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HOMEM
TEMPO A MULTIPLICADORES
CONVERTER Para 25 Para 29 Para 33 Para 35
De 25 anos 1,00 1,16 1,32 1,40
De 29 anos 0,86 1,00 1,14 1,21
De 33 anos 0,76 0,88 1,00 1,06
De 35 anos 0,71 0,83 0,94 1,00
Como exemplo, toma-se um segurado, homem, que iniciou a vida
contributiva já com deficiência, apresentando deficiência leve no período de
01/01/1982 a 31/12/2004 (22 anos) e deficiência moderada no período de
01/01/2005 a 31/12/2015 (10 anos). O grau preponderante é o leve - período no
qual o segurado permaneceu por maior tempo contribuindo - e o período a ser
convertido para esse grau é o de deficiência moderada. Conforme tabela acima, a
fim de converter o período de deficiência moderada (que exige 29 anos de tempo
de contribuição para homem) para leve (que exige 33 anos de tempo de
contribuição para homem), aplica-se o índice de 1,14. Assim, multiplicando-se o
período de 01/01/2005 a 31/12/2015 (10 anos) por 1,14, atinge-se 11,4 anos, por
meio dos quais, somados ao tempo contribuído na condição de pessoa com
deficiência leve (22 anos), restam atingidos os 33 anos de contribuição
necessários para a concessão da aposentadoria por tempo de contribuição do
segurado que apresenta deficiência leve.
No referido exemplo, se tratando de segurada mulher, o multiplicador seria
de 1,17 (de deficiência moderada para leve).
Cumpre observar ainda que é possível, para a concessão dos benefícios
previstos na LC nº 143/2013, a conversão do tempo rural, tempo comum e tempo
especial. Ainda, os períodos em que o segurado esteve em gozo de benefício por
incapacidade, desde que intercalado com períodos contributivos, podem ser
convertidos.
Em tais casos, os índices previstos no art. 70-E do Decreto nº 3.048/99
atuarão como um redutor do tempo. Por exemplo, uma mulher que trabalhou
durante o intervalo de 01/01/1960 a 31/12/1965 (05 anos) na zona rural, na
condição de segurada especial e, ao iniciar sua vida contributiva, no ano de
1970, apresentava deficiência grave. Nesse caso, o período laborado no meio
rural, tido como comum, isto é, sem deficiência, pode ser convertido para
deficiência grave mediante aplicação do fator 0,67, com vista à concessão do
beneficio de aposentadoria aos 20 anos de tempo de contribuição (tempo
necessário ao deferimento da aposentadoria por tempo de contribuição da
segurada mulher com deficiência grave).
4.2 Conversão dos períodos com deficiência para a concessão das
aposentadorias por idade e por tempo de contribuição comuns
É possível ainda a aplicação da LC nº 142/2013 aos segurados - pessoas
que iniciaram a vida contributiva sem qualquer deficiência, mas que, por alguma
fatalidade, passaram a tê-la. Nessa situação, é pouco provável que o segurado
implemente os anos de contribuição exigidos pela lei complementar, sem que
antes se atinjam os requisitos para a aposentadoria por tempo de contribuição
comum.
Assim, caso o segurado não implemente os requisitos para a aposentadoria
na condição de deficiente, existe a possibilidade de conversão dos períodos
laborados na condição de pessoa com deficiência para a concessão das
aposentadorias por idade e por tempo de contribuição comum, previstas na Lei
nº 8.213/91.
Para tanto, utiliza-se a tabela do art. 70-E do Decreto nº 3.048/99:
MULHER
MULTIPLICADORES
TEMPO A CONVERTER
Para 20 Para 24 Para 28 Para 30
De 20 anos 1,00 1,20 1,40 1,50
De 24 anos 0,83 1,00 1,17 1,25
De 28 anos 0,71 0,86 1,00 1,07
De 30 anos 0,67 0,80 0,93 1,00
HOMEM
MULTIPLICADORES
TEMPO A CONVERTER
Para 25 Para 29 Para 33 Para 35
De 25 anos 1,00 1,16 1,32 1,40
De 29 anos 0,86 1,00 1,14 1,21
De 33 anos 0,76 0,88 1,00 1,06
De 35 anos 0,71 0,83 0,94 1,00
Infere-se que a tabela prevê a conversão do tempo de contribuição com
deficiência para tempo de contribuição sem deficiência, mediante aplicação dos
fatores de 1,50 (deficiência grave), 1,25 (deficiência moderada) e 1,07
(deficiência leve) para mulher, e dos fatores de 1,40 (deficiência grave), 1,21
(deficiência moderada) e 1,06 (deficiência leve) para os homens.
A título de ilustração, menciona-se um segurado que possui 17 anos de
contribuição para o RGPS e, após sofrer acidente de carro, trabalhou por mais 15
anos na acometido de deficiência moderada, implementando, assim, 32 anos de
contribuição. Nesse caso, não é possível a aposentação prevista no inciso II, do
art. 3º da LC nº 142/2013, posto que se exige do homem 29 anos de tempo de
contribuição laborados com deficiência moderada.
É possível, contudo, a conversão dos períodos trabalhados de duas formas.
A primeira possibilidade é a conversão do período trabalhado como deficiente
(15 anos) para tempo comum, mediante a aplicação do fator de 1,21, o que
resultará em acréscimo de 03 anos. Assim, o segurado passa a contar com 17
anos de tempo comum e 18 anos como deficiente, atingindo 35 anos de
contribuição, tempo suficiente para a concessão da aposentadoria por tempo de
contribuição comum. Nessa hipótese, exceto se atingida a pontuação prevista no
art. 29-C da Lei nº 8.213/91, há incidência do fator previdenciário.
A segunda hipótese é a conversão do tempo exercido sem deficiência, 17
anos (tempo comum), em tempo qualificado, mediante aplicação do fator de
0,83, que reduzirá o tempo em 2,89. O segurado passa a ter 14,11 anos de tempo
comum convertido para qualificado (17 anos - 2,89 anos) e 15 anos de tempo
laborado com deficiência, totalizando 29,11 anos de tempo qualificado, sendo os
29 anos previstos no inciso II, do art. 3º da LC 142/2013, para a deficiência
moderada. Nesse caso, o fator previdenciário será aplicado somente se aumentar
o valor do benefício.
Com efeito, a conversão do tempo laborado com a deficiência para tempo
comum visa facilitar a percepção de benefício previdenciário aos trabalhadores
que exerceram atividade laborativa na condição deficiente por certo período;
porém, não implementam, de forma isolada, os requisitos necessários à
concessão dos benefícios previstos na LC nº 142/2013.
Considerações finais
A fim de assegurar o tratamento diferenciado assegurado pelo art. 201, § 1º
da Constituição Federal, aos portadores de deficiência foi editada a Lei
Complementar nº 142/2013, que, juntamente com o Decreto nº 8.145/2013, o
qual incluiu a Subsecção IV-A ao Decreto nº 3.048/1999, regula a concessão da
aposentadoria da pessoa com deficiência com critérios diferenciados em relação
aos demais segurados da Previdência Social.
O conceito de deficiência adotado para a concessão dos benefícios
previstos na lei complementar é idêntico ao previsto no art. 1º da Convenção
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da ONU, que considera pessoa
com deficiência aquela que tem impedimentos de longo prazo de natureza física,
mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras,
podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de
condições com as demais pessoas e, portanto, não implica, exclusivamente,
incapacidade e invalidez.
A condição de deficiência do segurado é comprovada por avaliação médica
e funcional que visa aferir o grau de deficiência, se leve, moderado ou grave,
sendo passível de variação, além de fixar a data de início da deficiência.
A LC nº 142/2013 assegura a pessoa com deficiência duas espécies de
aposentadorias com critérios diferenciados para o RGPS: Aposentadoria por
Idade e Aposentadoria por Tempo de Contribuição.
Apesar de a lei complementar não ter especificado a carência, para ambos
os benefícios exige-se a carência mínima de 180 contribuições e data de início
observa-se a regra geral prevista na Lei nº 8.213/91.
A aposentadoria por idade da pessoa com deficiência é concedida com a
redução de cinco anos no quesito etário em comparação à aposentadoria por
idade urbana da Lei nº 8.213/1991 e exige-se que o segurado tenha trabalhado
por 15 anos na condição de pessoa com deficiência, independentemente do grau.
Quanto à aposentadoria por tempo de contribuição, é garantindo ao
segurado portador de deficiência uma redução no requisito contributivo a
depender do grau de deficiência aferido pela avaliação funcional e médica.
Constatada a alternância nos graus de deficiência pela avaliação médica e
funcional, os parâmetros para a concessão da aposentadoria serão
proporcionalmente ajustados, levando-se em conta a deficiência preponderante.
O segurado com deficiência que não implementar os requisitos para as
aposentadorias previstas na lei complementar poderá converter os períodos
laborados na condição de pessoa com deficiência para a concessão das
aposentadorias por idade e por tempo de contribuição comum previstas na Lei nº
8.213/91.
Merece atenção os segurados que recebem ou receberam auxílio-acidente
(antigo auxílio-suplementar). O benefício é concedido como indenização pela
perda parcial e permanente da capacidade laborativa e, portanto, pode ser um
indício de deficiência que, se comprovada, pode possibilitar a concessão dos
benefícios previstos na lei complementar ou ainda a conversão do período
laborado com deficiência para tempo comum para a concessão das
aposentadorias com regras gerais.
É possível ainda a revisão das aposentadorias concedidas após o advento
da lei complementar, caso o segurado seja pessoa com deficiência e não tenha
indicado essa condição quando do requerimento do benefício.
Referências bibliográficas
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<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>
Acesso em: 20 de junho de 2018.
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Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007. Documento
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BRASIL, Decreto nº 8.144, de 28 de novembro de 2013. Discrimina ações do
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Acesso em: 20 de junho de 2018.
BRASIL, Lei Complementar nº 142, de 08 de maio de 2013. Regulamenta o § 1o
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FONSECA, Ricardo Tadeu Marques da. A ONU e o seu conceito revolucionário
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LAZZARI, João Batista; CASTRO, Carlos Alberto Pereira de. Manual de
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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Recurso em Mandado de Segurança nº
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Recorrido: ESTADO DO PARÁ. Documento eletrônico disponível em:
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CAPÍTULO 2
APOSENTADORIA POR IDADE HÍBRIDA
ELISÂNGELA GUIMARÃES DE ANDRADE
Graduada em Direito pela Universidade Norte do Paraná. Pós-graduada em
Direito Tributário pelo Instituto Brasileiro de Estudos Tributários. Secretária da
Associação Brasileira dos Advogados Previdenciários. Advogada associada ao
escritório Brandão Canella Advogados Associados.
Introdução
Com o presente artigo, haverá primeiramente a explanação do motivo e a
necessidade pela qual surgiu a aposentadoria por idade híbrida ou mista, o
conceito desta, trazido com a inovação da Lei nº 11.718/2008, que alterou o
artigo 48, §3º, da Lei nº 8.213/91, o entendimento rígido do Instituto Nacional
do Seguro Social (INSS) e as recentes decisões dos Tribunais e entendimentos
mais facilitadores. Para tanto, é necessária a implementação de alguns requisitos,
os quais são discorridos ao longo deste estudo.
1 Idade híbrida ou mista
A aposentadoria por idade híbrida ou mista surgiu com a necessidade de
atender à determinada contingência de segurados, que, por terem exercido por
um determinado período o trabalho rural e o trabalho urbano, não
implementaram a carência necessária, estabelecida no art.142 da Lei nº 8.213/91,
tampouco alcançariam a aposentadoria por idade urbana ou rural, ambas do Art.
48 § 1º e 2º, sucessivamente, ou seja, não preenchem os requisitos para a tão
sonhada aposentadoria por idade, sendo necessária a mescla de ambos os
períodos para que o segurado faça jus à aposentadoria por idade híbrida ou
mista.
Contudo, embora seja permitida a mescla de ambos os períodos, rural e
urbano, para que se alcance a carência mínima de 180 contribuições mensais e a
comprovação de trabalho após a mescla dos períodos rural e urbano, o segurado
deverá, se homem, ter no mínimo 65 anos de idade e, se mulher, no mínimo 60
anos de idade.
1.1 Conceito
Repete-se que a aposentadoria por idade híbrida ou mista vem para
salvaguardar o direito daqueles que primeiramente exerceram atividade rural e
migraram para o meio urbano e, ainda que haja discussão acerca do assunto,
igualmente daqueles que por algum motivo migraram do âmbito urbano para o
rural. O tema é vasto para discussões, como se vê adiante.
Até a data de 20/08/2008, os segurados teriam que implementar os
requisitos para a aposentadoria por idade em um único período, seja ele urbano
ou rural. Veja-se o disposto no art. 48, §§ 1º e 2º, da Lei n 8.213/91, o qual
demonstra que somente existiam as aposentadorias por idade exclusivamente
rural ou urbana:
Art. 48. A aposentadoria por idade será devida ao segurado que, cumprida a
carência exigida nesta Lei, completar 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se
homem, e 60 (sessenta), se mulher. (Redação dada pela Lei nº 9.032, de 1995)
§ 1º. Os limites fixados no caput são reduzidos para sessenta e cinqüenta e cinco
anos no caso de trabalhadores rurais, respectivamente homens e mulheres,
referidos na alínea a do inciso I, na alínea g do inciso V e nos incisos VI e VII do
art. 11. (Redação Dada pela Lei nº 9.876, de 26.11.99).
§ 2º. Para os efeitos do disposto no § 1o deste artigo, o trabalhador rural deve
comprovar o efetivo exercício de atividade rural, ainda que de forma descontínua,
no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício, por tempo igual
ao número de meses de contribuição correspondente à carência do benefício
pretendido, computado o período a que se referem os incisos III a VIII do § 9o do
art. 11 desta Lei.
Pois bem, com o êxodo rural, e devido à escassez de trabalho no campo,
ou por buscarem melhorias de vida, o Congresso Nacional, na data de
20/08/2008, sentiu a necessidade de amparar esses trabalhadores que migraram
do campo para a cidade e que, por este motivo, não conseguiriam implementar a
carência necessária em um único período, seja no urbano ou rural. Então, houve
a inovação ao art. 48, com a inclusão do § 3º, introduzido pela Lei nº
11.718/2008. Nasce, com isso, a modalidade de aposentadoria híbrida ou mista,
in verbis:
§ 3º. Os trabalhadores rurais de que trata o § 1º deste artigo que não atendam ao
disposto no § 2º deste artigo, mas que satisfaçam essa condição, se forem
considerados períodos de contribuição sob outras categorias do segurado, farão jus
ao benefício ao completarem 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e 60
(sessenta) anos, se mulher.
A lei não faz restrição se o último trabalho foi na zona rural ou no âmbito
urbano, pois os requisitos para a concessão da aposentadoria por idade híbrida
ou mista são a idade mínima de 65 anos para homem e 60 anos para mulher, bem
como a carência exigida no art. 142 da Lei nº 8.213/91, conforme o ano de
implementação das condições e meses de contribuição exigidos. Importante
ressaltar que não há que se falar em decréscimo de idade em relação ao
trabalhador urbano, pois a totalidade do trabalho não foi exercida no âmbito
rural.
2 Do valor do benefício da aposentadoria por idade híbrida e fonte de
custeio
Nas palavras do nobre Professor Sérgio Martins:
O Direito da Seguridade Social é um conjunto de princípios, de regras e de
instituições destinado a estabelecer um sistema de proteção social aos indivíduos
contra contingências que os impeçam de prover as suas necessidades pessoais
básicas e de suas famílias, integrado por ações de iniciativa dos Poderes Públicos e
da sociedade, visando assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à
assistência social. [7]
Defende o professor Wagner Balera, que “trata-se de verdadeiro sistema
que confere cobertura a praticamente todos os riscos sociais mais relevantes:
doença, idade avançada, invalidez, morte, reclusão, maternidade, família e
desemprego” [8].
Ainda, nas palavras do nobre professor, “trata-se de universalidade da
cobertura e do atendimento, verdadeira ideia central, que quer conferir proteção
a todos os brasileiros, assim como aos estrangeiros que se integram ao mundo do
trabalho nacional” [9].
A garantia desses direitos está resguardada pelos art. 194 e 201, ambos da
Constituição Federal (CF), conforme se observa:
Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de
iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos
relativos à saúde, à previdência e à assistência social.
Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a
seguridade social, com base nos seguintes objetivos: I - universalidade da
cobertura e do atendimento; II - uniformidade e equivalência dos benefícios e
serviços às populações urbanas e rurais; III - seletividade e distributividade na
prestação dos benefícios e serviços;
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de
caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o
equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a:
I - cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada; (4)
Emenda Constitucional n.º 20/98.
Com o advento da Lei nº 11.718/2008, que trouxe a inovação do tema aqui
discutido, o § 4º do art. 48 dispões que:
§ 4º. Para efeito do § 3º deste artigo, o cálculo da renda mensal do benefício será
apurado de acordo com o disposto no inciso II do caput do art. 29 desta Lei,
considerando-se como salário-de-contribuição mensal do período como segurado
especial o limite mínimo de salário-de-contribuição da Previdência Social.
Ou seja, será calculado da mesma forma como se calcula a aposentadoria
por invalidez, com base na média aritmética dos 80% maiores salários de
contribuição. Contudo, para os períodos exercidos no âmbito rural, serão
considerados como salário de contribuição o valor do salário mínimo nacional e,
para os períodos exercidos em outras categorias ou em que há contribuições
vertidas, serão computados os respectivos salários de contribuição.
3 Entendimento do INSS
O INSS apresenta entendimento de que somente poderá ser utilizado para
efeito de carência o trabalho na zona rural posterior à Lei nº 8.213/91, devendo
ser este o último trabalho a ser realizado pelo segurado. A Autarquia restringe a
lei, indeferindo os requerimentos que divergem do seu entendimento. Entretanto,
a percepção do INSS não condiz com a realidade, ferindo diretamente o art. 5º
da Constituição Federal quanto ao princípio de isonomia e da dignidade da
pessoa humana.
Em contrapartida, a doutrina e a jurisprudência defendem a mescla do
trabalho urbano e rural, independente de qual foi o último a ser exercido pelo
segurado.
4 Entendimento doutrinário
A professora Jane Lúcia defende que a aposentadoria por idade híbrida ou
mista é “uma nova modalidade de aposentadoria por idade (sui generis, mista ou
híbrida)” [10], com a possibilidade de soma dos períodos de labor rural aos
períodos de labor urbano para fins de cumprimento da carência necessária para a
obtenção do benefício por idade.
Para o Juiz Federal e Docente José Antônio Savaris, com o advento da Lei
nº 11.718/2008, houve uma aproximação da realidade vivida pelos trabalhadores
rurais, que saíram em busca de novas oportunidades. Conforme suas palavras:
Em nosso modo de ver, a Lei 11.718/08, prestando-se, ao que se pode perceber,
como uma minirreforma aos direitos previdenciários dos trabalhadores rurais,
buscou aproximar o sistema normativo da nova realidade campesina. Com tal
desiderato e compenetrado na realidade de muitos trabalhadores que, nada
obstante tenham dedicado quase toda vida ao labor rural, não logravam
“comprovar o efetivo exercício de atividade rural, ainda que de forma descontínua,
no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício, por tempo igual
ao número de meses de contribuição correspondente à carência do benefício
pretendido” (Lei 8.213/91, art. 48, § 2º), o legislador previu hipótese de concessão
de aposentadoria por idade sui generis, para a qual se admite a soma do tempo de
trabalho rural não contributivo com o de trabalho urbano (tempo contributivo). A
predominância das correntes migratórias do campo para a cidade constitui
realidade fática do nosso país. O denominado êxodo rural é condição histórica e
qualidade inerente do ser humano, o qual incessantemente busca o progresso
pessoal. Seria insensível o desamparo previdenciário a tais segurados pela simples
descontinuidade na labuta rural e mudança de regime. Se assim for entendido, o
trabalhador seria prejudicado por passar a contribuir, o que seria um contrassenso
e, inclusive, se tornaria prejudicial ao próprio sistema arrecadatório da Previdência
Social. Sob qualquer prisma, o período campesino não deve ser desprezado na
obtenção da aposentadoria por idade, vez que exercido sob a égide da legislação
vigente, da qual não necessitava de qualquer contribuição para fins de carência,
devendo-se prevalecer o princípio do Tempus Regit Actum. [11]
Em que pese o entendimento rígido do INSS, que admite ser possível,
somente a concessão da aposentadoria por idade híbrida ou mista somente
quando da utilização do trabalho na zona rural como forma de carência em
momento posterior à Lei nº 8.213/91, devendo o labor rurícola necessariamente
ser exercido por último.
Contudo, o que se vê é que o presente tema é amplo para debates e para
aqueles que militam na área previdenciária, estes devem se valer dos
entendimentos jurisprudenciais, que têm sido favoráveis em prol dos segurados e
de suas particularidades, afastando o engessado entendimento defendido
administrativamente, o qual não acoberta grande parte daqueles que necessitam e
almejam a aposentadoria por idade.
5 Entendimento jurisprudencial
Inicia-se pelo intérprete máximo, o Superior Tribunal de Justiça, o qual
tem emanado decisões de que o trabalho pode ser mesclado, com alternância de
períodos rurais e urbanos, independente de qual regime foi exercido primeiro ou
por último.
Para o Ministro Mauro Campbell Marques, da 2ª Turma do Superior
Tribunal de Justiça, a Lei nº 11.718 criou a possibilidade de concessão de
aposentadoria por idade aos trabalhadores rurais que se enquadrem nas
categorias de segurado empregado, contribuinte individual, trabalhador avulso e
segurado especial, com observância da idade de 65 anos para o homem e 60 anos
para a mulher. O Ministro defendeu que “a finalidade foi a de criar mecanismos
facilitadores de formalização do contrato de trabalho envolvendo trabalhadores
rurais assalariados, compatibilizando a realidade do êxodo rural e seus fatores
econômicos, sociais e políticos”. Para ele, a inovação jurídica permite o mínimo
existencial àqueles que representam grande parte da população brasileira.[12]
Veja-se o entendimento do Tribunal Regional Federal da 1ª Região sobre o
tema:
PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR IDADE. HÍBRIDA OU MISTA.
TEMPO RURAL E URBANO. ART. 48 § 3º, LEI 8.213/91. INÍCIO DE PROVA
MATERIAL CORROBORADO POR PROVA TESTEMUNHAL.
FUNGIBILIDADE DOS BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS. JUROS DE
MORA E CORREÇÃO MONETÁRIA. 1. A situação posta nos autos se enquadra
exatamente na hipótese descrita no § 3º do art. 48, da Lei de Benefícios: a
aposentadoria por idade mista ou híbrida, na qual há a contagem híbrida da
carência (não contributiva rural e contributiva urbana), exigindo-se o requisito
etário sem o redutor dos cinco anos, isto é, 65 anos, se homem, e 60 anos, se
mulher. 2. Na hipótese, os documentos encartados aos autos dão conta de que a
parte-autora atingiu a idade mínima e cumpriu o período equivalente ao prazo de
carência exigido em lei, eis que completou 60 anos em 28/02/2011 e 65 anos em
28/02/2016. A atividade urbana foi comprovada pela CTPS (fls. 18/23) e CNIS (fl.
74), que atestam vínculos trabalhistas urbanos. A atividade rural restou
comprovada ante a apresentação de início razoável de prova material, representado
pelos documentos catalogados à inaugural, corroborado por prova testemunhal
idônea e inequívoca. 3. Em homenagem ao princípio da fungibilidade dos
benefícios previdenciários e tendo em conta que o INSS tem o dever de conceder
ao beneficiário a melhor opção que lhe cabe, não é defeso ao magistrado conceder,
de ofício, em ação previdenciária, a prestação pecuniária que é devida ao
jurisdicionado. Precedentes. 4. Preenchidos, portanto, os requisitos do art. 48, §3º,
da Lei 8.213/91, deve ser concedido o benefício de aposentadoria rural híbrida ou
mista à parte-autora. 5. O termo inicial do benefício será a partir da data em que a
parte-autora completou 65 anos (28/02/2016). 6. Os honorários advocatícios
devem ser fixados em 10% das prestações vencidas até a prolação da sentença de
procedência, ou do acórdão que reforma o comando de improcedência da
pretensão vestibular. 7. A correção monetária deve observar o novo regramento
estabelecido pelo Supremo Tribunal Federal, em sede de repercussão geral, no
julgamento do RE 870.947/SE, no qual restou fixado o IPCA-E como índice de
atualização monetária a ser aplicado a todas as condenações judiciais impostas à
Fazenda Pública. Juros de mora nos termos do Manual de Cálculos da Justiça
Federal. 8. Apelação do INSS desprovida e remessa oficial, tia por interposta,
parcialmente provida. Concessão da aposentadoria híbrida, de ofício, em razão do
princípio da fungibilidade dos benefícios.[13]
Também há o entendimento da questão em consonância ao emanado pelo
Tribunal Regional Federal da 3º região:
PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR IDADE HÍBRIDA.
VIABILIDADE. PREENCHIDOS OS REQUISITOS PARA A CONCESSÃO DO
BENEFÍCIO. - Pedido de aposentadoria por idade híbrida. - A questão em debate
consiste na possibilidade de somar período de labor rural da autora, sem registro
em CTPS, reconhecido na sentença, a períodos de efetiva contribuição, para o fim
de propiciar a concessão da aposentadoria por idade, nos termos do artigo 48 §3º e
§4º, da Lei 8.213/91. - A Autarquia não se insurgiu contra o período de labor rural
reconhecido na sentença (três anos), motivo pelo qual a questão não será
apreciada. - Deve-se considerar a viabilidade do cômputo de períodos de trabalho
rural e urbano para fins de concessão de aposentadoria nos termos do art. 48, §3º e
§4º, da Lei 8213/1991. - No caso da aposentadoria por idade híbrida, não há que se
falar em óbice ao cômputo de período de labor rural como carência, sendo
irrelevante, ainda, eventual predomínio do labor urbano no período de carência ou
o tipo de trabalho exercido no momento do implemento do requisito etário ou do
requerimento administrativo. - Conjugando-se a data em que foi implementada a
idade, o tempo de serviço comprovado nos autos e o art. 142 da Lei nº 8.213/91,
verifica-se que foi integralmente cumprida a carência exigida (180 meses). A
autora faz jus ao recebimento da aposentadoria pretendida. - Apelo da Autarquia
improvido. Jurisprudência/TRF3 - Acórdãos Vistos e relatados estes autos em que
são partes as acima indicadas, decide a Egrégia Oitava Turma do Tribunal
Regional Federal da 3ª Região, por unanimidade, negar provimento ao apelo da
Autarquia, nos termos do relatório e voto que ficam fazendo parte integrante do
presente julgado.[14]
Passa-se agora ao entendimento do Tribunal Regional Federal da 4º
Região, conforme segue:
PREVIDENCIÁRIO. REMESSA NECESSÁRIA. NÃO CONHECIDA.
APOSENTADORIA POR IDADE. TRABALHO URBANO E TRABALHO
RURAL. COMPROVADOS. IDADE MÍNIMA COMPLETADA.
1. Tratando-se de aposentadoria rural por idade, cujo benefício corresponde ao
valor de um salário mínimo, e resultando o número de meses entre a data da DER
e a data da sentença em condenação manifestamente inferior a mil salários-
mínimos, ainda que com a aplicação dos índices de correção monetária e de juros
de mora nas condições estabelecidas em precendentes do Supremo Tribunal
Federal, não está a sentença sujeita ao reexame obrigatório, nos termos do disposto
no art. 475, § 2º, do Código de Processo Civil. Não conhecida a remessa.
2. É devida a aposentadoria por idade mediante conjugação de tempo rural e
urbano durante o período aquisitivo do direito, a teor do disposto na Lei n.
11.718/08, que acrescentou § 3.º ao art. 48 da Lei n. 8.213/91, contanto que
cumprido o requisito etário de 60 (sessenta) anos para mulher e de 65 (sessenta e
cinco) anos para homem e a carência mínima exigida.
3. O direito à aplicação da regra do artigo 48, § 3º, da Lei 8.213/91 abrange todos
os trabalhadores que tenham desempenhado de forma intercalada atividades
urbanas e rurais. O fato de não estar desempenhando atividade rural por ocasião do
requerimento administrativo não pode servir de obstáculo à concessão do
benefício.
4. O Supremo Tribunal Federal reconheceu no RE 870947, com repercussão geral,
a inconstitucionalidade do uso da TR, determinando a adoção do IPCA-E para o
cálculo da correção monetária nas dívidas não-tributárias da Fazenda Pública,
5. Os juros de mora, a contar da citação, devem incidir à taxa de 1% ao mês, até
29-06-2009. A partir de então, incidem uma única vez, até o efetivo pagamento do
débito, segundo o índice oficial de remuneração básica aplicado à caderneta de
poupança.
6. Vedada a majoração dos honorários advocatícios quando ultrapassem os
respectivos limites estabelecidos no art. 85, §§ 2° e 3° do Código de Processo
Civil.[15]
Ainda, analisa-se o entendimento da Turma Nacional de Uniformização da
Jurisprudência dos Juizados Especiais Federais (TNU):
PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA HÍBRIDA OU MISTA. CONTAGEM
DE TEMPO RURAL PARA APOSENTADORIA URBANA. ATIVIDADE
RURAL OU URBANA ANTES DO REQUISITO ETÁRIO OU
REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO. INDIFERENÇA. IDADE MÍNIMA A
SER CONSIDERADA É A MESMA EXIGIDA PARA A APOSENTADORIA
POR IDADE DO TRABALHADOR URBANO. EXISTÊNCIA DE
REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA DA TNU. INCIDENTE
CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.[16]
Entretanto, ainda há tema a ser discutido, merecendo destaque a
possibilidade de se utilizar o trabalho exercido na zona rural anterior à vigência
da Lei nº 8213/91, ou seja, fora do período de carência.
O fato é que há uma discussão em relação ao período trabalhado na zona
rural anterior à Lei nº 8.213/91 para aproveitamento na aposentadoria por idade
híbrida ou mista. Ocorre que, em algumas instâncias de primeiro grau, os
pedidos têm sido julgados improcedentes, sob a alegação de que, o período rural
para ser aproveitado, tem que ser dentro do período de carência. Referidas
decisões, nesse sentido, deixariam um volumoso número de segurados que
migraram para a zona rural desemparados e sem o direito de percepção da
aposentadoria por idade. A inovação legislativa aqui discutida não acobertaria
esses segurados, em desconformidade com o preceito da norma criada e
consubstanciada pelo § 3º do art. 48 da Lei nº 8.313/91.
Deste modo, diante da vedação da concessão do benefício de
aposentadoria por idade híbrida ou mista, com pedido de averbação do trabalho
rural anterior à Lei nº 8.213/91, o Ministério Público Federal interpôs recurso
perante o Tribunal Regional Federal da 4ª Região, no ano de 2015, nos autos de
nº 5038261-15.2015.4.04.7100, para assegurar o direito à concessão da
aposentadoria por idade híbrida, com aproveitamento do trabalho rural anterior a
24/06/1991.
A decisão do Tribunal foi unânime, proferida pela 5ª Turma em julgamento
realizado na data de 06/07/2017, ante ao fato que o INSS e algumas instâncias de
primeiro grau apenas reconheciam a aposentadoria por idade híbrida quando o
último trabalho fosse exercido na zona rural, trazendo prejuízo aos segurados
que deixaram o meio campesino para migrar às cidades para exercícios de
atividades urbanas.
Com a decisão proferida nos autos acima referidos, o tempo de trabalho
exercido no campo, antes da Lei nº 2.213/91, poderá ser utilizado para a
concessão de aposentadoria por idade híbrida. A Procuradora da República Ana
Paula Carvalho de Medeiros, autora da ação, conseguiu sustentar a tese de que a
decisão do Instituto Nacional do Seguro Social feria a Constituição Federal, em
especial aos princípios da dignidade da pessoa humana, da uniformidade e da
equivalência de benefícios às populações urbanas e rurais.
O juiz federal Marcos Antônio Garapa de Carvalho, que presidiu sessão na
TNU, reconheceu a divergência, elencando julgados do Superior Tribunal de
Justiça (STJ) e da TNU. No REsp nº. 1.407.613/RS, o STJ firmou que:
(…) seja qual for a predominância do labor misto no período de carência ou o tipo
de trabalho exercido no momento do implemento do requisito etário ou do
requerimento administrativo, o trabalhador tem direito a se aposentar com as
idades citadas no § 3º do art. 48 da Lei 8.213/1991, desde que cumprida a carência
com a utilização de labor urbano ou rural. Por outro lado, se a carência foi
cumprida exclusivamente como trabalhador urbano, sob esse regime o segurado
será aposentado (caput do art. 48), o que vale também para o labor exclusivamente
rurícola (§§1º e 2º da Lei 8.213/1991)[17].
Tais decisões demonstram que os Nobres Julgadores têm se aproximado da
realidade fática dos segurados, julgando os casos no intuito de amparar parte da
população que poderia ficar em um limbo e sem amparo, demonstrando
claramente o caráter assistencialista da Seguridade Social.
Com a interposição do recurso ao Tribunal Regional Federal da 4º Região,
um dos argumentos defendidos foi que a situação de vulnerabilidade social não
se supera após o ingresso do trabalhador no meio urbano e que aqueles que
migram do campo para a cidade acabam por ficar à margem do chamado estado
de bem-estar social, razão esta que não deve haver óbice para o reconhecimento
e averbação do trabalho exercido na zona rural, para aproveitamento na
concessão da aposentadoria por idade híbrida. Frisa-se que tal vedação somente
existe para a aposentadoria por tempo de contribuição e não na problemática
aqui discutida.
O INSS sequer pode alegar desequilíbrio atuarial, pois, para comprovar tal
alegação, teria que ter uma metodologia específica, com a realização de auditoria
para a demonstração de alegado déficit previdenciário. Ademais, todos que
requererem a aposentadoria por idade híbrida a fazem em sua maioria com
observância mínima e equivalente à aposentadoria por idade urbana. O TRF4
julgou procedente a ação.
A TNU, no entanto, no PEDILEF nº. 5009416-32.20134.04.7200 (acórdão
publicado em 24/11/2016, Diário Oficial da União, Seção 1, páginas 92/411),
fixou a seguinte tese:
Para a concessão da aposentadoria por idade híbrida ou mista, na forma do art. 48,
§ 3º, da Lei n. 8.213/91, cujo requisito etário é o mesmo exigido para a
aposentadoria por idade urbana, é irrelevante a natureza rural ou urbana da
atividade exercida pelo segurado no período imediatamente anterior à
implementação do requisito etário ou ao requerimento do benefício. Ainda, não há
vedação para que o tempo rural anterior à Lei 8.213/91 seja considerado para
efeito de carência, mesmo que não verificado o recolhimento das respectivas
contribuições.
Desta forma, resta a este Juízo adequar-se ao entendimento de que o tempo de
serviço rural anterior ao advento da Lei 8.213/91 pode ser computado para fins de
carência necessária à obtenção da aposentadoria híbrida por idade, ainda que
remoto.[18]
Portanto, verifica-se o entendimento pacificado no sentido de que para a
concessão da aposentadoria por idade híbrida será somado o tmpo de trabalho
rural ao urbano, independente de qual foi exercido no período imediatamente
anterior a concessão do benefício.
Considerações finais
Este artigo tem o condão de trazer discussões acerca da aposentadoria por
idade híbrida ou mista, tratando de demonstrar a forma como o tema é tratado
pelos tribunais do país e pela doutrina previdenciária.
Aqueles que militam no ramo do Direito Previdenciário, ao se depararem
com situações em que o Instituto Nacional do Seguro Social demonstra entender
que somente é possível conceder a aposentadoria híbrida quando a última
atividade laborativa for exercida em âmbito rural, bem como não aceitar a
somatória do período com interregnos urbanos e impossibilitar o reconhecimento
do período rural anterior à vigência da Lei nº 8.213/91 para efeitos de carência
para a concessão do benefício pleiteado, devem valer-se das decisões emanadas
pelos Tribunais Superiores, em especial pelo entendimento do Superior Tribunal
de Justiça e da Turma Nacional de Uniformização da Jurisprudência dos
Juizados Especiais Federais.
A jurisprudência proveniente desses Tribunais já pacificou o assunto, no
sentido de viabilidade de mescla dos períodos de trabalho urbanos e rurais, ainda
que o trabalho rural seja exercido em momento anterior à Lei nº 8.213/91,
garantindo-se o cômputo para efeitos de carência, ante o não impedimento legal.
Tais medidas apenas possibilitaram a aproximação dos segurados que
ficaram excluídos da percepção da aposentadoria por idade, trazendo justiça e
protecionismo por meio do § 3º, do artigo 48, da Lei nº 8.213/91, criada para
resguardar os direitos desse tipo de segurado, amparando-os do risco social
configurado pela velhice, dando-lhes a devida subsistência.
Referências bibliográficas
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5.889, de 8 de junho de 1973, criando o contrato de trabalhador rural por
pequeno prazo; estabelece normas transitórias sobre a aposentadoria do
trabalhador rural; prorroga o prazo de contratação de financiamentos rurais de
que trata o § 6º do art. 1º da Lei nº 11.524, de 24 de setembro de 2007; e altera as
Leis nº 8.171, de 17 de janeiro de 1991, 7.102, de 20 de junho de 1993, 9.017, de
30 de março de 1995, e 8.212 e 8.213, ambas de 24 de julho de 1991.
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Turma – Recorrente: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL –
Recorrido: EVA ANGELINA GRAMINHO. Documento eletrônico disponível
em: <https://stj.jusbrasil.com.br> Acesso em: 24 de setembro de 2018
TURMA NACIONAL DE UNIFORMIZAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA DOS
JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS. Pedilef 5004318612012.404.7213.
Documento eletrônico disponível em: <https://tnu.jusbrasil.com.br> Acesso em:
24 de setembro de 2018.
TURMA NACIONAL DE UNIFORMIZAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA DOS
JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS. Pedilef 5009416-32.20134.04.7200.
Documento eletrônico disponível em: <https://www2.jf.jus.br> Acesso em: 24
de setembro de 2018.
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 1ª REGIÃO. TRF1 APELAÇÃO
CIVEL 0008810-85.2016.4.01.9199. AC / TO – 2ª Turma – Apelante:
INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – Apelado: ALCEU
SILVEIRA DOS SANTOS. Documento eletrônico disponível em:
<https://arquivo.trf1.jus.br> Acesso em: 24 de setembro de 2018.
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO. TRF3 APELAÇÃO
CÍVEL 2303526 / SP 0013193-09.2018.4.03.9999 – 8ª Turma – Apelante:
INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – Apelado: CLEUZA
GONCALVES DE LIMA. Documento eletrônico disponível em:
<http://web.trf3.jus.br> Acesso em: 24 de setembro de 2018.
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO. TRF4 5013382-
69.2018.4.04.9999 – 6ª Turma – Apelante: INSTITUTO NACIONAL DO
SEGURO SOCIAL – Apelado: ALTAIR OTAVIO DAVILA ORTIZ. Documento
eletrônico disponível em: <https://jurisprudencia.trf4.jus.br> Acesso em: 24 de
setembro de 2018.
CAPÍTULO 3
APOSENTADORIA DO PRODUTOR RURAL
MALCON ROBERT LIMA GOMES
Graduado em Direito pela Universidade Estadual do Piauí. Especialista em
Direito Previdenciário. Professor de pós-graduações. Autor. Palestrante. Servidor
da Justiça Federal, Seção Judiciária do Piauí.
Introdução
Discute-se aqui a questão do produtor rural pessoa física, uma das espécies
de segurado especial, tratando especificamente de uma das situações que
diuturnamente chegam ao Poder Judiciário, qual seja, a que envolve a questão da
comercialização da produção rural.
Afinal, sempre é obrigatória? Não sendo, o que seria necessário para tal
segurado obter benefícios previdenciários? Por sua vez, contribuindo para a
Previdência Social em cima do que produz, isso pode ser entendimento como um
fator negativo para a sua caracterização enquanto segurado especial?
Como se tem comportado a jurisprudência, seja nos Juizados Especiais
Federais, seja nos Tribunais?
Esses são, pois, alguns dos questionamentos levantados ao longo deste
artigo, para os quais se busca trazer respostas.
1 Caracterização do produtor rural e a previsão quanto a seus
recolhimentos previdenciários
O produtor rural é um dos trabalhadores rurais elencados na Constituição
Federal com direito a uma aposentadoria por idade com redução de 5 anos
relativamente aos trabalhadores urbanos, verbis:
Art. 201. § 7º É assegurada aposentadoria no regime geral de previdência social,
nos termos da lei, obedecidas as seguintes condições: (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 20, de 1998)
(...)
II - sessenta e cinco anos de idade, se homem, e sessenta anos de idade, se
mulher, reduzido em cinco anos o limite para os trabalhadores rurais de
ambos os sexos e para os que exerçam suas atividades em regime de economia
familiar, nestes incluídos o produtor rural, o garimpeiro e o pescador
artesanal. (Incluído dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) (grifo do
Autor)
Na própria Carta Magna, há indicação de que, também, sua contribuição
seria diferenciada, eis que teria como lastro a comercialização de sua produção
rural, não havendo imposição de contribuições mensais, como costuma ocorrer
com os demais segurados da Previdência Social, senão veja-se:
Art. 195, § 8º O produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais e o
pescador artesanal, bem como os respectivos cônjuges, que exerçam suas
atividades em regime de economia familiar, sem empregados permanentes,
contribuirão para a seguridade social mediante a aplicação de uma alíquota
sobre o resultado da comercialização da produção e farão jus aos benefícios nos
termos da lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) (grifo do
Autor)
Consentânea com tal previsão constitucional, a Lei de Custeio da
Previdência Social (Lei nº 8.212/91) estabeleceu os seguintes percentuais:
Art. 25. A contribuição do empregador rural pessoa física, em substituição à
contribuição de que tratam os incisos I e II do art. 22, e a do segurado especial,
referidos, respectivamente, na alínea a do inciso V e no inciso VII do art. 12 desta
Lei, destinada à Seguridade Social, é de: I - 1,2% (um inteiro e dois décimos por
cento) da receita bruta proveniente da comercialização da sua produção; (Redação
dada pela Lei nº 13.606, de 2018). II - 0,1% da receita bruta proveniente da
comercialização da sua produção para financiamento das prestações por acidente
do trabalho. (Redação dada pela Lei nº 9.528, de 10.12.97).
Por outro lado, a legislação relativa aos benefícios previdenciários da
Previdência Social, Lei nº 8.213/91, findou por mitigar a exigência da
contribuição mencionada.
No caso, faz-se referência às previsões contidas nos arts. 39 e 48 da Lei nº
8.213/91, bem como no art. 39 da Instrução Normativa (IN) INSS/PRES nº
77/2015, nesta ordem, verbis:
Art. 39. Para os segurados especiais, referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei,
fica garantida a concessão: I - de aposentadoria por idade ou por invalidez, de
auxílio-doença, de auxílio-reclusão ou de pensão, no valor de 1 (um) salário
mínimo, e de auxílio-acidente, conforme disposto no art. 86, desde que comprove
o exercício de atividade rural, ainda que de forma descontínua, no período,
imediatamente anterior ao requerimento do benefício, igual ao número de meses
correspondentes à carência do benefício requerido
Art. 48. A aposentadoria por idade será devida ao segurado que, cumprida a
carência exigida nesta Lei, completar 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se
homem, e 60 (sessenta), se mulher.
§ 1o Os limites fixados no caput são reduzidos para sessenta e cinquenta e cinco
anos no caso de trabalhadores rurais, respectivamente homens e mulheres,
referidos na alínea a do inciso I, na alínea g do inciso V e nos incisos VI e VII do
art. 11.
§ 2o Para os efeitos do disposto no § 1o deste artigo, o trabalhador rural deve
comprovar o efetivo exercício de atividade rural, ainda que de forma
descontínua, no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício, por
tempo igual ao número de meses de contribuição correspondente à carência do
benefício pretendido, computado o período a que se referem os incisos III a VIII
do § 9o do art. 11 desta Lei.
Art. 39. São considerados segurados especiais o produtor rural e o pescador
artesanal ou a este assemelhado, desde que exerçam a atividade rural
individualmente ou em regime de economia familiar, ainda que com o auxílio
eventual de terceiros.
§ 1º A atividade é desenvolvida em regime de economia familiar quando o
trabalho dos membros do grupo familiar é indispensável à sua subsistência e
desenvolvimento socioeconômico, sendo exercido em condições de mútua
dependência e colaboração, sem a utilização de empregados permanentes,
independentemente do valor auferido pelo segurado especial com a
comercialização da sua produção, quando houver (...). (grifo do Autor).
Assim, em que pese a legislação exija contribuições do produtor rural, tal
exigência poderá ser mitigada com base no art. 39 da Instrução Normativa
INSS/PRES nº 77/2015.
2 Dispensa da carência para o produtor rural, segurado especial, e a
orientação jurisprudencial correlata
Igualmente oportuno, também, citar a previsão do art. 26 da mesma Lei de
Benefícios que dispensou a carência para os benefícios devidos aos segurados
especiais, verbis:
Art. 26. Independe de carência a concessão das seguintes prestações:
(...) III - os benefícios concedidos na forma do inciso I do art. 39, aos segurados
especiais referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei; (grifo do Autor).
E tal contexto, logicamente, não passa despercebido pela jurisprudência
pátria, a exemplo do que se pode aferir no julgado do Superior Tribunal de
Justiça, segundo o qual “em relação às contribuições previdenciárias, é assente o
entendimento de serem desnecessárias, sendo suficiente a comprovação do
efetivo exercício de atividade no meio rural”[19], bem como:
PREVIDENCIÁRIO. RECURSO ESPECIAL. APOSENTADORIA POR TEMPO
DE SERVIÇO/CONTRIBUIÇÃO. SEGURADO ESPECIAL. AVERBAÇÃO DE
TEMPO RURAL. OBSERVÂNCIA DA SÚMULA 272/STJ.
OBRIGATORIEDADE DE RECOLHIMENTO DA CONTRIBUIÇÃO
PREVIDENCIÁRIA. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E NÃO PROVIDO.
(...)
5. A contribuição previdenciária do segurado obrigatório denominado segurado
especial tem por base de cálculo a receita bruta proveniente da comercialização de
sua produção.
6. Sob o parâmetro constitucional, o § 8º do artigo 195 da Constituição identifica a
política previdenciária de custeio para a categoria do segurado especial.
7. Os benefícios previdenciários pagos aos segurados especiais rurais constituem
verdadeiro pilar das políticas públicas previdenciárias assinaladas na Constituição
Federal de 1988. Por outro lado, é preciso contextualizar essas políticas públicas
ao sistema atuarial e contributivo do Regime Geral de Previdência Social. Assim,
os princípios da solidariedade e da contrapartida devem ser aplicados
harmonicamente, a fim de atender à dignidade do segurado especial, que,
anteriormente à Lei 8.213/1991, podia preencher o requisito carência com trabalho
campesino devidamente comprovado.
8. A contribuição do segurado especial incidente sobre a receita bruta da
comercialização da produção rural, conforme artigo 25, § 1º, da Lei 8.212/1991 e
artigo 200, § 2º, do Decreto 3.048/1999, é de 2% para a seguridade social e 0,1%
para o financiamento dos benefícios concedidos em razão do grau de incidência de
incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho. Acrescente-
se que o segurado especial poderá contribuir facultativamente, nas mesmas
condições do contribuinte individual, vale dizer, 20% sobre o respectivo salário de
contribuição.
9. O artigo 39, I, da Lei 8.213/1991, assegura aos segurados especiais referidos no
inciso VII do artigo 11 da mesma Lei, que apenas comprovem atividade rural, os
benefícios aposentadoria por idade, aposentadoria por invalidez, auxílio-doença,
auxílio-reclusão, ou pensão por morte, no valor de um salário mínimo, e auxílio-
acidente, desde que comprovem o exercício de atividade rural, ainda que de forma
descontínua, no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício,
igual ao número de meses correspondentes à carência do benefício requerido. Para
o benefício aposentadoria por tempo de serviço/contribuição ou demais benefícios
aqui elencados em valor superior ao salário mínimo, deve haver contribuição
previdenciária na modalidade facultativa prevista no § 1º do artigo 25 da Lei
8.212/1991.
10. Para os segurados especiais filiados ao Regime Geral de Previdência Social a
partir das Leis 8.212/1991 e 8.213/1991, na condição de segurados obrigatórios, é
imposta a obrigação tributária para fins de obtenção de qualquer benefício, seja no
valor de um salário mínimo ou superior a esse valor.
11. A regra da obrigatoriedade deve ser compatibilizada com a regra do artigo 39,
I, da Lei 8.213/1991, que garante a concessão ao segurado especial de benefício no
valor de um salário mínimo, caso comprove com tempo rural a carência
necessária. Neste caso, o segurado especial não obteve excedente a ser
comercializado, a norma que lhe garantiu o reconhecimento do direito ao benefício
no valor de um salário mínimo é a exceção prevista pelo legislador. Mas a regra é
a do efetivo recolhimento da contribuição previdenciária.
12. De acordo com § 8º do artigo 30 da Lei 8.212/1991, quando o grupo familiar a
que o segurado especial estiver vinculado não tiver obtido, no ano, por qualquer
motivo, receita proveniente de comercialização de produção deverá comunicar a
ocorrência à Previdência Social, na forma do regulamento.
13. Deve ser observada a Súmula 272/STJ que dispõe in verbis: o trabalhador
rural, na condição de segurado especial, sujeito à contribuição obrigatória sobre a
produção rural comercializada, somente faz jus à aposentadoria por tempo de
serviço, se recolher contribuições facultativas. (...)[20] (grifo do Autor)
E não é só o STJ que mantém tal entendimento, senão veja-se:
PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR IDADE RURAL. BENEFÍCIO
NÃO CONTRIBUTIVO. ARTIGO 143 DA LEI 8.213/91. NORMA
TRANSITÓRIA. TRABALHADOR RURAL. INÍCIO DE PROVA MATERIAL
CORROBORADO POR PROVA TESTEMUNHAL. CONSTITUIÇÃO DE
PESSOA JURÍDICA. ART. 11, VII, § 12, da LBPS. REQUISITOS
PREENCHIDOS. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. APELAÇÃO
DESPROVIDA.
- Discute-se o atendimento das exigências à concessão de aposentadoria por idade
ao rurícola, a saber: a comprovação da idade mínima e o desenvolvimento de
atividade rural no período imediatamente anterior ao requerimento, consoante o
disposto na Lei n. 8.213/91.
- A questão relativa à comprovação de atividade rural se encontra pacificada no
Superior Tribunal de Justiça, que exige início de prova material e afasta por
completo a prova exclusivamente testemunhal (Súmula 149 do STJ).
- De acordo com o que restou definido quando do julgamento do REsp.
1.321.493/PR, realizado segundo a sistemática de recurso representativo da
controvérsia (CPC, art. 543-C), aplica-se a súmula acima aos trabalhadores rurais
denominados “boias-frias”, sendo imprescindível a apresentação de início de prova
material, corroborada com provas testemunhal, para comprovação de tempo de
serviço.
- Ressalta-se que o início de prova material, exigido pelo § 3º do artigo 55 da Lei
8.213/91, não significa que o segurado deverá demonstrar mês a mês, ano a ano,
por meio de documentos, o exercício de atividade na condição de rurícola, pois
isto importaria em se exigir que todo o período de trabalho fosse comprovado
documentalmente, sendo de nenhuma utilidade a prova testemunhal para
demonstração do labor rural. - Admite-se, contudo, a extensão da qualificação de
lavrador de um cônjuge ao outro e, ainda, que os documentos não se refiram
precisamente ao período a ser comprovado. Nesse sentido, o REsp n. 501.281, 5ª
Turma, j. em 28/10/2003, v.u., DJ de 24/11/2003, p. 354, Rel. Ministra Laurita
Vaz.
- Segundo o RESP 1.354.908, realizado segundo a sistemática de recurso
representativo da controvérsia (CPC, art. 543-C), necessária a comprovação do
tempo de atividade rural no período imediatamente anterior à aquisição da idade.
- Em relação às contribuições previdenciárias, é assente o entendimento de serem
desnecessárias, sendo suficiente a comprovação do efetivo exercício de atividade
no meio rural (STJ, REsp 207.425, 5ª Turma, j. em 21/9/1999, v.u., DJ de
25/10/1999, p. 123, Rel. Ministro Jorge Scartezzini; e STJ, RESP n. 502.817, 5ª
Turma, j. em 14/10/2003, v.u., DJ de 17/11/2003, p. 361, Rel. Ministra Laurita
Vaz).
- O art. 143 da Lei 8.213/91 constitui regra transitória assegurou aos rurícolas o
direito de requerer aposentadoria por idade, no valor de um salário mínimo,
durante 15 (quinze) anos, contados da vigência da referida Lei, independentemente
do pagamento de contribuições previdenciárias. Assim, o prazo de 15 (quinze)
anos do artigo 143 da Lei 8.213/91 expiraria em 25/07/2006. - Entretanto, em
relação ao trabalhador rural enquadrado como segurado empregado ou como
segurado contribuinte individual, que presta serviços de natureza rural, em caráter
eventual, a uma ou mais empresas, sem relação de emprego, o aludido prazo foi
prorrogado por mais 02 (dois) anos, estendendo-se até 25/07/2008, em face do
disposto na MP 312/06, convertida na Lei 11.368/06. - Finalmente, a Medida
Provisória nº 410/07, convertida na Lei 11.718/08, estabeleceu nova prorrogação
para o prazo previsto no artigo 143 da Lei 8.213/91, até 31/12/2010, para o
trabalhador rural empregado e o enquadrado na categoria de segurado contribuinte
individual que presta serviços de natureza rural, em caráter eventual, a 1 (uma) ou
mais empresas, sem relação de emprego.
- Observe-se que o prazo estabelecido no referido artigo 143 passou a vigorar até
31/12/2010, mas não contemplou o trabalhador rural que se enquadra na categoria
de segurado especial (caso dos autos). De outra parte, para o segurado especial
definido no artigo 11, inciso VII, da Lei 8.213/91, remanesce o disposto no artigo
39 da referida lei. Diferentemente dos demais trabalhadores rurais, trata-se de
segurado que mantém vínculo com a previdência social mediante contribuição
descontada em percentual incidente sobre a receita oriunda da venda de seus
produtos, na forma do artigo 25, caput e incisos, da Lei nº 8.212/91. Vale dizer:
após 25/07/2006, a pretensão do segurado especial ao recebimento de
aposentadoria por idade deverá ser analisada conforme o disposto no artigo 39,
inciso I, da Lei 8.213/91.
- Ademais, não obstante o exaurimento da regra transitória insculpida no artigo
143 da Lei n. 8.213/91, fato é que a regra permanente do artigo 48 dessa norma
continua a exigir para concessão de aposentadoria por idade dos segurados
rurícolas, inclusive empregados, a comprovação do efetivo exercício de “atividade
rural, ainda que de forma descontínua, no período imediatamente anterior ao
requerimento do benefício, por tempo igual ao número de meses de contribuição
correspondente à carência do benefício pretendido”, consoante §1º e § 2º do
referido dispositivo. Trata-se, a bem da verdade, de norma que parece
confrontar com o caráter contributivo da previdência social, mas que não
incide ao presente feito.
- A parte autora completou a idade mínima de 60 (sessenta) anos em 25/2/2016,
segundo o critério etário da Lei nº 8.213/91. - Ademais, há início de prova material
presente na certidão de casamento do autor - celebrado em 25/2/1983 - onde foi
qualificado como lavrador e CTPS com alguns vínculos empregatícios rurais, nos
períodos de 8/4/1985 a 15/6/1986, 23/9/1986 a 9/5/1987, 24/11/1988 a 3/6/1989,
1º/9/1999 a 6/11/2000 e 20/1/2014 a 2/5/2014 (vide CNIS). Outrossim, notas
fiscais de produtor rural, emitidas desde 2006, referentes à venda de café em coco;
comprovante de inscrição e de situação cadastral, em que o autor, em companhia
de outros dois participantes, consta como produtor rural desde 12/4/2007, bem
como declaração cadastral - produtor, datada de 1º/4/2005.
(...)
- O fato do requerente ter constituído pessoa jurídica não tem o condão de
afastar sua qualidade de segurado especial, sendo insuficiente para
caracterizá-lo como grande produtor rural. Ao que tudo indica, o
comprovante de inscrição e de situação cadastral de f. 35 apenas demonstra
que o autor é contribuinte individual, cuja atividade econômica principal é o
cultivo de café, que somente pode ser comercializado com a emissão de nota
fiscal, sendo este o motivo pelo qual ele foi compelido a constituir uma
empresa.
- Como se vê pelas notas fiscais de produtor rural juntadas aos autos, a
produtividade é baixa. A produção se dá em área plantada de 5 hectares e a
comercialização do excedente do café não pode ser caracterizada de grande
monta. Não há nada que proíba o pequeno produtor rural, qualificado como
segurado especial, de comercializar, inclusive de forma lucrativa, o excedente
da produção agropecuária ou extrativista realizada para a subsistência do
grupo, em regime de economia familiar.
- Atualmente, nos termos do § 12, incluído ao artigo 11, VII, da LBPS, pela Lei n.º
12.873/2013, é possível, inclusive a participação do segurado especial em
sociedade empresária, em sociedade simples, como empresário individual ou como
titular de empresa individual de responsabilidade limitada de objeto ou âmbito
agrícola, agroindustrial ou agroturístico, considerada microempresa, não o exclui
de tal categoria previdenciária, desde que, mantido o exercício da sua atividade
rural na forma do inciso VII do caput e do § 1º, a pessoa jurídica componha-se
apenas de segurados de igual natureza e sedie-se no mesmo Município ou em
Município limítrofe àquele em que eles desenvolvam suas atividades.
- Em decorrência, concluo pelo preenchimento dos requisitos exigidos à concessão
do benefício pretendido.
- Fica mantida a condenação do INSS a pagar honorários de advogado, cujo
percentual majoro para 12% (doze por cento) sobre a condenação, excluindo-se as
prestações vencidas após a data da sentença, consoante súmula nº 111 do Superior
Tribunal de Justiça e critérios do artigo 85, §§ 1º, 2º, 3º, I, e 11, do Novo CPC.
Todavia, na fase de execução, o percentual deverá ser reduzido, se o caso, na
hipótese do artigo 85, § 4º, II, do mesmo código, se a condenação ou o proveito
econômico ultrapassar duzentos salários mínimos. - Apelação desprovida.[21]
(grifo do Autor)
PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA RURAL POR IDADE. SEGURADO
ESPECIAL. REQUISITOS. ATIVIDADE RURAL COMO MERO
COMPLEMENTO DA RENDA FAMILIAR. REGIME DE ECONOMIA
FAMILIAR NÃO CONFIGURADO.
1. Para a concessão de aposentadoria rural por idade, disciplinada nos
parágrafos do artigo 48 da Lei 8.213/91, deve o beneficiário demonstrar a sua
condição de segurado especial, atuando na produção rural em regime de economia
familiar, pelo período mínimo conforme tabela progressiva constante no artigo 142
combinado com o artigo 143, ambos da Lei de Benefícios) e o requisito idade, qual
seja, 60 anos para homens e 55 para mulheres. Para este benefício, a exigência de
labor rural por período mínimo é a carência, não se exigindo prova do
recolhimento de contribuições.
2. Para reconhecimento da condição de segurado especial, faz-se necessário
que o trabalhador esteja enquadrado nas definições previstas no art. 11, VII,
c/c § 1º, da Lei nº 8.213/91.
3. Descaracterização do regime de economia familiar, que pressupõe mútua
dependência e colaboração de todos os membros, exclusivamente para o sustento
do grupo familiar, sendo possível concluir que o eventual ganho obtido com o
produto da lavoura não é imprescindível à subsistência da família, constituindo
apenas mais um reforço da renda familiar.[22] (grifo do Autor)
Assim, concluí-se que, a despeito de previsão quanto à obrigatoriedade de
contribuição por parte do produtor rural pessoa física, este foi beneficiado pela
dispensa prevista na lei de benefícios, quando se cogitam prestações
previdenciárias de valor mínimo.
3 Presença de recolhimentos sobre a comercialização da produção rural:
consequências
Logicamente, a presença de tais contribuições jamais deveria ser vista
como descaracterizadora da condição de segurado especial, afinal, há expressa
previsão de tal possibilidade, na verdade, uma imposição, embora mitigada
favoravelmente.
Inclusive, mais uma vez se vale da IN nº 77/2015 para destacar que a
prova da comercialização é admitida como uma contundente prova material do
exercício de atividade rural, como se vê:
Art. 47. A comprovação do exercício de atividade rural do segurado especial,
observado o disposto nos arts. 118 a 120, será feita mediante a apresentação de
um dos seguintes documentos: (...) VII - comprovantes de recolhimento de
contribuição à Previdência Social decorrentes da comercialização da produção;
VIII - cópia da declaração de imposto de renda, com indicação de renda
proveniente da comercialização de produção rural; (grifo do Autor).
Entretanto, uma ressalva: não obstante haver expressa indicação no âmbito
administrativo no sentido de que não importaria o montante envolvido na
comercialização, a jurisprudência tem mitigado tal previsão. Como exemplo de
tais limitações, apresentam-se alguns julgados consentâneos:
PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR IDADE RURAL. BENEFÍCIO
NÃO CONTRIBUTIVO. ARTIGO 143 DA LEI 8.213/91. NORMA
TRANSITÓRIA. SEGURADA ESPECIAL. ARTIGO 39 DA REFERIDA LEI.
REGIME DE ECONOMIA FAMILIAR: PROVA NÃO CONCLUSIVA. VÁRIOS
IMÓVEIS RURAIS. OUTRAS FONTES DE RENDIMENTO. FATOS
CONSTITUTIVOS NÃO COMPROVADOS. REQUISITOS NÃO
PREENCHIDOS. APELAÇÃO DA PARTE AUTORA DESPROVIDA.
APELAÇÃO DO INSS PROVIDA. TUTELA ESPECÍFICA REVOGADA.
(...)
- Em relação às contribuições previdenciárias, é assente o entendimento de serem
desnecessárias, sendo suficiente a comprovação do efetivo exercício de atividade
no meio rural (STJ, REsp 207.425, 5ª Turma, j. em 21/9/1999, v.u., DJ de
25/10/1999, p. 123, Rel. Ministro Jorge Scartezzini; e STJ, RESP n. 502.817, 5ª
Turma, j. em 14/10/2003, v.u., DJ de 17/11/2003, p. 361, Rel. Ministra Laurita
Vaz).
(...)
- Início de prova material não conclusivo, decorrendo dúvida sobre o real regime
de produção da propriedade rural, indícios levando à conclusão de que não se
tratava de regime de economia familiar. As circunstâncias do caso são
incompatíveis a condição de regime de economia familiar, porque a autora possuía
plena capacidade contributiva de recolher contribuições à previdência social como
produtora rural.
- Da análise dos documentos trazidos aos autos pelo réu, depreende-se que sua
família era proprietária de vários imóveis rurais e urbanos.
- Analisando os documentos que instruíram o presente feito, verifico que eles são
aptos para refutar a pretensão da requerente, pois embora reconhecida a dedicação
da família da autora à atividade rural, entendo que não se fazia na forma de
agricultura de subsistência, indispensável à sobrevivência e ao sustento próprio.
- Não demonstrada a característica de pequena produtora rural, o qual produz para
satisfazer a própria subsistência e a de sua família. O que se conclui é que havia o
objetivo de comercialização dos produtos agrícolas e pecuários com fito
empresarial, posto que a autora não comercializava apenas excedentes de
produção, circunstância que colide com a afirmação de exercício de atividade rural
nos termos do art. art. 11, VII, §1º, da Lei n. 8.213/91.
- Não preenchimento dos requisitos exigidos à concessão do benefício de
aposentadoria por idade rural. - Apelação do INSS conhecida e provida. Recurso
da parte autora prejudicado. - Revogação da tutela antecipatória de urgência
concedida.[23] (grifo do Autor)
PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR IDADE RURAL. AUSÊNCIA
DE COMPROVAÇÃO DO EXERCÍCIO DA ATIVIDADE RURAL, AINDA
QUE DE FORMA DESCONTÍNUA, NO PERÍODO IMEDIATAMENTE
ANTERIOR AO REQUERIMENTO DO BENEFÍCIO. AUTOR PEQUENO
PECUARISTA. REQUISITOS DA LEI 8.213/91 NÃO ATENDIDOS.
(...)
Na hipótese dos autos, conforme consignou o magistrado sentenciante, “consta nos
autos grande comercialização de gado e as testemunhas asseveraram a existência
de gado de propriedade do autor. O requerente trouxe aos autos notas fiscais que
denotam o comércio de bois. Ora, sendo o autor proprietário de expressiva área
rural e com produção que supera o necessário à subsistência, descaracterizado o
labor rural em regime de economia familiar”. Portanto, incabível a concessão do
benefício.
3. Apelação a que se nega provimento. Sentença mantida por seus próprios
fundamentos.[24] (grifo do Autor)
PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR IDADE RURAL. SEGURADO
ESPECIAL. REQUISITOS DA LEI 8.213/91. FAZENDEIRO. MÉDIO
PRODUTOR RURAL. IMPOSSIBILIDADE DE CONCESSÃO. NÃO
PROVIMENTO.
(...)
8. As dimensões das Fazendas Santa Cruz e Fortaleza e o volume de grãos e leite
declarados pelo marido - variando os primeiros entre 1,5 e 14 toneladas anuais e o
segundo entre 3,8 e 5,8 mil litros anuais -, afastam a condição de trabalhador rural
em regime de economia familiar, em que o trabalho dos membros da família é
indispensável à própria subsistência e não há a contratação de empregados
permanentes (Lei 8.213/1991, art. 11, inciso VII).
9. A condição de fazendeiros e produtores rurais também é evidenciada pelos
depoimentos testemunhais, que, embora tenham sido prestados com a intenção de
ajudar a autora, acabaram por corroborar a constatação de que ela e o marido
sempre tiveram o auxílio de encarregados, diaristas e safristas, e também de
meeiros, sem os quais não seria possível tocar as propriedades, que, para citar
apenas a lavoura de café, mantêm cerca de 10 mil pés em produção. 10. A
testemunha Elcy Costa Bernardes, além de informar que na propriedade da autora
havia dois trabalhadores, um responsável por tirar o leite e outro que não sabe
dizer se era meeiro, disse que lá também morava outra pessoa de nome Mauro
Luiz Lucas Caetano, muito embora não tenha certeza de que se tratava de
funcionário, informação que acabou se confirmando no decorrer da instrução
processual, após a juntada dos interrogatórios produzidos na ação criminal em que
este último foi denunciado criminalmente e declarou sua condição de ex-
funcionário da autora, acusado de matar Vicente Florêncio da Silva, último
encarregado da fazenda (f. 176/183).
11. Verificado que o exercício de atividade rural supera os limites da atividade de
economia familiar, visando o lucro (não mera subsistência), resta impossibilitada a
concessão da aposentadoria rural por idade ao autor, que não se enquadra na
condição de segurado especial no estrito conceito do art. 11. VII, da Lei de
benefícios, apesar da existência de prova material e oral acerca do exercício de
atividade rural durante o período de carência (AC 0058824-15.2012.4.01.9199 /
MG, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL CANDIDO MORAES, SEGUNDA
TURMA, e-DJF1 p.172 de 20/04/2015).
(...)
13. Não provimento da apelação.[25] (grifo do Autor)
Contudo, verifica-se no dia-a-dia divergência quanto a tal situação; há
quem entenda pela descaracterização da condição de segurado especial ante a
ocorrência de citada venda, confundindo-o com um contribuinte individual, o
que é um erro crasso.
E tal confusão resta bem esclarecida na Instrução Normativa nº 77/2015
que diferencia o segurado especial do contribuinte individual, eis que este último
não teria qualquer relação com a produção rural, sendo mero intermediário. No
caso, faz-se referência à previsão contida no art. 20, XXIX, verbis: “aquele que,
na condição de pequeno feirante, compra para revenda produtos
hortifrutigranjeiros ou assemelhados”.
Portanto, sendo a pessoa que comercializa a mesma que produz, está-se
diante de um produtor rural, segurado especial. Por sua vez, tratando-se de
alguém que meramente adquire para comercializar a produção rural, ter-se-á um
contribuinte individual.
4 Condição de segurado urbano de membro do núcleo familiar: isso é
relevante para a aposentadoria do produtor rural?
Ainda tratando sobre este aspecto da comercialização, traz-se à colação
mais um ponto polêmico envolvendo: o fato do cônjuge, ou companheiro (a), ou
mesmo qualquer outro membro da família (não se utilizará grupo familiar, pois
se entende não ser o caso, afinal, ele(a) não o comporia) desenvolver atividade
urbana, descaracterizaria sua condição de produtor rural/segurado especial?
A Lei nº 8.213/91, o Decreto nº 3.048/99 e a Instrução Normativa
INSS/PRES nº 77/2015, todos, são unânimes em cogitar da possibilidade de
desenvolvimento da atividade rural tanto em regime de economia familiar,
quanto individualmente. Segue a previsão legal a respeito:
Art. 11. VII – como segurado especial: a pessoa física residente no imóvel rural ou
em aglomerado urbano ou rural próximo a ele que, individualmente ou em
regime de economia familiar, ainda que com o auxílio eventual de terceiros, na
condição de:
a) produtor, seja proprietário, usufrutuário, possuidor, assentado, parceiro ou
meeiro outorgados, comodatário ou arrendatário rurais (grifo do Autor).
No mesmo citado artigo, agora no correspondente §9º, tem-se a assertiva
de que “não é segurado especial o membro de grupo familiar que possuir outra
fonte de rendimento”, ou seja, somente tal pessoa seria excluída do grupo
familiar, não descaracterizando os demais parentes, que formariam um grupo
familiar à parte.
No entanto, insiste-se na ideia de que o exercício individual realizado
paralelamente ao trabalho de um parente do núcleo familiar – para usar o mesmo
termo da súmula 41 da Turma Nacional de Uniformização da Jurisprudência dos
Juizados Especiais Federais (TNU) - traria um requisito a mais para a
configuração do direito, mesmo sem previsão legal, pelo menos de forma
explícita.
De forma indevida, depreende-se da leitura que, uma vez verificado o
exercício de atividade diversa da rural por algum membro do grupo familiar do
pretendente ao benefício, há que se demonstrar a necessidade de que a produção
rural seja indispensável para se obter o benefício como segurado especial.
Até mesmo há, como antecipado acima, uma súmula da Turma Nacional
de Uniformização da Jurisprudência dos Juizados Especiais Federais
disciplinando tal linha de raciocínio; no caso, a súmula 41, verbis:
A circunstância de um dos integrantes do núcleo familiar desempenhar atividade
urbana não implica, por si só, a descaracterização do trabalhador rural como
segurado especial, condição que deve ser analisada no caso concreto.
E tal entendimento tem sido seguido pela jurisprudência, a exemplo do que
se pode conferir nos dois julgados abaixo, ambos de Turmas Recursais da 4ª
Região, verbis:
(...) Em seu apelo, defende o INSS defende a impossibilidade de reconhecimento
do tempo de labor rural, argumentando que não foi apresentado início de prova
material válido e suficiente à comprovação da atividade agrícola no período
deferido. Também destaca que a genitora do demandante passou a exercer vínculo
urbano de labor a contar de 01/11/1983, o que descaracteriza o regime de
economia familiar, mormente pelo fato de que não houve a devida demonstração
da indispensabilidade do labor agrícola ao sustento do grupo familiar, frente a essa
renda urbana. Sustenta, ainda que, a prova testemunhal não é idônea à confirmação
da qualidade de segurado especial do autor, haja vista que sequer mencionou a
existência dessa renda diversa da rural.
Pois bem, cumpre ressaltar, inicialmente, que não se desconhece o disposto na
Súmula n.º 41, da Turma Nacional de Uniformização, que dispõe o seguinte: “A
circunstância de um dos integrantes do núcleo familiar desempenhar atividade
urbana não implica, por si só, a descaracterização do trabalhador rural como
segurado especial, condição que deve ser analisada no caso concreto”.
Todavia, se, de um lado, a renda urbana de um dos membros da família não pode
impedir de forma absoluta a configuração do regime de economia familiar por
parte dos demais membros, por outro lado, isso impõe ao segurado o ônus da
prova não apenas da atividade rural, mas também da relevância da comercialização
de seus produtos, a ponto de permitir a constatação de que a renda agrícola era tão
ou mais importante ao sustento do grupo familiar.
Na situação trazida aos autos, o fato de a genitora do demandante ter efetivamente
exercido labor de cunho urbano, como segurada empregada, no período de
01/11/1983 a 22/04/1986 e, logo após, a partir de 01/05/1986, vinculação que
perdurou até o ano de 1999 (9-PROCADM1, pág. 67), indica que a manutenção do
núcleo familiar não girava, de fato, em torno da renda obtida mediante o
desempenho da atividade rural.
Isso porque não foram apresentadas notas fiscais que indiquem a importância da
comercialização dos produtos agrícolas frente a esse labor de cunho urbano de sua
genitora e, aparentemente, também de suas irmãs, conforme sua própria declaração
na entrevista rural processada na via administrativa (9-PROCADM1, pág. 62).
Aliás, há uma única nota fiscal colacionada ao feito, referente à venda de vagem
pelo genitor do requerente, no ano de 1988, mas, além de aparentemente não ter
havido a comercialização de uma quantidade expressiva desse produto, sequer há
informação sobre o valor total da venda, de sorte que esse documento não é válido
à comprovação de eventual importância da produção agrícola nem mesmo no ano
de 1988 (9-PROCADM1, pág. 58).
Em que pese ter sido juntada documentação escolar, referentemente aos anos de
1979 a 1990, indicando que a parte autora estudou em estabelecimento de ensino
situado em zona rural, bem assim que concluiu o 2º grau com habilitação em
Técnico em Agropecuária (6-PROCADM1, págs. 14-17 e 22-23), esclareço que,
embora consista em início de prova material potencialmente válido, esse tipo de
elemento, isoladamente, apenas comprovaria a residência da parte autora em
localidade rural e o desempenho das lides campesinas, mas não a importância do
labor em questão ao sustento dos integrantes da família.”
(5010804-16.2017.4.04.7107, PRIMEIRA TURMA RECURSAL DO RS, Relator
ANDRÉ DE SOUZA FISCHER, julgado em 11/04/2018).
“(...) Com feito, a parte autora não juntou ao feito Notas de Produtor Rural em
nome próprio ou em nome de terceiro que pudessem demonstrar a potencialidade
de comercialização da sua produção agrícola após o ano de 2010, tal qual exigido
pela Turma Regional de Uniformização:
PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO REGIONAL. PREVIDENCIÁRIO. REGIME
DE ECONOMIA FAMILIAR. TRABALHO URBANO DE MEMBRO DO
GRUPO FAMILIAR. DIVERGÊNCIA NÃO CONFIGURADA. INCIDENTE
NÃO CONHECIDO.
1. O acórdão recorrido considerou que o trabalho da parte autora não era
indispensável ao sustento do grupo familiar, uma vez que seu genitor
desempenhava atividade urbana, da qual provinha a única fonte de renda da
família já que não havia comercialização da produção agrícola.
2. Divergência não configurada, uma vez que a descaracterização do regime de
economia familiar não decorreu exclusivamente do exercício do labor urbano pelo
genitor da parte autora, mas, sim, do conjunto probatório constante dos autos, que
não aponta a existência de produção rural com potencialidade de comercialização,
indicando que o sustento do grupo familiar provinha do trabalho urbano do
genitor. 4. Incidente não conhecido.[26]
E, infelizmente, não é outra a orientação do Superior Tribunal de Justiça
(STJ) a respeito da matéria, senão a que segue:
PROCESSUAL E PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA RURAL POR
IDADE. CÔNJUGE QUE PASSA A DESENVOLVER ATIVIDADE URBANA.
PROVA MATERIAL. EXISTÊNCIA. REEXAME. SÚMULA 7 DO STJ.
1. A Primeira Seção desta Corte, no julgamento do REsp n. 1.304.479/SP,
proferido sob o rito do art. 543-C do CPC/1973, concluiu que o trabalho urbano de
um dos membros do grupo familiar não descaracteriza, por si só, os demais
integrantes como segurados especiais, devendo ser averiguada a dispensabilidade
do trabalho rural para a subsistência do grupo familiar.
2. Hipótese em que o Tribunal de origem considerou suficiente a prova material
colhida, a qual foi corroborada por robusta prova testemunhal, de modo que a
inversão do julgado demandaria o reexame de prova, inviável em sede de recurso
especial, nos termos da Súmula 7 do STJ.
3. Agravo interno desprovido.[27]
De todo modo, pontua-se que, se a atividade rural é desenvolvida
individualmente, pouco importa o que faça os demais membros do núcleo
familiar. E como reforço a tal assertiva, traz-se à colação trecho de um
julgamento monocrático recentíssimo do STJ, verbis:
(...) 14. Assim, ainda que os demais membros do grupo familiar exerçam
atividade remunerada de outra natureza, o membro que se dedique à
produção rural em regime individual será considerado segurado especial,
desde que comprove sua condição com documentos em seu nome.[28] (grifo do
Autor)
Portanto, tem-se que o desenvolvimento de atividade urbana por um dos
membro do grupo familiar não irá descaracterizar a atividade rural desenvolvida
por outro membro.
4.1 Necessidade de início de prova material para demonstrar a
indispensabilidade da produção rural significativa
Embora tenhamos constatada, ainda que de forma indevida, a exigência de
que há que ser demonstrada considerável produção para ter reconhecida sua
condição de segurado especial para aquele que tem algum parente componente
do núcleo familiar exercendo atividade urbana, é inaceitável exigir início de
prova material de tal produção.
Ou seja, não precisa ser o principal meio de manutenção do núcleo
familiar, senão se vê:
A hipótese não se amolda ao caso dos autos, eis que os elementos de prova
apresentados permitem concluir que a agricultura exercida pela parte autora
constitui mera complementação à renda percebida pelo seu esposo como
trabalhador e como beneficiário de aposentadoria por tempo de contribuição de
índole urbana. É dizer, o eventual ganho obtido com o produto da lavoura
não é imprescindível à subsistência da família, caracterizando-se mais como
reforço da renda obtida pelo marido, não justificando, portanto, o
reconhecimento do tempo de serviço rural.[29] (grifo do Autor)
Afinal, sequer há previsão legal de tal requisito, pelo que descabido exigir
início de prova material, a exemplo de comprovantes da correlata
comercialização, notadamente se observar que, sobretudo no Nordeste, esta não
é uma prática corriqueira, sendo eventual comércio desenvolvido muito
informalmente.
Deste modo, caberá à prova testemunhal, como regra, tal incumbência, ou
seja, demonstrar a necessidade da produção rural para a manutenção do
respectivo núcleo familiar, além de confirmar o exercício de atividade rural pelo
tempo mínimo exigido, cautela que se deve guardar quanto se patrocinar causas
com tal contexto.
4.2 E se os rendimentos do consorte que exerça atividade urbana forem de
somente um salário mínimo?
De outra banda, veladamente, tem-se excetuado tal rigor quando o aludido
membro ovelha negra receber benefício de até um salário mínimo, ainda que de
natureza urbana.
Embora ainda não se tenha encontrado a justificativa de forma clara a
respeito de relativização na maior parte dos julgados, arrisca-se dizer que tal
tratamento diferenciado derivaria do fato de que é dado ao segurado especial
produtor rural a percepção de alguns benefícios de até um salário mínimo, sem,
com isso, haver prejuízo no reconhecimento da condição de lavrador, previsão
contida no art. 11, §9º, da Lei nº 8.213/91, verbis:
§ 9º Não é segurado especial o membro de grupo familiar que possuir outra fonte
de rendimento, exceto se decorrente de: I – benefício de pensão por morte, auxílio-
acidente ou auxílio-reclusão, cujo valor não supere o do menor benefício de
prestação continuada da Previdência Social;
Daí que, como que antecipando o falecimento do cônjuge/companheiro(a),
não haveria nenhum óbice para o fato de este receber um salário mínimo a título
de rendimentos, afinal, se a morte do membro urbano não seria óbice, eis que
geraria uma pensão de valor mínimo a qual não descaracteriza a condição de
segurado especial do(a) pretendente ao benefício, não é razoável supor que em
vida fosse diferente. Nesse sentido, o seguinte julgado:
(...) Importante ter em conta também que, por força da nova redação dada ao art.
11 da Lei de Benefícios pela Lei 11.718, de 20.6.2008, e sua aplicação analógica,
somente o benefício de valor mínimo percebido por outro membro da família
não teria o condão de desqualificar o trabalhador rural da condição de
segurado especial:
‘§ 9º. Não é segurado especial o membro de grupo familiar que possuir outra fonte
de rendimento, exceto se decorrente de: (Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008): I -
benefício de pensão por morte, auxílio-acidente ou auxílio-reclusão, cujo valor não
supere o do menor benefício de prestação continuada da Previdência Social;
(Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008) (...)[30] (grifo do Autor)
Oportuno destacar que, conforme entendimento esposado na Instrução
Normativa INSS/PRES nº 77/2015, tal limitação é por benefício, bem como
sendo este rateado, por cota, nos termos do art. 42, VIII, “a” e §1º, verbis:
Art. 42. Não descaracteriza a condição de segurado especial:
(...)
VIII - a percepção de rendimentos decorrentes de:
a) benefício de pensão por morte, auxílio-acidente ou auxílio-reclusão, durante o
período em que seu valor não supere o do salário-mínimo vigente à época,
considerado o valor de cada benefício quando receber mais de um;
(...)
§ 1º Considerando o disposto na alínea “a” do inciso VIII deste artigo, nos casos
em que o benefício for pago a mais de um dependente, deverá ser considerada
a cota individual. (grifo do Autor).
E mais: sendo superior a um salário mínimo, mas, vindo a alcançar tal
patamar em razão das correções inferiores à aplicada ao piso mínimo, o
beneficiário voltará a ser segurado especial. Essa, inclusive, é a orientação do
INSS, como se vê:
IN 77/2015. Art. 43. O segurado especial fica excluído dessa categoria:
(...)
III - pelo período em que o benefício de pensão por morte auxílio-acidente ou
auxílio-reclusão foi recebido com valor superior ao salário-mínimo, observado o
disposto na alínea “a” do inciso VIII e § 1º, ambos do art. 42.
Não se pode deixar de registrar estranheza com tal situação: alguém que
sempre exerceu a mesma atividade, a depender do quanto receba a título de
benefícios previdenciários elencados taxativamente na lei, ora será segurado
especial, ora não. E, afinal, seria o quê, enquanto é beneficiário com montante
acima? Contribuinte individual?
Nesse sentido, traz-se trecho de um julgado em que se depara com tal
contexto:
(...) Assim, diante de todo o exposto, cotejando-se o início de prova material
apresentado com a prova testemunhal produzida - além da ausência de qualquer
notícia da existência labor de cunho urbano por algum dos integrantes da
unidade familiar, durante o período de 15/12/1979 a 31/10/1983 -, entendo que
o conjunto probatório coligido foi favorável ao convencimento positivo deste juízo
a respeito do labor rurícola, de sorte que vai mantido o reconhecimento sentencial
do intervalo telado.
Assim, por todo o exposto, diante da não comprovação de que a manutenção do
grupo familiar girava indispensavelmente em torno dos lucros advindos do labor
rural do grupo familiar, é de ser dado parcial provimento ao recurso da parte ré no
ponto, para afastar o tempo de serviço rural no lapso de 01/11/1983 a 12/12/1989.
[31]
(grifo do Autor)
Porém, ainda são necessárias algumas ponderações sobre tal contexto. A
restrição ora em comentário somente se faz presente enquanto estiver algum
membro do núcleo familiar exercendo atividade urbana, não prejudicando os
demais intervalos em que demonstrada a qualidade de segurado especial. O que
é lógico, afinal, se para o próprio requerente assim se entenderia, não seria
minimamente razoável prejudicar todo o lapso temporal comprovadamente
exercido no meio rural em razão de um terceiro.
Considerações finais
Diante do quanto foi brevemente exposto, deduz-se que ainda há muito a
se evoluir no que tange ao reconhecimento da condição do segurado especial que
tem em seu núcleo familiar alguém que exerça atividade diversa da rural, eis que
a jurisprudência tem, até mesmo, criado requisito sem qualquer respaldo legal,
comportamento que deve ser objeto de constantes críticas de sorte a que seja
repensado o requisito da indispensabilidade da comercialização da produção
rural, ou pelo menos seu caráter potencial.
Subsidiaria e igualmente digno de reparo a exigência, de igual maneira
ilegal, de que haja início de prova material de tal venda, pois em evidente
confronto com a cláusula pétrea de que ninguém é obrigado a fazer ou deixar de
fazer alguma coisa, senão em virtude de lei (art. 5º, II, da Constituição Federal).
E, ainda em caráter sucessivo, outrossim, é fundamental que, na defesa do
direito às citadas aposentadorias por idade, seja atentado que eventual exercício
de atividade urbana por membro do núcleo familiar somente possa ser,
ocasionalmente, um óbice intransponível ao reconhecimento da atividade rural
na condição de produtor rural pessoa física, durante o exercício de citado
desempenho laboral, mas não que “contamine” os demais períodos em que não
evidenciada atividade diversa da rural pelo(s) mencionado(s) membro(s).
Assim, há muito trabalho pela frente...
Referências bibliográficas
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BORGES. Documento eletrônico disponível em:
<https://jurisprudencia.trf4.jus.br> Acesso em: 24 de setembro de 2018.
CAPÍTULO 4
FUNRURAL: OS ASPECTOS PREVIDENCIÁRIOS,
TRIBUTÁRIOS E OS TRAÇOS DA FUNÇÃO
SOCIAL DA PROPRIEDADE RURAL
RAFAELA AIEX PARRA
Advogada; Mestranda em Direito Negocial pela UEL/PR; Especialista em
Direito Aplicado pela EMAP; Pós-Graduanda em Agronegócios pela
USP/ESALQ; Aperfeiçoamento no MBA de Gestão Estratégica de Empresas
pelo ISAE/FGV; Representante da Sociedade Rural do Paraná nos Comitês de
Sustentabilidade e Leis e Regulamentos da Sociedade Rural Brasileira; Vice
Coordenadora da Comissão de Direito Agrário e Agronegócio da OAB
Londrina; Coordenadora Regional da UBAU – União Brasileira dos Agraristas
Universitários, no Estado do Paraná.
Introdução
O modelo estatal brasileiro traz consigo traços republicanos que impõem à
produção econômica submissão à regra tributária no país, a fim de que os
recursos obtidos possam servir de guarida, dentre outros, à previdência social.
Diante disso, a propriedade rural e a exploração econômica nela exercida
ficam adstritas, também, a estas regras de cunho contributivo social.
O objetivo, neste estudo, é, de modo declaratório, definir o conceito do
Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (FUNRURAL), analisar a
judicialização do tema e traçar os parâmetros das cobranças, passadas e futuras.
1 O modelo legal de propriedade rural no Brasil: a necessidade de
adequação da propriedade ao senso coletivo
A propriedade privada no Brasil é revestida por caráter relativo. Assim,
objetivamente, no que pertine ao presente estudo, diz-se que a propriedade rural
tem uma função social a atender.
Para Arnaldo Rizzardo:
A função social da propriedade envolve a adequação do direito de propriedade ao
interesse coletivo, de modo a lhe retirar o caráter visto essencialmente sob o
prisma individualista, excludente e absoluto que se formou ao longo da Idade
Moderna. [32]
Sobre a origem do termo, Eduardo Rodrigues Evangelista [33] explica que o
autor francês Léon Duguit, fez dura crítica à concepção individualista da
propriedade, sobretudo sobre a premissa de que somente concedendo ao
possuidor um direito subjetivo absoluto sobre o bem é que poder-se-ia garantir a
plenitude de sua autonomia individual.
De fato, o francês Duguit[34] faz oposição feroz - no campo doutrinário - ao
caráter Napoleônico de absolutismo da propriedade privada.
No Brasil, após a evolução desde a história das Constituições, passando à
modernidade, este viés relativo é dado à propriedade pelo artigo 5º da
Constituição Federal (CF) de 1988, pois, em seu inciso XXII, consagra o direito
à propriedade privada mas, logo na sequência, no inciso XXIII, condiciona a
exploração e a manutenção desta propriedade ao bom uso que atenda às regras
da chamada função social da propriedade rural.
O atendimento à função social pela propriedade rural é uma regra rígida,
pois advém de um comando constitucional (art. 186, CF) e engloba ditames
multisciplinares, por meio de imposição econômica, social e ambiental.
Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende,
simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos
seguintes requisitos: I - aproveitamento racional e adequado; II - utilização
adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III -
observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV - exploração
que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.
A obrigação de atendimento à função social da propriedade rural pode
assim ser interpretada:
[...] o art. 186 da CF/88 estrutura o conceito de função social a partir d eum
quadripé, para cujo o aperfeiçoamento reclama SIMULTANEAMENTE não só
valores ligados à produtividade, mas um componente referido à produtividade
(inciso I), um refeiro ao meio ambiente (inciso II), um referido ao trabalho (inciso
III) e um referido ao bem-estar (inciso IV), operando todos a molde de “sub-
funções sociais da propriedade”; sem a presenca de cada qual a função social não
se aperfeiçoa como conceito harmônico.[35]
Para Silvia Opitz e Oswaldo Opitz[36], o verdadeiro sentido da expressão
função social da propriedade é o de produzir a terra todos os bens que possam
satisfazer às necessidades presentes e futuras dos homens.
No campo da legislação, é possível notar a presença dos vários ramos do
Direito como auxiliares para a consecução da função social da propriedade rural,
como o Dieito Civil, Direito Penal, Direito Tributário, Direito Empresarial,
Direito Trabalhista, Direito Agrário, Direito Ambiental e, também, o Direito
Previdenciário.
A função do Direito Previdenciário, nesse sentido, decorre da previsão de
direitos sociais, anotados no art. 6º da Constituição de 1988.
Nesta construção teórica, pode-se enquadrar a contribuição previdenciária
do Funrural como meio para manutenção da função social da propriedade rural e
da atividade econômica que dela decorre, tanto pelo cuidado às relações de
trabalho, como pelo respeito aos direitos socias destes trabalhadores, que
laboram no campo e contribuem para que haja uma produção equilibrada entre o
econômico e o racional (art. 6º Lei nº 8.629/93) e o respeito, também, ao meio
ambiente (art. 225, CF).
2 FUNRURAL: do nascimento da cobrança às discussões atuais
A decisão do STF sobre a constitucionalidade da cobrança do
FUNRURAL tem causado insegurança jurídica ao setor do agronegócio no país.
Trata-se de temática com grande repercussão junto às pessoas físicas
produtores rurais, principalmente dos pecuaristas, e em especial àqueles que
comercializam matrizes, reprodutores, animais para cria, recria e engorda e,
também, dos agricultores, comercializadores de grãos, sementes e farelos.
Para começar, é necessário contextualizar o termo FUNRURAL no
espeque jurídico.
Diego Almeida da Silva expõe a base histórica para o nascimento do
termo, nestas palavras:
[…] o FUNRURAL, tributação importante do setor rural, alterou-se
significativamente ao longo de sua existência. Nasce na década de 60, por meio da
Lei nº 4.214, de 2 de março de 1963, antigo Estatuto do Trabalhador Rural. Recebe
este apelido que se perpetua hoje na prática da vida previdenciária por sua
destinação ao Fundo de Assistência e Previdência do Trabalhador Rural
(FUNRURAL).[37]
No entender de Pedro Puttini Mendes[38], embora popularmente
denominada FUNRURAL, a terminologia não é abarcada pela legislação
moderna, sendo correta a utilização do termo “contribuição previdenciária
rural”.
Isso porque houve a unificação da previdência social para contribuintes
urbanos e rurais a partir da Constituição de 1988, conforme ensina Arnaldo
Rizzardo[39].
Para fins didáticos, utilizar-se-á neste texto o termo FUNRURAL. Neste
sentido, o FUNRURAL é uma contribuição social destinada a custear a
seguridade geral (INSS), cobrada pela Receita Federal, devida tanto pelo
empregador rural pessoa física (art. 25 da Lei nº 8.212/91) quanto pelo produtor
rural pessoa jurídica (art. 25 da Lei nº 8.870/94).
Portanto, pode-se afirmar que a cobrança do FUNRURAL tem origem
tributária. Conforme as lições do professor Luciano Amaro[40], pode-se entender
tributo como objeto de uma relação jurídica, cuja cobrança é imposta por lei, nos
termos previamente definidos, com a finalidade de custear as despesas coletivas.
A Constituição Federal arrola quais são as espécies de tributos no
ordenamento juridico do país. Ora, partindo destas definições, é possível
enquadrar o FUNRURAL como uma contribuição social (art. 149, CF), que,
conforme já exposto, destina-se a custear a seguridade social, de forma direta e
teve sua edição por meio de lei ordinária, que definiu a base de cálculo, fato
gerador, por exemplo.
Seguridade Social, para Fábio Zambitte Ibrahim, “é o conjunto integrado
de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a
assegurar os direitos à saúde, à previdência e à assistência social”[41].
É relevante deixar claro que a contribuição destina-se à previdência social
como um todo e não de forma específica para fins de aposentadoria. Aquele que
recolhe o FUNRURAL somente poderá fazer uso dos benefícios da
aposentadoria caso faça o recolhimento, também, do Instituto Nacional do
Seguro Social, inclusive no que tange aos pequenos produtores e à agricultura
familiar.
Assim, com base na legislação vigente, ainda que o produtor rural se
aposente por suas contribuições como segurado, permanecerá a obrigação de
recolhimento do FUNRURAL, desde que o fato gerador (comercialização da
produção) continue existindo nas operações e enseje a cobrança.
Pois bem, esta é a composição atual do tributo:
• Alíquota pessoa física: 1,5% (1,2% INSS; 0,1% RAT; 0,2% SENAR);
• Alíquota pessoa jurídica: 2,05% (1,7% INSS; 0,1% RAT; 0,25% SENAR).
As operações entre criadores pessoas físicas eram isentas do denominado
FUNRURAL, cuja alíquota (total) atual é de 1,5%. A partir de 21 de setembro de
2008, com a entrada em vigor da Lei nº 11.718/2008, que revogou o § 4º do
artigo 25 da Lei nº 8.212/91, que previa a isenção nas operações entre produtores
pessoas físicas, estas operações passaram a compor o campo de incidência do
FUNRURAL, que passou a ser exigida dos produtores em todas as
comercializações, por meio de Guia da Previdência Social (GPS).
Foi a partir de então, com esta nova regra, que houve judicialização do
tema e a discussão foi levada até o Supremo Tribunal Federal (STF), para a
discussão acerca da constitucionalidade da cobrança desta contribuição
previdenciária.
O Julgamento do STF, considerando a cobrança do FUNRURAL
inconstitucional, ocorreu em 03/02/2010.
O próprio STF, em seu sítio eletrônico, publicou a seguinte notícia:
“Supremo desobriga empregador rural de recolher Funrural sobre receita bruta
de sua comercialização”, e forneceu as seguintes informações:
Por votação unânime, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) declarou, em
03.02.2010, a inconstitucionalidade do artigo 1º da Lei 8.540/92, que previa o
recolhimento de contribuição para o Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural
(FUNRURAL) sobre a receita bruta proveniente da comercialização da produção
rural de empregadores, naturais.
A decisão, que beneficiou os fornecedores de bovinos para abate, foi tomada no
julgamento do Recurso Extraordinário (RE) 363852, interposto pelo Frigorífico
Mataboi S/A, de Mato Grosso do Sul, e uma subsidiária sua. No recurso, elas
contestavam acórdão (decisão colegiada) do Tribunal Regional Federal da 1ª
Região (TRF-1), que manteve sentença proferida em Mato Grosso do Sul no
sentido da constitucionalidade do dispositivo legal impugnado.
No mesmo julgamento, o Plenário do STF negou, por maioria, pedido da
Advocacia Geral da União (AGU), que atuou em defesa do Instituto Nacional do
Seguro Social (INSS), para que a Suprema Corte modulasse os efeitos da decisão,
aplicando-a com efeitos ex nunc, ou seja de forma não-retroativa (nesse caso não
haveria devolução dos valores recolhidos, que simplesmente deixariam de ser
cobrados). A negativa da Suprema Corte abriu a possibilidade de outros produtores
ajuizarem ações pleiteando o mesmo direito obtido pelo Frigorífico Mataboi S/A,
o que de fato ocorreu.[42]
A decisão na ocasião foi esta:
Decisão: O Tribunal, por unanimidade e nos termos do voto do Relator, conheceu
e deu provimento ao recurso extraordinário para desobrigar os recorrentes da
retenção e do recolhimento da contribuição social ou do seu recolhimento por
subrrogação sobre a “receita bruta proveniente da comercialização da produção
rural” de empregadores, pessoas naturais, fornecedores de bovinos para abate,
declarando a inconstitucionalidade do artigo 1º da Lei nº 8.540/92, que deu nova
redação aos artigos 12, incisos V e VII, 25, incisos I e II, e 30, inciso IV, da Lei nº
8.212/91, com a redação atualizada até a Lei nº 9.528/97, até que legislação nova,
arrimada na Emenda Constitucional nº 20/98, venha a instituir a contribuição, tudo
na forma do pedido inicial, invertidos os ônus da sucumbência. Em seguida, o
Relator apresentou petição da União no sentido de modular os efeitos da decisão,
que foi rejeitada por maioria, vencida a Senhora Ministra Ellen Gracie. Votou o
Presidente, Ministro Gilmar Mendes. Ausentes, licenciado, o Senhor Ministro
Celso de Mello e, neste julgamento, o Senhor Ministro Joaquim Barbosa, com
voto proferido na assentada anterior. Plenário, 03.02.2010.[43]
Àquela época, ninguém poderia antever que esta decisão seria a
precursora para a consolidação da maior insegurança jurídica, quer em esfera
econômica, quer em esfera social, para a produção rurícola brasileira.
Pois bem, após a publicação desta decisão, mais de 15 mil produtores
rurais conseguiram perante o poder judiciário a desobrigação de recolhimento do
FUNRURAL, ainda que de maneira liminar.
Então, após 07 anos da decisão antecessora sobre o caso e, por forte
pressão política, o Supremo Tribunal Federal, em 30/03/2017, por maioria de
votos (6 a 5), no Recurso Extraordinário 718874/RS-RG, reconheceu a
constitucionalidade da contribuição exigida do produtor rural pessoa física
empregador, nos termos do artigo 25 da Lei nº 8.212/1991, denominada de
FUNRURAL, fixando a seguinte tese: “é constitucional, formal e materialmente,
a contribuição social do empregador rural pessoa física, instituída pela Lei
10.256/2001, incidente sobre a receita bruta obtida com a comercialização de sua
produção”[44].
Após a publicação da decisão, o secretário de Política Agrícola do
Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Neri Geller, disse, durante
a abertura do Fórum do Agronegócio, “O desafio de alimentar o mundo”, na
Exposição Rural e Agropecuária de Londrina 2017, que o setor teria “um
problema sério pela frente”, ao comentar a decisão do Supremo Tribunal Federal
(STF) a respeito da cobrança do Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural
(Funrural).[45]
A partir daí, a incerteza repousou quanto à aplicação da decisão,
principalmente em relação a possíveis efeitos retroativos. Desde então, o
FUNRURAL tomou lugar nas discussões do agronegócio de uma vez por todas.
O produtor e toda a cadeia produtiva ruralista voltaram-se à incerteza da
aplicação da decisão judicial que reconheceu constitucional a cobrança social e
que depois foi substituída pela mesma Corte.
O ponto mais crítico, superada a revolta pela própria institucionalização
jurídica do tributo, é a dúvida sobre o que será feito com os valores que
deixaram de ser recolhidos no interregno de 2010 (decisão do STF que
reconheceu insconstitucional o FUNRURAL) e 2017 (decisão do STF que
reconheceu constitucional o FUNRURAL), por aqueles que se beneficiaram de
liminares na justiça.
Os advogados habilitados no processo do Recurso Extraordinário
718.874/RS-RG, representantes da Sociedade Rural Brasileira e demais
entidades representativas do agronegócio, que são partes no processo, afirmaram
que iriam opor Embargos de Declaração, com o escopo de modular a decisão e
alterá-la. E assim o fizeram.[46]
Salienta-se que este manejo processual não suspendeu a decisão do STF e,
em 23/05/2018, o julgamento dos embargos de declaração aconteceu,
indeferindo o pedido de modulação temporal, para o abatimento e não a
cobrança dos débitos entre a primeira decisão do STF que reconheceu a
inconstitucionalidade da contribuição e a decisão sucessora, que sobreveio 07
anos após, alterando totalmente o cenário e considerando a cobrança
constitucional.
Na prática, é o que sucede. Logo após a decisão supra (que reconheceu a
constitucionalidade da contribuição), mesmo antes de sua publicação oficial, o
Governo Federal publicou a Medida Provisória (MP) nº 793, de 31 de julho de
2017, que instituiu o Programa de Regularização Tributária Rural junto à
Secretaria da Receita Federal do Brasil e à Procuradoria-Geral da Fazenda
Nacional. Em outras palavras, determinava as regras fiscais para que todos os
produtores rurais que não recolheram ou não tiveram descontadas as
porcentagens devidas ao FUNRURAL, entre 2010 e 2017, acertassem seu
passivo.
Com a manutenção da judicialização do caso, a iminência de julgamento
dos Embargos de Declaração e a esperança política de mudança do quadro
desfavorável, muitos produtores rurais não fizeram aderência ao Refis, o que
forçou o Governo a conceder novo prazo ao contribuinte, por meio da edição da
Medida Provisória nº 803, de 29 de setembro de 2017.
Esta nova medida provisória, posteriormente, foi convertida na Lei nº
13.606, de 9 de janeiro de 2018, que, dentre outras providências, fixou como
prazo de adesão ao Refis de confissão de dívida a data de 28 de fevereiro de
2018.
Novamente, houve dilação do prazo e, então, fora publicada a Lei nº
16.630 de 28 de fevereiro de 2018, que fixou o termo final de adesão ao
Programa de Regularização Tributária Rural (PRR) para 30 de abril de 2018.
Este prazo, mais uma vez, foi alterado. Dessa vez pela Medida Provisória
nº 828, de 27 de abril de 2018, que determinou como prazo final para a adesão
ao Programa de Regularização Tributária Rural a data de 30/05/2018.
Após a decisão dos Embargos de Declaração no RE 718.874/RS que não
concedeu o pedido para a modulação dos efeitos, ou seja, não concedeu o perdão
da dívida no período compreendido entre as duas decisões divergente do STF,
novamente o prazo para a adesão ao PRR foi alargado.
Dessa vez pela Medida Provisória nº 834, de 29 de maio de 2018, fixando
a data final de adesão, pelo produtor rural, às regras de adimplemento do débito
tributário para 30/10/2018.
Sem adentrar a discussão jurídica, ideológica e principiológica sobre a
cobrança em si e sobre seus reflexos ao agronegócio de maneira econômica
(tampouco falando sobre a Resolução nº 15/2017 do Senado Federal, que na
prática não tem quaisquer efeito), é possível verificar que tal discussão (sobre a
constitucionalidade ou inconstitucionalidade da legislação) traz consigo alta
carga de insegurança jurídica.
De um lado a cobrança ao produtor rural em total mudança de
jurisprudência do STF, e que vai onerar as operações econômicas do
agronegócio, trazendo prejuízo ao setor e reflexos para a sociedade como um
todo. E de outro lado o déficit esperado para a Previdência Social, que gerará
impacto direto nos benefícios previdenciários.
O STF com a brusca mudança de jurisprudência causou um enorme
desacerto tanto para o setor agrário produtivo quanto para os cofres públicos,
não se esquecendo que o agronegócio também é propulsor do PIB Brasileiro e,
portanto, responsável pela circulação de bens e serviços no país. Eventual
retração do setor pode trazer malefícios à popilação. O Brasil encontra-se entre a
“cruz e a espada” quando o assunto é FUNRURAL.
Ao que tudo indica, a discussão sobre a cobrança do FUNRURAL não tem
data para acabar. A notícia foi dada pelo site Consultor Jurídico, que diz:
Pouco mais de uma semana depois de o Supremo Tribunal Federal reafirmar a
constitucionalidade da contribuição ao Funrural, uma empresa do ramo de criação
e abate de aves e comércio de alimentos obteve liminar na Justiça Federal para
desobrigá-la da retenção e recolhimento da contribuição social do fundo. A decisão
foi proferida pela 4ª Vara Cível Federal de São Paulo.[47]
Embora a decisão não trate de discutir a inconstitucionalidade do tributo,
mas sim da sub-rogação, traz a tona toda a carga de tensão e insegurança jurídica
que é peculiar ao tema e gera reflexos, quer no aspecto econômico, quer no
aspecto social, inclusive no regime geral previdenciário.
O Procurador do Distrito Fedral e Mestre em Direito Agrário, Rogério
Anderson, traz a importante reflexão de que “a questão do FUNRURAL nos diz
mais sobre nós e nossa ordem jurídica do que gostaríamos, de certa forma
explica do que se compõe nosso tecido social, do que somos feitos” [48].
O mais importante é que em meio à panacéia de teses sobre a cobrança ou
não do FUNRURAL, não seja esquecido que:
O sistema politico brasileiro, em seu art. 2º da promulgada Constituição da
República de 1988, prevê, como direito fundamental, a divisão dos poderes, ipsis
litteris: “Art. 2º - São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o
Legislativo, o Executivo e o Judiciário”.[49]
As decisões judiciais não podem (e não devem) ser uma afronta à
Constituição Federal. O STF, além de resguardar a Carta Magna, também tem a
institucional função de manter a segurança jurídica do país (ou ao menos assim o
deveria).
Considerações finais
Todas as mais de 5 milhões de propriedades rurais cadastradas no Brasil
que fazem comercialização de produtos oriundos do agronegócio, entre
pequenas, médias e grandes foram atingidas pela decisão do STF sobre o
FUNRURAL.
Muitos representantes da classe produtora rural pronunciaram-se em
discordância à dita decisão e, principalmente, ao efeito negativo – em cascata –
que pode gerar a toda a sociedade.
Por todas as brechas da lei, de discussões que ainda podem ser suscitadas
judicialmente, o tema do FUNRURAL para o setor do agronegócio ainda está
longe de uma solução definitiva, cabendo aguardar os próximos capítulos.
Outrossim, lembra-se que este aumento de custo para a produção agrícola,
neste momento da Economia do país, pode levar os produtores a uma situação
muito complicada. O impacto do FUNRURAL, notadamente deste passivo de,
pelo menos, sete anos retroativos, pode levar a inviabilidade da produção de
muitos agricultores e ter um efeito cascata em déficit para todo o PIB Brasileiro.
Fora isso, é de se esperar todos os desdobramentos jurídicos e políticos
que envolvem a questão.
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UNIÃO – Recorrido: JOSE CARLOS STANISZEWSKI. Documento eletrônico
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eletrônico disponível em: <http://www.stf.jus.br> Acesso em: 03 de junho de
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CAPÍTULO 5
CONTRIBUINTE INDIVIDUAL:
RECONHECIMENTO DE TEMPO E PAGAMENTO
DE CONTRIBUIÇÕES EM ATRASO
EMERSON COSTA LEMES
Contador e pós-graduado em Direito do Trabalho e Previdenciário. Atuou por 20
anos com rotinas trabalhistas e previdenciárias, e desde 2006 ministra cursos,
palestras, aulas e treinamentos nestes dois temas. Há mais de 10 anos atua como
perito judicial e extrajudicial nas áreas trabalhista, previdenciária e bancária
(CNPC 2344). Associado à APEPAR (Associação de Peritos, Avaliadores,
Mediadores, Conciliadores, Árbitros, Intérpretes e Interventores do Paraná),
exerce o cargo de 2º tesoureiro; no IBDP (Instituto Brasileiro de Direito
Previdenciário), atua como 1º Tesoureiro. É membro fundador do Observatório
de Gestão Pública de Londrina. Participou da criação do movimento Pela
Verdade na Previdência, e continua participando ativamente da discussão sobre a
reforma da previdência social brasileira. É professor convidado em programas de
pós-graduação de várias instituições: Atame (DF e GO), Damásio (SP),
FACCAR (PR), FAG (PR), IDCC (PR), IDS (RJ), IMED (RS), LFG (SP),
PUCPR (PR), Toledo (SP), Unicuritiba (PR), Unidavi (SC), Unipar (PR), entre
outras. Autor de livros, tem artigos publicados em obras coletivas e, desde 2016,
é vocalista da banda NB46.
“Arrancam-me tudo à força,
e ainda me chamam de contribuinte...”
(Millôr Fernandes)
Introdução
Sempre que se fala em previdência social, está a se falar em um sistema
que, em análise bem simplória, atenda cidadãos impossibilitados de manter sua
própria subsistência, por sofrerem algum tipo de incapacidade ou dificuldade
para o trabalho. O impedimento laboral pode decorrer de um acidente, de uma
enfermidade, do desemprego, ou até mesmo da idade avançada[50].
Como naturalmente é de se supor, este sistema precisa ser sustentado por
alguém – ou seja, precisa ter uma fonte de receita. Via de regra, os mesmos
beneficiários são também seus mantenedores, ou contribuintes. Não raras vezes,
os empregadores são chamados a colaborar com tal sistema.
O modelo brasileiro, consagrado na Constituição Federal (CF) de 1988, é
mais amplo: trata-se de um sistema de seguridade social, que atende às
necessidades do cidadão nas áreas de saúde, assistência social e previdência
social. Os três subsistemas podem ser assim resumidos: a) saúde para todos; b)
assistência para quem dela necessitar; e, c) previdência para quem contribuir. O
texto constitucional apenas menciona a obrigatoriedade de contribuição no
acesso à previdência (art. 201, CF); a assistência social e a saúde só exigem do
cidadão que ele comprove necessidade de tais serviços.
Este sistema de seguridade brasílico é financiado por contribuições sociais
pagas pelas empresas (e equiparados a empresas) sobre as remunerações pagas
às pessoas físicas que lhe prestarem serviços, sobre seu faturamento e sobre seu
lucro; contribuições pagas pelos empregados e demais segurados; contribuições
sobre os concursos de prognósticos; e contribuições do importador de bens e
serviços (art. 195, CF).
Este artigo vai tratar de um destes diversos contribuintes, o chamado
contribuinte individual.
1 Retrospecto histórico do contribuinte individual
A Constituição Federal inclui entre os contribuintes da seguridade social o
“trabalhador e os demais segurados da previdência social” (art. 195, II). A Lei de
Benefícios, por seu turno, detalha quem são estes contribuintes, classificando-os
em a) empregados; b) empregados domésticos; c) trabalhadores avulsos; d)
segurados especiais; e, e) contribuintes individuais, tema deste trabalho.
A figura do contribuinte individual é relativamente recente, é uma
evolução de contribuintes que foram sendo inseridos no sistema previdenciário,
com o passar dos anos e com a evolução e aperfeiçoamento do sistema. Explica-
se: no nascedouro da Previdência Social no Brasil, o sistema protegia
unicamente os empregados das estradas de ferro, ação inspirada no sistema de
proteção social implantado na Alemanha pelo Chanceler Otto Von Bismarck, no
século XIX. A Lei Eloy Chaves instituiu, em 1923, o primeiro sistema brasileiro
de proteção previdenciária, para os trabalhadores das ferrovias. Eloy Chaves era
um deputado paulista que tinha, entre seus principais eleitores, os operários que
trabalhavam nas estradas de ferro[51]. Ressalta-se também que toda a riqueza
produzida no país transitava por aquele meio de transporte (o modal rodoviário
praticamente não existia à época); logo, tais trabalhadores precisavam de uma
atenção especial por parte do Estado. Caso estes operários decidissem exercer o
seu direito de greve, tinham o poder de paralisar completamente o escoamento
da produção de todo o país[52]. Nos anos que se seguiram, outras categorias
profissionais foram conquistando também o direito de formar seus sistemas de
previdência, cada um deles com suas próprias regras e institutos autônomos.
Ainda na década de 1940, os técnicos destes diversos institutos discutiam a
criação de uma regra única para todos. Apenas em 1960 conseguiram
transformar esta ideia em Lei: em 26 de agosto daquele ano é aprovada a Lei nº
3.807/60, que dispõe sobre a Lei Orgânica da Previdência Social. Esta Lei
especificava os beneficiários da previdência social como sendo os “os que
exercem emprego ou atividade remunerada no território nacional, salvas as
exceções expressamente consignadas nesta Lei” (art. 2º) e seus dependentes.
Desta lista eram excluídos “os servidores civis e militares da União, dos Estados,
dos Municípios e dos Territórios, bem como os das respectivas autarquias”, os
trabalhadores rurais e os empregados domésticos (art. 3º). Os que exerciam
emprego ou atividade remunerada eram classificados como empregado
(conforme Consolidação das Leis do Trabalho (CLT)), trabalhador avulso e
trabalhador autônomo. É importante notar que o empresário não figurava entre
as pessoas protegidas pelo sistema. A mesma falta de proteção era sentida por
outras categorias, por exemplo, os ministros de confissão religiosa. A despeito
disso, pela primeira vez surge a proteção social a segurados não empregados.
Durante a conturbada década de 1970, foram incluídos no rol de segurados
os empresários, que deviam contribuir da mesma forma que os autônomos. No
início da década de 1980 os trabalhadores domésticos, bem como seus
empregadores passam também a contribuir obrigatoriamente para com a
previdência social.
Em 1988, a Constituição Cidadã cria o sistema de seguridade social, e seu
Ato das Disposições Constitucionais Transitórias promete que, em 30 meses, o
Congresso Nacional entregaria à nação uma nova legislação de seguridade social
(art. 59, ADCT). Como tudo no Brasil se atrasa, as Leis que deveriam ter sido
publicadas até 05/04/1991, foram publicadas em 24/07/1991. São elas: a Lei nº
8.212/91, que “dispõe sobre a organização da Seguridade Social, institui o Plano
de Custeio”, e a Lei nº 8.213/91, dispondo “sobre os Planos de Benefícios da
Previdência Social”. Na redação original, estas duas Leis descrevem como sendo
segurados obrigatórios (Lei nº 8.212/91, art. 12, e Lei nº 8.213/91, art.11): os
empregados, os empregados domésticos, os empresários, os trabalhadores
autônomos e seus equiparados, os trabalhadores avulsos e os segurados
especiais.
A década de 1990 foi um período de reformas neoliberais: depois de 15
anos de inflação alta, descontrole total da economia e uma sucessão de planos
econômicos que nada resolviam, uma equipe formada por grandes nomes,
técnicos da economia e do mercado financeiro consegue chegar a um pacote de
medidas que deu certo: o Plano Real.
Entretanto, os ajustes envolviam diversas alterações no Estado Brasileiro:
enquanto para a população, em geral, era apenas o controle da inflação (na
prática era o fato de os preços não mais mudarem todos os dias), os técnicos
enxergavam muito além disso: pensavam em diminuir o tamanho do estado,
reduzindo seus gastos, eliminando cargos públicos, vendendo empresas públicas,
culminando nas grandes privatizações daquela década.
O processo de reformas teve reflexos também na previdência social:
servidores públicos passam a contribuir obrigatoriamente para a previdência,
ajustes diversos se fizeram nos benefícios, houve inclusive uma tentativa de se
estabelecer uma idade mínima nas aposentadorias por tempo de serviço
(tentativa esta que se repete atualmente, com a discussão da PEC nº 287/16).
Face a um turbilhão de reformas, a Lei nº 9.528/97, equipara aos
trabalhadores autônomos o pequeno produtor rural e o garimpeiro que tenham
empregados, o ministro de confissão religiosa, o empregado de organismo oficial
internacional ou estrangeiro em funcionamento no Brasil e o brasileiro que
trabalha no exterior para o organismo oficial internacional do qual o Brasil é
membro efetivo.
Por fim, em 26/11/1999 é publicada a Lei nº 9.876/99, que elimina as
categorias de contribuintes empresário, autônomo e equiparado a autônomo e os
reúne sob o título de contribuintes individuais, adicionando ao art. 11 da Lei de
Benefícios e ao art. 12 da Lei de Custeio o inciso V:
V - como contribuinte individual: a) a pessoa física, proprietária ou não, que
explora atividade agropecuária ou pesqueira, em caráter permanente ou
temporário, diretamente ou por intermédio de prepostos e com auxílio de
empregados, utilizados a qualquer título, ainda que de forma não contínua; b) a
pessoa física, proprietária ou não, que explora atividade de extração mineral -
garimpo, em caráter permanente ou temporário, diretamente ou por intermédio de
prepostos, com ou sem o auxílio de empregados, utilizados a qualquer título, ainda
que de forma não contínua; c) o ministro de confissão religiosa e o membro de
instituto de vida consagrada, de congregação ou de ordem religiosa, quando
mantidos pela entidade a que pertencem, salvo se filiados obrigatoriamente à
Previdência Social em razão de outra atividade ou a outro regime previdenciário,
militar ou civil, ainda que na condição de inativos; d) revogada; e) o brasileiro
civil que trabalha no exterior para organismo oficial internacional do qual o Brasil
é membro efetivo, ainda que lá domiciliado e contratado, salvo quando coberto por
regime próprio de previdência social; f) o titular de firma individual urbana ou
rural, o diretor não empregado e o membro de conselho de administração de
sociedade anônima, o sócio solidário, o sócio de indústria, o sócio gerente e o
sócio cotista que recebam remuneração decorrente de seu trabalho em empresa
urbana ou rural, e o associado eleito para cargo de direção em cooperativa,
associação ou entidade de qualquer natureza ou finalidade, bem como o síndico ou
administrador eleito para exercer atividade de direção condominial, desde que
recebam remuneração; g) quem presta serviço de natureza urbana ou rural, em
caráter eventual, a uma ou mais empresas, sem relação de emprego; h) a pessoa
física que exerce, por conta própria, atividade econômica de natureza urbana, com
fins lucrativos ou não;
As descrições acima sofreram alguns ajustes nos anos seguintes.
Atualmente, a redação do inciso V é:
V - como contribuinte individual: (Redação dada pela Lei nº 9.876, de 26.11.99)
a) a pessoa física, proprietária ou não, que explora atividade agropecuária, a
qualquer título, em caráter permanente ou temporário, em área superior a 4
(quatro) módulos fiscais; ou, quando em área igual ou inferior a 4 (quatro)
módulos fiscais ou atividade pesqueira, com auxílio de empregados ou por
intermédio de prepostos; ou ainda nas hipóteses dos §§ 9º e 10 deste artigo;
(Redação dada pela Lei nº 11.718, de 2008); b) a pessoa física, proprietária ou não,
que explora atividade de extração mineral - garimpo, em caráter permanente ou
temporário, diretamente ou por intermédio de prepostos, com ou sem o auxílio de
empregados, utilizados a qualquer título, ainda que de forma não contínua;
(Redação dada pela Lei nº 9.876, de 26.11.99); c) o ministro de confissão religiosa
e o membro de instituto de vida consagrada, de congregação ou de ordem
religiosa; (Redação dada pela Lei nº 10.403, de 8.1.2002); e) o brasileiro civil que
trabalha no exterior para organismo oficial internacional do qual o Brasil é
membro efetivo, ainda que lá domiciliado e contratado, salvo quando coberto por
regime próprio de previdência social; (Redação dada pela Lei nº 9.876, de
26.11.99); f) o titular de firma individual urbana ou rural, o diretor não empregado
e o membro de conselho de administração de sociedade anônima, o sócio solidário,
o sócio de indústria, o sócio gerente e o sócio cotista que recebam remuneração
decorrente de seu trabalho em empresa urbana ou rural, e o associado eleito para
cargo de direção em cooperativa, associação ou entidade de qualquer natureza ou
finalidade, bem como o síndico ou administrador eleito para exercer atividade de
direção condominial, desde que recebam remuneração; (Incluído pela Lei nº 9.876,
de 26.11.99); g) quem presta serviço de natureza urbana ou rural, em caráter
eventual, a uma ou mais empresas, sem relação de emprego; (Incluído pela Lei nº
9.876, de 26.11.99); h) a pessoa física que exerce, por conta própria, atividade
econômica de natureza urbana, com fins lucrativos ou não; (Incluído pela Lei nº
9.876, de 26.11.99)
A seguir, serão tratados cada um destes personagens.
2 O produtor rural pessoa física
A alínea “a” do inciso V (descrito ao final do capítulo anterior) refere-se à
pessoa física que explora atividade agropecuária, mas que não se enquadra no
conceito de segurado especial[53]. Ela pode ter empregados e não há limite para o
tamanho da propriedade explorada.
Este segurado aufere renda decorrente da atividade rural e sobre esta renda
deve recolher contribuição à seguridade social.
3 O garimpeiro
Trata-se da pessoa física que explora atividade de extração mineral. A
exploração pode ser temporária ou permanente; o explorador pode contar com o
auxílio de empregados e pode, inclusive, nem trabalhar diretamente, mantendo
apenas prepostos para o representar no garimpo.
A atividade de garimpeiro lhe traz renda, sobre a qual ele deverá calcular e
recolher suas contribuições sociais.
4 O ministro de confissão religiosa
A redação legal é autoexplicativa: “o ministro de confissão religiosa e o
membro de instituto de vida consagrada, de congregação ou de ordem religiosa”.
Não há referência ou limitação a determinadas religiões: qualquer credo tem
seus líderes e, se estes são remunerados, são também contribuintes da seguridade
na condição de contribuintes individuais.
Com relação às contribuições destes, a Lei faz uma exceção:
Art. 22, § 13. Não se considera como remuneração direta ou indireta, para os
efeitos desta Lei, os valores despendidos pelas entidades religiosas e instituições
de ensino vocacional com ministro de confissão religiosa, membros de instituto de
vida consagrada, de congregação ou de ordem religiosa em face do seu mister
religioso ou para sua subsistência desde que fornecidos em condições que
independam da natureza e da quantidade do trabalho executado. (Incluído pela Lei
nº 10.170, de 2000).
§ 14. Para efeito de interpretação do § 13 deste artigo: (Incluído pela Lei nº
13.137, de 2015): I - os critérios informadores dos valores despendidos pelas
entidades religiosas e instituições de ensino vocacional aos ministros de confissão
religiosa, membros de vida consagrada, de congregação ou de ordem religiosa não
são taxativos e sim exemplificativos; (Incluído pela Lei nº 13.137, de 2015); II - os
valores despendidos, ainda que pagos de forma e montante diferenciados, em
pecúnia ou a título de ajuda de custo de moradia, transporte, formação
educacional, vinculados exclusivamente à atividade religiosa não configuram
remuneração direta ou indireta. (Incluído pela Lei nº 13.137, de 2015)
Em resumo, se o líder religioso não é remunerado por sua atividade
eclesiástica, mas recebe apenas ajuda de custo (seja para moradia, alimentação,
transporte, etc.), os valores recebidos não são considerados como remuneração.
Não sendo remunerado, ele também não é obrigado a contribuir com a
seguridade, deixando de ser classificado como contribuinte individual. Caso
queira contribuir, poderá fazê-lo, na condição de segurado facultativo[54].
5 O brasileiro que trabalha no exterior para organismo oficial internacional
O Brasil é membro de vários organismos oficiais internacionais, tais como
ONU, UNESCO, OIT, entre outras. Alguns destes organismos contam com
trabalhadores brasileiros em suas sedes fora do Brasil. A este trabalhador se
refere o presente capítulo, desde que seja domiciliado no país em que trabalha e
seja lá contratado.
Neste cenário há duas hipóteses: caso tenha sido contratado no Brasil e
transferido para o exterior, manterá a qualidade de empregado ante a previdência
social brasileira, porém, caso seja vinculado a regime próprio[55] de previdência,
também deixa de ser considerado contribuinte individual.
6 O empresário, o titular de empresa individual e o diretor de empresa
Há que se diferenciar o empresário de sua empresa. É muito comum o
empresário acreditar que ele e a empresa se confundem, mas isto não é verdade.
Empresa é a pessoa jurídica, que realiza negócios, contrata empregados, recolhe
tributos. O empresário é o proprietário ou sócio da empresa, podendo trabalhar
nela, inclusive gerindo o negócio, sendo remunerado por este trabalho. Nem
sempre o sócio trabalha na empresa; porém, quando trabalha, deve ser por ela
remunerado. Ou seja, a empresa remunera o empresário, e este, sobre tal
remuneração, deve recolher suas contribuições. Vale lembrar que, quando o
empresário é o único proprietário da empresa, ele continua tendo personalidade
jurídica separada de sua empresa – seja em uma empresa individual, ou em uma
sociedade unipessoal de advocacia.
A lei inclui neste mesmo conceito o diretor de cooperativa, associação ou
qualquer outro tipo de entidade, desde que remunerado, e o síndico eleito para
dirigir condomínio, desde que também receba por este trabalho. Vale lembrar
que a isenção de cota condominial do síndico representa remuneração. Logo,
sobre esta isenção deve haver contribuição à seguridade.
7 O autônomo
Trata-se da pessoa física que presta serviços de qualquer natureza, por
conta própria, à empresa ou outras pessoas físicas, sem relação de emprego.
A legislação previdenciária diz que esta prestação de serviços a empresas é
de caráter eventual; entretanto, a reforma trabalhista aprovada pela Lei nº
13.467/2017, esclarece que o autônomo pode prestar serviços de natureza
contínua à empresas, com ou sem exclusividade, ao introduzir na CLT o art. 442-
B, segundo o qual: “a contratação do autônomo, cumpridas por este todas as
formalidades legais, com ou sem exclusividade, de forma contínua ou não, afasta
a qualidade de empregado prevista no art. 3º desta Consolidação”.
É de extrema importância que este segurado tenha cuidado com suas
declarações de renda: a contribuição à seguridade incide sobre todo o
rendimento de seu trabalho.
8 As contribuições do contribuinte individual à seguridade social
É comum se ouvir a informação contribuição previdenciária, porém esta
expressão é errada: o correto é contribuição à seguridade social. Assim define o
artigo 195 da Constituição Federal, bem como a Lei de Custeio já referida neste
artigo. A única referência legal de contribuição previdenciária está na Lei
Complementar (LC) nº 123, ao tratar da contribuição da empresa, chamando-a
de “contribuição patronal previdenciária” (art. 13, VI).
Isto se dá pelo fato de que a Constituição Federal estabelece um único
orçamento para a seguridade (art. 165 e 195, § 2º), com receitas provenientes de
diversas fontes, como já referido na introdução deste trabalho.
Com relação ao contribuinte individual, a Constituição prevê:
Constituição Federal, Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a
sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos
provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, e das seguintes contribuições sociais: [...] II - do trabalhador e dos
demais segurados da previdência social, não incidindo contribuição sobre
aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de previdência social de que
trata o art. 201; (grifo do Autor)
Dentre os demais segurados citados estão os contribuintes individuais.
Até a publicação da Lei nº 10.666/2003, os segurados enquadrados como
contribuintes individuais eram responsáveis pelo recolhimento de suas
contribuições à seguridade. A partir da publicação desta Lei, passa-se a ter dois
grupos de contribuintes individuais: um, formado por aqueles que continuam
responsáveis pelo recolhimento de suas contribuições; outro, formado por
aqueles que sofrem retenção de tais contribuições na fonte, não sendo
responsáveis pelo recolhimento correspondente. A não responsabilidade decorre
do previsto no artigo 4ª da referida Lei:
Art. 4º. Fica a empresa obrigada a arrecadar a contribuição do segurado
contribuinte individual a seu serviço, descontando-a da respectiva remuneração, e
a recolher o valor arrecadado juntamente com a contribuição a seu cargo até o dia
20 (vinte) do mês seguinte ao da competência, ou até o dia útil imediatamente
anterior se não houver expediente bancário naquele dia.
§ 1º As cooperativas de trabalho arrecadarão a contribuição social dos seus
associados como contribuinte individual e recolherão o valor arrecadado até o dia
20 (vinte) do mês subsequente ao de competência a que se referir, ou até o dia útil
imediatamente anterior se não houver expediente bancário naquele dia.
§ 2º A cooperativa de trabalho e a pessoa jurídica são obrigadas a efetuar a
inscrição no Instituto Nacional do Seguro Social - INSS dos seus cooperados e
contratados, respectivamente, como contribuintes individuais, se ainda não
inscritos.
§ 3º O disposto neste artigo não se aplica ao contribuinte individual, quando
contratado por outro contribuinte individual equiparado a empresa ou por produtor
rural pessoa física ou por missão diplomática e repartição consular de carreira
estrangeiras, e nem ao brasileiro civil que trabalha no exterior para organismo
oficial internacional do qual o Brasil é membro efetivo.
Resumindo: quando o contribuinte individual presta serviços a uma
empresa, ou a uma cooperativa de trabalho, a entidade contratante deverá
descontar da remuneração devida ao segurado a sua contribuição, e recolhê-la
juntamente com as demais contribuições sobre folha de pagamento devidas pela
empresa. Na prática, a empresa ou cooperativa retém tal contribuição, informa-a
em sua Guia de Recolhimento do FGTS e Informações à Previdência Social
(GFIP), juntamente com os dados do contribuinte individual em questão, e
recolhe tais contribuições retidas ao lado das demais em guia Guia de
Recolhimento da Previdência Social (GPS)[56].
Os casos mais comuns aqui são: o empresário que recebe pró-labore (seja
em firma individual, em sociedade unipessoal ou em sociedade empresarial); o
prestador de serviços autônomo com contrato contínuo (bastante comum o
contador da empresa estar nesta situação); o autônomo eventual; o cooperado em
cooperativa de trabalho; o dirigente sindical que é remunerado pelo sindicato; o
ministro de confissão religiosa remunerado; o diretor de empresa nomeado; o
transportador autônomo que preste serviços a empresas.
Entretanto, quando trabalha por conta própria, prestando serviço a pessoas
físicas, ou a outros contribuintes individuais (ainda que equiparados a empresas),
ou a produtores rurais pessoas físicas, ou a missão diplomática, ou a repartição
consular estrangeira, ele é responsável pelo recolhimento de sua própria
contribuição. Deverá, portanto, preencher e recolher sua própria GPS mensal –
ou, em alguns casos excepcionais, trimestralmente. Enquadram-se aqui os
trabalhadores que prestam serviços diretamente a pessoas físicas, tais como a
costureira; o eletricista; o encanador; o jardineiro; também se enquadram nesta
categoria profissionais liberais que trabalhem apenas para pessoas físicas, a
exemplo de algumas classes de advogados; arquitetos; dentistas; psicólogos;
terapeutas, desde que prestem serviços diretamente a pessoas físicas.
Há ainda uma terceira situação, quando este contribuinte individual presta
serviço concomitantemente a pessoas físicas e jurídicas: em um exemplo, o
jardineiro que cuida do jardim de residências, mas também faz a jardinagem de
empresas, sem ter vínculo com nenhum dos contratantes de seus serviços.
Tais contribuições, em quaisquer casos, incidem sobre os respectivos
salários-de-contribuição, na forma do artigo 21 da Lei de Custeio. Por sua vez, o
artigo 28 da mesma Lei estabelece o salário de contribuição:
Art. 28. Entende-se por salário-de-contribuição: III - para o contribuinte
individual: a remuneração auferida em uma ou mais empresas ou pelo exercício de
sua atividade por conta própria, durante o mês, observado o limite máximo a que
se refere o § 5º;
Muitos contribuintes individuais ainda acreditam que podem recolher
contribuições sobre qualquer valor, mas o legislador foi claro: o recolhimento
deve ser apurado sobre “a remuneração auferida em uma ou mais empresas ou
pelo exercício de sua atividade por conta própria, durante o mês”, conforme
estabele o artigo supramencionado. Não resta discussão: soma-se a remuneração
auferida no mês e, sobre esta, calcula-se o tributo devido. Vale lembrar que tal
remuneração deve ser adstrita ao limite máximo do salário de contribuição
(popularmente conhecido como teto previdenciário).
9 Os valores das contribuições devidas pelos contribuintes individuais
A regra geral consta no art. 21 da Lei nº 8.212/91: “a alíquota de
contribuição dos segurados contribuinte individual e facultativo será de vinte por
cento sobre o respectivo salário-de-contribuição”. Portanto, a princípio, todo
contribuinte individual deve recolher 20% de sua remuneração aos cofres da
seguridade social. Entretanto, a mesma Lei estabelece algumas exceções, as
quais se vê a seguir.
A primeira exceção é o microempreendedor individual (MEI): ele
recolherá apenas 5% sobre um salário mínimo (art. 21, § 2º, II, a, Lei nº
8.212/91); porém, ao fazer tal recolhimento, estará abrindo mão do direito à
aposentadoria por tempo de contribuição[57]. Tal tributo é recolhido juntamente
com outros tributos devidos pelo MEI, por meio de um Documento de
Arrecadação do Simples Nacional (DAS). Importante lembrar que, neste caso, a
renda do MEI poderá ser superior a um salário mínimo[58], e recolher sobre um
salário mínimo não lhe acarretará qualquer problema tributário.
A segunda exceção é o autônomo não enquadrado como MEI, que não
preste serviços a pessoas jurídicas: este pode recolher apenas 11% de um salário
mínimo (art. 21, § 2º, I, Lei nº 8.212/91); todavia, a exemplo do MEI, também
estará abrindo mão do direito à aposentadoria por tempo de contribuição[59]. O
recolhimento deste tributo será feito por meio de GPS; se recolhimento mensal,
código 1163; se optar por recolhimento trimestral, código 1180. A Receita
Federal do Brasil entenderá que o contribuinte optou pelo recolhimento
trimestral. Ressalta-se que este segurado, a exemplo do MEI, poderá ter
rendimentos superiores a um salário mínimo, recolherá contribuições de 11%
sobre um salário mínimo, e isto não lhe acarretará qualquer problema tributário,
desde que utilize os códigos de recolhimento corretos. Caso este autônomo
decida prestar também serviços a empresas, o rendimento auferido nas empresas
vai se enquadrar no parágrafo seguinte.
A terceira exceção é o contribuinte individual que presta serviços a
empresas, sofrendo retenções na fonte (como visto na seção anterior). A
empresa, equiparada à empresa ou cooperativa, fará o pagamento da
remuneração contratada, já retendo desta a contribuição, que neste caso será de
11% sobre tal remuneração (devidamente limitada ao teto, como já visto
anteriormente). Esta exceção está prevista na inteligência do § 4º do art. 30 da
Lei de Custeio:
Art. 30, § 4º Na hipótese de o contribuinte individual prestar serviço a uma ou
mais empresas, poderá deduzir, da sua contribuição mensal, quarenta e cinco por
cento da contribuição da empresa, efetivamente recolhida ou declarada, incidente
sobre a remuneração que esta lhe tenha pago ou creditado, limitada a dedução a
nove por cento do respectivo salário-de-contribuição.
A redação é bem confusa, mas ao final o que ela prevê é que a retenção
será de apenas 11% sobre o salário de contribuição do segurado. Ressalta-se,
novamente, que este segurado não é obrigado a recolher sua contribuição: esta é
retida pela empresa contratante, e o contratante terá a responsabilidade de
repassar tais valores aos cofres da Seguridade Social.
Caso o contribuinte individual tenha, em um mesmo mês, prestado serviço
não só a pessoas físicas, como também a pessoas jurídicas, estas últimas farão as
retenções sobre os valores pagos, e o segurado deverá contribuir sobre o
rendimento auferido junto a pessoas físicas, limitando a remuneração total ao
teto previdenciário. Em um exemplo, considerando que tal limite máximo para o
ano de 2018 é de R$ 5.645,80, o segurado prestou serviços a uma empresa no
valor total de R$ 3.000,00; prestou também serviços a pessoas físicas que
somaram R$ 4.000,00; sua remuneração mensal foi de R$ 7.000,00. A empresa
reterá 11% dos R$ 3.000,00 que lhe pagou (R$ 3.000,00 x 11% = R$ 330,00);
ele, por sua vez, deverá contribuir por sua própria conta sobre a remuneração
restante, limitada ao teto. Sabendo que a remuneração total foi superior ao
referido limite (R$ 7.000,00 é superior ao teto de R$ 5.645,80), sua contribuição
pessoal será de 20% sobre o salário-de-contribuição de R$ 2.645,80 (R$
5.645,80 – R$ 3.000,00 já tributados pela empresa); recolherá, portanto, uma
GPS no valor de R$ 529,16 (R$ 2.645,80 x 20%).
10 Reconhecimento de tempo de contribuição do contribuinte individual
Na ânsia de obter benefício previdenciário, muitos cidadãos contribuem na
condição de contribuinte individual, alegando serem trabalhadores autônomos,
sem exercer atividade autônoma remunerada. Exemplo típico é o trabalhador
empregado que quer complementar suas contribuições, para ter uma
aposentadoria em valor mais vantajoso. Entretanto, isto não é possível – salvo se
ele realmente exercer outra atividade autônoma remunerada. Caso exerça, deverá
comprovar tal atividade ao INSS quando for requerer benefício previdenciário,
como se vê a seguir.
O Regulamento da Previdência Social prevê que o simples exercício de
atividade remunerada já configura filiação do contribuinte à previdência social:
Art. 20, § 1º A filiação à previdência social decorre automaticamente do exercício
de atividade remunerada para os segurados obrigatórios, observado o disposto no §
2º, e da inscrição formalizada com o pagamento da primeira contribuição para o
segurado facultativo.
Portanto, uma vez tendo prestado serviço, o contribuinte individual já
poderá se considerar inscrito no sistema, ainda que não recolha a contribuição
correspondente no tempo correto. Entretanto, o não recolhimento acarretará no
não reconhecimento deste tempo de serviço para fins de carência (tempo mínimo
de contribuição exigido para a obtenção de determinados benefícios
previdenciários). A carência só se considerará cumprida a partir do primeiro
pagamento de contribuição sem atraso (art. 27, II, Lei nº 8.213/91).
Ainda que o contribuinte individual tenha, durante todo o seu período
laboral, efetuado todas as contribuições corretamente, o Instituto poderá exigir
comprovação de atividades no momento de um requerimento de benefício:
Art. 18, § 6º A comprovação dos dados pessoais e de outros elementos necessários
e úteis à caracterização do segurado poderá ser exigida quando da concessão do
benefício.
Significa dizer que não basta ao segurado contribuir, ele precisa também
comprovar o exercício da atividade. Esta comprovação pode ser feita por meio
de documentos. A Instrução Normativa INSS/PRES nº 77, de 21.01.2015, traz,
em seu art. 32, formas de se comprovar a atividade como contribuinte individual:
• Inscrição em conselho de classe, para os profissionais liberais que exijam
tais inscrições (OAB, CRC, CRM, CREA, entre outros);
• Para o motorista, carteira de habilitação, certificado de propriedade ou
copropriedade do veículo, contrato de arrendamento ou cessão do veículo,
certidão do DETRAN ou outros documentos que comprovem a atividade;
• Para o ministro de confissão religiosa, o ato equivalente de emissão de
votos ou compromissos;
• O médico residente comprovará com o contrato de residência médica ou
declaração fornecida pela instituição de saúde responsável pelo programa;
• O titular de firma individual deverá apresentar documento registrado em
órgão oficial que comprove o início e, se for o caso, a baixa do registro;
• Para os empresários, contratos sociais, alterações destes ou documentos
equivalentes emitidos por órgãos oficiais;
• Para o autônomo que tenha prestado serviço a empresas, recibo com os
dados da empresa contratante dos serviços, contendo a razão ou
denominação social, o CNPJ da empresa contratante, a retenção da
contribuição efetuada, o valor da remuneração percebida, valor retido e a
identificação do filiado;
• O MEI comprovará por meio de Certidão própria, emitida pelo Portal do
Empreendedor – www.portaldoempreendedor.gov.br;
• Para o diretor de cooperativa, associação ou qualquer outra entidade, e
para o síndico eleito para direção de condomínio, estatuto da entidade e ata
de eleição ou nomeação, registrada em cartório;
• Para os autônomos em geral, inscrição na prefeitura (com os comprovantes
de recolhimento de ISS), declaração de imposto de renda ou outros
comprovantes do exercício da atividade.
As comprovações acima poderão ser exigidas e utilizadas em dois
momentos distintos, a saber: no momento do requerimento de benefício, ou no
pedido de recolhimentos em atraso, tema da próxima seção.
11 O pagamento de contribuições em atraso
Sempre que o contribuinte individual presta serviço e não efetua o
recolhimento da contribuição correspondente, será considerado inadimplente; a
falta de contribuições terá consequências negativas na concessão de benefícios
previdenciários. Nos casos em que a contribuição deveria ter sido retida e
recolhida pela empresa, muda apenas a responsabilidade do recolhimento, que é
do contratante dos serviços. Se a empresa não recolheu e também não informou
tal prestação na GFIP, as consequências aos benefícios serão igualmente
desastrosas.
Desde abril de 2003, o contribuinte individual que preste serviços a
empresas sofre retenção das contribuições correspondentes diretamente em sua
remuneração; logo, não é responsável pelo recolhimento das contribuições,
sendo esta responsabilidade da empresa que contratou os seus serviços. Esta
regra vale tanto para aqueles que prestaram serviços esporádicos quanto para os
que prestaram ou prestam serviços contínuos. O mesmo se aplica, igualmente, ao
sócio da empresa que seja remunerado com o pagamento de pró-labore. Cabe,
nestes casos, à empresa não só reter e recolher a contribuição, como
principalmente fazer tal informação em GFIP. Quando a prestação de serviços é
informada na GFIP, o Instituto a tem como verdadeira, não exigindo provas de
atividade ou recolhimento do segurado. Caso a empresa não tenha prestado tal
informação, o segurado deverá procurá-la requerendo que refaça a GFIP da
competência correspondente, incluindo nela a informação do serviço prestado,
no mês em que tal prestação aconteceu. A previdência poderá, ainda assim,
requerer que o segurado comprove, por outros meios, a prestação de tal serviço.
Não sendo responsabilidade da empresa, o contribuinte individual é o
responsável por recolher suas contribuições no prazo legal. Se não o fez, está em
débito com a Fazenda Pública, podendo sofrer as sanções tributárias decorrentes
deste ato, com os correspondentes reflexos no direito aos benefícios
previdenciários. De acordo com o Código Tributário Nacional, a prescrição para
cobrança de tributos é de cinco anos. Logo, estando em atraso dentro deste
período, o contribuinte individual poderá, espontaneamente, recolher seu tributo
em atraso – ou ser intimado pela Receita Federal do Brasil a fazê-lo. Em uma ou
outra situação, o tributo será recolhido com todos os encargos legais decorrentes
do atraso.
Quando tais contribuições já estão prescritas, a Fazenda não pode mais
efetuar a cobrança; de outro norte, o segurado também não poderá contar aquele
período para requerer benefícios previdenciários, afinal o sistema tem caráter
contributivo (art. 201, CF). O segurado, entretanto, pode recolher tais
contribuições prescritas. Para tanto, a Lei de Custeio prevê regra específica:
Art. 45-A. O contribuinte individual que pretenda contar como tempo de
contribuição, para fins de obtenção de benefício no Regime Geral de Previdência
Social ou de contagem recíproca do tempo de contribuição, período de atividade
remunerada alcançada pela decadência deverá indenizar o INSS.
§ 1º O valor da indenização a que se refere o caput deste artigo e o § 1º do art. 55
da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, corresponderá a 20% (vinte por cento): I –
da média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição, reajustados,
correspondentes a 80% (oitenta por cento) de todo o período contributivo
decorrido desde a competência julho de 1994; ou [...]
§ 2º Sobre os valores apurados na forma do § 1º deste artigo incidirão juros
moratórios de 0,5% (cinco décimos por cento) ao mês, capitalizados anualmente,
limitados ao percentual máximo de 50% (cinqüenta por cento), e multa de 10%
(dez por cento).
§ 3º O disposto no § 1º deste artigo não se aplica aos casos de contribuições em
atraso não alcançadas pela decadência do direito de a Previdência constituir o
respectivo crédito, obedecendo-se, em relação a elas, as disposições aplicadas às
empresas em geral.
Na prática, o segurado nestas condições deverá procurar uma agência do
INSS, informando que deseja indenizar contribuições prescritas. O Instituto,
então, pedirá ao segurado que apresente documentos que comprovem o exercício
de atividade remunerada no período que deseja indenizar. Comprovada a
atividade, o próprio instituto fará o cálculo previsto no § 1º, acima, com os
acréscimos previstos no § 2º, e entregará ao segurado a guia de recolhimento
correspondente, para que este recolha o tributo apurado e, então, tal período
passe a ser considerado para fins de concessão de benefício previdenciário. Caso
o segurado não faça o recolhimento da guia, tal período não será considerado
para a obtenção de benefício; entretanto, a Fazenda Pública também não poderá
exigir tal recolhimento, mesmo o segurado tendo comprovado atividade, pelo
fato da cobrança do referido tributo estar prescrita.
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de 1o de maio de 1943, da Lei no 10.189, de 14 de fevereiro de 2001, da Lei
Complementar no 63, de 11 de janeiro de 1990; e revoga as Leis no 9.317, de 5
de dezembro de 1996, e 9.841, de 5 de outubro de 1999. Documento eletrônico
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BRASIL, Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de
Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. Documento
eletrônico disponível em:
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BRASIL, Lei nº 9.876/99, de 26 de novembro de 1999. Dispõe sobre a
contribuição previdenciária do contribuinte individual, o cálculo do benefício,
altera dispositivos das Leis nos 8.212 e 8.213, ambas de 24 de julho de 1991, e
dá outras providências. Documento eletrônico disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9876.htm>. Acesso em: 30 de junho
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BRASIL, Lei nº 13.467, de 13 de julho de 2017. Altera a Consolidação das Leis
do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943,
e as Leis nos 6.019, de 3 de janeiro de 1974, 8.036, de 11 de maio de 1990, e
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trabalho. Documento eletrônico disponível em:
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Acesso em: 30 de junho de 2018.
PASSOS, Fábio Luiz dos. Previdência Social e Sociedade Pós-Industrial.
Curitiba: Juruá, 2013.
CAPÍTULO 6
EFICÁCIA DOS MEIOS DE PROVA NA
APOSENTADORIA ESPECIAL
PEDRO PANNUTI
Advogado, Pós-Graduado em Direito Previdenciário e Processual Previdenciário
na PUC/PR. Graduado pela UFPR. E-mail: ppannuti@gmail.com.
Introdução
Em sua gênese, a aposentadoria especial poderia parecer esbarrar na norma
constitucional de vedação da adoção de critérios diferenciados para a concessão
de aposentadoria. É a própria exceção constitucional, contudo, que a garante. As
atividades sob condições que prejudiquem a saúde ou integridade física geram
uma proteção ao trabalhador que as exerce, tanto pelo âmbito das relações de
emprego – adicional de remuneração, art. 7º, XXIII da Constituição Federal –
quanto pelo direito previdenciário – art. 201, § 1º da CF.
O sistema constitucional se estrutura atribuindo peso diferenciado às
atividades ofensivas ao trabalhador. Os direitos sociais enfatizam a proteção do
trabalhador a partir da potencialidade lesiva das atividades por ele
desempenhada, seja pela insalubridade, penosidade ou periculosidade[60].
Também pelo vértice constitucional é possível compreender a simples
previsão da aposentadoria especial como uma contradição. A jubilação
antecipada do segurado, submetido à condição efetivamente insalubre, mostra-se
como instrumento legitimador da violência frente à saúde do trabalhador,
esbarrando num ordenamento jurídico construído a partir do axioma da
dignidade da pessoa humana[61].
É dizer, num contexto de ampliação da expectativa de vida e de melhoria
no meio-ambiente laboral, a mera existência de atividades nocivas enseja uma
política de ações em saúde ocupacional para a sua eliminação. Sendo inegável,
porém, a existência de ambientes de trabalho insalubres, bem como incipientes
às formas de prevenção de nocividade, a Previdência Social apresenta
compensações legais a estes trabalhadores na figura da aposentadoria especial.
Trata-se da efetivação das normas constitucionais previdenciárias voltadas
à suficiência da proteção, que “consubstancia pressuposto fundamental de um
sistema de segurança social realmente comprometido com os valores que se
encontram nos alicerces de sua constituição”[62].
O último boletim estatístico da Previdência Social, divulgado com
referência ao mês de janeiro de 2018[63], apresenta os números de concessão de
aposentadorias, indicando que foram concedidos 90.380 benefícios no período
da competência, dos quais apenas 1.379 correspondem ao código B46:
aposentadoria por tempo de contribuição especial.
À primeira vista, não seria despropositado aventar a pouca expressão dos
benefícios concedidos a partir do reconhecimento exclusivo de tempo de
contribuição exercido com exposição aos agentes nocivos. Entretanto, são
incontáveis os casos em que há conversão do período especial em comum,
permitindo a concessão antecipada – ou de forma mais vantajosa – de outras
espécies de aposentadoria, nomeadamente por idade e por tempo de
contribuição.
É extremamente comum que o segurado ou a segurada tenha, durante
determinado período de seu histórico laboral-contributivo, exercido atividades
insalubres, perigosas ou penosas, sem reunir os requisitos para a aposentadoria.
O segurado obrigatório que tenha apenas um duradouro vínculo de emprego
merece detalhada análise do seu caso. É plenamente possível que alguns de seus
cargos ou funções ensejem o reconhecimento de especialidade do período.
Mesmo o empregado que tenha exercido exatamente a mesma função pode
ter direito à conversão de apenas uma parte dos períodos de trabalho. A título de
exemplo, duas situações: eventual alteração de layout do ambiente laboral –
mediante adoção de equipamentos coletivos de proteção ou modernização de
maquinário – pode retirar a nocividade antes existente; ademais, alteração
legislativa – que modifica o limite de decibéis para o reconhecimento da
nocividade física do ruído – é capaz de permitir ou negar o enquadramento de
determinada atividade no conceito de especial.
O breve retrato é apenas a demonstração do amplo terreno de discussão
envolvendo a especialidade do tempo de contribuição do segurado, que não raro
esbarra na dificuldade em comprovar as condições particulares de execução das
atividades do segurado.
Por conta dos diversos preceitos particulares à matéria; da miríade de
alterações legislativas promovidas; da solidificação de entendimentos
jurisprudenciais e da necessidade de se avaliar a exposição a agentes nocivos a
partir de conceitos mais frequentes na engenharia e medicina do trabalho e no
direito laboral, a aposentadoria especial se apresenta como um dos temas mais
complexos do direito previdenciário.
É justamente esse fato que legitima o corte metodológico proposto, o qual
necessariamente deve considerar que, quanto às aposentadorias especiais, a
necessidade alimentar pode vir acompanhada de um histórico laboral penoso,
capaz de desenvolver no segurado a sensação de diminuição e estigma.
Daí porque a tutela previdenciária revela a necessidade da correta
adequação da legislação aplicável às aposentadorias especiais, além da
capacitação e conhecimento dos sujeitos envolvidos, desde aos responsáveis
pelos registros ambientais de uma empresa até o servidor autárquico que
promove sua interpretação.
Tratando das características e os principais conceitos que permeiam a
aposentadoria especial, o estudo avança para a análise daquilo que se considera
ser digno de nota para uma análise do direito à especialidade dos períodos
trabalhados pelo segurado desde o momento anterior ao efetivo requerimento da
aposentadoria. É seguro afirmar que não há reconhecimento de tempo especial
sem a correspondente documentação, indicando o enquadramento das funções ou
a efetiva exposição do segurado aos agentes nocivos.
Com este objetivo definido, expõe-se ponto a ponto a previsão legal, para
então apresentar o entendimento jurisprudencial que a interpreta, tudo com o
intuito de demonstrar a teoria e a prática da aposentadoria especial, com
destaque para o fundamental papel do advogado na composição da solução mais
justa e adequada ao caso concreto.
1 Traços característicos da aposentadoria especial
Já foi exposto que o sistema constitucional de Seguridade Social é
concebido para prover uma série de prestações estatais com vistas a atender as
situações de necessidade enfrentadas pelos segurados.
Neste sistema previdenciário, reconhecido por estar estruturado sobre
fortes raízes orgânicas e de laços de solidariedade, eventual risco social existente
extrapola os limites subjetivos do indivíduo e devem ser prevenidos
considerando o conjunto social.
Referidos riscos sociais são eleitos pela Constituição e estão expostos, no
concernente à Previdência Social, no art. 201 e incisos, sem que se trate de rol
exaustivo, sendo possível ampliação da cobertura caso a evolução social o exija.
Há uma prestação previdenciária específica para cada risco social coberto,
estabelecendo os contornos gerais de organização da previdência social – a ser
regulamentada por lei competente – materializando assim uma série de
instrumentos hábeis, a garantir a manutenção da existência digna dos segurados.
É importante, todavia, estabelecer que o ponto de partida deste trabalho será o
art. 201, I e § 1º da CF.
Por brevidade, a discussão não se cingirá a minuciar todos os requisitos
para a concessão da aposentadoria, tampouco sua forma de cálculo – mormente
porquanto, por expressa disposição do art. 57, 1º da Lei nº 8.213/91, a renda
mensal inicial da aposentadoria especial corresponde a cem por cento do salário
de benefício.
Dito isso, vale ressaltar que a aposentadoria especial será devida ao
segurado que tiver trabalhado sujeito a condições especiais que prejudiquem a
saúde ou a integridade física durante quinze, vinte ou vinte e cinco anos, nos
termos da lei.
A verificação das condições especiais de trabalho que prejudicam a saúde
ou a integridade física do trabalhador, está preconizada pelo caput do indigitado
artigo.
Nesse passo, até a edição da Lei nº 9.032/95, para fins de reconhecimento
da especialidade da atividade desenvolvida pelo segurado, o tempo de serviço
especial poderia ser comprovado simplesmente com base na atividade
profissional do trabalhador ou então diante da submissão a alguns agentes
nocivos.
O enquadramento de atividade especial com base na categorial profissional
do segurado deixou de existir com a vigência da mencionada lei, que instituiu a
exigência de efetiva sujeição aos agentes nocivos, por meio de formulários (SB-
40 e DSS-8030) ou laudo técnico. A matéria obteve seus contornos definitivos
com o advento do Decreto nº 2.172/97, que tornou obrigatória a apresentação de
laudo técnico pericial para a comprovação da atividade especial.
Sintetizando a evolução legislativa afeita ao tema, cita-se precedente do
Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4):
PREVIDENCIÁRIO. ATIVIDADE ESPECIAL. CONVERSÃO. LEI Nº 9.711/98.
DECRETO Nº 3.048/99. CONCESSÃO DE APOSENTADORIA POR TEMPO
DE SERVIÇO/ CONTRIBUIÇÃO. (...) 2. Até 28/04/1995 é admissível o
reconhecimento da especialidade por categoria profissional ou por sujeição a
agentes nocivos, aceitando-se qualquer meio de prova (exceto para ruído); a partir
de 29-04-1995 não mais é possível o enquadramento por categoria profissional,
devendo existir comprovação da sujeição a agentes nocivos por qualquer meio de
prova até 05-03-1997 e, a partir de então, por meio de formulário embasado em
laudo técnico, ou por meio de perícia técnica. 3. Comprovado o exercício de
atividades sob condições especiais, as quais devem ser convertidas pelo fator 1,40,
somadas aos intervalos já reconhecidos na órbita administrativa pelo INSS,
assegura-se à parte autora o direito à concessão do benefício de aposentadoria por
tempo de serviço/contribuição integral, conforme opção mais vantajosa, a contar
da data do requerimento administrativo.[64]
Mas não se trata apenas de avaliar a existência de insalubridade. O agente
nocivo periculosidade corresponde à iminência do risco que o trabalhador pode
sofrer de forma violenta, prejudicando sua integridade física.
Considerando a incidência da legislação trabalhista em matéria
previdenciária, por força da redação do art. 58, § 1º da Lei nº 8.213/91, dada pela
Lei nº 9.732/98, tem-se que a periculosidade é regida pelo art. 193 da
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), regulamentado pelas Normas
Regulamentadoras (NR) nº 10 e 16 do Ministério do Trabalho e Emprego.
A NR nº10 estabelece os requisitos e condições mínimas das operações
envolvendo periculosidade, a objetivar a implementação de medidas de controle
e prevenção para garantir a segurança dos trabalhadores lotados em operações
que, por sua natureza, impliquem risco acentuado em virtude de exposição
permanente a inflamáveis e explosivos.
Neste sentido, convém colacionar recente precedente do E. TRF4.
Quanto à periculosidade, a jurisprudência assegurou a possibilidade de se
reconhecer a especialidade de atividades que sujeitam o trabalhador a condições
consideradas perigosas, como ocorre, consoante já referido, com o eletricitário e
com o vigilante que exerce as suas funções munido de arma de fogo. (...) Em
suma: (1) a Constituição da República valoriza especialmente o trabalho insalubre,
o penoso e o perigoso; (2) a valorização do trabalho insalubre está assentada pela
legislação e pela jurisprudência mediante parâmetros probatórios estabelecidos
(inicialmente, enquadramento profissional, depois, perícia); (3) a valorização do
trabalho perigoso, por sua vez, faz-se mediante a identificação jurisprudencial de
determinadas condições de trabalho (por exemplo, casos do eletricitário e do
vigilante armado); (4) a valorização do trabalho penoso, por sua vez, não só não
pode ser ignorada, como deve dar-se mediante o reconhecimento de determinadas
condições, procedimento já sedimentado quanto ao trabalho perigoso.[65]
Eis o embasamento legal a permitir que se reconheça a periculosidade
como elemento caracterizador de especialidade laboral, demonstrado o exercício
de atividade profissional em locais em que a rotina de trabalho impõe a sujeição
a risco potencial de acidente.
A jurisprudência é madura nesse sentido, principalmente desde que a
Turma Nacional de Uniformização da Jurisprudência dos Juizados Especiais
Federais (TNU) passou a reconhecer que a decisão do Superior Tribunal de
Justiça (STJ) no REsp 1.306.113, na verdade, prestou-se a reconhecer que a nova
redação do art. 57 da Lei nº 8.213/91 não limitou a considerar como tempo de
serviço especial apenas aqueles que fossem previstos em lei ou regulamento,
mas sim todos aqueles resultantes da ação de agentes nocivos ou associação de
agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física.
A partir daí, fixou a tese de que é possível o reconhecimento de tempo
especial prestado com exposição à agente nocivo perigoso em data posterior a
05/03/1997, desde que laudo técnico - ou elemento material equivalente –
comprove a permanente exposição à atividade nociva, independentemente de
previsão em legislação específica.
PREVIDENCIÁRIO. REVISÃO DE BENEFÍCIO. APOSENTADORIA.
AVERBAÇÃO DE TEMPO ESPECIAL. RECLAMATÓRIA TRABALHISTA.
PROVA PLENA. EXPOSIÇÃO AO AGENTE NOCIVO BIOLÓGICO. ÁREA
DE RISCO. INSALUBRIDADE E PERICULOSIDADE. EXPOSIÇÃO
INTERMITENTE. CONVERSÃO DE TEMPO ESPECIAL EM COMUM.
CABIMENTO. (...) 5. Durante a parcela de tempo em que o segurado realizava
funções administrativas, restou comprovada a periculosidade, pois o prédio em que
desempenhava as atividades era local de armazenamento de combustíveis
inflamáveis, estando evidenciado o risco de explosão.[66]
Expostos en passant os traços característicos da aposentadoria especial,
mostra-se oportuno tratar de temas espinhosos, a exemplo dos efeitos do direito
intertemporal no reconhecimento de tempo e concessão de aposentadoria
especial.
2 Aposentadoria especial e o direito intertemporal
A seção anterior dedicou-se a expor brevemente às exigências específicas
para a concessão da aposentadoria especial, entretanto, a hipótese deste artigo
está sustentada na premissa de que o óbice mais complexo do segurado se refere
ao regime probatório.
Da difundida lição de que não existe direito adquirido a regime jurídico,
derivada do julgamento da ADI 3104 pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em
2007[67], e desde muito, com a edição de sua Súmula nº 359 sobressaem uma
série de discussões. Quiçá a mais relevante seja o direito adquirido à contagem
diferenciada do tempo de contribuição para a aposentadoria especial.
Se por um lado não é possível defender que o segurado filiado ao Regime
Geral de Previdência Social antes da vigência da Lei nº 9.093/95 tenha direito
indiscriminado à qualificação do tempo por enquadramento profissional após sua
edição, é extremamente relevante definir qual a lei aplicável para qualificar o
tempo de serviço prestado. Esse ônus não é limitado pelo princípio do tempus
regit actum, segundo o qual o direito adquirido ao benefício previdenciário
exsurge tão somente com a reunião dos requisitos para a sua concessão de
acordo com a lei em vigor.
Ao contrário, o mesmo entendimento se aplica por similitude, no sentido
de garantir que a análise do tempo de contribuição também deve ser disciplinada
pela lei vigente à época em que efetivamente foi prestado, de modo a integrar o
patrimônio jurídico do segurado como direito autônomo[68]. Isso é, a cada dia de
trabalho, o segurado incorpora o direito de qualificar o tempo de contribuição
por conta das condições especiais em que foi prestado.
Como corolário disso, a comprovação do exercício de determinada
atividade também segue a sorte do princípio tempus regit actum, ainda que se
mostre menos benéfica ao segurado. Isso porque a jurisprudência pátria também
pacificou a irretroatividade da norma mais protetora, apesar dos protestos da
melhor doutrina.
Em tema de aposentadoria especial, mercê de sua função protetiva da saúde do
trabalhador, deve ser aplicada retroativamente a legislação que reconhece
determinada atividade como especial, ainda que não faça referência ao passado de
maneira expressa. Se uma nova disciplina da matéria passa a reconhecer que o
trabalho em determinadas condições ambientais provavelmente compromete a
saúde do trabalhador, inexiste razão para que não reconheça sua eficácia para o
passado, de modo a fazer a norma protetora cumprir sua finalidade.[69]
O caráter absoluto do princípio foi estampado em paradigmático julgado
quanto à sucessão de normas tratando do limite máximo de decibéis para a
caracterização do agente nocivo ruído. A TNU apreciou a matéria inicialmente,
editando a Súmula nº 32, segundo a qual, em sua redação original:
O tempo de trabalho laborado com exposição a ruído é considerado especial, para
fins de conversão em comum, nos seguintes níveis: superior a 80 decibéis, na
vigência do Decreto n. 53.831/64; superior a 90 decibéis, a partir de 5 de março de
1997, na vigência do Decreto 2.172/97; superior a 85 decibéis, a partir da edição
do Decreto n. 4.882, de 18 de novembro de 2003.[70]
Em seguida, por algum tempo a Súmula foi reformulada para aceitar a
retroação da norma mais protetora ao segurado, quando constou:
O tempo de trabalho laborado com exposição a ruído é considerado especial, para
fins de conversão em comum, nos seguintes níveis: superior a 80 decibéis, na
vigência do Decreto n. 53.831/64 e, a contar de 5 de março de 1997, superior a 85
decibéis, por força da edição do Decreto n. 4.882, de 18 de novembro de 2003,
quando a Administração Pública reconheceu e declarou a nocividade à saúde de tal
índice de ruído.
Nessa oportunidade, entendeu-se que o Decreto de 2003 haveria de ser
aplicado retroativamente, por explorar dados científicos mais recentes para a
diminuição do limite de 90dB desde a vigência do Decreto nº 2.172/97, que
havia aumentado o limite anterior de 80dB.
Ocorre que o STJ consolidou sua jurisprudência de acordo com a redação
original da Súmula, o que fez a partir da Pet 9.059/RS julgada em 28/08/2013,
estabelecendo que a atividade especial é caracterizada pela lei vigente ao tempo
da contribuição, não comportando exceções.
A título de conclusão deste tópico, cumpre ressaltar, ainda que de alguma
forma se antecipe o conteúdo da seção a seguir, a eficácia plena da prova de
exposição ao ruído, impossível de ser elidida pela comprovação do fornecimento
e utilização de equipamentos de proteção individual.
Após longa discussão sobre a eficácia dos equipamentos de proteção
individual, a possibilidade de anulação de insalubridade e ruído foi recentemente
pacificada. Há, especificamente em relação ao agente ruído, uma série de
estudos técnicos que sustentam que os equipamentos de proteção individual
(EPI) são ineficazes para a eliminação ou a neutralização da nocividade da
exposição do trabalhador a ruído para além dos limites de tolerância.
A eficácia dos EPI aos trabalhadores expostos a ruídos acima dos limites
legais difere da análise das demais insalubridades porque as condições ótimas de
utilização do EPI auricular são mensuradas em laboratório, ambiente no qual é
impossível considerar as variáveis de campo. Esse mesmo motivo fez o plenário
do STF desconstituir a presunção de eficácia do EPI pela observância de
parâmetros internacionais e pela sua simples certificação do Ministério do
Trabalho.
O STF negou provimento ao Recurso Extraordinário nº 664.335/SC,
naquela oportunidade, foi consignado que:
Ainda que se pudesse aceitar que o problema causado pela exposição ao ruído
relacionasse apenas à perda das funções auditivas, o que indubitavelmente não é o
caso, é certo que não se pode garantir uma eficácia real na eliminação dos efeitos
do agente nocivo ruído com a simples utilização de EPI, pois são inúmeros os
fatores que influenciam na sua efetividade, dentro dos quais muitos são
impassíveis de um controle efetivo, tanto pelas empresas, quanto pelos
trabalhadores.[71]
Assim, assentou-se a tese, segundo a qual, na hipótese de exposição do
trabalhador a ruído acima dos limites legais de tolerância, a declaração do
empregador de eficácia do EPI, no âmbito do PPP, não descaracteriza o tempo de
serviço especial para a aposentadoria.
3 Eficácia da prova
A este ponto já se tratou das balizas gerais da aposentadoria especial, bem
como sua relação com o direito intertemporal. É tempo de adentrar o tema
específico deste trabalho, primeiramente delineando as normas aplicáveis ao
âmbito administrativo da tutela previdenciária, expondo, de passagem, o calvário
que o regular processamento dos requerimentos pode enfrentar.
O grande desafio jurisdicional, mas também da defesa de interesses
perante a Administração Pública, sempre foi a habilitação do devido processo
legal em sua plenitude. Trata-se de princípio fundamental do processo civil,
previsto no art. 5º, LIV da CF, como base no qual os demais princípios se
sustentam, ou seja, gênero donde decorrem todas as espécies de garantias
processuais consequentes[72].
Não se olvida que a duração razoável do processo, compreendendo a busca
pela prestação da tutela jurisdicional de forma tempestiva, é norma do direito
constitucional processual[73]. A ideia de celeridade foi alçada a novo status no
sistema processual pela Emenda Constitucional (EC) nº 45/2004, incluindo-a no
rol de direitos e garantias fundamentais. Entretanto, na mesma medida que os
demais princípios processuais, sustenta-se no princípio do devido processo legal
e, bem por isso, não pode contrariá-lo.
Debate dos mais complexos, contudo, compreende o embate entre a
celeridade processual e os princípios e normas inerentes ao processo
administrativo. Veja-se a lição de José Antonio Savaris:
No processo administrativo previdenciário, se descontente com a prova pelo
requerente inicialmente apresentada, a entidade previdenciária tem o dever – não
apenas moral, mas igualmente jurídico – de instaurar processo de justificação
administrativa, de realizar diligências (observado contraditório) para investigar a
veracidade das informações, tem, enfim, o poder-dever de julgar-lhe a sorte de
acordo com os elementos de prova apresentados ou solicitados inicialmente. [74]
Isto é, a autarquia previdenciária – em que pese a sua publicizada
dificuldade com déficit estrutural e de pessoal, bem como necessidade de dar
andamentos às centenas de milhares de requerimentos mensais – não pode
restringir e prejudicar os segurados na obtenção de seus direitos por falta de
informação suficiente ao segurado, resultando no indeferimento ou na concessão
de benefícios que não revelam a real garantia legal do contribuinte.
Eis o dever de orientação, mitigando a formalidade absoluta do processo
administrativo. A administração pública deve orientar o segurado quanto a
eventuais falhas no seu requerimento, por força do art. 6º, parágrafo único da Lei
nº 9.784/99, além de prestar todos os esclarecimentos necessários para o
exercício de seus direitos, tais como documentação indispensável ao
requerimento administrativo[75]. Essa concepção deve estar permanentemente
presente ao se analisar a eficácia dos meios de prova na aposentadoria especial.
Não é apenas no âmbito administrativo, contudo, que se encontram
problemas para a efetivação dos direitos fundamentais previdenciários. Como
cediço, o tema proposto neste estudo enseja a análise da jurisprudência também
como meio garantidor da eficácia dos meios de prova na aposentadoria especial.
Ocorre que a própria fonte de direito em questão é alvo de críticas da doutrina
especializada.
Desde muito se discute a dificuldade da instituição de uma cultura de
respeito aos precedentes no direito pátrio. Ressalvada o embate de longa data
sobre a caracterização da jurisdição brasileira como um regime híbrido de
common law e civil law, ainda que com predominância deste, é praticamente
incontroversa a importância da estabilidade e adaptabilidade do direito[76].
O direito previdenciário, naturalmente, não escapa deste dilema,
merecendo destaque a lição da doutrina, ainda que específica ao microssistema
dos Juizados Especiais Federais:
Os incidentes de uniformização não se prestam apenas a fixar uma premissa de
direito para um único processo, mas visam a pacificação e a estabilização da
jurisprudência, servindo de fundamento para as decisões futuras a serem proferidas
em casos análogos e, até mesmo, para a modificação de decisões já proferidas,
contra as quais tenham sido interpostos incidentes de uniformização. (...)
No entanto, para que este efeito externo realmente seja sentido e implique maior
segurança jurídica, concretização do princípio da igualdade e celeridade
processual, é necessário que as instâncias uniformizadoras realmente exerçam seu
mister de estabilizar a jurisprudência.
Na prática, o que se tem testemunhado em inúmeras situações é uma oscilação de
jurisprudência dos colegiados uniformizadores que, ao invés de proporcionar
maior segurança jurídica, assegurar a aplicação do princípio da igualdade e a
agilização dos feitos, levam a um estado de insegurança que apenas fomenta o
manejo desnecessário e reiterados dos incidentes.[77]
Exemplo disso é a já exposta alteração de entendimento quanto aos limites
de ruído.
3.1 Enquadramento profissional e presunção da exposição
A partir do entendimento de que a caracterização do tempo de serviço
como especial deve observar a legislação vigente à época do seu exercício, a
primeira grande questão se refere à necessidade de demonstração da exposição
aos agentes prejudiciais à saúde.
Antes da nova redação dada ao art. 57, da Lei nº 8.213/91, pela Lei nº
9.032/95, a caracterização ocorria com base na presunção legal de exposição aos
agentes nocivos à saúde pelo mero enquadramento das categorias profissionais
previstas nos Decretos nº 53.831/64 e 83.080/79. Especificamente, o art. 60 do
Decreto nº 83.080/79 previa o enquadramento da atividade especial em razão do
exercício de atividade profissional específica ou exposição a agentes agressivos,
apresentando em seu anexo o rol de profissões e agentes agressivos.
É dizer, havia presunção absoluta de exposição aos agentes nocivos
relacionados nos anexos pelo simples fato do exercício da atividade profissional
lá prevista como perigosa, insalubre ou penosa, ou também pela comprovação da
efetiva exposição, mediante quaisquer meios de prova.
Neste ponto, falece de maiores digressões a análise sobre a eficácia da
prova da especialidade. Além da facilidade em comprovar o pertencimento à
categoria profissional prevista nos regulamentos, qualquer meio de prova,
inclusive a simples anotação em Carteira de Trabalho e Previdência Social
(CTPS), vigia a possibilidade de equiparação de outras atividades laborativas
não inscritas nos regulamentos. O ponto de partida era a Súmula nº 198 do
antigo Tribunal Federal de Recursos (TRF), que previa que “é devida à
aposentadoria especial, se perícia judicial constata que a atividade exercida pelo
segurado é perigosa, insalubre ou penosa, mesmo não inscrita em
regulamento”[78].
Mas além disso, a jurisprudência passou a interpretar de forma ainda mais
benéfica ao segurado, ao equiparar para todos os efeitos a demonstração de
especialidade. Ora, se a legislação previdenciária exigia qualquer meio de prova
para invocar a presunção legal de especialidade, da mesma forma a atividade
equiparada não pode ser obstada por exigência mais rígida – como a necessidade
de laudo pericial.
Eis o acórdão que conduziu este entendimento, lavrado pela Turma
Regional de Uniformização da Jurisprudência dos Juizados Especiais Federais
da 4ª Região (TRU):
Quando a jurisprudência federal estabelece equiparação a alguma categoria
profissional para a qual há presunção legal de especialidade, em face da
semelhança ou da identidade parcial de atribuições, admite que para a atividade
equiparada seja apresentada a mesma prova exigida para a comprovação do
exercício de atividade na categoria profissional listada na lei, ou seja, qualquer
meio de prova, para o período em que se admite esse enquadramento, podendo ser
pela apresentação do contrato de trabalho, CTPS, etc.[79]
As alterações legislativas que modificaram a lógica dos Decretos
anteriores, que até 1995 geravam a presunção juris et de juri relativamente às
categorias profissionais previstas na lei, consolidaram a insuficiência da mera
existência do agente nocivo para o enquadramento da atividade especial. Na
lição da doutrina, é:
Imprescindível provar que a exposição ao agente biológico possa causar prejuízo à
saúde. Não é necessário que a exposição se dê durante toda a jornada de trabalho,
mas que a permanência ao agente biológico possibilite a contaminação e o prejuízo
à saúde do trabalhador. [80]
A partir da Lei nº 9.032/95, além da exclusão do enquadramento por
categoria profissional, foi alterado o critério de reconhecimento do tempo
especial. Passou-se a exigir que o trabalho em condições prejudiciais à saúde ou
à integridade física fosse habitual, permanente, não ocasional nem intermitente.
Apenas o art. 65 do Decreto nº 4.882/03 esclareceu que a permanência não
exigira a exposição durante a totalidade da jornada de trabalho, mas estaria
atrelada à natureza do risco e sua intensidade inerente à atividade pelo qual o
segurado está exposto. De qualquer forma, ficou evidente o rompimento
referente ao direito intertemporal, uma vez que se editou a Súmula nº 49 da TNU
no sentido de que “para reconhecimento de condição especial de trabalho antes
de 29.04.1995, a exposição a agentes nocivos à saúde ou à integridade física não
precisa ocorrer de forma permanente”[81].
Por outro lado, hodiernamente é possível defender a permanência implícita
no PPP, uma vez que não há campo específico para anotar a permanência, sendo
redundante informá-la uma vez que há obrigação de informação do setor, função,
cargo e CBO. [82]
A nocividade da atividade, como já amplamente noticiado, é o que
complementa a permanência como critério indispensável para o reconhecimento
do tempo especial.
A prova na posse do segurado, assim, deverá ser suficiente para permitir a
avaliação do critério qualitativo ou quantitativo de incidência dos agentes
nocivos. O critério qualitativo enseja a presunção da nocividade, sempre que se
observar a presença dos elementos constantes nos Anexos nº 6, 13, 13-A e 14 da
NR nº 15, enquanto o critério quantitativo exige a ultrapassagem dos limites de
tolerância dos Anexos nº 1, 2, 3, 5, 8, 11 e 12 da mesma Norma
Regulamentadora.
3.2 Periculosidade e a eficácia plena da prova
Como mencionado, por conta da variação de regulamentação da matéria de
insalubridade e periculosidade, durante muito tempo era possível que
determinada atividade fosse classificada como insalubre para o direito do
trabalho e comum para a relação previdenciária. Essa disparidade foi eliminada
com a edição do Decreto nº 4.882/03, que inclusive determinou que a edição do
laudo técnico deve respeitar a legislação trabalhista.
O fato é que, demonstrada a efetiva nocividade do meio em que labora o
segurado, com possibilidade de prejuízo à higidez física, deve ser concedida a
aposentadoria especial.
PREVIDENCIÁRIO. ATIVIDADE ESPECIAL. PERICULOSIDADE.
INFLAMÁVEIS. RUÍDO. EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL.
APOSENTADORIA ESPECIAL. FONTE DE CUSTEIO. TUTELA
ESPECÍFICA. (...) 3. O simples fato de a parte autora trabalhar em ambiente onde
era armazenada grande quantidade de produtos inflamáveis (botijões de gás
liquefeito de petróleo), caracteriza a periculosidade decorrente do risco de
explosão destes produtos, devendo ser reconhecido o respectivo tempo de serviço
como especial. 4. Sendo caso de periculosidade ou de enquadramento por
categoria profissional, não se cogita de afastamento da especialidade pelos
Equipamentos de Proteção Individual.[83]
Não é demais relembrar que até 28/04/1995 a atividade de vigilante era
considerada equiparada à categoria profissional de guarda, tida por perigosa, nos
termos do código 2.5.7 do Quadro Anexo ao Decreto nº 53.831/64,
independentemente do porte de arma de fogo[84].
No julgamento do PEDILEF 0502013-34.2015.4.05.8302/PE, contudo, a
TNU fixou a tese de que:
É possível o reconhecimento de tempo especial prestado com exposição ao agente
nocivo periculosidade, na atividade de vigilante, em data posterior à vigência do
Decreto n. 2.172/92, de 05/03/1997, desde que laudo técnico (ou elemento
material equivalente) comprove a permanente exposição à atividade nociva.[85]
De qualquer forma, basta a comprovação da circunstância da
periculosidade no Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP), por exemplo,
pelo registro de desempenho de labor portando arma de fogo.
3.3 Documentos técnicos para a comprovação da exposição
É oportuno apontar que não é responsabilidade do segurado a produção do
laudo ambiental e dos relatórios profissiográficos exigidos para a comprovação
da atividade sob condições especiais após a edição do Decreto nº 2.172. São os
tomadores de serviço que têm o ônus de confeccionar e fornecer os documentos
aos segurados, sob pena de intervenção fiscalizatória do Ministério Público do
Trabalho ou determinação do Poder Judiciário.
Não é possível, contudo, atribuir valor absoluto aos formulários, de modo
a impedir o segurado de comprovar a especialidade do período. Nesse sentido:
Quando for materialmente impossível ao segurado a instrução do processo
administrativo ou judicial, devem ser-lhe deferidos os meios lícitos de prova da
atividade especial, como a realização de perícia técnica em ambiente laboral
congênere; ou ainda no acolhimento da chamada prova emprestada, com
aproveitamento de laudos ambientais de outros segurados que tenham realizado
atividades semelhantes em exposição aos mesmos agentes nocivos insalubres ou
perigosas.[86]
Nesta discussão se revela interessante a iniciativa de varas em criar e
disponibilizar bancos de laudos técnicos periciais das condições ambientais de
trabalho para a aposentadoria especial. Inicialmente criados e mantidos de forma
orgânica com mais publicidade pelas subseções da Justiça Federal da 4ª Região,
recentemente foi publicada a Resolução nº 7 de 7 de fevereiro de 2018 do
Tribunal Regional Federal da 4ª Região dispondo sobre a criação e manutenção
de Banco de Laudos Técnicos Periciais das Condições Ambientais do
Trabalho[87].
Eis o entendimento da jurisprudência sobre o tema.
Mostra-se legítima a produção de perícia indireta, em empresa similar, ante a
impossibilidade de obter os dados necessários à comprovação de atividade
especial, visto que, diante do caráter eminentemente social atribuído à Previdência,
onde sua finalidade primeira é amparar o segurado, o trabalhador não pode sofrer
prejuízos decorrentes da impossibilidade de produção, no local de trabalho, de
prova, mesmo que seja de perícia técnica. 3. Em casos análogos, é pacífico o
entendimento do Superior Tribunal de Justiça quanto à legalidade da prova
emprestada, quando esta é produzida com respeito aos princípios do contraditório
e da ampla defesa. Recurso especial improvido. [88]
Pois bem. Este tópico foi dedicado até o momento aos documentos
necessários para a comprovação da exposição, tornando eficaz a prova. Mostra-
se oportuno, todavia, tratar do imprescindível tema afeito à dificuldade do
segurado em comprovar a atividade especial.
Em teoria, por autorização do direito constitucional e processual civil, é
permitido ao segurado se valer de qualquer meio lícito de prova. Ocorre que,
além de se desincumbir do ônus processual da prova, o segurado pode enfrentar
outras dificuldades.
Não raro a empresa fornece os formulários preenchidos incorretamente ou
cujas informações não refletem o ambiente natural; a empresa não tinha laudo
técnico referente ao período do trabalho; a empresa fechou ou foi extinta.
A eficácia da prova fica, por assim dizer, condicionada à entrega pela
empresa. A esse respeito, filia-se à advertência e à sugestão da doutrina:
A ele cabe o ônus da prova, que, por sua vez, depende da empresa para que lhe
forneça o documento.
Assim como a criação do Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário – NTEP
pela Lei 11.430/06 transferiu o ônus da prova para a empresa em razão de
reiterados descumprimentos de não preenchimento da CAT pelo empregador,
deveria ser criado um mecanismo parecido, onde a presunção fosse favorável ao
segurado e ficasse a cargo da empresa provar que o ambiente não era nocivo. (...)
Temos um grande impasse. O segurado precisa da prova, mas depende de a
empresa querer lhe fornecer essa prova que trate fielmente o ambiente laboral.
Algumas empresas fazem corretamente e cumprem o seu papel. Outras, entretanto,
sequer respondem às solicitações e quando o fazem, entregam-lhe um formulário
irreal, sem qualquer possibilidade de reconhecimento como especial. Cometem um
crime, não pela questão penal, mas um crime de natureza social, em que o
trabalhador deixará de alcançar a prestação mais benéfica, mais vantajosa,
obstando-lhe um direito fundamental social![89]
Imagine-se, por exemplo, o caso de extinção da empresa ou comprovada
impossibilidade de obtenção do laudo técnico. A obtenção da plena eficácia da
prova técnica pode se dar por pelo menos de três formas. Em primeiro lugar, é
possível promover a perícia judicial por aferição indireta – na qual o perito
avalia tecnicamente objetos, documentos, livros fiscais e até depoimentos de
outros trabalhadores para aferir a existência de determinado agente nocivo no
ambiente de trabalho. Em segundo lugar, vale citar a possibilidade de
aproveitamento de laudo técnico elaborado por empresa similar, mediante efetiva
demonstração da similaridade no ramo da atividade, porte da empresa, funções
exercidas e recursos de trabalho disponíveis, assim, reconhecendo a
aplicabilidade da prova emprestada. Por fim, a perícia por similaridade, na qual
o perito designado examina empresa similar à extinta quanto à alegada presença
de determinado agente nocivo, exigindo outrossim a demonstração de
similaridade pela descrição do ramo da atividade, maquinário etc.
Veja-se o elucidativo precedente do TRF4 que demonstra o consagrado
entendimento:
PREVIDENCIÁRIO. TEMPO DE SERVIÇO ESPECIAL. CONVERSÃO DE
TEMPO DE SERVIÇO ESPECIAL PARA COMUM. PERÍCIA POR
SIMILARIDADE. LAUDO EXTEMPORÂNEO. FATOR DE CONVERSÃO.
ART. 64 DO DECRETO 357/91. APOSENTADORIA POR TEMPO DE
CONTRIBUIÇÃO. REAFIRMAÇÃO DA DER. [90]
Do corpo do voto se retira justamente a autorização, na impossibilidade de
coleta de dados in loco para a comprovação da atividade especial, de realização
de perícia por similaridade ou por aferição indireta das circunstâncias de
trabalho. A aceitação no Tribunal, aliás, deriva do entendimento consagrado na
Súmula nº 106 da Corte, segundo a qual “quando impossível a realização de
perícia técnica no local de trabalho do segurado, admite-se a produção desta
prova em empresa similar, a fim de aferir a exposição aos agentes nocivos e
comprovar a especialidade do labor”[91].
A força probante de laudo técnico extemporâneo é plenamente válida
quando se comprova que, à época em que foi prestado o serviço, o ambiente de
trabalho tinha iguais ou piores condições de salubridade. Neste ponto, inclusive,
importa ressaltar que o laudo pericial, em si, não necessita ser contemporâneo ao
período de trabalho, conforme pacificado pela Súmula nº 68 da TNU[92]. O
importante é traduzir fielmente as condições ambientais da época.
Outras formas de comprovar a atividade especial, sem prejuízo de
qualquer outra admitida em direito, também podem ser utilizadas pelo segurado.
Requerimento de inspeção pelo INSS à empresa (art. 68, §7º do Decreto nº
3.048/99); notificação extrajudicial para o fornecimento de documento, cuja
omissão enseja multa (art. 283 do mesmo Decreto); inspeção no local do
trabalho (art. 481 e ss do Código de Processo Civil); perícia judicial no processo
previdenciário, nos casos em que não houver sido constituída a prova
documental por meio dos formulários[93]
O último ponto de discussão deste trabalho é quanto ao uso do EPI,
somente será considerada a ação de EPI em demonstração ambiental emitida a
partir da MP nº 1.729/98, posteriormente convertida na Lei nº 9.732,98 e apenas
quando restar comprovado que elimine ou neutraliza a nocividade e seja
respeitada a Norma Regulamentadora 6 do MTE, que prevê atendimento às
medidas de proteção coletiva ou individual.
Dito de outra forma, os EPIs informados devem cumprir
concomitantemente as exigências do Ministério do Trabalho: tentativa de
implementação de medidas de proteção coletiva, justificando o EPI apenas por
inviabilidade técnica ou por caráter complementar ou emergencial; observação
das condições de funcionamento e uso ininterrupto do EPI ao longo do tempo,
conforme especificação técnica do fabricante; observação do prazo de validade,
conforme certificado de aprovação; observação da periodicidade na troca
definida pelos programas ambientais.
Não havendo comprovação de todos esses mandamentos, aplica-se o
Enunciado nº 21 do Conselho de Recurso da Previdência Social (CRPS):
O simples fornecimento de equipamento de proteção individual de trabalho pelo
empregador não exclui a hipótese de exposição do trabalhador aos agentes nocivos
à saúde, devendo ser considerado todo o ambiente de trabalho.[94]
Eis, portanto, o breve panorama proposto por este artigo, no sentido de
delinear os problemas e apontar possibilidades de atuação, respaldadas pela
jurisprudência, com vista a alcançar a eficácia da prova no requerimento de
aposentadoria especial.
Considerações finais
Traçados os principais pontos necessários para um entendimento não
exaustivo sobre a aposentadoria especial, apresentam-se algumas das
problemáticas envolvendo sua previsão legal dentro do sistema jurídico
previdenciário.
A partir do corte proposto, discutiram-se a criação e a evolução do instituto
no ordenamento jurídico; suas nuances e formas de aplicação nas diversas
situações jurídicas previdenciárias; a forma como a jurisprudência se assentou
sobre o tema.
Para tanto, mostrou-se imprescindível estabelecer historicamente a
evolução legislativa em relação ao tema. Além disso, dedicou-se capítulo à
análise do direito intertemporal no concernente ao assunto em pauta. A partir daí,
procurou-se demonstrar a pedra de toque da questão probatória diante das
nuances da aposentadoria especial, bem como a relevância do tema diante das
diversas situações enfrentadas na prática processual previdenciária.
Ao fim e ao cabo, procurou-se demonstrar a importância da atividade
proativa do advogado em auxiliar o segurado na obtenção dos documentos
necessários para a caracterização da especialidade do tempo de contribuição,
mas mais do que isso, indicar alternativas viáveis, nos casos de impossibilidade
de apresentação dos formulários exigidos normalmente.
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CAPÍTULO 7
ACIDENTE DE TRAJETO: A REFORMA
TRABALHISTA E OS IMPACTOS NO DIREITO
PREVIDENCIÁRIO
SERGIO EDUARDO CANELLA
Advogado, graduado em Direito pela Universidade Estadual de Londrina (UEL),
Mestre em Direito Negocial e Especialista em Direito Empresarial pela
Universidade Estadual de Londrina (UEL), Especialista em Direito do Trabalho
pela AMATRA, docente de Processo Civil e Direito Empresarial na faculdade
UNOPAR nos anos de 2004 a 2007, escritor de artigos especializados, sócio e
gestor do Escritório Brandão Canella Advogados Associados.
Introdução
Após a Reforma Trabalhista introduzida pela Lei nº 13.467/2017 que
alterou pontos importantes da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), alguns
questionamentos surgiram haja vista o diálogo e a repercussão da referida norma
em outros ramos do Direito, especialmente, o Direito Previdenciário.
Nesse contexto, o objetivo deste trabalho é analisar os questionamentos
apresentados pós-reforma trabalhista, especificamente, na alteração dada pelo
parágrafo segundo do art. 58 da Consolidação das Leis do Trabalho, no tocante
ao acidente de trajeto e suas implicações ou impactos na norma previdenciária e
para o segurado.
Há que se distinguir a natureza das normas e a diferença das relações nas
quais elas se estabelecem, sendo uma para regulamentar as relações do pacto
laboral e outra para regular o os benefícios previdenciários da Seguridade Social
com fito de, entre outros, estabelecer as regras de concessão e manutenção de
benefícios para amparar aqueles que, por algum infortúnio, necessitem do
auxilio do Estado.
A interpretação equivocada da norma pode causar prejuízo não só ao
segurado, mas também ao empregador, por meio das sanções previstas em Lei.
Estabelecer a distinção da aplicação da norma previdenciária e trabalhista
é de suma importância para estabelecer e resguardar o segurado, diante do
princípio da universalidade da cobertura e do atendimento que norteia o Direito
Previdenciário, o qual prevê que a proteção social deve alcançar a todos os
eventos, cuja reparação seja necessária com o fito de dar subsistência àquele de
que dela necessita.
1 O acidente de trajeto na lei Nº 8.213/91
A Lei nº 8213/91 dispõe sobre os planos de benefício da Previdência
Social. O art. 18 apresenta o rol de prestações a serem pagas dentro do Regime
Geral da Previdência Social (RGPS) expressas em benefícios tais como as
aposentadorias, auxílios etc., além dos serviços.
O caput do art. 18 deixa claro que as prestações serão devidas inclusive
para os eventos decorrentes do acidente de trabalho.
Portanto, é certo que dentre os benefícios de prestação continuada pagos
pelo INSS são devidos àqueles decorrentes do acidente de trabalho que,
dependendo da lesão e o grau de incapacidade (definitiva ou temporária), poderá
vir a ser um auxílio-doença da espécie acidentária, auxílio-acidente ou
aposentadoria por invalidez decorrente de acidente de trabalho.
O art. 19 da Lei de Benefícios define o acidente de trabalho da seguinte
forma:
Art. 19. Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço
de empresa ou de empregador doméstico ou pelo exercício do trabalho dos
segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal
ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou
temporária, da capacidade para o trabalho.
O art. 21 da referida Lei traz em seu texto o rol de eventos que são
considerados como acidente de trabalho para efeitos previdenciários, sendo que
a letra “d” do inciso IV apresenta como tal: o acidente de trajeto.
Art. 21. Equiparam-se também ao acidente do trabalho, para efeitos desta Lei:
(...) IV - o acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e horário de
trabalho: (...) d) no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para
aquela, qualquer que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade
do segurado.
Da simples interpretação do texto normativo, é possível reconhecer que o
acidente ocorrido no trajeto ou percurso do local do trabalho à residência ou da
residência ao local de trabalho por qualquer tipo de locomoção, ou seja,
transporte público, a pé, bicicleta e até mesmo em veículo de propriedade do
segurado é equiparado ao acidente de trabalho, desde que provoque lesão
corporal ou perturbação funcional que cause a perda ou redução – permanente ou
temporária – da capacidade para o trabalho e, em última hipótese, a morte.
Por certo que, se houve um acidente com a ocorrência de danos materiais
apenas nos veículos ou em outro meio de deslocamento utilizado no trajeto (por
exemplo: colisão de veículos) e nenhuma lesão tenha sofrido o segurado, não
será emitida a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT).
Ocorrido o acidente de trajeto que, para fins previdenciários, é equiparado
ao acidente de trabalho, a empresa deverá comunicar o evento à Previdência
Social no primeiro dia útil após o acidente, mesmo que não haja o afastamento
do trabalho ou de forma imediata se ocorrer a morte do segurado, por meio da
CAT.
A empresa que não fornecer a CAT dentro do prazo legal estabelecido pelo
caput do art. 22 da Lei nº 8.213/91 estará sujeita à penalidade de multa.
Embora se saiba que, na falta da comunicação por parte da empresa,
podem emiti-la o próprio acidentado, seus dependentes, o sindicato ao qual o
trabalhador é filiado, médico que o atendeu, ou qualquer autoridade pública, na
prática, na maioria das vezes, isso não ocorre, até pelo desconhecimento do
segurado dessas possibilidades.
O emissor da CAT irá se referir ao acidente de trabalho ocorrido, que pode
ser: a) típico, por exemplo, o corte de um dos dedos da mão em uma serra
circular na construção civil; b) por doença profissional, como no caso de
saturnismo (intoxicação por chumbo em fábricas de bateria de automóvel); c)
doença do trabalho, que são desencadeadas em virtude de circunstâncias
especiais do trabalho como a surdez em ambiente extremamente ruidoso; c)
óbito imediato ou, por último, e) de trajeto, conforme já definido acima.
Observa-se que muitas empresas não emitem ou emitiam a CAT com a
finalidade de não ser penalizada perante o Fator Acidentário de Prevenção (FAT)
com uma alíquota maior e, também, para não gerar, após eventual afastamento
superior a 15 dias, a estabilidade empregatícia do trabalhador e a necessidade de
efetuar os depósitos mensais do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço
(FGTS) no período de afastamento como determina a Lei nº 8.036/90.
Veja que o segurado, ao receber o auxílio-doença comum ou não
acidentário, fica a mercê de uma demissão quando de seu retorno ao trabalho,
sendo substituído por outro em plenas condições de saúde.
Com vistas a resguardar o direito do segurado e ser realizada uma
comunicação fidedigna do acidente, por meio da Lei Complementar (LC) nº 150
de 2015, foi introduzido o art. 21-A à Lei nº 8.213/91, que dispõe sobre o nexo
técnico epidemiológico:
Art. 21-A. A perícia médica do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS)
considerará caracterizada a natureza acidentária da incapacidade quando constatar
ocorrência de nexo técnico epidemiológico entre o trabalho e o agravo, decorrente
da relação entre a atividade da empresa ou do empregado doméstico e a entidade
mórbida motivadora da incapacidade elencada na Classificação Internacional de
Doenças (CID), em conformidade com o que dispuser o regulamento
A autarquia previdenciária, mesmo sem a presença da CAT, poderá avaliar
o nexo técnico epidemiológico por meio da relação entre a lesão e a atividade
exercida pelo trabalhador. O segurado munido de um laudo ou atestado médico,
afirmando-se a incapacidade elencada na Classificação Internacional de Doenças
(CID), apresentará seu requerimento ao INSS para possibilitar a caracterização
do benefício como acidentário (espécie 91), que se trata daquele relacionado ao
trabalho.
Portanto, o referido acidente de trajeto, equiparado pela norma
previdenciária como acidente de trabalho, ao ser levado ao conhecimento da
Autarquia Previdenciária, por meio da CAT ou documentos médicos, em
havendo lesão corporal ou perturbação funcional que cause perda ou redução –
temporária ou permanente – da capacidade do obreiro, ou mesmo a sua morte,
será deferido dentro das hipóteses previstas na Lei de Benefícios, pois há direito
ao recebimento de um benefício previdenciário de prestação continuada.
2 O acidente de trajeto e a responsabilidade do empregador no pacto
laboral
Na esfera trabalhista, que regula as relações entre patrões e empregados,
tanto na doutrina quanto na jurisprudência, a posição em relação ao acidente de
trajeto é diferente daquela prevista na norma previdenciária.
Já houve um tempo em que se entendia que o acidente ocorrido no
percurso do trabalhador entre sua residência e o local de trabalho era de
responsabilidade da empresa.
Na seara trabalhista, para que o acidente de trajeto seja considerado
acidente de trabalho com a responsabilização civil da empresa, deve existir a
demonstração da conduta dolosa ou culposa do empregador e do dano
ocasionado ao obreiro.
O Código Civil (Lei nº 10.406/2002), aplicado de forma subsidiária ao
Direito do Trabalho, prescreve:
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de
culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos
de outrem.
Tome-se, por exemplo, um trabalhador que se desloca no percurso entre
sua residência e o local de trabalho e o empregador determina que ele faça algo
pelo caminho, alterando seu trajeto, e ocorra um infortúnio com lesão ao obreiro:
caracterizado está o acidente de trabalho.
Veja que é necessário que haja uma interferência (por ação ou omissão) do
empregador ou que nesta ocasião o empregado esteja a sua disposição ou sob o
seu controle para que seja considerado um acidente de trabalho.
Deve, portanto, para efeito da responsabilização civil do empregador,
restar demonstrada a presença de nexo causal e de conduta culposa ou dolosa,
seja por ação ou omissão do empregador em relação ao acidente ocorrido.
Nesse sentido, para um maior esclarecimento, é de se verificar o
posicionamento do Tribunal Regional do Trabalho da 9º Região (TRT9):
TRT-PR-24-06-2014 INDENIZAÇÃO. ACIDENTE DE TRABALHO POR
EQUIPARAÇÃO. ACIDENTE DE TRÂNSITO. TRAJETO RESIDÊNCIA-
TRABALHO-RESIDÊNCIA. NEXO CAUSAL NÃO CONFIGURADO(...) não
se há falar em pagamento de indenização quando não evidenciada qualquer
conduta culposa, por parte da ré, relacionada ao sinistro. No caso, a causa do
acidente não guardou relação com qualquer atitude, comissiva ou omissiva, da
empregadora, pois ocorrido fora das dependências da ré, quando o “de cujus”
colidiu, com sua motocicleta, na traseira de um caminhão. Tenha o acidente
decorrido de culpa exclusiva da vítima ou de fato de terceiro, ambos são fatores
excludentes de responsabilidade da ré e do consequente dever de indenizar, já que
inexistente, na situação, o imprescindível nexo de causal. Sentença mantida.[95]
Não é possível, por meio da tentativa de aplicação dos art. 18 e 21 da Lei
nº 8.213/91, buscar estabelecer a responsabilidade civil do empregador diante da
necessidade de verificação da natureza subjetivista da conduta nos termos dos
arts. 186, 197 e 927 do Código Civil para fins trabalhistas.
Por outro lado, se não há a comprovação da relação entre a conduta do
empregador e o acidente ocorrido no trajeto entre a residência do obreiro e seu
local de trabalho, ou ao contrário, haverá de qualquer modo impacto da norma
previdenciária no pacto laboral, e o empregado fará jus a estabilidade provisória,
se permanecer afastado por mais de 15 dias em gozo de benefício previdenciário
nos termos do art. 118 da Lei nº 8.213/91.
Art. 118. O segurado que sofreu acidente do trabalho tem garantida, pelo prazo
mínimo de doze meses, a manutenção do seu contrato de trabalho na empresa,
após a cessação do auxílio-doença acidentário, independentemente de percepção
de auxílio-acidente.
Assim, o acidente de trajeto ou de percurso é equiparado ao acidente de
trabalho apenas para fins previdenciários, como garante a Lei de Benefícios (art.
21, IV, ‘d’ da Lei nº 8.213/91) promovendo efeitos, inclusive, no pacto
empregatício, em razão do direito à garantia provisória de emprego que acaba
por gerar, nos termos do art. 118 do mesmo texto normativo.
3 O acidente de trajeto e os questionamentos da reforma trabalhista
No meio jurídico, têm-se suscitado alguns questionamentos que envolvem
as modificações introduzidas pela reforma trabalhista na Consolidação das Leis
do Trabalho e seu eventual e correspondente impacto nas normas
previdenciárias, sobretudo no tocante ao acidente de trajeto.
Pontualmente, a reforma trabalhista modificou o § 2º do art. 58 da CLT
(Decreto-Lei nº 5.452/43), que passou a vigorar com a seguinte redação:
Art. 58. § 2º. O tempo despendido pelo empregado desde a sua residência até a
efetiva ocupação do posto de trabalho e para o seu retorno, caminhando ou por
qualquer meio de transporte, inclusive o fornecido pelo empregador, não será
computado na jornada de trabalho, por não ser tempo à disposição do empregador.
Em um entendimento que não parece o mais adequado, para alguns, nesta
modificação introduzida na CLT, o empregado que se acidentar no trajeto, entre
a residência e o local de trabalho ou no seu retorno, não terá mais reconhecida a
responsabilidade do empregador, pelo fato de que o trabalhador nesta hipótese
não estar à disposição do empregador.
Por consequência, não sendo mais responsabilidade do empregador, não se
enquadrando como acidente de trabalho, este ficaria isento de emitir a CAT.
Primeiramente, a normativa do art. 58 da CLT faz alusão à jornada de
trabalho do obreiro. O dispositivo legal, mais especificamente em seu parágrafo
segundo, estabelece o fim das horas in itinere.
O revogado § 2º do art. 58 da CLT, previa que:
Art. 58. §2º. O tempo despendido pelo empregado até o local de trabalho e para o
seu retorno, por qualquer meio de transporte, não será computado na jornada de
trabalho, salvo quando, tratando-se de local de difícil acesso ou não servido por
transporte público, o empregador fornecer a condução.
A jurisprudência pátria reconhece, como horas in itinere, o cômputo do
tempo de deslocamento do empregado na jornada do trabalho, com o pagamento
de horas suplementares; quando o local de trabalho for de difícil acesso ou não
servido de transporte público regular, o empregador fornecer a condução.
Sem discutir neste momento se houve ou não a supressão definitiva das
horas in itinere pela reforma trabalhista, é certo que a norma não se presta a
regulamentar o acidente de trajeto.
O texto normativo, ao afirmar que o tempo de deslocamento não pode
mais ser considerado tempo à disposição do empregador, não trata de nenhuma
forma sobre o acidente de trabalho, mas, apenas, o regramento sobre jornada de
trabalho e eventual obrigatoriedade de pagamento de horas extraordinárias.
Assim, do ponto de vista da responsabilidade civil do empregador, tem-se
que fica mantida a verificação da conduta deste sobre o evento que resultou em
danos ao trabalhador nos deslocamentos entre a residência e seu local de
trabalho.
Da mesma forma, para os fins previdenciários, nada muda em relação à
reforma introduzida pelo § 2º do art. 58 da CLT, inicialmente porque não se trata
de norma alusiva a acidente de trajeto, uma vez que o art. 21, III, ‘d’ da Lei nº
8.213/91 equipara o acidente de trajeto ao acidente de trabalho.
O fato de o obreiro não estar à disposição do empregador durante o seu
deslocamento entre a sua residência e o local de trabalho, ao contrário, não traz
nenhuma consequência ou mudança, para o amparo que se dá ao segurado nas
normas previdenciárias.
Também, refuta-se qualquer interpretação extensiva de que a empresa não
estaria mais obrigada à emissão da CAT, haja vista que, por meio da reforma,
supostamente teria sido retirada a obrigatoriedade sob o fundamento de que a
CLT não considera mais o acidente de trajeto como acidente de trabalho.
Ora, o acidente de trajeto tem impactos diferenciados para as normas
previdenciárias e para o direito trabalhista. Há que se fazer esta distinção de
forma correta para que não haja prejuízo nem para o segurado acidentado,
tampouco para o empregador.
Permanece ao Direito Previdenciário a resguarda do segurado que sofreu
acidente do trajeto entre seu local de trabalho e sua residência, eis que a Lei de
Benefícios reconhece o acidente de trajeto como acidente de trabalho.
O empregador continua obrigado a emitir a CAT em decorrência do
acidente de trajeto, ainda que não possua, para fins trabalhistas, qualquer
responsabilidade sobre o evento, sob pena de sofrer as sanções previstas nas
normas previdenciárias.
Observe-se, ainda, que mesmo que o empregador não emita a CAT, o
interessado pode fazê-la por outros meios ou ingressar com seu pedido perante a
Autarquia Previdenciária, munido de atestado ou laudo médico com a indicação
da CID referente à patologia para que o INSS verifique o nexo técnico
epidemiológico para que se reconheça a natureza acidentaria do infortúnio.
Veja mais uma vez que independente dos problemas advindos do pacto
laboral, o segurado que se vê em meio a um acidente de trajeto, poderá ter o
amparo do Estado para sua subsistência por meio da Previdência Social, seja por
meio da concessão de um beneficio acidentário; seja pela garantia da
estabilidade após a sua alta médica e seu retorno ao trabalho.
Considerações finais
A interpretação dada ao § 2º do art. 58 da CLT não se mostra adequada,
quando afirma que a norma trabalhista não alberga mais o acidente de trajeto
como acidente de trabalho.
Como verificado, a modificação introduzida pela reforma trabalhista trata
tão somente da relação advinda do pacto laboral em relação à jornada de
trabalho.
Com o advento dessa alteração, o legislador quis afastar a hipótese de
reconhecimento das horas in itinere, afastando-se, também, a possibilidade do
pagamento de horas extraordinárias no deslocamento do obreiro de sua
residência ao local de trabalho, por qualquer meio e ainda que o fazendo
caminhando.
O acidente de trajeto será considerado acidente de trabalho com
repercussão na responsabilidade do empregador no pacto laboral, conforme
entendimento jurisprudencial dos Tribunais da Justiça Especializada do
Trabalho, quando pautado na verificação de culpa ou dolo (ação ou omissão) do
empregador a teor dos arts. 186, 197 e 927 do Código Civil e não no art. 58 da
CLT.
Por não estar mais à disposição do empregador no tempo de deslocamento
do trajeto, não significa que, em caso de infortúnio durante o percurso de sua
residência ao local de trabalho e que o impeça de trabalhar para auferir alguma
renda, ficará sem qualquer tipo de meio para a subsistência.
A Seguridade Social, por meio da Previdência Social, poderá garantir
medidas protetivas ao trabalhador enquanto este necessitar permanecer afastado
de suas atividades em decorrência de um acidente de trajeto, que para a norma
previdenciária é considerado um acidente de trabalho.
Nesse contexto, “para a proteção previdenciária não há necessidade de
existência de dolo ou culpa, sendo devido o benefício por incapacidade inclusive
nos casos de culpa da vítima” [96].
Permanece da mesma forma a obrigatoriedade de o empregador emitir a
CAT sob qualquer hipótese desde que haja um infortúnio no trajeto entre a
residência e o local de trabalho do trabalhador, sabendo-se que existem outros
meios para o obreiro emitir sua comunicação à Autarquia Previdenciária ou o
reconhecimento da natureza acidentária do evento.
Apesar de não ser um documento indispensável para o segurado, o
empregador pode sofrer as sanções decorrentes de sua omissão.
Portanto, não há que se fazer uma confusão entre a modificação
introduzida pela reforma trabalhista, seja para não reconhecer mais o acidente de
trajeto como acidente de trabalho ou retirar a obrigatoriedade do empregador
emitir a CAT, uma vez que, diante da natureza distinta das normas e da intenção
do legislador, permanece o amparo do obreiro perante a Previdência Social e a
responsabilidade civil do empregador nos termos do art. 186, 197 e 927 do
Código Civil.
Referências bibliográficas
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das Leis do Trabalho. Documento eletrônico disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del5452.htm>. Acesso em:
26 de setembro de 2018.
BRASIL, Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de
Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. Documento
eletrônico disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8213cons.htm>. Acesso em: 26 de
setembro de 2018.
BRASIL, Lei nº 13.467, de 13 de julho de 2017. Altera a Consolidação das Leis
do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943,
e as Leis nos 6.019, de 3 de janeiro de 1974, 8.036, de 11 de maio de 1990, e
8.212, de 24 de julho de 1991, a fim de adequar a legislação às novas relações de
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<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13467.htm>.
Acesso em: 26 de setembro de 2018.
BRASIL, Lei nº 8.036, de 11 de maio de 1990. Dispõe sobre o Fundo de
Garantia do Tempo de Serviço, e dá outras providências. Documento eletrônico
disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8036consol.htm>.
Acesso em: 26 de setembro de 2018.
BRASIL, Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.
Documento eletrônico disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 26 de
setembro de 2018.
LAZZARI, João Batista; CASTRO, Carlos Alberto Pereira de. Manual de
Direito Previdenciário. 19. ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2016.
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 9º REGIÃO. TRT-PR-00738-
2013-643-09-00-8 – 6ª Turma. Documento eletrônico disponível em:
<https://www.trt9.jus.br/pesquisaprocessual/processo/exibirProcesso.xhtml>
Acesso em: 26 de setembro de 2018.
CAPÍTULO 8
ADICIONAL DE 25% NA APOSENTADORIA:
GARANTIA AOS APOSENTADOS DE TODAS AS
MODALIDADES DE APOSENTADORIA QUE
COMPROVEM GRANDE INVALIDEZ
RENATA BRANDÃO CANELLA
Advogada, graduada em Direito pela Universidade Estadual de Londrina (UEL),
Mestre em Processo Civil e Especialista em Direito Empresarial pela
Universidade Estadual de Londrina (UEL), Especialista em Direito do Trabalho
pela AMATRA, docente de Processo Civil e Direito Previdenciário na faculdade
UNINORTE nos anos de 2003 a 2007, escritora de artigos especializados,
palestrante, sócia e gestora do Escritório Brandão Canella Advogados
Associados, membro associado do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário
(IBDP), membro da Comissão de Direito Previdenciário da OAB Londrina de
2014 a 2016, presidente da Associação Brasileira dos Advogados
Previdenciários (ABAP)
Introdução
A identificação dos merecedores do adicional de 25% na aposentadoria
passa pelo conceito de incapacidade e de deficiência, bem como pelos requisitos
essenciais para a concessão do benefício, distinguindo-se os benefícios de
assistência social daqueles da previdência social. Assim, de início, este artigo
balizará conceitos de direito previdenciário, inclusive com a distinção entre os
benefícios de assistência social (ao deficiente e ao idoso) e de previdência social
(aposentadorias e suas subdivisões).
1 Benefícios de previdência social e benefícios de assistência social
A Aposentadoria por Invalidez, a Aposentadoria por Idade, a
Aposentadoria por Tempo de Contribuição, a Pensão por Morte, o Auxílio-
doença, o Salário-maternidade, o Auxílio-reclusão e o Auxílio-acidente são
considerados benefícios da Previdência Social e estão inseridos no rol de
benefícios da denominada Seguridade Social. Estes benefícios dependem de
contraprestação e estão intimamente ligados ao trabalho, bem como ao termo
segurado, que advém não de seguridade, mas, sim, de seguro.
A Previdência Social é um seguro público pago somente quando há
contraprestação pecuniária, e como um seguro, depende de carência, qualidade
de segurado e preenchimento de requisitos quanto ao tempo de contribuição e
idade. Para a concessão desses benefícios, há um rol de exigências legais a
serem preenchidos.
Importante destacar que a Previdência Social pode ser considerada, além
de um seguro público, um direito social, previsto como tal no art. 6º da
Constituição Federal (CF) de 1988. Sua principal função social é a proteção aos
trabalhadores em situação de risco (doença e idade avançada), garantindo a estes
e a sua família, renda não inferior ao salário mínimo nacional vigente nas
situações previstas no art. 201 da Carta Magna:
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de
caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o
equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a: I - cobertura dos
eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada; II - proteção à maternidade,
especialmente à gestante; III - proteção ao trabalhador em situação de desemprego
involuntário; IV - salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos
segurados de baixa renda; V - pensão por morte do segurado, homem ou mulher,
ao cônjuge ou companheiro e dependentes, observado o disposto no § 2º.
Já os benefícios de Assistência Social não são considerados
aposentadorias, pois não se caracterizam como espécies de seguro, mas como
espécies de programas sociais baseados em lei, que garantem um salário-mínimo
a pessoas portadoras de deficiência ou idosas que atendam ao critério de
miserabilidade. Nestes casos, não há contraprestação pecuniária, nem a
necessidade de prova de carência ou qualidade de segurado, apenas a prova da
deficiência ou da idade avançada e da condição de vida precária.
Especificamente quanto ao benefício assistencial, o conceito de deficiência
converge com o de incapacidade. A pessoa com deficiência não é só a pessoa
com restrições físicas e mentais severas, mas também o incapacitado para o
trabalho e para sua própria subsistência. Com efeito, para a concessão do
benefício assistencial ao deficiente, leva-se em conta a doença e a
empregabilidade. Para a concessão desta espécie de benefício assistencial (ou
LOAS, como popularmente é conhecido), há a necessidade de perícia médica
(no caso de LOAS para pessoa com deficiência) e assistencial.
Este benefício, por ser personalíssimo, não gera direito à pensão por morte,
ou seja, cessa com o óbito do titular. O valor do benefício assistencial sempre
será de 1 salário mínimo nacional vigente, afastando qualquer cumulação com
outros benefícios de Assistência Social (bolsa-família, vale-gás, etc.) e da
Previdência Social.
Dessa forma, os benefícios assistenciais, por não serem espécies de
benefícios previdenciários, não estando sequer previstos na Lei nº 8.213/91, não
conferem o direito ao adicional de 25%.
2 Incapacidade e aposentadoria por invalidez
A Lei nº 8.213/91, na seção V, subseção I, trata do benefício previdenciário
de aposentadoria por invalidez. Ao longo da lei, várias são as menções ao termo
incapacidade; porém, sem qualquer conceituação. O dispositivo que mais se
aproxima da suposta vontade do legislador, embora nem de longe seja uma
definição, é o art. 43, § 1º desta lei, que assevera:
Art. 43 A aposentadoria por invalidez será devida a partir do dia imediato ao da
cessação do auxílio-doença, ressalvado o disposto nos §§ 1º, 2º e 3º deste artigo.
§ 1 º Concluindo a perícia médica inicial pela existência de incapacidade total e
definitiva para o trabalho, a aposentadoria por invalidez será devida.
Para fins de aposentadoria por invalidez, com base na interpretação
teleológica do art. 43 da Lei nº 8.213/91, o que importa é a incapacidade total e
permanente para o trabalho habitual, a incapacidade para o retorno ao trabalho
que exercia anteriormente ou que comumente exerceu durante anos, ou que
tenha habilidade e qualificação para exercê-lo.
Um conceito importante, tanto para a concessão da aposentadoria por
invalidez quanto para a concessão do benefício assistencial ao deficiente, é o de
empregabilidade. Trata-se do potencial de uma pessoa conseguir um emprego
formal. Leva-se me conta a idade, a escolarização, a qualificação profissional, a
saúde física e mental etc.
Sobre o conceito de empregabilidade, Ramon de Oliveira atesta:
No sentido mais comum, ‘empregabilidade’ tem sido compreendida como a
capacidade de o indivíduo manter-se ou reinserir-se no mercado de trabalho,
denotando a necessidade de o mesmo agrupar um conjunto de ingredientes que o
torne capaz de competir com todos aqueles que disputam e lutam por um emprego.
[97]
[1]
FONSECA, Ricardo Tadeu Marques da. A ONU e o seu conceito revolucionário de pessoa com
deficiência, 2008, p. 263.
[2]
STJ. Recurso em Mandado de Segurança nº 19.291. Relator: FELIX FISCHER. Órgão Julgador: 5ª
Turma. Data do Julgado: 15/02/2017.
[3]
CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário,
2016.
[4]
CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário,
2016.
[5]
CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário,
2016.
[6]
CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário,
2016.
[7]
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da Seguridade Social. 18ª. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2014. p.
230.
[8]
BERWANGER, J. L. W.; FOLMANN, M.; SERAU JÚNIOR, M. A. Previdência em tempo de
reformas. In: BALERA, W. et al. Reforma previdenciária e o futuro do sistema de proteção social
brasileiro. 1.ed. Porto Alegre: Magister, 2015. p. 113.
[9]
BERWANGER, J. L. W.; FOLMANN, M.; SERAU JÚNIOR, M. A. Previdência em tempo de
reformas. In: BALERA, W. et al. Reforma previdenciária e o futuro do sistema de proteção social
brasileiro. 1.ed. Porto Alegre: Magister, 2015. p. 114.
[10]
BERWANGER, Jane Lúcia Wilhelm. Previdência Rural: Inclusão Social. Curitiba: Juruá, 2008.
[11]
SAVARIS, José Antônio. Direito Processual Previdenciário. 6.ed. Curitiba: Alteridade, 2016.
[12]
STJ, Aposentadoria por idade híbrida beneficia trabalhadora rural, 2015.
[13]
TRF1, APELAÇÃO CIVEL 0008810-85.2016.4.01.9199. AC / TO. Relator: DESEMBARGADOR
FEDERAL JOÃO LUIZ DE SOUSA, Órgão Julgador: Segunda Turma Recursal, Data do Julgado:
06/06/2018.
[14]
TRF3, APELAÇÃO CÍVEL 2303526 / SP 0013193-09.2018.4.03.9999, Relator(a):
DESEMBARGADORA FEDERAL TANIA MARANGONI, Órgão Julgador: OITAVA TURMA, Data
do Julgamento: 25/06/2018.
[15]
TRF4, AUTOS 5013382-69.2018.4.04.9999, Relatora: Taís Schilling Ferraz, Órgão Julgador: Sexta
Turma, Data do Julgamento 25/07/2018.
[16]
TNU, Pedilef 5004318612012.404.7213, Relator: Frederico Augusto Leopoldino Koeller, Órgão
Julgador: Turma Nacional de Uniformização. Data da decisão 30/08/2017.
[17]
STJ, REsp: 1407613 RS 2013/0151309-1, Relator: Ministro HERMAN BENJAMIN, Órgão Julgador:
SEGUNDA TURMA, Data de Julgamento: 14/10/2014.
[18]
TNU, Pedilef 5009416-32.20134.04.7200, Relator: Juiz Federal Ronaldo José da Silva, Órgão
Julgador: Turma Nacional de Uniformização. Data da decisão: 20/10/2016.
[19]
STJ, REsp 207.425, Relatora: Ministra Laurita Vaz, Órgão Julgador: 5ª Turma, Data de Julgamento:
14/10/2003, Data da Publicação: 17/11/2003.
[20]
STJ, RESP 201402317408, Relator: MAURO CAMPBELL MARQUES, Órgão Julgador:
SEGUNDA TURMA, Data da Publicação:14/12/2015.
[21]
TRF3, Ap 00429646620174039999, Relator: JUIZ CONVOCADO RODRIGO ZACHARIAS, Órgão
Julgador: NONA TURMA, Data da Publicação: 21/03/2018.
[22]
TRF4, AC 5032389-81.2017.4.04.9999, Relator DANILO PEREIRA JUNIOR, Órgão Julgador:
TURMA REGIONAL SUPLEMENTAR DO PR, Data da Publicação: 06/03/2018.
[23]
TRF3, Ap 00297760620174039999, Relator: JUIZ CONVOCADO RODRIGO ZACHARIAS, Órgão
Julgador: NONA TURMA, Data da Publicação: 08/02/2018.
[24]
TRF1, APELAÇÃO 00741695520114019199, Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL
FRANCISCO DE ASSIS BETTI, Órgão Julgador: 1ª CÂMARA REGIONAL PREVIDENCIÁRIA DA
BAHIA, Data da Publicação: 29/08/2017.
[25]
TRF1, APELAÇÃO 00593609420104019199, Relator: JUIZ FEDERAL JOSÉ ALEXANDRE
FRANCO, Órgão Julgador: 1ª CÂMARA REGIONAL PREVIDENCIÁRIA DE JUIZ DE FORA, Data
da Publicação: 06/03/2017.
[26]
TRF4, 5001070-14.2017.4.04.7213, Relatora ERIKA GIOVANINI REUPKE, Órgão Julgador:
SEGUNDA TURMA RECURSAL DE SC, Data do Julgado: 21/03/2018.
[27]
STJ, AgInt no REsp 1425642/PR, Relator: Ministro GURGEL DE FARIA, Órgão Julgador:
PRIMEIRA TURMA, Data do Julgado: 16/05/2017, Data da Publicação: 20/06/2017.
[28]
STJ, REsp 1.561.003/SE, Relator: Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Data da Publicação:
01.06.2018.
[29]
TRF4, AC 5032389-81.2017.4.04.9999, Relator DANILO PEREIRA JUNIOR, Órgão Julgador:
TURMA REGIONAL SUPLEMENTAR DO PR, Data da Publicação: 06/03/2018.
[30]
TRF4, AC 5032389-81.2017.4.04.9999, Relator DANILO PEREIRA JUNIOR, Órgão Julgador:
TURMA REGIONAL SUPLEMENTAR DO PR, Data da Publicação: 06/03/2018.
[31]
TRF4, 5010804-16.2017.4.04.7107, Relator ANDRÉ DE SOUZA FISCHER, Órgão Julgador:
PRIMEIRA TURMA RECURSAL DO RS, Data da Publicação: 11/04/2018
[32]
RIZZARDO, Arnaldo. Curso de Direito Agrário. 1ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2013. p. 47.
[33]
EVANGELISTA, Eduardo Rodrigues. A função social da propriedade e o conceito de princípio
jurídico. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 18, n. 3594, 4 maio 2013.
[34]
DUGUIT, Léon. Las transformaciones generales del Derecho privado desde el Código de Napoleón.
Pamplona, Espanha. Analecta, Ediciones y Libros, 2006.
[35]
PARRA, Rafaela Aiex. Função Social da Propriedade Rural | Noções Gerais do Aspecto Ambiental e
o Direito de Propriedade. Jundiaí: Grappe Editorial, 2017. p. 82.
[36]
OPITZ, Silvia Carlinda Barbosa; OPITZ, Oswaldo. Curso completo de Direito Agrário. 10ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2016. p. 201.
[37]
SILVA, Diego Almeida da. Da constitucionalidade da contribuição para o custeio da seguridade
social a cargo do empregador rural pessoa física (FUNRURAL): Uma Análise do Julgamento do
Recurso Extraordinário nº 363.852/MG. Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 26 set. 2011.
[38]
MENDES, Pedro Puttini. Interfaces jurídicas do Funrural e da contribuição previdenciária rural. in
PARRA, Rafaela Aiex (org.). Direito Aplicado ao Agronegócio: uma abordagem multidisciplinar. 1ª ed.
Thoth Editora, Londrina, 2018. p. 320.
[39]
RIZZARDO, Arnaldo. Curso de Direito Agrário. 1ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2013. p.402.
[40]
AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. 15ª edição. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 16.
[41]
IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de Direito Previdenciário. 12ª edição. Niterói, Rio de Janeiro:
Editora Impetus, 2008. p. 4.
[42]
STF. Supremo desobriga empregador rural de recolher Funrural sobre receita bruta de sua
comercialização.
[43]
STF, RE 363852, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Órgão Julgador: Tribunal Pleno, Data do
Julgado: 03/02/2010.
[44]
STF, RE 718874, Relator(a): Min. EDSON FACHIN, Relator(a) p/ Acórdão: Min. ALEXANDRE
DE MORAES, Órgão Julgador: Tribunal Pleno, Data do Julgado: 30/03/2017.
[45]
FOLHA DE LONDRINA. Para secretário, decisão sobre Funrural compromete produção.
[46]
SRB. Funrural: Orientação do Conselho Jurídico do IPA.
[47]
CONJUR. Empresa de abate de aves consegue liminar para suspender contribuição do Funrural.
[48]
ANDERSON, Rogério Oliveira. Funrural – uma temporada no purgatório. in PARRA, Rafaela Aiex
(org.). Direito Aplicado ao Agronegócio: uma abordagem multidisciplinar. 1ª ed. Thoth Editora,
Londrina, 2018. p. 356/357.
[49]
PARRA, Rafaela Aiex; CENCI, Elve Miguel. A separação entre poderes, as decisões judiciais e a lei
do Código Florestal: Intercessões de um debate necessário em uma sociedade democrática. Rev. de
Direito Agrário e Agroambiental. e-ISSN: 2526-0081. Maranhão. v. 3 . n. 2 . Jul/Dez. 2017. p. 99 – 115.
[50]
Prevê a Lei de Benefícios da Previdência Social, em seu Art. 1º: A Previdência Social, mediante
contribuição, tem por fim assegurar aos seus beneficiários meios indispensáveis de manutenção, por
motivo de incapacidade, desemprego involuntário, idade avançada, tempo de serviço, encargos
familiares e prisão ou morte daqueles de quem dependiam economicamente.
[51]
PASSOS, Fábio Luiz dos. Previdência Social e Sociedade Pós-Industrial. Curitiba: Juruá, 2013.
[52]
A partir da década de 1960 os caminhões passaram a substituir o transporte ferroviário na
movimentação de mercadorias e produtos, e hoje são o principal meio de escoamento da produção
nacional. Enquanto este artigo está sendo escrito, o Brasil sofre as consequências de uma paralisação
feita por caminhoneiros.
[53]
Segurado especial é, de forma bem resumida, o produtor rural que trabalha em regime de economia
familiar, explorando no máximo quatro módulos fiscais.
[54]
Art. 14. É segurado facultativo o maior de 14 (quatorze) anos de idade que se filiar ao Regime Geral
de Previdência Social, mediante contribuição, na forma do art. 21, desde que não incluído nas
disposições do art. 12. (Lei nº 8.212/91)
[55]
Regime próprio é o regime a que são submetidos os servidores públicos concursados.
[56]
Equivale ao DARF, utilizado pela Receita Federal do Brasil para arrecadar tributos.
[57]
Caso queira recuperar o direito a tal benefício, o MEI deverá complementar os 15% restantes de
contribuição, sobre um salário mínimo, com acréscimo de juros de mora (art. 21, § 3º, Lei nº 8.212/91).
[58]
Para o ano de 2018, o limite anual de renda do MEI é de R$ 81.000,00, o que equivale a uma renda
mensal média de R$ 6.750,00.
[59]
A exemplo do MEI, para recuperar o direito à aposentadoria por tempo de contribuição, este
contribuinte deverá complementar os 9%restantes, sobre um salário mínimo, também acrescidos de
juros de mora.
[60]
SAVARIS, José Antonio; ROCHA, Daniel Machado da. Curso de Direito Previdenciário, v. 1.
Curitiba: Alteridade, 2014, p. 192.
[61]
IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de Direito Previdenciário. 20ª ed. Rio de Janeiro: Impetus. 2015. p.
622.
[62]
SAVARIS, José Antonio; ROCHA, Daniel Machado da. Curso de Direito Previdenciário, v. 1.
Curitiba: Alteridade,2014, p. 193-194.
[63]
Boletim Estatístico da Previdência Social - Vol. 23 n. 01 – jan. 2018.
[64]
TRF4, APELREEX 5000020-42.2010.404.7004, Relator: Ricardo Teixeira do Valle Pereira, Órgão
Julgador: Quinta Turma, Data do Julgamento: 08/06/2012.
[65]
TRF4, 0009832-93.2014.4.04.9999, Relator: Francisco Donizete Gomes, Órgão Julgador: 5ª Turma,
Data do Julgamento: 30/05/2017.
[66]
TRF4, AC5002531-49.2011.404.7013, Relator: FERNANDO QUADROS DA SILVA, Órgão
Julgador: TURMA REGIONAL SUPLEMENTAR, Data do Julgado: 05/09/2017.
[67]
Naquela oportunidade, escorando-se em precedentes do próprio STF, foi julgada improcedente a ADIn
ajuizada pela CONAMP quanto aos critérios para aposentadoria do regime próprio de previdência,
reafirmando que inexiste direito adquirido a regime jurídico previdenciário, entendendo não haver
direito que pudesse se mostrar como adquirido previamente a reunião de todos os requisitos à
aposentadoria, estando sujeito à eventual alteração constitucional.
[68]
Nesse sentido, vide AgRg 1.184.213/SC, DJ 21.02.2011.
[69]
SAVARIS, José Antonio; ROCHA, Daniel Machado da. Curso de Direito Previdenciário, v. 1.
Curitiba: Alteridade, 2014, p. 321.
[70]
TNU, Data do Julgado: 09/10/2013.
[71]
STF, ARE 664335, Relator: Min. LUIZ FUX, Órgão Julgador: Tribunal Pleno, Data da Publicação:
12/02/2015.
[72]
NERY JR., Nelson. Princípios do processo civil na Constituição Federal. 3ª ed. rev. e aum. São Paulo:
RT, 1996. p. 28.
[73]
ASSIS, Araken de. Duração razoável do processo e reformas da lei processual civil. In: Revista
Jurídica, ano 56, n.º 372, outubro, 2008. p. 11-12.
[74]
SAVARIS, José Antonio, Direito Processual Previdenciário, Curitiba: Juruá. 2009. p. 161.
[75]
CAMPOS, Marcelo Barroso Lima Brito de. Curso de Processo Previdenciário. v. 1 Processo
administrativo de benefícios no RGPS. Curitiba: Juruá, 2013. p. 96.
[76]
MARINONI, Luiz Guilherme. Aproximação crítica entre as jurisdições de civil law e de common law
e a necessidade de respeito aos precedentes no Brasil. Revista de Processo, ano 34, n. 172, jun/2009, p.
175-323.
[77]
XAVIER, Flavia da Silva; SAVARIS, José Antonio. Manual dos recursos nos juizados especiais
federais. 2ª ed. Curitiba: Juruá, 2011. p. 231-233.
[78]
TFR, Data da Publicação: 02/12/1985.
[79]
TRU4, IUJEF 0015522-91.2005.4.04.7195, Relator: Luísa Hickel Gamba, Data do Julgado:
24/03/2010.
[80]
LADENTHIN, Adriane Bramante de Castro. Aposentadoria Especial – Teoria de Prática. 2ª ed.
Curitiba: Juruá. 2014, p. 70.
[81]
TNU, Data do Julgado: 29/02/2012.
[82]
LADENTHIN, Adriane Bramante de Castro. Aposentadoria Especial – Teoria de Prática. 2ª ed.
Curitiba: Juruá. 2014, p. 108.
[83]
TRF4, 5040222-68.2013.404.7000, Relator: JOSÉ LUIS LUVIZETTO TERRA (AUXILIO JOÃO
BATISTA), Órgão Julgador: SEXTA TURMA, Data da Publicação: 01/03/2017.
[84]
TNU, PEDILEF 05008061420124058202, Relator: ATANAIR NASSER R. LOPES, Data do Julgado:
25/05/2017.
[85]
TNU, RI 5038541-58.2016.4.04.7000, Relator: JOSÉ ANTONIO SAVARIS, Órgão Julgador: 3ª TR
do PR, Data do Julgado: 16/08/2017.
[86]
GNATA, Noa Piatã Bassfeld. Direito intertemporal em matéria previdenciária. In: José Antonio
Savaris (Coord.). Direito Previdenciário: problemas e jurisprudência. 2ª ed. Curitiba: Alteridade, 2015.
p. 494.
[87]
TRF4, Resolução nº 7 de 7 de fevereiro de 2018. Dispõe sobre a criação e manutenção de Banco de
Laudos Técnicos Periciais das Condições Ambientais do Trabalho, e estabelece outras providências.
[88]
STJ, REsp 1397415/RS, Relator: Ministro Humberto Martins, Órgão Julgador: Segunda Turma, Data
do Julgado: 12/11/2013, Data da Publicação: 20/11/2013.
[89]
LADENTHIN, Adriane Bramante de Castro. Aposentadoria Especial – Teoria de Prática. 2ª ed.
Curitiba: Juruá. 2014, p. 204-205.
[90]
TRF4, 5039586-64.2011.4.04.7100, Relatora: GISELE LEMKE, Órgão Julgador: QUINTA TURMA,
Data do Julgado: 09/04/2018.
[91]
TRF4, Data do Julgado: 21/09/2016.
[92]
TNU, Data do Julgado: 11/09/2012, Enunciado: “o laudo pericial não contemporâneo ao período
trabalhado é apto à comprovação da atividade especial do segurado.”
[93]
LADENTHIN, Adriane Bramante de Castro. Aposentadoria Especial – Teoria de Prática. 2ª ed.
Curitiba: Juruá. 2014, p. 231-233.
[94]
CRPS, Data da Publicação: 18/11/1999.
[95]
TRT-PR, 00738-2013-643-09-00-8-ACO-20172-2014, Relator: SUELI GIL EL RAFIHI, Órgão
Julgador: 6ª TURMA, Data da Publicação: 24/06/2014.
[96]
LAZZARI, João Batista; CASTRO, Carlos Alberto Pereira de. Manual de Direito Previdenciário. 19.
ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2016, p.455.
[97]
OLIVEIRA, Ramon de. Empregabilidade.
[98]
NOTÍCIAS, Superior Tribunal de Justiça. STJ vai decidir sobre adicional de 25% a aposentado que
precisa de assistência permanente.
[99]
NOTÍCIAS, Superior Tribunal de Justiça. STJ vai decidir sobre adicional de 25% a aposentado que
precisa de assistência permanente.
[100]
TNU, PEDILEF: 50008904920144047133, Relator: JUIZ FEDERAL SÉRGIO MURILO
WANDERLEY QUEIROGA, Data de Julgamento: 12/05/2016, Data de Publicação: 20/05/2016.
[101]
STJ, REsp 797.209/MG, Relator: Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, Órgão Julgador: QUINTA
TURMA, Data do Julgado: 16/04/2009, Data da Publicação: 18/05/2009.
[102]
STF, RE 630501/RS, Relator Original: Min. Ellen Gracie, Relator para Acórdão: Min. Marco Aurélio,
Data do Julgado: 21/02/2013.
[103]
CRPS, Data da Publicação: 18/01/1994
[104]
STJ, REsp nº 1.644.505 - SC (2016/0328093-8), Relator: MINISTRO HERMAN BENJAMIN, Órgão
Julgador: 2ª Turma, Data da Publicação: 04/05/2017
[105]
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos
termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: II - do trabalhador e dos demais segurados da
previdência social, não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo regime
geral de previdência social de que trata o art. 201;
[106]
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e
de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá,
nos termos da lei,
[107]
Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes
públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência
social.
[108]
AMADO, Frederico Augusto Di Trindade. Direito e Processo Previdenciário Sistematizado. 4 ed.
Bahia: JusPodivm, 2013. p.105.
[109]
MARTINS, Sergio Pinto. Direito da Seguridade Social. 37º. ed. São Paulo. Saraiva, 2016. p. 60.
[110]
Art. 11. § 3º. O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social–RGPS que estiver exercendo ou
que voltar a exercer atividade abrangida por este Regime é segurado obrigatório em relação a essa
atividade, ficando sujeito às contribuições de que trata a Lei n° 8.212, de 24 de julho de 1991, para fins
de custeio da Seguridade Social.
[111]
Art. 201. § 1º. É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de
aposentadoria aos beneficiários do regime geral de previdência social, ressalvados os casos de atividades
exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física e quando se tratar de
segurados portadores de deficiência, nos termos definidos em lei complementar.
[112]
IBRAHIM, Fábio Zambitte. Desaposentação: o caminho para uma melhor aposentadoria. 5ª. ed.
Niterói. Impetus, 2011. p.103.
[113]
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Desaposentação: uma intrigante decisão do STF. 8ª. ed. São Paulo.
LTr, 2018. p. 53.
[114]
Art. 18. O Regime Geral de Previdência Social compreende as seguintes prestações, devidas inclusive
em razão de eventos decorrentes de acidente do trabalho, expressas em benefícios e serviços:
§ 2º O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social-RGPS que permanecer em atividade sujeita a
este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do
exercício dessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado.
[115]
IBRAHIM, Fábio Zambitte. Desaposentação - O Caminho Para Uma Melhor Aposentadoria. 5ª Edição
Revisada e Atualizada. Niterói: Impetus, 2011.
[116]
TRF4, AC 5007217-74.2016.404.9999, Relator: JOÃO BATISTA PINTO SILVEIRA, Órgão
Julgador: SEXTA TURMA, Data da Publicação: 12/06/2017.
[117]
TRF4, AC 5035452-47.2018.4.04.7100, Relator: JOÃO BATISTA PINTO SILVEIRA, Órgão
Julgador: SEXTA TURMA, Data da Publicação: 17/08/2018.
[118]
TRF4, APELREEX 5000384-26.2015.4.04.7105, Relator: JOSÉ ANTONIO SAVARIS, Órgão
Julgador: QUINTA TURMA, Data da Publicação: 29/01/2016.
[119]
TRF4, 5000460-84.2014.4.04.7008, Relatora: LUCIANE MERLIN CLÈVE KRAVETZ, Órgão
Julgador: QUARTA TURMA RECURSAL DO PR, Data do Julgado: 08/11/2016.
[120]
TRF4, 5005255-17.2011.4.04.7113, Relator: GUSTAVO SCHNEIDER ALVES, Órgão Julgador:
TERCEIRA TURMA RECURSAL DO RS, Data do Julgado: 16/11/2016.
[121]
STF, RE 1105261 AgR, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Órgão Julgador: Segunda
Turma, Data do Jjulgado: 11/05/2018.
[122]
TRF4, AC 5004089-52.2012.404.7100, Relator: JOÃO BATISTA PINTO SILVEIRA, Órgão Julgador:
SEXTA TURMA, Data da Publicação: 10/07/2015.
[123]
TRF4, 5005255-17.2011.4.04.7113, Relator: GUSTAVO SCHNEIDER ALVES, Órgão Julgador:
TERCEIRA TURMA RECURSAL DO RS, Data do Julgado: 16/11/2016.
[124]
TRU4, 5002621-30.2011.4.04.7119, Relator: LEONARDO CASTANHO MENDES, Data da
Publicação: 14/02/2017.
[125]
TRF4, AC 5028572-73.2017.4.04.7100, Relator: ALTAIR ANTONIO GREGÓRIO, Órgão Julgador:
QUINTA TURMA, Data da Publicação: 09/03/2018.
[126]
STJ, AgInt nos EDcl no AREsp n. 171.864/PR, Relator: Napoleão Antunes Maia Filho, Órgão
Julgador: 1ª Turma, Data do Julgamento: 04/10/2016, Data da Publicação: 20/10/2016.
[127]
ROBERT, Malcon. Sobre as vantagens das Ações Civis Públicas Previdenciárias.
[128]
TRF1, 00015749620144013300, Relator: JUIZ FEDERAL POMPEU DE SOUSA BRASIL, Órgão
Julgador: 1ª CÂMARA REGIONAL PREVIDENCIÁRIA DA BAHIA, Data da Publicação: 03/05/2018.
[129]
TRF1, 00022817520164013306, Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL JOÃO LUIZ DE
SOUSA, Órgão Julgador: SEGUNDA TURMA, Data da Publicação: 09/05/2018.
[130]
JFSP, 5000116-78.2017.4.03.6183, Órgão Julgador: 7ª Vara Previdenciária Federal de São Paulo,
Data da Publicação: 26/12/2017.
[131]
TRF4, AC 5048145-34.2016.4.04.7100, Relator: ALTAIR ANTONIO GREGÓRIO, Órgão Julgador:
QUINTA TURMA, Data da Publicação: 09/03/2018.
[132]
TRF3, Ap - APELAÇÃO CÍVEL - 2180683 - 0027177-31.2016.4.03.9999, Relator:
DESEMBARGADOR FEDERAL NEWTON DE LUCCA, Órgão Julgador: OITAVA TURMA, Data do
Julgado: 07/05/2018, Data da Publicação: 21/05/2018.
[133]
TRF3, ApReeNec - APELAÇÃO/REMESSA NECESSÁRIA - 2102559 - 0003011-
73.2012.4.03.6183, Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL TORU YAMAMOTO, Órgão Julgador:
SÉTIMA TURMA, Data do Julgado: 07/05/2018, Data da Publicação: 11/05/2018.
[134]
STJ, AgInt no REsp 1.642.625/ES, Relator: Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, Órgão
Julgador: SEGUNDA TURMA, Data do Julgado: 06/06/2017, Data da Publicação: 12/06/2017.
[135]
TRF3, ACP nº 0004911-28.2011.4.03.6183.
[136]
TRF3, ApReeNec - APELAÇÃO/REMESSA NECESSÁRIA - 2102559 - 0003011-
73.2012.4.03.6183, Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL TORU YAMAMOTO, Órgão Julgador:
SÉTIMA TURMA, Data do Julgado: 07/05/2018, Data da Publicação: 11/05/2018.
[137]
TRF1, ACÓRDAO 00022817520164013306, Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL JOÃO
LUIZ DE SOUSA, Órgão Julgador: SEGUNDA TURMA, Data da Publicação: 09/05/2018.
[138]
Vistos etc.1.Recebo a apelação do INSS no efeito meramente devolutivo. Deixo de suspender os
efeitos da sentença, já que o prejuízo à lide e ao Erário Público seria muito maior do que o imediato
cumprimento das determinações ali contidas.Com a inclusão de vários segurados que não foram
contemplados pelo acordo, estes certamente não aguardarão o desfecho dessa Ação Civil Pública,
ingressando com milhares de ações - na maior parte, em vista dos valores disputados, nos Juizados
Especiais Federais. A publicidade que a demanda ganhou, pela diligente atuação da mídia, fará com que,
se a decisão não for imediatamente cumprida, a lide perca a razão de sua existência e de seus propósitos
(em especial, o de evitar o ingresso individual de demandas).A inviabilização da atuação do judiciário,
em particular dos Juizados Especiais Federais, será financeiramente mais prejudicial ao Estado do que o
que vem contido na sentença. Além disso, há o “déficit democrático” que daí será proveniente, com o
excesso de demandas e o prejuízo à atuação mais eficiente para os jurisdicionados.2. Recebida a
apelação sem suspender o julgado, dê-se vista às partes contrárias para contrarrazões. Int. in TRF3, ACP
nº 0004911-28.2011.4.03.6183
[139]
STJ, REsp 1243887/PR, Relator: Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Órgão Julgador: CORTE
ESPECIAL, Data do Julgado: 19/10/2011, Data da Publicação: 12/12/2011.
[140]
Dispositivo da sentença: ANTE TODO O EXPOSTO:I) AFASTO TODAS AS PRELIMINARES,
COM EXCEÇÃO DA INCOMPETÊNCIA DESSE JUÍZO PARA A APRECIAÇÃO DE BENEFÍCIOS
ACIDENTÁRIOS, a qual acolho com base no art. 267, inciso IV, do Código de Processo Civil. II)
HOMOLOGO EM PARTE, nos moldes do art. 269, inciso III, do Código de Processo Civil, e na exata
forma da fundamentação, o acordo de fls. 177 a 179, observados os seguintes termos: a) mantém-se o
cronograma de fls. 178 constante do item 7, letra “b”, daquela petição, preservando-se os valores
atrasados por faixa e os prazos ali indicados e considerando a quantidade de benefícios ali aposta como
número mínimo de benefícios a serem contemplados, já que outros serão incorporados nos moldes das
razões que serão deduzidas a seguir. Para viabilizar o acordo, no entanto, na perspectiva procedimental e
em especial para se atentar à questão orçamentária, estabelece-se que os benefícios que serão incluídos
(item seguinte dessa sentença) e que se encontrem na primeira faixa (até R$ 6.000,00) possam ter os
atrasados devidamente quitados, para esse universo, até o dia 31/12/2011. Quantos aos demais, que já
estão contidos no universo mínimo de benefícios do acordo (68.945), fica mantido o lapso de
30/10/2011. Da mesma forma homologa-se parte do item 7, letra “a”, no que diz respeito à incorporação
já em agosto de 2011 dos recálculos aos benefícios ali indicados. No entanto, como se trata de número
mínimo, como já dito, os benefícios que forem incluídos, por adequação aos termos do RE nº 564.354
(nos moldes do próximo item da sentença), terão a incorporação decorrente do recálculo da renda
mensal inicial em até sessenta dias da intimação pessoal do INSS desta decisão; b) fica preservado o
item 10 de fls. 179 (petição do acordo);c) fica mantido, ainda, o caráter nacional do acordo homologado;
d) resta preservada, também, a imediata integração do recálculo da renda mensal inicial aos benefícios
dos segurados na quantidade descrita no item 7, letra “b” do acordo proposto (considerado aqui como
número mínimo). Essa incorporação se dará também nos benefícios a serem agregados a seguir,
observado o prazo de até sessenta dias da intimação pessoal do INSS desta decisão. III) JULGO, NO
MAIS, PROCEDENTE EM PARTE O PEDIDO CONSTANTE DA INICIAL, NOS MOLDES DO
ART. 269, INCISO I, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL E DA FUNDAMENTAÇÃO, PARA
CONDENAR O INSS NO QUE SEGUE: a) PAGAMENTO DOS VALORES CONSTANTES DESSA
DEMANDA, UTILIZANDO-SE DA SEGUINTE METODOLOGIA DE CÁLCULO DAS RENDAS
MENSAIS INICIAIS EM VISTA DOS TETOS REFERENTES ÀS EMENDAS CONSTITUCIONAIS
Nº 20/98 E 41/03: a.1) utilizar a média dos salários-de-contribuição dos benefícios concedidos a partir
de 05 de outubro de 1988. Após, evoluir essa média até a data das Emendas e comparar com o teto novo
definido pelas Emendas Constitucionais nºs 20/98 e 41/03; a.2) se o benefício houver sido concedido
antes da Emenda Constitucional nº 20/98 e a média corrigida for superior ao teto daquele instante
(15/12/98), essa evolução deve continuar até a Emenda Constitucional nº 41/03, quando haverá a
comparação com o valor do teto naquele momento; b) PAGAMENTO DOS VALORES
DECORRENTES DO RE Nº 564.354 AOS SEGUINTES BENEFÍCIOS EXCLUÍDOS DO ACORDO
REALIZADO, OBSERVADOS OS TERMOS DA FUNDAMENTAÇÃO: b.1) abrangência da
incidência do recálculo da renda mensal inicial para os benefícios concedidos entre 05 de outubro de
1988 e 05 de abril de 1991; b.2) benefícios que tiveram revisões judiciais e administrativas processadas
nas rendas mensais iniciais dos benefícios (tais como as referentes ao IRSM e outras) e que não se
encontram necessariamente refletidas nas cartas de concessão originárias constantes do sistema
operacional, na exata forma constante da fundamentação. Para tanto, esses segurados devem ser
incluídos no cronograma referendado em parte por esse Juízo, observado novamente que o lapso para o
pagamento dos atrasados estende-se a 31/12/2011. Para as duas hipóteses anteriores, os benefícios que
forem incluídos, por adequação aos termos do RE nº 564.354, na forma da fundamentação, terão a
incorporação decorrente do recálculo da renda mensal inicial em até sessenta dias da intimação pessoal
do INSS dessa decisão. Quanto aos atrasados, deve ser observada a sua inclusão nos lapsos lá indicados,
acrescendo em número àquele indicado na coluna do número de benefícios (já que, em relação a esse
item, houve homologação em parte do acordo, sendo que o número ali existente trata-se de número
mínimo, conforme já esclarecido anteriormente). Há que se observar apenas que, para viabilizar o
acordo, no entanto, na perspectiva procedimental e em especial para se atentar para a questão
orçamentária, estabelece-se que os benefícios que serão incluídos (na forma dessa sentença) e que se
encontrem na primeira faixa (até R$ 6.000,00) possam ter os atrasados devidamente quitados, para esse
universo, até o dia 31/12/2011. Quantos aos demais, que já estão contidos no universo mínimo de
benefícios do acordo (68.945 benefícios), fica mantido o lapso de 30/10/2011.c) PAGAMENTO DE
JUROS DE 1% (UM POR CENTO) AO MÊS, EM RELAÇÃO AOS VALORES A ATRASADOS A
SEREM QUITADOS, NA FORMA DA FUNDAMENTAÇÃO. d) O TERMO INICIAL DA
PRESCRIÇÃO DOS VALORES ATRASADOS A SEREM QUITADOS DEVE COINCIDIR SEMPRE
COM A DATA DA PROPOSITURA DA DEMANDA (05 DE MAIO DE 2011). O descumprimento do
acordo na parte homologada, bem como do que foi decidido em sentença de procedência parcial da
demanda, nos termos anteriores, implica multa diária de R$ 300.000,00 (trezentos mil reais), a ser
revertida para o Fundo indicado no artigo 13 da Lei n. 7.347/85.Oficie-se à Relatora do Agravo de fls.
134/148, para ciência do teor da presente decisão. Oficie-se, também para fins de ciência da existência
dessa ação civil pública e de sua decisão, à Excelentíssima Ministra Cármen Lúcia, Relatora do RE nº
564.354. Oficie-se aos Diretores de todas as Seções Judiciárias dos Tribunais Regionais Federais, com
cópia da presente decisão, para que possam promover a sua divulgação. Em todos ofícios deve seguir,
ainda, a cópia do acordo proposto às fls. 177 a 179.Publique-se. Registre-se. Intime-se. Disponibilização
D.Eletrônico de sentença em 01/09/2011. in TRF3, ACP nº 0004911-28.2011.4.03.6183
[141]
STJ, Resp 1367479/RS, Relator: Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, Órgão Julgador:
SEGUNDA TURMA, Data do Julgado: 04/09/2014, Data da Publicação: 10/09/2014.
[142]
TRF-4, AC: 50172673420134047100 RS 5017267-34.2013.4.04.7100, Relator: HERMES SIEDLER
DA CONCEIÇÃO JÚNIOR, Órgão Julgador: SEXTA TURMA, Data de Julgamento: 09/04/2018.
[143]
TRF-4, AC: 50172673420134047100 RS 5017267-34.2013.4.04.7100, Relator: HERMES SIEDLER
DA CONCEIÇÃO JÚNIOR, Órgão Julgador: SEXTA TURMA, Data de Julgamento: 09/04/2018.
[144]
STJ, REsp 1.367.479/RS, Relator: Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, Órgão Julgador:
Segunda Turma, Data de Julgamento: 10/09/2014.
[145]
STJ, REsp 1.367.479/RS, Relator: Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, Órgão Julgador:
Segunda Turma, Data de Julgamento: 10/09/2014.
[146]
TRF4, EINF 0008828-26.2011.4.04.9999, Relator: RICARDO TEIXEIRA DO VALLE PEREIRA,
Órgão Julgador: TERCEIRA SEÇÃO, Data da Publicação: 10/01/2013.
[147]
CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista, Manual de Direito Previdenciário,
Editora Forense, 19ª edição, 2016, p. 492-493.
[148]
TRF-4, APL: 50257095220144047100 RS 5025709- 52.2014.404.7100, Relator: SALISE
MONTEIRO SANCHOTENE, Órgão Julgador: SEXTA TURMA, Data de Julgamento: 17/05/2017.
[149]
TRF-4, APL: 5006370-29.2013.4.04.7202 SC, Relator: ROGERIA FAVRETO, Órgão Julgador:
QUINTA TURMA, Data de Julgamento: 14/04/2015.
[150]
STJ, AgRg no REsp 1435797/PB Agravo Regimental no Recurso Especial 2014/0031163-5, Relator:
Ministro Benedito Gonçalves, Órgão Julgador: 1ª Turma, Data do Julgamento: 25/10/2016.
[151]
TRF4, 5068593-27.2017.4.04.9999, Relator: PAULO AFONSO BRUM VAZ, Órgão Julgador:
TURMA REGIONAL SUPLEMENTAR DE SC, Data de Publicação: 10/04/2018.
[152]
BOCHENEK, Antônio César; NASCIMENTO, Márcio Augusto. Juizados Especiais Federais Cíveis.
E-book. Porto Alegre: direito dos autores, 2011, p. 218.
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CRPS, Enunciado nº 5, de 18 de janeiro de 1994.
[154]
STJ, RE 630501, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Órgão Julgador: Tribunal Pleno, Data do
Julgado: 21/02/2013.
[155]
STF, RE: 630501 RS, Relator: Min. ELLEN GRACIE, Órgão Julgador: Tribunal Pleno, Data do
Julgamento: 21/02/2013.
[156]
STJ. Recurso Especial nº 1135946 SP 2009/0073269-0, Relator: Ministro HUMBERTO MARTINS,
Órgão Julgador: 2ª Turma, Data do Julgado: 22/09/2009.
[157]
TRF4. Apelação nº 0016234-59.2015.404.9999/RS. Relator: Rogério Favreto, Data do Julgado:
03/05/2016.
[158]
TRF4, EINF 5007039-68.2011.4.04.7003, Relator: OSNI CARDOSO FILHO, Órgão Julgador:
TERCEIRA SEÇÃO, Data da Publicação: 10/03/2016.
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