Curitiba: Juruá. 2009. p. 161.
[75]
CAMPOS, Marcelo Barroso Lima Brito de. Curso de Processo Previdenciário. v. 1 Processo
administrativo de benefícios no RGPS. Curitiba: Juruá, 2013. p. 96.

[76]
MARINONI, Luiz Guilherme. Aproximação crítica entre as jurisdições de civil law e de common law
e a necessidade de respeito aos precedentes no Brasil. Revista de Processo, ano 34, n. 172, jun/2009, p.
175-323.

[77]
XAVIER, Flavia da Silva; SAVARIS, José Antonio. Manual dos recursos nos juizados especiais
federais. 2ª ed. Curitiba: Juruá, 2011. p. 231-233.

[78]
TFR, Data da Publicação: 02/12/1985.

[79]
TRU4, IUJEF 0015522-91.2005.4.04.7195, Relator: Luísa Hickel Gamba, Data do Julgado:
24/03/2010.

[80]
LADENTHIN, Adriane Bramante de Castro. Aposentadoria Especial – Teoria de Prática. 2ª ed.
Curitiba: Juruá. 2014, p. 70.

[81]
TNU, Data do Julgado: 29/02/2012.

[82]
LADENTHIN, Adriane Bramante de Castro. Aposentadoria Especial – Teoria de Prática. 2ª ed.
Curitiba: Juruá. 2014, p. 108.

[83]
TRF4, 5040222-68.2013.404.7000, Relator: JOSÉ LUIS LUVIZETTO TERRA (AUXILIO JOÃO
BATISTA), Órgão Julgador: SEXTA TURMA, Data da Publicação: 01/03/2017.

[84]
TNU, PEDILEF 05008061420124058202, Relator: ATANAIR NASSER R. LOPES, Data do Julgado:
25/05/2017.

[85]
TNU, RI 5038541-58.2016.4.04.7000, Relator: JOSÉ ANTONIO SAVARIS, Órgão Julgador: 3ª TR
do PR, Data do Julgado: 16/08/2017.

[86]
GNATA, Noa Piatã Bassfeld. Direito intertemporal em matéria previdenciária. In: José Antonio
Savaris (Coord.). Direito Previdenciário: problemas e jurisprudência. 2ª ed. Curitiba: Alteridade, 2015.
p. 494.

[87]
TRF4, Resolução nº 7 de 7 de fevereiro de 2018. Dispõe sobre a criação e manutenção de Banco de
Laudos Técnicos Periciais das Condições Ambientais do Trabalho, e estabelece outras providências.

[88]
STJ, REsp 1397415/RS, Relator: Ministro Humberto Martins, Órgão Julgador: Segunda Turma, Data
do Julgado: 12/11/2013, Data da Publicação: 20/11/2013.

[89]
LADENTHIN, Adriane Bramante de Castro. Aposentadoria Especial – Teoria de Prática. 2ª ed.
Curitiba: Juruá. 2014, p. 204-205.

[90]
TRF4, 5039586-64.2011.4.04.7100, Relatora: GISELE LEMKE, Órgão Julgador: QUINTA TURMA,
Data do Julgado: 09/04/2018.
[91]
TRF4, Data do Julgado: 21/09/2016.

[92]
TNU, Data do Julgado: 11/09/2012, Enunciado: “o laudo pericial não contemporâneo ao período
trabalhado é apto à comprovação da atividade especial do segurado.”

[93]
LADENTHIN, Adriane Bramante de Castro. Aposentadoria Especial – Teoria de Prática. 2ª ed.
Curitiba: Juruá. 2014, p. 231-233.

[94]
CRPS, Data da Publicação: 18/11/1999.

[95]
TRT-PR, 00738-2013-643-09-00-8-ACO-20172-2014, Relator: SUELI GIL EL RAFIHI, Órgão
Julgador: 6ª TURMA, Data da Publicação: 24/06/2014.

[96]
LAZZARI, João Batista; CASTRO, Carlos Alberto Pereira de. Manual de Direito Previdenciário. 19.
ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2016, p.455.

[97]
OLIVEIRA, Ramon de. Empregabilidade.

[98]
NOTÍCIAS, Superior Tribunal de Justiça. STJ vai decidir sobre adicional de 25% a aposentado que
precisa de assistência permanente.

[99]
NOTÍCIAS, Superior Tribunal de Justiça. STJ vai decidir sobre adicional de 25% a aposentado que
precisa de assistência permanente.

[100]
TNU, PEDILEF: 50008904920144047133, Relator: JUIZ FEDERAL SÉRGIO MURILO
WANDERLEY QUEIROGA, Data de Julgamento: 12/05/2016, Data de Publicação: 20/05/2016.

[101]
STJ, REsp 797.209/MG, Relator: Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, Órgão Julgador: QUINTA
TURMA, Data do Julgado: 16/04/2009, Data da Publicação: 18/05/2009.

[102]
STF, RE 630501/RS, Relator Original: Min. Ellen Gracie, Relator para Acórdão: Min. Marco Aurélio,
Data do Julgado: 21/02/2013.

[103]
CRPS, Data da Publicação: 18/01/1994

[104]
STJ, REsp nº 1.644.505 - SC (2016/0328093-8), Relator: MINISTRO HERMAN BENJAMIN, Órgão
Julgador: 2ª Turma, Data da Publicação: 04/05/2017

[105]
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos
termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: II - do trabalhador e dos demais segurados da
previdência social, não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo regime
geral de previdência social de que trata o art. 201;

[106]
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e
de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá,
nos termos da lei,

[107]
Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes
públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência
social.

[108]
AMADO, Frederico Augusto Di Trindade. Direito e Processo Previdenciário Sistematizado. 4 ed.
Bahia: JusPodivm, 2013. p.105.

[109]
MARTINS, Sergio Pinto. Direito da Seguridade Social. 37º. ed. São Paulo. Saraiva, 2016. p. 60.

[110]
Art. 11. § 3º. O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social–RGPS que estiver exercendo ou
que voltar a exercer atividade abrangida por este Regime é segurado obrigatório em relação a essa
atividade, ficando sujeito às contribuições de que trata a Lei n° 8.212, de 24 de julho de 1991, para fins
de custeio da Seguridade Social.

[111]
Art. 201. § 1º. É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de
aposentadoria aos beneficiários do regime geral de previdência social, ressalvados os casos de atividades
exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física e quando se tratar de
segurados portadores de deficiência, nos termos definidos em lei complementar.

[112]
IBRAHIM, Fábio Zambitte. Desaposentação: o caminho para uma melhor aposentadoria. 5ª. ed.
Niterói. Impetus, 2011. p.103.

[113]
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Desaposentação: uma intrigante decisão do STF. 8ª. ed. São Paulo.
LTr, 2018. p. 53.

[114]
Art. 18. O Regime Geral de Previdência Social compreende as seguintes prestações, devidas inclusive
em razão de eventos decorrentes de acidente do trabalho, expressas em benefícios e serviços:
§ 2º O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social-RGPS que permanecer em atividade sujeita a
este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do
exercício dessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.

[115]
IBRAHIM, Fábio Zambitte. Desaposentação - O Caminho Para Uma Melhor Aposentadoria. 5ª Edição
Revisada e Atualizada. Niterói: Impetus, 2011.

[116]
TRF4, AC 5007217-74.2016.404.9999, Relator: JOÃO BATISTA PINTO SILVEIRA, Órgão
Julgador: SEXTA TURMA, Data da Publicação: 12/06/2017.

[117]
TRF4, AC 5035452-47.2018.4.04.7100, Relator: JOÃO BATISTA PINTO SILVEIRA, Órgão
Julgador: SEXTA TURMA, Data da Publicação: 17/08/2018.

[118]
TRF4, APELREEX 5000384-26.2015.4.04.7105, Relator: JOSÉ ANTONIO SAVARIS, Órgão
Julgador: QUINTA TURMA, Data da Publicação: 29/01/2016.

[119]
TRF4, 5000460-84.2014.4.04.7008, Relatora: LUCIANE MERLIN CLÈVE KRAVETZ, Órgão
Julgador: QUARTA TURMA RECURSAL DO PR, Data do Julgado: 08/11/2016.
[120]
TRF4, 5005255-17.2011.4.04.7113, Relator: GUSTAVO SCHNEIDER ALVES, Órgão Julgador:
TERCEIRA TURMA RECURSAL DO RS, Data do Julgado: 16/11/2016.

[121]
STF, RE 1105261 AgR, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Órgão Julgador: Segunda
Turma, Data do Jjulgado: 11/05/2018.

[122]
TRF4, AC 5004089-52.2012.404.7100, Relator: JOÃO BATISTA PINTO SILVEIRA, Órgão Julgador:
SEXTA TURMA, Data da Publicação: 10/07/2015.

[123]
TRF4, 5005255-17.2011.4.04.7113, Relator: GUSTAVO SCHNEIDER ALVES, Órgão Julgador:
TERCEIRA TURMA RECURSAL DO RS, Data do Julgado: 16/11/2016.

[124]
TRU4, 5002621-30.2011.4.04.7119, Relator: LEONARDO CASTANHO MENDES, Data da
Publicação: 14/02/2017.

[125]
TRF4, AC 5028572-73.2017.4.04.7100, Relator: ALTAIR ANTONIO GREGÓRIO, Órgão Julgador:
QUINTA TURMA, Data da Publicação: 09/03/2018.

[126]
STJ, AgInt nos EDcl no AREsp n. 171.864/PR, Relator: Napoleão Antunes Maia Filho, Órgão
Julgador: 1ª Turma, Data do Julgamento: 04/10/2016, Data da Publicação: 20/10/2016.

[127]
ROBERT, Malcon. Sobre as vantagens das Ações Civis Públicas Previdenciárias.

[128]
TRF1, 00015749620144013300, Relator: JUIZ FEDERAL POMPEU DE SOUSA BRASIL, Órgão
Julgador: 1ª CÂMARA REGIONAL PREVIDENCIÁRIA DA BAHIA, Data da Publicação: 03/05/2018.

[129]
TRF1, 00022817520164013306, Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL JOÃO LUIZ DE
SOUSA, Órgão Julgador: SEGUNDA TURMA, Data da Publicação: 09/05/2018.

[130]
JFSP, 5000116-78.2017.4.03.6183, Órgão Julgador: 7ª Vara Previdenciária Federal de São Paulo,
Data da Publicação: 26/12/2017.

[131]
TRF4, AC 5048145-34.2016.4.04.7100, Relator: ALTAIR ANTONIO GREGÓRIO, Órgão Julgador:
QUINTA TURMA, Data da Publicação: 09/03/2018.

[132]
TRF3, Ap - APELAÇÃO CÍVEL - 2180683 - 0027177-31.2016.4.03.9999, Relator:
DESEMBARGADOR FEDERAL NEWTON DE LUCCA, Órgão Julgador: OITAVA TURMA, Data do
Julgado: 07/05/2018, Data da Publicação: 21/05/2018.

[133]
TRF3, ApReeNec - APELAÇÃO/REMESSA NECESSÁRIA - 2102559 - 0003011-
73.2012.4.03.6183, Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL TORU YAMAMOTO, Órgão Julgador:
SÉTIMA TURMA, Data do Julgado: 07/05/2018, Data da Publicação: 11/05/2018.

[134]
STJ, AgInt no REsp 1.642.625/ES, Relator: Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, Órgão
Julgador: SEGUNDA TURMA, Data do Julgado: 06/06/2017, Data da Publicação: 12/06/2017.

[135]
TRF3, ACP nº 0004911-28.2011.4.03.6183.
[136]
TRF3, ApReeNec - APELAÇÃO/REMESSA NECESSÁRIA - 2102559 - 0003011-
73.2012.4.03.6183, Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL TORU YAMAMOTO, Órgão Julgador:
SÉTIMA TURMA, Data do Julgado: 07/05/2018, Data da Publicação: 11/05/2018.

[137]
TRF1, ACÓRDAO 00022817520164013306, Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL JOÃO
LUIZ DE SOUSA, Órgão Julgador: SEGUNDA TURMA, Data da Publicação: 09/05/2018.

[138]
Vistos etc.1.Recebo a apelação do INSS no efeito meramente devolutivo. Deixo de suspender os
efeitos da sentença, já que o prejuízo à lide e ao Erário Público seria muito maior do que o imediato
cumprimento das determinações ali contidas.Com a inclusão de vários segurados que não foram
contemplados pelo acordo, estes certamente não aguardarão o desfecho dessa Ação Civil Pública,
ingressando com milhares de ações - na maior parte, em vista dos valores disputados, nos Juizados
Especiais Federais. A publicidade que a demanda ganhou, pela diligente atuação da mídia, fará com que,
se a decisão não for imediatamente cumprida, a lide perca a razão de sua existência e de seus propósitos
(em especial, o de evitar o ingresso individual de demandas).A inviabilização da atuação do judiciário,
em particular dos Juizados Especiais Federais, será financeiramente mais prejudicial ao Estado do que o
que vem contido na sentença. Além disso, há o “déficit democrático” que daí será proveniente, com o
excesso de demandas e o prejuízo à atuação mais eficiente para os jurisdicionados.2. Recebida a
apelação sem suspender o julgado, dê-se vista às partes contrárias para contrarrazões. Int. in TRF3, ACP
nº 0004911-28.2011.4.03.6183

[139]
STJ, REsp 1243887/PR, Relator: Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Órgão Julgador: CORTE
ESPECIAL, Data do Julgado: 19/10/2011, Data da Publicação: 12/12/2011.

[140]
Dispositivo da sentença: ANTE TODO O EXPOSTO:I) AFASTO TODAS AS PRELIMINARES,
COM EXCEÇÃO DA INCOMPETÊNCIA DESSE JUÍZO PARA A APRECIAÇÃO DE BENEFÍCIOS
ACIDENTÁRIOS, a qual acolho com base no art. 267, inciso IV, do Código de Processo Civil. II)
HOMOLOGO EM PARTE, nos moldes do art. 269, inciso III, do Código de Processo Civil, e na exata
forma da fundamentação, o acordo de fls. 177 a 179, observados os seguintes termos: a) mantém-se o
cronograma de fls. 178 constante do item 7, letra “b”, daquela petição, preservando-se os valores
atrasados por faixa e os prazos ali indicados e considerando a quantidade de benefícios ali aposta como
número mínimo de benefícios a serem contemplados, já que outros serão incorporados nos moldes das
razões que serão deduzidas a seguir. Para viabilizar o acordo, no entanto, na perspectiva procedimental e
em especial para se atentar à questão orçamentária, estabelece-se que os benefícios que serão incluídos
(item seguinte dessa sentença) e que se encontrem na primeira faixa (até R$ 6.000,00) possam ter os
atrasados devidamente quitados, para esse universo, até o dia 31/12/2011. Quantos aos demais, que já
estão contidos no universo mínimo de benefícios do acordo (68.945), fica mantido o lapso de
30/10/2011. Da mesma forma homologa-se parte do item 7, letra “a”, no que diz respeito à incorporação
já em agosto de 2011 dos recálculos aos benefícios ali indicados. No entanto, como se trata de número
mínimo, como já dito, os benefícios que forem incluídos, por adequação aos termos do RE nº 564.354
(nos moldes do próximo item da sentença), terão a incorporação decorrente do recálculo da renda
mensal inicial em até sessenta dias da intimação pessoal do INSS desta decisão; b) fica preservado o
item 10 de fls. 179 (petição do acordo);c) fica mantido, ainda, o caráter nacional do acordo homologado;
d) resta preservada, também, a imediata integração do recálculo da renda mensal inicial aos benefícios
dos segurados na quantidade descrita no item 7, letra “b” do acordo proposto (considerado aqui como
número mínimo). Essa incorporação se dará também nos benefícios a serem agregados a seguir,
observado o prazo de até sessenta dias da intimação pessoal do INSS desta decisão. III) JULGO, NO
MAIS, PROCEDENTE EM PARTE O PEDIDO CONSTANTE DA INICIAL, NOS MOLDES DO
ART. 269, INCISO I, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL E DA FUNDAMENTAÇÃO, PARA
CONDENAR O INSS NO QUE SEGUE: a) PAGAMENTO DOS VALORES CONSTANTES DESSA
DEMANDA, UTILIZANDO-SE DA SEGUINTE METODOLOGIA DE CÁLCULO DAS RENDAS
MENSAIS INICIAIS EM VISTA DOS TETOS REFERENTES ÀS EMENDAS CONSTITUCIONAIS
Nº 20/98 E 41/03: a.1) utilizar a média dos salários-de-contribuição dos benefícios concedidos a partir
de 05 de outubro de 1988. Após, evoluir essa média até a data das Emendas e comparar com o teto novo
definido pelas Emendas Constitucionais nºs 20/98 e 41/03; a.2) se o benefício houver sido concedido
antes da Emenda Constitucional nº 20/98 e a média corrigida for superior ao teto daquele instante
(15/12/98), essa evolução deve continuar até a Emenda Constitucional nº 41/03, quando haverá a
comparação com o valor do teto naquele momento; b) PAGAMENTO DOS VALORES
DECORRENTES DO RE Nº 564.354 AOS SEGUINTES BENEFÍCIOS EXCLUÍDOS DO ACORDO
REALIZADO, OBSERVADOS OS TERMOS DA FUNDAMENTAÇÃO: b.1) abrangência da
incidência do recálculo da renda mensal inicial para os benefícios concedidos entre 05 de outubro de
1988 e 05 de abril de 1991; b.2) benefícios que tiveram revisões judiciais e administrativas processadas
nas rendas mensais iniciais dos benefícios (tais como as referentes ao IRSM e outras) e que não se
encontram necessariamente refletidas nas cartas de concessão originárias constantes do sistema
operacional, na exata forma constante da fundamentação. Para tanto, esses segurados devem ser
incluídos no cronograma referendado em parte por esse Juízo, observado novamente que o lapso para o
pagamento dos atrasados estende-se a 31/12/2011. Para as duas hipóteses anteriores, os benefícios que
forem incluídos, por adequação aos termos do RE nº 564.354, na forma da fundamentação, terão a
incorporação decorrente do recálculo da renda mensal inicial em até sessenta dias da intimação pessoal
do INSS dessa decisão. Quanto aos atrasados, deve ser observada a sua inclusão nos lapsos lá indicados,
acrescendo em número àquele indicado na coluna do número de benefícios (já que, em relação a esse
item, houve homologação em parte do acordo, sendo que o número ali existente trata-se de número
mínimo, conforme já esclarecido anteriormente). Há que se observar apenas que, para viabilizar o
acordo, no entanto, na perspectiva procedimental e em especial para se atentar para a questão
orçamentária, estabelece-se que os benefícios que serão incluídos (na forma dessa sentença) e que se
encontrem na primeira faixa (até R$ 6.000,00) possam ter os atrasados devidamente quitados, para esse
universo, até o dia 31/12/2011. Quantos aos demais, que já estão contidos no universo mínimo de
benefícios do acordo (68.945 benefícios), fica mantido o lapso de 30/10/2011.c) PAGAMENTO DE
JUROS DE 1% (UM POR CENTO) AO MÊS, EM RELAÇÃO AOS VALORES A ATRASADOS A
SEREM QUITADOS, NA FORMA DA FUNDAMENTAÇÃO. d) O TERMO INICIAL DA
PRESCRIÇÃO DOS VALORES ATRASADOS A SEREM QUITADOS DEVE COINCIDIR SEMPRE
COM A DATA DA PROPOSITURA DA DEMANDA (05 DE MAIO DE 2011). O descumprimento do
acordo na parte homologada, bem como do que foi decidido em sentença de procedência parcial da
demanda, nos termos anteriores, implica multa diária de R$ 300.000,00 (trezentos mil reais), a ser
revertida para o Fundo indicado no artigo 13 da Lei n. 7.347/85.Oficie-se à Relatora do Agravo de fls.
134/148, para ciência do teor da presente decisão. Oficie-se, também para fins de ciência da existência
dessa ação civil pública e de sua decisão, à Excelentíssima Ministra Cármen Lúcia, Relatora do RE nº
564.354. Oficie-se aos Diretores de todas as Seções Judiciárias dos Tribunais Regionais Federais, com
cópia da presente decisão, para que possam promover a sua divulgação. Em todos ofícios deve seguir,
ainda, a cópia do acordo proposto às fls. 177 a 179.Publique-se. Registre-se. Intime-se. Disponibilização
D.Eletrônico de sentença em 01/09/2011. in TRF3, ACP nº 0004911-28.2011.4.03.6183
[141]
STJ, Resp 1367479/RS, Relator: Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, Órgão Julgador:
SEGUNDA TURMA, Data do Julgado: 04/09/2014, Data da Publicação: 10/09/2014.

[142]
TRF-4, AC: 50172673420134047100 RS 5017267-34.2013.4.04.7100, Relator: HERMES SIEDLER
DA CONCEIÇÃO JÚNIOR, Órgão Julgador: SEXTA TURMA, Data de Julgamento: 09/04/2018.

[143]
TRF-4, AC: 50172673420134047100 RS 5017267-34.2013.4.04.7100, Relator: HERMES SIEDLER
DA CONCEIÇÃO JÚNIOR, Órgão Julgador: SEXTA TURMA, Data de Julgamento: 09/04/2018.

[144]
STJ, REsp 1.367.479/RS, Relator: Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, Órgão Julgador:
Segunda Turma, Data de Julgamento: 10/09/2014.

[145]
STJ, REsp 1.367.479/RS, Relator: Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, Órgão Julgador:
Segunda Turma, Data de Julgamento: 10/09/2014.

[146]
TRF4, EINF 0008828-26.2011.4.04.9999, Relator: RICARDO TEIXEIRA DO VALLE PEREIRA,
Órgão Julgador: TERCEIRA SEÇÃO, Data da Publicação: 10/01/2013.

[147]
CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista, Manual de Direito Previdenciário,
Editora Forense, 19ª edição, 2016, p. 492-493.

[148]
TRF-4, APL: 50257095220144047100 RS 5025709- 52.2014.404.7100, Relator: SALISE
MONTEIRO SANCHOTENE, Órgão Julgador: SEXTA TURMA, Data de Julgamento: 17/05/2017.

[149]
TRF-4, APL: 5006370-29.2013.4.04.7202 SC, Relator: ROGERIA FAVRETO, Órgão Julgador:
QUINTA TURMA, Data de Julgamento: 14/04/2015.

[150]
STJ, AgRg no REsp 1435797/PB Agravo Regimental no Recurso Especial 2014/0031163-5, Relator:
Ministro Benedito Gonçalves, Órgão Julgador: 1ª Turma, Data do Julgamento: 25/10/2016.

[151]
TRF4, 5068593-27.2017.4.04.9999, Relator: PAULO AFONSO BRUM VAZ, Órgão Julgador:
TURMA REGIONAL SUPLEMENTAR DE SC, Data de Publicação: 10/04/2018.

[152]
BOCHENEK, Antônio César; NASCIMENTO, Márcio Augusto. Juizados Especiais Federais Cíveis.
E-book. Porto Alegre: direito dos autores, 2011, p. 218.

[153]
CRPS, Enunciado nº 5, de 18 de janeiro de 1994.

[154]
STJ, RE 630501, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Órgão Julgador: Tribunal Pleno, Data do
Julgado: 21/02/2013.

[155]
STF, RE: 630501 RS, Relator: Min. ELLEN GRACIE, Órgão Julgador: Tribunal Pleno, Data do
Julgamento: 21/02/2013.

[156]
STJ. Recurso Especial nº 1135946 SP 2009/0073269-0, Relator: Ministro HUMBERTO MARTINS,
Órgão Julgador: 2ª Turma, Data do Julgado: 22/09/2009.

[157]
TRF4. Apelação nº 0016234-59.2015.404.9999/RS. Relator: Rogério Favreto, Data do Julgado:
03/05/2016.

[158]
TRF4, EINF 5007039-68.2011.4.04.7003, Relator: OSNI CARDOSO FILHO, Órgão Julgador:
TERCEIRA SEÇÃO, Data da Publicação: 10/03/2016.

[159]
CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL. Notícias: TNU ratifica entendimento sobre cálculo de
benefício em caso de atividades concomitantes.

[160]
CAMPOS JUNIOR, Geraldo. INSS aprovou apenas 38% dos pedidos de aposentadoria. in Gazeta
Online, 2017.

[161]
THOMÉ, Felipe. Marketing boca-a-boca: seus clientes são seus melhores vendedores, 2015.

[162]
NIELSEN. ESTUDO GLOBAL – CONFIANÇA EM PUBLICIDADE, 2015.

[163]
MARTINS, Diego. Como fazer marketing jurídico digital sem ferir o Código de Ética da OAB, 2017.

[164]
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BERNI, Camila. O jeito Disney na advocacia. O que mudaria? 2017.

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ROBBINS, Anthony – Desperte seu gigante interior. 3a ed. Record, 2009. p. 40-41.

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DORNELAS, José Carlos Assis. Empreendedorismo: Transformando ideias em negócios. 3.ed. Rio
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