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PÔSTERES – HUMANAS, SOCIAIS APLICADAS, LINGUÍSTICAS, LETRAS, ARTES

3.1 FILOSOFIA, SOCIOLOGIA

A CONCEPÇÃO DO IMPERATIVO CATEGÓRICO NA FILOSOFIA MORAL


KANTIANA
Camila Ribeiro Menotti

A CRÍTICA DE DAVIDSON À CONCEPÇÃO PROXIMAL DE QUINE NO QUE


TANGE ÀS SENTENÇAS DE OBSERVAÇÃO
Karen Giovana Videla da Cunha Naidon

A ÉTICA COMO CIÊNCIA: ANÁLISE DA TEORIA ÉTICA DE BRENTANO SOB O


PRISMA DO MODELO CLÁSSICO DE CIÊNCIA
Mateus Romanini; Albertinho Luis Gallina

A INTER-RELAÇÃO POLÍTICO-RELIGIOSA NAS ELEIÇÕES PROPORCIONAIS


DE CAMPO MOURÃO EM 2008
Lara Bonini; Frank Mezzomo

A RELAÇÃO ENTRE OS CONCEITOS DE ORGANISMO E MÁQUINA NA OBRA


OS CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA METAFÍSICA DE MARTIN HEIDEGGER
Marcieli Eloisa Müller; Róbson Ramos dos Reis

A TAREFA DA ESCOLA E A EDUCAÇÃO PARA VALORES


Viviane Catarini Paim; Daniel José Crocoli, Paulo César Nodari

AÇÃO COLETIVA E ECONOMIA SOLIDÁRIA NO RIO GRANDE DO SUL:


REFLEXÕES SOBRE A RELAÇÃO ENTRE SOCIEDADE CIVIL E ESTADO NO
BRASIL
Gerson de Lima Oliveira

AUTONOMIA E ECONOMIA SOLIDÁRIA: EXPERIÊNCIA E TRANSFORMAÇÃO


DE PROCESSOS DE TRABALHO EM EMPREENDIMENTOS DE CONFECÇÃO
Thales Speroni Pereira da Cruz

COOPERATIVISMO E AUTOGESTÃO NA ECOMIA SOLIDÁRIA


MARCHI, Rita de; MARTINS, Ana Paula

DEPENDÊNCIA QUÍMICA E LOUCURA: REFLEXÕES SOBRE A ASSISTÊNCIA


PSIQUIÁTRICA NO ESTADO DO PARANÁ.
Attiliana De Bona Casagrande

ÉTICA AMBIENTAL E CONFLITOS MORAIS: A RESOLUÇÃO UTILITARISTA DE


P. SINGER E R. M. HARE
Gabriel Garmendia da Trindade; Lauren de Lacerda Nunes; Félix Flores Pinheiro

O PAPEL POLÍTICO DO CIENTISTA SOCIAL NOS CONFLITOS SOBRE OS


RISCOS DE MUDANÇAS AMBIENTAIS GLOBAIS
Marcela da S. Feital

POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCACIONAIS: INSERÇÃO COM INCLUSÃO?


O PROGRAMA UNIVERSIDADE PARA TODOS
Bruna Cruz de Anhaia
POSSÍVEIS DIÁLOGOS: A SOCIOLOGIA E OS ESTUDOS SOBRE AMBIENTE E
SOCIEDADE, EUA E BRASIL
Ana Carolina Vila Ramos dos Santos

PRIMEIRAS NOÇÕES DE LÓGICA


Isac Fantinel Ferreira

SOBRE O ENSINO DA ÉTICA: UM ESTUDO NA PERPECTIVA DE PLATÃO


Felipe Bragagnolo; Prof. Dr. Evaldo Kuiava

SURDEZ E CULTURA: implicações conceituais


Gabriele Vieira Neves, Evaldo Antônio Kuiava, Verónica Gomezjurado Zevallos

TECENDO RELAÇÕES ENTRE PROJETO POLITICO PEDAGÓGICO, LIGUAGEM


E AUTONOMIA EM ROUSSEAU NO CONTEXTO EDUCACIONAL
Rochele Rita Andreazza Maciel; Viviane Catarini Paim; Flávia Brocchetto Ramos

VIOLÊNCIA FAMILIAR: uma tentativa de compreensão.


Luiz Fernando Taques Fonseca Buzato

3.2 ANTROPOLOGIA, ARQUELOGIA, MUSEOLOGIA

A FERROVIA NO JORNAL O “ESTADO” DE 1903


Natana Alvina Botezini; Lucinéia Inês Weber; Maria Catarina Chitolina Zanini

AS REPRESENTAÇÃOS DA ECONOMIA SOLIDÁRIA: VALORES ECONÔMICOS


EM OPOSIÇÃO
Ivan Penteado Dourado

AS REPRESENTAÇÕES SOBRE OS NOVOS MIGRANTES BRASILEIROS RUMO A


EUROPA: GÊNERO, ETNICIDADE E PRECONCEITO
Kim Knoche; Gláucia de Oliveira Assis

COMO SE TORNAVA PÚBLICA A REPRESENTAÇÃO DA FERROVIA E DE SEUS


TRABALHADORES.
Rúbia Machado de Oliveira; Juliana Franchi da Silva; Maria Catarina Zanini

MALABARES DE FLORIANÓPOLIS
Liège Maria Martins Knoche; Tânia Welter

MEIO AMBIENTE: O QUE RESTA NA MEMÓRIA


Juliana Portes Thiago

―OS FERROVIÁRIOS EM CENA‖:ETNICIDADE,TRABALHO E MEMÓRIAS


OPERÁRIAS EM SANTA MARIA-RS .
Trícia Andrade Cardoso; Maria Catarina Zanini

3.3 HISTÓRIA, GEOGRAFIA

A CIDADE E SEUS LUGARES: ESPAÇOS DE EXPERIÊNCIAS VIVIDAS


Maicon Mariano
A DISSIDÊNCIA ENTRE OS MINISTROS SUL-RIOGRANDENSES, MANUEL LUIS
OSÓRIO E GASPAR SILVEIRA MARTINS, DURANTE O GABINETE MINISTERIAL
SINIMBU (1878), E AS CONSEQUÊNCIAS POLÍTICAS PARTIDÁRIAS NA
PROVÍNCIA DE SÃO PEDRO DO RIO GRANDE DO SUL
Priscila Roatt de Oliveira, André Átila Fertig

A FORMAÇÃO DE UM HISTORIADOR ISLÂMICO NA IDADE MÉDIA E SUA


RELAÇÃO COM O PODER: IBN KHALDUN (1332-1406)
Elaine Cristina Senko

A INFLUÊNCIA ESTADUNIDENSE NAS MUDANÇAS DE MODELOS


ECONÔMICOS NOS CASOS DE ARGENTINA E BRASIL, NO INÍCIO DO SÉCULO
XX.
Antonio Battisti Bianchet Junior

A PROPAGANDA DO NSDAP E DA AIB: ANÁLISE E COMPARAÇÕES


Edson José Perosa Junior

A PROPAGANDA NAZISTA DO KAMPFZEIT (1919-1933)


Edson José Perosa Junior

A (RE)CONSTRUÇÃO ESPACIAL DA MICRORREGIÃO GEOGRÁFICA DE CRUZ


ALTA E A ETNIA PORTUGUESA: UMA PROPOSTA PARA O ESTUDO DE REGIÃO,
PAISAGEM E CULTURA
Jessica Nene Caetano; Meri Lourdes Bezzi

A RELAÇÃO ENTRE A CONFIGURAÇÃO ESPACIAL E AS REPRESENTAÇÕES


SOCIAIS DOS MORADORES DO PRÉ-ASSENTAMENTO EMILIANO ZAPATA
Fernando Bertani Gomes; Joseli Maria Silva

A TRADIÇÃO HELENÍSTICA TRANSFORMADA NO IMPÉRIO ROMANO DO


SÉCULO II D.C.: A ANÁBASE DE ALEXANDRE MAGNO
DE ARRIANO DE NICOMÉDIA
André Luiz Leme

A UTILIZAÇÃO DE TÉCNICAS DE GEOPROCESSAMENTO COMO UMA


FERRAMENTA DE ANÁLISE DO ESPAÇO URBANO: ESTUDO DE CASO DO ALTO
CURSO DO ARROIO CANCELA, SANTA MARIA/RS.
Maria Isabel da Silva Galvão; Letícia Celise Ballejo de Oliveira; Waterloo Pereira Filho

A UTILIZAÇÃO DO TURISMO DO MUNICÍPIO DE CRUZ ALTA/RS COMO


TEMÁTICA PARA O ESTUDO DO LUGAR
Geani Nene Caetano; Benhur Pinós da Costa

A VOZ DO MONGE, A VOZ DO POVO: AS PRÉDICAS DO MONGE DO


CONTESTADO E O MANEJO DOS RECURSOS NATURAIS.
Alfredo Ricardo Silva Lopes; Eunice Sueli Nodari

AMBIENTES NATURAIS E USO DA TERRA NO ENTORNO DO COMPLEXO


LAGUNAR DO EXTREMO SUL CATARINENSE, SC.
Heloisa de Campos Lalane, Maria Paula Casagrande Marimon, Larissa Corrêa Firmino
ANÁLISE DO USO DA TERRA E DAS ÁREAS DE CONFLITOS DA BACIA
HIDROGRÁFICA DA UHE NO MUNICÍPIO DE DONA FRANCISCA - RS
Franciele Francisca Marmentini Rovani; Lueni Gonçalves Terra; Diego de Almeida Prado;
Pedro Madruga

ANÁLISE DOS MAPAS HISTÓRICOS DOS SÉC. XVII E XVIII DE ACORDO COM A
TEORIA DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DE PIAGET
Vagner de Souza Serikawa; Fernando Luiz de Paula Santil

ANÁLISE E ESPACIALIZAÇÃO DA INFRAESTRUTURA URBANA DO CONJUNTO


HABITACIONAL FERNANDO FERRARI, SANTA MARIA/RS
Letícia Celise Ballejo de Oliveira; Aline Carlise Slodkowski; Heliana de Moraes Alves

AS IMPLICAÇÕES DO MARKETING POLÍTICO NA CULTURA POLÍTICA


BRASILEIRA. (1989-1994)
Edgar de Sousa Rego

AS PESQUISAS CIENTÍFICAS NA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA


GROSSA E SUA RELAÇÃO COM O DESENVOLVIMENTO LOCAL
Dinameres Aparecida Antunes; Luiz Alexandre Gonçalves Cunha

ASPECTOS DA GEOMETRIA HIDRÁULICA DA INFRAESTRUTURA URBANA E O


EQUILÍBRIO FLUVIAL DO ARROIO CARRO QUEBRADO, GUARAPUAVA/PR
Éderson Dias de Oliveira; Márcia Cristina da Cunha; Leandro Redin Vestena; Edivaldo Lopes
Thomaz

ASSEMBLEIANOS E CATÓLICOS: UM DISCURSO SOBRE O ―ESPIRITISMO‖


Andreia Mendes de Souza Mina

CARTOGRAFIA HISTÓRICA DA REGIÃO NORDESTE DE SANTA CATARINA


André de Souza de Lima; Fabiano Antônio de Oliveira; Sandra Paschoal Leite de Camargo
Guedes

CONTRACULTURA: A história de um sonho?


BARROS, Graciele de Moraes; HOLZMANN, Liza

COPA DO MUNDO DE 1978. A DITADURA POR TRÁS DA CONQUISTA


André Marques de Oliveira; Hernán Ramiro Ramirez

―CRESCER COM O BRASIL‖: MODERNIZAÇÃO E CULTURA POLÍTICA NOS


CICLOS DE ESTUDOS DA ADESG EM SANTA CATARINA (1970-75)
Michel Goulart da Silva

EDUCAÇÃO SENTIMENTAL: A ETIQUETA NAS REVISTAS FEMININAS DOS


ANOS CINQUENTA
Jemina Fernandes Simongini

ENSINAR GEOGRAFIA: O DESAFIO NO USO DE NOVAS TECNOLOGIAS POR


PROFESSORES DO ENSINO MÉDIO
Renato Pereira; Carla Silvia Pimentel

ESTUDO COMPARATIVO E DIAGNÓSTICO DA VEGETAÇÃO ARBÓREA DOS


BAIRROS ITARARÉ, PERPÉTUO SOCORRO E CENTRO DO MUNICÍPIO DE
SANTA MARIA/RS.
Souza, Lilian Dalbem; Figueiró, Adriano Severo
FUSÃO DE IMAGENS DO SATÉLITE CBERS-2B VISANDO O ESTUDO DE
CATASTROFES NATURAIS NA SUB-BACIA DO RIO LUIS ALVES – SC
PARREIRA, Sinara Fernandes; DAL SANTO, Mariane Alves; FURTADO, Thales Vargas

GRUPOS DE PODER E SUAS RELAÇÕES: ESTUDO DE CASO DA


IMPLANTANÇÃO DA USINA HIDRELÉTRICA DE ITÁ-SC
Aline Diane Kölln

HOMENS E MULHERES NO MOVIMENTO NEGRO EM CRICIÚMA NAS DÉCADAS


DE 1970-1980
Juliana de Souza Krauss

INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETO (IED): ALGUMAS ANÁLISES DO CASO


E EVOLUÇÃO A PARTIR DE 1990
Germano Kawey Ferracin Hamada

MEMÓRIAS DO JARDIM SOFIA: CENAS DA CIDADE MIGRANTE.


Kethlen Kohl; Bruno Marques; Tiago Brand

MICROBACIA HIDROGRÁFICA TRÊS NEGRINHOS, IJUÍ/RS: ANÁLISE DO


PROJETO DE RECUPERAÇÃO AMBIENTAL EXECUTADO NO PERÍODO DE 1988
A 1992.
Adriana Binotto Bertoldo, Eliane Maria Foleto

MODELAGEM DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO CACHOEIRA UTILIZANDO O


SOFTWARE SIMILE
Gabriel Daniel Conorath; Mariane Alves Dal Santo; Francisco Henrique de Oliveira

MODIFICAÇÕES NA PAISAGEM DA ZONA COSTEIRA DECORRENTE DO USO E


OCUPAÇÃO: O CASO DO LITORAL SUL DE SANTA CATARINA, BRASIL
Bitencourt, N. L. R. ; Marimon, M. P. C.

O BANCO DO BRASIL NO COMANDO DOS PROCESSOS AQUISITIVOS DA


DÉCADA DE 2000
Alessandro Francisco Trindade de Oliveira; Sandra Lúcia Videira Góis

O FAXINAL TAQUARI DOS RIBEIROS – RIO AZUL - PR E O SISTEMA


INTEGRADO DE PRODUÇÃO: OS RISCOS DESSA INTEGRAÇÃO
Marcia Alves Soares da Silva; Thiago Alberto Coloda; Luiz Alexandre Gonçalves Cunha

O LUGAR DE VIVÊNCIA NA PERSPECTIVA DA GEOGRAFIA CULTURAL: UMA


CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO DA TENDÊNCIA HUMANÍSTICA NA CIÊNCIA
GEOGRÁFICA
Jessica Nene Caetano; Lauro César Figueiredo

O SISTEMA FAXINAL E AS VILAS RURAIS DO PARANA 12 MESES.


Thiago Alberto Coloda; Prof. Dr. Luiz Alexandre Gonçalves Cunha

OFICINA MULTIMÍDIA DE LEITURA CULTURAL PARA 5ª SÉRIE DO ENSINO


FUNDAMENTAL PÚBLICO DE RESTINGA SÊCA-RS
Heliana de Moraes Alves; Lauro Cesar Figueiredo

OS SABERES FAXINALENSES E O USO DO SOLO.


Anna Paula Lombardi; Adelita Staniski; Maria Ligia Cassol Pinto
PARANÁ – PERFIL LESTE/OESTE: CONCEPÇÕES DE UMA INVESTIDA A CAMPO
Ronan Max Prochnow; Conrado Locks Ghisi; Getúlio Silva Filho ; Paulo Roberto Vela Junior

PLURALIDADES CULTURAIS, SEXUALIDADES E RECONHECIMENTO SOCIAL


EM SANTA MARIA/RS: O CASO DAS DEMANDAS SOCIAIS DA ONG IGUALDADE
Geani Nene Caetano; Benhur Pinós da Costa

PRÁTICAS EM AGRICULTURA URBANA E PERIURBANA (AUP): DADOS


PRELIMINARES REFERENTE ÀS INICIATIVAS DESENVOLVIDAS NO
MUNICÍPIO DE ITAJAÍ/SC.
Ana Carolina Vinholi; Pedro Martins

PROPOSTA DE DELIMITAÇÃO PARA A ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DO


VACACAÍ-MIRIM-RS
Dalvana Brasil do Nascimento; Eliane Maria Foleto

―THE GOOD WAR‖ E OS VETERANOS ESTADUNIDENSES DO MAIOR CONFLITO


DO SÉCULO XX
Pauline Bitzer Rodrigues; Francisco César Alves Ferraz

UMA HISTÓRIA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA NOS SÉCULOS XVII e XVIII


Luciana de Araújo Nascimento; Célio Juvenal Costa; Sezinando Luiz Menezes

UMA TIPOLOGIA DAS VARIÁVEIS SOCIOECONÔMICAS DOS DISTRITOS DO


INTERIOR DOS CAMPOS GERAIS DO PARANÁ
Jardel de Lima; Edu Silvestre de Albuquerque

―UMA TERRA DE OPORTUNIDADES‖: A MIGRAÇÃO NO PERÍODO DE


CRESCIMENTO INDUSTRIAL EM JOINVILLE/SC – 1970/1980
Marco Aurelio Dias; Gláucia de Oliveira Assis

3.4 PSICOLOGIA, EDUCAÇÃO

A ATIVIDADE EXPERIMENTAL COMO MOTIVADORA DA


INTERDISCIPLINARIDADE ENTRE FÍSICA E MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO DE
JOVENS E ADULTOS
Elenita Eliete de Lima Ramos; Carlos Antonio Queiroz

A CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO EM JOHN DEWEY


Marcela Calixto dos Santos; Leoni Maria Padilha Henning

A IMPORTÂNCIA DA LEITURA NAS SÉRIES/ANOS INICIAIS DO ENSINO


FUNDAMENTAL
Rosa Venice Curti Crozatto; Leslie Felismino Barbosa; Lucinéa Aparecida De Rezende

A IMPORTÂNCIA DO DESENHO INFANTIL NO DESENVOLVIMENTO


EDUCACIONAL
Ana Paula de Rezende; Marelenquelem Miguel

A INSERÇÃO DO INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS NA COMUNIDADE SURDA

Deise Maria Szulczewski; Alessandra Jardim Marangoni Moita; Pedro Henrique Witchs
A INVISIBILIDADE DOS ALUNOS COM DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM E
NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS DO CAMPO
Cláucia Honnef; Daiane Loreto de Vargas

A PERCEPÇÃO DOS PROBLEMAS DAS CRIANÇAS E A PEDAGOGIA ESCOLAR


Dinara Soraia Ebbing; Estela Maris Giordani

A PRÁTICA PEDAGÓGICA E SUAS REPRESENTAÇÕES: UM ESTADO DA ARTE


NO XIV ENDIPE
Clarissa Afonso da Silveira; Nilda Stecanela

A TEORIA ALTHUSSERIANA DA ESCOLA COMO ―APARELHO IDEOLÓGICO DE


ESTADO‖ NO CONTEXTO ATUAL DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA
Carmen Aline Alvares Nogueira; Renê José Trentin Silveira

A UTILIZAÇÃO DA TECNOLOGIA DEPENDENTE NO PROCESSO


ENSINO/APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Cláudia Felisberto do Nascimento; Iandra Pavanati

ALFABETIZAÇÃO: REFLEXÕES SOBRE A LEITURA E A ESCRITA


Flávia Patricia Albiero

ATIVIDADE EXPERIMENTAL:
AÇÕES PARA A APRENDIZAGEM E ESTRATÉGIA DE MOTIVAÇÃO
Gisele M. dos Santos; Luana Portilla de Mello; Divina Zacche Pereira

AVALIAÇÃO DO EPERTÓRIO DE LEITURA DE ALUNOS DE TERCEIRA SÉRIE


DO ENSINO FUNDAMENTAL: UMA ANÁLISE DAS DIFICULDADES
APRESENTADAS
Damares Souza Silva; Melania Moroz

BIDOCÊNCIA: TENTANDO VIVENCIAR UM AMBIENTE INCLUSIVO


Maureline Petersen

CINQUENTA ANOS DO CURSO DE PEDAGOGIA DA UNIVERSIDADE DE CAXIAS


DO SUL: MEMÓRIAS QUE CONTAM UMA HISTÓRIA DE FORMAÇÃO DOCENTE
(1959 / 2009)
Sharlene Barros de Quadros

CONTRIBUIÇÕES DO CURSO DE PEDAGOGIA FRENTE ÀS DIFICULDADES


ENCONTRADAS EM SALA DE AULA POR EDUCADORES INFANTIS
Viviane Batista Carvalho

DESAFIOS E PERSPECTIVAS NA FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DO


PEDAGOGO PARA ATUAR NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL – A
PARTIR DA PESQUISA NO CONTEXTO LOCAL E REGIONAL DE CIDREIRA - RS
Liziane da Silva Barbosa; Elisandra Carnet Machado

DETERMINISMO BIOLÓGICO E EDUCAÇÃO SEXUAL: ANÁLISE RETÓRICA DA


CONCEPÇÃO DA SEXUALIDADE EM LIVROS DIDÁTICOS
Gustavo Piovezan

ELES NÃO SE ALFABETIZAM! O QUE FAZER?


Liziane da Silva Barbosa
EM BUSCA DE COMPREENSÕES SOBRE O EMPREGO E O TRABALHO DOS
PEDAGOGOS: UM ESTUDO DE CASO
Natiele Follmann; Bruna Pereira Alves; Eliziane Tainá Lunardi Ribeiro; Gabriely Muniz
Siqueira; Leonice Elci Rehfeld Nuglisch; Liliana Soares Ferreira

ENUNCIAÇÕES DE COLONOS DESCENDENTES DE ALEMÃES DO MUNICIPIO


DE DOIS IRMÃOS SOBRE A ESCOLA E A MATEMÁTICA ESCOLAR NO PERÍODO
DA CAMPANHA DE NACIONALIZAÇÃO.
Ana Cristina Wiest; Gelsa Knijnik

ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO: CONCEPÇÕES E APRENDIZAGENS


Evellyn Ledur da Silva; Estela Maris Giordani

ESTATÍSTICA E PROBABILIDADE NO ENSINO FUNDAMENTAL:


UMA ANÁLISE DE LIVROS DIDÁTICOS
Luciana Boemer Cesar Pereira; Mary Ângela Teixeira Brandalise

ESTUDO COMPARATIVO SOBRE TRAJETÓRIAS DOCENTES: MOVIMENTOS


CONSTRUTIVOS DA DOCÊNCIA SUPERIOR
Luana Rosalie Stahl; Andréia de Mello Buss; Louise Bertoldo Quatrin; Marciele Taschetto da
Silva; Silvia Maria de Aguiar Isaia

FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO NO ESTADO DE SANTA CATARINA: ANÁLISE


DAS FONTES E RECEITAS DESTINADAS À REDE ESTADUAL DE ENSINO
Rúbia Schlickmann

FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO: REMUNERAÇÃO DOS PROFESSORES NAS


ESCOLAS PÚBLICAS EM SUAS FORMAS, CONFLITOS E PERSPECTIVAS
Priscilla Dinah Costa Lourenço

―FORMA SILENCIOSA DE ENSINO‖ O ESPAÇO ESCOLAR NO CURRÍCULO DO


CENTRO EDUCACIONAL MENINO JESUS: PRODUZINDO SUBJETIVAÇÕES E
IDENTIFICAÇÕES
Carla Regina Hofstatter; Gladys Mary Ghizoni Teive

FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE ENSINO TÉCNICO E TECNOLÓGICO DO


IFSC: Educação, trabalho e as TICs.
Carlos Cezar Silva Hermenegildo; Sônia Maria Martins de Melo

IMPLICAÇÕES DA ESPECIALIZAÇÃO PROEJA PARA A FORMAÇÃO DO


DOCENTE.
Édice Cechinel; Suzy Pascoali

INTERLIGAÇÕES ENTRE TEORIA E PRÁTICA: POLÍTICA INCLUSIVA E


REALIDADE ESCOLAR
Maureline Petersen; Leandra Bôer Possa

JORNAL DA CIÊNCIA NO ÂMBITO DO GRUPO DE PESQUISA EDUCAÇÃO,


CULTURA E SOCIEDADE DA UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA
Mariana Borba Fernandes; Neide Almeida Fiori
LABORATÓRIO DE ALFABETIZAÇÃO: SOCIALIZAÇÃO ENTRE OS ALUNOS E
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS
Thaiana Dalmazo Brunhauser; Elizandra Aparecida Nascimento Gelocha, Francine Bopp
Pereira

LITERATURA INFANTIL: INSTRUMENTO DE ENSINO/APRENDIZAGEM E


TRANSFORMAÇÃO
Kariny Von Dentz; Christiani dos Santos Guedes Machado

MEMÓRIAS E RELATOS AUTOBIOGRAFICOS DE ALFABETIZADORAS: UM


ESTUDO SOBRE AS CARTILHAS DE ALFABETIZAÇÃO NAS ESCOLAS
MUNICIPAIS RURAIS DO RIO GRANDE DO SUL
Francine Bopp Pereira; Thaiana Brunhauser; Elizandra Aparecida Nascimento Gelocha

MULHERES E EJA: O QUE ELAS BUSCAM?


Amina Ciandra Oro; Rosa Cristiana Schavinski Weschenfelder
Orientadora: Nilda Stecanela

O QUE AS TEORIAS DA APRENDIZAGEM NÃO ENSINAM?


Martha M W Hoppe; Liziane da Silva Barbosa

O USO DAS TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS EM UMA ESCOLA DE EDUCAÇÃO


BÁSICA E A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EXPRESSA NO
PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO
Paula Évile Cardoso; Divania Luzia Rodrigues

OBSERVAÇÃO ETNOGRÁFICA CENTRO DE UMBANDA EXUMARÉ


FLORIANÓPOLIS/SC
Priscila Cristina Freitas; Maria Fernanda B. F. W. Paula

OFICINAS: UMA FUGA DO ENSINO TRADICIONAL


Evandro Both

OS CONFLITOS E OS SENTIMENTOS PRESENTES NA RELAÇÃO PEDAGÓGICA E


SEUS ENTRELAÇAMENTOS NA CONSTRUÇÃO DA PERSONALIDADE MORAL
Vívian Jamile Beling; DANI, Lúcia Salete Celish

OS SENTIDOS DO TRABALHO DOS PEDAGOGOS NOS CONTEXTOS


ESCOLARES.
Maria Cecília Martins Manckel; Aimara Vilane Bolsi; Caroline Foletto Bevilaqua; Eliziane
Tainá Lunardi Ribeiro ; Gabriel dos Santos Kehler ; Letícia Ramalho Brittes; Liliana Soares
Ferreira

PAPEL DO EDUCADOR FRENTE ÀS DIFICULDADES NA ALFABETIZAÇÃO


Flávia Patricia Albiero

PERSPECTIVA DIALÉTICA DE VIGOTSKI NA COMPREENSÃO DO


DESENVOLVIMENTO HUMANO
Ila Leão Ayres Koshino; João Batista Martins

POR UMA DIDÁTICA DA ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO


Jilvania Lima dos Santos Bazzo; Aline Inácio Decker
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS RELACIONADAS AOS CONTEÚDOS DO EIXO
TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO NAS SÉRIES FINAIS DO ENSINO
FUNDAMENTAL
Debora Laranjeira Colodel; Mary Ângela Teixeira Brandalise

PROJETO ABRAPALAVRA
Rochele R. Andreazza Maciel; Flávia Brocchetto Ramos

PROVA BRASIL: DESCRITORES DE AVALIAÇÃO DE MATEMÁTICA


Isabel Cristina Ribeiro; Mary Ângela Teixeira Brandalise

RELAÇÕES DE PODER E SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DE SANTA


CATARINA: REFLEXÕES SOBRE ALGUMAS PRÁTICAS
Ana Merabe de Souza; Gladys Mary Ghizoni Teive

SEXUALIDADE NA ESCOLA: PERCEPÇÕES E ATITUDES DO PROFESSOR


Marina Matiello

TECNOLOGIA, CIBERCULTURA E FORMAÇÃO DOCENTE


Iandra Pavanati; Richard Perassi Luiz de Sousa

UMA EXPERIÊNCIA QUE RELACIONA A IMPORTÂNCIA DO JOGO PARA A


APRENDIZAGEM
Marisa Dal Ongaro; Helenise Sangoi Antunes

VISÃO HOLÍSTICA NA EDUCAÇÃO


Maria Terezinha Goulart da Silva; Edilene Soraia da Silva

3.5 CIÊNCIA POLÍTICA, TEOLOGIA, DIREITO

A DECISÃO ÉTICA EM ARISTÓTELES E SUA IMPORTÂNCIA NA ORGANIZAÇÃO


HUMANA
Douglas Sanmartin Martins

A IMPORTÂNCIA DO DIREITO NATURAL COMO FUNDAMENTO DOS DIREITOS


HUMANOS
Hanna Antunes David Alves Martins; Alzira Eça de Argolo Faustino

A PRIVATIZAÇÃO DA SAÚDE NO BRASIL: UMA ANÁLISE DAS TRANFERÊNCIAS


DISSIMULADAS AO SETOR PRIVADO
Gabriela de Abreu Oliveira

AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA – ANEEL: UM ESTUDO SOBRE


SUA CRIAÇÃO E A EFICÁCIA DOS MECANISMOS DE INTERFACE COM O
CIDADÃO
Janaína Nack Hainzenreder

AGÊNCIA NACIONAL DE PETRÓLEO E BIOCOMBUSTÍVEIS (ANP) E O DÉFICIT


DE PARTICIPAÇÃO CIDADÃ
Nicholas Soares Zucchetti
CARTÃO DE CRÉDITO: RESPONSABILIDADE PELO PAGAMENTO
DECORRENTE DE SUA UTILIZAÇÃO ILICITA NOS CASOS DE FURTO, ROUBO
OU EXTORSÃO
Lucas Machado; Laís Brum

COMPORTAMENTO PARLAMENTAR E COESÃO PARTIDÁRIA: UMA ANÁLISE


DAS VOTAÇÕES NOMINAIS NA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO
PARANÁ NA 16ª LEGISLATURA (2008-2010).
Roberta Picussa

CONSTITUIÇÃO DE 1988 X PDRAE: UMA DISPUTA NA ÁREA DA SAÚDE?


Estéfani Sandmann de Deus; Victoria Figueira da Silva

JOVENS E ADOLESCENTES DE COMUNIDADES DA PERIFERIA DE


FLORIANÓPOLIS E O ESPORTE COMO POSSIBILIDADE DE FORMAÇÃO
CIDADÃ: UM ESTUDO DE CASO DESTE CONTEXTO DE 1989 A 2009.
Alfredo Balduíno Santos

MOUSE OCULAR: PERSPECTIVAS PARA PENSAR A INTERAÇÃO HOMEM-


MÁQUINA E O PROCESSO DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO
Adriane Aparecida Loper; João Batista Martins

NOVAS TECNOLOGIAS E AÇAO POLITICA: UM ESTUDO SOBRE A INFLUÊNCIA


DO FENÔMENO DA INTERNET NA MÍDIA E NA OPINIÃO PÚBLICA
Natasha Bachini Pereira

NÚCLEO DE ESTUDOS DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A


MULHER NA CIDADE DE PONTA GROSSA
Valquíria do Amaral·; Sandra Regina Merlo; Kelly Sabriny Krik

O ACESSO À DOCUMENTAÇÃO BÁSICA AO EXERCÍCIO DA CIDADANIA, COMO


SALVAGUARDA DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E DA
INCLUSÃO SOCIAL DO ADOLESCENTE EGRESSO DO SISTEMA SÓCIO-
EDUCATIVO E DE SUA FAMÍLIA NA REGIÃO DE PONTA GROSSA –PR.
Elisa Stroberg Schultz, Dircéia Moreira, Paulo Fernando Pinheiro

O INSTITUTO DA ADOÇÃO INTERNACIONAL E A SUA IMPORTÂNCIA PARA AS


RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Pollyanna Gerola Giarola

O JULGAMENTO DOS RECURSOS NOS PROCEDIMENTOS LICITATÓRIOS PELA


ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: análise da possível afronta aos princípios do Estado
Democrático de Direito ante ao desrespeito ao devido processo legal
Helena Grassi Fontana

POSSIBILIDADES PARA UM MODELO ALTERNATIVO DE GESTÃO PÚBLICA:


EM BUSCA DE UM NOVO REFERENCIAL TEÓRICO
Aragon Érico Dasso Júnior

PROBLEMAS NA EFETIVAÇÃO DA POLÍTICA DE INOVAÇÃO NO BRASIL


João Henrique Pickcius Celant; Ágatha Cristine Depiné

SOCIEDADE CIVIL E PARTICIPAÇÃO POLÍTICA NAS DEMOCRACIAS


CONTEMPORÂNEAS: UMA ABORDAGEM
Vinícius Ramos Lanças
TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE: UMA ABORDAGEM SOBRE A
RESPONSABILIDADE CIVIL NA ADVOCACIA E AS CONSEQÜÊNCIAS
CAUSADAS À VÍTIMA E AO SEU PROCURADOR PELA CHANCE PERDIDA.
Hanna Antunes David Alves Martins; Alzira Eça de Argolo Faustino

3.6 LINGUÍSTICA, LETRAS, ARTES

A AFINAÇÃO JUSTA E PITAGÓRICA NOS TRATADOS DO PERÍODO


RENASCENTISTA E SEU USO E INTERPRETAÇÃO NA MÚSICA CORAL
Erico Bondezan; Dr.Marcus Alessi Bittencourt

A ANÁLISE DO DISCURSO APLICADA À VIVÊNCIAS LITERÁRIAS DE JOVENS:


PERSPECTIVAS TEÓRICAS BAKHTINIANAS
Ricardo Sombrio; Ângela Cristina di Palma Back

A AVALIATIVIDADE EM TEXTO PUBLICITÁRIO – UM ESTUDO DAS


ESTRATÉGIAS PERSUASIVAS
Daniela Leite Rodrigues; Sara Regina Scotta Cabral

A BUSCA DA ORGANICIDADE DO ATOR EM CENA


NA CONSTRUÇÃO DE UM ESPETÁCULO-SOLO
André Galarça; Beatriz Maria Pippi Quintanilha

A CARACTERIZAÇÃO DE DUAS VERSÕES DA FÁBULA O LOBO E O CORDEIRO A


PARTIR DA ESTRUTURA POTENCIAL GENÉRICA (EPG)
Gessélda Somavilla Farencena

A CONSTRUÇÃO DO ESPETÁCULO TEATRAL ―MATRIMÔNIO‖ A PARTIR DE


TRÊS PESQUISAS DE NATUREZA DISTINTA
Pablo Canalles; Juliet Regina Castaldello; André Galarça

A DIDATIZAÇÃO DOS GÊNEROS DO DISCURSO SOB DIFERENTES


PERSPECTIVAS
Tiago dos Santos Búrigo; Ângela Cristina di Palma Back

A EXPERIÊNCIA DO CINEMA NA ARTE CONTEMPORÂNEA


Wagner Jonasson da Costa Lima

A INFLUÊNCIA DE ASPECTOS NÃO-VERBAIS NA LEITURA DE TEXTOS


JORNALÍSTICOS
Suellen Lopes Barroso; Adriana da Silva

A LITERATURA DE CORDEL N’A PEDRA DO REINO


Rafael Munhoz; Silvana Oliveira

A REFACÇÃO DE TEXTOS NARRATIVOS DE ALUNOS DA 7ª. SÉRIE DO ENSINO


FUNDAMENTAL
Fernanda Aparecida Israel; Elódia Constantino Roman

A RELAÇÃO SABER-PODER E A PRODUÇÃO DE IDENTIDADES NO DISCURSO:


SUJEITO-PROFESSOR E SUJEITO-ALUNO HIPERATIVO
Bruno Franceschini; Pedro Navarro
A RETEXTUALIZAÇÃO EM INTERAÇÕES TELEFÔNICAS
Carlos Alexandre Fonseca Pereira

A SONATA PARA FLAUTA, VIOLA E HARPA DE CLAUDE DEBUSSY


Menan Medeiros Duwe; Acácio Tadeu de Camargo Piedade

AÇÃO VOCAL: A VOZ COMO INDUTORA E COMO RESULTANTE DA AÇÃO NOS


PROCESSOS CRIATIVOS DO ATOR
Angélica Gardin Ertel

ADAPTAÇÃO DE MATERIAIS NO ENSINO DE ARTE PARA PESSOAS COM


DEFICIÊNCIA VISUAL
Adriane Cristine Kirst

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE OS PERSONAGENS NA TRADUÇÃO


MACHADIANA DE OLIVER TWIST
Franciano Camelo; Maria Eulália Ramicelli

ANÁLISE LITERÁRIA DE LIVROS ILUSTRADOS


Adriana Maximino dos Santos; Manuela Acássia Accácio

APLICAÇÃO DA LEI 11.645/08: (RE) CONSTRUINDO UMA IDENTIDADE ÉTNICA


Lucilea Kalva

ARTE E MODA: ALGUMAS OBRAS, ALGUNS ARTISTAS


Marianna Stumpp

ARTE X DESIGN: SINGULARIDADES E HIBRIDISMOS


Reinilda de Fátima B. Minuzzi; Cristiane Ziegler Leal

BLANCHOT, LEVINAS E A ―ESCRITURA DO DESASTRE‖ NAS ARTES VISUAIS


CONTEMPORÂNEAS
Anita Prado Konesky; Daisy Mary da Silva Proença

CHOPIN POR LISZT: O BRILHANTISMO DE UMA DANÇA.


Willian Fernandes de Souza, Guilherme Sauerbronn de Barros

CRIAÇÃO DE PAINÉIS ATRAVÉS DE DIVERSAS TÉCNICAS ARTISTICAS:


CONSIDERAÇÕES ACERCA DO PROCESSO DE CRIAÇÃO
Priscilla Ziembowicz da Costa

DAS RUAS PARA AS REDES: O RAP E SEUS CAMINHOS NAS MÍDIAS


Mariana Santos de Assis

DESCONTINUIDADES E DISPOSITIVOS RELACIONAIS EM PROCESSOS


COLETIVOS E PRÁTICA ARTÍSTICA EM COMUNIDADES:HORTAS E ARTE
Janice Martins Sitya Appel

DESIGN DE ESTAMPARIA ALIADO À TECNOLOGIA TÊXTIL: SOMBRINHA


COMO PROTEÇÃO SOLAR
Milene Miorim Beust; Reinilda Minuzzi

DICIONÁRIOS: MANUTENÇÃO E ATUALIZAÇÃO DE SABERES


Natieli Luiza Branco
DISCURSO E(M) IMAGEM SOBRE O FEMININO: O SUJEITO NAS TELAS
Jonathan Raphael Bertassi da Silva; Lucília Maria Sousa Romão

DO TEATRO QUE NOS MOVE AO TEATRO QUE QUEREMOS MOVER:


PERSPECTIVAS PARA O TEATRO DE GRUPO NO SÉCULO XXI
Laédio José Martins; Raquel Guerra

DOS JOVENS FILHOS DE GAIA E URANO AOS ADOLESCENTES DO GOOGLE EM


SEUS PROCESSOS DE EDUCAÇÃO SEXUAL
Enemarí Salete Poletti; Sonia Maria Martins de Melo

EFEITOS DE SENTIDOS DO TRABALHO DOS PROFESSORES DE LÍNGUA


MATERNA NA PERSPECTIVA DOS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS
Letícia Ramalho Brittes

EM MEIO A ESFERAS E SUPERFÍCIES DE CONTATO


Odete Angelina Calderan

EMBATE LUSO-CASTELHANO NA HISTORIOGRAFIA SUL-RIO-GRANDENSE


POR UMA PERSPECTIVA DISCURSIVA
Emanuele Bitencourt Neves Camani

ENFRENTAMENTOS PEDAGÓGICOS A PARTIR DA CLASSE DE APOIO E DA


CLASSE DE RECURSOS¹
Ariane Letícia Walylo Ricexenete

ETAPAS DA ELABORAÇÃO DA ENTREVISTA COMO INSTRUMENTO DE


PESQUISA
Cássia Gianni de Lima; Jaqueline Ana Faria Lenzi

EXPERIÊNCIAS DO ATOR NEGRO NO TEATRO DE GRUPO: POÉTICAS E


IDENTIDADES
Adriana Patrícia dos Santos

FAMÍLIA, INCLUSÃO E ARTE: A FORMAÇÃO ARTÍSTICA DE ALUNOS COM


DEFICIÊNCIA PELA ÓTICA DOS PAIS
Priscila Anversa

FICTÍCIO E IMAGINÁRIO:
CONSIDERAÇÕES SOBRE A RECEPÇÃO TEATRAL
Cláudia Muller Sachs

GÊNEROS TEXTUAIS: UMA ESTRATÉGIA DE APROXIMAÇÃO ALUNO-


CONTEÚDO
Lucan Fernandes Moreno; Lúcia Maria Nunes ; Valeska Gracioso Carlos

GRUPOS DE DIÁLOGO: RECONHECIMENTO DO DISCURSO JUVENIL FRENTE A


REALIDADE ESCOLAR
Marli da Silva; Cíndia Jesana Micaela Millane da Silva; Elisete M. Tomazetti

HÉLIO OITICICA: A ARTE COMO AFIRMAÇÃO DO DEVIR


Carolina Votto Silva
IDENTIDADE E PARTICIPAÇÃO EM COMUNIDADES DE PRÁTICA: UMA
ANÁLISE DO ENFOPLI (2008-2009)
Leonardo Neves Corrêa; Telma Gimenez

INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE EM O RASTRO DO SÂNDALO, DE ASHA MIRÓ


E ANNA SOLER-PONT
Ana Paula Cantarelli; Geice Peres Nunes

INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE: O ENSINO DA LÍNGUA NA ERA DA


TECNOLOGIA
Diva Conceição Ribeiro

INTERTEXTOS ENTRE HISTÓRIA E LITERATURA EM AS NAUS DE ANTÓNIO


LOBO ANTUNES.
Rodrigo Corrêa Martins Machado; Gerson Luiz Roani

―LÊ‖ OU ―EU GOSTARIA QUE VOCÊ LESSE‖?: AS ESCOLHAS TEXTUAIS NA


PRODUÇÃO DE BILHETES INFANTIS
Tafarel Schmitt

LETRAMENTO: UMA REVISÃO CONCEITUAL


Janete Teresinha Arnt; Sofia Uberti; Thaiane Socoloski

LEVANTAMENTO, ESTABELECIMENTO DE TEXTO E ANÁLISE DAS PEÇAS DE


ABÍLIO PEREIRA DE ALMEIDA (CEDAE / IEL).
Gabriela Soares Über

LITERATURA E DIVERSIDADE: PERSPECTIVA PARA O CURRÍCULO


MULTIRRACIAL NO ENSINO MÉDIO E NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
Angela Maria Ferreira

LIVROS DIDÁTICOS DE LÍNGUA INGLESA PARA CRIANÇAS: UMA ANÁLISE


CRÍTICA E QUALITATIVA
Richarles Souza de Carvalho

LUSO OU CASTELHANO? — UMA ANÁLISE DISCURSIVA DA FORMAÇÃO


IDENTITÁRIA DO SUJEITO GAÚCHO ATRAVÉS DOS TEXTOS QUE VERSAM A
HISTORIOGRAFIA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Emanuele Bitencourt Neves Camani

MARCADORES DISCURSIVOS EM TRABALHOS DE CONCLUSÃO DE CURSO NA


ÁREA DE ADMINISTRAÇÃO
Andréia Maris Perius; Lucia Rottava

―MAS SERIA INTERESSANTE QUE VOCÊ SOUBESSE‖: uma estratégia para


encaminhar o encerramento de ligações no Disque Saúde
Lucélia Maria Dalo; Ana Cristina Ostermann

MÍDIA E ESCOLA
Roselei Fistarol; Rejane Carminatti

MORALIDADE(S) NA FALA-EM-INTERAÇÃO: FORMATOS QUE AMENIZAM A


DELICADEZA INTERACIONAL
Rochele Bierhals Pereira; Ana Cristina Ostermann
O ATOR POETA NA DRAMATURGIA CONSTRUÍDA A PARTIR DA
IMPROVISAÇÃO TEATRAL
Patrícia dos Santos Silveira

O LEGADO DA PERFORMANCE ARTE PARA A CENA CONTEMPORÂNEA


Gustavo Oliveira Scherer; Gisela Reis Biancalana; Francine Ivana Flach

O REPERTÓRIO SONORO TEATRAL COMO CONDUTOR DA DRAMATURGIA DA


CENA
Morgana Martins

O TEATRO DE REVISTA NA CENA CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA


Francine Ivana Flach; Gisela Reis Biancalana; Gustavo Oliveira Scherer

O TEATRO DE REVISTA NA CENA CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA


Francine Ivana Flach; Gisela Reis Biancalana; Gustavo Oliveira Scherer

O TRABALHO SOBRE A PALAVRA EM BECKETT


Renata Dombroski Petisco

OS NOVOS ESPAÇOS DA CRÍTICA TEATRAL


Heliana Maria Mello

PHILIP ROTH E O COMPLÔ EM THE HUMAN STAIN


Lauro Iglesias Quadrado

POESIA POPULAR DO NORDESTE: UM TERRENO EXPRESSIVO DE INOVAÇÃO


E SUSTENTABILIDADE
Geice Peres Nunes; Ana Paula Cantarelli

POÉTICA DIGITAL: CRIAÇÃO COLABORATIVA NO FLUXO COMUNICACIONAL


Rogério Tubias Schraiber

POR UMA BIOGRAFEMÁTICA DE INFÂNCIA


Ana Cristina Franz; Dayana Matos

(PRE)TEXTO CIENTÍFICO: UM MECANISMO DE DIVULGAÇÃO JORNALÍSTICO


Paulo Henrique Simon

PROFESSORES DE ARTES VISUAIS ONLINE, APRENDENDO NA REDE


Katyúscia Sosnowski

PROGRAMA DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA - O TEATRO FORA DO EIXO


Pablo Canalles; Girrezi Ribas; Gelton Quadros

REALIDADE VIRTUAL: DIFERENTES NÍVEIS DE IMERSÃO NA ARTE


Greice Antolini Silveira

REFLEXÕES SOBRE A ORALIDADE COMO OBJETO DE ENSINO E PESQUISA


Dalva Maria Alves Godoy; Jilvania Lima dos Santos Bazzo; Arlene Koglin

RELAÇÕES ENTRE MEIOS GRÁFICOS COMERCIAIS E PRODUÇÕES


ARTÍSTICAS CONTEMPORÂNEAS
Rielen Neves; Renato Torres
REPRESENTAÇÂO SOCIAL DA LEITURA: ESPAÇOS SOCIAIS E FORMAÇÃO DO
LEITOR
Camila Rita Lelis; Elisa Cristina Lopes

SMOKED LOVE: ESTUDOS SOBRE PERFORMANCE E DRAMATURGIA DO ATOR


CONTEMPORÂNEO.
Daiane Dordete Steckert Jacobs

SOBRE ANJOS E SUAS ASAS NA ARTE


Fernanda Maria Trentini Carneiro

SOFTWARES DE MÚSICA LIVRES: UMA PROPOSTA DE INOVAÇÃO E


SUSTENTABILIDADE PARA A EDUCAÇÃO MUSICAL
Gabriel Ferrão Moreira

TRABALHANDO COM AS MÚLTIPLAS LINGUAGENS: POSSIBILIDADES DE USO


DE MÚSICA COMO RECURSO DIDÁTICO NO ENSINO INSTRUMENTAL DA
LÍNGUA PORTUGUESA NO CASO POLICIA CAMINERA URUGUAYA
Andriza Pujol de Ávila; Guilherme da Silva dos Santos

TRANSARTE IV TRANSDISCIPLINARIDADE E INTERSEMIOSES NO ENSINO DA


ARTE NÃO FORMAL.
Sandra Regina Ramalho e Oliveira; Milka Lorena Plaza Carvajal; Fabian Giese; Sarah Push
Nogueira

TRANSFORMAÇÕES NO CENÁRIO DA ARTE CONTEMPORÂNEA: DA


COMUNICAÇÃO DE MASSA À CULTURA DA CONVERGÊNCIA
Débora Aita Gasparetto

ULTRAPASSANDO OS LIMITES ENTRE O INFANTIL E O ADULTO EM


LITERATURA
Adriana Maximino dos Santos; Manuela Acássia Accácio

UM ESTUDO SOBRE A ANIMAÇÃO DE BONECOS À VISTA DO PÚBLICO


Alex de Souza; Valmor “Nini” Beltrame

―UMA COLEGA MINHA ELA SENTE ISSO‖: TERCEIRIZAÇÕES


E GENERALIZAÇÕES EM LIGAÇÕES PARA O DISQUE SAÚDE DA MULHER
Minéia Frezza; Ana Cristina Ostermann

VÉIO: UM ARTISTA BRASILEIRO.


Cleonice Terezinha Gonçalves de Morais; Jailson Valentim dos Santos

3.7 ADMINISTRAÇÃO, ECONOMIA

A INFLUÊNCIA DOS ATRIBUTOS NA DECISÃO DE COMPRA DE AUTOMÓVEIS:


UM EXERCÍCIO EM PALMEIRA DAS MISSÕES
Bianca Jupiara Fortes; Eduardo Antonio Danieli; Cristiane Rosa Moreira

ADOÇÃO DE ESTRATÉGIAS PELAS COOPERATIVAS AGROPECUÁRIAS –


ALTERNATIVA OU NECESSIDADE?
Bruno Alex Branco; Pedro Pelegrineli Fasolin; Régio Marcio Toesca Gimenes
AGERGS e a avaliação da qualidade dos serviços públicos sob a ótica da participação
cidadã
Cláucia Piccoli Faganello; Aragon Érico Dasso Júnior

ANÁLISE DA COBRANÇA PELO USO DA ÁGUA NA BACIA O RIO PARAÍBA DO


SUL SOB A VISÃO INSTITUCIONAL
Bruno Moriggi; Amália Maria Goldberg Godoy

ANÁLISE DA REDE CIA. DE SAÚDE PRODUTOS NATURAIS EM SEUS


ASSOCIADOS
Avelino Euclides da Silva Chimbulo; Elisangela Machado Rodrigues; Simone Meister Sommer
Biléssimo

ANÁLISE DAS CARACTERÍSTICAS DE TRABALHADORES DA CONSTRUÇÃO


CIVIL NO RIO GRANDE DO SUL, NO PERÍODO DE 2002 A 2008.
Jaqueline Silinske ; Joana Kirchner Benetti; Rosane Maria Kirchner; Eniva Miladi Fernandes
Stumm

ANÁLISE DAS HABILIDADES COGNITIVAS REQUERIDAS DOS ACADÊMICOS


DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO DA UNESC, UTILIZANDO-SE
DOS INDICADORES FUNDAMENTADOS NA TAXIONOMIA DE BLOOM
Beatriz Casagrande de Assis; Edi Réus Junior

ANÁLISE DOS FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO (FCS) EM UMA ORGANIZAÇÃO


DE EVENTOS DA CIDADE DE MOSSORÓ – RN
Hudson do Vale de Oliveira; Vinícius Claudino de Sá; Andréa Kaliany da Costa Lima; Ana
Karina dos Santos Souza Queiroz

APLICAÇÕES DAS FERRAMENTAS DE GERÊNCIA DE PROCESSOS: UM ESTUDO


APLICADO EM UMA EMPRESA DO SETOR AUTOMOTIVO
Saionara da Silva; Marcelo Erthal; Roberto Carlos Mello; Jean Beraldin

ASSISTÊNCIA CONTÁBIL E FINANCEIRA AOS PRODUTORES RURAIS DO


MUNICÍPIO DE SANTA MARIA/RS
Jaqueline Carla Guse; Francesca Rosa Ambros; Luiz Antonio Rossi de Freitas; Marivane
Vestena Rossato

CAPACIDADES PARA O EMPREENDEDORISMO INTERNACIONAL: A


CONTRUÇÃO DE UMA ESCALA DE AVALIAÇÃO
Adriana Martelli; Claudia Borba Matos

CT&I PARA O DESENVOLVIMENTO DA ENERGIA RENOVÁVEL: PANORAMA


DAS ATIVIDADES DE P&D NO SETOR EÓLICO POTIGUAR.
Sabrina Carla Alves da Silva; Dr. Edilson da Silva Pedro

DIAGNÓSTICO DA VISÃO ESTRATÉGICA DAS EMPRESAS DA QUARTA


COLÔNIA NA REGIÃO CENTRAL DO RIO GRANDE DO SUL.
Caroline Haack

DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS PRESTADOS EM ACADEMIAS DE


GINÁSTICA EM UMA REGIÃO DE FLORIANÓPOLIS
Thiago Caon; William Ramos
DIMENSÕES DO GOVERNO ELETRÔNICO: UM ESTUDO NAS PREFEITURAS DO
RIO GRANDE DO SUL
Daiane Missio; Cristiane Rosa Moreira

E-COMMERCE – IDENTIFICAÇÃO DE VANTAGENS COMPETITIVAS E


POTENCIALIZAÇÃO DE NEGÓCIOS ÁS PEQUENAS EMPRESAS DO MUNICÍPIO
DE SÃO BENTO DO SUL.
Jaison Danilo Alves; Liandra Pereira

EMPRESAS FAMILIARES EM MEIO AO MERCADO AMPLAMENTE


COMPETITIVO
Saionara da Silva

ESTIMANDO A DEMANDA BRASIELIRA DE MILHO DE 1980 A 2009


Dieison Lenon Casagrande; Adayr da Silva Ilha

ESTUDO DO COMPORTAMENTO DOS PREÇOS PAGOS AOS PRODUTORES DE


UVA DE MESA NO RIO GRANDE DO SUL ATRAVÉS DE MODELOS ESTUTURAIS
CLÁSSICOS
Donisete da Silva Almeida; Maria Emilia Camargo

GÊNERO E ESCOLARIZAÇÃO NO MERCADO FORMAL DE TRABALHO:


ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DE CAXIAS DO SUL, PERÍODO 2003, 2005 e 200
Ronaldo Freitas Henquer; Luciane Sgarbi Grazziotin; Natália Pietra Mendéz

GÊNERO E TRABALHO NA DÉCADA DE 2000: MUDANÇAS E PERMANÊNCIAS


NA ORGANIZAÇÃO E SEGREGAÇÃO DO TRABALHO NO SETOR DE SERVIÇOS
INDUSTRIAIS DE UTILIDADE PÚBLICA EM CAXIAS DO SUL
David Gustavo Dalponte;.Natalia Pietra Méndez; Luciane Sgarbi Santos Grazziotin

GESTÃO DE PESSOAS NAS EMPRESAS DA REGIÃO DA QUARTA COLÔNIA


Celina Hoffmann; Dirciéli Buligon; Marilúcia Bertagnolli; Priscila Espig; Sirlei Glasenapp

IDENTIFICAÇÃO DA MATRIZ EXPORTADORA E IMPORTADORA DA REGIÃO


NOROESTE DO RIO GRANDE DO SUL
Shaiane Caroline Kochhann; Cristiano Henrique da Veiga

MODELAGEM DA PRODUÇÃO DE LEITE NO COREDE RIO DA VÁRZEA DO RIO


GRANDE DO SUL
Jaqueline Silinske; Rosane Maria Kirchner; Eniva Miladi Fernandes Stumm; Joana K Benetti

RESUMO: NOVAS CAPACIDADES DO SERVIDOR PÚBLICO FRENTE Á


CONTEMPORANEIDADE.
Sulivan Desirée Fischer; Dalva Magro

O REGISTRO DE MARCA COMO DIFERENCIAL DE COMPETITIVIDADE PARA


AS MICROEMPRESAS DE BLUMENAU
Fernando Gavião Souza

ORIENTAÇÃO EMPREENDEDORA ENTRE JOVENS BRASILEIROS: O IMPACTO


DA EDUCAÇÃO, CULTURA E MEIO AMBIENTE
Geanderson de Souza Lenz; Fernando Santini
OS DESAFIOS DE PRODUZIR CONHECIMENTO CIENTÍFICO
SOB A ÉGIDE DA NOVA GESTÃO PUBLICA
Dalva Magro

OS IMPACTOS DAS EXPORTAÇÕES SOBRE A REDE URBANA NO BRASIL PÓS-


ABERTURA COMERCIAL
Danilo Sartorello Spinola

OS PREÇOS DOS PRINCIPAIS GRÃOS NO RIO GRANDE DO SUL: UMA


COMPARAÇÃO ENTRE OS PERÍODOS PRÉ E PÓS-ESTABILIZAÇÃO
ECONÔMICA
Diogo Signor; Solange Regina Marin

PLANO DE MARKETING: UM ESTUDO DE CASO


NO ARQUIVO FOTOGRÁFICO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA.
Marla Eveline Martins Machado

PROPOSIÇÃO DE INTRUMENTOS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL A


PARTIR DE MECANISMOS DE COMANDO E CONTROLE E
MECANISMOS DE MERCADO
Carina Cargnelutti Dal Pai. Isa de Oliveira Rocha

RESPONSABILIDADE SOCIAL: UM PARADIGMA A SER QUEBRADO


Sandra Aline Halmenschlager; David Lorenzi Júnior; Gilberto Martins Santos

SISTEMA DE INFORMAÇÃO OBSERVATÓRIO DA EDUCAÇÃO: A UTILIZAÇÃO


DA INTELIGÊNCIA COMPETITIVA EM IES COMO VANTAGEM ESTRATÉGICA.
Fábio Rodrigues Schirmann; Oscar Dalfovo; Airan Arine Possamai

TRANSPARÊNCIA NOS PORTAIS MUNICIPAIS DA MICRORREGIÃO DE


CARAZINHO RS
Mari Eldionara Rosa Machado; Cristiane Rosa Moreira

3.8 TURISMO, ARQUITETURA, PLANEJAMENTO URBANO E DEMOGRAFIA

AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO TÉRMICO DE EDIFICAÇÕES DE INTERESSE


SOCIAL UNIFAMILIAR EM SANTA MARIA – RS
Ana Carolina C. Tres; Ana Júlia S. Socal; Bárbara P. Scalcon; Diego D. Both; Maurício
Martini; Sâmila P. Müller; Giane de Campos Grigoletti; Renata Rotta

LEI TRAF – SANTA CATARINA: avanços e desafios da multifuncionalidade do espaço


rural
Rodrigo Borsatto Sommer da Silva; Vera Lúcia Nehls Dias

PLANEJAMENTO DE ESCALA DE TRABALHO NO SETOR DE GOVERNANÇA


Adevair Aparecido Dutra Junior

PLANEJAMENTO REGIONAL EM SANTA CATARINA APÓS A CONSTITUIÇÃO


DE 1988: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Isa de Oliveira Rocha; Patrícia Royes Schardosim
3.9 CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, COMUNICAÇÃO

A COMUNICAÇÃO COMO FERRAMENTA INTERDISCIPLINAR NA REALIZAÇÃO


DE PRÁTICAS EDUCOMUNICATIVAS: A EXPERIÊNCIA DA OFICINA DE RÁDIO
COMUNITÁRIA NA ESCOLA AUGUSTO RUSCHI
Angelica Caceres Manfio; Isabel Caline da Silveira

A EDUCOMUNICAÇÃO E AS RELAÇÕES PÚBLICAS NO DESENVOLVIMENTO DE


POLÍTICAS PÚBLICAS SOCIAIS
Kalliandra Quevedo Conrad; Gabriela Assmann; Rosiane Saldanha Roratto; Vanessa Carvalho
Silveira Guterres

A GESTÃO DOCUMENTAL E O GESTOR EMPRESARIAL: PERCEPÇÕES DA


COMUNIDADE DE UMA ORGANIZAÇÃO PRIVADA
Viviane Portella de Portella; Fernanda Kielling Pedrazzi

A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO MEDIADA: UMA ANÁLISE DA GESTÃO


DO CONHECIMENTO NA WEB
Cinara Martim de Moura; Mariana Oliveira

A MEDIAÇÃO DA INTELIGÊNCIA COMPETITIVA - IC:


UM ESTUDO DE CASO
Ana Maria Pereira, Giovanna Carolina M. dos Santos, Ana Carolina Remor C. Marques

A "NOVA" MASCULINIDADE NA TELEVISÃO E SUA RELAÇÃO COM OS MITOS


DE NARCISO E DON JUAN
Janine Aparecida Bastos Stecanella; Najara Ferrari Pineheiro

A PROFISSIONALIZAÇÃO E AS ESTRATÉGIAS DAS FONTES DE NOTÍCIAS


Aldo Antonio Schmitz

A RESPONSABILIDADE AMBIENTAL COMO ESTRATÉGIA ORGANIZACIONAL


Rafaela Caetano Pinto; Maria Ivete Trevizan Fossá

AS POLÍTICAS PÚBLICAS ARQUIVÍSTICAS NAS UNIVERSIDADES FEDERAIS DO


RIO GRANDE DO SUL
Franciele Simon Carpes; Denise Molon Castanho

EDUCOMUNICAÇÃO E TV PEN-DRIVE: O USO DELAS COMO PRÁTICAS


PEDAGÓGICAS NAS ESCOLAS ESTADUAIS PONTAGROSSENSES
Milena Rezende; Zeneida Alves de Assumpção

EXÉRCITO GREMISTA: MARKETING ESPORTIVO INOVANDO ATRAVÉS DO


MARKETING DE RELACIONAMENTO
Magnos Cassiano Casagrande; Sandra Dalcul Depexe

JORNALISMO CIENTÍFICO: UMA ANÁLISE DA COBERTURA DE SAÚDE NOS


PRINCIPAIS IMPRESSOS DO INTERIOR DO PARANÁ
Beatriz Bidarra; Zeneida Alves de Assumpção

MODELO DE GESTÃO DO CONHECIMENTO PARA SETOR MUNICIPAL DE


CONVÊNIOS IMPLANTADO ATRAVÉS DE FERRAMENTA COMPUTACIONAL
ENTERPRISE CONTENT MANANGEMENT (ECM)
Viviane Schneider, Ivan Correia Filagrana
PORTAL DA EDUCAÇÃO: AS CONTRIBUIÇÕES DO AMBIENTE INTERATIVO À
APRENDIZAGEM ESCOLAR
José Raul Staub

REDES SOCIAIS NA UNIVERSIDADE: POSSIBILIDADE TRANSDISCIPLINAR


Denise Regina Stacheski

REPRESENTAÇÕES MELODRAMÁTICAS E JOVENS DE CLASSE POPULAR E


MÉDIA: UMA ANÁLISE COMPARATIVA DAS LEITURAS DA DESIGUALDADE E
DA IDEOLOGIA DO MÉRITO
Juliano Florczak Almeida; Gabrielli Siqueira Dala Vechia; Sarah Oliveira Quines; Veneza
Mayora Ronsini

TENDÊNCIA EMPREENDEDORA: PERFIL DOS ALUNOS DO CURSO DE


ARQUIVOLOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
Aline Medianeira Ramiro Vedoin; Olga Maria Corrêa Garcia

TRABALHANDO O PAPEL RECICLADO PARA CURSOS DE EXTENSÃO:


CONFECÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO
Geisi Graziane Goularte Antonello; Fernanda Kieling Pedrazzi; Sônia Elisabete Constante

3.10 – SERVIÇO SOCIAL, ECONOMIA DOMÉSTICA

COMITÊ MERCOSUL E O PROTAGONISMO DO SERVIÇO SOCIAL BRASILEIRO


NA CONSTRUÇÃO DO PROJETO PROFISSIONAL PARA O MERCOSUL
Giseli Aparecida de Oliveira; Karine Fabiane de Lima; Lucia Cortes da Costa

ESTUDO SOBRE MOVIMENTO ESTUDANTIL ATRAVÉS DAS MONOGRAFIAS DA


UEPG
ANGREVES, Maiara Barbosa; CANTOIA, Danuta Estrufika

FÓRUM PERMANENTE DA PESSOA IDOSA NA REGIÃO DOS CAMPOS GERAIS:


PROPOSIÇÃO, CRIAÇÃO E ORGANIZAÇÃO
Débora Puchalski Bronoski;Thaize Carolina Rodrigues de Oliveira; Evelize Aparecida
Borochok de Oliveira

O PRECÁRIO ALCANCE DAS POLÍTICAS PÚBLICAS E A VULNERABILIDADE


ECONÔMICA DAS FAMÍLIAS: DETERMINANTES DO TRABALHO INFANTO-
JUVENIL EM PONTA GROSSA – PR.
Dayane Alflen Blum; Lenir Mainardes da Silva

TRABALHO INFANTO JUVENIL NO TRÁFICO DE DROGAS: O PERFIL DOS


ADOLESCENTES ENVOLVIDOS NO TRÁFICO DE DROGAS NO MUNICÍPIO DE
PONTA GROSSA(PR) NO ANO DE 2009
Luana Deczka Barbosa; Lenir Aparecida Mainardes da Silva

UM PERFIL SÓCIO ECONÔMICO DOS ADOLESCENTES INSERIDOS NO


PROGRAMA NACIONAL DE INCLUSÃO DE JOVENS - PROJOVEM NO
MUNICÍPIO DE PONTA GROSSA-PR
Tammy Larissa Bodenberg Menezes Gomes; Lenir Aparecida Mainardes da Silva
3.11 - OUTRAS

A FOTOGRAMETRIA E A VRML COMO FORMAS VISUAIS DE PRESERVAÇÃO


DAS INFORMAÇÕES DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO
Lucas Figueiredo Baisch

A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO DO PEDAGOGO NO DESENVOLVIMENTO DO


PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM NAS ESCOLAS MUNICIPAIS DE
TELÊMACO BORBA
Renata Lopes da Silva; Gislaine Aparecida da Silva

A LINGUAGEM DO LIXO NO ESPAÇO DA EDUCAÇÃO AMBEINTAL ESCOLAR


COMO CONSTRUTORA DO SENTIDO DE PERTENCER E HABITAR
Rosane Kohl Brustolin

A MONITORIA COMO AUXÍLIO AO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM:


UM ESTUDO DE CASO NO CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS NA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
Gabriela Cristina Pereira Nickel; Vladimir Arthur Fey; João Paulo de Oliveira Nunes; Maria
Denize Henrique Casagrande

A PESSOA IDOSA E SEU CONTEXTO: UM ESTUDO SOBRE A SITUAÇÃO DO


IDOSO NA CIDADE DE CRICIÚMA-SC
Diego Destro; Silvana de Souza Policarpi; Teresinha Maria Gonçalves

ANÁLISE DA APLICAÇÃO DO SOFTWARE SEPIADES PARA UM ACERVO


FOTOGRÁFICO
Rogério Rocha Ferreira

BIBLIOTECA DE REFERÊNCIA NEAB/UDESC: DISSEMINADO A HISTÓRIA E


CULTURA DOS AFRODESCENDENTES DE SANTA CATARINA.
Paulino de Jesus Francisco Cardoso; Graziela dos Santos Lima

ESTUDO COMPARATIVO ENTRE CÉLULAS DE TESTE PARA ANÁLISE DO


COMPORTAMENTO TÉRMICO DA ESPUMA POLIURETANA DERIVADA DE
ÓLEO DE MAMONA PARA REAÇÃO FRENTE AO CALOR
Grace Tibério Cardoso; Salvador Claro Neto; Osny P. Ferreira

ESTUDO DE TÉCNICA DE ESQUELETIZAÇÃO DE FOLHAS PARA APLICAÇÃO


EM PRODUTOS ARTESANAIS
Elisa Mayer Alves de Santana; Juliana Silveira Anselmo

FILMES DE TEATRO: DO PALCO À TELA


Gabriela Pereira Fregoneis

FORMAÇÃO DE PROFESSORES DAS ESCOLAS RURAIS: DESAFIOS E


PERSPECTIVAS PARA AS ALFABETIZADORAS DO RIO GRANDE DO SUL
Mariane Bolzan; Julia Bolssoni Dolwitsch; Thaís Virgínea Borges Marchi; Helenise Sangoi
Antunes

FORMAÇÃO DOCENTE NA REDE REGULAR DE ENSINO FRENTE À


PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA

Alana Claudia Mohr¹; Fabiane Adela Tonetto Costas²; Liziane Batista de Souza
HOMENS VOGUE: A CONSTRUÇÃO DO MASCULINO NA
CONTEMPORANEIDADE
Mariana Gomes Santos; Liliane Edira Ferreira Carvalho

INOVAÇÃO, RESPONSABILIDADE, SUSTENTABILIDADE E CRIATIVIDADE


Ricardo Libel Waldman; Amanda Shüler Bertoni

INSTIUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR EM SANTA CATARINA:


CARACTERIZAÇÃO E BREVE HISTÓRICO
Avelino Euclides da Silva Chimbulo; Elisangela Machado Rodrigues; Simone Meister Sommer
Biléssimo

INTERAÇÃO ENTRE CRIANÇAS SURDAS E OUVINTES EM SALA DE AULA:


OBSERVAÇÕES PARA A CRIAÇÃO DE UM MATERIAL LÚDICO-EDUCATIVO
Juliana Gritens; Juliana Silveira Anselmo; Ivan Luiz de Medeiros; Rita Inês Petrycowski Peixe

INTERDISCIPLINARIDADE E EDUCAÇÃO AMBIENTAL


Mariane Eliza Weinert; Vanessa Laís Verboski; Vinicius Rosa Nadolny

ITALIANIDADE E EDUCAÇÃO: ENTRELAÇANDO HISTÓRIAS E MEMÓRIAS


Éder Homem de Borba, Lúcio Kreutz

JOGOS ELETRÔNICOS: UMA FERRAMENTA NA CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE


POLUIÇÃO SONORA
Tiago da Costa Vasconcellos; Stephan Paul

LEGISLAÇÃO SANITÁRIA COMO BARREIRA COMERCIAL ÀS EXPORTAÇÕES


DE CARNE BOVINA BRASILEIRA
Pâmela Cristina de Godoy; Gessuir Pigatto

MESTRADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL


DE PONTA GROSSA-PR: UMA EXPERIÊNCIA INTERDISCIPLINAR
Márcia Sgarbieiro; Jussara Ayres Bourguignon

O ESTADO DA ARTE DO TRABALHO INFANTO-JUVENIL NAS INSTITUIÇÕES DE


ENSINO SUPERIOR DA REGIÃO METROPOLITANA DE PORTO ALEGRE/RS
Martina Pereira Gomes

O JORNAL IMPRESSO COMO APOIO PEDAGÓGICO NAS ESCOLAS MUNICIPAIS


DE PONTA GROSSA
Vanessa Kruchelski Huk; Zeneida Alves de Assumpção

O PAPEL DA MÍDIA COMO INSTRUMENTO DE EDUCAÇÃO E DE FORMAÇÃO


DA CONSCIÊNCIA AMBIENTAL – ABORDAGENS NO CONTEXTO DO ENSINO
TÉCNICO E TECNLÓGICO
Fernando Teixeira

OFICINA DE TEATRO: UMA NOVA PROPOSTA DE TRABALHO EM UM NÚCLEO


DE APOIO AO ESTUDANTE UNIVERSITÁRIO
Ana Paula Bellochio Thones; Alana Cláudia Mohr; Moira Poema Closs

PESQUISA EM BANCOS DE PATENTES: MONITORAMENTO TECNOLÓGICO


COMO FERRAMENTA METODOLÓGICA DE DESIGN
Matheus M. de Souza; Clariana M. Bordignon; Caroline Müller; Rosimeri F. Pichler, Diego G.
Testa; Fabiane V. Romano
PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO DOCENTE EM RELAÇÃO À MATEMÁTICA
DAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
Ademir Damazio; Fernanda Gava Hoepers; Lucas Vieira Lemos
QUEM SOMOS NÓS? UM ESTUDO SOBRE IDENTIDADE E INDIVIDUALISMO NA
SOCIEDADE PÓS-MODERNA
Valdecir Babinski Júnior; Liliane Edira Ferreira Carvalho

REFLEXÕES A RESPEITO DA FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES


Ana Paula de Oliveira; Amarildo Luiz Trevisan

REVESTIMENTO DE PAREDE: FLORAL DIFERENCIADO NA CRIAÇÃO DE UM


DESIGN TÊXTIL
Marcele Della Flora Cortes

TEMPOS E ESPAÇOS DO BRINCAR: CONHECIMENTO, FORMAÇÃO E PRÁTICA


DO PROFESSOR NOS ANOS INICIAIS DO EF
Ana Marieli dos Santos; Benedita de Almeida

UM ETUDO SOBRE PESQUISAS QUE ABORDAM O ENSINO DE CIÊNCIAS DA


NATUREZA NOS NÍVEIS FUNDAMENTAL E MÉDIO
Volmir Von Dentz; Flavia Truccolo

VIVÊNCIAS INSTRUMENTALIZADAS: INDIVIDUALISMO E IDENTIDADE


PROFISSIONAL DOS QUADROS SUPERIORES DE TI
Thays Wolfarth Mossi
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

A CONCEPÇÃO DO IMPERATIVO CATEGÓRICO


NA FILOSOFIA MORAL KANTIANA

Camila Ribeiro Menotti1*


1
Universidade Federal de Santa Maria/UFSM

1. Introdução
A ética kantiana tem como base a ideia do moralmente bom, i.e., do incondicionalmente bom. Para
Kant, “(...) todos os conceitos éticos tem sua sede e origem na razão totalmente a priori, (...) não podendo ser
abstraídos de nenhum conhecimento empírico” [1]. Desse modo, a ética kantiana não designa a mera
idoneidade funcional de ações ou objetos, situações, acontecimentos e capacidades para determinados fins e
tão pouco a conformidade com os usos e costumes ou com as normas legais de uma sociedade.
A filosofia moral kantiana é fundada no conceito de dever, o qual se expressa sob a forma de um
imperativo. Esta forma só tem sentido para os sujeitos que buscam dar-se para si a lei moral, cuja vontade é
boa incondicionalmente. Assim, a concepção kantiana de ética baseia-se no princípio da autonomia, segundo
o qual as normas morais são constituídas pela autolegislação de sujeitos que agem autonomamente.
O conceito de dever moral que corresponde a esta concepção é o conceito do dever categórico
autodeterminado (auto-obrigação). Além disso, a ética kantiana se pauta pelo caráter de universalidade e
necessidade dos princípios morais. Kant identifica a ética com a metafísica dos costumes, concebida como
ciência das normas morais universais e absolutamente obrigatórias.

2. Método
O trabalho foi desenvolvido através de leituras sistemáticas da obra: Fundamentação da Metafísica
dos Costumes, bem como fontes secundárias referentes ao tema. A partir desse referencial teórico, se
desenvolveu análises e interpretações dos textos específicos, concernentes a conceitos e argumentos
relacionados direta ou indiretamente com o trabalho, tendo em vista a reconstrução crítica da argumentação
kantiana frente ao problema da concepção do imperativo categórico.

3. Resultados e Discussão
O objetivo de Kant na Fundamentação da Metafísica dos Costumes é a busca de um princípio
supremo da moralidade. Kant pensa que os juízos morais devem ser derivados de um princípio fundamental
único, se eles constituem um todo consistente e bem fundamentado. Na segunda seção desta obra, tal
princípio único é apresentado pelo autor: “O imperativo categórico é, portanto só um único, que é este: Age
apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal” [2].
O imperativo categórico constitui um dos elementos mais importante para a filosofia moral kantiana,
se configurando no conceito de moralidade para os entes racionais finitos. Visto que entes racionais como os
homens não agem por si sós e necessariamente de modo moral, a moralidade assume para eles o caráter de
um dever-ser, i.e., um caráter de imperativo.
De acordo com Wood, “Um imperativo é qualquer princípio através do qual um agente racional
obriga-se a agir com base em fundamentos objetivos ou razões” [3]. Segundo Kant, todos os imperativos se
expressam pelo verbo dever (sollen), mostrando a relação objetiva da razão com a vontade. Kant caracteriza
os imperativos como fórmulas que apresentam a relação entre leis objetivas do querer em geral e a
imperfeição subjetiva de um ser racional, por exemplo, da vontade humana.
Conforme Kant, “(...) todos os imperativos são fórmulas da determinação da ação que é necessária
segundo o princípio de uma vontade boa de qualquer maneira” [4]. Sendo assim, os imperativos dizem ao
agente, qual ação das que lhes são possíveis seria boa, representando a regra prática em relação com uma
vontade.
Para Kant, os imperativos se classificam em hipotéticos e categórico. Os imperativos hipotéticos
representam à prática de uma ação possível como meio de alcançar um fim, que é possível que se queira.
Segundo Wood, um imperativo é hipotético se a obrigação é condicionada à adoção de um fim opcional pelo
agente. Na Fundamentação da Metafísica dos Costumes Kant descreve os imperativos hipotéticos associados
a uma ação que é boa em vista de qualquer intenção possível ou real. De acordo com Hoffe [5], a validade
dos imperativos hipotéticos encontra-se subordinada a um pressuposto limitante: “Se eu quero fazer x, então

*
Acadêmica do curso de Pós-Graduação em Filosofia/Mestrado da UFSM. Bolsista CNPq. E-mail:
camila.menotti@gmail.com

1
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

tenho de fazer y”. Os imperativos hipotéticos apenas ordenam os meios para aquilo que se pressupõe como
fim.
O imperativo categórico por sua vez, não se baseia em qualquer intenção a atingir por certo
comportamento, mas ele ordena imediatamente tal comportamento. Não se relaciona com a matéria da ação e
com o que dela deve resultar, mas com a forma e o princípio do qual ela deriva. Kant salienta que o
imperativo categórico é o único que pode chamar-se de imperativo da moralidade, pois não se limita por
nenhuma condição e pode se chamar propriamente um mandamento absoluto, posto que é praticamente
necessário.
Dizer que um imperativo é categórico, significa que sua obrigação não é condicional à busca de algum
fim que se constrói independentemente dele. O imperativo categórico representa uma ação como
objetivamente necessária por si mesma, i.e., como boa em si, sem relação com qualquer outra finalidade.
Dessa forma, o imperativo categórico vale como princípio apodítico, possuindo o caráter de uma lei prática
que contém em si a necessidade que se exige na lei.
Kant descreve o imperativo como o autêntico critério moral, como a forma suprema de toda a
obrigatoriedade, o grau de consumação da racionalidade prática, contendo em si a própria lei moral:

Quando eu penso um imperativo hipotético em geral, não sei de antemão o que poderá conter. Só
saberei quando a condição me seja dada. Mas se pensar um imperativo categórico, então sei
imediatamente o que é que ele contém. Porque não contendo o imperativo, além da lei, senão a
necessidade da máxima que manda conformar-se com esta lei, e não contendo a lei nenhuma condição
que a limite, nada mais resta senão a universalidade de uma lei em geral à qual a máxima da ação
deve ser conforme, conformidade essa que só o imperativo nos representa propriamente como
necessária [6].

Do princípio do imperativo categórico podem-se derivar todos os imperativos do dever. Partindo


disso, Kant apresenta o imperativo categórico sob três pontos de vista diferentes: 1) como fórmula da lei da
natureza: “Age como se a máxima da tua ação se devesse tornar pela tua vontade uma lei universal da
natureza”; 2) como fórmula da humanidade como um fim em si mesma: “Age de tal maneira que uses a
humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim e
nunca simplesmente como meio”; 3) como fórmula da autonomia: “(...) a ideia da vontade de todo ser
racional concebida como vontade legisladora universal” [7].
Wood argumenta que a fórmula da lei da natureza considera o princípio da moralidade apenas sob o
ponto de vista de sua forma, enquanto a fórmula da humanidade considera-o sob o ponto de vista do valor
que racionalmente motiva a obediência dos entes racionais ao imperativo. A fórmula da autonomia
considera-o sob o ponto de vista de sua autoridade. Na verdade, o que essas fórmulas do imperativo
categórico querem dizer, é que se deve renunciar todo o interesse que afete o querer por dever. Se há um
imperativo categórico, ele só pode ordenar que tudo seja feito em obediência à máxima de uma vontade que
possa ter a si mesma por objeto como legisladora universal. É dessa forma que o princípio prático e o
imperativo categórico a que obedece podem ser incondicionais, porque não possuem interesse na sua base e
sua vontade nunca pode entrar em contradição consigo mesma.

4. Conclusão
Em toda a sua teoria moral, Kant salienta que para constituir a comunidade ética é preciso que os
homens tenham uma educação racional, ou seja, direcionem os seus interesses e paixões da melhor forma
possível para o bem, através de uma conduta racional, a qual só é alcançável com o imperativo categórico.
Kant vê o imperativo categórico como o elemento primordial para a vida dos homens que compõem o
ideal de comunidade ética. É através de uma vida categoricamente exigida que o homem torna-se um sujeito
verdadeiro, autêntico, capaz de cumprir as condições de tal comunidade que tem como forma absoluta de
valor: uma vida consolidada na razão prática.
O grau relativo de perfeição da vida ética é sempre uma vida que se põe sob o imperativo categórico,
na medida em que o homem é concebido como um ser que possui consciência de sua faculdade racional,
tornando-se capaz de ser responsável por todas as suas atividades.

Referências

[1] KANT, I. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Tradução de Paulo Quintela, Lisboa, Portugal:
Edições 70, LDA, 2008.

[2] Ibid.

2
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

[3] WOOD, A. Kant. Tradução de Delamar José Volpato Dutra. Porto Alegre: Artemed, 2008.

[4] Op.cit.

[5] HÖFFE, O. Immanuel Kant. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

[6] Op.cit.

[7] Op.cit.

3
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

A CRÍTICA DE DAVIDSON À CONCEPÇÃO PROXIMAL DE QUINE


NO QUE TANGE ÀS SENTENÇAS DE OBSERVAÇÃO

Karen Giovana Videla da Cunha Naidon*


Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução:
Há uma divergência entre os filósofos W. V. O. Quine e D. Davidson a respeito de onde
deve ser situado, na cadeia causal mundo-falante, o elemento que fornece o conteúdo empírico
de sentenças de observação  doravante, chamar-se-á tal elemento de “estímulo”. De acordo
com Quine, que sustenta o que se pode chamar de “Concepção Proximal”, tal estímulo estaria
localizado na superfície sensorial do falante, ou seja, em posição próxima a este em referida
cadeia causal  estímulo proximal ; Davidson, por outro lado, critica a Concepção Proximal,
alegando que a mesma conduziria, em última instância, ao ceticismo e à relativização da
verdade, e sugere a Quine seu abandono em prol da Concepção Distal, por ele próprio
sustentada, conforme a qual tal estímulo estaria situado nos próprios objetos e eventos sobre os
quais falam as sentenças, isto é, em posição mais distante do corpo do falante  trata-se de um
estímulo distal.
Tendo em vista essa celeuma entre os dois autores, o presente trabalho tem como
objetivo apresentar a principal crítica que Davidson procede contra a Concepção Proximal de
Quine, a saber, a alegação de que a mesma conduziria ao ceticismo.

2. Método:
Proceder-se-á à leitura e análise dos escritos quineanos relevantes para o tema, bem
como do artigo “Meaning, Truth and Evidence” de Davidson, no qual é apresentada sua crítica.
Com base nisso, far-se-á, num primeiro momento, uma recapitulação da Concepção
Proximal de Quine alvo das críticas de Davidson e apresentar-se-á, na sequência, o principal
argumento de Davidson contra tal concepção.

3. Resultados e Discussões:
O núcleo da Concepção Proximal consiste em situar aquilo que determina o significado
das sentenças de observação, bem como o que serve de evidência para sua verdade (ou seja, o
conteúdo empírico das sentenças em questão), na porção proximal da cadeia causal mundo-
falante, isto é, na estimulação dos receptores sensoriais do falante. Esse núcleo, porém, está
inserido em um arcabouço teórico mais amplo a respeito do significado de sentenças e até
mesmo da própria linguagem como um todo.
Para compreender-se a concepção de Quine sobre a linguagem, há que se ressaltar,
primeiramente, que o autor adota uma postura metodológica naturalista. De acordo com tal
postura, a filosofia e, portanto, a própria semântica, deveriam adotar os métodos de investigação
intersubjetivos utilizados pelas ciências naturais.
Posicionando-se dessa maneira, ele acaba por contrapor-se ao que chama de
“concepções mentalistas da linguagem”, uma vez que a maneira como estas concebem o
significado inviabilizaria a utilização de referidos métodos. Para o autor, seria incorreto
proceder como ditas concepções e vincular às expressões lingüísticas alguma entidade como seu
significado, tenham tais entidades natureza mental (como idéias na mente de um falante),
platônica (como sentidos de expressões linguísticas em um terceiro reino, como para Frege) ou
mesmo física, material (como os próprios objetos aos quais as expressões se referem, como para
as teorias referenciais do significado). Postular tal associação seria construir a linguagem como
um “museu mental”, no qual o sujeito vincula mentalmente palavras a significados, sendo
aquelas as etiquetas e estes, as peças expostas. [1] Entendendo-se a linguagem sob esse viés
mentalista, ter-se-ia de recorrer ao procedimento introspectivo a fim de saber qual significado o
falante vincula às expressões lingüísticas que usa, o qual é epistemicamente privado e, portanto,
rejeitado por Quine, uma vez que os métodos que são utilizados pelas ciências naturais são
intersubjetivos.

*
Autora: karengvidela@yahoo.com.br
4
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

A fim de atender à demanda naturalista, Quine, então, procede a uma externalização do


significado, construindo, para tanto, sua concepção behaviorista da linguagem. Para ele, a
linguagem seria uma “arte social” [2], isto é, um tipo de atividade praticada por um grupo de
indivíduos que pertencem a uma comunidade. [3] Segundo Quine, “adquirimos [a linguagem],
tendo como única evidência o comportamento aberto de outras pessoas em circunstâncias
publicamente reconhecíveis” [4], ou seja, essa arte é algo que é aprendido pelo sujeito,
aprendizado este explicado pelo autor em termos behavioristas. Mas a concepção behaviorista
da linguagem de Quine não se restringe a seu aprendizado; ele também tenta explicar a própria
noção de significado nesses mesmos termos. Para ele, “não há significado algum, nem
identidade nem distinção de significado, além dos que estão implícitos nas disposições da
pessoa para o comportamento aberto” [5] Entendido assim, o significado passa a ser, na
concepção quineana, uma propriedade do comportamento, na medida em que depende das
disposições do sujeito para o comportamento verbal e que qualquer distinção de significado
baseada em outros fatores que não em tais disposições constituiria, em verdade, uma distinção
ilusória.
Desse modo é que Quine satisfaz a exigência do naturalismo que adota, tendo em vista
que, em sua concepção, o estudo acerca dos significados das sentenças que determinado
indivíduo utiliza deverá adotar, como método, a observação de seu comportamento na situação
de fala, de forma a extrair as suas disposições para o comportamento verbal.
Neste momento, faz-se necessário introduzir uma das noções behavioristas mais centrais
elaboradas por Quine, a saber, o conceito de stimulus meaning, o qual resumiria, justamente, as
disposições de um sujeito para o comportamento verbal frente a uma dada sentença. O stimulus
meaning que uma sentença possui para um sujeito em determinado momento consistiria num
par ordenado composto do stimulus meaning positivo, isto é, o conjunto das estimulações que
provocariam o assentimento do sujeito quando a este a sentença for formulada como uma
pergunta, e do stimulus meaning negativo, ou seja, o conjunto das estimulações que, nessas
mesmas condições, provocariam o dissentimento. [6]
A título de exemplo, imagine-se que determinado sujeito esteja diante de um coelho.
Imagine-se também que, nessa situação estimulativa, seja a ele perguntado “Coelho?”,
apontando-se para o animal, e que o sujeito faz um sinal de assentimento. Acrescente-se, ainda,
que, ao trocar-se o coelho por um cachorro, o sujeito passaria dissentir à mesma pergunta. Nesse
caso, poder-se-ia dizer que, para esse sujeito, a estimulação causada na presença do coelho
pertence ao stimulus meaning positivo de “Coelho” e que a estimulação causada pela presença
apenas do cachorro integra o stimulus meaning negativo dessa sentença.
Um ponto central para a caracterização da concepção de Quine como proximal diz
respeito ao modo como ele concebe a noção de estimulação envolvida no conceito de stimulus
meaning. Cada estimulação, nesse contexto, deve ser entendida como um modelo, um tipo (e
não uma ocorrência particular) de evento físico, que ocorre na superfície sensorial do falante, o
qual consiste em desencadear, estimular alguns de seus receptores sensoriais. A estimulação,
portanto, não consiste em algo que ocorre na mente do falante (algo que já envolveria sua
consciência) e tampouco nos próprios objetos e eventos externos que causam a estimulação (ou
seja, o estímulo distal). A estimulação, então, seria aquilo que se situa na porção proximal da
cadeia causal mundo-falante e que fornece, de acordo com Quine, o conteúdo empírico das
sentenças de observação.
No entanto, como acima referido, Davidson critica essa concepção e sugere a Quine a
sua substituição pela Concepção Distal. A principal crítica de Davidson à Concepção Proximal
consiste na alegação de que ela implicaria ceticismo. Com o fito de provar tal alegação,
Davidson propõe o seguinte experimento de pensamento:

[...] imaginemos alguém que, quando um porco passa, tem precisamente os modelos
de estimulação que eu tenho quando há um coelho em vista. Suponhamos que a
sentença de uma palavra que o porco o inspira a assentir seja “Gavagai”. Indo por
stimulus meaning, eu traduzo sua “Gavagai” pela minha “Olha, um coelho” embora
eu veja apenas um porco e nenhum coelho quando ele diz e crê que (de acordo com a
Teoria Proximal) que há um coelho. [7]

Pode-se dizer que a tradução de uma sentença por outra é procedida quando se
considera que ambas possuem iguais significados  ou muitos próximos, quando se substitui a

5
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

noção tradicional de significado pela de stimulus meaning, a qual torna muito improvável, senão
impossível, dita igualdade. De acordo com isso, a tradução aludida acima estaria correta para a
Concepção Proximal, dado que ambas as sentenças possuem stimulus meaning aproximados. A
despeito dessa correção, surge o problema de, com essa tradução, estar-se atribuindo, conforme
Davidson, uma crença falsa ao sujeito, a saber, a crença de que o sujeito está diante de um
coelho, enquanto, na verdade, está diante de um porco.
Diante dessa hipótese, a Concepção Proximal acabaria por conduzir ao ceticismo, na
medida em que, no seu bojo, restaria aberta a possibilidade de serem falsas, em sua maioria, as
crenças de tal sujeito, possibilidade esta que pode ser estendida, por sua vez, a nossas próprias
crenças.
Davidson considera, ainda, uma possível reação de um defensor da Concepção
Proximal, segundo a qual a crença do sujeito de que ele está diante de um coelho poderia ser
considerada verdadeira pelo fato de que tal sujeito estaria tendo, de fato, a estimulação de um
coelho. Contudo, isso seria inaceitável para Davidson, uma vez que implicaria restringir a
verdade das sentenças a cada indivíduo, o que ele chama de “relativização da verdade”.
Diante dessas dificuldades, Davidson entende que a Concepção Proximal deveria ser
abandonada em prol de outra concepção que escape a tais problemas. A substituta adequada
seria, para esse autor, a própria Concepção Distal, por ele sustentada. No experimento mental
acima aduzido, a tradução correta para a sentença “Gavagai” daquele sujeito seria, não “Olha,
um coelho”, mas sim “Olha, um porco”, já que o sujeito está diante de um porco e que são os
próprios objetos no mundo que determinam o significado da sentença.
Após essa crítica, Quine poderia ter aceito a sugestão de Davidson e adotado a
Concepção Distal. Contudo, não foi assim que ele procedeu. Quine insistiu até o final de sua
obra em não adotar oficialmente a Concepção Distal e preferiu introduzir algumas modificações
em sua concepção a fim de escapar à crítica de Davidson.

4. Conclusão:
Diante da crítica de Davidson, há que se reconhecer a fragilidade da Concepção
Proximal de Quine. Ao que parece, ela enfrenta dificuldades até mesmo para explicar a natureza
pública que a linguagem possui. O fato de ela aparentemente implicar ceticismo poderia ser
considerado um problema intimamente relacionado a essas dificuldades. Quine mesmo parece
reconhecer tal fragilidade, já que procura introduzir nela algumas modificações.

Bibliografia:
[1] QUINE, W. Ontological Relativity. In: QUINE, W. Ontological Relativity and Other
Essays. New York: Columbia University Press, 1969, p. 139.
[2] QUINE, W. Word and Object. Cambridge, Mass: Technology Press of the Massachusetts
Institute of Technology, 1960, p. ix.
[3] GIBSON, R. The Philosophy of W. V. Quine: An Expository Essay. Tampa: University of
South Florida Press, 1982, p. 21.
[4] QUINE, W. Ontological Relativity. In: QUINE, W. Ontological Relativity and Other
Essays. New York: Columbia University Press, 1969, p. 139.
[5] QUINE, W. Ontological Relativity. In: QUINE, W. Ontological Relativity and Other
Essays. New York: Columbia University Press, 1969, p. 140.
[6] QUINE, W. Ontological Relativity. In: QUINE, W. Ontological Relativity and Other
Essays. New York: Columbia University Press, 1969, pp. 32-33.
[7] DAVIDSON, D. Meaning, Truth and Evidence, in: Perspectives on Quine, ed. by R. B.
Barrett and R. F. Gibson. New York: Oxford University Press, 1990a, p. 74.

6
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A Ética como Ciência: Análise da Teoria Ética de Brentano


sob o Prisma do Modelo Clássico de Ciência

Mateus Romanini1; Albertinho Luis Gallina2


Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução
Podemos dizer que há pelo menos duas formas de intuicionismo moral: á primeira daremos o nome de
intuicionismo da regra; enquanto que a segunda será chamada de intuicionismo do ato. Por intuicionismo da
regra pode-se entender uma teoria que declara: (1) o que é diretamente apreendido pelas intuições morais são
geralmente princípios éticos, por exemplo, o imperativo categórico kantiano; e (2) que estes princípios gerais
formam a base segundo a qual podemos avaliar o valor moral de ações, intenções ou qualidades e defeitos de
uma pessoa. Por outro lado, intuicionismo do ato propõe que o valor moral de determinadas ações, intenções
ou características de uma pessoa são, elas mesmas, diretamente intuídas. O intuicionismo de Brentano, como
será demonstrado, é melhor caracterizado como um intuicionismo do ato.
Franz Brentano (1838 – 1917) é conhecido principalmente por sua valiosa contribuição à
fenomenologia, devido sua formulação da noção de intencionalidade contida em sua obra fundamental,
Psicologia de um ponto de vista empírico (Psychologie vom empirischem standpunkte, 1874). Esta noção de
intencionalidade teve enorme influência no campo da fenomenologia, um exemplo disso é a obra de Husserl,
um de seus mais notáveis discípulos. Menos reconhecida é a significação e importância de sua única porém
brilhante obra sobre ética, inicialmente uma conferência, foi publicada sob o título Vom Ursprung sittlicher
Erkenntnis (1889) - para este trabalho será utilizada a tradução de Manuel García Morente para o espanhol,
intitulada El Origen del Conocimiento Moral, publicada em 2002 [1].
Segundo Moosa [2], esta obra sobre ética foi muito bem recebida, exercendo influência sobre filósofos
como Max Scheler e G. E. Moore. A ética de Brentano forma a base da Teoria do Valor de Scheler –
segundo a qual os valores são objeto de uma intuição que se identifica com o sentimento – e gerou
comentários bastante positivos de Moore na sua análise da tradução inglesa de 1902. Segundo Moore [3]:

“This is a far better discussion of the most fundamental principles of ethics than
any others with which I am acquainted. Brentano himself is fully conscious that he
has made a very great advance in the theory of ethics... [A]nd his confidence both
in the originality and in the value of his own work is completely justified... It
would be difficult to exaggerate the importance of his work.”

O presente trabalho visa estabelecer se a teoria ética de Brentano contida em El origen del
conocimiento moral pode ser considerada uma ciência propriamente dita levando em consideração a proposta
de um modelo de ciência. O modelo de ciência adotado para fazer a avaliação é o proposto por Willem R. de
Jong e Arianna Betti no artigo The Classical Model of Science: a millennia-old model os scientific
rationality [4]. Este modelo consiste no ideal axiomático tradicional do conhecimento científico
sistematizado de modo a tornar-se um sistema interpretativo cuja finalidade é a de contribuir com os debates
tradicionais sobre a especificidade da ciência.
Segundo este Modelo, ciência é um sistema S de proposições e conceitos (ou termos) que satisfazem
as condições. Estas condições podem ser divididas em dois grandes grupos: o primeiro se refere à ordem
ontológica; o segundo contém as condições referentes à ordem epistemológica. Este modelo deixa espaço
tanto para um sistema de proposições ordenado por relações fundamentais ou dedutivas (propriamente
axiomáticas) quanto para um sistema de termos ou conceitos ordenados por significados e definições
(voltado mais para questões de linguagem). Neste segundo sentido, a ciência como um sistema axiomático
abrange também a questão dos termos e seus significados. As condições que devem ser satisfeitas no Modelo
podem ser esquematizadas conforme a figura 1 [5].
Dado que não há uma demarcação clara entre o que pode ser dito ciência e as pseudociências e demais
teorias, parece interessante, por vezes necessário para fazer tal demarcação, tentar classificar teorias seguindo
determinados modelos de ciência. O Modelo Clássico foi aqui escolhido por ser o mais utilizado ao longo de
toda a história da filosofia, de Aristóteles a Kant, mas também por filósofos contemporâneos como Frege. As

1
Autor. Mestrando pelo Programa de Pós Graduação em Filosofia da Universidade Federal de Santa Maria.
Bolsista Capes. E-mail: ironmateus@yahoo.com.br.
2
Orientador. Professor adjunto no departamento de filosofia da Universidade Federal de Santa Maria. E-
mail: albertinho.gallina@gmail.com.
7
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condições para considerar a teoria ética de Brentano como científica ou não científica serão as mesmas
exigidas pelo Modelo Clássico.

Fig. 1
(1) All propositions and all concepts (or terms) of S concern a specific set ordem ontológica:
of objects or are about a certain domain of being(s). (1)
(2a) There are in S a number of so-called fundamental concepts (or terms). Postulado de domínio.
(2b) All other concepts (or terms) occurring in S are composed of (or are (2a), (2b), (3a) e (3b)
Postulado de ordem.
definable from) these fundamental concepts (or terms). (4)
(3a) There are in S a number of so-called fundamental propositions. Postulado da verdade.
(3b) All other propositions of S follow from or are grounded in (or are (6)
provable or demonstrable from) these fundamental propositions. Postulado da
universalidade e da
(4) All propositions of S are true. necessidade.
(5) All propositions of S are universal and necessary in some sense or another.
(6) All propositions of S are known to be true. A non-fundamental P
ordem epistemológica:
proposition is known to be true through its proof in S. (6) e (7)
(7) All concepts or terms of S are adequately known. A non-fundamental Postulado do
concept is adequately known through its composition (or definition). conhecimento

2. Método
O procedimento adotado foi o de leitura e análise dos textos mencionados nas referências. Com base
nessas análises, primeiramente será apresentada uma noção geral do que se pode compreender por
intuicionismo ético, definindo onde podemos situar a teoria de Brentano. Em seguida será analisado o que,
em concordância com Moosa [6], pode ser considerado o núcleo do intuicionismo ético de Brentano. Este
núcleo é constituído de duas proposições básicas: apenas o amor pelas coisas boas, que são dignas de amor, é
amor correto; e somente as coisas que são boas ou merecedoras de amor podem ser amadas por um amor
correto.
Para que possamos avaliar se a teoria ética do autor pode ou não ser considerada como uma ciência,
demonstraremos de modo bastante geral em que consiste o modelo clássico de ciência. Por fim, a teoria ética
de Brentano será avaliada enquanto ciência, conforme o modelo proposto.

3. Resultados e Discussão
Visto que Brentano aceita a existência e a validade do conhecimento moral, afinal, segundo sua teoria,
temos a capacidade de saber quando uma coisa é boa ou má através da nossa intuição sobre a correção dos
nossos sentimentos para com as coisas, é possível sistematizar sua teoria de modo a que cumpra as condições
exigidas pelo Modelo Clássico a fim de ser reconhecida como uma ciência conforme este modelo.
O Modelo Clássico de Ciência oferece tanto uma teoria para a justificação quanto para a explicação do
conhecimento científico, explicação esta que envolve freqüentemente uma forma de fundacionalismo
epistêmico. Fundacionalismo é aqui tomado no sentido de que todo o conhecimento é, em última instância,
fundamentado ou justificado em termos de conhecimento mais básico, ou fundamental. Devido ao Modelo
Clássico possuir estas qualidades torna-se possível explicar o conhecimento ético em termos científicos sem
descaracterizar a teoria de Brentano.

4. Conclusão
Levando em consideração que o Modelo Clássico de Ciência não estipula quantos e quais de seus
postulados devem ser preenchidos, parece que podemos concordar que a teoria ética de Brentano pode ser
considerada científica segundo este Modelo.
Digo “parece”, porque a avaliação proposta neste trabalho não foi suficientemente profunda e
sistemática. Não foi feita uma análise exaustiva das teorias abordadas no trabalho de modo a não haver
possibilidade de extrair uma conclusão em um sentido forte. Porém, a análise aqui proposta possibilita uma
linha de interpretação e justificação para que se possa considerar a ética de Brentano como uma teoria
científica. Ficam abertas as possibilidades de aprofundamento do estudo e a para a busca de uma conclusão
mais robusta sobre a possibilidade de uma ciência ética baseada na fenomenologia.
Dado que o Modelo Clássico de Ciência pode ser utilizado tanto no contexto da justificação quando no
contexto da descoberta de teorias científicas, podemos utilizá-lo tanto para justificar teorias já estabelecidas
nos diversos ramos da filosofia quanto para descobrir novas teorias que ainda não vieram à tona. Portanto
fica em aberto sua utilização conforme o intuito do pesquisador, desde que respeite as condições propostas
pelo modelo.
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Referências

[1] BRENTANO, Franz; El Origen Del Conocimiento Moral. Editorial Tecnos (Grupo Anaya. S.A.).
Madrid, 2002.
[2] MOOSA, Imtiaz. Naturalistic Explanations of Apodictic Moral Claims: Brentano’s Ethical Intuitionism
and Nietzsche’s Naturalism. In: Ethical Theory and Moral Practices. pp 159 – 182. Springer Science.
Volume 10, number 2 / April, 2007.
[3] IDEM. p.173.
[4] JONG, Willem R. de; BERTI, Arianna; The Classical Model of Science: a millennia-old model of
scientific rationality. In: Synthese. Published Online: 18 November 2008. p.186.
[5] IDEM. p. 186.
[6] MOOSA, Imtiaz. Naturalistic Explanations of Apodictic Moral Claims: Brentano’s Ethical Intuitionism
and Nietzsche’s Naturalism. In: Ethical Theory and Moral Practices. pp 159 – 182. Springer Science.
Volume 10, number 2 / April, 2007. p. 161.

Agradecimentos

Agradeço a orientação do professor Dr. Albertinho Luiz Gallina e das dicas e ensinamentos do
professor Dr. Marcelo Fabri.
Agradeço também a Capes pela bolsa de mestrado concedida.

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A INTER-RELAÇÃO POLÍTICO-RELIGIOSA NAS ELEIÇÕES PROPORCIONAIS DE


CAMPO MOURÃO EM 2008

Lara Bonini1*; Frank Mezzomo2


1
Programa Iniciação Científica/NUPEM/CNPq
2
Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão, FECILCAM/PR

1. Introdução
O presente trabalho buscou averiguar as inter-relações existentes entre o processo eleitoral e a
presença das religiões na eleição proporcional ocorrida em Campo Mourão, Mesorregião Centro Ocidental
do Paraná1. O objetivo da pesquisa pautou-se em analisar o desempenho eleitoral, o perfil, o apoio
institucional e as estratégias de campanha adotadas por candidatos que mantém, oficial ou oficiosamente,
algum tipo de vínculo com a religião.
A imbricação político-religiosa, evidenciada em tal projeto, é ratificada cada vez mais na
contemporaneidade e desprezá-la significa deixar de apreender alguns dos vetores de historicidade
(GIUMBELLI, 2008, p. 81). Uma das caracterizações desta imbricação é o crescimento constante de
candidatos, em geral a cargos eletivos, afirmarem ou se aproximarem de grupos religiosos nos períodos que
antecedem as eleições.
Interessante aludir quanto alguns contextos determinantes nesta discussão como as profundas
transformações que o campo religioso brasileiro sofreu nas últimas décadas, com a consolidação da liberdade
religiosa, a pluralização do cenário religioso, as mudanças na estruturação eclesiástica e a acelerada expansão
numérica dos evangélicos. Uma variante importante nesta recomposição é a dilatação das fronteiras entre os
campos religioso2 e político, além da presença de agentes religiosos em pleitos eleitorais.
A categoria agente religioso, no entendimento do antropólogo Ari Pedro Oro, é de candidatos “que
reivindicaram abertamente a sua condição de líderes religiosos (membros da hierarquia ou participantes
ativos de uma religião) ou que se apresentaram como representantes de uma organização religiosa” (ORO,
2001, p. 10). O cientista político Joanildo Burity complementa a noção estendendo para aqueles atores
sociais e políticos do qual sua identidade religiosa é ou tornou-se um componente especialmente relevante
(2008, p. 85).

2. Métodos
Com a finalidade de sustentar teórica e metodologicamente a pesquisa, desenvolveram-se atividades
de leituras, recolhimento de matérias e fotos publicadas em jornais, coleta junto aos comitês de campanha de
material de divulgação como panfletos e „santinhos‟ dos candidatos. Os procedimentos permitiram a
localização de diversas fontes que são fundamentais porque registraram o evento das eleições no ritmo
frenético da busca de votos perceptíveis através do investimento intensivo de propagandas eleitorais e
veiculação de jingles políticos. A metodologia adotada configurou na localização de documentos que
evidencia os recursos midiáticos utilizados e as estratégias de campanha adotadas.
Nas eleições proporcionais definem-se os partidos e/ou coligações que possuem o direito a ocupar as
vagas em disputa, quais sejam: eleições para deputado federal, deputado estadual e vereador. Entre os 76
candidatos registrados no Fórum Eleitoral da Comarca de Campo Mourão, a pesquisa optou pela
investigação de 9 candidatos que participaram das eleições para o legislativo municipal.
Os critérios selecionados para definir os chamados agentes, atores ou políticos religiosos, referem-se
à observância de, sobretudo, três aspectos. Primeiro aqueles que receberam apoio explícito de alguma
instituição religiosa. Segundo aqueles que se apresentaram pelas funções religiosas exercidas como a de
pastor, diácono, presbítero, ministro ou membro vinculado à instituição. Finalmente, aqueles que mesmo não

*
Acadêmica da Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão (FECILCAM), larascs@hotmail.com
1
Cidade de Porte Médio, localizada na Mesorregião Centro Ocidental Paranaense, contando com uma população de
85.896 habitantes segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O número de eleitores
do município é de 60.386 e o grau de urbanização é de 92,89%, dados disponibilizados pelo Instituto Paranaense de
Desenvolvimento Econômico e Social – IPARDES. Disponível em
http://www.ipardes.gov.br/perfil_municipal/MontaPerfil.php?Municipio=87300&btOk=ok. Acesso em: 05 de jul. 2010.
2
O entendimento acerca da noção de campo religioso está ancorado nas discussões teóricas produzidas por Pierre
Bourdieu compreendendo como um espaço no qual agentes (padres, profetas, feiticeiros etc.) lutam pela definição
legítima não só do religioso, mas também das diferentes maneiras de desempenhar o papel religioso. BOURDIEU,
Pierre. A dissolução do religioso. _____. Coisas Ditas. São Paulo: Brasiliense, 1990, p. 120.
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declarando explicitamente seu vínculo com alguma instituição utilizaram em sua campanha
símbolos/discursos religiosos como uso de mensagens, frases ou jingles.
A tabela a seguir apresenta os candidatos investigados pela pesquisa através de seus nomes políticos
utilizados, assim como suas filiações partidárias e o pertencimento religioso de cada candidato, observando a
variedade de instituições religiosas presentes e, ainda, as “funções” exercidas pelos candidatos.

Tabela: Candidato, Filiação Partidária e Religião


Filiação
Nome dos candidatos Religião
partidária
Toninho Dondaque DEM Presbítero da Igreja Presbiteriana do Brasil
Ministro da Igreja Católica e coordenador pastoral da
Edson Lima PPS
diocese
Izidoro Bueno PTB Membro da Igreja do Evangelho Quadrangular

Professor Jacir PSL Membro da Igreja Assembléia de Deus

Pastor Joaquim PR Pastor da Igreja Só o Senhor é Deus

Joventino Taborda PR Membro da Igreja Presbiteriana do Brasil

Olivino Custódio PR Membro da Igreja Assembléia de Deus

Machado o Abençoado PR Presbítero da Igreja Presbiteriana Renovada

Pastor Nonato PTB Pastor da Igreja Assembléia de Deus

Outro procedimento adotado pelo projeto é o das fontes orais, sendo uma metodologia de pesquisa e
de constituição de fontes para o estudo da história contemporânea surgida em meados do século XX. Este
procedimento consistiu na realização de entrevistas gravadas com pessoas que participaram de, ou
testemunharam, acontecimentos e conjunturas do passado e do presente (ALBERTI, 2006, p. 155). Tal
contexto metodológico sustentou a realização de duas entrevistas semi-estruturadas com os 9 atores
religiosos. A primeira seção de entrevistas ocorreu antes do processo eleitoral e a segunda seção foi realizada
pós-eleição. Este procedimento adotado foi de extrema importância porque as perguntas e respostas gravadas
permitiram conhecer a trajetória do candidato, as opções ideológicas, os apoios recebidos, a concepção de
política e as estratégias de campanha utilizadas. Para a definição do conteúdo das perguntas procurou-se
explorar a trajetória política e religiosa do candidato, informações sobre o pertencimento a determinada
instituição religiosa e ainda sobre concepções e valores averiguados.
A definição dos procedimentos metodológicos tornou possível visualizar o uso de mensagens e
apropriações discursivas que visavam produzir efeitos de sentido junto aos eleitores. Nas propagandas
veiculadas no horário eleitoral obrigatório as falas e apresentações tornam-se notáveis instrumentos de
persuasão para a fé no âmbito „corrompido‟ da política, com a construção de uma iconografia que remete a
bondade e a moralização, recorrendo também, a um poder maior, o de Deus. As campanhas eleitorais
analisadas revelam narrativas de percepções tanto político-ideológicas quanto religiosas.

3. Resultados e Discussão
No momento das eleições de 2008, em Campo Mourão, 76 candidatos pleitearam ocupar uma das 10
vagas para vereador na Câmara Municipal. Sabe-se que o cargo de vereança, em disputas eleitorais, pode
representar o ponto de partida para candidatos que pretendam atingir cargos de maior destaque na carreira
política. “O vereador de hoje pode se transformar no deputado federal de amanhã, assim como o prefeito de
agora pode ser o governador do futuro” (TEIXEIRA, 2000, p. 99). Sendo assim, por meio do poder
municipal, contextos e histórias políticas moldam-se e configuram-se em diversas perspectivas.
O município, sendo a instância local de governo, é administrado pelo poder Executivo, representado
pela prefeitura, e legislado pelo poder Legislativo, representado pela Câmara de Vereadores. A gestão de
unidades municipais, atualmente, tornou-se como tema determinante para a reflexão sobre a vida em

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comunidade. Afinal, “as atividades políticas no âmbito local são de fundamental importância, pelo fato da
esfera municipal ser o lócus onde os cidadãos se relacionam socialmente e vivenciam todas as situações do
cotidiano” (TEIXEIRA, 2000, p. 100).
Podendo ser investigada as especificidades da dinâmica local, cabe refletir também sobre a
relevância dos atores envolvidos, principalmente entender que os governantes representam uma variável
importante na forma pela qual é conduzida a política de uma dada comunidade. A fim de compreender a
relação dos candidatos com o contexto municipal, tornou-se possível constatar, por meio do desenvolvimento
da pesquisa, os diversos fatores que influenciaram os candidatos entrevistados a pleitearem uma vaga no
poder legislativo: história política, convivência no município, influência de pais ou parentes, convite de um
partido político, militância comunitária ou ligações com categorias específicas, como sindicatos ou
religiosos, inclusive, alguns alegam que, pertencer a uma instituição religiosa o torna mais preparado para
ocupar o cargo na Câmara Legislativa.
Outras constatações foram averiguadas pelo projeto, sendo perceptíveis alguns padrões de
relacionamento entre eleitores e elegidos, que buscam manter contato direto com os cidadãos, não só para
cuidar dos problemas apresentados pela comunidade, como também para tentar garantir sua reeleição.
Entretanto, a relação intra-partidária não parece ser tão próxima, verificou-se que antes das eleições de 2008,
reuniões e convenções foram realizadas entre os partidos a fim de organizar as legendas, porém após o
processo eleitoral, os candidatos declaram que a temporalidade de ocorrência diminuiu ou cessou, ainda
constata-se a falta de conhecimento sobre questões internas, como condições sobre quem pode ser candidato
no partido ao qual pertence;
As formas de articulação para atingir a simpatia dos eleitores modificam-se por meio de
movimentações das bases eleitorais com a busca de votos e apoios em diversos setores da sociedade, até
então desconsiderados pela macro-política de grandes partidos, como a busca de votos nos setores religiosos.
Conforme Franco e Meirelles, (2004, p. 169), “a política vê o campo religioso como um espaço para
expansão de sua base eleitoral, por outro lado, a religião passa a ter no político um espaço de interlocução
e disputa, numa constante busca de reafirmação e construção de seu espaço dentro da esfera púbica”. Deste
modo, representantes religiosos dos mais diversos credos disputam o voto do eleitor. Em Campo Mourão,
verificou-se a presença de candidatos de diversas instituições evangélicas e católica direcionando estratégias
para cativar eleitores que se identificam com tal sistema religioso.
A partir da necessidade de conquistar ambientes políticos e adquirir confiança dos eleitores, agentes
religiosos evocam um sentido a mais ao ato de votar. Além do dever cívico, princípios cristãos são utilizados
motivando cidadãos a votarem pelo bem comum. O voto passa da conotação racional e política para um
recurso de uma legítima batalha pela moralização na política permeada pela corrupção, baderna e
desonestidade. O pesquisador Carlos Alberto Steil, afirma que “a ação ritual do voto que exorciza o mal e o
demônio da política confere aos fiéis uma positividade que não encontramos naqueles que inscrevem o
exercício do voto no campo da racionalidade política” (STEIL, 2001, p. 81).
A partir da reflexão sobre as transformações sociais, políticas e religiosas cabe averiguar a forma que
as instituições agem em diversificados momentos. Cada instituição religiosa difere-se em pontos doutrinais e
nas alternadas formas de celebração ritual, porém todas possuem um carisma institucional podendo ser
utilizado (ou não) nos momentos dos pleitos eleitorais. Esse carisma torna-se um recurso à disposição, “a
maneira e a intensidade com que cada igreja vai se apropriar dele depende de seus mitos de origem, de suas
trajetórias históricas e da forma como elas vão se posicionar nas disputas” (STEIL, 2001, p. 76 – 77). Neste
sentido, cabe esclarecer a manifestação das instituições religiosas, sendo que o apoio ou a indiferença
institucional determinaram as estratégias de campanha adotadas pelos candidatos.
Entende-se que há uma ligação entre a forma de organização e o modelo institucional adotado pela
religião ou grupo religioso e o resultado das eleições, sem, contudo, desconsiderar o processo da
identificação pessoal e das trajetórias individuais de candidatos e eleitores. Nas eleições proporcionais de
Campo Mourão em 2008, nenhum dos candidatos político-religiosos investigados foram eleitos ao cargo de
vereador.
Por meio da entrevista realizada pós-eleição, os candidatos avaliaram o desempenho configurado no
processo eleitoral, e declararam os diversos motivos pelos quais não se elegeram como a compra de votos,
apoio de hierarquias políticas, falta de dinheiro para investir em material de campanha e para contratar cabos
eleitorais, atraso ou pouco tempo para realizar campanha, falta de liderança das Igrejas em que havia sido
feito propaganda, difamação política, entre outros.
Dessa forma, é possível conjeturar que as mensagens religiosas utilizadas em campanhas eleitorais
podem sim produzir efeitos de sentido a fim do convencimento especial, porém não garantem per si a
eficácia política desejada.

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4. Conclusão
A partir dos resultados demonstrados o projeto intenta iniciar na Mesorregião Centro Ocidental uma
tradição de leitura e interpretação acadêmica da participação e presença dos atores religiosos na esfera
política. As leituras preliminares da historiografia regional apontam para um grande vazio bibliográfico no
que toca a compreensão desta problemática proposta e, como as evidências apontam, há indícios não
somente locais, mas regionais, que flagram a participação efetiva de agentes religiosos na política o que
comprova, em grande medida, o deslocamento daquilo que seria propriamente o ethos religioso para o ethos
político. Ao trazer à baila a questão da religião, esta proposta ensaia iniciativas no sentido de chamar a
atenção para o aspecto de que a compreensão da sociedade, das lógicas de poder, das estruturas sociais, das
definições das identidades étnicas e grupais passa ou podem passar pelas interferências e alterações próprias
do campo religioso sobre/com o campo político.
As ações coordenadas entre leituras e pesquisas bibliográficas e ainda as realizadas in loco tornam-se
de extrema valia, porque a imbricação discutida exige um olhar apurado do pesquisador. Esta atividade
reflexiva, contudo, não está restrita à academia porque busca consolidar junto à comunidade, organizações
não governamentais, órgãos públicos e privados a prática da discussão e reflexão que pode trazer como seu
corolário o conhecimento histórico e os jogos de poder presentes na sociedade.

Referências
ALBERTI, Verena. Histórias dentro da História. In: PINSKY, Carla (org.) Fontes Históricas. 2ª ed., São
Paulo: Contexto, 2006.
BOURDIEU, Pierre. A dissolução do religioso. _____. Coisas Ditas. São Paulo: Brasiliense, 1990.
BURITY, Joanildo. Religião, política e cultura. REVISTA TEMPO SOCIAL, São Paulo, v. 20, n. 2,
novembro de 2008.
GIUMBELLI, Emerson. Presença do religioso no espaço público: modalidades no Brasil. REVISTA
RELIGIÃO E SOCIEDADE, Rio de Janeiro, 2008.
MEIRELLES, Mauro. DI FRANCO, Aline. O político e o religioso nas eleições municipais de 2004 em
Porto Alegre: ou a metáfora do gre-nal. REVISTA DEBATES DO NER, Porto Alegre, ano 5, n. 6,
dezembro de 2004.
ORO, Ari Pedro. Religião e política nas eleições 2000 em Porto Alegre. REVISTA DEBATES DO NER,
Porto Alegre, ano 2, n. 3, 2001.
STEIL, Carlos Alberto. Eleições, voto e instituição religiosa. REVISTA DEBATES DO NER, Porto
Alegre, ano 2, n. 3, setembro de 2001.
TEIXEIRA, Marco Antonio Carvalho. O jogo político nos municípios e as eleições. In: CADERNOS
ADENAUER 4: Os municípios e as eleições de 2000. São Paulo: Fundação Konrad, junho de 2000.

Agradecimentos

Os méritos da conclusão deste trabalho devem ser divididos com a FECILCAM (Faculdade Estadual de
Ciências e Letras de Campo Mourão), pela disponibilização de espaço e auxílios em geral, e com Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), órgão de fomento à pesquisa, pelo auxílio
financeiro cedido. Além, é claro, da gratidão com o orientador deste estudo, que disponibilizou tempo e
dividiu seus conhecimentos em prol do instigante caminho da pesquisa científica.

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A RELAÇÃO ENTRE OS CONCEITOS DE ORGANISMO E MÁQUINA NA OBRA


OS CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA METAFÍSICA DE MARTIN HEIDEGGER

Marcieli Eloisa Müller*; Róbson Ramos dos Reis


Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução
O presente trabalho tem como objetivo apresentar a comparação feita por Martin Heidegger entre o
conceito de organismo e o conceito de máquina na obra Os Conceitos Fundamentais da Metafísica. Nesse
contexto, Heidegger estabelece a base para a ontologia da natureza viva a partir da comparação feita entre o
conceito de organismo, compreendido enquanto uma totalidade de órgãos, e o conceito de máquina,
entendido inicialmente como um conjunto de instrumentos. O ponto central deste trabalho consiste em
examinar a comparação entre tais conceitos e reconstruir a estrutura argumentativa apresentada por
Heidegger para afirmar a impossibilidade de se conceber os organismos como um tipo especial de máquinas
bem como para limitar a aproximação entre tais conceitos.

2. Método
Esta pesquisa baseia-se essencialmente na análise das obras e textos filosóficos devidamente indicados
na bibliografia, afigurando-se como uma pesquisa de caráter essencialmente teórico. Nesse sentido, nosso
primeiro passo consistirá em delinear o âmbito de discussão, a saber, o problema dos organismos, máquinas
e instrumentos no contexto da obra Os Conceitos Fundamentais da Metafísica de Martin Heidegger,
especificamente na segunda parte do livro. Em seguida, será abordado o modo como o autor concebe a
relação entre os conceitos de órgão e instrumento e a relação entre os conceitos de organismo e máquina,
através da leitura e exegese dos textos filosóficos e passagens referentes à temática em questão, com a
finalidade de reconstruir os argumentos apresentados pelo autor.

3. Resultados e Discussão
Na obra Os Conceitos Fundamentais da Metafísica Heidegger estabelece a base para a ontologia da
natureza viva a partir da comparação feita entre o conceito de organismo, compreendido como uma
totalidade de órgãos, e o conceito de máquina, entendido inicialmente enquanto um conjunto de
instrumentos. A noção de instrumento é apresentada na parte inicial do tratado Ser e Tempo, onde o autor
elabora uma ontologia das relações internas para a classe dos entes instrumentais, entendendo-os como “algo
para”, no sentido de servir para uma finalidade específica, ser útil para desempenhar uma função.
A noção de órgão, por sua vez, é entendida num primeiro momento no contexto dos Conceitos
Fundamentais da Metafísica como um instrumento, algo que tem uma finalidade para algo; por exemplo, se
pensarmos no caso de um animal, a garra como um órgão para pegar, o bico como um órgão para quebrar,
etc. O ponto central em questão nesse contexto é o seguinte: se a noção de órgão pode ser entendida a partir
de um caráter instrumental, com uma finalidade específica, em que medida um organismo vivo, enquanto um
composto de órgãos, cada qual subordinado a um fim específico não poderia ser compreendido enquanto um
tipo especial de máquina?
No entanto, apesar de um órgão ter um caráter de serventia, servir para algo, assim como o
instrumento, o conceito de órgão não é devidamente compreendido se equiparado ao conceito de
instrumento, pois um instrumento é algo produzido, fabricado especificamente para uma finalidade e está
disponível para o uso, ao passo que um órgão é fruto de uma aptidão desenvolvida pelo organismo. Tendo
apresentado tal distinção, Heidegger mostra que a complexidade de um organismo vivo não pode ser
entendida como um tipo especial de complexo de instrumentos, nem como uma mera associação de órgãos,
pois a estrutura ontológica do órgão entendido como instrumento é diferente da estrutura ontológica do
instrumento como parte ou componente de uma máquina.

4. Conclusão
A comparação feita por Martin Heidegger entre os conceitos de instrumento e órgão e entre as noções
de organismo e máquina resulta numa argumentação em favor da impossibilidade de se conceber o
organismo como um tipo especial de máquina, como um mero aglomerado de órgãos cada qual com uma
finalidade determinada. Além disso, a argumentação oferecida por Heidegger serve para limitar a
aproximação entre os conceitos de organismo e de vida às noções de instrumento e máquina, uma vez que
um organismo não pode ser entendido como um mero aglomerado, um complexo de órgãos que funciona

* marcielieloisamuller@yahoo.com.br
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como uma máquina, um agregado de instrumentos, peças e ferramentas, cada qual cumprindo uma função
específica. Tal limitação justifica-se pelo fato de que a estrutura ontológica de um órgão compreendido a
partir de seu caráter instrumental difere da estrutura ontológica de um instrumento entendido enquanto
componente ou peça de uma máquina.

5. Referências
HEIDEGGER, M. Os Conceitos Fundamentais da Metafísica. Mundo - Finitude - Solidão. Trad. Marco
Antônio Casanova. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003.
HEIDEGGER, M. Ser e Tempo. 4ª ed. Trad. Márcia de Sá Cavalcante. Petrópolis: Vozes, 1993.

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A TAREFA DA ESCOLA E A EDUCAÇÃO PARA VALORES

Viviane Catarini Paim1; Daniel José Crocoli, Prof. Dr. Paulo César Nodari.
Universidade de Caxias do Sul

1.Introdução
Este trabalho tem como finalidade investigar as ações da escola quanto à educação para valores, tendo
em vista a preocupação e as discussões em torno da função da escola, enquanto formadora, ou seja, qual o
seu papel frente aos diversos valores que se apresentam na sociedade contemporânea. Portanto, envolve
conceitos abrangentes: educação e valores. Educação, por sua vez, assumida no caráter formal de ensino,
mais restritamente, na escola.
Para poder investigar o trabalho da escola frente à educação para valores, é necessário contextualizá-
la, apresentando os aspectos pertinentes da sociedade atual que se apresenta e na qual a escola está inserida,
para após isto, verificar quais valores estão inseridos nesta sociedade. Para isso, será referenciado os estudos
de Zygmunt Bauman para caracterizar esta sociedade, definindo conceitos como instantaneidade, progresso,
individualidade, trabalho, competitividade, entre outros. Sabe-se que, ao longo do tempo, a sociedade vem
sofrendo algumas alterações em todos os âmbitos, quer sejam políticos, sociais, econômicos, culturais. Estas
alterações acabam invadindo a escola, sendo que a sua proposta pedagógica deve estar de acordo com as
novas demandas da sociedade.
Diante disto, Bauman (2001) apresenta a sociedade comparando-a com a denominada modernidade
líquida para explanar as mudanças ocorridas na sociedade, com o advento da modernidade mais sólida para a
chamada modernidade leve, líquida, ou seja, como o mundo funciona hoje e como podemos operar nele,
sendo que o autor define:
Essa parte da história, que agora chega ao fim, poderia ser chamada, na falta de nome
melhor, de era do hardware, ou modernidade pesada – a modernidade obcecada pelo
volume, uma modernidade do tipo “quanto maior, melhor”, “tamanho é poder, volume é
sucesso”. (p. 132) [grifos do autor].
Para este autor, vivemos atualmente, uma modernidade líquida, leve que é marcada pela
instantaneidade, que “conduz a cultura e a ética humanas a um território não-mapeado e inexplorado, onde a
maioria dos hábitos aprendidos para lidar com os afazeres da vida perdeu sua utilidade e sentido.” (p. 149).
Pode-se compreender que esta modernidade líquida demarca uma grande transformação nos âmbitos
social, político, econômico, ambiental, sempre no sentido de esquecer o passado, ou seja, aquilo que
significava importante nas ações dos indivíduos e que, agora, perde seu efeito. As possibilidades de criar
novas formas de vida são aceitas e o mundo movimenta-se conforme as demandas imediatas. É o mundo do
imediatismo, das coisas descartáveis. Vive-se para o momento e, muitas vezes, a responsabilidade da prática
momentânea não é requisito para limitá-la. A diferença da modernidade sólida para a modernidade líquida é
a duração da ação. Na modernidade líquida, a ação é imediata, a curto prazo. Neste sentido, o consumismo
passa a ser algo de desejo imediato. Consome-se mais e, muitas vezes, para satisfazer desejos instantâneos e
individuais. Ações coletivas passam a ser, de certo modo, inexistentes.
Ainda, ao que se refere aos modos de trabalho, o ser humano busca o progresso. Este é algo visto
como aquilo que não tem fim, que deve ser alcançado constantemente, através de seu esforço. A competição
e a individualização concorrem para o alcance deste progresso. Todos estes processos mudam
profundamente o modo de vida humana. É o que constata-se neste trecho:
[...] são homens e mulheres individuais que a suas próprias custas deverão usar,
individualmente, seu próprio juízo, recursos e indústria para elevar-se a uma
condição mais satisfatória e deixar para trás qualquer aspecto de sua condição
presente de que se ressintam. (p. 155).
O trabalho, na modernidade sólida era considerado uma virtude, sendo fundamental para a vida nos
tempos modernos. Com ele, o ser humano comandava seu próprio destino. Porém, na contemporaneidade, o
trabalho não é mais um projeto de vida, uma base sólida, mas um significado de satisfação. Assim, mudar de
emprego tornou-se algo comum, reafirmando o conceito de transitoriedade que marca a denominada
modernidade líquida.
Os conceitos de emancipação e individualidade ganham um peso maior nesta sociedade, sendo que o
coletivo e a comunidade passam a ser conceitos abstratos, aquilo que vem depois das escolhas individuais.
Diante desta breve explanação apresentada por Bauman, é necessário apresentar algumas definições de
valor para podermos relacioná-los ao processo educativo da escola.

1
E-mail: vcatarinip@gmail.com.
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É possível começar com uma definição simples, extraída de Ogien (In Canto-Sperber, 2003): “Nas
„teorias dos valores‟, fala-se mais sobre o bem, o mal, o melhor, o pior etc.” (p. 255). Para este autor,
entretanto, os valores não são exclusivamente morais, pois podem ser valores cognitivos, estéticos,
econômicos, sociais, etc. Porém, para a filosofia moral, é incontestável a integração das teorias do bem e do
dever nas teorias mais gerais do valor. O autor, ainda, explicita de maneira clara que as modernas teorias do
valor contribuem para legitimar as definições puramente subjetivas de valor, sendo que defensores destas
teorias estimaram que o “valor de um objeto ou de uma ação era uma função dos interesses ou das emoções
do agente [...].” (p. 258). Para os críticos da abordagem subjetiva, ou seja, os defensores das teorias objetivas
do valor, estimam que os valores são estáveis, não dependem da subjetividade, ou seja, dos interesses e
emoções. Porém, isto não significa que estes fatores não tenham relação com os valores.
Além desta curta definição de valores apresentada, alguns autores, dependendo de suas concepções e
teorias, ocupam-se em defini-los. Falcão (1997), por exemplo, descreve: “Ao cogitarmos dos objetos do
conhecimento e, no particular, quando tratamos dos objetos culturais, fizemos referências diversas a valor.”
(p. 18). Explicita, em sua obra, os filósofos existencialistas que consideram importante a vida humana, a
existência. Desse modo, o homem “está sendo” no mundo e, enquanto vive, usa sua liberdade de escolha,
liberdade que orienta suas condutas. Suas decisões tornam-se importantes para suas ações. Por isso, escolher
é valorar. Sua conduta é indissociável do valor.
Em conformidade com este pensamento, a obra que apresenta também definições de valores é a obra
de Hessen, intitulada Filosofia dos Valores (1980). Cabe ressaltar brevemente o que este autor apresenta
como conceito de valor, sendo que valor, no sentido mais simples, é dado da nossa “consciência dos
valores”, de nossa vivência, de nossa forma de vida. (p. 39). Voltamos a referenciar aqui que dependem das
nossas vivências, experiências, ligando-se às características que advém do ser humano. No conceito de valor
está embutido a relação com um sujeito. “Valor é sempre valor para alguém. Valor – pode dizer-se – é a
qualidade de uma coisa, que só pode pertencer-lhe em função de um sujeito dotado com uma certa
consciência capaz de a registrar.” (Hessen, p. 47). Ainda, os valores pertencem à classe dos objetos não
sensíveis, apontando que estes tem como características a irrealidade (têm ser, mas não tem existência); a
intemporalidade (estão para além do devir e da extinção temporais) e a objetividade, ou seja, os valores
independem da subjetividade. Eles não são subjetivos, não existem para um determinado sujeito ou grupos
de sujeitos.
De acordo com estas definições, referencia-se novamente Falcão (p. 20): “O valor não se confunde
com bem. Pelo contrário, é por causa do valor que surge a idéia de algo como sendo um bem. O valor é
primário. O bem é decorrência, é algo que vem em seguida.” Ainda, apresenta uma classificação que, quanto
à amplitude, podem ser universais, sociais, nacionais, populares e particulares. Quanto ao tempo, são
permanentes, duradouros e efêmeros. Quanto à legitimidade, positivos ou negativos e, quanto à matéria,
podem ser classificados de maneira quase ilimitada, lembrando os valores morais, jurídicos, éticos, políticos,
econômicos e, assim, por diante.
Destaca-se aqui que as obras e estudos de Max Scheler serão imprescindíveis para a realização desta
pesquisa acerca do tema proposto.

2. Método:
Diante deste cenário, é imprescindível verificarmos se a escola, além de desenvolver habilidades e
competências com seus alunos, deve formá-los através de valores e qual seu papel perante os valores que
vêm sendo apresentados na sociedade atual. Para isso, a contextualização da sociedade em que a escola está
inserida é importante, bem como, buscar um referencial teórico contemporâneo que apresente um estudo
mais aprofundado sobre valores, educação e ser humano. Também, descrever e analisar os aspectos
pertinentes que envolvem o processo educativo da escola, sua relação com valores e a concepção de ser
humano que visa alcançar. Este referencial será Max Scheler. Desse modo, o método será descritivo-
analítico, no sentido de apresentar uma descrição dos conceitos, enunciados e proposições de todos os
aspectos referenciados e analítico, por analisar estes conceitos e estas definições, sendo uma pesquisa
bibliográfica e descritiva. A partir da análise analítica dos valores a partir de Scheler, tentarei ver de que
modo é possível colocar em prática tais valores e se isto possível.

3. Discussão e resultados:
Os resultados deste trabalho serão apresentados depois de um amplo e profundo estudo sobre o
principal referencial teórico, Max Scheler, para então, podermos compreender a relação entre os processos
educativos escolares, a sociedade em que está inserida e suas transformações sociais e culturais com os
aspectos apresentados por Max Scheler sobre valores. Neste momento, apresenta-se uma breve definição do
que Scheler entende por valor e educação.

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Scheler é um dos defensores da teoria objetivista de valores, mas também considera a relação entre os
interesses e emoções com os valores. É o que podemos conferir em Ogien (In Canto-Sperber): “Segundo
Scheler, por exemplo, o valor de um objeto ou de uma ação não é função dos interesses ou das emoções do
agente, mas o agente pode conhecer ou descobrir este valor por meio de seus interesses ou de suas emoções.”
(2003, p. 258). Isto significa que sua teoria de valores será imprescindível na abordagem do tema
pesquisado.
Schaefer (1995), um dos principais comentadores das obras de Max Scheler, apresenta a concepção de
educação trazida pelo teórico, sendo que esta educação deve ser voltada para o homem. Este homem é um
ser total, resumindo em si a totalidade do mundo.
A educação, portanto, deve estar voltada para este homem total, apresentando-se como uma tarefa
contínua. É um processo de humanização. Esta humanização, porém, não se refere a um processo evolutivo,
sendo o homem o resultado complexo deste processo, mas enquanto essência, ou seja, o homem é um ser
natural, tendo em si as formas de vida próprias do mundo humano e também é um ser espiritual. É como ser
espiritual que pode participar da tarefa da educação. Diferencia-se do animal por ter consciência de si e do
mundo. Esta característica diz respeito sobre a capacidade do homem não estar submetido somente às
tendências e interesses vitais, mas superar todo o meio possível da vida e se elevar ao reino do ser e do valor.
(p. 49).
Portanto, para Scheler, a destinação fundamental da educação é a realização individual e singular do
homem. Para isso, é necessária a realização do projeto humano, a partir de si mesmo. Neste sentido, a
educação é um “fazer-se”. É a busca do homem em direção ao seu projeto de vida. “A educação é um
caminho para a liberdade.” (Schaefer, 1995, p. 129).
É importante, aqui, citar novamente Ogien (2003), quando explicita o pensamento de Scheler quanto
aos valores, ou seja, apesar de ser um defensor da teoria objetivista dos valores, acaba por considerar as
emoções e os sentimentos do ser humano na relação com os valores.
Scheler também apresenta uma hierarquia de valores. De acordo com esta hierarquia é possível julgar
se um ato é bom ou mau, belo ou feio, levando-se em conta a preferência de quem o pratica. A ordenação
dos valores passa a ser então a tarefa mais importante da reflexão ética. Esta hierarquia é referenciada por
Volkmer:
[...] as percepções sentimentais, como as percepções em geral, são atos
objetivadores da razão, e portanto seus objetos intencionais são „objetivos‟, e a
hierarquia dos valores também é objetivamente intuída a partir de certos atos do
espírito. Estes atos são os atos de preferir e de postergar. Se preferimos ou
postergamos um valor em relação a outro, é porque intuímos imediatamente uma
diferença de magnitude valorativa entre eles, e que portanto, há uma hierarquia
entre os valores. (p. 65).

Na obra de Scheler “Da reviravolta dos valores” (1994), o autor começa por reabilitar o conceito de
virtude, explicitando que, para os gregos, a virtude “é o que determina a expansão e completude da
responsabilidade para possíveis lidas.” (p. 21). Para Kant, a virtude a virtude é um efeito de vontade em
consonância com o dever. Scheler critica esta última definição por compreender que isto acarreta o peso de
uma responsabilidade. Apresenta a virtude como “uma consciência viva de potência para o bem, totalmente
individual e pessoal. [...].” (p. 22) [grifos do autor].
As virtudes são explicitadas em relação a outros conceitos, como por exemplo, o conceito de
humildade, sendo que esta, para o autor, é a mais bela das virtudes cristãs. A partir desta definição, faz uma
distinção entre humildade e orgulho, sendo que o orgulho é um valor que o homem confere à sua própria
imagem. Deste modo, o orgulhoso passa a ser também vaidoso, sendo a vaidade outro valor referenciado por
Scheler na sua obra. Para o autor, a humildade deve vencer o orgulho, para que abra “o olhar do espírito para
todos os valores do mundo.” (p. 28). Nesta obra, há a preocupação de apresentar alguns elementos da moral
moderna. O valor do trabalho pessoal é referenciado como um dos elementos. Através do trabalho, do
esforço, do sacrifício, os homens mostram-se como iguais em seus valores éticos. (p. 147). Para Scheler, na
Antiguidade, bem como no Cristianismo, esta valoração não era conhecida. Ele apresenta outros elementos
importantes da moral moderna, sendo o subjetivismo dos valores e a subordinação dos valores da vida
(essenciais) aos valores da utilidade, descrevendo os aspectos que se manifestam como determinantes nas
questões acerca de valores.

4. Conclusão:
Este trabalho de pesquisa envolve conceitos abrangentes: educação e valores.

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A educação, por sua vez, possui um conceito amplo que envolve vários aspectos: processos de
formação, conhecimentos, crenças, costumes, ensino. De maneira geral, assume caráter formal e informal.
Caráter formal quando assumida pelas instituições, como escola, igreja, sindicato, universidade. Informal
quando ocorre nos mais variados espaços da sociedade, sem um caráter de formalidade, ou seja, o indivíduo
se educa em todos os espaços, mesmo que estes não assumam regras, procedimentos, rituais. Pode-se dizer
que, mesmo sem freqüentar os espaços escolares, o indivíduo educa-se. .
Na escola, de maneira geral, a educação ocorre nas formas de ensino, de transmissão de
conhecimentos, de desenvolvimento de habilidades e competências. Estas formas de educar têm como
objetivo a formação do sujeito. Em conformidade com Scheler, educação é uma tarefa contínua em prol do
projeto de vida do sujeito, para sua realização plena.
A educação, por sua vez, tomará uma forma de relação com o conceito de valores. Os valores serão
aqui compreendidos como parte do processo educativo e como parte da sociedade.
Em conformidade com os conceitos apresentados por Bauman no que se refere à sociedade
contemporânea, podemos compreender que determinados valores estão inseridos nesta sociedade. Diante
disso, onde estaria o papel da escola? A escola está preparada para formar sujeitos oriundos desta sociedade?
A educação escolar dá conta de compreender estes processos de transformação e a partir do contexto atual,
ter espaço para uma formação de valores?
A partir daí, podemos relacionar todos os aspectos levantados pelo autor com as questões educativas
de nossos tempos atuais, ou seja, pensar sobre o reflexo desta sociedade presente na escola, exibindo alguns
aspectos, como por exemplo, de civilidade, convívio com as diferenças, relações entre tempo e espaço, sendo
que estas relações estão diretamente vivenciadas nos espaços escolares, na medida em que a escola deve, ou
então deveria, possuir um potencial para acompanhar os movimentos acelerados de produção de
conhecimento, pois a escola então, transmissora deste conhecimento, passa agora a não ser a detentora do
saber, pois as novas tecnologias oferecem as informações em um rápido espaço de tempo, no qual todos têm
acesso ao “conhecimento”.
É necessário destacar ainda que, como a pesquisa ainda está no princípio, um estudo aprofundado do
principal referencial teórico será imprescindível para obtermos melhores resultados e, assim, podermos
relacioná-los com as questões educativas atuais e sobre o papel da escola frente às transformações sociais e
frente à educação para valores.

REFERÊNCIAS:

ALMEIDA, Felipe Quintão de. BRACHT, Valter. GOMES, Ivan Marcelo. Bauman e a educação. Belo
Horizonte: Autêntica Editora, 2009.

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.

OGIEN, Ruwen. Normas e Valores. Tradução de Ana Maria Ribeiro – Althoff. In: CANTO-SPERBER,
Monique. Dicionário de Ética e Filosofia Moral. Vol. 2. São Leopoldo, RS: Ed. Unisinos, 2003. p. 255-267.

FALCÃO, Raimundo Bezerra. Hermenêutica. 1ª ed. São Paulo: Malheiros Editores, 1997.

HESSEN, Johannes. Filosofia dos Valores. 5 ed. Coimbra: Arménio Amado, 1980.

SCHAEFER, Osmar Miguel. Antropologia filosófica e educação: perspectivas a partir de Max Scheler.
Pelotas: EDUCAT, 1995.

SCHELER, Max. Da Reviravolta dos Valores: ensaios e artigos. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.

______. Ética: nuevo ensayo de fundamentación de un personalismo ético. 3ª edl, Madrid: Caparrós
Editores, 2001. 764p.

VOLKMER, Sérgio Augusto Jardim. O perceber do valor na ética material de Max Scheler. Dissertação de
Mestrado. Disponível em: http://tede.pucrs.br/tde_busca/aquivo.php?CodArquivo=23. Acessado em:
12/06/2010.

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AÇÃO COLETIVA E ECONOMIA SOLIDÁRIA NO RIO GRANDE DO SUL:


REFLEXÕES SOBRE A RELAÇÃO ENTRE SOCIEDADE CIVIL E ESTADO
NO BRASIL

Gerson de Lima Oliveira1


Programa de Pós-Graduação em Sociologia – Universidade Federal do Rio Grande do Sul

1. Introdução
A partir da redemocratização brasileira iniciada em meados dos anos 1980, o cenário da
relação entre Estado e sociedade civil passa por grandes mudanças. De acordo com Dagnino [1],
ocorre o aumento de diversas formas associativas, emergem novos movimentos sociais e os
partidos políticos se reorganizam. Por sua vez, o Estado vai se democratizando mediante o
estabelecimento de vários procedimentos formais de participação que abre o acesso a novas
forças políticas. Dessa maneira, as transformações ocorridas no âmbito do Estado brasileiro e da
sociedade civil se expressam em novas relações entre eles. O confronto e a oposição que no
período de resistência contra a ditadura marcavam estas relações passam a ser caracterizadas
pela negociação e por uma aproximação que aposta na possibilidade de atuação conjunta,
expressa pela bandeira da participação social.
Por outro lado, a literatura sociológica comumente empregada na análise das relações entre
sociedade civil e Estado no Brasil parece não acompanhar tais evidência empíricas. Em virtude
de sua trajetória, que tendeu a enfatizar mais a função positiva da sociedade civil do que a
constituição dos atores que a conformam, as ciências sociais brasileiras, em grande medida, se
descolaram dos debates internacionais que buscavam desenvolver instrumentos analíticos mais
consistentes para o estudo dos processos de associação e mobilização presentes em âmbito
societário. Desta forma, a literatura sobre movimentos sociais no Brasil tem como uma
importante característica o seu “engajamento”; isto é, tende a ser uma literatura voltada,
predominantemente, não só à análise de seus objetos de pesquisa, mas também à defesa de
determinadas posições político-organizativas. Neste sentido, o primeiro aspecto destacado é a
forte presença de um enfoque normativo nesta literatura. Isto significa que uma parcela
significativa dos trabalhos que a integram adota determinados pressupostos normativos que
definem como “deve ser” o objeto de sua análise. Como desdobramento desta normatividade,
outra característica presente em parte desta literatura é o seu caráter prescritivo, ou seja, alguns
analistas tendem a assumir o papel de propositores de formas de organização e atuação dos
movimentos sociais a partir de determinados princípios considerados corretos, justos ou eficazes
[9].
Tais características dos estudos sociológicos brasileiros sobre movimentos sociais e
sociedade civil tendem a apresentar algumas defasagens analíticas na medida em que ao ater-se
a aspectos de caráter mais normativo, geralmente pecam na apreensão das dinâmicas reais de
associação e nas relações que os movimentos sociais estabelecem com o Estado para a conquista
de suas demandas. Esta é uma característica da literatura comumente empregada nos estudos
sobre Economia Solidária no Brasil. O debate que permeia as discussões entre a autonomia e a
institucionalização do movimento de Economia Solidária, muitas vezes acabam por transpor
categorias analíticas baseadas em outras realidades empíricas – como a européia, por exemplo –
mas que quando aplicadas ao caso brasileiro, não dão conta de suas especificidades. Uma das
características da relação entre movimentos sociais e Estado no Brasil é a fluidez de suas
fronteiras na medida em que o trânsito de atores entre o movimento e a esfera institucional é
intenso, ou seja, é comum encontrarmos a presença dos mesmos atores e grupos ocupando
posições ora nos movimentos sociais, ora na esfera institucional [3]. Tal peculiaridade do caso
brasileiro é marcante das relações estabelecidas entre movimentos sociais e Estado, das quais as
experiências associativas em Economia Solidária são emblemáticas. Neste sentido, o objetivo

1
Gerson de Lima Oliveira: gerson.oliveira@ufrgs.br

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deste trabalho é problematizar a literatura comumente utilizada na análise das relações


estabelecidas entre organizações da sociedade civil e Estado no Brasil a partir das experiências
associativas e institucionais em Economia Solidária no Rio Grande Sul.

2. Discussões teóricas e empíricas


O debate sobre a caracterização da economia solidária enquanto um movimento social é
complexo e extenso. Mesmo que não se caracterize pelo uso dos mecanismos clássicos do povo
na rua reivindicando uma causa ou por um movimento unitário, sob uma única bandeira, é
possível se dizer que existe um movimento social pela economia solidária (ES) não só no Brasil,
mas também em outros países da América Latina, e da Europa. Há uma grande discussão sobre
se a ES representa simplesmente um espectro de ação coletiva, um campo de práticas ou mesmo
um setor da economia composto por uma gama diversa de agentes, unificados pela definição
genérica da defesa de outra economia - distinta da economia capitalista em seus princípios -
mas diversificados em relação às definições do próprio conceito de economia solidária, dos seus
propósitos, de sua função social, do seu alcance enquanto prática, enfim, do seu viés ideológico
[6].
É possível identificar que as iniciativas de economia solidária partem de determinados
setores da sociedade civil – essencialmente trabalhadores - como forma de resistência ou
alternativa ao modelo capitalista de relações de produção. Frente à escassez de recursos
decorrente do alto grau de concentração do mercado capitalista vigente, do Estado e às
dificuldades de consolidar-se enquanto outra esfera de relações econômicas resta à Economia
Solidária competir e conquistar espaço dentro do mercado capitalista e/ou buscar legitimidade,
reconhecimento e apoio frente ao Estado. Neste sentido, a ES compartilha com outros
movimentos sociais o caráter reivindicativo de demandas frente ao Estado e o reconhecimento
destas demandas como legítimas. No ínterim desta relação, se estabelece um confronto entre
reivindicação, conquista de espaços, legitimação e institucionalização do qual é caro o debate
sobre a formação, a ação e sobre a autonomia dos movimentos sociais [2, 7, 8].
No caso do Brasil e nos limites deste trabalho, especificamente no caso do Estado do
Rio Grande do Sul, percebe-se que a formação e consolidação de experiências e práticas em
Economia Solidária passa pela indução do Estado. Seja por iniciativa dos grupos que o ocupam
ou pela permeabilidade que permite a agentes simpatizantes à economia solidária influenciarem
agentes inseridos na rede estatal para que sejam adotadas e desenvolvidas políticas de fomento à
ES. De acordo com Icaza [5] em matéria de políticas públicas para a ES, o Estado do Rio
Grande do Sul é pioneiro no Brasil. Seu antecedente fundamental constitui a experiência da
Prefeitura Municipal de Porto Alegre (PMPA) que inicia um trabalho de apoio a grupos de ES
em meados da década de 90. Entre 1999 e 2002, tendo por base a experiência de Porto Alegre, a
economia solidária passou, pela primeira vez no país, a integrar a agenda de um governo
estadual. Neste sentido, a consolidação de um campo de práticas em ES, primeiramente no Rio
Grande do Sul e, posteriormente, em escala nacional está fortemente ligada às relações que as
organizações da ação coletiva em ES estabelecem com o Estado, marcadas pelo trânsito de
indivíduos e grupos que ora ocupam posições no movimento, ora ocupam posições
institucionais.

3. Procedimentos metodológicos
A fluidez das fronteiras que permeiam as relações entre sociedade civil e Estado no Brasil
impede que se possa compreender tais dinâmicas a partir da simples transposição de modelos
analíticos empregados em outras realidades empíricas. Portanto, se faz necessário o
desenvolvimento de ferramentas analíticas que possibilitem a melhor compreensão destas
dinâmicas relacionais. Visando este esforço, o método aplicado neste trabalho consiste na
análise de trajetórias. Foram realizadas entrevistas com dez militantes que cumpriram papéis
importantes na consolidação de um campo de práticas em Economia Solidária no Rio Grande do
Sul. Estes atores têm em comum o fato de ao longo de suas trajetórias individuais atuarem no
movimento de Economia Solidária a partir de organizações não-governamentais, entidades

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

representativas de empreendimentos econômicos solidários, partidos políticos e através da


ocupação de cargos políticos institucionais.
O objetivo é compreender como se constroem e se dinamizam as relações entre
organizações da sociedade civil e Estado a partir de trajetórias individuais que tem como
característica o trânsito entre as entidades associativas do movimento de Economia Solidária e o
campo institucional. Para fins operacionais, a análise se dá em três momentos: primeiramente
analisamos a trajetória de militantes que estiveram envolvidos na experiência da prefeitura de
Porto Alegre entre 1996 e 2004, período em que o Partido dos Trabalhadores (PT) esteve à
frente do governo municipal e foi responsável pela implementação das primeiras políticas
públicas para a Economia Solidária no Brasil. Posteriormente, analisam-se as experiências
empregadas durante o período em que o PT esteve à frente do governo do Estado entre 1999 e
2002, período em que a Economia Solidária passou a ser um dos principais temas da agenda
política do governo estadual. Por último, analisamos os reflexos das políticas implementadas
pelo governo Lula para a Economia Solidária a partir de 2003 e como atores que antes
ocupavam espaços em nível estadual, passam a atuar na constituição de políticas públicas para a
Economia Solidária em âmbito federal.

4. Conclusões
A partir da análise de documentos, do levantamento de parte da bibliografia acadêmica
existente e da análise das trajetórias individuais, é possível constatar que a consolidação de um
campo de práticas em Economia Solidária no Rio Grande do Sul foi possível quando grupos
organizados em entidades associativas e partidos políticos que defendem a Economia Solidária
enquanto bandeira política e estratégia de desenvolvimento econômico assumem o governo. Da
mesma forma, isto abre espaço para que as entidades de apoio e fomento tenham acesso a
recursos e relações com o poder público, consolidando seu papel de mediação na estruturação
deste campo de práticas, seja através da obtenção de recursos financeiros ou do fornecimento de
suporte humano.
Sabemos que o Estado controla grande parte dos recursos materiais capazes de prover a
sustentação deste campo de práticas e, em última instância, o monopólio dos mecanismos
capazes de atribuir legitimação e reconhecimento jurídico a estas iniciativas. Desta forma,
relações de maior negociação e proximidade entre movimentos sociais e Estado tem sido uma
importante estratégia de setores tradicionalmente excluídos para acessar recursos historicamente
fora de seu alcance. E esta não é uma característica exclusiva do movimento de Economia
Solidária. Movimentos como o ambientalista, o sanitarista e de luta pelos conselhos de saúde
também possuem como marca de sua trajetória este tipo de relação com o Estado [3, 10].
Tais evidências empíricas apontam para transformações ocorridas nas relações entre
sociedade civil e Estado no Brasil a partir do processo de redemocratização. Relações que antes
eram marcadas pelo confronto, passam a ser caracterizadas pela aproximação e pela negociação,
na qual os movimentos sociais passam a disputar canais de participação institucional e a ocupar
espaços institucionais através de seus representantes. O trânsito institucional que marca tais
relações nos leva a problematizar as fronteiras realmente existentes entre movimentos sociais e
Estado no Brasil, na medida em que simples transposição de modelos teóricos prontos para a
análise empírica, parecem não dar conta da complexidade destas relações.

Referências

CRUZ, Antônio. Uma contribuição crítica às políticas públicas de apoio à


Economia Solidária. Campinas: UNICAMP, 2002.

[1] DAGNINO, Evelina (org.). Sociedade Civil e Espaços Públicos no Brasil. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 2002.

[2] DOIMO, Ana Maria. A vez e a voz do popular. Rio de Janeiro: Relume-

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Dumará/ANPOCS, 1995.

[3] FALLETI, Tulia G. Infiltrating the State: The Evolution of Health Care Reforms in Brazil,
1964-1988 In: Explaining Institutional Change: Ambiguity, Agency, and Power.
Nova York: Cambridge University Press, 2010

FRANÇA FILHO, G. C. de; LAVILLE, J. Economia Solidária: a abordagem internacional.


Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004.

GOHN, M. G. M.. Abordagens Teóricas no Estudo dos Movimentos Sociais na América Latina.
Cadernos do CRH (UFBA), v. 21, p. 439-455, 2008

[4] ICAZA, Ana Mercedes S. Solidariedade, autogestão e cidadania: mapeando a economia


solidária no Rio Grande do Sul. In: GAIGER, Luiz Inácio (org.). Sentidos e
experiências da economia solidária no Brasil. Porto Alegre: UFRGS, 2004.

[5] ---------------------------------. Políticas públicas e Economia Solidária no Rio Grande do Sul.


In: FRANÇA FILHO, G. C. de; LAVILLE, J (et.alli). Ação pública e Economia
Solidária: uma perspectiva internacional. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2006.

[6] ---------------------------------. Economia Solidária, acción colectiva y espacio público em


El sur de Brasil. Tese de Doutorado. Louvain: UCL, 2008.

LECHAT, Noëlle. As raízes históricas da economia solidária e seu aparecimento no


Brasil. Palestra proferida no II Seminário de incubadoras tecnológicas de
cooperativas populares. UNICAMP, 2002.

MARQUES, Eduardo. Estado e redes sociais: permeabilidade e coesão nas políticas urbanas
no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Revan, 2000.

PINTO, João Roberto Lopes. Economia solidária: de volta à arte da associação. Porto
Alegre: Editora da UFRGS, 2006.

[7] SADER, Eder. Quando novos personagens entraram em cena. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1988.

[8] SCHERER-WARREN, Ilse. Uma revolução no cotidiano. São Paulo: Braziliense,1987

----------------------------------. Cidadania sem fronteiras. São Paulo: Hucitec, 1999

SILVA, M. K. Sociedade civil e construção democrática: do maniqueísmo essencialista


à abordagem relacional. In. Sociologias. Porto Alegre: UFRGS, 2006.

[9] SILVA, M. K. De volta aos movimentos sociais?- Reflexões a partir da literatura brasileira
recente. In: Ciências Sociais Unisinos. São Leopoldo: UNISINOS, 2010.

TARROW, S. Poder em movimento: movimentos sociais e confronto político. Petrópolis:


Vozes, 2009.

[10] TATAGIBA, L. Os conselhos gestores e a democratização das políticas públicas no


Brasil. In: DAGNINO, Evelina (org.). Sociedade Civil e Espaços Públicos no Brasil.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.

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AUTONOMIA E ECONOMIA SOLIDÁRIA: EXPERIÊNCIA E TRANSFORMAÇÃO DE


PROCESSOS DE TRABALHO EM EMPREENDIMENTOS DE CONFECÇÃO

Thales Speroni Pereira da Cruz1


Universidade Federal do Rio Grande do Sul - PPGS (Programa de Pós Graduação em Sociologia)

1. Introdução
O debate sobre o desenvolvimento da autonomia é central para a compreensão das reais
possibilidades da economia solidária. Uma parcela importante da bibliografia traz como pressuposto a
existência de uma racionalidade nos empreendimentos de economia solidária voltada à pessoa,
diferenciando-a da lógica capitalista de maximização dos ganhos [1-3]. O presente estudo busca
problematizar esse pressuposto por meio das contribuições – diferenciadas, mas complementares - de E.P.
Thompson [4,5] e François Dubet [6,7] no que concerne a noção de experiência.
A relevância da análise do desenvolvimento da autonomia em empreendimentos de economia
solidária reside no fato de que neste tipo de empresa abre-se a possibilidade do exercício da autogestão. No
entanto, a constituição desse sujeito autogestionário é histórica e atravessada pela socialização – passada e
presente – ocorrida em distintos espaços, a família, a escola e o trabalho. Estes processos socializadores,
como aponta Dubet [6], promovem valores heterogêneos e até contraditórios.
O viés heterogêneo da socialização é evidenciado pelas trajetórias laborais de trabalhadores inseridos
na economia solidária. A existência de um “antes” e um “depois”, isto é, de uma situação que delimita o
trabalho heterônomo do que se propõe autônomo nas histórias de vida não ocorre sem tensões e dificuldades.
Uma abordagem histórica capaz de perceber que durante o desenvolvimento de sua experiência social o
trabalhador desenvolveu padrões de apreensão da situação laboral influenciados por uma socialização
heterogênea - que tinha no trabalho heterônomo um elemento relevante de constituição de valores e condutas
individuais - faz-se necessária para problematizar os sentidos possíveis da autogestão em empreendimentos
de economia solidária.
Buscou-se, assim, a construção de uma definição do conceito de autonomia que pudesse abranger
essas questões e que permitisse a constituição de um modelo analítico com um triplo enfoque: a
heterogeneidade do processo de socialização, a reflexão do trabalhador sobre este processo e a possibilidade
da existência de uma ação correlata.

2. Problema e Método

Compreendendo a importância das iniciativas autogestionárias, sobretudo em um cenário de


desemprego e precarização do trabalho, esta pesquisa apresenta o seguinte problema: de que modo a
experiência autogestionária é constituída por uma reflexão do trabalhador sobre o trabalho heterônomo e
quais são as consequências deste processo reflexivo sobre a (re)organização do processo de trabalho?
Neste sentido, a presente pesquisa tem como objetivo compreender a forma como os trabalhadores
de empreendimentos econômicos solidários percebem sua trajetória laboral – quais fatores presentes nos
trabalhos anteriores são negados, afirmados, considerados superados ou que deveriam ser resgatados - e de
que forma esta reflexão tem efeito sobre o modo como organizam o processo de trabalho no empreendimento
autogestionário.
A análise do processo de trabalho é elemento fundamental nesta investigação, pois é considerada
como fator que sintetiza os seguintes itens: a contradição histórica entre capital e trabalho no que tange sua
influência na conformação da subjetividade do trabalhador; o modo de confrontação com os
constrangimentos internos e externos no que se relaciona a inovação organizativa; a dificuldade da
complementação de uma crítica discursiva do trabalho heterônomo com o estabelecimento de um conjunto
de procedimentos e normas coerentes com esta contestação; e o paradoxo entre eficiência produtiva e
relações democráticas.
As investigações sobre economia solidária têm privilegiado os processos decisórios relegando a
análise dos processos de trabalho a um segundo plano. O presente estudo, dada suas pretensões, tem como
foco a análise do processo de trabalho tratada enquanto síntese do processo democrático e da experiência dos
trabalhadores. Uma análise restrita ao processo decisório é incompleta, pois não apreende o sentido dado a

1
Thales Speroni Pereira da Cruz: thalessperoni@gmail.com
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tal por meio da experiência, ou seja, não é satisfatória uma análise que se limite a detectar a existência da
possibilidade de participação, é necessária a investigação de qual o significado de tal possibilidade, quais são
as decisões tomadas e sua relação com a experiência dos trabalhadores.
Levando em consideração os aspectos supracitados serão estudados empreendimentos de confecção,
este setor é uma realidade adequada à investigação proposta dada sua relevância para a economia solidária
atualmente (número de empreendimentos e a existência de casos modelo) e a presença de certa flexibilidade
no que tange a organização do processo produtivo. Sendo assim, serão investigados cinco empreendimentos
de Porto Alegre e região metropolitana, selecionados a partir dos seguintes critérios: mínimo de 20
trabalhadores, realização do trabalho – mesmo que em parte – de forma coletiva e ter iniciado seu
funcionamento há pelo menos oito anos.
Considerando as dificuldades geradas por tal problema, buscou-se, por um lado, o estabelecimento
de indicadores que dão conta de diferentes aspectos das realidades estudadas e, por outro, a adoção de
procedimentos metodológicos coerentes com o modelo analítico proposto e que se caracterizam, pelo contato
regular com os casos investigados e pela relevância conferida aos relatos dos trabalhadores realizados sob
seus próprios termos e estruturas de referência. Neste sentido, serão aplicadas três técnicas complementares:
1) Os grupos focais que têm como característica a produção de dados por meio da interação do grupo [8],
permitindo, assim, a exploração de “normas e dinâmicas grupais ao redor de questões e tópicos” [9]; 2) As
entrevistas não-estruturadas e biográficas que possibilitam uma “(...) profundidade qualitativa ao permitir
que os entrevistados falem sobre o tema nas suas próprias estruturas de referência. (...) Isso permite que os
significados que os indivíduos atribuem para os eventos e relacionamentos sejam entendidos nos seus
próprios termos” [10]. Os entrevistados serão selecionados buscando a diversidade de experiências laborais,
de tempo no grupo e de cargo ou função exercida atualmente; 3) A observação sistemática é uma técnica que
complementa as outras anteriormente referenciadas e que terá como foco a análise do processo de trabalho
existente. Este procedimento visará a compreensão do nexo entre crítica reflexiva (construída a partir dos
procedimentos anteriores) e arranjo do processo de trabalho.
Busca-se por meio desta complementariedade entre procedimentos metodológicos uma análise
caracterizada por uma “dupla hermenêutica” [11].

3. Modelo analítico proposto

A autonomia é concebida neste estudo a partir de duas dimensões2: a da experiência e a da


autogestão. Utiliza-se a noção de “dimensão”, pois não há precedência entre um aspecto e o outro. Tal
divisão tem somente objetivos analíticos, já que ambos os aspectos agem simultaneamente na realidade.
A dimensão da experiência divide-se em dois níveis: o da socialização e o da subjetivação. O
primeiro faz referência à interiorização de valores e modelos culturais institucionalizados através de papeis
como, por exemplo, “trabalhador assalariado”, “povo”, “cidadão”, “mulher”. Sem desconsiderar a
heterogeneidade da experiência social [6] este estudo focaliza nos efeitos da socialização por meio do
trabalho heterônomo e suas continuidades/incongruências com a levada a cabo no trabalho autogestionário.
O seguinte nível, o da subjetivação, designa o espaço de reflexão relativamente distanciada e crítica do
sujeito em relação aos elementos componentes de sua experiência, é o lugar da problematização e articulação
pelos indivíduos dos fatores socializados.
A dimensão da autogestão é igualmente composta por dois níveis: o normativo e o da ação
estratégica [6]. O primeiro faz referência à possibilidade de se tomar decisões enquanto coletivo: a escolha
das tarefas (o que fazer e como fazer), das metas (planejamento e eleição de objetivos não imediatos), do
sentido do trabalho e da forma de organização geral da empresa (eleição de procedimentos e normas) [12]. O
segundo designa os efeitos da mobilização estratégica dos indivíduos a partir da existência destes espaços de
participação.
As dimensões da experiência e da autogestão tem uma relação dialética, na medida em que são
tensões surgidas por meio de uma experiência determinada, que permitirão uma problematização de práticas
realizadas anteriormente. Esse questionamento pode produzir novas experiências, que possivelmente servirão
de referência para decisões futuras, gerando, assim, novas contradições.
A diferenciação entre o âmbito da subjetivação e o da ação estratégica, como níveis últimos das
dimensões da experiência e da autogestão, é pertinente, pois se compreende que não existe uma relação
determinante e necessária entre o estabelecimento de um empreendimento de economia solidária, a
instituição de uma reflexão com um sentido específico e a possibilidade de afirmação deste posicionamento
por meio da reorganização dos procedimentos e normas no empreendimento.

2
Dimensões construídas tendo como referência as lógicas de ação propostas por Dubet [6].
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Pode-se resumir o modelo analítico apresentado da seguinte forma:

Fig.1 – As dimensões da autonomia e suas inter-relações

Fonte: Elaboração própria a partir do modelo analítico proposto

Como fica expresso pela figura acima, o conceito de autonomia aqui vinculado pode ser concebido
como a articulação entre ação estratégica e subjetivação, ou seja, a existência de uma reflexão sobre a
socialização atual e passada, que sirvam de fundamento para ações individuais ou coletivas com vistas à
alteração do conjunto de normas e procedimentos do empreendimento.
A seguir serão destacados os obstáculos para o desenvolvimento da autonomia tal como é definida
aqui.
A economia solidária, no caso brasileiro, configura-se primeiramente enquanto economia de
subsistência (o que fica claro nos dados do mapeamento realizado pela Secretaria de Economia Solidária
[13]). Neste sentido, a participação dos sujeitos nesses empreendimentos tende a se concretizar mediante
uma situação emergencial e provisória. Isso fica evidente ao se constatar que grande parte dos
empreendimentos garante rendimentos mais baixos do que a média do mercado de trabalho [13] e sem
permitir, de maneira geral, o acesso a direitos equivalentes aos promovidos pela CLT.
Outro ponto de dificuldade é que, como qualquer empreendimento econômico no capitalismo, as
empresas solidárias têm de responder a parâmetros de eficiência produtiva, a fim de sobreviver à
concorrência, o que causa uma pressão sobre os trabalhadores. Esse fato pode tornar-se um empecilho para o
desenvolvimento da autogestão e de um trabalho com sentido.
A falta de apoio técnico e a pouca atenção acadêmica para o aspecto da organização produtiva deste
tipo de empresa estabelece uma dificuldade relevante no sentido do desenvolvimento da autonomia, pois não
incentiva a superação do modo de organização do processo de trabalho heterônomo, que tem tido
historicamente no controle sobre a força de trabalho sua meta primeira [14-18]. Este fato leva a maioria dos
empreendimentos solidários a não organizar a produção de forma substancialmente diferente das demais
empresas de mesmo setor.
Em suma, a autonomia – como é designada neste estudo - requer certo acúmulo de capital
econômico, suporte técnico especializado e a garantia de determinados direitos aos trabalhadores.
Considerando a atual condição da economia solidária no Brasil, tais requerimentos são dificilmente
preenchidos, e tal quadro agrava-se se considerarmos o efeito contingente da socialização heterônoma. A
identificação destes elementos colabora para a constituição de um esboço do complexo cenário enfrentado
pelos empreendimentos de economia solidária no que se relaciona ao desenvolvimento da autonomia.

4. Considerações finais

A presente investigação encontra-se em estágio inicial. Neste sentido, serão somente apresentadas
algumas observações construídas por meio da pesquisa exploratória de um dos cinco empreendimentos.

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Compreende-se que o modelo de análise proposto, o qual tem como foco a complexidade da
constituição do sujeito autogestionário por meio do nexo entre reflexão sobre a experiência passada e atual e
a transformação de processos de trabalho, tem o potencial de fundamentar uma abordagem que contribui
para o maior entendimento do cenário contingente em que se desenvolvem as iniciativas de economia
solidária.
Neste sentido, o estudo exploratório em um dos empreendimentos demonstra alguns elementos
relevantes para a análise proposta:
Paradoxo entre produtividade e gestão democrática. Em muitas das decisões demandadas é
presente tal paradoxo, já que a democracia é um custo que pode afetar a produtividade e a sustentabilidade
econômica. Esta problemática se realiza, por exemplo, quando da tentativa de se aplicar propostas de
transformação do processo de trabalho que terminam por não se concretizarem dada sua ineficiência
produtiva do ponto de vista do mercado.
Nexo entre crítica do trabalho heterônomo e proposições de reorganização produtiva do
empreendimento. Percebe-se, por vezes, a existência de tal relação. Os argumentos para as propostas de
reorganização produtiva tendem a se basear em um “antes” e um “agora”. No entanto, tal conjunto de
propostas é limitado por pressões externas, por dificuldades técnicas ou pela compreensão de alguns
trabalhadores de que o modo de organização experimentado “no passado” é o único possível ou portador de
uma ótima eficiência pouco contestável.
Gestão de quadros. Em estudos anteriores foi identificada uma tendência ao estabelecimento de um
modo de operação do poder por gestão de quadros [19-20] no interior dos empreendimentos de economia
solidária. Tal configuração se caracteriza pela substituição do líder que comanda (fator constitutivo do
trabalho heterônomo) pelo que organiza. O quadro dirigente acumula responsabilidades no sentido da
iniciativa de proposição de mudanças e de realização de um planejamento estratégico. A gestão de quadros
se fundamenta na passividade dos trabalhadores gerada por uma autocompreensão de incapacidade de
participação na gestão, por uma indisposição suscitada pela experiência heterônoma e por uma desigualdade
de prestígio. No entanto, não se pode entender que tal passividade é integral, ela tende a se constituir mais
especificamente enquanto abdicação da iniciativa de proposições e como conduta de monitoração dos
resultados das propostas realizadas pelos líderes.
Este estudo coloca como desafio para outras investigações a necessidade de uma compreensão da
economia solidária que vá além de aspectos normativos e de desejos pessoais do investigador, chegando às
formas particulares e concretas deste tipo de economia e problematizando sua capacidade em engendrar
experiências mobilizadoras e emancipatórias, elementos que não podem ser considerados como pressupostos.

Referências Bibliográficas

[1]. SINGER, Paul. Introdução à Economia Solidária, 1ª Ed., São Paulo: Editora Fundação Perseu
Abramo, 2002.
[2]. GAIGER, Luiz Ignácio. A Economia solidária diante do Modo de Produção Capitalista.
Publicado originalmente no site http://www.ecosol.org.br, 2002.
[3]. FRANÇA FILHO, Genauto Carvalho de e LAVILLE, Jean-Louis. Economia solidária: uma
abordagem internacional. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004.
[4]. THOMPSON, E. P. A miséria da teoria: ou um planetário de erros. São Paulo: Zahar, 1981.
[5]. THOMPSON, E. P. A formação da classe operária inglesa. Editora Paz e Terra, Rio de Janeiro:
1987.
[6]. DUBET, François. Sociologia da Experiência. Instituto Piaget: Lisboa: 1996.
[7]. DUBET, François. As desigualdades multiplicadas. Editora Unijuí: Ijuí.2003.
[8]. FLICK, U. Uma introdução à pesquisa qualitativa. Porto Alegre: Bookman, 2004. P.132
[9]. MAY, Tim. Pesquisa social: questões, métodos e processos. Porto Alegre: Artmed, 2004. P.151.
[10]. MAY, Tim. Pesquisa social: questões, métodos e processos. Porto Alegre: Artmed, 2004. P.150.
[11]. GIDDENS, A. As consequências da modernidade. São Paulo: UNESP, 1991.
[12]. CATTANI, Antônio David. Autonomia-Emancipação Social. In CATTANI, Antonio David e
HOLZMANN, Lorena. [Orgs.]. Dicionário de Trabalho e Tecnologia. Porto Alegre: Editora da UFRGS,
2006.
[13]. MTE-SENAES. Atlas da Economia Solidária 2007. Brasília: MTE. Disponível em:
http://www.mte.gov.br/ecosolidaria/sies.asp .
[14]. MARGLIN, Stephan. Origem do parcelamento das tarefas (para que servem os patrões?) in GORZ,
André. Crítica da divisão do trabalho. São Paulo: Martins fontes, 1980.

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[15]. DE DECCA, Edgar. A ciência da produção: fábrica despolitizada. Revista Brasileira de


História/6, 1984.
[16]. NEFFA, Julio César. Contribución al análisis crítico de Marx, Taylor y Ford. Buenos Aires:
Humanitas, 1989.
[17]. THOMPSON, E. P. Costumes em Comum. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
[18]. ALVES, Giovanni. O novo (e precário) mundo do trabalho. São Paulo: Boitempo, 2000.
[19]. DAL RI, Neusa Maria; VIEITEZ, Candido Giraldez. Trabalho associado: cooperativas e
empresas de autogestão. Rio de Janeiro: Dp & a, 2001.
[20]. CRUZ, Thales Speroni Pereira da. O desenvolvimento da autonomia coletiva em
empreendimentos de economia solidária. Monografia, UFRGS, 2009.

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COOPERATIVISMO E AUTOGESTÃO NA ECOMIA SOLIDÁRIA

MARCHI, Rita de Cássia - Prof. Dra. Departamento de Ciências Sociais – FURB

MARTINS, Ana Paula - Bolsista PIBIC/CNPq do curso de Psicologia – FURB 1

1. Introdução

Esta pesquisa PIBIC/CNPq tem como objetivos gerais contribuir para com a discussão (no
âmbito das políticas públicas) do papel das Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares
(ITCP’s), para a discussão da implantação da Economia Solidária (ES) como política pública
regional e contribuir na elaboração de uma metodologia para desincubagem de Empreendimentos
de Economia Solidária (EES) na região de Blumenau. Como objetivos específicos visa investigar
junto aos membros da Cooperttran (Cooperativa de Terraplanagem e Transporte) suas
representações sociais sobre cooperativismo, solidariedade e autogestão, isto é, sua visão e grau de
adesão aos princípios da Economia Solidária; realizar levantamento do seu perfil sócio-econômico e
investigar as possíveis mudanças na vida dos cooperados antes e depois da entrada na cooperativa;
contribuir para o processo de desincubagem do empreendimento. A Coooperttran é um EES
incubado pela ITCP/FURB desde 2000 e foi criada por demanda dos próprios trabalhadores que, na
época, buscavam melhorar seus rendimentos e condições de trabalho. Esses trabalhadores
apresentavam problemas de baixa auto-estima profissional relacionados aos baixos salários, carga
horária de trabalho excessiva, inexistência de garantia de proventos e condições precárias de
trabalho. Hoje, após dez anos, a Cooperttran está consolidada no setor de terraplanagem na cidade
de Blumenau e em todo o estado de SC e sem mais necessidade de intervenções da ITCP/FURB.
Neste sentido, colocou-se, para inicio do seu processo de desincubagem, a necessidade de
realização desta pesquisa com os objetivos acima citados. Como parte do processo de desincubagem
verificou-se ainda a oferta, para os membros da cooperativa, de um curso de Cooperativismo e
Autogestão em Economia Solidária, realização coletiva do regimento interno da cooperativa e do
seu planejamento estratégico. Estes procedimentos foram coroados, em maio de 2010, com a
realização de uma cerimônia publica de desincubagem durante a reunião mensal da Rede de
Economia Solidaria do Vale do Itajaí (RESVI). As ITCPs - programas de extensão universitária -
prestam serviços necessários para o início, desenvolvimento ou reciclagem de cooperativas ou
grupos de trabalho associativo: organizações coletivas de trabalhadores dos meios urbano e rural
que exercem coletivamente a gestão do trabalho e a alocação dos resultados. O trabalho de
assessoria da ITCP/FURB é realizado por docentes e alunos de diversas áreas do conhecimento:
Psicologia, Economia, Moda, Serviço Social, Ciências Sociais, Direito, Administração,
Contabilidade.
No Brasil a proposta da Economia Solidaria, que visa construir novos paradigmas nas relações
sociais de produção, surgiu durante a década de 80 na esteira da crise do modelo urbano-industrial,
iniciada no nível mundial, nos anos 70 e que tinha por base o aumento da concentração de riquezas
e de poder, o desemprego, a precarização das relações de trabalho, a produção da violência e a
destruição ambiental, entre outros problemas sócio-ambientais. A ES nasceu, portanto, de um sério
questionamento sobre o tipo de desenvolvimento que desejamos para a humanidade. É neste
contexto que a solidariedade torna-se um valor chave para a construção e preservação de uma
sociedade mais justa e de uma economia mais integrada com a natureza e com a sociedade. Singer
(2000) destaca, por isto, que a economia solidária surge como um modo de produção e distribuição
1
Apresentador – email : anapmlsc@msn.com

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

alternativo ao capitalismo, pois possibilita uma economia (e uma vida em sociedade) baseada na
cooperação e na autogestão, tendo por base a reorientação da economia a serviço do ser humano.

2. Metodologia

A metodologia desta pesquisa caracteriza-se pela análise de dados qualitativos e quantitativos.


Foram entrevistados 15% do total de 200 cooperados (amostra aleatória), perfazendo um total de 30
entrevistas. As entrevistas foram semi-dirigidas (com questões abertas e fechadas), realizadas em
profundidade e gravadas. A entrevista semi-dirigida é uma técnica adequada para a investigação
social que objetiva a análise do sentido que os atores dão às suas práticas e para a compreensão dos
sistemas de valores, representações sociais e referências normativas, tendo como vantagem o grau
de profundidade dos elementos de análise recolhidos, respeitando os quadros de referência, a
linguagem e as categorias mentais dos agentes investigados (Quivy e Campenhoudt, 1993). Neste
estudo abordamos as representações sociais no sentido em que são definidas pelas Ciências Sociais:
como categorias de pensamento que expressam, explicam, justificam ou questionam a realidade
(Mynaio,1995). A análise qualitativa dos dados está sendo feita à luz do marco teórico do projeto de
pesquisa com base no exame temático de conceitos e categorias que se apresentem como relevantes
nos discursos dos entrevistados e também a partir do levantamento dos fatores quantitativos do
perfil sócio-econômico realizado junto aos cooperados. Esta análise constituirá o corpo do Relatório
Final da pesquisa (previsto para agosto de 2010) e de artigos científicos a serem elaborados.

3. Resultados e Discussão

A análise (ainda parcial) dos dados desta pesquisa revela que a autogestão, um dos princípios
fundamentais da Economia Solidária, ainda é um ideal a ser atingido pelos trabalhadores da
Cooperttran que buscam, desde a fundação da cooperativa (em 2000), relações profissionais mais
justas com o apoio da ITCP/FURB. Esses trabalhadores demonstram reconhecer sua liberdade
inicial pelo fato de fazerem parte de uma cooperativa, mas também sofrem a angústia de um
recomeço profissional sobre bases que não compreendem suficientemente. Andrada (2009) em sua
pesquisa também destaca o fato de que alguns cooperados referiram-se “à difícil ambigüidade que
esta realidade inicialmente encerra”. Nesse sentido, Arruda (apud CATTANI, 2003) argumenta que
os princípios da solidariedade como valor fundamental de uma outra ordem social, que têm
inspirado movimentos sociais e laborais ao longo da história do capitalismo, se contrapõem ao
reconhecido princípio da competição que o capitalismo transformou em um modo de relação único
e absoluto. Nesse sentido, Rautemberg (2008, p.56) também sustenta que “precisamos de um
modelo econômico que não leve as pessoas a um campo de batalha para tentar serem inseridas na
economia. Precisamos de uma economia que seja solidária. Essa economia tem como função
distribuir os meios de produção e as sobras desta produção precisam tomar espaço na sociedade
para podermos daí sim ter uma sociedade mais equilibrada economicamente”.
A Cooperttran iniciou suas atividades com 22 membros e, para manter-se financeiramente, os
cooperados nos primeiros meses, precisaram retirar dinheiro do seu próprio sustento e de suas
famílias para pagar contas de água, luz e aluguel da sede da cooperativa. Foi neste difícil começo
que sentiram a necessidade de procurar ajuda institucional junto à ITCP/FURB: “Começamos a
procurar a FURB e conseguimos montar a cooperativa, e nós acreditamos que iria dar certo! Nós
chegamos já a tirar dinheiro do próprio bolso para pagar contas da cooperativa no começo! E hoje
a nossa cooperativa é a que paga mais certinho [...]”. (entrevistado 21). Esses trabalhadores que, à
época, queriam modificar suas vidas, buscavam alternativas para os processos de dominação no
trabalho aos quais estavam submetidos e a sua conseqüente alienação profissional que afetava,
inclusive, seu bem estar psíquico. Isto porque seus direitos mínimos de trabalhadores (receber
salário ou receber no prazo previsto) não estavam sendo cumpridos por seus empregadores. Em
2001 houve uma grande conquista por parte dos cooperados que neste ano já contavam 60
trabalhadores: a Cooperttran conseguiu participar da licitação da prefeitura de Blumenau, tendo o

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

direito dali por diante de ter seus serviços legalmente contratados como cooperativa. O numero de
cooperados da Cooperttran aumentou muito com o passar dos anos e hoje (2010) conta com cerca
de 200 trabalhadores (entre ativos e inativos).Assim, se no início da formação da cooperativa não
existia distinção específica de funções entre seus membros (onde “todos faziam tudo”), hoje se faz
necessário a especificação de funções entre os cooperados, o que é justificado por Singer (2008)
para o fato de quando um EES assume grandes proporções ser necessário atribuir funções
especializadas aos trabalhadores como as de presidente, tesoureiro e membros do conselho
administrativo. Assim, atualmente as funções exercidas pelos cooperados entrevistados são as de
motoristas (77,4%), membros do conselho administrativo (12,9%), administradores (4,3%), auxiliar
de serviços gerais (4,3%) e a de presidente da cooperativa. Paul Singer (2008, p. 02) define
Economia Solidária como um modo de produção que se caracteriza pela igualdade e pela
autogestão: “Ou seja, os empreendimentos de economia solidária (EES) são geridos pelos próprios
trabalhadores coletivamente de forma inteiramente democrática, quer dizer, cada sócio, cada
membro do empreendimento tem direito a um voto.” Neste sentido, afirma que a especialização de
funções não deve levar a uma diferenciação de poder dentro da cooperativa.
Quanto ao perfil dos cooperados, estes têm idade média de 43 anos (tendo o mais novo 22 e o
mais velho 66 anos), são predominantemente do sexo masculino (91,4%). Quanto à escolaridade,
43% possuem o ensino fundamental completo e 35,5% o ensino fundamental incompleto, 12,9% o
ensino médio completo e 4,3% o ensino médio incompleto. Apenas 4,3% possuem o ensino
superior completo. Dentre os cursos realizados pelos cooperados no sentido de se qualificarem para
o mundo do trabalho, destacaram-se: direção defensiva para 60,2% dos cooperados entrevistados,
primeiros socorros para 51,6%, transporte de cargas perigosas para 38,7%, relações humanas para
30,1%. Destaca-se que 18,3% dos cooperados não possuem cursos de qualificação, sendo que
47,3% não expressou vontade de fazer qualquer tipo de curso e o restante (53,7%) manifestou
vontade de fazer os mais variados cursos: fotografia, técnico em eletrônica, informática, segurança
no trabalho, línguas, mecânico e eletricista. Quanto à composição familiar, 77,4% dos cooperados
são legalmente casados e 14% afirmaram “viver junto” com seus cônjuges. Destes, 90,3% tem
filhos, sendo que, 9,7% relataram que além de filhos biológicos, possuem também filhos adotivos.
Quanto ao perfil sócio-econômico do grupo investigado, verificou-se que 69,9% possuem
casa/apartamento próprio, 17,2% casa/apartamento alugado e 12,9% casa/apartamento emprestado.
Com relação à renda salarial mensal verificou-se uma variação de rendimentos entre os cooperados:
21,5% recebem até 3 salários mínimos, 8,6% recebem de 3 a 5 salários mínimos, 44,4% de 5 a 10
salários mínimos, 12,9% recebem entre 10 e 15 salários mínimos e 12,9% recebem mais de 20
salários mínimos. 100% dos cooperados contribuem atualmente para o INSS, com tempo anterior
médio de 19 anos de contribuição. Esta análise aponta para o crescimento patrimonial dos
cooperados e a conseqüente melhoria nas suas condições de vida após a entrada na cooperativa, pois
a partir do seu ingresso nesta obtiveram a compra/troca de caminhão, compra/reforma de
casa/apartamento, compra/troca de carro, moto, eletroeletrônicos, móveis, piscina e cavalos.
Em relação à compreensão que demonstram ter do funcionamento de uma cooperativa os
entrevistados afirmaram que este modelo é a melhor opção para suas vidas, tanto no aspecto
profissional, quanto financeiro e na vida privada: - Agora eu durmo e como na minha casa. Bem
diferente de quando eu trabalhava na estrada e ficava longe de casa. Tinha que tomar banho frio,
dormir no caminhão e não me alimentava direito... Hoje eu estou perto dos meus filhos, da minha
esposa. Minha vida está maravilhosa! (entrevistado 12). Embora os trabalhadores apontem aspectos
positivos no fato de serem cooperados (liberdade e solidariedade; união do grupo; mais conhecimento;
influência e reconhecimento social) foi observado que grande parte não tem muito claro o que significa a
Economia Solidaria e o princípio da autogestão no trabalho, mas esta análise detecta que o grau de
dificuldade encontra-se talvez mais em conceituar estes princípios do que realmente entendê-los e/ou
vivenciá-los. Isto porque utilizam representações muito particulares para explicar, por exemplo, o que é uma
cooperativa: É o grupo que se uniu ali. Uma cooperativa no caso é uma Economia Solidária, porque um
ajuda os outros né? Porque a união faz a força e quanto mais união, mais cresce. Autogestão é que cada um
faz um capital, que faz a cooperativa, o cara cresce! Cada cooperado tá crescendo na autagestão (sic)
(entrevistado14). Como aspectos problemáticos destacaram-se ainda a desigualdade patrimonial (propriedade
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

de caminhões, seu principal meio de produção) que afeta a distribuição das horas de trabalho e, portanto, de
rendimentos e o fato da cooperativa depender no momento (75% do seu faturamento anual) apenas de um
grande cliente: a prefeitura de Blumenau.Os cooperados mostraram-se também contrariados em relação à
maneira com que a Prefeitura se posiciona em relação ao trabalho cooperativado: A prefeitura é um órgão
que dá muita prioridade para as empreitaras. Eles têm as costas quentes e na época de política eles soltam
um troco para a política eu entendo que também para os fiscais e os engenheiros, tem esse negócio de lavar
a mão, sim, deles. Eu mesmo já dei um leitão para um fiscal, recheei e assei na comunhão da filha dele para
garantir a minha vaga (entrevistado 22). Estes aspectos detectados como problemáticos na pesquisa serão o
foco de intervenção do planejamento estratégico da cooperativa a médio-longo prazo. Verificou-se, por fim,
que quando os cooperados percebem falhas no seu processo de trabalho e nas suas relações profissionais,
buscam unir-se em busca de soluções e geralmente chegam a algum tipo de acordo comum. Isto talvez seja o
que faz com que 91% dos entrevistados tenham como objetivo para o futuro permanecer na Cooperativa.

4.Conclusão

A pesquisa realizada na Cooperativa de Terraplanagem e Transporte (COOPERTTRAN) em


Blumenau,SC, demonstra que a consolidação deste empreendimento se fez possível através da união dos
cooperados que juntos lutaram por melhores condições de trabalho e vida. Para isto, depositaram suas
esperanças na proposta da economia solidaria, como uma forma de economia mais justa e igualitária. Para
isto, depositaram também sua confiança no trabalho de assessoria da ITCP/FURB que, ao longo destes dez
anos de incubagem prestou todo o atendimento necessário para esta cooperativa se consolidar no mercado de
trabalho enquanto um Empreendimento de Economia Solidaria. Assim, calcada nos princípios da
solidariedade e da autogestão no trabalho a Coopettran progrediu de maneira significativa atuando em uma
lógica que destoa da lógica capitalista embora com ela conviva. Neste sentido, apontamos neste estudo que
são muitos ainda os problemas e desafios a serem enfrentados pela cooperativa , principalmente no que diz
respeito à compreensão mais efetiva dos princípios da ES por parte dos cooperados e da vivência destes
princípios no dia a dia da cooperativa. Como perspectiva para a continuidade da ação, os dados desta
pesquisa irão subsidiar, a curto prazo, a elaboração de uma metodologia de desincubagem de EES, a
realização do planejamento estratégico da Cooperttran e a formatação de cursos de cooperativismo e auto-
gestão em ES para empreendimentos da região de Blumenau. A médio e longo prazo os resultados da
pesquisa contribuirão para com a discussão política do papel das incubadoras universitárias (ITCPs) e para a
discussão acerca da efetiva implantação da economia solidária como política publica regional.

Referências:

ANDRADA, Cris Fernández. Encontro da Política com o Trabalho: um estudo psicossocial sobre a
autogestão das trabalhadoras da UNIVENS. Porto Alegre: ABRAPSO SUL, 2009.

CATTANI, Antonio David (orgs). A outra economia. Porto Alegre: Veraz, 2003.

MYNAIO, Maria Cecília S. O conceito de representações sociais na sociologia clássica. In:


GUARESCHI, Pedrinho e JOVCHELOVITCH (orgs.) Textos em Representações Sociais. SP:
Ed.Vozes,1995.

QUIVY, Raymond e CAMPENHOUDT, Luc V. Manual de Investigação em Ciências Sociais.


Lisboa:Gradiva,1993.

RAUTEMBERG, Roberto. Coopettran: uma abordagem acerca da efetividade dos princípios do


cooperativismo. Furb, Tese de Conclusão de Curso, 2008.

SINGER, Paul. A economia solidária no Brasil: a autogestão como resposta ao


desemprego. São Paulo: Contexto, 2000
SINGER, Paul. Economia Solidária: entrevista com Paul Singer. Estudos avançados.
Vol. 22, no. 62, São Paulo Jan./Apr. 2008.
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DEPENDÊNCIA QUÍMICA E LOUCURA: REFLEXÕES SOBRE A ASSISTÊNCIA


PSIQUIÁTRICA NO ESTADO DO PARANÁ.

Attiliana De Bona Casagrande1*


1
Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE)

1. Introdução
O propósito deste trabalho é apresentar as conclusões parciais, bem como, os percursos percorridos no
desenvolvimento de meu projeto de Iniciação Científica CNPq intitulado “De loucos e drogados: a
reinvenção do espaço da exclusão assistencial no Estado do Paraná”. A questão norteadora desse projeto é
referente ao processo de ocupação de leitos psiquiátricos por diferentes usuários na contemporaneidade,
sobretudo, por dependentes químicos. Seu desenvolvimento esteve atrelado ao projeto de pesquisa de minha
orientadora1, cujo tema é o processo de assistência psiquiátrica no Estado do Paraná considerando a história
de sua constituição e desdobramentos atuais, as instituições, a legislação e as principais políticas públicas.
Uma das etapas desse projeto foi o mapeamento das instituições psiquiátricas existentes no estado do Paraná
e subsequentemente a pesquisa de campo nas mesmas.2
Conforme revisão de literatura especializada, desde a sua implantação no início do século XX, a
assistência psiquiátrica no estado do Paraná, como em outros lugares passou por diversas transformações.
Principalmente no que tange as questões relacionadas ao movimento conhecido como Reforma Psiquiátrica,
deflagrado nas últimas décadas desse mesmo século no Brasil. Entre diversas discussões abarcadas pelo
movimento ressalta-se a luta antimanicomial, cujo ideário baseava-se na democratização das relações com a
loucura, sobretudo no que diz respeito aos direitos humanos dos sujeitos em sofrimento. Nesse sentido, a
crítica em torno dos sérios malefícios que o hospital psiquiátrico especializado traz e o incentivo para a
construção de novos “lugares sociais” para esses sujeitos, tais como, hospitais-dia, centros e núcleos
psicossociais, leitos em hospitais gerais, são inerentes aos discursos da reforma. No entanto, na atual
realidade do Paraná se percebe a permanência de vários hospitais psiquiátricos, isto é, os antigos manicômios
e/ou hospícios mais ou menos modernizados, conforme exigências legais conquistadas pelo movimento
político da Reforma Psiquiátrica. Dessa forma, pondera-se que, apesar das “sofisticações” pelas quais passou
a psiquiatria, a mesma não desfez seu principal instrumento – o hospital –, resguardando para esse, um papel
insubstituível de controle da periculosidade e da cronicidade psiquiátrica, mesmo sendo alvo de severas
críticas. [7; 10; 11] Perante essa realidade, um dos pressupostos da Reforma Psiquiátrica – além da criação
de outras instituições voltadas a assistência psiquiátrica (como, por exemplo, os CAPS) e de leitos em
hospitais gerais – é ainda, a redução dos leitos psiquiátricos, bem como diversas adequações de infra-
estrutura e terapêuticas, uma vez que a extinção dos hospitais especializados não se efetivou. A percepção
inicial era que na atual realidade do Estado do Paraná, os grandes hospitais e clínicas psiquiátricas, a despeito
de sua adequação as normativas legais das políticas governamentais para a área da saúde mental mantém
grande parcela dos leitos outrora existentes. Contemporaneamente compreendem uma ocupação maciça por
dependentes químicos, os chamados adictos ou drogaditos, que ocupam parte significativa das antigas vagas
destinadas aos usuários tradicionais desses lugares, isto é, os portadores de transtornos mentais, comumente
conhecidos como doentes mentais ou loucos. Essa intensa relação da dependência química com as
instituições psiquiátricas especializadas provocou o interesse por esta pesquisa, a qual propõe historicizar o
processo de ocupação de leitos em hospitais e clínicas psiquiátricas especializadas por diferentes usuários
(transtornos mentais, usuários de álcool e outras drogas). O objetivo principal foi investigar a situação
contemporânea no estado do Paraná com relação aos lugares ocupados por dependentes químicos em tais
instituições.

2. Método
O desenvolvimento dessa pesquisa caracteriza-se como um desdobramento da agenda de projeto de
pesquisa mencionada inicialmente e, pretende ser um estudo exploratório a respeito da situação
contemporânea da ocupação dos leitos psiquiátricos por dependentes químicos. Dessa forma, utilizou
*
Attiliana De Bona Casagrande: attiliana_@hotmail.com
1
Projeto “Assistência Psiquiátrica no Estado do Paraná: mapeamento e análise histórica das instituições, da legislação e
das principais políticas públicas”, desenvolvido com apoio financeiro do CNPq e da Fundação Araucária de Pesquisa –
PR, sob coordenação da professora Dra Yonissa Marmitt Wadi.
2
É de suma importância destacar que as instituições que foram pesquisadas são as instituições psiquiátricas
especializadas cadastradas na SESA e no DATASUS. Não foram pesquisadas as chamadas comunidades terapêuticas e
centros de recuperação em geral.
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

informações decorrentes de depoimentos coletados através de entrevistas semi estruturadas, em instituições


psiquiatras do Paraná. Nesse trabalho serão utilizados os depoimentos coletados em seis instituições:
Hospital San Julian, Hospital Espírita de Psiquiatria Bom Retiro, Clínica Heidelberg e Clínica Porto Seguro,
situados na cidade de Curitiba e região metropolitana; Clínica Médica HJ, localizada em União da Vitória; e
Casa de Saúde Rolândia, da cidade de Rolândia.3 A revisão bibliográfica referente ao tema evidenciou uma
ampla discussão no que tange aspectos teóricos, metodológicos e temáticos distintos, mas de suma
importância para a pesquisa. Constitui-se como parte significativa do arcabouço teórico as noções sobre a
história, as concepções, como também, as formas de lidar com a loucura baseadas, sobretudo, nas idéias do
filósofo/historiador Michel Foucault, principalmente com relação aos conceitos de discurso, jogo de verdade,
formação de saberes e poderes, estudados em diversas obras. [4; 5] A fim de analisar os significados desta
permanência de instituições psiquiátricas, a partir da hipótese de que tais espaços são continuamente
reinventados, tomamos como base a descrição da substituição da lepra pela loucura de M. Foucault obra
clássica. [3] Nesta, o autor afirma que a loucura e os loucos ocuparam no espaço e no imaginário social, um
espaço outrora ocupado pela lepra e pelos leprosos e as instituições destinadas a estes foram gradativamente
ocupada por aqueles. Será a dependência química, na contemporaneidade, a nova “doença social”, que
ocupará (literal e metaforicamente) o lugar da loucura?

3. Resultados e Discussão
A análise da relação entre dependência química e instituições psiquiátricas privilegiou os estudos de
comentadores4 das obras de Lima Barreto escritor brasileiro que por uso de álcool foi internado em dois
momentos no Hospício Nacional de Alienados (antigo Hospício Dom Pedro II), o primeiro hospício
brasileiro situado na cidade do Rio de Janeiro, fundado na segunda metade do século XIX. Tais estudos
possibilitaram o entendimento de questões sobre a história do alcoolismo e sua relação com as instituições
psiquiátricas na sociedade brasileira. Atualmente a dependência química de outros tipos de substância
psicoativas – além da bebida alcoólica – cujo uso excessivo tende a gerar um grave problema de ordem
social e de saúde pública, tornou-se um fenômeno muito discutido. [6; 8; 9] Entretanto, principalmente o
alcoolismo esteve presente nos hospícios brasileiros e ainda, aparecia como uma das causas mais freqüentes
de internamento psiquiátrico, sobretudo, no Hospício Nacional de Alienados, desde sua criação. Mesmo
sendo uma “patologia social” recorrente, naquela época – século XX – não havia espaços físicos (alas,
pavilhões ou seções) destinadas exclusivamente para a acomodação e tratamento de alcoolistas. Esses
conviviam com loucos, leprosos, prostitutas, mendigos e diversos “indesejados sociais”. Houve inclusive,
reivindicações de psiquiatras para a criação de colônias destinadas ao tratamento desses sujeitos que
superlotavam as estruturas do Hospício Nacional. Os diagnósticos emitidos por psiquiatras da época,
orientados por princípios teóricos positivistas remetiam a propensão ao vício do álcool a fatores raciais,
sobretudo, com relação à raça negra; aos fatores de degeneração mental e de conduta imoral; e ainda, a
fatores hereditários (genéticos). [1; 2]
De acordo com os discursos institucionais presente nos depoimentos atuais,5 obtidos no âmbito da
pesquisa pode-se observar a unanimidade com relação à confirmação do aumento da demanda por tratamento
psiquiátrico entre dependentes químicos. A maior parte deles é do sexo masculino e encontram-se na
juventude. Referente a essa informação destaca-se aqui uma situação importante. Em algumas dessas
instituições psiquiátricas pesquisada, a Secretaria de Saúde do Estado do Paraná (SESA), ao invés de seguir a
normativa de redução de leitos ou transformar esses, em leitos de outras especialidades como previa o §1º
parágrafo do Art. 3º, da lei estadual n. 11189/956, proporcionou a criação de leitos psiquiátricos para
adolescentes com dependência química. Esses leitos foram criados em diversas instituições que atendem
também via convênio SUS. Pelos depoimentos indicam que estas vagas custeadas pela SESA servem como
um apoio financeiro para as instituições, uma vez que, segundo dirigentes e proprietários dos hospitais

3
Os depoimentos foram coletados durante o desenvolvimento do projeto “Assistência Psiquiátrica no Estado do Paraná:
mapeamento e análise histórica das instituições, da legislação e das principais políticas públicas”, já citado. As
referências de tais fontes são: A. A. Hospital San Julian. Depoimento concedido em 23/09/2009; V. M. Hospital San
Julian. Depoimento concedido em 24/09/2009; M. S.. Hospital Espírita de Psiquiatria Bom Retiro. Depoimento
concedido em 15/10/2009; O. R. Clínica Heidelberg. Depoimento concedido em 23/11/2009; M. L. Clínica Porto
Seguro. Depoimento concedido em 23/11/2009; F. F. Clínica Psiquiátrica HJ. Depoimento concedido em 25/11/2008.
N. M. Casa de Saúde de Rolândia. Depoimento concedido em 24/07/2009. É de suma importância ressaltar que tais
depoimentos foram cedidos por dirigentes e/ou proprietários das instituições.
4
Ressalta-se a especialidade sociológica e histórica de tais comentários.
5
Devido ao limite de páginas não serão feitas citações literais das entrevistas.
6
A Lei Estadual nº. 11.189 foi promulgada em 09 de novembro de 1995 e dispôs “sobre as condições para internações
em hospitais psiquiátricos e estabelecimentos similares de cuidados com transtornos mentais” no Estado do Paraná.
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

especializados o valor da diária de pacientes SUS é ínfimo. No entanto, é interessante que apesar da
constatação da existência de uma espécie de “política pública” de abertura de leitos para adolescentes
dependentes químicos, não foi localizado nenhum programa ou mesmo, lei estadual que regule tal processo;
a informação obtida é que a Secretaria de Saúde procura e faz acordos via contratos diretamente com os
responsáveis pelas instituições. É também visualizada uma unanimidade no que tange a temporalidade em
que ocorre o aumento da demanda de internações psiquiátricas decorrente da dependência química; os
depoimentos indicam que ela ocorre a partir de dez anos e se intensifica nos últimos cinco anos. Essas
afirmações estão diretamente relacionadas com a questão sobre quais tipos de substâncias os usuários dessas
instituições geralmente usam para chegarem ao internamento. É também de acordo comum a ligação entre o
aumento dessa demanda já mencionada com a difusão do uso do crack. Entretanto, destaca-se que o
alcoolismo continua sendo a principal causa das internações psiquiátricas vinculadas às dependências
químicas. Por fim, vários depoentes indicam a constatação do grande numero de diagnósticos de
comorbidade, isto é, a coexistência de dois ou mais transtornos ou doenças; mais especificamente este
conceito médico supõe o desenvolvimento de outros transtornos mentais por decorrência do uso excessivo
das drogas. Alem disso, destacam também o fato da inexistência de “alcoolistas puros”, ou seja, atualmente
os alcoolistas que vão para o internamento psiquiátrico, frequentemente associam ao uso do álcool outros
tipos de drogas.

4. Conclusão
Percebe-se a emergência de uma nova “doença social”, isto é, a dependência química; a novidade
atrelada a esse acontecimento refere-se à delimitação clara dos espaços institucionais reservados ao
tratamento da dependência química, que outrora não existiam. Contudo, não se está assegurando a ausência
da dependência química nas instituições psiquiátricas – principalmente do alcoolismo – em temporalidades
passadas. Apenas, como se observou, atualmente os dependentes químicos tem seu espaço especificado nas
instituições psiquiátricas, como por exemplo, espaço físico (alas, unidades, seções) e projetos terapêuticos
distintos daqueles destinados aos demais transtornos mentais, profissionais especializados, cursos de
especialização voltados ao tema, bem como, residências médicas destinadas à formação voltada ao
tratamento da dependência química. Ainda que não haja no momento elementos suficientes para afirmar a
evidência levantada inicialmente – isto é, que a dependência química assume hoje o papel de substituta da
loucura, como essa fora da lepra – pode-se afirmar que a ocupação maciça por dependentes químicos dos
leitos psiquiátricos, antes destinados a “outras doenças” sugere a configuração de um quadro de “doença
epidêmica” na contemporaneidade, vinculada ao consumo de certos tipos de drogas, sobretudo, do crack.

Referências
[1] ARANTES, M. A. Para mim, Paraty – alcoolismo e loucura em Lima Barreto. SMAD, Revista. Eletrônica
Saúde Mental Álcool-Drogas, Ribeirão Preto, v.04, n.01, fev.2009.
[2] ENGEL, Magali G. A loucura, o hospício e a psiquiatria em Lima Barreto: críticas e cumplicidades. In:
Sidney Chalhoub et al (Org.). Artes e ofícios de curar no Brasil: capítulos de história social. Campinas, SP:
Editora da Unicamp, 2003.
[3] FOUCAULT, M. História da loucura na idade clássica. 2.ed. São Paulo: Perspectiva, 1989.
[4] FOUCAULT, M. História da Sexualidade 2: O Uso dos Prazeres. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1984.
[5] FOUCAULT, Michel. A vida dos homens infames. In: O que é um autor? Lisboa: Vega, 1992, p. 89-128.
[6] PRATTA, E. M. M; SANTOS, M. A. dos. O processo saúde-doença e a dependência química: interfaces
e evolução. Psicologia: Teoria e pesquisa, Brasília, v.25, n.02 abr./jun. 2009.
[7] RUSSO, Jane; SILVA FILHO, João F. da S. F. (org.). Duzentos anos de psiquiatria. Rio de Janeiro:
Relume Dumará, 1993.
[8] VARGAS, E. V. Uso de drogas: a alter-ação como evento. Revista de Antropologia, São Paulo, USP,
v.49, nº. 2, 2006.
[9] VELHO, G. VII – Dimensão cultural e política do mundo das drogas. In: Projeto e metamorfose:
antropologia das sociedades complexas. 3ª edição. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Edições, 2003.
[10] VENTURINI, E. Prefácio à primeira edição. In: AMARANTE, P. (Coord.). Loucos pela vida: a
trajetória da reforma psiquiátrica no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, 1995, p.15-16.
[11] WADI, Y. M. Uma história da loucura no tempo presente: os caminhos da assistência psiquiátrica no
Estado do Paraná. Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v.01, n.01, 2009.

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ÉTICA AMBIENTAL E CONFLITOS MORAIS: A RESOLUÇÃO UTILITARISTA DE P.


SINGER E R. M. HARE

Gabriel Garmendia da Trindade1; Lauren de Lacerda Nunes2; Félix Flores Pinheiro3*;


1
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM-RS)
2
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM-RS)
3
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM-RS)

1. Introdução
O presente trabalho tem por objetivo abordar a questão da ética ambiental e seus desafios, através dos
filósofos contemporâneos R. M. Hare (1981) e P. Singer (1994). Além disso, visa propor a análise de um
conflito ético-ambiental específico, abordado por P. Singer (1994) em seu livro Ética Prática. Tal conflito
versa sobre as implicações éticas da construção de uma represa no rio Franklin, localizado no sudoeste da
Tasmânia. P. Singer (1994) faz uso da corrente ética batizada por ele de “utilitarismo de preferências” para
resolver os dilemas ético-ambientais envolvidos na construção da represa, elucidando as melhores formas
pelas quais os seres humanos deveriam se comportar com relação ao meio ambiente. Na medida em que a
ética ambiental e a argumentação de P. Singer levantam polêmica a respeito de como resolver certos dilemas
morais (aqui, especificamente, com relação ao meio ambiente), é que o autor R. M. Hare (1981) vem
completar a argumentação deste trabalho. R. M. Hare (1981) ocupou-se de conceber uma teoria utilitarista
“crítica”, capaz de solucionar até os mais difíceis casos de conflitos éticos. Desta forma, as visões de R. M.
Hare (1981) e P. Singer (1994), complementam-se neste trabalho.

2. Método
Esta pesquisa caracterizou-se por ser um estudo bibliográfico de cunho filosófico, com vistas à
problematização conceitual de questões ético-ambientais que envolvessem algum tipo de conflito moral em
sua abordagem, e fossem resolvidas, especificamente, pela teoria moral utilitarista. Em um primeiro
momento foi realizada a leitura do livro Ética Prática, de P. Singer (1994), onde este autor realiza a
abordagem ética e filosófica de diversas questões polêmicas, tais como o aborto, a eutanásia e entre estes, o
meio ambiente. Optou-se por explorar mais detalhadamente a questão levantada pelo autor a respeito da ética
ambiental, em especial, focando no exemplo do problema da construção de uma represa que o mesmo cita no
capítulo 10 de seu livro. Nessa leitura foi possível notar que P. Singer (1994) faz uso do “utilitarismo de
preferências” para resolver as questões dilemáticas levantadas com relação ao comportamento do ser humano
e o meio ambiente. Em um segundo momento, realizou-se a leitura do artigo Moral Conflitcts, de R. M. Hare
(1981) no intuito de aprofundar ainda mais as soluções utilitaristas oferecidas na resolução de conflitos
morais.

3. Resultados e Discussão
O filósofo australiano P. Singer (1994) defende um utilitarismo de preferências que está fundamentado
na senciência, a capacidade que um ser vivo possui de sentir prazer ou dor e de estar consciente destas
sensações. Isso significa que o utilitarismo de preferências, também conhecido como utilitarismo econômico,
tem o sofrimento como parâmetro que define interesses morais, ou seja, é a característica básica que marca a
distinção entre seres que possuem interesses e seres que não os possuem [1]. Tal teoria moral defendida tem
como princípio regulador o Princípio da Igual Consideração de Interesses Semelhantes [2]. De acordo com
esse princípio, devemos atribuir o mesmo peso aos interesses de todos aqueles que são afetados por nossas
ações. Para tanto, temos de assumir a posição de um “espectador imparcial” e a partir daí analisar
cautelosamente a situação. Consequentemente, segundo essa versão do utilitarismo, uma ação é considerada
correta quando maximiza os interesses de todos e errada quando não pesa de maneira igual as preferências
e/ou interesses dos indivíduos [2].
Deve-se ressaltar que o Princípio da Igual Consideração de Interesses Semelhantes não tenciona,
necessariamente, um resultado igualitário, ele é um princípio mínimo de igualdade, ou seja, ele não impõe
um tratamento igual, mas sim consideração igual [2]. Contudo, uma questão surge com a aceitação de uma
teoria ética que tem como fundamento primeiro a senciência: existe valor além da vida senciente, isto é,
como é possível, então, considerar moralmente seres destituídos de interesses, como árvores, recifes de

* feliks_sm@hotmail.com

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corais e aglomerados de fungos? Para responder a esse questionamento, é explorado um exemplo baseado na
proposta da construção de uma represa no rio Franklin, a sudoeste da Tasmânia, território australiano [2].
Por um lado, a construção da represa no rio, cujas águas seriam aproveitadas para a geração de
energia, resultaria na criação de diversos empregos e implicaria também no crescimento econômico da
região, pois fomentaria a instalação de indústrias, grandes consumidoras de energia. Por outro lado, o terreno
acidentado do vale é formado por desfiladeiros e bosques com árvores muito antigas e raras, as quais
abrigam diversas espécies de animais que não foram devidamente estudadas, além disso, o local atrai
praticantes de trilhas e rafting, devido as quedas d’água do rio [2]. Esse exemplo mostra uma situação na
qual é preciso optar entre conjuntos de valores muito diferentes, ou seja, entre os interesses da comunidade e
o ecossistema do vale. Para resolver esse dilema, P. Singer (1994) afirma que, embora o ecossistema em
questão não possua interesses, isto é, seja incapaz de sofrer [2], isso não significa que possamos usá-lo ou
destruí-lo a nosso bel-prazer [3].
De fato, mesmo que não possuamos deveres diretos para com seres destituídos de sensibilidade e
consciência, ainda assim há um dever indireto que nos impede de destruí-los, a consideração que devemos a
outros seres sencientes que têm interesse naquele meio ambiente. Embora seres destituídos de senciência não
possuam valor intrínseco, eles possuem valor extrínseco, instrumental, pois são alvo dos interesses de outros
seres sencientes, os quais, por sua vez, não podem ser moralmente desconsiderados [2]. A preservação do
vale é interesse de todas as espécies de animais sencientes que o habitam, das pessoas que praticam esportes
naquele local e também das futuras gerações, pois os interesses daqueles que estão para nascer também
devem ser considerados indiretamente.
Desta forma, após esta breve abordagem acerca da solução utilitarista oferecida por P. Singer (1994)
para o conflito moral da construção da represa, pode-se adentrar na concepção moral de R. M. Hare (1981).
A visão de R. M. Hare (1981) é capaz de complementar a abordagem de como a teoria utilitarista oferece
soluções para casos de conflitos morais, no caso em questão, um conflito ambiental.
R. M. Hare (1981) foi um filósofo que atraiu leitores para seus trabalhos especialmente por tentar
inusitadamente conciliar teorias supostamente antagônicas como o utilitarismo e a teoria moral kantiana.
Essa suposta conciliação só foi possível porque R. M. Hare (1994) abordou a moralidade de maneira
sistemática, concebendo até mesmo uma linguagem da moral [4].
Através desta sistematicidade, a moralidade pode ser dividida em dois estágios de pensamento: o nível
intuitivo e o nível crítico [5]. Todos os seres humanos possuem o nível intuitivo de pensamento moral, que
apresenta um valor prático e psicológico e é formado por princípios morais gerais e prima facie. O nível
crítico do pensamento moral, por seu turno, se caracteriza pela realização da análise da moralidade sob o
jugo das propriedades lógicas dos conceitos morais. A evidência da existência de um nível crítico do
pensamento moral dá-se quando o agente enfrenta situações de escolhas morais difíceis, ou dilemas morais,
e ao recorrer aos seus princípios intuitivos não consegue resolver a situação [5]. Parece que os dois deveres
se aplicam à situação, ou então que o agente está frente a uma escolha errada o que quer que faça. Isso
ocorre porque o nível intuitivo do pensamento moral é formado por princípios prima facie, muito simples e
gerais, com um forte caráter prático, mas incapazes de solucionar toda a gama de situações dilemáticas que
podem surgir na vida moral dos indivíduos [5]. Já um princípio crítico, e por isso pertencente ao estágio
crítico do pensamento moral, pode ser ilimitadamente mais específico do que um princípio prima facie, sem
perder com isso, seu caráter universal. A universalidade de um princípio não é incompatível com a possível
especificidade que ele possa apresentar. Já a generalidade dos princípios prima facie sim, sempre será
incompatível com a especificidade, e é por isso que eles quase sempre apresentam exceções ao serem
aplicados a situações morais difíceis. É por isso que situações de conflito moral ocorrem precisamente entre
princípios prima facie (intuitivos) [5].
Entretanto, por vezes, um dilema moral é solucionado apenas no nível intuitivo do pensamento, mas
isso só deve ocorrer quando o agente não tenha tempo para utilizar o nível crítico de pensamento moral ou
seja incapaz de realizar tal tarefa [5]. Nessas circunstâncias, quando ele não se sente capaz de tomar uma
decisão crítica acertada, deve procurar alguém capaz de fazê-lo por ele. E como dividir do ponto de vista
filosófico os dois níveis de pensamento moral? O nível intuitivo pode ser considerado uma espécie de
“utilitarismo da regra geral” e o nível crítico uma espécie de “utilitarismo do ato” ou “utilitarismo da regra
específica”[5]. Além disso, é possível dividir o tipo de caráter do agente em cada um desses níveis. O nível
crítico seria formado por pessoas que fossem como arcanjos, capazes de visualizar cada aspecto da decisão a
ser tomada. E o nível intuitivo seria formado por pessoas com caráter semelhante ao dos “proles”, usando a
terminologia de G. Orwell [6] - pessoas que obedecem princípios morais gerais e bastante simples e jamais
refletem acerca dos mesmos. Essa é apenas uma divisão caricatural realizada por R. M Hare (1981), que tem
como objetivo demonstrar que nós compartilhamos tanto a característica do arcanjo quanto do prole.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Quando assumir um ou outro papel? Não há resposta filosófica para tal questão, pois depende do
quanto se conhece de si mesmo para não desempenhar um ou outro papel erroneamente. A questão
realmente filosófica é perguntar como cada nível de pensamento se relaciona. O primeiro passo para
responder tal pergunta é admitir que a preocupação principal ao se dividir o pensamento moral em dois
níveis, não é saber o que é o certo, mas sim o que é racional [5]. Dessa forma, os princípios prima facie do
nível intuitivo devem ser selecionados pelo nível crítico de pensamento, e adaptados de acordo com a
especificidade de cada situação. O que importa nessa seleção é o cálculo racional utilitarista, que sai de um
utilitarismo mais geral do nível intuitivo e avança em direção a um utilitarismo da regra mais específico. O
melhor conjunto de princípios será aquele que mais se aproximará de ações que poderiam ser feitas caso se
utilizasse o nível crítico o tempo todo.
A divisão do pensamento em dois níveis soluciona o problema do aparecimento de conflitos morais
que não são passíveis de serem resolvidos por um conjunto simples e geral de regras prima facie intuitivas.
Retomando o caso da represa, quando P. Singer (1994) faz sua análise acerca do conflito moral ambiental,
coloca a questão nos seguintes termos: analisa os dois lados envolvidos, afirmando que aqueles que são a
favor da construção valorizam a oferta de empregos e uma maior renda per capita para o Estado em
detrimento da preservação da natureza. E aqueles que são contra a construção defendem o ponto de vista
oposto e valorizam a natureza bem como, por exemplo, atividades recreativas ao ar livre, que serão inviáveis
no caso da represa ser construída.
Para resolver uma questão ética desse tipo, recorrendo-se a R. M. Hare (1981), não basta que se realize
apenas uma análise utilitarista no nível de pensamento intuitivo, baseado em regras gerais. Regras gerais
como “não mate”, “não roube”, “não destrua”, podem ser de fácil compreensão, mas no caso complexo do
conflito moral envolvendo a construção de uma represa, não são suficientes para resolver a questão. Uma
reflexão crítica deve ser realizada, no intuito de se argumentar e calcular racionalmente as consequências de
cada ação a ser tomada, o que P. Singer (1994) realiza ao propor uma argumentação racional baseada no
utilitarismo de preferências.
Dessa forma, P. Singer (1994) estabelece os contornos gerais de uma ética ambiental, que em seu nível
mais fundamental incentiva a consideração dos interesses de todas as criaturas sencientes, inclusive das
gerações que habitarão o planeta num futuro remoto [2]. Acompanha-a uma estética da apreciação dos
lugares naturais não devastados pelo homem. Em um nível mais pormenorizado, aplicável à vida dos que
vivem nas grandes e nas pequenas cidades, essa ética também desestimula a existência de grandes famílias.
A ética ambiental proposta por P. Singer (1994) rejeita os ideais de uma sociedade materialista na qual o
sucesso é medido pelo número de bens de consumo que alguém é capaz de acumular. Incentiva a frugalidade
e condena a extravagância [2]. P. Singer (1994) só consegue construir os contornos de tal ética porque sai do
chamado nível intuitivo de pensamento moral abordado por R. M. Hare (1981) e adentra em um nível mais
profundo de argumentação crítica, que conduz ao seu utilitarismo de preferências, complementar ao
pensamento de R. M. Hare (1981) Dessa forma, P. Singer (1994) mostra que é possível, através de
argumentação e cálculo racional, chegar aos contornos de uma ética verdadeiramente ambiental.

4. Conclusão
O objetivo principal deste trabalho foi analisar a argumentação utilitarista na resolução de conflitos
morais, em especial, conflitos ético-ambientais. A análise das questões éticas envolvidas na construção de
uma represa, mencionada por P. Singer (1994) em seu livro Ética Prática foi realizada no intuito de tornar a
argumentação mais clara. Além disso, o autor R. M. Hare (1981) e sua concepção da existência de dois
níveis de pensamento moral (intuitivo e crítico) foi indispensável para explorar a própria argumentação de P.
Singer na resolução de conflitos ético-ambientais através da teoria utilitarista. Pode-se concluir que o
objetivo foi alcançado, em termos de discussão e contraposição dos argumentos dos autores acerca dos
dilemas morais em ética ambiental. Reconhece-se a amplitude do tema, e conclui-se ainda que outras
concepções mereceriam ser investigadas, pela importância que esta discussão oferece à filosofia moral e à
ética ambiental.

5. Referências

[1] SINGER, P. Libertação Animal. Porto Alegre: Lugano, 2004.


[2] SINGER, P. Ética Prática. São Paulo: Martins Fontes, 1994.
[3] FELIPE, S, T. Por uma questão de princípios: alcance e limites da ética de Peter Singer em defesa dos
animais. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2003.
[4] HARE, R. M. A Linguagem da Moral. Tradução: Eduardo Pereira e Ferreira. São Paulo: Martins
Fontes, 1996.

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[5] HARE, R, M. Moral Conflitcts. In: The Tanner Lectures on Human Values. Utah: S. McMurrin, 1981.
[6] ORWELL, G. 1984. Tradução de Wilson Velloso, 29ª. ed. São Paulo: Ed. Nacional, 2005.

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O Papel Político do Cientista Social nos Conflitos sobre os Riscos de Mudanças Ambientais
Globais

Marcela da S. Feital1*
1
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas – UNICAMP

1. Introdução
Essa pesquisa teve como idéia fundamental trabalhar com a presença dos cientistas, dos especialistas
e dos argumentos científicos em uma determinada arena estabelecida no litoral norte do estado de São Paulo.
Nessa região, mais especificamente nos municípios de Caraguatatuba, Ubatuba e São Sebastião, estão
ocorrendo vários investimentos ligados, direta ou indiretamente, à indústria petrolífera. O objeto empírico
aqui analisado foi o Projeto Mexilhão de extração, tratamento e transporte de gás, que está sendo implantado
desde 2006 pela Petrobrás, compondo o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), proposto pelo
governo brasileiro. No entanto, devido à abrangência do empreendimento e à acessibilidade aos documentos,
a pesquisa foi centralizada nas audiências públicas ocorridas no processo de licenciamento da parte marinha
do Projeto Mexilhão.
Através dos conflitos ambientais decorrentes desse empreendimento, o presente trabalho buscou
entender a implicação política do cientista e dos argumentos científicos usados pelos diferentes atores na
organização da sociedade frente às questões de riscos e mudanças ambientais. Para isso, foi adotada uma
perspectiva construtivista proposta por Hannigan (1995) que, partindo de uma crítica à tendência de reduzir a
temática das mudanças ambientais globais a uma questão das ciências naturais, propõe analisar as
divergências e os conflitos sobre a natureza, as causas e a extensão dos problemas ambientais também no
âmbito dos diversos atores sociais. Desse modo, essa proposta de sociologia ambiental enfatiza o caráter
socialmente construído dos riscos ambientais e não os reduz a questões meramente técnicas.

2. Método
O desenvolvimento dessa pesquisa começou com a formação de um arcabouço teórico sobre o papel
político da comunidade científica no debate sobre mudanças ambientais. Foram realizadas análises de
referências em diferentes áreas: como a ecologia, a antropologia, a sociologia ambiental, a sociologia da
ciência, dentre outras; fortalecendo o caráter interdisciplinar do tema. As principais atividades consistiram
em: levantamento bibliográfico; visitas à região (para reconhecimento do local, levantamento e contato com
atores-chave e fontes documentais e para realização de entrevistas semi-estruturadas); análise dos EIA-
RIMAs; análise etnográfica do conflito ambiental, que necessitou de: 1) identificação dos elementos
predominantes do conflito, 2) identificação e análise dos principais atores sociais envolvidos, 3) tentar
explicitar os interesses em jogo de cada ator social, 4) verificação do que cada um dos atores percebe como
problema, 5) levantamento das interações políticas, análise dos recursos de poder (formal e informal) dos
atores, e 6) levantamento dos interesses, expectativas e objetivos cristalizados em torno do conflito;
sistematização dos dados e discussão teórica; e, por fim a redação do relatório final.

3. Resultados e Discussão
A perspectiva de Simmel (1995) sobre conflitos foi bastante importante para essa pesquisa. Para ele
os conflitos sociais não são patológicos e, muito menos, negativos; eles são uma das formas mais vivas de
interação, constituindo um processo de associação entre diferentes atores; eles são inerentes às relações
humanas e importantes para a geração de mudanças sociais. Por isso que, apesar dos conflitos ambientais
necessitarem de soluções efetivas, negociadas e democráticas, eles não podem ser negados ou mascarados. A
exteriorização e a discussão dos conflitos socioambientais são fundamentais para se alcançar as mudanças
que a sociedade moderna está precisando para sobreviver.
A concepção de Little (2004) sobre conflitos ambientais foi adotada durante a pesquisa. Para ele,
conflitos socioambientais são embates entre grupos sociais em função de seus distintos modos de inter-
relacionamento ecológico. Um conflito é socioambiental quando o cerne do conflito gira em torno das
interações ecológicas (sociedade-ambiente). Essa definição remete à presença de múltiplos grupos sociais em
interação entre si e com seu meio biofísico. Desse modo, podemos pensar que o conflito que se coloca na
área de pesquisa acima descrita é um conflito socioambiental, pois foram identificados diversos atores –
população local, ONGs, empreendedor, governos federal, municipal e estadual, dentre outros – preocupados
com que rumo a sua interação com o meio biofísico irá seguir. Ainda, mais especificamente com o objeto
empírico da pesquisa, um conflito socioambiental de administração da costa marinha, como ocorre com essa

*
Marcela da S. Feital: marcela.feital@terra.com.br
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parte do Projeto Mexilhão, enfrenta desafios complexos. Além de se constituir como área pública da União,
os empreendimentos dessa área interferem em atividades econômicas e na organização do território costeiro
(CUNHA, 2003). E, com isso, seus efeitos se desdobram tanto no subsistema físico-ambiental, quanto no
econômico-produtivo e no urbano-relacional.
A parte marinha do Projeto Mexilhão interferiu nos espaços costeiros devido à construção do duto
que carrega o material extraído da plataforma até a UTGCA; interferiu nas atividades pesqueiras ao menos
na fase de instalação da plataforma, quando a pesca cessou no perímetro das obras; e, claramente, interferiu,
e irá interferir por um longo período, nas atividades econômicas de nível local, regional e internacional. A
nível local com o movimento migratório devido às gerações de empregos, aquecendo o mercado imobiliário,
hiper-saturando escolas e sistemas de saúde e transporte. Além disso, a atividade econômica fundamental do
município sofreu uma mudança drástica, deixando de ser essencialmente turística para ser industrial. Já no
nível regional e internacional, esses empreendimentos, por ser de grande porte, propunham a auto-suficiência
de gás natural do Brasil, que deixará de depender das importações desse produto, atingindo, assim, atividades
econômicas nacionais e internacionais.
Um fator importante que propõe mudanças e soluções a partir desses conflitos é a criação de fóruns
de debates participativos. Para isso, foi utilizado alguns textos de Beck (1995), que descrevem como esses
fóruns podem acontecer e qual a sua importância. De modo geral, esses fóruns devem promover o diálogo
entre os diversos tipos de conhecimento dos diferentes atores: cientistas (conhecimento técnico-científico),
empreendedores (conhecimentos econômico-administrativos), população local (conhecimento tradicional e
contextualizado).
BECK (1995) aponta algumas condições para estabelecer estes fóruns de debate:
1. A população deveria deixar de lado a noção de que os administradores e peritos sempre conhecem
exatamente tudo, ou, pelo menos, melhor, sobre o que é recomendável para todos. Isto implica numa
desmonopolização do trabalho dos peritos.
2. O círculo de atores que devem participar não pode permanecer fechado aos especialistas, mas aberto
a outros atores sociais que estejam diretamente envolvidos no problema em questão.
3. Todos os participantes dos fóruns devem aceitar que as decisões devem ter um caráter aberto, para
possibilitar ajustes posteriores.
4. Deve se garantir um espaço público para estes fóruns, de forma que as negociações não tenham lugar
a portas fechadas, entre peritos e atores chaves nos processos decisórios, passando a ser aceito o
caráter de incontrolabilidade dos processos de debate como elemento enriquecedor.
5. As normas dos fóruns devem surgir de um acordo entre os participantes e passar a ser auto-
legisladas.
Assim, Beck apresenta estratégias participativas de negociação e mediação numa perspectiva
pluralista chamada, por ele, de desmonopolitização da especialização. Desse modo, o autor defende que o
saber acerca do que é melhor e certo para todos não é mais exclusivo do saber especializado e de suas
instituições, mas uma visão integrada das diferentes perspectivas que há no nível local. Aqui ele propõe uma
nova simetria de relações que forneçam as pré-condições para a ação política mais participativa e efetiva.
Esses fóruns devem ser um forte elemento para ampliar a transparência e a confiança da sociedade
atingida frente ao que pode ser feito para evitar os riscos e diminuir a vulnerabilidade. A partir disso,
soluções negociadas e democráticas podem ser encontradas e o debate estimulado, já que esse é o motor mais
eficaz para as mudanças sociais de mitigação dos impactos sociais e ambientais do Projeto Mexilhão. No
entanto, como foi possível perceber ao longo das entrevistas, esse diálogo de mão dupla (especialistas e
sociedade) não ocorreu no momento das audiências públicas, inclusive a audiência da fase de licenciamento
da parte marinha do Projeto Mexilhão. Essas foram consideradas instrumentos meramente formais para que o
empreendedor mostrasse que estava cumprindo as leis, explicando à população o que estava sendo feito. A
participação da ciência nesse evento se limitava a esse papel explicativo, que seguia apenas um caminho:
transmitia o interesse dos empresários para a sociedade cristalizada.

4. Conclusão
Uma primeira conclusão ocorreu com a realização de uma análise sistemática do conflito encontrado
nessa arena. Para a realização dessa análise foi obrigatório evitar o reducionismo maniqueísta do conflito. Ou
seja, não se pode acreditar que o conflito socioambiental aqui envolvido se reduz a ambientalistas e
população de um lado – o da preservação – e os empresários de outro – o do desenvolvimento econômico.
Os interesses da população oscilavam ao longo do processo decisório. Ora grande parte da população era
contra o empreendimento devido aos riscos e impactos ambientais que a ameaçava, ou por causa da ameaça

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de superlotação do mercado de trabalho, de hospitais, escolas, rodovias públicas devido ao movimento


migratório que as obras iriam gerar. Ora, essa população fora extremamente a favor dos investimentos,
devido à possível geração de emprego, ao desenvolvimento técnico e econômico que estava por vir para a
região, ou ainda, por causa da distribuição dos vultosos royalties que eram prometidos para o município.
Outra conclusão está relacionada com a influência dos cientistas nessa arena. A ciência não exerce
sempre um papel central e determinante numa situação de conflito. O seu papel depende do contexto e da
natureza do conflito. Nos casos em que esse contexto é predominantemente constituído por conflitos
estritamente políticos, envolvendo disputa de poder, por exemplo, a ciência tem um papel secundário, sem
emergência nas decisões a serem tomadas, prevalecendo argumentos baseados em assimetrias de poder, risco
à segurança e à ordem social, vantagens e desvantagens econômicas, dentre outros. Já em casos que os
conflitos não se dão fundamentalmente nesse âmbito, como em alguns casos de conflitos socioambientais, a
ciência pode vir a ter um espaço maior e um papel mais central no processo decisório. No caso do Projeto
Mexilhão houve conflitos de natureza política e de natureza social e ambiental.
Já quanto ao processo de licenciamento e às audiências públicas, foi possível concluir que tal uso
político dos argumentos científicos é limitado. Aqui a ciência era utilizada pelos empreendedores apenas
para encaixar o projeto dentro das exigências da lei a fim de obter a licença. A partir disso, nessa fase, os
cientistas se colocavam como transmissores dos interesses dos empresários para a sociedade civil. As ONGs
e a população começaram a buscar os argumentos científicos como instrumentos de legitimidade mais tarde,
em momentos posteriores ao licenciamento, nos espaços de mediação/negociação de conflitos, onde o
objetivo era esclarecer questões técnicas do EIA-RIMA e avançar perante aquilo que foi imposto pela lei.
Portanto, nesse momento posterior, a ciência possuiu uma implicação política maior: os argumentos
científicos ampliam a qualificação de todas as partes conflitantes, decodifica o conhecimento extremamente
técnico para uma linguagem mais usual e de maior entendimento de todos, além de poder criar um
treinamento da população e dos trabalhadores da empresa para qualquer risco ambiental que eles possam
estar sujeitos. Assim, nesse momento a ciência possui um papel fundamental de ampliar a colaboração e o
diálogo entre conhecimento técnico e conhecimento tradicional para a elaboração dos riscos e das possíveis
soluções, o que não ocorreu, fundamentalmente no período de licenciamento.

Agradecimentos
Essa pesquisa foi possível devido ao financiamento direto do CNPq/PIBIC. A pesquisa também
esteve, desde seu início, vinculada ao projeto temático “Expansão Urbana e Mudanças Ambientais Globais:
um estudo do Litoral de São Paulo”, coordenado por Lucia da Costa Ferreira, financiado pela FAPESP.
Além disso, devo agradecer às estruturas que o Instituto de Filosofia e Ciências Humanas e o Núcleo de
Estudos Ambientais da Unicamp me forneceram. Certamente, muitas pessoas foram fundamentais para a
execução dessa pesquisa. Devo agradecer à orientação e aos ensinamentos de Lucia da C. Ferreira e de todo
os integrantes do “Projeto Clima”.

Referências
SIMMEL, G. Conflict. New York: The Free Press, 1955.
CUNHA, I. Conflito ambiental em águas costeiras: Relação porto-cidade no Canal de São Sebastião.In:
Ambiente & Sociedade – Vol. VI nº. 2 jul./dez. 2003.
HANNINGAN, J. Environmental sociology. A social constructionist perspective. Londres, Routledge, 1995.
LITTLE, P. E. A Etnografia dos Conflitos Sócio-ambientais. In: II Edital ANPPAS, Indaiatuba, São Paulo,
2004.
BECK, U. "The reinvention of politics: towards a theory of reflexive modernization". ln: BECK, U.;
GIDDENS, A & LASH, S. Reflexive modemization. Politics, tradition and aesthetics in the modem social
order. Londres, Polity Press, 1995.

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POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCACIONAIS: INSERÇÃO COM INCLUSÃO?


O PROGRAMA UNIVERSIDADE PARA TODOS

Bruna Cruz de Anhaia1*


1
Faculdade de Ciências Sociais, Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS

1. Introdução
Em 2005, o Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) elaborado pela Organização das Nações
Unidas (ONU), demonstrou que o aumento do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M)
entre negros e brancos, no período entre 1980 e 2000, teve grande influência da educação e longevidade,
respectivamente [1]. No ano de 2006, entretanto, o Brasil continuou em posição preocupante no ranking da
desigualdade e foi apontado como o 10º país mais desigual do mundo pelo RDH. A possibilidade de se
reverter este quadro depende de iniciativas do governo e de um amplo investimento em políticas públicas.
A proposta anunciada no país, voltada à educação superior, é evidenciada na flexibilização das formas
de ingresso e na criação de políticas públicas que buscam assegurar o direito ao acesso às minorias, em
especial, através da reserva de vagas a negros e indígenas e da criação do Programa Universidade para Todos
(ProUni). A inserção destes jovens neste nível de ensino, por sua vez, confere-lhe novas características e
possibilita a interação entre diferentes agentes.
O impacto ocasionado pela implantação do ProUni bem como as relações – de resistência ou de
cooperação - decorrentes da inserção destes novos alunos neste nível de ensino serão analisados ao longo
deste trabalho.

2. Método
Para a realização deste estudo, teremos por referência o conceito de equidade de Rawls [2] e
McCowan [3], a teoria de capitais de Bourdieu [4], a abordagem de Elias [5] que propõe as categorias de
estabelecidos e outsiders, e a contribuição de Goffman [6] para o estudo do estigma. Utilizou-se, também,
dados bibliográficos; pesquisas em sites de instituições de ensino superior (IES); consulta à base de dados do
Ministério da Educação (MEC/ProUni) [7], do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira (INEP) [8] e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) [9]; e entrevistas semi-
estruturadas.

3. Resultados e Discussão
Criado no ano de 2004 através da medida provisória (MP n° 213/2004) e institucionalizado pela Lei nº
11.096, de 13 de janeiro de 2005, o ProUni integra o quadro de ações que compõem o Plano de
Desenvolvimento da Educação (PDE). Tendo por objetivo a reserva de vagas para estudantes de baixa renda
em IES privadas, com ou sem fins lucrativos, o governo oferece, em contrapartida, a isenção de alguns
tributos àquelas que aderirem ao Programa. O ProUni oferta bolsas de estudo integrais e parciais de 50% e
25% para cursos de graduação tradicionais (duração de 4 anos) e sequenciais de formação específica (2
anos).
De acordo com informações do Sistema do ProUni - SISPROUNI, desde a criação do
Programa foram beneficiados cerca de 600 mil alunos. Até o segundo semestre de 2009, também foram
beneficiadas 3.954 pessoas com deficiência. Constatou-se, assim, a redistribuição das oportunidades de
acesso a este nível de ensino a nível macro (nacional), o que vem assegurando a inserção de grupos
que antes tinham pouca ou nenhuma possibilidade de estudo.
O impacto ocasionado pela implantação do ProUni, desta maneira, deve ser percebido não só como
inserção de novos atores no interior de inúmeras instituições, mas também como favorecedor do contacto
entre sujeitos com distintas trajetórias e capitais (sociais, culturais, etc.). O processo de inserção deste
novo quadro de estudantes, no entanto, incita resistências que podem ser percebidas no interior das
IES - seja na tentativa de diminuir a importância da aprovação do beneficiado pelo ProUni, seja
através de práticas em sala de aula.
As primeiras análises de entrevistas, entretanto, permitem perceber que uma vez provada a
legitimidade de seu ingresso, o desempenho acadêmico do aluno bolsista será peça fundamental
para a desconstrução de possíveis resistências. A variável tempo, desta forma, incidirá de forma
positiva na aceitação por parte dos demais agentes e, por conseguinte, em sua inclusão.

*
Bruna Cruz de Anhaia: bruna.anhaia@ufrgs.br
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4. Conclusão
Dando continuidade à correção das injustiças sociais, o ProUni e as políticas afirmativas
apresentam-se como importantes iniciativas e agem através de mecanismos compensatórios a fim de
buscar reparar injustiças. Tais ações implicam na redistribuição de recursos, enfrentamento das
barreiras de acesso que asseguram privilégios e, portanto, suscitam resistências no plano micro e
macro.
Desta maneira, além do suporte material a estes jovens, mostra-se necessária a adoção de uma
série de medidas complementares que vão desde a ampla divulgação do funcionamento do
programa – em escolas, universidades, etc. – a fim de evitar a proliferação de discursos que se
baseiam na falta de informações até o fortalecimento da identidade e auto-estima do aluno bolsista.

Referências
[1] PNUD. Relatório de desenvolvimento humano – racismo, pobreza e violência. Organização
das Nações Unidas, 2005. Disponível em: <http://www.pnud.org.br/rdh/> Acesso em: 27 ago. 2008
[2] RAWLS, J. A Theory of Justice. Cambridge, Harvard University Press, 1976.
[3] MCCOWAN, Tristan. Expansion without equity: an analysis of current policy on access to higher
education in Brazil. In: Higher education (2007) 579-598.
[4] BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 1974.
[5] ELIAS, Norbert. Os estabelecidos e os outsiders: sociologia das relações de poder a partir de uma
pequena comunidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2000.
[6] GOFFMAN, Erving. Estigma – notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Disponível
em: <http://www.4shared.com> Acesso em: 18 fev. 2008
[7] MEC/ProUni. Programa Universidade para Todos. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/prouni/>
Acesso em: 10 jul. 2010
[8] INEP. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Disponível em:
<http://www.inep.gov.br/> Acesso em: 09 mai. 2010
[9] IBGE/PNAD. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Disponível em: <www.ibge.gov.br>
Acesso em: 21 mar. 2010

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“POSSÍVEIS DIÁLOGOS: A SOCIOLOGIA E OS ESTUDOS SOBRE AMBIENTE E


SOCIEDADE, EUA E BRASIL”

Ana Carolina Vila Ramos dos Santos*


Doutoranda em Sociologia- IFCH, UNICAMP

1.Introdução
O objetivo deste trabalho é pensar a sociologia contemporânea a partir de um ponto de vista muito
particular- os estudos sobre ambiente e sociedade- ao promover uma breve sociologia da sociologia
ambiental como uma espécie de recorte analítico útil na percepção dos possíveis caminhos da sociologia no
século XXI.
Para tanto, pretendo elaborar um estado da arte, é certo que provisório, mas que prima pela
visualização ampla do campo de estudos; o tema que alinhavou a escolha dos trabalhos e dos autores é o
status da sociologia ambiental e o impacto da sub-área de estudos na disciplina, nos EUA e Brasil.

2.Método
Trata-se de uma pesquisa bibliográfica de amplo espectro. Arrolei alguns textos de autores que a
literatura tem apontado como cruciais na análise da institucionalização da sub-disciplina nos EUA e alguns
poucos trabalhos sobre o tema no Brasil- tema muito recente no debate nacional- e dedicarei minha atenção
ao tema ambiente e sociedade no interior da disciplina tentando perscrutar de que forma a “novidade” do
tema tem sido acomodada na história da disciplina, identificando os principais desafios levantados pela
literatura assim como as conquistas recentes da sub-área.

3.Resultados e Discussão
É possível perceber que a sociologia ambiental nos EUA tem uma história ainda curta: desde meados
da década de 1970 com o artigo revolucionário de Catton e Dunlap, a sociologia ambiental tem se firmado
como campo de estudos e pesquisa importante na academia americana; no Brasil, contudo, a sociologia
ambiental ainda ensaia seus primeiros passos como atenta a socióloga Leila Ferreira.

4.Conclusão
Gerar análises sociológicas da questão ambiental demanda toda uma labuta de cunho acentuadamente
teórico-metodológico e um trabalho inicial de levantamento do tema na história da disciplina, de
esclarecimento de suas possibilidades de formulação nas perspectivas atuais, de construção de um quadro
conceitual para abordá-lo, enfim, de torná-lo um ponto de preocupações destas disciplinas (integrando-o no
seu universo de reflexão) é o horizonte imediato de ação. Esse trabalho é um primeiro e humilde passo nesse
sentido.
Tal como a sociologia ambiental americana tem demonstrado, a sub-área de estudos entra,
vagarosamente, pela porta da frente da disciplina e tem mostrado como novos pontos de vistas na análise
sociológica podem oferecer originais e esclarecedores quadros compreensivos da sociedade no século
vindouro.

*
Bolsista FAPESP; carol_vrs@yahoo.com.br

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PRIMEIRAS NOÇÕES DE LÓGICA

Isac Fantinel Ferreira1*


1
Universidade Federal de Santa Maria - UFSM

1. Introdução
Reconhecidamente Aristóteles foi o primeiro a produzir uma teoria lógica, no sentido de uma teoria
formal do raciocínio ou da dedução. Ainda que o trabalho de Aristóteles dialogue, em alguns momentos, com
algumas teses platônicas, referentes a sua teoria da divisão principalmente, as noções lógicas elaboradas por
Aristóteles foram inovadoras e por isso lhe renderam a designação de “pai da lógica”. A palavra “lógica”
(logiké) não era empregada por Aristóteles no mesmo sentido técnico em que ela vem sendo usada por nós
habitualmente, para ele esta expressão tinha uma conotação mais ampla e variável. A palavra usada por ele
para expressar o que hoje entendemos por lógica formal é “analítica” (analytiké). A analítica era para
Aristóteles uma disciplina que englobava tanto os conteúdos referentes a sua teoria da dedução como aqueles
referentes a sua teoria da demonstração científica. As suas obras que versam acerca destes conteúdos são os
“Primeiros Analíticos” ou “Analíticos Anteriores” e os “Segundos Analíticos” ou “Analíticos Posteriores”,
respectivamente, apesar de que estes conteúdos encontram-se estreitamente relacionados e se misturam, por
vezes, nestas obras, ao ponto de em alguns momentos não conseguirmos distinguir se ele está se referindo a
uma dedução ou a uma demonstração. O certo é que estas duas obras e algumas outras que tematizam acerca
daquilo que atualmente entendemos por lógica foram classificadas e reunidas, dentro do corpus de textos
aristotélicos, sob o título de Organon.[3,6]
Gostaríamos de tratar aqui apenas da parte da analítica que se refere à teoria da dedução aristotélica e
não de sua teoria da demonstração científica. O núcleo desta teoria da dedução encontra-se, dentro do
Organon, no “Livro I” do “Primeiros Analíticos”. O objetivo deste nosso trabalho é, então, apresentar e
discutir, algumas das principais noções contidas neste livro, mais especificamente na parte deste livro que
versa sobre o sistema lógico assertórico criado por Aristóteles. Dessa maneira, não trataremos da teoria
silogística modal aristotélica, contida nos capítulos 8 a 22 deste mesmo escrito.

2. Método1
Iniciaremos, então, como o próprio Aristóteles faz no início do primeiro capítulo do “Livro I”,
tratando da noção de premissa. Posteriormente poderemos passar para a noção de termo, para vermos como
as diferentes relações entre os termos fornecem os diferentes tipos de proposições contidas na silogística.
Em seguida, abordaremos a primeira noção de silogismo encontrada na obra, assim como as noções de
silogismo perfeito e silogismo imperfeito. E por fim, trataremos das regras de conversão das premissas na
silogística. Como se pode notar, este nosso pequeno trabalho abrange realmente apenas os conceitos mais
básicos da teoria aristotélica da dedução, restando ainda muitos conceitos e conteúdos fundamentais neste
livro para uma compreensão mais global da silogística. Contudo, desejamos que as discussões e comentários
realizados acerca destas noções básicas forneçam um entendimento mais pormenorizado de algumas das
teses aristotélicas.

3. Resultados e Discussão
Uma premissa, parafraseando Aristóteles, é uma oração que predica algo acerca de um sujeito [1, 2,
4, 5 cf. An Pr 24a16]2, quer dizer, é uma oração que afirma ou nega alguma coisa sobre um sujeito. Ele
entende, então, que as premissas, ou seja, aquilo que serve de base para a argumentação, possui uma
estrutura lógica constituída por um sujeito e por um predicado. A premissa é uma predicação acerca de um
sujeito. Esta maneira de entender a estrutura lógica das proposições, cabe lembrarmos, foi mantida até
meados do século XX, momento em que surgiram novos estudos na área, estudos estes iniciados por Frege e

*
Autor Correspondente: isac_fferreira@hotmail.com
1
A metodologia para a execução deste trabalho envolveu a leitura dos textos assim como a discussão dos
mesmos em sala de aula e com o professor orientador. Neste item apresentaremos a metodologia, quer dizer,
a ordem em que organizamos os conteúdos trabalhados neste texto.
2
Os primeiros numerais entre colchetes se referem às obras citadas na bibliografia deste trabalho;
posteriormente indicamos a passagem exata que pode ser consultada no Primeiros Analíticos (An Pr), como
é realizado canonicamente nos estudos de lógica. Cabe notar, então, que em todas estas obras encontra-se a
tradução deste texto aristotélico; assim para evitarmos uma redundância exaustiva, nas próximas referências
indicaremos apenas uma destas obras acrescida da especificação do trecho que queremos mencionar, como é
referido tradicionalmente.
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por Russell principalmente, que irão alterar esta maneira de entender a estrutura lógica, isto é, a forma lógica
das proposições. De qualquer modo, o sistema lógico desenvolvido por Aristóteles se manteve como o
modelo para a lógica até o começo do século XX.
A premissa, então, é formada por um sujeito e por um predicado e aquilo que está pelo sujeito e pelo
predicado é chamado de termo, ou seja, os termos são as expressões que servem tanto de sujeito como de
predicado em uma premissa [2 cf. An Pr 24b17]. Esta não diferenciação destes dois elementos, isto é, esta
classificação dos dois sob o mesmo status lógico trará conseqüências importantes acerca da compreensão da
forma lógica das premissas na silogística. Vejamos por que. De modo geral, o predicado gramatical de uma
oração é composto, entre outros elementos, pelo verbo da oração; por exemplo, o predicado gramatical da
frase “Os estudantes de filosofia são bons alunos” é “são bons alunos”, o verbo ser está incluído no
predicado gramatical. O que Aristóteles faz é retirar o verbo do predicado, assim, a estrutura lógica das
premissas fica composta por dois termos, o termo sujeito e o termo predicado, e pelo verbo “ser” que
funciona como cópula. O predicado como um termo, então, não é composto, como o predicado gramatical,
pelo verbo da oração. Temos, dessa maneira, a seguinte estrutura formal: “S é P”, onde “S” está pelo termo
sujeito, “P” está pelo termo predicado e o verbo “é” está funcionando como a cópula.
Por enquanto definimos que Aristóteles considera que as premissas são formadas por dois termos:
pelo termo sujeito e pelo termo predicado. O termo sujeito, diz ele, pode ser considerado universalmente,
particularmente ou indefinidamente. Isso quer dizer que pode ocorrer nas premissas três situações diferentes,
a saber: pode ocorrer uma predicação ou uma não predicação universal; uma predicação ou uma não
predicação particular; ou uma predicação indefinida [2 cf. An Pr 24a17]. Vejamos como Aristóteles explica
isso. Quando existe uma predicação universal o termo sujeito está contido ou pertence totalmente ao termo
predicado e quando existe uma não predicação universal o termo sujeito está excluído ou não pertence
totalmente ao termo predicado. Cabe notarmos, que na realidade a relação de pertinência ocorre entre os
significados dos termos, assim quando dizemos que o termo sujeito pertence totalmente ao termo predicado
estamos afirmando que o significado do predicado encontra-se no significado do sujeito. Cabe notarmos
também, que quando ele fala de uma não predicação na realidade trata-se de uma predicação negativa, por
assim dizer, já que estritamente falando toda premissa contém um tipo de predicação. Feitas essas ressalvas,
podemos passar para a predicação particular, nela o termo sujeito está contido parcialmente no termo
predicado, e na não predicação particular o termo sujeito está excluído parcialmente do termo predicado.
Podemos dizer, dessa maneira, usando uma terminologia extensional, que existem quatro tipos de relações
entre os termos das premissas: a inclusão total, a exclusão total, a inclusão parcial e a exclusão parcial.
Apesar de Aristóteles não escrever desta forma, se convencionou apresentar as expressões que
indicam o tipo de relação entre os termos antes do sujeito. À medida, então, que temos uma predicação
universal, a expressão “Todo” é colocada antes do sujeito e quando existe uma não predicação universal, a
expressão “Nenhum” antecede o sujeito. Assim, quando o sujeito é universalmente considerado temos dois
tipos de premissas: a universal afirmativa que possui a seguinte forma “Todo S é P” e a universal negativa
com a forma “Nenhum S é P”. Por outro lado, quando existe uma predicação particular, a expressão
“Algum” antecede o sujeito, e quando existe uma não predicação particular, é também a expressão “Algum”
que vai antes do sujeito, porém é acrescentada a expressão “não” após o sujeito. Dessa maneira, temos duas
premissas particulares: a particular afirmativa com a forma “Algum S é P” e a particular negativa
formalizada como “Algum S não é P”.
Faltou explicarmos o que ocorre na premissa quando o sujeito é considerado indefinidamente, ou
seja, o que ocorre com uma premissa quando sua predicação está indefinida. Aristóteles diz que isso
acontece quando a predicação é realizada sem signo ou marca, quer dizer, sem uma expressão que indique
que a predicação ou é universal ou é particular [2 cf. An Pr 24a19]. Poderíamos dar o seguinte exemplo para
este tipo de predicação com a frase “Os homens são mortais”. Neste tipo de proposição, não aparecem as
expressões “Todo”, “Nenhum” ou “Algum” antes do termo sujeito. No entanto, esta falta de um signo, como
diz Aristóteles, caracteriza uma distinção gramatical desta frase em relação às demais, e não uma distinção
lógica. Já que do ponto de vista lógico essa proposição representa uma relação de inclusão total entre seus
termos, trata-se então de uma proposição universal afirmativa. Assim, se quiséssemos considerar apenas as
diferenças lógicas, as premissas deveriam ser distinguidas em universais (afirmativas e negativas) e
particulares (afirmativas e negativas) somente. Porém, Aristóteles mantém a distinção envolvendo premissas
indefinidas ao longo do livro.
Passemos agora para a noção de silogismo. A primeira definição que Aristóteles fornece de
silogismo, ainda no primeiro capítulo do livro [2 cf. An Pr 24b19], é uma definição, diríamos nós
atualmente, de argumento dedutivamente válido. Ele diz mais ou menos assim: que o silogismo é um
discurso, e podemos entender “discurso” no sentido de um argumento ou mais especificamente de uma
dedução, no qual são fixadas certas coisas, ou seja, são apresentadas algumas proposições ou premissas, e

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algo diferente daquilo que foi fixado inicialmente, quer dizer, outra proposição diferente das iniciais, surge
necessariamente; e esse surgimento se dá pela simples fixação daquelas coisas iniciais. Então, para tentar
esclarecer esta primeira definição da noção de silogismo, à medida que aceitamos certas premissas podemos
extrair ou concluir outra proposição diferente e esta conclusão surge apenas pelo fato de aceitarmos somente
estas premissas iniciais, isto é, a conclusão ocorre apenas em função destas premissas, não sendo necessário
o acréscimo de nenhuma outra; quando isso ocorre temos um silogismo, ou seja, um argumento
dedutivamente válido.
Podemos notar que esta primeira definição é ainda bastante ampla, Aristóteles não se refere, por
exemplo, a noção de termo ou, mais especificamente ao tipo de relação que deve ocorrer entre os termos em
um silogismo. Assim, a noção de validade formal, a qual talvez tenha sido a descoberta mais significativa de
Aristóteles acerca deste tema, ainda aparece em fase embrionária nesta definição.
Nesta definição, também, não é fixado o número de premissas que os silogismos devem conter, o que
fixaria também o número de termos nos silogismos; a definição afirma apenas que se trata de mais de uma
premissa. Disso podemos concluir que um argumento que contém apenas uma petição de princípio, ou seja,
um argumento que contém apenas uma premissa a qual corresponde justamente à conclusão do argumento
não entraria nesta noção aristotélica de argumento dedutivamente válido. Na realidade, nem mesmo um
argumento que contivesse mais de uma premissa e uma petição de princípio seria, para Aristóteles, um
argumento válido. Pois, as exigências que esta primeira definição de silogismo nos fornece são duas, a saber,
que são necessárias mais de uma premissa e também que a conclusão precisa ser distinta delas, para que haja
silogismo. No entanto, argumentos que contêm petição de princípio parecem surgir como contra-exemplos
para esta inicial definição aristotélica de argumento dedutivamente válido, já que estes argumentos são
formalmente válidos, diríamos nós.
Uma solução apresentada pelos lógicos contemporâneos para essa questão seria distinguir entre
argumento válido e inferência. Para os lógicos contemporâneos a petição de princípio seria uma inferência,
no sentido de um cálculo, que é válido para o sistema lógico, mas que não é um argumento. Funcionaria,
grosso modo, como um cálculo acrescentado ao sistema lógico com o intuito de simplificá-lo. Dessa
maneira, a definição aristotélica pode ser vista positivamente por excluir do seu escopo argumentos que
envolvem petições de princípios e não negativamente, no sentido de estar sujeita a contra-exemplos.
Logo após fornecer esta definição de silogismo Aristóteles define o que é um silogismo perfeito e o
que é um silogismo imperfeito [2 cf. An Pr 24b23]. Um silogismo perfeito, segundo ele, não precisa de nada
além de suas premissas para que a necessidade de sua conclusão seja evidente, ou seja, um silogismo perfeito
tem validade auto-evidente. Já um silogismo imperfeito precisa de algo mais para evidenciar a necessidade
de sua conclusão. Mas o que é este algo mais que põe em evidência a validade do argumento?
Antes de responder a esta questão, precisamos esclarecer que um dos objetivos do livro, por assim
dizer, é apresentar argumentos que tem sua validade evidente, ou seja, os silogismos perfeitos. No entanto,
também são apresentados silogismos imperfeitos, que são aperfeiçoados, tornando-se, por sua vez, perfeitos
também. Então, quando perguntamos por este “algo mais” estamos neste contexto da realização do
aperfeiçoamento dos silogismos imperfeitos. Podemos agora retornar à pergunta.
Como é sabido, Aristóteles definirá, primeiro através de exemplos, iniciados por “Barbara” [2 cf. An
Pr 26a1], e das figuras silogísticas; e posteriormente de maneira textual [2 cf. An Pr 42a32], que todo
silogismo é composto por duas premissas e pela conclusão. Assim, quando ele afirma que um silogismo
imperfeito precisa de algo mais, não se trata de acrescentar uma ou mais premissas diretamente na forma do
silogismo. Porém, se nos apoiarmos nesta mesma passagem apontada logo acima [2 cf. An Pr 42a32] iremos
constatar que uma nova proposição deve ser assumida nos silogismos imperfeitos para se tornarem perfeitos.
Podemos esclarecer essa discussão da seguinte maneira: a definição de silogismo imperfeito afirma que ele
carece de algo, uma ou mais proposições, para que sua validade seja evidenciada. Sabemos que não podemos
simplesmente acrescentar premissas ao silogismo, pois, todos os silogismos contêm apenas duas premissas.
Então, se queremos aperfeiçoar os silogismos imperfeitos, ou seja, tornar a sua validade evidente, precisamos
realizar um processo, podemos dizer, correndo o risco de sermos anacrônicos, que precisamos efetuar uma
prova, na qual se assumiria outras premissas para por em evidência a validade do silogismo. Este processo é
conhecido como a redução dos silogismos perfeitos aos silogismos imperfeitos.
Cabe notarmos que o aperfeiçoamento dos silogismos imperfeitos envolve este processo de redução,
mas não se tratam da mesma coisa, já que o aperfeiçoamento diz respeito a fornecer evidência da validade
dos silogismos imperfeitos, e sendo assim, situa-se em um âmbito epistemológico, por assim dizer. A
redução dos silogismos imperfeitos aos perfeitos, por sua vez, é um processo formal situado em um campo
lógico. Note-se também que, do ponto de vista lógico, ou mais especificamente da validade, os silogismos
perfeitos e os imperfeitos são indiferenciados, pois, os dois são argumentos válidos, já que são silogismos.

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Assim, a diferença entre eles situa-se também em um campo epistemológico e não lógico, os perfeitos não
são mais válidos que os imperfeitos.
Vimos que as definições de silogismo perfeito e de silogismo imperfeito nos levaram a
considerações acerca do processo formal de redução dos silogismos imperfeitos aos perfeitos. O próximo
tema abordado por Aristóteles logo após estas definições, no “Capítulo 2” do livro [2 cf. An Pr 25a1],
também está estreitamente ligado ao processo de redução, trata-se das regras de conversão das premissas. Ele
estabelece três maneiras, três regras, diríamos nós, em que a predicação que ocorre em uma premissa pode se
converter em outro tipo de predicação. Estas três regras, como se sabe, são as seguintes: “Nenhum A é B”
converte-se em “Nenhum B é A”; “Algum A é B” converte-se em “Algum B é A”; e “Todo A é B” converte-
se em “Algum B é A”.
Aristóteles, apesar de apresentar, ainda neste capítulo [2 cf. An Pr 25a14], as provas formais para
estas conversões e argumentar que não são possíveis outros tipos de conversão, não define qual o status
dessas conversões. Claramente elas não entram na definição de argumento dedutivamente válido, então o que
seriam do ponto de vista categorial estas conversões para Aristóteles? Este livro, pelo menos, não nos
permite dar uma resposta satisfatória a esta questão. Se buscarmos novamente uma resposta contemporânea,
podemos dizer que essas conversões são entendidas como regras de inferência, de novo no sentido de um
cálculo válido.

4. Conclusão
Vimos que uma premissa para Aristóteles é formada por um sujeito e por um predicado, e que estes
dois elementos constituintes das premissas são termos. Posteriormente, comparamos esta consideração
aristotélica dos predicados como termos com as regras gramaticais da linguagem. Em seguida, tratamos das
possíveis relações entre os termos nas premissas e através desta análise conseguimos extrair quais são os
quatro tipos de proposições da silogística assertórica. Na sequência, tentamos explicar a primeira definição
de silogismo contida em Aristóteles, que é, na realidade, uma definição de argumento dedutivamente válido.
A partir daí, pudemos definir o que é um silogismo perfeito e um imperfeito; além de discutirmos,
primeiramente, o aperfeiçoamento dos silogismos imperfeitos, e, logo depois, o processo de redução dos
silogismos imperfeitos aos perfeitos. Este último ponto foi tratado apenas de maneira superficial, já que não
entramos, de fato, nas considerações formais que envolvem a silogística. Por fim, apresentamos as regras de
conversão formuladas por Aristóteles. O passo seguinte seria abordar os conteúdos relacionados às figuras e
aos modos silogísticos, dessa maneira entraríamos realmente nestas considerações de cunho mais formal, e
assim poderíamos explicar de maneira mais satisfatória o processo de redução à primeira figura. Contudo, o
espaço aqui não nos permite avançarmos, de modo que deixaremos estes conteúdos entre outros para o tema
de um próximo trabalho. Esperamos, para finalizar, que as discussões levantadas neste trabalho tenham
ajudado a ter uma visão mais crítica de algumas das teses aristotélicas.

Referências
1. Aristóteles. Analíticos Anteriores (Tradução e Notas de Pinharanda Gomes). In: Organon. Lisboa:
Guimarães Editores, 1986.
2. Aristóteles. Prior Analytics (Tradução de A. J. Jenkinson). In: The Complete Works of Aristotle. Ed. J.
Barnes. New Jersey: Princeton University Press, 1995.
3. Correia, M. La lógica de Aristóteles: Leciones sobre el origen del pensamento lógico en la Antigüedad.
Santiago de Chile: Ediciones Universidad Católica de Chile, 2003.
4. Smith, R. Aristotle Prior Analytics. Indiana: Hackett Publishing Company, 1989.
5. Striker, G. Aristotle Prior Analytics Book I. Maine: Oxford University Press, 2009.
6. Vigo, A. G. Aristóteles: Una Introducción. Santiago de Chile: Instituto de Estudios de la Sociedad, 2007.

Agradecimentos
Gostaríamos de agradecer ao professor Dr. Frank Thomas Sautter pela orientação na execução e
correção deste trabalho.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

SOBRE O ENSINO DA ÉTICA: UM ESTUDO NA PERPECTIVA DE PLATÃO.

Felipe Bragagnolo1*; Prof. Dr. Evaldo Kuiava2 (Orientador)


1- 2
Universidade de Caxias do Sul - UCS

1. Introdução
A sociedade contemporânea vem atravessando uma crise radical de valores morais, conseqüência de
um sistema social e político que há décadas é regido pelo capitalismo. Este modelo de governo tem como
alicerce seus próprios interesses, ocasionando com isso, diversos problemas na vida humana, muitas vezes
irreparáveis, como vem acontece com o desejo desenfreado, exagerado e inconseqüente pelo consumismo
(ideologia do ter, ser e poder). E é neste clima que somos desafiados a questionar e criticar se “vale” mesmo
a pena nos mantermos submetidos a tais objetivos que nos propiciam avanços tecnológicos e científicos
como nunca visto antes, mas, esquecem a vida humana, a liberdade e os direitos. Podemos escolher em nos
opormos, e se esta for a nossa decisão, então, conseguiremos batalhar pela autonomia do homem e exigir do
Estado um sistema social pautado pela ética e responsabilidade social.
Contrapondo ao pensamento vigente, somos diretamente levados a refletir sobre um assunto que tem
perpassado toda a história da vida humana: será que podemos apenas ensinar a ética? Este tema já foi foco
de debates em 350 a.C, e hoje, no século XXI, permanece relevante, tornado-se não só atual, mas instigante
pensá-lo e repensá-lo. Analisando nosso contexto social, que tem apresentado este tema como uma aporia –
pretensão esta mantida pela tradição filosófica moderna – como questionar a viabilidade de ensino da ética,
se nossa sociedade não tem sido exemplo de uma conduta virtuosa? Estamos rodeados de corrupção, o meio
ambiente sofre com os danos ocasionados pelo nosso descuido, o processo educativo está sendo
desvalorizado cada dia mais, as expressões de violência (assaltos, homicídios, drogas) não param de
aumentar. Nesta atmosfera, será possível falar de ética?

2. Método
Utilizamos a prática da análise de conteúdo, sendo realizada uma análise descritiva das obras do autor.
Quanto às suas bases lógicas, a pesquisa é qualitativa, dado seu caráter exploratório e subjetivo, buscando o
entendimento acerca da natureza geral do tema proposto, sem a pretensão de generalização do mesmo.

3. Resultados e Discussão
Quando Sócrates, nos diálogos platônicos, questiona o que seria a virtude e o bem, surgem duas
interrogações. Por um lado, interroga a sociedade para saber se o que ela costuma considerar virtuoso e bom
corresponde efetivamente à virtude e ao bem; e, por outro lado, interroga os indivíduos para saber se, ao agir,
possuem efetivamente consciência do significado e da finalidade de suas ações, se seu caráter ou sua índole
são virtuosos e bons realmente. A indagação socrática dirige-se, portanto, à sociedade e ao indivíduo [1],
buscando renovar a Paidéia grega, entendida hoje, como sinônimo de cultura (conjunto de valores, de
padrões de comportamento e de instituições).
Tomando como referência o diálogo de Protágoras, lemos inicialmente sobre o desejo, à vontade e a
ânsia do jovem Hipócrates (discípulo de Sócrates) em conhecer a verdade ou essências das ciosas. Quando
este descobre que um grande sofista chamado Protágoras se encontra na cidade, não se demora a querer estar
junto dele para escutá-lo. Protágoras fora comparado com Orfeu, pois sua voz encantava aqueles que a
escutavam, sentiam-se como enfeitiçados e dispostos a segui-lo para onde ele fosse.
Os sofistas, conhecidos como “profissionais da educação ou pedagogos” [2], prometiam aos seus
ouvintes, independente de quem fossem, que ao voltarem para casa, chegariam sempre melhores do que eram
até então, formando-se bons cidadãos (arte política). Para Sócrates, a pretensão de ensinar era
demasiadamente elevada, pois como pode alguém dizer que ensina? Qual é especialidade deste sofista? É
perito na arte de tocar citará ou no ofício da medicina?
Neste diálogo, percebemos a posição socrática perante o sábio que ensina e sobre o conteúdo de seu
ensinamento. Quando nossa alma é que está em jogo, nada é simples, pois “corremos muito maior perigo na
compra de conhecimentos do que na de alimentos para o corpo” [3]. Estes, são recolhidos direto na alma,
ocasionando grandes benefícios ou prejuízos.
Protágoras consegue validar seu método de ensino apoiando-se no mito de Epimeteu e Prometeu, onde
Prometeu rouba de “Hefesto e de Atena a sabedoria das artes juntamente com o fogo” [4] e os entrega aos
homens, mas, a sabedoria política, que serve para organizar a cidade e defender-se dos perigos naturais,
como dos animais, permanece junto de Zeus. Quando este percebe, que o homem não consegue progredir em

1
Autor Correspondente: felipe@catolicafm.com.br
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sua vida, fica com medo de a espécie se extinguir, então, convoca Hermes para distribuir a todos os homens
o pudor e a justiça (arte política e a arte militar), como princípio ordenador das cidades e laço de
aproximação entre os homens.
Utiliza-se do exemplo do estado, que “puni os culpados” para provar a Sócrates, que é possível ensinar
as virtudes, pois seria de certa forma irracional, se a punição feita aos homens não ocasionasse nenhuma
melhora em seu caráter, pois toda punição tem como objetivo tornar os cidadãos corretos. Sendo assim, “essa
maneira de pensar implica a convicção de que a virtude pode ser ensinada.” [5]
Se quisermos educar as pessoas para serem virtuosas, seguindo o modelo Sofista, então, devemos nos
guiar por algumas características centrais, estas são: o castigo, sendo muitas vezes de forma violenta, pois
este faz com que o homem se torne novamente bom; enviar os filhos para serem cuidados pelos sábios, que
se responsabilizarão por ensinar a arte de governar tanto a si mesmo como as questões da polis; depois, são
enviadas as escolas, onde os professores cuidam rigorosamente dos costumes dos meninos do que do
aprendizado da práxis; e, “quando saem da escola, a cidade, por sua vez, os obriga a aprender leis e a tomá-
las como paradigma de conduta, para que não se deixem levar pela fantasia a praticar malfeitoria” [6];
trabalho resultante de uma coletividade.

4. Conclusão
Através deste diálogo, podemos concluir que a virtude pode ser ensinada, mas necessidade de diversas
pré-disposições do ser e do Estado para verdadeiramente efetivar-se. Temos que partir de um princípio onde
o homem almeja alcançar o “ser virtuoso” ou “ser ético”, pois esta é a característica principal do jovem
Hipócrates em sua incessante busca, tanto quando estava a dialogar com Sócrates, como com Protágoras, sua
meta era de se tornar um cidadão sábio.
Considerando nosso contexto atual, para realizar este tão almejado “sonho”, de uma polis sustentada
na democracia virtuosa, teríamos que falar aqui, de uma reestruturação governamental, mas, para não nos
iludirmos com tamanha pretensão, vamos pensar numa forma mais palpável de atingir este objetivo.
Poderíamos sugerir como passo inicial, nossas instituições de ensino, as Universidades, conhecidas como
guardiãs do conhecimento, conseqüentemente, locais pré-determinados a encontrar este fim.
Se os nossos centros de ensino, não só forem locais favoráveis para a compreensão teórica do ser ético,
mas também de “práxis”, conseguiremos fazer de nossos acadêmicos, seres humanos mais próximos da
excelência ética, pois a virtude é práxis comum que não pode ser ensinada só com palavras, mas que se
aprende através do modelo e da repetição.
Temos que encontrar nas academias o reflexo contrário daquilo que vemos no nosso cotidiano, pois se
caso não o for, será vã sua existência. Não podemos permitir que nossas universidades, mesmos as
particulares, tornem-se mais uma entre as tantas empresas existentes em nossa região/estado/país. Seus
momentos de entusiasmos não podem ser limitados as reuniões de colaboradores, sendo o assunto principal
da pauta, os resultados financeiros (receitas, despesas, lucro líquido), pois, a sua característica principal, que
a faz ser reconhecida pelos cidadãos como instituição de ensino, não pode ser diagnosticado nos balanços
patrimoniais, livros razões, DRE’s (Demonstrativo do Resultado do Exercício), mas somente, a parir de uma
analise reflexiva sobre a sociedade, vendo o que cada cidadão depois de formado, tem feito com seu diploma
e por sua nação.

Referências
1. CHAUÍ. Marilena, Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1994, p. 340-341.
2. MARROU. Histoire de l’éducation dans l’Antiquité, op. cit., vol I, p. 86.
3. PLATÃO. Diálogos. [Belém]: Universidade Federal do Pará, 1973-1975. 14 v. (Coleção amazônica.
Série Farias Brito), 314a.
4. id., ibid, 321d.
5. id., ibid, 324b.
6. id., ibid, 326c.

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SURDEZ E CULTURA: implicações conceituais

Gabriele Vieira Neves, Evaldo Antônio Kuiava, Verónica Gomezjurado Zevallos


Universidade de Caxias do Sul (UCS)

1. Introdução

É recorrente o número de trabalhos que tematizam a surdez sob uma perspectiva cultural, entretanto,
poucos são os que evidenciam de maneira clara o entendimento que se tem do conceito de cultura e quais
critérios inserem de fato os surdos dentro do que se pode chamar de grupo cultural minoritário. Neste
sentido, o presente estudo objetiva trazer reflexões sobre o conceito de cultura e de sua aplicabilidade no
contexto da surdez. Embora muitos investigadores tenham sugerido que cultura é um termo excessivamente
abrangente para ser conveniente como instrumento conceitual e se constituindo um tema tão amplo em
indagação, se pretende aqui, enunciar algumas questões que se julgam necessárias para conduzir o estudo de
cultura como abordagem introdutória de aproximação das relações decorrentes do conceito como estrutura
universal possibilitando indagar os pressupostos de que este termo é herdeiro e sua inserção no contexto
específico da “cultura surda”.

2. Método

Esta pesquisa desenvolveu-se mediante uma análise interpretativa das obras de autores dos Estudos
Surdos e Estudos Culturais buscando-se esclarecer os conceitos de cultura e surdez, levando em consideração
os elementos constitutivos ou características definidoras que se encontram no pensamento desenvolvido
pelos autores destas correntes de pensamento. No primeiro momento, foi feita uma breve contextualização
das posturas e transformações históricas do conceito de cultura, trazendo alguns elementos percebidos desde
a Grécia Antiga até estudos mais recentes, como os Estudos Culturais. Em seguida, foram trazidos elementos
que caracterizam a surdez a partir da ótica dos Estudos Surdos, procurando-se tecer argumentos que possam
justificar a viabilidade do emprego do termo cultura para referir-se aos surdos.

3. Resultados e Discussão

Cultura, conceito fundamental nas abordagens dos fenômenos políticos e sociais, transformou-se em
objeto de especulação e analises pertinentes na abordagem sobre os fenômenos históricos e políticos atuais.
Estes discursos se encontram no centro de debates, filosóficos, antropológicos, lingüísticos, políticos, éticos
e econômicos, assim como nos debates acerca dos processos e políticas educacionais. Pela própria
complexidade do conceito que a palavra cultura representa, considerou-se necessário realizar alguns
esclarecimentos sobre a utilização do termo cultura com a finalidade não somente de apresentar alguns dos
seus significados e transformações ocorridas ao longo da história, mas principalmente apontar a sua inserção
numa estrutura binária em oposição que oferece e garante seus próprios princípios de ordenação.
A palavra cultura na sua forma original latina indica a idéia de cultivar, vinculada à criação de vegetais
e animais, à agricultura. Deste processo de cultivar as plantações passa não somente a significar um estado
daquilo cultivado, mas uma ação de cultivar. Posteriormente seu significado é ampliado e refere-se também
ao refinamento, sofisticação e educação elaborada da pessoa humana individual. Neste sentido, encontra-se a
noção de “homem culto” ou o homem portador de uma “cultura” outorgadas na realização e como fim último
do homem na busca de uma excelência superior. Atualmente este julgamento corresponde ainda hoje ao que,
na antiguidade, os gregos denominavam Paidéia e que os latinos indicavam com a palavra humanita. A
Paidéia exprime um ideal de formação integral. Entre alguns filósofos, como Jaeger, por exemplo,
encontramos que o termo “cultura” se encontra eminentemente ligado à educação, e ainda estritamente
ligado à idéia de cultura a partir de uma herança que inicia na Grécia antiga. Esta idéia tradicional de cultura,
como processo de formação integral foi propagada em todo ocidente e mantida em todo o pensamento
filosófico tradicional. Embora, não somente desde a Grécia antiga se observa o fato de cultura e educação
estar fortemente ligados e indissociáveis, já desde as culturas “primitivas” é atribuído à relação educativa um
papel determinante, segundo Jaeger é a Grécia que representa um avanço fundamental com relação à vida
dos homens na comunidade, e ainda acrescenta: “por mais elevadas que julguemos as realizações artísticas,
religiosas e políticas dos povos anteriores, a história daquilo a que podemos com plena consciência chamar

gvneves@ucs.br

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cultura só começa com os gregos”[1]. Ainda, segundo o autor, sem a concepção grega de cultura, não se
poderia ter a idéia de „antiguidade‟ como unidade histórica, nem a idéias de „cultura ocidental‟.
Com o Romantismo, especificamente na Alemanha, a idéia de cultura “se expressa no conceito
específico Bildung”[2]. A finalidade intrínseca e inerente ao homem caracterizado pela sua formação
intelectual, moral e estética. É no Séc. XVIII, época em que a razão passa a ser considerada um instrumento
privilegiado da aprendizagem humana, que o conceito de cultura adquire uma abordagem crítica e adota uma
visão de patrimônio universal e não somente restrito ou reservado aos círculos privilegiados. A cultura não se
reduz apenas ao aspecto formador da vida humana, mas também à totalidade do que é produzido pelo
homem, quer dizer aos modos de viver e pensar dos indivíduos.
Com a descoberta de novos territórios (considerados primitivos, quando comparados com a sociedade
ocidental) e pela sua ocupação por parte das potências européias era preciso uma ciência que auxiliasse esta
nova política imperialista. Deste modo, o conceito de cultura passou a ser desenvolvido também pela
Antropologia, especificamente pela Antropologia Cultural, a qual propôs estudar a „obra‟ humana a partir da
concepção de cultura como sendo um “conjunto complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral,
lei, costumes, e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro da
sociedade”[3].
Segundo Santaella[4], é Canclini quem explora o conceito de “culturas híbridas” disseminado
atualmente por vários países da Europa. Este conceito caracteriza a dinâmica cultural contemporânea que não
se solidifica em estruturas hierárquicas e estáveis, mas ao contrário, flui e se desloca ao longo de rotas
impossíveis de se prever anteriormente. Os conceitos tradicionais de cultura, aplicados às complexas
sociedades atuais, geram grandes conflitos. De acordo com Santaella, freqüentemente “tendemos a julgar que
a cultura está em crise e contamos com o seu retorno à normalidade”[5]. As noções tradicionais de cultura não
podem mais distinguir os fluxos e os deslocamentos das culturas atuais. “Aspecto importante para se
compreender o caldeamento denso e híbrido da cultura em deslocamento é o da simultaneidade de todas as
formas culturais do passado sincronizando-se com as do presente”[6]. Nos estudos contemporâneos,
especificamente nos estudos culturais, o conceito de cultura “inclui o reconhecimento de que todos os seres
humanos vivem num mundo criado por eles mesmos, e onde encontram significado”[7].
As abordagens teóricas direcionam-se para o questionamento das representações acerca da alteridade,
do outro como diferente frente a uma estrutura social fundada na modernidade, a qual operava como garantia
de uma identidade estável, fixa e homogênea. Uma sociedade cuja organização garante o controle de
normalização e normatização de seus membros; uma estrutura de ausência das diferenças ao se pensar a
cultura. Neste sentido, é indispensável uma re-organização do sentido do „eu‟, do „ser‟, do „sujeito‟, do
„individuo‟ e sua relação com o mundo, a sociedade, o ambiente e a natureza.
O homem afirma-se como ser distinto da natureza. Na sua autonomia reside a sua verdadeira
liberdade, em decorrência de sua formação. A passagem do ser natural para o ser cultural é dada pela ação
humana, “a cultura é a presença humana efetivada no espaço social e na história”[8]. O homem, ao interferir
no funcionamento da natureza, e ao assumir o controle de seus instintos, gera uma ruptura entre o universo
natural e as práticas humanas, denominadas também de universo cultural. Segundo Oliveira (2006, p. 13,14)
cultura “é o resultado da ação efetiva do ser humano no mundo. Por suas ações homens e mulheres
convertem a natureza em cultura, incorporando-a a história, transformam não só a natureza, mas modificam
continuamente o que já foi transformado”.
O século XX é caracterizado pelo questionamento de antigos paradigmas sedimentado na
temporalidade da história, cujo pensamento lógico-formal se encontra organizado em oposições binárias.
Estas oposições binárias sempre privilegiam o primeiro termo com relação ao outro, uma dependência
hierárquica secundária, de inversão negativa. Este elemento negativo teve variadas denominações na relação
cultural como: marginal, homossexual, estrangeiro, deficiente. Por mais significativos que sejam os estudos e
esforços em reconstruir suas distâncias e proximidades, esta relação continua ainda marcada pelo exercício e
[1]
JEAGER, Werner. Paidéia: a formação do homem grego. São Paulo: Martins Fontes< 2001. p. 5.
[2]
FALCON, Francisco. História cultural: uma nova visão sobre a sociedade e a cultura. Rio de Janeiro: Campus, 2002.
p. 61.
[3]
BEALS, Ralph; HOIJER, Harry. Introdução a la antropologia. Madrid: Aguilar, 1971. p. 707).
[4]
SANTAELLA, Lucia. O conceito de cultura revisitado. In: Conexão – comunicação e cultura. Caxias do Sul: Educs,
2002.
[5]
Idem, p. 178.
[6]
Idem, p. 181.
[7]
EDGAR, Andrew, SEDGWICK, Peter. Teoria Cultural de A a Z: conceitos-chave para entender o mundo
contemporâneo. São Paulo: Contexto, 2003. p. 75).
[8]
PAVIANI, Jayme. Cultura, Humanismo e Globalização. Caxias do Sul: EDUCS, 2007. p. 73.

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a prática de domínio e de poder. É neste contexto de questionamento de antigos paradigmas que surgem os
Estudos Surdos, conjunto de estudos na área da surdez que agregam pesquisadores surdos e ouvintes. Sua
principal característica é perceber a surdez como uma diferença que cria identidade e coesão por parte de um
grupo, e ao mesmo tempo, o situa dentro de determinados discursos, os quais permitem que seus membros
sejam percebidos e narrados de diferentes maneiras.
Segundo Lopes[9], a expressão “Estudos Surdos” é originária da tradução do termo Deaf Studies,
realizados principalmente nos Estados Unidos, tendo como um dos precursores o lingüista Willian Stokoe.
Ainda na década de 1960, Stokoe descreveu a Língua Americana de Sinais como língua natural dos surdos, e
posteriormente, na década de 1980, produziu estudos sobre as relações entre comunidade, cultura, língua e
comunicação. De maneira geral, os Deaf Studies foram bastante influenciados pelos Disability Studies, e
podem ser definidos como “um campo necessariamente irregular de estudos filosóficos, literários, políticos,
culturais, etc., que propõe inicialmente descolonizar e desconstruir o aparato de poder e de saber que gira em
torno daquilo que naturalizamos como o outro deficiente”[10].
Partindo do próprio sentido etimológico da palavra cultura como cultivo, conforme já mencionado
anteriormente, é possível afirmar que ela só é possível quando cultivada dentro de um determinado grupo e
na relação deste com os outros grupos. No caso dos surdos, o grupo que possibilita a troca intercultural e
intersubjetiva é a comunidade surda. Nesta comunidade podem estabelecer um processo de comunicação
entre si, compartilhar seus valores, suas crenças, a sua forma de percepção, bem como, narrar as suas
vivências, é um espaço privilegiado para a construção da identidade, mais do que na própria família, onde
muitas vezes vivem como estrangeiros, num território de ouvintes que não sabem sua língua.
Como se percebe, o pensamento ocidental, herdeiro da cultura grega, está baseado na falsa idéia da
identidade que exclui a diferença. Nesta concepção a diferença foi considerada como uma estrutura binária,
cujos elementos estariam em simples oposição, tais como, mente /corpo, natureza/cultura, presença/ausência,
normal/anormal, tendo como finalidade assegurar e garantir as identidades fixas, homogêneas, estáveis. No
discurso contemporâneo a diferença é abordada nas mais variadas relações, a saber: étnicas, geracionais, de
gênero, físicas e mentais. Tais estudos são realizados com a intenção de compreender a construção dos
processos identitários relativos à diferença.

4. Conclusão

Certos da necessidade de colocar o pensamento num contínuo movimento, obrigando a rever conceitos
sedimentados culturalmente, uma análise mais aprofundada permite visualizar outras estruturas de
sociedades consideradas como “minoritárias”, não a partir da possibilidade de torná-las iguais e homogêneas,
mas a partir de sua diferença, diferença esta, que difere dentro de si própria. Isto permite pensar que, se a
primeira bandeira a ser levantada pelos movimentos surdos era a de serem reconhecidos como grupo cultural
diferente, hoje já não basta olhar apenas para a diferença que os marca e os insere em determinados
discursos, mesmo porque, o próprio grupo de surdos difere dentro de si mesmo. Ou seja, o surdo não é
diferente somente do ouvinte, mas também de outros surdos, que também são marcados por outras
identidades. Daí a impossibilidade de se tentar caracterizar de maneira singular „uma cultura‟, „uma
identidade‟, „uma única forma de ser surdo‟. Desta maneira, é possível além de pensar estes grupos fora da
relação tradicionalmente binária, na qual normalidade e anormalidade tinham uma relação opositiva
hierárquica, pensá-los também, a partir da multiplicidade que os constitui.
Este pensamento direciona-se à coexistência dos termos em oposição. Isto não implica dizer que os
termos deixam de ter uma relação binária, mas sim, o que se estabelece é uma incessante alternância de
primazia de um termo sobre o outro, abrindo espaço para outras possibilidades e novos conceitos que não se
deixam apreender pela dicotomia tradicional, produzindo deste modo, uma situação de constante indecisão.
Este pensamento conduz a um âmbito não de contradição entre os pares opostos, nem a uma lógica que
sempre nos retêm no „isto ou aquilo‟, mas a uma transição constante e simultânea entre os elementos. Ou
seja, não é nem um, nem outro, são os dois ao mesmo tempo.

Referências

BAUMAN, Zygmunt. Identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.


BEALS, Ralph; HOIJER, Harry. Introdução a la antropologia. Madrid: Aguilar, 1971.
[9]
LOPES, Maura Corsini. Surdez &Educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
[10]
SKLIAR, Carlos. Pedagogia (improvável) da diferença: e se o outro não estivesse aí? Rio de Janeiro: DP&A,
2003.p.155.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

EDGAR, Andrew, SEDGWICK, Peter. Teoria Cultural de A a Z: conceitos-chave para entender o mundo
contemporâneo. São Paulo: Contexto, 2003.
FALCON, Francisco. História cultural: uma nova visão sobre a sociedade e a cultura. Rio de Janeiro:
Campus, 2002.

HALL, Stuart. A identidade Cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.


JEAGER, Werner. Paidéia: a formação do homem grego. São Paulo: Martins Fontes< 2001.
KATZ Helena; GREINER, Christine. A natureza cultural do corpo. in. Lições de dança nº 3. Rio de Janeiro,
Editora da Universidade, 2001.
LOPES, Maura Corsini. Surdez &Educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
PAVIANI, Jayme. Cultura, Humanismo e Globalização. Caxias do Sul: EDUCS, 2007.
PERLIN, Gládis. Identidade Surda e Currículo. In: LACERDA, Cristina Broglia Feitosa de; GÓES, Maria
Cecília Rafael de. Surdez: processos educativos e subjetividade. São Paulo: Lovise, 2000.
SANTAELLA, Lucia. O conceito de cultura revisitado. In: Conexão – comunicação e cultura. Caxias do
Sul: Educs, 2002.
SILVA, Tomaz Tadeu da (org.); HALL, Stuart; WOODWARD, Kathryn. Identidade e Diferença: a
perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, 2008.
SKLIAR, Carlos. Educação & exclusão: abordagens sócio-antropológicas em educação especial. 4.ed. Porto
Alegre: Editora Meditação, 2004.
______. Pedagogia (improvável) da diferença: e se o outro não estivesse aí? Rio de Janeiro: DP&A, 2003.
______.(Org.). A Surdez: um olhar sobre as diferenças. 3ª ed. Porto Alegre: Mediação, 2005.
______. Atualidade da educação bilíngüe para surdos. Porto Alegre: Mediação, 1999. 2v.
SKLIAR, Carlos Bernardo; LACERDA, Márcia Lise Lunardi. Estudos Surdos e Estudos Culturais em
Educação. In: LACERDA, Cristina Broglia Feitosa de; GÓES, Maria Cecília Rafael de. Surdez: processos
educativos e subjetividade. São Paulo: Lovise, 2000.
STROBEL, Karin. As imagens do outro sobre a cultura surda. Florianópolis: Ed. Da UFS
C, 2009.
VEIGA-NETO, Alfredo; LOPES, Maura Corsini. Marcadores culturais surdos: quando eles se constituem
no espaço escolar. in: PERSPECTIVA, Florianópolis, v. 24, n. Especial, p. 81-100, jul./dez. 2006.

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TECENDO RELAÇÕES ENTRE PROJETO POLITICO PEDAGÓGICO,


LIGUAGEM E AUTONOMIA EM ROUSSEAU NO CONTEXTO EDUCACIONAL

Rochele Rita Andreazza Maciel*; Viviane Catarini Paim2; Orientadora: Prof. Dra. Flávia Brocchetto Ramos3
1
Universidade de Caxias do Sul
2
Universidade de Caxias do Sul
3
Universidade de Caxias do Sul

1. Introdução

Este trabalho tem o objetivo de apresentar um tema bastante de relevância para a educação: O
Projeto Político-Pedagógico da escola. A partir deste tema, tecer relações com a linguagem e com o conceito
de autonomia em Rousseau.

Sabe-se, porém, que o Projeto Político-Pedagógico já foi tema de estudos e referências por vários
teóricos do campo educacional. Estes estudos nos apresentam definições, conceitos, aspectos referentes à sua
construção, sua importância, sua relação tempo-espaço e outros fatores essenciais para a compreensão da
existência do mesmo, entendendo-o como um documento formal do processo educativo, ou melhor, como o
ponto de partida para os planejamentos e estratégias de ação. Entretanto, neste trabalho, não nos cabe repetir
estudos acerca do Projeto Político-Pedagógico, mas apresentá-lo de uma maneira no qual se possa
estabelecer relações com os estudos da Filosofia, especificamente em Rousseau e também com estudos na
área de Linguagens.

Justifica-se a escolha deste tema pelo fato de que, como educadoras presentes na escola, o Projeto
Político-Pedagógico torna-se o instrumento que dirige nossas ações e que indica que estratégias planejar para
uma determinada comunidade escolar, com sua realidade e seu contexto. Também, como estudantes nas
áreas de Filosofia e Linguagens, relacioná-lo a estes estudos torna-se bastante importante já que os teóricos
estudados apresentam conceitos e definições que podemos utilizar em várias ações e práticas cotidianas,
principalmente no processo educacional.

2. Método
O método utilizado neste estudo foi a pesquisa descritiva.
3. Resultados e Discussão
Rousseau (1999, p. 9) acredita que a educação é uma arte do indivíduo que começa no seu
nascimento e se prolonga por toda a vida, e tem como finalidade desenvolver um ser humano livre e
autônomo. Essa educação é fundamental e deve ser seguida desde a infância, porque a liberdade é definida
como possibilidade de independência e de autonomia. Ensinar o sujeito a viver e aprender a exercer a
liberdade. Pode-se dizer que a função da educação se caracterizava por uma concepção de mundo baseada na
igualdade, no respeito ao indivíduo, não impondo a este nenhum padrão institucional de aprendizado que o
moldasse ao ambiente social vigente. A educação deveria ser desenvolvida no cotidiano dos afazeres
laborais, sem restrições ou métodos preestabelecidos. A liberdade e a igualdade, propostas no método de
Rousseau, evidenciavam o sonho de construir uma sociedade democrática que só poderia ser concretizada
com o desenvolvimento de uma educação plena.

Falar em autonomia na sociedade democrática em que vivemos parece já um discurso desgastado,


pois, segundo as diretrizes nacionais, a própria constituição nacional e, no limite, os direitos humanos, todo
cidadão é livre e deve ter autonomia para discernir sobre seus atos. Porém, o que vemos é uma sociedade que
espera sempre que o poder seja exercido, para então, agir. A escola é um dos cenários onde o poder toma
face, local onde todos os indivíduos são obrigatoriamente inseridos para terem acesso ao conhecimento.

Neste sentido, a autonomia é constituída como prática político-pedagógica, prática essa cujo foco
central é o próprio fortalecimento da instituição escolar. Porém, se retomarmos ao significado etimológico do
termo autonomia, como nos ensina Bobbio (1986, p.26), verificamos que a discussão sobre o

* 2:
Rochele Rita Andreazza Maciel: urmaciel@terra.com.br Viviane Catarini Paim vcatarinip@gmail.com
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

desenvolvimento e o exercício da autonomia no âmbito da política implica uma discussão sobre a própria
construção da noção de democracia desde Rousseau:
[...] para quem o princípio inspirador do pensamento democrático sempre foi a liberdade,
entendida como autonomia, isto é, como a capacidade de uma sociedade de dar leis a si
própria, promovendo a perfeita identificação entre quem dá e quem recebe uma regra de
conduta, eliminando, dessa forma, a tradicional distinção entre governados e governantes
sobre a qual se fundou todo o pensamento político moderno.

Portanto, o reconhecimento da autonomia como valor intrínseco à vida escolar funda-se na liberdade,
condição indispensável à prática democrática. Note-se que a escola, como instituição social inserida no
tecido da esfera pública da sociedade, não pode deixar de dar a si mesma as normas e as condições que a
conduzem à realização de seus fins político-pedagógicos. A autonomia pedagógica, compreendida como a
liberdade de cada escola construir o seu projeto pedagógico, tem caráter limitado já que, em muitos casos,
tais projetos são elaborados de acordos com critérios de produtividade definidos previamente pelos órgãos
centrais e garantidos pelos processos de avaliação.

No campo educacional escolar, a força histórica do conceito de autonomia se faz presente em


diversos âmbitos: nos documentos legais, nas teorias e obras de pesquisadores e educadores, nas falas e
discursos de professores, pais e alunos. Este estudo propõe analisar o Projeto Político-Pedagógico da Escola
Estadual de Ensino Fundamental Jardim América da cidade de Vacaria/RS, logo encontra-se nele a
expressão dos seguintes ideais na formação dos alunos: “que a escola seja o local de busca na formação de
indivíduos reflexivos, autônomos, empreendedores, solidários, capazes de acompanhar a evolução do
mundo, proporcionando um ambiente o menos restrito possível para as crianças com necessidades educativas
especiais, mantendo os níveis instrucionais e a conquista do exercício pleno da cidadania”. A amplitude do
conceito de autonomia que a escola propõe e sua complexidade parece ser suficientemente conhecida pelos
educadores, porém acredita-se que esse ideal, às vezes, pode ser difícil de ser alcançado. Aliás, a autonomia
é um conceito muito rico, constitui um ideal ainda hoje perpetrado na educação escolar, mas sofre uma
desertificação de significação. O respeito à autonomia e à dignidade de cada um é um imperativo ético e não
um favor que podemos ou não conceder uns aos outros conforme Freire (1996, p. 59) “o inacabamento de
que nos tornamos conscientes nos fez seres éticos”.

Não se trata de fazer uma “anamnese” do conceito de autonomia, como se ele pudesse se revelar,
trazendo uma boa nova. Nem mesmo desencontrá-la, dado uma vontade errante e perversa. Uma exposição
sim, em cujo devir contemple singularidades num espaço público.

Por isso, a prática da autonomia não pode e nem deve ser auto-referente, mas referente ao contexto
do sistema educativo do qual a escola é parte constituinte, e ao contexto social, político, econômico e
cultural, no qual não apenas a escola está inserida, mas o próprio sistema de políticas educacionais. Assim, o
exercício da autonomia na escola na perspectiva da participação de seus indivíduos no processo de decisão
das políticas educacionais a serem implementadas no âmbito do sistema de ensino fazem parte de tornar um
dos objetivos de Rousseau: tornar o homem um cidadão.

4. Conclusão
A educação pela liberdade é, ao mesmo tempo, uma educação para a liberdade. Para conduzir uma
vida de homem livre é preciso superar as formas de dependência estabelecidas com os outros homens. Se a
dependência em relação às coisas não é incompatível com a liberdade, a submissão aos seres da mesma
espécie é um obstáculo que a anula.
A educação para Rousseau não é uma tarefa que se limita ao ambiente escolar, a programas ou a
instituições específicas, mas, sim, uma ação global de desenvolvimento do homem em todas as suas
necessidades. Desse modo, pensar somente na tarefa escolar, propriamente dita, especificamente àquela
inserida no Projeto Político-Pedagógico, torna-se insuficiente para educar o homem.
O Projeto Político-Pedagógico torna-se, neste sentido, um importante norteador das práticas
pedagógicas, mas não podemos reduzi-lo ao ideal de educação defendido por Rousseau. É obstante
considerá-lo como um documento legal da escola, mas, acima de tudo, como um planejamento das ações
educativas em prol da formação de homem que a escola pretende atingir.
Relacionado ao aspecto lingüístico, é construído com suas próprias características lingüísticas,
apresentando suas intenções e interesses específicos. Desse modo, pode ser claramente definido como um
gênero textual e, como gênero, possui uma função importante: informar e estabelecer uma comunicação

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

social.
É importante ressaltar que, além de ser um instrumento comunicativo e intencional de futuras
ações, deve, ou deveria, por assim dizer, tornar-se, conforme Rousseau, um documento que contemple a
formação de um ser humano livre e autônomo. Porém, esta educação não se resume somente à tarefa escolar,
mas a escola, entendida como uma instituição formadora deve, no seu alcance, proporcionar esta autonomia,
estabelecendo e clarificando que a prática desta autonomia deve estar vinculada em respeito aos demais.

Referências
BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia: uma defesa das regras do jogo. 5ª ed. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1986.

BRONCKART, Jean-Paul. Atividade de linguagem, textos e discursos: por um interacionismo sócio-


discursivo. São Paulo EDUC, 2003.

CAMBI, Franco. História da Pedagogia. São Paulo: Unesp, 1999.

COLETTI, Luciana. Sociedade e Política. Estudo sobre a natureza humana em Jean – Jacques Rousseau.
Passo Fundo: IFIBE, 2006.

CERIZARA, Beatriz. Rousseau: a educação na infância. Pensamento e ação no magistério. São Paulo:
Editora Scipione, 1990.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários á prática educativa. São Paulo: Paz e Terra,
1996.

MARCUSCHI, Luiz Antonio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONISIO, Angela Paiva.
BEZERRA, Maria Auxiliadora. MACHADO, Ana Rachel. Gêneros Textuais & Ensino. 3. ed. Rio de
Janeiro: Lucerna, 2005.

PAIVA, Wilson Alves de Paiva. Homem e cidadão na obra pedagógica de Rousseau. Cadernos de Educação
FaE/PPGE/UFPel | Pelotas [31]: 163 - 184, julho/dezembro 2008.

Projeto Político Pedagógico . Escola Estadual de Ensino Fundamental Jardim América. Vacaria, 2007.

ROUSSEAU, Jean Jacques. Emílio ou Da Educação. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

VEIGA, Ilma Passos Alencastro. FONSECA, Marília. (orgs.). As dimensões do projeto político-pedagógico:
novos desafios para a escola. 2. ed. Campinas, SP: Papirus, 2001.

VEIGA, Ilma Passos Alencastro. Projeto Político-Pedagógico da escola: uma construção coletiva. In:
VEIGA, Ilma Passos Alencastro. (org.) Projeto político-pedagógico da escola: uma construção possível. 17ª.
ed. Campinas, SP: Papirus, 1995.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

VIOLÊNCIA FAMILIAR: uma tentativa de compreensão.


BUZATO, Luiz Fernando Taques Fonseca
Bacharel em Direito pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, aluno especial do
Mestrado em Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Estadual de Ponta Grossa
(UEPG)1

BARROS, Solange Ap. Barbosa de Moraes


Doutora em Serviço Social, Professora da Universidade Estadual de Ponta Grossa e
Coordenadora do Mestrado em Ciências Sociais Aplicadas (UEPG).

RESUMO.
O objetivo deste artigo é chamar a atenção para os reflexos que a violência intrafamiliar contra
crianças e adolescentes pode acarretar na vida destes sujeitos, como a motivação para perpetuação
do ciclo da violência e ainda a inclusão no mundo da criminalidade. A apresentação da problemática
violência intrafamiliar se dará através da revisão bibliográfica visando embasar teoricamente o objeto
de estudo, bem como através dados levantados em pesquisas realizadas por diferentes teóricos. A
pesquisa realizada demonstrou que diversos estudiosos apontam á necessidade de se compreender
a relação entre subalternidade, violência e construção de identidade juvenil, uma vez que tal situação
é multiplicada quando trazida para dentro de casa, o que se denomina de violência intrafamiliar,
podendo tornar-se perpétua uma vez que os jovens tenderão a repassá-la para as gerações
seguintes com reflexos negativos na sociedade, formando um ciclo vicioso que precisa ser combatido
por todos.

1-INTRODUÇÃO.
Quando pensamos nas crianças e nos adolescente temos que ter em mente que se
tratam de seres humanos em fase de desenvolvimento de todas as suas aptidões e
capacidades e que para que possam atingir o máximo de suas potencialidades a ponto de
se tornarem adultos sociáveis e transformadores do mundo, é fundamental que tenham,
nesta fase, garantidos certos direitos considerados imprescindíveis, como o direito à saúde,
a habitação, a educação, a família, dentre outros inerentes a qualquer pessoa.
Partindo deste ponto, é fácil concluir que qualquer pessoa em fase de
desenvolvimento pessoal que sofra restrição nestes direitos terá reflexos negativos em seu
caráter. Os sentimentos de revolta social que se insurge em diversas famílias derivam das
suas condições materiais de existência, obviamente que tais condições não são
exclusivamente as determinantes da violência, mas somadas a outras podem levar a um
sentimento de ausência de pertencimento que pode desencadeá-la.
A família hoje é reconhecida como a primeira instância de socialização dos
indivíduos, independente das múltiplas configurações que possa se apresentar nos dias de
hoje, a família constitui-se como um ambiente onde se inicia o aprendizado e a construção
dos vínculos afetivos e sociais.[1]
2-METODO

Apresentador do trabalho- e-mail : trickbuzato@hotmail.com


1

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

O principal objetivo deste artigo é chamar a atenção para os reflexos que a


violência intrafamiliar contra as crianças e os adolescentes pode acarretar na vida destes
indivíduos. Para atender ao propósito de apresentar a problemática da violência intrafamiliar,
utilizamos a pesquisa teórica através da revisão bibliográfica a fim de embasar o objeto de
estudo, assim também como para conseguirmos trazer dados práticos de pesquisas já
realizadas por outros teóricos.

3-RESULTADOS E DISCUSSÕES
A pesquisa realizada indica que o mundo globalizado exige cada vez mais a
profissionalização das pessoas em diversos setores para que possam alcançar seus
empregos e assim a sua sobrevivência. Com isto, podemos concluir primeiramente que
somente conseguirá emprego e consequentemente a sua sobrevivência aquela pessoa que
tiver meios de profissionalizar-se, deixando à míngua aquelas cujas condições materiais lhe
impedem ou dificultam a profissionalização, bem como aquelas tem não tem acesso aos
serviços como escola, saúde etc.. Segundo esta lei ditada pelo mercado, quem pode
profissionalizar-se consegue os melhores empregos e sobrevive, ao contrário de quem não
tem a mesma sorte, ficando condenado ao desemprego e conseqüentemente à miséria.
Neste sentido, salienta Prates que:
Não há dúvidas de que a carência nutricional, resultado da situação de
extrema pobreza, ocasiona problemas muitas vezes irreversíveis ou no
mínimo limitadores ao processo de desenvolvimento físico e mental. Soma-
se a isto a mobilização da criança, prematuramente incluída nas ocupações
de baixa qualidade e insegurança, representando a supressão de seu
processo escolar e formativo, o que amplia a lesão ao seu desenvolvimento
físico, cultural e psicológico.[2]

Diante de tantas dificuldades materiais encontradas por estas famílias, o


sentimento de subalternidade e de marginalização, se faz tanto mais presente quanto maior
for a precariedade da situação, favorecendo sobremaneira a formação de famílias com
dificuldades de manejar suas carências sócio econômicas e culturais potencializando as
possibilidades de violência intrafamiliar.
A esta conclusão chega a pesquisadora Gomide (2009), a qual em pesquisa
acerca das possíveis variáveis que levam um jovem à criminalidade, alerta para o processo
de socialização do indivíduo, no qual segundo ela, há a conformação da identidade pessoal
diante do grupo social, e, uma vez que sua história de vida é marcada pela exploração e
condição precária, ele sofre uma série de déficits em seu desenvolvimento, influenciando

61
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

negativamente na formação de sua auto-estima, o qual é considerado pela citada autora o


fator capaz de desencadear o comportamento “ infrator”.
Outrossim, ela acrescenta que além das condições de miserabilidade em que se
encontra o adolescente, há um estreito laço (e que talvez seja ainda mais determinante)
entre a conduta “desviante” deste adolescente e a violência sofrida dentro da própria família
enquanto criança, ou seja, a violência intrafamiliar.
Neste sentido afirma Gomide que:
Em primeiro lugar, de acordo com a maioria dos autores da área, tenha ou
não predisposição biológica e baixa reatividade para aprender, os
comportamentos anti-sociais somente se desenvolvem se houver
condições propícias na família. [...] Quando as interações entre pais e filhos
são mal-adaptativas ou desajustadas os resultados poderão levar a formas
de comportamento anti-social.[3]

Complementando o entendimento de Gomide, Prates destaca a família como um


grupo de apoio importantíssimo para o desenvolvimento sadio das crianças e adolescentes,
uma vez que nesta fase tais sujeitos passam por diversas situações de insegurança e
instabilidade emocional.
Assim, não tendo a criança ou adolescente este apoio fundamental que menciona
Prates, o despertar do sentimento de fragilidade e desamparo podem tornam-se precursores
de condutas agressivas:
A criança e o adolescente por suas características próprias de instabilidade
emocional, de insegurança diante do avanço cronológico e do
desenvolvimento físico precisam de auxílio para poder vivenciar um
crescimento sadio. Quando submetidos a situações de violência, sentem-
se mais fragilizados e desamparados. Nesta hora necessitam de
instituições habilitadas a contornar dificuldades, a amenizar desgostos e
revoltas que podem repercutir negativamente em seu processo de
maturação, redundando, em alguns casos, em desequilíbrios emocionais
profundos e ensejando criminalidade. (PRATES, 2008, pág. 28).

A pesquisadora salienta ainda a importância de uma educação calcada na


interiorização dos valores morais como meio mais efetivo para o desenvolvimento da criança
e do adolescente, condenando as práticas agressivas cometidas pelas famílias.
Assim, ela cita um estudo realizado com 174 adolescentes em conflito com a lei no
qual concluiu que os meninos agressivos eram filhos de pais agressivos, com histórico de
rejeição e punitivos, em oposição aos filhos de pais que tinham um perfil voltado à educação
sem violência, cujos filhos não desenvolviam tal perfil violento.

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Outros exemplos também são encontrados em pesquisas realizadas com pais


violentos, conforme destaca Prates:
Em estudo realizado sobre a família que maltrata, detectou-se que a
maioria dos pais que são violentos sofreram agressões em sua infância e
que a presença do álcool é uma constante, chegando-se a afirmar que o
alcoolismo e a adesão às drogas representam causas diretas ao abuso
infantil. (idem,op cit.,p 29).

Portanto, podemos perceber que a formação de condutas violentas nas crianças e


nos adolescentes está intimamente relacionada com a violência intrafamiliar sofrida por eles,
acrescidas das condições sociais de miserabilidade, transformando-se num ciclo vicioso que
se perpetua no histórico familiar, gerando cada vez mais violência. Este é o silencioso grito
de socorro que nos conclama à luta.

4-CONCLUSÕES
Quando pensamos na construção da identidade juvenil e o avanço da violência, nos
reportamos a alguns pesquisadores como Larissa Silva, a qual afirma que os adolescentes
de classe proletária pelo fato de terem que ir trabalhar mais cedo para ajudar no sustento da
casa não chegam nem a concluir o ensino fundamental. Sua adolescência é mais curta
tornando-se adulto mais cedo, com grandes responsabilidades, principalmente econômicas.
Estes adolescentes, não recebem quase nenhuma atenção e estímulos sobre os problemas
próprios da adolescência, passando despercebido aos olhos de muitos pais, tornando-se
carentes de afeto e atenção.[4]
As preocupações que incidem sobre o adolescente são de caráter imediato e
prático, de luta pela sobrevivência. Nesta caminhada de responsabilidades que são
transferidas para ele, muitas vezes não estando preparados, os deixam confusos e ao
mesmo tempo frustrados. Este amadurecimento precoce estimula uma série de fatores,
como fumar, beber, iniciar a vida sexual mais cedo, dentre outras características assumidas
por muitos adultos, tendendo a desenvolver sentimentos relacionados ao rebaixamento da
auto-estima, fator este definido pelos diversos autores estudados como precursor da
violência. (idem, op cit., p24)
REFERÊNCIAS
[1]-BRANT DE CARVALHO, Maria do Carmo. A priorização da família na agenda da
política social. In: KALOUSTIAN, S.M.(org.). Família Brasileira: a base de tudo. São
Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNICEF, 1998 p.93-96.
[2]-PRATES, Flávio Cruz. Adolescente infrator. 1ª Ed. (ano 2001), 7ª tir. Curitiba: Juruá, 2008pg.23.
[3]GOMIDE, Paula Inex Cunha. Menor infrator: A caminho de um novo tempo. 2ª Ed. (ano 1998), 9ª
reimpr. Curitiba: Juruá, 2009.p.39
[4}SILVA,Larissa.A importância dos vínculos familiares no processo de reinserção dos
adolescentes atendidos pelo PEMSE no município de Ponta Grossa-Pr,ao convívio Familiar
monografia de conclusão do curso de serviço social.Uepg,2009

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

A FERROVIA NO JORNAL O “ESTADO” DE 1903

Natana Alvina Botezini¹*; Lucinéia Inês Weber 2; Maria Catarina Chitolina Zanini (orientadora)3
1
Universidade Federal de Santa Maria(UFSM)
2
Universidade Federal de Santa Maria(UFSM)
3
Universidade Federal de Santa Maria(UFSM)

1. Introdução
A proposta aqui apresentada faz parte do projeto de pesquisa denominado “Ferroviários em Cena:
etnicidade, trabalho e memórias operárias em Santa Maria-RS”, coordenado pela Profa. Maria Catarina
C.Zanini (CCSH-UFSM), ainda em execução e na fase de pesquisa documental no Arquivo Histórico de
Santa Maria e órgãos vinculados à Ferrovia na cidade.
O foco principal deste projeto de pesquisa está no estudo das relações étnicas no interior do universo
de trabalho ferroviário, de 1885, quando da criação da Rede Ferroviária, até os dias atuais. Pretende-se, por
meio desta perspectiva, contribuir para melhor conhecer as relações sociais locais e suas dinâmicas históricas
passadas e contemporâneas.
Este trabalho está centrado na pesquisa e análise das diferentes representações veiculadas
publicamente acerca da temática no jornal O Estado, no ano de 1903. A coleta de dados apresentados em tal
jornal, e sua posterior análise, mostram informações muito importantes, as quais trazem grande contribuição
para o projeto como um todo.

2. Método
O projeto se encontra em andamento, sendo que na fase atual a pesquisa está centrada nas análises de
material encontrado tanto no Arquivo Histórico de Santa Maria, no Museu Treze de Maio (antigo Clube de
trabalhadores ferroviários negros) e na Cooperativa dos Empregados da Viação Férrea. Concluída esta fase,
partir-se-á para a fase onde serão ouvidas as “memórias” dos antigos trabalhadores da ferrovia.
Entendemos que a perspectiva de uma etnografia em arquivos é importante, pois nos remete a toda
uma série de estruturas de significado presentes na vigência do mundo do trabalho ferroviário na cidade.
Além da etnografia em arquivos (vide Castro, 2008), será realizada posteriormente a pesquisa
etnográfica nos espaços públicos da cidade, eventos, nas famílias de antigos ferroviários, para desta forma,
observar e analisar como se consolidava este “universo dos ferroviários de Santa Maria” e como ainda
mantém um forte poder de identificação e em que medida os critérios étnicos promoviam clivagens (ou não).

3. Resultados e Discussão
O projeto, neste momento apresenta uma quantidade significativa de material coletado, o qual foi
digitalizado e estará disponível para acesso de outros pesquisadores também interessados na temática.
Tomando que o jornal O Estado de 1903 apresentou 403 notícias acerca da temática “ferrovia”, o
exercício de análise do banco de dados tornou perceptível que as notícias referem-se constantemente à cerca
de dez categorias, como por exemplo, tomando a Estação da Estrada de Ferro por ponto de referência,
apresentando as linhas do trem (cidades por onde o mesmo fazia seu caminho), trazendo os horários das
viagens, entre outros.
A tabela abaixo mostra as dez mais frequentes situações onde é apresentada a temática e a quantificação
das notícias que foram apresentadas referentes à cada situação no decorrer do ano de 1903 pelo jornal O
Estado.

*
Autor Correspondente: natanabotezini@gmail.com
64
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Tab.:1 Dez mais frequentes situações onde é apresentada a temática ferrovia

Situações mais frequentes onde a temática Quantidade de notícias


“ferrovia” é apresentada apresentadas relativas a cada situação

Tomando a Estação da Estrada de Ferro como ponto 111


de referência
Cidades por onde o trem fazia seu caminho e preço 63
de passagens
Horários de trem 51
Avisos da diretoria da Estrada de Ferro 29
Figuras ilustres que viajaram e/ou foram recebidas 18
na gare da estação
Acidentes, mortes, crimes próximos da (ou na) 8
Estação
Construção do Hospital de Caridade 7
Inauguração de novas linhas da Estrada de Ferro 7
Acidentes no decorrer das viagens 5
Relatos de viagem 5
Outras (Excursões; Viagens de dirigentes da 99
ferrovia; Baixa dos preços dos fretes da Estrada de
Ferro, etc.)

A categoria “outras” compreende várias situações que aparecem sem grande frequência, algumas sendo
presentes apenas uma vez em todo o ano de 1903.

4. Conclusão
A Estação Ferroviária pelo que se observou nas páginas do jornal O Estado no ano de 1903, era um
espaço privilegiado de trocas, de sociabilidade e também de circulação de pessoas, de recursos financeiros, de
prestígios e de preocupações.
Observando-se os casos onde figuras ilustres fazem suas viagens utilizando o transporte ferroviário,
percebe-se que, a ferrovia se torna símbolo de status social. Além disso, a sensação de “segurança” de que o
trem estaria em determinados horários na Estação e levaria seus passageiros para determinado local ou então,
que levaria ou traria suas encomendas, modifica muitos pontos da vida dos indivíduos direta ou indiretamente
envolvidos.
Na fase onde a pesquisa se encontra já se pode observar o quanto a Ferrovia e seus mundos (do
trabalho, de sociabilidade, de mercado, entre outros) representaram para a história da cidade de Santa Maria e
de seus habitantes.

Referências
CASTRO, C. Pesquisando em arquivos. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.
FLÔRES, J. R. A. Profissão e experiências sociais entre trabalhadores da Viação Férrea do Rio Grande do
Sul em Santa Maria (1898-1957). 2005. 325 f. Tese (Doutorado em História) - Curso de História,
Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo. 2005.
FLÔRES, J. R. A. Fragmentos da história ferroviária brasileira e rio-grandense: fontes documentais,
principais ferrovias, Viação Férrea do Rio Grande do Sul (VFRGS). Santa Maria, a “Cidade Ferroviária”.
Santa Maria: Pallotti, 2007.
FLÔRES, J. R. A. Os trabalhadores da V.F.R.G.S.: profissão, mutualismo, cooperativismo. Santa Maria.
Santa Maria: Edusfm, 2008.

Agradecimentos
Agradecemos às instituições de apoio à pesquisa (CNPQ, FAPERGS, FIPE) que através do apoio
financeiro deram condições para a realização de tal projeto.
65
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Agradecemos também aos atendentes do Arquivo Histórico de Santa Maria, do Museu Treze de Maio
e da Cooperativa dos Empregados da Viação Férrea pela cooperação e ajuda, sem as quais a presente
pesquisa não seria possível. A todos nossos sinceros agradecimentos.

66
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

AS REPRESENTAÇÃOS DA ECONOMIA SOLIDÁRIA: VALORES ECONÔMICOS EM


OPOSIÇÃO

Ivan Penteado Dourado*1


1
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

1. Introdução
A economia solidária ao longo dos últimos anos vem ganhando destaque nos estudos acadêmicos.
Grande parte dos estudos produzidos no campo das Ciências Sociais sobre o tema advém de estudos
sociológicos. Após a leitura de diversos trabalhos produzidos, diferentes dúvidas surgiram, mas uma em
especial permaneceu sem resposta: Como os sujeitos inseridos na prática dita solidária dão sentido a ela?
Essa inquietação me conduziu a buscar respostas através de uma abordagem antropológica sobre o tema.
O tema deste trabalho são as representações acerca das noções e das práticas que são identificadas
como “economia solidária”. Procuro analisar os valores conferidos à economia solidária em suas diferentes
formas de expressão, que serão analisadas sob três formas distintas: as construções conceituais, os estudos
acadêmicos, tais como teses e artigos e, por fim, as práticas de trabalho. Analisar as diferentes formas de dar
sentido ao mesmo conceito nos permitirá compor um entendimento sobre o que é economia solidária para
seus agentes.
Segundo os autores que tratam o tema, tais como Paul Singer (2002) [1] Luis Inácio Gaiger (2004)
[2] e França Filho e Laville (2004) [3], o reconhecimento da existência da economia solidária como
fenômeno social é recente no Brasil. Os empreendimentos alternativos ganharam força somente a partir dos
anos de 19902, em consequência do agravamento do desemprego, resultante da abertura do mercado interno
às exportações. Já o conceito de economia solidária surge no Brasil apenas em 1996, sendo utilizado pela
primeira vez por Paul Singer3, no intuito de identificar os empreendimentos autogeridos, democráticos e
solidários existentes e classificá-los por um único nome. (Singer, 2002)
Não existe consenso sobre o significado da expressão “economia solidária”. Diversos autores
engajados na difusão dessa proposta travam debates teóricos em torno das diferentes interpretações. Porém,
Paul Singer (2002), Luis Inácio Gaiger (2004) e França Filho e Laville (2004) apresentam como traço
comum, a tentativa de resgatar os princípios cooperativistas formulados no início da Revolução industrial
pelos chamados Socialistas Utópicos4. Essa proposta inicial buscou a criação de cooperativas, geridas pelos
próprios trabalhadores, como forma de luta contra as precárias condições de trabalho e o desemprego em
massa existente na época. Essas ações deram origem, no início do século XIX, ao movimento Internacional
do Cooperativismo5.
Além dos trabalhos com caráter mais engajado, diversos trabalhos sobre o tema da economia
solidária já foram produzidos no campo acadêmico das Ciências Sociais no Brasil. Em sua maioria, eles
objetivaram estudar essa temática enquanto objeto empírico. Buscarei analisar esses tipos de trabalhos com
objetivo de identificar os elementos do debate sobre o tema no campo acadêmico.
A leitura dos diferentes autores que buscam refletir sobre os conceitos de economia solidária,
juntamente com as produções do campo acadêmico das Ciências Sociais nos ajudará a construir o contorno
deste objeto de pesquisa em sua dimensão conceitual. Nessas duas frentes de pesquisa utilizaremos o método
etnográfico, utilizando como técnica de pesquisa a análise documental das obras, livros e artigos sobre
economia solidária, tratados como informantes que se expressam na forma escrita.
Em outra frente de investigação, objetivamos revelar os sentidos conferidos pelos atores inseridos
em experiências concretas de trabalho, que são identificados ou se identificam com a economia solidária.
Propõe-se, assim, um estudo etnográfico que está sendo desenvolvido em duas cooperativas6 que habitam um
mesmo prédio no centro de Porto Alegre, a COOPERCOSTURA - Cooperativa de Trabalho em Costura e a
COOPUNIS - Cooperativa dos Universitários Solidários.

* (e-mail: Ivan.dourado@acad.pucrs.br).
2
Antes do surgimento do conceito da Economia Solidária em 1996, esses empreendimentos eram
considerados pertencentes à economia informal.
3
Atualmente, Singer é o responsável pela Secretaria Nacional de Economia Solidária.
4
Robert Owen, Fourier e Saint-Simon.
5
Movimento Internacional do Cooperativismo compreende os seguidores dos princípios de Robert Owen, as
chamadas sociedades cooperativas ou também “aldeias cooperativas”. Também baseados nas concepções
de Fourier e Saint-Simon. (SINGER, 2002).
6
Tanto a COOPERCOSTURA quanto a COOPERUNIS são nomes criados para resguardar a privacidade
dos grupos estudados.
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

No trabalho de campo, buscarei identificar os elementos culturais e ideológicos presentes na prática,


e desta forma, compreender como os atores das cooperativas conferem sentido às suas ações. Para a pesquisa
no interior das cooperativas, utilizaremos o método etnográfico, com a utilização de entrevistas semi-
estruturadas, histórias de vidas e observação participante.

2. Método
A divisão em três frentes de pesquisa nos permite compreender distintas fontes de dados, que nos
informam sobre as diferentes dimensões existentes. Essas dimensões serão entendidas como diferentes níveis
de representação. Segundo Magnani (1986) [4] representação é o resultado de uma imagem mental dos
atores, “(...) capaz de, uma particular combinatória – sintática e semântica – que junta esses pedaços e
constrói uma dimensão capaz de conferir sabor e autenticidade a esses depoimentos.” (MAGNANI, 1986).
Busco inicialmente compreender como é apresentada a economia solidária enquanto conceito. Para
isso objetivo mapear os principais significados atribuídos por diferentes autores. Os autores escolhidos são
Singer (2004), Gainger (2004) e Laville (2004), eles irão compor nossa primeira frente de investigação.
Os autores escolhidos para compor essa dimensão conceitual possuem como estratégia comum a
construção de seus conceitos através da oposição. Seja uma oposição aos valores considerados capitalistas,
seja a oposição de conceitos afins, tais como economia familiar, terceiro setor, economia informal, economia
popular, entre outros.
Com o objetivo de pensar esta estratégia de construção conceitual, é produtiva a referencia ao estudo
de Louis Dumont (2000) [5]. Esse autor nos permite propor um entendimento relacionado à noção “economia
solidária” em termos simbólicos. Buscaremos pensar “economia solidária” como um conjunto de valores
pensados em diferentes níveis de representação. Se pensarmos que por trás da formulação conceitual que
pretende os idealizadores da “economia solidária”, o termo “solidária” carregaria uma tentativa de inserir um
valor moral nessa definição. Seguindo esse raciocínio, é possível discutir essa noção em termos valorativos.
Isso nos permitiria apontar que a origem do próprio conceito “economia solidária” reflete uma tentativa de
diferenciação em relação ao conceito econômico tradicional. Isso nos permite pensar essas construções como
ideologia nos termos de Dumont. Reuniremos esses dados em uma categoria chamada de “especialistas
engajados”.
Além dos trabalhos com caráter mais engajado, diversos trabalhos já foram produzidos no campo
acadêmico das Ciências Sociais no Brasil. Em sua maioria objetivaram estudar “economia solidária”
enquanto objeto empírico. Nossa segunda frente de investigação incluirá esses debates sobre o tema
“economia solidária” produzidos no campo das Ciências Sociais, inserindo novas questões no plano
conceitual. Chamaremos essa categoria de “acadêmicos”. No presente trabalho, essas duas primeiras frentes
de pesquisa nos informam sobre o nível de representação: o dizem sobre economia solidária.
Em nossa terceira frente de investigação, objetivamos revelar os sentidos conferidos pelos atores
inseridos em experiências de trabalho. Propõe-se assim, um estudo etnográfico que ocorrerá em duas
cooperativas que habitam um mesmo prédio, a COOPERCOSTURA Cooperativa de trabalho em costura e a
COOPUNIS Cooperativa dos Universitários Solidários. A análise dos dados da nossa terceira frente de
pesquisa será apresentada com a utilização dos conceitos de Roberto DaMatta (1985) [6].
Os conceitos de “indivíduo” e “pessoa” de DaMatta (1985) serão de importância crucial, pois
identificam de onde partem os discursos e como são construídas as lógicas discursivas sociais permeadas por
questões valorativas. Esses conceitos nos remetem, portanto, a uma dimensão de classe. Essa dimensão é
muito importante para pensar a dimensão da prática da economia solidária na realidade brasileira, permeada
pelo fenômeno da exclusão e da desigualdade social. Chamaremos essa categoria de “práticas
cooperativas”. Essa nossa terceira frente de investigação, nos informa sobre a representação de: como
fazem economia solidária.
Buscaremos conduzir o presente trabalho, mapeando os diferentes fragmentos de representação, para
posteriormente hierarquizá-los e distingi-los, buscando assim identificar como é pensada Economia
Solidária. Será a busca pelos núcleos de questões presentes em cada esfera, que pensamos ser possível
identificar os elementos culturais e ideológicos, responsáveis por articular e combinar essa diversidade de
representações. Problematizar os princípios constituintes dessa noção chamada “economia solidária”,
perceber como esses elementos são arranjados na construção conceitual e prática e quais os valores surgem
no cotidiano do trabalho cooperativo é a contribuição antropológica a que este trabalho se propõe.

3. Resultados e Discussão
O presente trabalho encontra-se em processo de elaboração, porém é possível apontar alguns
resultados no que diz respeito a nossa primeira frente de pesquisa, que compreende o estudo sistemático de
três autores conceituais, que formam nossa categoria “especialistas engajados”.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Na categoria “especialistas engajados” é possível perceber que muitos valores utilizados pelos autores
coexistem nas três propostas conceituais, tais como: autogestão, autonomia, solidariedade, igualdade,
democracia, liberdade. Porém, o que os diferencia na leitura dos autores é a capacidade que esses valores
possuem de se confrontarem ou se inserirem na realidade, seja ela revolucionária (Singer), plural (Laville) ou
em processo de construção (Gaiger).
Quando comparamos as propostas conceituais, é possível revelar o que Dumont (2000) chamou de
“elementos implícitos da ideologia”. Ao revelarmos os valores que dão sentido às propostas de economia
solidária, é possível afirmar a centralidade da discussão da categoria “economia” nas propostas conceituais
desses autores. Essas propostas apontam para construções ideológicas comuns, existentes na ordenação e
hierarquização de alguns valores presentes nessa dimensão de representação, em relação ao que entendem
por “economia” e por “solidária”.
Mesmo os autores propondo concepções que se inserem de formas diversas na realidade social, a
centralidade na discussão do papel da “economia” é um dado extremamente revelador nas três propostas
conceituais de economia solidária.
Segundo aponta Dumont (2000), a economia é resultado de uma construção social, e para entender
em que ela consiste e buscar a sua essência, é necessário procurá-la “na relação entre o pensamento
econômico e a ideologia global, ou seja, no lugar do econômico na configuração ideológica geral” (Dumont,
2000: 38).
Assim, quando os três autores constroem seus conceitos de economia solidária, mesmo que
apresentem tentativas de inclusão ou articulação das dimensões moral e política, a economia permanece
ainda como uma categoria descolada do tecido social. Dumont (2000) apresenta que o valor principal da
ideologia moderna é o indivíduo.
Não é difícil perceber por trás das palavras “liberdade” e “igualdade” o substrato, a
valorização do indivíduo. O mesmo procedimento ocorre na maior parte do tempo:
somente os predicados são expressos, Não os sujeitos. Conseguimos pôr em
evidência este último, no caso presente, isolando o indivíduo como valor (...)
(DUMONT, 2000 p. 32).

No plano conceitual, é possível perceber, nas propostas de Singer, Gaiger e Laville, a busca pela
construção de novas práticas econômicas, orientadas por valores, mas que independente da sua capacidade
de superar o modelo econômico vigente, mantêm o indivíduo como valor principal.
Esse indivíduo não é mais concebido como individualista e egoísta, seguindo a concepção do homo-
economicus de Adam Smith (1896)7. Na atual proposta da economia solidária, existiria uma concepção de
“indivíduo solidário”. Ou seja, os valores “liberdade” e “igualdade” permanecem, mas agora somados a
valores que fazem referência à solidariedade.
(...) a emergência de uma “representação coletiva” no sentido de uma relação ou
de um conjunto de relações. Quer essas relações apareçam freqüentemente, quer
esclareçam outras relações ou representações, constituem, segundo todas as
aparências, uma manifestação particular – que pode ser inicial para nós – de um
fenômeno verdadeiramente ideológico. (DUMONT, 2000 p. 31)

4. Conclusão
Essa questão do “indivíduo”, elemento comum nas propostas conceituais do “especialistas engajados”
constitui exatamente nosso ponto de reflexão para pensar a realidade brasileira. Assim, essa primeira
dimensão de representação nos permite acessar as construções conceituais, captar os valores inseridos em
três propostas conceituais, que servirão de parâmetro para enxergar as práticas cooperativas. Além disso, nos
permite perceber que existe uma concepção de “indivíduo” comum nas propostas conceituais, e esse dado
constituirá um dos principais elementos para a construção das análises da dimensão prática no que diz
respeito ás práticas cooperativas.

Referências

[1] SINGER, Paul. Desenvolvimento Capitalista e Desenvolvimento Solidário. Estudos Avançados. São
Paulo, n.18. 2004.

7
Segundo Adam Smith (1896) o conceito de Homo-econômicos apresenta a definição de homem
naturalmente propenso à barganha, um ser egoísta e racional.
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

[2] GAIGER, Luiz Inácio. A economia solidária no Brasil e o sentido das novas formas de produção não
capitalista. CAPAYA Revista Venezoelana de Economia Social. No 8, Ano 8, Venezuela, 2004.
[3] FRANÇA FILHO, Gerauto Carvalho de e Laville, Jean-Louis. A Economia solidária: uma abordagem
internacional. Porto Alegre, Editora da UFRGS, 2004.
[4] MAGNANI, José Guilherme Cantor. Discursos de representação ou como os baloma de Kiriwana
podem reencarnar-se nas atuais pesquisas. In. CARDOSO, Ruth (Org.) A Aventura Antropológica Teoria
e Pesquisa. Paz e Terra. São Paulo, 1986.
[5] DUMONT, Louis. Homo Aequalis: gênese e plenitude da ideologia econômica. São Paulo. EDUSC,
2000.
[6] DA MATTA, Roberto. A casa e a rua: espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil. São Paulo,
Brasiliense, 1985.

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AS REPRESENTAÇÕES SOBRE OS NOVOS MIGRANTES BRASILEIROS RUMO A


EUROPA: GÊNERO, ETNICIDADE E PRECONCEITO

Kim Knoche¹*; Gláucia de Oliveira Assis²


¹ Universidade do Estado de Santa Catarina
²Universidade do Estado de Santa Catarina

1. Introdução
A presente pesquisa “As representações sobre os novos migrantes brasileiros rumo a Europa:
gênero, etnicidade e preconceito” tem por objetivo analisar a dinâmica das novas migrações internacionais
(dando atenção especial ao caso dos novos migrantes brasileiros na Europa ) a partir das imagens e
representações construídas sobre os migrantes contemporâneos na mídia nacional e internacional e como
essas imagens na mídia nacional e internacional, tendo como objetivo analisar como as questões relativas à
migração são abordadas na imprensa e em que medida essas imagens reforçam ou não o processo de
criminalização das migrações, o qual tem se intensificado principalmente após os atentados de 11 de
Setembro de 2001 nos EUA. Em função de novas tecnologias e novas dinâmicas culturais, políticas e
econômicas, ocorre uma intensificação da fluidez de mercadorias, informações e pessoas de para
teoricamente, qualquer parte do mundo. Assim, é forte a argumentação dos que defendem que há um
enfraquecimentos das fronteiras. Por outro lado, teóricos como Helio Povoa Neto (2005) defendem que na
verdade esse fluxos populacionais estão extremamente cerceados e seletivos.
Apesar de o fluxo migratório ser mais intenso nos dias atuais do que no fim do século XIX, essas
migrações internacionais hoje são encaradas como ameaças principalmente na América do Norte e na
Europa. Para Povoa Neto (2007) e diversos autores, a criação de imagens negativas com relação aos
migrantes tem relação direta e fundamental com os meios de comunicação em massa.
A presente pesquisa utiliza este contexto para então analisar experiências dos imigrantes na Europa
e Estados Unidos, principalmente brasileiros. A pesquisa abrange em primeiro momento o caso da morte do
brasileiro Jean Charles de Menezes em Londres que suscitou discussão em relação a imigração na Europa.
Em seguida, foram analisadas as representações da mulher brasileira imigrante na Europa e como são
tratadas pela mídia de massa. Sobre a mídia, foram ainda analisados os históricas das principais fontes
jornalísticas dessas notícias, com o a BBC.

2. Método
A metodologia utilizada consistiu em revisão bibliográfica e discussão em grupo da literatura,
além de levantamento, análise e catalogação de reportagens e notícias disponíveis on-line.

3. Resultados e Discussão
Através da revisão bibliográfica, foi perceptível forte fator da negativização dos processos
migratórios, veiculados através da mídia de massa, presente através de grandes telejornais, jornais e revistas,
disseminando a imagem falsa de que esse fluxo migratório é algo novo, além de fortalecer a idéia de que a
migração é uma ameaça que deve ser combatida e legitimando o preconceito étnico, de gênero e discurso
xenófobo.
Bigo (2004) escreve sobre o fortalecimento de um discurso onde o imigrante aparece como invasor
e ameaça a segurança da sociedade. A mídia fortalece esse discurso fornecendo matérias onde se associa este
imigrante a terrorismo, criminalidade e crise do estado de bem social. Mas pouco se fala, porém que este
mesmos imigrantes são vítimas dessa criminalização em suas sociedades de acolhimento e enfrentam
conseqüências como salários cada vez mais baixos e sem ter como lutar por direitos trabalhistas. Afinal, este
processo de fragilização do migrante e sua cidadania atende aos objetivos de determinados de governos e
grupos econômicos que são favorecidos em sua busca de mão de obra barata.
Em pesquisa no website do www1.folha.uol.com.br, ou Folha Online, procurando por palavras
chaves como brasileiros, brasileiras, imigrantes, Europa, Espanha, Portugal, barrados, deportação, etc.
encontramos reportagens de 2008 que tratassem do tema dos migrantes na Europa, em especial os brasileiros.
Como resultado obtivemos cerca de mais de 200 reportagens. As matérias foram catalogadas e divididas em
categorias como Conflito Brasil-Espanha de 2008, Jogadores de Futebol, Leis e Políticas Migratórias,
Deportações, Prostituição, Xenofobia Etc.
A partir destas reportagens, podemos constatar que as imagens e representações das mulheres
brasileiras imigrantes na imprensa européia caracterizam uma mulher exótica e sexualizada de forma a

*
Kim Knoche: kim.knoche@gmail.com
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

inferiorizá-las através da ligação das mesmas com estereótipos de trabalhadoras da indústria do sexo e
casamentos por interesse. Alguns exemplos de reportagens encontradas (as notícias podem ser encontradas
no site www.folha.uol.com.br) :
- PF prende suspeitos de levar brasileiras para prostíbulos italianos;
- Polícia italiana desmonta rede com prostitutas e travestis brasileiros;
- Procuradoria no ES denuncia quadrilha por exploração de prostituição na Europa;
- Brasileiros são presos na Itália acusados de explorar travestis;
- Prostitutas fazem promoção “pague 3, ganhe 1” na Itália.

4. Conclusão
Podemos concluir que o ano de 2008 pode ser classificado como um momento ruim em relação a
cidadania nos migrantes internacionais, que contraria o falso discurso democrático de um mundo dito
globalizado e de fácil acesso quando na verdade ressurge um certo nacionalismo.
No que tange a representação da mulher brasileira migrante, é perceptível que ao aparecerem na
mídia de massa, são associdas a questão de tráfico de mulheres, prostituição e passam a imagem de extrema
sexualização que gera desrespeito. Analisando históricamente, essa sexualização negativa da brasileira
associa-se diretamente a subordinação brasileira à Europa, preconceito étnico que acaba por fortalecer esse
discurso de ampliação das práticas de controle, vigilância e discriminação aos novos migrantes
internacionais.
Além disso, essa disseminação negativa da imagem dos imigrantes, gera um cidadão fragilizado e
incapaz de lutar por seus direitos sociais e trabalhistas e de forma preocupante, essa mesma mídia acaba por
corroborar o discurso xenófobo.
Defendemos, portanto, que se deve problematizar a atuação dos meios midiáticos para um melhor
entendimento de seus papel nos processos migratórios que ajudaria a combater desrespeitos aos direitos
humanos e liberdade dos migrantes.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Referências

BIGO, Didier. Criminalization of migrants: the side effects of the will to control the frontiers and the
sovereign illusion. University of Leicester, UK, June 2004. p.11.

POVOA NETO, H. Imigração na Europa: Desafios na Itália e nos Países da área mediterrânea. in Migrações
Internacionais: Desafios para o Século XXI – São Paulo: Memorial do Imigrante, 2007. (Série Reflexões, v.
1)

PÓVOA NETO, H. A criminalização das migrações na nova ordem internacional. In: Helion Povoa Neto;
Ademir Pacelli Ferreira. (Org.). Cruzando fronteiras disciplinares: um panorama dos estudos migratorios (no
prelo). 1 ed. Rio de Janeiro: Revan, 2005, v. , p. 297-309.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

COMO SE TORNAVA PÚBLICA A REPRESENTAÇÃO DA FERROVIA E DE


SEUS TRABALHADORES.

Rúbia Machado de Oliveira [*]; Juliana Franchi da Silva1; Maria Catarina Zanini

1. Introdução

Por meio de pesquisa documental realizaDA no Arquivo Histórico


Municipal de Santa Maria-RS, de análise documental de arquivos pessoais, o
projeto “Ferroviários em Cena- etnicidade, trabalho e memórias operárias em
Santa Maria-RS” coordenado pela Prof. Maria Catarina C. Zanini (CCSH-
UFSM) tem procurado investigar como se estabeleciam as relações étnicas e
raciais no âmbito da ferrovia em Santa Maria em seus primórdios.

2. Método
A metodologia e estratégia usada para a pesquisa consiste pesquisa
etnográfica que esta sendo realizada no Arquivo Municipal de Santa Maria RS.
Entendemos, assim como Castro (2005, s.p.), que os arquivos devem ser
compreendidos como campos povoados por “sujeitos, praticas e relações
suscetíveis a experimentações sociológicas”. Ou seja, há muitas estruturas de
significado possíveis de serem empreendidas nos documentos. Pensamos o
jornal como um produto (Schwarcz 1987, p. 15), que descortina práticas e
relações sociais específicas em suas publicações. Foi por meio desta
perspectiva que lançamos um “olhar antropológico” nos escritos do O Estado
de 1902 com relação ao mundo ferroviário.

3. Resultados e Discussão
No momento a pesquisa se encontra em andamento, na fase de coleta
de dados, na qual estão sendo selecionadas, catalogadas e analisadas notícias
e reportagens impressas em periódicos que circulavam localmente. Por meio
[*]
Acadêmica do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Bolsista
CNPQ do projeto “Ferroviários em Cena”-etnicidade, trabalho e memórias operárias em Santa Maria-RS.
1
Mestre em Integração Latino-americana (MILA), pela UFSM, bacharel em Ciências Econômicas e em
Ciências Sociais, pela UFSM, especialista em Pensamento Político Brasileiro e em História do Brasil,
pela UFSM, licenciada em Filosofia, pela UFSM. Endereço Eletrônico: juliana. franchi@ hotmail.com

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destas, pretende-se verificar como eram as representações tornadas públicas


acerca do universo ferroviário e do trabalhador da ferrovia entre o período de
1985 a 1996.
Este trabalho está centrado na pesquisa e análise das reportagens que
os jornais “O Estado 1902” e “O Diário do Interior 1919 e 1920” traziam a
público a respeito da Rede Ferroviária. Observa-se, até o momento, em que
foram analisadas cerca de 760 reportagens, é que as notícias encontradas
sobre a Ferrovia em SM – RS estão relacionadas à chegada ou saída de
autoridades e indivíduos ilustres no período, as disputas entre o comércio local
e o armazém da ferrovia, aos desmatamentos motivados pela busca pela lenha
para alimentar as máquinas ou locomotivas.
Em meados de 1919 a 1920 (Diário do Interior) começa uma grande
crise nos transportes, faltam trens para transportar a safra, os galpões estão
lotados e a produção apodrecendo; o comércio local reclama, além disso, a
viação férrea sofre as graves conseqüências de temporais e vários acidentes
no final de 1919; Percebe-se que com a crise nasce um descontentamento
geral, tanto por parte da população como por parte dos funcionários, há uma
elevação nas tarifas e a supressão de horários, há inúmeras reclamações
devido aos atrasos dos trens e para amenizar a falta de transporte a
Companhia Auxiliare aluga algumas linhas para a companhia Swift.

4. Conclusão

A Estação Ferroviária pelo que se observou nas páginas dos jornais O Diário
do Interior 1919 e 1920, e o Estado 1902, era um espaço privilegiado de trocas,
de sociabilidade e também de circulação de pessoas, de recursos financeiros,
de prestígios e de preocupações, também foi possível observar, até o
momento, é que a Estação ferroviária e todo aquele universo ferroviário eram
uma referência para a cidade . Por meio dela se situavam os sujeitos, seus
locais de comércio, suas viagens, entre tantas outras referências. Com o passar
dos anos e surgem os problemas estruturais e financeiros e a ferrovia passa a
sofrer as conseqüências da crise dos transportes.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Na fase que se encontra a pesquisa é possível observar o quanto a


Ferrovia e seu mundo do trabalho, de sociabilidade, de mercado, representou
para a história da cidade de Santa Maria e de seus habitantes.

Referências

CASTRO, CELSO. A trajetória de um arquivo histórico: reflexões a


partir da documentação do Conselho de Fiscalizção das Expedições
Artísticas Científicas do Brasil. Estudos históricosI, Rio de Janeiro, n
36, s.p.,2005. Disponível em:
WWW.cpdoc.sgz.br/revista/arq/408.pdf, acesso em julho de 2010.

FLORES, João Rodolpho Amaral. Fragmentos da história ferroviária brasileira.


Santa Maria: Edufsm, 2007.( Estudos Ferroviários)
FLÔRES, J. R. A. Profissão e experiências sociais entre trabalhadores da
Viação Férrea do Rio Grande do Sul em Santa Maria (1898-1957. São
Leopoldo: UNISINOS, 2005. Tese (Doutorado em História) Curso de História,
Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 2005.
HALBWACHS,Maurice. A memória coletiva.São Paulo: Vértice, Editora Revita
dos Tribunais,1990.
PEIRANO, Mariza. A favor da etnografia.Rio de Janeiro: Relume-Dumará,1995
ZANINI, Maria Catarina. Projeto de pesquisa "Ferroviarios em cena"-
Etinicidade, trabalho e memórias operárias em Santa Maria- RS.

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MALABARES DE FLORIANÓPOLIS

Liège Maria Martins Knoche1


Tânia Welter2

1. Introdução
O presente trabalho foi elaborado para a disciplina de Antropologia ministrada na primeira fase do
curso de Biblioteconomia – Gestão da Informação da UDESC no ano de 2009 e consiste em uma observação
etnográfica. O trabalho de pesquisa com os malabares dos semáforos de Florianópolis ocorreu durante os
meses de maio/Junho de 2009, nos dias preferencialmente ensolarados.
O objetivo era conhecer os malabares (idade, naturalidade, grau de instrução), seu trabalho, o que
apresentam nas sinaleiras, como aprenderam, desde quando trabalham como malabares, quantas horas por
dia se dedicam, quantos dias por semana trabalham, quanto ganham em média, as motivações para este
trabalho e lugares que já conheceram..
A idéia era entrevistar o maior número de pessoas possíveis para que pudesse através dos dados
obtidos determinar o perfil dos malabaristas.

2. Método
Para a observação etnográfica realizada com os malabares dos semáforos de Florianópolis/SC, foi
utilizado entrevistas e registros fotográficos. Infelizmente não consegui entrevistar mais pessoas o quanto
gostaria, pois havia dificuldade em encontrá-los, ás vezes só encontrava um, em outras nenhum. Necessário
ressaltar que nesta época os malabares estavam sendo proibidos pela prefeitura da cidade de atuarem nos
semáforos, por isso a dificuldade em achá-los.

3. Resultados e Discussão
Durante as entrevistas, todos os participantes foram sempre muito solícitos. Os malabares de
Florianópolis são em sua maioria homens, entre os nove entrevistados somente 2 eram mulheres, paulistas,
uruguaios e chilenos, com idades entre 25/30 anos, 6 com 2º grau completo, um com nível superior, maioria
casados e com filhos. Alguns possuem outro emprego, como jardineiro e participantes de show em festas e
eventos .
De acordo com estes, trabalham como malabares, estátuas vivas, palhaços em sinaleiras, em virtude
da carência de emprego. Afirmam que através da arte nos semáforos, descobriram um meio honesto de
capitalizarem-se e sustentarem-se a si e suas famílias. Além disto, consideram esta atividade interessante,
onde se sentem livres, sem patrões, além de difundirem a cultura, a arte e terem oportunidade do contato
diretos com seus expectadores podendo avaliar através das contribuições seus trabalhos, ressaltando também
o conhecimento de novas pessoas, lugares e possíveis contatos para eventos futuros. Das desvantagens, os
entrevistados colocaram como dificuldades de viverem exclusivamente do malabarismo nas sinaleiras a
pouca lucratividade e o sofrimento com a chegada da temporada de verão, quando mais pessoas (que
segundo os entrevistados “nem são artistas”) vêm atrás do “dinheiro fácil” e apresentam-se nas sinaleiras,
crescendo a concorrência e deixando uma má impressão de seus trabalhos, pois muitos xingam motoristas,
sujam a cidade e depois vão embora.
Os malabares entrevistados foram unânimes em dizer o quanto ficam chateados por serem chamados
e confundidos com “vagabundos, maloqueiros”. Sentem-se insultados, afinal alguns tem outra ocupação,
além de serem artistas de rua trabalhando, que treinam e se apresentam sob condições não muito agradáveis
como o forte sol. Mesmo assim, com todo o bom humor eles dizem serem bem recebidos pelo público na
maioria das vezes, tendo nas crianças seus melhores e verdadeiros expectadores, sendo que estas são as que
geralmente querem entregar a contribuição.
Os artistas malabares esclarecem que a contribuição é espontânea e feita através de um chapéu ou
caixinha, nunca com as mãos. O simbolismo do chapéu é importante, através dele o artista não tem contato
com o dinheiro e a pessoa fica à vontade para fazer a contribuição, tendo-se o cuidado de jamais contar o
dinheiro em público, essa seria a ética de seus trabalho.
Com alegação de atrapalharem o trânsito e não possuírem licença, a Secretaria Municipal de Meio
ambiente e Desenvolvimento Urbano (SMDU) publicou uma portaria ainda em 2009, determinando a
inspeção nos semáforos da Avenida Beira Mar Norte, UFSC e UDESC, sendo assim através da Secretaria

1
Acadêmica do curso de Biblioteconomia da Universidade do Estado de Santa Catarina UDESC. Email:
liegeknoche@gmail.com
2
Professora da Universidade do Estado de Santa Catarina
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Municipal de Urbanismo e Serviços Públicos (SUSP), a fiscalização intensificou-se apreendendo materiais


dos malabares, sendo somente através do pagamento de uma taxa a retirada dos mesmos. Sendo flagrado
uma segunda vez, o artista assinaria um termo circunstanciado (registro de crimes leves) na delegacia e se
fosse flagrado uma terceira vez, o malabarista poderia ser preso e no caso de estrangeiro, deportado. Então
alguns artistas de rua acabaram indo trabalhar em São José onde não existia esse problema, porém ganhavam
menos.
No mês de agosto do mesmo ano, vários artistas reuniram-se em protesto contra a proibição da
prefeitura de Florianópolis.

4. Conclusão
O número de malabares em Florianópolis é de aproximadamente 50 artistas. A arte do malabarismo,
além de ser um típico número de circo, iniciou-se por volta de 4.000 a.C, segundo relatos históricos,3 onde
cientistas encontram registros nas paredes de tumbas do antigo Egito através de desenhos de dançarinas
fazendo alusão de lançar objetos para o ar. Portanto, esta atividade é antiga e consiste em manipular objetos
com muita destreza, mantendo-os no ar, lançando e executando manobras.
A prática de malabarismos traz benefícios para o corpo e a mente, melhora musculatura, reflexo,
coordenação motora, concentração e desenvolve a consciência do ritmo, satisfação pessoal e aumento da
auto-estima proporcionado pela realização de uma nova manobra4. Recentes pesquisas apontam que aumenta
em até 3% o volume de 2 regiões do córtex, responsável pela visão de movimento dos objetos e a outra pela
localização espacial.
A experiência de ir à campo observar, conhecer, tentar entender o outro, fez-me questionar à mim
mesma, tendo uma visão diferente frente ao mundo, uma visão antes de estranhamento e julgamento que
foram testadas e colocadas de lado, traduzindo-se em exercício de generosidade, dando lugar ao respeito ao
outro E o mais interessante foi ver como esse trabalho acabou contagiando outras pessoas, como minha
própria família e amigos que através de meu trabalho de campo passaram a ver os malabares com “outros
olhos”.
Hoje nenhum sinal com malabares passa despercebido por mim.

3
Informação retirada do Site Artes do Circo: http://www.artesdocirco.com.br/index.php?A-Historia-do-Malabarismo-
1. Acesso em: 05 de Maio de 2009
4
Informação retirada do Site Malabares do Asfalto: http://www.overmundo.com.br/overblog/malabares-do-asfalto.
Acesso em: 05 de Maio de 2009

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MEIO AMBIENTE: O QUE RESTA NA MEMÓRIA

Juliana Portes Thiago*


Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP

1. Introdução
O presente projeto utiliza-se de uma abordagem antropológica, para analisar as histórias de vida e
trajetórias dos atores sociais envolvidos em conflitos ambientais na área de influência dos projetos da
Petrobrás que se localiza nos municípios de Caraguatatuba, São Sebastião e Ubatuba. Propôs-se para tanto, a
colher os relatos de história de vida dos moradores das comunidades locais que vivem nessa área, bem como,
de outros atores, e compará-los com os relatos obtidos na imprensa escrita regional e na localizada nos três
municípios selecionados. A questão é verificar se existem divergências nestes relatos e, caso existam, se
essas divergências podem apontar para conflitos sociais dos grupos envolvidos nessa arena, marcada pelas
mudanças ambientais decorrentes da expansão urbana.
Este projeto faz parte do Projeto Temático sobre Mudanças Climáticas Globais, com título “Expansão
Urbana e Mudanças Ambientais Globais: um estudo do Litoral de São Paulo”, conhecido também como
Projeto Clima, sob responsabilidade do Prof. Dr. Daniel Joseph Hogan, processo FAPESP n° 2008/58159-7,
a partir de um de seus componentes: “Conflitos entre Expansão Urbana e a cobertura vegetal e suas
consequências para as Mudanças Ambientais Globais: um estudo no Litoral Norte de São Paulo, Brasil”,
coordenado pela Prof.ª Drª Lúcia da Costa Ferreira.
O foco desta pesquisa está no conflito. Assumimos a definição utilizada por Georg Simmel[1], que diz
que o conflito é produtor de sociabilidade, uma vez que é a integração de aspectos negativos (a oposição de
grupos) e aspectos positivos (a integração no interior dos grupos) simultaneamente, produzindo de forma
dialética a dinâmica social.
E por que analisar essa dinâmica por meio dos relatos de histórias de vida, trajetórias ou memórias?
Essa questão não é exclusividade deste trabalho, mas tem ressoado no interior das Ciências Sociais há
muito tempo, sobretudo no âmbito da Antropologia que, uma vez centrada no estudo da alteridade, privilegia
então a etnografia como um de seus mais caros métodos de análise e coleta de dados.
O trabalho sobre histórias de vida, biografias e trajetórias, organizado pela antropóloga Suely Kofes[2]
evidencia a existência de um debate nesse sentido, mostrando a relevância da análise dos relatos pessoais
num contexto de dinâmica social. O debate existe não só entre teoria e pesquisa, mas principalmente no
interior da teoria social, como por exemplo, na aceitação e/ou na crítica do estatuto universalizável do
conceito de indivíduo como se tivesse uma relação oposicional ao conceito de sociedade. Há quem diga,
segundo Kofes (2004, p.7), que para se produzir teorias adequadas da realidade social, o primeiro passo é
“apreender pessoas como, simultaneamente, contendo o potencial para relações, sempre incorporadas em
uma matriz de relações com outros (sociality)”, argumentando que as relações sociais fazem parte da vida
humana, não são extrínsecas a ela. Também demonstra que usar a coleta, o registro e a análise de histórias de
vida, trajetórias ou biografias coloca em destaque a tensão existente não só entre indivíduo e sociedade,
como já mencionamos, mas ainda entre subjetividade e objetividade, possibilitando visualizar a presença ou
não de constrangimentos sociais, bem como o trânsito das pessoas e suas posições.
Naquilo que o trabalho pretende, admitimos a ideia de que por meio dos relatos é possível identificar
as filiações de cada pessoa, seu trânsito e posições assumidas ao longo de determinado período, e dessa
forma, conferimos ao projeto temático mais esse elemento de análise dos conflitos na região do Litoral
Norte: a coleta das histórias de vida e trajetórias, procedendo à análise dos discursos da população local e dos
da imprensa local escrita, no sentido de verificar a existência ou não de divergências nesses relatos, e se
essas apontam ou não para conflitos sociais vivenciados pelos grupos dessa arena.
Este projeto procura ainda conciliar a ideia de “memória em disputa”, utilizada por Michael Pollak,
quando propõe a existência de uma memória das minorias em oposição à memória hegemônica:
Ao privilegiar a análise dos excluídos, dos marginalizados e das minorias, a história oral ressaltou a
importância de memórias subterrâneas que, como parte integrante das culturas minoritárias e dominadas, se
[3]
opõem à „memória oficial‟.

*
Juliana Portes Thiago: porthi1@hotmail.com
[1]
SIMMEL, G. 1955. Conflict. New York: The Free Press.
[2]
KOFES, S. (org.). 2004. História de vida: biografias e trajetórias. Cadernos do IFCH. São Paulo: UNICAMP, n° 31.
[3]
POLLAK, M. 1989. Memória, Esquecimento, Silêncio. Estudos históricos. Rio de Janeiro, vol.2, n. 3, p. 4.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Pollak admite que a memória é um produto da coletividade, e acrescenta que ela é dinâmica e
potencialmente produtora de mudanças sociais, bem como o silêncio acerca de situações conflitantes.
Para ele, a memória que é uma “operação coletiva dos acontecimentos e das interpretações do
passado” [4] faz parte das tentativas de se definir ou reforçar sentimentos de pertencimento e fronteiras sociais
entre grupos de diferentes tamanhos, ou ainda para manter a coesão dos grupos, e para definir seu lugar
respectivo. Podemos notar como essa “função” da memória para Pollak se encaixa naquilo que citamos
acima quanto à definição de conflito dada por Simmel. Parece-nos, então, possível apreender a dinâmica
social, produzida ou favorecida pelos conflitos, por meio dos relatos de memória e histórias de vidas ou
trajetórias. Veena Das também diz sobre a memória que:
A community trying to claim rights over its own culture can include several different kinds of objects as
constituting culture. Thus, objects of culture may include (…) the right to institute memory in the form of the
[5]
community's history and the right to live by laws that regulate the personal life of its members.

Com esse excerto, ressaltamos a importância que a memória pode assumir na cultura de uma
comunidade, lembrando ainda da constatação feita por Eunice Durham de que:
O sucesso recente da antropologia está certamente vinculado ao fato de que, hoje, essas minorias
desprivilegiadas emergem como novos atores políticos, organizam movimentos e exigem uma participação na
[6]
vida nacional da qual estiveram secularmente excluídos.

Nesse sentido pretende-se reforçar a ideia de “memória em disputa”, sugerindo que essa emergência
das minorias é um fato bem recente, o que pode proporcionar outro tipo de tensão, disputa ou conflito, que
acontece entre iguais, entre membros de um mesmo grupo social, entre aqueles que trazem na memória a
história de marginalização da comunidade e os outros que, de fato, emergem dela.
Como ponto de convergência entre os discursos pretende-se eleger ainda problemas ambientais
marcantes na região, como sendo “eventos críticos” (DAS, 1995), para facilitar a abordagem da questão nas
entrevistas. Para Veena Das tais eventos marcam um grupo ou comunidade, de forma que estes assumem ou
procuram assumir outras dinâmicas sociais.

2. Metodologia e resultados
Devido à alteração no tema da pesquisa, apenas no mês de novembro de vigência da bolsa, os trabalhos
dessa investigação iniciaram-se de fato, com o princípio da leitura da bibliografia.
Em dezembro aconteceu uma reunião do grupo de pesquisadores, tendo em vista uma viagem a campo,
proposta para o mês de janeiro de 2010. Nessa ocasião, foram divididas e orientadas as tarefas de cada
integrante. A mim coube passar a realizar o levantamento dos jornais locais das cidades selecionadas, e
também, via internet, iniciar a pesquisa e registro de matérias que fizessem alusão a eventos críticos
relacionados a alterações ambientais, como por exemplo, desastres provocados por chuvas.
Muitos sites no país tratam de questões ambientais, contudo escolhemos priorizar sites de jornais com
sede e circulação na região estudada, julgando que uma maior acessibilidade da população local às suas
informações, sobretudo no formato impresso, auxiliaria na comparação dos discursos.
Finalmente localizamos o site http://www.guiademidia.com.br que possui informações de cada estado
do Brasil, e dentro de cada estado, informações sobre cada região. Foi quando me acerquei de uma lista de
jornais do Litoral Norte. Mas a exemplo dos sites gerais, os sites específicos de cada jornal deixam muito a
desejar, não apenas por falta de informação, mas principalmente por disponibilizarem para pesquisa apenas
pequeno acervo de edições antigas. A maioria desses jornais não tem muitos anos de existência, mas de
qualquer forma, as informações na internet ainda são de um período pequeno e recente.
Outra questão foi o viés informativo assumido pela maioria desses jornais. Na homepage deles o que
mais se vê são anúncios e classificados, fotos e vídeos de apelo ao entretenimento e ao turismo, ao comércio
local, e sobretudo ao comércio imobiliário. Pouco se pode localizar de matérias e pesquisa, seja do tema que
for. Há, sim, uma parcela de informações úteis, sobre serviços das Prefeituras, dentre outras. O jornal
Correio do Litoral, por exemplo, apesar de já ter encerrado suas atividades, ainda é localizado nas listas de
jornais ativos.
Para facilitar o trabalho de pesquisa, nas três incursões que fiz a campo procurei observar e me
informar com os moradores qual ou quais jornais circulavam mais, tinham maior aceitação, ou eram mais
facilmente localizados. Reduzi, então, a lista a dois nomes: Imprensa Livre e Expressão Caiçara.

[4]
POLLAK, M. 1989. Memória, Esquecimento, Silêncio. Estudos históricos. Rio de Janeiro, vol.2, n. 3, p. 9.
[5]
DAS, V. 1995. Critical events: an anthropological perspective on Contemporary India. Oxford University Press, p. 3.
[6]
CARDOSO, R. C. L. (org.). 1986. A aventura antropológica: teoria e pesquisa. São Paulo: Paz e Terra, p. 18.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

O jornal Imprensa Livre tem sua sede na cidade de São Sebastião. Em seu site
http://www.imprensalivre.com, disponibiliza matérias a partir apenas de 2002. Já o Expressão Caiçara tem
sede em Caraguatatuba. Apesar de aparecer em sua capa que este é o ano XXVII do jornal, suas edições
disponibilizadas em arquivo tipo PDF no site http://www.jornalexpressaocaicara.com.br são apenas de 2009
até agora.
O método de buscas via internet, durante esse período, se deu por meio do uso de palavras que
pudessem localizar textos relevantes para este projeto, bem como para o projeto temático, por exemplo:
ambiente, calamidade, tragédia, acidente, conflito, dentre outras. Contudo essas palavras nos levaram a
notícias de toda espécie, desde violência doméstica a problemas internacionais. Outras palavras mais
específicas como chuva, enchente, deslizamento, desmatamento, por exemplo, propiciaram uma maior
proximidade com o foco do projeto, mas ainda assim traziam um rol muito grande de matérias e informações
aleatórias e díspares, desvinculadas da proposta da pesquisa.
Dessa forma o projeto, quanto à obtenção dos relatos oficiais sobre eventos críticos por meio da
imprensa local escrita via internet ficou extremamente restrito, nos colocando como solução evidente a
necessidade de conhecer e acessar tais informações diretamente nas sedes desses jornais, o que ainda não foi
possível. Quanto ao registro de relatos, no mês de janeiro, conforme mencionado, foi agendada e realizada
visita à região, entre os dias 24 a 29. Participar dessa viagem foi de grande importância, não apenas devido
aos contatos obtidos ali, ou à possibilidade de uma maior afinidade entre os membros do grupo e suas
pesquisas mas, sobretudo, por propiciar uma maior clareza do escopo da minha própria pesquisa. Após essa
primeira viagem procedi aos ajustes no foco da pesquisa, percebendo várias tensões que qualquer
antropólogo pode bem descrever quando da aproximação com o campo, por exemplo, quanto à dificuldade
de expor suas intenções acadêmicas sem macular ou influenciar os interlocutores, e vice-versa, ou ainda a
dificuldade de acesso às pessoas, especialmente alguns atores de influência legitimada na arena. Pessoas que,
por meio das posições que ocupam naquele lugar, passam a agir e falar com muito mais cuidado, escolhendo
claramente cada atitude ou conversa. Não só o fato de que a confiança entre pesquisador e interlocutor é uma
relação que demanda tempo para se estabelecer, e eu tenho ainda pouca proximidade com este campo, mas
também foi se tornando visível a influência de questões políticas sobre esse elo. Por mais que minha
pesquisa não tenha claramente esse viés mais político ou engajado, é evidente que por ela estar vinculada a
um grupo e a um projeto maior, que tem, sim, também essas linhas de trabalho, bem como o fato de estar ali
representando uma instituição de ensino que tem reconhecida influência na sociedade, são fatores que de
alguma forma contribuem e/ou prejudicam a aproximação. Outra questão que acredito influenciar nessa parte
de coleta de dados é o fato de eu estar ainda cursando a graduação. Isso quer dizer que, não apenas tive
dificuldade de ir mais vezes a campo, por precisar comparecer às aulas, mas sobretudo, até mesmo para
continuar mantendo a bolsa de pesquisa, meu desempenho acadêmico não poderia ser desconsiderado.
Levando em conta essa dificuldade, a primeira entrevista que pude efetivamente registrar foi realizada em
Campinas mesmo, tendo em vista que o entrevistado semanalmente está naquela cidade.
Trata-se do chefe do Escritório Regional do IBAMA do Litoral Norte, Sr. Leonardo Teixeira. Quero
ressaltar de seu relato as noções que ele nos passou quanto ao papel intermediário ocupado por um órgão
como o IBAMA nas arenas conflituosas em torno de questões ambientais. Disse-nos que em qualquer
situação o IBAMA está „entre‟ grupos com interesses distintos, mesmo que admita que não há uma realidade
maniqueísta de posições fixas. Disse-nos que todos transitam de um lado para o outro nas arenas. A cada
novo licenciamento ambiental, a cada nova etapa de um empreendimento, os atores se reposicionam. E o
IBAMA, mesmo sendo sempre o braço ativo do Governo, ora é visto como “mocinho”, ora como “bandido”.
Quando perguntei a ele sua opinião sobre a informação ou o envolvimento da sociedade civil nas questões
ambientais, me respondeu que quanto mais informada é a sociedade, mais ela se pronuncia de forma
decisiva, influenciando nas resoluções. Observou que no Litoral Norte há uma participação maior da
sociedade que a média de outras regiões que já trabalhou, isso por conta da grande quantidade de ONG‟s ali.
Outro entrevistado foi o Sr. Paulo André Cunha Ribeiro, Secretário Adjunto da Secretaria Municipal
de Meio Ambiente, Agricultura e Pesca. O que chama muito a atenção para seu relato de vida, além de seu
envolvimento precoce com questões políticas, já que desde o ensino médio participou de manifestações do
movimento estudantil, é a aparente satisfação em participar dos debates da cidade e em contribuir em várias
instâncias. Nascido em Poços de Caldas/MG, o Sr. Paulo adotou Caraguatatuba desde cedo como sua cidade,
e a partir daí tem um envolvimento político muito amplo. Seu discurso é tão visivelmente apaixonado, que na
primeira vez que o encontrei acreditei tratar-se de um legítimo filho da terra, caiçara provavelmente.
Foi então que uma realidade já comentada em conversas informais me saltou aos olhos: grande parte
da população que vive nessas cidades do litoral não são nascidas lá. E o secretário era mais um exemplo
disso. E essa é uma realidade que tem evoluído a passos largos. O Sr. Paulo relatou como isso tem sido uma
questão complicadíssima para a administração municipal, já que a velocidade dos investimentos em infra-

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

estrutura pública não é a mesma do crescimento da cidade, o que tem gerado e acirrado vários problemas
sociais. Lembrou de questões como as grandes enchentes na região. Em 1967, por exemplo, ele conta que a
cidade tinha cerca de 15 mil habitantes e houve uma enchente na qual mil pessoas ficaram desaparecidas. Se
hoje, quando a cidade conta com quase 100 mil habitantes, acontecesse um período de chuva semelhante
àquele, o problema seria na proporção da população atual. Esse crescimento populacional refletiu-se até
mesmo neste projeto, uma vez que das poucas entrevistas que realizei até agora, até mesmo contando com as
conversas informais, apenas uma pessoa é de fato nascida em Caraguatatuba.
Como, por exemplo, o Sr. Roberto Rodrigues, natural de São Paulo/SP, que possui uma banca de
jornais e revistas na rodoviária da cidade. Mesmo recusando-se a gravar a conversa, ou a dar maiores
detalhes pessoais, numa demonstração de ser alguém muito articulado e atento, foi falando sobre a cidade,
sobre aquilo que entende serem questões ambientais. Disse morar na ali há 15 anos, e que tem visto
mudanças na cidade, comparando-a as capitais do Rio de Janeiro e São Paulo, devido ao aumento da
violência. Criticou o governo pela decisão de implantar na região uma penitenciária e uma casa de
recuperação de menores. Disse que tudo isso era reflexo do falado “crescimento desordenado”, onde as
populações que se mudam para o litoral atrás de empregos nos empreendimentos em expansão, trazem
também suas famílias, e que por falta de recursos, vão morar na periferia da cidade, nas encostas dos morros.
É interessante notar que, a exemplo dessas entrevistas que menciono aqui, todas as pessoas que são de
fora da região não enxergam a si próprios como parte de problema, parte desse inchaço da cidade.
Finalmente, menciono a conversa que tive com a Sra. Vanessa dos Santos Silva. Nascida em
Caraguatatuba, cresceu, casou-se e cria seus filhos ali. Disse não se lembrar de nenhum acontecimento
marcante na cidade, ambientalmente falando, mas disse que imagina que existam. Já ouviu falar sobre os
empreendimentos na região, mas quanto a isso se manifestou apenas acerca da já mencionada “preferência”
dessas empresas por trabalhadores de fora da cidade. Ela própria trabalha na faxina de uma empresa
terceirizada que presta serviços para a Prefeitura. Recordo nessa hora, que o Sr. Paulo André mencionou em
sua entrevista que essa “preferência” se deve à baixa qualificação da mão-de-obra local. O que sobra para
eles são os menores cargos e salários, isso quando não é um subemprego. Disse que a situação está mudando
lentamente nesse sentido, por que antigamente os jovens tinham que deixar a cidade para estudar, e
acabavam constituindo famílias fora e não voltando mais. Hoje já existem cursos superiores no litoral, o que
possibilita que o jovem continue na cidade, e consiga elevar sua qualificação profissional.

4. Conclusão
Vários fatores contribuíram para o adiamento da obtenção de resultados mais substanciais: a mudança
de projeto no meio do período de bolsa, a dificuldade natural da aproximação com o campo, a continuidade
do curso de graduação, o adiamento das entrevistas já marcadas, são alguns exemplos.
Dentro de tudo o que foi realizado, salientamos como parte da conclusão que a busca, via internet, dos
dados e matérias que ilustrassem o discurso oficial a respeito de eventos críticos, a partir da imprensa escrita
local foi pouco frutífera, nos lançando à decisão de procurar pessoalmente as sedes dos jornais em questão e
tentar acesso a seus arquivos físicos. Ou ainda, nos faz pensar se não é o caso que localizar tais matérias em
outros locais, como biblioteca ou arquivo municipais, dada a pouca idade desses instrumentos midiáticos no
litoral. Essa iniciativa ainda não teve tempo hábil de ser concretizada, mesmo já possuindo informações de
contatos nesses jornais.
Mas por outro lado, as informações obtidas na pesquisa apontam para aquilo que supostamente seja o
oposto do senso comum quanto ao que se pensa sobre o uso e obtenção de informação, envolvimento e
discurso nas arenas decisórias, de alcance ambiental.
Poderíamos supor que a população das cidades do Litoral Norte, que se caracteriza por uma região
com amplos recursos naturais e pela existência de parques de preservação, seria uma população desconectada
das informações e da realidade de sua própria cidade, em oposição com uma imprensa detentora de
informação e, talvez, atuante de alguma forma.
O que vimos até aqui não foi isso. Ao contrário, há, sim, uma população que, bem ou mal, sabe do que
tem acontecido em sua cidade e em alguns casos, até tem se posicionado no debate, com intenção de
promover algum tipo de mudança. Ou ainda, uma população que sofre os embates do crescimento econômico
acelerado na região, e que passa a depender dele, mas mesmo assim tem uma postura de alerta aos problemas
que o desenvolvimento pode causar.
Do outro lado, vimos uma imprensa que não tem utilizado de seus recursos e influência na direção da
informação da população. Opostamente, parece fazer o jogo de quem quer esconder as questões sócio-
ambientais debaixo da capa do turismo e do desenvolvimento.
Ainda não temos como fazer uma melhor avaliação disso, se é mesmo uma estratégia política de
minimizar aquilo que, até os mais leigos já perceberam.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

“OS FERROVIÁRIOS EM CENA”:ETNICIDADE,TRABALHO E MEMÓRIAS


OPERÁRIAS EM SANTA MARIA-RS .

Trícia Andrade Cardoso1*;Maria Catarina Zanini 2;


1
Universidade Federal de Santa Maria(UFSM)
2
Universidade Federal de Santa Maria(UFSM)

1. Introdução
No presente trabalho objetiva-se apresentar resultados parciais que estão sendo desenvolvidos no
Projeto “Ferroviários em Cena”: Etnicidade, trabalho e operárias em Santa Maria –RS. Sabendo-se da
importância da ferrovia para a cidade o projeto propõe –se analisar as relações interétnicas no interior do
mundo do trabalho ferroviário.Para isso, está sendo realizada pesquisa documental e etnográfica em
Arquivos e também entrevistas buscando as narrativas de indivíduos que trabalharam na ferrovia, ou de
seus familiares. No momento, o projeto esta na fase de analise da documentação no Arquivo Histórico. Em
especial, o projeto visa estudar o ingresso de negros de imigrantes italianos e seus descendentes no trabalho
Ferroviário.

2. Método

O projeto, neste momento de sua execução, está dando ênfase para pesquisa documental que esta se
realizando no Arquivo Histórico Municipal de Santa Maria, no Museu Treze de Maio e na Cooperativa dos
Trabalhadores da VFRGS. No Arquivo Histórico Municipal, por meio dos jornais, busca-se compreender
como estes tornavam públicos elementos acerca do mundo dos trabalhadores ferroviários. Vale ressaltar que
a pesquisa antropológica em arquivos é algo ainda esta em construção no interior da disciplina acadêmica
(vide Castro, 2005). Sendo que as reflexões sobre os registros se transformam em fontes essências de
pesquisa. Privilegiamos tal fase no início de execução do projeto “Ferroviários em cena” para entender que,
naqueles vários documentos presentes na historiografia regional e local acerca dos ferroviários, teríamos
melhores condições de entender e analisar as estruturas de significado circulantes em torno do universo
daqueles trabalhadores, de seu cotidiano e de como circulavam no contexto urbano de Santa Maria.
Em um momento posterior, realizaremos somente entrevistas que visam compreender como o grupo
percebia o seu significado em nível local. Baseados em Halbwachs (1990), pretende-se compreender como a
memória individual dos ferroviários, considerando que esta existe sempre a partir de uma memória coletiva,
posto que todas as lembranças são constituídas no interior de um grupo.

3. Resultados e Discussão
Até o momento foram lidos 5 jornais distintos: O Mercantil (1889);O Estado (1902); O
Estado(1903);O Estado(1904);O Estado(1905) .Esta em andamento a leitura dos Jornais A Razão (1940); A
Razão (1950) e A Razão (1960) Primeiramente lê-se cada exemplar desses jornais, quando se encontra
noticias sobre ferroviários é feita a digitalização desse material, logo após as reportagens são arquivadas e
classificadas as que abordam como o mundo ferroviário era retratado, sendo que elas falam, especialmente
do que acontece na Estação ferroviária enquanto um espaço público e de circulação de pessoas comuns e
prioritariamente, de indivíduos com algum prestígio e status social (políticos, comerciantes, entre outros).
Em todos os periódicos, observam-se anúncios comerciais que a ferrovia é citada como ponto de referência.
A ferrovia é um cenário central dos acontecimentos da cidade. Por ela, as pessoas que chegam na cidade,
hospedam-se nos hotéis próximos a esta, desenvolvem alguma atividade temporária e depois partem. Além
disso, o trabalho ferroviário é narrado também como algo que envolve “perigos” (acidentes de trabalho),
sendo noticiados os acidentados, revelando o prestigio que tal classe trabalhadora detinha.
Outras reportagens importantes destacar e são a dos Jornais O Estado (1904) e O Estado (1905). As
reportagens tratam de assunto como: arrendamento da estrada de ferro, avisos para a população; regresso de
pessoas pela estrada de ferro, questão importante isolamento das estradas de ferro, lotação para festas
religiosas, a recepção na gare, coisas perigosas transportadas pela estrada de ferro que devem antes chamar
atenção do publico, trem expresso para determinadas localidades,acidentes,aumento das estradas de
ferro,leilão de mercadorias, nomeados para trabalhar na estrada de ferro,edificação de casa para funcionários
da viação,na seção livre noticia,sobre obras das estradas de ferro, necrologia de funcionário da estrada de
ferro.

*
Autor Correspondente: tricia.cardoso@hotmail.com.br
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Essas reportagens devem ser destacas, pois sua ênfase está na chegada de pessoas, na construção, e
também sobre a construção de outras estradas que estão interligadas a cidade de Santa Maria. Sendo que
sobre os trabalhadores ferroviários, esses aparecem quando estão assumindo um cargo, ou com quando
sofrem algum acidente, a importância não esta sobre o operário e sim o enfoque esta na chegada da ferrovia.
A população em geral aparece quando vai a gare receber pessoas ou quando figuras importantes chegam e
passam por Santa Maria. Ao comparar essas reportagens com as dos Jornais A Razão a partir de 1940 e
possível observar que nesses jornais, o enfoque esta mais na questão do operário e da cooperativa, enquanto
naqueles do início do século, observa-se mais ênfase no espaço da Ferrovia em si.

4. Conclusão
Observa-se, por meio dos documentos, até o momento analisados, o quando o mundo ferroviário foi
importante para a construção urbana de Santa Maria. Sendo que nos jornais, tal movimentação tornava-se
clara. A urbanização e o desenvolvimento da cidade e de seus serviços estavam cruzando com o
desenvolvimento da ferrovia e das possibilidades de troca e de circulação de pessoas, recursos, informações,
mercadorias que tal meio de transporte e de “vida” proporcionava. A ferrovia trazia modernidade e
civilidade, transformando hábitos e costumes locais.

Referências
CASTRO, Celso. A trajetória de um arquivo histórico: reflexões a partir da documentação do Conselho de
fiscalização das expedições Artísticas e Cientificas no Brasil. IN Estudos históricos. Rio de janeiro. n.36,
julho-dezembro de 2005, p.33-42.
________, Celso. Pesquisando em Arquivos. Rio de Janeiro. Zahar, 2008.
________,Celso e CUNHA, Olívia Maria Gomes da. Quando o campo é o arquivo.In Estudos Históricos.Rio
de Janeiro, n.36, julho-dezembro de 2005,p.3-5
FLÔRES, João Rodolpho Amaral . FRAGMENTOS DA HISTÓRIA FERROVIÁRIA BRASILEIRA E
RIO-GRANDENSE. 1ª. ed. Santa Maria/RS: Pallotti, 2007. v. 01. 320 p.
________, João Rodolpho Amaral . OS TRABALHADORES DA V.F.R.G.S. - profissão, mutualismo,
cooperativismo. 1ª. ed. Santa Maria/RS: Pallotti, 2008. v. 01. 456 p.
________, João Rodolpho Amaral . O PRAGMATISMO POLÍTICO DOS FERROVIÁRIOS SUL-RIO-
GRANDENSES. Santa Maria: Editora da UFSM, 2009. v. 01. 376 p
HALBWACHS, Maurice, A memória coletiva. São Paulo: Vértice , Editora Revista dos tribunais,
1990.

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A CIDADE E SEUS LUGARES: ESPAÇOS DE EXPERIÊNCIAS VIVIDAS

Maicon Mariano*
Mestrando em História pela UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CATARINA - UDESC

1. Introdução
As cidades e seus lugares, ou não lugares, ganham características, formas, sentidos, significados
pelas diversas relações socioculturais que seus habitantes cotidianamente praticam nas dimensões de seus
espaços. As cidades aonde a orientação de seu crescimento vai sendo norteada pelos discursos urbanos nas
operações estruturais, funcionais, de trabalho, prestação de serviços, transporte, lazer, ela também é cenário
de embates, lutas, conquistas, morte e vida, pelo direito à cidade, onde a gama de significados existentes é
inexistentes nos mapas e nos discursos oficiais.
A história em uma cidade é campo aberto de disputas, reivindicada por distintos grupos debatidos em
diferentes meios, e o que se disputa não é o passado e sim o presente, este encontra-se em movimento,
reinvestindo o passado , pois é no presente que se desenrola novos desafios e problemas onde o processo
histórico apresenta novas abordagens e perspectivas. Assim, a História do tempo presente tem trazido a voz
daqueles que aparecem as margens do processo: o carpinteiro, a empregada doméstica, o pequeno
comerciante, o jardineiro, o aluno, o aposentado, a professora, independente da geração ou gênero, são os
atores sociais que vivem o processo de fazer-se na e com a cidade.
O processo de migração e a acelerada ocupação urbana, que ocorreu, e ocorre, a partir da metade do
século XX nas cidades grandes, como também de porte médio, notadamente no sul e sudeste do Brasil
evidenciam a formação de novas redes urbana. Desta forma, a região oeste do Paraná tem se tornado nas
últimas décadas uma área de intensa atração populacional. De tal modo, que dos 50 municípios que forma a
região Oeste do Paraná boa parte é formada de migrantes naturais de outros estados da federação, bem como
de países vizinhos como o Paraguai. Com uma população que ultrapassa um milhão de habitantes,
praticamente metade deste contingente1 está concentrado nas cidades de Cascavel e Foz do Iguaçu.
No que se refere à cidade de Cascavel possui - segundo a contagem de 2007 do IBGE - 285.784 mil
habitantes, sendo que um considerável parcela da população é reflexo da chegada nas últimas décadas de
milhares de trabalhadores. Seu rápido crescimento contribui para projeção de uma cidade pólo em
desenvolvimento nos diferentes segmentos – Industriais, Comerciais, Educação especializada – o que na
romântica propaganda oficial a cidade é classificada como “Capital do Oeste”, terra das oportunidades.
Sobre o viver rural, ganha destaque o Agro-Negócio, evidenciado nas feiras tecnológicas como o Show
Rural2 e a Coopavel3.
O surgimento em Cascavel, nas décadas de 1970 e 1980, dos bairros populares Guarujá (1976),
Parque Verde (1978) e Jardim Floresta (1981), identificados como BNH expressam para o presente não
apenas um marco temporal de recentes migrações. Suas edificações uniformes emergidas nas extremidades
da cidade constituem no presente a essências de territórios distintos e de relações complexas, que diferem
nos múltiplos sentidos de viver na e pela cidade.
O presente texto aborda as lutas que se dão na trajetória dos diferentes sujeitos sociais, o modo como
atribuem os significados de suas experiências cotidianas, na maneira como se relacionam e vivenciam as
mudanças ocorridas na cidade e em seus bairros. Debatendo sobre processos sociais e culturais de produção
da memória, considerando os valores e significados, que permitem compreender a cidade de Cascavel. Pois o
processo histórico do movimento do migrar, morar, deslocar-se, entre outros, não se trata do passado, e sim
do presente, do presente em movimento.
Esses acontecimentos estão ligados ao interesse de pesquisa que busca apreender sobre as
experiências de migração e a tensa ocupação dos espaços, na perspectiva de evidenciar práticas coletivas e
individuais de reivindicações das diferentes necessidades e a precisão de reunir esses sentidos em seu mundo
habitual, nos conspícuos modos de viver o urbano.

*
maicon.mariano@yahoo.com.br
1
Dados da Associação dos Municípios do Oeste do Paraná (AMOP).
2
O show rural Coopavel é promovido há 20 anos pela Cooperativa Agroindustrial de Cascavel (Coopavel) 72 hectares são
destinados a amostras de experimentos tecnológicos para os diferentes segmentos do setor rural. É um evento que atrai um grande
número de visitantes. Em que a cidade tenta passar a imagem de pólo tecnológico do Agronegócio.
3
A Expovel é um evento promovido pela sociedade Rural do Oeste do Paraná há 28 anos, e visa os setores do Agronegócio,
indústria e comércio. Este evento é mais uma feira de vendas dos setor pecuarista e do comércio. Contudo o caráter de promoção do
evento tem como pano de fundo deslegitimar o processo de luta do Movimento Social dos Trabalhadores Sem terra na sua luta
história pela reforma agrária. Pois os conflitos entre a Sociedade Rural e o MST não são nada harmoniosos nos últimos 20 anos.
85
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

2. Método

A experiência da constituição dos conjuntos habitacionais, nas décadas de 1970 e 1980, não está
isolada de uma época expressiva e simbólica do surgimento de monumentos na cidade, construções que
expressam arquitetura modernista, como: a Catedral Nossa Senhora Aparecida, a extensão da Avenida Brasil
- principal via que cruza a cidade -, o estádio municipal Arnaldo Bussato, o centro esportivo Ciro Nardi, o
aeroporto municipal, o Hotel Copas Verde - primeira torre acima de 10 andares. Obras que não carregam
apenas o nome dos “pioneiros”, mas que são referências das etapas para progresso, obras estampadas no
Museu e Centro de cultura Gilberto Mayer.
O próprio conceito de pioneirismo emblema de muitas obras, é carregado de um sentido colonizador,
reflete no desdobramento frente à mata nativa, em que a construção do “pioneiro” é um agente heróico, para
o progresso que derrotou primitivismo. Embora, nesse estudo, o pioneiro apareça nas realidades múltiplas
construída pelos trabalhadores e, conseqüentemente, questiona qualquer discurso que tente negá-los da
participação na construção da cidade. Como nos lembra seu Antonio, natural do Rio Grande do Sul, migrante
da década de 1960: “Eu não sou um pioneiro da cidade lá dos famosos, mais me considero pioneiro de
Cascavel por que ajudei do começo a construir essa cidade” 4. Esse fragmento da narrativa é um bom
exemplo para mostrar como através da memória, a história da cidade é reivindicada. São modos percebidos
nas mudanças de práticas e na formação dos sujeitos político. Políticos em suas táticas nas diferentes
estratégias que nas ações vividas pelo conjunto, política no sentido ontológico.
Assim, compreendo que para pesquisar Cascavel é necessário conhecer os significados que seus
moradores atribuem as suas experiências cotidianas. No modo como se relacionam e vivenciam as mudanças
na cidade e nos bairros. A procura pelo diálogo com os sujeitos sociais vai de encontro como processo em
que a memória se produz e transforma-se em experiência social vivida, expressando valores e significados,
em que permitem compreender a cidade sob o olhar dos sujeitos históricos que a constrói, refutando as
imagens distorcidas que ocultam as diversas cidades existentes em Cascavel.
Os temas atrelados a memória tem como perspectiva evidenciar práticas coletivas e individuais de
reivindicações das diferentes necessidades, habitar, degustar, tocar, namorar e a precisão de reunir esses
sentidos em seu mundo habitual. Estes sujeitos sociais constroem suas expectativas e visões sobre a cidade e
como elas podem se expressar em tais experiências. Deste modo é possível recorrer ao historiador E.P.
Thompson (1981), através da sua discussão em A Miséria da Teoria:
E quanto à “experiência” fomos levados a reexaminar todos esses sistemas denso,
complexos e elaborados pelos quais a vida familiar e social é estruturada e a consciência
social encontra realização e expressão... parentesco, costumes, as regras visíveis e
invisíveis da regulação social, hegemonia e deferência, forma simbólicas de dominação e
de resistência, fé religiosa e impulsos milenaristas, maneiras, leis, instituições e ideologias
- tudo o que, em sua totalidade, compreende a “genética” de todo o processo histórico,
sistemas que se reúnem todos, num certo ponto, na experiência humana comum, que
exerce ela própria sua pressão sobre o conjunto.
Paralelo ao trabalho com fontes orais, a análise em outros modelos de documentos, como os jornais,
ofícios, atas de associações de moradores, plano diretor, decretos estará presente. Não estabeleço uma
hierarquia de valores em relação a documentos, ao mesmo tempo entendo que as fontes orais, há algum
tempo, tem se mostrado inovadora quando dialoga e conta com a contribuição dos sujeitos que fazem a
história do vivo e dos vivos. As fontes orais são privilégios do historiador do tempo presente: pesquiso a
questão das habitações populares, usufruindo de informação por aqueles que a habitam.
Bem como, não se trata de resgatar a memória coletiva, pois como diz Ulpiano Meneses: “nem há
como considerar que sua substancia é redutível a um pacote de recordações, já previsto e acabado. Ao invés,
ela é um processo permanente de construção e reconstrução” (MENESES, 1992). Em nosso trabalho
dialogamos com homens e mulheres que se constituem socialmente como sujeitos históricos, ajustando suas
realidades ao mesmo tempo em que são transformados por elas.

3.Resultado e Discussão

A proposta de trabalho procura refletir sobre as relações entre História, Cidade e Memória em
Cascavel, propondo representação crítica do passado, sendo as memórias fontes legítimas históricas, além de
expressões de fenômeno plural. Nesses primeiros meses de atividade no programa de pós-graduação da
UDESC, é possível apontar como resultado as rotas que se abrem no debate com a historiografia sobre a
questão dos espaços de convivência construídos e elaborados no decorrer do tempo por sujeitos individuais e

4
Depoimento de Antonio Aldair Rodrigues da Rosa, 57 anos, gravado em 20 de Março de 2008.
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coletivos que a eles se relacionam direta e indiretamente. Espaços formados por um conjunto de valores
socialmente convividos e partilham pelos moradores da cidade de Cascavel.
Os levantamentos das questões para o projeto surgiram durante período de pesquisa anteriormente
realizada sobre o bairro Jardim Floresta da cidade de Cascavel5, observado desde o período de sua
constituição no início da década de 1980, a produção da pesquisa proporcionou através das experiências dos
moradores dimensões do vivido e compartilhado. De tal modo, que posso refletir sobre os conflitos que se
dão na luta pela e na cidade. Ao passo que trouxeram a visualização de mais questões do que respostas. No
modo em que a trama das relações não são definidas pura e simplesmente no âmbito do visível. E para se
entender como as trajetórias e experiências estão presentes nos modos de viver o urbano.
Analisar o processo de relações de sociabilidade na ação de migrar e morar em é um novo
desafio para o desenvolvimento neste trabalho. Portanto, pude perceber durante o trabalho sobre o bairro
Jardim Floresta a ausência de estudos que possibilitam maior investigação e conhecimento sobre a
cidade de Cascavel. Ao passo que há a produção e circulação de documentos e obras cujo objetivo é a
legitimação da história oficial onde ressalta, sobremaneira, o papel das famílias pioneiras vencedoras em
uma terra de oportunidades
Pretendo apresentar os espaços da cidade como também sendo de encontros, programados ou não,
onde expressão tensões e conflitos cultivados pela sociabilidade. No dia a dia da cidade o deslocamento
casa-trabalho, centro-bairro, estabelece a circulação entre os espaços da cidade que aproxima e separa os
sujeitos, que cruzam fronteiras carregadas de tensões e conflitos gerados pela confluência de múltiplos
territórios, dos lugares e não lugares.

4. Conclusão

Nesses primeiros meses no mestrado estou longe de uma conclusão palpável, o que está cada vez
mais consolidado é a relação do projeto de pesquisa com a área de concentração do programa de pós-
graduação do mestrado em História pela UDESC. São vários os motivos para sustentar tal proposição. Entre
alguns fatores está o modo pelo qual não encerramos definitivamente o objeto ao período, bem verdade que
temos um recorte temporal a analisar. Toda via o presente também é considerado como passado, mas esse
passado é um passado inacabado. Desse modo pensando as relações de migração, ocupação e sociabilidades
em Cascavel, não apenas pelo que passou, mas o que seria necessário reter e de que modo podemos agir.
Assim, a História do Tempo Presente permite uma nova situação de aproximação com as últimas
décadas, relação direta com a pesquisa, não espero que um dado movimento esteja definitivamente encerrado
para construir interpretações sobre ele. Se corrermos o risco de cometer precipitações analíticas, cabe
assegura que não somos “especialistas” no sentido de fornecer respostas precisas a dados acontecimentos da
vida social. Surge um panorama de nova abordagem e questionamentos onde a complexidade crescente do
real no mundo contemporâneo nos desafia a interpretações, quando também somos sujeitos nesse mundo.
Mas desde já o empenho em analisar as experiências dos diversos sujeitos social, que compõe o
conjunto de moradores dos bairros Guarujá, Parque Verde, Jardim Floresta, vai de encontro a períodos antes
mesmo de suas ocupações. De onde as famílias vieram? Como vivenciam as transformações da cidade, como
convivem com as imagens projetadas à periferia? Que relações de pertencimento mantêm com o bairro e a
cidade? O esforço não é dado para responder categoricamente as questões levantam, elas é apenas o ponto de
partida no presente, para produção de uma versão sobre processos históricos da cidade. É uma pesquisa que
busca nas experiências dos trabalhadores suas representações individuais e sociais, a constituição de espaços
públicos e outras sociabilidades como uma dinâmica social vivida.

5.REFERÊNCIAS
ARANTES, Antonio Augusto. Paisagens Paulistanas: transformações do espaço público. Campinas:
Editora da Unicamp, 2000.
ASSOCIAÇÃO DOS MUNICÍPIOS DO OESTE PARANAENSE. Disponível em: www.amop.org.br.
Acesso em 15 de Abril de 2010.
DIAS, Caio Smolarek; FEIBER, Fúlvio Natério; DIAS, Solange Irene Smolarek. Cascavel: um pedaço no
tempo. A história do planejamento urbano. Cascavel: Sintagma Editores, 2005.
FENELON, Dea Ribeiro. Cidades: Pesquisa em História. Programa de Estudos Pós Graduados em História
da PUC / SP, coletânea. São Paulo: EDUC, 2000.

5
MARIANO, Maicon. Memória e cidade: A cidade de cascavel a partir das narrativas dos moradores do bairro jardim
floresta Cascavel 1980 – 2008. Marechal Candido Rondon, UNIOESTE. 2008 (Trabalho de Conclusão de Curso).
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

LAVERDI, Robson. Tempos diversos, vidas entrelaçadas: Trajetórias itinerantes de trabalhadores no


extremo-oeste do Paraná.(1970-200). Niterói UFF, Tese de doutorado 2003.
MENESES, Upiano T. Bezerra de. A História, cativa da memória? Para um mapeamento da memória do
campo das ciências sociais. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros. São Paulo: IEB, nº 34, 1992.
AGNÈS CHAUVEAU E PHILIPPE TÉTART (ORG) Questões para a história do presente
PIAIA, Wander. A ocupação do oeste paranaense e a formação de Cascavel: As singularidade de uma
cidade comum. 2004. Tese (doutorado em história). UFF.
PORTELLI, Alessandro. O que faz a história Oral diferente. Projeto História. São Paulo, PUC/SP, nº 15,
1997
SCHREINER, Davi Félix. Cotidiano Trabalho pode: A formação da cultura do trabalho no extremo
oeste do Paraná. 2 º ed. Cascavel: GAT, 1999.
THOMPSON, E.P. Miséria da Teoria. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.

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A DISSIDÊNCIA ENTRE OS MINISTROS SUL-RIOGRANDENSES, MANUEL LUIS


OSÓRIO E GASPAR SILVEIRA MARTINS, DURANTE O GABINETE MINISTERIAL
SINIMBU (1878), E AS CONSEQUÊNCIAS POLÍTICAS PARTIDÁRIAS NA PROVÍNCIA DE
SÃO PEDRO DO RIO GRANDE DO SUL

Priscila Roatt de Oliveira1*, André Átila Fertig2


Universidade Federal de Santa Maria¹
Universidade Federal de Santa Maria ²

1- Introdução
Este trabalho está inserido em um projeto de âmbito maior, denominado “A Província de São Pedro do
Rio Grande do Sul e o Império do Brasil: História Política e Historiografia”, que busca analisar os discursos
e as ações dos políticos sul-riograndenses que ocuparam cargos na Assembléia Provincial e Geral, no
Senado e em Ministérios entre 1869 e 1889. Nesse resumo será enfocado sobre a dissidência entre dois
políticos do Partido Liberal riograndense, que foram ministros do Gabinete Sinimbu (1878), que gerou
conseqüências e divisões políticas e partidárias na Província do Rio Grande do Sul.
Os políticos em questão são Manuel Luis Osório, o Marquês do Herval (1808-1879) e Gaspar Silveira
Martins (1870-1901). Os dois políticos eram sul-riograndenses. Osório foi um militar influente que atuou
nos conflitos platinos, considerado herói da Guerra do Paraguai. Após sua trajetória nos conflitos externos
brasileiros dedicou-se a política, ajudou na aproximação e união de duas correntes liberais riograndenses
antagônicas (o Partido Liberal Histórico e a Liga Progressista) e foi eleito senador em 1877. Gaspar Silveira
Martins foi magistrado e um rico estancieiro, deputado provincial, geral e senador entre 1881 e 1889.

2- Método
Nossa pesquisa está baseada na análise de fontes históricas como os Anais do Senado do Império, das
Assembléias Geral e Provincial, bem como a documentação do ministério do gabinete de Sinimbu (1878)
como, por exemplo, relatórios e avisos ministeriais. Além disso, estamos realizando uma revisão
historiografia das principais obras que discorrem sobre política no segundo reinado, a organização partidária
riograndense e a relevância e a visibilidade da província de São Pedro do Rio Grande do Sul no período final
do império.
Para esse trabalho especificamente utilizamos a biografia de Osório, intitulada “História do General
Osório”, escrita pelo o filho desse militar, Fernando Osório.

3- Resultados e Discussão
Através dessa pesquisa objetivamos analisar as trajetórias e o pensamento político de dois parlamentares
rio-grandenses. Parece no primeiro momento desnecessário discorrer sobre uma briga entre dois políticos
membros da elite, mas quando analisamos as fontes históricas e pesquisamos a historiografia sobre o
assunto, percebemos como a dissidência entre Osório e Silveira Martins gerou divisões partidárias na
província do Continente de São Pedro do Rio Grande do Sul. Pretendo abordar brevemente neste resumo
parte de nossas pesquisas e discussões.
O contexto histórico da nossa análise é ascensão do gabinete ministerial de Cansanção Sinimbu em
1878. A importância desse evento reside que pela primeira vez em dez anos, D. Pedro II escolhe um
representante do Partido Liberal e não do Partido Conservador para coordenar os ministérios brasileiros.
Entre os ministros escolhidos por Sinimbu para formar seu gabinete, estavam os dois políticos
riograndenses, Osório (ministério da Guerra) e Silveira Martins (ministério da Fazenda).
Esse evento tornou-se importante, porque demonstrou o crescimento do poder político dessa província
no final do Império, quando políticos riograndenses passaram ocupar cargos públicos importantes. A
nomeação dos dois riograndenses não foi aleatória, essa província possuía uma tradição liberal forte, sendo
que Assembléia Provincial era quase toda formada por liberais.

*Autor correspondente: priscilaroatt@gmail.com

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A principal plataforma do ministério de 1878 era realizar uma reforma eleitoral e findar o senado
vitalício.
Silveira Martins defendia o direito de voto dos não-católicos e estrangeiros, mas o gabinete não quis
adotar essa medida, pois temia a reação da Igreja Católica, que era religião oficial do Império. Silveira
Martins, contrariado por não ter suas posições aceitas pelo o gabinete Sinimbu, pediu demissão do
Ministério da Fazenda.
Osório foi sempre apoiador e padrinho político de Silveira Martins, mas não acompanhou o afilhado na
saída do ministério. Existia entre eles uma divergência de interesses. Silveira Martins possuía contatos com
imigrantes alemães protestantes e italianos do norte da província, que podiam formar um importante
eleitorado para ele. Já Osório era mais ligado ao sul da província, que era formada por estancieiros, e achava
que defender o direito de voto dos não-católicos poderia gerar conflitos com a Igreja e o senado, como os
estrangeiros eram minoria no país, não era de vital importância aprovar essa medida.
A divergência de posições gerou um afastamento dos dois políticos e um cisma no Partido Liberal
riograndense. A maioria da Assembléia Provincial aliou-se com Silveira Martins, passando a hostilizar o
gabinete Sinimbu e Osório. Enquanto isso, Silveira Martins discursava na Câmara contra o projeto de
Reforma eleitoral.
Na Assembléia provincial, o advogado Fernando Osório defendia o pai das acusações de Silveira
Martins. Mesmo com a morte de Osório em 1879, as disputas entre as correntes que apoiavam Silveira
Martins e aquelas que estavam do lado do Marquês do Herval continuaram na província.
Fernando Osório, defensor do pai, não conseguiu ganhar mais nenhuma eleição na Assembléia
Provincial e quando conseguiu vencer, sua candidatura foi anulada por uma comissão de verificação de
poderes, composta por deputados gasparistas. Mesmo recebendo apoio de seguidores do seu pai e membros
do Partido Conservador, ele foi impedido de tomar posse por um grupo armados de apoiadores de Silveira
Martins.
Em 1883, Fernando Osório funda o Jornal “A Discussão”, que realiza uma oposição ao Silveira Martins.
Neste período, Silveira Martins passou a ter mais notoriedade pública, sendo um político e senador influente
no final do império. Crítico do Exército e de Deodoro Fonseca (presidente da província riograndense em
1883 e um antigo inimigo político), passa ser hostilizado por defensores desta instituição.
Fernando Osório e os seguidores de Osório aderiram ao Partido Republicano quando o exército e
Deodoro da Fonseca derrubaram a monarquia, apoiando o golpe militar. Enquanto Silveira Martins,
nomeado presidente de província, era destituído do cargo e obrigado a partir para o exílio.
Com a República, os seguidores e a família de Osório seriam importantes membros do Partido
Republicano riograndense, enquanto coube a Silveira Martins e seus partidários fazer a oposição através do
Partido Federalista.

4- Conclusão
A análise dessas fontes históricas nós permite analisar as práticas políticas e as ideologias dominantes do
Império, principalmente na província riograndense. Percebemos a ascensão do Partido Liberal no cenário
provincial e da Corte após 1878, mas também identificamos que nem todas as lideranças do citado partido
pensavam da mesma maneira.
O conflito entre Osório e Silveira Martins representou não só uma briga de facções elitista, mas também
um conflito de interesses entre estas duas ilustres lideranças, gerando tensões no interior do Partido Liberal
riograndense.
A necessidade de estudar a história política do Rio Grande do Sul nas últimas décadas do Império reside
no fato que esta é pouco pesquisada. Por esta razão, o projeto busca analisar e reconstruir a atuação e
trajetória de algumas lideranças políticas.

Referências

DORATIOTO, Francisco. General Osório. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

FRANCO, Sérgio da Costa. 170 Anos do Parlamento Gaúcho: Crônicas Históricas, 1835-1889- Império. Porto
Alegre: CORAG, 2004.

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PICCOLO, Helga. A Política Rio-grandense no II Império (1868-1882). Porto Alegre: Instituto de Filosofia e
Ciências Humanas da UFRGS, 1974.

OSÓRIO, Fernando Luís Osório. História do General Osório. Rio de Janeiro: Fundação Trompowsky,2008.

PORTO ALEGRE, Aquiles. Homens Ilustres do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: ERUS, [19-?].

SENADO FEDERAL. O Parlamento e a Evolução Nacional 1871-1889. Brasília, 1979.

VARGAS, Jonas Moreira. Círculo dos Grandes: Os mediadores Políticos e as Famílias de Elite no Rio Grande
do Sul (1868-1889. IN. MILDER, Saul Eduardo Seiguer (org.) Recortes da História Brasileira. Porto Alegre:
Martins Livreiro Editor, 2008.

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A FORMAÇÃO DE UM HISTORIADOR ISLÂMICO NA IDADE MÉDIA E SUA


RELAÇÃO COM O PODER: IBN KHALDUN (1332-1406)

Elaine Cristina Senko1


Programa de Pós-Graduação em História pela Universidade Federal do Paraná

1. Introdução
Quando o historiador se propõe a estudar períodos na história marcados por grandes conflitos, sua
tarefa demonstra-se complexa desde o início, a começar pela seleção das fontes. Devemos levar em
consideração a existência de discursos diferentes de ambos os lados do embate, sem que possamos deduzir a
priori, seja qual for o critério utilizado, qual seria aquele mais próximo de uma verdade histórica. É nesse
sentido que o trabalho do historiador demonstra-se de grande dificuldade, exigindo um olhar constantemente
crítico sobre os documentos em estudo e o contexto do qual eles fazem parte.
A Idade Média foi um período histórico marcado por vários conflitos entre cristãos e muçulmanos. Na
base da questão estava a alteridade religiosa, fator ideológico. As Cruzadas representam talvez o mais
dramático embate entre esses dois grupos, e isso fica claro tanto nas Cruzadas do Oriente (do século XI até o
XIII) quanto no movimento de Reconquista cristã na Península Ibérica (do século VIII até o XV). Mas ainda
que existissem tais períodos mais sérios de combate, devemos lembrar que não houve uma guerra incessante.
Na maior parte do tempo houve paz, e cristãos e muçulmanos relacionavam-se no cotidiano. O nosso tema de
estudo pertence à esse contexto histórico do Mediterrâneo, no qual uma sociedade híbrida foi formada pelos
constantes intercâmbios culturais entre cristãos, muçulmanos e também judeus. Entretanto, muito do que
conhecemos hoje sobre esse período adveio essencialmente da vertente histórica cristã e ocidental, parcial,
portanto.
Conhecer melhor, de uma forma mais abrangente e profunda esse momento histórico incorre dar
oportunidade também às vozes silenciadas, ao muçulmano, por exemplo, e à inserção dele na sociedade de
seu tempo. Nosso trabalho concerne ao estudo de um destacado erudito muçulmano, oriundo de Túnis, o
historiador ’Abd al-Rahman Ibn Khaldun (1332-1406). Em nossa Iniciação Científica em História (2007-
2009) procuramos pesquisar a vida e os feitos desse importante personagem por meio de sua obra
autobiográfica. Nesse momento do mestrado nossa problemática pauta-se na busca pelos motivos que
levaram esse homem, enquanto historiador, a ter uma relação muito próxima ao poder islâmico do século
XIV. Nosso objeto de análise irá compreender os aspectos constituintes da formação erudita de Ibn Khaldun,
nas quais buscaremos entrever no que esse personagem se destacava e a importância de sua função naquela
sociedade – em especial para os sultões, que faziam questão de tê-lo próximo. A fonte utilizada será a
Muqadimmah que foi escrita por Ibn Khaldun desde 1375 até a revisão de 1402. Neste escrito, apesar de
presenciar as ações de resistência militar dos muçulmanos no norte de África e Al-Andaluz (região sul da
Península Ibérica sob dominação islâmica), o autor demonstra-se mais interessado em apontar suas
observações a respeito da sociedade, da filosofia e da política de seu tempo.
Portanto, nosso estudo se vale de que Ibn Khaldun, um letrado do século XIV, foi representante de
uma erudição específica que teve como resposta a formulação de uma concepção de História e acabou por
ser o sustentáculo de importantes decisões políticas no Magreb, na Península Ibérica e no Oriente. Assim
propomos realizar uma análise da obra de Ibn Khaldun – a Muqaddimah [1] - buscando a compreensão de
como o conhecimento passou a ser uma ferramenta de legitimação das decisões do poder islâmico frente às
mudanças políticas e espirituais do século XIV.

2. Método
De acordo com o nosso presente estudo, buscamos uma metodologia que contribua para a crítica das
fontes e também auxilie nossa reflexão sobre o tema apresentado. Diante disso, muito dessa abertura ao
diálogo dos estudos sobre o Oriente se deve a Edward W. Said com a obra Orientalismo: o Oriente como
invenção do Ocidente [2]. Said esclarece nessa obra o interesse de se estudar o Oriente e o discurso do
orientalismo por meio do aspecto cultural.
O objetivo geral de nosso trabalho é identificar como o escrito de Ibn Khaldun – a Muqaddimah –
demonstra a formação de um historiador norte-africano muçulmano medieval (que possuía conhecimento da
esquemática de pesquisa histórica clássica) que conduzia indiretamente e algumas vezes diretamente as
decisões de seus sultões.
1
Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em História pela Universidade Federal do Paraná – linha de pesquisa
Cultura e Poder, sob orientação da Professora Doutora Marcella Lopes Guimarães. Discente pertencente ao Núcleo de
Estudos Mediterrânicos (NEMED/UFPR) e ao programa REUNI/UFPR. Contato: elainesenko@hotmail.com
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Para alcançarmos o objetivo mais amplo partimos de algumas ramificações específicas de análise.
Uma delas é conhecer a obra de Ibn Khaldun para estabelecer como se deu a formação desse erudito
medieval e qual sua importância no contexto em que viveu. Dessa forma, nos aprofundaremos nas lições por
ele recebidas através da educação sunita de sua época, da escola específica que estudou, entrevendo como
essa formação inicial se tornou base para suas ações políticas em momento posterior e fonte para a
formulação da Muqaddimah.
Ao mesmo tempo, estamos desenvolvendo o estudo acerca de sua teoria da História para alcançar a
metodologia de análise do próprio historiador muçulmano acerca da sociedade de seu tempo. A propósito,
entender o sentido da História para Ibn Khaldun é também compreender o estado social do homem. Esse
objetivo demonstra-se para nós como um salto e progresso na análise, pois a teoria da História de Ibn
Khaldun muitas vezes completa os dados por ele escrito em sua obra autobiográfica. A obra Muqaddimah
possui um quadro de estudos que abrange temas religiosos, da lingüística, do uso da oratória, sobre o sufismo
ou misticismo islâmico, acerca do desenvolvimento dos povos por meio da compreensão do termo ’asabiyya
– ou solidariedade tribal -, acerca da fundação das cidades medievais em contraponto com a vida no campo,
e enfim sobre a política, em que temos os “conselhos” de Ibn Khaldun ao governante, o qual deve usar de
seu poder por meio da espada e do imprescindível auxílio da pena.
A importância da obra Muqaddimah se deve também a demonstração do pensamento histórico de Ibn
Khaldun em seu tempo. Para nós termos uma idéia, o historiador, segundo Ibn Khaldun, deveria suspeitar de
cifras exageradas de bens e procurar em seus escritos diferenciar-se das lendas e fábulas, buscando através
das informações obtidas uma crítica aos documentos. O historiador assim deveria também se inter-relacionar
com a camada militar e política para verificar o desenvolvimento social e econômico das regiões. Dessa
forma, temos a perspectiva de que Ibn Khaldun estava envolvido em duas esferas: a teórica, quando analisa a
sociedade de seu tempo e coloca diante de nós um método da História, e a prática, quando ele atua através
dos cargos da burocracia política islâmica.
Nossa contribuição é em demonstrar como o personagem histórico Ibn Khaldun pode ser entendido
tendo por base sua formação como historiador e sua relação com o poder. Como o poder recebia e utilizava
os escritos de Ibn Khaldun em suas cortes? Qual era o interesse das cortes em manter ou buscar ter um
homem de prestígio como Ibn Khaldun? Para buscarmos as devidas respostas, partimos da ação do referido
historiador muçulmano, que causava alianças ou rupturas na política em crise do século XIV entre a
Península Ibérica e norte de África, dentre os sultanatos magrebinos e nas resoluções do Oriente Médio.
Portanto, nosso estudo pretende refletir sobre o entendimento das mudanças e permanências das
interpretações sobre as relações entre Oriente e Ocidente. Como já vimos, nos utilizamos de uma visão
inovadora quando colocamos em cena o personagem histórico Ibn Khaldun não somente por sua autoria na
formulação de uma teoria da História, mas conectando sua existência à importância do historiador para o
poder no medievo em sua época.

3. Resultados e Discussão
Khaldun inicia seu Prefácio da Muqaddimah com exaltações à Allah e ao Profeta. Em seguida o
escritor nos aponta seu objeto de estudo na obra: “Passemos agora ao nosso assunto – a História”[3]. Dessa
forma, podemos compreender o entendimento interno da História de Ibn Khaldun seguindo esses passos:
1. O exame e a verificação dos fatos.
2. Investigação cuidadosa das causas. Nesse ponto podemos lembrar do historiador Políbio: “Es
función propia de la historia, primero, conocer los discursos tal como fueron efectivamente
pronunciados; en segundo lugar, averiguar las causas que hicieron fracasar o tener éxito los planes
formulados en ellos, porque la simple narración de los hechos atrae al espíritu, pero es estéril; si se
añaden las causas, el recurso a la historia es fructífero” [4].
3. Conhecimento profundo da maneira como os acontecimentos se sucederam e como começaram.
De acordo com Rogelio Blanco Martínez, a concepção clássica de História [5] em Khaldun é notória,
o que a deixa mais à vista é a sua noção de tempo cíclico. Para Ibn Khaldun o tempo não é providencial, para
ele a História é feita pelos homens e tendo como objeto a sociedade. O tempo cíclico para Khaldun consistia
em uma equiparação com o movimento da sociedade e do poder com a História. Ou seja, um movimento que
busca uma ascensão, um apogeu momentâneo e uma inevitável queda. Também nos indica Juan Martos
Quesada [6], que Ibn Khaldun teve uma vida intensa, que a sociedade diante dele não era somente motivo de
observação, mas que ele estava mais interessado em encontrar leis que marcassem o nascimento, a vida e a
morte das sociedades humanas.
Ibn Khaldun rejeita a inclusão de fábulas em sua explicação histórica, e assim nos apresenta dois
discursos, um discurso racional e um discurso oriundo da fé. Khaldun pertence à gloriosa estirpe islâmica
racionalista. Essa estirpe malikita influenciou Khaldun em sua análise lúcida e rica de conhecimento

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metodológico acerca da História, que forjou um homem que diante das crueldades da vida soube se manter
dinâmico como pesquisador de racionalidade cosmopolita.
O século XIV é um tempo de transformações feito de uma identidade própria. Nesse contexto ocorre o
epílogo do Califado no mundo muçulmano. E é diante desse cenário que Khaldun formula sua metodologia
da História. Além disso, o historiador muçulmano forja uma dicotomia social: o contraste entre o árabe
(civilizado) e o berbere (bárbaro).
Os poderes que envolvem Ibn Khaldun em seu tempo são os Marínidas, o Governo de Tlemcen, os
Hafsidas, os Mamelucos no Egito, Granada e Sevilha (na Península Ibérica) e o Governo Mongol (sob
liderança de Tamerlão). A presença erudita de Khaldun nessas cortes justificava e legitimava suas
concepções e recomendações ao poder através da Muqaddimah. A busca por Khaldun de políticas tranquilas
nessa geografia reforça nossa idéia de que isso influenciou o seu entendimento cíclico da História.

4. Conclusão
A metodologia da História promovida por Ibn Khaldun deve ser estudada de maneira atenta e
profunda. Podemos entrever nas suas formulações de idéias concepções históricas e políticas, o que
indicamos como um entrelaçamento na pesquisa. Um caminho que percorre os acontecimentos políticos que
permeiam a vida do historiador muçulmano Khaldun e outro num sentido geral, que é sua maneira de
observar a História produzindo regras metodológicas para a análise histórica e esquemas do ofício de
historiador. De forma clara vislumbramos os vestígios dos escritos de um historiador atento à um mundo
prático e imediato do poder e outro teórico e universal (o espaço da erudição, da História).
O resgate de uma tradição historiográfica clássica na época de Khaldun e naquele espaço do Norte da
África, nos aponta que ocorria uma manutenção de uma herança grega através dos governos árabes (via
Oriente – Ocidente). Nossa pesquisa ganha dimensão ao demonstrar que, enquanto em parte do mundo
medieval escrevia-se em mosteiros, nosso autor produzia uma obra independente das instituições e que
indiretamente acabou por afetar o poder de sua época.
Portanto, o trabalho histórico de Khaldun produz um resgate de uma tradição grega transformada
pelos árabes, escrita em uma realidade vivida no século XIV. Assim Khaldun nos deixou uma nova maneira
de se ver o tempo, de modo cíclico, este tempo que orienta uma reflexão e uma justificativa para a própria
história muçulmana e universal.

Referências
[1] KHALDUN, Ibn. Muqaddimah – Os prolegômenos (tomo I, II e III). Tradução integral e direta do
árabe por José Khoury e Angelina Bierrenbach Khoury. São Paulo: Instituto Brasileiro de Filosofia, 1958-
1960.
[2] SAID, Edward W. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. Tradução: Tomás Rosa
Bueno. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
[3] KHALDUN, Ibn. Muqaddimah – Os Prolegômenos (tomo I). Tradução integral e direta do árabe por
José Khoury e Angelina Bierrenbach Khoury. São Paulo: Instituto Brasileiro de Filosofia, 1958, pp. 3.
[4] POLÍBIO. Historias : livros V-XV. Traducción y notas de Manuel Balasch Recort. Madrid : Gredos,
1981, p. 503. Podemos indicar que Khaldun possivelmente era um leitor de Políbio. O referido historiador
grego, além de defender uma história universal como Khaldun, nos informa acerca da ciência histórica: “De
la misma manera la ciência histórica ofrece indudablemente tres modalidades. La primera consiste em el
examen cuidadoso de las fuentes documentales y en la yuxtaposición de los datos que suministran. La
segunda, en la inspección de las ciudades y de los parajes por donde discurren los rios, y los puertos. En
general, se deben observar las peculiaridades y las distancias que hay por tierra y por mar. El tercer tipo lo da
el conocimiento de la actividade política”. POLÍBIO. Historias : livros V-XV. op. cit., pp.506-507.
[5] BLANCO MARTÍNEZ, Rogelio. Ibn Jaldún: entre el saber y el poder. In: MARTOS QUESADA, Juan y
GARROT GARROT, José Luis. Miradas españolas sobre Ibn Jaldún. Madrid: Ibersaf, 2008, p.19.
[6] MARTOS QUESADA, Juan. Presentación. In: MARTOS QUESADA, Juan y GARROT GARROT, José
Luis. Miradas españolas sobre Ibn Jaldún. Madrid: Ibersaf, 2008, p. 11.

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A INFLUÊNCIA ESTADUNIDENSE NAS MUDANÇAS DE MODELOS ECONÔMICOS


NOS CASOS DE ARGENTINA E BRASIL, NO INÍCIO DO SÉCULO XX.

Antonio Battisti Bianchet Junior1*


1
Universidade Estadual de Maringá

1. Introdução
Partir do estudo da situação econômica interna nos casos de Argentina e Brasil no contexto das
primeiras décadas do século XIX - ou seja, a época de eclosão da maioria dos levantes independentistas
latino-americanos - e dos posteriores níveis de integração desses países ao mercado mundial, aparenta ser
um caminho factível para a reconstrução da realidade político-social das então jovens repúblicas. Em grande
medida, isto se deve à importância exercida pelas políticas econômicas no desenvolvimento de uma nação.
Para Bulmer-Thomas [1], desde o início da participação desses países no mercado mundial, logo após suas
respectivas independências - primeiramente como exportadores de produtos primários - os caminhos
traçados em cada caso foram influenciados por diferentes fatores. Estes fatores variaram em função de
questões geográficas, políticas, étnicas, acerca de recursos naturais, entre outras, e os pontos alcançados
foram também diversos devido às particularidades encontradas em cada caso. Segundo Skidmore & Smith
[2], após a Primeira Guerra Mundial e a Crise de 1929, muitos países da América Latina, inclusive os em
questão, retiraram-se do mercado mundial, adotando modelos inward-looking de desenvolvimento baseados
basicamente na industrialização com substituição de importações. De acordo com Lewis [3], as implicações
que tais mudanças tiveram no desenrolar histórico desses países são de grande importância para a
compreensão da atual realidade latino-americana, pois muitos dos problemas enfrentados hoje são
decorrentes de processos desencadeados desde o período objeto de nosso estudo.
De grande importância, dentre os fatores que influenciaram nos caminhos trilhados, encontra-se a
questão político-econômica. De acordo com Bulmer-Thomas [1] e Schoultz [4], após o desenrolar da
Primeira Guerra Mundial, o sistema de mercado mundial, até então, encabeçado pela Grã-Bretanha, passa
por mudanças, quando ao fim de tal processo, os Estados Unidos da América emergem como nação
dominante. Os caminhos doravante trilhados pelos países em questão passaram a sofrer em diferentes níveis
a influência desta nova potência. O objetivo deste trabalho consistiu em buscar esclarecer em que medida
essa influência se aplicou na formatação e adoção dos diferentes modelos econômicos no decorrer do
período em questão e as conseqüências que tais políticas exerceram nos níveis de desenvolvimento sócio-
econômico das nações que abarcam o estudo.
A escolha em analisar os casos de dois exemplos sul-americanos se deve à busca de uma possível
comparação entre os caminhos percorridos por esses países. Ora, em se tratando da América Latina, há
muitos pontos em comum entre as nações, uma espécie de pano de fundo, em grande medida, devido ao
período colonial em que toda a região esteve sob o domínio dos impérios Espanhol e Português, os quais
mantinham suas relações com as colônias baseadas em objetivos semelhantes. Ao mesmo tempo, o modelo
comparativo adotado buscou demonstrar as diferenças nos resultados apresentados pelos padrões econômicos
adotados em diferentes áreas, conforme a aptidão - ou falta dela - de cada região a determinadas políticas.
Além disso, o estudo proposto visou aclarar os diferentes resultados demonstrados pelos níveis de
desenvolvimento sócio-econômico no que diz respeito à transferência do desenvolvimento do setor
econômico para os outros campos da sociedade. Em adição, buscou-se a compreensão dos diferentes níveis
em que cada caso se mostrou vulnerável aos impactos externos e internos, e em relação aos externos,
especialmente a influência estadunidense, objeto deste estudo.
Os resultados das políticas econômicas adotadas no decorrer do século XIX e início do século XX, em
geral, demonstraram tanto suas debilidades quanto seus pontos positivos nos diferentes casos da América
Latina. Segundo Bulmer-Thomas [2], esta questão enfatiza uma contraditória problemática latino-americana
sobre o desenvolvimento: embora um continente repleto de recursos nos mais variados campos, mesmo após
aproximadamente duzentos anos de liberdade em relação aos antigos regimes coloniais, nenhum país latino-
americano conseguiu conquistar o status de país desenvolvido. Partindo dessa premissa, tornou-se importante
entender em que grau foi decisiva a influência estadunidense no fato dos países em questão - mesmo após
longo período e aparentemente, abundantes recursos – não haverem conseguido alcançar tal status. Esta foi a
proposta principal do presente trabalho.

2. Método

*
Antonio Battisti Bianchet Junior: antoniobianchet@hotmail.com
95
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

A metodologia adotada foi a pesquisa bibliográfica (historiográfica) envolvendo análises nos planos
textuais (dimensão interna, estrutura e lógica próprias de cada texto) e intertextuais (diálogo com outros
textos). Para tanto, a pesquisa lidou com as diferentes correntes de pensamento que trataram o assunto, de
modo a extrair de cada fonte o máximo possível do que é coerente, deixando de lado as motivações
implicitamente presentes nas obras. É importante levar-se em consideração que o objeto em questão já foi
abordado por diferentes correntes durante o século XX, cada uma assimilando de seu modo tal desenrolar
histórico. Uma dessas correntes, apenas para efeito de exemplificação, é a chamada desenvolvimentista, que
contou com autores como Raúl Prebisch [5].

3. Resultados e discussão
O tema proposto pelo presente trabalho é peça-chave para o entendimento do desenvolvimento
econômico da América Latina. Os diferentes modelos econômicos adotados pela região, durante o
desenrolar de mais de um século, ao tomar-se uma perspectiva de longo prazo, permeiam os tempos atuais
com desdobramentos e condições sociais que remetem ao período em questão.
O tema foi abordado de diferentes formas no decorrer dos tempos, cada uma problematizando de seu
modo o desenvolvimento – ou o não-desenvolvimento – do subcontinente. A proposta deste trabalho
consistiu em avaliar de um modo coerente, amplo e independente de correntes ideológicas, o desenrolar da
economia latina e seus diferentes níveis de integração ao contexto mundial, visando entender o fato de
nenhum sequer destes países haver ainda atingido um status de país desenvolvido; e, como os Estados
Unidos da América – após a virada do século XIX para XX, assumindo o posto de nação hegemônica na
economia mundial, antes ocupado pela Grã-Bretanha – exerceram influência nas economias das então novas
repúblicas.

4. Conclusão
Tendo como base Schoultz [4] e Skidmore & Smith [1], podemos concluir que os Estados
Unidos da América exerceram importante influência na América Latina como um todo no período
em questão. Suas políticas variaram desde estímulos econômicos à setores que entraram no mercado
latino-americano até intervenções militares. As políticas empregadas desde a inicial Doutrina
Monroe, passando por outras como a diplomacia do dólar, a política do “big-stick”, as posteriores
política da boa vizinhança, aliança para o progresso, dentre outras, afetaram claramente o
hemisfério ocidental.
Em se tratando de Argentina e Brasil, podemos ver o contraste de recepção e aversão às
medidas empregadas pelos Estados Unidos da América. No caso do Brasil, particularmente, houve
uma maior recepção e consentimento das políticas levadas a cabo pela nação dominante, sendo
inclusive, o nosso país, o maior aliado estadunidense na América do sul durante a Segunda Guerra
Mundial, servindo de ponto estratégico para as tropas enviadas à Europa. Já no caso argentino,
houve uma maior resistência às políticas estadunidenses, chegando, segundo Schoultz [4], à
proximidade de um enfrentamento bélico entre os dois países. Embora as políticas estadunidenses
tenham sido recebidas de diferente forma pela Argentina e pelo Brasil no contexto estudado, é
necessário levar-se em consideração o pano de fundo do hemisfério como um todo, no qual, mesmo
tentando resistir – como no caso argentino – não era possível uma total insubordinação à nação
hegemônica.

Referências
[2] BULMER-THOMAS, Victor. The economic history of Latin America since independence.
Cambridge: Cambridge University Press, 2003.

[3] LEWIS, Colin M. Economics and the Latin American state: ideology, policy and performance,
C.1820-1945. Diálogos DHI/UEM, Maringá, v. 3, n. 3, pg. 63-92, 1999.

[4] SCHOULTZ, Lars. Estados Unidos: poder e submissão. Uma história da política norte-americana
em relação à América Latina. Tradução de Raul Fiker. Bauru: EDUSC, 2000.

[1] SKIDMORE, Thomas E.; SMITH, Peter H. Modern Latin America. New York: Oxford University
Press, 2005.

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[5] PREBISCH, Raul. El desarrollo económico de la América Latina y algunos de sus principales
problemas. Desarrollo económico, Buenos Aires, v. 26, n. 103, pg. 479-502, oct./dec. 1986.

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A PROPAGANDA DO NSDAP E DA AIB: ANÁLISE E COMPARAÇÕES

Edson José Perosa Junior1*


1
Universidade Estadual de Maringá

1. Introdução
Antes de abordar as máquinas de propaganda da AIB e do NSDAP especificamente, devemos proceder
com a análise de que o integralismo é um movimento fascista de fato, para a partir daí compreendermos
melhor as semelhanças entre essas duas propagandas nos contextos diferentes em que se encontravam.
O nazismo, justamente por ser um tipo de fascismo, apresenta as características comuns a estes (a
indumentária, o forte senso de hierarquia, a intensa propaganda, o anticapitalismo, o antiliberalismo, o
anticomunismo, etc.). Entretanto o que mais diferencia o nazismo é a questão racial e o anti-semitismo tão
enfatizada e importante para compreendê-lo. Nesse sentido o integralismo não apresenta tanta semelhança
com o nazismo, quanto nos quesitos anteriores, apesar de apresentar anti-semitismo e racismo, devido
fundamentalmente à influência do nazismo sobre ele, principalmente através de Gustavo Barroso.
Demonstrado que o integralismo é um movimento fascista, além das várias semelhanças deste com os
fascismos europeus (especialmente o nazismo, que mais nos interessa) e algumas diferenças que o
caracterizam por estar no contexto brasileiro, não será surpresa nenhuma que muitos elementos, técnicas e
temas da propaganda integralista sejam semelhantes com os da propaganda nazista (talvez até mesmo o
ponto de maior convergência entre esses dois movimentos fascistas).

2. Método
Muito se foi discutido sobre o caráter fascista da AIB e atualmente existe um quase consenso de que o
Integralismo foi, de fato, um movimento do gênero fascista, por apresentar várias características em comum
com os fascismos europeus. Partindo desse pressuposto, defendido por Trindade [1] (entre outros autores),
podemos estabelecer várias semelhanças entre os métodos, técnicas e temas da propaganda nazista e
integralista e de como a primeira pode ter influenciado a segunda. Analisando a ‘‘Revista Ilustrada Anauê’’ é
perceptível que os temas ali abordados (o anticomunismo, o antiliberalismo, a defesa do corporativismo, a
simpatia pelos fascismos europeus e até mesmo o anti-semitismo) estabelecem muitas relações com os temas
apresentados em pôsteres e jornais da Alemanha nazista (disponíveis no German Propaganda Archive).
Assim ao proceder à análise dessas fontes sobre o prisma da bibliografia especializada no tema, torna-se
patente as semelhanças entre essas duas propagandas em diferentes contextos. Portanto, não pretendemos
aqui uma simplificação e aproximação grosseira entre a propaganda nacional-socialista e a integralista, mas
apenas ressaltar como ambas apresentam elementos em comum, que é um reflexo do caráter fascista da AIB,
levando em conta as diferenças de contexto desses dois movimentos.

3. Resultados e Discussão
Assim após observarmos os métodos, as técnicas e os temas que a propaganda integralista tinha em
comum com a propaganda nazista, a influência da última sobre a primeira, e pontuar algumas diferenças
podemos afirmar que, pelo fato de a AIB ser do gênero fascista, a propaganda integralista apresenta bem
mais semelhanças do que diferenças com a propaganda nazista. Da mesma forma o nazismo exerceu
considerável influência sobre a AIB, mas que essa influência era mais forte em certos círculos do movimento
(especialmente em torno de Gustavo Barroso) do que em outros em que o fascismo italiano e outras correntes
menos vinculadas aos fascismos europeus estiveram mais presentes.
Segundo Trindade [1] e Cavalari [2] ambas as propagandas foram eficientes em seus respectivos
contextos, mas à medida que os dois movimentos foram se aproximando de seu fim, sua eficácia também
diminuiu paulatinamente. Assim percebemos que a eficiência da propaganda está intimamente vinculada ao
contexto favorável vivido em determinado período (e não apenas a competência dos propagandistas) e que na
medida em que este contexto de altera, a propaganda não tem o poder para inverter a situação decisivamente
a favor dos citados fascismos. Assim, o mesmo contexto que foi determinante para o surgimento e
consolidação desses movimentos também foi determinante para seu findar, no caso do integralismo devido à
situação interna do país (com a instauração do Estado Novo) e no caso do nazismo devido à situação externa
de derrota militar.

4. Conclusão

*
Autor Correspondente: perosaperosa@hotmail.com
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Para Paxton [3] e Bartonha [4] o fascismo entendido como a grande inovação política do século XX,
se alicerçou em um incrível e complexo sistema de propaganda, que foi o grande instrumento para sua
condição de movimento de massas. Destarte percebemos claramente, apesar das diversidades de contextos e
situações, que um padrão no formato da propaganda é evidente entre o integralismo e o nazismo.
Para além dos exemplos da propaganda nazista e integralista, devemos estar atendo para o poder que a
propaganda (comercial e política) exerce sobre nossas mentes. Luckert e Bachrach [5] afirmam que os usos
traiçoeiros da propaganda pelo regime nazista e pela AIB não são únicos na história, mas exemplificam bem
uma tendência que começou a se definir nesse período, de que a propaganda é indispensável para o governo
e para a política em geral. Ainda assim a liberdade de expressão, a imprensa livre e responsável, juntamente
com cidadãos informados e engajados é a melhor segurança contra os efeitos perversos de uma propaganda
nociva e insidiosa.

Referências
[4] BERTONHA, João Fábio. Sobre a Direita. Maringá: Eduem, 2008.

[2] CAVALARI, Rosa Maria Feiteiro. Integralismo: ideologia e organização de um partido de massa
no Brasil (1932-1937). Bauru: Edusc, 1999.

[5] LUCKERT, Steven; BACHRACH, Susan. State of Deception: the Power of nazi propaganda.
Washington: United States Holocaust Memorial Museum, 2009.

[3] PAXTON, Robert Owen. A Anatomia do Fascismo. São Paulo: Paz e Terra, 2007.

[1] TRINDADE, Hélgio. Integralismo: o fascismo brasileiro na década de 30. São Paulo: Difel, 1979.

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A PROPAGANDA NAZISTA DO KAMPFZEIT (1919-1933)

Edson José Perosa Junior1*


1
Universidade Estadual de Maringá

1. Introdução
Entre aquilo que os nazistas idealizavam como sendo a propaganda eficiente e os métodos que
efetivamente aplicaram na prática há uma sutil diferença, todavia vamos encontrar uma profunda semelhança
entre as concepções nazistas de propaganda e os métodos práticos. É notável o esforço nazista para se
apresentar como uma vítima impotente dos ataques de seus inimigos (curioso notar como os nazistas se
mostravam como vítimas da violência comunista, sem nunca revidar com a mesma violência contra esses,
quando na verdade o partido agia de forma violentamente agressiva contra os comunistas através de suas
tropas paramilitares, as SA e SS) e que forçosamente e bravamente continuava na luta em nome da causa
suprema do nacional-socialismo e da nação alemã. Segundo Lenharo [1], a agressividade e as artimanhas da
propaganda nazistas são múltiplas e patentes, afinal os nazistas não tinham nenhum pudor em mentir para
atingirem seus objetivos. Bytwerk [2] afirma que os nazistas dependiam de discursos públicos tanto por
necessidade (principalmente nos primeiros anos do partido), quanto por princípio.

2. Método
Partindo da análise das fontes sobre propaganda nazista anterior a 1933 – incluindo pôsteres, textos de
jornais da época e fotografias – sobre o prisma da bibliografia lida, procurou-se dialogar com essas fontes
indagando-as sobre sua eficiência em convencer e arregimentar membros para o NSDAP, além de sua
importância para que os nazistas chegassem ao poder. É perceptível que a propaganda nazista foi realmente
eficaz em conquistar eleitores, todavia não foi o único fator para que o NSDAP chegasse ao poder, foi
preciso estabelecer alianças com os políticos que detinham o poder. Mesmo assim dentro das limitações de
cada situação a propaganda se mostrou eficiente em cumprir os propósitos que os nazistas desejavam.

3. Resultados e Discussão
Segundo Marcuse [3] é fácil constatar, que o nacional-socialismo não foi uma revolução, pois não
alterou as relações básicas do processo produtivo que continuou administrado por grupos sociais específicos
que controlavam os instrumentos de trabalho. A organização econômica da Alemanha nazista estava
construída em torno dos grandes conglomerados industriais.
Para Bartonha [4] os nazistas consideravam essencial a existência de em Estado forte que fosse capas
de fazer os interesses coletivos prevalecer sobre os interesses individuais, eles rejeitavam a sociedade liberal
e a democracia. Esse estado forte seria encarnado na figura de um grande líder infalível e perfeito e que
estaria em estreito contato com o povo por meio de um partido único. Todo o poder emanaria desse grande
líder que hierarquicamente enquadraria a sociedade. A visão de mundo nazista tinha por base a idéia de que
as diferentes ‘‘raças’’ que habitavam o planeta estariam engajadas em uma luta inevitável e inescapável entre
si e que a ‘‘raça’’ mais forte e determinada estava destinada a vencer essa luta, através da submissão e
destruição de todas as outras ‘‘raças’’. Essa ‘‘raça’’ superior seria a ‘‘raça ariana’’, a mais pura de todas as
‘‘raças’’, com pessoas de olhos azuis e cabelos loiros, ou seja, a raça germânica.
Essa mundividência era fortemente apregoada na propaganda do partido nazista, para Hitler a
propaganda era uma das bases para a criação da nova sociedade nacional-socialista. Por isso mesmo durante
o regime e principalmente durante o período da guerra a propaganda continuou sendo um elemento de
fundamental importância para os nazistas, devendo a propaganda ser popular e atingir o coração das massas,
sempre fomentando a capacidade combativa dos alemães.
Kracauer [5] afirma que os nazistas souberam captar os anseios e frustrações do povo alemão, eles
souberam satisfazer os desejos das massas, desejos estes que se refletia em muitos filmes do período de
1919-1933 (principalmente os filmes expressionistas) que deixavam transparecer essa situação. O que os
filmes refletiam não era um credo específico, mas dispositivos psicológicos. Os nazistas astutamente
souberam captar esses dispositivos e, através da propaganda, apelavam para as frustrações, desesperanças e
medos de muitos alemães. Para entender o sucesso da propaganda nazista e do partido nazista é preciso
compreender o estado psicológico em que se encontravam os alemães daquele período e como os nazistas
souberam manipulá-los.

4. Conclusão

*
Autor Correspondente: perosaperosa@hotmail.com
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Por fim não há como afirmar que a propaganda não foi importante para os nazistas. Provas cabais
atestam que a propaganda, desde as origens do partido nazistas até o fim catastrófico em 1945, foi de crucial
importância para que os nazistas levassem a cabo seus planos de ‘‘fortalecimento’’ da nação alemã, de
conquista mundial e até mesmo de extermínio de milhões de seres humanos.
A propaganda nazista é um sucesso no sentido objetivo, pois fez com que a maioria esmagadora dos
alemães permanecesse fieis a Hitler e ao nazismo até o último momento. A propaganda nazista influenciou
decisivamente muitos alemães, deixando-os mudos para contestarem a tirania de Hitler e cegos para verem
os crimes atrozes perpetrados pelos nazistas. Os alemães que saudaram Hitler, Goebbels e outros oradores
nazistas, nos lembram de que o poder da retórica e da propaganda pode promover tanto o bem quando o mal.

Referências
[4] BERTONHA, João Fábio. Fascismo, Nazismo, Integralismo. São Paulo: Ática, 2006.

[2] BYTWERK, Randall. Landmark Speeches of National Socialism. Texas: A&M University Press,
2008.

[5] KRAKAUER, Siegfried. De Caligari a Hitler. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1988.

[1] LENHARO, Alcir. Nazismo: O Triunfo da Vontade. São Paulo: Ática, 1986.

[3] MARCUSE, Herbert. Tecnologia, Guerra e Fascismo. São Paulo: Editora da UNESP, 1999.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

A (RE)CONSTRUÇÃO ESPACIAL DA MICRORREGIÃO GEOGRÁFICA DE CRUZ ALTA E


A ETNIA PORTUGUESA: UMA PROPOSTA PARA O ESTUDO DE REGIÃO, PAISAGEM E
CULTURA
Jessica Nene Caetano; Meri Lourdes Bezzi
1
Graduada em Geografia Licenciatura Plena – UFSM e Mestranda do Programa de Pós-Graduação em
Geografia e Geociências-PPGGEO-Universidade Federal de Santa Maria
2
Profª. Drª. do Departamento de Geociências- Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução
A presente pesquisa tem como foco central analisar a contribuição da cultura portuguesa e sua influência
na organização do espaço da Microrregião Geográfica de Cruz Alta – RS, como proposta de investigação a
respeito do desenvolvimento social no decorrer do seu processo evolutivo ligado à dinâmica espaço-temporal
pelo viés cultural.
Considerando a relevância da problemática em estudo afirma-se, portanto, a importância dos estudos
culturais para Geografia, particularmente no Brasil, onde esta tendência tem se efetivado mediante estudos de
caso e teórico-metodológicos, na busca de explicações para a diversidade étno-cultural e sua influência na
construção do espaço, nos distintos níveis de desenvolvimento, nas representações sócio-culturais, nos processos
identitários e na relação estabelecida entre a cultura e as categorias espaciais, como o próprio espaço, o território,
a região, a paisagem e o lugar.

2. Método
Metodologicamente, esse esforço teórico foi constituído, basicamente, por uma revisão nas matrizes teóricas
referentes aos estudos de Geografia Cultural.
Nesse sentido, o presente trabalho definiu como método que melhor se insere nessa perspectiva de estudo, o
fenomenológico, pois o mesmo valoriza o lugar como espaço carregado de simbologias e marcas definidoras da
presença de determinado grupo cultural.

3. Resultados e Discussão
A complexidade da relação sociedade-natureza na atualidade impõe alguns desafios à Geografia,
mediante a necessidade de identificar, interpretar e analisar a dinâmica espacial e os fenômenos a ela
relacionados. Desse modo, surgem tendências geográficas que procuram, justamente, explicar essa
complexidade socioeconômica, política, cultural e natural no atual estágio evolutivo da sociedade, denominado
por Milton Santos [1.3] de meio técnico científico-informacional. Nesta perspectiva, esta pesquisa insere-se nas
preocupações inerentes a Geografia Cultural, objetivando analisar a influência da etnia portuguesa e seus
descendentes na construção do espaço geográfico da Microrregião de Cruz Alta/RS, composta por 14
Municípios, nos quais estão materializados os códigos culturais representativos da cultura portuguesa.
Esse esforço teórico apresenta como resultado, o desenvolvimento de uma proposta de pesquisa que
demonstra a sua relevância ao destacar como eixo temático central a cultura e sua influência na organização do
espaço, através dos processos de identificação que se materializam mediante uma simbologia específica,
moldando paisagens e configurando regiões de acordo com as similaridades inerentes a um determinado grupo
social. Nesse sentido, a Geografia Cultural oferece subsídios teóricos para o desenvolvimento desse estudo,
destacando conceitos basilares como cultura, região e paisagem cultural, além dos códigos culturais. Para
compreender a complexidade da temática proposta, justifica-se a necessidade de recorrer as outras ciências,
como a Antropologia e a Sociologia, as quais também, possuem um arcabouço teórico referente a problemática
em estudo, o que lhe confere um caráter interdisciplinar.
Os estudos culturais, além de contribuirem para a compreensão dos aspectos sociais, simbólicos e sua
manifestação no espaço, permitem realizar um levantamento do patrimônio cultural local/regional, os quais
poderão fornecer subsídios para ações que promovam o desenvolvimento de determinadas porções do espaço
com potencialidades de “uso do espaço” através da cultura. Nessa perspectiva, acredita-se que a presente
proposta de pesquisa além de contribuir para a compreensão da organização do espaço pela cultura portuguesa,

Autor Correspondente: sicaetano@yahoo.com.br

1
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torna relevante o estudo do patrimônio cultural existente na Microrregião Geográfica de Cruz Alta/RS, a qual
tem suas origens no processo de ocupação por esta cultura.
Dessa forma, pretende-se que a população local valorize os elementos paisagísticos que representam a
etnia portuguesa como parte constitutiva da história de seu lugar de vivência, fazendo com que esses símbolos
não sejam esquecidos pelos moradores da Microrregião em análise. A valorização da cultura local é, portanto,
uma questão importante desta investigação, pois a cultura, de acordo com Brum Neto [1]

[...] tornou-se, então, um conceito chave para a Geografia Cultural, capaz de explicar a relação
que o homem estabelece com o seu meio, e sua influência na materialidade do espaço.
Entender a cultura tornou-se essencial para apreender a simbologia inerente a cada grupo
social, uma vez que a diferenciação é mediada pela mesma.

Destaca-se que a escolha da Microrregião de Cruz Alta ocorreu devido ao fato desta apresentar durante
seu processo de ocupação, a fixação de alguns grupos étnicos, dentre eles, os portugueses. Ressalta-se a
necessidade de estudos mais aprofundados sobre esta cultura e sua influência nesta porção do espaço rio-
grandense. Com relação à presença portuguesa e a introdução de sua cultura em Cruz Alta, Cavalari [1.2]
acrescenta que “Os muitos portugueses de origem, que vieram para Cruz Alta, nos primórdios de sua fundação,
trouxeram alguns hábitos de sua terra, como o intróito, uma orgia pagã que simbolizava a introdução à
quaresma”.
Essas peculiaridades inerentes à cultura a tornam instigante e foco da realização de um estudo mais
aprofundado sobre suas características, as quais permitem distinções quanto às similaridades e diferenças
socioespaciais. Além disso, destaca o importante papel que a Geografia Cultural atribui à (i)materialidade da
cultura, ou seja, os elementos representativos de determinado grupo social, visíveis na paisagem. Tuan [1.4]
define símbolo como
[...] uma parte, que tem o poder de sugerir um todo: por exemplo, a cruz para a Cristandade, a
coroa para a monarquia, e o círculo para a harmonia e perfeição. Um objeto também é
interpretado como um símbolo quando projeta significados não muito claros, quando traz à
mente uma sucessão de fenômenos que estão relacionados entre si, analógica ou
metaforicamente.

Pretende-se, desta forma, valorizar os aspectos (i)materiais da cultura, como aportes para seu
entendimento, mediante a significação destes para um determinado grupo social e para sua identificação. A
materialidade se expressa mediante códigos materiais como o estilo da casa, a vestimenta típica, as festividades,
a religiosidade (templos) os monumentos, a linguagem escrita, dentre outros. Contudo, é de fundamental
importância analisar, também, os aspectos imateriais, que orientam as ações humanas, como os valores, as
crenças, as ideologias e os códigos de conduta de cada grupo cultural. Desta forma, convém abranger a
complexidade cultural mediante uma análise que busque os significados das formas, perpassando simplesmente
o visível.
Dessa forma, esse esforço teórico salienta a necessidade de investigações que, assim como a proposta em
questão, dispõe-se a analisar de forma mais profunda e sob os aportes teóricos e conceituais da Geografia
Cultural, a presença da etnia portuguesa na Microrregião Geográfica de Cruz Alta, destacando os elementos
culturais presentes na paisagem.
A valorização do espaço geográfico da Microrregião de Cruz Alta demonstra, através da realização de
uma pesquisa minuciosa, a complexidade da(s) cultura(s) em âmbito regional, através da fixação de diversas
etnias, especificamente a portuguesa como precursora no processo de ocupação e formação desta região.

4. Conclusão
Considera-se, portanto, que relevância da problemática em estudo centra-se na importância dos estudos
culturais para Geografia, particularmente no Brasil, onde esta tendência tem se efetivado mediante estudos de
caso e teórico-metodológicos, na busca de explicações para a diversidade étno-cultural e sua influência na
construção do espaço, nos distintos níveis de desenvolvimento, nas representações sócio-culturais, nos processos
identitários e na relação estabelecida entre a cultura e as categorias espaciais, como o próprio espaço, o território,
a região, a paisagem e o lugar. Mediante estas preocupações, salienta-se que esta proposta de estudo tem na
categoria região seu conceito central, a qual será analisada mediante os aspectos culturais e identitários que

2
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

permeiam o espaço, atrelando-se ao conceito de paisagem, mediante a importância deste para se identificar os
aspectos (i)materiais da cultura no espaço.
Em meio a estas preocupações, pretende-se salientar, também, o sistema simbólico responsável pela
materialização dos códigos culturais portugueses na paisagem da Microrregião Geográfica de Cruz Alta. A
investigação deste sistema simbólico permite apontar quais os principais códigos culturais responsáveis pelo
processo de identificação, ou seja, a identidade cultural do grupo social em análise, como se efetiva esse
processo e sua evolução no tempo e no espaço, através das transformações implícitas a relação sociedade-
natureza.
Neste contexto, pretende-se afirmar a relevância dos estudos culturais que, assim como essa proposta de
pesquisa, constrói de forma abrangente e numa perspectiva multidimensional, a complexidade dos estudos
étnicos na Ciência Geográfica.

Referências
BRUM NETO, H. Regiões culturais: a construção de identidades culturais no rio grande do sul e sua
manifestação na paisagem gaúcha 2007. 319 f. Dissertação de Mestrado (Mestrado em Geografia) –
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2007.[1]

CAVALARI, R. A Gênese da Cruz Alta. Cruz Alta: Ed da UNICRUZ, 2004. [1.2]

SANTOS, M. Metamorfoses do espaço habitado. 5. ed. São Paulo: HUCITEC, 1997.[1.3]

TUAN, Y. F. Topofilia: Um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. Tradução de Lívia de
Oliveira. São Paulo: Difel, 1974.
.[1.4]

3
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A RELAÇÃO ENTRE A CONFIGURAÇÃO ESPACIAL E AS REPRESENTAÇÕES


SOCIAIS DOS MORADORES DO PRÉ-ASSENTAMENTO EMILIANO ZAPATA

Fernando Bertani Gomes1*; Joseli Maria Silva2;


1
Universidade Estadual de Ponta Grossa
2
Universidade Estadual de Ponta Grossa

1. Introdução
O trabalho tem como objetivo compreender como se estabelecem as relações entre a configuração
espacial do pré-assentamento Emiliano Zapata e as representações sociais de seus moradores.
O pré-assentamento foi resultado da organização de trabalhadores rurais pelo Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e se estabeleceu na Fazenda da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa). A ocupação ocorreu em maio de 2003 sob alegação de arrendamento dessa
área, por iniciativa privada para fins econômicos.
A área está localizada em Itaiacoca, distrito de Ponta Grossa, na Estrada do Talco.
Atualmente existem cerca de 50 famílias assentadas divididas em 6 núcleos, essa famílias estão
alocadas em lotes individuais e participam de uma associação para comercialização das sobras de
suas produções para consumo, dividindo proporcionalmente o dinheiro.
O termo pré-assentamento é utilizado porque eles estão organizados estruturalmente em
lotes, porém ainda não foi concedida a posse da terra, pelo INCRA, Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária, nem demarcado a divisão das áreas.

2. Método
Primeiramente levantamento bibliográfico nas diversas áreas que abrangem essa discussão.
Realizado trabalhos de campo, a fim de compreender o contexto do pré-assentamento Emiliano
Zapata, e diagnosticar diversos agentes que atuam no local.
Para a compreensão de como estão estruturadas as representações sociais construídas pelos
moradores do pré-assentamento, foi necessário identificar diferentes grupos e tensões entre os moradores
do local. Para tanto foi estabelecido um roteiro de entrevista semi-estruturada a fim de explorar os diferentes
significados sociais que dão sentido às representações sociais de diferentes grupos de assentados sobre o
espaço que constituem.

3. Resultados e Discussão
As discussões em torno de processos de assentamentos rurais são comuns na Geografia,
principalmente pela sua vertente crítica marxista. Dado as características do assentamento em
estudo, realizado pelo MST, expressando uma lógica de organização que se caracteriza pela
insubordinação à lógica da propriedade privada e propõe diferentes formas produtivas.
Essa pesquisa diferencia-se da abordagem clássica marxista pela utilização das
Representações Sociais e suas relações com o espaço, compreendendo de forma específica o
processo de ocupação da área, realizada pelo grupo, até o estabelecimento de possível
assentamento. Numa abordagem não marxista, se considerando a racionalidade capitalista,
reconhecendo a importância de entender os agentes produtores do espaço em sua função econômica
na estrutura capitalista, mas há inúmeras outras formas de interação entre pessoas, aparentemente
insignificantes, que marcam e qualificam as formas de relações mais evidentes da estrutura sócio-
espacial (SILVA, 2002).
O espaço é concebido como produto, condição e meio de reprodução das relações sociais,
conforme sustenta Lefebvre (1991), o espaço então, deve manifestar a dinâmica social que o
produz. Tornando-o categoria fundamental para compreensão dessa dinâmica, sendo entendido
como resultante das ações dos moradores do pré-assentamento, que possuem diferentes visões de
mundo, instituindo diferentes significações espaciais.
O MST se apresenta com uma estrutura de organização coesiva para os assentados, indicando uma
coletividade, expressando-se em certa homogeneidade de discurso, “sujeito Social é uma expressão
que indica uma coletividade que constrói sua identidade (coletiva) no processo de organização e de

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luta pelos seus próprios interesses sociais.” (CALDART, 2004, p. 189) porém o espaço não é
construído em caráter fixo e unilateral, e sim socialmente, sob diferentes representações espaciais.
"As formas espaciais são produtos contingentes da articulação dialética entre ação e estrutura.
Elas não são manifestações puras de forças sociais profundas; em vez disso, constituem um mundo
de aparências que a análise deve penetrar" (Gottdiener, 1993, p.199).
A pertinência de trabalhar com representações sociais, conceito provindo da Psicologia
Social, a partir da teorias de Serge Moscovici definindo o conceito como “uma modalidade de
conhecimento particular que tem como função a elaboração de comportamentos e a comunicação
entre indivíduos” (MOSCOVICI, 1978, p.26). Para esse autor as “representações sociais”, são
teorias do senso comum, procedendo a uma interpretação e à construção da realidade social. As
Representações Sociais pode ser compreendida como um conhecimento socialmente construído e
socialmente compartilhado.
O ato de representar é uma reconstrução e não uma repetição ou reprodução, pois neste
processo a realidade desconexa, ao ser reconstruída, faz circular e reunir experiências dos
indivíduos, tornando o que é estranho em algo familiar para, assim, naturalizá-lo (SILVA,
2002, p.192).

O pré-assentamento Emiliano Zapata se caracteriza por apresentar famílias oriundas de


diferentes regiões do Paraná e até mesmo de outros estados. Essas famílias estão sempre vulnerárias
a mudanças e re-adaptações no estabelecimento de atividades econômicas como de suas teias de
interações.
Além de estar vulnerável quanto a localidade da sua moradia, cada família possui sua
representação do espaço, fruto da prática espacial particular. Lefebvre (1991) argumenta a
necessidade de se levar em conta a prática espacial, a representação do espaço e o espaço da
representação.
A teoria das Representações Sociais se apresenta como uma ferramenta explicativa da
construção da trama simbólica que envolve determinado grupo e que vem ao encontro com a
proposta epistemológica da nova geografia cultural, que dá voz ao sujeito não se restringindo ao
“visível” ao espaço material, considerando paisagem como representação, não existente a priori. Ou
seja, não contém significado em si, mas é uma construção social incessante, sempre se reproduzindo
e renovando-se.
Duncan (1990) em sua obra “The city as text”, através de processos de interpretação,
considera o espaço como um sistema de significados, semelhante a um texto. Ampliando a análise
para além das apresentações materiais, admitindo as dinâmicas relacionais que são compostas e ao
mesmo tempo compõe o espaço.
O autor utilizando-se do conceito de “intertextualidade” evidencia não só a construção de
diferentes significados sobre um mesmo objeto, como os contrastes dessas interpretações, trazendo
à luz as forças que operam na construção simbólica do espaço.
O pré assentamento em estudo apresenta-se como ambiente vetor de confrontos e absorções
entre as interpretações do espaço de moradia.

4. Conclusão
A pesquisa apresenta-se em andamento, por isso em constante diálogo com as famílias
assentadas, através das entrevistas. O pré-assentamento constitui-se numa espacialidade de ações em
diferentes escalas de organização que envolve variados grupos de interesses, já que estão vinculados aos
interesses de uma Organização (MST) em nível nacional, mas possuem especificidades e redes com agentes
locais que configuram singularmente esse espaço.

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Referências

CALDART, Roseli Salete. Pedagogia do Movimento Sem Terra. São Paulo, Expressão Popular, 3a. Ed,
2004.

DUNCAN, J. The city as text. The Politics of Landscape Interpretation in the Kandyan Kingdom.
Cambridge, Cambridge University Press. 1990.

GOTTDIENER, Mark. A produção social do espaço urbano. São Paulo: Ed. USP, 1993.

LEFEBVRE, Henri. The production of space. Massachusetts: Blackwell, 1991.


MOSCOVICI, Serge. A representação social da psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.

SILVA, Joseli Maria. A verticalização de Guarapuava (PR) e suas representações sociais. / Joseli Maria
Silva. Rio de Janeiro: UFRJ. PPGG, 2002.

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A TRADIÇÃO HELENÍSTICA TRANSFORMADA NO IMPÉRIO ROMANO DO


SÉCULO II D.C.: A ANÁBASE DE ALEXANDRE MAGNO
DE ARRIANO DE NICOMÉDIA

André Luiz Leme1


Programa de Pós-Graduação em História pela Universidade Federal do Paraná

1. Introdução
Dentre os diversos escritos do grego Arriano de Nicomédia (cerca de 89 d.C. – após 145/6), aquele
que mais despertou interesse, desde os tempos antigos, foi sua obra Anábase de Alexandre Magno [1]. Nesta,
o grego de Nicomédia relatou a trajetória empreendida pela expedição militar de Alexandre, o Grande (356-
323 a.C), rumo à conquista do reino persa. Sem dúvidas, possui imenso valor para os estudiosos do rei
macedônio, pois é rica em detalhes, especialmente militares, da sua campanha. Acreditamos que uma fonte
histórica, seja relatando fatos de um passado recente ou distante, deve sempre ser analisada sob o prisma do
seu próprio tempo de composição. Levando em consideração tal perspectiva, nosso olhar investigativo sobre
a Anábase de Alexandre Magno não recai numa discussão e análise histórica dos feitos de Alexandre, o
Grande, mas sim contempla os motivos que levaram Arriano de Nicomédia, em seu tempo, a resgatar a
memória desse personagem através de uma composição narrativa.
Nesse sentido, o primeiro passo é situar essa obra no tempo: quando a Anábase de Alexandre Magno
foi composta? Surge aqui o primeiro problema de nosso estudo: não há qualquer evidência direta (não
subjetiva) que aponte para uma possível data. Diante desse quadro inicial, ressaltamos como ponto de apoio
um pressuposto que não poderia fugir ao nosso estudo e que certamente pode nos ajudar na busca de uma
solução para tal problema: compreender que a Anábase de Alexandre Magno, ainda que possua importantes
informações sobre determinados acontecimentos do passado (a expedição de Alexandre), é filha de seu
tempo e, desse modo, pode também nos relevar muito acerca do seu contexto de produção.
Portanto, iniciamos a seguinte reflexão: o pensamento de Arriano, em determinado momento de sua
vida, serve de guia e o direciona para o estudo de um personagem específico: Alexandre, o Grande. De um
modo básico, devemos então pensar no ambiente de possíveis interesses do autor para com o seu trabalho em
um dado momento que viveu. Por isso, impõe-se ao nosso estudo uma atenta observação à seguinte
problemática: quais seriam as possíveis motivações do autor, Arriano de Nicomédia, para escrever sobre um
personagem, tal como Alexandre, o Grande, em uma determinada época de sua vida?

2. Método
Reafirmamos o caráter históriográfico de nosso trabalho ao justamente questionar e problematizar,
através de uma análise mais profunda do personagem e de seu contexto, os possíveis interesses que o
levaram a compor uma obra. Estudar um personagem é compreendê-lo dentro de seu mundo – não como
sujeito à ele, mas sim enquanto personagem ativo, consciente e que o transforma constantemente.
Nosso percurso de análise envolveu, antes de tudo, um estudo sobre Arriano de Nicomédia: onde
nasceu e viveu, sua formação educacional, sua carreira na vida pública, com quem mantinha relações a nível
político e como foi sua produção intelectual. Nesse sentido, as obras de Stadter [2] e Bosworth [3] foram
valiosas leituras, pois tratam especificamente sobre a vida e o trabalho do grego de Nicomédia.
O passo seguinte foi direcionar nossos olhos para uma análise dos aspectos formais da Anábase de
Alexandre Magno: quais seriam as características de discurso sobre o passado que a obra apresenta e de que
modo esse discurso da obra ganha inteligibilidade em seu tempo? Para esse estudo, nosso apoio teórico veio
das obras Como se faz a história: historiografia, método e pesquisa, de autoria conjunta de François Cadiou,
Clarisse Coulomb, Anne Lemonde e Yves Santamaría [4]; As raízes clássicas da historiografia moderna, de
Arnaldo Momigliano [5]; e A pesquisa histórica: teoria e método, de Júlio Aróstegui [6].
Torna-se necessário igualmente um foco atento sobre o contexto em que viveu o autor. Optamos por
um estudo muito mais de caráter político-institucional, tendo em vista nosso conhecimento de que Arriano
era partícipe da vida pública no ambiente de poder do Império Romano. Tivemos de compreender os
mecanismos da esfera institucional daquela sociedade, ou seja, o modelo e os suportes básicos, inclusive
mentais, de caráter legitimador para o poder. Nesse sentido nos apoiamos nas obras Orbe Romano e Império
Global, de Alejandro Bancalari Molina [7]; História de Roma, de Michael Ivanovich Rostovtzeff [8]; e o
artigo Imperium et orbis: conceitos e definições com base nas fontes tardo-antigas ocidentais (séculos IV-

1
Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em História pela Universidade Federal do Paraná – linha de pesquisa
Cultura e Poder. Discente pertencente ao Núcleo de Estudos Mediterrânicos (NEMED/UFPR) e ao programa
REUNI/UFPR. Contato: andreluizleme@yahoo.com.br
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VII), de Renan Frighetto [9]. Para nosso conhecimento acerca do processo histórico propriamente dito, no
qual se incluem as vicissitudes da época de Arriano que, de uma forma ou outra, poderiam repercutir no
pensamento do personagem, buscamos apoio nas obras O Império Romano, de autoria conjunta de Engel e
Palanque [10]; Historia del mundo antiguo: una introducción critica, de Gonzalo Bravo [11]; e Historia de
Roma, de autoria conjunta de José Manuel Roldán, Jose Maria Blázquez e Arcadio del Castillo [12].
Como fica indicado, nosso trabalho desenvolveu uma linha de raciocínio em torno de três categorias
históricas básicas de análise: o autor, a obra e seu tempo. A relação entre esses três aspectos tornou possível
uma via de entendimento acerca dos interesses do autor na composição de sua obra, pois seu ato de escrita
somente ganha inteligibilidade quando entendida como uma forma de interação do indivíduo para com a
sociedade de seu tempo – demonstrando aquele que seria seu grau de consciência dentro dela.

3. Resultados e Discussão
Dentre as principais informações que levantamos acerca de Arriano de Nicomédia, destacamos as
seguintes: nasceu na província romana da Bítinia-Ponto, membro de uma importante família da aristocracia
local. Cidadão romano, seguiu o cursus honorum senatorial, tornando-se cônsul no ano de 129 d.C. e
chegando à notável posição, em 131/32 d.C., de legatus Augusti pro praetore na província da Capadócia,
região leste do Império. Foi nesse momento que, ao repelir tentativas de invasão bárbara, se destacou como
um grande estrategista militar. Dentre seus possíveis patronos na vida política, destacamos o senador C.
Avidius Nigrinus e o futuro Imperador Adriano. Porém, o grego de Nicomédia também se destacou como um
grande pensador em sua época. Dentre seus diversos escritos, encontram-se tratados militares e até mesmo
obras filosóficas. Mas e a Anábase de Alexandre Magno, pode ser considerada o que? Uma história, uma
biografia ou um relato literário?
Tivemos, inicialmente, de caracterizar e debater acerca da forma escolhida por Arriano para narrar
acontecimentos do passado. Partimos, portanto, do pressuposto de que o seu interesse na obra e o objetivo
que almeja com ela estão intimamente relacionados ao modo por ele escolhido para contá-la – ou seja, as
características do discurso adotadas pelo autor em sua composição. Uma análise do prefácio da obra é nosso
primeiro passo nessa discussão, pois se trata do momento no qual o autor coloca, de modo mais direto, seus
objetivos mais básicos com aquele seu escrito. Nesse momento de seu escrito, Arriano comenta que
considera e transcreve como verdadeiras as informações que encontra tanto na obra de Ptolomeu quanto na
de Aristóbulo – ambos companheiros de Alexandre em sua expedição [13]. Trata-se, nesse primeiro
momento, de claramente ressaltar o caráter de suposta verdade inerente ao seu escrito. Ao mesmo tempo,
percebemos a posição metodológica do autor que permite, primeiramente, esse alcance da verdade: a seleção
por determinadas fontes e uma análise comparativa entre elas. A racionalidade e busca pela verdade talvez
seja a principal característica que nos permita afirmar que Arriano pretendeu construir um discurso histórico
em sua obra, tendo em vista que o modelo historiográfico surgido com Heródoto e Tucídides pressupunha ao
historiador o dever de dizer a verdade sobre o que relatava. Ou seja, a proposta em torna da escrita da
verdade era um elemento constituinte do discurso histórico [14].
Portanto, o relato de Arriano, enquanto declaradamente verdade, se aproximaria de um discurso
histórico. Mas, exatamente, quais seriam as conseqüências disso? O que o discurso histórico possuía que o
diferenciasse, qualitativamente em sua função, de outros possíveis relatos sobre o passado. Segundo o
historiador Arnaldo Momigliano, os historiadores gregos quase sempre acreditavam que os acontecimentos
passados tinham certa relevância para o futuro, e sua lembrança constituiria uma espécie de lição aos
contemporâneos de tal escrito [15]. Dessa forma, o ímpeto de construção da Anábase de Alexandre Magno
converge então para o seguinte sentido: Arriano, em sua obra, desejaria fundamentalmente lembrar e
ressaltar o caráter exemplar de um grande personagem e a realização, por parte deste, de um
empreendimento épico, numa trajetória de incríveis e incomparáveis feitos. Tudo isso seria digno de
lembrança, tornando-se exemplo para a época do próprio Arriano.
Podemos pensar que a escrita da história, ao assumir sua função de mestre da vida, tornava-se
praticamente um instrumento de poder: ela revelava, com base na tradição, o que são os bons e maus
exemplos a serem seguidos. Em outras palavras, ela legitimava ações, comportamentos e personagens,
especialmente na vida política. De certo modo, as escolhas de determinados exemplos (seja para enaltecer ou
criticar) realizadas pelos autores antigos atendem à seus interesses e idéias sobre a política e o próprio poder
na época em que viveram e escreveram. Justamente por isso, podemos pensar que Arriano, ao compor a
Anábase de Alexandre Magno, poderia demonstrar, muitas vezes de modo implícito, concepções teóricas
acerca da política e do poder, as quais correspondem favoravelmente aos seus anseios e propostas frente aos
problemas e questões de importância, a nível político, em um determinado momento de sua vida.
A importância e alcance de uma obra como a Anábase de Alexandre Magno condiz e assume tal
função quando podemos pensá-la dessa forma, como expressão e defesa, por parte de seu autor, de idéias

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diretamente vinculadas à sua posição e vínculos com o poder. Portanto, seguindo esse pensamento, talvez
possamos pensar que Arriano tenha mais se motivado na construção de sua obra durante o período no qual
esteve diretamente vinculado à política, ou seja, enquanto esteve imerso e ativo nos interesses e
preocupações da vida pública, e no qual sua obra teria impacto positivo para ele e seu destinatário (s).
Buscando, portanto, esse referencial cronológico básico, delineamos um período a ser observado com maior
atenção: do ano de 117 d.C. à 138 d.C, ou seja, referente a entrada de Arriano no Senado até o fim de seu
governo na província da Capadócia – período correspondente também ao governo do princeps Adriano, seu
provável e principal patrocinador.
Sucessor de Trajano, Públio Élio Adriano foi princeps de 117 d.C. até 138 d.C. Prestigiado militar,
deve sua ascensão ao Principado à mulher de Trajano, Plotina, quem divulgara o suposto desejo de Trajano,
em seus últimos momentos de vida, da adoção de Adriano. Tal fato despertou uma grande desconfiança por
parte do Senado em relação à legitimidade de Adriano como princeps, tendo em vista a obscuridade dessa
nomeação. No entanto, como demonstra Gonzalo Bravo, “ni la condición de „adoptado‟ de Trajano ni el
apoyo del influyente Acilio Atiano fueron suficientes para que Adriano fuera aceptado emperador por el
Senado sin reservas”[16]. Portanto, fica presente a idéia de que havia naquele momento um questionamento,
por parte do grupo senatorial, em relação ao novo princeps.
Esse clima de desavença para com o Senado, no entanto, não foi característico apenas do inicio do
principado de Adriano. Pelo contrário, aumentou ao longo de seu governo devido às várias decisões que
tomou. Foi acusado de promover o assassinato de senadores, além de implementar reformas administrativas
e jurídicas que, de certo modo, enfraqueciam a prerrogativa social dos membros do Senado. Do mesmo
modo, as atitudes que Adriano adotou em relação à política externa também foram motivo de críticas: tão
logo no poder, buscou inverter a política externa de Trajano, preferindo a paz para com os partos. Dentre
aqueles que desejavam a guerra, como aporte financeiro ou moral, e que se viram prejudicados com tal
atitude, o descontentamento foi crescente.
De que modo poderíamos agora refletir a obra de Arriano de Nicomédia? Como ela pode ser um
documento revelador de noções acerca de seu período histórico de composição?

4. Conclusão
Devemos lembrar que a Anábase de Alexandre Magno, enquanto obra de discurso histórico, traria aos
contemporâneos de Arriano a memória de um acontecimento excepcional, a expedição de Alexandre, o
Grande. Nesta expedição, demonstram-se, na prática, as ações e comportamentos exemplares de um rei
soberano, um verdadeiro exemplo apoiado na tradição. Dessa forma, as características do monarca
macedônio, quando projetadas no presente de Arriano, tornar-se-iam um parâmetro de bom governante. No
entanto, essas mesmas características não poderiam fugir do modelo referencial de governante, ou seja,
princeps, da época do próprio Arriano – um modelo que era defendido e inerente ao universo mental do
grupo senatorial, a tradicional comunidade política. Caso fosse feito o contrário, o caráter de exemplo que a
própria escrita histórica forneceria perderia muito do seu efeito legitimador. Portanto, se o modelo ideal de
governante da época de Arriano é Alexandre, percebemos uma nítida relação da instituição Principado com a
tradição helenística de governo, personificada em Alexandre. Essa tradição, no entanto, é resgatada por meio
de aspectos que criam a idéia de continuidade (como Arriano deve ter atentado ao construir seu modelo
histórico de Alexandre), visando justamente adaptar um modelo às transformações inerentes ao seu próprio
momento histórico.
Sendo assim, enquanto potencialmente um instrumento de poder, as concepções teóricas que Arriano
constrói em sua obra estabelecem, necessariamente, um paralelo histórico com o seu presente: como não
comparar o ontem com o hoje? Seria esse governante do passado, um exemplo por suas ações, tão bom
quanto aquele que governa no tempo de Arriano? Nesse momento podemos sugerir, tendo por base esse
paralelo, quem seria esse governante, na verdade um velho amigo e patrono de Arriano: o Imperador
Adriano.
Portanto, tendo em vista a própria trajetória de vida de Arriano e as relações que manteve ao longo
dela, levantamos aqui a idéia de que a Anábase de Alexandre Magno fora uma construção histórica que
visava projetar a imagem de um grande monarca do passado, Alexandre, no princeps que acabou auxiliando
e mantendo relações próximas com o próprio Arriano, o Imperador Adriano. Os efeitos dessa projeção, sem
dúvida, seriam positivos para Adriano, legitimando e fortalecendo sua imagem e posição de princeps durante
o seu governo. Essa proposta, visaria especialmente o grupo senatorial [17], o qual se manteve em conflito
com Adriano desde sua ascensão e que, por isso, precisava ser convencido das qualidades desse novo
governante possivelmente por meio de algumas estratégias, dentro das quais a escrita da história compunha
parte importante também. A escrita da história, desse modo, demonstra-se movida por interesses políticos,

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

especialmente relacionados ao âmbito do poder e da esfera de legitimação de determinados personagens no


mesmo.

Referências
[1] ARRIANO. Anábasis de Alejandro Magno. Tradução de Antonio Guzmán Guerra. Madrid: Editorial
Gredos, 1982.
[2] STADTER, P. A. Arrian of Nicomedia. Chapel Hill, 1980.
[3] BOSWORTH, A. B. From Arrian to Alexander: Studies in Historical Interpretation. Oxford, 1988.
[4] CADIOU, François; COULOMB, Clarisse; LEMONDE, Anne; SANTAMARIA, Yves. Como se faz a
história: historiografia, método e pesquisa. Tradução de Giselle Unti. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.
[5] MOMIGLIANO, Arnaldo. As raízes clássicas da historiografia moderna. Tradução de Maria Beatriz
Borba Florenzano. Bauru/SP: EDUSC, 2004.
[6] AROSTÉGUI, Júlio. A pesquisa histórica: teoria e método. Tradução de Andréa Dore. Bauru: EDUSC,
2000.
[7] BANCALARI MOLINA, Alejandro. Orbe Romano e Império Global. Santiago de Chile: Editorial
Universitária, 2008.
[8] ROSTOVTZEFF, Michael Ivanovich. História de Roma. Tradução de Waltensir Dutra. Rio de Janeiro:
Zahar, 1967.
[9] FRIGUETTO, Renan. Imperium et orbis: conceitos e definições com base nas fontes tardo-antigas
ocidentais (séculos IV-VII). In: Andréa Doré; Luís Filipe Silvério Lima; Luiz Geraldo Silva. (Org.). Facetas
do Império na História: Conceitos e métodos. 1ª ed. São Paulo: Editora Hucitec, 2008, v. 1, pp. 147-162.
[10] ENGEL, J. M.; PALANQUE, J. R. O Império Romano. São Paulo: Atlas, 1978.
[11] BRAVO, Gonzalo. Historia del mundo antiguo: una introducción critica. Madrid: Alianza Editorial,
1998.
[12] ROLDÁN, J. M.; BLÁZQUEZ, J. M.; DEL CASTILLO, A. Historia de Roma. Tomo II: El Imperio
Romano (siglos I-III). Madrid: Ed. Cátedra, 1989.
[13] ARRIANO. Anábasis de Alejandro Magno. Tradução de Antonio Guzmán Guerra. Madrid: Editorial
Gredos, 1982, p. 117.
[14] CADIOU, François; COULOMB, Clarisse; LEMONDE, Anne; SANTAMARIA, Yves. Como se faz a
história: historiografia, método e pesquisa. Tradução de Giselle Unti. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007, p.19
[15] MOMIGLIANO, Arnaldo. As raízes clássicas da historiografia moderna. Tradução de Maria Beatriz
Borba Florenzano. Bauru/SP: EDUSC, 2004, p. 38.
[16] BRAVO, Gonzalo. Historia del mundo antiguo: una introducción crítica. Madrid: Alianza Editorial,
1998, p.447.
[17] Segundo Stadter, “A book like the Anabasis was addressed to the elite of the Roman empire – those
administrators, senators, officers, and intellectuals who could appreciate the restrained classicism of his style,
the careful reconstruction of military operations, the interest in Alexander‟s moral development. […] the
intended audience […] is much more knowledgeable and refined” In: STADTER, P. A. Arrian of
Nicomedia. Chapel Hill, 1980, p.168.

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A UTILIZAÇÃO DE TÉCNICAS DE GEOPROCESSAMENTO COMO UMA


FERRAMENTA DE ANÁLISE DO ESPAÇO URBANO: ESTUDO DE CASO DO
ALTO CURSO DO ARROIO CANCELA, SANTA MARIA/RS.

Maria Isabel da Silva Galvão1*; Letícia Celise Ballejo de Oliveira2;


Waterloo Pereira Filho3
1
Universidade Federal de Santa Maria - UFSM
2
Universidade Federal de Santa Maria - UFSM
3
Universidade Federal de Santa Maria - UFSM

1. Introdução

O crescimento da população brasileira nas últimas décadas concentrou-se nas áreas


urbanas, resultando assim, em uma intensa utilização dos recursos naturais pelas atividades
humanas. O aumento da urbanização gera inúmeros problemas ambientais, pois as ações
antrópicas provocam mudanças bruscas e intensas no ambiente. Esse “inchaço populacional” se
deve ao fato, de que as cidades exercem atratividade decorrente da disponibilização e acesso a
uma variada gama de bens e serviços. Nesse sentido, emerge a necessidade do planejamento
urbano, a fim de se evitar danos ambientais, humanos e econômicos.
Nesse contexto, as técnicas de Geoprocessamento constituem-se em um importante
instrumento para a análise do espaço geográfico e das transformações decorrentes das ações
antrópicas, pois através do uso de ferramentas, como os Sistemas de Informação Geográfica
(SIG’s), é possível realizar a integração dos mais variados tipos de dados, armazenando,
analisando e apresentando-os espacialmente georeferenciados.
Assim, para a análise das modificações do uso do solo de um determinado lugar, os SIG’s
possibilitam estudar os conflitos gerados pelo crescimento de áreas urbanas, as quais, muitas
vezes, substituem áreas naturais encarregadas de importantes serviços ambientais.
Diante disso, o presente trabalho teve por objetivo realizar uma análise temporal do uso e
ocupação do solo no Alto Curso da Microbacia Hidrográfica do Arroio Cancela (Figura 01) nos
anos de 1992 e 2009, por meio de técnicas de Geoprocessamento, utilizando o SIG SPRING
4.3.
A área em questão, localiza-se no município de Santa Maria/RS, entre as coordenadas
geográficas 53º46 a 53º48’1,6” de longitude Oeste (W) e 29º41’15” a 29º42’7”de latitude Sul
(Figura 01). O Alto Curso do Arroio Cancela, situa-se em uma área urbana, a qual nos últimos
anos vem sofrendo um acelerado e heterogêneo processo de adensamento humano para fins
residenciais e comerciais, salientando-se que nesse local, situam-se importantes
estabelecimentos comerciais, como shopping e rodoviária, o que causa um maior fluxo de
serviços e pessoas e conseqüentemente, maior atuação antrópica. Este processo resulta no que
alguns autores denominam de núcleos secundários de comércio e serviço, os quais ocasionam
um gradual processo de descentralização do espaço urbano santamariense.

2. Materiais e Métodos

A metodologia aplicada nesse estudo baseia-se em trabalhos disponíveis na literatura


dessa área do conhecimento, que foram adaptados ao material disponível e no aprofundamento
dos saberes com relação à dinâmica do espaço geográfico no referido alto curso da microbacia.
Para realizar a análise do uso e ocupação do solo das referidas datas, utilizou-se a Carta
Topográfica Santa Maria – SE, Folha: SH. 22-V-C-IV, na escala 1:25000 de 1970, fotografias
aéreas do ano de 1992 na escala de 1:10000 e imagem IKONOS de 2009. Com esses produtos
gerou-se um banco de dados no SPRING 4.3, onde foram armazenados todos os dados
referentes à área de estudo.

* Maria Isabel da Silva Galvão: isabel_gringa@yahoo.com.br.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

A análise do uso do solo para o ano de 1992 foi realizado através da interpretação visual
de fotografias aéreas verticais pertencentes ao levantamento de cobertura aerofotogramétrica
realizado no município de Santa Maria/RS. No SPRING 4.3, foram estabelecidas três classes de
uso do solo, de acordo com a textura apresentada nas fotografias: campos, vegetação arbórea e
área urbana.
Para o ano de 2009, foi realizada, no referido SIG, a classificação supervisionada da
imagem, onde foram elencadas duas classes: vegetação arbórea e área urbana.
Após as análises realizadas geraram-se os mapas, os quais foram finalizados no programa
Corel Draw 4x.

Fig. 1: Mapa de localização da área de estudo.

3. Resultados e Discussão

O Alto Curso do Arroio Cancela, localizado na porção sudeste do município de Santa


Maria/RS, apresenta uma área total de 135 ha, situados totalmente na área urbana do município.
A drenagem, a qual, de acordo com Straller (1981), apresenta uma hierarquia fluvial de 3ª
ordem definida a partir do seu grau de complexidade.
O Mapa de Uso do Solo no ano de 1992, (Figura 02), elaborado a partir do mosaico das
fotografias áreas, apresentou três classes referentes aos seus usos: vegetação arbórea, campo e
área urbana. Constatou-se o predomínio da área urbana, 69 ha, este uso encontra-se próximo as
principais vias arteriais do município que conectam os bairros da porção leste e sul ao sítio
urbano de Santa Maria, que neste período concentrava os principais serviços do município.
O segundo maior uso, refere-se à classe vegetação arbórea, a qual compreende 33% da
área total. A mesma apresenta uma mancha mais homogênea na porção leste, onde se encontram
as maiores declividades da área, local conhecido popularmente como Morro do Cerrito, que se
situa adiante da escarpa de cuesta do planalto gaúcho, caracterizando-se assim, como morro
testemunho. Observa-se também, a presença de fragmentos dessa classe ao longo da margem
direita do curso principal do arroio, as quais são por lei Área de Preservação Permanente (APP),
o mesmo não ocorre na margem esquerda. Evidencia-se a presença de pequenos bosques
isolados de vegetação arbórea ao longo da área de estudo.
A classe campo, predominantemente coberta por gramíneas, graminóides e ervas,
corresponde a menor classe da área em estudo, compreende apenas 16%. Esta classe encontra-se

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preponderantemente, próxima a vegetação arbórea e localiza-se na porção central do Alto Curso


do Arroio em questão, área esta deficitária de vias de acesso.

Tab. 1: Classes de Usos do Solo e suas respectivas áreas.


Ano 1992 2009

Classes de Uso ha % ha %
Vegetação Arbórea 44 33 72 53
Campo 22 16 - -
Área Urbana 69 51 63 47
TOTAL 135 100 135 100
Fonte: SPRING 4.3
Elaboração: GALVÃO & OLIVEIRA, 2010.

A partir da classificação da imagem IKONOS do ano de 2009 (Figura 03), obteve-se duas
classes de uso do solo: vegetação arbórea e área urbana. Neste ano, observa-se o predomínio da
vegetação arbórea em relação área urbana. A vegetação arbórea abrange 53% da área total em
análise. A mesma encontra-se principalmente na porção centro-leste da microbacia, onde, mais
ao leste situam-se as maiores declividades, sendo esta, um dos fatores que propiciaram a
manutenção da mesma nessa região.
A área urbana corresponde a 47% da área total, situando-se preponderantemente na
porção oeste, onde ocorreu uma forte especulação imobiliária, em decorrência da inserção de
uma gama de serviços, que até então se concentravam no centro urbano. Esse processo resultou
na formação de um núcleo secundário de comércio e serviço, que no decorrer dos últimos anos,
passou a valorizar a área agregando infra-estrutura a mesma.
A partir das classificações do uso do solo do Alto Curso do Arroio Cancela, nos anos de
1992 e 2009, pôde-se evidenciar algumas transformações ocorridas nessa área. Observou-se que
as áreas cobertas por vegetação arbórea, apresentaram um acréscimo de 20% no período
analisado, principalmente na porção leste da microbacia, sendo que, em 1992, apresentava
grandes porções da classe campo. Em 2009, evidenciou-se a presença de pequenos fragmentos
de vegetação arbórea ao longo de toda a área em análise. As transformações de áreas de campo
em vegetação arbórea, nos últimos dezessete anos, pode estar associada à legislação ambiental
vigente, que nos últimos anos passou a ser implementada com maior rigor pelos órgãos
ambientais. Soma-se a isso, a maior conscientização da população local, que passou a evidenciar
a importância de áreas verdes dentro dos espaços urbanos, bem como nas encostas, como forma
de mitigar processos erosivos, assoreamento dos cursos d’água e movimentos de massa.

Fig. 2: Mapa de Uso do Solo, 1992. Fig. 3: Mapa de Uso do Solo, 2009.
Elaboração: GALVÃO & OLIVEIRA, 2010. Elaboração: GALVÃO & OLIVEIRA, 2010.

No que tange a área urbana, observou-se uma redução de 4% nesta classe nos últimos
dezessete anos, isto se deve, principalmente ao processo de verticalização urbana que a área

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

vem sofrendo. A ocupação urbana em 1992 possuía características rurais, com a presença de
poucos edifícios e o predomínio de habitações do tipo casas, haja vista, que a mesma era uma
área residencial. Em 2009, observa-se o predomínio de edifícios nas áreas até então ocupadas
por casas, marcando assim, a densificação populacional e a verticalização. Este processo de
verticalização não ocorre em toda a área do Alto Curso do Arroio Cancela, mas sim, no entorno
do limite da mesma, ou seja, em pontos estratégicos como nas proximidades das vias principais
que conectam a área as demais porções do município. Outra constatação refere-se à
transformação de uma área essencialmente residencial para um núcleo secundário de comércio e
prestação de serviços, constituindo-se no que Corrêa (2002) denomina de “... uma miniatura do
núcleo central”, o qual possui uma gama de tipos de lojas e serviços, que atende uma população
de classe média-alta.
Constatou-se que a evolução do uso da terra nos últimos dezessete anos, teve um
acréscimo da vegetação arbórea em detrimento da área urbana. No entanto, o aumento da
população na área, em decorrência do processo de verticalização e de mudança de usos
propiciou inúmeros impactos na microbacia. Apesar do aumento da vegetação arbórea, o mesmo
não aconteceu com as áreas de APP, que atualmente se encontram impermeabilizadas, onde os
tributários da margem direita do Arroio são os mais comprometidos, pois em decorrência da sua
proximidade com as vias de acesso, sofreram forte especulação imobiliária e, hoje, praticamente
inexiste uma faixa de vegetação arbórea ao longo desta margem. Soma-se a isso, o
assoreamento do canal principal e a contaminação de toda a rede de drenagem por coliformes
totais e fecais, que em períodos de chuvas concentradas, ocasiona alagamentos no segmento a
jusante do mesmo, propiciando assim, a proliferação de doenças de origem hídrica.

4. Conclusão

O crescimento das cidades e o processo de urbanização é um dos grandes problemas


enfrentados pelos governantes municipais e pela população local, que sofre os efeitos diretos da
falta e/ou ineficiência do planejamento urbano.
A partir da análise do Uso e Ocupação do Solo no Alto Curso da Microbacia do Arroio
Cancela/RS, em duas séries temporais (1992 e 2009), constatou-se os diferentes usos do solo,
bem como, os efeitos do processo de ocupação na referida área. A partir da classificação
supervisionada realizada pelo software SPRING 4.3, observou-se um aumento da vegetação
arbórea em relação à área urbana, contrapondo-se a uma densificação populacional local,
resultante do processo de verticalização urbana, sendo a especulação imobiliária um dos
principais agentes responsáveis por esses processos.
Nesse contexto, emerge a necessidade de um planejamento urbano que supra os
problemas ambientais e sociais que surgem nessa área, visando uma melhor qualidade de vida a
população e, também, a preservação dos recursos naturais presentes. A solução e/ou mitigação
dos problemas provocados pelo processo de urbanização põe-se como um desafio para a
sociedade civil e para os governantes, haja vista, a necessidade de adoção de uma série de
medidas da ação conjunta da sociedade com os órgãos municipais.

5. Referências

CORRÊA, R. L. O Espaço Urbano. São Paulo: Ed. Ática, 2002.


GEIGER, P. P. Formação da Organização urbana brasileira. In: Evolução da Rede Urbana.
Rio de Janeiro: INEP/MEC, 1963, p. 59-113.
LOCH, R E. N. Cartografia: representações, comunicação e visualização de dados espaciais.
Florianópolis: Ed. da UFSC, 2006.
MARTINELLI, M. Mapas de Geografia e Cartografia Temática. São Paulo: Contexto. 2ª
Edição, 2003.
SANTOS, M. A urbanização brasileira. 5ª ed. São Paulo: Editora da Universidade de São
Paulo, 2005.

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1
A UTILIZAÇÃO DO TURISMO DO MUNICÍPIO DE CRUZ ALTA/RS COMO TEMÁTICA
PARA O ESTUDO DO LUGAR

Geani Nene Caetano1; Benhur Pinós da Costa2


1
Graduanda do Curso de Geografia Licenciatura Plena da Universidade Federal de Santa Maria/RS
2
Professor Doutor do Departamento de Geociências da Universidade Federal de Santa Maria/RS

1. Introdução
O processo de ensino-aprendizagem da Geografia e a sua evolução enquanto ciência permite discussões
e a inserção de novos recursos pedagógicos sobre o objeto e a metodologia da sua abordagem, permitindo que o
professor em sala de aula construa os saberes, uma vez que esta ciência tem na interface sociedade e natureza um
dos seus focos de investigação [1]. Destaca-se a importância da temática do turismo no ensino de Geografia nas
escolas, uma vez que, a mesma constitui-se em uma atividade que tem suma importância na sociedade e na
economia pós – moderna.
Dessa forma, a presente pesquisa teve como objetivo geral contribuir com a ciência geográfica através da
compreensão da organização espacial do município de Cruz Alta-RS, enfatizando-a no âmbito educacional para
a construção do conhecimento proporcionado no processo de ensino-aprendizagem, utilizando-se para tal do
turismo como temática central.
Nesse sentido, a investigação elegeu como área de estudo Cruz Alta/RS, pois esse Município tem
grande importância em se tratando da atividade turística, como por exemplo o turismo religioso, o turismo
cultural, o turismo histórico, entre outros. Esses tipos de turismo materializam-se no Município através da
materialização da religiosidade da cultura portuguesa, através da devoção à Padroeira do Município, Nossa
Senhora de Fátima, o qual possui um monumento em sua homenagem, além de outras manifestações da fé
católica, como procissões e festividades.
O Município localiza-se na porção noroeste do Rio Grande do Sul, destacando-se como um importante
pólo regional integrando as mais diversas áreas, entre elas a comercial, a industrial, a agropecuária, a
educacional, a da saúde, a do turismo, e a da cultura. Possui importantes pontos turísticos, sendo eles;
Monumento de Fátima, Monumento ao Gaúcho, Prefeitura Municipal, Museu Casa de Érico Veríssimo, entre
outros que foram investigados com os educandos.
O Município tem importantes eventos que atraem turistas todos os anos, como a Coxilha Nativista, o
Festival de Música Gospel, a Romaria de Nossa Senhora de Fátima e o Carnaval Regional.
Desse modo a presente pesquisa foi realizada na Escola Municipal Marcos de Barros Freire, na 3ª série
do Ensino Fundamental, localizada na zona rural do município de Cruz Alta, e na Escola Estadual de Ensino
Fundamental Gabriel Álvaro de Miranda na mesma série, situada na área urbana do Município em análise, para
ter uma visão mais abrangente da percepção turística desses educandos, bem como a preocupação com a
compreensão e conhecimento que os mesmos detém sobre o turismo de Cruz Alta, promovendo atividades
pedagógicas, relacionando com a Geografia e o estudo do turismo quando for trabalhado o conteúdo do
Município.

2.Método
O presente artigo provém do Trabalho de Graduação de Licenciatura Plena em Geografia intitulado: A
inserção do turismo do município de Cruz-Alta/RS como temática para o estudo do lugar [1.2], sendo esse,
requisito parcial para a obtenção do grau de Licenciado em Geografia na Universidade Federal de Santa
Maria/RS.
Metodologicamente a pesquisa foi estruturada em etapas. Primeiramente realizou-se amplo levantamento
bibliográfico sobre os principais conceitos abordados na pesquisa, dentre eles destaca-se turismo, atrativos
turísticos, ponto turístico, evento turístico, entre outros.
Dessa maneira, para a realização dessa investigação utilizou-se o método fenomenológico. Nessa
perspectiva, foi analisada a organização espacial atrelada à percepção do lugar de vivência do educando,

1
Autor correspondente: geanicaetano@yahoo.com.br

116
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2
procurando, dessa forma, contribuir para a construção do conhecimento geográfico através do turismo. Além de
serem apresentadas as principais modalidades de turismo que têm relevância em Cruz Alta, entre eles: o turismo
cultural, o turismo religioso e o turismo histórico. Sendo assim, esses conceitos utilizados e enfatizados
juntamente ao processo ensino-aprendizagem e aos conhecimentos didático-pedagógicos.
Posteriormente, buscaram-se dados em fontes primárias e secundárias em instituições como a Casa de
Cultura Justino Martins e principalmente na Secretaria de Turismo (SETUR).
Outra fase da pesquisa foi direcionada ao trabalho de campo, pautado primeiramente na observação de
algumas aulas da 3ª série da Escola Estadual de Ensino Fundamental Gabriel Álvaro de Miranda, situada na área
urbana de Cruz Alta e na Escola Marcos de Barros Freire, localizada na área rural do mesmo. Paralelamente
foram elaboradas atividades pedagógicas com os educandos das 3ª séries dessas Escolas, sendo essas atividades
a construção de maquetes e painéis fotográficos para a melhor compreensão da temática turística em âmbito
municipal.
Posteriormente, foram feitas a análise e interpretação dos resultados obtidos nas etapas anteriores a
partir dos objetivos propostos, aliando teoria e prática onde foi verificada a compreensão da organização
espacial do município de Cruz Alta pelos educandos da Escola Estadual Gabriel Álvaro de Miranda e da Escola
Marcos de Barros Freire através da temática turística.
E, a última etapa centrou-se na elaboração do Trabalho de Graduação [1.2], bem como na publicação em
periódicos científicos que tratem dessa temática, visando divulgar a experiência obtida com a realização da
pesquisa.

2. Resultados e Discussão
Destacam-se como resultados obtidos no trabalho de campo, as confecções de maquetes pelos educandos
da 3ª série da Escola rural Marcos de Barros Freire de quatro pontos turísticos do município de Cruz Alta dos
seguintes pontos turísticos: do Quartel - 29º GAC “Grupo Humaitá”, da Igreja e do Monumento de Nossa
Senhora de Fátima, do Museu Casa de Érico Veríssimo e da Cruz-Marco inicial do município de Cruz Alta.
Tendo, esses educandos mostrado grande interesse em realizar essa atividade prática, apesar de ter sido
bastante trabalhosa e inovadora na visão dos educandos e da professora da turma que auxiliou também na
construção das maquetes dos principais pontos turísticos do município de Cruz Alta apontados após a construção
do painel fotográfico juntamente com os educandos.
Para uma maior aprendizagem da temática turística pelos educandos, foram confeccionadas maquetes
juntamente com os mesmos, do Quartel - 29º GAC “Grupo Humaitá”, da Igreja e do Monumento de Nossa
Senhora de Fátima, do Museu Casa de Érico Veríssimo e da Cruz-Marco inicial de Cruz Alta, tendo como base
as fotos desses pontos turísticos obtidas no trabalho de campo e que foram utilizadas como cartazes explicativos
para as maquetes. Cada maquete foi confeccionada por dois educandos e para a sua confecção foram utilizados
cola, tinta guaxe, lápis de cor, caixas de remédios, caixas de sapatos, brinquedos, gramíneas, entre outros
materiais.
Dessa forma, depois de prontas, as maquetes foram expostas na Feira de Ciências da Escola. Os
educandos mostraram-se satisfeitos e orgulhosos de suas maquetes expostas, o que comprova que a realização de
aulas práticas e interativas contribui para o processo de aprendizagem e para o melhor entendimento da temática
do turismo no ensino do Município.
Desse modo, destaca-se a importância dos professores de Geografia abordarem o desenvolvimento e as
características das atividades relacionadas ao turismo, bem como, os atrativos turísticos presentes no lugar de
vivência dos educandos [1.3].
Portanto, através das atividades pedagógicas realizadas nas Escolas localizadas na área Rural e na área
urbana do Município pode-se inserir a temática turística no estudo do Lugar com êxito, e assim, demonstrar que
é possível o educador utilizar novos recursos didáticos para a abordagem do turismo e sua conseqüente
valorização em âmbito local pelos educandos da 3ª série do Ensino Fundamental.

3. Conclusão
As abordagens atuais da Geografia têm procurado práticas pedagógicas que permitam inserir aos
discentes as diferentes situações de vivências com os seus lugares, de maneira que possam construir
compreensões novas e mais aprofundadas a seu respeito.
Dessa forma, se propôs a discussão e a abordagem da temática do turismo, na 3ª série do Ensino
Fundamental, como uma maneira de instigar a participação e de despertar o interesse dos discentes pelas

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010
3
questões relativas ao seu espaço de vivência, de forma a contextualizar esse tema que vem sido negligenciado
pela Geografia, como disciplina escolar.
O turismo constitui-se em uma temática pouco abordada pelos professores de Geografia e pelos livros
didáticos.
Nesse sentido, destaca-se a importância de introduzir a sua discussão em sala de aula, pois o mesmo se
constitui em um fator social, econômico e cultural de extrema relevância, tendo destaque também, o seu papel na
organização do espaço. Nesse sentido, deve-se instigar os discentes a analisar a atividade turística criticamente
compreendendo a sua importância para o desenvolvimento local/regional.
Dessa forma, com a inserção de novos recursos didáticos para o ensino do lugar via turismo, por
exemplo, com a elaboração de questionários, a captura de fotos, construção de painéis fotográficos, construção
de maquetes e a realização de mapas mentais, foram notáveis o maior interesse e a maior aprendizagem dos
educandos acerca do Estudo do Lugar e da temática turística e, com isso, foi possível obter-se a percepção dos
mesmos sobre os atrativos turísticos de Cruz Alta [1.2].
Nesse sentido, a partir do Trabalho de Campo realizados na Escola Gabriel Álvaro de Miranda, situada
na área urbana do Município e na Escola Marcos de Barros Freire, situada na área rural do mesmo, comprovou-
se que os educandos das duas escolas detêm o mesmo conhecimento acerca dos atrativos turísticos de Cruz Alta,
identificando os mesmos pontos turísticos e eventos como sendo os mais significativos da área em estudo, sendo
esses: Monumento de Nossa Senhora de Fátima e Romaria de Nossa Senhora de Fátima, Monumento ao Gaúcho,
Monumento ao Ferroviário ou Viação Férrea, Monumento á Cuia, Quartel 29º GAC, Museu Casa de Érico
Veríssimo, a Coxilha Nativista, o Carnaval Regional, entre outros apontados pelos educandos [1.2].
Destaca-se que o educador deve oferecer ao educando a reflexão e construção do conhecimento sobre o
turismo, a partir do Município no qual os educandos residem, pois, desta maneira, facilitará o seu entendimento e
permitirá a valorização do espaço pelo aluno.
Salienta-se que, para auxiliar o educando a compreender o seu espaço vivido, o professor deverá
estimular a curiosidade e a percepção em relação ao local, mas também instigar a sua compreensão acerca dos
acontecimentos globais, que também, detêm importância.
Dessa maneira, enfatiza-se que a disciplina de Geografia não deve menosprezar o estudo do turismo,
mesmo que este não seja uma atividade de extrema importância no local onde os educandos residam, já que esta
é uma atividade que vem crescendo mundialmente e que merece, portanto, um maior destaque em âmbito
escolar.
Nesse sentido, comprova-se a importância do Trabalho de Graduação para a escola e para a comunidade
cruzaltense, pois ele enfatiza o turismo local como forma de dinamizar o Município e a abordagem dos
conteúdos de Geografia em sala de aula.

3. Referências

ALESSANDRI, A . F. (org). A Geografia na sala de aula. 5. ed. São Paulo: Contexto: 2003. [1]

CAETANO, G. N. A Inserção do turismo do município de Cruz Alta/RS como temática para o estudo do
lugar. 80 f, 2010. Monografia (Trabalho de Graduação II) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria,
2010. [1.2]

DEGRANDI, S. M. A inserção do turismo no ensino escolar de Geografia no município de Alegrete-RS. 80


f, 2008. Monografia (Trabalho de Graduação de Licenciatura II) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa
Maria, 2008. [1.3]

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AMBIENTES NATURAIS E USO DA TERRA NO ENTORNO DO COMPLEXO


LAGUNAR DO EXTREMO SUL CATARINENSE, SC.

Heloisa de Campos Lalane1, Maria Paula Casagrande Marimon2, Larissa Corrêa Firmino3*
1
Mestranda do MPPT/UDESC
2
Departamento de Geografia/MPPT/UDESC, Dra.
3
Graduanda do Curso de Geografia/UDESC

1. Introdução
O presente trabalho tem como objetivo analisar a fragilidade ambiental na área do entorno do
Complexo Lagunar do Extremo Sul Catarinense, através da caracterização dos ambientes naturais e da
ocupação humana, utilizando como base de análise a delimitação das bacias hidrográficas das lagoas, de
modo a evidenciar as alterações antrópicas impostas a este ambiente costeiro, a partir da década de 1970 até
os dias atuais.
A área em estudo compreende parte da construção marinha e continental da Planície Costeira da
região do Extremo Sul do Estado de Santa Catarina até o início da escarpa da Serra Geral. Esta área
caracteriza-se por uma planície quaternária relativamente ampla, e por apresentar um conjunto de lagunas
costeiras localizadas entre os municípios de Araranguá e Sombrio, que são as lagoas do Caverá, Sombrio,
Mãe Luzia, Serra, Piritú, de Fora, Dourada e do Bicho. Associadas a estas lagunas ainda ocorrem extensas
áreas de marismas e banhados, que reúnem diversas singularidades geomorfológicas e biogeográficas.
As regiões litorâneas representam uma das áreas de maior intercâmbio de energia e matéria do sistema
Terra. Constituem áreas muito frágeis frente a dinâmica dos processos de construção e destruição marinha,
podendo ser afetadas em várias escalas de tempo e espaço e, ainda, sofrer importantes transformações que
podem, ou não, ser irreversíveis. São, portanto, bastante vulneráveis, visto que concentram grande parte da
população mundial, e também catarinense.
O litoral é uma zona de usos múltiplos, onde se observam diversas formas de ocupação e a
manifestação das mais variadas formas de atividades humanas, o que acarreta em conflitos pelo uso do solo.
Esses conflitos e a pressão sobre os ambientes naturais são constantemente observados ao longo do litoral
catarinense, visto que este vem sendo, nas últimas décadas, um grande pólo de atração populacional, tendo
como conseqüência um crescimento desordenado e com sérios impactos ambientais, pois nem sempre ocorre
o planejamento do território no sentido de buscar soluções de desenvolvimento social-ambiental, econômico
e espacial. O que frequentemente se observa é uma dicotomia entre as estratégias de desenvolvimento e de
ordenamento ambiental do território.
No litoral Extremo Sul do Estado de Santa Catarina ocorrem problemas graves, entre os quais,
ocupação com construções nas faixas de praias, áreas de preservação permanente estabelecidas pelo Código
Florestal (Lei 4.771/65), como campos de dunas ativas; restingas geológicas; marismas; manguezais e
banhados [1].
Este litoral caracteriza-se não só pela diversidade geográfica, mas também pela diversidade cultural,
resultado da miscigenação, de diferentes correntes migratórias que povoaram a região. A cultura herdada dos
antepassados se mistura as riquezas naturais. Os primeiros moradores foram os índios Carijó e Xocleng. A
ocupação por europeus no século XVII se deu com luso-brasileiros, vicentistas e posteriormente, açorianos
(século XVIII). Depois, no século XIX, chegaram os italianos, germânicos, poloneses dentre outras etnias.
Este conjunto de singularidades suscita vocações econômicas não industriais para a área. O acervo
histórico, de registros pré-históricos e a paisagem marcada pelo contraste entre praias, dunas, banhados,
lagoas e lagunas dispõem de um grande potencial para o turismo cultural e ecológico.
Percebe-se, pois, que existe, no Litoral Sul do Estado, uma carência de estudos e uma grande demanda
social aplicável visando a superação dos índices de baixo desenvolvimento da região. Com este estudo
pretende-se adquirir e organizar informações, a fim de formar um banco de dados sobre esta região que,
segundo Bittencourt (2008), talvez por estar localizada no Extremo Sul do Estado, longe do centro do poder,
ou pelo fato da maioria dos municípios não apresentarem índices positivos de desenvolvimento, tem ficado a
margem das iniciativas governamentais [1].
Através das inter-relações entre os componentes naturais e sociais que formam a paisagem, este estudo
pretende, portanto, realizar a síntese dos ambientes naturais que compõem o Complexo Lagunar Extremo Sul
Catarinense, com a finalidade de levantar as potencialidades e as fragilidades destes ambientes frente à
ocupação humana, apontando, assim alternativas que auxiliem numa melhor forma de ocupação, com o uso
racional dos recursos naturais, levando em conta a importância de sua preservação para o desenvolvimento
ambiental sustentado.
*
Larissa Corrêa Firmino: laracorreaf@gmail.com
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2. Método
A metodologia empregada neste trabalho consiste na análise de fotografias aéreas de 1966, na escala
1:60.000, (anteriores as principais intervenções nesta região) e imagens orbitais recentes para a interpretação
dos ambientes naturais e da ocupação humana, bem como registros fotográficos, trabalhos de campo e
pesquisa bibliográfica. Como resultado deste estudo, buscou-se propor alternativas que auxiliem na gestão
territorial da área, que leve em conta a preservação dos ecossistemas costeiros e aponte áreas favoráveis à
preservação de ambientes naturais e ao desenvolvimento dos diferentes tipos de atividades humanas.

3. Resultados e Discussão

Análise da Paisagem: Ambientes Naturais e Suas Fragilidades


Através das inter-relações entre os componentes naturais e sociais que formam a paisagem, foi
realizada a síntese dos ambientes naturais que compõem o complexo lagunar, com a finalidade de levantar as
potencialidades e as fragilidades destes ambientes frente à ocupação humana. Tais ambientes naturais serão
descritos nos tópicos abaixo.

Ambiente Eólico Holocênico


O ambiente das dunas móveis é um ambiente muito dinâmico, mudando suas formas de acordo com o
vento. É uma região na qual não deve haver intervenção ou ocupação humana. Por isso é considerada área
protegida nos termos dos artigos 2º e 3º do Código Florestal (Lei nº 4.771/65). Segundo o Código Florestal, a
duna, fixada por vegetação ou não, deve ser área de preservação permanente, assim como toda a área de
restinga (em faixa mínima de trezentos metros, medidos a partir da linha de preamar máxima). No entanto,
parte das dunas móveis já foram totalmente descaracterizadas na área em estudo. Estas dunas foram
aplainadas e aterradas para a construção de loteamentos. As construções humanas tendem a ser permanentes,
no entanto, o ambiente eólico está em constante transformação. Exemplificando este fato, pode-se observar
que nesta área as dunas vêm avançando em direção às casas e ruas, podendo ocasionar soterramento e outros
danos. Além disso, deve ser considerada a função fundamental das dunas na dinâmica da zona costeira, no
controle dos processos erosivos praiais e na formação e recarga de aqüíferos.

Ambiente Eólico Pleistocênico


O ambiente eólico mais antigo de idade pleistocênica é encontrado sobre as cristas praias
pleistocênicas a leste do complexo lagunar. Este ambiente encontra-se bastante descaracteriza, em muitas
áreas foram aplaiandos e cortados. Representam grande fragilidade frente à erosão, agravada pela retirada da
cobertura vegetal e utilização indevida do solo. A morfodinâmica deste ambiente deve ser, portanto, um fator
limitante de seu uso.A ocupação humana pode provocar mudanças no equilíbrio deste ambiente. A pouca
adesão do solo favorece a formação de sulcos e ravinas devido ao escoamento concentrado das águas,
quando retirada a cobertura vegetal. A exposição de solos de antigos depósitos eólicos pela retirada da
cobertura vegetal pode levar ao remanejamento dos sedimentos pela ação eólica, que por sinal, é intensa
nesta área.É importante lembrar que a área de estudo se trata de uma bacia hidrográfica, que possui nas
porções mais baixas as lagoas e, portanto, o material que é erodido e remobilizado fica neste ambiente e pode
causar o assoreamento dos corpos lagunares.

Ambiente Praial Pleistocênico


A maior parte da na área em estudo é constituída por este Ambiente Natural, que é dividido em duas
regiões: a leste das Lagoas, de idade mais recente e a oeste, de idade mais antiga. O Ambiente Praial
Pleistocênico a Leste das Lagoas é formada por antigas cristas praias que se dispõem em cordões arenosos
curvos, de nordeste para sudoeste, a partir das elevações junto á cidade de Santa Rosa do Sul. Já o ambiente
Praial Pleistocênico a Oeste das Lagoas é caracterizado por apresentar antigas cristas curvas numa disposição
Norte/Sul. Este ambiente encontra-se em processo pedogenético mais avançado que o anterior. Por este
motivo, é também mais estável e pouco suscetível à erosão. No Ambiente Praial Pleistocênico mais recente,
o solo que já é pobre em nutrientes e susceptível a erosão devido às suas características naturais (textura
arenosa e, consequentemente, pouca capacidade de retenção de água), torna-se ainda mais frágil devido a
retirada da cobertura vegetal e à práticas não conservacionista do solo. O desmatamento visando às
construções também vem desestabilizando o terreno e suprimindo espécies vegetais, ocasionando a
descaracterização da paisagem e aumento da fragilidade do ambiente em questão, frente aos processos
erosivos. Apesar do relevo ser plano, fato este favorável à ocupação humana, à atividades agropecuária, a
morfodinâmica deste deve ser um fator limitante de seu uso.

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Ambiente Praial Atual


O Ambiente Praial Holocênico está situados no extremo leste da área de estudo e corresponde as
praias atuais, ou seja, a faixa arenosa atingida pelas águas das marés mais altas. Trata-se de um ambiente
muito dinâmico, que passa por constantes modificações. Encontra-se exposto e susceptível às alterações
ocasionadas pela dinâmica costeira, como erosão, transporte e deposição de sedimentos que apresenta
sazonalidade recorrente. Em períodos em que ocorrem eventos de alta energia de ondas as praias inteiras
podem sofrer com erosões significativas. Esta área esta sendo valorizada pela especulação imobiliária.
Verifica-se que, em razão das interferências no ambiente praial, ocorre a supressão da vegetação herbácea e
subarbustiva, comprometendo, assim, a proteção natural das áreas frontais da faixa de areia da ação
constante do varrido das ondas e marés. Na ausência de vegetação, os depósitos praiais descaracterizam-se e
tornam-se ainda mais vulneráveis à erosão. O ambiente praial é considerado impróprio à ocupação humana
frente às suas características naturais. Seu terreno arenoso e pouco estruturado é altamente permeável, o que
facilita a infiltração de esgotamento sanitário, levando à contaminação dos aqüíferos costeiros. Além disso,
as ocupações (residências, restaurante e pousada), localizadas neste ambiente, sofrem com as constantes
variações ocorridas no local.

Ambiente Lagunar e Paleolagunar


Os banhados (ambientes paleolagunares) e as planícies lagunares são ambientes periodicamente ou
permanentemente inundados. Sendo assim, predominam nestas áreas processos de escoamento freático e
superficial difuso. O lençol freático neste ambiente encontra-se, portanto, muito próximo a superfície. Por
serem áreas encharcadas e insalubres, eram consideradas pelos moradores tradicionais impróprias para o
cultivo, e que deveriam, portanto ser transformadas em outro tipo de ambiente, pela drenagem, ou aterro ou
qualquer outra forma de fazê-las “desaparecer”. O aterro para a construção de casas e de loteamentos vem
provocando a compactação, a redução de porosidade e a variação do nível do lençol freático. É importante
lembrar que em grande parte dos municípios ainda não há rede de esgoto, e sim, ocorre o predomínio de
fossas sépticas. Nessas zonas paludosas, onde o lençol freático encontra-se muito próximo a superfície, a
construção de fossas sépticas sem critérios, pode ocasionar a poluição do lençol, prejudicando, assim, o
abastecimento de água e a poluição das lagoas. A poluição hídrica é conseqüência também do uso de
agrotóxicos provenientes principalmente das lavouras de arroz. Estes fatos estão ocasionando eutrofização e
assoreamento das lagoas. Sabe-se que essas áreas de banhados constituem refúgios ecológicos, e portanto
devem ser preservadas.

Análise do Uso e da Ocupação da Terra


Com o acelerado avanço da ocupação humana nas últimas décadas, principalmente a partir dos anos
70, decorrente sobretudo da construção da faixa asfáltica da BR-101 e da conseqüente transformação das
manufaturas artesanais em indústrias de farinha de mandioca, cerâmica, fumo, arroz, calçados e confecções,
toda a área tornou-se um grande mosaico de paisagens naturais fragmentadas, em meio a áreas antrópicas
rurais e urbanas.
No início dos anos 70, o “milagre brasileiro”, provocou grande impacto na estrutura agrária do país
através da modernização da agricultura. O êxodo rural foi um reflexo dessa política, visto que os pequenos
produtores não dispunham de recursos para acompanhar esse processo. Este fato é evidente no litoral sul
catarinense, onde grande parte da população que vivia em pequenas propriedades rurais migrou para as
cidades. Estas, por sua vez, não apresentavam infraestrutura básica, nem planejamento adequado para
absorver tamanha demanda. Não obstante, nas décadas de 1980 e 1990, o incremento da indústria calçadista
e de confecções, aumentou o contingente populacional das áreas urbanas, o que veio a agravar ainda mais os
problemas sociais e urbanos já existentes [2].
Nas últimas décadas o processo caótico de expansão da urbanização fortemente influenciado pelo
fenômeno da moradia temporária de verão, tem sido agravado devido ao grande nível de vulnerabilidade e
fragilidade dos ambientes naturais dos ecossistemas costeiros.
Ressalta-se que a ampliação imobiliária não contou com a expansão da infraestrutura de saneamento
básico. Este fato está diretamente relacionado com a perda da potabilidade dos aqüíferos, principal fonte de
abastecimento de comunidades rurais e loteamentos a beira-mar [3]. Outra conseqüência do incremento
populacional é o surgimento de loteamentos clandestinos, muitos destes ocupando áreas de grande
fragilidade ambiental, como campos de dunas ativas, e sem a infraestrutura mínima necessária.
Com relação ao uso da terra, três atividades principais são as responsáveis pelos conflitos no entorno
do Complexo Lagunar Extremo Sul Catarinense: a plantação de fumo, a rizicultura e o turismo. O Rio da
Lage, principal afluente da Lagoa do Sombrio, passa por áreas agrícolas e urbanas, recebendo todo o tipo de
resíduos, como agrotóxicos, rejeitos industriais e domésticos. Já dentre as principais formas de degradações

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das condições naturais das lagoas destacam-se a retirada de areia, mineração de turfa, aterros, assoreamento,
mudanças na geomorfologia, supressão da mata ciliar, lançamento de efluentes e eutrofização artificial.
Apesar desses exemplos de deterioração da paisagem, a região ainda mantém inegável vocação para o
turismo, pois apresenta grande beleza cênica ligada as lagoas e áreas próprias para atividades de veraneio.
No entanto, essas características têm gerado outro ponto de conflito: entre a ocupação humana e a dinâmica
dos sistemas deposicionais (dunas e praias). Nas praias, encontram-se exemplos de casas e de loteamentos
que modificaram a paisagem natural através da eliminação de ambientes eólicos, fato este comum no
município de Balneário Gaivota. Outro fato observado é a abertura de estradas à beira mar e implantação de
áreas de lazer sobre as dunas móveis, que são áreas de preservação permanente. Nota-se claramente, nessas
áreas, que as recentes tendências de desenvolvimento são baseadas na economia de turismo ecologicamente
predatório.
Devido às descaracterizações identificadas pode-se constatar que os municípios já vêm sofrendo com
os reflexos da ocupação sem contar com um planejamento ambientalmente adequado.
Na área em estudo ainda há locais bastante preservados. Portanto, ainda podem ser feitos trabalhos que
venham efetivar uma gestão ambiental sustentável dos seus ecossistemas. Pode-se constatar que uma parte
significativa das áreas de preservação permanente ainda apresenta suas características naturais preservadas.
No entanto, essas áreas encontram-se bastante fragmentadas, em meio a áreas rurais e urbanas.
Este processo de ocupação tem sido acentuado com as obras de duplicação da BR-101 Sul, pois estas
induzem uma utilização mais intensiva da terra ao longo da rodovia, além de propiciar o aumento do trânsito
local de veículos pesados e de passeio, que passam através dos diferentes ecossistemas, inclusive muito
próximo a marismas, banhados e lagoas.

4. Conclusão
Em vista desses fatos, torna-se necessário um estudo aprofundado no sentido de buscar alternativas
para o uso mais racional dos recursos naturais, para que estes possam ter garantia de sobrevivência e alcançar
gerações futuras. Por outro lado, o não enfrentamento desses conflitos poderá num futuro próximo
comprometer áreas ainda não contaminadas ou agravar as já degradadas.
Por todas estas questões, percebe-se a necessidade de promover um desenvolvimento que não destrua
os ambientes naturais e a cultura das populações tradicionais e para isso, é necessário que se construa uma
consciência de que as questões sócio-ambientais estão interligadas. Faz-se necessário resgatar os costumes
das populações tradicionais locais relacionados à pesca, à agricultura, às tradições e, ao mesmo tempo, evitar
os problemas causados pela ocupação desordenada, especulação imobiliária e turismo desorganizado.
Na região Sul do Estado de Santa Catarina o processo caótico de expansão da urbanização fortemente
influenciado pelo fenômeno da moradia temporária de verão, tem sido agravado devido ao grande nível de
vulnerabilidade e fragilidade dos ambientes naturais dos ecossistemas costeiros. Por este motivo, torna-se
fundamental e urgente o planejamento territorial desta zona litorânea, tanto preventivo quanto corretivo dos
problemas já apresentados.
A caracterização dos ambientes naturais e o levantamento do uso do solo levarão a variados
indicativos para uma gestão territorial que considere o valor ambiental das belas paisagens locais e suas
restrições e limitações frente ao uso do solo. Torna-se assim necessário, o desenvolvimento de pesquisas
visando à valorização e preservação tanto do ambiente natural, quanto do patrimônio histórico-cultural,
embasadas em instrumentos que contribuam a minimizar os efeitos negativos da ação antrópica.

Referências
[1] BITENCOURT, Neres L. R. Diagnóstico Sócio-Ambiental da Região Costeira Sul Catarinense, como
Instrumento de Apoio para Implementação da Área de Gestão Costeira no Núcleo de Estudos
Ambientais - NEA, da Universidade do Estado de Santa Catarina. Projeto de pós-doutorado –
MPPT/UDESC. Florianópolis, 2008.

[2] SILVA, Célia Maria. Formação Socioespacial de Sombrio: Gênese e Desenvolvimento. In: SCHEIBE,
Luiz Fernando; PELLERIN, Joel. Qualidade Ambiental de Municípios de Santa Catarina: O município
de Sombrio. 2. ed. Florianópolis: Fepema, 1997. Cap. 1, p. 15-27.

[3] LALANE, Heloísa C. Fragilidade dos ambientes naturais da Microbacia Hidrográfica da Lagoa de
Ibiraquera - Santa Catarina, frente às modificações do uso do solo. Trabalho de conclusão de curso –
Geografia/UDESC. Florianópolis, 2007.

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AMBIENTES NATURAIS E USO DA TERRA NO ENTORNO DO COMPLEXO


LAGUNAR DO EXTREMO SUL CATARINENSE, SC.

Heloisa de Campos Lalane1, Maria Paula Casagrande Marimon2, Larissa Corrêa Firmino3*
1
Mestranda do MPPT/UDESC
2
Departamento de Geografia/MPPT/UDESC, Dra.
3
Graduanda do Curso de Geografia/UDESC

1. Introdução
O presente trabalho tem como objetivo analisar a fragilidade ambiental na área do entorno do
Complexo Lagunar do Extremo Sul Catarinense, através da caracterização dos ambientes naturais e da
ocupação humana, utilizando como base de análise a delimitação das bacias hidrográficas das lagoas, de
modo a evidenciar as alterações antrópicas impostas a este ambiente costeiro, a partir da década de 1970 até
os dias atuais.
A área em estudo compreende parte da construção marinha e continental da Planície Costeira da
região do Extremo Sul do Estado de Santa Catarina até o início da escarpa da Serra Geral. Esta área
caracteriza-se por uma planície quaternária relativamente ampla, e por apresentar um conjunto de lagunas
costeiras localizadas entre os municípios de Araranguá e Sombrio, que são as lagoas do Caverá, Sombrio,
Mãe Luzia, Serra, Piritú, de Fora, Dourada e do Bicho. Associadas a estas lagunas ainda ocorrem extensas
áreas de marismas e banhados, que reúnem diversas singularidades geomorfológicas e biogeográficas.
As regiões litorâneas representam uma das áreas de maior intercâmbio de energia e matéria do sistema
Terra. Constituem áreas muito frágeis frente a dinâmica dos processos de construção e destruição marinha,
podendo ser afetadas em várias escalas de tempo e espaço e, ainda, sofrer importantes transformações que
podem, ou não, ser irreversíveis. São, portanto, bastante vulneráveis, visto que concentram grande parte da
população mundial, e também catarinense.
O litoral é uma zona de usos múltiplos, onde se observam diversas formas de ocupação e a
manifestação das mais variadas formas de atividades humanas, o que acarreta em conflitos pelo uso do solo.
Esses conflitos e a pressão sobre os ambientes naturais são constantemente observados ao longo do litoral
catarinense, visto que este vem sendo, nas últimas décadas, um grande pólo de atração populacional, tendo
como conseqüência um crescimento desordenado e com sérios impactos ambientais, pois nem sempre ocorre
o planejamento do território no sentido de buscar soluções de desenvolvimento social-ambiental, econômico
e espacial. O que frequentemente se observa é uma dicotomia entre as estratégias de desenvolvimento e de
ordenamento ambiental do território.
No litoral Extremo Sul do Estado de Santa Catarina ocorrem problemas graves, entre os quais,
ocupação com construções nas faixas de praias, áreas de preservação permanente estabelecidas pelo Código
Florestal (Lei 4.771/65), como campos de dunas ativas; restingas geológicas; marismas; manguezais e
banhados [1].
Este litoral caracteriza-se não só pela diversidade geográfica, mas também pela diversidade cultural,
resultado da miscigenação, de diferentes correntes migratórias que povoaram a região. A cultura herdada dos
antepassados se mistura as riquezas naturais. Os primeiros moradores foram os índios Carijó e Xocleng. A
ocupação por europeus no século XVII se deu com luso-brasileiros, vicentistas e posteriormente, açorianos
(século XVIII). Depois, no século XIX, chegaram os italianos, germânicos, poloneses dentre outras etnias.
Este conjunto de singularidades suscita vocações econômicas não industriais para a área. O acervo
histórico, de registros pré-históricos e a paisagem marcada pelo contraste entre praias, dunas, banhados,
lagoas e lagunas dispõem de um grande potencial para o turismo cultural e ecológico.
Percebe-se, pois, que existe, no Litoral Sul do Estado, uma carência de estudos e uma grande demanda
social aplicável visando a superação dos índices de baixo desenvolvimento da região. Com este estudo
pretende-se adquirir e organizar informações, a fim de formar um banco de dados sobre esta região que,
segundo Bittencourt (2008), talvez por estar localizada no Extremo Sul do Estado, longe do centro do poder,
ou pelo fato da maioria dos municípios não apresentarem índices positivos de desenvolvimento, tem ficado a
margem das iniciativas governamentais [1].
Através das inter-relações entre os componentes naturais e sociais que formam a paisagem, este estudo
pretende, portanto, realizar a síntese dos ambientes naturais que compõem o Complexo Lagunar Extremo Sul
Catarinense, com a finalidade de levantar as potencialidades e as fragilidades destes ambientes frente à
ocupação humana, apontando, assim alternativas que auxiliem numa melhor forma de ocupação, com o uso
racional dos recursos naturais, levando em conta a importância de sua preservação para o desenvolvimento
ambiental sustentado.
*
Larissa Corrêa Firmino: laracorreaf@gmail.com
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2. Método
A metodologia empregada neste trabalho consiste na análise de fotografias aéreas de 1966, na escala
1:60.000, (anteriores as principais intervenções nesta região) e imagens orbitais recentes para a interpretação
dos ambientes naturais e da ocupação humana, bem como registros fotográficos, trabalhos de campo e
pesquisa bibliográfica. Como resultado deste estudo, buscou-se propor alternativas que auxiliem na gestão
territorial da área, que leve em conta a preservação dos ecossistemas costeiros e aponte áreas favoráveis à
preservação de ambientes naturais e ao desenvolvimento dos diferentes tipos de atividades humanas.

3. Resultados e Discussão

Análise da Paisagem: Ambientes Naturais e Suas Fragilidades


Através das inter-relações entre os componentes naturais e sociais que formam a paisagem, foi
realizada a síntese dos ambientes naturais que compõem o complexo lagunar, com a finalidade de levantar as
potencialidades e as fragilidades destes ambientes frente à ocupação humana. Tais ambientes naturais serão
descritos nos tópicos abaixo.

Ambiente Eólico Holocênico


O ambiente das dunas móveis é um ambiente muito dinâmico, mudando suas formas de acordo com o
vento. É uma região na qual não deve haver intervenção ou ocupação humana. Por isso é considerada área
protegida nos termos dos artigos 2º e 3º do Código Florestal (Lei nº 4.771/65). Segundo o Código Florestal, a
duna, fixada por vegetação ou não, deve ser área de preservação permanente, assim como toda a área de
restinga (em faixa mínima de trezentos metros, medidos a partir da linha de preamar máxima). No entanto,
parte das dunas móveis já foram totalmente descaracterizadas na área em estudo. Estas dunas foram
aplainadas e aterradas para a construção de loteamentos. As construções humanas tendem a ser permanentes,
no entanto, o ambiente eólico está em constante transformação. Exemplificando este fato, pode-se observar
que nesta área as dunas vêm avançando em direção às casas e ruas, podendo ocasionar soterramento e outros
danos. Além disso, deve ser considerada a função fundamental das dunas na dinâmica da zona costeira, no
controle dos processos erosivos praiais e na formação e recarga de aqüíferos.

Ambiente Eólico Pleistocênico


O ambiente eólico mais antigo de idade pleistocênica é encontrado sobre as cristas praias
pleistocênicas a leste do complexo lagunar. Este ambiente encontra-se bastante descaracteriza, em muitas
áreas foram aplaiandos e cortados. Representam grande fragilidade frente à erosão, agravada pela retirada da
cobertura vegetal e utilização indevida do solo. A morfodinâmica deste ambiente deve ser, portanto, um fator
limitante de seu uso.A ocupação humana pode provocar mudanças no equilíbrio deste ambiente. A pouca
adesão do solo favorece a formação de sulcos e ravinas devido ao escoamento concentrado das águas,
quando retirada a cobertura vegetal. A exposição de solos de antigos depósitos eólicos pela retirada da
cobertura vegetal pode levar ao remanejamento dos sedimentos pela ação eólica, que por sinal, é intensa
nesta área.É importante lembrar que a área de estudo se trata de uma bacia hidrográfica, que possui nas
porções mais baixas as lagoas e, portanto, o material que é erodido e remobilizado fica neste ambiente e pode
causar o assoreamento dos corpos lagunares.

Ambiente Praial Pleistocênico


A maior parte da na área em estudo é constituída por este Ambiente Natural, que é dividido em duas
regiões: a leste das Lagoas, de idade mais recente e a oeste, de idade mais antiga. O Ambiente Praial
Pleistocênico a Leste das Lagoas é formada por antigas cristas praias que se dispõem em cordões arenosos
curvos, de nordeste para sudoeste, a partir das elevações junto á cidade de Santa Rosa do Sul. Já o ambiente
Praial Pleistocênico a Oeste das Lagoas é caracterizado por apresentar antigas cristas curvas numa disposição
Norte/Sul. Este ambiente encontra-se em processo pedogenético mais avançado que o anterior. Por este
motivo, é também mais estável e pouco suscetível à erosão. No Ambiente Praial Pleistocênico mais recente,
o solo que já é pobre em nutrientes e susceptível a erosão devido às suas características naturais (textura
arenosa e, consequentemente, pouca capacidade de retenção de água), torna-se ainda mais frágil devido a
retirada da cobertura vegetal e à práticas não conservacionista do solo. O desmatamento visando às
construções também vem desestabilizando o terreno e suprimindo espécies vegetais, ocasionando a
descaracterização da paisagem e aumento da fragilidade do ambiente em questão, frente aos processos
erosivos. Apesar do relevo ser plano, fato este favorável à ocupação humana, à atividades agropecuária, a
morfodinâmica deste deve ser um fator limitante de seu uso.

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Ambiente Praial Atual


O Ambiente Praial Holocênico está situados no extremo leste da área de estudo e corresponde as
praias atuais, ou seja, a faixa arenosa atingida pelas águas das marés mais altas. Trata-se de um ambiente
muito dinâmico, que passa por constantes modificações. Encontra-se exposto e susceptível às alterações
ocasionadas pela dinâmica costeira, como erosão, transporte e deposição de sedimentos que apresenta
sazonalidade recorrente. Em períodos em que ocorrem eventos de alta energia de ondas as praias inteiras
podem sofrer com erosões significativas. Esta área esta sendo valorizada pela especulação imobiliária.
Verifica-se que, em razão das interferências no ambiente praial, ocorre a supressão da vegetação herbácea e
subarbustiva, comprometendo, assim, a proteção natural das áreas frontais da faixa de areia da ação
constante do varrido das ondas e marés. Na ausência de vegetação, os depósitos praiais descaracterizam-se e
tornam-se ainda mais vulneráveis à erosão. O ambiente praial é considerado impróprio à ocupação humana
frente às suas características naturais. Seu terreno arenoso e pouco estruturado é altamente permeável, o que
facilita a infiltração de esgotamento sanitário, levando à contaminação dos aqüíferos costeiros. Além disso,
as ocupações (residências, restaurante e pousada), localizadas neste ambiente, sofrem com as constantes
variações ocorridas no local.

Ambiente Lagunar e Paleolagunar


Os banhados (ambientes paleolagunares) e as planícies lagunares são ambientes periodicamente ou
permanentemente inundados. Sendo assim, predominam nestas áreas processos de escoamento freático e
superficial difuso. O lençol freático neste ambiente encontra-se, portanto, muito próximo a superfície. Por
serem áreas encharcadas e insalubres, eram consideradas pelos moradores tradicionais impróprias para o
cultivo, e que deveriam, portanto ser transformadas em outro tipo de ambiente, pela drenagem, ou aterro ou
qualquer outra forma de fazê-las “desaparecer”. O aterro para a construção de casas e de loteamentos vem
provocando a compactação, a redução de porosidade e a variação do nível do lençol freático. É importante
lembrar que em grande parte dos municípios ainda não há rede de esgoto, e sim, ocorre o predomínio de
fossas sépticas. Nessas zonas paludosas, onde o lençol freático encontra-se muito próximo a superfície, a
construção de fossas sépticas sem critérios, pode ocasionar a poluição do lençol, prejudicando, assim, o
abastecimento de água e a poluição das lagoas. A poluição hídrica é conseqüência também do uso de
agrotóxicos provenientes principalmente das lavouras de arroz. Estes fatos estão ocasionando eutrofização e
assoreamento das lagoas. Sabe-se que essas áreas de banhados constituem refúgios ecológicos, e portanto
devem ser preservadas.

Análise do Uso e da Ocupação da Terra


Com o acelerado avanço da ocupação humana nas últimas décadas, principalmente a partir dos anos
70, decorrente sobretudo da construção da faixa asfáltica da BR-101 e da conseqüente transformação das
manufaturas artesanais em indústrias de farinha de mandioca, cerâmica, fumo, arroz, calçados e confecções,
toda a área tornou-se um grande mosaico de paisagens naturais fragmentadas, em meio a áreas antrópicas
rurais e urbanas.
No início dos anos 70, o “milagre brasileiro”, provocou grande impacto na estrutura agrária do país
através da modernização da agricultura. O êxodo rural foi um reflexo dessa política, visto que os pequenos
produtores não dispunham de recursos para acompanhar esse processo. Este fato é evidente no litoral sul
catarinense, onde grande parte da população que vivia em pequenas propriedades rurais migrou para as
cidades. Estas, por sua vez, não apresentavam infraestrutura básica, nem planejamento adequado para
absorver tamanha demanda. Não obstante, nas décadas de 1980 e 1990, o incremento da indústria calçadista
e de confecções, aumentou o contingente populacional das áreas urbanas, o que veio a agravar ainda mais os
problemas sociais e urbanos já existentes [2].
Nas últimas décadas o processo caótico de expansão da urbanização fortemente influenciado pelo
fenômeno da moradia temporária de verão, tem sido agravado devido ao grande nível de vulnerabilidade e
fragilidade dos ambientes naturais dos ecossistemas costeiros.
Ressalta-se que a ampliação imobiliária não contou com a expansão da infraestrutura de saneamento
básico. Este fato está diretamente relacionado com a perda da potabilidade dos aqüíferos, principal fonte de
abastecimento de comunidades rurais e loteamentos a beira-mar [3]. Outra conseqüência do incremento
populacional é o surgimento de loteamentos clandestinos, muitos destes ocupando áreas de grande
fragilidade ambiental, como campos de dunas ativas, e sem a infraestrutura mínima necessária.
Com relação ao uso da terra, três atividades principais são as responsáveis pelos conflitos no entorno
do Complexo Lagunar Extremo Sul Catarinense: a plantação de fumo, a rizicultura e o turismo. O Rio da
Lage, principal afluente da Lagoa do Sombrio, passa por áreas agrícolas e urbanas, recebendo todo o tipo de
resíduos, como agrotóxicos, rejeitos industriais e domésticos. Já dentre as principais formas de degradações

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das condições naturais das lagoas destacam-se a retirada de areia, mineração de turfa, aterros, assoreamento,
mudanças na geomorfologia, supressão da mata ciliar, lançamento de efluentes e eutrofização artificial.
Apesar desses exemplos de deterioração da paisagem, a região ainda mantém inegável vocação para o
turismo, pois apresenta grande beleza cênica ligada as lagoas e áreas próprias para atividades de veraneio.
No entanto, essas características têm gerado outro ponto de conflito: entre a ocupação humana e a dinâmica
dos sistemas deposicionais (dunas e praias). Nas praias, encontram-se exemplos de casas e de loteamentos
que modificaram a paisagem natural através da eliminação de ambientes eólicos, fato este comum no
município de Balneário Gaivota. Outro fato observado é a abertura de estradas à beira mar e implantação de
áreas de lazer sobre as dunas móveis, que são áreas de preservação permanente. Nota-se claramente, nessas
áreas, que as recentes tendências de desenvolvimento são baseadas na economia de turismo ecologicamente
predatório.
Devido às descaracterizações identificadas pode-se constatar que os municípios já vêm sofrendo com
os reflexos da ocupação sem contar com um planejamento ambientalmente adequado.
Na área em estudo ainda há locais bastante preservados. Portanto, ainda podem ser feitos trabalhos que
venham efetivar uma gestão ambiental sustentável dos seus ecossistemas. Pode-se constatar que uma parte
significativa das áreas de preservação permanente ainda apresenta suas características naturais preservadas.
No entanto, essas áreas encontram-se bastante fragmentadas, em meio a áreas rurais e urbanas.
Este processo de ocupação tem sido acentuado com as obras de duplicação da BR-101 Sul, pois estas
induzem uma utilização mais intensiva da terra ao longo da rodovia, além de propiciar o aumento do trânsito
local de veículos pesados e de passeio, que passam através dos diferentes ecossistemas, inclusive muito
próximo a marismas, banhados e lagoas.

4. Conclusão
Em vista desses fatos, torna-se necessário um estudo aprofundado no sentido de buscar alternativas
para o uso mais racional dos recursos naturais, para que estes possam ter garantia de sobrevivência e alcançar
gerações futuras. Por outro lado, o não enfrentamento desses conflitos poderá num futuro próximo
comprometer áreas ainda não contaminadas ou agravar as já degradadas.
Por todas estas questões, percebe-se a necessidade de promover um desenvolvimento que não destrua
os ambientes naturais e a cultura das populações tradicionais e para isso, é necessário que se construa uma
consciência de que as questões sócio-ambientais estão interligadas. Faz-se necessário resgatar os costumes
das populações tradicionais locais relacionados à pesca, à agricultura, às tradições e, ao mesmo tempo, evitar
os problemas causados pela ocupação desordenada, especulação imobiliária e turismo desorganizado.
Na região Sul do Estado de Santa Catarina o processo caótico de expansão da urbanização fortemente
influenciado pelo fenômeno da moradia temporária de verão, tem sido agravado devido ao grande nível de
vulnerabilidade e fragilidade dos ambientes naturais dos ecossistemas costeiros. Por este motivo, torna-se
fundamental e urgente o planejamento territorial desta zona litorânea, tanto preventivo quanto corretivo dos
problemas já apresentados.
A caracterização dos ambientes naturais e o levantamento do uso do solo levarão a variados
indicativos para uma gestão territorial que considere o valor ambiental das belas paisagens locais e suas
restrições e limitações frente ao uso do solo. Torna-se assim necessário, o desenvolvimento de pesquisas
visando à valorização e preservação tanto do ambiente natural, quanto do patrimônio histórico-cultural,
embasadas em instrumentos que contribuam a minimizar os efeitos negativos da ação antrópica.

Referências
[1] BITENCOURT, Neres L. R. Diagnóstico Sócio-Ambiental da Região Costeira Sul Catarinense, como
Instrumento de Apoio para Implementação da Área de Gestão Costeira no Núcleo de Estudos
Ambientais - NEA, da Universidade do Estado de Santa Catarina. Projeto de pós-doutorado –
MPPT/UDESC. Florianópolis, 2008.

[2] SILVA, Célia Maria. Formação Socioespacial de Sombrio: Gênese e Desenvolvimento. In: SCHEIBE,
Luiz Fernando; PELLERIN, Joel. Qualidade Ambiental de Municípios de Santa Catarina: O município
de Sombrio. 2. ed. Florianópolis: Fepema, 1997. Cap. 1, p. 15-27.

[3] LALANE, Heloísa C. Fragilidade dos ambientes naturais da Microbacia Hidrográfica da Lagoa de
Ibiraquera - Santa Catarina, frente às modificações do uso do solo. Trabalho de conclusão de curso –
Geografia/UDESC. Florianópolis, 2007.

126
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Análise do uso da terra e das áreas de conflitos da Bacia Hidrográfica da UHE no município
de Dona Francisca - RS

Franciele Francisca Marmentini Rovani1; Lueni Gonçalves Terra1; Diego de Almeida Prado1; Pedro
Madruga1
1
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)

1. Introdução

Os fenômenos geográficos estão distribuídos no espaço de diversas formas e podem ser


compreendidos e analisados por técnicas distintas. A análise espacial possibilita compreender as mudanças
e/ou transformações, sejam elas naturais ou antrópicas, que ocorrem no espaço e suas conseqüentes
implicações no meio.
O avanço das novas tecnologias de informações, com destaque para os Sistemas de Informações
Geográficas (SIGs), o Geoprocessamento e o Sensoriamento Remoto, possibilitou o desenvolvimento de
análises espaciais complexas, visando o melhor planejamento e ordenamento territorial. Logo, em
Geoprocessamento, área de atuação que utiliza técnicas matemáticas e computacionais para o tratamento de
informações geográficas, é possível inferir relações espaciais entre dados quantitativos e qualitativos [7].
Os Sistemas de Informações Geográficas (SIGs) de acordo com [1] são instrumentos computacionais
que permitem a realização de análises complexas ao integrar dados de diversas fontes e ao criar banco de
dados georreferenciados, tornando possível a automatização da produção de documentos cartográficos.
Além disso, oferecem alternativas para o entendimento da ocupação e utilização do meio físico, pois,
armazenam a geometria e os atributos dos dados que estão georreferenciados, ou seja, localizados na
superfície terrestre e numa projeção cartográfica, permitindo a diversidade de fontes geradoras e de formatos
apresentados [6].
O Sensoriamento Remoto é a utilização de sensores para a aquisição de informações sobre objetos e
fenômenos a partir da detecção e registro da energia radiante resultante da interação da energia
eletromagnética e do objeto sem que haja contato direto entre eles [2,5]. Assim, por meio da análise de
imagens de satélite é possível mapear determinados fenômenos, bem como observar as modificações e/ou
alterações ocorridas no espaço em escala multitemporal.
Portanto, existem inúmeras formas de representar e descrever a distribuição espacial seja na forma
qualitativa e/ou quantitativa, por meio de dados obtidos a partir de levantamentos de campo ou a partir da
classificação de imagens. O resultado destas operações é um conjunto de mapas temáticos.
Nestes mapas não há convenções fixas porque sempre há uma mudança de tema e aspectos da
realidade a ser analisada. [4, p.126] afirma que “para representar os diversos temas é preciso recorrer ao
conjunto de diversos pontos, traços e áreas, e arranjá-los de forma a aumentar a eficiência no fornecimento
da informação.”
Nesta perspectiva, este trabalho teve como objetivo principal analisar o uso da terra Bacia
Hidrográfica da UHE localizada no município de Dona Francisca, na região central do estado do Rio Grande
do Sul, bem como identificar as área de preservação permanente e analisá-las através das áreas de conflito.
O reservatório é a última represa da série em cascata do Rio Jacuí, com rio encaixado, a área alagada
do reservatório é de aproximadamente 19,85 Km² e potência efetiva de 125 MW. A usina tem sua casa de
força localizada na região central do estado. Na margem direita, a Usina abrange parte dos municípios de
Nova Palma e Pinhal Grande e à esquerda, Agudo, Ibarama, Estrela Velha e Arroio do Tigre.

2. Métodos

A metodologia utilizada para o mapeamento e análise do Reservatório da Usina Hidrelétrica Dona


Francisca constou da fundamentação teórica, análise de documentos cartográficos junto à 1ª Divisão de
Levantamento, coleta de imagens de satélite e elaboração do mapa de uso da terra e de legislação ambiental.
Primeiramente, buscou-se uma base sólida de conhecimentos a respeito do tema abordado e
aprofundar os saberes com relação à dinâmica do espaço geográfico na referida bacia hidrográfica, bem


Diego de Almeida Prado: diegoprado1@gmail.com

127
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

como estudos referentes às técnicas de geoprocessamento, sensoriamento remoto e suas principais


aplicações.
Em seguida, criou-se um banco de dados, ou seja, o diretório onde foram armazenados todos os dados
referentes à área de estudo. Para tanto, utilizou-se a carta topográfica de Santa Maria, Folha SH-22-V-C na
escala 1/250000 e imagem do satélite Landsat-5 disponível no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE), correspondente ao ano de 2010, nas bandas 3, 4 e 5 do sensor TM.
Com o auxílio do aplicativo Spring 4.3.3, elaborou-se os mapas hipsométrico, de declividade, de
orientação de vertentes, uso da terra e de legislação ambiental. Para a elaboração do mapa de declividade
utilizou-se a metodologia indicada por [3]: <-5% - limite urbano industrial; 5-12% - limite máximo do
emprego da mecanização da agricultura; 12-30% - define o limite máximo para urbanização sem restrições
(Lei 6766/79); 30-47% - limite máximo de corte raso, a partir do qual a exploração só será permitida se
sustentada por cobertura de florestas e >47% - não é permitido a derrubada de florestas, só sendo tolerada a
extração de toros, quando em regime de utilização racional.
Definiram-se cinco classes de uso para o mapa de uso da terra: áreas florestais – áreas com
florestamento ou reflorestamento, culturas,, os campos com pastagens, solo-exposto – representando os
locais em pousio ou onde há solo não cultivável e água – diz respeito aos corpos hídricos.
Após o mapeamento, realizou-se a análise do uso da terra, bem como das APPs do Reservatório de
Dona Francisca, por meio da integração dos mapas temáticos, destacando os principais usos e ocupação, bem
como, averiguar os fatores que contribuíram para tais alterações.

3. Resultados e Discussão

Através da espacialização dos elementos naturais da paisagem, bem como do uso da terra e áreas de
conflito pode-se inferir algumas análises a respeito do recorte espacial. A bacia hidrográfica apresenta uma
área total de 240131.52 ha com a presença de 1493,94 km de rede de drenagem.
Analisando o mapa de declividade (Fig. 1), observa-se a definição de cinco classes respectivamente: 0
- 5%, 5 – 12%, 12 – 30%, 30 – 45% e >45%.

Fig. 1 Mapa de Declividade do Reservatório Dona Francisca, RS.

De acordo com a Figura 1 verificou-se que as declividades entre 5 e 12% que representam o limite
máximo para mecanização da agricultura, são as mais significativas, ou seja, representam 34% da área. As
áreas mais planas (0 – 5%) encontram-se principalmente na porção nordeste e oeste da bacia, possuindo um
total de 30%. As maiores declividades, instituídas naturalmente como áreas de preservação permanente onde
só é permitido o manejo do local, sem a derrubada de florestas (>45%) foram registradas em menor
proporção e em especial a jusante da bacia hidrográfica, totalizando uma área de aproximadamente 3%.
Com relação ao uso da terra (Fig. 2) foram identificados cinco principais usos: corpos hídricos,
campos, culturas, solo exposto (incluindo as áreas de preparo do solo para plantio) e áreas florestais.

128
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Fig. 2 Mapa de Uso da Terra do Reservatório Dona Francisca, RS.

Diante das observações da Figura 2 pode-se constatar que as áreas com floresta representam a maior
parte do uso (48%), encontradas principalmente as margens do reservatório com predomínio na foz e na
porção leste da bacia hidrográfica. A segunda maior representação refere-se à presença de campos
delineando aproximadamente 30% total dos usos, identificados principalmente na porção nordeste e noroeste
da bacia.
No que tange a classe de culturas presentes na área estudada, esta representa em torno de 15% do total
e são encontradas na porção oeste e norte da bacia hidrográfica. Por último, a porcentagem de 1,3%
representando o total de solo exposto na porção oeste coincidindo com as áreas de culturas.
Quanto ao mapa de conflitos (Fig. 3) percebe-se áreas conflitantes quanto às culturas, ao solo exposto
e ao campo.

Fig. 3 Mapa de Restrições de Uso do Reservatório Dona Francisca, RS.

Observando-se a Figura 3, constatou-se que as áreas de maior conflito são aquelas com a presença de
campos (25%). Já o segundo maior conflito, deu-se em relação à presença de culturas, totalizando 10% da
área. Em menor proporção, o solo exposto apresentou-se conflitando 1% da área.
As áreas sem conflitos, com a presença de matas, podem ser encontradas em porções significativas na
bacia hidrográfica, ou seja, 45% da área analisada. Isso significa que um bom índice de área de preservação
permanente está sendo protegido.

4. Conclusão
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Diante dos aspectos analisados concluiu-se que a bacia hidrográfica da UHE de Dona Francisca
apresenta maior parte de sua área com declives de 5 a 12 %, seguido das áreas planas. As maiores
declividades (>45%) são observadas em pequena proporção e situam-se próximo a foz da bacia.
Quanto ao uso da terra destacam-se as áreas florestais, com um total de quase 50%, localizando-se as
margens do reservatório. Os campos apresentam-se como o segundo maior uso, seguido das culturas. A
menor presença é em relação ao solo exposto.
No que tange as áreas de conflito, a maior parte refere-se a campos num total de 25%, seguido das
culturas (10%). No entanto, destacam-se as áreas preservadas, ou seja, praticamente 50% das áreas de
preservação permanente encontram-se protegidas.

Referências

[1] ASSAD, Eduardo Delgado; SANO, Edson Eyji. Sistemas de Informações Geográficas. Aplicações na
Agricultura. Brasília: 2. ed. Embrapa-SPI/Embrapa-CPAC, 1998

[2] CURRAN, P. J. Principles of remote sensing. New York: Longman Scientific & Technical,1986.

[3] DE BIASI, Mário. A Carta Clinográfica: Os métodos de representação e sua confecção. Revista do
Departamento de Geografia. n. 6. São Paulo: USP, 1992, p. 45-60.

[4] LOCH, Ruth E. Nogueira. Cartografia: representações, comunicação e visualização de dados espaciais.
Florianópolis: Ed. da UFSC, 2006.

[5] NOVO, E. M. L. M. Utilização de dados de sensoriamento remoto em estudos ambientais. Geografia,


1988.

[6] RIBEIRO, G. P. Tecnologias digitais de geoprocessamento: sistemas de informação geográfica (SIGs).


In: ARCHELA, R. S.; FRESCA. T. M.; SALVI. R. F. (Org.) Novas tecnologias. Londrina: Ed. UEL, 2001.
150 p.

[7] ROSA, R.; BRITO, J. L. S. Introdução ao Geoprocessamento: Sistema de Informação Geográfica.


Uberlândia, 1996. 104 p.

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ANÁLISE DOS MAPAS HISTÓRICOS DOS SÉC. XVII E XVIII DE ACORDO COM A
TEORIA DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DE PIAGET

Vagner de Souza Serikawa1*; Fernando Luiz de Paula Santil2


Universidade Estadual de Maringá

1. Introdução
Com o objetivo de compreender o processo de comunicação dos mapas do ponto de vista dos
cartógrafos dos séc. XVII e XVIII, a teoria do desenvolvimento cognitivo apresentada por Piaget, que visa
identificar e reconhecer o processo de construção do conhecimento espacial elaborado por esses cartógrafos a
partir de suas representações cartográficas. Em particular, foi analisada a similitude dessas representações
com as executadas por crianças, subsidiando os traços característicos desses profissionais em seus mapas.
Dessa análise, pode-se mencionar que os cartógrafos estão nos estágios operatórios concreto e formal.
O ser humano é capaz de representar internamente o ambiente, essas representações centralizadas nas
relações espaciais e socioculturais simulam o conhecimento sobre o mundo externo, esse é o objeto de estudo
da psicologia cognitiva (Gardner, 2003).
Na década de 1950, Piaget começa seus estudos nessa linha de pensamento, suas pesquisas feitas com
crianças de várias idades, vão dar origem a sua teoria do desenvolvimento cognitivo; é proposto por ele que
as crianças possuem fases ou estágios de desenvolvimento, e em cada um desses períodos vai haver
aprendizados e conservações. A inteligência vai ser igual a adaptação, ou seja, a criança aprende tendo
momentos de desequilíbrio, dificuldades para resolver um problema, depois que ela o soluciona, se adapta a
essa nova condição imposta pelo meio, passando por um período de equilibração até que apareça outra
problemática.
Na construção do espaço é primeiramente um processo perceptivo (órgãos sensoriais atuando) e,
posteriormente, um processo representativo („cognitivo‟). Isso significa que ocorre a ação, a interação com o
meio no qual a aquisição de conhecimento do ambiente se dá mediante os processos de assimilação – fruto
da ação do indivíduo sobre o meio – e acomodação – ação do meio sobre o indivíduo – “para posterior
representação, na qual comparece o objeto obtido pela ação e o construído mentalmente”, que compõem o
processo cognitivo (Petchenik, 1977).
Nesse contexto, as pesquisas em Cartografia têm mostrado preocupação na aprendizagem com a
leitura do mapa, mostrando que o indivíduo precisa agir para então construir o espaço, sendo enfatizada a
necessidade de formar os conceitos e relações para posterior representação mental e, conseqüentemente, uso
do mapa. A teoria apresentada por Piaget e seus colaboradores indica que a passagem da ação para a
operação pode habilitar as pessoas a compreenderem as informações contidas no mapa (Santil, 2008). Mas
deve-se lembrar que para os cartógrafos dos séc. XVII e XVIII existiam limitações técnicas, e como afirma
Almeida (2003, p.13): “os mapas só podem ser compreendidos se vistos no contexto histórico e cultural em
que foram produzidos”.

2. Método
Neste trabalho a discussão das análises dos mapas dos séc. XVII e XVIII, deu-se a partir da similitude
observada no processo de construção do espaço geográfico proposto pela criança e o realizado pelos
cartógrafos desses séculos. Os procedimentos adotados neste trabalho foram: (a) seleção e análise dos mapas
das coleções “Tesouro dos Mapas” e “Brasil Colonial”, levando-se em conta a semelhança com os desenhos
das crianças e, em seguida, (b) com base nas Relações e conservações espaciais apresentadas por Paganelli
(1982), definiu-se em qual estágio do desenvolvimento cognitivo se assemelha os mapas dos cartógrafos.

3. Resultados e Discussão
Observou-se que nos mapas avaliados aparece contraste entre os tipos de visão oblíqua e vertical,
que é característica da fase denominada por Piaget de operatório concreto; é a fase na qual a criança começa
a adquirir as relações euclidianas, por isso à dificuldade de representar (coordenadas gráficas, medidas
métricas e proporcionalidade), que aparece em evidência em alguns mapas. Por exemplo, as muralhas e
fortes aparecem maiores que as malhas urbanas (e plantas baixas) que representam os caminhos. O exagero é
bem destacado como mostra a Figura 1, no qual as casas, os animais e os índios em atividade não
correspondem à proporcionalidade do mapa.
Outra característica que aparece é uma variante do “plano deitado” – o fenômeno do reflexo – é
quando a criança representa uma imagem e a rebate imediatamente abaixo como se fosse vista no espelho, é

1*
vserikawa@yahoo.com.br
131
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

o caso particular do castelo que a princípio é apenas uma casa cujos dois lados foram desenvolvidos e
representados sob a forma de torres (Mèredieu, 1974). A Figura 2 ilustra esse fenômeno.
A criança vai desenvolver as habilidades de desenhar conforme a sua ação com o desenho, na qual
poderá construir hipóteses sobre o meio em que ela vive. Luquet (1969) foi um dos primeiros a estudar o
desenho infantil do ponto de vista do desenvolvimento cognitivo, e Piaget ao tratar o desenvolvimento do
desenho espontâneo, adota os estágios propostos por Luquet. Outros autores vão relacionar essas teorias
também a afetividade, a natureza dos seus pensamentos e as influências socioculturais, mas esses aspectos
fogem do escopo deste trabalho.

Fig. 1 – Cartógrafos usam o exagero para facilitar a compreensão das informações.


Fonte: Miceli et al. (2002, p. 253).

Fig. 2 – Fenômeno do reflexo observado no mapa do séc. XVII.


Fonte: Reis (2000, p. 55).
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4. Conclusão
Há pouco estudo que retrate a representação cartográfica contida nos mapas históricos, e a psicologia
cognitiva pode auxiliar nesse estudo. Pode-se observar, pelos exemplos, a similitude entre as representações
dos cartógrafos com a representação do espaço geográfico pelas crianças. Os mapas avaliados não foram
encontradas em todos os estágios do desenvolvimento infantil, e as semelhanças estão nas fases operatórios
concreto e formal. Essas semelhanças também aprecem em outros períodos históricos, como nos mapas dos
séc. XV e XIX, e com erros nas representações gráficas, proporcionalidade e confusões entre planos.

Referências
ALMEIDA, R. D. 2ª ed. Do desenho ao mapa: iniciação cartográfica na escola. São Paulo: Contexto, 2003.
REIS, N. G. Imagens de vilas e cidades do Brasil Colonial. São Paulo: EDUSP/Imprensa Oficial, 2000.
GARDNER, H. A nova ciência da mente – uma história da revolução cognitiva. Trad. Cláudia M. Caon. São
Paulo: EDUSP, 2003.
LUQUET, C.H. O Desenho Infantil. Porto: Editora, 1969.
MÈREDEU, F. Trad. Álvaro Lorencini e Sandra M. Nitrini. O desenho infantil. São Paulo: Editora Cultrix,
1974.
MICELI, P. et al. O tesouro dos mapas: a cartografia na formação do Brasil. São Paulo: Instituto Cultural
Banco Santos, 2002.
PETCHENIK, B. B. Cognition in cartography. Cartographica, n.14,p. 117-128. 1977.
PAGANELLI, T. I. Para a construção do espaço geográfico na criança. Rio de Janeiro: FGV, 1982.
SANTIL, F. L. P. Análise da percepção das variáveis visuais de acordo com as leis da Gestalt para
representação cartográfica. Tese de doutoramento, Universidade Federal do Paraná, 2008.
.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

ANÁLISE E ESPACIALIZAÇÃO DA INFRAESTRUTURA URBANA DO CONJUNTO


HABITACIONAL FERNANDO FERRARI, SANTA MARIA/RS

Letícia Celise Ballejo de Oliveira1*; Aline Carlise Slodkowski2; Heliana de Moraes Alves3
1
Universidade Federal de Santa Maria - UFSM
2
Universidade Federal de Santa Maria - UFSM
3
Universidade Federal de Santa Maria - UFSM

1. Introdução
Após a Revolução Industrial do século XVIII, iniciou um processo de migração de pessoas do campo
para as cidades, em busca de melhores condições de vida. Com isso, iniciou-se um crescimento urbano, que
no Brasil manifestou-se somente em meados do século XX, com o seu auge na década de 60, promovendo
assim, um processo de urbanização no país, como consequência do desenvolvimento tecnológico e científico
da época. Esse processo é resultado da estrutura econômica, através de relações sociais gerando assim
desigualdades.
A urbanização é decorrente da ação humana, ocorrendo muitas vezes de forma desordenada, o que
vem de encontro com a qualidade de vida da população urbana, pois, o governo apresenta dificuldade para
disponibilizar infra-estrutura adequada à essa demanda populacional, determinando assim, uma segregação
espacial e degradação ambiental nas cidades. Portanto, coexistindo espaços diferenciados, uns com infra-
estrutura e outros sem, determinando ou não uma boa condição de vida aos seus habitantes. Logo, torna-se
importante a existência de um planejamento, com o intuito de solucionar problemas sociais, como falta de
moradia infra-estrutura e serviços.
Nesse contexto, o presente estudo visou pesquisar a disponibilidade das variáveis que compõem infra-
estrutura urbana do Conjunto Habitacional (COHAB) Fernando Ferrari, Santa Maria/RS, onde também
elaborou-se mapas temáticos com a finalidade de espacializar as informações obtidas.

2. Método
Inicialmente foi necessário, a realização de um amplo levantamento bibliográfico como embasamento
teórico para a realização do estudo, na busca de conceitos para um melhor entendimento sobre os efeitos da
urbanização, bem como o planejamento e distribuição dos serviços públicos relacionados à infra-estrutura
urbana.
Para pesquisar a disponibilidade das variáveis relacionadas à infra-estrutura (coleta de lixo, sistema de
esgoto, coleta de águas pluviais, pavimentação das ruas, iluminação pública e segurança.) da COHAB
Fernando Ferrari, primeiramente aplicou-se entrevistas aos moradores, sendo que, a aplicação se deu em 75
das 500 residências da COHAB, abrangendo um percentual de 15% do total. Para que a amostra demonstra-
se resultados eficientes em relação à cobertura espacial, a amostragem selecionada foi distribuída de forma
similar e homogênea perante as quadras da COHAB, assim, as 75 residências selecionadas foram divididas
pelas 27 quadras existentes. Deste cálculo, resultou que três entrevistas fossem realizadas por cada quadra.
Ao término da aplicação das entrevistas, procurou-se quantificar as informações coletadas através da
organização das mesmas no programa Excel, a fim de tabular e gerar gráficos que melhor representam os
dados das condições da infra-estrutura.
A posterior elaboração dos mapas deu-se a partir das tabelas organizadas num primeiro momento, que
serviram como base para a confecção dos mapas temáticos da área em estudo, os quais têm como finalidade
primordial representar os possíveis pontos de fragilidade na infra-estrutura encontrados na COHAB
Fernando Ferrari. Os mapas foram produzidos por meio do software SPRING 4.3, utilizando como base a
imagem de satélite Google Earth 2009.

3. Resultados e Discussão
As altas taxas de crescimento populacional resultam em um adensamento urbano, ocasionando, muitas
vezes, uma má prestação de serviços públicos à sociedade, ocorrendo assim, um déficit na disponibilidade de
algumas variáveis que compõem a infra-estrutura das cidades.
Nesse contexto, esse trabalho buscou pesquisar a disponibilidade de algumas dessas variáveis, como,
saneamento básico, abastecimento de água, iluminação, pavimentação e segurança, na COHAB Fernando
Ferrari. Para realização dessa pesquisa utilizou-se, então, como principal instrumento um questionário

*
Letícia Celise Ballejo de Oliveira:leticelise@yahoo.com.br
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

aplicado a uma porção da população. Desse modo, as análises a seguir são feitas com base nas respostas
obtidas.
Assim, a primeira variável de infra-estrutura analisada se refere a serviços ligados ao saneamento
básico, o qual se restringe ao abastecimento de água, sistema de esgotos e coleta de resíduos sólidos.
No que diz respeito, ao destino dos resíduos sólidos, constatou-se que 100% dos entrevistados responderam
que o mesmo é coletado regularmente, 3 vezes por semana, por uma empresa privada, contratada pelo
governo municipal. Verificou-se também, que os moradores não realizam uma reciclagem desses resíduos,
mas sim, uma separação, ou seja, eles apenas separam papelão e plásticos (principalmente garrafas PET) do
restante dos resíduos, os quais são destinados aos catadores de materiais recicláveis, existentes na COHAB.
Isso comprova-se com a Figura 1, onde 58,33% realizam a separação e 41,66% não realizam nenhum tipo de
separação.
Entretanto, nas idas a campo detectou-se, a disposição dos resíduos para a coleta geralmente na frente
das residências, onde muitos ficam sujeitos a depredação de animais (Figura 2) e também jogados em
terrenos baldios e em espaços de lazer como na praça (Figura 3).

Fig. 1 Gráfico da Separação Fig. 2 Foto do lixo nas ruas Fig. 3 Foto do lixo na praça.
do Lixo

Em relação ao sistema de esgoto, identificou-se que 88,33% dos entrevistados utilizam a rede pluvial
para o escoamento do esgoto, e 11,66% utilizam fossa (Figura 04). A rede pluvial conforme conversas
informais com os moradores funciona da seguinte maneira: os encanamentos das residências são ligados as
tubulações das ruas que são direcionados ao arroio.
De acordo com o PNSB (2000) realizado pelo IBGE, quase metade dos municípios do Brasil não
contam com rede geral 47,8% e 80% não tratam o esgoto coletado. Isso vem de encontro com a realidade da
COHAB, onde os habitantes optam por outras formas para o destino de esgoto, como a rede pluvial e fossas.
Cabe salientar também a situação da região sul do país, onde mais da metade dos municípios (61,1%) não
possuem sistema de esgoto.
Da mesma forma evidenciou-se que na área de estudo uma parte significativa da população sofre com
problemas de esgoto, entre eles o principal é o mau cheiro e complicações com o encanamento da rede
pluvial. Na figura 5 tem-se a espacialização das áreas da COHAB que enfrentam esses tipos de transtornos,
sendo que, na porção norte os moradores reclamam do mau cheiro, devido a proximidade do arroio, onde é
depositado o esgoto a céu aberto. Já em algumas quadras da porção sul identificou-se problemas na
tubulação da rede pluvial, que segundo os habitantes possuem diâmetro insuficiente para o escoamento do
esgoto, entupindo facilmente.

Fig. 4 Gráfico demonstrando o tipo de sistema Fig. 5 Mapa dos Problemas de Esgoto.
esgoto.

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Ainda relacionado ao saneamento básico, o abastecimento de água da COHAB é realizado pela


empresa CORSAN, sendo que esse abastecimento dá-se de forma eficaz.
No que diz respeito à coleta das águas pluviais, muitos locais não existe um sistema adequado para o
escoamento das águas das chuvas, existindo poucos e pequenos bueiros, localizados somente nas esquinas,
assim, causando complicações em períodos de elevadas precipitações.
Outro aspecto abordado foi a questão da iluminação pública, onde 78,33% dos entrevistados
consideram que há uma boa distribuição das lâmpadas e 21,66% consideram uma má distribuição (Figura
06). Desse modo, não se constatou grandes problemas no que tange a iluminação da COHAB, basicamente
tem se problemas pontuais nas ruas, onde se evidencia a falta de manutenção das lâmpadas, o local mais
significativo foi a praça, onde tem-se várias lâmpadas quebradas e queimadas.
Outra variável pesquisada foi a segurança pública, onde questionou os moradores a respeito da
freqüência do policiamento na COHAB, assim, dos entrevistados, 58,33% consideram que ás vezes há um
policiamento adequado, 16,66% sempre e 25% raramente (Figura 07). Segundo relatos da população, o
policiamento concentra-se nas proximidades da escola e na rua principal, em outras áreas alguns moradores
recorrem à segurança privada, especialmente pela parte da noite.

Fig. 6 Gráfico da Distribuição da Iluminação. Fig. 7 Gráfico do Policiamento..

Procurou-se também constatar nesse estudo a satisfação dos moradores em relação a quantidade de
ônibus e horários disponíveis, com isso obteve-se um percentual de 70% que consideram esse serviço
suficiente e satisfatório e 30% insuficiente. Entre as insatisfações destaca-se a insuficiência de horários
disponibilizados aos domingos, e a preocupação dos moradores com a construção dos novos loteamentos, os
quais exigiram uma maior disponibilidade de horários.
A última variável diagnosticada foi a pavimentação das ruas, as quais apresentam 76,66%
pavimentação, entre paralelepípedos e asfalto, (Figura 08). Esses tipos de vias estão espacializadas na figura
09. A principal insatisfação dos moradores, além das ruas que ainda não são pavimentadas, é a largura das
mesmas pavimentadas com paralelepípedo, as quais são muito estreitas.

Fig. 8 Gráfico da Pavimentação. Fig. 9 Mapa dos Tipos de Vias.

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4. Conclusão
O Conjunto Habitacional Fernando Ferrari foi um fruto do planejamento urbano nacional da década de
80, com o intuito de atender a demanda populacional da época. Inicialmente a população ocupou as
habitações construídas através desse planejamento e com o passar dos anos com o crescimento urbano houve
o aumento da implantação da infra-estrutura no local, mas também houve uma expansão de moradias
irregulares, as quais não são atendidas com os serviços públicos necessários para uma boa condição de vida.
Assim, com o presente trabalho pode-se constatar a situação da disponibilidade das variáveis que
compõem infra-estrutura pública da COHAB, onde de modo geral, pode-se afirmar que área em questão
apresenta uma satisfatória distribuição desses serviços de acordo com os questionários aplicados. Entretanto,
se observou locais que revelam problemas ligados principalmente ao sistema de esgoto e a pavimentação,
que se localizam especialmente nas áreas de irregularidades, próximas ao arroio.
Desse modo, algumas variáveis apresentam especificidades que precisam ser revistas para uma melhor
eficácia da prestação dos serviços públicos, a fim de atender a todos moradores da COHAB e proporcionar
uma completa qualidade de vida sócio-ambiental.

Referências
FERRARI, C. Curso de Planejamento Urbano Integrado. 5 ed. São Paulo: Livraria Pioneira, 1986.

MELARA, E. Infra-Estrutura urbana: Diagnóstico das diferenças sócio-espaciais nos bairros Camobi e
Salgado Filho, Santa Maria-RS. Trabalho de Graduação. Universidade Federal de Santa Maria – Santa
Maria, 2006.

MICHELOTTI, R.T.C. Identificação do Problemas Ambientais do Núcleo Habitacional Fernando


Ferrari, Bairro Camobi – Santa Maria/RS. 2000. 60f. Monografia (Especialização em Educação
Ambiental) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2000.

MOTA, S. Urbanização e meio ambiente. 3. ed. Rio de Janeiro: ABES, 2003.

PINCOLINI, E. J. ; BARBIERI, M. Uso do Solo, Infra-Estrutura e Condições Sócio-Econômicas do


Bairro Camobi – Conjunto Habitacional Fernando Ferrari. Trabalho de Graduação. Universidade
Federal de Santa Maria – Santa Maria, 1997.

RIBAS, E. O. Estudo Geográfico da Cohab Fernando Ferrari. Trabalho de Graduação. Universidade


Federal de Santa Maria – Santa Maria, 1993.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

AS IMPLICAÇÕES DO MARKETING POLÍTICO NA CULTURA POLÍTICA


BRASILEIRA. (1989-1994)

Edgar de Sousa Rego1


FAED/UDESC

1. Introdução
Desde o pós-guerra, o mundo abriu-se para uma discussão acerca da História Política e o Tempo
Presente, com a intenção de explicar os acontecimentos dos recentes eventos, como a ascensão dos
totalitarismos e os campos de concentração.[1] Essas duas determinações da historiografia dizem muito
sobre a minha filiação histórica. Acredito ser possível trabalhar o político no presente fazendo história. No
Brasil as discussões políticas advindas do fim do processo do regime autoritário e o início de um novo ciclo
de pluralismo político faz com que a História Política e o Tempo presente sejam relacionadas e se
evidenciem nas análises destes momentos da História Brasileira. Por esta razão a minha pesquisa no
Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do Estado de Santa Catarina, na linha de pesquisa
Culturas Políticas e Sociabilidades, objetiva analisar as influências do marketing político na cultura política
brasileira.

2. Método
O objeto desta pesquisa são as propagandas políticas eleitorais das eleições presidenciais de 1989 e
1994, por isso a pesquisa e análise das imagens se tornam essenciais para a proposta da pesquisa. Também
como referente a uma metodologia da leitura do presente, o colhimento de variadas fontes como outros tipo
de mídia, principalmente a impressa, entrevistas (história oral), a legislação eleitoral também farão parte das
análises para melhor contextualizar e ajudar na construção de uma totalidade histórica, mesmo essa sendo
utópica. Assim a metodologia se baliza numa escala da macro-história[2], de forma alguma isso significa
uma história das elites, ou até mesmo das instituições, não veremos rostos como numa história vista de
baixo, mas também será importante entender como o marketing afeta a vida do eleitor.

3. Resultados e Discussão
Ainda como uma pesquisa em andamento não temos nenhum resultado efetivo. Mas algumas
discussões acredito pertinente não só neste momento de eleições, mas para pensarmos o sistema político de
representação.
A primeira discussão pertinente gira em torno do conceito de democracia. Clauss Offe indica que a
junção de liberdade econômica e política só foi possível devido ao welfare state Keynesiano.[3] E aí uma
reflexão é importante fazer: como fazemos no Brasil? Ou simplesmente não fazemos. Vivemos sobre um
regime econômico liberal, onde o mercado regula a sociedade. Existe democracia? Bem, não podemos
confundir o pluralismo político com democracia, pois o conceito desta vai muito além do político partidário.
No Brasil nunca alcançamos o Estado de Bem Estar Social, então fica difícil de empregarmos alguns
conceitos a nossa realidade.
Você já se perguntou se sente representado por alguma bandeira política no Brasil? Essa é uma das
implicâncias ou interferências do marketing político no debate ou nas ideias políticas. Quando o mercado
regula essas questões as ideias se dissolvem, assim como os conflitos ou alternativas que vão contra os
interesses do mercado.[4] Portanto o conceito de político que era a tomada de decisões , escolha ou até
mesmo de opinião se dissipa e o que é colocado no lugar? Mercado. Consumo. O ter além do ser, a perda de
valores morais a decadência da cidadania. A confusão dos direitos civis, com o direito do consumidor.
Nas eleições isso se destaca pela forma como os candidatos se colocam na disputa. O marketing acaba
com qualquer projeto de país e no lugar apenas resta a disputa pelo poder. Durante o regime autoritário,
quando se autoriza as eleições para prefeito e governador, ainda não há propaganda. O que ocorria era apenas
uma informação dos candidatos possíveis. De certa forma isso fazia com que as pessoas votassem de acordo
com as suas convicções políticas e votar em um candidato significava um conjunto de expectativas para o
país. Daí evidencia uma discussão também importante que é a diferença de propaganda e marketing. O
objetivo da propaganda é de seduzir as pessoas pelas ideias, é só lembrar das campanhas da Companhia de
Jesus no que para muitos é o surgimento da propaganda. O marketing como deriva do mercado anula as
ideias exatamente para conquistar o maior número de clientes ou consumidores possíveis. E isso é um
paradoxo tenebroso se pensarmos em termos políticos. Como pensar em sustentabilidade, que é o tema deste

1
edgar.rego@gmail.com
138
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

congresso, se não conseguimos uma organização política mínima, para podermos organizar um projeto de
país.
4. Conclusão
Em trabalhos de análise histórica como este, é difícil pontuarmos uma conclusão, pois o processo das
transformações humanas, que é o nosso objeto de estudo só se concluirá com a extinção da vida humana na
terra. Assim como a história é um processo não concluímos, mas sim realizamos algumas considerações
acerca de nossas análises.
Uma dificuldade deste trabalho é a sua aproximação da comunicação e da ciências política. Portanto o
perigo de sair de uma abordagem histórica é muito grande, assim o rigor metodológico se faz ainda mais
necessário e primordial para uma boa análise histórica.
Este trabalho visa a colaborar com as análises que pensam como se formou o sistema político do nosso
pais, e como podemos pensar soluções para que conceitos como sustentabilidade entre na pauta de debate
político.

Referências
1. TETART, Philippe. Pequena historia dos historiadores. São Paulo: EDUSC, 2000.
2. REVEL, Jacques. Jogos de escalas : a experiencia da microanálise. Rio de Janeiro: Editora Fundação
Getulio Vargas, 1998.
3. OFFE, Claus. Problemas estruturais do Estado capitalista. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1984.
4. BAUMAN, Zygmunt. . Em busca da política. Rio de Janeiro (RJ): Zahar, 2000.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

AS PESQUISAS CIENTÍFICAS NA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA E


SUA RELAÇÃO COM O DESENVOLVIMENTO LOCAL

Dinameres Aparecida Antunes1; Luiz Alexandre Gonçalves Cunha2


Universidade Estadual de Ponta Grossa

1. Introdução
O desenvolvimento local tem sido abordado em suas relações com o desenvolvimento científico e as
inovações tecnológicas. Considerando que é nas universidades que se produz grande percentual da
produção científica brasileira, e que nelas se formam a cada ano novos pesquisadores e profissionais
qualificados, nesse trabalho procura-se ressaltar o papel das universidades no desenvolvimento local,
com suas possibilidades de territorialização do conhecimento e inovações tecnológicas que produzem.

2. Desenvolvimento local
A partir da década de 1980 introduziram-se novas formas de desenvolvimento, uma delas foi o
desenvolvimento local [2], impulsionados pela crise econômica mundial da década de 70 somado aos
movimentos ambientalistas.
O desenvolvimento local procura valorizar o social e as pessoas, dando prioridade a essas no
processo de desenvolvimento[2]. Há uma maior valorização da perspectiva espacial, busca-se entender o
desenvolvimento a partir do território e procura as especificidades locais para desenvolver.
Organizações, como as universidades, são pressionadas a compartilhar de valores globais e ao
mesmo tempo atuar de forma mais consistente e comprometida com a realidade a qual estão inseridas, assim
a relação entre universidades, sua produção cientifica e tecnológica, e o desenvolvimento local seria
automática [3]
Goulart ET AL [3] comentam que há organizações que por seu caráter institucional tem capacidade
de acesso e ação em todos os níveis de contextuais, como é o caso das universidades. A essas organizações
sempre foi atribuído papel central no desenvolvimento dos países por sua capacidade de produção e
transmissão do conhecimento de caráter universal e de formação e qualificação da força de trabalho.

3. Inovação Tecnológica e as Universidades


Segundo a Lei no 10.973, de 2 de dezembro de 2004, decreto nº 5.563, de 11 de outubro de 2005,
inovação é introdução de novidade ou aperfeiçoamento no ambiente produtivo ou social que resulte em
novos produtos, processos ou serviços [4].
A inovação é um fator muito importante para o desenvolvimento, e para que se concretize é preciso
investimentos em pesquisa, só assim se geram novos conhecimentos, que podem acarretar em novos
produtos e processos [5].
A inovação no Brasil conta com uma importante ferramenta de apoio às políticas industrial e
tecnológica do país, que á Lei nº 10.973 (Lei de Inovação Tecnológica) de 02/12/2004 [4]. Esta estimula
alianças estratégicas de institutos de pesquisa, empresas e universidades, também motiva o desenvolvimento
de processos e produtos inovadores em empresas e entidades nacionais, através de concessão de recursos
financeiros e humanos, materiais e infra-estrutura. E há ainda possibilidade de incubação de empresas no
espaço público.
Uma alternativa de transferência de tecnologia das universidades para empresas, e também
para o desenvolvimento econômico de uma região, é a formação de tecnopolos, este depende da
parceria entre universidades, governo, e empresas privadas, e é buscado por cidades que segundo
Benko [1] tem estratégias de desenvolvimento baseadas em seu potencial universitário e de
pesquisa, com expectativa que gere industrialização nova por iniciativa de empresas de tecnologia
de ponta, atraídas para o local ou criadas ali. Um exemplo disso é a cidade de Campinas, que com
parceria entre universidade, governo e empresas privadas, criou seu parque tecnológico, hoje um
dos mais principais do Brasil.
Verifica-se que há potencial de a cidade de Ponta Grossa cediar um parque tecnológico, a
cidade conta com duas universidades públicas a Universidade Estadual de Ponta Grossa e a
1
Aluna do 2º ano de graduação em Geografia na Universidade Estadual de Ponta Grossa.
dinameres@gmail.com
2
Professor Doutor adjunto do curso de Geografia na Universidade Estadual de Ponta Grossa.
cunhageo@uepg.br
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Universidade Tecnológica Federal do Paraná, ambas com produção científica que podem ser
incorporadas em empresas se tornando inovações tecnológicas.

4. Universidade – Inovação – Desenvolvimento Local


As universidades públicas tem tido papel importante no processo de inovação, e conseqüentemente
ao desenvolvimento local. Tal importância se deve ao conhecimento gerado a partir de pesquisas científicas,
e também a formação de profissionais capacitados.
No Brasil 90% das pesquisas em ciência e tecnologia são realizadas no âmbito das instituições
publicas de ensino superior [3], torna-se necessário vincular as pesquisas e produções científicas ao contexto
nacional local, para que não percam capacidade de intervenção na localidade.
Nas universidades além de pesquisas de potencial para inovação tecnológica há as que têm potencial
de inovações sociais, podendo contribuir nas áreas de saúde, educação, entre outras.
Visto as possibilidades de interações universidade e empresas, somado a potencialidade de inovações
sociais verifica-se a importância dessas instituições no desenvolvimento local.

5. Algumas considerações:
Na década de 80 pensou-se de forma mais ativa a respeito da possibilidade de gestão local do
desenvolvimento, acrescentando dimensões sociais, políticas, culturais e ambientais ao enfoque econômico,
agregando alternadamente, as adjetivações local ou social ou constructo desenvolvimento. A dimensão local
visa delimitar um espaço mais estrito, ainda que variável e suscetível a dimensão global; a social, para
destacar a expansão da noção de desenvolvimento para alem de atributos econômicos.
As universidades públicas são um importante fator para a inovação tecnológica e também para o
desenvolvimento local. Há diversas maneiras em que ela acaba por influenciar tanto os fatores de inovação
quanto de desenvolvimento.
Sabe-se que são nas universidades que se produz grande percentual da produção científica brasileira,
e que nelas se formam a cada ano novos pesquisadores e profissionais qualificados. No entanto há
dificuldades de transferir o conhecimento gerado nessas instituições para as empresas na forma de inovação.
Comparando com outros países, as empresas brasileiras inovam muito pouco, e poucas registram
patentes, aqui inovação é considerada a introdução e melhorias nos processos e/ou produtos.
Com a Lei 10.973 [4], a chamada Lei de Inovação, pretende-se melhorar esse quadro, essa estimula
alianças entre universidades e empresas e também incentiva a incubação de empresas.
Uma alternativa de transferências de tecnologias das universidades para empresas é a formação de
tecnopolos e pólos tecnológicos, este depende da parceria entre universidades, governo, e empresas privadas,
e é buscado por cidades que segundo Benko [1] tem estratégias de desenvolvimento baseadas seu potencial
universitário e de pesquisa, com expectativa que gere industrialização nova por iniciativa de empresas de
tecnologia de ponta, atraídas para o local ou criadas ali.
Assim, acabam por ajudar no desenvolvimento local, com a geração de empregos diretos e indiretos
nas empresas e incubadoras, com a difusão do empreendedorismo, atração de investimentos para a
localidade.

6. Referências bibliográficas:

1 BENKO, G. Economia, espaço e globalização na aurora do século XXI. São Paulo: Hucitec,
1996.

2 CONSUMO RESPONSÁVEL. Fichas didáticos pedagógicas. A.2.1. disponível em:


http://www.consumoresponsavel.com/?page_id=8
1
Aluna do 2º ano de graduação em Geografia na Universidade Estadual de Ponta Grossa.
dinameres@gmail.com
2
Professor Doutor adjunto do curso de Geografia na Universidade Estadual de Ponta Grossa.
cunhageo@uepg.br
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Acessado em: 16 jan. 2010

3 GOULART, S.; VIEIRA, M.; CARVALHO, C. Universidade e desenvolvimento local: uma


abordagem institucional. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2005.

4 LEI N. 10.973. Disponível em: http://www.mct.gov.br/index.php/content/view8477.htm


Acessado em: 12 fev. 2010.

5 MACULAN, A. M. Capacidade para inovar, geração de conhecimentos, desenvolvimento local. I


Simpósio Inovação e desenvolvimento Local, jul. 2006. Disponível em:
http://www.cesf.br/Nepi/arquivos/i_Simposio_Inovacao_e_Desvto_Local_Palestra_Profa_Anne_M
arie.pdffinep.gov.br/revista_brasileira_inovacao/quarta_edicao.asp.
Acessado em : 22 dez. 2009

1
Aluna do 2º ano de graduação em Geografia na Universidade Estadual de Ponta Grossa.
dinameres@gmail.com
2
Professor Doutor adjunto do curso de Geografia na Universidade Estadual de Ponta Grossa.
cunhageo@uepg.br
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ASPECTOS DA GEOMETRIA HIDRÁULICA DA INFRAESTRUTURA URBANA E O


EQUILÍBRIO FLUVIAL DO ARROIO CARRO QUEBRADO, GUARAPUAVA/PR

Éderson Dias de Oliveira1*; Márcia Cristina da Cunha²; Leandro Redin Vestena3; Edivaldo Lopes Thomaz4
¹ Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO)
² Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO)
³ Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO)
4
Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO)

1. Introdução
Os estudos envolvendo os impactos urbanos nos cursos fluviais com relação aos aspectos hidrológicos,
sedimentológicos e geomorfológicos são ainda insipientes nas regiões tropicais do planeta. Portanto é
relevante esse tipo de estudo haja vista sua deficiência, além de também contribuir no planejamento da
drenagem urbana, Vieira e Cunha (2006; 2008). As primeiras pesquisas envolvendo o conceito de geometria
hidráulica foram apresentadas por Leopold e Maddock (1953), tendo como base a identificação das margens
plenas. Estas se tratam do limite entre os processos fluviais que modelam o canal e os que constroem a
planície de inundação, e a descarga de margens plenas representa a vazão reguladora das dimensões físicas
do canal através dos processos erosivos e deposicionais.
No presente trabalho por se tratar de seções fechadas se tomou como base o limite de seção de
margens plenas a parte superior das mesmas. Cabe destacar que as obras de engenharia ao longo dos canais
urbanos além do período de retorno, tomam como base o nível de margens plenas e da descarga líquida
correspondente para sua instalação, sendo este nível de grande importância prática e científica, Fernandez
(2004). Com relação à geometria fluvial as suas dimensões não são arbitrárias estando às mesmas ajustadas à
quantidade de água que passa ao longo da seção. Dessa forma o aumento da descarga num sistema fluvial
equilibrado deve ser proporcional ao aumento da área de drenagem, assim como da largura e profundidade
média do canal, Vieira e Cunha (2006). Leopold e Maddock, (1953) definem que há correlação positivas
bem ajustadas entre os parâmetros geométricos do canal fluvial, contudo cabe lembrar que as maiores
correlações são encontradas em ambientes naturais, pois nos ambientes antrópicos a morfologia fluvial
muitas das vezes não condiciona um bom ajuste nessa relação. Portanto o levantamento desses parâmetros
em áreas urbanas é de grande importância para analisar os impactos fluviais urbanos e também poder
contribuir na gestão e planejamento dos canais fluviais urbanos. Dessa forma o presente trabalho busca
analisar o grau de ajustagem nas seções transversais do arroio Carro Quebrado com base nas seções
fechadas, que se trata de pontos onde há obras de infra-estrutura urbana.

1.1 Área de Estudo


O recorte espacial do presente trabalho é a
rede de drenagem do arroio Carro Quebrado, de
3ª ordem, segundo hierarquização fluvial de
Strahler (1957), localizado na área urbana do
município de Guarapuava – PR. O município se
localiza na porção centro sul do estado do Paraná,
com uma população estimada em cerca de
172.728 habitantes (IBGE, 2010).
A bacia hidrográfica do arroio Carro
Quebrado possui 11,73 km² de área situando-se
entre as latitudes 25° 21’ 57’’ S e 25° 23’ 54’’ S
e longitudes 51° 29’ 43’’ W e 51° 26’ 25’’ W
(Fig. 1). Quanto ao uso da terra o mesmo é
predominantemente urbano, contribuindo para
um alto índice de intervenção antrópica nos
canais fluviais. Com relação ao clima este é
Fig. 1 Bacia hidrográfica do arroio Carro Quebrado e subtropical mesotérmico úmido, sem estação
as seções transversais estudadas seca, com verões frescos e inverno moderado, a
temperatura média anual é de 17 ºC, com geadas

* Email: edersonjandaia@hotmail.com

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severas nos meses de maio, junho, julho, agosto e setembro. A pluviosidade média anual é de 1.960 mm,
com precipitações médias mensais superiores a 100 mm, sendo os meses mais chuvosos outubro e janeiro, e
os menos chuvosos, agosto e julho (THOMAZ e VESTENA, 2003). Quanto à base geológica da área de
estudo nesta afloram rochas pertencentes à Formação Serra Geral destacando basaltos e riodacitos pórfiros,
além de sedimentos aluvionares associados às planícies de inundação dos vales do rio Cascavel e tributários,
Guarapuava (1992);

2. Método
Entre as várias abordagens para avaliar o caráter morfológico do canal fluvial, a presente pesquisa se
pautou na análise geométrica em direção a jusante por meio do levantamento de sete seções transversais ao
longo do canal de alguns parâmetros com base nas margens plenas como: (Amp) Área da Seção Transversal
(m²); (Wmp) Largura do Canal (m); (Dmp) Profundidade média do Canal (m) sendo feito a seguir a
correlação dos mesmos com a Área da bacia correspondente a cada seção transversal. A base metodológica
foi inicialmente desenvolvida por (Leopold e Maddock, 1953), trabalhos similares também foram
desenvolvidos por Vieira e Cunha (2006), nos cursos fluviais da área urbana de Teresópolis/RJ; Fernandez
(2004) sobre ambientes urbanos no oeste do estado do Paraná; Thornton et. al. (2007) que estudou rios
poucos antropizados na Austrália e Harman et. al. (1999) que estudou rios naturais da Carolina do Norte /
EUA. A base cartográfica utilizada foram os dados vetoriais , Escala 1:2.000, e suas atualizações executadas
pela Prefeitura Municipal de Guarapuava. Os softwares utilizados nesta pesquisa foram: o SPRING - INPE©
Versão 5.1.5 – Sistema de Processamento de Informações Georreferenciadas, e a planilha eletrônica Calc. do
BrOffice.

3. Resultados e Discussões
Segundo Vieira e Cunha (1998) a capacidade do canal fluvial (Amp) é dada pela quantidade de água
que uma determinada seção transversal pode acomodar, sendo que a mesma deve aumentar gradativamente
de montante a jusante a fim de suportar o nível d’água. Acompanhando o aumento da área da seção, é de se
esperar que num sistema fluvial equilibrado as outras variáveis envolvidas na calha fluvial como a
profundidade média (Dmp) e a largura do canal (Wmp) também tenham suas dimensões acrescidas. A fim de
analisar essas varáveis foram traçadas sete seções transversais no arroio Carro Quebrado estando os dados
representados na Fig. 2 e Tab. 1.

Seções no sentido A
Amp (m2) Wmp (m) Dmp (m)
montante-jusante (km2)
1 1,799 2,77 1,86 1,5
2 2,076 6,28 2,00 *
3 2,153 9,7 6,00 1,62
4 9,181 10,18 4,10 2,47
5 9,363 9,07 5,21 1,76
6 9,436 16,74 9,71 1,64
7 9,974 11,74 4,92 2,28

Fig. 2 Variação na capacidade do arroio Carro Tab. 1 Valores da área da bacia até os pontos de
Quebrada a partir das margens plenas ao monitoramento (A), área da seção transversal (Amp),
longo do perfil longitudinal. Seções largura do canal (Wmp) e profundidade (Dmp) do
transversais fechadas indicam trechos do rio arroio Carro Quebrado. * se refere a uma seção onde
concretados e cobertos. Linha azul acima não foi possível determinar a sua profundidade
indica o nível da água. média.

Como se pode notar no sentido de jusante, essas seções transversais não mostraram um aumento
proporcional em suas capacidades máximas de vazão. Os valores obtidos com relação à área das seções
transversais ficaram entre 2,77 m² e 16,34 m² (Tabela 01), mostrando o decréscimo, em especial nas seções
transversais 1, 5 e 7. As seções 1 e 7 são as mais críticas, pois se tratam de locais totalmente concretadas
potenciais ao transbordamento das águas e com residências próximas ao canal, (Foto 1 e 2).

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Quanto aos dados de Wmp


e Dmp estes se mostraram
bastante variados, no entanto, a
largura e a profundidade que
deveriam aumentar
gradativamente na direção de
jusante para conter o volume de
água não ocorreram nas seções
estudas. Uma prática comum
quanto às margens plenas é seu
Foto 1 Seção Transversal 01 Foto 2 Seção Transversal 07 recuo ou avanço feito pelo
Fonte OLIVEIRA, E. D. junho de 2010. homem a fim de atender a
demanda de infra-estrutura
urbana. Pelos dados da (Tab. 1) pode-se afirmar que as seções de margens plenas dos pontos de seções
fechadas não encontram bem ajustadas sendo necessário o aumento da seção a fim de minimizar os
alagamentos comuns em épocas de chuvas concentradas.
Quanto aos levantamento s da geometria hidráulica em direção de com base nos dados da (Tab 1)
foram elaborados os gráficos relacionando a área da seção transversal, a largura e a profundidade média com
a área da bacia de cada seção (Fig 2). O grau de correlação entre as variáveis é mostrado pelo Coeficiente de
Determinação (R²), sendo que uma correlação próximo de 1 significa uma forte correlação, medindo o grau
de associação entre as variáveis.
O gráfico que apresentou a melhor correlação foi entre a área de drenagem e a área da seção
transversal, com uma correlação de R² = 0,5084,
demonstrando existir uma correlação positiva entre as
variáveis, porém moderada, apontando para uma situação
de desequilíbrio da ajustagem das seções analisadas ao
longo do canal. Aplicando metodologia semelhante, Vieira
e Cunha (2006) encontraram correlação de R² = 0,285 na
cidade de Teresópolis-RJ, enquanto, Fernandez (2004)
considerando vários canais na cidade de Marechal Cândido
Rondon-PR encontrou uma correlação de R² = 0,35. O
valor obtido demonstra existir certo desequilíbrio fluvial,
pois estudos realizados por Harman et. al. (1999) em
ambientes de florestas na Carolina do Norte-EUA
encontrou um índice de correlação de R² = 0,95,
demonstrando que as variáveis em ambientes naturais estão
correlacionadas. Portando esses índices indicam serem os
ambientes urbanos, mais especificadamente as obras de
infraestrutura, potenciais do desequilíbrio fluvial.
O segundo gráfico apresenta a relação da largura do
canal com a área da bacia com um índice de correlação de
R² = 0,3007 sendo este o menor valor dos parâmetros
analisados. As obras de canalização são grandes
responsáveis por esta baixa correlação demonstrando estar
em desajuste. Tomando novamente os dados de Fernandez
(2004) este encontrou uma correlação de R² = 0,11, já
Thornton et. al. (2007) estudando áreas sem urbanização no
sudeste da Austrália encontrou correlação de R² = 0,94.
Quanto ao terceiro gráfico este apresenta a relação
profundidade do canal com a área da bacia com uma
correlação de determinação de (R² = 0,3916) demonstrando
também um baixo ajuste. Trabalhando com o mesmo Fig. 2 Relação entre área da bacia
parâmetro Fernandez (2004) encontrou uma correlação de hidrográfica (A) com a área da seção
R² = 0,7 e Thornton et. al. (2007) de R² = 0,91. transversal (Amp), largura (Wmp) e
Apesar dos índices de correlações demonstrarem profundidade (Dmp).
existirem certa correlação positiva, pequena ou moderada,
entre os parâmetros relacionados, na Fig. 2. Verifica-se em ambos os gráficos a existência de dispersões
consideradas nos dados, o que apontam a existência de desequilíbrio consideráveis na geometria fluvial que

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

consequentemente afetam na dinâmica hidrogemorfológica da bacia hidrográfica do arroio Carro Quebrado,


decorrentes das alterações ocasionadas pelas obras de infraestrutura na morfologia fluvial. Diante dos
resultados obtidos, pode-se inferir que as alterações na geometria fluvial, no arroio do Carro Quebrado
decorrente de obras de infraestrutura podem potencializar a ocorrência de cheias e inundações. Portanto, os
resultados pouco promissores decorrem do sub-dimensionamento dos canais fluviais por meio das obras de
engenharia urbana realizada ao longo dos mesmos.

4. Conclusão
O trabalho apresentou os resultados referentes às primeiras avaliações quantitativas das relações da
geometria hidráulica na direção de jusante em bacias hidrográficas da área urbana de Guarapuava. Nesse
foram encontradas baixas correlações nas relações de parâmetros da geometria hidráulica, esses valores
pouco expressivos de devem aos impactados do processo de urbanização que potencializa bruscas alterações
na morfologia fluvial. Contudo, o trabalho é preliminar e não possui tom conclusivo, havendo um amplo
leque de estudo a ser explorado a fim de determinar equilíbrio fluvial com base nas metodologias da teoria
da geometria hidráulica. E importante ressaltar que os pontos onde foram feitos os levantamentos se tratam
de seções canalizadas, como já destacadas por Fernandez (2004) essas obras tomam como base para sua
instalação a seção de margens plenas, dessa forma se não bem dimensionadas podem potencializar a
ocorrência de desastres naturais, ou seja, inundações.
Por fim, destaca-se que os dados da geometria hidráulica podem contribuir significativamente com o
planejamento urbano, à medida que possibilita ações no sentido de dimensionamento e redimensionamento
das seções fluviais em projetos urbanos. Pois, as obras de infraestrutura são primordiais ao desenvolvimento
urbanos, mas que se não planejadas podem reverter em perdas à população.

Referências
FERNANDEZ, O. V. Q. (2003) Determinação do nível e da descarga de margem plena em cursos fluviais.
Boletim de Geografia, Universidade Estadual de Maringá, 21 (1): 97-109.
______ Relações da geometria hidráulica em nível de margens plenas nos córregos de Marechal Cândido
Rondon, região oeste do Paraná, Geosul, Florianópolis, v. 19, n. 37, p 115-134, jan./jun. 2004
GUARAPUAVA, Geologia de Planejamento: caracterização do meio físico da área urbana de Guarapuava.
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FAMEPAR, Prefeitura de Guarapuava, 1992.
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ASSEMBLEIANOS E CATÓLICOS: UM DISCURSO SOBRE O “ESPIRITISMO”

Andreia Mendes de Souza Mina⃰


Mestre em História pela Universidade Federal de Santa Catarina / Professora de História da Rede
Municipal de Educação de Biguaçu

1. Introdução
O cenário religioso que encontramos em território brasileiro é permeado por inúmeras manifestações
que se dão sob as mais variadas formas. Nessa diversidade ocorrem alguns encontros impulsionadores de
atitudes e posicionamentos discursivos que merecem atenção. Optamos por escolher três representantes do
campo religioso brasileiro que detêm lugares importantes nesse contexto: Igreja Católica, Igreja Assembleia
de Deus (AD) e o “Espiritismo”. Sobre a palavra “Espiritismo” fazemos a ressalva de que utilizaremos a
mesma como abarcando todas as práticas mediúnicas, porque assim é entendida pelo catolicismo e pelos
pentecostais da AD. Contudo, sabemos diferenciar o Espiritismo de matriz kardecista das demais
manifestações mediúnicas, principalmente as afro-brasileiras, tão difundidas na nossa realidade cultural. As
religiões mediúnicas expandiram-se no Brasil e geraram críticas que encontraremos explicitadas nos
materiais impressos de divulgação da Igreja Católica e AD. É nosso objetivo observar as possíveis
similitudes e distanciamentos entre os discursos produzidos pelas duas igrejas cristãs, em épocas diferentes,
frente à mobilidade, fixação, ideias e práticas das religiões mediúnicas entendidas por pentecostais
assembleianos e católicos como um “outro”, um estranho, o que diz respeito diretamente à noção de “alter”.1
Iremos analisar os embates produzidos aí a partir do estranhamento de católicos e assembleianos em relação
às práticas mediúnicas.

2. Método
Optamos em investigar os posicionamentos discursivos da AD e Igreja Católica sobre o “Espiritismo”
tomando como corpus documental produções literárias das duas igrejas e documentos oficiais. Em relação ao
catolicismo tomaremos como referência documental obras de escritores católicos e documentos da cúpula da
igreja na primeira metade do século XX. Da AD utilizaremos produções literárias de autores assembleianos
sobre o tema Espiritismo da segunda metade do mesmo século, lançadas pela Casa Publicadora das
Assembleias de Deus (CPAD). As fontes priorizadas (livros e documentos oficiais) serviram como um canal
de comunicação do corpo de “intelectuais”2das duas igrejas para a massa de fiéis. No tratamento do material
impresso recorremos à contribuição de Chartier. Para ele toda fonte impressa deve ser entendida como uma
prática cultural.3 Essa modalidade de fonte histórica tem sua importância destacada pela possibilidade que os
impressos oferecem, na no próprio ato da sua produção, em construir determinadas sensibilidades, logo,
significados.
A perspectiva de abordagem teórica que utilizamos tem os seguintes pressupostos: vamos seguir a
postura de Berger4 quando discorre sobre a forma como o pesquisador deve encarar a religião. Nossa função
não dever ser postular conhecer a “essência” ou a “verdade” da religião, mas encará-la como um
empreendimento humano, um produto histórico5. Por outro lado, recorreremos à noção de campo6 encontrada
em Bourdieu, que será indispensável para reconhecermos a dinâmica hiper complexa envolvida nos
desdobramentos ligados à religiosidade. Ele entende a religião como um sistema de produção simbólica, um
campo específico de significações. Por sua vez, o campo religioso brasileiro tem espaço aberto para inúmeras

⃰ Andreia Mendes de Souza Mina: andreiamendesmina@hotmail.com


[1] “Alter” refere-se à alteridade – termo que tenta explicar a dualidade do sujeito. Este não se encontra como uma
forma fechada em si, mas tem relação com um exterior que o determina, o “outro”.
[2] Emprestaremos à palavra “intelectuais” um sentido próximo ao empregado por Berger na sua análise sobre a
tendência à formarem-se profissionais da religião ( BERGER, Peter. O dossel sagrado: elementos para uma teoria
sociológica da religião. São Paulo: Paulinas, 1985. (Coleção Sociologia e Religião; 2). Ou seja, um grupo formado e
socializado nos valores e normas da religião, com conhecimento especializado na sua doutrina, engajado na sua
expansão e capaz de defendê-la socialmente.
[3] CHARTIER, Roger. Do livro à leitura. In: Práticas de Leitura. São Paulo: Estação Liberdade, 1996. p.78.
[4]BERGER, Peter Ludwig. O dossel sagrado: elementos para uma teoria sociológica da religião. São
Paulo:Paulinas, 1985. (Coleção Sociologia e Religião; 2).
[5] Idem, p.21.
[6] Por campo vamos entender o espaço multifacetado de posições no qual o objeto de estudo encontra-se inserido em
uma lógica relacional. É essa lógica relacional que dá à noção de campo a possibilidade de estudar a religião
compreendendo-se as inter-relações possíveis e afastando-nos de uma apreensão substancialista ou entende-la como
mero reflexo de uma macro-realidade. Boudieu, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.
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instituições produtoras de símbolos, de bens simbólicos. Aqui entra outra contribuição de Bourdieu. O poder
simbólico seria uma força estruturante (mas também estruturada), irreconhecível, que construiria a realidade
tentando estabelecer sentidos que precisariam se reconhecidos como naturais, legítimos: “O poder simbólico
como poder de constituir o dado pela enunciação, de fazer ver e fazer crer, de confirmar ou de transformar a
visão do mundo e, deste modo, a ação sobre o mundo... só se exerce se for reconhecido, quer dizer, ignorado
como arbitrário”7. No campo religioso há uma luta pela acumulação de capital simbólico para se obter maior
performatividade e aceitação.
A idéia de capital simbólico na religião leva a pensar na noção de “mercado” religioso (com
demandas e ofertas). Outra vez recorremos a Berger que, analisando as conseqüências que a “secularização”
trouxe para a configuração religiosa no mundo, atenta para o fenômeno de pluralização que a tendência
secularizante provocou onde antes existiam instituições detentoras de monopólio religioso. Para o referido
autor, a situação pluralística acarreta em concorrência mercadológica entre as instâncias produtoras desses
bens simbólicos para corresponder a determinadas expectativas dependendo do contexto em que essas lutas
ocorrem.8
O discurso, a partir daqui, adquire uma importância fundamental, pois analisamos as formas pelas
quais assembleianos e católicos imprimiram em seus discursos significados altamente carregados de eficácia
para seus fiéis. Iremos nos ater à idéia de Eni P. Orlandi9 especificamente sobre o discurso religioso. Para
Orlandi o discurso religioso é marcado por características autoritárias. Nele não se estabelece uma relação de
interlocutores, antes, já existe uma fala de determinado interlocutor (Deus e aqueles que por ele falam), que
comanda essa relação. Daí decorre a não reversibilidade da capacidade dialógica no discurso religioso para
Orlandi. A propriedade de locutor e ouvinte alternarem o seu lugar no discurso religioso não ocorre, ou
ocorre o que chamamos de “ilusão de reversibilidade”: “No discurso autoritário (como o religioso), o
referente está „ausente‟, oculto pelo dizer; não há realmente interlocutores, mas um agente exclusivo, o que
resulta na polissemia contida (o exagero é a ordem no sentido em que se diz „isso é uma ordem‟, em que o
sujeito passa a instrumento de comando).”10 Aplicando esse conceito às atividades discursivas das igrejas em
questão, observaremos como os seus discursos estão impregnados de autoritarismo, e como os mesmos
influenciarão nas representações que são passadas à congregação de fiéis, porque, por estar o referente
ausente, o discurso torna-se dado e pronto, e é aceito dessa maneira pela grande maioria das pessoas. Logo,
tudo o que for dito vai ser encarado como infalível e verdadeiro por quem os recebe, facilitando assim a
adoção de uma identidade (não uma única identidade) que permeará as representações de mundo aí. Mas isso
também não se dará de qualquer maneira. Segundo Chartier: “As representações do mundo social assim
construídas, embora aspirem à universalidade de um diagnóstico fundado na razão, são sempre determinadas
pelos interesses do grupo que as forjam. Daí, para cada caso, o necessário relacionamento dos discursos
proferidos com a posição de quem os utiliza.”11 Na mesma linha teórica, endossamos o pensamento de
Teves, segundo a qual: “O local de onde parte o olhar é espaço antropológico. Aquele que olha o faz a partir
de uma perspectiva e de um imaginário social.”12 Por imaginário entenderemos o que disse Baczko:
“Esquema de interpretação, mas também de valorização, o dispositivo imaginário suscita a adesão a um
sistema de valores e intervém eficazmente nos processos da sua interiorização pelos indivíduos...”13. Ou seja,
o imaginário seria um conjunto de representações que dá à coletividade um senso unificador onde ela própria
se reconhece: “...através dos seus imaginários sociais, uma coletividade designa a sua identidade; elabora
uma certa representação de si; estabelece a distribuição dos papéis e das posições sociais.”14 A recorrência a
autores ligados ao estudo das sinuosidades típicas do discurso, imaginário e poder simbólico como poderosas
ferramentas na constituição do sujeito e dos saberes foram de fundamental importância.

3. Resultados e Discussão
Entre os escritores assembleianos e católicos a ideia mais propalada para se referir às religiões
mediúnicas foi a recorrência a qualidades demonizantes para as mesmas. Quando não identificam as

[7] Idem, p. 14.


[8] BERGER, Peter Ludwig. Op.cit., p. 149.
[9] ORLANDI, Eni Pulccineli. A linguagem e seu funcionamento. As formas de discurso. Campinas: Pontes, 1987.
[10] Idem, p. 16.
[11] CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. Lisboa: Difel, 1988. p. 17.
[12] TEVES, Nilda. O imaginário na configuração do imaginário social. In: Tevês, Nilda. Imaginário Social e
Educação. Rio de Janeiro: Gryphus: Faculdade de Educação da UFRJ, 1992, p.13.
[13] BRONISLAW, Baczko. Imaginação Social. In: Enciclopédia EINAUDI, v.2, (Memória-História). Lisboa:
Imprensa Nacional e Casa da Moeda, 1984. p.310.
[14] Idem, p.309.
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manifestações mediúnicas como fraudes, são todas elas, então, produto de ações demoníacas. A constituição
desse quadro representativo envolveu toda uma estruturação imaginária sempre biblicamente legitimada.
O caráter demoníaco atribuído às práticas mediúnicas vem de construções pautadas, principalmente,
em aspectos teológicos. Nos argumentos observados nas falas dos autores princípios como reencarnação,
comunicação com os mortos e com entidades endeusadas são veemente combatidos e colocados como
práticas anti-bíblicas e anti-cristãs. Diante da presença crescente dessa realidade tão distinta da sua, a AD
empenhou-se em expor aos seus adeptos e público em geral os motivos pelos quais considerava negativa a
adoção de qualquer espécie de religião mediúnica. O que acontece então, é que essas exposições são bastante
incisivas. Vejamos alguns exemplos:

Eis o grande „consolo‟ que o espiritismo oferece a todos: proporciona meios de se poder
falar com os entes queridos que já morreram. Mas isto, quando não é fraude, truques do
médium ou do pai de santo, é a inegável manifestação do príncipe dos enganadores,
Satanás.15;
O grande plano idealizado por Satanás para prejudicar ocultamente a propagação do
evangelho no mundo recebeu sua colaboração fundamental de um francês, em 1857 ... 16
Ó Deus, tende misericórdia dos umbandistas e de todos a quem Satanás tem mantido
presos até agora nas diversas correntes do espiritismo, em suas diversas manifestações.
Nessas pessoas (e elas são milhões no Brasil) que „engoliram‟ essas mentiras inspiradas
pelo inimigo das nossas almas, é que se têm cumprido as palavras do apóstolo Paulo em 2
Coríntios 4.3,4: „Mas, se o nosso evangelho ainda está encoberto, é para os que se perdem
que está encoberto, nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos,
para que não lhes resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de
Deus.‟ O deus deste século é Satanás, o maioral dos exus.17

Em meio ao aparato discursivo demonizante, os fiéis da AD e sua hierarquia não vêem outra
atribuição de juízo para as religiões mediúnicas a não ser aquele. Na constituição do “outro” observada na
AD, a presença de pares dicotômicos é acentuadamente constante. Esse teor de antagonismos é fruto de uma
concepção de mundo já comentada aqui: quem serve a Deus tem que ser diferente do “mundo”. O mundo, tal
qual os assembleianos e pentecostais em geral mantêm seguras distâncias, é concebido como um espaço
atrativo para as forças diabólicas por não estar em concordância com os preceitos bíblicos de fé, regra e
moral da exegese feita aí.18 Por considerarem-se uma parcela de pessoas salvas da convivência mortal com o
“mundo”, os assembleianos vêem-se com algo à parte e demonstram essa firme convicção no modo como
organizam as palavras que utilizam para se oporem ao que foge do que já está estabelecido como vontade
divina para eles. Encontramos em relação às religiões de matriz espírita a presença dessa firme convicção
nos discursos produzidos pelos autores das fontes consultadas.
Analisando a discursividade católica sobre o mesmo tema, considerando o recorte temporal da
primeira metade do século XX, encontramos posicionamentos muito parecidos com os dos intelectuais da
AD em relação ao Espiritismo.
O advento da república trouxe a necessidade de uma adaptação da Igreja Católica ao novo estatuto
político. Deixando de ser religião oficial, a igreja precisava armar-se para fazer frente aos demais credos
tolerados o âmbito público e privado. Não que a república tornasse o país laico em si, não aceitando como
úteis e válidas quaisquer formas de religiosidade impreterivelmente, mas ela possibilitava a abertura de
novas ofertas de bens simbólicos para a população brasileira, já que o catolicismo não era mais suficiente a
religião da pátria por excelência. Buscando reestruturar-se, a Igreja Católica passava, então, por uma espécie
de reforma que acontecia desde a instalação da república e estendia-se na primeira metade do século XX. Era
a “romanização” do catolicismo introduzido no Brasil, que deveria submeter os católicos daqui às
disposições emanadas da Sé romana: “Este modo mais austero e conservador de catolicismo procurava
produzir fiéis disciplinados, piedosos, ordeiros, submissos à hierarquia clerical e civil e praticantes dos
sacramentos, que deveriam ser ministrados exclusivamente pelo clero.”19 Os esforços da igreja pautavam-se
em permanecer atuante como principal mediadora com o transcendente, além de retomar com mais vulto sua
influência nas decisões da esfera pública do país. Mas a hierarquia católica enxergava muitos obstáculos

[15] COSTA, Jéferson Magno. Porque Deus condena o Espiritismo. Rio de Janeiro: CPAD, 1996. p.39.
[16] Idem, p.105. Nesta passagem o autor refere-se ao francês Allan Kardec – fundador do Espiritismo.
[17] COSTA, Jéferson Magno. Op.cit., p. 65.
[18] (...) o pecado é uma realidade presente no mundo que „jaz no maligno‟. Manual de Doutrinas da AD. Rio de
Janeiro: CPAD, 2000. p.29.
[19] DALLABRIDA, Norberto. Virtus et scientia: o Ginásio Catarinense e a (re)produção das elites catarinenses
na Primeira República. São Paulo: USP (tese de doutroramento em História), 2001. p.58,59.
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nesses seus esforços. Entre esses empecilhos apareciam as diversas religiões que se credenciavam como
agentes produtores de significados sociais. Aqui entra o embate com as religiões mediúnicas.
No período em que analisamos o discurso da Igreja Católica era anunciado um crescimento que se
verificava na disseminação cada vez maior das práticas mediúnicas entre a população brasileira. Esse
contexto preocupou a cúpula da Igreja Católica que se via ameaçada pela aceitação do “Espiritismo” no país,
inclusive entre os católicos. Inúmeros adjetivos desqualificantes foram elencados aos “espíritas” nas
documentações católicas a fim de esclarecer aos seus fiéis o “perigo” que rondava a comunicação com os
mortos. O Espiritismo é representado como dramaticidade por D. Antônio Mazzaroto, bispo de Ponta
Grossa, no intento de aprofundar sua origem satânica e perversa:

Vamos caridosamente advertir aos que, incautos, já se deixam enredar pelas malhas da
funesta superstição e dizer-lhes que, com a graça de Deus e um pouco de boa vontade,
ainda podem e devem desvencilhar da complicada trama em que se envolveram. Para
aqueles de nossos filhos que, até o presente, tiveram a felicidade de resistir a essa serpente
infernal, sem nunca se terem deixado inficionar pela sua baba venenosa, sejam estas
nossas letras um amoroso aviso paternal para que se premunam contra essa armadilha que
o demônio tem aprisionado tantas almas, desgraçando-as nesta vida e muito mais na outra.
(...) Levantamos, pois, a nossa voz, que tomáramos chegasse aos ouvidos e corações de
todos, contra essa magia que através dos séculos várias denominações tomou e sob
diversas formas se manifestou, e que nos tempos que correm vestindo-se à moderna,
recebeu o nome de „espiritismo‟.20

Escrevendo sobre o intento desmoralizante do discurso católico pré-conciliar em relação ao


Espiritismo, escreve Artur Isaia:

Esse inimigo precisava ser neutralizado, desmoralizado, execrado, a fim de que o seu
contágio pestilento não atingisse aos fiéis. (...) Em D. José Hermeto Pinheiro este aparece
como: contagioso, mortífero, contubérnio de superstição e blasfêmia, conventículo
indecente. Em D. Silvério Gomes Pimenta os espíritas são tratados como: filhos de satanás
e procuradores do demônio.21

Sendo desta maneira a forma de conceber e silenciar o seu “outro”, o catolicismo romanizado nos
apresentou uma característica básica: a recusa total para compreensão e aceitação das diferenças.

4. Conclusão
É interessante perceber como denominações conflitantes entre si tenham concordado, em épocas
diferentes, na formação de opiniões acerca de um “outro” que se destacava e avançava fronteiras. Colocamos
conflitantes entre si porque são históricas as divergências envolvendo católicos e as igrejas de raiz
protestante. Mas, apesar dos embates teológicos e doutrinários e das diferentes épocas tratadas, observamos
em ambas as igrejas que o exercício de qualificação das práticas mediúnicas esteve pautado na demonização.
No imaginário cristão a figura do diabo sempre esteve presente. Rodeghero, apoiada em Chartier (apud
Burguière, 1993:407), diz que a imagem do demônio utilizada para qualificar qualquer “perigo” é altamente
decifrável em determinadas comunidades por estar essa imagem incluída no cristianismo.22 Sobre a força
desse elemento no discurso, Dubois ressalta que uma possibilidade de apreensão do imaginário dá-se através
da “infusão de fantasmas dentro do discurso, que cultivam a função referencial e revelam de fato estruturas
imaginárias e um sujeito cultural.”23
Em uma situação de concorrência mercadológica, AD e Igreja Católica lutaram contra um inimigo
em comum lançando mão de recursos discursivos de representação que foram eficazes no que se propuseram
em construir, levando em conta as religiões mediúnicas. Funcionando segundo uma lógica de mercado, o
campo religioso brasileiro correspondeu a atividades que implicaram em comportar em si elementos que
tornaram (ou pelo menos tentaram tornar), essa ou aquela opção religiosa a mais significante.

[20] MAZZAROTO, D. Antônio. (bispo de Ponta Grossa). Carta Pastoral – A Magia Espíritica. 1932, p. 03,04.
[21] ISAIA, Artur César. APUD ISAIA, Artur César.
[22] RODEGHERO, Carla Simone. O diabo é vermelho. Imagináro anticomunista e Igreja Católica no Rio Grande
do Sul (1945-1964). Passo Fundo: EDIPUF, 1988. (capítulos I e IV). P.30.
[23] DUBOIS, Claude-Gilbert. O imaginário da Renascença. Brasília: Unb, 1995. p.12.
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CARTOGRAFIA HISTÓRICA DA REGIÃO NORDESTE DE SANTA CATARINA

André de Souza de Lima1*; Fabiano Antônio de Oliveira2; Sandra Paschoal Leite de Camargo Guedes3
1
Acadêmico do Curso de Geografia da UNIVILLE, bolsista de iniciação científica do CNPq
2
Professor do departamento de Geografia da UFPR
3
Professora orientadora do departamento de História da UNIVILLE

1. Introdução
A proposta de pesquisa está vinculada ao projeto “Atlas Histórico da Região da Baía da Babitonga”,
que tem como principal objetivo levantar e cartografar dados historiográficos sobre os seis municípios que
compõem a região: Araquari, Balneário Barra do Sul, Garuva, Itapoá, Joinville e São Francisco do Sul
(figura 1).
A historiografia que se tem da região nordeste do Estado de Santa Catarina, antes da chegada dos
imigrantes europeus para a Colônia Dona Francisca, atual Joinville, está centrada em São Francisco do Sul,
pois todo o território que hoje compõe os seis municípios pertencia àquela cidade. Assim, as histórias das
seis cidades naquele momento se misturam; não havendo uma identificação precisa dos espaços onde
determinados fatos ocorreram.

51°0'0" W

0°0'0"

23°27'0" S

46°54'0" S

51°0'0" W

Fig.1 Localização da área de estudo.

Com relação a Joinville, município mais agraciado por trabalhos historiográficos, a presença de
ocupantes de origem luso-brasileira e de escravos negros, antes da chegada dos imigrantes germânicos,
apesar de já ser aceita e comentada pela historiografia mais recente, não está identificada e as informações
são vagas. Se considerarmos Araquari, Balneário Barra do Sul, Garuva e Itapoá, a situação é ainda pior, pois
além dos dados constantes na historiografia do início do século XX e que se reportava “às origens” de São
Francisco do Sul, onde dificilmente consegue-se reconhecer o território que hoje lhes pertence, só podem
contar com folhetos turísticos com informações duvidosas em sua maioria. Por essas razões, muitas vezes,
essa região do Estado de Santa Catarina é reconhecida historicamente apenas pela colonização germânica
promovida pelo Estado Brasileiro, ficando esquecidas as ocupações indígenas e a presença de escravos
negros, cujos descendentes ainda estão presentes na região.
Assim, o registro de material histórico em uma única base cartográfica georreferenciada moderna foi o
objetivo do trabalho aqui descrito e que constitui um avanço na pesquisa historiográfica da região, já que
permitirá não somente o melhor conhecimento da evolução espacial e temporal da ocupação regional, como
também a comparação entre registros até então impossibilitados pela diversidade de formatos e natureza das
fontes.
Um dos trabalhos que da sustentação à pesquisa com relação a mapeamentos históricos, foi organizado
por Franco Jr. & Andrade Filho (2006)[1], onde afirmam que os mapas são uma versão da realidade, mesmo
que essa seja parcial, e nunca exata. Cada cultura imprime em seus mapas além do conhecimento sobre o
território, os seus valores, crenças, problemas, e sua interpretação da realidade. A história expressa através de
mapas revela mesmo que distorcendo a realidade o ponto de vista da sociedade sobre o mundo para cada
momento histórico.

*
André de Souza de Lima: andre.lima@univille.br
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2. Método
Dentre as várias etapas que compõem o desenvolvimento do projeto “Atlas histórico da Região da
Baía da Babitonga”, em andamento desde o início de 2007 pelo Grupo de Pesquisas História Regional,
inclui-se a de localizar, selecionar e fotografar mapas históricos relativos à região em estudo. Foram
fotografados aproximadamente 65 mapas históricos que se encontravam disponíveis na Biblioteca Nacional,
no Arquivo Nacional e na Mapoteca do Itamaraty, todos localizados no Rio de Janeiro, assim como no
Arquivo Histórico de Joinville.
Os mapas fotografados foram georreferenciados com base no sistema de coordenadas da projeção
Universal Transversa de Mercator, tendo como referência o datum SAD 1969, fuso 22S. Como base digital
foi utilizado o acervo digital do IBGE [2] disponibilizado pelo Epagri [3], na escala 1:50.000, folhas São
Francisco do Sul (SG-22-Z-B-II-2), Garuva (SG-22-Z-B-II-1), São Miguel (SG-22-Z-B-I-2), Araquari (SG-
22-Z-B-II-4), Joinville (SG-22-Z-B-II-3) e Jaraguá do Sul (SG-22-Z-B-I-4). O processo adotado foi o de
atribuir pontos de controle para os mapas fotografados, encontrando áreas em comum nos mapas e nas bases
digitais do IBGE, transferindo assim as coordenadas já estabelecidas da base digital para os mapas.
O software utilizado, ArcGIS 9.1 trabalha com um sistema de informação geográfica, que permite ao
usuário utilizar de ferramentas que permitem, além de tratar de arquivos georreferenciados, atribuir um
número ilimitado de informações aos mesmos. O procedimento seguinte foi criar um banco de dados para
cada mapa. Foi criado um shapefile, um arquivo de vetor que possibilita além da geometria, estabelecer
informações através de um banco de dados no mesmo arquivo, tendo como limite as mesmas dimensões do
mapa. Neste arquivo é possível inserir informações como o autor do mapa, o ano em que foi elaborado, sua
escala, o título do mesmo e outras informações relevantes.
Outra tarefa desenvolvida foi transpor conteúdos de textos históricos pesquisados e selecionados pela
equipe do projeto Atlas para uma base cartográfica georreferenciada. Desses textos foram extraídas e
compiladas em uma tabela padrão informações que permitiam espacialização. As informações extraídas
continham dados de ocupação dos séculos XVII, XVIII e XIX contendo o nome de proprietários de
sesmarias, sua localização, o ano de registro, a fonte da qual a informação foi retirada e algumas informações
relevantes.
Concluída essa etapa foi iniciado o processo de layout, que possibilita compor uma figura (mapa)
unindo uma ou mais informações dependendo da necessidade do autor, e assim juntamente de um título, uma
legenda dentre outros elementos que compõem um mapa, espacializar as informações obtidas até o
momento.

3. Resultados e Discussão
A conclusão do estudo resultou num banco de dados digital que possibilita resgatar dados importantes
de cada mapa utilizado na pesquisa. Muitos dos mapas utilizados estão em péssimo estado de conservação,
rasgados ou com partes faltando, o que dá ainda mais valor ao trabalho, que deixará informações importantes
do passado para a posteridade.
Cerca de 25% das sesmarias cedidas no século XIX, localizadas pela equipe de pesquisadores, foram
espacializadas em forma de mapa, e estão identificadas por um ponto na figura 2. As demais sesmarias não
foram possíveis localizar em mapa, pois os documentos não possuíam informações suficientes para que isso
fosse feito. As unidades de medida utilizadas para a descrição daquelas propriedades no documento histórico
são chamadas braças, medida cuja unidade equivale a aproximadamente 2,2 metros. Porém, não são
especificadas nos mapas as orientações do terreno da maioria das sesmarias, pois nem todas possuem esta
informação. A figura 3 mostra algumas sesmarias, que por estarem desenhadas em mapas antigos, foram
passiveis de uma localização mais precisa.
Foi realizado também o estudo do crescimento da mancha urbana do município de Joinville (figura 4).
O primeiro levantamento considerado no mapa, aconteceu no ano de 1886, pouco mais de 30 anos após o
início da Colônia Dona Francisca, atual Joinville, quando a área total do município já contava
aproximadamente 2.505.311,79 m². O maior salto de crescimento da cidade ocorre entre as décadas de 70 e
80, quando num intervalo de um pouco mais de dez anos a mancha urbana de Joinville cresce mais de 70
milhões de m² (tabela 1). Esse maior crescimento ocorre pelo motivo de que a cidade estava se tornando um
pólo industrial, atraindo assim ainda mais migrantes principalmente de municípios próximos e estados
vizinhos, que pela falta de oferta de trabalho eram motivados a tentar a vida em Joinville.

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Fig.2 Espacialização das sesmarias mapeadas. Fig.3 Colônia Pirabeiraba e algumas sesmarias.

Quanto às sesmarias dos séculos XVII e XVIII, nenhuma delas foi espacializada, pois as informações
de localização apenas especificavam São Francisco do Sul, sem mais pontos de referências ou descrições da
área da sesmaria. Infelizmente quanto a isso não se pode fazer muito, pois a tentativa de elaboração de um
mapa apenas com as informações existentes não seria fiel ao que ocorreu efetivamente.

Ano Mancha Urbana (m²)


1886 2.505311,79
1907 3.954332,67
1924 6.867530,96
1942 11.783530,96
1953 35.641294,27
1964 56.245565,12
1969 68.331981,55
1975 137.164076,12
1989 209.496.894,41
2007 234.378489,40

Tab 1: Crescimento aproximado da


mancha urbana de Joinville em m².
Fonte: o autor

Fig.4 Evolução da mancha urbana de Joinville.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

4. Conclusão
A região nordeste do estado de Santa Catarina tem a maior parte de sua historiografia organizada a
partir da chegada dos imigrantes europeus para a Colônia Dona Francisca hoje conhecida como Joinville. O
projeto “Atlas Histórico da Região da Baía da Babitonga” reúne e espacializa através da cartografia
informações até então dispersas ou misturadas.
Grande parte do material que se tinha até então foi organizado e através dos resultados obtidos é
possível conhecer um pouco mais do passado da região da Baía da Babitonga, assim como a evolução urbana
do maior município da região, Joinville, o que contribui para o ensino da história e da geografia regional e
que poderá auxiliar em ações de planejamento e comparação entre registros já feitos.

Referências

[1] FRANCO Jr.; ANDRADE FILHO, Ruy de O. ATLAS. História Geral. São Paulo: Scipione, 2006.

[2] IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 1981. Cartas Topográficas Garuva (SG-22-Z-B-II-
1), São Francisco do Sul (SG-22-Z-B-II-2), São Miguel (SG-22-Z-B-I-2), Araquari (SG-22-Z-B-II-4),
Joinville (SG-22-Z-B-II-3) e Jaraguá do Sul (SG-22-Z-B-I-4), Diretoria de Geociências, escala 1:50.000.

[3] MAPOTECA DIGITAL DE SANTA CATARINA. São Francisco do Sul_28702_208711_SAD,


Garuva_28711_SAD, Joinville_28703_SAD, Araquari_28704_SAD, São Miguel_28692_SAD e
Jaraguá_28694_SAD[vetorial]. Escala 1:50.000. Epagri/IBGE, 2004. Disponível em:
<http://ciram.epagri.rctsc.br/ciram/comum/produtos/mapoteca_digital/index.jsp > Acesso em: 01 ago. 2009.

Agradecimentos
Agradecemos ao CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico pela
concessão de bolsa de iniciação científica. Agradecemos também ao Centro de Cartografia Digital e Sistemas
de Informação Geográficas da Univille pelo espaço concedido para realizar as atividades.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

CONTRACULTURA: A história de um sonho?

BARROS, Graciele de Moraes


Bacharel em História pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG)1

HOLZMANN, Liza.
Mestre em Saúde Pública, professora do Curso de Serviço Social da Universidade
Estadual de Ponta Grossa-Pr e membro do Núcleo de Estudos ,Pesquisa, Extensão e
Assessoria na Infância e na Adolescência.

RESUMO.

O objetivo deste texto é trazer a tona uma reflexão sobre o processo de construção do conceito de
contracultura, visando seus primeiros ideais e práticas. As práticas sociais são características de
determinado tempo histórico, revela-lo é a nossa tentativa. A pesquisa realizada foi de natureza
teórica e para isso foram utilizados os seguintes procedimentos: revisão bibliográfica a partir de
Carlos Alberto M. Pereira e estudo documental. Ao final deste processo chegamos à conclusão
que a contracultura foi uma possibilidade de potencializar a emancipação coletiva através de um
processo lento e gradual, o qual inicia-se de maneira microscópica nos tecidos de determinada
sociedade.

1-INTRODUÇÃO.

O que é contracultura? Poderia ser definida como o surgimento de uma nova


consciência? Um universo de valores diferentes, com suas próprias regras? De acordo
com o autor Carlos Alberto M. Pereira, o termo contracultura se enquadra perfeitamente a
essas questões, pois nos anos 1960 já se ouvia falar no surgimento de uma nova
consciência, uma nova utopia, um novo mundo. Um sentimento de mobilização e
contestação social da juventude que foram capazes de mobilizar jovens e intelectuais de
diversas partes do mundo.
A partir de então, aos poucos já se ouvia falar nos meios de comunicação, um
novo termo: contracultura. E isso no início era caracterizado pelos sinais mais evidentes
como cabelos compridos, roupas coloridas, o misticismo, um tipo de música, drogas, etc.
Portanto, um conjunto de hábitos que aos olhos das famílias de classe média, parecia um
verdadeiro absurdo. Entretanto, alem da questão física, ficou claro também que nesse
fenômeno da contracultura, também estavam implícitas novas maneiras de pensar, de

1
Apresentador(a) do trabalho- e-mail :gracimbarros@hotmail.com

155
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

encarar o mundo e a relação com as pessoas, ou seja, um outro universo de valores com
suas regras próprias.

2-METODO
Para atender ao propósito de apresentar uma discussão sobre a contracultura, utilizamos
a pesquisa teórica através da revisão bibliográfica baseado no autor Carlos Alberto M.
Pereira, a fim de embasar o objeto de estudo. A pesquisa bibliográfica e a revisão de
literatura permitiram organizar a documentação, fazendo com que o pesquisador estruture
sua pesquisa, e analise o que já foi publicado sobre o tema. Para cumprir com os
objetivos estabelecidos, a pesquisa foi orientada numa concepção de totalidade.Tal
concepção representa, a compreensão do real como um espaço total, organizado,
estruturado, no qual não se pode entender um elemento, um aspecto, uma dimensão,
sem estabelecer sua relação com o todo. Parte-se também de uma visão de homem e
mundo como ser social e histórico, que mesmo sofrendo as determinações sócio
econômicas é também um sujeito que transforma tais contextos.

3-RESULTADOS E DISCUSSÕES
Mesmo que seja num tempo bem próximo, o movimento de contracultura já faz
parte de um passado histórico e vai ficando cada vez mais distante do nosso dia-a-dia,
deixando para traz aquele “pique” do movimento nos anos 60.
De acordo com Pereira, o poder da imprensa é extremamente influente no
sentido de lançar rótulos ou modismos do fenômeno da contracultura. Mas entendemos
que o grande valor desse fenômeno não se atribuía apenas ao fato da sua expressão e
repercussão na imprensa, mas também porque continha em si uma considerável carga de
informação a respeito do movimento que designavam, ou seja, sabiam o que queriam e o
porquê. Assim, a juventude assumia ares de uma verdadeira contracultura.
Começou então a se formar um movimento social fortemente libertário, com o
apelo junto à juventude de camadas médias urbanas, que colocavam em cheque valores
da cultura ocidental. O autor afirma, que esse espírito questionador e libertário, já se
anunciava nos EUA desde os anos 1950 com uma geração de poetas. E nesta mesma
época (1956-1968) surge o Rock-n-roll na figura de Elvis Persley, que por sinal atingia um
público jovem que começou a fazer deste tipo de música, uma expressão de seu
descontentamento. Mas é nos anos 60, que esse fenômeno político cultural ganha uma
potência máxima, marcada de grandes concertos, festivais de rock como Monterey(1967),

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Woodstock e Altamont(1969). Em um destes eventos contou com as presenças dos


músicos brasileiros: Caetano Veloso e Gilberto Gil, os quais estavam vivendo na Europa.
Vale ressaltar que o autor coloca aqui também, as revoltas nos campi universitários, a
radicalização do movimento estudantil internacional.
Assim, Pereira cita como ponto de partida para a discussão da contracultura o
depoimento de Luíz Carlos Maciel, o qual teve um papel fundamental na divulgação das
idéias da contracultura, colaborando nos jornais underground e autor de vários livros
sobre esse assunto. E nas anotações publicadas por Maciel já nos anos 80, é colocado
na sua primeira anotação que o termo “contracultura” foi inventado pela imprensa norte-
americana nos anos 60, para se referir a um conjunto de novas manifestações culturais,
não só dos EUA e na Europa, mas como em vários outros países. Mas com menor
intensidade e repercussão na América Latina. Na segunda anotação, pode-se entender a
palavra contracultura de duas maneiras: como um fenômeno histórico concreto e
particular, cuja sua origem é localizada nos anos 60 e/ou também como uma postura
contrária a cultura convencional.
Já na terceira, ele afirma que através na nossa educação a gente se acostuma a
ver que a cultura que herdamos dos nossos pais e antepassados é definitivo, ou seja,
algo “natural”, que nos é apresentado como a própria essência da realidade. Entretanto,
ele afirma que não é assim, pois a cultura é um produto histórico e que ela expressa não
a realidade em si, mas diferentes maneiras de ver essa realidade e de interpretá-las. São
leituras diferentes de mundo e que nenhuma é mais verdadeira do que a outra, pois a
todo momento nós estamos criando e inventando culturas. A cultura é essencialmente
arte e que um dos piores prejuízos que a visão científica causou foi distorcer e ignorar
isso.
A quarta anotação, como já foi mencionado, diz que no fenômeno da contracultura
depende de vermos que a nossa cultura particular não é superior e nem melhor do que
qualquer outra e que a fonte deste fenômeno foi a magia fundamental da realidade.
Na quinta, Maciel afirma que foram as chamadas “doenças” da nossa cultura
tradicional, que propiciaram o surgimento da contracultura, a qual foi tida como um
anticorpo necessário à preservação de um mínimo de “saúde” existencial. E o
pensamento do século XIX, tentou diagnosticar essa doença de várias maneiras, como
por exemplo, a “alienação” de Marx e a “neurose” do Freud.
Já na sexta e sétima anotação, o homem que é condicionado na nossa cultura, é
tido como um homem doente e que a sua perda básica é a sua própria liberdade, preso

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

inclusive à sua mente. E na oitava e ultima anotação, vê-se que a fonte desse fenômeno é
sem dúvida a visão juvenil.
O termo contracultura pode se referir a um conjunto de movimentos de rebelião da
juventude que marcaram os anos 60, como o movimento hippie, a música rock, os
movimentos nas universidades, as drogas, etc. E isso tudo motivado por um espírito de
insatisfação, de contestação, a busca de uma outra realidade. Entretanto, o autor afirma
também que isso já faz parte do passado, que não tem o mesmo sentido, ou pelo menos
a mesma força.

4-CONCLUSÕES

Sob essas perspectivas, é nítido que a juventude da contracultura dos anos


60, buscava cair fora do Sistema, pois estava desencantada com o presente e
descrente do futuro, rompendo assim, praticamente com todos os hábitos da
cultura dominante. E é interessante ressaltar aqui que era justamente a juventude
das camadas altas e médias, as quais inclusive tinham pleno acesso aos
privilégios no Sistema, que rejeitavam esta cultura que estavam inseridos.
Portanto o fenômeno da contracultura pode ser compreendido, num
determinado contexto, como um movimento onde foram abertos novos espaços de
luta política, através de uma linguagem crítica, um grande poder de mobilização e
que introduziu inclusive novos interlocutores no debate cultural.
Percebe-se que tal tema ainda é muito atual, uma vez que hoje temos
expressões culturais que precisam ser compreendidas, como novos atores no
cenário da nossa sociedade.

REFERÊNCIAS
PEREIRA, Carlos Alberto M. O que é contracultura. Ed. Brasiliense. São Paulo, 1992.

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COPA DO MUNDO DE 1978. A DITADURA POR TRÁS DA CONQUISTA

André Marques de Oliveira; Hernán Ramiro Ramirez (Orientador)


Universidade Estadual de Londrina

1. Introdução:
A de 1978 foi a XI edição da Copa do Mundo de Futebol. Pela quarta vez chegava ao
continente sul-americano, período no qual Argentina vivia o auge da sua ditadura, dirigida por Jorge
Rafael Videla, que liderava o Processo de Reorganização Nacional.
Esta Copa vinha num momento oportuno, pois pelo menos por um breve mês os argentinos se
esqueceriam das graves crises sociais, políticas e econômicas pelas que seu país atravessava. Esse
período de distração também seria importante para levar a mente nacional do plano do lazer a outros
imaginários, já que com o titulo se pretendia obter um salvo-conduto para que governo de Videla
consolidasse a ditadura.
De todos os modos, o contexto não era muito propício, já que a ditadura era duramente
criticada em âmbito internacional e no front interno já tinha grupos que lhe faziam frente
abertamente, os que começavam a ganhar auxilio estrangeiro. Por exemplo, dois dos principais
jogadores naquele momento, o holandês Johan Cruyff e o alemão Paul Breitner, a boicotaram por
convicções políticas. Inclusive, a seleção holandesa, finalmente vice-campeã, esteve a ponto de não
comparecer à partida final.
No interregno, outros fatos menos conhecidos também ofuscaram o brilho da conquista
argentina. No entanto, a ditadura conseguiu, talvez a um preço elevado, seu objetivo, e com o título
a população esqueceu por um longo período as mazelas à que estava submetida, em especial, a
concussão dos seus direitos políticos e a violação dos direitos humanos, dando seu apoio ao
governo.

2. Método:
Utilizando fontes da época tais como os jornais argentinos, Clarin e La Nación, revistas
desportivas locais, em especial o El Gráfico; entrevistas realizadas antes, durante e após o torneio; e
bibliografia pertinente, estudamos como a ditadura argentina utilizou a Copa de 78 para se legitimar
internamente e reduzir as críticas externas. Em especial, observamos os discursos que foram
construídos acerca do espírito nacional e os mecanismos para esconder da comunidade internacional
e local o desrespeito aos direitos humanos.
Nos casos das fontes hemerográficas nos interessaram tanto os textos quanto as fontes
icônicas que foram produzidas, nas que analisamos a forma como elas eram tratadas baseadas,
fundamentalmente no livro do Perte Burke (2004).

3. Resultados e Discussão:
As Copas do Mundo são momentos propícios para gerar um discurso nacional forte, que
movimentam vários elementos que em outros momentos estão algo adormecidos. Elas também são
propícias para incutir um determinado tipo de discurso, já que a maior parte da linguajem é velada,
é transmitida através de textos e imagens que entram no cotidiano das pessoas sem que elas
percebam. Em síntese, o discurso que ela gera é transmitido e consumido de uma forma menos
agressiva por uma enorme parcela da população.
Dessa forma, um regime ditatorial, que obteve o poder pela força, desalojando um governo
constituído por meio de eleições, procurava se legitimar. Através de bibliografia temos podido
compreender (2004) que tais regimes tinham pouco apelo popular e que eram produtos de alianças
instáveis, as que, uma vez conquistado o poder, tendiam a se desagregar. Por tal motivo, para se
legitimar, eles tentavam encontrar algum elemento de união e que, em determinados momentos,

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apelasse às massas populares, não como atores centrais do processo político, mas como
coadjuvantes. Desse modo, também procuravam romper elos preexistentes ou que podiam ser
tendidos entre esses e outros atores sociais que fizessem oposição direta às administrações
autoritárias.
Slogans cunhados naquela etapa ganharam as ruas, ficando estampados em outdoors ou
adesivos. Frases como “Argentina potencia”, “Somos Derechos y Humanos” não apenas foram
impressos aos milhões, eles também eram incorporados aos cânticos das torcidas (GOTTA, 2006) e
até brandidos como xingamentos impetrados contra figuras internacionais que não compactuaram
com o regime. Através delas, a população foi submetida a um intenso bombardeio midiático que
excutia no espírito festivo da comemoração de elementos ideológicos muito fortes por trás.

4. Conclusão
Apesar das tímidas vocês dissidentes e da pressão internacional, a ditadura argentina obteve
sucesso na perigosa empreitada que empreendeu. Por um breve período, o pesado protocolo militar,
imposto literalmente a sangue e fogo (LLONTO, 2005), foi rompido pela algaravia que
transbordava as ruas.
Na rua e nos carros, desde a TV e o rádio, o discurso nacionalista triunfal derrotava as vozes
que o tinham ousado contestar. O esforço feito pelo time era exemplo a imitar, os jovens tinham
modelos a seguir, modelos estes que despidos de vícios eram contrapostos com as figuras de outros
jovens que no passado recente tinham se levando em armas contra as autoridades, embora não
legitimas, de seu país.
Crianças, jovens e adultos, “25 millones de argentinos” como repetia incansavelmente seu
hino, tinham vencido o Mundial, e, com isso, eram convidados a fortalecer a ditadura que lhe tinha
permitido esse heróico feito.
Paralelamente a enaltecer as figuras do regime, esse discurso também serviu para deslegitimar
os seus detratores. Se os que tinham defendido o mundial eram patriotas, os que se lhe opuseram
eram antipatriotas, inimigos da causa nacional, contrários à imensa felicidade que a Copa tinha
trazido para o povo.

Referências:
Bibliografia:
BURKE, Peter. Testemunha Ocular: história da imagem. Tradução Vera Maria Xavier dos Santos; revisão
técnica Daniel Aarão Reis Filho. – Bauru, SP: EDUSC, 2004.
COGGIOLA, Oswaldo. Governos militares na América Latina. São Paulo: Contexto, 2001.
GOTTA, Ricardo. Fuimos campeones. La dictadura, El mundial 78 y el misterio del 6 a 0 a Perú. Buenos
Aires: Edhasa, 2006.
LLONTO, Pablo. La vergüenza de todos. El dedo en la llaga del Mundial 78. Buenos Aires: Asociación
Madres de la Plaza de Mayo, 2005.
SIDICARO, Ricardo. Coaliciones golpistas y dictaduras militares: el “proceso” en perspectiva comparada.
IN: PUCCIARELLI, Alfredo, ed., Empresarios, tecnócratas y militares. La trama corporativa de la última
dictadura. Buenos Aires, Siglo XXI, 2004.

Fontes Hemerográficas:
La Nación
Clarín
El Gráfico

________________________

andrelider@gmail.com

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

“CRESCER COM O BRASIL”: MODERNIZAÇÃO E CULTURA POLÍTICA NOS


CICLOS DE ESTUDOS DA ADESG EM SANTA CATARINA (1970-75)

Michel Goulart da Silva*


Universidade do estado de Santa Catarina (UDESC)

1. Introdução
Este projeto tem como problema de pesquisa a relação entre os ciclos de estudos da ADESG e os
embates em torno ao projeto de modernização do estado de Santa Catarina, na primeira metade da década de
1970, travados entre os diferentes setores das elites econômicas e políticas do estado. Entende-se que esses
ciclos, dos quais participaram intelectuais, políticos e empresários, eram um campo de disputa de projetos
que, embora sem se mostrarem antagônicos entre si ou como dissidências em relação ao projeto da ditadura
civil-militar, expressavam análises, objetivos e propostas dos diferentes grupos que há décadas vinham
controlando a política no estado.
Os ciclos de estudos constituíram-se em um espaço de aprofundamento dos conceitos e métodos
elaborados e difundidos pela Escola Superior de Guerra (ESG), sistematizados na Doutrina de Segurança
Nacional (DSN). Essa doutrina, discutida nos ciclos de estudos e aplicada às situações econômica, social e
política de Santa Catarina, serviu como ferramenta teórica e metodológica para a elaboração de políticas de
governos e para uma tentativa de homogeneização teórica, metodológica e conceitual dos projetos dos
governos e de parte da intelectualidade catarinense.
Os intelectuais que tomaram contato mais próximo e sistemático com os conceitos e objetivos
propostos pela DSN poderiam melhor influenciar as “massas” (conceito oposto ao de “elite”, na DSN),
visando a manutenção da hegemonia e a defesa da ordem social e dos interesses do regime. Essa forma de
garantir a hegemonia, pelo consenso e não pela coerção, possibilitaria com menos obstáculos a realização
dos objetivos nacionais, calcados no binômio segurança (nacional) e desenvolvimento (econômico). Os
intelectuais que de alguma forma defendiam o bloco hegemônico, utilizando os conceitos e métodos da ESG,
teriam a possibilidade de cumprir o papel de elaboradores de políticas voltadas para o desenvolvimento
econômico, além de atuar como responsáveis pelo planejamento e pelas ações dos governos.
Em Santa Catarina, os primeiros ciclos da ADESG ocorreram no começo da década de 1970, sendo
realizados em Florianópolis e reunindo pessoas de outras cidades do estado. Nesse período, participaram dos
ciclos de estudos membros da administração do governador Colombo Salles, o que teria contribuído,
segundo o próprio governador, para a elaboração do Projeto Catarinense de Desenvolvimento (PCD). Esse
projeto procurava se colocar em consonância com o Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), do governo
do General Emílio Garrastazu Médici (MICHELS, 1998, p. 194-6).
É possível identificar os ciclos de estudos da ADESG como espaços que visavam realizar análises e
elaborar projetos para Santa Catarina, a serem incorporados nos planos e ações da administração do
governador Colombo Salles. Contudo, esses espaços não podem ser considerados como homogêneos, pois
um conjunto bastante heterogêneo de pessoas participava dos ciclos, como palestrantes ou como
“estagiários”. Por outro lado, a terceira fase de cada um dos ciclos, quando os estagiários deveriam elaborar
respostas a problemas do estado e propostas de programas e ações governamentais, era um espaço em que
poderiam expressar caracterizações e propostas diversas, por meio das monografias escritas.

2. Método
Para esta pesquisa, utilizar-se-á um conjunto de materiais que inclui fontes impressas de diferentes
naturezas.
Primeiro, para investigar o contexto econômico, político e social, far-se-á uso da imprensa diária de
Santa Catarina, principalmente dos jornais O Estado e A Gazeta, de Florianópolis, e Jornal de Santa
Catarina, de Blumenau, entre 1970 e 1975. Esses jornais são destacados nesta pesquisa primeiro pela sua
grande circulação na época e, segundo, por expressarem as posições dos diferentes grupos econômicos e
políticos do estado.
Esses jornais também trazem informações a respeito da realização dos ciclos, sendo espaço de
divulgação das discussões realizadas, além de possibilitarem inferir o impacto exercido pelos ciclos na
sociedade e na parcela da intelectualidade que escrevia para esses jornais.
Outro conjunto de documentos a serem utilizados nesta pesquisa são os referentes aos ciclos de
estudos da ADESG. Esse material, a partir da própria organização interna dos ciclos de estudos, pode ser
dividido em três tipos:

*
Contato: michelgsilva@yahoo.com.br
161
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

1) documentos doutrinários, em sua maior parte transcrições de conferências proferidas por membros
da ESG em seus cursos;
2) documentos de análise da conjuntura nacional e estadual, normalmente elaborados pela própria
ESG ou transcrições de conferências realizadas por intelectuais catarinenses da época;
3) os trabalhos realizados em grupos pelos estagiários ao final dos ciclos, de onde pode-se analisar sua
percepção do momento então vivido e as propostas que apontavam para a resolução desses problemas.

3. Resultados e Discussão
Esta pesquisa discute a relação entre os planos de modernização do estado de Santa Catarina e sua
relação com os ciclos de estudos da ADESG, realizados entre 1970 e 1975, ou seja, a contribuição desses
cursos para a elaboração de políticas econômicas, sociais e políticas no estado de Santa Catarina. Com isso,
são identificados alguns dos sujeitos que participaram da legitimação e sustentação dos governos durante a
ditadura e que permitem vislumbrar elementos acerca de manifestações políticas e culturais do período no
estado. Por outro lado, concomitantemente, pode-se analisar a DSN como doutrina que influenciou os
projetos e as ações do governo, verificando a aplicação desses conceitos para o estudo dos problemas
estratégicos e conjunturais de Santa Catarina.
Investigando a cultura política que se formava entre a intelectualidade no período, é possível estudar
as análises estratégicas e conjunturais apresentadas nas conferências e as propostas formuladas pelos
“estagiários” nos ciclos da ADESG, em seus trabalhos finais. Deve-se também investigar os conceitos
doutrinários e os problemas conjunturais levantados nesses ciclos, além das soluções que os “estagiários”,
por meio das monografias que elaboravam em grupos de trabalho, apontavam para esses problemas. Busca-
se com isso perceber como essa intelectualidade respondia aos problemas estratégicos e conjunturais do
momento, local e nacionalmente, e como os ciclos de estudos da ADESG contribuíram, de um lado, para a
caracterização dos problemas do estado e, de outro, para a elaboração de propostas que respondessem a esses
problemas.
Nesse sentido, pode-se verificar a relação dos intelectuais catarinenses na formulação de políticas
públicas e de planos de ação governamental, verificando, entre outros aspectos, qual o impacto que essa
colaboração tem nas políticas desenvolvidas principalmente ao longo do governo Colombo Salles. Com isso,
verifica-se quais as contribuições que esses intelectuais, encarados como sujeitos históricos, trouxeram para
uma cultura política no estado, as redes de sociabilidades por eles estabelecidas e sua participação na
manutenção do bloco hegemônico no poder naquela conjuntura.

4. Conclusão
Levou-se em conta neste trabalho que as ações mais aparentes do regime repressivo foram realizadas
pelos militares, que controlaram o executivo e realizaram não apenas ações repressivas como políticas e
administrativas. Contudo, o regime não foi apenas isso. Houve uma parcela significativa de civis que
colaboraram com o regime, consciente ou inconscientemente, velada ou abertamente, cujo papel passou por
apoiar o golpe e a ditadura, delatar militantes da resistência ou mesmo assumir funções de confiança em
governos ou nas universidades.

Referências

ARRUDA, Antônio de. ESG: história de sua doutrina. São Paulo: GRD/INL/MEC. 1980.
ALVES, Maria Helena Moreira. Estado e oposição no Brasil (1964-1984). 5ª ed. Petrópolis: Vozes, 1989.
BRUM, Argemiro Jacob. O desenvolvimento econômico brasileiro. 18ª ed. Petrópolis Vozes, 1998.
CAVAGNARI FILHO, Geraldo Lesbat. Brasil: introdução ao estudo de uma potência média. In:
OLIVEIRA, Eliézer Rizzo (Org.). Militares: pensamento e ação política. Campinas: Papirus, 1987.
EARP, Fábio Sá; PRADO, Luiz Carlos Delorme. O “milagre brasileiro”: crescimento acelerado, integração
internacional e distribuição de Renda. In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida Neves
(Orgs.). O Brasil Republicano: o tempo da ditadura. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003, v. 4.
FICO, Carlos et al. (Org.). Ditadura e democracia na América Latina: balanço histórico e perspectivas. Rio
de Janeiro: Ed. da FGV, 2008.
FONTES, Virgínia Maria; MENDONÇA, Sônia Regina. História do Brasil recente (1964-1992). 4ª ed. São
Paulo: Ática, 2004.
GERMANO, José Willington. Estado militar e educação no Brasil (1964-1985). São Paulo: Cortez;
Campinas: Ed. da UNICAMP, 1993.
IANNI, Octávio. Estado e planejamento econômico no Brasil. 5ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1991.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

MAY, Patrícia Zumblick Santos. Redes político-empresariais de Santa Catarina (1961-1970).


Florianópolis, 1998.
MICHELS, Ido Luiz. Crítica ao modelo catarinense de desenvolvimento: do planejamento econômico:
1956 aos precatórios, 1997. Campo Grande: Ed. da UFMS, 1998.
MIYAMOTO, Shiguenoli. Escola Superior de Guerra: mito e realidade. Política e Estratégia, São Paulo, v.
5, n. 1, p. 76-97, 1987.
MIYAMOTO, Shiguenoli. Geopolítica e poder no Brasil. Campinas: Papirus, 1995.
MONTARROYOS, Joseide Gomes. Educação de adultos como doutrinação: fundamentos e métodos da
divulgação da doutrina de ''segurança e desenvolvimento'' do Brasil através das atividades da Escola Superior
de Guerra e sua associação de diplomados. Recife: Ed. da UFPE, 1982.
MOTTA, Rodrigo Patto Sá; REIS FILHO, Daniel Aarão; RIDENTI, Marcelo (Orgs.). O golpe e a ditadura
militar: quarenta anos depois (1964-2004). Bauru: Edusc, 2004.
OLIVEIRA, Eliézer Rizzo de. A doutrina de segurança nacional: pensamento político e projeto estratégico.
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PEREIRA, Moacir. Colombo Salles: o jogo da verdade. Florianópolis: Insular, 2007.
PUGLIA, Douglas Biagio. ADESG: elites locais civis e projeto político. 2006. 153f. Dissertação (Mestrado
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REZENDE, Maria José de. A ditadura militar no Brasil: repressão e pretensão de legitimidade (1964-
1985). Londrina: Ed. da UEL, 2001.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

EDUCAÇÃO SENTIMENTAL: A ETIQUETA NAS REVISTAS FEMININAS DOS ANOS


CINQUENTA

JEMIMA FERNANDES SIMONGINI1

Universidade Estadual de Londrina

1. Introdução
Como apresentar um objeto tão singular e ao mesmo tempo esquecido? Revistas femininas
rapidamente caem no esquecimento devido à atribuição de um caráter de transitoriedade e de
inferioridade cultural, estabelecido academicamente. Bibliotecas as rejeitam, arquivos históricos não as
aceitam. Quase desapareceram da memória nacional devido ao silêncio formado sobre estas revistas. No
entanto, nos anos cinquenta, revistas como Capricho, Grande Hotel vendiam centenas de milhares de
exemplares. Mas qual, então, seria a sua significância? Antes de serem consideradas meros produtos da
indústria cultural, elas são expressões das representações sociais de milhares de leitoras acerca de si e do
mundo à sua volta. É pensando neste papel documental que tomaremos estas revistas como possibilidade
de reconstituir o universo de leitoras numa sociedade em mudança.

1. Método
A pesquisa se desenvolverá na leitura, ordenação e análise de material encontrado em revistas
femininas dos anos cinquenta do século passado. Duas revistas, compreendidas como as mais
significativas do período, serão investigadas: Capricho (o primeiro número apareceu em 1952) e Grande
Hotel (o primeiro número é de 1948). Nelas serão levantados os materiais que comporão o trabalho de
pesquisa.
O fundamento teórico utilizado será conceitos desenvolvidos por Norbert Elias em “A Sociedade de
Corte” e “A sociedade dos indivíduos”, relativos ao comportamento social e as relações desenvolvidas
em determinada estrutura social. A maneira pela qual o indivíduo se vê e se conduz em suas relações
com os outros depende da estrutura da associação a respeito da qual ele aprendeu a dizer “nós”. Através
da analise de formas da coexistência social compreender o autocontrole e a adaptação dos indivíduos
(mulheres) a uma estrutura social diferente,a da sociedade industrializada.

2. Resultados e discussões

1
Mimasim2@hotmail.com

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A sociedade brasileira nos anos cinquenta, do século passado, sofria intensas mudanças na sua
composição social, especialmente na urbanização. Migrantes vindos do interior se deslocam para as
principais capitais do país na busca de melhores condições de vida. Assim, há uma intensa urbanização
no período, que se estenderá pelas duas décadas seguintes.
As migrações trazem consigo o retalhamento do tecido social constituído anteriormente, exigindo
daqueles que chegavam às cidades a reconstituição dos laços sociais, que são refeitos de várias maneiras.
Uma é a manutenção das práticas anteriores ou simplesmente tomar determinados artefatos culturais
como identitários como danças, vestimentas, alimentação (isso é típico, por exemplo, com emigrantes
brasileiros que adotam a feijoada, o samba e o verde-amarelos como símbolos de sua identidade mesmo
que não os cultivasse quando estavam no país).
Além desses símbolos, podemos encontrar marcas identitárias em lugares mais sutis, como nas
revistas femininas, pelo menos para o período proposto. Nelas, vamos encontrar várias sessões que,
muitas vezes, correspondem aos anseios de leitoras desejosas de encontrarem ordem num mundo
desordenado, que é o delas próprio.
Revistas como Grande Hotel, Capricho, Ilusão, entre outras, para além da discussão sobre a indústria
cultural, traziam sessões que atendiam as representações sociais de mulheres sobre o seu lugar na
sociedade e a ordem do mundo. Daí a importância da etiqueta nestas revistas. Elas serviam também
como papel civilizador. Matérias como “Recebendo amigos”, “Como se maquiar para um jantar de
gala”, “O que vestir numa festa” auxiliam na constituição do mundo, ou melhor, respondem às
representações femininas de um mundo ordenado ou, no nosso caso, reordenado.
Assim, devemos compreender que as revistas, antes de serem simples veículos de uma ideologia
impositiva, é resultante de práticas sociais, apresentando formas de compreensão do mundo, inclusive
indicando modos de comportamento e de etiqueta. Porém, não é imposição, como foi dito, mas
expressões do que desejavam as leitoras.
As representações sociais femininas no Brasil dos anos cinqüenta colocam em discussão a cultura de
massa e o lugar da produção cotidiana, tirando das sombras algumas formas literárias. Elas nos
apresentam práticas da leitura que são ligadas às tradições orais. Assim, estas revistas femininas não são
uma queda do leitor aos infernos da subliteratura, mas uma maneira de permanências e também de
mudanças de práticas cultural.

3. Conclusões
A primeira hipótese compreende que a etiqueta nas revistas femininas atendia às representações
sociais femininas acerca da identidade, isto é, antes de ser uma imposição, as sessões nas revistas
emulavam anseios por ordem e lugar desejados por leitoras que se encontravam num mundo em
mudança. Em parte, isso explica o declínio destas revistas nos anos 80 do século passado, já que o
mundo que cercava as leitoras se encontrava, de certo modo, ordenado, isto é, os lugares sociais estavam
mais claros e, portanto, podiam ser melhor compreendidos, dando lugar a uma ação mais segura.
A segunda hipótese busca entender que estas revistas representam uma visão de mundo que se liga
diretamente à herança oral da sociedade, quer dizer, as revistas femininas são substitutos para as formas

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de civilidade apreendidas oralmente, tratando-se de sociedades tradicionais. No caso de uma sociedade


em industrialização, na qual os meios de comunicação se tornam cada vez mais visuais, o letramento
ganha importância e assim, estas revistas podem cumprir, em parte, o papel que o aprendizado oral tinha
nas sociedades tradicionais.

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ENSINAR GEOGRAFIA: O DESAFIO NO USO DE NOVAS TECNOLOGIAS POR


PROFESSORES DO ENSINO MÉDIO

Renato Pereira*; Carla Silvia Pimentel**


Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG

1. Introdução

Quando se fala em tecnologia é usual que se imagine computadores com multiprocessadores de última
geração, pessoal especializado e uma parafernália tecnológica altamente informatizada. Porém, sabe-se que a
criação e a apropriação de técnicas fazem parte do desenvolvimento da humanidade. Mesmo em seus
primórdios o homem inventa, inova, reinventa e renova.
Ao fazer alusão à sociedade do início dos tempos históricos, Santos (1994, p. 18[7]), ressalta que,

cada grupo humano construía seu espaço de vida com as técnicas que inventava para tirar
do seu pedaço de natureza os elementos indispensáveis à sua própria sobrevivência.
Organizando a produção, organizava a vida social e organizava o espaço, na medida de suas
próprias forças, necessidades e desejos.

Mas, afinal, o que é tecnologia? Etimologicamente, o termo tem origem grega, com a junção dos
termos tekne (técnica ou arte) e logos (conjunto de saberes). Sendo assim, pode-se entender tecnologia como
o conjunto integrado de conhecimentos, procedimentos e técnicas (CASTELLANO, 1996[2]), mas também
como o produto desse processo, constituindo as ferramentas que são utilizadas no dia-a-dia.
Na educação, das seculares técnicas, passando pelo simples uso do giz e do quadro negro até as
emergentes e atuais tecnologias educacionais foi um longo processo. O surgimento cada vez mais acelerado
de novos meios tem trazido certa confusão na maneira de pensar o ensino e a escola.
Nesse cenário de “incertezas”1 está o papel das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação
(NTICs). Oriundas principalmente da Terceira Revolução Industrial, as novas tecnologias possibilitaram o
advento do que se denomina “sociedade do conhecimento” ou “sociedade da informação”. Milton Santos
permite compreender melhor este período da história da humanidade ao caracterizá-lo como técnico-
científico-informacional. E, assim como em todas as épocas, sabe-se que,

o novo não é difundido de maneira generalizada e total. Mas os objetos técnico-


informacionais conhecem uma difusão mais generalizada e mais rápida do que as
precedentes famílias de objetos. Por outro lado, sua presença, ainda que pontual, marca a
totalidade do espaço. (SANTOS, 2006, p. 240[6]).

Nesse contexto, este trabalho objetiva investigar o uso das novas tecnologias na prática educativa de
professores de Geografia do ensino médio da rede estadual de ensino de Ponta Grossa, Paraná. A pesquisa
se justifica pela presença cada vez mais acelerada desses novos meios – principalmente o computador e a
internet – na vida cotidiana dos alunos, dos professores e da escola.
Nesta investigação consideram-se NTICs o computador, a TV Multimídia, os dispositivos de
armazenamento de arquivos, os softwares utilizados no ensino e a internet. A preocupação central é refletir
sobre a maneira como os professores utilizam as novas tecnologias disponíveis na escola e quais habilidades
são necessárias para seu uso e domínio. E ainda, como o professor está sendo preparado para enfrentar esse
desafio.

*
Acadêmico do Curso de Licenciatura em Geografia da UEPG. Email: repereira@uepg.br
**
Doutora em Educação. Docente DEMET/UEPG.
1
Termo utilizado por David Harvey na obra “Condição pós-moderna” (2007[3]).
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2. Metodologia

Para obter as informações e os dados, utilizou-se de questionário semi-estruturado disponibilizado via


web (e-mail direcionado aos professores de Geografia do ensino médio). O instrumento de coleta de
informações aborda seis aspectos: formação, experiência profissional e conhecimentos técnicos do professor,
infra-estrutura do colégio e novas tecnologias disponíveis na escola, além do uso das NTICs por parte dos
professores. A pesquisa estrutura-se com base na metodologia de análise de conteúdo proposta por Bardin
(2007[1]).

3. Resultados e Discussão

Os resultados preliminares da pesquisa apontam que o computador (Fig. 1) se configura como uma
opção marcante no período de planejamento das aulas, pois o crescente número de softwares disponíveis,
além do uso da internet, permite que o professor torne sua aula mais dinâmica e atrativa. O reflexo está em
sala de aula, pois o professor afirma fazer uso de novas tecnologias disponíveis na escola ao ministrar aulas
de Geografia, como se pode constatar na Fig. 2.

Fig. 1 Gráfico sobre o uso do computador no Fig. 2 Gráfico sobre o uso de novas tecnologias
planejamento das aulas no ensino de Geografia

Constatou-se ainda que no planejamento das aulas, os livros didáticos se configuram como a principal
fonte de consulta (96%), mas pode-se perceber que o professor de Geografia utiliza outros recursos, dentre
eles jornais (74%) e revistas (83%). Deduz-se que o intenso uso de jornais e revistas deve-se ao acesso
facilitado a informações atuais. Livros paradidáticos e revistas científicas (61% e 43%) também são citados.
Apesar do computador ser utilizado por 100% dos professores, a pesquisa revelou que a internet não tem
expressão significativa no planejamento das aulas.
O uso de novas tecnologias permite que o professor de Geografia utilize vários materiais e linguagens
em sua prática pedagógica. Vídeos/filmes são utilizados por 91% do grupo, pois além de aguçar a
curiosidade dos alunos, permitem uma melhor compreensão do conteúdo, quando atendem aos objetivos
propostos. A grande maioria dos professores também utiliza imagens/fotografias (96%). Quanto a esse
material Pimentel (2002, p. 23[4]) salienta que

a imagem expressa visualmente elementos ligados ao tema de estudo, e, abre, sobretudo,


possibilidades de um trabalho cognitivo amplo com os alunos, permitindo desenvolver
capacidades ligadas a análise, interpretação e síntese, além de estabelecer ligações
concomitantes com o sensitivo. Tê-la como linguagem é uma premissa que abre um campo
vasto para o trabalho pedagógico a ser desenvolvido no corpo de conhecimento de uma
ciência.

Quanto aos recursos existentes nos colégios, descobriu-se que nem todos estão disponíveis aos
professores para uso com os alunos, como revela a Fig. 3. Fica evidente que os recursos disponibilizados em
grande quantidade são utilizados por todos os professores, como é o caso da TV Multimídia. O laboratório de
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

informática é utilizado por mais da metade do grupo, contudo ainda não permite acesso a totalidade. Dentre
os fatores que dificultam o uso do laboratório pode-se considerar a falta de: profissional disponível para
auxiliar o professor, domínio por parte do professor sobre as ferramentas, manutenção dos equipamentos,
dentre outros. Os recursos adquiridos pela escola como Datashow/Projetor Multimídia e Softwares são
utilizados em menor escala.

Fig. 3 Gráfico demonstrando recursos existentes no colégio e os disponíveis aos


professores para uso com os alunos

4. Algumas Considerações

Os resultados preliminares desta pesquisa demonstram que as novas tecnologias estão presentes na
escola e são utilizadas pelos professores como suporte para sua ação pedagógica. Não se trata do profissional
que saiba fazer uso do computador, navegar na web ou utilizar o e-mail, mas daquele que utilize esses
recursos para atingir seus objetivos.
Moran (apud RÖRIG e BACKES, 2010, p. 4[5]) salienta que “o professor, com o uso das novas
tecnologias em sala de aula pode se tornar um orientador do processo de aprendizagem”. Porém, é preciso
que esse profissional reconheça sua importância no processo de ensinar e aprender, buscando atualizar-se
constantemente.
Fazer uso de novas tecnologias não significa excluir as tradicionais, mas possibilitar uma maior
aproximação à temporalidade dos alunos. Não se pensa mais um mundo não-plugado. Não se imagina o
mundo sem a utilização da informática. Por conseguinte, não se concebe mais uma escola fora da realidade
informacional, muito menos um professor temeroso frente a esses novos desafios.

Referências

[1] BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2007.

[2] CASTELLANO, S. Proposição de um modelo para planejamento e desenvolvimento de projetos em


empresas de alta tecnologia. Dissertação (Mestrado em Engenharia De Produção) – Universidade Federal
de Santa Catarina, Florianópolis, 1996. Disponível em: < http://www.eps.ufsc.br/disserta96/ >. Acesso em:
12 jun. 2010.

[3] HARVEY, D. Condição pós-moderna. 16. ed. São Paulo: Loyola, 2007.

[4] PIMENTEL, C. S. A imagem no ensino de geografia: a prática dos professores da rede pública estadual
de Ponta Grossa, Paraná. Dissertação (Mestrado em Geociências) – Universidade Estadual de Campinas,
Campinas, 2002.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

[5] RÖRIG, C.; BACKES, L. O professor e a tecnologia digital na sua prática educativa. Disponível em:
< http://www.pgie.ufrgs.br >. Acesso em: 17 abr. 2010.

[6] SANTOS, M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: USP, 2006. (Coleção
Milton Santos; 1)

[7] ______. Técnica, espaço, tempo: globalização e meio técnico-científico-informacional. São Paulo,
Hucitec, 1994.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

ESTUDO COMPARATIVO E DIAGNÓSTICO DA VEGETAÇÃO ARBÓREA DOS


BAIRROS ITARARÉ, PERPÉTUO SOCORRO E CENTRO DO MUNICÍPIO DE SANTA
MARIA/RS.

Souza, Lilian Dalbem¹; Figueiró, Adriano Severo².


¹Acadêmica do Curso de Geografia da UFSM
’Professor doutor do Departamento de Geociências da UFSM

1. Introdução
O processo de urbanização causa necessariamente a transformação das características naturais do
espaço, pois requer a substituição do sistema natural – formado de elementos bióticos e abióticos – por um
sistema artificial, marcado por edificações que impermeabilizam o solo e reduzem a quantidade de áreas
verdes. O sistema urbano é, portanto, muito alterado em suas condições naturais básicas [1]. Em função
disso, especialmente após a década de 1970, tem sido dada maior atenção à qualidade ambiental urbana [2], a
qual contribui diretamente na qualidade de vida das pessoas.
Neste contexto, tem sido dada atenção ao Planejamento Ambiental das cidades e à necessidade de
arborização destas, já que as árvores prestam um grande serviço à saúde física e mental dos cidadãos. Para
Troppmair “as áreas verdes desempenham papel importante no mosaico urbano, porque constituem um
espaço encravado no sistema urbano” [3]. Muitas são as vantagens que as árvores prestam às cidades e às
pessoas: são fundamentais para a permeabilização do solo contribuindo para evitar enchentes, atenuando o
microclima citadino, reduzindo as partículas de poeiras no ar, além de deixar o cenário mais bonito e
agradável [4].
Santa Maria, cidade de porte médio no interior do Rio Grande do Sul, localizada entre as coordenadas
29° 39’ e 29° 43’ de latitude sul e entre 53° 50’ e 53° 45’ de longitude oeste (figura 1), teve como
conseqüência do seu processo de urbanização, a retirada total ou parcial da formação florestal que ocupava o
rebordo do planalto, e à medida que a expansão urbana foi densificando nas áreas mais planas, isolou os
fragmentos florestais à margem da cidade e nos topos de morros, resultando num processo de isolamento da
área florestal [5].
O bairro Itararé, localizado a norte da zona urbana do município, possui ainda remanescentes de
vegetação integrante do bioma mata atlântica concentrada principalmente no Morro Cechella, sendo,
portanto, área de preservação. Este bairro é tipicamente residencial em que moram cerca de 10.000 pessoas,
a maior parte em residências unifamiliares [6].

Fig. 1 Mapa de localização do Bairro Itararé, Santa Maria/RS.


Elaborado por: SOUZA, L. D.


Pesquisadora do Laboratório de Geoecologia e Educação Ambiental (LAGED) da UFSM
lilian.geoufsm@yahoo.com.br

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Este estudo focou a situação do Bairro Itararé quanto as suas características de vegetação arbórea
ainda existente. Estas características foram comparadas com as de dois outros bairros: o Bairro Perpétuo
Socorro, também localizado ao Norte do município e marcado pela presença de morro testemunho; e o bairro
Centro, vizinho àqueles e onde se concentra a maior parte das edificações e pessoas. O objetivo do trabalho é
avaliar comparativamente como está distribuída a vegetação arbórea no Bairro Itararé e nos demais bairros
analisados, verificando se esta vegetação cumpre com os serviços ambientais correspondentes, incluindo a
função de lazer da população, o que implica no bem estar das pessoas.

2. Metodologia
Para a análise da distribuição de vegetação arbórea no Bairro Itararé utilizou-se a imagem disponível
no software Google Earth Pró do ano de 2010, de alta resolução. A identificação dos fragmentos florestais
foi feita manualmente, a partir da interpretação da imagem, apoiada em saídas a campo. Com isso foi
possível distinguir tanto fragmentos florestais quanto árvores isoladas. O trabalho não diferenciou vegetação
nativa e exótica, mas salienta que a vegetação do Cechella é composta predominantemente de espécies
nativas. A vegetação arbórea foi representada com o apoio do programa Arcgis 9.3. Os mapas de vegetação
dos bairros Centro e Nossa Senhora do Perpétuo Socorro foram adaptados de trabalhos anteriores [7- 8].

3. Resultado e Discussão
Após o processamento das imagens, o mapa de vegetação obtido está demonstrado abaixo:

Fig. 2 Mapa de cobertura arbórea dos bairros Perpétuo Socorro, Itararé e Centro, Santa Maria/RS.
Elaborado por: SOUZA, L. D.

Em geral, tem-se que o bairro Perpétuo Socorro possui aproximadamente 80% de sua área composta
por vegetação arbórea e o Itararé com 25%. Em ambos os bairros a concentração desta vegetação ocorre nos
seus morros. O bairro Centro possui apenas 10% de sua área em cobertura arbórea, justamente o bairro que
possui maior concentração de prédios e pessoas.
O Bairro Itararé possui vegetação arbórea distribuída em todo seu perímetro, com especial
concentração no Morro Cechella. Apesar disso não há parques ou reservas delimitadas e as árvores que estão
distribuídas ao longo do bairro não possuem ligação a ponto de estabelecerem um corredor ecológico para
deslocamento da fauna. Pelo mapa podemos notar que existem corredores arborizados, mas ficam restritos

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

aos seus próprios bairros. A existência desses fragmentos vegetacionais na área habitada decorre mais da
população querer manter certas árvores em seus pátios do que de uma política pública de preservação.
Porém, o Morro Cechella tem sido cada vez mais ocupado por moradias de pessoas de baixa renda, que ali se
instalam sem qualquer infraestrutura, o que coloca em xeque a permanência daquela vegetação.
O Bairro Perpétuo Socorro é semelhante ao Itararé no quesito vegetação, pois ambos possuem
característica comum quanto a aspectos de habitação – bairros residenciais com predomínio de casas – e de
relevo, dada a existência de morros testemunhos onde o avanço da urbanização ainda apresenta um ritmo
controlado. As áreas vegetadas na parte norte do município prestam um grande serviço para a circulação do
ar no Centro, garantindo a renovação do ar e o transporte das poeiras acumuladas, ajudando na regulação
térmica do bairro. Estes fatores também agem positivamente na saúde das pessoas.
Já o Centro possui pouca vegetação, decorrente da concentração de prédios. Apresenta uma única área
verde para lazer das pessoas, o chamado Parque Itaimbé, onde muitas pessoas freqüentam para caminhar,
tomar seu chimarrão ou para estar em contato com um local mais arborizado. Além disso, as árvores do
bairro Centro têm a sua funcionalidade ambiental reduzida, em função do alto grau de impermeabilização do
bairro.
Pela figura 2, percebe-se que há a possibilidade de fazer com que haja contato entre concentrações
arbóreas dos três bairros, não apenas pela proximidade destes bairros como também pela localização dos
seus corredores arborizados.

4. Conclusão
A partir da realidade do bairro Itararé é possível afirmar que não tem existido política pública para
áreas verdes na cidade, o que é um grande desperdício, pois este bairro possui uma bela paisagem cênica,
além de um potencial inegável para a prestação de serviços ambientais relacionados a circulação do ar,
permeabilidade e refúgio da fauna, principalmente de aves.
Os bairros da zona Norte, Itararé e N. Sra. Perpétuo Socorro, são bastante parecidos no aspecto de
vegetação, e ambos prestam serviço ambiental para a fauna local. Também colaboram para a infiltração da
água e reabastecimento do lençol freático. Concluí-se que estas características de vegetação colaboram tanto
com a função ecológica quanto para a melhor qualidade da saúde, logo, de vida, das pessoas.
Porém, no bairro Centro, as árvores presentes, mais esparsas que nos outros dois bairros, atendem
muito mais a uma função estética do que a funções ecológicas que seriam esperadas da vegetação arbórea,
pois isolada como se encontra e, não raro, cercada de cimento, o papel de absorção da água da chuva é
bastante limitado. Torna-se clara a relação entre ocupação urbana e redução de vegetação na cidade de santa
Maria.
A falta de atenção do poder público para a importância de áreas verdes nas cidades é um fator
preocupante no que toca a um ambiente saudável para as pessoas viverem. A falta de planejamento urbano
eficiente associado ao crescimento da população, tende a por em risco as poucas áreas de vegetação que o
município possui.

[1] Troppmair, H. Biogeografia e Meio Ambiente. Rio Claro: SP Ed. Graff Set, 1987.
[2] Nucci, J. C. Qualidade Ambiental e Adensamento Urbano: um estudo de ecologia e planejamento da paisagem
aplicado ao município de Santa Cecília. 2ª ed. - Curitiba: O Autor, 2008.
[3] Troppmair, op. cit., p. 150.
[4] Nucci, op. cit.
[5] Figueiró, A. S. Aplicação do zoneamento ambiental no estudo da paisagem: uma proposta metodológica.
Dissertação de mestrado Florianópolis: UFSC, 1997.
[6] IBGE, Censo Demográfico. Rio de Janeiro: IBGE, 2001.2001.
[7] Lucas et tal. Ocupação Irregular em Áreas de Preservação Permanente no Bairro Nossa Senhora do Perpétuo
Socorro, Santa Maria/RS: Legislação e Conflitos. In: XV Encontro Nacional de Geógrafos, 2008. Anais... São Paulo:
USP, 2008a.
[8] Lucas et tal. Caracterização e Conflitos entre Vegetação Urbana e Qualidade ambiental no Bairro Centro da Cidade
de Santa Maria/RS: Uma Primeira Aproximação. Geografia: Ensino & Pesquisa, v.12, p.986-1007, 2008b.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

5. Referências
NUCCI J. C. Qualidade Ambiental e Adensamento Urbano: um estudo de ecologia e
planejamento da paisagem aplicado ao município de Santa Cecília. 2ª ed. - Curitiba: O Autor, 2008.
TROPPMAIR H. Biogeografia e Meio Ambiente. Rio Claro: SP Ed. Graff Set, 1987.
FIGUEIRÓ, A. S. Aplicação do zoneamento ambiental no estudo da paisagem: uma proposta
metodológica. Dissertação de mestrado Florianópolis: UFSC, 1997.
IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo Demográfico. Rio
de Janeiro: IBGE, 2001.
LUCAS, C. A.; ANTUNES, R. L. S.; MARTELLI, G. V.; GUARESCHI, V. D.; FOLETO, E. M.
Ocupação Irregular em Áreas de Preservação Permanente no Bairro Nossa Senhora do Perpétuo Socorro,
Santa Maria/RS: Legislação e Conflitos. In: XV Encontro Nacional de Geógrafos, 2008. Anais... São Paulo:
USP, 2008.
LUCAS, C. A.; ANTUNES, R. L. S.; FIGUEIRÓ, A. S. Caracterização e Conflitos entre Vegetação
Urbana e Qualidade ambiental no Bairro Centro da Cidade de Santa Maria/RS: Uma Primeira Aproximação.
Geografia: Ensino & Pesquisa, v.12, p.986-1007, 2008.

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FUSÃO DE IMAGENS DO SATÉLITE CBERS-2B VISANDO O ESTUDO DE


CATASTROFES NATURAIS NA SUB-BACIA DO RIO LUIS ALVES – SC

PARREIRA, Sinara Fernandes ; DAL SANTO, Mariane Alves; FURTADO, Thales Vargas
Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC
Centro de Ciências Humanas e da Educação – FAED
Laboratório de Geoprocessamento – GeoLab

1. Introdução
As imagens geradas pelos sensores orbitais tem se apresentado como importantes instrumentos para
avaliação e interpretação da superfície terrestre e vem, cada vez mais, sendo utilizadas para o planejamento
territorial. Existem diferentes tipos de sensores que, consequentemente, geram vários tipos de imagens, cada
uma com suas características específicas. Para definir qual a imagem mais adequada a cada trabalho
devemos analisar as suas características. Dentre as principais características a serem analisadas estão: as
resoluções espectral, temporal e espacial da imagem. A resolução espectral refere-se ao poder de resolução
que o sensor tem para discriminar diferentes alvos sobre a superfície terrestre. Já a resolução temporal indica
o intervalo de tempo que o satélite leva para voltar a recobrir a área de interesse. E, a resolução espacial,
segundo Moreira (2001) [3], baseia-se na habilidade de distinguir os alvos entre si e a capacidade de medir a
periocidade de alvos repetitivos e as propriedades espectrais de pequenos alvos.
Assim, considerando a relevância do uso das imagens de satélite para diversas atividades socio-
economicas e ambientais, esse artigo tem como objetivo apresentar um processo metodológico de fusão de
imagens, buscando melhorar a sua qualidade espacial e espectral visando o estudo de catástrofes naturais.
As imagens utilizadas nesse trabalho foram do satélite CBERS-2B, que faz parte de um convênio entre
os governos brasileiro e chinês. As imagens geradas por esse satélite podem ser adquiridas gratuitamente no
site do Instituto Nacional de Pesquisas Escpaciais – INPE. As imagens escolhidas foram: uma CBERS obtida
pela câmera CCD, multiespectral e com resolução espacial de 20 metros; E, outra CBERS gerada pela
câmera HRC ( High Resolution Camera), sendo que esta última opera numa única faixa espectral que cobre o
visível e parte do infravermelho próximo e produz imagens de uma faixa de 27 km de largura com uma
resolução de 2,7 m. Isso permite a observação com grande detalhamento dos objetos da superfície.
Considerando que a faixa de cobertura da CBERS- HRC é de 27 km, são necessários cinco ciclos de 26 dias
para que os 113 km padrão da imagem CCD sejam recobertos pela HRC (FREITAS, 2009) [1]. A tabela 1
especifica as características de cada câmera que compõe o satélite CBERS – 2B.

Especificações CCD IR-MSS HRC


Bandas Espectrais 0,51 – 0,73 µ (pan) 0,50 – 1,10 µ (pan) 0,50 – 0,80 µ (pan)
0,45 – 0,52 µ (azul) 1,55 – 1,75 µ
0,52 – 0,59 µ (verde) (infravermelho médio)
0,63 – 0,69 µ (vermelho) 2,08 – 2,35 µ
0,77 – 0,89 µ (infravermelho médio)
(infravermelho próximo) 10,40 – 12,50 µ
(infravermelho termal)
Campo de visada 8,3° 8,8° 2,1°
Resolução espacial 20 x 20 m 80 x 80 m 2,7 x 2,7 m
Largura da Faixa 113 km 120 km 27 km
Resolução temporal 26 dias 26 dias 130 dias
Frequência da portadora 8103 E 8321 MHz 8216,84 MHz _
de RF
Taxa de dados da imagem 2 x 53 Mbit/s 6,13 Mbit/s 432 Mbit/s
Tab 1 - Parâmetros dos instrumentos imageadores do Satélite CBERS – 2B
Fonte: www.inpe.gov.br

Várias técnicas de fusão de imagens vêm sendo desenvolvidas desde a década de 80, com o objetivo
de produzir uma imagem com alta resolução espacial e espectral, visando também uma distinção mais
completa e acurada do objeto sob observação. No caso desse trabalho, a área escolhida para observação foi a
sub-bacia do Rio Luis Alves- SC. A escolha dessa área acompanha o desenvolvimento de um projeto de
pesquisa vinculado ao Grupo Técnico Científico (GTC) do estado de Santa Catarina, que desenvolve técnicas


sinaraparreira@hotmail.com

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de prevenção e apoio às areas afetadas por catastrofes naturais, pois essa bacia foi uma das mais atingidas
pelas fortes chuvas de novembro de 2008. Logo a utilização da imagem CBERS com uma boa resposta
espacial e espectral busca facilitar a identificação dos deslizamentos em encostas já ocorridos e caracterizar
os aspectos geológicos, geomorfológicos, pedológicos e de uso do solo para a geração de mapas temáticos de
risco e suscetibilidade para essa bacia.

2. Método
Segundo Wald (1997) [4], a fusão de dados pode ser definida como uma estrutura de trabalho onde
ferramentas e técnicas são desenvolvidas com o objetivo de combinar informações advindas de diferentes
sensores. A utilização dessa técnica permite a obtenção de uma imagem de melhor qualidade, ou seja, a
produção de uma única imagem que possua mais informações do que cada imagem individual utilizada na
sua geração. De acordo com Leonardi et al. (2005) [2], para que o método de fusão seja eficiente é
imprescindível preservar a informação espectral da imagem original e incorporar a informação espacial da
banda pancromática para o produto híbrido.O software Erdas Imagine 9.3 foi o escolhido para desenvolver
todas as etapas do procedimento. Primeiramente foi feito um pré-processamento da imagem CBERS –CCD
que encontrava-se bruta, as três bandas dessa imagem foram fornecidas separadamente. Logo foi necessário
uni-las em uma imagem só por meio da ferramenta layer stack do Erdas. A composição da imagem com as 3
bandas pode ser observada na figura 1:

Fig. 1 Imagem CBERS –CCD composição das bandas 1,2 e 3

Após a junção das bandas o próximo passo foi fazer o recorte da área de estudo na imagem CBERS-
CCD já que a mesma cobria uma área mais extensa do que o necessário para esse estudo. O recorte foi feito
selecionando a área de interesse por meio do ícone Create Rectangle AOI que esta no menu RASTER do
software Erdas. A área recortada já apresentou uma melhora na resolução espacial como pode ser observado
na figura 2.
Feito o recorte, a próxima etapa foi fazer a correção geométrica da imagem CBERS-CCD. Entende-se
como correção geométrica a reorganização dos “pixels” da imagem em relação a um determinado sistema de
projeção cartográfica (WOSNY, 2008) [5]. Como referência para essa correção foi utilizada a imagem
CBERS-HRC que já estava georreferenciada e corrigida (figura 3).
A correção geométrica foi feita com a ferramenta Image corretion geometric, onde inseriu-se os
pontos de controle na imagem a ser corrigida (CBERS- HRC) e correlacionou com os da imagem
ortorretificada (CBERS-CCD). A figura 4 ilustra os views de cada imagem uma do lado da outra, prontas
para inserir os pontos de controle.

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Fig. 2 Área recortada da imagem CBERS-CCD Fig. 3 Imagem CBERS – HRC (Pancromática)

Fig. 4 Correção Geométrica a imagem CBERS- CCD

Após a correção geométrica foi feito finalmente a fusão das duas imagens. A técnica de fusão utilizada
foi a fusão por componentes principais, vale ressaltar que existem outras técnicas de fusão como Intensidade-
Matiz- Saturação (IHS), Transformação Wavelet e Transformação de Brovey. Na fusão por componentes
principais ocorreram três transformações, cada uma envolvendo a imagem pancromática e uma banda
multiespectral. Tendo como resultado uma composição colorida gerada a partir da combinação das três
bandas. A ferramenta que possibilitou essa fusão no Erdas foi o resolution merge.

3. Resultados e Discussões
Como resultado notou-se uma melhora considerável na qualidade da imagem obtida pela fusão tendo uma
melhor definição e distinção dos alvos em relação a imagem multiespectral sem a fusão (figura 5).

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Fig. 05 Imagem gerada pela fusão da CBERS-CCD com a CBERS-HRC

É importante justificar que a não obtenção de um resultado ainda melhor se diz respeito ao fato da
razão entre as resoluções espaciais das imagens pancromática e multiespectrais ser superior ao valor de razão
máxima recomendada de 5:1 (ZHANG, 2002) [6].

4. Conclusão
A fusão das imagens CBERS-CCD e CBERS- HRC aprimorou a visualização dos detalhamentos,
facilitando o entendimento da dinâmica do espaço geográfico a ser estudado. As feições foram realçadas
contribuindo para o delineamento das formas do relevo, apresentando bem as rugosidades das encostas e
planície de inundação no entorno do rio Itajaí – Açu.

Referências

[1] FREITAS, D. M de. Et Al. Fusão de Imagens Cbers- CCD com Cbers- HRC para obter uma melhor
interpretação das sub-regiões e áreas antrópicas do Pantanal. In: Anais 2° Simpósio de Geotecnologias no
Pantanal, Corumbá, Brasil, 2009, p.412-421.

[2] LEONARDI, S. S.; Ortiz, J. O.; Fonseca, L. M. G. Comparação de técnicas de fusão de imagens para
diferentes sensores orbitais. XII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto. In: Anais... Goiânia, Brasil,
2005, p. 4111-4113.

[3] MOREIRA, Mauricio Alves. Sistemas Sensores (apostila). INPE. São José dos Campos. Agosto. 2001

[4] WALD, L.; Ranchin, T.; Mangolini, M. Fuison of satellite images of different spatial resolution:
assessing the quality of resulting images. Photogrammetric Engineering & Remote Sensing 63 (6), p. 691-
699, 1997.

[5] WOSNY, Guilherme Clasen. Erdas 9.1: Aplicações Correção Geométrica e Classificação de imagens
(apostila). FAED/UDESC. Florianópolis. Julho . 2008.

[6] ZHANG, Yun. Problems in the fusion of commercial high-resolution satellite, Landsat 7 images,
and initial solutions. ISPRS, Vol. 34, Part 4, “Geospatial Theory, Processing and Applications”, Ottawa,
2002.
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

GRUPOS DE PODER E SUAS RELAÇÕES: ESTUDO DE CASO DA IMPLANTANÇÃO


DA USINA HIDRELÉTRICA DE ITÁ-SC

Aline Diane Kölln*


Mestranda em geografia
Universidade Estadual do Centro-Oeste

Márcia da Silva
Profª Drª. do Departamento de geografia
Universidade Estadual do Centro-Oeste

1. Introdução

No mundo contemporâneo a necessidade de energia cresce rapidamente a fim de atender as


necessidades do homem e apontar um nível de vida compatível com a sua própria dignidade. É ela o fator
essencial para o desenvolvimento sócio-econômico de uma nação.
Dessa forma o homem vem se voltando para a natureza, explorando os seus recursos naturais,
especialmente nas construções das Usinas Hidrelétricas. No Brasil, dispomos de grandes bacias hidrográficas
com um grande potencial energético, há hoje vários projetos de construção de novas Usinas Hidrelétricas
(UHE's), Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH's), bem como há inúmeras usinas já em funcionamento,
gerando a energia que movimenta a economia nacional.
O objetivo deste artigo é o de apresentarmos a pesquisa que está sendo desenvolvida no mestrado,
vinculada a Universidade Estadual do Centro-Oeste. Nesta proposta de estudo o objetivo é o de verificar as
características do processo de implantação da usina hidrelétrica de Itá, e a atuação de cada um dos seguintes
atores neste processo: empresa Tractebel, as, prefeituras municipais dos dois principais municípios
envolvidos ( Itá/Sc e Aratiba/RS), e o movimento dos atingidos por barragens (MAB). A pesquisa terá como
procedimentos metodológicos a aplicação de entrevistas, a pesquisa em jornais e documentos, e após este
levantamento será feito uma análise, a respeito da questão política, e o que modificou nestes dois municípios.

2. Justificativa e relevância do tema

A partir de meados da década de 1950, o Brasil passou por um processo de industrialização bastante
acelerado, sendo necessários grandes investimentos em infra-estrutura básica para auxiliar o crescimento da
indústria nacional.
Servindo de apoio ao processo de industrialização brasileira, projetos, como as grandes hidrelétricas,
além da produção de energia elétrica, tornaram-se o meio de expansão de novas técnicas para a produção
nacional. Entretanto os efeitos advindos dessa modernização trouxeram consigo problemas econômicos,
sociais, ambientais e políticos.
Ao discutir a implantação de grandes projetos, volta-se às usinas hidrelétricas que se configuram
como a melhor e mais viável forma de se produzir energia elétrica.
Portanto ao construirmos esses grandes empreendimentos várias relações são estabelecidas, e muitas
vezes conflituosas. No caso da usina hidrelétrica de Itá, estas relações de poder estão presentes até hoje, pois
ainda ocorre uma disputa política entre os municípios de Aratiba e Itá pelos royalties desta usina.

*alinegeo2004@yahoo.com.br

179
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Esta usina se caracteriza por ter sido umas das primeiras no Brasil a ter a participação efetiva de um
movimento organizado reivindicando melhores indenizações, o MAB (Movimento dos atingidos por
Barragens) e conseguiu grandes melhorias no processo indenizatório.
Por outro lado as relações de poder estabelecidas neste processo geram algumas alterações no
território, e é nesta categoria espacial que iremos estabelecer as nossas análises.
O território é este emaranhado de forças de poder que agem e proporcionam a (re) construção das
territorialidades. Forças essas ligadas à natureza, de ordem econômica, política e/ou cultural. Todas estão
imbricadas na composição do território contribuindo para seu arranjo heterogêneo.
As hidrelétricas, ao ocuparem um espaço, ao territorializarem-se causam um forte impacto nas
territorialidades pré-existentes, sejam elas sociais, políticas ou econômicas.
Dessa forma a construção desses grandes empreendimentos tem sentido não apenas como processo
de artificialização da natureza ou de substituição de um meio natural por um meio técnico, mas
principalmente, como processo de des-territorialização e reterritorialização, o que significa fazer menção à
dinâmica de criação de um novo território e do surgimento de novas territorialidades.

3. A usina

A história da Usina Hidrelétrica Itá, ou UHE Itá, remonta ao início da década de 80 quando a
Eletrosul - Centrais Elétricas do Sul do Brasil S.A. começou a realizar estudos sobre a exploração energética
do rio Uruguai. Em 1983, a estatal obteve concessão de 30 anos para o primeiro aproveitamento no rio. O
início da operação deveria ocorrer em quatro anos. Ainda em seus movimentos iniciais, a obra entrou em
ritmo lento. Apenas serviços secundários e de proteção continuaram sendo realizados. Motivo: falta de verba.
A estatal conseguiu até aquele momento otimizar o projeto do reservatório, em uma iniciativa que
envolveu até a realocação da cidade de Itá para fora da área alagada.
Enquanto isso, outras atividades prosseguiam, tais como a realocação de estradas e redes elétricas,
como o remanejamento de famílias para fora da área alagada.
Em 1993 a Eletrosul reativou o projeto e, em julho de 1994, divulgou o edital de licitação para
conclusão do empreendimento sob o regime de concessão.
As águas represadas ocupam área de 145 km², equivalentes à metade da área de Porto Alegre.
Abaixo figura que demonstra a localização da usina hidrelétrica de Itá e a sua área de abrangência
nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Fig 1: Localização da Usina Hidrelétrica de Itá-SC

Fonte: Tractebel (2009)

180
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

4. Os Grupos de poder

Após um levantamento bibliográfico sobre a usina hidrelétrica de Itá constatamos que os atores que
se destacaram no processo de implantação desta usina foram: a empresa Tractebel, as prefeituras municipais
de Aratiba/RS e Itá/SC, e o movimento dos atingidos por barragens.
A seguir uma breve descrição destes grupos.
A empresa Tractebel (Tractebel Energia S.A) adquiriu em 1998 a companhia estatal Gerasul, com
capacidade instalada para gerar 3.719 MW. A partir desse momento a empresa com capital Belga, começou a
atuar no sistema de produção e distribuição de energia elétrica no Brasil e é quem controla a produção da
usina de Itá.
As prefeituras municipais de Aratiba e Itá tiveram que dar a maior contrapartida, pois foram os 2
municípios que mais tiveram áreas alagadas, por outro lado hoje elas recebem os royalties desta usina, o qual
será um dos nossos objetivos, investigar como é o processo de divisão destes royalties, pois até hoje geram
grandes disputas judiciais por esses valores mensais.
O MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) é um movimento social que reúne pessoas
atingidas ou ameaçadas direta ou indiretamente pela construção de barragens e que se constitui como reação
organizada diante de tais eventos. O Mab foi criado em meados de 1989 com a realização do 1º Encontro
Nacional de Trabalhadores Atingidos por Barragens, este evento contou com a participação de representantes
de várias regiões do País. E reivindicavam além de indenizações justas e reassentamentos, a reflexão sobre a
construção de novas barragens.
Como dados importantes a formulação da dissertação, foi apurado o númmero de famílias atingidas e
municípios atingidos. As famílias atingidas que foram deslocadas moravam em Itá, Alto Bela Vista, Arabutã,
Concórdia, Ipirá e Peritiba municípios em Santa Catarina, e Aratiba, Mariano Moro, Severiano de Almeida e
Marcelino Ramos no Rio Grande do Sul. As famílias totalizavam 4000 ou aproximadamente 16000 pessoas
deslocadas.
O pré-levantamento realizado deu base para a formulação do projeto e nos dá subsídios para a
realização da pesquisa.

5. Procedimentos metodológicos

O método de pesquisa refere-se ao conjunto de técnicas, procedimentos e estratégias através dos


quais se procedem à obtenção e organização de dados, qualitativos e quantitativos, que visam realizar os
objetivos propostos por uma pesquisa. Neste sentido a nossa pesquisa está organizada da seguinte forma:
-Coleta de dados primários: Coleta de dados na Empresa (Tractebel), Escritório do MAB, nas prefeituras de
Aratiba/RS e Itá/SC e demais órgãos públicos e privados.
-Levantamento Bibliográfico: Coleta de informações em livros, revistas, jornais e demais fontes que possam
apontar dados relevantes a pesquisa.
-Aplicação de questionários.
-Aplicação das entrevistas.
Acima demonstramos como procederemos na tentativa de alcançarmos os objetivos propostos.
Ressalto que essa metodologia não é fixa e que durante a pesquisa poderão ser feitas alterações na forma de
coletar os dados.

6. Considerações Finais

A atuação do MAB (Movimento dos atingidos por barragens) como ator social, em alguns territórios
rurais atingidos pela construção de UHEs, em especial na de Itá-SC representou a possibilidade de
agricultores e trabalhadores rurais garantirem as condições básicas para sua reprodução enquanto grupo
social, bem como de reorganização dos seus territórios construídos.
Como bem ressalta Vainer (1993), quando da implantação de um empreendimento de infra-estrutura
de grande porte, verifica-se uma gama de relações conflituosas nas esferas intra e inter escalares, tanto no
plano nacional quanto local, que passam a interferir no arranjo do espaço. No entanto, como lembra Reis
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

(1998), esta situação que é extremamente complexa, passa a se expressar e ser entendida de forma simplista,
como um relacionamento assimétrico, com a confrontação de apenas duas lógicas que seriam diferentes e
conflitantes: a lógica da empresa construtora e a lógica das populações locais.
Segundo Pecqueur, um dos meios para se atingir o desenvolvimento territorial é a transformação do
território dado em território construído, por meio da ativação de recursos genéricos e/ou específicos em
ativos, através da ação dos atores sociais de seu tecido social.
Devido ao processo de construção histórico social local e regional, da fragilidade de rede de relações
entre os atores locais que configura aquele tecido social, bem como da também frágil articulação entre estes
atores quando do processo de construção da hidrelétrica, não foi possível identificar indícios que indicassem
a existência de um processo de transformação do território dado em um território construído.
Com a pesquisa o que se verificou foram ações significativas do movimento social que representou a
população atingida - MAB, de entidades ambientalistas que a este movimento se associou, em defesa da
proteção da vegetação local, e ainda, do poder público federal. O resultado, entretanto de suas ações, não se
firmou como um “acordo” conjunto, ou seja, o que se viu foram termos de Acordos realizados em separado,
estando os interesses da empresa privada ainda na posição central de todo o processo.

7. Bibliografia

HEIDRICH, A. Fundamentos da Formação do Território Moderno. Boletim Gaúcho de Geografia,


nº 23, AGB - Seção Porto Alegre,1998.

PECQUEUR, Bernard. Qualité e développement territorial: l’hypothèse du pannier de biens et de


services territorialisés. Paris, Economie Rurale, n. 261, 2001, pp.37-49.

REIS, Maria J. Espaços vividos, migração compulsória, identidade: os camponeses do Alto


Uruguai e a Hidrelétrica de Ita. 1998. Capítulo II (Tese de Doutorado em Ciências Sociais) –
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas - SP.

SANTOS, Milton. Por uma Geografia nova: da crítica da Geografia a uma Geografia Crítica. São
Paulo: Hucitec, 1996.

________et al. O papel ativo da Geografia: um manifesto. Florianópolis: XII Encontro Nacional
de Geógrafos- AGB-, 2000.

SOUZA, M. J. L. de. O território; sobre espaço e poder, autonomia e desenvolvimento. CASTRO, I.


E. de; GOMES, P.C. da C. e CORRÊA. R. L. (Orgs). Geografia Conceitos e Temas. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.

SUERTEGARAY, D. M. A. Espaço geográfico uno e múltiplo. In: Scripta Nova: Revista


Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales, Barcelona Nº 93, 15 de julio de 2001. Disponível em
http://www.ub.es/geocrit/sn-93.htm, acesso realizada dia 09/11/09.

VAINER, Carlos B. A inserção regional dos grandes aproveitamentos hidrelétricos - uma discussão
das posições emergentes no setor elétrico. In_ GOMES, Marco A. F. Velhas e Novas Legitimidades
na Reestruturação do Território. (Org.) Anais do IV Encontro da Anpur/Salvador 1991. Salvador:
ANPUR/UFBA. Faculdade de Arquitetura. Mestrado em Arquitetura e Urbanismo, 1993

www.tractebel.com.br, acesso realizado em 12/12/2009.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

HOMENS E MULHERES NO MOVIMENTO NEGRO EM CRICIÚMA NAS DÉCADAS


DE 1970-1980

Juliana de Souza Krauss1*


1
Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC

1. Introdução
Este trabalho é fruto da pesquisa para elaboração de dissertação de mestrado em história.
Pretendemos discutir brevemente as relações de gênero no Movimento Negro em Criciúma nas
décadas de 1970 e 1980.
Discutiremos sucintamente a atuação de homens e mulheres no Movimento Negro no país,
para que desse modo possamos compreender como vão se dar as interações em Criciúma.

2. Método
O presente texto foi elaborado a partir de uma revisão bibliográfica acerca ao tema; através de
pesquisas nos jornais: “Tribuna Criciumense”, “Correio do Sudeste” e “Jornal da Manhã”, e com a
documentação do Arquivo Histórico Municipal de Criciúma (Estatuto e Atas de Reuniões).

3. Resultados e Discussão
Nas diversa formas de atuação e organização, o Movimento Negro tem contado com a participação de
homens e mulheres. Inicialmente as mulheres desempenharam um papel secundário no interior do
Movimento, ocupando-se com o enfrentamento do racismo e representar os homens, a estes cabia a
representação política nos eventos.[1]
Na primeira metade do século XX houve uma preocupação por parte de algumas instituições do
Movimento Negro em definir os papéis masculinos e femininos procurando adequar os/as afrodescendentes
aos padrões sociais da elite dominante.[2]
Essa característica vai marcar fortemente o Movimento Negro até a década de 1980. Período no qual
surgem Movimentos de mulheres afrodescendentes visando combater o racismo e o sexismo.
Em Criciúma o Movimento Negro surgiu enquanto organização na década de 1970, através da criação
da Associação da Etnia Negra de Tradição e Cultura, essa entidade era voltada para manifestações culturais
africanas e afro-brasileira, além de combater as manifestações racistas ocorridas na cidade.
Os homens ocupavam os cargos administrativos e as mulheres organizavam festas e combatiam o
racismo.[3] Podemos destacar em especial Clotilde Maria Martins Lalau, que juntamente com seu
companheiro Wilson Lalau fundou a Associação, que tinha como sede a casa de ambos e quando as reuniões
contavam com um número elevado de pessoas eram realizadas na Sociedade Recreativa União Operária.
Clotilde em sua atuação como militante além da organização de festas, escrevia artigos para jornais da
cidade denunciando as práticas racistas, na maioria das vezes utilizava o pseudônimo de Tulipa Negra, além
de fazer pronunciamento na rádio da cidade sempre que ocorria situações discriminatórias. Um fato
interessante a ser destacado eram suas vestes, nas reuniões do Movimento utilizava túnicas e turbantes, e no
cotidiano apenas turbantes combinando com a roupa utilizada..
Havia por parte da Associação uma preocupação muito grande com a educação das populações de
origem africana, não apenas com os/as alunos/as mas também com as/os professores/as , procurando sempre
vagas para os/as mesmos/as lecionarem. Eram realizados encontros entre professores/as afrodescendentes
para discutir as relações étnico-raciais na escola.

4. Conclusão
Compreendemos ser imprescindível para uma melhor compreensão da militância nos diversos
movimentos sociais, propiciar a visibilidade aos homens e mulheres contribuindo desse modo com múltiplos
olhares sobre esta temática.

Referências
[1] FONTOURA, 2004. p. 131.
[2] DOMINGUES, 2007. p. 368.
[3] MANENTI, 2005. p. 4.

* juliana_skauss@yahoo.com.br

183
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

ANDREWS, George Reid. Negros e brancos em São Paulo (1888-1988). Bauru: EDUSC, 1991.

BERNALDO, Pedro Paulo. Sociedade Recreativa União Operária: um espaço de luta, lazer, identidade e
resistência da comunidade negra criciumense (1950-1970). Monografia, UNESC, 2005.

CARDOSO, Paulino de Jesus Francisco. A vida na escola e a escola da vida: experiências educativas de
afro-descendentes em Santa Catarina no século XX. In____. ROMÃO, Jeruse (Org.). História da Educação
do Negro e outras histórias. Coleção Educação para todos. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de
Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. 2005.

CARNEIRO, Sueli. Mulheres em Movimento. Estudos Avançados. São Paulo, USP. 2003. p. 117-132.

CORREIO DO SUDESTE, Santa Catarina, Criciúma, 1977-1985.

DOMINGUES, Petrônio. Frentenegrinas: notas de um capítulo da participação feminina na história da luta


anti-racista no Brasil. In____. Cadernos Pagu. Campinas. Nº 28, janeiro/ junho/2007. p. 345-374.

ESTATUTO da Associação da Etnia Negra de Tradição e Cultura, acervo do arquivo Público e Municipal de
Criciúma.

FONTOURA, Maria Conceição Lopes. A produção escrita das mulheres negras. In_____. Revista de Estudos
Feministas. Florianópolis. 12 (N.E): 264, setembro/dezembro/2004. p. 131-141.

GOSS, Karina Pereira. Identidades Militantes em ações coletivas contemporâneas em Florianópolis (SC).
Dissertação de Mestrado em Sociologia Política. UFSC, 2003. 142 p.

JORNAL DA MANHÃ, Santa Catarina, Criciúma, 1987.

MANENTI, Tamara Domingos. Religiosidade, carnaval e movimento negro em Criciúma (1950-1980): o


que a imprensa local tem a dizer sobre isso? Criciúma, SC. UNESC, 2005.

NASCIMENTO, Elisa Larkin. O Sortilégio da Cor: Identidade, raça e gênero no Brasil. São Paulo: Selo
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ROSA, Júlio César. União Operária: resistência e manifestação cultural negra em Criciúma na década de
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SCOTT, Joan. Gênero uma categoria útil de análise histórica. In_____. Educação e Realidade. Porto Alegre.
V 16, nº 2. jul./dez. 1990. p. 5-22.

SILVA, Cristiani Bereta. Homens e Mulheres em Movimento: Relações de Gênero e Subjetividades no MST.
Florianópolis: Momento Atual, 2004.

SOUZA, Florentina da Silva. Afro-descendência em Cadernos Negros e Jornal do MNU. Belo Horizonte:
Autêntica, 2005. 270 p.

TRIBUNA CRICIUMENSE. Santa Catarina, Criciúma: 1968-1985.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETO (IED): ALGUMAS ANÁLISES DO CASO E


EVOLUÇÃO A PARTIR DE 1990

Germano Kawey Ferracin Hamada1*


1
Universidade Estadual do Centro Oeste - UNICENTRO

1. Introdução
O processo global de fluxos de capital se dá sobremaneira via empresas transnacionais e, ilustram o
processo de globalização que cada vez mais se encontra manifestado na sociedade atual. Entende-se a
globalização “como a intensificação das relações sociais em escala mundial, que ligam localidades distantes
de tal maneira que acontecimentos locais são modelados por eventos ocorrendo a muitas milhas de distância
e vice-versa” (GIDDENS apud Videira, 1991, p.69).
Dentro do processo de evolução da globalização alguns elementos podem ser identificados, como
auxiliares para a intensificação do processo. As inovações tecnológicas e apropriações de tecnologias
avançadas como a fibra ótica possibilitaram maiores ações num curto período de tempo, proporcionando a
evolução desses processos que hoje se tornaram tão importantes para a expansão das indústrias, serviços e
capitais por todo o mundo.
Diante da globalização, que se encontra dentro do processo evolutivo dos mercados externos, a
questão da procura por novos mercados consumidores se faz presente, gerando uma grande expansão do
mercado mundial, tanto em países subdesenvolvidos como nos desenvolvidos. A busca por novos lócus de
investimento e consumo, além de mão-de-obra barata fez com que gerasse uma expansão da circulação do
capital estrangeiro ao redor do mundo. O aumento da circulação do Investimento Estrangeiro Direto (IED)
quanto à definição será tratada no item a seguir, se torna possível não só pela grande liquidez mundial mas
também pela melhoria na esfera tecnológica que permite maior capacidade de transmissão de informações
em tempo real, facilitando as negociações que a cada minuto ocorrem no mundo todo.
No Brasil o Investimento Estrangeiro Direto (IED) aumentou exponencialmente a partir da década de
1990, passando de US$ 426, 854 milhões de dólares em 1985 para US$ 41, 695, 624 milhões de dólares em
1995, impulsionados principalmente pelo número de privatizações geradas por políticas neoliberais,
inserindo neste processo uma acentuada desnacionalização da economia, como aponta Gonçalves (1999).
O Investimento Estrangeiro Direto (IED) contribuiu de maneira significativa para o desenvolvimento
econômico no Brasil tendo como origem principalmente os países com economias mais avançadas como
Estados Unidos e Inglaterra1. Os setores que mais recebiam estes investimentos estrangeiros eram aqueles
que demandavam maior tecnologia (GONÇALVES, 1999).

2. Método
A metodologia do trabalho foi calcada num referencial teórico que fornecesse subsídios para a
interpretação correta do objeto de estudo. Posteriormente, a pesquisa se direcionou ao levantamento
de dados, junto do site do Banco Central (informações sobre Censo de Capitais Estrangeiros),
KPMG (empresa de consultoria), revista Exame e Carta Capital, proporcionando a formulação da
redação final da pesquisa desenvolvida.

3. Resultados e Discussão
Diante do processo global de expansão do capital, questões como fusões e aquisições são cada vez
mais aparentes nas gestões econômicas. Nesse sentido, despontam o interesse quanto ao entendimento da
evolução dos Investimentos Estrangeiro Direto (IED), que segundo Gonçalves (2003, p. 30), é “todo fluxo de
capital com o intuito de controlar a empresa receptora do investimento. O principal agente da realização do
IED é a empresa de grande porte que controla ativos em pelo menos dois países”.
A busca por serviços como marketing e propaganda e regiões com fortes atrativos a inserção do
capital estrangeiro no país, fazem com que ocorra incessantemente a evolução e desenvolvimento do capital,
num processo expansivo sem limites. Dentro dos processos de fusões e aquisições, Gonçalves (2003, p.32)
aponta que

*
Autor Correspondente: germano_7@hotmail.com
1
A participação desses países foi representativa até meados da década de 1930, após o período da segunda
guerra os anos o EUA se tornou hegemônico na participação de IED no Brasil, hegemonia essa que reside até
os dias de hoje.
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A maior instabilidade sistêmica da economia internacional, associada ao volume


extraordinário de recursos comandado pelas empresas transnacionais e pelos
bancos internacionais, tem provocado um processo de fusões e aquisições.

De acordo com o fato citado acima, podemos perceber que a reestruturação do processo produtivo
acarreta maior competitividade no mercado, refletindo em constante processo de mudança devido aos fluxos
e redes que se interligam.
Os processos de fusões e aquisições no Brasil apresentam maior volume no início dos anos de 1990 e
tem seu ápice entre 1992-1994 (Gonçalves, 1999), tais processos não têm em sua maioria participação de
empresas nacionais, o que acaba acarretando num processo de “desnacionalização” do capital, Videira (2009,
p.119) afirma que “Entre 1995-1997 as empresas estrangeiras envolveram-se em 154 fusões e aquisições,
enquanto as empresas nacionais, apenas em 103”, diante disso fica claro que o processo de inclusão das
empresas internacionais cada vez mais se acentua pelo fato de sua agressividade expansionista.
Países como Estados Unidos, Alemanha, França e Japão despontam pelo maior número de
Investimentos Estrangeiro Direto (IED), entre o período de 1995 á 2000 setores como de indústria totalizam
nesse período US$ 62, 632, 712 milhões de dólares, despontando as indústrias de produtos químicos e
automobilísticos e US$ 78, 751, 351 milhões de dólares2 em serviços como correio e telecomunicação,
seguro e previdência, aumentando ainda mais durante o período de 2005. Apresentando um total de US$
53.763.053 milhões de dólares na indústria e US$ 102, 820, 255 milhões de dólares no setor de serviços,
despontam novamente indústrias de produtos químicos e serviços de correio e telecomunicações, como os
setores com o maior número de investimentos. Porém, países como Japão e França perdem lugar para os
Países Baixos e México, não deixando de serem grandes investidores, o que nos mostra a intensa mobilidade
nos investimentos estrangeiros no país.
Dentro destes processos aquisitivos, o número de transações nos mais diferentes setores cresce de
forma acelerada. Conforme a KPMG3 em 1995 o número de transações chega a 212 no total geral, setores
como o de alimentos, bebidas e fumo, instituições financeiras, elétrico e eletrônico, produtos químicos e
petroquímicos, são os com maiores números de transações.
O avanço do fluxo de IED a partir de 1995 é relevante na história nacional Videira (2009, p.114)
aponta que:
[...] o inusitado está atrelado, além do montante, ao fato do enfraquecimento dos
blocos de capitais nacionais em oposição à crescente importância dos grupos
estrangeiros, isso não quer dizer que os grupos nacionais perderam seus postos de
mando, mas, sim, que o número destes grupos diminuíram dada a crescente
concentração do capital e também a associação destes grupos ao capital estrangeiro
[...]

Decorrente disso, o número de transações aumenta cada vez mais e diferentes setores passam a ser
envolvidos nesse complexo processo de (re)estruturação econômica calcado numa centralização do capital.
Em meados ano 2000 o volume de transações chega a 353 operações, cerca de 60% a mais do que no ano de
1995, setores como tecnologia da informação e telecomunicações incluem-se como áreas de maiores
transações (KPMG, 2000). Gonçalves (2003, p. 76) coloca que:

As recentes ondas de fusões e aquisições têm refletido não somente os problemas


de ajuste sistêmico nos países centrais (insuficiência de demanda), mas também o
acirramento da concorrência. A ET tornou-se o principal agente de realização do
processo de concentração e centralização do capital em escala global.

Dentro das atuações internacionais na economia nacional, a evolução de sua atuação em


setores de serviços como seguros, publicidade e propaganda vêm crescendo juntamente com o de
indústrias, muito disso ocorre pela atuação da propaganda e formação de métodos para alavancar a
competitividade num mercado que cada vez mais necessita de inovações, o que acarreta no
desenvolvimento das indústrias modernas, incorporando processos que antes eram feitos
separadamente.

2
Os valores apresentados nos setores de indústria e serviço são a soma dos anos de 1995 e 2000.
3
A KPMG Corporate Finance corresponde a uma empresa de auditoria e consultoria de atuação
internacional.
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Dinâmicas como essas apresentadas, ilustram o processo de internacionalização e


“desnacionalização” da economia nacional, gerando assim cada vez mais discussões para o
entendimento deste processo.

4. Conclusão
A evolução gradativa do investimento estrangeiro direto (IED) no Brasil proporcionou uma
internacionalização da economia nacional, as suas atuações nos diferentes setores de serviços e
indústrias nos demonstram como é intensa e flexível sua atuação nesse processo que cada vez mais
evolui e incorpora áreas que até então não se tinha uma relação de trabalho direta entre ambas.
Os acontecimentos que fluem desde o inicio das grandes navegações, a apropriação da infra-
estrutura, mão-de-obra e serviços, ligados a políticas neoliberais desencadearam uma intensa
internacionalização da economia não só nacional, mas de todo território influenciado pelo
expansionismo financeiro e industrial, isso fez com que se tornasse possível, juntamente com o
processo globalizatório a evolução dos Investimentos Estrangeiro Direto em todo o pais, não
somente nos maiores centros, mas em todo território nacional mesmo que não sendo de forma
homogênea.

Referências

GONÇALVES, Reinaldo. Globalização e desnacionalização. São Paulo: Paz e Terra, 1999.


GONÇALVES, Reinaldo, POMAR, Valter. O Brasil endividado: como nossa divida aumentou
mais de 100 bilhões de dólares nos anos 90. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2001. 47p.
____. O nó econômico. In; SADER, Emir (org) Os porquês da desordem mundial – mestres
explicam a globalização. Rio de Janeiro: Record, 2003.
VIDEIRA, S.L. Globalização financeira: um olhar geográfico sobre a rede dos bancos
estrangeiros no Brasil. Guarapuava: Unicentro, 2009. 344 p.: il.
Outras fontes:
Disponível em: http://www.kpmg.com.br/publicacoes_fas.asp?ft=5&fx=16 acessado em 15 de
agosto de 2009.
Disponível em: < http://www.bcb.gov.br/?CENSOCE> acessado em 15 de fevereiro de 2010.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

MEMÓRIAS DO JARDIM SOFIA: CENAS DA CIDADE MIGRANTE.

Kethlen Kohl1*; Bruno Marques2; Tiago Brand3


Univille

1. Introdução
A Historiografia Joinvilense até pouco tempo dedicava- se em pesquisar apenas
vivencias e histórias que remetessem aos primeiros migrantes germânicos, para de alguma
forma reforçar o discurso de que estes migrantes fundaram a cidade ordeira de pessoas
trabalhadoras. Porem em meado dos anos 80 a cidade passa a receber uma leva de migrantes/as
de outras regiões do Brasil, principalmente do interior do Paraná e Santa Catarina. Nesse
período a cidade está passando por alguns problemas socioeconômicos, o que para muitos é a
conseqüência das migrações recentes. Esse discurso ainda está presente no cotidiano dos
moradores da cidade de Joinville migrantes/as ou não migrantes/as. O Bairro Jardim Sofia
situado na região norte de Joinville, é uma das regiões em que recebe um grande número de
migrantes/as principalmente os/as que migraram nos últimos anos (final do século XX até o
século em que estamos situados).
Segundo relatos de antigos moradores a região denominada hoje bairro Jardim Sofia já
havia sido habitado desde o começo do século XX por algumas famílias germânicas. O nome
dado ao bairro é em homenagem a Sophia Nass esposa do dono de parte das terras que mais
tarde se tornou o Jardim Sofia. O bairro se apresenta enquanto um índice de uma Joinville
migrante, os seus moradores/as são peças chave para se pensar a pluralidade de histórias e
memórias que contrapõem a construção saudosista da história oficial da cidade. Este pedaço da
cidada é de extrema importância para se entender a inserção dos/das migrantes/as na cidade e
todo os emaranhados problemas da cidade contemporânea, pois grande parte dos nossos
interesses partem justamente da história do tempo presente, de nossa vivências cotidianas na
cidade.
Situado acerca de sete quilômetros do Centro de Joinville, o bairro abrange uma área
aproximada de três quilômetros quadrados e conta com uma população estimada de quatro mil
pessoas. Na paisagem cotidiana da região, destacam-se o Rio do Braço, o Rio Cubatão, a EEB
Senador Rodrigo Lobo e o cartódromo de Joinville. (ibidem) Também é conferida,
especialmente pela imprensa joinvilense, ampla visibilidade aos índices de miserabilidade e
violência em que se encontram uma significativa parte de sua população. Segundo dados do
IPPUJ (2006), 34% da população sobrevive com uma renda de até 3 salários mínimos e a renda
per capita do bairro é de R$243,95 ao mês. O Sofia é também um dos bairros de Joinville que
mais sofre com as enchentes e alagamentos, isso esta muito presente na vivência dos
moradores/as que ali já perderam muito de seus pertences e tiveram que reconstruir suas vidas.
O projeto memórias do Jardim Sofia: cenas da cidade migrante preocupa-se em através
de narrativas de memórias analisar a trajetória Histórica do bairro um dos pedaço da cidade
considerado periférico, marginalizado e muitas vezes esquecido pela historiografia tradicional
Joivillense. Assim a proposta do projeto é criar um documentário que conte a história do bairro,
sendo que os/a moradores/as do bairro vão ser os/as próprios/as protagonistas do áudio visual,
narrando memórias e histórias do Jardim Sofia. Desse modo, fechamos uma parceria coma
escola Senador Rodrigo Lobo onde durante esse ano estamos fazendo oficinas de memórias que
oferecem subsídios para a criação do vídeo-documentario . Pretendemos também construir um
livro que estimule a reflexão dos moradores da localidade sobre questões sócio-históricas do

1
* Estudante do terceiro ano do curso de História da Univille, bolsista do Projeto Memória do
Jardim Sofia: Cenas da Cidade Migrante apresentara o projeto no evento,
kettykohl@hotmail.com.
2
Estudante do terceiro ano de História da Univille, voluntário do Projeto Memórias do Jardim
Sofia: Cenas da Cidade Migrante, bpcontraparte@gmail.com.
3
Estudante do Segundo ano de História da Univille, voluntário do Projeto Memórias do Jardim
Sofia: Cenas da Cidade Migrante, silveiraissthiagoo@hotmail.com.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

bairro. Para que isso aconteça os livros que serão também suporte para o DVD do
documentário, serão doados a instituição escolares de Joinville, para que seja usado como
material didático. O vídeo será exibido para a população do bairro e para os acadêmicos/as da
Univille.
Com isso pretende a interligação da universidade aos bairros visinhos, além de
possibilitar a participação dos acadêmicos/as da Univille em trabalhos educativos junto aos/as
moradores/as do bairro através das oficinas e das filmagens. Essa aproximação dos acadêmicos
e os moradores será feita de forma pedagógica.As discussões de transformação sócio-ambientais
também estão presentes no desenrolar do projeto pois estão bastante nítidas nas narrativas
dos/das moradores/as do bairro.A partir disso passamos a refletir sobre a paisagem do bairro
como documento Histórico , e perceber as varias mudanças que ocorrem e ocorreram nesse
pedaço da cidade de Joinville. Assim pretendemos levar adiante as discussões dos pedaços
esquecidos pela historiografia da cidades, e valorizar as narrativas da população desses pontos
considerados periféricos.

2. Método
O grupo realiza reuniões, toda semana na Univille a onde são definidos os afazeres dos/as
integrantes/as através de planos de trabalho, podendo assim cumprir as metas propostas para o
desenvolvimento do projeto. Além disso as reuniões tem como objetivo o debate de textos
relacionados ao tema do projeto e aos desafios e questionamentos pertinentes ao grupo. Assim
através das leituras e debates tentamos suprir as lacunas teóricas encontradas no decorrer das
tarefas. Esses momentos servem para o ajuste de agenda e orientações de planos de trabalhos da
bolsista e voluntários, esse planos são discutidos com todos os membros do grupo possibilitando
a troca de idéias e a participação de todos/as na construção do projeto.
Estão sendo feitas oficinas de memórias para incentivar os moradores do bairro a
repensar a trajetória histórica do bairro e da própria cidade. As oficinas também estão gerando
subsídios para a produção do vídeo-documentario e do livro.
Além das filmagens das oficinas serão filmadas também as entrevistas feitas pelos
voluntários/pesquisadores sobre seus devidos planos de pesquisa. Nessas entrevistas será
utilizadas a metodologia de História oral. Essa método se refere ao ato de coletar entrevistas
orais , gravar depoimentos de pessoas para registrar as memórias explicitas através da
oralidade. A metodologia de história oral nos permite análise das vivencias sociais através de
outra forma de linguagem que extrapola as pesquisas feitas em livros e documentos tácitos. Essa
linguagem é um vetor que pode nos levar a identificar diferentes formas de expressões, ela
indica o nível de sentimento explicitado pelo entrevistado, pode também falar muito sobre o
meio social em que o narrador transita, onde vive seu cotidiano isso pode ser identificado nos
trejeitos da fala no sotaque.

3. Resultados e Discussão
Foram feitas três oficinas que foram muito construtivas que possibilitaram pensar novas
perspectivas de análise sobre o bairro, como por exemplo a carência de espaços de lazer no
bairro, algo que estavam explicitas nas narrativas de memória dos alunos. Só foi possível pensar
melhor essa e outras abordagens através das oficinas feitas na escola. Na primeira atividade
realizada foi utilizada a dinâmica da “teia da memória” onde é formada duas filas paralelas de
alunos/as e dessa forma os participantes jogam um rolo de barbante para o colega e relatam suas
memórias, assim as memórias dos/as alunos/as se interligam direta e indiretamente, formando
uma teia da memória. A segunda oficina feita com base em uma tarefa dada aos alunos/as a qual
eles/as mesmos seriam os pesquisadores/entrevistadores. A tarefa destinadas aos alunos/as foi
fazer com que eles/elas, procurassem um morador mais velho do bairro e solicitassem uma
fotografia ao entrevistado/a, desse forma os alunos/as fizeram alguns questionamentos ao
morador/a do bairro sobre as memórias que as fotografias despertam, através das entrevistas foi
constatado que a maior parte dos entrevistados eram migrantes, e que já moravam a algum
tempo na cidade. O debate foi interessante pois, a medida que os alunos falavam das memórias
dos entrevistados/as despertavam lembranças de suas próprias vivencias no bairro, a partir
disso os assuntos debatidos passaram a ser a igreja, as enchentes, a associação de moradores

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

(que não existe mais ), as ruas não asfaltadas e cheias de lama, a escola e a questão das drogas
no bairro. A terceira oficina se constituiu em duas fazes, a primeira, dividiu os alunos em grupos
e foi distribuído uma imagem para cada grupo, e a partir desta imagem deveria ser construída
uma historia, no segundo momento foi passado para uma abordagem mais pratica, os estudantes
saíram em grupos com um monitor/a para fotografar as paisagens que faziam parte da historia
do bairro e na volta ao colégio precisaram responder um questionário sobre a imagem.
As discussões feitas giram em torno dos planejamentos de trabalho e de pesquisa dos
voluntários e bolsista do projeto e as oficinas, atividades e filmagens feitas. Os textos
trabalhados nos debates do grupo foram sobre História do tempo presente, História e Memórias,
história da cidade, História Oral, Cinema e História, além das leituras e discussão dos
documentos que foram até agora pesquisados sobre o Bairro Jardim Sofia. Os voluntários que
tem plano de pesquisa fizeram levantamento bibliográfico sobre os seus temas estão
desenvolvendo suas pesquisas, os temas trabalhados são sobre catadores de lixo, geo-
processamento,o lar da mãe Abgail e Juventude no Bairro aliando assim, o projeto de extensão a
pesquisa

4. Conclusão
Desse modo os acadêmicos envolvidos no projeto estão tendo um amplo aprendizado em
pesquisa com as reflexões recorrente no desenrolar das filmagens, oficinas, leituras, discussões.
Com o projeto os acadêmicos/as da Univille podem ter as vivencias e os enfrentamento dos
conceitos e problemas que estudam em sala de aula, assim podendo ter um vasto conhecimento
sobre história e memória viabilizado outras maneiras de pensar a cidade onde vivem.
Pretendemos também garantir benefícios para comunidade externa a universidade, benefícios
não assistencialistas são características centrais do projeto. A criação de um livro,
documentário, oficinas, especificamente sobre o Jardim Sofia pode levar os moradores da
cidade principalmente do próprio bairro a refletir sobre os problemas do bairro. Com esses
materiais que serão doados a comunidade podemos também valorizar as narrativas de memórias
muitas vezes consideradas relatos sem importância. Finalmente, salientamos que o projeto
também é amplamente relevante para a Univille uma vez que promove atividades de extensão
de forma integrada à pesquisa e também, por esquivar-se de práticas meramente
assistencialistas. Tentando assim quebrar as barras existentes entre universidade e mundo
externo.

Referências

FUNDAÇÃO INSTITUTO DE PESQUISA E PLANEJAMENTO URBANO DE JOINVILLE.


Joinville bairro a bairro: 2008-2009. Joinville, SC. 264 p

CORRÊA, ROSEANA MARIA; ROSA, TERESINHA FERNANDES da (Coordenador).


História dos bairros de Joinville. Joinville, SC: Gráfico Círculo, 1992. 205 p.

MACHADO, D.F. Redimidos pelo passado?Seduções nostálgicas em uma cidade


contemporânea. 2009.178. Dissertação (mestrado em História) - Universidade do Estado de
Santa Catarina. Florianópolis, Santa Catarina. 2009

POLLAK, MICHE. Memórias, esquecimento, e silêncio. Estudos Históricos, Rio de Janeiro,


vol. 2, n. 3, 1989 13 p

PROJETO HISTÓRIA: Revista de Programa de Estudos e Pós Graduados em História e do


Departamento de História da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). São
Paulo. SP Brasil 1981

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MICROBACIA HIDROGRÁFICA TRÊS NEGRINHOS, IJUÍ/RS: ANÁLISE DO PROJETO


DE RECUPERAÇÃO AMBIENTAL EXECUTADO NO PERÍODO DE 1988 A 1992.

Adriana Binotto Bertoldo1, Profª. Drª Eliane Maria Foleto


Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução
Os primeiros registros da história indicam vestígios de vida da espécie vegetal e animal sobre a terra há um
bilhão de anos, na era pré-cambriana. A espécie humana apareceu no último milhão de anos, sendo
considerada recente em relação à história da vida na terra. E a sobrevivência desta espécie se dá em função
da retirada de alimentos da natureza.
Sendo o homem o maior predador da natureza através da retirada de alimentos, também utiliza-se da
natureza para realizar suas atividades nos mais diversos ramos, tanto no meio rural como urbano, tornando-se
cada vez mais degradador da natureza.
Ross diz que: “A mudança de simples agricultor e criador de subsistência para um estágio de agricultores-criadores
com finalidades comerciais implantou uma significativa alteração de comportamento das sociedades humanas em frente
da natureza. A partir do momento em que os animais criados, os cereais cultivados e os vegetais coletados no campo ou
nas florestas são explorados para comercialização, deixam de ser simplesmente alimentos para se transformarem em
mercadorias que levam à riqueza de alguns e à pobreza de outros”. (1985, p. 213).
Para além da exploração da natureza para a retirada de alimentos, o homem a utiliza para produção de
culturas com a finalidade de comercializá-las e, dessa forma, buscar o lucro, ou seja, gerar acumulação de
bens. Passou, então, de simples coletor e caçador a um grande explorador dos recursos naturais.
A evolução do conhecimento tecnológico dos séculos XVIII, XIX e XX possibilitou a expansão do
capitalismo pelo mundo, colocando os interesses da sociedade capitalista em primeiro lugar. A preservação
da natureza ficou para depois. Devido ao grande desenvolvimento que se projetava até praticamente os anos
de 1970, pouco se pensou nas questões de conservação e preservação da natureza.
As atividades agrícolas e pecuárias são as que mais degradam os recursos naturais. Isso porque há uma
crescente demanda pela produção de alimentos, a fim de atender a demanda da população, principalmente
das zonas urbanas, porque dependem exclusivamente da produção do campo. Cada vez mais se recorre a
tecnologias as com relação a maquinários e equipamentos, bem como à busca de sementes mais produtivas e
resistentes a pragas e ao uso de produtos químicos que favoreçam a produtividade. O aprimoramento da
genética bovina na busca de maior rendimento também é notório. Enquanto esse processo evolui
rapidamente, obtendo-se os resultados esperados em relação à produção de alimentos e retorno financeiro,
por outro lado as questões ambientais se agravam rapidamente, pois a natureza sofre alterações e
degradações.
Na busca de mitigar esse processo de devastação dos recursos naturais iniciou-se várias discussões e
implantações de Leis e programas com vistas à recuperação e conservação dos recursos naturais. Cita-se o
Programa Nacional de Microbacias Hidrográficas criado através do Decreto de Nº 94.076 em 1987 pelo
Governo Federal, “que tinha por objetivo eleger as microbacias, mil na primeira etapa, onde seria aprovada
uma série de atividades voltadas para a prática de manejo e conservação dos recursos naturais renováveis
pelo estímulo da participação dos produtores e incentivo à fixação das populações no meio rural”. (Paulo
Roberto Mrtui, 2004).
O Programa Nacional de Microbacias Hidrográficas de 1987 revogava o Plano Nacional de Conservação dos
Solos – PNCS instituído pelo Decreto Nº 76.470 de 16 de Outubro de 1975, o qual desenvolvia práticas de
conservação e preservação do solo.
Dentre esses Planos de Conservação do Solo e Programa de Microbacias Hidrográficas, a Cotrijuí –
Cooperativa Agropecuária & Industrial S/A do município de Ijuí, desenvolvia um projeto que se denominava
Plano de Conservação do Solo, e implantou alguns projetos de recuperação de microbacias hidrográficas no
município de Ijuí, e em outros municípios de sua região de atuação. Em 1988 reuniram-se algumas entidades
do municipio, a Cotrijuí, Prefeitura Municipal de Ijuí, EMATER - Associação Riograndense de
Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural, onde discutiram a intensificação do programa de
recuperação das microbacias hidrográficas. Isso ocorreu devido ao Programa Nacional de Recuperação de
Microbacias Hidrográficas de 1987. As entidades mencionadas formaram uma parceria com o objetivo de
implantar o Programa de Recuperação da Microbacia Hidrográfica Três Negrinhos de Ijuí. O Programa teve
duração de quatro anos. Os objetivos principais eram a recuperação dos recursos naturais da área da
microbacia hidrográfica e a mitigação de algumas práticas agrícolas que estavam sendo desenvolvidas na

1
adribertoldo@yahoo.com.br
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área. A escolha desta Microbacia ocorreu em função de que na área da microbacia existe uma estrada que
dava acesso ao antigo Centro Tecnológico da Cotrijuí, local onde eram desenvolvidas atividades técnicas,
cursos de capacitação, experimentos, dias de campo, etc. Assim, a microbacia serviria de exemplo para os
agricultores que trafegavam até o Centro Tecnógico. Com o intuito de analisar todo esse processo de
implantação e recuperação da Microbacia Hidrográfica Três Negrinhos é que se desenvolveu a pesquisa na
área, com o objetivo principal de averiguar quais os resultados obtidos com a implantação do projeto, visto
que os agricultores residentes na área foram assistidos com a implantação de técnicas que favoreceriam o
melhoramento da produção, da recuperação dos recursos naturais, da diversificação da propriedade, entre
outros.
O Município de Ijuí localiza-se na região noroeste do estado do Rio Grande do Sul (Mapa 01), encontra-se
na latitude 28º 20’S e longitude 53º 55’W. Sua área total é de 689km². População total de 76.739 habitantes
(IBGE/2007). Distante 395km da capital Gaúcha.

O município de Ijuí é um polo regional, em função de ser um centro de referência, nos atendimentos de
saúde, por dispor de educação qualificada, como cursos técnicos em diversas áreas e ensino superior. As
potencialidades são expressas através da economia baseada no setor agropecuário, no comércio, indústrias e
serviços.
A história de formação do município teve início em meados de 1890, quando foi fundada a Colônia de Ijuí,
passando para município em 1912. Segundo Callai, “o município de Ijuí foi uma colônia oficial, a primeira
das Colônias Novas nas terras de cima do planalto, recebendo imigrantes europeus que vieram diretamente
da Europa, ou que saíam das colônias velhas. Como foi Colônia Oficial, houve um planejamento rigoroso na
disposição da zona urbana e das colônias na zona rural. A partir da Linha Base (hoje é a Rua 13 de maio),
para oeste e para leste, a cada quilômetro é contada uma linha. Perdeu-se um pouco essa característica nos
dias atuais em função da expansão, do crescimento desordenado. É uma cidade conhecida como Terra das
culturas diversificadas, em função da diversidade étnica que chegaram às terras ijuienses, mas as etnias mais
numerosas foram os italianos e alemães.
Aspectos físicos do município, a formação do solo do município de Ijuí é reflexo da estrutura geológica, com
predomínio do solo argiloso, latossolo roxo. Localiza-se no planalto sobre rocha de basalto vulcânica. O
relevo apresenta-se com ondulações moderadas, com colinas alongadas. A vegetação original predominante
no município era de áreas florestais subtropicais, de mata de galeria e formações campestres. Devida a
intensa ocupação humana para exploração do uso do solo com as atividades agropecuárias e o processo de
urbanização, a vegetação foi extinta, permanecendo alguns remanescentes em pequenas porções, nas partes
mais altas das encostas, cobrindo lugares mais declivosos e em alguns trechos ao longo dos rios. O clima do

193
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município é sub-tropical, com quatro estações distintas, temperaturas altas no verão e invernos frios ou
moderadamente frio. A temperatura média anual é de 20°C e as chuvas se distribuem regularmente durante o
ano. No verão, predominam as chuvas sazonais, e no inverno, as chuvas frontais, com bastante uniformidade.
Os ventos predominantes sopram do quadrante Sudeste. O município dispõe de uma vasta rede de drenagem,
é banhado por três importantes rios que compõem a bacia hidrográfica do Rio Ijuí, que são os rios Ijuí,
Conceição e Potiribú. A área da pesquisa faz parte deste contexto, localiza-se na porção sudoeste do
município de Ijuí. O mapa 02 representa a área da Microbacia Hidrográfica Três Negrinhos. O mapa
apresenta as informações básicas da área; a rede de drenagem que escoa no sentido sudoeste, sendo afluente
do Rio Conceição; a distribuição do sistema viário; e as localidades. O sistema viário mostra as linhas como
foram divididos os lotes coloniais na época da colonização do município, todos com orientação norte/sul e
leste/oeste.

A Microbacia Hidrográfica Três Negrinhos é uma das maiores microbacias do rio Conceição, com área total
de 1.154ha. O rio Conceição é um afluente direto do Rio Ijuí, pertencendo a Bacia Hidrográfica do Rio Ijuí.

2. Método
Os procedimentos metodológicos utilizados foram: levantamentos bibliográficos, referente ao tema.
Trabalhos de campo na área da microbacia em estudo, para compreender processo de ocupação; Resgate do
projeto junto às entidades envolvidas; Visitas as propriedades que se envolveram com o projeto, a fim de
entender como os agricultores participaram das atividades durante o período de execução do projeto;
Utilização do GPS de navegação para atualização das estradas, bem como da sede das propriedades que
fizeram parte do projeto; Elaboração de mapas com utilização do AutoCAD com representar as informações
levantadas a campo.

3. Resultados
Levantamento bibliográfico na área da pesquisa possibilitando o aprimoramento dos conhecimentos e
discussões sobre o tema para a fundamentação teórica. Visita as entidades envolvidas, nas propriedades da
microbacia e com os técnicos que trabalharam durante a execução do projeto, possibilitando compreender as
atividades desenvolvidas no período, o envolvimento dos agricultores, as mudanças que se processaram com
a execução do projeto, e a efetivação dos objetivos propostos pelo projeto. Levantamento fotográfico que
demonstram como está sendo utilizada a área da microbacia.

4. Conclusão
O estudo realizado na área da microbacia encontra-se em fase de conclusão. No decorrer da pesquisa
verificou-se que o projeto de recuperação da microbacia hidrográfica teve grande importância no período que
foi desenvolvido. Depois de quase 20 anos da execução constatou-se que atualmente as entidades envolvidas
e os próprios agricultores que permanecem nas propriedades não deram continuidade nas técnicas e práticas
desenvolvidas. Segundo relatos dos agricultores e das entidades os maiores problemas que existiam na área
da microbacia eram em relação ao uso do solo, mas após a implantação do programa de recuperação da
microbacias, foi implantado o sistema de plantio direto que resolveu a questão com relação ao solo. Mas é
importante salientar que o projeto desenvolvido naquele período teve grande repercussão no município e
região, servindo de exemplo para várias entidades e agricultores. Sabe-se que as microbacias hidrográficas
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são unidades territoriais que devem ser trabalhadas como unidades gestoras dos recursos ambientais, assim
proporcionando melhor qualidade ambiental.

Referências
CALLAI, Jaime. Estudos Sociais – História de Ijuí. 5. ed. Ijuí: Ed. Unijuí. 1989.
MRTVI, Paulo Roberto. As Transformações e Perspectivas Geradas pelas Atividades ma Microbacia do
Ribeirão Jacutinga, Região Norte do Município de Londrina, PR, 1989 a 2002. Londrina/PR. 2004.
Plano Nacional de Recursos Hídricos. Síntese Executiva. Brasília. MMA, 2006.
ROSS, Jurandyr L. Sanches (Org.). Geografia do Brasil. São Paulo. Edusp, 1995.

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MODELAGEM DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO CACHOEIRA UTILIZANDO O


SOFTWARE SIMILE

CONORATH, Gabriel Daniel*; DAL SANTO, Mariane Alves; OLIVEIRA, Francisco Henrique de
Mestrado em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Sócio-Ambiental - MPPT
Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC

1. Introdução
A pesquisa proposta toma como conceito norteador a modelagem dinâmica em bacias hidrográficas. A
utilização da modelagem para a simulação de eventos extremos, como por exemplo as enchentes, pode
auxiliar na tomada de decisão imediata (CHRISTOFOLETTI, 1999) [1]. Desta forma, o presente projeto de
pesquisa busca como foco de estudo a modelagem dinâmica da bacia hidrográfica do rio Cachoeira em
Joinville. As enchentes ocorridas em novembro de 2008 agravaram a situação dos problemas sociais de
Joinville, deixando marcas irreparáveis às famílias que sofreram a sua ação direta nesta bacia. Assim, tendo
em vista a importância do conhecimento acurado desta área, pois 80% da população joinvillense vive
próxima a esta região, a modelagem dinâmica na bacia hidrográfica do rio cachoeira é fundamental, pois, o
crescimento da cidade Joinville estendeu-se sobre um amplo sítio composto por planícies, com alguns
pequenos morros distribuídos nesta extensão onde a Bacia Hidrográfica do Rio Cachoeira abrange 84 Km2
da região urbana do município, apresentando altos índices de poluição e ocupação de áreas protegidas, como
os fundos de vale.
Para compreender melhor área de estudo é importante conhecer um pouco sobre este município.
Joinville tem como coordenadas geográficas 26º18’05” de latitude Sul e 48º50’38” de longitude Oeste. A
altitude da sede é de 4,5 m, e o ponto culminante é o Pico da Serra Queimada, com 1.325 m. Possui área de
1.135,05 km² e 496.051 habitantes. A sede do município possui 38 bairros, 1 Distrito (Pirabeiraba) e 2 Zonas
Industriais (Norte e Tupy), (IPPUJ, 2007) [3]. Está localizado na região nordeste do Estado de Santa Catarina
e representa o maior pólo industrial do Estado. Além disto, destaca-se pela sua fisiografia, já que envolvem
áreas remanescentes de Mata Atlântica, manguezais, restingas, campos e a Baía da Babitonga, importante
complexo estuarino da região sul do país.
O relevo de Joinville se desenvolveu sobre o terreno cristalino da Serra do Mar e uma área de
sedimentação costeira. Segundo Gonçalves (1993) [2], a cidade se desenvolveu numa região extremamente
adversa, do ponto de vista urbanístico, pois esta localizada em fundo de baía, tendo a leste os manguezais e a
20 km para oeste os contrafortes da Serra do Mar.
Os primeiros imigrantes de língua alemã chegaram a Joinville em 1851, alguns rios tinham nome,
como o Cubatão, a Cachoeira, o Quiriri, o Pirabeiraba. Os dados históricos destacam o processo de ocupação
que partiu da confluência do rio Matias com o rio cachoeira, onde foi o primeiro acesso para adentrar o
continente. A ocupação de Joinville desenvolveu-se a principio no entorno destes rios sendo que a maior
parte das margens do Rio Cachoeira esta apenas a 2 metros acima do nível do mar. Desta forma o traçado
urbanístico de Joinville se deu ao longo do rio Matias, que fazia então ligação com o interior e com a maior
parte das terras a colonizar. Já ao longo do Rio Cachoeira, a cidade manteve ligação estreita com o porto e
com São Francisco do Sul. A colônia, cuja base estaria calcada na agricultura, deveria ter em um centro
urbano o seu ponto de apoio (SAMA, 1997, p. 4) [4]. Isso faz com que a cada 3 ou 4 anos, na época da lua
cheia ou lua nova; ocorra no mínimo, uma forte cheia, fazendo com que a cidade fique inundada tanto com a
cheia do rio quanto pelo nível das marés.
Para Schmalz (1989) [5], é licito supor que o aumento gradativo da devastação das matas primaria, á
medida que novas levas de imigrantes eram introduzidas na colônia, tenha diminuído a precipitação e
elevado a temperatura. A cada inundação vêm à tona as causas do fenômeno que não são apenas naturais,
mas a intervenção do homem neste meio ambiente. A evolução do perímetro urbano em áreas de risco
contribuiu para o aumento dos prejuízos com cheias (VALLE, 1996) [7].
Este sítio apresenta pela sua natureza hidromórfica, elevado teor de argila no solo e pouca
profundidade do lençol freático, dificultando as soluções individuais para o tratamento dos esgotos. Alem
disso, no processo de crescimento do núcleo urbano ocorreram ocupações urbanas inadequadas do ponto de
vista do ambiente natural. Além dos mangues, a ocupação dos morros urbanos, através de corte de platôs
escalonados com a destruição da camada de vegetação, vem ocasionando inúmeros problemas de erosões e o
conseqüente assoreamento dos rios da planície. Esse tipo de urbanização vem destruindo de forma bastante
rápida os elementos marcantes da paisagem, o que amplia ainda mais os problemas de drenagem urbanos já

*
gabrieldc31@yahoo.com.br

196
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

agravados pela ocupação dos leitos secundários dos córregos, dos rios e das valas de drenagem (SAMA,
1997, p. 27) [4].

2. Método
A metodologia adotada para realização do presente projeto busca como base o foco geossistêmico e a
utilização do software Símile. O Símile foi desenvolvido pela Simulstic Ltda, companhia de software
irlandesa e pode ser utilizado para desenvolvimento de qualquer sistema dinâmico descrito por equações
diferenciais. Assim, podem ser modelados processos como crescimento, competição, colheita e rendimento,
dinâmica da água e nutrientes, entre outros.
A base sobre a qual se assentam os elementos da paisagem chama-se geossistema. Portanto, o
geossistema é um sistema natural físico que congrega fatores sócio-econômicos e atividade humana
influência na organização espacial do geossistema e a altera com alguma rapidez.
O estudo do geossistema tem como meta a compreensão do complexo da paisagem o espaço
geográfico organizado que resulta da sua dinâmica e da sua estrutura. Ao compreender o geossistema, chega-
se naturalmente, à sua delimitação, particularizada por certa homogeneidade de características e
propriedades. Assim a partir da compreensão da bacia hidrográfica do rio Cachoeira e suas condicionantes,
podeer-se-á utilizando as ferramentas do software símile, desenvolver modelos que auxiliarão a gerar
resultados inéditos e cabais para serem aplicados nas questões de planejamento urbano através da
metodologia sistêmica.

3. Resultados e Discussão
O presente trabalho ainda está em andamento, mas já se buscou dados que podem assim expressar
algumas das condicionantes que impactam a bacia hidrográfica do rio cachoeira.
Os problemas decorrentes com as enchentes no rio cachoeira (figuras 1 e 2) são históricos, além disso,
o rio é totalmente urbanizado e recebe uma grande carga de esgoto doméstico, trazendo sérios problemas de
saúdes para a população. Assim, a modelagem que será realizada no software, levará em conta os dados
históricos desta bacia, como também os números recentes que serão repassados pela prefeitura das estações
meterológica que estão sendo implantada nesta bacia hidrográfica.

Fig. 1 Centro de Joinville.


Fonte: www.joinville.com/locais/104-o-caos

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Fig. 2 Freqüência das inundações entre (1851-2008)


Fonte: História das Inundações em Joinville, (SILVEIRA et al., p.124.) [6].

4. Conclusão
O uso de modelos dinâmicos auxilia no entendimento dos mecanismos causais e processos de
desenvolvimento de sistemas ambientais, e assim a determinar como eles evoluem diante de um conjunto de
circunstâncias. Os resultados preliminares ainda são incipientes, pois até o momento, foram levantadas
algumas condicionantes sobre a presente bacia, além da parceria com a Prefeitura Municipal para coletas de
dados que possam auxiliar na aplicação da modelagem. O presente trabalho possibilitará a compreensão e
dará sugestões que minimizem os problemas com as constantes enchentes nesta área de estudo, além de
servir como modelo para aplicação em outras bacias hidrográficas.

Referências

[1] CHRISTOFOLETTI, A. Modelagem de Sistemas Ambientais. São Paulo: Edgard Blücher, 1999.

[2] GONCALVES, M. L. Lote popular. A Notícia, Joinville, 03 mar. 1993, p.2.

[3] IPPUJ. FUNDAÇÃO INSTITUTO DE PESQUISA E PLANEJAMENTO PARA O


DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DE JOINVILLE. Joinville - Cidade em Dados 2007.
Caderno. Joinville, PMJ, 2207. 147p.

[4] SAMA- Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente. Projeto Joinville. Programa de


Saneamento ambiental. Marco Lógico. Relatório Final. Joinville, PMJ. Mar. 1997, p.4-85

[5] SCHMALZ, O. Um ducado francês em terras principescas de Santa Catarina. 120 p.


Monografia (Especialização em Historia da América)- Setor de Pós-graduação, Fundação Educacional
da região de Joinville-FURJ, Joinville. 1989.

[6] SILVEIRA, Wivian Nereida; KOBIYAMA, Goerl Masato; FABRIS,Roberto; BRANDENBURG


Brigitte. História das Inundações em Joinville: 1851-2008. Curitiba: Ed. organic Trading, 2009, p.
124.

[7] VALLE, D. Enchentes se tornam rotina no bairro Jativoca. A Notícia, Joinville, 22 jan. 1996,
p. A-10.

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MODIFICAÇÕES NA PAISAGEM DA ZONA COSTEIRA DECORRENTE DO USO E


OCUPAÇÃO: O CASO DO LITORAL SUL DE SANTA CATARINA, BRASIL

Bitencourt, N. L. R. 1; Marimon, M. P. C.2


1
Pós Doutoranda pelo Programa Nacional de Pós-Doutorado (CAPES/PNPD), Núcleo de Estudos
Ambientais (NEA/UDESC), e-mail: nb.gestaoambiental@gmail.com;
2
Coordenadora do curso de Pós-Graduação em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Socio-
ambiental, Universidade do Estado de Santa Catarina (MPPT/UDESC)

Resumo
O litoral Sul do Estado de Santa Catarina encontra-se inserido dentro do bioma Mata Atlântica, onde
ocorrem ecossistemas característicos das planícies quaternárias costeiras, formando um mosaico que inclui as
restingas herbácea, arbustiva e arbórea; campos naturais; lagoas costeiras e banhados. Diante da fragilidade
desses ambientes e a escassez de estudos científicos, o presente trabalho objetivou analisar as modificações
na paisagem decorrentes da ação antrópica. Procurou-se identificar os usos e impactos antropogênicos, assim
como averiguar a evolução da condição ambiental ao longo do tempo. Os procedimentos metodológicos
desta pesquisa basearam-se em entrevistas, registros fotográficos e levantamentos bibliográficos e
cartográficos. Constatou-se que a paisagem apresenta-se fortemente marcada pela presença humana, com
intenso uso do solo para agricultura, principalmente de fumo e arroz, culturas fortemente subsidiadas com
produtos químicos como agrotóxicos. Também se verificam extensas plantações de árvores exóticas.
Percebe-se a necessidade da realização de estudos ambientais e a imediata promoção da conectividade dos
remanescentes dos ecossistemas naturais, visando à recuperação e garantia de qualidade ambiental.

Palavras chave: Ambientes Naturais Costeiros, Impactos Antropogênios, Qualidade Ambiental.

1. Introdução
Na zona costeira de Santa Catarina ocorrem conflitos decorrentes de ações antrópicas sobre o
ambiente natural, entre os quais se destacam construções irregulares em praias, privatização ilegal
principalmente de trechos da orla marítima e orla lagunar, incluindo áreas de preservação permanente.
Simultaneamente, constata-se a insuficiência na fiscalização das áreas de preservação o que acarreta
prejuízos para a qualidade ambiental.
De acordo com o Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro (GERCO/SC), Lei nº 13.553/2005,
regulamentada pelo Decreto nº 5.010/06, o litoral está dividido em cinco Setores: Norte, Centro-Norte,
Central, Centro-Sul e Sul, envolvendo trinta e seis municípios, abrangendo 9.094 km2 e uma projeção da
população de 180.065 habitantes (IBGE, 2009).
O presente estudo abrange a zona costeira do extremo sul catarinense, fazendo parte desta os
municípios de Araranguá, Balneário Arroio do Silva, Balneário Gaivota, Içara, Passo de Torres, Santa Rosa
do Sul, São João do Sul e Sombrio.
A pesquisa faz parte do projeto em desenvolvimento para um diagnóstico socioambiental, no âmbito
do Programa Nacional de Pós-Doutorado (PNPD) da CAPES, que objetiva fortalecer o curso de mestrado em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Socioambiental da UDESC.
É importante destacar as modificações na paisagem natural decorrentes de ações antrópicas que vem
sendo aceleradas com as obras de duplicação da estrada BR 101, o que pode resultar num grande
adensamento dessas áreas, assim como foi verificado, no passado, para outras localidades servidas por essa
estrada, como nas microrregiões central e norte do litoral catarinense.
Neste sentido, justifica-se uma pesquisa que tenha como alvo a análise das alterações na paisagem
pelos diferentes usos, em uma perspectiva que insira a questão ambiental, uma vez que o local ainda
apresenta áreas nas quais podem ser desenvolvidas pesquisas que resultem em uma gestão ambiental
sustentável do território. A pesquisa pode contribuir para a busca de soluções dos problemas decorrentes dos
usos múltiplos e simultâneos geradores da degradação dos ambientes naturais.

2. Método
O levantamento de campo foi realizado entre os meses de outubro de 2008 e junho de 2010. Durante
as saídas a campo, procurou-se identificar os diferentes usos, ocupações e impactos antropogênicos, assim
como averiguar o estado atual dos ambientes naturais. Para tanto, foram realizados registros fotográficos,
filmagens, entrevistas abertas com moradores e autoridades locais. Os resultados foram complementados
com levantamentos bibliográficos e cartográficos.

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3. Resultados e Discussão

3.1. Principais Ambientes Naturais


A área de estudo está localizada no domínio do Bioma Mata Atlântica, predominantemente ocupada por
ecossistemas pertencentes à planície quaternária. Esta, por sua vez, é constituída por substrato
predominantemente arenoso, coberta por vegetação em diversos estágios de sucessão e forma um mosaico de
ecossistemas naturais que inclui as restingas; campos naturais; lagoas costeiras e banhados permanentes e
temporários (Fig. a, h e i).
A restinga comporta um elenco de vegetações edáficas, adaptadas a condições extremas, como solos
pobres em nutrientes, forte incidência solar e presença de ventos constantes, permitindo a existência de flora
e fauna ricas e diversificadas, incluindo espécies endêmicas, sendo algumas constantes nas listas de espécies
raras e ou ameaçadas de extinção.
Os campos naturais ocorrem predominantemente sobre solos arenosos, planos, ácidos e imaturos,
cobertos por vegetação herbácea, como gramíneas e ciperáceas, que abriga fauna endêmica de pequenos
animais e aves. Nas margens dos cursos de água e em locais de solo mais úmido, ocorrem remanescentes de
capões e vegetação ciliar.
As lagoas costeiras de Sombrio e Caverá, e outras menores, interconectadas por canais naturais e
artificiais, ocorrem na planície quaternária em paralelo ao mar. Elas são alimentadas por pequenos rios e
córregos que drenam as bacias hidrográficas costeiras e pelo próprio lençol freático; apresentam
profundidade reduzida e suas águas são predominantemente doces e secundariamente salobras. Nas suas
margens ocorrem densa vegetação aquática e anfíbia, que constitui importante abrigo, berçário e local de
reprodução para grande diversidade de fauna, predominantemente de peixes e aves.
Banhados permanentes e temporários ocorrem nas depressões do relevo, sendo estes mantidos pelo
lençol freático que em certos locais aflora. A vegetação predominante é formada por plantas anfíbias e
aquáticas flutuantes e submersas. Estes ecossistemas constituem habitat crítico para as faunas endêmica
residente temporária e migratória, pelo que constituem zonas úmidas protegidas por lei.

3.2. Principais Impactos Antropogênicos


Na área de estudo, a paisagem está fortemente marcada pela presença humana, registrando-se
atividades de intensa agricultura, incluindo plantações de fumo, arroz, banana, mandioca, milho, feijão, cana
de açúcar, entre outras, sendo as três primeiras culturas fortemente subsidiadas com nutrientes, herbicidas e
agrotóxicos.
Nos campos naturais é praticada a agropecuária com criação de gado para corte e para produção de
leite (Fig. e). Nos últimos anos vem sendo crescente a avicultura intensiva com criação predominantemente
de frango.
Extensas áreas de planície quaternária têm sido desmatadas para dar lugar à silvicultura,
predominantemente de eucaliptos, pinus e casuarinas, sendo as duas primeiras para a produção de lenha para
a fumicultura (Fig. f) e secundariamente para a madeira de obra. A casuarina é usada como árvore
ornamental e para a produção de carvão.
Atividades industriais não são muito expressivas na região, porém há indústrias de calçados, vestiário,
rações, farinha de mandioca, polvilho, açúcar e carvão.
Principalmente nos aglomerados urbanos e nas margens da estrada BR 101 ocorrem atividades
comerciais de produtos alimentícios e atividades de prestação de serviços, incluindo oficinas mecânicas e
postos de gasolina, entre outros.
Como resultado da modificação da paisagem natural, verifica-se diversas formas e intensidades de
impactos antropogênicos que vão desde a simples modificação de setores de ecossistemas naturais, até a
substituição irreversível de fragmentos de ecossistemas. As formas de impactos mais visíveis incluem o
desmatamento para dar lugar à agricultura que recebe expressivas cargas de nutrientes, herbicidas e
agrotóxicos que são lixiviados pelo substrato fortemente poroso formados por areias, diretamente para o
lençol freático e/ou aos recursos hídricos superficiais, incluindo os cursos de água e as lagoas costeiras,
provocando, juntamente com esgotos domésticos e atividades agropecuárias, fenômenos de contaminação
das águas e, consequente descaracterização dos ecossistemas e modificação da qualidade e quantidade da
biota, incluindo desde plantas até mamíferos (Fig. c, d e f).
É muito expressiva a substituição da vegetação nativa por plantações de espécies arbóreas exóticas,
trazendo como conseqüência direta a redução do nível do lençol freático local por consumo de água do solo,
assim como, a contaminação biológica dos remanescentes de ecossistemas naturais com plântulas dessas
espécies.

200
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

A superfície do solo da área de estudo, encontra-se seccionada por uma extensa rede de canais de
drenagem artificiais; retificação e canalização de cursos de água naturais e interconexão por canais dos
sistemas lagunares, resultando na sensível redução da profundidade da água das lagoas, o que por sua vez
ocasiona a diminuição da superfície de ocupação do plano de água, trazendo como conseqüência a
dessecação do solo. Isso tem efeitos prejudiciais para a própria atividade de agricultura que cada vez mais
precisa de irrigação artificial. O principal efeito é a contaminação da água do lençol freático por lixiviação
originada pelo uso de insumos da agricultura, principalmente de fumo. Paralelamente, a redução do nível das
lagoas favorece a expansão da vegetação ribeirinha das margens em direção ao centro das lagoas costeiras,
acelerando a tendência ao desaparecimento.
O processo de adensamento da urbanização é mais evidente na orla do município de Içara e de
Balneário Arroio do Silva (fig. g). Nestes locais as dunas cederam lugar para as construções de residências
de veraneio, bares, restaurantes e estradas. Em outros municípios, principalmente, Balneário Gaivota, Passo
de Torres e Araranguá a orla apresenta trechos preservados (Fig. b e h), e outros em recuperação ambiental,
por parte das municipalidades, que encontram-se obrigadas, por força de lei por parte do Ministério Público
Federal (BITENCOURT et al., 2009).

a) Lagoa de Fora com ocupação e cultivo de b) Vegetação preservada nas margens da c) Lavoura de arroz em São João do Sul.
eucalípto em seu entorno, Balneário Gaivota. Lagoa do Sombrio, Passo de Torres.

d) Lavoura de arroz em Santa Rosa do Sul. e) Criação de gado em Araranguá. f) Plantação de eucalipto e fumo em Içara.

g) Ocupação de dunas frontais em Balneário h) Vegetação fixadora de dunas em Morro i) Margens da Lagoa de Sombrio, Sombrio.
Arroio do Silva. dos Conventos, Araranguá
Fig. 1 – Constatação em campo de aspectos ambientais do litoral sul de Santa Catarina

4. Conclusão
Em comparação com as demais regiões costeiras do Estado de Santa Catarina, o litoral sul é o melhor
preservado, principalmente pela baixa densidade demográfica e a modalidade de ocupação. Isso resulta
principalmente das atividades principais que são a agricultura, a silvicultura e atividades de veraneio, este,
sem grandes impactos sobre o meio ambiente, como edifícios e infra-estrutura.
É alarmante a carência de informações científicas sobre a região, sendo que em áreas básicas do
conhecimento, pouco se sabe. Diante da situação apresentada, conclui-se a necessidade da realização de
estudos ambientais mais aprofundados na área de estudos e a promoção da conectividade dos ecossistemas

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

visando à recuperação e garantia de qualidade ambiental. Ainda, recomenda-se a conscientização e educação


ambiental, entendida como ferramenta para viabilizar a sobrevivência dos ecossistemas e a sustentabilidade
das atividades socioeconômicas na região.

Referências
BITENCOURT, N. L. R. ; MARIMON, M. P. C. 2009 . Ações de Resolução de Conflitos de Uso da Orla
Marítima no Extremo Sul do Brasil. In: CoastGIS 2009: V Congresso sobre Planejamento e Gestão das
Zonas Costeiras dos Países de Expressão Portuguesa - CZCPP, Itajaí, SC. p. 189-189.

BRASIL. 2004. Decreto nº. 5.300, de 7 de dezembro de 2004. Diário Oficial [da União]. Brasília, DF.
Ministério do Meio Ambiente. 2001. Diagnóstico da Gestão Ambiental nas Unidades da Federação -
Relatório Final: Estado de Santa Catarina, Brasília-DF, Programa Nacional do Meio Ambiente II (PNMA).

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2009. Estimativa Populacional para o ano de 2009.
Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao. Acesso em: dez. 2009.

SANTA CATARINA. (ESTADO). 2005. Lei nº 13.553 de 16 de novembro de 2005: Institui o Plano
Estadual de Gerenciamento Costeiro. Palácio Barriga Verde. Florianópolis, SC.

Apoio
Pesquisa financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior (CAPES/PNPD)

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

O BANCO DO BRASIL NO COMANDO DOS PROCESSOS AQUISITIVOS DA DÉCADA


DE 2000

Alessandro Francisco Trindade de Oliveira


Unicentro
Sandra Lúcia Videira Góis
Unicentro

1. Introdução
Os bancos públicos no Brasil sempre desempenharam importante papel para o Estado,
atuando como financiadores de programas socioeconômicos voltados à educação, habitação,
agricultura, indústria, infra-estrutura urbana, entre outros. No entanto, os processos aquisitivos
ocorridos durante a onda de privatizações da década de 1990 fizeram com que após isso se limitasse
aos poucos bancos públicos restantes o papel de fomentadores de programas sócio econômicos.
Assim para que os mesmos continuassem competitivos dentro do mercado financeiro nacional foi
autorizado que os mesmos passassem a inserir-se nesses processos a partir de 2009, para que
obtivessem a partir disso um crescimento na estrutura patrimonial, maior abrangência territorial,
melhoria no corpo administrativo entre outros benefícios. Nesse sentido, buscou-se por meio desta
pesquisa saber como estão ocorrendo as negociações entre o Banco do Brasil e os demais bancos
para uma compreensão da abrangência desse processo e quais as suas implicações sócio-
econômicas.

2. Método
Inicialmente o trabalho foi pautado em uma ampla pesquisa bibliográfica para a busca de
subsídio para fundamentação teórica, o que nos permitiu fazer uma melhor leitura do objeto
estudado. Posteriormente a pesquisa compreendeu levantamento de dados e informações junto a
revistas, ao Banco Central e a demais sites especializados e de instituições financeiras envolvidas
nos processos aquisitivos com o Banco do Brasil com o objetivo de qualificar e quantificar os
agentes envolvidos nos processos.
Ainda foram organizados gráficos e mapas que possibilitaram uma sistematização dos dados
para melhor compreensão facilitando assim a análise das inter-relações dos mesmos e sua
visualização sobre o território.

3. Resultados e Discussão
O mundo financeiro pode parecer assustador, no sentido de sua complexidade, para a
maioria das pessoas. Geralmente ele é associado aos bancos, o que não está totalmente errado já que
eles são um dos principais agentes desse mundo, porém ele é muito mais amplo e complexo, além
de estarmos inseridos nele o tempo todo. De acordo com Singer (2000, p. 8) esse é um mundo onde
os projetos e sonhos de muitos dependem da confiança das instituições que compõe o mesmo, para
que assim possam ceder crédito e tornar os mesmos realidade. O Banco do Brasil então, como os
outros bancos públicos, são de grande importância para o país já que são os principais responsáveis
por financiamentos na área de habitação, agricultura e outros bens duráveis que são primordiais
para a população.
A reforma bancária que foi formulada na década de 1940 e instituída na década de 1960 teve
a preocupação de conter o desenfreado número de sedes bancárias que proliferavam no país. Assim,
aos poucos o número das mesmas iam-se reduzindo, mas por outro lado, o número de agências se
expandia. Videira (2009, p. 169) nos diz que nesse período, o sistema bancário, exercia apenas uma
função tradicional de banco comercial, não possuindo um banco de desenvolvimento que trouxesse
financiamentos para os setores produtivos. Essa diminuição no número de sedes pendura até o final
da década de 1980, que com a criação dos bancos múltiplos, passa-se a ter então um aumento no
número de bancos que segundo Barbachan e Fonseca (2004, p. 3) passa de 106 em 1988 para 246
em 1996. Então com as privatizações, vários bancos passam a ser comprador por grandes grupos

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

tanto nacionais como internacionais, a exemplo desses compradores temos o Itaú, Bradesco, HSBC
e Santander, ocorrendo novamente uma diminuição dos mesmos. Recentemente com a aprovação da
Medida Provisória nº 433, o Banco do Brasil passa a adquirir alguns bancos, a exemplo do banco
estadual paulista Nossa Caixa, ou a formalizar o controle que vinha exercendo já a algum tempo
sobre outros, a exemplo do Banco do Estado de Santa Catarina - BESC, do Banco do Estado do
Piauí - BEP, do Banco Regional de Brasília – BRB e a metade do Banco Votorantim
(NAKAGAWA, 2008, p.1). Assim o Banco do Brasil passa a crescer mais ainda, se consolidando
como maior banco em atuação no Brasil. No gráfico a seguir podemos ver que o crescimento na
rede de atendimento do Banco do Brasil foi modesta entre os anos de 2005 e 2007. Após a
incorporação dos bancos citados anteriormente, o banco passou a ter um crescimento maior que nos
outros anos, passando a ter, no ano de 2009, 3000 pontos de atendimento a mais em relação a 2008.

Gráf. 1 - Crescimento da rede de atendimento do Banco do Brasil em milhares

Organizado e elaborado pelo autor a partir de dados coletados no site do Banco do Brasil

Esse crescimento não se restringe apenas a esses postos, mas também a um crescimento
patrimonial, na área que ele abrange e no número de funcionários, porém por outro lado, o número
de empregos que era gerado anteriormente com os demais bancos provavelmente era superior á
esses registrados pelo Banco do Brasil, essa é uma das características da concentração bancária, que
além de concentrar o poder na mão de poucas instituições também faz com que muitos empregos
sejam perdidos.
Mais recentemente, o Banco do Brasil se lançou às compras no exterior, e já vem negociando o
Banco da Patagônia, que atua na Argentina e analisa investimentos nos Estados Unidos,
principalmente porque uma série de bancos americanos encontram-se deficitários diante a crise de
2008, facilitando assim a entrada no país, e também na Ásia e na África, tentando assim se
internacionalizar-se, que é uma característica das grandes empresas nessa fase do capitalismo que
vivemos, onde muitas fronteiras deixam de existir, permitindo que os grandes grupos estejam
inseridos em cada vez mais países.

4. Conclusão
O Banco do Brasil, como uma empresa de capital aberto, ou seja, não é totalmente pública, se
insere nesses processos para uma maior rentabilidade proporcionando assim um maior ganho a seus
acionistas. Também visa nas aquisições uma saída para os impactos que a crise econômica de 2008
gerou no sistema financeiro, apesar de não ser um impacto tão grande como em outras crises ou
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

como ocorreu em outros países. Assim o banco pode se consolidar na liderança do ranking dos
maiores bancos brasileiros, abrangendo todo o território nacional, e como vimos, até se
internacionalizar-se. A análise da localização das agências dos bancos comprados que
possivelmente fecharão após as negociações com o Banco do Brasil ainda não pode ser realizada, já
que isso requer um pouco mais de tempo até que a aquisição seja totalmente efetuada, ou até mesmo
que se acabe algum tipo de prazo de funcionamento descrito em contratos de compra dos bancos.

Referências
BARBACHAN, José F. S.; FONSECA, Marcelo M. Concentração Bancária Brasileira: uma análise
microeconômica. Ibmec. São Paulo: 2004. 24 p. Disponível em:
<http://ibmecsp.edu.br/pesquisa/download.php?recid=2796> Acesso em: 28 dez. 2009.

NAKAGAWA, F. BB negocia com governo de SP a incorporação da Nossa Caixa. Estadão, São


Paulo, 21 mai. 2008. 1 p. Disponível em :
<http://www.estadao.com.br/economia/not_eco176289,0.htm>. Acesso em: 19 jun. 2009.

SINGER, Paul. Para entender o mundo financeiro. São Paulo: Contexto, 2000. 158 p.

VIDEIRA, Sandra. Globalização financeira: um olhar geográfico sobre a rede dos bancos
estrangeiros no Brasil. Guarapuava: Unicentro, 2009. 344p.

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O FAXINAL TAQUARI DOS RIBEIROS – RIO AZUL - PR E O SISTEMA INTEGRADO


DE PRODUÇÃO: OS RISCOS DESSA INTEGRAÇÃO

Marcia Alves Soares da Silva*; Thiago Alberto Coloda; Luiz Alexandre Gonçalves Cunha
Universidade Estadual de Ponta Grossa

Resumo: O objetivo do artigo é abordar questões referentes à caracterização do Sistema Faxinal enfocando o
Faxinal Taquari dos Ribeiros em Rio Azul - PR, as mudanças nesta forma tradicional de organização
camponesa que resultam, principalmente, de sua subordinação à agroindústria do fumo, com a introdução do
Sistema Integrado de Produção e como esse sistema afeta as tradições do povo faxinalense.

Palavras-chave: Cultura faxinalense; Paisagens rurais; Agroindústria fumageira.

1. Introdução

Inicialmente busca-se refletir sobre o entendimento conceitual do Sistema Faxinal. Alguns autores
como Sahr e Cunha conceituam Faxinal como uma forma auto-sustentável de ocupação camponesa, no
Centro-Sul do Paraná, dentro da região das Matas de Araucária e com baixa inserção no mercado capitalista.
A estruturação de um Faxinal consiste basicamente em três unidades: as terras de plantio, criadouro comum e
cercas. Essas unidades tornam esse modelo peculiar, com tradições e costumes específicos.
As terras de plantio são de uso privado, encontram-se fora da área do criadouro comum e é onde se
cultivam os produtos tradicionais, principalmente feijão e milho. No criadouro comunal acontece a pecuária
extensiva de forma coletiva, visando, principalmente, a atividade silvo pastoril, com destaque para criação de
gado miúdo (suínos) e a extração de erva-mate.
Esta organização vêm sofrendo um processo de desagregação, em grande parte relacionada à
introdução da agroindústria do fumo, no caso do Faxinal Taquari dos Ribeiros, que submete os faxinalenses
envolvidos aos seus padrões produtivos. Com isso, observa-se a quebra de diversas tradições dessas
comunidades, dentre eles a autonomia que tinham na definição dos tempos de trabalho e não trabalho.
Diversos faxinais estão introduzidos no sistema integrado de produção, que é visto como uma grande
ameaça a auto-sustentabilidade do Faxinal, principalmente no que se refere à preservação dos seus recursos
naturais e na manutenção da cultura tradicional.

2. Método

O trabalho teve como método a análise de bibliografia específica, bem como a utilização de dados da
entrevista realizada em 2008 na comunidade Taquari dos Ribeiros em Rio Azul – PR pela Rede Faxinal
Pesquisa. Em julho de 2010 também foi realizada uma entrevista com os moradores da comunidade, que
puderam elucidar melhor as questões discutidas neste trabalho.

3. Resultados e Discussão

Faxinal: características, importância ambiental e subordinação ao capital

Segundo Tavares (2008), o Sistema Faxinal tem a origem relacionada ao início do século XVII,
quando a união no uso comunal de terras por índios, a atividade de pecuária exercida pelos escravos e o
cultivo de erva-mate praticado por ambos, constitui a gênese desse Sistema. Um fato bastante interessante
nessa formação é a superação adquirida pelos indígenas em serem capazes de unirem tribos: “Para a
construção dessa fração do território comunitário camponês faxinalense foi necessário que no princípio
ocorressem alianças entre os povos indígenas (...)” (TAVARES, 2008, p.386).
Mas, a consolidação do Sistema Faxinal no Paraná estima-se que tenha acontecido no final do século
XIX, graças à migração dos europeus ocorrida nessa época. E para compreender o ciclo de crise dessa
cultura tradicional que se estende até os dias atuais, recorre-se mais uma vez a Tavares quando este salienta
que:
(...) a crise dos faxinais começou no final do período econômico da erva-mate e no
inicio do período econômico onde passa a predominar a industrialização da

206
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

madeira no Estado, com a devastação das florestas e matas na sua totalidade


(TAVARES, 2008, p.464).

Com isso, pode-se identificar que em meados do século XX já era iniciado com grande força uma
mudança nesse sistema nativo do estado do Paraná.
Os modos tradicionais de agricultura e pecuária realizados nos Faxinais sobreviveram até hoje
superando os processos de modernização rural e, com isso superando também a homogeneização imposta
pelas políticas de desenvolvimento regional, projetadas a partir da década de 1950 para o Paraná (LÖWEN
SAHR, C. L. e CUNHA, L. A. G., 2005).
Com relação à importância ambiental desse sistema, levando em consideração a opinião de Löwen
Sahr e Cunha (2005), pode-se dizer que os Faxinais contribuem para a proteção e preservação das Matas de
Araucária. Isso ocorre devido à característica de ser um das formas mais antigas de utilização da terra no
Brasil, e por apresentar características que englobam a preservação desta vegetação para a execução das
atividades do Faxinal. Sendo assim, o impacto ecológico seria menor que o impacto causado pela
agroindústria, pois não são utilizados insumos modernos para a fertilização do solo, nem é feita a derrubada
de árvores desnecessariamente apenas visando o aumento da extensão de plantio agricultável, como ocorre
no sistema capitalista rural.
Porém, devido à agricultura moderna, os Faxinais vêm sofrendo uma re-configuração territorial e
isso se deve a subordinação ao capital à qual estão sendo submetidos. Alguns faxinais introduziram o cultivo
de fumo em sua estrutura, caso do Faxinal Taquari dos Ribeiros, e esse fator segundo autores1, é
extremamente negativo para a manutenção e existência desse sistema em dias atuais. Um dos motivos
apresentados é a degradação ambiental, que consiste em desmatar áreas onde contem a vegetação de
Araucária para duas finalidades: a primeira seria para aumentar a área de plantação de fumo, já a segunda
seria a utilização da madeira para abastecer estufas (LEMES, E. C.; LÖWEN SAHR, C. L., 2005). Contudo,
essa prática vem sendo fiscalizada, onde os moradores do Faxinal vêm utilizando a madeira do eucalipto para
abastecer as estufas e para o consumo próprio.
Outro fator negativo com a introdução do fumo nos Faxinais segundo Lemes e Löwen Sahr (2005)
seria o rompimento da sustentabilidade econômica:

Quando o agricultor entra no cultivo de fumo é financiado pela agroindústria


fumageira adquirindo dívidas com a mesma, além de ter que vender a produção
pelo preço estabelecido pela agroindústria ficando totalmente subordinado a ela
(LEMES, E. C.; LÖWEN SAHR, C. L., 2005).

Isso significaria uma alteração no modo de vida dessas pessoas, uma vez que a cultura faxinalense se
mostra como algo onde o morador trabalha em comunidade, sem um horário pré-estabelecido ou horas a
cumprir. Portanto, pode-se verificar um rompimento cultural com relação aos costumes dos faxinalenses,
devido à introdução de novos parâmetros de produção, impostos pelas grandes empresas fumageiras, porque
esse sujeitos sociais necessitam quitar as dívidas com a empresa que se iniciam desde a fase primordial do
cultivo do fumo. Assim, esse tipo de comunidade tradicional corre o risco de desaparecer. Por isso, a
importância de políticas públicas de resistência a extinção da cultura e do modo de vida faxinalenses é de
crucial significância.
Por fim, para justificar essa “aceitação” por parte dos faxinalenses para que seja introduzida a cultura
fumageira na estrutura dos Faxinais, recorre-se, mais uma vez a Lemes e Löwen Sahr (2005) quando citam
Eteges (1991): “(...) um dos fatores que caracterizam a subordinação do trabalho do agricultor familiar à
agroindústria fumageira é o preço do fumo (...)”. Isso pode ser comprovado também em Monteiro (2009)
quando este cita a resposta dada por um faxinalense, em entrevista, quando perguntado sobre o motivo dele
exercer o cultivo de fumo: “o preço porque para o plantador de fumo sobra dinheiro, e o feijão ainda tinha
que pagar a conta né” (p.92). Além disso, segundo Vargas e Bonato (2007), existem outros benefícios
indiretos associados ao cultivo do fumo como empréstimos, apoio técnico ou outras formas de apoio (entre
eles o governo) e o sistema de comercialização do tabaco bem desenvolvido, onde o Brasil é o segundo
maior produtor mundial.
Contudo, o preço citado acima, muitas vezes não cobre nem sequer a valor da produção, onde os

1
LEMES, E. C. e LÖWEN SAHR, C. L.

207
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

líderes comunitários recebem valores adicionais pela sua produção, influenciando os demais a prosseguir o
cultivo do fumo. Quem inicia o cultivo também recebe um valor adicional com o mesmo intuito de mantê-lo
nesse sistema, até o ponto em que as dívidas se acumulam e a dependência se torna irreversível, e assim o
fumo se consolida como principal atividade agrícola (LEMES, E. C.; LÖWEN SAHR, C. L., 2005).

O sistema integrado de produção

O sistema integrado de produção pode ser considerado como uma forma de cooperação entre
indústria e produtores. Consiste no estabelecimento de vínculos entre as empresas e o universo dos
produtores, baseando-se na exclusividade do fornecimento e adoção dos padrões de produção estabelecidos
pelas empresas (VARGAS e BONATO, 2007), onde esse tipo de cooperação teria benefícios e obrigações
equilibradas. Iório (1994) afirma que o sistema integrado de produção conceitualmente consiste em ser:

(...) um contrato formal ou verbal, o pequeno produtor passa a produzir


determinada matéria-prima, vendendo-a exclusivamente para a agroindústria com a
qual tem contrato. A agroindústria, por seu turno, se encarrega de assistência
técnica, do fornecimento de insumo, e às vezes, do financiamento de instalações
necessárias, e, ao final de cada safra, da compra da produção (IÓRIO, 1994, p.142).

Esse modelo de integração foi adotado no Brasil por dois principais motivos: de um lado, a
necessidade dos produtores em contarem com uma assistência adequada, técnica e financeiramente, com a
garantia de poderem vender toda a sua produção por preços rentáveis para ambas as partes e por outro lado, a
garantia das empresas fumageiras em contar com a matéria-prima em quantias e preços programadas
antecipadamente.
Alguns defendem essa cooperação, porque acreditam ser uma segurança para o produtor, recebendo
subsídios das empresas, que repassam insumos, assistências técnicas, maquinários, sementes, auxílio no
transporte do produto, financiamentos para produzirem e através do contrato firmado, o fumo tem um
comprador legal, muitas vezes tornando a empresa integrada exclusiva na obtenção do produto final. Os
produtores se comprometem com os padrões de cultivo, produção, colheita, impostos pela empresa, já que
aquele está subordinado ao sistema agroindustrial.
Outros acreditam que existam comportamentos oportunísticos por parte dos agricultores que
inicialmente procuram segurança nessa aliança, mas que após o nível de especulação do produto no
momento da comercialização esteja certo e a insegurança não mais existir, ocorre o rompimento dos
contratos firmados com as empresas integradoras sendo que haviam obrigações contratuais firmadas
inicialmente.
Embora, sob determinado ponto de vista, essa ligação entre produtor-indústria seja viável, há
evidências que apontam para os efeitos nocivos desse controle exercido pela indústria do fumo sobre a
organização da cadeia agro-industrial do tabaco nos países em desenvolvimento, como o Brasil (VARGAS e
BONATO, 2007). Esse sistema traz vantagens e desvantagens para o produtor e para empresa,
principalmente no que diz respeito à manutenção da composição dos preços dentro da lógica do custo de
produção. (DALLAGO FILHO, 2003).
De acordo com uma pesquisa realizada pela Rede Faxinal Pesquisa (2008), 50% dos entrevistados no
Faxinal Taquari dos Ribeiros - PR afirmam que a compra do fumo é feita por empresas fumageiras, onde na
maioria das vezes, o tipo de contrato firmado é por quantidade de produção. Afirmam ainda, que o transporte
do fumo é realizado pela empresa integrada e há contratos em que o tempo de comercialização com a mesma
empresa varia de até cinco anos e a mais de vinte anos.
O controle exercido pela agroindústria fumageira mostra-se visível no Faxinal, já que os faxinalenses
subordinados produtores de fumo deixam de lado certos padrões tradicionais da sua cultura para se dedicar
exclusivamente a produção, que demanda mão-de-obra exaustiva, desde a semeadura, a plantação, a colheita
e a secagem nas estufas, até a classificação das folhas do fumo, de acordo com os parâmetros da empresa
integrada, com a ajuda dos “orientadores” que sempre estão em contato com os faxinalense. Nessa
organização, todas as hierarquias familiares estão envolvidas e alguns ainda contratam mão-de-obra
assalariada para o trabalho na lavoura.
Esse controle é possível graças à monopolização do território pelo capital, onde as empresas não se
territorializam e sim injetam capital na produção faxinalense, monopolizando toda a sua produção, sendo

208
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

nesse processo a subordinação e apropriação da renda da terra dos faxinalenses transformada em capital.
Com isso, vê-se a expansão do capital em meio aos faxinais.

Conclusão

Conclui-se, portanto, que embora essa aliança entre produtor e empresa tenha vantagens financeiras e
produtivas, esse tipo de cooperação torna o faxinalense produtor de fumo subordinado em todos os níveis aos
parâmetros impostos pelas empresas, o que em longo prazo certamente desagregará todo um modo de vida
secular, e que dificilmente poderá recuperar suas bases tradicionais. Sendo assim, a paisagem tradicional será
a mais afetada já que o fumo antes da modernização da agricultura, não era o cultivo prevalecente. Além da
paisagem, questões econômicas, culturais e políticas, estão em desagregação nos faxinais, tornando-o alvo
fácil da extinção.

Referências

DALLAGO FILHO, A. Avaliação da relação produtor-empresa no sistema integrado de produção


agrícola na cultura do fumo. 2003, 99 f. Dissertação (Mestrado em Administração). Universidade Federal
do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2003.

IÓRIO, M. C. de O. A modernização agroindustrial: sindicalismo ante uma versão agrária da terceirização.


In: MARTINS, H. de S.; RAMALHO, J. R. Terceirização e negociação no mundo do trabalho. São Paulo:
HUCITEC: CEDI/NETS, p.137-152, 1994.

INSTITUTO PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL. Paraná - Economia


e Sociedade: Paraná - Destaques econômicos. Curitiba, 1982.

LEMES, C. L.; SAHR, C. L. L. Da subsistência do sistema faxinal a subordinação a agroindústria do


fumo: a desagregação do Faxinal dos Lemes no município de Ipiranga – PR. In: lll SIMPÓSIO
NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA. Presidente Prudente. 2005.

LÖWEN SAHR, C. L.; Os “mundos faxinalenses” da floresta com araucária do Paraná: racionalidades duais
em comunidades tradicionais. Revista Terra Plural. Ponta Grossa. v.2, n.2, p. 213-226, jul/dez, 2008.

LÖWEN SAHR, C. L.; CUNHA, L. A. G. O significado social e ecológico dos faxinais: reflexões acerca de
uma política agrária sustentável para a região da mata com araucária no Paraná. Revista Emancipação.
Ponta Grossa. v. 5, n. 1. p. 89-104. 2005.

MONTEIRO, R. R. Transformações sócio-espaciais do sistema faxinal: um estudo a partir da


comunidade de Taquari dos Ribeiros em Rio Azul – PR. 2009, 121 f. Dissertação (Mestrado em Ciências
Sociais) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2009.

TAVARES, L. A. Campesinato e os faxinais do Paraná: as terras de uso comum. 2008. 756 f. Tese
(Doutorado em Geografia Humana) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de
São Paulo, São Paulo 2008.

VARGAS, M. A.; BONATO, A. Cultivo do Tabaco, Agricultura Familiar e Estratégias de Diversificação no


Brasil. In: Cultivo do Tabaco, Agricultura Familiar e Estratégias de Diversificação no Brasil. Maio de
2007. Estudo contratado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário do Governo Federal e encaminhado
como Nota Técnica à Segunda Seção da Conferência das Partes (COP2) da Convenção Quadro da OMS
sobre o Controle do Tabaco. Bangkok, 30 de junho – 6 de julho, 2007.

209
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

O LUGAR DE VIVÊNCIA NA PERSPECTIVA DA GEOGRAFIA CULTURAL: UMA


CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO DA TENDÊNCIA HUMANÍSTICA NA CIÊNCIA
GEOGRÁFICA

Jessica Nene Caetano; Lauro César Figueiredo


1
Graduada em Geografia Licenciatura Plena – UFSM e Mestranda do Programa de Pós-Graduação em
Geografia e Geociências-PPGGEO - Universidade Federal de Santa Maria
2
Prof. Dr. do Departamento de Geociências - Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução
A questão cultural relacionada ao lugar atribui aos códigos culturais materiais e imateriais extrema
relevância, pois, os mesmos, manifestam muitas características ligadas ao espaço de vivência.
O presente esforço teórico reconhece como método mais apropriado para realização desse estudo, o
fenomenológico, também conhecido como método fenomenológico hermenêutico.
A fenomenologia centra-se, portanto, na descrição das vivências e considera a concepção, o ponto de vista
do sujeito sobre determinado objeto.
Entre os diversos conceitos abordados pela Ciência Geográfica, o lugar oferece ao sujeito a possibilidade de,
através do contato com a sua realidade, construir suas próprias considerações a respeito desse lugar. A
valorização das concepções individuais possibilita uma reflexão mais profunda sobre o local onde determinada
pessoa vive, a sua realidade, começando com o bairro onde mora e seu município.
Portanto, a capacidade de cada sujeito de compreender o mundo em que vive, não só no âmbito local, mas,
também, no global, é possibilitada pela Geografia e seus conceitos-chaves como lugar, região, território e
paisagem.
Cabe, ainda, ressaltar que esses conceitos são conhecidos como de natureza operativa da Geografia, porém,
são compreendidos de forma extremamente abstrata não atingindo, muitas vezes, o entendimento adequado.

2. Método
Metodologicamente, esse esforço teórico foi constituído, basicamente, por uma ampla revisão nas matrizes
teóricas referentes à Geografia do Lugar e Geografia Cultural.
Nesse sentido, o presente trabalho apresenta como proposta central uma contribuição teórica para o estudo
da Tendência Humanística na Ciência Geográfica, relacionando o estudo do lugar pelo viés da Geografia
Cultural centrada, portanto, no conceito de cultura e na importância dos códigos culturais para a construção da
paisagem.
Dessa forma, o método que melhor se insere nessa perspectiva de estudo, é o fenomenológico, pois valoriza a
vivência do sujeito e os significados que o mesmo atribui para seu espaço de vivência.

3. Resultados e Discussão
Como resultado desse esforço teórico, enfatiza-se, que Geografia Humanística valoriza a percepção de cada
indivíduo sobre o local onde vive, considerando suas experiências cotidianas no espaço que o rodeia.
Bezzi; Marafon [1] destacam

A Geografia Humanista preocupa-se e se embasa na verificação das essências pelo grau de


intuição e maneira que cada indivíduo tem de perceber o espaço que o cerca, e no qual vive e
existe. Procura, também, valorizar a experiência do indivíduo ou do grupo, destacando e
enfatizando valores pessoais que os indivíduos vivenciam e adquirem no cotidiano da vida.
Passa, assim a compreender o comportamento e as maneiras de sentir e agir das pessoas
perante situações presentes em seu espaço vivenciado.


Autor Correspondente: sicaetano@yahoo.com.br

1
210
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Nesse sentido, de acordo com Cavalcanti [1.3] “Na Geografia Humanística, lugar é o espaço que se torna
familiar ao indivíduo, é o espaço vivido, do experenciado. Esse conceito está, na verdade, no cerne da
problemática discutida nessa orientação teórica”.
A Geografia Humanística, ao valorizar a percepção e as experiências do indivíduo em seu lugar de vivência,
oferece, portanto, uma melhor análise sobre o lugar, destacando a relação subjetiva entre sujeito e objeto, ou
seja, considera a experiência direta que a pessoa tem com o seu lugar, antes mesmo dela conceituá-lo.
Dessa forma, a importância do lugar para a Ciência Geográfica não está alicerçada, apenas, na definição do
conceito de lugar, mas como o mesmo poderá ser assimilado pelos sujeitos de forma adequada, buscando
compreender essa concepção dentro de suas realidades e de tudo que tem real significado para suas vidas.
Graças à fenomenologia, o espaço geográfico passou a ser compreendido não apenas pelo estudo da
adaptação do ser humano na natureza ou pelo viés econômico. Os fatores culturais passaram a ter relevância,
principalmente, quando relacionados ao cotidiano do sujeito em seu espaço de vivência.
A temática cultural foi introduzida pela Geografia Humana, com Friedrich Ratzel (1844-1904) e,
posteriormente, na França com, com Paul Vidal de La Blache (1845-1918) e nos Estados Unidos com Carl Sauer
(1889-1975).
As pesquisas realizadas por Ratzel basearam-se, principalmente, no determinismo. Claval (1999, p. 23)
salienta que “A seleção dos seres vivos pelo meio que Darwin postulava, é substituída por Ratzel pela seleção
das sociedades pelo espaço: a política impõe-se, assim ao cultural”.
As obras de Alexandre Humboldt e Carl Ritter serviram como inspiração para Ratzel escrever sua famosa
Antropogeografia (1882-1891). Outros alemães, assim como Ratzel, enfatizaram seus estudos para a
materialidade dada pela paisagem, pelas técnicas e pelos utensílios.
O geógrafo francês Vidal de La Blache, assim como outros defensores do possibilismo geográfico, contestou
o determinismo ratzeliano. La Blache considerou a ação humana sobre o meio, enfatizando o papel das técnicas
e de sua difusão. A Geografia Francesa desenvolveu sua ótica mais complexa sobre a cultura, considerando os
aspectos materiais (a técnica) e os imateriais (os costumes). A exploração da natureza foi evidenciada com a
finalidade de explicar os meios capazes de empregar armas e possibilitar o domínio de um grupo sobre o outro.
Brum Neto [1.2] salienta que “A geografia francesa procurou interpretar as diferenças expressas na paisagem
pelos grupos humanos, orientados por distintos hábitos culturais”.
Carl Sauer, ao fundar a Escola de Berkeley, nos Estados Unidos, reavivou a Geografia Cultural, já esquecida
pela escola de Middle West de 1910 que desconsiderava as relações entre cultura e espaço. Assim como a
Geografia Alemã, a Geografia Cultural norte-americana considerou a materialidade da cultura, o que é visível na
paisagem.
A partir da década de 1970, depois de declinar por sua temática ser considerada ultrapassada por alguns
autores, a Geografia Cultural começou a ser reconstruída através da concepção de que os lugares estão repletos
de sentimentos por seus habitantes, ou seja, evidenciou o quanto o espaço vivido é significativo pra os
indivíduos.
Atualmente, a Geografia Cultural moderna destaca-se sendo uma linha de pesquisa renovada na Ciência
Geográfica, transmitindo, enriquecendo e difundindo a cultura pelos homens. Nesse sentido, sua valorização é
importante para que os indivíduos consigam compreender a organização espacial do território onde vivem.
Dessa forma, pode-se acrescentar que a Geografia Cultural contribui de forma significativa para a
compreensão do espaço vivido, pois considera que os lugares estão repletos de sentimentos pelos indivíduos que
neles habitam, ou seja, o sentido de pertencimento é enfatizado através das investigações relacionadas à temática
cultural. O lugar de vivência é estudado a partir da observação da paisagem que, através da intervenção humana,
transforma-se em paisagem cultural, repleta de símbolos relacionados à identidade de determinado grupo social.

4. Conclusão
Considera-se, então, que Ciência Geográfica possibilita ao sujeito, a partir do período em que o mesmo se
insere na escola, uma leitura da realidade que tenha sentido e significado para o seu cotidiano. A vivência diária
desse indivíduo no lugar onde habita deve ser compreendida através de sua interação com as diversidades dos
lugares, fortalecendo seu espírito solidário como cidadão e agente modificador da paisagem do seu espaço de
vivência.
Com o crescimento da Ciência Geográfica no sentido epistemológico, foi possível compreender o espaço
através de suas categorias analíticas (forma, função, estrutura e processo), além dos conceitos-chaves da
Geografia, de natureza operativa, como lugar, região território e paisagem. Observa-se, então, que o lugar não
2
211
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

deve ser compreendido isoladamente, ao contrário, as considerações sobre o espaço de vivência ampliam as
possibilidades de discussão de novos conceitos relacionados à Ciência Geográfica.
Portanto, é necessário atribuir à Geografia, relevante papel para a compreensão e reflexão do sujeito sobre
seu espaço de vivência. No entanto, é urgente a constante revisão dos conceitos relacionados ao espaço
geográfico, porque os mesmos modificam-se rapidamente, principalmente, com o acelerado desenvolvimento da
globalização e das tecnologias.

Referências
BEZZI, M. L; MARAFON, G. J. Historiografia da Ciência Geográfica. 2005. Apostila Didática.[1]

BRUM NETO, H. Regiões culturais: a construção de identidades culturais no rio grande do sul e sua
manifestação na paisagem gaúcha 2007. 319 f. Dissertação de Mestrado (Mestrado em Geografia) –
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2007.[1.2]

CAVALCANTI, L. de S. Geografia, escola e construção de conhecimentos. Campinas: Papirus, 1998.[1.3]

3
212
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

O SISTEMA FAXINAL E AS VILAS RURAIS DO PARANA 12 MESES.

Thiago Alberto Coloda1*; Prof. Dr. Luiz Alexandre Gonçalves Cunha (orientador)2
1
UEPG
2
UEPG

1. Introdução
O objetivo do artigo é refletir sobre embasamento teórico-conceitual acerca de uma alternativa mais
efetiva para o subprograma Vilas Rurais do programa Paraná 12 Meses considerando algumas características
do Sistema Faxinal. Essa relação entre as Vilas Rurais e os faxinais é pertinente uma vez que, um dos
objetivos das Vilas Rurais era o de diminuir as disparidades sociais. O método empregado no programa para
se alcançar essa meta foi o de dar a oportunidade ao pequeno produtor de ter a possibilidade de superar a
questão da renda sazonal. Outras finalidades desse programa eram evitar a continuidade do êxodo rural no
estado e assentar os chamados trabalhadores rurais “bóias frias”. As Vilas Rurais proporcionavam aos
beneficiários lotes com aproximadamente 5.000 m², para que ali executassem uma atividade produtora de
subsistência e que pudessem trabalhar em fazendas próximas como trabalhadores contratados.
Alguns problemas identificados nesse programa com relação a diminuição das disparidades sociais é
o fato de que isso não se evidenciou na prática. O público alvo, que eram os “bóias frias”, não foram os
atingidos pelo programa em alguns casos. Isso ficou claro quando pessoas beneficiadas foram, na verdade,
aquelas inscritas em programas municipais. Esse foi o caso da Vila Rural Santa Rita em Curitiba – PR
(SANTOS, 2007). Outro fato é a questão da renda das famílias visadas pelo programa. Segundo Souza: “(...)
o programa não se apresenta capaz de superar as condições (...) de pobreza e consequentemente de exclusão
social (...) porque não estimula a emergência de atividades não agrícolas” (2000, p. 200). Identificado por
Souza (2000) também a questão das comunidades dessas vilas, onde em várias delas não foi encontrado um
“espírito comunitário”.
Nesse sentido da falta de comunitarismo, é que se inicia a proposta do Sistema Faxinal como
alternativa. Os faxinais têm como característica o uso comunal de terras, uma forma tradicional de atividade
rural. Este sistema se configura em três partes: uma se remete a área de plantio; outra é a área de criadouro
comunal; e por fim a terceira se refere às cercas (CHANG, 1982). Os faxinais são exclusivos do Paraná,
encontrados segundo Löwen Sahr desde o início do século XVIII em meio a mata de araucária.
Esse modelo possui uma cultura tradicional, que mesmo em meio ao século XXI ainda resiste às
inovações tecnológicas da mecanização agrícola. Por se tratar de um modelo muito antigo de uso da terra,
seu impacto ambiental é muito restrito, e, sendo assim, colabora na preservação da Mata de Araucária.

2. Método
Faz-se necessária uma crítica a falta de rigor do planejamento das Vilas Rurais em alguns aspectos.
O primeiro refere-se à questão dos locais em que as vilas são criadas. É comum o relevo do lugar escolhido
ser muito fraturado, e, com isso, impróprio para a realização de atividades produtivas de plantio. O segundo é
a questão das pessoas beneficiadas que, muitas vezes, não preenchiam os requisitos da proposta do
programa, pois os “bóias frias”, normalmente, têm conhecimento em lidar com a terra, ou seja, sabem como
realizar as atividades rurais. Quem não tem este conhecimento, compromete o objetivo proposto pelo
programa. O terceiro aspecto está relacionado à proposta do presente artigo e se refere a ausência de
comunitarismo nas Vilas, conforme especificado por Souza (2000).
Contudo, há que se considerar o Paraná 12 Meses, e mais especificamente o subprograma Vilas
Rurais, como uma proposta territorial de desenvolvimento.Os Programas de Desenvolvimento Rural
anteriores, PRO-RURAL e Paraná Rural, mas principalmente este primeiro, apresentaram-se como
alternativas de caráter setorial.
Considerando a proposta territorial, verifica-se que os faxinais incorporam a questão da
pluriatividade. Dessa forma, um plano de desenvolvimento rural fundamentado nos faxinais tornaria os
beneficiários em agricultores pluriativos. Os faxinalenses que preservaram seu modo de vida tradicional
apresentam diversificação de culturas, cultivando culturas alimenticias e criação, combinados com o
extrativismo da erva-mate, que é encontrada naturalmente em meio a Mata de Araucária. As Vilas Rurais
poderiam seguir este exemplo, buscando uma maior variedade de produções agrícolas em uma mesma Vila.
Isso também é valido não só para a agricultura, mas para a pecuária também, onde num faxinal se tem a
criação de gado miúdo como exemplo.

*
COLODA, T. A.: thiagocoloda@hotmail.com
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3. Resultados e Discussão

A organização do Sistema Faxinal é exemplo importante quando se aborda as Vilas Rurais e se


propõe neste texto uma reflexão sobre esta relação. O que se apresenta como questão significativa é o fato
das Vilas Rurais terem um tamanho médio de 12 à 20 hectares, enquanto um faxinal, como o Faxinal dos
Marcondes tem um tamanho médio de aproximadamente 600 hectares. A proposta do presente trabalho não é
transformar as Vilas Rurais em Faxinais, mas apenas considerar alguns fatores endógenos do sistema faxinal
como ilustrativos para se analisar as falhas do programa Vilas Rurais.

Fig. 1 – PERFIL ESQUEMÁTICO DO SISTEMA FAXINAL

Fonte: CHANG, 1982.


Nota: Dados trabalhados pelo autor.

O sistema integrado de produção em meio ao faxinal é visto como negativo, pois desestruturaria a
questão da identidade cultural desse sistema. Já nas Vilas Rurais, pode ser visto como uma alternativa, uma
vez que poderia beneficiar a produção destes pequenos agricultores. Faz-se necessária uma política
integradora por meio do Estado, para que este proponha ao pequeno produtor, a necessidade da organização
comunitária. A comunidade atingida pelo programa deve estar organizada de forma associativa ou
cooperativa, visando o trabalho coletivo. Essa proposta apresenta-se como viável desde que os atores do
Estado, ao selecionarem as famílias não se desvinculem do objetivo do programa de assentar os pequenos
produtores e acabem beneficiando pessoas não ligadas às atividades rurais. Existindo um maior dinamismo
comunitário, o que é verificado em poucas Vilas, a proposta tornar-se-ia realmente uma alternativa viável
para melhorar a eficácia do programa (SOUZA, 2000). Para isso, o papel do Estado é fundamental,
fomentando a organização comunitária.

4. Conclusão

O que se verifica nas Vilas Rurais é que os objetivos originários não foram atingidos. Contudo, esse
programa se mostra muito mais eficiente que os PDRI’s 1 anteriores, pois parte de uma análise territorial e
não setorial. Algumas de suas falhas se dão mediante a falta de rigor em seguir o plano original do programa,
que visava as “bóias frias”. Entretanto, a questão da renda sazonal nas Vilas Rurais parece ter como
alternativa a pluriatividade do meio rural, alternativa que pode seguir o exemplo dos faxinalenses, onde cada
morador ou membro do faxinal tem um tipo específico de cultivo e faz uma troca com os demais para que
assim todos possam ter acesso a todo o produto cultivado no faxinal. O mesmo pode ser proposto para as
Vilas Rurais, porém a questão da extensão dessas vilas pode se considerada como um empecilho ao cultivo
de determinadas agriculturas. Relevo também é outro obstáculo, mas esse era um problema que num

1
Programas de Desenvolvimento Rural Integrado.
214
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

processo bem feito de planejamento seria identificado. Mas prevaleceu a improvisão e a falta de visão
técnica.
A proposta alternativa às vilas estende-se também a pecuária, não obstante as dificuldades
relacionadas às pequenas áreas disponíveis as famílias. Havendo um aumento das áreas das vilas, abrir-se-ia
possibilidades de se aproveitar os aspectos positivos da proposta contida no Programa das Vilas Rurais.
Assim, espera-se contribuir com as discussões sobre a busca por alternativas de desenvolvimento rural que
contemplem a melhoria nos padrões de vida dos trabalhadores rurais.

Referências

CAVALCANTI, A. S. Vilas Rurais do Paraná: Forma de Assentamento em Busca de um Teto e de uma


Propriedade. Revista Akrópolis. Umuarama, v. 9, n. 4, p. 197-204, out./dez., 2001.

CAVALCANTI, A. S. As Vilas Rurais no Paraná: Experiência em Assentamento Planejado. Diálogos &


Saberes. Mandaguari, v. 5, n. 1, p. 81-92, 2009.

CIDADES DO BRASIL. Vilas Rurais. Disponível em: <http://www.cidadesdobrasil.com.br/cgicn/news.cgi


?cl=09910510009710010109811&arecod=16&newcod=451>. Acesso em: 08 mai. 2010.

CHANG, M. Y. Faxinais no Paraná. Informe de Pesquisa, Curitiba, v. 12, n. 80, mar. 1988a.

CHANG, M. Y. Sistema faxinal: uma forma de organização camponesa em desagregação no centro-sul


do Paraná. Londrina: IAPAR, 1988b. (Boletim técnico, 22).

CUNHA, L. A. G. Desenvolvimento rural e desenvolvimento territorial: o caso do Paraná Tradicional.


2003, 136 f. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, 2003

ESSER, J. V. ; WADI, Y. M.; STADUTO, J. A. R.; SOUZA, M. As vilas rurais na Região Oeste do Estado
do Paraná: uma política pública de desenvolvimento e seu impacto na vida dos trabalhadores rurais volantes.
In: XLIV Congresso da Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural, 2006, Fortaleza - CE. Anais
do XLIV Congresso da Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural. 2006. p. 1-19.

IPARDES (1992). Projeto Integrado de Apoio ao Pequeno Produtor Rural – PRO-RURAL: avaliação
do impacto regional – 2ª fase. Curitiba. 252 p.

IPARDES. Paraná - Economia e Sociedade: Paraná - Destaques econômicos. Curitiba, 1982.

LEMES, C. L.; SAHR, C. L. L. Da subsistência do sistema faxinal a subordinação a agroindústria do


fumo: a desagregação do Faxinal dos Lemes no município de Ipiranga – PR. In: lll SIMPÓSIO
NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA. Presidente Prudente. 2005.

LÖWEN SAHR, C. L.; CUNHA, L. A. G. O significado social e ecológico dos faxinais: reflexões acerca de
uma política agrária sustentável para a região da mata com araucária no Paraná. Revista Emancipação.
Ponta Grossa. v. 5, n. 1. p. 89-104. 2005.

LÖWEN SAHR, C. L.; Os “mundos faxinalenses” da floresta com araucária do Paraná: racionalidades duais
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SANTOS, I. L. Desenvolvimento das Vilas Rurais no Paraná. 2007, 97 f. Dissertação (Dissertação em


Ciências Agrárias) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2007.

SOUZA, M. Atividades não-agrícolas e desenvolvimento rural no estado do Paraná. 2000, 320 f. Tese
(Doutorado em Engenharia Agrícola) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2000.

Agradecimentos
Agradece-se a UEPG pela oportunidade de pesquisa por meio de uma Iniciação Científica e a Fundação
Araucária pela bolsa como auxilio.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

OFICINA MULTIMÍDIA DE LEITURA CULTURAL PARA 5ª SÉRIE DO ENSINO


FUNDAMENTAL PÚBLICO DE RESTINGA SÊCA-RS

ALVES, Heliana de Moraes1*; FIGUEIREDO, Lauro Cesar 2


1
Universidade Federal de Santa Maria
2
Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução

Os instrumentos multimídia são eficientes ferramentas a serem utilizados pelos professores de


Geografia no processo ensino-aprendizagem, uma vez que, os computadores e aparelhos áudio visuais
fascinam os educandos. Tais recursos tornam-se importante para a leitura cultural, pois são interativos e
lúdicos, assim permitem demonstrar e visualizar de forma dinâmica marcas culturais de diversas etnias, pois
assim, os educandos conseguem entender as diferenças entre as culturas e ressaltar a sua própria identidade
cultural. Diante disso, o ensino-aprendizado torna-se prazeroso e animado através de animações, simulações
virtuais ou simplesmente a interpretação de imagens relacionadas a costumes étnicos local.
Além de auxiliar o professor, a utilização da informática facilita a inclusão digital que afeta muitos
alunos da rede pública de educação brasileira, ocasionando assim um inventivo social do educando, enquanto
cidadão. Apesar de dispor de tais recursos, ainda muitos educadores não estão familiarizados a utilizarem à
tecnologia multimídia (programas de comutadores e objetos áudio visuais) aplicada à educação, muitas vezes
por não estarem treinados adequadamente. Seguindo essa perspectiva, o educador necessita estar inserido
neste contexto tecnológico, onde o primeiro passo para essa inserção é através de uma formação adequada,
para assim poder empregar essas inovações como estratégia de ensino, pois o professor também é um
cidadão que vive no mesmo mundo pleno de mudanças do educando e ele também deve estar a par e
participar das inovações tecnológicas ¹.
Perante a importância dos recursos multimídia aliados à educação, esse trabalho teve como objetivos
elaborar e realizar uma oficina multimídia que auxilie o professor de Geografia nos conteúdos relacionados à
leitura cultural, principalmente na 5ª série, para que os educandos compreendessem a organização espacial da
cidade de Restinga Seca, bem como os códigos culturais (patrimônio cultural) que se definem nesse espaço.
Para entender a materialização cultural no espaço é interessante trabalhar com o espaço de vivência do
educando, ou seja, trabalhar com a leitura cultural do cotidiano, da comunidade, com a finalidade de
valorizar os saberes culturais do educando e ampliar sua capacidade de leitura da realidade.

2. Método e Prática

Inicialmente para a concretização deste trabalho foi necessária a realização de um embasamento


bibliográfico consistente em livros, periódicos, teses e dissertações, que remetem a Cultura, a Geografia
Cultural, Ensino-aprendizagem, recursos multimídia e a história do município em questão. Desta forma
convêm enfatizar que a “Oficina Multimídia de leitura cultural” consistiu basicamente em trabalhos de
campo auxiliados pelo uso de instrumentos áudio visuais como câmeras digitais e programas de
computadores multimídia, com a finalidade de materializar o conhecimento adquirido no ambiente escolar,
bem como, evidenciar a organização espacial da cidade de Restinga Seca, através da sua história expressada
no patrimônio cultural. Sendo que, o resultado final desses trabalhos à campo foi elaboração de um vídeo
pelos educandos sobre as visitas ao patrimônio cultural da cidade que prima por uma heterogeneidade
cultural/étnica.
A praxe do trabalho de campo foi incentivar educandos a fotografarem e filmarem para
posteriormente produzirem o vídeo patrimonial, essa metodologia é importante no intuito de excitar os
mesmos a compreender o significado de um patrimônio cultural, bem como conscientizar práticas de
preservação, tornando assim o trabalho motivador e prático, pois os educandos interagem com a paisagem,
com o espaço de vivência de maneira mais significativa, reforçando a identidade cultural individual e
coletiva. Para isso é necessário resguardar a memória pessoal e familiar socializando estas com os demais
colegas para aprenderem a valorizar as suas heranças culturais locais, bem como, respeitar as diferenças.
A escola selecionada para a aplicação do projeto foi a Escola Estadual de Ensino Fundamental
Francisco Manuel, localizada no centro de Restinga Sêca/RS, sendo a maior escola do município, por isso
possui uma diversidade de estudantes oriundos de todas as localidades do município, o que proporciona uma

*
Autor Correspondente: heliana_alves2007@yahoo.com.br
216
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

maior troca de experiências sócio-culturais. Cabe ressaltar, que o trabalho de campo realizou-se em toda a
área urbana da cidade, sendo assim foi uma semana de atividades práticas com os alunos até a elaboração do
vídeo patrimonial, confeccionado pelos mesmos.

3. Resultados e Discussão

A oficina multimídia realizada teve o intuito de facilitar e auxiliar o ensino dos conteúdos de
geografia cultural, consistiu em formular aulas extras classe com base em recursos áudio visuais e a
informática, para obter informações sobre o patrimônio material e imaterial e a identidade cultural da cidade
de RestingaSeca. Cabe enfatizar, que trabalhar com o espaço de vivência do aluno é essencial para os
educadores, pois o trabalho com o cotidiano motiva o educando que torna-se agente do processo de ensino-
aprendizagem e não somente um objeto. Salienta-se que entre o homem e o espaço existe uma dinâmica
complexa, onde o espaço contribui para a formação do humano, esse último por sua vez, com suas atividade
modifica intensamente e constantemente o espaço, ou seja, o espaço é produzido a partir de práticas sociais ².
O educando também é agente modificador da paisagem e da sua cidade, sendo um cidadão este deve saber
quais são seus direitos e deveres perante espaço. Essa integração cidadã com o espaço somente é possível no
momento em que o educando conhece e compreende as relações e organização sócio-espacial do seu espaço
da vivência, para isso ele necessita conhecer a história de sua cidade e interpretá-la. Diante disso, conhecer o
Patrimônio Cultural Material do município é uma maneira de (re)contar a história cultural do mesmo e
proporcionar uma interação deste aluno com o lugar de vivência de forma significativa, fomentando
questionamentos e levando-o a evocar sua identidade cultural, seu conhecimento cognitivo e seu
pertencimento territorial.
Identificou-se que no momento que o educando coloca-se como ativo no espaço, ele consegue
formular sugestões e ações para transformar esse lugar, por exemplo, nos trabalhos de campo, os educandos
começaram a discutir sobre sugestões para recuperar e melhorar os patrimônios culturais da cidade que
estavam em condições arquitetônicas precárias, bem como, notou-se o ímpeto de proteção, pois os educandos
ficavam indignados com as pichações e maus cuidados. Dentre as sugestões para recuperação patrimonial
evocadas pelos educados estão: fazer um “Trem de Turista” que passe em todas as estações do município de
Restinga Seca, para (re) vitalizar a estrada de ferro (Porto Alegre – Uruguaiana) para transporte de
passageiros turísticos, com o intuito que estes visualizem e valorizem os patrimônios naturais do município;
(re) vitalizar o prédio Miguel da Patta (Figura 1) instituindo no local uma casa cultural que preserve a
arquitetura e sirva para a prática de oficinas culturais de artesanato, música e dança (alemã, italiana e
africana); ocorreu também a sugestão de recuperar a Estação Férrea de Restinga Seca (Figura 2) para ser um
museu histórico-cultural, pois até mesmo o acervo fotográfico da cidade encontra-se nos corredores da
Prefeitura Municipal um local desapropriado para guardar essas relíquias; entre outros.
Essa motivação e interação dos educandos da 5ª série da Escola de Ensino Fundamental Francisco
Manuel/Restinga Seca/ RS, advêm não somente do instinto de pertença territorial, mas também pelo
incentivo proporcionado pelo uso de instrumentos multimídias. Isso verificou-se, pois os educandos puderam
trazer para a escola e utilizar nos trabalhos de campo objetos antes proibidos no ambiente escolar, como
maquinas digitais e mp3, o que entusiasmou os mesmos. Observa-se então, que foi pelo estimulo de utilizar
os instrumentos multimídia para a elaboração de um vídeo patrimonial, que os mesmos foram provocados a
entender a organização espacial cultural da cidade, ou seja, eles foram estimulados pela tecnologia, sendo
que no inicio para os educandos o mais importante era as filmagens e gravações, o intuito de pertença
territorial e a identidade cultural vieram surgindo aos poucos nos trabalhos de campo, e acabaram por ser o
ponto central do trabalho deles. Diante disso, o ensino no geral necessita de ferramentas que proporcione
uma maior interação entre o educando, o espaço de vivência e os conteúdos curriculares para que os
educandos se interesse pelo assunto curricular a partir do seu próprio sentimento social de pertencer ao lugar
realizar uma leitura cultural da realidade que o cerca.
Sendo assim é imprescindível o uso de recursos, tanto multimídia quanto manuais para fomentar
questionamentos aos educando perante a sua realidade, o seu lugar de vivência, pois é nesse espaço que
perfazem as significações, a identidade cultural, esse é um lugar carregado de emotividade, memórias que
devem mantidas³. Essa identidade cultural e emotividade também foi observada nos educandos, pois muitos
expressavam em palavras e gestos a alegria e prazer quando estavam visitando a casa onde seus avós
moraram durante anos ou a casa onde seus pais nasceram, essas coincidências aconteceram e gratificam mais
ainda o trabalho com o patrimônio, por que são experiências memoriais e individuais que foram socializadas
e compartilhadas com o professor em formação e com os demais estudantes.
Cabe salientar que os trabalhos de campo não foram focados somente nas construções
arquitetônicas antigas, mas também aos monumentos da cidade (Figura 3) e o acervo fotográfico,

217
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

que também são patrimônios e facilitam na identificação da história cultural da cidade de Restinga
seca/RS. Outro resultado relevante foi a identificação que existem patrimônios preservados e
cuidados, por exemplo, a Caixa d’água/1885 (Figura 4), um dos patrimônios mais antigo do
município em questão, que foi (re) vitalizado. Essas identificação do patrimônio, sua história, sua
preservação deixam a história “viva”, tanto que a partir destes pode-se realizar uma leitura cultural
da cidade e evidenciar sua organização sócio-espacial, entre outras questões. Perante isso, o
trabalho de leitura cultural é importantíssimo, pois proporciona a interação entre o teórico e o
prático que se configuram nas paisagens dos lugares e dinamicamente molificam-os no tempo e no
espaço.

Fig. 1 Prédio Miguel da Patta, Restinga Seca/RS Fig. 2 Estação Férrea de Restinga Seca/ RS

Fig. 3 Prédio Monumento em Homenagens a Eugenio Fig. 4 Caixa d’ Água Restinga Seca/RS
Gentil Muller, primeiro prefeito de Restinga Seca/RS.

4. Conclusão

É importante salientar que o estudo de Geografia no Ensino Fundamental carece de recursos


pedagógicos capazes de proporcionarem uma melhora no processo de ensino-aprendizagem, de modo que o
livro didático não seja o único subsídio do educador em sala de aula. Sendo assim, destaca-se que os objetos
multimídia são recursos significantes por motivarem e induzirem à reflexão do educando em relação aos
conteúdos estudados, pois propícia maior atenção deste pelo fato de tornar a aula diversificada, que sai do
ambiente da sala de aula e favorece o desenvolvimento do conhecimento crítico do educando, fomentando
questionamentos em torno do conteúdo trabalhado.
Com base na complexidade trabalhar os assuntos relacionados à leitura cultural foi importante
correlacionar estes com instrumentos multimídia, pois essas tecnologias chamam a atenção dos educandos,
propiciando um melhor entendimento dos conceitos básicos que se materializam. Pode-se perceber que ao
conciliar os conteúdos didáticos com a informática a aula se torna mais interativa, os alunos demonstraram

218
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

maior interesse através de perguntas, pois as animações dos recursos multimídia, de forma lúdica,
complementam o ensino do professor, porém apesar de serem excelentes instrumentos didáticos os recursos
multimídia não substituem a presença do professor que é provedor dessas motivações.
A receptividade dos educandos à oficina multimídia de leitura cultural foi excelente, pois o contato
com os instrumentos multimídias e também com os patrimônios culturais de sua cidade através nas saídas de
campo os proporcionou um maior interesse pelo conteúdo, por causa da interatividade entre estes e o os
instrumentos multimídia tanto na elaboração do vídeo a partir de registros das saídas de campo, quanto na
primeira aula expositiva.
Sendo assim, é evidente que o estudo de geografia torna-se mais cativante quando o espaço
trabalhado é o vivenciado pelo educando, como foi o caso deste trabalho, pois desta forma o mesmo é agente
construtor e modificador do espaço. Ressalta-se com isso a devida importância do trabalho de campo
realizado, pois através deste foi possível uma interação dos pesquisadores com o ambiente de vivência dos
educandos, até mesmo para eles próprios que puderam interagir com o seu espaço de vivência que é a cidade
de Restinga Seca. Assim esse processo de contato com a realidade da área estudada, torna o trabalho de
investigação sobre a conservação patrimonial mais prático, pois os educandos entraram em contato com o
patrimônio e foram influenciados a formularem sugestões para a preservação patrimonial, reforçando a
ligação destes com a história da cidade.
Cabe salientar a importância de se trabalhar com aspectos relacionados com a leitura cultural na
escola, pois, é um tema que está presente na realidade dos educandos, através de crenças, costumes e hábitos
culturais, mas que pouco tem sido trabalhado em sala de aula. Desta forma, os educandos não conseguem
expressar suas culturas no ambiente escolar e se caso conseguem, não entendem o significado das expressões
de outras culturas, assim torna-se necessário tanto para o educando quanto para a escola, trabalhar com as
abordagens culturais, para que no ambiente escolar possa haver uma troca de saberes entre os educandos e os
educadores a respeito dos diversos hábitos culturais, as diversas crenças, os vários costumes, ou seja, é
importante que a escola seja um ambiente que prime pela pluralidade cultural e trocas culturais. Deve-se
primordialmente valorizar a diferenças através do respeito pelas múltiplas culturas que se demonstram nesse
ambiente escolar de forma tão intensa. É importante reforçar a identidade cultural dos educandos, pois é a
partir dela que as culturas vão sendo mantidas, apesar das transformações históricas, essas noções de
identidade cultural devem ser vitalizadas e ressaltadas em todo o município de Restinga Seca para que a
história cultural continue viva e evocada pela sua pluralidade étnica.

Referências

VESENTINI, J.W. Educação e ensino da geografia: instrumentos de dominação e/ou de libertação. In:
CARLOS, A.F.A. (Org.). A Geografia na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2003, p.20. [1]

CALVACANTI, L. S. Geografia, escola e construção de conhecimentos. Campinas: Papirus, 1998.[2]

CÔRREIA, L. R. Geografia cultural: passado e Futuro: uma introdução. In:. Manifestações da Cultura no
Espaço. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1999.[3]

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

OS SABERES FAXINALENSES E O USO DO SOLO.

Anna Paula Lombardi: ap.lombardi@hotmail.com1; Adelita Staniski: adelitasta@ Hotmail.com2 Maria Ligia
Cassol Pinto: ligialih@brturbo.com.br3

Resumo

As populações tradicionais ao longo do tempo desenvolveram saberes e conhecimento buscado através da


própria sobrevivência e transmitido ao longo dos anos, tendo como recurso a memória que no espaço e no
tempo percorre várias gerações. O objetivo do trabalho é estudar o uso do solo através dos saberes
faxinalenses, descrever e localizar os processos erosivos através da topossequencia nas terras de plantar do
Faxinal Taquari dos Ribeiros- Paraná. Na área de estudo realizaram- se levantamentos dos tipos mais
comuns de solos através do conhecimento dos Faxinalenses as vertentes foram subdivididas em
toposseqüências, no qual, em cada ponto foi georreferenciado com receptor “Global Positioning Sistem”,
aparelho GPS Garmim II e posteriormente analisadas as categorias do solo, sendo em sua coleta utilizado pá
de corte, trado holandês, faca e registro fotográfico para descrever os processos erosivos. Os dados sobre tipo
e manejo do solo bem como os tipos de “terras” encontrados, foram obtidas com conversas informais com os
faxinalenses, através do questionário 2008, onde se pode conhecer a forma particular pela qual eles
descrevem suas terras e como as utilizam.

Palavras chaves: Faxinal; uso do solo; saber local.

1)Introdução

As comunidades tradicionais caracterizam-se pelo seu modo de vida na qual apresenta aprofundado
conhecimento da “natureza e de seus ciclos que se reflete na elaboração de estratégias de uso e manejo dos
recursos naturais”, onde a família apresenta grande importância no exercício da atividade econômica
(DIEGUES, 2000).
As comunidades tradicionais são grupos humanos culturalmente diferenciados que historicamente
reproduzem seu modo de vida, de forma mais ou menos isolada, com base de modos de cooperação social e
formas especificas de relações com a natureza, caracterizadas tradicionalmente pelo manejo sustentado do
meio ambiente. Essas comunidades se adaptaram a nichos ecológicos específicos. (ARRUDA, 1996).
Ainda de acordo com o autor em todas as regiões do Brasil, com menor ou maior intensidade, os padrões de
uso da terra sofrem drásticas alterações à medida que se desenvolvem as frentes de expansão, criando-se
necessidades de manejos mais intensos. As populações tradicionais são postas diante de um dilema insolúvel
do ponto de vista de seus interesses e os de preservação ambiental. As comunidades tradicionais estão
sujeitas as dinâmicas sociais e a mudança cultural. Porém nem todos são conservacionistas natos, e há entre
eles grande conhecimento empírico do mundo em que vivem e das particularidades do ecossistema regional.
Os conhecimentos pedogeomorfológicos da comunidade do Faxinal Taquari dos Ribeiros podem a vir
contribuir tanto nas questões da qualidade dos alimentos e o aumento da produtividade do local, outro fator
importante é as observações feitas nas terras de plantar pelos próprios faxinalenses, que seria os processos
erosivos atuantes devidos o uso e tipo de manejos empregados pelos agricultores, e de certa forma os
faxinalenses com o saber local minimizam esses problemas e assim estabelecem a cultura que ao longo dos
anos vem se mantendo como comunidades tradicionais.

2) Materiais e métodos:

O Faxinal Taquari dos Ribeiros está situado dentro do município de Rio Azul na região sudeste do Paraná,
no domínio do Segundo Planalto Paranaense, distante 193 km a oeste de Curitiba e 547 km a leste de Foz do
Iguaçu, O município abrange uma superfície de 614,300 km2. A população é de 12.559 habitantes divide-se
entre 8.887 residentes na zona rural e 3.672 na zona urbana, com uma densidade demográfica de 20,44
hab./km2. (MINEROPAR, 2001).

1
Acadêmica do curso de Geografia Bacharelado da Universidade Estadual de Ponta Grossa -PR. Pibic-
Fundação Araucária.
2
Acadêmica do curso de Geografia licenciatura da Universidade Estadual de Ponta Grossa -PR. Provic.
3
- Professora do Degeo – Coordenadora do projeto da Universidade Estadual de Ponta Grossa –PR.
220
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508 000 509 000

7169000

7169000
7168000

7168000
N
# ## # #
#

7167000

7167000
Paraná Rio Azul
## #
Sub bac ia hidrografica do rio Boles. # ####

## #
####
####

7166000

7166000
# #
# ##

#
#####

# # # ###
# ##
#
7165000

7165000
#
#
# ## ### #
#

508 000 509 000


40 0 0 40 0 m

Sub bacia hidrografica do rio B oles. Dr enagem fluvial da Sub bacia hidrográfic a do Rio Boles
Acess o principal as terras de plantar Topossequencias # 1 # 2 # 3 # 4 # 5 # 6 # 7

Fonte: Paraná cidade, Ortoimagem do sensor SPOT5 de 2005.

Org. MALUF, Pedro; 2010.

De acordo com a Carta Climática do Estado do Paraná (Godoy & Correia, 1976), e baseado em Koeppen,
Rio Azul está sob a influência do tipo climático Cfb - clima subtropical úmido mesotérmico, com verões
frescos, com ocorrência de geadas, temperatura média anual variando entre 17ºC e 18ºC. Precipitação
pluviométrica média anual em torno de 1500 mm e excedente hídrico anual variando de 500 a 800 mm.
O município de Rio Azul apresenta uma altitude média de 856 m acima do nível do mar, o relevo de Rio
Azul é dominado pela escarpa da Serra da Esperança, no extremo noroeste, onde as altitudes máximas estão
cotadas em 1.245m no Faxinal dos Moura e 1.168m no Marumbi do Elias. Nas proximidades da Serra da
Esperança empresta a metade noroeste aspectos de relevo mais acidentado, e os declives ao longo da metade
sudeste. (MINEROPAR, 2001).
O município de Rio Azul situa-se sobre terrenos sedimentares da Bacia do Paraná, cujas unidades ocorrem
dentro do seu território às formações Teresina, Serra Alta, Rio do Rasto, Serra Geral e aluviões recentes.
(MINEROPAR, 2001).
Procedimentos metodológicos: O trabalho de pesquisa inclui revisão de literatura, os trabalhos de campo
voltados aos dados sobre tipo e manejo do solo bem como os tipos de “terras” encontrados, foram obtidas
com conversas informais, as quais permitiram ampliar os conhecimentos sobre “os saberes faxinalenses. As
vertentes foram subdivididas em toposseqüencia georreferenciadas, usando a Ortoimagem do sensor SPOT5
de 2005. Para confecção do mapa de localização da topossequencia foi utilizado a ferramenta Software
arcview 3.2 . A cada ponto foram analisadas as seguintes categorias: Ordem do solo, textura, profundidade,
pedregosidade, forma da vertente, litologia e uso atual. Para cada ponto usou-se o trado holandês, cortadeira,
faca, receptor ”Global positioning system”, GPS Garmim II”. As cenas mais significativas do dia a dia nas
221
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

terras de plantar foram registras em fotografias bem como os vestígios de erosão e os pontos de coleta de
solo.

3)Resultados

Para os Faxinalenses a terra é um elemento muito importante em suas vidas, pois é dela que depende sua
sobrevivência, assim os faxinalenses são uma comunidade a qual preserva os ecossistemas, principalmente a
mata da Araucária Angustifólia, o pinheiro do Paraná, que foi extinta em muitas regiões Paranaenses e nos
faxinais ainda encontra-se preservada (LEFF, 2000).
Nas terras de plantar do Faxinal Taquari dos Ribeiros encontram-se principalmente o cultivo de fumo e
milho. Os Faxinalenses relatam que na década de oitenta na região se plantava milho, feijão, cebola, já havia
alguns moradores que cultivavam fumo, porém em pequena quantidade e na época as propriedades eram
menores sendo ampliados os terrenos depois que introduziram o cultivo do fumo.
Os critérios utilizados pelos agricultores faxinalenses para classificar os solos são principalmente: a cor, a
existência de matéria orgânica, vegetação existente no local e a consistência ( terra batumedeira). É através
desses fatores que ele vai decidir quais áreas serão próprias para cultivo em suas terras de plantar e da
necessidade de correção para o uso. Eles fazem o preparo do solo de forma tradicional, com equipamentos de
tração animal, arado e Grade e baseado no revolvimento do topo do solo (Figura 1).
Assim os faxinalenses contam que quanto à cor, a terra branca, roxa não precisa por nada para que se
obtenha uma boa produção; Já a terra preta é ruim tem muita acidez, muita matéria orgânica (gordura da
terra), porém pondo calcário produz tão bem quanto a outra. O fumo suporta mais acidez que o milho e que
dá para se conhecer qual é o tipo de terra pela vegetação que se encontra nela, e dá alguns exemplos:
tupichava branca, pessegueiro bravo, guaçatunga, tomateiro, guamirim aparece em terra boa. Já se tem
tupichava preta, samambaia, bracatinga a terra é seca, fraca, agindo como “um tijolão” chove encharca, mas
já enxuga. Pelo olhar eles conseguem saber se a terra está “gorda” ou o se está ruim. Pegando na terra ele
também consegue determinar a sua qualidade, “terra com liga é terra “boa”, e terra solta é mais fraca”.
Nas lavouras foram observadas e registradas as distintas formas de erosão linear, ravinas e sulcos
transversais a declividade, seguindo a linha do cultivo pelo tipo de manejo (Figura 2). Para diminuir a
erosão nas suas terras os agricultores usam o sistema de pousio ou descanso, onde algumas áreas são
mantidas sem cultivo durante um período de “um a dois anos”, ou seja, fazem um tipo de rodízio
(afolhamento) com as terras. Incluem a “palhada de proteção”, depois da colheita, a partir de restos de
cultura anterior ou ao “mato Braquiária”, para diminuir a velocidade da água favorecendo sua infiltração.
Tais atitudes ajudam a aumentar a fertilidade e aproveitamento na produção agrícola.

Fig.1-Arado equipamento utilizado para preparar o


Solo. Fig.2 Linhas de manejo perpendiculares na plantação.
Fonte: Grupo de estudo rede Faxinal, ano 2010. Fonte: Grupo de estudo rede Faxinal, ano 2010.

4)Conclusão:

Apesar da disponibilidade de informações e acesso à tecnologia mais moderna, os faxinalenses mantém o


uso do sistema convencional, removendo o solo com o arado, puxado à cavalo, eliminam cobertura vegetal
sem aproveitá-la totalmente incorporando-a ao solo antes do plantio. O tipo de uso e manejo do solo
influencia diretamente na conservação e fertilidade dos solos, onde técnicas mais agressivas tendem a
favorecer a perda de sedimentos, matéria orgânica e a estrutura do topo do solo. Dependendo da técnica de
uso e manejo do solo pode-se alterar o topo do solo imprimindo novas feições (pequenas) à paisagem.

222
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

5)Referências bibliográficas:

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MMA, 2000.

ARRUDA, RINALDO. POPULAÇÕES TRADICIONAIS E A PROTEÇÃO DE RECURSOS


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unidades de conservação. Vol. 1 conferencias e palestras, p. 262-276. Curitiba, Brasil, 1997.

MINEROPAR. MINERAIS DO PARANÁ S.A. AVALIAÇÃO DO POTENCIAL MINERAL E


CONSULTÓRIA TÉCNICA MUNICIPIO DERIO AZUL. V.1 Curitiba: Mineropar, 2001.

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AGROPECUÁRIO PARA O PARANÁ. Londrina, 1976. p.16-37.

LEFF, E. ECOLOGIA, CAPITAL E CULTURA: Racionalidade ambiental, democracia e


desenvolvimento sustentável. Tradução de SILVA, J. E- Blumenau: Editora da FURB 2000.381p.

223
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

PARANÁ – PERFIL LESTE/OESTE: CONCEPÇÕES DE UMA INVESTIDA A CAMPO

Ronan Max Prochnow1*; Conrado Locks Ghisi2; Getúlio Silva Filho3 ; Paulo Roberto Vela Junior4
1;3
UDESC/FAED/GEOLAB
2;4
UDESC/FAED

1. Introdução
Quando nos remetemos à origem do pensamento geográfico moderno, não há como deixar de fazer
referência aos relatos dos viajantes europeus, notadamente aqueles dos séculos XVII e XIX. A própria
Geografia, quando emerge como uma disciplina específica nas universidades alemãs do século XIX,
debruça-se sobre as informações e impressões coletadas por viajantes, as quais serviram de base empírica
para a discussão teórica em que a Geografia acadêmica passava a se defrontar, unindo assim, teoria e prática
de campo, como muito bem vem materializar a obra de Alexander Von Humboldt. No mesmo sentido,
Andre Cholley, da escola francesa de Geografia, em seu Guia do Estudante (1942) [1], enfatizou a
relevância, dentro da formação universitária, dos trabalhos práticos e excursões. Já inseridos na Geografia
brasileira, vale destacar o Congresso da UGI (União Geográfica Internacional) de 1956 no Rio de Janeiro,
dentro do qual se realizaram expedições que contaram com a participação de renomados geógrafos
brasileiros, entre eles Aziz Ab`Saber e Orlando Valverde. Esses trabalhos de campo acabaram materializados
nos guias de excursões. Nesse sentido, para Vela Junior (2009) apud Milton Santos (1978) [1.1] , o relatório
é o momento em que se efetua a descrição e, conseqüentemente, a análise das distintas formações sócio-
espaciais que integram a realidade geográfica.
Como se pode perceber, a interação com o objeto de estudo geográfico, o espaço, é de suma importância,
sendo esse o objetivo geral da expedição que se traduz nesse trabalho, o qual pretende traduzir o que foi
apreendido em campo e ressaltar o valor da expedição de campo. Partindo de Florianópolis, Santa Catarina,
mas com ênfase na análise do espaço paranaense, a excursão cortou o território do referido estado no sentido
leste-oeste, partindo de Curitiba e alcançando Foz do Iguaçu já na fronteira brasileira com Paraguai e
Argentina. A excursão envolveu as disciplinas de Análise e Gestão de Bacias Hidrográficas, de
Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto, e também de Planejamento Regional e Urbano; e para
contemplar diferentes elementos das combinações geográficas, sejam eles da natureza, da sociedade ou da
geografia instrumental, o roteiro contou com visitas ao IPPUC – Instituto de Pesquisa e Planejamento
Urbano de Curitiba e à Mineropar – Minerais do Paraná em Curitiba, ao Parque Estadual de Vila Velha em
Ponta Grossa, e já em Foz do Iguaçu, à Usina Hidrelétrica Binacional de Itaipu, ao Refúgio Biológico Bela
Vista e também ao Marco das Três Fronteiras.

2. Método
A metodologia de trabalho empregada na estruturação deste trabalho baseou-se nas analises visuais
realizadas no decorrer do desenvolvimento das atividades de campo, apoiadas pelo registro fotográfico local
e posterior descrição das experiências vivenciadas e características observadas com apoio de consultas a
bibliografia especializada.
Para a geração dos mapas, foi empregada a ferramenta ArcGis 9.3, informações geológicas adquiridas
do portal do CPRM – Compania de Pesquisa em Recursos Minerais, atual Serviço Geológico do Brasil

3. Resultados e Discussão

A MESOREGIÃO OSTE PARANAENSE


O terceiro planalto apresenta solos profundos com alta fertilidade, desenvolvidos a partir da intemperização
de rochas vulcânicas básicas da Formação Serra Geral. De acordo com Fresca (2002) [1.2], deve-se destacar
os latossolos vermelho-escuros, roxos e brunos, a terra roxa estruturada e os podzols vermelho/amarelos que
associados ao relevo suave e plano - facilitador do manejo das culturas e do trabalho das máquinas,
possibilita o desenvolvimento de atividades agropecuárias de alta produtividade, apoiada em tecnologia
moderna de plantio e conservação do solo. Cultiva-se prioritariamente soja, trigo e milho.

GEOMORFOLOGIA DO PARQUE ESTADUAL DE VILA VELHA


O Parque Estadual de Vila Velha é conhecido pelas esculturas rochosas numa paisagem de
impressionante beleza. Criado em 1953 e tombado em 1966 pelo Patrimônio Histórico e Artístico Estadual, o

*
Autor Correspondente: ronan_max@hotmail.com
224
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Parque Estadual de Vila Velha possui uma área de 3.122 ha, sendo seus principais atrativos os arenitos, as
Furnas e a Lagoa Dourada.
De acordo com o Folheto Ilustrativo do parque, Os monumentos geológicos encontrados em Vila
Velha são constituídos por uma rocha denominada arenito. O Arenito Vila Velha é formado pela
compactação e endurecimento das camadas sucessivas de areia, pertencentes à unidade geológica
denominada de Grupo Itararé. A origem das areias que, posteriormente formaram o Arenito Vila Velha,
remonta ao Período Carbonífero, 300 milhões de anos atrás. A paisagem era muito diferente da atual,
dominada pela presença de geleiras, rios e lagos glaciais, compondo um ambiente chamado de flúvio-glacial.
A movimentação das geleiras para as áreas mais baixas do terreno carregava sedimentos, os quais eram
depositados nessas áreas, formando depósitos sedimentares flúvio-glaciais chamados de varvitos. Ao longo
dos 300 milhões de anos, eventos geológicos soterraram estes sedimentos e mais recentemente, por erosão,
colocaram os mesmos na superfície. Durante o Período Quaternário, processos erosivos esculpiram os
arenitos, principalmente a ação das águas pluviais associadas às falhas e fraturas e intemperismo químico,
gerando as atuais formas pontiagudas, torres, pilares, etc.
Ainda de acordo com o referido Folheto, as furnas são poços de desabamento, depressões semelhantes
a crateras, de forma circular e paredes verticais. Estas feições encontram-se no Arenito Furnas, localizado
abaixo do Arenito Vila Velha. As furnas ocorrem na região dos Campos Gerais, sendo conhecidas 14 delas.
Muitas delas estão interconectadas pelo nível de água do lençol subterrâneo. Formaram-se pela ação da
circulação das águas superficiais que acidificadas pela presença de ácidos orgânicos foram lentamente
desagregando a rocha em suas fraturas, carreando os sedimentos e promovendo assim seu colapsamento,
formando os poços de desabamento.

A FORMAÇÃO DAS CATARATAS DO IGUAÇU


Desencadeado por uma alteração do nível de base, o poder erosivo de um rio é rejuvenescido, dando
origem a todo um novo ciclo de erosão. Press at al (2006) [1.3], afirma que a evidência da erosão
remontante, aquela que atua no sentido inverso ao fluxo do rio, ao buscar o equilíbrio do novo nível de base,
aprofundou o canal fluvial a partir da confluência dos Rios Iguaçu e Paraná formando as cataratas. Esse
processo é favorecido quando as rochas estão dispostas horizontalmente ou pela existência de uma camada
rochosa de topo que é mais resistente, como acontece pela estruturação dos basaltos do Terceiro Planalto
paranaense. Um derrame basáltico possui diaclases (fissuras formadas pelo resfriamento do derrame)
horizontais, que comumente estão localizadas no topo e base, e diaclases verticais, que formam as colunas.
As diaclases verticais são menos reativas pela ação da água, pois permitem a percolação rápida, e desta
forma serão menos intemperizadas formando os paredões escalonados.
O processo evolutivo da erosão remontante se dá, simplificadamente, da seguinte maneira: a energia da
massa d’água impacta o fundo do vale e escava a base dos paredões fragilizando e solapando as diaclases
verticais. É então através das quedas de blocos que a catarata vai gradativamente regredindo em direção a
montante na busca do equilíbrio morfodinâmico.

PLANEJAMENTO URBANO NA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA


O IPPUC – Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba, é o órgão responsável por
coordenar o processo de planejamento e monitoramento urbano da cidade de Curitiba, compatibilizando as
ações do Município com as da Região Metropolitana, em busca do desenvolvimento sustentável, por meio do
desenvolvimento de planos e projetos urbanísticos alinhados ao plano diretor, conforme descrito em sua
própria homepage. Tem por objetivos estratégicos: ordenar o crescimento da Cidade com a distribuição
adequada das atividades urbanas; criar soluções integradas, visando melhores condições sociais e
econômicas da população; articular as políticas e diretrizes setoriais que interfiram na estruturação urbana do
Município e da Região Metropolitana e por fim captar recursos e atrair investimentos para viabilizar a
implantação de planos, programas, projetos e obras do Município.

PESQUISA MINERAL NO ESTADO DO PARANÁ


A MINEROPAR – Minerais do Paraná SA, como bem esclarecido em seu sítio na internet, é a
empresa que exerce o papel de Serviço Geológico do Estado do Paraná. Esta vinculada à Secretaria de
Estado da Indústria, do Comércio e Assuntos do MERCOSUL e tem por finalidade gerar e disponibilizar
informações e conhecimentos a respeito da geologia básica e dos recursos minerais paranaenses, com intuito
de promover o fomento da indústria mineral e dar bases à gestão territorial e urbana do estado.

225
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

ITAIPU BINACIONAL
A Usina Hidrelétrica Itaipu, a maior do mundo em produção de energia, é um empreendimento
binacional desenvolvido pelo Brasil e pelo Paraguai no Rio Paraná, na fronteira entre os dois países. Itaipu
Binacional é a empresa binacional responsável pelo gerenciamento do complexo construído pelo Brasil e
pelo Paraguai no referido rio. O projeto encontra-se entre Foz do Iguaçu, no Brasil e Ciudad del Este, no
Paraguai. A capacidade instalada de geração da usina é de 14 GW, com 20 unidades geradoras fornecendo
700 MW cada. Esta imensa obra possui 196 metros de altura, 7919 metros de comprimento e ocupa uma área
alagada de 1350 Km2. No ano de 2008, a usina geradora atingiu o seu recorde de produção, com 94,68
bilhões de quilowatts-hora (kWh), fornecendo 90% da energia consumida pelo Paraguai e 19% da energia
consumida pelo Brasil de acordo com informações disponibilizadas pela Assesoria de Comunicação da
empresa no website da empresa.
O Refúgio Biológico Bela Vista é uma unidade de proteção criada para receber milhares de plantas e animais
desalojados pelo reservatório da usina. Trata-se de um antigo projeto, muito bem sucedido, em meio aos
Parques Nacionais do Iguaçu e da Ilha Grande.

A TRÍPLICE FRONTEIRA
Entende-se por Tríplice Fronteira a região aonde fazem divisão territorial no mesmo ponto os Estados
do Brasil, Argentina e Paraguai. O Marco das Três Fronteiras é um ponto turístico localizado na cidade de
Foz do Iguaçu, Estado do Paraná, Brasil, a cidade brasileira que faz fronteira com as referidas nações. Puerto
Iguazú e Ciudad del Este, respectivamente na Argentina e Paraguai tratam-se dos demais municípios
limitrófes. O marco brasileiro, localizado na localidade de Porto Meira, foi inaugurado em 1903 e é símbolo
da igualdade, complementaridade e respeito entre as três nações. Seus autores foram o Marechal Cândido
Rondon e o então Ministro das Relações Exteriores e General Dionísio Cerqueira, responsável por demarcar
a fronteira Brasil-Argentina. O Marco argentino situa-se às margens do Rio Iguaçu e o marco paraguaio fica
às margens do lado direito do Rio Paraná. Os três formam um triângulo eqüilátero que fixa o limite territorial
e a soberania dos três países, igualmente pintados com as cores nacionais.

A DIVISÃO DO ESTADO DO PARANÁ EM COMPARTIMENTOS GEOMORFOLÓGICOS


O Litoral Paranaense , de acordo com Mack (2002) [1.4], restringe-se a uma pequena faixa de poucas
dezenas de quilômetros entre o oceano e a Serra do Mar. Caracteriza-se pela presença de sedimentos
continentais – depósitos de tálus, colúvios, leques aluviais e outros depósitos fluviais, e costeiros – cordões
costeiros, planícies de maré e deltas – construídos pelas transgressões do Quaternário.
A Serra do Mar configura-se como uma cadeia de montanhas marginal ao Primeiro Planalto
paranaense, separando-o da Planície Litorânea, com cimos de até 1.800 metros de altitude – os maiores do
estado, sustentada por litologias diversas, quase sempre metamórficas de médio a alto grau, como
migmatitos, gnaisses e xistos. Essas últimas tem menor resistência ao intemperismo e por isso compõem
unidades de mais baixa estatura, ao contrario dos maciços graníticos – erosão diferencial. Sua origem é
atribuída a processos tectônicos de movimentação vertical – há 200 milhões de anos – que sobrepôs o
trabalho dos agentes erosivos que já dissecavam o embasamento cristalino desde o rifteamento da Pangéia.
O Primeiro Planalto Paranaense está assentado sobre o embasamento da Serra do Mar – que encontra-
se atualmente em estágios diferenciais de dissecação, resultando num relevo mais ou menos ondulado, em
resposta a competência dos processos erosivos. O relevo ondulado é dotado de suaves colinas entremeadas
de amplas várzeas, com rios meandrantes e de baixa declividade. É neste planalto de alta complexidade
geológica que está localizada a grande força da atividade mineral do estado.
Passando a escarpa devoniana, ainda de acordo com Mack (2002) [1.4], feição geomorfológica em
forma de degrau, característica das cuestas, entramos no Segundo Planalto que se caracteriza pela suave
topografia de colinas arredondadas, entremeadas por mesetas estruturais esculpidas pela ação fluvial sobre as
rochas sedimentares da Bacia do Paraná – arenitos e folhelhos, predominantemente. Eventos epirogenéticos
ocorreram durante a formação do chamado Arco de Ponta Grossa, um soerguimento da crosta ocorrido no
Mesozóico, que culminou na intrusão de feixes de diques de diabásio. Essas feições exercem o controle
estrutural sobre alguns rios deste planalto e, por isso, o característico mergulho do relevo da Bacia do Paraná
para oeste não necessariamente determina o padrão da rede de drenagem.
Cerca de 250 quilômetros depois, cruza-se a escarpa da Serra Geral e adentra-se no Terceiro Planalto,
que ocupa 2/3 da superfície de todo o Estado do Paraná e caracteriza-se geologicamente por derrames
vulcânicos da Era Mesozóica depositados sobre os sedimentos paleozóicos. Neste planalto vê-se variadas
paisagens proporcionadas basicamente pelas diferenciações geoquímicas (caráter ácido ou básico do basalto)
e estruturais (falhas e fraturas que propiciam maior dissecação) dos corpos rochosos.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

4. Conclusão
A excursão a campo mostrou que para uma análise verdadeiramente completa, o elemento empírico
precisa necessariamente estar presente, pois o conhecimento é construído de forma dialética entre o campo e
a sala de aula, respectivamente, prática e teoria, visto que na excursão, em contato com a realidade, o
estudante vê traduzidos em imagens os termos de seu vocabulário geográfico (CHOLLEY, 1951) [1].
Através das palestras que o grupo de estudantes e professores tiveram a oportunidade de participar, objetivos
complementares também foram alcançados, enriquecendo a assimilação conjunta dos elementos da
combinação geográfica sociedade/natureza. Em Curitiba, na visita ao IPPUC foi possível ver como a
geografia instrumental, ou técnica, tem cada vez mais importância no processo de planejamento urbano, visto
a sua ampla utilização no caso de Curitiba. Dentro dos próprios de planejamento, seja urbano, mais
especificamente na visita ao IPPUC, ou mesmo regional, todas as visitas trouxeram contribuições práticas
que enriqueceram a formação dos estudantes. O roteiro percorrido permitiu um claro entendimento sobre a
construção do relevo composto por uma sequência de três planaltos. As visitas ao Refúgio Biológico Bela
Vista e à Usina Binacional de Itaipu contribuíram para uma reflexão mais profunda a respeito da gestão dos
recursos naturais e a sua importância para a sociedade.
Mais do que visualizar paisagens, o contato empírico com o seu objeto de estudo, é um aporte à teoria,
e esta, no caminho de volta, subsidia a melhor análise em campo, o que demonstra a relação dialética entre
teoria e prática, perfazendo assim a verdadeira ciência geográfica.

Referências

Assessoria de Comunicação Social da Itaipu Binacional


Disponível em: http://www.itaipu.gov.br/ - Acesso em: Junho 2010

CHOLLEY, A. La Geographie: Guide de l`Etudiant. Paris: P.U.F, 1951.

FRESCA, Tânia M; SALVI, Rosana F; ARCHELA, Rosely S. (organizadoras). – Dimensões do Espaço


Paranaense, Londrina: Ed. UEL, 2002

Instituto Ambiental do Paraná – IAP (Folheto do Parque Estadual de Vila Velha)


Disponível em: http://www.iap.pr.gov.br/ - Acesso em: Junho 2010

Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba - IPPUC


Disponível em: http: //www.ippuc.org.br/ippucweb/sasi/home/default.php - Acesso em: Junho 2010

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Disponível em: http://www.itcg.pr.gov.br - Acesso em: Junho 2010

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Disponível em: http: http://www.mineropar.pr.gov.br/ - Acesso em: Junho 2010

PRESS, Frank; SIEVER, Raymond; GROTZINGER, John. Para Entender a Terra. 4ª São Paulo: Artmed,
2006

VELA JÚNIOR, P. et al. Formações sócio-espaciais e combinações geográficas de Santa Catarina,


Brasil: Roteiro de uma excursão pedagógica. Encontro de Geógrafos da América Latina, 2009.

227
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010
1
PLURALIDADES CULTURAIS, SEXUALIDADES E RECONHECIMENTO SOCIAL EM
SANTA MARIA/RS: O CASO DAS DEMANDAS SOCIAIS DA ONG IGUALDADE

Geani Nene Caetano1;Benhur Pinós da Costa2


1
Graduanda do Curso de Geografia Licenciatura Plena da Universidade Federal de Santa Maria/RS
2
Professor Doutor do Departamento de Geociências da Universidade Federal de Santa Maria/RS

1. Introdução
Os estudos culturais emergem na Geografia contemporânea em virtude da necessidade de entender a
complexidade do espaço geográfico como conteúdo e forma das diferentes qualidades dos grupos humanos que o
habitam [1.2]. De acordo com [1.3]; [1.4], o espaço urbano, levando em conta esta realidade, apresenta-se, por
um lado, unificado por uma materialidade e um conjunto de práticas sociais que se repetem na reprodução das
condições funcionais do modo de produção e dos procedimentos cotidianos definidos por ele. Por outro lado,
este espaço urbano também apresenta diversas realidades de convivência de pequenos grupos de interesse. Estes
grupos se segregam alterando a funcionalidade das práticas sociais, as próprias condições materiais dos lugares e
os códigos de identificação e representação de si mesmos e dos outros a que mantêm contato de proximidade.
A diversidade de identificações/diferenciações de agregados humanos se apresenta em decorrência dos
seguintes processos: das condições de localização das interações sociais; das autenticidades intersubjetivas
negociadas entre diferentes sujeitos sociais e as multiplicidades culturais que fazem dialogar culturas locais; das
divulgações midiáticas das estéticas e formas de interação produzidas por novas determinações globais de
consumo cultural do capitalismo tardio.
A pluralidade de culturas urbana é produto complexo das relações descritas acima e fundam agregações
humanas diversas que definem sua existência pela localização e segregação de suas interações. As convivências
são negociadas internamente na agregação tênue (no espaço e no tempo), mas apresentam fronteiras definidas
pelos próprios interesses negociados na interação, nos gostos estéticos e na identificação dos comportamentos e
interesses discursivos.
Em relação ao que argumentamos até então, ocorre uma especificidade na qualidade das interações baseadas
nos desejos homoeróticos [1.5]; [1.6]; [1.7], ou seja, relações afetivas e sexuais entre sujeitos do mesmo sexo. Os
desejos homoeróticos foram banidos historicamente da sociedade: na inquisição; na polarização médica entre
homossexual e heterossexual, com a médica húngara Karoly Benkert, em 1869; na constituição da família
burguesa do século XIX, em que são acentuados os comportamentos e papéis sociais de masculino e de feminino
[1.9]; no nazifacismo (o triângulo rosa dos campos de concentração, vide filme “Bent”); na estigmatização da
AIDS, nos anos 80, que culpabiliza os relacionamentos homossexuais [1.6]; [2.1].
A partir dos anos 60, em virtude a emergência dos movimentos culturais [2.3] (como o feminista, o
ecológico e o das diversidades de expressões humanas), os indivíduos orientados para o mesmo sexo reclamam o
direito ao público (espaço). Dentre suas estratégias, ocorreu à assunção de uma identidade, a gay, que hoje, na
efemeridade da pós-modernidade [2], se torna difícil de ser definida como singular e específica. Mesmo assim,
as homoafetividades ainda são repudiadas em espaço público, assim como são negados a elas determinados
mecanismos condizentes à cidadania e benefícios sociais.
Nesse sentido, a cidade contemporânea abriga uma diversidade de expressões culturais. A cidade de Santa
Maria-RS, por ser um centro universitário e regional, se identifica pela convergência e concentração das
pluralidades culturais. Na mesma, existem grupos políticos organizados que se ocupam com os direitos civis
dessas pluralidades, como a ONG Igualdade, que trabalha, além de outras expressões culturais, questões
envolvendo as pessoas orientadas para o mesmo sexo. A partir da atividade de extensão (FIEX – UFSM) que
está em andamento, projeta-se participar das atividades desta ONG para entender as questões culturais e políticos
dos diferentes sujeitos sociais em Santa Maria. Pretende-se também, promover atividades de divulgação dos
trabalhos da ONG e a discussão destas temáticas entre juventudes do ensino médio de escolas públicas da
cidade.

1
Autor correspondente: geanicaetano@yahoo.com.br

228
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010
2
O principal objetivo deste projeto (FIEX – Fundo de Incentivo á Extensão) é promover a interação, a
reflexão e a ação pública pautada no entendimento crítico e na defesa política dos problemas e interesses das
diversidades culturais na cidade de Santa Maria-RS. Objetiva-se promover a ação/reflexão sobre as questões
pertinentes a realidade cotidiana e sobre os problemas de interação pública das pluralidades culturais e das
orientações sexuais, principalmente aquela referente aos sujeitos orientados para o mesmo sexo (as
“homoafetividades”). É, neste sentido, que a extensão se concentrará no acompanhamento e na
contribuição/participação sobre as ações sociais compostas nas demandas em que a ONG Igualdade (Santa
Maria-RS) se envolve. Tem-se como meta contribuir à reflexão social sobre a problemática das diversidades
culturais na cidade contemporânea, promovendo uma ação de ensino sobre a temática em escolas da rede pública
da cidade de Santa Maria-RS.

2. Método
Em primeiro momento, o processo se efetiva pelo acompanhamento descritivo e reflexivo das demandas
das alteridades sociais que integrantes da ONG Igualdade (Santa Maria-RS) possuem e em que se baseiam suas
atividades. Isso se dá pela participação efetiva semanal nas reuniões que ocorrem na “Casa 13”, Rua Treze de
Maio, centro da cidade de Santa Maria-RS. Além da participação nessas reuniões, ocorre também o
acompanhamento junto a ações promovidas pela ONG, como reuniões e intervenções públicas sobre temas
contidos nas demandas.
Esta fase se estabelece no andamento do projeto conforme procedimentos contidos na pesquisa
etnográfica [1.8], que se baseia, fundamentalmente, na participação efetiva perante o grupo cultural e entidade
social, inserindo-se no cotidiano “das coisas a fazer” e na “reflexão sobre condições individuais e coletivas sobre
tais afazeres”. Tal postura remete a necessidade do pesquisador vivenciar o dia-a-dia das ações dos sujeitos que
atenta à pesquisa, nas tramas de suas interações cotidianas, nos dramas de suas dificuldades e das táticas que
formulam para conseguir vencê-las. O caráter presencial é fundamental, assim como a indagação sobre o que
acontece, para fins de interpretação efetiva. O conjunto de descrições e interpretações contidas em “caderno de
campo” constituirá a base das reflexões pelas quais se produz a pesquisa. Além das anotações interpretativas
sobre os fatos que se presencia, na dialógica ação-reflexão-interpretação-ação [2.2], outros recursos, como a
fotografia e a arte sobre o contexto em que ocorrem os eventos, são necessários, para contribuir na percepção
sobre a complexidade do que ocorre. Os elementos descritivos se tornam fontes de dados sobre o que se pesquisa
e neles estão representados:
a) os fatos como ocorreram;
b) as discussões com os sujeitos em que, ao mesmo tempo, determinam e são determinados pelos fatos
- dessa forma suas percepções e interpretações singulares;
c) a percepção e interpretação ativa do pesquisador, como sujeito da pesquisa e também sujeito dos
produtos e resultados dela.
A outra fase da pesquisa se estabelece pelo estudo dos dados obtidos em trabalho etnográfico, para fins
de articular uma intervenção social mediante conteúdos selecionados do material constituído. Esta fase se
estabelecerá a partir da discussão frente aos dados que se tem e o público em que se atuará. Inicialmente o
propósito da ação educativa é divulgar e tornar público, perante outros setores sociais, as demandas das
alteridades culturais de Santa Maria-RS, fundamentalmente aquelas em que a ONG Igualdade trabalha. O
público que a pesquisa procura atingir é algumas turmas de ensino médio de alguma escola pública da rede
estadual (ou municipal) de ensino da cidade. Nesse sentido, serão construídas as estratégias de intervenção
educativa, junto com os professores e grupos de lideranças estudantis, mediante articulação crítica das bases
curriculares nacionais [1] e suas discussões sobre temas transversais, principalmente aqueles que versam sobre
diversidades culturais e educação sexual.
Após intervenção educativa estabelecida, será então feito o trabalho reflexivo final que constituirá o
relatório da pesquisa. Este relatório será apresentado tanto para lideres da ONG Igualdade como para os
professores e estudantes de ensino médio da escola em que ocorreu a ação educativa. Após discussões coletivas
críticas do relatório, será feita uma versão final para publicação.

3. Resultados e Discussão
Por se tratar de uma investigação que se encontra em andamento, espera-se que seja possível
contribuir com a ONG Igualdade Santa Maria no reconhecimento sistemático das demandas socioculturais que
foi mantido na primeira fase da ação de extensão (acompanhamento das atividades da ONG pelo Bolsista);

229
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010
3
Para que, dessa forma, seja possível gerar uma proposta de atividade de ensino que possibilite a divulgação das
ações sociais de ONG´s vinculadas à discussão da pluralidade cultural e orientação sexual, promovendo assim, a
aproximação da ONG Igualdade e a divulgação de suas atividades e demandas perante estudantes de ensino
médio das escolas públicas de Santa Maria-RS.
Dessa maneira, a relação entre padronização moral, estigmas identitários, preconceitos e fobias
culturais devem ser tratados socialmente, para a construção de uma convivência mais pacífica no espaço urbano,
assim como para a defesa da cidadania e da democracia na atualidade. Os PCN´s [1], prevêem a importância da
temática da pluralidade cultural e da orientação sexual a ser tratada na educação formal e informal. Na escola
pública isso se torna eminente, em virtude das diferentes expressões juvenis que se concentram nela e que
influenciam a realidade das interações formais e afetivas nestes ambientes. Muitos conflitos se tecem na escola e
eles são expressões dos cotidianos diversos que seus sujeitos constroem dentro e fora dela. Neste sentido, se
torna fundamental este debate na escola, como temática de ensino, em prol da melhoria da convivência entre os
sujeitos que a compõem e para um aprendizado responsável, ético e democrático da sociedade e da inserção do
individuo nela.
Nesse sentido, incentiva -se a articulação da ONG Igualdade com a juventude da cidade de Santa
Maria a partir do vinculo com o ambiente escolar formal, estimulando o debate da temática da pluralidade
cultural e da orientação sexual com enfoque local.

4. Conclusão
A investigação, remete, então, ao entendimento da cidade contemporânea na perspectiva da diversidade de
culturas e expressões de sujeitos, grupos e agregados sociais que a compartilham, a disputam e a experienciam,
tecendo suas vidas e seus propósitos. A cidade é um campo de jogos de alteridades culturais constituídas
historicamente. Tais alteridades são balizadas por um campo identitário hegemônico [2.2], cujos aspectos
apontam para os determinantes da sociedade moderna (européia-branca-heterossexual-masculina), definida por
uma estrutura racional (trabalho), moral (condutas aceitas) e lingüística (conceitos e formas de pensar e agir).
Mas além desse campo hegemônico, diversidades baseadas em aspectos da espontaneidade humana e da forma
em que entendem seus desejos e incompatibilidades quanto ao racional, ao moral e as identidades “normais” e
“naturalizadas”, também produzem historicamente algumas formas de identificações, de valores e de referenciais
de disputa em relação ao direito de ser e viver na cidade.
Os dramas dos sujeitos estigmatizados e banidos do espaço público, composto no campo hegemônico das
identidades possíveis, se traduzem em lutas sociais: ora micropolíticas inseridas nas interações sociais
cotidianas, ora em eventos emergentes como movimentos organizados. Atualmente estes movimentos
constituem “organizações não-governamentais”, ou seja, instituições não vinculadas ao Estado, mas que
apresentam um estatuto de legalidade pública que a permitem agir perante o Estado, pautando a defesa daqueles
oprimidos pelo campo social hegemônico e exigindo novas perspectivas de direito para a plena existência de
suas espontaneidades.
Dessa forma, conclui-se que é de exímia importância a atuação acadêmica para a reflexão das demandas
sociais das ONG’s que atuam no Movimento LGBT’S, cita-se a ONG Igualdade – Santa Maria/RS, muito
principalmente, na Educação para a construção de uma sociedade menos preconceituosa e homofóbica.

Referências

BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Pluralidade Cultural,


Orientação Sexual. Brasília: MEC/SEF, 1997. [1]

CLAVAL, P. “A volta do cultural” na Geografia. Mercator. Ano 01, número 01. Florianópolis: UFSC, 2002.
[1.2]

COSTA, B. P. da. Microterritorializações urbanas: pockets of social relations – produtos das relações
multiterritoriais no cotidiano urbano em virtude da dialética entre ordens e desvios sociais na modernidade. In:
SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOGRAFIA URBANA, 9. Anais... Manaus: UFAM, 2005a. [1.3]

230
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010
4
_______. A relação dialética entre funcionalização e afetividade na construção do espaço social urbano: a
produção microterritorial e o caso das convivências homoeróticas subterrâneas ao social. Caesura: Revista
Crítica de Ciências Sociais e Humanas, Canoas: ULBRA, n. 27, jul./dez. 2005b. [1.4]

COSTA, B. P. da. A condição homossexual e a emergência de territorializações. 2002. Dissertação (Mestrado


em Geografia) – Programa de Pós-Graduação em Geografia, UFRGS, Porto Alegre. [1.5]

______. Por uma geografia do cotidiano: território, cultura e homoerotismo na cidade. 2008a. Tese (Doutorado
em Geografia) – Programa de Pós-Graduação em Geografia, UFRGS, Porto Alegre. [1.6]

COSTA, J. F. A inocência e o vício: estudos sobre o homoerotismo. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1992.
[1.7]

COULON, A. Etnometodologia. Petrópolis: Vozes, 1995. [1.8]

GIDDENS, A. Identidade e modernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002. [1.9]

HARVEY, D. Condição pós-moderna. São Paulo: Ed. Loyola, 1996. [2]

LOURO, G. L. Teoria Queer: uma política pós-identitária para a educação. Revista Estudos Feministas.
Florianópolis: CFCH/CCE-UFSC. V. 9, n. 2, 2001. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/ref/v9n2/8639.pdf.
Acesso em maio de 2007. [2.1]

MACLAREN, P. Multiculturalismo crítico. São Paulo: Bebel Orofino Schaefer, 2000. [2.2]

WALLERSTEIN, I. As agonias do liberalismo: as esperanças para o progresso. In: SADER, E. (Org.). O mundo
depois da queda. São Paulo: Paz e Terra, 1995. [2.3]

231
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

PRÁTICAS EM AGRICULTURA URBANA E PERIURBANA (AUP): DADOS


PRELIMINARES REFERENTE ÀS INICIATIVAS DESENVOLVIDAS NO MUNICÍPIO
DE ITAJAÍ/SC.

VINHOLI, Ana Carolina1*. MARTINS, Pedro2.


1
Universidade do Estado de Santa Catarina
2
Universidade do Estado de Santa Catarina

1. Introdução

A intensa urbanização que vem ocorrendo no Brasil tem sido acompanhada por um processo de
metropolização, isto é, concentração demográfica nas principais áreas metropolitanas do país. Esse fenômeno
iniciou a partir do momento em que a indústria passou a representar o setor mais importante da economia
nacional. Entre suas características aparecem aspectos da passagem de uma economia agrário-exportadora
para uma economia urbano-industrial, fato esse que só ocorreu no século XX e que se tornou mais
pronunciado a partir da década de 1950 (Vesentini, 1994). Compreende-se que os processos de urbanização e
industrialização têm tido um papel fundamental nos danos ambientais ocorridos nas cidades. O rápido
crescimento causa uma pressão significativa sobre o meio físico urbano, tendo as conseqüências mais
variadas, tais como: poluição atmosférica, do solo e das águas, deslizamentos, enchentes. A expansão das
cidades é acompanhada pela necessidade crescente de fornecer alimentos às famílias que nelas residem. Os
índices de pobreza das populações urbanas também têm crescido bem como a dificuldade de acesso à
alimentação básica.
No cenário atual das cidades, sua expansão é acompanhada pela necessidade crescente de fornecer
alimentos às famílias que nelas residem. Diante desta conjuntura, Itajaí desenvolve algumas iniciativas de
Agricultura Urbana/Periurbana promovendo a discussão referente à segurança alimentar, fomentando a
agroecologia e debatendo, ainda que timidamente, políticas públicas.
Neste sentido, entende-se por Agricultura Urbana/Periurbana o uso de espaços públicos ou privados,
de forma individual ou coletiva, que se destinam à produção de alimentos, plantas medicinais, ornamentais
ou criação de pequenos animais para consumo ou comercialização local. Dependendo da localização desses
espaços, no interior ou na periferia dos centros urbanos, poderá surgir a denominação de agricultura urbana e
periurbana (Van Veenhuizen, 2006, p.01).
A expansão das áreas urbanas, as atividades de construção de obras civis, a expansão das atividades
agrícolas e pastoris, entre outras atividades desenvolvidas pelas sociedades ao longo dos séculos, no Brasil e
no mundo, vem alcançando estágios de desenvolvimento, eficiência e domínio tecnológico que, na maioria
das vezes, não vem acompanhados do processo de organização e planejamento, necessários para a
sustentabilidade da natureza (Guerra & Marçal, 2006, p.13). Como estratégia de Planejamento Urbano
Sustentável, algumas cidades brasileiras recentemente desenvolvem projetos de fomento à prática de
Agricultura Urbana (AU) em diversas comunidades, em alguns casos com apoio do Poder Público.
A prática da AU vem sendo realizada tanto no hemisfério Norte como no Sul e tem recebido apoio
governamental em vários países, entre os quais podemos destacar Tanzânia, Zâmbia, Cuba, Filipinas e
Indonésia. No Brasil, cidades como Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília possuem bons exemplos deste
movimento de produção (Machado & Machado, 2002). Um forte incentivo à AU é a tendência da
concentração da população mundial em grandes cidades e a utilização de espaços domésticos, coletivos ou
públicos para produção de alimentos. Na América Latina, América do Norte e Europa, três quartos das
respectivas populações já vivem nos centros urbanos.
Fazendo parte deste movimento chamado Agricultura Urbana e Periurbana, Itajaí se insere e realiza
algumas ações neste sentido. O município pertence à mesorregião do Vale do Itajaí e faz divisas ao sul com
os municípios de Balneário Camboriú e Camboriú, a sudoeste com Brusque, a oeste com Gaspar, a noroeste
com Ilhota e ao norte com Navegantes. A BR-101 corta o município e faz a ligação com a capital do estado
(Florianópolis), que está localizada 90 km ao sul. O município em 2007 estimava uma população3 em torno
de 163.218 habitantes. Essa população distribui-se na área rural e urbana na proporção de 5.554 habitantes

2
*Autora correspondente: Aninhavi@hotmail.com
3
IBGE. Contagem da População 2007. Tabela 1.1.22. População recenseada e estimada segundo os
municípios – Santa Catarina – 2007. Disponível em:
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/contagem2007/default.shtm, Acessado em: 21/05/ 2009.

232
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

(4%) e 141.950 habitantes (96%), respectivamente. A economia é sustentada pelo tripé porto, comércio
atacadista de combustível e pesca, mas o setor de produção industrial também exerce importante papel na
arrecadação do município, bem como a comercialização de gêneros alimentícios.
Desta forma, a presente pesquisa objetiva apresentar seus dados preliminares, realizando um
levantamento das práticas de Agricultura Urbana desenvolvidos no município de Itajaí/SC, com o intuito de
pontuar os principais potenciais e obstáculos para a construção de um processo de desenvolvimento
territorial. Como referencial teórico, o conceito norteador é o de Desenvolvimento Territorial – a partir de
diferentes abordagens, entendendo que através dos atores, das pessoas de um determinado território, de seus
ativos, de suas potencialidades e vocações, é possível construir um projeto de desenvolvimento com mais
participação social, mais equidade e sustentabilidade.

2. Método

O universo da pesquisa, como mencionado anteriormente, é o município de Itajaí, localizado na foz


do rio Itajaí-açú (26º54’28”de latitude sul e 48º39’43” de longitude oeste), litoral norte catarinense.
Em se tratando da abordagem empregada na pesquisa, é do tipo qualitativa, na qual a preocupação do
pesquisador não é com a representatividade numérica do grupo pesquisado, mas com o aprofundamento da
compreensão de um grupo social ou de uma organização (Goldenberg, 1999:11).
O trabalho apresentado utiliza como método de pesquisa, o levantamento bibliográfico referente ao
tema e a realização de uma pesquisa exploratória, onde se busca identificar quais grupos, comunidades ou
pessoas atualmente se envolvem (ou já se envolveram) com algum projeto de Agricultura Urbana ou
Periurbana no município. A primeira etapa, levantamento bibliográfico contemplou uma consulta ao acervo
das bibliotecas de Universidades. Prevê a navegação em sites referentes ao tema e a coleta de bibliografia
digital. A segunda etapa, pesquisa exploratória, ocorreu por meio da aproximação com pessoas ligadas ao
assunto, desde pesquisadores acadêmicos a facilitadores em projetos de organizações não governamentais.

3. Resultados e Discussão

Com base em dados preliminares coletados segue um breve detalhamento dos principais projetos
desenvolvidos no município, relacionados à Agricultura Urbana ou Periurbana. Dentre os proponentes: poder
público municipal através de Secretarias, instituições religiosas, comunidades e Ongs.

-Concurso de Hortas Escolares: esta iniciativa é desenvolvida


através da Secretaria da Educação e demais parceiros. Objetivo: trabalhar a
Educação Ambiental através da implantação de hortas escolares didáticas
nas escolas e Centros de Educação Infantil da rede municipal.

- Pastoral da Saúde: dispõe a comunidade formações na área de beneficiamento das ervas


medicinais, por meio da produção de pomadas, sabonetes, chás e xaropes.

- Horta Comunitária e Quintais do Portal I: no bairro Espinheiros acontece a primeira experiência


de produção ecológica em Itajaí. Diversas famílias plantam hortaliças livres de agrotóxicos e revendem a
comunidade local.

Imagem 1 : Hortaliças sendo produzidas num terreno cedido a um produtor urbano, toda produção será
comercializada na própria comunidade.

233
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Imagem 2: Horta comunitária: produção de diversos alimentos, envolvendo famílias e com destino a
comercialização na comunidade local.
Imagem 3: Quintal com diversidade de alimentos, sua função será alimentar a própria família que planta.

- Ação Social Arquidiocesana/Paróquia São Vicente: O espaço da Horta foi cedido em 2007 via
termo de comodato da Prefeitura de Itajaí para Ação Social - que mobilizou um grupo de 15 famílias para
iniciar o projeto de Agricultura Urbana tendo como sonho a implementação de uma Horta Comunitária.
Atualmente o grupo está se reorganizando para dar continuidade ao projeto.

Terreno público, cedido para o projeto de Agricultura Urbana

4. Conclusão

Embora a pesquisa esteja em andamento, o trabalho já apresenta alguns sinais visíveis da


contribuição que a prática da Agricultura Urbana e Periurbana proporciona as famílias que aderem aos
projetos e iniciativas deste gênero. Um dos fatores positivos encontrados, é que esta ação fomenta um resgate
da sociabilidade da comunidade, a partir de um convívio diário promovido pelas formações, viagens de
intercâmbio, mutirões de plantio e colheita, e alguns casos, a comercialização direta aos consumidores da
própria comunidade. Ainda a indicação de uma melhora na condição alimentar das famílias, ao consumirem
alimentos de procedência “limpa”: ecológica a um custo baixo, neste momento ressalta se a importância da
segurança alimentar. E finalmente, um melhor aproveitamento dos espaços ociosos presentes nos bairros, na
qual ao invés dos terrenos abrigarem animais peçonhentos e lixo, estarão dando um destino mais adequado:
produzindo alimentos a diversas famílias.
A prática da agricultura dentro ou em volta das cidades e metrópoles - Agricultura Urbana e peri-
urbana - é um fenômeno em expansão, particularmente nos países em desenvolvimento onde os sistemas
urbanos de suprimento de alimentos não são acessíveis à toda a população. Os moradores (as) urbanos estão
cada vez mais suplementando sua alimentação diária e reforçando seus orçamentos domésticos com o cultivo
dos próprios alimentos na condições que se mostrarem possíveis. A criação de animais domésticos, nas áreas
peri-urbanas, também se torna cada vez mais comum. A FAO4 destaca a necessidade de "políticas e
planejamentos específicos" para administrar as questões ligadas à agricultura urbana e enfatiza que ela não
deve ser desenvolvida em competição com a agricultura rural, "mas deve se concentrar em atividades nas
quais ela tem uma vantagem comparativa, tal como na produção de alimentos perecíveis, frescos”.
Segundo cálculo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, no ano de 1996,
aproximadamente 800 milhões de pessoas estavam engajadas na prática da agricultura urbana e periurbana
ao redor do mundo, sendo a maioria delas habitantes de cidades asiáticas. Desses agricultores, 200 milhões
são considerados produtores (as) comerciais, empregando 150 milhões de pessoas em tempo integral.
No âmbito federal brasileiro, o processo de construção do Sistema Nacional de Segurança Alimentar
e Nutricional, coordenado pelo Ministério de Desenvolvimento Social e Combate a Fome-MDS, aponta o
estabelecimento de uma política nacional de agricultura urbana e periurbana como alternativa para se
promover a segurança alimentar e nutricional – SAN, a Agricultura Urbana, enquanto ferramenta de gestão
do espaço urbano, também tem interface com ações do Ministério das Cidades e do Ministério do Meio
Ambiente. Como política pública fomenta a produção de alimentos de forma comunitária com uso de
tecnologias de bases agroecológicas em espaços urbanos e peri-urbanos ociosos. Com a mobilização
comunitária, em especial com atuação das prefeituras, são implementadas hortas, lavouras, viveiros,
pomares, canteiros de ervas medicinais, criação de pequenos animais, unidades de

4
MDS/FAO, REDE e IPES. Panorama da agricultura urbana e periurbana no brasil e diretrizes políticas
para sua promoção (adaptado). 2007. Disponível em: <www.rede-mg.org.br>. Acesso em: 16.03.2010.

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processamento/beneficiamento agroalimentar e feiras e mercados públicos populares. Os alimentos


produzidos são destinados para auto-consumo, abastecimento de restaurantes populares, cozinhas
comunitárias e venda de excedentes no mercado local, o que resulta em inclusão social, melhoria da
alimentação e nutrição e geração de renda.
Os municípios da América Latina, mesmo que com altas taxas de urbanização, contam com espaços
vazios que poderiam ser cultivados. É necessário buscar outras formas de utilização para esses terrenos,
visando à promoção de um desenvolvimento local alternativo. Para planejar e valorizar os espaços é
necessário aprender a identificá-los e vislumbrá-los, considerar a AUP nos processos de planejamento
territorial e a legislação municipal como um elemento multifuncional no uso do solo e proteção ambiental,
conciliando as exigências do crescimento urbano com atividades de grande valor econômico e social.
Também devem ser promovidas políticas de garantia e estímulo, regras tributárias e estruturas facilitadoras
legais.

Referências

GOLDENBERG, Mirian. A arte de Pesquisar. 3 ed. Rio de Janeiro: Record, 1999.


GUERRA, Antonio José Teixeira, MARÇAL, Mônica dos Santos. Geomorfologia Ambiental. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.
MACHADO, Altair Toledo & MACHADO, Cynthia Torres de Toledo. Agricultura Urbana. Planaltina,
DF: Embrapa Cerrados, 2002.
VAN VEENHUIZEN, René. “Introduction” In: VAN VEENHUIZEN, René (org.). Cities Farming for the
Future, Philippines: Editora IIRR/RUAF/IDRC, 2006: Pp.1-17.
VESENTINI, José Willian. Sociedade e Espaço: Geografia do Brasil. São Paulo: Editora Ática, 1994.

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PROPOSTA DE DELIMITAÇÃO PARA A ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DO


VACACAÍ-MIRIM-RS

Dalvana Brasil do Nascimento1*; Eliane Maria Foleto1.


1
Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução
Em meados do ano de 2005 o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (IBAMA), através de seus representantes do Escritório Regional de Santa Maria apresentou um
projeto visando à criação da Área de Proteção Ambiental (APA) do Vacacaí-Mirim. Este propunha a
instituição da mesma a nível federal, que não foi concretizada, sugerindo-se que os municípios integrantes
deste espaço a fizessem.
O presente trabalho visa apresentar uma proposta de delimitação para a futura Unidade de
Conservação (UC) APA do Vacacaí-Mirim, abrangendo os municípios de Santa Maria e Itaara, na porção
central do estado do Rio Grande do Sul. Isto, devido ao contexto atual, onde se tem discutido novamente, nos
meios político-administrativo, social e acadêmico, sobre a efetiva criação desta UC.
A APA é uma UC de Desenvolvimento Sustentável e admite certo grau de ocupação humana em seu
território, possuindo como objetivos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e
assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais [1]. Especificamente sobre o objeto de estudo, dois
aspectos demonstram tamanha importância da instituição de uma UC desta categoria: a presença de áreas
tombadas como Reserva da Biosfera da Mata Atlântica [2] e a existência de um lago artificial que abastece
parte da população de Santa Maria.

2. Método
A partir de uma abordagem dedutiva, a delimitação da APA baseou-se em algumas etapas do
procedimento sugerido por Cabral e Souza em 2005 [3], listadas na sequência:
● Recorte amplo da área, considerando os atributos ambientais que motivaram a criação da APA para,
a partir disso, realizar os ajustes necessários no sistema em estudo.
● Identificação da ocorrência de atributos ambientais que se deseja proteger em áreas onde é permitido
e desejável o desenvolvimento econômico de atividades dentro dos limites de capacidade de suporte dos
ecossistemas naturais.
● Localização espacial desses atributos ambientais dentro do sistema em estudo, separando-os em
mapas temáticos.
● Cruzamento de informações espacializadas, por meio de análise integrada dos recursos ambientais.
● Identificação das áreas de ocorrência de interseção dos atributos ambientais que motivam a criação
da unidade de conservação.
● Priorização de divisores de bacias hidrográficas como delimitadores da unidade de conservação,
garantindo que em seu interior seja contemplado o maior número possível das áreas anteriormente
mencionadas.
● Identificação de elementos físicos, por exemplo, vertentes como divisas da unidade de conservação,
incluindo em seu perímetro, por meio da legislação que a criou ou regulamentou, as Áreas de Preservação
Permanente instituídas pelo Código Florestal.
Para fins de geoprocessamento utilizou-se o software SPRING (Sistema de Processamento de
Informações Georreferenciadas) versão 5.0.6 [4], criado em 1991 pelo Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE) e disponibilizado para download gratuitamente em sua home Page. As cartas topográficas
Santa Maria-SE, Santa Maria-NE, Santa Maria-SO e Camobi-SO, elaboradas pela Diretoria do Serviço
Geográfico do Ministério do Exército Brasileiro em 1980, foram inseridas no SPRING onde foi realizado um
mosaico destas quatro cartas devido à abrangência da área de estudo, e após, a digitalização de suas curvas
de nível. Ambas possuem escala 1:25.000 e equidistância entre as referidas curvas de 10 m.
Parte da delimitação da APA foi efetuada a partir da análise da imagem de satélite disponível no
software livre Google Earth, sendo que a cena data do dia 29 de julho de 2009 e também foi manipulada no
SPRING 5.0.6. A finalização dos mapas foi feita nos softwares Power Point e Paint, permitindo melhor
apresentação visual das representações geradas.

*
Mestranda em Geografia, contato: dbngeo@hotmail.com
236
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

3. Resultados e Discussão
A APA do Vacacaí-Mirim traz em seu nome uma alusão ao Rio Vacacaí-Mirim, já que a primeira
proposição a respeito de sua criação tinha como sugestão de território a bacia hidrográfica deste rio, à
montante de seu lago artificial, popular Barragem do DNOS (Departamento Nacional de Obras e
Saneamento). Se o divisor de águas continuasse como o único critério à sua delimitação, áreas que
apresentam concentração de acentuados declives, mata e beleza cênica ficariam fora da APA. O Morro
Cechella é um exemplo, seu flanco sudoeste assim como aproximadamente metade de seu topo não seriam
contemplados com a proteção da UC. A figura 1 demonstra a delimitação proposta e facilita a identificação
de alguns elementos da paisagem, como os morros existentes no Rebordo do Planalto [6], unidade do relevo
existente na transição entre o Planalto das Araucárias e a Depressão Central Gaúcha [5].
Fig. 1 Delimitação proposta para a abrangência da APA do Vacacaí-Mirim.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Com a conclusão da delimitação foi possível obter a área que esta proposta de unidade poderá
proteger: 6.415,50 ha ou 64,15 km². Sendo que 23,28% encontram-se no território municipal de Itaara e,
76,72% no de Santa Maria. Ainda, nota-se que o limite proposto inclui todas as nascentes do Rio Vacacaí-
Mirim à montante de seu lago artificial, como também as existentes no Morro do Elefante, que em sua
encosta norte/nordeste abarca nascentes do Arroio do Meio. Nascentes da Sanga do Ferreira, do Arroio do
Tigre e do Passo das Águas Negras, na porção oeste da APA, também são contempladas.
As belezas cênicas imperam na área, principalmente devido à mata nativa presente no Rebordo do
Planalto. A fotografia que segue, confirma tal declaração.
Fig. 2 Vista da cidade de Santa Maria a partir do topo (oeste) do Morro Cechella.

A foto revela um potencial ecoturístico para a APA, já que ainda possui significativos remanescentes
de vegetação nativa, que “bordam” os belos morros da região. Um dos caminhos para um desenvolvimento
sustentável poderá estar baseado na exploração do ecoturismo no interior desta UC.

4. Conclusão
A APA desmitifica a ideia que as UCs são áreas naturais intocáveis, que não colaboram para o
desenvolvimento do país. Elas podem sim gerar desenvolvimento, mas de um modo sustentável, aliando uma
exploração econômica dos recursos naturais à qualidade ambiental.
O procedimento de delimitação utilizado nesse trabalho possibilitou a inclusão de áreas muito
importantes na APA, que anteriormente restringia-se à bacia hidrográfica do Rio Vacacaí-Mirim à montante
de seu lago artificial. A inclusão de nascentes e cursos d’água de outras bacias hidrográficas, morros
testemunhos e demais morros cobertos pela Mata Atlântica, validam os critérios dessa metodologia.
Enfim, espera-se que esse estudo auxilie nas discussões referentes à APA do Vacacaí-Mirim,
estimulando novas pesquisas e sugestões sobre qual a delimitação mais adequada a ser considerada para a
mesma.

Referências
1. BRASIL. Lei n. 9.985, de 18 de julho de 2000. Institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação
da Natureza. Presidência da República, Casa Civil, Brasília, DF, 18 jul. 2000. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9985.htm> Acesso em: 5 ag. 2009.

2. CONSELHO NACIONAL RESERVA DA BIOSFERA DA MATA ATLÂNTICA. Reserva da Biosfera


da Mata Atlântica Fase VI/2008: revisão e atualização dos limites e zoneamento da Reserva da Biosfera da
Mata Atlântica em base cartográfica digitalizada. São Paulo: Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da
Mata Atlântica, 2008. 127 p. Disponível em: <http://www.rbma.org.br/rbma/rbma_fase_vi.asp> Acesso em:
06 jun. 2010.

238
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

3. CABRAL, N. R. A. J.; SOUZA, M. P. Área de proteção ambiental: planejamento e gestão de paisagens


protegidas. 2. ed. São Carlos: RiMa, 2005. 158 p.

4. CÂMARA, G.; FREITAS, UM; GARRIDO, J.; SOUZA, RCM. SPRING: integrating remote
sensing and GIS by object-oriented data modelling. Computers & Graphics, Amsterdam, v. 20, n. 3, p.
395-403, may-jun. 1996. Disponível em: <http://www.dpi.inpe.br/geopro/trabalhos/spring.pdf> Acesso em:
26 out. 2009.

5. MAPA de unidades de relevo do Brasil. Brasília, DF: IBGE, 2006. 2. ed. Escala 1:5.000.000. Disponível
em: <ftp://geoftp.ibge.gov.br/mapas/tematicos/mapas_murais/relevo_2006.pdf> Acesso em: 27 abril 2009.

6. NASCIMENTO, M. D. do. Fragilidade Ambiental e Expansão Urbana da Região Administrativa


Nordeste da Sede do Município de Santa Maria – RS. 2009. 179 f. Dissertação (Mestrado em Geografia)
– Departamento de Geociências, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2009.

7. NASCIMENTO, D. B. do. Proposta de Unidade de Conservação: Área de Proteção Ambiental (APA)


do Vacacaí-Mirim/RS. 2010. 53 f. Trabalho de Graduação (Licenciatura em Geografia) – Departamento de
Geociências, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2010.

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“THE GOOD WAR” E OS VETERANOS ESTADUNIDENSES DO MAIOR CONFLITO


DO SÉCULO XX

Pauline Bitzer Rodrigues*; Francisco César Alves Ferraz (Orientador)


Universidade Estadual de Londrina/Centro de Letras e Ciências Humanas – Departamento de História

1. Introdução
O presente trabalho consiste num subprojeto de uma pesquisa maior intitulada “A Reintegração Social
dos Veteranos da Segunda Guerra Mundial: estudo comparativo dos ex-combatentes do Brasil e dos Estados
Unidos”1 No referido projeto maior, a reintegração social dos veteranos da Segunda Guerra Mundial, do
Brasil e dos Estados Unidos é analisada a partir de cinco variáveis: a) as experiências anteriores de
reintegração dos veteranos de guerra; b) as formas de recrutamento e natureza dos combatentes; c) a
preparação do Estado e das forças armadas dos dois países, para o encaminhamento da desmobilização e
ressocialização pós-guerra de cidadãos civis convertidos em soldados; d) a recepção da sociedade não
combatente; e) as formas de organização política e social de veteranos de guerra. Neste subprojeto, é
analisado o impacto da guerra e de sua mobilização na sociedade civil dos Estados Unidos e a recepção desta
aos seus milhões de ex-combatentes.
Neste país, a Segunda Guerra Mundial marca o início da era contemporânea, acabando com a década
da Depressão (“Hungry Thirties”) e lançando as bases econômicas, sociais e culturais dos “anos dourados”,
nome atribuído principalmente à década de 1950. No campo econômico, os resultados são estimados em
superação àqueles alcançados pelo New Deal, a política econômica adotada pelo presidente Franklin Delano
Roosevelt na década de 1930, chegando praticamente à eliminação da taxa de desemprego com o
desenvolvimento dos grandes setores, como por exemplo, o tecnológico e o industrial. Em 1945, os Estados
Unidos já tinham a supremacia econômica em relação a qualquer outro país [3,9].
Com relação à sociedade e à cultura, pode-se notar mudanças como, por exemplo, o relativo aumento
de integração e participação de mulheres, afro-americanos, nativos e outros grupos minoritários na sociedade
americana. Além disso, no campo político, ocorre a institucionalização de órgãos de defesa nacional.
[5,6,8,9]
Nessa sociedade em transformação, surge o problema da reconversão, de como proceder quando o
conflito se findasse e a desmobilização dos aproximadamente 16 milhões de homens e mulheres tivesse de
ser feita. A maioria desses cidadãos-soldados, quando da mobilização, tinha idade entre 17 e 20 anos: seu
regresso aconteceria em sua fase mais produtiva e em uma sociedade já “adaptada” à sua ausência. Por esses
motivos, antes de a guerra dar sinais de vitória aliada, pessoas de diversas esferas sociais (políticos,
empresários, militares, etc.) iniciavam estudos sobre projetos a serem executados quando a hora da
reconversão chegasse, mesmo porque ainda se tinha na memória os resultados da quase desastrosa
reconversão e ressocialização após a Primeira Guerra Mundial.
Uma das principais medidas tomada para a desmobilização e ressocialização foi a assinatura, em 22
de Junho de 1944, do GI Bill of Rights, um conjunto de leis criadas por uma comissão de planejamento
designada pela American Legion (maior associação de veteranos dos Estados Unidos) juntamente com outras
comissões governamentais. O GI Bill visava estimular o aperfeiçoamento educacional e profissional do ex-
combatente pagando cursos superiores e/ou profissionalizantes e o ajudando a encontrar empregos
adequados à suas habilidades, além de um ano de indenização de US$20 por semana para os desempregados
e empréstimos para compra de casas ou abertura de pequenos negócios. O programa foi considerado o
modelo de melhor preparação e ação no retorno de um grande contingente de soldados, embora apresentasse
algumas falhas de produção e aplicação [4].
As mudanças ocorridas eram em grande parte resultados do grande esforço interno de guerra, que de
certa maneira foi a vitória conquistada pela forte propaganda político-ideologica disseminada pelo governo
através de suas agências e a própria carga idealista contida na natureza do combate (“The war against
fascism”). Tudo isso contribuiu para a formação do mito da “guerra justa”, da “Guerra boa” (“The Good
War”). Tal visão pode formar reflexos tanto na reintegração dos combatentes quanto na forma como essa
sociedade vai lembrar a guerra, por exemplo, nos memoriais [1,5-8].
O objetivo desta pesquisa é, em um primeiro momento, analisar as bases da construção histórica da
imagem da Segunda Guerra como “the Good War” e dos seus soldados como “the Greatest Generation” a

*
Autor Correspondente: pauline_br@hotmail.com
1
Este projeto de pesquisa é contemplado com recursos do Conselho Nacional de Pesquisa Científica
(CNPq).
240
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

partir do estudo de como a sociedade estadunidense vivenciou o conflito, todas questões importantes para
compreender como os veteranos de guerra foram recebidos e como se relacionaram com a sociedade civil.

2. Método
O recorte temporal é de duas décadas a partir do fim da Segunda Guerra, o postwar period (“The
Golden Age”), tempo suficiente para permitir perceber as conseqüências da reintegração (ou a ausência
desta).
Acerca da metodologia, tem sido feitas pesquisas e análises da produção historiográfica acerca do
tema e discussão de métodos e fontes primárias utilizadas pelos autores. Também são utilizados os
documentos disponibilizados online por organizações como a Veterans Administration (órgão governamental
americano que administra assuntos referentes aos veteranos de guerra) e American Legion (associação
unificada de ex-combatentes), bem como o uso de fontes alternativas como filmes, documentários,
depoimentos, etc.

3. Resultados e Discussão
Durante a pesquisa, algumas hipóteses estão sendo trabalhadas e outras podem ser elencadas para
futuros trabalhos. Em primeiro lugar a relação direta entre a concepção que a sociedade como um todo
possui da guerra e o processo de reintegração social, e a mobilização dessa sociedade para o conflito e o
relativo sucesso dessa reintegração. Assim, como os Estados Unidos encararam a guerra como justa, contra a
agressão nazifascista e japonesa, seus combatentes tiveram menos dificuldades em retornarem à uma
sociedade que percebia positivamente a guerra lutada.
A importância do impacto da guerra na sociedade também pode ser avaliada pela reação da mesma
população às guerras pouco populares, ou sem a união nacional em torno dos objetivos e da justeza da
guerra, como no caso das guerras da Coréia e do Vietnã [5,7].
Do que foi pesquisado até o momento, sobressai um ambiente cultural de valorização da participação e
da vitória dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial. Por maior que tenha sido a propaganda a que os
civis norte-americanos foram submetidos durante a guerra, é difícil negar que essa cultura positiva sobre a
guerra nasceu e cresceu de maneira natural, como resposta aos sacrifícios e ansiedades da guerra. A leitura
dos depoimentos orais de vários segmentos da população do país (combatentes e não-combatentes), reunidos
no livro “The Good War”, de Studs Terkel (1984), mostra que o fato de quase 10% da população do país
estar mobilizado diretamente para a guerra afetou profundamente a percepção do conflito para esta geração.
Esse foi elemento essencial na construção ideológica dos significados positivos da guerra para a nação
americana, principalmente porque se iniciava outro tipo de conflito, que requeria outro tipo de mobilização: a
guerra fria.

4. Conclusão
De forma geral, embora não unânime, a Segunda Guerra é vista pelos americanos como “The Good
War”, quase um épico do triunfo moral e nacional; no entanto é preciso levar em conta que o país não sofreu
com os ataques diretos e com a dura política econômica de um país em guerra (com os racionamentos, por
exemplo). Além disso, essa visão positiva do combate esconde, muitas vezes, tensões e conflitos em questões
de classes sociais e étnicas. Se a Segunda Guerra Mundial foi boa, não foi para todos, nem o foi sem custos a
curto e a longo prazos. Além disso, e o que é pouco conhecido, é o fato de que para essa imagem de boa
guerra se solidificasse, foi preciso preparar a sociedade e os veteranos para a paz do pós-guerra por meio,
seja da propaganda, ou de articulações políticas. O trabalho busca discutir esses aspectos visto que foram o
ponto de partida para a reintegração social dos veteranos estadunidenses da Segunda Guerra Mundial.

Referências

1. BALLARD, Jack Stokes. The shock of peace. Military and economic demobilization after World
War II. Washington: University Press of America, 1983
2. BURNS, Ken; WARD, Geofrey. The War: an intimate history, 1941-1945. New York: Knopf, 2007.
3. GARRATY, John A. CARNES, Mark C. A Short History of the American Nation. New York:
Longman, 2000.
4. GREENBERG, Milton. The GI Bill. New York: Lickle Publishing Inc, 1997.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

5. HUEBNER, Andrew J. The Warrior Image: soldiers in American culture from the Second World
War to Vietnam Era. Chapel Hill: University of North Carolina Press, 2008.
6. ERENBERG, L. A; HIRSCH, S. E. (org). The War in American Culture: Society and Consciousness
during World War II. Chicago: The University of Chicago Press, 1996.
7. PIEHLER, G. K. Remembering War the American Way. Washington: Smithsonian Books, 1995.
8. TERKEL, Studs. “The Good War”. New York: The New Press, 1984.
9. WYNN, Neil A. The “Good War”: The Second World War and Postwar American Society. In: Journal
of Contemporary History. SAGE Publications, 1996.

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UMA HISTÓRIA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA NOS SÉCULOS XVII e XVIII

Luciana de Araújo Nascimento (PIBIC/CNPq-UEM)1*,


Célio Juvenal Costa (Orientador), Sezinando Luiz Menezes (Co-orientador).
Universidade Estadual de Maringá.

1. Introdução
Por entender a Universidade de Coimbra como instituição datada historicamente, este projeto de
pesquisa teve por objetivo identificar as diferentes fases porque passou o Estudo Geral (Universidade)
português, relacionando-as com o contexto histórico de cada período investigado, particularmente no que se
refere aos séculos XVII e XVIII.
Nesse sentido, no século XVII, serão abordadas as reformas ocorridas nos estatutos universitários, as
relações da Universidade para com o movimento da Restauração Portuguesa (1640) e o papel do Estudo no
referido período. Da mesma forma, no século XVIII será apresentada a reforma da Universidade sob a égide
de Marques de Pombal a fim de sintonizar a instituição com o movimento iluminista. Posteriormente, serão
apresentados os resultados obtidos sobre as universidades no período moderno, especificamente nos séculos
XVII e XVIII.

2. Métodos
O desenvolvimento da pesquisa requereu, basicamente, a investigação bibliográfica em três frentes:
obras que versam sobre o contexto histórico de Portugal e Europa Ocidental nos século XVII e XVIII, como,
por exemplo, os textos de França [1], Pomer [2], Hanson [3] e Oliveira [4]. A outra parte dos livros
consultados discorreu sobre as universidades no período moderno, como as obras de Rossato [5] e Charlés;
Verger [6]. A terceira frente de pesquisa pautou-se em obras relacionadas com a Universidade de Coimbra,
como, o texto de Almeida; Brandão [7], e especialmente a obra História da Universidade em Portugal [8],
que é uma obra volumosa, escrita por diversos autores, que a Universidade de Coimbra publicou em 1997.

3. Resultados e Discussão
Por meio da pesquisa historiográfica percebeu-se que a Universidade de Coimbra nos séculos XVII e
XVIII esteve relacionada com o contexto histórico e social de sua época, tanto no que se refere a conjuntura
da Europa Ocidental como do território português.
Assim, as reformas estatuárias ocorridas durante o século XVII foram regulamentadas pelos Estatutos
Filipinos de 1597. Em 1612, foi entregue à Universidade uma reformação contendo 162 artigos que
complementariam os estatutos de 1597. Em 1653, os estatutos aceitos por D. João IV (1640- 1656) foram os
mesmos de 1597 e as reformulações de 1612.
Nessa perspectiva, verificou–se que o Estudo de Coimbra colaborou para a libertação do território
lusitano do domínio espanhol. A corrente filosófica ensinada por mestres jesuítas na dita Universidade foi a
base em que se consolidou a soberania portuguesa. Além da cooperação intelectual, houve auxilio financeiro
e militar, para as guerras da Restauração que se iniciaram em 1640.
Nesse contexto, o fator que pode revelar a importância nacional que a Universidade de Coimbra
obtivera no século XVII era o valor que seus graus acadêmicos possuíam na sociedade portuguesa. A carreira
universitária foi um dos caminhos oferecidos para a burguesia ascender socialmente. Graduar-se em Direito
ou Medicina era o primeiro passo que muitos deveriam seguir para obterem títulos de nobreza.
Percebeu-se que embora o século XVII a Universidade tenha desempenhado importante função no
território lusitano, a partir do século XVIII as autoridades portuguesas passaram a ter consciência de sua
situação periférica na Europa. Nesse período houve diversas iniciativas governamentais no sentido de
aproximar a cultura, instrução pública e economia portuguesa do que estava sendo processado no restante da
Europa. Demonstração disso são as diversas reformas empreendidas especialmente na administração de
Marquês de Pombal. A intervenção do Estado no campo cultural ocorreu por meio da interferência na
instrução pública, tema que se relaciona diretamente com a Reforma da Universidade de Coimbra em 1772.
O fator que esteve estritamente vinculado a reforma da instrução pública foi a expulsão dos padres da
Companhia de Jesus do reino e colônias portuguesas em 1759. A reforma empreendida na instrução pública
iniciada na referida data, estava relacionada ao objetivo de instituir no solo lusitano instrução pública
(estatal) e laica em contraposição a instrução jesuíta que embora fosse pública era religiosa. A política

*Luciana de Araújo Nascimento: lu_araujo102@hotmail.com


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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

pombalina para a instrução pública rompeu com o humanismo aristotélico tomista que era professado pelos
padres jesuítas e introduziu o método indutivo experimental do empirismo do século XVIII.
Das reformas realizadas por Marquês de Pombal no campo da instrução pública, a reforma da
Universidade de Coimbra pode ser considerada a orientação mais próxima do Iluminismo europeu. Assim,
no ano de 1770 foi formada uma comissão, denominada Junta de Providência Literária, que tinha por
objetivo averiguar e propor soluções para a situação em que se encontrava a Universidade de Coimbra.
Mediante ao relatório dessa Junta foram outorgados os novos estatutos baseados em escritos modernos no
século XVIII. Além disso, foi no referido período que houve diversas reformas estruturais na Universidade
como, construção de laboratórios, fundação das faculdades de Filosofia e Matemática e contratação de
professores estrangeiros com renomado prestígio internacional.
Nesse sentido, é possível relacionar a história da Universidade de Coimbra nos séculos XVII e XVIII
com a história das universidades européias na época moderna. Igualmente às universidades modernas, no
século XVII a história da Universidade de Coimbra esteve ligada à formação de letrados para servir a Coroa
e a Igreja. Já no século XVIII, no contexto internacional, houve intensas reformas para situar o ensino
oferecido pelas instituições com o movimento científico e filosófico. Da mesma forma ocorreu na
Universidade de Coimbra com as Reformas de 1772, baseada em escritos iluministas, contrapondo à filosofia
escolástica fundamentada em Aristóteles e São Tomas de Aquino.
Nessa perspectiva, percebe-se que assim como nas universidades modernas, existiu na Universidade
portuguesa as fraudes e corrupções no referido período. Porém, houve também a criação de mecanismos para
extinguir as contravenções. Além disso, da mesma forma que nas universidades estrangeiras os graus
acadêmicos passaram a ser uma das vias de acesso para a nobreza, o mesmo ocorreu na Universidade
lusitana. Circunstância que permite constatar a mobilidade social que essa instituição propiciava aos que
pertencia ao Terceiro Estado.

4. Conclusão
Considerando as afirmações feitas até o momento, foi possível perceber, de acordo com a
historiografia produzida, que a história da Universidade de Coimbra nos séculos XVII e XVIII, além de estar
relacionada aos acontecimentos históricos e sociais ocorridos tanto no território português como no restante
da Europa Ocidental, esteve vinculada a história das universidades no período moderno.
Assim, em ambos os séculos a história da instituição esteve relacionada a contextos históricos que
extrapolavam os muros institucionais da Universidade, como, por exemplo, com a colaboração para o
movimento da Restauração em 1640 e a Reforma de 1772, que tinha por objetivo modernizar o estudo
português de acordo com os ideais do movimento Iluminista.
Além disso, verificou-se que a história da Universidade de Coimbra nos referidos séculos esteve em
concordância com a história das universidades do período moderno, ou seja, se no século XVII a história das
universidades estrangeiras baseavam em relações diretas com o Estado e Igreja, como, por exemplo, na
formação de sujeitos para servir a essas duas instâncias. O mesmo ocorreu na Universidade de Coimbra. Da
mesma forma, no século XVIII, ocorreram diversas reformas nas universidades da Europa Ocidental com a
finalidade de modernizar o ensino oferecido. O estudo lusitano também sofreu diversas reformas de cunho
legal, estrutural e pedagógico que tinham por objetivo sintonizar o ensino oferecido pela Universidade com o
movimento científico e filosófico do período.

Referências

1 FRANÇA, Eduardo d’ Oliveira. Portugal na época da Restauração. São Paulo: Hucitec, 1997.

2 POMER, Lenon. O surgimento das nações. Tradução de Mirna Pinsk. 7. ed. rev. atual. São Paulo: Atual,
1994.

3 HANSON, Carl A. Economia e sociedade no Portugal barroco (1668-1703). Tradução de Maria Helena
Garcia. 1.ed. Rio de Janeiro: D. Quixote, 1986.

4 OLIVEIRA, A. H de Marques. História de Portugal das origens as revoluções liberais. Lisboa: Palas
Editores, 1974. v.1.

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5 ROSSATO, Ricardo. Universidade nove séculos de história. 2. ed. rev. ampl. Passo Fundo: UPF, 2005.

6 CHARLES, Chistophe; VERGER, Jacques. História das universidades. São Paulo: Ed. da Unesp, 1996.

7 ALMEIDA, Mario Lopes; BRANDÃO, Mario. A universidade de Coimbra: esboço de sua historia.
Coimbra: Oficinas Gráficas Atlânticas, 1937.

8 COXITTO, Amândio et al. História da universidade em Portugal (1537-1771). Coimbra: Universidade de


Coimbra, 1997. v.2.

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UMA TIPOLOGIA DAS VARIÁVEIS SOCIOECONÔMICAS DOS DISTRITOS DO


INTERIOR DOS CAMPOS GERAIS DO PARANÁ

Jardel de Lima1*; Edu Silvestre de Albuquerque2

Universidade Estadual de Ponta Grossa1

Universidade Estadual de Ponta Grossa2

1. Introdução

Pensar o urbano no Brasil tem significado privilegiar as temáticas da cidade e suas periferias urbanas mais
imediatas. Contudo, parcela expressiva da população brasileira ainda vive dispersa em áreas rurais e
comunidades distritais em municípios de pequeno porte e médio porte, afastadas da sede do poder municipal.
O forte desejo emancipatório presente em muitas dessas comunidades indica uma deficiente oferta de
serviços públicos e um suposto déficit de “capital político”(1) (BOURDIEU, 1989). O Estado do Paraná têm
gestado políticas públicas para comunidades tradicionais e trabalhadores rurais, mas os distritos carecem de
uma maior presença das esferas administrativas. Segundo a Constituição Brasileira(2) as esferas com poder
político-administrativo competem a Federal, Estadual e Municipal (Brasil, 1989). Portanto, os distritos são
territórios em que se subdividem os municípios e que pertence a uma gestão político-administrativa
municipal. Na pesquisa busca-se estipular uma relação de infra-estrutura a partir de densidade demográfica,
questionando a noção de distância como principal fator na baixa disponibilidade de infra-estrutura.

Fig. 1 Delimitação da área de estudo

*Jardel de Lima: jardeldelimaster@gmail.com


246
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

2. Método

Na pesquisa buscou-se a caracterização da infra-estrutura das comunidades urbanas e rurais distantes das
sedes dos municípios dos Campos Gerais a partir da base de dados do Censo IBGE (2000). Foram análisadas
as seguintes variáveis socioeconomicas: Número de moradores por domicílio, abastecimento de água, tipo de
esgoto sanitário e destino do lixo coletado. Após a fase de gabinete foi realizado a ida campo para a
constatação dos anseios das comunidades distritais e uma verificação da atual tipologia do quadro das
políticas geridas. A delimitação dos Campos Gerais segue a base do recorte territorial adotado pelo Degeo
(UEPG), amparado nos seguintes critérios: a) presença de campos naturais; b) identidade histórica do
tropeirismo; c) influência da UEPG.

3. Resultados e discussão

A distância das comunidades distritais de suas sedes municipais, não caracteriza a principal dificuldade no
desenvolvimento de infra-estruturas. Segundo Santos(3) “os transportes se difundiram e à criação de grandes
autopistas se soma, nessas regiões mais desenvolvidas, uma criação tão grande ou maior de estradas vicinais;
desse modo, a circulação se torna fácil e o território fluído”. Portanto, os distritos estão interligados a rede de
transportes dos Campos Gerais do Paraná. A noção de distância caberia a distritos pertencentes a Região
Norte do Brasil (não constitui uma rede e ocupação integradas). O processo de desenvolvimento estrutural e
econômico passa pelos mercados “desde os centros cosmopolitas até as aldeias perdidas na floresta, os
mercados são o centro da vida”(4) (Santos, 1979). A análise e interpretação dos dados censitários revelaram
disparidades entre os distritos e as sedes municipais, sendo menor a disponibilidade de infra-estrutura nas
comunidades distriais urbanas e rurais, pricipalmente onde a concentração demográfica era menor.

Com o levantamento dos dados censitários foram verificadas algumas disparidades de infra-estrutura entre os
distritos e suas respectivas sedes municipais. Na variável números de moradores por domicílio a maioria dos
domicílios dos distritos da região vivem até seis moradores (nesse grupo estariam cerca de 90% dos
domicílios). Esse índice diminui para 70% quando se considera os domicílios com até quatro moradores. Foi
possível notar uma maior variabilidade nas áreas distritais urbanas em comparação com as rurais, com média
de 72,8% no meio urbano e 68,3% no meio rural. quando considerado os domicílios com quatro moradores.
Para o abastecimento de água predominou nas áreas distritais urbanas uma melhor infra-estrutura de
abastecimento de água em comparação com as áreas distritais rurais (onde se destaca o uso de
poços/nascentes). Apenas quatro áreas distritais rurais dos campos gerais possuem mais de 30% dos
domicílios ligados à rede geral, o que demonstra a precariedade do serviço nas áreas distritais rurais.
Entretanto, vinte e duas áreas distritais urbanas tem 70% de seus domicílios ligados á rede geral.

O tipo de esgoto sanitário constituindo-se na pior variável analisada nesta pesquisa. Nas áreas distritais
urbanas e rurais os domicílios ligados à rede geral de esgoto apresentam índices baixos ou nulos. Dos 28
distritos analisados, 25 apresentaram índices de 0% a 2,8% de domicílios (urbano/rural) ligados à rede geral

*Jardel de Lima: jardeldelimaster@gmail.com


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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

de esgoto. Houve casos de moradias sem forma alguma de banheiro sanitário, a maioria localizada em áreas
distritais rurais. No geral, destaca-se o uso de fossas rudimentares e fossas sépticas.

A coleta do lixo esteve presente na metade das áreas distritais urbanas, com mais de 70% dos domicílios
atendidos. A outra metade das áreas distritais urbanas depende da queima e enterro do lixo na própria
propriedade. Já as áreas distritais rurais apresentam índices mínimos do serviço, onde o descarte do lixo é
realizado através da queima e enterro do lixo na própria propriedade.

A média das variáveis esta disposta e comparada à disponibilidade de infra-estrutura as sedes urbanas dos
municípios. A coleta de lixo não chega a 50% e rede de água a 70% nas áreas urbanas distritais, o tratamento
de esgoto encontra-se abaixo de 5%. As áreas distritais rurais obtiveram índices muito inferiores comparados
as escalas urbanas distritais e urbanas municipais. O contexto histórico de ocupação da região dos Campos
Gerais paranaenses é um fator que corrobora para o entendimento desta diferença entre comunidades
distritais e suas sedes municipais. Analogicamente a base da “estrutura fundiária do Paraná Tradicional
baseia-se no sistema latifúndio-minifúndio”(5) (Cunha, 2003). A presença latifundiária dificulta o
desenvolvimento dos pequenos agricultores que vivem na circunvizinhas “precisando vender sua força de
trabalho aos latifundiários”(5) (Cunha, 2003), é o que acontece com a comunidade distrital urbana de Guaragi
(distrito de Ponta Grossa). Num período de seis meses ao ano a maioria da população trabalha na colheita da
batata em grandes fazendas na área do distrito de Guaragi. No restante do tempo desenvolvem outras
atividades para sua sobrevivência, ou seja, a atividade do latifúndio rege a principal fonte de renda da
comunidade (comunidade subalterna).

Fig. 2 Gráfico Distritos Fig. 3 Gráfico Sedes Municipais

4. Conclusão

A oferta de serviços públicos básicos é inferior nas comunidades distritais dos campos gerais em relação as
suas sedes municipais. Esta diferença pode ser explicada pela baixa concentração demográfica e pela
dificuldade de mobilização de capital político, onde a força de atração que as densidades demográficas e

*Jardel de Lima: jardeldelimaster@gmail.com


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técnicas exercem, não é suficiente para efetuar por si só uma melhoria na infra-estrutura. Mediante a esta
tipologia, fica evidente a demanda por infra-estrutura e uma atuação de aproximação das esferas
administrativas na ação por políticas públicas que venham a melhorar as condições estruturais da
comunidade dos distritos. Como ressalva fica a constatação da ida a campo, que revelou estarem “assentado”
os distritos, numa base de ocupação histórica que atribui características de monopolização do território. Dado
que a área de estudo em questão tem municípios com grande espaço territorial, onde existem extensas
propriedades agrícolas.

Referências bibliográficas

(1)
BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Lisboa, Rio de Janeiro: Difel, Bertrand Brasil, 1989.

(2)
BRASIL, Constituição da República Federativa do. São Paulo: Editora Ática, 1989.

(3)
SANTOS, M. Materiais para o estudo da urbanização brasileira no período técnico-científico. In: Boletim
Paulista de Geografia, n. 67, 1989, pp. 5-16.

(4)
SANTOS, Milton. O espaço dividido: os dois circuitos da economia urbana dos países subdesenvolvidos.
Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1979.

(5)
CUNHA, L.A.G. Desenvolvimento rural e desenvolvimento territorial: o caso do Paraná Tradicional.
Tese de Doutorado. CPDA/UFRRJ, Seropédica, 2003.

Agradecimentos

A UEPG, a Fundação Araucária pela bolsa de iniciação científica e ao meu orientador Edu Silvestre de
Albuquerque.

*Jardel de Lima: jardeldelimaster@gmail.com


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*Jardel de Lima: jardeldelimaster@gmail.com


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“UMA TERRA DE OPORTUNIDADES”: A MIGRAÇÃO NO PERÍODO DE


CRESCIMENTO INDUSTRIAL EM JOINVILLE/SC – 1970/1980
1
Marco Aurelio Dias¹*; Gláucia de Oliveira Assis²
¹Aluno do Mestrado Profissional em Desenvolvimento Socioambiental – UDESC. Bolsista PROMOP
²Professora do PROPPG/MPPT da UDESC

1. Introdução
A proposta deste artigo é analisar a migração em direção ao município de Joinville, principalmente a
partir da década de 1970 – período em que ocorreu o grande crescimento industrial do município –, além de
fazer uma relação entre a industrialização, a migração e o desenvolvimento urbano do município. A questão
que pretendemos discutir é: quais os impactos da migração no processo de urbanização e desenvolvimento
industrial da cidade? Para tanto, situaremos brevemente a importância do processo de colonização para a
constituição da cidade e de seu caráter de cidade industrial e analisaremos o impacto das recentes
migrações no seu processo de urbanização.
Neste artigo, as migrações em direção a Joinville são analisadas em dois momentos históricos. O
primeiro, com a fundação e colonização do município, que proporcionou sua industrialização, foi marcado
por um movimento de migração internacional, constituído de imigrantes europeus que vieram ocupar a
região. O segundo ocorreu a partir do crescimento industrial da década de 1970, período caracterizado pela
intensa mobilidade da população brasileira, movimento constituído por migrantes internos que viviam no
campo e partiram rumo à cidade.
Com a colonização de Joinville, década de 1850, a oportunidade de trabalhar em sua própria terra
atraiu a mão-de-obra imigrante vinda da Europa. Centenas de pessoas acabaram se instalando em Joinville
com a intenção de transformá-la na maior colônia agrícola da América do Sul [5]. Como o resultado não foi
o esperado, pois o terreno pantanoso era impróprio para o cultivo de qualquer produto, as pessoas que
permaneceram nessas terras acabaram buscando novas alternativas para a sobrevivência no local. Neste
momento, final do século XIX, foram fundadas as primeiras manufaturas, mais tarde, algumas delas, se
tornariam grandes indústrias [3].
Com o passar das décadas e com o fortalecimento dessas e de novas indústrias que surgiram, a
economia do município passou a sustentar-se na produção industrial. Na década de 1970, com o
crescimento industrial do período do “milagre brasileiro” e com um parque fabril já formado e
diversificado, o município começa a atrair mão-de-obra de outros municípios de Santa Catarina e também
de fora do estado, principalmente do estado do Paraná. Nesse momento, Joinville emerge como um pólo de
atração desses migrantes.
Nos anos 1970 e no início da década de 1980, havia a falta de empregados para trabalhar nas linhas
de produção das indústrias joinvilenses. Mesmo com a mão-de-obra migrante vinda de outros municípios
da região, havia um grande déficit de trabalhadores. Essa necessidade de mão-de-obra conduziu algumas
indústrias a incentivar a vinda de trabalhadores de outros locais, principalmente no interior do estado do
Paraná, através de incentivos que atraíam os migrantes. Havia uma divulgação em rádios de alguns
municípios ofertando emprego em Joinville e transporte até o município. Ônibus contratados pelas
indústrias transportavam os migrantes até Joinville [4].
A chegada desses novos migrantes ao município acabou causando problemas de infra-estrutura
urbana como a falta de moradias. Uma parte das pessoas que chegava à cidade não tinha onde morar, então,
a “solução” encontrada para estas famílias foi ocupar uma área de mangue que ficava na zona Leste do
município, próximo à empresa que idealizou a busca de trabalhadores no estado do Paraná. Essa ocupação
foi, em alguns casos, apoiada pelo poder público na época, entre eles vereadores que, em troca de
transferência do título de eleitor para Joinville e de voto, “autorizaram” a construção no local, em alguns
casos doando material para a construção das casas [2]. Mais tarde, já na segunda metade da década de
1980, esse local acabou sendo urbanizado pela prefeitura com argumento de que a urbanização impediria
novas invasões [1].

2. Método
Para este conclusão deste artigo, faz-se necessário, então, um estudo do processo de migração, através
da colonização, e, conseqüente, industrialização do município de Joinville. Para isso, serão analisadas
bibliografias – livros, periódicos locais e dados disponibilizados pela prefeitura municipal e pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Como se pretende trazer as trajetórias dos migrantes, e são

1
* Marco Aurelio Dias: professormad@bol.com.br
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poucas as bibliografias disponíveis que relatam suas vidas desde seu município de origem até a chegada em
Joinville, foram realizadas entrevistas com alguns migrantes que chegaram ao município a partir de seu
crescimento industrial na década de 1970.

3. Resultados e Discussão
Os dados analisados até o momento indicam que: os ciclos migratórios em direção a Joinville
possibilitaram o seu povoamento, a sua industrialização e seu crescimento econômico. Mas também indicam
que houve falta de um planejamento integrado, entre as indústrias e a prefeitura, que beneficiasse a
população de baixa renda com moradias ou alugueis mais acessíveis às condições de cada família migrante.
Foi observado também que a falta de uma política pública habitacional em todo o país permitiu, e continua
permitindo, a instalação de residências e a urbanização de áreas de risco ou de preservação ambiental. São
tragédias anunciadas que poderiam e podem ser evitadas com um programa habitacional adequado para cada
família de acordo com suas rendas.

4. Conclusão
A partir dos dados coletados e entrevistas realizadas, procuraremos demonstrar o percurso dos
migrantes, seu processo de inserção na cidade, enfocando o acesso ao trabalho e moradia, buscando
identificar como chegaram a morar nessas localidades, quais suas reivindicações e como percebem os
espaços onde vivem atualmente.

5. Referências Bibliográficas

1. FIGUEIREDO, Ruben; LAMOUNIER, Bolívar. As Cidades que dão certo: experiências inovadoras na
administração pública brasileira. Brasília: MH Comunicação, 1996.
2. FISCHER, Gert Roland. Mangues - Conseguiremos Salvá-los? Joinville: Gráfica Manchester, 1983.
3. MAMIGONIAN, Armen. Atlas de Santa Catarina. Rio de Janeiro: Aerofoto Cruzeiro, 1986.
4. ROCHA, Isa de Oliveira. Industrialização de Joinville-SC: da gênese às exportações. Florianópolis:
UFSC, 1997.
5. TERNES, Apolinário. História econômica de Joinville. Joinville: Meyer, 1986.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

A atividade experimental como motivadora da interdisciplinaridade entre Física e


Matemática na Educação de Jovens e Adultos

Elenita Eliete de Lima Ramos1*; Carlos Antonio Queiroz2


1
Instituo Federal de Educação Tecnológica de Santa Catarina (IFSC)- Campus Florianópolis
2
Instituo Federal de Educação Tecnológica de Santa Catarina (IFSC)- Campus Gaspar

1. Introdução

O desafio de Ensinar Ciências e Matemática aos alunos da EJA – Educação de Jovens e Adultos -
perpassa pelas dificuldades oriundas dos longos anos de afastamento dos bancos escolares. O não hábito de
leitura e da escrita contrapõe-se à experiência de vida marcada pelas responsabilidades do trabalho e da
família. No entanto, a experiência adquirida ao longo da vida propicia a construção, por esses jovens e
adultos, de modelos que explicam os fenômenos da natureza com a presença bastante forte do intuitivo, do
não científico, do não escolar. Ao contrário do que possa parecer, o conflito entre o intuitivo e o a acadêmico
nem sempre se apresenta como um obstáculo para a aprendizagem, uma vez que tais concepções pode se
tornar um ponto de partida das discussões em sala de aula, numa expectativa de (re)construção de conceitos
e modelos aceitáveis pela academia. Esse caráter de informalidade e de intuitivo na explicação dos
fenômenos naturais, em turmas de EJA, também é verificado no Ensino de matemática. As facilidades
encontradas no cotidiano pelos alunos na execução das operações matemáticas geralmente não se refletem no
ambiente escolar; o formalismo matemático e as diferentes formas de representação dos objetos matemáticos
parecem distantes ou desconhecidos para a maioria dos alunos.
Numa tentativa de encontrar alternativas para o ensino e aprendizagem na EJA, professores do
CEFETSC (atual IF-SC – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina) optaram
por uma prática pedagógica diferenciada na EJA, adotando um trabalho interdisciplinar entre física e
matemática. Tal procedimento permitiu que os professores atuassem concomitantemente em sala de aula,
tendo como elemento articulador a atividade experimental.
Neste cenário lançou-se a possibilidade do trabalho interdisciplinar entre Física e Matemática em
turmas de EJA, numa ótica de vivências experimentais, que pudessem conduzir a efetiva discussão e
aplicação de conceitos de Física e a utilização das diferentes formas de representações dos objetos
Matemáticos.
Essa possibilidade de interdisciplinaridade visou atender às expectativas de alunos do PROEJA1, que
em sua maioria são adultos com idade mínima de vinte e um anos; grande parte deles trabalhadores de tempo
integral, com família constituída que vêem no PROEJA uma chance de completar o Ensino Médio e
conquistar uma formação profissional técnica de nível médio, melhorando assim, suas condições de
empregabilidade. Outra parcela dos alunos se constitui de donas de casa que interromperam seus estudos a
fim de se dedicarem aos filhos, maridos e lar e agora, com a prole já encaminhada, voltam aos bancos
escolares para se atualizarem, ou por uma questão de satisfação pessoal.
O objetivo deste artigo, portanto, é descrever parte da pesquisa realizada pelos autores deste trabalho,
ocorrida durante o segundo semestre letivo de 2006 no CEFETSC – Unidade Florianópolis, em uma turma
de PROEJA do Módulo I. O trabalho completo pode ser encontrado na monografia intitulada “Possibilidades
Interdisciplinares de Física e Matemática com o uso da Prática Experimental em turmas do
PROEJA/CEFETSC” e pode ser pesquisada em (Queiroz e Ramos, 2007).

2. Método

Os longos anos afastados da vida acadêmica apresentam-se como barreira inicial a ser vencida, os
modelos concebidos intuitivamente, durante anos, as formas de leitura e de escrita, muitas vezes são
conflitantes com o que é entendido como conhecimento escolar. Neste cenário, surge a questão: Como
podemos contribuir, minimamente, para que o ensino de Ciências e Matemática possa ocorrer de forma

*
Autor Correspondente:elenita@ifsc.edu.br
1
Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de
Jovens e Adultos – abrange cursos que, como o próprio nome diz, proporcionam formação profissional com
escolarização para jovens e adultos. Foi instituído via Decreto nº 5.478, de junho de 2005, e revogado pelo Decreto nº
5.840, de 13 de julho de 2006.

253
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

menos impactante na EJA? Entre as alternativas optou-se por uma prática interdisciplinar de Física e
Matemática tendo como elemento motivador a prática experimental numa perspectiva de re-construção dos
conceitos de Física e da compreensão dos diferentes registros de repreentações dos objetos matemáticos.
Neste contexto é importante destacar a não imposição dos experimentos, como algo fixo dentro da
discussão do conteúdo acadêmico, mas sim algo que surgisse como instrumento motivador de re-construção
de conceitos e de linguagem, de representações, de significados. Assim, os experimentos surgem das
discussões de sala de aula, contextualizados, fazendo parte do todo.
Assim, durante as atividades experimentais, buscou-se propiciar aos estudantes o manuseio de
instrumentos de medidas, a percepção das dimensões de algumas unidades de medidas, a organização dos
dados e o contato com as diferentes formas de representações e suas interpretações.
Na tentativa de estabelecer parâmetros que permitissem verificar as contribuições da prática
experimental e do diálogo ocorrido durante todo o processo, foram realizadas comparações dos conceitos que
os alunos possuíam antes e após cada experimento.
Os experimentos foram realizados nos laboratórios de Física e Química ou nos corredores do CEFET-
SC, procurando-se seguir um caminho flexível, mas tendo como referencial: planejamento da atividade pelos
professores, execução das atividades experimentais com os alunos, coleta e organização dos dados, leitura de
textos contendo a fundamentação teórica do assunto que estava sendo estudado e a representação das
relações entre as grandezas nos diferentes registros matemáticos. Além disso, os alunos prepararam e
socializaram suas produções com os colegas e professores produzindo um material contendo título, objetivos,
hipóteses, descrição do aparato experimental, o gráfico da função gerada por meio do experimento
juntamente com as considerações finais e conclusões.
O fato dos alunos terem como uma das atividades escreverem seus conceitos antes e depois de cada
experimento, bem como socializar suas conclusões com os demais colegas, facilitou a avaliação dos mesmos
por parte dos professores, já que se pôde realizar uma avaliação mais global dos alunos, verificando aspectos
como: iniciativa, participação, capacidade de se expressar escrita e oralmente, facilidade de trabalhar em
grupo, capacidade de síntese, entre outros.

Resultados e Discussão

A compreensão das características dos estados em que se apresenta a matéria e as suas relações entre
dois fatores relevantes, temperatura e pressão, têm sido apresentadas nas discussões iniciais das nossas aulas
interdisciplinares de Física e Matemática. Embora esse tema seja discutido no ensino fundamental, a sua
inclusão no Ensino Médio da EJA objetiva, principalmente, a construção de um vocabulário e de uma
linguagem básica e científica entre professores e alunos. Assim, parece-nos rico e propício nas aulas iniciais
da EJA/PROEJA, a apresentação, discussão e diferenciação de conceitos como matéria, corpo, substância,
sólido, líquido, gasoso, massa, peso, molécula e átomo.
A experiência docente na EJA tem nos mostrado claramente, e de forma interessante, o conflito
explícito entre o científico e o empírico, este último apresentado na ótica do aluno.
Sobre esses conflitos destaca-se a contribuição de Driver (1999, p. 36)

“... alunos, do mesmo modo que cientistas trazem para as aulas de ciências
algumas idéias ou crenças já formuladas. Estas crenças afetam as observações que
eles fazem, bem como as inferências daí derivadas. Alunos, do mesmo modo que
cientistas constroem uma visão do mundo que os capacita a lidarem com
situações. Transformar esta visão não é tão simples, quanto fornecer aos alunos
experiências adicionais ou dados sensoriais. Envolve também ajudá-los a
reconstruir suas teorias ou crenças, a experimentar, por assim dizer, as evoluções
paradigmáticas que ocorreram na história da ciência”.

É sob a luz desse conflito que emergiram alguns questionamentos, quase que espontâneos, no
ambiente de sala de aula, levando à elaboração de um problema que geralmente não está respondido de
forma explícita nos livros didáticos.
Assim, ao se discutir sobre as mudanças de estado físico da matéria uma das perguntas relevantes que
normalmente se faz presente é: “Qual o comportamento da temperatura em função do tempo quando
uma determinada massa de água é aquecida?”
Desse questionamento destacam-se palavras como: comportamento, temperatura, função, massa; as
quais foram amplamente discutidas e construídas conceitualmente em sala de aula. Tais discussões, por sua
vez, levaram às novas indagações tornando o processo dinâmico, permitindo assim, um diálogo enriquecedor

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

entre os interlocutores a respeito do objeto de estudo, do conhecimento e do que ainda estava por se
descobrir.

Questionamento 1: O que ocorre com a temperatura d’água no decorrer do tempo? (antes do experimento)
Questionamento 2: O que acontece com a temperatura em função do tempo quando se coloca um
recipiente com água sobre uma chama? (depois do experimento).
Um interessante debate fica por conta das comparações entre as explicações apresentadas pelos alunos,
antes e após o experimento. A organização dessas informações está explicitada na tabela 1.

Antes do experimento (06/09) Após o experimento (20/09)


O que ocorre com a temperatura d’água no O que acontece com a temperatura em função do
decorrer do tempo? tempo quando se coloca um recipiente com água sobre
uma chama?
A água que está na panela começa a ferver ou Aumenta no decorrer do tempo até chegar a 100oC onde
evaporar dependendo de quanto tempo a está sua temperatura.
chama ficara acesa
A temperatura aumenta até chegar ao ponto de A água esquenta, chega a ferver e a sua temperatura
ebulição que é 100oC quando ela começa a estaciona nos 100oC ( mantém um constante)
evaporar.
A água será evaporada, ao aumento da A temperatura aumenta a cada minuto até chegar a
temperatura. 100oC, na qual ela permanece com uma temperatura
constante.
A temperatura da água vai elevar-se aos Nos primeiros, eleva-se mais rápido; após esse tempo, ele
poucos. tende a manter uma constante, até atingir 100oC. Nota-
se que nos primeiros 25 minutos ela sofreu duas
variações distintas, até os 15 minutos foi mais rápido e 25
minutos foi mais lenta. A temperatura eleva-se de acordo
com o tempo decorrido.
Como a vela está a uma temperatura A água aquece passando calor, quando a água está
aproximadamente de 100oC, e a água que está esquentando, forma se as bolinhas e começa a ferver
a 20oC na panela tem a tendência de alguns aumentando a temperatura, depois ela paralisa numa
minutos ou algumas horas e de chegar até a etapa de fervura.
sua ebulição.
No decorrer do tempo, a água irá esquentar Aumenta até 100oC e se mantém constante; a partir daí,
até estabilizar a temperatura e com o tempo começa a evaporar.
começa a evaporar.
Primeiro o recipiente será aquecido e só então Com o passar do tempo, a temperatura da água aumenta
a água mudará de temperatura, ou seja, água até seu ponto de ebulição.
aquecerá.
Ela vai aquecer, ferver e evaporar A temperatura vai aumentando conforme o tempo sobre a
chama; quanto mais tempo ela fica na chama, mais ela
esquenta até chegar à temperatura de ebulição.
A temperatura vai aumentando conforme vai Na medida em que o tempo passa, a temperatura aumenta
passando o tempo até entrar em ebulição até chegar no seu ponto de ebulição na qual a temperatura
permanece constante.
A aumenta e entra em ebulição; se demorar A temperatura aumenta conforme vai passando o tempo,
em tirar do fogo, ela evapora. até entrar em ebulição ou seja, quando atinge 100ºC

Ocorre que a temperatura da água vai subir, e Conforme o tempo, a água começa a ferver e até entrar
a água vai evaporar. em ebulição.
A temperatura sobe aos poucos até chegar a Com o decorrer do tempo a água vai evaporar.
100oC.
À medida que o tempo passa a temperatura aumenta, até
que a água alcança seu estado de ebulição com que a
temperatura permaneça contínua.
Tab 1: Respostas de alguns alunos em relação aos questionamentos 1 e 2

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Destacam-se algumas respostas prévias dos alunos, antes do experimento:


 Existe uma relação entre tempo e estágio de ebulição da água – a ebulição da água não é instantânea,
sendo explicitada pelos alunos a noção de causa e efeito.
 Mencionam-se as fases amornar, ferver, evaporar.
 Alguns alunos citam a existência de uma temperatura de ebulição da água como uma constante,
indicando uma descrição do fenômeno coerente com o conhecimento escolar.
E após o experimento:
 A temperatura da água aumenta até seu ponto de ebulição, indicando uma leitura correta dos
registros matemáticos, tabela e gráfico.
 Verifica-se, de forma quase unânime, que a temperatura da água permanece constante na ebulição,
unanimidade não verificada antes do experimento. Cabe ressaltar que essa relação entre a constância da
temperatura durante a mudança de estado, no caso de líquido para vapor, a pressão de 1 atm , ocorre a 100
o
C.
 Surge a palavra calor em uma das explicações.
Desses registros cabe ressaltar algumas considerações:
 Foi mencionado que existe uma relação entre as duas grandezas físicas envolvidas, tempo e
temperatura, e de que existe um tempo para se atingir a temperatura de ebulição e um ponto de ebulição;
 Na ebulição da água, a temperatura tende a permanecer constante, conceito este já de conhecimento
prévio de alguns alunos.

4. Conclusão

Foi objeto de investigação deste trabalho o uso da prática experimental nas aulas interdisciplinares de
Física e Matemática numa turma de Proeja, assim como a análise das questões que emergiram dos estudantes
durante os diálogos em que professores e alunos se propuseram a expor suas concepções sobre alguns
fenômenos que ocorrem na natureza.
Verificou-se que a prática experimental propiciou que emergissem diálogos que perpassaram as
diversas áreas do conhecimento, sobretudo entre Física e Matemática. Esses diálogos, geralmente
estruturados nas relações entre questionamento, atividade experimental, coleta e tratamento de dados,
possibilitaram a construção dos conceitos a partir da experiência cotidiana dos alunos, bem como o
entendimento e a discussão das formas de registros matemáticos. Além disso, possibilitou que os alunos
tivessem uma visão integrada da matemática, reconhecendo, entre outras possibilidades, sua utilidade para
resolver problemas do cotidiano.
Esta forma de trabalho colocou a disposição dos alunos um conjunto de recursos que lhes permitiu
entender de forma mais ampla a aplicabilidade dos conceitos e processos matemáticos, realçando o aspecto
formativo da matemática estimulando, dessa maneira, o interesse pelo seu descobrimento.
Esse aspecto de reconhecimento, valorização e utilização da matemática escolar é de fundamental
importância já que uma das dificuldades na aprendizagem em matemática nos parece ser o estranhamento da
mesma, ou seja, a não compreensão e utilidade dos conceitos, quando estes são apresentados fora de um
contexto familiar ao aluno.
Portanto, enquanto educadores, nos compete, como que garimpeiros em um rio, buscar alternativas
que possam conciliar num mesmo espaço e tempo o saber intuitivo e o escolar, o empírico e o científico, a
informalidade da matemática utilizada nas tarefas cotidianas e a ensinada na escola. A investigação aqui
apresentada nos deu indícios de que a atividade experimental juntamente com os diálogos que emergiram
antes e depois dela se mostraram bastante eficientes no ensino de física e matemática quando se está
trabalhando nesta Modalidade de Ensino.

Referências
DRIVER, R. et al.. Construindo conhecimento científico em sala de aula. Química Nova na Escola. São
Paulo: n.9, p.31 - 40, 1999.
QUEIROZ, C. A.; RAMOS, E. E. L. Possibilidades Interdisciplinares de Física e Matemática com o uso
da Prática Experimental em turmas do PROEJA. Florianópolis, 2007. Monografia - (Especialização em
PROEJA) - Centro Federal de Educação Tecnológica de Santa Catarina .

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

A CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO EM JOHN DEWEY

Marcela Calixto dos Santos1*; Leoni Maria Padilha Henning2;


1
Aluna em Iniciação Científica, Universidade Estadual de Londrina
2
Professora Orientadora, Universidade Estadual de Londrina

1. Introdução
John Dewey (1859-1952) foi um importante filósofo norte-americano que, por meio de suas ideias,
exerceu uma grande influência sobre a atual concepção pedagógica de educação que se estrutura em nossa
sociedade, embora isto tenha sido mais contundente nos movimentos educacionais ocorridos na primeira
metade do século passado. Este teórico, tentando intervir na sociedade de uma forma mais produtiva, buscou
trazer os problemas práticos da vida para a reflexão filosófica. Desta forma, além de suas reflexões
abarcarem o campo da educação, sua obra contribuiu na sistematização do Pragmatismo Clássico, o qual por
sua vez cooperou com o desenvolvimento do movimento escolanovista realizado principalmente nos anos
30. Tendo em vista estas considerações, a partir das discussões realizadas no grupo de pesquisa “Positivismo
e pragmatismo e suas relações com a educação”, e dos estudos realizados até então no projeto de pesquisa
“Estudo do contexto filosófico-educacional pragmatista e positivista do início do século XX nas obras dos
seus principais representantes: interrelações, influências e implicações no pensamento brasileiro”,
decidimos estudar as concepções fundamentais do pensamento pragmatista de John Dewey, com base em
seus próprios escritos, tendo como foco o conceito de educação.

2. Método
O presente trabalho pode ser formulado a partir de uma revisão bibliográfica que ocorreu por meio de
leituras sistemáticas sobre o livro do próprio autor, “Democracia e Educação”, o qual foi traduzido por um
dos seus discípulos mais importantes, Anísio Teixeira (1900-1971), e por Godofredo Rangel. Para a
realização da pesquisa e a estruturação do texto, simultaneamente à realização das leituras, realizávamos
fichamentos, anotações e discussões, de forma que ao final pudemos elaborar uma análise final sobre todo o
conteúdo estudado. Como subsídio complementar, utilizamos outras fontes de leitura secundária, priorizando
alguns autores selecionados que nos informaram acerca das idéias deweyanas e também acerca da Escola
Nova, como o livro de Fátima Cunha intitulado “Filosofia da Escola Nova: do Ato Político ao Ato
Pedagógico” e o livro “Fundamentos Filosóficos da Educação” do Howard A. Ozmon e Samuel M. Craver.

3. Resultados e Discussão
A princípio, Dewey, em seu livro, “Democracia e Educação”, nos explica que a seu ver, a educação
se constitui literalmente como vida, e que, por consequência, elas - a vida e a educação - formam uma coisa
só. Ele nos explica que a vida está sempre se auto-renovando e também que isto ocorre por meio de
determinadas ações dos indivíduos sobre o meio ambiente sendo possível, desta forma, que esta auto-
renovação da vida somente seja viável à medida que a experiência é vivida, repassada e continuada, tanto nos
aspectos físicos, quanto nos aspectos sociais da educação. É esta experiência vivida pelos indivíduos em uma
sociedade que dará um sentido significativo à existência da escola, tendo em vista que esta instituição, por
meio de seu papel de transmitir as experiências, se constitui num instrumento eficaz no processo de
manutenção do estilo de vida característico de uma determinada comunidade.
Todavia, continuando sua reflexão, Dewey nos explica que tendo em vista que o futuro é incerto, a
vida, da mesma forma, se constitui em constante mudança. Desta maneira, devemos sempre estarmos
buscando transformar as condições presentes nas mais significativas, o quanto conseguirmos, pois o
ambiente e o meio também fornecem condições necessárias para que determinadas ações e atividades sejam
estimuladas a se desenvolverem ou sejam inibidas. Por esta lógica, há a necessidade de os adultos
construírem espaços inteligentes para interferirem no meio em que os jovens imaturos pensam, sentem e
agem, a fim de obtermos uma melhor qualidade na educação destes. Para Dewey, os jovens devem ser
ensinados que, antes de agirem deverão levar em consideração as opiniões e as atividades das outras pessoas
ao seu redor. Assim, ao construir espaços inteligentes, a escola deverá procurar, o quanto for possível,
eliminar todos os aspectos ruins presentes no ambiente, para que estes aspectos não influenciem o
desenvolvimento de seus alunos. A escola deverá também buscar ampliar a esfera de contatos sociais entre
os alunos, a fim de superar suas limitações culturais, pois, considerando que haja a convivência de diferentes
grupos sociais em uma sociedade e que a educação de cada indivíduo varia em consonância com os estilos de
vida dos grupos sociais, as ações verdadeiramente educativas serão maneiras de aperfeiçoar

*
Autor Correspondente: mcs.ela@gmail.com
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

progressivamente a sociedade. Segundo Dewey, entre as funções da educação, podemos notar que ela
desempenha um papel especial pela sua função de direcionar, de controlar e de guiar, uma vez que por meio
de uma constante direção, que acontece de forma simultânea e sucessiva – haverá coordenação em
consequência de uma explícita focalização de um objetivo. Pois, ao guiar o indivíduo ao alvo, a educação
estará mantendo o equilíbrio para as ações posteriores. Entretanto, considerando que, por meio das normas e
dos costumes estabelecidos em um grupo social, que se constituem como estímulos, os indivíduos acabam
sendo influenciados na direcionalização das atividades dos jovens mais novos, diante disso, nosso filósofo
deixa claro que se faz necessário diferenciar-se na educação os resultados físicos e os resultados educativos,
para que cada um reflita consciente e inteligentemente sobre seus atos, tendo em vista os resultados e as
possíveis consequências sobre suas ações.
Numa comunidade social, as coisas serão significativas a partir de sua utilização em atividades
conjuntas, visto que assim será uma maneira de compartilhar os valores mentais estabelecidos. Segundo esta
lógica e considerando que pela concepção do autor, um dos maiores objetivos da educação deve ser o
aperfeiçoamento da sociedade, esta educação deve ser refletida e planejada com cuidado, pois o futuro da
sociedade dependerá de como as crianças são educadas. Dewey também nos explica que a dependência e a
interdependência sempre andam juntas, visto que a dependência subentende a interdependência. Por este
motivo, ele critica o costume que, nós adultos, temos em prestar mais “[...] atenção naquilo que a criança não
tem, e que não terá enquanto não se tornar um homem” [2], visto que o autor define positivamente o
significado de “imaturidade” como uma capacidade e como uma aptidão de desenvolvimento. Quanto a este
processo educacional de crescimento, o autor nos explica que a plasticidade constitui-se numa aptidão
especial em que as pessoas manifestam sua capacidade para “[...] poder modificar seus atos tendo em vista os
resultados anteriores [...]” [3], de forma a aperfeiçoarem sucessivamente suas práticas por meio do
desenvolvimento progressivo de atitudes mentais.
No âmbito curricular, Dewey nos explica que a escolhas das matérias devem ser feitas tendo como
foco o desenvolvimento das aptidões naturais de cada educando e, por consequência, a produção de
resultados úteis para a sociedade. O educador deverá possibilitar que o educando, no processo educacional,
consiga adquirir os hábitos que são indispensáveis para a sua sobrevivência na sociedade, mais
especificamente no ambiente que está inserido. Segundo nosso filósofo, tendo em vista que o processo
educativo está consecutivamente se reorganizando, se reconstruindo e se transformando em conformidade
com o passar dos anos, podemos concluir que o crescimento nunca terá limites. Em suas próprias palavras
Dewey diz que “Quando se diz que educação é desenvolvimento, tudo depende do como se concebe êste
desenvolvimento. Nossa conclusão essencial é que vida é desenvolvimento e que o desenvolver-se, o crescer
é a vida” [4].
Uma das grandes funções da educação é estar constantemente reedificando e reorganizando a
experiência, de forma a tentar reduzir os esforços do passado ao máximo possível, com o fito de tornar a
sociedade futura a mais perfeita o quanto pudermos: “O problema consiste em extrair os traços desejáveis
das formas de vida social existentes e empregá-los para criticar os traços indesejáveis e sugerir melhorias”
[5]. Todavia, nas concepções do autor, a perfeição social está relacionada às práticas democráticas, e, sendo
assim, a instauração de um governo democrático, será um dos requisitos essenciais para que a sociedade
progrida, tendo em vista que, a democracia, concebida como um modo de vida, estará possibilitando o mútuo
e pleno intercâmbio de experiências entre os distintos grupos sociais que convivem juntamente na sociedade.

4. Conclusão
A concepção de Dewey sobre educação, que é contrária aos dualismos, permite-nos entender o
ensino associado à moral, no sentido de que jamais se ensina apenas os conteúdos, mas que estes, se bem
aprendidos, se revelam na conduta do aprendente de modo que haja continuidade de sua aprendizagem na
ambientação social através dos seus atos. Nota-se assim que Dewey proclama ações de cada um amparado
numa visão democrática de sociedade, uma vez que é na escola que se vivencia a democracia e se forma
seres verdadeiramente democráticos. Considerando que a educação é vida, e que, a vida está em meio às
constantes mudanças, Dewey nos adverte que a educação em si não deve ter nenhum objetivo, visto que os
objetivos são variados e mutáveis, e, por este motivo, quem os tem são as pessoas. Assim, os objetivos
pessoais, por mais válidos que sejam, não devem ser apresentados como objetivos da educação, mas sim
como sugestões, pois, ao contrário, eles podem se tornar mais prejudiciais do que benéficos – como por
exemplo “[...] preparar tal classe para estudar medicina [...]” [6]. É por este motivo que a educação sempre
varia de acordo com os tipos diversos de estilos de vida que são adotados no grupo social. Os objetivos
educacionais devem ser elaborados a partir das necessidades próprias dos educandos, sejam elas inatas ou
adquiridas, cooperando simultaneamente com suas práticas e atividades cotidianas, a fim de expandir e
organizar suas aptidões. Em suma, a educação se processa por meio de uma constante reconstrução e

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

reorganização da experiência, a qual terá seu sentido elucidado e acrescido, proporcionando então, por
consequência, o aprimoramento da aptidão, para que o indivíduo consiga conduzir o processo contínuo e
subsequente das suas próximas experiências. Desta forma, a experiência só pode ser enriquecida por meio da
compreensão das conexões e das continuidades existentes naquilo que está sendo empreendido, as quais não
eram percebidas anteriormente – por meio do aprendizado. A democracia deve se manifestar por meio de
uma mútua retribuição social, na qual seja possível proporcionar a todos os integrantes da comunidade o
desenvolvimento das suas respectivas aptidões naturais. Sendo assim, uma das importantes tarefas da
educação consiste em ensinar o verdadeiro significado da concepção de eficiência social, correlacionando-a
ao desenvolvimento da consciência acerca da necessidade de se prestar serviços a outras pessoas, de forma a
utilizar as habilidades naturais de uma maneira socialmente útil, bem como, com a intencionalidade de
enriquecer a experiência pessoal de cada um.

Referências
[1] CUNHA, F. Filosofia da Escola Nova: do Ato Político ao Ato Pedagógico. Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro; Niterói: Universidade Federal Fluminense, 1986.
[2] DEWEY, J. Democracia e Educação. Trad. Godofredo Rangel; Anísio Teixeira. 3. ed. São Paulo:
Companhia Editora Nacional. 1959, pp. 44-45.
[3] Ibidem, p. 47.
[4] Ibidem, p. 53.
[5] Ibidem, p. 89.
[6] Ibidem, p. 116.
[7] OZMON, H. A.; CRAVER, S. M. Fundamentos Filosóficos da Educação. Trad. Ronaldo Cataldo
Costa. Porto Alegre: Artmed, 2004.

Agradecimentos
Agradeço à minha orientadora por me conceder a oportunidade de estar crescendo e me desenvolvendo no
meio acadêmico, e por toda a força e apoio que ela me oferece. Agradeço também à minha família pela
compreensão, pelo apoio e pela paciência para comigo. E agradeço a Deus pela direcionalização e pela força
que Ele me provê.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

A IMPORTÂNCIA DA LEITURA NAS SÉRIES/ANOS INICIAIS DO ENSINO


FUNDAMENTAL

Rosa Venice Curti Crozatto1; Leslie Felismino Barbosa2; Lucinéa Aparecida De Rezende3
1
Universidade Estadual de Londrina
2
Universidade Estadual de Londrina
3
Universidade Estadual de Londrina

Resumo: O presente artigo apresenta discussões sobre o processo de leitura crítica e interativa nas
séries/anos do Ensino Fundamental. Investiga o processo de apreensão da leitura sob a abordagem tradicional
e socointeracionista, destaca aspectos conceituais que podem contribuir para a formação de leitores. Tem
como objetivo provocar no professor um olhar crítico reflexivo acerca das ações didáticos pedagógicas,
desenvolvidas em sala de aula. Refere-se a uma pesquisa bibliográfica, a luz dos estudos de Emília Ferreiro,
Ana Teberosky e Paulo Freire.

Palavras-chave: Leitura interativa. Abordagem sóciointeracionista. Leitura crítica.

1. Introdução
O aprendizado da leitura pelos alunos das séries/anos do Ensino Fundamental tem sido alvo de
discussões permanentes entre estudiosos da educação. Isso porque a não apropriação da leitura, muitas vezes,
resulta em reprovação e ou evasão, nesta fase de escolarização.
Esse fracasso escolar pode estar relacionado à forma como as escolas concebem o ensino da leitura
dos textos trabalhados na alfabetização. Levando os alunos à decodificação de símbolos linguísticos de
forma mecânica e repetitiva, numa visão tradicionalista de ensino. Nesta abordagem tradicional o processo
de ensino parte da idéia de que o aprendiz deve unicamente conhecer a estrutura da escrita, sua organização
em unidades e seus princípios fundamentais, os quais incluem basicamente algumas noções sobre a relação
entre escrita, oralidade e a leitura desses códigos linguísticos.
No entanto, entendemos que a leitura ultrapassa a estruturação técnica. O ato de ler exige construção
do pensamento lógico e argumentação. Proporciona ao aluno a capacidade de construir suas relações frente
ao mundo que o cerca.
Diante destas observações, cabe à escola, uma análise crítica reflexiva quanto à apresentação da leitura
aos alunos em nível de alfabetização. É possível propor aos alfabetizandos uma leitura crítica e interativa? A
compreensão da leitura, no início da escolarização, possibilita ao aluno uma relação com o seu contexto
histórico? Os aspectos conceituais centrados nas propostas de ensino contribuem ao desenvolvimento de
leitores críticos?
No contexto educacional, o processo de aprendizagem da leitura deve ser significativo, crítico e
prazeroso. Principalmente, nas séries/anos iniciais do Ensino Fundamental, pois é nesse período escolar que
a criança acentua a sua percepção que a leitura e a escrita fazem parte de sua vida; que é essencial ao seu
convívio social e que por meio dela pode expressar suas idéias, socializar-se com os autores numa relação
dialógica e interativa.
Cabe aos professores propor o desenvolvimento do hábito da leitura em sala de aula, fazendo o uso
funcional da linguagem verbal como instrumento de comunicação e de apropriação da leitura Isso de forma
criativa, com autonomia de compreensão, visando a formação de um ser humano expressivo, competente,
crítico e transformador.
Portanto, é importante enfatizarmos o trabalho pedagógico do educador como mediador no processo
de compreensão da leitura, numa construção baseada na proposta sócio interacionista, em que o aluno se
coloque como sujeito da própria aprendizagem. Ferreiro afirma que “[...] a alfabetização não é um estado ao
qual se chega, mas um processo cujo início, na maioria dos casos, dá-se anterior a escola e que não termina
ao finalizar a escola primária”[2], sendo dessa forma, essencial a valorização dos conhecimentos prévios que
o aluno traz quando chega ao espaço escolar.
Em decorrencia da valorização do contexto sócio histórico do aluno nos processos de ensino e de
aprendizagem, a formação de leitores implica, sobretudo, que os professores trabalhem a língua escrita em
atividades que fomentem o prazer de ler e que permitam aos alunos experimentar o poder da leitura. Esse
trabalho se dá na relação professor/aluno, num diálogo de confiança múltipla.
Diante de abordagens tradicionais e sociointeracionistas que permeiam os processos de ensino e de
aprendizagem das escolas, o artigo apresenta uma discussão respaldada nas proposições de Emília Ferreiro,


Aluna de Pós Graduação em Educação pela Universidade Estadual de Londrina. E-mail: rvcurti@hotmail.com
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Ana Teberosky e Paulo Freires sobre a apropriação da leitura crítica e interativa no processo de
alfabetização, nesta perspectiva faz uma comparação de métodos que embasam as práticas pedagógicas. O
presente documento não tem a pretensão de indicar caminhos para a superação das deficiências do processo
de leitura na fase de alfabetização, mas sim de proporcionar aos professores dessas séries/anos, um olhar
reflexivo acerca das ações didático-pedagógicas no trabalho com a formação de leitores.

2. Leitura Crítica
O ato de ler e escrever são processos abrangentes e complexos que exigem do aluno a compreensão do
mundo a partir de uma característica particular do homem: sua capacidade de interação com o outro por meio
das palavras, que por sua vez estão sempre submetidas a um contexto.Dessa forma, a recepção de um texto
nunca poderá ser entendida como um ato passivo, pois quem escreve o faz pressupondo a compreensão do
outro. Neste sentido, podemos dizer que a alfabetização é uma prática social que está sujeita aos interesses
das relações de poderes, que ocorrem em diferentes contextos: sala de aula, comunidades, locais de trabalho,
lares e outros
Portanto, devido a estes aspectos, o ensino e a aprendizagem na alfabetização exigem a formação de:
habilidades para interpretar e escrever corretamente textos em contexto diferentes e heterogêneos;
capacidade de análise crítica em relação ao texto e linguagem de diferentes grupos sociais. Desse modo,
compreendemos que a interação leitor-texto se faz presente desde o início do processo de construção da
leitura e da escrita.
Em conseqüência desta visão de processo de aprendizagem, a alfabetização crítica tem ganhado
espaço no campo da educação. Vários autores têm fornecido definições que descrevem o que este processo
significa. Para Ferreiro:

As atividades de leitura sempre tem uma finalidade. [...] Em cada situação a maneira de ler
é diferente e determinada pela finalidade da leitura [...] Trata-se então de introduzir práticas
habituais de um leitor nas situações escolares e a ajudar as crianças a descobrir como ler em
cada caso.[3]

Concordando com a autora, entendemos que para buscar na leitura finalidades específicas o leitor
precisa desenvolver a leitura crítica, dialogar com o texto, associando o texto lido com o seu conhecimento
de mundo. Este processo de leitura crítica acontece nos primeiros anos de escolarização da criança. Dessa
forma, podemos dizer que o processo de leitura crítica inicia-se com uma alfabetização crítica.
Teberosky e Tolchinsky consideram o processo da alfabetização crítico e afirma que: “[...] pela leitura
crítica o sujeito abala o mundo das certezas (principalmente as da classe dominante), elabora e dinamiza
conflitos, organiza sínteses, enfim combate assiduamente qualquer tipo de conformismo, qualquer tipo de
escravização às idéias do texto”.[8]
A autora discute a necessidade do professor desenvolver estratégias didáticas em que o aluno consiga
compreender a leitura de forma crítica e por meio dessa leitura, formar a sua visão de mundo que possibilite
ao indivíduo atuar criticamente em seu espaço social.
Paulo Freire foi um defensor da autonomia e da participação ativa do indivíduo na sociedade. A
alfabetização significativa com leitura crítica foi uma de suas defesas: “leitura não se esgota na decodificação
pura da palavra escrita, mas se antecipa e se alonga na inteligência do mundo”.[6]. Assim, conceber a crítica
como a principal energia para movimentar as leituras é definir uma atitude de fazer uma ponderação
apreciativa. Ponderação que reflete argumentos diferenciados, de acordo com o ponto de vista: estético,
lógico ou intelectual.

3. Metodologia
As escolas de alfabetização, em sua maioria, asseguram-se em métodos de ensino com o objetivo de
desenvolver em seus alunos o letramento necessário a toda sua vida quer seja escolar ou social. No entanto,
muitos professores utilizam-se de métodos que levam a uma formação com ideologias dominantes, em que
os alunos passam a ser meros repetidores de frases desconectas e sem significado. É provável que isso
aconteça não por intenções claras dos professores, mas pela falta de análise de um contexto político, social e
cultural que permeia os processos educacionais existentes.
Na busca de fundamentações que possam conduzir os professores a este repensar crítico, buscamos
nos autores que fundamentam esse artigos, aportes teóricos que fazem uma comparação de métodos e
abordagens educacionais.
Segundo Ferreiro:

261
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Tradicionalmente, a alfabetização inicial é considerada em função da relação entre o


método utilizado e os estados de maturidade ou de prontidão da criança. Os dois pólos do
processo de aprendizagem, quem ensina e quem aprende, tem sido caracterizados sem que
se leve em conta o terceiro elemento da relação: a natureza do objeto de conhecimento
envolvendo esta aprendizagem.[4]

Com base nesses pressupostos, Emilia Ferreiro critica a alfabetização tradicional, porque julga a
prontidão das crianças para o aprendizado da leitura e da escrita por meio de avaliações de e de motricidade.
Dessa forma, dá-se peso excessivo para um aspecto exterior da escrita (saber desenhar as letras) e deixa-se
de lado suas características conceituais, ou seja, a compreensão da natureza da escrita e sua organização. O
aprendizado da alfabetização não ocorre desligado do conteúdo da escrita.
Esses métodos de ensino da leitura e da escrita utilizados por muitos professores, apontam dois
grandes grupos aos quais podem ser aglutinados em: sintéticos e analíticos.
Os métodos sintéticos desdobram-se em processos alfabéticos, silábicos e fonéticos, ou seja, partem de
segmentos menores da fala para chegar a palavras, frases e textos. A leitura mecânica precede a leitura
compreensiva, estabelecendo o total esvaziamento contextual da mensagem.
Enquanto que o método analítico desdobra-se em processos de palavração, sentenças e contos.
Adotam procedimentos opostos aos métodos sintéticos, partindo de unidades maiores, para chegar a unidade
menores. De certa forma buscam uma alfabetização com sentido, significativa, mas centram a atenção em
estratégias visuais, cristalizando o processo de alfabetização em etapas e procedimentos que, via de regra,
nada tem a ver com o processo de aprendizagem do aluno.
É por não levar em conta o ponto mais importante da alfabetização que os métodos tradicionais
insistem em introduzir os alunos à leitura com palavras aparentemente simples e sonoras, mas que, do ponto
de vista da assimilação das crianças, simplesmente não se ligam a nada. Segundo o mesmo raciocínio
equivocado, o contato da criança com a organização da escrita é adiado para quando ela já for capaz de ler as
palavras isoladas, embora as relações que ela estabelece com os textos inteiros sejam enriquecedoras desde o
início. Compreender a escrita interiormente significa compreender um código social. Por isso, segundo
Ferreiro e Teberosky, a alfabetização também é uma forma de se apropriar das funções sociais da escrita.
Porém, do ponto de vista pedagógico, é indispensável que a afabetização seja pautada em um método
que possa ser seguido passo a passo. Nessa busca constante por um caminho que possa conduzir a um
processo de alfabetização, que forme alunos capazes de desenvolver uma leitura crítica e interativa, muitas
vezes, o professor acaba por criar um terceiro método mesclado por fragmentos do método sintético e do
analítico.
Essa busca por um método eficaz e completo pode contribuir para o esvaziamento do conteúdo do
aprendizado do aluno, deixando a escola à deriva em meio a fragmentos de métodos que não definem os
reais objetivos da formação escolar. Não se aprende por pedacinhos, mas por mergulhos em conjuntos de
problemas que envolvem vários conceitos simultaneamente.
Frente a estas preocupações, Freire [7] compara um método rígido de trabalho, onde todos os passos
devem ser seguidos à risca, a uma receita que precisa conter todos os ingredientes para despejar o saber de
quem sabe ao suposto vazio de quem nada sabe.
A forma como alguns professores encaram a questão do método, para atingir um fim frente atividades
programadas, pode levar a um reducionismo da aprendizagem, com limitações e repetições.
Ainda em relação aos métodos, Ferreiro e Teberosky [5] assinalam no método sintético, a ênfase em
habilidades auditivas e, no método analítico, a ênfase em habilidades percepto-visuais, demonstrando que a
prioridade dada aos métodos de ensino descuida dois aspectos fundamentais na aprendizagem da língua oral
e escrita: a competência linguística da criança e a sua capacidade cognoscitiva.

[...] não estamos cientificamente preparados para falar de prontidão para a leitura, e, até que
isso aconteça, seria melhor supor que todas as crianças que temos na sala estão maduras
para a leitura, ao invés de supor que podemos classificar aquele que não tem o que supomos
que sabemos que devem ter.[1]

As abordagens da alfabetização centradas nos métodos de ensino e na prontidão para a aprendizagem


reduz sua abrangência conceitual enquanto objeto de conhecimento e a visão acerca do sujeito que aprende.
Ferreiro e Teberosky, referem-se aos alunos e a língua escrita, vítimas deste esquema enraizado nas
práticas escolares, dizendo:

[...] temos uma imagem empobrecida da língua escrita: é preciso reintroduzir, quando
consideramos a alfabetização, a escrita como um sistema de representação da linguagem.

262
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Temos uma imagem empobrecida da criança que aprende: a reduzimos a um par de olhos,
um par de ouvidos, uma mão que pega um instrumento para marcar e um aparelho fonador
que emite sons. Há, atrás disso, um sujeito que pensa cognoscente, alguém que constrói
interpretações, que age sobre o real para fazê-lo seu.[5]

Neste contexto, é importante destacarmos que não se trata de negar a importância da intervenção
didático-pedagógica do professor no processo de aprendizagem da leitura e da escrita, mas redimensioná–la,
verificando que tipo de ação docente pode colaborar nesta aprendizagem.
As contribuições da psicologia cognitiva, e, mais especificamente, os pressupostos da psicogênese da
língua escrita podem colaborar neste redimensionamento, provocando descentralização de como se ensina
para a sua composição como se aprende a ler e escrever e em que contexto esse processo se dá.
Compreendemos que a criança constrói sistemas de representação para a compreensão do mundo em
que vive e, à medida que a escrita é um objeto cultural produzido historicamente pela humanidade e presente
nas situações do seu cotidiano, ela elabora e desenvolve esquemas cognitivos para compreendê-lo. Este
processo de apropriação inicia-se antes da entrada à escola, na relação da criança com a língua escrita. Para
Freire [7] a relação pedagógica consiste no diálogo entre educador e educando, como sujeitos mediatizados
pelo mundo.
As propostas teóricas dos autores citados valorizam o processo interativo como espaço de construção
dos sentidos do texto, confrontando situações a partir do contexto histórico, político, e social dos
alunos.Desse modo, o que seria correto na concepção de Ferreiro, seria interrogar, “[...] através de que tipo
de prática a criança é introduzida na linguagem oral e escrita, e como se apresenta esse objeto no contexto
escola”.[4]. Ferreiro afirma que “nenhuma prática pedagógica é neutra. Todas estão apoiadas em certos
modos de conceber o processo de aprendizagem e o objeto dessa aprendizagem”.[4]
O professor que pretende desenvolver uma alfabetização com processos de leitura crítica e interativa,
não pode se tornar um prisioneiro de suas próprias convicções, as de um adulto já alfabetizado. Para ser
eficaz “deverá adaptar seu ponto de vista ao da criança. Uma tarefa que não é nada fácil”.[4]
Neste contexto, não cabem receitas prontas que resultam em formação de leitores que repetem
decodificações, mas análises, compreensão da realidade do aluno e de como se dá a apropriação do
conhecimento de cada um. No caso da alfabetização, utilizar textos do cotidiano é muito mais produtivo do
que seguir uma cartilha. Porém, isso não quer dizer que o ensino não deva ser objeto de planejamento e
sistematização

4. Conclusão
Conclui-se que a leitura é um processo dinâmico e social, resultado da interação da informação
presente no texto e o conhecimento prévio do leitor, possibilitando a construção do sentido, ou, em outras
palavras, a compreensão textual.
Quanto mais oportunidades tenham os alunos de ouvir, ver e sentir leituras alheias, maior será o prazer
e a sensibilidade para compreender o que leem e ouvem. É por meio da leitura que se tem acesso aos
significados da cultura em que vive, estabelecendo relações entre as informações e construindo sentido para
si e para o mundo. A escola, um dos lugares de construção dos saberes sociais, precisa considerar a
diversidade de significados sociais e culturais que as crianças compartilham.
Não basta oferecer às crianças livros em quantidade, ou ficar apenas nas leituras obrigatórias do livro
de apóio didático. É necessário levá-la a perceber e sentir que a leitura é um elemento essencial para a vida.

Referências
[1] FERREIRO, E. Alfabetização em processo. São Paulo: Cortez, 1986. p. 14.
[2] ______. Com todas as letras. São Paulo: Cortez, 1999. p. 47.
[3] ______. Desenvolvimento da alfabetização: psicogenêse. In: GOODMAN, Yetta M. (Org.). Como as
crianças constróem a leitura e a escrita: perspectivas piagetianas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. p.
234.
[4] ______. Reflexões sobre alfabetização. São Paulo: Cortez, 1985. p. 9, 30, 31, 61.
[5] FERREIRO, E.; TEBEROSKY, A. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986. p.
40.
[6] FREIRE, P. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez, 1986. p.
11.
[7] ______. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. p. 33.
[8] TEBEROSKY, A.; TOLCHINSKY, L. Além da alfabetização: a aprendizagem fonológica, ortográfica,
textual e matemática. São Paulo: Ática, 1995. p. 26.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

A IMPORTÂNCIA DO DESENHO INFANTIL NO DESENVOLVIMENTO


EDUCACIONAL

Ana Paula de Rezende*; Marelenquelem Miguel 2


1
Graduanda em Pedagogia – INESA – Joinville, SC.
2
Mestre – UDESC, Professora INESA

1. Introdução

Pensar em desenvolvimento escolar não se restringe apenas ao professor e ao educando dentro da sala
de aula, contudo a vida social de cada criança.
Ser educador é ter uma visão macro do espaço da sala de aula e ao mesmo tempo uma visão micro da
criança, como sujeito participante, com sua história, cultura, modo de ser e fazer, levando em consideração o
seu dia a dia.
Saber utilizar diferentes métodos avaliativos e de análise faz-se necessário dentro da sala de aula.
Apresentações escritas, orais, expressões faciais, gestos e desenhos, podem e devem ser utilizados como
instrumentos para o professor conhecer a aprendizagem de seus alunos.
Ao apresentar papéis em branco, lápis de cor ou giz de cera, a professora propõe para a criança uma
forma de transmitir os seus sentimos e a sua vida social, podendo analisar o cotidiano familiar das crianças,
através de um desenho direcionado.
O educador não necessita todas às vezes direcionar o tema, porém quando ele percebe uma atitude
considerada fora do padrão de desenvolvimento da criança, vai buscar no desenho uma fonte de pesquisa.
De acordo com Becker [1]

[...] o desenho é uma linguagem para a criança, é uma forma de estabelecer comunicação
com o mundo, de expressar suas ideias, medos, conflitos, descobertas e alegrias.
Desenhando, a criança brinca e, brincando, vai imprimindo as suas marcas no papel, nas
paredes, nos muros e calçadas, contando, ao seu modo, a sua história.

As crianças costumam expressar suas emoções ao desenhar, podendo através de formas, tamanhos e
cores darem significado a suas formas ou rabiscos.

2. Método

Este estudo dar-se-á através de procedimento qualitativo, utilizando-se da pesquisa exploratória


descritiva tendo como estratégia de trabalho o método dedutivo.
Desta maneira, pode-se dizer que a pesquisa exploratória irá contribuir para o desenvolvimento deste
estudo. Pois através da mesma, aprofundaremos as indagações que forem surgindo no decorrer deste
trabalho.
Gil [4] afirma que

As pesquisas exploratórias têm como principal finalidade desenvolver, esclarecer e


modificar conceitos e idéias, tendo em vista, a formulação de problemas mais precisos ou
hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores [...].
[...] habitualmente envolvem levantamento bibliográfico e documental, entrevistas não
padronizadas e estudos de caso.

3. Resultados e Discussão

Desde o tempo dos primórdios o desenho já existia. Desenhavam em paredes animais, pessoas e a
agricultura da época, tendo em vista que cada uma continha um significado.
Utilizar o desenho como “ferramenta”, faz-se muito comum hoje em sala de aula. Contudo, se não
estiver contido em um plano de aula coerente, não tiver um objetivo e não for analisado com seriedade, este
perderá o seu respectivo valor.

*
paulinhahh_r@hotmail.com
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Desenhar não são apenas rabiscos, formas e cores. É todo um conjunto de desenvolvimento
psicomotor, onde o professor deve analisar a coordenação motora fina das mãos levando em consideração o
seu aspecto emocional, físico e psíquico.
Sobre essa questão, Derdyk [3] diz que:

Existe no ar uma imagem de que a Educação Artística é algo que “mexe com a mão”. Já as
atividades mais sedentárias são relacionadas com a cabeça, como se mão e cabeça não
fizessem parte de um mesmo corpo.

Nesse processo, a criança utiliza as mãos como meio de comunicação entre o seu pensamento, o lápis
e a folha. Cada obra de arte feita pela criança, é uma expressão. Assim o desenho infantil, também é
considerado como função de linguagem.
A intervenção pedagógica nesta perspectiva pode ocorrer através de propostas com desafios, a fim que
a criança sinta-se motivada ao desenhar em lugares não comuns para elas.
Assim, pisos, paredes, pedras tornam-se lugares de desenhos, onde a criança manifesta sua
imaginação.
Para Ostrower [5]

Nas crianças, a expressão artística equivale a um experimento direto. Com quanto ocorra na
área do sensível, o fazer não se coloca para a criança num plano diferente de qualquer outra
experiência de vida – apenas é feita com materiais que por nós são considerados artísticos.
Assim, a tensão psíquica corresponde à experiência, a criança a extravasa no momento da
ação.

Desta maneira, Becker [1] irá complementar este pensamento afirmando que “desenhando, a criança
brinca e, brincando, vai imprimindo as suas marcas no papel, nas paredes, nos muros e calçadas, contando,
ao seu modo, a sua história”.
É comum escutarmos a expressão desenho livre no ambiente escolar. Pois muitos educadores, pais e
ate mesmo alunos e pesquisadores, acreditam que ao não direcionarmos uma atividade artística com um
tema, o educando estará fazendo um desenho livre.
Entretanto, a personalidade da criança não poderá ser observada ou ate mesmo analisada em um
desenho. Pois esta encontra-se em processo de desenvolvimento intelectual e afetivo, havendo mudanças em
suas atitudes a todo momento.
Considerando o meio em que a criança está inserida e levando em consideração a cultura, etnia e
outros aspectos relevantes à sua formação pessoal, pode-se dizer que não há desenho livre.
Desta maneira, Cruz [2] se contradiz, pois o mesmo afirma que:

Como elemento da função simbólica, o desenho representa um esforço de imitação do real,


estando submetido ao desenvolvimento do próprio pensamento da criança. [...]
[...] A atividade criadora encontra-se em relação direta não sôo com a riqueza e variedade
de nossas experiências individuais, mas também com experiências socialmente produzidas
pela humanidade. Cada grande invento, descoberta ou obra de arte produzidos pelo homem
tem como base para seu surgimento a enorme experiências acumulada social e
culturalmente.

Assim, a criança X ao desenhar a família conforme solicitado pela professora Y, do primeiro ano do
ensino fundamental da rede municipal, esta retrata seus pais, ambos em uma cadeira de rodas. Após este
momento, a professora pergunta à aluna porque desenhou seus pais assim, e esta responde que eles são
paraplégicos.
Desta forma, pode-se dizer que o desenho auxilia no desenvolvimento cognitivo, afetivo e facilita
muitas vezes para que o professor conheça a realidade de seus alunos.
Segundo Ostrower [5]

Como processos intuitivos, os processos de criação interligam-se intimamente com o nosso


ser sensível. Mesmo no âmbito conceitual ou intelectual, a criação se articula
principalmente através da sensibilidade.

Sobre essa questão, Cruz [2] também irá dizer

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Atividade intensa e envolvente para as crianças, o desenho na pré - escola tem uma
presença constante. É visto como possibilidade de expressão, como incentivo à criatividade.
Ou ainda como indicador do nível de desenvolvimento cognitivo e afetivo das crianças.

Cada criança desenvolve no seu desenho um potencial diferente, conforme a proposta sugerida. Seus
desenhos vão tendo formas cada vez mais personalizadas, de acordo com o seu nível cognitivo e de
maturação.
Conforme as crianças vão mudando, o desenho também vai sendo modificado. A maturação do
desenho desenvolve-se de acordo com as transformações que a criança vai passando.
Para Ostrower [5]

[...] o homem não somente percebe as transformações como sobretudo nelas se percebe. A
percepção de si mesmo dentro do agir é um aspecto relevante que distingue a criatividade
humana. Movido por necessidades concretas sempre novas, o potencial criador do homem
surge na história como um fator de realização e constante transformação.

Desta maneira, a criança se percebe nas transformações que ela realiza em seus desenhos. Antes o que
era um risco, no processo de maturação transforma-se em carrinhos, casas ou até mesmo em pessoas.

4. Conclusão

Desenhos, garratujas e palavras são condições que as crianças encontram de expressar seus
sentimentos e suas visões sobre e do mundo. É o momento em que eles demonstram o seu contato com a
sociedade, com as diferentes culturas e suas próprias convicções.
No mundo em que habitamos a cada dia surgem milhões de informações em que são repassadas
através de imagens. O educando ao desenhar transmite o seu pensamento, a sua emoção e seus sentimentos.
Devido a este fator, toda imagem feita, ou seja, todo desenho, expressa algo.
Cores, formas, traçados, profundidade são aspectos relevantes, quando analisamos desenhos.
Deste modo, o professor necessita ter e manter uma postura coesa e ao mesmo tempo confiável para
seu educando, para que ele consiga aproveitar estes instrumentos de avaliação a seu favor. Entender a
importância do desenho no desenvolvimento da criança é o primeiro passo para esta construção e para esta
significação que o professor deve dar para as expressões artísticas de seus educandos.

Referências

[1] BECKER, Rosana. A constituição da infância: o que dizem as crianças de uma escola publica
catarinense sobre a experiência de ser criança e de ser aluno. Florianópolis, 2006, p. 53. Dissertação
(Mestrado em Educação). Universidade do Estado de Santa Catarina UDESC.
[2]CRUZ, Roseli Fontana Nazaré. Psicologia e trabalho pedagógico. São Paulo: Atual, 1997, p. 144, p.
150.
[3]DERDYK, Edith. Formas de pensar o desenho: desenvolvimento do grafismo infantil. São Paulo,
Scipione, 1989, p.14. (Série Pensamentos e Ação no Magistério)
[4]GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999, p. 43.
[5]OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de criação. 23. ed. Petrópolis, Vozes, 2008, p. 10, p.12,
p.74.

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A INSERÇÃO DO INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS NA COMUNIDADE SURDA

Deise Maria Szulczewski1*; Alessandra Jardim Marangoni Moita2; Pedro Henrique Witchs3
1
Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS
2
Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS
3
Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS

1. Introdução
A profissão de intérprete de língua de sinais (ILS) vive um momento de grande visibilidade no
cenário atual. O projeto de lei 4673/04 foi aprovado pela Comissão de Assuntos Sociais do Senado (CAS) no
dia 07 de Julho de 2010. Este projeto regulamenta a profissão de tradutor e intérprete de Língua Brasileira
de Sinais (LIBRAS). Os ILS já vêm há muito tempo lutando pela regulamentação da sua profissão. A
oficilialização da LIBRAS em 24 de Abril de 2002, pela lei 10.436, como língua oficial da comunidade
surda foi uma grande conquista para os surdos e consequentemente para os ILS.
Através da perspectiva teórica dos Estudos Surdos em Educação, buscamos refletir e problematizar a
participação do ILS na comunidade surda, principalmente o ILS que atua na área da Educação, dentro da sala
de aula. Autores como Lacerda [3], Leite [4], Lopes [5, 6, 7], Vieira [11] nos ajudaram a fundamentar
teoricamente este estudo.
A profissão de ILS não é recente, porém a inexistência de registros oficiais que comprovem a atuação
do ILS dificulta uma pesquisa mais aprofundada. A interpretação tanto da língua oral como de língua de
sinais (LS) era raramente documentada. Segundo Leite [4]:

A presença de intérprete, na mediação entre surdos e ouvintes, deve ser tão antiga quanto a
existência das pessoas surdas pelo mundo. Aqui, no Brasil, temos notícia da convocação
oficial de intérprete, por órgão judicial, ao então Instituto Nacional de Surdos-Mudos, ainda
no final do século XIX, conforme documentos existentes na biblioteca do INES. (p. 37)

As primeiras pessoas que se dedicaram a essa prática, na maioria dos casos, eram filhos de pais surdos,
conhecidos como Children of Deaf Adults (CODA), também parentes ou amigos de pessoas surdas que
tinham como principal objetivo estabelecer a comunicação entre os surdos e os ouvintes. Enfim, pessoas que
de uma maneira ou outra estavam envolvidas com grupos e organizações de surdos. Isso acontecia de
maneira voluntária e sem expectativa de remuneração, principalmente em instituições religiosas.
Segundo Vieira [11], somente no ano de 1964 inicia-se, nos Estados Unidos, um processo bastante
lento que visa uma profissionalização dos intérpretes de língua de sinais. Esse movimento é realizado pelo
povo surdo, que procura mostrar à sociedade a importância desse profissional que além de atuar nas
instituições religiosas, pode também atuar em outras situações, como em palestras, seminários, congressos e,
inclusive, atuar na área da Educação, em escolas, universidades, etc.

2. Método
Este estudo é um recorte de uma pesquisa maior intitulada Os Intérpretes de Língua Brasileira de
Sinais (LIBRAS) no Rio Grande do Sul. Como a pesquisa está em fase inicial da coleta de dados, utilizamos
para este estudo 19 questionários respondidos por ILS de diferentes regiões do Rio Grande do Sul. Mas por
que utilizamos questionários?
Há um momento em que é preciso escolher qual o instrumento a ser utilizado para a coleta de dados e
o questionário foi o que melhor atendeu as nossas necessidades. O questionário é um instrumento mais
rápido que a entrevista e que permite respostas fechadas e abertas . Porém, é importante lembrar que o que é
dito ou escrito é uma representação momentânea do significado da enunciação, ou seja, as perguntas foram
respondidas pelos ILS de acordo com a representação que os mesmos faziam do assunto e de acordo com as
experiências por eles vivenciadas. Segundo Pires e Nobre (2004 apud LACERDA [3]): É necessário nos
remeter aos discursos preexistentes na experiência do intérprete e também de nos assegurar que há questões a
serem consideradas em relação à sua subjetividade. Cada sujeito que respondeu as perguntas do questionário
pertence a uma determinada cultura, participa do grupo surdo de sua comunidade, as suas vivências são
diferentes, e seus trabalhos ocorrem em locais distintos. Alguns trabalham em escolas, outros em
universidades, enfim, todas essas questões vão constituindo os sujeitos a serem de um jeito e não de outro.

*
dm.szulczewski@uol.com.br
267
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

[...] ou seja, dar a palavra não é, como parecem alguns discursos democratizantes, uma ação
tão singela de ser levada a cabo, já que essa palavra só passa a ser reconhecida como tal, se
ultrapassar, de alguma forma, as restrições que pesam sobre a enunciação de discursos
naquele momento, naquele lugar, naquela situação definida, com aqueles interlocutores... E
são tais restrições – móveis, é claro, mas com um peso suficiente para não serem eliminadas
pura e simplesmente por decreto ou intenção – que ditarão a possibilidade de que uma
determinada manifestação, fala, enunciado... seja, digamos, levada em conta pelos
interlocutores. (SILVEIRA [9], p. 66)

Não quero dizer com isso que as respostas dadas não são fiéis ao que os ILS responderam no momento
do questionário, apenas alerto para a importância de se considerar as questões anunciadas anteriormente.
Podemos dizer que não foi fácil elaborar perguntas que contemplem ou que minimamente respondam
as nossas inquietações. Com a entrega e a devolução dos primeiros doze questionários (chamados pelo grupo
de pesquisa de “questionários piloto”) preenchidos pelos intérpretes, percebemos que muitas questões
ficaram de fora do questionário e que havia a necessidade de reformulá-lo.
Para a elaboração da segunda versão do questionário tomamos algumas precauções e cuidados que
julgamos necessárias para diminuirmos a chance de erros na elaboração do mesmo. Não que não tenhamos
feito isso na primeira versão, porém redobramos os cuidados nessa segunda versão. Segundo Chagas [2]:

Procura-se discutir a construção de um questionário apresentando uma sugestão de tarefas e


cuidados a serem tomados, dentro de uma seqüência lógica, objetivando que este
instrumento de coleta de dados tenha eficácia para a finalidade a que se destina. (p. 1)

Em outras palavras, não é tarefa fácil elaborar um questionário e que, de acordo com Parasuraman
(1991 apud CHAGAS [2], p. 1), “aplicar tempo e esforço adequados para a construção do questionário é uma
necessidade, um fator de diferenciação favorável”. O nosso objetivo com este questionário é contemplar três
eixos sobre os intérpretes: dados pessoais; dados de formação; e dados de atuação. A partir desses três eixos,
formulamos perguntas que nos ajudariam a conhecer melhor esses profissionais, qual a sua formação
acadêmica, onde eles estão atuando e em qual função.
Desses questionários, 12 foram entregues aos ILS no Fórum Estadual de Educação de Surdos (V
FEES) realizado na Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC) na cidade de Santa Cruz do Sul/RS, no dia
27 de Novembro de 2009. Este evento foi organizado pelo Grupo Interinstitucional de Pesquisa em Educação
de Surdos (GIPES/CNPq) com o objetivo de dar continuidade às discussões que vem sendo feitas nos fóruns
anteriores e apresentar resultados de pesquisas e de projetos educacionais cujo foco seja a inclusão e a
educação de surdos. Como a presença de ILS é garantida nesses eventos, aproveitamos a oportunidade para
entregar alguns questionários aos intérpretes interessados em participar da pesquisa. Vale lembrar que
entregamos o questionário em um fórum estadual, ou seja, intérpretes de várias localidades do Rio Grande do
Sul responderam as perguntas. Entre as cidades estão: Grande Porto Alegre, Porto Alegre, Novo Hamburgo,
Caxias do Sul, Farroupilha, Pelotas e Passo Fundo. Nesse primeiro momento, não tivemos muitas
dificuldades, conversamos com os intérpretes, explicamos o motivo do preenchimento do mesmo. Dos 15
questionários entregues, apenas três não foram devolvidos. Além dos 12 questionários recolhidos no V
FEES, trabalhamos também com sete questionários que foram enviados via correio eletrônico para os ILS,
no período de Março à Julho de 2010 das seguintes localidades: Porto Alegre, Grande Porto alegre, Brasília,
Caxias do Sul e Esteio.

3. Resultados e Discussão
Dos 19 questionários preenchidos pelos ILS, 85% deles, ou seja, 16 ILS responderam que é
importante para a sua formação a participação na comunidade surda. Muitos ILS são bastante enfáticos
quando se referem a sua participação na comunidade surda, muitos assumem a luta e a militância surda no
sentido de reivindicarem os seus direitos como pessoas de uma cultura diferente e não como deficientes
auditivos. Podemos perceber isso, pois vários ILS assumem cargos executivos na Federação Nacional de
Educação e Integração dos Surdos (FENEIS), na Associação Gaúcha de Intérpretes de Língua de Sinais
(AGILS), na Associação de Pais e Amigos de Surdos (APAS), etc. Abaixo algumas respostas dos ILS
quando questionados sobre a importância de participarem ou não de uma comunidade surda.

“Sim, muita, há 20 anos que atuo na educação de surdos e participo de forma ativa na comunidade,
tendo inclusive assumido cargo no executivo da FENEIS, em POA”. (I1)

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

“Sim, pois estudo no LETRAS/LIBRAS com surdos da licenciatura, participo de eventos de


surdos na medida do possível e faço parte da Diretoria da AGILS (Associação Gaúcha de
Intérpretes de Língua de Sinais)”. (I2)

“Sim em todos os segmentos; amigos, frequentam minha casa, igreja, justiça, acompanho e
encaminho ao trabalho”. (I6)

“Participo da APAS. Colaboro na confecções de camisetas, banners, projetos, apostilas, etc ...”(I7)

“Sim, tenho pais surdos e freq6uento a Associação dos Surdos”. (I9)

“Sim. Além de obviamente das amizades, há um convívio no meio acadêmico onde discutimos
teorias da educação”. (I11)

Essa inserção do ILS na comunidade surda é mais importante do que podemos imaginar. Existe uma
necessidade grande por parte deles em serem “aceitos” na comunidade a qual pertencem. De acordo com
Santos [8]:

Outro fato interessante é justamente a necessidade que esses profissionais sentem em ser
“aceitos” no grupo surdo para poderem atuar profissionalmente, pois, caso contrário, a
credibilidade desse profissional poderá ser ameaçada. Pertencer ao grupo surdo, estar
inserido nas discussões que esse grupo realiza, conhecer suas formas de entender o mundo,
funciona como um “sinal” para a atuação profissional [...]. (p. 99)

Não basta apenas que o ILS faça parte de uma comunidade, é necessário que ele se sinta parte desta
comunidade e que a comunidade o aceite como membro. Ainda segundo Santos [8]:

As estratégias para pertencer culturalmente às comunidades envolvidas por surdos e


ouvintes são distintas. A grande maioria dos ILS necessita se tornar híbridos culturalmente
e não somente conhecer as línguas, pois o ato interpretativo não é uma simples
transferência lingüística, é sim um ato de tradução cultural toda e qualquer interpretação,
quer seja da LS para o português ou vice-versa. (p. 99)

Estas estratégias de pertencimento, este querer estar junto, ser acolhido pela comunidade surda e de
acolher é o que faz com que a inclusão deste sujeito aconteça. Esta inclusão ética que nos fala a pesquisadora
Stumpf [10] do cuidar de si e do outro é o que torna este sujeito „aceito‟ na comunidade.

4. Conclusão
Podemos perceber que o convívio do ILS com a comunidade surda é muito importante para este
profissional. Desde o início da atuação dos ILS até hoje podemos perceber através dos questionários
respondidos que a maioria deles além de trabalhar como intérprete sente a necessidade de pertencer a uma
comunidade surda. Essa participação do ILS lhe garante uma qualidade linguística, porque ele tem a
possibilidade de “treinar” o seu vocabulário e também de aprender novos sinais, o que acontece a todo o
momento, tendo em vista a circulação cada vez maior de pessoas surdas nos mais variados espaços sociais.
Para os surdos também é fundamental o convívio com o ILS, porque além de interpretar da Língua
Portuguesa para a Língua de Sinais e vice-versa, o ILS torna-se um mediador cultural.

Referências
1. BRASIL. Presidência da República. Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua
Brasileira de Sinais – Libras e dá outras providências. Disponível:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/2002/L10436.htm>. Acesso em 13 de junho de 2010.
2. CHAGAS, Anivaldo Tadeu Roston. O questionário na pesquisa científica. Administração on line. v. 1, n.
1, janeiro/fevereiro/março 2000. Disponível em: <http://www.fecap.br/adm_online/art11/anival.htm>.
Acesso em 6 de março de 2010.
3. LACERDA, Cristina Broglia Feitosa de. Intérprete de Libras: em atuação na educação infantil e no
ensino fundamental. Porto Alegre: Mediação, 2009.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

4. LEITE, Emeli Marques Costa. Os papéis do intérprete de LIBRAS na sala de aula inclusiva.
Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada). Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada da
Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2004.
5. LOPES, Maura Corcini. Inclusão escolar currículo, diferença e identidade. In: LOPES, Maura Corcini;
DAL‟IGNA, Maria Cláudia (Orgs.). In/exclusão: nas tramas da escola. Canoas: Editora da ULBRA, 2007.
6. ______, Maura Corcini. Surdez & Educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
7. ______, Maura Corcini. A natureza educável do surdo: a normalidade surda no espaço da escola de
surdos. In: THOMA, Adriana; LOPES, Maura Corcini (Orgs.). A invenção da surdez: cultura, alteridade,
identidade e diferença no campo da educação. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2004, p. 33-55.
8. SANTOS, Silvana Aguiar dos. Intérpretes de Língua Brasileira de Sinais: um estudo sobre as
identidades. Dissertação (Mestrado em Educação). Programa de Pós Graduação em Educação da
Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2006.
9. SILVEIRA, Rosa M. Hessel. “Olha quem está falando agora!” A escuta das vozes na educação. In:
COSTA, Marisa Vorraber. Caminhos investigativos: novos olhares na pesquisa em educação. Rio de
Janeiro, DP&A, 2002.
10. STUMPF, Mariane Rossi. Mudanças estruturais para uma inclusão ética. In: QUADROS, Ronice (Org.)
Estudos Surdos III. Petrópolis, RJ: Arara Azul, 2008, p. 14-29.
11. VIEIRA, Mauren Elisabeth Medeiros. A auto-representação e atuação dos “professores-intérpretes”
de línguas de sinais: Afinal... professor ou intérprete? Dissertação (Mestrado em Educação). Programa de
Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2007.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

A INVISIBILIDADE DOS ALUNOS COM DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM E


NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS DO CAMPO

Primeiro Autor: Cláucia Honnef1*; Segundo Autor: Daiane Loreto de Vargas


1
Universidade Federal De Santa Maria
2
Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução
A educação é apontada e valorizada como balizadora para o desenvolvimento desde o pós-Segunda
Guerra Mundial. Após esse período conturbado da história mundial, a educação é vista, relativamente, como
forma de alcançar crescimento econômico - sinônimo de desenvolvimento na época.
No entanto, esse caminho para o desenvolvimento econômico por meio da educação tomou rumos
estritamente técnicos, em que o enfoque era a formação de trabalhadores, os quais pudessem colaborar para o
crescimento da produção e, conseqüentemente, para os ganhos econômicos. Nessa perspectiva, muitas vezes,
o desenvolvimento do indivíduo era deixado de lado. Como afirma Oliveira [5] (apud STOER, 2000):

A relação entre educação e produção assume, neste contexto, um carácter


essencialmente técnico em que se negligenciam as relações sociais e a promoção
do desenvolvimento do indivíduo e a sua formação para a cidadania (p.70).

Hoje a educação possui relação íntima com a questão do desenvolvimento, não só econômico, mas
também social..
Tanto no contexto rural como na sociedade em geral, encontra-se bastante difundido o termo
desenvolvimento sustentável, o qual apresenta-se como um processo que permite as gerações do presente
crescerem em aspectos de qualidade de vida, sem impedir ou comprometer esse crescimento nas gerações
futuras.
Neste sentido, sobre o desenvolvimento ainda tem-se uma importante colaboração de Martinelli e
Joyal [4]

O desenvolvimento só poderá ser considerado efetivo, em termos concretos, se este


constituir-se em desenvolvimento humano, social e sustentável, pois quando se fala em
desenvolvimento, deve-se estar buscando a melhoria da vida das pessoas (desenvolvimento
humano) e da sociedade como um todo (desenvolvimento social), sempre com a
preocupação com o presente (das pessoas que vivem hoje) e com o futuro (zelando pelas
pessoas que viverão amanhã), levando, assim, ao desenvolvimento sustentável (p.14).

Observa-se na afirmação dos autores acima que quando fala-se em desenvolvimento, este necessita
suscitar melhorias para as pessoas, para a sociedade, tanto no hoje quanto no amanhã. Assim, ele se efetivará
a partir do momento em que também possa desencadear um desenvolvimento humano, social e
conseqüentemente sustentável.
Sendo assim, a educação possui papel crucial na construção da cidadania –desenvolvimento pessoal,
social, humano e econômico. Encontra-se hoje em várias teses e dissertações a questão da educação como
sendo fator de considerável influência sobre a qualidade de vida das pessoas.
Nesse contexto, este trabalho tem por objetivo apresentar e analisar aspectos da questão educacional
no meio rural, mais precisamente aspectos relacionados ao desamparo, por parte do poder público, que as
escolas e crianças do campo ainda encontram, visto que a educação é direito de todos. Ela é um bem comum
e crucial no que tange o desenvolvimento individual e social.
A motivação para se dispender um olhar acima das questões da educação no meio rural, partiu dos
dados do documento “Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população
brasileira”, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [2], em 24 de setembro de 2008.
Este documento destaca a existência de três vezes mais analfabetos no campo do que na cidade.
Além disso, também outros dois fatores motivaram a escrita deste trabalho. O primeiro foi o relato
de professores de uma escola localizada no meio rural de um dos municípios da Associação dos Municípios
do Centro do Estado do Rio Grande do Sul AMCENTRO e os resultados de uma pesquisa realizada na
instituição. E o segundo foi um dos resultados obtido em um trabalho final de graduação, no qual verificou-

*
Autor Correspondente: clauciahonnef@yahoo.com.br
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

se, nesse mesmo município que, apesar da maioria das escolas localizarem-se no ambiente rural, existe um
descaso quanto aos alunos com dificuldade de aprendizagem e necessidade educacionais especiais destas.

2. Método
Nesse sentido, para a realização das análises da realidade referida anteriormente, as quais dão forma
a este estudo, utilizou-se como metodologia basicamente a pesquisa bibliográfica, a qual [3] tem a “...
finalidade de colocar o pesquisador em contato direto com tudo aquilo que foi escrito sobre determinado
assunto”. Desse modo, este trabalho caracteriza-se como descritivo, uma vez que procura conhecer,
descrever, analisar [6] as realidades educacionais do meio rural.
Sendo assim, nos relatos dos professores da uma escola do meio rural percebeu-se uma
preocupação, angústia em relação ao elevado índice de reprovação dos alunos, o qual levou a instituição a
procurar um órgão público, composto por uma equipe multidisciplinar que está realizando estudos com as
crianças. Estes verificando seu cotidiano em sala de aula e em casa a fim de identificar a causa do alto grau
de reprovação. As investigações ainda não estão finalizadas, porém, como a região é produtora de tabaco, há
a suspeita da influência dos agrotóxicos nessa realidade.
No entanto, até o momento a pesquisa mostrou um alto número de alunos com necessidades
educacionais especiais ou dificuldades de aprendizagem na instituição. Esses estudantes necessitam de
atendimento educacional especializado, o qual não existe nas escolas do meio rural deste município.
Pode-se verificar o subscrito no trabalho final de graduação realizado em 2009, com este município
e também com outros quatro municípios da AMCENTRO. Nestes, apesar de a grande maioria de suas
instituições de ensino localizarem-se no campo, nenhuma delas possuí um profissional que possa realizar um
atendimento educacional especializado com esses alunos supracitados.

3. Resultados e Discussão
Dessa forma, tal fato mostra como resultado o descaso do poder público com a educação no meio
rural, o qual, pensa-se, é oriundo de uma bagagem histórica na qual “[...]a escola brasileira, de 1500 até o
inicio do século XX, serviu e serve para atender as elites, sendo inacessível para grande parte da população
rural” [7].
Percebe-se assim, que a questão da educação no campo é uma questão preocupante, pois ela ainda é
pouco valorizada, visto que os alunos com dificuldade de aprendizagem ou necessidades educacionais
especiais do campo não estão tendo suas necessidades atendidas. Essa realidade pode fazer sim que esses
estudantes sejam os analfabetos ou analfabetos funcionais de amanhã.
Além disso, no que diz respeito à especificidade da região, do uso de agrotóxicos, uma pesquisa no
município de Bento Gonçalvez-RS, mostrou que “A escolaridade revelou efeito protetor contra a ocorrência
de intoxicações...”[1]
Desse modo, com a colaboração da autora acima fica explicita a questão de que a educação pode
colaborar para a melhor qualidade de vida das pessoas do meio rural e conseqüentemente, para o
desenvolvimento.
Acredita-se importante salientar aqui a necessidade de um olhar especial sobre a educação básica nos
ambientes rurais, ou seja, sobre as séries iniciais. Pois é nessa fase,quando as crianças estão se alfabetizando,
que aparecem suas dificuldades, suas necessidades especiais, as quais se não forem sanadas nesse período,
fazem com que todo o processo posterior de aprendizagem fique comprometido.
Quando fala-se aqui em processos posteriores de aprendizagem está-se referindo tanto aos do meio
escolar, como os que ocorrem após o período escolarização. Por exemplo, os encontros promovidos por
ações extensionistas, na busca por alternativas de renda, por desenvolvimento econômico, se está falando nos
encontros realizados pelos movimentos sociais, está se falando na constituição de lideranças. Por tudo isso
perpassa a educação.

4. Conclusão
Por fim, como conclusão deste trabalho, pode-se verificar que ainda é grande a desatenção do poder
público com a educação nos ambientes rurais. No que diz respeito às necessidades educacionais especiais, as
dificuldades de aprendizagem dos alunos do campo, observa-se um total desamparo, desvalorização, o que
pode trazer conseqüências para o posterior desenvolvimento dessa criança.
Assim, acredita-se cabe as entidades organizadas, aos atores locais motivarem-se no sentido de
exigirem seu direito a educação, ao atendimento educacional especializado, a fim de buscarem uma melhor
qualidade de vida para seus filhos e conseqüentemente, para eles próprios.

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Referências
[1] FARIA, N. M. X. Intoxicações por agrotóxicos entre trabalhadores rurais de fruticultura, Bento
Gonçalves, RS. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S003489102009000200015. Acesso em : abril/2010.

[2] IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico 2000: Características da
População e dos Domicílios: Resultados do universo. Rio de Janeiro, 2000. Disponível em:
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2000/default.shtm . Acesso em 27 de outubro de
2008.

[3] LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Fundamentos de Metodologia Científica.São Paulo: Atlas,


1985.

[4] MARTINELLI, D. P.; JOYAL, A. Desenvolvimento local e o papel das pequenas e médias empresas.
Barueri: Manole, 2004.

[5] OLIVEIRA, J. J. A. M. A Educação no Meio Rural como Paleta de Possibilidades para o


Desenvolvimento Local: contributos da Escola do 1º ciclo do Ensino Básico e do Jardim de Infância. Tese de
Doutorado. Universidade do Minho. Braga, Portugal. 2005.

[6] RUDIO, F. V. Introdução ao projeto de pesquisa científica. 29 ed. Petropolis: Vozes, 2001.

[7] SILVA, M.S. Educação do Campo e Desenvolvimento: uma relação construída ao longo da história,
2004. Disponível em:
<http://www.contag.org.br/imagens/f299educacaodocampoedesenvolvimentosustentavel.pdf.Acesso em :14
de janeiro de 2009.

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A PERCEPÇÃO DOS PROBLEMAS DAS CRIANÇAS E A PEDAGOGIA ESCOLAR

Dinara Soraia Ebbing1*; Estela Maris Giordani¹


¹Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução
Pretendemos desenvolver neste estudo um senso educacional, partindo de uma amostragem inicial de
algumas escolas municipais de Santa Maria para levantar quais os problemas que percebem com as crianças
e como encaminham tais problemas. A real intenção é identificar como estão sendo entendidos e
encaminhados tais problemas: a) o que consideram problemas nas crianças (comportamento, aprendizagem,
fracasso, doenças, problemas de articulação fono-articulatório ou ainda motores, sócio-afetivos etc.) e, b)
com que abordagem a pedagogia escolar, em sua prática, efetivamente enfrenta tais situações. Nosso
referencial teórico encontra-se estruturado a partir dos autores que estudam os problemas de aprendizagem e
escolares tais como Paín [9], Parente e Renña [10], Ajuriaguerra [1], Patto [11], Freitag [4], Collares e
Moysés [3], Skliar [12], Mittler [8] e Vidor[13]. A importância da pesquisa reside no fato de que a
universidade precisa compreender melhor a realidade a qual está inserida. Por isso, quando orientamos a
formação dos alunos do curso de pedagogia e de educação especial a intervir em um contexto educacional
precisamos compreende-lo em suas especificidades. Por isso, faz-se necessário investigar os diferentes
problemas que as crianças apresentam no contexto escolar, porque a atuação educativa se faz em sentido de
responder de algum modo a tais necessidades. Levantar o que e como se percebe é revelador de concepções e
ações que apontam para a real pedagogia que se faz nos primeiros anos da educação básica. De todo modo,
podemos dizer, que a universidade deve cumprir com seu papel social de auxílio às novas demandas. Para
nós, pesquisadores, também é desafiador pensar sobre esta realidade, como enfrentá-la e, principalmente
confrontar o perfil profissional que estamos formando nossos alunos. Além da realidade da inclusão as
escolas ainda possuem muitos desafios, que nós, com esta pesquisa, pretendemos identificar para pensar
como podemos auxiliar as escolas, os professores e especialmente os novos profissionais.

2. Método
Adotamos para esta pesquisa a abordagem quali-quantitativa. Esta pesquisa caracteriza-se como pesquisa
exploratória, que conforme Gil [5], visa conhecer uma realidade ainda não explorada, o que responda ao
problema e aos objetivos de pesquisa. A pesquisa social entendida por Minayo [7], como atividade da ciência
na construção da realidade, sendo que, nada pode simplesmente se tornar um problema, se não for, em
primeiro lugar, um problema da vida diária. Neste sentido entendemos que esta pesquisa tem como objeto de
estudos os reais problemas que as escolas enfrentam.
Compreende-se que o pesquisador possui máxima importância e responsabilidade na execução de sua
pesquisa. Ele intervém diretamente no andamento e nos resultados do estudo, por isso, não é neutro, é
profundamente implicado em seu modo de olhar e proceder científico. Por isso, ele precisa tomar consciência
e tratar eticamente de seu objeto investigado, sua atitude deve ser de máxima responsabilidade para não
distorcer o real que investiga Meneghetti [6]. Na primeira etapa da pesquisa está prevista a coleta de dados
em 10 escolas da rede municipal de educação básica, da cidade de Santa Maria/RS, a grande maioria das
escolas, localizam-se em comunidades carentes. Os dados serão coletados através de questionários com
questões abertas, Bicudo [2]. O questionário contém questões a respeito da identificação da realidade escolar,
os profissionais que atuam na escola, qual a visão desses profissionais frente aos problemas que envolvem a
aprendizagem e de que forma a universidade pode intervir nas situações de aprendizagem na escola. Os
sujeitos que estão sendo pesquisados são os educadores especiais que trabalham em salas de recurso das
escolas. Isto porque, pretende-se realizar um trabalho de pesquisa em profundidade. Posteriormente, a
intenção é expandir a amostra e chegar até a 100% da rede municipal de educação.

3. Resultados e Discussão
O referido estudo está em andamento, portanto os resultados que possuímos são parciais. Dessa forma
pretendemos finalizar a coleta de dados até o fim deste mês a fim de apresentá-los no evento. Inicialmente
entramos em contato com a Secretaria de Educação do Município e solicitamos a lista das escolas municipais
que possuem salas de recurso e educador especial atuando. Definimos que faríamos a pesquisa com este
profissional por entendermos que ele pode nos oferecer as informações mais precisas que buscamos junto às
escolas. Em um segundo momento contatamos com as escolas para levantar a sua disponibilidade de
participar da amostra e proceder a coleta de dados através dos questionários, estamos ainda em fase de coleta

1
* dynasoraya@yahoo.com.br
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de dados e indo até as escolas. Nesta fase nos deparamos com a dificuldade de coletar os dados pois nas
escolas, os professores possuem pouco tempo para dedicar-se a responder a pesquisa, e por isso, nossa coleta
de informações está sendo mais lenta do que o planejado. Em uma das escolas de nossa pesquisa, onde
iríamos encontrar o educador para dar suporte à nossa pesquisa, nos deparamos com a falta deste profissional
e também dos espaços educativos para a realização do trabalho. Para nós torna-se um desafio pensar sobre
esta realidade, como enfrentá-la e confrontar o perfil profissional do educador especial ou pedagogo que a
universidade forma. Além da realidade da inclusão as escolas ainda possuem muitos desafios. Com esta
pesquisa, pretendemos identificar estes desafios para pensar, discutir e encontrar alternativas que auxiliem as
escolas, os professores e especialmente os novos profissionais a enfrentarem situações como os problemas
das crianças e demais momentos de dificuldade.
Os estudos que exploram a temática das dificuldades de aprendizagem escolar dentro das relações
familiares são basicamente estudos que enfatizam a área psicológica, pedagógica e psicanalítica. Tentamos
analisar alguns elementos que nos elucidam o contexto familiar em relação as dificuldades escolares das
crianças, entendendo o contexto familiar como família nuclear, ou seja, constituída por pai, mãe e filhos. [1].
Parente & Renña [10], também abordam que as dificuldades de aprendizagem podem ser geradas
pelo contexto familiar:
[...] a origem do problema de aprendizagem pode estar relacionada com o modelo de
relação vincular que cada criança estabelece e que foi desenvolvido e articulado nas suas
primeiras relações com a mãe, num determinado contexto familiar. Este modelo, de
relação vincular tende a ser reproduzido na escola.[...] [10, p.51].

Nesse sentido, Vidor [13], contribui quando cita o desenvolvimento da autonomia da criança,
entendido aqui como parte importante do processo de aprendizagem e desenvolvimento do sujeito. Para
Vidor [13] “a figura materna tem a função de servir de ponte para relacionar o filho com o mundo externo,
mas tem a missão de levar o educando a atingir sua plena autonomia”.
O autor compreende que o educando necessita confiar em si mesmo e precisa inserir-se no meio
social com sua própria autonomia. Do contrário pode-se atribuir a ideia de Parente e Renña [10] acima
citada, sobre o modelo familiar, essa falta de autonomia tende a ser reproduzida na escola, podendo ser uma
das causas das dificuldades de aprendizagem. Vidor [13], ressalta ainda que quando um filho se apóia
demasiadamente em sua mãe, acaba por acomodar-se em uma atitude infantil e se nega a esforçar-se para
crescer.
Ainda sobre o vinculo familiar, Ajuriaguerra [1] ressalta que para o desenvolvimento da criança,
tanto o pai quanto a mãe desempenham papéis importantes. Contudo, os pais criam certas expectativas que
poderão ser abaladas, gerando assim sentimentos de afeição ou antipatia pela criança, no que nos alerta o
autor:

[...] além do amor que se passa ter pelo filho, existe em todo genitor um certo ideal de
filho que corresponde quase sempre a um modelo social determinado, a um modelo
pessoal feliz ou a um ideal de si mesmo que se quer viver na criança, por não ter sido
possível realizá-lo. Se é humano desejar um futuro feliz para a criança, deve-se sempre
temer que o modelo estático de uma criança ideal torne-se uma regra, impedindo o
desenvolvimento específico de cada um.[...] [1, p.763].

Dessa forma, os autores buscam esclarecer que, o contexto familiar tanto pode auxiliar no
desenvolvimento da criança, como pode, também impedir que este transcorra normalmente. Não é o contexto
familiar em si que contribui para o problema de aprendizagem e sim o que ocorre neste contexto.
Patto [11], analisa o problema de aprendizagem a partir do contexto escolar e tenta mostrar que,
através de mitos, a escola “produz indivíduos para o fracasso”. Segundo ela, sobre as crianças da classe
trabalhadora recaem vários mitos e preconceitos que acabam agravando tal quadro. É nesta perspectiva que
Paín [9], fala sobre um rigoroso diagnóstico que responda às reais dificuldades, que são encontradas tanto
pelo sujeito como também as condições externas a ele, tais como a escola e a família. Neste sentido, o
fracasso escolar ou as dificuldades de aprendizagem são produzidas dentro do sistema escolar por uma série
de mecanismos que dificultam e até impedem que a aprendizagem ocorra normalmente. Vemos que crianças
cujo potencial para aprendizagem é normal, fracassam porque as instituições escolares não cumprem seu
papel, não analisam a estrutura social maior. [4,11].
A partir disso, também podemos citar a problemática dos rótulos e preconceitos que recaem sobre o
aluno em sala de aula. Sabemos que trabalhar com as diferenças de aprendizagem na sala de aula compete ao
professor uma grande tarefa, pois as classes estão se tornando cada vez mais heterogêneas, e fugindo do

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padrão, da normalidade, tirando do comodismo os profissionais da educação. Porém, percebe-se que há uma
certa relutância por parte dos professores para aceitar e aprender a lidar com essas diferenças.
Levando em consideração que para o atendimento à diversidade existente nas escolas, é necessário
que se revisem as práticas pedagógicas, assim como os problemas apresentados sejam discutidos pelo círculo
de educadores, para que encontrem uma solução ou encaminhamento correto para esses alunos, cabe a este
estudo abrir espaço a uma breve discussão sobre o processo de inclusão de crianças com necessidades
educacionais especiais nas escolas, tendo em vista que a Educação Inclusiva deva atender as necessidades de
todos os alunos, respeitando suas diferenças individuais.
Segundo Mittler [8], a inclusão ou exclusão iniciam na sala de aula, pois são as experiências vividas
em sala de aula que vão definir a participação dos alunos dentro do grupo. Neste estudo, a exclusão pode se
transformar em uma causa dos problemas de aprendizagem, por isso a relevância de uma breve discussão
sobre a relação dos problemas de aprendizagem com a educação inclusiva.

4. Conclusão
A investigação aqui exposta, ainda que nesta fase, em seu aspecto teórico tendo em vista que estamos na
fase da coleta dos dados, teve como objetivo, a partir da concepção dos professores, levantar que tipo de
problemas eles estão enfrentando com as crianças e que de alguma forma estão interferindo no processo de
aprendizagem.
Entendemos a partir do exposto, que a real necessidade das escolas está em realizar um trabalho que
atente as diferenças individuais, isto é, a aprendizagem não é linear e sim entendida com um processo,
envolvendo todas as áreas do conhecimento. A universidade como espaço de construção do conhecimento
dessas áreas pode intervir, trazendo para a escola novas alternativas para a aprendizagem, como demonstram
os resultados iniciais. As escolas estão buscando acadêmicos que desenvolvam trabalhos práticos na área das
artes, acadêmicos dos cursos de licenciatura que possam contribuir com o trabalho dos profissionais que já
atuam no espaço escolar, como também serviços de psicologia e fonoaudiologia. Assim podemos afirmar,
que as escolas não querem apenas servir de espaço para coleta de dados, mas também para o retorno dessas
pesquisas, contribuindo de fato com a aprendizagem dos alunos.
O estudo apresentado ainda está em andamento, já que os dados ainda estão em fase de coleta e análise.
Até este momento observamos que muitos dos problemas das crianças encontrados, segundo as respostas
levantadas nos questionários, provém do ambiente familiar e do contexto social em que estão inseridas essas
crianças, as escolas percebem que a falta de interesse e participação da família na educação dos filhos, reflete
diretamente na aprendizagem dos mesmos e também no comportamento, vivência e valores sociais destas
crianças. Outras escolas, não analisam como sendo problemas de aprendizagem, mas como ritmos
diferenciados de aprendizagem, o que levamos também em consideração neste estudo, já que defendemos
alternativas e meios de aprendizagem que atendam a essas diferenças. A maior parte das escolas atende
crianças carentes, desse modo o trabalho realizado deve compreender estes aspectos e suas, interferências
nos diferentes ritmos de aprendizagem. Intenciona-se, a partir da análise dos questionários, voltar às escolas
com o intuito de dar retorno dos resultados, atendendo aos objetivos da nossa pesquisa.

Referências
[1] AJURIAGUERRA, J. Manual de Psiquiatria Infantil. São Paulo: Masson, 1983.

[2] BICUDO, M. A. V. Pesquisa qualitativa em educação. Piracicaba, Unimep: 1997.

[3] COLLARES, C. A. L. Preconceitos no cotidiano escolar: ensino e medicalização. São Paulo: Cortez,
1996.

[4] FREITAG, B. Alfabetização e Psicogênese: um estudo longitudinal. Cadernos de Pesquisas. São Paulo,
(72), fevereiro, 1990.

[5] GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisas. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

[6] MENEGHETTI, A. Genoma Ontico. 2.ed. Recanto Maestro: Ontopsicologia Editrice, 2003.

[7] MINAYO, M. C. S. (org) Peaquisa social- Teoria, método e criatividade. 23ª ed. Petrópolis: Vozes,
2004.

[8] MITTLER, Peter. Da exclusão à inclusão. In: Peter Mittler. Educação Inclusiva: contextos

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

sociais; trad. Windyz Brazão Ferreira. Porto Alegre: Artmed, 2003.

[9] PAÍN, S. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas,
1985.

[10] PARENTE, S. M. B. A. & RENÑA, V. Dificuldades de Aprendizagem: discussão crítica de um


modelo de atendimento. IN: SCOZ, Beatriz et alli. Psicopedagogia. Porto Alegre, Artes Médicas, 1987

[11] PATTO, M. H. S. O fracasso escolar como objeto de estudo: anotações sobre as características de um
discurso. Cadernos de Pesquisa. São Paulo, (65), maio, 1988.

[12] SKLIAR, C. Pedagogia (improvável) da diferença: E se o outro não estivesse ai?. Rio de Janeiro:
DP&A, 2003.

[13] VIDOR, A. Relação entre pais e filhos e origem dos problemas. Passo Fundo: Berthier, 1977.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

A PRÁTICA PEDAGÓGICA E SUAS REPRESENTAÇÕES:


UM ESTADO DA ARTE NO XIV ENDIPE

Clarissa Afonso da Silveira1*; Nilda Stecanela (orientadora)


1
Universidade de Caxias do Sul
2
Univesidade de Caxias do Sul

1. Introdução
A pesquisa “A Prática Pedagógica e suas Representações: um Estado da Arte no XIV ENDIPE”
realiza-se no âmbito do Observatório de Educação da Universidade de Caxias do Sul, dentro da linha de
pesquisa “Formação de Professores para Educação Básica” e integra o projeto matriz “A Construção do
Professor Reflexivo: um Estudo sobre os Indicadores da Simetria Invertida e Transposição Didática –
ISITRA”.
O estudo é realizado desde agosto de 2008 e conclui-se em julho de 2010. Tem financiamento da
Fundação de Amparo da Pesquisa do Rio Grande do Sul (FAPERGS). Seus objetivos são: reunir, organizar e
analisar os dados apresentados no XIV Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino de 2008, a fim de
construir o estado da arte sobre a prática pedagógica, a partir dos trabalhos de pesquisadores de diferentes
instituições do país. Também, pretende compreender as representações produzidas pelos pesquisadores, de
diferentes níveis de formação e atuação, sobre o conceito de prática pedagógica e como ele transita nestas
produções. A problemática dessa pesquisa é procurar entender como a prática pedagógica é estudada,
expressada e analisada pelos vários olhares dos pesquisadores que tiveram seus trabalhos publicados no XIV
ENDIPE/2008.
O interesse por esse tema de pesquisa deve-se à necessidade de compreender o que é a prática
pedagógica e como ela é apreendida no decorrer do curso de Licenciatura em Pedagogia, visto que é tema
central na formação docente. A leitura dos resumos e trabalhos completos dos pesquisadores que estudam a
prática pedagógica possibilitou muitas reflexões relacionadas aos conteúdos que integram o currículo de um
curso de graduação em Pedagogia, permitindo um olhar sobre o que significa ser professor nos dias de hoje.
A prática pedagógica é um tema que interessa a todos que ingressam ou atuam na área da educação,
independentemente do nível de formação em que se estão. Também interessa àqueles profissionais que
trabalham na área e desejam aperfeiçoar sua formação com novos conhecimentos e práticas que podem ser
levadas para a sala de aula. Afinal, a formação do professor nunca se completa e necessita ser
constantemente renovada.
A pesquisa foi desenvolvida a partir da leitura dos trabalhos publicados no XIV ENDIPE/2008, que foi
realizado em Porto Alegre, na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. O evento recebeu
Pesquisadores, alunos de graduação, de pós-graduação, e professores de todo país, da América Latina e de
outros países. No total, teve cerca de 3.200 participantes, reuniu 418 painéis, 681 pôsteres e 34 salas de
conversa.

2.Método
Quando a pesquisa foi iniciada, estabeleceu-se uma forma de organização dos dados, que facilitasse
o manuseio e análise das informações, devido à grande quantidade de trabalhos que resultou do evento. Para
isso foi definido um método de trabalho que possibilitasse a organização dos dados e a posterior análise. A
metodologia “Estado da arte” foi a opção escolhida, cujo caráter de revisão bibliográfica permite mapear e
discutir a produção acadêmica resultante daquele evento. Para chegar a essa definição foi necessário uma
pesquisa inicial sobre estado da arte nas publicações indexadas a base de dados Scielo e em autores que não
somente utilizam, mas explicam o estado da arte como uma metodologia de pesquisa. Entre essas referências
a que mais contribuiu para os objetivos da pesquisa foi o artigo da revista “Educação e Sociedade”, ano
2002, da autora Norma Santos de Almeida Ferreira denominado: “Pesquisas denominadas Estado da Arte ou
Estado do Conhecimento”. A primeira parte da pesquisa visou compreender melhor o que é estado da arte
com metodologia de pesquisa.
Num segundo momento, foi realizada a leitura dos resumos que constavam nos anais do XIV
Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino/2008, no formato cd-room. Primeiramente, foram lidos
cerca de 300 resumos que estavam distribuídos em 7 eixos temáticos: condições de produção da didática:
tendências e trajetórias; práticas de ensino e as didáticas específicas; formação de professores e saberes
docentes; sujeito do processo de ensinar e aprender; políticas públicas e institucionais e os processos

*1 clarissaafonso@yahoo.com.br
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

educativos; currículo, cultura e diferença nos lugares e espaços educativos; ensinar e aprender no meio
virtual e outras linguagens.
Simultaneamente à leitura dos resumos, procurava-se pela expressão prática pedagógica, a fim de
detectar os trabalhos que enfocavam mais diretamente o objeto da pesquisa em curso. Durante esse processo
percebeu-se a necessidade de criar categorias que orientariam a organização do que estava sendo lido.
Estabeleceram-se assim cinco categorias: “formação do professor”, “prática pedagógica”, “relação ensino-
aprendizagem”, “relação entre teoria e pratica” e “inclusão escolar”. As categorias serviram para organizar
os trabalhos selecionados de modo que fosse mais fácil localizá-los posteriormente. Para poder categorizar os
resumos foi necessário ler mais de uma vez o trabalho porque, à primeira vista, ele relacionava-se a mais de
uma categoria. Uma segunda ou terceira leitura dava mais segurança na sua categorização. Durante a leitura
e categorização dos resumos, também foi criada uma tabela, segundo os eixos temáticos do evento, o que
possibilitou a organização dos dados do trabalho quanto a: título, autoria, instituição de origem, palavras-
chave e categorias.
Dos cerca de 300 resumos, foram selecionados 163, que estavam distribuídos nos seguintes eixos
temáticos: condições de produção da didática: tendências e trajetórias (7 trabalhos); práticas de ensino e as
didáticas específicas (15 trabalhos); formação de professores e saberes docentes (10 trabalhos); sujeito do
processo de ensinar e aprender( 15 trabalhos); políticas públicas e institucionais e os processos educativos ( 8
trabalhos); currículo, cultura e diferença nos lugares e espaços educativos ( 66 trabalhos); Ensinar e aprender
no meio virtual e outras linguagens (42 trabalho).
À medida em que os trabalhos eram lidos, os trechos mais importantes eram destacados em negrito
para novas leituras e análises posteriores. Durante as leituras, foi possível perceber que muitos trabalhos
selecionados não se aproximavam dos objetivos da pesquisa e, por isso, foram descartados. Mas, para chegar
a essa conclusão, foi necessário ler e reler muitas vezes. Nesse processo, foi sendo construída uma pasta de
arquivos com os textos completos dos trabalhos que seriam analisados. Ao mesmo tempo em que se montava
uma tabela pelos eixos temáticos com os dados que interessavam à pesquisa (título, autor, formação do autor,
contexto do projeto, objetivo da pesquisa, referenciais teóricos, número de vezes em que a expressão
prática(s) pedagógica(s), prática(s) educativa(s) e as ideias principais). Com isso, foi possível encontrar os
dados relevantes para a pesquisa, permitindo a observar quais eram as representações de prática pedagógica
mais significativas para os autores.
Ao final dessa etapa, apenas 62 trabalhos foram utilizados para fazer as análises que interessavam à
pesquisa. Os 62 trabalhos pertenciam aos seguintes eixos temáticos do evento: Condições de produção da
didática: tendências e trajetórias (4 trabalhos); Práticas de ensino e as didáticas específicas (7 trabalhos);
Formação de professores e saberes docentes (6 trabalhos); Sujeito do processo de ensinar e aprender (4
trabalhos); Políticas públicas e institucionais e os processos educativos ( 5 trabalhos); Currículo, cultura e
diferença nos lugares e espaços educativos ( 27 trabalhos); Ensinar e aprender no meio virtual e outras
linguagens (9 trabalhos).

3. Resultados e Discussão
Durante a leitura dos artigos foi possível perceber que a prática pedagógica não tem mais os mesmos
significados, que tinha quando aconteceu o I ENDIPE, em 1982, na PUC/RJ. Naquela época, a prática
pedagógica era relacionada à didática e a uma prática de ensino. Vinte e seis anos depois, a partir da
produção dos pesquisadores do XIV ENDIPE, observa-se que a temática prática pedagógica está mais
relacionada: à formação de professores, ao processo de ensino-aprendizagem, ao planejamento, às aulas fora
dos muros escolares (classe hospitalares, educação no campo, visitas e atividades extracurriculares), à teoria
versus prática, às práticas em sala de aula e à inclusão.
Através das leituras podemos compreender que a prática pedagógica está presente desde o momento
em que o professor organiza a sua aula e reflete sobre as suas práticas em sala de aula. Conforme
PERRENOUD [1] discute no seu livro, “A Prática Reflexiva no Ofício do Professor: profissionalização e
razão pedagógica”, o professor tem que refletir sobre a ação, durante a ação e na ação. Ao preparar e
modificar o seu planejamento, na verdade, ele modifica a sua prática e reflete como pode melhorar as suas
aulas. A autora RIBEIRO [2] explica no seu trabalho, que a reflexão da ação e sobre a prática do professor é
contínua, ou seja, é a partir dela que se constrói e reconstrói os significados e sentidos sobre os saberes que
constituem a profissão do professor. O autor TARDIFF [3] ao discorrer sobre os saberes do professor, no seu
livro “Formação profissional e saberes docentes”, diz que eles podem ser profissionais (saberes transmitidos
nas instituições de ensino ou escolas normais), pedagógicos (doutrinas ou concepções provenientes das
práticas educativas), disciplinares (saberes que dispõem da nossa sociedade integrados na Universidade),
curriculares (visto nas disciplinas dos cursos, nas Universidades) e experienciais (que surgem das práticas e
experiências do professor em sala de aula).

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

A prática pedagógica também está relacionada ao processo de ensino e aprendizagem. Nesse


sentido, a autora RIBEIRO [2 ] afirma que “a prática pedagógica concretiza o próprio significado do trabalho
docente e está fundada nos processos de ensino e de aprendizagem”. É possível concluir ainda que uma boa
parte dos pesquisadores entendem a prática pedagógica como sendo a essência da atuação docente.
Ainda nesse sentido a autora FERREIRA, [4 ] faz a relação da prática pedagógica com a formação
de professores no âmbito dos cursos, como lugares onde a prática na formação do aluno também se
concretiza. Ela afirma que: “conhecer, compreender e transformar a prática pedagógica no curso envolve
uma reflexão dessa prática, uma crítica, um diálogo, uma comunicação constante entre professores, alunos e
instituições parceiras”.
As autoras citadas dão ênfase ao momento da formação do professor, como um espaço privilegiado
para iniciar a reflexão sobre a importância da prática pedagógica como essência na atividade docente. Em
outras palavras, defende-se aqui a importância dos cursos de formação de professores e a critica que se faz a
eles, no sentido de manter uma constante reflexão e renovação da prática pedagógica, seja ela do professor
em formação, seja do professor formador.

4. Conclusão
As leituras e análises realizadas permitem concluir que a prática pedagógica é um tema que interessa a
todos, por isso, tem crescido o número de eventos científicos na área, assim como cresce o número de
participantes e, consequentemente, o número de trabalhos publicados. Só para ilustrar essa afirmação em
1982, o primeiro ENDIPE recebeu 60 pessoas e o último, realizado em 2010, na cidade de Belo Horizonte,
teve a participação de 6 mil pessoas. Isso pode ser visto como uma grande preocupação que aflige o
educador, independentemente, do nível em que ele atua ou da região onde se dá a sua atuação.
A preocupação com a prática pedagógica ultrapassa os eventos científicos da área e os cursos de
formação de professores, estando presente nas escolas, da educação infantil ao nível superior. Também
chegou às telas do cinema, com a produção de vários filmes que abordam a temática do professor em sala de
aula, como, “Escritores da Liberdade”, de Richard Lagravenese, “Entre os Muros da Escola” de Laurent
Cantet, “Ser e Ter” de Nicolas Phillibert e o brasileiro “Pro Dia Nascer Feliz” de João Jardim.
Ao final da leitura dos 62 trabalhos é possível sintetizar que a prática pedagógica é mais uma reflexão
que os professores fazem para melhorar a sua prática, para superar os obstáculos, para organizar conteúdos
que sejam significativos aos alunos, ou seja, vai muito além da prática do professor e não está somente
relacionada à transmissão de conhecimentos. Também é necessário se observar que não é possível
reconhecer somente uma definição de prática pedagógica, pois, nos trabalhos analisados aparecem diversas
representações sobre o tema. É possível afirmar que grande parte dos professores deseja aperfeiçoar sua
prática pedagógica e continuar a sua formação profissional.

Referências
1.PERRENOUD, Philippe, A Prática Reflexiva no Ofício do Professor: Profissionalização e Razão
Pedagógica . 1ed. Porto Alegre: ARTMED, 2002, 232p.
2.RIBEIRO, M. G. Márcia. A Reflexão no processo de formação continuada: ressignificando a prática
pedagógica In XIV Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008
3.TARDIFF, Maurice. Saberes Docentes e Formação Profissional. 9ºed. Petrópolis. Vozes, 2008, 325p.
4.FERREIRA, R. S. Nali - Interdisciplinaridade e autonomia na construção de significados na prática
pedagógica.In XIV Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008

Agradecimentos
FAPERGS e UCS

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

A TEORIA ALTHUSSERIANA DA ESCOLA COMO “APARELHO IDEOLÓGICO DE


ESTADO” NO CONTEXTO ATUAL DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

Carmen Aline Alvares Nogueira*; Renê José Trentin Silveira (Orientador)


Faculdade de Educação - UNICAMP

1. Introdução
A concepção althusseriana da escola como Aparelho Ideológico de Estado (AIE), segundo a qual ela
atuaria como instrumento de reprodução da sociedade capitalista mediante a inculcação massiva da ideologia
dominante e o ensino de saberes práticos e teóricos necessários ao bom funcionamento do sistema produtivo,
parece ganhar novo significado quando confrontada com o crescente rebaixamento do ensino destinado às
camadas populares, evidenciado pelos recentes resultados obtidos nos diferentes processos de avaliação
oficial da educação brasileira. Assim, o presente trabalho procurou estudar de forma rigorosa e sistemática a
referida teoria, mergulhando mais profundamente nas obras do próprio autor e de alguns de seus
comentadores e confrontando-a com os dados levantados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (INEP) através do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), da
Prova Brasil e do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), a fim de investigar se e em que medida ela
ainda pode ser considerada um referencial teórico pertinente e eficaz para a compreensão do papel
desempenhado hoje pela escola na sociedade brasileira.

2. Método
A pesquisa teve, ao mesmo tempo, um caráter bibliográfico e quantitativo.
Enquanto pesquisa bibliográfica, optou-se pela leitura analítica e sistemática das obras previstas no
projeto, destacando-se “Sobre a Reprodução” [2] e “Aparelhos Ideológicos de Estado” [1], de Althusser,
além de outras que contribuíram para a elucidação da teoria althusseriana da escola enquanto AIE. Enquanto
pesquisa quantitativa, foram utilizados dados levantados pelas avaliações educacionais e exames nacionais
realizados e divulgados pelo MEC/ Inep nos últimos cinco anos, a fim de contextualizar o momento atual da
educação brasileira.
Primeiramente, procurou-se compreender mais profundamente a teoria da escola como AIE,
mediante estudo rigoroso e sistemático de algumas das principais obras de Althusser, bem como de seus
comentadores a partir dos quais essa teoria tornou-se mais elucidada e problematizada. Dentre os
comentadores, salientam-se Saviani [18], Snyders [19], Cury [11], Rosenberg [16], entre outros. Em um
segundo momento, foi realizado um estudo a fim de compreender os processos e instrumentos oficiais de
avaliação da educação brasileira, bem como o significado político e pedagógico dos resultados por eles
obtidos nos últimos cinco anos. Para tanto, foi realizado um levantamento bibliográfico de autores que
discutem e problematizam esses processos e instrumentos, destacando as obras “A avaliação da educação
básica no Brasil” [12] e “Avaliação: construindo o campo e a crítica” [13]. Na terceira etapa do trabalho,
foram utilizados dados levantados pelas avaliações educacionais e exames nacionais realizados e divulgados
pelo MEC/ Inep nos últimos cinco anos, através do SAEB (2003 e 2005) [7,9], do ENEM (2003 a 2007) [5] e
da Prova Brasil (2005 e 2007) [6,8]. Posteriormente, essas informações foram decompostas por meio do
estabelecimento de categorias analíticas que permitiram traçar um perfil da educação no Brasil. As categorias
utilizadas foram relacionadas ao desempenho escolar dos estudantes, sua situação sócio-econômica,
informações relativas aos professores, diretores e às escolas. Em seguida, os dados obtidos foram tabulados e
organizados em tabelas e gráficos para que pudessem ser interpretados e tomados como referência para a
reflexão sobre o sentido da teoria althusseriana da escola enquanto aparelho ideológico de Estado em face da
realidade da escola pública brasileira.

3. Resultados e Discussão
Pudemos verificar, através dos dados do ENEM, do SAEB e da Prova Brasil, levantados pelo INEP,
o crescente rebaixamento do ensino brasileiro, o que parece sugerir que a escola continua cumprindo o papel
de AIE a serviço da classe dominante, como um meio de reprodução e perpetuação da sociedade de classes.
Contudo, as formas pelas quais a escola realiza este papel, em certa medida, se modificaram.
Atualmente, parece que ela cumpre essa função de forma mais eficaz pela inculcação da ideologia dominante
(valores, idéias, crenças, comportamentos, etc. em conformidade com os interesses da classe dominante) do
que pela inculcação dos conteúdos, ou seja, dos saberes construídos e sistematizados historicamente [18],

*
Autor Correspondente: carmenaline08@gmail.com
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

pois se assim fosse, as médias nos exames nacionais não ficariam aquém do esperado. A ideologia difundida
na escola continua tendo uma dupla função: garantir a submissão para os operários e assegurar a dominação
para os capitalistas, pois “é nas formas e sob as formas da sujeição ideológica que é assegurada a reprodução
da qualificação da força de trabalho” [1].
Desse modo, a qualificação da força de trabalho continua garantida através do sistema escolar, uma
vez que a instrução relaciona-se com o posto a ser ocupado no trabalho, havendo, na prática, diferentes
escolas para atender a diferentes classes sociais. Sabemos que a maioria dos alunos das escolas públicas no
Brasil pertence às classes populares. A escola pública, nas condições atuais, parece estar relegada a um papel
quase meramente figurativo, dado o descaso da classe dominante para com o ensino público. Tal descaso
deve-se, ao menos em parte, ao fato de essa classe não se utilizar desse ensino para educar os seus membros,
recorrendo ao ensino privado. Isso fica evidente quando comparamos o desempenho dos estudantes de
escolas públicas e escolas privadas nas avaliações nacionais, que expressa o dualismo presente na educação
brasileira.

4. Conclusão
A escola, assim, parece continuar desempenhando um papel dominante dentre os Aparelhos
Ideológicos de Estado para a inculcação massiva da ideologia da classe dominante, principalmente porque a
educação é obrigatória, gratuita, goza de uma enorme audiência e apresenta-se como um meio aparentemente
neutro, desprovido de ideologia [2]. Contraditoriamente, a mesma escola que recebe a quase totalidade das
classes populares, nega-lhes o acesso a um ensino de qualidade.
Esse trabalho também nos permitiu desenvolver uma outra interpretação da obra de Althusser,
tomando-o como um referencial teórico que não apenas evidencia a reprodução da sociedade que se dá
através dos AIE, mas também destaca as possibilidades de luta e as contradições presentes nesses aparelhos,
que viabilizam uma participação efetiva das classes populares e dos intelectuais (no caso, os professores) que
com ela verdadeiramente se identificam e solidarizam, em prol da transformação social.

Referências
[1] ALTHUSSER, L. Aparelhos ideológicos de Estado. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1985.
[2] ______. Sobre a reprodução. Petrópolis: Vozes. 1999.
[3] BRASIL. Mec. Inep. ENEM – Documento Básico. Brasília, 1998. Disponível em:
<http://historico.enem.inep.gov.br/arquivos/Docbasico.pdf >. Acesso em: 29 jan. 2009.
[4] ______. Mec. Inep. História da Prova Brasil e do SAEB, 2009. Disponível em:
<http://provabrasil.inep.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=15&Itemid=14>. Acesso em
25 mai. 2009.
[5] ______. Mec. Inep. Microdados do ENEM 2003-2007. Brasília, 2008. Disponível em:
<http://www.inep.gov.br/basica/levantamentos/acessar.htm>. Acesso em: 21 jul. 2009.
[6] ______. Mec. Inep. Microdados da Prova Brasil 2007. Brasília, 2009. Disponível em:
<http://www.inep.gov.br/basica/levantamentos/acessar.htm>. Acesso em: 21 jul. 2009.
[7] ______. Mec. Inep. Microdados do SAEB 2003-2005. Brasília, 2008. Disponível em:
<http://www.inep.gov.br/basica/levantamentos/acessar.htm>. Acesso em: 21 jul. 2009.
[8] ______. Mec. Inep. Resultados da Prova Brasil (Acesso ao Sistema), 2009. Disponível em:
<http://provabrasil.inep.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=82&Itemid=99> Acesso em
06 set. 2009.
[9] ______. Mec. Inep. SAEB - 2005 Primeiros Resultados: Médias de desempenho do SAEB/2005 em
perspectiva comparada. Brasília, 2007. Disponível em:
<http://www.inep.gov.br/download/saeb/2005/SAEB1995_2005.pdf>. Acesso em: 23 mai. 2009.
[10] CHAUÍ, M. O que é ideologia. São Paulo: Brasiliense, 1981.
[11] CURY, C. J. Educação e contradição. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1985.
[12] FREITAS, D. N. T. de. A avaliação da educação básica no Brasil. Campinas. Autores Associados,
2007.
[13] FREITAS, L. C. et al. (Org.). Avaliação: construindo o campo e a crítica. 1ed. Florianópolis: Insular,
2002. 264 p.
[14] MARX, K.; ENGELS, F. A ideologia alemã: (I-Feuerbach). 4ª ed. São Paulo: Hucitec, 1984.
[15] ______. Textos sobre educação e ensino. São Paulo: Moraes, 1992.
[16] ROSENBERG, L. Educação e desigualdade social. São Paulo: Loyola, 1984.
[17] SANFELICE, J. L. Da escola estatal burguesa à escola democrática popular: considerações
historiográficas. In: LOMBARDI, J. C., et all. (orgs.). A escola pública no Brasil: história e historiografia.
Campinas, SP: Autores Associados: HISTEDBR, 2005.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

[18] SAVIANI, D. Escola e Democracia. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 2003.


[19] SNYDERS, G. Escola, classe e luta de classes. São Paulo: Centauro, 1976.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

A UTILIZAÇÃO DA TECNOLOGIA DEPENDENTE NO PROCESSO


ENSINO/APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Cláudia Felisberto do Nascimento 1*; Iandra Pavanati2;


1
Graduanda do curso de Licenciatura em Pedagogia
2
Doutoranda do Programa de Pós- Graduação de Engenharia do Conhecimento – ECG/UFSC
Professora CCT/UDESC e INESA - Joinville

1. Introdução
No mundo globalizado contemporâneo, as informações são obtidas em tempo real e a
tecnologia está cada vez mais presente no cotidiano da sociedade.
Percebe-se que os alunos já chegam à escola sabendo utilizar o computador, navegam na internet,
jogam online e manuseiam brinquedos eletrônicos. Com isso tendo acesso a este vasto mundo da tecnologia
digital, pois já são nativos digitais [4], já nasceram imersos neste mundo de tecnologia, que cresce e se
desenvolve cada vez mais.
Porém, quando estas crianças nativas digitais vão à escola, se deparam muitas vezes com um sistema
de ensino formal onde o professor ainda passa o conteúdo no quadro e os alunos o copiam no seu caderno,
como se somente o professor fosse o único detentor do conhecimento.
É possível observar uma incongruência entre as práticas de trabalho dos professores – imigrantes
digitais – e a realidade vivenciada pelos nativos digitais. Apesar de tantas mudanças e avanços tecnológicos,
não se permite mais que as escolas deixem de lado as novas tecnologias educacionais, pois estas são
ferramentas de extrema valia para o processo de ensino/aprendizagem dos alunos.
Todo novo recurso utilizado para a facilitação do processo de produção de conhecimento pelo o
aluno tem muita importância. É uma porta nova que se abre, são novos horizontes que se ampliam.
Não se pode deixar o uso da tecnologia dependente fora dos muros das escolas ou deixar o
laboratório de informática fechado, pois os alunos, que já sabem criar seus próprios blogs, são os mesmos
que ainda estão recebendo um conhecimento em forma de depósito, fato que implica negativamente para a
sua busca e criação de novos conhecimentos, a partir da formulação de suas idéias e concretizando suas
opiniões e sua visão crítica.

2. Método
Ao proceder esta pesquisa é necessário classificá-la como uma pesquisa participante, de viés
qualitativo, baseada no método dedutivo, onde a coleta de dados se dá a partir da observação sistemática, que
de acordo com Lakatos e Marconi [1]

Realiza-se com condições controladas, para responder a propósitos preestabelecidos.


Todavia, as normas não devem ser padronizadas nem rígidas demais, pois tanto as situações
quanto os objetos e objetivos da investigação podem ser muito diferentes. Deve ser
planejada com cuidado e sistematizada.
Através desta pesquisa se observará de que forma a utilização da tecnologia dependente contribui
para o processo de ensino/aprendizagem dos alunos nativos digitais na educação infantil.

3. Resultados e Discussão
Os recursos tecnológicos já fazem parte da realidade e do cotidiano da sociedade atual estes recursos
vão desde a utilização de água encanada, luz elétrica, eletrodomésticos, até o uso da internet.
Nota-se que cada vez mais a humanidade torna-se dependente dos recursos tecnológicos, tanto os
dependentes quanto os independentes que são utilizados, para se comunicar, trabalhar, estudar, se divertir e
realizar tantas outras atividades que tais recursos permitam.

Os recursos tecnológicos estão cada vez mais presente em nossas vidas, mediando o
relacionamento com o sistema de governo, negócio, saúde, educação. Através da internet, é
possível obter informações relacionadas ao sistema de saúde pública, solicitar a emissão de
documentos, comprar, vender, e aprender pela educação a distância. Isso significa que a
internet está se tornando um meio indispensável para a organização de nossas vidas. [5]

*
Autor Correspondente: Claudia.fdn@otmail.com
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Contudo o âmbito escolar, ainda mantém-se em alguns casos resistente e alienado ao uso das
tecnologias dependentes como instrumentos pedagógicos no processo e ensino-aprendizagem, que em
conformidade com Leite [2], são as tecnologias que dependem de um ou vários recursos elétricos ou
eletrônicos pra serem reproduzidas e/ou utilizadas, como por exemplo, o computador, DVD, internet,
televisão, entre outros. Já as tecnologias educacionais independentes são as que não dependem destes
recursos eletrônicos e elétricos para a sua reprodução e /ou utilização.
O despertar do professor para o uso das novas tecnologias e do ciberespaço, faz-se necessário, para que ele
atenda as expectativas educacionais da sociedade contemporânea, contudo de acordo com Prensky [4], esta
se torna uma tarefa de múltiplos obstáculos, uma vez que este profissional é considerado pelo autor um
imigrante digital.
Aqueles de nós que não nasceram no mundo digital, mas estiveram em contato em alguns
momentos atrás em nossas vidas, tornando-se fascinados e adotando muitos ou alguns
aspectos das novas tecnologias são e sempre serão comparados a eles, IMIGRANTES
DIGITAIS. [4]
Observa-se que é de suma importância o professor adotar um planejamento flexível, que esteja
propício ao uso dos recursos tecnológicos, como mais um ótimo recurso didático a sua disposição, recursos
estes que já são utilizados pelos seus alunos.
Acredita-se que as crianças, que frequentam as escolas de educação infantil estão mais integradas e
hábeis no manuseio de equipamentos eletrônicos, mesmo nas crianças do berçário, já é possível notar
preferências por brinquedos eletrônicos, ao invés dos tradicionais chocalhos e mordedores.
Para Valente [5]

Elas nasceram no mundo onde esses recursos tecnológicos já existiam e foram assimilados
como parte de seu cotidiano. Neste sentido, a escola – mais especificamente a educação
infantil – não pode ficar destoante da realidade dessas crianças.
Ao realizar o processo de integração das tecnologias digitais, já na educação infantil as escolas estão
permitindo uma maior inserção e domínio das práticas tecnológicas, pois parte-se do princípio de que as
crianças, mesmo pequenas já possuem habilidades no domínio do celular, do controle remoto e de
videogames, também têm acesso ao computador e a internet.
Diversas propostas pedagógicas para a educação infantil baseiam-se na brincadeira e nos jogos. Oliveira [3]
defende que o jogo infantil, deve ser utilizado como um recurso para a aprendizagem e desenvolvimento das
crianças na educação infantil.

O jogo simbólico ou de faz-de-conta, particularmente, é ferramenta para a criação da


fantasia, necessárias a leituras não convencionais do mundo. Abre caminho para a
autonomia, a criatividade, a exploração de significados e sentidos. Atua também sobre a
capacidade da criança de imaginar e de representar, articula com outras formas de
expressão. São os jogos, ainda, instrumentos para aprendizagem de regras sociais. [3]
Encara-se o jogo na educação infantil como só mais uma atividade permanente, ou como uma
atividade para passar o tempo, não sendo explorado como recurso um aliado no processo de ensino-
aprendizagem na educação infantil.

4. Conclusão

Esta pesquisa tem relevância no sentido de alertar aos professores sobre a importância do uso das
tecnologias digitais no processo de ensino/aprendizado dos alunos, pois fazer uso desde material didático é
muito importante para aproximar e dar um maior respaldo para os alunos no entendimento dos conteúdos
abordados.

Referências

[1]LAKATOS, Eva Maria. MARCONI, Maria de Andrade. Fundamentos de Metodologia Científica. 4. ed.
São Paulo: Atlas, 2001.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

[2]LEITE, Ligia Silva et al. Tecnologia educacional: descubra suas potencialidades na sala de aula.3.ed.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.
[3]OLIVEIRA, Zilma Ramos. Educação infantil: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2002.

[4]PRENSKY, Marc. Digital natives, digital immigrants. On the Horizon. MCB University Press, v. 9, n. 5,
out. 2001. Disponível em: <http://www.marcprensky.com/writing/Prensky%20-
%20Digital%20Natives,%20Digital%20Immigrants%20-%20Part1.pdf>. Acesso em: 22 fev. 2010.
[5]VALENTE, José Armando. A inclusão das tecnologias digitais na educação infantil. Revista Pátio
Educação Infantil. Rio Grande do Sul, n.3, Nov./Fev. 2003, p. 15-18.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

ALFABETIZAÇÃO: REFLEXÕES SOBRE A LEITURA E A ESCRITA

*Flávia Patricia Albiero


Universidade Federal de Santa Maria

1.Introdução

São muitos os fatores responsáveis pela formação de pessoas não conscientes de seus deveres e
direitos como cidadãos, tais como: analfabetismo, métodos não adequados e as dificuldades de
aprendizagem.
Por isso, este artigo vem de indagações feitas a partir de um olhar individualizado de crianças que
tem dificuldades de aprendizagem, em uma escola estadual da cidade de Santa Maria, no estado do Rio
Grande do Sul. Onde nesta instituição, está inserido o projeto chamado de “Laboratório de Alfabetização:
Repensando a formação de professores”, criado pelo Grupo de Estudo e Pesquisa sobre Formação Inicial,
Continuada e Alfabetização.
O foco foi dado nos métodos utilizados na alfabetização, com seus respectivos processos de
construção e sobrepostos nas dificuldades de aprendizagem e no papel individualizado que o educador
oferece para cada educando. Tendo como referencial teórico, Bogdan; Biklen (1994, p.9), Emília Ferreiro
(1987, p.34), Guyton (1993, p. 89) e Nunes ( 2004,p.25 ).
Abordarei os métodos de alfabetização, utilizados neste projeto de pesquisa, em particular os
métodos de Emilia Ferreiro (1987) e a utilização de jogos no processo de ensino-aprendizagem e por fim o
papel individualizado do educador com estas crianças.
Farei algumas considerações sobre os métodos utilizados por Emília Ferreiro ( 1987)[1], no processo
que cada criança deveria passar para alcançar o nível alfabético.Onde também é utilizado pelo grupo para a
realização do trabalho individualizado com os educandos.
Neste processo de construção, Emilia Ferreiro (1987) [1,1] define quatro níveis na psicogênese da
alfabetização (pré-silábico, silábico, silábico alfabético e o alfabético).
No nível pré-silábico, segundo Emília Ferreiro (1987) [1,2], “a criança não estabelece vínculo entre a
fala e a escrita, supõe que a escrita é outra forma de desenhar”.
Por isso, acreditamos que as crianças devam conviver mais com a leitura e com a escrita, para
apropriar-se do processo critico e reflexivo da leitura e escrita. Na escola o que muitas vezes podemos
observar, é que crianças estão aprendendo de uma forma mecânica e artificial, desprovida de conteúdo,
significação e expressão.
No nível silábico, segundo Ferreiro (1987) [1,3], “a criança já supõe que a escrita representa a fala,
tenta fonetizar a escrita e dar valor sonoro às letras, já supõe que a menor unidade da língua seja a sílaba”.
Pela primeira vez, a criança percebe que a escrita representa a fala. O aluno do nível silábico é um sujeito
que resolveu temporariamente o problema da escrita, mas que vai se defrontar mais tarde com o problema da
leitura.
No nível silábico-alfabético, conforme Ferreiro (1987) [1,4], “o aluno coexistirá duas formas de
corresponder sons e grafias”. É neste momento que o professor deve estar atento, para através de métodos
diferenciados e com o seu auxílio, à criança volte a ser estimulada e consiga passar para o próximo estágio.
No nível alfabético, segundo Ferreiro (1987) [1,5], “a criança já compreende que cada som
corresponde a uma letra, que letras se combinam em sílabas e palavras e que cada fonema é representado por
uma letra”.Após tudo isso já abordado, que conseguimos perceber a importância de conhecer o
desenvolvimento dos níveis da lecto- escrita.
Conforme Emilia Ferreiro (1987)[1,6] nos fala, “alfabetizar significa adquirir a habilidade de
codificar a língua oral em língua escrita e de codificar a língua escrita em língua oral, mas ao mesmo tempo,
ler e escrever significa apreensão e compreensão de significado”.

*Autor: Flávia Patricia Albiero: flaviap.albiero@gmail.com

287
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Por isso, o objetivo deste artigo é mostrar que as dificuldades de aprendizagem vão além da
utilização de diferentes métodos utilizados na alfabetização, com um olhar mais individualizado sobre os
educandos é possível que uma criança com dificuldades consiga se desenvolver melhor ou até mesmo reduzir
ao mínimo estas dificuldades.
A partir de problemáticas que foram encontradas por nós, na prática do projeto já mencionado a
cima, pois muitas vezes crianças tolhidas por uma dificuldade de aprendizagem na maior parte das vezes têm
comprometido seu desempenho escolar. E isto, é visto muito claro por nós, na prática nesta escola.
Na verdade, o que se sabe é que nunca há uma causa única para as dificuldades de aprendizagem,
mas sim uma conjunção de fatores que interagem para que isto aconteça.
Segundo Guyton (1993, p. 89) [2], “a origem da categoria das dificuldades de aprendizagem, como
hoje é conhecida, desenvolveu-se a partir do conceito de crianças com lesão cerebral”. Há várias
multiplicidades de fatores que envolvem uma pessoa com dificuldades na aprendizagem, sendo a família
uma delas.
Reconhecer quando uma criança apresenta dificuldade de aprendizagem, já é o primeiro passo para
não rotulá-la. Os rótulos exercem efeito negativo entre as crianças, mas reconhecer que existe capacidade e
que algo pode ser feito já é de grande relevância.
Para que aconteça esse desenvolvimento, dependerá da efetivação de um ambiente alfabetizado e
facilitador, que devam se adaptar as necessidades constantes do indivíduo. E para isto acontecer, uma pratica
muito relevante é os jogos educativos, muito utilizados pelo projeto.
Para o processo de alfabetização o jogo é considerado a atividade mais importante no âmbito
educacional. Através dele a criança promove sua imaginação, além de ser uma das melhores formas de
socialização e interação das crianças entre si, sendo importante para o desenvolvimento humano.
De acordo com Nunes (2004, p.25) [3], “a ludicidade é uma atividade que tem valor educacional
intrínseco, mas além desse valor, que lhe é inerente, ela tem sido utilizada como recurso pedagógico”. Ele
tem um papel de relevante importância, pois é à base do desenvolvimento cognitivo e afetivo do ser humano.
A brincadeira e os jogos pedagógicos ganharam mais saliência nos aspectos cognitivos, pois de uma
atividade lúdica passaram a dar contribuições importantes na área de aquisição do conhecimento.
No mundo do brinquedo e dos jogos, no qual o educando aprende a ditar as regras ou a respeitá-las, a
brincadeira não é uma atividade inata, mas sim uma atividade social e humana que supõe contextos sociais, a
partir dos quais o aprendiz comanda uma nova realidade e estabelece suas normas.
É de fundamental importância o papel do educador neste processo,pois o mesmo auxilia de forma
individualizada o educando,dando assim maior atenção às dificuldades presentes em cada um. Sendo
possível trabalhá-las de forma a chegar em resultado mais satisfatórios para o aluno.

2.Método
A metodologia utilizada foi a pesquisa qualitativa, segundo os estudos de Bogdan; Biklen (1994,
p.9)[4].O trabalho realizado pelo grupo de pesquisa consiste em dar aulas individualizadas para crianças
consideradas com dificuldades de aprendizagem em uma escola municipal localizada no municio de Santa
Maria.
Onde educadoras participantes do projeto, realizam atividades com o apoio de jogos educativos
individualmente com as crianças. Trabalhando assim as dificuldades especificas que cada criança tem na
lecto-escrita.

3.Resultados
Apesar de todos estes relevantes problemas, consideramos que além da individualização do trabalho
que está sendo realizado pelo grupo, consideramos de alta relevância a importância dos métodos utilizados
para o ensino destas crianças.
A pesquisa esta em processo de conclusões de resultados, por isso, eles estão em aberto. E é nesta
perspectiva, que foi possível verificar a importância que tem o apoio pedagógico individual para as crianças
com dificuldades de aprendizagem.
Com os estudos realizados até o momento, verifica-se a grande importância de conhecer o processo
de construção da leitura e da escrita, bem como dos jogos e o apoio pedagógico realizados com as crianças
que possuem dificuldades de aprendizagem. Em nosso trabalho realizado pelo Projeto Laboratório de
Alfabetização cujo está dentro do Grupo de Estudo e Pesquisa sobre Formação Inicial, Continuada e
Alfabetização (GEPFICA), percebe-se a grande satisfação das crianças em terem como recurso didático os
jogos e as brincadeiras, pois é através desse meio que elas podem socializar-se e organizar seus
conhecimentos.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

4.Conclusões:
A escola deve tratar cada criança com suas particularidades, pois o processo de alfabetização se da
de maneira diferenciada de criança para criança. Cabe ao professor perceber essas diferenças e ver se certo
aluno está com dificuldades de aprendizagem e procurar conhecer os níveis da lecto-escrita para auxiliar no
processo de construção de conhecimento do aluno, para que o mesmo consiga aprender o conteúdo.
Além disso, achamos importante a escola e a família terem um papel crítico durante todo o período
de alfabetização da criança, para que ela consiga sanar suas dificuldades. Portanto, a escola deve tratar cada
criança com suas particularidades, pois o processo de alfabetização se dá de maneira diferenciada de criança
para criança. Cabendo ao professor perceber a importância do seu papel no processo de ensino-
aprendizagem.

Referências
[1],[1,1],[1,2],[1,3],[1,4],[1,5],[1,6]FERREIRO, Emília. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1987. 34p.
[2]GUYTON, A. Neurociência básica: anatomia e fisiologia. Rio de Janeiro: Guanabara, 1993. 89p.
[3]NUNES, Ana Raphaella Shemany. O lúdico na aquisição da segunda língua. Disponível em:
http://www.linguaestrangeira.pro.br/artigos_papers/ludico_linguas.htm. Acesso no dia 16 de dezembro de
2009.

[4]BOGDAN, R. C.; BIKLEN, S. K. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos
métodos. 4ª ed. Porto: Porto, 1994.9p.

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ATIVIDADE EXPERIMENTAL:
AÇÕES PARA A APRENDIZAGEM E ESTRATÉGIA DE MOTIVAÇÃO

Gisele M. dos Santos 1*; Luana Portilla de Mello 2; Divina Zacche Pereira3
Instituto Federal de Santa Catarina (IF-SC)
1. Introdução

De acordo com os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) 1, os conhecimentos devem ser
construídos como algo que não envolva a simples memorização de conceitos, ideias ou leituras. Seu
aprendizado exige vivência e atividade, não só de atividades direcionadas por livros, mas de caráter ativo
como atividade experimental voltada para práticas contextualizadas.
Ao delimitar a proposta desta pesquisa na experimentação como instrumento motivacional e facilitador
do processo de ensino e aprendizagem, optou-se como foco o início da escolarização, ou seja, no Ensino
Fundamental. A proposta desta pesquisa foi direcionada para o Ensino Fundamental para auxiliar os
educandos a atingirem níveis mais elevados de cognição nesta fase de escolarização, facilitando a
aprendizagem de conceitos científicos, através das contribuições da abordagem sócio-histórica de Vygotsky
para as aulas de ciências.
Dentre deste contexto, presente estudo objetiva mostrar algumas contribuições teóricas de estudos
realizados recentemente, para a análise das questões relacionadas à motivação e à aquisição de
conhecimentos através de aulas experimentais e como os aspectos emocionais presentes nestas atividades
podem favorecer a elaboração e a assimilação do conhecimento científico, tendo como referencial a teoria
Vygotskyana Sócio-histórica. Deste modo, procura-se problematizar o modo como as atividades
experimentais despertam a motivação dos educandos e proporcionam a construção do conhecimento, a
assimilação dos conceitos científicos de forma contextualizada, através de problemas reais explorados nas
aulas experimentais.

2. Método

Neste artigo busca-se analisar, por meio de uma revisão da literatura, a contribuição das aulas
experimentais no Ensino de Ciências Naturais, como uma estratégia motivacional e como forma de
favorecer o aprendizado. Portanto, pretende-se discutir a importância das atividades de experimentação no
ensino de Ciências Naturais, através da motivação e como essas atividades podem ser compreendidas,
assimilando conceitos científicos em situações em que os estudantes aprendem ao envolver-se
continuamente com manifestações dos fenômenos naturais, criando hipóteses, experimentando, errando,
interagindo com seu grupo, elaborando suposições e analisando os resultados experimentais para perceber
sua exatidão e validade.
Em relação às dimensões para este estudo, optou-se por analisar os dados sob os dois fatores principais
envolvidos na aula de experimentação: a motivação e a aprendizagem.

3. Breve Histórico da disciplina de Ciência no Brasil

A disciplina de Ciências, desde que foi inserida no currículo escolar, vem sofrendo modificações de
acordo com o período histórico, cultural, econômico, político e social. A partir de 1990, documentos como
os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais), de âmbito nacional, estadual e municipal têm sido elaborados
para orientar professores de Ciências do Ensino Básico. De acordo com os PCNs 1, os conteúdos
ensinados em Ciências são aqueles relacionados à compreensão do universo, da vida e ambiente, saúde,
tecnologia e sociedade. A proposta de trabalho dos conteúdos se dá em três dimensões: conceituais,
procedimentais e atitudinais. Já no contexto estadual, em Santa Catarina, as Diretrizes Curriculares para o
Ensino Fundamental, apontam alguns pontos que são considerados as habilidades e competências
necessárias aos alunos do Ensino Fundamental: a capacidade de conhecer, de agir, de criar, de relacionar, de
contextualizar, de conviver e de se relacionar, de interpretar, de entender, de interagir com o mundo, de ter
domínio, de apropriar-se do conhecimento e desenvolver soluções para problemas. Com o desenvolvimento
dessas competências, o aluno estabelece relações entre as várias áreas do conhecimento e constrói novos
significados. 2

*1
Gisele M. dos Santos: giselegoedert@yahoo.com.br
1
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A escola, por sua vez tem a responsabilidade de formar cidadãos críticos, conscientes e participativos
na sociedade. A legislação brasileira para educação, na Lei no 9.394/96 de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB) e os PCNs orientam as escolas a valorizarem a aprendizagem, a capacidade de construção
do saber e crítica do educando, fazendo com que os conteúdos de ensino deixem de ter importância em si
mesmos. No entanto, a implantação destas medidas requer mudanças no sistema de formação de professores
para que os mesmos agreguem a seus planos de ensino aulas práticas de experimentação.

4. Atividades Experimentais: resultados obtidos

Zanon e Freitas (2007) acreditam que as atividades experimentais devem ser desenvolvidas através da
orientação do professor. Além disso, segundo esses autores tais atividades devem oportunizar as vivências
de questões investigativas que possibilitem aos alunos fazer relação com suas vivências, sendo constituídas
por problemas reais e desafiadores. Sendo assim, as atividades experimentais possibilitam aos alunos
levantar questões e hipóteses, testar suas ideias sobre os conhecimentos científicos, motivando-os,
mediando-os, propondo que percebam questões não observadas pelo grupo e assimilando os conhecimentos
teóricos científicos de maneira significativa e produtiva.
Esse processo de experimentação necessita de uma sequência organizada, como: 1) criar um problema;
2) ouvir as hipóteses dos alunos; 3) introduzir e desenvolver a atividade experimental; 4) mediar os alunos
nos debates científicos e auxiliar na organização das ideias para internalizarem; 5) exemplificar as ideias
científicas na expansão e seu uso no dia-a-dia, transferindo para os alunos o controle e a responsabilidade do
uso desse conhecimento.
Para Bevilacqua e Coutinho-Silva (2007), a época em que vivemos da informação, exige reflexão
sobre o que é ensinado e sobre as estratégias realizadas em sala de aula. Para que o aluno se desenvolva
cientificamente, percebendo a evolução da ciência, das transformações da natureza e dos seres vivos, os
estímulos e o desenvolvimento da Educação Científica se fazem necessários. Com as atividades
experimentais, cria-se nas aulas de ciências um ambiente de estratégias investigativas, local de exprimir
ideias, planejar, prever, executar e rever procedimentos. No entanto, não se objetiva nas atividades
experimentais rever conceitos, aplicar processos científicos, recriando e comprovando experimentos, através
de atitudes positivistas, face à ciência, objetiva-se estimular, dialogar, pesquisar, descrever hipóteses que se
confirmam ou não com os conceitos estudados. Além disso, estimula-se a interação entre os colegas e com o
professor de modo que eles discutam tentativas de explicar um determinado conceito ou fenômeno
científico. Em seu estudo, Zanon e Freitas (2007) diferenciam metodologicamente o ensino convencional ou
tradicional do ensino com atividades experimentais e investigativas. Esclarecem que o ensino convencional
acontece através do desenvolvimento do conteúdo programático através do livro didático. O conteúdo e o
roteiro são direcionados pela professora, a conclusão dos experimentos (quando há) e os conceitos são feitos
pelo próprio livro, as hipóteses são obtidas através de conversas curtas sem contextualização com o dia-a-
dia. Já no ensino com atividades experimentais e investigativas consideram em seu estudo, tudo o que o
aluno supõe, suas hipóteses e questionamentos nas aulas, o professor organiza e oportuniza a oralidade e a
escrita dos alunos, instiga o interesse do aluno nas questões desafiadoras e como as atividades de
experimentação são constatados os resultados através de vivências. Consideram os levantamentos de
hipóteses como necessárias e estas são anotadas, para após a aula de experimentação, ter um momento para
os educandos e educadores debaterem as conclusões dos assuntos estudados. Pontuam que o trabalho é
essencial, mas precisam contar com os imprevistos para replanejar e solucionar problemas, além de
proporcionar motivação e entusiasmo nos alunos a cada atividade experimental proposta. Consideram que a
forma dinâmica que se procede em aulas experimentais favorecem o diálogo e às manifestações espontâneas
dos alunos, se comparadas com aulas convencionais ou tradicionais.
Para Bevilacqua e Coutinho-Silva (2007) a realização de experimentos na disciplina de Ciências,
permite que o aluno faça relação entre a teoria e a prática. Desta forma, possibilita um maior significado do
que está sendo ensinado, trocando o tradicional, a memorização da informação, por uma metodologia
concreta, eficiente e motivadora nas salas de aula. A atividade experimental nas aulas de ciências representa
para o educando uma forma interessante e lúdica de compreender o conteúdo, permitindo desenvolver seu
aprendizado a partir da motivação que se estabelece com as atividades atrativas, sendo esta a ferramenta
essencial para se obter concentração, interesse e participação de todos.
No estudo de Panarari-Antunes, Defani e Gozzi (2009) definem a importância das aulas práticas para o
ensino de ciências como a forma de oportunizar vivências e as atitudes científicas, através de métodos
científicos. Percebem as aulas experimentais como uma oportunidade para desenvolver habilidades e
promover o desenvolvimento da criatividade e da criticidade, além da resolução de problemas.

2
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

5. Fatores Referentes ao Desenvolvimento do Ensino Aprendizagem em Ciências

Zanon e Freitas (2007) apontam a necessidade das atividades experimentais acontecerem em conjunto
com práticas discursivas e, as apresentam como ferramenta para permitir as trocas de informações e a
contextualização com significados dos conhecimentos de Ciências. Desta maneira, os alunos aprendem ao
socializar com professores e colegas, ao experimentar, ao supor os conhecimentos científicos e de maneira
progressiva desenvolvem ainda mais sua cognição, facilitando seu aprendizado. O sucesso deste processo
reside na criação de um ambiente motivador, um clima agradável e de confiança a fim de revelar através de
experiências, forças e fraquezas, sentimentos, pensamentos, habilidades e ser capaz de convencer e orientar
para um determinado propósito, e estimular a realização de competências nos alunos (Fig. 1 e 2)

Fig. 1. Experiência: Indicador ácido-base. Fig. 2. Resultado da Experiência.

Segundo Murray (1973) a motivação está relacionada com todos os tipos de comportamentos, sejam
eles de: aprendizagem, desempenho, percepção, atenção, recordação, esquecimento, pensamento,
criatividade e sentimento. As atividades motivadoras são necessárias em todas as fases da vida, sejam em
aulas para adultos ou para crianças, pois favorecem o bom relacionamento entre aluno e professor,
melhoram a disciplina em sala e criam um ambiente agradável, motivador, organizado e enriquecido com
ideias e debates, possibilitando assim alcançar o objetivo maior, o aprendizado.
Para Libâneo (1994), a motivação e a aprendizagem têm influência uma na outra. Libâneo (2003) se
refere ao significado da contextualização do ensino, como sendo uma forma de relacionar o cotidiano do
educando com os conhecimentos explorados pela cultura escolar, interligando a teoria com a prática, de
maneira atrativa.
Para Vygotsky (1984), a sala de aula deve ser interativa, ou seja, uma sala que permite que todos os
alunos falem, criem hipóteses, participam dos debates e se fazem ativos em seu processo de aprendizagem,
percebendo a construção de seu conhecimento. Aprender, não significa decorar conceitos formais pré-
determinadas, mas criar conceitos de vários ramos da ciência, de modo que cada conceito apropriado pelo
educando, se promova uma transformação cognitiva ou desenvolvimentos mentais, reflexo do aprendizado
motivacional e a participação intensa deste.
Para Vygotsky (1998), a formação de conceitos tem uma grande influência sob o papel mediador e da
palavra. O conceito tem uma origem social e seu desenvolvimento se faz primeiramente na relação com os
outros e, posteriormente com o aluno. Primeiro, o aluno é dirigido pela palavra do outro, depois ele utiliza as
palavras para orientar o seu pensamento. Situações que relacionam interesse dos alunos, debates de idéias e
dúvidas entre professor e aluno, favorecem o desenvolvimento da capacidade de elaborar novos significados
e conceitos, permitindo uma organização ou reorganização dos conceitos já estabelecidos. A atividade
experimental é um ambiente de troca de informações, frente a idéias e concepções, tanto dos professores
como dos alunos. Se esta ferramenta didática de ensino estiver apoiada em objetivos pertinentes, os
professores terão sucesso em suas práticas pedagógicas.
As atividades que motivam os alunos e possibilitam aprendizado e compreensão de conceitos, são
explicadas por Vygotsky (1998), como um processo histórico-cultural que resultam do processo de ensino
aprendizagem e das relações subjacentes a isto. Promovendo a motivação como um dos fatores principais
para o sucesso da aprendizagem e para as relações sociais.

6. Considerações Finais

Portanto, a partir de reflexões teóricas e da prática pedagógica dos estudos pesquisados, foi
desenvolvida uma estratégia de ensino baseada em aulas de ciências na qual a experimentação é condutora
do conhecimento teórico, o trabalho em grupo é valorizado, a construção do conhecimento a partir da
investigação científica é determinante e a troca de informações entre os próprios alunos é estimulada.
3
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

O estímulo motivacional e o desenvolvimento do aprendizado através da Educação Científica se fazem


necessários por possibilitarem ao educando melhor acompanhamento da evolução da Ciência, das
transformações que ocorrem na natureza e da história do homem, ou seja, um aprendizado de maneira
contextualizada. Ao auxiliar a compreender aspectos importantes das práticas experimentais em sala de aula
e do processo de aprendizagem científica dos alunos, através da motivação e do interesse que se estabelece.
Com esse estudo, percebeu-se maior motivação, interesse e assimilação dos conceitos por parte dos
alunos através das aulas práticas investigativas, sendo esse um instrumento facilitador no processo de ensino
aprendizagem. Essa prática de investigação não se assemelha ao ensino tradicional, em que os alunos
recebem as informações vindas de um livro didático e repassadas pelo professor, sendo assim, os alunos são
os protagonistas do seu aprendizado. Percebem-se as atividades experimentais como uma maneira
estimulante, motivadora de os alunos construírem seu conhecimento de forma contextualizada, além de
relacionarem seus conhecimentos com seu dia-a-dia. Por isso, o que importa não é apenas o ato do
experimento, mas todo o contexto que se desenvolve com a inclusão destas atividades, intercaladas com
aulas teóricas e dialogadas, e possibilitando o bom desempenho dos alunos em todas as aulas de ciências,
após ter despertado no aluno interesse e satisfação ao estar em sala. A interação harmoniosa do professor,
como cogestor da aprendizagem, facilita a aplicação de novas fórmulas para o sucesso no processo
educativo e auxilia nos processos cognitivos, tais como percepção, atenção, memória e pensamento, como se
esclarece com Vygotsky. Finalmente, não se pode ignorar os fatores afetivos, que influenciam na
aprendizagem, tais como personalidade, emoção, estímulos que impulsionam e aumentam a motivação para
alcançar as suas expectativas para o ajudarem no desempenho dos educandos no ambiente escolar.
Por fim, salienta-se que os estudos desenvolvidos neste artigo apontam elementos significativos na
busca pela reflexão da aula de Ciências Naturais, através da ferramenta didática que são as atividades de
experimentação que atuam em diferentes contextos. A cada investigação novas informações poderão e
deverão ser agregados a este estudo, de forma que a construção e reelaboração das práticas pedagógicas
sejam continuas e ilimitadas, propondo ao aluno o desenvolvimento de sua aprendizagem de maneira
significativa.

Referências

BEVILACQUA, G. D.; COUTINHO-SILVA, R. O ensino de Ciências na 5ª série através da


experimentação. Revista Ciências & Cognição. Rio de Janeiro, Brasil. 2007; Vol 10: 84-92. 31 de mar.
2007. Disponível em <http://www.cienciasecognicao.org> Acesso em: 30 de abr. 2010.

BRASIL. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Parâmetros curriculares Nacionais.


Ciências Naturais. MEC/SEF, Brasília, 1998b. 1

LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.


MURRAY, E.J. Motivação e Emoção. 3° Ed. Rio de Janeiro: Zahar. 1973.

PANARARI-ANTUNES, R.S.; DEFANI, M. A.; GOZZI, M. E. Análise de Atividades Experimentais em


Livros Didáticos de Ciências. IX Congresso Nacional de Educação. EDUCERE. PUCPR. 2009. PR.
Disponível em <http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2009/anais/pdf/2075_1213.pdf. >
Acesso em: 14 de abr. 2010.

SANTA CATARINA. SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO. Diretrizes da


Prática Escolar na Educação Básica. Florianópolis: Cogen, 2001. 2

VYGOTSKI, L.S. O desenvolvimento psicológico na infância. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

VYGOTSKY, L.S. Pensamento e linguagem. Trad. M. Resende, Lisboa, Antídoto, 1979.


A formação social da mente. Trad. José Cipolla Neto et alii. São Paulo, Livraria Martins
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ZANON, D. A. V. e FREITAS D. A aula de ciências nas séries iniciais do ensino fundamental: ações que
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<http://www.cienciasecognicao.org> Acesso: 20 de abr. de 2010.

4
294
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

AVALIAÇÃO DO EPERTÓRIO DE LEITURA DE ALUNOS DE TERCEIRA


SÉRIE DO ENSINO FUNDAMENTAL: UMA ANÁLISE DAS DIFICULDADES
APRESENTADAS

Damares Souza Silva¹ Melania Moroz²


¹Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
²Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
1.Introdução
O presente estudo teve como objetivo avaliar o repertório de leitura de 40 alunos que
freqüentam a 3 série do Ensino Fundamental de uma escola pública estadual e que, segundo
seus professores, apresentam desempenho insatisfatório, identificando-se os tipos de
dificuldades existentes. Adicionalmente, avaliaram-se dois repertórios relativos à escrita: o
de cópia e o de construção de palavras ditadas.

2.Método
Os dados foram coletados com a aplicação do Instrumento de Avaliação de Leitura -
Repertório Inicial (IAL-I), com o auxílio do Software Mestre. Apoiando-se no paradigma
de equivalência de estímulos, o IAL-I avalia o desempenho dos alunos, a partir de relações
entre três modalidades de estímulos: Som (A), imagem/figura(B), Texto (C). Além de
avaliar a leitura, o IAL-I avalia dois repertórios relacionados à escrita: a cópia e a
construção de palavras ditadas.

3. Resultados e Discussão
Os dados coletados pelo referido instrumento mostraram que os participantes identificaram,
de modo satisfatório, as letras do alfabeto e os itens da relação (CC) (palavra escrita-
palavra escrita). Um nível de baixo desempenho foi apresentado quando os alunos foram
submetidos às tarefas da relação (BC) (figura- palavra escrita), (CB) (palavra escrita -
figura), (AC) (palavra ditada - palavra escrita); foi constatado um índice de maior
dificuldade quando os itens de tais relações apresentavam palavras com sílabas complexas.
O pior desempenho ocorreu na relação (CD) (palavra escrita palavra falada),
correspondente à leitura expressiva; apenas um participante alcançou desempenho
satisfatório e somente quando as palavras eram compostas por sílabas simples. Na relação
de avaliação de escrita (CE) (Texto-Letras), correspondente à cópia, os participantes
alcançaram desempenho satisfatório tanto nas palavras com silabas simples quanto nas
palavras com sílabas complexas. O mesmo resultado não ocorreu quando os alunos fizeram
a relação (AE) (Som-Letras), correspondente à construção de palavras ditadas, na qual
nenhum participante alcançou desempenho satisfatório seja em palavras compostas por
sílabas simples, seja nas palavras que continham sílabas complexas. Quanto aos erros
observados, verificou-se que alguns participantes confundiam as letras b, p, e d e também
as letras m e n. Os participantes invertem o uso do s e do z, em palavras com sonorização
semelhante; há também troca de letras nas palavras compostas por /s/, /ss/, /ç/ e por /r/, /rr/.
Foi constatado que há interferência do aspecto fonológico das palavras e que há o
desconhecimento dos alunos sobre as regras ortográficas que envolvem o uso das referidas
letras, na leitura e na escrita.

295
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

4. Conclusão
A avaliação detalhada do repertório de leitura dos alunos possibilitada pelo IAL-I e a
análise dos erros de leitura e de escrita decorrentes das complexidades da língua portuguesa
podem servir como subsídio para que o professor planeje atividades de ensino visando à
superação das dificuldades existentes.

5. Referências Bibliográficas

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298
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

BIDOCÊNCIA: TENTANDO VIVENCIAR UM AMBIENTE INCLUSIVO

Maureline Petersen1*
1
Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução
Com tantas discussões, leis e situações permeadas pela temática da educação inclusiva, é ampliada a
necessidade de aperfeiçoar e criar novas maneiras de tornar essa prática condizente com as necessidades
educacionais de todos os alunos promovendo seu desenvolvimento global e aprendizagem satisfatória.
Nesta perspectiva, uma das temáticas que vem sendo discutida é a possibilidade de um trabalho
bidocente, proposta essa utilizada inicialmente em países europeus, mas que acredito que possa ser
implementada no Brasil, já que vem ao encontro da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva
da Educação Inclusiva e do desejo de uma prática inclusiva satisfatória.
Este modelo tem como proposta o acompanhamento semanal de um segundo professor
(preferencialmente Educador Especial) como promotor e auxiliador deste processo de inclusão na sala
regular e em todos os ambientes escolares. Com relação a está prática, trago neste trabalho, uma reflexão a
cerca desta possibilidade de trabalho bidocente na minha prática profissional no acompanhamento de uma
aluna com Síndrome de Down, hoje com 15 anos que está incluída em uma sala regular de ensino de uma
escola do município de Santa Maria/RS. Realizo acompanhamento desta aluna a algum tempo e a maneira
como venho trabalhando, em conjunto com a professora regente da classe regular, pode ser considerada
dentro da proposta de bidocência.

2. Método
Utilizei para a realização deste trabalho um levantamento bibliográfico juntamente com um estudo de
caso, pensando assim em corroborar teoria e prática em prol da possibilidade de uma reflexão a cerca da
inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais.

3. Resultados e Discussão
Temos que ampliar as possibilidades de atuação para a tentativa de realizar um trabalho inclusivo de
qualidade, e neste momento, a tentativa de realizar na minha prática este trabalho bidocente aguça em mim a
necessidade em aprofundar meus estudos nesta temática.
A bidocência abre uma nova possibilidade para a Educação Especial, onde o profissional bidocente,
teria como ênfase, o acompanhamento e atenção pedagógica que o aluno com necessidades educacionais
especiais, incluído na sala regular necessita, respeitando sua dinâmica e auxiliando no desenvolvimento real
das suas potencialidades. Esse profissional pode trabalhar trazendo e auxiliando o professor da classe regular
com subsídios conceituais e também instrumentais ao professor regente, como também auxiliar na inclusão
deste aluno não só na sala de aula, mas também em todo contexto escolar (como no recreio, na informática,
na educação física, etc) fazendo com que ele possa desfrutar de tudo que lhe é oferecido neste ambiente.
A preparação para um ensino bidocente deve ser bem estruturado, pois o trabalho dos professores deve
ser bem integrado e ter como cerne o desenvolvimento global de todos os alunos, pois como ressalta Mittler
[3] (2003, p.172) “A presença de um segundo adulto na sala de aula é uma experiência nova para a maioria
dos professores nas escolas regulares e para a qual esses profissionais talvez não estejam preparados [...].” o
que ressalta a importância de, no caso de ser implementado este paradigma, a necessidade de um bom
processo formativo, para que cada profissional tenha clareza das suas responsabilidades frente a dinâmica
escolar.
Este panorama pode reforçar-se nas palavras de Beyer [1] (2005), quando ressalta que:

Toda a classe que se propõe inclusiva deve dispor do suporte de um segundo professor, em
regra com formação especializada. Com isto, torna-se possível uma orientação individual
conforme as possibilidades e necessidades de cada criança. O conceito do professor isolado
perante a tarefa docente fragmenta-se positivamente diante da possibilidade de compartilhar
com outro colega as experiências do cotidiano escolar. Embora esta situação possa provocar
ansiedades nos professores envolvidos em tal experiência, constitui também uma excelente
oportunidade para o aperfeiçoamento profissional e pessoal.

Na minha prática a relação com a professora regente da sala de aula é na maioria das vezes eficaz, não
realizo o acompanhamento todos os dias, mas em média 2 ou 3 vezes por semana, e desta maneira acredito

*
Maureline Petersen: maureline.petersen@yahoo.com.br
299
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

que a inclusão da aluna, tanto na sala de aula como nos outros ambientes escolares tornou-se mais efetiva,
além de sua aprendizagem desenvolver-se mais facilmente através de um planejamento realizado no início
do ano letivo com a professora regente e sempre sendo reformulada conforme as possibilidades reais da
aluna. A possibilidade de realizar um trabalho conjunto, trocando experiências e conhecimentos tem servido
enormemente para a inclusão desta aluna.
Porém, sei de relatos de outros casos em que este modelo não obteve sucesso, pois depende muito do
perfil de cada professor, alguns sentem-se invadidos em ter outro profissional influenciando na sua maneira
de trabalhar. Então trago novamente a necessidade de um bom preparo para a ocorrência da implementação
da bidocência, podendo ser realizada de formas diferenciadas dependendo do perfil de cada professor, tendo
mais ou menos a presença do segundo professor em sala; o que também depende das necessidades de cada
aluno.
Porém, ainda acredito na riqueza deste trabalho em conjunto, pois através de diferentes olhares, os
professores podem aprender conjuntamente ampliando as maneiras de trabalhar com toda a turma
possibilitando assim o bom desenvolvimento de todos. Como afirma Beyer [2] :

[...] as crianças diferenciam-se entre si enormemente... Assim, educar é confrontar-se com


esta diversidade. O próprio professor que transita diariamente entre seus alunos conhece
muito bem essa diversidade [...] pois sabe que são diferentes entre si, assim como não há
ser humano igual ao outro.(2005, p. 27)

Desta forma, o trabalho pode ser muito mais prazeroso para o professor e também para o aluno, já que
os dois terão sucesso. O aluno sente quando o professor está preocupado em realizar um trabalho de
qualidade, e assim, através de tentativas de ensino diferenciado, o aluno vai aprendendo e se desenvolvendo
plenamente.
Destaco então que o segundo professor não trabalha exclusivamente com os alunos com necessidades
especiais, mas transita entre todos os alunos, o que corrobora-se com as palavras de Beyer [2] quando
destaca que:

[...] tal atendimento jamais deve concentrar-se explicitamente sobre a criança com
necessidades especiais, porém os educadores com atuação pedagógica especializada devem
trabalhar sempre no contexto do grupo, procurando também atender necessidades eventuais
que os demais alunos possam demonstrar. Com isto, se estará evitando o sempre possível
processo de segregação do aluno especial e se estará fugindo de uma prática docente
orientada por uma abordagem terapêutica. (2005)

Na minha prática com relação a esta questão sinto maior dificuldade, pois minha atuação não
originasse do meu trabalho como servidora pública concursada, mas através do contrato dos pais da referida
aluna e do consenso da escola através de um projeto. Então, meu trabalho centra-se em uma aluna e na
necessidade de atendê-la plenamente, mas sempre interagindo com os demais alunos, sempre estou envolvida
também com eles que sentem-se a vontade para tirar dúvidas comigo, conversar, etc. enfim, acredito que
meu trabalho mais centrado nas necessidades desta aluna, neste contexto, não a torna extremamente
dependente de mim nem a exclui da interação com os colegas.
Neste momento posso trazer a tona brevemente a fragilidade da política inclusiva nacional, já que
neste período deparo-me com a carência de profissionais nas escolas, fazendo com que os pais tenham a
necessidade de contratar particularmente outros profissionais para atuar proporcionando uma melhor
inclusão para seus filhos. O que contraria a visão que Duk [4] traz ao dizer que:

A concepção inclusiva considera que todo(a)s estudantes devem estudar juntos em


ambientes regulares da vida. Assim, os contextos educacionais inclusivos devem contar
com um conjunto de serviços e recursos de apoio educacional especializados (Educação
Especial) para todo(a)s os aluno(a)s da escola, e em particular, para aquele(a)s com
necessidades educacionais especiais. (2006, p.167)

Essa fragilidade e falta de recursos humanos e profissionais é o que me decepciona ao tentar realizar
pesquisas e trabalhos em prol de uma educação inclusiva que muitas vezes considero utópica. Porém, ao
menos nos espaços que trabalho tento realizar práticas diferenciadas na tentativa de obter sucesso, como
nesta proposta de bidocência.
Voltando ao trabalho bidocente, outra parte interessante deste trabalho é com relação à adaptação de
materiais para os alunos com necessidades educacionais especiais, onde o segundo professor que para mim
deve ser o Educador Especial, como refere Duk [4] (2006), deverá, juntamente com o professor da classe

300
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

inclusiva, planejar e revisar os materiais didáticos, verificando se eles são acessíveis a todos os alunos da
classe em termos de conteúdo, aprendizagem e participação das atividades oferecidas. O que vem ao
encontro de uma atuação que tem como viés o aluno e suas possibilidades.

4. Conclusão
No âmbito discursivo que me encontro e também através de pesquisas bibliográficas, noto que as
discussões com relação à bidocência ainda são poucas mas que trazem consigo a expectativa de ser uma
possibilidade de atuação na escola como proposta que possa possibilitar maior sucesso na inclusão de alunos
com necessidades especiais.
Essa possibilidade pode, além de auxiliar o desenvolvimento global de alunos com necessidades
educacionais especiais, também possibilitar a outros alunos maneiras diferenciadas de aprendizagem através
de outros meios, interação com a diferença propondo uma formação mais humana. Propostas que podem
diminuir a evasão escolar e a crescente decepção com a inclusão que venho acompanhando hoje em dia.
Sendo assim, este trabalho de bidocência, Educador Especial e professor regente da classe comum,
visa uma parceria que auxilie e facilite o processo de ensino-aprendizagem dos alunos inseridos nas escolas,
sejam eles com ou sem necessidades educacionais especiais. Proporcionando por meio desta iniciativa, um
modelo que possa ser seguido e aperfeiçoado, futuramente, por outros educadores que comprometidos com o
processo inclusivo queiram ter essa parceria em suas salas de aula. O que acredito ser uma pesquisa bem
interessante, pois beneficiaria não somente a atuação do professor, mas principalmente a aprendizagem e
desenvolvimento global do aluno incluído.

Referências

[1] BEYER, Hugo Otto. Inclusão e avaliação na escola: de alunos com necessidades
educacionais especiais. Porto Alegre: Mediação, 2005. 128p.

[2] ___________.O pioneirismo da escola fläming na proposta de integração (inclusão)


escolar na Alemanha: aspectos pedagógicos decorrentes. Revista Educação Especial, p.9-
23. Santa Maria, nº25, 2005.

[3] MITTLER, Peter. Educação inclusiva: contextos sociais. Trad. Windyz Brazão Ferreira.
Porto Alegre: Artmed, 2003.

[4] DUK, Cynthia. Educar na diversidade: material de formação docente. 3. ed. /Brasília :
[MEC, SEESP], 2006.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

CINQUENTA ANOS DO CURSO DE PEDAGOGIA DA UNIVERSIDADE DE


CAXIAS DO SUL: MEMÓRIAS QUE CONTAM UMA HISTÓRIA DE
FORMAÇÃO DOCENTE (1959 / 2009)

Sharlene Barros de Quadros1


1
Universidade de Caxias do Sul

1. Introdução

A pesquisa busca reconhecer a relevância do Curso de Pedagogia como um dos primeiros


cursos de graduação da Universidade de Caxias do Sul e o primeiro específico de formação
docente, em nível superior, na Região. Construir assim, a partir dos documentos orais e escritos,
as possíveis relações entre a trajetória do Curso de Pedagogia e os itinerários pelos quais se
construiu a educação formal no Brasil e no Rio Grande do Sul entre os anos de 1959 e 2010,
sendo que em, um primeiro momento, será priorizado as três primeiras décadas.
A História da Educação, como a entendemos, pertence a esse segmento da História que se
aproxima da vertente teórica da História Cultural, da mesma forma que a História do Cotidiano,
da Vida Privada e de todos aqueles segmentos sociais que pertencem à categoria dos excluídos.
Nesse sentido nos utilizaremos de autores que trabalham nessa perspectiva, tais como: Sandra
Pesavento, Peter Burke, Jacques LeGoff, Roger Chartier, Michel de Certeau e Philippe Áries
entre outros. Nos últimos anos, de acordo com Nóvoa (1994), a História da Educação vem
afirmando seu potencial enquanto campo de investigação, buscando construir sua identidade
disciplinar, reforçar suas ligações com outras ciências, abrir-se às novas realidades e diversificar
abordagens metodológicas. Nóvoa (1995, p. 91) nos faz refletir sobre as muitas possibilidades
de investigação em territórios da História da Educação ainda não descobertos. É na busca de
produzir a História de uma Instituição, a Universidade de Caxias do Sul e, especificamente
traçar a trajetória de seu início, com o Curso de Pedagogia, que esta investigação se constituí.

2. Método
A metodologia utilizada é a pesquisa historiográfica com fontes documentais pesquisadas
no Centro de Documentação da Universidade de Caxias do Sul (CDOC). Para isso foram
analisados diversos tipos de conventos, entre eles pode-se relacionar: Convites de
formaturas,comunicados, editais, relatórios, atas, decretos, currículo mínimo do curso de
Pedagogia, provas de concurso vestibular, exames,boletins,ofícios,decretos e leis, diretivas,
projetos e anteprojetos de reestruturação universitária e do Curso de Pedagogia, entre os anos de
1950, ano de sua criação até 1989, anos que o CDOC tem disponível as fontes documentais
analisadas. Os documentos relativos aos anos seguintes estão disponíveis no arquivo morto.
Frente a tantas fontes diferentes, é importante lembrar, segundo afirma Bacelar que "A
paciência é a arma básica do pesquisador" ( Bacelar, 2006, p. 53).
No primeiro momento fez-se uma pré-seleção dos documentos e esses foram catalogados
em forma de tabela por décadas, especificando a localização e o assunto tratado nos
documentos. Feito isso deu-se inicio a uma investigação mais profunda sobre cada documento,
em que as primeiras anotações foram sendo feitas. Depois alguns documentos foram digitados e
outros fotografados com a autorização do CEDOC, com o propósito de utilizar os documentos
digitalizados em uma exposição das Memórias dos Cinquenta Anos do Curso de Pedagogia da
Universidade de Caxias do Sul. Os documentos digitalizados facilitaram o processo de revisitar
as primeiras anotações.

3. Resultados e Discussão
A análise de diferentes fontes sobre o curso de Pedagogia da Universidade de Caxias do
sul, possibilitou que algumas informações e reflexões , entre elas pode-se destacar que; o curso
de Pedagogia da Universidade de Caxias do Sul teve suas origens na antiga Faculdade de
Filosofia de Caxias do Sul, sua incorporação se deu em 1967 tendo seu nome alterado para
Faculdade de Filosofia Ciências e Letras. Em 1970 o departamento de educação não era mais

302
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

suficiente para atender a demanda de alunos e, pois as áreas de licenciatura haviam se ampliado
assim, ela foi desmembrada em institutos e faculdades.
A Faculdade de Filosofia, foi criada em 8 de julho de 1959, tendo como mantenedora a
Mitra Diocesana de Caxias do Sul. No dia 17 de julho, Padre Plínio Bartelle, foi nomeado como
primeiro diretor da Faculdade. Em 22 de setembro de 1959, o Bispo de Caxias do Sul, Dom
Benedito Zorzi, encaminhou ao Excelentíssimo Senhor Ministro da Educação e Cultura, um
comunicado anunciando que a Faculdade de Filosofia de Caxias do Sul estava iniciando os
cursos de Filosofia, Pedagogia, Letras Neolatinas, Geografia e História. A Faculdade de
Filosofia foi autorizada a funcionar pelo Decreto Federal nº47668 de 19 de janeiro de 1960. Em
1965 foi reconhecida pelo Decreto Federal nº55 655 de 1º de fevereiro de 1965. As atividades
escolares iniciaram em março de 1960, o curso de pedagogia tinha trinta e nove alunos
matriculados. Nesta época, o curso era dividido em quatro séries, no primeiro ano foram
oferecidas nove disciplinas. A primeira formatura do curso de Pedagogia foi no ano de 1963
com 34 formandos. Nesta época o curso tinha 130 alunos matriculados.
A Faculdade de filosofia funcionou junto a Escola Normal São José até 1962. Em 1963
foi transferida para o prédio Santa Tereza. Com a criação da universidade de Caxias do Sul, em
1967 a Faculdade de filosofia passou a fazer parte dessa, tendo seu nome alterado para
Faculdade de Filosofia Ciências e Letras (CF. Decreto de Lei nº 60.200 de 10/02/67). Em 4 de
maio de 1970 transferiu-se para o Campus Universitário, ocupando as instalações do ex-colégio
"Sacre-Coeur de Marie".Em 30 de junho de 1970 aconteceu o desmembramento formal da
Faculdade de Filosofia Ciências e Letras em Institutos e Faculdades de Educação.
Inicialmente, na Faculdade de Filosofia de Caxias do Sul era oferecido o curso de
habilitação para magistério em Pedagogia, além da habitual preparação pedagógica para as
demais licenciaturas. Com a criação da Faculdade de Educação passaram a ser oferecidos
também cursos para as habilitações específicas.

4. Conclusão
Nesse primeiro momento os dados coletados são de ordem mais numérica, em
levantamento de datas e de percurso cronológico. No decorrer da pesquisa o trabalho de
investigação se voltará para as relações entre a instituição e a comunidade, possíveis conflitos,
acordos relações de poder, construção identitárias e diferentes aspectos que compõem a História
das instituições na perspectiva da História cultural.
Assim, muito do que ocorre, e do que se passou, no mundo da educação ainda é pouco
conhecido pelos pesquisadores e pelos professores que, imersos nele, nem sempre conseguem
alcançar um conhecimento mais fecundo das memórias da profissão docente. O Curso de
Pedagogia da UCS tem um passado que se entrelaça à história de uma comunidade, comunidade
essa que se caracteriza pelo compartilhamento de um mesmo espaço geográfico, por suas
características imigratórias, traduzindo-se em uma cultura vinculada, ainda hoje, aos primeiros
colonizadores da região. É neste contexto que o Curso foi criado em 1959, nascendo a partir da
integração de cinco faculdades, entre elas a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, sua
missão era formar professores para atender a expansão do sistema escolar de Caxias do Sul e da
região. Ao longo dos anos, o Curso de Pedagogia constituiu-se como referência e lugar de
discussão e de produção de saberes relacionados às questões que envolvem a educação formal.

Referências
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história de 40 anos. Caxias do Sul. EDUCS, jan,jun.2007, volume 34, nº1

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304
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

CONTRIBUIÇÕES DO CURSO DE PEDAGOGIA FRENTE ÀS DIFICULDADES


ENCONTRADAS EM SALA DE AULA POR EDUCADORES INFANTIS

Viviane Batista Carvalho1


¹ Universidade Estadual de Londrina

1. Introdução
A prática docente tem sido foco de inúmeras investigações que procuram esclarecer como o
professor constrói sua prática desde os primeiros contatos com a escola, quais as preocupações que
estão presentes junto a sua intenção, bem como os constrangimentos enfrentados na realidade
escolar. A idéia de realizar um projeto de pesquisa sobre os sentimentos dos professores com
formação no curso de pedagogia em um primeiro contato com a sala de aula após o término da
faculdade, surgiu através de conversas informais com alunos do último ano do curso de pedagogia
que expressavam em suas falas certa insegurança no que tange a prática docente, sentiam-se
despreparados para atuar em sala de aula. Nessa perspectiva chegamos a uma indagação: Existem
dificuldades em relação à prática docente após o término do curso de Pedagogia? Nosso objetivo
geral foi o de contribuir para uma reflexão sobre faculdade, formação adquirida e experiência
profissional, junto a isso ainda procuramos dentro dos objetivos específicos: Definir o que é a
prática docente, enumerar possíveis dificuldades encontradas por professores na realidade escolar e
verificar se existem diferenças entre as dificuldades dos professores que já atuavam e os que não
atuavam em sala de aula antes do término da formação. É necessário refletir sobre a carreira dos
professores bem como, resgatar experiências profissionais a fim de averiguar possíveis dificuldades
antes e depois da formação.

2. Método
Para alcançarmos os objetivos propostos acima, nossa metodologia consistiu em entrevistar
com questões abertas doze professores recém-formados em pedagogia, com no máximo dois anos
de prática em sala de aula após sua formação sendo: seis professores que cursaram pedagogia sem
atuarem em sala de aula e seis professores que fizeram o curso atuando. As indagações feitas aos
professores consistiram nas seguintes questões: Você enfrenta dificuldades em sua prática? Que tipo
de dificuldades? Como você as enfrenta?Com o decorrer da prática cotidiana essas dificuldades têm
diminuído?A teoria recebida no curso de Pedagogia condiz com a prática? Quando assumiu a sala
de aula sentiu as mesmas dificuldades que imaginava ter quando cursava pedagogia? Ao deparar
com a realidade em sala de aula, pensou em desistir de sua profissão? Em algum momento
necessitou de ajuda de terceiros ou cursos complementares para auxiliar em sua prática? Para os
professores que já atuavam em sala de aula durante o curso de pedagogia foram acrescidas mais
duas questões: Percebeu mudanças em sua prática profissional após a formação? Mesmo já sendo
atuante, sentiu-se mais seguro após o término de sua formação acadêmica? Posteriormente os dados
encontrados foram analisados e registrados, conforme constatações nas falas dos professores e os
objetivos da pesquisa.

3. Resultados e Discussão
Ao estudarmos a história da educação brasileira podemos observar o grande desinteresse por
parte daqueles que governaram ou governam este país pela formação profissional dos educadores.
Todavia, hoje em dia a procura pela formação com qualidade tem sido motivo de importantes
discussões em todo o país. Bernadete A. Gatti (1996, p. 1), aponta a formação do docente como um
quadro de carências a ser superado, para ela “até aqui, os administradores públicos, em diferentes
níveis, não têm contemplado a educação e a carreira dos professores com políticas coerentes, com
as necessidades de um país que se quer socialmente avançado”. Mas, quais as dificuldades
enfrentadas por professores em sala de aula quando estes partem para o campo de trabalho logo
após sua formação acadêmica? Será que as dificuldades são as mesmas para quem já atuava em sala
de aula no decorrer do curso e para quem só o fez após sua formação? Estas indagações permeiam a

1
vivianemaiotti@hotmail.com; Professora de Educação Infantil do Município de Londrina, mestranda em Educação.
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2

mente de muitos profissionais e futuros profissionais da educação e é o que buscaremos responder a


seguir. Atendendo a questão proposta pela pesquisa partimos para o campo realizando as entrevistas
com um roteiro em mãos, estivemos em três locais diferentes dos quais encontramos os professores
que se encaixavam em nosso critério de seleção e que com boa vontade responderam às nossas
indagações, percebemos que não houve dificuldades em realizá-las visto que todos os convidados se
dispuseram a falar sem colocar restrições em nosso diálogo, alguns entrevistados agradeceram a
oportunidade de estarem falando sobre o seu trabalho e uma das professoras entrevistas agradeceu
com a seguinte frase “Obrigada [...] por estes minutos de reflexão, nem eu mesma tinha parado
para analisar e refletir sobre a minha prática e esta entrevista de certa forma me fez reviver alguns
momentos de minha prática e de minha formação”. No decorrer das entrevistas encontramos alguns
fatores com os quais os professores têm dificuldades em lidar no início de sua carreira profissional,
tais como: falta de interesse dos pais em relação ao desenvolvimento dos filhos; poucos recursos
materiais para as aulas; desacerto entre coordenação pedagógica e professores; carência de
valorização da figura do professor; pouquíssimo ou nenhum apoio ao trabalho realizado em sala de
aula; falta de compreensão pelas várias pessoas ligadas ao setor educacional (governo, coordenação
pedagógica, pais, alunos, colegas de profissão, entre outros); baixa remuneração; salas muito
heterogêneas com ritmos de aprendizagem muito diferentes e carência de criatividade na hora do
planejamento da aula a ser ministrada. Um dos docentes aponta “Na escola hoje temos que lidar
com a falta de interesse dos pais, falta de recursos e o mau entendimento da direção com os
professores que acredito não terem o valor merecido. O respeito que deveríamos ter não está
passando de pai pra filho” outro relata “[...] acho que uma coisa que atrapalha muito também é a
falta de tempo para estar organizando as aulas com mais criatividade e melhorar a metodologia”.
O enfrentamento dessas dificuldades por parte dos docentes entrevistados mostrou os diversos
caminhos encontrados por estes para melhorar a convivência com a realidade de sua prática. A
seguir constam alguns desses caminhos: Conversas com e entre os alunos; atividades com cartazes,
figuras e ilustrações daquilo que se deseja alcançar; utilização de métodos mais lúdicos para
despertar a atenção e o interesse das crianças; encaminhamento de sugestões para a melhoria do
ensino; bom andamento do relacionamento entre coordenação pedagógica e professores; expressar
as próprias opiniões em público; utilização de diferentes estratégias para diferentes alunos; atenção
maior para os alunos que se encontram em maiores dificuldades de aprendizagem; atualização
profissional através de leituras (artigos), pesquisas (livros e internet); procura de instrumentos que
facilitem o seu trabalho em sala de aula e procura de ajuda de outros profissionais como psicólogos,
fonoaudiólogos, entre outros; troca de experiências com os colegas de profissão. Sobre os caminhos
citados uma professora relata, “Tento contornar a situação da melhor maneira possível em forma
de diálogo”, outra diz “Procuro meios de leitura, pesquisa, instrumentos que facilitem como artigos
que falem de indisciplina, Internet. Pelos itens acima, percebemos que a grande maioria dos
professores procuram amenizar as suas dificuldades. É expressivo o número de professores que
relatam consultar os colegas de profissão com mais experiências para ajudá-los nesta difícil tarefa
“Tenho tentado enfrentar dialogando com os professores efetivos que estão em sala de aula, e
mudar através de mim mesma a forma de ser menos agressiva”. Um dado que também nos chama a
atenção é o fato de que alguns professores não se sentem a vontade para conversar com seus
superiores quando a dificuldade apontada é a falta de integração entre coordenação pedagógica e
docentes, uma professora relata “Em relação a coordenação pedagógica, não as enfrento
(dificuldade) o que me mandam eu cumpro”, pela resposta percebemos o receio ou o medo de
entrar em conflito com a coordenação pedagógica, fato relevante que nos leva a refletir que o
professor deva ser preparado para lidar com conflitos em seu campo de trabalho. Por outro lado
encontramos alguns que dizem expressar suas opiniões independente das conseqüências que essas
venham a lhe acarretar “[...] Mas não guardo só para mim, eu opino, dou minhas sugestões e digo
se concordo ou não”.As opiniões em relação à diminuição das dificuldades com a prática cotidiana,
demonstraram algumas divergências no que se refere este assunto, enquanto alguns dizem que estas
diminuem com a experiência “Eu achei que as dificuldades foram diminuindo, o resultado foi
aparecendo e as estratégias utilizadas foram boas pois hoje já realizam as atividades sem muito
problemas”, outros dizem continuar com as mesmas dificuldades fazendo-se a ressalva que a

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3

experiência ajuda muito na hora de resolver os problemas “As dificuldades sempre são as mesmas,
porém conforme enfrentamos uma situação fica mais fácil enfrentar as próximas”, enquanto alguns
acham que estas tem aumentado “Sinto que elas tem aumentado [...]”, há ainda os que afirmam não
estar a encargo deles as soluções para algumas dificuldades, mas em outras pessoas “[...] Existem
situações que estão fora do meu alcance, com por exemplo, fazer com que os pais dêem mais valor
na escola e nos professores que trabalham em função dos seus filhos”. Nota-se que embora a
experiência traga maior bagagem e facilite o trabalho do professor, nem sempre, somente esta é
suficiente para diminuí-las. Quanto a teoria recebida no curso de pedagogia condizer com a
realidade encontrada em sala de aula, 70% declararam que nem tudo visto no curso condiz com a
prática e que muitas coisas não são utilizadas sendo até uma “utopia”, uma professora declarou que
“o grande problema da academia é que os autores que escrevem para nós já não se encontram na
sala de aula”. Dentre os 70% que acreditam que nem tudo no curso é utilizado em sala de aula, de
qualquer forma atribuem grande importância ao curso, ao dizerem que este contribui
significativamente para o seu trabalho “Olha é difícil especificar sim ou não sobre o que recebemos
na faculdade, houve disciplinas que recorro aos textos estudados com freqüência como
Metodologia da Matemática e alfabetização, porém acho que muita coisa do curso [...] em sala de
aula não são muito úteis, embora seja bom para conhecermos o processo e como tudo isso se deu
[...] foi muito bom estarmos na faculdade”. Em torno de 20% dos entrevistados foram radicais ao
afirmarem que “De maneira nenhuma, a teoria é uma coisa e a prática completamente diferente”,
somente 10% declararam que o curso e a prática estão em completa sintonia “Ajuda muito, pois
através dela observamos a maneira correta de agir”. Tais dados nos levam a refletir sobre a
questão da formação do professor e pensar que mediante tais respostas fosse imprescindível iniciar
discussões mais aprofundadas com o objetivo de aproximar mais as teorias recebidas nos cursos de
pedagogia com a prática encontrada em sala de aula. Ainda sobre a formação e as expectativas
desses docentes quando ainda cursavam pedagogia, 30% disseram que nunca imaginaram ter as
mesmas dificuldades que encontraram em sala de aula na prática “Durante o curso sonha-se com a
sala de aula ideal, sala perfeita, sem problemas ou problemas fáceis de serem resolvidos e que tudo
que se ensina aprende, e não é” outra diz “Na prática é totalmente diferente”, 10% imaginaram
algumas, mas nem todas “Esperava que as dificuldades que encontraria seriam somente com as
crianças em relação ao desenvolvimento pedagógico”, e outros 60% já haviam imaginado
encontrar as dificuldades descritas acima “Sabia das dificuldades que teria e todas se
concretizaram” . Talvez pela grande maioria imaginar as dificuldades que se deparariam na sala de
aula, estes afirmam que o curso não prepara para a prática, também deve se levar em consideração
que 50% dos entrevistados já se encontravam em sala de aula ao cursar pedagogia. O grande X da
questão neste momento é: se o curso de pedagogia não prepara para a sala de aula, prepara para
quê? A resposta a esta indagação não foi respondida por nenhum dos entrevistados e ficará aberta
neste estudo para futuras pesquisas. Quando questionados sobre a possibilidade de deixar a
profissão ao se depararem com as dificuldades, 30% algum dia já pensaram em desistir da carreira
docente ou ainda pensam “Pra falar a verdade penso muito, pois a educação desgasta bastante”,
40% não cogitaram esta possibilidade “Realmente não, pois eu gosto do que faço [...]”, 20%
pensam em continuar no setor educacional, porém não com o ensino de crianças, sendo a educação
de jovens e adultos, o ensino médio, e a gestão pedagógica como diferentes opções “[...] na
realidade gostaria de usar a minha pedagogia numa empresa ou no caso de sala de aula com os
alunos da Educação de Jovens e adultos”. Uma professora entrevistada diz nunca ter pensado em
desistir da profissão, mas declara já ter se sentido desestimulada “Não nunca pensei em desistir,
mas já me senti desestimulada em algum momento”. 100% dos professores já buscaram ajuda de
terceiros, colegas de profissão e de cursos complementares fora da faculdade para auxiliar em sua
prática “Ajuda de terceiros tem sido primordial e os cursos complementares ajudam muito”, outra
forma encontrada por eles para atualizarem-se profissionalmente é a busca por leituras que tratem
da educação e abram horizontes maiores quanto a sua atuação profissional “Sempre procuro estar
buscando em fontes, livros, sites da Internet, revistas e especialmente na área de atuação”, muitos
ressaltaram a importância de estar constantemente fazendo uma reciclagem, pois declaram que esta
ajuda a diminuir ou a sanar as dificuldades “É sempre necessário estar em contato com o universo

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acadêmico para refletir a prática”. Dentre os 50% do total de entrevistados que já atuavam em
sala de aula antes da formação acadêmica, 90% declararam que a faculdade foi muito importante
para a sua formação trazendo mais segurança na sua prática “Proporcionou grande ajuda, pois
trouxe o conhecimento do processo, mas nem sempre a teoria condiz com a prática, embora a
maioria do que estudamos podemos ver ocorrer e dar certo na prática”, Outra professora relata
“Foi muito bom estar na faculdade, eu não estou dizendo que deva jogar tudo o que aprendi na
teoria com a faculdade, mesmo porque melhorou muito a minha prática após a formação e cada
vez mais vejo aquilo que aprendi na faculdade ocorrendo na prática, a formação foi ótima, acho
que estar na faculdade foi a melhor coisa que ocorreu na minha vida, pois não trouxe
conhecimento só para a minha profissão, mas também para a vida como uma pessoa social e
atuante dentro de uma sociedade[...]” , 50% perceberam mudanças relativas na metodologia
utilizada “Algumas atividades que eu dava deviam ser jogadas no lixo, as de agora são mais
coerentes e mais reais para os alunos”, 10% disseram que o curso não ajudou em nada e que este
também não mudou a sua metodologia “Não. Já conhecia a realidade dos alunos”. Pelos números
percebemos a grande influência que o curso obtém na vida dos professores e que este contribui
efetivamente para uma mudança na prática desses profissionais.

4. Conclusão
Ao realizarmos esta pesquisa e averiguando o relato dos entrevistados, concluímos que a
prática pedagógica antes de tudo não é uma missão fácil, uma vez que a grande maioria admite a
necessidade de ajuda para conseguir realizar suas atividades. Percebemos também que as
dificuldades vão além daquelas relacionadas às questões de conteúdos. Outro aspecto a ser
lembrado é que apesar dos conteúdos adquiridos na faculdade serem muito importantes em nossa
prática pedagógica, devemos estar em constante renovação para que possamos enfrentar as
dificuldades que surgem no decorrer do trabalho. A desvalorização do professor, principalmente no
que diz respeito a sua remuneração muitas vezes desmotiva alguns profissionais e é um dos
principais motivos que levam estes a pensar ou mesmo abandonar a profissão. Pelos resultados da
pesquisa observamos que o curso de pedagogia em si não traz grandes mudanças em relação à
atuação em sala de aula, mas proporciona uma mente mais voltada para questões epistemológicas
no processo de ensino-aprendizagem do que aquelas voltadas ao senso comum, também ajuda a
perceber o relacionamento perante o mundo e ao outro, amplia a nossa visão de educação, do sujeito
a ser educado e dos vários caminhos a serem percorridos para alcançarmos determinados objetivos
frente à aprendizagem. Cabe ao pedagogo trazer para a sala de aula toda a bagagem que o curso lhe
proporcionou, pois caso isso não ocorra o curso não terá validade, será como aquelas pessoas que
conseguem uma habilitação para dirigir, e depois que o fazem pegam o documento e guardam na
gaveta e nunca dirigem um carro, não colocam em prática o que aprenderam e acabam por esquecer
como fazê-lo. Paulo Freire (2001, p. 32) em seu livro “A importância do ato de ler” declara, “uma
das qualidades mais importantes do homem novo e da mulher nova é a certeza que têm de que não
podem parar de caminhar e a certeza de que cedo o novo fica velho se não se renovar”. Da mesma
forma o pedagogo deve trazer para a sua atuação o que aprendeu no curso e estar sempre estudando,
pesquisando, conhecendo novos caminhos, se reciclando, buscando ajuda de outros profissionais
quando necessário, para que do curso de pedagogia não reste apenas o diploma (certificado), mas a
certeza de que o professor não se cansa de aprender.

Referências

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 42º edição. São
Paulo: Cortez, 2001.

GATTI, Bernardete A. Diagnóstico, problematização e aspectos conceituais sobre a formação


do magistério: subsídio para o delineamento de políticas na área. São Paulo: Departamento de
Pesquisas educacionais Carlos Chagas, 1996.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Desafios e perspectivas na formação inicial e continuada do Pedagogo para


atuar nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental – a partir da pesquisa no
contexto local e regional de Cidreira - RS

Liziane da Silva Barbosa 1*


Elisandra Carnet Machado 2
1 Universidade Estadual do Rio Grande do Sul
2 Universidade Estadual do Rio Grande do Sul

1. Introdução
Um mapa traçado com a situação atual do campo de atuação do(a) pedagogo(a) na região Litoral Norte
pode ser usado como uma ferramenta de projetação para os cursos de Pedagogia e das atividades de Extensão
e Pesquisa a serem realizadas para atender às demandas da Região Praieira. No artigo a seguir veremos os
resultados de uma pesquisa interdisciplinar de campo, da Turma 2008/1 de Pedagogia da Uergs, que
investigou esse campo de atuação na modalidade Anos Iniciais do Ensino Fundamental.

2. Método
Esta é uma pesquisa qualitativa de campo. Os dados foram coletados diretamente nas escolas
pesquisadas e comparados com os dados do censo escolar As análises foram feitas com base na bibliografia
estudada no terceiro e quarto semestre do curso de Pedagogia.

3. Resultados e Discussão
É relevante observar que existem poucos profissionais em sala de aula em relação ao número de
alunos. Na rede estadual são 1.721, na municipal 2.222 e na particular 524, totalizando 4.467 professores,
para atender a todo o alunado dos municípios da 11ª CRE, sendo que destes, 57.143 alunos são do ensino
fundamental, no total são 88.191 estudantes. Reduzindo o foco para Cidreira, são apenas 138 professores em
sala de aula, para 3.446 alunos. Importante lembrar que este número de docentes pode ser ainda mais
reduzido, uma vez que o mesmo professor pode estar atendendo em mais de uma Dependência
Administrativa, Municípios e Escolas. Na região da 11ª CRE, existem no total 390 estabelecimentos de
ensino, destes 277 atendem ao Ensino Fundamental, nas três Dependências Administrativas: estadual,
municipal e particular. O total de funcionários nas redes estadual, municipal e particular é 9.352, sendo que
esse número corresponde ao total de pessoas que desempenham funções docentes, técnicas e administrativas
nas escolas da região litoral norte.

4. Conclusão
A partir dos resultados obtidos na pesquisa é possível observar que o campo de atuação do Pedagogo
na Região é bastante amplo, considerando o número reduzido de docentes para o número crescente de
discentes. É necessário considerar também que existem outras formas de atuar na educação que não apenas a
regular institucional.

Referências
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação e da Pedagogia: Geral e Brasil. São Paulo.
Moderna, 2006.

FLORES, Moacir. Colonialismo e missões jesuíticas. Porto alegre, EST/Instituto de Cultura Hispânica do
rio Grande do Sul, 1983.

SCHNEIDER, Regina Portella. A instrução pública do Rio Grande do Sul: 1770-1889. Porto alegre, Ed.
Universidade/UFRGS/EST edições, 1983.

THERRA, Ivan. Praia da Cidreira, história, cotidiano, cultura e sentimento. Cidreira: Casa de Cultura do
Litoral, 2007.

LIBÂNEO, José Carlos. Organização e Gestão da Escola – Teoria e Prática. Goiânia: Alternativa, 2004.

*
Apresentadora: lizzibarbosa@yahoo.com.br
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

DEMO, Pedro. Formação Permanente de Professores: educar pela pesquisa. In MENEZES, L.C. (org)
Professores: Formação e Profissão. Campinas, SP: Autores Associados, 1996.
BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental, Brasil MEC / SEF, versão Agosto
de 2006.

BRASIL, LEI n. 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação


nacional.

BRASIL. Lei n. 11.274, de 6 de fevereiro de 2006. Altera a redação dos arts. 29, 30, 32 e 87 da Lei no
9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, dispondo sobre
a duração de 9 (nove) anos para o ensino fundamental, com matrícula obrigatória a partir dos 6 (seis) anos de
idade. D.O.U. de 7.2.2006.

Agradecimentos
Agradecemos imensamente à Prof. Liliane Madruga Prestes que com sua dedicação ao curso e a nossa
Unidade sempre nos incentiva a pesquisar e comunicar os dados.

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DETERMINISMO BIOLÓGICO E EDUCAÇÃO SEXUAL: ANÁLISE RETÓRICA DA


CONCEPÇÃO DA SEXUALIDADE EM LIVROS DIDÁTICOS1

Gustavo Piovezan2
Universidade Estadual de Maringá

1. Introdução
A Biologia inicia sua história com as investigações teóricas sobre hereditariedade na Grécia Antiga.
Contudo, foi somente a partir do surgimento das teorias de evolução, no século XIX, que as investigações do
conhecimento biológico tenderam para um aprimoramento e estruturação de seu corpo teórico ou, nas
palavras de Kuhn, iniciou-se o processo da ciência normal. Durante o período que compreende os anos 1920-
1980, inúmeras pesquisas em biologia deixaram, graças ao pensamento causal/determinista, marcos na
história da sociedade ocidental, no caso particular deste estudo: preconceitos de gênero e o reforço de uma
ideologia dominante, pautados no modelo heteronormativo de sociedade remanescentes da educação
científica – um pensamento com raiz eugênica, apoiado em pesquisas sobre sexualidade, comportamento, QI
e genética [LEWONTIN, 1987; STEPAN, 2005]. Entretanto, a partir da década de 1960, com a elaboração
de um corpus teórico dos estudos feministas, a sexualidade passou a compreender fatores como, por
exemplo, o conceito de gênero, o qual mostrou a complexidade de questões correlatas ao gênero e à
sexualidade e, ao mesmo tempo, a ideologia da dominação masculina na sociedade até então [LOURO,
1999]. Neste contexto, a Biologia foi a ciência na qual os estudos feministas e de gênero tiveram maior
impacto. No sentido epistemológico, um exemplo se constitui no fenômeno da reprodução bacteriana: a
leitura e descrição deste fenômeno podem ser comprometidas quando realizadas numa perspectiva
heterossexual. Já numa perspectiva política, o gênero prevê a igualdade entre mulheres e homens [SCOTT,
1995; SHIENBINGER, 2001].

2. Método
Neste sentido, apoiados na ideia de que a influência do gênero na ciência – e, consequentemente, na
educação científica – constitui-se um fenômeno, a presente pesquisa teve como objetivo realizar uma análise
retórica da concepção de sexualidade em manuais didáticos de ciências. O motivo é o mesmo: a sexualidade,
as diferenças de gênero e sua representação nos conteúdos que envolvem a sexualidade nos manuais de
Ciências e Biologia. Tal ideia surge a partir das propostas curriculares expressas nos Parâmetros
curriculares Nacionais para o Ensino Médio (doravante PCN). Ao discutir gênero, sexualidade e educação
dentro do contexto escolar os PCN constituem o primeiro documento de referência na política brasileira. À
luz dos estudos de gênero o conceito de sexo é substituído pelo conceito de gênero como resultado de
inúmeras implicações. O conceito de gênero está conectado às diferentes orientações sexuais, aos diferentes
gêneros feminino e masculino, às diferentes identidades dos sujeitos. Foi sob esta fundamentação teórica que
passamos à análise, utilizando a retórica como método. Centramo-nos na tradição retórica francesa,
estruturada a partir das obras de Chaïm Perelman. O objeto de análise, por sua vez, foi encontrar o sentido
que os argumentos e as figuras de retórica dos manuais didáticos de ciências e biologia continham.

3. Resultados e Discussão
Com base nas teorias feministas e de gênero, podemos concluir que o conceito de sexo é substituído
pelo conceito de gênero. Tal substituição visa uma compreensão fenomênica da realidade que permiti inferir
com maior precisão aquilo que nossa realidade social é. Tal como afirma Butler [2008], o sujeito do sexo não
é o sujeito do gênero. Isto porque, o sexo biológico não é condição para a existência e vivencia do gênero, ao
contrário, o gênero se faz no corpo biológico, vivendo-o e não sendo condicionado por ele. Assim, uma
identidade de gênero pode ser um cruzamento de vários fatores – um sujeito pode ser feminino, negro,
lésbico e biologicamente macho, inúmeras são as possibilidades. No ethos discursivo da ciência por meio dos
manuais didáticos, fornece um conceito de gênero que – pensado em conexão à idéia de sexualidade em
movimento – se apresenta unicamente sob condições heteronormativas da sociedade do século XXI. Tal
compreensão implica num emaranhado de conexões com outras representações de mundo – por exemplo, o

1
Esta pesquisa foi desenvolvida no curso de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação para a Ciência e a
Matemática da Universidade Estadual de Maringá – Paraná. Alguns aspectos da pesquisa trabalho foram apresentados
no VIII Congresso Iberoamericano de Ciência, Tecnologia e Gênero, Curitiba – Paraná.
2
Endereço eletrônico: gpiovezan@gmail.com.
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cristianismo, idéias eugênicas da história e filosofia da ciência, o sexo compreendido sob a perspectiva do
terror, entre outras – que se mostram problemáticas para a constituição do sujeito com atitude científica e
crítica sobre a natureza [AYRES, 2002; REBOUL, 1998; PERELMAN e TYTECA, 1996]. Pensar os
conteúdos que envolvem gênero e sexualidade na educação científica implica em promover uma reflexão
sobre a natureza, e o modo como ela pode nos auxiliar a ver o mundo [SHIENBINGER, 2001].

4. Conclusão
A naturalização que os manuais didáticos pressupõem da heterossexualidade desconsidera e
descaracteriza o mundo como ele tem se apresentado em nossa história, limitando o sujeito e impondo um
modo de viver. Com exceção de um livro didático, o restante analisado significa a sexualidade como algo
sujo, impuro e que deve ser higienizado. Tal tratamento é válido se considerarmos doenças sexualmente
transmissíveis, combate da epidemia HIV/Aids e controle de natalidade. Entretanto, tal perspectiva é
insuficiente uma vez que a sexualidade não diz respeito somente ao ato sexual e os problemas biomédicos a
ela correlatos. Ao contrário, como reforçam nossas políticas públicas, a sexualidade transcende o biológico e
se mostra no social e nas relações estéticas do ser humano, constituindo-se, desta forma, como uma
sexualidade plástica, movente, não unidimensional e de direito igual a todos os seres humanos. Ao deixar de
lado este último aspecto de discussão, os manuais didáticos restringem não somente a sexualidade, mas,
também o que é ser humano [AYRES, 2002; SWAIN, 2002].

Referências
ALBA, Gianotti. Biologia para o ensino médio. São Paulo: Scipione, 2002.

AYRES, José Ricardo Carvalho Mesquita. Práticas educativas e prevenção de HIV/Aids: lições aprendidas e
desafios atuais. In: Revista Interface, v. 6, n. 11, p. 11-24, 2002.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto


ciclos: apresentação dos temas transversais. Brasília: MECSEF, 1998.

BUTLER, Judith P. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Tradução de Renato


Aguiar. Rio de Janeiro: Civilização, 2008.

FROTA-PESSOA, Oswaldo. Os caminhos da vida: biologia no ensino médio: ecologia e reprodução. São
Paulo: Scipione, 2001.

LEWONTIN, R.C.; ROSE, S.; KAMIN, L. J. Genética e política. Tradução de Inês Busse. ________:
Europa-América, 1987.

LINHARES, Sérgio; GEWANDSZNAJDER, Fernando. Biologia: programa completo. São Paulo: Editora
Ática, 1999.

LOPES, Sonia. Biologia. São Paulo: Saraiva, 2005.

LOURO, Guacira Lopes (Org.). O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica,
1999.

PERELMAN, Chaïm e TYTECA, Lucie. Tratado da argumentação: a nova retórica. Tradução de Maria
Ermantina Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

REBOUL, Oliver. Introdução à retórica. Tradução de Ivone Castilho Benedetti. São Paulo: Martins Fontes,
1998.

SCHIENBINGER, Londa. O feminismo mudou a ciência? Tradução de Raul Fiker. Bauru: Edusc, 2001.

SCOTT Joan. Gênero: uma categoria útil para a análise histórica. In: Educ Real. v. 20; n. 2;
1995.

SILVA JÚNIOR, César da. Ciências: entendendo a natureza. São Paulo: Saraiva, 2001.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

STEPAN, Nancy Leys. A hora da eugenia: raça, gênero e nação na América Latina. Rio de Janeiro:
Editora Fiocruz, 2005.

SWAIN, Tânia Navarro. As teorias da carne: corpos sexuados, identidades nômades. In: Labrys, estudos
feministas. n. 1-2, 2002.

VALLE, Cecília. Ser humano e saúde, 7ª série: manual do professor. Curitiba: Nova Didática, 2004.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

ELES NÃO SE ALFABETIZAM! O QUE FAZER?

Liziane da Silva Barbosa*


Universidade Estadual do Rio Grande do Sul

1. Introdução
Esse trabalho de pesquisa traz as considerações de uma acadêmica do 5º semestre de Pedagogia, da
UERGS em Cidreira, sobre dois casos de dificuldades de aprendizagem observados numa instituição escolar
que recebe somente deficientes mentais.
Nessa pesquisa foram levantadas uma série de questões sobre as formas de ensinar e sobre os muitos
estudantes que tem um diagnóstico médico baseado numa falha ou incapacidade do queixoso. Para embasar
as análises feitas, foram utilizados os conteúdos da bibliografia básica da cadeira de Dificuldades de
Aprendizagem trabalhados em aula. A bibliografia levanta alguns pontos de discussão bastante relevantes
para que haja uma mudança de abordagem nos métodos de ensino e nas práticas pedagógicas, bem como nos
diagnósticos dessas dificuldades. Além de propor que sejam reavaliadas as formas de encaminhamento
médico desses estudantes que, supostamente, tem uma dificuldade de aprendizagem.

2. Método
Esta é uma pesquisa qualitativa de campo. Seu início foi conhecer alguns casos de dificuldades de
aprendizagem relatados na bibliografia sugerida pela orientadora, que foi bastante clara ao dizer que preferia
que fosse feito uso de apenas um livro como base, pois dessa forma teríamos um maior aprofundamento do
tema, e, somente, após essa etapa poderia utilizar bibliografias de apoio.
Uma vez fundamentado o tema passamos aos casos reais, que deveriam ser analisados sob uma ótica
educacional baseada nos seminários feitos me aula. Os métodos utilizados para a coleta dos dados de
pesquisa consistem em uma observação dos alunos em aula, bem como uma entrevista semi-estruturada com
a Psicóloga da instituição e o depoimento do Instrutor de capoeira angola.

3. Resultados e Discussão
O resultado da observação, segundo o entendimento da acadêmica, foi contrário ao diagnóstico
apresentado, trazendo algumas possíveis diferenças de critério médico nas avaliações. Os dois casos têm
diagnósticos iguais, porém descrições diferentes. Entretando é importante salientar que as análise feitas são
embasadas por conceitos da área da educação e que não é intenção contestar diagnósticos médicos. É preciso
lembrar que as análise são feitas por uma graduanda de pedagogia, a ciência da educação, o que pressupõe
um olhar para todo o contexto apresentado e sendo assim a opinião e reflexão acerca dos diagnósticos fazem
parte da pesquisa. As questões levantadas são direcionadas para quais deveriam ser as práticas docentes em
casos de dificuldade de aprendizagem, uma vez que nos casos observados a maior deficiência é a não
alfabetização em 14 anos de escola e 10 anos de tratamento psicológico e multidisciplinar.

4. Conclusão
A pesquisa levantou questões que não permitem uma conclusão sobre o assunto, mas sim propõe uma
nova retomada nas discussões sobre práticas inclusivas e olhares mais humanos para os alunos. E deixa uma
pergunta fundamental para a Pedagogia: O que as teorias de aprendizagem não ensinam?
É premente que sejam revistas as práticas e os métodos oferecidos pelas escolas, pois os casos de
dificuldades na aprendizagem têm aumentando significativamente e a eles são dadas soluções médicas. Sem
que as instituições escolares tenham a necessidade de assumir a responsabilidade por esse crescimento.
Torna-se fácil o jogo de empurra entre educação e medicina, num processo de sabotagem constante às nossas
crianças, jovens e adultos.

Referências
BERGÈS, Jean., BERGÈS-BOUNES, Marika., CALMETTES-JEAN, Sandrine. O que aprendemos com as
crianças que não aprendem?, Porto Alegre: CMC, 2008. 250 p.

SILVA, César Augusto Venâncio da. Anatomofisiologia do Mapeamento Cerebral: Identificação dos
Distúrbios de Aprendizagem e sua intervenção Psicopedagógica. UEVA: Fortaleza, 2010. Retirado do
site: http://www.scribd.com/doc/28400800/MAPEAMENTO-CEREBRAL-CONCLUSO-PARA-REVISAO
- em 10/07/2010.

*
Apresentadora: lizzibarbosa@yahoo.com.br
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Agradecimentos
Agradeço imensamente às Professoras Martha Hoppe, que neste trabalho foi minha orientadora e Liliane
Madruga Prestes que com sua dedicação ao curso e a nossa Unidade sempre nos incentiva a pesquisar e
comunicar os dados.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

EM BUSCA DE COMPREENSÕES SOBRE O EMPREGO E O TRABALHO DOS


PEDAGOGOS: UM ESTUDO DE CASO

Natiele Follmann 1*; Bruna Pereira Alves 1; Eliziane Tainá Lunardi Ribeiro1; Gabriely Muniz Siqueira1;
Leonice Elci Rehfeld Nuglisch1; Liliana Soares Ferreira1
1
Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução
Este estudo busca identificar os espaços de trabalho e emprego dos pedagogos que concluíram o
curso de Pedagogia na UFSM de 1997 a 2008, justificando-se pelo fato de que, embora a Pedagogia seja uma
das licenciaturas mais procuradas, não há número significativo de pedagogos nas escolas. Realiza-se esse
estudo a fim de identificar os espaços de trabalho dos pedagogos através de interlocuções com egressos do
Curso de Pedagogia. Nesse contexto, esta proposta visa a entender onde estão os pedagogos egressos dos
cursos de Pedagogia da UFSM: empregados, desempregados ou abdicaram da prática da Pedagogia? Busca-
se, dialeticamente, entender as condições/relações de emprego/não-emprego no contexto contemporâneo,
especialmente as relativas ao trabalho do pedagogo, tendo a escola como potencial ambiente de trabalho
desses profissionais.

2. Método
Os aportes teórico-metodológicos fundamentam-se em pressupostos científicos, tendo como
abordagem a pesquisa de cunho qualitativo, acreditando que esta, responde melhor ao que se propõe
desenvolver.
Como procedimento, realizar-se-á um amplo Estudo de Caso. O Estudo de Caso tem por
objetivo “[...] apresentar os múltiplos aspectos que envolvem um problema, mostrar sua relevância,
situá-lo no contexto em que acontecem e indicar as possibilidades de ação para modificá-lo” [3].
A técnica de coleta utilizada nesta investigação é pesquisa survey (entendida como um método de
coleta rápida de dados, possibilitando análise quantitativa e qualitativa), questionário, por e-mail, com os
egressos dos cursos desde 1997 e grupos de interlocução (por meios tecnológicos ou presenciais). Os
questionários são compostos por quatro questões relacionadas aos espaços de trabalho e emprego do
pedagogo egresso. Além disso, está-se realizando a análise dos Projetos Pedagógicos do Curso de Pedagogia
da UFSM dos anos de 2004 e 2007.
A análise dos questionários e dos Projetos Pedagógicos baseia-se na Análise de Conteúdo de Bardin
[2]. Tanto para a formulação dos questionamentos, quanto para a análise destes e dos PP, partiu-se das
categorias Trabalho, Emprego e Pedagogia como Ciência da Educação. Para a compreensão das categorias
estabelecidas o grupo de pesquisadores baseia-se em Antunes [1], Ferreira [4] e Pimenta [5].
É com base neste caminho metodológico que se desenvolve a investigação aqui apresentada.

3. Resultados e Discussão
Em um primeiro momento analisou-se o Projeto Pedagógico do Curso de Pedagogia do ano de 2007.
Percebeu-se que as categorias destacadas não aparecem com o sentido que se busca. A palavra trabalho
aparece como referência a uma ação, a realizar algo, não se relacionando ao trabalho dos professores e nem à
situação do Pedagogo profissional, apenas aparece no projeto relativo à área em que o pedagogo trabalha:
Educação Infantil, Anos Iniciais, EJA, e em demais áreas que necessitem conhecimentos pedagógicos. Além
disso, o Projeto Pedagógico traz outras palavras e expressões que podem ser/estar relacionadas ao trabalho
dos professores, entendido como a produção da aula e, nesta, a produção do conhecimento de estudantes e
professores [4].
Retomando as categorias, observou-se que a palavra “Pedagogia” aparece somente junto com “Curso
de” ou “Licenciatura em”, não sendo definida a Pedagogia como ciência da Educação, apenas a palavra
Pedagogia como referência ao tipo de Curso que os acadêmicos irão cursar. Dito de outra forma, Pedagogia é
utilizado em locuções adjetivas qualificadoras, não como substantivos que revelem a centralidade da ciência
a ser estudada pelos acadêmicos. O Curso é Licenciatura em Pedagogia, mas a Pedagogia é estudada apenas
ilustrativamente, parecendo implicitar que tudo é Pedagogia e, nesta imprecisão, fica-se sem saber
exatamente de qual Pedagogia se fala.
Em relação ao “emprego e desemprego”, percebe-se que o Projeto Pedagógico não apresenta
questões relativas ao Pedagogo em diversas áreas. Com base na análise do PP, entende-se que o Pedagogo é

*
nattyfollmann11@hotmail.com
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

“preparado” para trabalhar nas escolas, em salas de aulas, sendo, efetivamente, professores, já que o Curso
não aprofunda a Pedagogia voltada para a Orientação, Supervisão ou trabalho em Empresa.
Na etapa seguinte, foram enviados os e-mails aos Pedagogos que concluíram o Curso de Pedagogia,
explicando-lhes o projeto e questionando seu interesse em participar da pesquisa. A partir do momento em
que o pedagogo responde que quer participar da investigação lhes é enviado o questionário. Posteriormente,
foram tabeladas as respostas dos entrevistados e iniciou-se as análises das mesmas. Até o momento,
percebeu-se que muitos pedagogos encontram-se trabalhando em áreas distintas da Pedagogia. Constatou-se,
ainda, que a maioria dos egressos está trabalhando como professores em escolas, acreditando que esta uma
das maiores possibilidades de emprego para este profissional.

4. Conclusão
Entende-se, a partir do exposto, que o Pedagogo deverá ter muitos conhecimentos na área da
educação, adaptando-os de acordo com a situação vivenciada por ele na sala de aula e o contexto em que a
escola e os estudantes estão inseridos. Tais conhecimentos lhe permitirão, nos contextos educacionais, não
somente produzir aula, mas contribuir para a compreensão, análise e proposição de projetos e políticas
educacionais.
Nesse sentido, a investigação aqui relatada objetivou caracterizar, com base nos discursos dos
egressos dos cursos de Pedagogia, desde 1997, quais os contextos, faces, perspectivas e desafios quanto ao
trabalho/não-trabalho e emprego/não-emprego desses profissionais e como se pode estabelecer relações entre
estes aspectos e o projeto pedagógico destes cursos.
Na análise das respostas dos questionários foi possível perceber que muitos pedagogos não estão
trabalhando na área da educação por estarem estudando em cursos de pós-graduação, por falta de
oportunidade, por insatisfação em relação ao salário ou por opção pessoal. Tem-se observado que alguns
pedagogos acreditavam que teriam uma vantagem em relação a outros por terem um diploma de nível
superior, porém, perceberam que a obtenção deste título não foi suficiente para garantir-lhes um emprego na
área da Pedagogia.
O estudo apresentado ainda está em andamento, já que os questionários e o Projeto Pedagógico de
2004 ainda estão sendo analisados. Até o momento, percebeu-se que o Pedagogo não está sendo pensado
como profissional no âmbito do trabalho e emprego, enfrentando dificuldades quando se refere a trabalhar na
área da Educação. Intenciona-se, a partir da análise, reunir os interlocutores-pedagogos entrevistados para
discutir sobre as condições de emprego e trabalho na área da Pedagogia.

Referências
[1] ANTUNES, R. Os sentidos do trabalho – Ensaio sobre a afirmação e negação do trabalho. 7ª
reimpressão. São Paulo: Boitempo Editorial, 2005.

[2] BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Porto: Edições 70, 2006

[3] CHIZZOTTI, A. Pesquisa em ciências humanas e sociais. 8ª ed. São Paulo: Cortez, 2006.

[4] FERREIRA, L. S. Gestão do pedagógico: de qual pedagógico se fala? In: Currículo sem Fronteiras.
v.8, n.2, p.176-189, Jul/Dez 2008.

[5] PIMENTA, S. Pedagogia Ciência da Educação? – 5. ed. – São Paulo: Cortez, 2006.

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ENUNCIAÇÕES DE COLONOS DESCENDENTES DE ALEMÃES DO


MUNICIPIO DE DOIS IRMÃOS SOBRE A ESCOLA E A MATEMÁTICA
ESCOLAR NO PERÍODO DA CAMPANHA DE NACIONALIZAÇÃO.

Ana Cristina Wiest - IC FAPERGS

Orientador(es): Gelsa Knijnik


Instituição: UNISINOS

1. Introdução
O trabalho, vinculado ao projeto de pesquisa “Matemáticas e currículo escolar em cursos de
Pedagogia: um estudo Etnomatemático”, tem como objetivo estudar as enunciações produzidas por
colonos descendentes de alemães sobre a escola e a matemática escolar da Colônia de São Leopoldo
(RS), no período da Campanha de Nacionalização (de 1939 a 1945), no qual houve a proibição do
uso da língua alemã.

2. Metodologia
Os aportes teóricos que sustentam o estudo estão vinculados ao projeto maior no qual se insere:
o campo da Etnomatemática, formulado com o apoio do pensamento de Foucault e das ideias de
Wittgenstein desenvolvidas em “Investigações Filosóficas”. Até a presente data, o estudo envolveu
quatro participantes, todos residindo atualmente em Dois Irmãos. Eles freqüentaram escolas de
localidades vizinhas, pertencentes à Colônia de São Leopoldo, a qual Dois Irmãos fazia parte, até
1959, quando se emancipou politicamente. O material de pesquisa é composto por entrevistas feitas
com esses participantes: duas senhoras que, no período da Campanha de Nacionalização, eram
alunas naquela Colônia; um senhor, que ali exerceu a docência a partir de 1944; e um senhor que,
tendo sido estudante no final do período da Campanha, a partir de 1961 atuou como professor,
vivendo os resquícios da Campanha de Nacionalização em uma comunidade de descendentes
alemães no interior do Estado do Rio Grande do Sul. As entrevistas tiveram como foco suas
experiências com relação à escola, em especial no que se refere à matemática, e os materiais
didáticos que ali circulavam.

3. Resultados e Discussão
A análise preliminar do material de pesquisa indica que houve uma grande repercussão da
Campanha de Nacionalização na vida cotidiana dos descendentes de alemães, em particular, na
escola; que, as aulas de matemática tinham como centro a tabuada e as quatro operações, havendo
diferenças no desempenho escolar e nas atitudes de meninos e meninas

4. Conclusões
Como o projeto ainda não foi concluído, não se pode apontar as conclusões do mesmo.

_______________________________________
*Autor: Ana Cristina Wiest: anacwiest@yahoo.com.br

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ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO: CONCEPÇÕES E APRENDIZAGENS

Evellyn Ledur da Silva1*; Estela Maris Giordani2;


1
Universidade Federal de Santa Maria – UFSM /Antonio Meneghetti Faculdade - AMF
2
Universidade Federal de Santa Maria – UFSM

1. Introdução
Essa pesquisa, de cunho investigativo, estudou o tema relacionado ao Estágio Curricular
Supervisionado (ECS). O ECS é do ponto de vista de formação, importante para a constituição do formar-se
professor (a). Quando se fala em ECS várias são as compreensões efetuadas pelas pessoas envolvidas nesse
processo de formação. Com isso, sendo ele uma ação muito esperada pela pesquisadora e ao mesmo tempo
uma etapa onde se concretizam ideias, ideais, tristezas, alegrias e demais processos que fazem parte do
formar-se professor, investigar a visão de estágio dos (as) demais acadêmicos (as) em formação foi uma
pesquisa muito requerida e instigante. Partindo disso, a presente pesquisa surgiu com o intuito de procurar
encontrar definições do que é o estágio curricular supervisionado para os (as) acadêmicos (as) em formação.
Autores como Pimenta & Lima [6], Freitas [4], Felício de Oliveira [3] Wielewicki [10], , estudam o
que é o estágio e qual a sua relevância à formação docente. Segundo Wielewicki [9, p. 19], “uma das
premissas concernentes ao estágio curricular supervisionado é que ele pode ser visto como um movimento
formativo, um continuum ou caminhada que vai do contato inicial com os contextos educativos até o
exercício reflexivo da docência”. Sabe-se que o mesmo presta colaboração aos acadêmicos envolvidos no
processo de formação, uma vez que assim, estes possuem a oportunidade de perceber como é ser docente e o
que é ser docente. Freitas [4, p. 18], expressa também a importância do estágio, dizendo que o mesmo
proporciona momentos de reflexão em relação ao profissional que o acadêmico que ser, uma vez que esta
“oportunidade gera conflitos, questões, dúvidas e problemas que necessitarão ser pensados através de uma
busca teórica”.
Essa pesquisa partiu de questionários efetuados a um grupo de acadêmicos (as) do 8º semestre do
Curso de Pedagogia Diurno/2010 da Universidade Federal de Santa Maria- UFSM e de buscas por
referências bibliográficas que embasaram os resultados encontrados. Discute-se o estágio curricular
supervisionado por meio de três perspectivas: A primeira refere-se ao entendimento do que é estágio
curricular supervisionado para as acadêmicas. Por meio de algumas teorias estuda-se o que é estágio e como
estas acadêmicas o conceituaram. A segunda liga-se a questão do estágio como uma experiência significativa
para estas acadêmicas. Neste momento pretende-se entender como as acadêmicas sentiram-se no estágio de
formação profissional. A terceiro refere-se às mudanças e aprendizagens oriundas do estágio, pois o mesmo
requer muitos momentos de reflexão e busca por entendimentos mais profundos.
Os (as) alunos (as) que efetuam os ECS conseguem visualizar por alguns momentos a ação docente
dentro do âmbito educacional, uma vez que assim, apreendem o que é realmente ser professor. De acordo
com Anastasiou e Alves [1, p. 19] “o apreender do latim apprehendere, significa segurar, prender, pegar,
assimilar mentalmente, entender, compreender, agarrar”. Partindo disso, o presente estudo proporcionou
resultados significativos ao meio acadêmico, pois o fato de investigar discentes em formação sempre é um
modo de perceber como o próprio Curso está trabalhando com esta visão ao longo da graduação. Acredita-se
que por meio dessa pesquisa os estágios curriculares supervisionados tiveram importantes colaborações, uma
vez que estas percepções dos acadêmicos (as) em formação, em muitos casos, são desconhecidas.

2. Método
A pesquisa foi realizada com 12 discentes do Curso de Pedagogia do 8º semestre do Curso de
Pedagogia da Universidade Federal de Santa Maria, as quais estão em contato com o ECS, procurando
identificar as concepções de ECS que estes (as) possuem, as aprendizagens oriundas do ECS e se este é
significativo para que assim possa colaborar na constituição do ser professor. Utilizou-se uma abordagem
quali-quantitativa e desenvolveu-se uma pesquisa de estudo de caso. Triviños [8, p. 133] diz que o estudo de
caso “é uma categoria de pesquisa cujo objeto é uma unidade que se analisa aprofundadamente”, deste
modo, a unidade principal analisada no contexto da pesquisa, foi o Estágio Curricular Supervisionado. A
investigação foi delineada por meio de questionários com perguntas abertas, os quais tinham por objetivo
saber quais as compreensões que as acadêmicas possuem sobre o estágio curricular supervisionado, as
aprendizagens e se o mesmo é significativo. Após as respostas obtidas com os questionários, desenvolveu-se
a análise de conteúdo temática para encontrar as respostas aos questionamentos efetuados. Segundo Holsti
[p. 608 apud 2, p. 115] a análise de conteúdo é “uma técnica de fazer inferências sistemáticas e objetivas,

*
evellyn.ledurdasilva@gmail.com
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

identificando as características especiais da mensagem”. Com isso, a maior importância da mesma, é o seu
conteúdo, o que as respostas trazem e representam ao investigador.

3. Resultados e Discussão
A pesquisa possibilitou reflexões relevantes acerca do ECS, uma vez que por meio dos
questionamentos efetuados chegou-se a importantes respostas e visualizou-se o modo pelo qual estes (as)
acadêmicos (as) perceberam o ECS. A primeira e principal pergunta efetuada estava diretamente relacionada
com a concepção de Estágio Curricular Supervisionado que os (as) acadêmicos (as) em formação possuem.
Verificou-se que esta concepção não está clara para os (as) acadêmicos (as), uma vez que de todos (as) os
(as) pesquisados (as), a grande maioria revelou ser o ECS o momento de colocar em prática aquilo que se
apreendeu ao longo do Curso de Graduação. Conforme Pimenta & Lima [6], o modo pelo qual as acadêmicas
percebem o estágio curricular supervisionado é equivocado, uma vez que por meio dessa visão “a atividade
do estágio fica reduzida a hora da prática, ao “como fazer”, às técnicas a ser empregadas em sala de aula, ao
desenvolvimento de habilidades específicas do manejo de classe, ao preenchimento de fichas de observação,
diagramas, fluxogramas” [6, p. 37]. O ECS deve ir muito além da prática, ele deve colaborar com o discente
que se encontra em estágio por meio das reflexões efetuadas, por meio da observação, do estudo diário,
enfim, o ECS deve sim ser uma unidade entre teoria e prática [7].
Partindo para o segundo questionamento que interligava-se com a experiência do Estágio, teve-se
como resultado o fato do ECS ser sim rico e significativo, pois proporcionou o desenvolvimento de
habilidades, aprendizagens e reflexões. Veras [7, p. 53] “conclui em sua dissertação que o “microensino”
(iniciativas de estágio empregando inovações técnicas no desenvolvimento de atividades) é um poderoso
instrumento para a aquisição de um repertório de habilidades de ensino e prepara o professor para ser
dinâmico e interativo”. Desta maneira para a autora isto contribui para a redução da maioria dos problemas
que os alunos enfrentarão na prática de ensino. Com isso, por meio destas atividades os alunos chegam ao
ECS com um repertório de atividades e experiências, as quais colaborarão para o êxito da formação na
escola. Deste modo, a presente pesquisa demonstrou que os (as) acadêmicos (as) em formação acreditam que
o Estágio propicia momentos significativos que serão lembrados para sempre, pois, para muitos, este foi o
primeiro momento de vivenciar a ação docente.
O terceiro, e último questionamento, tinha por objetivo saber quais foram as aprendizagens oriundas
do ECS. Neste, porém, ficou evidente a preocupação central dos (as) discentes perante o planejamento
efetuado. Planejar não é algo simples, objetivo. O ato de planejar requer tempo, dedicação, reflexão,
dialogicidade com alunos e professores (orientador e regente), criatividade, disponibilidade, atenção,
criticidadee também requer um “jogo de cintura”, uma “carta na manga”. Ao planejar o docente precisa
pensar em cada aluno que encontra-se dentro da sala de aula, cada particularidade, cada indivíduo que
apresenta, da sua maneira, o seu modo de ver o mundo a sua volta. Com isto, de fato, planejar requer uma
gama de habilidades, conhecimentos e atitudes. Leal diz que

O planejamento é um processo que exige organização, sistematização,


previsão, decisão e outros aspectos na pretensão de garantir a eficiência e
eficácia de uma ação, quer seja em um nível micro, quer seja no nível macro.
O processo de planejamento está inserido em vários setores da vida social
[...]. Do ponto de vista educacional, o planejamento é um ato político-
pedagógico porque revela intenções e a intencionalidade, expõe o que se
deseja realizar e o que se pretende atingir [5, p. 01].

Deste modo, o planejar está direcionado ao organizar-se. Quando planeja-se, tem-se em mente um
objetivo efetivo que revele o que quer ser efetuado e também para que deve-se ser efetuado. Assim, quando o
docente expõe aquilo que pretende realizar está fazendo o seu planejamento. Saber planejar não é apenas
colocar no papel o que se quer apresentar aos alunos, planejar é também pensar no que se vai falar, como se
vai falar, de que maneira atingir a compreensão do aluno (a). Enfim, planejar é algo extremamente complexo
que com certeza leva tempo para ser apreendido.
Partindo disso, percebe-se que a preocupação constante destes (as) estagiários (as) perante o ato de
planejar é relevante, uma vez que, assim demonstram-se interessados (as) em fazer com que seus alunos (as)
apreendam o conhecimento que está sendo trabalhado.

4. Conclusão
Após a realização da pesquisa, pode-se dizer que o ECS é um momento que deve ser mais estudado,
mais experienciado pelos (as) acadêmicos (as) em formação. É por meio dele que os (as) acadêmicos (as)

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

“compreendem a complexidade das práticas institucionais e das ações aí praticadas por seus profissionais
como alternativa no preparo para sua inserção profissional” [6, p. 43]. Deste modo, o ECS quando
visualizado como uma práxis [7] apresenta contribuições mais significativas aos envolvidos no processo,
uma vez que, ao atuar o (a) discente reflete, pensa e observa àquilo que está sendo realizado.
Portanto, a pesquisa proporcionou uma visão mais ampla dos pensamentos dos (as) acadêmicos (as)
em formação sobre a real inserção no mundo do trabalho em que escolheram efetuar. Mostrou também as
principais dificuldades encontradas e desta maneira as principais aprendizagens que estas dificuldades
proporcionaram. Contudo, o que mais ficou evidenciado foi a percepção que estes (as) acadêmicos (as)
possuem do ECS, a qual deve ser retomada, deve ser revista, uma vez que o ECS, o trabalho docente, não é
somente prático e é sim uma práxis [7]. Finalizando o trabalho pode-se perceber que o ECS é muito mais que
apenas a prática, o ECS é a práxis, é a união entre teoria e prática [7].

Referências

[1] ANASTASIOU, Léa das Graças Camargos; ALVES, Leonir Pessate. Processo de Ensinagem na
Universidade: pressupostos para as estratégias de trabalho em aula. Joinville, SC: UNIVILLE, 2009.
[2] CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa Qualitativa em Ciências Humanas e Sociais. Petrópolis, RJ: Vozes,
2008.
[3] FELICIO, Helena Maria dos Santos e OLIVEIRA, Ronaldo Alexandre de. A formação prática de
professores no estágio curricular. Educ. rev. [online]. 2008, n.32, pp. 215-232. ISSN 0104-4060.

[4] FREITAS, Deisi Sangói & PANIZ, Catiane Mazocco. A contribuição da Reflexividade do Profissional
Professor por Meio do Diário da Prática Pedagógica. In: FREITAS, Deisi Sangói; GIORDANI, Estela Maris;
CORRÊA, Guilherme Carlos (Orgs). Ações Educativas e Estágios Curriculares Supervisionados. Santa
Maria: Editora da UFSM, 2007.
[5] LEAL, Regina Barros. Planejamentos de Ensino: Peculiaridades significativas. Revista
Iberoamericana de Educación, (ISSN: 1681-5653). Disponível em <
http://www.rieoei.org/deloslectores/1106Barros.pdf> Acesso em 17/07/2010.
[6] PIMENTA, Selma Garrido & LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e Docência. São Paulo: Cortez,
2004.
[7] PIMENTA, Selma Garrido. O Estágio na Formação de Professores – Unidade, teoria e prática?. São
Paulo: Cortez, 2010.
[8] TRIVIÑOS, Augusto N. S. Introdução à Pesquisa em Ciências Sociais: a pesquisa qualitativa em
educação. São Paulo: Atlas, 1987.
[9] WIELEWICKI, Hamilton de Godoy. Estágio curricular supervisionado: concepções de supervisão. In:
FREITAS, Deisi Sangoi; GIORDANI, Estela Maris; CORRÊA, Guilherme Carlos e BARICHELLO, Marta.
Textos do Segundo Seminário sobre Estágios Curriculares Supervisionados “Enfrentando Desafios”
da Universidade Federal de Santa Maria. Santa Maria, 2005.

[10] WIELEWICKI, Hamilton de Godoy. Prática de ensino e formação de professores: um estudo de


caso sobre a relação universidade-escola em cursos de licenciatura. Orientadora: Elizabeth Diefenthaeler
Krahe. Porto Alegre, 2010.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

ESTATÍSTICA E PROBABILIDADE NO ENSINO FUNDAMENTAL:


UMA ANÁLISE DE LIVROS DIDÁTICOS

Luciana Boemer Cesar Pereira1*; Mary Ângela Teixeira Brandalise2


1
Universidade Estadual de Ponta Grossa
2
Universidades Estadual de Ponta Grossa

1. Introdução

O desenvolvimento de estudos e pesquisas sobre o ensino de Estatística tem contribuído para o


surgimento de um campo denominado Educação Estatística. Esse campo de pesquisa tem por objetivo
estudar os aspectos cognitivos e afetivos do ensino e aprendizagem, além da epistemologia dos
conceitos estatísticos e o desenvolvimento de métodos e materiais de ensino. Centra-se no raciocínio
significativo da informação estatística no qual se distingue que para a Estatística os dados são vistos
como números em um contexto considerado base para a interpretação dos resultados. Tais resultados
podem acarretar estudos, reflexões e críticas, conduzindo a um processo de investigação no qual os
conceitos e procedimentos matemáticos são usados em parte para resolver os problemas propostos.
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais e nas Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná para
o ensino de Matemática há indicação do estudo de conteúdos de estatística, probabilidade e
combinatória em todas as etapas da escolarização na Educação Básica, no bloco denominado
tratamento da informação. Sua finalidade principal é ajudar a desenvolver no aluno o pensamento e o
raciocínio no tratamento, leitura e interpretação de dados e de fenômenos aleatórios, como a
interpretação de amostras, a elaboração de inferências e comunicação de resultados por meio da
linguagem estatística.
O trabalho docente nas aulas de Matemática para as séries finais do Ensino Fundamental deve
considerar esse processo de desenvolvimento para a investigação estatística tomando-a como ciência
de análise de dados. O ensino de Estatística e Probabilidade nesse nível da escolarização deve permitir
aos alunos se confrontarem com situações problemas do mundo real e a partir delas realizar o processo
de coleta, organização, representação e interpretação de dados. Fundamental também nesse processo
educativo é a forma como os conteúdos estão sendo abordados nos livros didáticos, pois ele se
constitui um dos principais recursos utilizados pelos professores de Matemática do Ensino
Fundamental. O objetivo deste trabalho é a análise dos conteúdos de Estatística e Probabilidade nos
livros didáticos do Ensino Fundamental tendo como referência o Plano Nacional do Livro Didático-
2008 (PNLD 2008) e coleções de livros didáticos de matemática utilizados nas escolas públicas
analisadas.

2. Método

A pesquisa qualitativa, de caráter exploratório-descritivo, foi realizada num primeiro momento


com a elaboração da fundamentação teórica sobre Educação Estatística, seguida da análise dos
documentos oficiais, tais como: Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática (PCNs), Diretrizes
Curriculares do Estado do Paraná para o ensino da matemática, Plano Nacional do Livro Didático
(PNLD 2008) e coleções de livros didáticos de matemática utilizados nas escolas públicas analisadas.
O PNLD 2008 foi constituído por 16(dezesseis) coleções de livros didáticos, dentre esses 8
(oito) coleções são utilizadas nas escolas estaduais de Ensino Fundamental do município pesquisado.
As informações foram coletadas no Núcleo Regional de Educação na área de Ensino de Matemática.
Os exemplares dos livros didáticos de matemática foram cedidos pelas escolas da rede estadual de
ensino. De posse deles fez-se uma análise preliminar, para definir a forma e os critérios a serem
adotados para o desenvolvimento da investigação. Devido à diversidade de estruturação dos conteúdos

1 Acadêmica do Curso de Licenciatura em Matemática da UEPG e integrante do PROVIC – Programa Voluntário de


Iniciação Científica. E-mail: lucesarboemerpg@yahoo.com.br .
2 Professora do Departamento de Matemática e Estatística e do Mestrado em Educação da UEPG. Orientadora do
projeto de pesquisa PROVIC cadastrado na Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação da UEPG. E-mail:
maryangela@uepg.br .

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

matemáticos propostos nas coleções selecionadas foram definidos os seguintes critérios de análise para
os livros didáticos:
- apresenta os conteúdos conforme proposto nas Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná;
- desenvolve o eixo Tratamento da Informação como conteúdo estruturante;
- estimula e trabalha a coleta e organização de dados em todas as séries;
- apresenta e integra a análise e interpretação de dados em tabelas e gráficos;
- propõe situações problemas que envolvam contagem, raciocínio combinatório, e
porcentagens.
- apresenta 10% dos conteúdos totais de cada volume dedicado ao Tratamento da Informação.

3. Resultados e Discussão

No PNLD/2008 estão contidas 16 (dezesseis) coleções de livros, dessas 8 (oito) foram


adotadas pelas 44 (quarenta e quatro) escolas do município pesquisado. Os livros estão listados na
tabela abaixo.

TABELA 1 – COLEÇÃO DE LIVROS DIDÁTICOS DE MATEMÁTICA


UTILIZADOS NAS ESCOLAS PÚBLICA DO MUNICÍPIO – PNLD 2008

LIVROS ADOTADOS QUANTIDADE


DE ESCOLAS

DANTE, L. R. Tudo é matemática. Ed: Ática. São Paulo, 2007. 18


Vol.1, 2, 3, 4.

EDITORA MODERNA. Projeto Araribá: matemática / 7


obra coletiva. Ed: Moderna. São Paulo, 2006; Vol. 1, 2,
3,4.

IEZZI, G.; DOLCE, O; MACHADO, A. Matemática e 6


Realidade Ed: Atual. São Paulo, 2007. Vol.1, 2, 3, 4.
BONJORNO, J. R.; BONJORNO, R. A.; OLIVARES, A. 4
Matemática Fazendo a Diferença. Ed: FTD. São Paulo,
2006. Vol.1, 2, 3, 4.

ANDRINI, A.; VASCONCELLOS, M. J. Novo 4


Praticando a Matemática. Editora do Brasil. São Paulo,
2002. Vol.1, 2, 3, 4.

CAVALCANTE, L. G. et al. Para Saber Matemática. 3


Ed: Saraiva. São Paulo, 2006. Vol.1,2,3,4.

CENTURIÓN, M. R.; JAKUBOVIC, J.; LELLIS, M. 1


Matemática na Medida Certa. Ed: Scpicione. São
Paulo, 2003. Vol.1, 2, 3, 4.

MORI, I.; ONAGA, D. S.Matemática Idéias e


Desafios. Ed: Saraiva. São Paulo, 2002. Vol.1, 1
2, 3,4.

TOTAL 44

Fonte: Núcleo Regional de Educação do Município.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Após a análise dos livros, conforme os critérios estabelecidos, foi constatado uma diversidade
muito grande na organização dos conteúdos do bloco Tratamento da Informação. A análise de cada
coleção é apresentada de forma resumida nos itens abaixo:

Tudo é matemática - apresenta os conteúdos de Estatística e Probabilidade articulados com


outros conteúdos de matemática. Trabalha a interpretação e identificação dos diferentes tipos de
gráficos e a resolução de situações-problemas em todas as séries, mas se dedica muito pouco a
construção de tabelas e gráficos. Estimula o cálculo de porcentagens e de juros simples e composto.
Desenvolve o conceito de probabilidade apenas na 8ª série, mas não desenvolve o raciocínio
combinatório. Situa grande porcentagem dos conteúdos de Estatística e Probabilidade em torno de
18% na 8ª série e apenas 8% nas outras séries.

Projeto Araribá - desenvolve os conteúdos de uma forma muito estruturada, dedicando 15%
dos assuntos totais a Estatística e Probabilidade, sendo estes apresentados no final de cada capítulo do
livro. Em todas as séries conceitua a organização, construção, leitura e interpretação de dados em
tabelas e gráficos, de diferentes formas. Estimula o cálculo de porcentagens, de juro simples e
composto, de medidas de tendência central, bem como a construção do espaço amostral e do conceito
de amostra. Enfatiza o desenvolvimento do raciocínio combinatório.

Para Saber Matemática - apresenta um capítulo no final do livro de cada série em média 12%
do que é proposto para o bloco tratamento da informação e se dedica muito ao cálculo de porcentagem
e de juros em todas as séries. Trabalha com a organização e interpretação de dados utilizando vários
tipos de gráficos, estimula o cálculo de possibilidades e chances, mas trabalha os cálculos de medidas
centrais apenas ma 8ª série.

Matemática Fazendo a Diferença - apresenta os conteúdos de estatística e probabilidade


numa distribuição muito dispare, pois dedica apenas 5% dos conteúdos da 7ª série a esse eixo, e quase
20% para a 8ª série, a demais série está dentro do proposto pala PNLD. Trabalha a interpretação de
gráficos, tabelas e probabilidade, mas não se dedica a combinatória, ao cálculo de medidas de
tendência central, como média, moda e mediana, e nem a resolução de situações-problemas.

Matemática e Realidade - apresenta capítulos em todos os volumes dedicados ao estudo de


estatística, mas articula idéias de tratamento da informação com outros capítulos. Possui a distribuição
dos conteúdos dedicados a Estatística e Probabilidade conforme proposto Destaca o cálculo de
porcentagens, juros, medidas de tendências (média, moda e mediana) e interpretação de gráficos. Não
trabalha o conceito de amostra e de levantamento de dados.

Novo Praticando a Matemática - apresenta uma boa parte dos conceitos de Estatística e
Probabilidade, mas numa pequena quantidade em cada série. Dedica-se na 5ª série a coleta e
organização de dados, na 6ª com porcentagens, gráficos e cálculo de medidas de tendências, na 7ª às
possibilidades e na 8ª série ao conceito de Probabilidade, chances em um evento, população e amostra.
Não trabalha resolução de situações-problemas e construção de gráficos.

Matemática na medida certa - trabalha com o tratamento da informação em capítulos


inseridos em todas as séries, num percentual dentro da média. Dedica-se bastante ao cálculo de
porcentagens e juros e ao cálculo de média, moda e mediana. Inclui nos conteúdos a idéia de
possibilidades e probabilidade. Não utiliza conceitos de amostra para levantamento de dados.

Matemática Idéias e Desafios - dedica-se em todos os capítulos a leitura e interpretação de


dados em gráficos e tabelas. Trabalha com cálculos de média, moda e mediana. Apresenta o cálculo de
porcentagens apenas na 5ª e 6ª séries. Não trabalha com a resolução de situações-problemas, mas
introduz o conceito de chance.

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4. Conclusão

A análise dos livros selecionados permite concluir que algumas coleções ainda não focalizam
devidamente o eixo Tratamento da Informação como conteúdo estruturante da Matemática para a
Educação Básica. A coleção mais bem estruturada de acordo com os critérios de análise utilizados na
pesquisa foi a coleção Projeto Araribá que se dedica em todas as séries, numa porcentagem além da
média proposta. As coleções: Para Saber Matemática, Matemática e Realidade e Matemática na
Medida Certa, apresentam o eixo na forma de blocos bem distribuídos em todas as séries, mas deixam
de abordar muitos conteúdos importantes que integram o Tratamento da Informação. As outras
coleções não atendem ao proposto com relação à quantidade de conteúdos, forma de apresentação e
dedicação ao eixo proposto. No entanto, isso não significa que os livros não são adequados para a
utilização pelos alunos, pois a análise desenvolvida na pesquisa foi apenas do bloco de conteúdos
Tratamento da Informação. A análise efetivada neste trabalho permite concluir que há uma diversidade
de interpretações e formatos organizativos para as coleções de Matemática adotadas nas escolas
públicas quanto aos conteúdos propostos para o eixo Tratamento da Informação.
Enfim, faz-se necessário que os livros didáticos se dediquem mais a esta área de estudos nas
suas coleções, pois no mundo de hoje é de suma importância que um aluno saiba interpretar e analisar
as informações cotidianas, além de aprender a explorar seus próprios raciocínios matemáticos.

Referências

[1] BRASIL. Parâmetros curriculares Nacionais, 1998.


[2] PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação do Paraná. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes
curriculares da Educação Básica – Matemática. Paraná: SEED, 2008.
[3] BRASIL. Guia de livros didáticos PNLD, 2008.
[4] LOPES, C. A. E. ; NACARATO, A. M. Escritas e leituras na Educação Matemática. Ed:
Autêntica. Belo Horizonte, 2005.
[5] DANTE, L. R. Tudo é matemática. Ed: ática. São Paulo, 2007. Vol.1, 2, 3, 4.
[6] EDITORA MODERNA. Projeto Araribá: matemática / obra coletiva. Ed: Moderna. São Paulo,
2006; Vol. 1, 2, 3,4.
[7] IEZZI, G.; DOLCE, O; MACHADO, A. Matemática e Realidade Ed: Atual. São Paulo, 2007.
Vol.1, 2, 3,4.
[8] BONJORNO, J. R.; BONJORNO, R. A.; OLIVARES, A. Matemática Fazendo a Diferença. Ed:
FTD. São Paulo, 2006. Vol.1,2,3,4.
[9] ANDRINI, A.; VASCONCELLOS, M. J. Novo Praticando a Matemática. Editora do Brasil. São
Paulo, 2002. Vol.1,2,3,4.
[10] CAVALCANTE, L. G. et al. Para Saber Matemática. Ed: Saraiva. São Paulo, 2006.
Vol.1,2,3,4.
[11] CENTURIÓN, M. R.; JAKUBOVIC, J. ; LELLIS, M. Matemática na Medida Certa. Ed:
Scpicione. São Paulo, 2003. Vol.1, 2, 3, 4.
[12] MORI, I. ; ONAGA, D. S. Matemática Idéias e Desafios. Ed: Saraiva. São Paulo, 2002.
Vol.1,2,3,4.

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Estudo comparativo sobre trajetórias docentes: movimentos construtivos da docência


superior

Luana Rosalie Stahl1*; Andréia de Mello Buss2; Louise Bertoldo Quatrin3; Marciele Taschetto da Silva4;
Silvia Maria de Aguiar Isaia5
1
Universidade Federal de Santa Maria
2
Universidade Federal de Santa Maria
3
Universidade Federal de Santa Maria
4
. Universidade Federal de Santa Maria
5
Universidade Federal de Santa Maria; Centro Universitário Franciscano

1. Introdução

Este trabalho apresenta os resultados da pesquisa Ciclos de vida profissional de professores do ensino
superior: estudo comparativo sobre trajetórias docentes. A opção por docentes de ensino superior respalda-se
no fato de que estes são formadores iniciais de futuros profissionais e, no entanto, não receberam formação
específica para exercer a função neste nível de ensino. De acordo com Isaia e Bolzan (2007), torna-se
pertinente a reflexão sobre quem forma e como são formados estes docentes. Nesta perspectiva, uma
possibilidade de resposta, está vinculada aos movimentos construtivos da docência superior constituídos por
marcadores que possibilitam uma maior compreensão da trajetória docente. A pesquisa em questão tem por
objetivo investigar quais são estes movimentos construtivos da docência superior, e detectar seus principais
marcadores. Desta maneira, neste trabalho, nos propusemos a explicitar os marcadores e os movimentos
construtivos das duas instituições investigadas, uma pública e outra confessional.

2. Método

A pesquisa deu-se em diferentes fases. Na primeira fase buscou-se esboçar a trajetória institucional
dos professores envolvidos, procurando-se atingir o maior número de docentes das duas instituições
participantes, usando-se para tanto um questionário cujas questões foram trabalhadas, em sua maioria, de
forma quantitativa, através do Programa Statistica. Os resultados foram interpretados em um viés
quantitativo sem desconsiderar a dimensão qualitativa destes, aproximando as tendências quantitativas e
qualitativas e atendendo, assim, as exigências do problema da presente investigação na sua fase inicial.
(COOK; REICHARDT, 1986).
É contudo, a segunda fase que se discute em maior profundidade neste artigo. Os professores foram
selecionados, tendo em vista os resultados advindos dos questionários respondidos. Para tanto, levou-se em
consideração o número de professores que responderam ao questionário da primeira fase e o tempo de
experiência na instituição. Quanto a este segundo parâmetro de seleção, dividiu-se a carreira docente em três
etapas: inicial 0-5 (PAI); intermediária 6-15 (PAT); final 16 em diante (PAF). Tendo em vista investigar os
ciclos de vida profissional de professores do ensino superior optou-se por uma abordagem de cunho
narrativo. (CONNELLY; CLANDININ, 1995; McEWAN, 1998). Optou-se por este viés na medida em que
não só são dadas voz e vez aos professores envolvidos, mas também pela possibilidade de tomarem distância
de suas vidas profissionais, convertendo-as em objeto de auto-reflexão, podendo assim [re]significá-las e
transformá-las. (HUBERMAN, 1998; McEWAN, 1998).
Assim buscou-se, a partir das narrativas dos professores, em suas entrevistas, interpretar os relatos
que os mesmos fazem dos acontecimentos vividos ao longo da carreira docente. Tratou-se, portanto, de
construir novos significados sobre o processo construtivo dos professores, partindo de um duplo movimento
interpretativo, envolvendo por um lado os pesquisadores e por outro os docentes, sujeitos da pesquisa.
(ISAIA, 2005a). Tal procedimento, dentro da tradição narrativa, compreendeu não só como os professores
relatavam suas vidas, mas também como os pesquisadores narravam estes relatos. (CONNELLY;
CLANDININ, 1995). Em termos de interpretação analítica das narrativas dos professores, escolheu-se o
método de análise de conteúdo (BARDIN, 1977; MORAES, 1998; BAUER e GASKELL, 2004).
Considerou-se que um dos aspectos significativos desta abordagem está no resgate de um
conhecimento mais próximo ao mundo da vida dos professores e da realidade educativa em que estão
inseridos, compreendendo-os como pessoa e profissional.

*
Autor Correspondente: luanastahl@gmail.com
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Para tal, os instrumentos utilizados nesta fase foram auto-reconstrução biográfica e entrevista
narrativa. A primeira, entendida como um procedimento escrito voltado para os professores reconstruírem,
via memória, suas trajetórias docentes, demarcando as fases das mesmas, suas principais características e a
temática que as orienta. (ISAIA, 2005a). A segunda foi utilizada como um procedimento capaz de considerar
o fluxo de recordações de cada docente. Tal fluxo foi orientado pela auto-reconstrução biográfica e não pelas
questões prévias do entrevistador. Coube a este apenas formular questões para aclarar algum ponto obscuro
da narrativa. (HUBERMAN, 1998; ISAIA, 2005a).
A terceira e última fase da pesquisa, resultante da anterior, refere-se à comparação das trajetórias
formativas dos professores das duas instituições de ensino superior participantes da pesquisa.

3. Resultados e Discussão

Os achados da pesquisa nos remetem à existência de quatro movimentos construtivos: preparação à


carreira docente, entrada efetiva no magistério superior, marcas da pós-graduação e autonomia docente. Estes
movimentos construtivos são entendidos como diferentes momentos da carreira docente, envolvendo
trajetória vivencial dos professores e o modo como eles articulam o pessoal, o profissional e o institucional e,
conseqüentemente, como vão se (trans)formando no decorrer do tempo. Carregam, portanto, as
peculiaridades de cada docente e de como ele interpreta os acontecimentos vividos. Os movimentos não se
apresentam de forma linear, mas correspondem a momentos de ruptura ou oscilação, responsáveis pelo
aparecimento de novos percursos que podem ser trilhados pelos docentes.
Os movimentos encontrados na pesquisa apresentam uma dinâmica peculiar, representada por
marcadores que indicam as características das experiências docentes atribuídas a cada professor ou a um
grupo de professores. Estes marcadores compõem de maneira nem sempre linear e constante os movimentos
construtivos da vida profissional docente.
Desta maneira, encontramos nas duas instituições analisadas marcadores que são dinamizadores dos
movimentos construtivos, no entanto, salientamos que estes podem estar presentes em mais de um
movimento construtivo. Para este trabalho trataremos de apresentar um marcador comum a cada um dos
movimentos construtivos encontrados nas duas instituições investigadas.
O primeiro movimento, preparação a carreira docente, corresponde as diversificadas experiências
e vivências anteriores à entrada efetiva tais como experiências no ensino médio, monitorias, estágios de
residência médica, curso de pós-graduação lato senso, atuação como professor substituto e influências
familiares, denotando que a trajetória profissional dpcenate vai se constituindo a partir de experiências
prévias que podem direcionar futuramente o sujeito para a carreira docente. Como marcas significativas
deste movimento, apresentamos a influência familiar que pode ser em termos de imitação de modelos
familiares, valorização da profissão ou mesmo condicionantes da estrutura familiar que podem circunscrever
as oportunidades profissionais e as vivências em outros espaços formativos que podem estar relacionados
tanto a experiência como monitor, professor substituto ou experiências práticas como profissional. Os
excertos a seguir podem ilustrar os marcadores mencionados.

....quando eu me formei eu pensei que jamais ia ser docente porque eu tenho pai e mãe professores o que eu queria era
clínica mesmo (...)(PAI)

(...) eu tive esta formação também na minha caminhada na pública então na graduação primeiro semestre eu já me
enfiei numa pesquisa e de lá nunca mais saí, entrei numa pesquisa e nunca mais saí, então eu sempre tive bolsa da
FATEC, CNPq, da CAPES. (PAT)

O segundo movimento, entrada efetiva no magistério superior, pode ocorrer de maneira


circunstancial para alguns professores, não representando uma escolha efetivamente buscada para o início da
vida profissional, mas pela oportunidade de trabalho representada, e para outros se dá como escolha
profissional, o que indica um forte componente de envolvimento afetivo com a docência mesmo antes da
opção profissional. Algumas das marcas significativas neste movimento construtivo da docência são a
insegurança no exercício da docência que pode estar relacionada tanto frente aos alunos, quanto em relação
à disciplina sinalizando a falta de preparo para o ensino superior e a solidão pedagógica entendida como o
sentimento de desamparo dos professores frente à ausência de interlocuação com colegas e até mesmo de
conhecimentos pedagógicos compartilhados para o enfrentamento do ato educativo.

A aula e eu levava os três dias envolvida daquela aula, criatura de Deus as vezes eu fico pensando, mas é o início
mesmo né? Mas aí além de toda esta parte... (PAT)

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

E os colegas muito distantes, distantes mesmo. E institucional, imagina, eu lembro era o meu primeiro semestre era um
problema mandar e-mail para uma pessoa, para vir para a aula todos os dias e as duas vezes da semana que eu dava
aula na semana, horista, oito horas. Então era muito engraçado eu dava aula segunda e sexta, por um lado eu achava
maravilhoso porque eu tinha terça, quarta e quinta para preparar. (PAT)

O terceiro movimento corresponde às marcas da pós-graduação que representam uma nova


perspectiva docente, é caracterizada pelo envolvimento do docente em atividades relacionadas à pesquisa e a
orientação de alunos, seja de iniciação científica, mestrado ou doutorado e uma maior preocupação com a
produção acadêmico científica. A pós-graduação “strito senso” tem representado um novo movimento
transformativo na trajetória docente o que decorrente dos novos critérios de seleção e progressão funcional
adotados pelas instituições de ensino superior que estão pautados na titulação e produção acadêmico
científica. Neste movimento encontramos o marcador envolvimento com pesquisa justificado na maioria
dos casos pelas cobranças institucionais ou valorização da pesquisa em detrimento da prática docente e a
readaptação do docente à instituição representado pelo movimento de regresso à instituição que muitas
vezes está relacionado à busca do espaço físico ocupado anteriormente e/ou relações com colegas após longo
período afastado da instituição.

Porque eu sou uma pessoa que trabalha em grupo sempre né, apesar dessa independência, eu sou uma pessoa que não
consegue viver longe das pessoas. Então dentro da universidade eu sempre atuo em grupo. Então hoje eu sou
coordenador de um grupo, um grupo de pesquisa onde nós trabalhamos de fato juntos e o grupo hoje que eu coordeno
são em torno de 60 pessoas. (PAF)

A última fase e a pós-doutorado, logo que eu cheguei foi uma grande diferença, porque você trabalha com teorias
atualizadas, então você vem aqui cheia de pique para tentar trabalhar em um novo pique com novas teorias e tudo.
Você vem e fica falando chinês enquanto todo mundo fala português. Então você vai esquecendo o chinês e volta a
falar português, e ao mesmo tempo, quando eu voltei, tinha uns problemas de recursos humanos no departamento.
Então quando eu voltei eu tinha que fazer as mesmas coisas que eu fazia, com uma carga horária mais pesada do que
eu tinha antes, então eu realmente não pude de imediato dar continuação ao que eu pretendia trabalhar quando eu
voltasse do doutorado. (PAF)

O quarto e último movimento, a autonomia docente compreende amadurecimento pessoal e


profissional. A conquista desta autonomia, no entanto, depende de que os docentes tenham conhecimentos
consistentes: da área de conhecimento, do modo como seus alunos aprendem e de como podem ser
auxiliados neste processo. O elemente essencial neste movimento é a consciência de que a docência
universitária é um processo inacabável e que, portanto, o professor deve estar interessado e envolvido pelo
desejo de aprender. Como marcadores deste movimento apresentamos a satisfação docente que pode estar
relacionada tanto a realização profissional e ao envolvimento com os alunos, quanto com a instituição na
qual o docente está inserido; e a responsabilidade docente refere-se à consciência do seu papel como
formador de futuros profissionais, além do papel social desempenhado por meio de projetos de pesquisa e
extensão.

Eu espero continuar aqui na universidade, é uma proposta diferente, até porque a gente vem com uma visão de
graduação, de especialização e mestrado e daí tu cai num curso diferente, tu até te questiona, mas algumas coisas tu
tem que mudar sim e realmente a gente sente isso até no contato com os alunos, a minha perspectiva são bastante
motivadoras, eu pretendo ficar no que depender de mim. (PAI)

Acho que ser docente principalmente na profissão da gente é a gente se preocupar com a forma com que a gente se
coloca. A gente se preocupa com uma forma mais alternativa, mais integral. É uma oportunidade muito legal que a
vida dá pra gente, embora tenha todos os problemas do sofrimento. (PAT)

4. Conclusão

Tendo em vista os resultados encontrados a partir das narrativas/vozes dos professores participantes
foi possível à compreensão de que os marcadores compõem os movimentos construtivos da trajetória desses
docentes, o que permite iluminar a compreensão do processo construtivo dos docentes de ensino superior.
Desse modo, o primeiro movimento é de cunho preparatório para a efetiva atuação na universidade. As
experiências prévias de caráter pedagógico que eles vivenciam têm a função de iniciá-los na atividade
docente futura. Delineia-se assim uma iniciação em direção a uma função que mais tarde irá se concretizar.
O segundo movimento envolve a efetivação na docência superior na qual a característica mais marcante é a
falta de preparação específica para este nível de ensino. Grande parte das escolhas é acidental na busca de

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

iniciar uma atividade laboral após a graduação. O terceiro movimento que os professores explicitam como
marcante em sua trajetória docente é a realização de Cursos de Pós-Graduação, entendendo-os não apenas
como oportunidade de formação para a pesquisa, mas também para a docência. Essa experiência se
caracteriza para muitos dos entrevistados como um caminho formativo em andamento. A partir dos Cursos
de Pós-Graduação, os nossos sujeitos passaram a sentirem-se mais preparados para atuarem como
professores, percebendo que suas atividades docentes, muito mais do que técnicas, são de natureza
pedagógico-formativa em relação aos alunos e eles próprios. O último movimento construtivo demarcado
pelos professores envolve o que podemos denominar de autonomia docente, ou seja, os professores estão
engajados em atividades educativas voltadas para o efetivo desenvolvimento de seus alunos. Neste
movimento parece surgir uma concepção de docência mais madura, à medida que os saberes por eles
acionados estão marcados pela dimensão humana, ou seja, os alunos são os focos de atenção docente,
levando-nos a indicar o caráter gerativo desta atividade.

Referências

ISAIA, S. M. A.; BOLZAN, D. P. V. Construção da profissão docente/professoralidade em debate: desafios


para a educação superior. In: Cunha, Maria Isabel. (Org.). Reflexões e práticas em pedagogia Universitária. 1
ed. Campinas: Papirus, 2007, v. 1, p. 161-177.

COOK, T. ; REICHARDT, CH. Hacia uma superación del enfrentamiento entre los métodos cualitativos y
los cuantitativos. In: COOK, T. ; REICHARDT, CH. Métodos cualitativos y cuantitativos em investigación
evaluativa.Madrid: Morata, 1986, p.25- 58.

CONNELLY y CLANDININ. Relatos de experiência e investigación narrativa. In: LARROSA; ARNAUS;


FERRER et al. Déjame que te cuente. Barcelona: Alertes, 1995.

McEWAN, H. Las narrativas en el estudio de la docência. In: McEWAN y EGAN (comps.) La narrativa en
la enseñanza, el aprendizaje y la investigación. Buenos Aires: Amorrortu, 1998.

ISAIA, S. Ciclos de vida profissional docente: delineamento teórico-metodológico específico para


professores do ensino superior. In: ALONSO, Cleuza M.M.C. (org.). Reflexões sobre políticas educativas. I
Encontro Internacional de Pesquisadores de Políticas Educativas. Santa Maria, Universidade Federal de
Santa Maria e Universid de la Republica [Montevideo], AUGM, 2005, p.35-44.

BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Martins Fontes, 1977

BAUER, M. ; GASKELL, G. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som. Petrópolis: Vozes, 2002.

MORAES, R. Uma experiência de pesquisa coletiva: introdução à Análise de Conteúdo.In: GRILLO, M. ;


MEDEIROS, M. (orgs.). A construção do conhecimento e sua mediação metodológica. Porto Alegre:
EDIPUCRS, 1998, p. 111- 129.

HUBERMAN, M. Trabajando con narrativas biográficas. In: McEWAN y EGAN (comps.) La narrativa en la
enseñanza el aprendizaje y la investigación. Buenos Aires: Amorrortu, 1998, p. 183-235.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO NO ESTADO DE SANTA CATARINA: ANÁLISE


DAS FONTES E RECEITAS DESTINADAS À REDE ESTADUAL DE ENSINO

Rúbia Schlickmann1*
Universidade do Sul de Santa Catarina

1 INTRODUÇÃO
Este estudo tem em vista discutir as receitas destinadas ao financiamento da educação da
rede pública de ensino do estado de Santa Catarina, entre 1996 e 2008. Enfatizo nesse estudo a
Constituição Federal de 1988 (CF/88) a Lei de Diretrizes de Bases da Educação Nacional (Lei
9394/96) e a Constituição Estadual de Santa Catarina de 1989, bem como as alterações legais
posteriores que implantaram o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e
de Valorização do Magistério (Emenda Constitucional nº 14 e lei 9.424, ambas de 1996) e o Fundo
de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica de Valorização dos Profissionais da
Educação (Emenda Constitucional nº 53, de 2006 e a Lei 11.494, de 2007).
Ao compreender essas leis, pretendo examinar a evolução e o comportamento das receitas
que o governo estadual tem de aplicar na educação pública, já que seus recursos são vinculados por
intermédio das leis citadas. Segundo a CF 88, no art. 212, os Estados, Distrito Federal e Municípios
devem aplicar anualmente em educação pelo menos 25% da receita de impostos que compõem os
seus orçamentos. Essa legislação também regula as receitas do Salário-Educação, do Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério (Fundef), que
esteve em vigência de 1998 a 2006, e do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação
Básica e Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), vigente a partir de 2007.
O presente estudo é integrante da pesquisa nacional intitulada Remuneração de Professores
de Escolas Públicas da Educação Básica: Configurações, Impactos, Impasses e Perspectivas, que
abrange o período de 1996 a 2012, aprovada pelo Observatório da Educação, do Ministério da
Educação, e financiada pela CAPES. A pesquisa está sendo realizada em 10 estados brasileiros por
universidades públicas e uma comunitária e busca compreender o comportamento da remuneração
dos professores a partir da criação do Fundef, Fundeb e agora do Piso Salarial Profissional
Nacional. A UNISUL, por intermédio do Programa de Pós Graduação em Educação-Mestrado,
realiza a pesquisa em Santa Catarina.

2 MÉTODO
Os dados sobre as receitas estaduais destinadas ao financiamento da educação foram
extraídos dos Relatórios e Pareceres Prévios sobre as Contas do Governo do Estado elaborados
anualmente pelo Tribunal de Contas do Estado de Santa Catarina, disponíveis na forma impressa,
1996 a 1999, e virtualmente (http://www.tce.sc.gov.br/web/publicacoes/relatorios), de 2000 a 2008.
Os dados foram organizados em séries históricas em planilha Excell e atualizados para Reais de
2008, através da Calculadora do Cidadão (disponível no site do Banco Central do Brasil). Os
gráficos elaborados a partir destas tabelas possibilitaram a visualização do volume e das tendências
das diferentes fontes de receita.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
As receitas destinadas ao financiamento da educação pública advêm da arrecadação de
impostos, taxas, transferências e contribuições. Apesar de a arrecadação acontecer nas diferentes
unidades de Governo, grande parte das receitas tributárias são repartidas entre a União, os Estados,
Distrito Federal e os Municípios.
Os impostos próprios arrecadados pelo Governo Estadual de Santa Catarina que tem parte de
sua receita vinculada ao financiamento da educação são o IRRF, o IPVA, o ITCMD e o ICMS. A
esses se soma a receita das transferências do FPE, do IPI Exp. e da Lei 87/96. Sobre a receita de

*
ru.rubia@hotmail.com

330
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

cada um desses impostos e transferências se aplica a vinculado de 25% para o financiamento da


educação. O Gráfico 1 representa a soma e a evolução dos impostos próprios e das transferências
entre 1996 e 2008.

Gráfico 1 – Evolução das receitas de impostos e transferências - 1996 - 2008

Fonte: TCE/SC, 1996 a 2008.


Valores atualizados para dezembro de 2008, pelo INPC do IBGE. Elaboração da autora.

Ao observar o gráfico verifica-se que a receita de impostos próprios é bem superior que a
das transferências da União para o Estado. Estável até 1999, a arrecadação inicia um processo de
contínuo crescimento a partir de 2001, devido ao desempenho dos impostos próprios. A arrecadação
total de 2008 ultrapassou a casa dos R$7,5 bilhões e foi 51,16% superior a de 1996.
Após realizar as distribuições tributárias cada unidade governamental deve vincular um
percentual de recursos para educação. O artigo 212 da CF/88 determina que a União deva aplicar
anualmente 18%, no mínimo, da receita de impostos na manutenção e desenvolvimento do ensino,
enquanto os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, no mínimo, 25% da sua receita de
impostos e transferências em suas respectivas redes de ensino. Esse artigo também indica o salário-
educação como fonte adicional para o financiamento da educação básica.
A Constituição Estadual de Santa Catarina de 1989, no artigo 167, sustenta o que está
definido na CF/88, ou seja, de que 25% da receita de impostos e transferências do Governo Estadual
devam ser destinados à manutenção no desenvolvimento de seu sistema de ensino.
Em 1996, foi aprovada a Lei nº 9.394 que estabelece a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB/96) que no artigo 68 ratifica a CF/88 nas fontes de recursos para a
educação. Nesse mesmo ano, foi implantado o Fundef em cada estado brasileiro, com o objetivo de
canalizar parcela importante da receita arrecada pelos estados e municípios ao ensino fundamental.
Assim, o Fundef fez com que 15% das receitas do ICMS, FPM, FPE, IPI Exp. e da Lei Kandir
fossem redistribuídos para os sistemas de ensino dentro de um mesmo estado que mantivessem
matrículas de ensino fundamental em suas redes. Os 10% restantes permaneceram para aplicação na
educação básica conforme a competência de cada nível de governo. Esse mecanismo de
redistribuição das receitas e acordo com a localização das matrículas induziu os governos
municipais a ampliar o número de matrículas para obtenção de receita do Fundef. Na maioria dos
estados, incluindo o de Santa Catarina, a elevação das matrículas municipais de ensino fundamental
fez com que receita do governo estadual fosse transferida e redistribuída aos governos municipais.
Esse processo de transferência permaneceu durante toda a vigência do Fundef e continuou
com a entrada em vigor do Fundeb. O Fundeb estendeu a cobertura do financiamento redistribuindo
receita a todos os níveis e modalidades da educação básica (creche, ensino pré-escolar, ensino
fundamental, ensino médio e educação de jovens e adultos). Para que isso fosse possível também
foi ampliado o percentual dos impostos e transferências a serem redistribuídos, bem como o número
deles até atingir 20% da arrecadação.
Os efeitos do Fundef e do Fundeb no Governo do Estado de Santa Catarina está

331
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

representado no Gráfico 2. Ao longo do período, foi crescente o volume dos recursos movimentado
pelos fundos, porém o governo estadual desde o primeiro ano cedeu recursos da sua arrecadação
que foram redistribuídos aos municípios do estado. Enquanto a transferência era de apenas R$ 12
milhões e 1998, no último ano pesquisado as transferências alcançaram quase R$ 210 milhões.
Mesmo assim, as matrículas da rede estadual asseguraram o retorno da maior parte dos recursos
redistribuídos pelos fundos.

Gráfico 2 – Recursos do Fundef (1998 a 2006) e do Fundeb (2007 e 2008) na receita estadual.

Fonte: TCE/SC, 1998 a 2008.


Valores atualizados para reais em dezembro de 2008, pelo INPC do IBGE. Elaboração da autora.

Outra receita importante destinada ao financiamento da educação provém da contribuição


social do Salário-Educação (SE) criado pela Lei 4.400, em 1964. Trata-se de um tributo pago ao
mensalmente pela empresas governo federal e corresponde a 2,5% do valor da folha de pagamentos.

Gráfico 3 – Recursos do Salário Educação da rede estadual de ensino – 1996 - 2008

Fonte: TCE/SC, 1998 a 2008.


Valores atualizados para dezembro de 2008, pelo INPC do IBGE. Elaboração da autora.

Desde sua criação, o SE sofreu várias alterações mas manteve a sua divisão em duas cotas,
1/3 da arrecadação fica com o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), órgão do
MEC, que financia programas como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE),
Programa Nacional de Apoio ao Transporte do Escolar (PNATE), entre outros, junto às redes
estaduais e municipais de ensino. Os outros 2/3 voltam para o estado de origem da arrecadação
332
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

como Cota Estadual e Municipal onde é redistribuído ao governo estadual e aos municípios de
acordo com o número de matrículas de educação básica em suas redes.
As receitas do SE em Santa Catarina (Gráfico 3) oscilaram significativamente ao longo do
período estudado, resultado das várias alterações legais. O ano com menor arrecadação foi em 1999
com um pouco mais de R$ 50 milhões, em 2004 também um queda surpreendeu o recurso beirando
R$ 63 milhões. Em valores atualizados, a receita de 2008 foi 19% inferior a de 1996.
Portanto, a vinculação da receita de impostos, os recursos do Fundef/Fundeb e do salário
educação são as fontes que compõem os recursos que financiam a educação estadual (Gráfico 4). A
partir de 2001, o conjunto dessas receitas cresce gradualmente, alcançando cerca de R$ 7 bilhões
em 2008, quase o dobro da de 1996.

Gráfico 4 – Total das receitas destinadas ao financiamento da educação básica – 1996 – 2008.

Fonte: TCE/SC, 1996 a 2008.


Valores atualizados para dezembro de 2008, pelo INPC do IBGE. Elaboração da autora.

Em 2007 entra em vigor o FUNDEB vinculando percentuais dos tributos à educação


básica, ajudando a direcionar as aplicações no ensino. Em 2007 os recursos dão um salto de 72,13%
com relação ao ano de 2006, é um desenvolvimento considerável de um ano para o outro. Isso ainda
se concretiza em 2008 que se mantém com a mesma faixa de recursos, em torno de R$ 4 bilhões de
reais.

4 CONCLUSÃO

O estudo das receitas mostrou que o Governo do Estado de Santa Catarina destinou recursos
substanciais e crescentes para a sua rede de ensino. A entrada em vigor do Fundef, seguido do
Fundeb contribuiu para este crescimento. Ainda assim o estado teve parte de suas receitas
redistribuídas pelos fundos Fundef e Fundeb para os municípios de Santa Catarina que detinham um
maior número de matrículas.
Embora possa parecer que o Governo do Estado de Santa Catarina tenha contado com
recursos substanciais para a sua rede de ensino será necessário aprofundar os estudos e avançar na
análise das despesas realizadas de forma a verificar o cumprimento das determinações legais e a
qualidade da aplicação dessas receitas.

5 REFERÊNCIA

TCE - SC. Parecer prévio sobre as contas prestadas pelo governador do Estado. Florianópolis:
Tribunal de Contas. 1996-2008.

333
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO:
REMUNERAÇÃO DOS PROFESSORES NAS ESCOLAS PÚBLICAS EM SUAS FORMAS,
CONFLITOS E PERSPECTIVAS

Priscilla Dinah Costa Lourenço


1
Universidade do Sul de Santa Catarina

1. Introdução
Este trabalho apresenta o resultado da análise dos recursos financeiros do Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef) do Fundo de Manutenção
e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb)
direcionados pelo governo do Estado de Santa Catarina à remuneração do magistério e dos profissionais da
educação das escolas públicas de educação básica de sua rede entre os anos de 1998 e 2008.
O presente trabalho é resultado do Programa Unisul de Iniciação Científica “PUIC” destinado
acadêmicos de graduação da Unisul para inserção na iniciação científica. E foi elaborado com base no
segundo capítulo do relatório do PUIC, que apresenta a análise dos dados levantados através de uma série
histórica que relata a movimentação dos recursos do Fundef/Fundeb pelo Governo do Estado de Santa
Catarina com a remuneração dos profissionais da educação.
A pesquisa da qual resulta este trabalho é um desdobramento da pesquisa nacional intitulada
Remuneração de professores de escolas públicas da educação básica: configurações, impactos, impasses e
perspectivas desenvolvida, em Santa Catarina, por professores do Programa de Pós-Graduação em Educação
– Mestrado, da UNISUL. Essa pesquisa nacional foi aprovada no âmbito do programa Observatório da
Educação do MEC, cujo objetivo é analisar as repercussões decorrentes da implantação do Fundef, do
Fundeb e do Piso Salarial Profissional Nacional na estrutura de remuneração dos professores da educação
básica de 12 estados brasileiros entre 1996 e 2010. Além do PPGE-Mestrado da UNISUL participam da
pesquisa os programas de Pós-Graduação em Educação da USP, UFPR, UNISUL, UFPB, UFMS, UFPA,
UFPI, UFRN.

2. Método
Usando uma metodológica aplicada de natureza quantitativa foram analisados dados sobre a execução
orçamentárias dos recursos do Fundef e do Fundeb aplicados pelo Governo do Estado registrados
anualmente nos Relatórios e Pareceres Prévios sobre as Contas do Governo do Estado de Santa Catarina
publicados pelo Tribunal de contas do Estado de Santa Catarina entre 1998 e 2008, disponibilizados por
meio impresso (1998-1999) e digital (2000-2008). Os dados foram lançados e organizados em planilha
Excel, gerando tabelas e gráficos que permitiram a análise comparativa da evolução e dos gastos com
educação e remuneração dos profissionais da educação, formando uma série histórica entre os anos
supracitados. Além disso, os valores foram atualizados em seu poder de compra para reais de dezembro de
2008 por meio do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) do IBGE, conforme a metodologia
desenvolvida pelo Banco Central.[1]

3. Resultados e discussão
O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério
(FUNDEF) criado e aprovado pela Emenda Constitucional n° 14 [2] e regulamentado pela Lei nº 9.424.[3]
Tinha por finalidade a reorganização da redistribuição dos recursos para a manutenção e desenvolvimento do
ensino fundamental, dando ênfase à valorização do magistério.[4] O Fundef é um fundo de natureza contábil,
instituído em cada um dos estados que captura 15% da receita das transferências de impostos (FPE, FPM,
ICMS, IPIexp e Lei Kandir) repassados aos governos estaduais e municipais pelo governo federal e pelo
governo estadual aos seus municípios. O total arrecadado é redistribuído às redes estadual e municipais em
cada estado proporcionalmente ao número de matrículas no ensino fundamental, beneficiando as redes que
de maior atendimento. De acordo com a lei, 60% da receita recebida do Fundef devem ser destinados
remuneração de professores do ensino fundamental em efetivo exercício no magistério.
O Fundef foi substituído pelo Fundeb em 2007, pela Emenda Constitucional n° 53 (EC 53) e
regulamentado pela Lei 11.494.[5,6] O Fundeb passou a financiar toda a Educação Básica (educação infantil,
ensino fundamental, ensino médio, educação especial, educação de jovens e adultos). É também de natureza
contábil e terá duração de 14 anos, até 2020.[7] Captura 20% da receita das transferências de impostos
(receita total), são mantidas as mesmas fontes de recursos do Fundef, acrescentando o Imposto de

1
E-mail: prikapedagogia@gmail.com
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Propriedade de Veículos Automotores - IPVA, Imposto de Transmissão de Causa Mortis e Doações -


ITCMD e Cota Parte Municipal do Imposto Territorial - ITR. Os recursos são também redistribuídos de
acordo com o número de matrículas da educação básica oferecidas pelas redes públicas estaduais e
municipais de ensino. Sendo que 60% no mínimo dessa receita continuam sendo destinados à valorização
dos profissionais da educação básica e os 40% restantes na manutenção e desenvolvimento do ensino em
seus diferentes níveis da educação básica.
A análise dos recursos financeiros do Fundef e Fundeb destinados a remuneração do magistério pelo
Governo do Estado de Santa Catarina deu-se através da construção de séries históricas em forma de gráficos,
que comparam o total da dedução de receitas de estados e municípios para formação do Fundef/Fundeb com
o total de recursos que retornam em função das matrículas e examinam a aplicação dessa receita na
remuneração dos profissionais do magistério e a evolução das matrículas do ensino fundamental da rede
estadual e do total da rede municipal.
A fig. 1, compara o total da dedução de receitas para a formação do Fundef/Fundeb com total de
recursos recebidos dos fundos pelo estado e pelos municípios. Os valores referentes ao Fundef estão
classificados entre os anos de 1998 a 2006, e Fundeb nos anos de 2007 e 2008.[8] Não foram encontrados
nos documentos do TCE/SC consultados dados do ano de 2000.

COMPARAÇÃO DO VALOR RECEBIDO DO FUNDEF/FUNDEB COM O VALOR


APLICADO (EM MILHÕES DE REAIS)

1.286.594
1.063.313
896.618
872.710
824.070
789.000
736.578
713.715
589.862
550.506

-141.168

-154.707

-183.605
-132.619

-188.909
-152.373
-12.017

-63.371
-26.009

-88.598

1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

TOTAL DA DEDUÇÃO DE RECEITAS (CONTRIBUIÇÃO) P/ FORMAÇÃO DO FUNDEF/FUNDEB DIFERENÇA

Fig. 1: Gráfico da comparação do valor recebido do Fundef/Fundeb


com o valor aplicado (em milhões).

Na figura acima o gráfico aponta uma “perda” para o fundo de R$12.017 milhões no primeiro ano
(parte inferior das colunas em cor vermelha), para R$188.909 milhões do último ano. Valores que
representam um aumento de 12,5% na diferença entre o que se é repassado ao fundo e o que retorna desse
recurso. O que evidencia o aumento do número de matrículas nos estabelecimentos de ensino fundamental
municipais, e a redução de matriculas nos estabelecimentos estaduais, demonstrados na fig. 2.

NÚMERO DE MATRÍCULA POR DEPENDÊNCIA ADMINISTRATIVA 1998 A


2008
600.000
500.000
Total de Matrículas

400.000
300.000
200.000
100.000
-
1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

Ensino Fundamental Estadual Ensino Fundamental Municipal

Fig. 2: Gráfico do número de matrícula por depndência


administrativa 1998 a 2008.

335
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Deve-se levar em consideração o fato de que o Fundef atingia apenas o Ensino Fundamental e a
captura de recursos era de 15%, e o Fundeb atinge todas as etapas e modalidades da Educação Básica, com o
aumento da captura de recursos para 20%. A captura de recursos aumenta, mas também aumenta o número
de matrículas municipais considerado para recebimento da receita do Fundeb. O que significa que o estado
de Santa Catarina obteve menos recursos do que efetivamente destinou ao fundo.
A fig. 3, abaixo, apresenta a aplicação dos recursos do Fundef/Fundeb na remuneração dos
profissionais da educação. Os valores referentes ao Fundef estão classificados entre os anos de 2000 a 2006,
e Fundeb nos anos de 2007 e 2008. Nos relatórios do TCE/SC de 1998 e 1999 não foram encontrados esses
dados do Fundef.
O gráfico da fig. 3 apresenta as diferenças entre as aplicações dos recursos repassos pelos fundos na
remuneração do magistério, evidenciando que o governo estadual não aplicou o percentual mínimo de 60%
de repasse obrigátorios para a remuneração do magisterio nos anos de 2000 a 2005 (anos referentes ao
Fundef) como determinou a lei, com uma sobra de recursos no primeiro ano pesquisado (2000) de 22.009
milhões, e de 1.713 milhões em 2005. Entretanto, nos anos de 2006 a 2008 (anos referentes ao Fundeb)
foram investidos recursos da receita acima dos 60%, com investimento de 67.492 milhões no primeiro ano
do Fundeb, e 133.827 milhões no último ano pesquisado. Ou seja, o gráfico apresenta o não cumprimento da
lei nº 9.424/96 no que se refere a valorização do magistério no período do Fundef até 2005, situação depois
revertida.
Os relatórios do TCE/SC [8] em suas discussões apresentaram o problema da não aplicação do
percentual mínimo de 60% nos anos do Fundef, bem como, a plicação de recursos acima do percentual
mínimo no periodo do Fundeb mínimo. Embora, não identifiquem como o montante restante dos 60% foi
efetivamente aplicado nos anos do Fundef.
APLICAÇÃO DOS RECURSOS DO FUNDEF/FUNDEB NA REMUNERAÇÃO DOS PROFISSIONAIS
DO MAGISTÉRIO (Despesas Empenhadas) Em milhões
13.455
17.315

41.676
22.009

1.713
45.473

Total Aplicado em
Rem. Dos profs. do
424.513
395.867

395.415
344.818

355.382

366.037

Magistério
591.181
480.850

792.438

(empenhado/liquida
do)

Valor Mínimo a ser


407.713.212

Aplicado em Rem.
400.855

413.183
366.828

408.871

426.227

Dos Prof. Magistério


538.262
413.358

658.611

(3 * 60%)

Diferença
(52.918)
(67.492)

(133.827)

2.000 2.001 2.002 2.003 2.004 2.005 2.006 2.007 2.008


Fig. 3: Gráfico de aplicação dos recursos do Fundef/Fundeb na
remuneração dos profissioais do magistério.

4. Conclusão
A pesquisa possibilitou a verificação do comportamento do Governo do Estado de Santa Catarina na
aplicação de uma parcela importante de recursos tributários destinada à manutenção de sua rede de ensino.
Com a análise das séries históricas referentes aos recursos destinados aos fundos, pode-se observar
que houve o crescimento progressivo dos recursos pertencentes ao Governo do Estado de Santa Catarina
movimentados pelo Fundef e Fundeb ao longo do período. Contudo, fundamental parcela crescente desses
recursos foi sendo transferida aos municípios ao longo do período devido à municipalização do ensino
fundamental, redistribuídos pelo Fundef e pelo Fundeb, na medida em que a redistribuição acompanha a
realização de matrículas.
No que se refere à remuneração do magistério e dos profissionais da educação, o Governo Estadual
não aplicou o percentual mínimo de 60% dos recursos recebidos do Fundef entre 1998 e 2005, deixando
assim de cumprir a exigência legal. A partir de 2006, último ano do Fundef e início do Fundeb, passou a
aplicar valores acima do mínimo de 60% atendendo a lei.
Esse comportamento do Governo Estadual na aplicação dos recursos dos fundos na remuneração dos
profissionais da educação aponta para a necessidade de outros estudos que examinem detalhadamente o total
da folha de pagamento, para possível análise dos fatores que acarretam essa transformação entre os anos de
vigência dos fundos.

336
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

5. Referências
1. BANCO CENTRAL DO BRASIL. Calculadora do cidadão. Disponível em:
<https://www3.bcb.gov.br/CALCIDADAO/publico/exibirFormCorrecaoValores.do?method=exibirFormCor
recaoValores>. Acesso em: 25 maio 2010.

2. BRASIL. Emenda Constitucional nº 14, de 12 de setembro de 1996. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc14.htm#art5>. Acesso em: 13 jul.
2010.

3. ______. Lei nº 9.424, de 24 de dezembro de 1996. Dispõe sobre o Fundo de Manutenção e


Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/QUADRO/1996.htm>. Acesso em: 13 jul. 2010.

4. ______. Ministério da Educação e do Desporto. Fundef: manual de orientação. Brasília: MEC, 1998.

5. ______. Emenda Constitucional nº 53, de 19 de dezembro de 2006. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc53.htm#art2>. Acesso em: 13 jul.
2010.

6. ______. Lei nº 11.494, de 20 de junho de 2007. Regulamenta o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento


da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação – FUNDEB. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Lei/_leis2007.htm>. Acesso em: 13 jul. 2010.

7. PINTO, José Marcelino de Rezende. Noções gerais sobre o financiamento da educação no Brasil. Eccos -
Revista Científica, São Paulo, v. 8, n. 1, p. 23-46, jan./jun. 2006.

8. TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE SANTA CATARINA - TCE/SC. Relatório e Parecer


Prévio sobre as Contas do Governo do Estado – Exercício 1997-2008. Florianópolis: Tribunal de Contas
do Estado de Santa Catarina, 1998-2009.

Agradecimentos
Ao professor e orientador Doutor Marcos Edgar Bassi por toda a atenção dispensada durante o
processo de elaboração da pesquisa.

337
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

“FORMA SILENCIOSA DE ENSINO”


O ESPAÇO ESCOLAR NO CURRÍCULO DO CENTRO EDUCACIONAL MENINO JESUS:
PRODUZINDO SUBJETIVAÇÕES E IDENTIFICAÇÕES

Carla Regina Hofstatter1; Gladys Mary Ghizoni Teive2


1
Universidade do Estado de Santa Catarina/UDESC

2 Universidade do Estado de Santa Catarina/UDESC

1. Introdução

Este projeto de pesquisa ao nível de Mestrado tem como objetivo principal a análise do espaço escolar de
uma escola privada e católica de Florianópolis: o Centro Educacional Menino Jesus - CEMJ, fundado em 1955 e
dirigido pela congregação das Irmãs Franciscanas de São José. A partir de 1973 esta escola mesclou ao traçado
curricular de viés católico os pressuspostos do Método Montessori, desenvolvido pela médica italiana Maria
Montessori no início do século XX. Surgido no contexto da Escola Nova, este Método propõe, dentre outras
especificidades, um novo desenho espacial para a escola e, especificamente para a sala de aula, adaptando-o as
necessidades infantis e tornando-o auto-educativo, ou seja, capaz de produzir a autonomia na criança.
Tendo como ferramenta de análise as teorizações dos historiadores espanhóis Agustín Escolano Benito e
Antonio Viñao Frago (1998), parto do pressuposto de que o espaço escolar é um mediador cultural em relação a
gênese e formação dos primeiros esquemas cognitivos e motores ou seja, um elemento significativo do currículo,
uma fonte de experiência e aprendizagem”, ou seja, o espaço escolar constitui-se numa “forma silenciosa de
ensino” e, portanto, como currículo. (ESCOLANO BENITO, 1988, p.26-27).
Assim, a forma como o espaço é projetado e utilizado na sala de aula e em outros “lugares” da escola,
contribui para o engendramento de uma determinada cultura escolar, capaz de produzir subjetivações e
identificações bastante particulares. E são justamente estes dois aspectos que pretendo analisar: a produção de
subjetivações e identificações nas crianças a partir de uma determinada configuração espacial, ou seja, que tipo
de significados/sentidos o espaço escolar projetado para o Centro Educacional Menino Jesus pretendia produzir
nos seus alunos e alunas no período recortado para a análise: de 1973 a 1997. A delimitação deste período se
justifica pelo fato de que foi a partir de 1973 que a escola optou pelo método montessoriano, o que resultou
numa reorganização didática do espaço escolar. E termina em 1997, pois este período foi marcado pelo início da
construção de um novo edifício sede, o que sinaliza uma nova ordem na dimensão espacial da instituição.
.
2. Método

Trata-se de uma pesquisa de base documental. A base empírica para tal investigação é constituída de
fontes documentais tais como os programas de ensino e Projetos Pedagógicos da escola, bem como as obras de
autoria de Maria Montessori, fontes iconográficas e entrevistas com as Irmãs da Congregação e corpo docente
que atuou na escola no período estudado.

3. Resultados e Discussão

A partir de leituras sobre a teoria escolanovista e a obra de Maria Montessori em particular, estamos neste
momento realizando sínteses acerca dos pressupostos do método montessoriano, especificamente no que se
refere a concepção acerca do espaço escolar. Num segundo momento analisaremos o currículo do Centro
Educacional Menino Jesus, especialmente os projetos pedagógicos, programas de ensino e outros documentos
produzidos pela Escola, bem como as entrevistas realizadas, sempre focando o olhar na questão específica da

1
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade do Estado de Santa
Catarina – UDESC.
2
Orientadora – Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade do
Estado de Santa Catarina – UDESC.
338
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

nossa pesquisa, qual seja, o espaço escolar, de modo a compreender como esta instituição se apropriou da teoria
montessoriana, incorporando os postulados do método montessoriano em seu currículo e em sua cultura escolar.
Por último, tentaremos desentranhar os sentidos e significados que a incorporação do novo desenho espacial
deveria produzir nas crianças, ou seja, as subjetivações e identificações desejadas.

Fig. 1 Espaço de sala de aula CEMJ Fig. 2 Organização do espaço escolar

Fonte: Acervo particular da autora


Fonte: Acervo particular da autora

Fig. 3 Tapete e Bíblia como instrumento pedagógico Fig. 4 Materiais de vida prática

Fonte: Acervo particular da autora


Fonte: Acervo particular da autora

339
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Fig. 5 Materiais Montessorianos Fig. 6 Sala de aula CEMJ

Fonte: Acervo particular da autora

Fonte: Acervo particular da autora

4. Conclusão

Trata-se, como já foi afirmado, de uma pesquisa em andamento, iniciada neste ano de 2010, não havendo,
portanto, conclusões a serem socializadas.

Referências

ESCOLANO BENITO, Agustín & VIÑAO FRAGO, Antonio (1998). Currículo, Espaço e Subjetividade: a
arquitetura como programa. Rio de Janeiro: DP&A.

* Autora Correspondente: carlahofstatter@hotmail.com

340
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE ENSINO TÉCNICO E TECNOLÓGICO DO IFSC:


Educação, trabalho e as TICs.

Autor¹:Carlos Cezar Silva Hermenegildo*


Autor²: Dra Sônia Maria Martins de Melo
¹Professor IFSC, mestrando PPGE/UDESC
²Orientadora e professora do PPGE/UDESC

1. Introdução:
As tensões existentes entre Educação e Trabalho e o alargamento da lacuna entre o Professor
Especialista e o Educador, inserindo-o em um contexto de preocupações humanas e socais perpassando o
desenvolvimento científico tecnológico, faz parte da conjuntura do ensino profissionalizante. A visão
unilateral que garanta a formação tecnológica também distancia os professores de uma educação com
perspectiva de desenvolvimento humanista, solidário e includente. As TICs e sua penetração no ambiente
escolar criam embates conflitantes mas não excludentes entre formação, competência e confiança dos
docentes nas multimídias. Analisar estes fatores no cotidiano do IFSC faz parte do projeto de mestrado,
sendo a principal ênfase do artigo uma síntese desta proposta.
Em países como o Brasil, onde desigualdades sociais, sistemas de educação e saúde pública precários, baixa
cidadania, entre outros problemas, normalmente busca-se soluções (emergenciais) para a solução ou redução
dos mesmos.
“Poucos países juntaram, como o Brasil, tijolos e cimentos tão díspares em seu processo de constituição.
Poucos também experimentaram vicissitudes que mostram de forma tão clara os caminhos elos quais uma
nação constitui-se não para servir a si mesma, mas para atender os interesses alheios”.[1]
As características do processo produtivo, a informatização, a grande velocidade de processamento e
transmissão de informações, dentre elas, ocasionam sucessivas e contínuas transformações na sociedade,
particularmente em suas relações sociais e profissionais, trazendo a tona questões que, além de afetar a
escola, agitam, desestabilizam e estratificam a vida pedagógica dos professores.
Os professores incluem-se dentre um dos grupos protagonistas no processo de mudança (ou não) social, por
esta razão é primordial a consciência do lugar e do papel que representam no contexto histórico. A
profissionalização docente envolve a formação inicial e continuada, neste aspecto alertamos para o hiato que
ocorre entre a formação acadêmica e a prática pedagógica. Os currículos dos cursos de formação de
professores são desenvolvidos distanciados da realidade das escolas, principalmente daquelas onde se oferta
a educação profissionalizante, onde o modelo tecnicista esta impregnado no processo de ensino e currículo.
Os conteúdos ministrados são carregados de teorias e práticas que desconsideram a conjuntura vivenciada
pelos alunos e professores, em seu contexto social.
“No ensino técnico, na atual educação profissional, é um fato constatado que os profissionais graduados em
engenharias e os de nível técnico não apresentam, de modo geral, uma opção pelo magistério. Ingressam no
sistema educacional, com relativa experiência profissional, em sua maioria, porém sem tempo disponível
para desenvolver ou receber uma formação adequada na sua atuação pedagógica.” [2]
É importante apresentar algumas considerações sobre a formação de professores para a Educação
Profissional, a insistência em propostas paliativas, onde em sua maioria nem mesmo essas são utilizadas, é
descaracterizar o contexto em que vivemos. A formação de docentes para a educação profissional exige
neste momento, não só reflexão, mas ações políticas e pedagógicas, ações de governo integradas com ações
nas escolas, impulsionando a educação profissional, numa vertente não só técnica, mas também humanista.
Nas atividades docentes, quando nos propomos a usar novos artefatos tecnológicos, consideremos que eles
possam trazer latente em seu bojo uma possibilidade de mudança, pela sua especificidade e pelos desafios
particulares que produz. Se avaliarmos sua positividade as TICs (tecnologia de informação e comunicação)
constituem ferramentas que, de alguma maneira, virtualizaram o homem. Tal consideração não exclui
reflexões que vêm crescentemente apontando para os inúmeros problemas com os quais se defronta a
humanidade na modernidade, desde as primeiras máquinas a vapor até essa era midiática. O mundo natural
do homem é um mundo com as tecnologias, conscientes da ideologicidade das mesmas devemos ter sempre
o olhar crítico, para que possamos adequadamente incorporar os artefatos tecnológicos no processo de
ensino aprendizagem e não por eles ser incorporados. Ponderando sobre a utilização destas novas
tecnologias de informação e comunicação na formação de professores, pois não raras às vezes sua
*
carlosh@ifsc.edu.br

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

adequação ao modelo educacional e curricular não é avaliado. Os novos Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCN) indicam a necessidade de se incluir o ensino de tecnologia nas escolas, tanto do nível médio como do
fundamental, porém, os professores têm que estar preparados, com competência e confiança para assumirem
seu papel neste processo.
Esta conjuntura ocasiona e as tensões existentes entre educação e trabalho, acarretam transformações sociais
políticos e econômicos, particularmente em suas relações profissionais, trazendo a tona questões que, além
de afetar a escola, agitam, desestabilizam e estratificam a vida pedagógica dos professores.

2. Metodologia:
O ambiente da pesquisa será o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina
– IFSC serão analisados a formação docente, as relações e tensões entre educação, trabalho e as TICs
emergentes, em várias turmas de cursos profissionalizantes integrados presenciais e semipresenciais.
A coleta de dados será realizada por dois métodos:
 Entrevistas semi-estruturadas;
 Questionários;
Realizada a coleta de dados, seguem-se as tarefas da análise e discussão dos resultados obtidos;
O método de aquisição das informações será realizado de forma diferenciada, adequadas a professores e
alunos; resultando em um sistema de amostragem posteriormente organizadas em planilhas e gráficos;
Os resultados tabulados terão uma avaliação comparativa, analisando a evolução das turmas com a
utilização das experiências nos ambientes virtuais, reais e ambos;
Para obtenção de um diagnóstico realístico, a coleta das informações será feita em um semestres (4 meses);
Após a obtenção dos vários fatores influentes nas amostras, serão definidos quais os mais relevantes para o
projeto;
Produzir uma modelagem do diagnóstico, propondo uma reavaliação conjunta com a Instituição de Ensino
pesquisada.

Desenvolvimento:
A docência exige um permanente olhar atento para a realidade da escola, para seu momento histórico-
social, onde a prática docente e pedagógica é dinamizada. Portanto, a identidade do professor é
constantemente construída a partir da compreensão da realidade social e da investigação de sua própria
atividade docente.
“Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda. Se a nossa opção
é progressista, se estamos a favor da vida e não da morte, da eqüidade e não da injustiça, do direito e não do
arbítrio, da convivência com o diferente e não de sua negação, não temos outro caminho se não viver
plenamente a nossa opção. Encarná-la, diminuindo assim a distância entre o que fizemos e o que fazemos.”
[3]
Os saberes da docência são constituídos da experiência, do conhecimento e dos saberes pedagógicos. O
professor, através da própria experiência como aluno, vai criando imagens de diferentes professores que
passaram por sua vida escolar, formando representações, somando ainda o próprio exercício profissional em
diversos ambientes escolares, os estereótipos criados pela mídia, por outros profissionais e pelos próprios
colegas de trabalho.
Os saberes da experiência também são formados a partir da ação e da reflexão sobre sua própria prática. O
conhecimento não se limita a um processo intelectual sistematizado, alcança uma perspectiva mais
abrangente enquanto prática social, humanizadora, e através de um trabalho coletivo e interdisciplinar
fornece subsídios para uma inserção social crítica e transformadora. Toda problemática que envolve a
formação de professores para o ensino técnico está numa relação complexa que se estabelece através do
binômio educação/trabalho, imposição causada pela sociedade industrial que valoriza a operacionalização
do conhecimento. Para tornar-se um docente do ensino técnico é necessária a interação dos saberes
construídos através das práticas sociais desenvolvidas no ambiente escolar com os de sua prática
profissional do mundo do trabalho, cujo resultado proporcionará uma maior compreensão de sua ação
educativa como profissional do mercado de trabalho.
A Resolução CNE/CEB n.º 02/97 é o documento que regulamenta e exige uma formação específica para
profissionais que já possuem um diploma de nível superior, de modo a atuarem na educação profissional
através de programas especiais de formação pedagógica. A resolução ainda facilita esta formação,
flexibilizando através da metodologia semipresencial, na modalidade de ensino a distância, a parte teórica
do programa.

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Na realidade os professores quando passam a atuar na docência do ensino profissionalizante, em sua


maioria, fazem-no sem qualquer habilitação própria para ensinar. Se for oriundo das áreas da educação ou
licenciatura, teve chances de discutir elementos teóricos e práticos relativos à questão do ensino-
aprendizagem, ainda que direcionados. Observando-se que até mesmo nos cursos de licenciatura e pós-
graduação em docência do ensino superior, encontra-se um índice muito baixo de disciplinas que enfoquem
os processos educacionais específicos: métodos e metodologias, avaliação, planejamento, o projeto político
pedagógico, as novas tecnologias na educação e suas implicações.
Pode-se exemplificar a afirmativa acima, analisando as grades curriculares dos cursos de pós-graduação em
docência do ensino superior, em sua maioria, encontra-se somente uma disciplina que aborde
especificamente a prática pedagógica, a didática. Alguns profissionais percebem esta deficiência e buscam
outra formação: mestrado ou doutorado, que exigem através da coordenação de aperfeiçoamento de pessoal
de nível superior, ou cursando disciplinas isoladas nessa área. Esse fato reforça a idéia anteriormente citada
da importância da preparação necessária ao exercício da docência. Os cursos oferecidos aos docentes
precisam contemplar todas as questões relativas ao magistério. Acrescido ainda, da busca de uma formação
continuada pelo professor que poderá, então, construir sua prática de forma também autodidata, partindo da
troca de experiências com outros professores e da busca de novas informações sistematizadas pelo curso que
elegeu.Essas iniciativas não constituem regra geral, pois erroneamente há certo consenso de que a docência
no ensino profissionalizante não requer formação no campo de ensinar. Pra essas pessoas, seria o suficiente
o domínio de conhecimentos específicos, pois o que a identifica é a pesquisa e/ou exercício profissional do
campo.
Outro tema recorrente na literatura educacional esta associado à autonomia. Esse tema é marcante em obras
de educadores como Anísio Teixeira, Dewey, Piaget, Paulo Freire, entre outros. O primeiro desses
significados ganhou maior relevância com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases (LDB 9394/96) que
diz respeito à autonomia relacionada à unidade escolar de construir sua identidade através do projeto
político pedagógico, do planejamento e da execução de tarefas inerentes.
O outro conceito abordaria a autonomia como um ideal pedagógico de desenvolvimento de capacidades ou
competências do aluno. Nesta vertente a autonomia está intimamente ligada à autoridade do docente. E é
exatamente neste último sentido, que se concebe autonomia como um ideal de formação do aluno e de suas
relações com a autoridade do professor.
Freire (1996) destaca que à formação de professores, deve estar inserida numa reflexão sobre a prática
educativa em favor da autonomia dos alunos, pois formar é muito mais do que simplesmente educar.
Existem algumas relações que nunca podem ser desenlaçadas, para que a pedagogia da autonomia seja
aplicável: ensino dos conteúdos com formação ética dos educandos, prática com teoria, autoridade com
liberdade, respeito ao professor com respeito ao aluno, ensinar com aprender. Contudo, deve ficar muito
claro para o educador que a autonomia não vem de um dia para o outro, leva tempo para ser construída.

Conclusão:
A partir da crítica da realidade vigentes na prática escolar brasileira, pretende-se evidenciar
possibilidades de uma formação pedagógica desaguada em uma didática crítico-social dentro de um
contexto concreto das contradições e lutas da sociedade.
“A ciência da educação deve centrar-se na análise das condições concretas de vida dos homens, das suas
necessidades e interesses concretos, assim como de suas contradições e lutas concretas”. [4]
Querer separar a realidade da sociedade e a escola é exigir neutralidade no trabalho docente, neutralidade da
educação em relação à conjuntura político-social e econômica, é “crer” que a escola consegue ficar em uma
redoma só de conteúdos propedêuticos.
A contribuição da escola para a democratização e redução das desigualdades sociais, passa pelo
cumprimento da função que lhe é própria: transmissão-assimilação ativa-reavaliação crítica, para o saber
sistematizado. A incorporação das TICs no processo ensino aprendizagem não deve passar só por
incorporação do artefato tecnológico deve sim fazer parte de um projeto político pedagógico articulado entre
currículo, formação dos professores e capacitação dos outros profissionais da educação envolvidos com a
dinâmica do processo.

Referências Bibliográficas:
DRUCKER, Peter F., A sociedade pós-capitalista. 2ª ed. São Paulo: Pioneira, 1993.
FERNANDES, Maria Nilza de Oliveira, Líder-educador: Novas formas de gerenciamento. Petrópolis:
Vozes, 2001.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

FERNANDES, Maria Nilza de Oliveira. Líder-educador: Novas formas de gerenciamento. [2]


FREIRE, Paulo, Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 27ª ed. São Paulo: Paz e
Terra, 1996. [3]
GALLO, Gaspar J. C.. A Concepção Marxista sobre Escola e Educação. [4]
LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência. O Futuro do pensamento na era da informática. Rio de
Janeiro: Ed. 34, 2003.
LIBÂNEO, José Carlos, Pedagogia e pedagogos, para quê? São Paulo: Cortez, 1998.
______________. Democratização da Escola, A pedagogia crítico social dos conteúdos. 1ª Ed. São Paulo,
Edições Loyola, 1984
LIMA, Elvira Souza, A função antropológica de ensinar. São Paulo: Revista Nova Escola, 2000.
MARX, K., A Ideologia Alemã, Lisboa, Editorial Presença.
PIMENTA, Selma Garrido; ANASTASIOU, Lea das Graças C., Docência no ensino superior. São Paulo:
Cortez, 2002.
RIBEIRO, Darcy, Os Brasileiros: 1. Teoria do Brasil. Petrópolis, Vozes, 1978. [1]
SAVIANI, Demerval, Escola e Democracia. São Paulo: Cortez, Ed. Associados, 1983

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Implicações da Especialização PROEJA para a formação do docente.

Édice Cechinel1*; Suzy Pascoali1


1
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina – Campus Araranguá

1. Introdução
Impossível falar de qualidade do ensino sem falar da formação dos professores. As transformações
sociais geram transformações no ensino. Baseada nas diferentes áreas de formação dos alunos da turma da
especialização: física, matemática, letras, administração, moda, engenharia, biologia, ciências, história,
pedagogia e fundamentada na percepção e sentimento de que não basta o professor ter o conhecimento
técnico e cientifico de sua área, mas que também precisa de muita pedagogia, andragogia e didática para
conseguir exercer o papel de docente, é que proponho o desenvolvimento deste estudo sobre a importância
desta especialização na atuação do professor PROEJA.
Quais as concepções que os docentes têm a respeito de PROEJA? Até que ponto conhecem o
documento base e lei que estabelecem esta modalidade de ensino? Quais suas concepções sobre a educação
profissional? Como estes profissionais da educação compreendem sua atividade de docência junto aos jovens
e adultos? Como conduzem sua atuação para a reflexão do contexto vivenciado? Será que os profissionais
estão preparados para avaliar os sujeitos da EJA? Em que as reflexões promovidas em sala de aula têm
contribuído para a atuação? O objetivo principal é mostrar a importância da formação dos docentes que já
atuam ou pretendem trabalhar nesta modalidade. São grandes os desafios que o docente PROEJA enfrenta,
mas manter-se atualizado, e desenvolver práticas pedagógicas eficientes, são os principais. .

2. Método
Tive a oportunidade de participar da pesquisa realizada pelo Instituto Federal de Educação Ciência e
tecnologia para definição do projeto do curso de PROEJA a ser realizado no Campus. Ao entrar na Vila,
pode-se perceber a diversidade de “problemas” enfrentados pela comunidade, e isso nos conduz a uma
reflexão ainda maior sobre o que é educação, como mudar esse quadro, como incentiva-los a alfabetização e
o letramento.
Essa experiência foi lembrada em sala de aula e algumas vezes citada como exemplo de prováveis
alunos que estarão freqüentando nossas classes em breve, e isso nos leva a um posicionamento sobre até que
ponto estamos realmente preparados para ajudar a promover essa transformação. A partir deste momento é
que começaram a surgir as concepções e conceitos sobre PROEJA e também o interesse neste assunto.

3. Resultados e Discussão
Este profissional vai conviver com as mais variadas experiências, são alunos que se encontram em
diferentes contextos e que buscam na sala de aula uma oportunidade para melhorar suas relações familiares,
sociais e de trabalho. Este profissional precisa saber lidar e compreender diversos problemas e necessidades
vividas por este tipo de aluno, que na grande maioria foge de suas dificuldades ou encaram de forma errada,
são os marginalizados, excluídos, perseguidos, envolvidos com o tráfico de drogas, prostitutas, bandidos,
pais e mães desempregados, muitos sem dignidade.
Afinal aprendemos na especialização que estes alunos são especiais e que trazem consigo uma grande
bagagem que é experiência de vida, embora muitas vezes fracassadas ou desmotivadas, pelo sistema social
em que vivem. Eles estão na escola, mas envoltos de vários outros problemas e dificuldades que impedem de
terem sucesso. Falta planejamento familiar, oportunidade de trabalho, saneamento, saúde, higiene.
Encontram-se excluídos da sociedade. Este profissional enfrenta o desfio de ensinar muitos que tem idade de
serem seus pais, que tem muito mais experiência de vida que o próprio professor, mas que vive escondido,
calado, perdido no mundo, sem educação, sem escolarização, sem muitas perspectivas. São alunos que
chegam cansados, outros muitas vezes desmotivados com a miséria e a falta de estrutura, vítimas da
ignorância, a classe fica cheia de homens e mulheres em diferentes situações, mas com o mesmo objetivo
neste momento: aprender.
O PROEJA é uma oportunidade para jovens e adultos darem continuidade a sua formação que por
hora e por vários motivos foram interrompidos, é uma oportunidade para aprender a sonhar mais, a lutar
pelos direitos, a querer viver, a buscar melhorias, aprender a reinventar seus caminhos e mudar sua história
de vida, um programa que veio para integrar a escolaridade com a profissão.
Não é tarefa fácil para o professor, que se torna para a maioria destes sujeitos, o exemplo, precisa dar
muita atenção, ter muito cuidado com as palavras, com as citações, estar com olhos e ouvidos voltados as

*
Autor Correspondente: edice@ifsc.edu.br
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expectativas destes alunos e saber conduzi-los para que através da aprendizagem estes sonhos se
concretizem.
O aluno PROEJA é protegido e amparado por Lei. O PROEJA foi instituído pelo Decreto nº 5.840,
de 13 de julho de 2006 e manifesta uma determinação governamental de atender à demanda de jovens e
adultos pela oferta de educação profissional técnica de nível fundamental e médio.
[...] o preparo de um docente voltado para a EJA deve incluir, além das exigências formativas
para todo e qualquer professor, aquelas relativas à complexidade diferencial desta modalidade de ensino.
Assim esse profissional do magistério deve estar preparado para interagir empaticamente com esta parcela de
estudantes e de estabelecer o exercício do diálogo. Jamais um professor aligeirado ou motivado apenas pela
boa vontade ou por um voluntariado idealista e sim um docente que se nutra do geral e também das
especificidades que a habilitação como formação sistemática requer [1].
A formação do professor deve ser um processo contínuo, e segundo Nóvoa [4]: “A troca de
experiências e a partilha de saberes consolidam espaços de formação mútua, nos quais cada professor é
chamado a desempenhar, simultaneamente, o papel de formador e de formando.” O conhecimento que
permite o desenvolvimento mental se dá na relação com os outros. Nessa perspectiva o professor constrói sua
formação fortalecendo e enriquecendo seu aprendizado. A busca por uma formação baseada em teorias traz
para o professor não só o saber em sala de aula, ele aprende as questões da educação, as diversas práticas
analisadas na perspectiva histórico, sócio-cultural. O professor precisa também, enxergar e reconhecer o
desenvolvimento do seu aluno nos seus múltiplos aspectos: afetivo, cognitivo, e social, bem como refletir
criticamente sobre seu papel diante de seus alunos e da sociedade. Estudos mostram que existe a
necessidade de que o professor seja capaz de refletir sobre sua prática e direcioná-la segundo a realidade em
que atua, pois somente assim poderá, compreender e agir melhor nesta complexa atividade de ensinar e
aprender. Donald Schön, foi idealizador do conceito de professor prático-reflexivo, percebeu que em várias
profissões, não apenas na prática docente, existem situações conflitantes, desafiantes, que a aplicação de
técnicas convencionais, simplesmente não resolvem os problemas, em cada caso se faz necessária reflexões
profundas, buscando a melhor saída.
E Paulo Freire [3] reforça: “Por isso é que, na formação permanente dos professores, o momento
fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem
que se pode melhorar a próxima prática. O próprio discurso teórico,necessário à reflexão crítica, tem de ser
de tal modo concreto que quase se confunda com a prática. O seu “distanciamento” epistemológico da
prática enquanto objeto de sua análise, deve dela “aproximá-lo” ao máximo.”
Neste mesmo sentindo cita-se Pimenta [5]:“O saber docente não é formado apenas da prática, sendo também
nutrido pelas teorias da educação. Dessa forma, a teoria tem importância fundamental na formação dos
docentes, pois dota os sujeitos de variados pontos de vista para uma ação contextualizada, oferecendo
perspectiva de análise para que os professores compreendam os contextos históricos, sociais, culturais,
organizacionais e de si próprios como profissionais.”
A formação do docente voltado para a EJA, deve ir além da formação dos demais professores. É
preciso conhecer e refletir sobre quem é o educando PROEJA: suas marcas, sua vida, sua história, suas
características e anseios. Este profissional deve propiciar o diálogo, a acolhida e a orientação.
"O que se pretende é uma integração epistemológica, de conteúdos, de metodologias e de práticas
educativas. Refere-se a uma integração teoria-prática, entre o saber e o fazer. Em relação ao currículo pode
ser traduzido em termos de integração entre uma formação humana mais geral, uma formação para o ensino
médio e para a formação profissional"[2].
A especialização proporciona o aperfeiçoamento e desenvolvimento do pensamento e atuação do
professor neste contexto. Vários foram os momentos de reflexão sobre o tema na sala de aula e não podemos
concluir dizendo apenas que a especialização seja importante, mas também que ela enriquece a cada um dos
professores que dela participam. Essa formação deveria ser formação continuada, acompanhando todas as
mudanças que esta profissão precisa enfrentar, tornando o professor capaz de lidar com as transformações
econômicas, sociais, políticas, culturais e locais. É grande a responsabilidade do professor, pois a missão é
ser transformador, através da alfabetização e principalmente do letramento, conduzir este processo de ensino
aprendizagem aos jovens e adultos. A especialização promoveu em vários momentos a troca de experiências,
a reflexão e tratou as expectativas dos alunos. Baseada em toda essa reflexão, tomo a liberdade de citar
minha colega Cleusa que relata sua experiência e afirma que:
“esta especialização veio nos completar no entendimento e compreensão do que realmente é a educação de
jovens e adultos. Pois eu sou formada em Pedagogia séries iniciais, mas desde o primeiro semestre trabalhei
como voluntária na alfabetização de Jovens e Adultos por dois anos, e dois anos no Brasil Alfabetizado. Hoje
a dois anos trabalho com teles sala (Ensino Fundamental e médio), para jovens e adultos e reafirmo então
que a especialização veio me trazer mais uma oportunidade de me manter na educação de Jovens e Adultos “

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Cito também o colega Jucelio quando diz que “esse curso de pós-graduação dá incentivo e
esclarecimento para que continuemos na busca de aprimoramento em nossas áreas de atuação, melhorando
assim, a formação do nosso aluno”. Com base no diálogo e a partir das concepções a respeito da prática de
alguns participantes da especialização, através de experiências e saberes como educador, podemos observar
através das atividades em sala que esta especialização tem proporcionado diferença na vida dos professores..
Cada disciplina tem levado a construir uma nova forma de pensar e agir nas diversas situações, desde o
estudo dos documentos, leis e diretrizes até o estudo das atitudes, comportamentos e desenvolvimento do
professor.

4. Conclusão
Não consigo imaginar um professor atuando na EJA sem ter antes feito a especalização. Pois além do
conteúdo, a sensibilização e os sentimentos desse professor deve ser despertado e acompanhado, para que
possa na escola dar conta de compreender e ajudar seus alunos nos desfios ensio/aprendizagem de cada um.

Referências
[1] BARCELOS, Valdo. Formação de Professores para educação de Jovens e Adultos. Petrópolis. RJ:
Vozes, 2006.
[2] DOCUMENTO BASE PROEJA. Disponível em: http://forumeja.org.br/pf/files/doc_base_25_01_07.pdf
acesso em: 02 jun.2009.
[3] FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 34ª edição. São Paulo:
Paz e Terra, 2006.
[4] NÓVOA, Antonio. (coord). Os professores e sua formação. Lisboa-Portugal, Dom Quixote, 1997.
[5] PIMENTA, Selma Garrido, GUEDIN, Evandro (Orgs.). Professor reflexivo no Brasil: gênese e crítica de
um processo. 3 ed. São Paulo: Cortez, 2005

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INTERLIGAÇÕES ENTRE TEORIA E PRÁTICA: POLÍTICA INCLUSIVA E


REALIDADE ESCOLAR

Maureline Petersen1*; Leandra Bôer Possa2


1
Universidade Federal de Santa Maria
2
Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução
Trabalhar com teoria e prática é uma perspectiva que nos traz a possibilidade de analisar
significativamente como uma implica significados e expectativas à outra. Com este trabalho foi esse
confronto que realizamos, analisando a Política de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva
[1] e como a mesma vem sendo contemplada nas realidades escolares dos municípios da AMCENTRO -
Associação dos Municípios do Centro do Estado do Rio Grande do Sul. Teve-se como foco central da
pesquisa saber como esta ocorrendo o atendimento das pessoas com déficit cognitivo e alto
comprometimento neuropsicomotor (que no decorrer do trabalha chamarei de alunos com ACN) em tais
municípios através da resposta ao questionário, instrumento utilizado para obtenção de tais dados.
Sendo assim, com esse trabalho formulou-se um panorama sucinto de como esses atendimentos estão
ocorrendo em 7 cidades da região central do estado do Rio Grande do Sul e como esse cenário tem relação
com a política, seus consensos e dissensos.

2. Método
Para o desenvolvimento desta pesquisa, então, buscamos nos debruçar sobre dados que foram
coletados junto as secretarias municipais de educação da região centro do estado do Rio Grande do Sul,
sendo que o instrumento de coleta de dados versava sobre o atendimento de pessoas com alto
comprometimento neuropsicomotor no espaço e tempo que a escola pública se projeta na perspectiva
inclusiva.
Neste sentido, foi organizado um instrumento de coleta de dados em forma de questionário com 8
questões, sendo este enviado por e-mail para os 34 municípios pertencentes a AMCENTRO. Para confirmar
o recebimento dos instrumentos e sanar dúvidas que se apresentassem em torno da pesquisa foi feito contato
telefônico com todos os municípios.
Elaboramos o questionário com perguntas de múltipla escolha, que apresentavam possibilidades
distintas de respostas, pois compreendia que a realidade não podia se situar na simplicidade binômica de uma
tese e antítese simples. Além das alternativas fechadas, as questões a serem respondidas foram combinadas
com questões abertas, possibilitando que as mesmas pudessem ser justificadas ou respondidas de outra
maneira caso as opções não favorecessem a resposta que o município gostaria de dar.

3. Resultados e Discussão
Sabemos que atualmente o movimento inclusivo está amplamente difundido, e muitas pessoas vem
lutando por esse ideal educacional e social para que as pessoas com necessidades educacionais especiais
possam assim fazer parte da rede social em que todos estamos incluídos. Para tanto, já foram elaborados
vários decretos, leis, artigos, etc. que pretendem dar suporte para esses ideais, sendo uma delas a Política
Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (PNEEPEI) que foi elaborado pelo
Grupo de Trabalho nomeado pela Portaria nº555/2007, prorrogada pela Portaria nº. 948/2007, entregue ao
Ministro da Educação em 07 de janeiro de 2008.
Abordaremos a política citada acima juntamente com algumas reflexões realizadas a partir dos
questionários respondidos por 7 cidades da AMCENTRO que nos auxiliaram nesta jornada investigativa.
Para tanto, será formulada uma discussão breve sobre o porquê de cada uma das perguntas, e então como
elas foram respondidas por alguns dos municípios, fazendo assim uma discussão sobre os tópicos mais
relevantes de algumas das cidades.
Ressaltamos que não estamos aqui para criticar ou idolatrar nenhum dos municípios, mas sim para
realizar uma análise crítica com relação a discrepância do que vem sendo imposto através das políticas e do
que vem sendo realizado na prática. Não temos contato com nenhum dos municípios, então acreditamos que
os mesmos estão realizando seu trabalho da forma possível e que acreditam ser a adequada, não cabendo a
nós produzir juízo de valor.

*
Maureline Petersen: maureline.petersen@yahoo.com.br
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Iniciamos então as análises; a questão A refere-se ao encaminhamento dos alunos com ACN para
atendimento educacional especializado1 (AEE), pensando em determinar assim qual o panorama de cada
cidade, se eram ainda atendidos na APAE, em escolas regulares, etc.
Analisando os dados, observamos que a maioria dos encaminhamentos de crianças com ACN é
realizado para as APAEs (5 dos 7 municípios), contrariando as determinações da PNEEPEI. Das 7 cidades,
apenas 3 salientaram que realizam encaminhamento para atendimento educacional especializado nas escolas
regulares, o que seria o ideal, mas não expuseram se esses alunos estão incluídos nas salas regulares, se só
recebem o AEE separadamente como substituto ao ensino regular ou se ainda se mantêm salas de Educação
Especial.
Um dos municípios ainda salienta o encaminhamento somente para uma escola especial do mesmo, o
que não deveria mais ocorrer depois da política de inclusão. Com isso podemos notar como a política ainda
não dá conta de ser realizada na realidade dos sistemas de educação e o quanto é limitada nas orientações
sobre o atendimento das especificidades destes alunos.
Na questão B, quisemos saber quem está realizando a avaliação destes alunos, tanto para saber qual a
maneira como isto está ocorrendo nos municípios, como para verificar também se ainda temos resquícios da
concepção clínico-terapêutica da Educação Especial nos discursos de alguns municípios.
Nesta questão, pudemos constatar que a maioria dos municípios afirmou que a realização da avaliação
destes alunos ocorre através do Educador Especial, porém, na maioria delas aparece a preocupação em
salientar que também ocorria algum atendimento clínico, por ex: “O educador especial realiza sua avaliação,
procurando trabalhar em equipe multidisciplinar com psicólogo e fonoaudiólogo e outros profissionais,
conforme a especificidade da deficiência, em regime de parceria.” O que muitas vezes traz uma visão
clínico-terapêutica com relação ao atendimento e ao trabalho com este público.
Infelizmente estes panoramas são comprometedores, pois a avaliação inicial e continuada destes
alunos é fator importante para um bom atendimento e também para um encaminhamento adequado, como a
própria política ressalta mas com certeza não preocupa-se em assegurar.
Porém, um dos municípios tem outra visão, que se refere ao trabalho em equipes multidisciplinares,
que é um fator bem importante com relação a avaliação e ao atendimento desses alunos, ela cita que:

Em virtude dessa “parceria” com a APAE a criança já vem com uma avaliação prévia de
diversos profissionais como Educador Especial, Psicólogo, Fonoaudiólogo, Fisioterapeuta e
também Assistente Social. Porém quando a criança chega à escola sem passar pela APAE a
educadora especial responsável procura a APAE ou a saúde pública (SUS) a fim de buscar
maiores informações sobre o caso em questão e assim auxiliar nos atendimentos
necessários, porém essa tarefa se torna difícil, pois não temos uma equipe formada para tal.

Essa visão de um trabalho multidisciplinar é interessante, pois assim pode ter-se um desenvolvimento
mais satisfatório de cada aluno através da conversa e da troca de experiência entre profissionais.
Voltamo-nos então para a pergunta C, que questionava quem seriam os responsáveis pela realização de
atendimento dos alunos com alto comprometimento, pudemos notar que a maioria dos municípios citou que
a realização dos atendimentos está ocorrendo pelo Educador Especial, o que é muito bom, pois seria o que
idealizamos e o que a política inclusiva almeja. Porém, pode-se ainda notar a grande presença de
atendimentos realizados somente por psicólogo, ainda ressaltando atendimentos como fonoaudiólogo e
fisioterapeuta; além de um dos municípios ressaltar que esses alunos não recebem atendimento algum. Neste
sentido nota-se a visão clínico - terapêutica como balizadora da visão de alguns destes municípios com
relação ao atendimento destes alunos.
Iniciamos a análise da questão D, a qual questiona a maneira como a Secretaria de Educação de cada
município considera que está ocorrendo a implementação de atendimentos especializados dos alunos com
ACN.
As respostas foram diferenciadas, com uma porcentagem de 60% dos municípios respondendo que não
ocorre este atendimento e 40% ressaltando que considera que este atendimento está ocorrendo de forma
satisfatória em seu município. Porém, as justificativas foram as mais diversificadas, vejamos uma:

Trabalhamos com os professores algumas alternativas de atendimento, pois os alunos estão


inclusos, mas não há uma preparação ou formação por parte dos professores. Para esse fim,

1
[...]esse atendimento refere-se ao que é necessariamente diferente da educação em escolas comuns e que é necessário
para melhor atender às especificidades dos alunos com deficiência, complementando a educação escolar e devendo estar
disponível em todos os níveis de ensino. (BATISTA e MANTOAN, 2006, p. 9) [2]
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

o município está desenvolvendo um curso de pós graduação em educação especial,


procurando assim, possibilitar a formação e preparação de 5 professores da rede.

Analisando esta resposta, podemos notar que o município está tentando se especializar para melhor
atender aos alunos, mas que não relatou nada de como está ocorrendo este atendimento já que os alunos já
estão incluídos.
Essa questão demonstra claramente que o panorama de educação inclusiva que está sendo imposto
pelas políticas não vem sendo oportunizado, pois os municípios admitem, na maioria das vezes não ter
condições para realizar um bom atendimento, não tendo profissionais capacitados, local e material para um
bom atendimento, etc. tudo o que está previsto na política não está ocorrendo na prática na maioria das
vezes.
Com relação à questão E, a qual questionava sobre as condições que tem as escolas do município para
receber alunos com ACN e de dar a esses alunos condições de aprendizagem e desenvolvimento global,
notamos que 4 dos municípios responderam não ter condições para realizar um atendimento satisfatório e 3
responderam considerar ter condições para tal.
Das que responderam considerar não ter condições, duas se justificam pela falta de preparação do
professor, sendo que uma delas ainda ressalta a ausência de material adequado; uma das cidades justificou
sua resposta salientando que “ainda não temos equipe técnica completa na rede para estes atendimentos, as
salas multifuncionais demandadas no PAR ainda não chegaram e os professores inscritos para capacitação
aguardam o início da mesma.” Estas respostas completam o que foi evidenciado em algumas respostas à
questão D, já que as condições adequadas para o atendimento dos alunos com ACN não é evidenciado nos
mesmos.
Das escolas que responderam positivamente, considerando ter capacidade para realizar um bom
atendimento para estes alunos uma ressalta que “Temos professores cursando especialização em AEE e a
Secretaria de Educação promove formação continuada de professores. Considero que o preparo para o
atendimento ainda não é completo, ainda é preciso muito estudo e comprometimento de toda equipe de
profissionais da educação e parcerias para termos um resultado positivo na inclusão desses alunos.” É um
relato positivo, mas que demonstra o desejo destes municípios em realizar um bom trabalho, porém, também
destacam que agem com o que tem, sempre almejando a melhoria deste trabalho.
A questão F questionava se os municípios tinham alguma política que legitimasse a Educação Especial
no mesmo, e nesta questão somente um dos municípios respondeu positivamente. Sendo então, o único que
respondeu a questão G, pois a mesma era somente para aqueles que responderam Sim na questão F.
A questão G questionava o que nestes documentos regulamenta o atendimento de alunos com ACN e a
resposta do município foi de que o mesmo “possui seu sistema próprio, representado através do Conselho
Municipal de Educação, que normatizou a Educação Especial, bem como o público alvo para o atendimento
nas salas de recursos multifuncional.” Porém, mesmo sendo o único município a responder, e sabendo que é
o único que tem uma normatização com relação a Educação Especial, a resposta restrita do município não
possibilitou saber quais são estes parâmetros e se eles colaboram para o atendimento do alunado em questão.
Seguimos então para a última questão, que era somente para se os municípios quisessem ressaltar
algum assunto que considerassem relevante, somente os municípios 1, 2, 3 e 7 responderam.
O que ressaltou um dos outros municípios foi o seguinte:

A principal questão a ser levantada é a recusa dos professores em aceitar as mudanças que
a inclusão prevê, isso trava de certa maneira o trabalho dos educadores especiais, é
necessário salientar que não são todos, alguns são verdadeiros parceiros nessa caminhada.
Outra questão é a difícil tarefa de buscar a participação dos pais na vida escolar dos filhos
com necessidades especiais.
Também em nosso município a falta de uma equipe multidisciplinar para que consigamos
agilizar tarefas que não são da ossada do educador, mas que se fosse trabalhado em
conjunto daria maior resultado.
OBS: Nosso município está implementando um projeto que busca esta equipe.

O que é relatado acima é com certeza a reclamação de muitos Educadores Especiais, problemas
decorrentes do processo inclusivo, como a falta de interesse de alguns professores e pais, além da falta de
recursos para contratação de pessoal especializado para que possa ser realizado um trabalho multidisciplinar
que possa dar suporte real aos alunos incluídos.
O último município a responder só salientou que “estamos procurando melhorar nossas condições de
atendimento, buscando um espaço adequado para o trabalho desenvolvido.” O que também foi ressaltado
pelos outros municípios, já que o problema de falta de profissionais e de espaços adequados pelos mesmos é

350
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

um panorama estabelecido em todos os municípios que participaram da pesquisa e com certeza de muitos
outros que encaixam-se nos mesmos problemas.

4. Conclusão
O panorama inclusivo encontrado nestes municípios infelizmente é muito precário e a maioria dos
municípios relata não ter condições de recursos materiais e humanos para o bom atendimento das demandas
desses alunos, o que vem contra as bases da política inclusiva que tem como foco a inclusão de qualidade de
todos os alunos na rede regular de ensino. Portanto, este trabalho traz um levantamento sobre dados da
política, realidades dos municípios e suas interligações, seja em viesses positivos ou negativos concluindo
então como este panorama instaura-se.
Pudemos constatar com esta pesquisa, além de muitos outros aspectos importantes trazidos no decorrer
deste artigo e de outros que não cabe aqui ressaltar, que os discursos referidos na PNEEPEI que deveriam
estar ocorrendo nas escolas infelizmente não estão, pois ao entrar em contato com o que nos foi relatado
através dos questionários a discrepância do ideal e do real ficou mais clara.
Porém, nota-se que os municípios estão tentando realizar seus trabalhos da melhor forma possível,
com os recursos que lhe estão sendo disponibilizados, mantendo a expectativa em conseguir melhorar seu
trabalho para receber de forma mais satisfatória estes alunos.
Falando então dos alunos com alto comprometimento neuropsicomotor, infelizmente podemos notar
que o panorama para a inclusão destes alunos é insatisfatório. O que observamos, é que a maioria dos
municípios respondeu a pesquisa ressaltando o panorama geral de inclusão, sem considerar especificamente
estes sujeitos. E mesmo assim, notamos que o panorama para a inclusão não é favorável, pois além de, a
maioria dos municípios não ter profissionais especializados, não tem também recursos materiais e
arquitetônicos mínimos para a chegada destes alunos a escola.
Findando e restringindo a discussão sobre tal pesquisa, pois não cabe aqui estender-nos muito,
ressaltamos que infelizmente,

[...] a inclusão é, acima de tudo, um princípio ideológico em defesa da igualdade de direitos


e do acesso às oportunidades para todos os cidadãos, independentemente das posses, da
opção religiosa, política ou ideológica, dos atributos anatomofisiológicos ou
somatopsicológicos, dos comportamentos, das condições psicossociais, socioeconômicas,
etnoculturais e da afiliação grupal. Trata-se de um imperativo inalienável nas sociedades
atuais (OMOTE, 2003. p.154). [3]

Esperamos que esta discrepância “ideal X real” um dia termine e que esta pesquisa tenha servido para
gerar reflexões a cerca deste panorama insatisfatório que se instaura hoje nas escolas da região central do
estado do Rio Grande do Sul, para que possamos assim resgatar estas políticas através de debates exigindo o
que nela está dizendo ser oportunizado, para que assim as escolas tenham pelo menos recursos humanos,
pedagógicos, materiais e arquitetônicos para assim poder tentar realizar um trabalho de qualidade.

Referências

[1] BRASIL. Ministério de Educação. Secretaria da Educação Especial. Política Nacional de Educação
Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. MEC/SEESP, Brasília, 2008.

[2] BATISTA, Cristina A. M. e MANTOAN, Maria Teresa E. Educação inclusiva: atendimento


educacional especializado para a deficiência mental. [2. ed.] / Brasília : MEC, SEESP, 2006.

[3] OMOTE, Sadao. A formação do professor de educação especial na perspectiva da inclusão. In:
BARBOSA, Raquel Lazzari Leite. Formação de educadores: Desafios e perspectivas. São Paulo: Editora
UNESP, 2003. P. 153-169.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

JORNAL DA CIÊNCIA NO ÂMBITO DO GRUPO DE PESQUISA EDUCAÇÃO,


CULTURA E SOCIEDADE DA UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

Mariana Borba Fernandes1


Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL
Campus Universitário – Tubarão - SC
Coordenação do Curso de História
Bolsista de Iniciação Científica (PMU) no Grupo de Pesquisa Educação, Cultura e Sociedade (EDUCS)
Professora Orientadora: Neide Almeida Fiori2
Doutorado em Sociologia pela Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil(1975)
Professor titular da Universidade do Sul de Santa Catarina , Brasil

1. Introdução

A proposta deste trabalho é apresentar a pertinência do Jornal da Ciência no Grupo de Pesquisa


Educação, Cultura e Sociedade (EDUCS) do Programa de pós-graduação da Universidade do Sul de Santa
Catarina (UNISUL). O grupo desenvolve investigações sobre Educação relacionada com fundamentos
históricos, antropológicos e sociológicos dos processos educacionais, na memória, nos contextos e nas
representações sociais. No site do EDUCS, o Jornal da Ciência nos ajuda a atualizar as nossas discussões
sobre assuntos referentes à: Educação; Cultura e Sociedade. Neste sentido, a categorização (triagem), feita no
site do EDUCS, dos temas divulgados no Jornal da Ciência, é elaborada no intuito de auxiliar o acesso e a
leitura dos internautas (leitores) aos conteúdos divulgados pelo Jornal da Ciência. Portanto, com esta
categorização o site do EDUCS figura como espaço mediador entre a sociedade em geral e o Jornal da
Ciência enquanto uma publicação mantida pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.

2. Método

No site do EDUCS, o Jornal da Ciência está sendo organizado em categorias: Educação; Cultura;
Sociedade; Relações Culturais e Históricas na Educação; África e Etnia. Cada categoria é organizada em
documentos diferentes, onde eles são alinhados de forma cronológica (de 2005 até atualmente). Para que haja
essa divisão é necessário fazer a análise de cada artigo, percebendo em que classe ele se encaixa. Por
exemplo: No ano de 2008: “CNE e SBEM se reúnem para discutir currículo de licenciatura em matemática.”
Este artigo foi, obviamente, selecionado para a categoria de “Educação”. Porém, se um item condiz com
mais de uma categoria, como por exemplo: “Desenvolvimento Sustentável.” (12 de novembro de 2007), ele
é lido e selecionado para a classe com maior compatibilidade. Essa separação é feita para facilitar a pesquisa
e o acesso dos internautas (leitores) aos conteúdos divulgados pelo veículo. Pois, entendemos que “para
homens e mulheres comuns o direito a informação é o direito de saber como se conduzir, segundo regras e
normas legítimas de sua sociedade, diante de problemas que ensejam, para sua solução, o concurso de
agências e agentes públicos.” (ADORNO et al., 2008, p. 63).

1
E-mail: mariana.fernandes@unisul.br
2
Professora Doutora Neide Almeida Fiori concluiu o mestrado em Ciências Sociais pela Fundação Escola de
Sociologia e Política de São Paulo e é Doutora em Sociologia (e Livre-Docente) pela Universidade Federal de Santa
Catarina. Sua trajetória acadêmica principal foi na Universidade Federal de Santa Catarina, aposentando-se como
Professor Titular. Desenvolveu muitos projetos de pesquisa sob os auspícios do CNPq, tendo sua Bolsa de
Produtividade em Pesquisa se situado a nível I, A. Atualmente é membro da Universidade do Sul de Santa Catarina.
Publicou 19 artigos em periódicos especializados e 42 trabalhos em anais de eventos. Possui 7 capítulos de livros e 5
livros publicados. Orientou 11 dissertações de mestrado, além de ter orientado 13 trabalhos de iniciação científica na
área de Sociologia. Recebeu 3 prêmios e/ou homenagens. Atua na área de Sociologia, com ênfase em Outras
Sociologias Específicas. Em suas atividades profissionais interagiu com 1 colaborador em co-autorias de trabalhos
científicos. Em seu currículo Lattes os termos mais freqüentes na contextualização da produção científica, tecnológica e
artístico-cultural são: Nacionalismo, Estado Novo, Brasileiros em Portugal, Imigração-Emigração, Politica Educacional,
Políticas Públicas, Segunda Guerra Mundial, Educação de Emigrantes e Educação de Imigrantes.

352
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

3. Resultados e Discussão

Para obter os resultados e os dados encontrados na pesquisa para serem selecionados em categorias,
foram feitas buscas no site do SBPC (Sociedade Brasileira de Pesquisa Científica) pelo nome de cada classe
especificada no projeto. Nos resultados das buscas feitas até agora, foram encontradas para o item Educação:
nenhum dado encontrado entre 2005 e 2006; dois registros encontrados no ano de 2007; vinte e três
encontrados em 2008; foram encontrados dez registros no ano de 2009; por enquanto, não encontramos
nenhum dado para o tema Educação em 2010. Para a palavra Cultura: nenhum dado foi encontrado em 2005
e 2006; foi encontrado apenas um registro no ano de 2007; em 2008 foram descobertos 48 registros; 51
registros para 2009 e nenhum dado encontrado no ano de 2010 no site da SBPC. Na categoria Sociedade:
também nada foi encontrado nos anos de 2005 e 2006; em 2007 temos nove registros; 90 registros para o ano
de 2008; 68 achados em 2009 e mais uma vez, nenhum dado encontrado no ano de 2010. Na categoria
Relações culturais e Históricas, descobrimos apenas nove registros entre 2006 e 2009 e nada foi encontrado
no site através do método de busca por palavras, nos anos de 2005 e 2010. Para o termo África, nenhum
registro foi achado. Com a palavra Etnia não foram localizados nenhum registro entre 2005 e 2008; já em
2009, há quatro registros; porém nenhum em 2010. É importante ressaltar que o início da pesquisa é bastante
recente, e por essa razão ainda não houve tempo para buscar em outras fontes mais artigos do Jornal da
Ciência para serem selecionados. Por enquanto, a equipe ainda está dividindo em categorias os materiais que
já foram encontrados. Podemos citar alguns exemplos, como em Educação: “SBPC quer incentivar mutirão
pela Educação” (05 de junho de 2008) http://www.sbpcnet.org.br/site/noticias/mostra.php?id=694;
“Comissão de Educação aprova Lei Arouca por unanimidade.” (27 de agosto de 2008)
http://www.sbpcnet.org.br/site/noticias/mostra.php?id=803; “Educação indígena: mais de 25 mil inscritos no
vestibular da UEA.” (17 de junho de 2009). http://www.sbpcnet.org.br/site/noticias/mostra.php?id=1005. Há
exemplos também para a categoria Sociedade: “Reunião Regional da SBPC em Maceió: reflexão sobre
diversidade e desenvolvimento”. (10 de outubro de 2008); “Comitê Orientador do Fundo Amazônia deve se
reunir em 24 de outubro”. (13 de outubro de 2008.) “Para diretor do Insa, desenvolvimento do semi-árido
depende da quebra do paradigma da miséria.” (24 de outubro de 2008.)
http://www.sbpcnet.org.br/site/noticias/mostra.php?id=866. É importante lembrar, que mesmo que
determinado artigo seja conveniente para mais de um grupo, ele será revisado e passará a fazer parte da
classe que melhor lhe caber.

4. Conclusão

O Jornal da Ciência é uma publicação mantida pela SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da
Ciência), ao mesmo tempo, o Jornal serve como uma ferramenta que compõe o site do Grupo de Educação,
Cultura e Sociedade (EDUCS). Através dele, poderemos divulgar os trabalhos desenvolvidos enquanto um
serviço prioritário do grupo de pesquisa para a grande população. Espera-se realizar uma mediação com a
sociedade em geral com o objetivo de auxiliar no ensino-aprendizagem dos leitores no sentido duplo. Ou
seja, aproximar a comunidade não acadêmica das divulgações veiculadas na SBPC e, ao mesmo tempo,
divulgar os trabalhos desenvolvidos no EDUCS enquanto um serviço prioritário do grupo de pesquisa para a
sociedade como um todo. Portanto, temos como objetivo último, “promover a disseminação de informações
a respeito de direitos fundamentais [como] condição para construção da cidadania e participação no Estado
democrático”. (ADORNO et al., 2008, p. 68).

Referências

ADORNO, Sergio et al. Direitos humanos, acesso à informação e inclusão digital. In: RIFIOTIS,
Theophilos e RODRIGUES, Tiago Hyra (Org.). Educação em direitos humanos: discursos críticos e
temas contemporâneos. Florianópolis : Ed. Da UFSC, 2008, (p. 59-78).

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

LABORATÓRIO DE ALFABETIZAÇÃO: SOCIALIZAÇÃO ENTRE OS ALUNOS E


PRÁTICAS PEDAGÓGICAS

Thaiana Dalmazo Brunhauser1; Elizandra Aparecida Nascimento Gelocha, Francine Bopp Pereira;
Universidade Federal de Santa Maria

Palavras - chave: Experiências vividas; Práticas pedagógicas; Laboratório de Alfabetização.

1. Introdução:
O presente artigo apresenta uma reflexão das experiências vividas no projeto de extensão intitulado
“Laboratório de Alfabetização: repensando a formação de professores”, vinculado ao Grupo de Estudo e
Pesquisa sobre Formação Inicial, Continuada e Alfabetização (GEPFICA). Esse artigo aborda uma discussão
sobre a inclusão dos alunos com dificuldade de aprendizagem no ambiente escolar, enfatizando a prática de
ensino do projeto “Laboratório de Alfabetização”, o qual vem sendo realizado em uma escola da rede estadual de
ensino da cidade de Santa Maria/RS
A inclusão dos alunos com dificuldade de aprendizagem é uma questão bastante abrangente, visto que está
relacionada a diversos fatores, sejam eles externos ou internos. As dificuldades de aprendizagem não têm sua
origem apenas nas características individuais de cada sujeito, envolvem também fatores relacionados à família, à
escola e ao meio social em que o aluno está inserido, analisa Weiss (2004) [1]. Porém, sabemos que muitas
crianças não possuem esse auxílio da família, não apresentam vínculos de afetividade com a mesma e, muitas
vezes, sofrem agressões e maus-tratos. Todas essas questões podem estar relacionadas às dificuldades de
aprendizagem e conseqüentemente gerar o fracasso escolar.
Durante as visitas e atuações na escola, através do projeto “Laboratório de Alfabetização: repensando a
formação de professores”, coordenado pela Profª. Drª. Helenise Sangoi Antunes, vinculado ao Grupo de Estudos
e Pesquisa sobre Formação Inicial, Continuada e Alfabetização (GEPFICA), observou-se a precária participação
da família na vida escolar dos educandos. Crianças pequenas que, muitas vezes, possuem responsabilidades da
vida adulta. Outras com elevado índice de carência social e afetiva e, além disso, muitos alunos que apresentam
dificuldade para aprender. Conforme Carvalho (2000, p. 71) [2],” Parece impossível, pois, compreender ou
explicar as dificuldades de aprendizagem sem levar em conta os aspectos orgânicos, psicológicos ou sociais,
banalizando a importância de cada um, isoladamente ou desconsiderando suas intrincadas inter-relações”.
Dessa forma, é importante destacar que cada criança aprende em tempos e de formas diferentes dos
exigidos pela escola, essas crianças vivenciam experiências distintas, não estando, muitas vezes, em condições
adequadas para aprender. A constante exclusão desses alunos dentro da instituição escolar pode desfavorecer a
personalidade e a autonomia dos educandos, visto que, muitas vezes são rotulados por colegas e professores.
O trabalho com os educandos, que possuem dificuldade em aprender, precisa ser inovador, diferente,
algo que chame a atenção dessas crianças. Dessa forma destacamos a importância dos jogos e do brincar no
processo de ensino-aprendizagem, pois esses favorecem no atendimento a cada criança. O projeto “Laboratório
de Alfabetização: repensando a formação de professores” integra, dentre outras, atividades de alfabetização e
letramento através de jogos didáticos e construção de jogos com os alunos que possuem alguma dificuldade no
processo de aquisição da lecto-escrita. Esse projeto vem sendo desenvolvido desde o ano de 2002 e tem sua
continuidade devido à percepção que se tem da importância dele tanto para as acadêmicas e professoras
participantes, quanto para as crianças que dele participam.
Outro aspecto importante, com relação à inclusão dos alunos com dificuldade de aprendizagem, é a
constante socialização com os demais colegas. Vygotsky (1989) [3] analisa, em sua abordagem sócio-histórica e
sócio-cultural, que a aprendizagem é o resultado da interação dinâmica da criança com o meio social, na
constituição de sua capacidade cognitiva e é produto do entrelaçamento do pensamento e da linguagem. Dessa
forma, é essencial que a escola trabalhe com todos os alunos de forma integral e valorize constantemente a
diversidade presente na sala de aula. O educador precisa fazer com que esses alunos, que muitas vezes são
rotulados, interajam com os demais da classe elaborando trabalhos em grupo, jogos em equipe, para que os
alunos saibam acolher e respeitar a diversidade presente no ambiente da escola.
No processo de ensino-aprendizagem, as atividades lúdicas ajudam a construir uma práxis emancipadora
e integradora, ao tornarem-se um instrumento de aprendizagem que favorece a aquisição do conhecimento em

1
Thaiana Dalmazo Brunhauser: thai_brun@yahoo.com.br
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

perspectivas e dimensões que perpassam o desenvolvimento do educando. O lúdico é uma estratégia


insubstituível para ser usada como estímulo na construção do conhecimento humano e na progressão das
diferentes habilidades operatórias. O educador, ao proporcionar aulas inovadoras e didáticas, utilizando algumas
ferramentas como jogos e brinquedos estão estimulando não só a criatividade do educando, mas também sua
constante evolução cognitiva. Weiss (2004, p. 18) [1.1] comenta que “é preciso que o professor competente e
valorizado encontre o prazer de ensinar para que possibilite o nascimento do prazer de aprender”.
Os jogos fazem com que a criança que apresenta dificuldade em aprender explore o mundo sem
obrigatoriedade, no momento do “jogar” esta pode inserir-se em diferentes contextos e viver distintas emoções,
sem o compromisso de assumir propriamente a realidade. As regras presentes nos jogos podem auxiliar a criança
para viver em um mundo, onde também existem normas. Os jogos em grupos vêm com o objetivo de provocar a
socialização dos jogadores. É necessário esse contato para a criança aprender a perder e a ganhar, visto que na
vida percorremos diversos obstáculos e muitas vezes, perdemos. Portanto, é necessário que a escola e a família
proporcionem momentos agradáveis a essas crianças sendo os jogos e os brinquedos essenciais durante a
formação intelectual dos alunos.
As atividades lúdicas correspondem a um impulso natural da criança, e neste sentido, satisfazem uma
necessidade interior, pois o ser humano apresenta uma tendência lúdica, focando-se para as atividades dinâmicas
e criadoras de conhecimento. Dessa forma, a desvalorização do movimento natural e espontâneo da criança em
favor do conhecimento estruturado e formalizado ignora as dimensões educativas da brincadeira e do jogo como
forma rica e poderosa de estimular a atividade construtiva do educando.
Referente ao presente assunto cabe destacar que os jogos e brinquedos são muito mais do que um passa-
tempo, eles representam para os educandos uma experiência, um “despertar” para o novo. Além de
proporcionarem prazer às crianças, integram ações didáticas e trabalhos em grupos essências para o crescimento
mental do educando. Vygotsky (1989, p. 109) [3.1], afirma que: “é enorme a influência do brinquedo no
desenvolvimento de uma criança”. É urgente e necessário que o professor procure ampliar cada vez mais as
vivências da criança com o ambiente físico, com brinquedos, com jogos, brincadeiras e com outras crianças. O
constante processo de socialização entre os educandos proporciona um trabalho satisfatório, em relação ao
ensino-aprendizagem. Nesse sentido, torna-se indispensável a inserção da ludicidade nas aulas, quando se
pretende trabalhar com crianças que apresentam dificuldades de aprendizagens.
O Projeto Laboratório de Alfabetização: repensando a formação de professores busca levantar, a partir
de estudos, estratégias de trabalho que possam propiciar experiências com diversos portadores de texto, além de
diversificados materiais e;ou jogos voltados para alfabetização, letramento e linguagem. Esse trabalho envolve
acadêmicos do Centro de Educação (Pedagogia e Educação Especial) da Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM), os professores da escola participante e os alunos dos anos iniciais. Através das intervenções com os
educandos cada participante elaborou, ao final das atividades, um relato sobre as suas experiências.
A teoria vygotskiana enfatiza que todo homem se constitui como ser humano pelas relações que
estabelece com os outros, pelas interações com distintas experiências e pela busca constante da socialização.
Com base nessa teoria, salienta-se que a escola, como instrumento de formação de identidades e emancipação
dos sujeitos, precisa instigar na comunidade escolar a contínua inclusão dos alunos que possuem algum atraso
cognitivo. É interessante que esses alunos sintam-se acolhidos e socializados dentro da instituição a qual
pertencem. A convivência desses educandos com um ambiente escolar diversificado pode gerar experiências
novas, em que cada indivíduo contribui e aprende com a diversidade. Dentro da escola, podemos trabalhar
eficazmente com a questão das relações sociais, das relações de gênero, classe e diversidade cultural. É
importante que o educador respeite e valorize os aspectos culturais de cada aluno viabilizando, dessa forma, o
processo de socialização e reafirmando a inclusão de todos os alunos no ensino regular.
Durante este período em que estamos presente na escola de ensino público de Santa Maria, evidencia-se
a manifestação positiva dos alunos em relatar sobre suas experiências. Algumas vezes, na leitura de textos ou
histórias em quadrinhos, eles mencionavam suas aventuras e brincadeiras preferidas facilitando o processo de
interpretação e compreensão das atividades propostas. Freire aponta a troca de experiência entre aluno e
professor constituintes de um processo de ensino e aprendizagem. Percebemos isso na afirmação de Freire
(1996, p. 41) [4], “Uma das tarefas mais importantes da prática educativo-crítica é propiciar as condições em que
os educandos em suas relações uns com os outros e todos com o professor ou a professora ensaiam a experiência
profunda de assumir-se.”
Dessa forma, acredita-se ser essencial essa troca de relatos, de experiências, não só entre os membros da
classe discente, mas também entre educando e educador. Vivemos em um ambiente onde a homogeneidade,

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

muitas vezes, “fala” mais alto, no entanto cabe a todos nós, pessoas críticas e capazes de refletir sobre nossas
ações, propiciar ao mundo mudança. E mudar não significa apenas aceitar o diferente significa respeitar,
valorizar e aprender com a heterogeneidade.
O desenvolvimento escolar do educando se dá de maneira contínua e particular, não dependendo
somente do aluno o sucesso diante das aprendizagens. A base familiar também contribui para a plena promoção
dos educandos. Dentre esses aspectos enfatizamos, ainda, o papel primordial do educador na carreira escolar de
cada indivíduo. O professor querendo ou não repercute algo no seu aluno, diante disso, é importante que tenha
cuidado das marcas que deixará. Sabemos que, atualmente, o educador não é valorizado como deveria ser, não
recebe contribuições a altura do seu papel na sociedade e, muitas vezes, ainda sofre preconceito. No entanto, não
pode deixar que esses aspectos negativos desfavoreçam o desenvolvimento da sua classe discente.
É relevante que o educador foque seu olhar para a diversidade sócio-cultural presente dentro da sala de
aula trabalhando e diversificando assuntos presentes na realidade de cada aluno. Esses aspectos tornam-se
instigantes para a prática educativa, visto que todos nós possuímos individualidades, culturas próprias, tradições
e costumes. Uma aula diversificada contribui positivamente para o crescimento intelectual de cada indivíduo.
Durante exposições de idéias e diálogos, todos podem contribuir livremente, sem preconceito, sem medo, e
enriquecendo cada vez mais suas culturas. Aprender implica necessariamente uma retomada na história de vida
de cada um, dessa forma, no momento que aprendemos, ensinamos e, no momento que ensinamos, aprendemos.
Todos nós somos capazes de aprender e ensinar, o educador não é educador porque simplesmente ensina, pelo
contrário, se este não é humilde para dizer que todos os dias aprende com seus alunos, ele não é um bom
educador. Conforme as palavras de Freire (1996, p. 86) [4.1], “O fundamental é que professor e alunos saibam
que a postura deles, do professor e dos alunos, é dialógica, aberta, curiosa, indagadora e não apassivada,
enquanto fala ou enquanto ouve. O que importa é que o professor e alunos se assumam epistemologicamente
curiosos.”
Diante dessas contribuições, a instituição escolar necessita estar preparada para reinterpretar o
significado de ensinar e aprender em um mundo ao mesmo tempo globalizado e cada vez mais diversificado. A
diversidade sócio-cultural está presente em todos os lugares trazendo consigo aprendizagens novas e um mundo
repleto de diferenças. Não queremos um padrão de homogeneidade, um ideal manipulando as pessoas e sim
poder viver em um mundo diversificado, em que através dos diferentes povos, das distintas raças, religiões e
culturas possamos aprofundar os processos de ensino-aprendizagem.

2. Conclusão
Por intermédio desse artigo, constatamos que as crianças que apresentam algum grau de dificuldade na
aprendizagem, não podem ser rejeitadas ou reprimidas. Esses seres humanos necessitam de uma constante
valorização de suas qualidades e experiências. Os educadores, formadores de sujeitos reflexivos e autônomos,
não devem agir de forma mecânica e repetidamente, sem observar a capacidade individual de cada aluno. A
adoção de métodos adequados refletirá no grau de envolvimento do estudante com a questão da aprendizagem. O
bom ensino deve integrar o seu aluno nas atividades da escola, nas aulas mais dinâmicas e nos eventos. É
importante que esse ensino favoreça o educando, seja ele com problemas de aprendizagem ou não. A instituição
escolar, juntamente com a família e a comunidade, necessita promover a permanente inclusão de todos os alunos
na rede de ensino, sem demonstração de preconceito ou desfavorecimento, com aqueles alunos que possuem
dificuldade na construção intelectual.
Mencionamos, novamente, a necessidade de formular planos metodológicos inovadores e criativos, a fim
de despertar no aluno o interesse pelas aulas. Dessa forma, cabe a instituição de ensino promover a constante e
digna inclusão dos alunos com dificuldade de aprendizagem. Essas crianças precisam, muitas vezes, do afeto e
do carinho do educador. Esses aspectos, durante as visitas e intervenções na escola, foram evidenciados com
clareza, esses alunos não possuem somente carência social possuem carência afetiva. Eles precisam de estímulo,
novidades, metodologias interessantes e instigadoras. A criança gosta de aventurar-se, de sentir que suas
opiniões e suas falas serão valorizadas, mencionadas. Dessa forma, a instituição de ensino, juntamente com a
classe docente, precisa visualizar esse lado afetivo dos educandos e, da melhor forma possível, trabalhar com
isso, enriquecendo a prática educativa cotidiana.

Referências
[1] WEISS, Maria Lúcia L. Psicopedagogia Clínica: uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem
escolar. Rio de Janeiro: DP&A, 2004, 10. ed.. 18 p.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

[2] CARVALHO, Rosita Edler. Removendo barreiras para a aprendizagem: educação inclusiva. Porto
Alegre: Mediação, 2000 VYGOTSKY, L. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1989. 71 p.

[3] VYGOTSKY, L. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1989. 109 p.

[4] FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra,
1996. 41 p.

Agradecimentos
Queremos agradecer ao Centro de Educação (CE), a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e por fim a
Profª. Drª. Helenise Sangoi Antunes, orientadora do trabalho, professora associada I do Departamento de
Metodologia de Ensino da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) no Rio Grande do Sul (RS) e líder do
Grupo de Estudo e Pesquisa sobre Formação Inicial, Continuada e Alfabetização (GEPFICA).

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

LITERATURA INFANTIL: INSTRUMENTO DE


ENSINO/APRENDIZAGEM E TRANSFORMAÇÃO
Kariny Von Dentz1*; Christiani dos Santos Guedes Machado2
1
Acadêmica do curso de licenciatura em Pedagogia do INESA – Joinville, SC
2
Professora do curso de Pedagogia do INESA – Joinville, SC

1. Introdução
A literatura infantil é um referencial na vida de uma criança, ela pode
desencadear um aprendizado prazeroso, que possibilitará obter conhecimento
de uma forma divertida, lúdica.
Sendo assim, gostar de ler e obter esse hábito é de importância
fundamental na vida de qualquer pessoa.
Ler além de incitar o conhecimento, também possui outros papéis
essenciais na vida da criança, pois oferece a oportunidade de conviver e viver
com o imaginário, fornecendo uma visão original à criança, proporcionando a
aquisição de um conhecimento do real e também do não-real.
Ao ter contato com livros literários, seja com pequenas gravuras e textos
simples ou mais sofisticados, a criança pode criar seu próprio mundo, vivendo
seus sonhos, fantasias, o que oportuniza o conhecimento de si mesmo e do
ambiente que a cerca.
Deve-se iniciar a fruição pela leitura desde pequeno, e o professor bem
como o contexto sociocultural da criança é que ajudarão a desenvolver esse
hábito. Desse modo, o professor tem papel essencial nesse aprendizado, e
esse precisa usar sua criatividade e conhecimento para proporcionar a criança
momentos prazerosos de leitura. E, no âmbito familiar, a criança aprende a
gostar de ler com o incentivo dos pais ao ler, por exemplo, um conto de fadas
ou até mesmo trechos da bíblia.
A leitura é uma prática social de várias vertentes de conhecimento,
através dela é possível informar-se de um assunto: fazer pesquisas; ensinar;
aprender, portanto gostar de ler é fundamental para proporcionar à criança e
também ao adulto, uma forma de gostar de aprender.

2. Método
O levantamento teórico foi elaborado a partir de uma pesquisa
qualitativa, por meio do método bibliográfico e que busca a explicação do
problema a partir de referências teóricas e documentos que se relacionam,
direta ou indiretamente, com o tema pesquisado. Segundo Cervo; Bervian
(2002) “A pesquisa bibliográfica procura explicar um problema a partir de
referencias teóricas publicadas em documentos e busca conhecer e analisar as
contribuições culturais ou cientificas do passado existentes sobre um
determinado assunto, tema ou problema”.
Usar-se-á neste trabalho também, a pesquisa de campo que segundo
Gil (1992) procura-se o aprofundamento das questões propostas.
Fachin afirma que:
A pesquisa de campo detém-se na observação de contexto no qual é
detectado um fato social (problema), que a princípio passa a ser

*
Autor Correspondente: ka_bmfs@hotmail.com

358
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

examinado e posteriormente, é encaminhado para explicações por


meio dos métodos e das técnicas específicas. (FACHIN, 2003, p.
133)

A pesquisa de campo em questão terá como instrumento de trabalho o


questionário, embasado por meio de questões descritivas e objetivas.

3. Resultados e Discussões
A literatura infantil é de essencial importância para a formação de um
leitor, pois escutá-las é o início dessa aprendizagem e ser um leitor é ter um
caminho absolutamente infinito de descoberta e de compreensão do mundo.
(ABRAMOVICH, 2008).
A literatura também possui um papel essencial de informação, sobre
acontecimentos inevitáveis da vida que as crianças ainda não conhecem, como
por exemplo, a morte. A literatura traz também, assuntos referentes à realidade
das crianças sobre problemas de crescimento, ou conhecimento do corpo, sua
relação com os outros ou até mesmo sobre a sexualidade. (ABRAMOVICH,
2008)
A curiosidade, os medos, as aflições, os sentimentos bons ou ruins, são
sentidos a todo o momento pelas crianças, e elas muitas vezes não os
entendem ou não conseguem lidar. A literatura abre os caminhos desse
conhecimento, ajudando assim a criança a se fortalecer, e a construir uma
segurança melhor com relação à realidade que existe ao seu redor. A literatura
mostra de forma suave as situações reais da vida, ela leva o leitor ou quem a
escuta, a usar a imaginação de forma poética, ou mesmo bem humorada,
divertida, irônica.
Porém, ler uma história não significa pegar qualquer livro da prateleira,
sentar-se, muitas vezes, de má vontade e abordar uma história de modo
superficial e dessa forma, sem sentido, apenas por ser obrigado ou cobrado a
fazê-lo, ou por não se sentir a vontade em discutir algum assunto. Ler deve
significar para quem está lendo ou escutando, um aprendizado, um contato
com uma verdade imaginária, deve significar magia, fantasia, pois por mais que
não sejam reais, naquele momento as palavras se tornam vivas em sua mente,
elas criam sentido e assim, de certa forma se tornam reais.
Inserir em um planejamento de aula, a literatura e abrangê-la de maneira
estratégica é essencial, faz com que a criança, não crie apenas o hábito de ler,
mas utilize esse instrumento como um fator humanizante. Sendo assim,
mostrar de maneira sutil os problemas enfrentados por ele naquele momento
ou em seu futuro, contribui para transformá-lo.
Escutar histórias e logo após aprender a ler, se faz importante no
desenvolvimento psicointelectual da criança, pois o domínio desse sistema
complexo de signos fornece novo instrumento de pensamento, na medida em
que aumenta a capacidade de memória, registro de informações e organização
das mesmas. (VYGOTSKY, 1988)
Percebe-se assim como a criança, com a literatura, vai se inteirando de
verdades, entendendo-as e assimilando tudo o que a sua realidade lhe mostra
e o livro, a história, a ajuda a se conformar e lidar com essas situações.
Segundo Carvalho (s.d., p. 147) “A literatura infantil caracteriza-se por
certos requisitos psicológicos e literários, destinados a satisfazer e agradar ao
pequeno leitor, dentro de seu âmbito de interesses.”

359
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Como literatura infantil, portanto, denomina-se todo o acervo literário


eleito pela criança, tudo aquilo, que após ela aceitar se fixa em sua mente e se
imortaliza através dela.
A literatura abrange diversos gêneros, dentre eles o conto é um dos
mais antigos, sua origem se perde no tempo. O conto maravilhoso se faz
importante para a criança, pois é uma linguagem própria para elas e com o
conto a criança vivencia situações parecidas com as que possui em seu
âmbito.
Sobre essa questão Coelho (2000, p. 54) comenta:
O maravilhoso sempre foi e continua sendo um dos elementos mais
importantes na literatura destinada as crianças. Essa tem sido a
conclusão da psicanálise, ao provar que os significados simbólicos
dos contos maravilhosos estão ligados aos eternos dilemas que o
homem enfrenta ao longo de seu amadurecimento emocional.

Percebe-se então da importância do hábito de ler desde a educação


infantil.
A literatura ensina as crianças que, na vida real, é oportuno estarem
sempre preparadas para enfrentar grandes dificuldades, e mostra que é
necessário ter coragem e otimismo para enfrentar todas essas mudanças que,
inevitavelmente podem aparecer em suas vidas.
Saber ler se faz essencial para adquirir todo esse aprendizado que a
literatura infantil nos possibilita, e saber ler não significa apenas decodificar as
palavras descritas nos livros, mas atribuir sentido a elas.
Pode-se dar sentido a um texto lido ou ouvido, dessa forma, qualquer
manifestação de linguagem pode ser lida, ou seja, aprendida. As
manifestações de linguagens são diversas dentre elas um texto de algum
escritor, uma fala, um romance, uma gravura, um olhar, um gesto.
Antes de a criança ser alfabetizada, já possui um conhecimento prévio
sobre a leitura, tais conhecimentos dependem das situações vivenciadas pelas
crianças desde o seu nascimento.
Cada manifestação de linguagem possui algum conhecimento que é
expressado.
Sobre essa questão Marole (1994, p. 49) afirma que:
Cada leitor traz consigo, além de suas características individuais,
uma vivência e uma atitude de espírito diferentes. Quando lê um texto
escrito, ele o vê e o sente de maneira impar. Adentrando o texto, ele
descobre a intenção ou as intenções de seu autor. Mas o texto
também penetra nele e o transforma e se transforma. O resultado
dessa interação texto-leitor/leitor-texto é um outro texto recriado pelo
leitor, diferente do original.

Ler é um processo para se estabelecer um diálogo, não se limita


apenas a ação mecânica de decodificação de palavras, em outras palavras, ler
é adquirir conhecimento, interpretar e descobrir novos assuntos. Assim, a
prática de leitura se torna muito mais complexa do que juntar letras e formar
palavras, dessa forma, a palavra lida produz um sentido para o leitor.
O processo de leitura deve possibilitar que o leitor conheça o texto e
construa uma idéia perante ele, retirando dele as concepções que lhe
interessa, procurando dar sentido a ele e, estabelecendo relação com seus

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

próprios conhecimentos e objetivos. Ler, portanto é aprender o significado do


novo, estabelecendo conexão com o que o autor escreveu e os seus próprios
conhecimentos.
Ler não é uma tarefa fácil, muitas vezes entender o que está escrito se
torna difícil. Porém, se a leitura de literatura é apresentada à criança como uma
experiência interessante, válida e agradável, os esforços exigidos pela
aprendizagem da leitura, parecer-lhe-ão um pequeno preço a pagar,
considerando a vantagem que uma pessoa conquista ao aprender com o livro
lido por ela. (BETTELHEIM; ZELAN, 1984).
Ter prazer em ler traz vantagens de cunho imensurável para o leitor, e
encontrar esse prazer, fará com que por toda a vida, a criança encontre
grandes benefícios na leitura. (BETTELHEIM; ZELAN, 1984).

4. Conclusão
A iniciativa de realizar o projeto de pesquisa: “Literatura infantil:
instrumento de ensino/aprendizagem e transformação” desenvolveu-se a partir
da dificuldade encontrada por muitas pessoas ao ler e da observação da
prática profissional de professora de educação infantil, sendo relevante que as
crianças sentem prazer ao escutar histórias, dessa forma procura-se nesse
trabalho entender onde e por que esse prazer se perde.

5. Referências

ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: Gostosuras e bobices. 5.ed. São


Paulo: Scipione, 2008.
BETTELHEIM, Bruno. ZELAN, Karen. Psicanálise da alfabetização: um
estudo psicanalítico do ler e do aprender. Porto Alegre: Artes médicas, 1984.
CARVALHO, Bárbara Vasconcelos. Literatura infantil: Estudos. São Paulo:
Lótus, S.D.
CERVO, Amado Luiz. BERVIAN, Pedro Alcino: Metodologia científica. 5. Ed.
São Paulo: Prentice Hall, 2002.
COELHO, Nelly Novaes. Literatura infantil: teoria, análise, didática. São
Paulo: Moderna, 2000.
CHARTIER, Roger. Práticas de leitura. 2. ed. São Paulo: Estação Liberdade,
2001.
KLEIMAN, Ângela B. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. 4. ed. São
Paulo: Pontes, 1995.
LAKATOS; Eva Maria. MARCONI; Maria de Andrade. Fundamentos de
Metodologia Científica. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2001.
MAROTE, João Teodoro D`olim; FERRO, Glaucia D`olim Marote. Didática da
língua portuguesa. São Paulo: Ática, 1994

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

MEMÓRIAS E RELATOS AUTOBIOGRAFICOS DE ALFABETIZADORAS: UM


ESTUDO SOBRE AS CARTILHAS DE ALFABETIZAÇÃO NAS ESCOLAS MUNICIPAIS
RURAIS DO RIO GRANDE DO SUL

Francine Bopp Pereira¹; Thaiana Brunhauser; Elizandra Aparecida Nascimento Gelocha


Universidade Federal de Santa Maria

Palavras-chave: Memórias; Cartilhas de Alfabetização; História da Alfabetização.

1. Introdução

O Projeto intitulado Memórias e Relatos Autobiográficos de Alfabetizadoras: um Estudo sobre as


Cartilhas de Alfabetização nas Escolas Municipais Rurais do Rio Grande do Sul tem por objetivo
resgatar as memórias de professoras alfabetizadoras de escolas da zona rural de oito municípios do
interior do Estado, são eles: Caxias do Sul, Erechim, Santa Cruz do Sul, São Gabriel, São Borja,
Santa Rosa, São Sepé e Uruguaiana. Esta pesquisa é a continuação de um estudo que teve inicio no
município de Santa Maria-RS. De 2007 a 2009 realizamos as atividades de coleta de informações,
analises dos dados e divulgação dos resultados. Assim também será realizado nos municípios já
citados. Através de relatos autobiográficos orais e escritos, entrevista semi-estruturada e pesquisa em
Diários de Campo. A mesma irá oportunizar uma reflexão sobre os processos de alfabetização,
leitura e escrita nos anos iniciais do ensino fundamental, os métodos de alfabetização utilizados por
estas alfabetizadoras rurais, a concepção de alfabetizar e letrar dos sujeitos da pesquisa e relacioná-
los com os processos formativos vivenciados por estas alfabetizadoras. Suas memórias, suas
lembranças de escola enquanto alunas, assim como, através da História da Alfabetização,
conhecemos as cartilhas que circulavam no meio rural no século XX, principalmente, e no início do
século XXI.

2. Método

A metodologia é de caráter qualitativo a partir dos estudos realizados por [2]Bogdan; Biklen (1994),
e utilizará os seguintes instrumentos para a coleta de informações: relatos autobiográficos orais e
escritos, as entrevistas semi-estruturadas e os registros em Diário de Campo do cotidiano escolar das
professoras alfabetizadoras das escolas rurais, assim como conhecer as cartilhas que circularam no
meio rural. Através da pesquisa estamos com a oportunidade de interagir com o espaço físico local e
pedagógico da escola rural, com o trabalho destas professoras. Buscando conhecer, através das
memórias o uso das cartilhas de alfabetização em sua escolarização bem como a utilização destas
“mesmas” cartilhas no processo de construção da lecto-escrita dos seus alunos, através da aplicação
dos instrumentos já mencionados.

3. Resultados

A pesquisa, que se encontra em fase de coleta de informações, no entanto é possível constatar os


seguintes resultados: autorização das respectivas Secretarias de Educação dos seguintes municípios:
Erechim, São Gabriel, São Borja, Santa Rosa, Santa Cruz do Sul, Uruguaiana e São Sepé. As
Secretarias também enviaram a relação das Escolas Municipais Rurais que poderiam contribuir para
a pesquisa; Ida até os municípios para a coleta das informações; a experiência do contato com
escolas rurais de municípios de diferentes regiões do RS, bem como com professoras de grande
experiência em alfabetização a mais de 30 anos e que através de suas memórias e seus relatos
autobiográficos escritos propiciaram esta valorização do meio rural, suas lembranças de escola, seus
processos formativos, assim como suas histórias de vida de um modo geral.
Assim, cartilhas como as enunciadas por Peres (2007) e Trindade (2004), tais como a “Cartilha
Sodré” de 1940, “Cartilha Maternal” de 1990, “Testes ABC” de 1985, “Caminho Suave” de 1950
permanecem vivas nas memórias e nos acervos destas professoras alfabetizadoras rurais.

1
Francine Bopp Pereira: francy_bopp@yahoo.com.br

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Maior estudo dos integrantes do GEPFICA (Grupo de Estudo e Pesquisa sobre Formação Inicial,
Continuada e Alfabetização) sobre o tema pesquisado, durante as reuniões semanais; A oportunidade
de participar de eventos de iniciação científica para divulgar os resultados da pesquisa.

4. Conclusão

Como nossa pesquisa encontra-se em andamento, ainda não obtivemos os resultados concluídos, mas
com as informações já coletadas é possível perceber que as alfabetizadoras continuam utilizando das
cartilhas com seus alunos. Pois acreditam que esse método no qual elas foram alfabetizadas ainda
pode ser recursos para a alfabetização de seus alunos Neste sentido, afirmamos que estes materiais
precisam ser objetos de estudo na formação inicial e continuada de professores. Entendemos ainda
que as lembranças de escola permitam estas professoras rememorarem com que facilidade e rapidez
foram alfabetizadas por suas professoras através do uso das cartilhas, bem como também recordam
com clareza das primeiras lições, frases e palavras que aprenderam na escola.

5. Referências

[1] ANTUNES, Helenise Sangoi. Ser Aluna, ser professora: uma aproximação das significações
sociais instituídas e instituíntes construídas ao longo dos ciclos de vida pessoal e profissional.
Tese (doutorado) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Faculdade de Educação. Programa
de Pós-Graduação em Educação, Porto Alegre: UFRGS, 2001.
[2] BOGDAN, Robert C; BIKLEN, Sari Knopp. Investigação qualitativa em Educação: uma
introdução à teoria e aos métodos. 4 ed. Porto: Porto, 1994.
[3] REVISTA DO CENTRO DE EDUCAÇÃO. Dossiê: Formação de professores e
Profissionalização Docente. V. 29, n. 02, 2004.
[4] REVISTA DO CENTRO DE EDUCAÇÃO. Dossiê: História da Educação. V. 30, n. 02, 2005.
[5] REVISTA DO CENTRO DE EDUCAÇÃO. Dossiê: Alfabetização e Letramento. V. 32, n. 1,
2007.
[6] REVISTA DO CENTRO DE EDUCAÇÃO. Dossiê: Educação no Campo. V. 33, n. 1, 2008.

Agradecimentos

FIPE/UFSM

CENTRO DE EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

A PROFª. DRª. HELENISE SANGOI ANTUNES, ORIENTADORA DO TRABALHO,


PROFESSORA ASSOCIADA I DO DEPARTAMENTO DE METODOLOGIA DE ENSINO DA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA, RS E LÍDER DO GRUPO DE ESTUDO E
PESQUISA SOBRE FORMAÇÃO INICIAL, CONTINUADA E ALFABETIZAÇÃO (GEPFICA).

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

MULHERES E EJA: O QUE ELAS BUSCAM?

Amina Ciandra Oro*; Rosa Cristiana Schavinski Weschenfelder


Orientadora: Nilda Stecanela
Universidade de Caxias do Sul

1. Introdução
O projeto “Mulheres e EJA: O que elas buscam?”, é um desdobramento da pesquisa matriz que o
origina, intitulada “Da vitimação afirmativa à reconstrução identitária: trânsitos de mulheres pela violência
de gênero” e financiada pelo CNPq. Tem a pretensão de analisar e compreender as relações existentes entre
as questões de gênero e a Educação de Jovens e Adultos (EJA). A pesquisa em andamento envolve a
participação de mulheres, a partir de 18 anos de idade, que frequentam as modalidades de EJA equivalentes
ao Ensino Fundamental e Médio em escolas da rede pública de Caxias do Sul. Numa análise preliminar da
pesquisa podemos perceber que questões como o casamento, a maternidade e o trabalho, permeiam a vida da
mulher e, na maioria das vezes, são imprescindíveis para determinar suas escolhas. Compreender estas
escolhas e como elas se relacionam com a EJA é um desafio à nossa pesquisa, que tem como fio condutor
investigar de que modo as relações de gênero interferem no processo de escolarização das mulheres da
Educação de Jovens e Adultos. Busca-se também analisar os entraves em sua inclusão e como estas
mulheres, antes conduzidas à invisibilidade, romperam com o silenciamento a que eram submetidas e se
fizeram presentes em novos espaços de socialização.

2. Método
A metodologia utilizada no estudo é a pesquisa de opinião, a partir das aprendizagens construídas no
curso de extensão “Escola e Pesquisa: um encontro possível”, tendo como sujeitos de pesquisa as alunas de
EJA com idades acima de 18 anos de duas escolas públicas na modalidade de Educação de Jovens e Adultos
equivalentes ao ensino fundamental e médio. O tipo de amostra foi definido pelo método não-probabilístico
pelo fato de não termos uma informação precisa dos elementos do público alvo. Portanto, utilizamos a
seleção de forma acidental, ou seja, escolhemos as escolas com maiores chances de encontrar o público alvo
de estudo, totalizando cinquenta mulheres entrevistadas. O trabalho de campo se realiza com aplicação de
questionários contendo perguntas abertas e fechadas indagando, entre outros aspectos, o que as mulheres que
abandonaram a escola no período da escolarização obrigatória, buscam na EJA. Acreditamos que estes
procedimentos metodológicos são adequados para apurar opiniões e atitudes explícitas e conscientes dos
entrevistados e permite realizar projeções para a população representada. Ela testa de forma precisa as
hipóteses levantadas e fornece índices que podem ser comparados com outros. Entretanto, traz também o
caráter qualitativo e exploratório, pois estimula os entrevistados a pensar e falar livremente sobre o tema,
fazendo emergir aspectos subjetivos atingindo motivações não explícitas ou mesmo não conscientes de
forma espontânea [3].

3. Resultados e Discussão
Os primeiros contatos com o campo da pesquisa indicam que a busca das mulheres pela formação
nas classes de Educação de Jovens e Adultos vem tendo um crescimento significativo, é o que comprova
também os dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), referente à Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios (PNAD) [1]. Segundo esta pesquisa realizada no ano de 2007, 54% dos alunos de
EJA, são mulheres, com baixa renda e na faixa etária entre 18 aos 39 anos, frequentando principalmente, o
segundo segmento do Ensino Fundamental ou Ensino Médio. Evidencia-se, portanto, que fatores ligados às
questões de gênero têm grande interferência na formação das turmas de EJA. Louro (1994) [2], ao se referir
a construção escolar das diferenças afirma que a escola que nos foi legada pela sociedade ocidental moderna
começou por separar adultos de crianças, católicos de protestantes. Ela também se fez diferente para ricos e
para pobres e ela imediatamente separou meninos e meninas. Historicamente, a mulher teve um acesso
restrito a escolarização devido a cultura patriarcal que valoriza a ascensão social do homem, sendo
submetida a atuar em outros papéis, onde não favorecia o contato com a cultura e o uso do código linguístico
e letrado. Para a mulher bastava apenas saber sobre os cuidados da casa e dos filhos. Numa análise
preliminar da nossa pesquisa podemos observar que questões como o casamento, a maternidade e o trabalho,
permeiam a vida da mulher e, na maioria das vezes, são imprescindíveis para determinar suas escolhas.
Assim, tendo o casamento como “destino” muitas dessas mulheres abandonaram a escola na adolescência e
posteriormente foram frustradas ao retorno a ela, seja pela oposição do companheiro e/ou pelas atribuições

*
Amina Ciandra Oro: nandraoro@yahoo.com.br
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

da maternidade. A procura da mulher pela EJA também tem se intensificado com o objetivo de preparar-se
para o mercado de trabalho, associando seu retorno à escola a procura de melhoria nas condições de vida,
uma vez que, muitas das mulheres são oriundas das camadas sociais de menor poder aquisitivo. A maioria
delas tiveram que abandonar os estudos precocemente para poderem se dedicar ao trabalho, em serviços
atribuídos ao papel da mulher, como doméstica, cuidadora de crianças e cozinheira. Outras questões
importantes que parecem determinar a busca das mulheres pela EJA é atualizar-se para ensinar as tarefas
escolares aos filhos e/ou incentivá-los a permanecerem na escola; a conquista por um novo espaço de
socialização, bem como o fortalecimento de sua auto-estima.

4. Conclusão
A pesquisa encontra-se em andamento, estando na fase de organização e análise dos dados, mas já é
possível perceber, pelas entrevistas realizadas, que os discursos das participantes da pesquisa estão
arraigados por representações da naturalização dos papéis de gênero construídos culturalmente pelas
sociedades patriarcais, colocando a mulher em situação de submissão e/ou opressão. Percebe-se que embora
as mulheres tenham conquistado um espaço significativo nas relações sociais, no mercado de trabalho e
efetivação de seus direitos, há ainda muitos caminhos a percorrer para que sejam realmente respeitadas e
reconhecidas em nossa sociedade. Talvez a EJA seja um dos percursos que podem ser percorridos
favorecendo no processo de emancipação e construção da autonomia feminina.

Referências

[1] IBGE – Censos, contagem populacional, Pesquisa Mensal de Emprego/PME e Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílio/PNAD-2006. Brasília.

[2] LOURO, G.L.. Gênero, Sexualidade e Educação: uma perspectiva pós- estruturalista. Petrópolis, RJ:
Vozes, 1997.

[3]MONTENEGRO, Fábio; RIBEIRO, Vera Masagão. Nossa escola pesquisa sua opinião: manual do
professor. São Paulo: Global, 2002.

Agradecimentos

À Pró-Reitoria Acadêmica e Coordenadoria de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade de Caxias do Sul


à orientadora Profa. Dra. Nilda Stecanela e às participantes da pesquisa.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

O QUE AS TEORIAS DA APRENDIZAGEM NÃO ENSINAM?

Martha M W Hoppe 1 *
Liziane da Silva Barbosa 2
1 Universidade Estadual do Rio Grande do Sul
2 Universidade Estadual do Rio Grande do Sul

1. Introdução
O presente artigo traz um relato de caso com as maiores dificuldades de aprendizagem apresentadas
por dois estudantes de uma escola de educação especial em Tramandaí – RS, com diagnósticos de deficiência
mental, e como principal queixa a não alfabetização, bem como aquelas apresentadas pelo docente que os
atende, na perspectiva de quem relata os casos. O artigo consiste numa tentativa de inovar as concepções e
abordagens de ensino no sentido de que é necessário lançar um olhar para as situações de aprendizagem que
não estão contempladas pelas teorias da aprendizagem. Não é novidade para os docentes que essas teorias de
aprendizagem são orientadoras das práticas escolares e da construção dos métodos de ensino, sendo assim
buscamos identificar o que essas teorias não ensinam. O que está fora do alcance dos pensadores antigos,
está presente nas escolas diariamente: os números dos censo escolar e do Ideb evidenciam que os métodos
estão equivocados. Ao tecer suas concepções sobre as etapas do desenvolvimento, Piaget, observou e
analisou o desenvolvimento de seus netos. Crianças que tiveram infâncias idealizadas, numa outra época.
Essa crianças serviram de modelo padrão para todas as outras, no mundo inteiro. Ainda hoje são os modelos
ideais. Esses modelos faliram, j´não sevem mais. As crianças que estão dentro de um contexto diferente,
numa realidade muito abaixo dos padrões estudados pelos teóricos, além de não figurarem nos escritos da
academia, ficam a mercê de uma educação padronizadora que não respeita as individualidade e diferenças.

2. Método
Esse artigo deriva de uma pesquisa qualitativa de campo. A pesquisa consistiu em observar dois
estudantes com diagnóstico de deficiência mental, que tem por principal queixa da escola a Não
Alfabetização. A observação é seguida por uma entrevista semi-estruturada com a professora da turma de
EJA, a qual eles freqüentam.
Após coletados os dados a foi feita uma análise dos métodos utilizados pela professora identificando
os pressupostos que guiam o seu trabalho, bem como as soluções que ela projeta para a resolução dos
problemas enfrentados no dia-a-dia escolar.

3. Resultados e Discussão
Como resultado principal dessa pesquisa da observação, surgiu a reflexão de como são tratadas as
diferenças de modos de aprender numa escola de educação especial. A reflexão se estende ainda para os
poucos resultados obtidos pela escola no tangente à alfabetização dos estudantes observados. Uma vez que
estes passaram muitos anos na escola regular e mesmo após o diagnóstico e a mudança para uma escola
especial não conseguiram aprender. Partindo da premissa que todos podem aprender e que todos são
diferentes não é concebível que os estudantes sejam enquadradados em uma ou outra abordagem de ensino
pré-definida e padronizado.

4. Conclusão
A questão inicial, que intitula o artigo ficou ainda mais pulsante, pois as teorias de aprendizagem não
ensinam a lidar com as diferenças de aprendizagem, não ensinam a perceber que as realidades não podem ser
padronizadas. As teorias desconsideram os contextos, pois foram escritas em outros tempo, outro século,
outro país. Não servem mais. Já não serviram, mas os educadores continuam insistindo em se manter à
sombra dos velhos mestres.
É premente que sejam revistas as práticas e os métodos oferecidos pelas escolas, pois os casos de
dificuldades na aprendizagem têm aumentando significativamente e a eles são dadas soluções médicas. Não
é possível que o sistema continue educando para o trabalho fabril e quem não se enquadra é excluído e
condenado a viver eternamente em instituições que lhes serve de bengalas.

Referências
BIGGE, Morris L. Teorias da Aprendizagem para professores. São Paulo, EPU, Ed. Universidade de São
Paulo, 1997.

*
Apresentadora: martha-hoppe@uergs.edu.br
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

MOREIRA, Marco Antonio. Teorias da Aprendizagem. São Paulo: EPU, 1999.

BERGÈS, Jean., BERGÈS-BOUNES, Marika., CALMETTES-JEAN, Sandrine. O que aprendemos com as


crianças que não aprendem?, Porto Alegre: CMC, 2008. 250 p.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

O USO DAS TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS EM UMA ESCOLA DE EDUCAÇÃO


BÁSICA E A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO EXPRESSA NO
PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO

Paula Évile Cardoso1*; Divania Luzia Rodrigues2;


1
Discente da Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão - PR
2
Docente da Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão - PR

1. Introdução
O presente trabalho apresenta uma proposta inicial de estudo, vinculada ao Programa de Iniciação
Científica, acerca da relação entre o uso de tecnologias em escolas públicas de Educação Básica e a
organização do trabalho pedagógico.
O objetivo principal do estudo está em investigar o uso das tecnologias educacionais disponíveis em
uma escola pública de Educação Básica, do município de Campo Mourão, Estado do Paraná. Dentre outros
elementos da pesquisa, destaca-se a análise do Projeto Político Pedagógico e Proposta Pedagógica
Curricular.
Entende-se que o Projeto Político-Pedagógico (PPP) expressa a própria organização do trabalho
pedagógico da escola (VEIGA, 2005; VASCONCELLOS, 2002a; VASCONCELLOS, 2002b). “É um
instrumento teórico-metodológico para a intervenção e mudança da realidade. É um elemento de organização
e integração da atividade prática da instituição neste processo de transformação” (VASCONCELLOS,
2002b, p. 169). O trabalho pedagógico, por sua vez, deve ser entendido como o elemento que permite
planejar, executar e avaliar as ações educativas. “[...] o trabalho pertence a quem o concebe, executa e avalia.
Não se aceita que alguém planeje o que o outro irá realizar, pois retira-se do executor suas possibilidades de
domínio sobre o processo de trabalho[...]”(VILLAS BOAS, 2005, p. 181). É por meio do trabalho
pedagógico organizado, pensado e refletido pelo coletivo da escola que se pode pensar mudanças necessárias
no processo educativo. No entanto, observa-se que muitas ações no âmbito das escolas permanecem
cristalizadas, mesmo com a “presença” das novas tecnologias e dos PPPs. Observa-se que, este se constitui
em mais um documento da escola e que, muitas vezes, não expressa e orienta as ações planejadas pelo
conjunto dos profissionais da educação.
Nesta perspectiva, se observa a necessidade de rever as práticas educacionais, tomando a própria
realidade escolar como objeto de estudo, em que a opção pela inserção de tecnologias na educação depende
de discussões teóricas e ações construídas de modo coletivo pelos profissionais da educação.
O uso de tecnologias na educação não é recente. Todavia, no contexto atual, percebe-se a presença
cada vez maior dos recursos e tecnologias de comunicação e informação em diferentes ambientes, e também,
no espaço escolar. Introduzir “novas” tecnologias na educação requer estudo e planejamento. Nesta
perspectiva algumas questões problematizadoras podem ser levadas em consideração. Quais são os objetivos
educacionais que orientam o uso dos computadores TVs, videocassetes e DVDs nas escolas? De que modo
os gestores e os professores pensam e/ou planejam ações para o funcionamento de tais tecnologias na escola?
A pesquisa aponta para a necessidade de investigação do papel da gestão educacional na escola e da
importância do Projeto Político-Pedagógico (PPP), enquanto expressão da organização do trabalho
pedagógico das escolas públicas (VEIGA, 2005; VASCONCELLOS, 2002a). Neste sentido, é possível
levantar as seguintes questões. As ações dos professores nos ambientes informatizados estão planejadas,
previstas, refletidas no PPP da escola? Qual é a relação entre a formação dos professores e o trabalho
desenvolvido com os alunos nos ambientes informatizados? Em que medida as mudanças nas relações
humanas, mediadas constantemente por tecnologias, são compreendidas e articulam-se às discussões sobre a
prática escolar?
Deste modo, o problema de pesquisa se expressa na seguinte questão: quais são os fundamentos
teóricos-metodológicos, presentes nos Projetos Políticos-Pedagógicos, e na ação pedagógica dos professores
da Educação Básica para o uso de tecnologias na educação em uma escola da rede pública de ensino do
município de Campo Mourão?

2. Método

*
paulaevile@gmail.com
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

A pesquisa, por se basear na análise, na coleta de dados, na conceituação de um problema, na ação


planejada e na investigação de uma realidade local, caracteriza-se pela abordagem qualitativa. Este tipo de
pesquisa “[...] envolve sempre um plano de ação, plano esse que se baseia em objetivos, em um processo de
acompanhamento e controle da ação planejada e no relato concomitante desse processo” (ANDRÉ, 1995,
p.33).
O desenvolvimento da pesquisa caracterizar-se-á pela coleta de dados por meio de entrevista semi-
estruturada, de registros realizados durante as observações e análises do Projeto Político-Pedagógico. O
material obtido na pesquisa será fruto de descrições, incluirá transcrições das entrevistas e de depoimentos
dos gestores, professores, alunos e pais. As afirmações realizadas neste estudo serão freqüentemente
subsidiadas por citações, para atribuir validade científica aos dados bem como contribuir para esclarecer
pontos de vista.
A metodologia adotada, com inspiração teórica na abordagem qualitativa, ao focar a prática dos
professores com uso de tecnologias educacionais, terá como preocupação o processo, e não o resultado em si.
Como afirmam Lüdke e André (1986), a “[...] preocupação com o processo é muito maior do que com o
produto. O interesse do pesquisador ao estudar um determinado problema é verificar como ele se manifesta
nas atividades, nos procedimentos e nas interações cotidianas” (p. 12).
A pesquisa seguirá três etapas, assim denominadas: fundamentação teórica, coleta de dados e análise
dos dados. Realizar-se-á, inicialmente e durante o processo de construção do texto, a pesquisa bibliográfica,
a fim de levantar dados sobre a problemática em estudo, bem como a fundamentação teórica necessária para
a organização e análise do tema. Em um segundo momento, a coleta de dados ocorrerá por meio de
entrevistas semi-estruturadas e questionários. A coleta de dados se fará por meio de entrevistas semi-
estruturadas, questionários, análise de documentos, especialmente, o Projeto Político-Pedagógico da escola
de educação básica em que se desenvolverá a pesquisa.
A coleta de dados será necessária, primeiramente, para investigar a situação de uso das tecnologias
educacionais na escola, campo de pesquisa. Em seguida, a coleta de dados visará identificar os modos de
organização do trabalho pedagógico por gestores e professores, bem como investigar a visão do professor da
escola pública sobre de tecnologias presentes na escola. Os objetivos principais da aplicação das entrevistas e
dos questionários são: primeiro: identificar a situação de funcionamento das tecnologias nas escolas
públicas; segundo: saber o que pensa e como planeja o professor sobre tal situação.
A população da pesquisa será constituída pelos gestores, professores, alunos e pais da escola pública.
A pesquisa envolverá os sujeitos de estabelecimentos de uma escola da rede pública de ensino do município
de Campo Mourão.

3. Resultados e Discussão
A presente proposta de pesquisa encontra-se em fase inicial, mas já se pode entender a relevância da
temática, uma vez que, as tecnologias de informação e comunicação fazem parte do cotidiano da sociedade
contemporânea. Os jovens têm acesso a muitas informações, especialmente, pelo uso da internet. Observa-se
ainda, que as escolas recebem programas do governo que visam a inclusão digital. Para tanto, é importante
que o currículo escolar, a partir da reflexão de professores e de gestores, apresente uma proposta de
utilização pedagógica das ferramentas tecnológicas.
Entende-se que a grande relevância do uso de computadores, e de outros meios, nas escolas está na
forma de utilização pelos professores. A opção de utilização de determinada tecnologia de ensino, pelo
professor, demanda planejamento, o que, por sua vez, envolve a pesquisa, a seleção e a organização de
conteúdos. A utilização de tecnologias tem sentido para os professores que buscam novas iniciativas com
seus alunos, que estudam, pesquisam e discutem coletivamente novas possibilidades de ensino e de
aprendizagem. A relevância do uso de qualquer tecnologia de ensino está necessariamente ligada à
concepção de educação que o professor possui. A inserção de uma tecnologia de ensino, por si só, não gera
mudanças no processo educacional.
Deste modo, as tecnologias educacionais podem se constituir em um instrumento pedagógico, que
auxiliam na exposição de conteúdos e que estão disponíveis nesse espaço. Assim, o uso de computadores,
por exemplo, pode ser de grande benefício aos professores e alunos que pesquisam conteúdos e que se
utilizam de produções das mídias, especialmente.
Pensar uma escola de qualidade inserida numa realidade tecnológica requer uma “nova
mentalidade”, exige mudanças nas estruturas e no funcionamento não somente dos espaços informatizados,
como as Salas de Informática, mas no processo de ensino como um todo. (KENSKI, 2006). As mudanças
implicam fundamentalmente, além da ampliação das possibilidades de aprendizagem, o envolvimento de
todos os que participam do processo de ensino. Essa situação demanda mudanças na gestão educacional, que
pode adotar “[...] novas formas de decisão, mais rápidas e menos burocráticas, garantindo maior autonomia

369
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

aos departamentos e áreas específicas da instituição [...]” (KENSKI, 2006, p. 223.), contrariando um sistema
linear e centralizador de decisões.

4. Conclusão
Acredita-se que os problemas que a educação tem a resolver não serão solucionados pela simples
introdução de computadores nas escolas. A formação dos professores para utilização dos computadores e
Salas de Informática parece não ter tomado parte das prioridades educacionais na mesma proporção da
aquisição de equipamentos, “[...] deixando transparecer a idéia equivocada de que o computador e o software
resolverão os problemas educativos” (ALMEIDA, 1998, p. 65-66). Neste caso, destaca-se a necessidade de
investimento na formação do professor, não somente em instrumentalizá-lo para o uso da máquina. Tentar
“modernizar” a educação com máquinas em um contexto de velhas concepções não é significativo.
Dessa forma, este projeto de iniciação científica, visa realizar a pesquisa em uma escola de Educação
Básica da rede estadual de ensino de Campo Mourão, para compreender como se dá o uso dessas
tecnologias. Primeiramente, haverá a análise no Projeto Político-Pedagógico da escola, campo da pesquisa.
Na seqüência, será realizada a observação, as entrevistas e questionários com a comunidade escolar.
Pretende-se compreender se os recursos tecnológicos já empregados e a implantação de novas tecnologias
contribuem para o processo de ensino-aprendizagem e modo como está planejado pela escola.

Referências
ALMEIDA, Maria Elizabeth Bianconcini. Da atuação à formação de professores. In: BRASIL. Secretaria de
Educação a Distância. TV e Informática na educação. Brasília, DF: MEC, 1998.

ANDRÉ, Marli Eliza D. A. de. Etnografia da prática escolar. Campinas, SP: Papirus, 1995.

GANDIN, Danilo. GANDIN, Luis Armando. Temas para um projeto político-pedagógico. 4. ed.
Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2001, pp. 159-166.

KENSKI, Vani Moreira. Caminhos futuros nas relações entre novas educações e tecnologias. In: SILVA,
Aida Maria Monteiro et al (Orgs.). Políticas Educacionais, tecnologias e formação do educador:
repercussões sobre a Didática e as práticas de ensino. Recife: ENDIPE, 2006. p. 213-226.

LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU,
1986.

VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Coordenação do trabalho pedagógico: do projeto político-


pedagógico ao cotidiano da sala de aula. 4. ed. São Paulo: Libertad, 2002a.

VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Planejamento: projeto de ensino-aprendizagem e projeto político-


pedagógico. 11. ed. São Paulo: Libertad, 2002b.

VEIGA, Ilma Passos Alencastro; RESENDE, Lucia Maria Gonçalves de. (Orgs.). Escola: espaço do projeto
político-pedagógico. 8. ed. Campinas, SP: Papirus, 2005.

VILLAS BOAS, Benigna Maria de Freitas. O projeto político-pedagógico e a avaliação. In: VEIGA, Ilma
Passos Alencastro; RESENDE, Lucia Maria Gonçalves de. (Orgs.). Escola: espaço do projeto político-
pedagógico. 8. ed. Campinas, SP: Papirus, 2005. p. 179-200.

Agradecimentos
Agradecimentos, em especial, à Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão e ao
Grupo de Estudo e Pesquisa Educação Trabalho, Tecnologias e Subjetividades (GEPETTS), no qual o
presente trabalho está vinculado.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

OBSERVAÇÃO ETNOGRÁFICA CENTRO DE UMBANDA EXUMARÉ


FLORIANÓPOLIS/SC

Priscila Cristina Freitas1


Maria Fernanda B. F. W. Paula2

1. Introdução

O presente trabalho apresenta resultados curta uma observação etnográfica realizada no Centro de
Umbanda Exumaré, localizado próximo ao centro da cidade de Florianópolis-SC, durante os meses de abril a
junho de 2010. Esta observação foi realizada na disciplina de Antropologia da Educação do Curso de
Pedagogia da UDESC, sob orientação da professora Tânia Welter. A proposta da professora foi fazer com
que os alunos desta disciplina experimentassem a vivência etnográfica em um contexto não-familiar, de livre
escolha, a fim de trabalhar com a questão do etnocentrismo e os diversos tipos preconceitos em nossa
sociedade. A partir da observação etnográfica foi feito um relato desta experiência e, ao final do semestre,
houve um momento de compartilha com os alunos onde cada grupo expôs e discutiu seu trabalho.
O Centro de Umbanda Exumaré localiza-se na comunidade Nova Trento, em uma das encostas do
Morro da Cruz, onde se abrigam diversas comunidades constituídas majoritariamente por cidadão afro-
brasileiros, entre elas, Nova Descoberta, Nestor Passos, Serrinha, Morro do 25, Mocotó, Mont Serrat, entre
outras. Ao escolher este contexto para a observação, o nosso objetivo foi de entender esta prática religiosa e
desmistifica a idéia comum de que as práticas religiosas afro-brasileiras, entre elas, a Umbanda, estão ligadas
a “feitiçaria” ou ao mal (TRAMONTE, 2010).

2. Método

O método empreendido foi a observação etnográfica. A pesquisa etnográfica procura obter um


quadro holístico dos sujeitos estudados, com ênfase na descrição das experiências diárias das pessoas,
observando e entrevistando-as em profundidade, numa observação contínua e constante de suas atividades
sociais, culturais, coletivas e individuais, na tentativa de capturar o quadro mais completo possível, de modo
que os pesquisadores possam compreender como as pessoas descrevem e estruturam o mundo ao seu redor
(CRESWELL, 2007). Segundo Laplantine (1993), uma etnografia não consiste apenas em coletar, através de
um método estritamente indutivo, uma grande quantidade de informações, mas em impregnar-se dos temas
obsessionais de uma determinada realidade sócio-cultural, de seus ideais, de suas angústias.

Fig. 1 Centro de Umbanda Exumaré.

Foto: Altar do Centro de Umbanda Exumaré.


Fotografia: Priscila Cristina Freitas, em 23/04/2010

1
Acadêmica do Curso de Pedagogia da Universidade do Estado de Santa Catarina. priskafreitas@hotmail.com
2
Acadêmica do Curso de Pedagogia da Universidade do Estado de Santa Catarina. mfwp@floripa.com.br
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Assim, a proposta metodológica desta observação etnográfica foi investigar as práticas do Centro de
Umbanda Exumaré e registrar os momentos vivenciados pelos/as adeptos/as. As técnicas utilizadas para a
coleta foram análise e interpretação dos dados, observação participante, registros em diário de campo,
entrevistas livres, fotografias e gravações em áudio e vídeo. Os interlocutores da pesquisa foram os
integrantes e freqüentadores Centro de Umbanda Exumaré, especialmente a Mãe-de-santo.
Durante todo o processo de observação procuramos conhecer sobre a Umbanda, fazendo perguntas –
algumas preparadas através de conversas entre os integrantes da equipe e outras conforme as dúvidas iam
surgindo no momento da observação. Participamos também de rituais festivos como a celebração de Ogum a
de Oxum. Estas duas festas foram registradas com vídeos, fotos e diário de campo. Com isso, procuramos
conhecer esta prática religiosa através da aproximação e impregnação de suas práticas.

3. Resultados e Discussão

A Umbanda, assim como outras práticas religiosas afro-brasileiras, são freqüentemente relacionadas
à feitiçaria, macumba, coisa-feita, trabalho, despacho (TRAMONTE, 2007; MAGNANI, 1986). Esta forma
de definir encontra sua fundamentação no etnocentrismo, ou seja, julgar um costume, uma crença, um modo
de vida em função dos valores de sua própria cultura (MAGNANI, 1986, p. 10). Inúmeras vezes olhamos o
diferente com menosprezo e desdém. Mas, ao nos aproximarmos daquilo que está distante, que não
compreendemos e que não faz parte da nossa vivência, o diferente passa a fazer parte de nós, possibilitando
uma maior abertura para o mundo e a vida. Naturalmente, fazemos e julgamos diversas culturas por não
conhecer suas práticas, seus costumes, seus valores. Para Queiroz (1995), quando consideramos e julgamos
uma sociedade ou cultura diversas da nossa a partir de critérios e interesses transmitidos pela nossa própria
cultura, estamos procedendo de forma etnocêntrica.
A observação etnográfica realizada no Centro de Umbanda Exumaré, embora curta, possibilitou para
nós enquanto acadêmicas conhecer um pouco da riqueza desta prática, o cotidiano, os rituais, as motivações
dos integrantes, as músicas, os ambientes, e principalmente sensibilizou nossa maneira de olhar questões
relacionadas à alteridade. O privilégio de experimentar este outro segmento social, de partilhar a sua
realidade, sua descrição do mundo, seus significados e seus valores, nos possibilitou rever nossa visão
anterior a respeito desta prática religiosa. Ao compartilhar essa experiência em sala de aula, acreditamos que
os demais alunos da turma também puderam rever seus conceitos pré-estabelecidos. Por exemplo, ao
apresentar em sala de aula nossa experiência etnográfica, percebemos logo uma reação de estranhamento e
repúdio da turma, muito disso em função de ser uma prática religiosa que muito se ouve falar (geralmente
sob o pejorativo de „macumba) mas, de fato, pouco se conhece realmente. Ao final da apresentação, foi
apresentado aos acadêmicos um vídeo caseiro da festa de Ogum, mostrando um pouco da visita que foi feita
no centro de Umbanda Exumaré. Depois de ver o vídeo abrimos para o debate para conversar e tirar dúvidas
da turma. Ao vermos o vídeo alguns colegas ficavam comentando sobre cenas como a “Gira” e até mesmo
ficavam rindo nestes momentos por que achavam engraçado. Outros perguntavam curiosidades e/ou
acrescentavam coisas que sabiam ou que viram em seu quotidiano. No debate apareceram varias perguntas
entre elas, é claro, a questão da Umbanda como feitiçaria e, associando-a a uma religião que “faz o mal às
outras pessoas”. Percebemos, com isso, o quanto a Umbanda congrega em si uma camada da sociedade
marginalizada, cujo reconhecimento é objeto de pouco interesse das classes dominantes.

4. Conclusão

O trabalho contribuiu para que nós acadêmicas – e os/as demais colegas de classe – pudéssemos
conhecer um pouco mais as práticas, costumes e valores da religiosidade afro-brasileira e desmistificar a
idéia que Umbanda é coisa de “feitiçaria”, propiciando um outro olhar para está realidade. Conhecer uma
manifestação cultural diferente contribuiu significativamente para nossa formação como futuros/as
educadores/as, uma vez que a acreditamos que a escola, um espaço de afirmação das identidades, necessita
reformular as práticas educativas no sentido de conceber os fundamentos dessas religiões como códigos
sócio-culturais e educativos referentes a uma outra forma de sociabilidade. Este pode ser um dos caminhos
para afastar atitudes como a indiferença, a intolerância e o preconceito na educação.

Referências

CRESWELL, John W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. Tradução: Luciana de
Oliveira Rocha. 2. ed. – Porto Alegre: Armed, 2007.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

LAPLANTINE, François, Especificidade da prática antropológica. In: Aprender Antropologia. 6 ed. São
Paulo: Brasiliense, 1993. p.149 a 159.
MAGNANI, José Guilherme Cantor. Umbanda. São Paulo: Editora Ática, 1986.
QUEIROZ, Renato da Silva. Não vi e não gostei: O fenômeno do preconceito. São Paulo: Moderna, 1995.
TRAMONTE, C. Educação Intercultural e Práticas Afro- Brasileiras: Construindo a Tolerância na
Diversidade. Disponível em <http://www.ufsm.br/linguagemecidadania/02_02/CristianaLC8.htm> Acesso
em: 15/07/20010.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

OFICINAS: UMA FUGA DO ENSINO TRADICIONAL

Evandro Both1*
1
Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução
O trabalho visa divulgar as atividades e experiências obtidas durante as aplicações de oficinas que
envolvem a disciplina de História, realizadas no Colégio Estadual Rômulo Zanchi, localizado na cidade de
Santa Maria – RS. Faço parte do PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência) no
subprojeto de licenciatura em: “História e Educação: os meandros do ensino formal”. Nas atividades
trabalham grupos formados por acadêmicos do curso de História da Universidade Federal de Santa Maria, do
Estado do Rio Grande do Sul (RS). Com o uso das oficinas, pretendemos “fugir” do método tradicional de
ensino, pois, através delas, evidenciamos aos estudantes que eles também fazem parte da história, sendo eles
os agentes históricos, quebrando com a questão de que existem heróis históricos, e que, desta forma, são os
heróis que fazem a história e nós somos apenas sujeitos passivos. As oficinas trabalham com a chamada
“Arte de Rua” - Fanzine, Grafitte, Stêncil, etc. As oficinas não visam substituir as aulas do Ensino Formal,
pois as mesmas ocorrem em horários extra classe, sendo realizadas paralelamente ao Ensino Formal. O
Projeto teve início no mês de abril de 2010, e tem prazo de conclusão em abril de 2012.

2. Método
Quanto ao método, pretendo deixar claro que na perspectiva de oficina, método não cabe. Nós
utilizamos ações educativas que não se repetem na medida em que pessoas não são máquinas para repetir
com exatidão tarefas mecânicas. São seres vivos com sensibilidade, com emoção, com prazeres, com
instabilidades e, principalmente, com potencialidade e singularidades a constituir uma diferença que em
coletivo, não homogeneíza e nem padroniza. Assim as oficinas buscam potencializar o ver, o escutar, o sentir
e o agir, a partir de uma decodificação do objeto de estudo. Num primeiro movimento, o observador ou
aquele que está interessado em estudar algum tema quer com vontade decodificar para si mesmo o objeto em
estudo. Num segundo movimento se disponibilizar para em coletivo dialogar com os interessados na
temática, desaprender as verdades absolutas sobre a mesma e, a partir da desaprendizagem, reaprender outros
percursos possíveis sem absolutizar verdades, mas sim, identificar os elementos que constituíram
historicamente os conceitos a caracterizar o respectivo tema em um determinado espaço-temporal. Com esta
estratégia procuramos valorizar a nômades necessária a mobilizar o pensamento na direção do criador não
ficar refém da sua própria criação o que potencializa a releitura. Esta proposição em termos da historiografia
aponta para um inacabamento a violar as verdades absolutas e, assim, violar o conhecimento a vegetar no
silencio das academias.
Para divulgar o evento, passamos em sala de aula e entregamos aos estudantes os convites feitos com
fanzine (técnica de recortes de revistas, jornais, etc, e colagem em outras folhas para fazer o próprio método
de divulgação de ideias, notícias, propagandas, protestos, etc), para que, assim, eles tivessem uma noção de o
que estávamos querendo trabalhar com eles. Depois pedimos a eles como queriam trabalhar a história de uma
maneira alternativa, para sairmos da maneira tradicional de ensino, com livros e professor explicando o que
está nos livros, etc. A partir daí surgiram várias hipóteses de o que trabalhar, entre elas, cinema, fanzine,
grafitte, stêncil.
Depois de analisar qual era a necessidade dos estudantes, perante a nossa proposta de trabalhar a
história de maneira alternativa com eles, começamos a efetuar as oficinas nos encontros que se sucederam.
Com essas oficinas, os estudantes estarão fazendo parte do processo histórico, fugindo, dessa forma, da
escola tradicional, que segundo Saviani, tem o papel de “difundir a instrução, transmitir os conhecimentos
acumulados pela humanidade e sistematizados logicamente”[1]. Neste ponto vemos que a escola tradicional
tem uma visão muito limitada, achando que os estudantes não tem uma carga de conhecimento acumulado
com a sua trajetória de vida. A escola acha que eles vem vazios para a sala de aula onde eles aprendem os
conteúdos de que precisam para viver. Efetivamente isso significa desconsiderar a parte diversificada dos
currículos, prevista pelas políticas públicas em termos da construção curricular, ou seja, valorizar o saber que
os estudantes trazem consigo da vivência cotidiana nos seus respectivos espaços temporais. Tanto assim que
o Ministério da Educação criou os temas transversais para superar a fragmentação e descontextualizarão da
formação dos estudantes. Por estes motivos, estamos trabalhando com a técnica de oficinas, para que os
estudantes se sintam parte integrante dos acontecimentos que se fazem na história, e, também, dessa forma
superando, pelo menos em parte, os problemas da educação atual.

* evandroboth@yahoo.com.br
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Muitas vezes o conhecimento trazido pelo estudante não tem a ver com o conteúdo passado em sala de
aula, mas é um conteúdo que deve ser levada em conta, pois é aquilo que o estudante traz para a sala de aula
que ele vive, é a sua realidade que ele traz como bagagem. Por estes motivos, escolhemos como tema geral
de nossas atividades “O sujeito histórico na intervenção política” e temos como base teórica os seguintes
questionamentos: Quem Faz História? Quem Vive a História? e, Pra quem Serve a História?. A partir destes
questionamentos os estudantes começam a ver a história de outra forma, uma vez que se sentem parte do
processo que ocorre nas atividades e enxergam que são eles, também, que fazem história, vendo que a sua
trajetória de vida tem, sim, peso no tempo em que ele está vivendo.

3. Resultados e discussão
Até o momento, tivemos uma boa participação dos estudantes nas atividades desenvolvidas. Em parte,
essa participação se deu devido à forma como foram realizadas as oficinas, uma vez que foram eles que
puderam dizer o que queriam trabalhar, diferenciando esta ação de ensino, daquela em que os professores
chegam à sala de aula e começam a simplesmente despejar o conteúdo, muitas vezes sem preocupar-se se
estão trabalhando da maneira correta com os estudantes ou se estão apenas repassando o conteúdo para os
estudantes, como se eles fossem sujeitos passivos na história, sem a chance de poderem interferir nos
acontecimentos de seu tempo.
Na realização das oficinas, nós, abrimos os espaços das mesmas e fizemos uma análise histórica em
cima de como surgiu e para que serviu cada uma das formas de comunicação (fanzine, grafitte, stêncil...), às
vezes mostrando vídeos sobre as oficinas a serem realizadas, e, apenas depois dessa parte teórica é que
partimos para a prática, deixando eles trabalharem da sua forma, apenas dando algumas dicas, quando
necessário.
A partir do que os estudantes colocam no papel, é que nós buscamos perceber o que os estudantes
desejam trabalhar, por exemplo, a sexualidade, o dinheiro e a beleza, são assuntos que apareceram em todos
os fanzines feitos pelos grupos. A partir disso nos reunimos para ver o que trabalhar, com eles, a respeito
desses assuntos. Esse trabalho foi realizado na segunda oficina, na qual problematizamos o que eles
colocaram nos fanzines da primeira oficina, e depois disso, pedimos para eles reconstruírem seus trabalhos
para ver o que havia mudado na concepção deles em relação aos assuntos abordados.
As oficinas não são obrigatórias aos estudantes, e esse é mais um dos motivos pelos quais temos que
tomar cuidado para que as mesmas não se tornem maçantes e repetitivas, e assim os estudantes acabem
desistindo de participar das mesmas. Porém, mesmo elas não sendo obrigatórias, sabemos que são muito
importantes para contribuir com o conhecimento da disciplina de História trabalhada em sala de aula, e isso,
nós temos como objetivo deixar bem claro para os estudantes, pois dessa maneira, também, eles acabam
levando as oficinas a sério, caso contrário, elas poderiam se tornar um lugar de distração, apenas.
Outro fator que devemos saber trabalhar, também, devido a não obrigatoriedade das oficinas, é o
improviso, pois, muitos estudantes podem vir a uma oficina e não ir à outra, como, também, outros
estudantes podem vir a ingressar nas oficinas depois de percorrido um tempo de atividades, aí que entra o
improviso, pois, temos que saber trabalhar para que os dois estudantes fiquem interados no que estamos
querendo trabalhar com eles, e, dessa forma se sentirem sujeitos interventores. Pois, devemos saber trabalhar
de acordo com a necessidade deles, e para isso devemos ter a sensibilidade em cada oficina, para ver se os
estudantes estão gostando da maneira que queremos trabalhar ou não. No caso de não estarem gostando,
devemos saber improvisar algo que faça eles se sentirem bem no espaço onde estão ocorrendo as oficinas.
Através das oficinas, temos como objetivo trabalhar de forma dinâmica com conteúdos paralelos, mas
nem por isso menos importantes, ao do Ensino Formal da disciplina de História. As mesmas cabem, muitas
vezes, como complementos das aulas dadas em sala de aula, que muitas vezes são passadas superficialmente
devido ao pouco tempo que os professores têm para trabalhar cada conteúdo em sala de aula com os
estudantes.

4. Conclusão
O trabalho realizado nessa escola tem o objetivo de trazer uma outra forma de aprendizagem do
conteúdo histórico, que supera o chamado ensino tradicional que há na maioria das escolas de hoje, o
objetivo maior é trazer o debate de quem é o sujeito histórico, evidenciando aos estudantes que eles também
fazem parte da história, fato muitas vezes ocultado nas escolas tradicionais. Isso faz com que os estudantes
participem mais das oficinas, e, também, começam a olhar a história de outra forma, pois, muitos estudantes
não gostam de história na escola, justamente, pela forma que os conteúdos são passados, que, na maioria das
vezes, não tem a ver com a realidade em que os estudantes estão inseridos. Esse ensino conteudista não traz o
prazer de aprender e se relacionar com a história, e, nossa meta para esse PIBID é fazer com que os
estudantes mudem a visão a respeito da história, e, com isso acabem fazendo as tarefas diárias sabendo que

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

estão fazendo parte da história, pois para nós vale muito mais uma educação voltada para a realidade do
estudante do que o simples repasse de conteúdo sobre algo que os estudantes nem reconhecem como parte de
sua história.

Referências

[1] SAVIANI, Dermeval. Escola e Democracia: teorias da educação, curvatura da vara, onze teses sobre a
educação política. 39. ed. Campinas, SP. Autores Associados, 2007.

CORRÊA, Guilherme Carlos. Oficina: Novos Territórios em Educação. IN: Pedagogia Libertária.
Experiências Hoje. São Paulo, Ed: Imaginário, 2000.

PEY, Maria Oly. Oficina como Modalidade Educativa. IN: Perspectiva. Florianópolis, Ed: Centro de
Ciências de Educação da UFSC, 1997.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

OS CONFLITOS E OS SENTIMENTOS PRESENTES NA RELAÇÃO


PEDAGÓGICA E SEUS ENTRELAÇAMENTOS NA CONSTRUÇÃO
DA PERSONALIDADE MORAL

BELING, Vívian Jamile1*; DANI, Lúcia Salete Celish2


1
Bolsista PROLICEN/2010. Acadêmica do curso de Pedagogia da UFSM
2
Coordenadora. Professora adjunta do FUE e do PPGE/CE/UFSM

1. Introdução
O aumento da violência apresentado nos noticiários e jornais nos assombra cada vez mais. Não existe
nenhum espaço na sociedade que escape de situações violentas, assim a escola, como um segmento dela é
também cenário de violências causadas na, por ou contra ela. Os conflitos são inerentes à condição humana,
entre tanto entendemos que não se configuram como uma violência em si, mas esses momentos carregados
de tensão e sentimentos podem acabar tendo desfechos com atitudes agressivas e violentas sejam elas física,
verbal, moral, ou psicológica, quando não resolvidos positivamente.
O presente trabalho resulta na discussão sobre a resolução de conflitos dentro da instituição escolar, a
partir de um recorte dos dados obtidos em pesquisas que vem sendo realizadas pelo Grupo Afetos Morais
desde 2004, sob coordenação da Prof.ª Dr.ª Lúcia Salete Celich Dani. Destas destacamos o trabalho realizado
no ano passado (2009), o qual teve como objetivo compreender e investigar qual o entendimento dos alunos
do Ensino Fundamental sobre os sentimentos que afloram nos conflitos, especialmente, no bullying.
Os resultados obtidos na investigação além de terem apontado para o crescente aumento da violência
na escola indicam a ausência de estratégias que resultem em resoluções positivas dos conflitos e que
contribuam para a formação da personalidade moral fundada na autonomia, em valores éticos, no respeito
mútuo e em noções de justiça o qual conduzem a relações interpessoais embasadas no diálogo.
Muitas vezes somos cúmplices de violências que passam despercebidas ou que não são identificadas
como tais por faltar-lhes agressões que ferem fisicamente, porém é preciso lembrar que existem inúmeras
formas de violências. Algumas delas acabam acontecendo veladas como é o caso do bullying, caracterizado
por atitudes agressivas intencionais e repetitivas entre pares, havendo um desequilíbrio de poder, e causando
dor e sofrimento nas vitimas, muito comum no cenário escolar.
Em uma escola entendida como espaço de aprendizagem e formação do sujeito cidadão vê-se
necessária uma prática pautada no diálogo, valorização do sujeito, respeito mútuo, para que se construa uma
sociedade mais harmoniosa e menos violenta. Neste sentido buscamos refletir sobre a maneira de agir dos
alunos e professores diante dos conflitos que surgem na sala de aula e/ou escola, procurando compreender
quais as repercussões dessa ação no processo de construção da personalidade moral. Realizamos este estudo
em relação aos conflitos e suas formas de resolução percebendo a escola como parte da sociedade que gera
um cenário de múltiplas possibilidades de relações com o outro e de grande importância na discussão dessa
problemática. Os conflitos podem ser grandes oportunidades de aprendizagem. Buscar uma resolução
positiva dos conflitos presente no cotidiano escolar abre-se espaço para o entendimento do outro e dos
sentimentos que afloram nessas situações.

2. Método
Os dados obtidos na pesquisa contaram com a colaboração de 100 alunos de 7º e 9º ano do Ensino
Fundamental de uma escola do município de Santa Maria, no ano passado (2009), através de um questionário
que continha nove perguntas com opções de múltipla escolha, com orientação de que podiam ser marcadas
todas as alternativas que julgaram verdadeiras. Por fim, havia uma questão aberta, onde os alunos puderam
apontar o que viviam ou presenciavam na escola em relação aos conflitos e seus sentimentos que ainda não
haviam sido contemplados.
Esse questionário foi elaborado a partir da revisão de literatura e constatações em pesquisas anteriores
(2008), realizadas pelo grupo Afetos Morais com todos os alunos desta mesma escola o qual indicaram: que
as situações conflituosas são geralmente descritas na forma de violência, relatadas em situações de brigas
envolvendo agressão verbal ou física e muitas vezes uma como conseqüência da outra; a quase naturalização
do sofrimento com apelidos que não gostam, nas relações interpessoais aluno-aluno e professor- aluno, na
escola e/ou dentro da sala de aula; demonstram desconforto, mágoa, ofensa, vergonha e desgosto perante
estas situações, mas dificilmente falam sobre seus sentimentos; em algumas tentativas este é resumido
apenas em considerar a violência como algo ruim. Optamos realizar esta investigação através de um

*
Autor Correspondente: vivian.jamile.b@gmail.com
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

questionário de múltiplas escolhas, afim de que os alunos pudessem expressar algum tipo de situação
conflituosa que possivelmente não teria sido lembrada caso não estivesse listada no questionário.
Sobre o tema violência escolar, muitas pesquisas são realizadas de forma quantitativa, apresentadas em
índices, tabelas e gráficos que possibilitam uma visão geral sobre a realidade, abrindo caminho para uma
série de discussões. Como por exemplo, os que são apresentados em estudos do MEC1, e em estudos da
FANTE sobre o bullying escolar, entre outros autores. Tognetta e Vinha (2008, pág. 222) completam ao
perguntarem o que se ganha ao aplicar um questionário: “O primeiro ganho é de fato o conhecimento da
realidade e, muitas vezes, uma grande surpresa ao saber o que os alunos pensam. O questionário na verdade,
abre um espaço de discussões”. E era exatamente este espaço de discussões que pretendíamos criar.

3. Resultados e Discussão
O que tem se constatado vem ao encontro das idéias de Sastre e Moreno (2002) quando diz que:
“Nossa razão não foi exercitada na resolução de conflitos” como também “Não desenvolvemos a
sensibilidade necessária para interpretar a linguagem de nossos sentimentos”. Estamos habituados a não
resolver nossos conflitos, delegando está função a pessoas que possuem maior autoridade, na escola aos
professores e direção. Segundo os dados da pesquisa realizada em 2009, temos um quadro da realidade que
nos mostra que ações agressivas violentas e/ou ofensivas estão presentes em todos os segmentos da escola,
sendo de maior ocorrência entre os alunos. Segundo as indicações dos alunos no questionário, é através do
encaminhamento para a direção, que os conflitos são resolvidos, 40% apontando o diretor como quem
resolve os conflitos, seguido por 28% nas opções “mandado para a secretaria”, “assinando a ata” e
“chamando os pais ou responsáveis”.
A violência torna-se um dos grandes vilões da educação, porém os conflitos costumam ser negados,
recebendo atenção, muitas vezes, apenas quando tem um desfecho violento. Neste sentido cabe lembrar, as
palavras de Morais (1995, p.55), quando ressalta que “as violências sutis têm logrado passar indiscutidas,
exatamente por faltar-lhes o impacto da brutalidade sangrenta”. Assim como já falado, a violência explícita
e/ou sutil que se faz presente no cenário escolar, não deve ser entendida como um conflito em si mesma, mas
como estratégias equivocadas na resolução de problemas interpessoais.
Quando a pergunta foi quanto ao tipo de violência, foram indicados em um índice geral como primeira
opção “agressão física” com 49% de indicações, mas em seguida, com apenas uma indicação a menos
encontramos “xingamentos” (48%), depois “deboches” (41%), “brigas envolvendo agressão verbal” (41%),
“brincadeiras de mau gosto” (40%), “pessoas sendo chamadas por apelidos ofensivos” (39%). Nota-se que
todos esses elementos fazem parte das características de uma violência velada, simbólica, tão ou mais
perigosa que as agressões físicas, que muitas vezes são conseqüências dessas.
O bullying foi uma opção que ocupou o nono lugar nesta questão com 14% das indicações. A palavra
Bullying é de origem inglesa adotada por vários países para representar a violência psicológica e moral.
Fante (2005, p.27) ressalta que nas atitudes de violência encontram-se presentes “o desejo consciente e
deliberado de maltratar uma outra pessoa e colocá-la sob tensão; termo que conceitua os comportamentos
agressivos, anti-sociais, utilizado pela literatura psicológica anglo-saxônica nos estudos sobre violência
escolar”.
A autora escreve que:
por, definição universal, bullying é um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e
repetitivas que ocorrem sem motivação evidente, adotado por um ou mais alunos contra
outro(s), causando dor, angústia e sofrimento. Insultos, intimidações, apelidos cruéis,
gozações que magoam profundamente, acusações injustas, atuação de grupos que
hostilizam, ridicularizam e infernizam a vida de outros alunos levando-os à exclusão, além
de danos físicos, morais e materiais, são algumas das manifestações do comportamento
bullying (FANTE, 2005, p. 28-29).

Ao investigarem as causas que explicariam o comportamento apresentado na ocorrência do fenômeno


bullying, pesquisadores depararam-se com uma realidade que revela-o como conseqüência de outros fatores.
Segundo Tognetta (2005), o bullying reflete um problema anterior às relações interpessoais referindo-se às
representações, das imagens que cada pessoa tem de si: “um problema ligado à constituição de „quem sou
eu‟, ou até mesmo „quem eu quero ser‟” (p. 19). Explica a autora que de acordo com estas imagens ou
representações, a pessoa atribui-se um valor que pode ser elevado ou mínimo. Se for mínimo poderá levá-la
ao conformismo, ou seja, aceitar que é merecedora dos insultos; ou ainda, levar a pessoa a impor sua força a
fim de tornar o outro tão pequeno quanto se sente. Por outro lado, se o valor que a pessoa atribui-se é elevado
também pode trazer conseqüências negativas às relações interpessoais ao ver-se como melhor que os outros e

1
Ministério da Educação e Cultura
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

assim agir no sentido de menosprezar o outro, a fim de comprovar a si mesmas de que são superiores. Neste
sentido, conclui a autora, “as imagens de si podem favorecer a formação de vítimas ou de agressores”.
A auto-imagem que cada sujeito constrói de si mesmo influencia a construção da personalidade moral
autônoma. E cabe ressaltar ainda a importância de ouvir tanto vítima e quanto agressor para descobrir as
causa do problema e a partir deste ponto tomar as decisões adequadas para criar projetos de intervenção ao
bullying e perceber que ambos enfrentem conflitos, sofrem e precisam de ajuda.
Nota-se que existe pouca ou nem uma problematização dos momentos conflituosos em sala de aula.
Vemos que muitas vezes esta preocupação está ligada apenas à resolução objetiva dos problemas concretos
que se apresentam, e a tarefa de “resolver-los” é delegada a direção que se utiliza de mecanismos tais como
chamar os pais ou responsáveis, e fazer com que assinem uma ata. Ou ainda quando delgadas a função aos
professores, estes parecer concordar com a idéia e acabam mandando os alunos para fora da sala, para
secretária ou para direção. Na sociedade o que se discute é a punição que o responsável deve receber, e nas
escolas busca-se as razões do ocorrido na família ou nas questões sociais que são amplamente divulgadas
pela mídia. Dificilmente são construídas experiências positivas a partir de momentos conflituosos.
Os conflitos são oportunidades de aprendizagem, de construção de valores e capacidades, de
conhecimento de si e do outro, do exercício do diálogo e da democracia. No entanto, quando não
problematizados podem agravar-se gerando, muitas vezes, conseqüências destrutivas ou trágicas para os
envolvidos. A respeito disso, Sastre e Moreno (2002) nos falam que:
quando não há uma aprendizagem, o sujeito recorre a “contar com os dedos”. No caso dos
conflitos, isto supõe deixar-se levar pelas emoções e pelos impulsos sem nenhuma reflexão
prévia, o que conduz a respostas primitivas, tais como agredir, inibir-se para agir, esconder-
se no ressentimento e respostas afins (p.51).

Assim como as autoras citadas anteriormente Vinyamata (2005, p. 15) especifica que violência e
conflito apresentam significados distintos afirmando que “O conflito é inerente ao desenvolvimento
humano” e esclarece que “as intervenções do docente durante os conflitos consistirão, basicamente no
desenvolvimento de processos pedagógicos, de negociação, mediação, arbitragem ou tratamento utilizando
os recursos adequados”. Os conflitos que surgem neste ambiente deveriam ser momentos, onde os
professores e alunos pudessem dialogar, negociar, acordar e construir saberes necessários à convivência
cotidiana na vida escolar, familiar e social.
Araújo (2007, p. 50), enraizado por este ideal da UNESCO, ao analisar as situações de conflitos no
contexto da comunidade escolar, enfatiza que é preciso conhecer o “lado de fora da escola” com projetos
interdisciplinares e transversais. Em suas pesquisas sugere as assembléias escolares como espaço para a
resolução de conflitos pela democracia participativa.
A concepção de educação defendida por Morais (1995) reafirma o princípio da responsabilidade
docente em educar para a autonomia do pensamento em prol da humanização. O autor pronuncia que “educar
é intervir em vidas” (p.45), mas alerta que esta intervenção se faz pelo convite, pelo princípio da autoridade,
do equilíbrio, e nunca pela invasão, apoiada pelo princípio da competição, do desequilíbrio docente. O
educador ao intervir em vidas com suporte do autoritarismo acaba sufocando a ação criadora causando a
hipertrofia do pensamento autônomo e deforma o educando (re)produzindo a violência.
Na opinião dos alunos da escola investigada sobre como gostarias que os conflitos fossem resolvidos a
maioria externou que gostariam que fosse por meio do diálogo (46%) e de grupos de conversa (25%), porém
não negam que seria de responsabilidade das autoridades, direção, buscar soluções justas para estes
momentos com medidas de coação, com 26% de indicações para opção “a direção é responsável por
solucionar os conflitos e 24% e 21% respectivamente para as opções “os envolvidos devem ser suspensos” e
“os envolvidos devem „pagar‟ pelo mal que fizeram”.
Fernández (2001) explica que somente pelo diálogo podemos construir (re)construir e (des)construir
ações concretas para o enfrentamento das violências por intermédio da autonomia e autoria do pensamento
que é construído pelas relações de cooperação,de troca mútua e, não de passividade diante de informações
impostas e massificadas no nosso cotidiano.

4. Conclusão
Os conflitos, bem como os sentimentos envolvidos nestes momentos, devem ser trabalhados na
relação pedagógica. Se os conflitos produzidos em sala de aula não forem trabalhados na condição que
favoreçam a sensibilidade moral, a tomada de consciência, o desejo de superar limites, a compreensão do
respeito aos limites, a internalização de sentimentos, de cooperação, reciprocidade, tolerância e abertura ao
diálogo: a construção de personalidades morais autônomas não será concretizada, e continuaremos assistindo
o assombroso aumento das violências dentro do ambiente escolar e na sociedade como um todo.
Entendemos que nosso trabalho demonstra que não podemos ser indiferentes perante essas situações
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

de violências e nem ser intimidados pela complexidade do assunto em meio à realidade posta no ambiente
escolar. Acreditamos ainda que ele possa vir a contribuir com debates sobre as práticas pedagógicas que
vivenciamos, e alertar sobre a necessidade de se consideram os conflitos que surgem dentro da escola como
momentos de aprendizagem, buscando um ambiente mais harmonioso e menos violento.

Referências
ARAÚJO, Ulisses; PUIG, Josep; AMORIM, Valéria (org). Educação e valores: pontos e contrapontos. São
Paulo: Summus, 2007.

CUNHA, Jorge Luiz da e DANI, Lúcia Salete Celich (orgs). Escola, conflitos e violências. Santa Maria: Ed.
da UFSM, 2008.

FANTE, Cleo. Fenômeno Bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. 2.ed.
Campinas, SP: Verus, 2005.

FERNÁNDEZ, Alicia. Os idiomas do aprendente: análise de modalidades ensinantes em famílias, escolas e


meios de comunicação. Porto Alegre: Artes Médicas, 2001.

MORAIS, Regis de. Violência e Educação. Campinas, SP: Papirus, 1995.

SASTRE, Genoveva & MORENO, Montserrat. Resolução de conflitos e aprendizagem emocional: gênero
e transversalidade. São Paulo: Moderna, 2002.

TOGNETTA, Luciene Regina Paulino; VINHA, Telma Pileggi. Estamos em conflito: Eu,comigo e com
você! Uma reflexão sobre o Bullying e suas causas afetivas. IN: CUNHA, Jorge Luiz; DANI, Lúcia Salete
Celich (orgs). Escola, conflitos e violências. Santa Maria- RS: UFSM, 2008.

VINYAMATA, Eduard. Aprender a partir do conflito: conflitologia e educação. Tradução Ernani Rosa.
Porto Alegre: ArtMed, 2005.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

OS SENTIDOS DO TRABALHO DOS PEDAGOGOS NOS CONTEXTOS ESCOLARES.

Maria Cecília Martins Manckel1*; Aimara Vilane Bolsi 1; Caroline Foletto Bevilaqua1 ; Eliziane Tainá
Lunardi Ribeiro1 ; Gabriel dos Santos Kehler 1 ; Letícia Ramalho Brittes1; Liliana Soares Ferreira1
1
UFSM- Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução

O presente estudo se propõem a continuação de discussão sobre a leitura do trabalho dos


pedagogos nos contextos escolares, tendo por fundamentação teórica a Pedagogia como ciência. É parte
do Projeto “O Trabalho dos Pedagogos na escola: desafios e perspectivas, financiado pelo
PROLICEN/UFSM. Assim, este estudo visa entender como os pedagogos, em seus discursos, revelam
os sentidos que atribuem a seu trabalho e a si como cientistas da educação quais possibilidades e
desafios apresentam em seus discursos.
Nessa perspectiva, trata-se da categoria do trabalho, a partir das condições/relações que se
estabelecem na escola para a realização deste, percebendo seu sentido de pertença, reconhecimento e o
imaginário de sua profissão. Logo, pensa-se estar, de alguma forma, procurando elementos para
reconstituir a imagem social dos pedagogos, também desgastada nesse processo, quando no entanto,
seria sujeito fundamental na busca de alternativas para a retomada de um processo educacional de
acordo com as demandas contemporâneas. Os pedagogos sabem que seu trabalho não se restringe à aula,
mas implica em ação política nas comunidades onde atuam. Para tanto, busca-se, por meio das
entrevistas e através dos grupos de interlocução, compreender os sentidos do trabalho, a compreensão da
(re) construção do projeto pedagógico individual de cada pedagogo e também a compreensão sobre a
pedagogia como ciência da educação.

2. Método

Esta pesquisa caracteriza-se metodologicamente por ser de caráter qualitativo, em que os


procedimentos atribuem-se ao estudo de caso. Assim, as técnicas de coleta de dados basearam-se em
entrevistas, que foram gravadas, transcritas, que foram realizadas com seis pedagogas de uma escola estadual
da cidade de Santa Maria/RS. Foram realizados grupos de interlocução e além do diário de campo que
subsidia a memória dos pesquisadores. Utilizou-se Análise de Conteúdo com base em Bardin[1], em que tal
técnica centra-se na elaboração de categorias prévias a serem balizas no processo de análise da entrevistas
em relação ao trabalho dos pedagogos.
Desse modo, pretende-se articular uma metodologia que possibilite captar os processos de construção
dos conceitos, práticas e historicidades desses Pedagogos nos diferentes contextos. Assim, destaca-se ainda,
a importância de uma pesquisa em que não se busca encontrar respostas ou teorias, em que os sujeitos da
pesquisa têm apenas uma pequena participação na investigação (que são as críticas que se tem feito ao modo
como as pesquisas e as atividades de extensão têm acontecido nas escolas); mas, ao contrário, tendo como
objetivo maior a participação dos interlocutores, não apenas na discussão dos resultados, mas, sobretudo, no
processo da pesquisa, discutindo, apontando problemas e dificuldades, buscando soluções com vistas a uma
efetiva práxis pedagógica na escola.

3. Resultados e Discussão

Com base nas análises das entrevistas, percebeu-se nos discursos dos pedagogos a maneira como
descrevem o cotidiano de seu trabalho, referenciando as dificuldades encontradas na realidade da sala de
aula. Considerando o fato de que, a categoria dos pedagogos pesquisados constituem-se predominantemente
pelo sexo feminino, percebe-se, mesmo que não de forma explicita o modo como as professoras

*
Autor Correspondente: fazerhistoria@yahoo.com.br
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

compreendem seu trabalho, noção de missão/vocação, afetividade, influência da família e assistencialismo.


O trabalho das professoras precisa articular a vida social (mundo informal) com a vida escolar (mundo
formal) tornando a escola um espaço de síntese, pois mesmo diante das diversas situações enfrentadas por
elas, ainda existem funções que apenas a escola pode desempenhar. Assim, [2] contribui enfatizando:

Quero propor uma escola como um lugar de síntese entre a cultura experienciada que
acontece que acontece numa cidade, nos meios de comunicação, e muitos outros aportes
culturais, e a cultura formal. (...) Ver a escola como “espaço de síntese” é considerá-la
como lugar onde os alunos aprendem a razão crítica para poderem atribuir significados às
margens e informações recebidas das mídias e formas d intervenção educativa urbana. A
escola deve ir se tornando uma estrutura possibilitadora de contribuição de significados à
informação, propiciando aos alunos meios de buscá-la, analisá-la, para derem-lhe
significado pessoal.[2]

O grupo considera como parciais esses resultados, pois os grupos de interlocução ainda continuam a
acontecer abalizados nesse primeiro momento da pesquisa, considerando os discursos dos pedagogos
verificamos que o “ser” professor em si já é motivo da representação dessas professoras como sujeito
trabalhador e possui maior prestigio do que o trabalhador da educação. Nota-se que se o entendimento do
que é trabalho acontecesse como afirma [ 3],

[...] entendo o trabalho como uma ação eminentemente humana, porque


pressupõem planejamento, ação, avaliação, ainda que estas etapas nem sempre
sejam premeditadas, acontecendo de modo livre ou mesmo em meio à convivência
[3]

Questões evidenciadas nos discursos das professoras como, incompletude, falta de auto-
reconhecimento, individualismo, não se fariam presentes em sua prática pedagógica no seu projeto
pedagógico individual. Em razão disso, o grupo continua estudando esta “dissociação”, por entender ser
necessário um maior entendimento das relações intrínsecas entre ser professor e trabalhar como professor.

4. Conclusão

Ao sistematizar o entendimento que se tem sob o trabalho dos pedagogos e da Pedagogia como
ciência, pode-se previamente concluir que os sujeitos da pesquisa possuem um entendimento diferenciado
sobre a Pedagogia como Ciência uma concepção que se aproxima de um entendimento positivista, vindo de
encontro com os autores estudados pelo grupo de pesquisadores e também não se percebem como
trabalhadoras, compreendendo seu trabalho apenas como algo quase que “mecânico”.
Enfim, após o desenvolvimento das primeiras etapas do presente projeto, conclui-se que se faz
necessária a continuidade dos estudos relativos à Pedagogia como Ciência e o trabalho dos professores.
Justifica-se porque se observou a falta de entendimento sobre os aspectos mencionados logo acima e a
carência de um espaço-tempo para os professores dialogarem, refletirem sobre suas práticas no grupo
(escola) e de forma individual (sala de aula), ou seja, se enxergarem como pesquisadores de sua própria
práxis.

Referências

[1] BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Porto: Edições 70, 2006.

[2] LIBÂNEO, J.C. “Ainda as perguntas: o que é pedagogia, quem é o pedagogo, o que deve ser o curso de
Pedagogia” IN: PIMENTA, S. G. (Org.) Pedagogia e pedagogos: caminhos e perspectivas. São Paulo:
Cortez, 2002

[3] FERREIRA, L. S. “Gestão do pedagógico: de qual pedagógico se fala?” In: Currículo sem Fronteiras,
Currículo sem Fronteiras, v.8, n.2, p.176-189, Jul/Dez 2008.

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PAPEL DO EDUCADOR FRENTE ÀS DIFICULDADES NA ALFABETIZAÇÃO

*Flávia Patricia Albiero


Universidade Federal de Santa Maria

1.Introdução:
As crianças das camadas populares têm a mesma capacidade de aprender. Não significa que só
porque seus pais não valorizam a aprendizagem da leitura e da escrita, que o aluno por este motivo não
consiga ser alfabetizado, daí a relevante importância da escola e do professor para suprir essas carências.
Cabe a escola cobrir essas lacunas na educação dessas crianças e o quanto mais cedo melhor, para
que não cheguem ao ponto de serem consideradas com “dificuldades de aprendizagem”, por simplesmente
não terem sido incentivadas desde cedo pelos seus pais ou profissionais da educação.
Por isso, este artigo vem de indagações feitas a partir de um olhar individualizado de crianças que
tem dificuldades de aprendizagem, em uma escola estadual da cidade de Santa Maria, no estado do Rio
Grande do Sul. Onde nesta instituição, está inserido o projeto chamado de “Laboratório de Alfabetização:
Repensando a formação de professores”,desenvolvido pelo Grupo de Estudo e Pesquisa sobre Formação
Inicial, Continuada e Alfabetização.
O foco foi dado nos métodos utilizados na alfabetização, com seus respectivos processos de construção e
sobrepostos nas dificuldades de aprendizagem, como a exclusão, o insucesso escolar e o fracasso e no papel
individualizado que o educador oferece para cada educando, onde muitos estão sendo violentados na escola
ou na família. Tendo como referencial teórico, Aquino (2005, p.7), Azevedo e Guerra (1997, p.30), Bogdan;
Biklen (1994, p.9), Cardoso, (1999, p.44), Ferreiro (1987, p.34), Guerra (1997, p.17), Guyton (1993, p. 89),
Grando (1999, p.7), Nunes (2004, p.25), Soares (1986, p.45) e Souza (1995, p. 25)
Abordaremos algumas problemáticas que foram encontradas por nós, na prática do projeto já
mencionado acima, pois muitas vezes crianças tolhidas por uma dificuldade de aprendizagem na maior parte
das vezes têm comprometido seu desempenho escolar. E isto, é visto muito claro por nós, na prática nesta
escola. Por isso, o objetivo deste artigo é mostrar que as dificuldades de aprendizagem têm inúmeras causas
relacionadas com vários fatores que são desde as relações familiares, a metodologia adotada em sala de aula,
como as violências que as crianças são submetidas e as privações sócio-culturais de várias esferas.
A partir de problemáticas que foram encontradas por nós, na prática do projeto já mencionado a
cima, pois muitas vezes crianças tolhidas por uma dificuldade de aprendizagem na maior parte das vezes têm
comprometido seu desempenho escolar, com o conseqüente fracasso escolar. Houve vários nomes técnicos,
mas acreditamos que isso não vem ao caso, neste momento. Na verdade, o que se sabe é que nunca há uma
causa única para o fracasso escolar, mas sim uma conjunção de fatores que interagem para que isto aconteça.
Segundo Guyton (1993, p. 89) [1], “a origem da categoria das dificuldades de aprendizagem, como
hoje é conhecida, desenvolveu-se a partir do conceito de crianças com lesão cerebral”. Reconhecer quando
uma criança apresenta dificuldade de aprendizagem, já é o primeiro passo para não rotulá-la. Os rótulos
exercem efeito negativo entre as crianças, mas reconhecer que existe capacidade e que algo pode ser feito já
é de grande relevância. Quando pais e escola oferecem compreensão e ajuda adequada, muitas crianças
demonstram melhora acentuada e sensível redução nos conflitos emocionais resultantes do contínuo fracasso.
Por isso, com a alfabetização não é diferente, não é colocando as crianças muito novas na escola,
sem nenhum suporte para a alfabetização que se terá uma criança alfabetizada, isto acaba só reforçando a
exclusão e o insucesso escolar. A criança talvez seja vista em situação de fracasso pelos professores e
colegas, tendo como conseqüência o insucesso escolar e a exclusão dos mesmos.
No campo educacional, segundo Souza (1995, p. 25) [2], “a palavra insucesso escolar, significa
insucesso num exame, bem como o afastamento definitivo da escola provocado por repetências sucessivas”.
Podemos considerar que muitos fatores podem interferir no insucesso escolar de uma criança, a
família, o meio em que vivem a escola, a cultura, a sociedade e a desigualdade existente, que já chega ou é lá
dentro descoberto que ela tem algum tipo de dificuldade em aprender determinadas coisas, que acabam não
fazendo a mesma passar para um próximo nível.

*Autor Correspondente: Flávia Patricia Albiero: flaviap.albiero@gmail.com

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Poderíamos dizer que o educador, tem que ser observador, crítico, amigo e saber entender e passar
para seus alunos mais adiantados que eles podem ajudar seus colegas, mostrando para aquele que repete o
ano, que tem dificuldades que ele não é inferior aos outros e que ele tem suas individualidades e qualidades
próprias para transmitir para os outros colegas.
É de significativa importância à contribuição de Soares (1986, p.45) [3], “o trabalho escolar, segundo
a maneira como fosse praticado, poderia diminuir ou aumentar a discriminação social e o insucesso escolar,
com as devidas conseqüências, a exclusão”.
Uma das conseqüências, consideradas por nós, foi à exclusão social e na escola, que com estas
crianças está acontecendo. Por mais que ela comece muito cedo, ela tem raízes na pobreza, na moradia
inadequada, mas algumas ainda enfrentam obstáculos adicionais, como a dificuldade na aprendizagem, a
repetência que vem juntamente com o insucesso escolar, onde vivem alguns tipos de violência praticados
dentro da família e da escola.
A criança deve ter motivação, pois a motivação atua na aquisição e consolidação da memória, e se
esta estiver desviada para um lado de desprazer e desmotivação a aprendizagem da criança será prejudicada,
tendo como resultado o insucesso escolar e a exclusão. Por isso, educadores e pais devem motivar seus
filhos, com didáticas e materiais diferenciados ou construídos por eles próprios.
Neste momento, mostraremos algumas ressaltas que devem ser reconhecidas e trabalhadas pelos
alfabetizadores com seus educandos. Explorarei um pouco dos aspectos sociológicos, funcionais e estruturais
para a formação da alfabetização no contexto da criança, conforme a autora Ferreiro (1987),nos traz.
No aspecto sociológico, segundo Ferreiro (1987) [4], “a função da alfabetização é diferente”. A
classe média urbana necessita muito da alfabetização, valoriza e incentiva seus filhos, normalmente os pais
são seus primeiros professores. Nas camadas populares, eles não convivem com pessoas leitoras e não são
incentivadas a se alfabetizar, antes de entrar na escola. “O sistema escolar pode aumentar ou diminuir, as
probabilidades de sucesso, mas o papel da família e do professor é de fundamental importância diante do
insucesso escolar”.
Nos aspectos funcionais, segundo Ferreiro (1987) [4.1], “é necessário saber o que a linguagem
escrita representa e para que serve, muitas crianças acreditam que se escreve como o desenho”, pois
dificilmente as crianças de camadas populares convivem com pessoas que lêem para elas, aumentando assim
esta dificuldade de compreensão. Por isso, é importante que na escola eles encontrem profissionais dispostos
a fazer este papel (leitor) e tenha mecanismos e recursos didáticos para que isto aconteça da melhor forma e
mais prazerosa possível para o aluno.
Como diz Ferreiro (1987) [4.2], “no aspecto estrutural, é de grande relevância considerar os aspectos
da linguagem escrita, conhecimentos lógicos”. O alfabeto de parede é o primeiro livro do aluno e deve conter
todas as variantes ortográficas possíveis para que o mesmo não construa no futuro hipóteses erradas e muito
difíceis, como nos encontros consonantais.
Outra reflexão importante e que deve acontecer com cada educador, é a violência que está ocorrendo
com as crianças no âmbito familiar e escolar, onde a infância está sendo destruída e deixada apenas como
um mundo imaginário para os pequenos. Paralelos a este sonho encontram-se crianças sendo violentas de
várias formas. Sendo mostradas neste trabalho, através destes tipos de violência as conseqüências que as
mesmas podem causar para a criança.
A escola tem sido reconhecida como um lugar de diferentes manifestações da violência. Em
oposição à família, não é um espaço privado, e, portanto toda a manifestação de violência que nela ocorra
merece ser objeto de atenção e cuidado dos profissionais envolvidos na atividade pedagógica. Onde Aquino
(2005, p.7) [5] nos lembra, “que ambas as instituições, família e escola, são estruturas historicamente
reconhecidas como as principais responsáveis pela educação de crianças e jovens”.
É possível perceber que a violência, em sentido amplo, esta sendo um elemento comprometedor da
plena realização das atividades pedagógicas na escola. Devemos considerar que a escola é um dos espaços
que se manifestam todos os tipos de violência, trazendo para as mesmas conseqüências como a bullying, que
é um fenômeno multicausado, pode ser encontrados casos em diferentes ambientes. Existem muitas crianças,
que experimentam pressões, opressões, intimidações, e não esquecendo daquelas que estão sendo cometidas
no lar e que são levadas suas conseqüências para dentro dos muros da instituição escolar.
A escola e seus profissionais precisariam trabalhar mais as relações intra-pessoais de cada estudante
e de si próprios. Uma boa atividade para os professores seria fazer atividades que seus alunos pudessem falar
sobre o que sentem e como se sentem. O maior papel do professor contra a violência cometida sobre as
crianças, é de se conscientizar que ele é uma peça fundamental para a dissolução e tentar acabar
definitivamente com estes tipos de violência. Sendo que, o objetivo da escola atual é para a preparação para
o exercício da cidadania, mas o que as escolas deveriam cuidar é como os seus alunos estão enfrentando a
sua própria infância, para só depois se preocuparem em formar cidadãos para uma cultura de paz.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Podemos imaginar que uma criança possa sofrer vários tipos de violência, podendo ser sexual,
psicológica, física ou até mesmo negligência de seus responsáveis. Por isso, além de conhecer seus conceitos
devemos dar maior importância às conseqüências que serão levadas para este grupo de inocentes.
A violência física seria a forma mais praticada no convívio doméstico, podendo começar com alguns
tapinhas dados pelo familiar com a justificativa de levar aquela criança a ter uma boa conduta, frente à
sociedade. Para Grando (1999, p.7) [6], “a criança vitima de violência física representam uma infância ou
adolescência em perigo porque costumam correr riscos de vida em função das medidas disciplinares
impostas”. Ocasionando agressão, temor dos pais, mudança de atitude.
A violência sexual não pode ser entendida somente na relação agressor - vitima; ela é uma questão
de contexto familiar, onde todos os seus membros estão envolvidos e comprometidos. Para Azevedo e
Guerra (1997, p.30) [7], “a violência sexual é todo o ato ou jogo sexual, relação heterossexual ou
homossexual, entre um ou mais adultos e uma criança menor de 18 anos, a finalidade estimular sexualmente
a criança ou o adulto”. É constante o problema de aprendizagem na escola, e visivelmente o seu
comportamento na sala de aula, que muda constantemente.
A violência psicológica apresenta-se de diversas formas, é também chamada de “tortura
psicológica”, evidencia-se como a interferência negativa do adulto sobre a criança e sua competência social,
conformando um padrão de comportamento destrutivo. A violência psicológica, não tem um gênero
determinante, mas é uma das formas mais comuns de violência praticados contra crianças e uma das mais
difíceis de ser detectadas.
Muitas vezes é negligenciado, é que a violência psicológica, embora também ocorra de forma
isolada, esta sempre presente em toda e qualquer caso envolvendo outras formas de violência, no sentido de
que nessas situações haverá sempre o sofrimento psíquico para a criança.
Este tipo de violência constantemente é considerado como uma forma mais leve de violência, mas
como Cardoso nos fala ela também consiste em conseqüências extremas. No entanto sabemos como “os seus
efeitos podem ser nocivos sobre a saúde física e mental de uma criança, com conseqüência de um grave
distúrbio psicológico, que pode comprometer vários aspectos da vida da criança ou futuro adulto”
(CARDOSO, 1999, p.44) [8].
Já a negligência presente em muitas famílias é um tema controvertido, pois esta relacionada com as
condições estruturais da sociedade. Para Azevedo e Guerra (1997, p.17) [9], “definem negligência quando os
pais ou responsáveis falham em termos de alimentar, de vestir adequadamente. E quando tal falha não é
resultado das condições de vida além de seu controle”.
As crianças negligenciadas sem tratamento podem sofrer a ausência ou a insuficiência crônica de
cuidados nos níveis de saúde, psicológico, afetivo e cognitivo. Elas podem ser mal alimentadas, sujas, mal
vestidas, deixadas sem supervisão durante longos períodos, privada de afeto dos pais, ignorada e rejeitada.
Acriança negligenciada com falta de higiene,assim como sua roupa suja,desperta rejeição por parte dos
adultos e, sobretudo de seus colegas de escola,seu aspecto e seu odor podem afastar todos que estão à sua
volta,ampliando as conseqüências da negligencia afetiva intra-familiar pelo isolamento social. Elas acabam
sendo vitimas prediletas de abusos sexuais e outros tipos de violência.

2.Método
A metodologia utilizada foi à pesquisa qualitativa, segundo os estudos de Bogdan; Biklen (1994,
p.9) [10]. O trabalho realizado pelo grupo de pesquisa consiste em dar aulas individualizadas para crianças
consideradas com dificuldades de aprendizagem em uma escola municipal localizada no municio de Santa
Maria.
Onde educadoras participantes do projeto, realizam atividades com o apoio de jogos educativos
individualmente com as crianças. Trabalhando assim as dificuldades específicas que cada criança tem na
lecto-escrita. Tentando amenizar essas dificuldades citadas acima, onde varias crianças participantes vivem
no seu dia-a-dia.

3. Resultados e Discussões
Apesar de todos estes relevantes problemas, consideramos que além da individualização do trabalho
que está sendo realizado pelo grupo, consideramos de alta relevância a importância dos métodos utilizados
para o ensino destas crianças.
A pesquisa esta em processo de conclusões de resultados, por isso eles estão em aberto. E é nesta
perspectiva, que foi possível verificar a importância que tem o apoio pedagógico individual para as crianças
com dificuldades de aprendizagem. E para aquelas que sofrem violência no âmbito familiar.
Com os estudos realizados até o momento, verifica-se a grande importância de conhecer o processo
de construção da leitura e da escrita, bem como dos jogos e o apoio pedagógico realizados com as crianças

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

que possuem dificuldades de aprendizagem. Em nosso trabalho realizado pelo Projeto Laboratório de
Alfabetização cujo está dentro do Grupo de Estudo e Pesquisa sobre Formação Inicial, Continuada e
Alfabetização (GEPFICA), percebe-se a grande satisfação das crianças em terem como recurso didático os
jogos e as brincadeiras, pois é através desse meio que elas podem socializar-se e organizar seus
conhecimentos, ganham atenção e compreensão dos educadores.

4. Conclusão
A análise feita até aqui, reforça a idéia de que a violência infantil deveria receber uma maior atenção
dos profissionais da educação e receber não apenas o apoio de outros educadores, mas de toda a
comunidade, mais também que eles juntos consigam encontrar soluções para a disseminação deste
problema.
Acho importante esta reflexão por permitir enxergar além dos tipos de violência que são cometidos
sob as crianças, mas também conseguir ver suas conseqüências no âmbito educacional e familiar.
Por fim, o enfrentamento dos problemas relacionados à violência, tanto na escola como na família,
sugere uma reflexão sobre o papel que cada individuo envolvido está desempenhando e que deveria estar
desempenhado na sociedade. Papéis este na família, na escola e conceitos que cada um tem de infância,
família e violência.
Seria ingênuo procurarmos receitas para a erradicação total da violência, mas tenho a convicção de
que se faz urgente a busca por alternativas para a sua superação mesmo que parcial. O comprometimento
docente e da família faz-se senhor neste processo que não deve ser pensado em curto prazo, mas sim em
espaço de tempos duradouros que contemplem todo um contexto de formação humana.
Além disso, acredito ser importante a escola e a família terem um papel crítico durante todo o
período de alfabetização da criança, para que ela consiga sanar suas dificuldades. Portanto, a escola deve
tratar cada criança com suas particularidades, pois o processo de alfabetização se da de maneira diferenciada
de criança para criança. Cabe ao professor perceber essas diferenças e ver se certo aluno está com
dificuldades de aprendizagem e procurar métodos mais adequados para que aquele aluno consiga aprender o
conteúdo.

Referências:

[1] GUYTON, A. Neurociência básica: anatomia e fisiologia. 12 ed.Rio de Janeiro:


Guanabara,1993.89p.
[2] SOUZA, A. Pensando a inibição intelectual. 9 ed.São Paulo: Casa do Psicólogo, 1995.25p.[3]
SOARES, M. Linguagem e escola: uma perspectiva social. 23ed.São Paulo: Ática, 1986.45p.

[4],[4,1],[4,2].FERREIRO, E. Psicogênese da língua escrita.15 ed. Porto Alegre: Artes Médicas,


1987.34p.

[5]. AQUINO, J. Indisciplina: o contraponto das escolas democráticas. 1.ed.São


Paulo:Moderna,2005.7p.

[6].GRANDO,C. Violência física: violência domestica contra crianças e adolescentes.8 ed.


Florianópolis:UFSC, 1999.7p.

[7],[9].AZEVEDO, M. ; GUERRA, V. Apostilas do IV Tele curso de Especialização em Violência


Doméstica contra crianças e adolescentes. 1.ed.São Paulo:Lacri/USP,1997.17- 30p.

[8].CARDOSO, D. Violência Sexual: In Violência domestica contra crianças a adolescentes. 1


.ed.Florianópolis:UFSC,1999.44p.
[10] BOGDAN, R. C.; BIKLEN, S. K. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à
teoria e aos métodos. 4ª ed. Porto: Porto, 1994.9p

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

PERSPECTIVA DIALÉTICA DE VIGOTSKI NA COMPREENSÃO DO


DESENVOLVIMENTO HUMANO

KOSHINO, Ila Leão Ayres1*; MARTINS, João Batista


Universidade Estadual de Londrina/PR – UEL.
Universidade Estadual de Londrina/PR – UEL.

Resumo

O objetivo deste trabalho é o de apresentar a perspectiva dialética que Vigotski utiliza para
compreender o processo de desenvolvimento humano. Este autor considera que este processo se
efetiva a partir das relações que as pessoas estabelecem com seu meio sócio-cultural, internalizando e
desenvolvendo uma série de instrumentos simbólicos – as funções psicológicas superiores – que
passam a mediar o comportamento. O desenvolvimento de todas as funções psicológicas superiores, é
um processo extremamente pessoal e, ao mesmo tempo, um processo profundamente social. Esta
experiência – social, cultural, histórica - possibilita à criança dominar e apropriar-se dos instrumentos
culturais como a linguagem, pensamento, conceitos, ideias, etc. que se desenvolvem ao longo da sua
história, da história das relações que estabelece com o universo social. Disto resulta o resgate da
importância do educador em criar as condições para que tais processos se consolidem.
Palavras-chave – Desenvolvimento humano. Dialética. Vigotski

Abstract

The objective is to present a dialectical perspective that Vygotsky uses to understand the process of
human development. This author believes that this process is effective from the relationships that
people establish with their socio-cultural, internalizing and developing a series of symbolic
instruments - the higher psychological functions - which are mediating the behavior. The development
of all higher psychological functions, is an extremely personal and at the same time, a profoundly
social process. This experience - social, cultural, historical - enables the child to master and
appropriate the cultural tools such as language, thought, concepts, ideas, etc.. that develop throughout
their history, the history of the relations established with the social universe. It follows the rescue of
the importance of educators to create the conditions for such processes are consolidated.
Keywords – Human development. Dialetic. Vygotsky.

1. Introdução

O olhar deste estudo tem a intenção de explorar a perspectiva dialética que Vigotski utilizou
para estudar o processo de desenvolvimento humano. No contato com a obra deste autor vamos
encontrar vários conceitos que são apresentados de forma esparsas e aparentemente desconexos.
Assim, nosso objetivo é de articularmos alguns conceitos vigotskianos, o que nos ajudará a
compreender um pouco melhor a proposta de Vigotski acerca dos estudos deste processo.
Cabe lembrar, num primeiro momento, que um dos principais objetivos da obra de Vigotski
foi caracterizar o desenvolvimento das funções psicológicas superiores (VYGOTSKY, 1991). Suas
preocupações estavam postas no estabelecimento das diferenças entre os processos de
desenvolvimento das funções psicológicas elementares (próprias dos animais) e das funções
psicológicas superiores (aquelas que se desenvolvem ao longo do processo do desenvolvimento
humano tendo em vista as relações que se estabelecem entre os seres humanos). Em suas
considerações, e sob a influência da obra de Marx/Engels e do materialismo histórico dialético,
assinala que as origens das formas superiores do comportamento (lembrar, comparar, falar, pensar,

*
Autor Correspondente: ilakoshino@gmail.com

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

2
memorizar, etc.) deveriam ser estudadas a partir das relações sociais que os indivíduos estabelecem
com o meio social em que vivem.
Para ele (VYGOTSKY, 1994) o meio social é fonte de desenvolvimento. Ele oferece os
momentos de experiências e aprendizagens resultantes da interação da criança com a cultura, com os
adultos e da apropriação dos signos e símbolos. Esta relação se amplia e se modifica num processo de
construção e reconstrução do pensar mais elementar ao mais complexo, estabelecendo-se, assim,
modificações no desenvolvimento tanto no sentido quantitativo quanto no qualitativo.
Isto significa dizer que ao longo do processo de desenvolvimento, na medida em que as
crianças vão se apropriando dos “instrumentos culturais”, elas deixam de responder impulsivamente às
estimulações do meio, suas respostas passam a ser mediadas por símbolos ou “instrumentos”
simbólicos, apropriados a partir das relações sociais.
Esse desenvolvimento representa uma ruptura fundamental com a história natural do
comportamento e iniciam a transição das funções elementares do comportamento para as atividades
intelectuais superiores. As mudanças na estrutura do comportamento da criança relacionam-se às
alterações básicas de suas necessidades e motivações com o auxílio da fala. As operações com signos
aparecem como resultado de um processo prolongado e complexo.
Tais transformações, segundo Vigotski, criam novas condições para o aparecimento de novas
mudanças, próprias de uma determinada etapa do desenvolvimento, que são em si mesmas
condicionadas pelos estágios anteriores; desta forma, as transformações estão ligadas como estágios de
um mesmo processo e são, quanto a sua natureza, históricas. A história do comportamento da criança
nasce do entrelaçamento de duas linhas – entre o nível elementar e os níveis superiores. Neles existem
sistemas psicológicos de transição, que Vigotski estuda dialeticamente.

2. Olhar Dialético sobre Desenvolvimento

A compreensão de Vigotski acerca do contato da criança com o meio denota a sua concepção
dialética do desenvolvimento, caracterizada por conexões, avanços e retrocessos, por fases de
estabilidades entrecortadas por momentos de crises, de idas e vindas.
Com base nas idéias de Blonski, Vigotski afirma: os períodos de desenvolvimento são
marcados por períodos de estabilidade (caracterizados por mudanças graduais e lentas) e por períodos
de crise. Estes períodos – de estabilidade e de crise – se intercalam ao longo do processo de
desenvolvimento, caracterizando-se enquanto um processo dialético, onde a superação de um estágio
para outro se efetiva de forma revolucionária. Vigotski (1995) caracteriza o desenvolvimento infantil
identificando os momentos de estabilidade e os momentos de crise.
O desenvolvimento humano é para ele um “processo contínuo de auto-propulsão
caracterizado, principalmente, por um aparecimento contínuo de novos estágios que não existiam em
fases anteriores” (VYGOTSKI, 1995, p. 254). Cabe registrar que estes momentos de mudanças e crise,
muitas vezes considerados de forma negativa, têm para Vigotski um caráter positivo, uma vez que tal
situação potencializa o desenvolvimento, uma vez promove a reorganização processo de
desenvolvimento em novos patamares, diferentes daqueles que era posto anteriormente.
A partir das considerações anteriores podemos dizer que o processo de desenvolvimento é
marcado por uma série de mudanças ao longo da vida dos indivíduos, marcado por momentos de
estabilidade e momentos de crise, o que nos indica o olhar dialético e histórico de Vigotski sobre o
desenvolvimento. Dizer que a relação da criança com o meio se modifica, significa assinalar que o
próprio meio já é distinto e, portanto, o curso do desenvolvimento da criança mudou – pois se tem
chegado a um novo momento em seu desenvolvimento.

3. Situação Social do Desenvolvimento

Vigotski, em sua compreensão do processo de desenvolvimento, desenvolveu a noção de


situação social de desenvolvimento (VYGOTSKI, 1995) como sendo “motor” do desenvolvimento.
Isto significa dizer que ao longo de sua vida a criança, ao estabelecer uma relação com o meio

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

3
ambiente – com o adulto, pares mais desenvolvidos – passa por determinadas situações em que ela
se desenvolve, ela se modifica.
A partir do início da vida da criança, os adultos, de certa forma, determinam os modos como à
criança se relaciona com o meio: eles a carregam de um lado para o outro, mostram esta ou aquela
“paisagem”, oferecerem um conjunto de palavras e significados – apesar do comportamento infantil
indicar uma forte necessidade de se comunicar, a criança não tem o discurso que atinja este comunicar.
Com o domínio progressivo da linguagem, esta relação com o adulto se modifica, a criança começa a
dirigir a sua própria ação e a interferir na vida dos adultos – ela desenvolve a fala autônoma, ela pode
se comunicar com os adultos em um novo patamar de compreensão. A situação social do
desenvolvimento – representada pelas situações onde a criança se apropriou da linguagem – mudou a
relação que a criança estabelece com o meio social uma vez que a fala autônoma infantil, embora
limitada, abre as portas no desenvolvimento da criança para dialogar com o adulto.
Vigotski descreve a situação social de desenvolvimento como a gênese, um „momento inicial‟
para todas as dinâmicas de desenvolvimento das mudanças em um determinado período. Esta situação
de desenvolvimento determina as relações entre a criança e o meio, dela surge e se desenvolve as
novas formações próprias da idade. Isto significa dizer que nos períodos das idades, ocorre uma
reconstrução no processo de desenvolvimento infantil, marcada inicialmente por uma situação social
de desenvolvimento, e que ao final de uma idade dada, a criança se converte num ser completamente
distinto do que era ao princípio da mesma.
“As forças que movem o desenvolvimento da criança, em uma ou outra idade, acabam por
negar e destruir a própria base de desenvolvimento de toda idade” (VYGOTSKI, 1995, p. 265),
gerando crises, pois o avanço no desenvolvimento expressa um processo interno e externo de
mudanças. A crise resume-se na reestruturação das necessidades da criança com o meio. Os novos
motivos, as novas necessidades e impulsos ganham novos significados e valores para a criança que
promoverão arranjos e rearranjos da etapa seguinte. Fatalmente, surgirão novas atividades, novos
valores e sínteses como motores da próxima etapa.

4. O Processo de Desenvolvimento e Dialética do Sistema Funcional

Ao longo deste processo de desenvolvimento vão ocorrer mudanças nas relações das funções
psicológicas superiores. Cada idade vai se caracterizar por um tipo de relação diferente. As situações
de crises revelam a dinâmica do processo do desenvolvimento ao promover mudanças radicais nas
articulações entre as funções psicológicas que estão em jogo.
Em 1930, Vigotski vai introduzir em suas reflexões uma noção que redireciona seu olhar sobre
as relações entre as funções psicológicas superiores e, consequentemente, sobre sua compreensão do
processo de desenvolvimento infantil. Trata-se da noção de sistema funcional (VIGOTSKI, 2004).

[...] o que muda não são tanto as funções [...], nem sua estrutura, nem sua
parte de desenvolvimento, mas o que muda e se modifica são precisamente as
relações, ou seja, o nexo das funções entre si, de maneira que surgem novos
agrupamentos desconhecidos no nível anterior (VYGOTSKY, 2004, p. 105).

Essas mudanças e todas as conexões estruturais que se encontram no processo de


desenvolvimento e de substituição de funções de um estágio ao outro se chama sistema. A essência do
sistema do desenvolvimento psicológico não se baseia no desenvolvimento posterior, mas na mudança
de conexões. Tal idéia está implícita na abordagem de Vigotski com relação à percepção. Segundo ele,
essa mudança no desenvolvimento ocorre porque a percepção estabelece novas relações com outras
funções. “Entra em complicadas combinações com novas funções e começa a atuar em conjunto com
elas como um sistema novo, que se revela bastante difícil de decompor e cuja desintegração só pode
ser observada na patologia” (VIGOTSKI, 2004, p. 110).
A linguagem, para o autor, desempenha um papel fundamental nesse processo de
desenvolvimento, no entanto, tal papel não se esgota no desenvolvimento posterior, mas na promoção

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

4
de mudanças de conexões entre as funções psicológicas. É dentro deste contexto que ele afirma a
importância dos signos no processo de articulação das funções psicológicas.
Isto significa dizer, no que tange ao processo de desenvolvimento, essas mudanças expressam
não só uma nova forma da criança se relacionar com o meio social e consigo mesma, mas também um
novo arranjo entre as funções psicológicas superiores – novas conexões serão produzidas.

5. Considerações Finais

A partir das considerações anteriores podemos depreender que o desenvolvimento da criança


se caracteriza por um processo dialético complexo caracterizado pela periodicidade e desigualdade
entre as estruturas psicológicas e pelas possíveis conexões que se organizam num sistema psicológico
funcional. Vigotski salienta que, a cada tentativa da criança em resolver uma tarefa, por exemplo,
implica na formação de novas conexões entre as funções psicológicas envolvidas e, dessa forma, o
conhecimento infantil sobre o objeto em questão se enriquece, uma vez que ele está em conexão com
outros objetos.
O conceito construído nesse processo se organiza num sistema de apreciações reduzidas a
uma determinada conexão regular. Ele inclui em si uma relação no que diz respeito a um sistema
muito mais amplo. A análise implementada por esta perspectiva, portanto, é holística, uma vez que os
elementos vão adquirindo novos significados quando, no processo histórico, são colocados em relação
com o todo em que estão integrados.
Cabe registrar, no entanto, que não estamos diante de situações que implicam somente os
aspectos cognitivos, Vigotski, também, amplia sua compreensão contemplando os sentimentos
envolvidos nas situações, estabelecendo a existência de uma relação entre os sentimentos com o
pensamento. “O desenvolvimento histórico dos afetos ou das emoções consiste fundamentalmente em
que se alteram as conexões iniciais em que se produziram e surgem uma nova ordem e novas conexões
(VIGOTSKI, 2004, p. 126 e127).
As sínteses decorrentes das relações que se travam em torno das funções psicológicas
superiores têm relações específicas entre as conexões, no entanto, este processo de mudança acontece
no âmbito da consciência da criança. O que nos faz pensar que a promoção das mudanças ao longo do
processo está relacionada com as possibilidades (situação social de desenvolvimento) da criança em se
apropriar dos signos oferecidos pelo seu entorno cultural. Tais situações têm um impacto muito grande
sobre a criança, pois a partir delas ocorrerão os processos de internalização – situações onde a criança
tem a oportunidade de se apropriar da cultura, tendo como base novos conceitos, novas significações.
Olhar para esses fatores de mudanças, para a organização das estruturas funcionais que
acontecem no processo de desenvolvimento infantil e compreendê-los – têm um desdobramento
pedagógico: um re-pensar a educação, especialmente, na atuação do educador junto às crianças, pois
ele será a peça principal para oferecer as condições de mudanças, entendendo que ele não modifica o
processo, mas possibilita-o no sentido mais amplo do desenvolvimento.

6. Referências

VIGOSTSKI, Lev S. Sobre os sistemas psicológicos. In: Teoria e método em psicologia. 3ª. ed. São
Paulo: Martins Fontes, 2004.

VYGOTSKI, Lev S. El problema de la edade. In: Obras escojidas IV: Psicología infantil. Madrid:
Visor, 1995. p. 251-273.

VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente. 3 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

VYGOTSKY, Lev S. The problem of the environment. In. R. van der Veer & J. Valsiner (Eds.) The
Vygotsky Reader. Cambridge, M. A.: Backweell, 1994. p. 338-354.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

POR UMA DIDÁTICA DA ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO

Jilvania Lima dos Santos Bazzo; Aline Inácio Decker*


Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC

1. Introdução
Com o presente trabalho, busca-se tornar público os resultados preliminares do grupo de pesquisa
Aquisição, aprendizagem e processamento da linguagem oral e escrita, vinculado ao Departamento de
Pedagogia da Universidade do Estado de Santa Catarina e devidamente cadastrado no Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq. Dentre as atividades desenvolvidas no primeiro
semestre de 2010, realizou-se, junto às instituições da educação básica, mediante ações realizadas nas
disciplinas de Didática II e Prática e Pesquisa Pedagógica II, uma pesquisa envolvendo os conhecimentos
didáticos e os processos de alfabetização e letramento, visando a observar como os professores das séries
iniciais do ensino fundamental percebiam a (não) importância de métodos e técnicas para ensinar as crianças
a ler e a produzir textos de maneira autônoma e criativa, procurando refletir acerca da relação entre educação
e sociedade, bem como verificar as atuais contribuições da Didática para esses processos.
Qual (is) metodologia (s) é (são) utilizada (s) pelos professores para possibilitar a aquisição da leitura
e a produção de textos? É a Didática relevante para o alcance de tão complexa tarefa? A partir dessa
problemática, intencionalmente, considera-se imprescindível que, através de trabalhos dessa natureza, os
professores possam criar alternativas didático-pedagógicas capazes de contribuir para a resolução da seguinte
situação:
Alunos brasileiros estão entre os mais reprovados de ano no mundo, só perdendo para as turmas de
Suriname, Nepal e um grupo de 12 países da África; 597 mil crianças permanecem fora da escola; índices de
analfabetismo funcional são em torno de 76 % entre os adultos de 15 e 64 anos. [2, 3]
Isto posto, ressalta-se que, além de difundir os trabalhos do supramencionado grupo de pesquisa, a
expectativa é contribuir para a melhoria dos processos de ensino e aprendizagem no que se refere à aquisição
da lecto-escrita na educação básica, especialmente no ensino fundamental.

2. Método
Adotou-se a abordagem qualitativa, sendo o método dialético o fio condutor de todo processo,
entendendo o conflito, a dissidência e a escola – espaço de negociação constante – como elementos
constitutivos do ato de pesquisar.
Vale ratificar que o objetivo principal foi compreender como as professoras entrevistadas, numa
instituição escolar da rede municipal de ensino da cidade de Florianópolis, percebiam a importância, ou não,
dos conhecimentos didáticos para alfabetizar crianças do ensino fundamental, séries iniciais. Foram
realizados seis encontros de três horas semanais, entre o segundo semestre de 2009 e o primeiro semestre de
2010. Utilizou-se para os registros das informações, dados, saberes e conhecimentos do grupo um diário de
campo, o qual também se constituiu num instrumento de análise e reflexão das pesquisadoras.
A seguir, os resultados, ainda preliminares, dessa investigação.

3. Resultados e Discussão
As mudanças nos pensamentos sobre educação e nas práticas educativas acompanham o pensar e o
agir da sociedade. Sociedade esta que, em um mundo globalizado e dividido em classes, toma proporções
imensuráveis. Se for admitido que, historicamente, a educação sempre teve como horizonte um modelo de
cidadão ou de homem a ser formado em determinados “tempos” históricos, então se faz premente pensar
sobre a educação que se pretende para a sociedade deste tempo e, mais pretensiosamente, para os anos
futuros mais longínquos da humanidade. Eis aí um dos grandes desafios da Didática: pensar procedimentos
de ensino para além da aplicação de métodos e técnicas. [4, 5, 6, 11, 21]
Nesta perspectiva, admitindo que a educação e a sociedade estabelecem relações diretas, a Didática
transcende seus limites tradicionalistas arraigados apenas ao modo como se faz educação e passa também a
refletir sobre para que sociedade se faz educação, ou a que sociedade a educação deve servir. Aliado a essas
preocupações do campo da Didática, associa-se a atual e histórica centralidade da educação no bojo das
preocupações, das mazelas e das esperanças sociais.
Considerando-se que os tensionamentos entre educação e sociedade recaem, sobremaneira, sobre as
atuais demandas do campo da Didática, nota-se que o modo como se faz educação tem relação direta
também com o objetivo desta educação. Isto significa estabelecer um diálogo profícuo entre objetivo e

*
jilvaniabazzo.unisul@gmail.com; alidecker@gmail.com
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metodologia. A Didática, portanto, está para além da busca por procedimentos e métodos de ensino ou por
classificação de tendências pedagógicas. Além dessa preocupação, certamente há aquela referente aos
conteúdos a serem trabalhados, aos objetivos (à intencionalidade pedagógica), à relação professor-aluno, às
atividades promovidas, às interações estabelecidas entre objeto de estudo, aluno e professor, entre outros
aspectos fundamentais vinculados ao ato de se ensinar e de se promover a aprendizagem.
Não obstante, as professoras entrevistadas – embora não demonstrando uma clara percepção dessa
nova configuração da Didática –, manifestaram um interesse por uma didática capaz de traduzir a relação
extremamente complexa entre a educação e a sociedade, principalmente quando se tratar da formação de
indivíduos pertencentes à classe social menos favorecida ou de ambas as classes num mesmo espaço de
ensino, tendo em vista que a cultura escolar instituída “pertence” ao grupo mais favorecido economicamente.
Para algumas dessas professoras, porém, independente da discussão de classes, é uma tarefa árdua fazer os
estudantes aprenderem a ler a e escrever, entre os motivos estão as mudanças cruciais na estruturação da base
familiar, a falta de exemplos/modelos de leitores e escritores próximos às crianças, a escola sem condições
de atender a esses novos desafios e demandas.
Segundo as professoras, muitas críticas são feitas aos livros didáticos em relação aos textos e ao
exercício de compreensão dos mesmos, por exemplo, no entanto poucas são as iniciativas que as ajudam a
ensinar os estudantes pobres, do ponto de vista econômico, à difícil arte de ler e (re)escrever criativa e
autonomamente o mundo e as palavras, compartilhando e ressignificando o mundo e as palavras lidas em
prol de uma transformação que tenha como foco uma vida melhor para todos. Para elas, falta material
referente ao como fazer para alfabetizar as crianças, que não priorizem o aprendizado mecânico, repetitivo e
sem sentido para os alunos ou que abordem questões não desafiadoras, acríticas e sem ludicidade.
No bojo do debate acerca dos métodos e técnicas para a alfabetização e o letramento, as professoras
também apontaram como relevante pensar sobre a diferença entre o professor-alfabetizador e o educador-
alfabetizador. Pergunta-se: – Há de fato diferenças consubstanciais entre ser professor e ser educador? Tais
termos portam ideias diferentes acerca do que constitui um profissional da educação? Para as professoras, o
modo como pensa um professor diverge do modo como pensa um educador. Elas acreditam que um
professor poderá buscar apenas métodos e técnicas pelos métodos e técnicas pura e simplesmente, enquanto
que um educador, ao buscar uma metodologia diferenciada, pensará nas questões que a envolve, se ela
promoverá ou não a criatividade, a liberdade de expressão entre outras questões, ou seja, para elas um
educador pensa sempre na relação entre o método, o conteúdo e a recepção destes por parte dos alunos.
Pedagogias e publicações diversas proclamam um novo perfil de professor, com uma percepção de
mundo mais abrangente, uma ação política mais engajada, humanizada, libertadora, um professor que seja a
um só tempo-espaço professor e educador, pesquisador de sua própria prática. Independentemente de se
assumir este ou aquele papel, não é difícil constatar que, de fato, muitas escolas e seus respectivos
profissionais ao ensinar a prática da leitura e da escrita ainda seguem o modelo educacional instituído pelos
jesuítas, no século XVI, insistindo numa educação mecânica e de transmissão linear, isto é, no dizer de Paulo
Freire, “educação bancária”. [7, 8, 9]
Considerando que, segundo Pimenta [15, 16], a Didática enseja uma profícua reflexão sobre o trabalho
pedagógico, estimulando questionamentos em torno da prática docente articulada à teoria, ao mesmo tempo
em que ela favorece uma ressignificação da identidade do professor e busca procedimentos para
aprimoramento de sua prática político-social, acredita-se que, para a sua consecução, há de se efetivar um
trabalho imbricado entre o exercício docente e o desenvolvimento intenso de pesquisas, incorporando nas
práticas dos professores os resultados por eles conseguidos no âmbito escolar.
Isso significa que os professores não serão meros “objetos” ou participantes indiretos de um trabalho
de investigação sobre os processos de alfabetização e letramento, pelo contrário, é preciso que a escola tome
para si tal incumbência e se impregne dos sentidos produzidos pela pesquisa realizada pelos seus próprios
agentes. É preciso, então, ensinar os professores a pesquisar sobre como ensinar o outro a ler e a escrever,
primando-se sempre por uma prática emancipatória.
Propõe-se, portanto, uma Didática para a alfabetização e o letramento, tendo como fundamento a
relação intrínseca entre a docência e a pesquisa realizada pelos próprios professores em atuação. Essa
perspectiva, de certa maneira, colabora no entendimento das reais demandas para o profissional da educação
do século XXI, considerando que se faz premente reconhecer com plenitude a humanização da educação que,
por trabalhar com pessoas, não se limita apenas à sua face tecnicista.
A Didática, portanto, tem um papel fundamental nas reflexões em torno dos métodos e técnicas
voltadas para a alfabetização e o letramento como práticas sociais – promotoras de ações libertárias e
inventivas [1, 10,12, 13, 18, 19,20], tendo em vista que, além dos elementos técnico-pedagógicos necessários
ao exercício da docência, o professor precisa desenvolver atitudes primordiais que visem contribuir para o
efetivo desenvolvimento das capacidades humanas.
2
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4. Conclusão
Não é possível supor mudanças com um processo de alfabetização descontextualizado da realidade,
faz-se necessário estabelecer diálogos e reflexões frequentes acerca da educação que se faz e da educação
que se pretende. Voltar os olhares de professores-educadores para a escola e para além dos seus muros, isto
é, para o contexto histórico-social da atualidade. Qual seria o fracasso de um trabalho educativo que se
deseja a constituição de leitores e produtores de textos livres, criativos e éticos? Os resultados desta pesquisa,
entre outras questões, revelaram que a educação fracassa quando não estabelece uma relação direta com a
vida em sociedade, com os movimentos de seu tempo, quando ignora os seus sujeitos e não garante o livre
exercício da criação e da arte, quando não investe em processos formativos significativos e contínuos.
Apareceu também, muito fortemente, a discussão em torno da diferença conceitual entre ser
professor-alfabetizador e ser educador-alfabetizador. O termo educador parece se aproximar de uma
concepção de docência diferenciada daquela que por séculos embasou (e ainda embasa) as práticas de
inúmeros professores, arraigados a uma educação que prima pela disciplina e pelo castigo, na qual a
comunicação representa uma via de mão única (professor-aluno), colocando o sujeito e a dimensão humana
às margens do processo de ensino e aprendizagem. Por outro lado, ficou evidenciado que ambas as
percepções se complementam e sinalizam as singularidades do profissional da educação, que precisa se
perceber como professor-educador, ciente da amplitude de seu papel na formação humana, dando especial
atenção às manifestações subjetivas que permeiam o seu trabalho e que dão sentido à docência.
Finalmente, observou-se que, embora todos os indícios apontaram para o livro didático como sendo
ainda o maior aliado do professor na tarefa de alfabetizar, os sujeitos desta pesquisa reconheceram a
importância dos conhecimentos didáticos para fazer-aprender a arte da lecto-escrita, no entanto, observaram
que muitos trabalhos são publicados numa perspectiva crítico-destrutiva e não crítico-propositiva,
mostrando-se interesse por obras que tratem sobre a temática pelo viés dos métodos e das técnicas
apropriadas às demandas atuais de uma sociedade de classes, com interesses, necessidades e desejos, muitas
vezes, bem distintos.

Referências
[1] ABAURRE, M. B. M.; FIAD, R. S. Cenas de aquisição escrita: o sujeito e o trabalho como o texto.
Campinas, SP: Mercado de Letras: Associação de Leitura do Brasil – ALB, 1997.
[2] BORTONI-RICARDO, S. M. Educação em língua materna: a sociolingüística na sala de aula. São
Paulo: Parábola Editorial, 2004.
[3] BORTONI-RICARDO, S. M. Falar, ler e escrever em sala de aula : do período pós-alfabetização ao 5o
ano / Stella Maris Bortoni-Ricardo, Maria Alice Fernandes de Sousa. São Paulo : Parábola Editorial, 2008.
[4] CANDAU, V. Rumo a uma nova Didática. Petrópolis, Vozes, 1988.
[5] CANDAU, V. (Org.) A Didática em Questão. Petrópolis: Vozes, 1983.
[6] FAZENDA, I. et al (Org). Didática e interdisciplinariedade. Campinas, São Paulo: Papirus, 1998.
[7] FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. SP: Paz e Terra, 1996.
[8] FREIRE, P. Educação como prática de liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980.
[9] FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1975.
[10] GERALDI, J. W. (Org.). Leitura: Um Con/s/certo. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2003.
[11] KARLING, A. A. A didática necessária. São Paulo: IBRASA, 1991.
[12] KLEIMAN, A. B. Os significados do letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da
escrita. Campinas, São Paulo: Mercado de Letras, 2001.
[13] KOCH, I. V. O texto e a construção dos sentidos. São Paulo: Contexto, 2003.
[14] OLIVEIRA, M. R. N. S. et al (Orgs). Didática: ruptura, compromisso e pesquisa. SP: Papirus, 1993.
[15] PIMENTA, S. G. (Org). Saberes pedagógicos e atividade docente. São Paulo: Cortez, 2000.
[16] PIMENTA, S. G. A Didática como mediação na construção da identidade do professor - uma
experiência de ensino e pesquisa na licenciatura. IN: ANDRÉ, M. E. D. A. de e OLIVEIRA, M. R. N. S. de.
(orgs) Alternativas do ensino de Didática. Campinas, São Paulo: Papirus, 1997.
[17] SCHOLZE, L.; RÖSING, T. M. K. (orgs.) Teorias e práticas de letramento. Brasília: INEP, 2007.
[18] SMOLKA, A. L. B. et al. Leitura e desenvolvimento da linguagem. São Paulo: Mercado Aberto,
1989.
[19] SOARES, M. Linguagem e escola: uma perspectiva social. São Paulo, Ática, 1997.
[20] SOARES, M. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.
[21] VEIGA, I. P. A. (coord.) Repensando a Didática. Campinas, SP: Papirus, 1991.

3
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PRÁTICAS PEDAGÓGICAS RELACIONADAS AOS CONTEÚDOS DO EIXO


TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO NAS SÉRIES FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Debora Laranjeira Colodel 1*; Mary Ângela Teixeira Brandalise2


1
Universidade Estadual de Ponta Grossa
2
Universidade Estadual de Ponta Grossa

1. Introdução

Esta comunicação apresenta o relato parcial de uma pesquisa em andamento que objetiva diagnosticar
e analisar as percepções e práticas pedagógicas dos professores de Matemática sobre os conteúdos que
integram o bloco “Tratamento da Informação”, nas séries finais do Ensino Fundamental. A investigação está
sendo desenvolvida numa abordagem qualitativa, revestindo-se de um caráter bibliográfico e interpretativo,
em torno da seguinte questão norteadora: Quais concepções de ensino-aprendizagem têm os professores das
séries finas do ensino fundamental quanto ao conhecimento estatístico, combinatório e probabilístico e
como estas se refletem nas suas práticas pedagógicas?
A Educação Matemática e a Educação Estatística estão relacionadas, manifestando uma relação
reciprocamente dependente, sendo que a Educação Estatística tem como objetivos o desenvolvimento do
pensamento probabilístico, combinatório e estatístico. Muitas pessoas consideram a Estatística como parte da
Matemática, pensam que Matemática e Estatística são a mesma coisa. Gal e Garfield (1997), porém apontam
que as duas disciplinas se distinguem: para a Estatística os dados são vistos como números num contexto, o
que motiva os procedimentos e é a base para a interpretação dos resultados. A indeterminação ou
variabilidade dos dados é o que diferencia uma investigação estatística de uma exploração matemática, que é
mais precisa e com natureza finita.
A Educação Estatística, por um lado, é uma área de conhecimento que objetiva estudar e compreender
como se ensina e aprende Estatística, o que envolve a compreensão de fatores cognitivos e afetivos do
ensino e da aprendizagem. Por outro lado, defende-se uma visão de Educação Matemática que possibilite às
pessoas a obtenção de uma cultura que lhes permita aplicar os conhecimentos matemáticos em suas
atividades profissionais e pessoais.
Atualmente existe uma deficiência conceitual na formação das pessoas no que diz respeito à
compreensão das incertezas e suas possibilidades de tratamento matemático. Mas no mundo contemporâneo
é importante destacar que o acaso tem um aspecto essencial na percepção de mundo das pessoas, e é
essencial para desenvolver o pensamento probabilístico.
O mundo contemporâneo está em constante mudança, às pessoas são bombardeadas por uma série de
informações, vindas de diferentes tipos de mídias, tornando-se assim imprescindível a necessidade de que
todos os indivíduos precisem dominar alguns conhecimentos referentes à Estatística, Probabilidade e
Combinatória para atuarem na sociedade, como cidadãos capazes de tomar decisões com base nas
informações que chegam até ele de maneira consciente, crítica e reflexiva. São conhecimentos fundamentais
para analisar, por exemplo, índices estatísticos como o crescimento populacional, taxas de inflação,
desemprego, índices de custo de vida, interpretar pesquisas eleitorais, entre outras situações do dia-a-dia.
Considera-se que a competência nesses assuntos permite aos alunos uma sólida base para
desenvolverem estudos em outras áreas científicas, ou seja, tais conteúdos podem ser trabalhados de forma
interdisciplinar, proporcionando aos alunos estabelecer relações entre diversas áreas do conhecimento,
podendo assim contribuir para o aprofundamento de relações sólidas entre os seres humanos.
As reflexões acima apresentadas justificam a proposição da presente pesquisa para analisar as
percepções e práticas pedagógicas dos professores de Matemática das séries finais do Ensino Fundamental
sobre o ensino do conteúdo estruturante “Tratamento da Informação”.

* 1*
Acadêmica do Curso de Licenciatura em Matemática da UEPG e integrante do PIBIC – Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação Científica. E-mail: deboracolodel@hotmail.com
2
Professora Doutora do Departamento de Matemática e Estatística e do Mestrado em Educação da UEPG. Orientadora do projeto de
pesquisa PIBIC cadastrado na Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação da UEPG. E-mail: maryangela@uepg.br .

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2. Método

A primeira etapa da pesquisa constituiu-se num estudo das concepções propostas para o ensino da
Matemática para o conteúdo estruturante Tratamento da Informação, considerando-se os Parâmetros
Curriculares Nacionais de Matemática - PCNs e as Diretrizes Curriculares de Matemática do Estado do
Paraná. Depois se realizou o levantamento do marco teórico relativo à emergência da área de Educação
Estatística no contexto da Educação Matemática. A partir do referencial teórico construído foi organizado
um roteiro de entrevista, para diagnosticar as percepções de ensino dos professores atuantes nas séries finais
da rede pública estadual, e verificar como estas se refletem nas práticas pedagógicas desenvolvidas. As
questões desencadeadoras da entrevista foram: (a) realiza práticas que envolvem metodologias para o ensino
dos conteúdos referentes ao Tratamento da Informação, que utilizam recursos como: laboratório de
informática, jornais, revistas, calculadoras? (b) possibilita aos seus alunos: coletar e organizar dados,
construir tabelas e gráficos e posteriormente realizar discussões sobre a interpretação e análise dos mesmos?
(c) consegue articular e integrar os conteúdos do bloco “Tratamento da Informação” com os demais
conteúdos da disciplina de Matemática? (d) consegue trabalhar com os conteúdos propostos para essa área da
Matemática de forma contextualizada, envolvendo situações da realidade de seus alunos? (e) Considera
importante a integração entre estatística, probabilidade, combinatória, e, as demais áreas do conhecimento
para desenvolver a interdisciplinaridade? (e) Utiliza metodologias para o ensino de estatística, probabilidade
e combinatória nas aulas de matemática como proposto nos PCNs e/ou DCEs? Quais? (f) Considera que os
conhecimentos referentes aos conteúdos do Tratamento da Informação contribuem para a formação do seu
aluno enquanto cidadão crítico? (g) Como você avalia sua prática docente em relação aos conteúdos do bloco
Tratamento da Informação?

3. Resultados e Discussão

Os dados estão sendo analisados e interpretados, e uma análise preliminar do depoimento dos docentes
nos permite fazer algumas observações.
Quando indagados se conseguem trabalhar com os conteúdos propostos para essa área da Matemática
de forma contextualizada, envolvendo situações da realidade de seus alunos, a maioria dos docentes
respondeu que sim, conseguem trabalhar com os conteúdos do bloco Tratamento da Informação de forma
contextualizada, embora alguns relatem que tentam fazê-lo, mas que isso nem sempre ocorre da forma como
deveria. Os depoimentos dos docentes confirmam:

“Sim. É possível partir de um assunto de interesse da turma ou da comunidade como a


Dengue, a Gripe A ou as eleições que acontecem neste ano.”
“... os alunos gostam quando o tema proposto é futebol. Basta mostrarmos as tabelas de
classificação de um determinado campeonato. Eles adquirem habilidades para analisar os
dados numéricos nas tabelas e as estatísticas de seu time do coração.”
“Tento fazê-lo, mas sei que isso não acontece na sua totalidade.”

Os docentes consideram que os conhecimentos referentes aos conteúdos do Tratamento da Informação


contribuem para a formação do aluno enquanto cidadão crítico, desde que o professor adote uma
metodologia de ensino adequada, levando o aluno a pensar, analisar, interpretar, tirar as suas próprias
conclusões sobre determinados fatos, como se pode perceber em seus comentários:

“Lógico que sim. Eles despertam na criança o espírito de investigação, a


capacidade de organizar informações, interpretar dados, analisar situações, fazer
previsões, tirar suas próprias conclusões e escolher rumos de ação...”

“São importantíssimos estes conhecimentos e saber utilizá-los envolvem cálculos,


compreensão e interpretação. As utilizações destas representações permitem o
desenvolvimento do conhecimento, chegar a uma análise crítica da realidade e a partir
daí, construir e aprofundar conhecimentos.”

“Sim. Porque o tratamento de informações faz com que o aluno/professor pense sobre
aquele determinado assunto e não simplesmente fique repetindo de acordo com a
explicação(resolução de exercícios).”
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Ao serem questionados sobre a forma como avaliam sua prática docente em relação aos conteúdos
que integram o bloco Tratamento da Informação, nota-se que os docentes sentem dificuldade em admitir que
existe deficiências em suas práticas pedagógicas. Os professores que revelam-se mais abertos a pesquisa tem
a ousadia de dizer que tentam desenvolver suas práticas da melhor forma possível, mas admitem que podem
melhorá-las, de forma a vencer os obstáculos que surgem no dia-a-dia.

“Tento trabalhar bastante, mas sabemos que temos que "vencer" conteúdos. E nem sempre
dá tempo de trabalhar com pesquisas leituras de jornais e revistas em todos os conteúdos.”

“A prática está ainda engatinhando, pois somente de alguns anos para cá é que se deu o
devido valor a esse conteúdo que é de suma importância no mundo de hoje.”

“Acho que posso melhorar, já que só trabalho com Tratamento da Informação em alguns
momentos, quando há tempo hábil.”

“Em relação à minha prática docente, a análise e a interpretação crítica estão presentes
para resolver ou utilizar os conteúdos do bloco que devem ser abordados de forma
articulada, conforme as DCEs (...). Gosto muito de ser questionada, agradeço a
oportunidade embora tenha muitas tarefas e sempre falta tempo, mas sempre é bom saber
que estou comprometida com a qualidade da educação.”

4. Conclusão

As questões acima apresentadas foram aplicadas com 20 docentes selecionados nas escolas estaduais
do município, atuantes nas séries finais do ensino fundamental. Os depoimentos são ricos de significados e
sentidos, refletindo as concepções e de que forma elas interferem nas práticas que estão sendo ou não
desenvolvidas nas escolas públicas paranaenses.
No presente momento os dados coletados estão sendo organizados e uma análise preliminar dos relatos
docentes revela que os conteúdos matemáticos referentes ao bloco Tratamento da Informação, quando
trabalhados, são contextualizados e estão integrados aos demais conteúdos estruturantes de matemática. É
possível perceber também que muitos docentes apesar de considerar importante trabalhar com os conteúdos
que estão propostos para o bloco Tratamento da Informação, admitem sentirem que ainda podem melhorar
suas práticas ao abordá-los, acreditando serem tais conteúdos de suma importância para se ter uma visão de
mundo na atualidade.

Referências

[1] BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria Fundamental de Educação. Parâmetros


Curriculares Nacionais. Brasília. MEC/SEF, 1998.

[2] PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação do Paraná. Diretrizes Curriculares da Educação Básica.
Matemática. Paraná. SEED/DEB, 2008.

[3] LOPES, Celi A. E. A probabilidade e a estatística no ensino fundamental: uma análise curricular.
Campinas: FE/UNICAMP. Dissertação de Mestrado, 1998.

[4] LOPES, C. A. E. MORAN, R. C. C. P. A estatística e a probabilidade através das atividades


propostas em alguns livros didáticos brasileiros recomendados para o ensino fundamental. Conferência
Internacional Experiências e Perspectivas do Ensino da Estatística – desafios para o século XXI. Anais.
Florianópolis, 1999.

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PROJETO ABRAPALAVRA

Rochele R. Andreazza Maciel1*; Orientadora:Prof.Dra.Flávia Brocchetto Ramos2;


1
Universidade de Caxias do Sul
2
Universidade de Caxias do Sul

1. Introdução
A proposta desse projeto, enfoca a leitura literária a partir de práticas pedagógicas que
envolvem, entre outros aspectos, a exploração do corpo, a convivência em grupo, o jogo/brincadeira
e a construção de conceitos, preocupando-se com o progresso cognitivo, motor, social e afetivo dos
alunos.
Nesse contexto, entende-se a linguagem literária como um elemento peculiar e
potencialmente construtivo para os alunos. Por isso, a progressiva valorização do ato de ler como
prática social na formação de leitores constitui uma preocupação que vem gerando discussões e
iniciativas de vários segmentos da sociedade, desafiando especialmente o âmbito educacional. Os
novos parâmetros de educação enfatizam o abandono das práticas tradicionais centradas na
transmissão de saberes e o compromisso com a constituição de sujeitos autônomos e pesquisadores,
consolidando-se, assim, um lugar imprescindível à competência leitora.
Dessa forma, pensar na competência leitora é pensar na literatura na escola que, segundo
Saraiva & Mugge (2006 p.13), pode formar leitores através das práticas pedagógicas sem deixar de
preparar o aluno para a vida prática porque desenvolve a expressividade verbal e a imaginação
criadora. Diante disso, a proposta desse projeto é criar uma cultura leitora nas atividades extra
curriculares através do Projeto Tempo Integral , para ajudar a desenvolver nos alunos práticas
sociais de leitura. Acredita-se que a infância é o melhor momento para o indivíduo iniciar sua
emancipação mediante a função liberatória da palavra, pois é importante oferecer sistematicamente
a criança a experiências positivas com a linguagem para desenvolver sua capacidade de
comunicação com o mundo para promoção do seu desenvolvimento como ser humano.
Enquanto arte, a Literatura apresenta uma qualidade libertadora, estabelecendo uma forma
para os conflitos e desvelando, assim, o que é próprio do humano. Sustenta-se, assim, a necessidade
da arte para o autoconhecimento e para a constituição subjetiva, já que a interação com o objeto
artístico viabiliza a realização de um encontro do receptor consigo mesmo e com os outros,
formando uma coletividade. Nesse ponto de vista, a produção literária desempenha, essencialmente,
uma função humanizadora, conforme assinala Candido (1995, 256), ao afirmar que a “literatura
corresponde a uma necessidade universal que deve ser satisfeita sob pena de mutilar a
personalidade, porque pelo fato de dar forma aos sentimentos e à visão do mundo, ela nos organiza,
nos liberta do caos e portanto nos humaniza”.
Por suas particularidades, a palavra artística formula exigências ao leitor, demandando-lhe
habilidades específicas e propondo-lhe uma interação singular e uma participação efetiva na
produção de sentidos. Em vista disso, no contexto dos anos iniciais do Ensino Fundamental, é
relevante a realização de um trabalho mediador que aproxime o leitor iniciante do texto e auxilie a
criança na produção de sentidos.
Portanto, esse projeto objetiva fornecer subsídios aos estudantes para a descoberta do prazer
que advém do texto literário, contribuindo para o seu desenvolvimento lingüístico, cognitivo, social
e subjetivo. Além disso, as vivências oportunizadas contribuirão para a construção de estratégias
necessárias ao progressivo enfrentamento autônomo do texto literário.

2. Método
O projeto é realizado através de um encontro semanal, com um grupo de aproximadamente 15
estudantes das Series Iniciais do Ensino Fundamental matriculados no Projeto Tempo Integral, durante uma
hora e meia de duração.

3. Resultados e Discussão

*
Rochele Rita Andreazza Maciel: urmaciel@terra.com.br
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Vem desenvolvendo a autonomia leitora e possibilitando uma reflexão pessoal para a constituição de
sua identidade. A seleção de livros e a definição de propostas de leitura tem sido uma preocupação dos
organizadores do projeto; apesar de o projeto estar sendo desenvolvido há apenas 5 meses, tem sinalizado
que a professora está repensando sua prática e apresentado a leitura literária como um jogo a ser realizado
pelo leitor; os alunos estão envolvidos com a proposta, a qual está contribuindo para o letramento literário.

4. Conclusão
O projeto Abrapalavra vem contribuindo para a construção de estratégias necessárias ao
progressivo enfrentamento autônomo do texto literário, buscando oferecer um contato significativo com
histórias e poemas viabilizando a construção de sentidos para os textos, através do jogo/brincadeira.
.

Referências
CANDIDO, Antonio. O direito à literatura. In: Vários escritos. São Paulo: Duas Cidades, 1995.
RAMOS, Flavia B. Pensamento, linguagem e desenvolvimento infantil. Caxias do Sul, RS:UCS
EAD, 2006.
SARAIVA, Juracy Assman. Literatura e alfabetização: do plano do choro ao plano da ação. Porto
Alegre: Artmed, 2001.
SARAIVA, Juracy A & MUGGE, Ernani. Literatura na escola: propostas para o ensino
fundamental. Porto Alegre: Artmed, 2006.

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PROVA BRASIL: DESCRITORES DE AVALIAÇÃO DE MATEMÁTICA

Isabel Cristina Ribeiro1*; Mary Ângela Teixeira Brandalise2


1
Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG
2
Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG

1. Introdução

Os resultados das avaliações em larga escala da educação brasileira apresentam um quadro bastante
preocupante em relação à proficiência matemática dos estudantes desde os anos iniciais da Educação Básica
até o Ensino Superior.
O Sistema de Avaliação da Educação Básica - SAEB e a Prova Brasil são programas nacionais do
INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – que se destinam a avaliar a
proficiência dos estudantes nas áreas de Língua Portuguesa e Matemática no Ensino Fundamental. A Prova
Brasil é elaborada com base nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) [1], que, em Matemática,
destacam quatro blocos de conteúdos: Números e Operações, Espaço e Forma, Grandezas e Medidas e
Tratamento da Informação.
Os objetivos contidos nos PCNs são chamados na Prova Brasil de descritores. Foi proposto para a
8ª/9º ano do Ensino Fundamental 37 descritores de matemática, os quais descrevem as habilidades e
competências a serem testadas nos alunos relativas aos quatro blocos de conteúdos.
A avaliação externa, do sistema educacional brasileiro e das escolas, proposta na Prova Brasil é uma
política de avaliação implantada recentemente no meio educacional, razão pela qual se faz necessário estudos
que venham contemplar a sua eficácia e efetividade para melhoria da qualidade do processo ensino-
aprendizagem no Ensino Fundamental.
Este trabalho tem por objetivo realizar um estudo sobre as habilidades e competências dos descritores
de matemática propostos na Prova Brasil/SAEB, para a avaliação do conhecimento matemático dos alunos
de 8ª série/9º ano do Ensino Fundamental.
As habilidades e competências dos descritores de matemática propostos na Prova Brasil/SAEB, para
a avaliação do conhecimento matemático dos alunos relativos aos quatro blocos de conteúdos matemáticos:
números e operações, espaço e forma, grandezas e medidas, tratamento da informação e como elas estão
postas nas questões das provas realizadas, constitui-se a questão norteadora desta investigação.
A análise dos documentos oficiais da Prova Brasil, enquanto programa de avaliação em larga escala do
rendimento da aprendizagem da educação brasileira foi o ponto de partida para respondê-la.

2. Método

A análise documental é o procedimento metodológico adotado para a investigação, a qual prevê as


seguintes etapas:
 Levantamento bibliográfico referente à avaliação em larga escala no Brasil - Prova Brasil/ SAEB,
conhecimento matemático, descritores e respectivas habilidades e competências na área da
matemática.
 Estudo dos descritores propostos para a avaliação de matemática nos blocos de conteúdos: números
e operações, espaço e forma, grandezas e medidas, tratamento da informação.
 Identificação dos descritores presente nas questões da Prova Brasil de Matemática já aplicadas.
 Análise das possíveis contribuições dos descritores da avaliação do rendimento em matemática para
a melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem da Matemática.
Nesta pesquisa apresentamos os resultados das análises sobre algumas questões de Matemática da
Prova Brasil, aplicadas na 8ª série, 9º ano do Ensino Fundamental. Foi analisado se as questões presentes no
exame estavam realmente de acordo com os descritores, e se os descritores estão propostos nos PCNs, o grau
de dificuldade e o tipo de formulação da questão. As reflexões sobre o processo avaliativo gerado pela Prova
Brasil na área da Matemática e as primeiras análises das questões que foram propostas nas provas estão em
processo de construção nessa investigação.

1
Acadêmica do Curso de Licenciatura em Matemática da UEPG e integrante do PIBIC – Programa Institucional de Bolsas de Iniciação
Científica. E-mail: isa_bel.cristina@hotmail.com
2
Professora Doutora Departamento de Matemática e Estatística e do Mestrado em Educação da UEPG. Orientadora do projeto de
pesquisa BIC cadastrado na Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação da UEPG. E-mail: maryangela@uepg.br .

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Partiu-se, inicialmente, da análise dos documentos oficiais propostos para o ensino da Matemática e
para a Prova Brasil. Nos Parâmetros Curriculares Nacionais o Ensino Fundamental está estruturado em
quatro ciclos, mas como este estudo está voltado para as séries finais, o que nos interessa é o terceiro e o
quarto ciclos, ou seja, relativos aos conteúdos propostos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental.

3. Resultados e Discussão

Segundo os PCNs, o currículo de matemática para o Ensino Fundamental, deve contemplar o estudo
dos números e das operações, o estudo do espaço e das formas, o estudo das grandezas e das medidas. Os
conteúdos a serem ensinados em matemática no Ensino Fundamental são organizados em blocos, os quais
são explicitados abaixo.
Números e Operações: no Ensino Fundamental, os números aparecem de duas maneiras: como
instrumentos e como objeto de estudo em si mesmo; no primeiro caso eles aparecem como instrumentos
eficazes na resolução de determinados problemas, já no segundo, consideramos suas propriedades, suas
inter-relações e o modo como historicamente foram constituídos. O trabalho a ser realizado com as
operações envolve a compreensão dos diferentes significados de cada uma delas, as relações entre elas e o
estudo do cálculo, contemplando os diferentes tipos: exato e aproximado, mental e escrito.
Espaço e Forma: o trabalho com conceitos geométricos contribui para que o aluno desenvolva um
tipo especial de pensamento que lhe permite compreender, descrever e representar, de forma organizada, o
mundo em que vive. Este bloco de conteúdos contempla a construção, a visualização e a aplicação de
propriedades das figuras e as transformações geométricas, como também, as noções relativas à posição,
localização de figuras e deslocamentos no plano e sistemas de coordenadas. Além disso, é fundamental que
os estudos deste bloco sejam explorados a partir de objetos do mundo físico, de modo a permitir ao aluno
estabelecer conexões entre a Matemática e outras áreas do conhecimento.
Grandezas e Medidas: este bloco caracteriza-se por sua forte relevância social devido a seu caráter
prático utilitário, pois na sociedade as grandezas e medidas estão presentes em quase todas as atividades
realizadas. Sendo assim, a utilidade do conhecimento matemático na vida cotidiana fica mais clara para o
aluno. As atividades em que noções de grandezas e medidas são exploradas proporcionam melhor
compreensão de conceitos relativos ao espaço e as formas. É um bloco de conteúdo muito rico para se
trabalhar com os significados dos números e das operações, e ainda um campo fértil para a abordagem
histórica da matemática.
Tratamento da Informação: a importância social de se compreender as informações dá origem a este
tema como um bloco de conteúdo, embora ele pudesse ser incorporado aos anteriores. A finalidade do
destaque é evidenciar sua importância, em função de seu uso atual na sociedade. Integram este bloco as
noções de Estatística e de Probabilidade, além de problemas de Contagem. Em Estatística, a finalidade é
fazer com que o aluno venha a construir procedimentos para coletar, organizar dados, utilizando tabelas e
gráficos, comuns ao seu dia-a-dia. Nos estudos de probabilidade, a principal finalidade é a de que o aluno
compreenda que muitos dos acontecimentos do cotidiano são de natureza aleatória. Quanto aos conceitos de
contagem, o objetivo é levar o aluno a trabalhar com situações que envolvam diferentes tipos de
agrupamentos que possibilitem o desenvolvimento do raciocínio combinatório e a compreensão do principio
multiplicativo para sua aplicação em probabilidades.
A primeira edição da Prova Brasil foi em 2005, ano de sua criação, seguida de mais duas realizações,
uma em 2007 e a outra em 2009. É uma avaliação quase que universal: todos os estudantes das séries
avaliadas, de todas as escolas públicas urbanas do Brasil devem participar do processo avaliativo em larga
escala proposto pelo Ministério da Educação Brasileira.
Neste trabalho, para análise das questões de Matemática já aplicadas pelo exame nacional, foram
estabelecidos os seguintes critérios:
a) se os descritores atendem aos objetivos propostos nos PCNs para o conteúdo;
b) se as questões presentes no exame estavam de acordo com os descritores;
c) se o conteúdo da questão proposta está apresentado de uma forma contextualizada;
d) o grau de dificuldade da questão;
O processo de análise das questões da Prova Brasil está em andamento na investigação aqui
apresentada. A seguir apresenta-se o gráfico 1, que mostra a distribuição das questões quanto aos Blocos de
Conteúdos. É possível observar que a maioria das questões é do Bloco de Conteúdos Números e Operações
(57%) e que o menor percentual delas fica com o Bloco Tratamentos da Informação (6%).

400
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Gráfico1 - Questões Analisadas por Blocos de Conteúdos Gráfico 2 - Descritores por Blocos de Conteúdos
Fonte: Dados da Pesquisa Fonte: Dados da Pesquisa

Pode-se constatar nas questões analisadas que elas estão de acordo com pelo menos um descritor
proposto para a Prova Brasil de Matemática, e que todos os descritores estão de acordo com os objetivos
propostos pelos PCNs. No gráfico 2, apresenta-se um gráfico relacionando os descritores com os Blocos de
Conteúdos e pode-se observar a mesma tendência das questões o que não poderia ser diferente, uma vez
que elas foram elaboradas de acordo com os descritores.
Na tabela 1, que compara os descritores propostos para a Prova Brasil de Matemática com os presentes
nas questões das provas analisadas, observa-se que apenas uma questão é contemplada no bloco Grandezas e
Medidas. Como são apenas quatro descritores propostos para este bloco, ele se configura como o menor
índice de descritores presente. Na análise dos descritores propostos do bloco de conteúdos Tratamento da
Informação há uma correspondência entre o que se propôs e o que efetivamente foi apresentado nas questões
analisadas, como se verifica na representação gráfica abaixo.

Tabela 1 - Descritores de Avaliação de Matemática Propostos


e Presentes nas questões da Prova Brasil

Descritores
Blocos de Conteúdos
Propostos Presentes
Números e operações * 20 15
Espaço e forma 11 7
Grandezas e medidas 4 1
Tratamento da informação 2 2
Total 37 25
Fonte: Dados da Pesquisa

Analisando-se a dificuldade das questões da Prova Brasil, optou-se por classificá-las nos seguintes
níveis: baixa (fácil), média, alta (difícil). No gráfico 3, abaixo é possível observar o grau de dificuldade das
questões analisadas nos quatro blocos de conteúdos. A maioria das questões do bloco de conteúdos Números
e Operações foram classificadas como ‘fácil’, ou seja, de baixa dificuldade. Nas questões do bloco de
conteúdos Espaço e Forma estão as questões com maior nível de dificuldade, ou seja, as consideradas mais
difíceis.

Gráfico 3 - Nível de dificuldade das questões da Prova Brasil


Fonte: Dados da Pesquisa

401
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Gráfico 4 - Gráfico comparativo entre as questões contextualizadas e


não-contextualizadas que integraram Prova Brasil.
Fonte: Dados da Pesquisa

Observando-se os enunciados das questões quanto à contextualização presente na sua formulação o


resultado apresenta uma variabilidade significativa quando se faz a comparação por Bloco de Conteúdos. As
questões que integram o bloco Números e Operações estão distribuídas de forma equitativa, ou seja, 50% são
contextualizadas e as outras 50% não. Já no bloco Espaço e Forma 86% das questões não são
contextualizadas, e nos blocos de conteúdos Grandezas e Medidas e Tratamento da Informação todas as
questões incluídas na Prova foram contextualizadas.

4. Conclusão
As reflexões sobre o processo avaliativo gerado pela Prova Brasil na área da Matemática e as
primeiras análises das questões que foram propostas nas provas estão em processo de construção nessa
investigação. Espera-se com a finalização do trabalho contribuir para a melhoria da compreensão do
conhecimento científico relacionado aos descritores de Avaliação de Matemática propostos na Prova Brasil,
tanto para docentes, como para as escolas e sistemas educacionais.
Ainda que de modo insipiente pode-se apontar que a maioria das questões de matemática está
adequada aos objetivos propostos nos PCNs de Matemática, e foram elaboradas em sintonia com os
descritores definidos nos documentos oficiais da Prova Brasil.
Uma grande fragilidade observada na análise até aqui efetivada, é o reduzido número de questões do
bloco de conteúdos Grandezas e Medidas. Uma sugestão preliminar é que as questões sejam distribuídas de
modo a contemplar de modo igualitário os quatro blocos de conteúdos matemáticos. Outro aspecto frágil,
percebido é que a maioria das questões apresenta-se como exercício a ser resolvido, e não como problema
contextualizado.

Referência

[1] BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria Fundamental de Educação. Parâmetros


Curriculares Nacionais. Brasília. MEC/SEF, 1998.

[2] BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto/INEP. Prova Brasil: avaliação do rendimento escolar.
Disponível em http://provabrasil.inep.gov.br/. Acesso em 17/11/2009.

[3] REVISTA NOVA ESCOLA. PROVA BRASIL. Edição Especial nº 26, Editora Abril. São Paulo, ago.
2009.

402
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

RELAÇÕES DE PODER E SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DE SANTA


CATARINA: REFLEXÕES SOBRE ALGUMAS PRÁTICAS

Ana Merabe de Souza1 Gladys Mary Ghizoni Teive2


1
Universidade do Estado de Santa Catarina
2
Universidade do Estado de Santa Catarina

Introdução
Esta pesquisa ao nível de mestrado tem por objetivo compreender as relações de poder
exercidas no interior da Secretaria de Estado da Educação atendo-se as relações que se estabelecem
não apenas entre aqueles que assumem os cargos diretivos e os servidores, mas também entre os
servidores e seus pares, para a partir daí identificar quais processos de violências se instauram no
exercício destas relações.
Método
Com objetivo de responder a problemática levantada, a metodologia adotada é a pesquisa
bibliográfica e documental, complementada por questionários e entrevistas semi-estruturadas com
os servidores/as efetivos e cargos de confiança que atuam nas Diretorias de Educação Básica, de
Apoio ao Estudante e de Ensino Superior.
O referencial teórico utilizado apóia-se nos estudos de Michel Foucault, em especial as
obras “Vigiar e Punir” e “Microfísica do Poder”, que me permitiram perceber que as relações, não
apenas entre as chefias e os servidores, mas também entre os próprios servidores, configuram-se
como relações de poder, dentro das quais se circunscrevem as ações relativas ao disciplinamento.
Foucault nos chama atenção para a concepção positiva de poder da qual deriva a disciplina: ela faz
parte da arte do bom adestramento, que aparece no intuito de otimizar ganhos. Ao contrário de
diminuir a força daqueles que a ela estão submetidos, ela liga a força dos agentes, fazendo-os
produzir. E, além disso, o poder não é necessariamente opressor, ou seja, ele pode estar, por
exemplo, a serviço da nossa vontade de liberdade. Para Foucault não há relação de poder que não
seja acompanhada da criação de saber e vice-versa, e com base nesse entendimento é possível agir
produtivamente contra aquilo que não queremos ser e experimentar novas maneiras de organizar
nosso mundo.
A investigação possui três eixos básicos: a) a gênese dos discursos que fizeram emergir a
Diretoria de Instrução Pública, atual Secretaria de Estado da Educação, e sua consolidação através
da Reforma de Orestes Guimarães de 1911; b) o mapeamento das práticas instauradas no interior da
Secretaria de Estado da Educação, seus limites, contradições e possibilidades, e c) os processos de
violências vivenciadas pelos sujeitos que compõem este contexto.
Resultados
A Secretaria de Estado da Educação - SED é o órgão responsável por formular as políticas
educacionais da educação básica, profissional e superior em Santa Catarina, compartilhando essa
responsabilidade com o Conselho Estadual de Educação. A atual estrutura da SED, além do
Gabinete do Secretário, conta com sete Diretorias1 que se subdividem em Gerências, cada qual com
atribuições técnicas específicas. Embora a especificidade do trabalho desenvolvido por tais
Diretorias exija profissionais habilitados em diversas áreas, não há um quadro de pessoal designado
para trabalhar no órgão central que inclua definição da habilitação profissional, descrição das
atribuições e o quantitativo de servidores por cargo. No entanto, um grande número de servidores
que ingressaram no magistério através de concurso público para atuar em escolas da rede estadual
transferiu-se para SED2. Tais servidores passaram a ocupar tais cargos desenvolvendo atividades
técnico-administrativas em setores cuja especificidade exigiria profissionais com habilitação na
área, a exemplo dos setores de Licitação, Consultoria Jurídica, Financeiro, entre outros. Esta

1
Gabinete do Secretário/a, Diretoria Geral, Diretoria de Educação Básica e Profissional, Diretoria de Apoio ao
Estudante, Diretoria de Educação Superior, Diretoria de Administração Financeira, Diretoria de Desenvolvimento
Humano, Diretoria de Organização, Controle e Avaliação.
2
Passaram a fazer parte do quadro da SED através de concessão de afastamento, por convocação, à disposição ou com
designação para exercer função gratificada.
403
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010
2
situação, além de favorecer os usos e abusos por parte dos políticos no preenchimento desses
cargos, que em razão da inexistência do referido quadro em boa medida utilizam-se das vagas da
SED como barganha política, impede a profissionalização dos serviços oferecidos por esta
Secretaria e a realização de concurso público.
De acordo com informações fornecidas pela SED, o único concurso com vagas em edital
para esta Secretaria foi realizado no ano de 1993, e apenas para cargos da área pedagógica, sendo
15 para assistente técnico pedagógico e 25 para consultor educacional. Estes cargos haviam sido
criados um ano antes, através da Lei nº 1139 de 28/10/92, que entre outras providências, facultou
aos professores e especialistas em assuntos educacionais, lotados e/ou em exercício no órgão
central, enquadrarem-se nestes. Este encaminhamento legal atendeu as expectativas de um grande
número de professores e especialistas em assuntos educacionais que, ao longo das diversas
administrações, foram sendo trazidos para ocupar cargos administrativos e que já não mais
desejavam voltar às suas atividades de sala de aula. Assim, a composição do quadro da SED é
facilitada àqueles que já se estabeleceram no serviço público e dificultada para os profissionais
jovens, em início de carreira. O gráfico abaixo ilustra esta afirmação:

Fonte: Diretoria de Desenvolvimento Humano da Secretaria de Estado da Educação de Santa Catarina.


Relatório fornecido no dia 12/11/2009.
A Lei nº 1139/92 dispõe sobre cargos e carreiras do magistério público estadual, logo, ela
não tem competência para legislar sobre cargos que extrapolam esta carreira. Para resolver este
problema seria necessário aprovar uma Lei que dispusesse sobre o quadro de pessoal regido pelo
Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do Estado, com profissionais das diversas áreas. Sem a
existência de tal lei, os cargos de advogado, administrador, contador, etc. da SED “não existem”,
conseqüentemente, não é possível realizar concurso, pois ao menos na teoria, enquanto na
administração particular é licito fazer tudo o que a lei não proíbe, na administração pública só é
permitido fazer o que a lei autoriza.
A Lei nº 351 de 25/04/06, pode-se dizer que de forma um tanto quanto controvertida, tentou
dar conta desta necessidade: ela instituiu o plano de carreira civil para servidores públicos lotados
na SED. O quadro de pessoal está previsto no seu artigo 4° com a seguinte redação: “Fica criado o
Quadro de Pessoal da Secretaria de Educação, Ciência e Tecnologia composto pelo cargo de
provimento efetivo de Analista Técnico em Gestão Educacional (...)”.Nesta conjuntura, cargos que
exigiriam graus de instrução distintos foram transformados em um único cargo, distinguidos apenas
em função das classes I, II, III e IV. Não foram previstas quais habilitações profissionais deveriam
compor o quadro de pessoal, apenas o quantitativo por classe: 600 vagas para classe I (4ª série do
ensino fundamental), 140 para classe 2 (ensino fundamental completo), 650 para classe III (ensino
médio) e 500 para classe IV (ensino superior). Em relação à lei anterior (Lei nº 1139/92), esta
pretendeu ir mais longe, pois facultou o enquadramento no novo cargo a professores e especialistas
em assuntos educacionais em exercício no órgão central e no Conselho Estadual de Educação até
dia 12 de janeiro de 2006, “independentemente da nomenclatura do cargo de provimento efetivo
ocupado e do quadro lotacional a que pertençam”3, o que possibilitou aos integrantes do quadro do
Magistério migrarem para o quadro Civil. Porém, tal manobra acabou não dando certo e esta lei,

3
Art. 5º § 2º.

404
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010
3
junto com as demais leis aprovadas praticamente em bloco, foi declarada inconstitucional pelo
Procurador Geral da República, Dr. Antonio Fernando Barros e Silva de Souza. O referido
Procurador ajuizou ação direta de inconstitucionalidade contra o estado de Santa Catarina e, em
suas considerações, afirmou:

[Tais leis] institucionalizam, a seu modo, espécie de provimento derivado4,


admitindo que servidores investidos em cargo público de específicos requisitos de
formação sejam transpostos para outros, de atribuições e exigências diversas. 5

E acrescentou o entendimento do Supremo Tribunal Federal a respeito da exigência de


concurso público para a investidura em cargos ou empregos públicos:

É inconstitucional toda modalidade de provimento que propicie ao servidor


investir-se, sem prévia aprovação em concurso público destinado ao seu
provimento, em cargo que não integra a carreira na qual anteriormente investido.6

Para resolver o imbróglio legal criado, foi necessário aprovar nova Lei Complementar. A
Lei nº 486, de 10 de janeiro de 2010 dispõe sobre os enquadramentos ocorridos com fundamento na
Lei nº 351/06 e estabelece outras providências. Seu objetivo foi facultar a opção pelo retorno ao
cargo de ingresso, com a anulação do enquadramento nos termos do art. 5º § 2 da Lei nº 351/06, aos
servidores que ocupavam os cargos no Quadro de Pessoal do Magistério Público Estadual. Entre
outras providências, novamente está a de assegurar que servidores do quadro do magistério público
estadual com concessão de afastamento, com convocação, à disposição ou com designação para
exercer função gratificada na SED, poderão optar pela lotação na Secretaria de Estado da Educação,
no Conselho Estadual de Educação e nas Secretarias de Desenvolvimento Regional.
Atualmente a Secretaria de Educação do Estado de Santa Catarina conta com 614 servidores,
assim distribuídos:
CARGOS POR DIRETORIA

700

600 19
10
5
87
500
23
38
Outros
400

300

432
200 Orientad
or/a
100
Educacio
nal

0
TOTAL

Diretorias

Fonte: Desenvolvimento Humano da Secretaria de Estado da Educação de Santa Catarina.


Relatório do dia 27 de maio de 2010.

4
A transferência interna ou transposição de cargos públicos, anteriormente denominado provimento
derivado, foi vedada pela Carta Democrática de 1988, que ao consagrar o princípio da moralidade da
Administração Pública, passou a exigir para o preenchimento de seus cargos e funções a prévia aprovação
em concurso público.
5
Processo nº 2007.045228-6 Ação Direta de Inconstitucionalidade. No Superior Tribunal Federal ADI/3966.
6
Ibidem

405
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010
4
Os dados deste gráfico expressam os enquadramentos produzidos pelas leis n° 1139/92 e
351/06 e da anulação do enquadramento proposto pela Lei nº 486/2010. A Lei nº 486/2010 está em
fase de implantação, logo, o grande número de servidores com a nomenclatura de Técnico em
Gestão Educacional deve-se ao fato de que o setor de Recursos Humanos ainda está incluindo no
sistema os pedidos de retorno ao cargo de ingresso e a anulação do enquadramento. Importa
perceber, no entanto, que tal cargo abarca os diferentes cargos que existem dentro da SED, o que
significa que há muito mais professores, especialistas em assuntos educacionais, consultores
educacionais e assistentes técnico-pedagógicos do que os números apontados na tabela.
No que se refere à gestão, foi questionado o nível de participação dos educadores nos
processos de planejamento e avaliação. As respostas variavam entre planejamento com AMPLA
(A), POUCA (B) ou SEM participação (C). Em relação à avaliação as opções eram (A) a avaliação
é uma PRÁTICA PERMANENTE, (B) ocorre AS VEZES ou (C) NÃO EXISTE a prática de
avaliação. Os dados obtidos e foram organizados no gráfico abaixo e indicam baixa participação
nos processos de planejamento e avaliação:

PLANEJAMENTO AVALIAÇÃO

Fonte: Dados do questionário aplicado por Ana Merabe de Souza em junho/2010.

Conclusão
Embora a pesquisa encontre-se em fase de execução, os dados levantados me desafiam a
questionar e refletir sobre o potencial de violência contido nas relações estabelecidas no interior da
SED. Neste sentido, não me parece ser possível reduzir a violência apenas ao plano físico, é
necessário incluirmos todo o processo psíquico, moral e sócio-cultural. Portanto, avançar na
compreensão das violências, significa entendê-las como fenômenos complexos que não se pode
explicar pelo olhar binário de causa e efeito7. É necessário conhecer as formas em que a violência se
manifesta, como é significada e representada no seio das instituições, tendo por base que o que a
determina é o desrespeito, a coisificação, a negação do outro, a violação dos direitos humanos, o
uso inescrupuloso do poder, da burocracia e do autoritarismo.

Referências
ADI-3966 – Ação Direta de Inconstitucionalidade.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Edições Graal, 2009.
______. Vigiar e Punir. Petrópolis. Vozes, 1987.
NUVIC, Núcleo Vida e Cuidado. Projeto de curso de especialização A gestão do cuidado para
uma escola que protege. Florianópolis: NUVIC/CED/UFSC, 2009.
______. Lei nº 1139, 28 out. 1992. Dispõe sobre cargos e carreiras do Magistério Público Estadual,
estabelece nova sistemática de vencimentos, institui gratificações e dá outras providências.
______. Lei nº 351, de 25 abr. 2006. Institui o Plano de Carreira e Vencimentos dos servidores
públicos, regidos pelo Estatuto dos Servidores Civis do Estado, lotados na Secretaria de Estado da
Educação, Ciência e Tecnologia e estabelece outras providências.
______. Lei nº 486, 10 jan. 2010 - Dispõe sobre os enquadramentos ocorridos com fundamento no
art. 5º, § 2 da Lei Complementar nº 351, de 2006 e estabelece outras providências.
SÚMULA 685, publicada no Diário da Justiça de 09 out. 2003, p. 5; Diário da Justiça de 10 out.
2003, p. 5; Diário da Justiça de 13 out. 2003, p. 5.

7
NUVIC, Núcleo Vida e Cuidado. Projeto de curso de especialização “A gestão do cuidado para uma
escola que protege”. Florianópolis: NUVIC/CED/UFSC, 2009.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

SEXUALIDADE NA ESCOLA:
PERCEPÇÕES E ATITUDES DO PROFESSOR

Marina Matiello*
Universidade de Caxias do Sul

1. Introdução
A sexualidade está presente nos seres humanos, desde o nascimento, e suas manifestações aparecem
no dia-a-dia, em diferentes contextos, tais como o familiar, o escolar e o social. Muitos estudos permitiram
compreender que a sexualidade faz parte de todas as fases do desenvolvimento, é construída e expressa nas
relações do ser humano com o meio no qual está inserido.
No entanto, para muitas pessoas a sexualidade está relacionada somente a aspectos biológicos, que
dizem respeito aos órgãos sexuais e à capacidade reprodutiva. Além disto, apesar de ser natural, próprio do
desenvolvimento, é possível perceber que muitas pessoas evitam verbalizações sobre o assunto, seja sobre
sua própria sexualidade, seja sobre a sexualidade manifestada por outros, tais como filhos, irmãos e alunos.
Esta pesquisa foi desenvolvida como o objetivo de conhecer as percepções e atitudes dos professores
em relação às manifestações de sexualidade de alunos. Foram entrevistados oito professores, de duas escolas
estaduais de ensino médio de Caxias do Sul (RS). A pesquisa foi realizada com professores de 5ª à 8ª séries
do Ensino Fundamental, pois nestas séries existe um aumento das manifestações de sexualidade na Escola.
Além disto, os alunos passam a ter vários professores, que trabalham com disciplinas diferentes, o que pode
dificultar o trabalho sobre a sexualidade, que, na maioria das vezes, fica delegado aos professores de ciência
e biologia.
Para conhecer as percepções e atitudes dos professores perante as manifestações de sexualidade dos
alunos, foram analisadas as seguintes categorias: percepção dos professores em relação ao desenvolvimento
sexual dos alunos; percepção em relação à manifestação de sexualidade dos alunos; atitudes dos professores;
escola e sexualidade.

2. Método
O estudo foi realizado no segundo semestre de 2008, utilizando-se uma investigação qualitativa de
tipo exploratório. Participaram da pesquisa oito professores de 5ª à 8ª séries de duas escolas estaduais de
Caxias do Sul, sendo entrevistados quatro professores de cada escola. Foi considerado como critério de
inclusão o fato de estarem atuando em sala de aula, com qualquer turma das séries finais do Ensino
Fundamental, independente da disciplina que trabalham. A pesquisa foi realizada a partir de entrevista semi-
estruturada individual, abordando questões relacionadas à sexualidade na escola: manifestação da
sexualidade na escola por alunos de 5ª à 8ª séries, percepções e atitudes dos professores diante das
manifestações, formas de trabalhar sobre a sexualidade. Para a análise das percepções e atitudes dos
professores utilizou-se o método de Análise de Conteúdo proposto por Bardin[1].

3. Resultados e Discussão

3.1. Percepção dos professores em relação ao desenvolvimento sexual dos alunos


Os professores das duas escolas mencionaram que os alunos estão muito precoces em relação ao
sexo, que estão despertando muito cedo para a sexualidade: Segundo Cano, Ferriani e Gomes [2], “a
iniciação sexual precoce entre os adolescentes tem acarretado uma preocupação cada vez maior entre os
profissionais de saúde, pais e professores em decorrência da falta de conhecimentos sobre concepção e uso
de contraceptivos.” (p.22)
Percebe-se através das falas que os professores concebem a sexualidade como um aspecto presente
na adolescência e na idade adulta, pois afirmam que a sexualidade está muito precoce. Ou seja, os
educadores não consideram a sexualidade presente na infância e a relacionam a manifestações ligadas ao
sexo e aos relacionamentos interpessoais.
No dia-a-dia da escola, de acordo com as falas das docentes das duas escolas, parece que as
preocupações em relação à sexualidade giram em torno dos comportamentos vinculados a relações
interpessoais, em que existe o desejo pelo outro. Afirmam que existe uma precocidade no aparecimento da
sexualidade, ou seja, comportamentos relacionados à genitalidade e à relação sexual, pois percebem que os
alunos estão começando a apresentar tais comportamentos cada vez mais cedo.

* Marina Matiello: marinamatiello@hotmail.com

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

3.2. Percepção em relação à manifestação de sexualidade dos alunos


Como manifestações de sexualidade os professores da citam os comportamentos apresentados pelos
alunos diante de colegas do sexo oposto. Percebem a manifestação da sexualidade através das falas, das
vestimentas, do relacionamento interpessoal.
Para Vitiello [3], a partir de um enfoque abrangente, pode-se considerar a manifestação de
sexualidade em todas as fases da vida de um indivíduo, permeando todas as manifestações, desde o
nascimento até a morte. No entanto, através das percepções das professoras em relação à manifestação de
sexualidade dos alunos, pode-se induzir que apenas os comportamentos que estão relacionados a inter-
relações entre os alunos, onde existe o desejo pelo outro, a troca de toques ou carícias, bem como a intenção
de chamar a atenção do outro é que são citadas pelos docentes. Algumas educadoras citam também atitudes
dos alunos que mostram o interesse em descobrir aspectos relacionados à sexualidade, ao corpo e ao ato
sexual, tal como o fato dos meninos assistirem filmes pornográficos.

3.3. Atitudes dos Professores


As atitudes dos professores variam, existindo maneiras repressivas de lidar com as manifestações,
como também atitudes mais compreensivas, que buscam auxiliar os alunos. Existem professores que
chamam os alunos para conversar, principalmente as meninas, inferindo que “é muito cedo para ter esse tipo
de atitude, que elas têm que ter outras preocupações antes.” Além disto, falam sobre o comportamento e a
forma de se vestir e o respeito que devem ter por elas e pelo corpo delas, alertando também para o risco de
gravidez.
Com as atitudes acima referidas, as professora parecem demonstrar uma preocupação e um esforço
em inscrever nos alunos os tipos de comportamentos aceitáveis para cada gênero. Buscam chamar a atenção
para o que percebem estar se desviando das normas sociais mais aceitas, “orientando” os alunos em relação à
forma de agir, se vestir e se cuidar. Louro [4], ao apresentar reflexões acerca do papel da escola, afirma que
ao mesmo tempo em que precisa incentivar a sexualidade “normal”, também precisa contê-la.
Através das falas, pode-se perceber que nas escolas a sexualidade é trabalhada prioritariamente nas
aulas de ciências e utiliza-se um discurso mais científico, apoiando-se nos conhecimentos da área biológico-
fisiológica, médica e higienista. Parece que nos momentos em que trabalha com os conteúdos de
ciências/biologia, a professora não sente vergonha, fala abertamente, até porque está respaldada por um
conhecimento formalizado. Nos estudos realizados por Ribeiro, Souza e Souza [5], os autores perceberam
que “as narrativas centram-se em práticas escolares vinculadas ao estudo biológico do corpo humano e às
construções das identidades sexuais e de gênero.” (p.114)
Assim como no trabalho desenvolvido por Ribeiro, Souza e Souza [5], em relação à sexualidade na
sala de aula, com professores da cidade de Rio Grande, na presente pesquisa também foi possível perceber
que os professores usam “como estratégias pedagógicas diversos mecanismos de interdição que funcionam
na nossa sociedade autorizando/sancionando aquilo que pode ser dito, visto e praticado em relação à
sexualidade a partir de regras/códigos culturais.” (p.114)

3.4. Escola e Sexualidade: Trabalho desenvolvido pela escola


Um aspecto que chama a atenção, na fala das docentes das duas escolas, é a não clareza em relação
aos trabalhos que estão sendo desenvolvidos. As professoras apresentam dúvida em relação aos trabalhos,
parecem não receber informações suficientes em relação ao que esta sendo desenvolvido na escola. E como
afirmou uma das docentes, o trabalho é realizado com os alunos. Ou seja, os professores são excluídos,
geralmente não participam e quando o fazem, apenas assistem à palestra ministrada, geralmente, por um
profissional da saúde. Seria importante que os professores fossem incluídos nos trabalhos de Orientação
Sexual e mais do que isso, que fossem os agentes desse trabalho e para isso, necessitam ser capacitados.
Nas duas escolas, a principal forma de trabalhar acaba sendo bem focal, através de palestras,
principalmente sobre doenças sexualmente transmissíveis. No entanto, com a realização de palestras, a
escola está só informando superficialmente, sem dar continuidade e sem propiciar a construção de
conhecimento continuo.

3.5. Formação dos Professores


Nas duas escolas, os professores não possuem formação para trabalhar sobre sexualidade e acreditam
ser necessário capacitação neste sentido. Para Borges, Nichiata e Shor [6], a capacitação dos
profissionais para trabalhar sobre a sexualidade poderia auxiliar nas intervenções indo além do modelo
biológico, propiciando discussões e reflexões que levassem em conta a sexualidade “enquanto uma dimensão
socialmente construída, contemplando as perspectivas físicas, psicológicas, emocionais, culturais e sociais,

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

evitando, contudo, o reducionismo biológico, no intuito de estar mais próximo do adolescente e alcançar com
mais pertinência a promoção de sua saúde integral.” (p.427)

4. Conclusão
A presente pesquisa teve o objetivo de conhecer as percepções e atitudes dos professores perante as
manifestações de sexualidade dos alunos. Através das entrevistas realizadas com oito professores de duas
escolas estaduais de Caxias do Sul, no segundo semestre de 2008, foi possível perceber quais são as
manifestações de sexualidade observadas pelos professores no ambiente escolar, bem como as atitudes destes
profissionais diante de tais manifestações.
A entrevista semi-estruturada individual foi utilizada como instrumento de investigação, o que
possibilitou que emergisse falas diferenciadas, relato de situações vivenciadas por cada professor, percepções
e concepções acerca da sexualidade na escola.
Através do conteúdo das entrevistas, percebeu-se que os docentes observam várias manifestações de
sexualidade no dia-a-dia das escolas. Consideram precoces tais manifestações e citam comportamentos dos
alunos relacionados às interações entre os discentes, onde existe o desejo pelo outro, toques, carícias, ou
ainda a verbalização ou demonstração de atitudes que estão relacionadas à genitalidade e às relações sexuais.
Devido ao fato de considerarem as manifestações de sexualidade precoce e citarem comportamentos
relacionados, principalmente, às relações e aos órgãos sexuais (que aparecem através de verbalizações, do
desejo pelo outro, na troca de carícia, nas brincadeiras), pode-se induzir que os professores entendem a
sexualidade presente principalmente a partir da adolescência, desconsiderando as manifestações que
aparecem desde a infância, e que há uma correlação, no senso comum, entre sexo e sexualidade.
As atitudes dos professores diante das manifestações de sexualidade são variadas, podendo ir de
medidas mais repreensivas e punitivas, até as mais compreensivas. No entanto, as medidas são paliativas e
focais. Os professores agem, a partir de uma situação ocorrida na escola, sendo que, às vezes, conversam
sobre o ocorrido, outras vezes ignoram e têm momentos em que encaminham para o Serviço de Orientação
Escolar ou para a Direção. Os professores afirmaram não se sentirem preparados para lidar com as
manifestações de sexualidade na escola, bem como não se sentem capacitados para realizarem trabalho sobre
a sexualidade.
Apesar dos Parâmetros Curriculares Nacionais [7] considerarem a sexualidade um tema transversal e
sugerirem um trabalho interdisciplinar, a realidade das escolas é bem diferente. Geralmente, os trabalhos
realizados sobre sexualidade se reduzem a palestras com profissionais da saúde, com um enfoque biológico e
preventivo. Os docentes reconhecem a importância, porém não incluem o trabalho sobre sexualidade no dia-
a-dia da escola. Existe uma dicotomia entre teoria e prática.
A falta de preparo e capacitação dos professores reforça esta dicotomia, pois sabem da importância
mas não sabem como trabalhar. Reconhecem que não existe capacitação dos professores neste sentido, pois
não tiveram formação na graduação, a não ser os professores de ciências, que tiveram formação na área
biológica. É importante que nos cursos de graduação, que estão relacionados com a educação, o tema
“sexualidade” seja incluído nos currículos. Existem poucas oportunidades de formação continuada, em
seminários, cursos, simpósios, que enfoquem a sexualidade na escola. Além disto, muitas vezes, os
professores não podem participar devido à incompatibilidade de horários.
Uma sugestão é que esta formação seja oferecida nas próprias escolas. Mas, antes de tudo, é
importante que os professores tenham um espaço para trabalhar sobre a própria sexualidade, com
profissionais capacitados, como por exemplo, o psicólogo. A capacitação não pode se restringir a teorizações
e receitas prontas, que muitas vezes são esperadas pelos próprios professores. É importante que os
professores possam partir da realidade da suas escolas, possam pesquisar as curiosidades dos alunos e
busquem embasamento teórico que auxiliem na análise e compreensão dessa realidade. Depois, é importante
planejar as estratégias de trabalho, que o planejamento seja realizado de forma interdisciplinar, que os
professores se comprometam com o trabalho e que esse possa ser realizado de maneira contínua. Como os
professores sugeriram, os assuntos abordados têm que partir do interesse da clientela. É importante que todos
os professores participem, pois a questão sexual do individuo está presente em todos os momentos e todos os
aspectos da vida.
A mudança precisa começar de uma inquietação, porém só isso não e suficiente. Por isto, a partir
desta pesquisa, podem ser desenvolvidas outras, que busquem discutir e planejar as possibilidades de
trabalho nas escolas, começando, prioritariamente, com os professores. Isso fica evidente na fala das
professoras, que não são incluídas nos trabalhos de Orientação Sexual e muitas vezes nem são informadas do
que está sendo desenvolvido na escola nesse sentido.
Para finalizar, fica a sugestão de desenvolver pesquisas e práticas a cerca da formação e capacitação
dos professores. Além disto, é importante que o trabalho sobre sexualidade na escola leve em consideração

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

todos os segmentos presentes nas escolas: direção, funcionários, professores, alunos, famílias; enfim, que
seja trabalhado com a comunidade escolar.

Referências
[1] BARDIN, L. Análise de Conteúdo. (3ªed.). (L.A.Reto & A. Pinheiro Trads.) Lisboa: Edições 70, 2004.
(Trabalho original publicado em 1977). 223p.
[2] CANO, M.A.T.; FERRIANI, M.G.C. & GOMES, R. Sexualidade na adolescência: um estudo
bibliográfico. [Versão Eletrônica]. Revista Latino-americana de Enfermagem, 8, p.18-24, 2000.
[3] VITIELLO, N. (1997). Sexualidade: Quem educa o educador – Um manual para jovens, pais e
educadores. São Paulo: Iglu, 1997. 132p.
[4] LOURO, G.L.; WEEKS, J; BRITZMAN,D.; HOOKS, B.; et al. O Corpo Educado: Pedagogias da
Sexualidade (2ª ed.). (T.T. Silva, Trad.). Belo Horizonte: Autêntica, 2001. 174p.
[5] RIBEIRO, P.R.C.; SOUZA, N.G.S. & SOUZA, D.O. Sexualidades na sala de aula: pedagogias escolares
de professoras das séries iniciais do Ensino Fundamental. [Versão Eletrônica]. Estudos Femininos, 12, 109-
129, 2004.
[6] BORGES, A. L. V.; NICHIATA, L. Y. I & SHOR, N. Conversando sobre sexo: a rede sociofamiliar
como base de promoção da saúde sexual e reprodutiva dos adolescentes. [Versão Eletrônica]. Revista Latino-
Americana de Enfermagem, 14(3), 422-427, 2006.
[7] BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Pluralidade
Cultural e Orientação Sexual. (Vol. 10, pp.109-154). Brasília: MEC/SEF, 1997.

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TECNOLOGIA, CIBERCULTURA E FORMAÇÃO DOCENTE

Iandra Pavanati1*; Richard Perassi Luiz de Sousa2


1
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento – EGC/UFSC,
Professora CCT/UDESC e INESA – Joinville, SC.
2
Professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento – EGC/UFSC.

1. Introdução
Ao observar o papel desempenhado pelas Tecnologias de Comunicação Digital – TCD no cotidiano
das novas gerações evidencia-se a necessidade de pesquisar os limites e as possibilidades da presença dessas
tecnologias nos espaços de aprendizagem, na formação e na atuação de professores. Partindo dos estudos de
Lévy [2] acerca da cibercultura, que a define como cultura desenvolvida coletivamente, numa realidade
multidirecional, virtual e sustentada por computadores, é possível observar, conforme propõem Demo [1] e
Santaella [8], que a cibercultura transforma os modos humanos de perceber e de estar no mundo, alterando
também as formas de aprender. Assim sendo, constitui-se num desafio à educação do presente que, para ser
significativa, precisa repensar-se e refletir sobre a presença das TCD, objetivando, conforme Litwin [3], ser
mais que a mera incorporação de modernas tecnologias a metodologias já ultrapassadas.
Entende-se que o processo de formação e atuação dos professores deve considerar o fenômeno
contextual que é a cibercultura, adaptando-se e desenvolvendo-se neste universo determinado pela forte
presença midiática. Considera-se a mídia digital, especialmente a mídia interativa e interligada à internet,
como um campo cultural diferenciado. Neste início do século XXI, Marc Prensky [7] assinalou que o
advento e a disseminação da tecnologia digital e do ciberespaço dividiram a sociedade em dois tipos de
sujeitos tecnológicos. Há, portanto, os chamados “nativos digitais”, que nasceram no contexto desta nova
cultura, e os “imigrantes digitais” que, originalmente, pertencem ao contexto pré-digital. De modo geral,
observa-se que estudantes e professores se dividem entre esses dois ambientes culturais. Sendo os
professores descendentes do mundo literário da cultura pré-digital e os estudantes oriundos do mundo
multimídia e hipertextual da cultura pós-digital. Isso evidencia a necessidade de adaptação e qualificação
docente para o novo contexto cultural.

2. Método
Esta é uma pesquisa teórico-descritiva de natureza qualitativo-exploratória, sustentada no método
fenomenológico, com foco na interação entre cultura e sujeito para construção do conhecimento. A partir da
explicação de Meksenas [4], entende-se que:
Pesquisar diz respeito à capacidade de produzir um conhecimento adequado à compreensão
de determinada realidade, fato, fenômeno ou relação social. Na educação escolar, a
pesquisa também assume a capacidade de criar os meios necessários ao estabelecimento de
novas interações, mediações e modificações de contextos que envolvem os sujeitos do
ensino com os sujeitos da aprendizagem.
Tendo em vista o problema observado, que é decorrente do desencontro cultural entre professores,
como imigrantes digitais e estudantes, como nativos digitais, o viés fenomenológico é adequado à pesquisa,
porque possibilita e justifica uma interpretação do mundo conforme esse se apresenta à nossa consciência. É
significativo o enfoque sobre a interpretação de fenômenos decorrentes das relações pedagógicas no contexto
midiático da cibercultura. Pois, desse enfoque emerge “a possibilidade de esclarecer alguns elementos
culturais, como os valores, que caracterizam o mundo vivido dos sujeitos”, conforme propõe Triviños [9].

3. Resultados e Discussão
Na atualidade tecnológica, o conhecimento superou a informação, na medida em que bancos de dados
virtuais e interativos são acionados e selecionados de maneira inteligente por ferramentas de busca. O
resultado desse processo fornece uma ampla gama de conteúdos, que são organizados e apresentados de
diversas maneiras, de acordo com coerências parciais definidas pelos pressupostos formais da busca
automática. Esse procedimento dinamizou e agilizou a atividade de pesquisa, que se torna cada vez mais
seletiva e produtiva diante do desenvolvimento continuado das ferramentas e dos processos de navegação.
Isso favorece a coleta e a ordenação dos dados, de maneira inteligente e criativa, constituindo a base dos
estudos e das pesquisas em Engenharia, Mídia e Gestão do Conhecimento. Nesse contexto, o engessamento
curricular e a generalização sem critérios são impedimentos ao êxito pedagógico. Litwin [3] evidencia que

*
iandrapavanati@hotmail.com
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

cada localidade apresenta suas particularidades. Quando esses aspectos particulares não são contemplados na
rigidez dos modelos curriculares propostos, há o comprometimento dos resultados pedagógicos, porque os
processos de inovação precisam ser coerentes com as realidades particulares. Para que seja significativo, o
processo educativo deve responder às questões pedagógicas de contextos específicos. Além da implantação
das TCD, é necessário conscientizar e preparar gestores e professores para os benefícios de sua utilização
pedagógica. Assim, são levados a reconhecer os méritos da inovação no processo de ensino e aprendizagem.
Conforme Litwin [3], “a tecnologia posta à disposição dos estudantes tem por objetivo desenvolver as
possibilidades individuais, tanto cognitivas como estéticas, através das múltiplas utilizações que o docente
pode realizar nos espaços de interação grupal” (p.10). Todavia, cabe ainda ao professor, beneficiando-se dos
processos tecnológicos, fazer a integração crítica e eficiente das informações e dos conhecimentos, para
atingir os objetivos pedagógicos propostos. Por essa razão é que nos questionamos: os professores estão
sendo preparados para integrar as tecnologias da informação e da comunicação na sua prática em sala de
aula?
Para que seja possível responder a essa pergunta são necessárias ainda muitas análises sobre este novo
contexto inaugurado pela presença das TCD no cotidiano vivenciado por nativos e imigrantes digitais.
Pierre Lévy [2] percebe com otimismo a expansão do ciberespaço, porque torna o mundo
informacional menos “totalizável”, permitindo a descentralização de quaisquer poderes. É um espaço em que
todos são autores e emissores de suas ideias, as quais também são imediatamente revistas e contaminadas por
múltiplas interferências caracterizando forte dinamicidade. Isso evidencia o paradoxo do universo sem
totalidade, já que a universalidade diz respeito ao todo. Mas, o todo não é consolidado no ciberespaço,
devido ao seu caráter mutante e expansionista. Na mídia tradicional, a relação estabelecida entre emissores e
receptores apresenta papéis bem definidos. Contudo, a cultura médio-interativa do ciberespaço estabelece a
cibercultura como atuação simbólica de conjugados de emissores interagentes e efetivamente interativos. Há
constante possibilidade de atuação ou intervenção, abrangendo todos os participantes do ciberespaço.
Pedro Demo [1] reage favoravelmente à ação das tecnologias de informação e comunicação na
sociedade, concordando com Santaella [8] sobre a influência dessas tecnologias no espaço pedagógico e nos
efeitos da universalização da cibercultura nas formas de percepção, de representação e de aprendizagem.
Ambos concordam que as características multimídia e hipertextuais da navegação no ciberespaço são muito
diferenciadas, com relação aos processos tradicionais de leitura e escrita.
O que se propõem é a superação da lógica e dos valores modernos que, agora, já representam a
tradição nos processos de ensino e aprendizagem. Constata-se, entretanto, que o professorado está em
processo de migração, juntamente com os representantes das instâncias gestoras das atividades pedagógicas.
Não é suficiente concordar com os autores citados, sobre a necessária mudança de mentalidade, por parte de
professores e de gestores pedagógicos. Pois, também, é necessário oferecer um novo paradigma e novos
parâmetros, que orientem a mudança, superando a visão “escolástica”, cuja influência perdura na educação
atual [5]. Tudo isso, confirma a necessidade de uma reflexão crítica e consequente sobre a formação de
professores no contexto das TCD.
Além dos modismos em torno da questão tecnológica na educação, há o desafio de integrar as TCD ao
processo pedagógico formal. Deve-se concordar com Demo [1] e afirmar que os desafios educacionais
contemporâneos requerem uma abordagem reflexiva sobre a necessidade de saber pensar [6], ou seja,
professores e estudantes com capacidade e habilidade cognitiva para relacionar e sistematizar os dados
observados nos fenômenos da cibercultura, produzindo conhecimentos apropriados à realidade e aos
problemas atuais.

4. Conclusão
O momento é de reflexão crítica e transformação de práticas, pois a desatenção frente às mudanças
sócio-cognitivas produzidas pelas TCD representa atrasos e obstáculos interpostos ao processo educativo no
contexto cultural das novas gerações. Consideramos que os espaços de reflexão e discussão como o I
Congresso de Iniciação Científica e Pós-Graduação representam uma oportunidade de conscientização sobre
a necessidade de constante aprimoramento docente diante da evolução técnica e cultural.

Referências
[1] DEMO, Pedro. O porvir. Desafio das linguagens do século XXI. Curitiba: IBPEX, 2007.
[2] LÉVY, Pierre. Cibercultura. Rio de Janeiro: Editora 34, 1999.
[3] LITWIN, Edith. (org.). Tecnologia educacional: política, histórias e propostas. Porto Alegre: Artmed,
1997.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

[4] MEKSENAS, Paulo. Pesquisa social e ação pedagógica: conceitos, métodos e práticas. São Paulo:
Loyola, 2002, p. 22.
[5] PAVANATI, Iandra; SOUSA, Richard Perassi de. Ensino de História, educação, tecnologia e
cibercultura. In: XXV Simpósio Nacional de História, 2009, Fortaleza - CE. Anais do XXV Simpósio
Nacional de História - História e Ética. Fortaleza: Editora da UFC, 2009, v.1, pp. 227-232.
[6] PAVANATI, Iandra; PEREIRA, Kariston; SOUSA, Richard Perassi Luiz de. Educação e Tecnologia:
reflexões sobre a cibercultura In: VI International Conference on Engineering and Computer Education,
2009, Buenos Aires. Anais da VI International Conference on Engineering and Computer Education.
São Paulo: ICECE, 2008, pp. 824-828.
[7] PRENSKY, Marc. Digital natives, digital immigrants. On the Horizon. MCB University Press, v. 9, n. 5,
out. 2001. Disponível em:
<http://www.marcprensky.com/writing/Prensky%20-
%20Digital%20Natives,%20Digital%20Immigrants%20-%20Part1.pdf>. Acesso em: 18 ago. 2009.
[8] SANTAELLA, Lucia. Navegar no ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor imersivo. São Paulo: Paulus,
2004.
[9] TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação.
São Paulo: Atlas, 2006, p. 48.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

UMA EXPERIÊNCIA QUE RELACIONA A IMPORTÂNCIA DO JOGO PARA A


APRENDIZAGEM

Marisa Dal Ongaro¹*; Helenise Sangoi Antunes²;

¹Universidade Federal de Santa Maria


²Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução

O projeto “Laboratório de Alfabetização: Repensando a Formação Inicial de Professores” trabalha


com alunos com dificuldade na aprendizagem e em situação de vulnerabilidade social. Para tanto um grupo
de professoras e acadêmicas do curso de Pedagogia se deslocou para a escola Celina de Morais com o
objetivo de fornecer aulas de reforço com o intuito de auxiliar na alfabetização de aproximadamente 15
crianças dos anos iniciais.
Tive a oportunidade de vivenciar algumas experiências de alunos com dificuldades devido aos
problemas emocionais, cognitivos e sociais essas crianças apresentam grandes problemas de concentração.
Embora as atividades programadas para as aulas levassem em consideração tal situação e o número de
criança destinado por professora era reduzido chegando ao máximo a 3, o conteúdo não era assimilado
apenas com a leitura e escrita, trabalhando apenas ao caderno, nesse sentido temos a contribuição de
Vygotsky.

No desenvolvimento a imitação e o ensino desempenham um papel de primeira


importância. Põem em evidência as qualidades especificamente humanas do cérebro e
conduzem a criança a atingir novos níveis de desenvolvimento. A criança fará amanhã
sozinha aquilo que hoje é capaz de fazer em cooperação. Por conseguinte, o único tipo
correcto de pedagogia é aquele que segue em avanço relativamente ao desenvolvimento e
o guia; deve ter por objectivo não as funções maduras, mas as funções em vias de
maturação (VYGOTSKY, 1979, p. 138 [1]).

Percebeu-se que as crianças não conseguiam visualizar as trocas de som e sílabas em relação ao
vocabulário e compreender o que estava sendo proposto, logo tentamos inserir na aula um momento de jogo
para trabalhar a memória e buscar a concentração de forma lúdica.

2. Metodologia

Através dos jogos utilizados sempre se buscou clareza frente aos objetivos das atividades, visto que o
jogo neste contexto não apresenta a intenção apenas de brincar ou divertir-se. "Tal como a situação
imaginária tem de ter regras de comportamento também todo o jogo com regras contém uma situação
imaginária" (VYGOTSKY in LIBÓRIO, 2000 [3]).
Os jogos estão disponíveis no acervo do GEPFICA (Grupo de Estudo e Pesquisa sobre Formação
Inicial, Continuada e Alfabetização), obtidos através do financiamento do FNDE/MEC. A cada nova aula
procura-se levar jogos diferentes, pois devido a fragilidade social da região de onde as crianças moram
supõem-se que seja um dos poucos momentos que estes tem contato com esse material. Nesse aspecto da
importância da brincadeira na aprendizagem "ainda que se possa comparar a relação brincadeira-
desenvolvimento à relação instrução-desenvolvimento, a brincadeira proporciona um campo muito mais
amplo para as mudanças quanto a necessidades e consciência." (VYGOTSKY in LIBÓRIO, 2000 [3.1]).

3. Resultados e Discussão

Essa experiência foi muito relevante para a minha prática docente, pois além das aulas,
desenvolvidas na escola, são realizadas reuniões semanais para discutir e pesquisar assuntos referentes à
alfabetização e letramento. A partir do projeto, continua-se oportunizando a formação inicial para as

* Marisa Dal Ongaro: marisa.curso@hotmail.com


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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

acadêmicas da Universidade Federal de Santa Maria e apoio aos alunos que apresentam dificuldades de
aprendizagem na área da lecto-escrita com uma atuação mais direcionada para as dificuldades de cada um.
Além disso, o projeto instiga as professoras e acadêmicas a refletir sobre as experiências e futuras
práticas, para que possam exercer melhor sua profissão frente a esses alunos que necessitam de uma atenção
mais direcionada para seu aprendizado.

Todos conhecemos o grande papel que nos jogos da criança desempenha a imitação, com
muita freqüência estes jogos são apenas um eco do que as crianças viram e escutaram aos
adultos, não obstante estes elementos da sua experiência anterior nunca se reproduzem no
jogo de forma absolutamente igual e como acontecem na realidade. O jogo da criança não
é uma recordação simples do vivido, mas sim a transformação criadora das impressões
para a formação de uma nova realidade que responda às exigências e inclinações da
própria criança (VYGOTSKY, 1999, p. 12 [2]).

Pode-se observar pela figura abaixo, alguns resultados do projeto desenvolvido na escola Celina de
Morais ao longo do desenvolvimento do projeto que teve inicio no ano de 2005:

Fig.1 Esquema de alguns resultados:

4. Conclusão

Os jogos fazem com que a criança explore o mundo sem obrigatoriedade, no momento do “jogar”
esta pode inserir-se em diferentes contextos e viver distintas emoções, sem o compromisso de assumir
propriamente a realidade. O projeto obteve resultados significativos com crianças que tiveram uma
participação efetiva no projeto, passando estas ao nível alfabético. No entanto, percebe-se que há crianças
que ainda não desenvolveram hipóteses que possibilitasse o avanço na leitura e escrita. Assim, foi sugerido
pelas professoras da escola que estas crianças passassem a ser atendidas pela mesma professora do projeto
deste ano e a partir de uma análise do caderno e de um relatório de como estas crianças se encontram.
É importante ressaltar que as professoras conversavam muito com os alunos durante a aula de
reforço pois, havia uma grande resistência desse para o processo de iniciação a escrita. Frente a isso o
projeto, no ano de 2009, contou com a ajuda de uma psicóloga para auxiliar as crianças.

Referências

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[1] VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. Lisboa: Edições Antídoto, 1979.

[2] VYGOTSKY, L. S. Imaginación y creación en la edad infantil. La Habana: Editorial Pueblo y


Educación, 1999.

[3] LIBÓRIO, O. Partilhar para Crescer. Boletim das ECAE do distrito de Coimbra, nº 0 - Ano 1 -
Dezembro/2000 - pp. 12 a 14. Disponível em: <http://www.malhatlantica.pt/ecae-cm/JOGO.HTM>. Acesso
em: julho de 2010.

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VISÃO HOLÍSTICA NA EDUCAÇÃO

Maria Terezinha Goulart da Silva r1*; Edilene Soraia da Silva2;


1
Graduanda em Pedagogia – INESA – Joinville, SC.
2
Profª. Drª. Edilene Soraia da Silva, Bióloga, Mestre e Doutora em Ciências da Educação

1. Introdução

Em uma sociedade onde os conflitos iniciam na própria família o desafio que se coloca é educar o
homem não para o conformismo e sim para a reflexão a liberdade de expressão em busca da paz. Jacques
Delors [2], em “educação um tesouro a descobrir” nos diz que, ante os múltiplos desafios do futuro, a
educação surge como um trunfo indispensável à humanidade na sua construção dos ideais da paz da
liberdade e da justiça social.
Nos quatro pilares da educação se observa a preocupação de formar o cidadão não mais com essa
visão fragmentado do saber dando ênfase a interdisciplinaridade percebendo a educação como um todo. Ou
seja, unificar razão, emoção, cognição, intuição, corpo, mente e espírito (intersubjetividade), tornando-se um
modelo abrangente de ser, pensar e viver a realidade.
A visão holística busca uma educação para a paz. “[...] a finalidade da educação seria a humanização
do próprio homem, o desenvolvimento de todas as manifestações da vida humana, levada à maior plenitude e
perfeição” Luzuriaga [4]. A educação holística é uma forte aliada para a realização de uma sociedade sadia,
feita por pessoas equilibradas, integradas ao universo, que darão conta da criação de uma sociedade
sustentável.
Uma das características da educação holística é a proposta de incluir a família, bem como os
educadores em todas as etapas da vida escolar. Sensibilizar cada um a ver-se como parte de um processo,
cujo sentimento de unidade contém as potencialidades para uma ação ética. Faz-se urgente o refletir e agir na
mudança em relação à formação do educador e na sua atuação na escola, numa perspectiva também holística.
Está pesquisa de revisão bibliográfica e estudo de campo pretende buscar alguns elementos que auxilie
o pedagogo a ter atitudes holísticas em sua pratica docente. Inicialmente faremos um apanhado sobre o
paradigma holístico na educação. Os objetivos da abordagem holística em educação, características do
estudante, visão do educador, prática de ensino, características da educação holística, atitudes holísticas, a
contribuição da visão holística na educação, avaliação.
É difícil até para um leigo não perceber o descontentamento por parte de todos os envolvidos no
processo educacional do país. Não se tem a pretensão de propor uma nova forma de atuar na educação, ou de
dizer o que é certo ou errado nas teorias da educação. O que se pretende é expor as principais idéias do
paradigma holístico na educação, para que o leitor faça uma reflexão sobre sua pratica no momento
profissional em que se encontra.
Na historia da humanidade muitos paradigmas foram quebrados. Um paradigma não é quebrado de um
dia para o outro, não nasce do nada. Ele é sempre resultado de uma tentativa de ruptura com o já estabelecido
e ao mesmo tempo, a procura de uma continuidade, de uma ligação com o passado. Um novo paradigma
nasce quando o antigo já não dá mais conta de explicar e resolver os problemas o qual teria que solucionar.
De acordo com Yus [6].
Paradigma é um conjunto de regras que define qual deve ser o comportamento e a maneira de resolver
problemas dentro de alguns limites definidos para que se possa alcançar êxito. Um paradigma nos condiciona
a nossa “visão de mundo”, a perspectiva com a qual abordamos os temas e nos relacionamos com o mundo
exterior. Quando um paradigma não consegue mais resolver os problemas que vão aparecendo, se faz
necessário o surgimento de um outro para que haja a mudança.
A visão holística na educação surge como um novo paradigma que traz a esperança de uma educação
harmoniosa entre o interior e o exterior humano. Quebrando o paradigma tradicional que tem a educação
fragmentada dando ênfase a razão. Neste sentido Weil [5] diz que “a proposta holística tende a despertar e
desenvolver tanto a razão quanto a intuição, a sensação e o sentimento". O que busca é uma harmonia entre
essas funções psíquicas”.
Posto isso o questionamento que se faz é: os educadores estão sendo formados para ter atitudes
holísticas em seu magistério? Parte-se do pressuposto que não, porque ao se questionar os acadêmicos a
maioria não sabe o que é visão holística na educação.

*
tere.goulart@hotmailk.com
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2. Método

Segundo a exposição dos fatos sobre o conhecimento dos professores do tema visão holística na
educação, observou-se a necessidade de realizar uma pesquisa através de um procedimento qualitativo, com
método indutivo, buscando-se um conhecimento bibliográfico descritivo.
Optou-se por este método porque de acordo com Fachin [3] estes são os procedimentos metodológicos
que mais aproximam o pesquisador da realidade a estudar. Sendo estes os mais úteis e adequados para esta
investigação. Quanto a isso Fachin [3] diz que “[...] o método indutivo é um procedimento do raciocínio que
a partir de uma análise de dados particulares, se encaminha para noções gerais”.
Este método permite um relacionamento mais extenso e flexível entre o investigador e os
pesquisados. Quanto à pesquisa de campo Fachin [3] esclarece que “a pesquisa de campo detem-se na
observação do contexto no qual é detectado um fato social [...]”. Este tipo de investigação contempla uma
visão holística, na medida em que as situações e os indivíduos são vistos como um todo.

3. Resultados e Discussão

A sociedade contemporânea configura-se em uma crise existencial nunca antes vivenciada pela
humanidade. Observa-se a necessidade de mudanças de atitudes na busca do equilíbrio entre a razão e a
emoção. A abordagem holística sinaliza como uma esperança para as pessoas que percebendo este caos que
se instalou em todos os níveis da sociedade estão preocupadas com o futuro da humanidade. Nota-se que
alguns professores não fazem idéia do que seja “visão holística na educação”. Neste sentido Cardoso [1]
esclarece que: a atual abordagem holística da educação não pretende ser uma nova verdade que detenha a
chave única das respostas para os problemas da humanidade. Ela é uma abertura incondicional e permanente
para o novo, para as infinitas possibilidades de realização do ser humano.

4. Conclusão

A questão é saber onde encontrar um educador com características holísticas. Se eles são raros, como
parece ser o caso atual, a solução passa a ser formá-los. Weil [5] diz que: O que se deve fazer então é
encontrar pessoas que esteja disposta a trabalhar suas essências. Que sejam suficientemente lúcidos e
modestos para se mostrar como são. Que apresentam frequentemente comportamentos ligados aos grandes
valores humanos, como a verdade, a beleza, e o amor altruísta. A visão holística insiste sobre a simplicidade
voluntária, a cooperação, os valores humanos, a formação geral precedendo a especialização, o dinheiro visto
como um meio a serviço de valores fundamentais, e não como um fim em si mesmo. Além de todos esses
aspectos, uma diferença fundamental reside na concepção do potencial humano a antiga educação, na qual se
pretende que, após a adolescência, o homem para de evoluir intelectualmente e afetivamente.

Referências

[1]CARDOSO, Clodoaldo Meneguello. A Canção da Inteireza – Uma visão holística da Educação. São
Paulo – SP, Summus Editoral, 1995.
[2]DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir. 8. ed. Tradução José Carlos Eufrásio. São Paulo:
Cortez, Brasília: MEC/UNESCO, 2003.
[3]FACHIN, Odília. Fundamentos de metodologia. 4. ed. São Paulo: Saraiva,
2003.
[4]LUZURIAGA, Lorenzo. História da educação e da pedagogia. Tradução Pietro Nasseti. 10. ed. São
Paulo: Editora Nacional, 1978.
[5]WEIL, Pierre. A Arte de Viver em Paz. 4ª ed. São Paulo – SP: Editora Gente,1993.
[6]YUS, Rafael. Educação Integral: uma educação holística para o século XXI. Trad. Daisy Vaz de Moraes.
– Porto Alegre: Artmed, 2002.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

A DECISÃO ÉTICA EM ARISTÓTELES E SUA IMPORTÂNCIA NA ORGANIZAÇÃO


HUMANA

Douglas Sanmartin Martins


Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI

1. Introdução
Desvendar como o ato decisional deve ser concebido para que se configure uma ação ética, e desta,
promover a organização humana. Tendo em vista que a base da cultura ocidental provém da Grécia
Antiga, os primeiros fundamentos acerca deste assunto foram trabalhados por filósofos gregos,
destacando-se Aristóteles, devido à sua originalidade teórica e prática.

2. Método
Indutivo, por meio de pesquisa bibliográfica.

3. Resultados e Discussão
Aristóteles procura a expressão prática dos valores morais. Devido à busca incessante pelo sumo
bem (felicidade) e as diversas maneiras que o homem recorre para atingi-lo, há uma investigação em meio a
como o ser humano deve agir da melhor maneira e pelo próprio bem, para que consiga chegar aos seus
objetivos, nos quais tem ligação direta ou indiretamente com o já citado bem fundamental. Os princípios
regulam as ações práticas de maneira que seja analisado, conseqüentemente, o mais correto e vantajoso para
o homem.
O estudo da conduta ética é voltado a examinar a ação humana, através da prática, da psicologia do
ato moral e da responsabilidade do ato individual, onde a excelência moral e intelectual permanece como
base para tais elementos. Ao partir destes fundamentos, são criados critérios aos atos de decidir
juridicamente e legislar.
Discípulo de Platão (Fig. 1) durante 20 anos, Aristóteles teve seu diferencial no pensamento ético à
partir do momento em que rompeu com o pensamento de seu mestre, e trouxe originalidade à sua teoria.
Propôs uma análise psicológica da ação moral que distingue phronésis, sophia e noûs, o que não podia ser
encontrado em seus registros enquanto na Academia de Platão, onde fez uso apenas dos dois primeiros
conceitos. Trouxe uma nova concepção à teoria e também à prática, devido a uma primeira ruptura no
universo da teoria, através do descobrimento deste novo fragmento da razão (nous). Portanto, em meio à
superação teórica na questão do bem, em relação ao modelo platônico-socrático e a evolução nas formas de
racionalidade, deve ser abordado o ato decisional ético em Aristóteles.
Sua referência teórica é a mais compatível para este estudo, pois propõe a relação direta do saber ético
com uma situação concreta, apta a ser aplicada no âmbito social, político e jurídico. Elucida Gadamer (1997,
p.446) ao afirmar:
[...] um saber geral que não saiba aplicar-se à situação concreta permanece sem sentido, e até
ameaça obscurecer as exigências concretas que emanam de uma determinada ação.
O mundo vive atualmente uma realidade onde os valores éticos e morais são dispensados em certas
circunstâncias, dando lugar aos interesses do sistema, tendo em vista uma sociedade cada vez mais
complexa, bem como sua característica capitalista, a globalização, e o constante progresso tecnológico. Com
isso, o ato de julgar e decidir ficam à margem da necessidade de uma maior reflexão intelectual, que estimule
o conhecimento filosófico e científico, para que as decisões sejam tomadas de modo coerente, de acordo com
princípios éticos.

Fig. 1 Platão e Aristóteles

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

4. Conclusão
O estudo da ética aristotélica provém repostas que servem de auxílio para diversos problemas
contemporâneos, como o recorrente da teoria e práxis; o problema da hermenêutica; o problema da instrução
do ser humano; o problema concernente aos fins e meios; dentre outros.
A partir de Aristóteles, pode-se examinar, através da conduta humana em sua particularidade, os meios
necessários para atingir o bem humano, à fim de que, em meio à sua qualidade racional, possa decidir o mais
correto, em detrimento ao mais vantajoso. Sem o entendimento deste tópico, forçosamente não entenderemos
a vida humana em sua plenitude, desde sua concepção, bem como seu desenvolver, e a real posição do
indivíduo na sociedade.

Referências
ARISTÓTELES. Tópicos; Dos argumentos sofísticos. Tradução de Leonel Vallandro e Gerd Bornheim.
São Paulo: Nova Cultural, 1987.
ARISTÓTELES. Tratados de lógica (Órganon). Introducciones, traducciones y notas por Miguel Candel
Sanmartín. Madrid: Gredos, 1995.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. 4. ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2001.
ARISTÓTELES. Metafísica: ensaio introdutório, texto grego com tradução e comentário de Giovanni Reale.
Tradução de Marcelo Perine. II vol. São Paulo: Edições Loyola, 2002.
ARISTÓTELES. Moral: La gran moral; moral a Eudemo. Traducción de Patrício de Azcárate. 6. ed.
Madrid: Espasa-Calpe, 1976.
AUBENQUE, Pierre. La prudente chez Aristote. 2. ed. Paris: Quadrige/PUF, 1997.
GADAMER, Hans-Georg. Verdade e método. Tradução de Flávio Paulo Meurer. Petrópolis: Vozes, 1997.
JAEGER, Werner. Aristóteles: bases para la historia de su desarollo intelectual. Traducción de José Gaos.
México: Fondo de Cultura Económica, 2002.
JAEGER, Werner. Paidéia: a formação do homem grego. Tradução de Artur M. Parreira. 4. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 2001.
PEREIRA, Oswaldo Porchat. Ciência e dialética em Aristóteles. São Paulo: Editora UNESP, 2001.
PLATÃO. A república. Tradução e notas de Maria Helena da Rocha Pereira. 8. ed. Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian, 1996a.
PLATÃO. Diálogos I: Mênon, Banquete, Fedro. Tradução de Jorge Paleikat. Rio de Janeiro: Ediouro,
1996b.
PLATÓN. Filebo. In: Diálogos: Fedro, Protágoras, Filebo, Teetetes. Traducción de Patrício de Ázcarate.
Buenos Aires: Argonauta, 1946.
REALE, Giovanni. História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média. São Paulo: Paulus, 1990.
REALE, Giovanni. Introdução a Aristóteles. 10. ed. Lisboa: Edições 70, 1997.
ROSS, Sir David. Aristotle: with an introduction by John L. Ackrill. 6. ed. London and New York:
Routledge, 1995.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

A IMPORTÂNCIA DO DIREITO NATURAL COMO FUNDAMENTO DOS DIREITOS


HUMANOS

Hanna Antunes David Alves Martins¹1; Alzira Eça de Argolo Faustino²


FADIVALE

1. Introdução
O Direito Natural é de fundamental importância para entendimento dos Direitos Humanos. Sendo
assim o que se questiona é como compreender os Direitos Humanos pela perspectiva do Direito Natural, por
isso a necessidade de uma abordagem de suas principais características.

2. Metodolofgia
Quanto aos objetivos trata-se de pesquisa exploratória e explicativa, realizada por meio dos
procedimentos metodológicos da pesquisa bibliográfica.

3. Resultados
As Leis Naturais são consideradas critérios de designação do justo, pois são derivadas da razão
humana e regem a conduta do homem. Paradigma ético permanente, de abrangência comum a todos, sob
diferentes culturas, de imposição absoluta, elas são um parâmetro inalterável. O Direito Natural é regido por
princípios perfeitos, de conhecimento universal, como patrimônio nato do gênero humano. O homem, dotado
de consciência, dono de seu destino, de forma livre e autônoma, decide sua própria conduta. O Direito
Natural organiza as relações sociais e fornece um fundamento para as ações humanas. Ele é a fonte de
direitos individuais. Uma das provas da realidade objetiva do Direito Natural é a dignidade humana a qual se
refere o preâmbulo da Declaração Universal dos Direitos do Homem, que considera o reconhecimento desta,
inerente a todos os membros da família e de seus direitos inalienáveis, um ideal comum a ser atingido como
fundamento da liberdade, da justiça e da paz social. Os Direitos Humanos, também denominados Direitos
Fundamentais, são garantias do ser humano, e têm por finalidade básica o respeito à dignidade da pessoa, sua
proteção, como também o estabelecimento de condições mínimas de subsistência; os mesmos são
imprescindíveis, não podem ser negados a qualquer ser humano. Eles servem como prova de que realmente
existe uma lei superior, inatingível ao egoísmo humano, uma lei natural, luz para a legislação positiva, que se
o homem (abusando de sua liberdade) violar, terá de arcar com as conseqüências.

4. Conclusão
Assim, com a aludida Declaração, evidenciou-se que os Direitos Fundamentais do Homem não se
justificam nas decisões das assembléias, mas no íntimo da natureza do homem e em sua dignidade
irrecusável de pessoa criada por “Deus”.

1
Hanna Antunes David Alves Martins: hanna.david@hotmail.com
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A PRIVATIZAÇÃO DA SAÚDE NO BRASIL: UMA ANÁLISE DAS TRANFERÊNCIAS


DISSIMULADAS AO SETOR PRIVADO

Gabriela de Abreu Oliveira1*


1
Universidade Estadual do Rio Grande do Sul

Esse trabalho trata das novas formas de privatização da saúde pública brasileira ocorridas após a
implementação do Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado (PDRAE) no Brasil em 1995.

1. Introdução
O tema saúde, em si, gera grandes discussões, por exemplo, a dificuldade de acesso ao sistema, a
qualidade do atendimento, o tempo de espera para um tratamento, os altos valores envolvidos no processo
saúde-doença etc. Para minimizar isso, no ano de 1988, após uma longa luta do movimento pela reforma
sanitária no Brasil, a Constituição Federal, alcunhada de cidadã, cria o Sistema Único de Saúde (SUS), um
sistema público que passa a contemplar todos os cidadãos, independentemente das condições sócio-
econômicas.
Entretanto, a Administração Pública brasileira, a partir de 1995, foi objeto de uma profunda reforma
gerencial, iniciada pela elaboração do Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado (PDRAE). Tal
reforma se dá no contexto do primeiro mandato da gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso e foi
fortemente influenciada pelos ideais ultraliberais. Como conseqüência lógica, os serviços públicos de saúde
foram afetados pela mencionada reforma e ficaram sujeitos ao processo de privatização, na medida em que o
direito à saúde também ingressou na onda de mercantilização. O PDRAE possibilitou que a saúde fosse
encaixada nos serviços denominados de “não-exclusivos” para que eles pudessem ser delegados à iniciativa
privada. O plano cunhou a expressão “publicização” para a delegação dos serviços de saúde, eufemismo que
visa dissimular o conteúdo do vocábulo privatização.
Isso ocorre, porque o Estado ultraliberal lida com a saúde de uma maneira bastante simples. Ela é mais
um bem de mercado, abrindo a sua execução para entes privados sem o devido controle por parte do Estado.
Entretanto, olvida, de forma proposital, que a saúde está assegurada no rol de direitos fundamentais, o que
não a subordina às regras do mercado.
Este trabalho busca evidenciar as formas que o Estado brasileiro se utiliza para gerir a saúde pública,
dissimulando a política de privatização. Para tal, o argumento central utilizado pelos defensores da saúde
como mercancia, reside no discurso de que o Estado não é eficiente o suficiente para lidar com os serviços
públicos e por isso ele deve deixar para as empresas privadas a gestão dos mesmos.
Diante disso, este trabalho tem por problema de pesquisa a seguinte pergunta: os novos entes criados
no contexto do Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado representam formas dissimuladas de
privatização do Sistema Único de Saúde?
O objetivo geral do presente trabalho é analisar como ocorrem as transferências dos serviços de saúde
pública para o setor privado. Dessa forma, surgem os objetivos específicos do trabalho: (1) verificar as
influências do Estado ultraliberal na privatização da saúde pública brasileira; (2) demonstrar a contradição
entre a classificação da saúde como direito fundamental em paralelo ao entendimento de que saúde é bem de
mercado; (3) propor uma tipologia das privatizações da saúde no Brasil.
A justificativa desse trabalho é pertinente porque analisa os meios que a Administração Pública vem
se apropriando (através de entes privados) para se desfazer da obrigatoriedade de prestação dos serviços de
saúde. A forma da delegação desses serviços são praticados de maneira dissimulada, talvez, para que a
população não perceba que os serviços públicos, na verdade, estão passando para as mãos privadas. O
importante é atentar para o fato de que os serviços de saúde, amparados pela Constituição Federal, devem ser
prestados pelo Estado porque ela é um direito social de interesse coletivo e que no momento em que esse
direito passa a atuar num mercado toda a construção de um direito social acaba por sofrer graves distorções.
Além do mais, o papel da academia é discutir sobre os mais diferentes fatos, desse modo, o papel dela
não se resume a algo meramente contemplativo, mas deve ajudar a mudar a realidade em que vivemos.
Também se encontra como justificativa do trabalho a própria área da Administração, esta que está inserida
no contexto das ciências sociais aplicadas, uma vez que, estuda os aspectos sociais do mundo, devendo
também ser atuante (não neutra) em suas áreas de interesse. Dessa forma, cabe finalizar a justificativa
dizendo que a metodologia empregada no trabalho visa romper com o conformismo das pesquisas de caráter
bibliográfico na medida em que se opta por um caminho inovador como o emprego da pesquisa-ação.

*
Gabriela de Abreu Oliveira: biabreuoliveira@hotmail.com
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

2. Método
A necessidade da escolha de um método científico, para que a pesquisa consiga seus resultados, é de
grande importância para a construção do caminho a ser seguido durante a pesquisa, detectando erros e
auxiliando as decisões. O método é o conjunto das atividades sistemáticas e racionais que, com maior
segurança permite que o objetivo seja alcançado.
“Todas as ciências caracterizam-se pela utilização de métodos científicos; em contrapartida,
nem todos os ramos de estudo que empregam esses métodos são ciências. Dessas
afirmações, podemos concluir que a utilização de métodos científicos não é da alçada
exclusiva da ciência, mas não há ciência sem o emprego de métodos científicos”
(LAKATOS e MARCONI, 2008, p.46).
Para tanto, será usado no trabalho um estudo exploratório com a abordagem predominante qualitativa.
É uma abordagem predominantemente qualitativa, porque, esse trabalho também se utilizou de dados
quantitativos.
Também serão utilizados alguns métodos de procedimento, tais como a pesquisa-ação e o estudo de
caso. Tendo também como técnicas a pesquisa bibliográfica e a documental.
Sobre a metodologia qualitativa é válido afirmar que esta “preocupa-se em analisar e interpretar
aspectos mais profundos, descrevendo a complexidade do comportamento humano. Fornece análise mais
detalhada sobre as investigações, hábitos atitudes, tendências de comportamento etc”. (LAKATOS e
MARCONI, 2008, p. 269). Essa metodologia é a mais adequada para este trabalho, porque permitirá à
pesquisa analisar e interpretar aspectos profundos da dissimulação da privatização da saúde pública
brasileira, proveniente dos atos complexos de certos seres humanos que contemplam a Administração
Pública. No que se refere à postura do pesquisador frente à pesquisa, esse trabalho trará o conceito de
pesquisa-ação, o que significa dizer que “a pesquisa-ação não está posta a serviço do poder vigente e que
nem sempre é possível direcionar a pesquisa em função de objetivos ideais de maior radicalidade em termos
de mudança ou ruptura social.” (THIOLLENT, 1997, p.20). O estudo de caso segundo Godoy “se caracteriza
por um tipo de pesquisa cujo objeto é uma unidade que se analisa profundamente” (1995a, p. 25). Indo ao
encontro de Godoy, Yin (2005, p.23) afirma que “é uma forma de se fazer pesquisa empírica que investiga
fenômenos contemporâneos dentro de seu contexto de vida real, em situações em que as fronteiras entre o
fenômeno e o contexto não estão claramente estabelecidas, onde se utiliza múltiplas fontes de evidência”.
O estudo de caso se debruçará ao setor de saúde brasileiro e realizará uma análise no processo da
dissimulação da privatização que vem ocorrendo no Brasil, principalmente após 1995, com a implementação
do Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado (PDRAE) no Governo de Fernando Henrique Cardoso.
O objeto do trabalho no qual a pesquisadora se deteve foi o Estado brasileiro ou a Administração
Pública, porque toda e qualquer elaboração de projeto de privatização que foi aplicada na área da saúde,
obrigatoriamente, passou pelo aval do Estado.

3. Resultados e Discussão
A saúde pública brasileira sofreu modificações após a implantação do PDRAE onde alocou a saúde na
forma de propriedade chamada de “pública não-estatal”, conforme se observa no quadro abaixo:
Fig.1 Quadro da reforma do aparelho do Estado e as formas de propriedade

FONTE: Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado (MARE, 1995).


Esse plano possibilitou que novos entes jurídicos fossem criados para lidar com a saúde. Uma das
conseqüências foi a criação da Organização Social (OS), da Organização da Sociedade Civil de Interesse
Público (OSCIP), das Fundações Estatais, entre outras. Entretanto, não se pode esquecer que a saúde é um
direito social, assegurado na segunda geração de direito fundamentais, e como tal deve ser respeitada e para
o trabalho ela não deve ser privatizada.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

No que se refere à privatização, trabalhar com o tema significa fazer uso da oposição binária
privatização/estatização na medida em que o afastamento do segundo (Estado) se dá em benefício do
primeiro (iniciativa privada). O que demarca os dois campos é a lógica diferenciada que orienta cada um
deles, pois o sentido e a razão de ser do Estado são, obviamente, distintos dos objetivos e da razão de ser de
uma empresa - cujo fim último é sempre a efetivação do lucro, mais especificamente, a acumulação privada
do mesmo. Em contraposição, a preocupação com questões sociais diz respeito e consiste (ou deveria
consistir) em atribuição exclusiva do Estado, isto é, “(...) a „lógica do público‟ deve ser determinada pela
solidariedade, enquanto a „lógica do privado‟ é determinada pela „lógica mercantil do consumo privado”
(DASSO JUNIOR, 2006, p.179-180). Conforme dito antes, a lógica do sistema vigente se espraia em todas
as áreas que possibilitam ganhos financeiros. No caso brasileiro, principalmente, na CF (1988) o artigo 199
comenta sobre a livre iniciativa privada na assistência à saúde, mas há uma ressalva. Esse artigo foi cunhado
antes das novas estruturas gerenciais (no caso, as OSs e as OSCIPs, por exemplo) atuarem no país. Era outro
pensamento, naquela época, os hospitais filantrópicos eram os únicos que prestavam serviços de saúde a
pessoas pertencentes à camada mais pobre.
A dissimulação da privatização ocorre porque a Administração Pública brasileira é orientada por uma
lógica camada de Ultraliberal, onde o uso de eufemismos são freqüentemente praticados. Para que esse
manto seja retirado o trabalho se propôs a realizar a tipologia das privatizações, onde retira dos entes o manto
da “não lucratividade” que eles vêm se valendo para privatizar a saúde pública.
Fig.2 Quadro das formas de privatização da saúde pública brasileira
ORIGEM DOS
TIPOS DE PRIVATIZAÇÃO FUNDAMENTO LEGAL GESTÃO TIPO DE ESTADO
RECURSOS

TRANSFERÊNCIA DE PROPRIEDADE
regulador
Alienação Lei 8.666/1993 - Art. 6° privada privada
(mínimo)
regulador
Incorporação Lei 6.404/1976 - Art. 227 privada privada
(mínimo)
público e/ou regulador
Fusão Lei 6.404/1976 - Art. 228 privada/pública
privada (mínimo)
Não há
experiências na DELEGAÇÕES TRADICIONAIS
área de saúde
público e/ou regulador
Contratualização (SERVIÇOS OU OBRAS) Lei 8.666/1993 privada
privada (mínimo)
público e/ou regulador
Concessão (CONTRATO) CF 1988 - Art. 21 L8987/95 privada
privada (mínimo)
público e/ou regulador
Permissão (CONTRATO DE ADESÃO) Lei 8.987/1995 privada
privada (mínimo)
público e/ou regulador
Autorização (ATO ADMINISTRATIVO) CF 1988 - Art. 21 privada
privada (mínimo)

SAÚDE COMPLEMENTAR

Hospitais sem fins lucrativos: 60% do atendimento regulador


Lei 12.101/2009 privada público
Entidades Filantrópicas (mínimo)
Postos de Saúde

SAÚDE SUPLEMENTAR
Planos São regulados
Agência Nacional de Saúde Individuais pela ANS regulador
Lei 9.961/2000 - Art. 4° privada privada
Suplementar (ANS) Não são regulados (mínimo)
Planos Coletivos
pela ANS
regulador
Assistência Médica Particular CF 1988 - Art. 199 privada privada
(mínimo)
Há experiências
na área de saúde NOVOS MODELOS SURGIDOS NO CONTEXTO DA REFORMA GERENCIAL

NÃO INTEGRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA


regulador
Contratos de Gestão com OSs Lei 9.637/1998 privada público
(mínimo)
regulador
Termos de Parceria com OSCIPs Lei 9.790/1999 privada público
(mínimo)
regulador
Parceria Público-Privado Lei 11.079/ 2004 - Art. 22 privada público
(mínimo)
INTEGRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Projeto de Lei regulador
Fundações Estatais (Fundações Públicas de Direito Privado) privada público
Complementar 92/2007 (mínimo)
regulador
Consórcios Públicos de Direito Privado Lei 11.107/2005 privada público
(mínimo)
Fonte: da autora.
Com essa tipologia o trabalho tentou desmascarar a privatização da saúde pública e evidenciar que
mesmo se a gestão do serviço é fornecida por privados é porque esse serviço foi privatizado.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Além do mais o sistema Ultraliberal se espraia para as mais diversas áreas e para isso o trabalho
elaborou uma segunda tipologia que enquadrou até mesmo os hospitais públicos que vem cada vem mais
adentrando na lógica privada.
Fig.3 Quadro da Tipologia de contratualização sob denúncia de irregularidade
ORIGEM DOS
TIPO DE PRIVATIZAÇÃO FUNDAMENTO LEGAL GESTÃO TIPO DE ESTADO
RECURSOS
CONTRATUALIZAÇÃO SOB DENÚNCIA DE
IRREGULARIDADE: Parecer do MP do RS n° 2009.71.00.003341-4 pública público regulador (mínimo)
Contratualização do Hospital de Clínicas de Porto Alegre
Fonte: da autora.
Essas tipologias talvez ajudem a desmascarar o processo de privatização da saúde aqui no Brasil, mas
para que isso ocorra é necessário que a população discuta sobre isso e que ela tenha voz ativa dentro do
Estado com uma efetiva participação.

4. Conclusão
Possivelmente este trabalho abre uma brecha para a discussão das privatizações da saúde no Brasil
que há muito vem sendo velada. Este trabalho preferiu deixar de lado a postura “coruja de minerva”, com o
seu olhar meramente contemplativo, e entrar a fundo nessa questão. É dever do mundo acadêmico alertar
sobre esses acontecimentos para que eles não se espraiem para outros lugares, vendendo uma visão falaciosa
ou até mesmo vendendo uma panacéia para os problemas estatais.
O Sistema de Saúde público do Brasil, ancorado na Constituição Federal que obriga o Estado a prestar
diretamente os serviços de saúde, baliza toda a organização dessa área e a repousa em seus princípios e
diretrizes (universalidade, integralidade, equidade, participação da comunidade, descentralização), no
entanto, quando a saúde é delegada para os entes privados esses princípios e diretrizes não são respeitados,
até porque, essas características, correm na contra-mão do sistema capitalista, acarretando a falta de
efetivação da implementação do setor público da saúde no Brasil.
O papel do gestor público na área da saúde também deve ser exposto, pois, a medida em que, esse sistema
cresce em proporções cada vez maiores não deixa muito espaço para os gestores atuarem diretamente no
Estado, deixando apenas para eles o papel de administradores de OSCIPs, OSs entre outros.
Entretanto, para que a privatização seja encarada como algo que não serve para se lidar com um direito social
é necessário que os cidadãos percebam que é possível mudar a sua realidade, mas primeiro será necessário
um amplo debate sobre a desnaturalização do sistema capitalista - que sempre foi tratado como algo que não
se pode correr contra porque ele seria o ápice da evolução da humanidade – e somente depois do sistema ser
encarado de forma não hegemônica que ele poderá ser modificado. A humanidade foi quem o construiu e ela
pode desconstruí-lo, assim como a privatização. O movimento de privatização apesar de ser algo muito bem
estruturado, não é o melhor meio de se lidar com um direito social. Para minimizar os impactos da
privatização seria necessário uma participação cidadã efetiva e a realização de audiências públicas mais
freqüentes sobre o tema, fazendo com que as pessoas acompanhem o processo publicamente e para que elas
opinem sobre a aplicação dos recursos públicos.
Por fim, concluiu-se que a privatização dos serviços de saúde é feita de maneira dissimulada, utilizando para
isso entidades jurídicas de direito privado, que se cobrem com o manto da “não-lucratividade” para
assumirem a prestação dos serviços públicos de saúde, entretanto, esse “manto” aos poucos vem sendo
retirado. A tipologia das privatizações vem a auxiliar na retirada dele. Todavia, a saúde não é um bem de
mercado, ela está amparada no rol dos direitos sociais, inalienável, complementar a condição humana. No
momento, que a exclusão é praticada na saúde sentenciam-se aqueles que não podem pagar à morte.

Referências
ANDERSON, Perry. Balanço do neoliberalismo. In: SADER, Emir e GENTILI, Pablo
(organizadores). Pós-neoliberalismo: as políticas sociais e o Estado democrático. 6ª ed. São
Paulo: Paz e Terra, 2003.
BRASIL, Constituição Federal do Brasil de 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm. Acesso em 20 de
Julho de 2009.
MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. O Manifesto Comunista. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998.
THIOLLENT, Michel. Pesquisa-ação nas organizações. São Paulo: Atlas, 1997.
YIN, Robert. Estudo de caso: planejamento e métodos. Porto Alegre: Artmed, 2005.
WOOD, Ellen Meiksins. A origem do capitalismo. Jorge Zahar Ed. Rio de janeiro. 2001.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA – ANEEL: UM ESTUDO SOBRE


SUA CRIAÇÃO E A EFICÁCIA DOS MECANISMOS DE INTERFACE COM O
CIDADÃO

Janaína Nack Hainzenreder1*;


1
Centro Universitário Ritter dos Reis

1. Introdução

Para entender o contexto histórico e econômico que levou à criação das Agências Reguladoras no
Brasil a partir de 1996 é necessário analisar, num primeiro momento, a reforma estatal ocorrida e o modelo
de gestão adotado à época, pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso.
A respeito da reforma estatal e esse contexto de modificações estruturais, observação interessante é feita por
PRADO (2006) [1], o qual “essa primeira geração de reformas teve como resultados principais as
privatizações, concessões e estabelecimento de parcerias entre governo e iniciativa privada e, ainda, a
redefinição do papel do Estado, que passa de executor para indutor e regulador das atividades econômicas
[...]. Um dos resultados desse processo no Brasil foi a criação das agências reguladoras”.
O presente estudo não se dedica a um exame aprofundado deste contexto histórico e econômico, pois tem
como objetivo geral demonstrar que o princípio da participação cidadã não faz parte das ações reguladoras
da respectiva agência. E como objetivo específico busca explicitar o processo de escolha dos diretores das
agências, demonstrar a relativização das “autonomias” (administrativa, orçamentária e normativa) e ainda,
investigar o processo de tomada de decisões (atos administrativos).

2. Da Criação

A Agência Nacional de Energia Elétrica – ANELL foi a primeira agência reguladora a ser criada no
Brasil, através de lei específica para tal, qual seja a Lei 9.427 de 26 de dezembro de 19961. Com a criação da
ANEEL, extinguiu-se o Departamento Nacional de Águas e Energia – DNAEE, sendo transferido para a
agência todo o acervo técnico e patrimonial deste, conforme disposto no artigo 31 da lei de criação [2].
Porém, o fato mais importante a mencionar em relação à criação da ANEEL seja talvez a própria condição
em que se deu a sua criação. Isto porque, parece ter ocorrido na contramão do que seria a lógica do sistema,
pois a agência reguladora foi criada posteriormente à algumas privatizações que já haviam ocorrido no setor
de energia elétrica, como também ensina PRADO (2006) [3], mencionando a respeito da atuação do poder
legislativo no processo de criação da agência.
A afirmação de que a criação da agência posteriormente à algumas privatizações vai contra a lógica do
sistema, se dá pelo fato de que essas privatizações ocorreram, então, sem qualquer regulação ou fiscalização,
o que, como se verifica na lei de criação, é a uma das finalidades da ANEEL.

3. Da Autonomia Orçamentária

A previsão da receita orçamentária da agência está disposta no artigo 11 e seguintes da lei de criação
[4], pois o mesmo estabelece que constituem receitas da ANEEL os recursos oriundos da cobrança da taxa de
fiscalização sobre serviços de energia elétrica, instituída por esta Lei, conforme o inciso I; os recursos
ordinários do Tesouro Nacional consignados no Orçamento Fiscal da União e em seus créditos adicionais,
transferências e repasses que lhe forem conferidos, disposto no inciso II; também o produto da venda de
publicações, material técnico, dados e informações, inclusive para fins de licitação pública, de emolumentos

*
Graduanda em Direito pelo Centro Universitário Ritter dos Reis (UNIRITTER/RS). E-mail: janainanack@yahoo.com
[1] Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/rap/v40n4/31599.pdf >. Acesso em 15/05/2010.
[2] Disponível em: < http://www.aneel.gov.br/area.cfm?idArea=7&idPerfil=3 >. Acesso em 13/05/2010.
[3] Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/rap/v40n4/31599.pdf >. Acesso em 15/05/2010.
[4] Disponível em: < http://www.aneel.gov.br/area.cfm?idArea=7&idPerfil=3 . Acesso em 13/05/2010.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

administrativos e de taxas de inscrição em concurso público, conforme inciso III; além dos rendimentos de
operações financeiras que realizar (inciso IV) e também os recursos provenientes de convênios, acordos ou
contratos celebrados com entidades, organismos ou empresas, públicos ou privados, nacionais ou
internacionais (inciso V). No inciso VI, prevê ainda receita oriunda de doações, legados, subvenções e outros
recursos que lhe forem destinados e no inciso VII, a receita vinda de valores apurados na venda ou aluguel
de bens móveis e imóveis de sua propriedade.
No Parágrafo único, o artigo 11 da Lei de Criação dispõe que “O orçamento anual da ANEEL, que integra a
Lei Orçamentária da União, nos termos do inciso I do § 5o do art. 165 da Constituição Federal, deve
considerar as receitas previstas neste artigo de forma a dispensar, no prazo máximo de três anos, os recursos
ordinários do Tesouro Nacional.
Assim, verifica-se que na receita orçamentária da agência estão previstos recursos oriundos do
Tesouro Nacional, repassados pelo poder executivo, o que, de certa maneira, condiciona as decisões da
agência à prévia aceitação do poder executivo, sob pena de sofrer uma política de contingenciamento, ou
seja, o executivo não realiza os repasses orçamentários destinados à agência, a então, “autonomia
orçamentária” da agência é algo bastante relativo.

4. Da Autonomia Normativa

A autonomia normativa da agência diz respeito apenas à sua capacidade de elaborar normas para
regulamentar o serviço de distribuição de energia elétrica no Brasil. A agência não pode inovar no
ordenamento jurídico porque seria então, um ente legislativo, o que, por óbvio, não pode ser.

5. Dos Mecanismos de Interface com o Cidadão

A ANEEL possui diferentes mecanismos de interface com o cidadão, são eles:


audiência pública, a consulta pública, ouvidoria e consulta a processos [5].

a) As Audiências e Consultas públicas: As Audiências e Consultas Públicas permitem à Agência


Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) compartilhar com a sociedade a reestruturação do mercado de
energia elétrica, incluindo, por exemplo, discussões como o reajuste da taxa de energia elétrica.

b) Ouvidoria: O consumidor de energia elétrica deve dirigir-se primeiramente a sua concessionária de


distribuição; caso não obtenha resposta à sua solicitação, ou se a solução apresentada não for satisfatória,
poderá recorrer à Agência Estadual Conveniada e, posteriormente, à ANEEL, pelos canais de telefonia,
correspondência, sistema de atendimento online e reclamações registradas por formulário através do site da
agência.

c) Consulta a processos, normas e atas de reuniões: Em relação a este mecanismo de interface com o
usuário a ANEEL possibilita à sociedade um instrumento de consulta aos processos em tramitação na
agência. Disponibiliza ainda, consulta às normas organizacionais e informa também sobre as pautas e atas de
reuniões que envolvam interesses dos consumidores e dos agentes do setor elétrico.

6. Método

Para este estudo adotamos o método Histórico Analítico. Em que o investigador está mais preocupado
em descobrir fatos que providenciarão maior compreensão e significância de eventos passados para explicar
a situação presente ou estado atual do fenômeno estudado.
Nesses estudos é utilizado o método histórico-analítico para abordar o evento na tentativa de encontrar
informações sobre como o evento ocorreu, quem o provocou, porque foi provocado, quais as possíveis
conseqüências atribuídas, entre outras, conforme explica RICHARDSON (1989) [6]. *

[5] Disponível em: < http://www.aneel.gov.br/area.cfm?idArea=7&idPerfil=3. Acesso em 13/05/2010.


[6] RICHARDSON, Roberto J. Pesquisa social; métodos e técnicas. 2. ed. São Paulo : Editora Atlas, 1989.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

7. Resultados e Discussão

A pesquisa ainda encontra-se em andamento, e portanto, os resultados se consolidarão a medida que


esta se findar. Para o momento destacamos como principal resultado o fato de que os mecanismos de contato
entre cidadão e agência não podem ser considerados como de efetiva participação democrática, sendo que
não há meios concretos de contribuição cidadã para qualquer tomada de decisão.

8. Referências

BRASIL, Agência Nacional de Energia Elétrica. Disponível em: <


http://www.aneel.gov.br/area.cfm?idArea=7&idPerfil=3>. Acesso em 13 maio2010

DI PIETRO, Maria Sylvia. Direito Administrativo, São Paulo - Ed. Atlas, 2000.

PRADO, Otávio. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/rap/v40n4/31599.pdf >. Acesso em 15 maio


2010.

RICHARDSON, Roberto J. Pesquisa social; métodos e técnicas. 2.ed. SãoPaulo : Ed. Atlas, 1989.

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Agência Nacional de Petróleo e Biocombustíveis (ANP) e o déficit de participação


cidadã

Nicholas Soares Zucchetti


Centro Universitário Ritter dos Reis

1. Introdução
Decorrente de um modelo econômico ultraliberal, onde a livre iniciativa
privada tudo pode, o Estado brasileiro vem privatizando serviços públicos. Nesse
contexto ultraliberal, durante o governo Fernando Henrique Cardoso, o Brasil passou a
privatizar e, como conseqüência, criar agências reguladoras para os referidos serviços
privatizados. Entre essas agências, criadas a partir de 1996, uma foi criada para regular
o petróleo e os biocombustíveis.
O tema do petróleo no Brasil é indissociável da existência da Petrobrás, que
teve sua criação em 1951. A Petrobrás na origem de sua criação, tinha o objetivo de
oficializar o monopólio estatal sobre o petróleo, e assim, controlar toda a atividade
petrolífera do Brasil.
Com o passar dos anos, o Brasil se tornou um potência petrolífera, sendo um
dos poucos países a dominar a tecnologia de exploração petrolífera em águas profundas.
Entretanto, durante o governo Fernando Henrique Cardoso houve uma grande mudança
no que se refere à regulação do petróleo no Brasil. Em 1997, via lei 9.478, o Congresso
nacional aprovou a criação da Agência Nacional do Petróleo e Biocombustíveis. Com o
surgimento da ANP, essa agência passou a regular as ações referentes ao petróleo, ao
gás natural e aos biocombustíves.
Com a criação da ANP, houve uma extinção do monopólio estatal sobre a
exploração do petróleo, onde o governo brasileiro possibilitou a livre concorrência em
relação à exploração e à utilização do petróleo. Antes, porém, houve alterações
constitucionais, no ano de 1995, possibilitando a abertura do setor petrolífero ao capital
estrangeiro.
O presente estudo busca fazer uma análise sobre a ANP, procurando estudar a
forma como ela atua e suas ações referentes à regulamentação do petróleo, gás natural e
biocombustíves. O objetivo geral desse assunto é descobrir se uma agência que foi
criada em um contexto ultraliberal, em que o setor privado é a referência, tem
mecanismos jurídicos e vontade política para efetivar o princípio constitucional da
participação cidadã.

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Ademais, a pesquisa também busca verificar se uma agência reguladora,


como a ANP, onde os principais interessados são pessoas jurídicas, tem condições de
favorecer mecanismos de interface eficientes com a cidadania e se esses mecanismos
fazem parte das ações da agência.
O plano ultraliberal que possibilitou que as agências fossem criadas gerou
certas dúvidas, em especial, se a administração pública estaria sendo realizada com
eficiência. No momento em que a livre iniciativa privada aparece, o poder público perde
a força e o ente privado aparece com mais importância. Com esse aumento da força do
pólo privado, uma análise sobre as agências deve ser feita. Se essa privatização da
exploração do petróleo, por investimentos estrangeiros em território nacional, estaria
garantindo a essência do Estado democrático.

2. Metodologia

Para elaborar esse trabalho, foram utilizados métodos de investigação para


verificar se existem modos de participação cidadã e se eles são eficazes, se existem
modos da população interagir com a agência,
A metodologia utilizada foi à pesquisa-ação, metodologia onde ocorre a
estimulação das pessoas envolvidas, onde o investigador busca interagir com objeto
estudado e assim conduzido à produção do próprio conhecimento. O investigador deve
se separar do objeto, o investigador deve ser isento de valores. Deve ocorrer por parte
do pesquisador uma experimentação das leis gerais, de forma cientifica, analisando
como se estivesse entrando em um campo desconhecido
Através dessa investigação, interagindo com o que o objeto mostrava, foram
feitos contatos com a ANP, para descobrir se existem mecanismos de participação com
o cidadão. Um deles, foi o telefone, via número 0800-970-0267. No site também foram
enviados e-mails para a agência, para verificar como as audiências públicas eram
efetuadas. Em relação à organização da agência foram feitos contatos com o site da
agência, para saber como ela se organiza e como é a escolha dos diretores.

3. Resultados

A ANP, por ser uma agência reguladora, possui alguns mecanismos


de interface, onde a comunicação e a interação com a população pode ser feita. Apesar

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

de possuir esses mecanismos, é fácil observar que eles estão restritos à internet, ou seja,
o cidadão que não possui meios de se conectar ao site da ANP não pode se interagir
com agência.
A ANP, desde o ano de 2003, possui consultas e audiências públicas,
onde qualquer cidadão pode se inscrever, apenas através do site. Desde o ano de 2003, a
ANP realizou cerca de 115 audiências públicas no seu escritório no Rio de Janeiro.
Apesar de ter escritórios em São Paulo, Salvador e no Rio de Janeiro, além de ter sua
sede central em Brasillia, todas as audiências foram realizadas no Rio de Janeiro. Essa
informação foi dada pelo número que agência tem em seu site. O formulário de
inscrição para as audiências públicas também está disponível no site, no setor de
audiências públicas em andamento. Qualquer pessoa fisica ou jurídica pode se
inscrever, mas no site a agência apenas dispobiliza a data da audiência, sem informar a
cidade e o local da consulta. A informaçao de que a agência efetua suas audiências
públicas no Rio de Janeiro foi adquirida através de telefonemas para a agência.
Além de possuir as audiências públicas como uma forma da população
poder interagir com a agência, a ANP possui um número para ligação gratuita, que é o
0800-970-0267. Este telefone atende de 2ª a 6ª, de 8h às 20h. Como algumas
informações não são possíveis de conseguir pelo site, houve ligações feitas para a
agência, buscando informações que não estão informadas no site.
A primeira ligação foi feita dia 27/05/2010 às 18h39min, buscando
informações sobre as audiências públicas, como elas são realizadas e onde são
realizadas, já que o site da ANP não informa essas questões. Nessa primeira ligação,
devido ao mal sinal, as informações não foram adquiridas, pelo fato da ligação ter caído.
Como nesse primeiro momento não foi obtido sucesso, foi enviando um email para a
agência para poder conseguir as informações. Neste email, de novo foi perguntado sobre
as audiências públicas e além disso sobre os escritórios das agências e onde eles se
localizam.
Após esse email com essas informações, a ANP me retornou a ligação
querendo responder as perguntas referentes do email. Como eu não estava em casa
acabei retornando a ligação no dia 28/05 às 19:21min. Nessa ligação consegui as
informações que queria como por exemplo que as audiências públicas acontecem no Rio
de Janeiro e que além desse escritorio na capital carioca, a ANP possui escritórios em
São Paulo e em Salvador.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

4. Conclusão

Apesar de ter mecanismos de interação com o cidadão, através da pesquisa


foi possível verificar que eles não são eficientes. Nas ligações telefônicas feitas para a
agência, a demora foi significativa, a incapacidade das pessoas que estavam atendendo
na agência foi notória, demonstrando desconhecer perguntas básicas relativas à agência.
Ficou visível também que agência está mais preocupada com criticas e
sugestões de pessoas jurídicas, com isso a interação com o cidadão fica prejudicada.
Nas ligações feitas para a agência, a primeira pergunta que os atendentes fizeram foi
questionando o CNPJ, mostrando que a interação com pessoas físicas não é muito
comum. Dessa forma ficam evidentes essas falhas na interação com o cidadão. Em um
modelo econômico onde o bem estar social é apenas supérfluo, a comunicação e a
interação com a sociedade fica fragilizada.
Apesar das audiências públicas serem um mecanismo de participação direta
com a população, ficou evidente na pesquisa que o site da ANP disponibiliza poucas
informações sobre como elas ocorrem. O horário e o local não são informados, sendo
que as audiências públicas acontecem sempre no Rio de Janeiro. Assim é possível
concluir que qualquer cidadão que mora em outra cidade do Brasil jamais poderá
interagir com a agência.

5. Referências
ANDERSON, Perry. Balanço do neoliberalismo. In: SADER, Emir e GENTILI, Pablo
(organizadores). Pós-neoliberalismo: as políticas sociais e o Estado democrático.
5ªed. São Paulo: Paz e Terra, 2000.
BRASIL. Agência Nacional do Petróleo. Disponível em < http://www.anp.gov.br.
MORAES, Alexandre. Agências Reguladoras. São Paulo: Editora Atlas, 2002.
NETO, José Francisco de Melo. Pesquisa-ação.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

CARTÃO DE CRÉDITO: RESPONSABILIDADE PELO PAGAMENTO


DECORRENTE DE SUA UTILIZAÇÃO ILICITA NOS CASOS DE FURTO, ROUBO OU
EXTORSÃO

MACHADO, Lucas 1*; BRUM, Laís2


1
Acadêmico do Centro Universitário Franciscano(Unifra)
2
Acadêmica do Centro Universitário Franciscano (Unifra)

1. Introdução
Reduzindo as distâncias, os riscos e permitindo a aquisição de produtos e serviços até uma
determinada quantidade, os cartões de crédito proporcionam uma melhor satisfação das necessidades da atual
sociedade de consumo, cada vez mais caracterizada pela temporalidade (velocidade) dos negócios jurídicos,
entre estes a aquisição de produtos (compra e venda) ou serviços, facilitada pelo cartão de crédito.
Apesar de todos os seus benefícios o cartão de crédito também passou a ser utilizado para a obtenção
de fins ilícitos, hodiernamente o delito contra o patrimônio virou rotina no dia a dia da sociedade (com
destaque para o furto, roubo e extorsão). Desse modo o consumidor torna-se desapossado de seu documento
de crédito, que é utilizado, em um curto intervalo de tempo (nos casos de extorsão pelo próprio consumidor),
com a finalidade de esgotar o limite do benefício concedido ao cliente [1]. Nessas situações surgem
divergências em relação a quem seja o legítimo responsável pelo pagamento.
Assim, teremos que analisar a responsabilidade de cada um dos integrantes (emissor (aquele que
concede o crédito para o titular do cartão, na maioria dos casos é uma instituição bancária), titular ou
aderente (aquele para quem é concedido o crédito) e o fornecedor do produto ou serviço adquirido ou
utilizado pelo portador do cartão), compreendidos no sistema de cartão de crédito, conforme o caso concreto
[1,2, 3].

2. Método
Utilizou-se o método de abordagem indutivo, de modo a examinar casos particulares, com base nas
fundamentações doutrinárias e jurisprudenciais a respeito do problema em questão para então chegarmos a
uma conclusão geral. Os métodos de procedimento utilizados foram o histórico (verificando, assim, as
alterações doutrinárias e jurisprudenciais no decorrer do tempo), tipológico (visando a melhor análise de
cada caso (e a sua solução) em que pode ocorrer o problema em exame) e o comparativo, objetivando-se
analisar as semelhanças e diferenças entre os diferentes casos de utilização ilícita do cartão de crédito (furto,
roubo e extorsão).

3. Resultados e Discussão
A doutrina é unânime em concordar que o legítimo responsável pelo pagamento do cartão de crédito
decorrente de sua utilização ilícita (seja por furto, roubo ou extorsão) é, obviamente, o infrator que utilizou o
cartão de crédito ilicitamente. Em segundo plano também a maior parte da doutrina sustenta que a
responsabilidade legítima pelo pagamento é do emissor, a partir do momento em que foi notificado pelo
titular do cartão, caso contrário o responsável será o próprio titular, desde que este possuía reais condições de
notificar o emissor e não o fez [1,2, 4, 5].
As divergências começam a surgir em relação a responsabilidade legítima pelo pagamento do cartão
de crédito utilizado ilicitamente antes de o emissor ser notificado. Uma corrente doutrinária (sustentada por
Gérson Luiz Carlos Branco) e jurisprudencial, impulsionada pela vigência do Código de Defesa do
Consumidor, sustenta que o responsável legítimo pelo pagamento nesses casos é sempre o fornecedor,
mesmo sem o emissor ser notificado, pois o titular do cartão de crédito (consumidor) é o integrante mais
vulnerável compreendido no sistema de cartão de crédito, o que impede sua responsabilidade nessas
situações, afinal é dever do fornecedor do produto ou serviço utilizado pelo infrator verificar os dados
exigindo documentos do portador do cartão ou conferindo a assinatura da nota da fatura com aquela do
próprio cartão de crédito [3].
Outra corrente defende que a responsabilidade legítima pelo pagamento do cartão de crédito nas
situações examinadas é uma questão muito relativa que vai depender muito das peculiaridades do caso
concreto, pois não é possível constatar a priori e de maneira absoluta quem realmente é o legítimo
responsável pelo pagamento do cartão de crédito nesses casos [1, 2, 4].

*
lucasdm5@hotmail.com
433
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

4. Conclusão
Entende-se que a responsabilidade pelo pagamento do cartão de crédito nas hipóteses de furto, roubo
ou extorsão pode ser tanto do emitente, quanto do fornecedor ou até do próprio titular, depende da real
situação ocorrida no caso concreto.
Desse modo, parece-se mais adequado o posicionamento ao lado do entendimento majoritário da
doutrina ao defender que a responsabilidade pelo pagamento do cartão de crédito utilizado ilicitamente nos
casos analisados será sempre do infrator e da empresa emissora a partir do momento em que foi notificada do
furto, roubo ou extorsão.
No intervalo de tempo entre a utilização ilícita do cartão e a comunicação a empresa emissora deve-
se analisar se havia (em tal situação a responsabilidade pelo pagamento será do titular do cartão, pois este
possuía condições de notificar a empresa emissora e não o fez, agindo portanto com negligência) ou não
(nesse caso a responsabilidade será da empresa fornecedora do produto ou serviço devido a sua obrigação de
tomar as diligências devidas como, por exemplo, conferindo a assinatura da nota da fatura com aquela do
próprio cartão de crédito) a possibilidade do titular do cartão notificar o emissor.
Tratando-se de extorsão entende-se que a responsabilidade (em regra) será da empresa emissora do
cartão, pois esta possui condições de criar mecanismos para solucionar tal situação como, por exemplo, criar
uma senha de coação para que o titular do cartão digite caso esteja sendo extorquido. Entretanto a grande
maioria das empresas emissoras de cartão de crédito, embora tendo condições, age com negligência (deixa de
agir) e não toma esses tipos de diligências sendo-lhes mais cômodo transferir a responsabilidade para o
titular do cartão, o que não nos parece correto.
Desse modo, pode-se concluir que a responsabilidade legítima pelo pagamento do cartão de crédito
nos casos examinados (furto, roubo ou extorsão) pode ser de qualquer um dos integrantes compreendidos no
sistema de cartão de crédito. O que realmente irá determinar a legítima responsabilidade pelo pagamento do
cartão serão as circunstâncias e peculiaridades presentes no caso concreto, por isso deve-se analisar essa
responsabilidade pelo pagamento a posteriori, ou seja, caso a caso [1, 2, 4].

Referência Bibliográficas

1. ABRÃO, Nelson. Direito Bancário: A Monética, o Cartão de Crédito. São Paulo: Saraiva, 2009.

2. ABRÃO, Nelson. Direito Bancário. São Paulo: Saraiva, 2002.

3. BRANCO, Gerson Luiz Carlos. O Sistema Contratual do Cartão de Crédito. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
1999.

4. FIGUEIREDO, Alcio Manoel. Cartão de Crédito: Questões Controvertidas. Curitiba: Juruá, 2003.

5. SOARES, Moema Augusta. Cartão de Crédito: A Monética, o Cartão de Crédito e o Documento


Eletrônico. Rio de Janeiro: Forense, 1999.

434
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

COMPORTAMENTO PARLAMENTAR E COESÃO PARTIDÁRIA: UMA ANÁLISE DAS


VOTAÇÕES NOMINAIS NA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO PARANÁ NA 16ª
LEGISLATURA (2008-2010).

Roberta Picussa1
Universidade Federal do Paraná

1. Introdução
Esta pesquisa tem como objetivo geral elaborar uma análise do comportamento político dos deputados
estaduais e dos partidos políticos da Assembleia Legislativa do Estado do Paraná na 16ª Legislatura (2007-
2011) com base no exame das votações nominais realizadas em plenário. Para construir essa análise,
verificaremos: a) se as taxas de coesão são de magnitude semelhante às encontradas nos estudos sobre a
Câmara dos Deputados e em outros estudos sobre as unidades subnacionais brasileiras; b) se há variações
significativas entre os diferentes partidos (da situação e da oposição; da esquerda, do centro e da direita); c)
qual o peso das abstenções e ausências dos deputados sobre a previsibilidade dos resultados (teoricamente
esperados) das votações e, por fim, d) verificar se o grau de consistência ideológica das coalizões depende do
posicionamento dos partidos à polaridade governo-oposição.
Esses pontos que norteiam a pesquisa são os mesmos estabelecidos por Carreirão e Perondi (2008) no
trabalho Disciplina e coalizões partidárias na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (1999/2006) [1] que
adaptou os estudos sobre as votações nominais realizadas na Câmara dos Deputados para a realidade de uma
Assembleia Legislativa estadual. Nossa intenção é a de reproduzir a mesma metodologia para o caso da
Assembleia Legislativa do Estado do Paraná (ALEP).
Somente a partir de 2008 o registro das votações nominais na ALEP começou a ser feito. Tendo em
vista o surgimento dessa nova base de dados, sua capacidade explicativa e o fato de não haver nenhum
estudo sistemático sobre essas votações no âmbito da ALEP, serviu também como incentivo à elaboração de
uma pesquisa no sentido de explorar esses dados e ver o que eles explicitam sobre o caso do Paraná.

2. Método
Para compreender o caso da ALEP, primeiramente, faremos uma análise quantitativa e agregada de
todas as votações nominais e não-consensuais realizadas na ALEP no período entre 2008 e 2009. A partir
dessa análise, calcularemos alguns índices que foram convencionados para mensurar o grau de unidade do
partido nas decisões legislativas tomadas em votações nominais, como a taxa de coesão partidária e o índice
de Rice. Computados os resultados, realizaremos os mesmos testes novamente, mas, dessa vez, considerando
as ausências e abstenções dos deputados no cálculo, como sugeriu Santos e Vilarouca (2008) [2], e comparar
os resultados com os testes anteriores. Através desses índices calculados em duas etapas, poderemos avaliar
o quão coesos são os partidos de maior bancada dentro da ALEP e qual o peso das ausências e abstenções no
grau de coesão.
Para essa primeira etapa, faremos os cálculos acima referidos somente para os partidos que possuem
quatro ou mais deputados na bancada no âmbito da ALEP, são eles: PMDB, PSDB, PT, DEM e PP.
Posteriormente, calcularemos o índice de semelhança dos partidos, que será realizado da seguinte
forma: compararemos a percentagem de vezes em que cada partido ou a maioria da bancada de cada partido
votou de forma semelhante aos outros partidos, e, a partir daí, verificaremos se os partidos votam mais de
acordo com um continuum ideológico ou se a polaridade governo-oposição tem mais peso na hora da decisão
do voto.

3. Resultados e Discussão
Com a intenção de obter alguns resultados parciais, fizemos a análise agregada de 105 votações
nominais e não-consensuais realizadas na ALEP, durante o ano de 2008. Para essas 105 votações,
calculamos o índice de Rice e a taxa de coesão, considerando somente os deputados presentes em plenário.
Posteriormente, calculamos a taxa de coesão para 71 votações nominais de projetos de lei, considerando, no
cálculo, as ausências e abstenções e comparamos os resultados obtidos com o trabalho de Carreirão e Perondi
(2008) sobre a Assembleia Legislativa de Santa Catarina (ALESC).
O uso da taxa de coesão partidária para mensurar o grau de unidade do partido nas decisões
legislativas tomadas em votações nominais é uma adaptação feita por Carreirão e Perondi (2008) do índice
de disciplina partidária criado por Figueiredo e Limongi (1999)[3]. A disciplina partidária é mensurada como
a porcentagem de parlamentares que votam de acordo com a indicação do líder. Como na ALESC as

1
Graduanda em Ciências Sociais da Universidade Federal do Paraná. E-mail: betapicussa@gmail.com
435
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

indicações de líderes são raras, a mensuração é definida como sendo igual à maior porcentagem de deputados
do partido que votam de forma semelhante. Na presente pesquisa, utilizamo-nos desta adaptação para
examinar o grau de unidade partidária na ALEP.
Tomando como universo da análise apenas os deputados presentes no momento de cada votação e que
não se abstiveram de votar, os dados da tabela 1 indicam taxas significativas de coesão partidária na ALEP,
para os cinco partidos relevantes. A tabela também compara os dados da ALEP com os dados da 14ª e 15ª
legislaturas da ALESC:

Tab. 1: Taxa de Coesão (entre deputados presentes e que não se abstiveram) na ALEP e na ALESC,
por partido e posicionamento ideológico:

Direita Centro Esquerda


DEM PP Total PMDB PSDB Total PT
ALEP 16ª legislatura 94,56% 91,31% 92,93% 86,35% 87,30% 86,92% 86,33%
ALESC 14ª legislatura 91,00% 92,10% 91,55% 92,40% 94,20% 92,90% 97,40%
ALESC 15ª legislatura 88,40% 83,00% 87,20 94,30% 95,20% 94,80% 94,30%
Diferença entre a 16ª e a 14ª leg. - 3,06% 0,79% - 1,38% 6,05% 6,90% 5,98% 11,04%
Diferença entre a 16ª e a 15ª leg. - 6,16% - 8,31% - 5,73% 7,95% 7,90% 7,88% 7,94%
N = 71 votações nominais realizadas em plenário durante o ano de 2008

Fonte: Grupo de Pesquisa Democracia, e Novas Tecnologias (NDNTICs); Carreirão e Perondi (2008)

A média da taxa coesão partidária encontrada na ALEP para a 16ª legislatura foi considerada alta,
89%. Porém, foi ligeiramente menor que as taxas encontradas na ALESC, 94% para a 14ª legislatura e 91%
para a 15ª. Um dado que chama a atenção é a diferença de coesão do PT entre as duas AL's: enquanto que na
ALESC esse partido teve a maior coesão, considerando a média entre as duas legislaturas, (95,85%), na
ALEP, foi um dos partidos menos coesos, (86,36%), apresentando entre a 14ª legislatura da ALESC e a 16ª
legislatura da ALEP uma taxa de coesão 11,04% menor. Também, os partidos de Centro apresentaram uma
coesão bem maior na ALESC: 92,90% na 14ª legislatura e 94,80% na 15ª, enquanto que na ALEP a taxa de
coesão desses partidos ficou em 86,92%. Ainda, enquanto na ALESC os partidos que tiveram a menor
coesão foram aqueles considerados de direita, obtendo uma taxa de coesão de 91,55% na 14ª legislatura e
87,20% na 15ª, na ALEP estes partidos demonstraram a maior coesão alcançando 92,93%.
Computando no cálculo da taxa de coesão aqueles deputados que faltaram e que se abstiveram da
votação, a tabela 2 indica significativas baixas nas médias, tanto para ALEP quanto para a ALESC:
Tab. 2: Taxa de coesão (considerando deputados que se abstiveram ou se ausentaram das votações)
na ALEP e na ALESC, por partido e posicionamento ideológico:

Direita Centro Esquerda


DEM PP Total PMDB PSDB Total PT
ALEP 16ª legislatura 62,00% 71,00% 66,50% 62,50% 63,90% 63,20% 67,50%
ALESC 14ª legislatura 67,10% 71,20% 69,15% 68,80% 70,60% 69,70% 73,80%
ALESC 15ª legislatura 57,80% 55,30% 56,55% 85,40% 80,10% 82,75% 70,30%
Diferença entre a 16ª e a 14ª leg. 5,10% 0,20% 2,65% 6,30% 6,70% 6,50% 6,30%
Diferença entre a 16ªe a 15ª leg. - 4,20% - 15,70% - 9,95% 22,90% 16,20% 19,55% 2,80%
N = 105 votações nominais realizadas em plenário na ALEP durante o ano de 2008

Fonte: Grupo de Pesquisa Democracia e Novas Tecnologias (NDNTICs); Carreirão e Perondi (2008)

As ausências e abstenções fizeram mais diferença na ALEP. A média caiu de 89% para 63%. Na
ALESC, as médias de ambas as legislaturas caíram para 70%. O cenário na ALEP se alterou considerando
ausências e abstenções. A esquerda (representada somente pelo PT) aparece como a mais coesa, com uma
taxa de coesão de 67,50%, mas com uma vantagem pouca significativa em relação aos partidos da direita,
que apresentaram uma taxa de 66,50%. O partido mais coeso ainda é um à direita, o PP, apresentando uma

436
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

taxa de coesão de 71%. Na ALESC, os partidos à direita permanecem como os menos coesos e os partidos de
centro se demonstraram os mais coesos.
A diferença de coesão entre a 16ª legislatura da ALEP e a 15ª legislatura da ALESC é gritante,
principalmente entre os partidos do centro. A média de coesão dos partidos de centro da ALEP é 19,55%
menor que a média da coesão da ALESC. O fato é interessante, pois nas duas legislaturas comparadas (16ª
na ALEP e 15ª ALESC), um partido de Centro comandava o executivo.

4. Conclusão
Os resultados parciais obtidos indicam que no âmbito da Assembléia Legislativa do Paraná: os
partidos se comportam de maneira diversa aos padrões encontrados em outros órgãos legislativos estudados;
as taxas de coesão partidária são bastante inferiores as detectadas por Carreirão (2008) na ALESC,
principalmente quando computadas as ausências e abstenções; o padrão de comportamento político não se
aproxima dos encontrados pro Figueiredo e Limongi (1999) sobre a Câmara dos deputados.

Referências
[1] CARREIRÃO, Yan de Souza ; PERONDI, Eduardo. (2008). Disciplina e coalizões partidárias na
Assembleia Legislativa de Santa Catarina (1999/2006). In: 32º Encontro Anual da ANPOCS, 2008,
Caxambu.

[2] SANTOS, F. e VILAROUCA, M. (2004). Relatório do primeiro ano do governo Lula.

[3] FIGUEIREDO, Argelina e LIMONGI, Fernando. (1999). Executivo e Legislativo na Nova ordem
constitucional. Rio de Janeiro: FGV.

Agradecimentos
Agradeço ao Conselho Nacional de Pesquisa e Tecnologia por financiar essa pesquisa acadêmica.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Constituição de 1988 X PDRAE: uma disputa na área da saúde?

Estéfani Sandmann de Deus1*; Victoria Figueira da Silva2


1
Universidade Estadual do Rio Grande do Sul
2
Universidade Estadual do Rio Grande do Sul

1. Introdução
Segundo a Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB) de 1988 a “saúde é direito de todos
e dever do estado”. Por esse motivo a oferta de saúde e dos componentes garantidores de saúde a toda
população, tais como medicamentos é obrigação do Estado. Dessa forma torna-se importante a discussão
desse novo Plano de Governo - o Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado (PDRAE) – que coloca a
saúde em um novo rol de atividades e faz surgir o questionamento daquilo que é ou não obrigação do Estado.
Além disso, questiona a prestação do direito fundamental à saúde. Considerando esse fato é abordado,
portanto, a questão do direito fundamental a saúde, efetuando uma breve revisão desse direito na história dos
direitos fundamentais.
O presente artigo foi elaborado visando a compreensão da saúde como direito fundamental no Brasil,
considerando o fato de que o PDRAE, um plano de governo elaborado por Luis Carlos Bresser Pereira,
durante o governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1994, que coloca a saúde em um
novo rol de atividades do Estado: serviços não exclusivos, de acordo com a figura abaixo, retirada do próprio
plano.
Fig. 1 - PDRAE

Fonte: Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado, 1995

Os direitos fundamentais e suas características a muito tempo são objetos de discussão entre
doutrinadores nas diversas áreas do conhecimento. No intuito de reconhecer a saúde como direito
fundamental, é importante conceituar. Segundo Alexandre de Moraes (2006):
“O conjunto institucionalizado de direitos e garantias do ser humano que tem por finalidade básica
o respeito a sua dignidade, por meio de sua proteção contra o arbítrio do poder estatal e o
estabelecimento de condições mínimas de vida e desenvolvimento da personalidade humana pode
ser definido como direitos humanos fundamentais” (pg. 21).
Considerando o fato da saúde ser um direito fundamental, questiona-se o PDRAE e suas
conseqüências para o Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil.

2. Método
A metodologia utilizada neste trabalho será a qualitativa, que segundo Godoy (1995) visa a
“compreensão ampla do fenômeno que está sendo estudado” considerando que “todos os dados da realidade
são importantes e devem ser examinados”. Além disso, Godoy (1995) afirma que “o ambiente e as pessoas
nele inseridas devem ser olhados holisticamente: não são reduzidos a variáveis, mas observados como um
todo”. Por esses motivos, o método qualitativo será utilizado e, ainda pelo fato de ser, como sugere Minayo
(1992), um método capaz de incorporar significado e intencionalidade aos atos, relações e estruturas sociais.

3. Resultados e Discussão
A estratégia do PDRAE pode ser entendida da mesma forma que o ultraliberalismo, como um
processo único, a única saída para a Administração Pública atual, ignorando qualquer beneficio que a
burocracia possa influenciar na sociedade. Nesse sentido Dasso Junior afirma que:
“construir uma linha de raciocínio que percorresse o seguinte caminho: há uma crise do Estado
que é definida como fiscal, decorrente do caráter interventor desse próprio Estado, que possui um
modelo de Administração Pública burocrático. Portanto, a única solução para essa crise, no que
toca à Administração Pública, é aplicar o modelo gerencial. É um processo que não permite

*
Estéfani Sandmann de Deus: tetisd@gmail.com
438
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

questionar nenhuma das suas premissas. Fazê-lo é o primeiro passo para ser taxado de radical e
excluído do debate” (pg. 243 – 244, 2006).
Em relação aos objetivos do PDRAE é interessante efetuar uma breve discussão, pois o primeiro
objetivo - definição precisa dos objetivos que o administrador público deverá atingir em sua unidade - denota
uma preocupação excessiva com as metas, desconsiderando, de certa forma que o administrador público tem
regras e princípios e que o mesmo deve seguir na condução da coisa pública, sempre buscando o bem-
comum. Reside ai uma das principais diferenças do modelo público com relação ao modelo privado:
enquanto no primeiro o interesse público é fundamental, no segundo o lucro é a referência quase exclusiva.
No segundo objetivo - Garantia de autonomia do administrador - fica evidente a impossibilidade de
uma autonomia incondicional, pois o administrador público, embora detentor de poder discricionário deva
responder ao interesse público. Dessa forma mesmo a discricionariedade do administrador está vinculada aos
interesses coletivos e não à sua livre convicção.
Finalmente no que se refere ao controle dos resultados, há a necessidade no setor público de uma
rigorosa observância dos meios, pois o trato impessoal assim o exige. Não basta o resultado. Este deve ser
fruto de processos impessoais, tais como o cumprimento de normas licitatórias ou realização de concursos
públicos.
O que deve ficar claro é a saúde é direito fundamental arraigado pela CRFB. E, se a Constituição tem
um modelo de saúde (SUS) o modelo privado é acessório, sendo assim age como complementar ao sistema
de saúde público.
Nesse aspecto é interessante efetuar um breve comentário sobre os modelos de gestão brasileiros, que
segundo Jorge Gerdau Johannpeter1 e Roberto Mangabeira Unger2 existem três agendas governamentais:
Pode-se chamá-las de agenda burocrática (primeira agenda), agenda gerencial (PDRAE e NGP, seria a
segunda agenda) e agenda experimentalista (terceira agenda) 3.
A primeira agenda é aquela que retoma os conceitos de burocracia, enquanto a segunda agenda aponta
diretamente conceitos da NGP, principalmente no que tange a revisão do direito administrativo tão criticado
pelo PDRAE. Em relação à terceira agenda (experimentalista) é ai que se encontra o maior vilão da saúde
publica brasileira, na visão deste autor: a transferência da prestação do serviço público para o terceiro setor,
já que, a agenda cita que “inovaríamos na relação entre o Estado e sociedade civil na prestação de serviços
públicos” 4. Dessa forma a prestação de serviços públicos essenciais como a saúde correria o risco de parar
no setor da sociedade civil organizada, ou terceiro setor, controlado pelo setor privado.

4. Conclusão
A produção das atividades classificadas como não-exclusivas, são serviços que envolvem direitos
fundamentais, portanto produz ganhos que não devem ser apropriados pelo mercado e também não podem
ser transformadas em lucros.
De acordo com a definição de Odete Medauar de serviço público:
“Finalidades diversas levam a considerar certa atividade como serviço público, dentre as quais:
retirar da especulação privada setores delicados; propiciar o benefício do serviço aos menos
favorecidos; suprir carência da iniciativa privada; desenvolver o progresso técnico” (pg. 234,
2009).
Portanto, no momento em que o Estado privatiza as suas ações, acaba por descaracterizar o serviço
público, ou seja, torna-o um serviço não-público.

Referências
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado federal, 2004.

DASSO-JUNIOR, A., Reforma Do Estado Com Participação Cidadã? Déficit Democrático Das
Agências Reguladoras Brasileiras. Tese apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Direito da
Universidade Federal de Santa Catarina, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em
Direito. 2006.

1
Presidente - Fundador da empresa Transnacional Gerdau S.A.
2
Ex-ministro de Assuntos estratégicos do Brasil (1997-1999).
3
JOHANNPETTER, J. G e UNGER, R. M. O verdadeiro choque de gestão, in Agenda Nacional de Gestão Pública.
Disponível em: www.sae.gov.br/site/wp-content/uploads/agenda-de-gestão.pdf. Acesso em 20 de janeiro de 2010.
4 JOHANNPETTER, J. G e UNGER, R. M. O verdadeiro choque de gestão, in Agenda Nacional de Gestão Pública.
Disponível em: www.sae.gov.br/site/wp-content/uploads/agenda-de-gestão.pdf. Acesso em 20 de janeiro de 2010.
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

GODOY, ARILDA SCHMIDT. Introdução à pesquisa qualitativa e suas possibilidades. Revista de


Administração de Empresas, São Paulo, v.35, n°2, p.57-63, Mar - Abr. 1995.

LAKATOS, EVA MARIA & MARCONI, MARIA DE ANDRADE. Metodologia Científica, 5ª ed. São
Paulo: Atlas, 2008.

MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

MINAYO, MARIA CECILIA S. O desafio do conhecimento. Pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo:
Hucitec, 1992.

MORAES, A., Direitos Humanos Fundamentais. São Paulo: Atlas, 2006.

440
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

JOVENS E ADOLESCENTES DE COMUNIDADES DA PERIFERIA DE


FLORIANÓPOLIS E O ESPORTE COMO POSSIBILIDADE DE FORMAÇÃO
CIDADÃ: UM ESTUDO DE CASO DESTE CONTEXTO DE 1989 A 2009.

Alfredo Balduíno Santos1


Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI

RESUMO:

Esta proposta de pesquisa, que se configura num Estudo de caso, pretende sistematizar a
experiência por mim obtida, com vivencias que iniciam na graduação como bolsista de
extensão, e que no momento continuam, na condição professor universitário extensionista,
onde tenho tido a oportunidade de trabalhar em projetos, cuja população tem sido jovens e
adolescentes que num determinado momento de suas vidas acabam se tornando vulneráveis,
podendo ser facilmente seduzidos pelo universo da criminalidade latente em suas
comunidades de origem. Com isso, objetivo mostrar que o esporte pode constituir-se em
fator positivo minimizando a exposição de crianças, jovens e adolescentes à criminalidade,
contribuindo para uma formação cidadã e de qualidade de vida.

PALAVRAS - CHAVE: Políticas Públicas. Esporte. Jovens e adolescentes. Formação


cidadã.

Esta pesquisa pretende sistematizar a experiência por mim obtida na atividade


profissional, com vivências que iniciam na graduação como bolsista de extensão, e no
momento, como professor universitário extensionista, onde tenho tido a oportunidade de
trabalhar em projetos, cuja população tem sido jovens e adolescentes oriundos de camadas
populares que num determinado momento de suas vidas acabam por tornarem-se
vulneráveis, podendo ser facilmente seduzidos pelo universo da criminalidade latente em
suas comunidades de origem.
Esta trajetória inicia-se na graduação, onde já na segunda fase envolvi-me nas
atividades de extensão, iniciando assim, alicerces para a proposta em questão. Como
professor da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC, pretendo mostrar que o
desporto pode ser um instrumento aproveitado como uma das formas de afastar meninos e
meninas em situação de risco e vulnerabilidade à drogadição, tráfico de drogas, bem como

1
Mestrando em Políticas Públicas pela Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI. Professor efetivo na
Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC.

441
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010
2

outras situações de marginalização. Podendo quem sabe acenar-lhes para possibilidades de


uma vida cidadã, plena de direitos.
Para tanto, tenho observado que não é suficiente, por exemplo, o incentivo do
Ministério do Desporto, mas, a necessidade de políticas pública que possam ancorar a
concretização destas práticas desportivas, tornando quem sabe o tempo “ocioso” de crianças
e adolescentes menos vulnerável. Alavancando quiçá, grandes desportistas no futuro.
Ao sistematizar tal vivência pretendo fazer um levantamento acerca da realidade de
meninos e meninas com os quais convivi e convivo, desde o período de 1990 aos dias
atuais, onde iniciei as atividades desportivas como bolsista de extensão e agora como
professor extensionista no município de Florianópolis.
Isso porque, defendo a “tese” de que, há um grupo de jovens e adolescentes que
justamente no momento em que mais necessitam de apoio e de políticas públicas, acabam a
mercê da própria sorte. Refiro-me aos adolescentes e jovens que a partir de certa idade tem
ficado sem a possibilidade de um “porto seguro”. Exatamente no momento em que mais
necessitam, uma vez que os programas e projetos acontecem até mais ou menos ao período
que compreende a faixa etária dos quinze (15) anos, período que pode comprometer a
trajetória de meninos e meninas destas comunidades.
Freire e Scaglia (2007), que afirmam que devemos enfrentar o problema da
compatibilidade entre a formação do indivíduo e suas interações sociais e que a educação
deve voltar-se não só para inteligência, mas destaca também como importantes os fatores
morais, éticos, estéticos e motores. Práticas que são de forma significativa nas atividades
esportivas.
Com isso, considero importante a necessidade de discutir a possibilidade de
políticas públicas que amenizem a vulnerabilidade e a situação de risco em todos os
períodos, mas especialmente neste, onde os dados estatísticos têm mostrado
cotidianamente, que estes adolescentes acabam sendo alvo de fácil acesso no que concerne
aos riscos e vulnerabilidade, culminando num grande número de mortes e envolvimentos
com ações criminosas.
No afã da possibilidade de realização desta pesquisa garimpei alguns bancos de
dados oficiais de pesquisas realizadas neste país, para saber se por ventura já há alguma

442
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010
3

coisa na mesma direção do que pretendo fazer. Considerei três espaços: os sites da ANPED,
Scielo e Domínio Público. Para tanto, usei os descritores: políticas públicas e esporte;
jovens, adolescentes, esporte e políticas públicas; políticas públicas; esporte; educação
física.
Nesta busca encontrei o artigo Políticas públicas para o esporte e o lazer no Brasil
(1996-2005), projeto de pesquisa de pós-doutoramento de Dulce Suassuna, financiado pelo
Ministério do Esporte: Rede Cedes. Outras pesquisas e/ou artigos oriundos de pesquisas, em
sua maioria tratam de políticas públicas de uma maneira mais generalista. No entanto,
alguns diálagos e reflexões são possíveis, na compreensão do contexto em questão,
conforme observa Suassuna (2007)
A discussão do tema políticas públicas tem recebido contínuas contribuições de
pesquisadores das áreas de Ciências Sociais, Ciência Política, Serviço Social,
dentre outras. Muito embora se admita a existência de atenção ao estudo do tema,
há que se ressaltar que o grande debate proposto pelas diferentes áreas dedica-se a
recortes como trabalho e economia, podendo desembocar, inclusive, para setores
como saúde e educação, mas não se projeta para o esporte e lazer. (p.1)

Assim sendo, pretendo dar ênfase à lacuna que a ausência de estudos tem deixado
nesta área, partindo de conquistas obtidas com a Constituição Federal de 1988, quando trata
de direitos sociais. Os direitos sociais são definidos no art. 6º da Constituição, que assim
estabelece: “São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a
segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição”.

Tratando do significado dos direitos sociais, Telles (1999) esclarece que falar em
direitos sociais assume a extensão de percepção do que é ou pode vir a ser uma sociedade
mais justa e mais igualitária. Isso sugere que, é por meio dos direitos sociais, que os
indivíduos podem buscar uma maior equidade social, diante de um contexto societal de
exclusão e diferenciações sociais, econômicas e de outras ordens. Mesmo com a criação de
um Ministério do Esporte e os programas de esporte e, em seu bojo o programa “Esporte e
Lazer da Cidade”, que foi implantado e é gerenciado pela Secretaria Nacional de
Desenvolvimento do Esporte e do Lazer do Ministério do Esporte.

Ao desenvolver este estudo, pretendo mostrar que o esporte pode constituir-se em


fator positivo minimizando a exposição de crianças, jovens e adolescentes à criminalidade,

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010
4

contribuindo para uma formação cidadã e de qualidade de vida; sistematizar relatos e


anseios das comunidades de origem dos jovens e adolescentes, sujeitos da pesquisa;
identificar o momento em que a presença ou a falta das atividades desportivas contribuíram
de forma positiva ou negativa para a história de vida destes sujeitos; e ainda, elencar pontos
que possam contribuir na promoção de políticas promotoras para uma formação cidadã e
qualidade de vida.
Para esta trajetória a opção é pelo Estudo de Caso, na perspectiva da pesquisa
qualitativa, sem cair na já ‘superada’ discussão da qualidade em detrimento da
quantidade2·. Isso por considerar as possibilidades de abrangência, amplitude e dinamismo
frente à temática aqui proposta. E, tal qual Freire (1985)3, uma indagação tem me
acompanhado: “a quem sirvo com a minha ciência?”. Este teórico impõe um desafio, com
tal questionamento, que para Ele, “é uma pergunta constante a ser feita por todos nós. E
devemos ser coerentes com a nossa opção, exprimindo a nossa coerência na nossa
prática”.

REFERÊNCIAS

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Pesquisa participante. 5 ed. São Paulo: Editora


Brasiliense, 1985. BRASIL. Constituição Federal. Brasília: Câmara dos Deputados, 1988.
FREIRE, João Batista; SCAGLIA, José. Educação como prática corporal. São Paulo:
Scipione, 2003.
MINISTÉRIO DO ESPORTE. 1ª Conferência Nacional do Esporte: Documento Final.
Brasília, 17 a 20 de junho, 2004.

__________. Política Nacional do Esporte. Brasília: Ministério do Esporte, 2005.


SANTOS, Vera Márcia Marques. A formação do educador frente à violência e o abuso
sexual contra crianças e adolescentes. Dissertação de Mestrado. Florianópolis:
FAED/UDESC, 2002.
SUASUNA, Dulce Maria F. de Almeida. Políticas públicas para o esporte e o lazer no
Brasil (1996-2005). http://observatoriodoesporte.org.br/politicas-publicas-para-o-esporte-e-
o-lazer-no-brasil-1996-2005/, 2007. Acessado em 22/10/2009.
TELLES, Vera. Direitos sociais: afinal do que se trata? Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1999.

2
SANTOS, 2002:41.
3
Paulo Freire. In: Brandão, 1985 (p.36).

444
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5

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MOUSE OCULAR: PERSPECTIVAS PARA PENSAR A INTERAÇÃO HOMEM-


MÁQUINA E O PROCESSO DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO
Adriane Aparecida Loper1*; João Batista Martins2
1
Universidade Estadual de Londrina
2
Universidade Estadual de Londrina

1. RESUMO
O objetivo desta pesquisa é investigar os aspectos teóricos e práticos envolvidos na construção do
conhecimento, trazendo para a discussão a questão de como uma nova tecnologia da informação, em
particular o mouse ocular, poderá implementar o processo de desenvolvimento e aprendizagem de crianças
com dificuldades motoras e que não falam. A implementação desta intervenção foi pautada na teoria de Lev.
S. Vigotski, entendendo este artefato como uma possibilidade na promoção da comunicação, alfabetização e
de novas descobertas. A metodologia foi uma pesquisa qualitativa - um estudo de caso. Trata-se do
acompanhamento de uma criança de nove anos, com a síndrome de Werdnig-Hoffman, que não fala, não
escreve face à limitação imposta pela patologia. A criança em questão foi previamente pré-alfabetizada e
através do mouse ocular pode expressar suas primeiras letras. Os dados foram coletados na U.T.I de um
hospital localizado na cidade de Curitiba, no Estado do Paraná, no período entre julho e setembro de 2005.
O resultado da pesquisa foi a digitação no computador, pelo olhar da criança, de suas primeiras palavras com
a mediação do mouse ocular. A partir desta experiência pudemos compreender o quanto um artefato
tecnológico pode habilitar os portadores de síndromes diversas a interagir e minimizar diferenças e
preconceitos que ainda dominam grande parte da sociedade.
Palavras chaves : Mouse Ocular, Aprendizagem, Tecnologia da Informação, Vigotski

2. INTRODUÇÃO
Faremos ao longo deste trabalho uma reflexão sobre a utilização do mouse ocular junto a crianças e
adolescentes, tendo como suporte a perspectiva sócio-histórica-cultural, desenvolvida a partir da teoria de
L.S. Vigotski, entendendo que esse suporte computacional, como um artefato cultural que pode ser utilizado
para a promoção do desenvolvimento. Cabe ressaltar, no entanto, que não encontramos nenhuma discussão
mais aprofundada acerca dos critérios a serem utilizados para a introdução do mouse ocular na vida de
crianças ou adolescentes, com a perspectiva de promover seu desenvolvimento – principalmente no contexto
de aprendizagem escolar ou alfabetização.
Para Leontiev (1978), o processo de hominização pelo qual todos nós passamos ao nos inserirmos
em nossa sociedade passa, necessariamente pela utilização de certos instrumentos culturais. Para esse autor,
não há aptidões e características especificamente humanas que tenham sido transmitidas por hereditariedade
biológica; todas foram adquiridas no decurso da vida por um processo de apropriação da cultura criada pelas
gerações precedentes. Podemos dizer que cada indivíduo aprende a ser um homem. O que a natureza lhe dá
quando nasce não lhe basta para viver em sociedade. É ainda preciso adquirir o que foi alcançado no decurso
do desenvolvimento histórico da sociedade humana.
Tendo em vista que as contínuas transformações que ocorrem no contexto social, inscrito num
processo constante de modificações, faz com que o homem também se encontre em permanente movimento
e transformação e se defronte com certas inquietações que lhe possibilita criar novos objetos que assegurem
seu processo de adaptação sócio ambiental. Este processo, para Leontiev (1978) é sempre ativo, do ponto de
vista do homem, ou seja, para se apropriar dos objetos ou dos fenômenos, que são o produto do
desenvolvimento histórico, é necessário desenvolver em relação a eles uma atividade que reproduza, pela
sua forma, os traços essenciais da atividade encarnada, acumulada no objeto.
A apropriação dos instrumentos implica, portanto, uma reorganização dos movimentos naturais
instintivos do homem e a formação de faculdades motoras superiores. Ainda para Leontiev (2005), o aspecto
mais importante do desenvolvimento da criança é “o processo de assimilação ou „apropriação‟ da
experiência acumulada pelo gênero humano no decurso da história social” (p. 62).
Asssim quando falamos de apropriação do instrumento e aprendizagem das habilidades, estamos nos
referindo ao processo de apropriação das operações motoras, que estão cristalizadas e incorporadas nos
objetos. Por isso, o processo é ativo para o homem, na medida em que se forma um processo ativo de
aptidões novas e de funções superiores que o hominizam.
Quanto mais progride a humanidade, mais rica é a prática sócio-histórica acumulada por ela, pois
cresce o papel específico da educação e mais complexo é a sua tarefa. Razão esta que vem de encontro com

*
Adriane Aparecida Loper: adrianeloper@uol.com.br; mestranda em Educação UEL -PR
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novas criações tecnológicas que são desenvolvidas para o auxilio ao ensino e aprendizagem de crianças
portadoras de deficiências.
Esta relação entre o progresso histórico e o progresso da educação é tão estreita que se pode, sem
risco de errar, julgar o nível geral do desenvolvimento histórico da sociedade pelo nível de desenvolvimento
do seu sistema educativo.
Para Vigotski (1993) em seu trabalho sobre os “Fundamentos da Defectologia” ele descreve que as
leis fundamentais do desenvolvimento tanto para crianças normais quanto para as deficientes são as mesmas,
porém a criança deficiente teria seus próprios caminhos para processar o mundo:
“o desenvolvimento complicado por um defeito representa um processo criativo (físico e
psicológico). Ele se traduz na criação e na recriação da personalidade da criança com base na
reestruturação de todas as funções adaptativas e na formação de novos processos – transposição,
substituição, equalização- gerados pela desvantagem, que criariam novos caminhos para o
desenvolvimento”(pg.34).
A partir dessa formulação de Vigotski, utilizamos o mouse ocular, que é uma tecnologia da
informação e definida por Graeml(2000), que a caracteriza como o conjunto de tecnologias resultantes da
utilização simultânea e integrada de informática e telecomunicações, este artefato – o mouse ocular - permite
ao usuário capturar e codificar digitalmente os movimentos do globo ocular transformando-os em comando
de um software, possibilitando aos deficientes físicos com tetraplegia o acesso irrestrito ao uso de
computadores.
A importância deste aparato para crianças com comprometimentos motores e na fala está no fato de
que elas podem se apropriar do universo da escrita. Nesse sentido, Tajra (2001) afirma:
“saber ler e escrever é tão básico para a sobrevivência da humanidade como comer ou respirar.(...) os
analfabetos são aqueles que não sabem relacionar, criticar e interagir com seu meio (pg.09)
Para Vigotski (2003), a função primordial da fala é a comunicação, o desenvolvimento da
consciências e o intercâmbio social, então o que pode ser feito quando o diálogo não é possível pela ausência
da fala, da leitura e da escrita? A busca desta resposta nos levou à proposta de criação de novos saberes
tendo como ponto de partida o uso do mouse ocular.
Assim, o objetivo geral deste estudo foi traçar a evolução e o aproveitamento do usuário em relação
ao uso do mouse ocular como ferramenta de aprendizagem, podendo ser usada para alfabetização, ensino da
linguagem e utilização de computadores, direitos estes garantidos por legislações em vigor e oferecer uma
possibilidade de acréscimo na qualidade de vida dos deficientes e incluí-lo como cidadão participativo pela
tecnologia.

3. METODOLOGIA
Nossa pesquisa é qualitativa - um estudo de caso- a partir do acompanhamento de uma criança de 9
anos, portador da síndrome de Werdnig-Hofmann1. Os dados foram coletados na U.T.I de um hospital
localizado na cidade de Curitiba, no Estado do Paraná, no período entre julho e setembro de 2005, foi feita
observação participante.
Como destaca Goldenberg (2003), a pesquisa não se reduz a certos procedimentos metodológicos. A
pesquisa cientifica exige criatividade, disciplina, organização e modéstia, baseando-se no confronto
permanente entre o possível e o impossível, entre o conhecimento e a ignorância.
O que o pesquisador tem que ter muito claro para não incorrer em erros crassos é que ele não é dono
da verdade e que ele está vendo uma pequena representação da realidade, não a verdade absoluta descoberta
por este “ser iluminado”.
No entender de Martins (2004), a pesquisa qualitativa é definida como aquela que privilegia a análise
de microprocessos, através do estudo das ações sociais individuais e grupais, realizando um exame intensivo
dos dados, e caracterizada pela heterodoxia no momento da análise.
No desenvolvimento de Goldenberg (2003), na pesquisa qualitativa a preocupação do pesquisador
não é com a representatividade numérica do grupo pesquisado, mas com o aprofundamento da compreensão
de um grupo social, de uma organização, de uma instituição, de uma trajetória etc..Para esta autora, o estudo
de caso não é uma técnica específica, mas uma análise holística, a mais completa possível, que considera a
unidade social estudada como um todo, seja um individuo, uma família, uma instituição ou uma comunidade
com o objetivo de compreendê-los em seus próprios termos.

1
As Atrofias Musculares Espinhais (AME) OU SINDROME DE WERDNIG-HOFMANN têm origem genética e caracterizam-se pela atrofia
muscular secundária à degeneração de neurônios motores localizados no corno anterior da medula espinhal. A AME, a segunda maior desordem
autossômica recessiva fatal, depois da Fibrose Cística (1:6000), afeta aproximadamente 1 em 10.000 nascimentos .Casais que tiveram uma criança
afetada têm 25% de risco de recorrência em cada gravidez subseqüente. FONTE : WWW.ATROFIAESPINHAL.ORG

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Neste estudo de caso, a pergunta fundamental do objeto de pesquisa é: como o uso de uma nova
tecnologia- o mouse ocular-, pode melhorar o ensino e a aprendizagem de crianças com tetraplegia?
Além da curiosidade despertada pelo tema, há a necessidade da realização de pesquisas que
ultrapassem a simples caracterização do novo artefato, mas considerar o usuário circunscrito nas perspectivas
cognitivas e sociais.
Temos ainda como perspectiva com esse trabalho mostrar para os educadores que as crianças
portadoras de deficiência, apresentam varias potencialidades e que o uso das T.I podem auxiliar em uma
nova perspectiva de intervenção e de conhecimento.

4. INTERVENÇÃO E RESULTADOS
Na intervenção, primeiro foi explicado para a criança que seriam colocados cinco eletrodos em sua
testa e com o auxilio de uma tela de computador ele poderia fazer a digitação com os olhos, movendo a seta
para direita, esquerda, para cima ou para baixo e com o piscar dos olhos ele acionaria este teclado.
Na expressão facial da criança foi notada a angústia e diversas interrogações quanto a esta novidade.
Para ele ficar mais tranqüilo, a cada passo, cada colocação de eletrodos era previamente mostrada e colocada
em seu rosto. Quando ele viu a tela do computador ficou menos tenso por já ter familiaridade com o uso do
computador, o qual era utilizado com a ajuda da mãe.
Após o treinamento da criança, explicando como o software funcionava que se resumia em mover a
seta com os olhos até a letra desejada e piscar quando chegasse na letra escolhida e ao lado apareceria ela
digitada.
Ele começou a mover os olhos ( a seta) e testar o mouse ocular. Como eram produzidos os sons das
letras a cada piscada, ele ficou encantado, fazendo com que a letra fosse repetida e digitada varias vezes. E
assim foi montando as palavras.
Iniciou-se esta pesquisa a partir do conhecimento da pesquisadora de uma ferramenta tecnológica
utilizada por adultos que ficaram paraplégicos com a parte cerebral e com os preservados. O projeto foi
desenvolvido pela Fundação Paulo Feitoza de Manaus- AM.
Um dos idealizadores do projeto, prof. Manuel Cardoso da UFAM,que projetou a princípio para ser
utilizado por adultos alfabetizados. Para introduzirmos este aparato junto à criança de nosso estudo, tivemos
que fazer algumas adaptações, especialmente pelo fato desta criança ter pouco conhecimento sobre letras e
números. Assim criamos o teclado infantil, composto do alfabeto em seqüência na tela, desenhos, cores,
números e sons. (Ver Fig. 2). Na Fig. 01, mostramos a estrutura esquematizada das interligações do mouse
ocular :

Fig. 1 Interligações do mouse ocular


O mouse ocular permite a utilização do computador com amplas perspectivas, tais como digitar
textos e criar documentos, navegar na internet, trabalhar utilizando o computador, participar de jogos
virtuais, programas de bate-papo, sites de relacionamento, etc...

Fig. 2 Teclado Infantil

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Com a utilização deste mouse ocular e a organização do teclado acima, foi possível introduzir a
criança no universo da escrita e leitura, ou seja, o mouse ocular foi a ferramenta mediadora para
aprendizagem.

5. DISCUSSÃO
No entender de Vigotski (1987),
“a criança aprende a agir em uma esfera cognitiva, ao invés de uma esfera visual externa,
dependendo das motivações e tendências internas e não dos incentivos, obtidos pelos objetos
externos”.(pg.110)
A criança adquire e acumula o conhecimento e os conceitos sobre o mundo no qual está inserida.
Este tipo de formação do pensamento na criança se baseia numa experiência individual, que vai se
transformando com rapidez. Para Leontiev (2005):
“para aprender conceitos, generalizações, conhecimentos, a criança deve formar ações mentais
adequadas. Isto pressupõe que estas ações se organizam ativamente. Inicialmente, assumem a forma
de ações externas que os adultos formam na criança, e só depois se transformam em ações mentais
internas (p. 74).”
Isso nos remete a Vigotski na explicação que a criança está agindo na esfera cognitiva, a partir de
suas motivações. Vislumbrou-se com a utilização do mouse ocular, a possibilidade de se estabelecer com a
criança uma comunicação real, não apenas a comunicação alternativa que foi construída pela mãe e pela
criança como forma de expressão e apropriação da cultura.
Tendo como ponto de partida as idéias de Vigotski (1998), podemos compreender que a
aprendizagem não se dá como recepção passiva de uma realidade, quer objetiva, quer preexistente às
relações que o indivíduo mantém com e pelos outros, mas como um processo criativo no qual, desde criança,
o indivíduo estrutura suas experiências, pela interação com o seu ambiente social. Cabe, então, com auxilio e
novas tecnologias, como o mouse ocular, o educador potencializar o processo de aprendizagem das crianças
e dos adolescentes com deficiência.

6. CONCLUSÃO
Vive-se, no entanto, o hoje como um momento histórico onde há, cada vez mais, a exigência de relações
sociais caracterizadas pelo diálogo, interatividade, intervenção, participação, colaboração. Isto pode estar
relacionado com a naturalização da inteligência coletiva como modus operandi da era da informação, na qual
cresce exponencialmente o potencial de comunicação da sociedade (PICANÇO, 2001,p.12).
A deficiência física degenerativa, a tetraplegia podem ser um desafio para superação das limitações por meio
de uma nova tecnologia e de adaptações criativas principalmente no processo de ensino e aprendizagem.
Portanto, o mouse ocular, como ferramenta pode ser uma realidade, usando a tecnologia como instrumento e
possibilidades de conhecimento, podem tornar o aprendizado mais agradável e estimulante do que na forma
tradicional, alem da possibilidade de vislumbre de outra perspectiva de vivência aos portadores de
deficiência.

7.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GOLDENBERG,M. A arte de pesquisar, São Paulo: Ática, 2003.
LEONTIEV,A. [et al.]. Psicologia e Pedagogia: bases psicológicas da aprendizagem e do desenvolvimento.
Tradução de Rubens Eduardo Frias. 3ª ed. São Paulo: Centauro, 2005.
LEONTIEV, A. O desenvolvimento do psiquismo. Lisboa: Livros Horizonte, 1978.
MARTINS, H.H de S. – Metodologia qualitativa de pesquisa, Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 30, n.2,
p.289-300, mai/ago. 2004.
PICANÇO, Alessandra A. Educação a distância: solução ou novos desafios Anped, Caxambu, 2001
(Acesso por < http:// www.anped.org.br>)
TAJRA, S.F. Informática na Educação. São Paulo: Ed. Erica, 2001.
VIGOTSKI, L. S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Ed.Martins Fontes, 2003.
VYGOTSKY, L. S. Formação social da mente; São Paulo: Ed.Martins Fontes, 1998.
VYGOTSKY, L. S. Problems of abnormal psychology and learning disabilities: The fundamentals of
defectology . New York: Ed.Plenum, 1993.
VYGOTSKY, L. S. Thinking and Speech. In R.W.Rieber e A.S (org): The collected works of L.S.
Vygotsky – Problems`of psychology. New York: Ed.Plenum, 1987.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

NOVAS TECNOLOGIAS E AÇAO POLITICA:


UM ESTUDO SOBRE A INFLUÊNCIA DO FENÔMENO DA INTERNET NA
MÍDIA E NA OPINIÃO PÚBLICA

Natasha Bachini Pereira1

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

1. Introdução
As transformações tecnológicas ocasionaram mudanças na forma de organização social em
toda a história da humanidade. Particularmente, a invenção da Imprensa e a expansão da
cobertura midiática resultaram em uma disseminação de informações que levaram a
transformações políticas e sociais. A emergência de uma Nova Tecnologia de Informação como
a Internet faz emergir o debate sobre como esta nova ferramenta pode influenciar nas relações
políticas, propiciando uma participação mais ativa dos cidadãos no processo democrático. Este
projeto de pesquisa se propôs a avaliar empiricamente a relação entre Internet e Democracia no
Brasil acompanhando as publicações do site da Organização Não – Governamental
Transparência Brasil durante o período em que se deram as eleições municipais de São Paulo no
ano de 2008. O intuito deste acompanhamento foi de mensurar a exposição dos candidatos
paulistas no site e constatar se esta influenciara a opinião pública a ponto de interferir no
resultado das urnas. A partir deste acompanhamento, foi possível observar se no Brasil a
Internet já realiza seu potencial na democracia participativa e quais são os impasses que a
sociedade brasileira enfrenta que dificultam este processo.

2. Metodologia
Com o objetivo de averiguar um possível impacto das publicações do site na opinião do
eleitor paulistano através dos resultados obtidos nas urnas, foram contabilizadas as citações
positivas, neutras e negativas nos relatórios da ONG de agosto de 2008 a janeiro de 2009 sobre
os candidatos.
Buscando uma associação entre as metodologias qualitativa e quantitativa de pesquisa, foi
elaborada uma tabela para que se pudesse mensurar o desempenho dos candidatos perante as
publicações do site.
Foram consideradas inserções negativas todos os apontamentos que, segundo os
próprios relatórios e aos olhos do leitor comum, não se espera de um candidato a um
cargo público, em outras palavras, todas as inserções que deixam claro que não é esta a
postura desejável de um político para aqueles que visam o combate a corrupção, como
os maiores gastos por gabinete, os parlamentares que apresentaram o maior número de
projetos irrelevantes em seus mandatos e as mais díspares variações patrimoniais.
Da mesma forma, foram consideradas inserções positivas todas aquelas que exaltam
a imagem do candidato em decorrência de uma atuação política satisfatória.
Quanto as inserções neutras, estas se definem por apenas fazer referência ao
candidato, não apresentando nenhum posicionamento a respeito de sua conduta, ou seja,
não possuem teor positivo ou negativo.
É importante observar que foram apreciadas nesta tabela as inserções diretas sobre
os candidatos, ou seja, aquelas que se referem diretamente aos nomes dos políticos.

1
natashabachini@hotmail.com

450
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Ao lado do número de citações, a tabela registra se o candidato foi eleito ou não.

3. Resultados e Discussão

Durante o período que se estendeu de agosto a dezembro do ano de 2008, o site


da Transparência Brasil foi acompanhado diariamente. Neste intervalo, registrou-se
a publicação de cinco novos relatórios pela ONG. Considerando o intuito da
pesquisa, também foram incorporados a observação deste projeto, três relatórios
publicados anteriormente que foram destacados pelo próprio site neste período. Dos
oito relatórios abordados para a pesquisa, seis deles trazem informações que citam
nomes de candidatos às eleições de São Paulo.
Resumidamente, a análise dos dados conduziu as seguintes constatações:

- Dos 1084 candidatos a vereador e 11 candidatos a prefeito, mais seus respectivos 11 vices,
73 tiveram seus nomes citados nos relatórios da Transparência Brasil;
- De maneira geral, os relatórios publicados pelo site focam, basicamente, as Casas
Legislativas, sentindo-se a ausência de dados sobre os candidatos ao Executivo;
- Dos 73 candidatos citados nos relatórios, 51 foram eleitos, sendo todos estes
exclusivamente candidatos a vereador;
- Dos eleitos, apenas 13 ou 25,4% não apresentam inserções negativas nos relatórios;

4. Conclusão

Conforme pode ser observado nas informações oriundas dos relatórios da


Transparência Brasil, a atuação de nossos parlamentares não é das mais exemplares
e tem sido alvo de denúncias cotidianamente, no entanto, eles continuam sendo
eleitos. Provavelmente este fato não se explica pela aprovação do eleitorado
brasileiro.
Conclui-se, portanto, que o potencial democrático da Internet, no sentido ampla
disseminação de informações e do infinito armazenamento de dados, não se realiza no
Brasil.
Pontuar-se-á os possíveis motivos:

1)Apenas 7,8% dos brasileiros possui acesso a Internet (dados do ano de 2007);
2) O desconhecimento do site da ONG pelo eleitorado paulistano;
3) Os baixos níveis de democracia e cidadania apresentados pelo brasileiro;
4) Falta de acesso e interesse a informações políticas;
5) Ausência de comunicação dialógica;

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

NÚCLEO DE ESTUDOS DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A


MULHER
NA CIDADE DE PONTA GROSSA

Valquíria do Amaral1·; Sandra Regina Merlo2; Kelly Sabriny Krik3


1
Universidade Estadual de Ponta Grossa
2
Universidade Estadual de Ponta Grossa
3
Universidade Estadual de Ponta Grossa

1. Introdução
A situação de violência contra a mulher é uma realidade vivenciada pela maioria das mulheres
brasileiras independente da classe social, etnia, geração e orientação sexual e que se expressa de diferentes
formas (física, sexual, moral, psicológica e patrimonial), ocorrendo frequentemente no espaço doméstico e
familiar na esfera das relações interpessoais onde o agressor relaciona-se afetivamente com a vítima,
tornando-a vulnerável à prática da violência.
No Brasil, pesquisas apontam que a cada 15 segundos uma mulher é vítima de violência. [1] No
entanto ocorre que a falta de dados e impasses jurídicos que dificultam traçar um retrato completo da
violência.[2] Mas, o Relatório Analítico - Pesquisa sobre violência doméstica contra a mulher demonstra que
de acordo com as mulheres que sofreram agressões, os maridos e companheiros foram os responsáveis por
87% dos casos de violência doméstica.[3]
Fruto de diversos fatores a violência contra a mulher passou a ser denunciada à justiça e ganhou
visibilidade junto à sociedade. A aprovação da Lei nº 11.340, de 07 de agosto de 2006 – Lei Maria da Penha –
representa um marco na proteção da família e um resgate da cidadania feminina, vez que define a violência
doméstica e familiar contra a mulher, independentemente de faixa etária, em cada uma de suas manifestações:
física, sexual, psicológica, moral e patrimonial e equipara esse tipo de violência a uma das formas de violação
dos direitos humanos. [4]
Muito embora não se tenha reduzido de forma significativa os índices de violência cometidos e a
impunidade dos agressores. Com a Lei Maria da Penha a realidade da violência doméstica e familiar contra a
mulher começa a ser alterada tendo como decorrência a perspectiva de se promover uma mudança social e
real no trato e enfrentamento da violência contra as mulheres. Isto pode ser verificado também com a
existência do Plano Nacional de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher e o II Plano Nacional de
Políticas para as Mulheres.
No entanto, constata-se que para a efetivação dos dispositivos legais e a superação da naturalização da
violência contra a mulher é necessário desenvolver ações que promovam uma mudança nos valores sociais e
se criem mecanismos para subsidiar propostas interventivas de atenção às mulheres vítimas de violência.
É preciso divulgar os direitos de proteção garantidos por lei às vítimas de agressões e levar ao
conhecimento da sociedade a Lei Maria da Penha.
Portanto, o Núcleo de Estudos da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher na cidade de
Ponta Grossa, é um projeto de extensão da Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG, aprovado pela
Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior – SETI/PR, no “Programa Universidade Sem
Fronteiras”, dentro do subprograma Incubadora dos Direitos, o qual iniciou- se m dezembro do ano de 2009
e está sendo desenvolvido pelos departamentos de direito (coordenação e supervisão) e serviço social
(supervisão) com término previsto para dezembro de 2010.
Este Núcleo visa tratar da violência observando-a sob os mais diversos prismas e buscar caminhos
que possam garantir, num futuro próximo, atendimento jurídico e social adequado às mulheres
pontagrossenses vitimizadas pela violência doméstica e familiar.
Desta forma têm-se como objetivos implantar na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), de
forma permanente, o Núcleo de Estudos da Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher; orientar
mulheres vítimas de violência, encaminhadas pelo Serviço de Assistência Jurídica (SEAJ) do Núcleo de
Prática Jurídica (NPJ) da UEPG; assegurar às mulheres vítimas da violência doméstica e familiar, acesso à
informação e orientação para que seus direitos sejam efetivamente atendidos; possibilitar o exercício

1
Valquíria do Amaral - val.amaral1985@hotmail.com
2
Sandra Regina Merlo - scmerlo@uol.com.br
3
Kelly Sabriny Krik - sabriny4@hotmail.com
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

profissional e aplicação dos conhecimentos adquiridos na vida acadêmica por profissionais recém formados e
proporcionar campo de estágio aos acadêmicos dos cursos de Direito e de Serviço Social.
Participam do referido projeto três professoras da UEPG sendo 01 professora do curso de Direito
como coordenadora, 01 professora do curso de Direito como supervisora e 01 professora do curso de Serviço
Social como supervisora; 02 profissionais – 01 advogada e 01 assistente social; 04 estagiárias do curso de
Direito e 02 estagiárias do curso de Serviço Social.

2. Método
Sob a coordenação e supervisão das professoras, da orientação e intervenção dos profissionais e atuação das
estagiárias, através do ensino-aprendizagem a metodologia utilizada para o desenvolvimento das atividades
inicialmente é de:
 Pesquisa bibliográfica para o aprofundamento teórico sobre a temática e elaboração da concepção
norteadora do trabalho a ser desenvolvido;
 Pesquisa documental nos registros de atendimentos do Serviço de Assistência Jurídica, do Núcleo de
Prática Jurídica da UEPG, quando da procura pela assistência jurídica na área de família, com
histórico de violência contra a mulher;
 Coleta de dados junto à Delegacia da Mulher, Vara Criminal, Juizado Especial Criminal e Centro de
Referência Especializado em Assistência Social (CREAS) para conhecimento da situação da
violência contra a mulher e sistematização das informações para constatação dos fatos e elaboração
de relatório analítico;
 Entrevistas e visita institucionais para apresentação do projeto, solicitação de dados e levantamento
da rede de serviços de proteção, defesa e apoio às mulheres vítimas;
 Reuniões de trabalho para planejamento, execução, acompanhamento e avaliação das atividades
desenvolvidas; estudo dirigido e debates com os acadêmicos estagiários sobre a questão da violência
sofrida pelas mulheres nos seus aspectos físico, psicológico, sexual, patrimonial e moral e social.
 Sistematização e elaboração de relatório sobre os dados coletados para na seqüência realizar a
informação e orientação à comunidade por meio de: palestras sobre a violência doméstica e violência
familiar e apresentação dos dados sobre a situação de violência contra a mulher no município nas
associações de bairro, clubes de serviço e/ou outros locais que se fizerem necessários.
 Elaboração e envio de relatório ao Poder Judiciário do Estado do Paraná, ao Ministério Público e às
autoridades Municipais, no intuito de demonstrar quais as atuais proporções da violência contra a
mulher, no município de Ponta Grossa, apontando medidas a serem efetivadas.

3. Resultados e Discussão
Tendo em vista que o projeto encontra-se em desenvolvimento as atividades executadas pelo Núcleo
para o alcance dos objetivos propostos até a presente data foram:
 Estudo e pesquisa de dados estatísticos oficiais sobre violência contra a mulher;
 Formulação de questões, elaboração de formulário e definição de metodologia para levantamento de
dados sobre a violência doméstica e familiar contra a mulher na cidade de Ponta Grossa;
 Contato e visita nos órgãos: Delegacia da Mulher, Fórum (Diretor do Fórum), Secretaria Municipal
de Assistência Social, Secretaria Municipal de Saúde para apresentação do projeto e solicitação de
autorização para coleta de dados;
 Coleta de dados nos processos nas Varas Criminais;
 Coleta de dados nos Boletins de Ocorrência (B.O) na Delegacia da Mulher;
 Definição da forma de organização dos dados e das questões principais para sistematização e análise
dos mesmos.
Para a coleta de dados metodologicamente definiu-se o ano de 2009 como período a ser estudado
tendo em vista posterior à data de aprovação da Lei Maria da Penha e anterior ao início do projeto.
Portanto, a coleta de dados foi realizada em processos arquivados nas Varas Criminais, bem como
em centenas de boletins de ocorrência da Delegacia da Mulher.
Atualmente as atividades da equipe estão centradas na organização dos dados coletados a fim de se
realizar a sistematização, análise e elaboração de relatório. Paralelamente, está sendo realizado junto aos
órgãos públicos municipais e não governamentais o levantamento dos serviços e ações voltadas ao
atendimento das mulheres vítimas de violência a fim de identificar a existência ou não de uma rede de
suporte e apoio.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

A partir dos dados coletados e parcialmente organizados observa-se que, em termos de registro, há
deficiências quanto a alguns dados importantes como: idade, escolaridade, profissão, entre outros, os quais
não são considerados quando no preenchimento do B.O dificultando assim a identificação da real situação.

Fig. 1 Núcleo de Estudos da Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher na Cidade de Ponta Grossa

Fig. 2 Equipe do Núcleo de Estudos de Violência Contra Mulher com a Delegada Claudia Krüger, na coleta
de dados na Delegacia da Mulher na cidade de Ponta Grossa- PR.

4. Conclusão
Com as ações até então desenvolvidas é possível afirmar que a questão da violência doméstica contra
a mulher não é só um problema de ordem jurídica, mas também social que requer atuação de uma equipe
multidisciplinar, bem como informação e orientação à comunidade dando a conhecer, plenamente, os
dispositivos legais da Lei Maria da Penha.
Também que ao término da execução do projeto será possível - através de relatório – fornecer dados ao
Poder Judiciário do Estado do Paraná, ao Ministério Público do Estado do Paraná e ao Poder Público
Municipal, para subsidiar a implementação e instalação do Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra

454
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

a Mulher, na cidade de Ponta Grossa dando efetividade à Lei Maria da Penha e cumprindo o princípio
constitucional da dignidade da pessoa humana.
E ainda, implantar em caráter definitivo o Núcleo de Estudos da Violência Doméstica e Familiar
contra a Mulher o qual:
 Viabilizará, o estudo, o debate e o conhecimento sob diferentes ângulos sobre a questão da violência
doméstica e familiar contra a mulher na cidade de Ponta Grossa partir da realidade concreta;
 Possibilitará o trabalho em equipe multidisciplinar propiciando a troca de diferentes experiências
teórica e práticas, no sentido de buscar assegurar o acesso mulheres vítimas de violência às políticas
sociais públicas e atendimento das no que se refere ao direito garantido por lei.
 Propiciará a formação dos acadêmicos participantes do projeto através do ato de ensinar e aprender,
onde estes poderão vivenciar, refletir, intervir na realidade utilizando-se dos pressupostos teóricos e
dos instrumentais pertinentes sistematizando o conhecimento produzido no que diz respeito à
atenção das mulheres vítimas de violência como direito de cidadania garantido por lei que deve ser
assegurado pela defesa do direito, proteção e execução de políticas públicas.

5. Referências
[1], [2] QUEIROZ, Fernanda Marques de. Lei Maria da Penha: Conquista legal, desafios à sua
implementação. In Fazendo Gênero 8 – Corpo, Violência e Poder. Florianópolis, de 25 a 28 de agosto de
2008.
[3] RELATÓRIO ANALÍTICO PESQUISA DE OPINIÃO PÚBLICA NACIONAL. Pesquisa sobre
violência doméstica contra a mulher. Data Senado – SECS. 2007
[4] LEI MARIA DA PENHA. Lei nº 11.340, de 07 de agosto de 2006.

Agradecimentos
Agradecemos a Delegada Claudia Krüger, chefe da Delegacia da Mulher na cidade de Ponta Grossa, pelo
acesso as informações contidas nos B. Os de violência contra mulher, bem como, aos escrivães, ao
Ministério Publico e aos Juízes das Varas Criminais por permitir o acesso às informações de dados nos
processos finalizados, para que fosse feito o levantamento estatístico da Violência Contra Mulher na Cidade
de Ponta Grossa/PR.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

O acesso à documentação básica ao exercício da cidadania, como salvaguarda do princípio


da dignidade da pessoa humana e da inclusão social do adolescente egresso do sistema sócio-
educativo e de sua família na região de Ponta Grossa –Pr.

Elisa Stroberg Schultz*1, Dircéia Moreira2, Paulo Fernando Pinheiro*3

1
UEPG -Universidade Estadual de Ponta Grossa
2
UEPG -Universidade Estadual de Ponta Grossa
3
UEPG -Universidade Estadual de Ponta Grossa

1. Introdução
O fundamento norteador do Estado Democrático de Direito Brasileiro, estabelecido na Constituição
Federal, art. 1º, é o princípio da dignidade da pessoa humana, seguido pelo princípio da inclusão social
implícito no artigo 3º, incisos I, III e IV. Para sua real efetivação, o texto constitucional pressupõe vários
direitos fundamentais e, entre eles, os direitos sociais, expressos no art. 6º: educação, saúde, trabalho,
moradia, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade e à infância e assistência aos
desamparados.
Esses direitos são resguardados também á criança e ao adolescente, respeitando sempre a sua fase de
desenvolvimento. A Constituição Federal em seu art. 227 caput, ordenou que o Estado, a família e a própria
sociedade devem assegurar com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao
lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além do dever de garantir que fiquem a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão.
O acesso a esses direitos fundamentais necessitam de alguns instrumentos para serem efetivados,
sendo que a documentação civil básica é um deles.
São documentos considerados básicos o Registro Civil com a respectiva Certidão de Nascimento, a
Carteira de Identidade, o Cadastro de Pessoa Física, a Carteira de Trabalho e Previdência Social, o Título de
Eleitor e o Certificado de Alistamento Militar para os homens.
Pelo fato de crianças e adolescentes se encontrarem em situação peculiar de desenvolvimento, elas
possuem direito a tratamento diferenciado com relação aos adultos, sempre com atendimento realizado com
absoluta prioridade e embasado na responsabilidade concorrente.
De igual forma, ao adolescente autor de ato infracional - aquele que comete conduta descrita como
crime, ou como contravenção penal - a legislação prevê que sejam garantidos todos os direitos relacionados à
dignidade da pessoa humana, não obstante estejam sujeitos as chamadas medidas socioeducativas como
forma de responsabilização pelo ato infracional praticado.
Para a realização da execução dessas medidas socioeducativas, tem-se que os adolescentes as
cumpram em entidades de programas socioeducativos, e, que essas entidades desenvolvam ações para com
os seus egressos, visando garantir uma maior probabilidade de reinserção social. Para que essa reinserção
seja inclusiva, o mínimo que se espera é que ocorra dentro das entidades de atendimento, a averiguação e
providência dos documentos civis básicos faltantes para o exercício da cidadania.
Dessa forma, o objeto da pesquisa aqui apresentada é esse adolescente egresso do sistema
socioeducativo e sua família, que mesmo tendo direito ao acompanhamento com ações inclusivas, por ter
passado por uma entidade de atendimento, não teve efetivado o seu direito ao acesso dos documentos civis
básicos para o exercício da cidadania.

2. Dos sujeitos da pesquisa e do método


A pesquisa foi realizada dentro do Projeto AFAESS-PG (Apoio Familiar aos Adolescentes egressos
do Sistema Socioeducativo da Região de Ponta Grossa – PR), que é um Projeto de Extensão Universitária do
Programa Universidade sem Fronteiras, do Estado do Paraná.

1
Apresentador Principal – elisasschultz@hotmail.com – acadêmica da Pós Graduação de Direito do
Trabalho e Processo do Trabalho
2
Coautora – Professora Doutora da UEPG
3
Apresentador Principal – paulofpinheiro2005@hotmail.com – acadêmico do 5º ano do Curso de Direito da
UEPG
456
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

E, a amostra da pesquisa corresponde a um número de 13 sujeitos (adolescentes participantes do


Projeto AFAESS-PG).
Quanto ao procedimento metodológico fez-se uso da pesquisa bibliográfica, para estabelecer as bases
teóricas do trabalho e que fundamentaram o processo de análise feito. Utilizou-se, ainda, de pesquisa
quantitativa, com coleta de dados a partir de questionários aplicados aos adolescentes egressos participantes
do Projeto AFAESS-PG.
A definição da amostra que compõe essa pesquisa passou por aproximações sucessivas dos sujeitos
que tem relação direta com a questão, ou seja, adolescentes egressos que passaram pelo Sistema
Socioeducativo e apresentavam carência na documentação civil básica.
Deste modo, em um primeiro momento faz-se uma análise do perfil do adolescente egresso
propriamente dito, considerando sua situação peculiar de desenvolvimento, sua passagem pelo ato
infracional e pelas entidades de execução de medidas socioeducativas, passando aos seus direitos de
cidadania especificadamente o direito a obtenção da documentação civil básica pelas entidades de
atendimento.
Após isso, passa-se a uma análise dos princípios referenciais e fundamentais relativos ao tratamento
do adolescente egresso do sistema socioeducativo.

3. Resultados e Discussão
A pesquisa foi com a finalidade de compor um diagnóstico da realidade de adolescentes egressos, no
que diz respeito ao acesso a documentação civil básica para o exercício da cidadania.
Compondo a pesquisa, com relação aos 13 adolescentes egressos atendidos, foram levantadas as
seguintes necessidades relativas aos documentos civis básicos:
 0% de Registro Civil
 40% de Segunda Via da Certidão de Nascimento
 25% de Carteiras de Identidade
 42% de Cadastros de Pessoas Físicas –CPF
 59% de Carteira de Trabalho e Previdência Social
 50% de Título de Eleitor
 25% de certificado de Alistamento Militar
A ausência de acesso a documentação civil básica é, sem dúvidas, um fator de que contribui
significativamente para que o adolescente egresso não consiga sua inclusão ou reintegração social, pois gera
obstáculos para matrícula escolar, pedido de benefícios sociais, atendimento médico, entre outros.
A partir do levantamento das necessidades houve a mediação do acesso a chamada rede de
atendimento sócio-jurídico também identificada no contexto do Projeto, com objetivo maior de proporcionar
ao adolescente autonomia. A demanda foi:
 40% de Segunda Via da Certidão de Nascimento nos Cartórios de Registro Civil, sendo que não
havia demanda relacionada ao registro civil;
 25% de Carteiras de Identidade – RG nos Postos de Atendimento do Instituto de Identificação do
Paraná ou para a Secretaria de Obras Sociais de Ponta Grossa (SOS);
 5% de Cadastros de Pessoas Físicas – CPF ao Correio, Banco do Brasil e Caixa Econômica ou
encaminhado a Secretaria de Obras Sociais de Ponta Grossa -SOS;
 30% de Carteiras de Trabalho e Previdência Social – encaminhados a Delegacia do Trabalho de
Ponta Grossa;
 2% de Títulos de Eleitor – encaminhados ao Fórum Eleitoral de Ponta Grossa;
 2% de Certificados de Alistamento Militar a Junta de Serviço Militar;
Esclareça-se que nem toda a demanda foi atendida, e isso se deve as dificuldades encontradas na
execução do próprio Projeto, como falta de recursos, falta de interesse pelo adolescente, e/ou dificuldade de
acesso a rede de atendimento
Ressalte-se que as entidades de programas de execução de medidas socioeducativa de acordo com o
artigo 94, XIX do Estatuto da Criança e do Adolescente possuem obrigação legal de providenciar a
documentação anteriormente referida, porém, o que se verificou na prática e que os adolescentes são
desligados das entidades sem portar seus documentos civis básicos.
Ainda no contexto do Projeto houve a constatação da dificuldade de obterem-se informações nos
diversos órgãos envolvidos com a expedição da documentação civil básica, o que determinou a elaboração
de um Guia (Guia para Obtenção da Documentação Civil Básica para o Exercício da Cidadania na Cidade de
Ponta Grossa – Paraná 2009).

457
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

4. Considerações Finais
A criança e o adolescente no Brasil têm o reconhecimento de seus direitos e garantias fundamentais
no âmbito constitucional e em seu próprio Estatuto.
O adolescente que comete ato infracional, seja quais foram os seus determinantes, merece respeito e
consideração de sua família, comunidade, sociedade e do Estado, ficando os mesmos responsáveis por dar
todo tipo de amparo com relação às ações necessárias ao exercício pleno da cidadania.
Para exercer a cidadania precisamos de alguns documentos tidos como básicos para isso, sendo que
trata-se de um direito de todos.
Ao adolescente egresso do sistema socioeducativo, a fim de garantir a inclusão social, há previsão
legal de que esses documentos sejam providenciados.
Dessa maneira concluiu-se que o que estava acontecendo era uma violação a um direito previsto pelo
Estatuto, e pela própria Constituição.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

O INSTITUTO DA ADOÇÃO INTERNACIONAL E A SUA IMPORTÂNCIA


PARA AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Pollyanna Gerola Giarola

RESUMO

É diante do cenário mundial, que se percebe a insuficiência da harmonização de leis,


casos de tráfico internacional de menores, proteção dos direitos fundamentais da
criança, que são claramente relacionados a proposta da Convenção de Haia sobre
adoção internacional, assegurando a essas crianças e adolescentes o respeito aos seus
superiores interesses. A adoção de menores no Brasil está regulada no ECA – Estatuto
da Criança e do Adolescente, e tem como órgão responsável a criação da Comissão
Estadual Judiciária de Adoção Internacional (CEJAI) que possibilita melhor atender os
anseios do menor. As relações internacionais têm cabido em situações diversas, com no
caso das adoções internacionais. O estudo da mesma se insere numa preocupação de
ordem global, onde essa preocupação pretende e deve cercar-se a um processo
demorado e complexo, no qual se inserem forçosamente etapas sucessivas e
ascendentes, como nos casos das convenções internacionais, visando melhores opções
para os problemas em que os países se encontram.

PALAVRAS-CHAVE: Adoção Internacional. Convenção de Haia. Cejai

1 INTRODUÇÃO

O destino do homem, está entrelaçado cada vez mais com o processo de


internacionalização das relações humanas. Considerando um meio de abandono e
sofrimento, o presente trabalho objetiva analisar o instituto da adoção internacional
como fonte motivadora das relações internacionais, analisando a efetividade ou não das
garantias formalizadas em prol da criança e do adolescente no âmbito do direito interno
brasileiro.
Para se obter noções criteriosas a respeito da condição jurídica da criança e
do adolescente é necessária a análise de vários tratados internacionais acerca do tema.
Tratados e convenções internacionais possuem um destacável papel para a
adoção internacional, ressaltando a vontade de harmonizar as legislações na matéria.

460
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

1.1 OBJETIVO GERAL

Demonstrar a importância do instituto da adoção internacional no âmbito do


direito internacional público como instrumento de proteção dos direitos humanos da
criança e do adolescente.

1.2 JUSTIFICATIVA

A importância do presente trabalho justifica-se para o internacionalista


compreender o sistema de proteção internacional da criança e do adolescente em
confronto com o ordenamento jurídico brasileiro, aliado a toda a estrutura responsável
pela adoção internacional no Brasil.

1.3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Esta pesquisa possui um caráter qualitativo. É do tipo exploratória e


descritivo. Na obtenção de dados primários cabe a importância da Comissão Estadual
Judiciária de Adoção Internacional (CEJAI), por meio da qual se disponibilizam a
coleta de dados, com a pesquisa de campo. Já para obtenção de dados secundários, foi
utilizada a pesquisa bibliográfica, e a pesquisa documental.

2 O INSTITUTO DA ADOÇÃO NO ORDENAMENTO JURÍDICO


BRASILEIRO

O ordenamento jurídico brasileiro, dentro do cenário político-jurídico de


diversos países, principalmente os que integram o Mercosul, é o que, até o momento,
mais incorporou em sua legislação, tanto constitucional quanto infraconstitucional, as
determinações constantes nos documentos internacionais, tais como a Convenção
Internacional dos Direitos da Criança e a Convenção Haia. (GATELLI, 2006, p. 67).
A legislação brasileira, mesmo apresentando um certo contraste com a
realidade, vem assumindo adaptações da legislação interna aos termos da Convenção já
citada, a qual procura disciplinar de forma harmonizada a adoção internacional.
(GATELLI, 2006, p. 67).

461
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Na Constituição Federal de 1988 a família é tratada em seus artigos 226 e


seguintes.
No Código Civil de 2002 a adoção é tratada nos artigos 1.618 a 1629 e
limita-se a repetir as previsões do Estatuto da Criança e do Adolescente ao tratar da
adoção de crianças e adolescentes, trazendo poucas modificações.
Já os direitos fundamentais das crianças e dos adolescentes, previstos no
Estatuto da Criança e do Adolescente, está o direito ao convívio em família e
comunitária. Assim, toda criança e adolescente têm o direito de serem criadas, amadas e
educadas no seio de suas famílias e, excepcionalmente, em família substituta.
O projeto da nova legislação - Lei nº. 12.010 de 3 de agosto de 2009 - foi
baseado na garantia do direito de crianças e adolescentes à convivência familiar e
comunitária, estabelecida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), e prevê por
exemplo, que a situação de meninos e meninas que estejam em instituições públicas ou
famílias acolhedoras seja reavaliada a cada seis meses. (PRESIDENTE..., 2009).

2.1.1 Convenção de Haia

A Conferência de Haia de Direito Internacional Privado acumula experiência


ímpar no campo das relações internacionais, tendo viabilizado diversas convenções
sobre temas distintos. como, por exemplo: conflitos entre leis de nacionalidade e do
domicílio.(FIGUEIRÊDO, 2004, p. 48).
A Convenção representa um conjunto de regras articuladas, não para proibir
a adoção internacional, mas voltadas para disciplinar a sua efetivação de forma a
materializar um tratamento igualitário entre os países de origem e os de acolhida, sem
ganhos ilícitos, e, principalmente que atenda ao superior interesse da criança.
Nesse sentido, Pereira (1991, p. 01), lapida a frase: A intenção desta
Convenção não é unificar as leis internacionais de adoção nos Estados contratantes. Seu
objetivo principal é assegurar que os direitos das crianças adotadas sejam respeitado ao
máximo.
A convenção de Haia de 1993 também traz um modelo centralizador,
instituindo uma autoridade central federal e permitindo autoridades centrais estaduais e,
neste sentido, complementa e consolida o sistema brasileiro já existente. O Decreto
3.174, de 16 de setembro de 1999, organizou, no Ministério da Justiça, a autoridade
central federal administrativa e as CEJAS como autoridades centrais estaduais.

462
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

No caso brasileiro, a centralização e a especialização já eram utilizadas como


meio de combater o tráfico e o induzimento ao abandono. O próprio Estatuto da Criança
e do Adolescente prevê que a adoção internacional pode ser limitada e controlada por
um organismo centralizador, que denomina "Comissão Estadual Judiciária de Adoção"
e que hoje formam as CEJAS e CEJAIS e são as autoridades centrais estaduais da
Convenção, as quais serão estudadas mais profundamente nos próximos capítulos.
(MARQUES, 2009).

2.1.2 Importância das Convenções sobre a adoção internacional para as Relações


Internacionais

As relações internacionais são um modo de interação global, na qual pode-se


focar tanto na política externa de determinado Estado, quanto no conjunto estrutural das
interações. As convenções são as declaração de vontades entre nações na negociação e
resolução de certo caso, ou na execução da mesma obra, ou plano de interesse comum.
A idéia base da Convenção constitui, no seu conjunto, uma base excelente e
relativamente progressiva, para repor a ordem nas adoções internacional e, em geral,
para assegurar que estas adoções respeitem os direitos e o superior interesse da criança.
(GATELLI, 2006, p. 54).
Todas essas convenções mostram a inter relação entre os países ao pensar no
bem estar da humanidade, nos direitos humanos, ou em como resolver questões
pertinentes a qualquer uma das partes evitando da melhor forma possível os problemas
conseqüentes. É necessária a colaboração de todos no meio internacional, cedendo e
aceitando propostas, negociando e propondo, até que encontrem um ideal adequado. É
onde as Relações Internacionais destacam-se, pois ao participar deste cenário, os países
estarão agindo e mostrando suas características.

3 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

No Brasil, a adoção de menores, é, como já visto, disciplinada pelo ECA –


Estatuto da Criança e do Adolescente, alicerçando-se na proteção integral dos interesses
prioritários da criança ou do adolescente, independentemente de se encontrar, ou não,
em situação irregular, aderindo às orientações dispostas na Convenção Internacional de
Haia, introduzindo profundas mudanças na sistemática antes adotada, de forma que a

463
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

inserção do menor em família substituta não mais se admite que seja baseada em
mentiras e atos ilícitos, como se enquadram outros tipos de adoções.
Na adoção internacional, o dever é obter fins comuns, que é a proteção da
criança e do adolescente e que também é um direito humano. É necessário cada vez
mais criar mecanismos jurídicos para a efetivação dos direitos humanos em plano
global. Melhores meios para o armazenamento de dados e definições de objetivos para
agilizar os processos de adoção, seriam muito bem vindos ao contexto em que este
instituto esta.
Com base no estudo, mesmo o Brasil sendo signatário dos principais
documentos internacionais relativos a adoção internacional, nota-se que toda a sua
estrutura legal e institucional acaba por dificultar esse instrumento social e humanitário
que surge como forma de garantir a efetividade da proteção dos direitos humanos da
criança e do adolescente.
Por fim, adotar não é apenas pegar uma criança abandonada, um filho de
uma outra pessoa para criar e dizer ser o seu filho, é sim ter uma vida a mais na própria
vida, para que ambas possam ser envolvidas.

REFERÊNCIAS

FIGUEIRÊDO, Luiz Carlos de Barros. Adoção Internacional – Doutrina e Prática. 1ᵃ


ed. Curitiba: Juruá, 2004.

GATELLI, João Delciomar. Adoção Internacional de Acordo com o Novo Código


Civil: Procedimentos Legais Utilizados pelos Países do MERCOSUL. 1 ed. Curitiba:
Juruá Editora, 2006.

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internacional no Brasil após a aprovação do Novo Código Civil Brasileiro em 2002.
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489402.shtml> Acesso em: 10 set. 2009.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

O JULGAMENTO DOS RECURSOS NOS PROCEDIMENTOS LICITATÓRIOS PELA


ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: análise da possível afronta aos princípios do Estado
Democrático de Direito ante ao desrespeito ao devido processo legal

Helena Grassi Fontana1*


1
Universidade do Estado de Santa Catarina
Universidade do Vale do Itajaí

1. Introdução
Com o intuito de assegurar a vida, a segurança e a liberdade, o ser humano passou a viver em
sociedade, pois assim teria mais chances de sobreviver. A partir dessa relação social entre os homens,
percebeu-se a necessidade de que houvesse uma regulamentação de normas de convívio. Surgia assim, o
Estado, no qual normas são a base fundamental para a manutenção da ordem social.
A partir do surgimento do Estado Democrático de Direito, este ficou responsável pela tutela das leis
que limitam as ações dos indivíduos perante o Estado e regulam a força do mesmo, para que este não seja
demasiadamente autoritário e venha a reprimir a sociedade que o sustenta. Decorrente disto, o devido
processo legal, um dos princípios constitucionais brasileiros, garante aos cidadãos o direito de que, no caso
de ser parte em processo, ter respeitada de forma completa as regras previstas na legislação pertinente. A
garantia do devido processo legal diz respeito aos princípios da igualdade, da legalidade e da supremacia da
Constituição, que são inerentes à democracia.
Com o intuito de delimitar e organizar o poder do Estado, emerge o Direito Administrativo, que
sintetiza-se no conjunto harmônico de princípios jurídicos que regem os órgãos, os agentes e as atividades
públicas tendentes a realizar concreta, direta e imediatamente os fins desejados pelo Estado. (MEIRELLES,
2009, p. 40)
A Administração Pública, por sua vez, é a responsável pela prestação de serviços à comunidade na
busca da paz social e da garantia do bem comum, realiza sua função executiva por intermédio de atos
jurídicos, os quais recebem o nome de atos administrativos. (MEIRELLES, 2009, p. 151) Como define o
referido autor, ato administrativo é toda manifestação unilateral de vontade da Administração Pública que
tenha por fim imediato adquirir, resguardar, transferir, modificar, extinguir e declarar direitos ou impor
obrigações aos administrados ou a si própria. (MEIRELLES, 2009, p. 144)
Dentro deste contexto do Direito Administrativo, fica contido o objeto de estudo do presente trabalho.
Os recursos cabíveis às licitações, bem como aos outros atos administrativos, entretanto, enquanto
concernentes à autotutela administrativa, são alvo do princípio da pluralidade de instâncias, segundo o qual é
permitido à Administração Pública a revisão de seus próprios atos, quando ilegais, inconvenientes ou
inoportunos.
Observa-se que, os recursos administrativos afrontam os princípios pelos quais o Estado Democrático
de Direito foi erigido e ferem a tripartição dos poderes. Além disso, o fato de a Administração Pública julgar
seu próprio processo faz com que essa entre em confronto com seus próprios princípios.
Nessa acepção, objetivou-se, através do exame das estruturas constitucionais, dos fundamentos
voltados para o direito administrativo, pelo direito de petição, direitos constitucionais de controle e, por fim,
pelo recurso, o estudo dos aspectos determinantes dos recursos administrativos insertos na Lei 8.666 de 21
de junho de 1993, instituidora das normas de licitações e contratos da Administração Pública.

2. Método
O método utilizado foi o indutivo, a pesquisa bibliográfica, bem como o estudo das disposições
constitucionais legais sobre Direito Administrativo brasileiro e os entendimentos apresentados pelos
doutrinadores e pela Jurisprudência.

3. Resultados e Discussão
A licitação, sendo um ato administrativo, é definida, como:
[...] o procedimento administrativo pelo qual uma pessoa governamental, pretendendo
alienar, adquirir ou locar bens, realizar obras ou serviços, outorgar concessões, permissões
de obra, serviço ou de uso exclusivo de bem público, segundo condições por ela estipulados
previamente, convoca interessados na apresentação de propostas, a fim de selecionar a que
se revele mais conveniente em função de parâmetros antecipadamente estabelecidos e
divulgados. (MEIRELLES, 2009, p. 519)

*
Helena Grassi Fontana: hgrassinha@hotmail.com
465
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Por ser o procedimento licitatório um ato administrativo, ele encontra-se vinculado direta e
necessariamente a atos reguladores: leis, editais, regulamentos, e propostas, devendo estes estar submetidos
ao princípio da legalidade.
A licitação encontra-se prevista no art. 37, XXI da Constituição Federal, que assim dispõe:
XXI – ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e
alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade
de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de
pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente
permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do
cumprimento das obrigações. (BRASIL, 1988, p. 40)
A Lei 8.666, de 21 de junho de 1993, que regulamenta as licitações, prevê, em seu art. 109, os recursos
administrativos cabíveis dos atos decorrentes da licitação e do contrato, quais sejam: recurso, representação e
pedido de reconsideração. O recurso hierárquico, que é a forma do recurso propriamente dito, é o meio
adequado para o superior rever o ato, decisão ou comportamento de seu subordinado. Cabe, conforme
mandamento legal expresso no art. 109, I, nos casos de: (1) habilitação ou inabilitação; (2) julgamento de
propostas; (3) anulação ou revogação da licitação; (4) indeferimento do pedido de inscrição em registro-
cadastral, sua alteração ou cancelamento; (5) rescisão do contrato, a que se refere o inciso I do art. 79; (6)
aplicação das penas de advertência, suspensão temporária ou de multa.
Diante do exposto, caso houvesse algum desvio no ato licitatório, o devido processo legal seria falho,
pois o processo administrativo é julgado pelo próprio autor da irregularidade, neste caso, a Administração
Pública.
Os recursos cabíveis na licitação, na celebração e execução do contrato estão relacionados na lei (art.
109) que dispõe minuciosamente sobre seu processamento, seus efeitos e seus prazos, dispensando, assim,
qualquer regulamentação. Mesmo que o edital ou o convite silenciem a respeito, podem ser impostos todos
os recursos mencionados na lei. Nula será a proibição do recurso, como abusivamente pretende, algumas
vezes, a Administração. (MEIRELLES, 2009, p. 297)
Em sentido amplo, recurso é a provocação do reexame de um caso perante a mesma autoridade ou
outra hierarquia superior. (ARAÚJO, 2005, p. 608) Em termos de licitação ainda pode-se dizer que no que é
previsto pela Lei de Licitações, Lei n. 8.666 de 21 de junho de 1993, em seu art. 109, o reexame envolvendo
matéria licitatória pode ser obtido, na esfera administrativa, através de: a) recurso hierárquico; b) pedido de
reconsideração; e c) representação, que todavia não é, doutrinariamente, considerada recurso, embora na
prática possa ter o mesmo efeito. (ARAÚJO, 2005, p. 608-609)
Art. 109. Dos atos da Administração decorrentes da aplicação desta Lei cabem:
I - recurso, no prazo de 5 (cinco) dias úteis a contar da intimação do ato ou da lavratura da
ata
[...]
§ 4o O recurso será dirigido à autoridade superior, por intermédio da que praticou o ato
recorrido, a qual poderá reconsiderar sua decisão, no prazo de 5 (cinco) dias úteis, ou, nesse
mesmo prazo, fazê-lo subir, devidamente informado, devendo, neste caso, a decisão ser
proferida dentro do prazo de 5 (cinco) dias úteis, contado do recebimento do recurso, sob
pena de responsabilidade. (BRASIL, 1993)
Percebe-se então que os recursos, uma vez impetrados, serão julgados pela própria Administração
Pública, passando por quantos níveis superiores existirem na escala hierárquica do órgão responsável pelo
ato licitatório. Diante do exposto, por ser realizado pelo próprio Executivo, esse julgamento não estaria
enquadrado no Devido Processo Legal:
[…] o conjunto de garantias constitucionais que, de um lado, asseguram às partes o
exercício de suas faculdades e poderes processuais e, do outro, são indispensáveis ao
correto exercício da jurisdição. Garantias que não servem apenas aos interesses das partes,
como direitos públicos subjetivos (ou poderes e faculdades processuais.) destas, mas que
configuram, antes de mais nada, a salvaguarda do próprio processo, objetivamente
considerado, como fator legitimaste do exercício da jurisdição. (CINTRA; GRINOVER;
DINAMARCO, 1999, p. 82)
É notória a importância do equilíbrio entre os três poderes e da eficiência da Administração
Pública para o suporte e a manutenção do Estado brasileiro. O Estado deve agir conforme suas próprias
leis, porém há de se ressaltar que pode haver lacunas e/ou falhas, que fazem com que a total efetividade
do poder público fique reduzida.
O Devido Processo Legal como um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito, se
coaduna com o julgamento dos recursos administrativos, sabendo-se que estes restam julgados por uma
das partes interessadas.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

4. Conclusão
O Estado Democrático de Direito passa a ser questionável, e os princípios da Administração
Pública, que seriam a base primordial, são colocados à prova. O fato de a Administração Pública ser o
órgão responsável pela execução e julgamento dos processos administrativos, remete a questão de até
que ponto iria a sua imparcialidade quando se trata de julgar seus próprios atos.
Uma vez que o Estado é responsável pelas leis, normas, regras e garantias dos cidadãos e a
Administração Pública é a via responsável pela execução do bem comum, coloca-se em confronto a
eficiência e a transparência do Estado para com a sociedade. Fatos esses que atingem não somente o
campo jurídico, mas por se tratar de uma sociedade politicamente organizada e suas relações, chegam ao
debate filosófico e sócio-político da questão.
Eis, pois, que, sendo a Administração Pública, réu e juiz de seu próprio processo, tem-se um
choque de poderes, onde o Poder Executivo passa a exercer além de sua função. A necessidade do
julgamento por um órgão imparcial é notória, uma vez que a disfunção entre os poderes colocaria certa e
indubitavelmente em risco a manutenção da ordem social.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

POSSIBILIDADES PARA UM MODELO ALTERNATIVO DE GESTÃO PÚBLICA: EM


BUSCA DE UM NOVO REFERENCIAL TEÓRICO

Aragon Érico Dasso Júnior1


Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS)

1. Introdução
De uma maneira ou de outra, a maior parte da bibliografia recente sobre gestão pública vem
girando em torno de um eixo fundamental: um novo modelo de organização e funcionamento do
aparelho de Estado. Inúmeras reformas administrativas foram e estão sendo implantadas, desde os
anos 1980, em diversos países, mesmo que sem uma teoria suficientemente organizada. Este paper
pretende, a partir de algumas reflexões teóricas e de algumas experiências de gestão pública no
âmbito do poder local, propor alguns princípios básicos que devem compor um modelo alternativo
de gestão pública, a partir do conceito de democracia participativa. Ademais, pretende verificar a
responsabilidade do modelo gerencial no "encolhimento" do conceito de cidadania e na
incapacidade da democracia representativa de reduzir a desigualdade social.
O déficit de governabilidade é historicamente um dos maiores problemas da gestão do setor
público brasileiro, pois os agentes políticos nunca priorizaram uma formação adequada para lidar
com a Administração Pública. Em função disso, sempre insistem em criticar o funcionamento da
“máquina” e o “corporativismo dos servidores públicos”. Tais argumentos condicionam
sobremaneira o modo pelo qual a Administração Pública é percebida pela opinião pública. Essa
perspectiva é limitada porque assume que os valores, as atitudes e as crenças prevalecentes no seio
da opinião pública em um determinado momento refletem verdades estabelecidas. Na verdade,
esses elementos reproduzem tão-somente parte do processo de formação de opinião, um consenso
que resulta do choque de pontos de vista acerca de questões controversas, delicadas e ainda
suscetíveis de discussão. Em função disso, este “paper” responderá a algumas perguntas,
objetivando demarcar as diferenças existentes entre o modelo hegemônico da Nova Gestão Pública
(viés conservador e ultraliberal) e um de modelo de Gestão Pública alternativo que tenha na
participação seu elemento central.

2. Método
Abordar as bases teóricas e as origens do modelo de reforma do aparelho de Estado no Brasil é um
exercício que contempla incursões por outras duas áreas das ciências sociais: a Ciência Política e a
“Teoria Geral da Administração”. A primeira continua tendo profundo interesse por estudar o
Estado, mas dedica pouca atenção ao estudo da Administração Pública. Já a segunda parece estar
preocupada quase que exclusivamente com as empresas privadas, como se estas últimas
representassem a única forma de organização de interesse acadêmico. Esta pesquisa utilizou o
método hipotético-dedutivo.

3. Resultados e Discussão
Alguns princípios devem seguir de orientação para qualquer tentativa teórica alternativa à
Nova Gestão Pública, tais como:
- A democracia não é valor universal para a globalização e o neoliberalismo.
- O processo de construção da cidadania tem a ver com a relação das pessoas com o Estado,
pois sentir-se cidadão de um Estado depende do grau de participação na vida política.
- A redução do poder do Estado afeta o conceito de cidadania, pois altera especialmente a
natureza dos direitos políticos e sociais.
- Os direitos sociais, com as reformas administrativas, sofreram maior prejuízo na América
Latina do que na Europa.
- A globalização, produto das grandes corporações, não é um fenômeno natural e inevitável.
- Há uma incapacidade do sistema representativo no Brasil de reduzir a desigualdade social.

1
Aragon Érico Dasso Júnior: dassojr@hotmail.com.
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- O fundamento teórico da globalização é o neoliberalismo, que prega o domínio irrestrito do


mercado.
- O neoliberalismo é uma superestrutura ideológica e política do capitalismo atual.
- A reforma do aparelho do Estado, implantada no Brasil durante o governo Fernando
Henrique Cardoso, foi de corte excludente, pois correspondeu às necessidades do processo de
globalização viabilizado pelo modelo de Estado dito neoliberal.
- O Brasil nunca experimentou um Estado de bem estar social.
- A reforma do aparelho do Estado no Brasil, implantada durante o governo FHC, manteve a
dicotomia entre a política e a gestão pública, pois reproduziu a lógica centralizadora das relações de
poder e restringiu o acesso dos cidadãos ao processo decisório.
- A Nova Gestão Pública (New Public Management) é o modelo teórico de Gestão Pública
adequado para o Estado neoliberal e para o processo de globalização.
- A ação reguladora é a marca da desconstrução progressiva dos serviços públicos
universais, aliada ao processo de privatização
- Os novos arranjos regulatórios no Brasil redundam não no fim do Estado-nação, mas no
seu enfraquecimento (consolida a dependência), em função da ampliação do déficit democrático.

4. Conclusão
O objetivo deste artigo não foi tanto desvelar interesses quanto destacar certas questões
obscurecidas pela bruma que envolve o discurso sobre a crise do Estado. O endividamento do
Estado e a complexidade da demanda dos serviços públicos acabaram sendo eclipsados pelos
argumentos que culpam a Administração Pública brasileira por ser "irracional" ou de ter crescido
"sem critério".
Se a meta do socialismo é a "igualdade total para todos". Qual era e ainda é a do
capitalismo? A bandeira do capitalismo - ou do liberalismo, que é a sua versão ideológica - é o
lucro, disfarçado de igualdade, de liberdade individual e da prosperidade geral. Qual é a meta do
capitalismo para os capitalistas? Simples: um número cada vem maior de oportunidades para um
número cada vez maior de pessoas. Entretanto, não abarca e nunca abarcará a totalidade, deixando
sempre como rastro milhões de excluídos.
Segundo Wood (2003, p.8),
o capitalismo é estruturalmente antitético à democracia não somente pela razão óbvia de
que nunca houve uma sociedade capitalista em que a riqueza não tivesse acesso
privilegiado ao poder, mas também, e principalmente, porque a condição insuperável de
existência do capitalismo é fato de a mais básica das condições de vida, as exigências mais
básicas da reprodução social, ter de se submeter aos ditames da acumulação de capital e às
“leis” do mercado. Isso quer dizer que o capitalismo coloca necessariamente mais e mais
esferas da vida fora do alcance da responsabilidade democrática.
Os governos neoliberais inventaram, inclusive, expressões como governança e
governabilidade para aprovarem as suas reformas, pois devem prestar contas de seus trabalhos aos
organismos financeiros internacionais. As populações nunca foram chamadas a emitir opinião sobre
essas reformas, o que denota o caráter autoritário e anti-democrático de tais governos.
Enfim, citando Boaventura de Sousa Santos (2001, p. 23) questiono: “vivendo nós no início do
milênio num mundo onde há tanto para criticar por que se tornou tão difícil produzir uma teoria
crítica” alternativa de Gestão Pública? Até quando? O desconforto, o inconformismo e a indignação
devem servir de impulso para teorizar e superar o modelo neoliberal de Estado e a Nova Gestão
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

PROBLEMAS NA EFETIVAÇÃO DA POLÍTICA DE INOVAÇÃO NO BRASIL

João Henrique Pickcius Celant*; Ágatha Cristine Depiné


Universidade do Vale do Itajaí

1. Introdução
A Ciência, Tecnologia e Inovação – C,T&I são fundamentais no crescimento da produtividade e do
emprego. Afirma Roberto de Alencar Lotufo (2009, p. 43):

Nos países industrializados, a tríade C,T&I representa a busca de soluções competitivas


para superar desafios como o aumento dos custos dos recursos naturais e matérias-primas.
Já nos países em desenvolvimento, a política de inovação tem por objetivo primeiro reduzir
o atraso social, econômico e tecnológico.

O conhecimento produzido nas universidades é uma importante fonte de conhecimento e capacitação


para o desenvolvimento de novas tecnologias, sendo a transferência de tecnologias entre as universidades e
as empresas um caminho fundamental para as empresas brasileiras alcançarem um novo nível tecnológico.
A implementação consistente de uma política nacional voltada para a consolidação da pós-graduação e
da pesquisa científica nas universidades e outras instituições públicas de ensino e pesquisa do país propiciou
a formação da maior e mais qualificada comunidade científica da América Latina, sendo responsável por 2%
da produção científica mundial. Apesar desse resultado significativo e do porte de sua produção econômica,
o Brasil ainda não possui um desempenho compatível em inovação.

2. Método
O método utilizado é o indutivo através da pesquisa bibliográfica.

3. Resultados e Discussão
A Lei de Inovação - Lei nº 10.973 de 2004 foi um grande avanço no fomento à inovação, ela busca
através de medidas de estímulo à inovação e à pesquisa científica, capacitar e alcançar a autonomia
tecnológica e desenvolvimento industrial do país, porém sua simples existência não é suficiente, assuntos
complexos ainda não foram abordados e muitos desafios devem ser superados.
No Brasil, de acordo com os dados levantados pelo Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT em
2008, o gasto público em pesquisa e desenvolvimento corresponde a 60,2% do total, enquanto o gasto
privado é de 39,8%, situação inversa ao que ocorre nos países desenvolvidos que possuem o maior número
de patentes, onde o gasto privado é superior ao público. (SANTOS, TOLEDO e LOTUFO (Org.), 2009, 46)
Os recursos que financiam os Núcleos de Inovação Tecnológica - NITs1 provém principalmente da
Finep – Financiadora de Estudos e Projetos e do CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico, porém esses recursos são bastante modestos, sendo que há uma grande quantidade sendo
criada e a necessidade das já estabelecidas. Os recursos disponíveis não crescem na mesma proporção que o
número de NITs. (SANTOS, TOLEDO e LOTUFO (Org.), 2009, p. 30)
Estando o incentivo à inovação no Brasil ainda muito concentrado no setor público, é necessário um
esforço do país para que haja uma maior contribuição do setor privado, o que requer uma ação indutora do
setor público, seja através de incentivos fiscais ou na forma de encomendas ou apoio direto à inovação,
sendo também essencial um reforço de externalidades às empresas e forte ênfase na cooperação entre
empresas e universidades. (SANTOS, TOLEDO e LOTUFO (Org.), 2009, p. 49)
Há uma tendência crescente de pedidos de patentes nos últimos 5 anos, porém, a grande maioria das
Instituições Científicas e Tecnológicas - ICTs2 não possuem mais de 10 pedidos de patentes. As ICTs
depositantes se concentram na região sudeste, principalmente na Unicamp, que representa 26% do total de
depósitos. (SANTOS, TOLEDO e LOTUFO (Org.), 2009, p. 32)
Mesmo com a reforma do sistema de pós-graduação que possibilitou o aumento de produções
científicas no Brasil, a capacidade de transformar conhecimento científico em tecnologia continua baixa, fato
comprovado pelo número de patentes registradas, que não é proporcional a quantidade de produções.
(SANTOS, TOLEDO e LOTUFO (Org.), 2009, p. 47)

*
João Henrique Pickcius Celant: jcelant@gmail.com
1
“[...] núcleo ou órgão constituído por uma ou mais ICT com a finalidade de gerir sua política de inovação.”.
2
“[...] órgão ou entidade da administração pública que tenha por missão institucional, dentre outras,
executar atividades de pesquisa básica ou aplicada de caráter científico ou tecnológico [...]”.
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Em uma economia sólida, a inovação tecnológica resulta da criação de ciência de ponta que influencia
direta e indiretamente o setor produtivo por meio de setores de pesquisa e desenvolvimento, porém o modelo
de desenvolvimento adotado pelo Brasil nas últimas décadas não criou condições e estímulos para que as
empresas possuíssem tais setores. (MATIAS-PEREIRA e KRUGLIANSKAS, 2005)
A industrialização no Brasil ocorreu sem conexão com a política de C,T&I e em um momento de alto
grau de transnacionalização da economia, conseqüentemente, as empresas dificilmente optam pela ciência
local preferindo importar as tecnologias. Assim, a pesquisa está concentrada nas universidades, e não nas
empresas, que dificilmente possuem um setor de pesquisa e desenvolvimento. (SANTOS, TOLEDO e
LOTUFO (Org.), 2009, p. 48)
Os dados levantados pela Pesquisa da Inovação Tecnológica – PINTEC, em 2005, trouxeram que
somente 34,85% das empresas brasileiras registraram inovações. Apesar do baixo interesse, as indústrias
inovadoras faturam, em média, mais do que as indústrias comuns. (SANTOS, TOLEDO e LOTUFO (Org.),
2009, p. 50-51)
O maior desafio das empresas é o desenvolvimento de estratégias para financiar suas pesquisas, pois
os custos são altos, o que torna mais atrativo para as empresas importar tecnologias do que desenvolver
internamente. Outro problema na área financeira é a questão da proteção internacional, no mercado
globalizado atual é imprescindível que a patente se estenda a outros países, porém não há recursos
financeiros suficientes.
Na área de gestão de recurso humanos, há o problema da falta de funcionários fixos e qualificadas nos
NITs, devido a escassez de profissionais da área e a alta rotatividade dos mesmos devido muitos colaborarem
através de estágios ou de contrato temporário. (GARNIKA; TORKOMIAN, 2010)
Uma constante queixa dos autores envolvidos nas transferências de tecnologia é a lentidão dos
trâmites internos das universidades, há uma necessidade de sensibilizar os outros setores universitários para
que aja uma maior eficiência administrativa. Relata Leonardo Garnica e Ana Lúcia Torkomian (2010): “O
desafio é promover uma reestruturação processual e jurídica para os casos de comercialização da propriedade
intelectual, considerar alternativas para análise dos colegiados acadêmicos sobre esses processos
(amostragem, organização específica competente, prioridade no fluxo desses processos a seguir cronograma
pré-estabelecido).”.
A área do marketing deve ser melhor explorada, pois a identificação de parceiros empresariais
permitiria um maior apoio tanto para o licenciamento como para atividades de pesquisa e desenvolvimento
em conjunto. (GARNIKA; TORKOMIAN, 2010)
A realização mais profissional da mensuração econômica do capital financeiro e intelectual aplicado
da pesquisa e de seus resultados permitiria o avanço necessário ao desenvolvimento de metodologias
confiáveis e objetivas de suporte para as negociações.

4. Conclusão
Para que o país avance de forma consistente no campo tecnológico é necessário uma mudança
institucional, econômica e também cultural. Para que ocorra sua inserção bem sucedida nos novos padrões de
desenvolvimento, torna-se necessário uma aceleração dos processos que propiciem um ambiente inovador,
um ambiente integrado por centros de pesquisa e desenvolvimento, ambiente cultural aberto, recursos
humanos bem formados e organizações públicas e privadas flexíveis. Há a necessidade de uma efetiva
interação entre as esferas pública e privada, a comunidade científica e tecnológica e seus pesquisadores e
criadores.

Referências
BRASIL. Lei nº 10973, de 2 de dezembro de 2004. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/Lei/L10.973.htm. Acesso em 13 jul. 2010.

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patenteamento e dos fatores de dificuldade e de apoio à transferência de tecnologia no Estado de São Paulo.
Gestão & Produção, São Carlos, v. 16, n. 4, out./dez. 2009. Disponível em: <
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-530X2009000400011&lang=pt>. Acesso em
14 jul. 2010.

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ferramenta de apoio às políticas industrial e tecnológica do Brasil. RAE eletrônica, São Paulo, v. 4, n. 2,
jul./dez. 2005. Disponível em:

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

<http://repositorio.bce.unb.br/bitstream/10482/917/1/ARTIGO_GestaoInovacao.pdf>. Acesso em 13 jul.


2010.

SANTOS, Marli Elizabeth Ritter; TOLEDO, Patrícia Tavares Magalhães de; LOTUFO, Roberto de (Org.).
Transferência de Tecnologia: Esratégias para a estruturação e gestão de Núcleos de Inovação Tecnológica.
Campinas: Komedi, 2009.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Sociedade Civil e participação política nas democracias contemporâneas: uma abordagem

Vinícius Ramos Lanças1


Universidade Estadual de Londrina

1. Introdução
A pesquisa consiste em uma análise do papel da sociedade civil e da participação política nos Estados
democráticos de direito contemporâneos. Em uma realidade na qual o cidadão comum é cada vez mais
levado a se tornar um mero votante, a questão da participação política surge como um problema para a teoria
política. Para compreender tal problema, pretende-se analisar o papel do conceito de sociedade civil na teoria
de Habermas, apontando a forma como o autor a concebe, diferenciando-a do âmbito econômico e do
político, explicitando sua relação com a esfera pública e com as demandas dos cidadãos comuns.
Posteriormente, deve-se delimitar o papel que Cohen e Arato atribuem aos movimentos sociais que fariam
parte dessa sociedade civil. A partir então do diálogo estabelecido entre tais autores, a pesquisa pretende:
mostrar se e como a sociedade civil organizada pode exercer um papel ativo na ampliação da participação
política, ao canalizar demandas dos cidadãos comuns em formas de pressão sobre o sistema político; e
avaliar a capacidade dos movimentos sociais de levar a cabo a ampliação dos espaços democráticos que
deles é esperada.

2. Método
Numa primeira etapa, realizou-se uma revisão bibliográfica assim como a delimitação dos conceitos
de sociedade civil e esfera pública e seu uso nas obras de Habermas e Cohen e Arato. Nesse momento, o
aprofundamento na compreensão acerca de conceitos como esfera pública e participação política foi de
fundamental importância. Em seguida, foram feitas leituras preliminares e fichamentos da bibliografia
selecionada. Depois disso, ocorre uma sistematização dos textos lidos, que será apresentando em forma de
relatórios parciais da pesquisa. Por fim, passar-se-á à sistematização e organização de toda a bibliografia e
material estudado. O procedimento investigativo contará ainda com a participação em debates e seminários
sobre o tema ou ainda que remetam ao projeto de forma direta ou indireta, com auxílio da orientadora e do
grupo de pesquia ao qual essa pesquisa está vinculada, para o melhor esclarecimento do tema proposto..

3. Resultados e Discussão
A. Arato, J. Cohen e J. Habermas procuram construir, cada um a seu modo, uma teoria capaz de
abarcar a relação entre projetos de democratização, estruturas e dinâmicas da sociedade civil que seriam as
mais adequadas para a política democrática moderna. Diferente daquelas abordagens mais céticas, estes
autores, de maneira geral, entendem que o conceito de sociedade civil nomeia o principal espaço para a
expansão potencial das democracias sob os regimes democrático-liberais “realmente existentes”, embora
reconheçam que se trata de um terreno que estaria sendo ameaçado pela lógica dos mecanismos
administrativos e econômicos. Neste sentido, os movimentos e processos que têm emergido na sociedade
civil, hoje marcada pela apatia política e pelo declínio dos grandes projetos revolucionários de transformação
política, são compreendidos como uma aposta capaz de ampliar a participação política dos diferentes atores
e/ou grupos sociais e de gerar transformações a longo prazo nas sociedades contemporâneas.
O conceito de sociedade civil que este autores procuram formular abrangeria justamente os novos
atores sociais e suas demandas, em articulação com as novas identidades sociais, tendo como horizonte a
contribuição para a emergência de uma realidade mais livre e democrática. Para esta concepção, é de
fundamental importância, explicam os autores, assumir o modelo teórico tripartido de Habermas, de modo a
superar a antiga dicotomia entre Estado e sociedade, assumida por vertentes tanto do marxismo e quanto do
liberalismo, em que a sociedade civil é associada à esfera econômica (ou infra-estrutural) — divisão que,
segundo eles, representaria uma figura do pensamento do século XIX, não mais capaz de oferecer respostas
às questões contemporâneas (Cohen e Arato, 2000: 475).
Esta remissão à teoria habermasiana é levada a cabo por estes autores com a ressalva de que, apesar do
dualismo metodológico entre o mundo da vida e as lógicas sistêmicas do mercado e do Estado, o modelo
deve ser tomado enquanto tripartido. O mundo da vida, lócus de sociabilidade e de criação de consensos,
deve ser diferenciado das lógicas sistêmicas que operam segundo seus meios específicos. O meio do sistema
político é o poder hierarquicamente exercido, e sua lógica é a da reprodução desse poder, através dos
mecanismos existentes na sociedade política, ou seja, parlamentos, eleições, e distribuição de cargos. O meio

1
viniciuslancas@gmail.com
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do sistema econômico é o dinheiro, e sua lógica é a do lucro, ou seja, a reprodução do dinheiro através dos
mecanismos do mercado (Cohen e Arato, 2000: 481).
Esta diferenciação da sociedade civil tanto em relação à sociedade econômica quanto em relação à
sociedade política, implícita no raciocínio de autores como Cohen e Arato ou Habermas, sugere que esta
categoria deve de algum modo incluir ou fazer referência a todos os fenômenos da sociedade que não estão
vinculados de forma direta com o Estado e nem com a economia. Contudo, de acordo com Cohen e Arato
(2001:10), p. ex., este é o caso somente na medida em que o foco são as relações de associação conscientes.
Na verdade, a sociedade civil representaria uma dimensão do mundo sociológico de normas, papéis, práticas,
relacionamentos, competências, dependências e formas particulares de entender e ver o mundo a partir do
ponto de vista das construções de associações conscientes e da vida associativa.
Habermas, na construção de seu modelo social, procura também responder às exigências de uma teoria
crítica, na medida em que o conceito de emancipação funda-se no solo societário. De acordo com Sérgio
Costa (2006:23), a preocupação de Habermas com a integração social está vinculada à articulação entre a
comunicação voltada ao entendimento, que tem lugar no mundo da vida, e a legitimação política. É nessa
articulação que residiria o núcleo normativo da teoria habermasiana da democracia, pois o que torna as
normas vigentes legítimas é a sua conexão com as expectativas morais produzidas e reproduzidas no âmbito
da integração social não sistêmica, ou seja, na sociedade civil e no mundo da vida.
Com efeito, ao relacionar legitimação e expectativas morais de uma comunidade política soberana,
Habermas vincula a emancipação diretamente à esfera societária. Assim, nesse raciocínio, a sociedade civil
compõe-se de movimentos, organizações e associações, os quais são responsáveis por captar os ecos dos
problemas sociais que ressoam nas esferas privadas, por condensá-los e transmiti-los, a seguir, para a esfera
pública política. É no núcleo da sociedade civil, portanto, que seria formada uma espécie de associação
responsável por canalizar os discursos capazes de solucionar problemas, transformando-os em assunto de
interesse geral no quadro de esferas públicas (Habermas, 2003: 99). De acordo com Habermas, o poder
legítimo produz fluxos que podem ser entendidos da seguinte forma: primeiro surge um problema, uma
reivindicação ou uma demanda; algo na sociedade é problematizado por algum cidadão e trazido à tona na
esfera pública. A origem dessa demanda pode variar, podendo ser a necessidade de novos direitos ou
garantias por parte do Estado, ou ser fruto de uma ação estatal questionada como injusta ou ilegítima, ou
ainda resultar dos efeitos das relações econômicas, entre outras possibilidades.
A função da esfera pública de captar e tematizar os problemas da sociedade se torna possível quando
ela se forma a partir dos contextos comunicacionais das pessoas virtualmente atingidas, explica Habermas.
Isso significa que uma norma só é legitima quando elaborada em condições em que todos os que são afetados
por ela concordariam enquanto participantes racionais engajados em um agir discursivo. Os problemas que
surgem na esfera pública transparecem pela pressão existente diante do sofrimento pessoal dessas pessoas
atingidas, e sua comunicação e linguagem se expressam na esfera pública em seus muitos aspectos, religioso,
literário, porém, sobretudo, político. De acordo com Habermas, “Afora a religião, a arte e a literatura,
somente as esferas da vida privada dispõem de uma linguagem existencial na qual é possível equilibrar em
nível de história de vida, os problemas gerados pela sociedade”. (Habermas, 1997: 97).
A esfera pública, para Habermas, deve ser pensada como uma estrutura comunicacional do agir
orientado pelo entendimento, vinculada ao espaço social gerado no agir comunicativo e desvinculada das
funções e conteúdos da comunicação cotidiana. Ela pode ser entendida também como uma rede para a
comunicação de conteúdos, tomadas de posição e opinião, em que os fluxos comunicacionais são filtrados e
sintetizados, gerando opiniões públicas sobre temas específicos.
A esfera pública não deve ser entendida, no entanto, avisa ele, à luz de conceitos tradicionais da
sociologia, como instituição ou organização, nem constitui um sistema. Pois, ainda que fossem delimitados
seus limites internos, seus limites externos constituem horizontes abertos, permeáveis e deslocáveis. A esfera
pública, continua ele, reproduz-se através do agir comunicativo, da linguagem comum, acessível a todos os
cidadãos, evitando os problemas decorrentes do diálogo entre gramáticas especializadas, existentes nas
muitas esferas das sociedades complexas; ou seja, ainda que especialistas expressem suas opiniões, esses são
obrigados a traduzi-las ao público em geral, que por definição, é leigo. (Habermas, 1997: 92)
Os cidadãos, agindo comunicativamente, se auxiliam mutuamente através de interpretações
negociadas cooperativamente, em uma situação distinta da dos atores que agem de forma estratégica dentro
das lógicas sistêmicas (em busca do poder político ou do lucro). O espaço público constituído através da
linguagem é aberto então para potenciais parceiros do diálogo. Tal espaço de fala se abre através das relações
interpessoais surgidas quando os participantes tomam posições em relação aos outros. Varias metáforas
arquitetônicas são utilizadas na descrição desse espaço público, onde a esfera pública se manifesta e onde a
opinião pública pode se originar, como foros, arenas, palcos. Mas tais expressões ainda levam a pensar
espaços concretos, que são em muita medida constitutivos desse locus comunicacional, mas não esgotam seu

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

significado. Assim, quanto mais distante da necessidade da presença física, através das muitas formas de
mídia, mais clara se torna a passagem da estrutura das interações simples para a generalização do conceito de
esfera pública. (Habermas, 1997: 93)
Uma vez que uma demanda é trazida à tona na rede comunicacional da esfera pública, ela deve ser
amplamente discutida, através dos muitos meios e canais comunicativos existentes, para que se prove
realmente relevante para os cidadãos em geral. É preciso então uma argumentação visando o entendimento, a
fim de que a questão levantada por alguns cidadãos se mostre relevante a todos ou ao menos a uma grande
maioria de cidadãos que seriam afetados por tal questão de ordem pública. Especialistas, por exemplo,
podem ser chamados para esclarecer o público em geral acerca da importância da discussão. Em Habermas,
a esfera pública política é tratada como uma estrutura comunicacional enraizada no mundo da vida por meio
da sociedade civil. Neste sentido, a esfera pública é um sistema de alarme que possui sensores não
especializados e é sensível no âmbito de toda a sociedade. A partir da perspectiva de uma teoria da
democracia, a esfera pública deveria reforçar a pressão exercida pelos problemas; isso quer dizer que deve ir
além de identificá-los, tematizá-los, problematizá-los e dramatizá-los de maneira convincente e eficaz, a
ponto de serem assumidos e elaborados pelo complexo parlamentar.
A influência gerada nesse âmbito tem que passar pelos filtros do processo institucional de formação
da vontade democrática, ou seja, a soberania popular não pode simplesmente se impor por processos
discursivos informais e deve se infiltrar no poder de forma autorizada, através das vias formais da
democracia. E, finalmente, o poder político nas sociedades altamente diferenciadas possui um alcance
limitado, e apesar de ser “o destinatário de todos os problemas de integração não resolvidos” ele tem que
respeitar o modo característico dos outros domínios existentes nas complexas sociedades modernas,
garantidos inclusive juridicamente.
Através das ações da sociedade civil organizada, que podem variar desde passeatas e manifestações
até greves e boicotes, é exercida uma pressão sobre os parlamentares, que são levados a discutir a questão e a
emitir uma resposta ao público eleitor, que estaria supostamente descontente com a atual situação acerca da
questão discutida na esfera pública. No modelo ideal, o parlamento é sensível à opinião pública formada nas
redes comunicacionais da esfera pública e expressa pelas ações da sociedade civil e apresenta uma solução
ou uma resolução legítima sobre a questão levantada, “solucionando” então a situação para os cidadãos
envolvidos em sua problematização. Isso indica que, por meio de um processo (algumas vezes lento)
metaforizado através de um sistema de comportas, abre-se um canal entre o poder politicamente exercido e o
cidadão comum e seus problemas de ordem muitas vezes cotidiana, ampliando a participação democrática
em questões publicamente relevantes.
No entanto, para além do modelo ideal, algumas complicações podem ser encontradas nesse
processo, que constitui, nos termos de Habermas, o fluxo legítimo do poder. Esse trabalho se propõe assim a
problematizar essas questões que vêm à tona diante de uma análise da sociedade civil nas sociedades
contemporâneas, através do instrumental teórico aqui utilizado. Para tanto, se fará, primeiro, uma
delimitação acerca das diferenças e semelhanças entre a concepção de sociedade civil presente no modelo de
democracia deliberativa de Habermas e na teoria da sociedade civil de Cohen e Arato.
Cohen e Arato afirmam que os novos movimentos sociais tomam os modelos culturais, as normas e
as instituições da sociedade civil como elemento principal no conflito social. A influência nas estruturas
econômicas e políticas também têm um papel importante. Alguns movimentos sociais contemporâneos,
como os ambientalistas na Alemanha, afirmam os autores, chegam até mesmo a constituir partidos, como
estratégia de influência no sistema político. No entanto, eles não devem perder o contato com os ativistas que
se encontram fora do sistema político. Segundo os autores, os movimentos sociais contemporâneos operam
através de uma lógica dual, agindo de forma defensiva e ofensiva. (Cohen e Arato, 2000: 586)
Os autores se propõem a complementar, em alguns aspectos, a teoria de Habermas. Inicialmente, eles
tomam a sociedade civil, garantida pelos direitos, como uma articulação institucional do mundo da vida; em
seguida afirmam que há nas sociedades política e econômica “receptores” para a influência da sociedade
civil. Concluem que os movimentos sociais contemporâneos operam nos dois lados da divisão entre mundo
da vida e sistemas, e oferecem uma interpretação sintética da ação coletiva, que segundo eles pode ser
“ofensiva” e “defensiva”. (Cohen e Arato, 2000: 592)
O aspecto defensivo dos movimentos sociais contemporâneos consiste em conservar e desenvolver a
infra-estrutura comunicacional do mundo da vida, abrangendo os esforços no sentido de reinterpretação e
desenvolvimento de formas associativas igualitárias e democráticas. Nesse âmbito, aparecem as lutas por
mudanças institucionais dentro da sociedade civil, que correspondem ao surgimento de novas identidades,
normas e significados. O aspecto ofensivo, por sua vez, se dirige às sociedades política e econômica,
enquanto campos de mediação entre a sociedade civil e os subsistemas político e econômico. Isso implica o
desenvolvimento de organizações capazes de exercer pressão. Nesse ponto, os modos estratégicos e

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

instrumentais de ação coletiva são fundamentais, porque a luta não implica apenas reconhecimento
monetário ou político, mas influência sobre os que se encontram dentro dos subsistemas. Os elementos dos
movimentos sociais dirigidos à sociedade política articulam então projetos de reforma institucional auto-
limitada e democrática, que visam ampliar e democratizar as estruturas já existentes, afirmam os autores.
(Cohen e Arato, 2000: 593)
A partir de uma articulação desses dois aspectos, defensivo e ofensivo, é que Cohen e Arato pensam
os movimentos sociais da sociedade civil. Na medida em que tais movimentos conseguem trazer demandas
do mundo da vida para a agenda política, há uma espécie de abertura dos canais democráticos e se estabelece
uma ressonância entre a lei positiva e o cidadão comum. A realidade das democracias contemporâneas, no
entanto, é muito mais dinâmica e poucas vezes o modelo ideal é realmente verificado. Há formas de
questionamento e pressão pela legitimidade das leis, como a desobediência civil, cogitada pelos autores em
casos do ordenamento político se mostrar insensível às demandas dos seus cidadãos. Assim, é possível,
através das ações dos movimentos da sociedade civil, uma ampliação da participação política, que articule
com os mecanismos pelos quais suas demandas são levadas à esfera pública e ao sistema político. Porém, há
ainda questões em aberto, quanto aos mecanismos de controle e quanto as garantias contra a influência
sistêmica do mercado e da política, por exemplo, que tornam complexa qualquer afirmação definitiva acerca
de um papel emancipador da sociedade civil nas democracias contemporâneas.

4. Conclusão
As conclusões são ainda parciais, pois a pesquisa se encontra em andamento. Até o presente momento,
estão claros os potenciais de transformação e ampliação democrática da sociedade civil e dos novos
movimentos sociais. No entanto, existem ainda algumas questões a serem respondidas no decorrer dessa
pesquisa, como: quais garantias devem existir para que tais movimentos se mantenham em contato com suas
bases (o cidadão comum) e não sejam cooptados pelos agentes das lógicas sistêmicas? Em outros termos,
como evitar que tais movimentos sejam instrumentalizados para o beneficio de corporações ou de partidos
políticos? Como garantir que a ação da grande mídia não se coloque como um obstáculo no momento de
trazer à tona na esfera pública as demandas dos cidadãos comuns? Em suma, esse trabalho pretende avaliar a
forma como os autores trabalhados propõem a ampliação da participação nas democracias contemporâneas; e
que garantias eles oferecem para que ela realmente aconteça.

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Agradecimentos
Agradeço à minha amiga Raíssa Wihby.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE: UMA ABORDAGEM SOBRE A


RESPONSABILIDADE CIVIL NA ADVOCACIA E AS CONSEQÜÊNCIAS CAUSADAS À
VÍTIMA E AO SEU PROCURADOR PELA CHANCE PERDIDA.

Hanna Antunes David Alves Martins¹*; Alzira Eça de Argolo Faustino²


FADIVALE

1. Introdução
A Teoria da Perda de uma Chance é assunto relativamente novo no ordenamento jurídico brasileiro.
Na advocacia, perder uma chance, não significa a perda de uma vantagem, pois o resultado final não é
certeza, significa que alguém está sendo privado de ter uma oportunidade. E foi a análise de casos concretos,
que levou a entender que a ação ou omissão do advogado, que resultou a qualquer prejuízo, seria passível de
indenização.

2. Metodologia
Quanto aos objetivos trata-se de pesquisa exploratória e explicativa, realizada por meio dos
procedimentos metodológicos da pesquisa bibliográfica.

3. Resultados
Ao firmar contrato, constituindo uma relação cliente-profissional, o advogado passa a ser responsável
por determinada causa e assume não a obrigação de resultado, mas de meio. Assim, é necessário que o
advogado faça o acompanhamento processual adequado, observe os prazos, cumpra as imposições que
possam surgir no decorrer do mesmo, caso contrário pode levar a causa ao insucesso. Nossos estudos estão
voltados à perca de qualquer chance para se obter um benefício ou evitar um prejuízo, tida como dano
emergente. Ao fixar a responsabilidade civil do advogado, deve-se examinar a repercussão da omissão ou do
ato praticado e sua influência no resultado da demanda. Diante desta análise, a responsabilidade civil pelo
malogro da causa é do procurador a quem foi confiado o encargo, por não ter cumprido sua obrigação de
meio. Contudo, a vítima, neste contexto, o cliente, tem o direito a ver o seu prejuízo reparado por aquele que
lhe deu causa, sendo passível de indenização, não o dano, mas a chance perdida. E é baseando-se no valor
econômico desta chance e em suas consequências, levando em consideração critérios de probabilidade que
deverá ser fixado o valor a ser pago a título de indenização.

4. Conclusão
Na advocacia exige-se capacidade e responsabilidade. Assim, na perda de uma chance, o procurador
responde, perante seu cliente pela má prestação de seus serviços. Dano este, passível de indenização por ele
ter perdido uma oportunidade, não necessariamente de alcançar um resultado favorável, mas de tentar
alcançar.

*
Hanna Antunes David Alves Martins: hanna.david@hotmail.com
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A AFINAÇÃO JUSTA E PITAGÓRICA NOS TRATADOS DO PERÍODO


RENASCENTISTA E SEU USO E INTERPRETAÇÃO NA MÚSICA CORAL

Erico Bondezan1*; Dr.Marcus Alessi Bittencourt2


1
(PIC/CNPq-UEM)
2
(UEM – orientador)

1. Introdução
O período renascentista foi muito rico e importante para a música, principalmente para a música
vocal. A variedade das composições e estilos daquela época foi a base para a música dos períodos
subsequentes na história da música. Por se tratar de um período antigo, não raramente esbarra-se em
problemas no que diz respeito a interpretação de sua música. Vários conceitos da época foram e ainda são
estudados para propôr soluções que facilitem o acesso à aquele repertório e, mais ainda, que possibilitem
uma interpretação mais fiel e próxima do que os compositores e músicos antigos tinham em mente quando
executavam suas músicas. Ao se deparar com o estudo do período renascentista os quesitos que mais saltam
aos olhos são as teorias das prolações e os sistemas de afinação. O presente trabalho focalizou na questão dos
sistemas de afinação bem como suas implicações em algumas outras áreas como a evolução da harmonia e o
tratamento do texto. O trabalho primeiramente realizou uma breve definição dos conceitos de série
harmônica e os principais sistemas de afinação, descrevendo quais as semelhanças e diferenças entre eles.
Depois fez a relação entre os sistemas e a evolução da harmonia identificando quais os detalhes que
influenciaram a preferência dos compositores por este ou aquele sistema. Na comparação dos sistemas de
afinação estudados, percebeu-se algumas incompatibilidades para as quais apontamos possíveis soluções.
Também realizamos ainda algumas experiências para ilustrar os conceitos trabalhados no trabalho e assim
comprovar algumas hipóteses, principalmente com relação ao canto.
A seguir, incluo algumas definições importantes:

1.1 Afinação Pitagórica


A Afinação pitagórica é um tipo de afinação justa de limite 3 (ver BENSON 2006 e MENEZES
2004) que considera como sendo afinados os três primeiros intervalos entre os quatro primeiros sons da série
harmônica. Sendo eles a oitava justa, a quinta justa e a quarta justa natural. Destes, a quinta justa natural é o
mais saliente e por isso configura-se a base para a construção da escala diatônica.

1.2 Afinação Justa


A Afinação justa de limite 5 (ver BENSON 2006 e MENEZES 2004) considera como sendo afinados
os 5 intervalos gerados entre os primeiros 6 sons da série harmônica. Sendo eles a quinta justa, a quarta justa,
a terça maior e a terça menor, além é claro da oitava justa. As divergências entre este sistema e o Pitagórico
encontram-se nos intervalos de terça maior e menor e sexta maior e menor, isto devido à escolha do limite.

1.3 Afinação e Harmonia


Os sistemas de afinação foram importantíssimos no desenvolvimento da harmonia não só do período
renascentista mas também para o decorrer da história da música. Isto aconteceu pois a escolha do sistema é
que determina quais os intervalos que são consonantes e os que são dissonantes (ver WIENPAHL 1959,
1960 e KAUFMANN 1963). Este conceito também está ligado com a interpretação do texto através dos
elementos musicais, tais como cromatismos (ver ALVES 1989). Entre os sistemas de afinação existem
incompatibilidades entre alguns intervalos e isto é a base para que a oitava seja dividida em intervalos
menores que um semitom. Estes são interessante nos ajustes da afinação conforme o propósito e o contexto
em questão.

2. Materiais e Métodos
A pesquisa foi desenvolvida a partir de leituras e fichamentos de textos teóricos históricos de autores
dos séculos XV, XVI e XVII (tais como VICENTINO 1555 e ZARLINO 1558 e 1571), comentários sobre
estes textos em artigos musicológicos modernos (tais como ALVES 1989, WIENPAHL 1959 e 1960 e
KAUFMANN 1963), além de outros (MENEZES 2004 e BENSON 2006). Após, foram criadas experiências
psicoacústicas para aferir a percepção intuitiva de afinação de músicos. Estas experiências foram montadas e

* ericobondezan@hotmail.com
482
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

conduzidas no Laboratório de Pesquisa e Produção Sonora (LAPPSO) da Universidade Estadual de Maringá


por meio do software Pure Data (PUCKETTE 1996).

3. Resultados e Discussão
A pesquisa propôs algumas experiências usando o programa Pure Data (PUCKETTE 1996) para
medir de forma estatística como os músicos ouvem e classificam os intervalos atualmente. O principal teste
se deu com músicos ouvindo um som fundamental sintetizado e, a partir deste, o indivíduo testado arrastava
uma alavanca com o mouse do computador, reafinando e medindo um intervalo de terça maior tocado
também com um som sintetizado. Os testes mostraram que nos sons sintetizados os batimentos entre os
harmônicos dos dois sons são bem perceptíveis quando o intervalo não está afinado de forma justa. Então o
músico reconhece o intervalo como afinado baseado no conforto para o ouvido, ou seja, procurando o
desaparecimento dos batimentos. Através de medições no programa, percebe-se que o intervalo preferido
pelos músicos testados aproxima-se sempre mais da afinação justa de limite 5.

4. Conclusão
A voz naturalmente sofre algumas variações, o que já era conhecido desde a Renascença, e por este
motivo é impossível uma afinação totalmente perfeita. A voz sempre sofre variações contínuas em seu
espectro tímbrico, impossibilitando uma afinação precisa. Apesar disso, os cantores procurarão ainda assim
uma sensação de conforto para o ouvido. Levando em consideração a variação da voz, o cérebro reconhece
padrões de afinação, ou seja, uma área de afinação, e qualquer variação dentro dessa área é reconhecida
ainda como sendo dentro de um modelo de afinação justo, confirmando as opiniões dos teóricos
renascentistas estudados.

Referências

ALVES, Bill. The Just Intonation System of Nicola Vicentino. Journal of the Just Intonation Network, v. 5,
n.2, p. 8-13, 1989.
BENSON, David J. Music: A Mathematical Offering. Cambridge: Cambridge University Press, 2006.
KAUFMANN, Henry W.. Vicentino and the Greek Genera. Journal of the American Musicological Society,
v. 6, n. 3, p. 325-346, 1963.
MENEZES, Flo. A acústica musical em palavras e sons. São Paulo: Ateliê Editorial, 2004.
PUCKETTE, M.. "Pure Data: another integrated computer music environment". In: International Computer
Music Conference, 1996, San Francisco, EUA, Proceedings, ICMC, International Computer Music
Association, 1996, pp. 269-272.
VICENTINO, Nicola. L'antica musica ridotta alla moderna prattica – Ancient Music Adapted to Modern
Practice. New Haven: Yale University Press, 1996.(tradução do original de 1555).
WIENPAHL. Robert W.. The Evolutionary Significance of 15th CenturyCadential Formulae. Journal of
Music Theory. v. 4, n. 2, p. 131-152, 1960.
WIENPAHL. Robert W.. Zarlino, the Senario and Tonality. Journal of the American Musicological Society,
v. 12, n. 1, p. 27-41, 1959.
ZARLINO, Gioseffo. Dimostrationi harmoniche. New York: Broude Brothers,1965 (reimpressão do original
de 1558).
ZARLINO, Gioseffo. Le istitutioni harmoniche. New York: Broude Brothers,1965 (reimpressão do original
de 1571).

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A ANÁLISE DO DISCURSO APLICADA À VIVÊNCIAS LITERÁRIAS DE JOVENS:


PERSPECTIVAS TEÓRICAS BAKHTINIANAS

Ricardo Sombrio1*; Ângela Cristina di Palma Back2


1
Universidade do Extremo Sul Catarinense
2
Universidade do Extremo Sul Catarinense

1. Introdução
O pioneirismo do russo Mikhail Bakhtin (1895 – 1975) na prática da Análise do Discurso,
doravante denominada AD, apesar de muitas vezes desconhecido, é algo a ser analisado por haver
inovado o estudo da filosofia da linguagem e abarcar o social nas questões dialógicas, o que mais
tarde servirá de apoio para a prática da AD. Muitos dos aspectos abordados pela AD nasceram a
partir de Bakhtin (1976,1999, 2003) que utilizou a dialética marxista a fim de problematizar
questões no entorno da linguagem, cujo desdobramento foi uma filosofia da linguagem colada no
social, daí ter trabalhado com parâmetros que viessem a problematizar o contexto de enunciação,
lidando com as questões da alteridade (o outro no discurso), entoação (maneiras diferentes de se
pronunciar o enunciado), dentre outras categorias cujos aspectos resultam de uma visão dialógica da
linguagem. Para Bakhtin, vale ressaltar, cada enunciado é uma resposta a enunciados anteriores, ou
seja, o discurso é social, estamos sempre apenas ecoando vozes que ressoaram antes de nós, o que
pode ser constatado pela citação seguinte.
Cada enunciado deve ser visto antes de tudo como uma “resposta” aos enunciados
precedentes de um determinado campo: ele os rejeita, confirma, completa, baseia-se neles,
subentende-os como conhecidos, de certo modo os leva em conta. Porque o enunciado
ocupa uma posição definida em uma dada esfera de comunicação, em uma dada questão,
em um dado assunto, etc. é impossível alguém definir sua posição sem correlacioná-las com
outras posições. Por isso, cada enunciado é pleno de variadas atitudes responsivas a outros
enunciados, de outra esfera de comunicação discursiva. (Bakhtin, 2003, p. 297)

Em princípio, parece óbvio que a AD se ocupa do discurso, mas, muitas vezes, torna-se um
tanto abstrato a noção de „discurso‟ trabalhada pela AD. Partindo da perspectiva da AD, o discurso
não se limita a mero amontoado de palavras, proferidas oralmente ou por escrito, pois ao analisá-lo
dessa maneira, focalizar-se-ia apenas a forma e a estrutura correspondente dos gêneros. A AD vai
buscar sua noção de discurso nas relações de sentido que esse enunciado provoca, portanto a
mensagem é, muitas vezes, secundária, de modo que o discursante, ouvinte, mensagem e contexto
social de enunciação possuem importância igual, fazendo com que a correlação entre todos
elementos resultem no discurso produzido que, segundo Pêcheux é “efeito de sentidos entre
interlocutores” (apud Orlandi, 2003, p. 21)
Por estudar um objeto tão comum do cotidiano das pessoas - a linguagem - a AD, com base
nos postulados teóricos de que parte, tem proporcionado um modelo de análise bastante difundido
nos mais variados campos de estudo. A AD pode forjar-se e transpor fronteiras muito além da
linguística e estudar gêneros científicos, publicitários, enfim, de infinitas áreas do conhecimento.
O que torna a prática da AD mais interessante é a profusão de teorias que a circundam, de
modo a compô-las, ao abarcar os preceitos e conceitos da teoria dialógica de Mikhail Bakhtin. Vale
destacar que, embora a discussão bakhtiniana focalize a linguagem, esse viés não pode ser
confundido com o que a linguística tradicionalmente vinha investigando, ou seja, segundo Orlandi,
“A AD não trabalha, como na lingüística, com a língua fechada nela mesma, mas com o discurso
que é um objeto sócio-histórico em que o lingüístico intervém como pressuposto (2003, p.16)”,
sendo assim “O analista de discurso relaciona a linguagem à sua exterioridade.” (2003, p. 16), visto
dessa forma, a língua é um pretexto para estudos que vão além das palavras dando um enfoque
social e histórico, contrapondo-se às teorias de análise linguística mais tradicionais, como a Análise

*
Ricardo Sombrio: kadosjs2002@yahoo.com.br
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

de Conteúdo, por exemplo, que procura o sentido no texto, enquanto que a AD procura o sentido na
inter-relação entre interlocutores e contexto social. Ainda segundo Orlandi (2003, p. 17), os
questionamentos dos quais se valem a Análise de Conteúdo centram-se no que o texto quer dizer,
enquanto que a AD em como este texto significa.

2. Método
Neste artigo serão aplicados os conceitos que são a base da AD nas respostas dadas por
alunos de 8º e 9º anos da rede municipal de ensino de Criciúma a entrevistas semiestruturadas
referentes às suas vivências em leitura literária. Em função da discussão da sessão precedente, a AD
se apresenta como a mais propícia à análise dos dados recolhidos nessa situação, pois contempla o
contexto social no qual o aluno está inserido. Nossa intenção é levantar dados que diagnostiquem de
que forma nossos alunos vêm sendo influenciados nas suas decisões quanto às escolhas literárias.
Serão levadas em conta instituições como escola e família, bem como todo e qualquer tipo de
interação seja ela humana ou tecnológica que venha a contribuir para a formação literária do jovem.
A preocupação com esse tema surgiu de uma questão prática, ou seja, da constatação do
descaso que a leitura, principalmente de obras literárias, vem sofrendo por parte dos jovens.
Também é facilmente observável que, no começo da trajetória escolar, as crianças se interessem
muito por narrativas, gostem tanto de ouvir quanto de contar histórias, mas, com o passar dos anos,
esse interesse cai drasticamente. Por essa razão, escolhemos os últimos anos do Ensino
Fundamental, pois nesse período acontece o problema da diminuição do interesse literário e,
também, o que se soma ao fato de os alunos dessa faixa etária teoricamente terem mais facilidade
para abstrair os conceitos que serão apresentados nas perguntas, bem como poderem fazer um juízo
de valor mais aprofundado de suas situações frente à leitura.
Portanto, com base no exposto, serão aplicados 3 blocos de perguntas: um que centrará nas
vivências de leitura na infância, outro enfocará as preferências de leitura deles e, por fim, outro no
que eles leem na escola bem como eles se posicionam frente a essas leituras escolares.

3. Resultados e Discussão
Não se espera dessa pesquisa uma solução para todos os problemas com leitura no Brasil, sabemos que
se trata de um esforço hercúleo, mas pretende-se uma problematização que nos oriente para o contexto que
se apresenta. É visto que a escola está preparada para receber a criança com um ambiente acolhedor nos
seguimentos de Educação Infantil e primeiros anos do Ensino Fundamental, mas que há um vale de distância
entre a linguagem escolar e a do jovem, por essa razão me proponho a ouvir o jovem, saber de sua própria
voz o que ele pensa sobre essa problemática. A escolha dos 3 blocos com temas diferentes visa a sistematizar
os pontos centrais de análise: com o primeiro bloco pretende-se confirmar a hipótese de que o ambiente
infantil é mais favorável à leitura; o segundo para tentar entender quais os mecanismos de escolhas literárias
dos jovens; e o terceiro para problematizar a escola, de que forma o professor ainda pode ser considerado o
culpado para a descrença do jovem na literatura, no sentido de tentar levantar possíveis formas de se
trabalhar a literatura na escola a partir da visão do principal interessado, o aluno.

4. Conclusão
A leitura é presença constante em debates sobre educação, seu papel no processo ensino-aprendizagem
não se resume somente às aulas de Língua Portuguesa. Já se sabe de seu imprescindível papel para o tão
esperado sucesso escolar. Em virtude dessa realidade, essa pesquisa existe, pois parte-se da crença de que é
papel dos meios acadêmicos visar a escola, tentar aplicar as teorias em situações reais com vistas a contribuir
para os processos de ensino-aprendizagem. Pensando dessa maneira tentaremos adentrar a escola e semear a
ideia da afirmação da leitura literária dentro do espaço escolar, ele que, na maioria dos casos, constitui-se
como o único lugar onde o jovem tem a oportunidade de vivenciar a literatura.

Referências

BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. 4.ed. São Paulo, SP: Martins Fontes,
2003.

_______________. VOLOSHINOV, V. N. Marxismo e filosofia da linguagem. Trad. Michel Lauhd e Yara


Frateschi Vieira. 9. Ed. São Paulo, SP: Hucitec, 1999.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

______________; VOLOSHINOV, V. N. Discurso na vida e discurso na arte. Tradução inédita de


Cristóvão Tezza do artigo “Discourse in Life and Discourse in Art”, apêndice in Voloshinov, V. N.
Freudianism: a Marxist critique. New York: Academic Press, 1976.

ORLANDI, Eni Puccineli. Análise de Disurso: princípios e procedimentos. Campinas, SP : Pontes, 5. Ed,
2003.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

A AVALIATIVIDADE EM TEXTO PUBLICITÁRIO – UM ESTUDO DAS ESTRATÉGIAS


PERSUASIVAS

Daniela Leite Rodrigues*; Sara Regina Scotta Cabral


Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução
A propaganda, por ser um gênero discursivo que integra estratégias linguísticas e visuais visando à
persuasão de um público-alvo idealizado, apresenta elementos passíveis de análise, tanto linguística quanto
crítica. Nesse sentido, apresenta-se uma proposta de estudo em comunicação visual, tendo em vista o
aprimoramento das práticas de leitura discursiva e questionatória, e ressaltando sobretudo o caráter social do
discurso midiático.

2. Métodos
O presente trabalho objetiva examinar os elementos verbais e não verbais presentes na propaganda Eu
deixo o mundo mais pink ([1] Revista Capricho, nov./2009).

Fig. 1 Página da Revista Capricho, edição de nov./2009.

Para o estudo dos aspectos visuais, toma-se como base os conceitos da multimodalidade de [2] Kress e
van Leeuwen (1996) e, por meio desses, levou-se em consideração o layout da página, a disposição das
imagens, o que está sendo retratado e que cores se sobressaem. Visou-se, também, a identificar as avaliações
atitudinais presentes no texto verbal e na construção do sentido da propaganda como um todo. Para tanto,
foram utilizados os pressupostos teóricos da Gramática Sistêmico-Funcional de [3] Halliday e, sobretudo, [4]
a Teoria da Avaliatividade (MARTIN e WHITE, 2005).

3. Resultados e Discussão
Constatou-se, no corpus, em relação às instâncias avaliativas: (1) no nível do texto verbal, destaca-se o
julgamento por estima social; (2) no confronto do texto verbal com o layout da propaganda, prevalecem os
valores de apreciação. A avaliatividade, nessa propaganda, constitui-se, segundo a análise, de uma inter-
relação entre o texto verbal e o não verbal. A pequena narrativa, utilizada pelo publicitário como estratégia
persuasiva, lança mão do julgamento por estima social para despertar nas leitoras uma mudança de atitude.

*
E-mail para contato: danielaltrdrgs@gmail.com
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Em contrapartida, a composição visual, em um sentido mais amplo, aponta para uma apreciação estética,
uma vez que a disposição dos elementos na página e as cores refletem uma preocupação com a imagem,
destacando, sobretudo, um estilo de vestir e de agir a ser assimilado pelas leitoras. Dessa forma, a
publicidade Eu deixo o mundo mais pink utiliza o apelo à estética (roupas, cabelo, maquiagem, atitude) para
persuadir a leitora a melhorar, com pequenos gestos, o meio social em que vive.

4. Conclusão
Foi possível observar, com base no estudo realizado, que o sentido da propaganda selecionada está
sustentado pela conjunção dos valores de julgamento por estima social e de apreciação. Contudo, a
valorização estética na composição visual, o estilo de vestir e de agir, sobrepõe-se à ideia da proposta da
campanha – melhorar o mundo por meio de ações sociais.
O gênero publicitário, como se sabe, faz uso de estratégias persuasivas que possibilitam evidenciar as
ideologias e práticas sociais que o permeiam. É nesse sentido que o discurso publicitário mostra-se relevante
para as práticas de ensino, pois torna possível que as competências de leitura sejam trabalhadas em vista da
interação entre as esferas enunciativas presentes no texto – contexto-autor-texto-leitor.

Referências
[1] REVISTA CAPRICHO. São Paulo: Abril, ed. 1084, nov. 2009.
[2] KRESS, G.; VAN LEEUWEN, T. Reading images: the grammar of the design visual. London:
Routledge,1996.
[3] HALLIDAY, M. A. K. An Introduction to functional grammar. 2.ed. London: Rouledge, 1994.
[4] MARTIN, J. R.; WHITE, P. The language of evaluation: appraisal in English. New York: Palgrave,
2005.

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A BUSCA DA ORGANICIDADE DO ATOR EM CENA


NA CONSTRUÇÃO DE UM ESPETÁCULO-SOLO

André Galarça1*; Beatriz Maria Pippi Quintanilha2


1
Universidade Federal de Santa Maria
2
Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução
Essa pesquisa se refere à realização de um espetáculo cênico solo e estudo de seus elementos
constituintes no curso de Artes Cênicas da Universidade Federal de Santa Maria (RS) e pressupõe um estudo
voltado para a interpretação teatral, identificando nesta um processo composto por etapas interdependentes.
Dentre essas etapas, encontra-se a busca pela organicidade do ator e de uma poética de cena para criação de
um espetáculo teatral a partir das preposições dos encenadores russos Konstantin Stanislávski (1863-1938) e
Vsevold Meyerhold (1874-1940), e também o desenvolvimento de um treinamento pessoal, visando a maior
autonomia criativa do ator, favorecendo o domínio do artista sobre o seu fazer e ampliação de suas
capacidades expressivas. Dessa forma, o intuito está em obter um “corpo orgânico” para a cena a partir das
preposições teóricas e práticas dos encenadores anteriormente citados. Cabe ressaltar a fundamental presença
e utilização de princípios de trabalho desenvolvidos por Stanislávski e Meyerhold como mote à criação.
Stanislávski enfatiza a importância de um corpo orgânico para o ator na expressão de sua arte. Para
Meyerhold o corpo do ator revela a capacidade comunicativa dos gestos e expressões, ou seja, a linguagem
corporal. Assim, buscar-se-á a comunhão entre a organicidade corporal proposta por Stanislávski, aliada às
proposições técnicas de Meyerhold para o mesmo fim. Também será realizada uma pesquisa acerca do autor
Gabriel García Márquez, através de seu conto intitulado O afogado mais bonito do mundo (1972), escolhido
como referência dramatúrgica nesta criação cênica.
Nesse sentido, buscou-se o aprofundamento teórico e prático relativo ao treinamento do ator sobre si
mesmo a partir das experiências pessoais, vivenciadas na academia, aliadas à utilização de princípios de
trabalho dos encenadores russos Stanislávski e Meyerhold. Permearam a pesquisa os princípios das Leis
Orgânicas de Ação propostas por Stanislávski e da Biomecânica, incluindo os Dezesseis Estudos,
desenvolvidos por Meyerhold, todos no que se refere à presença e vida do ator em cena através de seu corpo
e expressão. A opção pelo trabalho de Stanislávski se deu, principalmente, pela experimentação dos
princípios básicos e orgânicos da criação, como a ação, os objetivos, as circunstâncias dadas, o senso de
verdade, a atenção, a emoção, entre outros. Todos estes elementos indivisíveis e necessários para a criação
cênica, já que se trata do material de trabalho que o ator possui na sua bagagem criativa. Já a prática dos
estudos e exercícios propostos por Meyerhold foram indispensáveis como forma de alcançar a dinâmica da
ação através da plasticidade do movimento, ou seja, a construção de um corpo latente, de expressão plástica
e rítmica ao signo dramático que deseja revelar [1].

2. Método
A presente pesquisa será embasada em um tipo de pesquisa científica: a pesquisa experimental [2]. O
desenvolvimento da experimentação, no caso, a criação teatral, pode ser descrito como um fenômeno
estudado, que possibilitará a produção de novas possibilidades de criação. Assim, a partir de um estudo
teórico ou o fenômeno estudado produziremos a prática na elaboração de um espetáculo teatral, ou seja, a
própria experiência. O projeto investiga a comunhão entre a organicidade corporal proposta por Konstantin
Stanislávski, aliada às proposições técnicas de Vsevold Meyerhold. A pesquisa teórica acompanhará todas as
etapas do processo e o espetáculo teatral terá orientação de um professor do Curso de Artes Cênicas da
UFSM.
A metodologia do processo criativo abrange dois campos: o teórico e o prático. Desta forma, temos o
estudo teórico sobre o conto escolhido, O afogado mais bonito do mundo, assim como do aprofundamento
teórico e prático sobre os postulados de Stanislávski, no trabalho de ator em desenvolvimento de sua
organicidade, e também das dinâmicas do movimento de Meyerhold na criação cênica. Na parte prática têm-
se os ensaios, organizados de acordo com os elementos sugeridos pela pesquisa e experimentados
corporalmente pelo próprio aluno/ator/pesquisador e, posteriormente, buscar uma organização dos elementos
estudados para a concretização do espetáculo.
.

*
andregalarca@ibest.com.br
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

3. Resultados e Discussão
A escolha pelo referencial de Meyerhold e Stanislávski, que realizaram intenso trabalho de pesquisa
no que tange ao treinamento e trabalho do ator, foi de fundamental importância ao trabalho do ator sobre o
seu corpo e vida, ou seja, elementos de sua organicidade, na representação. Desta forma, o estudo do
trabalho do ator tornou-se relevante, propondo uma pesquisa mais completa no sentido de formação criativa
e artística. Desde o início do processo criativo da construção do espetáculo-solo, foi possível observar alguns
resultados, especialmente no que diz respeito à criação e estruturas de cenas que compõem o espetáculo, que,
por sua vez, foi levado ao público no mês de dezembro do ano de 2009.

Fig. 1 Estevão - O Afogado Mais Bonito do Mundo

Ressalta-se que o desenvolvimento desse projeto define a pesquisa acadêmica no que tange ao trabalho
do ator sobre suas habilidades criativas dentro da linguagem teatral. O trabalho do ator sobre seu corpo,
instrumento criativo e de inegável necessidade à construção cênica, possibilitou não somente um
aperfeiçoamento das capacidades expressivas do ator, mas também uma concretização teatral de ação cênica.
O corpo do ator foi o mote de expressão e comunicação entre teatro e espectador, ator e platéia, realidade e
cena em O Afogado Mais Bonito do Mundo.
“Quanto maior o volume de habilidades de movimento à disposição do ator, mais eficientemente
poderia ele realizar suas diversas tarefas” [3]. Devido à dificuldade do treinamento de instrutores e o
sentimento de Meyerhold de que o método ainda não estava aperfeiçoado, com poucas exceções, a
Biomecânica era quase exclusiva do Teatro Meyerhold. Nesse sentido, a pesquisa valeu-se da percepção do
ator sobre sua corporeidade criativa em processo, ou seja, na montagem do espetáculo-solo, e também do
treinamento do ator em seu corpo e expressão, segundo os postulados de Meyerhold e também de
Stanislávski.

4. Conclusão
Através da pesquisa foi possível observar aspectos que norteiam seu desenvolvimento, especialmente
no que diz respeito ao processo de treinamento e vivências do corpo do ator, que se mostra um importante
instrumento na criação cênica, onde o movimento do corpo do ator se torna o aspecto visível do
comportamento humano [4]. Sendo assim, a ação que se revela do interior do ator, traça um caminho de vida
na representação, na busca pela organicidade cênica e reflexão acerca dos elementos estudados tanto teórica
quanto praticamente.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Através do estudo aprofundado do texto, dos encenadores “bases” e dos elementos constituintes do
espetáculo teatral, buscou-se alcançar a formação de um espetáculo teatral onde o trabalho do ator fosse
pertinente, importante e, de certa forma, visível, em que o seu gosto e apreciação fossem resultados de um
intenso trabalho de pesquisa e criação. Desta forma, o estudo do trabalho do ator torna-se tão relevante,
propondo uma pesquisa mais completa no sentido de formação criativa e artística.

Fig. 1 A despedida do afogado

Outro instrumento de fundamental relevância ao trabalho desenvolvido foi o texto de Gabriel García
Márquez, O Afogado Mais Bonito do Mundo, que com sua narrativa e riqueza de imagens, ideias e detalhes,
permitiu a expansão do imaginário do ator, proporcionando novas possibilidades de atuação. Houve, talvez,
uma maior valorização do texto do autor através das ações e das imagens construídas pelo desenho de cena e
pela representação do ator. Porém, no sentido de estudo e idealização da ação cênica dada pelo movimento, o
aluno/ator obteve grande crescimento criativo, que o possibilitou avaliar com maior precisão a constituição
de um espetáculo solo.
Vale afirmar que a utilização de princípios dos trabalhos desenvolvidos por Stanislávski e Meyerhold
se deu de maneira prática e também perceptiva, pois a partir da percepção do aluno/ator sobre o trabalho
desenvolvido por tais encenadores, pode-se avaliar e administrar os elementos que deste trabalho se tornaram
pertinentes ao processo de criação do espetáculo. Pode-se dizer, também, que o trabalho em questão deu
continuidade às pesquisas já realizadas pelo autor ao longo da graduação no curso de Artes Cênicas, no
sentido de obtenção de um corpo presente e orgânico em cena.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Diante disso, e tendo em vista os objetivos e metodologia apresentados no projeto, os resultados


obtidos consideram-se bastante satisfatórios, uma vez que o processo criativo do espetáculo fez com que o
ator descobrisse novas formas e possibilidades de criação, o que desenvolveu sim sua maior autonomia
criativa e artística dentro de sua prática. Além disso, a pesquisa permitiu um aprimoramento do trabalho de
interpretação teatral do aluno/ator por possibilitar, através da concretização de seus objetivos, a construção
de um espetáculo teatral a partir de sua criatividade, imaginação, consciência corporal e entrega ao trabalho.
O exercício prático do espetáculo solo trouxe ao seu criador uma maior capacidade criativa e de
trabalho. O ato de pensar por si só revela a criatividade do criador, a prática, então, traz à tona a idealização,
a concretização dos objetivos propostos. Dessa forma, toda a prática possibilitou a execução de tais
processos teóricos justificados e mediados pela ação.

Referências

[1] GUINSBURG, J. Stanislávski, Meierhold & Cia. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 2001.

[2] GIL, Antônio Carlos. Método e técnica de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2006.

[3] GORDON, Mel. A Biomecânica de Meyerhold. Trad. Maria Elizabeth. Tradução Inédita. São Paulo:
1995.

[4] PICON-VALLIN, Béatrice. A arte do teatro: entre tradição e vanguarda: Meyerhold e a cena
contemporânea. SAADI, Fátima (Org.). Trad. FARES, C; VAUDOIS, D; SAADI, F. Rio de Janeiro: Teatro
do Pequeno Gesto: Letra e Imagem, 2006.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

A CARACTERIZAÇÃO DE DUAS VERSÕES DA FÁBULA O LOBO E O CORDEIRO A


PARTIR DA ESTRUTURA POTENCIAL GENÉRICA (EPG)1

Gessélda Somavilla Farencena1*


1
Universidade Federal de Santa Maria(UFSM)

1. Introdução
Os gêneros não são formas estanques e impessoais, mas, embora conservem uma base sólida,
alteram-se e adéquam-se às finalidades comunicativas de seus falantes, sua cultura e estilo. Em outras
palavras, estão intimamente ligados ao contexto e suas variações.
Assim, neste trabalho, são analisadas duas versões da fábula O Lobo e o Cordeiro do ponto de vista
da Linguística Sistêmico-Funcional. Focalizando a descrição de suas características básicas na perspectiva de
gênero, utiliza-se como suporte teórico a proposta de Hasan [2] e de seus intérpretes Motta-Roth & Heberle
[3]: análise da Configuração Contextual (CC) e da Estrutura Potencial Genérica (EPG). Nessa perspectiva,
um texto contém alguns elementos obrigatórios e outros que podem ou não vir a ocorrer de acordo com o
contexto, com sua CC. A combinação desses elementos configura a EPG de um gênero.

2. Método
Neste trabalho, analisa-se duas versões da fábula O Lobo e o Cordeiro: uma, originalmente de
autoria de Esopo, retirada do livro Esopo: fábulas completas [4] com tradução e organização de Neide
Smolka; a outra, uma versão revisitada por Millôr Fernandes alguns séculos após, retirada do livro Fábulas
Fabulosas [1], produzido pelo mesmo autor. Partindo da análise destes dois textos, visa-se a identificação
dos movimentos e passos que neles se fazem presentes e a delimitação daqueles que se caracterizam como
elementos obrigatórios, opcionais ou iterativos e constituem a EPG desse gênero.
Tendo isso em vista, algumas questões foram levantadas:
 Que elementos ocorrem?
 Que movimentos retóricos se fazem presentes?
 Que estágios constituem esses movimentos?

Buscando respondê-las, a análise foi dividida em duas etapas: análise da CC e análise da EPG:
 Análise da CC: identificação e análise dos três componentes do contexto de situação: campo,
relações e modo;
 Análise da EPG: identificação e análise dos elementos obrigatórios, opcionais e iterativos.

3. Resultados e Discussão
Nesta perspectiva de gênero [2], o estudo do texto em correlação com seu contexto é indispensável,
pois, a partir de um, o outro é determinado.
Desse modo, nos quadros a seguir são realizadas as análises da Configuração Contextual (CC) das
fábulas O Lobo e o Cordeiro:

CC interna da fábula
Campo: apresentação de um encontro de dois animais durante uma situação comum e vital (bebendo água
em um rio), que alude a eventos e valores humanos que dizem respeito à injustiça e dominação.
Relações: Lobo e Cordeiro dialogam, manifestando opiniões e propósitos distintos.
Modo: canal: gráfico; meio: escrito. O texto é dialógico, ainda que, por vezes, esse diálogo seja apresentado
pela voz do narrador. Constitui-se de uma narrativa com incidências de argumentação para convencer e
persuadir. Texto bastante popular, podendo ser lido em diversas situações, tanto individual quanto
coletivamente. Texto acessível aos leitores, na forma escrita ou transmitidos na oralidade, de acordo com a
cultura e a tradição. A linguagem tem papel constitutivo.
Quadro1 - CC interna das duas versões da fábula O Lobo e o Cordeiro

1
Este trabalho constitui um recorte da Dissertação de Mestrado que está sendo desenvolvida no Programa de Pós-
Graduação em Letras da Universidade Federal de Santa Maria, sob orientação da Profª Drª Cristiane Fuzer, e também
integra as atividades do Grupo de Pesquisa Núcleo de Estudos em Língua Portuguesa (NELP), coordenado pela Profª
Cristiane Fuzer (UFSM) e Profª Drª Sara Regina Scotta Cabral (UFSM).
*
Mestranda em Estudos Linguísticos (UFSM): gesseldaf@yahoo.com.br
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

CC externa da fábula
Campo: Esopo: analfabeto, ocupava uma posição desfavorecida, marginalizada na sociedade, já que era um
escravo. Suas fábulas foram produzidas na Grécia, aproximadamente no Século VI a.C. Millör Fernandes:
escritor, humorista e crítico. Suas fábulas foram produzidas no Rio de Janeiro, a partir da segunda metade do
século XX (d.C.).
Relações: autor se dirige ao leitor, cuja distância social é máxima: leitor ausente e desconhecido, autor e
leitor distantes no tempo e no espaço; autor possuidor de uma opinião que busca ser discutida ou adotada
pelo leitor.
Modo: originalmente, Esopo produziu e reproduziu suas fábulas de forma oral, vindo a serem registradas, na
escrita, somente cerca de duzentos anos após sua morte. Millôr Fernandes produz e registra suas fábulas na
escrita.

Quadro2 - CC externa das duas versões da fábula O Lobo e o Cordeiro

Observados os elementos que compõem a CC, passa-se à análise da configuração da EPG nos textos
em questão. Neles, observa-se a ocorrência de quatro movimentos retóricos e nove estágios, exemplificados
a seguir:

EPG
Movimento 1: APRESENTAÇÃO DA SITUAÇÃO
Estágio 1.1 [E#1.1]: apresentação dos personagens e especificação de suas ações;
Estágio 1.2 [E#1.2]: reação dos personagens diante das ações;

- Movimento 2: PROBLEMATIZAÇÃO DA SITUAÇÃO


Estágio 2.1 [E#2.1]: acusação;
Estágio 2.2 [E#2.2]: defesa;
Estágio 2.3 [E#2.3]: desafio entre os personagens;

- Movimento 3: RESOLUÇÃO DA SITUAÇÃO


Estágio 3.1 [E#3.1]: constatação do Cordeiro;
Estágio 3.2 [E#3.2]: constatação do Lobo;
Estágio 3.3 [E#3.3]: consumação da constatação do Lobo

Movimento 4: FECHAMENTO
Estágio 4.1 [E#4.1]: Moral.

Quadro 3 - EPG das duas versões da fábula O Lobo e o Cordeiro

No Movimento 1 (Apresentação da situação), é feita a apresentação dos personagens, local e da ação


que se desenvolve. No Movimento 2 (Problematização da situação), apresenta-se o problema e o
desenvolvimento da discussão que orienta a narrativa. O Movimento 3 (Resolução da situação) traz o
desfecho, como é concluída a situação. No Movimento 4 (Fechamento), o último, é apresentada a moral.
Os estágios que correspondem à Apresentação dos personagens, especificação de suas ações [E#1.1]
e à Reação dos personagens diante das ações [E#1.2] são breves. Mencionam os personagens, a localização,
o que acontece e a reação imediata dos personagens em relação a esse acontecimento.
Os estágios referentes à Acusação [E#2.1] e à Defesa [E#2.2] são mais longos e dialógicos. Mesmo
quando apresentados em forma de citações, mantêm a ideia da interação entre os personagens, que se
configura não como pergunta/ resposta, mas como argumento/ contra-argumento, caracterizando a
denominação desses estágios.
O estágio correspondente ao Desafio entre os personagens [E#2.3] aparece apenas na fábula de
Millôr Fernandes e promove uma trégua na discussão. Relativamente longo, o diálogo entre Lobo e Cordeiro
não se configura mais como um confronto de argumentos, mas simplesmente como pergunta e resposta.
Além disso, o assunto desse diálogo é diverso daquele que vem sendo discutido, caracterizando esse estágio
como “um tempo” que favorece o Cordeiro.
Constatação do Cordeiro [E#3.1] e Constatação do Lobo [E#3.2] são estágios breves que se
constituem de conclusões tiradas pelos personagens a partir determinadas atitudes. Essas conclusões são, por
vezes, parciais, que incitam a novas ações, por vezes, definitivas que, embora também sugiram uma nova
ação, fornecem o resultado, o desfecho da fábula.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

A consumação da constatação do Lobo [E#3.3] é o estágio que, na fábula de Millôr Fernandes,


ratifica o estágio anterior [E#3.2]. Com uma breve frase, apresenta uma ação que é consequência ou
complemento à constatação.
O último estágio, a Moral [E#4.1], é constituído por uma sentença e corresponde ao encerramento da
fábula. Podemos defini-lo como a interpretação do autor sobre a história que ele próprio idealiza e apresenta,
concretizada pelos personagens.

4. Conclusão
A análise realizada demonstra que as duas versões compartilham de boa parte da CC, com
semelhanças quanto a campo, relações e modo. Quanto à EPG, são constituídas por quatro movimentos
retóricos e cinco estágios obrigatórios. Os estágios [E#2.3], [E#3.1] e [E#3.3] são exclusivos da fábula de
Millôr Fernandes, sendo comuns a ambas os estágios [E#1.1], [E#1.2], [E#2.1], [E#2.2], [E#3.2] e [E#4.1].
Assim, os últimos estágios citados podem ser definidos como obrigatórios. O estágio [E#3.2] pode
ser classificado como iterativo, pois, além de aparecer no final da fábula, também aparece em outros
momentos. Os demais estágios, [E#2.3], [E#3.1] e [E#3.3] podem ser classificados como opcionais, com
ocorrência restrita à fábula de Millôr Fernandes e indicam um enriquecimento da história em relação às de
Esopo.

Referências
[1] FERNANDES, M. Novas fábulas fabulosas. v. 1; ilustrações de Angeli. Rio de Janeiro:
Desiderata, 2007.

[2] HASAN, R. Part II. In: HALLIDAY, M.A.K & HASAN, R. Language, context, and text: aspects of
language in a social-semiotic perspective. Oxford: Oxford University Press, 1989.

[3] MOTTA-ROTH, D. & HEBERLE, V.M. O conceito de “estrutura potencial do gênero” de Ruqayia
Hasan. In: MEURER, J. L.; BONINI, A.; MOTTA-ROTH, D. (Orgs.) Gêneros: teorias, métodos e debates.
São Paulo: Parábola Editorial, p. 12-28; 2005.

[4] SMOLKA, N. Fábulas Completas: Esopo. São Paulo: Moderna, 1995.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

A construção do espetáculo teatral “Matrimônio”


a partir de três pesquisas de natureza distinta

Pablo Canalles1*; Juliet Regina Castaldello2; André Galarça3


1
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
2
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
3
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)

1. Introdução
O Curso de Artes Cênicas da UFSM mantém dois programas de extensão que visam à montagem e
apresentação de espetáculos teatrais por alunos: o Programa Montagem de Espetáculo por Alunos que
envolve os alunos de 5º e 6º semestres, matriculados tanto em Direção quanto em Interpretação Teatral; e o
Programa TEU Studio 1 que prevê os projetos de montagem dos formandos, matriculados no 7º e 8º
semestres, dos cursos de Direção e Interpretação Teatral.
No Programa Montagem de Espetáculo por Alunos, os alunos da Direção Teatral realizam um projeto
de montagem de espetáculo, no qual são lançadas as bases da obra a ser apresentada no final do ano letivo.
Também fazem parte dessa montagem alunos da interpretação teatral, que desenvolvem, junto ao diretor,
uma pesquisa de poéticas para a cena, centradas no desenvolvimento da linguagem do espetáculo. Este
programa está ligado às atividades desenvolvidas nas disciplinas de Encenação V e VI e Laboratório de
Orientação I e II que prevêem montagem de espetáculos dirigidos e/ou executados por alunos. Já os
acadêmicos de Interpretação Teatral participam do Programa Montagem de Espetáculo por Alunos
realizando a montagem de um Espetáculo-Solo, tendo o projeto e a criação cênica orientados nas disciplinas
de Técnicas de Representação V e VI, e Laboratório de Orientação I e II.
No programa dedicado às montagens dos alunos-formandos, chamado Programa TEU Studio 1, os
alunos da Direção Teatral realizam um projeto de pesquisa e montagem de espetáculo a ser apresentado à
comunidade no final do ano letivo. O aluno é orientado pelo professor durante os ensaios e reuniões de
orientação ligados às disciplinas de Encenação VII e VIII e Laboratório de Orientação III e IV, unindo o
ensino e a pesquisa. Já os alunos de Interpretação Teatral participam do Programa TEU Studio 1 elaborando
um projeto que servirá de base à realização de um espetáculo contracenado com os demais colegas
formandos. Cada um deles realiza um projeto de pesquisa dentro do trabalho de encenação dirigido pelo
professor-orientador. Esse projeto e a concomitante criação cênica são realizados e orientados nas disciplinas
de Técnicas de Representação VII e VIII, e Laboratório de Orientação III e IV.
Diante do exposto destaca-se como característica fundamental dos programas citados a união do
ensino, pesquisa e extensão, uma vez que os alunos das referidas disciplinas são incentivados a conduzir
investigações próprias ligadas ao seu processo de formação, culminando em duas apresentações no
Anfiteatro Caixa Preta da UFSM, que contempla o caráter de extensão das atividades desenvolvidas.
Assim, dentro de Programa TEU Studio 1, nesse ano, realizaremos a montagem de um espetáculo, que
caracterizar-se-á como formatura de dois acadêmicos do Curso de Artes Cênicas. Como elemento de
pesquisa, trabalharemos em uma investigação sobre o texto “Matrimônio”, do dramaturgo argentino Daniel
Guebel, e em uma ampla pesquisa prática, dividida em duas frentes: dois alunos com duas investigações
diferentes, além da investigação do professor, culminando em um único espetáculo teatral.

1.1. Objetivos e Metas


O projeto aqui proposto tem como objetivo principal ampliar o contato dos alunos formandos da UFSM com
a pesquisa em Artes Cênicas, oportunizando aos estudantes de graduação um verdadeiro contato com a
realidade profissional à qual serão inseridos futuramente, e explorando de modo mais eficaz o caráter de
pesquisa e extensão do programa TEU Studio 1 realizado pelo Curso de Artes Cênicas da Universidade
Federal de Santa Maria. Além disso, através da apresentação prévia das cenas construídas para o espetáculo à
comunidade, da pesquisa de campo, da tradução do texto ainda inédito no Brasil e da apresentação do
espetáculo finalizado para grande parte da comunidade santa-mariense, pretende-se estimular a troca de
conhecimentos entre os alunos pesquisadores e a comunidade em geral.

1.2. Objetivo Geral


Aprofundar o caráter de pesquisa do programa de extensão TEU Studio 1, do Curso de Artes Cênicas
da UFSM, propondo um maior desenvolvimento teórico-prático de dois dos projetos concernentes ao
programa, culminando na construção de um único espetáculo, aos quais a população terá acesso gratuito, a

*
Pablo Canalles: pablocanalles@yahoo.com.br
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fim de oportunizar a inserção dos acadêmicos e futuros artistas na realidade cultural da cidade de Santa
Maria e região.

1.3. Objetivos Específicos


*Fomentar a circulação de obras artísticas teatrais criadas a partir de pesquisas realizadas dentro do
Curso de Artes Cênicas, em outros locais da cidade de Santa Maria.
*Estimular o diálogo entre o Curso de Artes Cênicas e o Curso de Letras Espanhol da UFSM, além
desses com vários setores da sociedade, através da apresentação de fragmentos do espetáculo anteriormente à
sua estréia.
*Ampliar o mercado de trabalho dos alunos egressos da universidade através do estímulo à produção
teatral local advinda da pesquisa.
*Incentivar o olhar de pesquisador relativo à vida cultural, através do estímulo à criação de grupos de
teatro atuantes fora da academia, na cidade de Santa Maria, formados pelos egressos do Curso de Artes
Cênicas.
*Gerar oportunidades de trabalho para os alunos através do contato de sua produção, advinda de
intensa pesquisa, com agentes culturais e produtoras artísticas.

2. Método
O resumo Visando à realização do projeto proposto realizar-se-ão, inicialmente, duas etapas que
ocorrerão paralelas uma à outra: uma delas, prevê a tradução do texto escolhido para servir de base à
montagem: “Matrimônio”, do dramaturgo argentino Daniel Guebel. Essa etapa conta também com um
trabalho de análise textual, a “análise ativa”, desenvolvido pelo Diretor russo Konstantin Stanislávski, que
requer grande atenção e um grande dispêndio de tempo, dada a complexidade dos processos nela envolvidos.
Para esse fim, contaremos com o auxílio da professora aposentada Nair D’Agostini, que virá ao Curso de
Artes Cênicas da UFSM para ministrar uma oficina relacionada a esse tema.
Paralelamente, dar-se-á outra etapa: a escritura e pesquisa dos projetos dos graduandos: projetos
individuais, de naturezas distintas, mas que têm como meta a investigação de pontos do fazer teatral, que
culminarão na montagem do espetáculo “Matrimônio”. Dessas pesquisas, procuraremos responder a 3
perguntas básicas. A primeira delas, que será investigada profundamente pela acadêmica Juliet Castaldello,
visa a tentar descobrir se a fisicidade conquistada a partir de um treinamento com base em danças
tradicionais brasileiras pode servir de elemento para a criação de uma personagem do texto “Matrimônio”. A
segunda pergunta será investigada pelo acadêmico André Galarça, bolsista desse projeto, e questiona até que
ponto a consciência do ator e a consciência da personagem interagem no momento em que a ação física e
dramática se desenvolvem na cena. A terceira, à qual eu, enquanto orientador do projeto e diretor do
espetáculo procurarei responder é a seguinte: é possível que dois projetos de pesquisa na área da atuação
cênica, de naturezas totalmente diversas, confluam para um mesmo espetáculo teatral, sem que um projeto
prejudique os resultados do outro?
O grupo de alunos, junto ao seu orientador, produzirá um artigo referente às experiências e questões
ligadas à realização do programa, buscando unir a reflexão acerca da pesquisa, ensino e extensão ao processo
de avaliação das ações realizadas.
A proposta aqui apresentada se liga ao projeto pedagógico do curso, o qual prevê que, na Interpretação
Teatral dos semestres 7 e 8, os projetos sejam apresentados ao público como parte da avaliação prática do
trabalho. Assim, a realização de uma pesquisa aprofundada acerca do fazer teatral, unida a um circuito de
apresentações em espaços centrais da cidade de Santa Maria, e da cidade universitária, anteriormente à
estréia do espetáculo, insere-se integral e positivamente no projeto pedagógico do curso de Artes Cênicas,
contribuindo de forma efetiva para a formação dos estudantes, estimulando o aprimoramento técnico dos
trabalhos, bem como a troca de conhecimentos e vivências artísticas entre acadêmicos e a comunidade de
Santa Maria.
As contribuições da realização de diferentes pesquisas e diversas apresentações para o processo de
formação dos alunos é algo que se tem observado ao longo dos anos de realização do programa TEU Studio
1. Partindo desta experiência pode-se afirmar que a realização da presente proposta representa um salto na
qualidade do ensino oferecido pela universidade na área das artes cênicas, uma vez que prolonga a vida útil
de cada espetáculo, oferecendo novos desafios e oportunidades de aprimoramento técnico, podendo também
servir de estímulo para a criação de novos grupos teatrais na cidade, e ampliar não só a oferta de produtos
culturais à comunidade, como as oportunidades de trabalho para os futuros profissionais.
Finalmente, resta-nos ressaltar a relação bilateral da academia com a sociedade, proposta por esse
programa, pois realmente acreditamos que a arte possa ser transformadora, não só para aquele que concebe a
obra, ou para quem participa dela, como também para aquele que testemunha o ato de comunhão artística

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

que se dá entre o diretor, o ator e o espectador. Para nós, é de suma importância a interação do conhecimento
e experiências acumuladas na pesquisa acadêmica com o saber popular, e isso se dá não só na temática de
algumas peças, mas também nas pesquisas de campo e nos laboratórios de pesquisa realizados em locais
como escolas e praça pública. Essa articulação da obra e do saber artísticos com algumas organizações da
sociedade têm sido constantes em nossos trabalhos, e tendem a ser ainda mais valorizadas e difundidas se
tivermos a oportunidade de realizar, de forma mais eficaz, essa troca que estamos propondo com a sociedade
santa-mariense.

3. Resultados e Discussão
Visamos, com essa iniciativa, à melhoria dos espetáculos apresentados dentro dos programas já
existentes no Curso de Artes Cênicas da UFSM, através do contato com diversos públicos anteriormente à
estréia e do maior aprofundamento na área da pesquisa voltada à produção da obra teatral.
Ressaltamos que todas a obra teatral a ser apresentada será resultante de projetos de pesquisa que
prevêem, dentre outras ações, a produção de produtos culturais a serem oferecidos à comunidade. Assim, por
si só, elas são um produto resultante da execução deste programa. Porém, propõe-se além da apresentação do
espetáculo à comunidade, a possibilidade de impulsionarmos o interesse da comunidade pelo fazer teatral e
pela experiência que a atuação exerce sobre o corpo e a mente do ator e do público na auto-descoberta, e no
bem estar do indivíduo. Além disso, ao final do programa, será realizada a produção de um artigo pelos
pesquisadores responsáveis pelo espetáculo, abordando a pesquisa desenvolvida, a experiência adquirida
durante a participação do programa e uma avaliação do mesmo. Desta forma, prevê-se a oferta, à
comunidade, de três pontos de vista, ou “reflexões”, sobre nossa iniciativa. Por fim, o presente projeto
representa a ampliação da linha de pesquisa presente no Curso de Artes Cênicas da UFSM, abrindo um novo
circuito para apresentação da produção intelectual e artística dos alunos à comunidade.

4. Conclusão
Com o primeiro ato do espetáculo montado, e tendo iniciado o segundo, ao levarmos diferentes
pessoas para assistir ao que temos até agora, percebemos que não só é possível, como enriquecedor, partir de
duas pesquisas distintas, acrescidade de uma terceira – no que tange à direção – para montar um espetáculo.
Isso ocorre especialmente quando as diferentes pesquisas guiam-se para um mesmo objetivo comum – a
montagem, demonstrando que processos que visam à capacitação do ator, tanto ética quanto esteticamente,
vêm sempre ao encontro de qualquer proposta de direção, independentemente das escolhas estilísiticas que se
façam.

Referências
STANISLÁVSKI, Konstantin. Manual do Ator. Tradução de Jefferson Luis Camargo. São Paulo: Martins
Fontes, 1997.
STANISLÁVSKI, Konstantin. El Arte Escénico. Mexico: Siglo Ventiuno, 1985.
STANISLÁVSKI, Konstantin. El Trabajo del actor sobre si mismo en el proceso creador de la encarnación.
Buenos Aires: Quetzal, 1983.
STANISLÁVSKI, Konstantin. El Trabajo del actor sobre si mismo en el proceso creador de las vivencias.
Buenos Aires: Quetzal, 1980.
STANISLÁVSKI, Konstantin. El trabajo del actor sobre su papel. Buenos Aires: Quetzal, 1977.
STANISLÁVSKI, Konstantin. Manual do Ator. Tradução de Jefferson Luiz Camargo. Revisão da tradução
de João Azenha Jr. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
STANISLÁVSKI, Konstantin. Mi Vida en el Arte. Traducción de Porfírio Miranda Marshall. La
Habana/Cuba: Arte y Literatura, 1985.
STANISLÁVSKI, Konstantin. Trabajos Teatrales: Correspondencia. Buenos Aires: Quetzal, 1986.
TAKEDA, Cristiane Layher. O Cotidiano de uma Lenda – Cartas do Teatro de Arte de Moscou. São Paulo:
Perspectiva, 2003.
TCHÉKHOV, Mikhail. Para o ator. São Paulo: Martins Fontes, 1986.
TOPORKOV, Vassili. Stanislavsky Dirige. Traducción directa del ruso por Anatole y Nina Saderman.
Buenos Aires: Compañía General Fabril Editora, 1961.
TOVSTONOGOV, Gueorgui. La profession de Director de Escena. Habana/Cuba: Ed. Estabelecimiento 08,
de Mario Reguera Gómez, 1980.

Agradecimentos
Ao Curso de Artes Cênicas da Universidade Federal de Santa Maria, dentro do qual são desenvolvidas
nossas pesquisas.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

A DIDATIZAÇÃO DOS GÊNEROS DO DISCURSO SOB DIFERENTES PERSPECTIVAS

Tiago dos Santos Búrigo1*; Ângela Cristina di Palma Back2

1.INTRODUÇÃO
Este artigo tem como objetivo analisar a didatização de gêneros do discurso sob as perspectivas de sua
transposição didática por um lado e, por outro, da elaboração de oficinas de ensino de gêneros, bem como
apresentar propostas de didatização de gêneros textuais. Primeiramente será apresentado o conceito que Bakhtin
(2000) expõe sobre os gêneros do discurso. Tal conceito mostra que os gêneros do discurso são compostos por
tipos textuais, os quais oferecem uma pluralidade de sentidos, pois compreendem situações de comunicação
cujos enunciados expressam as finalidades de um grupo social. A partir dessa consideração, é feita uma análise
dos gêneros textuais que são utilizados em um livro didático de língua portuguesa, nesse caso o livro em questão
chama-se “Gramática da Língua Portuguesa”, de Pasquale & Ulissses (2000). Essa análise é embasada na obra
“Do ideal e da glória: problemas inculturais brasileiros” de Osman Lins (1976), em que é apresentada uma
análise sob uma perspectiva crítica no que diz respeito ao modo como são apresentados os conteúdos de gêneros
do discurso nos livros didáticos, sob a perspectiva da transposição didática, e que tipos de atividades são feitas a
partir deles. Nesse sentido, o objetivo é fazer uma análise de gêneros que são didatizados, ou seja, textos que
foram produzidos sem uma finalidade didática, mas que são utilizados em um livro didático, a critério do autor,
que os apresenta com uma proposta de ensino. Essa análise é constituída de uma analogia entre a proposta de
ensino que os autores dos livros didáticos indicam e a didatização dos gêneros discursivos enquanto suporte
didático, tendo como base as propostas apresentadas no artigo de Guimarães (2006), intitulado “Construindo
propostas de didatização de gênero: desafios e possibilidades”. Com base nisso, são feitas propostas de
didatização de gêneros discursivos com diferentes enfoques. Os eixos norteadores deste artigo são o conceito de
gêneros textuais sob a perspectiva bakhtiniana; os gêneros textuais nos livros didáticos e os diferentes
métodos aos quais são submetidos à transposição didática; o gênero didatizado sob a perspectiva da
transposição didática, no sentido de elaboração de atividades gramaticais ou de interpretação de textos,
e a perspectiva de suporte teórico, ou seja, tendo o gênero como base para diferentes tipos de
abordagens como, por exemplo, a que explorasse o estilo e a estrutura dos gêneros; e as oficinas de
gêneros textuais, tendo como base a proposta feita do artigo já citado de Guimarães (2006).

2.MÉTODO
Este artigo se utiliza de uma pesquisa bibliográfica para o levantamento dos dados que propiciam as
reflexões propostas como objetivos. Para isso foram estabelecidos os eixos norteadores conceito de gêneros do
discurso, o gênero didatizado e propostas de oficinas de gêneros. A abordagem ao conceito de gêneros do
discurso torna-se oportuna para identificar os gêneros mais utilizados nos livros didáticos de língua portuguesa,
bem como sua transposição didática, no sentido de quais tipos de atividades são elaboradas a partir do gênero
didatizado, em especial no livro didático “Gramática da Língua Portuguesa” de Pasquale & Ulisses. A partir
disso e baseado na obra “Do ideal e da glória: problemas inculturais brasileiros” de Osman Lins, é possível
formular uma reflexão mais crítica, com argumentos mais significativos sobre a maneira como são apresentados
os gêneros do discurso e suas respectivas atividades. Por fim, com base no artigo de Guimarães (2006), são
apresentadas propostas de oficinas de didatização de gêneros, tanto na perspectiva da transposição didática,
sugerindo alguns tipos de abordagens e também de atividades, e na perspectiva do ensino de gêneros. Diante
dessas considerações feitas acima, a pesquisa tem o foco voltado ao modo como é feita a apropriação dos
materiais que passam por uma transposição didática nas aulas de Língua Portuguesa e nas possibilidades de se
trabalhar oficinas de gêneros. Também se torna oportuno fazer uma avaliação sobre a utilização dos materiais
didatizados, em termos de procurar entender até que ponto é vantajoso ou não trabalhar com gêneros transpostos
didaticamente, e/ou fazer oficinas de ensino.

*
Tiago dos Santos Búrigo: wakamick@hotmail.com
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3.RESULTADOS E DISCUSSÃO
O estudo proposto neste artigo constata que existem variadas formas de utilizar os gêneros do discurso como
objeto de ensino de língua portuguesa. Geralmente os livros didáticos, como no caso do livro analisado, são
repletos de gênero do discurso utilizados como pretexto para atividades, muitas vezes trabalhando apenas com a
memorização, no sentido de tornar o pensamento mecânico, ao ponto de não instigar uma reflexão sobre aquilo
que fora lido. Caracterizam a prática de uma educação bancária, tornando a aquisição dos conhecimentos em
algo mecanizado, por meio da memorização. Não se pode negar o fato de que o conhecimento possa ser
memorizado, mas é possível ressaltar a importância da reflexão, dos questionamentos que o aluno pode fazer
sobre o objeto de seu estudo. Também são apresentadas diferentes formas de abordagem. Partindo da proposta
de oficinas de gênero feitas no artigo de Guimarães (2006), é possível fazer um trabalho fazendo uso do gênero
como unidade de análise voltado ao ensino-aprendizagem, sendo possível, por exemplo, proporcionar ao
estudante autonomia em termos de produção de textos vinculados a gêneros específicos; e, além disso, fazer o
uso de estratégias voltadas à análise lingüística, se assim for necessário, pautando no gênero como a unidade de
análise.

4.CONCLUSÃO
A aplicação do gênero didatizado na educação, sob a perspectiva da transposição didática, evidencia uma
prática de síntese, também conhecida como adaptação de um texto integral, seja o texto proveniente de uma
matéria de revista, de jornal, de história em quadrinhos, charges, cartuns, de obra literária, conto ou crônica. Essa
prática de síntese é um dos meios utilizados na transposição didática. Tais adaptações não passam de uma mera
colagem de fragmentos retirados de textos integrais dos gêneros citados acima. Em decorrência disso, pode não
ser possível promover uma reflexão consistente acerca do texto estudado, por se tratar de um fragmento do texto
integral, apresentado sem sua devida contextualização, dando margem a erros de interpretação. Sabe-se que os
materiais didatizados servem como suporte aos educadores e que cabe a eles fazer a devida apropriação desses
materiais para promover um ensino efetivo que proporcione ao aluno um aprendizado consistente. Os exemplos
utilizados para ilustrar a didatização dos gêneros do discurso presente nos livros didáticos de Língua Portuguesa
mostra que há variadas formas de se trabalhar com os gêneros do discurso. Podem ser trabalhados para fazer a
exposição de um conceito gramatical ou análises linguísticas, como também podem ser utilizados como pretexto
para atividades gramaticais. Obviamente que os exercícios propostos remeteriam a uma atividade gramatical,
seja de classificação de palavras em destaque ou para fazer alguma atribuição quanto ao tipo de oração ou da
transitividade do verbo de uma determinada oração. Chega-se à idéia de que, para quaisquer que sejam os
gêneros do discurso didatizados, as atividades tradicionais serão, na maioria das vezes, mecânicas, não passando
de um simples caça-palavras.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAKHTIN, M. M.; APPENSELLER, Marina. . Estética da criação verbal. São Paulo: Ed. Martins Fontes,
1992. 421 p.

_______________. . Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na


ciência da linguagem. 11. ed. São Paulo: Hucitec, 2004. 196 p.

CLARK, Katerina; HOLQUIST, Michael. . Mikhail Bakhtin. Cambridge, Mass: Perspectiva, 2008. 381p.

LINS, Osman. Do ideal e da glória: problemas inculturais brasileiros. 3.ed., São Paulo: Summus, 1977. 191p.

CIPRO NETO, Pasquale; INFANTE, Ulisses. Gramática da língua portuguesa. São Paulo: Scipione, 2000.
583 p.

GUIMARÃES, Ana Maria de Mattos . Construindo propostas de didatização de gênero: desafios e


possibilidades. Linguagem em (Dis)curso, v. 6, p. 4-12, 2006.

500
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

A EXPERIÊNCIA DO CINEMA NA ARTE CONTEMPORÂNEA

Wagner Jonasson da Costa Lima1*


1
Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais do Centro de Artes da Universidade do Estado de
Santa Catarina

1. Introdução
A relação entre cinema e artes visuais atravessa a história da arte moderna e desdobra-se em diversas
práticas artísticas na contemporaneidade. Para os artistas modernos o cinema representava um novo recurso
de expansão do universo das artes visuais. O advento do vídeo, a partir das décadas de 1960, permitiu uma
entrada mais insistente da imagem em movimento no ambiente de galerias e museus de arte. O presente texto
aborda o crescente uso de dispositivos audiovisuais na arte contemporânea, inspirados pelos efeitos e formas
cinematográficas. Tais produções vêm colocando em questão algumas premissas fundamentais tanto da
produção artística quanto do campo do audiovisual.

2. Método
Pretende-se compreender a relação histórica entre cinema e artes visuais, a partir da literatura
referente ao tema. Assim como, avaliar esta convergência no ambiente expositivo da arte contemporânea,
através da pesquisa em livros, periódicos, teses e dissertações, fitas de vídeo e DVDs.

3. Resultados e Discussão
O cinema, desde o seu surgimento como novo meio, teve que impor-se como uma forma artística, ao
mesmo tempo em que iria deslocar as fronteiras da arte e mudar sua natureza. Verifica-se no âmbito das
vanguardas artísticas das décadas de 1910 e 1920, o movimento de aproximação de pintores com a nova
linguagem cinematográfica. Alguns realizadores e defensores do cinema “puro”, como Hans Richter e
Viking Eggeling, vêm de um trabalho original em pintura, prolongando suas pesquisas dentro de um
contexto fílmico. Segundo Canongia [1], o cinema de pintores é impulsionado pelo desejo de ultrapassar a
pintura de cavalete, através de um meio técnico que favorecesse a dinâmica da forma plástica. Enquanto
suporte, a superfície da tela parecia não atender mais às necessidades do trabalho visual. A rigidez dos
conceitos de “quadro” e “objeto” e suas limitações contrastavam com a liberdade dos meios mais modernos.
O cinema tornou-se um novo utensílio para a proposta de expansão do universo das artes visuais. De acordo
com Hauser [2], os anos 20 viram artistas modernos reivindicarem um cinema que seria o prolongamento das
preocupações vividas nas artes plásticas, como a desconstrução, a fascinação por formas geométricas, pela
mecânica do movimento sugerido e simulado pelos cubistas e futuristas.
Cineastas do período, como Sergei Eisenstein, declaravam enfaticamente os vínculos do cinema com
a pintura e demais artes. Em seus escritos, Eisenstein faz apelos freqüentes à analogia entre os modos
operativos de vários pintores e os princípios da montagem cinematográfica. Analisando a pintura Vista e
Planta de Toledo de El Greco, observa que diversos pontos de vista da cidade são representados,
simultaneamente numa mesma tela, insistindo em incluir o pintor entre os antepassados da montagem
cinematográfica. Na sua abordagem, o cinema não somente herdou como transformou as realizações da
história de todas as artes, promovendo “a síntese genuína e fundamental de todas as manifestações artísticas
que se desagregaram depois do auge da cultura grega, que Diderot procurou em vão na ópera, Wagner no
drama musical, Scriabin em seus concertos cromáticos” [3]. Também demonstrava interesse por
manifestações culturais como a escultura africana, o teatro de sombra chinês e o kabuki japonês,
considerando relevante a sua contribuição para o desenvolvimento de um cinema moderno.
A partir das décadas de 1960, a relação do cinema com as artes visuais ganha maior complexidade.
Para Duguet [4], as manifestações desmistificadoras do grupo Fluxus, assim como as proposições dos artistas
ditos conceituais, fortaleceram a demanda dos artistas plásticos pelo cinema e pelo vídeo. Essa procura tinha
um caráter de apoio às novas estratégias de trabalho, uma preocupação voltada para a criação e busca de
novos suportes e, principalmente, para o deliberado rompimento com a noção de suporte. A obra artística
como objeto único, acabado e autônomo é posta em questionamento, assim como os limites territoriais de
cada arte. Desenvolvem-se modalidades de criação como a performance e a instalação, onde a exploração
física se tornou o modo privilegiado de percepção da obra. Foi por meio das experimentações relativas aos
dispositivos que o vídeo contribui de maneira mais viva para o desenvolvimento de novas concepções da
obra de arte contemporânea.

*
Autor Correspondente: wagnerjonasson@hotmail.com
501
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Dubois [5] afirma que não existe uma verdadeira especificidade do vídeo, seja como imagem, seja
como dispositivo. O vídeo não é um objeto (algo em si, um corpo próprio), mas um estado da imagem em
geral, uma forma que pensa. O vídeo permite pensar o que as imagens são ou fazem. É o vídeo que também
permite atualmente convocar a imagem em movimento do cinema nas salas de exposição das galerias e dos
museus de arte. Assim, para o autor, é cada vez mais freqüente no contexto da arte contemporânea a presença
de instalações audiovisuais que se inspiram em efeitos ou formas cinematográficas. O espaço expositivo
encontra-se marcado pelo “efeito cinema” [6]. Este efeito pode ser entendido através de um conjunto de
propostas de artistas que procuram, através da apropriação ou da citação, utilizar filmes específicos em sua
obra. Num plano mais técnico e teórico, trata-se de pensar as obras e sua produção em correspondência com
o dispositivo do cinema, principalmente instalações que privilegiam questões relacionadas à projeção e a
imagem em movimento.

4. Conclusão
Caracterizada pelo hibridismo, a arte contemporânea é marcada pela miscigenação de práticas e
conceitos que apontam para a reestruturação das relações entre espaço, espectador e imagem. Obras são
concebidas a partir da suavização das fronteiras que separam meios como o cinema, o vídeo e as artes
visuais. Artistas contemporâneos apresentam em suas obras princípios criativos e estéticos que remetem aos
da linguagem cinematográfica e aos seus modos de expressão. A convergência, nestas circunstâncias, entre
cinema e artes visuais configura-se em um espaço que transforma as condições de enunciação das imagens.
Diversos trabalhos espacializam a imagem em movimento, transformando o ambiente expositivo em espaço
de projeção. Deste modo, pensar sobre os dispositivos imagéticos torna-se tarefa fundamental para uma
reflexão sobre a experiência artística na atualidade.

Referências

[1] CANONGIA, Ligia. Quase Cinema: cinema de artista no Brasil, 1970/80. Rio de Janeiro: Edição
Funarte, 1981.

[2] HAUSER, Jens. Da vanguarda do cinema à pós-modernidade dos jogos. In: MACIEL, Kátia. (Org.).
Transcinemas. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria, 2009, p. 159-174.

[3] EISENSTEIN, Sergei. A forma do filme. Tradução Teresa Ottoni. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1990.

[4] DUGUET, Anne-Marie. Dispositivos. In: In: MACIEL, Kátia. (Org.). Transcinemas. Rio de Janeiro:
Contra Capa Livraria, 2009, p. 49-70.

[5] DUBOIS, Philippe. Cinema, vídeo, Godard. São Paulo: Cosac Naify, 2004.

[6] DUBOIS, Philippe. Um “efeito cinema” na arte contemporânea. In: COSTA, Luiz Cláudio da (org.).
Dispositivos de registro na arte contemporânea. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria/FAPERJ, 2009, p.
179-216.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

A INFLUÊNCIA DE ASPECTOS NÃO-VERBAIS NA


LEITURA DE TEXTOS JORNALÍSTICOS

Suellen Lopes Barroso1*; Adriana da Silva2;


1
Universidade Federal de Viçosa
2
Universidade Federal de Viçosa

1. Introdução:
Desde o surgimento das tecnologias de informação (TICs) e, principalmente, da internet surgiu
também a polêmica sobre o impacto que esta causaria na leitura. Muitos acreditam que a crise na leitura,
sobretudo entre os jovens, estaria ocorrendo por causa do surgimento da internet, mas sabe-se que esta crise
está muito mais relacionada a questões sócio-culturais do que ao seu surgimento. Consideramos, porém, que
a internet ampliou o nosso contato com os mais variados textos e gêneros textuais. O seu surgimento e a
utilização de multimídias em geral vieram renovar a noção que temos de texto e de leitura, principalmente no
que concerne a presença de elementos não-verbais, uma vez que tanto a concepção de texto quanto a de
leitura sempre estiveram ligadas aos textos escritos.
Com a vasta utilização de novas tecnologias como a computação gráfica, a internet, as multimídias,
entre outras, de maneira formal e informal, em sala de aula ou em casa, cada vez mais tem se ampliado a
interação de entre elementos verbais e não-verbais (imagens, gráficos, infográficos e etc.). Assim, a leitura
passa a ser multimodal, pois não se restringe somente à compreensão dos elementos verbais, mas também a
compreensão dos elementos não-verbais que acompanham o texto. Da mesma forma, a noção que temos de
texto se amplia tornando-se também multimodal, uma vez que o texto só pode ser considerado como tal
devido à interação destes elementos. A verdade é que a leitura é um processo complexo que exige dos
leitores diferentes habilidades ainda mais quando há a interação desses elementos, uma vez que a leitura de
textos multimodais exige do leitor a interpretação não só do texto verbal, mas também do não-verbal de
maneira integral e simultânea ao texto escrito [1].
Por isso, faz-se necessário investigar como ocorre essa interação e como ela influencia no processo de
leitura, ou seja, como as pessoas compreendem os textos acompanhados de aspectos não-verbais? Elas
percebem o aspecto não-verbal apenas como uma mera ilustração? Como a presença de elementos não-
verbais influencia a leitura? De que forma? O fato é que cada vez mais encontram-se textos que usam
aspectos não-verbais para esclarecer, simplificar e até ilustrar os verbais, por isso, pesquisar esses textos é de
suma importância para se responder a essas indagações.

2. Metodologia
Foi utilizada na pesquisa uma notícia acompanhada de um infográfico retirada da revista Veja [3],
intitulada “Sacudidos nas Alturas”.
Participaram do estudo alunos voluntários de diversos cursos da Universidade Federal de Viçosa,
matriculados na disciplina de LET 101(Português instrumental). Ao todo foram 38 alunos, os quais foram
divididos em dois grupos, um que leu o texto com o infográfico e outro que teve acesso somente ao texto
escrito da notícia, com isso pretendíamos verificar se o infográfico influenciaria na leitura e de que forma.
Para a realização desta pesquisa foram elaborados questionários de compreensão tanto do texto verbal
quanto do texto não-verbal, o infográfico, além de um questionário sobre a história de leitura dos
participantes deste estudo, o qual abrangia tanto os textos verbais como os não-verbais. Os alunos ainda
fizeram uma reprodução livre, isto é, um texto no qual eles escreveram tudo o que se lembraram a respeito da
notícia. Nosso objetivo ao realizar a reprodução livre com os alunos foi observar se a leitura do texto verbal
acompanhado do infográfico ajudou a guardar mais informações a respeito do texto, principalmente no que
concerne ao fato descrito no infográfico. Todos os questionários tinham questões tanto literais como
inferenciais. Vale lembrar ainda que o questionário referente ao infográfico só foi respondido pelo grupo de
alunos que teve acesso a este. Por meio deste questionário buscamos verificar se eles realmente leram o texto
e o infográfico, se guardaram detalhes deste e, principalmente, qual a sua contribuição para a compreensão
da notícia na qual está inserido e de que forma ele contribui.
Antes dos alunos lerem o texto e antes de serem aplicados os questionários, foi pedido a eles que
anotassem quantas vezes precisaram ler o texto para conseguir compreendê-lo. Após a leitura os textos
formas devolvidos e foram aplicados os questionários bem como a reprodução livre.

*
Autor Correspondente: suellen_paulac@yahoo.com.br
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Terminada a aplicação dos questionários, foi feita a análise das respostas e da reprodução livre [4], de
cada sujeito. Para o questionário de interpretação do texto, foi atribuída uma pontuação de 1 para respostas
completas, 0,5 para as respostas incompletas e para as inferências esperadas e 0 para respostas totalmente
erradas ou com inferências inesperadas. Dessa forma, pretendemos estipular o grau de compreensão dos
alunos e também quantificá-las. Além disso, a atribuição de notas de acordo com o grau de compreensão do
texto permitiu compreender se os alunos fizeram apenas uma leitura literal (decodificação) ou o processaram.

3. Resultados e Discussões
Ao observar os resultados obtidos a partir das respostas do primeiro questionário, a respeito da história
de leituras, verificamos que as leituras mais comuns entre os alunos foram de textos acadêmicos vinculados
aos cursos que eles fazem. Quanto à leitura de textos que contenham elementos não-verbais mais de 50%
afirmou ler esse tipo de texto frequentemente e quase 35% afirmou lê-los às vezes. Vale lembrar que quase
80% dos alunos afirmaram ter alguma dificuldade (pouca, média ou muita) nesse tipo de leitura, e apenas
18,43% afirmaram não ter dificuldade alguma.
Observamos que ainda é muito recorrente a supremacia do texto verbal escrito, mesmo estando
conjugado a algum elemento não-verbal. O fato é que as imagens, gráficos e infográficos, bem como os
elementos não-verbais, de forma geral, mesmo sendo tão frequentes em diversos textos e gêneros textuais,
poucas vezes são considerados na leitura. Isso pode ocorrer por diversos fatores, mas principalmente pela
falsa ideia de que esses elementos servem somente como ilustração, a super valorização do texto escrito, a
falta de habilidade e a falta de manuseio de textos que contenham esses elementos. Se observarmos a relação
entre infográfico e o texto verbal da notícia podemos perceber que a função do infográfico vai além de
ilustrar ou somente explicar, pois de certa forma, a representação ou simulação do que ocorreu é uma forma
de sensibilizar e alertar aos leitores sobre o que eles podem sofrer se viajarem sem o cinto de segurança e
ocorrer uma turbulência.
Ao observar as anotações dos alunos a respeito do número de vezes que precisaram ler o texto para
compreendê-lo, notamos que o grupo dos alunos que leram o texto com o infográfico precisou lê-lo menos
vezes que os alunos do outro grupo. Acreditamos que o fato do infográfico presente na notícia conter as
mesmas informações do texto escrito tenha facilitado a retenção de informações e proporcionado uma
compreensão mais fácil do texto.
No questionário a respeito do texto e nas reproduções livres, observamos que tanto os alunos que
leram o texto com o infográfico como os que leram o texto sem o infográfico, conseguiram compreender a
notícia. Notamos também que no questionário, contendo questões literais e inferenciais, os alunos mostraram
ter compreendido as informações principais do texto e também alguns detalhes. Com exceção das respostas
da questão que se referia ao objetivo do texto, na qual os alunos apresentaram certo grau de dificuldade.
No questionário a respeito do infográfico, feito somente aos 18 alunos que leram a notícia
acompanhada deste, percebemos também que a maioria deles o leram e o compreenderam e, principalmente,
conseguiram dar detalhes do infográfico. Apesar disso, observamos que, mesmo a maioria conseguindo
interpretar as imagens do infográfico, alguns (quase 30%) tiveram dificuldade para interpretá-las. Vale
lembrar que a dificuldade de interpretação não foi só com relação ao infográfico, mas constatamos também
que alguns alunos tiveram dificuldade em compreender o texto verbal, ou mesmo, algumas das questões dos
questionários.
Notamos também que a organização do infográfico auxiliou na compreensão. Apesar de nem todos os
infográficos serem organizados em sequência numérica como o da notícia utilizada, observamos que, no
presente infográfico, essa organização visa mostrar aos leitores a ordem dos acontecimentos, bem como
contribui para estabelecer uma ordem temporal à narração. Muitos dos alunos informaram que as imagens
ajudaram a visualizar o que aconteceu durante o acidente e como aconteceu.
Ainda a respeito desse questionário, notamos que os alunos compreenderam a finalidade do
infográfico presente no texto jornalístico, ou seja, ilustrar, narrar, descrever de forma mais detalhada e
explicativa o que aconteceu no acidente. Ao que parece os alunos o reconheceram como reforço das
informações textuais, ou melhor, uma espécie de resumo.
Também observamos que a presença do infográfico auxiliou na retenção de informações a respeito
do acidente, bem como em uma melhor compreensão do ocorrido no momento em que as rajadas de vento
atingiram a aeronave. Isso corrobora com as pesquisas de Mayer [2] que afirma ser mais eficiente a
aprendizagem por meio de imagens e palavras que somente por meio de palavras. As imagens associadas às
palavras, como ocorre no infográfico, proporcionam aos leitores uma compreensão melhor daquilo que é
narrado. Isso pode ser confirmado se observarmos que o texto verbal da notícia continha praticamente as
mesmas informações do texto verbal presente no infográfico e, mesmo assim, houve uma diferença, mesmo

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

que não muito discrepante, entre os alunos que leram o texto com o infográfico e os que leram somente o
texto verbal da notícia, no que diz respeito à descrição do acidente e a retenção de informações deste.
Ao analisar as respostas dos dois grupos de alunos em relação às questões que exigiam informações
presentes no texto verbal e no infográfico, verificamos também que elas não tiveram uma diferença
significativa. Acreditamos que isso tenha ocorrido por causa dessa repetição de informações. Devido a esse
fato, surge a necessidade de se estudar outros tipos de infográficos para observar como se daria a diferença
de interpretação, ou de retenção de informações textuais em infográficos que, por exemplo, não tivessem
todas as informações do texto verbal, ou que tivesse informações extras e/ou complementares.

4. Considerações finais
A partir dos resultados obtidos verificamos que os elementos não-verbais, no caso o infográfico,
auxiliam a leitura explicando, exemplificando, entre outras, as informações do texto. Além disso,
observamos que o infográfico ajudou a fixar as informações textuais presentes no texto verbal da notícia,
uma vez que a maioria das informações tanto visuais como verbais presentes no infográfico estavam também
no texto verbal da notícia, por isso acreditamos que elas serviram como um reforço das informações textuais.
Mesmo não havendo uma diferença grande no que diz respeito à compreensão do acidente, como foi
observado, verificamos que a notícia e o infográfico que a acompanha se complementam de modo que a
subtração de um deles pode afetar a compreensão integral do texto, mesmo que em menor grau.
Acreditamos também que o fato de os alunos que leram o texto com o infográfico ter alcançado uma
compreensão mais rápida, pois como vimos, eles leram menos para compreender o texto, só vem reforçar a
ideia de que a presença de elementos não-verbais contribui para que haja uma compreensão mais eficaz do
texto.
Na pesquisa, como foi observado, constatamos que a presença de elementos não-verbais influência
positivamente a leitura, pelo menos no texto aqui analisado. Podemos dizer ainda que a presença do
infográfico influenciou a leitura proporcionando uma melhor compreensão, sobretudo das informações sobre
como foi o acidente e o que aconteceu nele.
No que concerne à pesquisa vale ainda ressaltar que o fato do infográfico conter as mesmas
informações que o texto escrito pode ter sido um dos grandes fatores para que chegássemos a essa conclusão.
Por isso, essa pesquisa abre caminho para futuras investigações para verificar a influência de tais elementos
em outros textos multimodais, que não só o infográfico. E mesmo se se quiser utilizá-lo pode-se optar por
outros tipos de infográfico que contenham informações complementares ou extras, ou ainda por infográfico
presentes em outros gêneros textuais.

Referencias bibliográficas
[1] DIONISIO, A. Gêneros multimodais e multiletramento. In: KARWOSKI, A. M.; GAYDECZKA, B. e
BRITO, K. S. (orgs.). Gêneros textuais: reflexões e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2006
[2] MAYER, R. E. Multimedia learning. Cambridge: Cambridge University Press, 2001.
[3] Revista Veja. Ed Abril, n. 2115, 3 de jun. de 2009 p. 98-99.
[4] SILVA, A da. A influência do conhecimento prévio e da estrutura textual na leitura de textos
procedimentais. 1997. Dissertação (mestrado em Estudos Lingüísticos) – Faculdade de Letras, Universidade
Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1997.

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A LITERATURA DE CORDEL N’A PEDRA DO REINO

Rafael Munhoz
Profª. Drª. Silvana Oliveira
Universidade Estadual de Ponta Grossa

1. Introdução
O objetivo desse projeto é a abordagem da obra Romance d'a Pedra do Reino e o príncipe do sangue
do vai-e-volta, de Ariano Suassuna, de modo a verificar a influência da Literatura de Cordel na representação
do sertão realizada de forma poética. Os autores com as quais se buscou estabelecer relações são
principalmente, Leandro Gomes de Barros, José Alves Sobrinho, Patativa do Assaré e outros no contexto dos
Romances de Cordel.
Os Romances de Cordel são objetos de reflexões teóricas no campo da literatura, pois é uma espécie
de poesia popular impressa ou divulgada em folhetos ilustrados com o processo de xilogravura.
Como ponto de partida para a reflexão teórica, tomou-se a obra de Mikhail Bakhtin e sua teoria do
discurso no romance: “Todo discurso existente não se contrapõe da mesma maneira ao seu objeto. Entre o
discurso e o objeto, entre ele e a personalidade do falante interpõe-se um meio flexível, frequentemente
difícil de ser penetrado, de discursos de outrem, de discursos „alheios‟ sobre o mesmo objeto, sobre o mesmo
tema” (BAKHTIN, p.86). Ou seja, é particularmente no processo de mútua interação existente com este meio
específico que o discurso pode individualizar-se e elaborar-se estilisticamente.
A literatura de cordel chegou ao Brasil no século XVIII, através dos portugueses. Aos poucos foi se
tornando cada vez mais popular. Nos dias de hoje, podemos encontrar este tipo de literatura, principalmente
na região Nordeste do Brasil.
O livro Romance d’a Pedra do Reino e o príncipe do sangue do vai-e-volta, de Ariano Suassuna,
aparece nesse contexto pois apresenta referências de diversas obras da literatura de cordel apontando
discussões ideológicas e humorísticas.
No Brasil, a literatura de cordel não aparece somente em Ariano Suassuna, mas em Jorge Amado, João
Cabral de Mello Neto, José Lins do Rego, Guimarães Rosa, entre outros.

2. Método
A metodologia seguida nesse projeto foi a pesquisa bibliográfica. Inicialmente deu-se ênfase para a
leitura de obras do gênero de romances de cordel cuja realização literária está associada ao contexto
sertanejo e regionalista presente na obra de Suassuna. Da mesma forma, foram aprofundadas as leituras das
obras do autor Ariano Suassuna, para maior familiaridade com a produção do escritor e suas possíveis
relações com os romances de cordel.
Em seguida foram priorizadas as leituras de cunho teórico e crítico que subsidiaram a análise e a
comparação das obras.
Paralelamente, a abordagem teórica buscou-se demonstrar o processo de dialogismo na realização do
romance, ou seja, interação entre essas literaturas e a obra de Suassuna, bem como a contribuição para o
aprofundamento de compreensão da produção do importante escritor Ariano Suassuna.

3. Resultados e Discussão
O Estudo que ora se apresenta irá contribuir para os Estudos Literários no sentido de garantir um
espaço para investigação do contexto de romances de cordel. A intenção é demonstrar que o escritor Ariano
Suassuna, assim como outros brasileiros, utilizam fragmentos ou obras completas de romances de cordel
para a composição de suas obras, porém mostrada pelo autor de forma poética.
Espera-se que o presente projeto possa contribuir para ampliar o campo de pesquisa dos Estudos
Literários, bem como estabelecer outras possibilidades de reflexão sobre a obra de Ariano Suassuna e
também sobre os romances de cordel na Literatura Brasileira.
Esse projeto poderá contribuir significativamente para os Estudos Literários ao refletir sobre as
particularidades do romance de Ariano Suassuana e das influências do cordel na produção do autor.

4. Conclusão
A presente pesquisa buscou discutir teórica e criticamente o conceito de romance e seu lugar com a
produção literária no Brasil bem com investigar e analisar as relações de intertextualidade entre romances de


rafaelmunhoz@hotmail.fr
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cordel e o romance brasileiro "Romance d'a pedra do reino e o príncipe do sangue do vai-e-volta, de Ariano
Suassuna.
Buscou-se analisar teórica e criticamente a inserção do tema 'cordel' na literatura brasileira e mostrar a
função que os romances de cordel exercem na composição da obra de Ariano Suassuna.
A pesquisa demonstrou o conceito de dialogismo e sua operacionalização para o estudo do romance a
fim de demonstrar a inserção da linguagem poética na produção literária.
Espera-se que a presente pesquisa contribua para ampliar o campo de pesquisa dos Estudos Literários,
bem como estabelecer outras possibilidades de reflexão sobre a obra de Ariano Suassuna e também sobre os
romances de cordel na Literatura Brasileira

Referências

AMORA, Antonio Soares. Teoria da literatura. 8. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1973.

BARBOSA, João Alexandre. A Biblioteca Imaginária. São Paulo: Ateliê Editorial, 1996.

BAKHTIN, Mikhail. Questões de Literatura e Estética: a teoria o romance. 4. ed. São Paulo: Unesp, 1998.

BONNICI, Thomas; ZOLIN, Lucia Osana (orgs.). Teoria Literária: abordagens históricas e tendências
contemporâneas. Maringá: Eduem, 2005.

CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira. 6. ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 2000.

_________. Literatura e sociedade. 7. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1985.

PERRONE-MOISÉS, Leyla. Altas literaturas: escolha e valor na obra crítica de escritores modernos. São
Paulo: Companhia das Letras, 1998.

SUASSUNA, Ariano. Romance d'a pedra do reino e o príncipe do sangue do vai-e-volta. 10ª.ed. Rio de
Janeiro: Livraria José Olympio, 2007.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

A REFACÇÃO DE TEXTOS NARRATIVOS DE ALUNOS DA 7ª. SÉRIE DO ENSINO


FUNDAMENTAL

Fernanda Aparecida Israel* ; Elódia Constantino Roman


Universidade Estadual de Ponta Grossa

1. Introdução
Para se fazer análise de textos, é necessário estar claro que conceito de texto que iremos adotar.
Segundo Costa Val (1994) o texto é uma “ocorrência linguística falada ou escrita, de qualquer extensão,
dotada de unidade sociocomunicativa, semântica e formal”. Se pensarmos que o texto precisa ter essa
unidade, entende-se que há alguns elementos que são necessários na sua construção. Esses elementos são
chamados de coesão e coerência.
Considera-se, como Costa Val (op.cit.), coerência como o resultado dos conceitos que se encontram na
superfície textual; é responsável pelo sentido do texto, além dos elementos coesivos. Entende-se, também,
que o texto não deve ser considerado em sua superficialidade e sim como uma unidade, envolvendo questões
estruturais e também conhecimento do produtor e do receptor.
No entanto, embora o texto não possa ser apenas considerado em sua superficialidade, há os elementos na
superfície que contribuem para que haja uma unidade de sentido. São os elementos coesivos.
Segundo Costa Val (1994) “a coesão é a manifestação lingüística da coerência; advém da maneira como os
conceitos e relações subjacentes são expressos na superfície textual. Responsável pela unidade formal do
texto,constrói-se através de mecanismos gramaticais e lexicais.” Entre esses elementos estão a
pronominalização (anáfora e catáfora), concordância entre os termos verbais e nominais, as elipses, as
concordâncias, entre outros, conforme veremos adiante, já que esse trabalho teve como objetivo a
observação dos elementos que propiciam a progressão do texto, bem como o encaminhamento da refacção,
quando necessário. No decorrer da pesquisa serviram de aporte teórico estudiosos sobre o assunto como
Antunes (2009), Fávero (2000), Koch (2002), Buin (2002), entre outros.

2. Método
Acompanhou-se três turmas de 7ª. série, Todas realizaram o mesmo trabalho proposto pelo livro
didático. Essa atividade consistiu-se de três etapas:
Na primeira, os alunos deveriam criar um personagem com super poderes. Para isso era preciso fazer uma
“ficha técnica” sobre ele, contendo nome, identidade secreta e que tipo de poderes ele possuía.
A segunda etapa consistia em fazer um texto narrativo cujo personagem principal seria esse super herói. O
livro propunha que ele fosse incluído em um conflito para que ele salvasse sua comunidade. E, a terceira
etapa era fazer uma história em quadrinhos com base no texto narrativo.
Recolhidos os trabalhos, a professora da sala avaliou cada uma das partes e aplicou a nota.
Para esta pesquisa analisou-se textos produzidos pelos alunos das três turmas de 7ª. série, sendo que apenas
2 alunos da 7ª. A, 6 alunos da 7ª. B e 4 alunos da 7ª. C. produziram as duas versões do texto.
Isso ocorreu porque muitos alunos não produziram a parte narrativa do trabalho, fizeram apenas a ficha e a
história em quadrinhos.
Além disso, muitos alunos produziram a primeira versão, mas não produziram a segunda.
Analisando a primeira versão dos textos, percebeu-se que os alunos têm dificuldade em substituir alguns
elementos do texto por outros, por exemplo, pronomes ou seu referente, evitando assim que a sentença se
tornasse repetitiva. Com base na primeira versão dos textos, percebeu-se que a maioria dos alunos não
consegue notar a repetição do referente ele - pronome cujo referente seria o personagem. Essa constante
repetição não propicia a progressão do texto em termos de coesão, embora sua compreensão nem sempre
fique comprometida.
Após perceber isso, selecionou-se alguns trechos em que ocorreram essa repetição e foram escritas no
quadro negro, com a intenção de substituí-las por outros elementos, para que o texto ficasse melhor para a
leitura. Isso foi feito com a ajuda dos alunos.

––––––––––––––––––––––––––––––––––
*Autor correspondente: fernanda.israel@yahoo.com.br

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Entre os trechos com essa ocorrência, encontramos:


“Ao chegar lá, ele se depara com uma represa e ele fica assustado porque ele tinha medo de água, pois ele é
feito de fogo e fogo e água não combinam”
Quando esse trecho foi posto no quadro-negro foi solicitado que um aluno fizesse a leitura. Depois disso foi
perguntado a eles se haveria alguma parte do texto selecionado que poderia ser melhorada, mas nenhum
aluno se manifestou.
Então foram grifados os pronomes pessoais de terceira pessoa ele e só então alguns alunos se manifestaram
dizendo que havia muita repetição.
A intenção seguinte foi instigá-los para que sugerissem de como poderiam ser modificado, mas nenhum
aluno manifestou-se.
Então foi perguntado: A quem se refere o “ele”? Quem era feito de fogo? Eles, rapidamente, concluíram que
se tratava do herói.
A partir disso mostrou-se aos alunos que o primeiro pronome poderia ser substituído pelo substantivo ao qual
ele se referia: o herói.
Os dois pronomes seguintes foram retirados, mostrando aos alunos que as formas verbais fica e tinha já
mostram em sua estrutura (3a. pessoa do singular) que se referem aos mesmos elementos. O último pronome
foi mantido sem deixar o texto repetitivo, ficando a sentença reescrita dessa forma:
“Ao chegar lá, o herói se depara com uma represa e fica assustado porque tinha medo de água, pois ele é
feito de fogo e fogo e água não combinam.”
Apesar da ocorrência de repetição do pronome pessoal, percebemos que o produtor do texto em análise
empregou duas conjunções explicativas diferentes, porque e pois, valorizando, a nosso ver, o texto.
Essa ocorrência de repetição encontrada nos textos dos alunos justifica o que diz Buin (2002), quando afirma
que os elementos de coesão e coerência estão relacionados, já que a coesão “auxilia o estabelecimento da
coerência”. No entanto, a coesão “não é a garantia de se obter um texto coerente”. Na primeira versão do
texto dos alunos percebeu-se que, embora não houvesse uma “boa” progressão textual (já que o aluno não
fez a substituição do pronome), era um texto coerente.
O interessante é que a professora da sala não marcou no texto dos alunos essas ocorrências de repetição.
Marcou, somente, como “erro” os elementos de pontuação, acentuação e grafia, deixando assim de
considerar outros elementos que também são importantes para que o texto se torne coesivo e coerente.
Outros elementos que apareceram com freqüência na primeira produção dos alunos são as marcas de
oralidade. As mais comuns são peraí (espere aí), cara (na função de pronome de tratamento).
Os alunos utilizam também o elemento coisa, e essa ocorrência geralmente aparece como elemento
catafórico, pois é explicitado a seguir.
Após observadas essas ocorrências, selecionou-se alguns trechos e escreveu-se no quadro-negro:
“(...) ela faz coisas como uma pessoa normal: ela gosta de dançar e correr, mas sempre está aberta a cuidar
de sua cidade.”
Após a leitura do texto foi explicado aos alunos que as coisas que a heroína faz estão apresentadas na
seqüência da frase: correr, dançar e cuidar da cidade. Também foi mostrado que coisas é uma palavra
empregada na oralidade e precisa ser adequada ao texto escrito. Então foi sugerido por uma aluna que esse
elemento fosse substituído pelo verbo viver. O trecho selecionado ficou: “(...) ela vive como uma pessoal
normal: ela gosta de dançar e correr, mas sempre está aberta a cuidar de sua cidade.”
Embora se tivesse percebido essa ocorrência que precisava ser melhorada, observou-se uma progressão
nesse texto, pois há um elemento que explica o que são características de uma pessoa comum, e essa
explicação se dá por meio de um aposto, o que tornou o texto muito coerente. Também a conjunção
adversativa foi muito bem empregada, pois ela afirma que embora a heroína viva como uma pessoa comum,
ela também cuida da cidade. Outro trecho selecionado foi:
“O homem ameaçava botar fogo em toda a cidade.”
Nesse trecho os alunos sugeriram que se substituísse o elemento destacado pelo verbo incendiar:
“O homem ameaçava incendiar toda a cidade.”
Apesar de explicar aos alunos que alguns elementos pertencem à fala e que no texto escrito eles devem ser
adequados, muitos desses elementos da oralidade reapareceram na segunda versão dos textos.
Uma terceira ocorrência mais freqüente é a troca da conjunção adversativa mas pelo advérbio de intensidade
mais. Essa apareceu em quase todos os textos analisados. Deve ser lembrado que o último conteúdo que a
professora trabalhou antes dessa atividade com o livro didático foram as conjunções, e mesmo assim os
alunos tiveram dificuldade para empregá-las no texto.
Entre as sentenças que havia essa ocorrência, encontramos:
“Ela conseguiu salvar quase todos, mais chegou seu rival, Jean do Mal.”

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Após colocar essa frase no quadro, explicou-se aos alunos que o termo destacado tinha um valor
adversativo, e então, fez-se a refacção do trecho, que ficou assim:
“Ela conseguiu salvar quase todos, mas chegou seu rival, Jean do Mal.”
Depois desse processo foi encaminhada a segunda versão dos textos. Nela reapareceram algumas
dificuldades quanto à substituição adequada. Também reapareceram marcas de oralidade. O único elemento
que foi modificado nas segundas versões foi a conjunção adversativa, dessa vez, bem empregada.

3. Resultados e Discussão
Concluí-se , assim, que houve melhora nas conjunções pelo fato de ser um elemento mais
específico, enquanto que a substituição e as marcas de oralidade são recursos mais subjetivos para os alunos,
sendo necessário, portanto, um maior contato com a produção textual , bem como sua refacção. Por outro
lado, é necessário também uma maior atenção por parte dos professores de Língua Portuguesa quanto ao uso
desses recursos, pois geralmente alguns avaliam os textos dando atenção apenas aos elementos ortográficos
e à pontuação, esquecendo que a qualidade de um texto não se constitui apenas desses elementos.

4. Conclusão
Percebe-se, com essa pesquisa que o texto não deve ser considerado de forma superficial, pois há
muitos elementos que não estão na superfície e são responsáveis pela coerência do texto. Quanto às
dificuldades dos alunos, entendemos que a escola, nas aulas de Língua Portuguesa, não dá muita atenção à
produção textual, já que muitas vezes esse trabalho com o texto fica relegado a segundo plano. Conforme se
pode constatar, os alunos se dedicaram mais a outras atividades propostas pelo livro didático do que na
elaboração do texto narrativo. Considera-se fundamental que alguns professores atentem para a produção de
seus alunos e encaminhe-os para o emprego dos elementos que propiciam a coerência e a progressão textual.

Referências
ANTUNES, Irandé. Língua, texto e ensino: outra escola possível. São Paulo: Parábola editorial, 2009.
_____. Lutar com palavras. Coesão e Coerência. São Paulo: Parábola editorial, 2005.
BUIN, Edilaine. Aquisição da escrita: coerência e coesão. São Paulo: contexto, 2002.
COSTA VAl, Maria da Graça. Redação e textualidade. São Paulo: Martins Fontes, 1994.
FÁVERO, Leonor Lopes. Coesão e coerência Textuais. São Paulo: Ática, 2000.
KOCH, Ingedore Villaça. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 1989.
_____. A coerência textual. São Paulo: Contexto, 1989.
_____. Desvendando os segredos do texto. São Paulo: Cortez, 2002.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Oralidade e Ensino de Língua: uma questão pouco “falada”. In: O livro
didático de português: múltiplos olhares. DIONISIO, Ângela Paiva; BEZERRA, Maria Auxiliadora.
(Organização) Rio de Janeiro: Lucerna, 2001.

Agradecimentos
Agradeço à Fundação Araucária pela bolsa concedida dando oportunidade para realizar essa pesquisa.
Agradeço à Profa. Dra. Elódia Constantino Roman que, como orientadora, propiciou discussões que me
enriqueceram muito no decorrer da pesquisa.

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A RELAÇÃO SABER-PODER E A PRODUÇÃO DE IDENTIDADES NO DISCURSO:


SUJEITO-PROFESSOR E SUJEITO-ALUNO HIPERATIVO

FRANCESCHINI1, Bruno; NAVARRO2, Pedro


Universidade Estadual de Maringá (PG – UEM)
Universidade Estadual de Maringá (UEM)

1. Introdução
Considerando a atualidade, a nova maneira de ensinar e de incluir os “excluídos” em sala de aula um
fato nos inquieta: os hiperativos são bem aceitos em sala? Ou será que eles são rejeitados e sofrem
preconceitos por parte dos colegas e dos professores? E os professores, sabem lidar com esse tipo de aluno?
Estão preparados para contornarem possíveis situações de agito e falta de atenção? Os professores
conseguem identificar a diferença entre um aluno hiperativo e um aluno que não quer estudar? E o aluno
hiperativo, compreende as suas condições? Sabe lidar com elas? Quais são os discursos que as mídias
produzem a este respeito? Quais são os discursos que a escola faz? O que dizem os discursos produzidos
pelos professores? Quais os seus efeitos de sentido? E o discurso do aluno hiperativo, é ouvido ou é
silenciado? Quais desses discursos se entrecruzam? Quais circulam sem serem questionados?
Essas indagações surgiram durante a realização do projeto de iniciação científica intitulado “O
discurso sobre o sujeito hiperativo: a questão da governamentalidade e da identidade na mídia e na
educação” e não puderam ser sanadas, devido ao pouco tempo de pesquisa e à problemática em que estas
questões se inscrevem.
Durante a execução deste projeto, observamos os processos discursivos constituintes da identidade
desse sujeito hiperativo, verificando a ocorrência de regularidades discursivas entre o discurso médico,
escolar e o midiático. O corpus de análise selecionado teve como objetos artigos médicos veiculados na
internet, artigos em revistas escolares (Revista Nova Escola) e midiáticos (Revistas Época e Isto É) nos quais
estas três vozes legitimadoras (FOUCAULT, 1972) são as responsáveis por constituírem discursivamente a
identidade do sujeito hiperativo, classificando-o como um indivíduo agitado, desatento e inquieto, e, como
reflexo desses comportamentos, o desempenho em sala de aula é prejudicado devido ao não aproveitamento
total dos conteúdos ministrados. Também notamos que esse sujeito tende a ser marginalizado, por apresentar
um comportamento diferente do esperado no espaço escolar.
Verificando os resultados deste trabalho de iniciação científica, acima expostos, diante do fato de
não existirem muitas pesquisas brasileiras neste campo do saber, percebendo que muitas questões ainda não
foram estudadas e requerem uma resposta, uma explicação histórica discursiva, e, sobretudo, por sermos
professores em constante formação é que o fazer desta pesquisa é justificado.
Desse modo, pretendemos, nesta pesquisa, verificar o discurso que é produzido sobre a os alunos
hiperativos e a relação dos sujeitos professor- aluno hiperativo na pós modernidade, para que seja possível,
então, depreendermos, interpretarmos e analisarmos as formações discursivas encontradas no corpus sobre a
constituição identitária desses sujeitos na pós modernidade e compreender de que forma as relações de saber-
poder e história-memória produzem efeitos de verdade acerca desses sujeitos.

2. Metodologia
2.1 Da coleta, seleção e constituição do corpus
O corpus a ser analisado constituir-se-á a partir da coleta e seleção de documentos oficiais (PCNs e
LDB) e midiáticos veiculados em revistas de circulação nacional (Veja, Época, Isto É e Nova Escola) e
Internet (sítios relacionados ao TDAH) produzidos a partir da década de 70 até o presente momento.

2.2 Procedimentos de análise do corpus


Adotaremos como instrumento para análise do corpus a ser selecionado os preceitos teórico-
metodológicos da Análise de Discurso de linha francesa e comungaremos também do método arqueológico
de análise de discursos proposto por Michel Foucault para alcançarmos os objetivos propostos nesse projeto.
Posto que objetivamos compreender toda a rede de formulações envolvida na constituição dos discursos
acerca dos sujeitos professor e aluno hiperativo e relação entre estes, a produção de um discurso passa por
todo um processo de seleção e organização, como postula Foucault (2009), que acabará por exaurir seus
domínios e determinará as condições de produção desse discurso, mas também há a problemática, levantada
pelo filósofo, do surgimento de um discurso e não outro em seu lugar.

Bruno Franceschini – b-franceschini@hotmail.com


1
2
Prof. Dr. Pedro Navarro – plnavarro@uol.com.br
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Feita a seleção do corpus e a organização das séries enunciativas, procuraremos observar como
ocorreu, na dispersão dos acontecimentos, a constituição de tais séries enunciativas e suas respectivas
formações discursivas.
Portanto, é preciso que identifiquemos todo o processo de produção do discurso sobre os sujeitos
observando e analisando suas rupturas porque “os discursos devem ser tratados como práticas descontínuas,
que se cruzam por vezes, mas também se ignoram ou se excluem” (FOUCAULT, 2009, p. 52-53) e também
os acontecimentos históricos relacionados à ocorrência dessas descontinuidades discursivas que constituirão
séries enunciativas diversas e permitirão a descrição do local de ocorrência desse discurso e suas condições
de produção.
Destarte, como procedimento de análise baseado nas teorias expostas, isolaremos os acontecimentos
discursivos e os relacionaremos aos demais enunciados, bem como recortaremos as séries enunciativas de
modo a verificarmos a relação entre essas séries e os modos pelos quais elas produzem sentidos, apoiados
nos dizeres de Gregolin (2006, p. 28), sobre os procedimentos de análise:

O analista de discursos deve descrever as conexões, os jogos de força, as


estratégias discursivas que materializam, num dado momento histórico, efeitos de
sentido que circulam no espaço social. Essas concepções, que são sustentadas pelo
descontínuo e pela multiplicidade, acarretam mudanças metodológicas, pois o
acontecimento discursivo deve ser analisado a partir de um conjunto heterogêneo
de relações entre a memória e o esquecimento. Assim, buscando as articulações
entre a materialidade e a historicidade dos enunciados, em vez de sujeitos
fundadores e de regularidades absolutas, buscam-se efeitos discursivos.

3. Resultados e discussão
Como resultado da pesquisa anteriormente realizada, os enunciadores que, nos enunciados, falam
sobre o aluno hiperativo o fazem de três lugares legitimados para discorrer sobre a identidade desse sujeito: a
medicina, a escola e a mídia. No âmbito clínico, o médico, especificamente o psiquiatra e/ou o neurologista,
está autorizado a produzir enunciados acerca da disfunção química causadora do TDAH, pois está inserido
no campo do saber médico, de onde observa, descreve e analisa as patologias relacionadas à hiperatividade.
A esse respeito, segundo, Foucault,

se no discurso clínico o médico é sucessivamente o questionador soberano e direto,


o olho que observa, (...) é porque todo um feixe de relações se encontra em jogo;
(...) relações entre o campo das observações imediatas e o domínio das informações
já adquiridas; relações entre o papel do médico como terapeuta, seu papel de
transmissor na difusão do saber médico e seu papel de responsável pela saúde
pública no espaço social.” (FOUCAULT, 1972, p.59)

Como comenta Machado (2008), o objetivo da disciplina é padronizar o comportamento dos


indivíduos na sociedade e extrair o máximo da capacidade de trabalho desses indivíduos. Nesse sentido, o
discurso médico é legitimado a gerir a saúde da sociedade medicando-a, como no caso do TDAH, “na
medida em que elas se tornaram preocupações políticas” (REVEL, 2005, p. 26), devido às implicações
relacionadas à falta de dopamina e noradrenalina que refletem no desempenho – ocasionalmente baixo - das
atividades realizadas por um sujeito com déficit de atenção e/ou hiperatividade.
O professor, sujeito discursivo autorizado a falar sobre a criança em idade escolar, está inscrito numa
realidade sóciohistórica na qual a escola ainda funciona como uma instituição de poder, aquela que deseja
um comportamento organizado, moldado, em que não haja problemas gerais relacionados à disciplina.
Aqueles que apresentarem comportamentos fora dos padrões estabelecidos pela instituição serão
penalizados, posto que estão, a todo momento, sendo vigiados por fiscais de pátio, coordenação pedagógica e
professores, assim como no modelo de Panóptico proposto por Foucault (1987), em que os presos eram
vigiados a todo tempo. Mas o maior problema que concerne à questão disciplinar está na sala de aula.
Como lecionar numa sala com quarenta crianças sem que haja desordem? Como conseguir ter a
atenção de todas elas ao mesmo tempo? Como propor, em todas as aulas, atividades pedagógicas interativas,
lúdicas e diferenciadas? Como fazer essas crianças obterem sucesso nas avaliações? Essas são algumas das
questões levantadas por Iamamoto, Romão e Pacífico (2006).
Muitas vezes, os professores, sustentados pela voz legitimadora da medicina medicalizadora,
atribuem a culpa aos alunos, que não têm limites, não sabem se comportar adequadamente no espaço escolar
e não estudam, entre outros. Interpelados por tais discursos incentivadores do uso de remédios e por

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

acreditarem este ser o modo pelo qual os alunos obterão melhores resultados e apresentarão o
comportamento esperado por eles em sala de aula, os professores irão sugerir aos pais e pedagogos o uso de
fármacos. Nisso, observa-se a articulação saber-poder incidir sobre o cotidiano escolar.
Verificamos, também, nesses enunciados, o efeito de sentido produzido pela regularidade dos
discursos relacionados à postura de um tipo de professor que não abre margem a questionamentos sobre sua
atuação no processo de ensino-aprendizagem. Esse comportamento é sustentado por uma posição-sujeito
construída ao longo dos tempos, segundo a qual o professor é aquele profissional cujos discursos sobre
disciplina e sobre como ensinar dificilmente são questionados, dadas as condições de produção discursiva.
No entanto, é preciso considerar que o poder exercido pelos saberes médico e escolar, no caso aqui
tratado, não visa, como mostra Machado,

expulsar os homens da vida social, impedir o exercício de suas atividades, e sim


gerir a vida dos homens, controlá-los em suas ações para que seja possível e viável
utilizá-los ao máximo, aproveitando suas potencialidades e utilizando um sistema
de aperfeiçoamento gradual e contínuo de suas capacidades (MACHADO, 2008, p.
16).

4. Conclusão
Pudemos apontar, como resultado do projeto de pesquisa anterior a este, que os discursos acerca da
constituição identitária do sujeito hiperativo criam rótulos que, discursivamente, marginalizam esse sujeito,
caracterizan-no como agitado, desatento, inquieto, entre outras representações enunciadas por vozes
legitimadoras, que buscam normatizar e disciplinar o aluno hiperativo nos diversos espaços sociais
relacionados e buscamos, nesta pesquisa, compreender de que modo a relação saber-poder produz no
discurso a identidade dos sujeitos professor e aluno hiperativo na pós-modernidade.
Navarro (2007, p. 143) analisa que “a definição do que seja identidade requer considerar que tal
noção é um processo de produção e um efeito de discurso (...) é preciso compreendê-las como produtos de
lugares históricos e de instituições”. Para esse autor, “a identidade não é algo definitivo e acabado. O que
existem, na verdade, são práticas de subjetivação que produzem identidades em constante mutação”.

Bibliografia

FOUCAULT, M. Arqueologia do Saber. 1. Ed. Petropólis: Vozes, 1972.

____________. A Ordem do Discurso. 18. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2009.

GREGOLIN, M. R. F. V. . AD: descrever-interpretar acontecimentos que fundem linguagem e história. In:


Pedro Navarro. (Org.). Estudos do Texto e do Discurso. Mapeando conceitos e métodos. 1 ed. São Carlos:
Claraluz, 2006, v. 01, p. 19-34

MACHADO, R. Introdução a Microfísica do Poder. In: FOUCAULT, M. Microfísica do poder. (pp. VII-
XXIII). Rio de Janeiro: Graal, 2008.

NAVARRO,P. . Discurso, Sentido e Mídia: A Produção de Imagens de Identidade Coletiva. In: Olímpia
Maluf-Souza; Ana Maria di renzo; Vera regina Martins e silva; Neuza B. da Silva Zattar. (Org.). Fronteiras
discursivas: espaços de significação entre a linguagem, a história e a cultura. 1 ed. Campinas: Pontes,
2007

REVEL, J. Michel Foucault: conceitos essenciais. Maria do Rosário Gregolin, Nilton Milanez, Carlos
Piovesani (trad.). São Carlos: Claraluz, 2005.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

A RETEXTUALIZAÇÃO EM INTERAÇÕES TELEFÔNICAS

Carlos Alexandre Fonseca Pereira*


1
Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS

1. Introdução
Vive-se um tempo em que a informação está cada vez mais acessível a todas as pessoas que – de
alguma forma – buscam o conhecimento. Muito se fala sobre “democratização da informação”. A internet
nos exemplifica como o conhecimento está cada vez mais acessível. Pode-se – através de um computador
conectado a internet – consultar preços de um determinado produto; verificar como estará o tempo no dia
seguinte; aprender sobre determinada civilização ou mesmo sobre uma determinada doença. Logo, uma
pessoa que esteja com uma enfermidade, ou mesmo com suspeita de estar doente, poderia facilmente sentar
em frente a um computador e obter informações relevantes a respeito da doença em questão. Não obstante tal
afirmação possa parecer interessante, ela perde relevância face a dois aspectos, quais sejam: a) nem todas as
pessoas têm acesso à internet; b) nem todas as informações disponíveis na internet são de fontes confiáveis.
Depara-se, então, com a seguinte questão: tem-se de um lado a informação; do outro, pessoas que necessitam
dela; mas como levá-la com eficiência ao cidadão brasileiro?
Talvez em função de questões como essa, em 1996, o Ministério da Saúde criou alguns serviços de
atendimento telefônico para atender a população. Segundo Silva [3], foi criado nesse ano o Pergunte AIDS
com o objetivo de esclarecer dúvidas sobre a doença. O serviço logo passou a se chamar Disque Saúde e,
formando parcerias como outras instituições, a exemplo do Instituto Nacional do Câncer e a Secretaria
Especial de Políticas para as Mulheres, ampliou seus serviços oferecendo informações sobre outras doenças.
Atualmente, o Disque Saúde engloba o Disque Medicamentos, o Disque Pare De Fumar e o Disque Saúde
da Mulher, todos acessados pelo menu principal do Disque Saúde.
Ao ligar para o Disque Saúde, o usuário pode obter informações sobre doenças, formas de prevenção,
principais sintomas; bem como informações sobre onde encontrar um Posto de Saúde próximo de sua casa.
As informações estão contidas num banco de dados que é pesquisado toda vez que o usuário realiza uma
solicitação. O atendente do Disque Saúde é quem realiza a mediação entre a informação constante no banco
de dados e o usuário do serviço. Assim sendo, tem-se a seguinte tríade interacional: usuário – atendente –
banco de dados. Oliveira e Barbosa [2], ao referirem-se sobre a interação em ligações telefônicas a call
centers, afirmam ser esta um tipo especial de interação, que se constitui do encaixe de duas interações
diferentes, uma entre atendente/usuário e outra entre atendente/sistema informatizado. Como podemos
perceber, o atendente é o responsável por “traduzir” a pergunta do usuário para o sistema e a resposta do
banco de dados para o usuário. Esta última “tradução” é realizada por meio da leitura, ou seja, encontrando
no sistema a resposta ao questionamento do solicitante, o atendente lê a informação do banco de dados para o
usuário. Esta leitura deve ser de fácil entendimento de forma que o usuário possa compreender as
informações. Para tanto, é mister que dois aspectos sejam considerados: a linguagem utilizada no texto
constante do banco de dados e a forma como cada atendente realiza a leitura desse texto. Para tanto, dois
importantes conceitos serão fundamentais para o desenvolver dessa pesquisa, a saber: 1) divulgação
científica – “todas as ações que digam respeito à difusão de conhecimentos científicos e técnicos” Zanboni
[4]; e 2) Retextualização – segundo Marcuschi, uma adaptação de uma modalidade da língua, oral ou escrita,
para outra. Marcuschi [1]. O presente estudo advém de um projeto de pesquisa maior coordenado pela Profa.
Dra. Ana Cristina Ostermann.

2. Método
Através da perspectiva teórico-metodológica da Análise da Conversa, serão analisadas 30
interações do Disque Saúde. Gravadas em 2009, as interações foram transcritas e revisadas. Ao
final da análise, como já mencionado, será abordada uma proposta de retextualização visando não
só uma reescrita do banco de dados, como também uma nova postura na forma de ler a informação.
A Análise da Conversa (AC) oferece as ferramentas que servirão como base para a análise a ser
realizada nos dados do Disque Saúde. Uma vez transcritos esses dados, a AC oferece o aporte necessário
para a identificação dos fenômenos interacionais presentes, bem como para a análise que se pretende realizar
nessa pesquisa. Importante destacar que a AC propicia uma análise de dados naturalísticos, ou seja, dados
que acontecem sem a intervenção/incentivo do pesquisador. São interações que ocorrem naturalmente no
cotidiano das pessoas, seja numa conversa entre colegas de aula; entre amigos; ou mesmo numa ligação
telefônica. É o caso das ligações para o Disque Saúde, as quais se pretende analisar.

*
Carlos Alexandre Fonseca Pereira: carloslochner@yahoo.com.br
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3. Resultados e Discussão
A presente pesquisa está em andamento; sendo – também – meu trabalho de conclusão de curso, no
presente momento foi elaborado um referencial teórico, transcritas e revisadas as interações telefônicas. A
análise dos dados será o processo subsequente. Algumas constatações, todavia, já se evidenciam: diferentes
atendentes do Disque Saúde realizam diferentes leituras; alguns atendentes lançam mão de processos de
retextualização durante a leitura das informações; algumas escolhas interacionais realizadas por parte dos
atendentes – a priori – são mais eficientes que outras para a oralização do texto do banco de dados.
Evidentemente que uma análise mais acurada será realizada, a qual pode confirmar – ou não – as suposições
inicias que se teve na elaboração do trabalho até o presente.

4. Conclusão
Com base em prévia análise dos dados – a ser aprofundada no decorrer da pesquisa – e nas leituras
realizadas até o momento, acreditamos ser possível trabalhar uma proposta de retextualização com o objetivo
de auxiliar instituições que prestam serviços de informação e educação à população. Empresas – públicas ou
privadas – que por meio de ligações telefônicas atendem seu usuário/cliente podem se beneficiar de uma
proposta que vise contribuir com a interação atendente/usuário.

Referências

[1] MARCUSCHI, L. A. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. 2. ed. São Paulo: Cortez,
2001.

[2] OLIVEIRA, M. do C.L.; BARBOSA, B.T. Novas tecnologias, novos padrões de interação: um estudo da
fala no contexto de um call center. Revista Palavra, Rio de Janeiro, 2002. p. 155-168.

[3] SILVA, R. G. A organização das interações do disque saúde. 2009. Trabalho de Conclusão de Curso
(Licenciado em Letras) -- Curso de Letras. Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, RS, 2009.

[4] ZAMBONI, Lílian Márcia Simões. Cientistas, Jornalistas e a divulgação científica: Subjetividade e
heterogeneidade no discurso da divulgação científica. Campinas – SP: Autores Associados, 2001. 167 p.

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A SONATA PARA FLAUTA, VIOLA E HARPA DE CLAUDE DEBUSSY

Menan Medeiros Duwe*; Acácio Tadeu de Camargo Piedade


Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC

1. Introdução
O Ano de 1915 foi de grande importância para o compositor francês Claude Debussy, nesse ano, em
alguns meses em que passou retirado, enfermo da doença que três anos mais tarde causou seu falecimento,
compôs um importante conjunto de obras que constitui quase todo o conteúdo de seu período final de
produção. Nessa pesquisa trabalhamos com uma amostra expressiva desse trabalho, sua segunda sonata, para
flauta, viola e harpa, e para um compositor que até o momento não havia escrito sonatas (a primeira, para
piano e violoncelo, foi escrita nesses mesmos meses) essa obra representa muito de uma síntese do trabalho
composicional que se alicerça com grande força no nacionalismo francês, sentimento mais forte do que
nunca depois da deflagração da Primeira Grande Guerra1.
Debussy construiu uma linguagem muito própria que caminhou no sentido do desenvolvimento da
identidade nacional francesa, que tanto lhes fazia falta depois de um grande período de dependência cultural,
como constata o compositor “(...) podemos pelo menos constatar esse fato brutal: não há mais tradição
francesa”2 e para avaliar essa linguagem propomos explorar uma idéia, com a qual tivemos contato através
de um artigo3, que vai ao encontro da associação com os recursos da imagem em movimento, o cinema,
aproveitando uma relação que se tornou comum a esse compositor, a relação com a imagem ao ser
considerado um impressionista na música.
Porém esse método poderia gerar uma discussão sociológica quando o compositor diz estar
trabalhando com “música pura”4, como ele mesmo escreveu, pela possibilidade de entender isso como uma
música que não faz referência a nada externo. Não obstante, essa pesquisa acredita que essa interpretação
está equivocada e que esse termo se refere à musica como expressão autônoma e não isolada.
E naturalmente temos que relevar o título da obra: sonata. A quantidade de carga desse termo é
assunto vasto para se estudar música, ela diz respeito a uma concepção que caminhou junto com o
desenvolvimento da música ocidental5. Aqui valorizamos a idéia da oposição de temas em que se constrói e a
forma de entendimento cíclico da obra como um todo, que se desenvolveu principalmente a partir de
Beethoven conforme uma importante teorização por d‟Indy6, admirado contemporâneo de Debussy.

2. Método
Se pensarmos em dois elementos estruturais da linguagem de Debussy como a concepção harmônica,
que abrange as progressões e relações de alturas, e o seu discurso, envolvendo o desenvolver formal e das
idéias musicas em suas frases e temas, seções e transições, podemos considerar que procuramos entender o
discurso por suas próprias relações através do que as estruturas harmônicas nos mostra m. Ao entender que
a dialética entre esses elementos é de essencial avaliação, lançamos luz sobre a linguagem de Debussy por
esse caminho que escolhemos.
Nossa associação com o cinema se apropria da idéia de Rebecca Leydon ao enxergar as técnicas dessa
linguagem como um meio claro de avaliar o discurso de Debussy. Soma-se a isso o fato dessa ser, na época,
uma tecnologia nova de domínio francês, o que pode agradar por ser tanto moderno quanto nacional, e que o
compositor apreciava embora não haja referência consistente de uma apropriação por ele, e nem queremos
afirmar ou colocar em questão isso. Como bem coloca Leydon, nós, acostumados com a linguagem do
cinema, podemos tirar muito proveito dessa associação.
Percebemos na obra de Debussy (principalmente no final) um recurso composicional por
seqüenciamento das idéias que pode ser análogo à organização das cenas. Para representar e entender como
essa progressão de eventos musicais funciona escolhemos pela apropriação de termos do cinema para
transmitir melhor os conceitos. O já citado cena remete a uma seção com elementos bem definidos e um
ambiente harmônico, textural, temático claro. Assim representamos a estratégia de seguir uma cena por
outra, e para podemos dar unidade a um grupo de cenas trabalhamos com a concepção de cenário que
representa uma união de cenas em um plano contínuo, com uma função estrutural do discurso, mas que não é

*
Menan Medeiros Duwe: menan.md@gmail.com
1
Ver Benedetti (2006).
2
Debussy (1989, p.176).
3
Leydon (2001).
4
Craft (1984).
5
Ver Gerling (2004).
6
Wheeldon (2005).
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

necessariamente unido em sequencia direta, a alternância entre cenas de um ou de outro cenário permite que
eles coexistam mas que a cada momento da música um seja apresentado, focado.
Nosso trabalho de investigação da música por sua partitura e seu resultado sonoro, através da dialética
que coloquei, nos permitiu chegar a esse modelo que ainda engloba técnicas de transição conforme fazemos
apropriação do cinema: corte direto: uma mudança repentina do discurso, afastamento ou aproximação:
através da diminuição / aumento do andamento, da dinâmica e de fatores qualitativos e/ou quantitativos
da textura7, a música parece se mover em relação ao ouvinte como uma câmera que se afasta gradualmente
do objeto; sobreposição: dois eventos acontecem em simultaneidade no discurso, como transições em que os
elementos musicais anteriores e futuros se misturam; dissolução: diminuição da densidade textural através do
espaçamento e fragmentação das linhas musicais. Também encontramos a justaposição de diferentes
abordagens: diferentes apresentações de uma idéia musical, como a mudança direta de instrumentação no
meio de uma melodia que remete a mudança de visão da câmera sobre uma personagem. Essas técnicas são
desenvolvidas por Leydon em seu artigo, mas procuramos nos apropriar delas tentando entender como
funcionam musicalmente e acontecem na obra estudada.

3. Resultados e Discussão
Para tratar da forma e do discurso musical dessa sonata foram produzidos três esquemas formais, um
para cada movimento (Pastorale, Interlude e Finale), que expressam interpretam esses elementos. Esses
esquemas possuem três níveis paralelos (cada um iniciando e terminando com barra dupla) que representam
informações diferentes. O primeiro é a representação forma: as seções são identificadas com dois números, o
primeiro para o cenário e o segundo para a cena, apresentando assim dois níveis da divisão formal. Algumas
seções não possuem o segundo número por não serem divididas em mais de uma cena, sendo representado
somente pelo número do cenário e um ponto. São exceções a essa numeração a coda dos movimentos 1 e 3
por reunirem elementos de diversas cenas. Esse nível da forma foi dividido em 3 ou 4 planos que
correspondem as relações entre as cenas que ficam em cada plano. De maneira geral os movimentos 1 e 3
que são expressões de forma sonata têm o primeiro plano para os temas principais, o segundo para transições
e o terceiro para um seção contrastante. Já o movimento central tem seus planos associados aos cenários,
pois esses são estruturais para a construção formal.
O segundo nível indica por símbolos formas de transição identificadas conforme as técnicas
cinematográficas: corte direto ( | ), afastamento ( > ), sobreposição ( . . . ), dissolução ( ~ ~ ); indica
desenvolvimentos harmônicos importantes ( → ); e no primeiro movimento um gesto cadencial importante
para essa obra (um ponto circunscrito).

Fig. 1 Esquema formal do primeiro movimento: Pastorale.

O terceiro nível é uma representação do andamento e seus nuances durante cada movimento. Essa obra
é um crescente de andamento começando com Lento, dolce rubato no primeiro movimento, Tempo di
Minuetto no segundo e Allegro moderato ma risoluto no terceiro. Porém todos eles possuem várias
indicações de variação do tempo que são de grande importância para o discurso dessa sonata tendo muita
relação com os níveis anteriores do esquema.

7
Ver Berry (1987), capítulo 2 Texture.
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Também são indicados nos esquemas os números de compasso do início de cada cena e as fórmulas de
compasso utilizadas.
Quanto às duas expressões de forma sonata nessa obra temos: no primeiro movimento a exposição de
duas regiões temáticas (cenários 1 e 2) que de forma misteriosa e despretensiosa afirmam um centro. O
primeiro cenário chegará a Fá maior após um inicio que parece não indicar uma direção e o segundo a Dó
maior transformando lentamente da região afirmada tardiamente em Fá. Ambos utilizam-se de um momento
de afirmação de suas relativas menores (Ré e Lá) e de estruturas cadenciais: a sequência de graus da escala
maior 4-3-2-1 e o apoio no 2º e 6º graus nas finalizações melódicas. Na recapitulação (quando 2.1 é
retomado) Debussy reorganiza as cenas utilizando expansões (indicadas com linhas tracejadas no nível da
forma no esquema) que vem relembrando a sonoridade de incerteza que o inicio da sonata incita. O segundo
tema não é transposto pois não há a necessidade já que o progresso que levaria a definir Dó é desviado a uma
cadência para Fá, terminando como em 1.3. A ponte (3.) que separava os temas agora leva a coda que inicia
relembrando 1.1 e logo combina temas do primeiro e segundo cenário para levar ao desfecho por meio dos
elementos cadenciais antes utilizados.

Fig. 2 Esquema formal do segundo movimento: Interlude.

No terceiro movimento os temas contrastantes aparecem juntos nas mesmas cenas mas em situação de
oposição pelo discurso e sonoridade. As cenas em que eles se opõem no primeiro cenário estão no primeiro
plano e são alternadas com cenas em que os temas aparecem isolados, primeiro o tema 1 e depois o tema 2
(em 1.2 e 1.4 respectivamente). Transições entre as cenas são abundantes, o que torna esse movimento muito
fluído, e são representadas por linhas diagonais. O terceiro cenário faz a união desses temas: em 3.1 ainda em
conflito apesar de já possuírem o mesmo centro Sib e em 3.2 em uma recapitulação totalmente harmoniosa,
mesmo sem possuir o mesmo centro, ambientam a mesma região diatônica e a dupla exposição completa de
cada tema revela o acordo desse momento.

Fig. 3 Esquema formal do terceiro movimento: Finale.

A construção formal do segundo movimento é outro integrante importante dentro da estrutura da


sonata. Ela faz referência ao rondó com a repetição do início ao fim de um tema principal, porém com as
características de variação dos ambientes de Debussy. Como se cada cenário fosse um lugar diferente, o

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discurso musical desse movimento passa a idéia de que todos esses lugares existem ao mesmo tempo
exercem influência no ambiente principal, o cenário 1. Como um interlúdio, seu início é despretensioso, uma
melodia isolada, e seu final, passa simplicidade, aos poucos se afasta regredindo a textura e por fim,
humildemente termina.
O ciclismo dessa obra é delicado, não tenta se sobressair, é expressiva a recapitulação de 1.1 do
primeiro movimento na coda do terceiro movimento, seção que se apresenta como o final da obra, pois logo
em seguida junta o tema do Finale com o gesto cadencial 4-3-2-1 de Pastorale para um grande fim IV-I (em
graus harmônicos) afirmando essa relação da harmonia. Mais que isso, as cenas do Finale, a partir de 3.1
esboçam esse gesto por suas regiões diatônicas, mas no modo menor, o modo do movimento. Suas seções
contrastantes (2.1 e 2.2) também se apóiam nos centros Ré e Sol que (2º e 6º) que foram importantes no
primeiro movimento.
Além disso, todos os movimentos apresentam uma oposição entre a mencionada técnica
composicional de seqüenciar eventos musicais e uma seção de desenvolvimento contínuo: Pastorale cenário
4, Interlude cenário 2, Finale cenário 2. O cenário 4 do primeiro movimento, que ali se comporta como
desenvolvimento, parece tão alheio ao que vinha acontecendo, mas podemos notar nele referência ao que
está por vir em suas similaridades com tema principal do interlude e principalmente com a cena 1.1 desse
movimento. Outros elementos de sonoridade também são comuns aos movimentos como os rápidos gestos
ornamentais muitas vezes executados pela flauta.

4. Conclusão
Percebemos e constatamos a relevância dessa obra como sonata no desenvolvimento dessa importante
forma instrumental no que diz respeito à dualidade temática, oposição e conciliação de temas e também na
unidade da obra separada em movimentos. Verificamos também a linguagem de Debussy percebendo sua
construção composicional e a delicadeza do tratamento dos elementos musicais.
Sobre nossas ferramentas de análise, não consideramos muito menos percebemos que as técnicas de
composição de Debussy vêm do cinema ou são uma referência a ele, porém, como as duas formas de arte são
organizações e manipulações do tempo, uma pelo som e a outra pela imagem (em especial no cinema mudo
do início do século), torna-se compreensível que elas apresentem seus discursos com ferramentas análogas,
mas cada uma com a especificidade de sua linguagem. Porém, ao usar a imagem, o cinema torna suas
técnicas muito mais palpáveis, já que a imagem é mais relacionada à „natureza‟ do homem, e para essa
afirmação faço referência a uma discussão sociológica que inicia com a idéia de que a arte deveria imitar a
natureza, o que se torna um problema para a música instrumental, a ser superado com desenvolvimento da
estética. Dessa forma a referência ao cinema é um mecanismo de facilitação da interpretação do discurso de
Debussy. Acreditamos que essa forma de discurso se desenvolveu com a história da música e teve grande
evolução nesse compositor que é conhecido por fazer referências a imagem em sua obra. Assim não seria
absurdo supor uma influência da música no discurso cinematográfico. Porém esse trabalho não se propõe a
esse estudo.

Bibliografia
BENEDETTI, Danieli. Claude Debussy e o ano de 1915. Anais do XVI Congresso da Associação Nacional
de Pesquisa e Pós-graduação em Música (ANPPOM). Brasília, 2006: p. 958 – 963.
BERRY, Wallace. Structural Functions in Music. New York: Dover, 1987.
CRAFT, R.; STRAVINSKI, I. Conversas com Igor Stravinski. São Paulo: Perspectiva, 1984.
DEBUSSY, Claude. Monsieur Croche e outros ensaios sobre música. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989.
DUWE, M.; PIEDADE; A. Os Cenários Moventes da Sonata para Flauta,Viola e Harpa de Claude
Debussy: considerações analíticas. Florianópolis: DAPesquisa – Revisata de Investigação em Artes, vol.3,
nº2, 2009.
GERLING, C. C.; HOLANDA, J. C. Resenha: os verbetes “Sonata” e “Forma sonata” no Dicionário
Grove: 1956, 1980 e 2001. Per Musi – Revista de Performance Musical, nº7, 2004.
LEYDON, Rebecca. Debussy late Style and the Devices of the Early Silent Cinema. Music Theory Spectrum,
23, 2, 2001: p.217-241.
NICHOLS, Roger. Debussy Remembered. Portland, Oregon: Amadeus Press, 1992.
SOMER, Avo. Musical Syntax in the Sonatas of Debussy: Phrase Structure and Formal Function. Music
Theory Spectrum, 27, 1, 2005: p.67-95.
WALKER, Deanne E. An Analysis of Debussy’s Sonata for flute, viola and harp. Dissertação de Mestrado
em Música. Houston: Rice University, 1987.
WHEELDON, Marianne. Debussy and La Sonata Cyclique. The Journal of Musicology, 22, 4, 2005: p.644-
679.

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AÇÃO VOCAL: A VOZ COMO INDUTORA E COMO RESULTANTE DA AÇÃO NOS


PROCESSOS CRIATIVOS DO ATOR
1
*Angélica Gardin Ertel

Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução
O projeto trata da investigação de um processo criativo baseado na experimentação da voz como
elemento de criação do atual trabalho da aluna-atriz. A proposta consiste na elaboração de partituras de ação
tendo a voz como sua indutora e como sua resultante. Para trabalhar com a plenitude da voz utilizar-se-á,
primeiramente, exercícios focados na respiração. Por fim, trabalhar-se-á a ação vocal, em suas diferentes
nuances, a partir do conhecimento labaniano sobre os fatores, as qualidades e as dinâmicas de movimento
abordados pelo viés da vocalidade. Este processo visa experimentar corporalmente as diversas possibilidades
vocais em busca da ação.
Enfim, acredita-se que a voz como resultante do corpo em movimento age e reage a qualquer situação
que lhe é proposta. Sendo assim, a questão problema para o estudo proposto é: Qual a eficácia dos processos
atorais desenvolvidos em laboratório que consideram a voz como elemento ativo da criação tanto como indutora
quanto como resultante da ação?

2. Método
Far-se-á um trabalho voltado na Ação Vocal, que segue como foco da pesquisa. Trabalhar-se-á
com a respiração como meio de sustentação da ação corpo/voz. Procurar-se-á trabalhar com as partituras de ação
criadas desde o andar até o correr, o falar até o cantar, buscando assim sistematizar a respiração e compreender
seus mecanismos, bem como as nuances sonoras resultantes da liberação da voz.
Para entender a mecânica do som e as nuances da voz, utilizar-se-á as qualidades de movimento
propostas por Rudolf Laban (1990). Os fatores do movimento, suas qualidades diversas e as dinâmicas
correspondentes serão experimentados nas partituras de ação aplicando-se trajetórias distintas. Portanto, a voz
poderá ser resultante e indutora das ações criadas pelo ator, a partir das dinâmicas experimentadas vocalmente.

3. Resultados e Discussão
A voz é um prolongamento sonoro do corpo produzido pela expiração e pela vibração das cordas vocais
que acontece no espaço e no tempo. O som vocal pode ter diferentes objetivos. No cotidiano, a voz organizada
em palavras, busca a comunicação e possui um fim utilitário ou funcional. Em sua tese LOPES (1997) explica
que a voz pode ter diversas funções, porém, na arte a voz possui um objetivo poético, como no canto e nas
performances cênicas. Assim, ao realizar um recorte voltado para a presente pesquisa, considera-se a voz poética
como produtora de sentidos gerando a ação vocal.
O som vocal pode variar na intensidade, espacialidade, tempo, timbre, como também na musicalidade e,
assim, assumir diversas nuances. Estas nuances podem ser escolhidas pelo emissor a fim de elaborar uma ação
vocal adequada que, por sua vez, pode ser inserida no contexto teatral.
A intensidade da voz refere-se à força e ao volume da mesma; a espacialidade é a maneira como a voz se
projeta no espaço; o tempo é marcado pelas variações rítmicas da voz; e o timbre é a identidade do som. A união
destes elementos sonoros é responsável por dar a curva melódica da fala, denominada entonação. A
musicalidade da ação vocal é resultante de um conjunto de elementos, tais como, a pontuação, as pausas, a
articulação da fala, entre outros.
Para esclarecer a importância do trabalho vocal para a aluna-atriz, primeiramente, torna-se fundamental
conhecer os mecanismos da respiração. O ar é a matéria concreta que transita pelo corpo proporcionando os
movimentos de inspiração e expiração que, aliados à vibração das cordas vocais, são os responsáveis por gerar o
som. A respiração em três dimensões, na qual as costelas inferiores e posteriores distendem e contraem para
frente, para trás e para os lados, permitindo a entrada de ar livremente, proporciona maior sustentação vocal, que
por fim, auxiliará no trabalho da aluna-atriz. Para exercícios de controle da respiração deve-se cuidar com a
utilização das consoantes, já que quando pronunciadas sem uma vogal intercalando-as, apenas fecham a laringe,
1
*angelica_ertel@hotmail.com
520
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

não auxiliando no processo da respiração. As consoantes trabalham através dos ossos, dos músculos, da pele,
para a sua percepção. As vogais têm acesso livre ao plexo solar. Lopes (1997, p. 28) declara em sua tese que as
vogais podem ser vistas como o componente emocional da construção das palavras e as consoantes como seu
elemento intelectual.

Quando as palavras são vistas, saboreadas, sentidas, tocadas, elas criam profundidade e rompem os padrões estabelecidos
do pensamento; despertam emoções, memórias, associações e denotam a imaginação; trazem vida. A necessidade de algo
concreto nas palavras associa-se à paixão do processo criativo do artista: as palavras devem ser as emoções para poderem
revelar profundidade à condição humana. (LOPES, 1997, p. 28)

Para entender o que envolve a ação vocal, tornou-se necessário estudar as possibilidades de aplicação de
nuances diversas em busca da ação. Por fim, buscar-se-á abordar as propostas lançadas para a trajetória do
processo criativo a partir de alguns pressupostos levantados por Sara Lopes2, dentre os quais, a voz é um
acontecimento, onde o corpo fala e a voz gesticula na duração do instante do ato vocal.
Se a voz é um atributo construído no corpo, as alterações aplicadas em sua estrutura podem resultar em
nuances diversificadas. Para trabalhar com essas nuances utilizar-se-á de alguns dos princípios elaborados por
Rudolf Laban, denominados Fatores, Qualidades e Dinâmicas do Movimento. Os estudos realizados por Laban
trouxeram uma grande contribuição para entender os elementos intrínsecos do movimento e seus
desdobramentos, voltados para as artes corporais. Contudo, nesta investigação serão transpostos os referentes
fatores e a combinação das suas qualidades para o trabalho vocal.
Laban elaborou um esquema (Figura 1) que apresenta os fatores e as qualidades do movimento
resultando em oito dinâmicas básicas que podem ser combinadas e que criam possibilidades múltiplas de
comunicação e expressão.

Fig.1 Quadro elaborado pela aluna a partir do estudo dos pressupostos labanianos:

Dinâmicas/Fatores Espaço Tempo Força Fluência


Torcer Flexível Lento Pesado Sustentado
Pressionar Direto Lento Pesado Sustentado
Flutuar Flexível Lento Leve Sustentado
Deslizar Direto Lento Leve Sustentado
Chicotear Flexível Lento Leve Súbito
Socar Direto Rápido Pesado Súbito
Sacudir Flexível Rápido Leve Súbito
Pontuar Direto Rápido Leve Súbito

Estas possibilidades diversas serão empregadas na experimentação da voz, a fim de encontrar nuances
condizentes com as partituras de ação inseridas nas situações vividas pela personagem.
Desta forma, acredita-se que a voz pode produzir inúmeras variações no espaço, no tempo, no peso e na
fluência, bem como, nas combinações variantes de suas qualidades. Portanto, a voz entendida como atributo
corporal, será experimentada, a partir dos estudos práticos sobre os fatores e as qualidades do movimento
labanianas.

4. Conclusão
Neste trabalho experimentou-se a voz como indutora e como resultante da ação do ator, trabalhando com
os pressupostos labanianos na ação vocal. A partir disto, designou-se a voz como elemento fundamental nos
processos atorais, para além de resultante da ação do ator, mas também, produtora de sentidos, qualificados no
corpo-voz.
Esta pesquisa continua em laboratório até o final do presente ano, dispondo assim de variações,
encontradas ao longo do trabalho. Portanto, pode-se dizer até o momento, que o método Laban, de fatores,

2
A Professora Doutora Sara Pereira Lopes é docente junto ao Departamento de Artes Cênicas do Instituto de Artes da
UNICAMP.
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

qualidades e dinâmicas do movimento, aplicados na ação vocal, proporcionará a aluna-atriz diversas


possibilidades de criação de personagens.

Referencias
BARBA, Eugênio. SAVARESE, Nicola. A arte secreta do ator: dicionário de antropologia teatral. Editora
Hucitec, São Paulo, 1995.
BURNIER, Luis Otávio. A arte de ator: da técnica à representação – elaboração, codificação e
sistematização de técnicas corpóreas e vocais de representação para o ator – Tese de doutorado em
Semiótica, Pontifícia Universidade Católica – PUC/São Paulo, 1994.
COHEN, Renato. A performance como linguagem. Editora Perspectiva, São Paulo, 1989.
GLUSBERG, Jorge. A arte da performance. Editora Perspectiva, São Paulo, 1987.
GROTOWSKI, Jerzy. Em busca de um teatro pobre. Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1971.
ICLE, Gilberto. Teatro e construção de conhecimento. Mercado Aberto-Fundarte, Porto Alegre, 2002.
LABAN, Rudolf. Domínio do movimento. Summus Editorial, São Paulo,1978.
____________ Dança educativa moderna. Editora Ícone, São Paulo, 1990.
LOPES, Sara Pereira. Diz isso cantando! – A vocalidade poética e o modelo brasileiro. – Tese apresentada ao
Departamento de Artes Cênicas da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. São Paulo,
1997.
PAVIS, Patrice. Dicionário de teatro. Editora Perspectiva, São Paulo, 1999.
VENEZIANO, Neyde. Não adianta chorar – Teatro de Revista – Oba!. Editora Unicamp, 1944.
_________________ O teatro de revista no Brasil. Editora Pontes, 1991.
ZUMTHOR, Paul. Performance, recepção, leitura. Editora Cosac Naify, 2007.

Agradecimentos
Agradeço a minha orientadora, Gisela Biancalana, que me orientou nesta pesquisa, incentivando meu
trabalho pessoal. Agradeço também à Cândice Lorenzoni e ao Daniel Plá que, juntamente com a orientadora,
avaliaram e qualificaram meu projeto. Fico grata aos meus colegas de faculdade: Gustavo Scherer, Francine
Flach, Daniéli Silveira e Deivid Gomes que fazem parte desta pesquisa, tornando-a, juntamente comigo, um
espetáculo teatral.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

ADAPTAÇÃO DE MATERIAIS NO ENSINO DE ARTE PARA PESSOAS COM


DEFICIÊNCIA VISUAL

PPGAV-CEART-UDESC1

1. INTRODUÇÃO
O presente texto procura abordar questões que envolvem o ensino de arte voltado para a
inclusão das pessoas com necessidades especiais, nas instituições regular de ensino e espaços
culturais, todavia o recorte da pesquisa de mestrado, aqui retratada, enfoca nas adaptações de
materiais didáticos para a acessibilidade da pessoa com deficiência visual por meio da arte
contemporânea. As muitas formas de linguagens, abordagens e conceitos presentes na arte
atualmente, apresentam-se como possibilidades latentes de inclusão, ou mais que inclusão,
democracia no ato de conhecer, interpretar e sentir as obras de arte.
Alguns estudos como os de Ballestero-Alvarez, 2003; Tojal, 1999 e Silveira, 2006, já
apontam para como os deficiente visuais podem fruir arte, neste sentido, as pinturas se
transformam em maquetes e desenhos táteis; as esculturas diminuem de tamanho, para que se
possa ter a noção do todo com o toque das mãos. Estes são recursos já testados e que
comprovadamente funcionam e possibilitam a quem não tem uma visão privilegiada desfrute os
bens culturais. Após ter estudado e trabalhado com estes recursos, veio a necessidade de
investigar outras possibilidades, e neste sentido, procurar na arte contemporânea obras que
necessitassem de pouca ou nenhuma adaptação para o público deficiente visual

2. METODOLOGIA
A dissertação desenvolveu um estudo investigativo baseado na pesquisa qualitativa, que
para Flick (2004) torna-se relevante para o estudo das relações sociais, nos dias atuais devido a
pluralização dos contextos da vida, exigindo uma nova postura para o estudo empírico. “Os
defensores do pós-modernismo argumentam que a era das grandes narrativas e teorias chegou ao
final: as narrativas agora devem ser limitadas em termos locais, temporais e situacionais” (p.18).
Nesse sentido o processo passa a ser parte fundamental da pesquisa. Segundo Dias,
(2000) a pesquisa qualitativa é um tipo de pesquisa onde o pesquisador pode ser o interpretador
de uma realidade sendo capaz de descrever fenômenos e comportamentos, e também fazer
citações diretas de pessoas envolvidas na pesquisa e ainda, interagir com indivíduos, grupos e
organizações. As abordagens de pesquisa qualitativa são apropriadas quando o objeto de estudo é
de natureza social e cultural, visando observar interações entre pessoas e sistemas. O pesquisador
poderá desenvolver conceitos e entendimentos partindo dos dados coletados para comprovar ou
não suas hipóteses, sendo utilizado em estudos onde os participantes contribuem com suas
interações com o pesquisador e com o grupo.
Neste sentido durante a coleta de dados para esta pesquisa, foi realizada a Oficina de
Arte: reflexões contemporâneas, na qual muitas obras foram adaptadas para que os participantes
deficientes visuais pudessem interagir com as obras, no entanto, algumas das obras quase não
tiveram que ser modificadas.
A pesquisa teve então o objetivo de encontrar obras nas quais a acessibilidade, o
tamanho, os conceitos, viessem ao encontro com o cotidiano dos alunos. Para tanto três conceitos
permeiam a pesquisa das obras: o corpo, o objeto e a palavra.
Os artistas selecionados são alguns consagrados no mundo das artes e reconhecidos
internacionalmente, no entanto, fazem parte, artistas estrangeiros, brasileiros e alguns que vivem
e trabalham na cidade de Florianópolis. Procurando dessa forma, abranger, não só de conteúdos,
mas possibilitando que os participantes reconhecessem que o universo da arte não está somente
longe, mas do mesmo modo, aqui, na cidade deles.
Alguns critérios nortearam as escolhas das obras e materiais utilizados, dentre eles
podemos destacar: a acessibilidade dos materiais; se tem tamanhos adequados, para a
compreensão do tato; se são pontiagudos, cortantes, ou de material que representasse algum
perigo ao ser manuseado (TOJAL, 1999). Bem como se os conteúdos e poéticas dos artistas

1
Adriane Cristine Kirst: adrianekirst@hotmail.com

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

vinham de encontro com interesses dos participantes da pesquisa; e se os materiais eram de fácil
acesso, com baixo custo para que instituições culturais e professores de arte pudessem
reproduzir.ou a partir daqui fazer suas próprias investigações dentro do campo da arte.
O embasamento teórico das obras de arte presentes oficina, investigou a proliferação de
possibilidades na arte contemporânea (BOURRIAUD, 2009; CANONGIA, 2005; ARCHER,
2001; CAUQUELIN, 2005). O legado de Duchamp, e a arte após os anos 60, contribuíram para a
construção dos conceitos e materiais didáticos, produzidos nesta investigação.
Para Fonseca da Silva (2007), o material didático nas aulas de arte, faz a mediação entre
os alunos e a atualidade, seja por meio de imagens das obras de arte, ou como no caso dessa
pesquisa, das matrizes táteis e as propostas dos artistas, proporcionando novos sentidos
simbólicos, que irão re-significar o contexto de cada um. A autora usa o termo objeto pedagógico
para se referir “[...] a todo o instrumento didático construído ou utilizado pelo estudante ou pelo
professor, para mediar a aprendizagem (p. 152) Portanto, ampliam-se as possibilidades de
aprendizagens por meio de artefatos manuais e tecnológicos utilizados no contexto do ensino de
arte. Quando nos referimos aos deficientes visuais, o material produzido para mediar a arte e eles
é imprescindível.

3.RESULTADOS
Pode-se dizer que nos resultados da pesquisa, os materiais adaptados e testados na
Oficina de Arte: reflexões contemporâneas, mostraram-se acessíveis, e produziram uma
aprendizagem em arte significativa tanto para os participantes com deficiência visual, como para
os videntes. Neste momento mostraremos o material que foi adaptado para um dos encontros da
coleta de dados da pesquisa, sendo esta uma pequena mostra, já que as atividades ocorreram em
10 encontros.
Iniciamos a descrição dos materiais produzidos pela natureza-morta, um gênero que
domina a arte desde a Idade Média2, essa abordagem foi escolhida, para que você possível fazer
relações entre o passado e o presente, introduzindo os participantes da coleta de dados, na arte
contemporânea.e para que fosse tomado conhecimento sobre qual o entendimento de arte os
participantes tinham.
O primeiro artista que teve uma de suas obras adaptadas para a inclusão dos deficientes
visuais na oficina de arte foi Theodor Fantin-Latour. Este artista Frances é considerado um dos
grandes pintores de natureza morta, um gênero de pintura que perpassa toda a história da arte
(GALLAGLER, 2004), desse forma então, compondo a oficina de coleta de dados para fazer
contrapontos entre o clássico e o contemporâneo. Todavia, outro aspecto importante para a
escolha de sua obra, “Um prato com maçãs”1861, deveu-se a simplicidade dos elementos que
compõe a obra, tornando-se acessível para compreensão do tato e o envolvimento de outros
sentidos, como o olfato e o paladar.

Fig.1. “Um prato com maçãs”, 18613 Fig.2. Matriz tátil da obra

2
Disponival em: http://www.itaucultural.org.br. Acesso em: 12 jan 2009.
3
Disponível em: http://www.nationalgallery.org.uk. Acesso em: 12 jan 2009.

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O material adaptado foi confeccionado com um prato de porcelana, e quatro frutas e um


desenho em relevo tátil sobre reprodução da pintura, tornando-se tátil pela perfuração com
alfinete na figura em papel canson.

Fig. 3. Desenho em relevo tátil da obra, “Um prato com maçãs”, 1861

O artista norte americano Andy Warhol, também foi selecionado para compor a oficina,
por ser ímpar no universo da arte. Para alguns autores a Pop Art é considerada o inicio da arte
contemporânea (CAUQUELIN, 2005 e ARCHER, 2001). Outro ponto que nos fez escolher este
artista, foram as suas naturezas- mortas, que trazem a discussão, para modos distintos de pensar
este gênero de pintura. Contribuindo no contexto geral da oficina para que pudéssemos fazer
relações entre o passado e o presente em diferentes modos de tratar a imagem, trazendo
discussões sobre a publicidade, a reprodutibilidade e o consumo. Destacamos ainda, a
simplicidade presente na obra escolhida, sendo de fácil acesso para os deficientes visuais,
compondo-se de poucos elementos, e linhas.

Fig.4. “Banana”, 19664 Fig. 5. Matriz tátil da obra.

Na obra, “Banana”, 1966, o material adaptado foi a matriz tátil produzida com uma
banana sobre uma placa de madeira branca e um desenho em relevo tátil, perfurado com alfinetes
sobre papel de diagramação grossa, feito a partir da reprodução da obra, desenhando as linhas
principais que compões a obra.

4
Disponível em: coca-cola-art.com. Acesso em 12 março 2009.
:

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Fig.6. Desenho em relevo tátil da obra “Banana”, 1966.

4. CONCLUSÃO
Acreditamos que a inclusão dos alunos com necessidades especiais no ensino regular e
espaços culturais, deve ocorrer com responsabilidade e cuidado, para que os mesmo, realmente se
sintam acolhidos e participem de todas as atividades propostas, assim como os demais estudantes.
As pessoas com deficiência visual também devem ter acesso as imagens, pois é inegável que
vivemos cada vez mais rodeados por elas, desse modo, para que realmente façam parte da
sociedade na qual vivem devem experenciar o mundo nas suas muitas possibilidades, neste
sentido, a arte além de conhecimento, torna-se um grande laboratório de vivencias.

5. REFERENCIAS
ARCHER, Michael. Arte Contemporânea, uma História Concisa. São Paulo: Martins Fontes,
2001.
BALLESTERO-ALVAREZ, Jose Alfonso. Multissensorialidade no ensino de desenhos a
cegos. Dissertação de Mestrado. São Paulo: ECA-USP, 2003.
BOURRIAUD, Nicolas. Pós-Produção, como a arte reprograma o mundo contemporâneo.
São Paulo: Martins Fontes, 2009a.
CANONGIA, Ligia. O legado dos anos 60 e 70. Rio de Janeiro Jorge Zahar Ed, 2005.
CAUQUELIN, Anne. Arte Contemporânea, uma introdução. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
DIAS, Claudia. Pesquisa qualitativa – características gerais e referencias.
www.geocities.com\ claudiaad\ qualitativa. Acesso em:17 abril 2008.
FLICK, Uwe. Uma introdução à pesquisa qualitativa. São Paulo: Bookman, 2004.
FONSECA DA SILVA, Maria Cristina da Rosa. Objetos pedagógicos para o ensino de arte em
contextos inclusivos. In: Anais da 16° Anpap, 2007
GALLAGLER, Ann. Natureza-Morta. São Paulo: British Council, 2004.
TOJAL, Amanda Pinto da Fonseca. Museu de arte e público especial. Dissertação de mestrado.
São Paulo: ECA – USP, 1999.
SILVEIRA, Tatiana dos Santos da. Vendo com as mãos, praticas pedagógicas para a inclusão
escolar em artes visuais. Dissertação de Mestrado, Universidade Regional de Blumenau –
FURB, Blumenau, 2008.

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ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE OS PERSONAGENS NA TRADUÇÃO


MACHADIANA DE OLIVER TWIST

Franciano Camelo1*; Profa. Dra. Maria Eulália Ramicelli2


1, 2
Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução
Oliver Twist começou a ser escrito por Charles Dickens em 1837, na Inglaterra. Os oito capítulos
iniciais foram publicados na primeira edição da Bentley’s Miscellany em junho do mesmo ano. No início de
1870, aqui no Brasil, Machado de Assis aceitou o convite dos proprietários do Jornal da Tarde para traduzir
o badalado romance [5]. Tal fato levou críticos brasileiros a concluírem que Machado conhecia bem a língua
inglesa, uma vez que, como se chegou a apontar, o romance de Dickens não era texto para tradutores
principiantes [7]. Não obstante, em Dispersos de Machado de Assis, Jean-Michel Massa prova que Machado
não poderia ter traduzido esse romance diretamente do texto inglês, mas de uma versão francesa. Segundo
Massa:

Não somente Machado de Assis conhecia bem a língua francesa, mas, durante
muito tempo, foi a única língua estrangeira que ele sabia. Constata-se, na verdade,
que, em 1870, ao contrário do que se supunha e afirmava (Lúcia Miguel Pereira,
Gondim da Fonseca), Machado ignorava a língua inglesa. De fato, sem jamais se
referir ao texto original, ele utiliza para traduzir Oliver Twist [...] uma versão
francesa [...] de Alfred Gérardin, publicada em 18641 [6].

Com efeito, traduzir uma obra literária inglesa por mediação francesa era uma prática bastante comum
durante o século XIX no Brasil. Conforme argumenta Sandra Vasconcelos, a França desempenhou um
importante papel mediador entre a Inglaterra e o Brasil no que diz respeito à circulação de romances.
Freqüentemente, a expressão “traduzido do francês” escondia a origem inglesa dos romances [9]. A
propósito, a pesquisa de Marlyse Meyer, que desvendou a origem de Sinclair das Ilhas, é esclarecedora de
tal questão. As listas por ela encontradas na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro indicavam Mme.
Montolieu como autora de Sinclair das Ilhas. Todavia, como descobriu Meyer, em um levantamento na
Bibliotèque Nationale de France, Sinclair das Ilhas foi publicado em 1803 por uma romancista inglesa
chamada Mrs. Elizabeth Helme e chegou ao Brasil por meio de uma tradução francesa feita por Mme.
Montolieu [8].
Cabe-nos questionar, então, o que a tradução de Machado apresentaria de particular, além de não ter
sido feita diretamente do texto original. Ora, é importante considerar que a precariedade de regulamentação
de direitos autorais à época resultou, de modo freqüente, em livre apropriação e manipulação de textos [10].
Nesse sentido, analisar o processo tradutório de Oliver Twist, um romance traduzido naquele período,
implica em se deparar com um texto que apresenta alterações na estrutura narrativa. Conforme já apontou
Massa, o texto de Dickens é remodelado na tradução de Machado, seja por meio de omissões (de uma
palavra, uma frase, vários parágrafos) ou por adaptações [7]. Se considerarmos a perspectiva de André
Lefevere e Susan Bassnett acerca do enfoque cultural nos estudos de tradução, alterações e adaptações
parecem ser relevantes na medida em que a tradução constitui um processo cultural de reescrita que envolve
sempre mais de um contexto [3], e pode diferir em termos de função em relação ao texto-fonte [4]. Assim, as
diferenças entre o texto dickensiano (texto-fonte) e a tradução de Machado de Assis (texto-alvo), decorrentes
da liberdade no processo tradutório, adquirem interesse analítico.
Ao ler a tradução machadiana, é possível perceber que há uma diferença significativa entre a maneira
com que alguns personagens são retratados no romance. No capítulo três, por exemplo, em que os membros
do conselho e o bedel discutem o futuro de Oliver, há parágrafos inteiros do texto de Dickens que não estão
presentes na tradução. Constata-se que essas omissões comprometem, principalmente, a caracterização de
personagens como o Sr. Bumble (o bedel) e o homem do colete branco (um dos membros do conselho) que
representam uma instância político-social que estava sendo reformulada na Inglaterra do século XIX. Nesse

*
Autor Correspondente: francianoc@yahoo.com.br
1
No original: « non seulement Machado de Assis connaissait bien le français, mais, pendant longtemps, il restera la
seule langue qu‟il connût. On constate, en effet, que, en 1870, contrairement à ce que l‟on supposait et affirmait (Lúcia
Miguel Pereira, Gondim da Fonseca) il ignorait l‟anglais. En effet, sans jamais se reporter au texte original, ainsi que le
démontrent les notes, il utilise pour traduire Oliver Twist, roman transcrit ci-près (N.º 113), une version française. Il
retraduit le texte procuré par Alfred Gérardin, publié en 1864 » (MASSA, 1965) Tradução minha.
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sentido, este trabalho visa a apresentar uma análise comparativa da configuração dada a esses dois
personagens no texto de Dickens e na tradução de Machado, a fim de melhor entender qual é a imagem
desses personagens a que os leitores brasileiros tiveram acesso.

2. Método
Para apresentar a análise comparativa a que me proponho, é necessário, em primeiro lugar, mapear de
que modo o Sr Bumble e o homem do colete branco se configuram no texto inglês e na tradução de
Machado, levando em consideração quais informações pode-se ter desses personagens ao longo do romance
e como o leitor tem acesso a elas. Esse mapeamento faz parte de um amplo levantamento das diferenças
entre o texto de Dickens e a tradução de Machado, que permitirá não somente conhecer essas diferenças, mas
também, numa fase posterior, analisar, em profundidade, o papel da tradução francesa nesse processo
tradutório.

3. Resultados e Discussão
A comparação entre o texto de Charles Dickens e a tradução de Machado de Assis nos permite
constatar que tanto o Sr Bumble quanto o homem do colete branco se constroem na narrativa,
principalmente, por meio de comentários do narrador, o qual fixa determinados saberes acerca desses
personagens.
No texto original, assim como na tradução, o Sr. Bumble é apresentado como um homem de índole
propensa à ira. Em sua primeira aparição no romance, Bumble vai até a casa da Sra. Mann (a senhora que
recebe dinheiro da paróquia para cuidar de órfãos como Oliver) e, encontrando o portão fechado, começa a
sacudi-lo com toda a força e por fim aplica um pontapé – mas um verdadeiro pontapé de bedel, como
enfatiza o narrador. Tentando contornar a situação, a Sra. Mann lamenta ter esquecido o portão fechado e se
justifica dizendo que as crianças fazem-na esquecer de tudo. Em seguida, ela abre o portão, e convida o bedel
para entrar; o narrador então pontua que, embora ela o tenha feito com tal reverência que teria abrandado o
coração mais duro, não comoveu o Sr. Bumble. De fato, ao longo do romance de Dickens, são várias as
situações como essa em que esse personagem dá indícios de seu temperamento colérico. No capítulo quatro,
por exemplo, após Oliver ter implorado ao conselho para não ser entregue ao limpador de chaminés,
contrariando assim as instruções de Bumble, este, enfurecido, lança um olhar maligno a Oliver e exclama
que o menino é ingrato e perverso. Na realidade, o bedel fala de tal forma que nos leva a concluir que Oliver
é a criança mais ingrata e perversa de todas aquelas que ele já conheceu.
Porém, não é só por momentos de ira que se caracteriza esse personagem. Há outro aspecto curioso
sobre o bedel que pode chamar a atenção tanto do leitor do texto de Dickens como da tradução de Machado:
sua imponência e o orgulho pela posição que ocupa. Já no início do capítulo dezessete, o narrador conta que

logo cedo, o Sr. Bumble saiu pelo portão da oficina de trabalho e subiu a High-
street com ar majestoso e passos firmes. Ele estava investido do pleno vigor e
orgulho de bedel; seu casaco e seu chapéu de três bicos estavam deslumbrantes sob
o sol da manhã, e ele segurava seu bastão com toda a tenacidade que a saúde e o
poder lhe conferiam. O Sr. Bumble levava sempre sua cabeça elevada, mas esta
manhã estava mais elevada que de costume; havia uma abstração em seu olhar, e
uma elevação em seu semblante, o que poderia ter advertido qualquer um que
estivesse atento de que pensamentos passavam pela mente do bedel; pensamentos
importantes demais para serem proferidos.2

Como se pode perceber nesse excerto, o narrador descreve a altivez com que Bumble anda pelas ruas,
e também ressalta detalhes de seu traje, como o chapéu de três bicos, que é uma peça característica do
uniforme de um bedel. Ademais, a atitude do próprio bedel com relação ao chapéu reflete sua satisfação por
sua posição social. Ainda no capítulo dois, no episódio da visita à Sra. Mann, o narrador conta que o Sr.
Bumble, após ter entrado, “enxugou em sua testa o suor que a caminhada tinha produzido, lançou um olhar

2
No original: „Mr Bumble emerged at early morning from the workhouse gate, and walked, with portly carriage and
commanding steps, up the Hight-street. He was in the full bloom and pride of beadleism; his cocked hat and coat were
dazzling in the morning sun, and he clutched his cane with all the vigorous tenacity of health and power. Mr Bumble
always carried his head high, but this morning it was higher than usual; there was an abstraction in his eye, and an
elevation in his air, which might have warned an observant stranger that thoughts were passing in the beadle‟s mind, too
great for utterance‟. (DICKENS, 2003, pp. 135,136) Tradução minha.
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complacente ao chapéu, e sorriu.”3 Com efeito, o olhar de complacência para o chapéu, um símbolo de sua
profissão, enfatiza o contentamento que sente por ocupar tal cargo.
É preciso considerar, no entanto, que há passagens em que o narrador explicita o caráter cruel e,
porque não dizer, sádico do bedel, as quais não estão presentes na tradução machadiana de Oliver Twist. Por
exemplo, no capítulo três, há uma página inteira do texto de Dickens que não se lê na tradução. Nesse trecho,
o Sr. Bumble comunica a Oliver que ele será entregue a Gamfield, o limpador de chaminés, para se tornar
um aprendiz. É interessante analisar como se dá o diálogo entre Bumble e Oliver. O bedel diz ao menino que
os bondosos e abençoados senhores (referindo-se aos membros do conselho), que são como pais para ele,
dado que ele é órfão, vão torná-lo aprendiz, mesmo que isso onere a paróquia; e tudo por uma criança que
ninguém ama. Ouvindo essas palavras, Oliver chora amargamente. Na seqüência, o narrador diz que foi
gratificante para Bumble ver o efeito que suas palavras tinham produzido. Ora, por meio desse comentário
do narrador, que foi omitido na tradução, pode-se concluir que não só o bedel fazia o menino sofrer, mas
também que ele tinha prazer em vê-lo sofrer.
Além disso, os trechos em que o papel social e o caráter do bedel são problematizados e questionados
também não aparecem na tradução de Machado. A fim de compreender melhor esta questão, reportemo-nos
novamente ao capítulo dois, mais especificamente, à passagem em que o bedel olhou com complacência para
seu chapéu de três bicos e sorriu. No texto em inglês, subseqüente ao olhar e ao sorriso do bedel, o narrador
confirma que “Sim, ele sorriu” e acrescenta que “bedéis são apenas homens, e o Sr. Bumble sorriu.” 4 Logo,
podemos verificar que, nesse trecho, há uma avaliação crítica da parte do narrador sobre a posição que
Bumble ocupa, a saber, que a altivez e imponência conferidas pela posição do bedel não o tornam um
indivíduo superior aos demais; ao contrário, ele é apenas um homem.
Uma situação semelhante à do bedel parece ocorrer quando analisamos o segundo personagem: o
homem do colete branco. Tanto no texto dickensiano como na tradução de Machado, esse membro do
conselho também é um homem rude e ríspido com Oliver. É ele quem afirma decididamente que Oliver é um
tolo (quando o conselho pergunta ao menino se ele sabe o que é ser um órfão) e sentencia que o pequeno
órfão acabará na forca infalivelmente. Na tradução, as ações desse personagem também parecem ser
questionadas de maneira irônica pelo narrador. No capítulo dois, por exemplo, após o homem do colete
branco expressar sua opinião de que Oliver é um tolo, o pequeno chora. Em seguida, o homem do colete
branco pergunta por que ele está chorando, e o narrador acrescenta que isso era algo realmente
extraordinário; afinal, “Por que razão choraria Oliver?”[2] Como podemos perceber, o narrador parece
questionar de maneira irônica a atitude do homem do colete branco com relação a Oliver, já que, tendo-o
insultado da forma como o fez, era esperado que o menino chorasse.
Contudo, detalhes que tornam explícita a satisfação do homem do colete branco com o sofrimento
alheio não estão presentes na tradução de Machado de Assis. É importante destacar novamente um trecho do
capítulo três em que Gamfield e os magistrados discutem a possibilidade de tornar Oliver um aprendiz de
limpador de chaminés. Em determinado momento, um dos magistrados questiona Gamfield sobre o fato de
que tal ofício era desagradável e que meninos tinham morrido sufocados nas chaminés. Em seguida, o
limpador de chaminés explica como isso acontecia. O narrador comenta, então, que o homem do colete
branco parecia se divertir muito com a explicação, mas seu deleite foi interrompido por um olhar de outro
magistrado. Já na tradução, além de não constarem os pormenores referentes ao fato de os meninos
morrerem sufocados, o comentário do narrador comunica algo diferente do original, uma vez que este diz: “o
Sr. Gamfield dissipou [a] dúvida, alegrando muito ao sujeito do colete branco, que aliás ficou sério depois de
um olhar do presidente.”[2] Percebe-se, assim, que a partir do texto em português não podemos criar a
mesma imagem do homem do colete branco, ou seja, um funcionário do governo inglês que se diverte com o
sofrimento de meninos pobres e aprendizes.

4. Conclusão
Conforme mencionado anteriormente, a tradução de Machado apresenta alterações quando comparada
ao texto original de Dickens. A análise aqui desenvolvida nos permite constatar que essas alterações
adquirem interesse analítico, porque podem modificar a caracterização de personagens do romance. Mais
especificamente, verifica-se como a configuração do bedel (o Sr. Bumble) e de um membro do conselho (o
homem do colete branco) difere do original.
Em Oliver Twist, Dickens cria esses dois personagens que representam uma instância político-social
do contexto inglês do século XIX. Dado que esses personagens se configuram no romance, principalmente,

3
No original: „Mr Bumble wiped from his forehead the perspiration which his walk had engendered, glanced
complacently at the cocked hat, and smiled‟ (DICKENS, 2003, p. 9) Tradução minha.
4
No original: „Yes, he smiled: beadles are but men, and Mr. Bumble smiled‟. (DICKENS, 2003, p. 9). Tradução minha.
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por meio de avaliações e explicitação de aspectos de seu comportamento por parte de um narrador crítico e
irônico, pode-se concluir que há aí uma problematização e um questionamento do comportamento do bedel e
do membro do conselho. Quando comparamos o texto de Dickens e o de Machado, verifica-se que
justamente os trechos referentes à problematização e ao questionamento com relação a esses personagens
não constam na tradução machadiana. Nesse sentido, podemos concluir que os leitores brasileiros puderam
construir uma imagem suavizada, menos complexa, e não problematizada de Bumble e do homem do colete
branco – dois personagens que personificam aspectos particulares do contexto inglês.

Referências

[1] DICKENS, Charles. Oliver Twist. 1. ed. London: Penguin Classics, 2003.

[2] ________________. Oliver Twist. Tradução de Machado de Assis e Ricardo Lísias. 1ª ed. São Paulo:
Hedra, 2002.

[3] LEFEVERE, André; BASSNETT, Susan. Introduction: Proust‟s grandmother and the thousand and one
nights: The „cultural turn‟ in translation studies. In: LEFEVERE, André; BASSNETT, Susan (orgs.).
Translation, history and culture. London/New York: Printer Publishers, 1990. pp. 1-13

[4] SNELL-HORNBY, Mary. Linguistic transcoding or cultural transfer? A critique of translation theory in
Germany. In: LEFEVERE, André; BASSNETT, Susan (orgs.). Translation, history and culture.
London/New York: Printer Publishers, 1990. pp. 79-86.

[5] LÍSIAS, Ricardo. Apresentação. In: DICKENS, Charles. Oliver Twist. Tradução de Machado de Assis e
Ricardo Lísias. 1ª ed. São Paulo: Hedra, 2002. pp. 9-21.

[6] MASSA, Jean-Michel. Introduction. In: Dispersos de Machado de Assis. Rio de Janeiro: INL, 1965. pp.
vii-xliii.

[7] ________________. Machado de Assis tradutor. Belo Horizonte: Crisálida, 2008.

[8] MEYER, Marlyse. O que é, ou quem foi Sinclair das Ilhas? In: Folhetim: uma história. 2ª ed. São Paulo:
Companhia das Letras, 2005. pp. 21-52.

[9] VASCONCELOS, Sandra Guardini Teixeira. Leituras inglesas no Brasil oitocentista. In: FONSECA, M.
A. (org.). Olhares sobre o romance. São Paulo: Nankin Editorial, 2005. pp. 255-285.

[10] RAMICELLI, Maria Eulália. Tradução e liminaridade ficcional no século XIX. In: Narrativas
Itinerantes. Aspectos franco-britânicos da ficção brasileira, em periódicos da primeira metade de século
XIX. Santa Maria: Ed. da UFSM, 2009, pp. 57-84.

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ANÁLISE LITERÁRIA DE LIVROS ILUSTRADOS

Adriana Maximino dos Santos1; Manuela Acássia Accácio2


Universidade Federal de Santa Catarina

1. Introdução

Nos últimos anos, a literatura infanto-juvenil tem experimentado uma enorme diversidade de padrões
de obras para crianças. As mais diferentes formas gráficas, imagéticas e narrativas compõem o universo
literário infanto-juvenil. Encontramos desde livros-imagem à obras com poesia, história, clássicos dentro de
diferentes estilos gráficos e extremamente atrativos aos olhos das crianças. Muito deste fato se deve ao
crescente mercado editorial que já chega a ultrapassar as obras destinadas ao adulto, segundo os dados do
Relatório de Leitura [1]. O livro infantil é motivado tanto pelo interesse de seu público como por instituições
sociais em programas de incentivo à leitura, biblioteca e escola.
Por outro lado, o estudo do livro de literatura infanto-juvenil (LIJ) constitui uma área razoavelmente
recente nas discussões literárias. O mesmo acontece com as ilustrações e o projeto gráfico, cujo conteúdo
costuma caminhar ao lado ou até mesmo à frente do texto escrito quando se trata de significação,
constituindo-se em um campo rico para investigações sobre literatura, leitor e cultura.
Amostra da legitimidade desta área de pesquisa tem sido apontada por vários pesquisadores, os quais
têm se dedicado a mostrar a capacidade textual e plurisignificativa de ilustrações (FERRARO, 2001[2];
BAHIA, 1995 [3]; CAMARGO, 1998 [4]), em especial no livro infantil ilustrado. Motivo para isto, segundo
Bahia (1995, p. 41) [3], é que neste tipo de livro, “é imprescindível a intersecção dos dois códigos de
linguagem”, os quais formam, segundo a autora, uma “conjunção harmônica” (Ibid., p. 42) [3].
Ao ser considerada também como um código linguístico, a ilustração ganha o reconhecimento da sua
qualidade comunicativa. Pois, de acordo com Camargo (1998) [4], a ilustração traz informações relevantes à
obra literária, isto é, veicula conteúdo por meio do signo visual, elevando-se ao status de texto visual. A
forma como o texto visual é elaborado e disposto, ou seja, o que e o como algo é expresso, por exemplo,
pode sugerir as suas funções principalmente em se tratando de livros infantis: passar uma moral ou um
ensinamento, etc. Neste sentido, por possuir funções, o texto visual carrega significações assim como a
narrativa verbal.
A função textual da ilustração torna-se mais perceptível na análise de seus constituintes como
elementos da narrativa. Como parece haver uma tendência a “uma maior liberdade formal entre os dois
recursos [texto e ilustração]” (BAHIA, 1995, p. 19) [3], ao passo que, pela independência da ilustração,
houve “uma extensão qualitativa” (Ibid.) [3] de sua capacidade narrativa, propomo-nos fazer um estudo dos
elementos da narrativa do signo visual. Com base em Massaud Moisés (1977) [5], analisaremos em
diferentes aspectos as ilustrações da obra de literatura infantil ilustrada Amigos, do autor e ilustrador Helme
Heine [6].

2. Método: A análise do texto visual

Segundo Moisés (1977) [5], os textos literários são denotativos e conotativos, isto é, possuem
significados relativamente fixos, como aqueles encontrados em dicionários e outros que ganham nova
significação dependendo do contexto, no qual se inserem. Isto mostra que eles são trabalhados em uma
linguagem artística e estética, de modo a expressar idéias e com isso causar algum efeito no leitor.
Neste estudo, estendemos a tradicional análise da narrativa verbal às ilustrações e ao projeto gráfico.
Para tanto, retomamos alguns dos elementos da análise textual em literatura, propostos por Moisés (1977)
[5], como: ação, tempo, espaço, personagens, ponto de vista e recursos narrativos, aplicando-os aos aspectos
não verbais.
Utilizamos para tanto um livro misto, segundo a nomenclatura de Ricardo Azevedo (01/04/2010) [7],
ou seja, composto de imagens e texto, catalogado como literatura infantil.

3. Resultados e Discussão

Dentre as categorias sugeridas por Moisés (1977, p. 89) [5] está a ação, que se constitui numa “soma
de gestos e atos que compõem o enredo”. Em Amigos, a história é em sua maioria uma ação externa, ou seja,

1
adriana.maxsan@gmail.com
2
manuacassia@gmail.com
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não se passa na consciência ou subconsciência dos personagens, mas resulta da descrição dos acontecimentos
por um narrador. Neste ponto, as ilustrações contribuem na construção de uma exposição externa dos fatos:
os personagens são representados em suas atividades e atitudes. Moisés (1977) [5] levanta outra questão com
relação à ação e que se refere a sua verdade, isto é, a sua correspondência à sequência de como as coisas
acontecem na realidade, o que em Amigos não é seguido à risca.
Outra categoria é o tempo, o que vem a ser indicado na obra de estudo pela alternância das cores claras
e escuras nas ilustrações. Já a narrativa se desenvolve em diferentes espaços: o livro começa no celeiro e
termina no céu, ou melhor, nos sonhos de estar brincando nas nuvens.
Nesta obra, os protagonistas são três amigos que nunca se separam, o galo Juvenal, o rato Frederico e
o porco Valdemar. Eles se divertem juntos e percorrem diversos lugares em busca de aventura. Sempre
encontram alguns obstáculos, mas juntos conseguem superar todos. As ilustrações determinam o espaço na
narrativa, além de trazer características das personagens expressas pelas suas feições. A ação também é
descrita em recortes, isto é, uma parte dela, podendo ser o início, o meio ou o fim. Podemos observar que o
livro ilustrado enriquece a narrativa com descrição que costumeiramente em obras não ilustradas são
expressas por palavras. Desta forma, concordamos com a observação de Azevedo (01/04/2010) [7] ao
afirmar que a ilustração e o gráfico compõem um terceiro narrativo, já que o enredo estaria empobrecido e
até mesmo estaria privado de coesão e coerência, pois as imagens constituem aqui recursos coesivos
produzindo sequências dentro do texto verbal.
As ilustrações apresentam recursos narrativos, através dos gestos corporais, da “enumeração dos
componentes” (MOISÉS, 1977, p. 115) [5] e através da “explanação de idéias ou conceitos” (Ibid.) [5]. Por
meio disto, elas acrescentam textos não declarados na escritura, os quais proporcionam aos leitores uma
leitura integrada e multi-interpretativa.
O ponto de vista mais frequente é o externo, ou seja, há um narrador que atua como observador não
fazendo parte do mundo das persongens: através das ilustrações pode-se notar isso, na representação das
personagens, em torno da qual se desenrola a narrativa naquele momento.
Além disso, o tema abordado, a „amizade‟, também pode ser visto nas figuras, na expressão das
personagens e na representação da ação imagética. Não podemos deixar de falar que para crianças, a amizade
é uma questão de extrema relevância – a relação com os amigos.

4. Conclusão

A ilustração, especialmente em livros ilustrados, normalmente apresenta autonomia como texto. Com
base nesta concepção, propomos o estudo do aspecto narrativo das ilustrações, utilizando-nos de alguns itens
da análise literária proposta por Moisés (1977) [5].
Através desta pesquisa, notamos que é possível se fazer um estudo literário da ilustração. As
ilustrações dialogam com o significado do texto verbal, materializando a trama ali encontrada: as ações, o
tempo, as personagens, o ponto de vista e os recursos narrativos. Amigos apresenta elementos da narrativa
também nas ilustrações, as quais remontam a história de maneira independente, ajudando a constituir o texto
verbal e visual. Neste sentido, concordamos com Azevedo (01/04/2010) [7] – as ilustrações nesta obra
constituem o terceiro sistema narrativo, e não fucionam apenas como suporte do texto, mas ajudam a contar
o enredo.

Referências

[1] AMORIM, G. (coord.) et al. Retratos da leitura no Brasil. 2ª ed. São Paulo: Instituto Pró-Livro, 2008.
Disponível em: <http://www.prolivro.org.br/ipl/ publier4.0/dados/anexos/48.pdf>. Acesso: 1 abr.
2009.
[2] FERRARO, Mara R. O livro de imagens e as múltiplas leituras que a criança faz do seu texto visual.
2001. 218 f. Dissertação (Mestrado em Educação). Unicamp, Campinas.
[3] BAHIA, Maria C. B. A construção visual do livro infantil. 109 f. 1995. Dissertação (Mestrado em Artes).
Unicamp, Campinas.
[4] CAMARGO, Luís H. Poesia infantil e ilustração: estudo sobre Ou isto ou aquilo de Cecília Meireles.
1998. 214 f. Dissertação (Letras – Teoria Literária). Unicamp, Campinas.
[5] MOISÉS, Massaud. A análise literária. 5ª ed. São Paulo: Cultrix, 1977.
[6] HEINE, Helme. Amigos. 10ª ed. São Paulo: Ática, 1999.
[7] AZEVEDO, Ricardo. Aspectos instigantes da literatura infantil e juvenil. Disponível em:
<http://www.ricardoazevedo.com.br/artignew01.htm>. Acesso em: 1 abr. 2010.

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APLICAÇÃO DA LEI 11.645/08: (RE) CONSTRUINDO UMA IDENTIDADE ÉTNICA1

Lucilea Kalva2
Universidade Estadual de Ponta Grossa

1.Introdução

Atualmente vivemos em um mundo em que várias culturas, raças e histórias se mesclam entre si. É o
momento de não deixarmos nossos olhares voltados para apenas uma possibilidade e apenas uma única
escolha. Neste tempo em que nada é único, nos deparamos com questões como multiculturalismo,
diversidade cultural, étnica e racial.
A partir desse pressuposto temos como enfoque para nosso estudo, estes temas introduzidos em práticas
educativas, as quais são construídas a partir de currículos, e novas perspectivas visualizadas no século XXI.
Para que esses temas pudessem ser efetivamente incluídos em práticas sociais e educativas surge a Lei
11.645/08, a qual regulamenta e oficializa o ensino da História da África e dos africanos, a luta dos negros e
dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da
sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à
História do Brasil.
Com o surgimento da Lei, sentimos a necessidade de refletirmos sobre o porquê da Lei e qual sua principal
importância para uma construção educativa e social dos educandos. Tão importante quanto a própria Lei, é a
sua importância, para que seja realmente posta em prática e não fique apenas no papel.
A Lei 11.645/08 não é pertinente apenas para a disciplina de História, mas como consta na lei ela é aplicada
às disciplinas de todo o currículo, em especial nas disciplinas de educação Artística, Literatura e Histórias
Brasileiras.
Sendo assim, para começarmos nossa discussão partimos de alguns questionamentos como: qual é a
importância da Lei 11.645/08? Ela pode realmente ser aplicada em sala de aula?

2. Método

Essa pesquisa trata da questão do multiculturalismo revelado a partir da Lei 11.645/08, tendo em vista um
estudo bibliográfico, discutindo idéias sobre o porquê da Lei e qual sua a real necessidade de sua aplicação
em sala de aula, em especial da Literatura no contexto educativo da EJA no Município de Ponta Grossa. E
para darmos conta da análise e dos enfrentamentos pedagógicos acerca das perspectivas que esta Lei
estabelece ao currículo oficial brasileiro, em seguida, constituímos, nesta pesquisa qualitativa interpretativa,
os olhares dos sujeitos sociais que estão percorrendo o ambiente investigado, que elucidamos a EJA sendo
que estão os dois estabelecimento de Ponta Grossa nesta investigação, pois assim, estaremos identificando
ambas as realidades educativas da EJA como fonte para a coleta de dados face a interpretação de como vem
se dando a aplicação da Lei 11.645/08, em especial junto ao ensino da Língua Portuguesa e Literatura.

3. Resultados e discussões

A sociedade brasileira, de modo geral, se formou pela participação de vários grupos étnicos distintos:
negros, índios e brancos. De forma que não encontramos, atualmente, apenas um desses grupos em nosso
meio social, político e cultural.
Por anos e anos, desde a colonização do Brasil, o monoculturalismo se fez presente em cada espaço
da convivência entre grupos distintos, fazendo com que apenas um grupo étnico tivesse o poder sobre os
demais, tendo em sua cultura a certeza de ser a correta e a mais importante.
Dentre os grupos subalternos ao dominante podemos citar os Afro-brasileiros e Africanos. Por
décadas, negros e negras foram considerados como seres inferiores, como pessoas menos importantes e
relevantes para a construção da história de nosso país. Porém, os Afrodesendentes e Africanos estão e
sempre estiveram completamente inseridos na alma da História brasileira, [3]:

“Africanos e afrodesendentes constituíram a massa trabalhadora durante todo o período da


colonização brasileira. Essa mão - de obra executou todos os tipos de ofícios e realizou

1
Temática da pesquisa em andamento a partir da estruturação do TCC do curso de Letras Português Inglês da UEPG, sob orientação
da professora Mestre Regina Guilherme M. Aparecida, e com aplicação nos estabelecimentos que ofertam a Eja no Município de
Ponta Grossa.
2
Lucilea Kalva: lucileakalva@yahoo.com.br
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

todas as formas de trabalho existentes, formou a população majoritária dando a base


cultural do país em associação com povos de outras origens.”

Desde os tempos da colonização e até os dias atuais, não apenas os afrodesendentes, mas vários
povos distintos contribuem para a continuação de nossa história. Os afrodesendentes e africanos foram
essenciais para que se erguesse a atual nação em que vivemos.
Porém, o que ocorre é que a cultura, história e vida desse povo não são respeitadas. Atualmente há
um esforço grande para se buscar uma diminuição na diferença dada entre não apenas em grupos étnicos,
mas grupos sociais também.
A tentativa é positiva, tendo em vista que os afrodesendentes sejam respeitados e valorizados por
toda sua participação histórica na construção, não apenas física, mas também cultural. A falta do
conhecimento da história e cultura africana acaba formando uma barreira intelectual para o verdadeiro
entendimento da história brasileira [3] .Não havia apenas europeus em nossa colonização, mas sim vários
outros grupos étnicos os quais contribuíram de maneira igualmente importante. Olhar e entender a História
apenas pela ótica “eurocêntrica” forma sujeitos imbuídos de preconceito e racismo para com os demais
sujeitos formadores de nosso país.
A escola atua de maneira definitiva, tanto para a construção de uma ideia errônea e preconceituosa,
quanto para um olhar realístico, crítico e valorizador da história de outros grupos étnicos, como os africanos
e afrodesendentes. Por isso a necessidade de um ensino da História e da Cultura Africana e Afro-brasileira
que reconheça a participação deste grupo étnico na formação de nosso país, se faz necessário face a um
currículo multicultural e multirracial.
Importante também ressaltar a necessidade que a sociedade tem em ressarcir, compensar toda a perda
material, social político, entre outros, que o povo africano e afro-brasileiro sofreu em nosso país. Por décadas
e décadas a cultura e história desse povo foram guardadas, escondidas, suprimidas, de forma que os próprios
donos da História e da Cultura acabassem deixando de conhecê-las. No Caderno Temático História e Cultura
Afro-Brasileira e Africana: educando para as relações étnico raciais, podemos encontrar uma passagem que
vem ao encontro do que estamos tratando, como nas palavras do autor [3]:

“A demanda por reparações visa que o Estado e a sociedade tomem medidas para ressarcir
os descendentes de africanos negros, dos danos psicológicos, materiais, sociais, políticos e
educacionais sofridos sob o regime escravista, bem como em virtude das políticas explícitas
ou tácitas de branqueamento da população, de manutenção de privilégios exclusivos para
grupos com poder de governar e de influir na formulação de políticas, na pós-abolição. Visa
também a que tais medidas se concretizem em iniciativas de combate ao racismo e a toda
sorte de discriminação)”.

Colocar em prática o estudo da História e da Cultura Africana e Afro-Brasileira é uma das iniciativas
para se compensar e se conhecer um povo que acabou sendo deixado de lado por muito tempo.
O que vemos atualmente são sujeitos sem o devido orgulho de sua etnia. Envergonhados e sem
nenhuma auto-estima, os negros acabam por perder sua própria identidade, sendo que para os indivíduos a
identidade é a fonte de sentido e de experiência, e ao negarmos qualquer etnia, estamos escondendo uma
parte da história e levando os sujeitos a sua própria negação. Para Loureiro [2] o conceito de identidade está
relacionado ao fato de o sujeito conseguir construir sua própria história.
O que acontece é que, muitas vezes, a história de um grupo, desde suas gerações passadas, não é
apresentada com nenhum ponto positivo. Porém, isso não significa que não houve nenhum aspecto positivo
em sua história. Toda história, toda cultura de um grupo étnico tem elementos e pessoas importantes. Mas,
quando grupos minoritários são dominados, a história desse grupo acaba sendo contada apenas por pedaços,
deixando pessoas importantes de lado, e muitas vezes desenhadas como “vilões”, “ maus elementos”. Sua
cultura passa a ser desvalorizada e uma imagem negativa se cria [2].
Um desses grupos minoritários são os negros, os quais tiveram sua identidade construída de forma
negativa. Sobre isso Erickson [1] comenta que:

“E assim temos, em nossos autores negros americanos, a afirmação, quase


ritualizada, de “inaudibilidade”, “invisibilidade”, “anonimato”,” seres sem rosto” (...) e “um
vazio de rostos sem rosto, de vozes sem som, jazendo à margem da história”, como disse
Ralph Ellison”

Loureiro [2] faz as seguintes indagações sobre essa discussão: “como pode uma minoria, como no
caso das etnias negras, às quais é negado um modelo positivo para identificação, definirem-se a si própria de
forma positiva?”.
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Dessa forma é muito importante que a identidade desse grupo seja (re) construída. Construída, agora,
vista por um novo olhar, deixando a história e cultura desse grupo étnico “escondida” e desvalorizada.
Se esse grupo tem uma identidade negativa, nutrem sentimentos de inferioridade, achando que “os
outros” são melhores, e sentem uma auto-aversão em relação a si mesmos [1].
Fazer com que haja um conhecimento verdadeiro sobre a história e a cultura dos negros, fortalece o
grupo e liberta a possibilidade de se criar uma identidade positiva, uma visão ampliada de sua história, uma
libertação em relação à identidade de um grupo dominante. [2]

4.Conclusão

A partir de toda a discussão em torno da necessidade do ensino da história e da cultura afro-brasileira


e africana podemos ter como base que a Lei 11.645/08 tem em si uma carga muito grande de eficácia se
realmente for posta em prática nas salas de aulas.
A necessidade de mostrar aos educandos uma outra perspectiva relacionada à História e a cultura,
além de diminuir com preconceitos e discriminações, faz com que aqueles sujeitos que não tinham uma
representação de sua cultura, uma representação de sua etnia, agora passam a ter, sendo esta não mais
preconceituosa e discriminatória.
O trabalho com a Lei, abre caminho para que esse grupo étnico possa (re) construir sua própria
identidade, a qual por falta ou por más representações, acabou se perdendo ao longo de sua formação social.
A identidade e diferença estão interligadas, sendo que uma apenas existirá se a outra também existir.
Nesta direção, nesta pesquisa estamos percebendo a importância do ensino da Literatura como
prática social, junto à EJA e mediante a ressignificação do currículo multicultural como elemento de
transformação cultural de nossa educação brasileira.

5. Referências

[1] ERICKSON, Erik. H. Identidade, juventude e crise. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1976.

[2] LOUREIRO, Stefânie Arca Garrido-A identidade étnica em re-construção: a ressignificação da


identidade étnica de adolescentes negros em dinâmica de grupo na perspectiva existencial humanista. -Belo
Horizonte: O Lutador, 2004.

[3] PARANÁ, História e cultura afro-brasileira e africana: educando para as relações étnico-racias/ Paraná.
Secretaria do Estado da Educação. Superintendência da Educação. Departamento de Ensino Fundamental. –
Curitiba: SEED-PR, 2006. (Cadernos Temáticos).

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ARTE E MODA: ALGUMAS OBRAS, ALGUNS ARTISTAS

Marianna Stumpp1*
1
Universidade Federal de Santa Maria- UFSM

1. Introdução
A arte contemporânea pode assumir formas multidisciplinares. Diante deste contexto os artistas
buscam uma construção de poéticas singulares, uma forma da sua própria consciência na inscrição em um
sistema cultural atual.
Para Archer “a arte recente tem utilizado não apenas tinta, metal e pedra, mas também ar, luz, som,
palavras, pessoas, comida e muitas outras coisas”[1]. Conforme o autor foi a partir de Duchamp, com seus
ready-mades que o mundo artístico cresceu com uma variada profusão de estilos, formas e práticas. O autor
acrescenta que “a novidade não mais podia ser critério de julgamento, pois a novidade ou a originalidade,
como eram percebidas, não podiam mais ser alcançadas, podendo até mesmo ser fraudulentas” [2]. Assim,
tudo se tornou válido e a quebra de fronteiras entre as linguagens artísticas tornou-se elemento articulador na
obra contemporânea: as linguagens misturam-se e apropriam-se umas das outras. Não há limites, regras ou
critérios que definam se uma obra é contemporânea ou não.
Presenciamos hoje cada vez mais, poéticas artistas híbridas. São artistas que trabalham com a arte e a
tecnologia através do vídeo, da fotografia, da computação, e exploram as potencialidades criativas destes
meios. A arte muitas vezes se aproxima de outras áreas do conhecimento como a biologia, a sociologia ou a
moda, entre outras, para traduzir a verdadeira intenção do artista.
A relação da arte com a moda ocorreu em múltiplas ações e movimentos ao longo do século XX.
Repensar a vida por meio do vestuário, rever o sistema de moda, ou empregar o vestuário como suporte para
a expressão artística, são apenas algumas relações visuais passíveis de se estabelecer sobre este tema.

O vestuário, uma verdadeira carteira de identidade social, fora de seu contexto cotidiano
é tudo menos anódino ou inocente. Segundo as épocas e seu intérprete – artista ou
estilista – será tanto a expressão de uma ideologia quanto a crítica de uma sociedade ou
reflexo de uma confusão de gêneros. [3]

Segundo Costa [4] muitas vezes o traje foi objeto de reflexão e tornou-se um meio de expressão e
suporte para criação de que os artistas apropriaram-se sob as mais variadas perspectivas. A maioria dos
artistas procurou isolar seu trabalho das tendências da moda e da alta costura, no sentido de criar obras em
que o vestuário tivesse seu espaço específico de objeto artístico, fora da moda.
Sendo assim, temos inúmeros exemplos de artistas que abordam a roupa como suporte para criações
artísticas. Desvencilhar-se dos materiais convencionais para conseguir novas criações plásticas possibilitadas
pela roupa pode ser um dos focos da arte contemporânea.

2. Método
Para elaboração do trabalho foram utilizados os seguintes procedimentos metodológicos: pesquisa
bibliográfica sobre os artistas estudados e suas obras, na web para obtenção de imagens das mesmas,
posterior análise do material coletado e redação final.
Foram pesquisados quatro artistas que trabalharam com a linguagem da moda em suas criações
utilizando a roupa como foco. A análise partiu dos parangolés do artista Helio Oiticica que emprega a
vestimenta como forma de interação entre obra e público. Após aborda-se a roupa descontextualizada de
Nazareth Pacheco e Nick Cave que usaram materiais diferenciados para elaboração de suas obras;
finalizando com as Vestis de Luisa Paraguai que alia tecnologia e arte na Wearable Art para concepção de
roupa interativa. Esses exemplos diferenciados em seu processo e apresentação final exploram a roupa como
forma de percepção no contexto artístico contemporâneo.

*
Marianna Stumpp: maristumpp@yahoo.com.br

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3. Resultados e Discussão
Em 1964, Hélio Oiticica criou os parangolés, estandartes, tendas e capas para serem vestidas pelo
espectador. Os parangolés são vestimentas híbridas que conjugam a solenidade dos mantos aristocráticos
com farrapos dos menos favorecidos.

Fig. 1 Parangolé, 1964

Em outra vertente, temos a artista brasileira Nazareth Pacheco, que criou um vestido em 1997, com
cristal, lâminas de giletes e miçangas, conjugando sua história pessoal marcada por procedimentos
cirúrgicos.

Fig. 2 Sem título (1997)

Nick Cave, artista plástico americano, segue uma outra vertente ao explorar materiais encontrados,
como galhos, botões, lantejoulas roupa velha, brinquedos e peças de software, e constrói o que ele chama de
“Soundsuits”, cobrindo manequins que, ao se movimentarem, produzem sons. As peças exploram conceitos
culturais, ritualísticos e cerimoniais.

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Fig.3 “Soundsuit” 2009

Nick Cave concentra-se nas conotações dos materiais como uma forma de construir narrativas, aliada
ao fato de que o manequim é, por vezes, completamente escondido.
Em face do desenvolvimento industrial e tecnológico e do movimento feminista, nos anos 1960,
surge nos EUA a Wearable Art, ou seja, a arte usável, vestível, como refere Moura:

A Wearable Art se desenvolve a partir de criações que utilizam o corpo como suporte e
a peça de roupa como obra de arte, geralmente única, exclusiva. Cada peça tem o valor
estético em si mesma e destina-se ao uso e à contemplação. A roupa transforma-se,
então, em veículo de expressão de quem a criou e de quem a veste. [5]

Segundo a autora as peças de Wearable Art são desenvolvidas a partir de associações da manufatura
e do artesanato e exploram as possibilidades das máquinas e equipamentos voltados à fabricação industrial
de moda ou as possibilidades de determinado tipo de tecido.
Neste sentido, destaca-se a obra Vestis (2004) de Luisa Paraguai. Através de performances, explora a
arte e tecnologia na forma de uma roupa. Nesta obra é literalmente necessário vestir a interface, que se trata
de um computador em forma de círculos e cabos. Ao vestir a obra, interpreta-se um personagem que interage
com o público por meio do “computador-roupa”.

A artista busca experienciar os espaços corpóreos nas interações entre o público e o


computador vestível. Vestis responde à aproximação e ao distanciamento das pessoas
em torno, movimentando sua estrutura composta por arcos que contraem e expandem
na medida da participação do interator circundante. [6]

Fig. 4 Vestis (2004)

A associação com a idéia de maquinização do homem ou de humanização das máquinas é inevitável


na obra de Luisa Paraguai.

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4. Conclusão
As obras relacionadas são apenas algumas dentre inúmeras propostas que exploram a relação arte-
moda e tecnologia na contemporaneidade. Todas essas criações estão comprometidas a minimizar as
fronteiras através da prática interdisciplinar entre áreas. Essas manifestações materializam a essência da arte
contemporânea que é a mistura de linguagens e técnicas como forma de novas possibilidades artísticas. Essa
dinâmica permite refletir, criar, participar e disseminar novas propostas e conceitos em arte, cujo
desenvolvimento e manifestação ocorrem a partir de inter-relações entre áreas, como a moda e a tecnologia,
aqui abordadas. Essas práticas são um incentivo para artistas continuarem apropriando-se do vestuário como
tema, metáfora ou forma de expressão – fora de moda.
A pesquisa, iniciada em 2010, está inserida na linha Arte e Tecnologia no Mestrado em Artes
Visuais, PPGART da UFSM, área de concentração Arte Contemporânea, sob orientação da professora
Reinilda Minuzzi.

Referências
[1] ARCHER, Michel. Arte Contemporânea: uma história concisa. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p.IX
[2] Idem, op. cit., p.156.
[3] MÜLLER, Florence. Arte & Moda. São Paulo: Cosac & Naify, 2000, p.4.
[4] COSTA, Cacilda Teixeira da. Roupa de Artista: O vestuário na obra de arte. São Paulo: EDUSP,
2009.
[5] MOURA,Mônica. A moda entre a arte e o design. In: PIRES, Dorotéia Baduy. Design de Moda: olhares
diversos. São Paulo: Estação das letras e cores, 2008, 37-73 p., p. 64.
[6] Idem, op. cit., p.67.

Site
http://www.luisaparaguai.art.br

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ARTE X DESIGN: SINGULARIDADES E HIBRIDISMOS

Reinilda de Fátima B. Minuzzi1*; Cristiane Ziegler Leal2


1
Universidade Federal de Santa Maria
2
Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução
O estudo aborda os hibridismos possíveis entre os campos da arte e do design a partir de produções
atuais de artistas e designers, refletindo acerca das singularidades, interfaces e contaminações reveladas em
suas trajetórias. Inventaria, especialmente, nestas manifestações, possibilidades de reciprocidade criativa e
fecunda entre as áreas.
Do latim hybrĭda, o termo hibridação (s.f.s.) é entendido como a produção de híbridos (aquilo que
provém de duas espécies diferentes), porém no campo da arte encerra a ideia da formação de um objeto a
partir da ação de elementos distintos. Atualmente, com os processos de criação e elaboração digital e o uso
de novas mídias, o crescimento da arte tecnológica como manifestação na produção contemporânea
consolida a exploração de processos híbridos e a vinculação do design e da arte em suas diferentes
linguagens em uma mescla com o cotidiano tecnológico.
Dessa forma, muitas propostas artísticas e/ou produtos de design hoje deixam transparecer esta
hibridação, demonstrando que fronteiras e divisões ficam muitas vezes mais no campo teórico (consolidação
de uma área de conhecimento) do que nas práticas de cada atividade. Isso pode ser verificado tendo em vista
o caráter inegavelmente interdisciplinar do design, bem como a relação fecunda da arte na atualidade com
outros campos do conhecimento.
O design não pode ser entendido de maneira simplista, e sim com uma visão multidisciplinar, ampla,
como refere Buchanan, que entende a disciplina “como uma atividade projetual de criação, recriação e
avaliação de objetos, presente no cotidiano das pessoas, assumindo diversas formas e operando em diferentes
níveis” [1]. A partir do surgimento e da expansão das tecnologias digitais e as novas possibilidades
tecnológicas pelo uso do computador nas criações, os modelos e parâmetros embasados no design
modernista passaram a ser questionados. Sobre tal fato Denis [2] aponta que a própria separação entre design
de produto e gráfico já não é relevante, sobretudo em se tratando do contexto digital, assim, podemos dizer
que os limites ficam mais difusos e sobrepostos. Na nova realidade reconfigurada, de caráter plural e fugaz,
sentimento e subjetividade ganham espaço. Os processos de criação exploram novas concepções estéticas,
permitindo a fusão de cores, grafismos, fotografias, tipografias distintas, mesclas de técnicas e
sobreposições, para transmitir de forma atrativa e impactante mensagens diferentemente dos esquemas
modernistas previsíveis.
Por sua vez, nascida das rupturas estabelecidas pelas vanguardas históricas modernas e ratificada em
posturas plurais a partir do pós-modernismo, a arte contemporânea abre espaço para investigações ou
manifestações artísticas de natureza ampla, estabelecendo hibridações entre campos, linguagens, meios e
procedimentos. A presença de formas compostas dos objetos artísticos (instalação, performance, body-art),
tomando para si discussões de outros campos do conhecimento juntamente com o uso de elementos de meios
tradicionais (escultura, pintura, desenho, gravura) tem sido fator desencadeador e possibilitador destes
interfaceamentos híbridos, como refere Basbaum [3]. Para o autor, torna-se impossível pensar a arte
contemporânea em termos de uma pureza visual, o que implica na compreensão de sua natureza híbrida
como campo de entrecruzamento de diversas determinações. Nessa mudança de papéis e relações presentes
na arte contemporânea o artista pode contar com a competência de profissionais em várias áreas, envolvendo
diversidade de saberes, metodologias e processos, abolindo-se a ideia anteriormente consolidada de um
criador único para a obra de arte. Como parte deste processo, surge a participação e a interação do público -
na condição de interator (e não mais mero espectador) - na produção artística.
Neste âmbito, ao inventariar produções de designers ou manifestações artísticas, observa-se a
existência de interferências entre as áreas. É possível percorrer produções atuais em ambos os campos,
idealizadas por designers ou por artistas, nas quais atitudes e processos se misturam em resultados capazes de
evidenciar um estreitamento nessa relação.

2. Método
A investigação centra-se em reconhecer as inter-relações entre arte e design presentes em produções
artísticas contemporâneas, como propósito constitutivo e como forma de concepção e de manifestação
artística. Para tal, parte de pesquisa bibliográfica e/ou de campo, buscando fundamentação teórica em várias

*
Reinilda Minuzzi: reibmin@yahoo.com.br
540
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

áreas do conhecimento, com uma abordagem de ênfase qualitativa na análise dos dados recolhidos.
Igualmente, através de levantamento via Internet, buscou-se sistematizar informações coletadas sobre artistas
e tipos de produções, no âmbito nacional e internacional, com foco na hibridação arte-design, estruturando
um banco de dados digital sobre o assunto. Este, na fase final do projeto, deverá constituir material para
multimídia, publicação digital e/ou impressa, como forma de divulgação das produções teóricas e/ou em
poéticas visuais geradas pela pesquisa.
Até o momento foram levantados dados de cerca de sessenta artistas e designers de dezenove países
(Holanda, Reino Unido, EUA, Canadá, França, Itália, Brasil, Israel, Espanha, Dinamarca, Austrália, Índia,
Japão, Islândia, Finlândia, Gana, Nova Zelândia, Coréia Do Sul, Bélgica), os quais atuam na interface arte x
design. A análise partiu da produção passada e recente dos pesquisados, tendo em vista tipo de material
utilizado, técnicas, procedimentos e linguagens aplicados, modos de apresentação, locais de exposição ou
forma de inserção da obra/trabalho em espaços específicos (públicos ou não, institucionais ou não,
comerciais ou não). Essas manifestações artísticas, híbridas, possibilitam, assim, estabelecer relações de
proximidade entre design e arte/arte e design.
Por outro lado, com o objetivo de compartilhar as iniciativas geradas com outras instituições de
pesquisa, empresas, associações de classe afins, são promovidas ações de extensão, tais como mostras
artísticas no âmbito universitário, em espaços específicos de exposição (Sala de Exposições Cláudio
Carriconde, no Centro de Artes e Letras; Galeria de Arte do Campus 8 da Universidade de Caxias do Sul) e
em espaços expositivos com maior acesso à comunidade em geral (Museu de Arte de Santa Maria, Galeria
Monet Plaza Shopping). Igualmente, a promoção de seminários de reflexão e debate ou teleconferências com
pesquisadores de outras instituições são realizadas, além de oficinas, mini-cursos voltados à produção prática
e teórica na área, entre outros. Ao longo do estudo, tem havido a participação da equipe com apresentação de
trabalhos em eventos diversos, concretizando o diálogo e construção de conhecimento sobre o foco da
pesquisa.

3. Resultados e Discussão
A partir de manifestações atuais em ambos os campos, relaciona-se, sobretudo, os aspectos artísticos,
em meios e linguagens, situados nas hibridações entre as áreas, evidenciando a transversalidade revelada
através de exemplos de produções.
Face a isso, as diferenças entre arte e design residem mais na percepção do objeto do que em qualquer
aspecto essencial de sua natureza material, técnica ou morfológica. Para o filósofo Vilém Flusser [4] o
design está relacionado à cultura e se constitui em uma arte para o cotidiano, construtora do universo
material da cultura, ou seja, o mundo das coisas artificiais, produto da tecnologia humana, inserido em um
contexto social. Tendo em vista o caráter inegavelmente interdisciplinar do design, bem como a relação
fecunda da arte na atualidade com outros campos do conhecimento, isso é facilmente observável. Nesta
perspectiva, a relação do design com a tecnologia é estreita, tendo se constituído como campo de ação a
partir do desenvolvimento tecnológico e do surgimento da sociedade industrial. Para tal, a tecnologia é o
elemento base, sendo imprescindível no desenvolvimento de qualquer projeto, tanto como a criação, a
invenção e a inovação que advém da arte.
Por outro lado, segundo Plaza e Tavares, no âmbito artístico a imagem (e a arte toda) não se constitui
em um lugar da metáfora, mas sim da metamorfose, levando a um comportamento “ativo e interrogativo,
móvel e modelável, interativo, de natureza que convida ao jogo, ao ensaio, à manipulação, à transformação, à
mudança, à experimentação e à invenção de novas regras estéticas” [5]. Rey, tratando das novas relações do
artista com a imagem, ratifica tais colocações, lembrando que “até o século XIX a imagem era a substância
da arte, (...) após a segunda metade do século XX, ela passa a ser, cada vez mais, um dos seus materiais” [6].
Em um contexto ampliado referente à concepção da hibridação no campo da arte, a autora propõe a
investigação de possibilidades na produção de obras com materiais e tecnologias diversos, mesmo aqueles
não pertencentes ao universo artístico.
Abordando o assunto relativamente às representações visuais na contemporaneidade, Cauduro [7] cita
o trabalho de Robert Rauschenberg, nos anos 1960, as combine paintings, que incluíam superposições de
objetos tridimensionais sobre pinturas, ressaltando a produção continuada do artista na produção de
hibridações visuais. Para o autor, as imagens híbridas são as que articulam, em uma única representação, a
mistura e a combinação das mais distintas possibilidades de comunicação, ocorrendo em mídias diversas na
atualidade.
Lupton e Phillips colocam que as novas ferramentas de software no campo do design gráfico, por
exemplo, oferecem modelos de mídia visual, contudo cabe ao designer gerar produções “relevantes em
situações reais, (...) mensagens significativas e experiências ricas e palpáveis” [8]. David Carson, designer
gráfico, é um exemplo reconhecido. Em seus trabalhos, os elementos visuais e tipográficos mostram-se

541
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ambíguos, traduzindo diversidade, pluralidade de sentidos, com uso de sobreposições de imagens, fusões de
fotografias, possibilitando explorar tantos elementos e de tantas formas, o que evoca uma mistura de
linguagens e significados associada às práticas artísticas contemporâneas. Elucidando acerca do pioneirismo
no design digital a partir das novas tecnologias, Meggs e Purvis [9] destacam o potencial criativo de criação
e re-criação pela variadas possibilidades de alterações e ajustes ou misturas entre os elementos gráficos,
citando o trabalho de April Greiman, designer de Los Angeles, que tira proveito mesmo da baixa resolução
do equipamento e faz associações com a linguagem do vídeo, por exemplo.
Exemplificando, podem-se destacar as manifestações produzidas por dois designers, Tord Boontje e
Astrid Krogh. Tord, natural de Enschede, Holanda, estudou Desenho Industrial na Design Academy
Eindhoven antes de ingressar no Royal College of Art, em Londres onde vive atualmente. Como designer de
produtos, em seus projetos, Tord combina tecnologias avançadas com técnicas artesanais para criar objetos
de vidro, iluminação e mobiliário, transformando recortes de flores, animais, paisagens (feitas em tecidos,
metal, papéis) em luminárias, painéis, cortinas, instalações. Seus produtos possuem edição limitada como se
fossem obras de arte, porém são projetados e produzidos para serem realizados por lasers de alta tecnologia e
máquinas industriais especializadas. O designer explora justaposições do velho e do novo, do naturalismo e
da tecnologia, concebendo suas peças com um caráter arrojado, referenciado na natureza, em uma estética
romântica e poética. Algumas delas compõem o acervo do MOMA, entre outros. Colchester [10] menciona o
ressurgimento de uma tendência ao decorativo no campo do design através da produção singular deste
designer.

Fig. 1 Produções de Tord Boontje: Garland Light, 2002 e Midsummer Light, 2004

Outro exemplo é o trabalho da designer dinamarquesa Astrid Krogh (Strellev, Dinamarca, 1968), a
qual completou sua formação acadêmica em design na Denmark’s Designsshool/Textile Department e no
Institute for Product Design. Atualmente trabalha na indústria têxtil e de iluminação, focando-se sobre os
padrões ornamentais, adornos e artesanato têxtil. A partir da exploração de aspectos pertinentes à tradição
têxtil, como a tecelagem manual, desenvolve peças com fibras ópticas, LEDs, neon e placas solares.

Fig. 2 Produções de Astrid Krogh: Lightmail e Honey I’m Home

Assim, de forma única, em suas particularidades, os designers citados compõem uma lista mais ampla
de profissionais, artistas, pesquisadores e produtores de cultura visual que valorizam e se apóiam na
mudança, na diversidade e na mistura, buscando, na hibridação cultural vivida no contexto contemporâneo, a

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fonte de geração de respostas inteligentes e alternativas inovadoras em seus campos de ação. Os exemplos
demonstram que arte ou design se reinventam e se hibridizam, alargando fronteiras pré-estabelecidas e, por
isso, capazes de apontar para a constituição de uma confluência positiva e enriquecedora a partir de campos
distintos, por meio de suas produções.

4. Conclusão
Arte ou design influenciam e se deixam influenciar por outras áreas de conhecimento, em uma relação
fecunda, ampliando seus limites. Seja no resgate de tradições e processos, seja na forma de apresentação e
difusão de obras ou projetos, seja na exploração das tecnologias digitais, é possível atenuar limites,
possibilitando contínuas inovações.
No contexto contemporâneo, a hibridação entre arte e design fica evidenciada no interfaceamento de
campos, no entrecruzamento de domínios simbólicos, técnicos e materiais, na interpenetração de práticas
diversas, no pluralismo de estilos e proposições, na circularidade e descontinuidade, nas misturas e
convergências presentes nas manifestações visuais e nas propostas artísticas atuais. A partir dos
direcionamentos e escolhas singulares de designers ou artistas, os exemplos apontados ilustram um campo de
possibilidades latentes e crescentes na hibridação e contaminação entre as áreas.

Referências
[1] BUCHANAN, R. Wicked Problems in Design Thinking. In: Design Studies, London: Butterworth
Heinemann, v.3, n.2, sept. 1992, p.5-21.
[2] DENIS, Rafael Cardoso. Uma introdução à história do design. São Paulo: Blucher, 2008
[3] BASBAUM, R. Além da pureza visual. Porto Alegre: ZouK, 2007.
[4] FLUSSER, Vilém. The Shape of Things: A Philosophy of Design. London: Reaktion Books, 1999.
[5] PLAZA, Júlio e TAVARES, Mônica. Processos Criativos com os Meios Eletrônicos: Poéticas Digitais.
São Paulo: Hucitec, 1998.
[6] REY, Sandra. Cruzamentos impuros: uma prática artística por hibridação e contaminação de
procedimentos. 16º encontro Nacional da ANPAP, Anais, 2007, Florianópolis/ SC, 2007. Disponível em:
<http://www.anpap.org.br/2007/2007/artigos/166.pdf>. Acesso em março 2008.
[7] CAUDURO, F. V. Pós-modernidade e hibridações visuais. Em Questão, Revista da Faculdade de
Biblioteconomia e Comunicação. Vol. 13, No. 2 (2007). Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto
Alegre, 2007. Disponível em: http://www.seer.ufrgs.br/index.php/EmQuestao/article/viewArticle/2218/2037.
Acesso em março 2009.
[8] LUPTON, E.; PHILLIPS, J. C. Novos fundamentos do design. São Paulo: Cosac Naify, 2008.
[9] MEGGS, P. B.; PURVIS, A. W. História do design gráfico. São Paulo: Cosac Naify, 2009.
[10] COLCHESTER, Chlöe. Textiles: tendências actuales y tradiciones. Barcelona: Blume, 2008.

Agradecimentos
A pesquisa teve apoio do FIPE - Fundo de Incentivo à Pesquisa da Universidade Federal de Santa Maria em
2009 e 2010.

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BLANCHOT, LEVINAS E A “ESCRITURA DO DESASTRE” NAS ARTES VISUAIS


CONTEMPORÂNEAS

Anita Prado Konesky*; Daisy Mary da Silva Proença


Universidade Federal de Santa Catarina

1. Introdução
A inscrição da palavra nas obras visuais contemporâneas[1] tem sido uma constante e adquiriu força
significativa dentro desses trabalhos, mais que em outros tempos. Desde a década de sessenta, a palavra,
enquanto escritura nas obras plásticas, tornou-se para nós, espectadores, uma representação enigmática, dada
a provável perda de sua função essencialmente de escritura, quando em outro suporte. Ou seja, diante das
obras plásticas contemporâneas que fazem uso da palavra, já não podemos mais afirmar qual é a definitiva
vocação dessas palavras ou dessa escritura, pois que nos causa estranhamento sua presença, uma vez anexada
a outro suporte que não o livro e aparentemente desprovida de sua função primordial, observamos, participa
da plasticidade da obra de forma outra. Trata-se de uma palavra que se anexa às imagens, faz-se escritura
desenhada num espaço que requer outro olhar e outra leitura.
Essas questões evidenciam-se a partir de nosso hábito de contato com a palavra como meio de
comunicação ou ficção no suporte do livro, predestinada para ser lida. Porém, nossa reflexão no presente
texto destina-se a pensar sobre a escritura que nos vem em suportes “outros”, conferindo à palavra outras
percepções. Nas obras contemporâneas desse teor, verificamos uma palavra ou uma escritura que se faz, a
nosso ver, representação visual e que implica inúmeras indagações: que escritura é essa que, em um primeiro
momento, apresenta-se para ser vista e não para ser lida? A que vem essa escritura? É palavra desenhada? É
palavra pintada? Qual a função primordial dessa palavra? Terá função essa palavra?
Maurice Blanchot e Emmanuel Levinas, pensadores nos quais encontramos uma reflexão fecunda para
pensar as questões propostas na presente investigação, partem do pensamento de que a palavra na escritura
contemporânea, essa escritura na qual podemos situar Becket, Valéry, Mallarmé, Rilke e tantos outros
escritores, é a escritura do “desastre”, ou seja, é a palavra quando ela própria torna-se “desvio”, enfim, que
não se deixa definir. Para Levinas (2000), esta é a palavra, tal como Infinito. Assim, o que aqui chamamos de
“escritura do desastre” é essa escritura como um “dizer”, como essa palavra que vem da exterioridade, que se
entrelaça com os limites do que é humano como gesto existencial, como afirma Blanchot (1997). Para
Levinas (2000), esta é a palavra tal como um Infinito, uma relação com o exterior, com uma exterioridade
que vai além do que podemos interpretar ou intencionar; é, então, um “abismo”.
Acreditamos ser possível acolher as questões a respeito da palavra, expostas por Blanchot e Levinas,
como um ponto de partida para nossas reflexões sobre a escritura nas obras plásticas de arte contemporânea.
Porém, para evitar generalizações, optamos pensar a problemática a partir das singularidades das obras das
artistas plásticas Maria Betânia Silveira[2], Cláudia Regina Telles[3] e Rosangela Rennó[4].
Perante as obras destas três artistas nos indagamos: Que palavra é essa que se apresenta na inteireza da
forma? Se a palavra está na inteireza das formas, por que nosso “olhar” insiste, num dado momento, em fazê-
la “saltar” à nossa percepção como discurso linguístico?

*<anitapk@uol.com.br>
[1] Para o conceito de arte contemporânea, adotaremos o pensamento de Arthur Danto (2001) como sendo a arte que
apresenta uma real perda de fé no grande relato que faz da arte uma sequência de ideias que determine como ela
deva ser. Segundo Arthur Danto, a perda desse relato define os limites entre o moderno e o contemporâneo. Assim,
a arte contemporânea seria a arte a partir da década de sessenta (para estabelecer um certo limite), momento em que
a arte torna problemático o âmbito dos valores a ela atribuídos e ultrapassa todos os limites colocando em discussão
seu estatuto, conforme também pensa Giani Vattimo (1996) e Belting (2006).
[2] A artista plástica Maria Betânia Silveira é ceramista. É Professora de Cerâmica do Centro de Artes (CEART), da
Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC).
[3] A artista Cláudia Regina Telles pesquisa diversas linguages artísticas. Graduada em Letras pela UNIVALI, cursou
Artes Cênicas na UDESC. Atualmente reside em Itajaí, onde atua como arte-educadora, educadora popular,
contadora de histórias, performer e artista visual.
[4] Rosângela Rennó Gomes é fotógrafa, artista visual e escultora. Nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais, em 1962.
Formou-se em Arquitetura pela UFMG em 1986 e, em 1987, em Artes Plásticas pela escola Guignard, em Minas
Gerais. Também integrou o grupo Visorama de estudos de arte da Universidade Estadual de São Paulo, em 1997.
Atualmente trabalha na cidade do Rio de janeiro e exibe seu trabalho nacional e internacionalmente.
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

2. Betânia Silveira, Claudia Telles, Rosangela Rennó: um “modo outro” de ser escritura
A cerâmica da artista Betânia Silveira apresenta-nos a possibilidade primordial de pensar uma forma
plástica que mostra a transposição do discurso linguístico para a representação visual, discurso este escolhido
pela artista e que está escrito na base do prato de cerâmica. Trata-se de um poema de Jorge Luís Borges.
Nas cartografias da artista Claudia Telles, observamos que sua poética nos fascina ao mesmo tempo
que nos questiona e impõe-se como impossibilidade de tudo conhecer, pois, por mais que a artista queira
aproximar-nos do sentido de suas palavras, desde que nos oferece uma lupa juntamente com suas
cartografias, as palavras ali desenhadas em vários suportes são fugazes, fogem de nossa interpretação.
Se em Betânia e Cláudia a palavra gera o enigma, a obscuridade, em Rosangela Rennó a palavra aguça
ainda mais nosso desejo de clareza, de iluminação, na busca incessante de significado, ao mesmo tempo que
funda o próprio enigma da existência e do estranhamento diante da existência. A palavra vale-se de um
suporte outro, apresentada em fotografias recuperadas e restauradas, que se presentificam na fala enigmática
e obscura das palavras que ali estão presentes nos corpos dos presidiários.
Diante do objeto cerâmico de Betânia Silveira, causa-nos estranhamento o emaranhado de fios
cerâmicos, dispostos ao acaso, os quais compõem suas formas. Não há como evitar seguir seu movimento e
estreitar os labirintos que ele propõe ao olhar. Apoiado em um prato cerâmico, esse enigma labiríntico das
formas repousa tranquilo, completamente livre da captura de nossa interpretação, pois a experiência de
contato com esse objeto não é de simples resolução. O objeto se oferece ao nosso olhar, aguça nosso desejo,
porém, paradoxalmente, resiste à nossa posse. A nosso ver, acentua-se sua resistência quando o “olhar”
desejoso verifica que, na borda do prato que serve de apoio às formas entrelaçadas de fios cerâmicos, as
incisões duplicadas são palavras. Há nesse objeto um contorno remontado de palavras, a princípio, são como
desenhos que se mostram à nossa percepção. As palavras contornam o entrelaçamento dos fios cerâmicos,
elaborando um movimento espiralado duplo e que nos convidam a um jogo lúdico, em que ora as palavras
são percebidas como desenhos e ora percebidas como palavras mesmas que são, porém distantes da
significação em si mesmas.
Deparamo-nos com algo semelhante nas Cartografias de Cláudia Teles. Estas são compostas de
palavras que formam linhas, percursos poéticos que traçam uma trajetória de escrita que se transformam em
desenho, ou mapas de lugares inexistentes. As poesias-cartográficas da artista são deliberadamente escritas
em letra cursiva[5], tornando-se difícil distinguir, de imediato, onde começam e onde terminam. Essas
Cartografias tentam tornar seu percurso poético compreensível com o auxílio de uma lupa[6], objeto que a
artista oferece a seus espectadores nas exposições, provavelmente com a intenção de trazer à luz da
compreensão as palavras que escreve. Porém observamos que a abrangência de sua poética torna-se
inacessível ao nosso diálogo, pois, por mais que a artista queira aproximar-nos do sentido de suas palavras,
estas nos fogem. Assim, encontramos em Blanchot a certeza de que é próprio da palavra poética esse
movimento circular, quando ele afirma “[...] A escrita é esta curva que o giro da busca evocou e que
reencontramos na curvatura da reflexão” (2001, p. 66-67).
Na cerâmica de Betânia, as palavras que no prato circundam o objeto cerâmico convidam-nos a um
movimento corporal, porque somos mobilizados a andar a sua volta, na tentativa errante de conhecer as
palavras nele gravadas. Trata-se de dizer que a circularidade da palavra poética traça sempre um caminho
errante, longe de um saber legislador, que nos obriga a realizar caminhos sempre novos, pois uma vez
dispostas nas obras exigem outro “olhar”, instigados por um todo que se relata como infinitude de um saber,
que nos confronta como estranhamento.
Da mesma forma, as cartografias de Claudia exigem que nossos olhos percorram o percurso realizado
pelas palavras que se assemelham a mapas cartográficos de uma trajetória infinita. Talvez seja o caso, então,
de argumentarmos que não se trata de desvendarmos os mistérios dessa palavra, mas deixar-nos envolver por
eles, pois estaria aí, nesse movimento circular, a fecundidade dessas obras. Realizamos, então, uma
experiência com o diferente. O movimento de caminhada em torno da obra de Betânia instiga nosso olhar
para a “novidade” da obra. Já a proposta da lupa infere à obra de Cláudia o mistério da impossibilidade de

[5] As Cartografias são poesias escritas em letra cursiva, muito pequenas para serem percebidas a uma certa distância e
são escritas sobre uma pluralidade de materiais e por vezes na própria parede do local de exposição, de forma
performática.
[6] Observamos que nas xposições “Cartografia dos Opostos I”, que teve lugar no Núcleo Cultural – Bloco C – da
Unisselvi/Assivim e na exposição “Cartografia de Encontros com a Arte”, que teve lugar no Hall da Biblioteca
Pública Municipal Escolar Norberto Cândido Silveira Junior em Itajaí, os trabalhos foram expostos na parede e, ao
lado, a artista ofereceu uma lupa aos espectadores para que esses pudessem ler as palavras escritas nos “percursos
poéticos”.
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um instrumento para o saber poético. Então, a lupa se nos apresenta como algo paradoxal. Podemos indagar:
o que faz ali a lupa? Por que a artista nos oferece a lupa? Serão mesmo essas palavras destinadas a uma
leitura?
É quando Blanchot (2001) diz que temos um ganho quando entendemos que nos arriscamos perder
simplesmente, ou seja, quando nos deixamos simplesmente nos envolver pela palavra.

O saber eclipsa aquele que sabe. A paixão desinteressada, a modéstia, a invisibilidade, eis o
que arriscamos perder não sabendo pura e simplesmente. [...] nós perderemos também a
certeza, orgulhosa segurança. Atrás do rosto impessoal e aparentemente apagado do sábio
paira a terrível chama do saber absoluto. (BLANCHOT, 2001, p.63).

Mas, o que dizer das palavras trazidas por Rosangela Rennó, na sua obra Cicatriz [7]? As palavras
apresentam-se em um suporte completamente estranho; o corpo do outro. Assim, o corpo é aqui um lugar
outro de escritura, um espaço à margem devido à sua condição social de detento. As imagens fotográficas [8]
selecionadas pela artista instigam no olhar do espectador o desejo de capturar a dor do “outro”. Porém, a
leitura das palavras ali apresentadas nada contribui para compreender a complexidade do enigma. Podemos
dizer que ao conferir mais humanidade àqueles indivíduos, as palavras ampliam o universo do enigma que ali
se instala. Por que a palavra amor, porque a palavra América? Enfim, o que significam essas palavras
naquele contexto?

3. À guisa de uma reflexão final


Nas obras de Betânia, Claudia Telles e Rennó encontramos palavras essencialmente do espaço
poético, portanto devemos concordar com Blanchot (2001, p. 63-64) quando ele afirma: “aqui não existe
nenhuma idéia de finalidade, ainda menos de parada. Encontrar é quase exatamente a mesma palavra que
buscar, que diz: „dar a volta em‟”. Ou seja, é um engano pensar que descobriremos a finalidade das palavras
nas fotografias dos corpos tatuados dos presidiários, nas cartografias, ou na cerâmica de Betânia. Essas
palavras ali estão como marcas do infinito, algo que nos será sempre incomensurável.
As palavras nas obras das referidas artistas não estão ali com a finalidade de esclarecer sobre elas
mesmas, estão ali para acentuar o enigma da obra de arte, ou acentuar o enigma da existência e nos dar um
ensinamento com base em estruturas outras e não com as estruturas que já nos habituamos a lançar mão, ou
seja, da “interpretação”, entendida como revelação do ser. Blanchot e Levinas distanciam-nos do hábito de
pensar que toda obra de arte está disponível à “leitura”, ou seja, a vir à luz da inteligibilidade.

Referências
BELTING, Hans. O fim da História da Arte. São Paulo: Cosac & Naify, 2006.
BLANCHOT, Maurice. A conversa infinita. São Paulo: Ed. Escuta Ltda., 2001.
DANTO, Arthur C. Después del fín del arte. Barcelona: Paidós, 2001.
LEVINAS, Emanuel. Totalidade e infinito. Lisboa: Edições 70, 2000.
VATTIMO, Gianni. O fim da modernidade. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

[7] Esse levantamento fotográfico de fotos em preto e branco que serviam para identificação dos prisioneiros do setor de
Psiquiatria e Criminologia da Penitenciária do Estado de São Paulo trazia impresso nas imagens as características
físicas, como feições, cor da pele, altura, peso e deformidades pessoais, assim como marcas, tais como tatuagens e
cicatrizes acidentais ou propositais, acrescidas muitas vezes de palavras.
[8] Rosângela Rennó em sua exposição CICATRIZES fez uma seleção de fotos dos detentos recuperadas dos arquivos
fotográficos do Museu Penitenciário Paulista, no complexo do Carandiru, no período compreendido entre 1922 e
1940.
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CHOPIN POR LISZT: O BRILHANTISMO DE UMA DANÇA.

Willian Fernandes de Souza1, Guilherme Sauerbronn de Barros2


1
Bolsista de I.C – Universidade do Estado de Santa Catarina UDESC
2
Orientador – Universidade do Estado de Santa Catarina UDESC

Resumo: Este artigo é uma contextualização da Mazurka Brillante de Liszt. Obra composta pouco tempo após a
morte de Chopin e que revela uma apropriação do estilo de Chopin por Liszt. O artigo aborda aspectos musicais
da Mazurka de Liszt e de outras obras de Chopin, bem como a relação entre os dois ícones do piano, através de
suas biografias. Paralelamente, tomando como eixo o adjetivo brillante, buscaremos identificar o uso deste
termo e sua conceitualização em outros campos de criação artística que não apenas a música, como a moda e a
literatura, a fim de contextualizar o leitor na estética romântica do séc. XIX.

1. Introdução
“Audaciosas, brilhantes e atrativas, elas [suas melhores obras] disfarçam sua profundidade sob tanta graça, sua
ciência sob tanto charme, que é com dificuldade que conseguimos nos livrar de seu enlace mágico, para julga-las
friamente do ponto de vista de seu valor teórico. Este valor, entretanto, já tem sido reconhecido por mais de um
mestre em ciências, porém, será mais valorizado quando o tempo vier para um exame mais crítico dos serviços
prestados para arte durante o período atravessado por Chopin.” 1
O trecho acima citado é de autoria de Liszt, conhecido por sua vasta obra musical, mas não tanto por seus
escritos. Publicada um ano após a morte de Chopin, em 1852, esta passagem faz parte da biografia de Liszt
sobre o músico polonês. Sobre esta biografia, Waters afirma que é cheia de hermetismos, de escrita prolixa, e
com algumas digressões que mitificam Chopin e o distanciam do leitor.2 Ao lê-la, deparamos com equívocos
por parte de Liszt, tais como negligenciar todas as danças em voga e exaltar somente a mazurka. Contudo, ali
encontra-se um pouco da essência literária e do espírito da época.
Ao que tudo indica, a relação entre Liszt e Chopin foi um tanto quanto conturbada. Segundo Orga3, “essa
ligação foi na verdade um caso bastante unilateral. Liszt, o menos refinado, assumiu o papel do admirador
ardoroso, enquanto Chopin cansava-se com suas manifestações de camaradagem açambarcante.”
Chopin, de natureza discreta, introvertida, poético e de tendências clássicas, preferia um modo de vida
que fugisse da servidão da carreira de virtuose. Para se ter idéia, em dezoito anos deu somente dezenove
concertos, dentre os quais em apenas quatro foi o único solista. Chopin buscava uma glória oculta, pois apenas
os salões poderiam dar-lhe a ilusão de uma comunicação imediata com a audiência. Certa feita Liszt comentou
ironicamente: “Não sou talhado para dar concertos, eu, a quem o público intimida, me sinto asfixiado por seus
hábitos, paralisados pelos olhares curiosos, mudo diante desses rostos estrangeiros. Mas você [Chopin] nasceu
para isso, porque, quando você não domina o público, você tem como esmagá-lo.” 4
Obviamente Liszt está invertendo os atributos dele, o verdadeiro concertista, e de Chopin, o músico dos
salões burgueses. Liszt, o homem de sociedade, o filósofo-político, o virtuoso dos salões apinhados, encarnação
própria da extravagância romântica, tinha seus feitos, públicos ou privados “anunciados por toda parte com a
sutileza de uma salva de artilharia”.5 Chopin inicialmente se impressiona com a técnica de Liszt, sua capacidade
de tocar à primeira leitura e o talento para extrair sonoridades inusitadas do piano. Mas, em pouco tempo
antipatiza-se com a figura do músico húngaro. Chopin o descreve como “o rosto furioso e frenético do
romantismo”6e observa ainda que Liszt “conhecia tudo melhor do que qualquer um... é um excelente
encadernador que coloca os trabalhos dos outros entre suas próprias capas... é um hábil artesão, sem o menor
vestígio de talento”7
Talvez Chopin já previsse que, após a sua morte, Liszt trataria de repetir muitos de seus gêneros e
procedimentos característicos. A semelhança de escrita e os temas citados dessa época são em número
significativo. Gêneros em que Chopin consagrou-se, Liszt fará os empréstimos mais conseqüentes, em
transcrições quase literais. Isso acontece em particular em relação à balada, à polonaise e à mazurka.8 Com a
morte de Chopin podemos supor que Liszt tenha composto peças nesses gêneros "proibidos" com a intenção de
homenagear o colega morto e/ou com o intuito de experimentar tais gêneros sem a censura implícita do grande


willianfersou@yahoo.com.br
1
LISZT. pg. 4-5. Tradução nossa.
2
WATSON, 1994, pg. 94 apud, Waters, p.170-194.
3
ORGA, 1983, pg 79-80
4
BOURNIQUEL, 1990, pg. 61
5
WATSON. pg. 59
6
IBID.
7
ORGA, 1983, pg. 80
8
PESCE, 1990, pg. 433. Tradução nossa.

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mestre. Liszt admirava profundamente os procedimentos harmônicos criados por Chopin, assim como seu toque
ao piano, características que ele próprio, Liszt, buscará desenvolver.

2. Método
Será feita uma revisão analítica das obras brillantes compostas por Chopin e Liszt, a fim de identificar
elementos composicionais compartilhados por ambos os autores. Paralelamente, serão abordados aspectos
históricos, estéticos e biográficos, pertinentes para uma ampla compreensão do contexto no qual se inserem as
obras brillantes.

3. Resultados e Discussão
O ponto de partida para as exposições a seguir é a Mazurka Brillante de Liszt (1851) que revela uma
abordagem um tanto quanto direta das mazurkas de Chopin9. Ela faz alusão pelo nome não somente à dança
polonesa, como também às obras compostas por Chopin que levam o adjetivo “brillante” no título. A seguir,
mostraremos as características pelas quais a Mazurka de Liszt atende ao estilo Mazurka difundido por Chopin10
(Fig. 1 e 2):

Fig.1 - Inicio da parte central da Mazurka de Liszt Fig.2 - Mazurka op.6 n°3 de Chopin
Nesta comparação, a quinta vazia (sem terça) fazendo a imitação de gaita de foles usada na dança
polonesa. Os exemplos a seguir mostram os ritmos recorrentes (Fig. 3 a 6):

Fig.3 - Trecho cadencial de A de Liszt Fig.4 - Mazurka op.33 n°2 de Chopin

Fig.5 - Trecho inicial de A de Liszt Fig.6 - Mazurka op.6 n°3 de Chopin


Abaixo um procedimento cromático descendente encontrado em diferentes mazurkas (Fig. 7 e 8).

Fig.7 – Trecho inicial da primeira mazurka de Chopin

Fig.8 - Trecho contrastante da parte central da Mazurka de Liszt


Outros procedimentos comuns neste gênero de dança são as sextas paralelas e o ritmo acentuado, ora no
segundo, ora no terceiro tempo, que podem ser observados nos exemplos acima. O acento geralmente decorre
do impulso proporcionado pela figuração rítmica (colcheia pontuada – semicolcheia) que antecede a nota longa
(Fig. 7) ou ainda por meio de síncopes (Fig. 8). Na Mazurka de Liszt, o brilhantismo aparece principalmente no
trecho já citado acima (Fig.8) e em forma de virtuosismo no final da peça, em oitavas agudas (Fig. 9):

9
IBID
10
Cf. Duas danças de salão no contexto do salão burguês de nossa autoria.

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Fig.9 - Trecho final da Mazurka de Liszt


Um elemento característico das obras brilhantes é seu final apoteótico em notas agudas. Um fato que
pode ter influenciado esse tipo de escrita é a própria construção do piano. Neste período o piano já deixara de
ser apenas um instrumento doméstico e se tornara um instrumento de concerto, com a maior parte dos
problemas técnicos solucionados e com a tessitura quase estabilizada. Contudo, vemos em peças da época,
ossias sugerindo uma tessitura não tão aguda.
Passemos à discussão de outras questões, não tanto de ordem instrumental, mas principalmente
composicional e estrutural. Observemos a listagem cronológica das peças “brillantes” compostas por Liszt e
Chopin (Tab.1):

Tab.1 - Composições de Liszt e Chopin nomeadas brilhantes em ordem cronológica.


Estas peças denotam certa evolução no sentido de um processo de emancipação da resolução das
dissonâncias. Na Mazurka de Liszt isso se torna evidente. A sexta e a nona são amplamente utilizadas em
cadências do tipo V – I:

Fig.12 - V6/9 resolução descendente Fig.13 - V7/9 resolução ascendente


A Grande Valsa Brilhante talvez seja uma peça chave nessa evolução, pois Chopin faz duas vezes a
resolução de nona e da sexta. Porém, se notarmos a marcação de pedal, vemos que a nota já faz parte do
acorde. “Resolução” de nona
“Resolução” de sexta

Fig.14 - Compassos 28 e 31 da Op.18 de Chopin


Importante salientar que essa evolução estilística não se apresenta exclusivamente nas obras ditas
brilhantes, mas sim, elas fazem parte desse processo. Segundo Crocker, “Chopin gostava de construir a
riqueza do acorde de dominante com sétima adicionando notas no topo, um procedimento que se tornou
popular por muitos compositores do séc. XIX”11 Na primeira das três grandes valsas op.34 de Chopin, a
introdução se assemelha à introdução de Liszt. Aqui, a nona já se encontra independente de resolução,
aparecendo como última nota do arpejo (exs. 19 e 20):

11
Crocker, 1986. pg. 448. Tradução nossa.

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Fig.15 – Inicio da Grande Valsa op.34 N°1 Fig.16 – Arpejo do final da intro da Mazurka de Liszt

5 - Conclusões
As obras brillantes são um típico gênero de salão que aparece no começo do século XIX. Nomes como
Hummel, Field e Weber fazem parte da gênese do ”estilo brilhante”, se é que o podemos chamar assim12. A
autonomia da técnica e da escrita pianística vinha sendo aprimorada por muitos desses virtuoses da época. A
exploração de novos recursos técnicos, como arpejos com ambas as mãos, glissandos e múltiplos usos do pedal
definem o piano não mais como o imitador de orquestras ou de quarteto de cordas, mas como um instrumento
independente, com linguagem e técnica próprias. A maneira brilhante de tocar de Chopin foi herdada em parte
de seu professor Kalkbrenner. E Chopin superará seu mestre e ampliará a técnica pianística com novas
sonoridades e um tipo de virtuosidade mais sutil e complexo.
Em relação à técnica composicional, o brilhantismo se manifesta na forma de procedimentos recorrentes
entre os compositores do período. Notas estranhas agregadas aos acordes tornam-se, pouco a pouco, um tipo de
efeito timbrístico. LaRue reconhece a dissonância como um adjetivo descritivo13. Sob o foco da moda, esses
adjetivos ou acessórios estão no espírito da época. “Usavam-se muitas jóias sob a forma de relicários, cruzes,
pulseiras de ouro, etc(...)”14 Liszt confirma essa tendência: “Semelhante a uma longa serpente de anéis
rutilantes, o bando [de convivas] que deslizava sobre o piso, ora se espichava em toda sua extensão, ora se
enroscava para fazer cintilar nos seus contornos sinuosos um variado jogo de cores, fazendo soar qual guizos
abafados as correntes de ouro, os sabres pendentes, os pesados e soberbos vestidos bordados de pérolas,
cravejados de diamantes, enfeitados com laços e fitas.”15 Esses adereços conferem brilho, destaque a quem os
utiliza. As jóias, as medalhas, os vestidos e casacas vistosos, são, não apenas sinal de riqueza e prestígio, mas
sinais externos da hierarquia social. Em termos musicais, as obras brillantes também podem ser encaradas como
obras “adornadas”, enfeitadas para brilhar nos salões e nos palcos.
Referências
WATERS, E.N, “Chopin by Liszt”, Musical Quartely. [ANO, PÁGINA]
ORGA, Ates. Chopin. Omnibus Press, 1983.
PESCE, Dolores. Nineteenth-century Piano Music, ed. R. Larry Todd. New York: Schirmer. 1990.
ROSEN, Charles. A geração romântica. São Paulo: Editora da Unesp, 2000.
KRAUBE, Anna. História da Pintura: do renascimento aos nossos dias. Ed. K. Verlagsgesellschaft. 2001.
LARUE, Jan. Análisis del estilo musical. Idea Books S.A, 2004. pg.48
CROCKER, Richard L. A history of musical style. Dover edition, New York 1986.
BOURNIQUEL, Camille. Chopin. São Paulo: Martins Fontes, 1990.
WATSON, Derek. Liszt. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1994.
LISZT, Franz. Life of Chopin.Versão em inglês. Dover edition, 2005.
LISZT, Franz. F. Chopin. Versão em francês. Disponível em: http://www.gutenberg.org/files/21669/21669-8.txt.
SCHOENBERG, Arnold. Harmonia. Tradução Marden Maluf. 2001. São Paulo, Editora Unesp.
SOUZA, Gilda de Melo. O espírito das roupas: a moda no século dezenove. São Paulo: Companhia das letras, 1987.
LAVER, James. A roupa e a moda: uma história concisa. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

12
Cf. ROSEN, 2000, A Geração Romântica, p.523.
13
LARUE, 2004. pg. 48
14
LAVER. pg. 168
15
LISZT. Nota número 4 da versão em francês.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

CRIAÇÃO DE PAINÉIS ATRAVÉS DE DIVERSAS TÉCNICAS ARTISTICAS:


CONSIDERAÇÕES ACERCA DO PROCESSO DE CRIAÇÃO

Priscilla Ziembowicz da Costa

Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução

Este trabalho apresenta o processo criativo de trabalhos artísticos que utilizam imagens fotográficas de
flores como referência, e que usam a serigrafia e bordados manuais como técnicas de expressão. A pesquisa
plástica teve início em 2005, com a produção de uma série de serigrafias usando o universo das flores. As
fotografias usadas serviam de base inicial para o trabalho. A produção final se dava em serigrafias artísticas
sobre papel. A pesquisa apresentada neste artigo teve como objetivo sintetizar as formas apresentadas em
imagens de flores diversas, de modo que o resultado do desenho fosse adequado à linguagem da estamparia.
Buscava-se também, o ajuste desse desenho no suporte escolhido, o plástico, o qual daria uma das importantes
características do trabalho, que é a transparência e a possibilidade de interação entre as camadas e o fundo da
obra. Pretendia-se então, obter harmonia entre as linhas e formas impressas e os elementos plásticos que mais
tarde habitariam o fundo do trabalho, assim como alcançar o equilíbrio cromático da composição.Esse jogo de
transparência entre as partes da obra pretendia fazer com que o espectador pudesse visualizar de diversas
maneiras a composição, podendo ter o modo de ver diferenciado de acordo com o ângulo de observação. Para
isso dependia, além das linhas e formas impressas e aplicadas na obra em si, das sombras que eram projetadas ao
fundo do trabalho, em razão do contato, dos desenhos impressos no plástico, com alguma luminosidade.
Almejava-se por fim, a dependência entre os elementos plásticos, que fizesse com que as flores através da
composição desses vários elementos, formassem um ambiente harmonioso que expusesse suas cores e formas.

2. Método

Grande parte de minha investigação artística na graduação em Artes Visuais consistiu no estudo da flor e
seus elementos formais. Usava como técnica, serigrafia artística sobre papel. O objetivo dessas flores, imagens
únicas e centralizadas impressas era obter expressividade através da forma e da cor.

Passei, após algum tempo, a explorar outro suporte, o tecido, ainda em serigrafia artística. Para extravasar
a forma e vê-la sob outro parâmetro, decidi então usar a flor, não somente como imagem única, mas sim
multiplicada, formando várias, que juntas formariam uma estampa. Para obter novas formas além dessas
impressas no tecido, bordei linhas e apliquei tecidos sobre a impressão da estampa, desenvolvendo outros
desenhos. Ao longo do processo procurei achar um ponto que me despertasse maior interesse, e foquei minha
pesquisa, pois quando comecei o estudo no tecido achei vários caminhos possíveis. Busquei então, um maior
aprofundamento teórico e reflexivo sobre forma e cor por meio de projetos.

Para os trabalhos seguintes, utilizei uma técnica de estudo da forma proposta nas aulas de estamparia com
a professora Lusa Aquistapasse1. O método consiste de, uma vez escolhida a imagem, realizar desenhos de
observação em lápis de cor, logo após grafite, com luz e sombra, e por fim várias interpretações, podendo ser
usadas diversas técnicas.

A cor nesses estudos, não foge da primeira imagem uma vez que se destaca a paleta de cores, no início do
processo criativo. Nesse estudo apresentado pela professora, explorei as imagens sem perder o referencial da
imagem inicial, tanto no que tange o formal ou cromático. Já na primeira imagem estudada, transpus os
resultados obtidos nas interpretações, para as redes2, que tinham como suporte o papel A3. No momento
seguinte, escolhi uma das interpretações geradas pelo estudo de forma, para então, ampliá-la e reduzi-la com
cópias xerográficas, com o intento de combiná-las em redes de diversas formas, usando imagens com várias
dimensões. Essa etapa foi executada com lápis sobre o papel.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Inicialmente as imagens eram trabalhadas em folhas A3, e com o avanço da produção e para uma melhor
visualização, passei a trabalhar em folhas de tamanho A2. Separei a rede que me parecia mais interessante e que
poderia disponibilizar uma melhor estética. Nessa etapa não mais utilizei o lápis, mas sim cópias xerográficas
dessa janela e montei a estampa sobre o papel A2.

Necessitei aprofundar-me na técnica de estamparia para poder executar as peças.Desenvolvendo a técnica,


passei a trabalhar as estampas no formato de painéis, utilizando nesse momento não mais o tecido, mas sim o
plástico como suporte para estas, que ao longo do processo recebiam interferências de fios- para um bordado- e
de tecidos que eram aplicados ao fundo da peça montada, já dando esta por acabada, visando obter harmonia
entre os elementos em geral. Após escolhido o desenho da estampa que seria impressa, dividia o desenho da
estampa em duas partes, de maneira que, depois de impressos, quando sobrepostos, resultem no desenho
completo. Logo após, os desenhos eram transpostos em papel poliéster, para ser feita a revelação das telas para
estampagem. Para a impressão no plástico, precisei apenas esticá-lo em uma mesa com fitas ao seu redor para
prendê-lo, diferente de outro suporte como papel ou tecido que necessitariam de mesas especiais para a
estampagem.

Após a impressão dos dois desenhos, um em cada pedaço do plástico, meu trabalho passou por outra
etapa, a colocação desse material em bastidores, esticando e prendendo-os na madeira. Esse passo foi feito em
casa especializada para molduras. Era esticado um plástico em cada bastidor e após isso, unidos os dois. Com
um plástico mais a frente do outro, pela separação do bastidor, via-se o desenho completo. Essa distância
provoca a projeção de sombras às formas impressas, possibilitando os diferentes modos de ver.

A última etapa consiste no estudo da estampa que foi impressa, para, dispor ao fundo deste desenho,
linhas, tecidos, tecidos bordados. No final todas essas camadas, farão parte da composição de um único painel.

3. Resultados e Discussão

Tentei ao longo da preparação das peças, fazer experimentações, visando achar a melhor disposição dos
elementos, buscando uma ambientação coerente com a proposta contendo cores vivas, e alguns contrastes, sem
exageros. As formas que foram usadas, para a composição do fundo, são ampliações em diversos tamanhos da
própria forma impressa no plástico, ou elementos da estampa.

Os trabalhos apresentados, em sua grande maioria, com exceção do último produzido (impresso com a cor
lilás),são impressos com a cor branca, pois nesses,preferi deixar colorido somente a parte do fundo, pois percebo
que no trabalho em si, só o fato da sobreposição dos dois bastidores com o plástico, atrai grande parte da atenção
do expectador, e a proposta desse estudo é a união dessas duas situações. Busco através do esboço das estampas
no plástico, uma maior expressividade que aquela que obteria em outro suporte, como o jogo de formas, e
dependência entre as partes do todo. Procuro a partir da imagem referencial, criar um ambiente para todos os
elementos envolvidos, que ao final do trabalho plástico serão dependentes entre si. Em alguns trabalhos, procurei
usar as cores de forma que fossem conseguidos alguns contrastes, com certa monocromia em alguns, e em outros
tendo a paleta de cores ampliada.

O trabalho apresentado constitui-se por diversos elementos os quais é possível inserir cor, de forma que, o
bastidor que abriga o plástico e a moldura que envolve o trabalho funciona como elemento estético
complementar à leitura do trabalho.

A pesquisa seguiu algumas regras pré-estabelecidas no início do estudo, fazendo uso de acasos ao longo
da criação das peças, através de algumas análises feitas no decorrer do processo. Durante a realização de um
trabalho artístico, ao longo do processo cabe ao artista fazer escolhas, usando para isso conceitos adquiridos, e
em muitos casos, soluções intuitivas, onde estará agindo também seu inconsciente na construção da obra. Essas
seleções vão desde o referencial, passando pelo material e técnica usada, entre outros. Independente das outras
etapas do processo precisa-se partir de um referencial, que é então o primeiro passo da pesquisa, isso pode ser

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

uma imagem, um assunto, enfim algo que se usará para criar, o "limite" em uma linha imaginária.Pode-se passar
dessa linha, porém sem perder suas referências.

Vê-se, que é necessário manter um referencial para a criação, como uma espécie de porto ao qual o artista,
usa para desempenhar sua criação, observando seus limites, sem a insegurança da possibilidade, de perder a
essência da obra. Quanto a expressividade, busca-se transpor na obra, combinação estética, com harmonia dos
elementos envolvidos, formando uma composição equilibrada. Em um trabalho artístico, cada elemento tem seu
papel fundamental, que ao colidir com os outros, vão formando a obra, fazendo parte de sua leitura, de sua
essência.

Em uma obra todos os elementos envolvidos têm relevância, contribuindo para a plasticidade ou
significado do trabalho. Ao longo do processo vão se definindo o papel de cada elemento, que só é delimitado no
final da obra. Os elementos compositivos de uma obra podem adquirir funções diferenciadas e simultâneas,
interagindo entre si dentro da composição.

4. Conclusão

Na pesquisa foi usado plástico estampado, com serigrafia e, somente no último trabalho, foi trazido o
bordado do fundo para o primeiro plano (plástico), verificando assim, uma nova possibilidade a ser explorada na
pesquisa plástica. Pretendo, em meu trabalho artístico, realizar mais algumas experimentações neste suporte,
pois ele é um material que com sua maleabilidade e transparência proporciona diferentes resultados. O estudo da
cor, bem como o da forma, foi essencial para o aprimoramento desta pesquisa.

Bibliografia utilizada

OSTROWER, Fayga. Acasos e Criação Artística. Rio de Janeiro: Editora Campos,1995.

WONG, Wucius, Princípios de forma e desenho. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

Bibliografia de apoio

CAURIO, Rita. Artextil no Brasil: viagem pelo mundo da tapeçaria. Rio de Janeiro:[s.n.],1985.

COLCHESTER, Chloë. The new textiles. London: Thames-Anda-Hudson Ltda,1991.

FAJARDO, E.; CALAGE, E.; JOPPERT, G. Fios e fibras. Rio de Janeiro: Editora Senac, 2002.

SACRAMENTO, E.; LIMA, M. Brasil Art Show. [s.l.],2005.

1
Profª. Ms. da Especialização em design de estamparia e do Departamento de Artes Visuais da UFSM. Sendo na ocasião

minha orientadora por quatro semestres do curso


2
Linhas que ao fim da estampa serão imaginárias

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

DAS RUAS PARA AS REDES: O RAP E SEUS CAMINHOS NAS MÍDIAS

Mariana Santos de Assis1


Universidade Estadual de Campinas

1. Introdução
Como resultado de um projeto de pesquisa em Iniciação Científica desenvolvido de julho de 2009 a
agosto de 2010 com patrocínio do PIBIC/CNPq, sob orientação da Profª Drª Roxane Helena Rodrigues Rojo
levantamos algumas informações importantes sobre as relações entre o rap engajado e as mídias de massa.
Notamos que o caráter ideológico do rap determina alguns lugares para esses artistas dentro da cultura
brasileira e, principalmente, no âmbito da indústria cultural. Ao longo da pesquisa notamos que há uma
aceitação e até uma valorização do rap e do movimento cultural hip hop como um todo dentro do cenário
artístico e cultural brasileiro, porém a representação do rap nas mídias de massa – no caso de nossa pesquisa
nos ativemos à TV – ainda está restrita a apenas alguns artistas.
Um dos objetivos dessa pesquisa foi discutir os motivos para a escolha de uns e não de outros rappers
pela TV, notamos que as apreciações valorativas e entoações desses raps são cruciais para a determinação de
seus lugares. Os rappers que permanecem de fora das grandes mídias defendem suas opiniões e tratam seus
conteúdos temáticos de maneira mais fortemente ideológica atacando diretamente a ordem vigente
apontando culpados e incitando a população ao protesto, por vezes à revolução, e não apenas à superação das
situações de abandono e desigualdade sociais a que são sujeitadas. De modo que a análise dos discursos
desses rappers é fundamental para compreender a própria dinâmica do preconceito contra o estilo rap
freqüentemente relacionado à criminalidade.
Os interesses das grandes mídias na manutenção da ordem vigente, conforme discute Canclini (2002)
são determinantes para que grande parte dos artistas do rap permaneça fora das programações das grandes
redes de TV.
Porém a despeito de toda a censura velada da imprensa, da indústria cultural e das mídias de massa, o
rap engajado e de crítica social mais crua permanece fazendo parte da cultura popular e encantando não
apenas as populações das periferias das grandes cidades, mas também vem conquistando as classes média e
alta. De acordo com Félix (2005) um dos motivos para essa variedade de público admirador do estilo é a
história do hip hop em São Paulo que não se limitou às periferias das cidades, como em Nova York, mas
ganhou as ruas do centro, angariando mais público e, principalmente, pensando em termos capitalistas, mais
consumidores do novo produto cultural.
Atualmente os rappers engajados e excluídos dos meios de comunicação de massa tem outra
importante arma na luta para ‘dar seu recado’, passar sua mensagem; a internet surge hoje como uma forma
de burlar qualquer forma de censura e nas grandes cidades torna-se ainda mais eficaz a medida que a
‘inclusão digital’ é uma necessidade fundamental para todo país que busca se desenvolver. O acesso rápido e
fácil das classes média e alta e o aumento de telecentros nas comunidades pobres podem ser alguns dos
fatores que possibilitam a divulgação massiva do rap, porém os caminhos percorridos pelo estilo para
superar as barreiras impostas pela censura e pelo preconceito são nosso alvo para o trabalho atual. Ao
traçarmos o esquema de propaganda alternativa do rap buscamos entender melhor as novas possibilidades de
comunicação que a tecnologia nos proporciona no contexto atual, possibilidade de conhecer, admirar, fazer
parte de culturas distintas, até então totalmente estranhas e inalcançáveis.
Mas a partir da história do rap podemos, também, nos posicionar de maneira crítica diante do sonho
da hibridização igualitária que levará à diluição dos preconceitos, uma vez que não poderia haver hegemonia
em misturas e contribuições de diversas classes, cores e credos para o enriquecimento da cultura mundial. O
rap não nos deixa perder de vista as desigualdades a que estão sujeitos os representantes das chamadas
‘culturas marginais’. Assim nosso objetivo passa a ser entender os caminhos percorridos pelo rap e apontar
as debilidades ainda presentes nos discursos sobre multicuturalismo, acesso e liberdade de expressão.

2. Método
Para compreender melhor as estratégias do rap para divulgar seu trabalho com o mesmo discurso
contra-hegemônico que marca todas as suas letras e suas posturas em shows, entrevistas, a pesquisa
etnográfica é fundamental. Baseada em entrevistas e trabalhos com rappers de Campinas e Região – a saber:
Face da Morte, Realidade Cruel e A Família – grupos cujos discursos são marcados por apreciações

1
A apresentadora é aluna da graduação do curso de Letras da Universidade Estadual de Campinas. Email:
iel.mary06@gmail.com
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

valorativas fortes e, não por acaso, suas participações na programação das grandes mídias praticamente
inexiste e ainda assim gozam da admiração e respeito de um público considerável. As entrevistas nos
permitem entender quais são os mecanismos usados para divulgar e tomar o espaço que lhe é negado para
que o mundo conheça a realidade das favelas e periferias do Brasil.
A análise das entrevistas baseia-se, sobretudo, nas teorias da enunciação do Círculo de Mikhail
Bakhtin (1986[1929]) e de sua teoria dos gêneros de discurso. Além disso, o projeto de significação
(designs) proposto por Cope e Kalantzis, repensada a partir das teorias bakhtinianas, nos permite analisar de
maneira mais completa o conjunto dos discursos do rap, ou seja, as entrevistas dos integrantes, o ritmo das
músicas, a escolha da arte dos CD’s, enfim tudo o que compõe o tema de cada grupo.
As recentes discussões sobre inclusão digital, como abordado por Buzato (2007) e os debates da
antropologia sobre a importância da conectividade proporcionada pela internet, principalmente abordados
por Canclini (2002; 2007; 2008) são indispensáveis para a finalização as conclusões de conteúdo tão
polêmico.

3. Resultados e Discussão
O presente trabalho é, na verdade em parte o resultado da pesquisa IC citada que discutia a relação
entre o rap engajado e as mídias de massa – nesse caso demos preferência à TV – cujos resultados embasam
a proposta de continuidade da pesquisa, agora com ênfase maior nas mídias alternativas utilizadas (e por
vezes até mesmo criadas) pelos próprios militantes do movimento cultural hip hop e as conseqüências e
possíveis contribuições para a divulgação mais democrática da cultura.
Assim, a segunda parte da discussão que levanto aqui ainda está em estágio inicial, apenas com os
primeiros contatos com os participantes da pesquisa, levantamento de dados para a análise e apontamentos
para a fundamentação, para a qual os resultados da primeira pesquisa contribuíram bastante.

4. Conclusão
Embora ainda em estágio inicial algumas das discussões levantadas aqui estão na ordem do dia e são
extremamente relevantes para a problematização das novas relações possibilitadas pelo contexto atual de
globalização e avanços tecnológicos sem precedentes. As relações entre as pessoas, a arte, o conhecimento e
mesmo o tempo e o espaço ganharam dimensões nunca antes imaginadas, mas ainda estamos atados a
algumas questões que não permitem o aproveitamento total das possibilidade que a tecnologia poderia
proporcionar, assim os discursos hegemônicos ainda tentam se sobressair a qualquer ameaça à ordem social,
política e econômica.
O que esperamos com a presente discussão é apontar para algumas dessas possibilidades e, ao mesmo
tempo, abrir espaço para novos olhares sobre a cultura popular, de massa, marginal ou simplesmente a
cultura produzida por aqueles que não dispõem do poder necessário para se fazerem reconhecidos, mas que
comprovam seu talento ao conseguir, a despeito do julgamento da crítica dominante, da indústria cultural ou
do boicote dos meios de comunicação de massa, manter um público fiel.

Referências

BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1997[1979].

______. O discurso no romance. In: ______. Questões de Literatura e de Estética. São Paulo:
UNESP/Hucitec, 1993[1934-35/1975].

______./VOLOCHINOV, Valentin. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: HUCITEC, 1986[1929].

CANCLINI, Néstor García. Diferentes, desiguais e desconectados. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2007.

_____. Culturas híbridas, poderes oblíquos. In: _____. Culturas Híbridas – estratégias para entrar e sair da
modernidade. São Paulo: EDUSP, 1997[1989]. Pp.283-350.

_____. Cidades e cidadãos imaginados pelos meios de comunicação. Opinião Pública, Campinas, Vol. VIII, nº1,
2002, pp. 40-45.

COPE, Bill; KALANTZIS, Mary. Designs for social futures. In: B. COPE; M. KALANTZIS (Orgs).
Multiliteracies – Literacy Learning and the design of social futures. New York: Routledge, 2006[2000]. Pp.
203-234.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

FÉLIX, João Batista De Jesus. Hip hop: cultura e política no contexto paulistano. 2005. 206p. Tese
(Doutorado em Antropologia Social) – Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas, Universidade de
São Paulo, São Paulo, 2005.

PAYER, Maria Onice. Linguagem e sociedade contemporânea – sujeito, mídia, mercado. Rua – Revista do
Núcleo de Desenvolvimento da Criatividade da Unicamp – Nudecri, Campinas. 2005. n.11.

Agradecimentos
A seção agradecimentos, se houver, deverá vir após as referências e não deverá ser numerada.

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DESCONTINUIDADES E DISPOSITIVOS RELACIONAIS EM PROCESSOS


COLETIVOS E PRÁTICA ARTÍSTICA EM COMUNIDADES:HORTAS E ARTE

Janice Martins Sitya Appel*1


1
PPGAV/CEART/ UDESC

1. Introdução
O processo artístico atende a uma série de indagações e propostas, incluindo não apenas definir o
campo de abrangência das atuais poéticas contemporâneas, no que tange os deslocamentos e
descontinuidades propostos, nem eleger tão somente ás incursões de possibilidades transdisciplinares em
metodologias da prática artística, como suas possibilidades de intervenção urbana nas relações de convívio
como produção de novas relações e suas de formas estéticas ampliadas à realidade
A partir da premissa: “a prática do artista, seu comportamento enquanto produtor determina a
relação que será estabelecida com sua obra: ...o que ele produz, são relações entre as pessoas e o mundo
por intermédio dos objetos estéticos” (BOURRIAUD, 2009: 59)1. O fazer de um projeto em arte para ser
desenvolvido a partir de relações de convívio em um coletivo comunitário promoverá um encontro crítico
entre arte e realidade, gerando descontinuidades em seu cotidiano, através de dispositivos relacionais.
Para entender melhor a premissa é necessário crer que “a arte relacional não é o revival de nenhum
movimento, o retorno a nenhum estilo; ela nasce da observação do presente e de uma reflexão sobre o
destino da atividade artística. Seu postulado básico – a esfera das relações humanas como lugar na obra de
arte – não tem precedentes na história da arte, mesmo que, a posteriori, apareça como evidente pano de
fundo de qualquer prática estética.” (BOURRIAUD, 2009: 63) Ou seja, através de ações cotidianas, o artista
promove o seu espaço de convivência social, assim como as propostas relacionais em sua forma complexa
ocupam espaços convencionais da instituição Arte ou se aproximam de acontecimentos e situações inseridos
vida cotidiana. As valorizações do encontro e do convívio atuam como dispositivos relacionais e como
forma para entendimento de um projeto em arte contemporânea, assim como a explanação de alguns
conceitos lançados pelos autores Nicolas Bourriaud, Reinaldo Laddaga, Suely Rolnik, Felix Guattari, Gilles
Deleuze, Guy Debord e Marcelo Lopes de Souza sobre projetos coletivos em arte desenvolvidos por artistas
em comunidades específicas.
2. Parte experimental
A metodologia é transdisciplinar, focada na pesquisa-ação2. O trabalho de inserção na comunidade
tem como um dos referenciais, o esquema metodológico em arte proposto por Suely Rolnik em Alteridade a
céu aberto: o laboratório poético político de Maurício Dias & Walter Riedweg3. O processo metodológico
apontado por Suely Rolnik refere-se ao trabalho dos dois artistas, que desenvolvem seus trabalhos artísticos
em comunidades específicas, marcadas pelas diferenças sociais surgidas a partir do sistema capitalista e que
modificaram as estruturas sociais originais de uma comunidade. S. Rolnik analisa o trabalho em “arte
pública” dos artistas, sendo esta definida por eles como um trabalho em arte com comunidades através, ou
não, de instituições públicas e privadas interessadas em promover um trabalho de arte em comunidades
específicas. As etapas propostas em um trabalho junto às comunidades são: 1) ir ao encontro do universo
onde pretendem se inserir e deixar-se impregnar pelo convívio; 2) selecionar os elementos que integrarão o
dispositivo – pessoas, modos, lugares, bem como as dimensões a serem mobilizadas; 3) estratégias de
interação com o grupo escolhido de modo a criar as condições de uma vivência compartilhada; 4) invenção
de meios de comunicação circunscritos ao público da arte; 5) invenção de meios de comunicação para um
público mais amplo e variado, em expansão e em muitas direções ao mesmo tempo.
3. Resultados e Discussão
Os deslocamentos são marcados pelas trocas de saber, assim como pelas possibilidades de
entendimento cartográfico sobre a cidade, remontando a experiência do outro no cotidiano e na paisagem.
da vida social. Dispositivos são utilizados para um trabalho de cooperação e coletividade em arte pública.
Para Laddaga4, o contexto da arte aponta para um campo em constante expansão...e que faz da arte um
campo em trânsito junto a diferentes campos de atuação da vida cotidiana. Marcado pelo cenário atual
político, econômico e artístico, onde se mostra imprescindível o entendimento da transversalidade da arte,
mas também a compreensão da problemática urbana de uma cidade. Suely Rolnik nos aponta a definição de
dispositivo descrita por Deleuze5 como “uma meada, um conjunto multilinear, composto de linhas de
diferentes naturezas...uma produção de subjetividade...”. No uso de dispositivos relacionais, o grupo passa

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Janice Martins Sitya Appel: janismart@gmail.com
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

a atingir novas possibilidades de atuação no real e acaba por materializar novos espaços de vida que geram
sua participação direta, a constante reflexão e diálogo permanente a partir do convívio. O resultado são as
relações de descontinuidade onde a subjetividade pode ser reconstruída. O processo artístico gerado a partir
de um dispositivo relacional cria um corte momentâneo sobre o contexto imediato e formal esperado pela
instituição Arte, ampliando a visão do contexto e fazendo com que a realidade possa ser vista e vivida de
outras maneiras. O fazer provoca uma descontinuidade na própria realidade da comunidade, um encontro
com novas formas de representação que produzem realidade. Inseridos como agentes e produtores desta
descontinuidade, o grupo envolvido tem que agenciar novos lugares de convivência. Desta forma, são
deslocados de seu lugar de reconhecimento principal (o lugar de membros e moradores de uma
comunidade) e estimulados a catalisar novos processos de subjetividade em seu cotidiano (o lugar de
produtores de arte em processos coletivos).
Atuações de coletivos artísticos, assim como ações curatoriais em arte relacional têm tomado frente
no sistema internacional de artes visuais e contemporâneas, provocando um deslizamento na compreensão
dos paradigmas para compreensão da arte contemporânea. No uso de dispositivos relacionais para um
trabalho em arte coletiva na comunidade, o grupo envolvido passa a atingir novas possibilidades de atuação
no real – seja uma horta comunitária ou uma produção coletiva em arte - estes acabam por materializar
novos espaços de vida que geram sua participação direta, a constante reflexão e diálogo permanente a partir
do convívio. O resultado direto deste convívio são as relações de descontinuidade onde a subjetividade dos
sujeitos envolvidos pode ser reconstruída.

4. Referências:

BOURRIAUD, Nicolas. Estética Relacional; tradução Denise Bottmann - São Paulo: Martins Fontes,
2009.

BRITTES, Blanca e TESSLER, Elida (org.). O meio como ponto zero. – Porto Alegre: Editora da
UFRGS, 200_.

ROLNIK, Suely. Alteridade a céu aberto - O laboratório poético-político de Maurício Dias & Walter
Riedweg In: Posiblemente hablemos de lo mismo, catálogo da exposição da obra de Mauricio Dias e Walter
Riedweg. Barcelona: MacBa, Museu d’Art Contemporani de Barcelona, 2003.

LADDAGA, Reinaldo; Estética de la emergência – 1 ed.; Buenos Aires: Adriana Hidalgo Editora, 2006
5
GUATTARI, Felix e ROLNIK, Suely. Micropolítica - Cartografias do desejo – 2 ed. Rio de Janeiro:
Ed.Vozes,1986.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

DESIGN DE ESTAMPARIA ALIADO À TECNOLOGIA TÊXTIL: SOMBRINHA COMO


PROTEÇÃO SOLAR

Milene Miorim Beust1*; Reinilda Minuzzi2


1
Universidade Federal de Santa Maria
2
Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução
Sombrinhas e guarda-chuvas são acessórios indispensáveis para dias chuvosos, porém, hoje, por
questões de saúde, é imprescindível o seu uso como objeto de proteção solar. Para desenvolver esse costume
junto à sociedade, a estética é determinante, pois, com estampas femininas e delicadas, pode-se ampliar o uso
do produto e resgatá-lo como acessório de moda.
O artigo trata do desenvolvimento da estética do produto aplicada ao campo do design de superfície,
propondo uma coleção de estampas para a cobertura da sombrinha (dossel), congregando o estudo formal e
técnico específico da área com o uso de tecidos tecnológicos nos componentes têxteis do produto. Nesta
interação, tem-se como objetivo substituir a cobertura tradicional e produzir estampas, unindo estética e
funcionalidade com a tecnologia dos novos tecidos, a fim de criar um diferencial a esse objeto. Também são
estudados o conceito, a forma e a cor, determinantes para o sucesso do produto. A trajetória artística da
pintora carioca Beatriz Milhazes define essas características, representando, em seus quadros de grandes
proporções, uma linguagem abstrata e geométrica, carregada de listras, círculos e arabescos que permitem a
idéia de psicodelia entre cores e formas. O processo utilizado para a impressão na superfície têxtil foi a
estamparia digital, que, com extrema adaptabilidade, permite a aplicação gráfica sobre qualquer superfície
com diversos tipos de tintas e cores, assim calcando o trabalho em valor estético.

2. Método
A identificação de um problema constitui o ponto de partida e a motivação para o processo de design.
Essa é a primeira tarefa do profissional: a descoberta de problemas que possam ser solucionados com a
metodologia. Na primeira fase do processo, é de extrema importância recolher todas as informações
possíveis sobre um tipo de produto e prepará-las para avaliação posterior. Para isso é essencial a coleta de
dados sobre o problema em relação ao produto.
Este estudo utiliza a metodologia de Gui Bonsiepe [1], baseada em análises projetuais mercadológicas,
porém com algumas alterações para enfatizar a questão formal na análise morfológica. Esta análise tem o
propósito de avaliar formalmente as sombrinhas, em termos de estampa, cores, forma, sendo de suma
importância em razão do objetivo principal do projeto: o design de estampas para a sombrinha. As etapas
seguidas são: problematização, análises sincrônica, estrutural, funcional, ergonômica e morfológica.
Na listagem de deficiências, tratando-se da ergonomia e dos materiais, o principal problema é
relacionado ao material têxtil para sua devida função. Nesse estudo, apenas uma das sombrinhas analisadas
apresenta eficácia na proteção solar. A fragilidade dos materiais continua nas hastes de reforço articuladas,
quebrando facilmente. Já a deficiência na estética está relacionada às estampas, pois nenhuma é projetada
diretamente para a modelagem produto. No caso do têxtil para a sombrinha, a estrutura morfológica da
estampa não pode ser apenas pensada como um tecido a metro, mas sim como essa composição se comporta
na estrutura octogonal do têxtil já aplicado à armação metálica. A organização dos elementos compositivos
de uma estampa corrida pode estar equilibrada, porém, quando tais elementos estão facetados e encaixados,
criam, muitas vezes, uma composição sem unificação. Do mesmo modo tem-se a composição cromática, que
pode estar adequada à configuração da estampa corrida, porém, podendo ressaltar, de maneira inadequada,
alguns elementos na estrutura octogonal.
Como lista de requisitos, em se tratando do dossel, o produto a ser projetado também deve conter os
seguintes aspectos: material têxtil com proteção solar – fios UV Protection da Rhodia poliamida, por ter
proteção diretamente no DNA dos fios e FPU 50+; a estética do produto condicionada pelo design de
estampa e o processo de estampagem deve ser por termo-transferência.

3. Resultados e Discussão
Através das experimentações realizadas no processo criativo e do panorama da temática, o projeto
dividiu-se em três coleções distintas, porém a relação entre elas é pertinente, tanto pela temática, quanto por
apresentarem todas as cartelas de cores e mesma sistemática para as estampas.

*
Milene Miorim Beust: milenebeust@yahoo.com.br
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Um dos processos de gerar os padrões através da repetição é a rotação. Insistindo na dinâmica de


rotatividade, tem-se a configuração octogonal da sombrinha, em que as estampas foram projetadas
diretamente para a modelagem triangular, formando arranjos simétricos.
Definiu-se que cada coleção apresentaria três variações de estampas em relação aos módulos. Nas
coleções, há subdivisões: (1) o módulo grande localizado em um dos triângulos, (2) uma estampa com
módulos em diferentes disposições na estrutura do triângulo e (3) uma estampa com módulos relativamente
pequenos.
Cada estampa criada dentro da coleção tem duas variações de cores de cada cartela. Foram definidas
três cartelas de cores para a criação das estampas. A Coleção Vênus é a representação da influência sólida do
Barroco em Milhazes, de acordo com Herkenhoff [2]. As formas suntuosas e os movimentos voluptuosos
dos arabescos são a base criativa das estampas. A Coleção Afrodite descreve a sensibilidade dos padrões
florais representados nas telas de Milhazes, apresentando um caráter romântico na criação das estampas para
as sombrinhas. Os conceitos das flores, bem como as diversas representações destas, que a artista demonstra,
são os princípios para a inspiração. A simplicidade e o caráter de sintetização do motivo floral seguem as
características do estilo art déco.
Como exemplo dos resultados, está a Coleção Madonna, que retoma uma das brincadeiras de infância,
o jogo Espirograf. As criativas ilustrações proporcionadas pelos instrumentos lembram as mandalas
existentes no trabalho de Milhazes, muitas metodicamente calculadas, outras mostrando um traço mais
gestual e livre. Também remete ao psicodelismo, pois essas mandalas propiciam imagens multiplicadas em
arranjos simétricos, como as imagens formadas pelo caleidoscópio.
O processo criativo para a produção das estampas para esta coleção transcorreu de forma variada: com
os instrumentos do jogo, desenhando mandalas à mão livre ou então criando módulos inspirados no
referencial e rotacionando-os. Nesta última técnica, encontrou-se a ilustração escolhida para a criação das
estampas: primeiro foram criadas formas através da técnica de colagem; com o software CorelDraw X3,
estas foram vetorizadas, compondo diferentes módulos.

Fig.1: Módulo e suas variações compositivas na Coleção Madonna

A ideia de mandala vem da própria forma octogonal da modelagem da sombrinha, ou seja, repetição
do módulo compondo uma estampa posicionada em um dos triângulos da modelagem, para então rotacionar
e formar arranjos simétricos. Entretanto, para enfatizar a característica das mandalas, é pertinente o uso de
módulos com rotações em suas formas, independente dos ângulos de rotações.
Seguindo a sistemática das coleções, as estampas Madonna são apresentadas como: Estampa
Madonna I, estampa localizada em uma das estruturas triangulares da sombrinha; Estampa Madonna II,
composição em módulo principal com repetição em reflexão com deslizamento, limitados à estrutura
triangular; e Estampa Madonna III, estampa corrida com todas as variações do desenho criando um módulo
repetido por translação com deslizamento, estruturada dentro da forma triangular.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Fig. 2: Estampas da Coleção Madonna

A coleção Madonna contextualiza toda a temática, junto à idéia de criação das estampas para a
sombrinha. No momento em que se pensa no processo de gerar os padrões através da repetição, uma das
possibilidades é a rotação, amplamente comentada neste artigo, insistindo na dinâmica de rotatividade do
molde triangular, seja pelo desenho formado na configuração octogonal, seja pelo fato de os próprios
módulos trazerem esse movimento giratório.

4. Conclusão
Considerando que o design para estamparia, no contexto de uma sociedade consumista, pode
determinar valores aos produtos através de sua estética formal, a pesquisa agrega à sombrinha o atributo de
um produto de qualidade estética e de alta tecnologia. Objetiva, assim, o resgate da sombrinha como
acessório de moda.
Obtendo três coleções com resultados que valorizam o produto, este projeto possibilita a
comercialização da sombrinha no âmbito da indústria, tanto pela sua estamparia, quanto pelo produto em si,
uma vez que foram propostas alterações funcionais no têxtil da sombrinha, usufruindo da tecnologia disposta
no mercado de materiais – o tecido tecnológico com proteção solar.
Sob as circunstâncias atuais, como o aumento da incidência solar e a excessiva exposição à radiação,
este projeto contribui para melhorar a qualidade de vida das pessoas, em termos de conhecimentos teóricos
sobre o assunto, incentivando o uso de proteção contra o sol e, principalmente, trazendo nova alternativa para
a situação. O estudo é um projeto de pesquisa com relatório publicado e seu registro foi encaminhado ao
Núcleo de Inovação e Transferência de Tecnologia [NIT/UFSM] para proteção de direito autoral e modelo
de utilidade.

Referências
[1] BONSIEPE, Gui. Metodologia Experimental. Brasília: CNPq, 1984.
[2] HERKENHOFF, Paulo. Beatriz Milhazes. Francisco Alvez, 2a edição. Barléu Edições Ltda.

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DICIONÁRIOS: MANUTENÇÃO E ATUALIZAÇÃO DE SABERES

Natieli Luiza Branco1


Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução
Este trabalho faz parte do projeto de pesquisa “Língua, sujeito e história: o gaúcho no processo de
dicionarização da Língua Portuguesa no/do Brasil” (FIPE-IC/UFSM) e tem por objetivo reflexionar sobre a
produção/circulação de sentidos no dicionário, mais especificamente, nos prefácios e no verbete gaúcho. Se
objetiva também, com isso, mostrar a confluência da História das Idéias Lingüísticas assim como vem sendo
desenvolvida no Brasil com a Análise do Discurso de linha francesa. Para isso, a proposta é analisar o
verbete gaúcho dos dicionários: Vocabulário sul-rio-grandense editado por Editora Globo e o Dicionário
Gaúcho Brasileiro, de João Batista Alves Bossle. De modo a verificar como se dá a movimentação da
designação gaúcho. Os dicionários analisados são do século XX e XXI, em diferentes anos, promovendo
uma reflexão do movimento de manutenção e atualização de saberes, via dicionarização.
Tem-se uma visão de dicionário como um objeto de consulta, onde fica transcrita a língua culta; é o
lugar da certeza, não cabe a dúvida. É onde, em nossos momentos de dúvida, recorremos para saber o
significado de determinada palavra. Não deixa de ser uma referência, uma obra de consulta. Porém, se por
um lado o dicionário é visto como referência, um discurso da certeza, por outro, ele tem sua historicidade. Se
tomarmos dicionários de diferentes épocas, percebemos que há transformações, atualizações, renovações. O
dicionário possibilita observar os modos de dizer de uma sociedade, e os discursos em circulação de certas
conjunturas históricas. [1] No dicionário “as significações não são aquelas que se singularizam em um texto
tomado isoladamente, mas sim as que se sedimentam e que apresentam traços significativos de uma época.”
[1, 11], ou seja, o dicionário não é somente lugar de consulta, de certeza, ele faz parte de uma historicidade,
de uma época e é, portanto, como afirma Nunes, “lugar de observação do léxico”. [2, 101]

2. Método
Para este trabalho, tomo como corpus dicionários produzidos em séculos diferentes. Quero a partir
destes, realizar algumas verificações iniciais dessas transformações, manutenções, atualizações de sentidos
via dicionarização do verbete gaúcho. Para tanto, primeiramente proponho uma introdução sobre o dicionário
na perspectiva da AD e HIL, para depois falar sobre o verbete gaúcho, que mostra o sujeito gaúcho, presente
nos dicionários em questão. Para assim, verificar a relação entre sujeito e saber lingüístico. Para este estudo
tomo como aporte teórico a Análise de Discurso de Linha Francesa (AD) e a História das Idéias Lingüísticas
(HIL) tal como essas vêm sendo desenvolvidas no Brasil, tomo como referência, principalmente, Eni Orlandi
e José Horta Nunes.
Concebe-se dicionário, nesse estudo, como um objeto discursivo onde “se questiona as evidências dos
sentidos para mostrar seus processos históricos de constituição” [1, 11], ou seja, ver o dicionário como
produção de sentidos. Isso significa acabar com a certitude e deixar lugar para a compreensão. Para isso, a
História das Idéias Lingüísticas e a Análise do Discurso “trazem condições metodológicas para se ler com
outros olhos esses objetos”, trazem os dicionários como “lugares de descrição das línguas, tendo um papel
fundamental na reprodução, transformação e circulação dos discursos em uma sociedade.” [1, 13]. Ainda
segundo esse autor, “a análise discursiva nos dicionários se caracteriza por atentar para a historicidade dos
sentidos dos dicionários e para a constituição da posição histórico-discursiva dos sujeitos lexicógrafos.” [1,
11]. A articulação entre HIL e AD permite abordar o dicionário levando em conta a historicidade dos
sentidos e dos saberes lingüísticos.

3. Resultados e Discussão
“Para a análise do verbete, se considera a singularidade de cada dicionário.” [1, 34]. Para uma
análise dos verbetes, estudam-se as paráfrases de um em relação a outro, a constituição de um discurso
levando em consideração a estruturação e a textualidade de seus subdomínios (nomenclatura, definição,
etimologia, marcação, contextualização) [1]. Esse autor afirma ainda que a análise histórica dos verbetes
mostra a constituição deles enquanto “unidade de língua ou descrição de coisas” [1, 34]. E a configuração
interna dos verbetes produz um discurso, se percebe “presença ou não de uma representação da oralidade, de
certas marcas de domínio, de etimologia, variação nas formas de definição, etc.”. [1,34].

1
Autor correspondente: nati.branco@yahoo.com.br

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Trago, para este trabalho, considerações iniciais sobre o verbete gaúcho em dois dicionários
regionalistas, a fim de verificar como se dá essa historicidade via processo de dicionarização.
A representação do gaúcho foi evoluindo, tomando diferentes concepções e isso é institucionalizado
nos dicionários; ele passa por diferentes sentidos para ser designado como um tipo social geograficamente
posicionado.
Tomando o verbete gaúcho em dicionário de regionalismos, faz-se pensar em uma linguagem
regional e, conseguinte em uma identidade regional. E através dos instrumentos lingüísticos se coloca em
destaque um imaginário sobre o gaúcho e seu linguajar. Trata-se da manutenção de saberes, da manutenção
de uma história, de uma identidade dita como “gaúcha”, via especificidade lingüística.
O Vocabulário sul-rio-grandense, conforme nos diz em seu prefácio, mostra a realidade dos usos da
linguagem gauchesca, da formação de uma realidade regional. Ele é o resultado de trabalho de grandes
pesquisadores da tradição gaúcha. Nele podemos perceber um lugar em que a memória está presente, pois é
um trabalho sobre o já-dito.
Trago agora as acepções de gaúcho presentes nos verbetes dos dicionários Vocabulário sul-rio-
grandense e Dicionário Gaúcho Brasileiro.
O verbete gaúcho no Vocabulário sul-rio-grandense possui acepções de vários autores, preocupados
com a definição do sujeito gaúcho como tipo social e com sua origem etimológica. Isso faz com que haja a
repetição de dizeres nas acepções, ou a definição é dita de outro modo. Para este trabalho, não tratarei da
questão etimológica.
A primeira acepção de gaúcho presente no Vocabulário é feita por Coruja:
GAÚCHO: - s.m. índio do campo sem domicílio certo [...] que não é permanente em parte alguma.
Seguindo, Romaguera Corrêa traz como:
GAÚCHO: - s.m. e adj. [...] alguns bandos de índios guerreiros e cavaleiros que habitavam grande
parte da República Argentina e que, obrigados a mudar freqüentemente de sítio, por causa dos contínuos
ataques de seus inimigos, não tinham habitação certa.
Os enunciados tratam o que é esse tipo social – o gaúcho. Percebe-se, assim, que as transformações
políticas e sociais refletem na definição do gaúcho. A primeira definição de gaúcho é dada por Coruja e
datada do século XIX, e o define em poucas palavras. O gaúcho, dessa época, não era definido de forma
positiva, como é visto hoje, ele era visto como não civilizado. Essa definição nos remete a pensar num ser
primitivo, que não tinha morada certa.
Já Romaguera Corrêa, algumas décadas depois, traz a definição de Coruja atribuindo outros sentidos,
estabelecendo uma relação de paráfrase. Porém, Romaguera Corrêa apresenta outras definições do gaúcho,
ele traz que “hoje, porém, aplica-se este termo aos indivíduos da campanha [...] o que monta bem e entende
das lidas do campo.”
A partir dessa concepção de gaúcho no processo histórico do estado – não mais visto como um sujeito
não civilizado, mas como um sujeito bravo, corajoso, entendido das lidas do campo, Roque Callage traz, na
terceira acepção do Vocabulário que:
GAÚCHO: - s. e adj. [...] “com o tempo o gaúcho foi tomando outro aspecto e uma expressão muito
especial. Hoje, [...] gaúcho é a expressão típica do valor e da coragem [...] por gaúchos se têm hoje, com
orgulho, todos os filhos do Rio Grande do Sul.”
Pode-se perceber, agora, uma definição positiva do gaúcho, que é motivo de orgulho ser designado de
tal maneira. Pode-se concluir que essa definição positiva faz parte de outra formação discursiva, de outra
relação com a história, pois já adentramos no século XX.
Esses três recortes de definição sobre o gaúcho já nos fazem pensar em uma identidade sul-rio-
grandense que será mantida e atualizada nos discursos sobre o mesmo.
O Dicionário Gaúcho Brasileiro traz a definição de gaúcho em duas páginas; sua primeira acepção
é: “o habitante ou natural do Rio Grande do Sul” seguido de “pessoa do interior [...] dedicado à vida
pastoril e perfeito conhecedor das lidas campeiras.” Ainda traz que “com o tempo, a partir de meados do
século XIX, a palavra perdeu sua conotação pejorativa, revestindo-se de conteúdo nitidamente elogioso, de
homem digno, bravo e destemido.”

4. Conclusão
Com essas definições sobre o verbete gaúcho, percebe-se a manutenção e atualização de sentidos nos
dicionários e por meio dessas acepções vê-se que as designações sofrem alterações de sentido, são afetadas
pelo momento histórico, pelas condições de produção e pelo funcionamento ideológico. A língua não está
pronta, completa, só porque está no dicionário, ela se movimenta também neste espaço.
A partir dessas verificações iniciais, já podemos perceber que o dicionário é um espaço de circulação
de saberes, mantendo e atualizando sentidos, permitindo construir a relação entre língua e saber lingüístico.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Referências
[1] NUNES, José Horta. Dicionários no Brasil: análise e história do século XVI ao XIX. Campinas, SP:
Pontes Editores – São Paulo, SP: Fapesp – São José do Rio Preto, SP: Faperp, 2006.

[2] NUNES, José Horta. O espaço urbano: a “rua” e o sentido público. In: Orlandi, Eni (org.). Cidade
atravessada: os sentidos públicos no espaço urbano. Campinas: Pontes, 2001, p. 101-109.

Dicionários consultados:

Vocabulário Sul-Rio-Grandense; Rio de Janeiro, Porto Alegre, São Paulo; Ed. Globo, 1964.

BOSSLE, João Batista Alves. Dicionário gaúcho brasileiro. Porto Alegre, RS: Arte e Ofícios, 2003.

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DISCURSO E(M) IMAGEM SOBRE O FEMININO: O SUJEITO NAS TELAS

Jonathan Raphael Bertassi da Silva1*; Lucília Maria Sousa Romão1


1
FFCLRP/USP (apoio: Fapesp)

1. Introdução
Este trabalho aborda a relação da mulher com a sensualidade tal como retratada em quatro filmes dos
anos sessenta, oriundos de diferentes países. São eles: Nunca aos Domingos (Pote tin Kiriaki, 1960), de Jules
Dassin; Repulsa ao Sexo (Repulsion, 1965), de Roman Polanski; A Bela da Tarde (Belle de Jour, 1967), de
Luis Buñuel e A Primeira Noite de um Homem (The Graduate, 1967), de Mike Nichols. Para tanto,
utilizamos como referencial teórico a Análise do Discurso de matriz francesa. Interessa-nos buscar os efeitos
de sentido presentes nestes filmes sobre a representação da mulher e seu diálogo conflituoso com a
instituição familiar, com o matrimônio e com a sensualidade, sempre atentando para os movimentos do
sujeito que fazem falar, de modo heterogêneo, uma memória discursiva sobre o que é ser mulher, levando à
tona regiões de sentido antes vetadas que envolvam prostituição, casamento, família e sexo. O objetivo geral
da pesquisa é compreender os efeitos de sentido no discurso sobre a sensualidade feminina inscritos nos
processos verbal e não-verbal em filmes dos anos sessenta, marcando especialmente o modo de o sujeito
produzir sentidos e se constituir em sujeito discursivo.

2. Método
Como é nosso escopo apontar as muitas interpretações possíveis numa década de transição (dentro e
fora das telas) sobre a emancipação da mulher, encontramos na Análise do Discurso (AD) de matriz francesa
um referencial adequado para rastrear os múltiplos sentidos sobre o feminino que se inscrevem nesses filmes.
Por meio deste referencial teórico, visa-se o estudo da linguagem em suas práticas sociais, pois a
compreensão do discurso passa necessariamente pela sociedade, visto que para Pêcheux (1997, [3]) história e
linguagem se afetam e alimentam mutuamente. Definindo a linguagem como trabalho, a disciplina desloca,
tal como diz Orlandi (2001, [2]), a importância dada à função referencial da linguagem, a qual ocupa posição
nuclear na Lingüística clássica, que defende esse enfoque ma comunicação, ou na informação; assim, o viés
da AD entende a linguagem como ato sócio-histórico-ideológico, sem negar o conflito, a contradição, as
relações de poder que ela traz em seu bojo. Para colher o corpus da pesquisa, lidamos com os conceitos de
segmento de recorte, conforme enunciados por Souza (2001, [4]): o segmento está sugerido a priori na
montagem do filme, enquanto a noção de recorte é instituída pelo analista, o que favorece a relação
silêncio/imagem não sugerida pela estrutura do filme. Ainda seguindo os passos da mesma autora (op. cit.),
cujo trabalho fornece bases metodológicas para rastrear o discurso inscrito em obras cinematográficas,
buscamos trabalhar o não-verbal em seu sentido amplo, indo além do conceito de narrativa. As imagens não
“falam”, mas significam por sua materialidade visual, portanto será analisada a partir dessa perspectiva. A
razão para a escolha deste método é a possibilidade de buscar os efeitos de sentido no discurso dos quatro
filmes que compõem nosso corpus sem negar o olhar socialmente inscrito do analista para privilegiar o
estudo do processo e não do produto nos referidos filmes.
A noção de discurso para a AD é diferente daquela recorrente no senso comum. Se neste, a palavra é
empregada para se referir, especificamente, ao uso da retórica, a pronunciamentos de políticos ou qualquer
outro que prime pela eloqüência em eventos sociais de relevância, a AD entende o discurso – objeto de
investigação científica da disciplina – como “efeitos de sentido entre interlocutores” (PÊCHEUX, 1997, [3]),
rompendo, portanto, com a definição do senso comum. O sentido das palavras não são transparentes nem
literais em relação aos significantes (embora o sujeito tenha essa ilusão), não existem em si mesmos, mas são
determinados pelas posições ocupadas no processo sócio-histórico, o palco da (re)produção das palavras no
qual o sujeito está intrinsecamente ligado para fazer circular seus dizeres. “Onde está a linguagem está a
ideologia.” (ORLANDI, 2003, p.34, [1]). A linguagem é, portanto, fundamentalmente ligada à ideologia e à
luta de classes inscrita no cenário social. Muito embora este não seja sempre o mesmo e as posições em jogo
sejam fluidas, fazendo com que sujeito e sentidos estejam em permanente movimento na tensão entre o
mesmo e o outro, os sentidos sempre são inscritos ideologicamente. O sentido, na perspectiva discursiva, não
tem origem nem no sujeito, nem na história. Sujeito e sentido se constituem simultaneamente, por isso, não
há um sentido adâmico, legítimo e original para um significante, enunciado ou discurso qualquer; o que
existem são efeitos de sentido. O sentido, na perspectiva discursiva, não tem origem nem no sujeito, nem na
história. Sujeito e sentido se constituem simultaneamente. Não há um sentido adâmico, legítima, para um
significante qualquer. Só existem efeitos de sentido. Em vista disso, os sentidos não existem por si, mas são

*
E-mail para contato: cid_sem_registro@yahoo.com.br
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determinados pelas posições ideológicas do sujeito, o que faz com que a interpretação das palavras mudem
de acordo com essas posições. Isso acontece porque a apropriação da linguagem pelo sujeito não se dá num
movimento individual, mas social.

3. Resultados e Discussão
Como possíveis resultados, obteremos as regularidades discursivas dos recortes e/ou segmentos
analisados, suas relações com o interdiscurso e as Formações Discursivas (FDs) em jogo, os modos de
inscrever a resistência e a ruptura com o já-lá sobre a sensualidade feminina. Feito isso, será possível traçar
um panorama com o arquivo sobre o feminino e sua sensualidade no cinema dos anos sessenta,
compreendendo como o sujeito recortou a memória para fazer circular dizeres até então silenciados.

4. Conclusão
Vemos no cinema não apenas uma arte catalisadora de mudanças políticas e sociais, mas como meio
de comunicação excepcional para observar o imaginário sobre um determinado assunto, não apenas
(re)produzindo sentidos passivamente, mas de fato transformando a realidade fora das telas, numa conversa
de mão dupla entre o que é representado no filme e o contexto sócio-histórico que sustenta tais
representações, causando manutenção ou ruptura de sentidos no percorrer dessa interlocução. Se sujeito e
sentidos, como postula a AD, se constituem simultaneamente, o mesmo deve ocorrer com o filme e seus
realizadores/espectadores, num eterno feedback entre arte e vida.

Referências

[1] ORLANDI, E. P. A linguagem e seu funcionamento: as formas do discurso. 4. ed. Campinas: Pontes,
2003.

[2] _____. Discurso e leitura. 6. ed. Campinas: Editora da UNICAMP, 2001. (Coleção Passando a Limpo)

[3] PÊCHEUX, M.. Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. 3. ed. Campinas: Editora da
UNICAMP, 1997. (Coleção Repertórios)

[4] SOUZA, T. C. C. A análise do não verbal e os usos da imagem nos meios de comunicação.
Ciberlegenda, n.6, 2001. Disponível em: <www.uff.br /mest cii/tania3>. Acesso em: 06 jun. 2007.

Apoio:
FAPESP.

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DO TEATRO QUE NOS MOVE AO TEATRO QUE QUEREMOS MOVER: PERSPECTIVAS


PARA O TEATRO DE GRUPO NO SÉCULO XXI

Laédio José Martins*


Raquel Guerra
UDESC

1. Introdução

- “Quem é o Teatro?”
Gostaria de aproveitar a contra-pergunta usada por Eugênio Barba em resposta a „O que é o Teatro?‟,
questionamento levantado em sua palestra “O Teatro de Risco e os Riscos do Teatro” 1. Compartilho da idéia de
que o teatro são as pessoas que o fazem e, sendo quem o „o Quê‟, somos os agentes deste ente que nos move 2.
Mas, para onde nos move o teatro?
A resposta para esta questão que não é nova, por certo, não é única. Cada pessoa envolvida na busca
desta verdade certamente tem sua própria resposta. E não foram poucos os homens, ao longo da história
ocidental, que se atreveram a esboçar o mapa de seus achados e legá-los às gerações vindouras, que por sua vez,
encontraram também seus próprios caminhos e afirmaram suas novas verdades. Essa busca pela verdade não é
uma particularidade do Teatro, se apresenta mais como um anseio dos homens, que perpassa todas as esferas da
atividade humana e se interpenetra na estruturação da intrincada teia das relações sociais. E assim, no curso da
história o Teatro tem evoluído e se adaptado aos novos tempos e inventos, com uma coisa em comum: a reunião
em grupo.

2. Modelos Fundadores

Analisada sob uma perspectiva histórica, a evolução do Teatro de Grupo sofreu grandes alterações no
curso de seu desenvolvimento, desde as propostas pedagógicas de inícios do século XX (Stanislavski, Copeau),
passando pelas formações políticas de meados do século (Agitprop) até as totalmente desvinculadas do
espetáculo em si (Grotowski, Barba), tendência marcante no final do século.
Deste ponto de vista, me parece que o surgimento de propostas inovadoras e as grandes transformações
que sofreu o teatro no século XX - e que repercutem até hoje - se deram a partir da formação de grupos, ou
coletivos de trabalho onde a preocupação ultrapassava as questões econômicas da produção. Esta característica é
marcante e colabora na definição do que se entende por teatro de grupo, como observam CARREIRA e
OLIVEIRA (2003, p.95):

Na atualidade se tem entendido por teatro de grupo, manifestações teatrais que se


definem pelo uso do treinamento do ator, pela busca da estabilidade do elenco, por
um projeto de longo prazo e pela organização de práticas pedagógicas. [3]

Iniciativas como as de Stanislavski (com o Teatro de Arte de Moscou) e de Copeau (com o Teatro do
Vieux Colombier) foram fundamentais nesta perspectiva. São projetos que nascem em contextos específicos,
mas que se aproximam, principalmente na preocupação pedagógica e formativa, na tentativa de sistematização e
na afirmação da importância do treinamento no trabalho do ator, o que impulsionou o ensino do Teatro a um
novo direcionamento, encaminhando para a busca de uma especificidade da arte teatral. Stanislavski e Copeau,
cada um a seu modo, procuravam responder questões relativas ao próprio ato do fazer teatral, aplacar uma
curiosidade que dizia respeito aos meios de se produzir eficácia cênica; e se fosse exeqüível do ponto de vista
econômico, tanto melhor, já que a sobrevivência e manutenção dos grupos sempre foram uma questão vital.

*
laediomartins@hotmail.com
1
Campus da UDESC, Florianópolis 06/11/2007.
2
Sobre o conceito de “Ente” e “Verdade”, ver HEIDEGGER, Martin. “A Origem da Obra de Arte”(Trad. Maria José Rago
Campos), in DUARTE, Rodrigo (Org.).O Belo Autônomo – Textos Clássicos de Estética. Belo Horizonte: Editora da
UFMG, 1997; p.221-240.
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Copeau e Stanislavski suscitam questões no início do século passado que ainda se aplicam ao teatro de
hoje, no qual, certamente, exercem forte influência, mesmo que não o saibam seus praticantes. No curso de seus
passos e de outros que enveredaram por rumos semelhantes, percorremos um longo caminho e ainda não
conseguimos encontrar todas as respostas, ou pelo menos, a resposta para as questões mais prementes: Em que
consiste o trabalho do ator? O que define sua eficácia em cena? Que termos empregar para esclarecer o trabalho
do ator? Como definir o seu jogo? Quem o ator representa? O que é a personagem? Como
criar/desenvolver/gerar/representar a personagem? Questões que se pode elencar com relação a um aspecto do
teatro: a representação enquanto técnica. E, conquanto técnica é possível que os pedagogos do teatro no século
passado tenham voltado seus olhos e dedicado seu tempo na elaboração e desenvolvimento de uma práxis,
cientes do tempo que a natureza leva para dar forma a alguma coisa duradoura, e é nesta direção que caminham
suas experiências, no desenvolvimento de uma vida em função da arte (ofício) que se optou por defender. Com a
lógica da Modernidade, e a mudança no pensamento/comportamento da humanidade, instala-se um paradoxo
entre o tempo que se leva para produzir e o tempo que se leva para consumir as coisas, o que afeta a manutenção
e existência de projetos desta natureza.

3. Processo Artístico x Mercado Cultural = Crise do Sujeito/Artista

As questões relativas ao paradoxo entre as atividades culturais e a lógica de mercado foram abordadas na
década de 1960 por Guy Debord, leitor das teorias de Karl Marx, que em seus manifestos combatia abertamente
a lógica do capitalismo. Sua crítica ao sistema aponta para a „coisificação‟ do homem, sua redução à mera
mercadoria no mundo, onde a alienação é conseqüência do modo capitalista de organização social. Tudo se
organiza na forma de „espetáculo‟, onde a estrela (protagonista) é o próprio sistema, com os figurinos do „valor
agregado‟ e a maquilagem da „margem de lucro‟. Tudo se apresenta „melhorado‟, espetacularizado, para a
manutenção do fluxo do capitalismo, tudo se consome rapidamente e a cada momento surge um „novo‟ para ser
devorado. As teorias de Debord exerceram influência no pensamento transformador que culminou no “Maio de
1968” e que ecoariam mundialmente, demarcando o início de um novo tempo, o qual trouxe à tona a questão das
identidades...
Stuart Hall, em ‘A identidade cultural na pós-modernidade’ aponta para a crise de identidade e constata
três concepções de „identidade‟ ao longo da modernidade:
- o Sujeito do Iluminismo - o homem foi colocado no foco das atenções, “como um indivíduo totalmente
centrado, unificado, dotado das capacidades de razão, de consciência e de ação” (HALL, 2001, p.10) [6] no qual
o centro essencial do eu era sua própria identidade, presente no sujeito desde o nascimento e com ele se
desenvolvendo, “ainda que permanecendo essencialmente o mesmo – contínuo ou „idêntico‟ a ele – ao longo da
existência.”(HALL: 2001,11) [6];
- o Sujeito Sociológico – esta noção “refletia a crescente complexidade do mundo moderno e a
consciência de que este núcleo interior do sujeito não era autônomo e auto-suficiente”, mas que “a identidade é
formada na „interação‟ entre o eu e a sociedade.”(HALL: 2001,11) [6]
- e o Sujeito Pós-Moderno, “conceptualizado como não tendo uma identidade fixa, essencial ou
permanente” (HALL, 2001, p. 12) [6], fruto de uma mudança tanto de pensamento como de estrutura, que vem
demonstrar que, ao invés de uma identidade unitária, o sujeito é „fragmentado‟ e contraditório.
A culminação no „Sujeito Pós-Moderno‟ é fruto das transformações de pensamento que sucederam na
segunda metade do século XX e que foram articuladoras das transformações na percepção do sujeito. Segundo
Hall, tais transformações vêm determinadas no direcionamento de “cinco grandes avanços na teoria social e nas
ciências humanas” (HALL, 2001, p.34 e ss.) [6]. O primeiro deles seria a redescoberta e reinterpretação dos
escritos de Marx a partir da argumentação de que “o marxismo corretamente entendido, deslocara qualquer
noção de agência individual”. Quando nascemos para a vida social, nos deparamos com “condições históricas
criadas por outros”, com recursos materiais e culturais que nos foram relegados e que, portanto, restringem e
direcionam nossa capacidade individual de ação. O segundo avanço seria a descoberta do inconsciente, por
Freud. Sua afirmação de que a lógica dos processos inconscientes é diferente da lógica da razão, desbanca a idéia
de „sujeito cognoscente‟, de Descartes, uma vez que a imagem do sujeito como unidade não se dá de dentro pra
fora, “mas é formada em relação com os outros”; essa nova abordagem engendra a substituição da idéia de
identidade por „identificação’. O terceiro desdobramento se dá em função dos estudos estruturalistas do lingüista
Ferdinand de Saussure e sua afirmação de que “não somos, em nenhum sentido, os „autores‟ das afirmações que
fazemos ou dos significados que expressamos na língua” posto que a linguagem é um sistema de códigos sociais,

568
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

e não um sistema individual. “Ela preexiste a nós” (HALL, 2001, p. 40) [6]. Quando fazemos uso da linguagem,
não estamos somente expressando nossos pensamentos, mas também, “a imensa gama de significados que já
estão embutidos em nossa língua e em nossos sistemas culturais” (Idem). O quarto “descentramento” é a
articulação dos discursos de Michel Foucault e sua “genealogia do sujeito moderno”, que parte do exercício de
um novo tipo de poder, o poder disciplinar, que a partir de critérios de seleção, individualiza e regula cada vez
mais o modus vivendi do sujeito, organizado, dividido, compartimentado. O tipo de controle imposto pelo poder
disciplinar perpassa e controla todas as esferas no âmbito da atividade humana, o que implica em inumeráveis
modos de domínio e treinamento do comportamento social. Somos treinados pelo poder disciplinar a agir em
decoro. O quinto e último “descentramento” é “o impacto do feminismo, tanto como uma crítica teórica quanto
como um movimento social”, pois colocava em xeque a maneira como somos formados e produzidos como
“sujeitos generificados”. (HALL, 2001, p.44-5) [6]
O autor aponta também uma “linha comum” no pensamento de alguns estudiosos da pós-modernidade
como Anthony Giddens, David Harvey e Ernest Laclau. Embora haja diferenças no modo como cada um vê essa
mudança do mundo, sua ênfase nos conceitos de descontinuidade (Giddens), desfragmentação e ruptura
(Harvey), e deslocamento (Laclau), são fundamentais para a compreensão dos impactos da globalização. HALL
se refere a uma “pluralização” de identidades3. Em última instância, o que está em jogo na questão das
identidades é a diferença: de gênero, racial, política, filosófica, religiosa...
Segundo Hall, a “globalização” é fator determinante na questão sobre a identidade cultural, pois a
modernidade não é definida apenas como a experiência de convivência com a mudança rápida, abrangente e
contínua, mas é uma forma reflexiva de vida, na qual:

as práticas sociais são constantemente examinadas e reformadas à luz das


informações recebidas sobre aquelas próprias práticas, alterando, assim,
constitutivamente, seu caráter. (GIDDENS apud HALL, 2001, p.15) [6]

Trago esta questão da identidade cultural justamente para contrapor as questões que julgo serem fatores
facilitadores da formação de grupos e por um apontamento levantado em aula, sobre o período de crise ter
alavancado o movimento de coletivos teatrais duradouros, como o caso dos grupos surgidos nas décadas de
1960-70. Me parece que de alguma forma, essas manifestações estão de acordo com o que argumeta o filósofo
Roger Scruton:
A condição de homem (sic) exige que o indivíduo, embora aja como um ser
autônomo, faça isso somente porque ele pode primeiramente identificar a si mesmo
como algo mais amplo – como um membro de uma sociedade, grupo, classe, estado
ou nação, de algum arranjo, ao qual ele pode até não dar um nome, mas que ele
reconhece instintivamente como seu lar. (SCRUTON apud HALL, 2001, p.48) [6]

Há um tal número de informações, de técnicas, de táticas e há o mesmo sem número de sujeitos em


busca de uma satisfação que não há... mas que é o que há, e que movimenta toda esta macroestrutura que se
modela a partir da própria transformação/transmutação de uma coisa em outra. Esta orientação toda (todas estas
possibilidades de caminhos a seguir, esse sem fim de informação) provoca desorientação, e a sobrevivência neste
mundo imediatista se torna cada vez mais difícil. Onde tudo tende para a individualização, a sobrevivência em
grupo pode-se tornar complicada... Mas, apesar de toda dificuldade, o grupo parece ser a possibilidade mais
tangível de sobrevivência.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nessa primeira década do século XXI, é difícil falar de um movimento grupal que não siga os
paradigmas postulados ainda no século passado. É certo que as grandes transformações e evoluções no campo
das humanidades que presenciamos principalmente a partir da década de 1980, aceleraram o processo de
comunicação entre as pessoas, de pessoas com pessoas, pessoas com coisas, coisas para coisas de todo o tipo e
somos inundados por um jorro de informações que nos atordoam, alterando nossa percepção e recepção,

3
Dependendo do ponto de vista, como exemplo, “um gaúcho”, pode ser visto como tal, como brasileiro, como homem,
como branco/negro/amarelo .
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inclusive do teatro enquanto tal. As práticas surgidas nesta década parecem vir responder as questões de
afirmação do sujeito, como notam CARREIRA e OLIVEIRA (2003, p. 97):

Se antes o objetivo fundamental era fazer da prática teatral um instrumento de intervenção


social, [n]os anos 80/90 se fortaleceram tendências cujos eixos focalizam a busca de
linguagens teatrais como forma de construção de identidade cultural. Para estas tendências
transformar o fazer teatral exige uma nova maneira de produção de forma a modificar a
própria função social do teatro. A unidade grupal que intervinha junto a contextos
comunitários passou a dirigir sua atenção para questões centradas nas dimensões fundantes do
teatro que vão além do ato teatral em si, adquirem aspectos filosóficos. Isso repercute em
projetos que implicam em estabilidade e em uma política pedagógica que difunde os
referentes técnicos e ideológicos dos grupos. E o grupo surge como matriz necessária para o
estabelecimento de um lugar identitário, funcionando como instrumento de coesão dos
projetos coletivos. [3]

Parece-me que uma perspectiva para os próximos anos é encontrar uma forma de sobreviver e, no ato de
sobrevivência fazer do teatro o próprio sopro de vida. Mas não de um organismo unicelular, mas como um ser
complexo, onde todas as partes do sistema funcionem em unidade, movimentando a dinâmica do existir. O grupo
como potencializador das capacidades individuais e ampliador das possibilidades de aplicação e difusão de
ideários.

REFERÊNCIAS

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06/11/2007.

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3. CARREIRA, André; OLIVEIRA, Valéria Maria de. Teatro de grupo: modelo de organização e geração de
poéticas. In: O TEATRO TRANSCENDE, Ano 12, nº. 11, 2003. pp 95-98.

4. DEBORD, Guy. A Sociedade do Espetáculo. In http://www.ebooksbrasil.com/eLibris/socespetaculo.html.

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Louro. Rio de Janeiro: DP & A Editora, 2001.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010
1

DOS JOVENS FILHOS DE GAIA E URANO AOS ADOLESCENTES DO GOOGLE EM


SEUS PROCESSOS DE EDUCAÇÃO SEXUAL

Msc. Enemarí Salete Poletti1


Drª. Sonia Maria Martins de Melo2
1
Orientadora Educacional da Rede Pública Estadual de SC.
2
Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC

1. Introdução

A pesquisa investigou adolescentes de uma Escola Pública de Ensino Médio sobre como
compreendem seus processos de educação sexual como subsídio a uma proposta de educação sexual
emancipatória. Com subsídios de cúmplices teóricos, realizou-se o “estado da arte”, percorrendo alguns
caminhos sobre os processos da construção sócio-histórico-cultural da sexualidade e seus reflexos na
educação sexual dos jovens e dos chamados adolescentes hoje e suas vertentes pedagógicas como expressões
da educação sexual. Percorrer tais caminhos foi essencial para buscar uma compreensão de mundo e das
relações sócio-históricas, de forma dialética, dinâmica e viva para entender a trajetória de construção do
processo de educação sexual do jovem ao adolescente. Como método, escolheu-se o dialético, mais
apropriado para nortear o trabalho. Na busca de respostas à questão central deste trabalho, foram realizadas
entrevistas de cunho fenomenológico com dez adolescentes entre 15 e 20 anos de idade (cinco do sexo
feminino e cinco do sexo masculino), da 1ª à 3ª série do Ensino Médio. Os dados coletados foram
interpretados segundo a Análise de Conteúdo, quando ficou evidente uma única e grande essência: a re-
descoberta de Si como ser humano sexuado nas relações dialógicas com o Outro no mundo, entrelaçada com
as dimensões: educação sexual no diálogo com a família; educação sexual no diálogo com amigos; educação
sexual no diálogo com os educadores na escola; educação sexual no diálogo com as Tecnologias da
Informação e da Comunicação (TIC): o motor de busca GOOGLE, como nova enciclopédia e a “negociação
crítica com o meio televisivo”, como caminho de crescimento. Por último, ficam registradas as contribuições
dos pesquisados, que apontam alguns caminhos pedagógicos para uma proposta intencional de educação
sexual emancipatória. Tais sugestões são fundamentais para embasar projetos intencionais atuais de
educação sexual nos sistemas formais de ensino brasileiros. No prosseguimento desta caminhada, busquei
inicialmente a cumplicidade teórica de: Ariès (1981), Erikson (1976), Figueiró (2006; 2009) Freire (1977,
1981, 1996), Kenski (2007), Lévy (1993; 2003), Marx (1983; 1991), Melo (2001; 2004), Melo e Pocovi
(2002), Nunes (1987; 1996), Nunes e Silva (1997), Postmann (1994), Sancho (1998), Santos (2006), Silva
(2001), Teixeira (2005), e Vasconcelos [et al.] (2009).

2. Método

Na minha compreensão, o ponto de partida precisa de um firme alicerce paradigmático, verdade


provisória para nortear os iniciados caminhos metodológicos. O campo de ação desta pesquisa foi numa
Escola Pública Estadual do Ensino Médio de Florianópolis. Como a escola é um espaço sócio-histórico-
cultural, escolhi o método dialético para embasar centralmente essa pesquisa de cunho fenomenológico. Ao
trilhar esses caminhos busquei um profundo encontro ao pesquisar dez adolescentes, cinco do sexo
masculino e cinco do sexo feminino, entre 15 e 20 anos de idade, dessa unidade escolar, sorteados pelo
número da matrícula. Profundamente predisposta à “arte de escutar adolescentes”, utilizei como instrumento
metodológico a técnica da entrevista de cunho fenomenológico. Para os encontros com os entrevistados,

1
Mestre do Programa de Pós-Graduação em Educação/Mestrado – Linha de Pesquisa: Educação, Comunicação e
Tecnologia, Centro de Ciências Humanas e da Educação – FAED, Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC.
Florianópolis – SC. Membro do Grupo de pesquisa Formação de Educadores e Educação Sexual CNPq/UDESC –
EDUSEX. enefln@hotmail.com
2
Orientadora e Docente da Mestre 2008/2010 do Programa de Pós-Graduação em Educação/Mestrado – Linha de
Pesquisa: Educação, Comunicação e Tecnologia, Centro de Ciências Humanas e da Educação – FAED, Universidade
do Estado de Santa Catarina – UDESC, Florianópolis – SC. Líder do Grupo de pesquisa Formação de Educadores e
Educação Sexual CNPq/UDESC; Coordenadora do Grupo de Estudo em Educação Sexual – EDUSEX. Florianópolis,
SC.

571
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010
2

escolhi a seguinte questão que pauta o tópico norteador: “Como os adolescentes compreendem que ocorrem
os seus processos de educação sexual hoje, em interfaces com as Tecnologias da Informação e da
Comunicação”. Cada adolescente foi identificado por nomes de titãs e titânides, segundo sua escolha. Assim,
nossos encontros dialógicos foram marcados por: Réia, Ceos, Têmis, Cronos, Mnemosine, Jápeto, Téia,
Oceano, Tétis e Hipérion.

3. Resultados e Discussão

Os dados coletados expressos nessa pesquisa de campo foram interpretados à luz da Análise de
Conteúdo de Bardin (1977), passando pelas seguintes etapas, indicadas por Melo (2004, p. 71-72): coleta de
dados verbais; apreensão do sentido do todo; discriminação das unidades de significado; transformação das
unidades de significado na linguagem do pesquisador; elaboração das sínteses das estruturas; significado e
desvelamento das dimensões fenomenológicas. Compreendi que, utilizando a coleta e análise de dados
efetivados no encontro com o outro por meio da entrevista de cunho fenomenológico, foi possível uma volta
ao real vivido, na busca de uma única essência entrelaçada com suas dimensões. Neste sentido, emergiu das
falas dos adolescentes uma única essência: a re-descoberta de Si como ser humano sexuado nas relações
dialógicas com Outro no mundo entrelaçando-se com o brotamento das dimensões: a educação sexual no
diálogo com a família: pais, mãe, avó e pai; a educação sexual no diálogo com amigos; a educação sexual no
diálogo com os educadores na escola; a educação sexual no diálogo com as Tecnologias da Informação e da
Comunicação: o motor de busca GOOGLE, como nova enciclopédia, e a “negociação crítica com o meio
televisivo” como caminho de crescimento. Ao refletir sobre o universo dos diálogos dos titãs e das titânides,
sempre contendo os mais diversos sentimentos deles e delas e assim permeando as suas compreensões de
seus processos de educação sexual, fui percebendo que no desvelamento das suas falas surgiram alguns
caminhos pedagógicos apontados com a ajuda dos adolescentes do GOOGLE. Em síntese, os filhos do
GOOGLE sugeriram os seguintes caminhos pedagógicos: matéria de educação sexual, educação sexual nas
diversas disciplinas, site apropriado para adolescentes, vídeos sobre a história da sexualidade, palestras,
programas televisivos com educadores sexuais especializados (linha ao público), programa televisivo com
professores, sexólogos, representantes de jovens e platéia, links sobre sexualidade na página do Orkut, uma
matéria de educação sexual na Internet, sites com conteúdos simples e explicativos, sites com educadores
especializados em educação sexual para os adolescentes interagirem com nome fictício. Nessa perspectiva,
os adolescentes entrevistados apontaram esses caminhos pedagógicos para uma proposta intencional de
educação sexual emancipatória, com a esperança de que na escola eles sejam acolhidos pelos seus
educadores e educadoras, também pela “arte da escuta”, para juntos construírem e reconstruírem esta
caminhada pedagógica.

4. Conclusão

Na imensa gama de diálogos dos adolescentes entrevistados, escuto-os dizendo que há um campo de
possibilidades, principalmente no espaço escolar, familiar e também por parte das Tecnologias da
Informação e da Comunicação para se trabalhar uma proposta intencional de educação sexual emancipatória,
a qual poderá contribuir de forma ainda mais positiva nos seus processos de educação sexual. Ao concluir a
pesquisa, não uma finalização, mas uma reflexão “para onde vou”, escrevi Conclusões? Ou ponto de chegada
para re-começar? Por entender que a caminhada continua, pois somos seres humanos históricos, sempre
sexuados, e produzimos conhecimentos na relação dialética com o outro no mundo em que convivemos.
Portanto, o ser humano é inconcluso, inacabado e aberto a novas alternativas de construir-se e reconstruir-se
continuamente na interação com o outro. Por isso sempre há um re-começar para quem gosta de ser Gente!
E, parafraseando Paulo Freire (1996, p. 31), um dos meus cúmplices teóricos que me embasou
profundamente neste trabalho, é que digo: “gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um ser
condicionado, mas, consciente do inacabamento, sei que posso ir mais além dele”. Por “gostar de ser gente”
é que, mesmo encontrando diversos entraves materiais, econômicos, sociais e políticos, culturais e
ideológicos na caminhada profissional, continuo a trilhá-la com “um olhar de esperança”, pois como já diz
Santos (2007, p. 85): “O importante hoje não se trata tanto de sobreviver como de saber viver. Para isso é
necessário, outra forma de conhecimento, um conhecimento compreensivo e íntimo que não nos separe e
antes nos una ao que estudamos”. Saber viver também é fazer ciência, dialogando com o conhecimento dito
científico e com o senso comum, pois ambos estão imbricados, sem verdades absolutas. Assim também são
os processos de educação sexual: sempre em dialeticidade, numa construção e reconstrução, pois somos
seres humanos sempre sexuados e produzimos conhecimentos na relação com o outro no mundo, sem
verdades acabadas, é sempre um devir. Portanto, com o meu “olhar de esperança” é que, concluindo
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3

formalmente esse trabalho, me deparei com um novo ponto de chegada, pelo qual percebi que, na vida, seja
qual for o contexto, sempre é possível re-começar. Com esta experiência profunda de encontros dialógicos
com os adolescentes pesquisados, convido os educadores e as educadoras, seres humanos sempre sexuados, a
refletirem em suas práticas pedagógicas sobre este estudo: dos jovens filhos de Gaia e Urano aos
adolescentes do GOOGLE em seus processos de educação sexual.

Palavras-chave: adolescência. Educação Sexual. GOOGLE. Tecnologias da Informação e da


Comunicação. Sexualidade

Referências

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EFEITOS DE SENTIDOS DO TRABALHO DOS PROFESSORES DE LÍNGUA MATERNA NA


PERSPECTIVA DOS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS
Letícia Ramalho Brittes1

Letícia Ramalho Brittes 1


1
Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução

Este estudo propõe uma discussão sobre o trabalho dos professores de língua materna, a partir das
determinações expressas na parte de apresentação dos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua
Portuguesa, do Terceiro e Quarto ciclos do Ensino Fundamental (1998, p.5). Para isso, parto da noção de
recorte, pois trarei nessa escrita, uma análise pontual de fragmentos selecionados do referido documento, a
fim de analisar em que medida os valores da sociedade capitalista orientam essa proposta curricular e quais
as implicações desse processo no trabalho dos professores. Além disso, pretende-se analisar as influências do
Positivismo implícitas nos PCNs e suas conseqüências para a prática pedagógica desses profissionais.
Primeiramente, é relevante salientar que os professores “são profissionais cujas condições de produção
diferenciam-se das demais práticas produtivas, pois, pela educação, esses seres agem e, ao mesmo tempo, se
constituem como trabalhadores, indefinidamente, em um movimento contínuo” (FERREIRA, 2007).
No caso dos professores, constituindo-se em um modo de garantirem suas condições de existência, o
trabalho configura-se “[...] no capitalismo, em uma das suas formas de expressão” (KUENZER, 2002, p.82).
Nesse sentido, a finalidade do trabalho pedagógico, como modalidade de trabalho na sociedade capitalista,
“[...] é o disciplinamento para a vida social e produtiva, em conformidade com as especificidades que os
processos de produção, em decorrência do desenvolvimento das forças produtivas, vão assumindo”. O
disciplinamento, neste viés de compreensão, implica o desenvolvimento de uma concepção de mundo tão
consensual quanto seja possível), em acordo com as demandas e “[...] necessidades de valorização do
capital” (KUENZER, 2002, p. 82). Nesse contexto, são elaborados os Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCNs), em 1998, década marcada pela abertura do país ao capital estrangeiro. Esse documento apresenta em
suas páginas iniciais a seguinte declaração:
[...] O papel fundamental da educação no desenvolvimento das pessoas e das sociedades
amplia-se ainda mais no despertar do novo milênio e aponta para a necessidade de se
construir uma escola voltada para a formação de cidadãos. Vivemos numa era marcada
pela competição e pela excelência, em que progressos científicos e avanços tecnológicos
definem exigências novas para os jovens que ingressarão no mundo do trabalho. Tal
demanda impõe uma revisão dos currículos, que orientam o trabalho cotidianamente
realizado pelos professores e especialistas em educação do nosso país. Assim, é com
imensa satisfação que entregamos aos professores das séries finais do ensino fundamental
os Parâmetros Curriculares Nacionais, com a intenção de ampliar e aprofundar um debate
educacional que envolva escolas, pais, governos e sociedade e dê origem a uma
transformação positiva no sistema educativo brasileiro. (PCNs, 1998, p.5)
Aspectos como - a) a necessidade de se construir uma escola voltada para a formação de cidadãos; b)
uma era marcada pela competição e excelência; c) novas exigências para os jovens que ingressarão no
mundo do trabalho; d) transformação positiva no sistema educativo brasileiro - serão o cerne das discussões
desenvolvidas nesse estudo.

2.Método
Este estudo organiza-se como uma pesquisa qualitativa, que se apresenta como uma abordagem
própria para os estudos em educação, tendo em vista que propicia maior interação entre pesquisadores e os
temas abordados, na medida em que não se pauta por um rigor cartesiano absoluto. Ao contrário, permite ser
modificada no percurso da pesquisa, garantindo que as ações dos sujeitos e a sucessão dos fatos observados
tenham primazia no desenvolvimento da pesquisa. Trata-se de uma investigação de cunho bibliográfico que
tem por parâmetro para as discussões e análise dos fragmentos do documento em questão, alguns conceitos
da Análise de Discurso da Escola Francesa (AD), dentre eles: discurso, sujeito, formação ideológica,
formação discursiva, os quais serão explicitados no decorrer do texto. Em acordo com esses pressupostos,
traça-se o dispositivo de análise deste estudo. Por se tratar da AD, pode-se afirmar que é um dispositivo da
interpretação, em que “não se procura o sentido verdadeiro, mas o real do sentido em sua materialidade

1
leticia.brittes@hotmail.com
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lingüística e histórica” (Idem, p.59). A esse respeito, salienta-se que em AD, a metodologia não está
estabelecida, pronta e acabada, ela é antes de tudo, um trabalho do próprio analista.
Dito isto, parto para a análise do primeiro aspecto – a necessidade de se construir uma escola voltada
para a formação de cidadãos – A esse respeito, pode-se considerar que esse modelo de escola abarca a
formação da cidadania dos sujeitos. No entanto, sabe-se que a escola contemporânea é mais uma das
instituições do Estado surgidas na época da Modernidade, período histórico marcado pela racionalização e
cientificidade dos fatos, com base numa concepção de ciência positivada. Althusser (1985), irá denominar
essa instituição por Aparelho Ideológico Escolar (AIE). Para o teórico, a ideologia 2 relaciona-se ao conjunto
de práticas materiais para a produção, assim como na reprodução das condições políticas, econômicas e
ideológicas. Partindo desses pressupostos, Althusser (1985) formulou duas teses:
a)não existe prática senão através de e sob uma ideologia;
b)só há ideologia pelo sujeito e para o sujeito.
Com base nessas assertivas surge a tese central de Althusser: “a ideologia interpela os indivíduos
enquanto sujeitos” (Idem, p. 93). Na sociedade contemporânea, a ideologia dominante é a ideologia da classe
dominante, ou seja, o Aparelho Ideológico Escolar inscreve-se nesta formação ideológica3. Nesse caso, a
mesma ideologia que interpela o indivíduo enquanto sujeito, é a que o assujeita a uma determinada formação
ideológica, no caso dos professores, a formação ideológica da escola. Além disso, esse sujeito se inscreve em
uma formação discursiva4 que irá definir aquilo que pode e deve ser dito. Nesse contexto, a formação da
cidadania que prevê o gozo dos direitos civis e políticos de um Estado, desenvolve-se a partir do
assujeitamento do sujeito, o qual, ao se submeter livremente, se sujeita às condições de produção impostas
pela ordem superior estabelecida, apesar de ter a ilusão de autonomia.
O segundo aspecto apontado pelos PCNs – o fato de estarmos vivendo uma era marcada pela
competição e excelência – diz respeito à reprodução dos valores da sociedade capitalista. Pelo fato de o
motor desse sistema ser o capital e não o ser humano, tais valores acabam por desenvolver um processo de
desumanização, além disso, funcionam como uma determinação explícita do capital. Acredita-se, conforme
Mészáros (2008), na necessidade de a educação ser um “mecanismo de contrainternalização dos valores da
classe dominante”. A esse respeito, o autor propõe que a educação transforme seus sujeitos em agentes
políticos, que pensem, ajam através da palavra. Sobretudo, crê-se que o trabalho dos professores de língua
materna precise ser realizado numa perspectiva discursiva, atentando-se para o fato de que “todo dizer é
ideologicamente marcado” (ORLANDI, 2005, p. 38), portanto, trabalhar com a língua vai muito além do
ensino de estruturas e regras de um determinado código linguístico, adentrando ao estudo do acontecimento
linguístico, da língua em uso, em movimento de sentidos, ou seja, trata-se de um estudo sobre o discurso que,
em acordo com as palavras de Orlandi, “é o lugar de trabalho da língua e da ideologia” (Idem). Por isso,
concordo com as palavras de Cardoso quando afirma que
[...] Na prática da sala de aula, transformar as aulas de língua materna num momento
privilegiado de interação, em que os interlocutores verdadeiros (professores e alunos) tem
o que dizer e o dizem por meio da sua língua, que é tomada como uma atividade, um
processo criativo que se materializa pelas enunciações. Em vez de técnicas de redação,
exercícios estruturais e treinamento de habilidades de leitura, o que se deve privilegiar é a
criação de textos e discursos, o eu equivale a dizer privilegiar práticas escolares que levem
à formação de alunos leitores e produtores de textos, conscientes do lugar que ocupam e de
sua capacidade de ação (= inter-ação) para subverter o que está estabelecido. (CARDOSO,
2005, p.54)
Nessa perspectiva, pode-se encaminhar a discussão sobre o terceiro aspecto selecionado para este estudo - as
novas exigências para os jovens que ingressarão no mundo do trabalho – Tais exigências, no atual modo de
produção, têm a ver com os interesses mercadológicos e com a valorização do capital através da produção de

2
Marx e Engels (1984) desenvolvem um conceito de ideologia que se vincula ao antagonismo das duas classes sociais surgidas na
Modernidade: burgueses e proletários, estabelecendo-se uma relação de ideologia da classe dominante versus ideologia da classe
dominada. Com base nessa perspectiva de sociedade Marx irá definir que a ideologia se realiza no âmbito da “falsa consciência” em
que a ideologia da classe dominante serve como meio de dominação, mascarando o conflito da luta de classes, o que provoca a
alienação do sujeito através de uma percepção incompleta da realidade.
3
É nesse contexto que surge a definição de formação ideológica como um conjunto complexo de atitudes e representações que,
conforme Pêucheux (1988), não são individuais nem universais, situando-se no entremeio dos conflitos relacionados a posições de
classes sociais. Em outras palavras, o que o sujeito diz é determinado pelas condições sócio-históricas nas quais ele o diz, ou seja, em
acordo com a formação ideológica da sociedade na qual está inserido.
4
Indursky (2002) formula uma definição para FD a partir de Pêucheux (1988). Para a teórica, FD corresponde a um domínio de saber,
constituído de enunciados discursivos que representam um modo de se relacionar com a ideologia vigente, controlando o que pode e
deve ser dito, bem como, estabelecendo o que não pode e não deve ser dito.

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mais valia. Nesse contexto, o trabalho dos professores é o de preparar os estudantes para o mercado de
trabalho. Não obstante, tal proposta explicita a necessidade dessa preparação visto que se está inserido em
uma sociedade que tem por valores a excelência, a competição. Parece-me uma proposta conformista com as
imposições da classe dominante, que objetiva que o Ensino Fundamental seja lócus de formação de mão de
obra barata. Assim, o ensino de Língua Portuguesa, em acordo com esse documento oficial, está atrelado à
lógica do capital, pois se restringe em preparar os sujeitos para o trabalho alienado5.

3. Resultados e discussão
Com o que foi exposto até aqui, pode-se constatar que as determinações dos PCNs são desenvolvidas
com o objetivo de orientar o trabalho dos professores de língua materna numa perspectiva mercadológica,
sendo que apresenta valores como competição e excelência como válidos para a formação humana. Além
disso, explicita uma noção de educação voltada para a preparação e qualificação para trabalho. Com isso, a
parte de apresentação do documento encerra-se com o quarto e último aspecto, sugerindo uma -
transformação positiva no sistema educativo brasileiro – o que se remete a uma concepção positivista,
reiterando a ideia de que a escola é um AIE, pois em acordo com o que se estabelece nesse documento, seria
ingênuo tratar o uso expressão positiva como algo que encaminhe uma transformação na educação em prol
da formação de sujeitos autônomos. Pelo contrário, acredita-se que tal como se apresenta a educação e a
escola contemporânea, a palavra positiva continua ideologicamente atrelada ao Positivismo6,
O pensamento positivista chegou até o Brasil, inspirando a Velha República e, posteriormente, o
período ditatorial a partir de 1964. Em ambos os períodos da história brasileira a liberação social e política
passava pelo desenvolvimento da ciência e da tecnologia sobre o controle das elites. Com o pressuposto de
garantir a “ordem e o progresso” da nação – palavras utilizadas no emblema da bandeira nacional- o
Positivismo instaurou-se como filosofia,portanto interrogando-se sobre o real e a ordem existente; mas, ao
dar uma resposta ao social afirmou-se como ideologia, isto é, a ideologia da classe dominante que passou a
subjugar às demais classes sociais, mascarando o conflito da luta de classes. Nessa perspectiva, retorno à
discussão sobre a sugestão de uma transformação positiva do sistema educativo brasileiro, apontada pelos
PCNs, com a seguinte indagação: como se pode proporcionar uma transformação positiva no contexto do
modo de produção capitalista sem que esta ocorra no viés do Positivismo, reiterando assim, os interesses e a
reprodução dos valores da sociedade vigente?
É nesse contexto que os professores de língua materna, através do seu trabalho na escola, necessitam
resistir ao que está posto e determinado pela ideologia da classe dominante, tornando a aula um lugar de
tensão, resistência e consequente subversão, através do exercício da análise crítica dos estudantes. E por que
cabe, especificamente, aos professores de língua materna o trabalho de desenvolver a análise crítica dos
estudantes? Trata-se de uma designação não apenas dos PCNs, mas da própria formação desses profissionais.
Isso não significa, no entanto, que somente esses professores sejam responsáveis por desenvolver a
criticidade dos estudantes. Contudo, o professor licenciado em Letras, além de desenvolver um trabalho
lingüístico, como os demais professores, tem por conteúdo curricular de ensino a própria língua.
Segundo Cardoso, “o “conteúdo” a ser trabalhado na sala de aula é a própria língua, por intermédio
de três práticas interdependentes: leitura, produção de texto e análise linguística” (2005, p. 28). Assim, o
trabalho dos professores realiza-se em uma perspectiva discursiva, ou seja, através da produção de um
discurso pedagógico e nesse sentido, conforme Pêcheux
[...] Todo discurso é índice potencial de uma agitação nas filiações sócio-históricas de
identificação, na medida em que ele constitui ao mesmo tempo um efeito dessas filiações e
um trabalho (mais ou menos consciente, deliberado, construído ou não, mas de todo modo
atravessado pelas determinações insconscientes) de deslocamento no seu espaço.
(PÊUCHEUX, 1988, p.56)
Dessa maneira, entende-se que, em acordo com as formulações de Pêucheux, os processos de
identificação, contra-identificação e desidentificação relacionam-se à tomada de posição do sujeito frente à
ideologia que o domina. Nesse sentido, quando se fala em identificação do sujeito está-se remetendo a uma
posição de satisfação e concordância do sujeito com sua FD estipulada por uma determinada formação
ideológica; a contra-identificação, por sua vez, corresponde a um espaço de tensão do sujeito com a sua FD.
Nesse processo, o sujeito se questiona, demonstrando resistência a esta FD. Já o processo de desidentificação

5
O trabalho na sociedade capitalista é um processo que aliena o ser humano de suas próprias características humanas. Segundo
Antunes, assume “a forma de trabalho estranhado, fetichizado e, portanto, desrealizador e desefetivador da atividade humana
autônoma” (ANTUNES, 1995, p. 77).
6
O pensamento pedagógico positivista consolidou a concepção burguesa da educação. No interior do Iluminismo e da sociedade
burguesa duas forças antagônicas tomaram forma desde o final do século XVIII. De um lado o movimento popular e socialista; de
outro, o movimento elitista burguês.

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diz respeito àquele sujeito que, resistindo à imposição ideológica em sua FD de origem, irá migrar para outra
FD, pois sua FD já não o comporta mais. A esse respeito Pêucheux afirma que o processo de
desidentificação resulta de uma tomada de posição não-subjetiva, que conduz ao trabalho de
transformação/deslocamento do sujeito de uma FD para outra (1988, p. 217).
Interessa a este estudo que o sujeito professor de língua materna realize a tomada de posição de
contra-identificação com a ideologia imposta pelo AIE, pois se acredita que a partir desse lugar de resistência
seja possível encaminhar uma transformação na educação conforme propõem os PCNs. Finalmente, sugere-
se que tal transformação seja encaminhada como um processo gradual com a negociação de sentidos dos
discursos que se entrecruzam na sala de aula, através do desenvolvimento do senso crítico dos estudantes
aliado ao trabalho com leitura, produção textual e análise linguística.

4. CONCLUSÃO
Do exposto até aqui, pode-se considerar que o lugar que deve ser ocupado pelo professor de língua
materna é o lugar de tensão, resistindo ao que está previamente determinado pelas políticas educacionais, as
quais foram desenvolvidas em um contexto que privilegia os interesses da ideologia da classe dominante,
excluindo, nesse processo, a possibilidade de uma formação humana e emancipatória dos sujeitos envolvidos
no processo educativo.
Além do mais, acredita-se que através da contra identificação do professor com a FD imposta pela
formação ideológica do Aparelho Ideológico Escolar, seja possível subverter o status quo de dominação da
escola aos interesses mercadológicos que operam entre as relações da sociedade vigente.
Para tanto, considera-se que os professores de língua materna tenham certo privilégio nesse processo,
pois através do trabalho com a língua podem encaminhar a aula numa perspectiva discursiva que proporcione
a interação, o diálogo, a problematização, a partir de uma leitura de mundo crítica que vá além da análise do
que está sendo dito, incluindo, nesse processo, a opacidade da linguagem, ou seja, sua não transparência,
pois o discurso é o lugar de trabalho da língua e da ideologia (ORLANDI, 2005, p.38).
Nessa perspectiva, cabe aos professores, segundo Orso (2008), desvelar “as ideologias,
desmistificando as falsas expectativas atribuídas a ela, indo à raiz das questões para subverter a ordem
vigente.” Por fim, sugere-se que esse trabalho seja organizado desde o planejamento até a condução das
aulas, através da seleção prévia do material que será utilizado, para que seja possível desenvolver atividades
de leitura, produção de texto e análise linguística em um processo simultâneo à formação humana e
autônoma dos sujeitos.

REFERÊNCIAS
ALTHUSSER, Louis. Aparelhos ideológicos de Estado. 2. ed. Trad. de Valter José Evangelista e Maria
Laura Viveiros de Castro. Rio de Janeiro: Graal, 1985.
ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho? Ensaios sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do
trabalho. São Paulo: Cortez, 1995.
BRASIL. Ministério de Educação e Cultura. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros
Curriculares Nacionais. 3º e 4º Ciclos do Ensino Fundamental: Língua Portuguesa. Brasília, MEC/SEF,
1998.
FERREIRA L. S. Gestão do pedagógico, trabalho e profissionalidade de professoras e professores. In:
Revista Ibero Americana. 2007, n° 45. Disponível em: http://www.rieoei.org/rie45a10.htm. Acesso em 15
de maio de 2010.
GADOTTI, M. História das ideias pedagógicas. 8. ed. São Paulo: Ática, 2008.
KUENZER; CALDAS. Trabalho docente: Comprometimento e Desistência. In: IV Simpósio Trabalho e
Educação. ago. 2007.
MARX, k. O Capital: Crítica da Economia Política. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. Livro 1,
v. 1.
________. MARX, Karl. A ideologia alemã. Lisboa: Edições Avante, 1984. [a]
MÉSZAROS, I. A educação para além do capital. São Paulo: Boitempo, 2008.
ORSO, P.; GONÇALVES, S. R.; MATTOS V. M (orgs.). Educação e luta de classes. São Paulo: Expressão
Popular, 2008.
ORLANDI, Eni, P. A linguagem e seu funcionamento: as formas do discurso. 2° ed.Campinas: Pontes,
1987.
_________ . Análise de discurso: princípios e procedimentos. 6° ed. Campinas: Pontes, 2005.
PÊCHEUX, Michel. Semântica e discurso – Uma crítica à afirmação do óbvio. Campinas: Edunicamp,
1988.
_______. Discurso. Estrutura ou acontecimento. Campinas: Pontes, 1990.

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EM MEIO A ESFERAS E SUPERFÍCIES DE CONTATO


Odete Angelina Calderan1*
1
Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução

O presente texto aborda questões conceituais e processuais próprias da construção da obra-instalação


Entre Esferas que se inserem em minha poética onde associações de matéria e imagem, idéias e referências,
prática artesanal e tecnologia se entrecruzam constantemente. Tal campo não é criado a priori, ao contrário, é
o fazer que estabelece o livre trânsito desses elementos. Eles se movem dentro da produção artística pessoal,
ora se mesclando, ora se diferenciando a partir dos limites impostos pelos materiais e operações realizadas.
Rey, referindo-se ao artista contemporâneo diz que “para fazer frente a habilidades e conhecimentos
tão diversificados que se apresentam de forma imbricada no processo de criação, passa a constituir a arte
como um campo fecundo para a pesquisa e a investigação” [1].
Nesse sentido, a instauração da obra em processo evoca a materialidade através das formas
tridimensionais (esferas), construídas a partir da argila, de ações repetitivas; de processos cumulativos: no
amassar, sulcar, moldar, raspar, soldar e sinterizar, gera-se um tempo descontínuo de ir e vir, de certezas e
incertezas, de acasos e permanência, de transformação e memória.
Segundo o pensamento de Salles “esse diálogo [...] com a matéria leva-nos a estreita relação entre
forma e conteúdo no processo de construção de uma obra, já que o procedimento artístico não pode ser
reduzido ao processo de elaboração da matéria” [2].
Nesta trama de sentidos, de interpelações da obra em processo, Didi-Huberman no texto escrito para
a exposição L´Empreinte, redimensiona os conceitos sob diferentes enfoques e coloca que a ação de imprimir
(de fazer marcas) propõe que o gesto dá lugar a uma marca durável: a impressão supõe um suporte, de um
gesto que atinge (em geral um gesto de pressão ou ao menos de contato), um resultado mecânico que é uma
marca no vazio ou relevo [3].
Na cerâmica alguns procedimentos de construção da obra se impõem mais que outros, em um re-
descobrir que vai além da matéria, das técnicas e dos métodos, se desdobram em questões, conceitos e
diálogos enquanto processo em desenvolvimento e depois dele. Ao realizar os registros fotográficos dessas
experiências, observo que a fotografia e a cerâmica são vizinhas, pois paralisam o tempo. Para Dubois “o que
uma fotografia não mostra é tão importante quanto o que ela revela” [4].

Fig. 1 Imagens de peças cerâmicas em estado de couro.

1*
Odete Angelina Calderan: ocalderan@yahoo.com.br
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Fig. 1 Imagens/detalhes das texturas peças cerâmicas. Fig. 2 Imagens/fragmentos fotográficos do processo.

Assim, nesse processar sempre inquieto da obra - de acasos e permanências - estabelecem-se


questões de deslocamentos vivenciados primeiro pela fotografia como registro, depois, com o vídeo, no qual
a ação está representada em uma imagem dinâmica, na repetição das ações produzidas no atelier. O vídeo,
segundo Mello “compreende um momento de expansão do plano da imagem para o plano da supressão do
olho como único canal de apreensão sensória para a imagem em movimento” [5].
A partir das relações estabelecidas no processo de criação da obra-instalação Entre Esferas,
aproximo minha produção artística da fotografia e da videografia, no início como documento e registro de
passagens do processo, depois experenciando a imagem em outros contextos.

2. Método
Na prática em questão as cerâmicas, esferas tridimensionais (tamanhos variados) e as pequenas
esferas (textura) que compõe a superfície das esferas maiores, passaram por diversos procedimentos ao
serem construídas. Em um primeiro momento de escolhas, o olhar se volta para a matéria-prima, a argila (
vermelha) e técnicas específicas da linguagem cerâmica (rolinhos, matriz de gesso e silicone). O volume
dessas peças-esferas foi concebido e pensado como corpo positivo e/ou negativo; um espaço côncavo ou
convexo, ou como um espaço vazio compactado pela matéria. Tal procedimento levou a pensar em cada
objeto como único, caracterizado pela unicidade e pela multiplicidade, resultado de uma série de
experiências distintas, sendo que a percepção de cada superfície plana também é uma experiência constante.
As pequenas esferas (texturas) que compõe a superfície das esferas maiores, construídas com argilas
diferenciadas, atuam como pontos de apóio e equilíbrio. Seu contato com a superfície plana se dá por
tangência, característica fundamental apreendida como resultado multiplicador na obra em processo.
Na fotografia se ampliam os referenciais através de deslocamentos, que se concretizam no operar a
máquina fotográfica e registrar. Interações de passagens - do meio tridimensional ao bidimensional – são
efetivadas pela linguagem da fotografia (analógica e digital), que, por sua vez, no processo de escolhas, foi
compreendida como agente decodificador de situações reais vivenciadas e consolidada como parte integrante
da obra.
Ao registrar essas experiências, percebo que a imagem móvel da fotografia é incapaz de reproduzir o
fluxo dos acontecimentos presentes no percurso. Por este motivo encontro a oportunidade de articular a
presença da fotografia aliada à projeção de vídeo como parte integrante da obra-instalação.

3. Resultados e Discussão
Ao conceber a obra-instalação Entre Esferas como processo de criação acabado e ao apresentá-la
como resultado poético em exposição, segundo Salles ”o artista lida com sua obra em estado de permanente
inacabamento”, propondo novos deslocamentos de sentido [6].
Podemos descrever a obra como uma associação de peças cerâmicas e superfícies de contato -
cerâmicas tridimensionais (esferas de tamanhos variados), vídeo (imagens fotográficas projetadas sobre
parede/e ou tecido) som, luz quente e sombras.

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Fig. 3 Odete Calderan, Obra-Instalação: Entre Esferas, 2009

Fig. 4 Odete Calderan, Obra-Instalação: Entre Esferas, 2009

Assim, no contexto poético da obra-instalação, questões perpassam o contato tátil e visual,


possibilidades de pontos de tangência entre a imagem e a matéria (objeto cerâmico), a imagem e o espaço
(lugar de exposição) e a imagem e o processo (tempo). Trata-se da obra instalada no espaço de exposição que
passa a suscitar deslocamentos do sensível tornando a imagem o próprio lugar de novas manifestações
artísticas.

4. Conclusão
A proposta poética Entre Esferas aqui apresentada como resultado de uma prática artística em
desenvolvimento busca estabelecer novas relações de sentido que perpassam a linguagem cerâmica em
diálogos com a fotografia e a vídeo-instalação. Tais possibilidades foram experienciadas no conjunto das
peças que compõe a obra em processo, tecendo relações de contato, entre as imagens e a matéria, a imagem e
o lugar e imagem e o processo, especificidades conceituais e processuais que se apresentam e se entrelaçam
na pesquisa, contribuindo para contextualizar a minha prática.
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O estudo está em andamento e faz parte de pesquisa na linha Arte e Tecnologia no Mestrado em
Artes Visuais da UFSM, sob orientação da professora Drª Reinilda Minuzzi.

Referências

[1] REY, Sandra. Por uma Abordagem Metodológica da Pesquisa em Artes Visuais. In BRITES, Blanca;
TESSLER, Elida (Org.). O meio como ponto zero: metodologia da pesquisa em artes plásticas. Porto
Alegre: Ed. UFRGS, 2002, p.125.
[2] SALLES, Cecilia Almeida. Gesto inacabado: processo de criação artística. São Paulo: FAPESP/
Annablume, 2004, p.73.
[3] DIDI-HUBERMAN, Georges. Impressão Marca Sinal. In: L’Empreinte. Catálogo de exposição – Centre
Georges Pompidou – Paris – 1997. Adaptação e tradução para o Mestrado em Artes Visuais da EBA-UFMG,
por Patrícia Franca.
[4] DUBOIS, Philippe. O ato fotográfico e outros ensaios. São Paulo: Papirus, 1993, p.179.
[5] MELLO, Christine. Extremidades do vídeo. São Paulo: SENAC, 2008, p.169.
[6] Idem, op. cit., p.78.

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EMBATE LUSO-CASTELHANO NA HISTORIOGRAFIA SUL-RIO-GRANDENSE


POR UMA PERSPECTIVA DISCURSIVA

Emanuele Bitencourt Neves Camani


Universidade Federal de Santa Maria( UFSM)

1. Introdução
Este texto objetiva apresentar algumas reflexões parciais da nossa pesquisa sobre a formação
étnica-social do sujeito gaúcho atravessada pelo discurso da história do Rio Grande do Sul —
constituição da origem e identidade do gaúcho, ou melhor, uma tentativa de reconstrução da história
sul-rio-grandense via sujeito. A finalidade é examinar como está estabelecida a contraposição da
tomada de posição sujeito, por pressupostos teóricos da Análise de Discurso, referentes à tomada de
posição sujeito, interdiscurso das vertentes lusitana e platina desse discurso na formação social do
sujeito gaúcho no âmbito da história regional do estado do Rio Grande do Sul. Desde a ocupação dos
primórdios do território rio-grandense, iniciou-se o processo de construção da identidade do tipo social
do gaúcho sulino a partir de quem colonizou o Estado. Ainda hoje há controvérsias a respeito de qual
tipo social determinou mais na formação do gaúcho sul-rio-grandense. Essas divergências aparecem
na historiografia sul-rio-grandense representada através de duas matrizes ideológicas bem definidas e
divergentes: a platina que representa o gaúcho sulino formado a partir do rioplatense e a lusitana a
qual reconhece a preponderância da colonização portuguesa como tipo social determinante na
constituição do gaúcho brasileiro. Cada matriz apresenta a adesão de historiadores e ensaístas ilustres.
Discorrer sobre a ideologia no discurso historiográfico, requer demonstrar que a língua é mobilizada
pelo sentido em um espaço discursivo ao qual a construção da identidade do sujeito gaúcho está
assegurada. Essa análise discursiva advém da relação entre sujeito e língua, além disso, revela ou
evidencia a produção e efeitos de sentidos da linguagem, uma vez que esses efeitos, na linguagem,
significam histórica e politicamente. E, consequentemente, possibilitam estudar a história de um
discurso, enquanto revelador de um sentido e de uma ideologia a partir de uma materialidade. Pode-se
dizer que desse confronto emergem diferenças que, no caso desse estudo, permitem observar a
fundação de um discurso ideológico, a partir da compreensão do modo como se sustentam as
formações discursivas, quando se fala sobre o sujeito gaúcho na década de 1950 e 1960.

2. Método
Por meio da pesquisa bibliográfica, analisaremos algumas sequências discursivas de ensaístas
e intelectuais gaúchos como Vellinho e Ornellas, que durante a década de 1950 e 1960, versaram sobre
a historiografia sul-rio-grandense e que, pela perspectiva discursiva, representam o sujeito nessa
materialidade histórica enquanto revelador de um sentido e de uma ideologia a partir de dessa
materialidade. Será feito levantamento, análise dos dados de alguns recortes discursivos. O
funcionamento discursivo é mobilizado pela interpretação dos sentidos da língua que remete a uma
materialidade histórica a qual constroi a identidade gaúcha a partir da formação étnica e social do
sujeito gaúcho. O quadro teórico da presente pesquisa baseia-se na perspectiva discursiva. Dessa
maneira, no que diz respeito aos princípios teóricos básicos, fundamentamo-nos em alguns
pressupostos da Análise de Discurso. É necessário e indispensável considerar o interdiscurso. Assim, a
AD considera condições de produção de um discurso tanto aquelas que se referem ao contexto de
enunciação, quanto aquelas que inferem ao contexto sócio-histórico. O sujeito, portanto, está
articulado ao interdiscurso e, por isso, o histórico não se apaga. . O critério de seleção, organização e
análise dos dados contempla: a formação sócio-histórica do Rio Grande do Sul e o tipo étnico-social
— espanhol ou português — que constitui a formação do gaúcho sulino. Eis as seguintes obras
clássicas que foram analisadas: Capitania d’El Rei – aspectos da formação rio-grandense e de Moysés
Vellinho e Gaúchos e Beduínos: a origem étnica e a formação social do Rio Grande do Sul, de
Manoelito de Ornellas.

3. Resultados e discussão
Contata-se que Moysés Vellinho, ao versar acerca da origem do gaúcho do Rio Grande do Sul,
representa a matriz lusa da historiografia sulina. Ele alega que o gaúcho brasileiro é distinto, e
também, puro em relação ao gaúcho platino visto que este último no é genuíno em virtude do processo


ecamani@gmail.com
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de mestiçagem entre o espanhol e o índio. Adepto ao lusitanismo, o ensaísta rechaça qualquer tipo de
integração e vínculos comuns aos costumes platinos, uma vez que a declaração feita por ele centra-se
em atribuir à identidade do gaúcho a legitimidade nacional brasileira. Abdicar das influencias platinas
foi um dos principais objetivos do lusitanismo. Em outras palavras, a valorização do lusitanismo
representa a negação do platinismo na formação étnica e social do gaúcho brasileiro. Contrariamente,
Manoelito de Ornellas está integrado à matriz platina e associa a história e composição social e étnica
do sujeito sul-rio-grandense a elementos vinculados à história da região do Prata (Argentina, Uruguai).
Além disso, reconhece a importância da influência e contribuição espanhola e portuguesa na
composição desse sujeito sul-rio-grandense.

4. Conclusão
Transitar entre a historiografia de matriz platina e a de matriz lusitana, é identificar influências
espanholas e portuguesas na construção da história do Rio Grande do Sul, sobretudo, na formação
étnico-social do sujeito gaúcho. Com esse percurso, buscar-se-á observar os processos da significação
e a memória de sentidos dentro do discurso historiográfico sul-rio-grandense sob as matrizes lusa e
platina. Esses pontos de vista desvelam percepções contrárias muito bem sinalizadas na língua ao
referir-se sobre a caracterização étnica-social do gaúcho sul-rio-grandense. Destaca-se que a língua
desempenha um papel relevante. De fato, os estudos mostram que a língua funciona como
interdiscurso. Em outras palavras, segundo Guimarães (2005, p.68) ―a enunciação em um texto se
relaciona com a enunciação de outros textos efetivamente realizados, alterando-os, repetindo-os,
omitindo-os, interpretando-os‖, nas sequências discursivas apresentadas neste trabalho, as afirmações
de um enunciador foram utilizadas para determinar o discurso de outro enunciador seja pela negação
ou confirmação de algo que foi citado. De acordo com o que foi exposto na introdução, a principal
proposta deste trabalho foi mostrar, sucintamente, o funcionamento do discurso historiográfico pela
perspectiva enunciativa-discursiva. Esse texto apresenta um recorte da pesquisa de mestrado, em
desenvolvimento, na área de concentração em Estudos Linguísticos da UFSM, inicialmente como
parte do projeto PIBIC/CNPq ―Lusos X Platinos — o discurso fundador que nos significa‖ no grupo
de pesquisa Entrelínguas credenciado ao Departamento de Letras Estrangeiras Modernas da UFSM.

Referências

BENVENISTE, Émile. Princípios de lingüística geral I. Trad. Maria da Gloria Novak e Maria Luiza Neri;
rev. Isaac N. Salum. São Paulo, Campinas: Pontes, 1991.
DALL`AGNOL, Maiara; FIOREZE, Zélia Guareschi. O Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande
do Sul e a contribuição para a Geografia. Disponível em:<
www.agbpa.com.br/.../hISToRIA%20E%20EPISTEMOLOGIA%20.../IHG.pdf > Acesso em: 28 jun. 2010.
FONSECA, Pedro Cezar Dutra. Positivismo, Trabalhismo, Populismo: a Ideologia das Elites Gaúchas, in:
Ensaios FEE; A Sociedade Gaúcha. Porto Alegre, FEE, n.2,1993, p.410-421.
GUIMARÃES. Eduardo. Os limites do sentido: um estudo histórico e enunciativo da linguagem. São
Paulo, Campinas: Pontes, 2005.
GUTFREID, Ieda. A historiografia rio-grandense. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 1992
MARTINS, Ari. Escritores do Rio Grande do Sul. Porto Alegre. Instituto Estadual do livro, 1978.
MORAIS, Monique (Org.). Ensaístas e historiadores do Rio Grande do Sul, Caderno de História – nº 25,
Memorial do Rio Grande do Sul, Secretaria do Estado da Cultura, Governo do Estado do Rio Grande do Sul,
2006.
HANDLIN, Oscar. A verdade na história. São Paulo: Martins Fontes, 1982.
HENRY, PAUL. A História não existe. In: Gestos de leitura: da história no discurso. 2ª ed. Campinas: Ed.
UNICAMP, 1994.
ORLANDI, E. A questão do assujeitamento. Disponível em: <http://
www.comciencia.br/comciencia/?section=8&edicao=26&id=296 >. Acesso em 13 jun. 2010.
______. As Formas do Silêncio no Movimento de Sentidos. Campinas, Editora UNICAMP. 1992.
______. Discurso e texto: formulação e circulação dos sentidos. 2ª ed. Campinas: Pontes, 2005.
______. Interpretação; autoria, leitura e efeitos do trabalho simbólico. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996.
ORNELLAS, Manoelito de. Gaúchos e Beduínos: a origem étnica e a formação social do Rio Grande do
Sul. 2ª ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1956.
PÊCHEUX, M. Semântica e Discurso. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1988.
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Sul. 2ª ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1956.
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VELLINHO, Moysés. Capitania d’El Rei: aspectos polêmicos da formação rio-grandense. Porto Alegre:
Globo, 1964.
______. O gaúcho rio-grandense e o gaúcho platino In: Fundamentos da cultura rio-grandense. Porto
Alegre: Faculdade de Filosofia da Universidade do Rio Grande do Sul, v. 2, 1957.

Agradecimentos
À UFSM.
À orientadora, profª. Drª. Eliana Sturza, pela sua atenção e colaboração no início da minha trajetória
acadêmica na Iniciação Científica até o presente momento no mestrado.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela concessão da bolsa
de iniciação científica em 2009.
Às colegas do grupo Entrelínguas.

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ENFRENTAMENTOS PEDAGÓGICOS A PARTIR DA CLASSE DE APOIO E DA


CLASSE DE RECURSOS¹

Ariane Letícia Walylo Ricexenete²


Universidade Estadual de Ponta Grossa

1. INTRODUÇÃO
Tendo a Classe de Apoio como ponto de partida para entendermos a oferta da Língua Portuguesa aos
alunos (as), estamos preconizando também os enfrentamentos pedagógicos que uma escola estadual vem
desencadeando para dar conta de reverter o fracasso escolar já demarcado historicamente nas quintas séries,
portanto, desenvolver de uma forma minuciosa a capacidade do (a) aluno (a) seria uma forma difícil de ser
efetuada com sucesso em uma sala de mais de trinta alunos/as, sendo que cada um deles/as tem sua
particularidade na hora de desenvolver aquilo que aprendeu, uns aprendem com facilidade e outros precisam
de uma” ajudinha” extra para esclarecer ainda mais o conteúdo escolar, e é devida a esta ajudinha extra que
se achou necessário à formação de uma turma em contra-turno, que tem por objetivo trabalhar o conteúdo
relacionado em sala de aula, porém com mais cautela e de formas diferenciadas. Deste modo, afirmamos que
a aprendizagem verdadeiramente ocorre, quando se pode retomar o conteúdo trabalho na escola, em
momentos diferentes e diversificados, pois o domínio de um conteúdo não se dá a um período curto e sim ao
longo do tempo.
Por isso, o currículo inclusivo deve ser bem estruturado, procurando fazer com que os (as) educandos
(as) tomem o conhecimento como uma aquisição não somente individual, mas também como uma
possibilidade de desenvolver suas reflexões de vida diante da sociedade.
Estas considerações encontram respaldo e se fazem presentes também como um dos principais
objetivos: o de possibilitar aos/as alunos/as um desenvolvimento pleno frente às condições necessárias para
que superem suas dificuldades e consigam acompanhar os programas das séries do ensino regular ao qual
estão incluídos. E, dentre muitas, nossa função como educadores/as, é a de mostrar à sociedade, a faceta
encantadora destes (as) alunos (as), tendo sempre em mente que “A escola prepara para o futuro, e, se as
crianças aprenderem a valorizar e a conviver com as diferenças nas salas de aulas, serão adultos bem
diferentes de nós, que temos de nos empenhar tanto para entender e viver a experiência da inclusão!”
(Mantoan, p.61) [3].
A criança é um ser que entende e aceita as dificuldades com mais flexibilidades que um adulto, eles
(as) sabem viver mais profundamente a vida, não se importando com futilidades que podem vir a atrapalhar o
seu convívio escolar.
A inclusão implica numa mudança da perspectiva educacional, porque não atinge apenas os alunos/as
com deficiência e os/as que apresentam dificuldades de aprender, mas todos/as aqueles/as que têm como
objetivo obter sucesso na carreira educacional.
Assim sabe-se que, a inclusão nada mais é que uma possibilidade de melhorar o ensino nas escolas e
aprimorar o conhecimento de todos (as) aqueles (as) que fracassarem em salas de aula. Com um olhar sobre
os currículos incluídos, cabe considerar que no Ensino Fundamental, segundo segmento, está localizada a
nossa preocupação com o processo ensino-aprendizagem em Língua Portuguesa, assim se desencadeia nosso
objeto de pesquisa que está focalizado nas dificuldades dos/as alunos (as) de quinta série de uma escola
pública estadual do Município de Ponta Grossa.
Além disso, convém situamos que esta abordagem decorre de uma pesquisa qualitativa interpretativa,
que se desencadeia à luz da importância do ensino da Língua Portuguesa. Para tanto, estamos percorrendo o
espaço escolar de forma a interpretarmos os “enfrentamentos pedagógicos” a partir da Classe de Apoio e da
Sala de Recursos, para com este tema elucidarmos a importância da educação inclusiva.
Neste sentido, estamos compreendendo a importância do uso das tecnologias, seja pela ressignificação
da Classe de Apoio a partir do ensino da Língua Portuguesa diante da valorização da leitura, seja pela
importância da Sala de Recursos como modalidade e oferta de um currículo inclusivo.

_______________________________________

¹ Temática de pesquisa em andamento no Colégio Estadual José Elias da Rocha do Município de Ponta Grossa, em decorrência da
estruturação do TCC do curso de Letras da Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG, sob a orientação da professora Regina Aparecida Messias
Guilherme.

² E-mail: ariane_ricexenete@zipmail.com.br

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2. METODO
Para se desenvolver um trabalho com qualidade necessita-se, também, da presença tecnológica em sala
de aula, na qual deve representar um apoio técnico com disposição da criatividade e de um amplo
desempenho do professor, pois nenhuma tecnologia é tão perfeita que possa prescindir do organizador da
atividade didática. A alfabetização tecnológica, todavia, não oferece modelos e padrões instrumentais a
seguir, por isso o professor deverá constantemente unir conhecimentos novos a sua prática pedagógica, o que
reforça a teoria de que sua formação deve permanecer permanentemente, na sua relação com os (as) alunos
(as), com os (as) colegas e os demais sujeitos envolvidos com as práticas educacionais.
A alfabetização tecnológica do (a) professor (a) refere-se, portanto, também, à capacidade dele de lidar
com as diversas tecnologias e interpretar sua linguagem, além de distinguir como, quando e porque são
importantes e devem ser usadas. Esta alfabetização significa um domínio inicial das técnicas e suas
linguagens, mas está relacionada também a um frequente exercício de aperfeiçoamento devido ao contato
diário com as diversas formas tecnológicas. Relaciona-se ao conhecimento técnico e pedagógico que o (a)
professor (a) deve ter das tecnologias e de seu potencial pedagógico.
Deve fazer parte também da formação de professores o desenvolvimento da necessidade de
aprendizagem permanente, do compromisso com a educação, com o (a) aluno (a) e com seu trabalho; o
pensamento crítico, a capacidade de análise crítica da realidade (de sua comunidade e do mundo) e a
iniciativa de intervenção transformadora nesta realidade. Em especial, junto ao ensino da língua Portuguesa
que tem por compromisso a formação do leitor e a intensificação das praticas comunicativas, face ao
domínio da leitura, da escrita e da oralidade.
Assim, Mantoan [3] afirma:
“O professor é uma referência para o aluno, e não apenas um mero instrutor, a
formação enfatiza a importância de seu papel, tanto na construção do conhecimento
como na formação de atitudes e valores do cidadão. Por isso, a formação vai além dos
aspectos instrumentais de ensino”.
O (a) aluno (a) tenha ou não alguma dificuldade em especial, chega à escola trazendo sua bagagem de
conhecimento contando apenas com aquele profissional de sala de aula para ajuda-lo a aprimorar,
desenvolver e abranger esse conhecimento.
Por isso, a presença da tecnologia na sala de aula deve representar um apoio essencial contendo
criatividade e amplo desempenho do professor, pois nenhuma tecnologia é tão perfeita que possa prescindir
do organizador da atividade didática. A alfabetização tecnológica, todavia, não oferece nenhum tipo de
modelos ou padrões instrumentais a seguir, assim o/a professor (a) deverá constantemente unir
conhecimentos novos a sua prática pedagógica, o que reforça a teoria de que sua formação deve ser sempre
permanente, na sua relação com os/as alunos (as), com os/as colegas e os diferentes sujeitos envolvidos nas
práticas educacionais.
Portanto, esta perspectiva de análise sobre o processo de ensino aprendizagem no contexto
das quatro quintas séries disponíveis da escola constitui, nesta investigação, as Classes de Apoio em
Língua Portuguesa e a Sala de Recursos com indicativos pedagógicos para pesarmos no currículo
inclusivo na escola publica.
Assim, estamos compreendendo que a Classe de Apoio e a Sala de Recursos se constituem
nos espaços pedagógicos de oferta da inclusão escolar na rede de ensino estadual (paranaense).
A metodologia que alicerça essa investigação se pauta na possibilidade de implementarmos a
ação docente nas Classes de Apoio e Salas de Recursos a partir do uso da tecnologia nestas turmas,
uma vez que estas necessitam de formas metodológicas inovadoras. E, assim, estamos em nossa
proposta metodológica disponibilizando o uso de mídias, como por exemplo: a tv pendrive e o
computador, para ampliarmos os recursos e estratégias para as aulas de Língua Portuguesa.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Infelizmente, tudo isto é visto apenas na teoria, pois o (a) professor (a) mesmo tendo todos os
conhecimentos necessários para desempenhar uma boa aula fica impossibilitado de se fazer, devido a vários
aspectos, desde falta de tecnologia na escola em que trabalha; excesso de alunos (as) nas salas e, até mesmo,
pela difícil comunicação entre aluno/professor. Deste modo, os altos índices de repetências, principalmente
nas quintas séries/ sexto ano, aumentam assustadoramente e além dos empecilhos citados acima, as poucas
leituras realizadas nas salas de aulas também vêm tendo a sua parte de culpa.
Assim, proporcionamos a combinação de várias atividades que possibilitem à criança crescer e se
desenvolver em todos os aspectos: cognitivas, afetivos, psicomotores e sociais, pois no contexto educativo

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das quintas séries/sexto ano ocorrem muitas demandas de caráter pedagógico, isto é, no que se refere à
atuação docente é no âmbito das dificuldades dos (as) alunos (as). Desta forma, cumprirão
concomitantemente as metas da escola de universalização do acesso, permanência e padrões de qualidade
integrando o currículo à educação inclusiva, assim sendo acreditamos que a partir do ensino da Língua
Portuguesa e da Leitura, efetivamente, pensado à luz da educação linguística haverá uma abertura face ao
ensino da língua de forma a relacioná-las com todos (as) disciplinas, pois o idioma materno nos dá condução
comunicacional.
Outro ponto positivo é a atividade lúdica como alternativa metodológica na alfabetização de alunos
(as) com necessidades educacional especial que, atualmente se tornou obrigatória, pois a criança devido aos
seus aspectos comportamentais, afetivos e cognitivos está predisposta à realização de atividades que
propiciem a imaginação, pois dependem de fatores externos como termos comparativos para avançar na
construção e organização de seu pensamento.
A leitura, para alunos (as) com dificuldades educacionais especiais e de aprendizagens, servirá para o
desenvolvimento crítico, reflexivo, aprimorando tanto a sua escrita quanto a sua oralidade.
Como nos afirma Mafra [2] (p. 08): “Leitor maduro é aquele para quem cada nova leitura desloca e
altera o significado de tudo oque ele já leu, tornando mais profunda sua compreensão dos livros, das gentes
e da vida” (Mafra apud Lajolo, 1993, pg.53).
Além disso, sabe-se que toda criança precisa ser estimulada e no caso da pessoa com necessidades
especiais, a importância do estímulo é ainda maior, devido à variedade de condições que a cercam, afetando
o seu desenvolvimento em termos de aprendizado. É neste contexto que se torna relevante ao
desenvolvimento destes indivíduos, um ambiente menos restritivo possível, onde haja uma série de estímulos
que facilitem a apropriação do conhecimento. E com o contato frequente com os diversos meios de leitura
que o (a) aluno (a) estimulará e desenvolverá as suas habilidades naturais, contribuindo para a superação de
suas dificuldades, para a sua formação e exercício da cidadania.
Considerando as observações feitas, acreditamos que o trabalho lúdico – pedagógico e a leitura de
diversos livros, revistas, jornais, dentre outros, além de contribuir na organização do pensamento, na
alfabetização e no aprendizado das matérias curriculares, irá estimular o imaginário e a fantasia que fazem
parte do universo de qualquer ser humano.
A alfabetização hoje, não está restrita somente ao ler e escrever, mas sim a uma série de requisitos
estimuladores que influem na aprendizagem. Tais estímulos devem propiciar aos alunos situações de
exploração, questionamentos acima de tudo de construção de seu próprio conhecimento.
A leitura realizada junto com atividades lúdicas, com certeza, é de suma importância no
desenvolvimento da educação fundamental, pois possibilita que a aprendizagem flua normalmente, sem ser
cansativa, proporcionando ao/a aluno/a uma maneira atrativa de construir a sua própria compreensão do
processo de leitura e escrita.
Como afirma FERREIRO e TEBEROSKY [1], “aprender a ler e escrever envolve um processo de
compreensão das características, do valor e da função da escrita” (1985, p.15).
Através dos jogos a criança tem a possibilidade de fazer uso de todos os sentidos, tão importantes para
a aprendizagem. Os jogos em que as crianças participam além de serem estímulos que enriquecem todos os
seus sentidos físicos e intelectuais, combinadas com as estimulações psicomotoras, definem alguns aspectos
básicos da leitura e da escrita.
É através de uma leitura dinâmica e construtiva que a criança aprende a ler o mundo a sua volta.
Resgatar e valorizar as potencialidades dos/as alunos (as), além de lutar para fortalecer seu processo de
ensino e aprendizagem em âmbito geral, resultará em pontos positivos não somente para o/a educando (a),
mas também para o/a profissional que tomou frente a esta luta.

4. CONCLUSÃO
Assim, concluímos que a educação é como uma alavanca mestra do desenvolvimento do homem,
como um ser crítico, histórico e social que vem ao longo dos anos sofrendo diversas transformações, geradas
por mudanças políticas, econômicas e sociais do país.
Deste modo, o/a professor (a) deve proporcionar aos/as alunos (as) vários meios para que este consiga
demonstrar as suas descobertas e o seu aprendizado de modo amplo e sob os diversos aspectos: cognitivo,
afetivo e social. O/a aluno (a) deve ser avaliado (a) em todo o seu potencial e a avaliação não deve ser feita
sob fins de classificação ou julgamento e sim através de pareceres pedagógicos com o objetivo de
conhecimento do/a aluno (a), seus interesses, suas aptidões que vão surgindo no decorrer da prática, a fim de
melhorar a própria proposta pedagógica.
Enfim, tudo isso pode ser resolvido desde que a escola construa uma perspectiva escolar inclusiva, em
que o planejamento e o desenvolvimento do currículo sejam condizentes aos resultados esperados. Obter e

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preparar uma equipe para trabalhar de maneira cooperativa compartilhando seus conhecimentos específicos e
seus propósitos fundamentais em progresso contínuo. Investir na tecnologia, na qual servirá como um
importante dispositivo da comunicação para conectar a escola à comunidade e o ensino aos resultados
esperados, além de ser um apoio à reflexão da equipe sobre a prática escolar. Tendo em vista a Classe de
Apoio e a Sala de Recursos como perspectiva para, assim ponderarmos os possíveis enfrentamentos
pedagógicos que, ainda, teremos nas quintas séries.
Partindo-se deste pressuposto, cabe ao/a educador (a) de Língua Portuguesa, ter um conhecimento
amplo e profundo daquilo que pretende ensinar ao/a seu/sua aluno (a) para assim, transformar seu ambiente
de trabalho, ou seja, a sala de aula, em um ambiente de aprendizagem adequado para cada educando (a).
Cada dia é dia de mais experiências e renovações, sendo primordial para ao/a professor (a) estar
sempre preparado, psicologicamente e sociologicamente para aquilo que poderá enfrentar no decorrer do seu
trabalho, porque com a diversidade de alunos (as) com dificuldades especiais e de aprendizagem, incluídos
(as) nas turmas regulares, exige dos profissionais da educação uma visão crítica daquilo que está sendo
pedido para cada educando (a), pois a aprendizagem curricular pode precisar ser individualizada, atendendo
as habilidades, necessidades, interesses e competências de cada aluno (a).
Todos/as os/as defensores/as da educação inclusiva devem unir-se para superar os objetivos traçados,
aprimorando e aperfeiçoando cada vez mais os currículos inclusivos, procurando corresponder às
necessidades individuais de todos/as os/as alunos (a).
Enfim, englobando todos os artifícios educacionais, devemos destacar a leitura como indispensável, na
qual deve ser rotineiramente incluída no currículo escolar com base no desenvolvimento do (a) educando (a),
pois somente quando um Ser aprende a gostar de ler, ele (a) aprende também a decifrar; entender o mundo a
sua volta, e isto é válido para todos/as independentes de suas condições físicas ou psicológicas, portanto,
cabe apenas ao/a educador (a) mergulhar com seus/suas alunos (as) neste mundo da leitura.

REFERÊNCIAS

[1] FERREIRO, Emília e TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da Língua Escrita. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1986.

[2] MAFRA, Núbio Delanne Ferraz. Leituras à revelia da escola; prefácio Lilian Lopes Martin da
Silva. – Londrina: Eduel, 2003.

[3] MANTOAN, Maria Teresa Égler. Inclusão Escolar: o que é? Por quê? Como fazer? São Paulo:
Moderna, 2006.

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ETAPAS DA ELABORAÇÃO DA ENTREVISTA COMO INSTRUMENTO DE PESQUISA

Cássia Gianni de Lima1*; Jaqueline Ana Faria Lenzi2*


*
Universidade de Caxias do Sul

1. Introdução
Este trabalho está inserido no projeto de pesquisa “Relação entre profissional eficiente e leitura”
(TEAR 5), da Universidade de Caxias do Sul, que tem como objetivo investigar a relação entre desempenho
profissional eficiente e competência em leitura. O apoio teórico principal compreende Bourdieu [2],
Marcuschi [6], Giasson [3] e Paviani [7]. A relevância do estudo reside na possibilidade de traçar o perfil do
leitor competente, visando a aplicações pedagógicas futuras. A metodologia da pesquisa prevê uma amostra
composta por 10 indivíduos de nível superior completo, de diferentes áreas profissionais, sendo 5 homens e 5
mulheres, cujos dados serão obtidos a partir de instrumentos, dentre os quais a entrevista , destacada neste
trabalho. Para que o objetivo do projeto seja alcançado, é importante que a entrevista focalize informações
pontuais e relevantes. Este trabalho descreve o processo de elaboração, pilotagem e adequação desse
instrumento, constituindo, portanto, um recorte no projeto TEAR 5. Para os propósitos de produção desse
instrumento, tem-se como base teórica Gil [4], Marconi e Lakatos [5] e Vianna [8].

2. Método
O método de elaboração da entrevista consistiu em levantar tópicos, a partir dos objetivos da pesquisa,
que pudessem caracterizar, nos sujeitos entrevistados, o perfil leitor e, concomitantemente, a influência da
leitura em seu desempenho profissional. Para verificar se, de fato, a entrevista proporcionaria a obtenção das
informações esperadas, foram escolhidos dois indivíduos, julgados como bons leitores, para a aplicação
piloto da primeira versão do instrumento. Posteriormente, foi feita a descrição, análise e interpretação dos
dados obtidos através da pilotagem; seguida da reelaboração da entrevista, objetivando a coleta de dados
pontuais e relevantes. Essa reelaboração baseou-se em alguns critérios, tais como: o formato aberto, o
número, a extensão das questões, categorização de respostas e, principalmente, o potencial de eliciação de
respostas em relação a formas e hábitos de leitura. Gil [4] e Bisquerra [1] foram fontes consultadas com
relação à estrutura e aplicação da entrevista.

3. Resultados e Discussão
A partir da análise da pilotagem, constatou-se que o instrumento precisava sofrer algumas alterações
em termos de extensão, de ordenação das questões, de relevância, de clareza, de superposição e de
categorização das informações. Na primeira versão, foram elaboradas doze questões, enquanto que, na
versão mais recente, foram mantidas sete. As que ficaram relacionam-se à história de leitura do sujeito, à sua
autoavaliação como leitor e ao seu próprio processo de leitura (pré-leitura, leitura e pós-leitura). Essas
questões, ainda, se estendem em subperguntas que visam a guiar o entrevistado para que possa aprofundar
suas reflexões e, dessa forma, fornecer as informações pontuais e relevantes à pesquisa. As subperguntas
levam a um maior entendimento de como se desenvolveu, neles, o hábito e o gosto de ler, de como suas

1
Bolsista BIC-UCS - cglima@ucs.br
2
Bolsista CNPq - jaflenzi@ucs.br
590
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leituras são gerenciadas, quais foram suas experiências de leitura mais marcantes e, além disso, abarcam as
questões que envolvem a relação entre profissional eficiente e leitor competente, que é a principal
investigação do projeto. Partindo disso, os dados coletados passarão por um processo de transcrição, análise,
discussão e interpretação. Abaixo segue a versão final da entrevista:

Entrevistado: Nº: Entrevistador: Data:


Início: Fim:

Perguntas básicas Subperguntas Anotações


1. Como você escolhe as suas Escolhe pelo autor? Pelo tema? Por interesse?
leituras? De onde retira as sugestões?

2. Como você lê? Como você Você resume o que lê? Analisa? Relaciona? Presta atenção à
gerencia suas leituras? O que organização do texto? Lê os implícitos? Você lê a obra
observa? completa ou apenas passagens? Você para durante a leitura
para refletir sobre o que leu? Faz análise crítica? Você lê um
livro de cada vez ou mais de um simultaneamente?
3. Qual é a sua história de leitura? Como nasceu a necessidade de ler? Como o gosto se
desenvolveu?
4. Que leituras mais marcaram Em que sentido essas leituras foram significativas? Que
você? leituras você considera indispensáveis na formação dos
leitores?

5. Como você se avalia como Você é uma pessoa que lê sempre, mesmo quando as
leitor? circunstâncias não são muito propícias (viagens,
compromissos inadiáveis, excesso de trabalho, cansaço,
doença)?
6. Que funções/importância tem a Por que você lê?
leitura para você? Ela repercute na sua profissão? De que modo? Em que
medida? Na sua área profissional, há diferença perceptível de
desempenho entre os que leem bastante e os que não (ou
pouco) leem?
7. Que reações e ações você Comenta? Aplica? Recomenda? Reflete? Questiona? Imagina?
vivencia após a leitura?
Tab.1: Versão final do instrumento entrevista

4. Conclusão
Após esse processo de várias revisões e adequações, a versão final do instrumento será aplicada aos 10
indivíduos selecionados para compor a amostra da pesquisa. Com isso, por meio de uma coleta de dados
focal, será investigada a possível relação entre profissional eficiente e leitor competente.

Referências

[1] BISQUERRA, Rafael. Métodos de investigacion educativa: guia practica. Barcelona: Ediciones Ceac,
s/d.

[2] BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas linguísticas: o que falar quer dizer. São Paulo: Ed.
Universidade de São Paulo, 1996.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

[3] GIASSON, J. A compreensão na leitura. Tradução Maria José Frias. Portugal: Edições Asa, 1993.
(Coleção Práticas Pedagógicas).

[4] GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999.

[5] MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de


metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

[6] MARCUSCHI, L. A. Leitura como processo inferencial num universo cultural-cognitivo. In: BARZOT-
TO, V. H. (Org.). Estado de leitura. São Paulo: Mercado de Letras; Associação de Leitura do Brasil, 1999.
(Coleção Leituras no Brasil).

[7] PAVIANI, N. M. S. Linguagem e educação. Caxias do Sul: Educs, 2008.

[8] VIANNA, I. O. de A. Metodologia do trabalho científico: um enfoque didático da produção científica.


São Paulo: EPU, 2001.

Agradecimentos
À UCS e ao CNPq.

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EXPERIÊNCIAS DO ATOR NEGRO NO TEATRO DE GRUPO: POÉTICAS E


IDENTIDADES
Adriana Patrícia dos Santos1

Esta comunicação se refere a minha pesquisa de mestrado que tem como


objetivo realizar um estudo sobre os processos de criação e a especificidade no trabalho
do ator negro nos coletivos teatrais contemporâneos no Brasil.
O objetivo não foi apenas levantar ou/e categorizar práticas do ator negro no
Brasil contemporâneo, mas, sobretudo, levantar questionamentos sobre aspectos
identitários de nossa negritude veiculados a partir das práticas teatrais. O propósito da
abordagem deste estudo é também formular questões sobre nossas referências
(européias) técnicas e éticas com relação à arte teatral, questões estas relacionadas ao
trabalho do ator, técnicas e princípios dessa arte em confronto ao corpo cultural, ou seja,
como compreendemos o fazer dessa arte reconhecendo a herança de um discurso
basicamente europeu sobre ela.
Diante destas preocupações as abordagens teóricas deste estudo se relacionam
em primeiro lugar, com o campo das relações étnicas, para posteriormente, encontrar
um campo de conceitos e discursos vinculados aos processos de criação no teatro, como
também à teatralidade, no sentido contextual em que coloca o corpo do ator como um
dos pólos de significação no teatro, o corpo como veículo cultural e artístico, técnicas
sobre o trabalho do ator e identidade. Conceitos esses que foram tomados como eixo de
análise e reflexão das práticas dos atores estudados.
Trata-se de uma pesquisa de caráter qualitativo onde a investigação parte de
análise da relação de diversos elementos dado que o fenômeno a ser estudado possui
fases de grandes e rápidas mudanças, como no caso, um grupo de teatro e o ator em suas
práticas e relações. Ao considerar o objeto como fenômeno inevitavelmente faz-se
transparecer certa atitude epistemo-metodológica, bem como se assume um ponto de
vista fenomenológico de ver pesquisa em arte. A partir do contato com idéias
relacionadas a essa abordagem em uma aula, promovida pelo grupo de pesquisa AQIS1,
com Elizia Cristina Ferreira2 pesquisadora na área da filosofia e que tem como foco a
fenomenologia, foi possível revisitar e questionar novamente a postura que estava tendo
diante do que busco com os atores e grupos a serem estudados. E uma das premissas
fenomenológicas que causou interesse foi com relação ao trabalho sobre a percepção;
sobre o que se quer apreender dos fatos, das experiências, ou seja, sobre o olhar de
quem constrói a “tese”. E em se tratando de experiências humanas, neste caso os atores
negros, se torna ainda mais inevitável o exercício desse olhar sobre o objeto, um olhar
perceptivo, já que não se trata de um objeto estático, previsível. Diante disso, pretendo
nestas reflexões trazer experiências do ator negro, procurar ouvir, perceber sua relação
com o teatro que este produz e tentar falar sobre o vivido sem me excluir da relação e
sem me tornar uma observadora desconectada do que está sendo vivido.
Além de uma abordagem fenomenológica, pertinente foi também a proposta de
trazer a discussão o conceito de identidade cultural que auxiliou muito no entendimento
e análise dos estudados, mesmo porque este conceito diretamente se associa à uma
postura fenomenológica com relação ao objeto (ator negro e o grupo teatral). Durante o
processo de pesquisa, tive oportunidade de viajar para Madrid, e ali entrei em contato
com a obra de pesquisador das Ilhas Canárias, que afirma que as imagens artísticas
(neste caso a produção e material criativo do ator) podem brindar-nos com um
1
Acadêmica do Curso de Mestrado em Teatro - PPGT – CEART/UDESC e integrante do grupo AQIS –
Núcleo de Pesquisa sobre Processos de Criação Artística

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conhecimento inesperado dos mecanismos ideológicos pelos quais o homem e a


sociedade se interpretam a si mesmos (ABAD, 2001). A partir desse momento me
ocorreu que gostaria de pensar meu objeto de estudo, como uma imagem que aos
poucos iria se formando, pois em alguns casos é comum ao pesquisador olhar o objeto e
encontrar o que ele quer enxergar. Pensei então em como o esforço do pesquisador deve
ser um trabalho a partir de uma relação de alteridade com o objeto, relação esta em que
não seria o pesquisador que forçaria a enxergar tal imagem, mas sim ela que se
projetaria a sua frente, como uma descoberta.
Outra colocação de Abad que auxiliou minha reflexão na abordagem sobre o
artista (ator) seria pensar que ele (o artista) não quer só transcrever o mundo, seu
mundo, ele se esforça para traduzir sua experiência psicológica nele, sua consciência da
realidade, e sua visão interior dela. Este tem sido a grande transformação produzida no
seio da arte contemporânea (ABAD, 2001). Esses pressupostos, tomados como
referência, delinearam muito a trajetória imagética de meu estudo, sobretudo da
compreensão do significado e do que seria ascender ao plano intelectual a experiência
dos atores negros no teatro brasileiro contemporâneo.
Na tentativa de seguir estes princípios, um dos procedimentos foi levantar
materiais referentes à experiência de cada ator, cada qual em seu contexto grupal, porém
em relação ao mesmo referente (a negritude). Para isso foram utilizados registros
áudios-visuais, como por exemplo, dvd‟s de espetáculos e informações sobre os grupos,
entrevista virtual e presencial, e acervo bibliográfico e virtual (páginas, blogs, artigos
virtuais) sobre os atores negros e os grupos estudados.
O cruzamento entre o que foi até o momento encontrado e os eixos teórico-
metodológicos entrecorta a análise do estudo, buscando sempre uma compreensão das
fronteiras entre os discursos do trabalho do ator, cultura, identidade e teatralidade.
Outros estudos tomados como base para minhas reflexões foram os esforços de
Leda Maria Martins3 e Miriam Garcia Mendes4 que realizaram em suas pesquisas uma
densa discussão sobre o negro no teatro.
Miriam G. Mendes traz em seus livros A personagem negra no teatro brasileiro
e O negro e o teatro brasileiro, um arcabouço analítico e histórico sobre a figura do
negro na dramaturgia brasileira. Sendo assim, a autora propõe outro olhar sobre o teatro
neste país, verticalizando e deslocando, portanto, o eixo oficial da história do teatro
brasileiro. Suas colocações vieram de encontro ao meu estudo porque ofereceram base
fundamental para o entendimento de como foram construídos os discursos sobre o negro
no teatro desde período escravocrata até meados do século XX, base esta que auxiliou
na percepção sobre o ator negro nos grupos de teatro da atualidade. Mendes atenta para
os estereótipos que constituíram o imaginário sobre o negro no teatro e a relação da
dramaturgia com os interesses sociais, vide:

O autor e diretor, então, seriam intermediários, não agentes da ação


coercitiva do preconceito, o que não lhes diminui muito, entretanto, a parte
de responsabilidade na problemática do negro no teatro brasileiro. Pois a
opção que fizerem, consciente ou inconscientemente, na escolha de um tema
ou de um trabalho que corresponderia ao que um público (e até uma crítica),
condicionado por uma visão estereotipada da sociedade em que vivemos,
esperaria deles, poderia significar a exclusão de uma personagem negra e
consequentemente, a de um ator. E nesse comportamento estaria patente a
ação do preconceito de cor, forçando principalmente o autor (e até contra
suas convicções pessoais) a discriminar o ator negro, ao negá-lo como
personagem. (MENDES, 1993, P. 190)

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Com isso, um dos eixos para o contraponto com os dados encontrados neste
estudo foi pensar se o estereotipo sobre o negro ainda persiste e como se dá o olhar que
estereotipia o negro.
Destaco ainda a pesquisa de Leda Maria Martins em A Cena em Sombras. A
autora faz uma comparação da cena brasileira e o desenvolvimento histórico do teatro
negro nos Estados Unidos. Esta autora examina o que foi produzido nestes dois países e
como se projetou o problema da negritude; e aponta ainda para algumas possibilidades
teóricas e volição crítica desse teatro, e vai além ao conceito do que significa ser negro
utilizando a teatralidade da cultura negra como um conceito operacional, que se
manifesta no teatro em particular e na cultura afro em geral. A obra de Leda Maria
Martins me auxiliou não somente pelo conteúdo tratado sobre o negro, mas também
pela forma como ela discute essa problemática e sua postura enquanto pesquisadora.
Confirma-se isso quando a autora diz:

No termo que designa o objeto, negro, inscreve-se um primeiro desafio. Do


que se fala, quando se fala negro? Da cor do dramaturgo ou ator? Do tema?
Da cultura? Da raça? Do sujeito? Na verdade, de tudo um pouco, ou melhor,
fala-se da relação de tudo. O negro, a negrura, não traduz, neste trabalho, a
substância ou a essência de um sujeito, de uma raça ou cultura (...) o termo
aponta, antes de tudo, uma noção textual, dramática e cênica,
representativa. Essa noção recupera o sujeito cotidiano, referencial, como
uma instancia da enunciação e do enunciado, que se faz e se constrói no
tecido do discurso dramático e na tessitura da representação. (MARTINS,
1995, P. 25)

Essas colocações reforçaram meu interesse em adotar o conceito de negro, e


estendê-lo além do entendimento da cor da pele. Quando afirmo „negro‟ quero dizer que
o conceito engloba as diversas categorias existentes que denominam diferenças de raças
no Brasil (mulato, afro-descendente, mestiço, pardo, dentre outros), mas, sobretudo,
considerar o aspecto cultural do significado de negritude.
A partir dessa postura com relação à delimitação do que seria estudado, a
escolha dos atores neste trabalho se deu a partir de mapeamento de grupos de teatro que
trabalhassem sobre a temática negra e também de grupos que possuam integrantes
negros, mas não necessariamente foquem politicamente sobre a questão da negritude.
Buscando informações sobre atores e os grupos, me orientei por indicações de
atores, grupos e outros pesquisadores de diversos locais do Brasil. Pensando sempre na
viabilidade da pesquisa (acesso a materiais, viagens, dentre outros), na busca de atores
com consistência em seu trabalho no teatro, e também levando em consideração a
quantidade participativa do negro nos grupos de teatro atualmente, até o momento foi
possível delimitar para foco de análise os seguintes atores: Toni Edson (Grupo Caixola
no Caixote – SC), Gal Quaresma (Grupos Os Crespos – SP), Cristiane Sobral (Grupo
Cabeça Feita -DF), João Carlos Artigos (Teatro de Anônimo – RJ), Jessé Oliveira
(Caixa Preta - RS), Telma Souza, Valdinéia Soriano, Jorge Washington e Lázaro Ramos
( Bando Teatro Olodum - BA), Flávio Rodrigues( Grupo Inventivos – SP), Tetembua
Dandara (Les Commediens Tropicales – Campinas/SP). O objetivo foi também procurar
atores de diversos locais no país, na tentativa de considerar os diferentes contextos em
que suas práticas estão inseridas.
Estudar a experiência destes atores em uma perspectiva de Teatro de Grupo
(TG) parte do princípio de que o que é designado como "teatro de grupo" não é uma
mera organização coletiva. Os grupos passam a usar este conceito para marcar sua
posição de divergência em relação ao teatro empresarial, no qual o ator não está
engajado no conjunto criativo e produtivo e a equipe se desfaz logo que a temporada

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

termina e justamente por esta característica este teatro surge nomeado pelo termo Teatro
de Elenco. (CARREIRA, 2005) E neste contexto de Teatro de Grupo, onde os interesses
coletivos e individuais se constroem, é que se permite ao ator discutir sua condição e
sua prática.
No primeiro capítulo do estudo procurei levantar os motivos pelos quais, na
história do teatro brasileiro, atores negros foram reconhecidos em seus trabalhos em
meio a um contexto livremente racista do início do séc. XX, em que o Brasil discutia
sua identidade mediante a busca de um “embranquecimento” e uma europeização do
país. Atores como: Grande Otelo, Rosa Negra, Ascendina dos Santos, Abdias do
Nascimento, Ruth de Souza e Mário Gusmão.
Sobre Grande Otelo, Ascendina dos Santos e Rosa Negra muitas das
informações vieram do estudo do historiador Orlando de Barros, que há tempos vem se
dedicando a reunir informações e discussões sobre um fato breve, porém profundo da
história do teatro brasileiro, a história da Companhia Negra de Revistas.
Outra obra de referência sobre o ator Grande Otelo foi o livro Grande Otelo:
uma biografia de Sérgio Cabral5. O autor traz um detalhado levantamento sobre a
trajetória do ator e que permitiu delinear possíveis motivações e formações de Grande
Otelo em seu trabalho como ator diante de seu contexto.
O livro Mario Gusmão: um príncipe negro na terra dos dragões da maldade de
Jeferson Bacelar6 foi a principal base para as informações sobre o ator baiano, Mario
Gusmão. O objetivo foi reunir a partir desta obra, seu trabalho como ator e como sua
condição de negro interferiu em sua trajetória artística. Sobre Ruth de Souza, as fontes
primárias foram os materiais bibliográficos do e sobre o Teatro Experimental do Negro
(TEN).
Além dessas obras como base buscou-se demais informações em artigos,
capítulos de livros sobre a história do teatro e mídia virtual.
O segundo capítulo aborda as experiências dos atores negros contemporâneos.
Como se dá seu trabalho de ator, quais suas particularidades, e em que medida se dá a
relação entre a técnica e seus princípios identitários. Como sua prática dialoga com o
coletivo teatral no qual faz parte; este capitulo se propõe também a fazer apontamentos
sobre a corporeidade negra e teatralidade, ou seja, como pensar o corpo do ator, como
um corpo cultural (neste caso, do negro) em diálogo com práticas e discursos sobre o
trabalho do ator, na tentativa de responder que teatralidade prescreve a história do teatro
brasileiro e que caminho está trilhando? Porque motivações identitárias da negritude
existem e resistem no teatro contemporâneo?
As fontes primárias para o fomento de análise deste capítulo foram as entrevistas
feitas ao atores. Foi feito um questionário com o intuito de direcionar a discussão sobre
o processo de criação e a identidade. E como fontes secundárias foram utilizados artigos
escritos pelos atores ou sobre eles e/ou o grupo, arquivos virtuais dos atores (blog, sites
diversos, e sites de relacionamento).
Ao fim, o estudo se encerra em uma reflexão sobre o aspecto político de
teatralidade, bem como a relação entre ética e o trabalho do ator no contexto brasileiro.

Autor correspondente: adripsantos10@gmail.com


Apoio: CAPES

1
Núcleo de Pesquisa sobre Processos de Criação Artística – CEART/UDESC – Grupo de pesquisa no
qual integro desde 2005, e citado com maior propriedade no corpo deste estudo.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

2
Doutoranda do curso de pós graduação em Filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC).Tem experiência na área de Filosofia , com ênfase em Metafísica. Atuando principalmente nos
seguintes temas: epoche, fenomenologia, Husserl, Merleau-Ponty, irrefletido e reflexão.
3
Pesquisadora da Universidade Federal de Minas Gerais. Teórica de grande referência no país ou fora
dele. Atua nas áreas de Letras (Estudos Literários) e de Artes Cênicas, com ênfase em teatro, dramaturgia,
performance e nas interlocuções entre a literatura e outros sistemas semióticos, dentre eles o teatro, a
dança, a música e as performances rituais.Vide currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/7677175419649203
4
Foi professora e pesquisadora da ECA – USP. Defendeu dissertação de mestrado (seu orientador foi o
professor Dr. Décio de Almeida Prado) e doutorado (orientador foi professor e Dr. Miroel Silveira).
Aposentou-se e passou a dar aulas somente na pós-graduação da ECA. Faleceu em 26 de agosto de
1987.(MENDES, 1993.)
5
Jornalista. Um dos fundadores do Pasquim, semanário que revolucionou a imprensa no país. Tem sua
trajetória marcada pelo interesse nos estudos da música popular brasileira.
6
Professor do Departamento de Antropologia da USP e pesquisador do CEAO.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABAD, Angeles. La identidade Canaria em El arte. Gobierno de Canárias. Centro de


La cultura popular Canaria. Canária, 2001.

BARROS, Orlando de. Corações de Chocolat: a história da Companhia Negra de


Revistas (1926 – 1927). Rio de Janeiro: Livre Expressão, 2005.

CARREIRA, André L. A. N. Modelo de Trabalho Grupal e a presença de Eugenio


Barba no Brasil. IV Seminário Interinstitucional de Projetos Integrados de Pesquisa em
Teatro. Blumenau, UDESC-UNIRIO -UFU, 2005.

MARTINS, Leda Maria. A cena em Sombras. São Paulo: Perspectiva, 1995.

MENDES, Miriam Garcia Mendes. O negro e o teatro brasileiro (entre 1889 e 1982).
São Paulo: Hucitec, 1993.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

FAMÍLIA, INCLUSÃO E ARTE: A FORMAÇÃO ARTÍSTICA DE ALUNOS COM


DEFICIÊNCIA PELA ÓTICA DOS PAIS

Priscila Anversa1
Universidade do Estado de Santa Catarina

1. Introdução

Este texto é um recorte da pesquisa em desenvolvimento para o mestrado em Ensino das Artes
Visuais, que investiga como as famílias de classe média compreendem a formação artística dos filhos com
deficiência. O objeto da pesquisa foi delineado a partir de questões abordadas no Trabalho de Conclusão de
Curso, o qual verificou os conceitos que os pais têm acerca da arte e do ensino de arte, além de constatar
a fragilidade da relação pais e escola.
Partindo dos dados averiguados na monografia, foi objetivado um novo olhar advindo da ressonância
do tema família, no que diz respeito à emergência de publicações acadêmicas sobre o assunto, consoante à
menor incidência do tema em educação à maior recorrência no âmbito de áreas como sociologia,
antropologia, psicologia, demandando novas pesquisas, dado sua importância na esfera do ensino.
No decorrer deste estudo busca-se discutir, além das questões sobre a formação artística dos alunos
com deficiência, de que forma as dissidências do tema se estabelecem na vida escolar das crianças, das
famílias e das escolas. Esta conjuntura deve ocorrer de forma articulada no referido contexto, pois ainda que
as relações se estabeleçam singularmente, não acontecem de forma isolada. A pesquisa dá continuidade ao
estudo das articulações entre família e escola, entretanto, na educação inclusiva. Abarca questões sobre como
os pais compreendem a formação artística dos seus filhos, conectando conceitos que os mesmos têm a
respeito de arte, ensino de arte e processos cognitivos. O diálogo cadenciado entre as partes elucida a análise
das transformações no âmbito da família e da escola.
O ensino de arte, situado nesta contextura, abrange conceitos sobre formação do cidadão, porque
propõe a educação cultural e social, conectando a subjetividade e a objetividade, que não são pólos
independentes e estanques, mas interligados e complementares na tessitura da cultura e da vida. Nessa
condição é fundamental desvelar as significações do ensino de arte e da escolarização dos filhos para
compreender melhor suas relações com a arte e com o universo escolar em si.
Atualmente abordagens sobre a arte-educação compreendem que ela está associada ao
desenvolvimento cognitivo. Barbosa [1] reforça a importância e a eficiência da Arte para desenvolver formas
sutis de pensar, diferenciar, comparar, generalizar, interpretar, conceber possibilidades, construir, formular
hipóteses e decifrar metáforas. Entretanto, no geral, a compreensão dos pais sobre o ensino de arte ainda está
inculcada em concepções equivocadas, as quais são recorrentes seja porque alguns professores ainda utilizam
métodos e conteúdos de arte ultrapassados, ou pela falta de contato entre os pais, a escola e entre os próprios
professores de arte.
A importância do ensino de arte é incontestável nos moldes das discussões em educação hoje; a
acuidade da disciplina vem se intensificando cada vez mais, e neste sentido, em diversas áreas têm-se
investigado como se efetiva o ensino de arte. Há pesquisas com vistas na formação do educador, outras nos
segmentos dentro do próprio ensino de arte, enfatizando as metodologias, os processos e os conteúdos, outras
com o foco no aluno, algumas especificando a inclusão, mas poucas com ênfase na família.
A definição do termo “família” é presumida através de diferentes conceitos e teorias, mas que de um
modo geral, partilham da idéia de sistema ou grupo social, com concepções, objetivos, funções e regras. Ao
longo da história, família designa instituições e agrupamentos sociais bem diferentes entre si, do ponto de
vista de suas estruturas e funções. Há uma grande variabilidade histórica acerca da família, dificultando sua
conceituação geral. É regida por códigos, valores, hierarquia, história e mitos, além da diferença de poder
entre seus membros. A família é a principal responsável pelo desenvolvimento e pela proteção da criança, da
infância à adolescência, e, portanto, é o fio condutor que configura a educação.

2. Método

A problemática do projeto consiste em investigar o ensino de arte através da perspectiva da família


no âmbito da inclusão, entendendo que é através da prática docente cotidiana de arte-educadores que a

1
Priscila Anversa: pri.anversa@gmail.com
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

formação artística dos alunos é estabelecida, mas que não ocorre de forma isolada, e sim na abrangência do
contexto, composto por família e escola.
A pesquisa efetiva-se através do método qualitativo, o qual diz respeito a uma atividade da ciência
que visa a construção da realidade, mas em um nível de realidade não quantificável, referindo-se ao universo
de crenças, valores, significados e outros construtos das relações que não podem ser reduzidos à
operacionalização. Quando se fala em pesquisa qualitativa se refere a processos não matemáticos de
interpretação de dados, onde se pretende descobrir conceitos e relações nos dados, esquematizando ambos
teoricamente. Ela tem acesso imediato ao que acontece no mundo, ou seja, examina o que as pessoas de fato
fazem na vida real.
A pesquisa é de natureza exploratória visando proporcionar maior familiaridade com o problema,
com vistas a torná-lo explícito ou a construir hipóteses. Neste sentido envolve levantamento bibliográfico,
entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado e análise de exemplos
que estimulem a compreensão. O instrumento de coleta de dados que figura o corpo da pesquisa é a
entrevista, efetivada com as famílias, os gestores e os professores.
Este tipo de pesquisa faz emergir aspectos subjetivos e atinge motivações muitas vezes não
explícitas, ou mesmo conscientes, de maneira espontânea, e, neste sentido, estimulará os entrevistados a
pensarem sobre o tema e/ou conceitos. Pesquisas exploratórias são usadas quando se busca entendimentos
sobre a natureza geral de uma questão, abrindo espaço para a interpretação, levando o pesquisador a
descobrir enfoques, percepções e novos conceitos, contribuindo para que seu próprio modo de pensar seja
moldado. Desta forma, vai ajustando progressivamente suas percepções às percepções dos entrevistados.
Pretende-se, com os dados da pesquisa, intensificar a importância da parceria entre família e escola
no âmbito do ensino de arte e da inclusão, uma vez que se percebe a carência da participação efetiva da
família na escola. Reconhecem-se os benefícios desta ação, profícuo não apenas para o aluno, mas para o
contexto escolar, para a própria família e para a sociedade. Por ser o assunto de grande importância, é
emergente a continuidade da investigação. A pesquisa fornece subsídios para o surgimento de novas
reflexões sobre a família no âmbito do ensino de arte, uma vez que esta temática é pouco investigada em
pesquisas acadêmicas.

3. Resultados e Discussão

No que se refere aos dados e à análise dos mesmos, infere-se a premissa de que a família, que é uma
instituição com inúmeras discrepâncias, é inerente à educação. Em outras palavras, os dilemas, sucessos e
fracassos da escola (e do aluno) estão diretamente ligados ao que a família faz (ou deixa de fazer) no entorno
escolar. Acredita-se que a formação artística dos alunos com deficiência ocorre de maneira diferenciada dos
outros alunos, assim como demais conteúdos e matérias. Porém, constata-se que em alguns casos, os pais
tendem a preocupar-se mais com a sociabilidade do filho quando o matricula em uma instituição privada, do
que com a escolarização em si. Isso não quer dizer que eles julguem a escolarização menos importante, mas
indica que num primeiro momento, a socialização do filho prevaleça, mesmo porque outros suportes para a
escolarização serão efetivados, como por exemplo, escolas especiais, professores particulares, entre outros.
Com relação às aulas de arte – que são frequentemente consideradas menos importantes do que
outras matérias – para todos os pais, de filhos com deficiência ou não, a função da referida disciplina é
carregada de conceitos e pré-conceitos, e a acepção da mesma é ambígua. A disciplina de arte ainda é vista
como supérflua, enquanto que outras são consideradas mais importantes. “Uma escala de valores é também
atribuída às disciplinas, em que matemática reina absoluta, como a mais importante e poderosa, enquanto as
artes, a educação física quase sempre estão lá para trás.” [2]
Normalmente o embasamento desses pais provém de sua própria formação e de algumas vivências
artísticas, que na maioria dos casos, é carregada de conceitos equivocados. Verifica-se que a arte fica em
segundo plano, e, portanto, é fundamental utilizar estes meios pesquisados para assegurar uma formação
artística adequada aos alunos com deficiência.
Os termos arte e inclusão são sinônimos de ruptura do formalismo e da racionalidade, na estrutura
organizacional da escola. Buscar compreender a significação e a importância do ensino de arte, na
perspectiva dos pais, é acima de tudo, mostrar que o mesmo não se atém apenas ao desenvolvimento da
criatividade, ao desenvolvimento de habilidades – fazer / trabalhos manuais, ao treino da coordenação
motora, ao desenvolvimento da imaginação, ao lazer e a expressar emoções.2

2
Dados obtidos na pesquisa para o TCC, onde esses itens foram os mais citados nas respostas dos pais a respeito da
função do ensino de arte.
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4. Conclusão

É a escola o espaço onde todos os acontecimentos, sejam estes positivos ou negativos irão acontecer,
onde todos estarão híbridos aspirando não apenas conhecimento acadêmico, mas também formação de
valores, ética e interações sociais. Neste espaço amplo, além das relações edificadas entre alunos, há também
professores, gestores, pais e comunidade, inseridos num mesmo contexto, e, portanto, transpondo às mesmas
experiências.
O enfoque da pesquisa reforça a importância da família, que é membro deste conjunto, porém não
encarna seu papel plenamente na participação efetiva dentro do espaço escolar, e quando o faz, muitas vezes,
a interação é vaga e não fortalece nenhuma das partes – nem o aluno, nem o professor e nem a própria
família.
No caso da educação inclusiva, é correto afirmar que esta relação é ainda mais precária, e é por esta
razão que é fundamental criar vínculos entre família e escola, averiguando a problemática que os pais
enfrentam nesta conjuntura, para com isso fomentar a ascensão da compreensão destes pais acerca do ensino
de arte, profícuo não apenas para eles, mas também aos professores, e principalmente aos alunos.
Os pais de alunos com deficiência se mostram tímidos perante a instituição escolar, por estarem, de
fato, insuficientemente orientados sobre onde ir, quando ir, e como ir, tratando-se de inquietações. O que
mais importa para eles é a sociabilidade do filho na escola e, talvez, a alfabetização, em primeira instância. A
disciplina de arte não é primordial neste processo complexo de escolarização de um aluno com deficiência.
Não obstante, os pais destes alunos compreendem de forma equivocada a função da arte e do
desenvolvimento artístico de seu filho, já que existem outras prioridades e dificuldades. É fundamental,
portanto, situar o ensino de arte a estes pais, ancorando o que eles conhecem sobre a formação artística de
seus filhos com a arte e com o ensino de arte na contemporaneidade.
Cabe à escola, portanto, prover uma formação sólida em arte e cultura para todas as crianças,
assegurando uma base, que mais tarde, poderá ser desenvolvida mediante empenho do aluno, com apoio de
sua família. Reily [3] aponta que um ensino de arte que promova uma vivência efetiva em várias linguagens
artísticas, ainda inexiste nas escolas brasileiras, pois há um descompasso no desenvolvimento consistente das
áreas (teatro, música, dança e artes visuais). No paradigma da inclusão, a construção do ensino de arte está
em processo, em ambos os segmentos escolares (escola regular e de educação especial). Os termos educação
inclusiva, escola, família vinculados ao ensino de arte ainda se encontram “crus” e necessitados de pesquisas
e projetos que contribuam de maneira a dimensionar as práticas atuais. Portanto, estabelecer pressupostos
acerca das relações instituídas no desenvolvimento/processo artístico dos alunos especiais é acima de tudo,
essencial para traçar conceitos que venham somar às práticas do hoje.

Referências

[1] BARBOSA, Ana Mae. Arte/educação contemporânea: consonâncias internacionais. São Paulo:
Cortez, 2005

CARVALHO, Maria do Carmo Brant de (org.). A família contemporânea em debate. São Paulo:
EDUC/Cortez, 2003

KALOUSTIAN, Sílvio Manoug (org.). Família brasileira, a base de tudo. São Paulo: Cortez; Brasília, DF:
UNICEF, 2000

[2] MANTOAN, Maria Teresa Eglér. O direito de ser, sendo diferente, na escola. In: Inclusão e Educação:
Doze olhares sobre a educação inclusiva. São Paulo: Summus, 2006, p. 188

[3] REILY, Lucia. História, arte, educação: reflexões para a prática de arte na educação especial. In:
Educação especial: diálogo e pluralidade. Porto Alegre: Editora Mediação, 2008

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

FICTÍCIO E IMAGINÁRIO:
CONSIDERAÇÕES SOBRE A RECEPÇÃO TEATRAL

Cláudia Muller Sachs1


UDESC-PPGT

1. Introdução

O presente ensaio apresenta considerações sobre a recepção teatral sob influência das teorias de
recepção literárias, através da articulação de algumas idéias de diferentes pesquisadores tanto da área do
teatro como da literatura. Considerando o processo comunicativo entre espetáculo e espectador buscamos
encontrar as relações entre o fictício e o imaginário sugeridos por Wofgang Iser, além da interação que
acontece entre a presença concreta do ator e as energias psíquicas do espectador de acordo com os
mecanismos de deslocamento (ou metonímia) e a condensação (ou metáfora) a partir dos estudos
psicanalíticos de Freud. Procuramos entender esses processos à luz do chamado teatro pós-dramático,
levando em conta a sua afinidade com a arte da performance e o happening, a dialética entre ficção e real, e
seu status de “estado” ou “situação” em detrimento do teatro de ação.

2. Método

O método utilizado para este estudo é o de revisão bibliográfica, tendo como referência principal os
seguintes autores: Josette Féral, renomada pesquisadora francesa das artes cênicas que propõe o termo
“Teatralidade” para compreender os fenômenos teatrais desde o início dos anos 70 até agora; Wolfgang Iser,
estudioso da literatura, que estabelece relações entre o fictício e o imaginário, considerando a necessidade da
encenação na vida cotidiana como uma condição transcendental “que permite perceber algo de inatingível,
propiciando ao mesmo tempo a experiência de alguma coisa que não se pode conhecer”; Hans-Thies
Lehmann, autor do controverso termo “Teatro pós-dramático”, que vem gerando inúmeras discussões sobre o
tema; Luiz Costa Lima, importante teórico brasileiro do ramo da literatura; Clóvis Massa, professor gaúcho
de teoria teatral, especialmente a partir de sua tese de doutorado sobre a recepção teatral; Jean Pierre
Vernant, estudioso de questões relacionadas a mitos e política, entre outros autores citados ao longo do texto.

3. Resultados e Discussão

No início dos estudos teatrais o espetáculo era abordado como algo absoluto, um produto acabado que
suscitava uma determinada leitura do público. No final do século XX, entretanto, esses estudos sofreram a
influência dos tratados de estética da recepção originalmente dirigidos à literatura e também se voltaram para
essa instância do evento teatral, o público. A recepção do espetáculo, ou seja, a interação entre palco e
platéia tornou-se o foco da análise da produção teatral. Entretanto, ao invés de ser reconhecido como uma
noção social homogênea, ao longo da história da recepção o público foi gradualmente sendo substituído por
uma entidade antropológica menos abstrata: o espectador.
O objeto da semiótica logo passou da análise do espetáculo ou do texto espetacular para o estudo do
processo produtivo-receptivo da relação teatral. Amparados na teoria Roman Ingarten e retomados pela
Escola de Constança, os conceitos a respeito da concretização do leitor e dos lugares de indeterminação do
texto tornam-se chaves importantes para os estudos sobre recepção teatral. Parte-se do pressuposto de que
todo texto é incompleto e necessita de um destinatário para adquirir significação, ou seja, sem o espectador o
espetáculo não alcança sua função final de comunicação. Entretanto, a percepção do teatro se diferencia
fundamentalmente da leitura porque o texto escrito pode provocar choque, excitação, confusão, convertendo-
se em formas de reflexão, enquanto que a corporeidade presente na relação espaço-temporal do teatro
envolve a percepção de um momento vital afetivo, e esse é um fato determinante para a lógica de
significação do teatro. Enquanto que o leitor dispõe de muitas possibilidades de escolha quanto ao seu modo
de se relacionar com o texto literário, a recepção do teatro é extremamente influenciada por fatores como o
momento, o lugar, a duração, o ritmo, o comportamento dos demais espectadores
O evento teatral passa então a ser considerado como fenômeno, compreendendo o conjunto dos
processos cognitivos, intelectuais e hermenêuticos que fundam a atividade receptiva. Através do processo

1
Apresentadora: claudiasachs@terra.com.br
1

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

cognitivo o espectador conecta a vida real com a representação teatral, atribuindo-lhe significado através da
sua via sensorial, podendo ao mesmo tempo refletir e se emocionar com a encenação. Entretanto, parece
quase impossível saber qual o significado atribuído pelo espectador, dado à complexidade do mecanismo de
apreensão do objeto estético.
A experiência estética é pessoal e vai depender largamente do horizonte de expectativa em que se
inscreve a paisagem cultural do espectador. Quando ele toma contato com o espaço da cena, já se ativa sua
percepção, e dali em diante despertará sua imaginação, sua compreensão e seus sentimentos, através dos
quais ele vivenciará o mundo transcendental da obra. O texto e a cena são percebidos de acordo com dois
regimes de ficcionalização: a ficção e o real. No regime da ficção em si, a ilusão, a personagem e a fábula
formam “um sistema semiótico composto de conjuntos coerentes de signos ou sistemas significantes”. O
outro é o regime do real da cena, que envolve a presença de atores num dado espaço e num dado tempo,
dirigindo-se a um espectador. Esse diálogo entre real e teatral provoca alternadamente a identificação e o
distanciamento do espectador. O teatro é essencialmente uma arte de recriação que reverbera no seu
imaginário e lhe comunica algo.
Para compreender como se processa a interação entre o imaginário e a ficção Wolfgang Iser, um dos
estudiosos da Escola de Constança se voltou para a teoria do efeito estético, passando a investigar o que
realmente acontece quando lemos algo. Segundo ele, o fictício e o imaginário existem na nossa experiência
cotidiana, seja quando se expressam na mentira e na ilusão que nos conduzem além dos limites da situação
em que nos achamos ou nos limites do que somos, seja quando vivemos uma vida imaginária em sonhos,
devaneios ou alucinações. Iser afirma que o fictício e o imaginário servem de contexto um ao outro de várias
maneiras gerando diferentes manifestações, onde o jogo torna-se a estrutura reguladora da interação
constante entre eles. O fictício depende do imaginário para realizar plenamente o que quer transmitir, ele só
aponta para alguma coisa, a qual é preciso ser imaginada.
Na encenação o ator empresta seu corpo para comunicar uma ideologia, apelando para a imaginação
do espectador que vai interpretar com sua própria subjetividade, sua enciclopédia de vida, e ali se realiza a
obra. O ator se situa no coração do acontecimento teatral, situando-o como o elo vivo entre o texto do autor,
as diretivas do diretor/encenador, os ouvidos e olhos atentos do espectador – ele é o ponto de passagem de
toda a descrição do espetáculo.
Uma vez que a convenção esteja estabelecida, tudo se torna ato ficcional que tem sentido e verdade
apenas no mundo possível convencionado pelo observador e o observado, ator e espectador. É preciso
também que o observado esteja ciente de representar um papel para seu observador e dessa forma a situação
teatral se define, alinhando-se ao conceito de teatralidade descrito por FÉRAL (2003).
Para analisar a recepção dos espetáculos, portanto, PAVIS propõe trabalhar com a partir de dois eixos,
apoiados nos estudos sobre os sonhos desenvolvidos por Freud e desdobrados por Lacan no que tange à
linguagem. Os dois eixos são: o deslocamento e a condensação. O deslocamento (ou metonímia), estaria
ligado à uma estética mais mimética, realista linear, com a substituição de um elemento por outro, relação de
causa e efeito. A condensação (ou metáfora) caracteriza-se por acumular e misturar os elementos, mais
irrealista, simbolista, circular, na qual a cena tende a se tornar autônoma condensando o mundo em uma nova
realidade fechada sobre si mesmo.
No contexto do teatro pós-dramático a categoria adequada para o novo teatro é a de estado ou situação,
não mais de ação. O teatro já não se preocupa com o desdobramento de um enredo no sentido temporal, nem
em contar uma fábula baseada em ações, mas se ocupa em estabelecer uma “dinâmica cênica” ou “dinâmica
dramática”. O estado mostra mais uma composição do que uma história, embora ainda conte com atores
representando ao vivo. A ação que era uma categoria central no teatro dramático é repelida de diversos
modos no novo teatro, não há mais a descrição narrativa e fabuladora do mundo com o recurso da mimese.
nem a formulação de uma colisão de intenções espiritualmente significativa. O corpo físico torna-se uma
realidade autônoma que não mais se ocupa de narrar uma história ou mostrar uma emoção mediante gestos,
mas, sobretudo, em se manifestar com sua presença como um lugar em que se inscreve a história coletiva.
À medida que ocorre a diluição da fábula e da ação dramática surge uma crise da personagem
dramática na contemporaneidade, e é a subjetividade artística dos produtores e o mundo real da cena que
acabam por se destacar. Ainda assim, por mais metafóricos e obscuros que sejam o sentido e a construção
cênica, o espectador vai relacionar a ficção com seu cotidiano, procurando desvendar os significados sem
esquecer totalmente do mundo real e do seu imaginário por meio da síntese entre o horizonte de sua
expectativa da obra e o horizonte de sua experiência como destinatário. É a partir dessa incerteza e
ambigüidade em saber se o que está em jogo é realidade ou ficção que emergem o efeito teatral e o efeito
sobre a consciência no teatro pós-dramático. Sem o real, não há o encenado. “Representação e presença,
reflexo mimético e atuação, o representado e o processo de representação: essa duplicação, tematizada
2

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radicalmente no teatro do presente, tornou-se um elemento essencial do paradigma pós-dramático, no qual o


real passa a ter o mesmo valor do fictício” (LEHMANN, 2007, p.166).

4. Conclusão

A partir dessas considerações podemos concluir que, embora o teatro pós-dramático apresente essa
crise da personagem, onde o espectador tem dificuldade em se situar entre o que é real e o que é ficção,
comunicar-se com o imaginário dos seres humanos ainda parece ser o fundamento básico na comunicação
teatral. Por mais que tenham sido quebradas estruturas dramáticas relativas à ação e à mimese, parece que
ainda permanece a busca de uma linguagem que alcance essas energias psíquicas do espectador, possibilite o
acesso ao seu universo simbólico e desta forma mantenha-o interessado em comparecer ao teatro,
independente do tipo de relação espaço-temporal que esteja em jogo. A experiência de assistir a um bom
espetáculo de teatro, de compartilhar aquele momento com os atores e os outros espectadores ultrapassa
dimensões que muitas outras formas de arte não alcançam.

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GÊNEROS TEXTUAIS: UMA ESTRATÉGIA DE APROXIMAÇÃO ALUNO-CONTEÚDO

Lucan Fernandes Moreno1*; Lúcia Maria Nunes2 ; Valeska Gracioso Carlos3


1
Universidade Estadual de Ponta Grossa
2
Universidade Estadual de Ponta Grossa

1. Introdução
Proveniente de uma longa tradição escolar, o ensino de língua estrangeira (LE), bem como o de língua
portuguesa, calcou-se no estudo maçante de regras gramaticais no que compete a estrutura da língua e, à
repetição direta de frases previamente elaboradas no que concerne ao âmbito oral. Nesse contexto o aluno se
restringia à reprodução da língua de maneira mecânica, sem reflexão ou proximidade com sua realidade e
modelos diários. O exercício de fixação da língua estrangeira baseia-se nos famosos Drills (exercícios
estruturais), modelos de repetição direta, em que os alunos não produzem nada, apenas reproduzem o que foi
previamente determinado. Estas técnicas resultam positivamente em contextos específicos no uso da língua,
não sendo eficazes na prática real: numa situação de viagem, por exemplo. Talvez, e,enquanto aluno posso
afirmar que tais métodos além de tornarem as aulas de LE insuficientes, causam um distanciamento entre o
aprendiz e o objeto de estudo e, consequentemente uma postura negativa do aluno para com a língua. Estes
problemas não seriam tão graves em cursos de línguas, por exemplo, em que o aprendiz se dispõe de conta
própria a estar lá. No entanto são potencialmente agravados no contexto da escola regular, em que o aluno é
“obrigado” a participar das aulas de LE, se tornando, dessa forma, vítima da metodologia adotada pela
escola, ou pelo professor. Vale lembrar, também, que para muitos alunos o contato com uma língua
estrangeira se dará única e exclusivamente na escola, sendo isso por vários fatores: sociais, pessoais,
culturais, etc. O trabalho com os Gêneros Textuais, aparece neste contexto como uma forma simples, porém
não simplória, de romper o distanciamento aluno-língua, arremessando o aprendiz a um campo real do uso
da LE, oferecendo a ele condições e situações em que poderá consolidar e provar o conhecimento que
teoricamente adquiriu, ou adquirir esse conhecimento praticando, pois, segundo Bakhtin (2002)[2], o ser se
comunica e se organiza socialmente através de textos, e os gêneros textuais sendo “formas textuais escritas
ou orais estabilizadas, histórica e socialmente situadas.” Ou, em outras palavras “textos que encontramos em
nossa vida diária e que apresentam algumas propriedades funcionais e organizacionais características,
concretamente realizadas.” (Marcuschi, 2002)[3] podem aproximar significativamente o aluno e a língua que
estuda. O trabalho com gêneros, além de possibilitar a gramática reflexiva e indutiva, também é capaz de
trazer elementos culturais da língua estudada, no espanhol, especificamente, o grande número de países
hispanohablantes, e consequentemente o grande número de textos produzidos nesses países poderiam ser
analisados e explorados pelo professor de língua, resultariam em aulas dinâmicas e prazerosas, tanto para o
aluno, quanto para o professor. Tendo isto em vista, esse trabalho pretendeu uma reflexão sobre a prática
pedagógica do ensino de língua espanhola na escola pública, propondo o trabalho com gêneros textuais, que
mesmo não sendo um assunto necessariamente novo, ainda não está inserido na realidade escolar. As razões
para a não exploração da teoria de gêneros também foram pesquisadas neste trabalho. É visto que já existe
uma intensa discussão acerca dos gêneros textuais no ensino de língua portuguesa, no entanto, a aplicação no
ensino de língua estrangeira ainda não é tão constante, mostrando-se ainda petinente discussões sobre ela.
Vale esclarecer também, que este projeto de pesquisa ainda não está totalmente conclúido, portanto os
resultados aqui descritos estarão no campo das probabilidades ante as etapas anteriores.

2. Métodos
A primeira etapa da pesquisa se configurou no levantamento, seleção e leitura do material teórico
sobre a teoria de gêneros textuais, dentre os quais podemos destacar a teoria de Bakhtin que se refere aos
gêneros textuais do cotidiano, formados e mantidos a partir de práticas sociais, que vai diretamente ao nosso
objetivo, ou seja, aproximar o conteúdo do cotidiano do aluno. Além de Bakhtin, também selecionamos
Marcuschi, que simplifica alguns conceitos e exemplifica a análise de gêneros em seu livro “Produção
Textual, Análise de Gêneros e Compreensão”, de 2005, além de comtemplar a análise sócio-interacionista no
contínuo fala-escrita, sobre a qual nossa pesquisa se sustenta. O conceito de “tipo textual”, definido por
Marcuschi em sua obra, nos é essencialmente importante, uma vez que estamos preocupados, também em
quantificar dados sobre a maior ocorrêcia de um ou outro tipo textual, para embasar nossa prática nesses
dados. Depois deste primeiro momento, partimos para pesquisa de campo, assitindo aulas de língua
espanhola no ensino fundamental de uma escola pública de Ponta Grossa, no Estadodo Paraná. Nestas
observações pretendíamos perceber a forma que o professor transmitia o conhecimento, já que a mediação,

*
Autor Correspondente: lucanmoreno@hotmail.com
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

no contexto observado não aconteceu, atentando para o método pedagógico, o material utilizado, a postura
do professor, o domínio do professor sobre a língua etc. Pretendíamos também observar a postura dos alunos
diante do método do professor, a recpção dos materais, a interação entre o aluno e o professor, bem como a
produção do aluno nos exercícios escritos e orais, entre outros fatores. Após a coleta destes dados, partimos
para sua análise e formulamos as hipóteses para tais realidades. A etapa seguinte, ainda não cumprida,
corresponde a intervensão na aula de língua espanhola, mediando o conteúdo e o aluno através dos gêneros
textuais; estes gêneros serão selecionados a partir dos dados coletados na etapa anterior e de acordo com a
teoria bakhtiniana de gêneros de esfera cotidiana: facilmente encontrados em produtos importados bem como
receitas, instruções de uso, informações ao usuário,músicas, trailers de filmes estrangeiros, entre outros.
Essaintervenção,se dará de forma sutil, sem que os alunos percebam que estão sendo experimentados, o
trabalho com os gêneros, mesmo sendo diferente dos comumente utilizados pela professora da turma, será
inserido seguindo uma mesma metodologia, de forma que pareça natural a mudança. A intervensão se dará
da seguinte forma: olicitaremos a professora que nos indique qual será o próximo conteúdo a ser trabalhado
em classe, e prepararemos as aulas para tal conteúdo sob a luz da teoria dos gêneros textuais. Se o assunto
fosse, por exemplo, pronombres posesivos, traríamos algum gênero em que a acorrência dos pronomes fosse
maior, para que o aluno perceba o uso, e assim possa deduzir as regras gramaticais. Ainda haverá uma quinta
e última etapa, a qual corresponde à análise dos resultados da experiência da intervenção com os gêneros,
bem como a reflexão sobre estes resultados. Nesta etapa, mais direcionada ao processo ensino/aprendizagem,
a teoria sócio-interacionista de Vygotsky[1], sobre a mediação entre aluno-conteúdo, nos será válida, uma
vez que nossa intenção no trabalho com gêneros é a mediação do conhecimento, rompendo com o modelo de
transmissão conteudista.

3. Resultados e Discussão
Como resultados, esperamos que a intervensão com os gêneros textuais suscite na postura positiva dos
alunos em relação a aprendizagem de língua espanhola e, que o distancimanento entre o aprendiz e o
conteúdo, que observamos ser significativo resultando num fator altamente prejudicial no processo
ensino/aprendizagem, diminua. A partir de todos dos dados levantados e minunciozamente analisados, se
como esperamos os resultados sejam positivos, pretendemos formular estratégias para uso dos professores
com os gêneros textuais e assim procurar iniciar uma nova tradição no ensino de línguas estrangeiras, ou
mais especificadamente, no ensino de língua espanhola, uma vez que o idioma vem recebendo maior atenção
política e, consequentemente, social, prova disso é a aprovação da lei 11.161/05, que torna obrigatório o
ensino de língua epanhola nas escolas públicas do país, e, que portanto, exige uma atenção maior do meio
acadêmico.

Referências
PALANGANA, Isilda Campaner. Desenvolvimento e Aprendizagem em Piaget e Vygotsky. 3ª ed.
Sumnus. São Paulo, 2001.
SILVEIRA, Maria Inês Mattoso. Análise de gênero textual: Concepção sócio-retórica. Edufal. Alagoas,
2005.
MARCUSCHI, Luiz Antonio. Produção textual, análise de gênero e compreensão. 2ª ed. Parábola. Rio de
Janeiro, 2005.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

GRUPOS DE DIÁLOGO: RECONHECIMENTO DO DISCURSO JUVENIL FRENTE A


REALIDADE ESCOLAR

¹Marli da Silva1; ²Cíndia Jesana Micaela Millane da Silva; ³Elisete M. Tomazetti


Universidade Federal de Santa Maria/UFSM

Este texto busca narrar e identificar os discursos dos jovens santamarienses


participantes dos encontros dos Grupos de Diálogo, realizados pelo projeto de
pesquisa Educação e Juventude: jovens das escolas públicas de ensino médio
de Santa Maria/RS, vinculado ao grupo de pesquisa Filjem/CNPq. O projeto
visa conhecer o jovem que estuda na rede pública de ensino médio de Santa
Maria/RS.
A investigação busca agregar indicadores às pesquisas que estão sendo
realizadas em nível nacional. Tem-se reconhecido que vivemos momentos de
crise institucional nas escolas e se reconhece a importância de voltarmos os
nossos olhares aos jovens em seu processo educativo, para que possamos
construir caminhos que possibilitem melhorar o quadro educacional. Um dos
aspectos importantes na tarefa do educador é conhecer os educandos a partir da
concretude de suas vivências, abrindo mão dos julgamentos que se faz a partir
das imagens veiculadas nos meios de comunicação. Com isso, somos
convidados a conhecer “a fundo as possibilidades e limites materiais, sociais e
culturais de ser gente, de humanizar-se e desumanizar-se, de desenvolverem-se
como humanos” (Arroyo, 2000, p. 244). O jovem tem manifestado através de
suas narrativas o desejo de ser escutado, especialmente, por aqueles envolvidos
no seu processo de escolarização.
A pesquisa Educação e Juventude: jovens das escolas públicas de ensino
médio de Santa Maria/RS está em desenvolvimento na Universidade Federal de
Santa Maria desde 2008, com término previsto para 2010, com o apoio
financeiro do CNPq e se organiza em duas etapas: a primeira, de caráter
quantitativo, constitui-se de uma amostra quantitativa através da aplicação de
um questionário a 370 jovens do ensino médio das escolas públicas, situadas na
zona urbana e rural de Santa Maria/RS; a segunda etapa, de caráter qualitativo
constitui-se de grupos de diálogo em que os jovens são convidados a participar
de um encontro com outros jovens para falar de suas experiências, dificuldades
e expectativas sobre o ensino médio. No decorrer do texto iremos discorrer a
segunda etapa da pesquisa, destacando as falas dos jovens durante os encontros
em que foi desenvolvida a metodologia denominada Grupos de Diálogo.
Esta metodologia é inspirada no modelo canadense Choice Work Dialogue,
traduzida por Grupos de Diálogo. Essa metodologia vem sendo utilizada por
pesquisadores em diferentes instituições do país, a exemplo disso, em 2004-
2005, o IBASE, em parceria com outras instituições e entidades realizou a
pesquisa Juventude Brasileira e Democracia. De acordo com o relatório da
referida pesquisa o pressuposto metodológico aplicado através do diálogo
procura romper com a lógica da constatação, buscando a construção de
oportunidades para que os (as) jovens possam exercitar coletivamente
diferentes reflexões sobre tema da investigação (RIBEIRO, et. al, 2005). Do
ponto de vista epistemológico, a pesquisa busca identificar formas de tradução
do sentido produzido no diálogo com os jovens, a explicação não como
“verificação objetiva de hipóteses, mas como um processo de produção de
conhecimento que se adequa progressivamente entre observador e observado”

1
e-mail: 71.ms.marli@gmail.com,
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(MELUCCI, 2005, p. 34). Neste caso, o processo de produção do


conhecimento ocorre entre aquele que fala e o outro que escuta motivo pelo
qual se constrói à medida que constitui uma metodologia de abordagem do seu
objeto. Neste sentido, nada do que percebemos, sentimos, ouvimos ou intuímos
foi negligenciado. Cada gesto, cada expressão, cada tom de voz foi registrado e
fez parte da análise.
A metodologia Grupos de Diálogo, utilizada em nossa pesquisa constituiu-se
dos seguintes passos: o primeiro passo foi dado ainda durante a aplicação do
questionário em 2009, quando os jovens foram convidados a participar da
segunda etapa da pesquisa; os encontros foram realizados em três sábados, com
a presença total de 24 jovens, que foram distribuídos em pequenos grupos, no
turno manhã/tarde, tendo como local o Centro de Educação/UFSM. Durante os
dias de diálogo foram disponibilizados informações sobre a juventude. Essas
informações foram resultados de pesquisas e abordavam temas de interesse dos
jovens. No caso da pesquisa com os jovens do ensino médio, foram
disponibilizados dados sobre a escolarização, formas de mediação escolar,
metodologias, modalidades de ofertas de ensino médio em Santa Maria/RS,
entre outros. Os grupos também possibilitaram que entre os jovens pudesse
haver troca de informações sobre diferentes temas que envolvessem as suas
vidas. “O diálogo como método pressupõe que os (as) participantes sejam
capazes de ouvir uns aos outros e de interagir sem que a defesa de determinada
opinião desconsidere as demais” (RIBEIRO, et. al., p.13, 2005). No diálogo
não há disputa, o objetivo é que uns aprendam com os outros. O discurso
expresso durante o diálogo é representante de interesses específicos de cada
jovem, pois todos têm vez e voz para expressá-lo. De acordo com Ribeiro, et.
al. (2005) as regras para a realização dos grupos são fundamentais para que
ocorra “uma interação qualificada entre os (as) envolvidos (as) em busca de
pontos comuns que revelem tendências sobre determinadas questões de
interesse público”. Desse modo, possibilitar que cada participante tenha sua
vez é imprescindível para que realmente ocorra o diálogo.
Nos dias dos encontros os jovens foram recepcionados por integrantes do
grupo de pesquisa e conduzidos ao local do encontro. Inicialmente dispusemos
de um tempo para “quebrar o gelo”, conversar informalmente com os jovens,
servimos café, orientamos quanto ao espaço físico a ser utilizado para o
encontro, realizamos o cadastramento dos jovens, e a entrega de materiais que
seriam utilizados no diálogo. Neste momento os jovens receberam o Roteiro
para o diálogo da pesquisa Educação e Juventude: Jovens das Escolas
Públicas do Ensino Médio2. O roteiro para o diálogo contém, de forma mais
detalhada, a descrição de três cenários de ensino médio. Cada cenário explicita
uma modalidade de oferta de ensino médio, a saber: cenário 1: uma escola que
prepare para a vida; cenário 2: uma escola que prepare para o vestibular e
cenário 3: uma escola que prepare para o ensino técnico profissional. Cada
modalidade de escola vem acompanhada de prós e contra e informações
complementares referentes a cada uma. Os cenários apresentam contrastes
entre si, mas não excludentes e os jovens são estimulados a compor outros
cenários combinando aqueles já apresentados ou criar outros de acordo com as
necessidades apontadas por eles.
Os jovens iniciavam as atividades participando da primeira plenária. Na sala da
plenária o facilitador apresentava a equipe de trabalho e os jovens eram
convidados a dizer em uma palavra a sua principal preocupação com o ensino

2
O Roteiro para o Diálogo da Pesquisa Educação e Juventude: Jovens das Escolas Públicas de Santa Maria/RS foi
organizado para os Grupos de Diálogos pelo grupo de Pesquisa Filjem/CNPq., sob o registro: ISBN- 978-85-611, no
ano de 2009.
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médio, como: qualidade de ensino, estrutura da escola, falta de professores,


tempo, compromisso, interesse, preocupação/despreocupação. Em seguida eram
conduzidos para outro local onde em pequenos grupos, por um período de uma
hora, eram estimulados a conversar mais profundamente sobre as suas
preocupações em relação ao ensino médio. Logo após esse diálogo os jovens
sistematizam e apresentavam essas preocupações na plenária em forma de
teatro, cartazes, discursos, com intuito de identificar as semelhanças e
diferenças nos grupos. Surgiram semelhanças como: falta de interesse do
governo/alunos/professores, falta de professores, professores
liberais/autoritários, falta de diálogo, salários baixos, desrespeito entre alunos
e professores. Quanto às diferenças, ou seja, o que divergiu nos diálogos
foram: oficinas na escola, liberdade de expressão (há escuta, mas não
atendimento às reclamações), atividades extracurriculares, assédio por parte de
alguns professores.
No turno da tarde os pequenos grupos novamente reunidos liam as informações
mais aprofundadas sobre o ensino médio (cenários) que estavam no Roteiro de
Diálogo. Após a leitura os jovens eram estimulados a escolher o projeto que
poderia levá-los a superar as dificuldades enfrentadas por eles no ensino
médio. As três propostas contidas no Roteiro de Diálogo se constituem como
possibilidades de fomento do diálogo e a partir delas os jovens podiam
criar/recriar seu próprio cenário. Ao concluir os trabalhos em grupo, os jovens
se reuniam novamente na plenária, onde os grupos apresentavam suas
propostas. Novamente eram construídas as semelhanças e diferenças. Já ao
final da plenária os jovens eram convidados a dar um recado para as
autoridades responsáveis pelas Políticas Públicas no país, a saber: direcionar
mais o olhar para as questões educacionais, investir nos professores dando
condições estruturais e salariais, instituir lei para que os filhos de governantes
estudem em escolas públicas.
Os pesquisadores buscaram registrar o que os jovens falavam, sua postura
diante de cada trabalho desenvolvido no dia, as conversas informais, os gestos,
expressões, as formas como se organizavam nos grupos. Pois, nos Grupos de
Diálogo, o exercício era ouvir os jovens, ouvir a sua voz, vozes que muitas
vezes não têm reconhecimento e legitimidade, já que segundo os próprios
jovens “não é que não deixam a gente falar, a gente até pode falar, mas não
escutam e nada acontece”. (Jovem, Grupo de Diálogo, 17/04/2010).
No intuito de partilhar a experiência obtida nos Grupos de Diálogo e enquanto
pesquisadores (as) procuramos assumir uma postura nos trabalhos de agentes
dispostos a ouvir e a registrar toda manifestação dos jovens presentes, sem
emissão de juízos de valores ou imposições. Trazendo para o presente texto
registros e reflexões sobre o trabalho desenvolvido como forma de
contribuição para os agentes transformadores do processo educacional.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

HÉLIO OITICICA: A ARTE COMO AFIRMAÇÃO DO DEVIR

Carolina Votto Silva

Universidade do Estado de Santa Catarina

1. INTRODUÇÃO

Este artigo pretende abordar questões referentes ao Programa Ambiental ou Parangolé do artista brasileiro
Hélio Oiticica (1937-1980), no que tange a busca pelo retorno do mito e a desmitificação dessa proposta
versada em um texto do artista de 1972 denominado de Parangolé-Síntese. Investigar o emaranhado
labiritintico que perpassa o pensamento estético do artista carioca Hélio Oiticica, nos faz percorrer pelos
relevos paradoxais da sua trajetória poética. Enveredar na linha cronológica dos jardins construídos por
Oiticica é tarefa fácil, pois o artista desde sempre datou a sua extensa produção escrita. No entanto, ao
manipular esses escritos pelo viés da cronologia, poderiamos perder a intensidade dos seus emaranhados que
nos levam ao seu “Conglomerado”, blocos pensamentos que nos permitem encontros com: Nietzsche,
Haroldo de Campos, Maliévitch, Mondrian, Caetano Veloso, Mangueira, etc,.
No entanto, como diria Jorge Luis Borges, há que se enveredar pelo caminho dos jardins que se bifurcam.
Talvez a bifurcação seja uma forma inventiva de adentrar os paradoxos que compõem o pensamento artista
de Hélio Oiticica. Para tanto, nos propomos a dançar nesse labirinto entre os conceitos suscitados em torno
dos Parangolés em 1964 e a sua “desmitificação” a partir da década de 70. Período em que o artista residiu
em New York.

2. OS PARANGOLÉS

Em 1964, Hélio Oiticica formula as bases para o seu Programa Ambiental ou Parangolé. Em plena a década
de 60, o artista entra em contato com a Escola de samba Estação Primeira de Mangueira, a convite de seu
amigo o também artista Jackson Ribeiro, vindo a trabalhar na produção de carros alegóricos para o carnaval.
Nessa época começa a ter aulas de samba com Miro, que posteriormente torna-se seu amigo, vindo a vestir
as capas mantos parangolés. Em troca dava aulas de desenho e pintura para as crianças do Morro da
Mangueria. Com base nesses dados biográficos, é importante salientar, que não visamos no espaço dessa
abordagem ampliar a idéia já mitificada (ASBURY, 2008) e de certa maneira saturada do envolvimento de
Hélio Oiticica com a favela. Ou com a escola de samba, pois essa postura enfraquece a obra e o pensamento
do artista. Visamos mostrar como Hélio se apropria de determinadas estruturas do samba e da favela como
arquitetura poética para dar continuidade a sua “experiência viva da cor”.
Em meados da década de 60, Oiticica já havia dado continuidade a sua transmutação da cor e sua relação
entre a obra e o espaço, prerrogativas de sua transição radical pós neoconcretismo. Já que o artista era um
dos integrantes do movimento carioca. O neoconcretismo foi o movimento da arte brasileira que se deu entre
1959-1961, no Rio de Janeiro. Os neoconcretos radicalizaram a proposta construtiva com a renovação da
linguagem geométrica contra o racionalismo mecaniscista dos postulados construtivistas ao integrar aspectos
expressivos e orgânicos ao pensamento da obra (ASBURY, 2008). O grupo neoconcreto era formado pelos
pintores, escultores e poetas: Lygia Clark, Franz Weissman, Amilcar de Castro, Hélio Oiticica, lygia Pape,
Aloisio Carvão, Décio Vieira, Willis de Castro, Hércules Barsotti, Osmar Dillon, Roberto Pontual e Ferreira
Gullar.
Em um texto de novembro de 1964, Oiticica elabora Bases Fundamentais para a Elaboração do “Parangolé”.
Já na primeira frase o artista salienta que essa descoberta marcaria o ponto crucial e definiria uma posição
especifica no desenvolvimento teórico de toda a sua experiência da “estrutura-cor” no espaço. Assim como,
do que viria a ser um objeto plástico, ou uma obra de arte. Os Parangolés como Programa Ambiental
assumem para Oiticica o caráter de “obra de arte total”, visto que, derrubam todas as modalidades anteriores
de pintura, escultura e objeto para tomar forma na incorporação do ato. Sejam suas cores, os materiais
utilizados ou as fórmulas do “faça você mesmo”. Como é o caso do Parangolé Pamplona, onde o artista
descrevia como você poderia criar seu próprio Parangolé.
Oiticica nessa época, estava preocupado em levantar questões que perpassassem a relação entre o mito e o
homem civilizado, cultura popular e erudita, liberdade e opressão, assim como sua busca pelas definições do
Supra-Sensorial. Essas questões foram amplamente debatidas no contexto histórico-cultural dos anos 60.
Pois se na década de 50 o Brasil e a camada de intelectuais pertencentes a esse periodo viviam uma espécie
de “fé na modernidade”, prerrogativas da era desenvolvimentista de JK. Os anos 60 afloraram com a
ditadura militar e a completa opressão do individuo e suas posições politico existenciais.
609
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

No entanto, não podemos reduzir seu projeto ao seu contexto histórico, mesmo que saibamos dos
atravessamentos politicos desse período.

3. OITICICA E NIETZSCHE: UMA POSSÍVEL CONVERSA

Nessa época Oiticica esboça através do Parangolé, a arte como uma condição ético-estética. Encontrando em
Nietzsche um cúmplice teórico para abordar sua condição frente a isso. Na dança (samba) Oiticica buscava a
desintelectualização e um retorno ao homem primitivo através dos rituais dionisiacos. Nesse sentido, quando
o espectador estava envolto a incorporação da obra e transmutava-se nela. Tanto a cor como o movimento
revelados no ato da vestimenta seria uma forma de retorno ao mito. Eram prerrogativas presentes na
elaboração das capas, mantos, standards, bandeiras já que estas eram na década de 60 produzidas tanto com
tecidos que suscitavam cores quentes e tropicais, como com materiais sobre camadas (como os travesseiros)
suscitando movimentos individuais. Partindo assim de um estado de invenção.
Visando esse resgate mítico, o artista expressava nessa proposição ambiental uma crítica a modernidade e
sua subsequente instrumentalização, se Nietzsche retorna aos gregos para elaborar sua filosofia afirmativa da
existência. No que tange a fusão das forças apolíneas e dionisíacas. O primeiro como força mediadora da
imagem e do sonho.E o segundo como fenomêno dionisiaco é volúpia, orgia e dança. Não podemos esquecer
que Oiticica visava com a experiência-parangolé uma vivência –mágica do homem, o artista desejava que o
homem esqueçesse, pois paradoxalmente a dança que não se faz coreografia, deixa o corpo ser levado,
imantado por um estado de êxtase.
Segundo o artista isso estava presente no homem primitivo, onde os valores e o modelo de vida não estavam
carregados pelo peso da história e dos costumes. Importante destacar que para Oiticica esses pressupostos se
davam em um estado de concreção, na arte e em um tempo estético. Não sendo meramente absorvidos
enquanto teorizações conceituais. “Para NIETZSCHE a descoberta da arte (ou do q seja ela) é a descoberta
de algo mais forte que o pessimismo, de algo mais divino q a verdade” (OITICICA, 1979).

4. OITICICA EM CONSTELAÇÃO

Ainda se torna importante ressaltar, como nesse período da década de 60 a arte conceitual vinha a ganhar
força na produção artistica e na reflexão teórica. Nessa época os textos de artistas começavam a tomar uma
dimensão critica ao estecismo e a postura da critica de arte. Desse modo, os artistas mesmo com motivações
diversificadas e pesquisas estéticas de amplas abordagens iam firmando uma posição critica-estética e
reflexiva nesse contexto. A obra de Oiticica na virada da década de 60 para 70 faz parte desse fluxo de
produções que perpassa o conceitual.
Essencial mencionar, que em 1970 Oiticica participa da exposição Information no MOMA (Museu de arte
moderna) de New York (julho a setembro de 1970), com curadoria de Kynaston Mcshine. Exposição coletiva
que contava com toda uma geração de artistas fundamentais para pensarmos os rumos que a arte
contemporânea acabou por tomar. Dentre os artistas participantes poderemos citar tais como: Joseph Kosuth,
Sol LeWitt, Vito Acconci, Yoko Ono, Robert Morris, Joseph Beyus, Cildo Meireles, Arthur Barrio e
Guilherme Vaz. Nessa exposição Hélio que acabou tendo uma sala só para seu trabalho, elaborou os Ninhos,
estruturas de três andares para ficar dentro, coberto de aniagem. Em meados da década de 70, já residindo
em New York, Oiticica acaba tomando contato com a interpretação deleuziana do conceito sobre o artista
trágico de Nietzsche. Essa descoberta será fundamental para o artista, visto que, Hélio se considerava um
artista afirmativo.

5. OITICICA E DELEUZE: OUTRA CONVERSA POSSÍVEL.

E um texto de 1979 intitulado Manifesto Caju, Oiticica reitera a essencialidade do pensamento nietzschiano
para a compreensão do artista trágico em sua época. O artista trágico é o sim não pessimista numa apoteose
monumental conclui DELEUZE o capítulo sobre O PENSAMENTO TRÁGICO EM NIETZSCHE
(OITICICA, 1979). O conceito de acaso em Oiticica se aproxima do lance de dados nietzschiano, expressa
na interpretação deleuziana. Nessa obra o filósofo francês expõe o trágico nietzschiano, como o grande lance
de dados do acaso. Importante salientar que o acaso não se aproxima de relações de finalidade, não a um fim,
mas sim o destino (necessidade). É como a metáfora de lançar os dados a meia noite e vê-los luzir ao meio-
dia. Oiticica cita em um texto de 1979 a metáfora dos dados que reluzem ao meio dia, no sol.
O filósofo reitera - em Nietzsche o acaso se identifica com o múltiplo, com a fragmentação, com os
membros, com o caos: Caos de dados que se lançam e que se chocam. Em Nietzsche o acaso é afirmação, o
reino de Zaratustra é definido por este como o “grande acaso”. “Encontrei em todas as coisas esta certeza
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feliz, a saber que elas preferem dançar com os pés do acaso”(Nietzsche, 2002). Oiticia ao formular as bases
para o Programa In progress Caju em abril de 1979, propõe aos participantes penetrar o aterro de lixo Caju
no Rio de Janeiro como se este fora um Playground de bairro urbano.

6. O ACASO E O ALEATÓRIO COMO POSSIBLIDADE ESTÉTICA


Nesse viés do jogo e do acaso, anterior ao Caju, Oiticica formula em um texto de 26/07/1972 o seu
Parangolé-Síntese, considerado pelo artista o processo de “desmitificação do Parangolé” de 1964, que visava
um retorno ao mitico. Na década de 70, o artista formula o Parangolé – Play. Direcionado-se mais ao
conceito de performance, no qual Oiticica identifica a performance e a dança enquanto “Parango-Play”.
Sendo este uma forma de desalienar o tempo, já que o individuo estava vivenciando a proposta em seu àpice
corporal: “O poeta que joga aqui seria tudo o que não é naturalista ou interpretativo: não se trata somente de
posição estética → é condição sine qua non para jogar aqui: os elementos usados são instrumentos –
play”(OITICICA, 1972).
Se no primeiro Parangolé a um resgate ou retorno ao mito, Oiticica esclarece que no Parango-Play o que
resta das manifestações do primeiro são as situações circunstanciais “encontros-events” de
experimentalidade aberta, descartando o mito ou a ritualidade do momento. Oiticica esclarece que é
necessário “amamentar o momento”, não elevá-lo a categorias de mito ou preciosidades estéticas.
Ressaltando que se naquela época (1964) a dança era uma aspiração ao mito, o mais importante já era a
incorporação, o “climáx corporal”.
Desse modo Deleuze conceitualiza como o jogador lança os dados ao devir, a fórmula do jogo é: “conceber
uma estrela dançante com o caos que traz consigo”. E só o bom jogador é capaz de tal dança, Nietzsche
salienta: lance seus dados ao acaso, o bom jogador não possui estratégias. O número constelação é ou seria,
de fato, o livro, a obra de arte, como resultado e justificação estética da existência: Observa-se no artista
como a necessidade e o jogo, o conflito e a harmonia se casam para engendrar a obra de arte. (Deleuze,
1962). No entanto, Nietzsche ao sentenciar que afirmar o acaso é saber jogar, o filósofo alemão visa é a
aceitação do amorfati (amor ao destino), sendo essa possível, no abandono do tempo histórico, de forte
influência heraclitiana, o devir afirmado remete ao desprezo pela cronologia. Os tempos se embaralham
assim como os dados lançados a meia-noite que caem ao meio-dia. São dois momentos de um só tempo,
afirmados no ser do devir.

7. ARTE E VIDA: INDISSOCIAÇÕES


Interessante mencionar que durante as décadas de 1960 e 1970, ocorriam os festivais Fluxus, enventos
geralmente perfomáticos que promoviam a indissociação entre arte e vida. Por meio de proposições apoiadas
no cotidiano, possiveis de serem realizadas por qualquer pessoa. Esta produção, valorizava a participação do
público e a desmaterialização da obra de arte, assim como a critica aos sistemas legitimadores da arte, como
museus e galerias. Em 1973, Oiticica escreveu um texto sobre o livro Grapefruit de Yoko Ono (importante
artista associada ao movimento Fluxus), que faz menção a várias peças de Ono. Segundo Oiticica o
entendimento que Ono possui do corpo é um fenômeno play sensorial: “uma sintese de todas aquelas
relações de corpo-ambiente e corpo-corpo” (OITICICA, 1972).
E mais uma vez, Hélio se aproxima da filosofia nietzschiana, pois se para Nietzsche a existência é o campo
de fluxos entre a transformação dos valores na amplitude das forças condizentes com a vontade, pois só a
vontade impera gloriosamente contra o mundo asceta. Para Oiticica a invenção é a matriz que nos permite
enveredar pelo acaso, aceitando nosso destino: O artista trágico que Oiticica cita em seus textos parece ser a
sua versão (invenção) do além-do-homem nietzschiano, um operador alegre e dançarino da transmutação dos
valores graças a sua capacidade de suportar o pensamento do retorno e de dizer sim à vida (BRAGA, 2007).

CONCLUSÃO

Os labirintos poéticos propostos por Oiticica, transcendem a relação de tempo, potencializam os paradoxos e
nos permitem refletir um pouco o que Deleuze asserta ao citar o poeta Paul Valéry em sua obra a Lógica do
sentido: “O mais profundo é a pele”. O Programa Poético de Oiticica remonta a invenção como a condição
do artista trágico nietzschiano, os parangolés, assim como o restante de sua produção poética ainda insistem
na busca de uma condição ético-estética, presentes na arte como transformação do comportamento.
Portanto, mesmo na dificil arte de interpretar os embaralhamentos poético-reflexivos que margeiam o
pensamento de Oiticica. Poderiamos nos permitir a invenção de jardins não somente construidos de
romantizações mitificadas em torno da sua imagem e sua biografia, mas quão intensificada sua produção
aparece na inventividade da vida como obra de arte.

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REFERÊNCIAS

[1] Braga, Paula (org). Fios Soltos: A arte de Hélio Oiticica. – São Paulo: Perspectiva, 2008.
[2] _________________. Tese de doutorado: A trama da terra que treme: Multiplicidade em Hélio Oiticica.
Disponivel em: http://www.teses.usp.br, acessado em 10/03/21010.
[3] Deleuze, Gilles. A Lógica do Sentido. – São Paulo: Perspectiva, 2007.
[4] _____________. Nietzsche e a Filosofia. – Porto: rés.
[5] Figueiredo. Luciano (ed). Lygia Clark-Hélio Oiticica: Cartas 1964-1974. – Rio de Janeiro: Editora
UFRJ, 1996.
[6] Lima, Ana Paula F.C. Fluxus em museus: museus em fluxus. – Campinas, Sp: (sn), 2009. Tese de
doutorado.
[7] MARCELINA, Revista do Mestrado em Artes Visuais da Faculdade Santa Marcelina. – Ano 3. –
São Paulo: FASM, 2009.
[8] Oiticica, Hélio. Aspiro ao grande labirinto. – Rio de Janeiro: Rocco, 1986.
[9] Nietzsche. Friedrich. Aurora: Reflexões sobre os preconceitos morais. – São Paulo: Companhia das
letras, 2004.
[10] Programa Hélio Oiticica, organizado por Lisette Lagnado. Itaú Cultural/Projeto HO. Disponível em:
http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia/ho/index.
cfm?Fuseaction=documentos&pesquisa=simples acessado em 29/03/2010.

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IDENTIDADE E PARTICIPAÇÃO EM COMUNIDADES DE PRÁTICA: UMA ANÁLISE


DO ENFOPLI (2008-2009)

Leonardo Neves Corrêa1*; Telma Gimenez2;


1
Universidade Estadual de Londrina
2
Universidade Estadual de Londrina

1. Introdução
Professores universitários envolvidos com os projetos NAPs do Paraná organizaram, em 2003, o 1o.
ENFOPLI (Encontro de Formadores de Professores de Língua Inglesa do Paraná), que contou com 61
representantes de 28 IES públicas e privadas. Uma das conclusões do evento foi a necessidade de articulação
principalmente entre os profissionais encarregados das práticas de ensino de inglês visando a troca de
experiências e propor alternativas para a formação, de modo a torná-la mais significativa.
Imediatamente um grupo de comunicação (e-group) foi criado. O ENFOPLI tornou-se o nome do
evento e o nome do grupo. Desde então já foram realizadas cinco reuniões anuais, mais de 2.000 emails
trocados ao longo do tempo. O grupo se configura como um espaço de desenvolvimento profissional para
formadores de professores de inglês nos moldes de participação em uma comunidade de prática.
O caráter inovador do ENFOPLI se dá em função de sua emergência a partir das necessidades do
próprio grupo e não como imposição ou exigência de autoridades superiores. Seu funcionamento depende
fundamentalmente dos interesses e motivações de seus integrantes. Diferentemente de grupos criados
especificamente para realização de pesquisas (e.g. GROSSMAN,2001), o ENFOPLI tem sua sustentabilidade
garantida pelas negociações no interior de sua própria dinâmica. O grupo foi objeto de estudo de Perin
(2009), que se utilizou do referencial de Wenger (1998). Aquela pesquisa compreende o período 2003-2007,
marcado pela emergência e consolidação do grupo. Faz-se necessário dar sequência a este trabalho,
analisando-se o grupo na sua continuidade. Para isso será utilizado o conceito de aprendizagem como
participação em comunidades de prática.
É ainda recente o interesse por investigações sobre formadores de professores de línguas estrangeiras
no campo da Linguística Aplicada. No entanto, são eles que estão colocados no vértice das transformações
da preparação de novos profissionais que atuarão nas escolas da educação básica. Considerando que a
educação continuada desses profissionais se dá fundamentalmente em situações de trabalho, em interação
com seus pares, faz-se necessário estudar essas oportunidades a partir de um referencial que conceitua
aprendizagem como engajamento em práticas. Daí a relevância de se adotar o conceito de comunidade de
prática para descrever e analisar o desenvolvimento coletivo de um grupo de formadores.
Uma comunidade de prática envolve indivíduos que compartilham de práticas, crenças, e
entendimentos definidos conjuntamente em um período de tempo na busca de um objetivo comum. Sua
distinção em relação a grupos de indivíduos está na interrelação entre três elementos: domínio, comunidade e
prática (WENGER, online). Domínio refere-se àquilo que torna a comunidade singular, ou seja, o que é
compartilhado e que une seus membros que se identificam como pertencentes àquela comunidade; em suma,
sua identidade. Ao compartilharem um interesse comum, membros da comunidade constroem relações e se
engajam em atividades conjuntas que materializam suas conexões – isto é o que o autor chama de
comunidade. A prática consiste em um repertório de recursos utilizados de modo compartilhado.
De modo semelhante ao que ocorre com professores, formadores de professores podem atuar de modo
isolado e se verem como consumidores de conhecimento produzido por outros. A circunstância de
pertencimento a uma comunidade que se comunica regularmente pode alterar este tipo de identificação, pela
consciência da possibilidade de participação nos processos decisórios (JOHNSON, C. 2001). De fato, parece
cada vez mais necessário que formadores encarregados de atuar em contextos de formação de educadores
para a educação básica assumam seu papel enquanto agentes políticos. Essa transformação poderá ser
resultante do engajamento regular em interações com outros colegas nos quais se pode transcender a
realidade local para abstrair conclusões sobre a formação de professores de inglês de modo geral, em um
quadro de mudanças sociais.
O seguinte estudo, que visou dar continuidade aos estudos de Perin (2009), teve como principal
objetivo analisar e descrever as interações realizadas entre os formadores de professores de inglês envolvidos
no ENFOPLI, em sua modalidade virtual, durante os anos de 2008-2009.

2. Método

*
Leonardo Neves Corrêa: leocorrea@uel.br
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Para esta comunicação foram realizadas análises dos emails postados no e-group ENFOPLI durante o
período de 2008 a 2009, procurando os tipos de mensagens de modo a estabelecer como os membros do
grupo se utilizam dessa ferramenta de comunicação.
3. Resultados e Discussão
As categorias emergentes das mensagens postadas foram as seguintes:

Notícias: Notícias sobre o domínio do grupo, educação, políticas governamentais e afins.


Divulgação: Mensagens relacionadas à divulgação de eventos e oportunidades de trabalho.
Dicas: Sugestão de sites, newsletters, livros, atividades e outros.
Relatos de Membros: Percepções pessoais, artigos de opinião, relato de eventos.
Discussões: Discussões acerca de temas relacionados à formação de professores.
Questões administrativas: Questões internas do grupo, relacionadas a reenvio de e-mails, inclusão de
membros e atualizações de arquivos.

A partir destas categorias acima, os seguintes resultados foram alcançados:


MENSAGENS ENFOPLI 2008
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ TOTAL
NOTÍCIAS 8 1 8 6 5 10 7 16 15 9 7 5 97
DIVULGAÇÃO 15 8 7 2 13 6 4 4 14 5 10 2 90
DICAS 1 4 5 3 4 4 1 2 4 2 0 1 31
QUESTÕES
INTERNAS/ADM 0 1 0 3 0 0 0 0 3 1 6 0 14
RELATOS DE
MEMBROS 4 5 0 4 2 1 2 2 0 0 0 0 20
DISCUSSÕES 1 10 0 0 6 8 6 15 13 12 2 3 76
TOTAL MÊS 29 29 20 18 30 29 20 39 49 29 25 11 328
Quadro 1 – Relação de Mensagens postadas em 2008

Como se pode observar no quadro 1 acima, notícias e mensagens de divulgação lideram o ranking de
mensagens postadas na página virtual do ENFOPLI. Durante o ano de 2008, as duas categorias somam juntas
187 mensagens (cerca de 57% do total). Perin (2009) também observava que este tipo de mensagem é o mais
recorrente no e-group desde sua criação. Em 2009, este tipo de mensagem ganha uma progressão ainda
maior (vide quadro 2), atingindo 100 postagens. Isto sugere que os participantes tem interesse em
compartilhar informações com colegas.
Em seguida temos a categoria de “Discussões” com 76 mensagens (23% do total). Nota-se que os
picos atingidos em “Discussões” foram entre os meses de agosto a outubro, que coincidem com a realização
do encontro presencial do grupo: a maioria das mensagens postadas neste período está relacionada ao evento.
A categoria “Dicas” segue em quarto lugar na colocação geral com 31 mensagens (cerca de 9,45%).
Por fim, seguem as categorias “Relatos de membros” e “Questões internas e administrativas” com 20 (cerca
de 6,1%) e 14 (4%) ocorrências, respectivamente.

MENSAGENS ENFOPLI 2009


JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ TOTAL
NOTÍCIAS 3 2 4 3 2 3 6 3 3 3 3 1 36
DIVULGAÇÃO 3 15 6 8 10 6 9 8 15 0 18 2 100
DICAS 2 2 1 1 0 0 0 0 0 0 1 0 7
QUESTÕES
INTERNAS/ADM 1 0 0 0 0 0 7 0 0 1 0 0 9
RELATOS DE
MEMBROS 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
DISCUSSÕES 0 0 0 0 0 0 12 4 0 7 3 0 26
TOTAL MÊS 9 19 11 12 12 9 34 15 18 11 25 3 178
Quadro 2 – Relação de Mensagens postadas em 2009

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De início já se pode observar no quadro acima uma grande queda no número de postagens em relação
ao ano anterior. Em 2009 houve uma baixa de aproximadamente 46% em comparação a 2008. A tendência
de queda no número de mensagens postadas tem sido uma constante no grupo.
Em contraste à queda do número de postagens, a categoria “Divulgação” (100 mensagens) teve um
leve aumento em relação a 2008. Esta categoria sozinha representa mais de 56% do total de mensagens. Se
adicionada à categoria “Notícias” (36 mensagens), temos mais de 76% de mensagens de cunho informativo,
que não requerem necessariamente discussão por parte do grupo.
A categoria “Discussão” soma apenas 26 ocorrências no ano. E como no ano anterior, a maioria das
discussões se deveu à organização do evento presencial que deveria ter ocorrido em 2009. Neste ano, em
particular, por problemas com a instituição que seria sede do evento presencial, o ENFOPLI teve de ser
cancelado. Isso gerou as discussões encadeadas nos meses de julho, agosto, outubro e novembro.
As categorias “Questões Internas/Administrativas” e “Dicas” juntas somam menos que 10% das
mensagens. E, finalmente, a categoria “Relato de Membros” não apresentou nenhuma ocorrência no ano.
Esses dados sugerem que a comunidade virtual do ENFOPLI funciona mais como uma ferramenta
para divulgação de oportunidades do que como um espaço para debate, discussões e o compartilhamento de
propostas e ações acerca de temas relacionados à formação de professores de Inglês. Por outro lado, tem se
constituído como um lugar para compartilhamento de informações, mantendo os laços entre seus membros e
servindo como “memória”da sua existência.
O fato de não ter sido possível realizar um evento presencial em 2009 significou que a relação
virtual/presencial não se realizou. Muitos participantes viam essas duas modalidades de interação no grupo
como importantes (PERIN, 2009). Este fenômeno pode explicar porque tem havido queda no número de
postagens, uma vez que os encontros presenciais serviam para reforçar a identidade de grupo. Esta é uma
especulação que poderia ser investigada com os próprios membros. Por esse motivo, foi elaborado um
questionário que está sendo respondido no momento, com o objetivo de se verificar se outras modalidades de
comunicação para o grupo seriam mais interessantes.
Se considerarmos que CPs interagem com a finalidade também de fortalecer seus vínculos identitários,
é importante considerar se as trocas menos frequentes significam movimentos no sentido de construção de
outras identificações em outras comunidades de prática. Este é outro aspecto tratado no questionário, cujos
resultados serão objeto de outro trabalho.
Embora se pressuponha que deva haver interação regular entre os participantes de uma comunidade de
prática (seja ela presencial ou virtual) para garantir a construção de conhecimento coletivo, os dados
analisados não nos permitem fazer esse tipo de inferência. Para isso seria necessário analisar mais
detalhadamente o teor das mensagens em uma abordagem qualitativa.

4. Conclusão
A partir de mensagens postadas no e-group de uma comunidade de prática procuramos, neste trabalho,
tecer considerações quantitativas sobre o modo como essas mensagens refletem o papel que seus membros
atribuem ao compartilhamento de informações e trocas de ideias no interior do seu funcionamento.
Verificou-se que essa ferramenta de interação virtual serve ao grupo primordialmente para divulgar
oportunidades de aprimoramento profissional e notícias atuais de relevância para o domínio da CP.
Outras questões que requerem um tratamento qualitativo (como, por exemplo, de que maneira os seus
membros constroem conhecimento por meio desse compartilhamento propiciado pela ferramenta e-group)
serão objeto de trabalhos futuros.
Por ora podemos afirmar que o conceito de CP representa uma maneira interessante de se organizar a
aprendizagem profissional, em virtude de postular que está se dá nas relações de indivíduos com outros
indivíduos comprometidos com o desenvolvimento coletivo e que se utilizam de ferramentas diversas para
aprimorar aquilo que fazem.

Referências

CRISTÓVÃO, V.L.L.; GIMENEZ, T. (Org.). Construindo uma comunidade de formadores de professores


de inglês. Londrina: ENFOPLI, 2005.

GROSSMAN, P. Toward a theory of teacher community. Teachers College Record, v. 103, n.6, p. 942-1012.

JOHNSON, C. A survey of current research on online communities of practice. Internet and Higher
Education. V. 4, 2001.

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LAVE, J.; WENGER, E. Situated learning: legitimate peripheral participation. New York: USA, Cambridge
University Press, 1991.

PERIN, J.O.R. ENFOPLI: Emergência e Construção de uma comunidade de prática de formadores de


professores de Inglês. 2009. Tese (Doutorado em Estudos da Linguagem) – Universidade Estadual de
Londrina, Londrina, 2009.

WENGER, E. Communities of practice: learning, meaning and identity. Cambridge, UK: Cambridge
University Press, 1998.

WENGER, E. Communities of practice: a brief introduction. [S.I.: s.n.], 2006. Disponível em:
<http://www.ewenger.com/theory/index.htm>. Acesso em: 19 jun. 2009.

Agradecimentos

Gostaria de agradecer a minha família e amigos pelo constante apoio, em especial, gostaria de agradecer a
minha orientadora, Dr. Telma Gimenez, pelas inúmeras portas (e janelas) que tem aberto em minha trajetória
acadêmica. À todos, o meu mais sincero – OBRIGADO!

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INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE EM O RASTRO DO SÂNDALO, DE ASHA MIRÓ E


ANNA SOLER-PONT

Ana Paula Cantarelli¹*; Geice Peres Nunes²


¹ Universidade Federal de Santa Maria
² Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução
“O fato de se reconhecer à obra literária, seja qual for o seu gênero, seja qual for a sua forma, uma
aptidão para a representação identifica a obra com uma imago mundi – a imagem que é tanto a dos realia,
como a das ações, como a dos símbolos e a das crenças” [1]. É com essa frase que Jean Bessière inicia seu
texto intitulado Literatura e representação. Nessa afirmação, está um dos aspectos mais interessantes no que
se refere à obra literária: o seu caráter de imagem do mundo, de totalidade (ações, símbolos e crenças).
Assim percebida, a obra literária apresenta-se como parte do mundo, como parte do real, pois seu
caráter ambivalente lhe permite que, ao mesmo tempo em que constrói seu mundo ficcional, construa
também a realidade na qual está inserida. Entretanto, o aumento exacerbado da necessidade produtiva e a
ampliação das relações de compra e venda permitiram que se estabelecesse a crença de que o fator
econômico é o único responsável por nortear as relações sociais, separando a realidade em duas partes que se
tornaram praticamente estranhas entre si: a objetividade econômica e a subjetividade humana. A exaltação da
economia como fator dominante não deriva de um grau mais elevado de realidade de alguns produtos
humanos, mas sim do significado central da práxis e do trabalho na criação da realidade. Todavia, como
aponta Kosik [2], a literatura não é uma realidade de ordem inferior a da economia, é também uma realidade
humana, embora de outro gênero e de forma diversa, com missão e significados distintos, pois tanto a
economia quanto a literatura são produtos da práxis.
É a partir da perspectiva do caráter ambivalente da literatura que realizaremos algumas considerações
sobre a obra O rastro do sândalo [3], de autoria de Asha Miró e Anna Soler-Pont, destacando aspectos
relacionados à inovação e à sustentabilidade. Esses dois temas têm permeado discussões em todos os âmbitos
da sociedade e, certamente, a literatura não os ignoraria. À medida que as relações de produção e consumo
são pautadas cada vez mais pelas inovações tecnológicas e que o planeta principia a dar sinais do desgaste
sofrido pelo uso irracional de seus recursos, a sustentabilidade começa a ser a única forma possível de
estabelecer relações com o meio, sanando as necessidades produtivas, enquanto preserva a integridade
humana através da manutenção de suas condições favoráveis de existência e sobrevivência.

2. Cenário de pobreza e de exploração


Dividido em três partes, O rastro do sândalo é um romance que apresenta como principal espaço de
atuação das personagens nações que possuem problemas econômicos e grandes diferenças sociais: Índia e
Etiópia. A narrativa principia no ano de 1974 e estende-se até 2006, sendo estruturada a partir de três
personagens principais: Muna, Sita e Solomon.
A primeira parte, ambientada entre 1974 e 1975, apresenta a origem marcada pela pobreza dessas três
personagens. Muna e Sita são duas irmãs nascidas em Kolpewadi, estado indiano de Maharashtra, em um
contexto de pobreza e de escassez. Logo após a morte dos pais, as duas passam a viver com Nadira, irmã por
parte de pai das duas meninas, esposa de Pratap e mãe de um menino pequeno. Como o casal fosse muito
pobre, tornou-se difícil sustentá-las. Então, após três anos de convivência, devido a pouca quantidade de
alimentos e à nova gravidez de Nadira, Muna foi levada para a residência de um casal de tios, Suresh e
Sonali, e Sita conduzida a um convento.
Muna tem onze anos quando a narrativa principia e já está vivendo há três com seus tios, ajudando no
trabalho doméstico. Devido às dificuldades financeiras, visto que não tinham dinheiro para o dote de Muna e
que nenhuma família quis aceitá-la como esposa, seus tios decidiram vendê-la para o senhor Patil que a
levou para trabalhar em um fábrica de tapetes em Bombaim (Bombaim teve seu nome alterado para Mumbai
a partir de 1995), em companhia de muitas outras crianças. O senhor Patil trabalhava no comércio de mão-
de-obra infantil, comprando crianças de famílias pobres por um preço baixo e vendendo-as a um fabricante
de tapetes por um preço mais elevado. Em um ambiente escuro, repleto de moscas, pulgas e escaravelhos, as
crianças trabalham em um regime de escravidão, dormindo no chão e recebendo apenas comida em troca de
seu trabalho.
Após algum tempo de trabalho na fábrica, Muna voltou a ser utilizada como moeda de troca para
saldar uma dívida entre o dono da fábrica de tapetes e o senhor Raghavan. O senhor Raghavan era um

*
Ana Paula Cantarelli: annynha_sm@hotmail.com
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engenheiro que vivia em uma casa luxuosa e tinha cinco filhos. Nessa casa, Muna trabalhava mais de doze
horas por dia e recebia apenas comida como pagamento. Contudo, com o passar do tempo e a intervenção
dos filhos do senhor Raghavan, ela aprendeu a ler e a calcular e foi pela primeira vez ao cinema, experiência
essa que mudou sua vida para sempre.
Sita era cinco anos mais nova do que Muna. Após ser separada de sua irmã, Sita foi levada para o
centro das Missionárias de Maria de Bombaim, vivendo em um convento com freiras e outras meninas órfãs
como ela, onde morou por quase quatro anos, até ser adotada por uma família de Barcelona, na Espanha. Em
Barcelona, Sita estudou e formou-se em medicina.
Solomon é um menino etíope de oito anos, órfão de mãe, que perdeu o pai na guerra e foi levado a
Cuba por um acordo de ajuda entre esses países. Em Cuba, Solomon pôde estudar e construir uma carreira
profissional, traçando um caminho bem diferente da maioria das crianças daquele país que ou morrem de
desnutrição, ou são submetidos a rotinas duríssimas de trabalho.
A segunda parte encontra-se ambientada entre 2004 e 2005 e apresenta o entrelaçamento das histórias
de Muna, Sita e Solomon, tendo Barcelona como o principal cenário desses encontros. Muna está com
quarenta e três anos e tornou-se uma atriz famosa de Hollywood e de Bollywood, que conta com muitos sites
dedicados a ela e a seus filmes na Internet. Casada e com um filho adolescente, Muna resgata crianças que,
como ela, foram submetidas a trabalhos infantis desumanos, a violências e a humilhações, sendo sócia-
fundadora da Stop Children Slavery Foundation, uma organização criada para erradicar a escravidão infantil.
Com a ajuda de Nighat, uma fotógrafa indiana, Muna consegue descobrir a localização de Sita.
Sita está com trinta e oito anos; tornou-se pediatra e trabalha em um Centro de Atenção Primária, em
Barcelona. O encontro com Muna mexe com o seu passado e a faz pensar na Índia que ela deixou para trás,
um país pobre sobre o qual sabe pouca coisa.
Solomon, durante sua estadia em Cuba, fez o segundo grau na Ilha da Juventude e depois estudou
arquitetura em Havana, retornando para Addis Abeba em 1988, pois “era preciso ficar, era preciso fazer
alguma coisa para que o país progredisse, para que a democracia fosse verdadeira algum dia, para que
houvesse água e comida para todos, para que os etíopes superassem a expectativa média de vida de quarenta
e seis anos” [4]. Como a esposa de Solomon faleceu, sozinho na Etiópia e cheio de lembranças, ele resolveu,
em 2005, aceitar o convite que recebera para trabalhar em um escritório de arquitetura em Barcelona. Nessa
cidade, conheceu e apaixonou-se por Sita.
A terceira e última parte do romance é composta por apenas um e-mail de Sita, que está vivendo na
Etiópia com Solomon, destinado a Judith, uma amiga pediatra que continuou vivendo em Barcelona. No e-
mail, a irmã de Muna descreve seu trabalho em um hospital e em uma clínica particular e relata as
dificuldades decorrentes da pobreza daquele país.
Ao longo da narrativa, encontramos diversos fatos que permitem que sejam estabelecidas relações com
o real como, por exemplo, o Tsunami ocorrido em 2004 que afetou gravemente a costa do estado de Tamil
Nadu e a descoberta, na Etiópia, do esqueleto hominídeo que fora batizado de Lucy, permitindo que o relato
apresentado ao longo do romance seja lido como possível e localizado em meio a fatos que têm sua
existência documentada.

3. A importância da sustentabilidade
Abordar o tema da sustentabilidade implica em considerar uma maneira das sociedades ao redor do
mundo expressarem seus potenciais no momento presente sem degradar o meio ambiente, proporcionando
um equilíbrio entre o homem e o meio. Contudo, essa relação aparentemente simples mostrou-se
extremamente conturbada ao longo dos séculos, principalmente no período que é consolidado a partir da
Revolução Industrial, considerado como o início da Era Moderna. No momento presente da história humana,
o qual é denominado por muitos autores, como Fredric Jameson [5], de Pós-Modernidade, a questão da
sustentabilidade surge como um imperativo que possivelmente contenha a chance de alcançar o tão almejado
equilibrio entre uso e preservação.
Esse romance, por seu conteúdo, convida-nos a associar a descrição dos cenários presentes na
narrativa como uma crítica ao contexto de miséria e desumanização que se apresenta em muitas nações ao
redor do mundo na atualidade. Ao longo da narrativa, há diversas mostras da necessidade de se administrar
de maneira consciente os recursos naturais presentes dos países que servem de cenário para a narrativa, ao
mesmo tempo em que se destaca que a intervenção humana pode ser benéfica no sentindo de corrigir erros
anteriormente cometidos - como, por exemplo, nos trabalhos voluntários desenvolvidos por Sita ou na
fundação criada por Muna - , sendo capaz de melhorar o cenário de pobreza e desolação dos países pobres.
As personagens, por terem vivenciado experiências de pobreza e de privação, sentem-se impelidas a
realizarem melhorias nos países dos quais são originárias como uma forma de retribuição às oportunidades
que receberam e uma forma de dividir o que conquistaram. Essas atitudes, dentro do romance, colaboram

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para a crença na mudança através da atuação do homem.

4. A inclusão das inovações tecnológicas no romance


Ao considerarmos, como aponta Kosik [6], que toda obra de arte apresenta um caráter duplo em
unidade indissolúvel: expressa realidade, mas também cria simultaneamente a realidade, uma realidade que
não existe fora da obra ou antes dela, mas sim precisamente só na obra, conseguiremos dimensionar a
importância de identificarmos elementos que podem ser considerados como inovações tecnológicas presentes
no romance analisado. Ao tratarmos a obra como uma imago mundi e considerarmos que ela expressa
realidade reconhecemos que as mudanças e evoluções constantes que marcam o momento presente
materializam-se na obra através de elementos como, por exemplo, a troca de e-mails e de faxes entre as
personagens, a navegação na Internet, o uso de DVDs, de CDs, etc. Esses elementos marcam a progressão
temporal ao longo do texto, demonstrando a passagem de mais de trinta anos compreendida entre o início e o
final do texto, auxiliando na estruturação da trama narrativa uma vez que a comunicação entre as
personagens, em vários trechos, é intermediada por eles.
Embora o emprego de tais recursos pudesse ser percebido como uma falta de aproximação e de
intimidade entre as personagens, a preocupação destas com a realidade social que as cerca mostra-se capaz
de desmentir essa hipótese. Personagens que conviveram/convivem com cenários de pobreza, apresentam-se
preocupadas em alterar essa realidade, promovendo melhorias na qualidade de vida. As inovações, nesse
cenário, são apenas instrumentos capazes de eliminar a distância, de aproximá-las ainda mais. Tal relação
mostra-se mais explícita no último capítulo, no qual a voz do narrador em terceira pessoa que acompanhou
os movimentos do texto ao longo das duas partes anteriores é substituída por um e-mail trocado entre Sita, na
Etiópia, e Judith, em Barcelona. Esse e-mail concede voz à personagem e omite o narrador, revelando o
desfecho da história das três crianças pobres sob a perspectiva subjetiva de uma correspondência eletrônica.
E, ao considerarmos que a obra de arte cria a realidade, reconhecemos o romance analisado como um
fruto da práxis humana e, por conseguinte, um elemento constitutivo de nosso momento histórico. Assim, as
questões nele abordadas servem como considerações acerca do tempo presente, assumindo uma dimensão
que se estende para além dos domínios privados de leitura.

5. Conclusão
O rastro do sândalo enquanto considerado como um fruto da práxis humana, atua na constituição de
um momento histórico no qual as inovações tecnológicas ganham a cena, e a sustentabilidade converte-se em
uma palavra de ordem. Assim, pode ser lido como um livro que realiza uma denúncia do trabalho infantil, da
exploração de menores, da pobreza e das precárias condições de vida de muitos países ao redor do
mundo,pois, a partir do contexto etíope e indiano descrito na narrativa, é possível realizar associações com
outras nações que vivem situações semelhantes.

Referências
[1] BESSIÈRE, Jean. Literatura e Representação. In: ANGENOT, Marc (Org.). Teoria Literária. Lisboa:
Dom Quixote, 1995, p. 379.
[2] KOSIK, Karel. Dialéctica de lo concreto: Estudios sobre los problemas del hombre y del mundo.
México: Editorial Grijalbo, 1979, p. 142.
[3] MIRÓ, Asha; SOLER-PONT, Anna. O rastro do sândalo. Tradução de Paloma Vidal. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 2007.
[4] Idem, p. 228.
[5] JAMESON, Fredric. Pós-Modernismo. A lógica cultural do capitalismo tardio. Tradução de Maria Elisa
Cevasco. São Paulo: Ática, 1996.
[6] KOSIK, 1979, p. 143.

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INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE: O ENSINO DA LÍNGUA NA ERA DA


TECNOLOGIA

Diva Conceição Ribeiro1*


1
Faculdade Doutor Leocádio José Correia-FALEC

1. Introdução
No mundo contemporâneo, a escola sistematizada precisa refletir e adequar instrumentos
pedagógicos para acompanhar, no ensino de Língua Portuguesa, a evolução da tecnologia a fim de manter a
história acumulada sem prejuízos ao passado, estar na dinamicidade do presente e sem comprometer o
futuro. Na era da tecnologia não é possível opor-se às novas modalidades de comunicação, de escrita e de
linguagem via computador, imagética, outdoors, jornais, revistas, panfletos, radiofônicas, televisivas. Essas
recentes práticas causam constrangimentos porque suprimem a escrita secular e a apresentam abreviada,
simplificada para a comunicação humana no século XXI. Reagimos, pois somos contrários a quaisquer
novos fatos, reafirmamo-nos seres humanos comuns e sequer interiorizamos como deveríamos receber o
“algo novo” para adequar o que se encontra desgastado pelo tempo. Não é possível negar a existência, a
presença e a permanência da Internet no meio “intelectualizado”. Esta pesquisa mostra como o contexto atua
no meio social contemporâneo e como, por meio da internet, pode-se manter o modo de escrever aceito pelo
meio social letrado e como o homem é capaz de adequar novas formas de grafar conforme suas necessidades,
seja nos chats, no MSN, nos e-mails ou na manutenção da escrita impressa. O campo de atuação docente,
assim como a organização do discente de terceiro grau, deve estar atualizada às inovações cientificas para
dar sustentabilidade ao conhecimento acumulado e ajustá-lo às novas expressões surgidas sempre que o
utente demonstre significá-las como agente da comunicação.

2. Observar a fala e construir conceitos dinâmicos para manter o idioma usado no Brasil
Observamos programas televisivos e o entendimento de mensagens e discutimos, no Curso de
Administração de Empresas da Faculdade Doutor Leocádio José Correia, em Curitiba-PR, com foco em duas
telenovelas exibidas pela Rede Globo: A Favorita e Páginas da Vida, a fala dos personagens Léo, Mariana e
Catarina, estes da primeira e Helena, Nanda, Léo, Alex, .e Marta, vividos respectivamente por Regina
Duarte, Fernanda Vasconcelos, Thiago Rodrigues, Carlos Caruso e Lilia Cabral; na segunda trama,
estudamos algumas falas dos personagens de Jackson Antunes, Clarice Falcão e Lília Cabral e buscamos
entender o contexto para dar sentido ao texto.
Estudamos os gestos, os olhares, as expressões, as palavras proferidas pelos atores e aplicamos a
sinonímia nos diferentes sentidos do texto para chegarmos a um entendimento razoável. A perplexidade
tomou conta das pessoas que estavam naquele ambiente e gerou surpresa, já que não era possível rever as
imagens a não ser de forma mnemônica.
Na internet, buscamos, informações a respeito do nosso assunto, visitamos algumas salas de bate-
papo e também nos instalamos no MSN para identificarmos o modo como as pessoas conversam por esses
canais.
Os alunos entregaram por escrito as conversas interessantes e o modo como as pessoas escrevem por
meio da internet. Também expuseram seus pensamentos a respeito da grafia tecnologizada e conseguiram
estabelecer a relação entre diversas “falas” feitas entre a linguagem coloquial, formal e da internet.

3. Resultados e Discussão
Este trabalho mostrou-se interessante e produtivo, porque partimos de algo atual, concreto, praticado
pela população, e de enorme envolvimento. Os alunos coletaram os termos abreviados para serem estudados
em sala de aula e entender de redução das palavras a fim de aproveitar tempo e espaço ao usar o computador.
Ao discutimos sobre as falas dos personagens dessas novelas, identificamos assuntos veiculados na
mídia e aplicamo-los às tramas da dramaturgia. O sentido do contexto tomou forma e foi possível entender as
"entrelinhas" nas falas dos personagens a sustentabilidade pelo contexto. O conteúdo desses programas
envolveram debates sobre ética, desvalorização do ser humano, prevalência do ócio sobre o trabalho, incesto,
pedofilia, cárcere privado, patriarcalismo machista, homossexualismo, e outros.
Ilustramos nossa pesquisa com dois exercícios feitos entregues1. Vejamos as considerações
sobre a “fala” da internet:

*
RIBEIRO, Diva Conceição: diconri@yahoo.com.br
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A língua na tecnologia2

Ela é basicamente utilizada pela agilidade e facilidade de escrita, é composta de


abreviações, na verdade são mais códigos. Adolescentes utilizam essa linguagem que tem o nome
de “internetês” onde se fala basicamente por códigos. Exemplos:

Por quê? pq? /blz? /Beleza? , qq–Qualquer, cmg/Comigo, bjs/ Beijos,


tbm /ambém.

quadro 1

Essas são apenas algumas palavras abreviadas utilizadas em blogs, chats e MSN,
incrivelmente hoje é falada por quase todos, criou se um padrão e por isso se ampliou essa
linguagem, porque é muito criativa a cada dia formam-se símbolos que significam frases. Se um
internauta escrever: Kade vc? O outro internauta
compreenderá que a frase é: Cadê você? Cabe a cada um saber a maneira de escrever, se usando a
língua “internetês” ou a padrão. Acredito que não seja errada a forma de abreviarmos as palavras
nos ambientes virtuais, desde que a escrita seja assimilada e compreendida pela outra pessoa,
porém se necessário for a comunicação com um superior ou uma pessoa com quem não se tenha
intimidade, nunca fazer uso de abreviações ou gírias, sempre mantendo a língua padrão. Se
fizermos uso, em nosso dia a dia, esse entendi mento de língua as dificuldades e erros serão
amenizados.

LINGUAGEM NA INTERNET3
Diante de uma observação feita em relação à escrita dos internautas, (...) pude
observar diversas e incríveis formas de abreviar as palavras, (...): nós, seres humanos,
temos um grau de inteligência incrível!
Confesso que me interessei muito pelo assunto, sempre utilizo este tipo de
linguagem, que, por sinal, descobri que já tem até um nome: o internetês, mas nunca
havia parado para refletir no porquê destas abreviações. Considero que a internet é um
meio que exige muita agilidade, e a escrita por abreviaturas faz com que isto seja
possível, simulando assim a rapidez com que também falamos. Existem inúmeros
programas (...) teclamos com diversas pessoas de qualquer local do planeta, e o melhor:
em tempo real.
Aprofundei-me um pouco mais no assunto e descobri que um dos objetivos desta
linguagem é a proximidade da língua falada. Esta forma de escrita já faz parte do dia-a-
dia virtual da maioria das pessoas e mesmo aqueles que não estão muito adaptados não
podem ignorá-la, levando em consideração que a linguagem está sempre sujeita a sofrer
alterações, isso não quer dizer que agora estamos livres para escrever da forma que nos
convém, podemos usar abreviações com total liberdade e sem nenhum desconforto nas
páginas de relacionamentos mas, logicamente, devemos ter bom senso e saber que em
momentos formais devemos utilizar a linguagem culta.

1
SILVEIRA. Elaine Cristina Chagas da, Curso de Administração. Faculdade Doutor Leocádio José Correia. 1º ano, 1º
período. Curitiba-PR, 2010.
3
CAVASSIN, Millena. Curso de Administração. Faculdade Doutor Leocádio José Correia - FALEC-Curitiba-PR 1º
ano, 1º período

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Alguns pais se preocupam muito com a utilização desta linguagem pelos seus filhos,
muitos acreditam que utilizando este tipo de linguagem o português será prejudicado, uma
forma para resolver isso é incentivá-los à leitura.
E para descontrair um pouquinho, aí vai o dicionário dos internautas, particularmente fiz
pensando nas abreviações que eu mesma mais utilizo.

Vc - você add - adiciona vlw - valeu mto- muito bjs-beijos


xau- tchau q - que pq - porque tbm - também c- com
p- para c - se fds - fim de semana qto - quanto qdo- quando
msg- qse-quase aki - aqui kra - cara tc - teclar
mensagem

T+ até mais Vdd- verdade sdd - saudade qr - quer BFD - bom fim de
semana

rs- risos nuss nossa Neh- não é? n- não ssim

4. Conclusão
Torna-se interessante saber que cabe ao professor conhecer, navegar, investigar espaços
internetizados e compreender como estes se estabelecem no mundo da tecnologia e como o
pensamento se concretiza por meio da fala e revela aspectos ocultos e que apenas as entrelinhas
semânticas são capazes de mostrar.
A fala de Léo e Mariana sugerem incesto, enquanto que as atitudes de Helena revelam
bondade mas desrespeito e coroam Marta, a mulher má, como um personagem carregado de
responsabilidade, amor, respeito pela família e, sobretudo, o único membro familiar que preza o
bem-estar dos seus.
Não se trata de deixar de ensinar, de exercitar a prática de ler e escrever com domínio e
propriedade, mas, de saber fazer, entender, usar, e poder escolher o como quer realizar e o porquê
optar por esta ou aquela modalidade de escrita, ou de usar as novas tecnologias e permitir-se a
decisão última, a fim de cumprir o exercício da democracia que prevê o conhecer, dominar para
poder realizar, no concreto, a sua escolha.
O espaço acadêmico torna-se, assim, um momento dinâmico em tempo e espaço real sem
perder de vista a motivação e a prática da língua e a atividade de ressignificar os programas
televisivos, radiofônicos e demais mídias realizando a leitura crítica dos meios de comunicação.

REFERÊNCIAS

LEVY, P. O que é o virtual?. São Paulo: ed. 34, 1996


MACHADO, A. Máquina e Imaginário. São Paulo; Edusp, 1996.

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INTERTEXTOS ENTRE HISTÓRIA E LITERATURA EM AS NAUS DE ANTÓNIO


LOBO ANTUNES.

Rodrigo Corrêa Martins Machado1*; Gerson Luiz Roani2;


1
Universidade Federal de Viçosa
2
Universidade Federal de Viçosa

1. Introdução
António Lobo Antunes se destaca como um dos mais significativos ficcionistas do romance português
contemporâneos. Suas narrativas fazem o leitor participar do processo de ficcionalização há história pela
Arte literária. Com base nesta orientação criativa, a matéria basilar dos romances do autor consiste na
História de Portugal de suas raízes medievais e quinhentistas à experiência contemporânea, marcada pela
Revolução dos Cravos (1974) e pela adesão de Portugal à nova ordem político-econômica nascida com a
implantação da União Européia (UE). Com engenhosidade e criatividade incomuns, a História torna-se um
elemento estruturante das produções artísticas desse escritor contemporâneo e a manipulação literária
redimensiona a matéria factual em uma estrutura ficcional inovadora, diferente do universo de onde foi
extraída.
Partindo de tais elementos, este projeto de pesquisa propõe-se a investigar os elos de aproximação e
afastamento entre os discursos literário e histórico na prosa Lobo-Antuniana, mediante a análise teórico-
crítica do romance As Naus (1988). Esse escrito artístico transfigura o fenômeno dos portugueses retornados
da Guerra africana (1961 – 1975), no período pós-Revolução dos Cravos. A narrativa reveste-se de uma
feição nitidamente antiépica, na medida em que estes retornados são atualizações/reinvenções
contemporâneas dos antigos heróis da expansão marítima e imperial portuguesa do quinhentos: Francisco
Xavier, Diogo Cão, Camões, Pedro Álvares Cabral, Fernão Mendes Pinto, Vasco da Gama, Alfonso de
Albuquerque, Dom Sebastião. A inserção dessas figuras históricas em um ambiente sócio-cultural degradado
e atual, não só acentua o caráter irônico da evocação, como desmistifica um período da História nacional
portuguesa que raramente é tratado na sua relatividade histórica. Confrontam-se, pois, os tempos áureos do
Império com um presente acanhado e mesquinho, tempo e lugar onde os mitos se reduziram a nada.
Esta concisa apresentação da diegese sublinha que é o estudo da natureza da expressão literária ao
acontecimento histórico que empreenderemos sob a forma de pesquisa, investigando como as referências
históricas, figuras e eventos foram extraídos da História lusitana e reinventados por António Lobo Antunes
no romance do nosso tempo. No caso de As Naus, romance escolhido com corpus da pesquisa, vislumbra-se
a utilização da matéria histórica como um procedimento escritural que aprofunda a interlocução entre os
discursos da Literatura e da História. Sob essa ótica, a investigação situará a maneira como a ficção de Lobo
Antunes realiza, não só, a representação dos acontecimentos e da fatualidade histórica, mas também a
discussão sobre a dimensão discursiva, portanto narrativa, tanto da Literatura, quanto da História. Para que
isso se efetive, metodologicamente, faremos dialogar comparativamente o discurso histórico e a ficção
romanesca.
As Naus, narrativa escolhida como corpus para análise teórico-crítica das relações entre Literatura e
História, configura-se como uma forma de leitura do processo histórico que vislumbra a experiência do ser
humano com a temporalidade como um campo que pode ser objeto de conhecimento, não só da Ciência, mas
também da Arte romanesca em uma outra ordem, ficcional, simbólica, imaginativa e ancorada em bases
documentais conscientes. Dessa forma, do discurso de António Lobo Antunes estaria surgindo uma “Nova
História” portuguesa lida e (ou) escrita pela Literatura.

2. Método
O trabalho foi elaborado de acordo com duas etapas. A primeira delas consistiu na coleta de dados,
com Leitura, compreensão e fichamento de textos críticos que teorizem acerca da relação entre Literatura e
História, bem como sobre a intertextualidade; nesta etapa, houve também a leitura teórico-crítica do romance
escolhido como corpus, além da leitura teórico-crítica de textos históricos. A segunda etapa consistiu na
análise dos dados, com a análise de As Naus, comparação desta obra com textos históricos, interpretação dos
dados e redação do relatório final.

*
Autor Correspondente: rodrigo.c.machado@ufv.br
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3. Resultados e Discussão
A Revolução dos Cravos foi um grande momento histórico-cultural para Portugal, na medida em que
este se libertou de um regime opressor – o salazarista -, que obrigava a todos a se submeterem a uma política
subversiva, principalmente, porque durante o período caracterizado pelo Salazarismo o Estado e a Igreja -
duas entidades caracteristicamente dominadoras – se uniram para controlar todas as esferas da vida
portuguesa. Este período, em que se identifica o salazarismo português, foi altamente marcado pela repressão
e pela censura. No que diz respeito aos pensadores, filósofos e escritores, não era tolerado nenhum tipo de
oposição em relação ao novo governo estabelecido no poder.
A literatura e os meios artísticos em geral sofreram represálias durante o momento relacionado ao
governo ditador em Portugal, o historiador Lincoln Secco (2004, p. 95) nos aponta ações relacionadas à
censura:

As manifestações de descontentamento, na área da cultura e da política, existiram e


exerceram seu impacto na opinião pública. Mas era, essa crítica urbana e diminuta
e quase sem nenhum poder de pressão. Quando algum intelectual levantava a voz
contra o regime, era severamente punido.(...) É verdade que controlava a
Universidade [o governo] e usava o instrumento da censura.

A única saída vista pelos intelectuais para expressarem seu descontentamento com o governo era
escrever de forma metafórica, como ocorria. E mesmo antes da rebelião populacional, os autores lusitanos já
manifestavam seu descontentamento em relação ao regime em seus escritos, de forma plurissignificativa e
metafórica para obterem a concessão de circulação de seus livros (e idéias), e, para que dessa maneira os
leitores pudessem interpretar as idéias implícitas nas obras.
Há um outro agente de inegável importância para que o povo se rebelasse contra o salazarismo: que é o
fato dos homens portugueses – inclusive jovens – terem sido obrigados a ir para a África guerrear com as
colônias que pertenciam a Portugal, para que estas não obtivessem independência. Estes mesmos homens
não entendiam o porquê dessa luta, para eles era uma guerra sem sentido, que visava resguardar interesses do
governo do país e não realmente da população. Eunice Cabral (2002, p. 367) afirma que:

Desde o seu início, esta guerra acentua a clivagem entre governantes e governados
numa situação em que os primeiros persistem num entendimento anacrónico da
revolta africana e os segundos vão percebendo progressivamente que a guerra
declarada é um empreendimento voltado ao fracasso porque funciona dentro de
uma lógica (a da visão colonialista) que há muito perdeu a legitimidade num
contexto mais vasto que o nacional .

O regime ditatorial Salazarista e suas ações, juntamente com a guerra empreendida por Portugal contra
as colônias na África, combate esse que não havia propósitos contundentes, alimentaram o descontentamento
de grande parte da população portuguesa com o governo vigente. Essa insatisfação populacional
desencadeou um movimento rebelde e contrário ao governo, que alcançou seu clímax no dia 25 de Abril de
1974, desencadeando a Revolução dos Cravos.
A Revolução dos Cravos representou um dos grandes momentos histórico-culturais para Portugal, na
medida em que o libertou de um regime opressor – o salazarista -, que obrigava todos a se submeterem na
política subversiva, principalmente, porque neste regime ditatorial o Estado e a Igreja - duas entidades
caracteristicamente dominadoras – se uniram para controlar todas as esferas da vida portuguesa. Este
período, em que se identifica o salazarismo português, foi altamente marcado pela repressão e pela censura.
Após a Revolução de Abril, a narrativa buscou se opor aos fatos históricos, aos acontecimentos e fez
isso na medida em que desmentia o que a História antes havia postulado como o correto e definitivo. E nos
perguntamos por que é que a ficção buscou desmentir a História? Uma resposta plausível e aceitável, a qual
António Apolinário Lourenço (1991) se refere, consiste no fato de que as pessoas principiaram a perceber
que a História oficial disseminada pela ditadura era passível de uma dura desconstrução. Após abril de 1974
houve necessidade de se buscar verdades mais condizentes com a realidade daquele país e que explicassem,
de certa forma, todo aquele tempo ao qual os portugueses se subordinaram ao regime salazarista.
Neste contexto, os autores portugueses iniciam a escrita de Metaficções Historiográficas – uma
definição criada por Linda Hutcheon (1991) para caracterizar as narrativas de tema histórico nascidas no
contexto pós-contemporâneo. A metaficcção nasce da junção da literatura e da História, consistindo no ato
de repensar o fato histórico e buscar um novo sentido à História anteriormente conhecida.
Hutcheon (1991, p. 144) afirma que:

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A interação do historiográfico com o metaficcional coloca igualmente em


evidência a rejeição das pretensões de representação “autêntica” e cópia
“inautêntica”, e o próprio sentido da originalidade artística é contestado com tanto
vigor quanto a transparência da referencialidade histórica.

A literatura constatou certa falência em relação à História o percurso trilhado pela ficção portuguesa
posterior a 1974, é também o percurso, nem sempre isento de indecisões, das tentativas de instaurar
estratégias de representação literária adequadas a certa e inevitável confrontação com a História, isso fez com
que houvesse um constante diálogo entre elas.
A narrativa buscou se opor aos fatos históricos, aos acontecimentos e fez isso na medida em que
desmentia o que a História antes havia postulado como o correto e definitivo. E nos perguntamos por que é
que a ficção buscou desmentir a História? Uma resposta plausível e aceitável, a qual António Apolinário
Lourenço (1991) se refere, consiste no fato de que as pessoas principiaram a perceber que a História oficial
disseminada pela ditadura era passível de uma dura desconstrução.
As obras Lobo-antunianas pós-74 passaram a ser particularmente “significativas enquanto veículo de
divulgação de sentidos ideológicos (REIS, 2005). Ideológicos na medida em que o discurso é portador de
sentidos que podem ser lidos histórica e socialmente. Na ficção deste autor, ele “vai, pouco a pouco, fazer
emergir um continente, uma realidade que é ao mesmo tempo nossa e uma realidade universal, a partir de
uma visão carnal, concreta, que tem o seu apoio no presente e no tempo presente” (LOURENÇO, 2002, p.
350).
Em As Naus (1988), encontramos uma releitura do processo histórico, mediante a qual a experiência
do ser humano com a temporalidade é recriada/ reinventada a partir de documentos, afim de que haja novas
possibilidades de repensar Portugal pós-colonial. Essa é uma obra elaborada a partir das possibilidades que o
texto ficcional tem de fingir ou de criar uma maneira de lidar com o tempo.
A importância do romance Lobo-Antuniano em questão é inegável para a Literatura e História
portuguesa, pois relata as memórias de um autor que viveu em meio à guerra e pode vislumbrar o sofrimento
dos retornados ao desembarcarem em sua terra pátria. Tal fato nos permite afirmar que a leitura desta obra é
imprescindível e a será ainda mais no futuro para aqueles que queiram estudar e conhecer este período
trágico pelo qual Portugal e sua população passaram.
Em As Naus, praticamente o mar não possui tanta visibilidade como se espera até mesmo pelo próprio
título da obra, mas são confrontadas duas terras, a história passada e a contemporânea também são acareadas,
o presente desolador recebe reflexões sobre o passado que é responsável por seu acontecer.
Viagem tal vez não seja a palavra que diretamente possa ser relacionada a esta narrativa de viagem, e
sim naufrágio. Naufrágio de um país que caiu em decadência, naufrágio de uma História de conquistas.
Portugal necessitava de se repensar de revisitar seu momento de colonialismo para se reconstruir em meio a
entulhos e desolação.
Lobo Antunes apresenta, nesta obra, uma percepção cômica e humorística da situação de Portugal no
contexto de independência das colônias africanas e de pós-Revolução dos Cravos, figuras historicamente
conhecidas por sua trajetória de grandeza retornam como mais um dentre os demais. A História não foi
suficiente para livrar tais seres da decadência que a todos atinge. Essa carnavalização discursiva n’As Naus
vem de certa forma brincar com uma História triste, e ao mesmo tempo essa brincadeira, aparentemente
inocente, consegue atingir o ponto fraco dos portugueses, que seria a identidade imperial perdida.
O resumo poderá conter ilustrações (compostas por figuras, gráficos, diagramas esquemáticos, fotografias ou
tabelas). As fotografias deverão ser digitalizadas com resolução máxima de 500 dpi. Os gráficos, diagramas
esquemáticos, figuras e/ou fotografias) devem conter legendas com título em itálico, sendo os números das
mesmas escritos em negrito, precedido da palavra abreviada Fig. As legendas das tabelas deverão seguir o
mesmo padrão, precedido da palavra abreviada Tab.:

4. Conclusão
O romance analisado não tem compromisso com a História e vale-se da criatividade, imaginação e
subjetividade em sua elaboração, porém, sabemos que a História de alguma maneira o cerceia e faz com que
haja efetivamente o ato de se repensar o passado ajuizando na História futura que se constrói ainda hoje em
Portugal.
Dessa forma, não há como observarmos que a intersecção entre o presente e o passado é constante
nesta obra Lobo-Antuniana, não só em relação às figuras que retornam no presente, que discutem o passado,
mas também em relação á cronologia, ao espaço geográfico e à grafia de algumas palavras, como reyno e

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Lixboa, que aparecem escritas na contemporaneidade de maneira arcaica, remetendo de maneira direta ao
tempo remoto da civilização portuguesa.
Sendo assim, a importância deste romance para a História portuguesa é inegável, pois relata as
memórias de um autor que viveu em meio à guerra e pode vislumbrar o sofrimento dos retornados ao
desembarcarem em sua terra pátria. Tal fato nos permite afirmar que a leitura desta obra é importante e a será
ainda mais no futuro para aqueles que queiram estudar e conhecer este período trágico pelo qual Portugal e
sua população passaram.
Em As Naus, praticamente o mar não possui tanta visibilidade como se espera até mesmo pelo próprio
título da obra, mas são confrontadas duas terras, a história passada e a contemporânea também são acareadas,
o presente desolador recebe reflexões sobre o passado que é responsável por seu acontecer.
Viagem tal vez não seja a palavra que diretamente possa ser relacionada a esta narrativa de viagem, e
sim naufrágio. Naufrágio de um país que caiu em decadência, naufrágio de uma História de conquistas.
Portugal necessitava de se repensar de revisitar seu momento de colonialismo para se reconstruir em meio a
entulhos e desolação.
Lobo Antunes apresenta, nesta obra, uma percepção cômica e humorística da situação de Portugal no
contexto de independência das colônias africanas e de pós-Revolução dos Cravos, figuras historicamente
conhecidas por sua trajetória de grandeza retornam como mais um dentre os demais. A História não foi
suficiente para livrar tais figuras da decadência que a todos atinge. Essa carnavalização discursiva n’As Naus
vem de certa forma brincar com uma História triste, e ao mesmo tempo essa brincadeira, aparentemente
inocente, consegue atingir o ponto fraco dos portugueses, que seria a identidade imperial perdida.
As Naus é uma obra, em que o autor conseguiu refletir sobre a nova condição portuguesa pós-colonial,
para dessa forma, dentre outras coisas, ajudar na busca de uma nova identidade portuguesa que deveria ser
construída, sem esquecer o passado, porém o tendo como maneira de se refletir acerca dos erros e acertos
para a construção de um presente ainda melhor. O autor não contemplou nenhum personagem como única
voz a se manifestar durante a narrativa, mas pelo contrário ele fez com que visões variadas, pontos de vista
distintos fossem contemplados, pois, somente através da discussão e reflexão acerca de distintas formas de
ver o mundo haveria como reabilitar um país em crise

Referências
ANTUNES, António Lobo. As Naus. 4ª ed. Lisboa: Dom Quixote, 2000.
CABRAL, Eunice. Experiências de alteridade (A Guerra Colonial, a Revolução de Abril, o Manicômio e a
Família). In:__. CABRAL, Eunice; JORGE, Carlos, J. F; ZURBACH, Christine. (org). A escrita e o mundo
em António Lobo Antunes: actas do Colóquio Internacional António Lobo Antunes da Universidade de
Évora. 1ª ed. Évora. Publicações Dom Quixote: 2002. p.363 – 378.
LOURENÇO, António Apolinário. História, ficção e ideologia: Representação ideológica e
pluridiscursividade em Memorial do Convento. In: Vértice 42/ Setembro 1991, P.71
REIS, Carlos. História crítica da literatura portuguesa.Do neo-realismo ao Post-modernismo.Lisboa: Verbo,
2005.
ROANI, Gerson Luiz. No limiar do texto: Literatura e História em José Saramago. São Paulo: Annablume,
2002.
SECCO, Lincoln. A Revolução dos Cravos e a Crise do Império colonial português: economias, espaços e
tomadas de consciência. São Paulo: Alameda, 2004.
SEIXO, Maria Alzira. Os romances de António Lobo Antunes. Lisboa: Dom Quixote, 2002.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

“LÊ” OU “EU GOSTARIA QUE VOCÊ LESSE”?: AS ESCOLHAS TEXTUAIS NA


PRODUÇÃO DE BILHETES INFANTIS
1
Tafarel Schmitt
Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS

1. Introdução
O presente estudo integra o projeto de pesquisa A co-construção de narrativas na família e na escola,
coordenado pela professora Ana Maria Stahl Zilles e desenvolvido em Santa Maria do Herval. Nosso
objetivo, com este trabalho, é analisar bilhetes de recomendação de livros escritos por crianças, observando
se há diferenças textuais em função do leitor-destinatário e, se sim, como ela se manifesta discursivamente.
Esta pesquisa foi realizada a partir da Roda dos Livros, uma das atividades do projeto acima
mencionado. Basicamente, a Roda consistia em visitas quinzenais ou mensais a 18 famílias da localidade do
estudo. Nessas visitas, tínhamos como objetivos garantir às crianças participantes o acesso a livros, bem
como incentivar a leitura e a escrita como processos sociais. Para tanto, durante as visitas, emprestávamos
um novo livro para cada criança e recolhíamos o que tinha ficado emprestado desde a visita anterior. O livro
a ser recolhido era objeto de uma conversa com a criança envolvendo suas impressões e interpretação da
história, bem como as atividades de leitura realizadas com o livro no âmbito da família. Durante essa
conversa, propúnhamos às crianças a escrita de um bilhete de recomendação de leitura dirigido a outro
participante da Roda dos Livros. É sobre esses bilhetes que recai o foco do presente trabalho.

2. Método
A produção dos bilhetes de recomendação de livros era sempre feita com o apoio do membro do grupo
de pesquisa que estava na visita. O primeiro passo consistia em propor sua escrita à criança, levando em
conta o que nos tinha dito sobre ter apreciado o livro, sobre sua importância ou sobre a beleza ou criatividade
das ilustrações. Caso a criança aceitasse, pedíamos que escolhesse outro participante da Roda como leitor-
destinatário e escrevesse seu bilhete recomendando o livro que ela estava devolvendo e que tinha sido objeto
da conversa realizada anteriormente. Caso a criança não soubesse escrever, atuávamos como escribas
enquanto ela dizia oralmente o que gostaria que fosse escrito. Do contrário, ela mesma se encarregava de
escrever. A produção do bilhete contava sempre com nossa ajuda, principalmente através de perguntas que a
levavam a fazer escolhas textuais que julgasse adequadas em função de para quem ela estava escrevendo e
com que objetivo. Também fazíamos perguntas que a ajudassem a identificar motivos para a recomendação.
Depois, ao visitar o leitor-destinatário, lhe entregávamos o bilhete juntamente com o livro lido, sendo ambos
lidos pela criança para que, posteriormente, ela escrevesse uma resposta e fizesse a recomendação de outro
livro, sempre com nosso apoio. Após as visitas, fazíamos anotações sobre a interlocução que tínhamos tido
com cada criança.
Todos os bilhetes foram escaneados, digitalizados e arquivados no projeto antes de serem entregues
aos seus destinatários, constituindo o acervo aqui estudado.
Na análise, examinamos as saudações e despedidas, bem como os enunciados que continham as
recomendações propriamente ditas. Fizemos um levantamento de todas as ocorrências dessas categorias,
identificando também, para cada uma, a estratégia discursiva mais freqüente, com a finalidade de subsidiar
nossa reflexão sobre o papel do leitor pretendido nas escolhas do autor do bilhete. A análise também
considera holisticamente o processo de produção do bilhete, observando como se deu sua co-construção e o
papel de mediador desempenhado pelo membro da equipe de pesquisa.
Todas as crianças receberam pseudônimos, a fim de preservar suas identidades na análise e
apresentação dos resultados.

3. Resultados e discussão
Ao analisar os bilhetes produzidos, pudemos perceber que grande parte deles é constituída de três
partes principais: uma saudação, um texto no qual se encontra a recomendação e uma despedida. Essa
estrutura era sugerida (por partes e através de perguntas) pela equipe de pesquisa, particularmente quando a
criança mostrava dificuldade em conceber o bilhete. A análise de cada parte demonstrou que as crianças
levaram seu leitor em consideração no momento da escrita, já que adequaram a ele o seu discurso. Tanto nas
saudações, quanto nas recomendações e nas despedidas, há diferenças textuais que são associadas com o
destinatário do bilhete e com a relação existente entre autor e leitor [1]. Como exemplo, temos dois bilhetes
produzidos por Lara, um para Josué e outro para Isaías. No bilhete escrito para Josué (Fig. 1), Lara se

1
Tafarel Schmitt: taphareu.schmitt@yahoo.com.br
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

despede apenas com “De” e assina. Essa forma de despedida está associada com a relação que ela tem com
seu interlocutor, que não é de intimidade, já que os dois se conhecem apenas de vista. De maneira diferente,
no bilhete escrito pela menina para Isaías (Fig. 2), que é seu colega de aula e, assim, um conhecido mais
próximo, ela se despediu com a expressão “Um abraço de sua amiga” e assina.

Fig. 1: Bilhete produzido por Lara para Josué Fig. 2: Bilhete produzido por Lara para Isaías

As formas de recomendação, de semelhante maneira, são várias, e o uso de cada uma parece ter sido
influenciado pela relação entre autor e leitor. Os enunciados que consistiam nas recomendações
propriamente ditas foram analisados conforme a Teoria dos Atos de Fala [2]. Dentre as formas utilizadas, há
a expressão “Lê”, um diretivo explícito (imperativo) que tem, a priori, alto grau de imposição, ao lado da
expressão “Eu gostaria que você lesse”, que é, a priori, um ato diretivo atenuado [2]. A análise revela que a
escolha de uma ou outra forma dependeu de quem era o leitor do bilhete e da relação que as duas crianças
mantêm. Como exemplo, temos um bilhete escrito por Leonice para seu primo William (Fig 3), no qual ela
elabora sua recomendação com a expressão “Lê”. Como se trata de primos que têm uma relação bastante
íntima, pois se visitam e brincam juntos, a expressão “Lê”, mesmo sendo um imperativo, não desempenha
esta função nesse contexto, já que a relação entre autor e leitor é simétrica e de intimidade, permitindo seu
uso sem tornar-se uma inescapável imposição. Já no bilhete escrito por Lara para Josué (Fig. 1), a menina faz
a recomendação com “Eu quero recomendar”. Como dito anteriormente, Lara e Josué se conhecem apenas de
vista, situação que pede uma forma mais atenuada que o imperativo na recomendação.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Fig. 3: Bilhete escrito por Leonice para William

Com estes resultados, podemos perceber que as crianças perceberam a importância do leitor no
discurso [3] e, desta maneira, fizeram escolhas textuais adequadas a cada um em função da imagem do
destinatário do bilhete que eles tinham em sua mente [4].

4. Conclusão
A análise dos bilhetes demonstra que as crianças levaram seu leitor em consideração no momento da
escrita, pois há diferenças textuais entre os bilhetes em função de quem escreveu para quem e qual é a
relação que estas crianças têm entre si. Essa adequação ao leitor pode ser associada com as perguntas que o
integrante do grupo de pesquisa fazia às crianças durante o processo de escrita, levando-as a refletir sobre
para quem elas estavam escrevendo e, assim, levando-as a compreender que o leitor é, em certa medida,
constitutivo do texto.

Referências
[1] FARACO, Carlos Alberto. Interação e linguagem: balanço e perspectivas. Calidoscópio. São Leopoldo,
v. 3, n. 3, p. 214-221, set./dez. 2005.
[2] WILSON, Victoria. Motivações pragmáticas. In.: MARTELOTTA, Mário Eduardo (org.). Manual de
linguística. São Paulo: Contexto, 2008. p. 87-110.
[3] SCHEUWLY, B,; DOLZ, J.; NOVERRAZ, M. Sequências didáticas para o oral e a escrita: apresentação
de um procedimento.. In.: ______________. Gêneros orais e escritos na escola. Campinas: Mercado de
Letras, 2004. p. 95-128.
[4] BRITTO, Luiz Percival Leme. Em terra de surdos-mudos: um estudo sobre as condições de produção de
textos escolas. In.: GERALDI, João Wanderley (Org.). O texto na sala de aula. São Paulo: Ática, 1999. p.
117-126.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

LETRAMENTO: UMA REVISÃO CONCEITUAL1

Janete Teresinha Arnt1; Sofia Uberti 2*; Thaiane Socoloski3


1
Bolsista CAPES - Programa de Pós-Graduação em Letras - Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
2
PIBIC/CNPq Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
3
Bolsista CAPES Programa de Pós-Graduação em Letras - Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)

1. Introdução
Atualmente, é comum que professores de línguas se deparem com o termo letramento em documentos
oficiais do MEC, livros didáticos ou artigos acadêmicos. Se fizermos uma busca no Google, por exemplo,
encontraremos mais de 200.000 textos sobre letramento, sob diferentes enfoques: digital/eletrônico, escolar,
científico, midiático, literário, jurídico, infantil, visual, entre outros.
As Orientações Curriculares para o Ensino Médio – Linguagens, Códigos e suas Tecnologias (2006)
apresentam uma seção específica sobre letramento nos Conhecimentos de Línguas Estrangeiras. Conforme
esse documento norteador das práticas educativas no contexto brasileiro, o conceito de letramento na
atualidade ultrapassa a noção de “mera aquisição de uma tecnologia” (BRASIL 2006, p. 99), como, por
exemplo, a escrita alfabética, para atingir a noção de relação dialética entre língua e cultura, ou seja, “modos
culturais de usar a linguagem” (Idem, p. 98). De acordo com essa perspectiva, “passou-se a perceber que a
escrita não pode ser vista de forma abstrata, desvinculada do contexto de seus usos e de seus usuários”
(Idem, p. 100), ou seja, deve-se considerar o âmbito das práticas discursivas nas quais a escrita desempenha
algum papel. Isso implica que as formas de cada língua variem de acordo com as comunidades de prática
específicas, seus usuários, o contexto de uso da linguagem e a finalidade da interação (Idem, p. 101 - 102),
nas diferentes esferas de comunicação (por exemplo: profissional, mediada por computador, etc.). Ainda,
“cada uma dessas „comunidades de prática‟ adapta, organiza e produz um conjunto específico de usos de
linguagem, de valores e crenças que a distingue de outros grupos” (Idem, p. 103) e isso deve ser considerado
no trabalho com linguagem sob a perspectiva de letramento
Recentemente, a noção de letramento enquanto um princípio norteador das práticas pedagógicas tem sido
transferida dos documentos oficiais para os livros didáticos. Um exemplo disso é um livro didático lançado
recentemente (Dias et al., 2010) que em seu guia para o professor defende que letramento crítico “pode ser
visto como uma prática educacional que enfatiza as relações entre textos e situações de aprendizagem e as
visões mais amplas sobre o mundo e a posição do aluno frente ao global e ao local” (p. 7). Os autores
argumentam que o processo de ensino e de aprendizagem de línguas deve fazer com que os alunos “vejam
fatos e situações sob diferentes pontos de vista, façam relações entre os contextos globais e locais; assumam
uma posição ética frente às diferenças e aprendam sobre si próprios e sobre os outros” (p. 7).
Entretanto, diante dessas afirmações, ainda nos questionamos: O que é de fato letramento (Uma
habilidade? Um conjunto de habilidades? Um processo?)? Quais outros conceitos estão relacionados com o
conceito de letramento? Em que medida o conceito de letramento influencia a visão de escrita/leitura, língua,
gramática por professores e alunos?
A partir da busca de respostas a esses questionamentos, visamos contribuir para esclarecer a relevância
da noção de letramento para a prática pedagógica de ensino de línguas, ao investigar o conceito de
letramento em publicações de pesquisas na área de Lingüística Aplicada no Brasil e no exterior.

2. Da alfabetização ao letramento: perspectivas conceituais


Para respondermos as perguntas propostas na introdução, discutimos aqui diferentes conceitos de
letramento propostos por alguns autores contemporâneos, tais como Tusting (2000), Matencio (2009),
Schlatter (2009), Soares (2002), Sanches (sd), Ulhôa; Gontijo; Moura, (2008), os quais propõem reflexões
acerca das práticas de letramento no ensino de línguas. Alguns autores (Carvalho, 2009; Ulhôa; Gontijo;
Moura, 2008; Soares, 2009) têm diferenciado os termos alfabetização e letramento. Esses autores
preocupam-se em demonstrar em que medida o termo letramento vai além da noção de alfabetização.
Alfabetização, para Carvalho (2009), seria a “aprendizagem inicial de leitura e escrita, isto é, a ação de
ensinar o código alfabético, ou seja, as relações entre letras e sons” (p. 65). Para essa autora, a maioria das
escolas promove alfabetização, ou seja, os alunos são capazes de decodificar o sistema da língua, mas não
conseguem agir em sociedade utilizando o código da língua, enquanto indivíduos letrados. A autora sugere
gêneros textuais que podem ser utilizados em sala de aula para que ao mesmo tempo em que o aluno é
alfabetizado, impreterivelmente ele já esteja aprendendo a agir por meio da linguagem, entendendo e

1
Este trabalho é desenvolvido com apoio da bolsa PQ/CNPq, nº 301963/2007-3 Análise crítica de gêneros com foco em
popularização da ciência (Motta-Roth, 2007).
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questionando ideologias, aprendendo a forma como os textos se organizam e tendo contato com diferentes
gêneros que constituem e organizam a vida em sociedade (p. 69-70).
Já Tfouni (1988, p. 16 apud Soares, 2009, p. 144) relaciona alfabetização com tudo o que é relacionado à
aquisição da escrita no âmbito individual, enquanto “o letramento focaliza os aspectos sócio-históricos da
aquisição de um sistema escrito por uma sociedade”, ou seja, no âmbito social.
A partir disso, podemos concluir que letramento vai além do ensino de leitura e escrita, ou seja, além da
aprendizagem formal que acontece na maioria das escolas atualmente. Esses autores também acreditam ser
possível que o ensino escolar transcenda a alfabetização e promova, ao mesmo tempo, o letramento. Posto
isso, a seguir apresentaremos um recorte da revisão da literatura a partir de diferentes estudos sobre
letramento.
Tusting (2000), ao discutir os novos estudos de letramento propõe um conceito de letramento situado
historicamente, sendo letramento “a set of social practices [that] can be inferred from events which are
mediated by written texts” (p.39). A autora defende que a escrita é intrínseca às práticas letradas e que, a
partir da mediação pela escrita, as práticas de letramento se tornam cíclicas: a cada instante as práticas
mudam e novas práticas surgem a partir de ações formais (p. ex. a educação) e informais (p. ex. a vida
cotidiana).
Por sua vez, Matencio (2009) também considera a inter-relação entre letramento, aspectos sociais –
“letramento se refere às práticas sociais em que se recorre à escrita” (Kleiman, 1995 apud Matencio, 2009,
p.7) e cognitivos – letramento como a “condição que o sujeito tem de ler e escrever” (Soares, 1999 apud
Matencio, 2009, p.7). Esse último aspecto aponta para o âmbito individual do sujeito. Sendo assim, ela
considera que “as formas de socialização influem no processo de letramento” e defende uma posição de
equilíbrio entre essas duas formas de pensar letramento para que nenhum aspecto seja privilegiado em
detrimento de outro2. Essa é a condição para o indivíduo agir em sociedade.
A próxima autora, Soares (2002), conceitua letramento como práticas sociais que envolvem a escrita e a
leitura, e considera o sujeito letrado como agente atuante nas práticas sociais. A partir da relação entre os
conceitos de letramento de Kleiman (1995) e Tfouni (1988), Soares afirma que esses autores não só
evidenciam o caráter social da noção de letramento enquanto práticas sociais de escrita e de leitura, seus
usos, funções e impactos sociais, mas também enfatizam o letramento enquanto conseqüência sócio-histórica
da escrita na sociedade. A partir desse levantamento, Soares defende que letramento é “o estado ou condição
de indivíduos ou de grupos sociais de sociedades letradas que exercem efetivamente as práticas sociais de
leitura e de escrita, [e] participam competentemente de eventos de letramento” (p.145).
Para Gee (apud Sanches, sd, p.7), letramento é conceituado como

um conjunto de práticas do discurso, ou seja, como formas de uso da linguagem e


de fazer sentido tanto na fala como na escrita. Essas práticas discursivas estão
ligadas a visões particulares de mundo (crenças e valores) de grupos sociais ou
culturais específicos.

Esse conceito amplia a visão de letramento para incluir as práticas discursivas orais, o que nos parece
plausível, uma vez que podemos fazer parte de práticas sociais especificamente orais. Apesar de a escrita ser
considerada pelos autores como sendo intrínseca ao letramento, existem práticas sociais que são mediadas
somente pela linguagem oral e não envolvem a escrita como tecnologia mediadora da prática social.
Nessa mesma perspectiva, Ulhôa; Gontijo; Moura, (2008), ao citarem Macedo (2005), afirmam que
letramento é “um fenômeno situado dentro de contextos sociais e inter-relacionados com outros sistemas
simbólicos, como o verbal, o visual e o gestual, assinalados por diferenças na distribuição de poder”(p.3).
Sob essa perspectiva, os autores assumem um posicionamento considerando não somente a escrita e a leitura
como um aspecto do letramento, mas também a oralidade.
Ao relacionar os conceitos de letramento aqui levantados com a prática pedagógica, concordamos com
Schlatter (2009) quando a autora afirma que “o ensino de LE na escola deve focalizar atividades que
promovam o letramento, ou seja, a participação em diferentes práticas sociais que envolvem a leitura e a
escrita na língua materna e na LE” (p. 11). A partir disso, o aluno se torna capaz de engajar-se nas práticas
letradas por meio do uso da língua, de acordo com a sua realidade e, portanto, se torna capaz de participar
efetivamente do mundo e de suas escolhas. Nesse sentido, Schlatter defende que no contexto de sala de aula,

uma forma de promover um ensino que vise ao letramento seja através de tarefas
pedagógicas com base na unidade gênero do discurso, isto é, situações de

2
“Agradecemos à colega Anelise Scotti Scherer por levantar essa discussão a partir do artigo de Matencio (2009).
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

comunicação (cotidianas e institucionais) com diferentes propósitos e


interlocutores, em determinadas condições de produção e recepção (p. 12).

O uso de gêneros discursivos para que se promova o engajamento do aluno nas práticas letradas é
defendido por autores como Schlatter, 2009 e Motta-Roth, 2008 e existem alguns livros didáticos que se
emprenham em explorar diferentes gêneros textuais bem como atividades que desenvolvam a percepção das
diferentes práticas sociais do dia-a-dia do aluno. Pretendemos, em pesquisas futuras, investigar em que
medida os materiais didáticos de línguas estrangeiras exploram a noção de gêneros discursivos para
promover letramento.

3. Considerações finais
A partir desse recorte da literatura acerca do conceito de letramento, podemos concluir que esses autores
concordam que a noção de letramento vai além da noção de alfabetização e está intimamente ligada ao papel
da linguagem nas práticas sociais. Esse levantamento mostrou que letramento não se restringe à habilidade
de decodificar a língua, mas também a habilidade de interpretar as ideologias que perpassam o texto, quem
interage por meio da linguagem e com qual propósito. Desse modo, a prática de letramento deverá contribuir
para 1) tornar o cidadão consciente da realidade; 2) promover transformação; 3) dar acesso
(Sanches, sd, p. 15).
Essa concepção vai ao encontro da noção de gêneros discursivos como “usos [recorrentes] da linguagem
associados a atividades sociais” (Motta-Roth, 2008, p. 350). Essa percepção inclui o conceito de texto como
“instância de uso da linguagem viva que está desempenhando um papel em um contexto de situação”
(Halliday, 1989 apud Motta-Roth; Heberle, 2005). Em termos de ensino, ao propor atividades a partir de
gêneros discursivos do contexto de vivências dos alunos, o professor poderá promover letramento ao
questionar, por exemplo, as condições de produção, distribuição e consumo de determinado texto:

Para cada uso de linguagem é importante planejar atividades que visem a reconhecer
a situação de comunicação (quem fala, para quem, em que contexto, em que veículo,
com que objetivo, etc.) e que focalizem atividades de compreensão e reação ao
texto, coerentes com o gênero discursivo em pauta (Schlatter, 2009, p. 14).

O conceito de letramento como prática discursiva também dialoga com a Análise Crítica do Discurso
(ACD) de Fairclough (1989), a qual propõe que se tenha posicionamento crítico quanto às ideologias na
relação entre linguagem e poder. Nessa perspectiva, acreditamos que não seja necessário utilizar o termo
letramento “crítico”, uma vez que a noção de criticidade parece estar intrínseca à de letramento.
Por fim, concluímos que a noção de letramento, associada à de gêneros discursivos e à ACD, pode
oferecer grandes contribuições ao ensino de línguas e à visão de linguagem por parte de professores e alunos.
No momento em que estiver clara e compartilhada a noção da relação dialética entre linguagem – sociedade -
ensino, estaremos a um passo de pensar em ações efetivas para implementação da proposta das Orientações
Curriculares Nacionais (BRASIL, 2006).

Referências

BRASIL, SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA. Linguagens, códigos e suas tecnologias.


Orientações curriculares para o ensino médio, volume 1. Brasília: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO,
2006.

CARVALHO, M. Alfabetizar e letrar – um diálogo entre a teoria e a prática. Petrópolis, RJ: Vozes,
2009.

DIAS, R.; JUCÁ, L.; FARIA, R. Prime – Inglês para o Ensino Médio. Macmillan, 2010.

FAIRCLOUGH, N. Language and Power. London: Longman, 1989.

632
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

MATENCIO, M.L.M. Estudos do letramento e formação de professores: retomadas, deslocamentos e


impactos. Calidoscópio, São Leopoldo, v. 7, n. 1, p. 5-10, 2009.

MOTTA-ROTH, D. Análise crítica de gêneros: contribuições para o ensino e a pesquisa de linguagem.


D.E.L.T.A., vol 24, n. 2, p. 341-383, 2008.

_____. & HEBERLE. V. M. O conceito de “estrutura potencial do gênero” de Ruqayia Hasan. In: Meurer, J.
L.; Bonini, A.; Motta-Roth, D. (Orgs.). Gêneros: teorias, métodos e debates. 1ª ed. São Paulo, SP: Parábola
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SANCHES, L. O ensino da língua inglesa na escola pública: práticas de letramento. S.d. Disponível em:
<http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/2063-
8.pdf?PHPSESSID=2010011509330088>. Acesso em: 13 jul. 2010.

SCHLATTER, M. O ensino de leitura em língua estrangeira na escola: uma proposta de letramento.


Calidoscópio. v. 7, n. 1, 2009, p. 11-23

SOARES, M. Novas práticas de leitura e escrita: letramento na cibercultura. Educ. Soc. , Campinas, vol. 23,
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TUSTING, K. The new literacy studies and time: na exploration. In: ___ BARTON, D; HAMILTON, M;
IVANIC, R. Situated literacies: Reading and Writing in Context. London: Routledge, 2000. Cap 3.

ULHÔA, E.; GONTIJO, F.; MOURA, D. Alfabetização, letramento e letramento científico. In:
SEMINÁRIO DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA, 1., 2008, Belo Horizonte. Anais
Online... Belo Horizonte: CEFET, 2008. Disponível em:
<http://www.senept.cefetmg.br/site/principal/anais_on_line/terca_tema1.html>. Acesso em: 11 jul. 2010.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

LEVANTAMENTO, ESTABELECIMENTO DE TEXTO E ANÁLISE DAS PEÇAS DE


ABÍLIO PEREIRA DE ALMEIDA (CEDAE / IEL).

Gabriela Soares Über*


Universidade Estadual de Campinas

1. Introdução
Abílio Pereira de Almeida foi diretor, autor e ator de teatro e cinema brasileiros, além de reconhecido
advogado. Seu nome está diretamente ligado ao Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) como um de seus
fundadores, e no qual exerceu por dez anos a função de primeiro secretário e também de diretor artístico, em
1957. Sobre o TBC, Décio de Almeida Prado, oito anos após a sua fundação, comenta:

A história do teatro profissional em São Paulo é curta: tem 8 anos de idade,


precisamente a idade do Teatro Brasileiro de Comédia. Compreender o TBC, portanto, é de
certo modo compreender o próprio teatro paulista: foi à sombra dele que crescemos e nos
formamos todos, atores, críticos ou espectadores.1

O TBC estreou no dia 11 de outubro de 1948, com o drama A voz humana, de Jean Cocteau, encenado
em francês, e A mulher do próximo, segunda peça escrita por Abílio Pereira de Almeida. Apesar deste autor ter
escrito mais de vinte peças, encenadas por empresas diversas, seu reconhecimento como escritor teatral está
invariavelmente relacionado ao TBC, que pôs em cena cinco de seus textos dramáticos (A Mulher do Próximo,
Pif-Paf, Paiol Velho, Santa Marta Fabril S.A. e Rua São Luiz, 27-8º). No mesmo ano de estreia desta companhia
também foi inaugurada a Escola de Arte Dramática (EAD) de São Paulo, onde se reuniram os jovens intelectuais
paulistas, dispostos a constituir um maior embasamento crítico antes de fazer teatro. Abílio Pereira de Almeida,
porém, não se vinculou a este grupo e declarava, em depoimentos, que sua obra era baseada em sua própria
experiência de vida e de palco, não se considerando de maneira alguma um erudito. Este é um dos fatores da
crítica negativa às suas peças, em contraste com outras que estavam sendo realizadas na mesma época pelos
autores da EAD; grandes críticos como Décio de Almeida Prado e Sábato Magaldi consideravam suas peças
demasiadamente leves, pouco engajadas e muito parecidas entre si. Contudo, Abílio Pereira de Almeida
declarava preferir o sucesso de público ao sucesso de crítica:

(…) em geral, os críticos malhavam todas as minhas peças. Então eu achava que, como
as minhas peças faziam mesmo muito sucesso, modéstia à parte, e os críticos eram impiedosos, a
opinião da crítica, em matéria de teatro, estava dissociada do gosto do público. Mas como eu
estava fazendo sucesso, pouco ligava para a crítica, quer dizer, a crítica é que estava dissociada,
azar o dela, não é?2

Abílio Pereira de Almeida, nome praticamente desconhecido para a crítica teatral atual, fora uma figura
de extrema importância para a consolidação do teatro brasileiro, por estabelecer, juntamente com o Teatro
Brasileiro de Comédia (TBC), um público assíduo ao teatro. Pois apesar de a história teatral brasileira já existir
desde a época colonial, através do teatro do padre Anchieta e outros menos conhecidos, sua evolução fora
praticamente nula até o século XVIII; no século seguinte, houve um maior desenvolvimento teatral através de
ideias literárias e teatrais vindas do exterior, principalmente da França. Era comum os próprios estrangeiros
virem ao Brasil para apresentar espetáculos fiéis aos representados em seus países de origem. Todavia, apesar de
uma considerável quantia de peças apresentadas no Brasil, permanecia o problema de público; pois entre uma
chanchada e uma notável tragédia de Racine, o público preferia a primeira, causando o fracasso do teatro mais
elevado devido à falta de finanças, pois também não havia subsídio governamental. Com a criação do TBC, no
qual eram apresentadas peças de qualidade textual e cênica, com uma grande equipe de produção, houve essa
constância de público até então não existente no país, porém composto unicamente da camada financeiramente

*
gabrielauber@hotmail.com
1
PRADO, D. A. 1980, p.185.
2
ALMEIDA, A. P. In Depoimentos V. Rio de Janeiro: Serviço Nacional de Teatro, 1981, p.17.
1
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superior, devido ao elevado custo dos ingressos (necessário para cobrir a infraestrutura), que vinha de várias
cidades do interior de São Paulo para assistir os espetáculos.

O TBC logo assumiu um modelo interessante. Nada do que produziu foi inédito,
revolucionário, no sentido de criar novas trilhas. O que fez foi buscar os modelos que haviam
sido propostos pelos amadores na sua ânsia de renovação. (…) O TBC demonstrou que aquilo
que os amadores estavam propondo tinha espaço, público e receptividade naquele momento.
[…] Mudou-se a relação entre a burguesia e o teatro.3

A maioria das peças que faziam sucesso no TBC eram de autoria estrangeira, o que destaca ainda mais o
autor centrado neste ensaio, pois ele foi o autor brasileiro com maior número de peças encenadas no TBC, todas
com extremo sucesso de público. Quando outros autores brasileiros eram encenados, frequentemente havia
prejuízo para o TBC, motivo que desincentivava a produção de peças nacionais e privilegiava as estrangeiras.

Santa Marta Fabril S.A., de Abílio Pereira de Almeida, foi nosso maior êxito de
bilheteria, trazendo ao TBC de São Paulo um público de 45 mil pessoas, quando o
comparecimento habitual é de 25 mil, por espetáculo. Mas Abílio é uma exceção entre os autores
nacionais. Nenhuma outra peça brasileira deu resultado financeiro e as perdas variam entre 150 a
200 mil cruzeiros. Por isso apresentamos poucos textos nacionais.4

Além de seu nome estar estreitamente ligado ao TBC como um todo, alguns indivíduos exaltados pela
crítica até hoje já estiveram relacionados a ele. A atriz Cacilda Becker atuou em algumas de suas peças com
papéis centrais (A Mulher do Próximo, Paiol Velho e Em Moeda Corrente no País) e Dercy Gonçalves não só
atuou em algumas peças, mas chegou mesmo a dirigir uma delas (Dona Violante Miranda), que havia sido
dedicada a ela pelo autor. A peça Paiol Velho, além de contar com a atuação de Cacilda Becker, foi dirigida por
Ziembinski:

Paiol Velho marca (…) o primeiro grande trabalho de direção no TBC do ator e diretor
polonês Ziembinski, que fora contratado por Franco Zampari depois de ter dirigido vários
espetáculos teatrais no Rio de Janeiro, inclusive a célebre montagem, em 1943, da peça Vestido
de Noiva, de Nelson Rodrigues.5

Com relação ao conteúdo, percebe-se um caráter moralista em suas peças, uma tentativa de crítica social
ao apontar o que há de errado, porém sem que haja uma postura engajada numa busca por mudanças, não se
aproximando de um teatro de militância. Há quase que um conformismo por parte do autor com a sociedade; sua
função parece ser mais retratá-la com seus problemas, sem que haja uma condenação explícita que a insulte.
Abílio Pereira de Almeida apresenta como temáticas centrais a decadência da aristocracia paulista e a paralela
ascensão burguesa; a figura do imigrante e o preconceito da elite perante ele; o vício da elite pelos jogos de
apostas; e também retrata acontecimentos corriqueiros para a sociedade de sua época, todavia tabus: adultério,
prostituição, drogas, brigas entre pais e filhos, dentre outros.

2. Método
Concentrei-me para a presente pesquisa em esmiuçar o material que consta no fundo Abílio Pereira de
Almeida, doado pela filha do autor, Maria Luiza, para o Centro de Documentação Alexandre Eulálio
(CEDAE/IEL) da Universidade Estadual de Campinas, em 2004. Trata-se de um material primário, raro e único,
cujo potencial de pesquisa foi pouquíssimo explorado até o presente momento. A documentação preservada
inclui cartas, fotografias, reportagens, programas de peças, contratos, etc. O objetivo dessa pesquisa envolve o
trabalho com os textos teatrais, sendo que os demais documentos existentes foram eventualmente utilizados
como uma base para o estudo das peças.

3
GUZIK, A. 1994, p.196.
4
PRADO, D. A. 1980, p.162.
5
SIQUEIRA, S. 2002, p.56.
2
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Inicialmente desenvolveu-se a leitura de todas as peças do autor e seu respectivo fichamento, além de a
leitura de teses específicas acerca da obra do autor. Através do contato com manuscritos originais das peças,
realizou-se o estabelecimento e digitação de texto de cinco peças de Abílio Pereira de Almeida, as quais foram
representadas no Teatro Brasileiro de Comédia (Pif-Paf, Mulher do Próximo, Santa Marta Fabril S.A., Paiol
Velho e Rua São Luiz, n° 2- 8 andar). Para a realização desta etapa do estudo, pesquisou-se bibliografia
específica sobre biblologia.
Por último, desenvolveu-se um ensaio crítico sobre a obra do autor como um todo, focando-se nas peças
representadas no TBC. Foram abordados questões de conteúdo e gênero, além de aspectos bibliográficos do
autor que influenciaram em sua obra.

4. Conclusão
Abílio Pereira de Almeida foi um autor de demasiada importância para que tenha sido esquecido nos dias
de hoje. Com este trabalho, pretendeu-se recuperar sua obra através do levantamento de críticas feitas na época
em que o autor encenava suas peças e posteriores teses – que são poucas – sobre ele. Pretende-se ainda buscar a
publicação das peças que foram estabelecidas juntamente com o apoio da família do autor, em uma tentativa de
tornar a obra do autor mais acessível para o público de hoje. Isso porque apenas uma peça de Abílio Pereira de
Almeida fora publicada durante sua vida, e, somente em 2010, publicou-se um livro com três peças do autor,
sendo uma destas a que já havia sido publicada anteriormente. Constam mais de vinte peças do autor em seu
fundo de originais, porém apenas três delas foram publicadas. Assim, como o público e a crítica de hoje
poderiam lembrar-se desse autor? Urge retomar Abílio Pereira de Almeida como figura de grande importância
na história do teatro brasileiro.

Referências
ALMEIDA, A. P. In Depoimentos V, Rio de Janeiro: Serviço Nacional de Teatro, 1981.
GUZIK, A. “O Teatro Brasileiro de Comédia” in BRANDÃO, Tânia (org.). O Teatro através da
História. Rio de Janeiro: CCBB/Entrurage, 1994.
PRADO, D. A. “Sobre o Teatro Brasileiro de Comédia” in Revista Dionysos. Rio de Janeiro:
SNT/MEC, nº25, 1980.
SIQUEIRA, S. (2002) Abílio Pereira de Almeida, seu tempo e sua obra – revisão de uma dramaturgia.
São Paulo: pesquisa da Fundação Vitae, 2002.

3
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LITERATURA E DIVERSIDADE: PERSPECTIVA PARA O CURRÍCULO


MULTIRRACIAL NO ENSINO MÉDIO E NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL¹

Angela Maria Ferreira²


Universidade Estadual de Ponta Grossa

1. Introdução
A autoria do presente resumo trafega entre as áreas de Língua Portuguesa e Literatura, tendo em vista a
diversidade cultural e sua aplicação em sala de aula.
Atualmente, a Lei 11.645/08, que regulamenta e estabelece o ensino da “História e Cultura Afro-
Brasileira e Indígena” nos currículos das disciplinas de Artes, Português e História, tem solucionado parte
dos problemas da diversidade cultural.
Porém, a diversidade do ponto de vista cultural, pode ser entendida como a construção histórica, cultural
e social das diferenças. E essas diferenças são também construídas pelos sujeitos sociais ao longo do
processo histórico e cultural, nos processos de adaptação do homem e da mulher ao meio social e no
contexto das relações de poder.
A diversidade faz parte do acontecer humano. De acordo com Elvira de Souza Lima[1] (2006, p.17)

(...) a diversidade é norma da espécie humana: seres humanos são diversos em suas
experiências culturais, são únicos em suas personalidades e são também diversos em
suas formas de perceber o mundo. Seres humanos apresentam, ainda, diversidade
biológica. Algumas dessas diversidades provocam impedimentos de natureza distinta
no processo de desenvolvimento das pessoas (as comumente chamadas de “portadoras
de necessidades especiais”).

Como toda forma de diversidade é hoje recebida na escola, há a demanda óbvia, por um currículo
atenda a essa universalidade.
Deste modo, este estudo procura contemplar as várias formas de aplicação da diversidade cultural em
sala de aula, na perspectiva literária, referendando assim, autores e obras que podem ajudar o professor a
desenvolver um trabalho satisfatório com vistas à diversidade cultural.
Considerando que a diversidade está relacionada com a diferença dos grupos sociais, é preciso ter a
noção de que a inclusão dessa diversidade está ligada ao direito de igualdade. Assim, as diferenças
apresentam fortes antagonismos em se tratando da relação com a inclusão ou com processos de exclusão
social, pois estão embricados e adquirindo sentidos e significados diversos, como afirma, Santos [2](2001,
p.2):
___________________________________
¹ temática da pesquisa em andamento por decorrência da estruturação do TCC, sob a orientação da prof.ª Regina Aparecida Messias
Guilherme da Universidade Estadual de Ponta Grossa/ UEPG, tendo em vistas a aplicação desta investigação na realidade escolar do CEEP-PG
(Centro Estadual de Educação Profissional Prof.º Hostílio César de Souza Araújo do Município de Ponta Grossa).
² E-mail: angelaferreira27@zipmail.com.br

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(...) vivemos em sociedades repugnantemente desiguais. Mas igualdade não nos basta.
A igualdade entendida como “mesmidade”, acaba excluindo o que é diferente. Tudo o
que é homogêneo tende a se transformar em violência excludente. As diferenças
veiculam visões alternativas de emancipação social, cabendo aos grupos que são
titulares delas decidir até que ponto pretende se hibridizar. Essa articulação entre os
princípios desigualdade e da diferença exige uma nova radicalidade nas lutas pelos
direitos humanos.

Nesta perspectiva, como os professores precisam agir no cotidiano escolar para suprir a
obrigatoriedade do ensino da História e cultura Africana e Afro- Brasileira e Indígena e ao mesmo tempo
trabalhar com outras diferenças que perpassam o ambiente escolar, com uma visão a igualdade social?
Os desafios que a contemporaneidade apresenta a pratica pedagógica do professor, levam-na a trilhar
variados caminhos, na busca de responder esses anseios sociais. Diante deste contexto, o professor necessita
estabelecer relações entre a prática educativa e a diversidade cultural, tendo como base a clientela atendida e
com vistas a proporcionar ao aluno o gosto pela disciplina e a aceitação das diferenças.
No ensino da Língua Portuguesa, em especial da Literatura, possibilita ao professor muitas maneiras
de abordar as diversidades sociais, culturais e identitárias, utilizando obras literárias como instrumento
metodológico. A partir das obras literárias é possível discutir,analisar, debater e até mesmo promover
projetos voltados a diversidade, tudo isso é claro, partindo da iniciativa do professor em aprofundar o
conhecimento literário e cuidar para que ele seja aplicado de forma condizente com o assunto a ser
trabalhado.
A configuração metodológica desta pesquisa se instaura à luz de uma abordagem qualitativa numa
perspectiva interpretativa, utilizando-se como instrumento de coleta de dados a entrevista com
educadores(as) e educandos(as), considerando suas percepções em torno da importância da diversidade tendo
em vista o ensino da Literatura.

2. Método
Obras literárias como Iracema, Ubirajara, Guarani e Macunaíma de José de Alencar e Mário de
Andrade, retratam nos personagens características diferentes. Enquanto José de Alencar tem a representação
do índio herói, retratando um passado histórico e criticando os costumes urbanos, Mário de Andrade trabalha
com um personagem anti-herói, com críticas a sociedade da época. Em Macunaíma percebem-se traços da
miscigenação brasileira, da cultura, tradição e civilização. Há no romance uma busca pela identidade
nacional e pelo caráter do povo brasileiro.
Nestas obras, não só é possível trabalhar os aspectos heroicos dos personagens, como posicionar a
figura do índio diante da sua importância para a História do Brasil.
Já nas obras, “Bom Crioulo’ de Adolfo Caminha e “O Ateneu” de Raul Pompéia,podemos
caracterizar personagens negros, homossexuais e o conflito identitário. Em, O Ateneu, observa-se uma

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demonstração de afeto entre homens, que pode ora ser considerado homoafetividade ora homosexualidade,
porém é uma apresentação latente de um período de formação da personalidade de um adolescente. Já a
narrativa de Adolfo Caminha, revela um romance entre dois marinheiros, causando um grande impacto,
porém abrindo espaço para muitas discussões.
“O Cortiço,” de Aluízio de Azevedo retrata as várias diferenças entre grupos. Nesta obra, podemos
abordar muitos tipos de diversidades partindo do contexto social, pessoal e psicológico de cada personagem.
Esta obra é muito rica, pois cria a possibilidade de visões diferentes sobre um mesmo aspecto. O tema das
obras de Aluízio Azevedo em torno da convivência entre as pessoas de tipos sociais marginalizados.
Graciliano Ramos, também tem uma participação indispensável quando se trata de diversidade
cultural. Em sua obra “Vidas Secas”, ele apresenta um personagem típico da região nordeste. Este
personagem enfrenta várias frustrações dentro da obra que só podem ser desvendadas pelo leitor, pois o
personagem encontra-se inerte em sua própria razão.
A obra desvela um conflito entre o personagem e o ambiente, mostrando a cultura nordestina e
resgatando um pouco da cultura brasileira. Com vistas à Teoria Literária percorremos pela Literatura,
entendida aqui como prática social e como fator desencadeante para pensarmos um currículo multirracial e
multicultural no Ensino Médio e Profissional de um estabelecimento Estadual de ensino.

3. Resultado/ Discussão
Pensando na proposta de trabalhar com as diversidades é preciso buscar estratégias que possam ajudar a
solucionar os problemas e trazer propostas que relacionem o leitor, o texto literário e a realidade desse leitor.
É necessário fazer um intercâmbio interdisciplinar, a partir de textos da atualidade e textos tipicamente
literários, que sensibilize os alunos para uma leitura prazerosa, contribuindo assim para formação do leitor de
modo geral, bem como fazer com que ele compreenda a diversidade como um processo normal de
identidade. Neste sentido, esta abordagem preconiza a Literatura e a Diversidade como fontes da prática
social e, assim, elegemos o Ensino Médio na Modalidade da Educação Profissional como ambiente para
contribuirmos com o processo de formação educativa, tendo por participantes todos os sujeitos sociais que
fazem parte do estabelecimento de ensino, do qual decorre esta pesquisa.
Através das obras e autores citados, encontramos aspectos que permitem aos/as alunos/as
observarem e captarem, à parte, a diversidade cultural e ao/a professor (a) analisar a forma como os
estudantes procederam com o processo de leitura e de entendimento sobre a diversidade dentro da sala de
aula, em que aspectos se fixaram, que variáveis lhes pareceram ou não relevantes e que decisões tomaram
com o objetivo de promover a discussão sobre o assunto abordado, levando em conta os objetivos buscados
em cada caso.
Trata-se de facilitar a recopilação do processo seguido para que possa ser objeto de discussão com os
alunos e estes possam estabelecer relações entre as formas de proceder e os diferentes resultados em cada
uma das tarefas, com o objetivo principal de consolidar, de ampliar e de flexibilizar seu conhecimento
estratégico com relação a Diversidade e a Literatura. Assim, estamos nos pautando nos conceitos de
identidade, de alteridade como indicativos do multiculturalismo.

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4. Conclusão
Por um longo tempo a Literatura foi abordada basicamente como um recurso para o estudo gramatical
da língua, ou seja, conforme as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná, “... como pretexto para as outras
questões de ensino, que não a Literatura como instituição autônoma, auto referencial”.
Com a introdução dos conhecimentos linguísticos a partir da década de 60, uma nova abordagem
dentro da perspectiva sociointeracionista propõe que o estudo da Literatura não seja tomado apenas como
localização histórica e biográfica dos autores. A Literatura deve ser vista como uma fonte de conhecimento
autônomo, ou seja, capaz de proporcionar o conhecimento, nortear o/a aluno/a para um universo mais amplo
ligado as artes e aos aspectos linguísticos da obra. O papel do/a professor/a será contribuir para esse processo
de conhecimento de mundo do aluno/a, considerando todos os aspectos da diferença encontrados no
cotidiano escolar.

5. Referências bibliográficas
ARROYO, Miguel. Indagações sobre currículo. Brasília: Departamento de Políticas de Educação Infantil e
Ensino Fundamental, Nov.2006, p.11-47
BRASIL, Lima, Elvira de Souza[1] ”Currículo e desenvolvimento humano”. In Moreira, Antônio Flavio e.
PARANÁ, Diretrizes Curriculares da Educação Básica: Língua Portuguesa, Secretaria do Estado da
Educação do Paraná, 2008.
SANTOS, B.S. [2]O Novo Milênio Político. Folha de São Paulo, 14 de abril,p.2

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LIVROS DIDÁTICOS DE LÍNGUA INGLESA PARA CRIANÇAS: UMA ANÁLISE


CRÍTICA E QUALITATIVA

Richarles Souza de Carvalho 1*


1
Unesc - Universidade do Extremo Sul Catarinense

1. Introdução
Muito se tem escrito e discutido sobre o uso ou não do livro didático nos processos de ensino-
aprendizagem na educação. Contudo, certas áreas do conhecimento e determinadas análises não figuram
dentro da produção sobre livros didáticos a contento. Dentre essas áreas está o ensino de língua inglesa para
crianças. E as investigações teóricas em questão que não se apresentam com intensidade são questões
relacionadas às ideologias e diferentes práticas discursivas presentes nesses materiais didáticos. Uma visão
pragmática de análise tem sido percebida em relação aos livros didáticos. Sua aplicabilidade ao ensino, as
metodologias utilizadas, entre outras questões concernentes aos processos de ensinar e aprender uma língua
estrangeira. Uma análise feita por especialistas a serviço do MEC se apresenta em programas como o PNLD
(Programa Nacional do Livro Didático). Todavia, questões como a análise dos discursos e das ideologias
presentes em livros didáticos (na verdade presentes em todo e qualquer texto), se configuram num
interessante objeto de pesquisa, pois de maneira indireta esses tópicos estão presentes atuantes na educação
em geral. Muito é dito nas entrelinhas dos textos, dos comandos de exercícios em livros e principalmente nas
semioses não-verbais dentro desses materiais. Figuras, fotos e imagens em geral, dizem muito sobre o tipo de
aluno para o qual os materiais são destinados. O referencial teórico utilizado para essa pesquisa, o qual serve
para a análise dos dados, é oriundo dos campos „Livro Didático‟ e Análise Crítica do Discurso.
Livro didático: Apesar de não muito abrangentes, alguns estudos sobre implicações ideológicas subjacentes
no conteúdo de livros didáticos podem ser encontrados em Bunzen [1], Munakata [2], Pereira e Damazio [3],
entre outros. No campo do ensino de línguas estrangeiras, em especial a língua inglesa, o uso ou não do livro
didático e suas implicações para a aprendizagem está presente em alguns trabalhos acadêmicos como por
exemplo Pereira [4], Holden e Rogers [5], Carvalho [6]. Outros temas relacionados a livros didáticos que
geram boas discussões e críticas são a coerência e veracidade dos conteúdos científicos desses materiais, as
visões epistemológicas e metodológicas neles encontradas, e suas formas de comercialização. Por exemplo,
na década de 80, Umberto Eco e Marisa Bonazzi fizeram um estudo de coleções de livros didáticos italianos.
Eles comentam a falta de criatividade dos autores, dizendo que “para satisfazer a maioria e não causar
discórdias”, os autores mantêm o livro didático no nível do “óbvio, do corriqueiro, do acrítico, da
imbecilidade respeitável [7]”. Freitag et al. [8] fizeram um estudo sobre o panorama da comercialização de
livros didáticos no Brasil com relação ao PNLD. Fritzen et al. [9] também tratam do conteúdo e das
atividades propostas presentes em livros didáticos. Nessa obra também é abordada a utilização do livro
didático como instrumento auxiliador na construção do conhecimento, e como ferramenta que pode
proporcionar alguma forma de contato com conhecimentos historicamente produzidos. Diante dos
referencias expostos, nota-se a ausência de trabalhos que sejam diretamente ligados à análise de livros de
língua inglesa para crianças. Área que cresce constantemente em vários segmentos da educação.
Análise Crítica do Discurso (ACD): A ACD é uma abordagem linguística sócio-semiótica que busca, por
meio da análise de textos (orais ou escritos), investigar as relações de poder e as ideologias presentes nos
mesmos e, por conseguinte, as construções de identidade dos envolvidos nesses processos. Em termos da
semiose verbal, a Análise Crítica do Discurso estabelece seu status de abordagem teórica a partir do final dos
anos oitenta, início dos noventa. O linguista britânico Norman Fairclough foi um dos primeiros a utilizar o
termo ACD no livro Language and Power [10]. A ideia é desenvolvida e disseminada. No Brasil, a
abordagem “vêm sendo desenvolvida em programas de pós-graduação na área das ciências da linguagem em
diversas universidades brasileiras, como a UFSC, a UnB, a UFMG, a PUC-SP, a UERJ, a UFSM, e a
UNISUL [11]”. Fairclough afirma que “a ACD é a análise das relações dialéticas entre a semiose (incluindo
a linguagem) e outros elementos das práticas sociais. Sua preocupação particular está nas trocas
fundamentais que têm lugar na vida social contemporânea, e no modo em que figura a semiose nos processos
de troca [12]”. No que diz respeito à investigação de outras semioses (além da linguagem verbal), podemos
citar os trabalhos de Gunther Kress e Theo van Leeuwen, que juntos escreveram Reading Images [13] e
Multimodal Discourse [14], nos quais propõem uma metodologia de análise de semioses não-verbais
chamada Gramática Visual. Os autores consideram várias semioses (figuras, música, cores, etc.) utilizadas
nos discursos, e suas implicações para a construção dos conteúdos expressos e para os participantes. Uma
das principais características da ACD é a interdisciplinaridade, pois ela assume o empréstimo de conceitos

*
rsc@unesc.net
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

oriundos de outras disciplinas, dentre elas a sociologia (Habermas, Adorno), a lingüística sistêmico-funcional
(Halliday), a semiótica (Charles Peirce), a filosofia (Foucault, Gramsci) [15]. Para Wodak [16], a
complexidade e heterogeneidade das relações entre linguagem e sociedade atingem tal ponto e são de tal
forma multifacetadas que é necessária uma perspectiva interdisciplinar de pesquisa para atuar nessa interface.
O conceito de ideologia é central para a ACD. A ideologia está relacionada às representações da realidade
(semioses verbal e não-verbal), a formas e processos sociais construídos socialmente, que colaboram em
maior ou menor grau para a construção e manutenção das desigualdades nas relações de poder [16]. Outro
conceito não menos importante dentro da ACD é o de texto. Nas palavras de Kress [17], os “textos são
manifestação de discursos e dos significados desses discursos”. Os textos são espaços sociais no quais
ocorrem dois processos sociais fundamentais para o entendimento das práticas discursivas: a cognição e a
representação do mundo, e a interação social. Os textos podem ser simplesmente verbais (orais ou escritos),
ou multi-semióticos, quando são compostos por diferentes semioses – imagens, música, aromas, texturas,
cores, etc. A ACD não propõe simplesmente a análise das proposições presentes nos textos, mas também das
pré-suposições neles subjacentes. Dentre os objetivos políticos dessa abordagem, podemos destacar a
desnaturalização e a conscientização discursiva, que busca desmistificar os discursos vigentes realizados por
meio dos diversos textos em circulação na sociedade.

2. Método
A metodologia básica utilizada nesse trabalho tem como etapa inicial uma revisão de literatura sobre
os dois eixos norteadores do referencial teórico – Livro Didático e ACD. A segunda parte do projeto de
estudo é o confronto dos pressupostos dessas leituras com um determinado número de livros didáticos. Para a
escolha desses livros levou-se em consideração questões geográficas e temporais. Portanto, estão sendo
estudados e analisados livros didáticos de língua inglesa para crianças utilizados nos anos de 2009 e 2010,
em escolas da rede particular de ensino de determinadas cidades catarinenses da região da AMREC
(Associação de Municípios da Região Carbonífera): Criciúma, Siderópolis, Içara, Morro da Fumaça, Cocal
do Sul e Forquilhinha. À luz do que preconizam as leituras teóricas feitas, são analisados três grandes eixos
dentro dos livros didáticos. A) a constituição discursiva (tipos de texto, quais discursos estão presentes); B)
as semioses não-verbais presentes nos textos e na própria estrutura dos livros (figuras, imagens, fotos, etc.,
que demonstram explícita ou implicitamente os perfis sociais de alunos construídos. Qual “tipo de aluno” é
esperado?); C) os manuais didáticos para professores (que “tipo de professor” é construído discursivamente
por meios das dicas e instruções dos manuais). Em suma, a análise dos dados dar-se-á pelo estudo dos textos
(verbais e não-verbais) desses materiais didáticos, seu(s) discurso(s), as implicações pedagógicas e
ideológicas adjacentes.

3. Resultados e Discussão
Os resultados preliminares dessa pesquisa (ainda em andamento,) apontam o seguinte: i) A análise da
constituição discursiva dos textos presentes em livros didáticos de língua inglesa para crianças mostra que
não há uma gama diversificada de gêneros textuais. Em sua maioria não são autênticos, ocorrendo uma
ausência sobretudo de gêneros literários. Discursos ligados à moralidade e aos “bons costumes” ainda são
encontrados por meio das realizações textuais; ii) A identificação de semioses não-verbais como figuras,
desenhos, fotos e mapas, demonstra que o „eurocentrismo‟ [4] se faz presente. Imagens de alunos conectados
à internet, junto a computadores e outras tecnologias contemporâneas pressupõe um aluno “High Tech” ou
pós-moderno. Há uma ideia subjacente: „Se você não está familiarizado com essas tecnologias, está fora‟. iii)
Os manuais didáticos analisados (por vezes anexados ao próprio livro do professor, por vezes
disponibilizados separadamente) supõem um professor não proficiente em língua inglesa e com pouca
experiência didática. As instruções são oferecidas em Português e giram em torno do óbvio e do elementar
na didática de língua estrangeira. Até mesmo questões como “o que dizer”em sala de aula são apresentadas.
Uma análise mais crítica indica que, por trás desses textos (manuais), esconde-se a percepção do professor
como um profissional que não tem autonomia para selecionar suas próprias leituras acadêmicas, sendo
exposto a textos teóricos fragmentados. Uma série de implicações ideológicas advém das escolhas léxico-
gramaticais utilizadas na composição dos livros didáticos de língua inglesa analisados. A presente pesquisa
pode servir como uma ferramenta para que o professor (em especial o professor de línguas) se conscientize
de que os textos que consome constroem para si e para seus alunos determinados desenhos de mundo,
relações de poder e posições subjetivas.

4. Conclusão
Todo e qualquer material didático (ou potencialmente didático) utilizado na educação deve ser
analisado. Livros didáticos, em especial, vem recebendo uma atenção especial em trabalhos acadêmicos.

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Contudo, como afirmado anteriormente, há uma lacuna teórica e acadêmica no que diz respeito a livros de
língua inglesa para crianças. Portanto, analisar criticamente esses livros didáticos pode colaborar no processo
de ensino-aprendizagem do idioma em questão. Uma leitura crítica de todo e qualquer livro didático pode
levar o professor a uma revalorização de sua função docente, auxiliando-o a perceber que o livro não traz
resposta para todas as perguntas e não é o „dono da verdade‟.

Referências
[1] BUNZEN, C. O antigo e o novo testamento: livro didático e apostila escolar. Ao pé da Letra. Vol. 3.
Recife: UFPE. 2001.
[2] MUNAKATA, K. Investigações acerca dos livros escolares no Brasil: das idéias à materialidade. In:
Historia de las ideas, actores y instituciones educativas. Memoria del VI Congreso Iberoamericano de
Historia de la Educación Latinoamericana. San Luis Potosí, 2003. CD-ROM.
[3] PEREIRA, A. S., DAMAZIO, A. O livro didático do ensino fundamental: uma análise da percepção
dos professores. ULBRA. Seminário Brasileiro de Estudos em Educação. ULBRA: Torres, 2004. CD-ROM
[4] PEREIRA, A. L. O eurocentrismo nos livros didáticos de Língua Inglesa. Campinas: Unicamp, 2000.
[5] HOLDEN, S., ROGERS, M. O Ensino da Língua Inglesa. 1. ed. São Paulo: Special Book Services
Livraria, 2001.
[6] CARVALHO, Richarles S. Língua Inglesa: uma análise da presença e da ausência de textos literários em
materiais didáticos empregados na prática pedagógica em oitavas séries do ensino fundamental. Monografia
(Especialização em Didática e Metodologia do Ensino Superior) - Diretoria de Pós-Graduação, Pesquisa e
Extensão, UNESC, Criciúma (SC), 2004.
[7] ECO, U., BONAZZI, M. Mentiras que parecem verdades. São Paulo: Summus, 1980. (p. 18)
[8] FREITAG, B., MOTTA, V. R., COSTA, W. F. da. O livro didático em questão. 5ª. ed. São Paulo:
Cortez, 1997.
[9] FRITZEN, C. et al. A Produção e a Socialização do Conhecimento: uma Compreensão dos Livros-Texto
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LUSO OU CASTELHANO? — UMA ANÁLISE DISCURSIVA DA FORMAÇÃO


IDENTITÁRIA DO SUJEITO GAÚCHO ATRAVÉS DOS TEXTOS QUE VERSAM A
HISTORIOGRAFIA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

Emanuele Bitencourt Neves Camani


Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)

1. Introdução
Este texto objetiva apresentar algumas reflexões parciais da nossa pesquisa sobre a formação
étnica-social do sujeito gaúcho atravessada pelo discurso da história do Rio Grande do Sul —
constituição da origem e identidade do gaúcho, ou melhor, uma tentativa de reconstrução da história
sul-rio-grandense via sujeito. A finalidade é examinar como está estabelecida a contraposição da
tomada de posição sujeito, por pressupostos teóricos da Análise de Discurso, referentes à tomada de
posição sujeito, interdiscurso das vertentes lusitana e platina desse discurso na formação social do
sujeito gaúcho no âmbito da história regional do estado do Rio Grande do Sul. Desde a ocupação dos
primórdios do território rio-grandense, iniciou-se o processo de construção da identidade do tipo social
do gaúcho sulino a partir de quem colonizou o Estado. Ainda hoje há controvérsias a respeito de qual
tipo social determinou mais na formação do gaúcho sul-rio-grandense. Essas divergências aparecem
na historiografia sul-rio-grandense representada através de duas matrizes ideológicas bem definidas e
divergentes: a platina que representa o gaúcho sulino formado a partir do rioplatense e a lusitana a
qual reconhece a preponderância da colonização portuguesa como tipo social determinante na
constituição do gaúcho brasileiro. Cada matriz apresenta a adesão de historiadores e ensaístas ilustres.
Discorrer sobre a ideologia no discurso historiográfico, requer demonstrar que a língua é mobilizada
pelo sentido em um espaço discursivo ao qual a construção da identidade do sujeito gaúcho está
assegurada. Essa análise discursiva advém da relação entre sujeito e língua, além disso, revela ou
evidencia a produção e efeitos de sentidos da linguagem, uma vez que esses efeitos, na linguagem,
significam histórica e politicamente. E, consequentemente, possibilitam estudar a história de um
discurso, enquanto revelador de um sentido e de uma ideologia a partir de uma materialidade. Pode-se
dizer que desse confronto emergem diferenças que, no caso desse estudo, permitem observar a
fundação de um discurso ideológico, a partir da compreensão do modo como se sustentam as
formações discursivas, quando se fala sobre o sujeito gaúcho na década de 1950 e 1960.

2. Método
Por meio da pesquisa bibliográfica, analisaremos algumas sequências discursivas de ensaístas
e intelectuais gaúchos como Vellinho e Ornellas, que durante a década de 1950 e 1960, versaram sobre
a historiografia sul-rio-grandense e que, pela perspectiva discursiva, representam o sujeito nessa
materialidade histórica enquanto revelador de um sentido e de uma ideologia a partir de dessa
materialidade. Será feito levantamento, análise dos dados de alguns recortes discursivos. O
funcionamento discursivo é mobilizado pela interpretação dos sentidos da língua que remete a uma
materialidade histórica a qual constroi a identidade gaúcha a partir da formação étnica e social do
sujeito gaúcho. O quadro teórico da presente pesquisa baseia-se na perspectiva discursiva. Dessa
maneira, no que diz respeito aos princípios teóricos básicos, fundamentamo-nos em alguns
pressupostos da Análise de Discurso. É necessário e indispensável considerar o interdiscurso. Assim, a
AD considera condições de produção de um discurso tanto aquelas que se referem ao contexto de
enunciação, quanto aquelas que inferem ao contexto sócio-histórico. O sujeito, portanto, está
articulado ao interdiscurso e, por isso, o histórico não se apaga. . O critério de seleção, organização e
análise dos dados contempla: a formação sócio-histórica do Rio Grande do Sul e o tipo étnico-social
— espanhol ou português — que constitui a formação do gaúcho sulino. Eis as seguintes obras
clássicas que foram analisadas: Capitania d’El Rei – aspectos da formação rio-grandense e de Moysés
Vellinho e Gaúchos e Beduínos: a origem étnica e a formação social do Rio Grande do Sul, de
Manoelito de Ornellas.

3. Resultados e discussão
Contata-se que Moysés Vellinho, ao versar acerca da origem do gaúcho do Rio Grande do Sul,
representa a matriz lusa da historiografia sulina. Ele alega que o gaúcho brasileiro é distinto, e


ecamani@gmail.com
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também, puro em relação ao gaúcho platino visto que este último no é genuíno em virtude do processo
de mestiçagem entre o espanhol e o índio. Adepto ao lusitanismo, o ensaísta rechaça qualquer tipo de
integração e vínculos comuns aos costumes platinos, uma vez que a declaração feita por ele centra-se
em atribuir à identidade do gaúcho a legitimidade nacional brasileira. Abdicar das influencias platinas
foi um dos principais objetivos do lusitanismo. Em outras palavras, a valorização do lusitanismo
representa a negação do platinismo na formação étnica e social do gaúcho brasileiro. Contrariamente,
Manoelito de Ornellas está integrado à matriz platina e associa a história e composição social e étnica
do sujeito sul-rio-grandense a elementos vinculados à história da região do Prata (Argentina, Uruguai).
Além disso, reconhece a importância da influência e contribuição espanhola e portuguesa na
composição desse sujeito sul-rio-grandense.

4. Conclusão
Transitar entre a historiografia de matriz platina e a de matriz lusitana, é identificar influências
espanholas e portuguesas na construção da história do Rio Grande do Sul, sobretudo, na formação
étnico-social do sujeito gaúcho. Com esse percurso, buscar-se-á observar os processos da significação
e a memória de sentidos dentro do discurso historiográfico sul-rio-grandense sob as matrizes lusa e
platina. Esses pontos de vista desvelam percepções contrárias muito bem sinalizadas na língua ao
referir-se sobre a caracterização étnica-social do gaúcho sul-rio-grandense. Destaca-se que a língua
desempenha um papel relevante. De fato, os estudos mostram que a língua funciona como
interdiscurso. Em outras palavras, segundo Guimarães (2005, p.68) ―a enunciação em um texto se
relaciona com a enunciação de outros textos efetivamente realizados, alterando-os, repetindo-os,
omitindo-os, interpretando-os‖, nas sequências discursivas apresentadas neste trabalho, as afirmações
de um enunciador foram utilizadas para determinar o discurso de outro enunciador seja pela negação
ou confirmação de algo que foi citado. De acordo com o que foi exposto na introdução, a principal
proposta deste trabalho foi mostrar, sucintamente, o funcionamento do discurso historiográfico pela
perspectiva enunciativa-discursiva. Esse texto apresenta um recorte da pesquisa de mestrado, em
desenvolvimento, na área de concentração em Estudos Linguísticos da UFSM, inicialmente como
parte do projeto PIBIC/CNPq ―Lusos X Platinos — o discurso fundador que nos significa‖ no grupo
de pesquisa Entrelínguas credenciado ao Departamento de Letras Estrangeiras Modernas da UFSM.

Referências

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rev. Isaac N. Salum. São Paulo, Campinas: Pontes, 1991.
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PÊCHEUX, M. Semântica e Discurso. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1988.

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ORNELLAS, Manoelito de. Gaúchos e Beduínos: a origem étnica e a formação social do Rio Grande do
Sul. 2ª ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1956.
VELLINHO, Moysés. Capitania d’El Rei: aspectos polêmicos da formação rio-grandense. Porto Alegre:
Globo, 1964.
______. O gaúcho rio-grandense e o gaúcho platino In: Fundamentos da cultura rio-grandense. Porto
Alegre: Faculdade de Filosofia da Universidade do Rio Grande do Sul, v. 2, 1957.

Agradecimentos
À UFSM.
À orientadora, profª. Drª. Eliana Sturza, pela sua atenção e colaboração no início da minha trajetória
acadêmica na Iniciação Científica até o presente momento no mestrado.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela concessão da bolsa
de iniciação científica em 2009.
Às colegas do grupo Entrelínguas.

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MARCADORES DISCURSIVOS EM TRABALHOS DE CONCLUSÃO DE CURSO NA ÁREA DE


ADMINISTRAÇÃO

Andréia Maris Perius1*; Lucia Rottava2


1
Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS) – bolsista BIC-FAPERGS
2
Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS) - Orientador

1. Introdução
Esta comunicação se insere nas reflexões a respeito aos marcadores discursivos presentes em textos de
gêneros acadêmicos reconhecidos como trabalho de conclusão de curso da área de administração. A natureza
de tais produções escritas é reconhecidamente um dos primeiros textos do gênero acadêmico produzidos por
escritores no final de curso.
Nesse sentido, o propósito desta comunicação é entender e discutir o que representam os marcadores
discursivos presentes na produção escrita acadêmica resultante do trabalho escrito de conclusão de curso,
produzidos por alunos concluintes de curso na área de administração. Nessas produções escritas, é requerido,
como princípio, a produção escrita de um texto de gênero acadêmico que apresente clareza temática e
objetivos definidos de acordo com a comunidade discursiva a que seu autor faz parte. Essa experiência se
apresenta desafiadora em todas as instâncias da formação acadêmica. No entanto, é desafiador também para
alunos concluintes a produção escrita do trabalho de conclusão de curso de graduação (reconhecidamente
como TCC). Embora os alunos, durante o curso de graduação, tenham feito sistematicamente trabalhos que
envolvam reflexão teórica, organização textual e discursiva adequadas ao objetivo do trabalho e à tematica a
que se propuzeram tratar, é na finalização do curso que essa experiência parece ser a mais marcante no
sentido de que a eles é requerida a posição de “autores” desse processo.
A justificativa de uma pesquisa dessa natureza está relacionada ao fato de que é necessário construir
um argumento consistente e organizado em estágios textuais (movimentos), pela seleção de vocabulário e
estrutura, relacionada aos objetivos retóricos elencados, além de regras que pautam a escrita (e, por extensão,
a leitura) são definidas pelas e nas comunidades acadêmicas∕discursivas (e nem sempre formal ou
explicitamente) a que os escritores fazem parte. Há, portanto, uma estreita relação entre práticas disciplinares
e produção textual.
Gênero é considerado um termo para agrupar textos, representando como os escritores usam a língua
para responder a situações recorrentes de uso da linguagem. Hoey (2001) compara escritores e leitores a
bailarinos “que seguem os passos do outro, antecipando o que o outro fará ao fazer conexões com textos
prévios”. Hoey parte da ideia de que se possui um esquema de conhecimento prévio que é compartilhado
com outros e que é trazido para situações nas quais se lê e se escreve para expressar algo eficiente e
efetivamente.
Por sua vez, os recursos (meta)discursivos dizem respeito a marcadores (palavras ou expressões) que
permitem ao escritor explicitamente organizar o discurso escrito com base em seu ponto de vista, visando ao
conteúdo do texto e ao leitor”. Eles podem ser interativas e interacionais.
Quanto aos marcadores discursivos interativos, formados por recursos que pretendem guiar o leitor
no texto, incluem: transições que espressam relações entre orações principais (ex: além disso, mas,
entretanto...), marcadores estruturais que se referem aos atos de discurso, sequências, passos/partes (ex:
finalmente, para concluir, o propósito é...), marcadores endofóricos que se referem a informações de outras
partes do texto (ex: como se nota acima, ver Fig., na seção 2...), evidências que se referem a informações de
outros textos (ex: de acordo com X, afirma, sugere... ) e códigos glossais que sinalizam explicação de
informação ideacional (ex: como por exemplo, em outras palavras, tal como...).
Nesse sentido, o escritor pode recorrer a alguns recursos discursivos para chamar a atenção do leitor
e∕ou de sua comunidade discursiva sobre o que está sendo tratado. Os recursos discursivos envolvem, de
acordo com Hyland (2005), “aspectos do texto que explicitamente organizam o discurso escrito do ponto de
vista do escritor, visando ao conteúdo do texto e ao leitor” (p. 14).
A proposta de taxonomia seguida neste artigo é a de Hyland (op.cit.) para quem os “traços retóricos
podem ser entendidos e vistos não somente no contexto em que eles ocorrem, mas como resultado
metadiscursivo, devendo ser analisados como parte de práticas, valores e ideias de uma comunidade
discursiva” (p. 37). Para isso, três princípios-chave de metadiscurso são considerados, quais sejam: (a)
metadiscurso é distinto de aspectos preposicionais do discurso – usa-se a linguagem para dizer ou mostrar
coisas no mundo do discurso, mas não se pode separar estas duas noções, porque ao escrever ou falar, o texto
e o seu contexto estão integrados; (b) metadiscurso expressa interações entre escritor-leitor – incluem as

*
Autor Correspondente: andreia-perius@uergs.edu.br e lucia-rottava@uergs.edu.br
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relações ou conexões que poderiam existir entre elementos utilizados nos argumentos. O escritor toma
decisões sobre elementos do texto para guiar seu(s) leitor(es), tornando-os conscientes das interpretações que
deseja. E, (c) metadiscurso difere em suas relações internas e externas.
O modelo proposto por Hyland (2005) inclui duas dimensões: interativa e interacional. Na dimensão
interativa do discurso, o escritor tenta atrair a atenção do interlocutor, buscando “acomodar” seu
conhecimento, interesses, expectativas retóricas e habilidades de processamento. Por sua vez, na dimensão
interacional, o escritor conduz a interação ao comentar e avaliar sua mensagem.
Salienta-se que a taxonomia adotada apenas complementa a análise dos movimentos retóricos
recorridos pelos autores dos trabalhos de conclusão de curso.

2. Método
Os dados da pesquisa são os trabalhos de conclusão de curso de alunos do curso de administração de
uma universidade pública. São analisadas textos produzidos a partir de 2008, em torno de 30 trabalhos,
extraídos de trabalhos de conclusão de curso, apresentados em sua versão final impressa e digitilizada. Para a
análise, utilizou-se a versão digitalizada. A extensão dos trabalhos variam de 55 a 149 páginas, incluindo
capa e anexos.
Os procedimentos para a análise adotados para esta comunicação consistem, inicialmente, de
apresentar com base em levantamento e interpretação do número e da natureza dos marcadores discursivos
presentes nos dados analisados.

3. Resultados e Discussão
Embora os dados estão sendo analisados, fez-se um estudo piloto para verificar como os recursos
metadiscursivos funcionam nos dados analisados, analisou-se 19 introduções de trabalhos e final de curso.
Desse corpus de 19 introduções, apenas 3 são autores masculino e 16 feminino. Para a análise, utilizou-se a
versão digitalizada. A extensão das introduções variaram entre 2 a 11 páginas, subdivididas, em sua grande
maioria, em subseções denominadas introdução, justificativa e objetivos, respectivamente, cuja média foi de
1025 de palavras. No entanto, essas subdivisões foram consideradas todas como parte da introdução visto
que elas fazem parte dos movimentos retóricos introdutórios (SWALES, 1990).
Os procedimentos para a análise adotados neste artigo consistem no levantamento e interpretação do
número de marcadores discursivos presentes nas introduções. Dos marcadores discursivos interativos, 309
no total, predominaram os códigos glossais em expressões bem particulares que incluíram termos “assim
como, bem como, tal como, tais como e como também”, totalizando 113 dos recursos observados, ou seja,
em torno de 30% dos marcadores foram utilizados prioritariamente para exemplificar o argumento
apresentado, ilustrar conceitos teóricos e elencar os argumentos e procedimentos adotados na pesquisa, quer
seja do ponto de vista teórico ou metodológico.
Em seguida aparecem os elementos de transição, 72 do total, prioritariamente utilizando-se de
conjunções, sem contudo havendo a predominância de uma ou outra. Posteriormente, aparecem os
marcadores estruturais, evidências e, finalmente, o marcadores endofóricos. Em suma, pode-se sugerir que
nas introduções, os marcadores discursivos interativos guiaram o leitor no texto na medida em que deram
indicações explicativas e ilustrativas da temática abordada.
Quanto aos marcadores discursivos interacionais, formados por recursos que buscam envolver o
leitor no texto e incluem: aspectos de neutralidade que atenuam informações proposicionais (ex: talvez,
possível, poderia…), reforçadores que expressam certeza e enfatizam a força das proposições (ex: de fato,
definitivamente, esta claro que…), marcas de atitude que expressam a avaliação do escritor das informações
proposicionais (ex: concordo, infelizmente...), auto-menção que dizem respeito a referências explícitas do
autor(s) no texto (ex: eu, meu, nosso, para mim...) e os marcadores de atenção que buscam, explicitamente,
estreitar relações com o leitor (ex: considere, note, você pode ver...).
Por sua vez, os marcadores discursivos interacionais, se comparados aos interativos, há um número
relativamente menor, ou seja, 36 ocorrências no total, verificando-se ocorrências em apenas três das cinco
categorias adotada para a análise. Desses marcadores, a tendência foi para o uso de marcadores que revelam
aspectos de neutralidade, sobressaindo-se o termo “possível”; e alguns denominados reforçadores pela
recorrência a termos tais como “pelo fato de”. Contrariamente, auto-menções e marcadores de atenção que
não houveram ocorrências revelam que no trabalho acadêmico, por sua natureza, os escritores pouco tendem
a colocar claramente sua percepção, procurando mostrar o que a teoria sugere e o que os dados de sua
pesquisa tendem a revelar.
Para exemplificar alguns desses marcadores, em movimentos discursivos que visam mostrar a
percepção do produtor∕escritor para sinalizar o enfoque da temática abordada, observa-se:
(01) “ ... o apoio ao planejamento de produção e de compras. Todavia, esses sistemas...”

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(02) “ ... para promover o suporte completo e integrado aos processos de negócio. Houve, entretanto,
melhoria nos...”

A citação ou a menção a outros trabalhos da área requer dos escritores a utilização de recursos
discursivos, tais como “todavia” (exemplo 01) e “entretanto” (exemplo 02) que visam fazer com que o leitor
acompanhe o racicionio do escritor, ou seja, o escritor conduz o leitor para o sentido que quer construir por
utilizar-se de recursos (meta)discursivos que objetivam atrair a atenção do interlocutor, buscando
“acomodar” seu conhecimento, interesses, expectativas retóricas e habilidades de processamento (Hyland,
2005).
Outro exemplo de movimento aparece com uma estrutura discursiva para indicar quais os dados e
como eles serão apresentados, observou-se a recorrência a recursos (meta)discursivos característicos tais
como “apresentar como objetivo geral”, “este trabalho se propôs” e “a pesquisa se estruturou”.
Em exemplos nos quais os escritores buscam, por exemplo, estabelecer o campo de investigação, os
recursos discursivos funcionam como orientadores aos leitores para o propósito do escritor. São casos nos
quais o escritor apresenta argumentos contrários aos observados na literatura da área que permitem verificar
o quanto o proponente da pesquisa, observado pela introdução, consegue definir nitidamente a sua pesquisa
em termos de recorte do objetivo e temática. A esse respeito, o exemplo (03) ilustra de maneira adequada o
procedimento.
(03) “A gestão do atendimento permeia, nos dias atuais, o ambiente hospitalar, embora esse conceito
não esteja tão claro para as instituições. No entanto, todas buscam a competitividade como forma de
manter-se no mercado, e a gestão do atendimento pode permitir que esse sucesso seja alcançado.
Dessa forma, este estudo será desenvolvido visando responder ao seguinte questionamento: O
atendimento nas organizações de saúde pode conferir competitividade às mesmas?”
(04) “Ao contrário dos países da Europa, em que a doação foi desde o início não remunerado, no
Brasil o sistema de sangue baseou-se na doação remunerada.”

Portanto, os exemplos, além de claramente colocar o ponto de vista que a literatura da área tem
indicado, marcam explicitamente o argumento utilizando-se de recursos adequados para tal, incluindo “no
entanto” e “dessa forma”, no exemplo (03), respectivamente; e “ao contrário, no exemplo (04).
No que diz respeito à identificação na lacuna no conhecimento que a pesquisa a ser levada adiante é
observada e adequadamente redigida, utilizando-se de marcadores discursivos como o observado em (05):
(05) “A abordagem sobre o tema em hospitais é ainda mais espcífica, não contemplando nenhum
estudo prático na área BI. Logo, o quadro vem a (sic) mostrar a lacuna existente nesse campo de
pesquisa, conferindo ao trabalho pertinência ante ao tema pouco explorado.”

4. Conclusão
Embora não se tenha analisado dados de estudo piloto, ainda muito preliminares, observou-se a
complexidade de produzir trabalhos de conclusão de curso de graduação, reconhecidamente a primeira
esperiência de produção de um texto acadêmicos visto que eles, de uma certa forma, requer que os
escritores∕estudantes precisam mostrar um certo grau de autoridade; contudo, ou evitam essa função de
autoridade e ou procuram atenuar a propriedade e responsabilidade de suas visões.
Em termos de recursos metadiscursivos observados, se comparados os resultados deste estudo a
outros similares (cf. Hyland e Tse, 2004), verificou-se uma certa convergência no sentido que os escritores
utilizam mais formas interativas do que de interação; da mesma forma, as evidências foram mais utilizadas,
que servem para sustentar os argumentos na escrita acadêmica. Enfim, parece que o modo como os
acadêmicos apresentam seu conhecimento através de informações é importante. Contudo, reconhece-se que
sempre o texto tem algo para “falar” ao leitor e quando se escreve ou se fala, tem-se expectativas sociais,
afetivas e cognitivas, baseadas nos participantes, nas crenças e nos valores dos envolvidos. Os trabalhos de
conclusão de curso que serão analisados não fogem dessa expectativa, além de ser reconhecida a
heterogeneidade da língua, quer seja formal ou informal.
Os resultados sugerem que os estudantes têm pouco conhecimento sobre recursos retóricos e
(meta)discursivo, o que pode estar indicando ser este um bom tópico a ser trabalhado em sala de aula em
termos de sua importância no ato da escritura e da leitura. Outro importante aspecto é também persuadir os
leitores para aquelas proposições que o escritor quer que sejam aceitas. Mas para isso, o escritor deve dar
credibilidade ao texto, realizando auto-afirmações que o incluam como o proprietário de tais proposições,
sendo ele responsável por suas idéias e colocações. Porém, não se pode dizer que alguns escritores são
menos proficientes por não utilizarem tais recursos, mas é preciso um estudo detalhado do contexto em que
ele vive, de como são aceitas ou negadas determinadas formas de expressão, para que este entenda suas

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

dificuldades e as supra, relacionando sua escrita aos objetivos por ele propostos em contexto acadêmico e
profissional.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

“MAS SERIA INTERESSANTE QUE VOCÊ SOUBESSE”: uma estratégia para encaminhar
o encerramento de ligações no Disque Saúde

Lucélia Maria Dalo1*; Ana Cristina Ostermann2


1
Universidade do Vale do Rio dos Sinos
2
Universidade do Vale do Rio dos Sinos

1. Introdução

O presente estudo advém de um projeto de pesquisa maior coordenado pela Profa. Dra. Ana Cristina
Ostermann e propõe investigar e descrever como os participantes da interação se orientam para o fechamento
da conversa em contexto institucional, o Disque Saúde. Este serviço, criado pelo Ministério da Saúde,
esclarece dúvidas e orienta a população acerca de assuntos referentes à saúde, medicamentos, reclamações, e
o atendimento acontece por meio de ligações telefônicas gratuitas. Quando estamos conversando não
abandonamos a conversa em meio a uma pergunta que nos foi feita, também não o fazemos enquanto nosso
interlocutor espera de nós uma resposta, podemos ao menos afirmar, que isso não ocorre com frequência.
Existe uma orientação tácita de que o fechamento da conversa precisa ser negociado entre os participantes.
Schegloff e Sacks [1] propõem analisar os fechamentos pela organização de turnos através de pares
adjacentes de troca terminal e/ou pela noção de pré-fechamento, que envolvem, geralmente, quatro turnos e
garantem que ambos os participantes estejam de acordo em encerrar a conversa. Trazendo essa noção para o
contexto analisado, podemos olhar para a ligação como sendo um grande par adjacente: a primeira parte do
par é oferecida pela usuária, que abre o par com sua solicitação; a segunda parte do par deve ser provida
pelo/a atendente, que busca completar o par com uma resposta para a solicitação da usuária.
Consideramos então, que encerrar uma conversa torna-se um momento delicado, já que o
fechamento deve ser negociado, até que os participantes concordem em terminá-la de fato. De acordo com
Levinson, os fechamentos são
“um assunto delicado, tanto tecnicamente, no sentido de ter que acontecer de forma que
nenhum/a dos/das participantes envolvidos seja forçado/a a se retirar enquanto ainda tenha
coisas relevantes a dizer, e socialmente, no sentido de que tanto um fechamento muito
apurado como um fechamento muito lento podem gerar inferências indesejáveis a respeito da
relação social entre os participantes” ([2] p. 316).

2. Método

Para a realização deste estudo, foram utilizadas 126 ligações, coletadas em 2007, na Central do Disque
Saúde. Os assuntos tratados nas ligações que compõe o corpus, contemplam a saúde da mulher, entre eles,
gravidez, contracepção, câncer de mama, DSTs. Essas interações foram transcritas e revisadas de acordo
com as convenções propostas por Jefferson [3] e analisadas de acordo com a perspectiva teórico-
metodológica da Análise da Conversa [4]. Selecionamos as ligações em que não foi possível solucionar as
dúvidas das usuárias e entre estas, destacamos ainda as ligações em que as estratégias para encerrar a
conversa eram recorrentes.

3. Resultados e Discussão

As interações observadas foram produzidas em contexto institucional e, portanto, são mediadas por
falas institucionais (roteiros). Isso não significa dizer que elas sejam totalmente padronizadas, que sejam
iguais umas das outras – elas apresentam variações. Os atendimentos podem variar de acordo com o modo
de atender de cada atendente, com o perfil de usuárias do serviço e com o tipo de solicitação das usuárias.
Nos interessa neste estudo a etapa de fechamento, e as variações e particularidades que verificamos nesta
etapa das ligações estão fortemente relacionadas à solução, ou não, da solicitação das usuárias ao procurarem
o serviço. As prescrições da instituição, as restrições (e.g. não poder fornecer diagnóstico) e a limitação da
base de dados contribuem para a não solução das solicitações.
Focamos nossa análise nas ligações em que não foi possível dar uma solução para a solicitação da
usuária, pois especialmente nestas ligações o fechamento precisa ser negociado, já que a usuária sairá da
conversa sem a resposta ou informação que buscava ou procurar o serviço. Como dissemos anteriormente, é

*
Lucélia Maria Dalo: luceliadalo@yahoo.com.br
651
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

necessário que aquele “par” aberto pela usuária seja completado, ou seja, mesmo que não seja possível sanar
por completo a dúvida da usuária, procurar evitar que ela saia sem resposta alguma. Observamos que
algumas estratégias são utilizadas com recorrência como tentativa de despachar a ligação, ou seja, iniciar e
concretizar o encerramento da conversa. a) justificar de forma direta; b) prover informações possivelmente
relevantes; e c) postergar e entrega de determinada informação.
O exemplo que trazemos a seguir se enquadra na provisão de informações relevantes, e, é parte de
uma interação, na qual a usuária que procurou o Disque Saúde buscava informações sobre a eficiência dos
testes de gravidez de farmácia. Esta informação específica não consta no banco de dados, e podemos
observar a como a atendente lidou com esta restrição.

Excerto 05 – DISK160707Greice
34 ATENDENTE: .h não ↑vem falando especificamente não temos informações
35 específicas sobre esses testes de farmá:Cia
36 (1.2)
37 ATENDENTE: oquei?
38 USUÁRIA: [oquei]
39 ATENDENTE: [ma:s] >seria interessante que você soube:sse< que::
40 >também contribui para o diagnóstico< a presença de
41 enjô:o, sonolência, mudança de apeti:te, (.) .h ou (.) e-
42 e ao exame clínico observa-se aumeido- aumento no tamanho
43 das ma:mas, amolecimento do colo do ú:tero e aumento do
44 volume u↑teri:no
45 (1.0)
46 USUÁRIA: [m::hm]
47 ATENDENTE: [e a confir]mação de uma gravidez (.) poderá ocorrer de
48 oito a nove dias após a fecun↑dação
49 USUÁRIA: m:hm
50 ATENDNTE: ficou claro
51 USUÁRIA: ↑fico:u
52 ATENDENTE: aí:- exatamente sobre o- a informação sobre o teste de
53 gravidez nós não temos em nosso banco ↑de dados o↑quei
54 USUÁRIA: oque::i
55 ATENDENTE: posso lhe ajudar em mais alguma ↑coisa
56 USUÁRIA: >não ↑só isso< ↓me:smo
57 ATENDENTE: então o ministério da saúde agradece a sua liga↑ção ligue
sempre que nece↑ssário e tenha um ↑bom ↓dia

Na linha 34, a atendente objetivamente justifica a restrição em fornecer a informação requisitada, e


em seguida, na linha 39 oferece informações que provavelmente são de interesse da usuária, pois estão
relacionadas ao que foi solicitado: gravidez. A atendente inicia dizendo “mas seria interessante que você
soubesse que”, e então cita uma série que sintomas que indicam gravidez. Nas linhas 47 e 48, ela também
indica o tempo necessário para confirmar uma gravidez após a fecundação. Por fim, esclarece mais uma vez
o motivo pelo qual não pode fornecer a resposta específica.

4. Conclusão

Trazemos a seguir, uma ligação na qual o atendente postergou o entrega da informação - outra
estratégia observada nos dados – para fins de comparação. A usuária, nesta ligação, é uma mulher com nove
meses de gestação, que quer saber se há possibilidade de estarem errados os dois exames de HIV que
realizou, e que, conforme ela relata, deram resultado positivo. Segundo a usuária, o marido também
realizou o exame e para ele o resultado foi negativo. É importante destacar que como orientação da
instituição os atendentes não devem nem devem fornecer diagnósticos e resultados de exames.

Excerto 13 – DISK190707Neiva
153 ATENDENTE: ce::rto senhora. então a senhora pode conversá com o
154 médico para que ele possa orientá-la melho::r,
155 (.) verificar se realmente há possibilidade de está

652
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

156 erra:::do,
157 USUÁRIA: °ãhã°=
158 ATENDENTE: =oque::i?
159 USUÁRIA: °tá°
160 ATENDENTE: posso ajudá-la em algo ↑mais
161 (0.8)
162 USUÁRIA: nã:o só isso(.)[brigada]
163 ATENDENTE: [a senhora] já sabe as formas de
164 transmissão da ↑aids,
165 USUÁRIA: já
166 (1.0)
167 ATENDENTE: posso ajudá-la em mais alguma ↑coisa?
168 USUÁRIA: >nã:o era só isso mesmo bri[gado]<
169 ATENDENTE: [gosta]ria de sabê como se
170 preveni:r da a:ids,
171 (.)
172 USUÁRIA: >[não °isso já°-]<
173 ATENDENTE: [uma vez que a] senhora está grá::vida,
174 USUÁRIA: ãhã:
175 ATENDENTE: oquei,
176 USUÁRIA: tá:
177 ATENDENTE: por favor agua:rde enquanto realizo uma pesqui:as
178 (4.4)
179 ((a usuária desliga))

Percebemos que no último caso a usuária acabou desligando o telefone diante da demora em da
atendente em fornecer uma resposta efetiva para a dúvida, além da insistência em fornecer informações de
prevenção e transmissão. Como podemos observar a atendente ofereceu uma resposta mínima para a dúvida
da usuária apenas na linha 153. A delicadeza do momento se torna evidente quando depois da insistência em
passar informações de prevenção e transmissão da doença (AIDS), a usuária mostra embaraço e acaba
desligando (linha 179).
Podemos afirmar, dessa forma, que a maneira como a atendente conduziu o atendimento no primeiro
exemplo, contribui de maneira efetiva para a satisfação da usuária com o serviço, mesmo sem ter a resposta
específica para a dúvida da usuária. Nesta ligação a atendente foi capaz de completar o “par”, cumprindo
com o objetivo do serviço. Ressaltamos que, este e outros resultados do projeto de pesquisa maior já foram
apresentados ao Disque Saúde, que tem demonstrado constante preocupação em melhorar a qualidade dos
atendimentos.

Referências

[1] SCHEGLOFF, Emanuel A. & SACKS, Harvey . Opening up Closings. In: TURNER, R.
Ethnomethodology. Harmondsworth: Penguin, 1974 p. 233-264.

[2] LEVINSON, Stephen C. Pragmatics. Cambridge: Cambridge University Press, 1983.

[3] JEFFERSON, G. On the Sequential Organization of Troubles-Talk in Ordinary Conversation. Social


Problems, vol. 35, n. 4, p. 418-441, 1988.

[4] SACKS, Harvey; SCHEGLOFF; Emanuel, JEFFERSON, Gail. A Simplest Systematics for the
organization of Turn Taking for Conversation. Language, 50 (4) Pt 1: 696-735, 1974.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

MÍDIA E ESCOLA
Roselei Fistarol1*; Rejane Carminatti2
1
Universidade de Passo Fundo
2
Universidade de Passo Fundo

1. Introdução

Cada vez mais os meios midiáticos estão ganhando espaço na escola, surgindo, assim conflitos que
cercam, principalmente, a produção textual. Como esses meios, mais precisamente a revista Nova Escola,
tratam dessa questão é o que a pesquisa pretende debater, sobretudo como ela articula em suas matérias as
sugestões de produção textual. Verificar-se-á o que realmente é valorizado nas orientações das matérias
publicadas: se são apenas a escrita, elementos estruturais e fatores gramaticais, ou se elas levam em
consideração os fatores sócios-históricos que constituem o sujeito-aluno. Alguns meios midiáticos, como a
revista em questão, traz orientações didáticas para facilitar o trabalho pedagógico dos educadores, porém o
que chama atenção é que, ao propor novas estratégias de trabalhar o texto, pode-se cair no “no velho modo”
de estrutura e regra gramatical. Para tanto, o trabalho tem como embasamento teórico a Análise de Discurso,
em especial os estudos de Michel Pêcheux.

2. Método

Primeiramente, foi feita uma leitura e selecionado alguns recortes de sequências discursivas de
matérias relacionadas com o assunto para a composição do corpus. Após, realizaram-se análises desses
recortes com base na teoria discursiva. Ao analisar SDs, percebemos conflitos na relação teoria-prática,
especialmente na questão de como a revista trata da autoria e como o sujeito-autor é visto: um sujeito
perfeito e dono do seu dizer. Partindo da noção de escrita como prática discursiva e social, em nosso corpus,
observou-se, ainda, que as discussões sobre a escrita vão, geralmente, em direção ao normativo, às cobranças
gramaticais, deixando o sujeito autor do texto de lado, como se a escrita fosse algo natural, e fluísse sem
conflitos, ou dúvidas. Assim, entra em funcionamento nesse espaço midiático uma representação de escrita
por meio da qual o sujeito, imerso na ilusão de domínio das regras do bem escrever, vê-se obrigado a
garimpar palavras para se dizer e legitimar o seu discurso.
De acordo com Gallo (1992, p. 59), a escola não ensina o aluno a ser produtor do seu discurso. Ele,
muitas vezes, através de assuntos veiculados pela mídia, como jornais, revistas, internet, entre outros,
reproduz algo já dito por alguém dentro da estrutura escolar. Esses meios midiáticos são levados para dentro
da sala de aula com um assunto pré-determinado que, será lido, debatido e posteriormente desenvolvido em
uma produção textual.
Para Orlandi, “a contribuição do professor, em relação às leituras previstas para um texto, é
modificar as condições, dando oportunidade para que o aluno construa sua história e estabelecendo, quando
necessário, as relações intertextuais, resgatando a história dos sentidos (1993, p. 79 a 88). Orlandi, ainda
afirma que, a atividade pedagógica mais importante da escola é responder a seguinte questão “o que é ser
autor”, é apenas reproduzir textos ou criá-los e para criá-los o aluno precisa se entregar a essa posição de
autor, esse é um dos papeis do professor de Língua Portuguesa.

3. Resultados e Discussão

A revista analisada foi publicada em jan/fev de 2009, edição nº 219, da Fundação Victor Civita. Essa
revista já ganhou alguns prêmios na área de 1. Nova Escola é editada pela editora Abril e tem circulação

*
Roselei Fistarol é Pesquisador PIVIC do projeto Língua, Sujeito e Ideologia: O Imaginário sobre Língua Construído
pela/na Mídia, coordenado pela professora Carme Regina Schons. E-mail: rosefitarol@hotmail.com.
1
Informações retiradas do site http://revistaescola.abril.com.br/fvc/quem-somos.shtml, data de acesso 19/06/2010
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

mensal. Seu público alvo são os educadores se evidencia isso com o uso do slogan A revista de quem educa.
No seu interior há reportagens pautadas à educação e ainda, sugestões de como trabalhar diversas disciplinas
e temas e, conta ainda com alguns planos de aulas. Para dar assistência a esse público alvo, faz discussões
com alguns especialistas de ensino ouvindo suas opiniões e suas sugestões, e assim produz matérias sobre o
assunto.
Após algumas leituras e discussão para salientar o propósito dessa pesquisa no ponto de vista desse
contexto sócio-histórico, passamos à discussão do um recorte selecionado, com a sua respectiva análise a
qual nos propomos.

(SD1): Para produzir textos de qualidade, seus alunos têm de saber o que querem dizer, para quem
escrevem e qual é o gênero que melhor exprime essas ideias. A chave é ler muito e revisar continuamente (p.
39)

Ao realizar a análise desse recorte da revista, SD1, percebe-se que a mesma coloca para o leitor que
o ponto fundamental para o aprendiz ser capaz de produzir “textos de qualidade” é que ele siga a estrutura de
um gênero e se coloque na posição de escritor visando o seu leitor, “os aluno têm o que querem dizer, para
quem escrevem”. Como se isso fosse natural ao estudante, ou seja, essa SD coloca o aluno como um sujeito
capacitado a controlar o seu inconsciente e capaz ainda de regular a direção dos sentidos. Dessa forma, a voz
representada na revista não leva em consideração os fatores que constituem o sujeito, a produção textual e o
interlocutor, e principalmente, não leva em conta as condições de produção desse texto. E assim, novamente,
ao se referir ao gênero, ela, de forma implícita, trabalha para a naturalização do uso de regras para a
produção dos textos. O sujeito tem que saber o que e para quem ele escreve, como se o sujeito dominasse o
seu dizer e tivesse total controle das suas palavras. Segundo Orlandi, “há duas formas de esquecimento. O
esquecimento número dois da ordem da enunciação,... o esquecimento número um é o chamado
esquecimento ideológico” (2001, p. 35) Assim, de acordo com a autora, o sujeito não tem domínio sobre as
suas idéias, ou seja, ele não é o dono do seu dizer. Portanto, não há como ter transparência nos seus textos.
Além disso, por ser atravessado por conflitos de escrita está sujeito ao erro, tanto escrito como oral.
Considerar somente a leitura como “receita” para se produzir bons texto, como afirma a revista, não garante
uma boa escrita.

4. Conclusão

Segundo Indursky, é importante no momento da produção textual levar em consideração as


condições de produção do texto, as quais, segundo ela, consistem em “ultrapassar os limites internos do texto
propriamente ditos” (2006, p. 68). Nesse sentindo para a AD, não somente as palavras colocadas no texto
têm significados, mas os sentidos que elas retomam fora dos limites do texto.
Desse modo, no texto há um resgate do sujeito autor do texto que é visto como alguém que está
inserido num contexto sócio-histórico atravessado por diversos discursos e, portanto, sujeito ao erro ao
equívoco. Assim, o professor deve ser cuidadoso ao eleger o material didático que o auxiliará no processo de
planejamento das aulas, pois nem sempre o que está colocado na mídia deve ser seguido. É preciso que seja
realizada uma análise acerca desses materiais e assim, levar em consideração os fatores que constituem o
aluno e não somente a sua escrita. Percebemos que algumas coisas precisam mudar, para que a realização da
produção textual, na sala de aula, torne o aluno-autor e não apenas reprodutor de um já dito, dentro de
estruturas, que apenas valorizam os fatores gramaticais, deixando de lado os fatores que constituem o sujeito.
Também, vale salientar que o “erro”, faz parte da constituição do sujeito, pois ele é controlado pelo seu
inconsciente, dessa forma está sujeito ao erro.

Referências
GALLO, Solange Leda. Discurso da Escrita e Ensino. São Paulo, Unicamp. 1992.
GURGEL, Thais. Escrever de Verdade. Nova Escola. São Paulo, nº219, p. 38-45, jan/fev, 2009.
ORLANDI, Eni P. Análise de Discurso, Princípios e Procedimentos. São Paulo: Pontes, 2001.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

ORLANDI, Eni P. Interpretação, Autoria, leitura e efeitos do trabalho simbólico. 2ª ed.Rio de Janeiro:
Vozes,1998.
ORLANDI, Eni P. Discurso e Leitura. São Paulo: Cortez e Unicamp,1993.
ORLANDI, Eni P. Discurso e Textualidade. São Paulo: Pontes, 20006.
ROMÃO, Lucília Maria Sousa e PACÍFICO, Soraya Maria Romano. Era uma Vez uma Outra História. São
Paulo: Editora DCL, 2006.
ROMÃO, Lucília Maria Sousa, e GASPAR, Nádea Regina. Discurso midiático: Sentidos de memória e
arquivo. São Paulo: Pedro &João editores, 2008.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

MORALIDADE(S) NA FALA-EM-INTERAÇÃO: FORMATOS QUE AMENIZAM A


DELICADEZA INTERACIONAL

Rochele Bierhals Pereira1; Ana Cristina Ostermann2


1
Universidade do Vale o Rio dos Sinos
2
Universidade do Vale do Rio dos Sinos

1. Introdução
É por meio da fala na interação diária que se constrói a vida social. Através do que dizemos e fazemos
estamos não somente construindo o cenário e os roteiros a serem seguidos, como também definindo e
sustentando os perfis dos personagens que, juntamente com nossos interlocutores, criamos para protagonizar
essa mesma vida social. Esses perfis se baseiam numa série de elementos, entre os quais as implicações
morais daquilo que dizemos, fazemos e reivindicamos ser. A manutenção da credidibilidade e da
respeitabilidade dos personagens do drama social é uma das preocupações centrais dos atores envolvidos e,
quando algo desafia esse equilíbrio, surge a necessidade de lidar com o potencial problema a fim de que a
harmonia seja reinstaurada e as relações sociais se desenvolvam sem maiores impedimentos.

2. Método
Os conceitos que são utilizados neste estudo interessam particularmente a Sociolingüística e a
Sociologia, no que diz respeito aos estudos sobre Face e Interação Social [1], e sobre Moralidade [2]. O
conceito de fala-em-interação é central para o campo de estudos denominado Análise da Conversa, uma área
de estudos proveniente da Sociologia e também uma abordagem teórico-metodológica que analisa a fala
como ação social dentro do seu contexto de produção numa perspectiva sequencial e localizada. Foi
inicialmente proposta por Harvey Sacks no início dos anos 60, juntamente com Emanuel Schegloff e Gail
Jefferson.
Os dados analisados aqui foram coletados em 2007 na central do Disque Saúde, um serviço
governamental criado para fornecer à população informações sobre saúde, doenças e medidas preventivas,
etc. As ligações gravadas foram transcritas de acordo com as convenções poprostas por Jefferson [3] e
analisadas sob a perspectiva da Análise da Conversa.
Em cada interação os participantes criam e sustentam uma face, ou seja, uma imagem positiva do eu,
em sintonia com as orientações do contexto [1]. A proteção mútua da face dos participantes é um dos
elementos pelos quais é possível observar a orientação dos interagentes na fala-em-interação. O principal
objetivo da Análise da Conversa (AC) é expor e “explicar a organização estrutural da fala em interação” ([4],
p. 36), sendo que essas estruturas são antes explicativas que normativas, e toda análise é feita de forma local
e com base na sequencialidade. Isso quer dizer que intenções e interpretações não têm valor analítico, antes o
analista deve
“limitar-se a fazer recurso analítico ao que os participantes demonstradamente consideram
ser relevante (..) e que se pode apontar ter sido observado sequencialmente pelo(s) outro(s)
participante(s) como relevante”
([5], p. 33).
Isso quer dizer que, ao analisar a relação entre moralidade(s) e a delicadeza de certos tópicos é
necessário atentar para aquilo que os participantes revelam através das ações que executam na interação, e
para os termos que utilizam ao descrever pessoas e situações.

3. Resultados e Discussão
A orientação dos participantes de uma interação para um assunto como delicado pode: ser explícita,
através da topicalização direta da delicadeza, ou se manifestar através das ações por eles realizadas. Pode
também se revelar de formas mais sutis, como observamos no excerto abaixo reproduzido:

Excerto 7: DISK160707Romario

1 ROMARIO: saú:de roma:rio boa ↑tarde eu posso aju↑dá


2 (0.9)
3 USUÁRIA: boa ↑tarde ro↓mario >↑só uma perguntinha<
4 ROMARIO: pois nã:o


rochele.bierhals.pereira@gmail.com
657
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

5 (.)
6 USUÁRIA: se você::: >por exemplo:< (.) não usa ant-
7 >anticoncepciona:l< (.) mas de repente você::
8 (1.0)
9 você: resolve:-
10 (0.9)
11 >fazê alguma coisa.< você ↑vai e toma
12 >anticoncepcional< só naquele di:a
13 (0.6)
14 ↑há possibilidade de engravidá?
15 (0.7)
16 ROMARIO: se há a possibilidade de engravi↑dá senho:ra =
17 USUÁRIA: =é:

Nesta ligação a usuária expressa uma dúvida que aparece com frequência neste contexto: ela quer
saber se utilizando a pílula anticoncepcional somente no dia no qual se pratica o ato sexual desprotegido há
possibilidade de engravidar. Observe-se que ao formular a sua pergunta ela enfatiza apenas a questão do uso
da pílula anticoncepcional, sem mencionar o uso do preservativo ou mesmo uma categoria de
relacionamento. De fato, a narrativa por ela produzida nas linhas 6-14 vem na forma de uma situação
hipotética, generalizada: “por exemplo” (linha 6), se “você” (linhas 6, 7 e 9), isto é, você qualquer pessoa
que estivesse numa situação semelhante. Este é um caso em que trabalho de face é feito mesmo antes que a
ameaça possa se concretizar.
Depois que o atendente realiza a leitura do conteúdo do banco de dados (tipos de anticoncepcionais,
contra-indicação, uso adequado e eficiência da pílula), a usuária repete a sequência inicial, acrescentando
mais detalhes:

Excerto 9:

71 USUÁRIA: >mas deixa eu falá< você: (.) >eu não costu-<


72 é::- no >↑caso assim< não costumo usá
73 (0.5)
74 >aí eu resolvi:<
75 (0.5)
76 fazê: uma co:isa né (hh) aí de re↑pente >eu- eu<
77 usei só no:- ↑só no dia né então:
78 (0.4)
79 >aí no outro dia também não tomei mais na:da< (.)
80 se↑rá que há a possibilida:de de alguma coisa
81 assim. °↑não ↓né°=
82 ROMARIO: =↑assim, (0.4) a informação que nós ↑te:mos senhora não
83 fala nessa questão espe↑cífica >mas a informação que nós
84 ↑temos é que ela-< (.) realmente ela deve ser
85 u↑sa::da .h
86 (0.3)
87 USUÁRIA: no[rmalmente ]
88 ROMARIO: [de forma] ↑cor↓reta i::[sso]
89 USUÁRIA: [cor↑re]ta

A narrativa inicial aqui repetida não vem mais em formado de uma hipótese generalizada. Conforme
a usuária já havia mencionado na linha 25, ela mesma é a pessoa que precisa da informação, pois passou pela
situação descrita. Neste excerto há uma quantidade maior de “material delicado”, assim como de
perturbações na fala da usuária (inclusive um breve riso na linha 76). Ela mantém a substituição (“uma
coisa” em lugar de “relação sexual”), e acrescenta na linha 81 uma avaliação que, além de todas as outras
marcas observadas, demonstra a sua orientação para o tópico como uma ameaça, algo indesejável: “◦não
né◦”. Poder-se-ia mesmo especular que, além de interacionalmente delicado, esse assunto (relação sexual
desprotegida), é para ela um problema pessoal, ou seja, trata-se de uma gravidez indesejada. Contudo, o
esforço interacional feito pela usuária reforça a idéia de que o resultado dessa ligação é de grande

658
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importância para seu bem-estar, uma vez que ela persiste em falar e chega até mesmo a aprofundar o tópico1,
produzindo algo que vem a ser mais “material delicado”.
O ideal seria, em qualquer interação, que um mínimo de informações delicadas e moralmente
comprometedoras fosse suficiente para o sucesso da troca interacional. A questão neste contexto do Disque
Saúde parece ser uma colisão entre a agenda institucional e as necessidades trazidas pelas usuárias. Nesta
ligação não seria muito arriscado afirmar que a falta de especificidade na resposta do atendente não se deve a
uma não compreensão do que foi apresentado pela usuária (ainda que esta pareça ser a compreensão dela,
devido ao fato que ela repete a pergunta acrescentando mais detalhes), antes, é fruto de uma restrição
institucional, que proíbe os atendentes de darem respostas personalizadas (diagnóstico).

4. Conclusão
Uma das colaborações deste estudo para o contexto investigado é a constatação da existência de um
“conflito” de interesses entre as expectativas das usuárias, a agenda institucional do Disque Saúde e a
interpretação dos atendentes a respeito dessa agenda. Dada a relevância deste serviço, devido a fatores tais
como: as condições precárias do próprio sistema de saúde em algumas regiões, condições sócio-econômica
das usuárias, dificuldade de acesso a informações de primeira relevância para o bem-estar das cidadãs, etc.,
fica estabelecida a importância de que melhorias sejam alcançadas constantemente para benefício de toda a
população já que todos são influenciados, de uma forma ou de outra, em maior ou menor grau, pelas
condições da saúde no país.
Ao expor certos detalhes que seriam invisíveis “a olho nu” na interação, este estudo contribuiu para o
trabalho feito pelos atendentes e outros funcionários do Disque Saúde, e por conseguinte, espera-se que
resulte em um atendimento ainda mais eficaz para as usuárias e usuários do serviço.
Seria interessante também ressaltar aqui o fato que os achados da Análise da Conversa
desafiam o conceito de que os falantes, como agentes sociais, são influenciados pelo meio em que
vivem, e pelos discursos que os circundam, sem agência nem consciência com respeito ao que
fazem. Os dados apresentados até agora demonstram que, ao contrário, os falantes se orientam para
uma série de questões tanto internas quanto externas ao seu contexto de fala, e fazem uso de
diversas estratégias interacionais, estando empenhados em fazer trabalho de face e na tarefa de
alcançar os objetivos de comunicação do encontro.

Referências

[1] GOFFMAN, E. On Face-Work: An analysis of Ritual Elements in Social Interaction. Psychiatry:


Journal for the Study of Interpersonal Process, vol. 18, p. 213-231, 1955.

[2] BERGMAN, J. Introduction: Morality in Discourse. Research on Language & Social Interaction, vol.
31, n. 3 & 4, p. 279-294, 1998.

[3] JEFFERSON, G. On the Sequential Organization of Troubles-Talk in Ordinary Conversation. Social


Problems, vol. 35, n. 4, p. 418-441, 1988.

[4] HUTCHBY, I.; WOOFFITT, R. Conversation Analysis. Malden: Polity Press, 1998.

[5] GARCEZ, P. A perspectiva da Análise da Conversa Etnometodológica sobre o uso da linguagem em


Interação Social. In: LODER, L.; JUNG, N. M. Fala-em-Interação Social: Introdução à Análise da
Conversa Etnometodológica. Campinas, SP: Mercado das Letras, 2008.

1
Bredmar e Linell (1996) apontam que uma das características dos momentos delicados é o não
aprofundamento do tópico problemático. Lutfey e Maynard (1998) utilizam o termo “unpackaging”, naquele
caso mostrando que a tendência do médico ao dar más notícias aos pacientes terminais era “desenrolar” o
mínimo possível do pacote de informações desagradáveis.
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O ATOR POETA NA DRAMATURGIA CONSTRUÍDA A PARTIR DA IMPROVISAÇÃO


TEATRAL

Patrícia dos Santos Silveira1*


1
Universidade do Estado de Santa Catarina

1. Introdução
O teatro no século XX propôs novas habilidades e fez novas exigências para o trabalho do ator. Ao
longo desse período foram desenvolvidas experiências [1] em que a dramaturgia verbal foi construída a partir
da improvisação dos atuantes. Grupos teatrais (por exemplo, o Linving Theatre, e o Théatre du Soleil quando
encena 1789 ou L'âge d'or) decidiram não partir mais de um texto escrito, mas de um texto que teria sua
origem no próprio trabalho de atuação. Com isso, o teatro deixou de contar apenas com a encenação de um
texto já escrito anteriormente para passar a construir a dramaturgia verbal do espetáculo a partir da própria
construção das cenas. Essa mudança em algumas práticas teatrais possibilita ver a palavra no teatro em um
novo contexto. Se antes ela era uma palavra escrita, encenada e concretizada pelo ator, agora ela pode ser,
nesses tipos de construção, uma palavra inventada por ele na sua totalidade. É o ator que agora parte da
ausência do signo verbal e do silêncio para chegar a sua criação (quando a palavra passa a existir no mundo
das coisas faladas [2]). Antes disso ele era alguém que dava vida a um texto escrito, agora ele o cria. A
palavra surge, então, do seu corpo, da sua imaginação, do seu intelecto e das relações que estabelece com os
colegas de cena, com o tempo e o espaço em que se desenvolve sua criação. Isto se dá numa relação
orgânica, na qual todos esses elementos estão intimamente interligados. Dessa forma, esta pesquisa de
mestrado, ainda em estágio inicial, busca entender como se dá essa criação do ator com a palavra. O objetivo
é tentar entender que elementos estão presentes no processo de construção desse texto verbal, qual o papel da
palavra na sua relação com os outros elementos da cena e quais as especificidades que ela pode assumir no
trabalho com a linguagem. Essa reflexão pode ajudar a pensar novos métodos de criação para o ator,
contribuir para a reflexão sobre essa dramaturgia, além de contribuir para uma reflexão mais ampla do papel
da palavra no teatro e, consequentemente, no modo artístico de se relacionar com ela.

2. Método
A pesquisa, com o objetivo de melhor entender o uso da palavra no trabalho do ator, quando ele é o
seu primeiro criador, irá analisar um grupo de teatro em processo de construção de um espetáculo teatral. Foi
buscado um trabalho ainda em processo de criação, e não um trabalho que já estivesse finalizado, para
melhor observar e entender o processo criativo do ator enquanto ele ainda está sendo gestado. O grupo
analisado será o UTA (grupo teatral da cidade de Porto Alegre: Usina do Trabalho do Ator). Esse grupo foi
escolhido porque ao longo da sua história (o grupo foi criado no ano de 1992) sempre construiu sua própria
dramaturgia verbal a partir do trabalho de improvisação dos atores. Além disso, foi escolhido porque
encontra-se neste momento, enquanto se desenvolve a pesquisa de mestrado, montando um espetáculo. Para
analisar o trabalho do grupo e dos seus atores, serão realizados a observação presencial dos ensaios,
entrevistas com todos os integrantes para saber sobre seu processo de criação, e posteriormente análise do
espetáculo construído em relação ao seu processo de elaboração. Outra fonte de análise com que a pesquisa
pretende contar são dramaturgos brasileiros que trabalham em processos teatrais colaborativos, com quem
serão realizadas entrevistas sobre processos teatrais já realizados. Esta fonte ainda está sendo buscada. Por
enquanto a pesquisa conta com a participação do dramaturgo Luis Alberto de Abreu, com quem já a autora
entrou em contato. Outros dramaturgos serão convidados a contribuir como fonte para a pesquisa, mas esse
elemento de análise ainda não está definido. O objetivo é entender como é sua relação com os textos
construídos pelos atores, o modo como entendem essa criação, saber como as improvisações foram
conduzidas para a construção dos atores, e como é o processo que leva à construção da dramaturgia final do
espetáculo (a qual parte da palavra criada pelo ator e chega a uma palavra trabalhada pelo dramaturgo). O
motivo de buscar esses dramaturgos é que eles são quem mais convive com esse material produzido pelos
atores a fim de criar uma dramaturgia para o espetáculo. Além disso, não é objetivo da pesquisa propor o
“ator-rei” [4], único produtor de sentidos do elemento teatral. É importante saber como os dramaturgos
pensam esse processo porque eles são quem trabalha essa dramaturgia que parte da criação do ator, ainda que
o foco seja no trabalho deste último. Com essas duas fontes de análise, os atores em processo de criação e os
dramaturgos que trabalham nesse tipo de processo, a pesquisa tenta compor um bom campo de análise para
entender a criação dessa dramaturgia, seus limites, seus riscos e suas relações com o trabalho do ator (corpo
e mente, imaginação, ação física, relação com os outros actantes).

*
Patrícia dos Santos Silveira: pati_ssilveira@yahoo.com.br.
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3. Resultados e Discussão
A prática e a teoria do teatro ocidental ao longo do século XX caminharam para a seguinte
afirmação: o teatro não é a arte da palavra, ele sequer precisa dela para existir. Nessa visão a palavra foi vista
como símbolo de uma cultura racionalista morta e o teatro pôde buscar desenvolver-se como arte autônoma
diante da literatura e aprofundar suas pesquisas sobre a teatralidade e a essência do fenômeno teatral.
Contudo, mesmo buscando um teatro que atendesse a essas exigências, nem sempre a palavra foi esquecida.
As criações coletivas que tentaram colocá-la em uma nova base, mais próxima do fazer teatral e mais longe
do autor solitário, quando escolheram utilizá-la pensaram uma palavra que surgisse da própria criação dos
atores, fruto de sua improvisação.
Diante disso, o que se viu foi uma mudança no modo de se relacionar com o texto verbal. Se antes
ele era basicamente um texto escrito que o ator precisava decorar e concretizar em cena, dando vida a ele,
agora havia a possibilidade dessa construção linguística ter origem na própria cena elaborada pelos atores.
Depois, vendo os riscos desse tipo de criação – o qual muitas vezes pode cair na falta de qualidade textual da
encenação, no niilismo ou no caos [3] – começou a fazer-se necessária a presença do dramaturgo junto à
encenação, nos chamados processos colaborativos (por exemplo, o grupo brasileiro Teatro da Vertigem).
Assim, além de contar com a improvisação dos atores para chegar à dramaturgia verbal, passou-se a ter
muitas vezes alguém com um saber específico para pensar o texto, artista que irá ajudar, orientar e organizar
essa criação.
Diante dessa mudança na relação com o trato com a palavra, uma palavra que não tem mais origem
primeira no texto escrito, a não ser como um roteiro, na maioria das vezes, há possibilidades novas para
pensar o signo linguístico no teatro. Afinal, em experiências teatrais em que ele tem uma origem primeira na
improvisação dos atores, que papel a palavra pode assumir? O que significa dizer nesse tipo de proposta
artística? Qual é a ação do ator com a palavra quando a fala é dita pela primeira vez no espaço cênico? O que
significa vê-lo sair do silêncio até a criação do signo verbal que nasce do seu próprio trabalho de
imaginação?
Esse tipo de experiência foi radicalizada no teatro nos anos 60 quando surgiu a necessidade de uma
teatralidade centrada no corpo e na imaginação do ator, como parte de uma ideia contra o teatro de texto[1].
Diante dessa nova possibilidade artística, pergunta-se, então, que experiência é essa com o signo verbal
quando o ator cria sua própria dramaturgia? Qual a relação que seu corpo estabelece com a palavra?
Os processos teatrais que criam sua dramaturgia partindo do que o ator oferece nas improvisações
como matéria para a construção do texto espetacular, na sua parte linguística, possibilitam pensar essas
questões. Mas por que falar disso justamente quando o teatro se libertou de uma tradição textocentrista e se
afirmou como arte autônoma frente à literatura e ao racionalismo ocidental?
Tais questionamentos se devem ao fato de que o teatro é talvez o melhor lugar para se analisar a
relação da palavra com o corpo, tal como nos diz Anne Ubersfled, em Para ler o teatro. Esta autora chama a
atenção de que é importante não esquecer que a desvalorização da palavra no teatro que acompanhou o
século XX (buscando amparo no pensamento de Artaud) é uma atitude estranhamente paradoxal. Esse
afastamento da palavra assume esse caráter quando se pensa em todo o esforço do pensamento
contemporâneo para mostrar o quanto a maior parte das grandes atividades humanas depende da linguagem.
Ainda segundo a autora, vale a pena lembrar que o teatro é precisamente o lugar onde se pode ver, analisar e
compreender a relação da palavra com o gesto e a ação [5].
Este aspecto importante da relação do teatro com a palavra se dá porque a vida cotidiana (lugar em
que estão comumente ligados o corpo e a fala para a base das relações humanas, e que também oferece
suporte para uma análise desse tipo) não é uma construção artística e, por isso, pertence a um modo de
análise distinto. Por outro lado, na literatura, que é arte da palavra por excelência, encontramos seu centro na
palavra escrita ou dita. Mas o corpo que lê ou diz não encarna uma vida ficcional tal como no teatro. Aqui
vemos o próprio sujeito ficcional diante de nós, agindo imerso no mundo construído, seja ele mais próximo
ou não da realidade não-ficcional. O foco principal da atenção, diferentemente do discurso filosófico, não
está no que se diz, mas no como, e é deste que os outros sentidos são extraídos. Além disso, o cinema, onde
também é comum o uso da palavra, não se constitui essencialmente em uma arte do ator. Ele dá ao
espectador uma presença virtual, dada pela ausência, que não tem os mesmos sentidos de um corpo vivo.
Oferece o recorte de uma câmera, sendo portanto um lugar limitado para refletir sobre a relação entre corpo e
palavra.
Logo, ainda que para o teatro a linguagem verbal não seja essencial, é o único lugar artístico em que
ela pode ser vista na presença de um corpo, uma presença orgânica que diz ao mesmo tempo que é, que se
faz ver ficcionalmente como real.

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Para pensar sobre isso, este trabalho busca estabelecer uma reflexão sobre o ato criativo do ator na
construção de uma dramaturgia verbal.
4. Conclusão
A pesquisa está em estágio inicial. Logo, neste momento, ainda não apresenta conclusões. Contudo,
algumas hipóteses podem ser levantadas sobre a dramaturgia construída pelos atores a partir do seu trabalho
de improvisação. São elas:
- A dramaturgia criada pelos atores não é fruto do acaso, e tampouco obedece as normas da linguagem oral.
- O texto criado pelos atores, principalmente no que diz respeito as suas formas (repetições, pausas,
velocidades, aliterações, assonâncias, métricas e ritmos da fala), tem uma ligação íntima com a composição
corporal que lhe deu origem.
- A imaginação [5] do ator é o suporte principal para chegar à dramaturgia nesse tipo de processo, uma vez
que possibilita partir da composição corporal (feita de silêncio) para chegar na fala (construção da palavra),
e é por sua utilização que o ator consegue chegar à criação do signo verbal (significado e significante). Sem
uma imaginação ativa não há texto.
- Esses textos possuem especificidades dramatúrgicas que diferem de textos escritos individualmente.
- Essa dramaturgia encontra muitas dificuldades para chegar a um resultado artístico satisfatório. Contudo,
apresenta uma forte unidade entre corpo, mente e ação física do ator.
- A tendência desse tipo de processo é construir uma dramaturgia feita de fragmentos. Isto porque parece que
os atores têm dificuldade em criar algo denso e ao mesmo tempo longo (que caracterize um desenvolvimento
sequencial no interior de uma história próxima de uma dramaturgia aristotélica).
- A palavra se constitui na própria ação [6]do ator. Não tem um caráter supérfluo, nem de acessório. Falar
tem o mesmo peso de sentidos que as ações físicas.
- A palavra nesse tipo de processo está intimamente ligada a quem a originou. Sua independência como texto
fica comprometida. Pode ser vista como algo autônomo, mas sua qualidade artística só fica mais evidente
quando dita por seu criador.
Essas hipóteses têm um caráter de guia para a reflexão. Contudo, todas elas poderão ser revistas ao
longo do trabalho de pesquisa tanto nas afirmações que apresentam, quanto na relevância de certas questões
para a pesquisa e o fazer teatral. É provável que muitas sejam negadas, repensadas, ou deixadas de lado
diante de novas problemáticas.

Referências

[1] RYNGAERT, Jean-Pierre. Introdução à análise do teatro. São Paulo: Martins Fontes, 1995.

[2] MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

[3] CARVALHO, Sérgio de. Introdução ao Teatro Dialético. São Paulo:Expressão Popular, 2009.

[4] UBERSFELD, Anne. Para ler o teatro. São paulo: Perspectiva, 2005.

[5] BACHELARD, Gaston. O ar e os sonhos: Ensaio sobre a imaginação do movimento. São Paulo:
Martins Fontes, 1990.

[6] AUSTIN, J. L.. Quando dizer é fazer: palavras e ação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990.

HEIDEGGER, Martin. A caminho da linguagem. Petrópolis: Vozes; Bragança Paulista: Editora


Universitária São Francisco, 2003.

RICOEUR, Paul. Teoria da interpretação: O discurso e o excesso de significação. Lisboa: Edições 70,
s.d..

BARTHES, Roland. A música, a voz, a língua. In: O óbvio e o obtuso. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1990.

BONDÍA, Jorge Larrosa Bondía. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. In: Revista
Brasileira de Educação, Jan/Fev/Mar/Abr 2002 nº 19.

DINOUART, Josep-Antoine-Toussaint. A arte de calar. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

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GOSWAMI, Amit. Universo autoconsciente: como a consciência cria o mundo material. Rio de Janeiro:
Record, 1998.

CHACRA, Sandra. Natureza e sentido da improvisação teatral. São Paulo: Perspectiva, 1983.

MOORE, Alan. The mindscape of Alan Moore. Direção: DeZ Vylenz. Shadowsnake productions, 2006. 78
min.

PUJADE-RENAUD, Claude. A linguagem do silêncio: expressão corporal. São Paulo: Summus, 1990.

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O LEGADO DA PERFORMANCE ARTE PARA A CENA CONTEMPORÂNEA

Gustavo Oliveira Scherer1*; Gisela Reis Biancalana2; Francine Ivana Flach3


1
Acadêmico da Universidade Federal de Santa Maria
2
Profa. Dra. da Universidade Federal de Santa Maria
3
Acadêmico da Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução
Esta pesquisa investiga o legado da Performance Arte para a cena contemporânea. A Performance
nasceu nos anos setenta, em meio a transformações nos modos de ser, pensar e agir humanos. Ela foi fruto de
uma busca incessante de alguns segmentos das artes visuais e calcava-se na experimentação. Durante a
Modernidade imperava a idéia do homem como centro do mundo, sua força motriz capaz de movê-lo
segundo sua vontade. Questionamentos conceituais, emergidos da complexa sociedade moderna e
contemporânea, com críticas ao paradoxo formado pelo racionalismo e pela alienação humana, e a
consequente proposta de negação das artes tradicionais, levantaram as bases desta linguagem artística.
Esta forma de expressão trouxe, na sua história, a descendência das Vanguardas do início do século
XX, e desencadeou novos entendimentos sobre o mundo e um pensamento reflexivo sobre o corpo-arte para
as artes cênicas. Este contexto provoca uma revisão de diversos pensamentos já estabelecidos por uma ordem
social marcada pelo racionalismo. Alguns artistas começaram a interrogar-se sobre o elo vida-guerra e
também a função da arte perante a destruição em massa.. Segundo Glusberg (1987), artistas como: Yves
Klein com Salto no Vazio, Cage com Untitled Event, Pollock com Action Paintin, Allan Kaprow com
suasAassemblages, com os Environments e, mais tarde, com o surgimento do Happenig, antecederam
algumas características que sustentaram a Performance.
Neste pesquisa, a abordagem da Performance enquanto linguagem foi direcionada aos modos de
aplicação de algumas de suas características à arte teatral e ao trabalho do ator, persistentes na
contemporaneidade através da via do corpo na concepção das linguagens, do resgate da crítica, do
hibridismo, do uso de várias mídias eletrônicas, da fragmentação, do apelo aos sentidos e da interação com o
público. Assim, pretende-se trazer para a prática o conceito de corpo-arte1, primeiramente pensado pelas
Vanguardas, e mais tarde postulado pela Performance que entendia o corpo como elemeto central da arte e
não apenas portador da mesma.

2. Método
Nesta investigação, a abordagem da Performance enquanto linguagem do século passado, teve como
objetivo detectar sua contribuição para o teatro contemporâneo observadas em algumas aplicações das
características da Performance arte, persistentes na cena contemporânea e no trabalho do ator. Segundo
Cohen (1998, p. XXX), o teatro na contemporaneidade é derivado da “arte-performance (atuação não-
naturalistas, narrativa fragmentada)- faceados pelo estudo da psicanálise e das irrupções do inconsciente.”,
bem como pela utilização do corpo para compor a linguagem do espetáculo, pelo resgate da crítica inserida
no teatro, pelo híbridismo, pelo uso de várias mídias, pela fragmentação, pelo apelo aos sentidos, pela
ruptura da quarta parede e, consequentemente, pela interação com o público.
Assim sendo, a partir da linguagem da Performance Arte, optou-se, primeiramente, por investigar
suas raízes contextualizando-a, histórica e culturalmente, bem como, detectando suas principais
características. Em seguida, buscou-se estudar as características observadas nas expressões teatrais
contemporâneas, para, posteriormente, relacionar o legado da Performance, oriunda de representantes da
artes visuais, à cena contemporânea.

3. Resultados e Discussão
Com base na investigação da Performance Arte, pode-se defini-la como uma manifestação
interdisciplinar e híbrida, que sustenta a ruptura com as artes tradicionais, sugerindo a quebra com antigos
paradigmas do sentir, do pensar e do agir humanos. Para tanto, parte da crítica à alienação e da utilização de
conflitos opostos, interno versus externo, velado versus desvelado, indivíduo versus sociedade, entre outros.
Tais conflitos são capazes de causar questionamentos e reflexões no público e também no ator como
performer teatral.
Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, os questionamentos dos saberes instituídos, tornaram-se
cada vez mais consistentes. Perante o conflito mundial artistas de todas as áreas questionam-se sobre sua

*
Autor Correspondente: gustavomrk@yahoo.com.br
1
Ao chegar à conclusão de que o corpo pode ser a própria arte, ocorre o ponto encontro com o teatro.
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arte, e o elo vida-guerra. Assim organizam manifestações artísticas. Estes queriam desafiar e questionar a
arte tradicional para provocar rupturas e, dessa maneira, impor novas formas de fazer arte.
Primeiramente, vistos como movimentos rebeldes, o Futurismo, o Dadaísmo e a Bauhaus, são
oriundos de ideais filosóficos que surgiram no início do século XX exercendo influência sobre toda a arte.
Os formuladores das Vanguardas viram a arte performativa como meio de alcançar seus objetivos. O
Futurismo teve como seu idealizador o italiano Felippo Marinetti que publicou o Manifesto Futurista em
1909, obra que lançou movimento artístico-literário, utilizava-se do crescimento industrial para valorizar a
maquinaria e desvalorizar a humanidade. O Dadaísmo foi originado em 1915 por um grupo de artistas que se
encontravam em cafés para discutir arte, entre eles estavam; Tristan Tzara, Hans Harp, Richard Hülsenbeck,
Marcel Janko, Hugo Ball e Hans Richter. O movimento ganhou forma e amplitude em plena primeira Guerra
Mundial, em Zurique. Este movimento negava todas as tradições sociais e artísticas, tinha como base um
anarquismo niilista e o anti-racionalismo, seu slogan era: "a destruição também é criação”. Propunha a
destruição das obras artísticas do passado, pois assim estariam reinventando-as.
Já a Bauhaus foi criada a partir da fusão da Academia de Belas Artes com a Escola de Artes
Aplicadas de Weimar na Alemanha, foi uma academia de artes que tinha como objetivo a articulação entre a
arte e o artesanato, também visava à ligação mais efetiva entre arte e indústria. Inaugurada por Adolf
Gropius, em 1919, a escola almejava, ainda, contribuir com a melhoria da qualidade de vida do homem. Não
foi uma Vanguarda européia propriamente, mas congregou importantes criadores de Vanguardas.
Outros artistas da mesma época também antecediam características que conceituariam a Performance
Artística. Serge Diaghilev, por exemplo, em 1913, segundo Glusberg (1987, p. 16), “transforma o balé numa
síntese de dança, música e artes visuais (cenografia e figurino)”. Dessa forma, Diaghilev apresentava a
junção de algumas áreas da arte para a formação de uma nova linguagem. Já Duchamp, em 1917, revela
outro importante fator para a Performance, o estranhamento. O artista propõe a quebra do racionalismo a
partir da transformação de objetos, que já possuíam significados estipulados pela sociedade, fornecendo ao
público a possibilidade de atribuir novos sentidos sobre eles. Pode-se citar, como exemplo, a obra Fonte, um
mictório invertido que assumiu uma nova função. Outro nome importante foi Yves Klein que, em 1962,
saltou de um prédio para a rua e fez o registro da sua obra, fotografando-se. Esta obra foi nomeada como
Salto no Vazio. Segundo Glusberg (1987, p.11), Klein protagonizou a sua obra, ele era a própria obra em si.
Com essa experiência há a iniciação do que tem-se conceituado de Performance Artística. Aqui o corpo
ganha destaque, não apenas enquanto elemento integrante da obra, mas torna-se a própria obra artística.
Cage, como organizador do Untitled Event (Evento sem Título) em 1952, sugere uma fusão entre
cinco artes: teatro, poesia, pintura, dança e a música. Glusberg (1987, p,25), explica que a sua “intenção era
conservar a individualidade de cada linguagem e, ao mesmo tempo, formar um todo separado, funcionando
como uma sexta linguagem”. O Untitled Event repercutiu em todo o mundo, principalmente porque nessa
época, década de 50, estava ocorrendo uma releitura de antigos conceitos.
As aglutinações dos gêneros artísticos tornavam-se cada vez mais freqüentes e mais complexas. Os
artistas, dramaturgos, dançarinos, pintores, músicos e poetas queriam a arte como um todo, o não isolamento,
assim como a não separação da vida-arte. Seguindo essas formulações as artes visuais assumiram um
processo de hibridização, onde sofreram constantes transformações, como conseqüências nascem novas
formas de compor e entender o corpo-arte-tempo-espaço.
A partir destas relações, observou-se que, algumas manifestações artísticas e seus mentores que
destacam-se em meio a toda essa movimentação, como Pollock (1912-1956), por exemplo, foram os
principais precursores da performance Pollock surge com sua técnica denominada Action Paintin é uma
adaptação da técnica de Collage de Marx Ernst, onde o ato de pintar é o tema da obra, e o artista transforma-
se em ator. Para o esclarecimento da Action Painting, Glusberg (1987, p.27) a descreve como:

O próprio pintor, e não tão-somente sua mão e seu braço, move-se no espaço criado pela lona. Seu corpo entra
no espaço artístico, embora esse corpo não seja a obra em si. Isso somente irá ocorrer num estágio posterior da
Body Art.

Portanto mais uma vez, notou-se a importância, para os artistas plásticos, do descobrimento do corpo
como viés principal de sua obra ou, ainda, da relação corpo/espaço como sendo a própria obra. Segundo
Roselee Goldberg (2002, p.159).

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Al mismo tiempo que esos artistas estaban trabajando en sus cuerpos como objetos, manipulándolos como si
fueran una pieza de escultura o una página de poesía, otros desarrollaran performances más estructuradas que
exploraban el cuerpo como un elemento en el espacio.2

A Action Painting também faz uso da colagem de imagens como processo criativo, informação importante
para entender a próxima transformação artística que foi a Assemblage.
A Assemblage é uma técnica que mistura pintura com uma composição de materiais não
convencionais. Essa mescla de elementos proporciona à obra uma variação de relevos e texturas.
Historicamente, foi o alemão Kurt Schwitters (1887-1948) que realizou as primeiras Assemblages nos anos
vinte. A técnica da Assemblage acolheu vários seguidores de outras formas de arte. Um exemplo importante
dessa migração foi Allan Kaprow que, em 1955, abandonou a Action Painting para dedicar-se às
Assemblages.
Kaprow começou a desenvolver Assemblages tão complexas que passou a inserir elementos de
outras técnicas. O resultado foi a continuidade da Action-Collage (“colagem de impacto”) abarcando
conhecimentos da Action Painting de Pollock e a utilização do acaso presente nos trabalhos de Cage. A
“colagem de impacto” assumiu uma linguagem própria, apresentava características como a rapidez e a
espontaneidade. Todo material utilizado passou a ser estudado minuciosamente para possuir um sentido
dentro da obra. Assim, essa técnica artística ampliou-se significativamente tomando proporções inesperadas.
A partir da amplitude que a Action-Collage adquiriu, foram-se incluindo diversos elementos como os efeitos
de iluminação, do som, entre outros, até acorrer o envolvimento de todos os sentidos do público. Com o
“aprimoramento” da técnica Action-Collage, Allan Kaprow foi aplicando-a em ambientes inteiros, até
perceber que sua arte já não era mais uma simples “colagem de impacto”, mas havia criado outra forma
artística. Esta descoberta foi denominada por Kaprow como Environment (meio ambiente, envoltório).
Subseqüentemente, Kaprow percebeu que a figura humana passa a fazer parte dos seus Environments
não só como uma figura ilustrativa ou passiva de observação, mas sim como agente modificador do espaço.
Desta forma, a partir de ações cotidianas como o apertar, o mover objetos, entre outras possibilidades, cada
espectador passa a fazer parte da obra.
Neste contexto, artistas japoneses aparecem com a Live Art e também serão considerados um dos
principais precursores de primeira linha na arte da Performance. Segundo Glusberg (1987, p. 32):

O nome live art não vem só do fato de envolver participação. Esta forma de arte também foi chamada live
porque tinha a intenção de ser tirada da vida, da existência cotidiana. Este aspecto do dia-a-dia é expressado
em objetos – nomes os mais corriqueiros - e nos fatos inopinados da vigília e nas fantasias inconsciente do
sono, unindo, dessa forma, causalidade com casualidade.

Assim, em torno de 1958, Kaprow fixou a relação obra/público e batizou essa nova forma de arte de
Happening. O Happening é um acontecimento com local e data marcados, onde interagem o público e os
performers a partir da proposta indicada pelos artistas. No entanto, todos os presentes fazem parte da obra de
arte e são instigados a utilizar os sentidos no questionamento de conceitos instituídos, sejam eles sociais-
artísticos-culturais abordados pela proposta, bem como na proposição de novos.
Outra forma de arte importante na estruturação da Performance é o surgimento da Body Art. Este
modelo proporciona uma percepção, de que cada vez mais o corpo torna-se importante na arte, até chegar a
conclusão de que o corpo pode ser a própria arte. Uma característica marcante da Body Art é a mutilação do
corpo. Os performers faziam cortes por todo corpo, suspensões através de ganchos presos na pele. Estas
manifestações mostravam que o artista é a própria arte, com isso pretendiam limpar o corpo do homem,
deixá-lo nu e quebrar com tabus e conceitos culturais, livrá-lo de toda forma de ilusão.
A partir do momento que foi concebido o corpo como a própria arte, representantes das artes cênicas
começam a despertar para pontos de encontro entre estas manifestações, atraindo a atenção de muitos artistas
do teatro como; Bertolt Brechti, Alfred Jarry e Eugene Ionesco. Um grande atrativo presente nos discursos
de Jarry e Ionesco foi o questionamento da vida/arte perante a destruição causada pela guerra, à perda de
identidade da humanidade gerando temas comuns no Teatro do Absurdo que também é característico do pós-
guerra.
A hibridização, dentro da Performance, é identificada pela utilização de elementos do teatro, da
música, da poesia, da dança e das mídias em aúdio e vídeo, a partir da fusão das várias disciplinas abordadas.
Surgiram novos ramos no direcionamento da arte corporal. Aqui não há mais a separação das formas

2
Enquanto esses artistas estavam trabalhando em seus corpos como objetos, manipulando-os como uma escultura ou
uma página de poesia, outros desenvolvem performances mais estruturada de explorar o corpo como um elemento no
espaço.( Tradução do autor).
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artísticas, pois elas estão completamente fundidas. Assim, pode-se citar o teatro-dança de Pina Bausch e o
termo ator-bailarino definido por Barba.
Estruturalmente, as Performances seguem um "roteiro" previamente definido, ou seja, o performer
dá o sentido, um direcionamento para o trabalho, mas ao lidar com o “acaso” e com a possível interatividade,
os espectadores podem decidir suas posições. Desta forma, o produto pode variar muito em cada sessão.
O surgimento da Performance situa-se como resultante das transformações sofridas pela arte nos
últimos tempos. Após chegar às suas principais características, pode-se observar em espetáculos atuais a
presença de questões recorrentes para o teatro contemporâneo oriundos da Performance, bem como o
hibridismo, a presença de diversas mídias, a quebra da quarta parede, a construção de ambiente, entre outros.
Compreende-se a cena contemporânea como uma manifestação, que apresenta em sua composição
variadas gêneses. É adjetivada de híbrida e interdisciplinar, pois sua natureza é arranjada por diversas
linguagens artísticas. Essa fusão tem por fim, uma totalidade, uma unificação, onde não há possibilidades de
distingui-la ou classificá-la.
O teatro da contemporaneidade quebra com os paradigmas do palco italiano e com os Homônimos da
interpretação. Enquanto nas manifestações teatrais oriundas do “teatro clássico”, primava-se pela
representação do ator de uma personagem num espaço cênico tradicional. A forma contemporânea
contrapõe-se assumindo um heterônimo, ou seja, quem está sendo representado em cena pode ser uma
personagem, mas também, pode ser o próprio ator, ou ainda qualquer outro ser humano.
Com relação ao espaço utilizado para os espetáculos, usa-se lugares alternativos que
possibilitam diferentes forma de jogo entre ator-espaço e ator-público. Assim com a fragmentação
da quarta parede pode ocorrer uma comunicação direta com a platéia. Cohen (1998, p. XXVIII) fala
que o receptor torna-se um participante da cena
... em que essa participação cresce, interferindo, mediando e criando texto numa serie de manifestações. Essa
entrada do receptor já era operada em inúmeras cenas da arte-performance – Jonas Mekas realizava peformances
em seu apartamento em que o publico, convidado pelo Village Voice, tornava-se, desavisadamente, protagonista
do happening, à medida que saía do elevador.

Outro meio para aproximar o receptor da cena teatral Contemporânea, é a utilização dos
Environment. Cria-se um ambiente onde todos os sentidos humanos são instigados através de mídias
eletrônicas, que para causar estranhamento são fragmentadas, e assim apresentam momentos de suspensão e
outros de pura intensidade.
Portanto após investigar as duas linguagens, Performance e teatro Contemporâneo, ligou-se os
pontos de convergencia para encontrar o legado da Performance Arte presente nos espetáculos atuais.

4. Conclusão
Acredita-se que o teatro contemporâneo traz, em sua essência, um misto das transformações
sofridas pelas sociedades contemporâneas e que são influenciadoras das suas formas artísticas,
plurais, híbridas, multifacetadas, desfronteirizadas. Nos anos setenta a Performance estava firmando
sua linguagem, para tornar-se uma arte influente e, assim, deixar um forte legado para a atualidade.
Assim, a produção teatral contemporânea concatena com este legado deixado pela Performance,
primeiramente, na quebra com os paradigmas da racionalidade detectados nas derivações assumidas no
tempo e no espaço que apresentam fragmentações outrora inadmissíveis e, ainda, no hibridismo de
linguagens, no uso do heterônimo, na incorporação das mídias eletrônicas, nas relações entre
performers e público, entre tantas. A cena teatral, na atualidade, também é conhecida como cena das
intensidades, por apresentar uma ampla diversidade em seus meios de criação e apresentação.

Referências
COHEN, Renato.Work in Progress na Cena Contemporânea. 1. Ed. São Paulo: Perspectiva, 1998.
_______. Performance como linguagem: criação de um tempo-espaço de experimentação. 2. Ed. São
Paulo: Perspectiva, 2004.
GLUSBERG, Jorge. A arte da performance. São Paulo, Perspectiva, 1987.
GOLDBERG, Roselee.Performance Art. 2. Ed. Ediciones Destino, 2002.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

O REPERTÓRIO SONORO TEATRAL COMO CONDUTOR DA DRAMATURGIA DA


CENA

Morgana Martins1
Universidade do Estado de Santa Catarina

1. Introdução
A presente pesquisa teve início em caráter teórico no ano de 2007 em formato de Trabalho de
Conclusão de Curso, pela Universidade do Estado de Santa Catarina, desenvolvido por mim e pela
professora orientadora Brígida de Miranda. O objetivo era introduzir o tema repertório sonoro na cena
teatral – comumente conhecido como sonoplastia teatral – a fim de levantar um assunto pouco discutido
teoricamente e com pouca quantidade de publicações no país. A sonoridade no teatro é um elemento de
extrema importância dialógica com os demais elementos de cena. O som numa peça teatral pode interferi
diretamente na dramaturgia da cena, carregando a função de dialogar, contrapor, criticar e reforçar a imagem
que o espectador presencia. Como objeto desse estudo, escolho o grupo de Brasília, Circo Teatro Udi Grudi,
em que, em 2007, seu espetáculo intitulado “O Cano” foi o principal objeto do TCC como sendo um
espetáculo onde seu percurso dramático é conduzido pelo elemento sonoro. Para a presente pesquisa, em
nível de mestrado, sobre orientação da professora Vera Collaço, ingressada no ano de 2009, o tema da
pesquisa avança para as possibilidades de dramaturgia que são conduzidas pelo elemento sonoro e, por esse
meio, o objeto torna-se o grupo Circo Teatro Udi Grudi como um todo, analisando seus três últimos
espetáculos, dos quais é possível perceber que estes têm o elemento sonoro como condutor da dramaturgia de
suas cenas.

2. Método
O método que adoto para a realização da pesquisa divide-se em dois momentos: o primeiro é um
levantamento teórico sobre o tema, a fim de discutir as funções e conceitos que permeiam sobre o assunto.
Os autores/pesquisadores que são referenciados nesta pesquisa são Lívio Tagtenberg, Roberto Gill Camargo
e Luiz Otávio Carvalho Gonçalves de Souza, todos eles autores teóricos e práticos sobre repertório sonoro na
cena teatral. Paralela à pesquisa teórica realiza uma pesquisa de campo, da qual refere-se a uma viagem à
Brasília para realizar um encontro com os integrantes do grupo Circo Teatro Udi Grudi. O objetivo deste
encontro é realizar pesquisas qualitativas e recolher materiais áudio visuais que reforcem o conteúdo da
pesquisa. O terceiro momento realiza-se na confecção da escrita da dissertação relacionando os dois
primeiros momentos da pesquisa.

3. Resultados e Discussão
A pesquisa encontra-se no processo da confecção da escrita da dissertação. O material teórico foi
levantado e analisado, assim como foi realizada a viagem que me possibilitou entrar em contato com o grupo
Circo Teatro Udi Grudi. A pesquisa estrutura-se em três capítulos: o primeiro discute conceitos e funções do
repertório sonoro da cena teatral, realizando paralelos entre as teorias dos pesquisadores estudados. No
segundo capítulo introduzo o conceito de “dramaturgia sonora” de Lívio Tragtenberg (1999), como também
contextualizo o grupo Circo Teatro Udi Grudi, relatando brevemente sua história e discutindo a estética dos
seus trabalhos. Por fim, no terceiro capítulo, descrevo os espetáculos do grupo estudados para esta pesquisa –
intitulados “O Cano”, “O Ovo” e “A Devolução Industrial”, relatando-os como três possibilidades de
espetáculos dos quais têm o elemento sonoro como dramaturgia da cena. No presente momento estou
realizando a confecção da escrita dos dois primeiros capítulos.

4. Conclusão
Esta pesquisa impulsiona-se com o objetivo de levar ao público que pesquisa a arte teatral – seja
prática ou teoricamente – a importância que o repertório sonoro tem na cena. É comum depararmos com
espetáculos teatrais em que se percebe pouco cuidado com o elemento sonoro e como este poderia enriquecer
o conteúdo de suas cenas. Discutir sobre a atenção que um compositor de repertório sonoro tem de ter ao
perceber de que maneira está sendo conduzidos os demais elementos do espetáculo e como fazer com que o
elemento sonoro dialogue com todos os demais sem se mostrar opaco ou destoante dentro do espetáculo.
Pela preocupação em refletir o quanto pode ser importante o repertório sonoro na cena teatral é que escolho o
Circo Teatro Udio Grudi como objeto da pesquisa, pois em seus trabalhos é possível perceber um olhar
____________________________________
1. Morgana Martins é aluna de Pós-Graduação em Teatro pela Universidade do Estado de Santa Catarina, com ingresso em 2009, sua
pesquisa tem orientação da Profa. Dra. Vera Collaço. Contato: moguifm@yahoo.com.br

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

detalhado sobre o elemento sonoro, confiando neste a responsabilidade de conduzir a linha dramatúrgica de
suas peças teatrais.

Referências
CAMARGO, Roberto Gill. Som e cena. Sorocaba – SP: TCM-Comunicações, 2001.

MARTINS, Morgana Fernandes. “Música para ver, teatro para ouvir: quando o repertório sonoro se torna a
dramaturgia da cena”. Monografia (graduação em Artes Cênicas) – Curso de Habilitação em Artes Cênicas,
Universidade do Estado de Santa Catarina. Florianópolis, 2007.

PAVIS, Patrice. Análise dos espetáculos: teatro, mímica, dança, dança-teatro, cinema. Trad. Sérgio
Sálvia Coelho. São Paulo – SP. Perspectiva, 2005.

PAVIS, Patrice. Dicionário de teatro. Trad. J. Guinsburg e Maria Lúcia Pererira. São Paulo – SP.
Perspectiva, 1999

SOUZA, Luiz Otávio Carvalho de. A Música e os Efeitos Sonoros na Cena Teatral: Reflexões sobre uma
Estética. Tese defendida pela Escola de Comunicações e Artes da USP. São Paulo / SP, 2000.

TRAGTENBERG, Lívio. Música de cena: dramaturgia sonora. São Paulo – SP. Ed. Perspectiva:
FAPESP, 1999.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

O TEATRO DE REVISTA NA CENA CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA

Francine Ivana Flach1*; Gisela Reis Biancalana2; Gustavo Oliveira Scherer3


1
Acadêmica da Universidade Federal de Santa Maria
2
Profa. Dra. da Universidade Federal de Santa Maria
3
Acadêmico da Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução
A presente investigação visou o estudo do Teatro de Revista, enquanto manifestação da cultura
popular brasileira no período que compreende seu auge, as décadas de 1920 e 1930, para traçar um paralelo
entre suas características marcantes que ainda são detectadas no teatro brasileiro contemporaneamente. O
aprofundamento da história e das convenções do Teatro de Revista é fundamental para esta pesquisa uma vez
que, a partir desse estudo, torna-se possível analisar a sua importância na cena teatral contemporânea. No
Brasil, os seus pressupostos trazem à tona, já na segunda metade do século XIX, diversas tendências, que
são, atualmente, encontradas no teatro contemporâneo brasileiro. Nesse contexto, a Revista antecipa a
multidisciplinaridade através da desfronteirização do mundo artístico atual, especialmente, ao estabelecer
pontos de contato entre o teatro, a dança e a música nacional, aproxima as relações entre a cena e o público,
bem como assume e reforça o humor típico do povo brasileiro.
A estrutura do Teatro de Revista é composta por quadros que englobam apresentações de teatro, dança
e música. A utilização dessas linguagens na cena revisteira ocorre de diversas formas e propõe o seu uso não
só em quadros distintos, como também em um mesmo momento. Ao fundir essas artes em um único
espetáculo, em que atores desenvolvem um enredo ao lado de vedetes que apresentam os seus shows
coreográficos e de instrumentistas que trazem as músicas brasileiras para a cena, a Revista apresenta a sua
multidisciplinaridade através da desfronteirização das artes.
O gênero revisteiro também se mostra interativo no momento em que explora o desnudamento das
ilusões cênicas e adere a sua estrutura alusões a fatos marcantes do cotidiano brasileiro. Ao deixar à mostra
o processo de criação do espetáculo e misturar realidade e fantasia, a Revista aproxima-se de seus
espectadores e estabelece um contato direto e incisivo com a platéia.
Desde o princípio de sua história, os espetáculos do Teatro de Revista apresentaram, como temáticas
recorrentes, a ridicularização de fatos e pessoas retiradas do cotidiano da, então, capital do Império, o Rio de
Janeiro. Por abordar temas que não só eram ligados à vida de seus espectadores como, também, repletos de
humor, deboche e crítica, o gênero logo conseguiu encantar o grande público ao transformar códigos
convencionais e produzir novos sentidos, provocando e induzindo o questionamento.
Sendo assim, é de fundamental importância aprofundar os conhecimentos sobre o Teatro de Revista
para compreender a re inserção do interesse voltado a ela na contemporaneidade ao entendê-lo como uma
arte híbrida ao reunir linguagens, aglutinadora ao se aproximar do público e divertida ao assumir uma
postura questionadora pela via do humor.

2. Método
Esta pesquisa objetivou a coleta de material acerca da história e das convenções do Teatro de Revista
com o intuito de analisar a sua importância na cena teatral contemporânea. Ao vislumbrar seus pressupostos
tornou-se inevitável ligá-los aos que são concebidos no panorama teatral da atualidade, uma vez que ambos
se propõem desfronteirizados e interativos, bem como carregam o humor típico dos brasileiros, em geral. O
procedimento metodológico desta pesquisa foi voltar-se para o estudo bibliográfico aprofundado,
primeiramente acerca da do Teatro de Revista, pois, coleta desse referencial teórico permite compreender a
importância do gênero para o contexto contemporâneo. Paralelamente, estudou-se o teatro na
contemporaneidade para detectar suas características recorrentes. Finalmente, buscou-se traçar o paralelo
entre as formas estudadas, para estabelecer os seus pontos de contato.

3. Resultados e Discussão
Chama-se Revista o gênero de teatro constituído por quadros falados, musicais e coreográficos,
repletos de crítica e humorismo. Esse gênero teatral alcançou grande popularidade no Brasil, especialmente
no Rio de Janeiro, pela crítica bem-humorada com que enfocava certos aspectos do cotidiano do país. A
Revista recebeu diversas influências para constituir-se enquanto gênero teatral. Suas origens remontam-se
não só aos tempos antigos – com as manifestações populares de teatro cômico na Grécia e na Roma Antiga,

*
Francine Ivana Flach: francineflach@yahoo.com.br
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com o teatro popular da Idade Média e a Comédia Dell’Arte na Itália –, como também, remontam a tempos
não tão distantes, com o teatro de costumes de Martins Pena e José de Alencar.
De acordo com Antunes (2004, p. 14), o modelo que se conheceu no Brasil, a partir da segunda
metade do século XIX, surgiu na França, no século XVII, através de “artistas populares, acrobatas,
dançarinos, trovadores, equilibristas, domadores de animais, ilusionistas e atores da Comédia Dell’Arte que,
com seus truques e habilidades, encontraram uma forma de se aproximar das grandes platéias públicas”.
Estas apresentações francesas evoluíram para as Revistas de Ano que foram implantadas em Portugal e,
posteriormente, em diversos países. No país luso, a Revista recebeu influências dos autos de Gil Vicente e
logo foi exportada para o Brasil, onde “o tempo, os fatos, o clima, a música, os acontecimentos político-
sociais (...) fizeram com que ela passasse por uma metamorfose de abrasileiramento” (VENEZIANO, 1996,
p. 29). Assim, aos poucos o gênero foi se adaptando ao estilo carioca e ao jeito brasileiro de ser.
No início do século XX, a Revista já havia se consolidado no país inteiro. Cada região adaptava as
peculiaridades do gênero aos costumes da cultura local. A I Guerra Mundial, em 1914, destruiu a Europa e
dificultou que companhias estrangeiras circulassem por outros continentes. Esta situação impulsionou a
renovação da Revista através da valorização da arte nacional e das raízes populares, transformando-se no
“mais forte e duradouro movimento de teatro popular já ocorrido no país”, responsável por influenciar de
forma decisiva a “consolidação de uma cultura urbana de massas, como meio de diversão e como
instrumento de formação da opinião pública” (ANTUNES, 2004, p. 13).
No que se refere à produção teatral, durante o século XX, ela destacou-se pela seriedade profissional
de seus empreendedores e pela qualidade artística dos espetáculos realizados. Porém, entre eles, surgiram
oportunistas que atuavam sem conhecimento do gênero, o que, infelizmente, um dos possíveis motivos que
deram origem ao estigma da Revista como um teatro sem valor artístico. Tal marca pode ter se fixado na
história do teatro brasileiro, mas, na realidade, o Teatro de Revista, segundo Veneziano (1996, p. 13),
“contribuiu para a nossa formação cultural, que fixou nossos tipos, nossos costumes, nosso modo genuíno de
falar à brasileira”. Nesse contexto, o Teatro de Revista, ao se estabelecer no Brasil, refletiu as formas de
divertimento mais populares através da irreverência, do humor, do samba, do carnaval, da folia integrada aos
costumes nacionais, transformando-se em um gênero genuinamente brasileiro.
Em terras brasileiras, a Revista de Ano sintetizava e criticava com muita ironia e deboche os principais
acontecimentos ocorridos publicamente no ano que passou. Estruturada em três atos, era composta por
quadros de teatro, de música e de dança, interligados por um fio de enredo e conduzidos pelo compère
(mestre-de-cerimônias que era responsável pelo andamento do espetáculo). Para Antunes (2004, p. 15),
“embora frágil e despretensioso, o enredo possibilitava a passagem da cidade em revista”. Sendo assim,

os pretextos para impulsionar a ação variavam. Ora algo ou alguém se perdia e precisava ser procurado, ora
ocorria uma perseguição ou a chegada de uma visita estrangeira. Eram artifícios que permitiam o desfile dos
tipos característicos das ruas, de forma bem-humorada, em situações facilmente reconhecíveis pelo espectador.
(...) Alguns tipos se transformavam em verdadeiros símbolos da cultura brasileira, como o malandro, o caipira,
o português, o carioca e a mulata (...). (ANTUNES, 2004, p. 15)

As críticas, tão evidentes ao gênero, normalmente, direcionavam-se aos homens poderosos do Rio de
Janeiro, então, capital do país, e eram desenvolvidas através de tipos caricatos e alegorias. Nesse contexto,
não só personalidades proeminentes, como também instituições e acontecimentos como, por exemplo, a
prefeitura e as doenças epidêmicas, eram ridicularizadas, na cena do Teatro de Revista, através da
humanização de figuras inanimadas. Essa comunicação era imediata e clara para entrar em sintonia e
estabelecer contato com o público. Para Veneziano (1996, p. 34),

ao colocar em cena os disparates, as tolices, as asneiras dos políticos, dos poderosos, combiná-los à música
própria da terra e desenhar um painel dos acontecimentos imediatos, este gênero nasceu para servir, sob
medida, à nacionalidade de quem o adotar.

Sendo assim, por estar diretamente voltada para os tipos e assuntos do cotidiano popular, a Revista
está intimamente ligada à atualidade e às lembranças recentemente vividas. Logo, é um espetáculo
constituído por alusões a fatos e acontecimento recentes. Quanto a isso, Veneziano (1996, p. 30), afirma que

a alusão é um recurso de linguagem que consiste em se dizer uma coisa e fazer-se pensar outra. O encanto da
revista reside no prazer da alusão. Alusões que podem aparecer sob diferentes formas: históricas, quando elas
se referem a fatos históricos conhecidos; políticas, quando atuam no campo da paródia aos homens do
governo; verbais, quando se utilizam de palavras que tenham duplo sentido e se apresentem como ingênuo
equívoco e até mitológicas, calcadas num ponto qualquer da fábula disfarçada, como metáfora presente.

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Assim, as alusões eram utilizadas pelos revisteiros, tal como foram nos ritos populares, como meio
de vingança à ordem social imposta. Por ser um teatro da alusão e, por isso, avesso à ilusão, o gênero
explorava o desnudamento do mundo cênico e deixava à mostra o processo de criação do espetáculo para se
aproximar dos espectadores. Em busca desta cumplicidade, também se utilizava o recurso do monsiuer du
parterre em que, segundo Antunes (2004, p. 17), “um ator interferia no espetáculo a partir da platéia,
opinando, reclamando ou fazendo perguntas”. Esta proposta era necessária em alguns momentos para
acostumar a platéia das convenções do gênero e, posteriormente, das críticas nele contidas numa mistura de
realidade e fantasia.
O gênero revisteiro permaneceu durante tanto tempo em destaque no Brasil, pois esteve intimamente
ligado à atualidade. Sua constante intenção cômico-satírica era observada nas humoradas críticas ao
cotidiano brasileiro, aos fatos políticos e às anedotas populares. Também foram fortes características a
adoção da música brasileira e a rapidez do ritmo em uma sucessão de quadros distintos guiados por um fio
condutor atraindo os espectadores com sua argúcia, inteligência e inocência. Acredita-se que o Teatro de
Revista desfez fronteiras, eliminou ilusões e envolveu o público na atividade artística, produzindo nele um
espírito crítico ativo e uma abertura para as novas tendências artísticas.
O teatro de Revista foi, durante décadas, o gênero que mais produziu espetáculos no Brasil. Através do
sucesso de sua composição cênica, constituída por muito luxo e belíssimas músicas, revelou “uma história de
lindas e talentosas estrelas e dos maiores atores cômicos que o Brasil já viu” (VENEZIANO, 1996, p. 14). A
produção da Revista começou a decair na década de 1940, quando encenadores revisteiros apoderam-se de
todos os recursos visuais e sensoriais na tentativa de reconquistar o público, que havia se afastado, entre
outros motivos, devido à crise financeira que abrangia o país e ao surgimento de novas expressões artísticas.
Assim, de acordo com Antunes (2004, p. 121), aos poucos o gênero foi se afastando do cotidiano das
platéias, do diálogo improvisado, do debate, da reflexão, do riso subversivo, debochado e questionador dos
assuntos da atualidade. Cabia ao espectador o papel do deleite, apreciando os truques e exibições ilusionistas.
No que se refere ao teatro contemporâneo, observou-se que está voltado para as experiências de
fronteira, assim como já estavam os espetáculos do Teatro de Revista. De acordo com Cohen (1998, p.
XXIV), hoje, percebe-se o teatro como uma releitura do passado, em que “os vários procedimentos criativos
trafegam sem as hierarquias clássicas texto-ator-narrativa”, numa cena cuja característica “é o não-uso de
dramaturgia, a incorporação de ocorrências, o uso de narrativas disjuntas, a ambigüidade do espaço/tempo da
representação, a apropriação do paradoxismo e de outras relações com a recepção” (Ibidem, p.6).
A proposta de releitura do remoto surge numa época em que a arte buscava e necessitava mudanças,
assim como o mundo, abalado pela Primeira e Segunda Guerra Mundial, o fazia. O momento, portanto, era
de transição. O mundo, que antes estava entorpecido pela ideia Iluminista de que os seres humanos poderiam
melhorar as condições mundiais através do uso da razão, percebia agora que o próprio homem teria causado
a sua destruição por meio da sabedoria. Desse modo, revolucionários, entre eles vanguardistas, procuravam
atingir os dogmas da razão e da ordem estabelecida e protestar contra a loucura da guerra. Nesse contexto,
aparecem diversas tendências artísticas com o intuito de fortalecer a procura desenfreada pelo combate à
passividade através de uma forte crítica social, contestadora não só da sociedade, mas, principalmente, do
fazer artístico da época.
Sendo assim, a ideia de buscar uma abertura entre as artes e uma aproximação delas com a vida
permeia o panorama cênico contemporâneo. A fim de desfazer fronteiras e eliminar ilusões, sua procura está
centrada na pretensão de envolver o público na atividade artística e produzir nele um espírito crítico ativo e
uma abertura para diferentes artes. Nesse sentido, o teatro contemporâneo é essencialmente multidisciplinar e
desfronteirizado, já que estabelece pontos de contato com diversas linguagens artísticas. A dança, o teatro, a
música, o cinema e as artes visuais entrelaçam-se no intuito de transformar códigos convencionais, fixados
culturalmente, para produzir novos sentidos, provocar e induzir ao questionamento. Sendo assim, entendê-lo
como uma arte híbrida e transgressora é de fundamental importância para compreender a sua inserção na
contemporaneidade.

4. Conclusão
O Teatro de Revista perdeu o seu público ao perder a sua essência, mas o seu legado permanece nas
novas tendências teatrais, que capturaram sua linguagem, estrutura e convenções para expressar um teatro
genuinamente brasileiro através do contato direto e incisivo com a platéia. Portanto, são vastas as influências
que este gênero trouxe ao teatro brasileiro contemporâneo. Por meio dele estabeleceu-se uma forma
brasileira de fazer humor através da sua estrutura em quadros multidisciplinares, e da comunicação direta
com grandes platéias.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Nesse sentido, acredita-se que o estudo e a utilização das convenções do gênero revisteiro, na
contemporaneidade, podem desembocar na renovação da Revista, fundindo elementos de outras artes num
processo de hibridização, trazendo ritmo e fluência aos movimentos do ator e à composição do espetáculo,
combatendo o artificialismo e a representação das ações ao produzir novos sentidos para o trabalho do ator,
explorando a interatividade com públicos diversos e assumindo o humor crítico. O artista, ao elaborar um
entendimento sobre a união entre o atual e o remoto na construção de um fazer artístico, contribui para a
renovação das artes do mundo contemporâneo, bem como, para o desenvolvimento de processos de
desfronteirização do saber e do fazer que permeiam o despertar de práticas artísticas vislumbradas,
especialmente, no hibridismo das linguagens e na interatividade.

Referências

COHEN, Renato. Work in Progress na cena contemporânea. São Paulo: Perspectiva, 1998.

DELSON, Antunes. Fora do sério – Um panorama do teatro de revista no Brasil. Rio de Janeiro:
Funarte, 2004.

VENEZIANO, Neyde. Não adianta chorar – Teatro de Revista Brasileiro... Oba! Campinas, SP:
Unicamp, 1996.

VENEZIANO, Neyde. O Teatro de Revista no Brasil: dramaturgia e convenções. Campinas, SP: Pontes:
Editora da Universidade Estadual de Campinas, 1991.

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O TEATRO DE REVISTA NA CENA CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA

Francine Ivana Flach1*; Gisela Reis Biancalana2; Gustavo Oliveira Scherer3


1
Acadêmica da Universidade Federal de Santa Maria
2
Profa. Dra. da Universidade Federal de Santa Maria
3
Acadêmico da Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução
A presente investigação visou o estudo do Teatro de Revista, enquanto manifestação da cultura
popular brasileira no período que compreende seu auge, as décadas de 1920 e 1930, para traçar um paralelo
entre suas características marcantes que ainda são detectadas no teatro brasileiro contemporaneamente. O
aprofundamento da história e das convenções do Teatro de Revista é fundamental para esta pesquisa uma vez
que, a partir desse estudo, torna-se possível analisar a sua importância na cena teatral contemporânea. No
Brasil, os seus pressupostos trazem à tona, já na segunda metade do século XIX, diversas tendências, que
são, atualmente, encontradas no teatro contemporâneo brasileiro. Nesse contexto, a Revista antecipa a
multidisciplinaridade através da desfronteirização do mundo artístico atual, especialmente, ao estabelecer
pontos de contato entre o teatro, a dança e a música nacional, aproxima as relações entre a cena e o público,
bem como assume e reforça o humor típico do povo brasileiro.
A estrutura do Teatro de Revista é composta por quadros que englobam apresentações de teatro, dança
e música. A utilização dessas linguagens na cena revisteira ocorre de diversas formas e propõe o seu uso não
só em quadros distintos, como também em um mesmo momento. Ao fundir essas artes em um único
espetáculo, em que atores desenvolvem um enredo ao lado de vedetes que apresentam os seus shows
coreográficos e de instrumentistas que trazem as músicas brasileiras para a cena, a Revista apresenta a sua
multidisciplinaridade através da desfronteirização das artes.
O gênero revisteiro também se mostra interativo no momento em que explora o desnudamento das
ilusões cênicas e adere a sua estrutura alusões a fatos marcantes do cotidiano brasileiro. Ao deixar à mostra
o processo de criação do espetáculo e misturar realidade e fantasia, a Revista aproxima-se de seus
espectadores e estabelece um contato direto e incisivo com a platéia.
Desde o princípio de sua história, os espetáculos do Teatro de Revista apresentaram, como temáticas
recorrentes, a ridicularização de fatos e pessoas retiradas do cotidiano da, então, capital do Império, o Rio de
Janeiro. Por abordar temas que não só eram ligados à vida de seus espectadores como, também, repletos de
humor, deboche e crítica, o gênero logo conseguiu encantar o grande público ao transformar códigos
convencionais e produzir novos sentidos, provocando e induzindo o questionamento.
Sendo assim, é de fundamental importância aprofundar os conhecimentos sobre o Teatro de Revista
para compreender a re inserção do interesse voltado a ela na contemporaneidade ao entendê-lo como uma
arte híbrida ao reunir linguagens, aglutinadora ao se aproximar do público e divertida ao assumir uma
postura questionadora pela via do humor.

2. Método
Esta pesquisa objetivou a coleta de material acerca da história e das convenções do Teatro de Revista
com o intuito de analisar a sua importância na cena teatral contemporânea. Ao vislumbrar seus pressupostos
tornou-se inevitável ligá-los aos que são concebidos no panorama teatral da atualidade, uma vez que ambos
se propõem desfronteirizados e interativos, bem como carregam o humor típico dos brasileiros, em geral. O
procedimento metodológico desta pesquisa foi voltar-se para o estudo bibliográfico aprofundado,
primeiramente acerca da do Teatro de Revista, pois, coleta desse referencial teórico permite compreender a
importância do gênero para o contexto contemporâneo. Paralelamente, estudou-se o teatro na
contemporaneidade para detectar suas características recorrentes. Finalmente, buscou-se traçar o paralelo
entre as formas estudadas, para estabelecer os seus pontos de contato.

3. Resultados e Discussão
Chama-se Revista o gênero de teatro constituído por quadros falados, musicais e coreográficos,
repletos de crítica e humorismo. Esse gênero teatral alcançou grande popularidade no Brasil, especialmente
no Rio de Janeiro, pela crítica bem-humorada com que enfocava certos aspectos do cotidiano do país. A
Revista recebeu diversas influências para constituir-se enquanto gênero teatral. Suas origens remontam-se
não só aos tempos antigos – com as manifestações populares de teatro cômico na Grécia e na Roma Antiga,

*
Francine Ivana Flach: francineflach@yahoo.com.br
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com o teatro popular da Idade Média e a Comédia Dell’Arte na Itália –, como também, remontam a tempos
não tão distantes, com o teatro de costumes de Martins Pena e José de Alencar.
De acordo com Antunes (2004, p. 14), o modelo que se conheceu no Brasil, a partir da segunda
metade do século XIX, surgiu na França, no século XVII, através de “artistas populares, acrobatas,
dançarinos, trovadores, equilibristas, domadores de animais, ilusionistas e atores da Comédia Dell’Arte que,
com seus truques e habilidades, encontraram uma forma de se aproximar das grandes platéias públicas”.
Estas apresentações francesas evoluíram para as Revistas de Ano que foram implantadas em Portugal e,
posteriormente, em diversos países. No país luso, a Revista recebeu influências dos autos de Gil Vicente e
logo foi exportada para o Brasil, onde “o tempo, os fatos, o clima, a música, os acontecimentos político-
sociais (...) fizeram com que ela passasse por uma metamorfose de abrasileiramento” (VENEZIANO, 1996,
p. 29). Assim, aos poucos o gênero foi se adaptando ao estilo carioca e ao jeito brasileiro de ser.
No início do século XX, a Revista já havia se consolidado no país inteiro. Cada região adaptava as
peculiaridades do gênero aos costumes da cultura local. A I Guerra Mundial, em 1914, destruiu a Europa e
dificultou que companhias estrangeiras circulassem por outros continentes. Esta situação impulsionou a
renovação da Revista através da valorização da arte nacional e das raízes populares, transformando-se no
“mais forte e duradouro movimento de teatro popular já ocorrido no país”, responsável por influenciar de
forma decisiva a “consolidação de uma cultura urbana de massas, como meio de diversão e como
instrumento de formação da opinião pública” (ANTUNES, 2004, p. 13).
No que se refere à produção teatral, durante o século XX, ela destacou-se pela seriedade profissional
de seus empreendedores e pela qualidade artística dos espetáculos realizados. Porém, entre eles, surgiram
oportunistas que atuavam sem conhecimento do gênero, o que, infelizmente, um dos possíveis motivos que
deram origem ao estigma da Revista como um teatro sem valor artístico. Tal marca pode ter se fixado na
história do teatro brasileiro, mas, na realidade, o Teatro de Revista, segundo Veneziano (1996, p. 13),
“contribuiu para a nossa formação cultural, que fixou nossos tipos, nossos costumes, nosso modo genuíno de
falar à brasileira”. Nesse contexto, o Teatro de Revista, ao se estabelecer no Brasil, refletiu as formas de
divertimento mais populares através da irreverência, do humor, do samba, do carnaval, da folia integrada aos
costumes nacionais, transformando-se em um gênero genuinamente brasileiro.
Em terras brasileiras, a Revista de Ano sintetizava e criticava com muita ironia e deboche os principais
acontecimentos ocorridos publicamente no ano que passou. Estruturada em três atos, era composta por
quadros de teatro, de música e de dança, interligados por um fio de enredo e conduzidos pelo compère
(mestre-de-cerimônias que era responsável pelo andamento do espetáculo). Para Antunes (2004, p. 15),
“embora frágil e despretensioso, o enredo possibilitava a passagem da cidade em revista”. Sendo assim,

os pretextos para impulsionar a ação variavam. Ora algo ou alguém se perdia e precisava ser procurado, ora
ocorria uma perseguição ou a chegada de uma visita estrangeira. Eram artifícios que permitiam o desfile dos
tipos característicos das ruas, de forma bem-humorada, em situações facilmente reconhecíveis pelo espectador.
(...) Alguns tipos se transformavam em verdadeiros símbolos da cultura brasileira, como o malandro, o caipira,
o português, o carioca e a mulata (...). (ANTUNES, 2004, p. 15)

As críticas, tão evidentes ao gênero, normalmente, direcionavam-se aos homens poderosos do Rio de
Janeiro, então, capital do país, e eram desenvolvidas através de tipos caricatos e alegorias. Nesse contexto,
não só personalidades proeminentes, como também instituições e acontecimentos como, por exemplo, a
prefeitura e as doenças epidêmicas, eram ridicularizadas, na cena do Teatro de Revista, através da
humanização de figuras inanimadas. Essa comunicação era imediata e clara para entrar em sintonia e
estabelecer contato com o público. Para Veneziano (1996, p. 34),

ao colocar em cena os disparates, as tolices, as asneiras dos políticos, dos poderosos, combiná-los à música
própria da terra e desenhar um painel dos acontecimentos imediatos, este gênero nasceu para servir, sob
medida, à nacionalidade de quem o adotar.

Sendo assim, por estar diretamente voltada para os tipos e assuntos do cotidiano popular, a Revista
está intimamente ligada à atualidade e às lembranças recentemente vividas. Logo, é um espetáculo
constituído por alusões a fatos e acontecimento recentes. Quanto a isso, Veneziano (1996, p. 30), afirma que

a alusão é um recurso de linguagem que consiste em se dizer uma coisa e fazer-se pensar outra. O encanto da
revista reside no prazer da alusão. Alusões que podem aparecer sob diferentes formas: históricas, quando elas
se referem a fatos históricos conhecidos; políticas, quando atuam no campo da paródia aos homens do
governo; verbais, quando se utilizam de palavras que tenham duplo sentido e se apresentem como ingênuo
equívoco e até mitológicas, calcadas num ponto qualquer da fábula disfarçada, como metáfora presente.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Assim, as alusões eram utilizadas pelos revisteiros, tal como foram nos ritos populares, como meio
de vingança à ordem social imposta. Por ser um teatro da alusão e, por isso, avesso à ilusão, o gênero
explorava o desnudamento do mundo cênico e deixava à mostra o processo de criação do espetáculo para se
aproximar dos espectadores. Em busca desta cumplicidade, também se utilizava o recurso do monsiuer du
parterre em que, segundo Antunes (2004, p. 17), “um ator interferia no espetáculo a partir da platéia,
opinando, reclamando ou fazendo perguntas”. Esta proposta era necessária em alguns momentos para
acostumar a platéia das convenções do gênero e, posteriormente, das críticas nele contidas numa mistura de
realidade e fantasia.
O gênero revisteiro permaneceu durante tanto tempo em destaque no Brasil, pois esteve intimamente
ligado à atualidade. Sua constante intenção cômico-satírica era observada nas humoradas críticas ao
cotidiano brasileiro, aos fatos políticos e às anedotas populares. Também foram fortes características a
adoção da música brasileira e a rapidez do ritmo em uma sucessão de quadros distintos guiados por um fio
condutor atraindo os espectadores com sua argúcia, inteligência e inocência. Acredita-se que o Teatro de
Revista desfez fronteiras, eliminou ilusões e envolveu o público na atividade artística, produzindo nele um
espírito crítico ativo e uma abertura para as novas tendências artísticas.
O teatro de Revista foi, durante décadas, o gênero que mais produziu espetáculos no Brasil. Através do
sucesso de sua composição cênica, constituída por muito luxo e belíssimas músicas, revelou “uma história de
lindas e talentosas estrelas e dos maiores atores cômicos que o Brasil já viu” (VENEZIANO, 1996, p. 14). A
produção da Revista começou a decair na década de 1940, quando encenadores revisteiros apoderam-se de
todos os recursos visuais e sensoriais na tentativa de reconquistar o público, que havia se afastado, entre
outros motivos, devido à crise financeira que abrangia o país e ao surgimento de novas expressões artísticas.
Assim, de acordo com Antunes (2004, p. 121), aos poucos o gênero foi se afastando do cotidiano das
platéias, do diálogo improvisado, do debate, da reflexão, do riso subversivo, debochado e questionador dos
assuntos da atualidade. Cabia ao espectador o papel do deleite, apreciando os truques e exibições ilusionistas.
No que se refere ao teatro contemporâneo, observou-se que está voltado para as experiências de
fronteira, assim como já estavam os espetáculos do Teatro de Revista. De acordo com Cohen (1998, p.
XXIV), hoje, percebe-se o teatro como uma releitura do passado, em que “os vários procedimentos criativos
trafegam sem as hierarquias clássicas texto-ator-narrativa”, numa cena cuja característica “é o não-uso de
dramaturgia, a incorporação de ocorrências, o uso de narrativas disjuntas, a ambigüidade do espaço/tempo da
representação, a apropriação do paradoxismo e de outras relações com a recepção” (Ibidem, p.6).
A proposta de releitura do remoto surge numa época em que a arte buscava e necessitava mudanças,
assim como o mundo, abalado pela Primeira e Segunda Guerra Mundial, o fazia. O momento, portanto, era
de transição. O mundo, que antes estava entorpecido pela ideia Iluminista de que os seres humanos poderiam
melhorar as condições mundiais através do uso da razão, percebia agora que o próprio homem teria causado
a sua destruição por meio da sabedoria. Desse modo, revolucionários, entre eles vanguardistas, procuravam
atingir os dogmas da razão e da ordem estabelecida e protestar contra a loucura da guerra. Nesse contexto,
aparecem diversas tendências artísticas com o intuito de fortalecer a procura desenfreada pelo combate à
passividade através de uma forte crítica social, contestadora não só da sociedade, mas, principalmente, do
fazer artístico da época.
Sendo assim, a ideia de buscar uma abertura entre as artes e uma aproximação delas com a vida
permeia o panorama cênico contemporâneo. A fim de desfazer fronteiras e eliminar ilusões, sua procura está
centrada na pretensão de envolver o público na atividade artística e produzir nele um espírito crítico ativo e
uma abertura para diferentes artes. Nesse sentido, o teatro contemporâneo é essencialmente multidisciplinar e
desfronteirizado, já que estabelece pontos de contato com diversas linguagens artísticas. A dança, o teatro, a
música, o cinema e as artes visuais entrelaçam-se no intuito de transformar códigos convencionais, fixados
culturalmente, para produzir novos sentidos, provocar e induzir ao questionamento. Sendo assim, entendê-lo
como uma arte híbrida e transgressora é de fundamental importância para compreender a sua inserção na
contemporaneidade.

4. Conclusão
O Teatro de Revista perdeu o seu público ao perder a sua essência, mas o seu legado permanece nas
novas tendências teatrais, que capturaram sua linguagem, estrutura e convenções para expressar um teatro
genuinamente brasileiro através do contato direto e incisivo com a platéia. Portanto, são vastas as influências
que este gênero trouxe ao teatro brasileiro contemporâneo. Por meio dele estabeleceu-se uma forma
brasileira de fazer humor através da sua estrutura em quadros multidisciplinares, e da comunicação direta
com grandes platéias.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Nesse sentido, acredita-se que o estudo e a utilização das convenções do gênero revisteiro, na
contemporaneidade, podem desembocar na renovação da Revista, fundindo elementos de outras artes num
processo de hibridização, trazendo ritmo e fluência aos movimentos do ator e à composição do espetáculo,
combatendo o artificialismo e a representação das ações ao produzir novos sentidos para o trabalho do ator,
explorando a interatividade com públicos diversos e assumindo o humor crítico. O artista, ao elaborar um
entendimento sobre a união entre o atual e o remoto na construção de um fazer artístico, contribui para a
renovação das artes do mundo contemporâneo, bem como, para o desenvolvimento de processos de
desfronteirização do saber e do fazer que permeiam o despertar de práticas artísticas vislumbradas,
especialmente, no hibridismo das linguagens e na interatividade.

Referências

COHEN, Renato. Work in Progress na cena contemporânea. São Paulo: Perspectiva, 1998.

DELSON, Antunes. Fora do sério – Um panorama do teatro de revista no Brasil. Rio de Janeiro:
Funarte, 2004.

VENEZIANO, Neyde. Não adianta chorar – Teatro de Revista Brasileiro... Oba! Campinas, SP:
Unicamp, 1996.

VENEZIANO, Neyde. O Teatro de Revista no Brasil: dramaturgia e convenções. Campinas, SP: Pontes:
Editora da Universidade Estadual de Campinas, 1991.

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O TRABALHO SOBRE A PALAVRA EM BECKETT

Renata Dombroski Petisco*;


Faculdade de Artes do Paraná - FAP

1. Introdução

Estou desde muito tempo namorando a obra de Samuel Beckett (1906-1989). Dentre os muitos
motivos que me chamam a atenção para o seu trabalho está especialmente a capacidade extraordinária de
expressar a solidão, a miséria e a ineficiência do homem, por meio de palavras tão sonoras e cheias de
significados.
Beckett é considerado por muitos um dos grandes nomes do século XX, tendo escrito durante toda a
sua vida poemas e textos em prosa, como romances, novelas, contos e ensaios, além de textos para o teatro, o
cinema, o rádio e a televisão. Sua obra rompeu os padrões clássicos vigentes e instituiu uma nova ordem de
realismo numa estética que prima pela redução ao mínimo „re-elaborada na forma conferida ao
(in)significante, denunciando a privação de sentido do sujeito e da realidade‟ [1] .
Sua produção faz uma intensa crítica à modernidade através de personagens e de diálogos que inserem
elementos chocantes do ilógico, com o objetivo de reproduzir diretamente o desatino e a falta de soluções em
que estão imersos o homem e a sociedade.
A utilização do fluxo de pensamento sempre recorrente na sua dramaturgia serviu como ponto de
partida para uma análise ainda primária sobre a sua obra, durante o ano de 2009, na disciplina de Direção II
na Faculdade de Artes do Paraná, quando Paulo Biscaia Filho, então professor da disciplina, nos solicitou
uma pesquisa teórica e apresentação de seminário sobre um tema de interesse.
Tomando como premissa a ideia de que as pessoas estão sempre procurando respostas que preencham
os vazios, as lacunas e as incógnitas que carregam consigo e que o século XX apresenta um mundo
fragmentado, predominado pelo individualismo e isolamento, venho alimentando a necessidade de falar
sobre o „eu‟; de trabalhar a nulidade e a negação do sujeito em diversas instâncias, visto que, o homem
contemporâneo como um ser errante, vaga no mundo, percebendo-se impotente e incapaz de agir de forma
concreta, pois,

está paralisado pela confusão tanto do seu mundo interior quanto do mundo exterior. Sua
personalidade é fragmentada; sua consciência está em conflito e em constante fluxo. Ele é
incapaz de ter certeza nas suas percepções ou mesmo expressar as percepções de modo a estar
habilitado a se comunicar. [2]

Meu ímpeto de estudar e trabalhar com a obra de Beckett está em descobrir novas possibilidades
estéticas e em experimentar e discutir questões inerentes à natureza humana de forma única e consistente
criando paisagens inóspitas a partir dos diálogos dos personagens e de uma linguagem sem ornamentos cuja
função é ressaltar o silêncio e a angústia desses que se encontram condenados à incapacidade de
comunicarem o que sentem.
O presente artigo prevê um estudo sobre a utilização da palavra em Beckett tendo por base análises
anteriormente realizadas sobre as características de sua obra em que se apresentam aspectos inerentes à
palavra, aos personagens - em seus relatos autobiográficos e a relação espaço/tempo da cena.
O objetivo deste artirgo é dar continuidade a pesquisa teórica desenvolvida até então buscando novas
referências e reflexões sobre a obra de Beckett, aqui enfocada no trabalho sobre a palavra, para angariar um
suporte teórico consistente para posterior desenvolvimento prático, que consistirá na montagem do
espetáculo Aporias, no segundo semestre de 2010, como trabalho de conclusão para a disciplina de Direção
III do curso de Bacharelado em Artes Cênicas da Faculdade de Artes do Paraná.

2. Método

Para o desenvolvimento desta etapa da pesquisa foi feito um levantamento bibliográfico a fim de obter
fontes aprofundadas sobre o tema a ser abordado nesse artigo. Num primeiro momento foi realizado um
fichamento dos livros Samuel Beckett: o silêncio possível, de Fábio de Souza Andrade, Eu que não estou aí
onde estou, de Isabel Cavalcanti e Beckett de Janvier Ludovic [3], bem como a leitura das obras Molloy [4]
(1951), Malone Morre [5] (1951) e O Inominável [6] (1953) de Samuel Beckett com o intuito de analisar a

*
Renata Petisco: renatapetisco@gmail.com
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utilização da palavra nas obras citadas a partir das considerações apontadas pelos três autores. Outras
bibliografias foram acessadas no decorrer da pesquisa e complementaram a análise das obras (vide
referências).
Em um segundo momento será realizada uma reflexão com os atores a fim de relacionar a pesquisa
teórica desenvolvida à prática, que implica na reestruturação dramatúrgica da trilogia associada ao trabalho
de construção de imagens.

3. Resultados e Discussão

É inegável que a obra de Beckett está centrada na palavra. O percurso do autor nos revela uma
preocupação constante em re-significar a partir da linguagem a condição do homem. Caracterizada pela fala
incessante de seus personagens, a obra de Beckett retrata indivíduos que em situações-limite veem como
única possibilidade de afirmação de um 'eu' a utilização da palavra. A partir de um fluxo narrativo constante
revivem suas memórias e criam novas histórias a espera do fim. Esses personagens, feitos de linguagem,
estão condenados a um espaço e um tempo em que se limitam as possibilidades de comunicação com o
mundo exterior.
Esse 'eu' esvaziado e esgotado em suas experiências e questões apresenta-se e caracteriza-se por uma
narrativa em que o fluxo de consciência, de desconstrução da linguagem e de reformulação de sentido,
acentua e traduz a incerteza, a angústia e o vazio a que estão submetidos, ao silêncio do qual não querem ser
cúmplices.
Sabe-se que em Beckett a palavra é sempre mais que seu significado literal, ela é a possibilidade de
comunicar, reforçar e re-significar o sentido. É a tentativa de se fazer valer não apenas pelo que diz, mas pelo
por que diz. Assim, é possível dizer que a relação que se estabelece entre os personagens em seus relatos
autobiográficos não se dá por meio do verbo, ainda que este sirva como instrumento para tal. Trata-se,
segundo nos aponta Isabel Cavalcanti de,

um jorro verbal, uma voz sem início ou final apreensíveis. Para o espectador, esta voz parece
soar a esmo, sem rumo, sem por que e sem destinatário definidos, o que contraria a
individualização e o direcionamento típicos de uma voz „dramática‟ convencional, que fala para
alguém. (...) A palavra é, assim, desconstruída como transmissora de um sentido estável, claro,
distinto e plenamente inteligível. (...) O espectador apreende antes os sons e o fluxo das
palavras do que os seus sentidos. Um possível sentido da cena vai se construindo pela repetição
de determinadas sequências de frases e ideias que acabam por ser assimiladas pelo espectador.
A repetição acaba por se tornar, portanto, uma instância que organiza minimamente o relato
„expulso‟ na cena. [7]

Das muitas características percebidas na construção da narrativa de Beckett, independente de se


tratarem de prosa ou texto dramático, alguns recursos estéticos e linguísticos destacam-se. Nas falas e
reflexões das personagens beckettianas são reconhecidos elementos diversos tais como a repetição, a
fragmentação da linguagem e da cronologia dos fatos narrados reforçando a fuga da subjetividade, bem
como „a instabilidade e a inconfiabilidade da enunciação em primeira pessoa‟ [8]. Segundo Alain Badiou,
essa nova forma de abordar a palavra faz de Beckett,

um escritor do absurdo, do desespero, do vazio, da incomunicabilidade e da eterna solidão, em


suma, um existencialista. Mas também um escritor „moderno‟, no que diz respeito ao destino da
escritura, à ligação entre a repetição da linguagem e o silêncio original, à função
simultaneamente sublime e irrisória das palavras. Tudo isso teria sido capturado pela prosa,
muito aquém de toda intenção realista ou representativa, a ficção sendo ao mesmo tempo a
aparência de uma narração e a realidade de uma reflexão sobre o trabalho do escritor, sua
miséria e sua grandeza. [9]

4. Conclusão

Com este artigo foi possível desenvolver uma análise do trabalho sobre a palavra em Beckett, de modo
a tornar possível, num processo prático a experimentação desses recursos estéticos e linguísticos. Essa
análise sobre a palavra em Beckett é mais do que necessária para atingir a essência de sua obra e
potencialmente construir uma nova voz. Assim, num processo prático de montagem, como a que se propõe o
espetáculo Aporias, em que a construção dramatúrgica parte da trilogia do pós-guerra, faz-se necessário

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

refletir e experimentar as possibilidades de apropriação da palavra para instaurar um „espaço‟ onde se


potencialize a discussão sobre o sujeito, questão matriz recorrente em toda a obra de Samuel Beckett.
Nesse sentido, utilizando-se dos elementos e recursos apontados anteriormente neste artigo, deve-se
estimular os atores no decorrer do processo criativo “a pensar nas palavras como sons que eles podem
moldar ou desenhar” [10], visto que, em Beckett, a palavra, apresentando-se esvaziada de sua função teatral
mais tradicional – a de ser portadora de sentido e constituinte de uma trama, de uma ação e de uma relação
entre personagens – configura-se sobretudo como ritmo, massa sonora e processo de enunciação. [11]

Referências

[1, 8] ANDRADE, Fábio de Souza. Samuel Beckett: o silêncio possível. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001. p.
30-31; 20
[2] ARAÚJO, Celso. Samuel Beckett – o retrato do artista enquanto crítico. In: Diálogos possíveis: revista
da Faculdade Social da Bahia. Ano 5, n.2 (jul./dez. 2006), Salvador: FSBA, 2006 p. 144
[3] JANVIER, Ludovic. Beckett. Tradução de Léo Schlafman. Rio de Janeiro: José Olympio, 1988.
[4] BECKETT, Samuel. Molloy. Tradução de Leo Schlafman. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1987.
[5] BECKETT, Samuel. Malone Morre. Indicação editorial, posfácio e tradução do francês e do inglês por
Paulo Leminski – São Paulo: Editora Brasiliense, 1986.
[6] BECKETT, Samuel O Inominável. Tradução de Ana Helena Souza; prefácio de João Adolfo Hansen –
São Paulo: Globo, 2009.
[7, 11] CAVALCANTI, Isabel. Eu que não estou aí onde estou: O Teatro de Samuel Beckett. Rio de Janeiro:
7 letras, 2006. p. 81; 100
[9] Citação de Alain Badiou retirada do ensaio Joyce e Beckett: Pés diferentes num mesmo sapato de Dirce
Waltrick do Amarante. Disponível em: http://www.sibila.com.br/index.php/critica/676-joyce-
e-beckett-pes-diferentes-num-mesmo-sapato. Acesso em 11/07/2010.
[10] MARTINS, Marcos Bulhões. Encenação em jogo: experimento de aprendizagem e criação do teatro.
São Paulo: Hucitec, 2004. p. 100

Agradecimentos
Agradecimentos especiais por todo o suporte, carinho e incentivo à minha família, à Gabriela Fregoneis e
Bruno Girello.

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OS NOVOS ESPAÇOS DA CRÍTICA TEATRAL

HELENA MARIA MELLO*1


UFRGS/PPGAC - CAPES

1. Introdução
Nas últimas décadas, a crítica teatral perdeu espaço nos meios tradicionais de comunicação,
substituída por colunas de serviços ou meras indicações de roteiro que priorizam, sobretudo, os aspectos
comerciais. Neste mesmo período, o teatro sofreu extraordinárias transformações e as propostas cênicas
passaram a abrigar além do texto, muitos outros elementos cênicos, com reforço da visualidade, dificultando
e tornando necessário o adensamento de sua análise. Edélcio Mostaço afirma que “passado o abalo sísmico
provocado pelas vanguardas nas três primeiras décadas do século XX, recolhendo cacos aqui e acolá,
refazendo bússolas e astrolábios, novamente levantando a espinha que lhe permitisse recolocar a cabeça no
lugar, uma nova teatrologia veio se esboçando após 1950” [1]. Segundo ele, esta vinha reivindicar
posicionamentos que pudessem dar conta do seu tempo e espaço, sem cair nas antigas armadilhas
conceituais.
Mais tarde, neste contexto, o surgimento da internet permitiria a propagação de uma grande quantidade
de opiniões sobre o fazer artístico teatral. Hoje, a cada dia, novos blogs e sites se misturam a maneira como
as pessoas produzem e pesquisam informações culturais e, visto que os meios virtuais não apresentam nem a
censura, nem as mesmas restrições da imprensa, dilatam, assim, as possibilidades de diálogo. Segundo Pierre
Lévy, “o ambiente tecnocultural emergente suscita o desenvolvimento de novas espécies de arte, ignorando a
separação entre emissão e recepção, composição e interpretação” [2].
Considera-se relevante trazer à tona esta discussão sobre a interferência destas novas tecnologias na
elaboração de críticas e investigar as opiniões dos profissionais de teatro e de tecnologia da informação, bem
como dos críticos, sobre sua abrangência e instantaneidade na web. O intuito é exemplificar o potencial do
ciberespaço para a análise de espetáculos e diálogo com o público. A internet e os novos espaços que esta
oferece permitem a reflexão sobre o fazer teatral de forma mais abrangente, instantânea e interativa?
Estabelecem uma relação mais imediata e horizontal entre aqueles que fazem teatro e seu público? Quais as
perspectivas da crítica para o futuro? Este é o desafio: buscar respostas a estas questões.

2. Método
Os pareceres sobre este tema foram sendo obtidos a partir de documentos (livros e demais suportes),
buscando informações em obras e autores que se dedicaram aos aspectos relacionados a este assunto,
apresentados como fundamento ou debate de certas posições existentes. O objetivo era apresentar um
panorama sobre o passado e, posteriormente, investigar as transformações da arte e da cultura ao longo do
século XX até os dias de hoje. Para incrementar estes conhecimentos, foram realizadas entrevistas com os
envolvidos nesse universo: atores, diretores, críticos e criadores de blogs, sites e comunidades, durante o
período de março de 2008 a março de 2010. A escolha dos entrevistados foi feita de modo aleatório, de
acordo com a acessibilidade virtual dos mesmos. O único critério foi o vínculo às artes cênicas, seja
acadêmica ou profissionalmente. Entre os espaços virtuais pesquisados, quatro mereceram destaque por se
destinarem, principalmente, a publicação de críticas teatrais. São estes: as revistas eletrônicas Bacante
(www.bacante.com.br) e Questão de crítica (www.questaodecritica.com.br, o site Caderno teatral
(www.cadernoteatral.com.br) e o blog Teatro poa (http://teatropoa.blogspot.com) cujos responsáveis foram
também entrevistados.

3. Resultados e discussão
A crítica teatral no Brasil, ao longo das últimas décadas, vem perdendo, literalmente, espaço na mídia
tradicional. Além disso, a premissa de julgamento da crítica moderna brasileira, não faz mais sentido em uma
sociedade em que os parâmetros se alteram a cada peça. Ao mesmo tempo, a criação da internet, possibilita o
diálogo horizontal, sem hierarquia, em que há uma proposta de diálogo crítico. Todavia, a interatividade dos
meios eletrônicos não passa do resultado de uma série de ferramentas que estão à disposição do crítico e do
leitor. O que pode trazer essas outras configurações em termos de recepção depende muito mais do uso que o
crítico, o leitor e os artistas fazem e/ou farão destas ferramentas do que destas propriamente ditas. Não

1
Mestra em Artes Cênicas pela UFRGS: helena@webeditoria.com.br
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adianta existir um site de crítica aberto a comentários se os leitores não se apoderarem deste instrumento para
dialogar com o que é publicado. Da mesma maneira como não basta que os leitores estejam
colaborando/participando se os mantenedores do canal não estiverem dispostos ao diálogo. Em ambos os
exemplos, os canais perdem as características mais enriquecedoras de uma mídia interativa, reduzindo-se a
versões digitais do tradicional formato impresso. Entretanto, o surgimento da internet e a democratização do
acesso a esta são fatores que podem favorecer em larga medida a produção crítica. Todavia, não
deliberadamente, nem apenas porque abrem espaço para uma pluralidade de vozes muito maior do que a que
os jornais podem oferecer, mas porque colocam a linguagem e a função da crítica em crise, na medida em
que provocam um embate interno nas noções de crítica.
Para Franchetti, na internet, a crítica pode ser exercida de um modo novo: não há as terríveis limitações
de espaço da imprensa nas quais se deve dar conta de uma obra difícil ou um problema cultural muito
complexo. “E, principalmente, não há censura: o interesse de grupos acadêmicos, empresas editoras e
alinhamentos políticos não consegue, como nos grandes órgãos de imprensa, dificultar ou inviabilizar a
publicação de textos inconvenientes” [3].
Para a crítica do Estado de São Paulo, Beth Néspoli, a principal vantagem desse canal, se bem
aproveitado, é a facilidade com que vai proporcionar polifonia e oferecer aos críticos espaços longos, algo
que os jornais não disponibilizam mais [4] . A crítica Tânia Brandão afirma que a liberdade de pensamento e
o direito à livre expressão são o mandamento primeiro da vida em sociedade, desde que o direito de cada um
seja respeitado. “Cada um escreve o que quiser e o que puder desde que respeite a vida e a integridade alheia.
Mesmo a opinião, que não é técnica nem informada, deve ser expressa livremente” [5].
Para Michel Fernandes, editor da Aplauso Brasil, a internet é espaço de diálogos, pois, há, nesta, uma
fissura que possibilita o leitor dialogar com o crítico e com aquilo que é criticado, mesmo que esse diálogo
ainda esteja muito tímido, considerando que os internautas não costumam deixar expressas suas opiniões. Ele
explica que a ideia de criar a Aplauso Brasil surgiu de um convite do iG , em 2002, onde trabalha como
crítico teatral e repórter cultural. “Amo o que faço e meus colaboradores amam o teatro também. Dessa
paixão incondicional nasceu a adesão da classe e o aumento de nossa credibilidade. A audiência do site
cresce dia a dia e o retorno dos internautas é maciço” [6], garante.
Sergio Salvia Coelho [7] observa, também, que o meio virtual ajudou o crítico a escapar da tirania dos
editores de jornal, lhe possibilitando atingir diretamente o seu leitor, que pode, inclusive, dispor de espaço de
contestação ou endosso. Defende que isso o levou a descer do pedestal do poder contestável da
recomendação oficial. Comparados aos críticos, atores, atrizes, diretores e produtores são menos radicais
sobre os prejuízos que a crítica virtual possa causar.
Entre as áreas virtuais existentes, sobressai a Revista Bacante, lançada no dia 11 de abril de 2007, como
local de entrevistas, matérias especiais e críticas. A revista publica editoriais, conteúdos especiais (vídeos,
artigos, etc.), bate-papos e disponibilizou um total de 542 críticas até dezembro de 2009. Fabrício Muriana,
um dos editores da revista explica que foi motivado a criar este espaço por não encontrar locais de “conversa
franca” sobre teatro. Segundo ele, os jornais não fazem este papel e têm compromisso com um público
específico. Os portais jornalísticos não têm condições de manter críticos em quantidade suficiente para cobrir
todos os espetáculos da cidade, portanto, não havia onde encontrar referenciais para ir ao teatro, para discutir
teatro e para propor alternativas ao que era visto. “As repercussões da criação desse veículo foram as mais
diversas. Há quem nos veja como a crítica tradicional, o que estabelece uma relação meio torta com o nosso
projeto. Há quem tenha se aproximado de tal maneira que hoje se tornou colaborador do veículo - inclusive
falando da cena de outros estados. Há quem nos tenha denunciado por calúnia e difamação por não entender
a forma bem-humorada e livre de algumas críticas” [8].
Questão de Crítica, outra revista eletrônica sobre teatro, foi publicada pela primeira vez em março de
2008. Partiu de um olhar sobre os espetáculos realizados no Rio de Janeiro e foi se expandindo para outros
estados, convidando colaboradores para elaborar textos e críticas que passaram a ser incluídos. É aberta a
espetáculos teatrais, independentemente do seu posicionamento nos circuitos comerciais estabelecidos, peças
universitárias, performances, mostras e festivais. As editoras da revista não acreditavam na falência da
crítica, mas sim, que a internet oferecia ferramentas para um diálogo possível. “Esta nova possibilidade de
veiculação, portanto, não vem para “salvar a crítica”, mas para colocá-la em crise mais uma vez, para
mostrar àqueles que se interessam por ela que é preciso começar do zero para construir novas noções de
crítica, novas abordagens e, especialmente, despertar o interesse pela leitura e estudo de textos críticos” [9].
Caderno Teatral é um site independente com resenhas críticas de espetáculos. Lançado em 19 de Abril
de 2009, contém impressões sobre os espetáculos considerados mais interessantes pelo editor e seus
colaboradores. “O projeto, que era um blog se tornou um híbrido entre a plataforma e o modelo de website,
foi se profissionalizando e eu percebi a dimensão da ferramenta que tenho em mãos e o que antes era apenas

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uma opção pessoal por só falar daqueles trabalhos de que gostei acabou se tornando um diferencial
editorial”[10].
Outro local na internet específico para opiniões sobre os espetáculos teatrais é o blog de Rodrigo
Monteiro, chamado Teatro POA, cuja primeira publicação é de setembro de 2008. A intenção do autor,
licenciado em Letras, bacharel em Comunicação Social e mestrando em Artes Cênicas pela Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, foi elaborar um espaço onde ele pudesse organizar suas impressões
individuais, baseadas nas suas vivências empíricas e acadêmicas, dos espetáculos teatrais gaúchos a que
assistia. “Apenas gostar de escrever não torna o processo de publicação de críticas frutífero. Parte-se para
segundos e terceiros textos porque se acredita estar, de alguma forma, contribuindo para o teatro. Acho que a
crítica colabora em dois caminhos: na trilha do registro e no sentido de apontar resultados avaliativos” [11].

4. Conclusão
A função da crítica teatral contemporânea é estabelecer o diálogo. A crítica teatral, em específico, tem
uma incumbência ainda mais transformadora, na medida em que pode ser produzida ainda enquanto o
espetáculo está em cartaz ou em processo. Assim sendo, diferente do cinema e das artes plásticas em que a
obra já está pronta, no teatro, a crítica pode interferir e provocar o ator e modificar o espetáculo. De todo
modo, não há dúvidas de que a crítica precisa ser repensada no meio virtual. Afinal, as possibilidades
técnicas não representam uma mudança de paradigma nas questões conceituais da crítica que, em sua
maioria, seguem embasadas nos parâmetros seja da crítica jornalística, seja acadêmica. Existe um potencial a
ser explorado pelas características deste meio que não se restringe apenas a publicação de textos, mas que
permite links, fotos, música, vídeo e todo o tipo de material digital. Conhecer estes recursos e saber utilizá-
los deverá, sem dúvida, colaborar com as artes cênicas na relação com o seu público. Entretanto, não basta a
habilidade de operar estes recursos. É imprescindível repensar a crítica no mundo virtual.

Referências

[1] MOSTAÇO, Edélcio. Mapeando a teoria da recepção in Metodologias de Pesquisa em Artes cênicas.
São Paulo: 7 letras, 2006, p.121.

[2] LEVY, Pierre . O que é o virtual? São Paulo: Editora 34, 200, p.107.

[3] FRANCHETTI. Paulo. A crítica morreu? Jornal da Unicamp, Campinas, SP, p. 6 - 7, 08 agosto de
2004.

[4] NÉSPOLI, Beth. Entrevista cedida a autora por email em dezembro de 2009, s.p.

[5] BRANDÃO, Tânia. Entrevista cedida a autora por email em setembro de 2008, s.p.

[6] FERNANDES, Michel. Entrevista cedida a autora por email em fevereiro de 2009, s.p.

[7] COELHO, Sergio Salvia. Entrevista cedida a autora por email em agosto de 2009, s.p.

[8] MURIANA, Fabrício. Entrevista cedida a autora por email em novembro de 2008, s.p.

[9] ÁVILA, Daniela. Entrevista cedida a autora por email em agosto de 2008, s.p.

[10] MAZZA, Luciano. Entrevista cedida a autora por email em fevereiro de 2010, s.p.

[11] MONTEIRO, Rodrigo. Entrevista cedida a autora por email em outubro de 2008, s.p.

Agradecimentos

Tendo sido bolsista durante o período de mestrado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sob a
orientação de Edélcio Mostaço, agradeço à CAPES pelos subsídios a esta pesquisa.

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PHILIP ROTH E O COMPLÔ EM THE HUMAN STAIN

Lauro Iglesias Quadrado1*


1
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

1. Introdução
O importante escritor e crítico argentino Ricardo Piglia (1940), em seu ensaio intitulado Teoria do
Complô (2001), tematiza a importância das relações de intrigas e conspirações no âmbito da narrativa,
partindo do contexto social. O autor reconhece em seu país uma notável vocação política para certa prática
dicotômica e, a partir daí, é motivado a postular a semelhança entre o comportamento político-social e como
ele se dá na obra de arte, sobretudo no romance.
O autor do texto representa a situação com exemplos majoritariamente oriundos da Argentina, porém
poucos países no mundo são mais notáveis por relações sociais exercidas sob influência de atos de paranoia,
organizações secretas e investigações feitas em total sigilo do que os Estados Unidos. Se valendo disso, o
escritor estadunidense Philip Roth (1933) traz para seu romance The Human Stain (2000) um legítimo
complô à moda Piglia.
Para o argentino, existem diversas formas de complô, mas atenta para o fato de que “em princípio, o
complô supõe uma conjuração e é ilegal porque é secreto” [1]. Ele vai além, afirmando que a própria história
desenvolvida para sustentar uma trama lhe é parte essencial e indissociável, fazendo parte dela própria. Daí a
conexão com a literatura, que explora o complô como elemento que guia o andar de narrativas de ficção.

2. Método
O método investigativo consistirá no uso das postulações de Ricardo Piglia explicitadas em seu texto
Teoria do Complô como viés crítico de leitura do romance The Human Stain, de autoria de Philip Roth. Para
isso, partes do texto de Roth serão lidas e analisadas, de forma a serem questionadas quanto à validade de sua
leitura intertextual junto às ideias de Piglia. Dessa forma, a posição do leitor e da sociedade em geral é
levada em conta, ao se colocar, no contato com obra de ficção, no papel conspiratório descrito pelo autor
argentino.

3. Resultados e Discussão
O romance de Roth tem como pano de fundo para sua narrativa justamente um fato político marcante
do tempo em que ele se passa: o escândalo sexual envolvendo o então presidente americano Bill Clinton e
sua estagiária, Monica Lewinsky. Junto disso, o personagem em torno do qual a narrativa se desenvolve,
Coleman Silk, é levado à demissão na universidade da qual era reitor e havia ajudado a erguer, tornando-a
respeitada e bem sucedida. O motivo? Um aparente mal-entendido, que foi propagado por todos na
universidade.
“Do they exist or are they spooks?” [2] (“eles existem ou são spooks?”) foi a frase proferida pelo
professor Coleman Silk, ao se referir a alunos que ainda não haviam aparecido em aula, mesmo depois de
cinco semanas do início das atividades letivas. O jogo de significado aqui se dá justamente com a palavra
spooks, que originalmente quer dizer algo como “assombrações, fantasmas”, mas também é gíria pejorativa –
e, já na época em que se passa a narrativa, expressão ultrapassada, em desuso – para se referir aos negros. O
significado entendido – ou escolhido – pelos alunos não presentes e pela sociedade ultra politicamente
correta de uma pequena cidade dos Estados Unidos foi o primeiro, o que gera a tensão na narrativa. Com a
suposta alusão que rebaixa a raça dos ausentes, dá-se a formação do complô.
Piglia afirma que [3] “a paranoia, antes de se tornar clínica, é uma saída para a crise do sentido”, em
prática tipicamente relacionada ao desenvolvimento de grandes conspirações. A comoção da comunidade
acadêmica, esforçada em condenar o agora grande racista Coleman Silk, o empurra ao total desequilíbrio de
sua vida, com a demissão do cargo de reitor, junto com a morte de sua esposa, consequente do ocorrido.
No livro de Roth, ficamos sabendo somente que as acusações contra Silk se limitam ao fatídico
ocorrido que assombra sua vida de reitor e sua credibilidade pessoal. No entanto, “o que não se sabe, em um
mundo onde tudo se sabe, obriga a buscar a chave escondida que permita decifrar a realidade” [4], e é
justamente essa a direção que o texto nos leva. É justamente a partir do momento da acusação que se inicia a
investigação pelas brechas, em busca de fatos que possam ser usados para a incriminação.

*
Mestrando do Programa de Pós-Graduação do Instituto de Letras da UFRGS, especialidade Literatura
Comparada. Bolsista vinculado à Central de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
Endereço eletrônico: lauroiq@yahoo.com.br
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A busca de dados na vida de Coleman Silk procura explicar a acusação de racista a ele atribuída, que
em primeiro momento parece totalmente descabida. Com isso, o leitor se deixa levar pelo que é mostrado,
notadamente no retrato de ações preconceituosas em momentos passados na vida do professor, que se afasta
de sua família negra, sob a alegação de que ela o prejudica em suas relações pessoais e profissionais. A
evidência concreta que se dá com a explicitação desses atos coloca o leitor como próprio integrante da
disputa contra sua integridade. Dando força ao seu argumento, referências ao caso Bill Clinton são colocadas
em paralelo ao caso Silk, usadas como referência a um complô político, que visava derrubar um presidente
por um motivo – de acordo com diálogos sobre o assunto apresentados no texto – aparentemente menor,
como a sua relação extraconjugal com uma estagiária.
Philip Roth constroi o texto lançando mão de seu alter-ego mais conhecido, Nathan Zuckerman.
Zuckerman é escritor, e funciona como narrador do romance, sendo responsável pela coleta de dados do ex-
reitor. Com isso, todo o texto é colocado a serviço de complôs, em conteúdo e forma, instigando o leitor. De
maneira claramente metaficcional, vai ao encontro da ideia de Piglia em relação aos relatos típicos de sua
teoria para as conspirações, sendo da própria intenção do autor a criação de uma narrativa que trabalhe desta
forma.
Precisamente ao falar um texto de ficção, do escritor argentino Macedonio Fernández, Ricardo Piglia
atesta a aptidão da forma romanesca para a construção de relações conspiratórias (p. 102):
O nó ficcional é a armação de um complô que, por sua vez, se superpõe à escrita de um romance. As
múltiplas estratégias do romanesco que perpassam o texto tendem a funcionar como conjuração
destinada a produzir efeitos sobre a realidade e construir um conjunto específico de leitores, eles
próprios destinados a atuar como conjurados. Desse modo, o romance constroi o publico como
cúmplice de uma conjuração secreta. [5]

4. Conclusão
Para Ricardo Piglia, a característica do leitor moderno é a de um leitor conspirador, comparando-o
com um censor. Dessa forma, sua afirmação feita em relação a Fernández, se vista em conjunto com o
processo de leitura de The Human Stain, corrobora sua tese. Coube a Philip Roth conseguir reunir de
diversas maneiras como a força das conspirações move as relações sociais, o que é claramente refletido na
hora em que o leitor contemporâneo se aproxima da obra de arte e em como o próprio artista dispõe o
andamento de sua produção.
Sob qualquer aspecto, a importância que Ricardo Piglia atribui ao complô como definidor de relações
interpessoais é representada pela força do texto de Roth. Dessa forma, a abordagem dada pelo escritor
argentino se torna precioso viés de leitura para várias obras da produção contemporânea, e define a literatura
como campo ideal para a ação clandestina das conjurações secretas, devido a sua característica ficcional e
também de busca pelo desconhecido, incessante ofício do texto literário.

Referências

[1, 3 – 5] PIGLIA, Ricardo. Teoria do Complô. In: Serrote. São Paulo: Instituto Moreira Salles, Edição 02,
agosto de 2009.

[2] ROTH, Philip. The Human Stain. Londres: Vintage, 2001.

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POESIA POPULAR DO NORDESTE: UM TERRENO EXPRESSIVO DE INOVAÇÃO E


SUSTENTABILIDADE

Geice Peres Nunes1*; Ana Paula Cantarelli2.


1
Universidade Federal de Santa Maria
2
Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução
A presente investigação se propõe a refletir a poesia popular do nordeste sob o enfoque da inovação
e da sustentabilidade. Para tanto, os referidos conceitos são tomados, respectivamente, como sinônimos de
inovação artística, concepção e desenvolvimento de novos recursos estético-literários; bem como, de
sustentação ou preservação de temas e traços culturais nas expressões literárias. O que inicialmente parece
constituir um paradoxo, visto que, de certa forma, a novo e o tradicional parecem em choque, mostra que a
poesia popular do nordeste pode ser observada como um terreno de contradições modernas. Pautada em
temas da tradição medieval e peninsular, a poesia nordestina mantém-se aparentemente afastada da forma na
qual se inspira, aderindo a uma métrica própria. E, no entanto, seu conteúdo, apresenta-se conectado com a
tradição no que se refere aos temas, aos desfechos para as ações, a vinculação com o pensamento de uma
época. Vale lembrar que o terreno da inovação não está fixado ao campo específico da forma ou do
conteúdo, mas como resultante da subjetividade na reelaboração que o poeta põe em prática.
Com vistas nesses aspectos, desenvolvemos uma análise de modo a ilustrar e dar sentido a tais
questões. Para tanto, adotamos como objeto o folheto popular Viagem a São Saruê, de Manuel Camilo dos
Santos, publicado em Campina Grande, em 1956, por ilustrar traços tradicionais e também inovadores em
relação às versões anteriores do mito que ele reelabora.

2. Método
Quando consideramos a poesia popular dentro de seu próprio contexto, vemos que o artista torna-se
mais importante “quanto menos original se mostra, (...) quanto menos rebelde às formas tradicionais, e
quanto maior soma de material e técnica tradicionais reúne” [1]. Ao mesmo tempo, os versos se definem
como uma modalidade poética existente enquanto performance, uma vez que são raros os registros escritos.
É nesse sentido que o caráter oral incorpora o dinamismo e permite a inovação.
Conforme Idelette Muzart Fonseca dos Santos [2], “a literatura popular brasileira, oral e escrita, em
particular no Nordeste, não é composta dos versos, de relíquias e vestígios, pacientemente recolhidos antes
de desaparecer para sempre: é uma poesia viva e atual”. Nessas circunstâncias, está inserida em um tempo
que tem por condição a mudança contínua e constante própria da modernidade.
A pesquisadora ressalta que a ampla gama poética recitada, cantada, improvisada ou escrita, traz à
luz “a complexidade das relações possíveis entre a voz e a escritura, entre tradição e criação” [3]. Sendo
assim, a tradição e a criação constituem dois eixos que concedem a possibilidade de se observar o lugar do
novo, bem como daquilo que se sustenta na obra em que nos debruçamos.
Jerusa Pires Ferreira [4] observa o lugar da criação e explica as constantes e as novidades nos
folhetos de cordel. Para a crítica, ao nos depararmos com os contos populares e folhetos de cordel,
atribuímos à tradição oral a idéia de originalidade. Essa atitude, passível de contestação, pode ser assimilada
e compreendida se considerarmos que “existem categorias de expressão, situações narrativas que se mantém
(...) sempre prontas a aparecer e que formam uma espécie de virtualidade, que podemos chamar de a grande
matriz oral”. Tal matriz tem origem em uma “ancestralidade de enredos, de situações, que se perdem nos
tempos e que, diante de nós, em dado momento, como por um milagre, se articulam de repente”. Nesse
processo, a literatura popular em forma de contos ou de folhetos, permanece viva e delineada por uma
oralidade mista ou de uma matriz impressa.

3. Resultados
Tomando como objeto o folheto popular Viagem a São Saruê, é possível ilustrar como os dois eixos
norteadores da pesquisa estão delineados. Nesse viés, a obra em questão ilustra a manutenção de um tema
medieval bastante difundido na literatura tradicional e popular: o mito do país da Cocanha, cuja
representação estética está datada desde o século XIII. Esse lugar mítico criado na Idade Média perpassa
várias civilizações até chegar ao nordeste brasileiro no século XX, e é retomado, como de costume, por
sociedades que carecem daquilo que é básico para a existência humana. Devido a isso, a terra é descrita

*
Geice Peres Nunes : geicepn@gmail.com
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como um espaço de fartura e de abundância, com rios de leite e montanhas de rapadura, conforme a versão
nordestina. Hilário Franco Junior (1998) traça um panorama sobre o mito e explica que a permanência do
tema se justifica no fato de a Cocanha ser “um mosaico mítico”, cujo sucesso se pauta na materialização
terrestre de “uma terra imaginária, maravilhosa, uma inversão da realidade vivida, um sonho que projeta no
futuro as expectativas do presente” [5].
Franco Junior expõe, por outro lado, que em diferentes contextos de produção, o mito foi visto de
forma negativa pelo fato de estimular o ócio, a preguiça em tempos de florescimento da economia burguesa,
de estimular revoltas populares, os saques, a fim de conquistar a sonhada abundância. Essa atitude
subversiva da ordem estimulava o exílio no campo, espaço em que o mito é ambientado em várias
expressões, portanto, uma evidência de retrocesso. Um traço substancial nas várias versões é a satisfação
física e o bem-estar que o espaço proporciona. Representando a voz de uma camada à margem, que
reivindica um estado de igualdade e de prosperidade. Além disso, ao mesmo tempo em que tecem a critica à
exploração pelo trabalho, as narrativas sobre a Cocanha apresentam também o tom burlesco e a capacidade
de fazer rir [6], presentificado pelo deleite que o visitante sente ao estar no ambiente.
Os versos populares do folheto demonstram traços recorrentes do país da “Cocanha” na versão
nordestina denominada país “São Saruê”. Essa nominação surge como o primeiro traço inovador, visto que
em outras variantes do mito o nome original é mantido. O espaço é construído com base no maravilhoso,
com recursos da imaginação do poeta, o próprio sujeito lírico que “protagoniza” a ação:

DOUTOR mestre pensamento


Me disse um dia: - você
Camilo, vá visitar
O País “SÃO SARUÊ”
Pois é o melhor lugar
Que neste mundo se vê. [7]

É interessante enfatizar que a viagem ao país da fartura mostra originalidade se observamos o meio
de transporte utilizado nas várias versões da Cocanha. Em grande parte delas, o percurso até o espaço fictício
é feito por estradas ou pelo mar, no entanto, na versão brasileira, a viagem imaginária é feita pela sugestão
do “Doutor mestre pensamento”, evidenciando, portanto, uma marca de inovação. A esse respeito, Lawrence
Flores Pereira [8] enfatiza que, na literatura popular, a “concepção demiúrgica em que o poeta se imagina
como um deus ou um gênio flutuante” teve origem no folheto de Manuel Camilo dos Santos, ressaltando a
capacidade inovadora do cantador nordestino ao se inspirar na utopia de uma terra de fartura.
O maravilhoso presente nos versos é corroborado pelas constatações de Jerusa Pires Ferreira, quando
a crítica enfatiza que nos poemas de cordel, baseados em diferentes expressões literárias: “há uma espécie de
malha do conto maravilhoso conduzindo os esquemas narrativos; comparando-os, passo a passo, veremos
que, se estão diretamente ligados, vão se cumprindo em cada um dos textos soluções poéticas diferenciadas”
[9]. Assim, o esquema narrativo parece ser mantido, conduzindo o poeta na seqüência de ações, porém no
desfecho vemos o espaço para a inovação, que oferece uma nova solução para um enredo comum.
Observando a composição da obra, vemos que o passeio pelo país “São Saruê” ocorre na primavera,
estação que simboliza a fertilidade, a abundância, o período harmônico que sucede o inverno. Tendo como
meio de transporte o próprio pensamento, a visão onírica do espaço sugere um vôo pela geografia do Saruê e
nesse movimento, vemos as surpresas do sujeito que se depara com a cidade: “Mais adiante uma cidade/
como nunca vi igual/ toda coberta de ouro/ e forrada de cristal/ ali não existe pobre/ é tudo rico em geral”
[10]. Camilo, no papel de sujeito lírico, tece juízos a respeito das classes sociais e define o espaço como
opulento, porém de igualdade social, um desejo que se mantém desde as primeiras versões sobre a Cocanha.
A respeito da forma adotada na expressão poética, ressaltamos o uso da sextilha heptassilábica como
um modelo próprio dos versos populares, uma constante-rítmica [11] na literatura de cordel que se consolida
como um traço inovador quando consideramos os gêneros anteriores que deram materialidade ao mito, na
forma prosaica e nos versos de variadas metrificações e estrofações.
A visão do povo é algo que deixa o sujeito maravilhado, pois contrasta com o estereótipo do
sertanejo tristonho, calado, de corpo frágil: “Quando avistei o povo/ fiquei de tudo abismado/ era um povo
alegre e forte/ sadio e civilizado/ bem tratável e benfazejo/ por todos fui abraçado” [12].
Um fator que se mantém desde o mito da Cocanha, trata-se do trabalho como uma atividade
dispensável. O alimento provém sem a intercessão do homem, portanto, o cultivo da terra, a fertilização e
colheita são desnecessários, visto que nos trigais nascem pães. Essa prosperidade e “preguiça” constante é
mencionada pelo sujeito: “O povo em „São Saruê‟/ tudo tem felicidade/ passa bem, anda decente/ não há
contrariedade/ sem precisar trabalhar/ e tem dinheiro à vontade” [13]. Essa visão de Camilo parece ressaltar

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

o aspecto do trabalho como prática firmadora de classificações dicotômicas como empregado e patrão, rico e
pobre, entre outras. Nesse sentido, a inexistência do trabalho, anula as fronteiras entre o possuído e o
despossuído, permitindo um nível de igualdade entre os habitantes do São Saruê.
Um traço que surpreende o leitor é a constituição da geografia, um relevo comestível, que induz o
homem ao consumo e ao deleite, à saciedade que parece não existir na realidade vivida, por isso a visão
extasiada do espaço: “As pedras em „São Saruê‟/ são de queijo e rapadura/ as cacimbas são café/ já coado e
com quentura/ de tudo assim por diante/ existe grande fartura” [14]. No espaço em que o ócio é a prática
corrente, o ato de comer torna-se a atividade permitida mais prazerosa para o sujeito.
Nesse lugar de deleite permanente, a passagem do tempo é reversível, pois, conforme ilustra o
sujeito lírico, “Lá tem um rio chamado/ o banho da mocidade/ onde um velho de cem anos/ tomando banho à
vontade/ quando sai fora parece/ ter 20 anos de idade” [15]. Sobre esse aspecto Franco Junior ressalta que o
São Saruê, assim como as várias versões do lugar imaginário, não se constitui como uma terra de crianças ou
jovens, mas de idosos, remoçados pelo banho no rio da juventude. Assim entendemos que o saruê parece ser
um espaço destinado àqueles que vivenciaram as agruras da vida sertaneja, uma espécie de eternidade
edênica a ser gozada.
Jerusa Pires Ferreira aponta que “os textos impressos que servem de inspiração para os versos dos
cordelistas funcionam, não somente como motes, mas também como „ponto de apoio‟ para cada nova criação
ou uma série de poemas que em conjunto formam os ciclos [16]. No entanto, há espaço para a inovação.
Assim, um fator de expressiva mudança em Viagem a São Saruê reside na ausência de versos que exaltem a
liberdade sexual típica expressa nas variantes do país da Cocanha, como as fontes francesa e inglesa. Na
versão brasileira, o deleite se dá de forma visual, quando o cantador “enche os olhos” com as maravilhas da
terra, um traço que possivelmente se explique na poética do próprio cordel como gênero, onde há uma
divisão temática dos versos, residindo o objeto de estudo no ciclo maravilhoso e o tema do gozo sexual, no
ciclo de cômico, satírico e picaresco conforme a classificação elaborada por Ariano Suassuna [17].
A posição da poesia é um dado relevante a ser enfatizado: sabemos que as sociedades em
desenvolvimento viram no poeta um ocioso e desvincularam a sua atividade da categoria de trabalho. Porém,
o Saruê parece reivindicar a importância dessa prática como arte digna de reconhecimento, assim: “Tudo lá é
festa e harmonia/ amor, paz, bem-querer, felicidade/ descanso, sossego e amizade/ prazer, tranqüilidade e
alegria / na véspera d‟eu sair naquele dia/ um discurso poético lá eu fiz/ me deram a mandado do juiz/ um
anel de brilhante e de rubim/ no qual um letreiro diz assim:/ - feliz é quem visita este país” [18]. Os versos
finais (designação das estrofes na literatura popular do Nordeste) indicam uma mudança, pois de sextilhas
passam a décimas heptassilábicas, que também são próprias dessa expressão, utilizadas aqui como marca de
encerramento.
Na exposição, vemos que o novo e o tradicional orbitam no cenário mitológico do Saruê, entrando e
saindo dos limites dessa poesia conforme o arbítrio do artista. No entanto, vale lembrar que uma há uma
explicação de cunho sociológico para a releitura da Cocanha, que firma o inegável paralelismo entre a versão
medieval e a brasileira: “o contexto arcaizante do Nordeste brasileiro de meados do século XX constituía-se
em terreno propício para a reemergência da temática cocaniana, ali introduzida provavelmente no período
colonial através de relatos orais dos metropolitanos e dos invasores holandeses e franceses” [19]. Sendo
assim, vemos que esse tema difundido no panorama nacional, foi mantido na memória e se solidificou graças
às injustiças sociais presentes desde o Brasil colônia, que se acentuaram, privilegiaram certas regiões,
deixando outras abandonadas à própria sorte, portanto, confirmando a posição do crítico anteriormente
citado.

4. Conclusão
Com base nos dados levantados torna-se visível a proximidade do mito do país da Cocanha
difundido na literatura européia e a variante brasileira composta por Manuel Camilo dos Santos. Há alguns
traços inovadores como o nome atribuído ao lugar, a viagem imaginária e a métrica particular do cordel. No
entanto, a visão do mundo presente nas versões assegura o fundo comum e reivindica a necessidade de um
espaço de igualdade entre os homens, ainda que utópico.

Referências
[1] PROENÇA, M. C. Introdução. In: Literatura Popular em Verso. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui
Barbosa, 1964, p. 5.
[2] SANTOS, Idelette Muzart Fonseca dos. A escritura da voz e a memória do texto. In: BERND, Zilá;
MIGOZZI, Jacques. Fronteiras do Literário: literatura oral e popular Brasil/França. Porto Alegre, Editora da
Universidade/ UFRGS, 1995, p. 35.
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

[3] Idem, p.35.


[4] FERREIRA, Jerusa Pires. Matrizes impressas da oralidade. In: BERND, Zilá; MIGOZZI, Jacques.
Fronteiras do Literário: literatura oral e popular Brasil/França. Porto Alegre, Editora da Universidade/
UFRGS, 1995, p. 46.
[5] FRANCO JUNIOR, Hilário. Cocanha: várias faces de uma utopia. São Paulo: Ateliê Editorial, 1998,
p.10.
[6] Idem, p.10.
[7] SANTOS, Manuel Camilo dos. Viagem a “São Saruê”. Campina Grande, 1956. In: Literatura Popular
em Verso. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1964, p. 555.
[8] PEREIRA, Lawrence Flores. Em busca de Canhotinho: estudo sobre um estado de exceção lírica e de
errância poética na poesia popular nordestina. In: Nonada Letras em Revista, Vol. 1, No 13, 2009.
[9] FERREIRA, 1995, p. 49.
[10] SANTOS, 1964, p 556.
[11] CASCUDO, Luis da Câmara. Vaqueiros e Cantadores. Porto Alegre: Ediouro, s.d. p. 18.
[12] SANTOS, 1964, p. 556.
[13] Idem, p. 556.
[14] Idem, p. 556.
[15] Idem, p. 557.
[16] FERREIRA, 1995, p. 47.
[17] SUASSUNA, Ariano. Notas sobre o romanceiro popular do Nordeste. In: ______. Seleta em prosa e
verso (org. Silviano Santiago). Rio de Janeiro: José Olympio, 2007, p. 256
[18] SANTOS, 1964, p.558
[19] FRANCO JUNIOR, 1998, p. 13.

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POÉTICA DIGITAL: CRIAÇÃO COLABORATIVA NO FLUXO COMUNICACIONAL

Rogério Tubias Schraiber1


UFSM – Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução
Levando em consideração as possibilidades do atual contexto tecnológico-digital os meios
comunicacionais oferecem novos desdobramentos para propostas artísticas em que o público pode estar mais
presente. Assim, a presente comunicação traz uma proposta em poéticas visuais realizada de modo
colaborativo em uma rede de contatos no Orkut. Nessa rede, as ações criativas tiveram como espaço o seu
próprio fluxo comunicacional. A escolha do referido espaço se justifica pela significativa relevância que os
meios de comunicação digital passam a ocupar cada vez mais na vida dos sujeitos e por suas possibilidades
de hibridação em arte. Para tanto, buscou-se investigar um processo de criação colaborativo cujo
desenvolvimento dependesse das interferências e sugestões do próprio público virtual. A proposta consistiu
em realizar manipulações em imagens de conteúdo religioso, sexual e em cenas de lutas corporais, criando
composições híbridas com a combinação de fragmentos dessas. São temas presentes na vida cotidiana e,
muitas vezes, banalizados pelo excesso de exibição. Essa condição foi explorada no processo poético pelos
colaboradores de modo que as composições digitais resultantes despertaram novas possibilidades de leituras
sobre seus conteúdos. Tais composições permaneceram na rede Orkut da pesquisa onde poderiam ser
visualizadas podendo, também, serem projetadas com o uso de projetores multimídia em espaços
convencionais de exposição. O estudo foi desenvolvido entre 2008 e 2009, como proposta de pesquisa na
linha Arte e Tecnologia no Mestrado em Artes Visuais da UFSM, sob orientação da professora Reinilda
Minuzzi.

2. Método
Os métodos empregados foram a colaboração, a participação e a interatividade, os quais aconteciam
simultaneamente durante toda a pesquisa.
A ação colaborativa partiu do usuário e correspondeu ao acréscimo de mais uma informação no todo
da pesquisa e não a manipulação ou transformação da obra. Esse somatório de elementos com a contribuição
de imagens ou escritos que passaram a fazer parte da obra, posteriormente, retornavam ao fluxo da rede de
modo que os participantes pudessem acrescentar novas informações. Essa colaboração acontecia no
momento em que os usuários enviavam sugestões de imagens que julgavam serem pertinentes ao propósito
da pesquisa, bem como propostas de como combinar e manipular as mesmas, além de opiniões sobre
composições já elaboradas.
Já a participação se deu de modo que os usuários, ao se depararem com as imagens no fluxo, pudessem
manipulá-las criando efeitos, composições, contrastes, justaposições e até mesmo expor suas opiniões
críticas sobre as imagens em andamento. A participação permitia, a cada usuário, uma parcela de
responsabilidade pela autoria de um fragmento do todo.
As ações interativas estavam contidas nas manipulações e montagens de composições que os usuários
faziam com as imagens em seus computadores pessoais. Constituía uma interatividade condicionada que
acontecia no momento em que o interator empregava seus software de tratamento de imagem e, logo, a troca,
a divulgação e a socialização das suas contribuições através do Orkut. Tendo o interator escolhido as
imagens nas quais desejava interferir, ele poderia interagir criando uma terceira composição a partir de
alguma relação estabelecida por ele. O participante possuía certa autonomia para provocar direcionamentos
nas questões conceituais e desdobramentos no processo. No entanto, o mediador do processo, autor da
pesquisa, possuía um dado controle no momento em que encaminhava e direcionava o percurso do mesmo.
Assim, como a interatividade estava limitada às possibilidades do software e da plataforma do Orkut, a
liberdade do colaborador também estava condicionada a limites colocados pela monitoria exercida.
No âmbito das possibilidades existentes, houve participantes que manipularam imagens realizando
efeitos visuais como troca de cores, iluminação, efeitos de manchas e desconstituição das formas. Outros
montaram composições com fragmentos de várias fotos. Essas contribuições foram publicadas no perfil do
Orkut da pesquisa para que ficassem visíveis a todos de modo que pudessem expor seus comentários. Nesse
sentido, Plaza diz que “nas artes da interatividade, portanto, o destinatário potencial torna-se co-autor e as
obras tornam-se um campo aberto a múltiplas possibilidades e susceptíveis de desenvolvimentos imprevistos
numa co-produção de sentidos” [1]. O Orkut não deixou de ser um espaço aberto para possibilidades de
interação e participação, pois todo o conjunto imagético criado ficava nele registrado.

1
Rogério Tubias Schraiber: rgartt@gmail.com
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

3. Resultados e Discussão
A questão de pesquisa partiu de relações críticas entre as imagens usadas no processo criativo em que
ações coletivas direcionaram seus desdobramentos. A temática da pesquisa foi colocada pelo mediador, mas
as imagens foram sugeridas pelos próprios participantes da rede Orkut que eram convidados a realizar as
ações nas mesmas. O resultado desse processo são composições digitais criadas em pleno fluxo
comunicacional que permaneciam em constante transformação. Assim sendo, o fluxo de comunicação digital
constitui o conceito e enfoque principal da proposta, de modo que há uma criação artística a partir do meio
digital que apresenta suas possibilidades no contexto atual da arte.

Oferecendo novos meios de figuração, o numérico se infiltra no mais íntimo coração das
artes. Ele lhe oferece, lhe impõe seus materiais e seus processos. A tecnologia adquire uma
importância cada vez mais decisiva no destino da arte: ela constitui o fundamento fatal,
orienta-lhe irresistivelmente as tendências estéticas. [2]

Nesta perspectiva, tendo em vista a transformação que a tecnologia pode provocar na arte, a
investigação desses procedimentos para a formação do pesquisador e levando em consideração que o artista
como “(...) uma esponja que absorve e restitui a essência de uma cultura, é hoje chamado a desenvolver e a
experimentar novas formas de fazer arte” [3] surge à necessidade do desafio e do diálogo com a grande
pluralidade de formas artísticas, enquanto investigações que podem conduzir a um melhor engajamento com
a arte contemporânea.
A importância que este estudo traz hoje para a arte consiste no fato de se estar desenvolvendo uma
pesquisa com fundamentação teórica atualizada e com procedimentos digitais atuais. É um processo criativo
que busca referências na participação coletiva e interativa para o desenvolvimento de uma obra conjunta. A
chance de participação do público em geral em um processo artístico torna-se, hoje, mais efetiva através das
mídias digitais concebendo o direito de livre acesso à cultura. Essa realidade dá ao artista uma oportunidade
de ramificar seus projetos a limites até então não atingidos, aproximando-se e unindo-se ao público em um
trabalho coletivo.
Desse modo, o objetivo dessa pesquisa consistiu em desenvolver um processo de criação participativo,
colaborativo e interativo através das mídias comunicacionais digitais, em meio a uma rede de contatos criada
através de um Orkut, para discussões e ações criativas. O desenvolvimento desse processo se sucedeu
conforme as interferências e as sugestões do público virtual que se comportou como um co-autor dos
resultados. Partir da ideia de uma obra contínua que se mantivesse em processo, pois este se tornou a própria
obra. As possibilidades de discussão e de surgimento de novas questões conceituais estavam sempre abertos
a transformações e inclusões, de modo que o processo se ressignificava e se modificava constantemente,
apresentando outros desdobramentos. O estudo também objetivou investigar o que seria possível explorar,
esteticamente, através da comunicação à distância, ou seja, como criar nesse „não saber” quem é quem, nesse
vazio, nessa relação em que se está e não se está presente, nesse espaço vago, nesse “não existir e existir”
próprios da rede. Em meio a isso, surgiu uma obra que existe e é real, na medida em que se realizam as ações
digitais/virtuais e que se entende que tais ações são realizadas por humanos, correspondendo aos objetivos
dessa proposta.
No final, a pesquisa resultou em diversas composições digitais que constituíram o produto final. Deste
conjunto foram selecionadas 212 imagens expostas quando da apresentação do trabalho.

Fig. 1 Composição digital 1 Fig. 2 Composição digital 2

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Fig. 3 Composição digital 3 Fig. 4 Composição digital 4

4. Conclusão
A tecnologia digital fez com que o tempo, o espaço e a cultura migrassem para o ciberespaço
colocando o “aqui e agora”, como lembra Parente [4] em uma temporalidade virtual, tornando-o onipresente
em diferentes tempos. Essa temporalidade permitiu experimentar possibilidades de um processo participativo
e interativo que, ao passo de seu desenvolvimento, apresentou desdobramentos capazes de conduzir para
outras possibilidades.
O universo tecnológico digital, por seu constante desenvolvimento, torna-se uma fonte inesgotável de
ideias e sugestões para a arte contemporânea. É nessa perspectiva que nos projetos de criação os artistas
buscam cada vez mais diferentes maneiras de exploração do tecnológico para a instauração de processos e
obras sempre com novos conceitos que contribuam para o conhecimento em arte.
A participação interativa de um público em ambiente virtual foi um fator decisivo para essa proposta.
O processo aconteceu na medida em que os colaboradores apresentavam suas contribuições que eram
diferenciadas de um para outro. O mediador desse processo criativo, ao mesmo tempo em que proporcionava
liberdade ao público virtual, procurava construir um diálogo entre essas diferentes ações. A participação
interativa deveria ser algo que permitisse a continuidade do processo, de modo que o passo anterior
conduzisse ao próximo e assim sucessivamente.
Em relação ao que se tinha como propósito no início dessa pesquisa, os objetivos foram atingidos. A
exploração do fluxo de comunicação dentro das redes digitais multiusuários como um espaço de criação
colaborativa e interativa, que consistiu no principal objetivo, foi desenvolvida de modo que, em seu decorrer,
surgiram novas possibilidades de desdobramentos para a pesquisa.
A pesquisa também se deteve em investigar se um processo poético à distância seria possível. A
necessidade de experimentar o desenvolvimento de um trabalho poético onde os envolvidos estivessem
geograficamente longe uns dos outros consistiu na investigação da comunicação, ou seja, da troca de
informações entre os usuários participantes como o principal mecanismo para permitir que a pesquisa
acontecesse.
Nesse sentido, acredita-se que o ciberespaço pode continuar oferecendo suporte para propostas
artísticas que optam por abordar a comunicação a longas distâncias via rede para que, no interesse de criar
uma arte diferenciada, se construa uma cultura artística interconectada. Essa conexão contribuirá para a
desconstituição do artista como aquele indivíduo autônomo e portador do conhecimento como o único que
pode fazer arte, abrindo possibilidade para o público em geral ser também co-autor e participante da obra e
do processo, ou seja, a arte podendo ser realizada por todos.
Por fim, todo o desenvolvimento tecnológico que se tem hoje para a criação de propostas interativas no
ciberespaço está, sem dúvida, introduzido em um percurso de atualizações. Nesse caminho, uma invenção
soma-se aos inventos anteriores e, assim, temos os desdobramentos da arte contemporânea em constante
fluxo comunicacional digital como um espaço de criação colaborativa e interativa.

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Referências

[1] PLAZA, Júlio. Apresentação. In: PRADO, Gilberto. Arte telemática: dos intercâmbios pontuais aos
ambientes virtuais multiusuário. São Paulo: Itaú Cultural, 2003, p. 15-16.

[2] COUCHOT, Edmond. A tecnologia na arte: da Fotografia à Realidade Virtual. Porto Alegre: UFRGS,
2003. p. 281-282.

[3] POISSANT, Louise. Ser e fazer sobre a tela. In: DOMINGUES, Diana (org.). Arte e vida no século
XXI. São Paulo: UNESP, 2003, p. 121.

[4] PARENTE, André (Org.). Tramas da rede: novas dimensões filosóficas, estéticas e políticas da
comunicação. Porto Alegre: Sulina, 2004, p.94.

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POR UMA BIOGRAFEMÁTICA DE INFÂNCIA

Ana Cristina Franz1;Dayana Matos2

Universidade Federal do Rio Grande do sul: Faculdade de Educação

Universidade Federal do Rio Grande do Sul: Instituto de Filosofia e Ciências Humanas

1.Introdução

Vinculado a temática linguística, letras, artes do I CICPG- 2010, este pôster intitula-se
Por uma biografemática de infância e apresenta experimentações realizadas em Oficinas de
Escritura, com crianças na faixa etária de 9 a 10 anos, em duas escolas da rede pública de Porto
Alegre-RS, sendo uma federal e a outra estadual. Integra a pesquisa Fantasias de escrileitura:
devir-infantil de currículos nômades, apoiada pelo CNPq, FAPERGS e PROPESQ-UFRGS,
coordenada pela professora Sandra Mara Corazza da UFRGS. Para a realização das Oficinas foi
utilizado o Método Biografemático (Sandra Mara Corazza, 2009, Texto digitado), que trata de
escrita de Vida (biografia) e de Obra (bibliografia) entrelaçadas, compondo um só corpo:
Vidarbo. Concebemos a escrita como um processo de devir e uma passagem de vida, que
atravessam o vivível e o vivido, nos quais os escritores-autores se deixam contaminar pela
literatura e, com ela, assumem compromissos. Desse modo, os escritores envolvem-se na força
fantasística, que os impulsiona ao querer-escrever, funcionando como um guia iniciático, como
um motor que os põem em marcha (Roland Barthes. A preparação do romance vol. I: da vida à
obra. São Paulo: Martins Fontes, 2005). Assim, as escritas biografemáticas tomam corpo a
partir de duas esferas: fantasia e escritura. Operam em prol da "ilusão biográfica", já que
deslocam a ordem e os sentidos dos fatos; criam e renovam cenas, lugares e personagens;
propiciam aventuras e paixões de escrita e de pensamento.

1
Ana Cristina Franz: anacristinafranz@gmail.com
2
Dayana Matos: ecodaya@yahoo.com.br
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2.Método

Pautadas pelo método biografemático, nossas Oficinas iniciaram com uma


apresentação da noção de Biografema, a partir da poesia “Infância”, de Manoel de Barros
(Memórias inventadas: a infância. São Paulo: Planeta, 2003). Propusemos, a seguir, o exercício
em que as crianças, num período de 45 minutos, inventavam, criavam, fabulavam o seu próprio
Biografema de Infância. Ao final, alguns alunos se dispuseram a ler para o grupo o que haviam
produzido e, com expressivo júbilo, riram ardorosamente ao compartilhar suas invenções. Dessa
experimentação, resultaram cerca de cinqüenta textos que foram analisados como mais do que
palavras, das quais deveríamos buscar um sentido, mas como a prática de uma linguagem
indireta, que pode parecer feita para dizer algo, mas é feita para dizer tão-somente a alegria de
escrever. Nesses textos, ficou visível a escritura fabulada acerca de uma infância entendida não
como estágio ou etapa cronológica da existência, mas como forma de potência que excita
múltiplos devires. Dessa forma, as Oficinas de Escritura realizadas proporcionaram a
explicitação de uma infância inventiva, fantasiadora e pensada tal qual uma obra poética ou
literária.

3.Resultados e discussão

Ao ler, discutir e analisar os escritos das crianças compreendemos que a biografemática,


ou ciência do biografema tem como propósito a escrita de breves fragmentos, que compõem
uma biografia descontínua, não cronológica, sobretudo inventiva, que difere da biografia-
destino, para a qual tudo se liga construindo um sentido. Nessa direção, as Oficinas de Escritura
Biogragemática propunham às crianças o desafio de uma composição escrita e sentida por
fragmentos de memórias que possibilitariam, assim, brincar irreverentemente com o passado.
Consideramos a escrita biografemática não somente como filosofia e ciência, mas também
como uma manifestação artística em forma de narrativa, ao realizar a “utopia de uma linguagem
particular”, ou ainda ao misturar o verdadeiro e o falso e ao destacar o brilho de uma vida
dissimulada, alternado com a névoa fosca das lembranças. Quando falamos em biografema, é
também de arte que falamos, de uma possível encenação com personagens, lugares e cenários,
vindos da ordem do desejo e da fantasia (de escritura). Desse modo, há um terreno comum entre
a escrita biografemática, a expressão artística inerente a ela e a própria infância em si, pois no
momento da criação o artista (nesse caso o autor), é banhado pela infância: ele emana fluxos de
infantilidade3. É nesse sentido que agregamos ao conceito de biografema um outro conceito
referido por Gilles Deleuze e Félix Guattari4 que é o de devir-criança, o qual propaga a infância

3 Schérer, René. Infantis. Belo Horizonte: Autêntica, 2009. P. 191-209.


4 Deleuze, Gilles e Guattari, Félix. Mil Platôs capitalismo e esquizofrenia. Vol4. São Paulo: 34,
1997.
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não apenas como lembrança, uma etapa cronológica de vida, e sim num processo de devir5 na
orientação criadora, potencializando o infantil. Sendo assim, as nossas Oficinas assumiram uma
perspectiva deleuzo-barthesiana pois , além de tomá-las enquanto acontecimento, tiveram por
intento analisar as escrituras visando identificar os processos de devir-infantil que perpassaram
o momento de criação das produções realizadas pelos infantis:

“Um dia, em Curitiba na cidade que eu nasci eu era bem pequena e estava andando de
motoca no pátio da minha casa quando uma rã pulou na minha cabeça e ela era geladinha. Eu
senti aquilo andando na minha cabeça e olhava com os olhos arregalados para a minha mãe,
mas ela estava rindo muito e não conseguia tirar aquilo de mim” (M. 9 anos. Oficina em
10/12/09).

4.Conclusão

Os resultados apresentados nas oficinas expressam memórias descontínuas e criadoras.


Assim, os escritos das crianças nos levaram a pensar que há uma articulação entre as Oficinas
de Escritura e à referência de Baudelaire transcrita por Schérer (2009). O autor propõe que o
artista no momento de criação de sua obra é banhado por partículas de infantilidade em toda sua
potência, mostrando-se impregnado de devir-infantil. Nesse sentido, as crianças, ao artistarem
biografemas, são atravessadas pelo devir-infantil, distanciando-se da infância molar e partindo
para a infância molecular. Sobre isso Corazza (2003, p. 91) nos diz que as crianças “só podem
ser artistas, pelo simples motivo de que a arte diz as mesmas coisa que elas, quais sejam: ambas
não mais ordenam um lugar da infância, mas apenas caminhos que fornecem tanto às crianças
quanto à arte um fora, que ambas repousam sobre um devir-criança, isto é, sobre o necessário
esquecimento da infância...”.
Há, em suma, entre a infância e a arte um plano de composição, no qual o produto é o
eterno movimento de criação esculpido pelo artista ao mergulhar-se na infância. O mesmo
acontece com as crianças no instante em que estão envoltas em suas fantasias de escritura:

“Bem eu nasci e comecei a cantar 20 segundos sem parar até que jogaram água em mim
até eu parar de cantar. Em menos de uma hora de vida eu já conhecia o poder da água gelada.
Nos cinco anos a quantidade de água era maior. Eu estava no mar. Este é meu biografema”.
(L.L.D, 10 anos. Oficina de escritura realizada em 10/12/09)

5 Conceito filosófico que designa o “vir a ser”, o “tornar-se”. Para Deleuze e Guattari (1997) o
devir é a partir do sujeito que se é, com as formas, as funções e os órgãos que se possui extrair
partículas as quais irão instaurar relações de movimento e repouso, velocidade e lentidão, as mais
próximas daquilo que estamos em vias de nos tornar e através das quais nos tornamos. Assim, o devir é
considerado um processo de singularização, que remete a problemática da multiplicidade e pluralização
dos sujeitos, arcando com a negação de uma identidade substancial e essencial.
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

5.Referências

BARROS, Manoel. Memórias inventadas para crianças. São Paulo, Editora Planeta,
2006.
BARTHES, Roland. A preparação do romance vol. II.São Paulo, Martins Fontes, 2005.
CORAZZA, Sandra Mara e SILVA, Tomaz Tadeu. Composições. Belo Horizonte:
Autêntica, 2003.
CORAZZA, Sandra Mara. Introdução ao método biografemático. Porto Alegre, 2008,
texto digitado.
CORAZZA, Sandra Mara. Projeto de pesquisa: Fantasias de escrileitura:devir-infantil
de currículos nômades. Porto Alegre, 2008. Vinculado à Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (UFRGS) e financiando pela CNPq e FAPERGS.
DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. Mil Platôs capitalismo e esquizofrenia vol. 4.
São Paulo: Editora 34, 1997.
___________Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia, vol. 3. São Paulo: Editora 34,
1996.

DELEUZE, Gilles. A lógica do sentido. São Paulo: Perspectiva, 2003.


HARDT, Michael. Gilles Deleuze: um aprendizado em filosofia. São Paulo: Editora 34,
1996.
PERRONE-MOISÉS, Leyla. Roland Barthes: o saber com sabor. São Paulo:
Brasiliense, 1983.
SCHÉRER, René. Infantis. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.
SHOPKE, Regina. Por uma filosofia da diferença: Gilles Deleuze, o pensador nômade.
Rio de Janeiro: Contraponto, 2004.
TADEU, Tomaz e CORAZZA, Sandra e ZORDAN, Paola. Linhas de escrita. Belo
Horizonte: Autêntica, 2004.

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(PRE)TEXTO CIENTÍFICO: UM MECANISMO DE DIVULGAÇÃO


JORNALÍSTICO
Paulo Henrique Simon1
UPF- Universidade de Passo Fundo

1. Introdução

O presente trabalho compreende o estudo da linguagem existente no meio científico, tendo


como corpus de análise publicações da Revista Super Interessante. Partindo-se da capa da revista,
busca-se observar a prática da escrita e dos elementos infográficos que foram desenvolvidos para a
divulgação da ciência e o efeito de incompletude que esse gênero jornalístico passa a causar no sujeito
leitor. Além disso, é imprescindível entender que essa incompletude só existe pelo fato de que o
sujeito na posição que ocupa – o de cientista não pode trazer à tona toda a materialidade que poderia
ser contemplada na publicação da matéria intitulada por Amor, pois esse indivíduo pertence a uma
elite social, na qual precisa manter um “certo equilíbrio” no momento em que produz seu discurso.
Esta é uma análise prévia, pela qual se investigam os mecanismos de divulgação compostas na
materialidade discursiva na perspectiva da Análise do Discurso e que ao mesmo tempo, promove a
manchete para “frente da revista”.

2. Método

Uma das etapas de nossa pesquisa foi a construção de um arquivo com textos que permitissem
pensar o imaginário sobre língua na mídia. Como não há um modelo de aplicação pré−estabelecido, a
seleção do corpus deu-se a partir reportagens, artigos, estudos e/ou discussões acerca de língua e
outros assuntos em revistas de divulgação de ciência.
Para tanto, este trabalho está dividido em duas seções. Na primeira parte, fazemos uma breve
apresentação da Revista Super Interessante, abordando algumas questões como: a história de seu
surgimento, a regularidade das publicações, o seu foco jornalístico e o fator mais evidente, que, além
da manifestação cultural e científica, a revista passou a apresentar uma preocupação efetiva sobre as
relações humanas e sociais, fazendo, desse modo, parte das condições de produção.
Já na segunda seção, apresentamos o segmento da análise do discurso jornalístico, com objetivo
de observar na materialidade discursiva empregada pelo sujeito autor, que precisa assegurar um “certo
equilíbrio” para divulgar a ciência no meio jornalístico, o imaginário de língua que ai se constrói.
Consequentemente, a escrita produzida no texto, garante a promoção da manchete anunciada na capa
da revista, discutindo o relacionamento cotidiano do casal moderno, que, segundo o responsável pela
matéria, precisa dividir o tempo entre as relações afetivas e entre a difícil tarefa de administrar os
compromissos cotidianos. Nessa perspectiva, analisamos o conteúdo existente na matéria publicada
buscando discutir os efeitos dos mecanismos utilizados para a divulgação das relações humanas em
uma revista que além de se preocupar em abordar os assuntos referentes às ciências exatas e
biológicas, passou a discutir também sobre as relações humanas. A partir disso, discutiremos as
posições que o sujeito ocupa – a de cientista e/ou a de jornalista.

3. Resultados e Discussão

Para que seja possível apresentar os resultados é considerável trazer um fragmento do artigo
intitulado por Divulgação científica e efeito leitor: uma política social urbana, em que a autora
defende que “pensar a divulgação científica faz-nos tomar necessariamente em consideração as novas
tecnologias de linguagem”. (ORLANDI, 2001, p. 21).

1
Acadêmico do curso de Letras da Universidade de Passo Fundo- Habilitação em Língua Portuguesa, Língua
Inglesa e Respectivas Literaturas . Pesquisador PIVIC do projeto Língua, Sujeito e Ideologia: O Imaginário
sobre Língua Construído pela/na Mídia, coordenado pela professora Carme Regina Schons.
Participa também, como voluntario da equipe editorial da revista Ao pé da Letra (produção eletrônica dos
acadêmicos do curso de Letras) hospedada no site www.upf.br/letras.

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Partindo da formulação da autora, é possível considerar um pouco da história da Revista Super


Interessante, que há vinte três anos é conhecida como um veículo que atinge principalmente o público
jovem pelas curiosidades culturais e científicas publicadas mensalmente, tendo a primeira edição com
a reportagem intitulada por “A era do robô Sapiens”. Através do acesso eletrônico2, é possível também
“investigarmos” gratuitamente o conteúdo editorial, desde o ano de mil novecentos e oitenta e sete até
os dias atuais. Segundo o histórico desta revista que divulga a ciência, ela teve início com edições de
aproximadamente vinte páginas, que vinham incluídas às edições da revista Abril.
Dessa forma, a revista publicava sua matéria jornalística, tendo um enfoque voltado
propriamente para as ciências exatas, como a exemplo da física, química e matemática; e das ciências
biológicas, que compreendem áreas como da biologia evolutiva, da zoologia e da ecologia. Porém,
esse meio jornalístico começou direcionar o olhar do conhecimento científico também sobre a área das
ciências humanas no objetivo de discutir sobre a mobilidade social como a exemplo da filosofia e da
psicologia. Para isso criou-se um mecanismo, que pode ser considerado dinâmico para a divulgação da
reportagem dada através dos elementos infográficos utilizados como uma ferramenta de comunicação
visual, por ser essencialmente rápida e aplicada para a observação e possibilitar um pré entendimento
da materialidade da matéria que ao mesmo tempo oferece sustentação para o anúncio em um texto
verbal e não verbal. Consideravelmente, a facilidade comunicativa parece permanecer intacta, porém
os efeitos que causa no sujeito leitor passam a ser múltiplos, pois as histórias de leitura de cada pessoa
é variável, sendo afetadas por ideologias diferentes. É possível observar esses efeitos na figura 1,
intitulado por Gráfico seqüencial da Revista Super Interessante.

Fig. 1 Gráfico seqüencial daRevista Super Interessante:

Nesse sentido, a interpretação acontece em um primeiro estágio, através da análise ótica do


enunciado-imagem sobre o manuseio das três primeiras páginas e posteriormente passa para o segundo
estágio em que se objetiva envolver o sujeito leitor na produção científica, a qual é mais demorada e
complexa. Essa característica comprova a utilização do termo “pré-entendimento instantâneo” na
primeira parte de nossa análise, que é a do enunciado na imagem da capa.
Desse modo, os sentidos produzidos, nunca poderão ser completos, pois deixarão sempre uma
imparcialidade para o público leitor questionar um determinado aspecto que no caso é divulgado
através da mídia científica. Assim as imagens e os destaques existentes nas três primeiras páginas da
revista, passam por um processo de “re-significado a partir da sua “publicitação”, ou seja, a ciência é
“retirada” do seu meio de circulação tradicional e levada a ocupar um lugar no “cotidiano” do grande
público, conforme afirma Martins em seu artigo O que pode e deve ser dito sobre ciência no discurso
da divulgação científica: “Nós precisamos da incerteza, é o único modo de continuar” (2009, p. 306).
Em outras palavras, ela se apresenta com o objetivo de proporcionar um conhecimento mais facilitado
para o meio social, tornando-se público, porém incompleto.
Essa incompletude é um importante fator que normalmente passa despercebida pelo sujeito
leitor. De forma mais simplificada, falamos do interesse que a capa da revista produz sobre o público,
para que, posteriormente, esse indivíduo passe a realizar a leitura da reportagem de destaque. Como
conseqüência disso, tal característica permite entender melhor como a ideologia funciona no discurso

2
Disponível em http://super.abril.com.br acesso em 25/05/2010

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produzido, pois, para entender isso, é preciso ver como a sociedade leitora adquire as informações e
considerar também a origem delas.
É necessário, portanto, trazer aqui a noção da análise de discurso, como um ato incompleto, já
que o sujeito, ao produzir sua escrita, encontra-se afetado pela própria língua e pelo contexto social
que participa. Segundo Orlandi, na obra Análise do Discurso:

Como dissemos, o interdiscurso – a memória discursiva- sustenta o dizer em uma estratificação de


formulações já feitas, mas esquecidas e que vão construindo uma história de sentidos. É sobre essa
memória, de que não detemos o controle, que nossos sentidos se constroem, dando-nos a
impressão de sabermos do que estamos falando. Como sabemos, aí se forma a ilusão de que este
apagamento é necessário para que o sujeito se estabeleça em um lugar possível no movimento da
identidade e dos sentidos: eles não retornam apenas, eles se projetam em outros sentidos,
constituindo outras possibilidades dos sujeitos se subjetivarem. (2001, p.54)

Nessa perspectiva a linguagem nunca estará transparente, pois tudo que se objetiva dizer, não
pode ser dito. Nesse sentido, o sujeito produtor da manchete, encontra-se em uma posição afetado
pelo meio que o constitui buscando determinar a produção escrita, do que realmente pode ser
afirmado, no texto que é tecido. Assim, os elementos infográficos (texto não verbal) e os enunciados
construídos em sequência (texto verbal) na capa funcionam como (pre)texto - para que a leitura seja
posteriormente realizada. A materialidade exibida na capa é sustentada pelos elementos infográficos e
pelos breves enunciados, produzindo diferentes sentidos de entendimento em variados leitores, uma
vez que antecipa certa direção dos sentidos.
Além disso, a materialidade, enfim, o conteúdo da manchete, nota-se que a incompletude se
mantém no corpo do texto, pois fatores como a objetividade e a precisão, não se garantem ao término
da produção escrita imposta pelo sujeito autor. Desse modo, o indivíduo que produz a matéria, garante
sua subjetividade, no intuito de sustentar seu discurso, sobre pesquisas que são realizadas, objetivando
divulgar a ciência e manifestar seu discurso em uma condição complexa e limitada, a ponto de abrir
um espaço para que o público leitor possa atribuir um sentido, sobre o discurso que se mantém intacto
e incompleto, porém que constantemente produz sentidos diferentes em elites sociais heterogêneas.

4. Conclusão
Os elementos infográficos constantes na capa da Revista Super Interessante representam uma
nova maneira de divulgar a ciência e competir no mercado jornalístico. O sentido construído nas três
primeiras páginas funcionam como (pre)texto uma vez que projetam a visão ótica no sujeito leitor
evidenciando não apenas a preocupação, sobre as ciências exatas e biológicas mas também sobre o
relacionamento humano. Evidentemente tanto os elementos constituídos na capa, quanto a
materialidade existente no corpo do texto, se aproximam de fatores como a objetividade e
imparcialidade, porém são regras impossíveis de serem efetivadas por completo, pois o sujeito que
produz seu discurso encontra-se em uma posição em que se tem presentes formações ideológicas como
da própria revista e do próprio autor que pertence a uma determinada classe social.
Portanto, é perceptível tanto nas seqüências das capas quanto nos enunciados construídos na
reportagem, que o discurso permanece intacto e incompleto. Por mais que o jornalista procure ser
objetivo e claro nas considerações, o seu discurso sempre será imparcial, e essa imparcialidade vai
garantir a ele a ação para produzir a manchete tornando-se subjetivo no momento em que o público
executa a leitura do texto jornalístico que foi produzido. Assim o mecanismo utilizado para a
divulgação da ciência pode ser considerado um ato inovador, pelo fato de se apresentar uma forma
dinâmica para que uma manchete possa ser divulgada e que também procure despertar o interesse no
leitor em executar o trabalho de reflexão sobre o texto que foi produzido.

Referências

FÁVERO, Altair Alberto; SCHONS, Carme Regina, 2009. Tensão entre a vulgarização e a erudição
na divulgação científica. In: Contrapontos, – Volume 9 nº 2 – pp. 17 - 33 - Itajaí, mai/ago 2009.

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FERNANDES, Ariane Carla Pereira . Objetividade jornalística x subjetividades e ideologias do


profissional- Dizeres de jornalistas sobre a profissão. I Jornada Nacional de Estudos do Discurso,
27,28 e 29 de março de 2008.

GUIMARÃES, Eduardo. Produção e circulação do conhecimento: Estado, mídia, sociedade.


Campinas, São Paulo: Pontes Editores, 2001.

HENRY, Paul. O sujeito da ciència. In. HENRY, Paul. A ferramenta imperfeita: língua, sujeito e
discurso. Campinas, SP: Editora da Unicmap, 1992.

MARTINS, Marci Fileti. O que pode e deve ser dito sobre ciência no discurso da divulgação
científica: “Nós precisamos da incerteza, é o único modo de continuar”. In: INDURSKI,
Freda et al. O discurso na Contemporaneidade: materialidades e fronteiras. São Carlos,
Editora Claraluz, 2009

ORLANDI, Eni Pulcinelli. Análise do discurso: Princípios e procedimentos. Campinas, São Paulo:
Pontes 3ª edição, 2001

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PROFESSORES DE ARTES VISUAIS ONLINE, APRENDENDO NA REDE

Katyúscia Sosnowski 1
Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC

1. Introdução
Discorre-se neste texto, um recorte, da pesquisa de mestrado em Artes Visuais na linha - ensino de
arte, em andamento a qual aborda a temática da formação continuada de professores de arte via internet para
o uso de tecnologias contemporâneas e novas abordagens no âmbito da arte-educação.
Nos meses de janeiro e fevereiro do presente ano o centro de educação a distância juntamente com o
grupo de pesquisa Educação Arte e inclusão promoveram um curso em nível de extensão, com 40 horas de
carga horária, gratuito, totalmente online. Após divulgação na internet via emails e grupos de discussão,
recebemos 136 inscrições de 14 estados do país interessados em preencher as 40 vagas oferecidas. Sabe-se
que a realidade atual vem mostrando que as instituições educacionais não têm condições suficientes de
atender a demanda de formação continuada para a inclusão das tecnologias contemporâneas na escola,
professores tem necessidade de formação, haja vista que as escolas públicas e gratuitas estão cada dia mais
equipadas , urge uma formação sobre ferramentas virtuais e digitais que possam ser utilizadas como recursos
pedagógicos durante as aulas. As dificuldades de acesso a cursos de qualidade são recorrentes devido ao
pouco tempo e ao alto custo, entretanto acreditamos que na EaD (Educação a Distância) pode-se encontrar
uma alternativa que permite democratizar este processo educacional continuado e permanente.
Numa perspectiva social, entendemos a EaD do mesmo modo que o ensino presencial, constituindo
condição primeira de cidadania, dever essencial do Estado, política básica e obrigatória para ação de todo
governo comprometido com uma educação de qualidade. No âmbito pedagógico, a EaD trás uma sustentação
ao processo ensino-aprendizagem passando a ser um instrumento de qualificação, tamanho o potencial de
utilização na capacitação e atualização dos profissionais como na formação e especialização em novas
ocupações e profissões. A EaD, como uma das modalidades de educação, precisa realizar-se como uma
prática social significativa e conseqüente em relação aos princípios filosóficos de qualquer projeto
pedagógico: a busca da autonomia, o respeito à liberdade e à razão. Entretanto, é fundamental que se tenha
transparência sobre o uso da EaD como alternativa de democratização do ensino, pois sabemos que as
questões educacionais, não se resolvem apenas pela aplicação técnica de um complexo sistema de
comunicação. È preciso um trabalho de mediação humano especializado e eficiente desde a elaboração e
escolha dos recursos e metodologias que serão abordadas, prolongando-se durante todo o processo até a
finalização.
Os processos de ensino-aprendizagem têm potencial para tornar-se mais ativos, dinâmicos e, até
mesmo personalizados por meio de Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVAs), esses agregam conteúdos
e links além de armazenarem todo o material produzido pelos aprendizes, para que possam ser revisitados
sempre que necessário. Essas mídias, em evolução, utilizam o ciberespaço para promover a aprendizagem, a
interação e a colaboração a distância entre os atores do processo e o conteúdo a ser aprendido.
A proposta de um curso online, de formação continuada a distância, fora pensada para professores de
arte que atuam nas séries finais do Ensino Fundamental formal, e que convivem com os adolescentes do
século XXI, chamados por Prensky [1] de nativos digitais. O curso teve como objetivos aproximar os
professores de arte de projetos que envolvessem as ferramentas digitais e virtuais propondo atividades
práticas e discussões de textos acadêmicos de ponta sobre o assunto. Além de levantar dados para a pesquisa
de mestrado da autora o curso tinha também como objetivo conhecer a abordagem metodológica utilizada
por estes professores de arte atuantes em escolas públicas do país, a fim de selecionar professores para
participar de um projeto de intercâmbio multicultural online juntamente com seus alunos.
Segundo Pimentel[2], o professor de arte deverá viver e entender o que ocorre em arte e procurar
acompanhar os avanços tecnológicos e avaliar como estas novas mídias pode auxiliar no ensino de artes
visuais. “Imaginar as possibilidades artísticas via tecnologias contemporâneas é, também, estar presente no
tempo em que vivemos”.
A socialização entre os cursistas e a apropriação do espaço virtual foi imediata através do diálogo e as
trocas entre pares. O Ambiente virtual de aprendizagem (AVA) foi organizado pelos professores mediadores
e pelas coordenadoras de forma que privilegiasse as discussões e as atividades colaborativas. O curso estava
dividido em cinco módulos todos com atividades teóricas e práticas, individuais e colaborativas. Entre as
atividades práticas que envolviam criação destacamos à proposta de edição de imagens com o tema

1
Katyúscia Sosnowski - kaluhe@gmail.com
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Autorretrato, logo no primeiro módulo disponibilizamos tutoriais para o uso de alguns programas básicos
como Photo Impression, Gimp e Paint. Os professores sentiram-se desafiados a experimentar estas
ferramentas com o auxilio constante dos mediadores, alguns necessitaram do passo a passo pela ferramenta
chat. Outros que já utilizavam esses softwares, contribuíram com seus colegas formando uma aprendizagem
colaborativa e avançando ainda mais nos conteúdos.
Durante o segundo módulo foram discutidos com profundidade textos que abordaram as temáticas da
arte contemporânea, iniciamos com a discussão de um vídeo do Itaú cultural sobre conceitos de arte
contemporânea seguido de um texto Cohn [3] o vídeoart nas escolas, a questão que gerou grande discussão
foi sobre o ensino da arte contemporânea nas escolas, acreditamos que esta discussão contribuiu para uma
desmistificação do tema por parte dos professores que puderam refletir sobre o estranhamento causado
muitas vezes pela falta de contato e conhecimento do público com a obra de arte contemporânea. A atividade
prática deste módulo era o envio de um relato de experiência sobre um projeto ou aula que envolvesse uma
temática da arte contemporânea. Entre os 31 relatos recebidos, reservamos seis relatos que consideramos
relevantes sobre a temática da arte contemporânea e dois abordavam temáticas transversais onde
identificamos aspectos de uma abordagem multicultural sendo trabalhada na disciplina de arte.
No módulo seguinte, professores mediadores e cursistas criaram uma oficina paralela ao curso sobre
blog, com a temática “arte daqui” neste espaço,cada cursista registrou a arte local e regional de seu estados e
ou cidade, nesta etapa todos experimentaram as possibilidades da ferramenta blog como também
investigaram sobre artistas contemporâneos regionais, o que fomentou a pesquisa entre os cursistas. O
endereço está disponível em: http://ticsarte.blogspot.com.
Outra atividade proposta durante o curso foi criar uma lista de endereços eletrônicos de museus
virtuais para ser compartilhada entre os cursistas, cada um ficou encarregado em contribuir com a grande
pesquisa na internet. Finalizamos a lista com mais de 54 endereços, todos ativos. Durante a coleta dos
endereços e baseados nas visitas aos sites em um fórum específico foi discutido o conceito de museu pois
alguns endereços caracterizavam-se apenas como site de informações do espaço físico material sem acesso
as obras ou visitas virtuais dentro do próprio site.
O multiculturalismo proposto por Peter McLaren [4] permeou nossas concepções pedagógicas no
quinto módulo, no qual partilhamos dos pressupostos multiculturais críticos para a elaboração dos projetos
finais. Os cursistas conheceram um projeto piloto [5] de ensino de arte a distância, aplicado em escolas das
cidades de Itapema/SC, Canoas/RS e Florianópolis/SC, com 112 estudantes do nono ano do ensino
fundamental juntamente com suas professoras de arte na plataforma Moodle do centro de educação a
distancia da UDESC. Ainda neste módulo promovemos uma vídeo-conferência sobre multiculturalismo no
ensino de arte [6] ministrada por uma das coordenadoras por meio da ferramenta Meeting, da Adobe
ConnectNow, diretamente do CEAD/UDESC com a participação de 14 professores online.
Para a realização da atividade final do curso organizamos grupos com professores de diferentes
regiões afim de promover a diversidade cultural desde o início. Foram elaborados quatro projetos entre os
24 cursistas, Todos considerados possíveis de serem aplicados em escolas públicas que estiverem equipadas
com computadores e acesso a internet. Os projetos tinham em comum o público alvo; alunos do nono ano do
ensino fundamental e cinco eixos norteadores, que privilegiavam artistas contemporâneos locais ou
regionais. Entre os artistas eleitos pelos cursistas para serem trabalhados nos projetos estavam os nomes;
Adriana Varejão, Bispo do Rosário, Eduardo Wolf de Oliveira, Walter Firmo, Iberê Camargo, Rogério
Medeiros, Ivens Machado e Os Gêmeos. Cada artista representando a região onde residia o cursista e sua
escola.

2. Método

Tivemos 136 inscritos pelo site, todos preencheram um questionário pré-seletivo para ocuparem as 40
vagas oferecidas. Neste questionário consideramos para a seleção dos cursistas a formação inicial em
licenciatura em artes visuais ou artes plásticas, como também a atuação em escolas públicas no segmento
séries finais do ensino fundamental associado a localização geográfica do professor candidato, tínhamos o
objetivo de atingir o maior numero de estados promovendo assim um encontro multicultural dentro do curso.
Durante o curso alguns professores destacaram-se por pelos projetos realizados nas salas de informática em
suas escolas como também pelas abordagens de ensino de arte que se apropriam e pelo perfil pesquisador
que apresentaram. Os cursistas responderam a um segundo questionário sobre a intenção de participar de
uma experiência de intercâmbio virtual entre duas turmas. Essa pesquisa visava a disponibilidade dos
equipamentos eletrônicos nas escolas em que atuam. Sabendo que as escolas de todo o país estão recebendo
equipamento de tecnologias de informação e comunicação, como também acesso a Internet por projetos

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como o E-Proinfo, e neste ano de 2010, o “Banda larga nas escolas” do governo federal. Encontramos nos 20
questionários recebidos, escolas equipadas com televisão, DVD, vídeo cassete, máquina digital, equipamento
de projeção data show, scanner, impressoras, e computadores com acesso a internet em números que variam
entre 4 e 22 máquinas entre as escolas.
Ao final do curso quatro escolas, juntamente com seus professores de arte, foram selecionados para
aplicarem os projetos na plataforma Moodle do Centro de educação a distancia da UDESC. Os projetos
foram aplicados entre os meses de abril e junho e estão em fase de finalização. As escolas selecionadas
localizam-se nos estados do Paraná, São Paulo, Rio grande do sul e Sergipe.

3. Resultados e Discussão

Percebeu-se, através das discussões levantadas sobre arte contemporânea, que muitos professores de
arte partilham do mesmo estranhamento sobre ela que os leigos, nos relatos de experiências enviados pelos
participantes as temáticas da arte contemporânea aparecem em números muito baixos, sinalizando questões
sobre a formação dos professores para este conteúdo. Wilson [7] aponta para um diálogo entre as praticas
artísticas e a educação em arte, porém o que encontramos ainda são crenças modernistas não apenas nesta
amostra, mas em grande parte dos arte – educadores no Brasil ,um distanciamento entre a arte
contemporânea e o ensino de arte nas escolas já apontado por Menezes [8] que aborda essa problemática
“muitos professores não deixam de vivenciar um estranhamento similar ao que grande parte das pessoas tem
em relação à arte contemporânea e assim ao justificarem-se por não entender a arte contemporânea a
excluem de seus programas e planos de aula”.
Evidenciamos que, dentre os 43 participantes, 13 desistiram durante o processo, 06 não atingiram os 75%
para a certificação e 24 concluíram a oficina com mérito. Concluímos que o percentual de 56% de
certificação para a modalidade de educação a distância, em época de recesso escolar, sendo que a maioria
não havia participado de um curso online e desconheciam o Ambiente Virtual de Aprendizagem Moodle é
relevante e satisfatório.

4. Conclusão
Ressaltamos que a formação dos professores é uma necessidade constante, e ressituar as funções dos
professores aproveitando suas experiências e a necessidade de se adotar novas posturas pedagógicas
adequadas às rápidas transformações do mundo digital torna-se imprescindível. È necessário que professores
de arte, em especial os de artes visuais, estejam dispostos a se preparar para uma nova proposta que visa
mudanças e inovações, essas que irão ampliar seu repertório tanto imagético como pedagógico. Faz-se
indispensável o desenvolvimento do professor e uma aproximação dele com as tecnologias contemporâneas
com investimentos contínuos na construção e reconstrução de seu saber pedagógico e tecnológico. A
educação a distancia mediada por Tecnologias de informação e comunicação (TIC’s) se apresenta como uma
opção àqueles que desejam ampliar seus conhecimentos e não dispõem de tempo ou mesmo estão distantes
de instituições que ofereçam cursos de qualidade. Mediante as propostas de formação de professores,
oferecidas pelo Governo Federal nos últimos anos, as ofertas se ampliam e as fiscalizações também, trazendo
mais qualidade e acesso à educação. Sendo que os estudantes do século XXI encontram todas as respostas
em sites de busca na rede mundial de computadores, é preciso então, que os professores aprendam a elaborar
e refletir sobre como serão as perguntas a partir de agora. Estamos vivenciando a transição na educação para
a era digital. Não há como ignorar esse conhecimento dentro da escola atual.
Percebeu-se, através das discussões levantadas sobre arte contemporânea, que muitos professores de
arte partilham do mesmo estranhamento sobre ela como os leigos, e nos relatos de experiências enviados
pelos participantes as temáticas da arte contemporânea aparecem em números muito baixos, sinalizando
questões sobre a formação dos professores para este conteúdo.
Constatou-se, através dos projetos elaborados pelos participantes do curso, que os artistas escolhidos
localizam-se fora do eixo eurocêntrico privilegiando um olhar diferenciado da história da arte e que a
integração entre pares distantes geograficamente foi ultrapassada pelo parentesco intelectual já anunciado por
Freire. A interação, no que tange ao diálogo e comprometimento com as atividades em grupo, foi
comprovada nesta experiência, na qual os participantes apesar de separados geograficamente, estavam muito
próximos virtualmente e com um objetivo em comum, aprender para ensinar. Também, que a
multiculturalidade proposta por Peter McLaren, permeada nos projetos, permitiu novos olhares sobre a
cultura local e regional contemporânea, abrindo caminhos para uma aproximação da arte na
contemporaneidade por parte dos professores e conseqüentemente seus alunos.

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Os dados registrados do alto número de inscrições, num curto espaço de tempo apontam para a
demanda do mercado para este tipo de curso, oferecida em período de férias escolares, totalmente a distância
e gratuita para professores de arte. Acreditamos que os dados levantados, como também as possibilidades de
projetos elaborados pelos participantes nesta experiência muito contribuirão para a pesquisa de mestrado em
Artes Visuais da autora, assim como em novas pesquisas sobre a temática. A qualidade do curso, relatada
pelos participantes na avaliação final, nos faz acreditar que, uma educação continuada totalmente a distância
pode alcançar grandes conquistas. Juntamente com a certificação os cursistas que finalizaram o curso
receberam em casa via correio dois livros e uma revista doados respectivamente pelo programa de Pós-
Graduação em Artes visuais da UDESC, outro pelo grupo de pesquisa do CNPq Educação Arte e inclusão e
também um livro sobre arte/educação tecnológica do Projeto Aprendi patrocinado pela Petrobrás.

Referências

[1] PRENSKY, M. 2006. Don’t Bother Me Mom - I’m learning!. Paragon House, Minnesota. Disponível
em:www.senacnet.com.br/arquivos/arquivo20080709111520texto-pedro-demo--extrato-finaldoc.doc acesso
em 01 de jun 2010.

[2] PIMENTEL, Lúcia. Tecnologias Contemporâneas e o Ensino da Arte. IN: BARBOSA, Ana Mae.
(org). Inquietações e Mudanças no Ensino da Arte. São Paulo: Cortez, 2003.

[3] COHN, Greice. A Pedagogia transformadora da arte contemporânea, caderno de textos. Diálogos
entre Arte e público. 2ªed Rio de Janeiro, 2009.

[4] MCLAREN, Peter. Multiculturalismo Crítico. 3ªed. São Paulo: Cortez, 2000.

[5] FERNANDES, S. M. FONSECA da SILVA, R.C.M, SOSNOWSKI, K. O uso de ambientes virtuais de


aprendizagem para o ensino de arte, grupo Marron,19ºConFaeb,Belo horizonte. 2009.

[6] ROSA, Maria Cristina. A educação de professoras e professores de arte: construindo uma proposta
de ensino multicultural à distância. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, p.187, 2004.
Tese de Doutorado.

[7]WILSON, Brent. Mudando conceitos da criação artística: 500 anos de arte educação para crianças,
in BARBOSA ANA MAE, (org). Arte/Educação contemporânea – Consonâncias internacionais. São Paulo:
Cortez, 2005.

[8] MENEZES, Marina Pereira de. A arte contemporânea como conteúdo e fundamento para a prática
do ensino de artes. Rio de Janeiro, 2007. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Dissertação de
Mestrado.

[9]PELLANDA, M.Campos, Nize. Inclusão Digital, tecendo redes afetivas / cognitivas. Rio de Janeiro:
Editora DP&A , 2005.

Agradecimentos
A CAPES

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Programa de Extensão Universitária


O TEATRO FORA DO EIXO

Pablo Canalles1*; Girrezi Ribas2; Gelton Quadros3


1
Universidade Federal de Santa Maria
2
Universidade Federal de Santa Maria
3
Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução
O Curso de Artes Cênicas da UFSM mantém dois programas de extensão que visam à montagem e
apresentação de espetáculos teatrais por alunos: o Programa Montagem de Espetáculo por Alunos que
envolve os alunos de 5º e 6º semestres, matriculados tanto em Direção quanto em Interpretação Teatral; e o
Programa TEU Studio 1 que prevê os projetos de montagem dos formandos, matriculados no 7º e 8º
semestres, dos cursos de Direção e Interpretação Teatral.
No Programa Montagem de Espetáculo por Alunos, os alunos da Direção Teatral realizam um projeto
de montagem de espetáculo, no qual são lançadas as bases da obra a ser apresentada no final do ano letivo.
Também fazem parte dessa montagem alunos da interpretação teatral, que desenvolvem, junto ao diretor,
uma pesquisa de poéticas para a cena, centradas no desenvolvimento da linguagem do espetáculo. Este
programa está ligado às atividades desenvolvidas nas disciplinas de Encenação V e VI e Laboratório de
Orientação I e II que prevêem montagem de espetáculos dirigidos e/ou executados por alunos. Já os
acadêmicos de Interpretação Teatral participam do Programa Montagem de Espetáculo por Alunos
realizando a montagem de um Espetáculo-Solo, tendo o projeto e a criação cênica orientados nas disciplinas
de Técnicas de Representação V e VI, e Laboratório de Orientação I e II.
No programa dedicado às montagens dos alunos-formandos, chamado Programa TEU Studio 1, os
alunos da Direção Teatral realizam um projeto de pesquisa e montagem de espetáculo a ser apresentado à
comunidade no final do ano letivo. O aluno é orientado pelo professor durante os ensaios e reuniões de
orientação ligados às disciplinas de Encenação VII e VIII e Laboratório de Orientação III e IV, unindo o
ensino e a pesquisa. Já os alunos de Interpretação Teatral participam do Programa TEU Studio 1 elaborando
um projeto que servirá de base à realização de um espetáculo contracenado com os demais colegas
formandos. Cada um deles realiza um projeto de pesquisa dentro do trabalho de encenação dirigido pelo
professor-orientador. Esse projeto e a concomitante criação cênica são realizados e orientados nas disciplinas
de Técnicas de Representação VII e VIII, e Laboratório de Orientação III e IV.
Diante do exposto destaca-se como característica fundamental dos programas citados a união do
ensino, pesquisa e extensão, uma vez que os alunos das referidas disciplinas são incentivados a conduzir
investigações próprias ligadas ao seu processo de formação, culminando em duas apresentações no
Anfiteatro Caixa Preta da UFSM, que contempla o caráter de extensão das atividades desenvolvidas.
Apesar disso, percebe-se que o caráter de extensão destes programas ainda não é explorado em seu
pleno potencial pelos fatores que serão expostos a seguir. O primeiro deles refere-se à localização pouco
privilegiada do Teatro em que ocorrem as apresentações: no Campus da UFSM. Em razão de estar situado
numa região distante do centro da cidade, as sessões teatrais acabam por restringir-se a um público aquém do
desejado pensando-se no tamanho da cidade e na qualidade artística das encenações. Além disso, o Teatro
Caixa Preta, local onde tradicionalmente se publicam as produções artísticas do curso, abriga no máximo 130
pessoas, o que impede uma divulgação maior dos espetáculos na mídia da cidade. Outro fator limitador da
abrangência dos programas citados é o custo do aluguel da única casa de espetáculos bem equipada do centro
de Santa Maria – O Theatro Treze de Maio: aproximadamente R$1.300,00 para cada apresentação. Levando
em consideração uma produção tão expressiva quanto a do Curso de Artes Cênicas da UFSM, com cerca de
20 espetáculos anuais, seria inviável, sem um apoio maior, que a instituição despendesse este montante para
cada um dos espetáculos. Finalmente, a época em que as apresentações acontecem não é a mais favorável
pensando-se no fluxo de pessoas na cidade. Estas apresentações se dão no final do ano letivo, concentradas
em um único período. Deste modo, apesar de ser expressiva, a produção artística do curso se distribui num
curto período de tempo, ficando o resto do ano – aproximadamente 10 meses – sem trabalhos do Curso de
Artes Cênicas circulando pela cidade, em razão especialmente dos elevados custos para manter uma
produção ao longo do ano.
Isto posto, propõe-se a ampliação do potencial de extensão dos programas aqui referidos, tirando-os do
eixo universitário e oferecendo à comunidade de Santa Maria e região o contato com as obras artísticas
teatrais produzidas no interior do Curso de Artes Cênicas, através da distribuição de toda a produção

*
Pablo Canalles: pablocanalles@yahoo.com.br
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realizada no Curso de Artes Cênicas durante os anos de 2008 e 2009 na grade de apresentações de 2010 do
Theatro Treze de Maio e do TUI – Teatro Universitário Independente. Pretende-se com esta iniciativa,
proporcionar aos alunos uma experiência concreta do ambiente profissional real, e, ao mesmo tempo, ampliar
o acesso de uma parcela maior da comunidade santa-mariense à produção artística teatral da Universidade
Federal de Santa Maria, através da apresentação em espaços melhor localizados e da distribuição gratuita de
ingressos dentro das Instituições de Ensino para Jovens e Adultos (EJA) e dentro da Casa de Cultura da
cidade.
1.1. Objetivo e Metas
O programa aqui proposto tem como objetivo principal ampliar o contato da comunidade santa-mariense
com a produção artística produzida pelos alunos e professores do curso de artes cênicas da UFSM,
oportunizando aos estudantes de graduação o contato com a realidade profissional à qual serão inseridos
futuramente, e explorando de modo mais eficaz o caráter de extensão dos programas Montagem de
Espetáculos por alunos e TEU Studio 1 realizados pelo Curso de Artes Cênicas da Universidade Federal de
Santa Maria. Além disso, através das apresentações para grande parte da comunidade santa-mariense e da
realização de oficinas voltadas a um público extra-universitário, debates com o público e workshops
gratuitos, pretende-se estimular a troca de conhecimentos entre os alunos e a comunidade em geral.
1.2. Objetivo Geral
Aperfeiçoar o programa de extensão TEU Studio 1 e Montagem de Espetáculo por Aluno, do Curso de
Artes Cênicas da UFSM, propondo um ciclo de apresentações teatrais, workshops, debates e oficinas em
locais diversos do centro da cidade de Santa Maria, aos quais a população terá acesso gratuito, a fim de
oportunizar a inserção dos acadêmicos e futuros artistas na realidade cultural da cidade de Santa Maria e
região.
1.3. Objetivos Específicos
*Fomentar a circulação de obras artísticas teatrais criadas dentro do Curso de Artes Cênicas, em outros
locais da cidade de Santa Maria.
*Estimular o diálogo entre a IES e a prefeitura da cidade sobre o estímulo à produção cultural em
Santa Maria.
*Investir na formação de público na cidade de Santa Maria, através do acesso de diversas classes
sociais à arte teatral.
*Ampliar o mercado de trabalho dos alunos egressos da universidade através do estímulo à produção
teatral local.
*Incentivar o olhar empreendedor relativo à vida cultural, através do estímulo à criação de grupos de
teatro atuantes fora da academia, na cidade de Santa Maria, formados pelos egressos do Curso de Artes
Cênicas.
*Gerar oportunidades de trabalho para os alunos através do contato de sua produção com agentes
culturais e produtoras artísticas.
1.4. Metas
*Potencializar a eficácia dos programas de extensão do Curso de Artes Cênicas da UFSM.
*Aumentar a afluência de público em aproximadamente 200% a cada apresentação, e em cerca de
400% no total do programa em relação ao público usual dos programas de extensão já existentes, TEU
Studio 1 e Montagem de Espetáculo por Aluno.
*Promover a produção artística teatral da UFSM no circuito cultural regional, possibilitando o acesso
da comunidade a obras teatrais de qualidade.
*Produzir material teórico, disponível à comunidade, referente às atividades do programa, na forma de
artigos e de um relatório final.

2. Método
Visando à realização do programa proposto se realizará, inicialmente, uma seleção dos espetáculos
apresentados durante o ano de 2008. Esta se dará a partir da consulta aos referidos alunos sobre as
possibilidades de apresentação de seu trabalho e de critérios ligados à qualidade final do espetáculo
apresentado. A produção dos alunos referente ao ano de 2009 será incluída automaticamente no circuito de
apresentações como parte do processo de ensino-aprendizagem ligado às disciplinas de Encenação e
Interpretação V, VI, VII e VII e Laboratório de Orientação I, II, III, IV.
Após essa primeira etapa, será realizada a definição das datas de apresentação dos grupos divididas
durante os 12 meses do ano de 2010.
Seguindo as etapas de execução do programa estão as apresentações dos espetáculos dos alunos em
espaços de fácil acesso à comunidade: O Theatro Treze de Maio e o TUI - Teatro Universitário
Independente, atendendo dois diferentes bairros. Além disto, no TUI serão oferecidos à comunidade

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workshops gratuitos, ligados à pesquisa prática desenvolvida pelos alunos durante a montagem dos
espetáculos. Paralelamente às apresentações, no decorrer do ano, realizar-se-á o registro, tanto fotográfico
quanto em filmagem digital, para documentação e posterior análise e avaliação do programa.
Prevê-se também a promoção de debates mensais abordando os processos criativos ligados à
montagem dos espetáculos. Desta forma, pretende-se aprofundar o contato entre os acadêmicos, os agentes
culturais locais e a comunidade local. Neste mesmo momento será realizada mostra de fotografias e vídeos
incrementando o caráter interdisciplinar do programa.
Outra de nossas propostas é, a cada dois meses, oferecer aos alunos envolvidos no projeto cursos de
capacitação ministrados por artistas de renome no cenário teatral brasileiro. Essas oficinas, totalizando seis
no ano de 2010, abordariam aspectos desde a Técnica do Ator, passando pela construção de Linguagens
Cênicas, e chegando na Montagem do Espetáculo e na Recepção da Obra Artística.
Finalmente, cada grupo, junto ao seu orientador, produzirá um artigo referente às experiências e
questões ligadas à realização do programa, buscando unir a reflexão acerca da pesquisa, ensino e extensão ao
processo de avaliação das ações realizadas.
A proposta aqui apresentada se liga ao projeto pedagógico do curso, o qual prevê que, tanto na Direção
quanto na Interpretação Teatral dos semestres 5, 6, 7 e 8, os projetos sejam apresentados ao público como
parte da avaliação prática do trabalho. Assim, a realização de um circuito de apresentações em um espaço
central da cidade, com ampla divulgação nos meios de comunicação, insere-se integral e positivamente no
projeto pedagógico do curso de Artes Cênicas, contribuindo de forma efetiva para a formação dos estudantes,
estimulando o aprimoramento técnico dos trabalhos, bem como a troca de conhecimentos e vivências
artísticas entre acadêmicos e a comunidade de Santa Maria.
As contribuições da realização de apresentações para o processo de formação dos alunos é algo que se
tem observado ao longo dos anos de realização dos programas Montagem de Espetáculo por Aluno e TEU
Studio 1. Partindo desta experiência pode-se afirmar que a realização da presente proposta representa um
salto na qualidade do ensino oferecido pela universidade na área das artes cênicas, uma vez que prolonga a
vida útil de cada espetáculo, oferecendo novos desafios e oportunidades de aprimoramento técnico, podendo
também servir de estímulo para a criação de novos grupos teatrais na cidade, e ampliar não só a oferta de
produtos culturais à comunidade, como as oportunidades de trabalho para os futuros profissionais.
Partindo do exposto anteriormente, e da definição do teatro como atividade multidisciplinar por
princípio, essa proposta apresenta, ainda, grande potencial no que se refere ao incremento do diálogo
interdisciplinar já existente dentro do curso, no qual os alunos de direção e interpretação trabalham
juntamente com graduandos das artes visuais, na confecção e execução dos figurinos, cenários e adereços de
cena, e com os graduandos da música, que frequentemente elaboram a trilha dos espetáculos e contribuem na
técnica vocal dos atores. Cita-se também as frequentes parcerias entre estudantes de teatro e alunos do
desenho industrial – que confeccionam o material visual de divulgação dos espetáculos.
A proposta, assim, mostra-se pertinente ao desenvolvimento e divulgação do Curso de Artes Cênicas,
bem como dos cursos do Centro de Artes e Letras e da própria Universidade Federal de Santa Maria através
da abrangência e divulgação das ações propostas na cidade e região. Além disso, através dos recursos
conseguidos com o programa aqui proposto, será possível aumentar o acesso da comunidade a trabalhos com
alto grau de qualidade, bem como contribuir para o aprimoramento destes trabalhos por meio da destinação
de parte da verba para a melhoria dos elementos do espetáculo, tais como a maquiagem, o figurino e o
cenário.
Como já afirmaram teóricos da arte como Schiller, Boal, Brecht, entre outros, o contato com a arte,
por si só, pode se configurar como uma ação transformadora sobre os indivíduos. Partindo desta idéia, a
distribuição gratuita de parte da bilheteria das apresentações a Instituições de Ensino de Jovens e Adultos
(EJA) e na Casa de Cultura da cidade, representa um tipo de ação positiva no que se refere à inclusão de
grupos sociais menos favorecidos ao circuito cultural local, oportunizando também, a partir do acesso regular
aos espetáculos, a formação de platéias em nossa cidade, dando aos indivíduos, em longo prazo, o gosto pela
arte teatral e influenciando, assim, a abertura de um mercado de trabalho que absorverá, de forma mais
eficaz, a mão-de-obra dos formandos do Curso de Artes Cênicas. Esse aumento de público poderá aumentar
as fronteiras estéticas das Artes Cênicas em nossa cidade, pois ao oferecermos um número grande de
linguagens e pesquisas teatrais, de base experimental, estaremos trabalhando diretamente na inovação da
linguagem cênica e na transferência de conhecimento do professor e do ator ao público, ampliando as
atividades formadoras e facilitando o acesso do espectador ao processo de formação e de qualificação dos
artistas cênicos graduados aqui.
Também o aluno é beneficiado com a apresentação de seu trabalho artístico em diferentes locais,
deparando-se com a realidade artística, social e econômica concreta da cidade de Santa Maria, entrando em

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

contato com o cotidiano de um artista profissional, e tomando consciência da dimensão não só estética desse
trabalho, como ética do artista, dentro da sociedade.
Por fim, vemos a iniciativa desse programa como uma alternativa à população da cidade de ter acesso
à arte teatral, o que muitas vezes não acontece, seja por falta de recursos financeiros ou por falta de estrutura
no que concerne aos meios de transporte, que são caros e, muitas vezes, insuficientes, para que o público
possa chegar até o campus da universidade, especialmente aos finais de semana.
Assim, esta proposta inova ao propor um tipo de ação que se liga à vocação do ensino, pesquisa e
extensão da Universidade pública, através de uma ação positiva sobre a realidade cultural da cidade.
Pode-se deduzir a partir das ações aqui propostas, que os benefícios do presente programa abrangerão
não só a cidade de Santa Maria, como também as cidades da região, uma vez que mais da metade dos alunos
de nosso curso vêm de outras cidades em busca de uma formação de qualidade, incentivando também outras
pessoas a buscarem uma formação artística dentro do ambiente universitário.
Finalmente, resta-nos ressaltar a relação bilateral da academia com a sociedade, proposta por esse
programa, pois realmente acreditamos que a arte possa ser transformadora, não só para aquele que concebe a
obra, ou para quem participa dela, como também para aquele que testemunha o ato de comunhão artística
que se dá entre o diretor, o ator e o espectador. Para nós, é de suma importância a interação do conhecimento
e experiências acumuladas na academia com o saber popular, e isso se dá não só na temática de algumas
peças, mas também nas pesquisas de campo e nos laboratórios de pesquisa realizados em locais como
escolas, asilos e hospitais. Essa articulação da obra e do saber artísticos com algumas organizações da
sociedade têm sido constantes em nossos trabalhos, e tendem a ser ainda mais valorizadas e difundidas se
tivermos a oportunidade de realizar, de forma mais eficaz, essa troca que estamos propondo com a sociedade
santa-mariense.

3. Resultados e Discussão
Com esse programa sendo realizado, prevê-se o aumento do público presente nas apresentações em
cerca de 200% por apresentação, e quase 400% no todo do programa. Além disso, pretendemos colocar os
alunos em contato com a realidade profissional de nossa área, através da divulgação nos meios de
comunicação e apresentações na cidade e região.
Também visamos, com essa iniciativa, à melhoria dos espetáculos apresentados, através do contato
com diversos públicos e do oferecimento de recursos para o aprimoramento dos elementos de maquiagem,
figurinos e cenários.
Ressaltamos que todas as obras teatrais a serem apresentadas são resultantes de projetos de pesquisa
que previam a produção de produtos culturais a serem oferecidos à comunidade. Assim, por si só, elas são
um produto resultante da execução deste programa. Porém, propõe-se além da apresentação dos espetáculos
à comunidade 24 workshops, que poderão colocar a comunidade santa-mariense em contato com a realidade
do curso de Artes Cênicas através de mini-cursos, impulsionando o interesse da comunidade pelo fazer
teatral e pela experiência que a atuação sobre o corpo e a mente pode oferecer para a auto-descoberta, e o
bem estar do indivíduo. Também esperamos compartilhar de experiências concretas com a comunidade
através das palestras e bate-papos mensais que os realizadores do projeto farão. Além disso, ao final do
programa, será realizada a produção de um artigo por cada grupo responsável pelos espetáculos, abordando a
pesquisa desenvolvida, a experiência adquirida durante a participação do programa e uma avaliação do
mesmo. Desta forma, prevê-se a oferta, à comunidade santa-mariense, de mais de 20 diferentes reflexões
sobre nossa iniciativa. Por fim, o presente programa representa a ampliação da linha de extensão presente no
Curso de Artes Cênicas da UFSM, abrindo um novo circuito para apresentação da produção dos alunos à
comunidade.

4. Conclusão
Com o programa ainda em andamento, já conseguimos observar um maior interesse da comunidade
santamariense acerca da produção feita no Curso de Artes Cênicas, bem como uma mais efetiva participação
dos alunos na realidade artística da cidade e da região. Além disso, o projeto é um dos responsáveis pela
criação de novos grupos teatrais na cidade de Santa Maria, o que é visto muito positivamente.

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REALIDADE VIRTUAL: DIFERENTES NÍVEIS DE IMERSÃO NA ARTE1

Greice Antolini Silveira ¹*


1
Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução

No Brasil, mais intensamente a partir dos anos 90, os artistas - sozinhos ou em equipes - vem
realizando experimentações que utilizam o computador como ferramenta e/ou sistema para a produção de
obras, buscando explorar as possibilidades oferecidas por esta tecnologia. A utilização do computador como
sistema para produção de trabalhos artísticos, implica em ir além de apenas explorar seus recursos técnicos,
mas sim usá-lo como meio para proporcionar, por exemplo, interatividade entre o público e o sistema
computacional. Deste modo, sua utilização não será apenas na criação da obra, mas fará parte da constante
„atualização‟ do trabalho artístico. Uma das possibilidades desta utilização do computador como sistema
refere-se aos projetos artísticos que exploram em sua produção a Realidade Virtual (RV).
As discussões acerca das particularidades da RV ocorrem em diferentes áreas do conhecimento,
incluindo pesquisas artísticas que usam tecnologias digitais. “Embora a Realidade Virtual seja uma
tecnologia, que se firmou na década de 90, ela tem suas origens na década de 50, com experiências
multimodais baseadas em técnicas cinematográficas” [Kirner, s/d], Essa afirmação da RV, explorada por
Kirner no contexto brasileiro, pode ser entendida dentro de uma evolução das próprias tecnologias, pois os
avanços nas pesquisas ocorreram paralelamente com os avanços tecnológicos dos hardwares. Deste modo, a
RV aborda diversos conceitos, pois ao longo de sua evolução também vem sendo usada para diferentes
propósitos, como pesquisas militares, da área da saúde, games, projetos artísticos, entre outros. Aqui,
discorremos sobre a exploração da RV no contexto artístico que utiliza as tecnologias digitais. Assim, para
nos aproximarmos da RV, optamos pelo viés dos diferentes níveis de imersão propostos por Santaella
(2008).
Deste modo, a arte, que em toda história serviu-se das tecnologias disponíveis em cada época,
também vem explorando o que a RV, associada às tecnologias digitais, pode oferecer, inclusive colaborando
para ampliação destas pesquisas, no âmbito da arte e da tecnologia.

2. Método

Este estudo foi desenvolvido a partir de uma abordagem qualitativa e metodologias específicas de
pesquisa em artes visuais, com ênfase no entendimento da RV por meio dos diferentes níveis de imersão. Na
introdução apontam-se algumas possibilidades de exploração da RV, e limita-se sua explanação neste estudo
ao campo artístico. No desenvolvimento pontuam-se algumas particularidades da RV a partir das tecnologias
digitais, bem como a divisão proposta por Santaella (2008) de quatro níveis diferentes de imersão: quando o
interator se conecta a rede, imersão representativa, imersão através da telepresença e imersão perceptiva da
RV e, apresenta-se em cada nível uma breve analise das obras: Cabra Cega, de Fábio Fon, Jump!, de
Yancine Sebti, Rara Avis, de Eduardo Kac e HeartScapes, de Diana Domingues e Grupo Artecno,
respectivamente. E, na conclusão busca-se explanar como a imersão ajuda a compreender a RV no campo da
arte.

3. Resultados e Discussão

Aproximação da Realidade Virtual na Arte

Buscamos com esta explanação compreender o papel da RV na arte, contudo, antes definir a RV, é
necessário primeiro conceituar o que é o virtual. Contrariando uma concepção geral do virtual como algo que
se opõe ao real, Pierre Lévy (1996:15) apresenta o virtual como uma realidade em potencial, “é virtual o que
existe em potência e não em ato. O virtual tende a atualizar-se, sem ter passado, no entanto, à concretização
efetiva ou formal”. Nos ambientes virtuais, os quais utilizam a RV, as imagens encontram-se disponíveis
para serem „visitadas‟, através da interatividade, mas apenas serão acessadas momentaneamente, sem passar

1
Pesquisa que esta sendo desenvolvida no Mestrado em Artes Visuais/PPGART/UFSM, na Linha de
Pesquisa Arte e Tecnologia, sob orientação da Prof.ª Dr.ª Nara Cristina Santos.
*
Autor Correspondente: greiceantolini@yahoo.com.br – Bolsista CAPES.
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para uma constituição real de objeto, as imagens serão potencialmente existentes a cada nova interação. Para
Cauquelin o virtual,
(...) designa o que ainda não se realizou, mas que bem poderia ter se realizado. (...) “virtual” é, no
mais das vezes, tomado como sinônimo de “possível”, formando então uma dupla com “realização”
ou “atualização”, que lhe são contrários e carregam sempre a noção de ausência, de fictício, que
parece vinculada a ele. (2008:167)
Quando buscamos compreender a RV, com o uso de óculos de estereoscopia ou capacetes para
imersão, podemos entender o virtual referindo-se a um sistema, e não a um objeto. Pois, munido de
softwares, os computadores funcionam como sistema nas instalações imersivas, contrapondo-se ao seu uso
apenas como ferramenta, e possibilitando sua atualização a cada nova interação. O entendimento do virtual
para compreensão da RV se faz necessário, concordando com Cauquelin:
(...) “realidade virtual”, que parece ser uma contradição em termos se não se tomar a precaução de
definir o virtual como um sistema, torna-se perfeitamente compreensível quando designamos com isso
um objeto produzido no e pelo sistema virtual. A realidade virtual é o tipo de realidade produzida pelo
sistema digital. (2008:169)
O que é determinado por Cauquelin é que quando tratamos de RV e tecnologias digitais estamos
apontando uma mistura de realidades. A primeira, centrada no ambiente real, e do qual o ser humano possui
referências concretas. A segunda trata daquela, produzida no sistema digital e atualizada pelo interator a cada
nova experimentação. Esta segunda realidade encontra-se virtualmente em potência de vir-a-ser, mas quando
visualizada, não se desvincula da primeira, pois o interator tem em suas percepções a referência do real e ao
imergir em um ambiente simulado não se desprende completamente destas vivências.
Para Oliver Grau, “A expressão „realidade virtual‟, (...), descreve um espaço de possibilidade ou
impossibilidade formado por estímulos ilusórios dirigidos aos sentidos” (2004:32). Desta maneira, os
ambientes modelados em 3D, bem como o uso de interfaces, permitem „brincar‟ com os sentidos e
percepções do interator, levando-os a vivenciar experiências diferenciadas em um mundo de ilusões.
A RV permite novos modos de percepção do real, sem imitá-lo, apenas acrescenta a ele estímulos
visuais que proporcionem uma imersão em ambientes diferenciados daqueles presentes no espaço físico das
instalações. Para Couchot as simulações numéricas do real tratam de fragmentos da realidade, apresenta
apenas parte dela, condensa-a (2003:176), e não mantém ligação direta com a realidade, pois pertence à
ordem do computacional, do virtual.
A RV pode ser entendida como “(...) uma interface avançada para aplicações computacionais, que
permitem ao usuário navegar e interagir, em tempo real, com um ambiente tridimensional gerado por
computador, usando dispositivos multisensoriais” (Kirner, 2007:9). Deste modo, as produções envolvendo
arte e tecnologia, e que apresentam a RV como meio de proporcionar a interação entre a obra e o público,
necessitam de softwares e hardwares específicos, de acordo com as intenções do artista, e os quais
proporcionam diferenciadas sensações e percepções no interator, que pode imergir de diferentes modos em
um ambiente simulado.

Imersão: percepções redimensionadas com o uso de tecnologias digitais

A idéia de imersão com o uso das tecnologias digitais redimensiona e amplia significativamente a
percepção do usuário a partir de experimentações com a RV, tornando-a uma experiência mais intensa para o
interator. Kirner (s/d) aponta que os projetos artísticos que utilizam tecnologias digitais podem ser não
imersivos, quando apenas utiliza-se de monitores para projeções, o que segundo o autor não interfere na
percepção do usuário, pois outros sentidos propiciam a sensação de imersão - ao menos parcial. Ou podem
ser imersivos, quando projetam imagens em todas as paredes de um ambiente, incluindo o teto e o chão, ou
utilizando capacetes ou estruturas de projeção como as Caves, nestes casos, o interator fica completamente
imerso em um ambiente simulado.
Os projetos artísticos não imersivos, apontados acima, utilizam-se dos mesmos recursos usados ao
longo da história para proporcionar a imersão: a exploração dos sentidos humanos, sem perder o referencial
do ambiente físico. O projeto “The Ultimate Display”, desenvolvido por Ivan Sutherland foi significativo
para estudos posteriores da RV. Nele projetou-se um vídeo-capacete funcional a partir de gráficos
computacionais, com o qual o usuário poderia observar diferenciados lados de um cubo - representado por
uma estrutura de arames - ao movimentar a cabeça. Esta primeira experimentação gerou os capacetes de
visualização atuais - que se encontram em constante evolução -, e que proporcionam a imersão em ambientes
mais complexos e com diferentes modos de interação. Cadoz aponta a importância dos capacetes de RV
afirmando que são, “antes de mais, um dispositivo de visualização de imagens, mas desempenha essa função
de maneira mais elaborada do que um simples ecrã. (...) põe em prática o princípio da estereoscopia”
(1994:24).

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Cadoz também aponta que a imersão na imagem, proporcionada pelas tecnologias digitais, traz a
tona uma velha questão: “ser e não ser”, pois nos ambientes imersivos é possível “ver, ouvir, tocar,
manipular objetos que não existem, percorrer espaços sem localização, na companhia de pessoas que estão
noutro sítio ao mesmo tempo em que mantêm a convicção da realidade e da presença de uns e dos outros”.
(1994:17) A imersão é responsável por esta fuga de uma realidade à outra, da experienciação em diferentes
espaços, físicos e virtuais.

Diferentes graus de imersão na arte

A imersão na arte pode ser entendida a partir de dois momentos: quando proporcionado apenas pelos
sentidos ou quando além dos sentidos, equipamentos tecnológicos auxiliam para uma imersão mais
perceptiva em outro ambiente. O primeiro aplica-se para obras analógicas e obras que usam a tecnologia
digital, mas não os equipamentos de visualização. O segundo trata daqueles que utilizam os equipamentos de
visualização ou ambientes da Cave para proporcionar a imersão.
Santaella (2008) apresenta quatro diferentes graus de imersão nas imagens. Em um primeiro nível,
encontram-se as obras conectadas à rede. Neste caso os artistas utilizam-se da web como um espaço de
realização de trabalhos na rede (Prado, 2003) ou sistemas de criação/exposição (Santos, 2009) que se
destinam à criação de obras diretamente no ambiente virtual da rede, o qual proporciona interatividade entre
obra/público, estabelecendo uma relação em tempo quase real entre estes. Nestes casos, os projetos artísticos
constituem-se no fluxo dos acontecimentos, nas ações dos interatores. O artista Fábio Fon, explora a rede
para a disponibilização de alguns de seus trabalhos, entre eles, Cabra Cega (2001). Ao acessar a obra, o
interator verá apenas a tela do computador totalmente preta, mas ao arrastar o mouse sobre ela diferentes
sons serão ouvidos, e alguns links poderão ser selecionados levando-o a outros ambientes, há a impressão de
um passeio pelo desconhecido, onde suas percepções se darão apenas pelos sons.
O segundo nível proposto é a imersão representativa. Neste caso, a imagem do interator é inserida na
obra, sem a presença física deste. A exploração a RV por meio de projeções que proporcionam a imersão
representativa, esta presente no meio artístico desde 1975, quando Myron Krueger desenvolveu o projeto
VideoPlace. Nele a imagem do interator é captada constantemente por uma câmera de vídeo e exibida na
projeção, de modo que as imagens projetadas de objetos e as imagens de um ou vários interatores coexistam
ao mesmo tempo. A artista Yancine Sebti apresentou em 2005 a obra Jump! que resgata o princípio da
proposta de Krueger. Neste projeto, a imagem do interator é captada a partir de um salto no ar, assim sua
imagem permanece „saltando‟ virtualmente junto com outros interatores e consequentemente outros que se
dispor a saltar também se integrarão à cena. Nestes casos é a imagem dos interatores que se integram à RV.

Figura 1 – Cabra Cega (2001) Figura 2 – Jump! (2005)


Disponível em: Disponível em:
http://www.fabiofon.com/cabracega/cabra1.html http://www.imal.org/yacine/Jump/

A imersão através da telepresença trata do terceiro nível de imersão proposto por Santaella. Neste o
interator insere-se no espaço virtual por meio de um sistema robótico, podendo modificar ou movimentar-se
no ambiente através dos recursos do robô. A instalação interativa Rara Avis, de Eduardo Kac (1996)
apresenta no ambiente físico de um aviário com 30 aves vivas e uma arara-robô. Ao entrar no ambiente da
instalação o interator é convidado a colocar o capacete de RV o qual transportara sua visão para o ângulo de
visão da arara, que obedecera aos movimentos executados pelo interator. Na arara-robô estão acoplados no
lugar de seus olhos câmaras de vídeo, onde uma delas processa as imagens em preto e branco em baixa
resolução e as envia a internet e a outra capta as imagens coloridas em alta resolução, para serem também
enviadas à rede. Em tempo real os usuários da internet podem acessar o trabalho, integrando-o, e sua visão
será de acordo com a do visitante que esta interagindo na instalação. Assim, Kac possibilita que várias
mentes - através do ângulo de visão - ocupem o mesmo espaço/tempo corporal da arara-robô.

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E, finalmente o quarto nível proposto: imersão perceptiva da RV. Esta segundo a autora, possibilita
uma percepção mais significativa da imersão. Ocorre através do uso de interfaces - como capacetes ou óculos
de estereoscopia -, ou pela exploração de ambientes como a Cave. O projeto HeartScapes (2005), de Diana
Domingues e Grupo Artecno, utiliza-se da Cave e de óculos de visualização para proporcionar ao interator
um passeio - através de imagens simuladas - pelo interior do corpo humano. Nestes casos as referências com
o ambiente real são eliminadas pelos aparatos tecnológicos, deixando o interator completamente imerso no
ambiente virtual.

Figura 3 – Rara Avis (1996) Figura 4 – HeartScapes (2005)


Disponível em: Disponível em:
http://www.ekac.org/raraavis.html http://artecno.ucs.br/

Assim, percebe-se que os diferentes níveis proporcionam de modo crescente uma perda dos
referencias do ambiente real, levando os interatores a experienciar outros modos de portar-se diante das
imagens. Deste modo, a RV pode modificar de modos e níveis diferentes as percepções dos interatores.

4. Conclusão

Na RV, a simulação abre espaço para a reinvenção, para a criação de modelos e situações que não
cabem no âmbito da realidade física pela sua própria essência, ainda que alimentada pela nossa vivência no
ambiente físico. Assim, entender como ocorre à imersão apresenta-se como possibilidade de aproximar-se do
significado da RV na arte, através de níveis distintos, os quais colaboram diferentemente para atingir a
percepção do interator e envolve-lo no projeto artístico.

Referências
CADOZ, Claude. A Realidade Virtual. Lisboa: Instituto Piaget, 1994.
CAUQUELIN, Anne. Freqüentar os incorporais: contribuição a uma teoria da arte contemporânea. São
Paulo: Martins, 2008.
COUCHOT, Edmond. A tecnologia na arte: da fotografia à realidade virtual. Porto Alegre: Ed. UFRGS,
2003.
KIRNER, Cláudio. Fundamentos de Realidade Virtual e Aumentada. In. KIRNER, C.; SISCOUTTO, R.
Realidade Virtual e Aumentada: Conceitos, Projeto e Aplicações. Porto Alegre, Editora SBC, 2007.
LÉVY, Pierre. O que é Virtual. Rio de Janeiro: Ed 34, 1996.
PRADO, Gilbertto. Arte Telemática: dos intercâmbios pontuais aos ambientes virtuais multiusuário. São
Paulo: Itaú Cultural, 2003.
SANTAELLA, Lúcia. Os espaços líquidos da cibermídia. In: Artemídia e cultura digital. São Paulo: Musa
Editora, 2008.
SANTOS, Franciele Filipini dos. O Ciberespaço e o Ambiente Virtual da Bienal do Mercosul: possível
espaço de criação/exposição. Dissertação de Mestrado UFSM, 2009.
SANTOS, Nara Cristina. Arte (e) Tecnologia em sensível emergência com o entorno digital: projetos
brasileiros. 2004. 367f. Tese (Doutorado - Programa de Pós Graduação em Artes Visuais) - Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2004.

Referências Digitais
DOMINGUES, Diana. Disponível em: http://artecno.ucs.br Acesso: 07/02/2010.
FON, Fábio. Disponível em: http://www.fabiofon.com/cabracega Acesso: 05/07/2010.
KAC, Eduardo. Disponível em: http://www.ekac.org/raraavis.html Acesso: 07/07/2010.
SEBTI, Yancine. Disponível em: http://www.imal.org/yacine/Jump/ Acesso: 07/07/2010.

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REFLEXÕES SOBRE A ORALIDADE COMO OBJETO DE ENSINO E PESQUISA

Dalva Maria Alves Godoy; Jilvania Lima dos Santos Bazzo; Arlene Koglin*
Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC

1. Introdução
Este texto pretende divulgar os resultados preliminares do grupo de pesquisa Aquisição, aprendizagem
e processamento da linguagem oral e escrita, vinculado ao Departamento de Pedagogia da Universidade do
Estado de Santa Catarina e devidamente cadastrado no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico – CNPq. Ao iniciar as suas atividades no primeiro semestre de 2010, entre outras demandas, os
membros observaram que um dos maiores desafios se constituía em compreender a oralidade como objeto de
ensino e pesquisa, considerando que, segundo Dolz e Schneuwly [2], embora o oral tenha se constituído
como um dos domínios prioritários do ensino de línguas, o aprendizado da língua oral e de seu uso ocupa
atualmente um lugar restrito nos processos de ensino e aprendizagem, os meios didáticos e as indicações
metodológicas são relativamente raros e a formação dos professores apresenta lacunas muito evidentes.
A partir das discussões de gêneros textuais da oralidade, estes se tornaram objeto de análise, tendo em
vista a necessidade de contribuir para o seu entendimento conceitual e prático, principalmente por ter sido
profundamente refletidas as considerações dos autores supramencionados em relação à raridade didática e
metodológica e à ocupação restritiva da oralidade no seu uso como objeto de ensino, bem como à
inobservância dessa dimensão nos cursos de formação de professores. Como a oralidade poderá se efetivar
como objeto de pesquisa e ensino? Quais são os gêneros textuais mais utilizados no ensino superior?
Considerando, no entanto, a complexidade da questão, no trabalho ora apresentado, toma-se o debate para
ilustrar esta reflexão por ser um gênero frequente nas práticas sociais dos sujeitos envolvidos.
Além da divulgação do trabalho que vem sendo desenvolvido pelo referido grupo de pesquisa, a
expectativa é que tanto os professores que atuam nas áreas de alfabetização, letramento, leitura e produção de
textos como aqueles profissionais da educação que se utilizam dos gêneros orais possam saber como ensiná-
los e usá-los durante suas atividades de forma consciente, concebendo-os como dimensões fundamentais
para o aprendizado e o domínio da linguagem nas suas mais variadas manifestações.

2. Método
Trata-se de uma pesquisa qualitativa, sendo trabalhadas pelo menos duas abordagens, uma empírica:
observação, registro e análise de como os professores e estudantes, participantes do grupo de pesquisa,
percebiam a utilização da oralidade na sala de aula; e a outra bibliográfica: análise de textos sobre a
oralidade.
Desse modo, durante as reuniões mensais do grupo de pesquisa, realizaram-se as investigações a partir
de três obras: Gêneros orais e escritos na escola, de Joaquim Dolz, Bernard Schneuwly e colaboradores [2];
Da fala para a escrita, de Luiz Antônio Marcuschi [3]; e Por que (não) ensinar gramática na escola, de
Sírio Possenti [5], seguidos de debates e relatos de experiência dos professores e estudantes – membros
efetivos do grupo.
Após a sistematização dos primeiros resultados acerca da temática, decidiu-se, como resultado final,
pela produção de um artigo científico tendo como foco a descrição dos principais – ou pelo menos os mais
usuais – gêneros textuais da oralidade, a ser posteriormente submetido a um conselho editorial para a sua
publicação. Com isso, o propósito é suscitar reflexões iniciais em torno da oralidade como gênero textual de
ensino e de pesquisa a fim de diminuir a marginalização desta modalidade, cujo uso é preponderante nas
práticas sociais de uso da língua.

3. Resultados e Discussão
Dos estudos realizados, notou-se que ainda há pouca produção acerca dos gêneros textuais da
oralidade, especialmente no que se refere aos aspectos didáticos e metodológicos. Há muitas dúvidas
relativas às formas de como ensinar os alunos a produzir e a usar adequadamente os gêneros orais. Se por um
lado, percebeu-se que esse fato, de certo modo, deriva da negligência, quer seja por parte dos professores
quer seja por parte de seus agentes de formação, em relação a este conhecimento como sendo relevante para
o processo de ensino; por outro, ainda são poucos os espaços formativos disponibilizados para a produção de
pesquisas e difusão de seus resultados.
Dos debates e socialização de experiências, observou-se que o vivido pelo grupo havia potencialmente
se configurado em um exemplo concreto de como os gêneros da oralidade podem ser tomados como objetos

*
dalvagodoy@gmail.com; jilvaniabazzo.unisul@gmail.com; arlenekoglin@yahoo.com.br
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de ensino e pesquisa. Nesse caso, em particular, o debate e o relato de experiências se transformaram em


importante acervo para o desenvolvimento de estudos, investigações e apresentação de situações didáticas
inovadoras.
Constatou-se ainda que professores e alunos não sabem como efetivar os gêneros da oralidade em sala
de aula e, quando há alguma iniciativa por parte de um professor em estudá-los, do ponto de vista conceitual
e formal, existe, por parte dos estudantes, de certa maneira, uma resistência e uma desqualificação nesse
aprendizado, fortalecendo a crença na primazia do escrito sob o oral. Isso pode ser observado na
apresentação, a seguir, da experiência pedagógica com o gênero oral debate relatada por uma das autoras
deste trabalho.
A atividade foi realizada em uma turma com aproximadamente 20 alunos, estudantes da 6ª fase do
curso de Pedagogia da Universidade do Estado de Santa Catarina. O desenvolvimento do debate ocorreu
no decorrer da disciplina Produção de textos. Destaca-se a necessidade de uma metodologia reflexiva e
de preparo distribuído em etapas para realização da referida atividade. Para desenvolver o debate,
selecionou-se um tema polêmico – o (não) uso de histórias em quadrinhos, doravante HQs, como
recurso pedagógico no decorrer do processo de alfabetização. A fim de fornecer embasamento acerca da
temática, foi requisitada, aos alunos, a leitura de um texto em que diferentes especialistas da área
posicionavam-se contra ou a favor do uso de HQs em sala de aula. Em uma segunda etapa, discutiram-
se, com a classe, as regras para realização do debate.
Após a efetivação da atividade, solicitou-se uma produção escrita sobre as ideias discutidas para
que os sujeitos tivessem a oportunidade de ponderar suas conclusões relativas à temática. Este também
seria um momento para conscientizá-los sobre as diferenças de uso da linguagem em gêneros textuais
distintos. Boa parte dos sujeitos não se preocupou em ler os textos embasadores da discussão nem respeitou
os protocolos do debate previamente acordados em grupo, apesar de haver instruções prévias para isso. Em
consulta posterior para saber os motivos de tal quadro, as declarações e justificativas dadas pelos alunos
(futuros educadores) corroboraram a marginalização e a falta de seriedade com que é vista a utilização da
oralidade em sala de aula. Apesar disso, acredita-se que a experiência propiciou reflexões, ainda que iniciais,
para a utilização de gêneros orais de forma mais crítica nos ambientes de ensino, bem como possibilitou a
sua materialidade como objeto de pesquisa premente.

4. Conclusão
O grupo entendeu que, mais útil e necessário, seria explorar com os estudantes as características das
situações de enunciação, incluindo conteúdo e forma – relacionadas às marcas linguísticas e situacionais que
deixam como traços nos textos, que fazermos de conta que os alunos já dominam os gêneros da oralidade ou
a realização de análises completas e exaustivas dos textos, introduzindo uma metalinguagem.
Os estudantes necessitam saber, do ponto de vista conceitual e formal, o que é cada gênero da
oralidade, suas características e singularidades, como também eles precisam vivenciá-lo no seu cotidiano
escolar. Assim como se necessita aprender a escrever para diferentes contextos, há de se aprender a falar em
circunstâncias e situações diversificadas. Levando-se em consideração a complexa relação entre os gêneros
orais e escritos tratados nos livros organizados por Dionísio et alli [1] e Meurer et alli [4], é preciso também
que os alunos aprendam não somente a produção adequada do gênero, mas também um uso adequado.
Certamente, essa competência técnica por parte do corpo docente exigirá uma formação capaz de
trabalhar com diferentes instâncias de uso da linguagem e diferentes variedades linguísticas, recuperando,
conforme defende João Wanderley Geraldi [6,7], as próprias atividades dos sujeitos falantes como inspiração
do trabalho escolar. Considera-se, portanto, que se faz premente para a formação de professores o
aprendizado da oralidade tanto do ponto de vista dos fundamentos quanto da prática.
Compreendeu-se, a partir desta pesquisa, que a oralidade precisa ser concebida como objeto de
pesquisa com vistas à formalização de seus processos e à sua consequente contribuição para as inovações
didáticas no campo da alfabetização e do letramento, a fim de que novas situações de aprendizagem sejam
criadas a partir do entendimento da oralidade como objeto de ensino, desde que observadas obviamente uma
análise crítica do valor e da profundidade da diversidade, em consonância com a percepção de Gnerre [8].
Segundo este autor, qualquer defesa, por mais repleta de boas intenções, em favor do universal e da
generalização pode ser colonialista, excludente e perigosa.

Referências
[1] DIONISIO, A. P.; MACHADO, A. R.; BEZERRA, M. A. (Orgs). Gêneros textuais e ensino. Rio de
Janeiro: Lucerna, 2002.

2
715
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

[2] DOLZ, J. et alli. O oral como texto: como construir um objeto de ensino. In: SCHNEUWLY, B. e
DOLZ, J. e colaboradores. Gêneros orais e escritos na escola. Campinas/ SP: Mercado de Letras, 2004,
p.149-185. (Coleção As faces da Lingüística Aplicada)
[3] MARCUSCHI, L.A. Da Fala para a Escrita: atividades de retextualização. SP: Cortez, 2008.
[4] MEURER, J. L. et alli (org.). Gêneros: teoria, métodos, debates. São Paulo: Parábola Editorial, 2005.
[5] POSSENTI, S. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas: ALB. Mercado de Letras, 1996.
[6] GERALDI, J. W. (org). O texto na sala de aula. São Paulo: Ática, 2003.
[7] GERALDI, J. W. Linguagem e ensino: exercícios de militância e divulgação. Campinas, São Paulo:
1996. (Coleção Leituras no Brasil)
[8] GNERRE, M. Linguagem, escrita e poder. São Paulo: Martins Fontes, 1998. (Texto e linguagem)

3
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Relações entre meios gráficos comerciais e produções artísticas contemporâneas

Rielen Neves1*; Renato Torres2


1
Universidade Tuiuti do Paraná
2
Universidade Tuiuti do Paraná

Resumo
Este trabalho tem por objetivo apresentar uma pesquisa realizada sobre como alguns artistas
contemporâneos utilizaram meios gráficos comerciais em suas produções artísticas. Até o Renascimento, o
conhecimento sobre o „como fazer arte‟, relacionado às técnicas e ao domínio da forma, esteve de certa
maneira ligado à figura do artista como mestre e de seu ajudante como aprendiz. Até então, a arte era
produzida dentro de moldes específicos, atendendo a características da época. Mais tarde surgem as
Academias de Arte, que reforçam tais produções artísticas. A arte, em certa medida, sempre carregou o papel
de questionar a sociedade, entretanto, em determinadas situações passou a questionar a própria arte. Essa
investigação justifica-se pela necessidade de compreensão de tais mudanças, sobretudo a partir de meados
dos anos 60, momento em que os artistas necessitaram de meios de produção diferentes das categorias
tradicionais de arte. Nesse momento, a gravura de arte que sempre esteve próxima das produções comerciais
passa a ser repensada, de forma que os artistas pudessem atuar em locais diferentes dos circuitos de arte
oficiais. Desse modo, buscou-se investigar um breve histórico da gravura, referindo-se como se deu as
relações entre a gravura comercial e a gravura de arte, os conceitos que fundamentam as mudanças na
produção da gravura de arte e os meios gráficos utilizados pelos artistas escolhidos.
O surgimento da gravura no mundo esteve relacionado à necessidade de reproduzir textos e imagens,
assim, de início a gravura não possuía uma intenção artística, sendo sua produção destinada à utilização
comercial. Reproduções de matrizes em madeira ou pedra foram utilizadas pelos egípcios nas impressões
em tecidos e pelos chineses por volta do século II. A gravura teve inicialmente a função de transmitir
conhecimento, referindo-se ao surgimento da escrita, da imprensa e do livro. Somente no século XV, artistas
do ocidente passaram a utilizar a gravura para divulgar suas pinturas. A partir desse momento os artistas
passam a criar suas obras gráficas em paralelo a outras atividades artísticas, entretanto, é na arte moderna que
a gravura ganha destaque, principalmente em movimentos como o expressionismo alemão, em que seus
participantes produziram uma vasta obra gráfica. A partir de então, ocorreram avanços estéticos no campo da
arte e em paralelo, surgiram também avanços tecnológicos no universo gráfico comercial.
Nesse contexto, a gravura que já havia se emancipado de sua função comercial e conquistado seu
espaço ao lado das demais categorias tradicionais de arte, passa a explorar também os processos comerciais
de criação de imagem. Destacando-se aqui os anos 60, momento em que diversos artistas passaram a
incorporar tais avanços em suas obras de arte, ampliando as possibilidades de produção e de compreensão do
que pode ser considerado arte. Para compreender esse momento, serão abordados de forma sintética alguns
movimentos artísticos que contribuíram para essa mudança de paradigma no universo da arte. São eles: A
Pop Art, a Op Art, O minimalismo e a Arte Conceitual.
A Pop Art, em meados dos anos 60, tratou de uma produção artística que questionou a sociedade de
consumo, sobretudo o modo de vida norte americano que privilegiava de forma excessiva os objetos de
consumo. A partir desses questionamentos, transformaram temas e produtos propaganda em obras de arte,
assim, aproximando o que era “popular” do universo da arte. Em suas produções, tiravam partido da
repetição em série evitando assim o “particular” que sempre esteve em evidência nas produções artísticas.
Sendo um movimento culto e altamente consciente, um de seus aspectos foi sua evidente frieza, sua falta de
envolvimento com o tema trabalhado. Nesse sentido, o que foi preciso para se criar a Art Pop foi o próprio
modo de vida popular, pois essa arte é nela mesma um subproduto imprevisto dessa maneira de viver.
A Op Art por sua vez concentrou-se nas produções que empregaram como modo de expressão a
mistura ótica de tons e cores, permitindo que o olho misturasse as cores a certa distância e em suas obras os
artistas trabalharam efeitos de linha ondulantes com a ilusão de profundidade e movimento.. Desse modo, a
Op Art também se utiliza desses efeitos, fazendo o olhar do observador mover sobre a tela plana, percebendo
os jogos de luz e sombra, fundo e figura. É uma arte abstrata, formal e exata, provocando imagens e
sensações ilusórias no espectador, que pode acontecer na própria visão ou cérebro, pois a arte Op refere-se
necessariamente à ilusão em que os processos normais da visão são postos em dúvida, principalmente através
de fenômenos óticos da obra. A Op Art ou Optical Art, como também foi chamada, não é uma forma de arte
programática na medida em que seu aspecto mais importante envolve mais uma técnica do que uma
ideologia.

*
Autor Correspondente: rielen.neves@hotmail.com
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Diferente dos artistas que participaram dos movimentos Pop e Op, os Minimalistas acreditavam que
uma obra de arte devesse ser completamente concebida pela mente antes de sua execução. Para eles a arte
não é expressão, pois desejavam desviar a arte para um rumo sujeito à opção de metodologias mais precisas,
medidas e sistemáticas. Esses artistas queriam criar obras imediatistas, em que o todo fosse mais importante
do que as partes, e em que a composição envolvida fosse anulada em favor de uma ordenação simples
(progressiva, permutacional ou simétrica). Os artistas minimalistas queriam mostrar o objeto de arte
apenas como materiais e não como algo que despertasse sentimentos, sem nenhum efeito
decorativo. O objeto de arte falava e mostrava-se por ele mesmo, sem nenhuma pretensão a mais,
onde o olhar do observador era de suma importância. A arte minimalista possui uma abordagem
intelectual e utiliza-se de formas geométricas simples, unitárias, usadas de maneira independente,
sem nenhum ilusionismo, também trabalham com materiais industriais livres de contato manual e
produção em fábrica e uma das coisas que o minimalismo também esperava realizar era uma nova
interpretação dos objetivos da escultura. Em todas as obras minimalistas a composição é um fator
menos importante do que a escala, luz, cor, superfície ou formato, com relação com o meio
ambiente. O minimalismo tornou-se uma das mais inflexíveis e influentes estéticas do nosso tempo,
proporcionando mudanças decisivas não só na pintura e escultura, mas também na música e dança.
Por fim a Arte Conceitual, movimento que surgiu na Europa e nos EUA entre as décadas de
1960 e 1970. A Arte Conceitual fazia parte de uma rejeição ao que é o tradicional objeto de arte, ao
formalismo, o sistema de seleção de obras ao mercado artístico e o mais importante eram as idéias e
não sua execução, pois o objeto poderia ser construído por outras “mãos” sem serem
necessariamente a do artista, pois o que é válido é a invenção, seu conceito. A linguagem e as idéias
eram a verdadeira essência da arte, a experiência visual e o prazer sensorial eram secundários e não
essenciais. A linguagem, por exemplo, deu aos conceitualistas seu nítido caráter radical e também
lhes deu muito material para trabalhar. Em suas obras, os artistas exploraram a escrita, mapas,
documentos, filmes, fotografias e vídeos. Na arte Conceitual, seus representantes adotaram uma
visão limpa e coerente da arte minimalista, também levaram a novos extremos seu enfoque
predeterminado e sua tendência para a repetição. Por apoiar-se na linguagem, na imagem
reproduzível e nos meios de comunicação, era fácil e rapidamente transmitida, exigindo uma nova
espécie de participação mental por parte do espectador. Pode-se dividir e redividir a vasta área de
atividades e manifestações conceituais em vários grupos e categorias, entretanto, a maior
característica foi a palavra impressa, de livros a cartazes e também na combinação com fotografias.
O conceitualismo não democratizou a arte nem eliminou o objeto de arte único, muito menos aboliu
o mercado da arte, mas contribuiu com a inclusão de fotografias, de desenhos arquiteturais e de
partituras musicais ao universo das artes plásticas.
Esses movimentos, cada um a sua maneira, contribuíram para uma ampliação nos meios de
produção artística, e nesse sentido as produções de gravura de arte acompanham as discussões
gerais sobre a Arte, e as fronteiras estabelecidas pelas técnicas tradicionais de gravura como a
xilogravura, a litogravura e a gravura em metal, passam a ser questionadas por meio de
experimentações artísticas. Em um sentido técnico, ocorre uma fusão entre a produção artística e a
produção comercial. Entretanto, o meio comercial, mas a discussão é artística.
Em uma tentativa de avanços, e em meio às discussões já apresentadas, outros artistas que
não participaram dos movimentos acima descritos, optaram por explorar a qualidade de múltiplo em
determinados tipos de obra de arte. Essa decisão foi tomada devido à tentativa de uma redefinição
radical e desejada na concepção de Arte. Nessa busca por uma nova direção na produção artística,
vários grupos passaram a trabalhar a partir do conceito de múltiplo, mas, com muita singularidade.
Dentre eles, destacam-se o MAT e o Fluxus.
O MAT (Multiplicação de Arte Transformável) foi a primeira manifestação artística a
explorar o conceito de múltiplo, cuja finalidade era produzir versões de trabalhos que desafiassem o
isolamento social e econômico. Os trabalhos que iriam compor o MAT deveriam seguir os
seguintes critérios: não depender da escrita pessoal do artista, não ser fabricado por meio dos
métodos de reprodução artística comuns - como a impressão, a fundição ou a tapeçaria, e por último
possuir algum elemento variável ou cinético.
Já o grupo Fluxus era a crítica pelo mercado da arte e o conceito de múltiplo contribuía para
esse pensamento. Como múltiplo, foram produzidas a baixos custos as caixas e os kit-Fluxus, que
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continham: matérias impressas, objetos achados, jogos e registros de performances de diversos


artistas. Nessa tentativa de reestruturar a produção, distribuição e consumo de arte, foi iniciada uma
série de gravuras alternativas como: os livros de artistas, a arte xerox, a arte postal entre outras. Nas
produções desses dois grupos, podemos notar a influência dos movimentos: Pop, Op, Minimalismo
e Conceitual, seja pelos meios gráficos utilizados ou pelo questionamento do que pode ser
considerado arte.
Conforme o que já foi apresentado, esta pesquisa busca aclarar as relações entre os meios
gráficos comerciais e as produções artísticas de alguns artistas contemporâneos, trazendo quais
esses novos meios foram utilizados.

Palavras-chave: Gravura, Arte Contemporânea, Arte.

1. Introdução
O presente artigo tem por objetivo apresentar os resultados de uma investigação sobre em que
medida artistas contemporâneos utilizam meios gráficos comerciais em suas produções artísticas, bem como
quais os acontecimentos que contribuíram para a substituição dos processos de produções artísticas
tradicionais, por processos mecânicos comerciais como a utilização de outdoor, revistas, cartões postais,
entre outros. Para tanto, buscou-se realizar um levantamento do histórico da gravura no mundo em geral, a
contribuição de alguns movimentos contemporâneos e a produção de alguns artistas selecionados,
do período entre 1960 e 1990, comentando sobre como se deu a utilização dos meios gráficos para o
desenvolvimento de seus trabalhos.
O interesse por esse tema surgiu a partir da grande dificuldade de encontrar literatura sobre o
assunto. Nesse sentido, o estudo apresentado pretende contribuir nas futuras pesquisas feitas
posteriormente por acadêmicos interessados pelo tema.
Inicialmente, sabe-se que a Gravura era relacionada à reprodução de textos e imagens,
próxima das produções comerciais, sendo somente utilitária sem nenhum vínculo como expressão
artística. Com o passar do tempo, o mundo passa por grandes alterações tecnológicas,
desenvolvimento e grandes mudanças políticas e sociais, e com a arte não foi diferente. Em meados
dos anos 60, os artistas necessitaram de meios de produção diferentes das categorias tradicionais de arte.
Nesse momento, a gravura de arte que sempre esteve próxima das produções comerciais e a arte em si, passa
a ser repensada e questionada. Portanto, esses meios gráficos foram sendo incorporados nas obras dos
artistas, misturando-se e vistos como uma nova possibilidade de criação e no entendimento do que
pode ser julgado como arte.

2. Método
Será utilizado a abordagem qualitativa e o método de pesquisa histórica. Segundo Moreira e Caleffe
(2008), o método de pesquisa histórica compreende os seguintes passos:
a) Identificar os objetivos da pesquisa.
b) Identificar e examinar as fontes de dados.
c) Avaliar a confiabilidade dos dados obtidos das fontes.
d) Organizar os dados relevantes em termos de uma abordagem interpretativa dos eventos que ocorreram.
e) Apresentar essa interpretação para análise e avaliação de outros pesquisadores.
Para atender a esses passos, a pesquisa será conduzida da seguinte forma:
Primeiramente investigar os conceitos que fundamentam as mudanças na produção de gravura de arte,
por meio de análise de fontes bibliográficas. Em seguida, verificar quais artistas utilizaram meios gráficos
comerciais em suas obras.

4. Conclusão
Sob o estudo realizado de como foi à introdução da Gravura e seu desenvolvimento em todo o mundo,
percebe-se que, a partir do século XIX com suas grandes mudanças sociais e tecnológicas, abrem-se novas
possibilidades para a técnica que acaba tornando-se um meio de expressão artística, onde os artistas livram-
se do utilitarismo. Mas é durante o século XX que realmente esta arte se estabiliza como tal, nesse contexto,
também acaba complementando a manifestação de massa.
Desse modo, surgiram alguns movimentos durante a história da arte, como a pop art, op art,
minimalismo e arte conceitual, cada uma com suas concepções e indagações, que certamente foram decisivas

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

para a autonomia dos artistas que viriam a utilizar novas técnicas, estilos e diferentes propostas
posteriormente.
A partir da análise dos artistas mencionados percebe-se que, os meios gráficos comerciais foram
essenciais e muito utilizados por eles como forma de expressão e interação com o público, unindo o
cotidiano com a arte, assim destacando-se na arte contemporânea em geral.
Pode-se concluir que a utilização dos meios gráficos comerciais mantém uma profunda e nítida relação
com a publicidade e tornou-se suporte para veicular a arte contemporânea de maneira original e autônoma
sem necessariamente seguir padrões estéticos pré-estabelecidos.

Referências
ARCHER, Michael. Arte contemporânea: uma história concisa. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
ARGAN, Giulio Carlo. Arte e Crítica de Arte. Lisboa: Estampa, 1995.
BARBOSA, Ana Mae. Tópicos Utópicos. Belo Horizonte: C/ Arte, 1998.
BATCHELOR, David. Minimalismo. São Paulo: Cosac & Naify, 2001.
COSTELLA, Antonio. Introdução à gravura e história da xilografia. Campos do Jordão: Mantiqueira, 1984.
FAJARDO, Elias; SUSSEKIND, Felipe; DO VALE, Marcio do. Oficinas: Gravura. Rio de Janeiro: Senac
Nacional, 1999.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Minidicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1993.
FREIRE, Cristina. Poéticas do processo: arte conceitual no museu. São Paulo: Iluminuras. 1999.
GABLIK, Suzi. Minimalismo. In: Jorge Zahar (org). Conceitos da Arte Moderna. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Editor Ltda. 1991.
HEARTNEY, Eleanor. Pós-Modernismo. São Paulo: Cosac & Naify. 2002.
HERR, Ed de; LE ROY, Filip. Seis séculos da arte da gravura. Curitiba: Museu Oscar Niemeyer, 08 de
dezembro de 2006 a 18 de fevereiro de 2007.
HONNEF, Klaus. Andy Warhol 1928- 1987 A Comercialização da Arte.
NORBERT, Lynton. O Mundo da Arte- Arte Moderna. 7ed. Rio de Janeiro, 1979.
LUCIE-SMITH, Edward. Arte Pop. In: Jorge Zahar (org). Conceitos da Arte Moderna. Rio de Janeiro: Jorge
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MARTINS FILHO, Carlos Botelho. Introdução ao Conhecimento da Gravura em Metal. 2ª ed. Rio de
Janeiro: PUC, Solar Grandjean de Montigny. 1982.
PANEK, Bernadette. A Contemporaneidade da gravura em discussão. 1998. 83 f.
Monografia apresentada ao curso de Pós-Graduação (Especialização em História da Arte) - Escola de Belas
Artes do Paraná. Curitiba, 1998.
PEREIRA JÚNIOR, Lamounier Lucas. Publicidade e Artes Plásticas: a Utilização da mensagem, do Código
e dos Veículos Publicitários pelas Obras de Arte. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos
Interdisciplinares da Comunicação. XIV Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste, Rio de
Janeiro, p. 1-15, mai. 2009. Disponível em:
http://www.intercom.org.br/papers/regionais/sudeste2009/resumos/R14-0825-1.pdf. Acesso em: 03
nov.2009.
REICHARDT, Jasia. Arte Op. In: Jorge Zahar (org). Conceitos da Arte Moderna. Rio de Janeiro: Jorge
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SMITH, Roberta. Arte Conceitual. In: Jorge Zahar (org). Conceitos da Arte Moderna. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Editor Ltda. 1991
TALLMAN, Susan. The Contemporary print: From pre-pop to postmodern. London: Thames and Hudson,
1996.
HARRIS, Jonathan. Modernismo e Cultura nos Estados Unidos. In: WOOD, Paul. Modernismo em Disputa
– A arte desde os anos quarenta. São Paulo: Cosac & Naify, 1998. p. 6-74.
WOOD, Paul et al. Modernismo em Disputa – A arte desde os anos quarenta. São Paulo: Cosac & Naify,
1998.

Agradecimentos
À Universidade Tuiuti do Paraná
Ao meu orientador Renato Torres
Ao meu esposo Daniel Neves Filho

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REPRESENTAÇÂO SOCIAL DA LEITURA: ESPAÇOS SOCIAIS E FORMAÇÃO DO


LEITOR

Camila Rita Lelis1*; Elisa Cristina Lopes²

¹Universidade Federal de Viçosa


²Universidade Federal de Viçosa

1. Introdução

Este trabalho busca refletir acerca das representações sociais do ato de ler, considerando as descrições
e análises de ambientes como bibliotecas públicas e Livrarias. Tais lugares são considerados espaços sociais
de leitura na medida em que proporcionam o contato do cidadão com o livro. Em muitos casos, estes espaços
são vistos apenas como acessórios nos processos de incentivo a leitura, cultura e educação e nada contribuem
para promover interesse no publico leitor. Assim, essa pesquisa vem reforçar a necessidade de estudos mais
específicos sobre a prática da leitura e o comportamento do leitor, tentando obter uma visão mais ampla do
campo de estudos referentes às práticas culturais.
O projeto tem como objetivo geral conhecer a representação social da leitura no contexto atual com
enfoque na leitura de textos literários, e o comportamento leitor do brasileiro, averiguando o funcionamento
e uso desses espaços sociais de leitura e se eles estão contribuindo para a efetiva formação de leitores e do
conhecimento literário.

2. Método

O método utilizado na pesquisa é constituído por uma verificação empírica e um estudo comparativo
dos espaços de leitura das cidades de Viçosa e São Miguel do Anta. A verificação é composta de visitas,
diagnóstico dos espaços, análise das situações de funcionamento e uso dos espaços e sua possível influência
na formação de leitores.

3. Resultados e Discussão

O que foi observado ao longo da pesquisa, tanto na cidade de Viçosa quanto em São Miguel do Anta,
é a falta de profissionais preparados e envolvidos no processo de disseminação da leitura e principalmente
que conheçam sua função de agente promotor da leitura. A biblioteca de São Miguel do Anta, conta com
duas bibliotecárias e a Biblioteca de Viçosa conta com uma bibliotecária e dois auxiliares de serviços gerais,
sendo que são esses dois que permanecem na biblioteca para o atendimento dos usuários.
A respeito das verificações dos espaços observamos que as bibliotecas são espaços freqüentados
principalmente por estudantes, de ensino fundamental e médio, na biblioteca de São Miguel vale dar
destaque a presença de alunos da educação infantil que são levados pelos professores à biblioteca devido ao
fato da escola municipal não possuir espaço físico reservado para a biblioteca. Esses espaços deveriam
receber mais incentivos e recursos, tanto para investimento na parte física, ampliação do acervo e
principalmente a preparação de profissionais.
Nos gráficos abaixo podemos observar os resultados alcançados quanto ao que buscam os usuários nas
bibliotecas:

*
Autor Correspondente: Camila. lelis@ufv.br
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12,50% 5%

27,50% ler
estudar
pesquisar
empréstimo
55%

Fig.1 Gráfico: O que buscam os leitores na


biblioteca de São Miguel do Anta.

25% 25%
ler
estudar
pesquisar

18,75% empréstimo
31,25%

Fig.2 Gráfico: O que buscam os


leitores na biblioteca da cidade de Viçosa.

Há uma diferença no que tange o interesse das duas cidades. Os usuários de São Miguel do Anta
possuem perfil adolescente e infantil, a biblioteca quase não é freqüentada por adultos. A maioria são alunos
do ensino fundamental e médio e alunos de 1ª a 4ª série que são levados pelos professores à biblioteca.
Portanto, como afirma as bibliotecárias os livros mais procurados são os de pesquisa, quando esta é exigida
pelo professor, e livros infantis. A maioria dos usuários procura a biblioteca a pedido do professor, portanto,
apesar de não ser biblioteca escolar, a biblioteca pública municipal de São Miguel do Anta tem sua função
sempre atrelada às exigências da escola. A biblioteca publica de Viçosa possui um perfil de usuário bem
diversificado, isto se deve ao próprio perfil universitário da cidade. A biblioteca é freqüentada por pessoas de
todas as idades, desde alunos de ensino fundamental e médio, alunos da universidade e adultos que já não
freqüentam mais a escola. Onde, diferente de São Miguel do Anta, a maioria pesquisada busca a biblioteca
para estudar e para ler.
A biblioteca é um espaço que nos proporciona a experiência do encontro, do conviver entre os livros,
temos a liberdade de penetrá-la e fazer descobertas, o leitor deve se sentir a vontade para se movimentar e
manusear os livros, é dessa maneira que se formam leitores autônomos.
Este espaço deveria ser um local convidativo tanto em se tratando de espaço físico quanto aos
funcionários responsáveis por ela. Aí está outro ponto fundamental da biblioteca: a presença de alguém que
conduza o leitor nesse mundo de curiosidades e que possa ensiná-lo a utilizá-la com propriedade. Alguém
que conheça os usuários e suas dificuldades, que conheça os livros e saiba indicá-los, que sejam agentes
disseminadores da leitura e que acima de tudo conheçam seu papel social de formador de cidadãos mais
reflexivos, pois a biblioteca possui, com mesma intensidade, o poder de formar, mas também de “matar”
leitores.

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Hoje, como observado na pesquisa, a biblioteca está inserida em uma realidade que não condiz com o
esperado. O uso da mesma parece ser feito em função da escola, pois a freqüência maior é de alunos que tem
como principal objetivo pesquisar ou buscar livros a pedido dos professores e ao saírem da escola, estes não
freqüentam mais as bibliotecas.
Outro impasse é o fato de que as bibliotecas não possuem um bibliotecário com formação
especializada, muitas vezes devido à falta de recursos financeiros para a contratação desse profissional. No
entanto, essa função não pode ser ocupada por “qualquer” profissional, já que o papel do bibliotecário é o de
mediador, ele deve ser um agente incentivador da leitura e deve proporcionar o contato entre os livros e os
leitores. O que se considera é que o bibliotecário possui a única função de organizar os livros e manter a
biblioteca em ordem e para isso não é necessário uma formação especializada, é esse tipo de comportamento
dos órgãos administrativos que torna a biblioteca um local de simples depósito de livros e silencia sua voz de
agente social incentivador da cultura e formador de leitores críticos e pensantes.
O governo investe em programas de incentivo a leitura e na compra de livros, mas esses livros ficam
silenciosos, “escondidos” e fora do alcance do leitor. São necessárias ações, que devem partir das bibliotecas
e dos mediadores, para que ocorra esse contato. Deve-se mostrar aos jovens/alunos que ler não é arrancar
uma simples interpretação, não é avaliar e sim levar experiências, sentir-se e identificar-se com a leitura, para
assim, sentir o impacto que ela causa.

4. Conclusão

Percebemos que nenhum dos locais pesquisados exerce função ativa de promotores da leitura, a
biblioteca é, na maioria das vezes, depósito de livros e de ex-professores que não tem mais condições de
trabalhar em sala de aula.
É impossível uma revolução na área da leitura sem a participação e sem o compromisso dos agentes
(bibliotecários, professores e autoridades) para com os processos de mudança e transformação social. É
necessário cobrarmos dos governantes mais ações que possibilitem o acesso ao livro e a leitura, assim como
maiores investimentos em locais públicos que tem como função a promoção da leitura. Algumas vezes esses
locais de simbolização da leitura são multiplicados, mas são sempre as mesmas categorias que se beneficiam.
Como afirma Jean François Lyotard: “A massa quase não circula pelos jardins da arte” (1994, p.259) [1]
Hoje, temos formado um publico passivo, informado, pelos meios de massa, e sem papel transformador.
È dever de todos uma reflexão critica a respeito do descaso e esquecimento das questões relacionadas
à promoção da leitura, mas é ainda mais importante que tenhamos uma reflexão transformadora a respeito
desse assunto, devemos ser guiados pela esperança e pelo esforço para tornarmos o acesso ao livro e a leitura
um privilégio de todos.
De acordo com Marques (2003) [2] o livro é metaforicamente conhecido como o mestre dos mestres,
composto por palavras que chamam por leitores e por interlocutores, e a biblioteca é a casa dos mestres.
Sabendo disso, é necessário refletirmos a respeito do papel da biblioteca na sociedade.
A biblioteca é um agente formador de leitores e não deve ser vista apenas como um depósito de livros.
Ela deve ir até as pessoas e não só as pessoas irem até ela. Os funcionários devem estar preparados para guiar
e os leitores dentro do mundo de novidades que a biblioteca esconde, ele, como mediador no processo de
leitura, assim como o professor, tem o papel de ler e de fazer ler.
Segundo Olga Maria Guedes (1987) [3] A biblioteca deve estar comprometida não só com a
preservação dos documentos do passado (memórias, história-cultural etc), mas também deve tentar resgatar a
memória viva do povo. Ela deve tentar disseminar a cultura dominante e a cultura popular (as lendas,
religião, artistas, memórias, acontecimentos históricos etc.). Dessa forma, tentar tornar mais forte a relação
da biblioteca com todas as formas de cultura.
Para Ezequiel Teodoro da Silva (1987) [4] O processo de formação de leitores não é apenas uma
questão escolar, mas sim uma questão que abrange o trabalho de todas as instituições e órgãos culturais e que
se realiza com muitas reflexões. Para que ocorra avanço é necessário que todas as pessoas envolvidas nesse
processo percebam a razão de ser dos fenômenos sociais e a relação deles com práticas pedagógicas.
Devemos dimensionar o verdadeiro sentido da leitura e da formação de leitores, é preciso que os
mediadores, principalmente professores e bibliotecários, tenham uma história de leitor, que eles consigam ler
a realidade a sua volta, nos textos literários, jornais, acontecimentos do dia a dia e principalmente que
possam dar suporte para que os jovens e crianças consigam traçar seu próprio caminho de leitores. Como
afirma Luzia de Maria: “se deres um peixe a um homem, ele se alimentará uma vez, se o ensinares a pescar,
ele se alimentará a vida inteira” (2002, p.47)[5]

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Referências

[1] LYOTARD, Jean-François. Ler: uma operação de caça. In: CERTEAU, Michel de. A invenção do
cotidiano: artes de fazer. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.

[2] MARQUES, José Castilho. Das bibliotecas escolares às bibliotecas públicas: caminhos
democráticos para a formação de leitores. in: SILVA, Ezequiel Theodoro da. Trilogia pedagógica/
Conferências sobre leitura. Campinas, SP: Autores Associados 2003.

[3] GUEDES, Olga Maria Ribeiro. Biblioteca e cultura do povo. Leitura: teoria e prática, Revista
semestral da ALB, Campinas-Unicamp, n. 10, Dezembro. 1987.

[4] SILVA, Ezequiel Theodoro da. O bibliotecário e a formação do leitor. Leitura: teoria e prática,
Revista semestral da ALB, Campinas-Unicamp, n. 10, Dezembro. 1987.

[5] MARIA, Luzia de. Leitura e colheita: livros, leitura e formação de leitores. Petrópolis, RJ: Vozes,
2002.

Agradecimento

Agradeço à Professora Doutora Elisa Cristina Lopes por sempre me apoiar em todos os meus trabalhos
e ao Departamento de Letras da Universidade Federal de Viçosa.

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1

SMOKED LOVE: ESTUDOS SOBRE PERFORMANCE E DRAMATURGIA DO ATOR


CONTEMPORÂNEO.

Daiane Dordete Steckert Jacobs1*


1
Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC

1. Introdução
Este presente resumo discorre brevemente sobre alguns pontos essenciais da pesquisa desenvolvida
pela mestranda Daiane Dordete Steckert Jacobs, pelo Programa de Pós-Graduação -Mestrado e Doutorado
em Teatro da UDESC, sob orientação do Professor Dr. Milton de Andrade Leal Jr.
Trata-se de uma pesquisa teórico-prática sobre atuação contemporânea, que tem como prática o
experimento cênico Smoked Love, um “solo performático multimídia”, conforme classifica a pesquisadora-
criadora. Smoked Love estreou em junho de 2009 em Joinville-SC, e apesar de ter apenas uma solista na
atuação, teve a participação de outros artistas do estado (SC) na construção dos signos cênicos.
A pesquisa parte da tese de Hans-Ties Lehmann, que aponta uma ruptura epistemológica no fazer
teatral ocidental das últimas 03 décadas do século XX, inaugurando o chamado teatro pós-dramático, sobre
qual conceituação o autor discorre em seu livro-tese Teatro pós-dramático, publicado na Alemanha em 1999
e no Brasil em 2007.
A pesquisa procura localizar o trabalho do ator no universo estilístico do pós-drama, identificando
alguns caminhos compositivos percorridos por artistas contemporâneos e dialogando as teorias sobre
performance e dramaturgia do ator contemporâneo com a prática da pesquisa, o experimento cênico Smoked
Love.
Os textos que se apresentam fazem parte da dissertação da pesquisadora, que tem a banca de defesa
prevista para o dia 13 de Setembro de 2010, na UDESC.

2. Método
Esta pesquisa teórico-prática procura espaço no campo da pesquisa qualitativa, sob a égide do método
fenomenológico de pesquisa, tendo sido o experimento cênico Smoked Love gerado através do mapeamento
de princípios de construção da dramaturgia do ator no teatro contemporâneo em fontes primárias e
secundárias. As fontes primárias para a pesquisa foram os referenciais bibliográficos sobre o tema e as fontes
secundárias vídeos, fotografias e diversas obras de arte relacionadas ao tema.

3. Resultados e Discussão
O teatro dramático, segundo Lehmann [1], apresenta algumas características essenciais : a primazia do
texto sobre os demais signos da encenação, a mimesis ou imitação, a catarse do espectador, a construção de
uma ilusão cênica, o desenvolvimento de uma fábula ou história.
Já o teatro pós-dramático transgride tais características, destituindo os signos de uma hierarquia cênica
e ativando a participação do espectador no evento teatral.
Marta Isaacsson [2] , citando Lehmann, diz que “o modelo „pós-dramático‟ se caracteriza, em primeira
instância, pela ruptura com a lei da síntese na organização da obra. Desta forma, ele rompe com a relação do
teatro com o drama e, consequentemente, abandona o compromisso da totalidade narrativa acerca de uma
intriga“.
A heterogeniedade estética dos espetáculos teatrais da contemporaneidade não exclui toda a gama de
características e elementos inerentes ao modelo dramático, mas reorganiza os significantes da encenação e
suas relações.
O teatro pós-dramático de Lehmann, mesmo inscrevendo-se no período histórico da pós-modernidade,
julga o conceito insuficiente para definir a amplitude de suas características.
Os teóricos do teatro pós-moderno, apesar de não oferecerem ênfase a diluição do modelo dramático
no teatro contemporâneo tal qual Lehmann, também fazem referência a várias características apontadas pelo
autor em sua tese.
Podemos perceber, deste modo, que as teorias do teatro pós-dramático e pós-moderno compartilham
de inúmeras semelhanças na indicação e descrição das características pertencentes ao teatro contemporâneo.
Todavia, Lehmann consegue definir uma ruptura estrutural específica da linguagem teatral, no caso, a
diluição do modelo dramático, conferindo assim ao conceito de teatro pós-dramático um espaço de
identificação entre as diversas tendências e estilos teatrais da contemporaneidade.

*
Autor Correspondente: daiane_dordete@hotmail.com
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010
2

Lehmann identifica o teatro pós-dramático como pós-brechtiano, na medida em que sucita a reflexão
sobre o processo semiótico : o “desapassivamento“ do espectador em relação a obra.
Podemos dizer, concordando com Ramos [3], que ocorre na cena teatral contemporânea a
supervalorização do opsis (materialidade do espetáculo) em detrimento do mythos (estrutura narrativa), como
já propunham Craig, Artaud, Brecht, Beckett e Kantor, afirmando a autonomia do espetáculo em relação ao
drama.
Porém não só a teatralidade do espetáculo posto em cena aos olhos do espectador compõe o opsis, sua
materialidade. A performatividade dos elementos da encenação também constitui um elemento importante na
construção da estética teatral contemporânea.
Partindo do pensamento dos estudos da Performance, podemos afirmar que qualquer manifestação
teatral é performance. Mas, o teatro contemporâneo assume também a postura crítica da performance art ao
destacar não apenas a performance artística, mas também sua performatividade, assim como do teatro,
prioriza a teatralidade.
Sendo assim, podemos dizer que o fluxo contínuo entre a materialização do espetáculo (opsis) e a
criação de múltiplas leituras/narrativas pelo espectador gera uma comunicação espetacular, performativa por
sua dinâmica e teatral por sua linguagem.
Reconhecendo no experimento cênico Smoked Love, prática desta pesquisa, muitos elementos
recorrentes tanto na tese de Lehmann quanto nos estudos sobre o teatro pós-moderno, optamos por eleger
nesta dissertação o conceito de teatro pós-dramático, por reconhecer nas considerações apresentadas por
Lehmann a importância da crescente dissolução do modelo dramático, que se reflete em diferentes formas de
criação e articulação de todos os signos do espetáculo, inclusive no trabalho do ator, foco desta pesquisa.
A performatividade que se percebe operante na construção e recepção do espetáculo contemporâneo,
muito além do desenvolvimento de uma fábula, credita o teatro pós-dramático como um caminho possível
para a análise dos espetáculos da atualiadade.
No mundo contemporâneo, o simulacro pós-moderno derruba as barreiras entre o que é real e o que é
imaginado, entre ser e parecer. A necessidade de projeção e catarse é suprida pelos meios de comunicação de
massa, como a televisão e o cinema, que tomam o drama para si, recriando um simulacro muito mais
eficiente do que aquele tentado pelo teatro, que não consegue ligar-se e desligar-se do espectador numa
rápida passagem de canal. O teatro, que é espaço, cor, luz, corpo, profundidade real, perde sua eficácia na
tentativa de construir a realidade de um personagem numa história linear: o drama. Sendo assim, o teatro
procura algo para além do drama e da representação de um personagem.
O teatro pós-dramático surge como um novo teatro, que supõe a desalienação do espectador, a fuga do
drama, a experiência cerimonial, o compartilhamento reflexivo e crítico sobre o simulacro da sociedade, da
vida cotidiana e artificial. E tudo isto, justamente, deixando a obra em aberto, rompendo com o pensamento
fabular dramático, irrompendo corpos, volumes, cores para resgatar as memórias do corpo do espectador e,
por fim, sua consciência: “O processo dramático se dá entre os corpos; o processo pós-dramático no corpo
[do artista e do público].” [4]
Neste novo modo de pensar o teatro surgem inúmeras tendências e estilos com características às vezes
recorrentes e às vezes divergentes. O solo é instável, líquido, e talvez seja essa a inovação mais interessante
do pós-drama. Ele não nega o teatro dramático, apenas vai além dele. Este é um dos pontos de polêmica (o
uso do pós pode sugerir negação).
Neste campo experimental o texto verbal tem tanta importância quanto qualquer um dos outros signos
da encenação. A polissemia (pluralidade de significados) e a polifonia (pluralidade de vozes) ganham vez: o
público finaliza (lê, modifica, cria) o espetáculo. O público pode atuar, como em algumas experiências de
teatro participativo. A atuação pode ser feita por não-atores ou atores amadores ou ainda virtuoses da cena. O
espetáculo é, enfim, uma cerimônia: o jogo está estabelecido, independente das instâncias do mesmo.
Neste espaço explodido do teatro pós-moderno e pós-dramático, o ator trabalha além do conceito
tradicional de atuação como representação de um personagem em uma história. O happening, a performance
art e o teatro pós-dramático trazem à cena a performatização do eu no instante presente. A representação é
substituída pela apresentação do sujeito-ator. Dilatado ou dinâmico, numa relação de participação direta com
o público ou tendo-o como voyeur, o tempo é real, não ficcional, e o ator performa seus duplos, seus
desdobramentos da construção genética e cultural de seu sujeito. Personagens, com unidade e
verossimilhança, caem por terra. Mas personas, figuras, actantes, espectros aparecem. Voláteis, formados por
mitologias pessoais e universais do ator. Que surgem, desaparecem, revelam o jogo. O ator age
A marionetização do corpo do ator-bailarino busca novamente uma outra natureza que não a
artificialidade do corpo cotidiano, aculturado. Uma outra cultura, diria Barba. Destruir o corpo cotidiano e

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3

reconstruí-lo com energia, presença, bios, características que seduzem o olhar do público para um corpo
dilatado e expressivo: um corpo-artista.
O ator pós-dramático relaciona seu corpo com o público num processo de contaminação. Sendo o
corpo sua própria mensagem, ele deixa de ser recipiente de uma informação que precisa ser codificada. Para
usar a terminologia aplicada por Cristine Greiner [5], o corpo transforma-se em mídia de si mesmo: um
corpo-mídia, que opera num processo de contaminação entre o dentro e o fora de seu próprio ambiente,
performando as suas próprias vivências e experiências e contaminando-se com as dos outros. O ator cria-se a
partir das contaminações com o mundo e troca-as novamente com o público.
Para que a peste aconteça, o ator precisa encontrar sua outra natureza, que está além das máscaras e
simulacros do cotidiano: além da artificialidade.
Todavia, nas plurais estéticas desenvolvidas sobre a égide do pós-drama e do teatro contemporâneo a
figura do ator aparece em situações contraditórias. Ou desaparece. É o caso de espetáculos que trazem não-
atores à cena, em busca de uma possível autenticidade extirpada do ator tradicional pelos longos anos de
ofício.
Não-atores aparecem neste jogo como uma caminho para imprimir autenticidade a performance: “Será
que tudo que se opõe à construção do acontecimento teatral, e portanto ao seu caráter encenado, produz um
efeito de autenticidade?” [6]
Cremos que a autenticidade que se busca resgatar, ingênua, desavisada, espontaneísta, esteja presente
na entrega ao jogo. Para entregar-se ao jogo, que transita entre a apresentação e a representação, é necessário
revelar o seu mecanismo, assumir as falhas do sistema, os acting-outs. Como o drama não tem mais espaço
enquanto atrativo principal do teatro, visto que a televisão e o cinema já o esgotaram, a vontade de jogar e de
ver jogar permanece. Fica a adrenalina causada pela articulação dos elementos, das regras do jogo.
Entender o ator como um “escritor de si mesmo”, de sua própria dramaturgia corporal, supõe que ele
seja o detentor da totalidade dos materiais que serão utilizados para a composição de sua partitura/atuação
Porém, nas expressões teatrais da contemporaneidade percebemos que o ator pode encontrar-se em
construções cênicas que ofereçam não só estímulos exteriores para a criação de sua dramaturgia, mas
também materiais.
O trabalho do ator no teatro de Robert Wilson pode ser um claro exemplo desta questão. O encenador
americano oferece um desenho de cena completo para o ator, mas este precisa preencher dramaturgicamente
esta forma, podendo-se estabelecer aí um processo de co-criação da escritura do trabalho do ator em cena,
onde lhe é oferecido a partitura e ele se responsabiliza pela criação da sub-partitura.
Percebemos deste modo que a dramaturgia do ator contemporâneo não se restringe a um trabalho
obrigatoriamente solitário, mas configura-se em um “ir-e-vir”, em uma troca entre ator e diretor, de
elementos estimulativos e compositivos, podendo configurar-se em uma co-criação com o encenador do
espetáculo, para utilizar o exemplo de Bob Wilson, não deixando nunca o ator de se responsabilizar por
questões fundamentais da criação atoral, como, por exemplo, o preenchimento da forma das ações físicas e
vocais, em busca de uma energia própria à representação.
Nas diversas expressões teatrais da contemporaneidade a que tivemos acesso, seja por bibliografia
documental, vídeos ou por contato direto, e que aproximam-se esteticamente do paradigma pós-dramático,
percebemos procedimentos reincidentes de atuação. Perante a diversidade estilística, percebemos quatro
modalidades de atuação que identificamos recorrentes em espetáculos de diversos e já consagrados
encenadores, sem a ingênua intenção de categorizar o teatro contemporâneo em uma teoria reducionista: a) a
codificação investigativa e criativa do ator (Grotowski, Barba); b) a codificação do diretor/marionetização do
ator (Robert Wilson); c) a performatização da atuação (Richard Schechner, Jan Lauwers) e, e) o teatro
participativo (Gary Hill, Bill Viola).
O experimento cênico Smoked Love desenvolveu-se focado na performatização da atuação, onde a
dramaturgia do ator constrói-se no trânsito entre a performatização do próprio self, entendido como material,
a performance, no sentido de desempenho virtuosístico, e ainda a codificação de partituras, não relacionadas
à representação mimética de personagens (realismo), mas quase sempre a movimentos de dança.
A auto-referencialidade presente na performatização da atuação leva a uma valorização do instante
presente, e obriga o performer a aprender a conviver tanto com o tempo/espaço real quanto ficcional. Do
mesmo modo, o performer assume e abandona as personagens, as quais não possuem aprofundamento
psicológico. A performance tem também a característica de show, tendo uma relação com o publico que se
assemelha ao circo, ao cabaret e ao music-hall.
Todavia, a característica mais acentuadamente performática desta modalidade de atuação não se apóia
na improvisação, em detrimento do treinamento e da codificação.
Como explica Schechner, “Performances artísticas, rituais ou cotidianas são todas feitas de
comportamentos restaurados, ações performadas que as pessoas treinam para desempenhar, que têm que
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repetir e ensaiar“ [7]. E ainda: “(...) o comportamento restaurado é – eu me comportando como se fosse outra
pessoa, ou eu me comportando como me mandaram ou eu me comportando como aprendi” [8].

4. Conclusão
O processo de criação de Smoked Love foi caracterizado pela busca da disjunção entre os quadros que
compõem a peça. Os recortes situacionais apresentados não são pautados pela continuidade ou
interdependência, já que não se trata de uma dramaturgia tradicional. Os fragmentos dos diferentes estados
apresentados durante o espetáculo sugerem ao espectador a articulação da narrativa, transformando-o em co-
criador de múltiplas narrativas e leituras possíveis.
Para tanto, as matrizes de composição criadas para os quadros do espetáculo não partiram de nenhuma
fábula ou personagem com aprofundamento psicológico, mas de propostas de performatização de situações.
O processo de criação das matrizes de atuação de Smoked Love levou em consideração a definição de
estado, imagem, objetivo e percurso para cada quadro do espetáculo, investigando, sobretudo, o
estabelecimento da relação cerimonial de compartilhamento desses estados com o público. Memórias,
sensações e impressões surgem das composições colocadas em cena, a partir dos seres ficionais que
emergem na atuação.
A experiência de amor, ódio e demais emoções, estados e sensações suscitados pelos relacionamentos
amorosos frágeis, descrentes e liquefeitos de Smoked Love, para utilizar a expressão de Bauman [9], traz a
cena a valorização da diegesis (narração) em oposição a mimesis (representação), na descrição de memórias e
lembranças vividas ou inventadas, surgidas na construção da dramaturgia da atriz.
A teoria e a prática se desenvolveram neste processo numa dialética semiótica, criando um território
no qual “a prática é concebida como ponto de partida e de chegada da construção do conhecimento“,
conforme nos coloca Mate [10].

Referências
[1] LEHMAN, Hans-Thies. Teatro pós-dramático. Trad. Pedro Süssekind. São Paulo: Cosac Naify, 2007.
[2] ISAACSSON, Marta. “A criação de Robert Lepage e o modelo pós-dramático”. In Urdimento – revista
de estudos em Artes Cênicas/Universidade do Estado de Santa Catarina. Programa de Pós Graduação
em Teatro. Florianópolis: UDESC/CEART, 2008, vol. 01, n. 11, p.149.
[3] RAMOS, Luis Fernando. “Por uma teoria contemporânea do espetáculo: mimesis e desempenho
espetacular“. In Urdimento – revista de estudos em Artes Cênicas/Universidade do Estado de Santa
Catarina. Programa de Pós Graduação em Teatro. Florianópolis: UDESC/CEART, 2009, vol. 01, n. 13, p.
71-84.
[4] LEHMANN, 2007: 336.
[5] GREINER, Christine: O corpo: pistas para estudos indisciplinares. São Paulo: Annablume, 2005.
[6] MATZKE, Annemarie M. De seres humanos reais e performers verdadeiros in Fischer-Lichte, Erika et.
al. (eds.). Wege der Wahrnehmung: Authentizität, Reflexivität und Aufmerksamkeit im zeitgenössischen
Theater. Berlin: Theater der Zeit, 2006. p. 39 – 47. Tradução Stephan Baumgärtel.
[7] SCHECHNER, Richard. “O que é Performance?”. Trad. Dandara. In Revista Percevejo, no. 11, 2003.
RJ, p. 27.
[8] Idem, Ibdem, p. 34.
[9] BAUMAN, Zygmunt. Amor Líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Trad. Carlos Alberto
Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004.
[10] MATE, Alexandre. “Processos de trans-forma-ção nos atos criativos: uma poética na troca de
singularidades“. In Urdimento – revista de estudos em Artes Cênicas/Universidade do Estado de Santa
Catarina. Programa de Pós Graduação em Teatro. Florianópolis: UDESC/CEART, 2009, vol. 01, n. 12, p.
11-20.

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SOBRE ANJOS E SUAS ASAS NA ARTE

Fernanda Maria Trentini Carneiro¹*;


1
Programa da Pós-Graduação em Arte Visuais – PPGAV
Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC

1. Introdução
As discussões apresentadas neste resumo são apontamentos gerais da dissertação de mestrado
vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais – PPGAV, pela Universidade do Estado de
Santa Catarina – UDESC, na linha de pesquisa em teoria e história das artes visuais. Como ponto inicial
partiu da assiduidade do estudo do anjo na relação entre imagem e espectador, suas considerações na história
da arte e a sobrevivência e persistência da imagem hoje, principalmente na arte contemporânea. A arte
constrói campos improváveis e prováveis, de possibilidades e de probabilidades e deste modo proporciona
blocos de sentidos. Nesta ocasião, quais são as potencialidades reveladas pela imagem sob o ponto de vista
de sua memória e seu tempo? A imagem na arte sugere afinidade como acontecimento, como
atravessamento, o futuro que existe para iluminar no presente os aspectos do passado. A imagem do anjo
verificado no tempo e no espaço aparece como sintoma necessário às insurgências humanas.

2. Método
Este trabalho propõe ampliar as condições de acesso a um saber que seguramente oferecerá mais
consistência e densidade, tanto ao pensamento artístico, aos procedimentos plásticos e às operações
conceituais, como contribuição na formação tanto dos que se dedicarem à pesquisa como ao ensino de arte.
Este estudo foi concretizado por meio da pesquisa bibliográfica sob viés teórico e histórico da arte, de valor
mais filosófico e especulativo, sendo uma operação por colagens e conexões, com possibilidade de novas
interrogações e interlocuções. O levantamento partiu dos referenciais bibliográfico e virtual que puderam
fazer conexões com o tema abordado. Para elaboração deste trabalho estabeleceram interlocuções
fundamentadas em teóricos como Gilles Deleuze, Georges Didi-Hubermann, Merleau-Ponty, Walter
Benjamin, entre outros. Entende-se que acabou sendo uma saída que opera por montagens, mesmo sob o
risco de perda da unidade no assunto escolhido como problemática - os anjos. Possibilitou, quem sabe, um
enigma, entendendo este como algo que suscita o desejo em um movimento de ensaiar perguntas e respostas,
de fazer associações inusitadas.

3. Resultados e Discussão
O trabalho está dividido em três capítulos que apontaram considerações do anjo, da história e da arte.
No primeiro capítulo, constância e variação, o estudo apresentou a presença do anjo ao longo da construção
simbólica da humanidade. A imagem alada esteve fortemente ligada a arte e a religião. Sendo considerados
os intermediários entre o céu e a terra, dotados de preceitos divinizados, na antiguidade eram vistos como
deuses, seres protetores, associado aos estragos, a proteção divina, as transformações terrenas e ao
comportamento humano. Na arte religiosa cristã, o anjo se fez necessário como mediador entre o sagrado e o
profano. As imagens aladas foram construídas tendo como referência modelos artísticos passados e de
diferentes culturas. As alegorias, sobretudo nos séculos XVI e XVII, desenvolvida pela Iconologia [1], de
Cesare Ripa, foram utilizadas como fonte referencial. A construção figurada alada serviu para demonstrar a
amplitude de Deus e sua potência. As imagens introduzidas e produzidas, principalmente nas igrejas, são
para recordar as ações divinas e as atitudes esperadas dos homens da terra. O aprofundamento e a
mobilização de novas formas de representações simbólicas foram predominantes nos séculos XVI e XVII,
devido as divergências de estruturas sociais, econômicas e religiosas na Europa e que atingiram o Novo
Mundo, como o Brasil. Dessa tensão, deu-se o nome de Barroco. No Brasil a arte caracterizada por unidades
estéticas e ideológicas, tornou-se uma arte colonial luso-brasileira. Recorremos a João Adolfo Hansen, em
seus estudos Notas sobre o “barroco” [2] e Teatro da memória [3], sobre a aplicação do termo “barroco” no
período seiscentista do Brasil, visto que este período ultrapassou o tempo comum e estava elaborado sob o
olhar da retórica, bem como a realização do teatro sacro. O Padroado português era tido como referência
fundamental da vida religiosa do período. O decoro neste período foi o cerne na execução das artes nas
instituições religiosas, ou seja, o uso correto dos modelos reconhecidos e adequados. Para uma abordagem
sobre o decoro recorreu-se A maravilhosa fábrica de virtudes [4], de Rodrigo Bastos, sobre o estudo do
decoro da região de Vila Rica em Minas Gerais e questões gerais deste conceito executado no Brasil. A

*
Autor Correspondente: fetrentini@hotmail.com
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construção das imagens com referências retóricas foi garantia da soberania e difusora dos dogmas de forma
clara e persuasiva. A presença do anjo tornou-se um símbolo figurativo e decorativo, como um figurante
neste cenário do teatro sacro. Como questão persuasiva, relacionamos Imagem e Persuasão [5], de Giulio
Argan, sobre a função da imagem e a retórica na elaboração imagética. E na constituição decorativa foram
sempre baseadas na expectativa econômica regional, sendo vistas diferentes composições nas igrejas do país,
sem perder seu foco decoroso. Na arte, a representação dos símbolos e pela iconografia cristã, os seres
alados, bem como os anjos, são fonte de referência e modelo como espelho humano.

Fig. 1 Capela de Nossa Senhora das Necessidades (1755).


Florianópolis, SC. Foto da autora, 2009.

No entanto, o anjo esteve por um período na história da arte em suspensão, esquecido, mas não
extinto. No final do século XIX e início do século XX, o mundo percorria um trajeto de mudanças e
transformações, constituindo um mundo de aparência, de espetáculo. Neste momento, o anjo aparece como a
passagem do divino ao humano. No segundo capítulo, presença e ausência, o aparecimento de anjos se
torna alegoria da modernidade justifica a imagem singular, para interpretar algo do campo universal das
significações. O anjo que só pensa na catástrofe, pois desconfia da revolução humana. Uma alegoria que
mostra o caráter efêmero e frágil da vida humana. Os aspectos alegóricos foram estudados a partir das obras
de Walter Benjamin, como Origem do Drama Barroco Alemão [6] na relação entre anjo, alegoria e
modernidade, a ruína do presente como resquícios de um passado e o papel do anjo diante da experiência do
choque, da catástrofe e sua relação com a humanidade e o espectador. Por meio de seu pensamento sobre a
obra Ângelus Novus de Paul Klee, no capítulo Sobre o conceito de história [7], que percebemos a forte
presença do anjo em seus estudos como referente na alegoria e espanto pela catástrofe instaurada devido ao
progresso da época. Walter Benjamin apresenta questões da alegoria na modernidade.
Trouxemos inicialmente João Aldolfo Hansen, em Alegoria – construção e interpretação da metáfora
[8] sobre um panorama do estudo da alegoria e o desenvolvimento desta na arte e literatura de uma forma
geral, como base para entender o que denota a alegoria como um todo. Logo Maria João Cantinho, no artigo
O Flaneur e a Flanerie na lírica de Baudelaire: a cidade como alegoria da modernidade [9], nos apresenta
Walter Benjamin como estudioso da alegoria da modernidade, a experiência vivida do choque, propondo a
figura do anjo como imagem que deseja salvar a humanidade da catástrofe que se construiu. Apresentamos
também autores que estudam a dimensão alegórica do anjo no pensamento de Benjamin, como Jeanne Marie
Gagnebin com a História e narração em Walter Benjamin [10] e Sete aulas sobre linguagem, memória e
história [11], bem como Márcio Seligman-Silva com o artigo Catástrofe, história e memória em Walter
Benjamin e Chris Marker: a escritura da memória [12].
Desenvolvida por Walter Benjamin, o anjo lança o olhar sob sua representação e papel importante na
salvação da catástrofe. Reporta-nos a vida de incertezas, de luto e de ruínas, das impossibilidades, do
sentimento de melancolia. Ao invés de comemorar, enluta-se. O anjo possui o desejo de finitude, vivenciar
sensações e sensibilidades humanas, inclusive a morte. O anjo está para a queda como o homem está para a
morte. Esta queda é abordada por Emanuele Coccia, em conferência sobre Anjos [13] e seu estudo da relação
do anjo com o poder, do poder divino por excelência, bem como sua perda da potência divina. No entanto,
impossíveis de se tornarem Deus, eles simulam e se assemelham a Ele. Desta queda relacionamos o anjo
acompanhado da morte, que se tornou vestígio, resquício do tempo, testemunha dos acontecimentos. Por
isso, muitos anjos são encontrados nos cemitérios, uma escavação da memória humana, que um dia estará
também naquele lugar.
A imagem na arte é como um biombo que fica entre o espectador e o mundo. Na relação do entreolhar
espectador e arte, Georges Didi-Hubermann, em seu livro O que vemos, o que nos olha [16], apresenta o
entre ambos os sujeitos de uma unicidade. Ao pensar na imagem do anjo como acontecimento, utilizamos
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

este conceito dado por Gilles Deleuze, em A lógica do sentido [14], quando remetemos ao sentido que é
produzido no espaço e no tempo, sendo inesgotável de significação e abre campo de proposições para
possibilidades e probabilidades. Nesta produção de sentido a imagem do anjo é detida de pontos do passado
e outros lançados para o futuro, será vista como Potência da imagem [15], defendido por Raul Antelo.

Fig. 02 - Albert Dürer. Melancolia I (1514).Gravura em metal, 239 x 189 mm.


Disponível em <HTTP://www.wga.hu>, acesso em 10 out. 2009.

Na arte contemporânea, a imagem anjo aparece como sobrevivência e metamorfoses no paradoxo do


mundo que não define ao certo o bem e o mal. Mesmo incorporado como temas ordinários, como anjo da
auto-ajuda ou fantasia contemporânea, detém todo o conhecimento das memórias apagadas. Mas há uma
persistência e reelaboração, como mostra o terceiro capítulo. Quando o anjo se humaniza, as formas em
que isso acontece são de perceptos e afectos. A imagem do anjo, mesmo deslocado neste sentido de sua
religião, retorna aos olhos do espectador como potência visível do invisível. E esta relação que Merleau-
Ponty traz em suas obras sobre O olho e o espírito [17] e O visível e o invisível [18], aquilo que é percebido
na leitura de cada um de nós, em contato com a obra. Não mais na construção da forma corporal, mas a
visibilidade do impossível e improvável. Isto é, só podem ser vistos pelo seu oposto, pelo peso, matéria
inalcançada, como debilitado, decaído, suspenso e impedido. O anjo, aqui, será aquele que já partiu, se
ausentou. Nisto, a arte criará uma substância para que esse anjo sobreviva, a partir do século XX, pelas
avarias, pelo informe. É nesta reelaboração de seu aparecimento como sobrevivência da forma que Henri
Focillon propõe em A vida das formas [19], a observação das imagens como configuração de novas
resoluções sem perder sua essência. Arte hoje nos permite permear nas fissuras em que nos faz pensar, além
das possibilidades de experimentações múltiplas. Com as idéias contidas em Mutações [20], Adauto Novaes
e em Mestiçagem na arte contemporânea [21] por Icléia Catani, relacionam a humanidade e o anjo na sua
vivência intercomunicante, na captação das forças como reflexo contemporâneo O anjo na arte
contemporânea aparece justamente na condição que o homem vive: apreensivo, exposto, suspenso,
imobilizado, depressivo, debilitado, efêmero. A cartografia de anjos apresentada na arte contemporânea neste
trabalho procurou mostrar a sua permanência, suas transformações sem perder seu cerne e como se cria um
campo de potência para além de sua própria imagem.

Fig. 03 - Ron Mueck. Angel (1997). Técnica mista (110x87x81cm). Disponível em


http://www.jamescohan.com/artists/ron-mueck/, acesso em 24 set. 2009.

4. Conclusão
O anjo, ser incorporal, foi visto como figura possível e visível no campo da arte e na construção
imaginária do homem. Os blocos apresentados em capítulos mostraram a potência da imagem como espelho

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da condição humana e como potência divina ou da perda destas. Observamos que o anjo esteve presente em
todo espaço e tempo e sua imagem foi empreendida como lugar de reflexão e como problemática de
pesquisa. Se o anjo converteu-se em imagem com a arte, propôs que a gama de leitura e relações teóricas
estabelecidas altere o individuo, instigando-o a refletir para além de sua realidade, seu cotidiano,
principalmente sobre a própria arte e a exercer uma experiência estética que o leve a transformar-se. Vimos
que o anjo, como figura alada, independentemente de sua memória e de seu tempo, revela potencialidades
desvendadas e que se relacionam principalmente como reflexo de sua figura e da condição humana. Ela, por
vezes, em determinado momento, aparece esquecida aos olhos do homem. Porém, permanece viva nos
vestígios imperceptíveis e despercebidos. Nas fendas da catástrofe e do progresso, vistos principalmente na
modernidade como qualidade de alegoria. Esta proximidade com as características humanas também foram
vistas na contemporaneidade.
A disposição do anjo na arte hoje cria um campo de potência para além de sua própria imagem. Cria
um sentido e um referencial para o propósito da vida. Talvez, sem estes seres incorporais dotados de
visibilidade próxima à condição humana, a vida continuaria neste absurdo que se apresenta hoje. Talvez a
persistência seja uma forma de esperança ou que seja um referencial de propósito a se perseguir. Apresenta-
se disforme e por avarias, não é dotado de singeleza, se mostra como espelho. Aproxima da condição
humana de hoje e aparece como esperança de retomada, como vimos em Coccia, da função a que vieram
designados. O anjo é interferência, potência que rememora a felicidade possível em meio ao tempo moderno
e contemporâneo.

Referências
[1] RIPA, C. Iconologia. Tradução de Juan Barja e Yago Barja. Madrid: Akal, 1909.
[2] HANSEN, J. A. Notas sobre o "barroco". Revista do IFAC, Ouro Preto, p. 11-20, dez 1997.
[3] HANSEN, J. A. Teatro da memória: monumento barroco e retórica. Revista do IFAC, Ouro Preto,
p. 40-54, dez 1995.
[4] BASTOS, R. A. A maravilhosa fábrica de virtudes: o decoro na arquitetura religiosa de Vila
Rica, Minas Gerais (1711-1822). USP. Tese de Doutorado. São Paulo, p. 437. 2009.
[5] ARGAN, G. C. Imagem e persuasão: ensaios sobre o barroco. Tradução de Maurício Santana Dias.
São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
[6] BENJAMIN, W. Origem do drama barroco alemão. Tradução de Sérgio Paulo Rouanet. São
Paulo: Brasiliense, 1984.
[7] BENJAMIN, W. Sobre o conceito de história. In: BENJAMIN, W. Magia e técnica, arte e política:
ensaios sobre literatura e história da cultura. Obras escolhidas. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, v. 1, 1987.
[8] HANSEN, J. A. Alegoria: construção e interpretação da metáfora. São Paulo; Campinas: Hedra;
Editora UNICAMP, 2006.
[9] CANTINHO, M. J. O flâneur e a flânerie na lírica de Baudelaire: a cidade como alegoria da
modernidade. Revista Artcultura, Uberlândia/MG, v. 5, n. 7, junho-dezembro 2003.
[10] GAGNEBIN, J. M. História e narração em Walter Benjamin. São Paulo: Perspectiva, 2007.
[11] GAGNEBIN, J. M. Sete aulas sobre linguagem, memória e história. 2. ed. Rio de Janeiro: Imago,
2005.
[12] SELIGMANN-SILVA, M. Catástrofe, história e memória em Walter Benjamin e Chris Marker: a
escritura da memória. In: SELIGMANN-SILVA, M. História, memória, literatura: o testemunho na Era
das catástrofes. São Paulo/Campinas: UNICAMP, 2003.
[13] COCCIA, E. Anjos. Pensamento do Século XXI. Conferência. Florianópolis: Universidade Federal
de Santa Catarina (UFSC). 2010.
[14] DELEUZE, G. A lógica do sentido. São Paulo: Perspectiva, 2007.
[15] ANTELO, R. Potências da imagem. Chapecó: Argos, 2004.
[16] DIDI-HUBERMANN, G. O que vemos, o que nos olha. Tradução de Paulo Neves. São Paulo: Ed.
34, 1998.
[17] MERLEAU-PONTY, M. O olho e o espírito. Tradução de Paulo Neves e Maria Ermantina G.G.
Pereira. São Paulo: Cosac&Naify, 2004.
[18] MERLEAU-PONTY, M. O visível e o invisível. Tradução de José Artur Gianotti e Armando Mora
D'Oliveira. São Paulo: Perspectiva, 2007.
[19] FOCILLON, H. A vida das formas. Seguido de Elogio da mão. Lisboa: Edições 70, 1988.
[20] NOVAES, A. Mutações. São Paulo; Rio de Janeiro: SESC SP; Agir, 2008.
[21] CATTANI, I. Mestiçagens na arte contemporânea. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2007.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

SOFTWARES DE MÚSICA LIVRES: UMA PROPOSTA DE INOVAÇÃO E


SUSTENTABILIDADE PARA A EDUCAÇÃO MUSICAL

Gabriel Ferrão Moreira1*


1
Mestrando em Música do PPGMUS - UDESC

1. Software Livre e Educação

As inovações tecnológicas das últimas décadas, especialmente na área da informática tem


proporcionado diversas maneiras de se trabalhar a música aliada a softwares de computador. Tais inovações
tem trazido grandes oportunidades, em potencial, para áreas como a educação musical [4] que é, em diversos
locais do Brasil, carente de recursos materiais para se trabalhar os seus conteúdos, em suas diversas facetas,
na sala de aula. A utilização da informática nos diversos processos educativos está presente nos Parâmetros
Curriculares Nacionais [2].
Sendo alto o custo dos programas mais conhecidos e utilizados para o trabalho com música, a simples
existência desses programas não beneficia muitas instituições de ensino públicas que não podem adquiri-los
por falta de verbas dedicadas a isso no orçamento. Nesse ponto se percebe uma questão central: tanto nas
universidades onde são formados os professores de música quanto nas escolas nas quais estes atuarão, não há
condições de se trabalhar com esses softwares pagos. Ainda que se possa trabalhar com esses, quando a
universidade tem condições de obtê-los em número suficiente, nas escolas esse conhecimento não poderá ser
utilizado. A utilização desses softwares e a obtenção de seus benefícios se tornam insustentáveis nesse
esquema. As únicas opções nesse contexto são abdicar do uso dessas ferramentas poderosas e úteis ou usá-
las ilegalmente, com cópias piratas. Outra dificuldade encontrada no uso da maioria desses programas é a
impossibilidade de alterá-los conforme a necessidade e contexto do lugar onde são usados – liberdades
importantes para um software que pretende ser educacional.
Como avaliar a dimensão dessa proposta e levar em conta as possibilidades de inovação da utilização
de softwares musicais tanto como recursos técnicos e materiais da aula como na abordagem dos conteúdos?
Em que instância dessa proposta se percebe a sustentabilidade presente no título desse resumo?
Existem, e vêm sendo desenvolvidos softwares livres e gratuitos que possibilitam as mesmas
atividades basilares com música que os programas pagos e fechados (ou seja, com código-fonte fechado, o
que significa que seu uso é restrito pelo programador para apenas alguns fins). Exemplos desses softwares
são o Rosegarden, Ardour e Audacity – todos para o sistema operacional Linux – que substituem,
respectivamente, o Sonar®, o Nuendo ®, e Sound Forge (para Microsoft Windows) em suas funções.
A utilização de softwares musicais proporcionam mudanças inovadoras, e os softwares musicais livres dão
sustentabilidade a essa utilização. Dessa forma as inovações tem maior alcance, alcançando mais
comunidades escolares e indivíduos em geral, na democratização da informática [5].

2. Inovação e Sustentabilidade no uso de software livres na educação musical

Nesse ponto se percebe a ligação entre inovação e sustentabilidade que o uso de software de música
livre proporciona para a educação musical como um todo.
1. Inovação:
a. Inovação na inserção de tecnologias de informática (TI) – presentes na vida de grande parte
da população escolar; na proposta de autonomia que a utilização das TI proporciona,
autonomia essa parte fundamental do processo criativo em música;
b. Inovação na ampliação das possibilidades educativas fruto dos recursos materiais que a
tecnologia informática fornece ao professor e ao aluno.
2. Sustentabilidade:
a. Em ser gratuito e livre há corte substancial de gastos nessa tecnologia;
b. Torna o aprendizado e ensino do uso de tecnologias musicais sustentável, quando utilizado
na universidade e escola;
c. Torna possível a elaboração de cursos de formação continuada para a inclusão digital de
professores com baixo preço de manutenção;
d. Os softwares podem ser oferecidos às escolas, professores e alunos indiscriminadamente,
pois sua cópia e modificação são liberadas;

*
gfmoreira@ymail.com
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

e. A utilização de softwares livres caminha de acordo com os projetos de informatização das


escolas pelo Governo Federal.
A modernização das tecnologias de gravação, edição e reprodução musicais abriram e abrem espaço
para inovações primeiramente no desenvolvimento e produção musicais de forma geral e conseqüentemente
na forma de se fazer educação musical. Isso não apenas se pensando em recursos materiais para a aula.
O próprio tópico tecnologias musicais pode ser entendido como um tema essencial dentro dos conteúdos
programáticos da educação musical na escola básica, haja vista que é fundamental para a compreensão da
maneira que ouvimos a música e como ela é produzida e entregue para os consumidores, bem como para a
apropriação e entendimento de tais processos através do manuseio dos mesmos pelos alunos.
Contudo, como foi dito anteriormente, os altos custos dessas tecnologias (e também do hardware
necessário para executá-las) tornam, muitas vezes, seu uso inviável para as instituições públicas de ensino
onde elas poderiam servir como ampliação de possibilidades educativas. Nesse sentido, o uso dos softwares
livres e gratuitos [3] é libertador, mudando a equação tecnologia e custo, facilitando sua possibilidade de uso
[6].

Fig. 1 Equação da produção de software de música proprietário

Fig. 2 Equação da produção de software de música livre

O rompimento do monopólio na cadeia de produção fornece uma possibilidade de realização das


mesmas tarefas, sendo gratuita. As implicações dessa gratuidade são várias, entre elas a universalização do
uso do software. Outra implicação é a necessidade de menor investimento na obtenção de computadores,
uma vez que os softwares livres exigem menor performance das máquinas. Essas duas implicações do uso do
software livre talvez possam esclarecer o interesse do Governo Federal pelo uso de sistemas operacionais
livres nos computadores das escolas públicas. A existência do Comitê de Implantação do Software Livre do
Governo Federal, bem como os inúmeros links de notícias e matérias sobre software livre no portal Inclusão
Digital – e o recente programa Um Computador por Aluno – são demonstrações de que o Governo Federal
tem percebido as vantagens do software livre, tanto nas propostas inovadoras da utilização do software,
como na viabilidade de seu uso.1
O software livre pode ser um facilitador nas dinâmicas escolares de música. Ainda fruto da sua
gratuidade, ele pode ser copiado e instalado nas escolas e universidades, assim como ofertado a alunos.
Cursos de Formação Continuada dos softwares dentro de computadores que possuem os próprios softwares
instalados serão facilitados pelos custos e facilidade de acesso aos produtos pelos professores, que poderão
experimentá-los e estudá-los em casa. O desenvolvimento recente desses softwares tem os tornado amigáveis
(simples e intuitivos) para a utilização massiva, como a suíte de produtividade OpenOffice, que é utilizada
em todos os computadores da Universidade Federal de Santa Catarina, no lugar do Microsoft Office.

1
Para observar os links e notícias sobre software livre no portal Inclusão Digital, acesse
http://www.inclusaodigital.gov.br/search?SearchableText=software+livre
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

No quesito inovação, tanto o uso do software no trabalho escolar, quanto a própria tecnologia em
debate na aula de música são mudanças positivas, que rumam para uma maior relevância do ensino de
música na escola; o estudo de uma música que é mediada pela tecnologia, onde receber o poder cultural que
possui. Pelo uso desses softwares os alunos discutirão temas como esse e se apropriarão de técnicas restritas
aos meios profissionais de produção musical.
Através do software livre e sua relação particular com a liberdade de modificação do programa e sua
livre distribuição, a escola tem a possibilidade de avançar um pouco mais na compreensão do mundo, e no
caso específico desse resumo, na compreensão e produção da música de maneira sustentável. É sobre essas
premissas que minha apresentação será construída.

Referências

[1] ADORNO, Theodor W. 1986. A Indústria Cultural, in Sociologia: Theodor W. Adorno,


G. Cohn, org., São Paulo: Ática, pp. 92-99.

[2] BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais - terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: Arte.
Brasília: MEC/SEF, 1998.

[3]CAMPOS, Augusto. O que é software livre? [online]. Disponível na internet: HTTP://br-


linux.org/linu/faq-softwarelivre. Acessado em 30/06/2010.

[4] IMMIG, Angelina. Aproveitamento pedagógico das salas informatizadas em escolas da rede pública
municipal de Florianópolis: possibilidades e limites. Monografia (especialização) – UDESC, CCE, 2003.

[5] LÉVY, Pierre. O que é o virtual? São Paulo: Ed.34, 1996.

[6] NUNES, Krishnamurti Lelis Lima Vieira. Aspectos sociais do uso do software livre. Anais Eletrônicos,
in: 1ª Mesa Redonda sobre Software Livre na Educação. Salvador:2003. Disponível em:
http://www.pcs.usp.br/~pedro.correa/conisli_mesa_redonda.zip. Acessado em 30/07/2010.

Agradecimentos
A seção agradecimentos, se houver, deverá vir após as referências e não deverá ser numerada.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

TRABALHANDO COM AS MÚLTIPLAS LINGUAGENS: POSSIBILIDADES DE USO DE


MÚSICA COMO RECURSO DIDÁTICO NO ENSINO INSTRUMENTAL DA LÍNGUA
PORTUGUESA NO CASO POLICIA CAMINERA URUGUAYA

Andriza Pujol de Ávila 1*; Guilherme da Silva dos Santos 2


1
Universidade Federal de Santa Maria/ RS
2
Universidade Federal de Santa Maria/ RS

1. Introdução
O presente trabalho objetiva relatar a experiência de elaboração de material para alunos policias
uruguaios em contexto de aprendizagem da língua portuguesa como língua estrangeira do Curso de
português para policiais uruguaios, ministrado pelo Centro de Ensino e Pesquisa de Línguas Estrangeiras
Instrumentais (CEPESLI) nas dependências da Universidade Federal de Santa Maria – RS. Desde o seu
surgimento no Brasil na década de 1970, com trabalhos direcionados ao ensino-aprendizagem da língua
francesa e, ao final dessa década (por volta do ano de 1978), ao ensino da língua inglesa – este último
direcionado à leitura –, o ensino de línguas instrumentais tem-se limitado apenas a estratégias de leitura em
língua estrangeira, quando, na realidade, a abordagem instrumental vai muito além do ensino dessa
habilidade: abarca, também, as outras habilidades básicas – fala, escrita e audição [4]. Essas quatro
habilidades no ensino de uma língua estrangeira, dependendo da meta de cada aprendiz, deverão receber
maior atenção nas propostas didáticas implementadas em sala de aula, tal como na abordagem instrumental
de línguas estrangeiras. Assim sendo, a fim de atender as principais necessidades do aluno do ensino
instrumental, faz-se necessário produzir um material didático que esteja adequado à sua área de atuação [2].
Uma vez que os policiais uruguaios necessitavam mais diretamente das habilidades da fala e da audição,
procurou-se explorá-las ao longo do curso, fazendo uso do recurso áudio-musical na elaboração de material
complementar de ensino aplicado em sala de aula. Cabe salientar que a utilização dos recursos áudios-
musicais é de elaboração complementar, pois, para a confecção do material didático utilizado nas aulas, foi
realizada uma pesquisa in lócus, para saber as reais necessidades desses policiais em seu ambiente de
trabalho. Tal material de ensino, ainda, no seu enfoque geral, não engloba a necessidade de trabalhar a
gramática da língua portuguesa. Caberá aos docentes em exercício analisar onde e quando deverão utilizar-se
dela para resolver alguma dúvida. Na visão de [1] tal complementação na produção de material didático é, na
verdade, uma tentativa de o professor transformar a aprendizagem em um processo significativo para o
aluno, o que se reflete de maneira direta em seu desempenho como aprendiz.

2. Método
Para a realização deste trabalho, buscou-se, na escolha e delimitação do tema a ser trabalhado, levar
em conta a centralização no foco de desenvolver e estimular a oralidade em língua portuguesa para
aprendizes estrangeiros policiais Camineros uruguaios. Para tanto, foi escolhido o gênero música para
desenvolver tal proposta. A música, apreciada por muitos como uma forma de linguagem universal, em
contexto de ensino-aprendizagem, é um fator desencadeador de múltiplas possibilidades interdisciplinares,
favorecendo o desenvolvimento de ensino de uma língua estrangeira [3]. Foram escolhidas duas (2) canções
do estilo Sertanejo para a elaboração do material extra. A primeira intitulada “Rédeas do Possante”, de
autoria da dupla César Menotti e Fabiano; e a segunda de nome “Vida de Caminhoneiro”, de Bruno e
Matheus. Tais seleções da música e do estilo musical justificam-se por serem melodias que abordam um rico
vocabulário remetente a rodovias, trânsito, tipos de veículos que, para um público de alunos policiais
camineros chama a atenção, por tais objetos fazerem parte da sua rotina de trabalho. A escolha por tais
canções também se justifica por apresentarem diferenças em termos de ritmo: a primeira é mais pausada,
facilitando melhor o entendimento da língua alvo em estudo; a segunda, por sua vez, apresenta um ritmo
mais acelerado, favorecendo, assim, uma avaliação do que se aprendeu. O método de aplicação desse
material constituía-se da seguinte maneira: no primeiro dia de aula a primeira canção era trabalhada em um
certo ponto da dinâmica de aula. Os alunos eram convidados a escutarem-na e, com sua letra em mãos,
deveriam fazer o exercício de preencher as lacunas com as palavras correspondentes em língua portuguesa.
Por a melodia ser pausada e “falada”, os alunos encontravam menos dificuldades para realizar a tarefa. Na
dinâmica que introduziu a segunda canção, os alunos já se encontravam em um estágio mais avançado do
ensino da língua portuguesa. A metodologia utilizada para a aplicação dessa tarefa foi a de fazer uma
dinâmica em que, em um primeiro momento, apenas a canção era apresentada para os alunos, sem que
pudessem acompanhá-la com a letra em mãos. O objetivo da proposta era levá-los a perceber, ao longo da

*
Autor Correspondente: andriza_avila@yahoo.com.br
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

execução, vocábulos que remetessem a elementos pertencentes ao campo semântico da estrada, tais como,
por exemplo, palavras do tipo: “caminhão”, “estrada”, “velocidade”, “acelero”, “carreta”. Com o uso de uma
canção que apresentava um ritmo mais acelerado do que o da primeira, objetivou-se perceber se os alunos já
possuíam uma certa carga de conhecimento da língua em estudo, uma vez que, no recurso empregado,
utiliza-se uma linguagem diferente da do professor em sala de aula.

3. Resultados e Discussão
Os resultados obtidos nessa pesquisa não podem ser caracterizados apenas como quantitativos, através
do número dos alunos que demonstraram aprender com o uso da musica, essa é pesquisa é também
qualitativa pelo resultado satisfatória que apresentou, demonstrando o progresso dos alunos na aprendizagem
e o aprofundamento de conhecimento semântico e lexical. Esse trabalho mostrou que um aluno estrangeiro
em contexto de aprendizagem da língua portuguesa é capaz de aprender, de forma instrumental, um bom
vocabulário da língua em estudo. O gênero canção, nesse sentido, ajuda como recurso auditivo que favorece
um bom exercício da dupla audição e oralidade.

4. Conclusão
Sabe-se que o ensino instrumental de língua estrangeira deve atender diretamente os interesses dos
alunos, para tanto o material didático utilizado deve estar baseado em recursos autênticos que se assemelhem
a realidade dos alunos e desenvolva competências para atuar nas situações que lhes serão mais comuns.
Assim, foi possível perceber que o uso da música sertaneja referente à “caminhoneiros” como ferramenta de
ensino apresenta resultado positivo em sala de aula do referido curso, por apresentar vocabulário relativo a
profissão de policial rodoviário e despertar motivação para aprendizagem, pois permite um momento
descontração entre os alunos que aprendem cantando.

Referências
[1] FERRO, Jeferson, BERGMANN, Juliana. Produção e Avaliação de Materiais Didáticos em Língua
Materna e Estrangeira. Curitiba: IBPEX,2008.

[2] LEFFA, Vilson J. Como produzir materiais para o ensino de línguas. In _ (Org.) Produção de
materiais de ensino: teoria e prática. Pelotas: Educat, 2003 .

[3] MICHELS, R. LAMB FENNER, A. A música como uma das possibilidades para desenvolver a
língua inglesa nas 5ªs séries do ensino fundamental. Disponível em
http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/1941-8.pdf, acesso em 13 de julho 2010.

[4] RAMOS, Rosinda C.G. A abordagem instrumental no Brasil. Um projeto, seus recursos e seus
desdobramentos. Campinas, SP: Mercado de Letras; EDUC, 2009.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

TRANSARTE IV
TRANSDISCIPLINARIDADE E INTERSEMIOSES NO
ENSINO DA ARTE NÃO FORMAL.

Professora Doutora Sandra Regina Ramalho e Oliveira, UDESC, Milka Lorena Plaza Carvajal UDESC, Fabian
Giese, UDESC, Sarah Push Nogueira, UDESC

1.Introdução:
Esta pesquisa tem como objetivo testar uma abordagem transdisciplinar e inter-semiótica, que
correlacionasse as linguagens musical, cênica, visual e literária, em educação não formal. Parte-se de princípios
teóricos e metodológicos defendidos na tese de doutorado da coordenadora desta proposta, intitulada Leitura de
Imagens para a Educação. No primeiro semestre de 2005, foi desenvolvida uma experiência similar à que aqui
é proposta, em uma escola pública federal de Santa Catarina. Tendo em vista os resultados desta experiência,
ela é considerada como um piloto do presente projeto; e mais duas etapas já foram realizadas, uma em 2006 e
outra em 2007. Agora, a intenção foi testá-la em quatro instituições de ensino não-formal, resultando em um
novo projeto de pesquisa, integrando a série.

2.Método
Mudou o público, a metodologia, os campos de pesquisa, o grupo de participantes; ampliaram-se as
linguagens, pois se acrescentou a literatura; e mudou o estatuto do ensino, de formal para não formal.
Permaneceram os princípios da transdisciplinaridade por meio das relações inter-semióticas, ou seja, transitou-
se entre as quatro linguagens, ou entre as distintas estruturas linguísticas produtoras de significação. Foi
estudada a base teórica e, em seguida, planejadas as aulas das quatro oficinas, a partir do ROBAC (Roteiro
Básico Articulador de Conhecimentos). Durante a ministração das oficinas, os bolsistas se encontravam
semanalmente para trocar experiências e redimensionar as próximas aulas. Os participantes foram objeto de
uma avaliação prévia, que foi repetida e comparada ao final do processo.

3. Resultados:
3.1 – A experiência focada nas Artes Visuais
A oficina de artes plásticas foi realizada com um grupo de pessoas da terceira idade, com faixa etária
entre 65 e 75 anos. Foi seguido o mesmo roteiro elaborado para a Oficina Literária, ministrada pela mesma
pessoa; entretanto, os exercícios foram de artes plásticas. Foram usadas duas horas semanais para a experiência,
durante dois meses. No primeiro encontro, houve análise de um quadro. Os participantes deveriam escrever o
que a obra lhes dizia. Seus textos permaneceram guardados até o último encontro, quando foram comparados
com a análise feita sobre a mesma obra, depois da experiência da oficina. Estudaram as relações entre as
diferentes linguagens e as analogias entre elas. Após, foram descritos os elementos constitutivos da linguagem,
mostrando textos em distintas linguagens e estabelecendo- se analogias entre textos verbais e visuais.
Constatou-se que o grupo tinha dificuldade para manter a concentração; o período foi reduzido para quarenta e
cinco minutos semanais. Ainda pediram exercícios lúdicos, de coordenação motora e para agilizar a memória.
As pessoas que integraram este grupo não tiveram interesse no assunto apresentado; foram resistentes
ao novo e perdem a motivação, como se fossem crianças. Para mostrar de maneira rápida e eficiente as
analogias, foi apresentado um filme de Charles Chaplin. Os participantes então reagiram com interesse e
descreveram ponto, linha, curvas, movimento e textura. Foi elaborado um desenho de tema livre. Um dos
participantes chamou a atenção ao dizer que no filme vira movimento, musicalidade, mas não via a estrutura
narrativa, deixando claro que não via sentido em fazer analogias entre linguagens.
No terceiro encontro, lembramos as atividades anteriores e estudamos os elementos constitutivos da
linguagem. Como exercício, foram elaboradas esculturas em papel. Ouvindo música, responderam de maneira
diferente. Foi trabalhado um soneto do poeta Cruz e Sousa. Foi constatado que as pessoas nesta faixa etária
sentem a necessidade de ver e tocar, como num jogo lúdico de crianças.
No quarto encontro estudamos o contraste em imagens do livro História da Beleza, de Umberto Eco.
De todos os contrastes que foram percebidos, alegria, tristeza, claro, escuro, luz e sombra, demos ênfase ao
claro e escuro relacionando com a música, pois a cor branca é a reunião de todas as cores, análoga è reunião de


Autor Correspondente: ramalho@udesc.br
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todos os sons; e o preto, à ausência de som, ao silêncio. Os participantes fizeram analogias com o teatro no uso
das máscaras que expressam emoções, bem como à mímica. Da literatura, lembraram a utilização de versos e
contos, longos e curtos. Como exercício de fixação, criaram imagens expressando contrastes de vários tipos.
No quinto encontro estudamos a repetição, constatando que há repetição em todo lugar, na natureza,
nas artes e na vida. Analisaram imagens com elementos repetitivos, destacando diferenças e semelhanças.
Pode-se verificar mais aceitação da proposta, pelo fato de se ter adotado o jogo, o caráter lúdico, o fazer, junto
com as discussões. Trabalhou-se com massa de modelar e foram realizadas figuras repetidas.
Nos últimos três encontros trabalhamos com figuras geométricas recortadas em papeis coloridos que
foram coladas em folhas brancas; foi quando trabalhamos os processos de significação, primeiro nas artes
plásticas e depois nas outras linguagens. Fizeram analogias entre elas e disseram que no teatro viam através dos
movimentos, as linhas retas, e na dança, os movimentos de plasticidade; perceberam que pontos eram análogos
a notas musicais na pauta e que pontos encontravam na literatura. Foi então aplicado o exercício igual ao do
primeiro encontro e comparando-se as análises de dois momentos, constatou-se que os participantes
progrediram, por exemplo, ao fazer analogias com as cores harmônicas e com o movimento nas formas
apresentadas.

3.2 – A experiência focada na Linguagem Literária


Aconteceram oito encontros, sendo que, no primeiro, foi colocada a proposta e os conceitos principais,
apreciando-se textos de distintas linguagens; leram uma poesia e escreveram suas impressões sobre a forma e o
texto. Foi iniciado o estudo do Concretismo e foi solicitado que trabalhassem as formas geométricas no papel e
que escrevessem poemas curtos nas figuras. A inter-relação foi feita entre artes plásticas e poesia. Foi entregue
a todos um caderno que serviu de diário, onde anotaram as impressões de cada encontro.
No segundo encontro foram realizados exercícios de percepção dos elementos da linguagem verbal e se
relacionou palavra e sentido através de dinâmicas de grupo. Foi criado um poema a várias mãos. Novos
participantes se incorporaram. Constataram que a matéria prima da poesia e do texto em prosa é a palavra.
Todos leram seus poemas para seus colegas. Fizeram comparações entre a poesia, a música, artes plásticas e
artes cênicas. As poesias mostradas tinham musicalidade, ritmos e movimento; perceberam que não só o papel
pode ser suporte para a poesia, trazendo poesias feitas em diversos materiais, como a cerâmica.
No terceiro encontro foram estudados os elementos constitutivos inter-relacionando-os com as outras
linguagens, comparando-os com os elementos constitutivos da literatura. Trabalhou-se um texto de autoria
deles, decompondo-o e relacionando-o com a música, artes cênicas e artes plásticas. Surgiu a pergunta sobre
como relacionar a música com a poesia. A partir de um poema de Haroldo de Campos, foi feito um exercício de
bater palmas marcando cada compasso da palavra. Analisando o mesmo poema, tentou-se comparar com as
artes cênicas. Viram movimento no poema; e perceberam que estava disposto de forma geométrica, levando-os
a perceber que no Concretismo é valorizada a forma geométrica. Realizaram esculturas de papel usando
somente dobras e cortes, sem cola, finalizado o exercício com a criação de poesias na escultura feita.
No encontro seguinte foi introduzido o Poema Processo que é aquele que, a cada nova experiência,
inaugura processos informacionais e essa informação pode ser estética ou não. Depois, foram estudados os
procedimentos relacionais, como o contraste, e os participantes citaram vários exemplos e fizeram analogias
com a arquitetura, música, televisão, teatro e artes plásticas. Falaram de ponto, linhas, movimentos curvos,
musicalidade, claro-escuro, luz e sombra, texturas e criaram poemas que expressavem contrastes, falando de
tristezas, alegrias, luz e sombra. Deparamo-nos com a linha de demarcação entre poesia e artes plásticas.
Quando a poesia vira arte?
Então estudamos repetição e os participantes manifestaram exemplos de repetição na natureza, na
poesia, na arquitetura, na televisão, na música, no teatro e fizeram representação de repetição com sons,
palavras e depois com gestos. Fizeram exercícios de mímica o que tornou clara a relação da palavra com as
artes cênicas a través de um gesto repetitivo. Iniciou-se o estudo do conto contemporâneo e recordamos a
estrutura do conto. Foram criadas várias histórias curtas que no seu conteúdo existissem momentos repetitivos.
Passando aos processos de significação, estudou-se a interdependência entre plano de expressão e plano
de conteúdo. Continuando com a criação literária, estudamos a estrutura do mini-conto e fizeram vários
exercícios. Lemos um texto do escritor Caio Fernando Abreu e analisamos seu plano de expressão e seu plano
de conteúdo, ou seja, relacionamos elementos e procedimentos aos efeitos de sentido – significações.
Por fim, unimos poesia, contos, música, artes cênicas e artes plásticas. Representamos e contamos
histórias. As linguagens se uniram de maneira transdisciplinar sem uma invadir a outra. Os participantes

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

perceberam o que havia em comum entre elas, bem como as diferenças. No último encontro foi realizada a
leitura da poesia que foi mostrada no primeiro encontro e chegou-se à conclusão que as linguagens se
relacionam e em todas elas a palavra se insere como se fosse uma pedra angular. Tudo sai dela.

3.3 – A experiência focada na Linguagem Cênica


A oficina de artes cênicas aconteceu em uma ONG, no período de abril a junho de 2010, uma vez por
semana, durante uma hora; havia uma média de dez participantes por aula, número que diminuiu durante o
processo – devido à preferência dos participantes por práticas desportivas, ao invés de teatro. Praticaram-se
exercícios de expressão corporal e jogos teatrais, que tinham como objetivo a ênfase nos elementos
constituintes do teatro e na inter-relação com as linguagens: visual, musical e literária. Foi necessária a
modificação dos planos de aula iniciais, do roteiro articulador de conhecimentos (ROBAC), elaborado
conjuntamente para as quatro oficinas, que previa os seguintes conteúdos: elementos constituintes do teatro,
inter-relação com as demais linguagens, procedimentos relacionais, processos de significação utilizando textos
da linguagem teatral e processos de significação do teatro, inter-relacionados com as demais linguagens.
Os resultados da investigação foram diferentes do esperado, no que diz respeito às etapas, pois o trabalho
com os participantes dessa ONG limitou-se à compreensão dos elementos constituintes do teatro e a inter-
relação com as demais linguagens, não alcançando o aprofundamento transdisciplinar, que se daria através de
um número maior de experimentações e de uma reflexão mais consistente acerca dos processos de significação.
Deduziu-se que o principal resultado desta pesquisa, no que se refere às artes cênicas, está relacionado com o
papel do professor como um educador que trabalhe transdisciplinarmente, com colegas de outras áreas,
centrando na linguagem de sua formação, mas estabelecendo correlações, propondo metáforas e analogias com
as demais linguagens artísticas.

3.4 – A experiência focada na Linguagem Musical


Esta oficina foi desenvolvida em uma ONG, com participantes de 8 a 16 anos, cerca de três meninos e
cinco meninas, em média, pois a frequência era flutuante; todos eram os participantes do ensino fundamental,
no contra-turno. Nesta ONG foram oferecidas simultaneamente, várias oficinas. O Projeto TRASARTE foi
desenvolvido na oficina de percussão. Foram feitos exercícios de percussão corporal desde a primeira aula e na
maioria das demais, uma vez que, mesmo havendo instrumentos musicais naquela instituição, os sons deles
decorrentes não eram aceitos pelo centro espírita vizinho, por não condizer com seus princípios.
Em certa aula foi aproveitada a divisão do piso no chão da sala para trabalhar o ritmo. Isto serviu para
concentrá-los, para observar as linhas, as dimensões constantes, tanto quanto o ritmo sonoro. Serviu também
para observarem o ritmo visual, inter-relacionando a linguagem sonora e visual. A compreensão que tiveram do
fenômeno do ritmo possibilitou ampliar o conceito com outros exemplos. Ficou claro que o ritmo estabelecia
certa ordem, e que está presente desde a paisagem sonora até os diversos ciclos da vida. Ao final, esses ciclos
do piso foram comparados aos compassos musicais. A partir daí passou-se a estudar os compassos em diversos
ritmos, e a oficina resumiu-se a este procedimento, uma vez que foi o único que motivou os participantes.

3.5 - Discussão
Como a referência desta quarta etapa do Projeto TRANSARTE são as etapas anteriores, é preciso
destacar as diferenças desta pesquisa, quais foram, a ministração de oficinas por bolsistas das três áreas, bem
como o público, que, esperava-se assistisse espontaneamente às aulas, diferenciadamente dos estudantes de
escolas oficiais. Por outro lado, sendo os bolsistas de cada área os ministrantes, não haveria a dificuldade
encontrada anteriormente, quando os professores de música e cênicas manifestaram certa resistência à proposta.
Entretanto, não se esperava inúmeros resultados, entre eles, a grande diferença entre o perfil dos quatro
grupos; a distinção mesmo de perfil entre os participantes de cada grupo; a falta de compromisso com a
frequência e a continuidade do trabalho, pois as aulas não eram obrigatórias; a dificuldade de concentração dos
adultos da terceira idade, aparentando comportamento semelhante ao das crianças; a impossibilidade de se
desenvolver um trabalho paralelo, pois os ritmos dos quatro grupos foram extremamente distintos, decorrentes
de faixas etárias, níveis de conhecimento, condições sócio-econômicas diversas; o caráter assistencialista e
filantrópico das ONG’s nas quais se desenvolveram duas das oficinas; a preferência pelas oficinas desportivas;
o entendimento de oficina como entretenimento e não como fonte de conhecimentos, entre outros aspectos.
Malgrado todos estes resultados inesperados, aconteceram, em cada grupo, momentos enriquecedores de
produção, vivência, análise e discussão, contemplando aspectos interdisciplinares entre as quatro linguagens

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abordadas, com destaque para a oficina de literatura, o que se atribui ao fato de a ministrante, que é escritora, já
vir de outras experiências semelhantes. O que ela fez foi inserir em um programa que já ministrava as inter-
relações propostas, ou seja, inseriu nas suas aulas de literatura experiências e reflexões sobre as demais
linguagens, chegando à conclusão que a palavra estaria sempre presente.
Na oficina de artes visuais, por outro lado, como conclusão, chegaram a perceber que o mundo pode ser
visto de um outro modo; mesmo sendo um grupo da terceira idade, houve o “olhar da descoberta”, o que se
contrapôs à afirmação inicial do grupo, a de que não havia mais nada a aprender.
Na oficina de música, as dificuldades foram as maiores, pois deu-se em uma comunidade de risco e as
políticas da ONG parecem não atender às necessidades das crianças, acabando por funcionar apenas como uma
alternativa para não ficarem na rua. Todavia, o ritmo, presente na música e nas demais linguagens estudadas,
foi fator de interesse: houve a compreensão do ritmo nas outras linguagens e mesmo um deslumbramento ao
perceberem a tradução deste fenômeno estético de uma linguagem para outra, do som para o piso da sala.
Na oficina de artes cênicas, o elemento estético mais aprofundado foi o contraste, através de jogos
teatrais onde improvisaram cenas contrastando alegria e tristeza; depois, ouviram músicas, tentando identificar
estes dois sentimentos nos sons ouvidos; por último, foram apresentadas reproduções de obras de artes visuais,
onde, do mesmo modo, analisaram, buscando os elementos que expressavam alegria ou tristeza.
Assim sendo, verificou-se que não obstante as dificuldades encontradas nos quatro campos de pesquisa,
deram-se experiências que possibilitam a percepção dos participantes de que arte não é mero entretenimento,
mas um poderoso modo de comunicação; que a arte pode se dar por meio de distintas linguagens e que estas
linguagens possuem estruturas comunicantes que podem ser relacionadas, de modo que o aprendizado ou a
percepção de um fenômeno estético em uma linguagem pode levar à compreensão do mesmo elemento em
outro trabalho artístico, embora com características distintas e inseridos na lógica da linguagem respectiva. Isto
vem a reafirmar os pressupostos teóricos e metodológicos adotados, dentre eles, a transdisciplinaridade.

4. Conclusão
Por último, cabe destacar que as dificuldades encontradas pelos bolsistas, as quais constituíram-se em
desafios para eles, mostraram uma realidade educacional totalmente diferente daquela vivenciada nos estágios
obrigatórios, acrescentando tais experiências à sua formação. Ainda quanto à vivência desta investigação,
cumpre ressaltar que foi a primeira e única experiência interdisciplinar que viveram, mesmo sendo oriundos de
três licenciaturas diferentes e estando em fase final de conclusão de curso.
Quanto ao grupo de pesquisa, concluiu-se que as relações interdisciplinares pressupõem um alto grau
de complexidade e que deveria haver mais tempo para estudos e experimentações. Em síntese, o Projeto
TRANSARTE IV mostrou que a transdisciplinaridade, como princípio educacional e prática metodológica no
campo da arte é possível, malgrado todas as adversidades que os campos de pesquisa, neste caso, apresentaram.

Referências bibliográficas
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BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental.Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1997.
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Semiótica. São Paulo: ABS, n. 4, jun. de 1984.
KANDISNKY, W. Ponto, Linha, Plano. Lisboa: Edições 70, 1996.
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Técnicas de Pesquisa:planejamento e execução de
pesquisas, elaboração, análise e interpretação de dados. 4 ed. São Paulo: Atlas, 1999.
MELO, M. F.; BARROS, V. M.; SOMMERMAN, A. “Transdisciplinaridade e Conhecimento”. In: Educação e
Transdisciplinaridade II. São Paulo: TRIOM, 2002.
NICOLESCU, B. “Contracapa”. In: Educação e Transdisciplinaridade II. São Paulo: TRIOM, 2002.
PAVIS, P. Diccionnaire du Théâtre. Paris: Éditions Sociales, 1990.
PIGNATARI, D. O que é Comunicação Poética. São Paulo: Brasiliense, 1989.
OLIVEIRA, Ana Claudia. Semiótica Plástica. São Paulo: Hacker, 2005.
RAMALHO E OLIVEIRA, Sandra. Imagem também se lê. São Paulo: Rosari, 2005.
SANTA CATARINA. Secretaria de Estado da Educação e do Desporto. Proposta Curricular de Santa
Catarina: Arte. Florianópolis: COGEN, 1998.
SCHAFER, M. O Ouvido Pensante. São Paulo: UNESP, 1991.
ZABALA, A. “Os enfoques didáticos”. In: O Construtivismo em Sala de Aula. 6ª. ed. São Paulo: Ática, 2004.

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TRANSFORMAÇÕES NO CENÁRIO DA ARTE CONTEMPORÂNEA: DA


COMUNICAÇÃO DE MASSA À CULTURA DA CONVERGÊNCIA

Débora Aita Gasparetto1


Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução
A relação da arte com a comunicação vem firmando-se com o passar dos anos. Não é de hoje que os
artistas se aventuram pelo universo da técnica, mas a aproximação com os meios de comunicação se
fortalece a partir do período posterior à Segunda Guerra Mundial, com a utilização dos meios de
comunicação de massa, seja para criar utilizando-os como meio, ou para expor sua repercussão diante a
cultura das massas. Entretanto, os meios de comunicação se aperfeiçoaram, gerando uma cultura das mídias,
nos anos 1980; a anunciada cultura digital, nos anos 1990 e a cibercultura que ainda sobrevive. Os artistas
ligados à tecnologia e comunicação, aproximaram-se dos meios do seu tempo, e investiram em criações
condizentes com a cultura vigente, muitas vezes, utilizando as tecnologias de ponta e outras, as subvertendo.
E agora, é a cultura da convergência que rege os meios de comunicação e afeta a sociedade em geral,
contaminando também a arte. Afinal, não é somente a relação dos artistas com meios que é alterada, mas as
relações da arte com o público, que tem sua percepção alterada, e estas mudanças movimentam o cenário
artístico e os espaços expositivos. A proposta desta investigação consiste em entender o pensamento de
alguns teóricos sobre as transformações impostas pelos meios de comunicação, estabelecendo suas relações
com a arte contemporânea, a fim de dar suporte à pesquisa final, que visa situar a arte digital nos espaços
expositivos.

2. Método
Como esta é uma pesquisa sobre Artes Visuais, utiliza-se uma abordagem qualitativa a fim de se
construir uma reflexão teórico-crítica em relação às aproximações entre arte e comunicação. A partir
de uma revisão bibliográfica, neste momento da pesquisa, é preciso levantar dados a respeito da história dos
meios de comunicação tecnologia e arte, traçando suas ligações. Neste contexto, torna-se possível
compreender o pensamento de Marshall McLuhan, que traduz o emaranhado de sentimentos, sensações,
medos e apostas que os meios de comunicação de massa proporcionavam a sociedade no período pós 2ª
Guerra Mundial. McLuhan foi o autor da frase que ecoa até hoje de que “o meio é a mensagem” [1], frase
que caracterizou muitas das experiências artísticas, como algumas que abusaram do vídeo, em vídeo-arte,
vídeointalações, em criações com o uso do computador. Mcluhan acreditava que os homens se fascinariam
pelos meios de comunicação, o que de fato aconteceu, não há como não se encantar. Couchot [1,2] descreve
o processo de transformação que ocorreu na arte e tecnologia, a partir da evolução dos meios de
comunicação, entendendo que as inovações tecnológicas evoluem o campo tecnestésico, afetando os modos
de percepção do espaço e tempo. Consequentemente, a cada inovação tecnológica, o público passa a esperar
ser surpreendido também na arte e os tradicionais espaços expositivos já não são ideais para receber estas
produções. E nos anos 1980, Lúcia Santaella [2] descreve que a cultura das massas foi sendo transformada
em uma cultura das mídias, da multimídia, afetando novamente os modos de percepção, já que o vídeo
cassete, o vídeo game e o walkman também passaram a integrar o cotidiano. E o que dizer então, do
computador, que nesta década já era objeto de consumo da sociedade, e na década seguinte, era o
responsável pela sociedade digital? Nicholas Negroponte [3] foi responsável por refletir a “Vida Digital” nos
anos 1990 e já na introdução desta obra diz que “A informática não tem mais a ver com computadores. Tem
a ver com a vida das pessoas.” [3,1] O autor, assim como McLuhan, foi um profeta de seu tempo, porém
esperava que as transformações acontecessem de maneira ainda mais acelerada, bem como, que as novas
mídias assumissem o papel das antigas, o que não ocorreu. Porém, desenvolve suas reflexões de modo
visionário, até 1995, quando a internet estava se firmando e buscavam-se maneiras de expansão e acesso.
Peirre Lévy [4] também analisa as relações humanas, sociais e os efeitos do ciberespaço na sociedade, e
ainda seu potencial. Assim, Lévy chega à conclusão de que há uma nova cultura se desenvolvendo neste
novo espaço de comunicação, a cibercultura. Muitos artistas utilizam o ciberespaço para criar, e novas
relações entre artista/obra/público e espaço expositivo se estabelecem. Afinal, conforme Michael Rush [5],
agora o público passa a ser usuário da obra, sua posição passa de contemplador a interator, pois muitas obras
neste meio dependem dele para acontecerem. Ainda o ciberespaço acende a possibilidade de visitar museus,
1
Mestranda do PPGART/UFSM, na linha de Pesquisa Arte e Tecnologia, orientada pela Profª. Dr.ª Nara Cristina
Santos. Bolsista CAPES. Integrante do LABART e Grupo de Pesquisa Arte e Tecnologia/CNPq. Graduada em
Publicidade e Propaganda pela UFSM, 2005. Endereço Eletrônico: debstuta@uol.com.br Telefone: (55) 9963.7279

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centros culturais e galerias de várias partes do mundo virtualmente, ponto a ser desenvolvido nesta pesquisa,
em relação à arte digital.
E por fim, investiga-se a obra de Henry Jenkis [6] que explora três pilares: a convergência dos meios de
comunicação, que prevê que as novas mídias e as antigas interajam cada vez mais; a cultura participativa,
que tem reflexos na participação do público na arte, por exemplo, excluindo o papel passivo; e a inteligência
coletiva, conceito anteriormente abordado por Pierry Lévy. Jenkis é o autor mais atual nesta investigação,
demonstrando como a convergência vem impactando nas mídias e a partir de seus apontamentos, pode-se
estabelecer um paralelo com a arte, verificando seus impactos no cenário artístico contemporâneo.

3. Resultados e Discussão
Por meio dos autores acima citados, pode-se verificar que em um curto período histórico a sociedade
vivenciou mudanças profundas na maneira de perceber, interagir, sentir. Afinal os meios de comunicação e a
tecnologia exercem diversos papéis nas nossas vidas, e abrem outras possibilidades de viver esta diversidade,
seja no mundo real ou virtual, alimentando o imaginário. Os meios de comunicação de massa, a mídia, o
ciberespaço, a convergência, tudo em menos de um século. Se em meados do século XX o público se
deparava com novas experiências do rádio, responsável por levar ondas sonoras de notícias e músicas e
várias partes para dentro das casas, levando a mesma informação para ouvintes distintos; com o cinema, que
modificava o imaginário popular; com a Televisão que invadia as casas, sobretudo no período pós-guerra,
incentivando o consumo das massas e colocando o telespectador em contato com a realidade do
acontecimento, independente do lugar em que esteja; no final do século XX vivenciava o reinado da
cibernética, com novas experiências sensoriais. A era digital associava texto, som, imagem, movimento. E
uma profusão de termos caracteriza estas experiências, que passam pelo virtual, pela simulação, pela
imersão, pela interatividade, pelas interfaces, e modificam novamente as noções de espaço e tempo. E no
início do século XXI vivencia-se a era da convergência, conforme Jenkis, que vê no mobile uma das peças-
chave para convergência das mídias. E pensar que o telefone, deu início às descobertas na radiodifusão no
século passado. Hoje, os telefones, abrigam tantas funções que só receber ou fazer ligações ficou
ultrapassado. E como não se aventurar por estas inovações? Se o público está envolto em um ambiente hiper-
conectado, o artista precisa fazer mais para surpreendê-lo, colocá-lo na ativa. Se nos anos 1960, a vídeo-arte
aparecia como crítica à Televisão Comercial, e tinha como mentor o artista sul-coreano Nan June Paik, hoje
uma série de artistas, muitas vezes, de nomes ainda desconhecidos, como constata Anne Cauquelin [7]
invadem os meios, as mídias, os mobiles, explorando-os, produzindo novos sentidos, aprofundando a
percepção do público. Estes artistas dispõem de todas as técnicas e meios do passado, eles se permitem criar,
recriar, reinventar estas técnicas, tecnologias, mídias, a fim do propósito maior que é a arte. Contudo a arte
que condiz com este período histórico atual está ligada ao número e suas infinitas combinações, o que já é
poética em si. Na arte digital, que circula por todos os meios, a figura do artista é muitas vezes substituída
por uma equipe híbrida, de profissionais da comunicação, do design, da informática. E a obra, como era
conhecida, agora se transforma em projeto/trabalho/obra. A arte digital é abrangente, envolve instalações,
vídeo-arte, fotografia, entre outras linguagens artísticas, e conforme a 1ª Ata do Grupo de Trabalho Arte
Digital, assinada no Ministério da Cultura em outubro de 2009 [8] pode envolver “webarte, netarte,
ciberarte, bioarte, instalações interativas, mídias locativas e outras atividades relacionadas”, priorizando seu
desenvolvimento em ambiente virtual. Mais uma vez, o cenário artístico é alterado, a partir da entrada desta
arte, que ainda procura um lugar, mesmo que, muitas vezes, pareça efêmera, por ficar na experiência do
interator, que ajudou a criá-la, como na arte digital interativa. Santaella [9] relata que a expansão das mídias
ajudou a levar a arte a este estado atual, que alguns artistas podem criar em vídeo, enquanto outros utilizam
as redes planetárias e outros seguem as práticas tradicionais, sendo assim, as mídias permitiram esta
hibridação. Então, diante de tantas mudanças, é natural que os espaços expositivos, destinados a apreciação
da arte, a objetos emoldurados, não tenham se transformado com tamanha velocidade, pois a cada nova
investida, por parte dos artistas, nestas técnicas emergentes, acabava gerando certo receio no sistema das
artes. Santaella [9] ainda constata que há um preconceito em relação à aliança entre mídias e artes,
defendendo a superação destas diferenças. Walter Benjamin [1,3] ainda em relação ao cinema, dizia que é
natural criticar o que é verdadeiramente novo. Há que se adaptar ao novo, o que já é notável, pois muitos
destes tradicionais espaços, que já tiveram que se remodelar, nos anos 1970-80, para receber obras de arte
contemporânea, caminham em direção ao novo. O ciberespaço, por exemplo, já é explorado – muitas vezes,
mais como meio de divulgação, do que com a função de museu ou galeria virtual. Mas, quando a questão é à
interatividade, poucos se destacam. Por isto, acabaram sendo criados novos centros de arte e tecnologia
como o ICC, em Tóquio e o ZMK, na Alemanha, que abrigam a produção artística relacionada à tecnologia.
E ainda ganham notoriedade festivais de arte eletrônica e suas páginas na internet, que permitem ao usuário
interagir com as obras apresentadas nestes festivais in loco. Porém estes espaços expositivos, tradicionais ou

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virtuais, precisam se adaptar, abrir-se à arte digital, pois o público já apresentou suas preferências,
legitimando-a.

4. Conclusão
Por fim, constata-se que todas as inovações tecnológicas e comunicacionais afetam diretamente a
sociedade, como é possível entender no pensamento dos autores acima referidos, então porque não afetariam
a arte? É natural que os artistas trabalhem com as ferramentas disponíveis no seu tempo. Basta que os atuais
espaços expositivos percebam que o público mudou e vai continuar mudando, que os artistas envolveram-se
neste meio relativamente novo e que precisam de um espaço adequado, que receba suas produções. Assim,
seja no mundo real ou no virtual, uma nova arte se fortalece, com base na tecnologia e na comunicação, e ela
se desenvolve nos quatro cantos do mundo, fruto desta transformação social. Portanto, cabe conspirar para
que a arte deste tempo encontre um lugar adequado, capaz de disponibilizá-la e preservá-la. O Brasil já está
inserido neste contexto artístico e o FILE, Festival Internacional de Linguagens Eletrônicas – ajudou a
colocar o país na rota da arte e tecnologia mundial. Porém, parece que a preocupação com a arte tecnológica
é maior por parte das instituições privadas, que associam sua marca e tem grande retorno em termos de
imagem. Afinal, patrocinar este tipo de projeto significa aliar a marca da empresa à arte, à tecnologia de
ponta, ao digital, aparecer, ganhar mídia espontânea. Mas o Ministério da Cultura já percebeu que não há
mais volta e pretende, até 2013, criar um centro dedicado à arte digital, espera-se que o projeto tenha
sequencia, sendo que os brasileiros já consomem esta arte, participando, interagindo, vivenciando-a. Cabe o
incentivo às políticas culturais que estimulem além da produção, a reformulação dos espaços expositivos.

Referências
[1], [1,.2] e [1,3] COUCHOT, Edmond. A tecnologia na arte: da fotografia à realidade virtual. Porto
Alegre: EDUFRGS, 2003.
[2] SANTAELLA, Lucia. Culturas e artes do pós-humano: da cultura das mídias à cibercultura. São
Paulo: Paulus, 2003.
[3] NEGROPONTE, Nicholas. A vida digital. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. 2ªed
[3,1] (NEGROPONTE, 1995, p. 12)
[4] LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.
[5] RUSH, Michel. Novas mídias na arte contemporânea. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
[6] JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. Trad. Susana Alexandria. - 2 ed. - São Paulo: Aleph, 2009
[7] CAUQUELIN, Anne. Freqüentar os incorporais: contribuição a uma teoria
da arte contemporânea. São Paulo: Martins, 2008.
[8] disponível em http://culturadigital.br/setorialartedigital/2010/02/14/algumas-palavras-sobre-arte-digital/
visita em 26/06/2010
[9] SANTAELLA, Lucia. Linguagens Líquidas na era da mobilidade. São Paulo: Paulus, 2007. –
Comunicação
SANTOS, Nara Cristina. Arte (e) Tecnologia em sensível emergência com o entorno digital. Tese de
Doutorado UFRGS, 2004.

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ULTRAPASSANDO OS LIMITES ENTRE O INFANTIL E O ADULTO EM LITERATURA

Adriana Maximino dos Santos1; Manuela Acássia Accácio2


Universidade Federal de Santa Catarina

1. Introdução

A literatura infantil que é apreciada apenas pelas crianças é uma má história


para crianças3 [1].
C.S. Lewis

Normalmente espera-se que um livro infantil seja direcionado apenas para crianças. Entretanto, cada
vez mais pesquisadores de literatura infanto-juvenil (SHAVIT, 1999; KÜMMERLING-MEIBAUER, 2007)
[1; 2] apontam que muitos autores têm também o adulto como público receptor. Esta afirmação se baseia no
uso constante de recursos estilísticos de literatura adulta e pela mistura de modelos literários diversos
(fantasia, ficção científica etc.) (COLOMER, 2003) [3].
Neste trabalho, gostaríamos de discutir quais aspectos permitem que livros sejam adequados a um e
outro público, realizando o estudo da obra infantil ilustrada Diabolim, de Helme Heine [4]. Este livro nos
permite reconhecer alguns destes aspectos tanto por meio do texto quanto pela imagem.

2. Método

Bettina Kümmerling-Meibauer realiza em seu artigo Variety in genres and styles: tendencies in
modern german-speaking children’s literature (2007) [2] uma pesquisa interessante das tendências da
literatura infantil alemã. Por meio de suas análises, Kümmerling-Meibauer identifica o fenômeno de se
dirigir a dois públicos ao mesmo tempo, como Crosswriting.
Para a autora, existem alguns aspectos comuns em livros que se utilizam do crosswriting. Dentre estas
características, ela cita os “temas tabus e as estratégias narrativas complexas – sobreposição de gêneros,
desvios de ordem cronológica e linear, fragmentação e lacunas, ausência de fechamento, ironia,
intertextualidade”4 (Ibid., p. 14). Todas estas possibilidades caracterizam o texto, de maneira que os limites
entre o que é literatura infantil e adulta são ultrapassados.
Com esta pesquisa, pretendemos analisar algumas características da obra Diabolim a fim de verificar a
ocorrência de crosswriting. Para isto, delimitamos nosso estudo, discutindo o tema, a ausência de
fechamento e o recurso da intertextualidade.

3. Resultados e Discussão

Com base na teoria do Polissistema5, Shavit (1981) [5] destaca que há muitas condições e limitações
que envolvem a escritura da literatura infanto-juvenil, uma vez que ela está ligada a um sistema literário. O
autor e a editora tentam adaptar o texto às características esperadas do público leitor. Isto é, eles “ajustam o
texto, a fim de torná-lo adequado e útil para a criança, conforme o que a sociedade considera ser „bom para a
criança‟”6 (SHAVIT, 1981, p. 172). Apesar disto, aparentemente muitos livros infantis hoje, não se
enquadram nesta norma.
Já por um outro viés, Colomer (2003) [3] acredita que a literatura infanto-juvenil se adequa ao público
leitor atual e costuma apresentar os seguintes traços: os temas abordados “refletem as mudanças sociológicas
e os pressupostos axiológicos e educativos de nossa sociedade pós-industrial” (Ibid., p. 174); um leitor apto a

1
adriana.maxsan@gmail.com
2
manuacassia@gmail.com
3
“[...] children‟s story which is enjoyed only by children is a bad children‟s story” (SHAVIT, 1999, p. 87).
4
“[...] taboo subjects and complex narrative strategies – including composite genres, deviations from
chronological, linear order, fragmentation and gaps, absence of closure, irony, intertextuality [...]”
(KÜMMERLING-MEIBAUER, 2007, p. 14.).
5
Estudo realizado por Itamar Even-Zohar e que defende que a literatura se constitui de uma relação dos
elementos em um sistema literário e também com outras formas semióticas, não se caracterizando como algo
fechado e isolado.
6
“[...] Adjusting the text in order to make it appropriate and useful to the child, in accordance with what the
society thinks is‚ good for the child‟” (SHAVIT, 1981, p. 172).
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ler diversos sistemas de linguagem (verbal, audiovisual) e obras com complexidade de leitura que
acompanha a capacidade leitora dos receptores, ou melhor, as suas “características psicológicas da idade”
(Ibid., p. 175). A isto poderiamos acrescentar, ainda conforme Colomer (2003) [3], de que os valores morais
são outros: há uma verbalização dos problemas e uma diferença na questão da autoridade o que causa “a
anulação de determinadas fronteiras entre o mundo infantil e o mundo adulto” (Ibid., p. 176).
É o que podemos observar na obra Diabolim, por exemplo, a qual narra a história de um diabinho que
para se divertir sobe ao mundo dos humanos. Seu objetivo era: ser reconhecido, assim como os anjos o são,
entretanto não tem sucesso. Seu êxito, todavia, chega apenas quando ele salva pessoas, animais e coisas, de
um fogo que ele mesmo causou. Apesar do reconhecimento, Diabolim não vira nenhum anjo, continua
perseguindo os anjinhos e fazendo o que mais gosta: lutar com o padre.
Diabolim quebra o clichê de histórias infantis, nas quais há frequentemente a transformação do mal no
bem, como pode ser encontrado desde os contos de fada, fugindo do conceito do que é adequado para
criança. O livro fala em dois níveis: com o público infantil e adulto. No primeiro nível temos as travessuras
que lembram bastante as praticadas pelas crianças (esconder objetos, soltar o cachorro etc.), e no segundo
nível, as remissões a temas não usuais em LIJ e a intertextos literários conhecidos.
Tendo como protagonista a figura de um diabo, um
anti-herói, a obra trata de um temática tabu, permitindo
leituras críticas por meio do texto verbal e imagético. Aqui
uma das possíveis formas utilizadas para que o texto seja
aceito, é o emprego da ironia e do humor.
Ao observarmos a Figura 1, por exemplo, vemos
uma das atividades preferidas de Diabolim: fazer o padre
tropeçar e ficar de joelhos (HEINE, 2000) [4]. Neste caso,
texto e imagem podem indicar que Diabolim tira o padre
de sua normalidade; que tudo o que de ruim acontece com
as pessoas é obra do mal; ou que o padre é obrigado a
tomar uma posição que normalmente os seus fiéis
assumem: se ajoelhar e abaixar a cabeça.
Além disto, há a representação nas ilustrações de
bebida alcoólica e de lutadores, o que é incomum neste
tipo de literatura. Por outro lado, as travessuras de
Diabolim: furar meias, sumir com elas, esconder chaves de Fig. 1 Ironia e humor, para lidar com tabu
casa e de carro, soam como travessuras de criança,
constituindo-se como a visão humana da narrativa (em cada criança existiria um Diabolim). Em
contrapartida, da perspectiva religiosa deduz-se que tudo o que acontece de ruim é resultado de forças
malignas.
Diabolim vai além de um aspecto recorrente em literatura infantil: um final de fácil dedução ou um
final feliz para os bons. O leitor é surpreendido com o fim em Diabolim: o pequeno diabo não vira uma
criatura boa, ao contrário, agora com o reconhecimento dos humanos ele continua praticando suas
travessuras, em especial, com os anjos e com o padre. Apesar disso, o final apresenta uma dose de felicidade,
pelo menos para o personagem principal. Isso contribui também para a recepção da obra, pois, consoante
Tabbert (1994) [6], um final feliz constitui-se como uma motivação de leitura para as crianças. Em caso
contrário, elas se decepcionariam se percebessem que no mundo nada tem solução.
Outra característica, que torna a narrativa de Diabolim complexa e receptiva pelos adultos, é a
intertextualidade entre os elementos no texto e nas ilustrações com a literatura e até mesmo com a religião. A
bebida alcoólica (vinho tinto), que em outras versões da narrativa Chapeuzinho vermelho é suprimida, em
Diabolim não é censurada. O vinho tinto é também símbolo do sangue de Cristo.
As travessuras de Diabolim nos remetem, por sua vez, às sete travessuras do Juca e Chico, de Wilhelm
Busch. Esta influência é citada pelo próprio autor Heine, segundo o qual, durante a guerra havia poucos
livros, de modo que os únicos acessíveis eram os livros de Busch, que fascinaram sempre o autor
(SPRECKELSEN, 15/05/2010) [7].

Conclusão

Ao longo da história da literatura infantil, os livros infantis seguiram modelos moralísticos e


educativos, pois eram utilizados como uma forma de ensinar as crianças as regras da sociedade. Atualmente,
entretanto, como a concepção da criança, de suas necessidades e capacidades têm se alterado, esta divisão
entre o mundo adulto e infantil está cada vez mais se esvanecendo. Isto se deve também a uma concentração

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

de diversos tipos de informações nas obras de literatura infantil: elas não apenas educam, mas pretendem o
lúdico, a estética, a crítica literária, proporcionando uma formação mais ampla do seu receptor. Este caráter
formativo se faz presente no exercício da capacidade leitora de textos e ilustrações, no aguçamento da
percepção sobre as visões de mundo no livro e as situações vividas.
A influência deste posicionamento frente ao leitor é perceptível nos textos: temas tabus,
intertextualidade, final aberto, o que leva o leitor a participar e ter sua interpretação e fazer a remissão que
lhe for capaz. Por isso, podemos dizer que Diabolim ultrapassa os limites entre o leitor infantil e adulto,
posto que traz uma temática diferenciada, sem um final esperado (o mal continua praticando o mal) e
ligações com símbolos religiosos e com as travessuras dos personagens de Wilhelm Busch.
Todos estes aspectos incitam, conforme Kümmerling-Meibauer (2007) [2], a continuação da leitura e
ampliam as suas possibilidades. Em uma obra, na qual é possível verificar o crosswriting, tanto a criança
como o adulto são convidados a desfrutar o livro. E isto é o que pudemos notar em Diabolim.

Referências

[1] SHAVIT, Zohar. „The double attribution of texts for children and how it affects writing for children‟. In:
BECKETT, Sandra L. (ed.). Transcending Boundaries: Writing for a Dual Audience of Children and
Adults. Garland: New York & London, 1999, p. 83-98.
[2] KÜMMERLING-MEIBAUER, Bettina. „Variety in genre and styles: tendencies in modern german-
speaking children‟s literature‟. In: Bunyck, 199 (2), p. 10-16, 2007. Disponível em:
<http://www.nbuv.gov.ua/portal/Soc_Gum/infil/2007_119_2/annotations_2/bettina_eng.html>. Acesso
em : 20 Mai 2010.
[3] COLOMER, Teresa. A formação do leitor literário. Tradução de Laura Sandroni. São Paulo: Global,
2003.
[4] HEINE, Helme. Diabolim. Tradução de Monica Stahel. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
[5] SHAVIT, Zohar. „Translation of children‟s literature as a function of its position in the literary
polysystem‟. In: Poetics today, vol. 2:4, 1981, p. 171-179.
[6] TABBERT, Reinbert. „Was macht erfolgreiche Kinderbücher erfolgreich? Vorläufige Ergebnisse einer
Untersuchung‟. In: EWERS, H.-H.; LEHNERT, G.; O‟SULLIVAN, E. Kinderliteratur im
interkulturellen Prozess: Studien zur allgemeinen und vergleichenden Kinderliteraturwissenschaft.
Stuttgart: Metzler, 1994. p. 45-62.
[7]SPRECKELSEN, Tilman. Sind Sie Kind geblieben, Herr Heine? Disponível em:
<http://www.faz.net/s/RubD3A1C56FC2F14794AA21336F72054101/Doc~E1AC24F88A5364E718E
B06308A672548E~ATpl~Ecommon~Scontent.html>. Acesso em: 15 Mai 2010.

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UM ESTUDO SOBRE A ANIMAÇÃO DE BONECOS À VISTA DO PÚBLICO

Alex de Souza1*; Prof. Dr. Valmor “Nini” Beltrame2


1
CEART/UDESC
2
CEART/UDESC (Orientador)

1. Introdução
A referida pesquisa foi desenvolvida em forma de monografia para obtenção do grau de Licenciado,
no curso de graduação em Licenciatura em Educação Artística com Habilitação em Artes Cênicas,
da Universidade do Estado de Santa Catarina no ano de 2007. O estudo trata da animação de
bonecos à vista do público, caracterizada no teatro de animação pela possibilidade de o espectador
ver o animador em cena junto ao boneco que anima.
Encontrando-se diferentes possibilidades de apresentar e justificar o animador em cena, entre
elas destacaram-se as mais recorrentes, aqui denominadas: o bonequeiro visível, porém neutro na
cena; o bonequeiro como parte do cenário; o bonequeiro como duplo do personagem; o bonequeiro
interpretando outro personagem e o bonequeiro atuante.
O objetivo central da pesquisa esteve pautado no estudo da história e desenvolvimento da
animação de bonecos à vista do público. Para isso, a primeira etapa do estudo dedicou-se ao
esclarecimento de definições relativas à linguagem. A etapa seguinte tratou especificamente do
objetivo do estudo, destacando os principais pontos de relevância na história da animação à vista.
Em terceira, e última etapa, procurou-se relacionar os conceitos desenvolvidos no restante do
trabalho com exemplos de espetáculos que utilizam a animação à vista do público nas cinco
principais modalidades citadas anteriormente, pontuando suas características, vantagens e eventuais
dificuldades.
Haja vista a multiplicidade de possibilidades e as implicâncias da animação de bonecos à vista do
público em espetáculos teatrais em seus diversos âmbitos, a pesquisa segue em continuidade e
aprofundamento, agora em stricto sensu (mestrado).

2. Método
A pesquisa fora iniciada com levantamento bibliográfico, sendo que na primeira fase buscou-se
bibliografias especializadas em teatro de animação e, em seguida, fez-se o levantamento de bibliografias
complementares do campo teatral e afins. Dispostos os materiais de base referencial, constituiu-se as duas
primeiras etapas da pesquisa, definindo os conceitos-chave utilizados no trabalho e perfazendo o resgate
histórico da utilização da animação de bonecos à vista do público, desde suas primeiras menções até suas
manifestações mais recentes, compilando dados encontrados nas fontes bibliográficas em uma linha
histórico-cronológica.
Acrescentou-se aos referenciais bibliográficos entrevistas e análises de imagens fotográficas e
videográficas, a fim de identificar no processo de desenvolvimento histórico do tema em questão, pontos de
relevância a serem denotados e discutidos. Situando o trabalho de interpretação do animador à vista,
encontrou-se distintos modos de apresentá-lo e justificá-lo em cena, fato este que gerou a terceira etapa do
estudo.
Identificados cinco destes modos, foram escolhidos seis espetáculos nacionais e um internacional (de
recorrente circulação no Brasil) que transitam, cada um, de maneira peculiar por cada modalidade,
merecendo uma reflexão própria de cada caso.

3. Resultados e Discussão
O desenvolvimento desta prática evidencia as suas especificidades, que a caracterizam como
linguagem em seus diversos modos de apresentar ao público o animador em cena com seu boneco. A
diversidade de propostas ou modos de atuação pode ser compreendida como uma das tendências percebidas
no teatro do bonecos contemporâneo, no qual a heterogenia e o hibridismo de linguagens é patente.
A animação à vista colabora para tornar indivisível o teatro de bonecos e o teatro de atores. Sem
perder as especificidades da linguagem do teatro de animação, este teatro cada vez mais utiliza recursos de
outras linguagens, ao passo que algumas formas de teatro de atores recorrem com freqüência à linguagem do
teatro de bonecos.

*
Autor Correspondente: teatralex@yahoo.com.br
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Ao considerar as diferentes modalidades de atuação do bonequeiro, como o bonequeiro visível, porém


neutro na cena; o bonequeiro como parte integrante do cenário; o bonequeiro como duplo do personagem, o
bonequeiro interpretando outro personagem e o próprio bonequeiro atuante, é importante destacar que
nenhuma das formas é a ideal, correta ou mais indicada. Cada modalidade constitui diferentes formas de
atuação, com suas respectivas vantagens e desvantagens em relação às propostas de cada encenação, o que
revela a complexidade dessa linguagem.
Outra consideração relevante é a necessidade ainda vigente de esclarecimentos com relação aos
elementos que caracterizam a linguagem da animação à vista do público, que por vezes é confundida com
outras linguagens e técnicas do teatro de animação. Bunraku e Animação Direta de bonecos, por exemplo,
não são sinônimos de Animação à Vista do Público, embora a animação à vista possa co-existir com os dois
primeiros termos.
No entanto, não é possível a co-existência da linguagem da animação de bonecos à vista do público
com o puro exibicionismo daquele que se diz bonequeiro somente pelas glórias do ofício, ao qual não
importa muito a qualidade da animação de seu boneco, mas sim a sua própria presença. Nestes casos a
linguagem deixa de existir, pois o público é chamado a ver o “bonequeiro”. E somente ele.
Felizmente, a última consideração a ser denotada neste estudo refere-se aos excelentes espetáculos
produzidos na atualidade que souberam aproveitar o desenvolvimento histórico desta linguagem,
possibilitando ao público fruir obras artísticas primorosas e despertando o interesse em relação à animação
de bonecos à vista do público.

4. Conclusão
Com este estudo pôde-se perceber o panorama da animação de bonecos à vista do público de maneira
ampla, aprofundando-se apenas nos aspectos mais essenciais, uma vez que este era mesmo o primeiro
intento. Contudo, é possível identificar múltiplos ramos a serem desenvolvidos a partir desta pesquisa, uma
vez que esta modalidade teatral mostra-se muitas vezes híbrida dialogando com outras linguagens.
Partindo das informações históricas compiladas e discutidas nesta pesquisa, atualmente desenvolve-se
a nível stricto sensu (mestrado) uma pesquisa que visa identificar e discutir as implicações da animação de
bonecos à vista do público na poética de um espetáculo. Tal caminho surgiu da constatação proveniente deste
estudo de que há ao menos duas formas primordiais de tratar a animação à vista do público, sendo uma como
“recurso cênico” e outra como “linguagem cênica”.

Referências

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Curitiba, PR, v.1, n. 12, p. 11-14, 1984.
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AMORÓS, Pilar; PARICIO, Paco. Títeres y Titiriteros: El lenguaje de los Títeres. 2ª ed. Binéfar: Pirineum,
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BALARDIM, Paulo. Relações de vida e morte no teatro de animação. Porto Alegre: Edição do Autor,
2004.
BELTRAME, Valmor. O Trabalho do Ator-Bonequeiro. Revista NUPEART, Florianópolis, SC, v.2, n.2, p.
33-52, set. 2003.
__________________. Marionetista, Manipulador, Ator-Animador e Outras Nomenclaturas. Revista do 8° e
9° FENATIB, Blumenau, SC, p. 34-36, ago. 2006.
BRAGA, Humberto Ferreira. Entrevista com Humberto Braga. Jaraguá do Sul/SC, 05 de Outubro de
2007. Entrevista concedida ao Grupo de Pesquisa Transformações na Poética da Linguagem
do Teatro de Animação.
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animação. 2000. 246 p. Tese (Doutorado em Artes Cênicas) – Escola de Comunicações e
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_________________________. A máscara e a formação do ator. Móin-Móin – Revista de Estudos Sobre
Teatro de Formas Animadas: O ator no teatro de formas animadas, Jaraguá do Sul, SC,
v.1, n.1, p.25-52, 2005. ISSN 1809-1385.
CURCI, Rafael. De los objetos y otras manipulaciones titiriteras. Buenos Aires: Tridente Libros, 2002.
____________. Dialéctica del Titiritero em Escena: Uma propuesta metodológica para la actuación con
títeres. Buenos Aires: Colihue, 2007.

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Charleville-Mézières: Éditions Institut International de la Marionnette, 2000. No Prelo.
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_________________. ¡Una estética para el teatro de títeres! Bizkaia: Gráficas Arratia,1988.
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PLASSARD, Didier. L'Acteur en Effigie. Paris: L'Age d'Homme, 1992.
RENK, Arlene. Dicionário nada convencional: sobre a exclusão no Oeste Catarinense. Chapecó:
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SOUZA, Marco. O Kuruma Ningyo e o corpo no teatro de animação japonês. São Paulo: Annablume,
2005.

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“UMA COLEGA MINHA ELA SENTE ISSO”: TERCEIRIZAÇÕES


E GENERALIZAÇÕES EM LIGAÇÕES PARA O DISQUE SAÚDE DA MULHER

Minéia Frezza1*; Ana Cristina Ostermann²


¹Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS
²Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS

1. Introdução
O objetivo desse estudo é analisar como os interagentes do Disque Saúde da Mulher se referem à
pessoa que precisa da informação requisitada por suspeitar que esteja contaminada por algum vírus, grávida,
com câncer, etc. Portanto, nesse estudo, toda vez que a palavra referente for utilizada, esta significa a pessoa
que está ou suspeita estar na situação da qual a informação solicitada trata.
O Disque Saúde da Mulher é um serviço governamental que atua no Brasil desde 1996. Esse serviço
oferece informações, por meio de ligações gratuitas, sobre sintomas, formas de transmissão e prevenção de
várias doenças, e ainda, os/as atendentes, às vezes, orientam as usuárias a procurar um/uma profissional da
saúde de acordo com o caso relatado.
A identidade da pessoa que realmente precisa das informações solicitadas não é o objetivo das
ligações, no entanto, os/as atendentes do Disque Saúde comumente buscam por um referente devido à
necessidade de encaminhar a pessoa possivelmente infectada ou grávida a uma unidade de saúde. Sabe-se
que a maior parte das usuárias desse serviço são mulheres de baixa renda e que muitas vezes desconhecem o
endereço de um posto de saúde filiado ao SUS para a realização de testes e possível tratamento de forma
gratuita. Desse modo, uma análise dessa “negociação” sobre quem é o referente nas interações do Disque
Saúde é de grande relevância social, pois essa negociação culmina em parte da agenda institucional do
Disque Saúde que é o encaminhamento de tal referente para uma unidade de saúde mais próxima de sua casa.

2. Método
Através da perspectiva teórico-metodológica da Análise da Conversa [1], analisamos 126 interações,
provenientes de ligações para o Disque Saúde da Mulher, que é um número gratuito criado pelo Ministério
da Saúde para oferecer informações a respeito de doenças e de sua prevenção. As interações analisadas neste
projeto foram gravadas e transcritas de acordo com as convenções propostas por Jefferson [2].
Para realizar esse estudo, os momentos em que as usuárias fornecem um referente e os turnos
anteriores e posteriores a essa provisão foram separados e analisados. É válido ressaltar que há interações em
que as usuárias revelam, no início da interação, que são elas que estão na situação sobre a qual a informação
requisitada trata. No entanto, essas interações não foram analisadas, pois o foco desse estudo é verificar
como ocorre essa “negociação” do referente quando ele é generalizado ou terceirizado.

3. Resultados e Discussão
Ao analisar os dados, percebemos que algumas usuárias do Disque Saúde da Mulher, mesmo sabendo
que se trata de um serviço que garante sigilo, não revelam suas identidades e muitas vezes dizem que a
informação requisitada não é destinada a elas, mas a uma terceira pessoa como: minha colega, minha amiga,
um parente, etc. Chamamos esse fenômeno de terceirização. Outro formato de que opera para o anonimato
de referentes é a generalização, que se trata da utilização de uma palavra que generaliza o referente. Por
exemplo: a mulher, alguém, a pessoa, a gestante, etc.
Essa análise nos remeteu a leitura sobre o conceito de face desenvolvido pelo sociólogo Erving
Goffmann em 1955. Segundo ele, as pessoas buscam passar determinada imagem de si para outras pessoas.
Para tanto, há um trabalho interacional que opera a fim de proteger ou ameaçar essa imagem [3].
Os comportamentos das pessoas, por serem condizentes às suas escolhas, são de responsabilidade de
cada um e, consequentemente, podem ameaçar a face dos interagentes se forem moralmente implicativos
[4]. No caso do contexto analisado, as usuárias em geral questionam sobre doenças sexualmente
transmissíveis, métodos contraceptivos e gravidez. Esses tópicos levantam implicações morais por lidarem
com questões ligadas a hábitos de higiene e comportamento sexual, questões essas que dependem
unicamente do comportamento de cada indivíduo.
Ainda, ao falar sobre assuntos que colocam a face (do falante ou do ouvinte) em risco, os interagentes
tendem a produzir uma fala discreta e cuidadosa que torna esses momentos interacionalmente delicados [5];
[6]. Tais momentos apresentam perturbações na fala tais como: hesitação, alongamento de sons, pausas,

1
*myneya_f@yahoo.com.br
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repetições, substituições, omissões, mudança de entonação, movimento corporal, escolhas lexicais mitigadas,
etc. [7].
Linell e Bredmar [6] mencionam o fato de que na fala institucional os momentos interacionais
delicados devem ser neutralizados para que a harmonia da interação e a institucionalidade do serviço sejam
preservados. Para tanto, a interação é moldada de maneira diferente da fala cotidiana. Os fenômenos
terceirização e generalização de referentes operam, nos dados analisados, para que essa neutralidade moral
seja alcançada por omitir a agentividade das usuárias sobre tópicos passíveis de julgamento moral.
Ao separar os excertos que seriam analisados, percebemos regularidades na sequencialidade
interacional quanto aos momentos da ligação em que o referente é oferecido pelas usuárias. Nas interações
em que as usuárias não oferecem o referente espontaneamente, no início da interação, elas o fazem em um
dos seguintes momentos: depois de uma pergunta de busca por referente feita pelos/as atendentes ou depois
da provisão de informação também feita pelos/as atendentes.
Observamos que as perguntas que os/as atendentes fazem a fim de encontrar um referente: “você
conhece alguém com esses sintomas?”, “há algum motivo especial pelo qual a senhora busca essa
informação?”, etc., são de suma importância. Uma vez que, na falta delas, é menos recorrente a identificação
voluntária das usuárias e consequentemente não há orientação para que as usuárias busquem ajuda de
profissionais da saúde.
Nas interações em que as usuárias oferecem um referente após a provisão de informações feita
pelos/as atendentes fica evidente que as usuárias se identificam, ou identificam alguém com as informações
(sintomas, transmissão e prevenção) providas pelo/a atendente.
Mais do que manter a neutralidade moral das interações, diferentes tratamentos dados ao referente,
culminam em diferentes atendimentos. Nas interações em que o referente é explicitado seja terceirizado ou
autorrevelado2, as atendentes orientam as usuárias a procurar um/uma profissional da saúde. Contudo, nas
interações em que o referente é generalizado (i.e. não há a explicitação sobre quem possa estar infectado/a
por alguns vírus, grávida, com câncer, etc.) essa orientação não acontece. Dessa forma, constatamos que o
uso terceirizações e generalizações é determinante para posteriores e necessários encaminhamentos.

4. Conclusão
Ao utilizar terceirizações e generalizações, as usuárias assumem o papel de quem está apenas fazendo
a ligação e os/as atendentes se orientam para o mesmo uso de referenciação feito pelas usuárias.
Consequentemente, essas práticas removem das usuárias categorizações de pessoas que possam ter feito algo
que seja moralmente questionável [4] – como sexo desprotegido, hábitos de higiene inadequados, etc.
Ainda, como os interagentes se orientam para o uso de terceirizações e generalizações, a delicadeza de
alguns momentos interacionais [6] abordados nas ligações é abrandada. Parece ser mais confortável dizer que
outras pessoas (terceirizações) ou que todo um grupo de pessoas (generalizações) fazem ou fizeram algo que
seja moralmente questionável, do que autorrevelar-se como responsável por ter feito tal ação.
Não é possível afirmar que as usuárias são as pessoas que estão em uma zona de risco, a menos que
elas se identifiquem como tal. Contudo, podemos cogitar a ideia de que as terceirizações e as generalizações
utilizadas por elas operam como mecanismos de proteção de face [3].
Concluímos que as informações sobre o encaminhamento são relevantes com ou sem a explicitação de
um referente, pois as usuárias podem estar apenas protegendo suas faces utilizando-se de formatos que
ocultam o referente (que pode ser elas mesmas). Assim, mesmo que não haja a explicitação uma pessoa que
esteja na situação da informação solicitada, sugerimos que se forneça informações sobre postos de saúde
onde “qualquer pessoa” que estiver nessa situação possa realizar exames e tratamento se necessário. A oferta
dessas informações também deve ser formulada com terceirizações e generalizações a fim de proteger a face
das usuárias. É importante ressaltar que os resultados dessa pesquisa já foram passados ao Disque Saúde em
uma visita da Profa. Dra. Ana Cristina Ostermann a sede do serviço em Brasília no mês de julho. As
mudanças sugeridas por esse estudo já estão sendo alteradas no atendimento.

Referências

[1] SACKS, Harvey; SCHEGLOFF; Emanuel, JEFFERSON, Gail. A Simplest Systematics for the
organization of Turn Taking for Conversation. Language, 50 (4) Pt 1: 696-735, 1974.

2
Autorrevelação é um termo que foi criado pelo grupo de pesquisa FEI – Fala-em-Interação - para
identificar a oferta de referente que ocorre quando a usuária revela ser ela mesma a pessoa que necessita
da informação.
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[2] JEFFERSON, G. On the Sequential Organization of Troubles-Talk in Ordinary Conversation. Social


Problems, 35 (4): 418-441, 1988.

[3] GOFFMAN, Erving. On Face-Work: An analysis of Ritual Elements in Social Interaction. Psychiatry:
Journal for the Study of Interpersonal Process, 18:213-231, 1955.

[4] BERGMANN, Jorg R. Introduction: Morality in Discourse. Research on Language and Social
Interactions: Lawrence Erlbaum Associates, 31 (3-4): 279-294, 1998.

[5] ___________, Jorg R. Veiled morality: notes on discretion in psychiatry.. In Paul DREW e John
HERITAGE (eds.) Talk at work: interaction in institutional settings. Cambridge, Cambridge University
Press, 137- 162, 1992.

[6] BREDMAR, Per; LINELL, Margareta. Reconstructing Topical Sensitivity: Aspects of Face-Work in
Talks Between Midwives and Expectant Mothers. Research on Language and Social Interaction:
Lawrence Erlbaum Associates, 29 (4): 347-379, 1996. Disponível em:
http://dx.doi.org/10.1207/s15327973rlsi2904_3. Acesso em the 19/10/2009.

[7] SILVERMAN, David; PERAKYLA, Anssi. AIDS counselling: the interactional organisation of talk
about 'delicate' issues. Goldsmiths College: London University, Sociology of Health & Illness. 12 (3), 1990.

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1

VÉIO: UM ARTISTA BRASILEIRO.

Autores: Cleonice Terezinha Gonçalves de Morais

Cleonice_moraes@hotmail.com

Jailson Valentim dos Santos

valentim8@yahoo.com.br

1. OBJETIVO

Este trabalho busca aprofundar os estudos sobre o artista sergipano Cícero Alves
dos Santos, Véio, dando uma visão geral de sua produção artística e os contextos sociais
e ideológicos no qual ela se inseri. Desse modo, visa contribuir para o corpo de
conhecimento até então acumulado sobre o artista e suas obras, fazendo uma abordagem
conceitual das questões referentes a arte e ao artesanato. Valendo do conceito de site
specific esta investigação pretende pôr em evidência os saberes eruditos e populares,
aproximando Véio de Carlos Fajardo com a equiparação de obras dos referidos artistas
que ressignificam o espaço. Ao mesmo tempo, reflete questões do campo empírico da
arte, quando demonstra as ações criativas e intuitivas do artista sertanejo.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

A investigação consistiu em ampla consulta bibliográfica e em análises dos


vídeos disponíveis no Instituto Arte na Escola: Véio e Carlos Fajardo - para todos os
sentidos. O Meio como ponto zero, de Jean Lancri [2002], foi a obra que guiou a
metodologia deste trabalho, pois permitiu o cruzamento, aproximação e interpretação de
dados, considerando as análises feitas por especialistas no assunto como críticos,
teóricos e pesquisadores de arte.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para o professor e pesquisador da UERJ Ricardo Gomes Lima, artesanato


significa um fazer eminentemente manual onde o homem utiliza suas próprias mãos
para confeccionar objetos, impondo sua marca sobre eles. Segundo o pesquisador, o
artesanato teve longo período de hegemonia, pois toda a arte e objetos da Antiguidade
foram construídos dessa maneira, estendendo-se até a Idade Média européia. Desse
modo, se considerarmos esse conceito de artesanato, todo artista, ao executar com suas
próprias mãos uma obra, é um artesão. Lima contrapõe o mundo rural ao urbano, arte
dita popular a erudita, porém, ao opor-mos a arte do artesanato, diz o autor, também

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2

separamos os agentes sociais que dão concretude aos objetos, fazendo distinção de
classes sociais, pois “elegemos” uma elite para se contrapor ao povo. Enquanto os
eleitos escolhem o saber para si, o fazer passa a ser delegado as camadas subalternas.
Assim, as ações das elites são consideradas produto de um conhecimento superior, uma
vez que provêm do pensamento; desse modo são legítimas e consideradas um fazer
artístico. O fazer artesanal é o que sobra para as camadas populares da sociedade, pois
são ações mecânicas que “não” envolve o pensar.

Nos vídeos estudados, observamos uma instalação de Carlos Fajardo feita num
antigo galpão em São Paulo. Nele o artista monta um espaço com materiais
provenientes da indústria. São espelhos distribuídos no chão e no entorno de uma
abertura feita no teto do galpão expositivo, questionando, dessa forma, a realidade
urbana contemporânea. Para Fajardo, uma instalação site specific consiste na
interferência do uso do espaço de maneira tal que as pessoas que o usam sejam mais que
espectadoras do trabalho, podendo participar ativamente da proposta do artista. Suas
intervenções envolvem o caminhar do espectador dentro do espaço instalado, com isso
ele caracteriza o espaço de espaço em uso. Já Véio, faz uma intervenção num espaço
natural e rural, a beira de um pequeno espelho d’água. Com este trabalho o homem
contemporâneo, que “conhece” a cultura pós-colonialista, pós-guerra, pós-industrial e
pós-moderna, é convidado a pensar sobre a chacina cometida pelo colonizador, europeu
e branco, ao povo indígena. O ciclo da vida, o imaginário sertanejo, lendas e estórias de
assombração, assim como as coisas simples do seu meio também são problematizados
pelo artista sergipano. Os materiais utilizados aqui são pedaços de madeira, troncos,
galhos e folhas, além de sua potência criadora, no maior sinal de respeito ao meio
ambiente.

4. CONCLUSÕES

Existe forte carga discriminatória ao considerar apenas a arte que se vincula as


academias, por ser proveniente de um pensar erudito, e consequentemente elitista, como
“arte superior”, um “verdadeiro” fazer artístico. Há outras formas de adquirir
conhecimento que não apenas o que se aprende nos livros e bancos escolares. Desse
modo, percebemos que o fazer popular e artesanal, é mais do que fruto da
irracionalidade ou espontaneidade do povo. Arantes nos diz que o “fazer” não é um ato
naturalmente dissociado do “saber”, e Alvim nos coloca que a produção artesanal,

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3

enquanto processo de trabalho, se caracteriza pela integração da atividade manual com a


intelectual. Lima afirma ainda que, o povo pensa sobre aquilo que realiza. Portanto, é
uma incoerência condenar um artista não erudito a irracionalidade, bem como castiga-lo
pelo fato dele não conhecer e se apropriar de técnicas canônica de fazer arte. Véio
mostra com muita sensibilidade, amor e sabedoria um conjunto de obras que toca todos
os olhares. O próprio artista desabafa: Eu quis fazer um trabalho por amor à profissão,
por respeito ao passado de um povo, por ter uma história da arte num estado onde não
é respeitada a cultura, então eu passei a fazer o trabalho com este objetivo. E
esclarece: Eu Nasci assim com esta fascinação não só pelas coisas antigas, mas pelas
coisas do universo. Então eu não sabia, nem fazia para me tornar um artista, mas fazia
por uma necessidade que a própria mente mandava. Desse modo, afirmamos, Véio é
um artista brasileiro.

5. REFERÊNCIAS

ALVIM, M. R. B. Artesanato, tradição e mudança social: um estudo a partir da arte do


‘ouro de Juazeiro do Norte’. In: RIBEIRO, B. et alii. O artesão tradicional e seu papel
na sociedade contemporânea. Rio de Janeiro: FUNDARTE, Instituto Nacional do
Folclore, 1983.

ARANTES, A. A. O que é cultura popular. São Paulo: Brasiliense, 1988.

BRITES, B. & TESSLER E. org. O Meio como ponto zero: metodologia da pesquisa
em artes plásticas – Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 2002.

FAJARDO, C. Para todos os Sentidos. DVDteca Arte na Escola LA – 1/2005.

GAUDÊNCIO F. et AL, IN: DUARTE, P.S. (org). História da Arte e do Espaço: Da


Escultura à Instalação – Fundação Bienal do MERCOSUL, Porto Alegre, 2005.

LIMA, R. G. Artesanato e arte popular: duas faces da mesma moeda?

PORTO ALEGRE, M. S. Arte e oficio de artesão: história e trajetória de um meio de


sobrevivência. Águas de São Pedro, 1985. Trabalho apresentado no IX Encontro Anual
da ANPOCS.

VÉIO, DVDteca Arte na Escola LA – 22/2006.

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A INFLUÊNCIA DOS ATRIBUTOS NA DECISÃO DE COMPRA DE AUTOMÓVEIS: UM


EXERCÍCIO EM PALMEIRA DAS MISSÕES

Bianca Jupiara Fortes1*; Eduardo Antonio Danieli2; Cristiane Rosa Moreira3


1
Universidade Federal de Santa Maria/CESNORS
2
Universidade Federal de Santa Maria/CESNORS
3
Universidade Federal de Santa Maria/CESNORS

1. Introdução
O setor automobilístico é um dos principais segmentos econômicos do Brasil, refletindo a importância
que também detém no restante do mundo, com as montadoras faturando US$ 2 trilhões em 2007 e
representando 3,8% do PIB mundial [3]. Em um mercado que era formado apenas por quatro grandes
organizações, atualmente é composto por 24 montadoras, e a sua cadeia automotiva corresponde a 23% do
PIB industrial brasileiro [2].
Essas indústrias contam com uma infinidade de marcas e modelos cada vez maior, devido ao mercado
globalizado, sendo continuamente desafiadas a suprir a demanda por melhor qualidade, menores custos e a
necessidade crescente de produzir automóveis mais leves, econômicos e menos poluentes. Para se diferenciar
nesse mercado, estratégias devem ser desenvolvidas, entre elas a administração de marketing. Conforme [5]
“o consumidor deve estar no centro de marketing”, e compreendê-lo, analisando suas verdadeiras
necessidades e desejos, traz muitas vantagens para as empresas que atuam nesse setor. Assim, o
comportamento do consumidor posiciona-se como um tema de grande relevância para tomar-se como objeto
de estudo.
Desta forma dentro deste campo a pesquisa tem como objetivo mensurar a relevância de atributos
tangíveis e intangíveis e valores humanos como premissa no processo de decisão de compra dos
consumidores de automóveis novos na cidade de Palmeira das Missões, Rio Grande do Sul.
Os atributos dos produtos são vistos como características influenciadoras no comportamento dos
compradores. De modo que as características culturais, sociais, pessoais e psicológicas do meio em que as
pessoas convivem afetam seu estilo de consumo. De acordo com [4] o comportamento do consumidor
engloba análise de variáveis observáveis (tangíveis), que podem ser mensuradas. Por exemplo, quando é
adquirido, onde, com quem, para quem e como o bem comprado é utilizado. E ao mesmo tempo inclui
variáveis não observáveis (intangíveis), como valores subjetivos, necessidades pessoais, percepções,
informações que o consumidor já tem em sua memória e até mesmo a avaliação feita pelo consumidor das
alternativas de compra. Assim o consumidor na escolha de que automóvel comprar, poderá confrontar
diferenças entre potência do motor, um atributo tangível, e sua aparência física, como o design, um atributo
intangível [6].
Ainda segundo [6] é possível que os consumidores também usem como estratégia de escolha a
visualização das suas funcionalidades, por exemplo, se o carro é pequeno, ele tem uma vantagem de ser
simples de estacionar. Esta é uma função utilitária, a qual procura reduzir ou impedir circunstâncias de
desconforto e buscar ocasiões agradáveis. Ou então, pelo significado simbólico do produto, que o utiliza ao
nível de entendimento que ultrapassa o produto em si, passando a atuar em toda uma rede culturalmente
constituída de significados que atribuem ao produto defeitos ou qualidades [1]. Por exemplo, se é um veículo
visivelmente caro, o seu proprietário poderá adquiri-lo como fator de status diante de um grupo social,
ganhando assim função simbólica.
No que se refere ao método de segmentação, se os atos dos seres humanos em condutas sociais
almejáveis, são conduzidos por valores, então os valores guiam o comportamento de compra de um produto
ou uma marca. Portanto, podem-se reunir os comportamentos referentes a estímulos, juntamente com os
valores que guiaram seu comportamento de consumidor [6]. Podendo ocorrer essa influência de forma direta,
onde os consumidores determinam uma medida de importância, atribuindo valor a cada um dos atributos do
produto, e avaliam quais os mais significantes para ele no processo de decisão de compra. Assim, se o
consumidor julga mais importante a segurança em um carro, ele buscará atributos de segurança no mesmo,
como air-bag, freios ABS, entre outros. Já a influência direta, se dá por meio da avaliação afetiva, onde o
indivíduo julga de modo holístico os simbolismos ligados aos produtos, podendo ser expressos por meio de
uma propaganda. Caso o consumidor considere de grande importância o valor conforto e prazer, esse
artifício publicitário será capaz de resultar em uma identificação com o consumidor e, com isso, irá gostar da
propaganda e da marca divulgada, sem realizar um julgamento dos atributos tangíveis do automóvel [1].

*
Autor Correspondente: bifortes@hotmail.com
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2. Método
A pesquisa emprega o método bibliográfico o qual consiste em uma fonte de dados secundários.
Quanto aos fins, é de caráter descritiva, a qual segundo [7] estabelece correlações entre variáveis e define a
natureza destas. Caracteriza-se também como um survey cross-sectional, ou em corte transversal, analisando
dados de um único período de tempo. A pesquisa descritiva é recomendada principalmente nas ciências
humanas e sociais, e trabalha sobre dados ou fatos colhidos da própria realidade, que no caso desta pesquisa
foram coletados no local de compra, por meio de questionários estruturados, elaborados a partir do
levantamento bibliográfico. Estes foram aplicados em uma amostra de 50 pessoas, entrevistadas nos meses
de abril e maio de 2010, retirada da população de clientes de duas concessionárias da cidade. Quanto aos
meios, à pesquisa pode ser classificada como quantitativa, onde as opiniões e informações, após coletadas,
foram tabuladas e analisadas, por meio de estatística descritiva.
.
3. Resultados e Discussão
Depois de realizada as análises das variáveis, os atributos tangíveis que se mostraram mais relevantes
na escolha de um automóvel para os consumidores entrevistados, foram:
A economia do combustível, apresentando expressiva relevância na compra de modo que 96% dos
casos a julgaram importante, destacando que 36% deste percentual a considerou extremamente importante
(Tab. 1). Em seguida, mostrou-se relevante a preocupação demonstrada pelos consumidores com os itens de
segurança do veículo, esta preocupação foi demonstrada por 82% dos casos (Tab. 1). Ainda como atributo
tangível, observou-se que os valores monetários também são considerados relevantes, tanto o preço dos
carros, quanto as condições de pagamento e os descontos que são oferecidos pelas concessionárias (Tab. 1).
Referente aos atributos intangíveis vistos como importantes pelos consumidores, o conforto está entre
um dos atributos que mais se destacou, apresentando um percentual de 92% dos casos (Tab. 1). Em relação
ao significado vinculado ao automóvel, ou seja, os símbolos que podem estar associados ao produto,
conforme foi observado no estudo, são vistos como relevantes para 96% dos entrevistados (Tab. 1). Dentre
os significados mostraram-se mais relevantes na hora da compra, especificamente, o design com 34%, a
potência e o desempenho do carro com 28%, e a facilidade de uso com 18% (Fig. 1).

Tab. 1 – Grau de Importância dos Atributos na Compra de Automóveis


Não é Pouco Muito Extremamente
(em %) Importante Importante Importante Importante Importante
Economia de
Combustível 4 2 36 22 36
Itens de Segurança 6 12 28 24 30
Preço 10 8 30 40 12
Condições de
Pagamento e Descontos 8 2 36 38 16
Conforto 4 4 24 48 20
Importância do
Significado 2 2 40 40 16
Fidelidade a Marca 24 16 28 18 14
Fonte: Elaborado pelos autores.

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6% 6%
Propaganda ou
8%
Comercial
18% Merchandising

Design

Potência e
Desempenho
34%
Facilidade de Uso

28% Outros

Fonte: Elaborado pelos autores.


Fig. 1 Significados Associados aos Atributos do Carro.

Referente à marca, ainda um atributo intangível, esta mostrou ser significante para 60% dos
entrevistados, destacando-se como importante para 28% destes (Tab. 1). Observou-se que a relevância da
marca associa-se principalmente a experiências anteriores com 38%, vista como um atributo intangível, e aos
custos de manutenção e a pronta entrega, considerados atributos tangíveis (Fig. 2).

14%
Experiências Anteriores

Pós-venda
10% 38%
Custos de Manutenção

4%
Status

Pronta Entrega

2% Não houve influência


32%
Fonte: Elaborado pelos autores.
Fig. 2 Fatores Associados à Marca do Carro.

4. Conclusão
O presente trabalho teve como objetivo mensurar os atributos e os valores humanos de maior
relevância como premissa na decisão da compra de um automóvel pelos consumidores das concessionárias
da cidade de Palmeira das Missões. Essa investigação foi possível por meio do levantamento de dados
elaborados a partir de estudos teóricos realizados anteriormente, referente aos atributos e valores humanos
influentes na preferência dos consumidores de carros, os quais em seguida foram coletados, validados e
analisados.
Confirmaram-se então como influentes, os atributos tangíveis referentes a valores monetários, pois os
clientes buscam economia do combustível, bons preços e boas condições de pagamento. Ao lado desse fator
mostra-se que atributos tangíveis de segurança de um carro, estes associados à influência dos valores
humanos de forma indireta, também são considerados na escolha do automóvel. Por outro lado os atributos
intangíveis se destacaram no que diz respeito ao conceito de conforto que o consumidor tem, e se este está
associado à imagem que o carro apresenta. Além disso, ligado à influência que os valores humanos exercem
de forma direta, ou seja, também por atributos intangíveis, os significados associados à imagem dos veículos
são relevantes para os clientes, destacando-se o design do veículo, o desempenho e potência que possui e sua
facilidade de uso.
Em virtude do que se analisou no estudo, os fatores mensurados e confirmados como importantes na
escolha de um automóvel mostram-se úteis para servir de ferramentas aos profissionais de marketing,

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podendo aplicar esses atributos visivelmente aos veículos, ou então aos conceitos associados a estes em suas
propagandas e promoções, visando assim atingir uma diferenciação de suas marcas no mercado.
No trabalho, devido o carro ser um bem de compra comparada, encontrou-se a dificuldade para se ter
acesso há um número maior de consumidores, demonstrando-se como um fator limitante ao número de
entrevistados da amostra.

5. Referências
[1] ALLEN, M.W.; Ng, S. H. The direct and indirect influences of human values on product ownership.
Journal of economic Psychology, 1999.
[2] ANFAVEA. In: Google. Brasil: Indústria Automobilística Brasileira: 50 Anos, Associação Nacional
dos Fabricantes de Veículos Automotores. Disponível em: <http://www.anfavea.com.br/50anos.html>.
Acesso em: 25 nov. 2009.
[3] AUTOMÓVEIS. In: Google. Brasil: Uma nova era para as montadoras. Portal Exame, 2009.
Disponível em: <http://portalexame.abril.com.br/revista/exame/edicoes/0941/negocios/nova-era-montadoras-
449763.html>. Acesso em: 15 abri. 2010.
[4] HAWKINS, D.L.; MOTHERSBAUGH, D.L.; BEST, R. J. Comportamento do Consumidor:
Construindo a Estratégia de Marketing. -10ª Edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.
[5] KOTLER, P.; ARMSTRONG, G. Princípios de Marketing. – 12ª Ediçao. São Paulo: Pearson Prentice
Hall, 2007.
[6] PORTO, R.B. Valores Humanos Pessoais e Significados do Produto como Preditores de Preferência
por Tipos de Automóveis. Brasília - DF, 2005.
[7] VERGARA, S.C. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. - 2ª Edição. São Paulo: Atlas,
1998.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

ADOÇÃO DE ESTRATÉGIAS PELAS COOPERATIVAS AGROPECUÁRIAS –


ALTERNATIVA OU NECESSIDADE?

Bruno Alex Branco*; Pedro Pelegrineli Fasolin2 ; Régio Marcio Toesca Gimenes³
1
Unipar – Universidade Paranaense
2
Unipar – Universidade Paranaense
³ Unipar – Universidade Paranaense

1. Introdução
Na cadeia de valor do agronegócio brasileiro, as cooperativas têm importante participação, na medida
em que atuam apoiando os desenvolvimentos econômico e social, principalmente das pequenas propriedades
rurais [6]. E, em um mundo globalizado, com empresas altamente competitivas e que a cada dia formulam e
põem em prática novas estratégias de produtos, gestão, qualidade e outras, fica evidente a necessidade das
cooperativas agropecuárias se adequarem a esse cenário. Desse modo, é consenso que a adoção de
estratégias é essencial para a sobrevivência de todas as organizações, independente de seu modelo
empresarial. Devido à importância das cooperativas agropecuárias para a economia nacional, essas devem
adotar medidas que as permitam lutar de igual para igual com as empresas de capital.

2. Método
O procedimento metodológico é analítico, não sendo estabelecido nenhum modelo empírico, e
análise de dados apresentados; buscando apenas respostas para dúvidas geradas a partir de um problema.
Sobre a forma, estabeleceu-se a pesquisa através de artigos e livros que serviram de base para a resolução do
problema.

3. Resultados e Discussão
Alguns autores definem estratégia como sendo “[...] a determinação das metas e dos objetivos
básicos de longo prazo de uma empresa e a adoção de cursos de ação e a alocação dos recursos necessários
para realizar essas metas” [3] outros ainda comentam, “[...] o desenvolvimento de uma fórmula ampla para o
modo como uma empresa irá competir, quais deveriam ser suas metas e quais as políticas necessárias para
levar-se a cabo estas metas” [9]. E há quem afirme que “[...] não há uma definição única, universalmente
aceita” [8].
Pode-se observar a existência de diversas estratégias que norteiam o ajustamento competitivo das
cooperativas: integração (ou concentração) vertical e horizontal; alianças estratégicas, como acordo ou
parceria, holding e joint venture; concentração ou enfoque, como formação de centrais, união de
cooperativas e fusões; e diversificação de negócios e de produtos [5].
Analisando-se estratégias de seis cooperativas de leite internacionais (sendo que dessas, quatro
consideradas as maiores do mundo no ramo) Barroso et al. [2] destacaram estratégias que são facilmente
encontradas em empresas de capital. Das quais cabe ressaltar: ganhos de escala na produção e na
distribuição; diferenciação de marcas; foco no mercado internacional e desenvolvimento de marcas e
produtos no mercado interno. A pesquisa sugere ainda, uma formulação de cinco níveis de integração para as
cooperativas de leite paulista, e a importância da mesma na melhora dos resultados para seus cooperados.
Em âmbito doméstico, as cooperativas enfrentam problemas para a implementação de um
planejamento estratégico de longo prazo, com decisões que envolvem um cenário mais amplo e na maioria
das vezes imprevisível. Há muitas vezes discordância entre cooperativa e cooperados no processo de
formulação da estratégia empresarial, dificultando a inserção e posterior competição dessas cooperativas em
novos mercados, ou ainda queda na participação de mercado onde já atua.
Em pesquisa sobre a influência da mudança de gestão nas estratégias de uma cooperativa agropecuária,
entrevistando funcionários e cooperados, Antonialli [1] encontrou diversos problemas de caráter estratégico.
Os principais pontos destacados foram: falta de planejamento estratégico; quadro de cooperados com
natureza individualista; baixa participação de cooperados em AGO’s e AGE’s; amadorismo gerencial da
diretoria e divergências políticas dos grupos de interesse envolvidos na disputa pelo poder.
Ferreira e Braga [5] em trabalho sobre a relação na melhoria da posição competitiva através da
diversificação das cooperativas agropecuárias distribuídas por diferentes regiões nos Estados de São Paulo e
Minas Gerais, observaram que 47,7% das cooperativas em estudo apresentaram diversificação de negócios e
cerca de 45,8% apresentaram diversificação de produtos. Na investigação dos fatores que poderiam estar

*
Autor Correspondente: bruno_leite_22@hotmail.com
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estimulando essa busca por novos negócios, perceberam que foram os prejuízos e baixos retornos nas
atividades principais dessas cooperativas.
Com a abertura da economia ao comércio internacional, as cooperativas sentiram a necessidade de
formar alianças com empresas de capital, também em uma tentativa de captar novos recursos.

Segundo Bialoskorski Neto [4] (1998a, p. 184):

[...] as alianças estratégicas de negócios são necessárias para ampliar e possibilitar


o ganho de escala, escopo e/ou tamanho em suas plantas. Mas também devem
possibilitar uma nova forma de captação de recursos de capital para investimentos.

Outra forma de estratégia que se faz disponível às cooperativas agropecuárias é a internacionalização.


A Federação das Cooperativas Dinamarquesas [11] considera uma cooperativa internacional quando pelo
menos uma de quatro estratégias de internacionalização é adotada; exportação, alianças, investimentos
diretos e organização de uma cooperativa transnacional. Nesse âmbito cooperativista Donoso et al. [11]
observa que esta é uma tendência mundial e estudos apontam como um dos seus principais desafios.
Para Ritossa [11] os fatores que incentivam as cooperativas a internacionalizar suas atividades são
muito similares àqueles que levam as empresas de capital ao exterior. O aumento de receitas, rentabilidade e
lucratividade da cooperativa e do cooperado aliado à obtenção de melhores preços de comercialização,
figuram como os principais motivos. Também aponta as dificuldades encontradas pelas cooperativas para se
internacionalizar. Destacando-se: a política cambial, o custo Brasil, as barreiras fiscais e tarifárias, a
burocracia e as questões legais do processo de internacionalização. Para ela, a internacionalização produz
resultados positivos para as cooperativas agropecuárias, seja pela ótica econômica, seja pela social.
As cooperativas agropecuárias muitas vezes competem frente a frente com empresas de
capital. Tendo em vista o seu modelo singular de gestão e os princípios cooperativistas envolvidos,
é necessário criar uma estratégia que se adapte a essas peculiaridades, pois o mercado é muito
dinâmico e condena falhas ou processos demorados na tomada de decisão. Segundo Póvoa [10],
atualmente o objetivo de qualquer administrador é aumentar o valor da empresa para o acionista o
que, no caso das cooperativas agropecuárias, poderia ser adaptado para “aumento do valor para os
cooperados”. Depois da adoção de determinado tipo de estratégia, a mesma deve orientar as
decisões dos dirigentes para se obter melhorias no longo prazo.
Por fim, dando ênfase a importância de se estabelecer uma estratégia que não permita a entrada de
concorrentes no mesmo mercado de atuação (a tão discutida “vantagem competitiva sustentada”) fica um
alerta.

Segundo Greenwald [7] (2006, p. 05):

Com um universo de empresas buscando oportunidades lucrativas de investimento,


os retornos em uma indústria não protegida cairão a níveis em que não haverá
“lucro econômico”, isto é, não haverá retorno acima do capital investido.

4. Conclusão
O nível de competitividade em que os mercados se encontram exige medidas rápidas e eficientes das
empresas que querem um papel de destaque em seu campo de atuação. As cooperativas agropecuárias, como
exposto acima, têm feito a sua parte e adotado estratégias condizentes com o seu ambiente competitivo. O
que fica claro é que a adoção dessas estratégias não é apenas uma alternativa ou que, no jargão popular,
“pode ser deixada para depois”. É uma necessidade, que bem como depois de implementadas, devem ser
revistas e atualizadas na medida em que forem se tornando obsoletas, pois só assim elas conseguirão alcançar
o seu devido espaço na economia.

Referências
[1] ANTONIALLI, L. M. Influência da mudança de gestão nas estratégias de uma cooperativa agropecuária.
Revista de Administração Contemporânea, v. 4, n. 1, p. 135-159, Jan./Abr. 2000. Disponível em: <
http://www.anpad.org.br/periodicos/arq_pdf/a_493.pdf>. Acesso em: 10 Out. 2009.
[2] BARROSO, M. F. G. et al. Um ensaio sobre estratégias de integração operacional nas cooperativas
de leite paulistas. Trabalho apresentado no XLV Congresso da SOBER, Londrina, 2007. Disponível em: <
http://www.sober.org.br/palestra/6/829.pdf>. Acesso em: 05 Out. 2009.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

[3] BESANKO, D. et al. A economia da estratégia. Tradução de Bazán Tecnologia e Lingüística. São
Paulo: Bookman, 2004.
[4] BIALOSKORSKI N., S. Cooperativas: economia, crescimento e estrutura de capital. Tese
(Doutorado em Economia Aplicada) – Programa de Pós-Graduação em Economia Aplicada, ESALQ/USP,
Piracicaba, 1998.
[5] FERREIRA, M. A. M.; BRAGA, M. J. Diversificação e competitividade nas cooperativas agropecuárias.
Revista de Administração Contemporânea, v. 8, n. 4, p. 33-55, Out./Dez. 2004. Disponível em:
<http://www.anpad.org.br/periodicos/arq_pdf/a_244.pdf>. Acesso em: 10 Out. 2009.
[6] GIMENES, R. M. T.; GIMENES, F. M. P. Desafios para a gestão financeira das cooperativas
agropecuárias Brasileiras. Análise, v. 19, n. 1, p. 76-98. Jan./Junho. 2008. Disponível em: <
http://revistaseletronicas.pucrs.br/fo/ojs/index.php/face/article/viewFile/351/3215>. Acesso em: 15 Out.
2009.
[7] GREENWALD, B.; KAHN, J. A estratégia competitiva desmistificada. Tradução de Ricardo Bastos
Vieira. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006.
[8] MINTZBERG, H. O processo da estratégia: conceitos, contextos e casos selecionados. Tradução de
Luciana de Oliveira da Rocha. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006.
[9] PORTER, M. E. Estratégia competitiva: técnicas para a análise de indústrias e da concorrência.
Tradução de Elizabeth Maria de Pinho Braga. 7. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1986.
[10] PÓVOA, Alexandre. Valuation: como precificar ações. São Paulo: Globo, 2007.
[11] RITOSSA, C. M. A internacionalização de cooperativas agropecuárias: um estudo multi-método
das cooperativas agropecuárias do estado do Paraná. Dissertação (Mestrado em Administração) –
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2008.

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AGERGS e a avaliação da qualidade dos serviços públicos sob a ótica da participação cidadã

Autora: Cláucia Piccoli Faganello1


Orientador: Aragon Érico Dasso Júnior
Instituição: Universidade Estadual do Rio Grande do Sul/ Centro Universitário Ritter dos Reis

1. Introdução
O início do século XXI traz consigo com uma nova relação entre os cidadãos e a
Administração Pública no Brasil, mediada pelo crescimento do controle social sobre os serviços
públicos, especialmente no que se refere aos instrumentos de avaliação dos mesmos. No Estado do
Rio Grande do Sul, é a Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Rio
Grande do Sul (AGERGS) a instituição responsável por avaliar a qualidade dos serviços públicos,
via Cadastro de Usuários Voluntários. Anualmente, a AGERGS divulga pesquisa de opinião sobre a
qualidade dos serviços públicos sob sua regulação. O objetivo deste artigo é investigar a
representatividade desse Cadastro e, por conseguinte, a validade da mencionada pesquisa de
opinião. Este estudo se justifica pela necessidade de uma maior participação dos cidadãos na
avaliação dos serviços públicos que a AGERGS delega.
A década de 1990 enquadrasse num momento de grandes mudanças para a Administração
Pública Brasileira. Essas transformações ocorreram no mundo todo devido ao aumento das
expectativas e das demanda dos cidadãos em uma parcela importante de países, e tinham como foco
melhorar a eficiência, a eficácia e a afetividade dos serviços públicos prestados (MATIAS-
PEREIRA, 2009). No Brasil essas mudanças aparecem no contexto da Reforma do Estado, onde
ocorreu a implantação de um Modelo Gerencial na tentativa de ter uma maior aproximação ao
modelo liberal hegemônico imposto e um distanciamento do movimento reformista internacional
(BRESSER-PEREIRA, 2001). Essa reforma ocorreu no Brasil em 1995 e foi dividida em dois
estágios: um primeiro em que ocorreram as privatizações, a descentralização e a
desregulamentação, e um segundo em que foi reorganizada a estrutura administrativa institucional
do Estado. É nesse contexto que surgem as Agências de Regulação, com a finalidade de regular os
serviços públicos delegados a terceiros. A primeira Agência foi criada no governo do Presidente
Fernando Henrique Cardoso (1995), a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), em 26 de
dezembro de 1996. Assim, atualmente já são dez as Agências: Agência Nacional de Energia
Elétrica (ANEEL), Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL), Agência Nacional do
Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA), Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Agência Nacional de Águas (ANA),
Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e Agência Nacional de Transportes
Aquaviários (ANTAQ), Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e Agência Estadual de
Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Rio Grande Do Sul (AGERGS).
No Estado do Rio Grande do Sul, é a Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos
Delegados do Rio Grande do Sul (AGERGS) a instituição responsável por avaliar a qualidade dos
serviços públicos, via Cadastro de Usuários Voluntários. Anualmente, a AGERGS divulga pesquisa
de opinião sobre a qualidade dos serviços públicos sob sua regulação.

2. Método
O método utilizado é o hipotético-dedutivo, que busca reunir observações e hipóteses ou
fatos e idéias, e evolui por meio do aperfeiçoamento das técnicas usadas na observação e no
reexame das hipóteses. O aperfeiçoamento das observações pode ser conseguido com experimentos
previamente planejados que utilizem os meios técnicos mais modernos e eficientes. As hipóteses se
aperfeiçoam quando se tornam mais simples, quantitativas e gerais. No entanto, é preciso deixar
1
Cláucia Piccoli Faganello. E-mail: claucia.f@gmail.com
[Escribir texto]
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claro que estes aperfeiçoamentos não levam a verdade absoluta, mas a conhecimentos
progressivamente melhor fundamentados das ciências factuais.

3. Resultados e Discussão
Nesse momento o estudo encontra-se na fase de coleta de material bibliográfico e construção
teórica acerca do contexto de surgimento das Agências de Regulação. Fez-se uma análise do Projeto
de Lei de Criação da AGERGS e da Lei que deu origem a Agência. Analisou-se as finalidades, o
regime dos servidores, a autonomia orçamentária e os mecanismos de interface com o cidadão.
Pretende-se ainda verificar a efetividade desses mecanismos de participação cidadã e as
possibilidades que o cidadão tem de participar da fiscalização dos serviços públicos sob regulação
da Agência.

4. Conclusão
Este estudo se justifica pela necessidade de uma maior participação dos cidadãos na
avaliação dos serviços públicos que a AGERGS delega, pois entende-se que somente um usuário
bem informado é capaz de reconhecer seus direitos, ou seja, é somente com a participação efetiva
na tomada de decisões que os cidadãos conseguirão participar do controle efetivo da sociedade. Ao
participar, ao manifestar sua opinião é que o usuário afirma os valores democráticos explícitos na
Constituição Federal.
Cada vez mais, a Administração pública deve estimular seus usuários, cidadãos
consumidores a fornecer sua opinião crítica, para que todos os institutos de participação se efetivem
e a manifestação do usuário é fundamental nesse processo, pois é ele quem poderá alterar, restringir,
corrigir, os atos da administração pública, agindo, inclusive, como fiscalizador dos atos sociais.

Referências
AVELAR, Lúcia e CINTRA, Antônio Octávio (organizadores). Sistema político brasileiro: uma
introdução. São Paulo. Fundação Unesp Ed., 2004.
BORDENAVE, Juan E. Díaz. O que é participação. 1ª edição, Editora Brasiliense. Brasília, 1983.
BRESSER PEREIRA, Carlos. A Reforma do Estado para a Democracia. São Paulo: Cia das Letras,
2001.
DALLARI, Dalmo de Abreu. O que é participação política. São Paulo. Brasiliense, 1984.
DASSO JÚNIOR, Aragon Érico. Reforma do Estado com participação cidadã?
Déficit Democrático das Agências Reguladoras Brasileiras. Florianópolis. UFSC, 2006.
FIORI, José Luis. O vôo da coruja. Rio de Janeiro. Record, 2003.
MARE, Ministério da Administração Federal e da Reforma do Estado. O Conselho de Reforma do
Aparelho de Estado. Brasília: MARE 1997.
MATIAS-PEREIRA, J. Curso de Administração Pública: foco nas instituições e ações
governamentais. 2ª edição. São Paulo: Atlas, 2009.
MOLL, Luíza Helena (organizadora). Agências de Regulação do Mercado. 1ª ed. Porto Alegre:
UFRGS, 2002. Agergs. Silveira, Íris, Seger, Letícia Alt e Silva, Liniane Maria Mog, páginas
307/342.
Revista da AGERGS Marco Regulatório, Edição Especial, julho. 2001. História da AGERGS, os
primeiros quatro anos da atividade regulatória.
Revista da AGERGS Marco Regulatório, n.7, março. 2004. Participação: Transparência controle.
Maria Augusta Feldman, páginas 37/43.
Revista da AGERGS Marco Regulatório, n.8, março. 2005. Análise da Representatividade dos
Usuários Voluntários da AGERGS. Francisco José Vasconcellos de Araújo, páginas 31/43.
Revista da AGERGS Marco Regulatório, nº. 10, março. 2008. O Fornecimento de Energia Elétrica:
Comentários a Solução de Continuidade do Serviço Público face ao CDC. Renata Dumont Peixoto
Lima, páginas 23/41.
Revista Marco Regulatória, nº. 6, março. 2002. Regulação e Cidadania, Maria Augusta Feldman,
páginas 69/73.
[Escribir texto]
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

WOOD, Ellen Meiksins. Democracia contra capitalismo. São Paulo: Boitempo 2004.

[Escribir texto]
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ANÁLISE DA COBRANÇA PELO USO DA ÁGUA NA BACIA O RIO PARAÍBA DO SUL SOB
A VISÃO INSTITUCIONAL

Bruno Moriggi1
Amália Maria Goldberg Godoy2
1. Introdução
A “velha economia” institucional surgida a partir do início século do XX baseava-se no estudo da
estrutura, das regras e do comportamento das organizações. Suas idéias a princípio apresentavam pequenas
falhas principalmente porque não conseguia articular o comportamento do agente aos custos de transação.
Após a evolução do pensamento econômico surgiu a “nova economia” institucional, com nítidas tendências
teóricas, voltadas para o mercado, considerando a importância das instituições na compreensão do
comportamento e dos resultados econômicos e políticos. Sua corrente teórica ganhou muito destaque,
principalmente porque permitiu atingir os resultados sociais e os objetivos políticos fundamentais na
construção da sociedade moderna. Nesse sentido o surgimento da Agência Nacional de Água (ANA) no
Brasil, rompe os conceitos neoclássicos, e sustenta o conceito da nova economia institucional, para a
importância fundamental da instituição em garantir os recursos hídricos para as atividades econômicas, o
bem-estar público e a conservação ambiental.

2. Metodologia
A análise aqui empreendida buscará conciliar o conceito teórico da economia institucional, com os
relatórios governamentais, a fim de detectar os impactos ambientais pela cobrança do uso da água. Buscar-
se-á examinar a partir dos dados, se adoção de tal instrumento legal apresentou resultados significativos no
sentido sócio econômico e também se os recursos, destinados a cobrança pelo uso da água estão sendo
repassados de forma eficiente, para programa de ações e investimentos para recuperação e preservação dos
recursos hídricos.

3. Resultados e Discussões
O Brasil detém a confortável posição de possuir 16 % da água doce do planeta, o que representa o
maior reservatório hídrico do mundo (ANA, 2009). Entretanto a sua distribuição em todo território Nacional
apresenta grandes distorções regionais. Como podemos constatar segundo a Agência Nacional de Águas
(ANA) somente a bacia amazônica concentra 72% do potencial de recursos hídricos do Brasil, e detém uma
população de aproximadamente 8 % da população brasileira segundo o IBGE (2005). Em relação a outras
regiões a distribuição regional dos recursos hídricos é de 70% para a região Norte, 15% para a região Centro-
Oeste, 12% para as regiões Sul e Sudeste – que apresentam o maior percentual de consumo de água – e 3%
para a região Nordeste. Essa disparidade espacial na distribuição dos recursos hídricos é um dos fatores que
obriga o país a adotar um sistema nacional de recursos hídricos, com gestão integrada, tendo a bacia
hidrográfica como unidade de gerenciamento. Dessa maneira em 1997 surge a Agência Nacional de Água
(ANA), criada com o objetivo específico de regulamentar e fiscalizar a concessão de serviços públicos de
rios e bacias de domínio da União. O surgimento da Agência Nacional de Águas (ANA) permitiu a
construção de uma nova teoria institucional, fundamentada no novo modelo de gestão compartilhado entre os
agentes públicos, usuários e sociedade civil organizada. Esta nova reorganização do sistema substitui práticas
profundamente enraizadas no planejamento tecnocrático e autoritário do Estado na conservação do recurso
hídrico, possibilitando romper com os conceitos da teoria neoclássica, do qual o custo do valor pelo uso da
água, por meio da agregação de demandas individuais, tanto de consumidores ou firmas, tenderiam ao ponto
de equilíbrio de mercado, independente dos malefícios que poderiam provocar no meio ambiente.
Assim, o objetivo do trabalho será analisar a nova gestão institucional compartilhada entre os agentes
socioeconômicos, que possibilitaram instituir uma nova base de gestão para a cobrança pelo uso dos recursos
hídricos. A introdução deste novo conceito de gestão institucional permitiu um avanço bastante significativo

1
Mestrando em Teoria Econômica do Programa de Pós Graduação em Ciências Econômicas da Universidade
Estadual de Maringá (PCE-UEM) e bolsista do CNPQ; email: btmo@ig.com.br;
2
Professora Associada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Econômicas e do Departamento de
Economia da Universidade Estadual de Maringá – UEM; email: amggodoy@uem.br;
767
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

na proteção ambiental, já que o modelo anterior, embora bastante eficiente, apresentava erros principalmente
na atribuição pelo uso da água, já que delegava ao agente individual a decisão de poluir ou não o meio
ambiente, resultando assim em desequilíbrios ambientais. Diante desse fato, o porquê da escolha de
determinada assunto? Primeiro pela importância de entendermos a relevância de uma gestão dos recursos
hídricos, integrada que possa provocar as chamadas “externalidades positivas” para a sociedade. O segundo
qualquer desenvolvimento econômico e social, necessita-se de um planejamento econômico altamente eficaz,
que estude a origem do crescimento.
O foco de análise espacial será a Bacia do Rio Paraíba do Sul, região altamente desenvolvida em
termos econômicos e tecnológicos, e que hoje apresenta sérios problemas ambientais, frutos do antigo
modelo de gestão institucional aplicado durante o período. A bacia do rio Paraíba do Sul está situada no
sudeste do Brasil, abrangendo uma área total de 55400 km², entre os Estados de São Paulo (13500 km²), Rio
de Janeiro (21000 km²) e Minas Gerais (20900 km²). Em toda sua extensão, 36 dos 180 municípios estão
parcialmente inseridos na bacia, contabilizando uma população segundo o IBGE (2006) de quase 4.2602506
milhões de habitantes, sendo 2.243.787 milhões em São Paulo, 678.159 mil no Rio de Janeiro e 1.338.560
milhões em Minas Gerais. Se levarmos em conta os municípios localizados fora da bacia, seja por meio de
captação direta para as localidades ribeirinhas, ou para aproveitamento hidroelétrico sua população hídrica
passa para aproximadamente 18 milhões de pessoas incluindo a população da região Metropolitana do Rio de
Janeiro. (IBGE, 2009)
Diante desses números percebe-se uma relativa importância por parte de determinada Bacia, que se
encontra em estado crítico. Para se ter uma idéia do real estado da bacia, atualmente conforme relatório
divulgado pela Agência Nacional de Águas (ANA) em 2008, mostra que um bilhão de litros de esgotos
domésticos, praticamente sem tratamento, são despejados diariamente na Bacia do Rio Paraíba do Sul. Ainda
segundo a ANA, cerca de 90% dos esgoto gerados nos municípios em torno da bacia não tratam o seu
esgoto. A carga poluidora total da Bacia, de origem orgânica, corresponde a cerca de 280 toneladas de DBO
por dia, dos quais cerca de 86% derivam de efluentes domésticos, e 14% industriais. Outros fatores que
contribuem para a degradação da qualidade das águas da Bacia são: disposição inadequada do lixo (53% dos
lixos produzidos são destinados aos lixões ou outras formas inadequadas); desmatamento indiscriminado,
provocando a erosão que acarreta o assoreamento dos rios, agravando as conseqüências das enchentes;
retirada de recursos minerais e areia para a construção civil sem as devidas medidas para a minimização de
impactos e recuperação ambiental das áreas desativadas; o uso indevido e não controlado de agrotóxicos; a
ocupação desordenada do solo; a pesca predatória; e outros. (ANA, 2009)
Assim vale ressaltar vários debates atuais em torno da capacidade e incapacidade da regulamentação
do mercado, que deve servir melhor os propósitos da sociedade, tanto individual quanto coletivamente.
Dessa forma a teoria neoclássica enfatiza que a alocação de recursos via mecanismo de mercado é eficiente
do ponto de vista econômico se, além da existência do próprio mercado, certas condições ideais
prevalecerem, tais como: (i) perfeito conhecimento de todos os agentes com relação às alternativas
disponíveis no mercado; (II) perfeita mobilidade de recursos; (iii) custos marginais crescentes; (iv) direitos
de propriedade dos recursos bem definidos. (CARRERA- FERNANDEZ; 2001)
Entretanto como sabemos a inexistência de determinado mercado regulatório de um determinado
bem, segundo as premissas neoclássicas tende afetar consideravelmente o equilíbrio entre a oferta e demanda
das condições de mercado, resultando em grandes distorções distributivas. Um exemplo muito claro disso é a
água que embora não se comporta como um mercado “puro” concebido de acordo com a teoria neoclássica,
baseada no conceito de mercado perfeito competitivo, com grande número de consumidores, com
informação plena e livre, liberdade de entrada e saída de mercado, produto homogêneo e divisível, tende a
apresentar várias falhas, que podem ser reunidas em cinco categorias: externalidades, características de bem
público; competição imperfeita; incerteza e informação imperfeita; e assimetria entre os indivíduos. (SOUZA
LEAL, 1998) Deste modo, as imperfeições no mercado da água, tende a gerar custos de transação,
resultando em perdas econômicas tanto por parte do comprador quanto do vendedor, causando em via de
regra, custos marginais sociais maiores em relação ao custo marginal privado.
Assim há destacar, a responsabilidade por parte do Estado em garantir o equilíbrio no mercado de
água, e também em criar as condições necessárias para a regulamentação do mecanismo de cobrança pelo
uso da água e também em gerir as externalidades negativas de alto custo social. Dessa forma o meio
ambiente passa a ser considerado um bem público, de uso comum recebendo os efeitos externos negativos
provocados pelos agentes privados. A internalização das externalidades ambientais (via multas, pagamentos,
taxas, entre outros) aplicadas ao poluidor parte do principio que o poluidor ao pagar mudará os seus hábitos.
O pagamento atuará como fator limitador dos abusos de determinadas pessoas ou grupos sobre outras (os)
indivíduos obedecendo ao princípio da racionalidade do indivíduo. (SOUZA LEAL, 1998) Assim segundo
GODOY (2007) a inclusão desse instrumento de cobrança permite proporcionar os melhores resultados em

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

termos de eficácia ambiental e de eficácia econômica, assegurando um preço apropriado para os recursos
ambientais, promovendo de forma eficiente o uso e alocação dos fatores de produção.

4. Conclusão
O artigo buscou estudar os elementos teóricos com os resultados práticos da adoção da política da
gestão dos Recursos Hídricos na Bacia do Rio Paraíba do Sul. Diante da escassez de água no mundo, a
preservação de determinado recurso significará garantir a manutenção de futuras gerações de indivíduos. O
assunto específico reacende uma ampla gama da necessidade da implantação de uma gestão integrada entre
agentes públicos e privados no intuito de proporcionar externalidades positivas à sociedade. O
comprometimento de uma Agência regulamentadora com a cooperação entre os agentes introduz um novo
conceito teórico, de gestão participativa. A metodologia empregada procurou romper os pressupostos
neoclássicos de equilíbrio econômico, pois esses não se verificam no ambiente da Bacia Hidrográfica. A
flexibilização das hipóteses propostas pela economia Institucional adequam a realidade do sistema atual de
mercado composto de imperfeição dos mercados, assimetria de informação e racionalidade limitada. Enfim,
o trabalho identificou uma queda bastante acentuada na degradação do meio ambiente, frutos da
conscientização por parte dos usuários, e também dos investimentos realizados pelo setor público na
revitalização da bacia hidrográfica analisada.

Referências

[1] CARRERA-FERNANDEZ; “A nova política nacional de recursos hídricos e a regulação dos setores de
águas e energia elétrica”. Revista de Economia Aplicada, São Paulo, v. 7, n. 1, p. 133-161, 2003;
[2] GODOY, Amália M. G.; “Uma proposta de abordagem teórica sobre a cobrança da água”. Sociedade
Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural, 2007, Londrina. v. 1;
[3] http://www.ana.gov.br;
[4] http://www.ibge.gov.br;
[5] LEAL, Márcia Souza; “Gestão Ambiental de Recursos hídricos: princípios e aplicações” Rio de Janeiro:
CPRM, 1998;

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ANÁLISE DA REDE CIA. DE SAÚDE PRODUTOS NATURAIS EM SEUS ASSOCIADOS

Avelino Euclides da Silva Chimbulo1*; Elisangela Machado Rodrigues2; Dra Simone Meister Sommer
Biléssimo2- orientador
1
Universidade do Extremo Sul catarinense –– UNESC
2
Universidade do Extremo Sul catarinense –– UNESC
3
Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC

1. Introdução
Com o aumento da competitividade as organizações estão buscando cada, vez mais o diferencial para
manterem-se neste mercado em constante mudança, desta forma uma maneira que elas encontram é
pertencerem a redes sociais. De acordo com Amato Neto [1], as redes são estratégias que as organizações
podem utilizar, para alcançar de forma competitiva, a melhoria na organização de bens ou serviços, em
conjunto com outras empresas. As redes constituem as relações de trabalho ou amizades que um grupo
estabelece entre seus semelhantes, trocando informações que sejam de interesse comum.
Este artigo tem como objetivo analisar a Rede Cia. da Saúde Produtos Naturais, localizada no estado
de Santa Catarina. A Rede Cia. da Saúde Produtos Naturais[2] iniciou suas atividades há cinco anos, com o
objetivo de trazer maior facilidade para os associados com a padronização, e inovação das lojas pertencentes
a esta rede. A coleta de dados foi feita por meio de questionários aplicados via email com os associados.
Após a coleta os dados foram tabulados e analisados.

2. Método
Para este trabalho foram realizadas pesquisas bibliográfica e de campo envolvendo o agente em
análise. Segundo Gil [3], a pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado,
constituído principalmente de livros e artigos científicos. Elabora em quase todos os estudos seja exigido
algum tipo de trabalho dessa natureza. Esta pesquisa traz uma abordagem de forma compreensível, tendo em
evidencia a forma metodológica utilizada para o desenvolvimento ao longo do contexto

3. Resultados e Discussão
De acordo com Amato Neto [1,3], define-se como estrutura da rede a maneira como os
relacionamentos acontecem entre as organizações e classificam se em:
 · relações diretas – os fluxos de informações ocorrem mais rapidamente. Exemplo na
figura 01, uma rede com foco na organização, A tem relações diretas com as
organizações B e C respectivamente. São relações fortes, pois tem intensa freqüência de
informações.
 · relações indiretas – os fluxos das informações são mais lentos, devido à dificuldade da
transmissão de dados entre as redes. Exemplo na figura 01, a empresa A tem relação
indireta com D e E e com as organizações F e G, nesta relação quem transmite as
informações para as empresas D e E é a empresa B, e para as empresas F e G quem
transmite é a empresa C, sem esforço de reciprocidade das informações da empresa A.

Fig 1 - Relações diretas e indiretas


Fonte: Amato Neto [1,3,4](2005, p. 61)
Segundo Amato Neto (2005) as redes densamente interligadas são as mais fortes, pois ocorrem trocas
diretas de informações entre todas as organizações,as relações são fortes, pois estas empresas podem
compartilhar desde relatórios,equipamentos até recursos humanos, ou seja, possuem uma vantagem
competitiva em relação ao uso destes recursos compartilhados.

*
mykechimbas@hotmail.com
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Fig 2 - Rede densamente interligada


Fonte: Amato Neto [1,3-5]
Ainda de acordo com Amato Neto (2005) as redes com buracos possuem contato direto com o eixo
principal, mas nunca com os eixos paralelos, ou seja, a rede (A, B, C) a rede A se relaciona com B e com a
rede C, já a rede B não se relaciona com a rede C, desta forma entre a rede B e a rede C existe um buraco
estrutural. Isto influencia diretamente o fluxo do conhecimento entre as empresas, a facilidade de
desenvolvimento de confiança, o auxílio de solução de problemas.

Fig 3 - Rede com buraco estrutural


Fonte: Amaro Neto [1,3-6]
Para o autor acima citado, não importa qual a classificação que uma rede possua, e sim os recursos
benefícios que serão utilizados, tanto em uma rede direta, indireta, densamente interligadas ou com buracos
estruturais. Segundo Amato Neto [1,3-6] as empresas estão em busca constante pela redução de custos, desta
forma as redes de cooperação tornam-se uma boa alternativa, para a maximização dos recursos, auxiliando
no processo de inovação destas organizações, beneficiando também por outro lado à competitividade de
forma conjunta. A seguir apresentam-se os resultados obtidos a partir da pesquisa realizada com os
associados da Rede Cia. da Saúde Produtos Naturais.
Tab.1: Fundação e afiliação dos associados
FUNDAÇÃO DA FILIAÇÃO A CIA DA
ASSOCIADOS EMPRESA SAÚDE
1 1994 1994
3 1993 2002
6 2004 2004
8 2005 2005
4 1999 2006
9 2007 2007
2 1982 2008
5 2001 2008
10 2008 2008
7 2004 2009
11 2009 2009
12 2009 2009
13 2009 2009
Fonte: Dados de pesquisa

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

No estado de Santa Catarina existem 13 associados à Rede da Cia. da Saúde Produtos Naturais, sendo
que oito iniciaram filiados a Cia. da Saúde, os demais dos filiados já possuíam alguma estabelecimento e
associaram-se a Rede Cia. da Saúde Produtos Naturais.
Tab 2: Diferencial da Rede CIA.da Saúde Prod. Naturais
DIFERENCIAL DA CIA DA SAÚDE %
Profissional na loja 5%
Baixo Custo de Abertura 14%
União das Lojas 14%
Marketing 18%
Crescimento 18%
Informações 32%
Fonte: Dados de pesquisa
Segundo os associados, com 32% foi considerado o diferencial da Cia. da saúde a informação
oferecida pela mesma, através de uma nutricionista on-line, disponível em todos os horários que as lojas
estão em funcionamento, proporcionando uma resposta imediata às dúvidas dos clientes, seguido com 18% o
crescimento referente ao faturamento da loja através da implementação dos produtos e serviços prestados e o
marketing empata em percentual para os associados, a união dos lojistas e o baixo custo de abertura para os
sócios seguem com 14% das preferências dos mesmos, e profissional especializados, como nutricionistas,
oferecido para atendimento pela Rede Cia. da Saúde Produtos Naturais foi um dos menos citados com 5% da
preferência.
Tab 3: Expectativas para o futuro da CIA da Saúde
EXPECTATIVAS PARA O FUTURO DA
CIA DA SAÚDE %
Atendimento 8%
Criar centro de distribuição 23%
Crescimento dos negócios 69%
Fonte: Dados de pesquisa
Com relação às expectativas dos próximos cinco anos, para 69% dos associados apontam
crescimento e expansão da Cia. 23% apontam a implantação de um centro de distribuição para que facilite a
compra de mercadorias em conjunto para os associados, e 8% relataram que o atendimento proporciona
melhor informação aos seus clientes, fidelizando-o.
Tab: 4: Expectativas para o futuro das lojas da CIA da Saúde.
EXPECTATIVAS PARA O FUTURO DAS
%
LOJAS DA CIA DA SAÚDE
Não responderam 8%
Exclusividade 15%
Atendimento 15%
Comunicação 23%
Competitividade 38%
Fonte: Dados de pesquisa
A visão para cinco anos das lojas evidenciou a competitividade como maior oportunidade, com 38%
da preferência dos associados, seguido por 23% da comunicação voltada para informação ao cliente, de
forma rápida e fidedigna, o treinamento dos atendentes ficou referenciado na pesquisa com 15% junto com
exclusividade em produtos para as lojas, e apenas 8% dos questionários não foram respondidos.
Tab 5: Oportunidades de melhoria para CIA da Saúde
OPORTUNIDADES DE MELHORIAS PARA
%
CIA DA SAÚDE
Centro de Distribuição 36%
Integração entre Lojas 31%
Inovação 15%
Não Responderam 15%
Atendimento 8%
Fonte: Dados de pesquisa

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Segundo os associados as principais oportunidades de melhorias para a Cia. da Saúde são com 36% a
criação de um centro de distribuição para que com isso melhore a forma de compra dos produtos, com 31%
elaborar um sistema que integre as lojas e as faz interagir com maior facilidade, 15% referenciaram a
inovação dos produtos como ponto forte nas necessidades das lojas, e 8% citaram o atendimento de forma
qualificada como atributo de suma importância para a melhoria dos resultados, 15% não responderam.
Tab 6: Motivo de parceria
MOTIVO DE PARCERIA %
Baixo Custo 8%
Informação 8%
Não Responderam 15%
Crescimento 31%
Reconhecimento Mercado 38%
Fonte: Dados de pesquisa
Para os associados, o reconhecimento do mercado (38%) um dos principais motivos para a associação
à Rede Cia. da Saúde Produtos Naturais por facilitar a identificação da marca por parte do cliente, o
crescimento do empreendimento com a união das lojas correspondeu 31% da preferência, o grande volume
de informação disponibilizado pela Cia. correspondeu a 8% das intenções dos associados por ingressar a
rede, e 8% relatou o baixo custo como principal diferencial da Cia. sendo que, 15% não opinaram.

4. Conclusão
A pesquisa buscou na literatura o embasamento teórico que contribuíram no desenvolvimento da
pesquisa, proporcionando o alcance dos objetivos propostos no trabalho.
A Rede Cia. da Saúde Produtos Naturais vendo o crescimento do mercado de produtos naturais,
desenvolveu uma associação para assessorar os lojistas, situada na cidade de São José, estado de Santa
Catarina. Atualmente, conta com vinte cinco lojas de treze associados, que relataram sua opinião sobre a rede
a partir de um censo. Foram aplicados os questionários com os gerentes das lojas, os quais apresentam a
idade média de 44,15 anos por gerente, mostrando que os mesmos são pessoas maduras e menos suscetíveis
a mudança.
Constatou-se que para atingir a satisfação dos associados à Rede Cia. da Saúde Produtos Naturais,
deve-se implantar formas de melhorias no que diz respeito à comunicação e integração das lojas, a
implantação de uma compra e logística integrada possa reduzir os custos de seus produtos ou possa ter um
aporte maior na questão da redução dos preços na ponta de gôndola, não perdendo a qualidade dos produtos.
O resultado da pesquisa demonstrou que os associados têm perspectivas de crescimento, tanto para
suas lojas quanto para Rede Cia. da Saúde Produtos Naturais a partir de melhorias e inovações propostas pela

Referências
[1,3-6] AMATO NETO, João. Redes entre organizações: domínio do conhecimento e da eficácia
operacional. São Paulo: Atlas, 2005. 257 p.
[2] REDE CIA DA SAÚDE: faça parte deste projeto, Santa Catarina. Disponível em:
http://www.redeciadasaude.com.br/faca_parte_intro.html Acesso em: 19 set.2009.
[3] GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 3 ed. São Paulo: Ed. Atlas, 1996.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

ANÁLISE DAS CARACTERÍSTICAS DE TRABALHADORES DA CONSTRUÇÃO CIVIL


NO RIO GRANDE DO SUL, NO PERÍODO DE 2002 A 2008.

Jaqueline Silinske 1*; Joana Kirchner Benetti2; Rosane Maria Kirchner1; Eniva Miladi Fernandes Stumm3
1
UFSM/Universidade Federal de Santa Maria. Cesnors/RS
2
UNISINOS/ Universidade do Vale do Rio dos Sinos/RS
3
UNIJUI/ Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul/RS

1. Introdução
A construção civil é uma atividade econômica importante, que movimenta um volume significativo de
recursos financeiros e apresenta forte potencial na geração de empregos.
O referido setor é essencial não apenas pelo alto giro de recursos financeiros e pela capacidade de
gerar novos empregos, mas também pelo fato de gerar progresso contínuo nos segmentos industriais e de
serviços. Pela vasta diversidade que o setor produtivo de edificações é apto a gerar, pode-se perceber que a
conseqüência disso se reflete na economia e, de maneira especial, na indústria de transformação [1].
É importante destacar que, diante da significativa participação da cadeia produtiva da construção civil
no desenvolvimento do Brasil, existem programas que auxiliam o aprimoramento deste setor. Dentre eles
pode-se citar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), criado pelo governo brasileiro em 2007,
tendo como objetivo diminuir as desigualdades existentes nas diferentes regiões do País, por meio de
investimentos em infra-estrutura [5].
A indústria da construção civil nos últimos anos, vem retomando o crescimento, considerando
sobretudo as dificuldades pelas quais passou nas décadas que sucederam à desativação do BNH (Banco
Nacional da Habitação). Esta retomada é sustentada na atuação estimuladora e garantidora do Governo
Federal, com a contribuição de recursos para créditos consideráveis e adequados às necessidades de
produtores e consumidores de habitações. Além disso, também recebem apoio governamental, por meio dos
mecanismos do PAC e de grandes obras de infra-estrutura [1].
O crescimento do setor de construção civil nos últimos anos foi ocasionado pelo aumento da oferta de
crédito imobiliário em conjunto com a diminuição da taxa de juros e maiores prazos de pagamento, o
crescimento da oferta dos empregos formais, o aumento da renda familiar, o equilíbrio macroeconômico, as
alterações nas normas que regulam o setor imobiliário, maior segurança em relação aos negócios
imobiliários, o surgimento de reformas, obras de ampliação e construção no setor de construção civil e a
criação do Programa de Aceleração do Crescimento [4].
Este estudo tem por objetivo analisar as características de trabalhadores da construção civil do estado
do Rio Grande do Sul, com ênfase no grau de instrução e na disponibilidade, segundo os tipos de admissão,
no período de 2002 a 2008.
Considera-se importante ressaltar que o setor da construção cível é intensivo em mão-de-obra,
inclusive não qualificada e que tem forte componente social, além de responder por uma parcela significativa
dos investimentos, daí a relevância da temática.

2. Método
Os dados coletados no site do IBGE foram obtidos na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS),
rotulados de acordo com a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE). “A CNAE é a
classificação oficialmente adotada pelo Sistema Estatístico Nacional na produção de estatísticas por tipo de
atividade econômica e pela Administração Pública, na identificação da atividade econômica em cadastros e
registros de pessoa jurídica” [2]. Para a análise dos dados utilizou-se a estatística descritiva e o software
SPSS.

3. Resultados e Discussão
A construção civil é uma atividade econômica que requer quantidade expressiva de trabalhadores
para execução de seus serviços e, nesse contexto, o nível de qualificação é variado, aliado a necessidade de
formação específica visando o desempenho das funções diferenciadas que integram cada etapa do processo
de execução do trabalho [6].
Considerando a escolaridade dos trabalhadores da construção civil no Rio Grande do Sul (ver Fig. 1)
de 2002 a 2008, evidencia-se que ocorreu expressivo aumento do ensino fundamental e médio completo (Fig.
1), provavelmente em virtude de uma exigência cada vez maior desses níveis de ensino como requisito de
qualificação básica para o primeiro emprego. Cabe ressaltar que esta característica é do trabalhador formal,
sendo que os que atuam no mercado de trabalho de forma informal não estão contemplados. Ressalta-se que
*jaquelinesilinske@yahoo.com.br
774
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

o percentual de trabalhadores no ramo da construção civil é significativo. No que tange aos índices de
analfabetos, os mesmos mantiveram-se praticamente constante no decorrer do período.

30.000

25.000

ANALFABETA
4ª SÉRIE INCOMPLETA
20.000
4ª SÉRIE COMPLETA
8ª SÉRIE INCOMPLETA
15.000 8ª SÉRIE COMPLETA
2ª GRAU INCOMPLETA
2ª GRAU COMPLETA
10.000
SUPERIOR INCOMPLETA
SUPERIOR COMPLETA

5.000

0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Fonte: Informações extraídas de: RAIS 2008 – TEM.


(*) De acordo com a nova Classificação Nacional de Atividades Econômicas - CNAE 2.0/IBGE de novembro/2006.
Fig. 1: Estoque* de trabalhadores na construção civil segundo o grau de instrução no Rio Grande do Sul.

Ainda em relação aos dados contidos na Fig. 1, constata-se que a partir da implantação do PAC, no
ano de 2007, o número de trabalhadores em todos os níveis de estudo aumentou, com exceção da categoria
dos analfabetos. Nesse sentido, o setor de construção civil desempenha um papel social importante no
desenvolvimento do País, responsável por empregar grande quantidade de trabalhadores com baixo nível de
escolaridade, os quais não seriam empregados em áreas que demandam pessoas qualificadas e especializadas
[3].
Sequencialmente, na fig. 2, a análise da variável “tipo de admissão”, evidencia-se um crescimento
em todas as categorias a partir do ano de 2006, intensificando-se em 2007, com o PAC. Ressalta-se que o
maior número de trabalhadores deste setor são os de reemprego e o trabalhador contratado, isto é, o não
admitido no corrente ano.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

60000

50000

Primeiro emprego
40000
Reemprego
Reintegração
Transferência com ônus
30000 Transferência sem ônus
Recondução
Reversão
Outros
20000
Não admitido no ano

10000

0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Fonte: Informações extraídas de: RAIS 2008 – TEM.


(*) De acordo com a nova Classificação Nacional de Atividades Econômicas - CNAE 2.0/IBGE de novembro/2006.
Fig. 2: Estoque* de trabalhadores na construção civil segundo os tipos de admissão No Rio Grande
do Sul.

4. Conclusão
É crescente a inserção de trabalhadores da construção civil, a partir do ano de 2006, intensificando-se
com a criação do PAC. Evidencia-se que o referido setor teve ampliação do volume de recursos e maior
previsibilidade de seu fluxo. Outra constatação é que, de forma geral, aumentou o nível de escolaridade dos
trabalhadores e quanto ao tipo de admissão, em todos os anos estudados, prevaleceu os de reemprego e o
trabalhador contratado, isto é, o não admitido no corrente ano.

Referências
1. BREITBACH, Á. C. M. Indústria da construção civil - a retomada. Revista Indicadores Econômicos
FEE. V. 37, N. 2, p. 1, 2009.
2. CLASSIFICAÇÃO NACIONAL DE ATIVIDADES ECONÔMICAS. In: INSTITUTO BRASILEIRO
DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Disponível em:
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/classificacoes/cnae2.0/cnae2.0.pdf Acesso em: 9 julho
2010.
3. COMISSÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA – CEE/CBIC. Perfil socioeconômico do setor da
construção civil no Brasil. Belo Horizonte – MG, agosto de 2002.
4. FURLETTI D.; apud MORAES, S. M. da S. de. Estratégias Competitivas Adotadas na Construção
Civil Brasileira: uma Análise das Empresas Líderes do Setor. 2009, f67. Monografia (carga horária da
disciplina CNM 5420) – Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2009.
5. MEDEIROS, N. H.; FERRARIO, M. N.; TEIXEIRA; A. M. Programa de Aceleração do Crescimento:
uma Análise sobre a Construção de Hidrelétricas na Região da Amazônia Legal. In: XLVI
CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E SOCIOLOGIA
RURAL. Rio Branco – Acre, 20 a 23 de julho de 2008.
6. PELISSARI, N. T. Alfabetizar e Qualificar o Orelha-Seca e o Meia-Colher: um Desafio Político
Pedagógico para a Construção Civil. (A experiência da Concremax com alfabetização e qualificação de
jovens trabalhadores em Cuiabá/MT). 2006 f12. Dissertação (Mestrado do Programa de Pós-Graduação
em Educação) – Instituto de Educação da Universidade Federal de Mato Grosso. Cuiabá, 2006.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

ANÁLISE DAS HABILIDADES COGNITIVAS REQUERIDAS DOS ACADÊMICOS DO


CURSO DE GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO DA UNESC, UTILIZANDO-SE DOS
INDICADORES FUNDAMENTADOS NA TAXIONOMIA DE BLOOM

Beatriz Casagrande de Assis1*; Edi Réus Junior1


1
Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC

1. Introdução
As habilidades cognitivas estão relacionadas à memória e ao reconhecimento, envolvendo aspectos da
percepção, processamento de informação e expressão[1]. Para Bloom et al[2], o conhecimento dessas
habilidades intelectuais do domínio cognitivo é de extrema importância para o desenvolvimento curricular e,
para os autores, é nesse domínio que se encontram as definições mais claras de objetivos educacionais.
Por meio da Taxionomia de objetivos educacionais do domínio cognitivo desenvolvida por Bloom et
al[2] é possível classificar estas habilidades cognitivas, expressas como objetivos educacionais, nos seis níveis
cognitivos da Taxionomia de Bloom: Conhecimento, Compreensão, Aplicação, Análise, Síntese e Avaliação.
Segundo Santana Junior, Pereira e Lopes[3], os níveis seguem uma linha hierárquica na qual os processos
cognitivos são cumulativos, isto é, um nível cognitivo inferior dá o suporte a uma próxima categoria de nível
superior.
Baseado nos conhecimentos acerca da utilidade e relevância da Taxionomia de objetivos educacionais
do domínio cognitivo, o objetivo central da pesquisa pode ser definido pela seguinte questão: Existe
correspondência entre os objetivos educacionais selecionados e os demais componentes do plano de curso?

2. Método
Optou-se por uma pesquisa bibliográfica e uma análise documental dos programas de ensino do curso
de graduação em Administração da UNESC, para que os objetivos educacionais pudessem ser identificados
e, então, categorizados por meio da Taxionomia de Bloom. As informações obtidas nesta fase da pesquisa
serviram como base para a comparação com os resultados da análise dos objetivos educacionais do PPP. Para
categorizar os objetivos educacionais nos níveis da Taxionomia de Bloom, utilizou-se uma lista de verbos
com a qual se pode identificar os níveis cognitivos dos objetivos educacionais por meio de uma comparação
entre os verbos presentes nesses objetivos e aqueles correspondentes a cada nível da Taxionomia de Bloom.

3. Resultados e Discussão
Após a análise e a categorização dos objetivos educacionais dos planos de ensino e do PPP do curso
de Administração, pôde-se compará-los para identificar a correspondência entre a complexidade cognitiva
dos objetivos. Os resultados mostram diferenças na abstração das habilidades cognitivas dos objetivos
registrados nos dois documentos. O nível Conhecimento, por exemplo, compreende a maior parte dos
objetivos educacionais da análise dos programas de ensino (43,1%) e vai de encontro ao Projeto Político
Pedagógico, no qual o nível Conhecimento abrange a menor parte dos objetivos educacionais (5,9%). Além
disso, a presença de objetivos educacionais no PPP categorizados no nível Avaliação (11,8%) difere da
ausência de objetivos educacionais pertencentes a este nível nos planos de ensino. Os níveis cognitivos que
apresentam os resultados mais semelhantes são os seguintes: Aplicação, em 29,4% dos objetivos do PPP e
33,3% dos objetivos dos programas de ensino; e Análise, em 11,8% dos objetivos do PPP e 13,7% dos
objetivos dos programas de ensino.
A categorização dos objetivos nos níveis Compreensão e Síntese também apresentou diferenças entre
a análise do PPP e a dos planos de ensino. Ao nível Compreensão pertencem 23,5% dos objetivos
educacionais apresentados pelo PPP e 7,8% dos objetivos dos programas de ensino. Por sua vez, o nível
cognitivo Síntese compreende 17,6% dos objetivos educacionais do Projeto Político Pedagógico e 2,0 % dos
objetivos apresentados nos programas de ensino analisados.
Segundo Whittington[4], os professores enfatizam cada vez mais a habilidade do pensamento crítico
por parte dos alunos, o qual está relacionado ao desenvolvimento de processos cognitivos de níveis
superiores da Taxonomia de Bloom. A autora ainda afirma que a divisão da hierarquia da Taxonomia ocorre
entre os níveis de processamento cognitivo superiores - níveis de Aplicação, Análise, Síntese e Avaliação - e
os níveis de processamento cognitivo inferiores – níveis do Conhecimento e Compreensão. Utilizando-se
dessa divisão dos níveis cognitivos, observou-se que o Projeto Político Pedagógico enfatiza objetivos
educacionais classificados nos níveis de processamento cognitivo superiores, uma vez que 70,6% dos
objetivos se enquadram nesses níveis. Os programas de ensino, no entanto, mostram que a maioria (51%) dos

*
Beatriz Casagrande de Assis: beatrizcasagrande@gmail.com
777
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

objetivos educacionais é classificada nos níveis de processamento cognitivo inferiores, sendo que 43,1%
desses objetivos pertencem unicamente ao nível Conhecimento.

4. Conclusão
Os resultados da análise dos programas de ensino mostraram que a maioria dos objetivos
educacionais está escrita nos níveis cognitivos Conhecimento e Aplicação. Muitos estudos já conduzidos
demonstram que a instrução na sala de aula é frequentemente realizada nos níveis inferiores da Taxionomia
de Bloom, principalmente nos níveis Conhecimento e Compreensão[5,6]. No entanto, a ocorrência de 33,3%
dos objetivos no nível Aplicação, o qual pertence à categoria de processamento cognitivo superior, não é
uma tendência que pôde ser observada nesses estudos prévios.
Os resultados desta análise foram então comparados com aqueles obtidos em uma análise similar dos
objetivos educacionais observados no Projeto Político Pedagógico. O estudo mostrou que a maior parte dos
objetivos de aprendizagem do PPP se encontra categorizada nos níveis de processamento cognitivo
superiores. Observou-se também uma tendência inversa na complexidade cognitiva dos objetivos do PPP
quando estes foram comparados com os objetivos dos planos de ensino. Ao nível Conhecimento, por
exemplo, pertencem 5,9% dos objetivos educacionais do PPP, contra 43,1% dos planos de ensino.
Nota-se, portanto, que não há uma correspondência significativa entre os objetivos educacionais dos
documentos analisados. Para que o alinhamento da complexidade cognitiva dos objetivos ocorra, a
Taxionomia de Bloom pode ser utilizada para elevar a carga cognitiva desses objetivos de aprendizagem[7].
Faz-se necessário também a utilização de recursos didático-pedagógicos e metodologias diferenciadas de
ensino que ofereçam suporte para o ensino em níveis de processamento cognitivo superiores. Para Tom[8], o
ensino superior deve desenvolver habilidades de pensamento de níveis cognitivos superiores nos estudantes,
para que estes deixem a universidade com o conhecimento, as habilidades e a disposição necessária para o
sucesso profissional. A Taxionomia de Bloom é apontada por Nordvall e Braxton[9] como uma ferramenta
para avaliar o nível de compreensão do conteúdo do curso pelos acadêmicos, a fim de identificar a qualidade
institucional. Deste modo, a Taxionomia de objetivos educacionais do domínio cognitivo [2] pode ser usada
como um instrumento de auxílio no desenvolvimento de programas de ensino e do Projeto Político
Pedagógico, além de servir no acompanhamento da qualidade do ensino em sala de aula.

Referências
[1] FONSECA, V. Cognição e aprendizagem. Lisboa: Âncora, 2001.
[2] BLOOM, Benjamin S et al. Taxionomia de objetivos educacionais. 6 ed. Porto Alegre: Editora Globo,
1977-1983. 3v
[3] SANTANA JUNIOR, J.J.B.; PEREIRA, D.M.V.G.; LOPES, J.E.G. Análise das habilidades cognitivas
requeridas dos candidatos ao cargo de contador na administração pública federal, utilizando-se indicadores
fundamentados na visão da Taxonomia de Bloom. Revista de Contabilidade e finanças, São Paulo, v. 19,
n. 46, p. 108 – 121, jan./abr. 2008.
[4] WHITTINGTON, M.S. Improving the cognitive level of college teaching: a successful faculty
intervention. Journal of Agricultural Education, v.39, n.3, 1998.
[5] EWING, John C. Teaching techniques, and cognitive level of discourse, questions, and course
objectives, and their relationship to student cognition in college of agriculture class sessions. 2006. 189
f. Dissertação (Doutorado em Filosofia) - The Ohio State University, Columbus, Ohio.
[6] WHITTINGTON, M.S. Higher order thinking opportunities provided by professors in college of
agriculture classrooms. Journal of Agricultural Education, v.36, n.4, p.32 -38, 1995. Disponível em:
http://202.198.141.77/upload/soft/001/36-04-32.pdf. Acesso em 24 de junho de 2010.
[7] RATHS, James. Improving Instruction. Theory into practice, Athens, v.4, n.4, p. 233-237, 2002.
[8] TOM, A. R. Redesigning teacher education. Albany, NY: State University of New York, 1997.
[9] NORDVALL, R. C.; BRAXTON, J. M. An alternative definition of quality of undergraduate college
education. Journal of Higher Education, v.67, n.5, p.483-497, 1996.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

ANÁLISE DOS FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO (FCS) EM UMA ORGANIZAÇÃO


DE EVENTOS DA CIDADE DE MOSSORÓ – RN

Hudson do Vale de Oliveira1


Vinícius Claudino de Sá2
Andréa Kaliany da Costa Lima3
Ana Karina dos Santos Souza Queiroz3
1
Mestrando do PGA – Universidade Estadual de Maringá – UEM
2
Professor do Depto. da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN
3
Mestrandas em Administração da Universidade Potiguar – UnP

1. Introdução

As organizações têm, ao longo dos anos, passado por várias mudanças devido as oscilações que
ocorrem no ambiente no qual estão inseridas. Tais oscilações se justificam por uma série de fatores que estão
relacionados diretamente com a globalização. Graças a esse fenômeno as organizações têm buscado a cada
dia adaptar-se as novas configurações do mercado que se torna cada vez mais competitivo, dinâmico e
instável. Além disso, a busca pela preferência dos clientes tem criado um clima de competição ainda mais
intensivo entre as organizações.
As organizações modernas surgiram em decorrência da revolução industrial, caracterizada pela
passagem da economia agrária para a economia industrial transformando, dessa forma, a vida do homem
(LONDES, 1994 apud MAGNANI, 2004).
Para que possam se manter num mercado tão acirrado, que tem se configurado com a globalização, as
organizações devem apresentar características importantes que as diferenciem dos seus concorrentes. Essas
características são denominadas de Fatores Críticos de Sucesso (FCS), ou seja, em outras palavras, são os
fatores-chave que devem ser apresentados pela organização para que esta possa desempenhar suas atividades
e, portanto, alcançar seus objetivos de forma eficiente, eficaz e efetiva.
De acordo com Day (2001 apud MINCIOTTI, SANTOLIA & KASPAR, 2008) para que uma
organização mantenha-se no topo ela precisa estar sempre inovando. Porém, o que difere a organização que
está focada no mercado é justamente a capacidade de compreensão, atração e manutenção de clientes
potenciais.
No ramo de serviços está configuração do ambiente é ainda mais intensificada, pois vários fatores
estão intimamente ligados e, logicamente, cada indivíduo tem suas características e particularidades sendo,
portanto, difícil agradar a todos com uma única estratégia.
Sendo assim, as organizações que trabalham diretamente com pessoas devem ter, acima de tudo, o
bom senso para lidar com diferentes pontos de vista, pois se de um lado o cliente deve ficar satisfeito com o
produto adquirido e com o serviço que lhe é fornecido, por outro lado, a empresa deve alcançar as metas e os
objetivos pré-estabelecidos.
O objetivo geral da pesquisa é analisar os FCS para que a Master Produções e Eventos se mantenha
competitiva no mercado.

2. Metodologia

A pesquisa pode ser classificada como bibliográfica, exploratória, descritiva, quali-quantitativa e


estudo de caso. Segundo Vergara (2003), por exemplo, a pesquisa bibliográfica realizada para elaboração do
referencial teórico:

É o estudo sistematizado desenvolvido com base em material publicado em livros,


revistas, jornais, redes eletrônicas, isto é, material acessível ao público em geral. Fornece
instrumental analítico para qualquer outro tipo de pesquisa, mas também pode esgotar-se
em si mesma.

A população é composta pelos formandos pertencentes às comissões de formatura das turmas


concluintes dos anos de 2007 e 2008 que realizaram seus eventos de formatura pela Master Produções e
Eventos, ou seja, 119 formandos. Porém, para os resultados da pesquisa considera-se como população,

1
Hudson_vale@yahoo.com.br
779
1
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

especificamente, o número de comissões de formatura, isto é, 26. A amostra utilizada na pesquisa foi de
50%, sendo considerado um representante de cada comissão de formatura, ou seja, 13 formandos.
Para atingir os objetivos propostos, realizou-se a pesquisa através de duas etapas. Na primeira etapa
realizou-se entrevistas semi-estruturadas com a equipe da empresa e, posteriormente, realizou-se a análise
desses fatores determinando, dessa forma, quais são os mais importantes, sob a percepção da equipe. Na
segunda etapa, aplicou-se questionários com uma determinada amostra, dentro da população considerada,
analisando, portanto, a percepção dos respondentes sobre os FCS considerados pela equipe da empresa e os
citados na literatura.
Os dados obtidos foram analisados qualitativa e quantitativamente utilizando-se, para isso, a estatística
descritiva.
Para determinar os FCS considerados como de maior importância para manter a empresa em questão
eficiente e competitiva no mercado, considerou-se apenas os FCS que receberam uma classificação 5 (Muito
Bom) pelo menos 7 vezes, isto devido ao fato de que a amostra utilizada na pesquisa foi de 13 formandos.
Para uma melhor apresentação dos resultados elaborou-se tabelas.

3. Resultados e Discussão

Através da tabulação dos questionários aplicados obteve-se a freqüência individual de cada opção
escolhida pelos respondentes para classificar os FCS considerados na pesquisa (Tabela 2).

Tabela 2 – Freqüência Individual de respostas às opções do questionário.


N° Fatores Críticos de Sucesso (FCS) MR R N B MB
1 Compromisso com a missão da empresa 0 0 1 5 7
2 Qualidade dos produtos e serviços 0 0 0 1 12
3 Preço adequado 0 0 2 7 4
4 Transparência 0 0 2 4 7
5 Compromisso com as pessoas (tratar o cliente como ser humano) 0 0 0 5 8
6 Credibilidade 0 0 0 4 9
7 Bom atendimento 0 0 0 5 8
8 Acompanhamento ao cliente (antes, durante e depois) 0 0 2 5 6
9 Flexibilidade 0 0 7 3 3
10 Compromisso com o trabalho desempenhado 0 0 0 5 8
11 Comunicação adequada 0 0 0 7 6
12 Atualizações (novidades) 0 0 1 6 6
13 Propaganda 0 0 2 4 7
14 Funcionários motivados 0 0 1 4 8
15 Compromisso com a verdade 0 0 0 5 8
16 Analisar o mercado (concorrentes, por exemplo) 0 0 4 5 4
17 Comodidade e conforto 0 0 0 3 10
18 Fidelidade na qualidade de venda e entrega 0 0 2 4 7
19 Instalações físicas 0 0 2 1 10
20 Surpreender o cliente 0 0 3 4 6
21 Parcerias seguras 0 0 3 5 5
22 Localização 0 3 4 5 1
23 Cumprimento de Prazos 0 0 2 7 4
24 Planejamento 0 0 2 6 5
Total 0 3 40 110 159
Fonte: Dados da Pesquisa, 2009.

De acordo com a metodologia estabelecida e descrita anteriormente, os FCS considerados como de


maior importância são: compromisso com a missão da empresa; qualidade dos produtos e serviços;
transparência; compromisso com as pessoas (tratar o cliente como ser humano); credibilidade; bom
atendimento; compromisso com o trabalho desempenhado; propaganda; funcionários motivados;
compromisso com a verdade; comodidade e conforto; fidelidade na qualidade de venda e entrega; e
instalações físicas.
A qualidade dos produtos oferecidos pela Master Produções & Eventos, bem como dos eventos por ela
realizados é, sem dúvida, um grande diferencial. Existem alguns comentários obtidos sobre este fator.

780
2
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

[...] referente à qualidade dos produtos foi a empresa que melhor se adequou as necessidades da turma,
quando apresentado os serviços e produtos fornecidos a turma anteriores (RESPONDENTE R, 2009).

Através de tais comentários pode-se perceber que a qualidade é uma preocupação da organização e,
principalmente, que tal fator é considerado como muito importante para mantê-la competitiva no mercado.
Tratar o cliente bem, considerá-lo realmente como ser humano, satisfazer suas necessidades e, em
muitos casos, surpreendê-lo são alguns dos objetivos da organização em estudo. Segundo Minciotti, Santolia
& Kaspar (2008), é necessário não apenas atender o cliente, mas encantá-lo e surpreendê-lo. Esses fatores
também tem sido destaque como importantes para a competitividade. Tal afirmação pode ser comprovada
através dos comentários a seguir.

[...] os funcionários sempre foram muito solícitos a atender nossas necessidades, em especial no dia do
baile, pois o nervosismo era grande, mas foi encarado de forma tranqüila, pois o funcionário designado a
nos ajudar no baile, realmente estava inserido no momento e vivenciando junto conosco (RESPONDENTE
N, 2009).

Não é do dia para a noite que uma organização consegue seu espaço no mercado. A credibilidade desta
perante os clientes é uma vitória que, para ser alcançada, depende de vários fatores. Porém, quando
alcançada se consolida como um fator importante para manter a organização competitiva no mercado. Segue
um comentário a este respeito.

[...] possuir parcerias seguras e sempre entregar o que prometeu, faz da Master uma das empresas com
maior credibilidade no mercado local (RESPONDENTE A, 2009).

As instalações físicas da organização têm proporcionado comodidade e conforto aos clientes. Além
disso, a comodidade dos serviços da Master Produções & Eventos também merece destaque. O comentário a
seguir pode comprovar tais afirmações.

[...] suas instalações físicas são também um ponto forte, pois geram um estado de conforto e comodidade
(RESPONDENTE H, 2009).

Por outro lado, alguns FCS considerados na pesquisa obtiveram uma baixa pontuação no que se refere
à classificação dos FCS que seriam importantes para a competitividade da organização, são eles: preço
adequado; flexibilidade; analisar o mercado; e cumprimento de prazos.
Chegar a um preço fixo que agrade tanto ao cliente quanto a organização não é uma tarefa fácil, porém
possível. O que acontece muitas vezes é que nem todos os clientes estão dispostos a pagar mais por um
produto ou serviço de melhor qualidade.
Embora não tenha sido considerado como fator importante na competitividade da organização, os
comentários a seguir comprovam as afirmações a respeito deste fator.

[...] embora não tivesse os melhores preços, foi sua forma de sempre realizar ótimas formaturas que fizeram
com que fechássemos o contrato com a empresa (RESPONDENTE A, 2009).

A flexibilidade também não foi considerada como um fator de competitividade para a organização. A
Master Produções & Eventos possui, como toda e qualquer empresa, normas organizacionais que devem ser
seguidas, até mesmo, para mostrar a seriedade da organização. Dessa forma, quando algo foge do comum
alguns clientes preferem afirmar que a organização não foi flexível. É bem verdade que em alguns casos, por
motivos específicos, a organização resolva não flexibilizar determinados pontos, mas isso não é comum. A
respeito deste fator têm-se o seguinte comentário.

[...] em relação à flexibilidade da empresa, esta não é muito acessível no que diz respeito a negociações,
descontos, elementos esses que contribuem na hora de segurar um cliente (RESPONDENTE C, 2009).

A organização deve-se manter sempre bem atualizada e analisar o mercado para não perder os seus
concorrentes de vista e, principalmente, as oportunidades. O fator analisar o mercado também não foi
considerado como importante na competitividade da organização. Este resultado contraria o comentário
abaixo.

781
3
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

[...] a empresa parece realizar uma boa análise mercadológica antes de oferecer os produtos e geralmente
encontra-se “antenada” as novidades, conseguindo oferecer o que os concorrentes já oferecem e inovar
ainda mais (RESPONDENTE N, 2009).

O cumprimento de prazos também não foi considerado como fator crítico importante para a
organização, quanto a sua competitividade. Porém, faz-se necessário saber que, na maioria das vezes, o não
cumprimento de determinados prazos pré-estabelecidos ocorrem justamente por culpa da própria comissão
de formatura da turma e/ou dos próprios formandos. Sobre este fator tem-se o seguinte comentário.

[...] talvez quanto ao cumprimento de prazos seja um ponto que posso me queixar um pouco, principalmente
ao que se refere a contratos, emissão de boletos etc, ocorrido em alguns fatos isolados (RESPONDENTE R,
2009).

O fator crítico que obteve o pior resultado na pesquisa foi a da localização da organização, sendo este
o único fator que recebeu classificação 3 (Ruim). Sobre este fator específico obtiveram-se os seguintes
comentários.

[...] a localização da empresa não é um fator positivo, apesar de suas instalações e comodidade serem
adequadas ao atendimento do cliente (RESPONDENTE F, 2009).

4. Conclusão

Os FCS se constituem num método adequado para identificar quais as áreas da organização estão
sendo responsáveis pela competitividade e/ou sucesso organizacional. Da mesma forma, esse método já tem
se mostrado viável para a formulação de estratégias em diferentes tipos de empresas e negócios.
Os objetivos da pesquisa foram alcançados sendo possível, portanto, de acordo com os procedimentos
metodológicos adotados e nas condições em que a pesquisa foi realizada, identificar adequadamente quais os
FCS considerados importantes para a competitividade da Master Produções & Eventos.
Com este resultado, porém, não quer dizer que apenas esses fatores são, ou deverão ser, considerados
para que a organização apresente competitividade no mercado, pois vários outros aspectos devem ser
analisados criteriosamente para que isso realmente seja possível.
Pode-se perceber também que as manifestações dos respondentes muitas vezes se mostravam
contraditórias, pois alguns formandos não consideraram, por exemplo, o preço adotado pela organização
como sendo um FCS importante para a sua competitividade, mas afirmaram que o preço estabelecido era
adequado ao produto que é ofertado e/ou ao serviço que é prestado.
Embora relativamente simples, observou-se que a localização da organização também influi na sua
competitividade, uma vez que a facilidade de acesso para os clientes pode aumentar sua fatia de mercado e,
consequentemente, sua produtividade.
Estes resultados servem de base para que a organização em questão possa pensar estrategicamente nos
objetivos que serão fixados, pois quando se trata de pequenas empresas, o gerente muitas vezes perde muito
tempo com atividades rotineiras deixando em segundo plano as estratégias que nortearão os caminhos a ser
seguidos.

Referências

MAGNANI, M. Identificação de fatores críticos de sucesso para formulação de estratégias que


minimizem a perda de competência organizacional de um centro de P&D agropecuário. Tese de
Doutorado (Engenharia de Produção e Sistemas), Universidade de Santa Catarina. Florianópolis, 2004

MINCIOTTI, S. A.; SANTOLIA, F. & KASPAR, C. A. R. P. Identificação de fatores críticos de sucesso


para monitoramento do nível de satisfação de hóspedes de hotéis. Turismo em Análise, v. 19, n. 1, 2008.

VERGARA, S. C. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2003.

782
4
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

APLICAÇÕES DAS FERRAMENTAS DE GERÊNCIA DE PROCESSOS: UM ESTUDO


APLICADO EM UMA EMPRESA DO SETOR AUTOMOTIVO

Saionara da Silva¹*; Marcelo Erthal²; Roberto Carlos Mello³; Jean Beraldin 4;


¹Universidade Federal de Santa Maria-CESNORS
²Universidade Federal de Santa Maria-CESNORS
³Universidade Federal de Santa Maria-CESNORS
4 Universidade Federal de Santa Maria-CESNORS

1. Introdução
Uma empresa é composta por diversos processos que são de suma importância para a continuidade
de suas tarefas organizacionais. Um processo deve ter início, fim, insumos e resultado claramente
identificados, visto que é uma ordenação específica de atividades de trabalho no tempo e no espaço [1].
Observa-se, com isso, a importância de um processo bem estruturado para que a empresa obtenha resultados
compatíveis com seus objetivos.
Um processo é uma série de etapas ou tarefas que recebemos insumos e geram produtos, desse modo
viu-se como oportuno um estudo aprofundado dos três principais processos de uma empresa do setor
automotivo. Este trabalho visa mostrar as principais características da empresa na elaboração, manutenção e
prática de cada etapa das atividades da mesma.
A elaboração de um referencial teórico que englobe conceitos específicos sobre processos e layout,
por parte dos alunos-pesquisadores foi fundamental para que os mesmos pudessem compreender de forma
clara as etapas que compõem os processos de uma empresa, além de poder contextualizar-se no tema da
pesquisa.
Ao obter os dados da empresa, percebeu-se que alguns fatores são de suma importância para a
realização dos procedimentos efetuados pela mesma, tais fatores compreendem a inovação tecnológica e o
acompanhamento das mudanças decorrentes da matriz.

2. Método
Esse trabalho tem como foco a coleta, apresentação e análise dos dados e informações coletadas de
maneira descritiva, demonstrando de forma dinâmica e contextualizada os resultados obtidos durante o
processo de pesquisa.
A coleta de dados e informações substanciais para a análise dos processos empresariais foi através de
uma entrevista semi-estruturada, bem como através das observações feitas pelos alunos-pesquisadores em
visitas à empresa foco do estudo.
Foi realizado um estudo bibliográfico que contemplou os principais assuntos referentes ao tema da
pesquisa. Sendo uma importante ferramenta para os alunos-pesquisadores durante a elaboração do trabalho.

3. Resultados e Discussão
Ao abordar a empresa foco do estudo, observou-se seus processos, chegando a compreensão dos
passos componentes de cada um deles. Observou-se que, dentre os três principais processos da empresa,
encontra-se o processo de atendimento no qual ocorre o primeiro contato do cliente com a mesma, sendo que
esse atendimento pode ser efetuado via e-mail, por telefone ou pessoalmente. O segundo processo refere-se
às vendas, que abrange a recepção ao cliente, a identificação de sua necessidade, através da apresentação dos
veículos dispostos na loja, oferecendo test-drive e, por fim, verificação da satisfação do mesmo com o
veículo. O último processo, o pós-vendas, envolve a verificação, por parte dos funcionários, da situação do
veículo, dando suporte para o cliente sobre os eventuais concertos que o mesmo possa necessitar, além de
oferecer o serviço de manutenção periódica, para a revisão do veículo comprado na revenda da empresa.
Ao analisar de forma aprofundada os processos da empresa, verificou-se que alguns desses
necessitavam modificações estado estas descritas na Figura 1.
Em relação à apresentação dos fluxogramas, notou-se a necessidade de algumas mudanças devido ao
fato de estarem faltando alguns passos para a concretização de tais tarefas, bem como o fato de algumas
dessas serem exercidas, sem necessidade, pelo Gerente de Vendas, para tanto foram sugeridos que a
recepcionista passe a executar as referidas tarefas, além disso, fazem-se necessárias mudanças na
visualização dos fluxogramas para a melhor compreensão dos mesmos.

*saiomat00@yahoo.com.br
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Principais Problemas Encontrados Sugestões de Mudança


Reavaliação das etapas presentes nos
Apresentação visual dos Fluxogramas Fluxogramas
Disposição do Layout Mudança na disposição dos veículos da empresa
Falta de um espaço exclusivo para o Gerente de
Vendas Construção de uma sala para o Gerente de Vendas
Demora no Atendimento ao cliente Realocação da Recepcionista para a entrada da
empresa
Atendimento da manutenção em local Atendimento junto à recepção
inapropriado
Fig. 1 Principais problemas encontrados na empresa e sugestões de modificações

Para o Layout da empresa foi sugerido a realocação do carro-destaque, pois, com isso, terá uma
melhor visualização por parte dos clientes. Ainda em relação a esse item, observou-se a falta de um espaço
propício para o desenvolvimento das tarefas da Gerência, nesse sentido, sugeriu-se a construção de um
espaço que contemplasse tais objetivos.
A realocação da recepcionista está diretamente vinculada ao fato da empresa prezar pela excelência
no atendimento, aliado ao fato de que esta funcionária não estava em um local apropriado a melhor
visualização por parte do cliente. O atendimento ao cliente no setor da manutenção era feito no mesmo local
em que são realizadas as tarefas desse setor, diante disso, viu-se a importância de efetuar esse atendimento
junto à recepção, principalmente por ficar mais prático tanto para os clientes quanto para os funcionários da
empresa.

4. Conclusão
Com esse estudo foi possível analisar os processos de atendimento, vendas e pós-vendas de uma
empresa do ramo automotivo, analisando as características presentes na concretização de cada etapa que
compõem os referidos processos.
Em vista das informações coletadas durante a análise dos processos, nota-se que, embora a empresa
estudada seja bem estruturada, há a necessidade de algumas alterações em seus processos para o
melhoramento dos mesmos. Para tanto foram propostas mudanças no layout e em alguns fluxogramas de
funcionamento interno da empresa.
Percebe-se que a empresa em questão segue um padrão originário de sua matriz, isso faz com que
alguns de seus processos devam ser aplicados conforme as normas regidas pela mesma. Esse fato gerou
algumas dificuldades de execução desse estudo, principalmente pelo fato de que, por norma da matriz da
empresa e em consenso com suas filiais, não podem ser repassadas algumas informações a terceiros.
Um dos aprendizados mais importantes que se obteve com este trabalho foi o de que cada processo
deve ser construído e posto em prática com a maior seriedade e com uma visão do todo, pois na falta de
algum passo o trabalho inteiro pode ser perdido e a empresa terá prejuízos danosos a sua continuidade.
Este trabalho foi de suma importância tanto para os alunos-pesquisadores quanto para a empresa
foco desse estudo, visto que sua aplicação gerou um importante vínculo entre ambas as partes. Além disso, a
socialização dos resultados obtidos durante o processo de aplicação desse estudo proporcionará a empresa
rever seus processos de um ângulo inédito para a mesma. As mudanças sugeridas nesse trabalho irão auxiliar
os responsáveis pela empresa em seu cotidiano empresarial, pois são alterações relacionadas ao layout, a
execução de alguns processos. É necessário esclarecer que nenhuma alteração sugerida irá influenciar
negativamente nos benefícios que a empresa desfruta atualmente.

Referências

1. ARAÚJO, Luis César G. de. Organização, sistemas e métodos e as tecnologias de gestão organizacional.
4ª Ed. São Paulo: Atlas, 2008

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Agradecimentos
Agradecemos a atenção dispensada pelos responsáveis da empresa foco desse estudo, ao orientador que
conduziu os alunos-pesquisadores na elaboração e aplicação dessa pesquisa e a todos os envolvidos com este
trabalho.

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ASSISTÊNCIA CONTÁBIL E FINANCEIRA AOS PRODUTORES RURAIS DO


MUNICÍPIO DE SANTA MARIA/RS

Jaqueline Carla Guse1*; Francesca Rosa Ambros², Prof. Luiz Antonio Rossi de Freitas³; Prof. Marivane
Vestena Rossato4
1
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
2
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
3
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
4
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)

1. Introdução

A contabilidade, como sistema de informações, caracteriza-se por registrar todas as transações


ocorridas nas organizações, constituindo-se um grande banco de dados que são úteis à administração, além
de representarem um instrumento gerencial eficaz para o processo decisório.
A Contabilidade, como sistema de informações, caracteriza-se por registrar todas as transações
ocorridas nas organizações, constituindo-se um grande banco de dados que são úteis à administração, além
de representarem um instrumento gerencial eficaz para o processo decisório. A diferenciação entre o que são
dados e o que são informações é explicitada por MATARAZZO ( 1998, p. 18), que assim define:

Dados são números ou descrições de objetivos ou eventos que, isoladamente, não


provocam nenhuma reação no leitor. Informações representam, para quem as
recebe, uma comunicação que pode produzir reação ou decisão, frequentemente
acompanhada de um efeito surpresa.

Para cumprir seu papel como fonte de informações úteis para o processo de tomada de decisões, a
contabilidade deve acercar-se de características fundamentais à administração, tais como – ser útil, oportuna,
clara, íntegra, relevante, flexível, completa e preditiva (fornecer indicadores de tendências), além de ser
direcionada à gerência do negócio.
Todas as organizações, sejam elas pessoas jurídicas ou não, precisam de controle que abranja toda
sua estrutura. Nesse contexto, os produtores rurais se inserem, pois as atividades desenvolvidas são grandes
responsáveis pela produção de alimentos e geração de renda. Seus processos produtivos demandam de
consideráveis volumes e valores de insumos materiais, humanos e financeiros, que necessitam ser
controlados.
A propriedade rural é toda a área da zona rural de propriedade privada, onde são cultivados vários
tipos de culturas, e que deve ser vista e administrada como uma empresa. Qualquer propriedade precisa dar
retorno para garantir a sobrevivência e a prosperidade, e isso vale tanto para propriedades familiares quanto
patronais.
No caso dos empreendimentos rurais, muitas coisas dificultam o planejamento da produção: a
dependência dos recursos naturais, a sazonalidade de mercado (oferta e demanda), a perecibilidade do
produto, o ciclo biológico de vegetais e de animais, o tempo de maturação dos produtos e o tempo de retorno
do investimento.
Outro fator importante no planejamento da produção rural é a impossibilidade de mudanças
imediatas na produção. Uma vez realizado o investimento, é necessário aguardar o resultado da produção e
escoá-la rapidamente, mesmo em condições desfavoráveis de mercado, a não ser que o produto possa ser
estocado à espera de melhores condições de venda. Estas particularidades tornam mais difícil o
gerenciamento do empreendimento rural. O emprego de técnicas gerenciais ajuda a resolver os problemas e
aumentar a capacidade de sobrevivência da pequena propriedade.
Não se tem dúvidas de que muitos produtores utilizam de uma boa administração em suas
propriedades, mas também muitos ainda terão de realizar importantes esforços para estar de acordo com os
tempos atuais, de modo que possam manter a sobrevivência e o crescimento de seus negócios.
A maioria dos produtores tem um bom nível de conhecimento tecnológico, mas muitos são
despreparados para a gestão econômica e financeira do negócio.

*
Autor Correspondente: drjaquelinecarla@yahoo.com.br
786
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Nesse enfoque, relata-se a assistência através da utilização da informação contábil aos produtores
rurais do município de Santa Maria/RS, sabendo-se da enorme importância de se ter um controle de todas as
operações efetuadas na propriedade.
Neste enfoque procura-se relatar assistência contábil aos pequenos produtores rurais do Município de
Santa Maria – RS., dando ênfase a importância que tem os registros e controles que podem ser realizados nas
propriedades utilizando-se de métodos de melhorar o conhecimento e o entendimento do proprietário com
relação a gestão consciente de suas atividades.

2. Método

A extensão em Assistência aos pequenos produtores rurais do município de Santa Maria terá como
ênfase a área de contabilidade do Curso de Ciências Contábeis da UFSM, mais especificamente, terá como
registros básicos, finanças e custos.
Este trabalho está senso realizado junto aos produtores rurais no Município de Santa Maria-RS, no
ano de 2010. A pesquisa iniciou por visitas exploratórias às propriedades rurais, com a finalidade de elaborar
um diagnóstico das propriedades rurais através da aplicação de um questionário junto aos proprietários
procurando investigar a utilização da informação contábil.
Com base no questionário será feita a caracterização sócio-econômica das propriedades rurais, e
serão identificadas potencialidades de uso das informações contábeis sistematizadas.Através dos
questionamentos averigua-se a situação da propriedade procurando identificar o nível de conhecimento e o
auxílio que cada produtor necessita. Através do conhecimento das necessidades dos produtores rurais serão
organizadas ações para melhoria de suas atividades. Estas ações consistem em cursos, intervenções que
possibilitem a implantação de métodos de controles capazes de serem executado pelo próprio produtor, além
de incentivá-los a procura de métodos ou procedimentos de melhoria voltados para a geração de renda para
as famílias que vivem da atividade rural.
Desta forma, em relação ao instrumental metodológico, o que está sendo desenvolvido utiliza-se de
técnicas de pesquisa bibliográfica, a aplicação de um questionário e observação da atividade exercida, além
da busca de métodos de aperfeiçoar e ajudar os produtores rurais.
Por meio de um questionário buscar-se-á identificar a forma e o tipo de informação contábil utilizada
e o qual a necessidade dos produtores. Uma vez identificada o tipo de informação procurar-se-á orientar a
utilização destas para a tomada de decisão em termos de controles gerenciais, identificação de custos e
formação de preços

3. Resultados Parciais

Através das visitas preliminares, que servem de pilotagem, pode-se identificar a necessidade de uma
melhor compreensão da atividade dos produtores rurais. A maioria das propriedades já visitadas não possui
controles que permitam definir com clareza a estrutura de custos e receitas da atividade exercida. Assim, o
preço com que vendem os produtos muitas vezes não cobre o custo para exercer esta atividade. Por isso é de
extrema importância ações de orientação aos produtores rurais para melhorarias suas atividades,
especialmente nos procedimentos de acompanhamento e controle o que certamente contribuirá para
melhorias na geração de renda.

Fig. 1. Foto grupo de pesquisas em uma visita a uma propriedade rural do município de Santa Maria/RS

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4. Conclusão

A proposta de trabalho é de grande valia uma vez que já está constata e necessidade de inserção do
produtor no mercado mais exigente.
Qualquer ajuda aos produtores rurais é uma forma de alavancar a atividade, especialmente nesta área,
em função do custo de um profissional que possa prestar assessoria a uma pequena propriedade. Também em
vista de que a prefeitura já realiza uma ação técnica através de agrônomos e veterinários da EMATER e que
há uma preocupação generalizada em reduzir o êxodo rural.

Referências

ARBAGE, A. P. Fundamentos de Economia Rural. Chapecó: Argos, 2006. 276p.


BATALHA, M. O.; SCARPELLI, M.; Gestão da cadeia agroindustrial. In: WORKSHOP O
AGRONEGÓCIO NA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO, 2002, Brasília. Anais do Workshop O
agronegócio na sociedade da informação. Brasília DF: Programa Sociedade da Informação - MCT, 2002.
BUAINAIN, A. M.; GUANZIROLI, C.; SOUSA FILHO, H.; BÁNKUTI, F. I.; Peculiaridades Regionais
da Agricultura Familiar Brasileira. In SOUSA FILHO, Hildo Meireles de BATALHA, Mario Otávio
(Organizadores). Gestão Integrada da Propriedade Familiar. São Carlos: UFSCAR, 2005.
COSTA, M. L. ; LOPES, A. P. ; MORAES, C. S. ; CICHELERO, M. . : Gestão Rural Como Agente do
Desenvolvimento Regional na Agricultura Familiar. In: XVII Jornadas de Jóvenes Investigadores, 2009,
Concordia, Entre Rios. XVII Jornadas de Jóvenes Investigadores: universidad, conocimiento y desarrollo
regional. Entre Rios - Argentina : EDUNER, 2009. v. 1.
IUDÍCIBUS, Sergio de. et al. Contabilidade introdutória – 9 ed. São Paulo. Atlas, 1998.
KROETZ, Cezar Eduardo Stevens, MATTOS, Wilson Castro, FONTORUA , José Roberto de Araujo. Dos
sistemas à contabilidade. Revista Brasileira de Contabilidade, São Paulo, 1999.
KAPLAN, Robertz, A estratégia em ação, Balanced Scorecard. Rio de Janeiro. Campus 1996.
MATARAZZO, Dante C. Análise Financeira de Balanços, abordagem básica gerencial. São Paulo Atlas,
1998.

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CAPACIDADES PARA O EMPREENDEDORISMO INTERNACIONAL: A CONTRUÇÃO


DE UMA ESCALA DE AVALIAÇÃO

Adriana Martelli * e Claudia Borba Matos


Unisinos

1. Introdução
O estudo aqui apresentado tem como objetivo elaborar uma escala para a avaliação de capacidades para
o empreendedorismo internacional de pequenas e médias empresas (PMEs). Para Mcdougall e Oviatt [1]
empreendedorismo internacional implica no comprometimento de recursos da empresa, como materiais,
pessoas, capital, tempo para a oferta de produtos a mais de um país. Entende-se por capacidades a
mobilização dos recursos que a empresa possui [2], assim a empresa passa a desempenhar suas atividades de
forma mais eficaz e eficiente. É baseado nessa mobilização de recursos e na força dos mesmos que a empresa
irá desenvolver sua estratégia. Os seguintes pressupostos teóricos são nucleares a este trabalho: (a) para o
empreendedorismo internacional é necessário o controle de recursos para criar e explorar oportunidades em
diferentes países [3] e; (b) os empreendimentos com uma visão mais local devem estar constantemente
atentos com as organizações que atuam internacionalmente, visto que essas podem se tornar concorrentes no
mercado local[4].

2. Método
O estudo toma como método as recomendações de Hair [5] para a construção de escalas. Em uma
primeira etapa haverá um aperfeiçoamento da definição dos conceitos de capacidades e de
empreendedorismo internacional. Em uma segunda etapa se buscará a definição operacional dos conceitos
por meio de entrevistas com especialistas e empresários. Em uma terceira etapa será estabelecido um
questionário que contemple as variáveis associadas aos conceitos em foco. A quarta etapa consiste na
aplicação deste questionário a uma amostra estatisticamente válida de pequenas empresas que tenham
atividade internacional do Rio Grande do Sul. Os resultados dessa aplicação serão tratados por meio do SPSS
em uma abordagem de análise fatorial. Tais passos estão dispostos graficamente na figura 1 abaixo, destaca-
se que a etapa atual do projeto é aquela com contorno tracejado em vermelho.

FIG.1 Alinhamento Objetivos Específicos com a Metodologia

*
Adriana Martelli: adriana.martelli@hotmail.com
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3. Resultados e Discussão
Este estudo encontra-se em sua etapa inicial, na qual o foco é o aperfeiçoamento dos construtos. Essa
se subdivide em: (A) conceitos de empreendedorismo internacional; (B) conceitos de capacidades; (C)
relação entre o empreendedorismo internacional e capacidades.
Empreendedorismo internacional pode ser definido como uma empresa que desde sua fundação possuí
significante vantagem competitiva no uso de recursos e a comercialização de produtos e/ou serviços em
diferentes países [1]. Com o aumento de oportunidades de mercado para o surgimento de born globals,
empreendedorismo internacional, de forma mais aperfeiçoada, passou a ser definido como uma combinação
de inovação, proatividade, e disposição ao risco, que vai além das fronteiras nacionais na busca de criação de
valor para a organização [6]. Segundo Oviatt e McDougall (1994) [1] vale destacar que o foco em uma new
venture é sua idade quando ela se internacionaliza, e não seu tamanho. Ao contrário das empresas que se
internacionalizam de forma gradual, essas new ventures já iniciam suas atividades com estratégias proativas
de internacionalização.

4. Conclusão
Espera-se que com esse estudo seja possível fazer a relação entre empreendedorismo internacional,
para que a partir dessa se construa um questionário que mensure as capacidades para o empreendedorismo
internacional. Uma vez pronto o questionário, espera-se que esse seja utilizado para o desenvolvimento das
empresas do estado.

Referências

[1] Oviatt, B.M. and McDougall, P.P. Toward a theory of international business studies, Journal of
International Business Studies. v. 25, n. 4, p.45–64, 1994.

[2] BARNEY, J. Firm resources and sustained competitive advantage. Journal of Management. v. 1, n. 1,
p. 99-120, 1991.

[3] YEUNG, Henry Wai-chung. Entrepreneurship in International Business: An Institutional Perspective.


Asia Pacific Journal of Management. v.19, n. 1, p. 29–61, 2002.

[4] Wright, R.W. and Ricks, D.A. Trends in international business research: twenty-five years later, Journal
of International Business Studies. v. 25, p. 687–713, 1994.

[5] HAIR JUNIOR, Joseph F.; BABIN, Barry; MONEY, Arthur H. .SAMOUEL, Phillip. Fundamentos de
métodos de pesquisa em administração. Porto Alegre: Bookman, 2005.

[6] MCDOUGALL, P. P.; OVIATT, B. M. Defining International Entrepreneurship and Modeling the Speed
of Internationalization. Entrepreneurship Theory And Practice. p. 1042-2587,2005.

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CT&I PARA O DESENVOLVIMENTO DA ENERGIA RENOVÁVEL: PANORAMA DAS


ATIVIDADES DE P&D NO SETOR EÓLICO POTIGUAR.

Sabrina Carla Alves da Silva* ¹; Dr. Edilson da Silva Pedro ²


¹ Departamento de Economia - Universidade Federal do Rio Grande do Norte
² Escola de Ciência e Tecnologia - Universidade Federal do Rio Grande do Norte

1. Introdução
A energia elétrica ao longo da história tem ocupado um papel fundamental para o desenvolvimento
socioeconômico à medida que se tornou fator primordial na estrutura dos setores produtivos. Observa-se ser
dominante o uso dessa energia elétrica comparado com outras fontes, no Brasil, por exemplo, a utilização do
uso de energia elétrica é de 70% segundo dados do Ministério de Minas e Energia, e nota-se esse também ser
o quadro predominante mundialmente.
Por isso a importância da busca por novas fontes alternativas de energia renovável para geração de
eletricidade. Define-se como energia renovável aquela que é de fonte inesgotável por ser capaz de se
regenerar. Essas fontes de energia são tidas atualmente como alternativas para substituição gradual dos
recursos energéticos não-renováveis e poluentes. As mais promissoras são a de fonte solar, biomassa,
maremotriz e eólica, que são capazes de se recompor por meios naturais.
No que tange a energia eólica, o Brasil é um dos países que tem grande potencial natural para a área
energética eólica e vem nos últimos anos amadurecendo a atuação nesse setor. Pode-se destacar no país, a
região nordeste como a que possui melhores condições naturais para crescimento na área de energia eólica, e
o Rio Grande do Norte avoca uma posição privilegiada para tornar-se auto-suficiente em energia elétrica até
o ano de 2012, segundo a Secretaria Estadual de Energia e Assuntos Internacionais (SENINT), devido o
próspero crescimento do setor eólico.
No entanto, é preciso entender que embora o mercado de energia por fonte alternativa eólica seja
promissor, as nações desenvolvidas têm assumido vantagem tecnológica e competitividade no mercado,
devido aos investimentos que esses países realizam na área de Pesquisa e Desenvolvimento, visto a demanda
tecnológica que o setor exige. Em suma, esse setor demanda uma alta tecnologia, e para que o mesmo
alcance uma posição competitiva frente a outras fontes de energia, é necessário investimento tecnológico de
maneira a diminuir o alto custo de implantação de usinas deste tipo.
Dessa forma, é crescente o esforço dos países em investimento nas Pesquisas e Desenvolvimento
(P&D) por fontes limpas de energia para o crescimento da produção elétrica por tais fontes para obtenção da
diversificação energética. Referente ao setor eólico, os países que possuem domínio tecnológico que tal setor
exige são principalmente a Alemanha, Estados Unidos e Espanha, que, nessa ordem, são os maiores
produtores eólicos mundiais.
Diante do exposto, o atual trabalho busca como objetivo construir uma plataforma de informações
que represente o panorama das atividades em P&D do setor eólico Potiguar. O estado do Rio Grande do
Norte foi escolhido como espaço para estudo devido o potencial que o mesmo apresenta para crescimento no
setor.
Observa-se que o tema de P&D no setor eólico é pouco trabalhado por pesquisadores, existem
algumas contribuições teóricas a respeito da P&D no setor elétrico, no entanto sem este enfoque na área de
energia renovável. Deste modo, justifica-se a relevância deste estudo, pelo fato do mesmo vir a apresentar
uma plataforma de informações inédita sobre a área de energia eólica no estado do Rio Grande do Norte, e
consta também numa junção de dados sistêmicos que poderá a vir cooperar com venturas futuras pesquisas
científicas.

2. Método
A partir do ano de 2000, com a publicação da lei 9.991, o investimento em P&D se tornou obrigatório
no setor elétrico brasileiro. Por meio dessa lei, as empresas do setor elétrico ficaram condicionadas a investir
uma parcela das suas Receitas Operacionais Líquidas em atividades de Pesquisa e Desenvolvimento.
Segundo [1] Almeida (2006) a geração de conhecimento, o desenvolvimento tecnológico e a inovação se
tornam fatores diferenciais para a empresa que os pratica em relação aos seus concorrentes, visto que
descobertas científicas e tecnológicas levam ao desenvolvimento de uma economia globalizada, em que a
concorrência empresarial é um componente marcante. Dessa maneira, nesse ambiente descrito, empresas do

*
Sabrina Carla: sabrina_scas@hotmail.com
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setor elétrico condicionam-se, a partir da lei 9.991, a um empenho de pelo menos acompanhar a tendência
mundial de inovação no setor.
Para alcançar os objetivos propostos no atual estudo, se fará uso de pesquisa aplicada do tipo
exploratória. Além disso, terá dois tipos de delineamento, sendo a pesquisa bibliográfica e a documental. A
do tipo bibliográfica foi escolhida para reunir elementos teóricos do tema do trabalho, obtendo-se
informações através de contribuições editadas por alguns autores na área de estudo proposta, fazendo uso
principalmente de artigos científicos. Os dois trabalhos que norteiam uma maior colaboração a este atual
estudo referem-se às pesquisas de Almeida (2006), que trata das contribuições da P&D no setor elétrico,
realizando um estudo de caso da empresa Chesf em Pernambuco. E também a pesquisa de Goldembreg
(2000) sobre um estudo de caso para análise dos projetos de P&D das concessionárias reguladas pela
ANEEL.
No que concerne a do tipo documental, foi optada para se obter informações empíricas de forma a
alcançar uma análise comparativa de possíveis mudanças ocorridas na série temporal utilizada. Tais
informações serão coletadas a partir de documentos existentes que ainda não foram analisados, tais como:
documentos de arquivos públicos, relatórios de pesquisa, contratos, entre outros, de forma a selecionar, tratar
e interpretar essas informações em estado bruto, buscando extrair valores para as mesmas.
Por essa via, os dados quantitativos utilizados serão obtidos por fonte secundária, conseguidos por
pesquisa a sites de órgãos e instituições que coletam, analisam e publicam dados oficiais, os referidos sites
são: ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica, MME – Ministério de Minas e Energia, SENINT –
Secretaria Estadual de Energia e Assuntos Internacionais, OSN – Operador Nacional do Sistema Elétrico,
EPE – Empresa de Pesquisa Energética, MCT – Ministério de Ciência e Tecnologia, Lattes. CNPq –
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, entre outros. Nesse sentido, o universo de
análise são universidades do estado e empresas privada além de ações do governo.
Dessa maneira, os dados coletados serão tabulados e apresentados em forma de tabelas, quadros e
gráficos. Como alguns dados serão coletados em sua forma bruta, os mesmo poderão ser reelaborados de
acordo com o objetivo da pesquisa.
Isso posto, apresenta-se o período analisado para pesquisa, sendo o ano inicial 2004 a 2009. A série
temporal foi escolhida seguindo o critério de que em 2004 já vigorava a lei 9.991 de 2002, que regularizava o
investimento em P&D no setor elétrico, e também é o marco de operação de energia elétrica por usinas
eólica no estado do Rio Grande do Norte, que foi selecionado como espaço para esta presente pesquisa.

3. Resultados e Discussão
É importante frisar que a atual pesquisa trabalhou com dados secundários e os resultados alcançados
serão submetidos à complementação de informações a ser coletado em campo, procedimento a ser realizado
numa segunda fase deste estudo.
Assim sendo, por meio dos dados preliminares coletados pode-se traçar o panorama parcial das
atividades de P&D no setor eólico do estado do Rio Grande do Norte. Com isso, percebe-se que as ações em
Pesquisa e Desenvolvimento ocorrem principalmente dentro das universidades e institutos e centros de
pesquisa.
O estado possui cinco grupos de estudos voltados para energia renovável com linha de pesquisa
sobre a energia eólica, distribuídos entre a universidade UFRN e o instituto de pesquisa IFRN. Além disso,
constam como projetos de pesquisa da universidade federal nove projetos de pesquisa em andamentos, com
ações incisivas no setor em análise. Somando-se a esse cenário um curso de especialização ofertado numa
parceria entre o centro CTGÁS e UFRN.
No tocante aos pesquisadores do estado cadastrados no diretório de grupos lattes correspondem ao
número de quarenta e dois e concernente aos estudantes envolvidos com pesquisas na área energética eólica
o total de vinte e um estudantes.
Observa-se que as ações do estado podem ser descritas como em nível de amadurecimento, visto que
o próprio setor no RN encontra-se numa fase inicial de formação.
Ainda assim, nota-se por um lado que o estado potiguar tem apresentado nos últimos anos
crescimentos de projetos e parcerias que tem contribuído para o crescimento no setor. No ano de 2009 na
ocasião do Fórum nacional realizado em Natal –RN, o estado assinou um acordo de cooperação com o
governo da Navarra, Espanha visando o desenvolvimento conjunto de políticas públicas de incentivo à
geração energética a partir das fontes renováveis eólica, solar e biomassa. Isso proporcionará ao RN ter a
experiência e tecnologia da Espanha na formação desse pólo eólico. Navarra, eu é uma comunidade
autônima da Espanha, equivalente a estado, já trabalha com energia eólica há mais de vinte anos e vêm
contribuindo com o RN que, por hora, está amadurecendo sua participação no setor.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Por sua vez, iniciativas locais também estão firmadas no estado potiguar. Existe uma expectativa
frente ao pré-projeto de formação de um pólo industrial eólico a ser firmado entre os governos do Rio
Grande do Norte e Ceará. Os dois estados pretendem estimular a criação de um Pólo Industrial Bilateral para
os dois Estados, com foco no potencial eólico apresentado entre o litoral leste Cearense e a Costa Branca
Potiguar (Tibau - Touros). Com todas essas esses projetos e pré-projetos, estima-se que me 2012 a matriz
energética potiguar já constará de mais de 60% de sua fonte geradora de energia elétrica provinda de fonte
eólica.
No entanto, por outro lado encontrou-se uma carência de políticas incisivas em tecnologia por parte
da ação pública. É de extrema importância que para ocorrer o desenvolvimento do setor eólico no estado do
Rio Grande do Norte, torne-se crescente as atividades de P&D incisivas em tecnologia.
Diante do exposto, pode-se observar que o Rio Grande do Norte apresenta incentivos importantes
como os realizados pelas universidades e institutos de pesquisa, mas para sua estrutura em P&D ser
considerada satisfatória frente ao potencial que o estado apresenta à energia eólica, é necessário crescente
incentivo e ações voltadas para a Pesquisa e Desenvolvimento tecnológico.
Para isso, é necessária uma política de Ciência e Tecnologia bem sistematizada, envolvendo diversos
atores, de maneira a estreitar a cooperação universidade/ empresa. Dessa forma, o estado estará se
articulando eficazmente para corresponder ao potencial produtivo eólico que possui, de forma a alcançar por
esta via um novo segmento econômico contribuindo não só com o desenvolvimento do setor, como com o
desenvolvimento socioeconômico.

4. Conclusão
De forma geral, este trabalho cumpriu com seus propósitos de promover uma sistematização de
informação que caracteriza o panorama das atividades de P&D no setor eólico do estado do Rio Grande do
Norte.
Com isso, foi possível observar que o estado apresenta condições reais de se tornar um grande
produtor, principalmente por possuir vantagens competitivas como populações residentes no litoral, e os
ventos, em média, têm velocidades altas e, em geral, são estáveis. Diante das atividades de Pesquisa e
Desenvolvimento, destaca-se a atuação da Universidade Federal o Rio Grande do Norte, como sendo a
instituição que mais tem promovido pesquisas referentes ao setor eólico. Observou-se que a universidade e o
instituto federal (IFRN) são responsáveis por grande parte das pesquisas científicas desenvolvida neste setor
do estado potiguar.
No entanto, o setor ainda enfrenta desafios, como por exemplo, o fato de não possuir tecnologia
própria para desenvolver-se, e as ações incisivas em tecnologia serem tênues no estado. É importante
ressaltar que o referido setor ainda encontra-se em formação, mas é importante os incentivos que são
lançados nesse processo de crescimento e amadurecimento.
De forma geral, é possível estar otimista frente às oportunidades que o estado apresenta. Sem
dúvidas o Rio Grande do Norte tem potencial de destaque no Brasil e as projeções de crescimento no setor
são satisfatórias. O estado potiguar aponta para um futuro de grande produtor eólico nacional, e caso cresça
os incentivos de políticas e projetos incisivos em tecnologia, tornar-se também menos dependente da
tecnologia estrangeira, que atualmente é predominante nas implantações de usinas eólicas no Rio Grande do
norte.
Por fim, embora os dados apresentados sejam parciais os mesmos representam uma plataforma de
informações sistêmicas fundamental para consolidar um panorama inicial da estrutura de P&D no setor
eólico do RN, e, além disso, representa passo importante que conduzirá os desdobramentos da segunda fase
desta pesquisa.

Referências
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relação entre P&D industrial e a importância das universidades para as empresas. Texto para
Discussão Cedeplar-UFMG, Belo Horizonte, n. 253, 13 p., mar. 2005.
[2] ALMEIDA, A. J. P&d no setor elétrico brasileiro: um estudo de Caso na companhia hidro elétrica
do são Francisco. Recife. Dissertação de mestrado. Recife, PE: 2008
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Contribuição dos Projetos de P&D da Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf). Revista
Econômica do Nordeste. Vol 39, ano 2006.
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tecnológico do setor de energia elétrica. Brasília, 2002.

793
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

[5] _______. Manual do programa de pesquisa e desenvolvimento tecnológico do setor de energia


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http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional >. Acesso em: abr 2010.
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[8] DUTRA, R. M. TOLMASQUIM, M. T. Estudo de viabilidade econômica para projetos eólicos com
base no novo contexto do setor elétrico. Revista Brasileira de Energia Vol. 9 | N o 1
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Paulo, v. 14, n. 3, p. 91-97, jul./set. 2000.
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concessionárias reguladas pela ANEEL. Energy Discussion Paper, Campinas, n. 2.62-04, jul. 2003.
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Amazônia. T&C Amazônia, Manaus, ano 3, n. 6, p. 9-14,
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http://www.mme.gov.br/see>. Acesso em: abr 2010.
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conceitual para a análise da gestão dessa relação. Revista Parcerias Estratégicas, Brasília, n. 11, p. 35-47,
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(1998).

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DIAGNÓSTICO DA VISÃO ESTRATÉGICA DAS EMPRESAS DA QUARTA COLÔNIA


NA REGIÃO CENTRAL DO RIO GRANDE DO SUL.

Caroline Haack1
UFSM- Campus de Silveira Martins

1. INTRODUÇÃO

Nos últimos anos vem ocorrendo grandes transformações nos modelos de mercado, é importante
que as empresas estejam preparadas para a concorrência acirrada independente de seu porte, sejam elas;
pequenas, médias ou grandes.
O planejamento estratégico tem por base, orientar a empresa para que a mesma possa priorizar os
resultados a serem atingidos. A concorrência faz com que as empresas busquem diferenciais competitivos,
para que possam atender as expectativas de um consumidor cada vez mais exigente. Frente a isso o
planejamento estratégico é de suma importância na tomada de decisões e execuções empresariais na
atualidade. Segundo Kotler (1992, p.63) “Planejamento estratégico é definido como o processo gerencial de
desenvolver e manter uma adequação razoável entre os objetivos e recursos da empresa e as mudanças e
oportunidades de mercados” Já na definição de Maximiano (2008, p. 134), “planejamento estratégico é o
processo de estruturar e estabelecer os cursos de ações da empresa e os objetivos que deve alcançar”.
Umas das áreas das empresas que está mais ligada ao que o mercado exige é o Marketing, que
estuda o comportamento empresarial, o consumidor e suas rentabilidades econômicas. As empresas podem
facilmente tornarem-se arcaicas, com as rápidas mudanças de mercados, empresas que chegam ao seu ápice
podem facilmente declinarem, se não fizerem um planejamento estratégico de marketing. Segundo kotler
(2008, p22) “O papel do marketing em ajudar as empresas a tirar vantagem das oportunidades”.
Com a economia mundial em constante transformação, as distâncias culturais e geográficas estão se
reduzindo significativamente. As empresas cada vez mais globalizadas trocam informações significativas ao
longo da cadeia produtiva. O papel do marketing é primordial para analisar o padrão de consumo dos
indivíduos, para que a empresa possa planejar e executar estratégias compatíveis ao mercado que ela incide.
Para que haja um bom desempenho do planejamento estratégico, não basta o simples desejo de
oferecer o produto no mercado é necessário uma análise ampla no mercado no qual a empresa esta inserida,
isso implica nas escolhas dos processos que a empresa deve tomar no ato de se planejar.
Com base na pesquisa elaborada vamos construir o perfil estratégico e o Marketing usado nas
empresas da microrregião na Quarta Colônia Italiana no Rio Grande do Sul.

2. METODOLOGIA

A pesquisa se caracterizou de forma descritiva, envolvendo técnicas padronizadas de coleta de


dados como questionários e observação sistemática, sendo realizada por amostragem de forma aleatória e
simples, tendo em vista 10% de cada segmento (indústria, comércio e serviços) da listagem fornecidas pelas
Prefeituras municipais das seguintes cidades: São João do Polêsine, Nova Palma, Dona Francisca, Silveira
Martins e Faxinal do Soturno.
Os dados foram coletados através de questionários com questões fechadas dirigidos aos dirigentes
das organizações da região da quarta colônia de acordo com seus segmentos.
A análise foi realizada a partir da coleta de dados, com apoio de um programa estatístico descritivo,
na forma quantitativa, e resultados apresentados através de gráficos na forma de médias.

3. RESULTADOS

O objetivo da pesquisa é analisar as estratégias utilizadas pelos empresários dos diversos segmentos
da Região Central do Rio Grande do Sul, visando o desenvolvimento estratégico e de marketing dos
municípios da Quarta Colônia.

1
carolinehaack@hotmail.com
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Não realiza
Inf ormal 27%
35% Não realiza
Fornal
Inf ormal

Fornal
38%

FIG. 01: PLANEJAMENTO


FONTE: PESQUISA DOS ACADÊMICOS, 2009

O planejamento pode ser escrito formalmente requerendo assim o uso de técnicas e domínio de
conceitos específicos de maneira escrita e planejada e de modo informal, contendo a ausência de
metodologias específicas de característica não escrita, podendo estar implícito ao pensamento do fundador
da empresa.
Podemos observar que nos municípios pesquisados 38 % redigem o planejamento de sua empresa
de maneira formal, isso faz que todos da empresa tenham acesso as informações de modo concreto. Embora
tenha a maior porcentagem de formalidade, a informalidade (35%), que somada aqueles que não realizam
nenhum tipo de planejamento (27%) pode vir a gerar a problemas de gestões futuras, pela deficiência na
troca de informação, conforme Figura 01.

Operacional ; Nenhum ;
27% 27% Nenhum
Todos
Estratégico
Tático
Operacional
Tático; 5%
Todos; 14%
Estratégico;
27%

FIG 02: TIPO DE PLANEJAMENTO


FONTE: PESQUISA DOS ACADÊMICOS, 2009

Distinguem-se três tipos de planejamento, estratégico, tático e operacional;


O planejamento estratégico nasce do ato militar de guerra de forma a solucionar os problemas
eminentes da mesma.
Segundo Maximiano (2008 p112) “A estratégia empresarial é a escolha das formas de concorrer,
considerando as ameaças e oportunidades dos ambientes externos e internos da organização”. Considerando
a empresa como um todo, definindo seus objetivos de longo prazo atribuindo os a tomada de decisões aos
níveis mais elevados da gerência.
O nível tático é passado para traduzir os objetivos gerais e estratégicos a médio prazo,
possibilitando a troca eficiente e eficaz de informação entre o plano estratégico e plano operacional.
Otimizando uma determinada área de resultado e não a empresa como um todo.
O nível Operacional responde o processo no qual se formaliza os objetivos táticos principalmente
através de documentos escritos utilizando-se das metodologias de desenvolvimento e implementação de
estratégias estabelecidas, na forma de planos de ação.
A Figura 02 demonstra que 27% das empresas planejam de modo estratégico e 5,% de modo tático,
27 % respondem no nível operacional, 14% abrangem todos os níveis e 27% não fazem nenhum tipo de
planejamento. Levando em consideração que a maioria das empresas pesquisadas são de médio e pequeno
porte, sendo esperada a redução do nível tático, pois a maioria das empresas não tem estruturas suficientes
para tamanha operação.

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Não; 27% Não Sim

Sim; 73%

FIG 03: DEFINIÇÃO DA MISSÃO E VISÃO


FONTE: PESQUISA DOS ACADÊMICOS, 2009

Observamos a figura de nº 03, que 73% das empresas possuem de maneira formal a sua visão e
missão, e 27,% não elaboraram sua visão e missão.
Um plano de estratégico deve conter a missão e a visão que a empresa deve tomar frente aos
objetivos desejados, devendo definir formalmente a situação futura da empresa.
Segundo Maximiano (2000 p. 412), “a missão estabelece o propósito ou as razões para a existência
da organização, do ponto de vista de sua utilidade para os clientes”.
Toda a missão deve conter aspectos para agregar valores a todos interessados; clientes, acionistas,
empregados, comunidade e fornecedores, devendo sempre enfatizar os valores no qual a empresa está
inserida, refletindo o que verdadeiramente a empresa é. Já na visão a empresa visa o futuro no qual a mesma
deseja alcançar, deve ser um conjunto de definições e metas para servir de guia para alcançar os objetivos
de longo prazo. Ou seja, é o sonho de um negócio onde a empresa deseja estar no futuro.

Estratégias
estabelecidas no
planejamento não estratégias
são implementadas; estabelecidas no
3% planejamento; 27%

Estratégias estabelecidas
no planejamento não são
implementadas;
estratégias estabelecidas
no planejamento

surgem quando há
necessidade
surgem quando há
necessidade ; 70%

FIG 04: BASE PARA TOMADA DE DECISÃO


FONTE: PESQUISA DOS ACADÊMICOS, 2009

O planejamento estratégico é o processo no qual a empresa define a os rumos necessários para


enfrentar situações futuras. As decisões tomadas pelos empresários devem ser de acordo com o plano
estratégico de cada empresa. Analisando a Figura 04, 70% das decisões tomadas surgem quando há algum
tipo de necessidade, 27% são estabelecidas no planejamento e 3% no qual as estratégias não são
implementadas. Caracterizando assim há insuficiência do planejamento estratégico na região.

Não realiza
investimentos ; Não respondeu ; Não respondeu
7% 8%
Marketing
Outro ; 10%

Marketing; 18% Produção (novos


Recursos
equipamentos/tecnologia)
Humanos ; 10%
Recursos Humanos

Outro

Produção (novos Não realiza investimentos


equipamentos/te
cnologia); 47%

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FIG 05: ÁREA DE INVESTIMENTOS NA EMPRESA


FONTE: PESQUISA DOS ACADÊMICOS, 2009

Segundo a pesquisa realizada na região da quarta colônia, em relação a empresa e seus investimentos
se resumem a maior parte na produção de novos equipamentos, onde logo a seguir temos os investimentos
na área de marketing, como mostra a figura de nº 05.
Segundo Philip Kotler (ANO2008.) o Marketing e a atividade humana dirigida para a satisfação de
necessidades e desejos através de processos de troca, onde só se produz o que o consumidor deseja para
satisfazer suas necessidades, vemos assim a grande importância deste setor para o crescimento da empresa.

Internet ; 7%

Jornal; 13% Internet


Jornal
Rádio ; 42%
Panf letos
Outdoor
Televisão
Panfletos ; 17% Mala Direta
Rádio

Outdoor; 2%
Mala Direta ; 2%
Televisão ; 18%

FIG 06: ANÁLISE DE MÍDIA


FONTE: PESQUISA DOS ACADÊMICOS, 2009

Para a divulgação do negócio, devemos escolher a mídia que atinja nossos clientes alvos é a forma
utilizada para a apresentação de bens, produtos e serviços. A mídia é a forma que o empresário tem de
tornar seu produto ou serviço conhecido perante aos seus futuros consumidores.
Segundo Kotler (2008p.565)” A seleção de mídia envolve a tarefa de encontrar a mídia mais eficaz
em termos de custos-benefício para levar o número desejado de exposições à audiência alvo.”
A figura de nº 06 representa a mídia mais utilizada na região é a de rádio (42%) sendo determinante a
escolha de rádios locais, seguido 18% da utilização de propaganda televisiva, 17% o uso de panfletos, 13%
jornais, 7% internet, 2% de outdoor e o mesmo resultado de mala direta.

4. CONCLUSÕES

Com realização a pesquisa e a análise dos resultados em relação a visão estratégica e a área de
marketing das empresas da região da Quarta Colônia Italiana, RS. Podemos analisar o perfil empresarial da
região. Analisou também que 73,92% das empresas são de gestão familiar e 26,92% possuem gestão
profissionalizada, tendo em vista que as cidades pesquisadas são formadas por municípios com
aproximadamente 6.407 habitantes, a maior cidade, Faxinal do Soturno, segundo o IBGE.
Compreendemos que o planejamento é a ferramenta que o administrador tem para administrar as
incertezas do futuro empresarial, em relação a concorrência de mercado e a tomada de decisões, que
influenciam o futuro da empresa. Que o melhor modo de se planejar é organizar-se no presente, visando o
futuro, perante as variáveis do ambiente. No entanto as cidades analisadas nos mostram a carência na
formalização do planejamento estratégico devido ao numero de 77,33% dos administradores mão possuírem
o nível de graduação. Os empresários da região em sua maioria ministram o ato de se planejar de modo
informal, enfatizando a necessidade de um acompanhamento de entidades de apoio.
O planejamento de marketing teve por base analisar a influência do planejamento estratégico ma
tomada de decisões, buscando em relação entre pesquisas de mercados e os canais de mídias. A decisão
tomada entre os empresários locais é a mídia radialista tendo base a proximidade da rádio local e o costume
da localidade.
De modo geral podemos considerar que as empresas da quarta colônia nos mostram uma grande
deficiência no ato de se planejar isso gera incertezas no futuro. Contudo podemos observar o potencial
empreendedor da região, pois mesmo com as incertezas as micro e pequenas empresas perduram no
mercado ao passar dos anos.

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REFERÊNCIAS BIBLIOFRÁFICAS

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controle. 2.ed. São Paulo: Editora Atlas, 1992

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Controle. 5ªed. São Paulo:Editora Atlas, 2008

KWASNICKA, L.E. Introdução à Administração. 6ªed. São Paulo: Editora Atlas, 2009

MAXIMIANO A.C.A. Teoria Geral da Administração. 2ªed. São Paulo: Editora Atlas, 2000

MAXIMIANO A.C.A Introdução à Administração. 7ªed. São Paulo: Editora Atlas,2008

SEBRAE/PR. Como Planejar estrategicamente minha Empresa. Disponível em:


http://www.sebraepr.com.br/portal/page/portal/PORTAL_INTERNET/PRINCIPAL2009/BUSCA_
TEXTO2009?codigo=812 Acesso em: 20 jun.2010.

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Diagnóstico situacional dos serviços prestados em academias de ginástica em uma região de


Florianópolis
Thiago Caon*; William Ramos
Estudantes de Administração Empresarial - Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC/ESAG

1. Introdução
Pitts e Stotlar (2002) [1] colocam que o marketing esportivo pode se apresentar sob dois principais
pontos de vista – aquele em nível macro, que considera as forças externas que afetam o negócio no todo,
incluindo o conceito de vantagem competitiva e aquele em nível micro, que inclui as atividades realizadas
pela empresa para fins de conquista e manutenção dos clientes. No caso deste trabalho, definiu-se como tema
central a primeira opção, com uma sondagem sobre o comportamento do cliente sob a visão do gestor.
Além disto, tendo em vista a carência de estudos que tratam deste tema, bem como a expansão do
número de academias na região delimitada para o estudo (particularmente às reduzidas barreira e fiscalização
quando da abertura de um novo negócio), o objetivo central deste trabalho foi à análise dos serviços
prestados nas academias dos bairros Trindade, Córrego Grande e Santa Mônica (situados em Florianópolis),
para melhor compreensão deste mercado. O aumento da concorrência não apenas aumenta a preocupação dos
gestores destes estabelecimentos, como desperta o interesse para se conhecer este mercado, etapa esta
anterior a definição de estratégias de diferenciação e/ou segmentação. Sistematicamente, os seguintes tópicos
foram abordados:
 Identificar as academias existentes na delimitação geográfica definida;
 Identificar a utilização de bancos de dados dos clientes;
 Levantar as condições de pagamento;
 Verificar a existência de serviços de personal trainer, acompanhamento nutricional e treinamento
para competições;
 Levantar aspectos relacionados com propaganda, promoção e ações de retenção.
 Identificar as três modalidades mais procuradas;
 Caracterizar as organizações estudadas em relação à localização, número de funcionários e número
de clientes matriculados;
 Levantar a percepção do gestor em relação ao diferencial da sua academia em relação ao
concorrente.
2. Método
Após definição do tema de pesquisa por meio de uma abordagem exploratória, iniciou-se uma
pesquisa descritiva tendo em vista que o objetivo deste trabalho foi o de analisar os serviços prestados em
academias de ginástica de diferentes bairros de Florianópolis. Um questionário estruturado foi utilizado para
a coleta de dados, sendo o mesmo composto por treze questões, cinco abertas e oito fechadas, das quais cinco
foram de múltipla escolha e três dicotômicas. Aplicaram-se três questionários em academias de regiões não-
objeto de estudo para a validação da estrutura e conteúdo do documento, e para identificar inconveniências
que viessem a prejudicar a coleta de dados.
Todo o universo foi considerado para a pesquisa (N=18), caracterizando-a como sendo censitária. O
software Sphinx Survey® (versão 5.0.0.64) foi utilizado para o tratamento dos dados.
Uma vez que a pesquisa analisou os serviços prestados nas academias localizadas nos bairros Santa
Mônica, Trindade e Córrego Grande, deve-se ter cautela durante a extrapolação dos resultados obtidos nesta
pesquisa. Além disso, a pesquisa não pretendeu:
 Levantar preços dos diversos planos oferecidos pelas academias;
 Identificar fontes geradoras de custos em academias (mão-de-obra, manutenção, entre outros);
 Identificar a preferência dos clientes com relação às academias;
 Investigar o período de atuação das academias no mercado.
O estudo não buscou testar hipóteses, ou seja, avaliar relações de causa e efeito, uma vez que tem
propósito descritivo.

3. Resultados e Discussão
Com relação às modalidades mais procuradas, tem-se como prioritária à musculação, seguida por
ginástica e pilates. Uma vez que os resultados da prática de musculação podem ser rapidamente notados, isto
explicaria a alta demanda por este serviço (150% a mais do que ginástica e pilates).

*
Autor Correspondente: thiagocaon@yahoo.com.br
800
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De forma geral, observou-se uma grande diversificação das modalidades oferecidas pelas academias.
Buscando atrair públicos com aspirações diferenciadas, o boxe já aparece como opção, assim como Body
Kombat, Pump e Step, representando cerca de 5% das modalidades mais procuradas.
Os clientes de uma academia têm o interesse comum pela prática de atividades físicas, mas apresentam
necessidades distintas. Uma em cada cinco academias oferece o serviço de treinamento para competições
esportivas, ampliando a participação destes serviços na rotina das pessoas. Uma em cada quatro academias
disponibiliza serviços de acompanhamento nutricional aos seus clientes. Este tipo de serviço deveria ser mais
explorado, tendo em vista a forte associação entre alimentação e atividade física, aliado a possibilidade de
oferecer resultados mais rápidos para o cliente. Ambos serviços podem ser vistos como diferencial, uma vez
que o cliente que procura uma academia, aleatoriamente, na região, possui chances remotas de encontrá-los.
O serviço de personal trainer é oferecido em mais da metade dos estabelecimentos, demonstrando que
o público-alvo possui certo comprometimento com as atividades realizadas na academia e um grau de
exigência superior ao serviço tradicionalmente oferecido.
Com relação aos serviços de treinamento para competições, observou-se que apenas as academias
mais estruturadas e com mais de 100 clientes oferecem este tipo de serviço. Embora pouco vantajoso para
aquelas de menor tamanho, pode contribuir divulgar a imagem das mesmas em eventos esportivos.
Dados da Fitness Brasil (2006) [2] indicam que o mercado brasileiro conta com cerca de 7 mil
academias e 2,1 milhões de clientes. Ainda que estes dados sejam imprecisos, observa-se uma média
nacional estimada de 300 clientes por academia. Como a maioria das academias pesquisadas apresentou mais
que 250 clientes 1, têm-se um valor próximo da média nacional. Também se observaram academias com
2

número inferior a esta média, que seria justificado por um curto período de atuação neste mercado, ou ainda,
por direcionarem seus serviços a um público restrito e de localização próxima. Em um dos estabelecimentos,
o gestor colocou que o fato da empresa ser pequena e ter poucos clientes representava um diferencial
interessante, pois garantia um alto grau de integração entre os freqüentadores.
Observou-se que as academias que apresentam um maior número de clientes são aquelas que mais
investem na divulgação dos serviços. Isto pode estar relacionado à maior complexidade da estrutura física e
maior variedade de modalidades oferecidas que requerem um número mínimo de clientes para sustentar o
investimento realizado (tanto em estrutura, quanto em pessoal).
O emprego de outras formas de pagamento, além do tradicional à vista, ainda é um diferencial. Um
baixo percentual de academias opta pelo uso do cartão de crédito, uma característica peculiar deste setor (e
desfavorável ao cliente), uma vez que a grande maioria dos estabelecimentos comerciais apresentam esta
opção. Assim, tem-se que outras formas de pagamento podem ser exploradas, optando-se por aquelas que
reduzam o tempo despendido pelo consumidor nesta atividade, já que o fator tempo vem sendo considerado
tanto em aspectos relacionados com a percepção da qualidade de serviços bem como no valor dos mesmos.
Em geral, quanto mais estruturada uma academia, mais atraente parecerá ao cliente. Grande parte das
academias (>80%) disponibiliza em seus ambientes itens complementares tais como vestiário, recepção,
climatização, guarda volume e área destinada a avaliações física e nutricional. Itens como monitoramento
interno, praça de alimentação e piscina ainda tem caráter diferencial. O item quadra poliesportiva foi
apresentado como opção, pois uma pesquisa secundária indicou o crescimento desta estrutura em academias
de grandes cidades. Entretanto, no mercado pesquisado, não houve incidência deste item, apresentando-se
como oportunidade de investimentos futuros em academias que não apresentação limitação física.
De acordo com o critério de classificação de empresas da FIESC [3], 38,9% das academias foram
classificadas como microempresas (até 10 funcionários), enquanto que, as demais como pequenas empresas
(10 a 100 funcionários). Microempresas apresentaram apenas professores e estagiários compondo o quadro
de funcionários. Por outro lado, em 17% das pequenas empresas, observou-se um quadro mais completo,
com professores/instrutores de modalidades específicas oferecidas pelas academias.
Com relação à fidelização de clientes, tem-se que algumas academias interagem mais com o cliente,
oferecendo atendimento personalizado, avaliação de desempenho enquanto outras desenvolvem estratégias
de cunho financeiro, com a elaboração de planos/convênios mais acessíveis, descontos por assiduidade nos
pagamentos ou por fidelidade do cliente à academia. Cerca de 1/5 das academias apresentaram descontos e
planos para universitários, tendo em vista a sua proximidade a universidade.
Embora três academias utilizem o atendimento personalizado como estratégia para a fidelização de
clientes, é questionável se esta prática realmente existe, pois se observou certa incompatibilidade entre o
número de funcionários e o de clientes. Talvez esta prática seja comum apenas durante o ingresso de um
novo cliente na academia ou nas alterações de seqüência/séries de exercícios.

1
Mesmo que haja consenso entre as academias de que o ideal é que um indivíduo realize atividades físicas pelo menos três vezes na semana, definiu-
se como cliente ativo aquele que freqüenta a academia pelo menos uma vez na semana.

801
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Metade das academias opta por estratégias de fidelização de cunho financeiro. Embora possa trazer
resultados satisfatórios, em muitos casos, a relação com o cliente é de curto prazo, pois a competição em
preço não é tão eficaz em serviços como em produtos. Desta forma, outras estratégias também deverão ser
consideradas em combinação com o preço.
Para se atingir e manter a lealdade dos clientes, um dos requisitos primários refere-se à medida do grau
de satisfação e lealdade dos clientes. Apenas duas academias demonstraram preocupações neste sentido, em
que são realizados monitoramentos da freqüência dos clientes.
Dado que muitas academias apresentavam alta rotatividade de clientes nos períodos iniciais, algumas
delas optam por um atendimento personalizado neste estágio (n=3). Por outro lado, não foram relatadas
estratégias diferenciadas durante a recepção destes clientes no estabelecimento. Uma vez que aspectos de
sociabilização ainda não estão bem definidos, o cliente vai avaliar o serviço considerando características
tangíveis como aparência da recepcionista, organização e cores do ambiente, iluminação, cortesia, tempo de
espera, aliado aos pontos externos que o motivaram a optar por esta academia. Caso o cliente desenvolva
uma percepção negativa do serviço, optará pelo concorrente. Desta forma, é preciso criar estratégias
favoráveis a recepção destes clientes que incluam uma rápida sociabilização dos mesmos. Com isto, ocorrerá
uma redução da rotatividade dos clientes nestes estágios e fidelização dos mesmos, reduzindo custos.
A existência do banco de dados pode ser um agente facilitador da fidelização de clientes, uma vez que
a academia poderá armazenar estes dados, estudá-los e ser capaz de conhecer melhor seu cliente. Todas as
academias consultadas apresentavam banco de dados de clientes, seja por ficha (6,6%) ou informatizado
(94,4%). Contudo, apenas uma academia relatou que utiliza o banco de dados para reconhecer o seu público-
alvo. A segmentação de mercado pode ser interessante, pois as academias podem trabalhar os atributos que
são mais valorizados por seu público-alvo. Com isto, assumem um posicionamento no mercado e o composto
de marketing será desenvolvido para formar determinada imagem e atingir aquele público em específico.
Oito academias utilizam o banco de dados para controle financeiro, principalmente para controle de
pagamentos. Apenas uma delas o utiliza de forma mais aprofundada, em que são gerados gráficos para
acompanhamento da evolução, bem como para projetar gastos e receitas. Esta abordagem é interessante, pois
permite a empresa traçar os caminhos futuros da organização, bem como planejar novos investimentos.
O banco de dados é pouco usado (n=3) como ferramenta complementar às avaliações físicas ou no
controle dos períodos destinados as avaliações. Muitos indivíduos vêem na prática de exercícios físicos uma
oportunidade para potencializar sua qualidade de vida (incremento da densidade óssea, redução da gordura
corporal, diminuição da freqüência cardíaca de repouso, entre outros). Tendo em vista que poucas academias
utilizam a base de dados para este propósito, evidenciam-se aqui oportunidades para diferenciação. Na fase
do ingresso do cliente na academia, o objetivo da prática de exercícios físicos seria definido junto ao cliente
e, na seqüência, as academias poderiam criar condições para o alcance do mesmo. Ao final de cada mês, as
academias poderiam enviar um documento simplificado, com dados da evolução temporal de cada cliente.
A panfletagem representou a principal forma de divulgação dos serviços, uma vez que representa uma
forma rápida e objetiva de mostrar para os clientes os principais diferenciais da academia, além do custo
relativamente baixo e acessível. A divulgação em meio eletrônico também foi freqüente. Além dos websites
próprios, algumas academias divulgam seus serviços através de sites de relacionamentos. A televisão e o
jornal são pouco utilizados. A primeira opção é bastante custosa, o que justificaria sua baixa utilização. A
segunda opção poderia ser mais bem explorada (baixo custo, grande abrangência). No entanto, deve-se
atentar para o público-alvo, ou seja, somente leitores de jornal terão acesso a esta forma de divulgação.
Algumas academias utilizam o rádio para a divulgação dos seus serviços, criando frases rápidas ou jargões
que lembram algumas das características destes serviços. O busdoor, uma opção que apresenta alto índice de
cobertura em centros urbanos e distribuição maleável, também poderia ser mais bem aproveitado, tendo e
vista sua baixa utilização (cerca de 7% das academias).
Com relação a estratégias de diferenciação, metade das academias utiliza a qualidade como critério,
seja pela qualidade dos professores ou de seus equipamentos. Embora cada organização tenha sua definição
para o termo qualidade, o que realmente interessa é a definição que o cliente atribui para este termo. Uma
vez que os serviços são intangíveis, nota-se que a qualidade é dotada de certa subjetividade. Neste contexto,
seria desejável que as academias criassem mecanismos para investigar a percepção de valor dos clientes com
relação aos serviços prestados, para melhor compreender esta definição de qualidade.
Algumas empresas conhecem seu público-alvo, oferecendo serviços específicos para tal (por exemplo,
realização de exames e reabilitação cardíaca; programas específicos para idosos, portadores de necessidades
especiais, bem como para recuperação de lesões).
Os profissionais envolvidos na prestação destes serviços foram citados como fontes de diferenciação
por mais de metade das academias. Em alguns casos, foram caracterizados como profissionais qualificados e
capacitados. Em outros, como agentes de um atendimento personalizado. Neste último caso, é fundamental a

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

interação entre cliente e orientador físico, pois isto pode significar tanto uma maior adesão às atividades
físicas quanto maior fidelização dos clientes. A filosofia de trabalho do orientador físico não deve incluir
apenas a dimensão física, mas também considerar aspectos psicológicos, morais e sociais.

4. Conclusão
A maioria dos estabelecimentos situa-se ao longo das principais vias da região e, em determinadas
regiões, observa-se a existência de até três estabelecimentos em um raio inferior a 200 m, o que aumenta a
concorrência, exigindo estratégias para captação e fidelização de clientes. Observou-se certa homogeneidade
nos fatores julgados pelos gestores como sendo os diferenciais de suas academias, a considerar: capacitação
dos profissionais e atendimento personalizado. Com este trabalho, pode-se perceber que estas características
não podem ser mais vistas como “diferenciais”, mas como pré-requisito para a entrada neste setor.
Mais da metade das academias pesquisadas oferecem serviço de personal trainer, um quarto dispõe
de serviço nutricional e um quinto de treinamento para competições. Este último item poderia ser mais bem
explorado para captação de clientes específicos tendo em vista o alto percentual de jovens nesta região. A
musculação foi à modalidade mais procurada, seguido de ginástica e pilates, um resultado que era esperado,
pelo perfil da população local. A concessão de descontos em função de contratos firmados em períodos
maiores que seis meses representa a principal estratégia das academias da região para evitar a rotatividade.
Porém, deve-se atentar para que esta medida não venha a fazer com que o cliente crie uma imagem negativa
do negócio, pois isto evitaria outros contratos futuros. Em algumas academias norte-americanas, a concessão
de descontos financeiros em função de uma alta utilização do serviço já vem sendo uma estratégia adotada
para fins de fidelização do cliente, com resultados bastante interessantes [4], podendo ser aplicada na região.
Embora todas as academias apresentassem banco de dados de clientes, notou-se que os mesmos são
subutilizados. Somente duas academias utilizam seus sistemas para tomar decisões estratégicas. A utilização
mais freqüente é para controle financeiro e divulgação, evidenciando a necessidade de aperfeiçoamento
destes sistemas.
As estratégias de divulgação vão além de mensagens eletrônicas, com destaque para a panfletagem.
Mesmo que conduza a um forte apelo visual, a mídia televisa é pouco utilizada, pois geralmente extrapola o
orçamento das academias. Tendo em vista que o busdoor foi pouco explorado e que tem potencial para
atingir diferentes pontos da cidade, uma maior utilização deste recurso também seria interessante.
Ainda que o pagamento em dinheiro ou cheque seja uma opção que confere praticidade e segurança
para as academias, devem-se adotar estratégias que garantam estas características para o cliente.
De forma geral, observa-se um perfil/tendência na condução destes negócios, sendo que poucos são
os estabelecimentos que conhecem seu público-alvo e direcionam políticas para tal. Embora algumas práticas
isoladas não sejam suficientemente eficazes para facilitar a fidelização dos clientes, uma combinação das
mesmas é desejável no sentido de entregar um valor que realmente seja percebido pelo cliente. A questão de
muitas academias possuírem banco de dados e não o utilizar de forma eficiente, demonstra certa ingerência
na condução do negócio. Além disto, muitos gestores possuem um conhecimento distorcido de qualidade,
diferentemente daquele apresentado por Nogueira (2000) [5] e, ainda, subestimam as reais necessidades de
seus clientes, o ponto de partida para o sucesso de um negócio.

Referências
[1] PITTS, B.G.; STOTLAR, D.K. Fundamentos do Marketing Esportivo. São Paulo: Phorte, 2002.
[2] FITNESS BRASIL. Fitness Brasil: Saúde e bem-estar. Disponível em: http://www.fitnessbrasil.com.br.
Acesso em: 05 de maio de 2010.
[3] FIESC. Classificação de empresas segundo o porte. Disponível em: http://www2.fiescnet.com.br.
Acesso em: 03 de maio de 2010.
[4] GOURVILLE, J.; SOMAN, D. Pricing and the psychology of consumption. Harvard Business Review,
v. 80, p. 90-96, 2002.
[5] NOGUEIRA, E.M. Tudo o que você queria saber sobre qualidade total em academias. 2 ed. Rio de
Janeiro: Sprint, 2000.

Agradecimentos
Agradecemos a professora Jane Iara Pereira da Costa pelos ensinamentos na disciplina de Marketing II, que
foram essenciais para a elaboração deste trabalho.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

DIMENSÕES DO GOVERNO ELETRÔNICO: UM ESTUDO NAS PREFEITURAS DO


RIO GRANDE DO SUL

Daiane Missio1*; Cristiane Rosa Moreira²


1
Universidade Federal de Santa Maria
2
Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução
O mundo está em constante transformação, a cada dia novas informações são descobertas, novas
tecnologias são implantadas e nossas vidas vão se modificando. No decorrer do século XX aconteceu uma
das maiores mudanças tecnológicas ocorridas nos últimos anos, essas mudanças apresentaram ao mundo às
tecnologias da informação e comunicação, denominadas TICs. O maior exemplo de uma TIC seja a internet
que trouxe as pessoas uma melhor comunicação e uma maior troca de informações em tempo real. Além
disso, [5] afirma que as TICs se associaram às modernas técnicas de administração, acarretando profundas
transformações nas organizações, inclusive no governo. Dessa forma, o governo desenvolveu uma política de
governo eletrônico com objetivo de oferecer informações sobre o governo, prestar serviços, esclarecer contas
públicas, programas governamentais a fim de aproximar o governo de seus cidadãos aliando uma maior
transparência e prestação de contas à comunidade em geral, gerando assim uma maior democracia em suas
atividades.
Algumas das causas para implantar o governo eletrônico foram como já argumenta [2], o uso
intensivo das TICs pelos cidadãos, empresas privadas e organizações não governamentais, a migração da
informação baseada em papel para mídias eletrônicas e serviços online e da internet. Porém o governo
eletrônico encontra uma grande dificuldade, que é a falta de acesso da população, principalmente a de baixa
renda que dessa forma acaba criando uma exclusão digital e fazendo com que apenas pessoas com melhores
condições socioeconômicas tenham acesso aos serviços distribuídos pelos governos.
Algumas das vantagens do uso de governo eletrônico pela população, como argumenta [2], são
prestação eletrônica de informações e serviços, prestação de contas públicas, consequentemente aumentando
a transparência e o acesso ao cidadão para monitoramento da execução orçamentária, o relacionamento com
fornecedores para a aquisição de bens e serviços, utilizando-se da Internet como ferramenta, como licitações
públicas eletrônicas, pregões eletrônicos e outros tipos de transações digitais.
Segundo [1], os órgãos governamentais, utilizam-se destes recursos como um importante
instrumento de prestação de serviços à sociedade, reduzindo os custos, ampliando atendimento, além de
gerar facilidades a população que se beneficiam diretamente dessas soluções, pois estes evitam o
deslocamento dos cidadãos e a possibilidade de enfrentar filas. O uso do governo eletrônico também vem a
aumentar a participação da população em relação às decisões a serem tomadas pelos órgãos públicos
trazendo uma maior democratização no setor público.
O presente trabalho busca fazer uma análise da estrutura dos sites dos municípios gaúchos através de
um modelo de observação, desenvolvido através de um modelo feito por [3], nas cidades espanholas, o qual
mensura a situação das cidades espanholas em relação ao governo eletrônico. Este modelo acabou sofrendo
modificações e recebendo outras variáveis vindas do estudo de [5], através destes se formulou um único
modelo de análise que permitiu a possibilidade de análise da estrutura dos portais municipais gaúchos.
O presente estudo se faz necessário pela importância que se tem de cada vez mais o governo se
aproximar dos cidadãos, além disso, as prefeituras devem criar sites a fim de prestar suas contas públicas
sendo assim buscamos analisar que atributos os portais municipais oferecem para a população.

2. Método
A pesquisa tem cunho descritivo sendo realizado através de modelos pré-existentes encontradas na
pesquisa bibliográfica e foca o estudo de portais municipais gaúchos. O estudo realizou-se através da
aplicação de um protocolo de observação que foi desenvolvido com base em modelos de análises já
existentes. Os modelos usados nesse trabalho constituíram-se do confronto de variáveis desenvolvido por [5]
e principalmente do construto de variáveis desenvolvido por [3] o qual havia sido utilizado em uma pesquisa
espanhola. Por meio da junção destes modelos se formulou um protocolo de dados para análise que apresenta
seis dimensões: presença, informações urbanas, interação, serviços, transação e e - democracia. Essas
acabam abrangendo desde variáveis simples do site, como por exemplo, mapa do site ou ferramentas de

 Autor Correspondente: daimissio@gmail.com

804
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

busca, até ferramentas mais sofisticadas, por exemplo, como no caso de se poderem efetuar pagamentos
através do site.
Após o pré-teste do protocolo efetuado em uma amostra de vinte portais, o estudo abrangeu do
universo dos 496 municípios que compreendem o estado do Rio Grande do Sul, a fim de apresentar a real
situação dos portais municipais. Esta coleta de dados ocorreu entre abril e julho de 2010, desta forma as
respostas são válidas pelo dia da visitação e devemos compreender que estes podem ter sofrido algum tipo de
alteração no período subseqüente ao da coleta. O formulário de análise foi preenchido com base na análise
documental durante a visita nos portais das prefeituras, os quais foram tabulados e analisados.

3. Resultados e Discussão

Quadro 1: Frequência de atributos nas páginas ativas dos Portais Municipais


DIMENSÕES %
PRESENÇA
O portal municipal apresenta mapa do site? 5,2
O site apresenta uma ferramenta de busca, para facilitar a visita feita pelo cidadão? 21,4
No portal está disponível uma assinatura on-line para que o cidadão receba informações em seu próprio 10,9
e-mail, o chamado newsletter?
INFORMAÇÕES URBANAS
O site apresenta os bairros e os horários em que os transportes coletivos circulam pela cidade? 1,4
É apresentado no site, o mapa da cidade e suas ruas para facilitar a circulação pela cidade? 8,5
INTERAÇÃO
O portal apresenta telefone para contatos? 74,2
É possível entrar em contato com a prefeitura através de endereços eletrônicos? 65,5
O site apresenta a possibilidade de se realizar enquetes, para que os cidadãos deixem suas opiniões? 8,9
O site apresenta um canal onde à possibilidade de se deixar recados, opiniões e sugestões? 60,1
SERVIÇOS
O portal municipal apresenta informações sobre o município? 74,8
O site apresenta as notícias da cidade para informar seu público? 67,7
Através do site se tem acesso a documentos e formulários? 22,6
O site apresenta as licitações que foram feitas ou que estão em andamento? 58,7
O site possui uma ouvidoria, que ajuda no atendimento on-line do cidadão? 1,4
É possível encontrar nos sites os pregões eletrônicos que para facilitar a relação com os fornecedores? 20,6
Através do portal se pode fazer a consulta dos processos requeridos pelo cidadão junto à prefeitura? 2,8
É possível obter através do portal o alvará provisório de funcionamento das empresas? 1,6
O site disponibiliza acesso as leis do município? 49,6
O site apresenta informações municipais publicadas pelo Diário oficial? 3,2
No sítio apresentam-se informações sobre os concursos públicos que se realizaram ou se realizarão no 35,1
município?
É possível fazer a matricula escolar da rede publica de ensino através do portal? 0
Emissão de negativa de débitos e alvarás? 5,2
O site oferece um link para fornecer a 2ª via de conta de água? 2,4
O site oferece um link para fornecer a 2ª via de conta de energia elétrica? 1,6
Pode-se fazer o agendamento prévio na rede municipal de saúde através de serviços on-line do portal? 0
TRANSAÇÃO
Há possibilidade de personalização da página? 1,2
Existe uma rede de pagamentos através do site, onde se pode pagar multas, taxas e impostos através de 0,2
cartões de crédito, débito ou bancário?
Podem-se fazer transações através de telefone móveis? 0
É possível obter o certificado digital através do site? 0
E-DEMOCRACIA
É possível o cidadão interferir nas atividades governamentais, opinando sobre as leis, ajudando a criar 0,4
novas leis e participando das ações do governo?
O site apresenta condições de oferecer programas de cidadania através do site, nele pessoas com 0
necessidades especiais podem navegar pelo site com autonomia?
O site disponibiliza uma prestação de contas para esclarecer quais são os fins financeiros dados aos 67,1
recursos públicos?
Fonte: Elaborado pelas autoras

De modo geral, podemos perceber que apenas 80,4% dos municípios apresentam páginas ativas,
totalizando 399 municípios, os demais municípios não apresentam páginas ativas ou possuem páginas em

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

construção. Os resultados do quadro 1 fazem referência à análise somente das páginas que estão ativas e
através da qual podemos perceber quais os atributos que os sites apresentam.
Na dimensão presença a variável que se mostrou significativa com maior frequência foram as
ferramentas de busca. No entanto, observou-se que as três variáveis não são utilizadas por nem 25% dos
municípios analisados.
Nas informações urbanas os dados demonstram que os portais municipais não disponibilizam
informações urbanas como transporte, horário ou mapa de ruas. O que evidência uma menor preocupação
dos municípios com visitantes e público externo, pois se tratam de ferramentas fáceis de serem
disponibilizadas através de links.
O item interação somente apresentou baixa potencialidade no quesito enquetes, sendo que a maior
parte dos sites disponibiliza contatos telefônicos, endereço eletrônico e um canal onde podem se enviar
críticas. Pode-se explicar está preocupação por parte dos municípios em função da aproximação necessária
por parte da gestão pública com seus eleitores potenciais.
Em relação aos serviços disponibilizados pelos sites os dados mostram que os mesmos se referem
principalmente a serviços de informação sobre o município e publicações legais (lei e licitações). Ressaltam-
se que os serviços com maior potencial de otimização no atendimento do cidadão como consulta de
processos, obtenção de alvarás, negativas de débito ou agendamentos prévios de atendimento são pouco ou
raramente utilizados pelo cidadão, evidenciado que o governo eletrônico tem seu potencial de diminuir e
evitar o deslocamento do cidadão subutilizado.
No que diz respeito à dimensão transação constata-se que com poucas exceções os municípios não se
utilizam de tais recursos. Este fato pode ser possivelmente explicado pela falta de recursos, tanto de mão-de-
obra qualificada em tecnologia da informação, quanto recurso financeiro ou ainda, pelo alto custo para de
tais estruturas de informatização das prefeituras dos municípios com menor arrecadação.
No que se refere a e-democracia apenas a variável prestação de contas é demonstrada nos sites,
sendo que a participação do cidadão não é efetivada por parte dos municípios. Esses dados são explicados
pela obrigatoriedade de prestação de conta.
De maneira geral, na dimensão presença e informações urbanas nenhum dos atributos se mostra
significativo, já que nenhum destes se apresentou em 25% dos portais. Enquanto isso, na dimensão interação
mais de 50% dos portais oferece a possibilidade de se encontrar informações de comunicabilidade.
Seguindo a análise dos atributos, dos dezesseis atributos que foram utilizados no modelo apenas
quatro dos mesmos são apresentadas em 50% dos sites os quais fazem referência a informações. Nas
dimensões de transação e e-democracia apenas o atributo referente a contas públicas foi encontrado em mais
de 50% dos portais municipais.
Sendo assim, se percebe que as os portais municipais gaúchos apresentam em sua maioria apenas
informações e os mesmos não prestam muitos serviços através do site, o que vem a diminuir as suas funções
de governo eletrônico, pois acabam não interferindo significativamente em sua relação com a população em
geral, o qual é o seu principal objetivo.

3. Conclusão
Através do estudo podemos perceber que apenas 80,4% dos municípios gaúchos apresentam sites para
melhoram sua relação com a população, além disso, o estudo mostrou que a grande maioria dos sites oferece
apenas informações, como por exemplo, telefone, e-mail, noticia, entre outras informações. Dessa forma
percebemos que as prefeituras não favorecem a prestação de serviços apenas disponibilizam uma página
onde quem acessa somente consegue tiram informações, sendo assim o governo eletrônico não vêm
conseguindo modernizar a relação entre o governo e cidadão na maioria das cidades gaúchas.
Sendo que analisando comparativamente as dimensões percebe-se que a interação é a mais
efetivamente atendida. Na dimensão serviços ressaltou-se o atendimento de apenas poucos atributos, sendo
principalmente os relacionados às informações municipais. Os resultados sugerem ainda um potencial a ser
explorado na dimensão transações, a qual tem sido viabilizada pelo poder público municipal.
Essa realidade pode ser justificada pela falta de informatização da prefeitura ou pelo alto custo, já que
seria necessária a contratação de serviço competente para desenvolver a atividade, a fim de encontrar uma
resposta para está análise pode-se fazer uso da relação desses dados com alguns índices municipais que vem
a ocasionar a possibilidade de um novo estudo.
Visando potencializar os resultados do governo eletrônico municipal, sugere-se a implementação de
políticas públicas partindo das esferas estaduais e federais mais efetivas no sentido de financiar e padronizar
os sites municipais.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Referências
[1]. ALEXANDRINI F. et.al. Estratégias em Governo Eletrônico Municipal - Prefeitura Virtual.
EnAPG, Rio de Janeiro/RJ, 2007.
[2]. DINIZ, E.H. et.al. O governo eletrônico no Brasil: Perspectiva histórica a partir de um modelo
estruturado de análise. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro/RJ, 2009.
[3]. ESTEVES, J. Análisis del Dessarollo del Gobierno Electrónico Municipal en España. IE Working
Paper. Madri/ Espanha, 2005.
[4]. FERNANDES, Andréa. E-Governo no Brasil - Estudo da Secretaria para Assuntos Fiscais do Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (SF/BNDES), 2001.
[5]. MENEZES, Graziela A.F. Análise do Grau de Maturidade de Iniciativas de Governo Eletrônico em
Governos Estaduais: Um estudo de caso no Governo da Bahia. EnAPG, São Paulo/SP, 2006.

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E-Commerce – Identificação de vantagens competitivas e


potencialização de negócios ás pequenas empresas do
município de São Bento do Sul.

Jaison Danilo Alves


Acadêmico do curso de Ciências Contábeis, Bolsista de Iniciação Científica da UNIVILLE

Liandra Pereira
Orientadora, Professora do Departamento de Ciências Contábeis da UNIVILLE

Resumo
Com o advento da Internet, surge nova forma de compra, venda e prestação de serviços
através do ambiente virtual. O comércio virtual é a realização de toda a cadeia de valor dos
processos de negócio e deve ser visto como estratégia para estabelecer vantagens
competitivas na grande teia global. O projeto empreende estudo acerca da viabilidade de
comércios virtuais, consultando potenciais nos portifólios de produtos, estrutura disponível,
capacidade operacional e logística e disponibilidade de recursos humanos para a gestão do E-
commerce. A pesquisa foi aplicada através de questionários com perguntas abertas e fechadas
em empresas da Cidade de São Bento do Sul, SC, com 50 a 200 funcionários de ramos de
atividades como: móveis, embalagens, metal-mecânico, metalurgia, plásticos, serviços de
transporte, ensino e saúde. A pesquisa realizada aponta que as empresas utilizam de forma
contínua a internet nas transações de compra de produtos para industrialização, e pagamentos
através de banco on-line, e que um número reduzido de empresas criaram sites para o
aumento das vendas.

Palavras Chave: E-Commerce, Expansão Tecnológica, Internet

E-Commerce – Identificação de vantagens competitivas e potencialização de


negócios às pequenas empresas do município de São Bento do Sul.

Até pouco tempo, havia o método tradicional de mercado, onde o consumidor se dirigia a
um estabelecimento e lá fazia suas habituais compras. O marketing dependia
exclusivamente da boa caracterização de uma vitrine, o bom atendimento, e claro, bons
produtos. Com a inserção da internet no dia-a-dia das pessoas, a proximidade de
relacionamentos virtuais e a promoção de serviços sem utilizar a interface, promoveu o E-
Commerce, que significa comércio virtual, mas podemos defini-lo como as atividades de
negócio e processos que se usa o computador e redes de comunicação.
O comércio eletrônico é a realização de toda a cadeia de valor dos processos de negócio em
um ambiente eletrônico, por meio da aplicação intensa das tecnologias de comunicação e de
informação, atendendo aos objetivos do negócio (ALBERTIN, 1999)
A partir desta realidade e a praticidade de pagamentos através de cartões de crédito,
pode-se analisar vantagens através do E-Commerce, como a redução de custos das
empresas, uma maior qualidade nos processos, a negociações ágeis, além de vantagens
ao consumidor como conveniência, informação e menor exposição a fatores emocionais
dos clientes.
Verifica-se também pontos fracos, riscos e desvantagens, os quais com a necessária
orientação e planejamento podem ser minimizados, evitando riscos ao erro na hora da
compra dos clientes, a falta de gerenciamento do crédito, além do perigo de espionagen de
senhas, modificação de dados, e a falsificação.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Nos últimos anos verificou-se um aumento de comunidades virtuais, e estas, puderam


demonstrar que pôde se formar mercados diferenciados a membros diferenciados, propôr
melhor acesso às informações a todas as classes sociais, além de fazer com que os
concorrentes se tornem aliados dentro destes mercados – além de articular com novas
tendências e perfil de consumidores mais jovens ou conectados com as tecnologias.
De acordo com o site www.administradores.com.br, o Brasil é considerado líder em E-
commerce na América Latina, dados de uma pesquisa realizada pelo IDC - Internacional
Data Corporation do Brasil, concluiu que 40% do montante de dinheiro movimentado
através do comercio virtual é feito no Brasil. A mesma pesquisa demonstra que as maiores
empresas que se utilizam de comércio virtual, são as Lojas Americanas, a Submarino,
Saraiva, Som Livre e Ponto Frio. Além de tudo isso as operações através do E-Commerce
exigiram para atuação um novo profissional, capaz de analisar estes mercados. As
empresas que entram para este mercado podem optar por duas oportunidades, um web
site próprio, ou busca auxílio através de portais eletrônicos, os baixos custos a resposta
eficiente ao consumidor, a formação de um banco de dados para futuras vendas. Em 2007
as vendas através do comércio virtual atingiu a marca de venda de R$ 13 bilhões com
crescimento de 1.000 % em seis anos. Ao todo, 9,8 milhões de compradores fizeram, em
média, nove compras durante o ano. Ainda conforme o site mencionado, o cartão de
crédito é forma de pagamento preferida por 68% dos consumidores.
Segundo o mesmo site, no Brasil, é vendido 01 computador a cada 30 segundos e os
brasileiros navegam cerca de 21 horas e 45 minutos, ultrapassando os alemães. Esses
dados revelam muito sobre o perfil dos brasileiros. A mensagem para que empresas de
todo o país saibam a força do E-Commerce e vejam o quanto suas marcas podem evoluir
através do universo virtual.
Segundo a matéria “Compre barato na internet” da edição de novembro de 2009 da
Revista Você S.A, mostra uma pesquisa mais recente sobre o consumidor brasileiro e a
internet, uma pesquisa feita pela e-Bit, empresa especializada em informações do
comércio eletrônico de São Paulo, demonstra que no primeiro semestre de 2009 as
compras feitas pela internet cresceram 27% em relação ao mesmo período de 2008, o os
produtos que estão no topo da lista de mais vendidos são produtos de informática e
eletrodomésticos, e em seguida aparecem itens de saúde, beleza e medicamentos, Ainda
segundo a revista, enquanto as empresas físicas o custo com instalações, estoques e
empregados é repassado para o preço final do produto, os estabelecimentos virtuais não
tem estas despesas, vendendo assim seus produtos a preços mais acessíveis, sendo que
os preços chegam a 30% mais baixos quando comparados a lojas físicas.
Algumas empresas perceberam que o futuro relacionamento com o cliente será on-line. Os
consumidores estão cansados da mesmice das propagandas e dos anúncios e estão
percebendo que é necessário vivenciar uma experiência direta com a marca. Neste
cenário, o Comércio Virtual se torna palco para uma nova forma de negócio, muito mais
próxima do consumidor e de seu universo. Mas o que é necessário entender é que as
empresas precisam ter uma presença marcante no mundo virtual, primeiro, é preciso
conhecer o seu produto, entender sua utilidade, conhecer seu alvo e o que ele deseja para,
então, gerar uma forma de comunicação e identidade do produto.

1. Atuação, estrutura eletrônica e capacitação.


Desde o início da World Wide Web, as transações on-line, sejam estas de compra,
venda ou prestação de serviços se firmaram como um dos maiores ícones da
revolução tecnológica proporcionada pela rede. O que exigiu que as empresas de
todas as estruturas venham a investir em estrutura eletrônica e capacitação de seus
funcionários. Das empresas pesquisadas 75% destas responderam que há mais de 30
computadores em suas instalações, e apenas 1/3 destas investe na capacitação de
seus funcionários com freqüência.

2. Compras e Serviços Utilizados.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Muitas inovações acontecem nos processos corporativos, em função de exigências da


chamada ”Era Digital”, e toda a construção de uma estrutura de Comércio Virtual, se
inicia a partir da utilização de internet na empresa em compras e serviços; as
pesquisas demonstram que 40% das empresas já se utilizaram do comércio on-line,
mas a freqüência de utilização é rara. Já referente à transações com banco on-line,
para pagamentos, emissão de segunda-via de documentos a demonstração é que
100% destas empresas se utilizam deste meio em suas empresas, mas os dados
computados revelam que as empresas estudadas, vêem desvantagens na compra e
venda pela internet, devido ao temor de falta de segurança quanto a confiabilidade de
dados pessoais, sejam elas senhas, número de contas, número do cartão de crédito
etc.

3. Uso do E-Commerce.
Um dos principais apelos do comércio eletrônico é a conveniência que este
proporciona aos usuários; ter acesso a um único computador e diversas empresas e
produtos, escolher datas de entrega, pagamento, são alguns dos benefícios desta
nova forma de entrar no mundo do comércio e serviços. Organizações que se
comprometem com inovação, entraram na era da tecnologia e se utilizam do E-
Commerce; Das empresas da pesquisa, 40% declarou que têm site disponível na
Internet a mais de 5 anos, e que o mesmo foi criado para o aumento das vendas.
Destas, o site oferece o portifólio completo, serviços de SAC e assistência técnica e
indicações de pontos de revenda. E o número médio de visitas é acima de 500
acessos mensais. Atendendo em sua maioria pessoas físicas, também responderam
que em média o retorno do empreendimento é de 2 anos, e o que oferece ainda mais
retorno é a venda física. Enquanto as demais empresas que não se utilizam de um
site, responderam que a falta de conhecimentos específicos sobre o comércio virtual é
a maior dificuldade para que a empresa se utilize de vendas pela internet.
Demonstrando interesse para que futuramente a empresa tenha um site para
comercialização de produtos e serviços. E todas as empresas pesquisadas se
propõem a receber demais informações sobre o tema.

Referências.

Albertin, Alberto Luiz, Comércio Eletrônico: Modelo, Aspectos e Contribuições de


sua Aplicação, São Paulo, 5ª Ed, 2004.
Comércio Virtual já representa 5% das vendas do varejo: disponível em
www.administradores.com.br, acessado em março de 2009.
Consumidores virtuais desejam se relacionar com as marcas. Disponível em
http://www.administradores.com.br/noticias/consumidores_virtuais_desejam_se_relaci
onar_com_as_marcas/17930/ acessado em 14 Out 09.
Compre barato na internet, Revista Você S.A. novembro de 2009, edição 137.
CÔRTES, Pedro Luiz, Webmarketing, estabelecendo vantagens competitivas na
Internet. São Paulo, Erica, 2001.
DENK, Adelino, Perfil Sócio Econômico de São Bento do Sul. Joinville, Editora
Univille, 2008.
E-Business, Nextel Generation, Disponível em www.nextgenerationcenter.com.br.
FRANCO Jr, Carlos F, E-Business:Tecnologiada Informação e Negócios da Internet,
São Paulo, Atlas, 2001
HAGEL, John, Vantagem competitiva na Internet: como criar uma nova cultura
empresarial para atuar nas comunidades virtuais. Rio de Janeiro, Campus, 1998.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

EMPRESAS FAMILIARES EM MEIO AO MERCADO AMPLAMENTE COMPETITIVO

Saionara da Silva¹*
¹ Universidade Federal de Santa Maria-CESNORS

1. Introdução
O tipo de empresa que vem se destacando nos últimos anos é a empresa familiar, esta é proveniente
de uma idéia empreendedora de seus idealizadores e possui muitas características marcantes e, ao mesmo
tempo, únicas. “As empresas familiares são a forma predominante de empresa em todo o mundo”[1]. Esse
tipo de empresa tem um papel significativo na economia do país. Diante disso, notou-se a necessidade e
importância de um estudo detalhado a cerca das principais características das empresas familiares para se
manterem em um mercado com características competitivas. Fez-se necessário, também, compreender como
essas empresas estão posicionadas perante o mercado e a concorrência, enumerando seus pontos fortes e
fracos.
Este estudo tem por objetivo específico desenvolver nos alunos pesquisadores o senso investigativo,
proporcionando um contato direto com empresas e empresários de diferentes ramos de atividade.
Esta pesquisa foi realizada por meio de entrevistas diretas com os empresários das empresas
familiares do município de Palmeira das Missões. Tais entrevistas geraram dados quantitativos que foram
tabulados, sistematizados e organizados de forma clara e objetiva.
O presente projeto teve como uma de suas características a busca por resultados contundentes que
contemplassem os objetivos propostos pelo mesmo. Desse modo, observou-se que as informações obtidas
durante todo o processo foram de grande valia para a prática dessa pesquisa.

2. Método
Este estudo tem um caráter exploratório e investigativo, tem como foco a coleta, apresentação e
análise das informações coletadas, de maneira descritiva, demonstrando de forma clara e contextualizada os
resultados obtidos durante o processo de pesquisa. Foram usados tabelas e gráficos para a melhor
visualização dos resultados.
A coleta de dados foi realizada através de entrevistas diretas com os empresários. Os dados
quantitativos estão organizados e tabulados e sistematizados, sendo que a análise destes foi feita de forma
descritiva, demonstrando, assim, como as empresas familiares estão inseridas em um mercado competitivo.
A realização de um estudo bibliográfico com os principais temas relacionados às empresas familiares
e ao mercado competitivo foi de grande valia para os pesquisadores, visto que os auxiliou a entenderem os
componentes destes temas muito importantes durante o processo e aplicação desse estudo.

3. Resultados e Discussão
Do montante de 2336 empresas em atividade no município de Palmeira das Missões, foram
visitadas 80 empresas familiares, destas 45 aceitaram colaborar com a pesquisa, fornecendo as
informações necessárias. Com isso, verificou-se que 26,67% das empresas familiares relatam que o ponto
forte de diferenciação do empreendimento é o bom atendimento, para 11,11% é a qualidade dos produtos,
6,67% acreditam ser a tradição e os demais ressaltam diferentes pontos. Em relação ao posicionamento das
organizações perante o mercado e a concorrência, 84,44% das empresas se consideram bem posicionadas,
13,33% têm um posicionamento regular e 2,23% não estão bem posicionadas.
Para se manter no mercado competitivo, 20% dos entrevistados consideram que a principal
característica que uma empresa necessita ter é a união, 15,56% acreditam ser o atendimento, 8,89% citaram a
redução de custos com o trabalho de familiares e os demais destacaram outras características.
O ponto forte de diferenciação do empreendimento foi citado por 26,67% dos entrevistados como
sendo o bom atendimento, 11,11% citam a qualidade dos produtos e 6,67% afirmam ser a tradição, sendo
que os demais citaram outros pontos não tão expressivos.
Ao serem questionadas sobre a participação em cursos no ramo de atuação dos empreendimentos,
60% dos entrevistados revelaram ter participado desses cursos, 26,7% não participaram e 13,3% não
opinaram a respeito dessa questão.
Os pontos a serem melhorados nas empresas familiares são, para 13,3%, o espaço físico, 8,9%
relataram não possuir tais pontos, 6,7% citam a inovação, 6,7% o atendimento, 6,7% a equipe de vendas, as

*saiomat00@yahoo.com.br
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demais citaram outros pontos. Em relação às possíveis ameaças para o futuro, 13,3% dos entrevistados citam
a crise mundial, 8,9% revelam ser a concorrência 4,4% citam questões econômicas, 31,1% ressaltam não
possuir tais ameaças, os demais revelaram outros pontos. Mesmo que essas empresas tenham muitas ameaças
ao futuro, é possível identificar oportunidades para o mesmo, sendo assim, 15,6% revelaram oportunidade
que o município proporciona, 11,1% acredita que os produtos específicos de seus empreendimentos podem
melhorar a situação da empresa no geral em um futuro próximo, 6,7% acreditam ser a ampliação, 6,7% citam
os investimentos e os demais citam outros pontos.
Para compreender de forma clara e contextualizada os resultados obtidos durante o processo de
aplicação dessa pesquisa, foram realizados diversos cruzamentos entre as variáveis, o que possibilitou, ainda,
a melhor visualização das características das empresas familiares para se manterem em um mercado com
características competitivas.
O cruzamento entre as variáveis posicionamento e tempo de atividade mostrou que todas as
empresas com mais de 31 anos em atividades consideram-se bem posicionadas. Já 84,44% dos
empreendimentos que relataram estar bem posicionados concentram-se entre 11 e 20 anos.
O menor índice de posicionamento regular, o qual foi de 16,67%, foi encontrado em empresas que
tem até 10 anos de atividade. Houve uma empresa que não está bem posicionada possuindo 15 anos de
atividade. Ao analisar o número de familiares presentes nos empreendimento fazendo uma relação com as
características dos mesmos, observou-se que a união é citada como relevante em todas as empresas que tem
seis e oito familiares, em 37,50% das empresas com três familiares e em 11,76% das empresas que tem dois
familiares. Sendo que esta característica não foi citada em empresas que só tem um familiar.
O atendimento foi citado como fundamental em 66,67% das empresas com um familiar, em 33,33%
das que tem cinco familiares, em 17,65% das que contam com dois familiares e em 8,33% das que tem
quatro familiares. Nas empresas que tem três, seis e nas de oito familiares o atendimento não é considerado
como o mais relevante.
A redução de custos com o trabalho dos familiares tem grande importância para 25% dos
empreendimentos que contam com três familiares, 8,33% em empresas com quatro familiares, bem como em
5,88% das organizações com dois familiares. Essa característica não foi citada em empresas com um, cinco,
seis e oito familiares.
Pode-se verificar, nesses cruzamentos, que a união é mais relevante em empresas com mais
familiares envolvidos com os negócios, nas que tem poucos familiares predomina o bom atendimento. Já a
redução de custos como trabalho dos familiares demonstra a preocupação de empresas com poucos
familiares em minimizar os custos do empreendimento visto que, as empresas com mais pessoas envolvidas,
não se preocupam com este fator.

4. Conclusão
Por meio desse estudo foi possível analisar as principais características das empresas familiares e
entender o que é primordial para que as mesmas se mantenham no mercado e obtenham bons resultados
durante sua trajetória empresarial.
No contexto social em que as empresas familiares estão inseridas, nota-se que as mesmas
preocupam-se em fidelizar seus clientes, valorizando-os para que fiquem satisfeitos com o atendimento e
retornem ao empreendimento. Verificou-se que o bom posicionamento dos empreendimentos leva a
continuidade dos mesmos e traz segurança para serem realizados investimentos no patrimônio, enquanto as
organizações que não estão bem nesse ponto precisam fazer mudanças para que possam continuar suas
atividades empresariais.
Foram relatados durante a aplicação das entrevistas muitos pontos a serem melhorados nos
empreendimentos, porém, alguns dos entrevistados revelaram serem impraticáveis tais melhorias,
principalmente no que se refere à ampliação do espaço físico do empreendimento.
Ao serem abordados sobre o futuro dos empreendimentos, os empresários são otimistas em alguns
pontos e realistas em outros, revelando a existência de questões que podem vir a prejudicar o andamento dos
negócios. Entretanto, não perdem o foco no crescimento e aprimoramento dos produtos da empresa.
Foram contemplados todos os objetivos propostos neste estudo, além disso, co esta pesquisa foi
possível compreender como as empresas familiares interagem com o ambiente interno para melhor
desenvolver suas atividades.
O presente estudo permitiu um importante vínculo entre a UFSM-CESNORS, representada pelos
alunos-pesquisadores, e os empresários das empresas familiares de Palmeira das Missões, trazendo, com
isso, benefícios para ambas as partes, por unir a teoria e a prática empresarial e, ao mesmo tempo, gerar o
crescimento mútuo.

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Referências

1. KELIN, E. Gersick et al. De geração para geração. Rio de Janeiro. Editora Elsevier, 2006

Agradecimentos
Aos empresários dos empreendimentos familiares de Palmeira das Missões pela oportunidade que
proporcionaram aos pesquisadores. Ao orientador da pesquisa e ao corpo docente da Universidade Federal de
Santa Maria – CESNORS pela credibilidade dispensada durante a elaboração e aplicação desse estudo, bem
como aos demais colaboradores.

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ESTIMANDO A DEMANDA BRASIELIRA DE MILHO DE 1980 A 2009

Dieison Lenon Casagrande1*; Adayr da Silva Ilha2


1
Universidade Federal de Santa Maria
2
Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução
A cultura do milho é de significativa importância para a agricultura brasileira, considerando-se as suas
diversas formas de utilização, dentre elas de alimentação animal, de fonte energética das rações e matéria-
prima para as indústrias de elevada tecnologia. Destaca-se a preponderância da utilização do milho na
nutrição animal do Brasil, sendo que a taxa de uso para esse fim varia entre 60% e 80%, [1].
O milho é a única lavoura cultivada de norte a sul do país em praticamente todas as propriedades
rurais. O auto consumo de milho nas propriedades rurais é significativo, pois em quase todas há algum tipo
de criação de animais para o qual o milho é insumo básico na alimentação. A importância econômica do
milho é caracterizada pelas diversas formas de sua utilização, que vai desde a alimentação animal, e também
alimentação humana, até a indústria de alta tecnologia. O auto consumo do milho mostra-se como um viés na
determinação da quantidade total demandada pelo país, pois o que é consumido na própria propriedade não é
contabilizado.
No início da década de 1980 iniciou-se um sistema de rotação do plantio de milho com a soja,
sustentando assim um aumento na produção. Esse aumento da produção foi mais notável na região Centro-
Oeste, o que viabilizou a forte expansão da indústria de rações e do setor pecuário de pequenos animais,
aumentando assim o consumo interno desta commodity, sendo que este aumento na década de 1980 fora de
17,79% [2].
Os crescimentos da produção ao longo do período não representaram excesso de oferta no setor, pois
esta produção passou a suprir o gradual crescimento do consumo interno. Segundo estimativas da [2],
aproximadamente dois terços do consumo interno de milho é por parte de aves e suínos, por isso, utiliza-se
no modelo uma variável para captar esta relação. Assim, na última década, influenciado também por uma
queda em seus preços, o consumo aumentou cerca de 30% na última década.
Nesse contexto, propõem-se como objetivo, identificar e estimar as elasticidades preço da demanda,
elasticidade cruzada da demanda, elasticidade renda da demanda e variação na demanda dado o crescente
aumento da pecuária.

2. Metodologia
A metodologia se concentrou em utilizar, e selecionar dados já existentes sobre a produção nacional
do milho, fazendo os devidos cruzamentos das informações para a construção de análise coerente com o
objetivo proposto. Com o intuito de determinar e analisar as elasticidades preço, elasticidade preço-cruzada e
elasticidade renda para a demanda de milho no Brasil, foi utilizado o modelo de equação linear (modelo
econométrico), sendo para isso utilizado o método dos Mínimos Quadrados Ordinários.
2.1 Fonte e base de dados
Na estimativa do modelo econométrico da demanda de milho para o Brasil, foram utilizados dados de
séries temporais do período de 1980 a 2009 das quantidades consumidas anualmente em toneladas métricas,
que foram obtidos no site do [3].
Os dados relativos aos preços do milho (preços pagos ao produtor), juntamente com os preços
relativos a commodity soja foram obtidos no site do [3], nessa fonte, os dados são fornecidos mensalmente e
referentes ao quilograma de milho, então, como se possui o consumo em anos, esses preços, são
transformados para uma base anual, através da média aritmética. Também, devido ao consumo ser fornecido
em toneladas métricas, o preço dos produtos são transformados para toneladas. Ainda, como explicação do
poder de compra, foram utilizados dados referentes ao Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, obtidos, da
mesma forma que os anteriores do site do [3].
Portanto, como estás se trabalhando com uma série temporal, dado os altos índices de inflação pelo
qual passou a economia brasileira, todos os valores monetários foram deflacionados pelo IGP-DI, para o ano
de 2009.
2.2 Base teórica
A demanda por commodities agrícolas desperta nos últimos anos o interesse de vários autores,
mostrando-se como um amplo campo de pesquisa. A teoria econômica a ser empregada no presente trabalho
é a Teoria da Demanda ou Procura, em que a unidade básica é o consumidor ou o mercado. A demanda,

*
Dieison Lenon Casagrande: dieisonlenon@yahoo.com.br.
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conforme a Teoria Microeconômica, expressa o desejo que as pessoas têm de consumir bens e serviços aos
preços de mercado por unidade de tempo, mantendo-se os outros fatores constantes – ceteris paribus- [4].
Segundo [5], a elasticidade preço da demanda, é a porcentagem de variação que ocorre na quantidade
demandada de um bem, que decorre da variação percentual em seu preço. A elasticidade renda é a
porcentagem de variação na quantidade demandada de um bem, resultante de uma variação percentual na
renda do consumidor. A elasticidade cruzada da demanda é a variação na quantidade demanda de um bem
que resulta de uma variação percentual no preço de outro bem.
Assim, têm-se condições para passar de um modelo teórico para um modelo de equações empíricas,
estimada para a commodity agrícola milho. Esta equação de demanda utiliza como variáveis explicativas
para o consumo, as seguintes variáveis: Preço da commodity no mercado interno (para isso utiliza-se como
proxy os preços pagos ao produtor); Preço da soja no mercado interno ( para captar o efeito da elasticidade-
cruzada da demanda, utiliza-se os preços pagos ao produtor); Quantidade de suínos abatidos no Brasil (como
grande parte do consumo da commodity está destinada a fabricação de rações para a criação de aves e suínos,
utiliza-se está variável com a intenção de representar este efeito); e por fim PIB (para captar o efeito da
elasticidade-renda do consumo).
Então, a equação de demanda pode ser assim especificada:
(1)
Onde:
= Quantidade demandada de milho no Brasil no ano t;
= Preço recebido pelo produtor no ano t;
= Preço recebido pelo produtor de soja no ano t;
= Quantidade abatida de suínos no Brasil no ano t;
= Renda interna no país no ano t;
= Outras variáveis não abordadas que influenciam o consumo.
2.3 Modelo Econométrico†
O modelo econométrico a ser estimado é do tipo log-linear, em que, através da logaritimização das
variáveis, obtém-se os coeficientes das elasticidades.
Assim, o modelo a ser estimado é o seguinte:
(2)
Em que:
= Variável dependente;
= Variáveis independentes, explicativas;
= Erro aleatório com média zero e variância constante;
= Parâmetros do modelo a serem estimados.
Partindo-se da pressuposição econômica, esperam-se, a priori, os seguintes sinais para os parâmetros
do modelo:
( negativo, pois com um aumento no preço do milho espera-se uma redução no consumo, e
vice-versa);
( positivo, pois com uma variação no preço do bem substituto soja, espera-se uma variação
no mesmo sentido do consumo de milho);
( positivo, pois o aumento na criação, e conseqüentemente abate de suínos, espera-se um
aumento no uso de milho com insumo para rações, e vice-versa);
( positivo, o aumento no poder aquisitivos do consumidor ou do mercado, faz com que haja
um aumento no consumo, e vice-versa).
Ainda, realiza-se os testes para violação dos pressupostos do modelo econométrico, como:
multicolinearidade e autocorelação serial.

3. Resultados e discussão
Nesta parte do estudo encontram-se os resultados para a equação de demanda de milho do Brasil,
acompanhados de certos comentários. Quanto aos critérios para a avaliação dos resultados fora levado em
conta a teoria econômica, juntamente com alguns critérios estatísticos, que revelam certo grau de
confiabilidade dos parâmetros encontrados (coeficientes de determinação, erro-padrão e também estatísticas
“t” e “F”).
Os resultados para a equação de demanda de milho do Brasil (equação 2) para o período de 1980 a
2009, totalizando 30 observações, estão representados na Tab.1.


Seção baseada em [6]GUJARATI, D. N, 2000.
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Tab. 1 Resultados estimados da equação 2.


Variáveis Coeficiente Erro Padrão Teste “t” Probabilidade
Explicativas estimado
Intercepto 10.8223 1.5686 6.8992 [0.000]
lnPM -0.37479 0.072447 -5.1733 [0.000]
lnPS 0.068897 0.063153 1.0910 [0.286]
lnQS 0.26136 0.055369 4.7203 [0.000]
lnPIB 0.21335 0.12084 1.7656 [0.090]
R2=0.96596 F=177.3778 DW=1.7426
Fonte: Elaborado pelo autor
Com a análise dos resultados acima, percebe-se que o parâmetro é altamente insignificante até ao
nível de significância de 10%, pois o valor da estatística tcal é inferior ao seu valor crítico (1,708), sendo
assim, pode-se excluir esta variável do modelo. Isso pode ser explicado, pelo fato de não haver uma relação
de substituição entre o consumo de milho e o consumo de soja.
Então, estima-se o novo modelo de demanda de milho, definido pela equação 3:
(3).
Os resultados para a equação 3 encontram-se na Tab. 2.
Tab. 2 Resultados estimados da equação 3.
Variáveis Coeficiente Erro Padrão Teste “t” Probabilidade
Explicativas estimado
Intercepto 10.7134 1.5712 6.8188 [0.000]
lnPM -0.31162 0.043708 -7.1297 [0.000]
lnQS 0.26601 0.055406 4.8011 [0.000]
lnPIB 0.21927 0.12115 1.8099 [0.082]
2
R = 0.96434 F= 234.3922 DW=1.6411
Fonte: Elaborado pelo autor
De acordo com esse resultado, pode-se dizer que os sinais encontrados para os parâmetros foram
iguais aos esperados pela teoria econômica, ainda, ao nível de significância de 1% os coeficientes da variável
preço do milho e da quantidade se suínos abatida são significativos. E, ao nível de significância de 10% o
coeficiente da variável PIB também se torna significativo. Quanto ao teste F, tem-se que este valor é elevado,
sendo assim, os parâmetros são conjuntamente significativos.
Então, percebe-se que a demanda preço de milho é inelástica, ou seja, com uma queda de 1% no preço
da saca de milho, seu consumo irá aumentar em 0,31%. Isso fica evidente, pelo fato de os preços da saca de
milho apresentar uma queda significativa ao longo da série histórica, influenciando assim o aumento do
consumo de milho.
Em relação à variação na quantidade de suínos abatida, percebe-se que um aumento de 1%, ocorre um
aumento de 0,26% na quantidade de milho demandada. Fato este evidenciado pelo crescente aumento do
setor suinocultor no país, que faz demandar mais matéria-prima para a fabricação de rações, sendo o milho o
principal insumo. Quanto à elasticidade renda, tem-se que esta é inelástica, onde um aumento de 1% no nível
de renda faz com que haja um aumento de 0,21% na quantidade demandada de milho.
Com relação ao poder explicativo do modelo, análise através do R2, tem-se um valor elevado, sendo de
0,96, considerado muito satisfatório.
Com relação aos testes para violação dos pressupostos, para o teste da multicolinearidade, através da
regra de Klein, não se tem que se preocupar com a multicolinearidade, pois todos os R2 auxiliares são
inferiores ao R2 global. Quanto a autocorrelação serial, o teste de Durbin-Watson apresentou-se inconclusivo,
não sendo assim necessária a correção da autocorrelação.

4. Conclusão
A escolha de uma regressão log-linear apresentou bom ajustamento (em termos estatísticos) do
modelo de estimação dos parâmetros da quantidade demandada de milho no Brasil no período de 1980 a
2009, com alto poder explicativo das variáveis explicativas.
Evidenciou-se que a demanda de milho é inelástica quanto ao seu preço, ou seja, responde menos que
a proporção da variação no preço. Nos últimos anos o preço da saca de milho vem apresentando uma
tendência de queda, com pequenas altas e baixas, dado que assim, têm-se estímulos maiores para o consumo.
Outro fato importante encontrado é o grande crescimento da suinocultura (também do setor avícola), o
qual apresentou um crescimento de cerca de 200% ao longo do período, sendo este, fator de extrema

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importância para o escoamento da produção interna. Esse setor vem conquistando novos mercados a cada
ano, e com isso necessita cada vez mais de alimentos para a sua criação, sendo o milho insumo principal para
a produção de rações.
Outro fato a ser mencionado é a soja não exercer papel importante como bem substituto ao consumo
do milho, isso se evidencia, pois, principalmente para a fabricação de rações, o milho não compete com a
soja em sua utilização. Quanto a renda, conclui-se que elevações no poder aquisitivo faz com que ocorra
crescimento de consumo, tanto de sua forma direta quanto indireta.
Assim, constata-se que vários setores são dependentes de usar o milho como principal insumo, daí sua
crescente demanda nos últimos anos.

Referências
[1] OCB. O Mercado De Milho. Disponível em: www.brasilcooperativo.coop.br. Acesso em: 10 jun.
2010.
[2] CONAB. Companhia Nacional de Abastecimento. Central de Informações Agropecuárias:
Conjuntura Agropecuária, 2006. Disponível em: <www.conab.gov.br>. Acesso em: 10 jun. 2010.
[3] IPEADATA. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Disponível em:
<www.ipeadata.gov.br>. Acesso em: 10 jun 2010.
[4] FERGUSON,C.E. Microeconomia. 9.ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1986.
[5] PINDYCK, R. S., RUBINFIELD, D. L. Microeconomia. São Paulo: Makron Books, 1994.
[6] GUJARATI, D. N. Econometria Básica. São Paulo: Makron Books, 2000.

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ESTUDO DO COMPORTAMENTO DOS PREÇOS PAGOS AOS PRODUTORES DE UVA


DE MESA NO RIO GRANDE DO SUL ATRAVÉS DE MODELOS ESTUTURAIS
CLÁSSICOS

Donisete da Silva Almeida1*; Maria Emilia Camargo2


1
Universidade de Caxias do Sul
2
Universidade de Caxias do Sul

1. Introdução
Atualmente, a fruticultura tem apresentado um desenvolvimento importante, tanto no cenário nacional
como internacional, tornando-se um dos segmentos mais importantes da agricultura brasileira. Assim, este
trabalho teve como objetivo estudar o comportamento dos preços pagos produtores de uva de mesa no Rio
Grande do Sul através de modelos estruturais clássicos, no período de 1986 a 2009, através de modelos
estruturais clássicos. Os dados foram fornecidos pela EMATER, RS.

2. Método
O método de pesquisa científica do ponto de vista da natureza e da forma de abordagem do problema
proposto neste trabalho enquadra-se, de acordo com Silva & Menezes (2001), na categoria de pesquisa
aplicada quantitativa. A pesquisa aplicada quantitativa tem como objetivo gerar conhecimentos para
aplicação prática dirigida à solução de problemas específicos com o uso de recursos e técnicas estatísticas,
que no caso é a construção de modelos estruturais clássicos.

3. Resultados e Discussão
Foi encontrado um modelo que apresentou um componente tendencial significativo, e explicou o
comportamento dos preços no período analisado em 89%.

4. Conclusão
Assim, o modelo encontrado foi utilizado para fazer previsões para o período de 2010-2015.

Referências
[1] SILVA, E. L. & MENEZES, E. M. (2001): METODOLOGIA DA PESQUISA E ELABORAÇÃO DE
DISSERTAÇÃO. 3ª edição revisada. Florianópolis: Laboratório de Ensino a Distância da UFSC.

*
Autora Correspondente: dony.almeida@gmail.com
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GÊNERO E ESCOLARIZAÇÃO NO MERCADO FORMAL DE TRABALHO:


ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DE CAXIAS DO SUL, PERÍODO 2003, 2005 e 2008

Acad. Ronaldo Freitas Henquer¹*, Profª. Drª. Luciane Sgarbi Grazziotin², Profª. Drª. Natália Pietra Mendéz³
¹Observatório do Trabalho/ Universidade de Caxias do Sul
²Observatório do Trabalho/ Universidade de Caxias do Sul e PPGE da
Universidade de Caxias do Sul
³Observatório do Trabalho/ Universidade de Caxias do Sul

1. Introdução

Ao longo de todo o século passado, as mulheres conquistaram inúmeros avanços, sendo o acesso ao
mundo do trabalho um dos mais significativos. Contudo, até poucos anos atrás, o trabalho feminino ainda era
considerado uma “força de trabalho secundária” na sociedade capitalista, este cenário no entanto vem
mudando de forma dinâmica. As constantes transformações econômicas e sociais das últimas décadas,
afetaram o mundo do trabalho e as relações de trabalho, incluindo o setor da Administração Pública. O
presente estudo tem o objetivo de identificar as relações de gênero na Administração Pública de Caxias do
Sul, no período de 2003, 2005 e 2008, segundo as variáveis sexo, faixa etária, grau de instrução e faixa
média salarial. Este trabalho é parte das pesquisas sobre a trajetória das relações de gênero no mercado de
trabalho formal em Caxias do Sul, cidade situada na região nordeste do Estado do Rio Grande do Sul, que
abriga o segundo pólo metal-mecânico do Brasil e, atualmente, possui uma população de quase 400 mil
habitantes. A mesma é realizada pelo Observatório do Trabalho da Universidade de Caxias do Sul .

2. Método

A pesquisa desenvolvida traz o recorte das relações de Gênero como principal foco da análise,
entrelaçada à uma análise da faixa etária e grau de escolarização entre homens e mulheres.
Trata-se de uma investigação de natureza quantitativa, baseada no banco de dados da Relação Anual de
Informações Sociais (RAIS), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e o método de análise é o
descritivo e comparativo. O estudo utiliza o banco de dados do Ministério do Trabalho que acompanha cada
movimentação dos vínculos empregatícios. Longe de considerar os números como verdades irrefutáveis, eles
são aqui pensados como evidências que permitem leituras sobre o mundo do trabalho. Os dados utilizados na
pesquisa apresentam limitações, tais como o fato de que são fornecidos por empregadores, o que impede o
acompanhamento periódico da atualização e exatidão, tendo em vista que é a empresa – pública ou privada –
que fornece as informações sobre os trabalhadores. Recorrer à análise estatística, contribui para uma melhor
compreensão da realidade estudada.[1-3]

3. Resultados e Discussão

O estudo de gênero, é também uma possibilidade de análise do mundo do trabalho. Através dele,
descortina-se a dimensão cultural de práticas sociais historicamente vinculadas tanto à população masculina
quanto à feminina que tendem a assumir diferentes significados. A categoria gênero questiona a existência de
identidades fixas e universais relacionadas ao masculino e ao feminino, contribuindo para reflexões sobre
discursos generificados que operam no mercado de trabalho. Os resultados desta pesquisa demonstram que
há uma significativa concentração feminina na Administração Pública Municipal. Quanto à escolarização, os
servidores de ambos os sexos concentram-se no Ensino Superior, sendo que as mulheres possuem 42,80% a
mais de escolarização do que os homens. Considerando a idade, há uma concentração dos servidores entre os
30-39 e 40-49 anos, sendo que nesta última, as mulheres representam 29,60% dos empregados na
Administração Pública, nos três anos comparados. É sabido que o avanço da presença feminina no mercado
de trabalho vem acompanhado do desafio de conciliar a vida pública com as responsabilidades familiares, o
que, muitas vezes, leva a mulher a abrir mão de remunerações maiores em favor do tempo para a organização
doméstica e o cuidado dos filhos . Exemplo disto, encontra-se no quadro abaixo:

*Ronaldo Freitas Henquer: rfhenquer@ucs.br


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Tab. 1 Distribuição dos assalariados segundo classes de horas trabalhadas e jornada média semanal, por
sexo -Caxias do Sul – 2008

Assalariados

Horas Trabalhadas Total Homens Mulheres


Total (Em %) 100,0 100,0 100,0
Ate 12 1,3 0,9 1,7
De 13 a 15 0,2 0,1 0,2
De 16 a 20 3,2 1,3 6,0
De 21 a 30 3,7 2,6 5,2
De 31 a 40 7,2 5,3 10,0
De 41 a 44 84,4 89,7 76,8
Jornada Média 42 42 40
Semanal (Em
horas)
Fonte: RAIS 2008 M.T.E . Elaboração: DIEESE/RS [4]

Em relação à faixa média salarial, concentra-se na faixa de 4,01 a 10,00 salários mínimos, onde também
há uma predominância do sexo feminino. Exemplo disso, encontra-se no quadro abaixo, destacando o Setor
Público, onde a maioria dos postos de trabalho, que é ocupada por profissionais das áreas de educação,
saúde, assistência social e gestão, o valor-hora de R$ 26,4 , recebido por mulheres, excedeu os R$ 21,2 pago
aos homens.

Tab. 2 Rendimento médio


horário dos assalariados por setor de atividade e sexo
Caxias do Sul – 2008 Rendimento médio Horário (Em R$ Salário médio horário das mulheres
Setores de Atividade de dezembro de 2008) em relação aos homens (%)
Total Homens Mulheres
Extrativa mineral 8,8 9,4 5,3 55,6
Indústria de 8,8 9,9 5,6 56,8
transformação
Serviços de Utilidade 12,8 13,4 11,5 86,0
Pública
Construção civil 5,5 5,4 5,6 104,0
Comercio 6,0 7,0 5,1 73,1
Serviços 8,6 9,8 7,8 79,5
Administração 24,4 21,2 26,4 124,6
Pública
Agropecuária 4,2 4,3 3,6 84,6
Total 8,5 9,7 7,1 73,6
Fonte: RAIS 2008 M.T.E . Elaboração: DIEESE/RS [4]

4. Conclusão

Diante dos resultados apresentados, observa-se que as mulheres empregadas na Administração Pública
são maduras em termos de faixa etária, possuem maior grau de instrução, ocupam majoritariamente os
cargos de dirigentes, recebem maiores salários e que predominam na Administração Pública Municipal.
Além disso, evidencia-se que a escolarização coopera para uma maior inserção e ascensão das trabalhadoras
na Administração Pública Municipal.

Referências

[1] VIEIRA, Sonia. Princípios de Estatística. São Paulo: Pioneira, 1999.


[2] DOWNING, Douglas; CLARK, Jeffrey. Estatística Aplicada. São Paulo: Saraiva, 1998.

*Ronaldo Freitas Henquer: rfhenquer@ucs.br


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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

[3] LOPES, P.A. Probabilidade e Estatística . São Paulo: Reichmann e Affonso Editores, 1999.
[4] RAIS: Relação Anual de Informações Sociais. Disponível em: www.mte.gov.br. ,
Acesso em : 28 de junho de 2010.

Agradecimentos

Aos professores orientadores deste trabalho, bem como aos professores-pesquisadores do Observatório do
Trabalho da Universidade de Caxias do Sul.

*Ronaldo Freitas Henquer: rfhenquer@ucs.br


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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

GÊNERO E TRABALHO NA DÉCADA DE 2000: MUDANÇAS E PERMANÊNCIAS NA


ORGANIZAÇÃO E SEGREGAÇÃO DO TRABALHO NO SETOR DE SERVIÇOS
INDUSTRIAIS DE UTILIDADE PÚBLICA EM CAXIAS DO SUL

David Gustavo Dalponte1*; Profa. Dra. Natalia Pietra Méndez2; Prfa. Dra. Luciane Sgarbi Santos Grazziotin3
1
Universidade de Caxias do Sul
2
Universidade de Caxias do Sul
3
Universidade de Caxias do Sul

1. Introdução
O trabalho apresentado integra uma pesquisa em andamento sobre a trajetória das relações de gênero
no mercado formal em Caxias do Sul (2000-2008). Dados do Boletim Trabalhadoras de Caxias [1],
elaborado pelo Observatório do Trabalho/UCS e o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos/DIEESE, demonstram que o salário mensal auferido pelas mulheres assalariadas caxienses
em 2008 correspondeu a 70,10% daquele auferido pelos homens. Partindo deste indicativo acerca de uma
permanência da diferença nos salários auferidos pelas mulheres em relação aos homens, surgiu a
problemática que orienta este trabalho: o setor de Serviços Industriais de Utilidade Pública apresenta tanto
características da iniciativa privada quanto da administração publica. Na primeira, há maiores diferenças de
salários e escolarização entre homens e mulheres; na segunda, há – nos anos recentes – uma tendência a uma
paridade. Assim, considerando as três ocupações que mais empregaram mulheres em 2008, pretende-se
analisar de que forma as relações de gênero incidiram no perfil dos trabalhadores e na organização do
trabalho no setor já referido. A pesquisa retrocede ao ano de 2003 para ver como esse perfil se apresentava à
época. Para analisar esse perfil, além da variável sexo, são usados indicadores de escolaridade, faixa etária e
faixa de remuneração média.
Caxias do Sul, município localizado na encosta superior da Serra do Nordeste do estado do Rio
Grande do Sul, cuja população é estimada em 410.166 habitantes [2], é expoente no estado rio-grandense no
tocante à quantidade e criação de empregos formais. Segundo pólo metal-metânico do Brasil, seu mercado de
trabalho formal caracteriza-se por apresentar elementos que contrastam com a tendência geral apontada pelas
análises socioeconômicas, de uma atrofia nos empregos do setor industrial e uma expansão do setor terciário.
As duas últimas décadas demonstraram um aumento do nível de ocupação no setor industrial, em especial na
indústria de transformação onde houve um crescimento de 62,67% dos postos de trabalho, enquanto o setor
de serviços registrou expansão de 55,95% dos postos de trabalho. De forma igual, o setor dos Serviços
Industriais de Utilidade Pública apresentou crescimento de aproximadamente 250 vezes (2.480%) [3]. Pode-
se relacionar essa expansão com o processo de privatizações ocorrido na última década do século XX e início
dos anos 2000.
As décadas finais do século XX resultaram em mudanças significativas para o mundo do trabalho. A
globalização operou transformações na divisão internacional do trabalho. Nas décadas de 1980 e 1990, o
Brasil intensificou a integração ao sistema financeiro internacional assumindo uma política de diminuição do
papel regulador do Estado. Como efeito, o mercado de trabalho apresentou uma tendência à desestruturação:
redução dos postos de trabalho regulares, expansão do desemprego e das ocupações irregulares. A
globalização acelerou mudanças tecnológicas que afetaram o perfil da produção e passaram a exigir novas
competências para o ingresso no mundo do trabalho. As alterações desencadeadas pelos ajustes
macroeconômicos afetaram quantitativamente e qualitativamente os postos de trabalho. O mercado de
trabalho passou a exigir um novo perfil: escolarização elevada, domínio tecnológico e polivalência são
alguns requisitos básicos que aparecem no discurso empresarial para descrever o trabalhador desejável na era
da globalização.
Uma breve leitura da produção a respeito do tema denota que as transformações no mundo do trabalho
alteraram o perfil tanto do emprego quanto do empregado. Porém, permaneceu a lógica da distinção de
papéis sexuados. Observa-se em que medida ocorreu alterações no perfil das relações de gênero no mercado
formal de Caxias do Sul no setor de Serviços Industriais de Utilidade Pública.

2. Método
A pesquisa é de natureza quantitativa e os métodos de análise são o descritivo e o comparativo. Utiliza
como fonte o banco de dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e
Emprego [3]. Os dados utilizados referem-se aos seguintes anos:
2008: dado mais recente da RAIS;

*
Autor Correspondente: dgdalpon@ucs.br
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

2005: ano intermediário;


2003: ano em que o sistema RAIS passa a utilizar a última versão da Classificação Brasileira de Ocupações
(CBO).
As variáveis utilizadas são: escolaridade, faixa etária e faixa de renumeração média, cruzando-as com
a variável sexo. As três ocupações selecionadas, as quais mais empregaram mulheres no setor de Serviços
Industriais de Utilidade Pública, em 2008, de acordo com a codificação da CBO, foram:
Família 1114: Dirigentes do serviço público;
Família 4110: Agentes, assistentes e auxiliares administrativos;
Família 5142: Trabalhadores no serviço de coleta de resíduos, de limpeza e conservação de áreas públicas.
Escolheu-se o setor de Serviços Industriais de Utilidade Pública por este ter apresentado elevado
aumento de postos de trabalho (2.480%) após os anos 2000, o que sugere que esses empregos criados
poderiam vir a apresentar menores disparidades salariais e de escolarização entre homens e mulheres, visto
que a população feminina já está inserida e estabelecida no mercado de trabalho neste período, além de
indicar crescente escolarização e forte presença no âmbito da Administração Pública.

3. Resultados e Discussão
A Tabela 1 traz o número de empregados formais em cada uma das ocupações selecionadas por sexo,
percebe-se que as ocupações que mais empregavam em 2008, praticamente eram inexistentes em 2003 e
2005. O que demonstra a expansão relativamente dinâmica das ocupações aqui selecionadas.

Tab. 1: Número de trabalhadores formais no setor de Serviços Industriais de Utilidade Pública de


Caxias do Sul por ocupação e por sexo - anos selecionados

2003 2005 2008


Família Ocupacional Masculino Feminino Total Masculino Feminino Total Masculino Feminino Total
Família 1114 0 0 0 0 0 0 267 89 356
Família 4110 1 2 3 3 6 9 278 115 393
Família 5142 0 0 0 0 2 2 320 130 450
Fonte: RAIS/MTE (2003, 2005, 2008). Elaboração: autor

A Tabela 2 apresenta o cruzamento das variáveis faixa etária e sexo no setor de Serviços Industriais
de Utilidade Pública para as três famílias selecionadas na cidade de Caxias do Sul.

Tab. 2: Percentual de empregados formais em cada família ocupacional por sexo e faixa etária- 2008

Família 1114 Família 4110 Família 5142


Faixa Etária Masculino Feminino Masculino Feminino Masculino Feminino
Até 17 anos 0,00% 0,00% 1,08% 4,35% 0,00% 0,00%
18 a 24 anos 1,87% 3,37% 26,98% 14,78% 10,00% 7,69%
25 a 29 anos 6,74% 6,74% 29,50% 33,04% 14,38% 20,00%
30 a 39 anos 17,23% 13,48% 28,78% 31,30% 46,88% 31,54%
40 a 49 anos 33,33% 43,82% 10,07% 13,91% 20,94% 23,08%
50 a 64 anos 38,20% 31,46% 3,60% 2,61% 7,50% 16,15%
65 anos ou mais 2,62% 1,12% 0,00% 0,00% 0,31% 1,54%
Total 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00%
Fonte: RAIS/MTE (2008). Elaboração: autor.
As faixas etárias destacadas na Tabela 2 são aquelas que concentram quase a totalidade da mão-de-
obra para cada ocupação e, os percentuais em negrito, mostram qual é a faixa etária para cada uma das
ocupações, de acordo com o sexo, que emprega o maior percentual de trabalhadores. Por essa tabela,
verifica-se que, para as três famílias ocupacionais, tanto para homens quanto para mulheres, os empregos se
concentram nas mesmas faixas de idade. Apenas para a Família 1114 (Dirigentes do serviço público) é que
há uma não conformidade, enquanto que o maior percentual dos homens empregados se concentra na faixa
dos 50 a 64 anos, para as mulheres, a faixa dos 40 aos 49 anos é que apresenta percentual mais elevado,
43,82%. Também, verifica-se que, para a Família Ocupacional 1114, os empregados estão concentrados em
faixas etárias mais elevadas. Acredita-se que isso se deve ao fato de esses empregados, dirigentes do serviço
público, por terem cargos de direção, necessitam de maior experiência profissional para galgarem a esses
postos. Além disso, que esses trabalhadores podem ter migrado do setor da Administração Pública para o
setor estudado, visto que, de acordo com a Tabela 1, não há a existência de profissionais dessa ocupação no

824
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

setor nos anos anteriores 2003 e 2005. Essa migração pode ter ocorrido pelo fato de que empresas que antes
eram públicas agora foram privatizadas, ou se tornaram de economia mista ou até mesmo extintas e seus
serviços foram terceirizados.
A Tabela 3 a seguir apresenta o perfil de escolarização de homens e mulheres para as três ocupações
selecionadas no ano de 2008.

Tab. 3: Percentual de empregados formais em cada família ocupacional por sexo e grau de instrução - 2008
Família 1114 Família 4110 Família 5142
Grau de Instrução Masculino Feminino Masculino Feminino Masculino Feminino
Analfabeto 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 1,25% 2,31%
Até a 5° Sér. Incompleta 7,87% 2,25% 0,36% 0,00% 10,00% 9,23%
5° Sér. Completa 1,50% 1,12% 1,08% 0,00% 4,69% 6,92%
6° a 9° Sér. Do Fundamental 20,97% 8,99% 3,60% 0,87% 22,50% 12,31%
Fundamental Completo 7,12% 3,37% 9,71% 0,00% 26,88% 27,69%
Médio Incompleto 6,37% 4,49% 16,19% 7,83% 6,56% 10,00%
Médio Completo 23,97% 15,73% 60,07% 39,13% 25,31% 27,69%
Superior Incompleto 14,61% 22,47% 6,47% 36,52% 2,50% 2,31%
Superior Completo 17,60% 41,57% 2,52% 15,65% 0,31% 1,54%
Total 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00%
Fonte: RAIS/MTE (2008). Elaboração: autor.

A Tabela 3 mostra que para a família ocupacional dos Dirigentes do serviço público (Família 1114) a
maior participação dos homens empregados apresenta o Ensino Médio Completo (23,97%), seguido pela 6ª a
9ª Série do Ensino Fundamental (20,97%), por outro lado, as mulheres empregadas nessa mesma ocupação
possuem maior percentual de empregadas formais com o Ensino Superior Completo (41,57%), seguido do
Ensino Superior Incompleto (22,47%). Percebe-se uma significante diferença de instrução entre os dois
sexos. Para os empregados formais da Família 4110 (Agentes, assistentes e auxiliares administrativos),
também se pode destacar diferenças no nível de escolarização. Apesar do maior percentual de empregados,
tanto homens (60,07%), quanto mulheres (39,13%) possuir o Ensino Médio Completo, verifica-se uma maior
busca por qualificação das mulheres, já que 36,52% delas possuem o Ensino Superior Incompleto e 15,65%
possuem o Superior Completo, ao passo esses percentuais são de 6,47% e 2,52% para os homens. Já na
ocupação de trabalhadores nos serviços de coleta de resíduos, de limpeza e conservação de áreas públicas
(Família 5142) homens e mulheres apresentam grau de instrução similar, os maiores percentuais de
trabalhadores possuem o Ensino Médio Completo e o Ensino Fundamental Completo.
A Tabela 4 apresenta o comportamento da remuneração mensal média (em salários mínimos) para
homens e mulheres das famílias ocupacionais selecionadas.

Tab. 4: Percentual de empregados formais em cada família ocupacional por faixa de remuneração mensal
média e sexo – 2008
Família 1114 Família 4110 Família 5142
Faixa de Remuneração Média Masculino Feminino Masculino Feminino Masculino Feminino
Até 0,50 s.m. 0,37% 2,25% 1,80% 4,35% 0,00% 0,00%
De 0,51 a 1,00 s.m. 1,87% 1,12% 6,12% 8,70% 0,31% 1,54%
De 1,01 a 1,50 s.m. 1,50% 1,12% 22,66% 2,61% 0,63% 0,00%
De 1,51 a 2,00 s.m. 1,12% 0,00% 33,09% 0,87% 0,31% 2,31%
De 2,01 a 3,00 s. m. 3,75% 6,74% 19,42% 31,30% 36,25% 68,46%
De 3,01 a 4,00 s.m. 9,74% 7,87% 6,12% 35,65% 45,31% 20,00%
De 4,01 a 5,00 s.m. 14,23% 21,35% 2,16% 5,22% 9,69% 3,08%
De 5,01 a 7,00 s.m. 25,47% 21,35% 1,80% 6,96% 2,50% 1,54%
De 7,01 a 10,00 s.m. 23,60% 17,98% 2,52% 3,48% 1,56% 0,00%
De 10,01 a 15,00 s.m. 7,87% 6,74% 0,72% 0,00% 0,00% 0,00%
De 15,01 a 20,00 s.m. 5,24% 3,37% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00%
Mais de 20,00 s.m. 3,75% 5,62% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00%
Ignorado 1,75% 4,49% 3,60% 0,87% 3,44% 3,08%
Total 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00%
Fonte: RAIS/MTE (2008). Elaboração: autor

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Pela Tabela 4 verifica-se que, para Família 1114, as faixas de remuneração de 5,01 a 7,00 salários
mínimos e de 7,01 a 10,00 salários mínimos são aquelas que possuem maior percentual de homens
empregados (25,47% e 23,60%, respectivamente), enquanto que, para as mulheres, essas faixas são aquelas
que remuneram entre 4,01 a 5,00 e de 5,01 a 7,00 salários mínimos com 21,35% das mulheres auferindo
renda em ambos os intervalos. Na Família 4110 (Agentes, assistentes e auxiliares administrativos) ocorre o
inverso, os maiores percentuais de mulheres estão empregados em faixas mais elevadas de renda, 35,65%
das mulheres recebem de 3,01 a 4,00 salários mínimos e 31,30% recebem de 2,01 a 3,00 salários mínimos, já
para os homens os percentuais são: 22,66% recebendo de 1,01 a 1,50 salários mínimos e 33,09% de 1,51 a
2,00 salários mínimos. Por último, na Família Ocupacional 5142 a maioria das mulheres 68,46% recebe na
faixa de 2,01 a 3,00 salários mínimos, enquanto que os homens concentram o maior percentual de
empregados, 45,31%, em uma faixa salarial mais elevada, de 3,01 a 4,00 salários mínimos. A categoria
Ignorado é utilizada pelo banco de dados da RAIS quando há erro no preenchimento de seus formulários,
visto que, quem tem o dever de preencher e enviar a Relação Anual de Informações Sociais, são os
empregadores e podem ocorrer enganos em seu preenchimento.
Como nos anos de 2003 e 2005 o número de empregados formais nas famílias ocupacionais
selecionadas é pouco ou nenhum, para o setor de Serviços Industriais de Utilidade Pública, torna-se pouco
significativa uma análise como a apresentada para o ano de 2008.

4. Conclusão
Ao se avaliar as ocupações anteriormente apresentadas, para o setor de Serviços Industriais de
Utilidade Pública em Caxias do Sul, percebe-se que ainda há um descompasso no mercado de trabalho para
homens e mulheres. Quando se observa que na ocupação de Dirigentes do serviço público (Família 1114),
cujos cargos são de chefia e direção, as mulheres apresentam maior nível de escolarização que os homens,
porém auferem renda menor, torna-se palpável a problematização das questões históricas das relações de
gênero. O fato de que nesta família os homens apresentam menor escolarização, maiores salários e uma
tendência a se concentrar em uma faixa etária ainda mais elevada do que as mulheres pode ser uma evidência
de que a experiência e as relações no âmbito político têm maior relevância para a população do sexo
masculino. Já, para as mulheres, a maior escolarização apresenta-se como maior triunfo para a conquista de
postos de dirigente, embora não garanta o acesso privilegiado aos melhores salários. Isso também é reforçado
ao observar-se o perfil dos ocupados na Família 5142 (trabalhadores nos serviços de coleta de resíduos, de
limpeza e conservação de áreas públicas). As mulheres possuem níveis de escolarização semelhante ao dos
homens, porém a grande maioria aufere renda inferior à masculina.
No caso dos agentes, assistentes e auxiliares administrativos (Família 4110) isso não ocorre, nessa
ocupação os trabalhadores mais escolarizados também são mais remunerados, enquadrando-se nos preceitos
da Teoria do Capital Humano, quando o trabalhador ao qualificar-se poderá obter maior ganho salarial.
Exceto à Família Ocupacional 4110, pode-se questionar o porquê dessas diferenças do perfil
masculino e feminino empregado. Perrot responde ao afirmar que as discriminações de gênero se enraízam
nos costumes, produtos das representações de longa duração [4], evidenciando que os acontecimentos que
geram as discrepâncias entre homens e mulheres no mercado de trabalho estão relacionados com uma
trajetória histórica de segregação profissional.

Referências
[1] DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATÍSTICA E ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS –
DIEESE; UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL – UCS. Boletim Trabalhadoras de Caxias. Caxias do
Sul, ano 1, n. 1, mar/2010. Disponível em <http://www.ucs.br/ucs/tplNucleoInovacao/pesquisa/nucleos/
nucleos_inovacao_desenvolvimento/observatorio_trabalho/boletins/boletim_trabalhadoras.pdf>. Acesso em:
08/Jul/2010.

[2] INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Disponível em


<http://www.ibge.gov.br> Acesso em: 12/Jul/2010.

[3] MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO – MTE. Programa de Disseminação de Estatísticas do


Trabalho: Bases Estatísticas RAIS/CAGED. Disponível em <http://sgt.caged.gov.br/index.asp>. Acesso
em 11/Jun/2010.

[4] PERROT, Michelle. As mulheres ou os silêncios da história. Bauru: EDUSC, 2005. p. 251.

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GESTÃO DE PESSOAS NAS EMPRESAS DA REGIÃO DA QUARTA COLÔNIA

Celina Hoffmann*; Dirciéli Buligon; Marilúcia Bertagnolli; Priscila Espig¹;


Sirlei Glasenapp²
¹ Unidade Descentralizada de Educação Superior da UFSM em Silveira Martins – RS.
² Professora orientadora, Unidade Descentralizada de Educação Superior da UFSM em Silveira Martins – RS.

1. Introdução
A área de recursos humanos passou por mudanças significativas nos últimos anos, o que era uma
atividade burocrática e de controle, passou a ter caráter estratégico dentro da organização, sendo um setor
responsável por atrair e desenvolver as pessoas que nela trabalham, dinamizando as atividades da empresa e
estreitando relações entre chefias e funcionários.
De acordo com Maximiano (2008), a função de recursos humanos ou gestão de pessoas, tem como
objetivo encontrar, atrair e manter as pessoas com habilidades das quais a empresa necessita. Isso envolve
atividades que começam antes de uma pessoa fazer parte do quadro funcional como, por exemplo, recrutamento
e seleção e vão até depois que a pessoa se desliga da empresa.
O setor de gestão de pessoas auxilia na percepção do individuo que compõe a empresa, como é o seu
comportamento, e as suas necessidades. A empresa deve propiciar boas condições de trabalho que objetive a
qualidade de vida do funcionário o que é essencial, não só para o colaborador desempenhar bem suas tarefas,
mas também para auxiliar como fator de motivação para o trabalho, além de ser benéfico para a empresa, pois
acarreta ganhos em sua produtividade.
Pela tamanha importância que a função de gerir pessoas tem no ambiente organizacional, na medida em
que se torna um ponto estratégico para o crescimento da empresa e que conseqüentemente acarreta no
desenvolvimento da região, esta pesquisa justifica a iniciativa de obter o perfil deste setor nas empresas da região
da Quarta Colônia.
O objetivo da pesquisa foi avaliar as atividades do setor de gestão de pessoas nas empresas dos
municípios da região da Quarta Colônia, verificando como as chefias destas organizações utilizam atividades de
recrutamento, seleção, treinamento e motivação de seus colaboradores como estratégias na busca do
desenvolvimento da empresa colaborando para o progresso da região.

2. Metodologia
Quanto ao tipo de pesquisa, trata-se de uma pesquisa descritiva, que segundo Lakatos e Marconi (2009)
consiste em investigações de pesquisa empírica, na qual, sua principal finalidade é o delineamento e análise das
características de determinado fato. O estudo foi realizado nas empresas dos segmentos de: serviços, comércio e
indústria dos municípios que pertencem a Quarta Colônia, região central do Rio Grande do Sul.
O universo da pesquisa constituiu-se das empresas com cadastro na Prefeitura Municipal das seguintes
cidades: Silveira Martins, São João do Polêsine, Dona Francisca, Faxinal do Soturno e Nova Palma. Utilizou-se
uma amostra de 10% de cada um dos segmentos. Os dados foram coletados através de questionários estruturados
com perguntas fechadas, aplicados aos dirigentes das empresas.
Após a coleta de dados, foi realizada a tabulação e análise dos questionários aplicados, utilizando a
estatística descritiva com auxílio de programa computacional integrante do Programa Office XP (Excel), cujos
resultados foram apresentados em forma de médias.

3. Resultados e Discussão
Na segunda metade do século XIX, diante de um contexto histórico de inovações tecnológicas, mais
precisamente através do surgimento das máquinas a vapor, da eletricidade, entre outras invenções, surgiram
necessidades de aprimoramento à função de administrador, cujo objetivo principal era o da busca pela
maximização da eficiência na produção através do uso das novas tecnologias. Foi quando no início do século
XX, por meio de suas publicações, que o engenheiro Taylor introduziu a divisão de competências para a função
de administrador em: planejar, organizar, coordenar, comandar e controlar, contemplando as necessidades de
mudanças no ambiente da fábrica.
_____________________________________________________________________________________
celina_hoffmann@hotmail.com

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Neste cenário, surge a figura de chefe de pessoal que de início lhe cabiam as funções de contabilizar
entradas, saídas, pagamentos, vales e descontos dos funcionários, sendo considerada uma função de confiança do
patrão.
O cargo de chefe de pessoal deu origem ao setor de recursos humanos ou gestão de pessoas de hoje, que
desempenha várias outras tarefas afins, este setor é considerado uma estrutura estratégica e se faz presente
principalmente dentro das grandes empresas.
Para mais da metade das empresas pesquisadas (54,24%) não há um setor de Recursos Humanos
formalizado, sendo muitas vezes, atribuições praticadas pelo um único gestor, que geralmente é o proprietário do
negócio, dando caráter informal à função dentro da empresa, como ocorre para 23,73% delas.
Diante desta constatação, devemos levar em consideração a classificação de empresas realizada pelo
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) em: Microempresas, Empresas de
Pequeno Porte, Empresas de Médio Porte e Empresas de Grande Porte. Esta classificação tem como base a
coexistência dois fatores: o número de funcionários contratados ligados a certo montante de faturamento anual
produzido pela empresa.
As microempresas têm até no máximo dezenove funcionários, ou seja, um número reduzido de
contratações que na maioria dos casos não condiz com a criação de um setor de Recursos Humanos, é o que
ocorre com a maior parte das empresas pesquisadas (68,52%.), em segunda proporção estão aquelas que
possuem componentes da família no quadro funcional (12,96%).
Segundo Marras (2009) na década de vinte, em virtude dos movimentos de relações humanas, acarretaram
algumas mudanças nas relações de empregados e empregadores e nas características da função de chefe de
pessoal, cujas atribuições passaram a ser com relação à preocupação com o indivíduo e suas necessidades, o
aumento da produtividade através da redução de conflitos e seus respectivos custos. Pensadores da época como
Follet, Mayo, Simon entre outros mediante suas teorias inseriram o poder das relações informais nas
organizações, foi quando a função de chefe de pessoal, que hoje corresponde a toda estrutura do setor de
Recursos Humanos ganhou status de gerência, deixando ser uma função puramente operacional para tornar-se de
origem tática dentro da empresa.
Dentre todas as empresas pesquisadas, se destacam em igual proporção, as respostas das que consideram a
função do RH mais voltada à qualificação do quadro funcional (24,14%), ou seja, realizada através da
capacitação de funcionários a fim de suprir a demanda das empresas. E as que consideram as rotinas trabalhistas
(24,14%) como pagamento de salários, impostos, controle de férias sendo sua finalidade dentro da organização.
E em terceiro plano o controle de pessoal (20,69%) foi tida como sua principal função.
Quanto ao processo de escolha do colaborador que irá integrar a organização, representa um papel
estratégico, pois de acordo com a capacidade das pessoas contratadas será a qualidade do trabalho
desempenhado por elas, ao mesmo tempo em que o grau desta qualidade produzida agregará valor ao produto ou
serviço.
De acordo com Zaccarelli e Teixeira (2008), ao recrutamento de pessoas, devemos considerar vários
aspectos tais como: a cultura organizacional da empresa, ou seja, os valores que prevalecem e a sustentam. A
política organizacional que determinará o sujeito que terá a última palavra na decisão final da escolha. E o
mercado de trabalho, observando os movimentos migratórios e localização de mão-de-obra específica, sobre
nível de qualificação exigido e de quanto é a oferta deste contingente na região.
Segundo Chiavenato (1998), recrutamento de pessoal é uma atividade de responsabilidade do sistema de
do RH que tem por finalidade a captação de recursos humanos interna e externamente a organização objetivando
municiar o subsistema de seleção de pessoal no seu atendimento aos clientes internos da empresa.
Percebemos através da figura 1, que para maior parte das empresas pesquisadas (41,46%), o recrutamento
acontece através de indicações de amigos ou colaboradores, esta atitude parte da crença de que um amigo não
indicaria uma pessoa que não esteja alinhada com os valores da empresa, ou que não fosse confiável e
competente. Em seguida estão as empresas que responderam utilizar outras fontes de recrutamento que não as
mencionadas na questão. Em terceiro plano vieram as que utilizam a mídia como, por exemplo, o jornal e o rádio
num total de 24,39 % das entrevistadas.
Na tarefa de seleção de pessoal não existe método perfeito ou ideal, pois é uma atividade articulada entre
o entrevistador e o candidato baseada em elementos objetivos e subjetivos. Este processo não deve medir apenas
conhecimentos técnicos, são considerados também os valores, as habilidades, a capacidade de relacionamento
interpessoal, e a comunicação do candidato. É um procedimento que poderá envolver profissionais de recursos

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

humanos, supervisores e diretores ou ainda a empresa poderá recorrer a agências de emprego e consultorias
especializadas.

Fig. 1 Qual a fonte de recrutamento das empresas?

Como podemos notar através da figura 2, a maioria das empresas ( 55,26%) fazem uso de entrevista com o
diretor (proprietário) como método para o processo de seleção dos candidatos. Já 26,32% das empresas
entrevistadas, recorrem a organizações terceirizadas especialistas no ramo, que geralmente disponibilizam um
acervo de currículos que contemplam os requisitos da vaga a ser preenchida, e por eles próprios é realizada a
seleção dos candidatos, mediante troca de informações com a empresa sobre qual perfil ideal do futuro
funcionário. A prova prática é a terceira opção das empresas no processo de seleção de funcionários, somando
13,16% do total das entrevistadas.
O benefício é uma forma de remuneração indireta ao funcionário que raramente está vinculado a uma
medição de desempenho. Podem ser programas ou planos oferecidos pela organização como complemento do
salário. Geralmente acarreta onera a empresa à medida que aumentam os custos com a folha de pagamento.
Segundo Marras (2009) um plano de benefícios atende as necessidades básicas da empresa, pois auxilia na
manutenção de baixos índices de rotatividade e ausências colaborando para qualidade de vida dos funcionários.
Tornando–a mais competitiva no mercado de trabalho.
Através da figura 3 contatamos que a maioria das empresas (55%) não oferece nenhum tipo de benefícios
aos seus funcionários, tal postura pode ser justificada pelo ônus que acarreta à empresa propiciar algum plano de
benefícios para um número reduzido de funcionários.

Fig. 2 Qual o método de seleção utilizado?

Enquanto 16,67% das empresas pesquisadas não responderam a pergunta, provavelmente por não ter
conhecimento sobre o assunto. Enquanto 13,33% das empresas responderam oferecer o plano de saúde como
forma de benefício aos funcionários.
De um lado, está a empresa que busca ser cada vez mais competitiva, produzindo mais e melhor a custos
menores em favor da sua lucratividade. De outro, estão os funcionários que tentam encontrar no ambiente de
trabalho, no que envolve as suas rotinas e atividades, uma compensação do estresse causado pela busca

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

incessante pela alta produtividade. A comunhão do desejo de viver qualitativamente melhor é algo perceptível
para grande massa de trabalhadores.

Figura 6 A empresa oferece algum plano de benefícios para os funcionários?

A qualidade de vida dos trabalhadores foi inserida em discussão nos anos oitenta, pelos seus sindicatos,
desde então tanto em meio acadêmico quanto empresarial tem sido um tema amplamente debatido, ocasionando
mudanças nas políticas internas das organizações na busca de atendimento a essas necessidades.
Quanto à postura das empresas pesquisadas diante de tal questão, verificamos através dos resultados da
pesquisa que a grande maioria (66,67%) esta preocupação é inexistente, pois não oferecem nenhum programa de
qualidade de vida para aos funcionários. Enquanto 15% das empresas não responderam a questão,
provavelmente por não ter conhecimento sobre o tema. Já 11,67% das empresas pesquisadas utilizam
efetivamente um programa de qualidade de vida, que podem envolver atividades como palestras motivacionais,
estimulação do convívio e integração entre colegas, atividades de lazer para empregados e suas famílias, entre
outros.

4. Conclusão
Enfim, depois da pesquisa realizada, com análise de resultados podemos concluir que as atividades de
gestão de pessoas são pouco significativas no ambiente das empresas. A maioria não utiliza as ferramentas de
RH como: plano de benefícios (55%) e programa de qualidade de vida (66,67%) aos funcionários, além de as
tarefas de recrutamento e seleção acontecerem de maneira informal, a primeira através de indicações (41,26%) e
a segunda através de entrevista com o diretor (55,26%).
Independente da estrutura da empresa, para que ocorra seu crescimento e permanência dentro de um
mercado cada vez mais competitivo, se faz necessário a elaboração de um planejamento, que segundo Valentim
(2008), é um processo de definição de objetivos que a empresa pretende atingir, através de alocação de recursos
em certas áreas da organização. Na área de recursos humanos, especificamente, pode significar mais
investimentos em qualificação e motivação de funcionários e maior aplicação de critérios para recrutamento e
seleção. O que acarretaria maior produtividade e inovação dos processos e desenvolvimento da organização.
Podemos considerar que ocorre certo grau de defasagem nos mecanismos de gestão de recursos humanos
nas empresas pesquisadas, mas que pode se justificar pela maioria não possuir um setor de RH formalizado
(54,24%), e pelo reduzido número de funcionários existentes, pois 68,52% delas contratam menos de dez
funcionários.
Ainda assim, fatores como investimentos em qualificação e motivação aos funcionários representariam o
progresso de todos os modais de empresas pesquisadas, e consequentemente de toda região em que estão
inseridas, porém esta postura depende muito da personalidade do gestor e da sua própria qualificação como
ocupante de cargo de chefia.

5. Referências Bibliográficas

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

BISPO, P. Investir nas Pessoas é sinônimo de crescimento. Portal Educação. 27 jan. de 2010. Disponível em:
http://www.portaleducacao.com.br/gestao-e-lideranca/artigos/3393/investir-nas-pessoas-e-sinonimo-de-
crescimento Acesso em 16 mai. 2010.
CHIAVENATO, Idalberto. Recursos Humanos. Compacta. 5ª. ed. – São Paulo : Atlas, 1998.
Classificação das Micro e Pequenas Empresas. Disponível em:
http://www.professorcezar.adm.br/Textos/ClassificacaoMicroPequena.pdf. Acesso em 13 mai 2010.
HANASHIRO, D.M.M. et al. Gestão do Fator Humano: Uma visão baseada em stakeholders. 2ª ed revista e
atualizada. São Paulo: Saraiva, 2008.
LAKATOS, E. M; MARCONI, M. A. Fundamentos de Metodologia Científica. 6. ed. - 7. reimpr. São Paulo:
Atlas, 2009. 315p.
MARRAS, J.P.Administração de Recursos Humanos: do operacional ao estratégico. 13ª ed. São Paulo:
Saraiva 2009.
MAXIMIANO, A. C. A. Introdução à Administração. 7° ed. São Paulo: Atlas, 2008. p.400.
SANTOS, M. J.N. Gestão de Recursos Humanos: Teorias e Práticas. n 12. Porto Alegre, 2004, P.142-158.
Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/soc/n12/22259.pdf.Acesso em 14 mai. 2010.
SOVIENSKI, F; STIGAR, R. Recursos Humanos X Gestão de Pessoas. Disponível em:
http://www.opet.com.br/comum/paginas/arquivos/artigos/Gestao_de_pessoas_e_RH.pdf. Acesso em 15 de mai
de 2010.
VALENTIM, Marta. Planejamento Tático e Operacional. Universidade Estadual Paulista. 2008. Disponível em:
www.valentim.pro.br/Slides/.../Planejamento_Tatico_Operacional.ppt - Similares. Acesso em 16 de mai de
2010.

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IDENTIFICAÇÃO DA MATRIZ EXPORTADORA E IMPORTADORA DA REGIÃO


NOROESTE DO RIO GRANDE DO SUL

Shaiane Caroline Kochhann¹*; Cristiano Henrique da Veiga ²


¹ Universidade Federal de Santa Maria/CESNORS
² Universidade Federal de Santa Maria/CESNORS

1. Introdução
O estudo realizado possui como um dos objetivos descrever o perfil exportador e importador das
regiões gaúchas, tendo em vista destacar cenários com atuações substanciais no ramo do comércio exterior
ou com um vasto campo relacionado à prática desta atividade local. Com isso procurou-se efetivar um
comparativo entre os COREDEs (Conselho Regional de Desenvolvimento), que compõem a região noroeste
a fim de desvendar sua influência econômica sobre a balança comercial do Rio Grande do Sul.
No momento em que há um desenvolvimento parcial da região, no setor econômico, por práticas de
negociações ainda não exploradas, a cultura do todo, no caso o estado em si, aos poucos vai sofrendo
alterações. (...) o desenvolvimento endógeno, no entanto, pode ser compreendido como um processo interno
de ampliação contínua de agregação de valor na produção, a capacidade de absorção da região. Deste
processo, resulta a ampliação de empregos, produto e renda do local, em um modelo de desenvolvimento
regional definido [1].
Procurou-se também, mapear o local de destino da mercadoria comercializada, para um maior
conhecimento da região que se beneficia da prática deste tipo de atividade econômica, assim, foi possível
obter para uma análise da cadeia de fornecedores, em função da continuidade anual deste tipo de atividade.
Pretende-se com este trabalho realizar um panorama da situação de comércio destes municípios, sendo
avaliada a participação comercial de cento e quarenta e um (141) municípios, tratando-se de uma amostra
parcial do potencial comercializado pelo Rio Grande do Sul, que em seu total, é composto por quatrocentos e
noventa e seis (496) municípios, servindo de base para estudos mais aprofundados do perfil empresarial da
região para competir no mercado internacional, sendo esta pesquisa essencial no futuro, pois seu foco será
embasado em análises mais aprofundado visando localizar a região que mais agrega valor ao estado.
Porém, no momento em que a empresa assume a prática do comercio exterior, ela procura um campo
competitivo, que lhe dê um alicerce para crescer, dando suporte a esta idéia- (...) explica e diferencia as
multinacionais com estratégia global e multidoméstica. O objetivo da estratégia multidoméstica é maximizar
o desempenho mundial através da maximização da vantagem competitiva, receitas e lucros. O objetivo da
estratégia global é maximizar o desempenho mundial por meio do compartilhamento e da integração [2].

2. Método
Ao dar início a pesquisa, tornou-se vital a obtenção de dados relacionados à atividade comercial dos
municípios que compõe os COREDEs, fornecidos pelo site MDIC (Ministério do Desenvolvimento do
Comércio e Indústria) e no site do AliceWeb, tratando-se até o momento de uma pesquisa com caráter
essencialmente quantitativa.
O principal objetivo das pesquisas descritivas é o de descrever as características de determinado
fenômeno, a partir de dados primários, obtidos originalmente por meio de entrevistas pessoais ou discussões
em grupo [3], sendo o questionário e a observação sistemática suas principais técnicas padronizadas de
coleta de dados [4].As pesquisas conclusivas são caracterizadas por possuírem objetivos bem
definidos,procedimentos formais, serem bem estruturadas e dirigidas para a solução de problemas ou
avaliação de alternativas de cursos de ação [5].A pesquisa descritiva é um tipo de pesquisa conclusiva, tendo
como principal objetivo descrever algo. Supõe que o pesquisador tenha conhecimento anterior sobre o
problema [6].
Dando prosseguimento ao estudo, necessitou-se de um efetivo domínio do assunto, assim, para ter-se
um bom embasamento teórico a pesquisa assumiu também critério qualitativo, necessitando de livros, artigos
e reportagens publicadas em jornais. No decorrer da pesquisa, pode-se citar como limitações que surgiram no
decorrer da pesquisa, a necessidade de informações mais aprofundadas e precisas sobre a atividade comercial
de uma determinada localidade para auxiliar na interpretação dos dados coletados.

*shaikochhann@yahoo.com.br
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3. Resultados e Discussão
Ao analisar cuidadosamente o comportamento importador e exportador da região noroeste do estado
do Rio Grande do Sul, utilizando o critério de quantidade e fluxo monetário razoável para o estudo,
observou-se um cenário novo no ramo do comércio exterior, sendo ainda pouco explorada pelos municípios.
O modelo de desenvolvimento ideal é aquele que se fundamenta na combinação da expansão rápida
das exportações, com substituições seletivas de importações, proporcionando transferência de tecnologia e
diversificando interdependências entre as atividades econômicas [7].
No entanto, a quantidade exportada no Rio Grande do Sul em US$ FOB, no ano de 2009 foi de
15.236.112.600. Logo, ao examinar a região noroeste, concluiu-se que esta é responsável por 2,35% da
participação total na balança comercial da região.
Quanto as importações, que somam no estado um total de 7.219.892.805, a participação da região
noroeste representa 5,40% da atuação na região sul.
Logo, pode-se perceber que a região noroeste proporciona uma relação contínua de exportação com a
Argentina, Alemanha, Chile, Estados Unidos, Irlanda, Venezuela, Itália, Reino Unido e Uruguai, além de
agregar valor ao nosso estado, com produtos da Argentina, Estados Unidos, Hong Kong, Itália, Uruguai e
Venezuela.
Foi constatado, no início do século passado, que a alocação de recursos voltados à exploração das
economias de escala e de escopo não era mais suficiente para obter os resultados na mesma proporção. Os
mercados próximos, locais e nacionais, não conseguiam mais absorver o volume produzido e os gestores
corporativos se depararam com a necessidade de criar estruturas logísticas complexas para a distribuição da
produção para atingir os mercados mais distantes. Estas mudanças em comunicações e transporte
acompanhadas de inovações institucionais deliberadas e mudanças tecnológicas transformaram, a partir da
década de 60, o panorama mundial [8].
Porém, podemos salientar que nesta prática regual de comércio, ao longo dos quatro anos
anteriores,a região noroeste proporcionou alianças no que diz respeito a cadeia de fornecedores com os
países citados, em função da credibilidade adquirida ao longo deste tempo.

Participação dos COREDES na região noroeste


50%
45%
40%
Participação %

35%
30%
25%
20%
15%
10%
5% exportação
0%
importação
Alto Jacuí Celeiro Médio Noroeste Norte Produção Rio da
Alto Colonial Várzea
Uruguai
COREDEs

Fonte: Informações extraídas de: MDIC


Fig. 1: Gráfico da participação dos COREDEs na região noroeste do estado

De acordo com o gráfico, foi efetivado um comparativo entre os COREDEs da região mapeada,
percebendo-se que ao longo dos anos (de 2005 a 2009) houve um crescimento das exportações e importações
em valor FOB, assim, o gráfico acusa as regiões que mais se destacam neste campo de negociações,
procurando representar essa evolução em porcentagem. Percebe-se também que no decorrer deste período,
houve um considerável desenvolvimento do C-Norte e o C-Produção, porém estes não possuem caráter
evolutivo, mesmo que tais regiões negociem suas mercadorias em grande quantidade e valor negociado, pois
suas atividades econômicas oscilam, porém o C-Alto Jacuí acusa característica de desenvolvimento contínuo,
por contribuir cada vez mais sobre sua participação na balança comercial da região noroeste.

4. Conclusão

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

No entanto,ao investigar isoladamente a porção noroeste do estado,por COREDEs, é importante


salientar que trata-se de uma região com atividades comerciais recentes,em razão de alguns COREDEs
iniciaram esta prática a poucos anos.
Porém,no que diz respeito as exportações da região analisada,ou seja,dos sete COREDEs
estudados,pode-se citar os que mais incidiram valor sobre a região são: C- Médio Alto Uruguai,Alto Jacuí e
Produção que mesmo proporcionando uma queda brusca do valor FOB exportado,não se pode deixar de
mencionar ,pois mantém uma participação substancial constante,exceto no ano de 2007.
Por se tratar de uma cenário essêncialmente agrícola,os produtos relacionados a prática comercial da
região, onde apresenta ser a base da econômia local ,são: soja em grãos e seus
derivados,trigo,arroz,milho,maquinas agricolas para o cultivo dessas culturas,couro e metais laminados.
Já no que diz respeito a ativiade importadora, o COREDE Produção, Norte a Alto Uruguai pelo fato
de não apresentarem grandes oscilações no fluxo de produtos comercializados e volume considerável
negociado, mantém uma boa representatividade neste ramo comercial.
Pode-se concluir que, no entanto, a região estudada aponta um vasto campo na área do comércio
exterior, onde percebe-se boa relação com sua cadeia de fornecimento, por apontar uma continuídade do
fluxo das mercadorias exportadas e importadas, onde alguns municípios aos poucos estão se inserindo neste
novo setor econômico.

Referências:
4. GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo. Atlas. 1991
KAPLAN, R. S.; NORTON, D. P. A estratégia em ação: balanced scorecard. Rio de Janeiro:
Campus, 1997.
6. MALHOTRA, Naresh K. Introdução à pesquisa de Marketing, São Paulo, Pearson, 2005.
1. MARTINELLI, Dante Pinheiro, JOYAL, André. Desenvolvimento local e o papel das pequenas e
médias empresas. Barueri: Manole, 2004.
5. MATTAR, Fauze N. Pesquisa de Marketing, 3ª ed. São Paulo, Atlas,2001.
3. SAMARA, B. S. e BARROS, J. C. Pesquisa de Marketing: Conceitos e Metodologia. São
Paulo: Makron Books, 1997.
8. SEAPERLANDA, Anthony. Multinational enterprises and the global market. Journal of
Economic Issues; Jun 1993; 27, 2; pg. 605.
7. SOUZA, N. J. Conceito e aplicação da teoria da base econômica. Perspectiva Econômica. São Leopoldo:
Unisinos, v.10, n.25, p.117-130, mar.1980.g.
2. YIP, G. Global Strategy.In a World of Nations? In:Sloan Management Review, vol 31, n.1, p.29-41,and
1989.

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MODELAGEM DA PRODUÇÃO DE LEITE NO COREDE RIO DA VÁRZEA DO RIO


GRANDE DO SUL

Jaqueline Silinske¹*; Rosane Maria Kirchner1; Eniva Miladi Fernandes Stumm2; Joana K Benetti
¹UFSM/Universidade Federal de Santa Maria/Cesnors/RS
²UNIJUI/Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul

1. Introdução
Nas últimas duas décadas o setor leiteiro brasileiro tem passado por vários progressos contínuos,
resultantes de ventos que transformaram os conceitos em relação a cadeia produtiva do leite, tais como
modificações decorrentes da abertura do mercado externo, carência de leis que regulamentassem o mercado,
ampliação de capital estrangeiro, progresso de empresas privadas e inovações de ordem técnica e
organizacional [2,3].
A liberação do mercado, a implantação do Mercosul, o término da influência governamental no preço
e o equilíbrio da economia tiveram como conseqüência a mudança no cenário leiteiro e a nova inter-relação
entre os setores industriais [6].
Outro fator importante neste setor é a diversidade edafoclimática no Rio Grande do Sul, sendo que
este apresenta condições propícias para desenvolvimento da pecuária leiteira com animais de raças
especializadas [5].
A cadeia produtiva de leite é um dos setores agroalimentares brasileiros em desenvolvimento,
passando por um processo de ajustamento, empenhando-se para superar os problemas de natureza estrutural
e de base tecnológica. A implantação dos Conselhos Regionais de Desenvolvimento (COREDES) no RS,
podem contribuir no desenvolvimento desta área. Estes têm como missão ser um espaço, em nível regional,
que se destine a construir parcerias, tanto econômicas quanto sociais, apropriando-se da articulação política
que tenha interesses locais e regionais e que se centre em preparar estratégias específicas para o
desenvolvimento do Rio Grande do Sul [1].
A modelagem e a previsão são ferramentas que podem contribuir para a gestão do respectivo setor e,
neste contexto, a presente pesquisa busca, a partir da utilização de dados históricos, conhecer o
comportamento da produção de leite comercializada no COREDE Rio da Várzea/RS, modelando e
realizando previsões.

2. Metodologia
Os dados históricos para análise foram coletados no site do IBGE, envolvendo o período de 1974 a
2008. O análise da série temporal foi por meio da metodologia Box & Jenkins, sendo que esta compreende a
identificação da estrutura de uma série temporal, bem como a criação de um modelo que possibilita realizar
projeções. Na modelagem se utiliza o princípio da parcimônia, isto é, seleciona-se o modelo com o menor
número de parâmetros possíveis e na construção do modelo utilizou-se o ciclo iterativo, que é uma estratégia
de construção de vários modelos até que seja encontrado o mais satisfatório [4]. Utilizou-se o software SPSS
8.0, a fim de conhecer o comportamento da produção de leite produzido no Corede Rio da Várzea/RS e obter
a previsão para o período de 2009 a junho de 2011.

3. Resultados e Discussão
A particularidade do setor produtivo de leite no Brasil é o fato de estar inserido no agronegócio
nacional, representado pela esfera produtiva, de industrialização e negociação de leite e seus derivados,
sendo encontrado em todas as regiões do âmbito nacional, influenciando no desenvolvimento de empregos e
renda, bem como no fornecimento de alimentos para os cidadãos [7]. Diante disso é de suma importância a
realização de projeções para colaborar para o desenvolvimento do setor produtivo de leite, bem como, para
identificar o crescimento ou a estabilização de renda para as pessoas que dependem desta atividade
produtiva.
Na análise de modelos paramétricos lineares, uma das formas para a identificação da estrutura destes
modelos são os correlogramas, isto é, a função de autocorrelação (FAC) e a função de autocorrelação parcial
(FACP). Na presente pesquisa a função de autocorrelação (FAC) apresentou um decaimento exponencial,
enquanto que a função de autocorrelação parcial (FACP) demonstrou um pico na primeira defasagem e uma
queda brusca nas demais verificando a existência da componente AR na série (ver Fig. 1 e 2). A seguir,
iniciou-se o processo de identificação da ordem do modelo, na tentativa de encontrar aquele que melhor se
ajustasse. Foram testados vários modelos, comparando os resultados da significância dos parâmetros, dos
critérios de AIC (Akaike Information Criteria), análise dos resíduos, dentre outros.

*jaquelinesilinske@yahoo.com.br
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RIO_VARZ RIO_VARZ
1,0 1,0

,5 ,5

0,0 0,0

-,5

Partial ACF
Conf idence Limits -,5
Confidence Limits
ACF

-1,0 Coef f icient


-1,0 Coefficient
1 3 5 7 9 11 13 15
1 3 5 7 9 11 13 15
2 4 6 8 10 12 14 16
2 4 6 8 10 12 14 16

Lag Numb er
Lag Numb er

Fig. 1: FAC – Função de autocorrelação Fig. 2: FACP – Função de autocorrelação


parcial

Na modelagem realizada, o modelo selecionado, considerado o mais parcimonioso, foi um AR(1),


sendo este utilizado para prever a produção de leite comercializada no COREDE Rio da Várzea/RS, nos anos
seguintes. A estimativa do coeficiente ϕ foi de 0,999 com p = 0,000001 (altamente significativo).

RESIDUOS
1,0

,5

0,0
Partial ACF

-,5
Confidence Limits

-1,0 Coefficient
1 3 5 7 9 11 13 15
2 4 6 8 10 12 14 16

Lag Number

Fig. 3: FAC dos resíduos

A fig. 3 apresenta a FAC dos resíduos do modelo selecionado, observando-se um comportamento


aleatório, sem apresentar defasagem significativa, isto é, um ruído branco, confirmando novamente a
adequação do modelo.
Na tab. 1 são mostradas as previsões do comportamento da produção de leite comercializada no
COREDE Rio da Várzea/RS, para o período de 2009 a 2011 e os valores estão dispostos na Tabela 1.

Tab. 1 – Previsões para a produção de leite comercializada


Período Previsão
2009 150732,9
2010 150729,8
2011 150726,8

4. Considerações Finais
Os resultados deste estudo são importantes e podem ser utilizados por gestores do setor de produção
leiteira, no sentido de favorecer o planejamento e estratégias para a demanda do mesmo.

Referências
1. BECKER, D. F. A Organização Social Pró-Desenvolvimento Regional do Rio Grande do Sul - PRÓ-RS
II. Santa Cruz do Sul, v. 2, EDUNISC. 2001.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

2. CHADDAD, F. Cooperativas no agronegócio do leite: mudanças organizacionais e estratégicas em


resposta à globalização. Organizações Rurais e Agroindustriais. V. 9, p. 69-78, 2007.

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30, p. 302–315, 2005.
4. GUJARATI, D. N., Econometria básica. 3. ed. Makron Books, São Paulo (2000).
5. MARTINS, P. R. G.; SILVA; C. A.; FISCHER, V.; RIBEIRO, M. E. R.; JÚNIOR, W. S.; ZANELA, M.
B. Produção e qualidade do leite na bacia leiteira de Pelotas-RS em diferentes meses do ano. Ciência Rural.
V.36, n.1, jan-fev, 2006.
6. PRIMO, W. M. Restrições ao Desenvolvimento da Indústria Brasileira de Laticínio. In: VILELA et al.
(1999), (ed.). Restrições técnicas, econômicas e institucionais ao desenvolvimento da cadeia produtiva
do leite no Brasil. Brasília: MCT/CNPq/PADCT, Juiz de Fora: EMBRAPA – CNPGL, 1999. 211 p. p. 72-
127.
7. YAMAGUCHI, L. C. T., MARTINS, P. C., CARNEIRO, A. V. Produção de Leite no Brasil nas três
últimas décadas (2001). In: GOMES, A.T. LEITE, J. L. B. e CARNEIRO, A. V. Agronegócio do leite no
Brasil. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 2001. 262p.

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RESUMO: NOVAS CAPACIDADES DO SERVIDOR PÚBLICO FRENTE Á


CONTEMPORANEIDADE.

Primeiro Sulivan Desirée Fischer1*; Segundo Autor Dalva Magro2;


1
Universidade Federal da Bahia - UFBA
2
Faculdade de Economia da Universidade do Porto – FEP.UP

1. INTRODUÇÃO

Os estudos de administração pública tomaram nos últimos anos um caminho onde o processo político é
central para as operações governamentais. Como resultado das atividades governamentais tem-se as
políticas, a qual para alguns estudiosos abarca o campo da administração pública como foco de educação e
prática. Este campo tem oferecido um novo conjunto de categorias para se observar a ação do governo, como
também, um novo conjunto de habilidades têm sido exigidos por quem ingressa no serviço público 3. Neste
afã, tem-se por um lado a Nova Gestão Pública (NGP) conhecida também no Brasil como Administração
Pública Gerencial (APG) com suas raízes em desenvolvimentos práticos de administração pública do mundo
todo e idéias de reinvenção do governo defendidas por Osborne e Gaebler 10 e de outro lado, como uma
alternativa para a Nova Gestão Pública, o Novo Serviço Público (NSP).
Estas abordagens alternativas à gestão impõem aos servidores públicos uma nova conexão entre o
conhecimento, habilidades e competências para o exercício de suas atividades, e à área de Recursos
Humanos (RH) a inspiração para o desenvolvimento de novas competências que habilitem o servidor público
ao exercício das exigências de cada abordagem. Como expõe Oszlak 11, se o perfil do Estado se modifica,
as demandas de formação dos servidores públicos tendem também a se modificar.
A proposta deste artigo é apresentar resumidamente o perfil do Estado frente às duas abordagens: a Nova
Gestão Pública e o Novo Serviço Público e em seguida discutir o perfil do servidor público frente a cada uma
das abordagens, e apresentar algumas considerações sobre o papel da área de Recursos Humanos neste
processo, como co-responsável no desenvolvimento das novas competências do servidor público para o
desempenho de suas atividades.
Concluímos que não existem modelos puros, mas que as modificações nos perfis do Estado impõem
novas regras de condução da res pública, exigindo do servidor publico novas posturas e á área de Recursos
Humanos conseqüentemente, o dilema entre desenvolver políticas de capacitação ao servidor público
inspiradas em imperativos ético-políticos ou em considerações de mercado 11, 3.

2. PERFIL DO ESTADO FRENTE Á NOVA GESTÃO PÚBLICA

Dos propósitos da Nova Gestão Pública, autores como Ferlie et al 5 reconhecem que não há uma
definição consensual sobre o que é ou o que deveria ser a Nova Gestão Pública (NGP), o que não significa
dizer que esteja ausente de um referencial teórico e conceitual que lhe imprima uma unidade de narrativa.
Em sua essência, a NGP procura organizar e operacionalizar a administração pública e seus agentes de forma
a melhorar o desempenho, aumentar sua eficiência, evitar corrupção e desperdícios, tornando a
Administração Pública mais transparente e competente por meio da atribuição de responsabilidades 15.
Descrita por autores como Hood 7, Pollitt 13, 14, Jackson 6, a NGP possui as seguintes
dimensões: Gestão profissional, medidas de desempenho, transparência na relação custo, responsabilização,
maior competição, introdução de instrumentos de gestão privada, e maior ênfase na qualidade do serviço.
Pimenta 12, de forma mais sucinta a descreve como alicerçada na desburocratização, descentralização,
transparência, accountability, ética, profissionalismo, competitividade e enfoque no cidadão.
Em sua forma de organização este modo de gestão transforma a administração pública promovendo a
fragmentação do sistema, concedendo autonomia aos entes e efetuando a separação de tarefas. Isto tudo para
incentivar a competição. O Estado assume uma posição minoritária financiadora e decisória nas Políticas
Públicas, já que os demais entes assumem as posições de unidades produtivas. As organizações deixam de
ser organizações multi-objetivos, com um vasto campo de atuação, passando a serem agências com objetivos
de negócio altamente identificados 8, 10.
Desta perspectiva, a NGP introduziu novas técnicas e um novo conjunto de valores, especificamente
tomados do setor privado 4, afastando-se das formas tradicionais da burocracia pública. Esta nova
abordagem exige um novo perfil dos servidores públicos, que são cobrados pelo desenvolvimento de suas

*
Autor Correspondente: sulivan.fischer@gmail.com
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atividades pautadas em uma postura de mercado, de estilo empreendedor, calculativo, alicerçado em índices
de produtividade.

3. PERFIL DO ESTADO FRENTE AO NOVO SERVIÇO PÚBLICO

O Novo Serviço Público apresentado por 4 como uma alternativa à Nova Gestão Pública está
fundamentado na promoção da dignidade, reafirmando valores da democracia, cidadania e interesse público.
O modo de ação do Estado frente ao NSP exige uma gestão que favoreça a compreensão, o consenso, a
comunicação e a participação ativa e autêntica dos cidadãos no desenvolvimento da política. Os cidadãos
devem participar dos diferentes estágios do ciclo de políticas públicas, identificando problemas e
implementando soluções em regime de colaboração com o Estado. Esta participação mais ativa dos cidadãos
em todo o processo de política pública conduz ao comprometimento destes com as ações do Estado, e do
Estado com os interesses dos cidadãos.
Essa forma mais participativa institui instâncias mediadoras para o diálogo e a deliberação e servem
simultaneamente como espaço de reconhecimento dos interesses da comunidade e troca de experiências,
propiciando a restauração da cidadania democrática, o compromisso com os valores da comunidade, suas
normas e sentimentos compartilhados, senso de pertencimento a uma localidade.
A inspiração de Denhardt e Denhardt 3 para o NSP está na teoria política democrática e de abordagens
alternativas à gestão e ao modelo organizacional de tradição mais humanista na teoria da administração
pública. A preocupação do governo deve estar voltada para a construção de uma sociedade civil, com o
renascimento do espírito democrático, onde o interesse coletivo deve permear a escolha de alternativas para a
solução de problemas da comunidade. Estes interesses devem ser compartilhados entre governo, cidadãos,
grupos, representantes eleitos e outras instituições 4.
Denhardt (2004) definiu sete princípios chave para o Novo Serviço Público, a saber: Servir a cidadãos,
não a consumidores; visar o interesse público; dar precedência à cidadania e ao serviço público sobre o
empreendedorismo; pensar estrategicamente, agir democraticamente; reconhecer que a accountability não é
simples; servir em vez de dirigir; dar valor às pessoas, não apenas à produtividade.
Nesta forma de gestão, o Estado tem a responsabilidade de promover a cidadania e servir ao interesse
público. O compromisso do governo é formar cidadãos mais conscientes para lidarem com os problemas
públicos, visando o interesse comum, ao invés do auto-interesse. A idéia é de um Estado que possua outras
coisas além de habilidade técnica, i.e., um centro de relações e obrigações éticas 4.

4. PERFIL DO SERVIDOR PÚBLICO FRENTE Á NOVA GESTÃO PÚBLICA

Na Nova Gestão Pública os servidores pautam suas ações pelas ações do governo que atua não mais
como executor, mas sim como catalisador, como instigador do cidadão na resolução dos problemas, ao invés
de servi-lo. O governo se guia por uma missão previamente estabelecida, impõe metas e cobra resultados,
reservando-se o status de planejador e avaliador. A execução é feita por meio da descentralização de tarefas
e por vezes até pela terceirização dos serviços.
Boaventura Santos 1 critica esta nova gestão publica por considerá-la como oposto a uma necessária
“refundação democrática da administração pública”. Considera que propõe um “Estado-empresário”: que
promove a concorrência entre os serviços públicos, centra-se em objetivos e resultados mais do que na
obediência a regras, preocupa-se mais em obter do que em gastar recursos, transforma os cidadãos em
consumidores e descentraliza o poder segundo mecanismos de mercado. Para atuar neste modelo o servidor
público deve estar motivado para a competição.
Dado este tipo de gestão o governo atuar como catalisador de idéias, governando para a competitividade,
guiado por uma missão orientada para resultados, o perfil dos servidores não pode se distanciar do perfil
exigido pela iniciativa privada, ou seja, um perfil empreendedor, no qual o servidor é capaz de tomar
decisões voltadas para a obtenção dos recursos necessários para que as metas sejam conquistadas. O servidor
neste caso necessita ser um líder e ter liberdade para agir no momento em que as situações estão ocorrendo
de forma a não perder o time.
Para a população, o lado bom deste comportamento fica por conta da agilidade com que as metas acabam
por serem cumpridas, porém a adoção coletiva de uma agenda estabelecida em função de interesses
econômicos e pela lógica de se fazer carreira faz com que o servidor desenvolva suas habilidades de uma
forma mais agressiva visando a obtenção dos resultados esperados no menor tempo possível, já que neste
modelo as avaliações para progressão funcional também estão baseadas em resultados.
Denhardt (2004), por sua vez, chama a atenção para o lado “sombra” do empreendedor, por centrar seu
foco de ação relacionado a metas. Pois, muito embora, estes profissionais tenham a habilidade de criar e
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inovar, o que é bom, também está predisposto a assumir riscos em excesso e por vezes em nome dos
resultados passam por cima de pessoas e princípios.

5. PERFIL DO SERVIDOR PÚBLICO FRENTE AO NOVO SERVIÇO PÚBLICO

No novo serviço público os servidores públicos devem se concentrar na construção de relações de


confiança com e entre os cidadãos visando desenvolver atividades conjuntas de forma colaborativa,
buscando encorajar os cidadãos a aprenderem a cumprir com suas responsabilidades como cidadãos 4. O
exercício da cidadania deve ser compreendido como uma questão de responsabilidade e moralidade.
A atenção do servidor público que atua em um Estado pautado na abordagem de gestão do NSP deve
segundo Denhardt 4 ir além dos estatutos legais e normas políticas. O servidor público deve ter a
consciência de que suas obrigações abrangem um campo muito mais amplo que o puramente técnico de
alocação adequada de recursos para os programas. Suas obrigações são desafiadoras e até heróicas segundo
Denhardt 4, pois envolvem na operação do governo o senso de cidadania, a idéia do interesse público, de
servidores públicos a serviço de cidadãos. Sua consciência deve reconhecer que os cidadãos são os donos do
governo e que juntos é possível promover um bem maior à comunidade, onde os interesses coletivos
cerceiam as escolhas. Os valores comunitários devem ser reconhecidos pelo servidor e este deve estar
motivado por um desejo de servir aos outros e de atingir os objetivos públicos 4.
Da perspectiva do NSP os administradores públicos devem compartilhar poder, liderar com
compromisso e integridade 4 respeitando os cidadãos. Devem ter em mente que eles não são os únicos
atores envolvidos no processo de construção da política pública. Como expõe Cooper (apud 3 o
administrador público deve se apoiar na ética da responsabilidade para encorajar a participação dos cidadãos
no processo de planejar e de prover bens e serviços públicos.
O servidor público deve ter em mente que a participação do cidadão no processo é essencial para a
criação e manutenção de uma comunidade política autônoma. É por meio desta participação ativa que os
cidadãos deixarão de clamar por demandas para satisfazer suas necessidades de curto prazo e passarão a
participar da governança. Governança compreendida como “[...] a ação conjunta, levada de forma eficaz,
transparente e compartilhada, pelo Estado, pelas empresas e pela sociedade civil [...] (Löffler apud Kissler;
Heidemann, 2006, p.482). É por meio desta ação conjunta que soluções inovadoras para os problemas sociais
tenderão a surgir afirma Löffler.
Neste processo, cidadãos aprendem mais sobre o governo e o governo aprende mais sobre os cidadãos; o
resultado destas articulações é o fortalecimento da comunidade, das relações de confiança e o alcance de
benefícios mútuos, tornando a sociedade civil mais forte e politicamente articulada.

5. CONSIDERAÇÕES SOBRE O PAPEL DO RH NO DESENVOLVIMENTO DO SERVIDOR PÚBLICO


FRENTE Á CONTEMPOERANEIDADE

Estas duas abordagens produzem formas de gestão diferenciadas, que refletem um sentido ou significado
sobre a forma de gerir a “coisa pública”. Devemos estar conscientes de que as teorias sobre a organização
pública, assim como as próprias organizações públicas, são produtos da atividade humana e neste sentido,
possíveis de serem modificados, ainda que estes modelos jamais permaneçam em suas formas puras, pois
estes são “tipos ideais”.
Ainda que pareça paradoxal, a mudança na forma de gestão impõe ao servidor público a necessidade de
novos conhecimentos que sirvam de suporte para o seu discernimento na tomada de decisões. A Nova Gestão
Pública que dominou mentes e corações no Brasil na década de 90 está ancorada na idéia de que o papel do
governo é liberar as forças do mercado de forma a facilitar a decisão individual e obter eficiência. Como
expõe Denhardt 4, espera-se que os servidores públicos sejam empreendedores de risco que realizam os
“melhores negócios” e reduzam custos. Neste sentido o papel do RH frente a um governo ancorado por esta
lógica é preparar este servidor para agir pautado nos imperativos de mercado e tratar o cidadão como
consumidor de seus serviços.
O Novo Serviço Público em contraste trata o cidadão como cidadão e não como consumidor. As
operações do governo devem estar permeadas pelo senso de cidadania. O servidor público deve estar
imbuído do sentido ético nas suas ações profissionais, respeitando a todas as pessoas e encorajando o cidadão
na participação dos diferentes estágios para prover bens e serviços públicos. Frente a este contexto o papel
do RH está no desenvolvimento da consciência baseada em imperativos ético-políticos 11 na sua
conscientização de que o Estado é um centro de relações e obrigações éticas 4 onde o cidadão deve ter voz

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

e vez, participando das decisões e seu compromisso vai além do cumprimento de atividades meramente
técnicas, seu papel é servir ao interesse público.

BILIOGRAFIA
1 SANTOS, Boaventura S. Para uma reinvenção solidária e participativa do Estado. In: Bresser-Pereira,
L.C.; Wilheim, J.; Sola, L. (orgs.) Sociedade e Estado em Transformação. São Paulo-Brasília:Unesp-
Imesp- Enap, 1999.
2 PIMENTA, C.C. (1998) A reforma gerencial do Estado brasileiro no contexto das grandes tendências
mundiais. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, vol. 32, n.3, p.173-199, 1998.
3 DENHARDT, Janet V.; DENHARDT, Robert B. The new public service: serving, not steering. New
York : M.E.Sharpe, c2003. cap.6, p.103-117.
4 DENHARDT, Robert. Teoria Geral de Organizações Públicas. 4.ed.Tradução: Francisco G. Heidemann.
Thomson/Wadsworth, 2004.
5 FERLIE, Ewan et alii. A nova administração pública em ação. Brasília:Edunb; Enap, 1996.
6 JACKSON, P. 1994. The new public sector management: surrogate competition and contracting out in
Peter Jackson and Catherine Price (ed) Privatization and regulation: A review of the issues New York
7 HOOD, Christopher 1991. A Public Management for all season. Public Administration Review vol. 68:3-
19.
8 KETTL, Donald F. 2000. The Global Public Management Revolution. Bookings Institution Press.
Washington, D.C.
9 KISSLER, L; HEIDEMANN, F. Governança pública: novo modelo regulatório para relações entre
Estado, mercado e sociedade? Revista Brasileira de Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 40, n. 3, p.
479-499, 2006.
10 OSBORNE, David; GAEBLER, Ted. 1992. Reinventando o governo: como o espírito empreendedor
esta transformando o setor publico. 7. ed. Brasilia: MH Comunicação,
11 OSZLAK O. 1995. As demandas de formação de administradores públicos frente ao novo perfil de
estado. Revista Serviço Público.Brasília 119 (1):45-67.
12 PIMENTA SANTOS B.S. 1999. Para uma reinvenção solidária e participativa do Estado. In: Bresser
Pereira, L.C; Wilheim, J. Sola L. Sociedade e Estado em Transformação. São Paulo-Brasilia: UNESP-
Imesp-Enap. P.243-271
13 POLLITT, C. 1993. Managerialism and the Public Services: the Anglo-American Experience. Oxford;
Basil Blackwell.
14 POLLITT, C. 2003. The essential public manager, Maidenhead/Philadelphia: Open University Press.
15 WARRINGTON, E. 1997. Tree Vies of the New Public Administration. Public Administration and
Development Vol. 17, 3-12

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O REGISTRO DE MARCA COMO DIFERENCIAL DE COMPETITIVIDADE PARA AS


MICROEMPRESAS DE BLUMENAU

Autor1*Fernando Gavião Souza


1
FAE-Blumenau

1. Introdução
O presente artigo é um recorte de um trabalho de conclusão do curso de administração de empresas
da FAE – Blumenau. Com o passar dos tempos muitos produtos e serviços surgem, novas idéias são
disponibilizadas publicamente e com isso criam-se marcas. A presente pesquisa teve como objetivo analisar
a percepção da importância do registro da marca na visão das microempresas de Blumenau. Para tal, foi
realizada uma pesquisa descritiva e de campo. E os dados foram coletados com um questionário aplicado
para uma amostra de 226 microempresas. A interpretação dos dados permitiu concluir que as vantagens
obtidas estão associadas ao objetivo dos empreendedores quando de sua solicitação de registro junto ao
Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).

Palavras-chave: Marca, Vantagens Competitiva, Microempresa

A marca é, de fato, o ponto de referência de todas as impressões positivas e negativas formadas pelo
consumidor ao longo do tempo, quando encontram-se os produtos da marca, sua rede de distribuição, seu
pessoal, sua comunicação.
A marca de uma organização na forma como a conhecemos desempenha um papel de identificação.
Se notarmos a séculos este processo é realizado, como afirma Pinho [1], por exemplo, na fase pastoril, onde
bois e cavalos que eram utilizados para trabalhos de tração, eram marcados a ferro para se ter o controle da
propriedade.
Quando surgiu na Revolução Industrial, que teve seu inicio na Inglaterra e logo se estendeu para
vários países. Segundo Soares [2], com o adentrar da Idade Contemporânea, “cada fabricante ou comerciante
procurava assinalar os seus produtos com um sinal que os distinguisse dos demais iguais ou semelhantes e de
procedência diversa, através de uma marca que lhe garantia a propriedade”.
Com o fim da 2ª Guerra Mundial as marcas formam uma importante manifestação econômica, com
seus efeitos sendo intensificados pelo uso de instrumentos da mercadologia, passando então a ser um bem
intangível de extrema importância para a sociedade empresarial.
O simples fato de ter o registro na Junta Comercial não protege a marca além das fronteiras do
Estado no qual a empresa está registrada, já a marca registrada no INPI tem abrangência nacional. Portanto,
não basta criar e promover uma marca. De nada adiantam os altos investimentos na marca, se esta não for
registrada. Marca não é somente marketing. Marca não é somente publicidade. Marca é um bem.

2. Método
Como o objetivo desta pesquisa é saber a importância do registro de marca para as microempresas de
Blumenau, temos que a pesquisa em relação ao objetivo é descritiva com abordagem qualitativa.
Para Andrade [3], “nesse tipo de pesquisa, os fatos são observados, registrados, analisados,
classificados e interpretados, sem que o pesquisador interfira neles.”
Gil [4] ao referir-se as pesquisas descritivas afirma que seu objetivo principal é a descrição das
características de determinadas população ou fenômeno.

3. Resultados e Discussão
Microempresa é um conceito criado pela Lei n. 7.256/84 e, atualmente, regulado pela Lei n. 9.841,
de 5.10.99, que estabelece normas também para as empresas de pequeno porte, em atendimento ao disposto
nos arts. 170 e 179 da Constituição Federal. [5]
Costuma-se afirmar ao se conceituar marca que ela tem a função de distinguir produtos ou serviços
de um empresário em relação aos produtos ou serviços de outro empresário. Existem várias formas de se
conceituar uma marca, assim como existem alguns tipos e forma de apresentação.
Em consonância com o artigo 122, da Lei nº 9.279/96, as marcas são sinais distintivos visualmente
perceptíveis, não compreendidos nas proibições legais, suscetíveis de registro, que irão identificar serviços e
produtos. [6]

*
Autor Correspondente: fernandosbrs@gmail.com
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O grande problema em se reconhecer a possibilidade de marcas não palpáveis concretamente pelo


sentido da visão é a materialização do registro que funciona como um mecanismo probatório da propriedade
intelectual em benefício do trabalho e atividade do empresário, e lhe confere exclusividade de seu uso, sem
mais indagações.
O uso indevido de marca gera conseqüências tanto de ordem patrimonial quanto de ordem moral.
Assim, é preciso que a marca tenha proteção especial.
O artigo 59 do antigo Código da Propriedade Industrial Brasileiro Lei nº 5.772, dispõe:

será garantida no território nacional a propriedade da marca e o seu uso exclusivo


àquele que obtiver o registro de acordo com o presente Código, para distinguir seus
produtos, mercadorias ou serviços, de outros idênticos ou semelhantes, na classe
correspondente à sua atividade.[7]

Na figura 1 pode-se observar um fluxograma que apresenta uma síntese do processo da solicitação de
registro de marca e possíveis acontecimentos:
PASSO A PASSO DA SOLICITAÇÃO DE REGISTRO DE MARCA E POSSÍVEIS
ACONTECIMENTO

Fig. 1 - Fluxograma do Passo a passo da solicitação de registro de marca e possíveis acontecimentos.

As microempresas de Blumenau vêem no INPI um forte aliado, pois, na visão destas microempresas
o INPI significa maior segurança para a publicidade de suas marcas, além de exclusividade, assim estas
recorrem ao Instituto com o intuito de buscar principalmente um diferencial ao dispor sua marca
publicamente, a pesquisa elaborada neste trabalho expõe a importância do registro de marca para
microempresas que buscam serem lembradas pelo consumidor. Venturi [8] diz que “Marca só é marca
quando marca (...) Marca transmite segurança, qualidade e satisfação, representa a imagem da imprensa”.
A forte concorrência nos setores comerciais e de serviço obriga as microempresas a inovarem e estas
de acordo com a pesquisa aplicada, apresentaram ter a marca como uma das principais ferramentas de gestão
de negócio, tendo em vista os direitos que se tem sobre sua marca registrada. O registro da marca surge entre

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as microempresas para ser um diferencial no mercado, evita que sua marca seja plagiada e através de um
trabalho de marketing eficiente trás resultados significantes para esta microempresa.

Os Direitos Sobre a Marca

Apesar de não ser obrigatório, o registro da marca garante direitos específicos e que são
fundamentais para a defesa do seu negócio. O principal deles é a exclusividade, o que significa dizer que
somente aquele que obteve o registro perante o INPI poderá usar aquela marca para identificar os respectivos
serviços ou produtos que foram selecionados quando do seu pedido de registro.
A proteção conferida pelo registro, por ter um cunho privado, após o primeiro decênio (o registro
tem validade de 10 anos) pode ser renovada por sucessivas e infinitas vezes, enquanto perdurar a exploração,
a utilização da referida marca, obedecidas às regras impostas pela Lei de Propriedade Industrial. A
exclusividade é em todo o território nacional.
Porter (apud HEXSEL, DE TONI)[9] argumenta que “para alcançar e manter vantagem competitiva,
a empresa deve organizar as atividades seguindo um sistema, observando determinadas dimensões”.
Nota-se no dia-a-dia, um considerável aumento da massa de informação disponível, a imagem tem
muita importância neste meio, pois são sinais de identificação de produtos e serviços.
A visibilidade da marca pode indicar liderança, sucesso e qualidade, desta forma será um diferencial
decisivo na decisão da aquisição de um produto ou serviço por parte do consumidor, ou seja, uma vantagem
competitiva.
Para Milkovich e Boudreau:

Uma vantagem competitiva [...] ocorre quando uma empresa implementa uma
estratégia de criação de valor que não esteja implementada simultaneamente pelos
concorrentes de forma real ou potencial, e quando outra organização é incapaz de
copiar os benefícios dessa vantagem [10]

Desta forma, o consumidor passa a perceber o valor de um produto ou serviço por meio de seus
benefícios e o adquire mais por seu valor e benefícios, sendo seu preço algo irrelevante.
Segundo Tavares [11], a marca é um dos ingredientes que as empresas utilizam em suas estratégias
para diferenciar sua oferta. De fato, em muitos casos as marcas dos produtos e serviços constituem o maior
patrimônio da organização.

4. Conclusão
Pode-se dizer que uma marca é a identidade de uma empresa. A marca reflete a imagem do negócio
da empresa e a percepção positiva ou negativa que o consumidor recebe se concretizar na marca as virtudes
ou defeitos de uma empresa.
Na realidade é muito mais fácil vender algum produto ou serviço se o consumidor conhece a marca
destes. Levando isto em consideração, o investimento em marcas proporciona um aumento no volume de
vendas, proporcionando um aumento do lucro da empresa – o seu real objetivo. Uma microempresa que
consegue manter, cuidar, e principalmente gerenciar de forma profissional a sua marca, tem grandes
possibilidades de sucesso no mercado.
A interpretação dos dados coletados em campo com os fundamentos elaborados na pesquisa
bibliográfica permitiram concluir que algumas empresas-cliente não conseguiram perceber esta vantagem,
outras agregaram valor a marca após seu registro.
O investimento em uma marca é necessário para tornar o produto e a empresa conhecida, fazendo
alavancar suas vendas (principal fonte de renda de uma empresa). Ao mencionar-se investimento na marca,
imediatamente nos vem à mente a propaganda. De fato, ela é o principal meio de divulgação de uma marca.
E também o mais dispendioso. Porém, as empresas devem encarar o investimento em marca como uma ação
global.
Para evitar aborrecimentos futuros, os empresários devem tomar precauções úteis, em tempo hábil,
ou seja, quando do início da atividade comercial, devem seguir rigorosamente os tramites administrativos
para ver sua marca registrada junto ao INPI e, ao mesmo tempo, pedir o registro junto a rede mundial de
computadores, a figura 2 apresenta os objetivos das microempresas quando solicitam o registro da marca e as
vantagens obtidas após o registro.

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Objetivo Vantagem

Busca Obteve

• Evitar plágios; • Dificuldade de plágios;


• Conseguir exclusividade; • Maior visibilidade;
• Diferencial de mercado; • Expansão da imagem da marca;
• Futuramente abrir franquias; • Exclusividade;
• Expandir seus negócios; • Possibilidade para abrir filiais;
• Evitar que terceiros produzam • Espaço de mercado;
produtos ou serviços com sua
marca; • Segurança;

Fig. 2 – Comparativo de objetivo pretendidos e alcançados.


O exigente e competitivo mercado da era globalizada percebido em Blumenau, exige das
organizações diferenciais competitivos. Sendo assim, as microempresas deverão desenvolver marcas que
agreguem valor aos produtos, pois isto poderá significar a sobrevivência da empresa. Desta forma o que
muitas empresas buscam estrategicamente é poder contar com uma marca protegida e que traga segurança
aos seus consumidores e principalmente a existência desta empresa.
Por fim, os mecanismos que o detentor da marca deve utilizar são basicamente os que estão defesos
na legislação pertinente, ou seja, deve estar atento aos novos pedidos de registro, fazendo as devidas
oposições a estes. Assim terá segurança e exclusividade.

Referências
[1] PINHO, J.B. O Poder das Marcas. São Paulo: Summus, 1996.

[2] SOARES. José Carlos Tinoco. Direito de Marcas. São Paulo: Atlas, 1968. p.13.

[3] ANDRADE, Maria Margarida de. Introdução a metodologia do trabalho científico. 9 ed. São Paulo:
Atlas, 2009. p.114.

[4] GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6 ed. São Paulo: Atlas, 2009.

[5] BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.html> Acesso em: 19 out. 2009.

[6] BRASIL. Lei 9.279/96. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/l9279.htm> Acesso em:


10 set. 2009.

[7]BRASIL. Lei 5.772. Disponível em: <http://www3.dataprev.gov.br/SISLEX/paginas/42/1971/5772.htm>-


Acesso em: 05 nov. 2009

[8] VENTURI, J. L. Desenvolvimento gerencial da Teoria Acadêmica a Prática Empresarial. Rio do


Sul: Nova Era, 2003. p. 225.

[9] HEXSEL, Astor Eugênio and DE TONI, Deonir. Salton: a retomada da vantagem competitiva nos
anos noventa. Rev. adm. contemp. [online]. 2003, vol.7, n.3, pp. 57-75. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rac/v7n3/v7n3a04.pdf.> Acesso em: 25 nov. 2009. p. 59.

[10] MILKOVICH, George T.; BOUDREAU, John W. Administração de Recursos Humanos. São Paulo:
Atlas, 2000. p.136.

[11] TAVARES, J. R. A Força da marca: Como construir e manter marcas fortes. São Paulo: Harbra, 1998.
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ORIENTAÇÃO EMPREENDEDORA ENTRE JOVENS BRASILEIROS: O IMPACTO DA


EDUCAÇÃO, CULTURA E MEIO AMBIENTE

Geanderson de Souza Lenz1*; Fernando Santini2;


1
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul
2
Faculdade da Serra Gaúcha

1. Introdução
O crescente interesse mundial em empreendedorismo é moldar a discussão do acadêmicos e políticos
em uma base regular. As discussões sobre negócios que envolvem até mesmo chefes de Estado, sempre a
temática de criação de futuro próspero e desenvolvimento econômico passa pelo incentivo a novos negócios,
ou seja, ao empreendedor. Empreendedorismo é colocar a idéia em ação. Um dos mais significativos estudos
anuais, o Global Entrepreneurship Monitor (GEM), observam que os níveis da variação empresarial entre
países envolvem inúmeras variáveis que são conjunturais, de todo o país, refletindo esforços diferentes da
atividade empreendedora mundial. Essas variações envolvem uma série de indicativos que precisam ser
analisados de forma mais precisa. Apesar do grande interesse no assunto e do aumento significativo da
artigos e revistas que retratam o tema, o empreendedorismo entre os jovens pessoas continua a ser limitada
aos estudos. [4] HATTEN; RUHLAND; 1995, [2] ] EDE; PANIGRAHI; CALCICH; 1998, [8] ] SAGIE;
ELIZUR; 1999. O seguinte problema de pesquisa surgiu: quais as relações que existem entre orientação
empreendedora e as variáveis cultura, educação e meio ambiente entre jovens brasileiros? Dessa forma, o
objetivo deste trabalho foi verificar o impacto das variáveis cultura, educação e meio ambiente, estimulando
o empreendedorismo entre jovens. Segundo Morris e Schindeutte (2005), examinou duas questões
provocativas em relação a cultura. Primeiro, se empreendedorismo é visto como um fenômeno universal,
como a cultura segue como um fenômeno irrelevante? Em segundo lugar, que o espírito empreendedor de
uma comunidade e a interação com o seu ambiente, a política e as condições econômicas influenciam este
perfil? A conclusão do autor é que sim, que as atitudes empreendedoras se adaptam rapidamente a economia
e circunstancias políticas. Assim, ele acredita que “...os significados culturais, os precedentes para
empreender é movido por fatores interativos e dinâmicos” (p. 472)

2. Método
A natureza de pesquisa do trabalho é quantitativa. Partindo de casos particulares, desenvolvemos uma
teoria que pode ser explicada por relações e descrições [1] . No estagio do planejamento da pesquisa, foram
desenvolvidas as questões e hipóteses e foram identificadas as variáveis de cultura, educação e meio
ambiente. Para o desenho estrutural foi utilizada uma survey, onde variáveis são desenvolvidas para
quantificação. A população é de jovens universitários da cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. A
amostra aleatória e probabilística foi constituída de 83 alunos em uma universidade com idade entre 18 e 24
anos. Para isso, usamos a escala desenvolvida por Levenburg e Schwarz (2008) [5] de orientação
empreendedora entre os jovens. A análise de dados utilizou teste de analise estatística descritiva, e também o
teste t para diferença de médias. pesquisa foi realizada uma estratégia quantitativa, com estatística descritiva
e análise dos dados de o teste de t para a diferença de meios.

3. Resultados e Discussão
Os resultados nas provas de interesse em empreendedorismo sugerem uma proximidade com o estudo
original. Como os recursos com base no interesse em empresa sugerem que os jovens brasileiros têm uma
aversão ao risco mais elevado, apesar seu sonho de ser ligado a desenvolver novas ideias e possibilidades
para novas negócio.
Como a percepção de novas oportunidades de negócios, os resultados são próximos, mostrando que o
Brasil, na visão dos jovens, tem muitas oportunidades e instituição de ensino que incentiva a busca contínua.
Apesar da aproximações resultado, Morris e Schindeutte (2005) [7] questionou se um cada país que variam
em sua atividade empresarial ao longo do tempo relação a choques políticos e econômicos?
Adicionalmente ao impacto da cultura e fatores ambientais, a educação, o aconselhamento e outros
treinamentos empreendedores influenciam esta atividade, principalmente com fatores de idade, e do tamanho
do impacto do debate que ocorre. A questão sobre a possibilidade de ensino do empreendedorismo é ainda
muito incipiente. Apesar disso, os investimentos que tem sido feito pelas nações para educar, treinar e
facilitar o desenvolvimento de empreendedores. Global, havia “vigorosamente e esforços inovativos na
educação empreendedora e treinamento para empreendedores, aqueles que provem recursos e serviços, e

*
Autor Correspondente: geanderson.lenz@restinga.ifrs.edu.br
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

políticas de governo modificadas com a expansão da economia mundial (REYNOLDS ET AL, 2004, p. 238).
Isto faz com que o senso de empreendedorismo tem sido reconhecido como direcionador líder no
desenvolvimento local, regional e de economias nacionais (SCHUMPETER, 1934).

4. Conclusão
Eles concluíram que o empreendedor atitudes de fato parecem se adaptar rapidamente às mudanças
económicas e políticas circunstâncias. Assim, eles concluem que as questões da cultura, mas é menos um
precedente ao empreendedorismo e ao invés de um complexo e dinâmico interagindo factor "(p. 472). A
literatura ea análise não permitem uma clara determinação de como as três forças primárias impacto
empresarial cultura de orientação, educação e meio ambiente, tem interagido de forma a orientação
empreendedora da juventude atual colegiado da Índia. Na verdade, como Morris e Schindeutte (2005) [7]
concluiu, é uma interdependência complexa processo.

Referências

[1] BLACK, T.R. Doing quantitative research in the social sciences: an integrated approach to Research
Design, Measurement and Statistics. 2003.
[2] EDE, F.O., PANIGRAHI, B. & CALCICH, S.E. (1998). African American students’ attitudes toward
entrepreneurship education. Journal of Education for Business, 73: 291–96.
[3] Global Entrepreneurship Monitor (GEM) (2003). GEM global report 2003. Available at:
http://www.gemconsortium.org/document.asp?id=356. Accessed on 04/13/2010.
[4] HATTEN, T.S. & RUHLAND, S.K. (1995). Student attitude toward entrepreneurship as affected by
participation in an SBI program. Journal of Education for Business, 70: 224–27.
[5] LEVENBURG, N.M., LANE, P.M. & SCHWARZ, T.V. (2006). Interdisciplinary dimensions in
entrepreneurship. Journal of Education for Business, 81: 275–81.
[6] LEVENBURG, N.M.; SCHWARZ, T.V. (2008). Entrepreneurial Orientation among the Youth of India:
The Impact of Culture, Education and Environment. Journal of Entrepreneurship. V.17; 15.
[7] MORRIS, M.H. & SCHINDEUTTE, M. (2005). Entrepreneurial values and the ethnic enterprise: An
examination of six subcultures. Journal of Small Business Management, 43: 453–79.
[8] SAGIE, A. & ELIZUR, D. (1999). Achievement motive and entrepreneurial orientation: A structural
analysis. Journal of Organizational Behavior, 20: 375–87.

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OS DESAFIOS DE PRODUZIR CONHECIMENTO CIENTÍFICO


SOB A ÉGIDE DA NOVA GESTÃO PUBLICA

Dalva Magro1
FEP – Faculdade de Economia da Universidade do Porto-Portugal

1. Introdução
O assunto desenvolvido nesta artigo privilegia a caracterização da gestão do conhecimento sob a égide
da Nova Gestão Publica e a inter-relação dos pesquisadores com o sistema de avaliação da pós-graduação
brasileira. O trabalho foi realisado com pesquisadores da UDESC compondo uma parte da tese de doutorado
da autora.
Atualmente, a filosofia da Nova Gestão Pública tem se tornado dominante na execução dos ajustes
estruturais dos governos e, está sendo implantada por meio de técnicas de gestão advindas da iniciativa
privada, chamadas pelos teóricos de managerialismo. Este termo refere-se a um modelo descrito em
Santiago, Magalhães e Carvalho 1 como:
Suportado por políticas públicas de inspiração neoconservadora e neoliberal que anunciam e
concretizam cortes nas despesas públicas com educação, assim apostando no aumento da
qualidade através de ganhos de eficiência interna e do crescimento da produtividade das
instituições, o modelo institucional gerencialista emerge vigorosamente, entre discursos
políticos, actos legislativos, medidas aparentes avulsas de administração, ganhando adeptos
entre sectores conservadores e tecnocráticos, dentro e fora das universidades.
Esta nova forma de administrar trouxe mudanças profundas na forma de gestão pública e,
consequentemente, nas universidades públicas por todo o mundo, tornando evidente a redução da gestão
acadêmica a questões de eficiência 1 buscada por meio de sistemas intrincados de avaliações que
congregam métodos finalísticos e institucionais impostos pelo Estado Avaliador em nome da melhoria da
qualidade e a inserção internacional da pesquisa e da pós-graduação.
Neste modelo de gestão o Estado adota um estilo mais competitivo, passando a admitir a lógica de
mercado em um tipo de gestão que prevalece a ênfase em resultados ou produtos, voltados aos interesses da
sociedade. A avaliação dos programas de pós-graduação torna-se, assim, um pré-requisito para que seja
possível introduzir os mecanismo de controle e responsabilização desejados pelo Estado, uma vez que, sem
objetivos claros definidos a priori, torna-se impossível criar indicadores e medir performances.
Por força do modo managerialista de gestão e das pressões das avaliações, as universidades passam a
ter como objetivo a pesquisa aplicada - ou pesquisa empreendedora -, cujos resultados são transferíveis para
o mercado econômico proporcionando assim, retornos financeiros. Se aplica, também, a esta realidade, a
adaptação dos currículos, de forma ao capital humano ser rapidamente adaptável e mobilizável no mercado
de trabalho 2, além destes estarem sendo reajustados para a forma mínima requerida pelo MEC, como
forma de economia financeira.
Corroborando a ascensão do managerialismo na produção do conhecimento científico, teremos a tese
dos novos modos de produção de conhecimento 3. Com base nestes novos modos, a geração do
conhecimento estaria baseada nos conceitos de produção, no contexto da aplicação, transdisciplinaridade e
controle de qualidade. O financiamento das investigações dependeria mais da iniciativa privada do que do
governo e das agências de fomento.
A tese dos novos modos de produção de conhecimento alia-se a outra tese, que também relata
mudanças nas relações de produção de conhecimento científico, a chamada Triple Helix 4 ou tripla hélice,
onde estariam agrupados, em forma de três hélices: universidades, governo e empresas, com o fim específico
de criar conhecimento, desenvolvimento e ganhos econômicos.
No entanto, estas mudanças na forma de produzir conhecimento opõe-se ao paradigma Mertoniano -
ainda vigente -, que defende a noção de autonomia e de neutralidade da ciência, além da ideia de que o
pesquisador que busca outros objetivos (por exemplo, contribuir para a solução de problemas
práticos) não faz, propriamente, ciência. Este entendimento nos leva a crer em um conflito filosófico
entre os que defendem o modo managerialista de gestão, mais voltada para o mercado com medidas de
desempenho alicerçadas na efetividade e, os mais tradicionais, que defendem a neutralidade da ciência
descolada dos imperativos econômicos de mercado.

1
r4dm@hotmail.com
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A exposição teórica até aqui apresentada se apoia em resultados de estudos de caso sobre
universidades, e tem pautado a discussão sobre as relações universidade, empresa, órgãos de financiamento,
governos e a construção de conhecimento, nos mais diversos países, influenciando, inclusive, muitas das
políticas de ciência e tecnologia.

2. Enfoque de análise
A economia do conhecimento e seus ocupantes atuam num mercado mundial de produtos sofisticados
e tecnologicamente desenvolvidos, dependentes, na sua criação, de saber intensivo, baseado em ciência e
tecnologia. Da capacidade deste desenvolvimento dependem tanto as nações desenvolvidas, quanto as em
desenvolvimento e, é neste cenário de mundo globalizado e de produção e criação intensas que se situam as
universidades.
No Brasil, a produção de conhecimento científico está alicerçada nas universidades públicas e nos
cursos de pós-graduação (mestrados e doutorados) que, atualmente, se encontram bem estruturados e com
capacidade para competir internacionalmente 5. Das 20 entidades brasileiras com maior número de artigos
indexados, somente três não são instituições de ensino superior: a FIOCRUZ – Fundação Osvaldo Cruz, a
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária e o CBPF- Centro Brasileiro de Pesquisas
Físicas.
Com a ascensão da ideologia neoliberal, na década de 1980, e a Reforma Gerencial do Estado, na
década de 1990, a produção de conhecimento científico sofreu significativas transformações. A filosofia da
Nova Gestão Pública e a gestão managerialista tomaram corpo e adentraram às universidades via programas
de qualidade e sistema de avaliação. Neste mesmo caminho e para garantir a qualidade e a inserção da
pesquisa brasileira a nível internacional, a CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior, a partir de 1998, mudou o sistema de avaliações das pós-graduações passando a adotar um modelo
avaliativo que congrega métodos quantitativos e qualitativos, - com especial ênfase aos quantitativos.
O sistema de avaliações além de primar pela qualidade e adequação dos programas de pós-graduação,
também é utilizado como um mecanismo que estabelece o desenvolvimento das instituições, viabilizando a
implantação de políticas de distribuição de recursos. Com base nisto, o sistema ajudou na promoção de
mudanças não só nos programas de pós-graduação, mas também na forma de gestão das universidades, nas
relações interinstitucionais e interpessoais, ou seja, em todo o sistema que compõe a produção de
conhecimento científico.No entanto, já existem evidências que a forma com que têm sido efetuadas as
avaliações está a interferir na produção de conhecimento 6, 6.1, 7, 8.

3. Discussão e conclusões
É fato que a CAPES está fazendo um bom trabalho com relação à avaliação dos cursos de pós-
graduação. Ela tem tido resultados extraordinários ao estabelecer parâmetros para a pós-graduação, sendo
inclusive considerado o melhor sistema avaliativo da América Latina, comparável ou até superior ao de
muitos países desenvolvidos 5.
O CNPq, por sua vez, vem aumentando progressivamente seus gastos com bolsas de produtividade
científica, exigindo, no entanto maior transparência na avaliação dos pesquisadores 7. Também é fato que a
Reforma Gerencial do Estado Brasileiro, (decada de 1990) segundo palavras de seu idealizador, o professor
Bresser Pereira 9 baseou-se na responsabilização, na competição administrada por excelência, na
responsabilização social e na auditoria de resultados, metodologia largamente utilizada na avaliação dos
programas de pós-graduação.
O uso sistemático de indicadores de produtividade académica, combinando com procedimentos de
revisão por pares, são apontados por Schwartzman 5 como um dos pontos fortes do sistema de avaliação
brasileiro. No entanto, de acordo com Holmstrom e Milgrom 10 ênfases excessivas em metas quantitativas
podem deteriorar a qualidade da pesquisa. Neste sentido, na opinião de pesquisadores da UDESC, a
qualidade das pesquisas tem se deteriorado à medida que seus resultados são publicados de forma
fragmentada, distribuídos em diversos artigos, tendo como objetivo aumentar o número de publicações para
atender aos critérios de avaliação.
Outro fator relatado e a impactar na qualidade diz respeito ao tempo para realização das pesquisas
porque, em decorrência de o sistema avaliativo ser trianual, existem pressões para que as pesquisas tenham
seu encerramento a tempo dos resultados serem computados nas avaliações.
Os pesquisadores, por sua vez, afirmam trabalhar com qualidade, porém dentro do que o sistema
permite, sem, no entanto deixar de ter a sensação que poderiam fazê-la melhor. Como consequência pode-se
apurar certo desestímulo profissional gerado pela angústia de não estarem conseguindo atingir as metas
impostas e pela sensação de estar entregando um trabalho antes de ser considerado plenamente concluido.

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Corroborando esta percepção, têm-se o estudo de Novaes 7, que aborda os conflitos entre qualidade
e quantidade na pesquisa em Economia e conclui haver “sinais de que os mecanismos de avaliação do CNPq
e da CAPES estejam induzindo a um sacrifício de qualidade para aumentar a quantidade de publicações”.
Em outro sentido, a qualidade também foi abordada na necessidade de mensurar a utilidade e
aplicabilidade dos projectos de pesquisa gerados no interior de uma instituição pública mantida com recursos
oriundos da comunidade. Inclusive sendo questionada a utilização de recursos públicos no desenvolvimento
de produtos que venham gerar um impacto social questionável. A crítica neste sentido foi que se produz
muito, mas desassociado à aplicabilidade e pouco avaliado no sentido do “socialmente correto”.
Por fim, tem-se na opinião de um dos entrevistados, que atua como avaliador do CNPq, quando afirma
textualmente que na sua área o produto final das investigações ainda demanda por melhoria na qualidade. De
outra forma, a pesquisa nos mostrou também que a qualidade está sendo perseguida, bastando que se
encontre um equilíbrio entre as pressões quantitativas e a qualidade desejada, tanto por parte da CAPES,
CNPq e universidades, quanto pelos próprios pesquisadores.
Já com relação a atuação de triple helice, analisando o apoio do governo na concessão de auxílios para
projetos de pesquisa - como forma de iniciar o giro na roda das parcerias -, as agências de fomento ainda se
utilizam do método Mertoniano e da produção certificada para avaliar as propostas. A certificação desta
produção tem sido feita por meio de índices de produção acumulada, apoiados nas avaliações dos projetos
por meio da revisão por pares (peer review) e de acordo com os padrões internacionais, método que acaba
por privilegiar os cientistas mais produtivos e com experiência prévia 5, desestimulando pesquisadores
mais jovens e em início de carreira.
Este fato pode fazer com que os investigadores mais jovens e menos pragmáticos, passem a ver no
setor privado os meios de financiamento necessários a seus projetos, já que a iniciativa privada privilegia em
suas concessões os critérios não científicos, como relevância social, econômica e mercadológica. O que nos
leva a crer que poderá ser por meio dos pesquisadores mais jovens que as universidades públicas trilhem o
caminho em direcção ao mercado.

4. Bibliografia
1 SANTIAGO, R; MAGALHÃES, A.; CARVALHO, T. 2005. A emergência do managerialismo no
sistema e nas instituições de ensino superior in O surgimento do managerialismo no istema de ensino
superior português. Fundação das Universidades Portuguesas. Coimbra.
2 MINGUILI, M.G.; CHAVES, A.J.F.; FORESTI, M.C.P.P. 2008. Universidade brasileira; visão
histórica e papel social. In: Pinho, S. Z. de (Coord.). Oficina de estudos pedagógicos: reflexões sobre a
prática do ensino superior. São Paulo: Cultura Acadêmica: UNESP/Pró-Reitoria de Graduação, 13-50.
3 GIBBONS, M; LIMOGES, C.; NOWOTNY, H.; SCHWARTZMAN, S.; SCOTT, P.; TROW, M. 1994.
The New Production of Knowledge: The Dynamics of Science and Research in Contemporary Societies.
Londres Sage.
4 ETZKOWITZ, H. 2002. The Triple Helix of University-Industry-Government. Implications for Policy and
Evaluation. Institute for studier av utbildning och forskning. Atockolm nov.
5 SCHWARTZMAN, S. 2008. Pesquisa universitária e inovação no Brasil in Avaliação das políticas de
ciência e tecnologia e inovação: dialogo entre experiências internacionais e brasileiras. Brasília: Centro
de Gestão e Estudos Estratégicos. P.19-44.
6 FARIA, J.R. 2000. The research output of academic economists in Brazil. Economia Aplicada,
4:95 –113.
6.1 FARIA, J.R. 2004. Some reflections on incentives for publication: The case of the CAPES’ list
of Economic Journals. Economia Aplicada, 8:791–816.
7 NOVAES. W. 2008. Pesquisa em economia no Brasil: Uma avaliação empirica dos conflitos entre
quantidade e qualidade. RBE. v.62. n.4. Rio de Janeiro. Oct.dec.
8 ISSLER, J.V.; PILLAR, T. 2002. Mensurando a produção científica internacional em economia de
pesquisadores e departamentos brasileiros. Pesquisa e Planejamento Econômico, 32:323 –381.
9 BRESSER-PEREIRA, L.C 1995 A reforma do aparelho do Estado e a Constituição de 1988. Texto para
Discussão ENAP no1,1995. Disponível em www.bresserpereira.org.br. Também em Revista del CLAD -
Reforma y Democracia 4:7-24.
10 HOLMSTROM, B.; MILGROM, P. 1991. Multitask principal-agent analyses: Incentive contracts, asset
ownership and job design. Journal of Law, Economics and Organization, 7:24–51.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

OS IMPACTOS DAS EXPORTAÇÕES SOBRE A REDE URBANA NO BRASIL PÓS-


ABERTURA COMERCIAL

Danilo Sartorello Spinola1i


11
UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas

1. Introdução

A inserção produtiva brasileira no cenário mundial observada a partir da década de 1990 comporta-
se no sentido da construção de uma estrutura produtiva cada vez mais especializada. Dadas as vantagens
comparativas e de dotação de fatores, o Brasil passa por uma situação em que a inserção externa é voltada a
produtos de baixo valor agregado, ou seja, é possível observar nos últimos anos uma expansão de
commodities na pauta de produção e de exportação brasileira - impulsionados por uma melhoria dos termos
de troca devido à expansão da demanda mundial, em especial a chinesa, por matérias-primas. Torna-se então
nesse contexto importante observar, dentro da perspectiva regional e urbana, os impactos que o crescimento
da produção especializada vem gerando na urbanização dos municípios em que se dão a produção das
commodities em questão. A expansão da fronteira agrícola (soja, milho) e dos investimentos na extração de
matérias-primas como ferro e petróleo tem ocasionado forte crescimento observado principalmente em
municípios de pequeno e médio porte de Norte, nordeste e centro-oeste. Tais municípios tornam-se então
focos de atração para a população. Isso ocasiona um processo de urbanização nesses locais. Torna-se assim
necessário analisar tal processo de urbanização, observando suas características, peculiaridades, seu
comportamento e suas falhas.

2. Método

A metodologia utilizada pautou-se inicialmente na leitura e na resenha de diversos textos clássicos


com o tema da formação econômica brasileira compreendendo o processo histórico no qual o Brasil está
inserido. A metodologia teórica foi baseada no modelo histórico-estrutural – percebendo a história pensada
como um longo processo, interligado, em cujo passado é possível encontrar as questões relevantes para a
discussão do presente.
Numa segunda etapa, houve a leitura e resenha de textos e artigos de autores que discutem a questão
urbana e regional brasileira nos anos recentes, adentrando de fato no objetivo principal da pesquisa,
levantando e discutindo com o orientador alguns dos principais debates acerca da questão regional e urbana
nacional das ultimas décadas.
Por fim, com o objetivo da criação dos artigos e relatórios, foi realizada uma coleta de dados, em
bancos de dados como o SIDRA-IBGE e IPEADATA, para organizar e verificar empiricamente o processo
de especialização produtiva, observando quais impactos tal processo gerou para a migração populacional e
para a urbanização das regiões brasileiras. Assim, foi possível compreender qual padrão permeia o
desenvolvimento nacional e regional no contexto do neoliberalismo – não mais pautado pelo planejamento,
mas pelas regras do mercado.

3. Resultados e Discussão

A partir da leitura de alguns dos mais importantes autores da formação econômica do Brasil, como
FURTADO(1959), PRADO(1945) e MELLO(1982), foram delineados alguns dos principais debates que
permearam o desenvolvimento brasileiro desde a origem do país como nação. Ao observar como na pesquisa
a questão do comportamento histórico da pauta de exportação brasileira, foi possível compreender os
motivos que levaram tais autores a adotar uma postura crítica com relação ao processo de especialização
produtiva em produtos de baixo valor agregado, como café e cana de açúcar – defendendo tais autores o
processo de substituição de importações como forma de superar a condição de subdesenvolvimento, com
vista assim à industrialização do país, criando um departamento de bens de capital que poderia tornar a
economia brasileira auto-determinada, diversificando a pauta produtiva. Tais idéias vão no sentido de tornar
o país não mais meramente uma economia reflexa às modificações que ocorriam nos países do centro.

1
Graduando no curso de Ciências Econômicas – e-mail: danilospin@hotmail.com

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Após realizada a primeira parte mais teórica, a pesquisa continuou através da verificação empírica do
processo de especialização produtiva. Para analisar de uma forma mais aprofundada as transformações
ocorridas na estrutura produtiva brasileira em seu aspecto regional, observou-se o comportamento de alguns
importantes produtos da pauta exportadora brasileira nos últimos 20 anos, como soja, ferro, carne e cana-de-
açúcar. Realizando vasta pesquisa em bancos de dados como IPEA e IBGE, foi possível encontrar dados que
corroboram com a tese de que o crescimento do PIB das cidades em que ocorre o processo de especialização
está diretamente ligado à elevadas taxas de crescimento populacional. Tal processo de crescimento
notadamente ocorre em cidades de porte pequeno e médio. As grandes metrópoles não se inserem nesse
processo, sendo seu crescimento muito menor.
A produção de Soja é uma das mais importantes, sendo essa commoditie responsável por
considerável participação nas exportações Brasileiras. Gerida no formato do agrobusiness, a soja tem sido
em grande parte responsável pela expansão da fronteira agrícola no centro-oeste brasileiro. Destacadas as
grandes mudanças no plano de fundo iniciadas na década de 1990, cabe então observar as mudanças mais
recentes ocorreridas nos últimos anos, contrastando o início da década de 1990 com o período 2006-2008.

Quantidade de Soja produzida (em Mil Toneladas)

Média Média Crescimento


Brasil e Região Geográfica
1990-92 2006-08 Anual em %

Brasil 18.017 56.521 6,96


Norte 25 1.287 25,96
Nordeste 394 4.070 14,72
Sudeste 1.823 3.925 4,62
Sul 8.986 20.355 4,93
Centro-Oeste 6.788 26.885 8,43
FONTE: SIDRA-IBGE Tab. 1

Como pode-se observar na tabela 1, as taxas de crescimento maior na produção de Soja estão nas
regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. A a região centro-oeste atualmente é a maior produtora em termos
absolutos de Soja, seguida pelo Sul a depois Nordeste, Sudeste e Norte. O crescimento da produção da Soja
em todas as regiões e na esfera nacional é superior ao crescimento do PIB – observa-se assim que de fato
está havendo um processo de especialização na produção de Soja, visto que esta passa cada vez mais a
ocupar partes maiores do produto nacional e regional.
Observando então qual foi a quantidade produzida de Soja, nos últimos anos, nos municípios
maiores produtores de tal commoditie, chega-se à tabela abaixo:
Quantidade de Soja produzida (em Mil Toneladas)

Média Média Crescimento


Brasil e Região Geográfica
1990-92 2006-08 Anual em %
Brasil 18.017 56.521 6,56
São Desidério - BA 125 693 9,96
Campo Novo do Parecis - MT 360 918 5,33
Nova Mutum - MT 151 1.005 11,10
Sapezal - MT 0 1.002 -
Sorriso - MT 263 11,09
1.749
Diamantino - MT 286 821 6,03
Jataí - GO 150 627 8,26
Rio Verde - GO 193 638 6,86
Barreiras - BA 103 379 7,50
Luís Eduardo Magalhães - BA 0 350 -
Lucas do Rio Verde - MT 117 689 10,36
FONTE: SIDRA-IBGE Tab. 2 852
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Foram dispostos dados em médias trimestrais, com o intuito de reduzir o impacto que algumas
alterações conjunturais na produção (como a seca, ou uma safra ruim) podem ocasionar.
Dente os maiores municípios produtores de Soja nos anos 2006-2008, pode-se observar que de dez, 6
municípios se encontram no estado de Mato Grosso, enquanto 2 no estado de Goiás (perfazendo 8 na região
Centro-Oeste), e mais 2 no estado da Bahia. Para relacionar o crescimento da produção observado nos
municípios da tabela 2 com os deslocamentos populacionais, é preciso observar qual foi o comportamento do
crescimento populacional no período. Para isso foram dispostos os dados encontrados no censo populacional
nos anos de 1991 e 2007.

Censo populacional: População residente (Em mil Pessoas)

Município 1991 2007 Taxa de Crescimento


Anual
São Desidério - BA 19,0 25,2 1,67
Campo Novo do Parecis - MT* 6,3 36,6 10,89
Nova Mutum - MT 5,5 24,4 9,10
Sorriso - MT 16,1 55,1 7,51
Diamantino - MT*** 16,6 18,4 0,61
Jataí - GO 66,0 82,0 1,29
Rio Verde - GO 96,3 149,4 2,62
Barreiras - BA** 92,6 174 3,77
Lucas do Rio Verde - MT 6,7 30,7 9,38
FONTE: SIDRA-IBGE Tab.3
*A população de Campo novo do Parecis foi contabilizada juntamente com a de Sapezal, visto esta ter se
desmembrado em 1994
** A população de Barreiras foi contabilizada juntamente com a de Luis Eduardo Magalhães, visto este ter se
desmembrado em 2000
***Diamantino foi desbembrado formando Campo novo do Parecis em 1988.

Aa taxa média de crescimento anual da população no país foi na magnitude de 1,34% ao ano. O
número grande de desmembramentos dos municípios produtores de Soja nos últimos anos em muito dificulta
a análise. Tomando no entanto os municípios mais relevantes, a produção em tais municípios está
diretamente relacionada à uma forte migração populacional para esses locais, superando e muito a média
nacional. Dessa forma, passa a haver um rápido crescimento urbano nessas regiões com vista a acomodar o
contingente de migrantes.

4. Conclusões

As conclusões são no sentido de ratificar as hipóteses iniciais: os dados observados nas tabelas
mostram que há de fato um maior crescimento populacional nas regiões que passam pelo processo de
especialização produtiva. Desse modo, observa-se que colocam-se novos desafios no sentido de garantir
uma urbanização planejada e adequada para as demandas das populações dos municípios que crescem
populacionalmente acima da média, impulsionados pelas atividades de exportação.
Infelizmente, no sentido que vem se verificando, a urbanização tem se dado estritamente por critérios
mercadológicos, sem planejamento e de forma desestruturada. Assim, observa-se nestas cidades do
agronegócio que crescem voltadas à exportação a propagação dos mesmos problemas urbanos que os
observados nas outras cidades brasileiras – falta de estrutura básica, de planejamento, alta criminalidade,
etc...
A especialização em produtos de baixo valor agregado também traz grandes dificuldades para o
enfrentamento da situação de subdesenvolvimento no país. O Brasil passa cada vez mais a retornar à suas
origens desde a época colonial de inserção primário-exportadora, oporem em novas bases. Tal forma de
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

desenvolvimento, à luz das idéias de Celso Furtado, poderá perpetuar a condição de subdesenvolvimento do
país.

5. Bibliografia

CANO, W. Questão regional e urbana no Brasil: alguns impasses atuais. IN: DINIZ, C. C. (org.). Políticas
de desenvolvimento regional – desafios e perspectivas á luz das experiências da União Européia e do
Brasil. Brasília, Editora da UNB, 2007, p. 249-265.
FURTADO, C.. Formação econômica do Brasil. 34ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1959.
FURTADO, C. Brasil, a construção interrompida. São Paulo, Paz e Terra, 1992.
JUNIOR, G. R. B. e NASCIMENTO, M. M. Queda de preços das commodities: O Brasil tem o que temer?
Visão do desenvolvimento, Rio de Janeiro: BNDES, n. 55, out/2008.
MACEDO, F. C. de. Inserção externa e desenvolvimento regional (1989-2008). Campinas: IE-
UNICAMP/CNPq. Relatório de pesquisa, 2009. 240 p.
PRADO JR. C. História Econômica no Brasil, Ed. Brasiliense, 1945.
SAMPAIO JR., P. de A. Globalização e reversão neocolonial: o impasse brasileiro. En publicación: Filosofía
y teorías políticas entre la crítica y la utopía. Hoyos Vásquez, Guillermo. CLACSO, Consejo
Latinoamericano de Ciencias Sociales, Buenos Aires. 2007. ISBN: 978-987-1183-75-3.

AGRADECIMENTOS

Agradeço também ao prof. Fernando, meu orientador, que muito me ajudou na realização deste
projeto de iniciação, e que me deu grande liberdade para realização da pesquisa, apoiando a leitura e o estudo
de assuntos que me interessavam aparentemente não relevantes à pesquisa mas que por fim se tornaram
importantíssimos para acrescentar elementos novos a todos meus textos.
Agradeço também à UNICAMP e também à CNPq, que financiou a realização desta iniciação, a qual
sou muito grato, pois sem tal apoio ainda mais difícil conseguir realizar um pesquisa, visto que haveria a
necessidade de trabalhar fora da universidade.

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OS PREÇOS DOS PRINCIPAIS GRÃOS NO RIO GRANDE DO SUL: UMA


COMPARAÇÃO ENTRE OS PERÍODOS PRÉ E PÓS-ESTABILIZAÇÃO ECONÔMICA

Diogo Signor1*; Solange Regina Marin1


1
Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução
Presenciam-se dois momentos na economia brasileira, o primeiro marcado pela instabilidade e o
segundo pela estabilidade econômica. Inicia-se a análise do período de pré-estabilização econômica a partir
da década de 1980, década esta precedida por profundas transformações no cenário internacional, em que as
elevadas taxas de inflação, que no início giravam em torno dos 100% a.a., fez com que a política econômica
deste período tivesse como principal meta o controle inflacionário. Diversos planos econômicos, que tinham
como elemento comum o congelamento dos preços, foram implementados: Cruzado (1986), Bresser (1987),
Verão (1989), Collor I (1990), Collor II (1991). A cada plano agregavam-se novas características,
aperfeiçoando os planos anteriores, na tentativa de não se incorrer nos mesmos erros. Resultava-se numa
brusca queda das taxas de inflação sempre que um novo plano entrava em vigor, mas logo elas tomavam
rumo ascendente. Somente em 1994, com o Plano Real, que se conseguiu a redução e a estabilidade
inflacionária. Este plano, introduzido em três fases: ajuste fiscal; indexação completa da economia; e reforma
monetária, diferentemente dos planos anteriores, não se baseou no congelamento dos preços. “Seu sucesso
estava vinculado à capacidade de impedir que os choques se transformassem em processo inflacionário”
(Gremaud; Vasconcellos; Toneto, 2002, p. 470).
A análise da economia brasileira é fundamental para o entendimento da economia gaúcha ao longo do
tempo, principalmente no que diz respeito ao setor produtor de grãos, destacando-se as culturas de arroz,
feijão, milho, soja e trigo. Sendo o Estado exportador de produtos agrícolas, os preços recebidos pelos
produtores desses grãos sempre dependeram das políticas econômicas internas e externas adotadas pelo
governo federal em ambos os momentos de sua economia. Segundo Marin (2001), a agricultura gaúcha
destaca-se como importante geradora de divisas, indispensáveis à importação de insumos e ao pagamento de
parte do serviço da dívida externa nos primeiros anos da década de 80. Em 2009, este setor representou
13,5% do valor total das exportações do Estado, estando o Rio Grande do Sul entre os três maiores
exportadores do país com uma participação de 9,96% do total.
Em vista da importância do setor agrícola gaúcho, o problema que surge é: será que os preços reais
recebidos pelos produtores dos principais grãos no Rio Grande do Sul foram afetados pelas políticas
econômicas no período de 1980 a 2009? A hipótese a ser testada, uma vez que o estado gaúcho possui em
seu território regiões dependentes exclusivamente de atividades agrícolas, é a de que as variações nos valores
recebidos pelos produtores gaúchos são diferenciadas conforme os dois momentos de nossa economia.
Este trabalho tem como objetivo principal analisar se os acontecimentos na economia brasileira no
período de 1980-2009, destacando-se os períodos de pré e pós-estabilização econômica, influenciaram os
preços dos produtos agrícolas arroz, feijão, milho, soja e trigo no Rio Grande do Sul.

2. Método
A pesquisa se caracteriza como descritiva ao analisar os preços dos produtos agrícolas arroz, feijão,
milho, soja e trigo no Rio Grande do Sul através da comparação do seu comportamento ao longo do tempo
frente os acontecimentos da economia brasileira nos anos de 1980 a 2009. Serão utilizadas a pesquisa
bibliográfica para a descrição dos aspectos da economia brasileira e a pesquisa documental para o
levantamento de informações secundárias, como por exemplo, os preços nominais dos diferentes grãos.
Além disso, será utilizado o método estatístico para a análise do comportamento das séries de preços. Os
preços reais apresentados foram deflacionados pelo IGP-DI com base em dezembro de 2009. Serão
estimadas linhas de tendência, calculados índices de sazonalidade, assim como serão verificadas variações
bruscas nos preços, buscando identificar os fatores que as causam.

3. Resultados e Discussão
As figuras a seguir apresentam os logaritmos neperianos dos preços reais ao produtor dos principais
grãos no RS. A primeira mostra o período de 1980 a 2009 e a segunda a comparação entre os períodos de pré
(1980-1994) e pós-estabilização econômica (1995-2009).

*
Autor Correspondente: diogosignor@gmail.com
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Fig. 1 Gráfico dos preços reais mensais recebidos pelos produtores de arroz, feijão, milho, soja e trigo no
RS (1980-2009).

Preços reais recebidos pelos produtores de arroz,


feijão, milho, soja e trigo no RS (1980-2009)

7,00
6,50
6,00
Ln(R$/Sc 60kg)

5,50
5,00
4,50
4,00
3,50
3,00
2,50
2,00
jan/80
jan/81
jan/82
jan/83
jan/84
jan/85
jan/86
jan/87
jan/88
jan/89
jan/90
jan/91
jan/92
jan/93
jan/94
jan/95
jan/96
jan/97
jan/98
jan/99
jan/00
jan/01
jan/02
jan/03
jan/04
jan/05
jan/06
jan/07
jan/08
jan/09
Período

Arroz Feijão Milho Soja Trigo

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da EMATER/RS

Pela análise do gráfico, percebe-se a tendência de queda nos preços no período de 1980 a 2009,
destacando-se os períodos de quedas bruscas nos preços, como em 1986-1987 quando entraram em vigor os
planos Cruzado e Bresser respectivamente, 1989 com o plano Verão, em 1991 com o plano Collor II e no
final de 1994 com o plano Real.

Fig. 2 Gráfico da comparação entre os preços reais mensais recebidos pelos produtores de arroz, feijão,
milho, soja e trigo no RS nos períodos pré e pós-estabilização econômica.

Período pré-estabilização econômica (1980-1994) Período pós-estabilização econômica (1995-2009)

7,00 7,00
Ln(R$/Sc 60kg)

Ln(R$/Sc 60kg)

6,00 6,00

5,00 5,00

4,00 4,00

3,00 3,00

2,00 2,00
jan/80

jan/81

jan/82

jan/83

jan/84

jan/85

jan/86

jan/87

jan/88

jan/89

jan/90

jan/91

jan/92

jan/93

jan/94

jan/95

jan/96

jan/97

jan/98

jan/99

jan/00

jan/01

jan/02

jan/03

jan/04

jan/05

jan/06

jan/07

jan/08

jan/09

Período Período

Arroz Feijão Milho Soja Trigo Arroz Feijão Milho Soja Trigo

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da EMATER/RS

Nota-se na comparação dos gráficos dos diferentes momentos de nossa economia, uma tendência de
queda nos preços no período de pré-estabilização e de uma certa estabilidade no período de controle da
inflação, visto que os preços parecem mostrar uma oscilação menor em relação ao período anterior.

4. Conclusão
A primeira análise dos preços reais dos grãos no RS parece indicar que as mudanças econômicas
ocorridas no Brasil afetaram os preços dos principais grãos no Rio Grande do Sul. A influência sobre os
preços parece também ter sido diferente conforme os períodos da economia brasileira, fato que será ainda
testado com o desenvolver da pesquisa.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Referências

ALONSO, José Antônio Fialho; BANDEIRA, Pedro Silveira. O crescimento inter-regional no Rio Grande
do Sul, nos anos de 1980. A Economia gaúcha e os anos de 1980: uma trajetória regional no controle da
crise brasileira. Porto Alegre: FEE, 1990.

CARDOSO, Eliana A. Economia brasileira ao alcance de todos. 4. ed. São Paulo: Brasiliense, 2003.

FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA – FEE. Disponível em: <http://www.fee.tche.br>. Acesso


em: 11 jun. 2010.

FURSTENAU, Vivian. A lavoura de grãos na década de 1980: a busca da eficiência. A Economia gaúcha e
os anos de 1980: uma trajetória regional no controle da crise brasileira. Porto Alegre: FEE, 1990.

GASQUES, José Garcia; CONCEIÇÂO, Júnia Cristina. Crescimento e produtividade da agricultura


brasileira. Preços Agrícolas. São Paulo: FEALQ, 1997.

GREMAUD, Amaury Patrick; VASCONCELLOS, Marco Antonio Sandoval; TONETO Jr, Rudinei.
Economia brasileira contemporânea. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

HOMEM DE MELO, Fernando. Agricultura brasileira nos anos 90: o real e o futuro. Economia Aplicada.
v. 02, nº 01, jan/mar. São Paulo: FEALQ, 1998

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Disponível em: <http://


www.sidra.ibge.gov.br >. Acesso em: 21 fev. 2010.

INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA – IPEA. Disponível em:


<http://www.ipeadata.gov.br>. Acesso em: 10 jun. 2010.

KAZMIER, Leonard J. Estatística Aplicada a Administração e Economia. 4. ed. Porto Alegre: Bookman,
2007.

MARIN, Solange Regina; WAQUIL, Paulo Dabdab. Política Cambial nas décadas de 1980 e 1990: impactos
sobre o setor de grãos no Rio Grande do Sul. Caderno de Economia, v. 8. 2001. p. 75-102

MARIN, Solange Regina. Política cambial nas décadas de 1980 e 1990: impactos sobre o setor de grãos no
Rio Grande do Sul. 2001. 142f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Econômico), Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2001..

TERUCHKIN, Sônia Unikowsky. RS: Mudanças no perfil exportador. Economia gaúcha e os nos 80: uma
trajetória regional no contexto da crise brasileira. Porto Alegre: FEE, 1990

Agradecimentos

Programa FIPE Júnior/UFSM

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

PLANO DE MARKETING: UM ESTUDO DE CASO


NO ARQUIVO FOTOGRÁFICO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA.

Marla Eveline Martins Machado1*


Carlos Blaya Perez2*

RESUMO

1. Introdução
O Departamento de Arquivo Geral (DAG) é um órgão suplementar da Universidade Federal de Santa
Maria (UFSM), que tem entre os seus objetivos a preservação do Fundo Documental da UFSM, servindo
como referência, informação, prova ou fonte de pesquisa científica, além de supervisionar as atividades
relacionadas aos arquivos setoriais e ao arquivo permanente. O presente trabalho apresenta como objetivo
realizar um estudo no Arquivo Geral Fotográfico (AGF), e posteriormente propor um plano de marketing,
com o intuito de aprimorar a imagem e o reconhecimento do arquivo, frente à sociedade. De acordo com
Churchill e Peter (2003), os planos de Marketing auxiliam no reconhecimento de onde os esforços devem ser
concentrados e a observar e tirar melhor proveito das oportunidades no mercado.
No mundo globalizado e altamente competitivo, a busca por informações de maneira rápida e eficiente
é um dos critérios que toda organização necessita e deseja ter, para que isso aconteça, precisa-se ter um
arquivo bem organizado e acessível aos usuários. Desde a fundação da UFSM foram gerados muitos
registros fotográficos, sendo estes de utilidade pública. Com isso, o arquivo do DAG possui um acervo
documental muito importante para a sociedade. Porém, para tornar o arquivo visível frente aos seus
interessados, necessita-se ter um plano de marketing bem elaborado, e manter um controle deste, para que
funcione de maneira eficaz. A administração e a arquivística colaboram para isso, pois a primeira torna o
arquivo visível a todos que necessitam e, a segunda torna este acessível.
Um Plano de Marketing bem elaborado e controlado, visará para mudar a idéia de que arquivos é
apenas um amontoado de papéis velhos e sem importância, mostrando que o arquivo é um departamento rico
em imagens que descrevem vários episódios da história de Santa Maria e, consequentemente envolvendo
vários meios sociais deste município. Além disso, os usuários vão compreender que onde se encontra o
acervo é um local agradável, favorável para a pesquisa e o trabalho científico, tirando aquela imagem que o
arquivo é um local sujo e desagradável.

2. Método
Esta pesquisa científica caracteriza-se como bibliográfica, descritiva e exploratória. Para Collis e
Hussey (2005, p. 87) a busca na literatura existente trata-se de “averiguar o que já foi escrito ou publicado
sobre seu tópico de pesquisa escolhido, como pesquisas anteriores foram realizadas e qual o seu impacto em
seu próprio problema de pesquisa”. Com isso, pode-se concluir que a presente pesquisa trata-se de uma
pesquisa bibliográfica, pois esta, tem um embasamento teórico em autores já existentes na área em que está
focada.
Ainda adotou-se o tipo de pesquisa descritiva, para Boaventura (2004, p.57) “as pesquisas descritivas
identificam características de determinada população ou fenômeno”. O levantamento de dados pertinentes
foram recolhidos através de conversas informais com os funcionários e através de observação direta, sem
interferência da pesquisadora. E, por fim, adotou-se a pesquisa exploratória, de acordo com Hair et. al. apud
SWADDLING e ZOBEL et. al (2005, p. 84):
Quando bem conduzida, a pesquisa exploratória abre uma janela para as percepções,
comportamentos e necessidades do consumidor. Ela possibilita que as empresas
desenvolvam novos produtos bem sucedidos de maneira mais sistemática. Essa
compreensão superior do consumidor leva as decisões eficazes e reconhecimento das

*Autora: marla_vivi@hotmail.com
1
Aluna do Mestrado Profissionalizante em Patrimônio Cultural e Documental da Universidade Federal de
Santa Maria. Graduada em Administração pela Faculdade Metodista de Santa Maria e em Arquivologia
pela Universidade Federal de Santa Maria.
2
Professor Orientador. Do Mestrado Profissionalizante em Patrimônio Cultural e Documental da
Universidade Federal de Santa Maria.
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

oportunidades do mercado, uma definição distinta da área em que sua empresa compete e
uma alta probabilidade de produzir produtos inovadores.

Para a delimitação do problema para o presente estudo, estabeleceu-se o seguinte questionamento: De


que forma podemos aprimorar a imagem e o reconhecimento do AGF, frente a comunidade em geral? Em
torno desse problema girará todo o trabalho, por isso este deve ser elaborado de forma clara, precisa
e empírico.
A presente pesquisa tem como método o estudo de caso na área de marketing, sendo aplicado no
Departamento de Arquivo Geral da UFSM. Com isso, a presente pesquisa tem como foco principal na
realização de um estudo no AGF e posteriormente, na elaboração de um plano de marketing, com o intuito
de aprimorar a imagem e o reconhecimento do arquivo, frente à sociedade em geral.
A partir desta primeira fase do trabalho, reunidas todas as informações e discutidos os problemas
detectados gerando, um diagnóstico da atual situação do acervo. Após a compreensão da realidade
informacional do AGF, foi possível elaborar uma proposta baseada nos princípios administrativos, focando
sempre no tema do trabalho, o marketing.

3. Resultados e Discussão
No AGF foi feito dois tipos de pesquisas: uma interna e outra externa. A primeira foi feita de maneira
qualitativa, dentro do próprio departamento, entrevistando-se as duas arquivistas responsáveis pelo arquivo.
E, a externa foi feita de forma quantitativa, sendo aplicado cem questionários na comunidade em geral,
contendo quatro perguntas referentes ao reconhecimento do AGF, com base neste será fundamentado a
importância da criação de um plano de marketing.
Conforme a pesquisa interna pode-se concluir que as arquivistas responsáveis pelo AGF afirmam
sentir necessidade da implantação de um plano de marketing para o AGF, servindo este, para colocar o
departamento mais visível frente à comunidade, pois mesmo possuindo um arquivo organizado, aberto ao
público, com mais de quinze mil registros fotográficos, referentes à história da UFSM e, consequentemente a
história do município de Santa Maria, poucos sabem da sua existência e importância.
O arquivo fotográfico possui algumas atividades desenvolvidas na área de marketing. No site do DAG
existem exposições virtuais, mas estas se limitam apenas à galeria dos reitores e vistas aéreas da UFSM.
Além disso, foram feitos folhetos informativos, distribuídos aos centros de educação da Universidade
Federal, sobre o tratamento adequado da documentação existente em cada arquivo setorial, sendo que estas
mesmas podem ser aplicadas para as fotografias.
A pesquisa externa teve como base um questionário, contendo quatro perguntas, que foram
respondidas por cem pessoas. Tendo como objetivo principal analisar o reconhecimento do AGF frente à
comunidade. A primeira pergunta refere-se, se os entrevistados acham importante e relevante um arquivo
fotográfico para o município ou para a Universidade. Podemos analisar que apenas 11% acham pouco
importante um arquivo. Em vista disso, pode-se concluir que, se o plano de marketing for bem elaborado terá
boa aceitação.
Já, a segunda pergunta refere-se ao conhecimento da existência de um arquivo fotográfico da UFSM.
Pode-se concluir que poucas pessoas da comunidade conhecem o arquivo. Dessa forma, comprovamos a
necessidade de um plano de marketing para o AGF. A terceira pergunta é complementar a primeira, pois
caso a pessoa conhece o AGF, pergunta-se se esta já utilizou dos seus serviços. Pode-se concluir, dos 12%
que conheciam o arquivo, 5% já o utilizaram para pesquisa.
E, por fim para verificarmos se as políticas de marketing, até então implantadas tiveram grandes
repercussões na comunidade, perguntamos aos entrevistados, se estes já tinham recebido algum tipo de
propaganda ou informação a respeito do AGF. Com isso, concluímos que, apenas 4% tiveram acesso algum
tipo de informação a respeito do arquivo, sendo que 98% nunca recebeu nada.
Dessa maneira, comprovamos que o Arquivo Geral Fotográfico da UFSM está necessitando de um
plano de marketing, pois este está com pouco reconhecimento da sociedade, além disso, boa parte dos
entrevistados confessam que acham importante um arquivo fotográfico para a sociedade e a universidade.
Vamos usar como estratégias as oportunidades que o AGF possui, ou seja, usar de seus pontos fortes
para alcançar nossos objetivos. Lima et al. (2006) diz que o plano de marketing tem como parte principal a
proposta de estratégias a ser seguida, com seus desdobramentos e, por fim, o estabelecimento de mecanismos
de controle, tendo estes que serem periodicamente revistos e adaptados à realidade. Como o arquivo não
possui concorrentes, vamos nos deter no nosso público-alvo, atendendo as suas necessidades e desejos.
Nessa concepção, podemos definir como público-alvo, os acadêmicos dos cursos de Arquitetura, Engenharia

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Civil, Filosofia e História. Isto foi constatado, através da análise das fichas de controle de empréstimos que
existem no departamento.
Neste sentido, após a vivência durante este período e análise dos dados, sugere-se como estratégias,
medidas ao AGF, tais como: Campanhas para coleta de fotografias e lembranças orais ou escritas dos
familiares, esta medida baseia-se em recolher mais registros fotográficos para o acervo, pois ainda existem
fotografias espalhadas pelos departamentos da universidade e até mesmo, pela comunidade.
A campanha para a arrecadação de lembranças orais ou escritas, se baseia no reconhecimento das
pessoas envolvidas, essa medida se relaciona com a primeira descrita nesse item, e devem ser tomadas de
maneira conjunta. Como existem muitas fotografias que não se tem conhecimento da sua data, o evento ou
até mesmo não foram reconhecidas às pessoas envolvidas. Com isso, está campanha têm como objetivo
situar estas fotografias frente ao contexto em que está inserida.
Outra medida, seria exposições de algumas fotografias do AGF, sendo exposta em universidades,
escolas técnicas, espaços públicos e culturais, sempre buscando formar opinião junto aos diversos públicos e,
consequentemente, difundir o arquivo. Caso a UFSM não disponibilize verba própria para este evento, o
AGF poderá buscar recursos junto a parceiros dos setores públicos e privados, que estejam diretamente
interessados na promoção e divulgação das fotografias.
Um método de difusão fácil são os folhetos online, de baixo custo e pode ser aplicado num curto
espaço de tempo. Inicialmente, estes serão enviados por e-mail para os cadastrados no mail na UFSM.
Portanto, o público-alvo inicial vai ser os professores, funcionários, servidores e alunos da universidade.
Dessa maneira, necessitaríamos da colaboração do Centro de Processamento de Dados da UFSM – CPD,
para nos disponibilizar a lista de todos os e-mails, registrados no mail da UFSM.
Já, os catálogos virtuais de fotos, têm como base tornar as fotos públicas através de um catálogo que
esteja disponível através da internet, em qualquer local pode ser acessado e a qualquer hora, sendo bastante
útil para trabalhos acadêmicos.
Além disso, a participação do AGF em palestras e eventos tem como objetivo difundir o arquivo frente
ao meio em que está situado, ou seja, ministrar palestrar para o público em que se quer atingir, como por
exemplo: participar de semanas acadêmicas dos cursos de História, Arquivologia, Administração, entre
outros cursos.
A inclusão do arquivo nas Feira das Profissões, que acontece todos os anos na UFSM, no final do
segundo semestre, um pouco antes do período que antecede o vestibular. Tem como objetivo mostrar aos
alunos das escolas, os cursos e serviços que a UFSM oferece, além de proporcionar uma maior aproximação
com a vocação que o aluno deseja seguir. Com isso, a inclusão do AGF nesta feira é uma medida de difusão
que atinge a região em que se situa, pois está é bastante reconhecida tanto regionalmente, como também, no
âmbito estadual. Além disso, antes desses alunos serem levados a Feira, estes podem conhecer até três
prédios/ departamentos da UFSM, consistem em visitas guiadas que permitem aos mesmos, a aproximação
com os cursos, com isso, a inclusão do AGF no roteiro dessa visitas é fundamental para a difusão do arquivo.
Além disso, a realização de visitas guiadas, atendendo aos alunos individualmente ou em grupo.
Mostrando as instalações do acervo fotográfico e, como o mesmo funciona. Já as aulas no arquivo, esta
medida consiste em trazer a sala de aula para dentro do arquivo, ou seja, tornar as aulas mais dinâmicas e o
arquivo aberto para a população acadêmica, como exemplo disso citamos as aulas de histórias, ligando o
conteúdo em que está sendo estudado, com as fotografias.
Divulgação do AGF do que adianta ter todas essas medidas se, estas não se tornam públicas. Portanto,
para que todos saibam que o arquivo esta a disposição da comunidade, através de visitas guiadas, palestras,
exposições, deve-se fazer cartazes, que sejam distribuídos em espaços públicos e privados, informando e
convidando a população para as atividades que estão ocorrendo no arquivo fotográfico.
Em meio a esses fatores, pode-se observar que existem inúmeras estratégias de marketing que podem
ser implantadas, a maioria é bem acessível, sendo de baixo custo e de fácil aplicação. Vale ressaltar que deve
ser feito um controle ou avaliações permanentes, para analisar se estas estratégias estão atingindo os
objetivos desejados. Caso não ocorra um controle de todas as atividades planejadas no plano de marketing
nada vai adiantar elaborá-lo, a avaliação e o controle das estratégias são procedimentos administrativos
relacionados com o marketing. Deve-se fazer um feedback das informações e, tomar medidas cabíveis para
que a estratégias atinjam ou voltem a atingir os objetivos desejáveis. Neste sentido, espera-se que com a
implementação destas estratégias no AGF, poderá ganhar maior respaldo mercadológico, em termos
comunicacionais tanto em âmbito local como regional.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

4. Conclusão
O Arquivo Geral Fotográfico está vinculado ao DAG, sendo um órgão suplementar da Universidade
Federal de Santa Maria, que tem como objetivo a preservação dos registros fotográficos, não deixando que
estes se deteriorem no decorrer do tempo ou até mesmo, que seja perdida a informação contida neste suporte
documental. As fotografias servem como referência, informação, prova ou fonte de pesquisa científica.
No decorrer da pesquisa analisamos a situação do arquivo e, como este, está posicionado frente à
comunidade. Assim sendo, é possível perceber que o AGF é muito pouco conhecido, existindo uma carência
na área de marketing. Podemos entender marketing como uma função organizacional, sendo um conjunto de
processos que envolve desde a criação até a administração do relacionamento com o cliente, sempre de
maneira a beneficiar o público interessado. Um plano de marketing bem elaborado, implantado e controlado
de maneira correta, irá trazer inúmeros benefícios para este departamento.
Entre os benefícios podemos destacar que este, ajuda aos membros do departamento reconhecer onde
seus esforços devem ser concentrados, observar e tirar melhor proveito das oportunidades que eles possuem
e, que surgem no decorrer das atividades. Além disso, pode-se traçar um perfil do público-alvo, para assim
melhor atende-lo, pois como o arquivo não possui concorrentes, o foco desse plano de marketing é apenas
nos usuários.
Por conseguinte, conclui-se que a aplicação de um plano de marketing bem elaborado é
extremamente vantajoso, agregando inúmeros benefícios para o arquivo. Portanto, percebe-se que o
problema do trabalho foi respondido, contribuindo para alcançar com satisfação os objetivos específicos da
pesquisa que era propor um plano de marketing, aprimorando a imagem e o reconhecimento do arquivo,
frente à sociedade, pois o Departamento de Arquivo Geral da UFSM é rico em informações, possuindo
equipamentos modernos, sendo o arquivo do DAG um ponto de referência no avanço tecnológico em
acervos documentais.

Referências
[1] BOAVENTURA, Edivaldo M.. Metodologia de pesquisa: monografia, dissertação, tese. 1ª ed. São
Paulo: Atlas, 2004.

[2] CHURCHILL, Gilbert A.; PETER, Paul J. Criando Valor Para o Cliente. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2003.

[3] COLLIS, Jill; HUSSEY, Roger. Pesquisa em administração: um guia prático para alunos de
graduação e pós-graduação. 2ª ed. Porto Alegra: Bookman, 2005.

[4] HAIR, Joseph F.Jr.; BARRY, Babin; MONEY, Arthur H.; SAMOUEL, Phillip. Fundamentos de
métodos de pesquisa em administração. Porto Alegre, Bookman, 2006.

[5] LIMA, Miguel Ferreira; SAPIRO, Arão; VILHENA, João Baptista; GANGANA, Maurício. Gestão de
Marketing. 7ª ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

PROPOSIÇÃO DE INTRUMENTOS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL A


PARTIR DE MECANISMOS DE COMANDO E CONTROLE E
MECANISMOS DE MERCADO

DAL PAI, Carina Cargnelutti1. ROCHA, Isa de Oliveira.


Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC

1. Introdução
A presente pesquisa refere-se aos estudos empreendidos para a dissertação de mestrado em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Sócio-Ambiental da UDESC e aborda a temática da Economia
Ambiental. Por esta disciplina entende-se que a atividade econômica causa danos à natureza e que estes
precisam ser compreendidos e considerados na análise econômica como custos socioambientais. A partir
dessa apreensão é possível propor mecanismos econômicos por meio de políticas socioambientais que
orientem a internalização desses custos socioambientais.
O processo de planejamento no Brasil tem início em 1947 e o foco era, de um modo geral, contemplar
investimentos nas áreas sociais, de infraestrutura e indústria. Entre os planos que se destacaram estão o
Primeiro Plano Nacional de Desenvolvimento - I PND - (1972-1974) que contemplou projetos de integração
nacional e expansão das fronteiras do desenvolvimento e o Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento - II
PND - (1975-1979) que centrou na questão energética. Na década de 1980 o processo de planejamento
econômico no Brasil enfraquecera, tendo como principal causa a orientação à implementação de políticas de
curto prazo, especialmente para atender aos serviços da dívida externa. Na “década perdida” o país atrasou
em termos de desenvolvimento, entrando numa profunda crise econômica, social e política [1].
Com a reforma constitucional em 1988 institui-se o Plano Plurianual - PPA - como principal
instrumento de planejamento de médio prazo. Num primeiro momento, objetivava estabelecer de forma
regionalizada, as diretrizes, objetivos e metas da administração pública federal para as despesas de capital e
para as relativas aos programas de duração continuada. Os planos plurianuais contribuíram para o
estabelecimento de eixos nacionais de integração e desenvolvimento, como referência espacial do
desenvolvimento e a adoção do programa como unidade de gestão, constituindo-se em instrumento
estratégico para o gerenciamento e avaliação de desempenho em todos os programas do governo federal. A
abordagem da questão ambiental, a partir de legislação específica repercutiu em várias ações de
planejamento territorial, indicando um olhar sob a perspectiva de planejamento territorial e salientando que o
zoneamento ambiental é um instrumento da política nacional do meio ambiente. Assim, o planejamento
econômico enfraquecera e a perspectiva de planejamento territorial emergiu criando exigências ambientais.
O planejamento territorial como forma de estabelecer normas de uso e ocupação consiste num avanço
importante no sentido da preservação do ambiente natural. Permite desenvolver sócio e ambientalmente
determinado espaço regional implicando impactos de menor grau nos ecossistemas afetados pela atividade
econômica. Ademais, planejar o território em termos de crescimento populacional, a correspondente
ocupação do solo e apropriação dos recursos naturais exige um planejamento de longo prazo. Nesse sentido
há necessidade de uma política que atenda as necessidades sociais e de preservação ambiental procurando
limitar ações prejudiciais.
Para a implementação de política integrada é preciso compreender que o espaço, as especificidades da
segunda natureza, devem ser considerados na organização sócio-espacial de uma região a partir da regulação
dos comportamentos individuais e coletivos. Uma melhor noção do espaço como segunda natureza, requer
olhar para aspectos tanto ambientais quanto sociais e econômicos e estabelecimento de políticas que
permitam equilíbrio e reprodução. Para Sachs [2], a harmonização das metas sociais, ambientais e
econômicas direcionam a um equilíbrio entre as sustentabilidades social, cultural, ecológica, ambiental,
territorial, econômica e política.
A tarefa do planejamento regional deve levar em conta os recursos naturais que caracterizam
determinada região, uma bacia hidrográfica ou um ecossistema, que geralmente situa-se além das fronteiras
de um município abrangendo uma região. Para planejar uma região é necessário haver uma compreensão
sistêmica, de que os elementos naturais e sociais se inter-relacionam e que ações resultam em impactos
socioambientais.
Para Motta [3], o setor produtivo não internaliza os custos externos resultando num valor econômico
que não representa os custos sociais acarretados pelo uso dos recursos naturais. Nesse sentido, contabilizar o
custo de utilização de recursos naturais é uma forma de internalizar as externalidades geradas, o que reflete
no nível de utilização, ou demanda, por bens que levam em seu processo produtivo o uso de tais recursos. O
1
caricdp@yahoo.com.br

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preço da externalidade gerada é denominado pela literatura econômica como imposto pigouviano.
Identificam-se estes custos externos que, somados ao preço de mercado, representam o preço social do
recurso. Esse cálculo enfrenta problemas de mensuração, e de fato, nunca foi implementado na sua forma
pura. O que tem ocorrido é que a sociedade define politicamente um nível agregado de uso dos recursos
ambientais e cria instrumentos de controle para atingir estes níveis. São instrumentos denominados de
instrumentos econômicos precificados e aplicam o “princípio do poluidor/usuário pagador” e constituem-se
em métodos neoclássicos. Os fundamentos deste instrumento são os adotados pelos países da Organização
para a Cooperação Econômica e o Desenvolvimento - OECD.
Planejar o território levando em conta a questão ambiental no atual estágio do modo de produção
capitalista exige instrumentos inovadores que possam ser implantados por meio de políticas socioambientais,
no sentido de refletir seu custo efetivo. Pigou formulou o conceito de externalidade. A economia ambiental,
por sua vez, propõe a internalização de externalidade através dos instrumentos de política socioambiental -
que a economia ecomarxista aponta como sendo bastante restritiva em economias de mercado, em
decorrência do interesse econômico fundamentado no maior e imediato lucro [4].
As condições básicas para adoção de instrumentos econômicos requer antecipadamente algumas
condições políticas, legais e institucionais. Uma iniciativa que deve estar associada ao planejamento implica
em gerar indicadores do padrão de uso dos recursos ambientais associados a indicadores econômicos e
sociais que avaliem sua inserção na economia real. Nesse sentido deverá haver uma relação próxima entre os
órgãos ambientais e a área de planejamento, criando um espaço legal e fiscal para a adoção desses
instrumentos [5].
Para o desenvolvimento de instrumento econômico, deve-se analisar os objetivos das políticas e o
estado atual da ocupação do espaço geográfico objeto de pesquisa. Estabelecer os objetivos da política
ambiental e dos instrumentos econômicos é fundamental. Os instrumentos analisados e propostos nesta
pesquisa são mecanismos de comando e controle (padrões ambientais, licenciamento e sanções legais) e
mecanismos de mercado, que são complementares e visam atender aos objetivos estabelecidos nas políticas
ambientais a serem definidas. Assim, o planejamento da região objeto de estudo levará em conta as
especificidades ambientais e sociais e a definição de prioridades. A cobrança de impostos pela ocupação de
áreas deverá servir para compensar danos ambientais e inibir ocupações. Assim, os instrumentos de mercado
servirão para a cobrança proporcional ao uso de recurso em termos de quantidade e qualidade, servindo para
subsidiar estratégias de longo prazo [6].
2. Método
O embasamento teórico segue o tema da economia ambiental no sentido de identificar autores que
contribuam para o desenvolvimento da pesquisa. A priori buscaram-se as contribuições do economista
Ronaldo Serroa da Motta que aborda os instrumentos econômicos para implementação de política ambiental.
A pesquisa está sendo desenvolvida levando em consideração os seguintes objetivos e métodos:
a. elaboração de revisão bibliográfica sobre o tema economia ambiental;
b. definição da região objeto de estudo;
c. analisar diagnósticos dos municípios que compõem a região e elaborar análise das especificidades da
região;
d. definir teoria que embasará a pesquisa;
d. análise e definição dos pressupostos de política ambiental;
e. proposição de política ambiental para implementar a cobrança de um imposto territorial regional.

3. Resultados e Discussão
O estudo da região objeto consiste em um ensaio sobre a proposição de um imposto sobre ocupação
territorial regional. Os resultados esperados com a implantação dos instrumentos de comando e controle são
a preservação do meio ambiente e a internalização dos custos socioambientais da ocupação de áreas no
âmbito da região objeto de pesquisa. A proposição de uma cobrança sobre a ocupação (que será
implementada por meio de instrumentos de comando e controle), dentro dos padrões estipulados por lei,
tende a incentivar menores níveis de uso, implicando na redução da demanda pela ocupação.

4. Conclusão
Com esta pesquisa apreendem-se as contribuições da economia ambiental, especificamente dos
mecanismos de comando e controle e mecanismos de mercado, para o planejamento regional. Identificam-se
na ação estratégica da política ambiental propostas para amenizar problemas sociais, ambientais e
econômicos pela internalização de custos socioambientais gerados pela ocupação do território. Por fim, um
planejamento regional que proporcione internalização dos custos socioambientais decorrentes da ocupação
constitui-se um instrumento de desenvolvimento socioambiental e espacial.

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[1] Argemiro Jacó Brum. O Desenvolvimento Econômico Brasileiro.


[2] Ignacy Sachs. Desenvolvimento includente, sustentável, sustentado.
[3] Ronaldo Serroa da Motta. Proposta de Tributação Ambiental na Reforma Tributária Brasileira
Motta.
[4] Gilberto Montibeller-Filho. O Mito do Desenvolvimento Sustentável. Meio Ambiente e Custos
Sociais no Moderno Sistema Produtor de Mercadorias.
[5] Ronaldo Serroa da Motta. O Uso de Instrumentos Econômicos na Gestão Ambiental.
[6] Ronaldo Serroa da Motta. Instrumentos Econômicos para o Controle Ambiental do Ar e da Água:
uma Resenha da Experiência Internacional.

5. Referências

BRUM, Argemiro J. O Desenvolvimento Econômico Brasileiro. 20 ed. Ijuí: Ed. UNIJUÍ, 1999.

CECHIN, Andrei. A Natureza Como Limite da Economia - A Contribuição de Nicholas Georgescu –


Roegen. SENAC: São Paulo, 2010, 264 p.

GEORGESCU-ROEGEN, Nicholas. La décroissance Entropie – Ecologie – Économie. Paris: Éditions


Sang de La terre, 1995, 254 p.

MOHAMMADIAN, Mansour. Bioeconomía: Nuevo Paradigma para la Problemática Ambiental.


Observatório Medioambiental. 1999, número 2, p.41-56.

MONTIBELLER-FILHO, Gilberto. O Mito do Desenvolvimento Sustentável. Meio Ambiente e Custos


Sociais no Moderno Sistema Produtor de Mercadorias. 3 Ed. Florianópolis: UFSC, 2008.

MOTTA, Ronaldo Serroa. Proposta de Tributação Ambiental na Reforma Tributária Brasileira. Acesso
em 02/jul/2010 Disponível em
<http://ambientes.ambientebrasil.com.br/gestao/artigos/proposta_de_tributacao_ambiental_na_reforma_tribu
taria_brasileira.html>.

MOTTA, Ronaldo Seroa da; MENDES, Francisco Eduardo. Instrumentos Econômicos para o Controle
Ambiental do Ar e da Água: uma Resenha da Experiência Internacional. Rio de Janeiro, maio de 1997.
Texto para discussão nº 479. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA.

MOTTA, Ronaldo Seroa da. O Uso de Instrumentos Econômicos na Gestão Ambiental. Abril/2000.

SACHS, Ignacy. Desenvolvimento includente, sustentável, sustentado. Rio de Janeiro: 2004.

The international Society for Ecological Economics – ISEE. Acesso em 06/jun/2010. Disponível em
<http://www.ecoeco.org/content/>

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RESPONSABILIDADE SOCIAL: UM PARADIGMA A SER QUEBRADO

Sandra Aline Halmenschlager1*; David Lorenzi Júnior2; Gilberto Martins Santos3


1
Autora Graduanda e Bolsista do Curso de Administração da UFSM/CESNORS
2
Autor, Professor Orientador e Professor Mestre do Curso de Administração da UFSM/CESNORS
3
Autor,Coordenador e Professor Mestre do Curso de Administração da UFSM/CESNORS

1. Introdução
No início do século XX, período em que basicamente a globalização começou a ganhar atenção e
tomar espaço na maioria das nações, previa-se que naturalmente haveria uma inclusão entre os países, onde
todos passariam a ser capazes de produzir e comercializar igualmente. Entretanto, com o referido
desenvolvimento, as multinacionais acumularam vantagens a ponto de poderem circular por diversos pontos
do globo, enquanto algumas das demais organizações passaram a ser engolidas pelas grandes potências.
Frente a esta realidade, as empresas viram-se obrigadas a implantar novas estratégias e planos
administrativos eficazes e capazes de ganhar reconhecimento frente a atual competitividade. Neste contexto,
surge um novo papel assumido por diversas organizações com o intuito de enfrentar os desafios empresariais
e colaborar com a sociedade na qual as mesmas estão inseridas: a responsabilidade social; uma vez que, toda
empresa, independente do seu ramo de atuação, tem deveres, direitos e obrigações, aspectos esses que fazem
com que as mesmas tornam-se iguais perante a lei e perante as demais organizações. Entretanto, o que faz
com que estas ao mesmo tempo, possam diferenciar-se umas das outras é a estratégia ou forma de gestão que
cada uma escolhe fazer uso.
Assim sendo, no decorrer dos anos a responsabilidade social vem tornando-se cada vez mais presente
e necessária em meio às organizações podendo ser definida como “uma forma de gestão que se define pela
relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo
estabelecimento de metas empresariais que impulsionam o desenvolvimento sustentável da sociedade,
preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e
promovendo a redução das desigualdades sociais”. (INSTITUTO ETHOS de Empresas e Responsabilidade
Social. Disponível em <http://www1.ethos.org.br/EthosWeb/Default.aspx>. Acesso em setembro de 2009),
[1].
A globalização, por sua vez, na medida em que apresenta um considerável avanço tecnológico e
crescente desenvolvimento nas demais áreas, caracteriza também uma mudança no andamento das empresas,
uma vez que, as mesmas necessitam ter um maior cuidado com a sua imagem perante a sociedade em função
de suas ações sociais. Portanto, tomando por base a realidade das atuais organizações empresariais
desenvolveu-se, além de uma pesquisa bibliográfica, uma pesquisa de campo envolvendo empresas da cidade
de Palmeira das Missões – Rio Grande do Sul.
É em meio a esta conjuntura que se encontra uma das principais contribuições do presente trabalho,
isto é, disponibilizar às pessoas as informações necessárias para que estas tomem um maior conhecimento do
assunto, possibilitando assim uma melhor aplicabilidade do tema abordado.

2. Método
Ser socialmente responsável é um requisito que vem ganhando cada vez mais importância em meio
ao comportamento organizacional, exercendo impactos tanto nas estratégias e metas quanto no próprio
conceito de empresa. “Definir o que é responsabilidade social seria tudo que é benéfico à sociedade e ao
mesmo tempo para o meio ambiente, ajudando as classes de baixa renda o que simultaneamente evidencia o
papel social. Ela está associada de forma intrínseca a dois fatores que definem a essência de sua prática: a
ética e a transparência”. (INSTITUTO ETHOS de Empresas e Responsabilidade Social. Disponível em
<http://www1.ethos.org.br/EthosWeb/Default.aspx>. Acesso em setembro de 2009), [1].
Neste sentido, considerando a crescente importância que o tema vem apresentando nos últimos anos,
realizou-se uma pesquisa de cunho acadêmico com o objetivo de verificar e analisar a prática de
responsabilidade social em algumas empresas da cidade de Palmeira das Missões – Rio Grande do Sul.
Assim, o presente estudo foi realizado através da aplicação de questionários em 95 (noventa e cinco)
empresas da cidade palmeirense com base no cadastro de entidades empresariais da cidade. A escolha do
método de pesquisa utilizado foi, além da pesquisa bibliográfica, a aplicação de questionários através dos
quais foi possível realizar a coleta dos dados que, após serem tabulados individualmente e analisados, foram
utilizados para a elaboração deste trabalho.

_____________________________
*Sandra Aline Halmenschlager: sandra_alineh@hotmail.com

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Cabe salientar e justificar, que o tema central vem ganhando significativa relevância em meio aos
acontecimentos atuais, principalmente quando refere-se às maneiras que visam amenizar problemas sociais e
desenvolver o meio em que estamos inseridos, gerando um bem comum à todos os envolvidos.

3. Resultados e Discussão
A questão da responsabilidade social empresarial é recente, polêmica e dinâmica, envolvendo desde
a geração de lucros pelos empresários, em visão bastante simplificada, até a implementação de ação sociais
no plano de negócios das companhias, (...). Desta forma, a análise da responsabilidade social das empresas
foi conduzida sob a ótica dos mais diversos paradigmas, indicando as possibilidades e os limites no que diz
respeito á interpretação do tema pela sociedade. (TENÓRIO, Fernando Guilherme. (org.). Responsabilidade
Social Empresarial: teoria e práticas, Rio de Janeiro, ed FGV, 2004), [2].
Considerando que o enfoque da responsabilidade social pode ser descrito de inúmeras e distintas
maneiras, dependendo do ponto de vista e análise de cada indivíduo, o tema em questão pode ser definido de
forma geral como uma ferramenta que “vai além da ordem econômica e empresarial, focando nos setores
econômico e social uma nova ética empresarial, um planejamento com a determinação de estratégias
ambientais e sociais focalizando os valores existentes entre cada grupo socioeconômico, fortalecendo o setor
social e possibilitando às empresas melhores chance de sobreviverem as diversidades do mercado”.
(KARKOTLI, Gilson & ARAGÃO, Sueli Duarte. Responsabilidade Social: uma Contribuição á Gestão
Transformadora das Organizações. Petrópolis, RJ: ed Vozes, 2004), [3].
A responsabilidade social é de grande importância para as organizações, uma vez que estas
dependem e giram em torno da sociedade e dos demais fatores que a ela pertencem. Assim, o desempenho da
empresa depende também da utilização de recursos naturais, renováveis ou não que, por sua vez, pertencem à
sociedade e não exclusivamente à empresa. Por meio da prática de ações sociais, as organizações são capazes
de contribuir para o desenvolvimento sustentável da sociedade pelo intermédio de ações direcionadas a
suprir ou atenuar as principais carências da comunidade.
As ações socialmente responsáveis incluem tanto os acionistas, funcionários e consumidores quanto
os concorrentes, o governo e a comunidade. Dessa forma, nota-se que ela deve ser vivida em todas as áreas
da empresa, ou seja, desde a recepção até a presidência, sem deixar de passar pelos demais setores da
organização.
Com o intuito de melhor avaliar a gestão no que diz respeito à incorporação de práticas de
responsabilidade social, planejamento estratégico e monitoramento do desempenho geral da empresa, o
Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social desenvolveu alguns indicadores para facilitar a
percepção das ações sociais nas empresas. Os referidos indicadores abrangem temas como valores,
transparência e governança; público interno; meio ambiente; fornecedores; consumidores e clientes;
comunidade e governo e sociedade.
Esses indicadores, além de representarem um modelo de gestão para as empresas, permitem que as
mesmas possam fazer uma auto-análise de suas ações periodicamente. Vale salientar ainda, que essa
ferramenta pode ser utilizada por empresas de qualquer porte ou segmento industrial a fim de estas,
encontrarem nos indicadores caminhos para tornarem-se socialmente responsáveis.
Além dos indicadores, é válido citar a importância da utilização do Balanço Social que, por sua vez,
diferencia-se dos relatórios tradicionais de uma empresa, uma vez que estes últimos na maioria das vezes,
priorizam apenas as informações de ordem econômica, patrimonial e financeira.
O Balanço Social, antes de ser uma demonstração endereçada à sociedade, é considerado uma
ferramenta gerencial, pois reunirá dados qualitativos e quantitativos sobre as políticas administrativas e sobre
as relações entidade/ambiente, os quais poderão ser comparados e analisados de acordo com as necessidades
dos usuários internos, servindo como instrumento de controle, de auxílio para a tomada de decisões e na
adoção de estratégias. É, ainda, um instrumento de auxilio na gestão da entidade, contribuindo para a
melhora da estrutura organizacional, da informação e da comunicação, da produtividade, da eficiência e da
eficácia. (TENÓRIO, Fernando Guilherme. (org.). Responsabilidade Social Empresarial: teoria e práticas,
Rio de Janeiro, ed FGV, 2004). [2].
A responsabilidade social de uma empresa deve também considerar as relações e práticas existentes
entre as chamadas, partes interessadas ligadas a organização (Stakholders) e o ambiente ao qual pertence. As
partes interessadas são qualquer grupo dentro ou fora da organização que tem interesse no seu desempenho.
Cada parte interessada tem um critério diferente de reação por que possui um interesse diferente na
organização. (LOURENÇO, Alex Guimarães & SCHRÖDER, Deborah de Souza. Vale investir em
responsabilidade social? Stakeholders, ganhos e perdas "IN" Responsabilidade social das empresas: a
contribuição das universidades. Vol. II. 2º ed. São Paulo: Peirópolis: Instituto Ethos, 2003. p 77-120), [4].

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De acordo com os dados obtidos após a aplicação do questionário nas empresas de Palmeira das
Missões, pode-se revelar que, praticamente, metades das organizações entrevistadas procuram utilizar
materiais e tecnologias menos poluentes sem que, certamente essas ações interfiram na qualidade de seus
produtos. Por conseguinte, um percentual de 46,66% diz estender as discussões de dilemas e estratégias aos
interessados. Isto revela que a maioria das empresas pesquisadas julga de extrema importância compartilhar
não apenas os problemas como também as possíveis soluções e estratégias com todos que de alguma forma
envolvem-se diretamente com a organização, evidenciando dessa forma, aspectos de lealdade e ética com
interessados.
Analisando as questões de transparência e estratégia na empresa, pode-se apontar que 50% das
organizações envolvidas na pesquisa estabelecem mecanismos de diálogo com as diversas partes interessadas
nos negócios da empresa. Tais ações geram um compromisso mútuo com as metas estabelecidas e uma
gestão de transparência para com os envolvidos com a organização.
Entretanto, dentre as diversas análises proporcionadas pela aplicação dos questionários, também
merece destaque a questão que diz respeito às empresas que participam ativamente, contribuindo com
recursos humanos ou financeiros, de processos de elaboração de propostas de interesse público e de caráter
social onde, aquelas que revelaram praticar tais ações foram representadas pelo baixo percentual de apenas
22,22%. Isto mostra que apesar do pequeno número de organizações aderirem à referida prática, estas podem
influenciar e motivar as demais organizações locais a exercerem o mesmo papel.
Já em relação à avaliação da própria comunidade sobre as práticas das organizações foi possível
observar que cada vez mais os consumidores/clientes levam em consideração as práticas desenvolvidas pela
empresa na hora de adquirir seus produtos ou serviços, tornando os procedimentos de responsabilidade social
essenciais para satisfazer os consumidores e melhorar a imagem da organização.
O que vem a caracterizar estas abordagens é o argumento de que as empresas não devem apenas possui
metas econômicas, mas também a responsabilidade social, que tem como objetivo a proteção dos
consumidores, a segurança, a qualidade dos produtos, a proteção e a conservação do meio ambiente, e o
bem-estar dos trabalhadores, entre outros a busca por parte das empresas, a elaborar um balanço social que
mostre a ação da mesma, na busca dos valores sociais dos indivíduos. (PEROTTONI, Marco Antonio.
Balanço social: responsabilidade, padronização e obrigatoriedade. Revista Brasileira de Contabilidade. Ano
XXXI Nº 134. Marco/ Abril de 2002. 94 p), [5].

4. Conclusão
Em meio ao contexto atual, as empresas encontram-se em um quadro de alta competitividade em que
precisam ao mesmo tempo driblar a concorrência, satisfazer seus consumidores/clientes e preservar o meio
no qual estão inseridas e que permite-lhes desenvolver seus negócios. Levando em consideração esses
aspectos, é possível destacar a fundamental importância das práticas de responsabilidade social nos meios
empresariais, sendo um diferencial relevante na imagem que as organizações representam perante o mercado
e a comunidade em sua volta.
Desta forma, as empresas que adotam a filosofia e práticas da responsabilidade social tendem a ter
uma gestão mais consciente e maior clareza quanto à própria missão. Conseguem um melhor ambiente de
trabalho, maior comprometimento de seus funcionários, relações mais consistentes com seus fornecedores e
clientes e melhor imagem na comunidade; contribuindo para seu crescimento e permanência no mercado.
Tendo como objetivo geral do trabalho identificar, a partir de um estudo descritivo/avaliativo, o nível
de conhecimento do tema responsabilidade social junto às organizações empresariais de Palmeira das
Missões, pode-se inferir de forma abrangente, que os resultados da pesquisa revelaram que grande parte das
organizações palmeirenses desenvolve ações de responsabilidade social em seus negócios. Por outro lado, há
também uma quantidade considerável de empresas que apresentaram resultados completamente inversos às
primeiras, ou seja, mostraram poucas ou nenhuma característica de práticas socialmente responsáveis.
Considerando que as perguntas do questionário aplicado às empresas da cidade de Palmeira das
Missões foram distribuídas e analisadas de acordo com os indicadores do Instituto Ethos, pode-se concluir
que dentre os que revelaram maior relevância encontra-se o indicador meio ambiente. Isto mostra que a
maioria das empresas pesquisadas apontou grande preocupação e interesse no que diz respeito ao
desenvolvimento de ações ambientais como redução de consumo, reciclagem e o uso eficaz de energia e
água. As organizações, de uma forma ou outra, dependem dos insumos fornecidos pelo meio ambiente para a
execução de suas atividades assim, procurar reduzir as agressões à natureza, promover a melhoria das
condições ambientais e evitar o desperdício de tais insumos torna-se uma obrigação da empresa que
desenvolve a responsabilidade social.
É possível ainda concluir e afirmar que a responsabilidade social é uma temática dinâmica, polêmica
e crescente em meio às organizações, sendo que uma parcela considerável de consumidores exige além de

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que o produto e/ou serviço tenha boa qualidade, saber como este foi desenvolvido tendo em vista práticas de
respeito com o meio ambiente e com o ser humano.
A responsabilidade social está relacionada com a ética e a transparência na gestão dos negócios e deve
refletir-se nas decisões cotidianas que podem causar impactos na sociedade, no meio ambiente e no futuro
dos próprios negócios. Portanto, o tema em foco diz respeito à maneira como as empresas realizam seus
negócios, isto é, os critérios que utilizam para a tomada de decisões, os valores que definem suas prioridades
e os relacionamentos com todos os públicos com os quais interagem. (INSTITUTO ETHOS de Empresas e
Responsabilidade Social & SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).
Responsabilidade Social para Micro e Pequenas Empresas, Passo a Passo. – São Paulo, 2003), [6].
Deste modo, é impossível pensar em responsabilidade social sem fazer referencia ao
desenvolvimento sustentável sob as mais diversas dimensões: social, política, humana e ambiental. As
organizações, por encontrarem-se inseridas em um dado ambiente, consomem seus recursos e possuem
responsabilidade com a sua preservação assim, as empresas que investem em desenvolver práticas de
estratégias de responsabilidade social, além de garantir uma melhor qualidade de vida, colhem benefícios
próprios, uma vez que, tornam-se mais bem vistas na sociedade e no meio empresarial.
A responsabilidade social nasce de um compromisso da organização, em que sua participação vai mais além
do que apenas gerar emprego, impostos e lucros. O equilíbrio da empresa dentro do ecossistema social
depende basicamente de uma atuação responsável e ética em todas as frentes, em harmonia com o equilíbrio
ecológico, com o crescimento econômico e com o desenvolvimento sustentável. (TENÓRIO, Fernando
Guilherme. (org.). Responsabilidade Social Empresarial: teoria e práticas, Rio de Janeiro, ed FGV, 2004),
[2].

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SISTEMA DE INFORMAÇÃO OBSERVATÓRIO DA EDUCAÇÃO: A UTILIZAÇÃO DA


INTELIGÊNCIA COMPETITIVA EM IES COMO VANTAGEM ESTRATÉGICA.

Fábio Rodrigues Schirmann1*; Dr. Oscar Dalfovo1; Airan Arine Possamai1


1
Universidade Regional de Blumenau, FURB

1. Introdução
Devido a grande demanda de cursos e a acirrada competição no mercado educacional, torna-se
imprescindível, como qualquer outra organização, que as IES tenham em mãos informações e dados
relevantes para a tomada de decisão. Tais informações são adquiridas através da coleta, processamento,
interpretação das informações disponíveis. Ao utilizar estas informações de modo coerente, estratégico e
responsável, a IES adquire uma vantagem competitiva, pois possui certo grau de conhecimento do mercado.
Avaliar o índice de desempenho e metas tem sido um desafio nas organizações, por isto, cada vez
mais, buscam-se ferramentas que auxiliem na identificação de estratégias, metas e medições de desempenho,
pois, as organizações precisam diferenciar-se das demais e garantir sua qualidade e satisfação de seus
clientes. Bertoldi [1] aponta que avaliar o desempenho é um processo necessário e importante para o
crescimento e aprimoramento contínuos, sem mensurar não há como gerenciar as atividades e nem controlar
os resultados dos esforços empreendidos.
A ferramenta Balanced Scorecard traduz a missão e a estratégia das empresas num conjunto
abrangente de medidas de desempenho que serve de base para um sistema de medição e gestão estratégica,
KAPLAN e NORTON [2]. A proposta do BSC é tornar entendível, para todos os níveis da organização, a
visão, a missão e a estratégia, para que todos saibam o que fazer e de que forma suas ações impactam no
desempenho organizacional.
Assim como não se pode gerenciar o que não se mede, também não se pode medir o que não se pode
descrever, com base nesta máxima surgiu o Mapa Estratégico, KAPLAN; NORTON [2] fornecendo uma
representação visual dos objetivos estratégicos de uma organização, bem como as relações de causa e efeito
entre eles, SILVA [3].
Para gerir, analisar e melhorar o processo de informação e principalmente, facilitar a tomada de
decisão dos gestores das empresas, surge a Inteligência Competitiva (IC), para isto, apresenta-se como
modelo o SIOE, Sistemas de Informação Observatório da Educação, este sistema tem por objetivo servir
como avaliador de desempenho dos docentes pertencentes aos programas de pós-graduação stricto sensu,
fornecendo por meio de um mapa estratégico dados e informações que sejam pertinentes à gestão.

2. Método
O presente trabalho abordou um estudo que está sendo aplicado em Universidades no Brasil,
constituída como uma entidade filantrópica de fins não lucrativos, instituída pelas Leis Municipal / Estadual /
Federal. Seu objetivo principal reside em manter a Universidade, dedicando-se com autonomia ao ensino, à
pesquisa e à extensão – parte de sua missão que está em desenvolver o homem de maneira integral.
Utilizando-se da metodologia Sistema de Informação Estratégico para o Gerenciamento Operacional
(SIEGO) baseado em Data Warehouse, um grande armazém de dados, como um portal - ambiente de
informação e armazenamento do capital intelectual das IES. Desenvolveu-se um ambiente informatizado,
disponibilizando informações como mapa estratégico e indicadores de desempenho, buscando auxiliar
gestores de IES na tomada de decisão. O auxilio ao gerenciamento das informações, bem como a
disseminação de informações pelo portal via Web também são requisitos importantes que estão presentes no
SIOE.

3. Resultados e Discussão
Como resultado primário foi desenvolvido o Sistema de Informação Observatório da Educação(SIOE)
– Um ambiente virtual com capacidade de automatizar as tarefas repetitivas de quantificar o desempenho dos
docentes, facilitando sua análise e trazendo benefícios a instituição.
O desenvolvimento deste ambiente foi baseado na ferramenta Balanced Scorecard (BSC), sua
finalidade alem da redução de tempo é armazenar, gerenciar e disseminar informações sobre o capital
intelectual das instituições de ensino superior, onde qualquer pessoa autorizada possa acessar através de um
computador conectado a rede. Assim, monitorar informações sobre as metas, mapa estratégico e indicadores
de desempenho, bem como a produção científica docente em determinado período.

*
Fábio Rodrigues Schirmann: fabio_frs@ig.com.br
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O Sistema auxilia no desenvolvimento de conteúdos para a organização, no sentido de agregar valor


através da melhor qualificação de seus colaboradores, gerando serviços de melhor qualidade e auxiliando a
Instituição de Educação Superior a reduzir os custos e aumentar os lucros. O SIOE é capaz de medir o
desempenho dos docentes através dos seguintes indicadores de desempenho fornecidos pela CAPES:

 Apresentações de Trabalho
 Artigos aceitos para publicação
 Artigos completos publicados em periódicos
 Capítulos de livros publicados
 Demais tipos de produção bibliográfica
 Demais tipos de produção técnica
 Demais trabalhos
 Livros publicados/organizados ou edições
 Organização de eventos
 Participação em eventos
 Processos ou técnicas
 Produção artística/cultural
 Resumos expandidos publicados em anais de congressos
 Resumos publicados em anais de congressos
 Softwares com registro de patente
 Softwares sem registro de patente
 Textos em jornais de notícias/revistas
 Trabalhos completos publicados em anais de congressos
 Trabalhos técnicos

Os indicadores apresentados acima servem para controlar e garantir que a instituição atinja a meta
estabelecida. As metas servem para todos os indicadores apresentados e possuem uma avaliação dependendo
do desempenho obtido pelo docente em suas produções. Na figura 1, abaixo é possível observar a meta
estabelecida pela Capes para o triênio 2007-2009.

Avaliação Valor Inicial Valor Final


Deficiente 0 36
Fraco 36 60
Regular 60 105
Bom 105 150
Muito Bom 150 999
Fig. 1 Meta estabelecida para o triênio 2007-2009.

Para que uma produção acadêmica possa pontuar segundo o Sistema Nacional de Avaliação de Ensino
Superior (Sinaes), a produção deve conter um dos itens da lista Qualis. A lista Qualis é a lista divulgada pela
Capes e visa garantir a qualidade das instituições de ensino superior no Brasil.
Atualmente é de suma importância para qualquer sistema de informação a proteção contra destruição,
vazamento e modificação não autorizados de dados. Sendo assim, segurança da informação é um pré-
requisito para todo e qualquer sistema de informação, no SIOE não é diferente, em todo desenvolvimento do
ambiente foram tomadas medidas para a proteção dos dados. A ação mais visível foi a criação de dois tipos
de usuários, essa medida foi realizada para garantir uma maior confiabilidade das informações apresentadas.

 Administrador: Tem o controle total do sistema, podendo cadastrar e editar dados contidos no
ambiente como metas, indicadores de desempenho e docentes autorizados a acompanhar seus
desempenhos;

 Convidado: Tem acesso parcial do sistema, esta autorizado a visualizar o mapa estratégico,
realizar analises comparativas e acompanhar a pontuação dos docentes cadastrados;

870
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Todas as informações da produção acadêmicas dos docentes são retiradas do LATTES, através de uma
importação automática. Para isso é necessário cadastrar apenas uma vez, as seguintes informações:

 Nome do Docente;
 Endereço do Lattes;
 Programa ao qual o Docente pertence;

Após o docente ser cadastrado o sistema faz a importação dos dados com base nos indicadores de
desempenho e realiza a tarefa de pontuar a produção. Com isso é possível visualizar o mapa estratégico e
realizar analises comparativas. O sistema permite duas visualizações de Mapa Estratégico:

Mapa Estratégico por Docente: é possível visualizar diversas informações, por exemplo, a pontuação
em determinado período, acompanhando assim, o desempenho do docente com base na meta estabelecida.
Outra função importante é a visualização de toda a produção docente, sendo possível a correção de erros,
pode-se observar na figura 2 que o sistema indica erros de digitação com um X vermelho. Esse foi um dos
pontos positivos na implantação deste projeto, pois pode-se observar que os docentes estavam lançando suas
produções científicas no Curriculum LATTES erroneamente, fazendo com isso, diminuir sua pontuação
junto ao Coleta CAPES, diminuindo o nível de reconhecimento do programa. Na figura 2, abaixo é possível
observar o Mapa estratégico por docente.

Fig. 2 Mapa Estratégico por Docente.

Mapa Estratégico por Programa: é semelhante ao anterior, mas proporciona uma visão mais ampla,
podendo ser visualizado todos os docentes cadastrados no programa com sua avaliação, facilitando a analise
do todo. Na figura 3, abaixo é possível observar o Mapa estratégico por Programa.

871
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Fig. 3 Mapa Estratégico por Programa.

Com este resultado pode-se criar ações de melhoria a fim de aumentar e qualificar o desempenho dos
docentes apresentando os pontos fortes e fracos, uma vez identificada as necessidades de seu desempenho
estes indicadores se tornam úteis comparados aos indicadores do MEC/CAPES. Assim evidencia-se a
importância do mapa estratégico demonstrando em que pontos os docentes estão mais falhos.
O ambiente provém para as IES, a possibilidade de acompanhar o desempenho da produção dos seus
docentes, podendo assim, realizar ajustes ao longo do trajeto, que auxiliem no alcance das metas
organizacionais, este sistema esta sendo utilizado como um exemplo de Inteligência Competitiva.
Tem interesse em usar o SIOE gestores de Instituições de Educação Superior para avaliar seus
docentes, alunos interessados em acompanhar o desempenho de seus professores fora da sala de aula,
docentes e pesquisadores preocupados em melhorar seu desempenho.
Cada programa pesquisado poderá contribuir para um todo estratégico que se reverterá numa melhor
atuação da gestão dos programas. Dessa maneira, pode-se verificar que o projeto SIOE constitui uma
ferramenta de gestão da informação e que se delimita a partir de indicadores de desempenho, um mapa
estratégico no intuito que se reverta em ganhos administrativos e gerenciais para a tomada de decisão dos
programas.

4. Conclusão
A pós-graduação stricto sensu no Brasil é relativamente recente, nessas ultimas três décadas teve que
utilizar ferramentes robustas para recuperar o tempo perdido em relação a outros países do continente como
do restante do mundo.
Evidências constatadas durante o desenvolvimento dessa pesquisa, norteiam a necessidade de uma
continua expansão da qualidade dos programas de pós-graduação stricto sensu. Esta sendo feita de forma
equilibrada onde se leve em conta o crescente mercado acadêmico, como também a perceptível elevação dos
níveis de qualificação que acompanha o aumento da competitividade no mundo moderno.
Neste contexto apresenta-se o projeto Sistemas de Informação Observatório da Educação, que consiste
em disponibilizar um ambiente informatizado apresentando um mapa estratégico com os indicadores de
desempenho das Instituições de Ensino Superior. Colaborando para ampliar e qualificar o desempenho dos
docentes, com isso, aumentar o nível de reconhecimento dos programas de pós-graduação stricto sensu.

Referências

[1] BERTOLDI, João., O painel estratégico como ferramenta de avaliação de desempenho: uma abordagem
conceitual em uma empresa do ramo metalúrgico. Porto Alegre, 2003. Dissertação apresentada ao programa de pós-
graduação – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.

[2] KAPLAN, R. S.; NORTON, D. P., A estratégia em ação: Balanced Scorecard. Tradução de Luiz Euclydes
Trindade Frazão Filho. 13.ed. Rio de Janeiro: Campus, 1997.

[3] SILVA, Leandro Costa da. O balanced scorecard e o processo estratégicoeasuring, managing and maximizing
performance. Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, v. 10, no 4, p. 61-73, 2003.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

TRANSPARÊNCIA NOS PORTAIS MUNICIPAIS DA MICRORREGIÃO DE CARAZINHO RS

Mari Eldionara Rosa Machado1*, Cristiane Rosa Moreira2


1
UFSM/CESNORS
2
Orientadora UFSM/CESNORS

1. Introdução

“A quantidade de notícias de irregularidades no trato da coisa pública no Brasil sugere que o


comportamento corrupto é corriqueiro no país [5].” O autor diz ainda que o estudo do caso brasileiro é de
muita importância, pois a corrupção é perniciosa para o desenvolvimento da sociedade e, lembra que as
causas iniciais da corrupção foram políticas.
A corrupção é vista como um entrave no crescimento dos países em desenvolvimento ricos em
recursos [4]. A transparência, em especial das contas públicas obrigatórias em lei, é uma maneira de
aumentar a fiscalização da população sobre o destino dos recursos públicos e sua gestão.

As políticas de desenvolvimento econômico implantadas no Brasil foram extremamente


conservadoras, proporcionando cada vez mais o aumento da concentração de renda e
conhecimento por uma pequena parcela da população, ocasionando com isso sérios
problemas de exclusão social e cultural [3].

A transparência, a qual pode ser obtida diretamente com a governança eletrônica, está negativamente
correlacionada com a corrupção e positivamente correlacionada com o desenvolvimento econômico [1].
Com a Lei de Responsabilidade Fiscal que obriga a publicação das contas fiscais e seus respectivos
anexos em meio eletrônico de amplo acesso público, o controle social voltou a ter destaque ao ser apontado
como necessário para garantir o equilíbrio das contas públicas, aumentando a importância da transparência
[6].
O objetivo do trabalho é mensurar a efetiva publicação de informações fiscais nos portais municipais
do Rio Grande do Sul. O universo da pesquisa é à Microrregião de Carazinho, delimitado pelo IBGE, que
reúne 18 municípios. A escolha desta microrregião deu-se pelo fato de um dos Campi do CESNORS, que
pertence à Universidade Federal de Santa Maria, ficar localizado no município de Palmeira das Missões.

2. Método

A pesquisa é quantitativa, do tipo exploratória. Foi utilizado um protocolo de coleta de dados que
inclui todos os demonstrativos e seus anexos, mensurando a Lei que dispõe acerca da publicação e o período
que estes relatórios devem ser publicados. O universo da pesquisa está delimitado à microrregião de
Carazinho. A coleta de dados foi realizada visitando-se os sites das prefeituras na busca dos relatórios fiscais
disponibilizados nos seus portais. Os relatórios encontrados foram classificados quanto à publicação (0 –
Não publica; 1 – Publica; 2 – Link inexistente; 3 – Não tem site; 4 – Página em construção), completude (1 –
completo; 2 – Incompleto) e atualidade (período/ano).
A análise dos dados coletados focou principalmente a freqüência de publicação e a completude dos
relatórios fiscais. Foi utilizado o programa Microsoft Excel® para análise dos dados.

3. Resultados e Discussão

Na Tabela 1 pode-se observar os principais resultados da coleta de dados nos portais municipais. O
Demonstrativo Simplificado do Relatório Resumido de Execução Orçamentária (RREO) foi o que
apresentou maior publicação, com 55,56%, o Demonstrativo Simplificado do Relatório de Gestão Fiscal
(RGF) apresentou 33,33% de publicação e o Demonstrativo de Despesa com Pessoal apresentou 16,67%.
Quanto a link inexistente/quebrado o Relatório de Gestão Fiscal apresentou o maior percentual, 27,78%,
seguido do Demonstrativo de Despesa com Pessoal com 22,22% e do Relatório Resumido de Execução
Orçamentária com 16,67%. O relatório que apresentou menor percentual de não publicação foi o
Demonstrativo de Despesa com Pessoal com 44,44%, quase metade dos municípios que possuem sites não
publicou este demonstrativo. Esse fato se explica pela legislação vigente facultar a publicidade desse
relatório aos municípios com menos de cinqüenta mil habitantes, bem como a divulgação semestral do RGF.

*
Autor correspondente: marimachado@mail.ufsm.br
873
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

No caso do Demonstrativo Simplificado do Relatório Resumido de Execução Orçamentária que obteve


maior publicação, deve-se ao fato de ser considerado como um instrumento de transparência da gestão fiscal.
Com base nesses resultados pode-se afirmar que os relatórios publicados estão em conformidade com os que
a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) dá maior ênfase e atenção.

Tab. 1 Principais resultados quanto à publicação dos relatórios nos sites das prefeituras municipais.
Fonte: Dados da pesquisa.
Demonstrativo Publica Não Publica Link inexistente/ Não tem Página em Total
(%) (%) Quebrado (%) site (%) Construção (%)
(%)
Dem. Simpl. do Relatório
Resumido de Execução 55,56 11,11 16,67 11,11 5,56 100,00
Orçamentária
Dem. Simpl. do Relatório
de Gestão Fiscal
33,33 22,22 27,78 11,11 5,56 100,00
Dem. de Despesa com
Pessoal
16,67 44,44 22,22 11,11 5,56 100,00

A Tabela 2 apresenta os resultados dos principais demonstrativos publicados quanto a sua completude.
O relatório que foi publicado de forma completa pela maior parte dos municípios foi o Demonstrativo
Simplificado do Relatório de Gestão Fiscal, com freqüência de 33,33%, demonstrando que os municípios
que publicaram este relatório fizeram-no de forma completa, apesar de ser um relatório facultativo a
municípios com população inferior a cinqüenta mil habitantes. O Demonstrativo de Despesa com Pessoal foi
apresentado de forma incompleta em mais da metade dos relatórios encontrados nos sites, 11,11% de uma
freqüência total de 16,67%, sendo também um relatório facultativo. Metade dos Demonstrativos
Simplificados do Relatório Resumido de Execução Orçamentária estavam incompletos, ou seja, 27,78% de
uma freqüência total de 55,56% desses municípios, revelando que mesmo sendo um relatório obrigatório, os
municípios apenas o publicam para cumprir a Lei, não se preocupando com a sua completude e com a real
transparência dos relatórios.

Tab. 2 Principais resultados quanto à completude dos relatórios.


Demonstrativo Completo (%) Incompleto (%) Não Publica (%) Total (%)
Dem. Simpl. do Relatório Resumido
de Execução Orçamentária
27,78 27,78 44,44 100,00
Dem. Simpl. do Relatório de Gestão
Fiscal
33,33 0,00 66,67 100,00
Dem. de Despesa com Pessoal 5,56 11,11 83,33 100,00
Fonte: Dados da pesquisa.

4. Conclusão

Observou-se que o Demonstrativo Simplificado do Relatório Resumido de Execução Orçamentária foi


o que apresentou maior publicidade no universo analisado, seguido do Demonstrativo Simplificado do
Relatório de Gestão Fiscal e do Demonstrativo de Despesa com Pessoal. A Lei de Responsabilidade Fiscal
dá destaque aos Demonstrativos de Despesa com Pessoal, ao Relatório Resumido de Execução Orçamentária
e ao Relatório de Gestão Fiscal, por isso pode-se explicar o motivo que levou estes três relatórios a serem os
mais publicados pelos municípios. O Demonstrativo Simplificado do Relatório de Gestão Fiscal e o
Demonstrativo de Despesa com Pessoal são relatórios facultativos a municípios com menos de cinqüenta mil
habitantes, o que justifica a menor publicação destes relatórios. Pode-se inferir que os municípios se
preocupam com a publicação dos demonstrativos obrigatórios em Lei apenas para cumpri-la, diminuindo o
sentido de transparência, e a representação clara e compreensível das informações fiscais.
A coleta de dados nos sites das prefeituras foi realizada até o final do mês de abril, os dados atuais
podem diferir dos apresentados neste trabalho.
Para pesquisas futuras sugere-se aumentar a abrangência da coleta de dados nos sites dos municípios
de todo o Estado do Rio Grande do Sul, e com esses dados e o índice de transparência fazer uma comparação
entre o nível de transparência e os indicadores socioeconômicos municipais, comparando regiões e suas

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

diferentes características. Outra sugestão de pesquisas futuras seria realizar um estudo quanto a quem, a que
órgãos regulamentadores, cabe cobrar a transparência nos municípios.

5. Referências Bibliográficas

[1] BASTIDA, F.; BENITO, B. Central Government Budget Practices and transparency: an
international comparison. Public Administration. V. 85, n.3, 2007.

[2] BRASIL. Secretaria do Tesouro Nacional. Manual de demonstrativos fiscais: aplicado à União e aos
Estados, Distrito Federal e Municípios: relatório de gestão fiscal/ Ministério da Fazenda, Secretaria do
Tesouro Nacional. 2ª ed. Brasília: Secretaria do Tesouro Nacional, Coordenação-Geral de Contabilidade.
2009

[3] CASTRO, J.; ATHAYDE, T;RESENDE, A. O Balanço Social Do Setor Público: Uma Proposta Para
Prefeituras Municipais. Anais do EnANPAD 2001.Disponível em
<http://www.anpad.org.br/evento.php?acao=trabalho&cod_edicao_subsecao=50&cod_evento_edicao=5&co
d_edicao_trabalho=3060> Acesso em 07/10/2009.

[4] KOLSTAD, I.; WIIG, A. Is transparency to key to reducing corruption in resource-rich countries?
Elsevier. V.37, 2009. Disponível em <http://www.sciencedirect.com/science/article/B6VC6-4TNTN8K-
1/2/fc9f21d421364f86644e75f7a0299674> Acesso em 07/10/2009.

[5] MACIEL, F. O Controle da Corrupção no Brasil. In: I Concurso de Monografias e Redações da CGU.
Porto Alegre, 2005. Disponível em
<http://www.cgu.gov.br/Concursos/Arquivos/1_ConcursoMonografias/3_Felipe_Guatimosim_Maciel.pdf>
Acesso em 18/11/2009.

[6] PINHO, J.; SACRAMENTO, A. R. A internet e o combate à corrupção: um estudo exploratório nas
homepages de órgãos representativos dos três poderes no Brasil. Anais do EnANPAD 2008. Disponível em
<http://www.anpad.org.br/evento.php?acao=trabalho&cod_edicao_subsecao=391&cod_evento_edicao=38&
cod_edicao_trabalho=8625> Acesso em 07/10/2009.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO TÉRMICO DE EDIFICAÇÕES DE INTERESSE


SOCIAL UNIFAMILIAR EM SANTA MARIA – RS

Ana Carolina C. Tres1*; Ana Júlia S. Socal1; Bárbara P. Scalcon1; Diego D. Both1; Maurício Martini1; Sâmila
P. Müller1;Giane de Campos Grigoletti2; Renata Rotta3
1
Universidade Federal de Santa Maria, Curso de Arquitetura e Urbanismo
2
Universidade Federal de Santa Maria, Departamento de Arquitetura e Urbanismo
3
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha, Curso Técnico em Edificações

1. Introdução
No Brasil, habitação de interesse social (HIS) tem historicamente apresentado problemas de conforto
térmico e eficiência energética. Por este motivo, este tipo de edificação tem sido objeto de avaliações
constantes. Entre os diversos estudos, destacam-se aqueles que envolvem medições in loco, importantes para
validar modelos físicos usados em simulações, além de permitirem a avaliação de edificações reais cuja
modelagem pode exigir simplificações que comprometeriam sua acuracidade. Considerando-se essa
abordagem, estudos específicos para o clima do Rio Grande do Sul e habitações unifamiliares foram
realizados por Becker [1], Morello [2] e Grigoletti et al. [3], entre outros.
Este resumo apresenta os resultados obtidos na avaliação de desempenho térmico de quatro habitações
unifamiliares de interesse social construídas em Santa Maria, no RS, em dois conjuntos residenciais
diferentes. O objetivo da etapa objeto deste resumo foi verificar o desempenho térmico de quatro tipologias
(um e dois dormitórios) adotadas pelo poder público local no que diz respeito ao sistema construtivo e a
orientação solar frente a condições de verão. As habitações possuem um e dois dormitórios, orientações
solares e sistemas contrutivos diferentes. As mesmas foram apontadas pelo órgão público responsável por
este tipo de empreendimento no município como soluções recomendada e não recomendada devido aos
problemas de conforto térmico verificados durante seu uso (informalmente apontados por seus moradores).
Santa Maria é uma cidade com cerca de 260 mil habitantes situada no interior do Rio Grande do Sul em uma
área conhecida como depressão central. Esta região é caracterizada por temperaturas médias superiores a
20C em pelo menos 5 meses do ano, velocidade média dos ventos de 2m/s com direção predominante de
Leste, com ondas de calor freqüentes [4]. Entre os meses de junho a setembro (inverno) a média das
temperaturas mínimas varia entre 9C a 10C e entre os meses de dezembro a março, a média das
temperaturas máximas varia entre 28C a 30C. Temperatura mínima e máxima registrada para o inverno e
verão, entre 1961 a 1990, foram de -2,8C e 40,2C respectivamente [5]. Ela está situada na Zona
Bioclimática 2 conforme classificação da NBR 15.220 [6]. Para esta zona, são aconselhadas as estratégias
ventilação cruzada, aquecimento solar passivo, paredes e coberturas leves.

2. Método
As edificações a serem submetidas à avaliação foram escolhidas a partir da percepção do poder
público local como boa e má referência construtiva do ponto de vista térmico (baseados em reclamações dos
usuários). Foram selecionadas duas edificações de um dormitório com orientações solares nordeste e
sudoeste (dormitório e sala), conforme indicado na tabela 1, construídas com parede externa de tijolo 6 furos
na cor branca e cobertura com telha de fibrocimento. Também foram selecionadas duas edificações de dois
dormitórios com orientações solares norte e sul (dormitório e sala), construídas com parede externa composta
por blocos de concreto na cor branca e cobertura com telha de fibrocimento. As edificações escolhidas
mantinham sua característica original (sem ampliações) e pertenciam a pessoas que concordaram em ter os
equipamentos instalados em seu interior. Foram selecionados três métodos diferentes para avaliação das
edificações: aplicação de questionário junto aos moradores das habitações, verificação da conformidade com
recomendações de desempenho térmico definidas pela ABNT [6] através da norma NBR 15.220 e medições
in loco de temperatura do ar interno e externo.

3. Resultados e Discussão
3.1 Descrição das habitações e posição de sensores
As duas habitações analisadas localizam-se em uma zona urbana de baixa densidade. O bairro formado
por edificações isoladas ou parcialmente isoladas no lote, de um só pavimento. A tabela 1 apresenta o
sistema de vedações das duas tipologias analisadas, sua planta baixa, com a localização dos sensores, e
fotografias ilustrativas.

*
acavichiolitres@yahoo.com.br
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Tabela 1. Descrição das habitações analisadas


Casa Planta baixa Materiais
A - 1 dormitório
- Parede de tijolos de 6 furos
na cor branca (30cm) com
argamassa de revestimento em
ambos os lados
- Cobertura de telha de
fibrocimento 6mm
- Laje de concreto 8cm

B – 1 dormitório
- Parede de tijolos de 6 furos
na cor branca (30cm) com
argamassa de revestimento em
ambos os lados
- Cobertura de telha cerâmica
- Laje de concreto 8cm

C – 2 dormitórios
- Parede de blocos de concreto
na cor branca (10cm) com
argamassa de revestimento em
ambos os lados
- Cobertura de telha de
fibrocimento 6mm
- Forro de madeira leve

D – 2 dormitórios
- Parede de blocos de concreto
na cor salmão (10cm) com
argamassa de revestimento em
ambos os lados
- Cobertura de telha de
fibrocimento 6mm
- Forro de madeira leve

3.2 Opinião dos usuários


A tabela 2 apresenta os principais resultados alcançados através da aplicação dos questionários.
Verifica-se, para ambas tipologias, uma insatisfação tanto para a situação de verão quanto para a situação de
inverno, com percentagens mínimas próximas ao 70%. As tipologias A e B apresentaram uma insatisfação
maior para o inverno do que para o verão. As tipologias C e D apresentaram uma insatisfação maior para a
situação de verão do que a de inverno. Em relação à sensação de umidade, a tipologia em blocos de concreto
apresentou uma insatisfação bem maior do que a tipologia com tijolos cerâmicos. As percentagens
alcançadas com o uso de aquecedores reforçam a insatisfação dos moradores das tipologias A e B para a
situação de inverno.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Tabela 2. Descrição das habitações analisadas


Tipologias A e B Tipologias C e D
Questões (respostas afirmativas) (respostas afirmativas)
Considera sua casa quente no verão? 71% 97%
Considera sua casa fria no inverno? 86% 67%
Considera a casa úmida? 43% 73%
Costuma usar ventilador no verão? 100% 100%
Costuma usar aquecedor no inverno? 29% 17%
Permanece alguém em casa durante o dia? Sim/sim Sim/não

3.3 Conformidade com recomendações da NBR 15.220-3


As propriedades térmicas das paredes das tipologias analisadas são apresentadas na tabela 3 que segue,
com seu comparativo com as recomendações da NBR 15.220-3. A transmitância térmica é satisfeita para as
tipologias A e B (paredes de tijolos cerâmicos) e não é para as tipologias C e D (blocos de concreto). O
atraso térmico e o fator solar são satisfeitos por todas as tipologias, com exceção da tipologia D (parede
externa na cor salmão), para o fator solar.
Tabela 3. Propriedades térmicas das paredes e seu comparativo com recomendações da NBR 15.220-3
Propriedades térmicas paredes NBR 15.220 A B C D
Transmitância térmica (W/m²K) ≤ 3,0 2,81 2,81 4,24 4,24
Atraso térmico (h) ≤ 4,3 3,4 3,4 2,4 2,4
Fator Solar (%) ≤ 5,0 2,20 2,20 3,40 5,10

A tabela 4 apresenta as propriedades térmicas para a cobertura, para a situação de verão e inverno,
com seu comparativo com a NBR 15.220-3. A transmitância térmica da cobertura não é satisfeita para
nenhuma das tipologias tanto para a situação de inverno quanto para a situação de verão. O atraso térmico
não é satisfeito pelas tipologias C e D. O fator solar não é satisfeito por nenhuma das tipologias para a
situação de inverno.
Tabela 4. Propriedades térmicas das coberturas e seu comparativo com recomendações da NBR 15.220-3
Propriedades térmicas coberturas NBR 15.220 A B C D
Verão
Transmitância térmica (W/m²K) ≤ 2,0 2,17 2,00 2,20 2,20
Atraso térmico (h) ≤ 3,3 3,5 3,5 3,4 3,4
Fator Solar (%) ≤ 6,5 5,64 5,64 5,72 5,72

3.4 Medições in loco


O total de horas de medições foi de 1.657 horas entre os dias 30 de janeiro e 8 de abril de 2010. As
figuras 1, 2, 3 e 4 são gráficos que ilustram a variação das temperaturas internas dos cômodos das quatro
tipologias submetidas a medições. As quatro habitações são habitadas com moradores permanecendo em
casa durante o dia, com exceção da habitação D.
Para a tipologia A, o dormitório voltado a Sudoeste apresenta temperaturas superiores às máximas
registradas externamente e inferiores às mínimas registradas. Existe pouca diferença entre as temperaturas
internas e a externa, indicando a baixa capacidade de amortecimento da edificação ou a manutenção da casa
aberta por parte dos moradores. Já para a tipologia B, com orientação nordeste dos cômodos, as temperaturas
internas estão acima das mínimas registradas, mas próximas das máximas registradas no meio exterior. Isto
provavelmente se deve ao aquecimento solar da edificação durante o dia, devido à orientação dos cômodos,
provocando um amortecimento maior para as baixas temperaturas do que para as altas, além da mesma
possuir uma cobertura em telhas cerâmicas (menor transmitância térmica). No entanto, para ambas as
tipologias são verificadas temperaturas acima do limite superior da zona de conforto proposto por Givoni [7]
de 29°C, em alguns dias, as temperaturas máximas internas estão acima de 35°C. Para a tipologia B, a sala
de estar voltada a Nordeste tem temperaturas internas mais próximas das temperaturas externas do que o
dormitório, também voltado a Nordeste.

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Para as tipologias C e D, as temperaturas internas se aproximam das máximas externas e se afastam


das mínimas, em alguns horários, a temperatura interna é superior a temperatura externa para condições de
calor (temperaturas externas acima de 29°C. Também para estas duas tipologias, as temperaturas internas
estão, em boa parte dos horários, acima do limite superior de conforto proposto por Givoni [7]. Para a
tipologia D, o cômodo a Oeste apresenta mínimas mais elevadas do que o cômodo voltado a Sul. Para a
tipologia C, não há diferença significativa entre as temperaturas dos cômodos a Norte e a Leste.
A tabela 5 apresenta a percentagem média de horas de desconforto por frio e por calor atingido em
cada habitação para o período de medições (1.657 horas entre 30 de janeiro a 8 de abril de 2010). A tipologia
B apresentou menor percentagem de horas de desconforto por calor, tendo uma orientação solar mais
favorável (nordeste) e telhas de cerâmica. As tipologias C e D apresentaram os percentuais mais elevados
corroborando a opinião dos agentes públicos. A tipologia C, com orientação norte, apresenta menor
percentagem de horas de desconforto do que a D.
Tabela 5 Percentagem de horas de desconforto para as quatro tipologias analisadas
Tipologias
Desconforto A B C D
Calor Sala 34,3% 30,2% 37,1% 38,5%
Dormitório 32,6% 28,6% 37,1% 40,0%
Frio Sala 0,6% 0,8% 0,3% 0,5%
Dormitório 2,2% 0,6% 0,7% 0,8%

4. Conclusão
Os resultados encontrados corroboram a importância da orientação solar das edificações e o
uso de coberturas de menor transmitância térmica com como forma de melhorar as condições de
conforto por calor. Os resultados corroboram a opinião dos agentes públicos, que apontam as
tipologias A e C como soluções aconselhadas e C e D não aconselhadas, e a percepção dos usuários.
Em relação aos cômodos, para as tipologias A, B e C, houve diferença relevante nas temperaturas
conforme a orientação solar, o que não foi verificado para a tipologia D. O estudo também indica a
necessidade de definir uma abordagem para a avaliação de edificações habitadas, uma vez que é
difícil acompanhar diariamente os hábitos dos moradores, tais como, o uso de ventiladores e
aquecedores, abrir ou manter fechadas portas e janelas, uso de equipamentos que geram calor, entre
outros, que interfere no comportamento térmico de edificações.

Referências
[1] BECKER, Maria de Fátima Monteiro. Análise do desempenho térmico de uma habitação unifamiliar
térrea. 1992. Dissertação de Mestrado. UFRGS. Porto Alegre.
[2] MORELLO, Al. Avaliação do comportamento térmico do protótipo habitacional Alvorada. 2005. 178f.
Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil). Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre.
[3] GRIGOLETTI, G.; ROTTA, R.; MÜLLER, S. Avaliação de desempenho térmico de habitação de
interesse social em Santa Maria – RS. In: 10. ENCONTRO NACIONAL. 6. ENCONTRO LATINO
AMERICANO DE CONFORTO NO AMBIENTE CONSTRUÍDO. 2009, Natal. Anais ... ANTAC, 2009.
[4] FORTES, Amyr Borges. Geografia física do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Globo, 1959.
[5] INMET - Instituto Nacional de Meteorologia. Normais climatológicas de Santa Maria, RS. Disponível
em: <htpp://www.inmet.gov.br>. Acessado em: novembro de 2007.
[6] ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas – NBR 15220-1/2/3. Desempenho térmico de
edificações. Rio de Janeiro: ABNT, 2005.
[7] GIVONI, Baruch. Comfort, climate analysis and building design guidelines. Energy and Buildings 18
(1992) 11-23.

Agradecimentos
Ao Fundo de Incentivo à Pesquisa (FIPE 2009) pela bolsa para acadêmico e ao Prof. Joaquim Pizzutti dos
Santos, pelo empréstimo dos equipamentos de medição usados nos levantamentos.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010
1
LEI TRAF – SANTA CATARINA:
avanços e desafios da multifuncionalidade do espaço rural

SILVA, Rodrigo Borsatto Sommer da*¹; DIAS, Vera Lúcia Nehls¹


¹ Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC

1. Introdução

A legislação sobre TRAF - Turismo Rural na Agricultura Familiar se esforça para reconhecer a
multifuncionalidade do espaço rural e o público-alvo a ser beneficiado que neste caso são os agricultores
familiares. O avanço legal sobre a multifuncionalidade do espaço rural está voltado a compreender as
particularidades do trabalho desenvolvido no campo pela agricultura familiar, suas dificuldades e as novas
dinâmicas sociais praticadas no espaço rural.
A prática do TRAF - Turismo Rural na Agricultura Familiar esbarra em obstáculos provenientes da
ausência de amparo legal a atuação dos agricultores familiares nesse segmento turístico. Os obstáculos estão
colocados no que diz respeito às normas sanitárias, que reconhecem somente os processos industriais
registrados; no que diz respeito à legislação previdenciária, que exige, por exemplo, fidelidade do agricultor
nas atividades agrícolas (se o agricultor possuir outra fonte de renda além da agricultura, ele perde a
condição de segurado especial) seja ainda; em relação às normas trabalhistas (que impedem, por exemplo, a
contratação formal de mão-de-obra – que neste caso exige que o agricultor possua uma empresa registrada e
se possuir tal empresa, o agricultor não pode contratar mão-de-obra temporária) e, por fim; no que diz
respeito à dificuldade de emitir notas fiscais pelas condições de informalidade do serviço oferecido e pela
carga tributária ao se inserir no TRAF.
Dessa forma, é o objetivo geral deste estudo conhecer a importância da Lei TRAF/SC sobre o
desenlace legislativo que afeta o desenvolvimento do TRAF em Santa Catarina e apontar os possíveis
avanços alcançados no turismo rural na agricultura familiar após a aprovação da Lei TRAF/SC 14.361 de
2008.

2. Método

Esse estudo caracteriza-se quanto à abordagem do problema, como qualitativo e; descritivo, quanto
aos seus objetivos.
Buscou-se descrever a participação do turismo rural na agricultura familiar no cenário rural
compreendido por suas novas funcionalidades, que nesse estudo são reconhecidas pela Lei TRAF/SC.

3. Resultados e Discussão

O estado de Santa Catarina saiu na frente dos demais estados brasileiros quando em 1984, no
município de Lages, surgiu oficialmente o turismo rural no Brasil.
Essa tipologia de turismo nasceu justamente em Lages, território de latifúndios e grandes fazendas
rurais, como forma pioneira de diversificação das atividades agropecuárias, tradicionais naquela região.
Com o incentivo do poder público local, principalmente nas ações estratégicas de promoção e
comercialização, os proprietários resolveram abrir as portas de suas fazendas para os turistas.

Quanto aos aspectos físicos das propriedades, observa-se que estes tipos de
empreendimentos em Lages apresentam áreas que podem ser consideradas de médias a
grandes propriedades, uma vez que variam de 100 a mais de 1000 hectares. Este tamanho
de estrato se distancia muito da média do estado de Santa Catarina, onde predominam as
pequenas unidades familiares de produção, com até 50 hectares (MATTEI; SANTOS
JUNIOR, 2003, p. 18).

A partir dessa iniciativa começaram a surgir derivações desse turismo que atendessem ao tamanho
médio das unidades familiares de produção do espaço rural catarinense. O TRAF é o segmento que está
voltado para o agricultor familiar catarinense.

*
Autor correspondente: rodrigosommer83@yahoo.com.br
880
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010
2
O Art. 3o da Lei nº 11.326 de 2006 que estabelece as diretrizes para a formulação da Política
Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais, considera agricultor familiar e
empreendedor familiar rural aquele que pratica atividades no meio rural, atendendo, simultaneamente, aos
seguintes requisitos:

I - não detenha, a qualquer título, área maior do que 4 (quatro) módulos fiscais;
II - utilize predominantemente mão-de-obra da própria família nas atividades econômicas
do seu estabelecimento ou empreendimento;
III - tenha renda familiar predominantemente originada de atividades econômicas
vinculadas ao próprio estabelecimento ou empreendimento;
IV - dirija seu estabelecimento ou empreendimento com sua família.

Dessa forma, o TRAF está voltado a atender as características desses agricultores que desejam, além
de realizar suas atividades voltadas à agricultura, complementá-las com a prática do turismo. Para isso vem
ocorrendo, a partir da década de 1990, diversos movimentos regionais que de forma latente estão tentando
organizar e desenvolver esse segmento turístico no Estado.
Esses movimentos são organizados por instituições distribuídas nas regiões turísticas de Santa
Catarina.
A EPAGRI - Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina é a instituição
que representa a atuação do Governo de Santa Catarina junto ao TRAF.
A Empresa desenvolve o Projeto de Turismo Rural na Agricultura Familiar dentro do seu Programa
de Desenvolvimento Local. O Projeto visa promover a melhoria e o desenvolvimento de atividades turísticas
na propriedade agrícola familiar, como instrumento de complementação de renda.
É justamente esse papel catalisador da EPAGRI que potencializou a diálogo com as instituições
citadas acima, que juntas formaram em 2002 o GTTuR - Grupo Temático de Turismo Rural. Participam das
discussões o Ministério do Desenvolvimento Agrário, a Secretaria de Estado de Turismo, Cultura e Esporte,
a SANTUR – Santa Catarina Turismo S/A, a Comissão de Turismo e Meio Ambiente da Assembléia
Legislativa de Santa Catarina (CTMA –ALESC), a Associação de Agroturismo Acolhida na Colônia e
Instituições de Ensino Superior. O Grupo tem por objetivo dialogar sobre as diretrizes de desenvolvimento
do turismo rural e segmentos derivados junto às pessoas e instituições interessadas e/ou envolvidas com o
tema.
Por conta disso, em 2006 foi elaborado o “Plano Estratégico para o Desenvolvimento do Turismo
Rural em Santa Catarina”. Esse Plano contem diretrizes voltadas para cinco eixos temáticos: políticas
públicas; organização e gestão; profissionalização e capacitação e; promoção e comercialização do segmento
turístico.
No eixo temático “políticas públicas” se incluiu a criação da lei de reconhecimento e incentivo ao
Turismo Rural na Agricultura Familiar do Estado – Lei TRAF/SC.
A elaboração da referida Lei partiu de diversos esforços conjuntos dos movimentos nacional e
estadual, de inclusão e igualdade das atividades TRAF a coletânea de atividades agrícolas. Sua principal
contribuição é estender aos agricultores que se dedicam ao TRAF o mesmo regime fiscal e tributário vigente
aos pequenos agricultores dedicados à produção agropecuária, além de iniciar o movimento que incentiva o
ingresso de agricultores familiares nas atividades turísticas sem perder a condição de segurado especial.

5. Conclusão

A Lei TRAF/SC merece divulgação e reconhecimento pela sua elaboração interdisciplinar e


interinstitucional que resultou em um texto legal comprometido com o agricultor familiar.
Esta Lei compromete-se em apoiar o pequeno agricultor que por diversas dimensões legais
(previdenciária, trabalhista, fiscal, tributária e sanitária) está aprisionado a avançar com serviços e produtos
de qualidade a serem oferecidos para o mercado turístico.
Certamente a Lei TRAF/SC não é a fonte de todos a soluções do TRAF em Santa Catarina. Ela é o
primeiro passo de reconhecimento de uma das principais vocações turísticas do Estado e principalmente
volta-se a fazer parte de um dos instrumentos de pagamento das dívidas sociais, culturais e econômicos que o
Estado possui com os agricultores familiares. Além de formalizar o conceito TRAF em Santa Catarina, a Lei
regulamenta a oferta e demanda TRAF, disponibiliza as diversas atividades TRAF. É ousada quando sugere
que as atividades TRAF devem receber o mesmo tratamento fiscal e tributário das atividades agrícolas
contidas na Lei de Política Agrícola.
O GTTuR formado pela concepção interinstitucional é exemplo de que os órgãos competentes
envolvidos com o tema estão dispostos a dialogar e principalmente colocar em prática a proposta. Neste
881
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010
3
sentido, a regulamentação da Lei TRAF/SC parece vir ao encontro da diminuição dos entreves do TRAF
catarinense contribuindo para a consolidação de uma atividade opcional de geração de emprego e renda no
espaço rural.

6. Referências

BRASIL. Lei nº 11.326 de 2006. Estabelece as diretrizes para a formulação da Política Nacional da
Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais. Disponível em: <www.planlato.gov.br>.

MATTEI, L.; SANTOS JÚNIOR, J. A. dos. A dinâmica das atividades agrícolas e não-agrícolas no novo
rural brasileiro: fase III do projeto rurbano. In: III Seminário novo rural brasileiro. 2003. Campinas. Anais
eletrônicos. Campinas: UNICAMP. Disponível em: <http://www.eco.unicamp.br/nea/rurbano>. Acesso em:
26 out. 2008.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Planejamento de Escala de Trabalho no Setor de Governança


Adevair Aparecido Dutra Junior1
Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE

Resumo: O objetivo deste artigo é contribuir para a compreensão da importância da


escala de trabalho nos meios de hospedagem da cidade de Foz do Iguaçu, que por ser
um destino turístico de renome nacional exige excelência em serviços. E procura
também identificar as formas de escalas utilizadas nos meios de hospedagem da
Avenida Republica Argentina na cidade de Foz do Iguaçu. Considerando que um
planejamento adequado aumenta a qualidade de trabalho e a satisfação do funcionário,
gerando uma qualidade superior nos serviços prestados ao hospede. O tema proposto
tem sua importância ressaltada devido à falta de publicações sobre o planejamento de
escalas.
A pesquisa é qualitativa e foi realizada por meio de entrevista com a utilização de
roteiro estruturado, tendo como amostra os meios de hospedagem da Avenida Republica
Argentina.

1
Acadêmico do Curso de Bacharel em Hotelaria da Universidade Estadual do Oeste do
Paraná – UNIOESTE – Campus de Foz do Iguaçu. Email: J o t i n h a _ f o z @ h o t m a i l . c o m

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

PLANEJAMENTO REGIONAL EM SANTA CATARINA APÓS A CONSTITUIÇÃO DE


1988: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES1

Isa de Oliveira Rocha1*; Patrícia Royes Schardosim2*


1
Professora Orientadora, Geografia – UDESC
2
Bolsista Voluntária de Iniciação Científica, Geografia – UDESC

1. Introdução
Os governos estaduais de Santa Catarina têm, principalmente a partir da Constituição de 1988,
proposto políticas de desenvolvimento econômico e social para as distintas regiões do estado, por meio da
elaboração de diversos planos regionais, de autoria de diferentes instituições. Essas ações de planejamento
regional estaduais requerem resgate e análises mais aprofundadas, pois em muitos casos, verifica-se que
houve paralisação dos estudos, interrupção da implementação das proposições, falta de integração entre as
instituições estaduais etc., em virtude de descontinuidades de governos, falta de recursos, entre outras
questões, ainda não analisadas no seu conjunto.
Os últimos eventos catastróficos provocados pelas intensas chuvas de novembro e dezembro de
2008 na vertente Atlântica do território estadual determinaram a criação, pelo governo estadual, do Grupo
Técnico Científico - GTC. Este grupo é composto por uma equipe multi-institucional e multidisciplinar,
vinculado ao Grupo de Reação, instituído pelo Decreto n°1.940 de 03 de dezembro de 2008 e pelo Decreto
n°2445 de 13 de julho de 2009, que torna o GTC de atuação permanente, e do Protocolo de Intenções
firmado entre o Governo do Estado e diversas instituições públicas e universidades de Santa Catarina
(SDS/SC, UDESC, EPAGRI, FAPESC, UFSC, UNIVILLE, FURB, UNIPLAC, CREA-SC, SATC).
“Avaliação e identificação das causas, efeitos e adoção de medidas preventivas às catástrofes naturais em
Santa Catarina. Portanto, o GTC tem a função de levantar informações, analisá-las e propor adoção de
mecanismos minimizadores de desastres naturais no território catarinense.” [1].
Esta pesquisa em andamento (contemplada com recursos de Chamada Pública 010/2009 –
FAPESC: Prevenção de Catástrofes Naturais e apoio do Programa Institucional de Iniciação Científica da
UDESC) responde as seguintes questões: a) Quais os planos regionais elaborados para o território estadual?
b) Quais os autores/instituições dos planos? Onde estão estes planos? Quais as metodologias utilizadas? c)
Quais as proposições para uso e ocupação do território e para o desenvolvimento econômico e social? Para
tanto, apresenta como Objetivo Geral: resgatar e analisar o Planejamento Regional de Santa Catarina para a
prevenção de catástrofes naturais. Como Objetivos Específicos: a) identificar os planos regionais
elaborados para o território estadual e seus respectivos autores (instituições); b) levantar e reunir em banco
de dados digital os planos regionais elaborados.
A perspectiva teórica está alicerçada no paradigma geográfico Formação sócio-espacial pensado
por Milton Santos [2,3], que possibilita verificar o dinamismo espacial por meio de uma leitura dialética da
formação do espaço; a partir de relações de processo/resultado, função/forma, objeto/sujeito,
passado/futuro, sociedade/natureza. Tal interpretação espacial torna-se plausível, quando aglutinada com o
pensamento de Ignácio Rangel, que interpreta o desenvolvimento econômico brasileiro relacionado aos
ciclos econômicos do capitalismo mundial, e de Armen Mamigonian [4], que entende que a “geografia
responde, como outros conhecimentos, à necessidade de descrição e explicação do mundo: da natureza que
nos envolve e cujas leis de funcionamento nos interessam, bem como da sociedade, cujas leis, mais
complexas e mutáveis, igualmente fazem parte do interesse dos homens”.

2. Método
Os procedimentos metodológicos compreendem, no seu conjunto, a realização das seguintes
atividades: revisão bibliográfica; levantamento de dados e informações documentais em arquivos de
instituições públicas estaduais como: Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável de

1
Este artigo refere-se ao resultado preliminar da pesquisa “Planejamento regional e prevenção de catástrofes em
Santa Catarina”, contemplada na Chamada Pública 010/2009 – FAPESC: Prevenção de Catástrofes Naturais e apoio
do Programa Institucional de Iniciação Científica da UDESC desenvolvida no Laboratório de Planejamento Urbano e
Regional (LABPLAN) da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC).
*
Autor Correspondente: isa@udesc.br
*
Autor Correspondente: patyroyes@gmail.com

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Santa Catarina (SDS/SC), Secretaria de Estado do Planejamento de Santa Catarina (SPG/SC), Secretaria de
Estado da Infra-estrutura de Santa Catarina (SIE/SC), Secretaria Executiva do Projeto Microbacias 2 de
Santa Catarina, Secretaria de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Rural de Santa Catarina (SDR/SC),
Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI), Fundação do Meio
Ambiente de Santa Catarina (FATMA); organização de banco de dados, com cópias digitalizadas/scaneadas
dos planos regionais elaborados.

3. Resultados e Discussão
Com o objetivo de organizar um banco de dados dos planos de desenvolvimento regional elaborados
para o estado de Santa Catarina após a Constituição de 1988, foi elaborada um quadro (Quadro 1) onde
constam os órgãos competentes e seus devidos planos. Buscou-se informações em diversos órgãos como a
Secretaria de Estado do Planejamento de Santa Catarina (através das Secretarias de Desenvolvimento
Regional - SDR), a FATMA, a Defesa Civil e a EPAGRI/CIRAM.
Na sequência, todas as Associações de Municípios de Santa Catarina foram contactadas na tentativa de
acarear dados referentes aos Planos Básicos de Desenvolvimento Ecológico Econômico – PBDEE,
elaborados principalmente na segunda metade da década de 1990.
Os PBDEE surgiram por meio da parceria entre a antiga Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano
e Meio Ambiente de Santa Catarina – SDM/SC, hoje Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico e
Sustentável de Santa Catarina – SDS/SC, e as Associações de Municípios. Através do contato feito com cada
Associação percebeu-se, de maneira geral, a desmobilização destes órgãos frente às políticas de
desenvolvimento regional, deixando esta função especificamente para as Secretarias de Estado de
Desenvolvimento Regional – SDR. Fato este ocasionado pela implementação da política de descentralização
do governo de Luiz Henrique da Silveira, que instalou as SDR por meio de uma regionalização política do
governo estadual. Assim, baseados nas informações fornecidas pelas associações, constatamos a diminuição
das atribuições destas entidades frente ao planejamento regional. Atualmente, elas são responsáveis por
suprir carências específicas das prefeituras quanto à execução de projetos de engenharia, de topografia, apoio
jurídico e de informática, execução de eventos esportivos e capacitação de servidores.
A análise dos PBDEE (Grande Florianópolis e Médio Vale do Itajaí) revelou a intenção por parte dos
executores de conciliar os objetivos econômicos, sociais e ambientais regionais. Na parte introdutória do
plano consta que seu objetivo “implica em crescimento econômico com equidade social e respeito à
capacidade de renovação dos ecossistemas e de suporte para assimilação de resíduos da atividade
humana.” (PBDEE GRANFPOLIS, p.5). Inclusive entende que “a nível de operacionalização, o
desenvolvimento sustentável implica na necessidade de coordenação e integração de ações.” (PBDEE
GRANFPOLIS, p.6). Porém, até esta etapa da pesquisa, encontram-se medidas referentes à prevenção de
catástrofes naturais somente no plano da região administrada pela Associação de municípios do Médio Vale
do Itajaí - AMMVI, onde consta a preocupação com os problemas de cheias e assoreamento dos rios causado
pela ocupação das encostas, característicos da região.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Entidade Plano Região


Araranguá
Blumenau
Brusque
Caçador
Campos Novos
Canoinhas
Chapecó
Concórdia
Criciúma
Curitibanos
Dionísio Cerqueira
Grande Florianópolis
Ibirama
Itajaí
Plano de Desenvolvimento Ituporanga
Regional Jaguará do Sul
Joaçaba
Secretaria de
Joinville
Estado do
Lages
Planejamento
Laguna
Mafra
Maravilha
Palmitos
Rio do Sul
São Joaquim
São Lourenço do Oeste
São Miguel do Oeste
Tubarão
Videira
Xanxerê
Masterplan
Plano Catarinense de
Todo o Estado
Desenvolvimento SC 2015
Plano Plurianual
GERCO – Gerenciamento
Setor Costeiro do Estado
Costeiro
AMAI - Associação dos Municípios do Alto Irani
AMARP - Associação dos Municípios do Alto Vale do Rio
do Peixe
AMAUC - Associação dos Municípios do Alto Uruguai
Catarinense
AMESC - Associação dos Municípios do Extremo Sul
Catarinense
Secretaria de AMFRI - Associação dos Municípios da Foz do Rio Itajaí
Estado do
AMMVI - Associação dos Municípios do Médio Vale do
Desenvolvimento Plano Básico de
Itajaí
Urbano e do Meio Desenvolvimento Ecológico
Ambiente - SDM e Econômico - PBDEE AMOSC - Associação dos Municípios do Oeste de Santa
Associações de Catarina
Municípios AMREC - Associação dos Municípios da Região
Carbonífera
AMUNESC - Associação dos Municípios de Nordeste de
Santa Catarina
AMUREL - Associação dos Municípios da Região de
Laguna
GRANFPOLIS - Associação dos Municípios da Grande
Florianópolis
Relatório de pesquisa 2007
EPAGRI Síntese anual da agricultura de
Santa Catarina
Projeto CLIMASUL
Projeto Microbacias 2
EPAGRI/CIRAM
Chuvas de novembro de 2008
– estudos de caso
FATMA Projeto Microbacias II
Projeto: Percepção de Risco a
Descoberta de um Novo Olhar
Defesa Civil
Atlas de Desastres Naturais do
Estado de Santa Catarina

Quadro1 - Planos de Desenvolvimento Regional disponibilizados em sites de instituições estaduais de


Santa Catarina (pós Constituição de 1988) Fonte: EPAGRI/CIRAM [5], FATMA [6], DEFESA CIVIL [7],
SPG/SC [8]Associações de Municípios. Elaboração: Patricia Royes Schardosim. Orientação: Isa de Oliveira Rocha.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

4. Conclusão
A complexidade das relações entre Natureza e Sociedade impõe ao planejamento governamental
algumas premissas: “a compreensão da realidade por etapas; a abordagem holística; a linguagem
interdisciplinar e a noção de desenvolvimento centrado na satisfação das necessidades individuais e
coletivas, com menor agressão ambiental possível” [9]. Mas, a Natureza tem a suas múltiplas determinações
[10] e os seus ciclos [11, 12], impondo regramentos maiores que as possibilidades humanas podem prever,
como as seguidas consequências das catástrofes naturais em território catarinense dos últimos anos.
O conhecimento sobre planejamento regional catarinense construído no passado pode ser
transformado em importante subsídio para os formuladores de políticas territoriais para o tempo presente.
Desta maneira, a construção do banco de dados sistematizado dos planos elaborados após a constituição de
1988 torna-se um instrumento fundamental, ao passo que evita a duplicidade de estudos.

Referências
1.GTC – GRUPO TÉCNICO CIENTÍFICO DE SANTA CATARINA. Disponível em
http://www.catastrofesnaturais.sc.gov.br. Acessado em junho de 2010.
2. SANTOS, Milton. Sociedade e espaço: a formação social como teoria e como método. Boletim Paulista de
Geografia. n. 54. São Paulo: AGB/FFLCH-USP, 1977.
3. SANTOS, Milton. A natureza do espaço: espaço e tempo: razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1999.
4. MAMIGONIAN, Armen. Tendências atuais da Geografia. Geosul. Florianópolis: Editora da UFSC, 1999.
p.119
5. EPAGRI/CIRAM – EMPRESA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA DE SANTA CATARINA.
Disponível em: http://www.epagri.sc.gov.br/. Acessado em: março de 2010.
6. FATMA – FUNDAÇÃO DO MEIO AMBIENTE DE SANTA CATARINA. Disponível em:
http://www.fatma.sc.gov.br/. Acessado em: março de 2010.
7. DEFESA CIVIL DE SANTA CATARINA. Disponível em: http://www.defesacivil.sc.gov.br/.
Acessado em: maio a junho de 2010.
8. SPG/SC – SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO DE SANTA CATARINA. Disponível
em: http://www.spg.sc.gov.br/. Acessado em: abril a junho de 2010.
9. AGUIAR, Tereza. C. et al.. Uma proposta metodológica de análise socioeconômica para estudos
ambientais e de reordenamento territorial. Rio de Janeiro: IBGE, 1997.p. 15
BRASIL, Ministério da Integração Nacional. Documento base para a definição da Política Nacional de
Ordenação do Território – PNOT (Versão Preliminar). Brasília, 2006.
10. MARX, Karl. A ideologia alemã. São Paulo: Moraes, 1984
11. MONTEIRO, Carlos Augusto. F. A questão ambiental no Brasil: 1960-1980. São Paulo: USP, 1981.
12. AB’SABER, Aziz Nacib. Os domínios de natureza no Brasil. Potencialidades paisagísticas. São Paulo:
Ateliê Editorial, 2003.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

A COMUNICAÇÃO COMO FERRAMENTA INTERDISCIPLINAR NA REALIZAÇÃO


DE PRÁTICAS EDUCOMUNICATIVAS: A EXPERIÊNCIA DA OFICINA DE RÁDIO
COMUNITÁRIA NA ESCOLA AUGUSTO RUSCHI

Angelica Caceres Manfio1*; Isabel Caline da Silveira2;


1
Universidade Federal de Santa Maria
2
Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução
Este trabalho visa relatar a partir de uma abordagem conceitual as atividades desenvolvidas durante o
primeiro semestre de 2010 na Oficina de Rádio Comunitária. O trabalho foi contemplado por meio de um
convênio dos cursos de Comunicação Social da Universidade Federal de Santa Maria envolvendo os
acadêmicos da Disciplina de Mídia e Políticas Públicas e da Escola Estadual Augusto Ruschi.
No âmbito acadêmico muito se tem discutido de novas possibilidades de integrar estudos de
comunicação e educação. Percebe-se que é um espaço de troca de saberes que promovem a interlocução
entre os que constroem e os que se utilizam desses conhecimentos. O que a educomunicação propõe é
possibilitar uma nova compreensão e leitura de saberes enquanto sujeitos sociais. No domínio desses campos
o que se pretende é elencar espaços de questionamentos, participação crítica e ativa de todos os sujeitos
envolvidos visando a concretização de projetos a partir de processos formativos com o fim de se obter um
espaço de realizações concretas.
Realizar práticas educomunicativas é conhecer diferentes formas de convivência social. É fundamental
estabelecer estratégias e elencar todos os participantes no contexto em que estão inseridos analisando
objetivos e perspectivas de ações que integrem todos os atores sociais. O conceito de educomunicação surge
a partir das organizações da sociedade civil preocupadas em usar os recursos da informação de forma
diferenciada a fim de pautar novos temas, de interesse para toda a população.
Para Soares Educomunicação é

“o conjunto das ações inerentes ao planejamento, implementação e avaliação de processos,


programas e produtos destinados a criar e a fortalecer ecossistemas comunicativos em
espaços educativos presenciais ou virtuais, assim como a melhorar ocoeficiente comunicativo
das ações educativas, incluindo as relacionadas ao uso dos recursos da informação no
processo de aprendizagem. Em outras palavras, a educomunicação trabalha a partir do
conceito de gestão comunicativa.” [1]

A Escola Estadual Augusto Ruschi pertence à Oitava Coordenadoria de Educação e está situada na
cidade de Santa Maria –RS. Oferece Ensino Fundamental e Médio e atua com o principal objetivo de formar
cidadãos. O projeto Educação “Com & Para Mídia: Uma Prática de Sustentabilidade Social e Política”
contemplou a escola com diversas oficinas que do Curso de Comunicação da Universidade Federal de Santa
Maria a fim de transpassar as barreiras da UFSM e proporcionar uma vivência de política pública social aos
alunos dos cursos de Comunicação, oportunizando aprendizado aos jovens envolvidos e integrando a
comunicação como uma ferramenta interdisciplinar capaz de estimular não só a aprendizagem mas também a
participação social e política na comunidade na qual vivem. Entre as oficinas ofertadas que inserem o projeto
está a de Radio Comunitária. O objetivo principal era introduzir os acadêmicos da UFSM em um universo
nunca antes percebido por eles, o da Comunicação como um local de inserção democrática atingindo
diretamente a comunidade estudantil da Escola e da Comunidade Santa Marta.

2. Método
Utilização de conceitos a partir de um referencial teórico realizado por meio de pesquisa
bibliográfica. Montagem de aulas expositivas e aplicação prática na realização de programas radiofônicos.
Avaliação da oficina a partir das respostas de um questionario avaliativo elaborado pelos próprios monitores.
A proposta dos monitores foi de realizar encontros teórico-práticos e dinamizar o conteúdo para
atrair a atenção dos alunos interessados a partir da utilização de aportes teóricos que introduzissem o
conteúdo histórico a fim de oferecer um referencial para os alunos participantes. A oficina utilizou-se de

*
Acadêmica do 5º Semestre do Curso de Comunicação Social da Universidade Federal de Santa Maria
e-mail: angelicamanfio@yahoo.com.br

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linguagens e tecnologias de informação e comunicação para demonstrar que além de receber a informação,
cada cidadão pode pesquisar, produzir e distribuir informações através dos meios de comunicação,
abordando diferentes temas que interessam à comunidade na qual estão inseridos.
A proposta da Escola Augusto Ruschi é oferecer futuramente uma rádio-escola na qual os alunos
participem como colaboradores da transmissão de informações, difusão do conhecimento e formadores de
opinião a partir de um diálogo aberto e participativo entre todos. Dessa forma, optou-se por apresentar
conteúdos teóricos, fazer exercícios práticos, como a produção e edição de entrevistas, radio-teatro,vinhetas e
finalizar o encontro com a visita `a uma rádio comunitária na qual pudessem ver a realidade do
funcionamento de uma rádio dirigida para a comunidade. A participação interessada dos sete estudantes de
sexta a oitava séries da Escola foi essencial para o desenvolvimento de todas as atividades.
Os encontros com os sete alunos participantes da oficina eram realizados todas as sextas-feiras no
período da manhã na sede da Escola Augusto Ruschi. As tarefas foram subdivididas entre os quatro
monitores e a partir de aulas expositivas conseguiu-se elencar os principais aspectos teóricos da rádio, desde
sua concepção histórica, a importância do rádio, comunicação em rádio, planejamento, produção, locução, as
Funções em uma rádio, programação,programas, a gêneros, recursos radiofônicos, formas de realização do
programa, como captar as informações. Após essa abordagem teórica os alunos sob orientacao dos monitores
realizaram seus programas radiofônicos e concluiram a oficina com a visita na rádio comunitária Caraí.

3. Resultados e Discussão
O principal enfoque da oficina proposta pelos estudantes de Comunicação foi elencar a importância da
rádio comunitária e a sua diferenciação de uma rádio comercial. Iniciamos as nossas atividades com a
apresentação do filme “Uma onda no ar”, documentário sobre a Rádio Favela de Belo Horizonte. Os alunos
conseguiram perceber o contexto de ação e o engajamento da comunidade. Ao serem questionados sobre o
que acham que significa o conceito “comunitário”, e qual o sentido de fazer comunicação e rádio
comunitárias. A aluna Flávia resumiu em uma única frase: “Rádio Comunitária é da comunidade, de todas as
pessoas de um lugar.”

Segundo o Ministério das Comunicações Rádio Comunitária é

“ Uma emissora de rádio FM operada em baixa potência e cobertura restrita. Ela ajuda o
desenvolvimento local mediante a divulgação de eventos culturais e sociais, acontecimentos
comunitários e de utilidade pública. É o cidadão exercendo a sua cidadania através do convívio
comunitário. Trata-se de um canal de comunicação inteiramente dedicado aos interesses da
comunidade. Permite a divulgação de idéias, manifestações culturais, artísticas, folclóricas, tradições e
hábitos sociais, tanto nos centros urbanos quanto nas áreas rurais –bairros, vilas, distritos e povoados.”
[2]

Segundo a UNESCO

“A rádio comunitária é pouco custosa, fácil de manejar e tem a vantagem de alcançar a todos os
membros da comunidade em sua própria língua. Como meio de comunicação de massa, incrementa
consideravelmente o potencial de desenvolvimento implícito no intercâmbio de informação, de
conhecimento e de experiência. A rádio comunitária não só informa, educa e entretém, mas dota a
comunidade de mais poder ao outorgar a palavra a todos „sem-voz‟, com o que favorece a
transparência nos assuntos públicos” [3]

Nesse sentido percebe-se que rádio comunitária é aquela que atua sem fins lucrativos, visando o
desenvolvimento de ações cidadãs. Dessa forma, espera-se que a rádio comunitária seja um canal de
exercício de liberdade de expressão da comunidade e que favoreça a participação ativa dos moradores na
medida em que o desenvolvimento de um trabalho conjunto ative a circulação de informação em todos os
ângulos assim como o desenvolvimento cultural e a mobilização social. Os alunos da oficina, a partir dessa
abordagem teórica, compreenderam a essência conceitual e souberam fazer a diferenciação.
A aplicação desses conceitos na futura rádio da Escola Augusto Ruschi são fundamentais, pois são esses alunos
que participarão da organização da grade de programas que deverão ser trabalhados unindo a Comunidade da
Vila Santa Marta e a Comunidade Escolar. A Radioescola pode ser um espaço onde a educomunicação se faz
presente com toda a sua riqueza. Ali são tecidas várias práticas emancipatórias dialógicas: o trabalho é coletivo;
os temas são problematizados; realiza-se e cria-se um discurso protagonizado pelos alunos, entre outras. De
acordo com Baccega [4]o diálogo desses discursos forma o universo de cada indivíduo, no qual seu cotidiano
está inserido. É a partir dessa materialidade discursiva que se constitui a subjetividade de cada um.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Dessa forma, como proposta de ação foi elaborado um projeto piloto de programas que poderiam ser veiculados
no horário do intervalo e nos finais de semana durante o ano letivo. A programação foi montada conjuntamente
com os alunos da oficina que perceberam a necessidade e a importância de englobar diferentes temáticas com a
finalidade de atingir na rádio-escola não só os estudantes da instituição, mas também os professores,
funcionários e a comunidade em geral.

4. Conclusão
A partir da oficina de Rádio Comunitária na Escola Augusto Ruschi percebemos como é importante
darmos oportunidade às crianças mais carentes para que possam desenvolver atividades que lhe ajudem a ver o
que gostam e o que sabem fazer, pois elas tem muita capacidade só é preciso saber desenvolvê-las. Aprendemos
na prática a como ensinar os outros, como a teoria e a prática devem andar sempre juntas, pois uma
complementa a outra, obtendo assim resultados eficazes. A partir da aplicação de um questionário no último
encontro conseguimos detectar que os principais conhecimentos que eles adquiriram com as oficinas foram a
dicção, respiração, conhecimento sobre o rádio para poderem fazer uma rádio na escola.
Para os alunos a experiência de participar da oficina de rádio pode proporcionar resultados na sua vida
pessoal e profissional já que quatro alunos afirmaram que poderão seguir a carreira na área da comunicação,
enfocando o rádio.A diferença entre uma rádio comunitária e a comercial também ficou bem clara para eles, que
responderam que a comunitária é direcionada para a comunidade e seus interesses, tem muitas regras e a
comercial tem o objetivo de ganhar lucros e promoções de mercado.
A etapa da oficina que os alunos mais gostaram foi quando eles foram visitar o estúdio 21 da UFSM pois
colocaram na prática o que aprenderam na teoria. A visita na rádio comunitária também foi um dos principais
encontros citados pelos alunos, pois puderam ver o ambiente real do funcionamento de uma rádio que visa
atingir a comunidade de uma determinada região.
Trabalhando em conjunto, aprendemos a dialogar e interagir com as sete crianças participantes da oficina
de tal maneira que eles pudessem encontrar um espaço e um momento próprio para se manifestar, para perder a
vergonha, e para não ter medo de errar; para que possam sair do lugar de aluno passivo e receptor de
conhecimento.
Foi importante para os monitores encontrar a maneira certa de trabalhar com os alunos, alcançando um
equilíbrio entre uma atitude que os incentive, motive e provoque constantemente a não ficarem indiferentes, para
que participem ativamente e sejam, eles também, produtores da oficina; e outra atitude, a de não pressioná-los,
compreender o tempo deles e os momentos em que podem ter vontade de falar ou de não falar. Tivemos a
necessidade de planejar em detalhe cada encontro da oficina pensando na perspectiva educomunicacional para
evitar o risco de cair num exercício que poderíamos identificar como “mecânico” da educação, mas ao mesmo
tempo sem proibir o ingresso a espontaneidade e ao poder criativo da improvisação.
O maior aprendizado da oficina foi saber priorizar o processo, que foi se desenvolvendo quando iniciou o
planejamento, conhecimento dos alunos e na elaboração dos produtos. Nunca esquecemos nesse processo que
era importante que os alunos lograssem um conhecimento geral sobre rádio e que chegássemos ao final das aulas
com algum produto pensado e produzido por eles, mas também sempre soubemos que isso não era o mais
importante. Então eles aprenderam sobre a história da rádio, conheceram exercícios para cuidar a sua voz,
realizaram entrevistas, gravaram um rádio teatro, etc.; mas o nosso maior orgulho como monitores foi a geração
de um espaço de diálogo e de produção coletiva. Trabalhamos durante todo o processo com o objetivo de que os
alunos pudessem ter um olhar crítico sobre a comunicação e os meios de comunicação massiva. Através,
especificamente, da perspectiva de rádio comunitária levamos para as crianças questões que os fizessem duvidar
sobre o que o senso comum diz sobre comunicação e sobre os meios. Cremos que com este processo encarado
conjuntamente entre os alunos e nós, plantamos uma semente que pode contribuir na formação de uma postura e
olhar críticos por parte deles. Esse tipo de olhar só pode se alcançar se eles puderem transpassar o olhar do senso
comum, e também o nosso próprio olhar de monitores, para que eles possam ir exercitando um olhar próprio.

Referências

SOARES, Ismar de Oliveira. Caminhos da educomunicação na América Latina e nos Estados Unidos. In:
Caminhos da Educomunicação. São Paulo: Salesiana, 2001. Cadernos de educomunicação I, NCE-ECA-
USP.

Manual do Ministério das telecomunicações. Brasil

UNESCO. Centros Multimedia Comunitários. Paris: UNESCO, s./d.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

BACCEGA, Maria Aparecida. Linguagens da Comunicação. In: SOARES, Ismar de Oliveira (org.).
Caminhos da Educomunicação. São Paulo: Editora salesiana, 2001.

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A EDUCOMUNICAÇÃO E AS RELAÇÕES PÚBLICAS NO


DESENVOLVIMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS SOCIAIS

Kalliandra Quevedo Conrad¹*; Gabriela Assmann2; Rosiane Saldanha Roratto3;


Vanessa Carvalho Silveira Guterres4

1
Universidade Federal de Santa Maria
2
Universidade Federal de Santa Maria
3
Universidade Federal de Santa Maria
4
Universidade Federal de Santa Maria

1.Introdução
Este trabalho tem por finalidade expor o processo teórico-prático desenvolvido no
projeto Educomunicação: educação Com&Para a mídia, realizado entre os acadêmicos da
Universidade Federal de Santa Maria e os alunos do ensino fundamental da Escola Estadual
Augusto Ruschi no primeiro semestre de 2010. Neste projeto, foi desenvolvida a oficina de
eventos, que será apresentada a partir de um primeiro olhar sobre o conceito de
educomunicação, o papel das relações públicas diante das políticas públicas e seu respectivo
impacto na sociedade.

2. Método
Segundo Pinho (1990), as relações públicas compreendem cinco funções básicas –
assessoramento, pesquisa, planejamento, execução (comunicação) e avaliação. Na função de
execução (comunicação), Pinho apud Nogueira (1979) apresenta como uma das atividades de
relações públicas os eventos e promoções especiais. A oficina de eventos foi, portanto, uma
forma de partilhar o conhecimento adquirido durante a graduação com a sociedade, visando
contribuir para o papel social das relações públicas. Inicialmente, foi realizada uma abordagem
teórica a respeito da metodologia a ser utilizada – a Educomunicação.

“Se entendermos por método os caminhos escolhidos pelo sujeito em


suas tensas e contínuas relações com o objeto na busca do conhecimento e na
construção dos saberes, a metodologia adotada na Educomunicação caracteriza-
se não pelo interesse em respostas supostamente definitivas para os problemas
que diuturnamente nos apresentam, mas pelo aguçamento das contradições...Se
entendermos por fim algo sobre o qual se tem clareza – as ações são pautadas
pela intencionalidade – então, alterar a realidade em que se vive é o objetivo
principal da Educomunicação.” ( SOARES, pág. 1)

Dessa forma, a oficina de eventos buscou atingir seus objetivos através de aulas
expositivas, aulas práticas, exercícios, vídeos com o intuito de desenvolver o conhecimento
sobre eventos – pré-evento, evento e pós-evento; desenvolver habilidades técnicas para a
produção de eventos culturais assim como o desenvolver habilidades pessoais –
responsabilidade, comprometimento, planejamento, organização, flexibilidade e criatividade.

3.Resultados e Discussão
A Educomunicação é uma filosofia e uma metodologia de trabalho no âmbito da
educação e da comunicação que não se limita à utilização de tecnologias para facilitar o
aprendizado. Também não envolve somente a junção do termo educação com comunicação. A

*
Kalliandra Quevedo Conrad : Acadêmica do 5º Semestre do Curso de Comunicação Social da
Universidade Federal de Santa Maria
e-mail: kalliandraconrad@yahoo.com.br

892
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Educomunicação implica agir a fim de democratizar a informação, a cultura e o conhecimento.


Esse novo campo é, na verdade, um espaço de intervenção social no qual as relações públicas
possuem um papel fundamental. Para Oliveira (2001), o papel das relações públicas não envolve
apenas o primeiro, o segundo e o terceiro setores, mas também está relacionada ao papel social e
à educação. Assim, a Oficina de Eventos agregou valor à escola a aos alunos ao possibilitar o
contato com uma nova realidade, o intercâmbio de saberes, além da capacidade de reflexão
sobre as práticas desenvolvidas. O foco principal desta oficina não era somente compartilhar
conhecimentos técnicos, mas principalmente, oferecer aos alunos a oportunidade de vivenciar
uma troca de conhecimentos e experiências visando transformar a realidade social em que
vivem. O papel de relações públicas diante das políticas públicas encontra-se nesse aspecto, já
que as relações públicas adquirem “uma função estratégica no assessoramento da integração de
ações voltadas a uma política social capaz de resolver e/ou amenizar os alarmantes problemas
de fome, miséria, discriminação, violência, corrupção, desigualdade social, entre outros”
(OLIVEIRA, 2001, p. 2). Segundo Demo (2007), política social pode ser conceituada do ponto
de vista do Estado como uma proposta planejada de enfrentamento das desigualdades sociais. E,
para Oliveira (2001), “quando se trata de políticas públicas, um conceito que emerge é o de
cidadania, cuja prática se viabiliza com a educação da população, conscientizando-se de seus
direitos e deveres e a necessidade de sua participação no processo de decisão na definição das
próprias políticas públicas” (p. 1). Na oficina de eventos, a comunicação foi utilizada como
ferramenta para o desenvolvimento de uma política pública a partir de ações educomunicativas
que instigassem a capacidade crítica dos alunos diante da mídia. A informação é a matéria-
prima das relações públicas e a informação de qualidade é um dos direitos dos cidadãos.
Canelas (2008) conceitua política pública como qualquer ação dos poderes públicos que seja
executada a fim de garantir os mais diferentes direitos dos cidadãos, segundo o estabelecido no
ordenamento jurídico de cada país. A oficina atingiu seus objetivos ao propor uma forma
diferenciada de aprendizagem, em que o conhecimento não é dado, mas sim construído. Como
base, utilizamos os pilares da Educomunicação – aprender a ser, aprender a aprender, aprender a
fazer e aprender a conviver. Tendo em vista esses quatro aspectos acreditamos que o
aprendizado em ambas as partes. Essa é uma das maiores lições que tiramos da oficina de
eventos e, sem dúvida, o aprendizado que tivemos será levado para nossas vidas, tanto pessoal
quanto profissional.

Foto: alunos da oficina de eventos, oficineiros e coordenadora da Escola.

893
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

4.Conclusão
O papel das relações públicas diante das políticas públicas sociais assume importância,
pois “o poder de influência sobre o pensamento das pessoas – que é exercido pela comunicação
– é uma ferramenta de resultado incerto, porém fundamental” (CASTELLS, 2007, p. 17). O
principal propósito da Oficina de Eventos foi promover o aprendizado conjunto sobre eventos
visando também a educação para uma postura ativa e crítica diante da mídia. Brune (2007) diz
que “é a educação para a passividade desarma os indivíduos continuamente, em todos os níveis”
(p.71).
Os eventos, como parte da atividade de relações públicas também fazem parte da mídia
e, o saber midiático caracteriza-se pelo interesse pela atualidade, pelo acontecimento baseado no
impacto emocional, pela lógica econômica e pela efemeridade dos fatos. A oficina de eventos
cumpre seu papel ao levantar questões sobre os interesses da mídia nos acontecimentos, como
os eventos. Para Brune (2007), o papel do acontecimento é fazer dos cidadãos públicos. No
entanto, o público apenas assiste, não reflete nem decide. “A fascinação infindável exercida pela
sequencia dos acontecimentos impede, então, não apenas a ação, mas o simples recuo necessário
à reflexão” (p. 77)
A Educomunicação é, então, a base para que a oficina de eventos atingisse seus
objetivos. Através dela é possível gerar um espaço de ações e experiências que levam a saberes
ou partem deles em direção a outros, propiciando o diálogo: “Trata-se, portanto, de um campo
de ação política, entendida como o lugar de encontro e debate da diversidade de posturas, das
diferenças e semelhanças, das aproximações e distanciamentos. Por excelência, uma área de
transdiscursividade e, por isso, multidisciplinar e pluricultural” (SOARES, p. 3).
Assim, a oficina de eventos foi uma ação de comunicação fundamentada na
metodologia de Educomunicação focada no processo, em relações horizontais e fundamentada
no diálogo, transformando os alunos em agentes sociais capazes de alterar seus modos de pensar
e agir diante da mídia.
“Entendemos que fazer Educomunicação ou realizar práticas educomunicativas, na
medida em que isto quer dizer construir um novo discurso é experimentar uma outra forma de
convivência social. Aliás, a Educomunicação, do nosso ponto de vista, é, antes de tudo, uma
proposta de organização social essencialmente diferente dessa em que estamos
inseridos”(SOARES, p.5)

Referências bibliográficas

CANELAS, Guilherme. Políticas públicas sociais e os desafios para o jornalismo. São Paulo:
Cortez, 2008.

DEMO, Pedro. Política social, educação e cidadania. 10ª Ed. São Paulo: Papirus, 2007.

OLIVEIRA, Maria José da Costa. A relação do Estado, da sociedade e do mercado na


construção da cidadania. O papel das relações públicas. Tese de doutorado, ECA/USP,
2001.

PINHO, J. B. Propaganda Institucional: usos e funções da propaganda em relações


públicas. São Paulo: Summus, 1990.

SOARES, Donizete. Educomunicação – o que é isto?


(http://www.portalgens.com.br/baixararquivos/textos/educomunicacao_o_que_e_isto.pdf acesso
em 16/04/10)

Vários autores. Caminhos para uma comunicação democrática. São Paulo: Instituto Paulo
Freire, 2007 (Le Monde Diplomatique Brasil; 2)

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A GESTÃO DOCUMENTAL E O GESTOR EMPRESARIAL: PERCEPÇÕES DA


COMUNIDADE DE UMA ORGANIZAÇÃO PRIVADA

Viviane Portella de Portella1*; Fernanda Kielling Pedrazzi2


1
Universidade Federal de Santa Maria
2
Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução
Há várias áreas de gestão que são indispensáveis para que uma organização tenha êxito em seus
objetivos. Entre elas a gestão estratégica de empresas esta ligada às táticas competitivas cuja finalidade é
agregar valor ao negócio da empresa, fazendo com que ela se posicione no mercado em que atua e se
destaque. Assim, corresponde à cultura de uma entidade compreendendo o conjunto de valores, crenças e
atitudes que ela possui na busca pela melhoria contínua. Em consonância, a gestão de documentos permite o
gerenciamento das informações desde a sua criação até sua destinação final, proporcionando acesso rápido e
controle da massa documental gerada, somando eficiência e eficácia nos procedimentos executados pelos
envolvidos no processo de gestão.
Nesse contexto, esse trabalho se caracteriza como pesquisa de campo e tem como tema a gestão de
documentos, delimitada as percepções dos gestores de uma empresa privada de concessão de serviço federal.
Desta forma, o problema que norteou a pesquisa foi: “como os gestores de uma organização privada
interpretam a gestão documental?”. Na persecução desta resposta, buscou-se validar ou refutar os seguintes
pressupostos: a gestão documental proporciona a otimização dos processos de tomada de decisão; a
interferência arquivística nas fases da gestão documental (criação, utilização/ conservação, destinação)
agiliza o processo de gestão empresarial; a avaliação viabiliza a recuperação da informação, uma vez que
regula o ciclo de vida dos documentos; e a implementação de políticas arquivísticas suscita mudança de
cultura na empresa. No atual contexto empresarial, muitas organizações optam por inserir em sua cultura os
princípios da gestão, com a finalidade de controlar a execução de suas atividades e de destacar-se frente à
sociedade. Neste viés, a gestão de documentos mostra-se vital uma vez que a implementação do
gerenciamento da documentação produzida aperfeiçoará o acesso a informações que subsidiam o processo
decisório da organização. Os documentos de arquivo são criados para servirem a fins administrativos. Assim,
as técnicas e as metodologias arquivísticas de criação, aquisição, comunicação, classificação e avaliação
devem ser preocupações dos arquivistas. Somam-se a isso, as implicações que a gestão de documentos tem
sobre as atividades de uma empresa. A informação arquivística é produto das ações das empresas,
contribuindo efetivamente no processo de tomada de decisão, além de constituírem-se nos arquivos que
servirão de memória da empresa. Destaca-se, também, a importância do sistema de arquivos constituído em
uma empresa como elemento catalisador na organização, tratamento e disseminação das informações
arquivísticas como subsídio imprescindível na gestão empresarial. Assim justifica-se a necessidade de
pesquisar quais os reflexos da gestão documental frente aos processos de gestão empresarial.
Com o intuito de responder ao problema que norteia esta pesquisa, buscou-se apontar como a gestão
documental interfere no processo de tomada de decisão e sua contribuição frente à gestão empresarial. Para
isto desmembrou-se o objetivo geral, resultando nos seguintes objetivos específicos: delimitar a influência da
gestão documental no processo de tomada de decisão; observar os reflexos da avaliação documental no
processo de tomada de decisão; pesquisar a relevância dos procedimentos de gestão documental no processo
de gestão empresarial; e identificar se a implementação de políticas arquivísticas ocasionaram mudança de
cultura na empresa.

2. Método
Esta pesquisa caracteriza-se como descritiva do tipo estudo de caso, de cunho quantitativo e
qualitativo e de natureza aplicada. Os dados foram recolhidos mediante levantamento. Para fundamentar
teoricamente o projeto que neste trabalho, foi realizada a revisão de literatura, buscando rever os conceitos,
os fundamentos e os princípios arquivísticos que circundam a gestão de documentos. Também, os conceitos
de gestão empresarial foram estudados. O referencial teórico foi aprofundado no decorrer do
desenvolvimento da pesquisa, de acordo com as sugestões da professora orientadora. A pesquisa se delimitou
ao estudo de uma empresa que está em processo de implementação de políticas de gestão documental, com
aplicação de instrumentos de coleta de dados e conhecimentos prévios da pesquisadora sobre a entidade. Os
instrumentos que foram utilizados para a coleta de dados foram o questionário e a observação direta. O
roteiro de perguntas para o questionário foi elaborado com base nas percepções da pesquisadora que

*
Viviane Portella de Portella: vivideportella@yahoo.com.br
895
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

desenvolve um trabalho como arquivista na referida empresa. Elaborado o questionário, este foi submetido à
revisão da professora orientadora da pesquisa. Após as sugestões, o instrumento foi validado e aplicado aos
gestores. A validação foi realizada por uma colaboradora que não possui função estratégica, propriamente
dita, na empresa, mas tem conhecimento e exerce algumas atividades que são corriqueiras para os gestores.
O questionário caracteriza-se por perguntas abertas e fechadas. Este continha perguntas referentes a
informações gerais a respeito dos gestores e perguntas concernentes as percepções dos gestores sobre a
informação e a tomada de decisão, além de perguntas relativas as suas percepções quanto à gestão
documental e a tomada de decisão no seu ambiente de trabalho. Os questionários foram aplicados a dez
gestores. O critério para seleção dos respondentes foi o cargo estratégico que ocupam na empresa. Todos os
gestores selecionados responderam ao questionário. A codificação dos dados foi realizada após estes serem
reunidos. A seguir são apresentados e analisados os dados coletados contendo a interpretação dos mesmos e
sustentando a finalização desta pesquisa.

3. Resultados e Discussão
Primeiramente foi realizada a identificação do perfil dos respondentes, a fim de melhor conhecê-los. O
perfil geral dos gestores, os define como sendo a maioria do sexo masculino, com ensino superior e pós-
graduação com atuação na empresa a mais de dez anos.
Após ter a definição do perfil dos gestores foram analisadas as suas percepções quanto à informação e
a tomada de decisão a partir das respostas obtidas com a aplicação dos questionários. Com isto é possível
identificar a relação que os gestores estabelecem entre a informação e o uso oferecido a ela. Ao analisar o
valor da informação no processo decisório a maioria dos gestores considera a informação imprescindível. A
partir deste resultado é possível inferir que para a tomada de decisão a informação deve estar acessível a
quem dela necessitar, tendo em vista o valor atribuído. As respostas dos gestores remetem à ideia de que a
informação é um recurso competitivo fundamental nas organizações, sendo um componente intrínseco em
quase tudo o que uma organização faz. A informação é utilizada para diversos fins, entre eles, dar suporte à
tomada de decisões (dinâmicas ou estáticas). Considerando as fases do processo decisório, questionou-se
quanto à intensidade do uso de informação em cada momento. Os resultados demonstram que na percepção
dos gestores a informação é altamente importante nas três fases do processo decisório. Neste processo
precisa-se de informação para definir preferências e selecionar regras, para identificar e desenvolver
alternativas de solução disponíveis (presente), para conhecer as consequências das alternativas (futuro), e
finalmente, para determinar a forma na qual se percorrerá do presente ao futuro [2]. Sendo, assim, a
informação pode ser considerada o insumo fundamental para a tomada de decisão.
Por fim foram analisadas as percepções dos gestores quanto à gestão de documentos e a gestão
empresarial. Com isto foi possível delimitar como os gestores interpretam o processo de gestão documental.
Ao serem questionados quanto à importância da interferência arquivística considerando as fases da gestão
documental, os gestores apontaram a utilização/ conservação de documentos como a fase mais importante. A
utilização dos documentos consiste na fase em que este é frequentemente solicitado por seus usuários. Nesta
fase a pesquisa aos arquivos administrativos é realizada por seus usuários/ produtores/ receptores de
documentos. Porém, segundo Jardim [4], um programa de gestão de documentos deve, para alcançar
economia e eficácia, envolver as fases de produção, utilização/ conservação e destinação final de
documentos. A importância da interferência arquivística nos procedimentos de padronização de documentos
foi considerada alta nas fases de produção e recepção/registro. A interferência arquivística na padronização
de procedimentos de produção, recepção/registro e tramitação de documentos contribui para a busca e
racionamento dos documentos, pois padronizados formaliza a comunicação e imprime maior credibilidade.
Ao serem questionados sobre o direcionamento das políticas arquivísticas a maioria dos gestores
entende que os arquivos administrativos e permanentes devem ser abrangidos em sua totalidade. Ao se
englobar os arquivos administrativos e permanente se permite “garantir a unidade e a continuidade das
intervenções dos arquivos, colocando em perspectiva as três idades dos mesmos, com articulação e
estruturação das atividades arquivísticas” [1]. Desse modo, transforma-se a gestão documental em uma ação
simultânea e organizada, convertendo-a a um sistema completo, eficaz e estruturado. Para a maioria dos
gestores tanto o direcionamento quanto as políticas arquivísticas devem ser integradas. Porém, em ambas as
questões, existiu a opinião de que apenas os arquivos permanentes fossem tratados. Neste entendimento, não
se poderá tratar a documentação, estabelecer seus prazos de retenção, nem recolher apenas o que for
adequado para a guarda permanente. No entano, o tratamento arquivístico deve ser voltado para uma ação
global, sem fragmentação, com o reconhecimento das peculiaridades de cada fase do ciclo de vida dos
documentos sem barreiras entre elas [5].
A empresa que serviu de cenário para a pesquisa está em fase de implementação de políticas
arquivísticas, possuindo plano de classificação e tabela de temporalidade de documentos, aplicados na
2
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totalidade da documentação corrente, em suporte físico, dos setores. Desta forma, questionou-se aos gestores
se a classificação existente reflete as funções e atividades da empresa. A maioria dos gestores respondentes
avaliou não o atendimento das atividades e funções da empresa e sim do setor sob sua ingerência. Nesta
concepção, a maioria acredita que a classificação atende as funções e atividades do setor. Porém, dois
respondentes afirmaram que a gestão documental só terá sua plenitude quando atrelada ao gerenciamento
eletrônico de documentos (em fase inicial na empresa). Neste sentido, deve-se trabalhar numa workstation,
tratando do convencional e do eletrônico, tornando-se fundamental propor modelos de classificação e
avaliação apropriados e aplicáveis às duas realidades [5].
O estabelecimento de prazos de guarda é o produto de uma das principais fases da gestão documental.
É na avaliação dos documentos que se define o ciclo de vida de cada item documental e/ou classe/série,
contribuindo para que somente a documentação relevante seja preservada. Os gestores atribuíram alto grau
de importância a avaliação. Esta é uma função essencial, pois determina qual documentação a ser eliminada
e qual deve ser conservada permanentemente, ou seja, determina quais informações serão legadas às
gerações futuras [3]. Esta função está intimamente relacionada ao ciclo vital dos documentos, cujas fases se
distinguem em função da utilidade administrativa, legal e fiscal dos documentos e seu valor histórico. O alto
grau de importância atribuído a está função, demonstra a preocupação dos gestores em selecionar as
informações pertinentes as ações administrativas e a preservação da história da organização.
Os gestores foram questionados quanto as suas percepções sobre a relevância dos procedimentos de
gestão documental no processo de tomada de decisão. A maioria dos respondentes entende como pontos
relevantes a administração de resultados, acompanhamento de processos, segurança e confiabilidade no
processo de tomada de decisão, ganho de produtividade e eficiência em relação ao uso e guarda de
documentos. Alguns gestores destacaram que certas decisões são baseadas em informações do presente
instantâneo, as quais, ainda, não foram documentadas e que o procedimento não influencia diretamente na
tomada de decisão. Isto porque a existência da gestão documental, se bem estruturada, pode agilizar a
decisão sem influenciar o seu caráter.
As políticas de gestão documental são entendidas, pelos gestores, como vetor de quebra de paradigma.
Isto porque as pessoas precisam adaptar-se a um novo processo que até então era inexistente. São novos
métodos de classificação e arquivamento de documentos introduzidos, mudando do empírico para o
metodológico. É necessário perder a possessão pelos documentos produzidos e recebidos no decorrer do
exercício de suas funções e atividades, passando a entendê-los como patrimônio da empresa, que possuem
temporalidade e são suscetíveis à eliminação (de acordo com seu valor), sendo a mudança de cultura
entendida como o resultado ou como a determinação de fatores internos e externos que afetam o
funcionamento de um organismo.

4. Conclusão
A pesquisa teve como problema norteador a investigação de como os gestores de uma organização
privada interpretam a gestão documental. Ao considerar os objetivos da pesquisa e a análise dos resultados,
pode-se afirmar que os gestores interpretam a gestão documental como um processo complementar a gestão
empresarial, evidenciando-se, os procedimentos arquivísticos como uma „atividade meio‟ relevante.
O estudo revela que a gestão documental proporciona a otimização dos processos de tomada de
decisão. Entendendo-se a gestão de documentos como o trabalho de assegurar que a informação arquivística
seja administrada com economia e eficácia; que seja recuperada, de forma ágil e eficaz. Desta forma, a
gestão documental influencia a tomada de decisão à medida que age como subsídio das ações da
organização, tornando mais seguro o processo de recuperação da informação e, por conseguinte, a tomada de
decisão. A análise das respostas permite inferir que a avaliação documental é uma função considerada
essencial pelos gestores. A partir dos procedimentos de avaliação é possível controlar o ciclo de vida dos
documentos, definindo o que será guardado junto aos produtores/usuários (no arquivo corrente), no arquivo
intermediário e no arquivo permanente. Isto otimiza a busca da documentação e da informação que contém
pois, de acordo com a tabela de temporalidade, é possível identificar o seu local de guarda, além de apontar a
preservação de informações relevantes para a organização, diminuindo a sua sobrecarga.
De acordo com a análise realizada, é possível identificar que os gestores estabelecem uma relação
intrínseca entre a informação e o uso que fazem dela para a tomada de decisão. A informação é considerada
insumo competitivo. Para tanto ela, deve estar disponível em tempo, tendo em vista o valor imprescindível
que tem neste processo. Na percepção dos gestores a informação é altamente importante nas três fases do
processo decisório na identificação e definição do problema, na busca de alternativas e na escolha e
implementação da solução. Neste sentido, a informação pode ser considerada um ativo que precisa ser
administrado, da mesma forma que os outros tipos de ativos representados pelos bens materiais, capital,
propriedades e pessoas. Neste sentido, a informação pode representar uma classe particular entre esses outros
3
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ativos. “A informação pode ser considerada infinitamente reciclável, não se deteriorando, nem sofrendo
depreciação, e seu valor é determinado pelo usuário” [6].
No decorrer da análise dos resultados, foi possível observar e delimitar a relevância dos procedimentos
de gestão documental no processo de gestão empresarial. Neste caso a gestão de documentos contribui para a
administração de resultados, o acompanhamento de processos, a segurança e confiabilidade no processo de
tomada de decisão, e para o ganho de produtividade e eficiência em relação ao uso e guarda de documentos.
Por isso os procedimentos de gestão documental devem estar bem estruturados, recuperando de maneira ágil
e articulada a informação adequada, contribuindo positivamente para a tomada de decisão, porém, sem
influenciar seu caráter. Também, é possível inferir que os gestores consideram a gestão documental
necessária para a empresa, constituindo-se como uma forma de organização da massa documental
produzida/recebida.
De acordo com a análise realizada, a interferência arquivística, considerando as fases da gestão
documental, é importante na fase de utilização/ conservação dos documentos. Porém, um programa de gestão
documental que contemple os resultados desejados pelos gestores deve abranger as fases de produção,
utilização/ conservação e destinação final de documentos. Somando-se a isto, o direcionamento tanto das
políticas quanto da intervenção arquivística devem ser integradas, envolvendo arquivos correntes,
intermediários e permanentes. Isso demonstra a preocupação dos gestores com a documentação desde o
momento de sua concepção/ recepção até sua disponibilização, quando de sua guarda permanente.
A análise dos resultados obtidos permitiu identificar que a implementação de políticas arquivísticas
ocasionou mudança de cultura na empresa. Anterior à introdução do conceito de gestão documental na
empresa existia uma realidade construída e sustentada por um conjunto de ideias, valores e normas
empíricos, no qual cada colaborador organizava sua documentação de acordo com seus princípios. Assim, o
conceito e, por conseguinte, a aplicação de procedimentos arquivísticos na empresa, suscitou uma quebra de
paradigma na cultura até então estabelecida. Desta forma, perdeu-se a possessão pelos documentos,
inserindo-os em uma forma sistematizada e englobante de procedimentos que os gerenciam desde sua
produção/ recepção até sua disponibilização quando de valor permanente.
A investigação, discussão e reflexão sobre as percepções de gestores de uma organização privada
quanto à gestão documental, permite afirmar que estes a consideram de suma importância para a gestão
empresarial. Porém, fazem-se necessários esforços no sentido de que as empresas possuam profissionais
habilitados a planejar e instituir políticas de gestão de documentos fundamentadas em teorias e
desenvolvidas metodologicamente para que as informações desejadas pelos tomadores de decisão estejam
acessíveis e estruturadas no momento adequado. Nesse contexto, acredita-se ter contribuído com os estudos
arquivísticos, que devem ter sempre presente a pesquisa como elemento de base para o seu desenvolvimento.
Considerando que as organizações encontram-se definidas como sistemas de decisões, com um
comportamento intencionalmente racional, evidenciou-se a importância de desenvolver estudos que
permitam aprofundar teoricamente o conhecimento da relação entre gestão documental e gestão empresarial,
o que, consequentemente, influencia na competitividade organizacional e na busca da ascensão e da
consolidação da arquivística. Os resultados dessa pesquisa servem como um senso do sistema de
informações arquivísticas implementado na empresa. A partir disso será possível propor soluções para que as
expectativas dos gestores sejam atendidas. Além disso, o aprofundamento teórico da simbiose entre a gestão
de documentos e a gestão empresarial permite a emergência de novas questões relacionadas ao objeto de
norteador desta pesquisa. Com isto, as percepções e expectativas dos gestores de organizações privadas serão
melhor compreendidas, maximizando o aproveitamento da informação como recurso organizacional.

Referências

[1] CASTANHO, D. M.; GARCIA, O. Mª. C.; SILVA, R. B. P. da. Arranjo e descrição de documentos
arquivísticos. Santa Maria: UFSM, 2006.
[2] CHOO, C. W. A organização do conhecimento: como as organizações usam a informação para criar
significado, construir conhecimento e tomar decisões. 2. Ed. São Paulo, SENAC, 2006.
[3] CRUZ MUNDET, J. R.. Manual de arquivística. 2ª ed. Madri: FGSR, 1996.
[4] JARDIM, J. Mª.. O conceito e a prática da gestão de documentos. Rev. Acervo do Rio de Janeiro. v. 2, n.
2. p.36-42. Jul/dez.1987.
[6] LOPES, L. C.s. A gestão da informação: as organizações, os arquivos e a informática aplicada. Rio de
Janeiro: Arquivo Público, 1997.
[6] McGEE, J. V; PRUSAK, Le. Gerenciamento estratégico da informação: aumente a competitividade e a
eficiência de sua empresa utilizando a informação como uma ferramenta estratégica. 6.ed. Rio de Janeiro:
Campus, 1994.
4
898
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

A importância da comunicação mediada:


uma análise da gestão do conhecimento na web

Cinara Martim de Moura1*; Mariana Oliveira2


1, 2
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS

1. Introdução
As relações que têm se formado entre as organizações e seus públicos, a partir das interações mediadas
pelas redes online, vêm modificando a forma pela qual a comunicação organizacional abre espaço para
criação de vínculos relevantes junto aos seus públicos por meio das redes sociais. A transição do processo de
comunicação – de uni a multidirecional – foi marcada pelo surgimento de novas plataformas de troca e
interação, internas e externas às organizações. Mais que isso: novos modos de interagir em espaços cada vez
mais subsidiados pelo aparato tecnológico. A capacidade de conferir sentido aos discursos e de mobilizar em
rede trouxe a possibilidade de tangibilizar relacionamento em vantagem competitiva, objetivo da
comunicação organizacional há um bom tempo. Este cenário exige mudanças na atuação dos profissionais de
relações públicas, sobretudo na forma de gerenciar este conteúdo advindo das redes sociais, que, em suma,
estabelecem uma nova necessidade na gestão dos relacionamentos e do conhecimento. Cada vez mais
pessoas emitem pareceres sobre a empresa, criando a necessidade de acompanhamento, interação e feedback
a estes públicos. Da mesma forma, criar mecanismos e ferramentas que dêem conta do que fazer com este
conteúdo gerado pelo engajamento das pessoas no processo opinativo é urgente, considerando-o como ativo
de conhecimento que pode, quando utilizado com eficiência, gerar avanços organizacionais. Pretende-se
assim, re-significar o trabalho de comunicação organizacional, num contexto em que as redes sociais online
adquirem um papel relevante no posicionamento estratégico organizacional no ambiente digital e o maior
objetivo da comunicação é estabelecer vínculos no sistema organização-públicos.

2. Método
O método utilizado consiste no de estudo de multicasos, numa pesquisa qualitativa e exploratória. O
delineamento da pesquisa partiu do levantamento de referenciais teóricos, visando construir um ponto de
análise para os fenômenos encontrados. Após, foram elencados casos em que a emergência das redes sociais
virtuais e o trabalho da comunicação organizacional foram consideradas variáveis em relação, o que
possibilitou o ex-post facto de organizações que se inserem no novo contexto relacional trazido pela web 2.0.
Os dados obtidos neste estudo foram analisados e comparados com a literatura.

3. Resultados Parciais e Discussão


Este artigo investiga a maneira como a gestão eficaz dos relacionamentos corporativos nas redes
sociais on line tornou-se um diferencial aos negócios das organizações. Traz conceitos de interação (PRIMO,
2007), gestão do conhecimento, sob a perspectiva de Morin, que aborda a complexidade nas organizações, e
de Grunig (2009), que propõe o paradigma da gestão comportamental estratégica. O trabalho parte do
entendimento da comunicação como área habilitada à gestão das informações na web, sobretudo pela
capacidade de gerenciar fenômenos como vincularidade e engajamento, ambos distintivos nos
relacionamentos digitais e, consequentemente, na reputação corporativa. Sob o prisma da gestão estratégica
do conhecimento gerado nas redes sociais virtuais e dos consumidores geradores de conteúdo (JENKINS,
2006). , destaca o espaço para o gerenciamento da informação advinda da web, de maneira a potencializar a
interação, bem como obter contínuos feedbacks através da comunicação mediada.
Considerando estas habilidades do profissional de relações públicas em gerir o conhecimento
proveniente das redes – offline ou online, estas ganham destaque nos processos de comunicação das
organizações. Observa-se que as redes sociais online têm suas razões próprias de compartilhamento, mas o
profissional de comunicação pode adotar como estratégias de aproximação nas redes sociais corporativas.
Diante das novas tecnologias da informação e comunicação (TICs), os resultados encontrados até a presente
etapa de pesquisa sugerem que a gestão dos relacionamentos na web passou a ser potencializadora de novos
conhecimentos organizacionais e a comunicação pode ser catalisadora no processo de criação e socialização
destes saberes.

*
Integrante do Grupo de Pesquisa/CNPq, Inteligência Organizacional. mouracinara@gmail.com

Integrante do Grupo de Pesquisa/CNPq, Inteligência Organizacional. marianarrpp@gmail.com
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

4. Conclusão
Transformar as informações fornecidas pelos públicos em conhecimento e administrá-lo a serviço do
relacionamento transparente com os mesmos constitui um grande desafio da comunicação e, em última
instância, das organizações. Este processo perpassa diversas habilidades do profissional de Relações
Públicas, devido à sua capacidade de legitimar e conferir sentido ao processo de comunicação, conectando
informações e dados e transformando-os em conhecimento. Através das novas tecnologias de informação e
conhecimento, os consumidores tem mais uma via para expressar suas opiniões, sugestões e críticas sobre
esta ou aquela organização. Aproveitar esta possibilidade de feedback e interação com os públicos é um
desafio para as organizações, pois necessitam ouvir o que o público tem a dizer, além de fornecer um espaço
específico para esta expressão de opiniões e traçar estratégias inteligentes ao considerar essa interação.

Referências

GRUNIG, James E. Relações Públicas: teoria, contexto e relacionamentos. 1. ed. São Caetano do
Sul, SP: Difusão Editora, 2009. p. 23

JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. São Paulo: Aleph, 2006.

PRIMO, Alex. Interação mediada por computador: comunicação, cibercultura, cognição. Porto
Alegre: Sulina, 2007.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

A MEDIAÇÃO DA INTELIGÊNCIA COMPETITIVA - IC:


UM ESTUDO DE CASO
1
Ana Maria Pereira,1Giovanna Carolina M. dos Santos,2Ana Carolina Remor C. Marques
1
Profa. Dra. Depto. Biblioteconomia e Gestão da Informação/FAED/UDESC
2
Aluna do Curso de Biblioteconomia e Gestão da Informação/FAED/UDESC
3
Aluna do Curso de Biblioteconomia e Gestão da Informação/FAED/UDESC

1. Introdução

A inteligência competitiva – IC pode ser considerada como uma área de estudos e investigação recente
e em processo de maturação. As organizações desde a década de 60 têm aprimorado a aplicação e
desenvolvimento da IC, com o objetivo de a curto prazo, alcançar o retorno financeiro por uma questão de
sobrevivência. De acordo com a definição da SCIP – Society of Competitive Intelligence Professionals
(1999)[1], a IC é um processo que envolve a recolha, a análise e distribuição legal e ética de informações
relativas ao ambiente competitivo, às capacidades, vulnerabilidades e intenções dos concorrentes.
O termo Inteligência Competitiva – IC tem sido abordado como recuperação, tratamento e análise de
dados e informação. Nessa investigação adotou-se a definição de IC como um processo de recolha, análise,
tratamento e disseminação da informação e do conhecimento organizacional, respeitando o ambiente
interno e externo da organização e dos próprios concorrentes, de forma a gerar vantagem competitiva,
utilizando-se de recursos disponíveis – humanos e tecnológicos – de forma a gerar competências que
viabilizem o desenvolvimento da cognição e ação organizacional, que sustenta a atuação dos decisores, n
um processo contínuo e cíclico de aprendizagem organizacional. como a capacidade de aprendizagem dos
indivíduos e da organização de forma cíclica e contínua.
A IC nas organizações é importante por auxiliar os gestores na tomada de decisão, estando melhores
informados e seguros para executarem seus investimentos e atitudes decisórias. Importante verificar que ao
pensar esse modelo a partir de estudos de outros modelos existentes, houve a interação por meio de contato
com profissionais atuantes na área de CI e verificou-se a figura do decisor como chave nesse processo.
O estudo sobre o estado da arte da CI, abordou uma escassa literatura em se tratando de sua medição.
Autores como Malhotra (1996)[2]; Prescot (1999)[3]; e Groom e David (2001)[4], apontam para a
necessidade de se pensar na medição da CI para as organizações. Os estudos demonstram que todos os tipos
de organização possuem algum método para recolher informações dos seus competidores e do ambiente
externo, no entanto, geralmente esse método é aplicado de maneira informal pelas organizações (GROOM ;
DAVID, 2001), pois falta às organizações, um processo formal para recolher, processar, assimilar, convergir
e analisar a informação competitiva em conhecimento e inteligência usualmente utilizada para formulação
estratégica.
As preocupações apresentadas no decorrer do presente trabalho de investigação são corroboradas por
investigações sobre a medição da CI realizadas por Groom e David (2001), bem como por autores como
Malhotra (1996); Herring (1999)[6]; Prescot (1999) e outros que motivaram a propor um modelo em que
assente a medição da CI nas organizações, apresentado a seguir na figura n.1:

1
gih_lorac@hotmail.com
2
rm.anacaroline@gmail.com
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Single-loop learning

Informação

Recolha

Double-loop learning
Processo cíclico de
cognição e ação
Aplicação
Deutero-loop learning

organizacional
Conhecimento
Decisor
Transformação
Organizacional
Resultados
Avaliação Reflexão
Diagnóstico de
aprendizagem e
mudança
organizacional
Inteligência

Double-loop learning

Fig. n.1 Modelo proposto para a medição da CI. Baseado no modelo da SCIP (1999).
Fonte: PEREIRA (2009, p.131)[6].

O modelo está assente na base definida pelas dimensões especificadas, onde o decisor está no centro
de todo o processo, por ser o responsável pela tomada de decisão nas organizações. O modelo representado
na figura n.1 pode ser compreendido da seguinte maneira:
1) O primeiro passo para abordar a medição da CI na organização é o processo de informação. O que
denota sua importância para a organização é em primeiro lugar, o significado que lhe é atribuído, o contexto
em que está inserido e que utilização é feita.
O processo de informação nas organizações pode ser abordado de acordo com os seguintes critérios: a
recolha, o registro, o tratamento, o armazenamento (tipos de suporte onde será acondicionada, por exemplo
uma base de conhecimento organizacional), a análise, a recuperação, sua partilha, disseminação e uso.
O que pode ser partilhado e disseminado no ambiente interno da organização e aos seus competidores?
Por ser uma área extremamente “delicada”, nem sempre as informações podem ser partilhadas dentro do
próprio ambiente organizacional por ser altamente confidencial. Cabe aos gestores/decisores filtrar a partilha
e disseminação da informação na organização.
De acordo com a teoria de Argyris e Schön (1974, 1978)[7 e 8], esse processo inicial é chamado de
single-loop, pois os gestores e/ou decisores têm seu papel focado na análise da informação, mais
especificamente sobre a verificação de possíveis erros no processo de informação da organização.
O single-loop learning está relacionado a detecção e correção de erros identificados pelos
gestores/staff de CI desde o momento da recolha de informação. Essa detecção e correção de erros não
implicam num primeiro momento em alterar as normas organizacionais de base, os objetivos ou políticas em
vigor da organização.
Outra questão importante e de certa forma considerada complexa é a própria medição da informação.
Há inúmeras discussões sobre a medição da informação, mas para a CI o que é importante medir enquanto
informação? Essa é outra responsabilidade dos gestores e/ou decisores, por ser considerada uma abordagem
alternativa e estar diretamente direcionada ao contexto e necessidade organizacional.
Com base na revisão de literatura apresentada, sugere-se alguns indicadores que podem ser utilizados
para a medição da informação na organização – com foco na CI: recolha/aquisição da informação;
tratamento; inputs CI; outputs CI; custos/ROI; análise; partilha; e disseminação.
Nota-se que esses indicadores estão focados para a dimensão informação, que abordada isoladamente
tornar-se-á um processo fragmentado dentro do contexto da medição da CI.
O objetivo nesse processo é demonstrar passo-a-passo a proposta do modelo apresentado e não
fragmentá-lo.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

2) A segunda etapa a ser abordada é o conhecimento, considerado importante no desenvolvimento e


aplicação da CI.
Uma preocupação abordada na literatura por autores como Simon (1993)[9], Choo (1998)[10], entre
outros é a compreensão da criação do conhecimento no contexto organizacional. Uma questão que deve ser
clarificada é “como a informação é transformada em conhecimento dentro da organização.”
Argyris e Schön (1974, 1978) apontam os critérios de reflexão e avaliação como responsáveis pelo
processo de transição do conhecimento para a inteligência, denominado pelos autores como double-loop.
Nessa etapa, os gestores e/ou decisores já tem clarificados os erros e após a reflexão e avaliação já sabem o
que fazer para propor soluções.
O double-loop learning a partir da análise do gestor/staff da CI e decisor, e da identificação e correção
dos erros propõe a resolução dos problemas, sem no entanto, haver a modificação das normas
organizacionais de base, bem como dos objetivos e/ou das políticas em vigor da organização.
O double-loop learning pressupõe o interrelacionamento entre a informação, o conhecimento e a
inteligência e sua interação com decisor no processo de solução de problemas e tomada de decisão.
De acordo com a teoria de Argyris e Schön (1974, 1978), e com base nos estudos sobre o estado da
arte da CI, abordou-se alguns indicadores utilizados no desenvolver desse processo relacionados diretamente
com a CI. Indicadores como: decisão tácita; decisão estratégica; inovação; produtividade e investimento são
importantes para a medição da dimensão conhecimento.
3) Outro fator importante para a medição da CI de maneira holística é a inteligência. Nesse trabalho,
verificou-se alguns itens não clarificados, que tem sua seqüência desde o processo de transição da
informação para o conhecimento e do processo de conhecimento para inteligência.
Os gestores e/ou decisores podem afirmar que esse processo está implícito no desenvolvimento e
aplicação da CI. Mas como explicitá-lo, é outro desafio. Acredita-se que explicitar esse processo, pode
auxiliar no processo de medição da CI nas organizações.
Os Indicadores importantes para medição da dimensão inteligência considerada como a capacidade de
aprender são: capacidade de aprendizagem; aplicação de conhecimento; partilha do conhecimento; solução
de problemas; tomada de decisão.
A capacidade de aprendizagem organizacional deve propiciar um amplo diagnóstico sobre a aplicação
e partilha do conhecimento na organização que possibilitem a solução de problemas e viabilize a tomada de
decisão.
Esse diagnóstico deve promover como análise do processo final os resultados necessários aos
decisores e proporcionar mudanças comportamentais e de ação cognitiva nas organizações.
4) A quarta etapa desse processo – a transformação organizacional tem por objetivo verificar a análise
do processo de desenvolvimento e aplicação da CI sob o ponto de vista da aprendizagem organizacional.
Os indicadores sugeridos para a dimensão são: desempenho organizacional; inovação organizacional;
desenvolvimento e investigação, aprendizagem contínua.
Alcançar essa etapa e concluí-la, significa completar um ciclo que deve ser contínuo e cíclico. A
aprendizagem organizacional está para os gestores, staff de CI e decisores, como esses profissionais estão
para a aprendizagem organizacional. É necessário um feedback contínuo nesse processo. Esse feedback está
diretamente ligado ao processo cíclico de cognição e ação organizacional por parte dos gestores e/ou
decisores.
Alcançar esse estágio em uma organização significa estar num processo de maturação organizacional
com retornos e ganhos que vão além do financeiro, e alcançar um patamar de retorno e ganhos para a própria
organização a curto e a longo prazo.
Esse processo inclui: o ciclo de recolha de informação (aliado ao tratamento, armazenamento e
recuperação), que agregado á análise da mesma, tem-se ai a primeira fase: informação (single-loop).
A essa análise agregado o processo de avaliação e reflexão do conhecimento adquirido, proporciona a
aplicação e partilha do conhecimento. Esse processo de avaliação e reflexão tem como maturação a própria
interpretação entre a transição do conhecimento e a inteligência, também denominado conhecimento
(double-loop).
O terceiro e mais importante passo, é conhecido como Deutero-loop learning. O Deutero-loop learning
pressupõe que os gestores/staff de CI e decisores sejam capazes de aprender acerca dos vários contextos de
aprendizagem e transformar essa aprendizagem em „mais-valia‟ para a própria organização.
Em geral, são os decisores, responsáveis pelo desenvolvimento e implementação da CI nas
organizações. No entanto, às vezes, esse profissional não tem consciência da importância do seu papel para a
CI.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Durante os estudos sobre a CI, verificou-se que o single-loop e o double-loop learning fazem parte da
preocupação diária dos gestores e do staff da CI, pois são considerados como um processo importante para
seu desenvolvimento aplicação.
A fase de detectar, corrigir os erros e propor soluções em que abrange o single-loop learning é muito
bem trabalhada por todas as equipas de CI; a fase de aplicação, avaliação e reflexão do conhecimento em que
abrange o double-loop learning também está muito bem definida e tem sido constantemente executada pelos
gestores, staff de CI e decisores. No entanto, o diagnóstico de aprendizagem e mudança organizacional
denominado deutero-loop learning, que abrange o single e o double loop learning em que assenta todo o
processo de mudança: atitude, comportamentos, normas, políticas, e aprendizagem organizacional sob
diversos contextos organizacionais, ainda é um objetivo a ser alcançado pela organização.
Esse processo muitas vezes fica somente nas duas primeiras fases: ou por falta de interesse e total
desconhecimento dos decisores, ou por não ser um processo que propicie visualizar a importância de sua
aplicação, desenvolvimento e retorno imediato para as organizações.

2. Metodologia
A aplicação do modelo de medição de IC nas organizações e na investigação de aspectos
organizacionais favorecem o desenvolvimento desta aplicação e experiência no ambiente organizacional,
bem como tem por objetivo, investigar a situação atual da IC no Brasil; analisar como estão as organizações
estão compreendendo a informação, se estão obtendo recursos e estratégias para a efetivação da inteligência;
quais métodos, tecnologias estão utilizando para a análise da informação como insumo estratégico, e, mais
especificamente, como utilizam a informação estratégica no processo de obtenção de informações e
produção de conhecimento pelas organizações como vantagem competitiva.
A pesquisa e de abordagem qualitativa e de caráter descritivo e exploratório. Nesse contexto, a
presente pesquisa se caracteriza como um estudo de caso, pois propõe a aplicação do modelo em uma ou
mais organizações brasileiras, para que possa ser validado e tornar-se referência na medição da CI para as
organizações. Para a aplicabilidade e validação do modelo, será utilizado questionários e entrevistas com os
gestores e decisores que atuam diretamente coma IC nas organizações. Observa-se que a aplicabilidade e a
validação do modelo será realizado pela Autora do Modelo (o mesmo foi desenvolvido durante sua TESE de
Doutorado).
Para compreender como está o desenvolvimento da IC nas organizações brasileiras, a pesquisa
utilizar-se-á de questionários semi-estruturados enviados às organizações por meio de uma mala direta com
o objetivo de investigar como está o desenvolvimento da IC nas organizações brasileiras. (Para compreender
o desenvolvimento da IC nas organizações brasileiras, as atividades relacionadas a esse objetivo da
investigação será desenvolvido pelas participantes voluntárias, com cronogramas bem definidos e
estabelecidos).
Para a análise e tabulação do dados para a aplicabilidade e validação do modelo, os mesmo serão
realizados por meio de análise qualitativa, visto que para a fundamentação e validação do modelo, os
indicadores devem ser estudados e avaliados por especialistas dentro das organizações. Quanto a análise e
tabulação dos dados para verificar o desenvolvimento da IC no Brasil, será utilizado o questionário online
Survey Monkey, e a análise dos dados será de abordagem qualitativa.

3. Resultados e Discussão

A abordagem dos conceitos estudados permeiam o estudo da Inteligência Competitiva no


desenvolvimento do modelo de medição para a CI nas organizações. Nesse contexto, a pesquisa encontra-se
em andamento, portanto, ainda não apresenta resultados. No entanto, com o desenvolvimento da pesquisa,
espera-se que os resultados possam contribuir: para que o modelo proposto para a medição da IC esteja
assente na capacidade de aprendizagem da organização; a sistematização dos indicadores existentes e para
propor novos indicadores para a medição da IC; que a abordagem da IC sob o aspecto da inteligência e da
aprendizagem organizacional de acordo com a teoria de Argyris e Schön, possam trazer contribuições
financeiras, estratégicas, de vantagem competitiva, e que possam contribuir acima de tudo, para que a
organização possa alcançar um grau de maturação no seu processo de aprendizagem; e que o
re(conhecimento) do desenvolvimento da IC nas organizações brasileiras possa propor a construção de um
ambiente mais propício a execução do processo de IC nas organizações, e que compreendam a relevância da
aplicação do modelo para contínua ou posterior utilização.

4. Conclusão

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Ao termino da pesquisa, espera-se verificar as influências do processo de IC para a tomada de decisão;


propor inovações para as organizações como resultado na Transformação Organizacional que propicie o
aumento da competitividade, da produtividade – que resulte em ganhos financeiros ou de aprendizagem para
a organização, que possa gerar vantagem competitiva a curto e a longo prazo; verificar e analisar os impactos
que as mudanças de aprendizagem pode, causar para a equipe de IC, aos gestores e decisores, bem como para
a organização como um todo e seus colaboradores externos, fatores importantes para a solução de problemas
para a tomada de decisão; e, promover maior compreensão da IC para as organizações brasileiras e sua
importância para a vantagem competitiva e para a tomada de decisão.

Referências
1 SOCIETY of Competitive Intelligence Professionals – SCIP. 1999. Recuperado em: http://www.scip.org.
2 MALHOTRA, Y. Competitive intelligence programs: san overview. 1996. Recuperado em:
http://kmbook.com
3 PRESCOTT, J. E. The evolution of competitive intelligence: designing a process for action. Proposal
Management, 37-52, 1999.
4 GROOM, J. R.; DAVID, F.R. Competitive intelligence activity among small firms. SAM Advanced
Management Journal, 2001.
5 HERRING, J. P. Measuring effective intelligence: meeting the management communication challenge.
1999. Recuperado em: http://cireport.com/herring/herring.1.html. (Original publicado em 1996).
6 PEREIRA, A.M. A medição da competitive intelligence – desafios para as organizações. Guimarães,
Portugal, 2009. Tese de Doutorado. Universidade do Minho.
7 ARGYRIS, C.; SCHON, D. A. Theory in practice: increasing profesional effectiveness. San Francisco:
Jossey Boss, 1974.
8 ARGYRIS, C.; SCHON, D. A. Organizational learning II: theory, methods, and practice. Massachusetts:
Addison-Wesley Publishing Company, 1978.
9 SIMON, H. Strategy and organization evolution. Strategic Management Journal, 14, p. 131-142, 1993.
Recuperado em: htpp://jstor.org.
10 CHOO, C. W. Information management for the intelligent organization: the art of scanning the
environment. 2nd ed. Medford, NU: American Society for Information Science – ASIS, 1998.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

A "NOVA" MASCULINIDADE NA TELEVISÃO E SUA RELAÇÃO COM OS MITOS DE


NARCISO E DON JUAN

Janine Aparecida Bastos Stecanella1*; Najara Ferrari Pineheiro2


Universidade de Caxias do Sul

1. Introdução
O presente trabalho tem como objetivo apresentar os resultados parciais da pesquisa “Nem
Narciso, nem Don Juan: a representação da nova masculinidade na televisão”. A masculinidade é
uma construção social e nessa perspectiva, as considerações sobre o gênero e representações, aqui
abordadas, tendem a provocar a reflexão sobre a concepção da „nova‟ masculinidade em programas
de entretenimento na TV. Junto a isso, fazemos um paralelo com o mito de Narciso e Don Juan,
focalizando as representações de masculinidade e masculinidade plural.

2. Método
As gravações de programas de televisão são o ponto de partida e a análise é feita com base na ACD,
nos Estudos de Gênero e nos Estudos Culturais. Em seguida, elaboramos resumos e nos reunimos
periodicamente para a discussão dos resultados de análise e leitura.

3. Resultados e discussões
Com o projeto em sua fase final, os resultados se aproximam das transformações sociais. Os homens
foram influenciados pelas mulheres, que a partir do momento que conquistaram (buscaram) sua
independência influenciaram os homens a terem uma nova postura. Com as cobranças sociais por um padrão
de masculinidade que tinha como alicerces exaltar o lado masculino, forte e protetor, os homens, assim como
as mulheres, passaram por um lento processo de redefinição do gênero, incluindo elementos como os
cuidados pessoais e com a saúde, a valorização da aparência e a exaltação dos sentimento.

4. Conclusões
O projeto está na sua fase final, de modo que conclusões se aproximam das discussões citadas acima.
Utilizamos os personagens dos mitos de Narciso e Don Juan por entender que a construção dessa “nova
masculinidade” tem como base elementos de apreço com a aparência e os sentimentos, mas também com a
preservação de elementos da masculinidade, como o galanteio, a sedução e os jogos de conquista.

Referências
BOURDIEU, P. Sobre a Televisão. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
BOURDIEU, P. O Poder Simbólico. 3.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.
BOURDIEU, P. - A Dominação Masculina – Trad. Maria Helena Kühner. 2.ed. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2002
FAIRCLOGH, Norman. Discurso e mudança social, Brasília: Editora Universidade de
Brasília, 2001.
FOUCAULT, M. História da Sexualidade I – a vontade de saber. 10.ed. Rio de
Janeiro: Graal, 1988.
______. História da Sexualidade II – o uso dos prazeres. 4.ed. Rio de Janeiro: Graal,
1985.
______. História da Sexualidade III – o cuidado de si. Rio de Janeiro: Graal, 1985.
______. Um diálogo sobre os prazeres do sexo Nietzsche, Freud e Marx Theatrum
Philosoficum. Editora Landy, 2000.
______. Microfísica do poder. 11.ed. Rio de Janeiro: Graal, 1993.
GIDDENS, A. Sociologia. 3.ed. Madrid: Alianza Editorial, 1991.
HALL, S. A Identidade Cultural na Pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.
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Janeiro: Editora Vozes, 2003.
MAGALHÃES, Célia Maria (org). Reflexões sobre a Análise Crítica do Discurso. 2001. Belo
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NOLASCO, S. O Mito da Masculinidade. Rio de Janeiro: Rocco, 1993.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

A PROFISSIONALIZAÇÃO E AS ESTRATÉGIAS DAS FONTES DE NOTÍCIAS

Aldo Antonio Schmitz1


Universidade Federal de Santa Catarina

1. Introdução
O trabalho parte da suposição da profissionalização e de estratégias das fontes de notícias de economia
e negócios no relacionamento com os jornalistas, notadamente pelas ações destas, que deixaram de apenas
contribuir na apuração da notícia e passaram também a produzir e oferecer conteúdos genuinamente
jornalísticos, levando a mídia a divulgar as suas notícias, mantendo os seus interesses. Portanto, a pesquisa
persegue esse tema para verificar e demonstrar como ocorrem as interferências das fontes para ocupar
deliberadamente o seu espaço social com o propósito de manter uma imagem positiva e reputação ilibada
perante os seus públicos e a sociedade.
Quanto ao objeto de pesquisa, optou-se pela editoria de economia do Diário Catarinense (DC) e da
assessoria de imprensa da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc), pela
representatividade destas organizações. A escolha do DC justifica-se por ser o jornal com maior tiragem em
Santa Catarina, média diária de 41,5 mil exemplares, e substancial espaço dedicado aos assuntos
econômicos, sendo o meio de comunicação que dedica maior destaque à Fiesc, média mensal de 29% do
material veiculado na mídia sobre a entidade. No DC, e provavelmente na maioria da imprensa nesse Estado,
igualmente, a Fiesc representa a principal fonte de informações econômicas, pela representatividade da
indústria, 34,4% do PIB da economia catarinense, e por contar com uma estrutura profissional de
comunicação de referência.
Portanto, o objetivo geral é verificar e demonstrar a profissionalização e as estratégias das fontes de
notícias de economia e negócios nas relações com os jornalistas. Para atender os objetivos específicos, o
estudo desenvolveu-se a partir do registro das abordagens sobre as fontes nas teorias do jornalismo; as
relações éticas e as principais pesquisas sobre o tema. Além da análise de, para elucidar esse processo
realizou-se entrevistas sobre a atuação e o relacionamento de jornalistas e fontes, quando ocorre a oferta de
notícias produzidas por elas.
Além da relevância e o avanço temático, acredita-se que a pesquisa venha carregada de propriedades
para a academia, mercado e para o autor. Os cursos de jornalismo se ressentem de abordagens sobre as fontes
de notícias, embora elas estejam na essência do trabalho jornalístico. A literatura e os raros estudos - a
maioria não tem as fontes como objeto de pesquisa - fazem uma análise superficial sobre esse
relacionamento, geralmente em capítulos de livros ou artigos em revistas científicas, preocupados em mapear
o que se escreveu sobre o tema, salvo as raras exceções. Portanto, este trabalho se propõe a contribuir para
uma iniciação à teoria das fontes e reduzir a lacuna de estudos nesse campo.
Igualmente, justifica-se pelos subsídios que oferece ao mercado, apresentando e alertando os
jornalistas sobre a complexidade das relações de forças, interferências, ações e interesses das fontes, que
delas devem exigir transparência, em benefício do público, bem como reforçar a sua importância e as
questões éticas. A partir do levantamento de conflitos, equívocos, interesses e outras ligações, a pesquisa visa
revitalizar as relações entre jornalistas e fontes, que vem produzindo efeitos suficientes para se verificar a
profissionalização e as suas estratégias no uso dos meios de comunicação como canal para a gestão da sua
imagem e reputação.

2. Método
A pesquisa realizou-se em dupla abordagem metodológica: análise de conteúdo, pelo monitoramento
do noticiário na editoria e coluna de economia e negócios do DC, quantificando os conteúdos jornalísticos
gerados pela Fiesc. A verificação quantitativa indica os índices de aproveitamento de conteúdos jornalísticos
prontos, oferecidos pela instituição. Também se aplicou no trabalho de campo, entrevistas em profundidade,
para explicitar a relação entre jornalistas e fontes, notadamente na definição e aproveitamento das pautas das
áreas de economia e negócios, elucidando o que é prioritário às fontes e como reagem os jornalistas ao serem
pautados desta forma.
A análise de conteúdo seguiu o que recomendam Juan Igartua [1], Laurence Bardin [2] e Wilson
Fonseca Júnior [3]: orientação empírica e exploratória na análise de mensagens, seguindo os requisitos de
sistematicidade, porque se baseia num conjunto de procedimentos uniformes em toda a análise, e de

1
Mestrando em Jornalismo na UFSC – e-mail: aldoschmitz@gmail.com
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

objetividade, tendo em vista a confiabilidade dos resultados, o que permite avaliar criticamente os dados e
seu contexto.
Já as entrevistas individuais em profundidade - técnica qualitativa que explora a busca de informações,
percepções e experiências -, tiveram como objetivo clarear a relação velada entre jornalistas e fontes, via
assessoria de imprensa. A entrevista em profundidade tornou-se técnica clássica de obtenção de informações
nas ciências sociais. A seleção das fontes atendeu um espectro de organizações, empresários e dirigentes de
entidades de classes, que atuam como fontes de notícias, bem como profissionais de comunicação
empresarial e jornalistas, qualificados para esclarecer as questões da pesquisa. Neste caso, seguiu-se o que
aconselha Jorge Duarte [4], o pesquisador buscou, “com base em teorias e pressupostos definidos pelo
investigador, recolher respostas a partir da experiência subjetiva da fonte, selecionada por deter informações
que se deseja conhecer”, via entrevistas abertas, semiabertas e fechadas. Com os dados colhidos, completou-
se a pesquisa com a análise crítica e estruturada em diálogos sobre o tema proposto.

3. Resultados e Discussão
O pressuposto de que a fonte pauta a mídia confirma-se em nosso estudo, conforme reconhece um dos
autores da teoria agenda setting, Maxwell McCombs [5]. Pois, dos releases de economia oferecidos pela
Fiesc, 60% foram aproveitados com destaque pela editoria de Economia do Diário Catarinense e os outros
tratados na página Informe Econômico, de Estela Benetti, no mesmo jornal. Pela nossa análise, esta editoria
do DC manteve em 83% as mesmas informações dos releases, o número de citações das organizações (95%),
as nominações (92%) e os depoimentos das fontes (100%), disponíveis nos textos e áudios produzidos pela
assessoria de imprensa da entidade. Neste caso, nota-se o fenômeno apontado por Luiz Martins da Silva [6]
de agendamento institucional “permanente e sustentável”, visto que em nove dias corridos, a Fiesc ofereceu
sete pautas; também se amplia o conceito de Hervey Molotch e Marilyn Lester [7], pois além de promover a
notícia, a fonte produz os conteúdos jornalísticos; bem como mantém uma “interconexão estruturada”,
conforme aponta Stephen Reese [8].
Conhecendo os sistemas de produção, as fontes criam atalhos, interferindo no processo jornalístico,
oferecendo pautas e informações adaptadas a cada meio de comunicação e seção. Nosso estudo comprova os
argumentos de Philip Schlesinger [9] e Lorenzo Gomis [10], pois a Fiesc produz e oferece matérias
genuinamente jornalísticas, levando os jornalistas a reproduzir os fatos, o enfoque, as falas e os seus
interesses, em 92% dos casos, no DC. Além de produzir seus conteúdos seguindo os critérios do valor de
notícia, a organização disponibiliza com agilidade materiais (fotos, áudio, informações adicionais), porta-
vozes para depoimentos complementares, apoio de profissionais de comunicação. Enfim, esta instituição
conta com um eficiente sistema de divulgação e um suporte onipresente de apoio aos jornalistas, o que
garante uma relação de confiança com a mídia.
Como observa Nilson Lage [11], para ter a sua informação selecionada e publicada, as fontes
assessoradas por profissionais de comunicação, a exemplo da Fiesc, utilizam ainda uma série de estratégias:
release com a mesma estrutura de um texto jornalístico; listagem de jornalistas (mailing) atualizada e filtros
criteriosos por veículos, editorias e jornalistas para o envio regular de releases, em horários e dias adequados
e contato para confirmar ou ampliar a pauta (folow-up). Ainda faz parte das estratégias da Fiesc a oferta de
texto acompanhado de fotografia, áudio ou vídeo; promoção de entrevista exclusiva ou coletiva; materiais
informativos diversos (press-kit), sala de imprensa no site da organização; disponibilidade para depoimento
complementar e exclusivo; redação de artigo de opinião exclusivo; relação rotineira e encontros informais
com jornalistas; prêmios de jornalismo, distribuição de brindes e agrados.
Nosso estudo encontra correlação nos conceitos de “ritual estratégico” de Gaye Tuchman [12], no
“conhecimento compartilhado” de Teun Van Djck [13] e no “conhecimento acerta de”, apontado por Robert
Park [14], pois a Fiesc “é uma excelente fonte de notícias, representa a indústria catarinense e trata de
assuntos como emprego, exportação, desempenho do setor, investimentos, e principalmente por
disponibilizar números, estatísticas e dados confiáveis”, diz Eduardo Kormives, editor de Economia do DC.
Portanto, por este ponto de vista, a entidade posiciona-se como uma fonte que detém um conhecimento
especializado e confiável.
O nosso estudo atesta um processo de profissionalização das fontes, pois todos que atuam na
assessoria de imprensa da Fiesc são jornalistas formados ou estagiários e a maioria com passagens pela
mídia, conforme aponta Schlesinger [15] e Érik Neveu [16]. Na capacitação dos porta-vozes, como ocorreu
na Fiesc em meados de 2008, foram abordados temas como a dinâmica da mídia e a construção da imagem e
reputação institucional; os bastidores e as estruturas dos veículos de comunicação; regras básicas no
atendimento de jornalistas, formas de entrevistas; potencialização do trabalho da assessoria de imprensa;
além de dicas e orientações para melhorar o desempenho no contato com os jornalistas.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

4. Conclusão
Resumidamente, estas foram as razões que levaram o pesquisador a escolher o tema e os resultados
alcançados. Em primeiro lugar, são raros os estudos sobre as relações entre jornalistas e as fontes, a pesquisa
verifica e demonstra as estratégias das fontes e o fenômeno da profissionalização, contribuindo, inclusive
com o desenvolvimento de uma matriz de tipificação das fontes. Segundo, os estudos anteriores têm o objeto
de pesquisa predominantemente nas fontes políticas e organizações públicas, o pesquisador enfoca a área de
economia e negócios, pouco estudada. Terceiro, a maior parte das pesquisas neste tema é qualitativa, este
estudo aplicou o método quantitativo na análise de conteúdo. E por último, a maioria dos estudos anteriores
veem do campo das relações públicas e comunicação organizacional, sendo que a abordagem desta pesquisa
parte do jornalismo.

Referências
[1] IGARTUA, Juan José. Métodos cuantitativos de investigación en comunicación. Barcelona: Bosch,
2006.
[2] BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. 5.ed. São Paulo: Edições 70, 2008.
[3] FONSECA JÚNIOR, Wilson C. Análise de conteúdo. In: DUARTE, Jorge; BARROS, Antonio (Org.).
Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2006, p.62-83.
[4] DUARTE, Jorge. Entrevista em profundidade. In: DUARTE, Jorge; BARROS, Antonio (Org.). Métodos
e técnicas de pesquisa em comunicação. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2006, p.62-83.
[5] MCCOMBS, Maxwell. A teoria da agenda: a mídia e a opinião pública. Petrópolis: Vozes, 2009.
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events, accidents, and scandals. American Sociological Review, v. 39, n. 1, p.101-112, fev. 1974.
[8] REESE, Stephen D. Setting the media's agenda: a power balance perspective. In: ANDERSON, James A.
(ed.) Communication Yearbook. Beverly Hills: Sage, 1991, v. 14, p.309-340.
[9, 15] SCHLESINGER, Philip. Repenser la sociologie du journalisme: les stratégies de la source
d’information et les limites du média-centrisme. Réseaux, Paris, v. 10, n. 51, p.75-98, 1992.
[10] GOMIS, Lorenzo. Os interessados produzem e fornecem os fatos. Tradução de Camille Reis. Estudos
em Jornalismo e Mídia. Florianópolis, v. 1, n. 1, p.102-116, 2. sem. 2004.
[11] LAGE, Nilson. Ideologia e técnica da notícia. 3. ed. Florianópolis: Insular, 2009.
[12] TUCHMAN, Gaye. Objectivity as strategic ritual: an examination on newsnen's notions of objectivity.
American Journal of Sociology, Chicago, v. 77, n. 4, p.660-679, 1972.
[13] DIJK, Teun van. Notícias e conhecimento. Tradução de Luciano Bottini, Heloiza Herzcovitz e Eduardo
Meditsch. Estudos em Jornalismo e Mídia, Florianópolis, v. 2, n. 2, p.13-29, 2. sem. 2005.
[14] PARK, Robert E. A notícia como forma de conhecimento: um capítulo dentro da sociologia do
conhecimento. In: BERGER, Christa; MAROCCO, Beatriz (Org.). A era glacial do jornalismo: teorias
sociais da imprensa. Porto Alegre: Sulina, 2008. v. 2, p.51-70.
[16] NEVEU, Érik. Sociologia do jornalismo. Tradução de Daniela Dariano. São Paulo: Loyola, 2006.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

A RESPONSABILIDADE AMBIENTAL COMO ESTRATÉGIA ORGANIZACIONAL

Rafaela Caetano Pinto1*; Maria Ivete Trevizan Fossá2


1
Universidade Federal de Santa Maria
2
Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução
A temática da responsabilidade ambiental vem sendo discutida em debates, congressos e encontros
que buscam refletir sobre os impactos ambientais causados pelo homem e pelas empresas. As empresas, em
seu processo produtivo, necessitam voltar seu olhar para o meio-ambiente. Assim, além de realizar ações
com vistas a diminuir os impactos gerados pelos processos produtivos, as empresas também têm utilizado
algumas ações sócio-ambientais como forma de dar visibilidade à sua atuação e de legitimar-se perante seus
públicos.
A tomada de decisão das empresas em relação aos aspectos ambientais estava regida por uma
abordagem normativa, ou seja, a existência de leis obrigava as organizações a se preocuparem com os
impactos ambientais gerados por elas. Na contemporaneidade, além das exigências legais, também a
sociedade exerce pressão sobre o processo de produção industrial. Ao longo do tempo, isso fez com que as
organizações incorporassem estas práticas de maneira estratégica à sua gestão.
Este trabalho procura entender de que forma as empresas buscam legitimar-se através de seus projetos
de responsabilidade ambiental. Para tanto, busca conhecer as estratégias de comunicação presentes nos
projetos de responsabilidade ambiental em organizações santa-marienses vencedoras do Programa Gaúcho
da Qualidade e Produtividade (PGQP) entre os anos de 2004 e 2008.
A gestão da Qualidade Total é uma realidade entre as empresas. Estas procuram aperfeiçoar seus
processos de forma a minimizarem os impactos no meio ambiente promovendo, também, a sua própria
sobrevivência no mercado. Prova disso é o extenso rol de premiações que se propõem a reconhecer os
esforços organizacionais. Rolt (1998) cita alguns prêmios mundiais como o Prêmio da Qualidade da
Argentina, Prêmio Britânico da Qualidade, Prêmio da Qualidade da Malásia, Prêmio Deming (Japão),
Prêmio Nacional da Qualidade Malcom Baldrige (Estados Unidos), sendo estes dois últimos os mais
expressivos.
No Brasil, além da premiação nacional, Prêmio Nacional da Qualidade (PNQ), existem programas
estaduais, como o Programa Gaúcho da Qualidade e Produtividade (PGQP), que avaliam a gestão
organizacional. Várias empresas de diferentes cidades do Rio Grande do Sul buscam participar da avaliação
do Programa a fim de aprimorar suas práticas. Em meio a estas cidades, Santa Maria/RS tem figurado
anualmente na relação de empresas reconhecidas pelo PGQP.
O PGQP serviu como balizador desta pesquisa por estabelecer em seu quarto critério a Sociedade.
Dentro deste, são analisadas as ações sociais e/ou ambientais realizadas pelas empresas e sua relevância para
a sociedade. Assim, o PGQP atua para dar suporte e, ao mesmo tempo, reconhecer os esforços
organizacionais. Para Vergueiro e Carvalho (2002, p. 9) o programa incentiva, “as organizações do Estado
que se destacam em seus esforços na busca da melhoria contínua do seu sistema de gestão”.
Entre 2004 e 2008 quatrocentos e vinte e nove empresas receberam a premiação. Destas, oito são da
cidade de Santa Maria/RS e foram reconhecidas com uma das distinções do PGQP, sendo que cinco destas
participaram da pesquisa. A metodologia utilizada foi, além da pesquisa bibliográfica, a entrevista semi-
estruturada. Em seguida, foi realizada a análise de conteúdo das entrevistas.

2. Método

A escolha das organizações pesquisadas se deu por meio de busca no site institucional do Portal da
Qualidadei, que traz a relação das empresas premiadas a cada ano pelo PGQP. A partir desta busca,
delimitou-se como corpus de análise, as oito empresas santamarienses agraciadas pelo PGPQ, entre os anos
de 2004 e 2008. Das 8 (oito) empresas premidas, 5 (cinco) delas participaram da coleta de dados.
A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas em profundidade com os gestores dos
programas de responsabilidade ambiental sendo que as mesmas foram analisadas pela análise de conteúdo

*
Mestranda do Programa de Pós-Graduação Mestrado em Comunicação Midiática da UFSM, email:
rprafaela@hotmail.com. Sob orientação da professora Maria Ivete Trevisan Fossá, e-mail:
fossa@terra.com.br

911
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

(BARDIN, 1977, apud FOSSÁ, 2003). O método de análise de conteúdo compreendeu os seguintes
procedimentos:
a) transcrição das entrevistas na íntegra;
b) leitura geral do material coletado (entrevistas + documentos);
c) formulação de categorias de análise, usando o quadro referencial teórico e as indicações trazidas
pela leitura geral;
d) recorte do material, em unidades de registro (palavras, frases, parágrafos) comparáveis e com
mesmo conteúdo semântico;
e) estabelecimento de categorias ou classes que se diferenciam, tematicamente, nas unidades de
registro (passagem de dados brutos para dados organizados). A formulação dessas categorias seguiu os
princípios da exclusão mútua (entre categorias), da homogeneidade (dentro das categorias), da pertinência na
mensagem transmitida (não distorção), da fertilidade (para as inferências) e da objetividade (compreensão e
clareza);
f) agrupamento das unidades de registro em categorias comuns;
g) agrupamento progressivo (síntese) de categorias (iniciais  intermediárias  finais);
h) a interpretação dos dados.
A análise resultou em 11 (onze) categorias iniciais, que foram agrupadas em 4 (quatro) categorias
intermediárias e por fim em 2 (duas) categorias finais. São elas: políticas ambientais e legitimação.

3. Resultados e Discussão

A partir de duas categorias finais denominadas “políticas ambientais” e “legitimação


organizacional”, pode-se conhecer as estratégias de comunicação dos projetos de responsabilidade ambiental
das empresas santamarienses A política ambiental é a visão mais abrangente e a mais importante da
responsabilidade ambiental dentro das empresas. A responsabilidade ambiental, enquanto tal, deve guiar
todas as ações de uma empresa, possibilitando que além do alinhamento das ações empresariais à questão
ambiental, ela não seja uma mera prática, mas que seja a própria empresa. Assim pode-se dizer que a
responsabilidade ambiental está inserida nas ações das organizações e de uma forma implícita, atrelada à
identidade organizacional.
Dentre as cinco empresas que fizeram parte do estudo, uma possui a responsabilidade ambiental
como uma política da empresa. A partir disso, pôde-se notar a diferença da gestão da empresa quanto à
responsabilidade ambiental quando a mesma se configura como uma política da organização. Não apenas
suas práticas estão voltadas para os públicos interno e externo, como também possui objetivos e metas
determinadas para a responsabilidade ambiental. Isso se dá pelo fato de que as políticas guiam o
planejamento estratégico e é este que sustenta as ações das empresas. No entanto, na maioria das
organizações pesquisadas, a responsabilidade ambiental constava como ações do planejamento estratégico e
não como uma política condutora de todas as ações organizacionais. Assim, pôde-se perceber que isso
implica em um menor grau de efetividade destas ações ambientais se relacionadas com os objetivos
organizacionais.
Apesar das organizações já estarem mais envolvidas responsavelmente com os impactos gerados por
elas, ainda precisam fazer com que a responsabilidade ambiental seja incorporada à sua cultura. Esta precisa
ser incorporada como um valor organizacional, vivenciada no cotidiano das empresas e estar contida no
planejamento estratégico de modo a nortear todas as ações organizacionais. Conforme Fialho et al. (2008)
além das premissas que devem estar presentes no planejamento estratégico, é necessária a disseminação da
responsabilidade ambiental por todos os ambientes, internos e externos, da organização.
Para Ashley (2006), estas premissas devem estar presentes nos valores da organização, inseridas em
sua cultura para que as ações não sejam momentâneas, mas sim intrínsecas às atividades realizadas pelas
empresas e que possam ser empregadas como oportunidade. Já que hoje estas práticas são estimuladas pela
globalização e também pela sociedade, sendo assim, as corporações devem vir ao encontro deste cenário.
A outra categoria refere-se à legitimação organizacional, pertencente ao campo social econômico,
conforme Rodrigues (1990). Esta categoria pode ser interpretada pelo conhecimento, envolvimento e
reconhecimento do público interno. Quando questionados sobre a participação e conhecimento dos
colaboradores sobre as ações, todos os entrevistados afirmaram que seus colaboradores, conheciam, se
envolviam, traziam sugestões e reconheciam a importância que as ações de responsabilidade sócio-ambiental
assumem em um contexto cada vez mais globalizado. Segundo Berger e Luckmann (1985), o envolvimento
se dá quanto mais os indivíduos estiverem integrados com as ações. Ainda, para estes autores, a legitimação
se dá pela institucionalização, ou seja, a partir do momento que as ações se fazem presentes no cotidiano dos
indivíduos e são internalizadas por eles.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

No caso específico das organizações analisadas, não pode-se dizer que a responsabilidade ambiental
é uma prática legitimada em todo o contexto organizacional (âmbito interno e externo), uma vez que nos
discursos dos gestores, a responsabilidade ambiental se apresenta como uma prática institucionalizada e
legitimada para o público interno, o que nos leva a inferir que institucionalizar uma organização é torná-la
aceita naturalmente para os membros desse grupo social, inspirando suas ações e práticas sociais.
Desse modo, institucionalizar projetos ambientais no interior das organizações, por exemplo, é torná-
los habituais e rotineiros, gerando efeitos práticos importantes como interação, informação, socialização
secundária, representação social, produção do imaginário, etc. A institucionalização é um processo pelo qual
atores individuais transmitem o que é socialmente definido como real (ZUCKER, 1987). Em outras palavras
trata-se de um processo de fabricação de “verdades”, desempenhado por diversos atores sociais. Para ser
institucional, a estrutura deve gerar uma ação ou efeitos práticos. Segundo argumento de Giddens (1979),
uma estrutura que não se traduz em ação é, uma estrutura não-social. Uma estrutura que se tornou
institucionalizada é a que é considerada, pelos membros de um grupo social, como eficaz e necessária; ela
serve, pois, como uma importante força causal de padrões estáveis de comportamentos (BERGER E
LUCKMANN, 1997).
Já para o público externo, segundo os entrevistados, as ações não estão legitimadas. Em primeiro
lugar, as empresas entrevistadas não priorizam projetos voltados para o público externo. Outro aspecto que
colabora para que este público não reconheça estas empresas, é o fato de que as mesmas não possuem uma
comunicação estratégica junto a eles. Segundo Oliveira e Paula (2007) a comunicação estratégica possui
duas funções, informacional e relacional. A primeira se refere a informações transmitidas aos públicos por
meio de dispositivos midiáticos e a segunda, diz respeito à relação entre as organizações e seus públicos.
A comunicação, ao longo do tempo, foi sofrendo alterações em seu conceito. Perdeu sua
característica instrumental e ganhou a qualidade estratégica, hoje está alinhada ao planejamento estratégico
organizacional auxiliando na busca pelos objetivos globais do negócio, bem como atendendo as demandas
dos públicos. Segundo Oliveira e Paula (2007), o paradigma clássico/informacional caiu em desuso, entre
outros motivos, pelo fato de não conseguir atender à quantidade de fluxos de comunicação existentes na
contemporaneidade, bem como a demanda de informações entre as organizações e seus respectivos públicos.
O processo comunicativo, fomentado pela globalização, pelo uso de novas tecnologias, entre outros,
intensifica a necessidade de uma comunicação sob um novo olhar, a visão dos públicos relacionados às
organizações.
Pode-se dizer também que as empresas analisadas não utilizam efetivamente os dispositivos
midiáticos, principalmente seus sites institucionais, os quais não possuem informações sobre
responsabilidade ambiental. Os sites podem ser uma importante forma de divulgação da responsabilidade das
empresas para com o meio ambiente, mas três empresas não aproveitam este espaço como uma ferramenta de
divulgação. Na atualidade, os sites constituem-se como novos espaços de divulgação de diversas
informações, sem a necessidade de passar pelos veículos da mídia de massa. Além disso, as empresas não
investem em mídia e quando investem é para divulgar seus serviços e produtos. Conseqüentemente se não há
a comunicação por meio dos dispositivos, não existe relação entre essas empresas e seus públicos externos.
Além da legitimação com os públicos que se relacionam com as organizações, é importante que as
mesmas tenham a responsabilidade ambiental discriminada, principalmente em seu planejamento estratégico.
A formalização destas ações é importante para que as mesmas estejam legitimadas nos documentos das
próprias organizações para então serem levados aos públicos. De uma maneira geral, pode-se dizer que as
empresas precisam tomar a responsabilidade ambiental como uma premissa maior em seu planejamento
estratégico, como uma política, para que ela seja trabalhada de uma maneira mais efetiva, guiando as ações
organizacionais.

4. Conclusão
Toda organização, tendo ou não consciência, busca sua legitimação. De alguma maneira ela necessita
explicar e justificar sua existência na sociedade. Dentro do atual contexto pautado pela rápida transformação
e evolução das tecnologias da comunicação e da informação, a globalização, a mudança na natureza de
trabalho, os problemas ecológicos e os mercados turbulentos essa necessidade de legitimar-se torna-se cada
vez mais relevante e, algumas vezes, pode representar a permanência ou não da organização na
contemporaneidade.
Essa necessidade de afirmação faz com que as organizações procurem estratégias para alcançar a
legitimação e dentro do contexto atual, as ações ambientais vêm para beneficiar tanto o meio ambiente e a
sociedade como um todo, bem como para fazer com que as organizações se posicionem frente ao mercado.
A partir desse contexto, as ações ambientais tem se caracterizado como uma importante estratégia
organizacional por atender demandas socias e ambientais e da mesma forma ser utilizada pelas organizações

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

para dar visibilizadade à sua atuação sócio-ambiental. Mas para a efetividade dessas ações nesses dois
âmbitos é necessário que elas estejam amparadas nas políticas organizacionais para que não sejam ações
isoladas.
Por fim, acredita-se que a vontade de uma organização de tornar visível a sua
responsabilidade ambiental e ser reconhecida como socialmente responsável não deve ser maior que
a sua vontade de exercer tal responsabilidade efetivamente. Na contemporaneidade, promover a
visibilidade midiática da responsabilidade social é, sem dúvida, importante para as organizações
que querem ter destaque e serem competitivas. Contudo, acima da questão de sua visibilidade e de
seu reconhecimento, a responsabilidade social tem de ser realmente vivenciada pela organização em
todos os âmbitos de suas relações - ainda que hoje isso aparente ser um grande desafio. Quando a
responsabilidade ambiental é realmente vivenciada pela organização, ela acaba sendo explicitada
naturalmente, em cada passo da organização.

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i
Site onde pode ser visualizada a relação das empresas agraciadas com as distinções do PGQP:
http://www.mbc.org.br/mbc/pgqp/hot_sites/premio2010/index.php?pagina=premiadas&Itemid=350

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

AS POLÍTICAS PÚBLICAS ARQUIVÍSTICAS NAS UNIVERSIDADES FEDERAIS DO


RIO GRANDE DO SUL

Franciele Simon Carpes¹*; Denise Molon Castanho²


¹ Acadêmica do Curso de Especialização a Distância Gestão em Arquivos – UFSM e UAB.
² Professora Assistente do Departamento de Documentação - UFSM.

1. Introdução

A pesquisa apresentada neste artigo foi realizada no decorrer do Curso de Especialização a Distância
Gestão em Arquivos, da Universidade Federal de Santa Maria / Universidade Aberta do Brasil. O enfoque da
pesquisa é o processo de desenvolvimento de políticas públicas arquivísticas nas universidades federais do
Rio Grande do Sul. A partir do tema apresentado: “a implementação das políticas públicas arquivísticas nas
universidades federais do Rio Grande do Sul, Brasil”, surge o questionamento que a pesquisa busca
responder. A questão principal que norteia o estudo é: Como as políticas públicas arquivísticas vêm sendo
implementadas nas universidades federais do Rio Grande do Sul?
O objetivo geral da pesquisa consiste em investigar a implementação de políticas públicas
arquivísticas nas universidades federais do Rio Grande do Sul. Em termos específicos pretende-se:
contextualizar teorias e princípios da arquivística, destacando questões relacionadas à gestão documental,
políticas públicas arquivísticas e arquivos universitários; mapear as políticas públicas arquivísticas
implementadas nas Universidades Federais do Rio Grande do Sul; e analisar políticas públicas arquivísticas
implementadas nas Universidades Federais do Rio Grande do Sul.

2. Metodologia e Estratégia de Ação

Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa descritiva, do tipo estudo multicasos, de cunho
qualitativo. A pesquisa descritiva buscar apresentar as características de determinada população ou fenômeno
ou o estabelecimento de relações entre variáveis [6]. A abordagem qualitativa se justifica porque o objeto da
pesquisa não pode ser traduzido em números [6].
A revisão de literatura foi realizada visando aprofundar os conhecimentos referentes à temática e
desenvolver a pesquisa com subsídios teóricos sólidos. O objetivo é estruturar e desenvolver uma base
teórica que desse a sustentação ao desenvolvimento do trabalho [6]. Os principais autores da área foram
pesquisados, bem como se recorreu à internet para buscar referencias mais recentes sobre políticas
arquivísticas e arquivos universitários, como artigos, teses, e dissertações, bem como os sites do Conselho
Nacional de Arquivos, do Arquivo Nacional e do Sistema de Gestão de Documentos de Arquivo da
Administração Pública Federal (SIGA). A internet também foi utilizada para realizar a seleção das
universidades a serem pesquisadas. Dessa forma, selecionaram-se as três primeiras instituições criadas no
Rio Grande do Sul, conforme a análise do seu histórico nos seus respectivos sites. Assim, foram selecionadas
como universo da pesquisa a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a Fundação Universidade do Rio
Grande e a Universidade Federal de Santa Maria.
O instrumento de coleta de dados escolhido foi o questionário composto por questões abertas e
fechadas. O questionário contém questões sobre identificação das instituições; políticas arquivísticas;
processo de gestão documental; instrumentos arquivísticos adotados, políticas públicas arquivísticas, os
órgãos arquivísticos nacionais e orientações legislação arquivística. A aplicação de questionários é o melhor
método para se obter grande quantidade de dados sobre um grande elenco de questões sociais e políticas, e
possibilita uma análise rigorosa e precisa [1]. Para a validação do instrumento de coleta de dados, o
questionário elaborado foi entregue a um profissional arquivista atuante na área de arquivos universitários
para realizar uma análise e avaliação. A aplicação do pré-teste evidencia possíveis erros permitindo a
reformulação da falha no questionário definitivo [3]. Assim, após análise do profissional, o instrumento foi
aperfeiçoado considerando as suas sugestões.
Depois do recebimento da autorização para realizar a pesquisa nas instituições, foi realizada a
aplicação dos questionários. Os mesmos foram aplicados aos encarregados pelo setor responsável pela
documentação da universidade e foram encaminhados ao e-mail servidor designado pela Universidade. Para
este encaminhamento foi utilizada a tecnologia de GED - repositório digital google doc, que permitiu à
elaboração de um formulário eletrônico obtendo-se, rapidamente, as respostas das três instituições.

*
Autor Correspondente: fran_carpes@yahoo.com.br
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2
Os dados coletados foram reunidos, analisados e discutidos teoricamente com base na
fundamentação teórica. Na análise e interpretação dos resultados, as universidades foram identificadas com a
letra U (universidade) e um número para diferenciá-la, por exemplo: U1 (universidade 1) e U2 (universidade
2), conforme a ordem de recebimento das respostas, a fim de preservar sua identidade.
Durante a análise, foi realizada uma leitura preliminar, para destacar observações relevantes. Os
dados foram organizados conforme as categorias para melhor compreensão dos resultados. As categorias de
análise foram definidas de acordo com os objetivos da pesquisa. São elas: políticas arquivísticas; processo de
gestão documental e instrumentos arquivísticos; políticas públicas arquivísticas; órgãos arquivísticos
nacionais; e, orientações e legislação arquivística. Para responder aos objetivos propostos, os resultados
obtidos e analisados teoricamente permitiram apresentar as considerações finais do estudo. Os resultados
desta pesquisa são apresentados na forma de uma monografia defendida no final do Curso de Especialização
a Distância Gestão em Arquivos.

3. Apresentação e Análise dos Resultados

No que se refere às políticas arquivísticas das universidades pesquisadas é possível inferir que nas
instituições há a preocupação com a gestão de documentos/informação e com a implementação de sistema de
arquivos. Isso significa um primeiro passo para o desenvolvimento de políticas arquivísticas adequadas,
como revela Moreno: “os arquivos universitários estão se reestruturando em todo o mundo para possibilitar o
rápido acesso às informações armazenadas, de forma a apoiar as decisões político-administrativas, as
pesquisas, à extensão etc.” [4].
Com relação ao processo de gestão documental, a análise das políticas de gestão arquivística das três
universidades permite afirmar que muitas políticas vêm sendo adotadas e que, há maior número de ações
sendo desenvolvidas na U1 e U3, embora a U2 tenha declarado que muitos procedimentos estão em fase de
elaboração. No entanto, observa-se a falta de preocupação com o desenvolvimento do processo de gestão
documental como um todo na organização, nas três universidades, pois todas as funções arquivísticas
desenvolvidas foram adotadas em apenas alguns setores das instituições. Rousseau e Couture [5] observam
que a informação deve ser gerida sistematicamente, por meio de um programa organizado e harmonioso, que
garanta a continuidade das intervenções arquivísticas. Os dados apresentados permitem afirmar, também, que
de certa forma, os subsídios e orientações do CONARQ e do Arquivo Nacional vêm sendo utilizados e
observados para o desenvolvimento das ações arquivísticas nas três instituições. Observa-se que a Norma
Brasileira de Descrição Arquivística é o instrumento mais utilizado e o Código de Classificação de
Documentos de Arquivo para a Administração Pública: atividades-meio o que apresentou mais dificuldades
de aplicação. Esse fato corrobora com as considerações de Silva [7] quando o autor analisa que as ações do
CONARQ e do Arquivo Nacional tem reflexos positivos que “já podem ser sentidos em ações concretas para
o desenvolvimento de programas de gestão de documentos, tanto em órgãos e entidades da Administração
Pública Federal, como em administrações estaduais” (p.5).
Com base nas respostas analisadas quanto às políticas públicas arquivísticas no Brasil é possível
inferir que os entrevistados das universidades consideram que são poucas as políticas públicas arquivísticas
voltadas aos arquivos universitários e, as que existem são consideradas insuficientes. Também, é apontada
pouca ou nenhuma contribuição dada pelo SIGA. Este fato merece destaque e reflexão na medida em que o
principal meio de formulação/desenvolvimento de diretrizes que facilitem a gestão de documentos públicos
do executivo federal não tem cumprido seus objetivos satisfatoriamente.
As três universidades consideram pouco satisfatória a atuação do Arquivo Nacional e do Conselho
Nacional de Arquivos. Essa avaliação unânime demonstra que os agentes da política nacional de arquivos
não vêm correspondendo às expectativas as IFES no que concerne ao estabelecimento de políticas públicas
arquivísticas.
Ao analisar as políticas públicas arquivísticas, as universidades 1 e 3 declararam que as consideram
apenas em parte para planejar suas ações. Somente a U2 afirma que as considera totalmente. Esta afirmação
condiz com os resultados apresentados anteriormente, pois as instituições pouco fazem uso das normas e
orientações arquivísticas existentes para desenvolver as funções de classificar, avaliar e descrever. No que
concerne à legislação arquivística, todas as universidades declararam que a legislação arquivística vigente,
no que diz respeito à gestão de documentos, é respeitada apenas em parte nas instituições. Essa afirmação
demonstra que a legislação arquivística vigente não é considerada, ou até mesmo conhecida, nas instituições.
A falta de divulgação da legislação e das orientações arquivísticas, além de uma ação fiscalizadora que
impeça o desrespeito das normas e a destruição indiscriminada do patrimônio documental público são
apontadas como possíveis causas dessa desobediência à legislação.

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3
4. Considerações Finais

No que diz respeito às políticas arquivísticas das instituições, por meio dos dados coletados, é
possível verificar que as universidades consideram importante o desenvolvimento de uma gestão de
documentos/informações adequada aos princípios e teorias arquivísticas. No caso dos Arquivos
Universitários, a implementação da gestão da informação significa atender as necessidades informacionais de
gestores, alunos, professores e pesquisadores. Ressalta-se as potencialidades informacionais dos arquivos
dessas instituições que resguardam a prova de atividades de ensino, pesquisa e extensão. Todas as
universidades mostraram-se preocupadas e dispostas a desenvolver políticas arquivísticas segundo as normas
vigentes. O reconhecimento quanto à implementação de políticas de gestão documental é o primeiro passo
para mudar a realidade informacional das instituições, mas não é o suficiente. É necessário que gestores,
arquivistas e servidores desenvolvam um trabalho em conjunto a fim de elaborar e executar projetos
adequados, onde sejam disponibilizados recursos humanos e materiais.
A análise do processo de gestão arquivística nas universidades permite afirmar que muitas políticas
vêm sendo adotadas e, também que há maior número de políticas sendo desenvolvidas nas universidades U1
e U3, embora U2 afirme que várias atividades estão em fase de planejamento. No entanto, observa-se a falta
de preocupação com o desenvolvimento do processo de gestão documental como um todo na instituição. À
medida que se percebe a ausência de instrumentos decorrentes de funções arquivísticas em alguns setores,
entende-se que há muito a ser feito quanto ao processo de gestão documental nas IFES.
As universidades apontaram poucas contribuições do Sistema de Gestão de Documentos de Arquivo
da Administração Pública Federal não atendendo as suas expectativas. Dessa forma, pode-se afirmar que as
ações dos Sistema não tem alcaçado os objetivos propostos para essas instituições. Esta realidade requer
mudanças. Esforços devem ser dispensados no sentido de planejar e instituir políticas de gestão de
documentos fundamentadas em teorias e desenvolvidas metodologicamente, seguindo as orientações da
legislação vigente. Os profissionais precisam buscar iniciativas para que possam gerir as informações
arquivísticas de forma integrada, viabilizando o acesso e uso das mesmas. Uma análise criteriosa de como as
suas ações tem (ou não) contribuído o contexto arquivístico nacional seria interessante para avaliar a
metodologia de trabalho do Sistema.
Neste estudo a avaliação dos órgãos arquivísticos nacionais pode ser considerada inquietante, pois as
Universidades consideraram a sua atuação pouco satisfatória. Esta avaliação deveria ser realizada no âmbito
nacional, a fim de averiguar se este entendimento se estende aos demais órgãos da Administração Pública.
Quanto à legislação, as três Universidades declararam que cumprem a legislação arquivística vigente
apenas em parte, o que pode afetar o processo de gestão documental como um todo. A legislação arquivística
brasileira tem por objetivo garantir a eficiência da administração pública e a preservação do patrimônio
documental nacional. O cumprimento dessa legislação pode possibilitar uma gestão de documentos mais
vantajosa, que traga inúmeros benefícios às administrações. Mesmo sendo o “alicerce” e um diferencial no
estabelecimento de políticas arquivísticas, é importante considerar que as políticas públicas não se
constituem apenas pela legislação. É necessário o estabelecimento de metas e a elaboração de planos de ação
sistemáticos, que definam a disponibilização de recursos humanos e materiais por parte do Poder Público.
Esta missão pode ser considerada utópica, mas pode ser viabilizada por meio da participação e do
comprometimento de arquivistas, universidades, órgão arquivísticos nacionais e a reivindicação da sociedade
do seu direito de acesso à informação.

Referências

[1] BOWDITCH, J. L.; BUONO, A. F. Elementos do comportamento organizacional. São Paulo:


Pioneira, 1992. p. 23 a 37.

[2] GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2002.

[3] LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos da Metodologia científica. 6.
ed. São Paulo: Atlas, 2007.

[4] MORENO, Nádina Aparecida. A informação arquivística no processo de tomada de decisão em


organizações universitárias. 2006. 220f. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) – Escola de Ciência
da Informação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2006. Disponível em:
http://dspace.lcc.ufmg.br. Acesso em: abril de 2010.

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4
[5] ROUSSEAU, Jean-Yves; COUTURE, Carol. Os fundamentos da disciplina arquivística. Lisboa:
Publicações Dom Quixote, 1998. (Nova Enciclopédia, 56).

[6] SILVA, Edna Lúcia da. Metodologia da pesquisa e elaboração de dissertação. 4ª. ed. rev. atual.
Florianópolis: UFSC, 2005.

[7] SILVA, Jaime Antunes da. Por uma Política Nacional de Arquivos. In: Mesa Redonda Nacional de
Arquivos, 1999. Disponível em:
www.conarq.arquivonacional.gov.br/.../por_uma_poltica_nacional_de_arquivos.pdf. Acesso em: abril de
2010.

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EDUCOMUNICAÇÃO E TV PEN-DRIVE: O USO DELAS COMO PRÁTICAS


PEDAGÓGICAS NAS ESCOLAS ESTADUAIS PONTAGROSSENSES

Milena Rezende

Zeneida Alves de Assumpção

Universidade Estadual de Ponta Grossa

1.Introdução

A educomunicação é um campo de intervenção social em que se pode verificar como as


mídias interferem na função pedagógica, propagando saberes e inter-relacionando mídias-
tecnologias nos espaços educativos, denominados por Jésus Martin Barbero como “ecossistemas
educativos”[1]. Experiências envolvendo a educomunicação vêm sendo desenvolvidas nas
escolas públicas estaduais de ensino médio, do município de Ponta Grossa, a 110 km da capital
paranaense. Procurou-se verificar, através de questionários aplicados aos professores e
estudantes do 2º ano do ensino médio, de três colégios selecionados, qual a mídia mais utilizada
na sala de aula, como está sendo trabalhada pelos docentes e como poderá contribuir com
ensino-aprendizagem.

2. Método

A investigação contemplou professores e estudantes do 2º ano, do Ensino Médio, das


escolas públicas estaduais do município de Ponta Grossa, no Estado do Paraná, que estão
envolvidos com as tecnologias da informação e da comunicação, como práticas pedagógicas
educomunicativas. Para a realização dessa pesquisa, os procedimentos metodológicos visaram
pesquisa de campo. Aliada a essa pesquisa foram utilizados também os métodos: amostragem
aleatória e por cotas para a seleção dos colégios, através do Núcleo Regional de Educação do
município de Ponta Grossa. O método por cotas baseia-se em “sexo, idade e região geográfica”,
segundo REA & PARKER (2000, p. 17). Nesse caso, optou-se por regiões geográficas
(localização das escolas) no município de Ponta Grossa. Foram aplicados ainda, questionários
com perguntas abertas e fechadas direcionadas aos professores e alunos do 2º ano, do ensino
médio (noturno), de três colégios escolhidos: General Osório, Julio Teodorico e Regente Feijó.

3. Resultados e Discussão

A TV Pen-drive ou Multimídia é a tecnologia mais utilizada pela maioria dos docentes.


Nos Colégios Estaduais Júlio Teodorico e Regente Feijó, essa mídia é empregada nas aulas de
História, Português, Matemática, Geografia, Biologia, Inglês e Literatura. Já no Colégio
Estadual General Osório, a TV Pen-drive ou TV Multimídia é utilizada somente nas aulas de
Português, Inglês, Geografia e Biologia. O uso dela na sala de aula é indicado, também, pela
maioria dos estudantes, junto com a internet. No Colégio Estadual Regente Feijó e General
Osório, os estudantes demonstraram dúvidas sobre o uso eficaz dessa mídia (TV Pen-drive ou
TV Multimídia), como apoio pedagógico.

4. Conclusão

A pesquisa indica que a TV Pen-drive ou TV Multimídia é a tecnologia mais usada


como apoio pedagógico nas aulas de História, Português, Matemática, Geografia, Biologia,
Inglês e Literatura, embora as escolas pesquisadas possuam outras tecnologias: computador e
internet à disposição dos professores. Para os docentes, o uso de tecnologias/mídias é relevante

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como apoio pedagógico e podem desenvolver o senso crítico do aluno. Dos professores
pesquisados, apenas dois deles afirmaram sentir dificuldades para utilizar as mídias na sala de
aula, inclusive a TV Pen-drive, devido ao desconhecimento de manipulação da internet. Os
estudantes elencam a TV-Pen-drive, internet e computador, tecnologias que deveriam ser as
mais utilizadas na sala de aula, como ferramentas pedagógicas.

5. Referências.

BARBERO, Jesus Martin. “Desafios culturais da comunicação à educação”. IN Revista


Comunicação & Educação. São Paulo: Editora Segmento, 18, p. 51-61, maio/ago. 2000. ISSN
0104-6829.

GAIA, R. V. Educomunicação & Mídias. Maceió: Edufal, 2001.

KENSKI M. V. Educação e tecnologias. Campinas: Papirus, 2007.

REA & PARKER. Metodologia de pesquisa: do planejamento à execução. São Paulo: Editors
Guazzelli Ltda, 2000.

SCHAUN, Angela. Educomunicação: reflexões e princípios. Rio de Janeiro: Mauad, 2002.

Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação. Diretoria de Tecnologias


Educacionais. TV Multimídia: pesquisando e gravando conteúdos no pen-drive. Curitiba:
SEED-PR. 2008.

SOARES, I.O. “Educomunicação: um campo de mediação” [1]. Revista Comunicação &


Educação. São Paulo: ECA;USP. Ano VII. Nº 19, p. 12, set/dez.2000.

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EXÉRCITO GREMISTA: MARKETING ESPORTIVO INOVANDO ATRAVÉS DO


MARKETING DE RELACIONAMENTO

Magnos Cassiano Casagrande1*; Sandra Dalcul Depexe2


1
Universidade Federal de Santa Maria
2
Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução
O presente estudo analisa o projeto Exército Gremista, criado pelo Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense
com intuito de realizar um cadastramento em massa dos torcedores gremistas. Através do projeto o clube tem
a oportunidade de melhor conhecer o seu torcedor, oferecer promoções e prospectá-lo como cliente. O
torcedor por sua vez tem a oportunidade de participar de promoções e interagir de forma mais intensa com o
clube.
Transformar o torcedor de um clube de futebol em cliente e consumidor dos seus artigos esportivos é
uma ótima estratégia para aumentar os rendimentos financeiros da entidade esportiva. Entretanto, são poucos
clubes no Brasil que conseguem por em prática programas voltados à relação com o seu torcedor, com o uso
de estratégias direcionadas a fidelização do torcedor em cliente. De um lado, essa transformação remete a
uma valorização do torcedor e, de outro, pode ser traduzida em formas de recompensá-lo por participar da
vida do clube, consumir artigos esportivos, ir ao estádio para assistir aos jogos, etc. Evidentemente, o sucesso
desses programas depende de esforços para a compreensão e adaptação de ações condizentes com o torcedor,
isto é, não basta criar instrumentos de marketing é preciso que o torcedor sinta-se engajado ao clube.
Nessa perspectiva o setor de marketing esportivo do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense buscou no
marketing de relacionamento as bases para a criação de um projeto que visa conhecer seu torcedor, promover
sua fidelização, transformá-lo em um sócio e cliente do clube: o Exército Gremista, objeto de estudo deste
trabalho. Em menos de um ano são mais de 200.000 cadastrados, o que mostra a importância da atuação do
marketing esportivo e da utilização do marketing de relacionamento para um clube de futebol.
Embora diversos autores discutam frequentemente marketing esportivo, poucos tratam do marketing
de relacionamento, assim esse trabalho visa abordar marketing esportivo e marketing de relacionamento
através do Exército Gremista.
O trabalho contextualiza o futebol brasileiro, aborda o marketing esportivo e a implementação
estratégica do marketing de relacionamento. Faz-se necessário um resgate histórico do Grêmio Foot-Ball
Porto Alegrense e, a partir disso, analisa-se a criação e a importância do Exército Gremista para o clube e,
finalmente, como o Grêmio o utiliza para se aproximar de seu torcedor e, talvez, transformá-lo em cliente.

2. Método
Quanto aos aspectos metodológicos, o trabalho se caracteriza sob forma de abordagem qualitativa, que
segundo [1] visa à descrição e decodificação de componentes dentro de um mundo complexo de
significados, tendo por objetivo expressar e traduzir o sentido dos fenômenos do mundo social. Apesar de
assumir o foco qualitativo, inclui uma esfera quantitativa, ao tratar de dados e valores numéricos sobre o
Exército Gremista. Quanto às suas finalidades, o trabalho apresenta natureza descritiva, que segundo [2] a
descrição de características de determinado fenômeno e também o estabelecimento de relações entre as
variáveis do mesmo.
O futebol é uma das maiores paixões mundiais, inclusive dos brasileiros, mexe com pessoas de todos
os lugares. Para [3] “o esporte é um fenômeno mundial que impregna profundamente a vida cotidiana do
homem moderno”. Assim, deixou de ser apenas um esporte e transformou-se em um negócio lucrativo que
movimenta altos valores financeiros. O futebol tornou-se conteúdo da mídia, algo espetacular, com emoção,
ídolos, está praticamente todas as horas do dia na Televisão, no Rádio, no Jornal, na Internet. No Brasil,
conforme o site [4] a indústria esportiva movimenta cerca de 31 bilhões de reais por ano, valor que
representa 3,3% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e, esse montante cresce a cada temporada.
Apesar das altas cifras, no nosso país, o marketing esportivo já teve grandes evoluções, mas ainda
caminha lentamente comparado a grandes clubes da Europa. Por lá, estádios praticamente lotados em todas
as partidas, clubes que por vezes nem fazem uso de patrocínio em suas camisas, como é o caso do Barcelona
da Espanha. Por aqui, o marketing esportivo surgiu timidamente em meados de 1940 e 1950, época de

*
Autor Correspondente: magnoscassiano@yahoo.com.br
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ascenção econômica brasileira quando diversas empresas internacionais começaram a atuar no país. Hoje,
podemos dizer que o marketing esportivo vive uma fase mais consolidada, mas ainda tem muito a evoluir.
Diversos autores debatem e formulam conceitos e pontos de vista sobre o tema. Para [5] marketing
esportivo é aquele praticado por entidades esportivas (clubes, ligas, federações e confederações) com o foco
voltado para os produtos e os serviços. [6]Afirmam que o marketing esportivo é visto como o processo de
projetar e implementar atividades para a produção, fixação de preços, promoções de um produto esportivo, a
fim de satisfazer as necessidades ou aos desejos dos consumidores. Segundo [7] ele profissionaliza entidades
esportivas e ajuda na realização de eventos esportivos mais organizados. [8]diz que o marketing esportivo é
“como as empresas distinguem-se nestes dias, identificando-se com heróis atléticos e suas habilidades”.
Trazendo esse conceito para dentro de um clube de futebol, pode ser empregado na busca da melhor
forma para atingir o consumidor, no caso o torcedor. Pois, a razão de existir o futebol é o torcedor, qual seria
a graça de uma partida de futebol sem a presença do torcedor. Segundo [9] o torcedor sente a esperança de
ver seu time marcar gols, vencer o jogo, e o medo e desapontamento da derrota ou de um jogo ruim. Ele
sente orgulho de vestir a camisa do seu time. O torcedor é uma das principais personagens do futebol,
tornando-se um consumidor dos artigos esportivos do clube de coração e, devido a isso deve ganhar grande
importância por parte das agremiações.
Atualmente o marketing esportivo está adotando vagarosamente o conceito de marketing de
relacionamento, surgido nos anos 1990, devido a uma necessidade do mercado, reformular a relação entre
empresa e consumidor. [10] trata o marketing de relacionamento como uma “estratégia de marketing que
visa construir uma relação duradoura entre cliente e fornecedor, baseado em confiança, colaboração,
compromisso, parceria, investimentos e benefícios mútuos”. Com a criação de um forte relacionamento com
os clientes as empresas dão origem a situações lucrativas e estáveis. O relacionamento entre empresa e
cliente deve ser um processo continuado, pois segundo [11], é dessa forma que os benefícios e lucros virão
para as empresas provedoras.
[12]apresenta alguns aspectos que são fundamentais no relacionamento com o cliente:
a) Conhecer profundamente o cliente:
b) Transformar o cliente em sócio;
c) Possibilitar que o cliente seja conhecido por todos os funcionários da empresa.

3. Resultados e Discussão
Para obter mais sócios e melhorar o relacionamento com os já existentes, criando um vínculo de
fidelidade com o torcedor, o Grêmio passou dois anos desenvolvendo e em setembro de 2009 conseguiu
colocar em prática o seu projeto, o Exército Gremista. Para [13], Gerente de Eventos do clube, “O Exército
Gremista foi criado com objetivo de realizarmos um cadastramento em massa dos torcedores gremistas, com
este cadastro, o Grêmio vem mantendo um relacionamento com seus sócios e torcedores alistados” (email).
O nome e demais informações de cada cadastrado ficam armazenados num Banco de Dados que está sendo
utilizado pelo clube.
A principal característica do projeto é o uso de Customer Relatioship Management (CRM), traduzido
para o português como Gestão de Relacionamento com o Cliente. Esse tipo de gestão aproxima a relação
entre clube e torcedores, pois há um contato direto, principalmente via e-mail, possibilitando a interação com
as promoções e ações de marketing do clube.
Até o dia 05 de julho de 2010 o Exército Gremista contava com 227.000 alistados. Até o dia 21 de
outubro de 2009 46.950 torcedores já tinham recebido o
Cartão de Torcedor Gremista, 04% dos alistados que já somavam 125.360 estavam entre a faixa etária de 0 e
12 anos, 94% entre 12 e 60 anos e 02% de 60 anos para cima. 83% eram não-sócios e 17% sócios.
Torcedor Aniversariante, Torcedor Repórter e Artilharia Tricolor são as atuais ações que o Grêmio
proporciona ao seu torcedor através do Exército Gremista. Assim, o clube vem materializando os seus
objetivos de fidelizar o torcedor e torná-lo cliente do clube.
No mês do seu aniversário, o alistado no Exército Gremista pode garantir entra franca (Cadeira-Lateral
– Portão 15) ao Estádio Olímpico para assistir a um jogo do Grêmio. O sorteado pode levar um
acompanhante e tem a oportunidade de torcer tranquilamente, desde que ambos estejam alistados no projeto
e com seu Cartão de Torcedor Gremista em mãos. São Sorteados 100 torcedores aniversariantes para cada
jogo do Grêmio no Estádio Olímpico.
O Torcedor Repórter consiste em uma entrevista on-line durante 30 minutos com pessoas importantes
do futebol gremista, de 15 em 15 dias, em uma sexta-feira. Para participar o torcedor necessita fazer login no
site do Exército Gremista. Cada participante terá direito de fazer ao menos uma pergunta. As perguntas
podem ser de qualquer área relacionada ao clube e de qualquer tipo, desde que não firam a ética e a moral

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dos entrevistados. Após o término da entrevista, o conteúdo estará disponível no site do projeto e qualquer
um pode ter acesso.
O Departamento de Marketing do Grêmio lançou no início de abril de 2010 um programa que talvez
melhor caracterize seu objetivo de fidelização do torcedor, o Artilharia Tricolor. Através dele sócios e
integrantes do Exército Gremista, por meio de um acúmulo de pontos (no programa chamado de gols) serão
recompensados pelos gastos que tiveram com o tricolor, poderão trocar seus gols por produtos vinculados ao
Grêmio. Com o programa, o Grêmio visa aumentar suas receitas estimulando o consumo de produtos do
clube. A cada R$10,00 gastos com o clube, o torcedor ganha 10 gols. O participante é recompensado
comprando na Grêmio Mania, comprando ingresso, pagando a mensalidade (sócios), no mês de seu
aniversário, alistando-se no Exército Gremista, participando da escolha dos uniformes (geralmente o terceiro,
ou camisas do Exército). Vale ressaltar que quem é sócio recebe pontos em dobro.
O presente estudo utiliza os aspectos que para [12] são fundamentais no relacionamento com o cliente
e adapta-os ao Exército Gremista:
a) conhecer profundamente o cliente (no caso o torcedor), item que foi um dos principais na hora de
pensar o Exército Gremista, o Grêmio quer saber quem é seu torcedor, onde o mesmo está, informações
pessoais;
b) transformar o cliente em sócio: O clube pretende transformar o torcedor alistado no projeto em
sócio, para que contribua financeiramente com o clube;
c) Possibilitar o conhecimento do cliente por parte dos funcionários: Através das Centrais de
Relacionamento criadas pelo clube e das promoções e ações do Exército Gremista os torcedores terão a
chance de melhor se relacionar com os funcionários do clube e esses com os torcedores.
Outro modo de interação entre o Grêmio e seu torcedor, que está alistado no Exército Gremista,
ocorreu durante o mês de Junho de 2010, foi a escolha do terceiro uniforme do clube. A promoção foi
denominada de “A escolha é sua”, e mais de 25 mil torcedores participaram (Exército Gremista, 2010). É um
número considerável de pessoas que participaram, considerando o tempo da promoção, menos de um mês.

4. Conclusão
O Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense percebeu que o torcedor sentia a falta de ações que
aproximassem um do outro, tanto que em menos de um mês o projeto já contava com 100.000 torcedores
participantes (alistados). O modelo de Gestão de Relacionamento com os Clientes, no caso o torcedor, que
não deixa de ser um cliente, é um processo natural pelo qual diversos setores empresariais estão passando,
com o futebol não está sendo diferente. Os setores de marketing, em especial o esportivo, dos clubes
perceberam a importância de ter um relacionamento que vise o benefício de ambos (clube e torcedor). Uma
boa comunicação e interação entre clubes e torcedores só tende a trazer maiores receitas para os clubes e
uma maior satisfação do torcedor, pois esse verá que o clube lhe dá a devida importância.
Com o Exército Gremista e suas promoções, nota-se que a relação entre clube e torcedor vai muito
além do jogo em si. O torcedor faz parte da vida do Grêmio e o Grêmio faz parte da vida do torcedor. As
estratégias de relacionamento adotadas pelo Grêmio para o Exército Gremista poderão ajudar o clube a ter
sua marca valorizada, juntamente com uma maior lucratividade.
Embora o marketing esportivo no Brasil, ainda caminha em passos lentos, comparado ao existente nos
países europeus, já mostra com ações, como as praticadas pelo Grêmio de Foot-Ball Porto Alegrense, que
tem grande propensão a evoluir muito, ainda mais se pensarmos que no período dos próximos seis aos o
Brasil realizará a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Inovar, distinguir-se, é um dos
principais rumos que esse setor dos clubes precisa fazer. Voltar a atenção para o marketing de
relacionamento com certeza contribuirá em muito para um melhor desenvolvimento do marketing esportivo
no país do futebol.

5. Referências
[1] MAANEN, John, Van. Recuperando métodos qualitativos de pesquisa organizacional. In:
Administrative Science Quarterly. vol. 24, no. 4, December 1979ª, PP 520-526.

[2] GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002.

[3] HELAL, Ronaldo. O que é sociologia do esporte. São Paulo: Brasiliense, 1990. p.11.

[4] ARENA Sports. Disponível em: www.arenasports.com.br. Acesso em: 18 de ago. 2009.

[5] MELO NETO, F. P. Marketing de patrocínio. Rio de Janeiro: Sprint, 2003.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

[6] STOTLAR, David K., DUALIB Carla. Como desenvolver planos de marketing esportivo de sucesso.
São Paulo; Idéia e Ação. 2005.

[7] POZZI, Luís Fernando. A grande jogada: teoria e prática do marketing esportivo. São Paulo: Globo,
1998.

[8] SCHLOSSBERG, H. Sports Market: Marketing News, Chicago, Apr 2. 1990. p.1.

[9] FERRARI, D.T.; SILVEIRA, R.B. Para qual time você torce? O marketing e as estratégias de
patrocínio esportivo. Universidade do Vale do Itajaí – Santa Catarina, 2007.
[10] LIMEIRA, Tania. M. V. in Dias, S.R. Gestão de Marketing. São Paulo: Saraiva, 2003.

[11] MYSKIW, Mauro. Marketing de Relacionamento em Clubes de Futebol. In Caderno de Educação


Física –– v.8, n.15, p.63-76: Unioeste, Marechal Cândido Rondon, 2009.

[12] KANTER. R. M. Quando os gigantes aprendem a dançar: dominando os desafios de estratégias,


gestão e carreiras. Rio de Janeiro: Campus, 2001.

[13]CAETANO. Arci. Informações sobre o Exército Gremista. Mensagem Pessoal. Mensagem recebida
por <magnoscassiano@yahoo.com.br. Acesso em 27 abr. 2010.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

JORNALISMO CIENTÍFICO: UMA ANÁLISE DA COBERTURA DE SAÚDE


NOS PRINCIPAIS IMPRESSOS DO INTERIOR DO PARANÁ
1
Beatriz Bidarra; Zeneida Alves de Assumpção2
1
Universidade Estadual de Ponta Grossa
2
Universidade Estadual de Ponta Grossa

1. Introdução

Pensar a respeito da saúde é refletir sobre a prevenção e cura de doenças. Esse tipo de
informações deve ser democratizado pelas mídias. Nesse instante, o jornalismo científico é
relevante como interventor no cotidiano, sem deixar à margem o interesse público. A
divulgação da ciência (nesse caso, a saúde) deverá então ser clara e com linguagem acessível ao
homem comum. Enquanto, a ciência se ocupa com descobertas científico-tecnológicas, o
jornalismo é o responsável por “traduzir” essas informações, em linguagem não-hermética, para
orientar quem busca esses assuntos nas mídias. O papel do jornalista é de capital importância,
por ser a ligação entre o cientista e o público, a partir do instante em que ela é publicizada. A
divulgação científica, segundo Bueno[2], é composta por níveis de recodificação da mensagem,
são eles: disseminação intrapares e extrapares. A primeira trata da divulgação de informações
científicas e também tecnológicas direcionadas especificamente a uma comunidade científica
seleta, área ou campos relacionados com conhecimentos específicos. Já a disseminação
extrapares é a informação corrente no meio de especialistas que não estão inseridos na mesma
área do assunto trabalhado. No entanto, pode ser consumida por diferentes especialistas de
setores distintos, basta que o modo de atrair o leitor e, principalmente, a linguagem sejam
eficazes. A partir desses conceitos, a presente pesquisa analisa os conteúdos de saúde nas
editorias e suplementos de jornais impressos diários do interior do Paraná de maior circulação e
qual a divulgação realizada por eles. A análise está direcionada à primeira semana de janeiro a
dezembro de 2009, compreendendo, portanto, um ano de produção. Faz-se necessário ressaltar
que a investigação perpassa por características inerentes ao jornalismo científico.

2. Método

A investigação se respaldou no mapeamento de jornais impressos diários e na pesquisa


bibliográfica elencando o método de análise de conteúdo, à luz de Laurence Bardin[2] e Albertz
Kientz[4]. Acredita-se que esse método permite identificar a estrutura dos jornais selecionados e
suas tendências. Ele oportuniza, ainda, a realização de análise objetiva, sistemática e quantifica
o conteúdo dos jornais. Nesse contexto, a análise comparativa entre os impressos também se faz
relevante.

3. Resultados e discussão

Foram selecionados seis jornais com maior visibilidade no interior do Paraná: Tribuna
do Norte (Apucarana); O Paraná (Cascavel); Folha de Londrina (Londrina); Diário do Norte
(Maringá); Jornal da Manhã e Diário dos Campos (Ponta Grossa). Nesses jornais, os que
apresentam conteúdo sobre saúde: O Paraná, Jornal da Manhã e Diário do Norte. O Paraná e
Folha de Londrina apresentam cadernos de saúde em algumas edições. A Tribuna do Norte
possui suplemento de saúde não construído por jornalistas, mas por profissionais da saúde. O
objetivo da pesquisa é de analisar editorias ou suplementos de saúde, produzidos apenas por

1 beatrizbidarra@hotmail.com

927
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

jornalistas, portanto, o material que não contemplou as características específicas da pesquisa


foi excluído. Observou-se que alguns assuntos de saúde são recorrentes. Tais como: doenças
oculares e ligadas ao sono ou noites mal-dormidas, morte e temas relacionados à beleza. Elas
aparecem com mais freqüência em O Paraná. Esse jornal publicou no caderno de saúde
(02/12/09): “noite mal-dormida é a raiz de quase todos os problemas”. A matéria explica em
que parte do cérebro forma-se o sono. Doenças ligadas ao sono foram abordadas em outra
edição (02/09/09) do mesmo caderno: “Ronco pode diminuir expectativa de vida”. Não há
preocupação com o público-leigo. A reportagem não esclarece e nem explica com clareza esse
tipo de doença. Outro exemplo, é a reportagem do jornal Folha de Londrina, publicada em 1 de
junho de 2009, no caderno de saúde, a matéria com o título de “Oportunidades para ajudar a
curar”, não se encaixaria precisamente em saúde, mas em um espaço de resenha literária, visto
que o texto dá mais ênfase ao consumo do livro que a matéria apresenta do que a explicação da
doença a que se propõe a falar. Em outra edição do jornal Folha de Londrina, do dia 2 de
fevereiro de 2009, a Folha de saúde traz a matéria “Atividade física requer cuidados”, ocupa
toda a página de saúde, com Box explicativo e infográficos sobre a realização correta de
atividades físicas.
A matéria é clara e objetiva, apontando os problemas de um exercício físico mal feito,
além de das explicações sobre a diferença entre pessoas com experiência em atividades físicas e
outra que pratica apenas em períodos específicos do ano, como muitos fazem no verão. O texto
apesar de apresentar como especialista apenas um profissional de educação física, atinge um
público grande, por linguagem simples e acessível, além de ser um assunto do cotidiano, o que
aumenta o interesse público. No mesmo jornal, no caderno “Folha Verão”, há uma matéria da
Agência Estado, a respeito da celulite. O texto explica a doença, como ela se desenvolve, quais
são os tipos de tratamentos possíveis para o problema e visão de alguns especialistas sobre o
tema. Identifica-se aí uma matéria de saúde, apesar de abordar também a questão estética, em
outro espaço do impresso que não a Folha de saúde.

4. Conclusão

A partir dessa análise nota-se a inexistência da redação científica esclarecedora, apesar


dos temas sobre saúde serem de interesse do homem comum. A abordagem jornalístico-
científica visando linguagem acessível sobre saúde parecem desconsideradas. A partir da análise
do material é possível observar de que forma o jornalismo científico em saúde vem sendo
tratado na mídia impressa. A falta de profissionais especializados para lidar com esse tema é
visível, visto que não raras às vezes as reportagens de saúde estão locadas em editorias não
compatíveis com a temática. Quando o assunto saúde é publicado, os temas recorrentes não
seguem a lógica do interesse público e deixam de contribuir com o próprio leitor. Para Wilson
Bueno[2], “o jornalismo científico se constitui numa única fonte popular de informações sobre
ciência e tecnologia. Daí a responsabilidade do profissional que exerce a função de informar,
formar e conscientizar o público sobre as questões da ciência e tecnologia”. É preciso que os
jornais dediquem espaços para a divulgação da saúde numa linguagem acessível e
contextualizada de maneira a democratizar a informação divulgada e formar para além de
leitores comuns, pessoas críticas. A importância do jornalismo científico em um país como o
Brasil, onde as políticas públicas ou são ineficazes ou simplesmente não existem, é
inquestionável. A principal referência dele não é majoritariamente a divulgação midiática, mas
principalmente atingir o público de forma a contribuir ao desenvolvimento pessoal e à melhoria
na qualidade de vida. É impensável imaginar a constituição de uma sociedade democrática,
sustentável e justa quando a o jornalismo não atua nas diferentes esferas do conhecimento.
Nesse aspecto, o jornalismo científico tenta ser uma proposta de desenvolvimento sócio-
educativo na lacuna existente entre jornalista, científico e público. Contudo, repensar a maneira
como a produção dentro desse segmento jornalístico tem sido realizada é imprescindível.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Referências

[1]BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2009.

[2]BUENO, Wilson. Jornalismo científico no Brasil: os compromissos de uma prática


dependente. São Paulo, 1985, Tese de Doutorado. ECA/USP.

[3]BURKETT, Warren. Jornalismo científico: como escrever sobre ciência, medicina e alta
tecnologia para os meios de comunicação. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1990.

[4]KIENTZ, Albert. Análise de conteúdo. Rio de Janeiro: Eldorado,1973.

[5]OLIVEIRA, Fabíola. Jornalismo científico. São Paulo: Editora Contexto, 2002.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

MODELO DE GESTÃO DO CONHECIMENTO PARA SETOR MUNICIPAL DE


CONVÊNIOS IMPLANTADO ATRAVÉS DE FERRAMENTA COMPUTACIONAL
ENTERPRISE CONTENT MANANGEMENT (ECM)

Viviane Schneider1*, Ivan Correia Filagrana2


UFS C1 SOCIES C2
,

Palavras chave: Tecnologia, Gestão Pública Municipal, Gestão do Conhecimento

1. Introdução
A gestão do conhecimento em organizações públicas municipais surge com a carência de métodos que
suportem as exigências de desenvolvimento dos cenários econômico e social atual. Neste contexto a
tecnologia da informação tem papel crucial, pois é através da elaboração de soluções criativas para a
automação de processos organizacionais que entidades públicas alcançarão com sucesso seu principal
objetivo, e para qual foram criada, o de prestar serviços ao cidadão comum da forma mais eficiente e eficaz
possível.
Na Gestão Municipal de Convênios (GMC) há frequentemente carência de aparatos tecnológicos que
consigam promover o efetivo funcionamento deste setor estratégico na captação de recursos para a realização
de projetos municipais que visem o desenvolvimento territorial e humano de uma sociedade municipal.
Na gestão de projetos municipais, o conceito Enterprise Content Management (ECM) – Gestão do
Conteúdo Organizacional, surge como uma promessa para suportar o gerenciamento do conhecimento nas
organizações públicas.
Os sistemas de informações ECM têm como meta serem ferramentas estratégicas para o gerenciamento
do conhecimento de projetos municipais para captação de recursos federais, pois os processos que os formam
são baseados nas interpretações que as pessoas sistematizam em consonância com os fluxos das relações
entre dados e informações.
A Implantação de um modelo de Gestão do Conhecimento no Setor Municipal de Convênios surgiu da
necessidade de gerenciamento, preservação, difusão e edição do conhecimento obtido na execução dos
processos para captação de recursos federais que subsidiam a execução de projetos de estruturação
municipal. Para que ocorra a efetiva implantação do modelo de gestão do conhecimento, a construção do
sistema ECM é realizada concomitantemente com a introdução deste conceito, no setor municipal de
convênios.

2. Método
A metodologia utilizada neste trabalho foi baseada no levantamento dos requisitos de negócio do setor
de gestão municipal de convênios federais, fundamentado principalmente na pesquisa bibliográfica que trata
de gestão do conhecimento através da ferramenta ECM, software baseado no gerenciamento de conteúdo
estratégico organizacional. Para realizar o projeto de software foi utilizado a linguagem de especificação
UML 2.0.

2.1.Estrutura do trabalho
O trabalho foi estruturado em etapas para possibilitar melhor visualização do conteúdo, sendo elas:
ETAPA 1: Fundamentação – Nesta etapa foi realizada uma pesquisa bibliográfica, com avaliação
principalmente de literatura referente aos tópicos:
 administração pública: pesquisa bibliográfica para explanar a administração pública,
principalmente a administração municipal, com o intuito de alinhar tecnologia e gestão do
conhecimento com o negócio de Gestão Municipal de Convênios (GMC)[2,6,11,12,13,21,28,29,33];
 informações: pesquisa bibliográfica referente aos mecanismos, métodos e sistemas que geram dados
e informações[1,6,14];
 conhecimento: pesquisa referente a gestão do conhecimento, bem como os mecanismos que formam
o conhecimento na mente humana, com o intuito de formular uma analogia com a ferramenta
computacional desenvolvida no presente trabalho[2,6,11,12,13,21,29,33];

1
Viviane Schneider – Pós-Graduanda do Curso de Especialização em Controle da Gestão Pública Municipal, Centro
Sócio Econômico - Departamento de Ciências Contábeis da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
2
Ivan Correia Filagrana – Pós-Graduando do Curso de Mestrado em Engenharia da Produção – SOCIESC.
* Viviane Schneider: viviane.sch@globo.com
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

 gerenciamento de projetos: pesquisa bibliográfica visando a identificação das fases de um projeto


de software, além de diagnosticar as fases de um projeto de captação de recursos federais, bem como
suas fontes de conhecimento, com o intuito de nortear a modelagem do sistema ECM Projeto
[7,9,11,32,29];
 tecnologias de informação e comunicação: fundamentação para descrever tecnologias existentes e
relevantes para o desenvolvimento da ferramenta Enterprise Content Manangement (ECM). O
projeto do sistema utilizando-se uma analogia com os mecanismos cognitivos de formação,
armazenamento, busca e difusão do conhecimento, na mente humana
[1,2,3,4,5,6,7,8,11,12,13,14,15,19,20,21,26,27,30,31,32].

3. Resultados e Discussão
3.1.Macro escopo do modelo de Gestão do Conhecimento
Conforme as Figuras 2, a implantação do modelo de gestão do conhecimento, requer quatro (04)
diretrizes básicas:

 Implantação de uma cultura de gestão do conhecimento: as informações e conhecimentos


tácitos dos integrantes do setor municipal de convênios devem ser registradas e catalogadas
de acordo com o projeto de captação de recursos federais;

 Reengenharia de processos: os processos deverão ser registrados formalmente no sistema


ECM e reeditados conforme a necessidade de atualização, proveniente das pressões internas
e externas a organização. O conhecimento, que tem sua origem nos indivíduos que se
contradizem, criam dilemas, promovem inconsistências e polaridades, pode ser convergido
em um conhecimento consistente. Dentro do sistema ECM Projeto, esta descrição é editada
quantas vezes forem necessárias para que se transforme em um conhecimento consistente
com as diversas visões dos usuários, concretizando desta forma um dos conceitos de gestão
do conhecimento.

 Automação: O conteúdo estruturado, gerenciado pelo sistema ECM Projeto, corresponde


aos arquivos eletrônicos digitalizados, planilhas eletrônicas, documentos de texto (extensões
.doc, .txt, .pdf, etc.) multimídia de palestras e capacitações, conteúdo de e-mails, arquivos de
imagens, histórico de conversas on-line, entre outros arquivos eletrônicos, provenientes da
GMC. Todos estes documentos, dentro do sistema ECM Projeto, recebem uma descrição
técnica (meta dados), correspondendo desta forma aos conceitos de GED. Cada documento
eletrônico também possui uma descrição de processo, onde é referenciado e catalogado de
acordo com sua posição em tempo, dentro do contexto de projeto, e uma descrição
estratégica (conhecimento tácito), que é fornecida pela equipe que participa de seu processo,
e se refere a experiência consensual do grupo, adquirida com a manipulação do arquivo
Além da preservação e edição do conteúdo organizacional, o sistema ECM opera como um
Workflow. Desta forma o sistema ECM Projeto produz resultados positivos para o
gerenciamento de conhecimento e tomada de decisões estratégicas e operacionais baseadas
em experiências anteriores de processos e pessoas em uma organização pública municipal.
Na Figura 1 é representado a tela do sistema ECM Projeto

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Fig. 1. Tela do sistema ECM Projeto. Fonte: Elaborado pelos autores.

 Gestão: Com o auxilio da ferramenta computacional ECM Projeto, será possível a tomada
de decisões estratégicas, políticas e operacionais, sempre com o intuito de permitir
transparência, aproveitamento dos recursos repassados pela União, e gerenciamento e
preservação do conhecimento adquirido.

Fig. 2. Conceito do modelo de gestão do conhecimento. Fonte: Elaborado pelos autores.

3.2. Benefícios do Sistema ECM Projeto


Com a implantação do sistema ECM Projeto a Gestão Municipal de Convênios (GMC) será
beneficiada com efetivo gerenciamento de documentos eletrônicos, processos e capital intelectual que
surgem dos trâmites da execução de projetos de captação de recursos federais para subsidiar projetos de
estruturação municipal. O modelo de Gestão do Conhecimento prevê a implantação da ferramenta ECM
Projeto, que beneficiará a administração da GMC, pois sua implementação ocorre concomitantemente com
uma mudança de paradigma administrativo que requer do setor municipal a adoção de uma cultura de gestão
do conhecimento. Na Fig. 3 é possível observar como o Modelo de Gestão do Conhecimento atuará na
GMC.

Fig. 3 Conceito do modelo de gestão do conhecimento. Fonte: Elaborado pelos autores.

Na Fig. 3 é demonstrada a importância do sistema ECM Projeto como um núcleo estratégico de


conhecimento. O conhecimento do sistema ECM Projeto se refere basicamente aos processos políticos e

932
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

técnicos que culminam na aprovação de convênios com a União e que são reaproveitados em projetos
futuros.

4. Conclusão
A implantação de um modelo de gestão do conhecimento através de sistemas sob o conceito ECM abre
uma nova abordagem gestão de informação nas organizações. Esta nova abordagem considera a influência
do fator humano na gestão de informação. A gestão de informação através de ferramentas computacionais
ECM considera os mecanismos humanos de processamento e armazenamento de dados e automação de
processos de fluxo de conhecimento. Através dos preceitos da gestão do conhecimento, sistemas sob o
conceito ECM realizam o gerenciamento de conteúdos estruturados (documentos digitais), semi-estruturados
(URL, processos) e não estruturados (conhecimento humano) em uma organização.
Conforme a mudança dos tempos, a tecnologia contribui e deve acompanhar as mudanças de era. Os
fatores de produção passaram por grandes transformações, até os tempos atuais. Se no início da civilização o
maior fator de produção de riquezas era a terra (domínio de Espanha e Portugal nas grandes cruzadas), após a
revolução industrial, os maiores ganhos passaram a surgir das grandes indústrias, e posteriormente do capital
acumulado (domínio da potência Norte Americana - EUA). Vivenciamos uma era de tecnologia e
comunicação sem fronteiras, onde novos tempos se iniciam. Tempos em que o conhecimento parece acenar
como o maior fator de produção de riquezas. Desta forma pesquisas e desenvolvimento de tecnologias
voltadas à gestão de conhecimento, são fundamentais para que as organizações e centros de pesquisas e
educação suportem esta grande mudança que se inicia.

Referências
[1] ALBERTIN, Luiz Alberto; MOURA, Rosa Maria de. (organizadores). Tecnologia de Informação. São Paulo: Atlas, 2004.

[2]ATKINSON, Rita L; ATKINSON, Richard C.; SMITH, Edwardo E.; BEM, Dary J.; NOLEN-HOEKSEMA, Susan e SMITH,
Carolyn D. Introdução à psicologia de Hilgard. Tradução de Daniel Bueno. 13ed. Porto Alegre: Artmed, 2002.

[3] BEZERRA, Eduardo. Princípios de análise e projeto de sistemas com UML. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.

[4] BOOCH, Grady; RUMBAUGH, James; JACOBSON, Ivar; Tradução de Fábio Freitas da Silva e Cristina de Amorim Machado.
UML: guia do usuário. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.

[5] BRUDEKI, Nelson Martins. Gestão de Serviços Públicos Municipais. Curitiba: Ibpex, 2007.

[6] CRUZ, Tadel. Gerência do Conhecimento. 2.ed. Rio de Janeiro: E-papers, 2007.

[7] DAVENPORT, Thomas H.; PRUSAK, Laurence. Conhecimento empresarial: como as organizações gerenciam o seu capital
intelectual. Tradução Lenke Peres. Rio de Janeiro: Campus, 1998

[8] Decreto n° 6.170, de 25 de julho de 2007 que dispõe sobre as normas relativas às transferências de recursos da União mediante
convênios e contratos de repasse, e dá outras providências.
Consulta em 10/01/2010 no site:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Decreto/D6170.htm>

[9] DINSMORE, Paul Campbell – Supervisão; CAVALIERI, Adriane – Coordenação. Gerenciamento de Projetos – Livro Base de
“Preparação para Certificação PMP – Project Management Professional”. 2ed. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2007.

[10] DRUCKER, Peter F. Desafios gerenciais para o século XXI. São Paulo: Pioneira, 1999.

[11] FILHO, Antônio Mendes Da Silva. Os Três Pilares da Gestão do Conhecimento. (Artigo Revista Espaço Acadêmico, nº 58,
Março de 2006 – ISSN 1519.6186). Consulta em 08/02/2010 no site:<http://www.espacoacademico.com.br/058/58silvafilho.htm>.

[12] HALL, Calvin S.; LINDZEY, Gardner; CAMPBELL, John B. Teorias da personalidade. 4 ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

[13] HOLANDA, Lucyanno Moreira Cardoso; FRANCISCO, Antonio Carlos de; KOVALESKI, João Luiz. A percepção dos
alunos do mestrado em engenharia de produção sobre a existência de ambientes de criação do conhecimento. Ci. Inf., Brasília,
v. 38, n. 2, p. 96-109, maio/ago. 2009.(Artigo científico) Consulta em 10/02/2010 no site:
<http://revista.ibict.br/index.php/ciinf/article/viewArticle/1087>

[14] KOCH, Walter W.; PESSÔA, Prof. Dr. Marcelo S.O Novo Papel do Records Management À Luz do E-business. (Artigo
científico). Consulta em 04/01/2010 no site: <http://www.imageware.com.br/down/artigo_rm.pdf>

[15] LIMA, Adilson da Silva. UML 2.0: do requisito à solução. 3 ed. São Paulo: Érica, 2008.

933
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

[16] Ministério da Comunicação. Um Plano Nacional para Banda Larga, O Brasil em alta velocidade. (Relatório elaborado por
Ministro de Estado das Comunicações, Senador Hélio Costa; Secretário de Telecomunicações, Roberto Pinto Martins; Diretor de
Serviços e de Universalização de Telecomunicações, Átila Augusto Souto; Organizadores, Átila Augusto Souto, Daniel B.
Cavalcanti, Roberto Pinto Martins; Colaboradores Agência Nacional de Telecomunicações – Anatel, Fundação Centro de Pesquisa e
Desenvolvimento em Telecomunicações – CPqD, Associação Brasileira de Telecomunicações – Telebrasil). Consulta em 04/01/2010
no site: <http://www.mc.gov.br/wp-content/uploads/2009/11/o-brasil-em-alta-velocidade1.pdf>

[17] Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Secretaria de Gestão. Programa Nacional de Gestão Pública e
Desburocratização – GesPública; Instrumento para avaliação da gestão pública – 250 e 500 pontos. Brasília: MP, SEGES,
2009. Consulta em 22/01/2010 no site: <https://conteudo.gespublica.gov.br/folder_publicacoes/pasta.2009-11-
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[18] NASCIMENTO, Edson Ronaldo. Gestão Pública: Tributação e Orçamento; lei de responsabilidade fiscal;tópicos em
contabilidade pública; gestão pública no Brasil, de JK a Lula, administração financeira e orçamentária, finanças públicas nos
três níveis de governo. São Paulo: Saraiva, 2006.

[19] NAGEM, Julio Vinicius Guerra. Gestão de Conhecimento no Setor Público Brasileiro: Estudo de Caso das Ações
Preliminares para Implantação do Sistema Integrado de Informações da Prefeitura Municipal de Curitiba. 2006. (Dissertação
de Mestrado em Organizações e Desenvolvimento).
Consulta em 18/01/2010 no site:
< www.fae.edu/pos/mestrado/pdf/dissertacoes/julio_nagem.pdf>

[20] PINHEIRO, Carlos André Reis. Inteligência Analítica – Mineração de Dados e Descoberta de Conhecimento. Rio de
Janeiro: Editora Ciência Moderna Ltda., 2008.

[21] PINKER, Steven. Como a mente funciona. Tradução Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia da Letras, 1998.

[22] Portaria nº 127, de 29 de maio de 2008, que regula os convênios, os contratos de repasse e os termos de cooperação celebrados
pelos órgãos e entidades da Administração Pública Federal com órgãos ou entidades públicas ou privadas sem fins lucrativos para a
execução de programas, projetos e atividades de interesse recíproco que envolvam a transferência de recursos financeiros oriundos do
Orçamento Fiscal e da Seguridade Social da União. Consulta em 20/02/2010 no site:
< https://www.convenios.gov.br/portal/arquivos/Portaria_n_127-2008_e_suas_alteracoes.pdf >

[23] PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Guia Básico para Gestão nos Municípios. Brasília: MP, 2008. Consulta dia 04/01/2010 no
site: <http://www.portalfederativo.gov.br>

[24] SALDANHA, Clezio. Introdução a Gestão Pública. São Paulo: Saraiva, 2006.

[25] SANTOS, Ronaldo Amaral. Granulateo3tool - Uma Ferramenta para Granularização de Documentos. (Monografia de
Conclusão de Curso - 2007) Consulta em 18/01/2010 no site: < http://web.cefetcampos.br/cgi-
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[26] SCHACH, Stephen R. Engenharia de Software: os paradigmas clássicos & orientados a objetos. Tradução Ariovaldo Griesi.
7ed. São Paulo: MacGraw-Hill, 2009.

[27] SILVA, Ricardo Pereira. UML: Modelagem Orientada a Objetos. Florianópolis: Visual Books, 2007

[28] SLOMSKI, Valmor. Controladoria e governança na gestão pública. São Paulo: Atlas,2005.

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Vieira. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.

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Campus, 2002.

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Brasport, 2005.

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934
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

PORTAL DA EDUCAÇÃO: AS CONTRIBUIÇÕES DO AMBIENTE INTERATIVO À


APRENDIZAGEM ESCOLAR

José Raul Staub*


Centro Universitário Municipal de São José - USJ

1. Introdução

O desenvolvimento deste trabalho consiste em uma pesquisa acerca da estrutura, uso e


funcionamento do Portal da Educação desenvolvido pela Secretaria de Estado da Educação de Santa
Catarina, com intuito de subsidiar o processo educacional da Educação Básica por intermédio da divulgação
das informações e conteúdos curriculares e ou extracurriculares no âmbito das escolas públicas da rede
estadual de educação. O Portal possibilita a utilização dos recursos de pesquisa da web, abrigar informações
e conteúdos de ordem administrativa e pedagógica e viabiliza a divulgação das produções dos estudantes e
educadores, além de inscrições para cursos e concursos diversos.
O foco principal desta pesquisa está voltado aos itens relacionados a educadores e alunos, no que se
refere aos conteúdos e atividades diversas que contribuem com a aprendizagem, a produção e efetivação dos
processos de ensino e aprendizagem de educadores e dos estudantes, com a utilização dos recursos de
informática, para estabelecer um canal de comunicação efetiva que promova a interação dos sujeitos
envolvidos no processo educativo das unidades escolares e a comunidade. A rede de comunicação disponível
na web amplia a visão de mundo, contribui com informações sobre inúmeras temáticas e apresenta diferentes
caminhos a serem percorridos para a construção do conhecimento. Nesta linha, o Portal também colabora
para aproximar as pessoas, compartilhar as idéias, trocar experiências e, desta forma, permite reflexões,
exige preparo de material, análise e crítica da leitura, do produzido e veiculado.
Essa ferramenta potencializa o processo educativo, desde que o professor tenha um domínio
contínuo e crescente das tecnologias, paras se beneficiar dos recursos para colaborar com a produção de
saberes a serem aplicados para a produção de conhecimento sistematizado na escola. Desta forma,
entendemos que na escola educadores devem propor atividades significativas que envolvam os alunos, em
uma dinâmica mais abrangente.
A pesquisa foi desenvolvida por meio de formulário eletrônico, disponibilizado na Web, para
educadores e Alunos da rede pública estadual e Santa Catarina. A coleta de dados ocorreu no período de 03
de novembro de 2009 a 31 de março de 2010. Ao disponibilizar o formulário nesse período, possibilitou-se a
coleta de dados em distintos momentos do cotidiano escolar,ou seja: nos meses de Novembro e Dezembro,
professores e alunos encontravam-se em fase de conclusão do ano letivo 2009, em Janeiro e parte de
Fevereiro estavam em férias e no restante do mês de Fevereiro e ao longo de Março os participantes da
pesquisa estavam retomando as atividades do ano letivo de 2010. Desta forma houve um longo período para
pudessem participar da pesquisa da qual obteve-se a participação de 46 Educadores e 164 alunos.
Palavras chave: Mídias, interatividade e tecnologia.

2. Método

O trabalho consiste na realização de uma pesquisa quantitativa de cunho qualitativo acerca da


disponibilização dos conteúdos e ou informações no Portal da Educação da Secretaria de Estado da Educação
de santa Catarina em torno dos Itens: Educadores e Alunos no que se refere ao conteúdo curricular das
disciplinas e extracurriculares, no qual os professores e alunos contribuirão na construção de novos saberes
na perspectiva de envolver conceitos que se referem aos aspectos sócio-políticos e ambientais dos conteúdos
desenvolvidos bem como a avaliação da atual estrutura e funcionamento do Portal. As intervenções
consistem na realização de uma enquête acerca de: Conteúdos, imagens, formas, dados estatísticos e links.
Ao viabilizar o Portal nesses termos, possibilita-se o acesso do usuário as informações e conteúdos,
de forma objetiva e dinâmica na qual os termos, conceitos e a apresentação identificam-se com a comunidade
escolar. O universo a ser pesquisado remete-se aos professores e alunos, da rede pública estadual que atuam
nas diversas modalidades da educação básica. Os participantes, respondem a um questionário
disponibilizado na web endereço http://www.sed.sc.gov.br/secretaria/. Com questões envolvendo temas
descritos nos quadros. Os quadros possibilitam aos educadores alunos avaliarem a usabilidade e

*
Autor Correspondente: usj.raul@gmail.com
935
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

funcionalidade dos respectivos Links como recurso facilitador da integração das disciplinas relacionadas às
ciências humanas e aos códigos, linguagens e suas tecnologias, para subsidiar a discussão de determinada
temática que envolve princípios básicos da comunicação no sentido de possibilitar uma visão abrangente dos
diversos aspectos que envolvem a totalidade dos elementos presentes no amplo contexto em que tal temática
se encontra inserida.

7. RESULTADOS OBTIDOS

Ao analisar os resultados coletados a partir dos questionários em formato eletrônico envolvendo a


utilização dos recursos de informática constatou-se a versatilidade desse instrumento de pesquisa, pois a
mesma permitiu coletar um grande número de dados por meio do universo significativo de pessoas com pré-
disposição para compartilhar experiências, contribuir, criticar para contribuir com a melhoria visando atingir
os objetivos propostos e até mesmo extrapolá-los. Em geral, isso não é muito simples, a rotina, o desafio e a
disposição do professor e aluno podem ser fatores complicadores na coleta de dados acerca dos itens
solicitados.
Em relação aos dados obtidos junto aos educadores e alunos acerca da arquitetura do portal, do seu
uso e suas funções, alguns aspectos merecem destaque, pois observa-se que para ambos prevalece a
objetividade com que as informações e conteúdos são apresentados, bem como a versatilidade para mudar de
link ou acessar as informações. O desempenho do item “recursos on-line” reflete a necessidade de
aprimoramento da ferramenta, pois 7.32% dos participantes avaliaram o link como péssimo. Os dados
referentes a gravuras, vídeos,imagens sinalizam índices satisfatórios para os alunos e indicam como
prioridade no que se refere aos simuladores o que caracteriza a deficiência de laboratórios para realização de
experiências concretas.
Os educadores manifestaram-se satisfeitos no link “Educação Superior” onde o educador conta com
recursos para acessar a plataforma Paulo Freire, ensino superior, apoio ao estudante,política de gestão,
política educacional, fórum interinstitucional, rede de comunicações e pesquisa e bolsas FUMEDES – Art.
171, pois 24.44% consideram ótimo 46.67% bom. Além disso, destacamos o item “Educação Básica” no
qual o educador conta com recursos para acessar as etapas e modalidades de educação, e o resultado da
pesquisa indica o que 24.44% consideram ótimo e 53.33% avaliam como bom, o que manifesta a satisfação
dos professores com os recursos disponíveis nesse link.
Em relação a avaliação da funcionalidade do Link “Formação” no qual o educador conta com
recursos para acessar a programa, ambiente pedagógico colaborativo, disciplinas curriculares, Educad,
LEFIS e RCPE, o resultado da pesquisa indica 53.33%consideram bom e 28.89% avaliam como ótimo e
ainda no link “Planos e Ações” no qual o educador conta com recursos para acessar a núcleos, programas e
projetos e calendário escolar. O resultado da pesquisa indica que 28.89% avaliam como ótimo e 51.11%
consideram bom o desempenho da ferramenta nesse link.
Ao finalizar as atividades, os resultados indicam que são muitos os aspectos positivos em relação a
estrutura, a usabilidade e funcionalidade do Portal, porém ainda há um longo caminho a ser trilhado para que
atenda as necessidades da comunidade escolar, na perspectiva de inserir definitivamente todos os alunos e
educadores na era da informação e na sociedade do conhecimento


4. Conclusão

O aparato tecnológico produzido pela humanidade ao longo dos séculos se constitui na extensão de
pernas e braços de homens e mulheres e no desenvolvimento das condições permitam percorrer distâncias e
atingir lugares que por muito tempo eram visitados apenas pela imaginação dos sujeitos que manifestavam o
desejo de transpor os limites de sua aldeia para ganhar o mundo e experimentar novas sensações que povoam
os desejos do corpo e da alma do sujeito ávido por conquistas.
Os recursos de informática têm papel preponderante nesse processo, devido a sua capacidade de
mobilização e alcance aos diversos segmentos da sociedade. Para o meio educacional o tema ainda é muito
controverso, dada sua abrangência e complexidade. As inúmeras alternativas de uso dos recursos on-line
propiciam um amplo debate que oscilam entre as questões de informação geral que precisam ser
devidamente analisadas para que possam ser utilizadas para subsidiar o processo de produção e
sistematização do conhecimento, bem como as questões que já superaram essa fase e portanto, já se
enquadram no universo dos temas específicos da educação.
936
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

O ingresso das TICs eletrônicas no âmbito da educação escolar evidencia-se na produção dos
educadores e alunos quer seja no planejamento das aulas, na sua aplicação e sobre tudo na publicização dos
resultados. Para explorar com mais abrangência o potencial das redes de comunicação, sua estrutura e
organização deve ser discutida e orientada de tal forma, que seja possível reconhecer as fontes de pesquisa, a
sua relevância e principalmente a importância das produções dos alunos, que serão responsáveis pela
produção o seus saberes e organização de informações e conteúdos.
As iniciativas no campo da educação (no âmbito das TICs) são expressivas, pois apresentam
características específicas que dispensam especial atenção a criação, desenvolvimento, veiculação e
socialização do conhecimento. Em face a irreversibilidade do processo, cabe ao meio educacional
intensificar as ações e somar esforços para consolidar a aplicação dos midiáticos no cotidiano escolar quer
seja nos aspectos administrativos ou pedagógicos.
No contexto atual, em que as transformações ocorrem rapidamente influenciando direta ou
indiretamente na vida das pessoas, o aspecto que merece destaque é a agilidade com que ocorre a
dssiminação da informação. No entanto não se trata de um processo homogêneo, ao passo que em
determinados locais ocorre naturalmente, em outros representa uma novidade ou ainda para muito s significa
um desconhecimento. Entretanto, o processo está em curso e merece crédito, porém os desafios são imensos
exigindo a intensificação de ações na longa trajetória que se inicia com o acesso e se situa na condição de
fazer o uso adequado para explorar todo potencial que as diversas mídias representam.
Ao concluir a pesquisa considerando a metodologia usada, bem como os itens avaliados possibilitam
uma análise acerca dos conteúdos, uso e função do Portal, constatamos que a grande quantidade de recursos
possibilitam a interface entre informação, conteúdo e elaboração de conhecimento sistematizado. As
tecnologias de comunicação e informação devem estar a serviço do desenvolvimento das atividades de
ensino e aprendizagem, tornando-se mais significativas na medida em que se superam as dificuldades de
acesso e intensificam-se o uso com eficácia sem sustos e surpresas aos usuários do meio educacional.
O desafio posto remete a desmistificação das concepções acerca das ferramentas de suporte, o
fortalecimento da cultura do uso e aplicação no aprendizado com uma base ampla que se apresenta em suas
formas mais simples até as mais complexas. A convergência com o desempenho de funções propositivas em
colaboração com os usuários, deve estabelecer uma relação afirmativa com os recursos que a Web dispõe.

Referências

ARNHEIM, Rudolf. Arte & Percepção visual: uma psicologia da visão criadora. São Paulo: Pioneira,
1998.
AUMONT, Jacques. A imagem. Campinas: Papirus, 1995.
CASTELLS, M. Novas perspectivas críticas em educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
CONSANI, Marciel. Como usar o Rádio na Sala de Aula. São Paulo, Contexto, 2007.
COUTO, Zélia F. S. Apostila básica para criação gráfico-virtual em Power Point. (documento
eletrônico), 2003.
DOMINGUES, Diana (org.). A arte no século XXI: a humanização as tecnologias. São Paulo: Ed.
UNESP, 1997.
FERREIRA, Margarida Elisa Ehrhardt. A UTILIZAÇÃO DO BLOG NA EDUCAÇÃO.
Disponível em: www.pucpr.br/especializacao. Acesso em janeiro/2009.
GADOTI, Moacir. A escola e a pluralidade de meios. In: Revista Escola & Vídeo. Rio de Janeiro, p. 32/33,
janeiro/94.
MEC/SEED. Programa Nacional de Informática na Educação. Brasília,1996.
PÉON, MARIA Luíza. Sistemas de Identidade Visual. Rio de Janeiro: 2AB Editora Ltda, 2001.
PRETTO, Nelson de Luca. Uma escola sem/com futuro. Campinas/SP, Papirus, 1996.
STRICKLAND, Carol. Arte comentada: da pré-história ao pós-moderno. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006.
WWW.sed.sc.gov.br acesso inicial em 05 de junho,2009 e último acesso em 12 de junho, 2010.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

REDES SOCIAIS NA UNIVERSIDADE: POSSIBILIDADE TRANSDISCIPLINAR

Denise Regina Stacheski1*


1
Universidade Tuiuti do Paraná

1. Introdução

As instituições de ensino superior devem pensar em estratégias para viabilizar e permitir o emprego
das redes sociais em sua práxis acadêmica. Não há como negar o avanço do conhecimento científico e das
novas aplicações advindas das tecnologias de informação e comunicação (TIC) nas práticas pedagógicas. As
diferentes formas de sociabilidades ocasionadas pelas redes sociais precisam ser ambientalizadas no meio
acadêmico, na forma de relação entre docente e discente com o objetivo da construção do conhecimento.
Uma nova organização do conhecimento, uma nova maneira de promover a utilização dos recursos
tecnológicos em favor do próprio ser humano, buscando uma participação ativa e humana, um trabalho
coletivo, um espírito de entre-ajuda, de cooperação, de parcerias, de comunicação e – fundamentalmente – de
transdisciplinariedade6 entre as áreas do conhecimento, compreendendo a complexidade do todo.
A transdiciplinariedade das áreas do conhecimento podem ser estimuladas por meio da implantação
de redes sociais nas Instituições de Ensino, que podem se tornar redes de aprendizagem dentro das práticas
pedagógicas. Dentro das redes, seus integrantes, seus atores sociais, os sujeitos participantes, não se
posicionam em uma ordem crescente ou decrescente de poder - e, sim, por meio de uma ligação horizontal –
circular - conectados a todos os demais. E essa estrutura informacional favorece o debate, o diálogo, o
desenvolver crítico de discentes e docentes. As redes sociais de aprendizagem, como práticas de ensino,
viabilizam uma comunicação significativa com base na transdisciplinariedade universitária, possibilitando
que os sujeitos contextualizem, por meio de seu discurso, de sua linguagem, suas percepções e significações
por meio do todo, respeitando as diversidades das várias áreas – e percebendo as inúmeras ligações entre as
idéias, as ciências, os modelos etc.
Existem diversas redes sociais, hoje, utilizadas pelos usuários da internet. Como o twitter, o
ORKUT, o facebook, o myspace, entre tantas outras. São ferramentas que se atualizam diariamente.
Ferramentas efêmeras que envelhecem rapidamente com o surgimento de novas possibilidades. No entanto, a
estrutura de comunicação via rede, esta, sim, é uma tendência e irreversível. De acordo com Recuero [1].
“sites de redes sociais propriamente ditos são aqueles que compreendem a categoria dos sistemas focados em
expor e publicar as redes sociais dos atores. São sites cujo foco principal está na exposição pública das redes
conectadas aos atores, ou seja, cuja finalidade está relacionada à publicização dessas redes“. Isto é, a
exposição e o diálogo entre os atores envolvidos nesse processo público das redes. E é justamente esse
diálogo que deve ser promovido também a partir dos conteúdos, das disciplinas dentro das Instituições de
Ensino Superior. Uma ferramenta que possibilita a discussão de diversos pontos em comum e interligados
entre as áreas do conhecimento.
Para que isso se torne viável, é preciso, também, modificar o pensamento do professor universitário.
Não bastam apenas novas técnicas e tecnologias – se a estrutura do pensamento conservador e tradicional
ainda se prioriza entre os docentes. Há a necessidade da mudança paradigmática, de uma nova visão aos
conceitos pedagógicos e de mundo nas Universidades. A Universidade não pode ter medo da reforma do
pensamento, afirma Buarque [2]. Muito menos, de se apropriar tecnologicamente das novas possibilidades de
comunicação para o fomento do diálogo transdisciplinar.

2. Método

O tema deste resumo faz parte da pesquisa intitulada Práxis de Transdiciplinariedade na


Universidade Tuiuti do Paraná por meio de Redes Sociais na Web, realizada pela autora, na Universidade
Tuiuti do Paraná. Como objetivo maior se encontra elaborar práticas que incentivem o processo de criação
coletiva entre a área de Educação e a área Comunicação Social, elaborando em conjunto com os professores
novas práticas pedagógicas - utilizando a mediação por tecnologia citada - as redes sociais de aprendizagem
na web como grupos de discussão, fóruns, blogs, twitter, entre outras redes de comunicação online já
disponíveis nas Universidades brasileiras. Os cursos pesquisados voltados à área de Educação estão as
Licenciaturas em Pedagogia e Letras. Os cursos de Bacharelado: Comunicação Social e Ciência da
Computação. A escolha dos cursos foi feita pela transdisciplinariedade emergente dessas áreas do

*
Denise Regina Stacheski: denise.stacheski@utp.br
938
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

conhecimento a serem trabalhadas neste projeto. Futuros educadores, profissionais da comunicação social e
profissionais de computação. De forma a interligar essas áreas, fomentar um meio de comunicação único,
entre professores e estudantes dos cursos citados a partir do seguinte tema: a educomunicação. O conceito de
Educomunicação surgiu durante a década de 70, quando organizações não governamentais passaram a
utilizar em seus projetos os meios de comunicação e envolveram cada vez mais a discussão sobre a
importância da comunicação para promover a interação social. Nos anos 90, a Educomunicação passou a
estar presente nas redes de televisão, devido o aumento dos programas educativos, e na Internet, que, com a
sua popularização, se tornou uma das mais importantes ferramentas de pesquisa da atualidade. De acordo
com Costa [3], a Educomunicação parte do pressuposto que não há como educar sem se comunicar, por isso
a importância das redes sociais e suas várias possibilidades.
Professores e alunos (futuros profissionais) dialogando sobre como a formação dos professores está
sendo trabalhada, hoje, nas Universidades, a partir da transdisciplinariedade entre a Educação, a
Comunicação Social e a Tecnologia. Como trabalhar com a interdependência entre as ciências citadas por
meio das redes sociais de aprendizagem?

3. Resultados e Discussão

A maioria das práticas pedagógicas na Universidade, em sua maioria, ainda estão baseadas no
paradigma cartesiano, em um sistema de distribuição de informação, segundo Silva [4], e não com uma
abordagem interativa, voltada para a comunicação e para a construção de idéias e conhecimentos que uma
rede social de aprendizagem possibilita. Mesmo com todo o desenvolvimento das redes sociais no Brasil, há
poucos exemplos de docentes que se utilizam das novas ferramentas na metodologia de suas aulas. Se
adaptar às novas estruturas sociais, que possibilitam uma maior troca de informação, é uma exigência que se
impõe para que o ensino universitário não se distancie, ainda mais, da realidade discursiva dos estudantes, da
comunidade. Behrens [5] afirma que uma metodologia que busca a simples reprodução de conhecimento,
“provando um ensino assentado no escute, leia, decore e repita (p.2)”, ainda é muito forte no ensino
universitário. As possibilidades de intervenções nas redes sociais são inúmeras, é preciso que o professor
conheça as ferramentas, suas linguagens, seus recursos e aplique em suas disciplinas a interação necessária
entre o conteúdo, a comunicação e a tecnologia.
As redes sociais de aprendizagem e a transdisciplinariedade, entre a Educação, a Comunicação
Social e a Computação, não são, em sua maioria, exploradas e apropriadas de forma correta pelos professores
do ensino superior. O que predomina é uma metodologia tradicional, dentro de um paradigma conservador,
sistematicamente cartesiano, onde o educando recebe passivamente a informação fragmentada, sem que seja
estimulada sua expressão criativa e transformadora, como afirma Freire [6], e sem que compreenda a visão
das ciências e do mundo como um todo.
Como despertar a atenção e gerar o interesse para a participação do educador e do educando em
novas práticas pedagógicas, com o auxílio das tecnologias, que incentivem culturas escolares e que priorizem
o raciocínio dos alunos, por meio de uma base conceitual sólida – transdicisplinar, permitindo uma maior
articulação de informações?
Vertentes teóricas desta pesquisa foram publicadas em dois eventos acadêmicos/científicos
brasileiros. Nos anais do X Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul, INTERCOM SUL,
realizado em Blumenau / Santa Catarina, em maio de 2009 e no XIII Seminário de Pesquisa da Universidade
Tuiuti do Paraná, em novembro de 2009. A pesquisa também foi aprovada pela FUNADESP - Fundação
Nacional de Desenvolvimento do Ensino Superior Particular, no primeiro semestre de 2010, para
ser fomentada com bolsa pela instituição.

4. Conclusões

Trabalhar “com” e “na” interatividade é o foco a ser seguido nas redes sociais de aprendizagem,
prática pedagógica que vem sido potencializada pela mediação tecnológica. O desafio, agora, encontra-se em
nossa capacidade criativa e de adaptação ao meio e às novas exigências. Professores, alunos, comunidade. A
meta é ultrapassar a simples presença da tecnologia e produzir diferenças significativas nos processos de
aprendizagem com os novos recursos disponíveis. Partindo de simples questões: onde? Para quê? Para
quem? Utilizar as tecnologias, as redes sociais, a favor de uma transdisciplinariedade entre as áreas do
conhecimento, fomentando a religação do todo, do complexo. As resistências devem ser amenizadas. Não
está em jogo apenas a construção do conhecimento escolar e, sim, uma formação cultural, de valores e de
atitudes que possam orientar aos estudantes sua conduta presente e futura. Unir conceitos, uma grande teia

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

entre as [áreas do conhecimento, um pensamento complexo, de acordo com Morin [7] - pois, ainda segundo
o autor, o desenvolvimento de uma “democracia cognitiva” só será possibilitada quando uma reorganização
do saber ocorrer - ressuscitando maneira complexa de conceber o mundo, exterminando as noções trituradas
pelo parcelamento disciplinar: o ser humano, a natureza, o cosmo e a própria realidade

Referências

RECUERO, Raquel [1]. Redes Sociais na Internet. Porto Alegre, Editora Sulinas, 2009;
BUARQUE, Cristovam [2]. A aventura da universidade. São Paulo: Paz e Terra, 1994.
COSTA, Erica Daiane [3]. Educomunicação: Um Campo Essencial na Construção de uma Nova
Sociedade. Disponível em: http://www.revasf.univasf.edu.br/index.php/revasf/article/viewArticle/28.
Acesso em 25 jun. 2010.
SILVA, Marco [4]. Sala de aula interativa. São Paulo, Quartet, 2001.
BEHRENS, Marilda Aparecida [5]. Docência universitária na sociedade do conhecimento. Curitiba:
Champagnat, 2003.
FREIRE, Paulo [6]. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 34.ed. São Paulo:
Paz e Terra, 2006.
MORIN, Edgar [7]. Educação e complexidade: os sete saberes e outros ensaios. São Paulo:
Cortez, 2002.

940
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

REPRESENTAÇÕES MELODRAMÁTICAS E JOVENS DE CLASSE POPULAR E


MÉDIA: UMA ANÁLISE COMPARATIVA DAS LEITURAS DA DESIGUALDADE E DA
IDEOLOGIA DO MÉRITO

Juliano Florczak Almeida 1*; Gabrielli Siqueira Dala Vechia2; Sarah Oliveira Quines 3; Veneza Mayora
Ronsini4
1
Universidade Federal de Santa Maria
2
Universidade Federal de Santa Maria
3
Universidade Federal de Santa Maria
4
Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução
Nosso objetivo é compreender as relações entre as representações da pobreza e da desigualdade nas
telenovelas exibidas no horário nobre (novela das oito) e a reprodução da ideologia do desempenho, com
base na análise comparativa da telenovela e das apropriações efetuadas por 20 jovens de classe popular, 12
meninas e oito meninos, com idades entre 15 e 18 anos, sendo três negros e 17 brancos; e por 20 jovens de
classe média, 11 meninas e nove meninos, 19 brancos e um negro, na faixa etária dos 14 aos 18 anos. Além
disso, propomos uma comparação entre os resultados apresentados para cada uma das classes a respeito do
consumo de mídia e de sua relação com a família e a escola.
Os pressupostos aqui apresentados se referem ao papel da cultura na reprodução e contestação social,
especificamente à importância dos aparatos tecnológicos de comunicação nos modos de classificação dos
grupos sociais que, por sua vez, definem as relações sociais e culturais que se estabelecem entre eles. Essas
relações sociais, elaboradas em cada pensamento individual com base nas formas simbólicas produzidas pela
mídia, contribuem para definir e reproduzir um modo de vida. A atividade do receptor na interpretação de
gêneros, discursos e programas televisivos não é tomada a priori como um ato de resistência, mas é
formalmente analisada como tendo três possibilidades de leitura: hegemônica, negociada e/ou opositiva a fim
de evitar o reducionismo dos estudos de recepção em afirmar somente a capacidade crítica da audiência.
A análise de Jessé Souza sobre a naturalização das desigualdades em uma sociedade periférica como a
brasileira é de fundamental importância para nosso trabalho, pois nos ajuda a visualizar os operadores
simbólicos que permitem a cada um de nós na vida cotidiana hierarquizar e classificar as pessoas como
dignas de nosso apreço e de nosso desprezo e, assim desvelar as formas opacas e distorcidas assumidas pela
luta de classes (2003, p. 39 e 41). Em outros termos, o autor desmascara a “ideologia do desempenho” como
pedra angular do processo de legitimação da desigualdade. A ideologia do desempenho baseia-se na tríade
meritocrática que envolve qualificação, posição e salário, estimulando e premiando a capacidade de
desempenho objetiva, “mas também legitimando o acesso diferencial permanente a chances de vida e
apropriação de bens escassos”. É assim que os setores que não cumprem com os papéis de produtor e
cidadão são vistos como fracassados e adquirem um status subumano (2003, p. 168-174).

2. Método
A articulação da complexidade analítica requerida para o estudo abrangente da recepção/consumo da
mídia se dá mediante o modelo teórico das mediações de Martín-Barbero (2002; 2008) onde o exame das
mediações (categorias de análise) da socialidade, da ritualidade e da tecnicidade é realizado, respectivamente
pelo estudo de caso, pela etnografia e pelo modelo encoding/decoding de Stuart Hall (2003 a e b). Neste
trabalho, fizemos um recorte no estudo maior e utilizamos a parte metodológica compreendida pelo estudo
de caso e pelo modelo de Hall. O estudo de caso foi realizado a partir da técnica de entrevista 1 e da aplicação
de um formulário.
A compreensão da leitura da pobreza e da desigualdade na telenovela e sua ligação com a reprodução
da dominação de classe mediante a assimilação da ideologia meritocrática consistiu em três etapas analíticas
nas quais os entrevistados foram classificados em críticos (leituras opositivas), medianamente críticos
(leituras negociadas) e acríticos (leituras preferenciais). O grau de criticidade quanto às leituras das
representações da pobreza/desigualdade veiculadas pela tevê, baseou-se na análise de: 1) três afirmações,

*
Estudante de Graduação 5°. semestre do Curso de Ciências Sociais da UFSM, bolsista PIBIC/CNPq, email:
juliano-florczak@hotmail.com..
1
A entrevista aplicada pode ser definida como uma combinação da entrevista estruturada, devido às
perguntas idênticas aplicadas a todos os entrevistados, com a entrevista semi-estruturada. (DUARTE, Jorge.
Entrevista em profundidade. In: DUARTE, Jorge; BARROS, Antonio. Métodos e técnicas de pesquisa em
comunicação. São Paulo: Atlas, 2005, p. 62-83.)
941
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

com as quais os entrevistados concordavam ou discordavam, acerca do mérito pessoal para a ascensão
social/riqueza e das chances dos pobres para a ascensão social em comparação com as demais classes; 2)
cinco categorias que abrangem 22 perguntas sobre a intervenção governamental para diminuir a desigualdade
e o desemprego, o modo de vida de ricos e pobres e a causa da pobreza; 3) três categorias, que agrupam 26
questões sobre a televisão, a saber: as representações da pobreza no telejornal, da pobreza e da riqueza na
telenovela e das representações da pobreza e riqueza na vida cotidiana comparadas com as da telenovela.
Ainda foi realizada uma análise específica das relações entre telenovela e ideologia meritocrática,
considerando: a) todas as respostas acerca das relações entre as classes nas novelas, trajetória de
personagens, do recontar a história da telenovela preferida; b) os sonhos que manifestaram relacionados à
assistência da televisão.
A visão de mundo crítica ou opositiva é entendida como a capacidade de perceber as causas estruturais
da pobreza/desigualdade em detrimento das capacidades individuais para evitá-la ou superá-la; uma visão de
mundo medianamente crítica ou negociada se caracteriza pela percepção oscilante entre considerar causas
estruturais e individuais; e uma visão acrítica ou dominante é aquela que atribui ao indivíduo total
responsabilidade acerca da posição de classe na hierarquia social.

3. Resultados e Discussão
Os jovens de classe popular, com decodificações negociadas ou opositivas acerca da desigualdade e da
pobreza na telenovela, por um lado, não manifestam tanto interesse em comentar os aspectos glamorosos do
estilo de vida dos ricos (roupas, luxo, viagens) e destacam a atitude arrogante, o uso e o abuso do poder; por
outro lado, reivindicam outra posição para os personagens humildes que não seja a de servir aos ricos e
poderosos.
As leituras negociadas feitas pela classe média acerca da desigualdade e da pobreza na telenovela
admitem que o estilo de vida dos ricos é realista e afirmam a dignidade da classe média diante dos
problemas, da arrogância, da ambição e do materialismo da outra classe. A ficção referenda as distinções que
se manifestam na vida cotidiana, de modo que a classe média afirme a legitimidade de seu estilo de vida
diante de características negativas dos ricos. A vida “simples” tem um efeito consolador diante do
ressentimento manifesto pelos bens de consumo, pelo vestuário, pelas residências luxuosas e o amor
romântico é valorizado em contraposição à infelicidade amorosa dos ricos. O amor romântico também
funciona no sentido de dissolver os conflitos de classe, pois ele une o que a sociedade separa.
Em relação às decodificações das representações da desigualdade e da pobreza na telenovela, o
resultado da classe popular difere do encontrado para a classe média, posto que as posições de leitura dos
jovens de classe média são negociadas ou preferenciais (19, quando somadas) enquanto a dos de popular são
negociadas ou opositivas (14 quando somadas).
Já no que tange à freqüência do consumo de todas as mídias consideradas (TV, rádio, cinema,
computador, DVD, livro, revista e jornal), quando comparamos as práticas dos entrevistados de classe
popular com as dos de média, percebemos que: a freqüência do uso da TV e do DVD é ligeiramente maior na
classe média; a freqüência do consumo de livro e revista é ligeiramente maior na classe média; a freqüência
no consumo de jornal é significativamente maior na classe popular; os índices quantitativos de consumo de
rádio, computador e cinema são mais ou menos equivalentes nas duas classes. Os índices de freqüência de
leitura de livro e revista não surpreendem, já que a classe média tem melhores condições econômicas para
assinatura de revistas e para aquisição de livros. Por outro lado, a freqüência de leitura de jornais pela classe
popular decorre da acessibilidade deles nas bibliotecas das escolas.
Em se tratando do ambiente escolar, em ambas as classes, o que é mais valorizado nesse espaço são as
relações sociais entre colegas e amigos, sendo pouco citado (quatro vezes na classe média e três na classe
popular) aspectos da escola como aprendizado de conteúdos e de valores ou a organização do ambiente
escolar. Prefere-se tudo o que ocorre ou que tem mais oportunidade de se manifestar fora da sala de aula, nos
ambientes reservados para o encontro e para o afeto: amizade, conversas, atividades culturais como dança,
apresentações, ensaios da banda escolar e festas. Quando perguntados sobre o que menos apreciam na escola,
14 jovens de classe média e 10 de classe popular reclamaram da rigidez na hierarquia e nas normas
disciplinares, do sistema de avaliação pedagógico e dos métodos de ensino considerados ultrapassados. Tais
respostas mostram a crescente legitimidade da mídia, a despeito de uma valorização da escola como lugar de
formação para a carreira profissional. Trata-se de um confronto entre campos, em que a lógica do espetáculo
da sociedade do entretenimento acaba sendo imposta aos outros espaços de luta (BOURDIEU, 1997, p.101-
102). Dessa forma, é compreensível que os meios de comunicação sejam lembrados por vários entrevistados
ao apontarem as justificativas para a juventude estudar pouco tempo hoje em dia.
Para melhor avaliar o potencial da escola enquanto mediação entre as representações televisivas e as
narrativas juvenis acerca da pobreza, perguntou-se aos entrevistados qual a abordagem de seus professores

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da temática em sala de aula. As respostas permitiram que se buscasse classificar as concepções professorais
em opositivas, negociadas ou preferenciais, bem como possibilitaram que se inquirisse qual eficácia de cada
um desses discursos na maneira de pensar do entrevistado. Feito isso, o passo seguinte foi procurar possíveis
vinculações entre a conformação de uma consciência crítica e um entendimento docente igualmente contra-
hegemônico ou correspondências entre leituras hegemônicas de professores e de alunos. Simultaneamente,
foram avaliadas as possíveis ligações entre efetividade ou não dos discursos e graus de criticidade juvenis.
Fica clara a mediação da escola na criação de uma consciência crítica entre jovens de classe popular.
Dentre esses, aqueles que relatam que seus professores dão ênfase nas origens estruturais da pobreza tendem
a conformar uma decodificação opositiva da telenovela. Ao contrário, entrevistados cuja leitura da
representação televisiva da pobreza é negociada (dentre estes, há uma exceção) ou hegemônica dizem ouvir
de seus mestres ou que o fenômeno da pobreza tem sua gênese na forma de conduta dos indivíduos ou que os
pobres “sofrem” com a precarização do sistema público de saúde, com a falta de alimentos – em um processo
de vitimização da pobreza. Caso estes tenham professores com discursos opositivos, mostram que não é
significativo o tema para eles. É perceptível, pois, também um maior interesse pela temática entre os críticos,
entre os quais há uma maior efetividade dos discursos contra-hegemônicos.
Já entre os entrevistados de classe média, todos os alunos cujos professores oferecem uma explicação
estrutural discordam dos professores, justificando que já estão acostumados a ouvir “essas coisas” ou
mostram indiferença em relação ao assunto. Em relação aos professores que reproduzem a ideologia
meritocrática, relacionando a causa da pobreza somente à falta de instrução ou escolaridade, os alunos
concordam com eles e repetem o mesmo discurso. Os pontos de vista da pobreza como vitimização ou
carência geram mais comentários dos alunos, que parecem assimilá-los com mais facilidade. Finalmente, há
os entrevistados que não se deixam mobilizar pelo assunto e respondem de modo totalmente evasivo à
questão. Depreende-se daí que a escola tanto reproduz o discurso dominante como oferece discursos contra-
hegemônicos, porém a ressonância que a escola tem entre os jovens de classe média é no sentido de afirmar
ou reafirmar valores dominantes ou de mobilizá-los para a vocação assistencialista em relação à pobreza
através do discurso da vitimização. Não há, portanto, evidências da mediação da escola na formação da
consciência crítica dos jovens de classe média.
No que se refere à função da mediação familiar no processo de recepção de bens midiáticos
televisivos, tem-se que os pais de todos os jovens de classe popular fazem algum tipo de comentário
negativo, enquanto os pais de 16 jovens fazem comentários positivos. Os comentários negativos podem se
referir tanto aos temas abordados quanto ao modo de tratá-los, sendo mais comum que os pais critiquem a
realidade evocada pela tevê e não o tipo de abordagem. Já os pais que comentam positivamente a tevê, focam
no caráter “pedagógico” do veículo, na sua capacidade de ensinar algo sobre o comportamento, boas
maneiras, lugares, dicas de saúde e estilos de vestir.
O impacto efetivo da família de classe popular sobre a ficção televisiva, isto é, aquele que se traduz na
ação concreta de deixar de assisti-la ou de rejeitá-la pela ruptura do gênero telenovela com os mecanismos de
identificação, ocorre quando a legitimidade da novela para tratar com questões da realidade é contestada. No
geral, a família não controla a assistência nem a quantidade da exposição, interfere ocasionalmente no
momento da assistência com comentários esparsos e sintéticos que não resultam em debate.
Já na classe média, verifica-se que em 15 lares há algum tipo de comentário negativo e, em 13,
positivo. Os comentários negativos referem-se tanto aos temas abordados quanto ao modo de tratá-los, sendo
mais comum que os pais critiquem a realidade evocada pela tevê (violência em excesso, principalmente).
Ainda, é possível perceber que parte dos jovens refere-se evasivamente às críticas dos pais ou não as
especificam, como se elas não fossem importantes ou não tivessem recebido a devida atenção do jovem no
momento em que foram feitas. Os pais de classe média que comentam positivamente a tevê focam
principalmente o caráter informativo do veículo, expresso por meio de boas reportagens jornalísticas e pelos
documentários, e sua capacidade de reproduzir a realidade. Os canais Discovery Channel e Animal Planet
são elogiados por alguns pais e seus filhos são incentivados a assisti-los.
As críticas à telenovela feitas por alguns pais são em razão de dois motivos básicos: pelas cenas de
sexo e violência ou quando consideram que a trama não é realista. Apesar do discurso de reprovação, eles
mantêm a atitude de assistir aos programas que rejeitam. Tal como na classe popular, as novelas de
intervenção social possuem credibilidade e aprovação pela discussão de preconceitos sociais e raciais e de
dramas pessoais decorrentes da doença ou da pobreza. Os jovens de classe média questionam menos as
trajetórias bem-sucedidas dos personagens pobres e as soluções das tramas para os conflitos de classe.

4. Conclusão
O que podemos inferir, baseados na análise dos depoimentos dos entrevistados, sobre a importância da
ficção de maior audiência da tevê brasileira nos processos de assimilação da ideologia meritocrática é que a

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telenovela participa da sua reprodução. Estimamos que a preponderância de fatores individuais nas chances
de ascensão e condições financeiras favoráveis presentes nas narrativas das telenovelas tendem a favorecer o
obscurecimento das visões mais realistas da pobreza e da desigualdade. Essa dimensão implica o arranjo de
toda uma visão de mundo e hierarquia moral, a qual só é possível compreender através do exame de
múltiplas dimensões da experiência dos atores.
Como observado, a escola difunde tanto discursos hegemônicos quanto opositivos, sendo que esses
encontram maior efetividade entre os entrevistados de classe popular – o que, pelo menos em parte, explica a
maior criticidade observada nesses jovens em relação a representação melodramática da pobreza.
Simultaneamente, percebe-se que a família como mediadora da apropriação juvenil dessas representações
atua de forma mais efetiva nos lares da classe popular, nos quais os discursos de reprovação da representação
televisiva podem traduzir-se no deixar de assisti-la. Entretanto, é mais comum, como se evidenciou, que dos
comentários não derivem debates.

Referências
BOURDIEU, Pierre. Sobre a televisão. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.
HALL, Stuart (2003a), “Codificação/decodificação”, In Sovik, Liv, Da diáspora. Identidades e mediações
culturais, Belo Horizonte, UFMG; Brasília, Humanitas.
HALL, Stuart (2003b), “Reflexões sobre o modelo de codificação/decodificação. Uma entrevista com Stuart
Hall”, In Sovik, Liv. Da diáspora. Identidades e mediações culturais, Belo Horizonte, UFMG; Brasília,
Humanitas.
MARTÍN-BARBERO, Jesús. Dos meios às mediações. Comunicação, cultura e hegemonia. Rio de Janeiro:
UFRJ, 2008.
MARTÍN-BARBERO, Jesús. Oficio de Cartógrafo. Travesías latinoamericanas de la comunicación en la
cultura. Chile, Fondo de Cultura Económica, 2002.
SOUZA, Jessé. A construção social da subcidadania. Para uma sociologia da modernidade periférica.
Belo Horizonte:UFMG; Rio de Janeiro: IUPERJ, 2003.

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TENDÊNCIA EMPREENDEDORA: PERFIL DOS ALUNOS DO CURSO DE


ARQUIVOLOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

Aline Medianeira Ramiro Vedoin1*; Olga Maria Corrêa Garcia2


1
Acadêmica do Curso de Especialização em Gestão em Arquivos/ Universidade Federal de Santa Maria
2
Docente do Departamento de Documentação/ Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução
O cenário organizacional tem sido alvo de inúmeras mudanças a fim de corresponder satisfatoriamente
ao mercado e suas exigências. Neste cenário, cresce o número de estudos realizados na área de
empreendedorismo, que objetivam compreender e contextualizar esse fenômeno nas organizações. A
abordagem a respeito de empreendedorismo envolve uma série de elementos, tais como: independência,
ousadia em assumir riscos, inovação, otimismo, identificação de oportunidades e estilo de liderança [2].
A partir disso, preocupadas com a formação apropriada ao mercado de trabalho, instituições de ensino
superior têm ofertado uma pedagogia empreendedora, a fim de possibilitar uma nova perspectiva ao aluno e
estimular sua pró-atividade e com isso proporcionar uma melhor inserção no mercado. Por outro lado,
contemplar metodologias de empreendedorismo em sala de aula ainda é pouco comum, visto que se trata de
um assunto em expansão e que necessita ser revisto e melhor aplicado às diferentes áreas do saber, para que
possa agregar benefícios de maneira satisfatória para a maturidade das profissões [3].
Sendo assim, a temática de empreendedorismo foi contextualizada à realidade da Arquivologia e
retratada por meio desta pesquisa que apresentou como objetivo geral: traçar o perfil empreendedor dos
alunos de Arquivologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

2. Método
O trabalho trata-se de um estudo descritivo de abordagem quali/quantitativa. O universo desta
pesquisa compreende todos os alunos regularmente matriculados no primeiro semestre de 2010, no Curso de
Arquivologia da UFSM. Conforme dado disponibilizado pelo Departamento de Registro Acadêmico
(DERCA) da UFSM, o Curso de Arquivologia possui, no total, 119 (cento e dezenove) alunos matriculados
e, obteve-se a aplicação de 68 questionários.
O instrumento para coleta de dados adotado na presente pesquisa consubstanciou-se em um
questionário, dividido em duas partes. A primeira apresenta questões gerais (como idade, sexo, etc) e a
segunda apresenta o Teste TEG – Tendência Empreendedora Geral. Esse teste foi desenvolvido na Unidade
de Formação Empresarial e Industrial da Durham University Business School, em Durham, Inglaterra; e,
possibilita traçar o perfil empreendedor, a partir de cinco características relacionadas à pessoa
empreendedora: necessidade de sucesso; necessidade de autonomia; tendência criativa; assumir riscos; e,
impulso e determinação. O teste possui 54 (cinqüenta e quatro) afirmações, por meio das quais os alunos
podem expressar suas reações de acordo ou desacordo. As questões são direcionadas para corresponder as
categorias acima mencionadas, onde seis questões relacionam-se à característica “necessidade de autonomia”
e as características restantes compreendem doze questões cada.
No processo de coleta de dados, realizado no mês de maio de 2010, o questionário foi aplicado no
período destinado às aulas, na própria sala e conforme prévio agendamento com os professores. O mesmo foi
aplicado pela própria pesquisadora, a fim de zelar pelo sigilo e veracidade das respostas, bem como para
dirimir quaisquer dúvidas que poderiam surgir.
Após a coleta, realizou-se a tabulação dos dados, que consistiu num primeiro momento, no cálculo de
pontuação do Teste TEG (Modelo de Durham). As categorias de necessidade de sucesso, tendência criativa,
assumir riscos e impulso e determinação poderão atingir a soma máxima de 12 (doze) pontos; enquanto que,
na categoria de necessidade de autonomia o valor máximo obtido é de 6 (seis) [1].
Quanto à média esperada, apresentam-se os seguintes números de acordo com as cinco categorias:
necessidade de sucesso a média esperada é 9 (nove); necessidade de autonomia a média esperada é 4
(quatro); tendência criativa a média esperada é 8 (oito); assumir riscos a média esperada é 8 (oito); e,
impulso e determinação a média esperada é 8 (oito) [1].
Dessa forma, após a tabulação dos dados por meio do cálculo, as respostas do questionário (parte 1 e
2) foram distribuídas em gráficos e tabelas, através do Microsoft Office Excel. Na seqüência, procedeu-se a
interpretação e discussão dos resultados da investigação, com base na fundamentação teórica estudada, o que
permitiu concluir o trabalho.

*
Autora Correspondente: alinevedoin@yahoo.com.br
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3. Resultados e Discussão
Nesta seção são apresentados os resultados deste estudo, considerando os objetivos propostos, e tidos
teoricamente, com base na fundamentação teórica. Primeiramente, foi caracterizado o perfil dos alunos com
base nos dados gerais coletados na primeira parte do questionário. Após, apresentam-se os resultados e
análise da segunda parte do instrumento que remete ao Teste TEG, que corresponde à tendência
empreendedora dos alunos do Curso de Arquivologia da UFSM.
Quanto aos resultados da primeira parte do questionário, em termos gerais, verificou-se que os alunos
do Curso de Arquivologia da UFSM são em sua maioria do sexo feminino; de idade entre 19 a 25 anos;
estado civil solteiro; possuem rendimento mensal familiar entre R$ 930,00 até R$ 2.325,00; não possuem
familiar empreendedor; conciliam estudos com atividade extra-curricular; optaram por ingressar no curso de
Arquivologia devido ao interesse pela área e hoje, objetivam prestar concurso público; em relação às
disciplinas, bem como aos docentes do curso, os alunos consideram que os mesmos fornecem conteúdo para
se trabalhar em uma empresa já estruturada; e ainda, não tiveram algum trabalho ou alguma disciplina que
abordasse a temática de empreendedorismo durante o curso.
Na seqüência, apresentam-se os dados resultantes da segunda parte do questionário aplicado, com o
objetivo de levantar as características empreendedoras, de acordo com o Modelo de Durham (1988).
A partir do Gráfico 1, observa-se que na tendência de necessidade de sucesso, nenhuma turma atingiu
a média esperada. Assim, infere-se que a maioria não apresenta características como: olhar para frente, auto-
suficiência, otimismo, orientação para tarefas e resultados, confiança, persistência [5]
.

Fig. 1 Gráfico da das médias apresentadas em necessidade de sucesso.

A média dos alunos na categoria de necessidade de sucesso vai de encontro do que afirma [3] que
defende que o empreendedor é um sonhador realista, ainda que racional, usa também a parte direita do
cérebro.
A necessidade de autonomia é a tendência que afirma que o empreendedor tem que ser independente,
para que possa enfrentar e abrir caminhos que determinem seus rumos, pois o indivíduo necessita de
liberdade para se confrontar com situações decorrentes de novas realidades, aproveitando-se das
oportunidades para fazer surgir um novo empreendimento [6].

Fig. 2 Gráfico das médias apresentadas em necessidade de autonomia.

A partir disso, no Gráfico 2, observa-se que nenhuma das turmas pesquisadas atingiu a média
esperada. Contudo, a turma dos formandos foi a que mais se aproximou do desejado em relação à
necessidade de autonomia. Necessidade de autonomia caracteriza o empreendedor como uma pessoa que
gosta de tomar as decisões e ter o controle das situações [7].
Na tendência criativa, a partir do Gráfico 3, visualiza-se que nenhuma turma atingiu a média esperada.

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Fig. 3 Gráfico das médias apresentadas em tendência criativa.

Portanto, a partir dos resultados, observa-se que os alunos apresentam muito pouco das qualidades
inerentes a criatividade. Nesse sentido, os alunos são pouco imaginativos e inovadores, pouco curiosos,
pouco intuitivos e não são muito propensos a novos desafios e mudanças. Enfim, o arquivista necessita
aprimorar a tendência criativa, como por exemplo: para substituir um produto ou serviço mais caro e menos
eficiente por outro mais barato; efetivar propostas de marketing nos arquivos; fidelização de usuários;
agregação de tecnologias; gerenciamento de recursos, entre outros.
A quarta tendência estudada trata-se de “assumir riscos”. Neste sentido, o empreendedorismo requer
ousadia, que se assumam riscos calculados, que se tornem decisões. Assim, abaixo se apresenta o Gráfico 4
que apresenta a tendência de assumir riscos dos alunos do Curso de Arquivologia da UFSM.

Fig. 4 Gráfico das médias apresentadas em assumir riscos.

A partir do Gráfico 4, quanto a categoria de assumir riscos, todas as turmas pesquisadas apresentaram
índices inferiores à média esperada. As características inerentes a categoria de assumir riscos se resumem
em: atuar com informação incompleta, avaliar os benefícios prováveis frente ao fracasso provável, valorizar
com precisão suas próprias capacidades, fixar objetivos que possam ser cumpridos. Dessa forma, assumir
riscos configura-se em uma das maiores qualidades do verdadeiro empreendedor [8].
A última tendência trata-se de impulso e determinação, que se trata da característica que se consolida
em uma alavanca para a consecução de um empreendimento. Dessa forma, o empreendedor é perseverante e
possui atitudes reativas, possuindo foco e obstinação naquilo que quer concretizar. Enfim, ele capta
mecanismos para inovar e melhorar continuamente.
Na seqüência, apresenta-se o Gráfico 5 que mostra o resultado da tendência de impulso e determinação
dos alunos do Curso de Arquivologia. A partir do gráfico abaixo, observa-se que a categoria de impulso e
determinação foi a única tendência que obteve um resultado positivo. O empreendedor possui impulso e
determinação à medida que define o que deve aprender para realizar suas visões; e ainda, é pró-ativo diante
daquilo que deve saber, ou seja, primeiramente define o quer e onde quer chegar, depois busca o
conhecimento que lhe permitirá atingir o objetivo [3]. Portanto, quanto aos alunos do Curso de Arquivologia,
pode-se mencionar que eles possuem atitudes, isto é, frente a um obstáculo significativo ele age e muda para
outra estratégia a fim de enfrentar os desafios.

Fig. 5 Gráfico das médias apresentadas em relação a impulso e determinação.

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A partir das cinco tendências apresentadas; uma coisa deve ficar clara, ou seja, são poucos os
empreendedores que terão alta incidência em todas estas características em seu perfil [4]. Portanto, elas
podem ser moldadas ao longo do tempo, e ainda, essas tendências encontram-se interligadas.
Investigou-se também, se os alunos tinham obtido a média ou superado, em todas as tendências.
Observou-se que apenas 5 (cinco) alunos do total de 68 (sessenta e oito) respondentes possuem as cinco
tendências empreendedoras, o que corresponde à 7,35% do universo de respondentes.
Ao longo da pesquisa, outra questão que despertou interesse foi saber se algum aluno que tinha algum
membro da família com negócio próprio possuía um perfil empreendedor. Constatou-se que do universo de
68 (sessenta e oito) alunos respondentes à pesquisa, apenas 9 (nove) tem um exemplo de empreendedorismo
no núcleo familiar. Desses 9 (nove), apenas uma pessoa possui todas as características empreendedoras.
Portanto, a questão, muito citada na literatura, relacionando a pessoa que possui uma referência de
empreendedorismo em seu núcleo familiar ser mais empreendedora do que outra, pareceu ter uma tímida
influência sobre o comportamento empreendedor dos alunos pesquisados.
Quanto às disciplinas e aos docentes do Curso, observa-se que a formação acadêmica ainda precisa
sofrer modificações para atender as novas demandas da arquivologia. Contudo, os resultados analisados,
evidenciam que, em termos de empreendedorismo, nosso currículo não possui nenhuma disciplina específica
e nas demais disciplinas, os docentes não explanam a temática em sala de aula ou em algum trabalho
acadêmico.

4. Conclusão
Os resultados analisados demonstram um baixo nível de empreendedorismo nos alunos do curso, o
que remete à atuação conjunta do esforço individual dos alunos e da Universidade, para proporcionar um
ensino mais qualificado. As instituições de ensino devem propiciar aos alunos novas formas de incentivar o
empreendedorismo entre os universitários. Sugere-se então, a inserção de disciplinas específicas de
empreendedorismo, oficinas, palestras, projetos de ensino/pesquisa e extensão, incubadoras, enfim, ações
que se configurem em estratégias para alavancar e disseminar a cultura empreendedora, resultando no
desenvolvimento de jovens profissionais empreendedores.
No desenvolvimento da presente investigação, constatou-se que a literatura ainda é escassa a respeito
do perfil empreendedor; e ainda, estudos sobre empreendedorismo em arquivologia são mais raros. Sendo
assim, torna-se fundamental também que novos estudos sejam desenvolvidos, a fim de dar continuidade à
análise do perfil empreendedor dos alunos do curso de Arquivologia da UFSM, possibilitando descobrir se
nossos programas de graduação têm atendido as perspectivas empreendedoras. Assim, poder-se-á ter
subsídios para identificar os fatores que levam a ausência das tendências empreendedoras, bem como para
avaliar o impacto que a educação empreendedora pode trazer para a formação profissional do futuro
arquivista.

Referências
[1] CAIRD, S. A review of measuring enterprise attributes. DUBS, august, 1988.
[2] CHIAVENATO, I. Empreendedorismo: dando asas ao espírito empreendedor. 3.ed. Rio de Janeiro: Ed.
Saraiva, 2008.
[3] DOLABELA, F. Oficina do empreendedor. Rio de Janeiro: Sextante, 2008.
[4] DORNELAS, J. C. A.. Empreendedorismo: transformando idéias em negócios. 2. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2005.
[5] FERREIRA, R. C.; ARANHA, E. A. Análise do perfil empreendedor de graduados em Engenharia
de Produção Mecânica. Universidade Federal de Itajubá. Minas Gerais: UNIFEII, 2008
[6] GAIAO et al. Diagnóstico da tendência empreendedora através do modelo de Durham: um estudo de
caso no setor educacional. Qualit@s Revista Eletrônica ISSN 1677 4280 Vol. 8. N. 3. 2009.
[7] HANSEMARK, O. C. The effects of an entrepreneurship programme on need for achievement and locus
of control of reinforcement. International Journal of Entrepreneurial Behavior & Research, V.4, n.1, p.,
28-50. 1998.
[8] SALIM, C. et al. Administração empreendedora: teoria e prática usando o estudo de casos. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2004.

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TRABALHANDO O PAPEL RECICLADO PARA CURSOS DE EXTENSÃO:


CONFECÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO

Geisi Graziane Goularte Antonello1*; Fernanda Kieling Pedrazzi2; Sônia Elisabete Constante3
Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução
A expectativa de um mundo mais consciente, que tenha relações baseadas nas teorias da
sustentabilidade, impõe uma reflexão sobre as práticas profissionais e a ação social. Com a presença de
graves problemas climáticos, devido aos desequilíbrios ambientais mundiais, cada vez mais são necessários
meios alternativos para evitar danos maiores ao meio ambiente, como é o caso do reaproveitamento do papel
já utilizado, transformando-o em papel reciclado.
A impossibilidade de manutenção dos meios atuais de produção faz com que sejam prioridades as
propostas de execução de medidas alternativas, indicando-se, entre outros meios de economia, a produção do
papel reciclado. Além do apelo ecológico, seu uso está atualmente valorizado, alcançando preços
semelhantes e até maiores do que o papel não reciclado. Grupos sociais sem situação de vunerabilidade
necessitam destas novas alternativas para produzir seu trabalho e alcançar a renda necessária para a sua
manutenção.
Nesse sentido, o comprometimento individual e comunitário perpassa pelas instituições de ensino que
detém a possibilidade de aprofundar seus estudos, de forma reflexiva, através de pesquisa, sobre a produção
e aplicação do papel reciclado, sendo esta uma opção para construção da cidadania e opção de renda.
Dessa forma o objetivo deste trabalho é produzir material didático de apoio à produção do papel
artesanal reciclado com a finalidade de tornar-se subsídio para curso de curta duração que poderá alavancar o
desenvolvimento de trabalho e renda.
A pesquisa se justifica por estimular as comunidades discente e docente do Curso de Arquivologia a
repensar a técnica que envolve a reciclagem, bem como a sua prática social, incorporando valores, atitudes e
comportamentos ambientalmente adequados, com a redução na geração de resíduos e o aproveitamento de
papéis recicláveis visando atender uma demanda social relacionada à produção autônoma de renda e, com
isso, se configurando como opção de trabalho.
A preparação de material didático é somente uma das fases do projeto que tem como fecho a
realização de um curso de extensão.

2. Método
Os procedimentos metodológicos concernentes a esta pesquisa atendem ao propósito de preparar um
material didático de cunho científico-tecnológico relacionado à produção de papel artesanal reciclado. Este
material será a base da proposta de Curso de Curta Duração de Extensão, a ser realizado de modo
experimental (piloto) no mês de novembro de 2010, junto à comunidade externa da UFSM, contemplando
até 15 alunos de escolas públicas de Santa Maria que estejam cursando a 6ª ou 7ª série.
Inicialmente, para alcançar os objetivos e metas propostas, foi feito um levantamento bibliográfico
sobre a área de reciclagem de papel, qualidade do produto papel, assim como, técnicas de reaproveitamento
da matéria prima.
Também foram investigadas as técnicas de produção de papel artesanal disponíveis na literatura,
visando o emprego dos papéis reciclados e a utilização de elementos decorativos de modo a gerar trabalho e
renda.
Como passo seguinte será realizada a análise do produto papel artesanal reciclado: a composição e
consistência da polpa, forma de prensagem, prazo de secagem, resistência do papel de acordo com a presença
ou não de elementos decorativos, a possibilidade de empregar tintas disponíveis no mercado, a fim de fixá-
las nos papéis, ou seja, produzir papéis coloridos e, por fim a possibilidade de uso para impressão de
documentos. Como ato contínuo à produção do papel, itens artesanais serão confeccionados, utilizando-se
como matéria-prima o papel artesanal reciclado.
A eficácia do material didático será avaliada a partir da aplicação prática do conteúdo da apostila
construída pela equipe do projeto quando da realização do curso para os alunos de 6ª e 7ª série de uma escola
pública de Santa Maria, Rio Grande do Sul. Estes alunos serão selecionados a partir da comunicação junto à

1*
Autora/apresentadora. Acadêmica do Curso de Arquivologia da UFSM: graantonello@gmail.com
2
Autora. Professora Assistente/CCSH/UFSM.
3
Autora. Professora Assistente/CCSH/UFSM.
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coordenação pedagógica da escola escolhida (preferentemente do Bairro Camobi), tendo como critério a
ordem inscrição. A proposta é que o curso tenha a duração de 12 horas, realizado em três etapas, uma a cada
sábado pela manhã.
A acadêmica de Arquivologia bolsista esta, durante todo o desenvolvimento da pesquisa, diretamente
envolvida na concepção, estudo e organização do material didático e também no apoio ao curso de curta
duração aos alunos de escola pública.
Pelo fato de a matéria-prima principal, o papel descartado (ou seja, reciclável), estar presente em
abundância, este item não acarretou custos adicionais para a execução do projeto. Os demais materiais
necessários para a realização do trabalho, como papelão, cola e alguns equipamentos estão sendo custeados
pelo Curso de Arquivologia/CCSH/UFSM, através de seu Laboratório de Restauração.

3. Resultados e Discussão
Até o presente momento está sendo trabalhado o levantamento da bibliografia da área e estão sendo
reunidas as principais técnicas de produção de papel artesanal disponíveis na literatura, compiladas de acordo
com a fonte.
Desde o início das atividades relacionadas à pesquisa já puderam ser realizados alguns dos
experimentos relacionados à produção do papel artesanal reciclado, sendo que a acadêmica de Arquivologia
está responsável pelo acompanhamento e registro dos experimentos para posterior análise dos dados obtidos.
Dentre os experimentos já realizados destacam-se aqueles referente a conhecer os aglutinantes
passíveis de serem usados nas peças produzidas com papel reciclado para gerar renda. O quiabo e a flor de
hibisco são exemplos deste trabalho de experimentação.

Fig. 1 Flor do hibisco sendo preparada para formar o aglutinante aplicado na preparação de peças que
utilizam o papel reciclado.

O material obtido a partir do repouso da flor de hibisco, que tem a consistência pastosa, é armazenado
por um curto período com a finalidade de ser aplicado nos produtos artesanais concebidos pela equipe de
trabalho do projeto, tais como: agendas, capas de blocos, cartões, porta-retratos entre tantas possibilidades de
uso.

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Fig. 2 Materiais produzidos a partir da aplicação de aglutinante em papel reciclado.

A partir do cumprimento desta primeira fase do projeto será possível estruturar um caderno didático
que reúna as técnicas de produção de papel artesanal selecionadas a partir dos melhores resultados dos
experimentos, local em que serão citadas as fontes de pesquisa e suas adaptações.
Esta etapa de experimentação está sendo registrada através de fotografias no intuito de ilustrar o
material didático e torná-lo mais atrativo e eficiente.
A compreensão da eficácia do caderno produzido pela pesquisa acontecerá mediante a sua
experimentação através da realização do Curso de extensão piloto, previsto para o mês de novembro.

4. Conclusão
O trabalho ainda está em fase inicial havendo a expectativa de que seja possível aplicar a teoria
encontrada na literatura e em sites da internet na prática, a partir da escolha precisa de uma metodologia a ser
expressa no material didático. Este espera-se ser de fácil compreensão e uso e que tenha resultados positivos
durante a execução da última etapa do projeto que se constitui no curso de extensão para produção de papel
artesanal reciclado.
Com um material devidamente registrado e válido através de seu experimento piloto, poder-se-á
utilizá-lo em outros cursos de extensão para a produção de papel artesanal reciclado, contribuindo para o
desenvolvimento de trabalho e renda em grupos sociais vulneráveis, defendendo a sustentabilidade ambiental
e social.

Referências
FILIPERSON. Disponível em: <http://www. filiperson.com.br/ históriacompam.com.br/ porquereciclar.htm>
Acesso em: 31 de juL 2007.

INSTITUTO DA TERRA. Cidadania em Cadeia. Florianópolis. Disponível em: <


http://.institutodaterra.org.br/release.html>. Acesso em: 10 de ago 2006.

Reciclagem.Net. Portal da Reciclagem e do Meio Ambiente Disponível em:


<http://www.compam.com.br/porquereciclar.htm> Acesso em: 12 de jun 2007.

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USP RECICLA - da Pedagogia à Tecnologia Portal da reciclagem e do meio ambiente Disponível em:
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USP RECICLA - da Pedagogia à Tecnologia Portal da reciclagem e do meio ambiente Disponível em:
<http://www.cecae.usp.br/recicla/site/inst/resulta.asp> Acesso em: 31 de jul 2006.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

COMITÊ MERCOSUL E O PROTAGONISMO DO SERVIÇO SOCIAL


BRASILEIRO NA CONSTRUÇÃO DO PROJETO PROFISSIONAL PARA O
MERCOSUL

Giseli Aparecida de Oliveira1*; Karine Fabiane de Lima2*; Lucia Cortes da Costa3


1
Universidade Estadual de Ponta Grossa
2
Universidade Estadual de Ponta Grossa
3
Universidade Estadual de Ponta Grossa

1. Introdução

Considerando a globalização da economia, a região do cone sul na América Latina


buscou estratégias para inserir-se no mercado mundial, os presidentes da Argentina, Brasil,
Paraguai e do Uruguai puderam firmar o Tratado de Assunção, com o objetivo de realizar um
mercado comum entre os países acordados formando então, o chamado MERCOSUL-
Mercado Comum do Sul, como forma de acelerar seus processos de desenvolvimento
econômico com justiça social. Em 8 de dezembro de 2005 a Venezuela solicitou o seu
ingresso no Mercosul, a Bolívia, Chile, Peru, Colômbia e Equador participam como estados
associados.
Para se constituir uma integração regional é necessário constituir uma Zona de livre
comércio, união aduaneira, mercado comum, união econômica e monetária e integração
econômica total. O Mercosul ainda se encontra no estágio de uma União Aduaneira ainda
imperfeita, mas a proposta é avançar no processo de integração para o mercado comum, o que
implica na presença de liberdades básicas como harmonização das legislações, padronização
na formação profissional pois um dos fatores neste processo é a livre circulação de
trabalhadores,
Para que isso se torne necessário, Costa (2007) aponta que é preciso que se
estabeleçam condições comuns e harmoniosas para se criar estruturas jurídicas adequadas,
mecanismos efetivos de aplicação de direitos sociais, os direitos trabalhistas e previdenciários
e também equivalência nos diferentes níveis de ensino com um caráter mais homogêneo de
serviços educacionais.
Um dos marcos no processo de integração regional, podemos considerar foi a criação
do Fórum Consultivo Econômico e Social em 1994, através do Protocolo de Ouro Preto, e a
criação da declaração sócio-laboral em 1998, quando a proteção aos trabalhadores entra em
destaque.
No Brasil, a partir da Constituição Federal de 1988, o acesso a políticas sociais não
está ligado à questão do vínculo de trabalho, mas sim a questão de cidadania. Os direitos
sociais são para cidadãos que mantém vínculo com Estado-Nação. No entanto, com a
formação do MERCOSUL entra em discussão a possibilidade de estender a proteção social
para além dos limites do Estado nacional. No entanto, na sociedade capitalista, segundo Costa
(2007, p. 136) “o que se internacionaliza é a economia e não a proteção social”.
Considerando a educação como um direito social, um instrumento estratégico no
processo de integração, foi criado o Setor Educacional do Mercosul (SEM), a partir de um
protocolo assinado pelos ministros da Educação dos países integrantes do bloco onde tem
fixadas algumas metas nos diferentes níveis de ensino, com relação ao ensino superior,
podemos destacar:
- Aprovar um acordo de reconhecimento de cursos de graduação;
- Aprovar um acordo de mobilidade;
- Aprovar um acordo de reconhecimento de títulos de nível terciário no
universitário para a continuidade de estudos nos países do Mercosul Mercosul
(SEM, 2006).

*
Giseli Aparecida de Oliveira: gigi84oliv@hotmail.com
*
Karine Fabiane de Lima: karine.f.lima@hotmail.com

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Desse modo com a integração regional o reconhecimento dos diplomas universitários


nos diferentes países exige uma padronização na formação profissional. Assim, as entidades
da categoria dos assistentes sociais brasileiros, através do CFESS, estão atuando junto ao
Comitê Mercosul para debater e construir um projeto profissional comum.

2. Método

A metodologia utilizada na pesquisa foi: estudo exploratório realizado através da


pesquisa bibliográfica, documental e contato via e-mail com pesquisadores.
Através da identificação e análise da produção do Comitê Mercosur de
Organizaciones Profesionales de Trabajo Social y Servicio Social sobre projeto e organização
profissional no Mercosul. E na Identificação dos documentos relacionados ao projeto e
organização profissional no Mercosul.

3. Resultados e Discussão:

No âmbito do Serviço Social brasileiro podemos perceber a preocupação com a


integração regional e a prática profissional do assistente social. O CFESS – Conselho Federal
de Serviço Social, tem desempenhado importante papel nas negociações sobre a formação
profissional no âmbito MERCOSUL através do Comitê Mercosul. E na identificação dos
documentos produzidos, pode-se verificar a falta de acesso a tais documentos, pois não houve
publicização dos documentos referentes ao período em que o Comitê esteve sob coordenação
da Argentina, Uruguai e Paraguai. Só o Brasil tornou publico o relatório das atividades
através do site do CFESS e também através de informativos, onde podemos constatar que em
1995, três organizações profissionais dos Assistentes Sociais dos seguintes países Argentina,
Brasil e Uruguai, através de seus representantes comprometeram-se em criar o Comitê
Mercosur de Organizaciones Profesionales de Trabajo Social y Servicio Social, que foi
formalmente organizado em 14 de março de 1996, em que expressa o compromisso com a
organização política da categoria na América Latina. (CFESS, 2006)
Em sua constituição inicial o Comitê Mercosul de Serviço Social era formado pelas
seguintes organizações: Federacion Argentina de Asociaciones Profesionales de Servicio
Social, o Conselho Federal de Serviço Social, e Asociación de Asistentes Sociales de
Uruguay. Em 1998 a Asociación de profesionales de Servicio Social o Trabajo Social Del
Paraguay adere ao Comitê Mercosul de Serviço Social. O Comitê Mercosul é integrado por
Argentina, Brasil, Chile, Paraguai, Uruguai e Venezuela desde 2007. (www.cfess.org.br)
Conforme Behring (2004, p.188- 189) “O Comitê foi pensado tendo em vista agregar
as organizações profissionais de fiscalização, sindicais e acadêmicas dos quatro países
membros”, sendo as suas decisões “tomadas por consenso das organizações nacionais que
representam o país no Comitê”.
A coordenação do Comitê Mercosul é alternada entre os membros de cada país (com
período de 2 anos) e as reuniões são realizadas semestralmente já tendo realizado vinte e três
reuniões, com temas sobre a formação profissional e livre circulação de trabalhadores, sendo
possível através das reuniões identificar as particularidades de cada país, e as diferenças na
formação profissional de Serviço Social e delimitar as possibilidades de aprofundar a unidade
de interlocução na esfera do Mercosul.
Desde sua criação o Comitê Mercosul passou pelas seguintes coordenações, onde
podemos verificar que o Brasil assumiu a coordenação do Comitê Mercosul de Serviço Social
em duas gestões.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Coordenação Representantes Período


Federacion Argentina de Asociaciones Emílio Ortiz 1996-1998
Profesionales de Servicio Social.
Conselho Federal de Serviço Social. Elaine Behring 1998-2000
Asociación de Asistentes Sociales de Uruguay. Rodolfo Martinez 2000-2002
Asociación de Profesionales de Servicio Social Estela Garcia 2002-2004
o Trabajo Social del Paraguay.
Federacion Argentina de Asociaciones Laura Acotto 2004-2006
Profesionales de Servicio Social.
Conselho Federal de Serviço Social. Elizabete 2006-2008
Borgianni
Ivanete Boschetti Janeiro a Julho
de 2008
Asociación de Asistentes Sociales de Uruguay. Iris Lauz Desde Julho de
2008.
Fonte: Conselho Federal de Serviço Social- CFESS.

O Comitê Mercosul de Serviço Social vem trabalhando buscando consolidar um


projeto ético político com uma visão crítica e transformadora, promovendo um trabalho que
tenha compromisso com a realidade social, buscando assegurar a concretização dos direitos
humanos, com os seguintes objetivos:
- Construir um projeto coletivo ético-político para o Mercosul e América Latina, que
contribua para o fortalecimento dos assistentes sociais e organizações que as
representam;
- Promover no Serviço Social latino-americano um exercício profissional
competente (teórica e tecnicamente) e comprometido (ética e politicamente) com as
demandas sociais, garantindo a efetivação dos direitos humanos.(CFESS, 2006,
p.11)

Em junho de 2000, sob a coordenação de Rodolfo Martinez, foi considerado a


urgência de se tomar um posicionamento ético-político, sendo estabelecido os princípios
éticos e políticos básicos para o Comitê, porém esses não se constituem em um Código de
Ética para a profissão regionalmente que destacamos:

7) A defesa do exercício profissional competente (teórica, ética e tecnicamente)


e compromisso com as demandas sociais, com a garantia da qualidade dos serviços
prestados;
8) Criação, defesa e consolidação, da regulamentação legal da profissão, de
Códigos de ética e da formulação profissional, com bases comuns na região, a
partir de princípios decididos de forma coletiva, autônoma e democrática, que
garantam a livre exercício da profissão, com direitos e obrigações assegurados em
conformidade aos marcos jurídicos e em situação de reciprocidade legal;
9) A garantia do pluralismo por meio do respeito às correntes teóricas e
políticas democráticas existentes no âmbito da profissão;
10) Fiscalização do exercício profissional e dos títulos de habilitação, os quais,
de acordo com os princípios éticos reafirmados, podem responsabilizar os
profissionais pelas conseqüências éticas que surjam de suas intervenções
profissionais;
11) A formação profissional permanente e inclusão da ética nos currículos ou
plano de estudos das unidades acadêmicas de formação específica em cada país;
12) Garantia de condições dignas e adequadas de trabalho no exercício
profissional (ingresso, segurança social, ambiente de trabalho, funções) e respeito
à autonomia técnico-profissional.(CFESS, 2006, p.12)

Segundo Relatório da Coordenação do Brasil- 2006-2008 do CFESS o profissional de


trabalho social deve ter sua formação básica em Ciências Sociais, tendo em seu perfil a
dimensão ético-político; a dimensão metodológica e/ou operativo-instrumental; a dimensão
teórica e epistemológica, o profissional deve ter um posicionamento político frente às

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

questões que aparecem na realidade social, possuir um rigor teórico e metodológico,


permitindo ao mesmo analisar a dinâmica da sociedade.

4. Conclusão

Desse modo podemos concluir que o Serviço Social vem avançando nas produções
referentes ao Mercosul, com diferentes temas que estão sendo abordados, e com relação a
formação profissional os avanços do Comitê, vem sendo fundamentais no processo de
integração regional pois a livre circulação de trabalhadores exige uma padronização na
formação profissional, onde possibilitara no exercício profissional nos países membros do
Mercosul.
Podemos perceber o protagonismo do Serviço Social brasileiro através da produção
teórica, visto que os profissionais da América Latina realizam mestrado e doutorado aqui no
país. O CFESS tem trabalhado publicizando as informações aos países membros do Mercosul
traduzindo os relatórios do Comitê Mercosul, o código de ética e a lei de regulamentação da
profissão do Brasil para o espanhol. Esta atuação do CFESS junto ao Comitê Mercosul vem
contribuir para construção de um projeto profissional comum no bloco.
Os debates no Comitê Mercosul de Serviço Social auxiliaram na organização do
Código de Ética e regulamentação da profissão nos países do bloco que não tinham tais
instrumentos como o Paraguai e Uruguai.

Referências

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Sociedade nº79. São Paulo: Cortez, 2004. (pg.173-196).

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08/06/2010

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

ESTUDO SOBRE MOVIMENTO ESTUDANTIL ATRAVÉS DAS


MONOGRAFIAS DA UEPG

ANGREVES, Maiara Barbosa1; CANTOIA, Danuta Estrufika2


Universidade Estadual de Ponta Grossa

1. Introdução

No Brasil, os movimentos sociais tiveram maior expressão a partir de meados do século


XX, quando se modifica o padrão de relação entre Estado e Sociedade Civil através da
participação de setores e estratos de classes sociais. O movimento estudantil é um dos que
obteve maior visibilidade a partir de 1960 na luta por uma universidade com qualidade.
Entendemos que esta é uma temática presente nas Ciências Sociais e que merece ser
investigada no contexto da UEPG. A presente pesquisa tem como objetivo traçar um perfil das
pesquisas sobre movimentos estudantis nos cursos de graduação e pós-graduação da UEPG,
mais especificamente nos Setores de Ciências Sociais Aplicadas e Ciências Humanas (cursos de
Licenciatura em História, Bacharelado em História, Comunicação Social - Habilitação em
Jornalismo, Serviço Social). Na pós-graduação Stricto Sensu, Mestrado de Ciências Sociais
Aplicadas e no Mestrado em Educação.
A pesquisa ocorreu no período de agosto de 2009 a julho de 2010, procurou-se traçar
um perfil quantitativo e qualitativo das monografias e dissertações dos Setores de Ciências
Sociais Aplicadas e Ciências Humanas que tratam sobre movimento estudantil.

2. Método

A metodologia empregada para alcançar os objetivos propostos neste trabalho foi a


pesquisa bibliográfica; um estudo exploratório através de levantamento das dissertações de
mestrado em Ciências Sociais Aplicadas e Educação (a partir da primeira edição dos cursos) e
das monografias na graduação (a partir da institucionalização do TCC nos cursos); seleção da
amostra de pesquisa (dissertações e monografias) a partir de seus títulos, sumário e resumo;
coleta de dados na amostra selecionada, identificando os objetos específicos pesquisados e os
organizando em quadros quantitativos e qualitativos; e Sistematização dos dados coletados,
traçando um perfil quanti-qualitativo das pesquisas analisadas.
O levantamento das dissertações de Mestrado em Ciências Sociais Aplicadas e
Educação (a partir da primeira edição dos cursos) e das monografias na graduação (a partir da
institucionalização do TCC nos cursos) foi através de contato direto com os departamentos dos
respectivos cursos selecionados como campo de pesquisa para fins de seleção de amostra de
pesquisa.
Na graduação foram identificadas 929 monografias (sem exatidão no número, pois o
curso de Historia não tem como norma a obrigatoriedade da entrega de uma copia para o
departamento - no momento da pesquisa o acervo contava com 440 trabalhos). Já no Mestrado
de Ciências Sociais Aplicada foram identificadas 95 dissertações e no Mestrado de Educação
190 dissertações, mas, neste universo não identificamos nenhum trabalho de pesquisa referente
a temática.
Na graduação foram encontrados quatro trabalhos de conclusão de curso, sendo três do curso de
Comunicação Social: Habilitação em Jornalismo e um trabalho no curso de Historia.

3. Resultados e Discução

Entendemos o movimento estudantil, como uma temática presente nas Ciências Sociais e que
merece ser investigada no contexto da UEPG.

1
Maiara Barbosa de Angreves: maiara_angreves@yahoo.com.br
2
Danuta Estrufika Cantoia: danutaluiz88@gmail.com

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Os dados coletados foram analisados a partir da analise de conteúdo, mais


especificamente através de categorias de análise previamente estabelecidas como:
Curso e Ano, o curso que apareceu com maior freqüência tendo três monografias analisadas foi
o de Jornalismo o que caracteriza seu viés, mais contestador, frente às lutas e causas social
sendo um curso que sempre esteve muito próximo dos movimentos estudantis. Os anos que
foram mais realizados trabalhos sobre a temática foi à década de 2000 como forma de resgatar o
tema. Segundo Freire (2008, p.141):

[...] os novos atores entraram em cena expressando a face de uma nova


sociedade civil, a presença dos mesmos no final da década de 90 do século
XX e início do século XXI revela uma mudança de cenário que não mais lhes
conferem o mesmo protagonismo nacional.

Diante disso, o Estado que era objeto principal de investigação dos cientistas sociais,
perde seu espaço para os movimentos sociais, afirmando assim a idéia que:

A preocupação com a teorização sobre os movimentos sociais ocorre porque,


por um lado, eles ganharam visibilidade na própria sociedade na qualidade de
fenômeno histórico concretos. Por outro, o desenvolvimento das teorias sobre
o social colocou as ações coletivas num outro patamar, num universo mais
amplo, reconstruindo e construindo novas teorias sobre a sociedade civil.
(GONH, 2008, pag.11).

Tipo de pesquisa, que foi usado em todos os trabalhos foi á pesquisa qualitativa.
Segundo Chizzotti (2003, p.221):

A pesquisa qualitativa recobre, hoje, um campo transdisciplinar, envolvendo


a ciências humanas e sociais [...] adotado multimétodos de investigação para
o estudo de um fenômeno situado no local em que ocorre, e enfim,
procurando tanto encontrar o sentido desse fenômeno quanto interpretar os
significados que as pessoas dão a eles.

Esse tipo de pesquisa proporciona junto com os sujeitos o conhecimento acumulado,


segundo o estudante da monografia 03:
A pesquisa pauta-se na análise qualitativa, ou seja, não se pretende ser refém
da investigação probabilística. Portanto, as opções se darão desde uma
seleção de eventos significativos segundo critérios escolhidos de forma
deliberada e racional pelo pesquisador. (JUNIOR, 2007, pag.82).

Objeto e Objetivo: temos a considerar que no trabalho 01º objetivo é “compreender as


relações da mídia e governo, através do discurso jornalístico da revista Veja, sobre as
manifestações do movimento estudantil em 1968” (PARZIANELLO, 2000, pag.08), como
objeto de estudo “o como a constituição sócio-política influência na construção dos discursos
jornalísticos e, conseqüentemente, a elaboração do seu sentindo” (PARZIANELLO, 2000,
pag.08). Esse trabalho analisa a revista Veja, de setembro a dezembro de 1968, demonstrando
como são noticiadas as manifestações estudantis na revista. Neste estudo aparece que, por meio
de manipulação o Estado usa como contra resposta a revista Veja ,para representar o movimento
estudantil de uma forma violenta e sem articulação, para que ele não obtivesse apoio da
sociedade civil.Segundo SILVA (2010, p. 01):

É por meio dos processos de enquadramento jornalístico que a mídia


seleciona, organiza e apresenta para a sociedade em geral determinados
aspectos da realidade do trabalho desenvolvido junto dos adolescentes em
cumprimento de medidas socioeducativas. De tal forma, influencia direto e
indiretamente para o debate em torno do assunto frente ao Estado e à
sociedade.

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O trabalho 02 tem como objetivo “Apontar o livro-reportagem como veículo viável da


prática jornalística e utilizar a grande-reportagem como meio de captação da realidade, a partir
disso localizar o Movimento Estudantil ponta-grossense no período delimitado” (Silva, 2004,
pag.03) e como objeto é:

[...] retomar o que vem sendo trabalhado em termos de jornalismo e


literatura, para a construção de um produto: um livro-reportagem com o tema
de Movimento Estudantil universitário de Ponta Grossa da década de 80 até
os dias atuais. (SILVA, 2004, pag.02).

O trabalho demonstra como a construção do livro-reportagem vem sendo realizado


através dos tempos, e como produto disso, a autora fez um manual do calouro contando o
histórico da faculdade e suas mobilizações estudantis. Ao explicitar o histórico e as
mobilizações realizadas na cidade de Ponta Grossa dentro da UEPG, levanta algumas questões
referentes ao do movimento estudantil como instância formativa excepcional que direciona a
socialização política e também fomenta a capacitação de lideranças.
A configuração como se dá a participação do universitário na política estudantil, seu
engajamento no movimento e o significado a ele atribuído e pelos demais estudantes pode vir
alavancar um protagonismo juvenil na política do país. (LINO, 2003).
No trabalho 03, o objetivo do autor é e “a produção de um produto através do gonzo
jornalismo, que proporcione ao leitor informações humanizadas de como se dá a práxis das
estratégias de resistência do anarquismo contemporâneo” (JUNIOR, 2007, pag.47) e como
objeto “mostrar como o movimento anarquista se mantém hoje” (JUNIOR, 2007 pag09).
O trabalho tem como produto um livro onde o autor conta todo o seu percurso pelos
principais pólos do anarquismo no país, dentro de uma perspectiva de um movimento em sua
maioria com estudantes e professores universitários. O livro conta como se mantém um
movimento anarquista e como o movimento anarquista se mobiliza e se soma aos movimentos
estudantis. O aponta como a universidade se tornou elitizada e como a perda dos ideais dos
movimentos é uma resultante, por se ter uma elite na universidade mantendo a hegemonia
burguesa de não democratização do ensino.
O trabalho 04 tem o objetivo, “entender como e o trabalho de inserção universitária
atual da Pastoral Universitária” (BALANDIUK, 1999, pag.02) e como objeto de “estudo é
realizar um resgate histórico da Pastoral Universitária em Ponta Grossa, buscando compreender
a relação existente entre esta Pastoral e a Universidade Estadual de Ponta Grossa”
(BALANDIUK, 1999, pag.02).
O trabalho aponta a prática da Pastoral Universitária, a qual além do objetivo de
evangelizar tem como contra partida a discução sobre temática dos problemas sociais atuais,
demonstrando a resignificação e a atualização dos movimentos estudantis.
Conceito de Movimento Estudantil, nas monografias analisadas não foi identificado um
conceito explicito de movimento estudantil. Mas abordam de forma geral, o conceito de um
coletivo em torno de uma causa, que repercute na luta política pela democratização do acesso ao
ensino, se contrapondo a desigualdade social presente nas universidades. Além de atuar em
ações coletivas e em processo de democratização das relações sociais de questão política.
Conjuntura, os quatro trabalhos analisados estudam a década de 60.Segundo a
estudante do trabalho 01 “O ano de 1968 representa um dos momentos mais singulares do
século XX, no qual os movimentos sociais de contestação varreram o mundo, capitaneados
fundamentalmente pela classe estudantil.” (PARZIANELLO, 2000, pag. 06).

4.Conclusão

Ao estudarmos o movimento estudantil podemos observar em seu contexto, de inicio, o


ganho de espaço do movimento social que teve começo e articulação, especialmente após a
abertura dos canais de participação em âmbito nacional.
O movimento social em termos gerais é uma ação coletiva em torno de uma causa
própria, e uma dessas ações coletivas organizadas pelo movimento estudantil, era a

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democratização do ensino superior. Este teve inicio a partir da década de 60, na qual há
implementação de varias instituições de nível superior, para lutar por um ensino de qualidade e
por um país democrático, sem ditadura.
Neste estudo, após a contextualização da temática, ao se realizar a coleta de dados para
se obter o perfil quanti-qualitativo das pesquisas que abordam o tema Movimento Estudantil –
na graduação e pós-graduação em Ciências Sociais Aplicadas e Ciências Humanas da UEPG,
ficou perceptível como o tema é pouco abordado. Na graduação foram identificadas 929
monografias (sem exatidão no número, conforme já esclarecido). Na graduação foram
encontrados quatro trabalhos de conclusão de curso, sendo três do curso de Comunicação
Social: Habilitação em Jornalismo e um trabalho no curso de História.
Já no Mestrado de Ciências Sociais Aplicada foram identificadas 95 dissertações e no
Mestrado de Educação 190 dissertações, mas, neste universo não identificamos nenhum
trabalho de pesquisa referente à temática.
No processo de pesquisa identificamos a importância dos cursos de ensino ter
organizados acervos com seus trabalhos de conclusão para coleta de dados, para pesquisas
posteriores.
Ao analisar os trabalhos coletados, foi observado que eles em sua maioria eram da
década 2000, com pesquisas qualitativas. Tendo objetivos e objetos bem diferenciados variando
entre a “Compreender as relações entre a imprensa brasileira e o poder autoritário, através da
análise do modo como o discurso jornalístico da Veja construiu as manifestações do movimento
estudantil em 1968.” e “Entender como e o trabalho de inserção universitária atual da Pastoral
Universitária”.
A amostra selecionada não aborda especificamente o movimento estudantil como
campo de estudo, mas o aborda de forma indireta. Da mesma forma, nenhum trabalho discute
especificamente o conceito de movimento estudantil. Segundo o estudante do trabalho 04 “E
agir em favor das classes empobrecida procurando efetivar a relação entre o meio popular e a
universidade, dessa forma colocando o saber a serviço de todos.” (BALANDIUK, 1999, pag.14)
já a estudante do trabalho 01 define “Principais atores do cenário político brasileiro”.
(PARZIANELLO, 2000, pag.17).
Em tratando da conjuntura, a década de 60 é a que serve de base para a
contextualização e análise dos trabalhos, o que é justificado pela presença marcante que o
movimento estudantil teve nesse período.
É importante destacar de como está se perdendo a visibilidade do movimento estudantil,
especialmente em se tratando das pesquisas sobre as monografias da UEPG. Assim se faz
necessário fomentar lideranças estudantis para se ter voz, no que se trata em dar continuidade à
luta pelo ensino de qualidade e uma democratização no ensino superior.
Concluímos a presente pesquisa identificando que o tema na UEPG não tem sido um
objeto de investigação cientifica comum na área de Ciências Sociais e Humanas.
Pode-se inferir que esse achado de pesquisa se relaciona a conjuntura e configuração
que o movimento estudantil tem vivido nas ultimas décadas, ou seja, segundo autores o
movimento estudantil perdeu visibilidade (não querendo dizer que deixou de existir), com os
padrões “tradicionais” que o movimento aparecia: manifestações, paralizações, greves. Há um
novo cenário para os movimentos sociais, especialmente para o movimento estudantil, que se
articula e manifesta-se por meio de redes sociais, o que não se “torna visível” nas praças , ruas
e universidades
Esta é uma discussão polêmica que merece ser estudada e publicizada no meio
acadêmico e social, porém e necessário refletir o que tornou nossa geração tão diferenciada das
outras que tinham as práticas de protesto muito mais intensas do que temos hoje.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Referencia Bibliográfica

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enquadramento jornalístico. In: I Semana de Enfrentamento á Violência Contra Criança e
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JUNIOR, V.B. Balaclavas e os Profetas do Caos: Reportagem gonzo pelas estratégias de


resistência do anarquismo contemporâneo. 2007, 108 f. Trabalho de Conclusão de
Curso(Comunicação Social:Jornalismo) – Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta
Grossa,2007.

SILVA, A.C.C. Manual do Calouro. 2004,36 f. Trabalho de Conclusão de Curso


(Comunicação Social: Jornalismo) – Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa,
2004.

PARZIANELLO, L. Entre o Militarismo e o Movimento Estudantil a Subjetividade do


Discurso Jornalístico. 2000,98 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Comunicação Social:
Jornalismo) – Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, 2000.

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FÓRUM PERMANENTE DA PESSOA IDOSA NA REGIÃO DOS CAMPOS GERAIS:


PROPOSIÇÃO, CRIAÇÃO E ORGANIZAÇÃO

Débora Puchalski Bronoski1*;Thaize Carolina Rodrigues de Oliveira²; Evelize Aparecida Borochok de


Oliveira ³
1
Acadêmica do curso de Serviço Social da Universidade Estadual de Ponta Grossa
²Acadêmica do curso de Serviço Social da Universidade Estadual de Ponta Grossa
³Acadêmica do curso de Direito da Universidade Estadual de Ponta Grossa

1.Introdução
Atualmente, a questão do envelhecimento tem sido uma das tônicas dos debates na sociedade,
principalmente nos níveis político e social, uma vez que a população idosa cresce continuamente e num ritmo
acelerado.
Estatisticamente tem-se que a sociedade brasileira vem passando por um processo acelerado de
envelhecimento. Segundo o IBGE em 20 anos, o Brasil terá a sexta maior população idosa do mundo.
Conforme os dados do ano de 2009 do IBGE há hoje, aproximadamente 19 milhões de idosos definidos como
população de 60 anos e mais de idade. Esse número já corresponde a mais de 10,2% da população brasileira.
Isto é altamente relevante, pois a mudança na distribuição etária do país altera o perfil das políticas sociais,
exigindo estratégias de implementação de ações relacionadas à promoção dos direitos humanos dos idosos.
Neste sentido no Brasil se tem leis, decretos e resoluções que contemplam os princípios da garantia de
direitos à pessoa idosa, os quais a partir da Constituição Federal de 1988, compõem a nova institucionalidade
de proteção ao idoso. Deste aparato legal destaca-se a Lei nº 10.741/03 que dispõe sobre o Estatuto do Idoso,
um dos avanços mais significativos para garantir melhor qualidade de vida a esse segmento da população.
Cabe, segundo a Constituição, ao Estado assegurar os direitos destas pessoas e à sociedade civil, tendo
em vista o princípio da democratização, o exercício do controle social através de diferentes formas de
organização cumprindo com a co-responsabilidade no que tange ao respeito desses direitos. Para que os
direitos deste segmento sejam respeitados, torna-se fundamental a criação de Fóruns como mecanismos de
controle e instâncias de participação social.
Portanto, criar e fortalecer espaços reais de discussão e de definição de ações constitui-se como questão
fundamental para o aperfeiçoamento da política de proteção e defesa da pessoa idosa. Nesse sentido, os
Fóruns como espaços de participação aberta, com função propositiva, podendo ser instituídos regionalmente e
constituídos por organizações governamentais e não governamentais com a finalidade de articular diferentes
iniciativas, são espaços convergentes que materializam a participação e o controle social. Assim, o Fórum se
põe como mecanismo fundamental de fortalecimento e organicidade política no debate e nas lutas sociais em
torno de uma agenda de prioridades a serem enfrentadas para assegurar os direitos da pessoa idosa.
Este artigo relata a trajetória de criação e organização do Fórum Permanente da Pessoa Idosa na região
dos Campos Gerais a partir do Projeto de extensão “Assessoria ao Fórum Permanente da Pessoa Idosa –
Região dos Campos Gerais” proposto pelo Departamento de Serviço Social, tendo como parceira a Secretaria
de Estado do Trabalho, Emprego e Promoção Social – SETP- Escritório Regional/ER de Ponta Grossa, o
qual foi iniciado no ano de 2008 e encontra-se em execução. Este projeto de extensão tem por objetivo,
assessorar teórica e tecnicamente o processo de mobilização, criação, organização e ação do referido Fórum.
O Fórum Permanente da Pessoa Idosa - Região dos Campos Gerais por sua vez, visa à articulação de
instrumentos, mecanismos, órgãos e ações na promoção, proteção e defesa dos direitos da pessoa idosa
conforme os princípios da RENADI – Rede Nacional de Proteção e Defesa da Pessoa Idosa.

1.1 Fatos relevantes que impulsionaram a criação do Fórum Permanente da Pessoa Idosa na
Região dos Campos Gerais
A partir dos dispositivos legais vigentes, em relação à pessoa idosa, empreenderam-se vários esforços
no sentido de desencadear um processo de informação sobre a política de proteção e defesa desse segmento,
bem como de desenvolver ações de proteção, defesa e enfrentamento de suas necessidades.
No ano de 2006 desencadeou-se o processo de realização da I Conferência Nacional, com o tema
“Construindo a Rede Nacional de Proteção e Defesa da Pessoa Idosa - RENADI” objetivando definir as
estratégias para a implementação da Rede de Proteção e Defesa da Pessoa Idosa – RENADI, com base no
Plano de Ação Internacional para o Envelhecimento, Estatuto do Idoso e as deliberações da IX Conferência

* Autor Correspondente: debinha.bronoski@hotmail.com


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Nacional de Direitos Humanos. Esta Conferência realizou-se em duas etapas, uma necessariamente em âmbito
Estadual e outra em nível nacional, facultando-se a realização de Conferências Municipais.
As reflexões geradas na I Conferência Nacional, foram de maior importância para aqueles que estão
encarregados de propor, implantar e implementar as políticas públicas para efetivação dos direitos da pessoa
idosa, orientando a elaboração do Plano Nacional e Planos Estaduais de implementação das deliberações da I
Conferência Nacional contemplando os 08 eixos temáticos (ações para efetivação dos direitos da pessoa
idosa; previdência social; saúde; violência e maus tratos contra a pessoa idosa; assistência social;
financiamento e orçamento público; educação, cultura, esporte e lazer; controle democrático) e a execução da
gestão e do controle social de acordo com a estruturação da RENADI a partir das seguintes dimensões:
instrumentos, mecanismos, órgãos e ações.
Em conseqüência, no Estado do Paraná, implementou-se as ações do Fórum Estadual e estimulou-se,
com a orientação do Conselho Estadual dos Direitos do Idoso - CEDI, a criação de Conselhos Municipais.
No estado do Paraná, todos os atores envolvidos com a problemática da pessoa idosa foram
convidados a dar sua contribuição para a construção, efetivação e fortalecimento da política de atenção à
pessoa idosa. Assim, a partir das orientações do CNDI, do CEDI e da assessoria técnica e financeira da SETP
este processo iniciou-se com a realização das Conferências Municipais até 25/04/08, seguido de Encontros
Temáticos Regionais em preparação à Conferência Estadual no período de 01 a 21/05/08 e da Conferência
Estadual realizada nos dias 01 e 02 de setembro do mesmo ano.
Neste contexto, os municípios da região dos Campos Gerais, em sua maioria, realizaram suas
Conferências, a partir da temática geral, discutindo, analisando os eixos e deliberando sobre as prioridades
do município para a efetivação da RENADI.
Conforme a dinâmica do processo estabelecido para preparação à Conferência Estadual e Nacional, no
dia 16 de maio de 2008 no município de Ponta Grossa, realizou-se o III Encontro Regional Temático dos
Direitos da Pessoa Idosa, com a participação de 80 pessoas sendo 14 convidados, 06 observadores e 60
delegados (governamentais e não governamentais) eleitos nas Conferências e/ou Encontros municipais.
Neste Encontro os participantes identificaram os avanços, os desafios e as prioridades do processo de
implementação das políticas destinadas à garantia dos direitos da pessoa idosa, reafirmaram as competências
e co-responsabilidades dos órgãos governamentais e não governamentais, do papel dos Conselhos e a
importância dos movimentos sociais na efetivação, promoção, defesa e proteção dos direitos da pessoa idosa;
discutiram sobre a captação de recursos e o financiamento para criação, manutenção e ampliação dos
serviços destinados ao atendimento da população idosa e deliberaram sobre as prioridades e estratégias, para
a região e para o Estado, de prosseguimento e monitoramento das ações no sentido de assegurar o
compromisso público e político para avançar na adesão ao Pacto Político por uma Sociedade que Envelhece.

2. Metodologia
Após a realização do III Encontro Regional Temático dos Direitos da Pessoa Idosa, a Comissão
organizadora do mesmo, reuniu-se por três vezes com representantes da UEPG (Deptº de Serviço Social e
UATI), em conjunto com um grupo de pessoas representantes de outros órgãos, preocupadas com o
desenvolvimento da política de atenção à pessoa idosa, para discutir e definir formas de encaminhamento das
discussões e deliberações relacionadas à política de atendimento a pessoa idosa na região.
Para tanto, a alternativa encontrada foi a criação de um Fórum Regional Permanente com a finalidade
de realizar o debate, articular e ampliar as alianças no espaço público em torno de uma agenda de prioridades
a serem enfrentadas com a implantação e implementação de ações para efetivação dos direitos da pessoa
idosa em consonância com a Política Nacional do Idoso e o Estatuto do Idoso respeitando as necessidades e
peculiaridades dos municípios que compõem a região.
Constituiu-se então uma comissão pró-Fórum composta por representantes de
entidades/instituições/órgãos/grupos, governamentais e não governamentais e representantes da UEPG
(Projeto de Extensão e UATI) que através do projeto de extensão, objetivaram viabilizar a criação do “Fórum
Permanente da Pessoa Idosa - Região dos Campos Gerais” acreditando ser o Fórum, um espaço aberto para
aprofundamento, reflexão e debate democrático de idéias, de formulação de propostas, de troca de
experiências, de articulação para ações eficazes e de monitoramento da sociedade civil.
Os procedimentos metodológicos para o encaminhamento das ações da Comissão foram: elaboração
dos documentos - Carta dos Princípios Norteadores do Fórum e Termo de Adesão; encaminhamento dos
documentos as entidades/instituições/órgãos/grupos dos municípios que compõem a região e que atuam na
área da pessoa idosa convidando-os a aderirem ao Fórum como entidades membros e ao engajamento na
defesa dos direitos e políticas públicas de atendimento ao idoso; organização e realização da I Assembléia
Regional do Fórum Permanente da Pessoa Idosa – Região dos Campos Gerais com o tema “Políticas
Públicas, Velhice e Participação Social”.

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3. Resultados
Dentre as 80 entidades/instituições/órgãos/grupos contatadas, que compõe o conjunto de serviços não
governamental de atendimento, assessoramento e defesa dos direitos dos idosos, 38 aderiram ao Fórum, 19
não aderiram e 23 não se manifestaram. Das 27 entidades/instituições/órgãos/grupos do conjunto de serviços
governamental, 09 aderiram ao Fórum e 18 não se manifestaram.
Parceria com a Secretaria do Trabalho, emprego e Promoção Social – SETP e UEPG e o apoio da
Prefeitura de: Ponta Grossa, Palmeira, Tibagi, INSS, UATI, AMCG Força Sindical, Mercadomóveis e Junior
– design, na organização e realização no dia 02 de outubro de 2009 da I Assembléia Regional do Fórum
Permanente da Pessoa Idosa – Região dos Campos Gerais com o tema “Políticas Públicas, Velhice e
Participação Social”.
A participação na I Assembléia Regional do Fórum Permanente da Pessoa Idosa – Região dos Campos
Gerais de 110 pessoas representantes de órgãos e entidades governamentais e não governamentais que
incluem entre suas atividades voltadas à pessoa idosa, o atendimento, o assessoramento, a defesa e proteção,
a organização de trabalhadores do setor, na condição de: delegados com o direito a voz e voto; observadores,
representantes dos Conselhos Municipais de Direito do Idoso existentes na região e convidados, com direito
a voz.
A eleição e referendo, dentre os delegados titulares representantes dos órgãos e entidades membros da
sociedade civil e do poder público, para um período de 02 anos, dos membros da Secretaria Executiva do
FOPI, à qual compete como instância de funcionamento do Fórum: cumprir e fazer cumprir as deliberações
da Assembléia Geral, representar o Fórum, bem como coordenar as atividades programadas no sentido da
articulação, formação de lideranças e da avaliação da prática e compromisso dos atores envolvidos com a
proteção, promoção e defesa dos direitos da pessoa idosa.
A organização da Secretaria Executiva com: a definição de cargos e funções, a definição do calendário
de reuniões, o estabelecimento de estratégias para atuação do fórum, a elaboração do Plano de Ação para o
ano de 2010 elegendo como prioridades: o estímulo e apoio a criação e/ou reativação e funcionamento de
Conselhos Municipais dos Direitos da Pessoa Idosa na região dos Campos Gerais, especialmente a reativação
do Conselho Municipal de Direitos da Pessoa Idosa no município de Ponta Grossa e o acompanhamento do
processo de realização das Conferências Municipais, Regional, Estadual e Nacional dos Direitos da Pessoa
Idosa participando especialmente das Conferências Municipais e Regionais.

4. Conclusões
Considerando a nova institucionalidade de proteção à pessoa idosa, verifica-se que na CF/88, art. 204,
destaca-se a participação da sociedade civil tanto na execução, como na formulação e no controle das ações
em todos os níveis.
Assim, há que se produzir formas e criar espaços que se constituam ao mesmo tempo, em resgate de
participação de indivíduos e canais de habilitação destes, para que as políticas de proteção e defesa de
direitos sejam assumidas na perspectiva de direitos publicizados “... sendo os direitos da pessoa idosa,
embasados na idéia de sujeitos de direitos, cabendo-lhes a primazia na atuação em vista de sua realização”
(SEDH, 2006)[1]
Ressaltamos então, a importância dos Fóruns como espaços de ampliação e de fortalecimento da
sociedade civil, em fomentar o protagonismo desses atores.
Nesse sentido, a criação e organização do Fórum Permanente da Pessoa Idosa na Região dos Campos
Gerais é a concretização do processo de mobilização e organização da sociedade civil para o exercício do
controle social quanto à proteção, promoção e defesa dos direitos da pessoa idosa, bem como expressa a
organização política e o fortalecimento da participação social.
Destacamos também que por meio da prática extensionista busca-se cumprir com o compromisso
social de, a Universidade como instituição governamental pública, estar voltada a atender as necessidades da
população no território no qual está inserida, através da troca de saberes, da democratização do
conhecimento e efetiva integração entre a universidade e a comunidade.
Nesse sentido, a assessoria ao Fórum Permanente da Pessoa Idosa na Região dos Campos Gerais é o
resultado desta integração no enfrentamento a necessidade de fortalecimento e ampliação dos espaços
democráticos de controle social, bem como oportuniza aos acadêmicos de Serviço Social, através de estágio
a formação, capacitação e qualificação em termos teórico-práticos.
No entanto, de acordo com o princípio da democratização presente na CF/88, o Fórum é uma instância
política de articulação e proposição que tem como característica ser autônomo e independente, portanto a
atuação das instituições envolvidas será de orientar e dar apoio ao Fórum com vistas a torná-lo autônomo e
independente.

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Referências

IBGE. Projeção da População do Brasil por Sexo e Idade para o Período 1980-2050 - Revisão
2008. Coordenação de População e Indicadores Sociais. Gerência de Estudos e Análises da
Dinâmica Demográfica. Rio de Janeiro, 2008.

BRASIL. Política Nacional do Idoso. Lei nº 8.842, de 04 de janeiro de 1994 e Decreto nº 1.948 de
03 de julho de 1996.

______. Estatuto do Idoso. Lei nº 10.741 de 01 de outubro de 2003.

SEDH – SECRETARIA ESPECIAL DOS DIREITOS HUMANOS. I Conferência Nacional de


Direitos do Idoso – Construindo a Rede Nacional de Proteção e Defesa da Pessoa Idosa - Texto
Base. Brasília, 2006.[1]

______. II Conferência Nacional de Direitos do Idoso – Avaliação da Rede Nacional de Defesa


e Proteção da Pessoa Idosa: Avanços e Desafios – Orientações Gerais. Brasília, 2008.

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O PRECÁRIO ALCANCE DAS POLÍTICAS PÚBLICAS E A VULNERABILIDADE


ECONÔMICA DAS FAMÍLIAS: DETERMINANTES DO TRABALHO INFANTO-
JUVENIL EM PONTA GROSSA – PR.

Dayane Alflen Blum11*; Lenir Mainardes da Silva2


1
Universidade Estadual de Ponta Grossa
2
Universidade Estadual de Ponta Grossa

1. Introdução
O presente artigo é resultado da pesquisa desenvolvida no Programa Voluntário de Iniciação
Científica - PROVIC, um projeto da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e do CNPQ (Conselho
Nacional de Pesquisa), realizado no período de agosto de 2007 a agosto de 2008, inserido na linha de
pesquisa, Cidadania e Proteção Social, intitulado: Trabalho Infanto-juvenil na Coleta de Material
Reciclável: Uma Violação de Direitos das Crianças e Adolescentes em Ponta Grossa – Pr, que possuía
como objetivo geral, analisar as repercussões que o cansaço e os comprometimentos educacionais, oriundos
do trabalho precoce, podem acarretar no desenvolvimento físico e social das crianças e adolescentes. Visa
relatar os resultados encontrados para um dos objetivos específicos do trabalho supra citado. Que refere-se à
identificação dos determinantes da inserção precoce das crianças e adolescentes no desenvolvimento da
coleta de material reciclável em Ponta Grossa.

2. Método
Este estudo foi elaborado com base na pesquisa bibliográfica, na medida em que esta fornece respaldo
para a formação e compreensão de conceitos, utilizando autores da área das Ciências Sociais Aplicadas, mais
especificamente do Serviço Social, que estudaram, pesquisaram e sistematizaram através de trabalhos
científicos a problemática do trabalho infanto-juvenil, objetivando imbuir-se de habilidades para a realização
de análises sobre esta realidade, fizemos o uso também de análises documentais e observação sistemática,
buscando elaborar uma compreensão teórica em torno da temática. Utilizou-se para a coleta de dados,
entrevistas semi-estruturadas realizadas junto a seis famílias, acompanhadas por crianças e adolescentes no
processo de coleta de material reciclável, com objetivo de conhecer o processo de trabalho das mesmas, a
realidade sócio-econômica e os riscos pessoais e sociais decorrentes dessa atividade.

3. Resultados e Discussão
O trabalho infanto-juvenil esteve presente na sociedade desde os tempos mais remotos,
configurando-se e sofrendo alterações de acordo com as influências históricas, estruturais e conjunturais
presentes nos processos de cada modo de produção. Nas sociedades primitivas, o trabalho das crianças
possuía uma conotação de utilidade, objetivando proporcionar a elas “processos de aprendizagens”, com
vistas à formação e sociabilidade das mesmas, as atividades eram desenvolvidas paulatinamente, “de acordo
com o ritmo biológico, cultural e a compleição física da criança” [10, p.153]. No decorrer da história, a
temática do trabalho infanto-juvenil, sofreu alterações, evidenciadas a partir da Revolução Industrial e o
modo de produção imposto pela mesma, que passou a ser moderno e mecanizado [10]. As crianças
representavam a possibilidade de obtenção de lucros, pois eram mão de obra barata, “domesticáveis” e seu
porte físico adequado ao trabalho com as máquinas.
Concomitantemente a toda essa reestruturação produtiva, emergiram mudanças nas relações de
emprego e na estruturação do trabalho, o trabalho artesanal, familiar, que visava apenas produzir meios
básicos para garantir a sobrevivência das famílias, não consegue competir com as indústrias e com o ritmo de
produção destas, diante dessa situação o trabalhador vê-se obrigado a vender sua força de trabalho aos
grandes industriais, o trabalho nas fábricas se processava em péssimas condições estruturais, em locais
úmidos e insalubres, caracterizado pelo acúmulo de tarefas, exaustivas jornadas de trabalho e baixos salários.
Com o decorrer dos anos e o aperfeiçoamento das máquinas, estas passaram a exigir profissionais
especializados para manuseá-las, fato este, que também contribuiu para o aumento do desemprego, na
medida em que os trabalhadores não dispunham de tais conhecimentos e habilidades [10]. Todos esses
aspectos, a mecanização do campo, o processo de industrialização, a automação das indústrias, as novas
relações de trabalho, a coerção e dominação dos aspectos da vida dos trabalhadores, acabaram intensificando

1
* Autor Correspondente: dayaneablum@hotmail.com

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o trabalho desenvolvido por crianças e adolescentes, extirpando deste, seu fundamento educativo e
caracterizando-o como lucrativo.
No Brasil, o trabalho infanto-juvenil caracterizou-se desde o início como uma prática exploratória,
atrelado à idéia de sobrevivência. A utilização e exploração do trabalho das crianças e adolescentes também
foi requisitada pelas fábricas no Brasil, principalmente na indústria têxtil, isto porque, tinham-se máquinas
tecnologicamente avançadas e os pequenos operários produziam tanto, quanto um adulto e a um custo
consideravelmente inferior [7]. As consequências do processo de industrialização no Brasil se arrastaram ao
longo dos anos e podem ser observadas nitidamente na década de 80.

[...] o Brasil, na década de 80, viveu as conseqüências da chamada “década perdida”. A


crise econômica levou milhões de pessoas a níveis profundos de pobreza. O mundo abriu os
olhos para a quantidade de pessoas que, na maioria dos países do Terceiro Mundo,
começaram a vivenciar a fome e a miséria, para o grau e a profundidade das desigualdades
econômicas, sociais e políticas, para as conseqüências do modelo econômico vigente. [9].

Os níveis de investimento do estado diminuíram em virtude da crise econômica, muitas demandas deixaram
de ser atendidas, fato que intensificou a entrada de crianças e adolescentes no mercado de trabalho [4].
Concomitantemente a toda essa situação, o país teve um aumento populacional expressivo dos anos 60 até os
anos 90.A desigualdade econômica, que se reflete na má distribuição de renda, associada ao elevado
crescimento da população infanto-juvenil, “[...] em sua maioria excluída socialmente, levou ao um aumento
dramático do número de crianças e adolescentes de até 18 anos trabalhando no País.” [9, p.14]
No decorrer da história a questão do trabalho infanto-juvenil foi sofrendo influências que alteraram as suas
características, o processo de industrialização brasileiro foi um fator contribuinte para essa situação, uma vez
que favoreceu o agravamento da situação social e econômica das famílias. A constante precarização das
relações trabalhista e da qualidade de vida das pessoas mais desfavorecidas intensificou o trabalho infanto-
juvenil. Ainda nos anos 80 o Neoliberalismo, emergiu como condutor da política dos países capitalistas e
adentrou o cenário brasileiro paralelamente à globalização, defendendo a idéia de um Estado Mínimo,
apontando as intervenções estatais como responsáveis pela crise do sistema capitalista de produção [12].
O Brasil não dispunha de um sistema financeiro para custear o processo de acumulação industrial,
nem de um setor de produção de bens de capital e de insumos básicos. Frente a toda essa situação ocorreu um
agravamento da crise e a necessidade de reestruturação produtiva, enquanto conjunto de transformações
técnicas, econômicas e sociais, como saída para toda a situação de instabilidade econômica [12]. Os
problemas econômicos, as recessões e a inflação incidiram diretamente na renda e no emprego, acarretando o
aumento do número de “famílias com a renda per capita a baixo da linha da pobreza.” [1, p. 71]. “É nesse
contexto de reestruturação produtiva que os neoliberais encontram munição para difundir sua doutrina e seus
programas de política econômica” [12, p. 215], deteriorando o sistema de proteção social e contribuindo para
o aumento das desigualdades e da pobreza das famílias.
A necessidade de subsistir de muitas famílias, frente a todo esse contexto social e econômico, onde a
exclusão e o abandono dos poderes públicos estavam em voga, culminou no aparecimento de várias
estratégias que objetivavam garantir o sustento e a sobrevivência de seus membros, através do exercício de
atividades informais, desenvolvidas dentro do próprio lar e principalmente nas ruas das cidades,
caracterizado pela presença das crianças e adolescentes acompanhando as famílias
Atualmente o trabalho infanto-juvenil é reconhecido como uma categoria sociológica, que
incorporou aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais, um problema sociológico advindo do modo de
produção capitalista, que ”incapaz de incluir todos os seres humanos na órbita do trabalho e do consumo via
mercado” [4, p. 173], gera pobreza e desigualdade, expondo as famílias empobrecidas a situações de
vulnerabilidade e riscos pessoais e sociais.
O trabalho infanto-juvenil apresenta como determinantes principais a questão econômica e o precário
alcance das políticas públicas, O contexto familiar dessas crianças e adolescentes é composto por pais
desempregados e por políticas públicas que possuem um alcance limitado, sem garantias de seus direitos
sociais básicos, desenvolvem formas alternativas para obtenção de renda.

[...] pode-se concluir que principalmente os direitos das crianças e/ou adolescentes que
desempenham atividades, seja na cidade ou no campo, como forma de complementar parte
da renda familiar, e que muitas vezes encontram-se afastados das salas de aula e do lazer,
não são respeitados e iguais aos de tantas outras que possuem seus direitos garantidos. [14,
p. 126].

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A falta de garantias, através de políticas públicas, dos direitos sociais, econômicos, culturais,
políticos e civis às famílias e as crianças, a uma remuneração justa, à previdência social, entre outros, afetam
diretamente a população, que sem condições de subsistir e acabam desenvolvendo meios alternativos para
sobreviver, um deles expressa-se pela inserção das crianças e dos adolescentes no mercado de trabalho [14].
A partir das entrevistas, identificamos dados que evidenciam a situação social e econômica das
famílias, das seis famílias entrevistadas, cinco possuem a chefia familiar masculina, compostas por pai, mãe
e filhos e em alguns casos ocorria à presença de outro membro da família (sogra, avó, tia), destas cinco
apenas em um caso a mulher estava sozinha com os filhos, pois o esposo não a acompanhava. No que se
refere à renda familiar, percebemos que todos ganham mensalmente cerca de um a dois salários mínimos,
2
com exceção da família um. Neste caso, estamos nos referindo a uma família monoparental , cuja chefia
familiar é de responsabilidade da mulher.
A remuneração salarial das mulheres no Brasil, independente da situação econômica, “representam,
apenas uma pequena parte dos rendimentos obtidos pelos homens chefes de família.” [5, p.27]. No ano de
2000, o rendimento médio das mulheres responsáveis pela manutenção das suas famílias no Brasil era cerca
de R$ 591,00, valor correspondente a 4,3 salários mínimos daquele ano, em contraposição, os homens chefes
de família recebiam R$ 827,00, um total de seis salários mínimos, tem-se, portanto, uma diferença de 29,5%
entre a renda das mulheres e a dos homens [6].
No que se refere à realidade da família 01 entrevistada, temos que esta ganha e vive com menos de
3
um salário mínimo por mês, três vezes menos que no ano de 2000, onde a mulher chefe de família recebia
quatro salários mínimos, neste caso, a família é composta pela mãe e seus filhos, sozinha ela trabalha pelo
sustento de todos os seus seis filhos, contando apenas com a ajuda destes. Este dado empírico comprova que
a vulnerabilidade econômica é um aspecto real na vida das famílias das crianças e adolescentes que
trabalham na coleta de material reciclável. As crianças e adolescentes vitimizados pelo trabalho precoce são
oriundas de um núcleo familiar pobre, com elevado nível de privações, o que determina a utilização do
trabalho destas como estratégias de sobrevivência, visando assim garantir o acesso ao consumo.
Como já vimos à inserção precoce de crianças e adolescentes no desenvolvimento ilegal de
atividades laborativas, decorre da impossibilidade de suas famílias em garantir o sustento de seus membros,
frente uma situação de negligência do Estado, que não garante meios para que todos os indivíduos possam
sobreviver e garantir a sobrevivência dos seus. O trabalho das crianças e dos adolescentes, na coleta de
material reciclável em Ponta Grossa, portanto configura-se como uma estratégia de sobrevivência,
indispensável, na medida em que complementa a renda mensal e possibilita a manutenção das famílias.

“Eu não tenho trabalho fixo, a gente se vê obrigado a trazê-los” (pai - entrevista 3, grifo nosso).
“Por falta de um emprego, de outras oportunidades.” (pai - entrevista 4, grifo nosso).
“Porque é o único lugar que possui serviço[...]” (mãe – entrevista 5, grifo nosso).
“O trabalho deles faz diferença, na renda [...] e no final do mês”. (pai - entrevista 3, grifo nosso).

Pela falta de condições de subsistir são condicionadas ao trabalho e em virtude deste, possuem outros
direitos profanados, dentre eles, o direito à educação, ao lazer, à cultura, ao descanso e a saúde. Enfim, os
mínimos sociais garantidos pela Constituição Federal de 1988, regulamentados pela Lei Orgânica da
Assistência Social - Loas de 1993 para todos os cidadãos e normatizados pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente – ECA de 1990, não fazem parte da realidade dessas crianças e adolescentes.
No entanto o que está expresso na realidade das crianças e adolescentes vítimas do trabalho infanto-
juvenil em Ponta Grossa, é que nem os mínimos destinados à manutenção física dos indivíduos, nem os
voltados para a promoção da cidadania, estão sendo efetivados de fato. Além da falta de condições
financeiras das famílias, outro problema aparece contribuindo para a constante presença de crianças no
trabalho de coleta de materiais recicláveis, o precário alcance dos serviços públicos, pela falta de vagas nos
CMEI's. Problema expresso nas falas das mães

“Não posso deixar em casa, porque correm risco e não há vagas nas creches.” (mãe - entrevista 1,
grifo nosso).

2 Famílias formadas por um dos pais, organizados tanto pela vontade de assumir a maternidade ou paternidade
sem a participação do outro genitor, quanto por circunstâncias alheias à vontade humana, morte, separação, abandono.
[5].

3 Salário referente ao ano de 2009, onde o salário mínimo corresponde a R$ 465,00.

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“Não tem com quem deixar e não tem creche.” (mãe - entrevista 2, grifo nosso).
“Porque não tem vaga na creche.” (mãe - entrevista 5, grifo nosso).
Toda essa problemática caminha contrariamente ao que esta posto no ECA, que normatiza a proteção integral
às crianças e aos adolescentes e que alicerçado na doutrina do desenvolvimento integral, introduz uma nova
maneira de pensar a proteção, devendo esta, abranger aspectos sociais, políticos, econômicos, jurídicos,
educacionais e culturais, para que as crianças e os adolescentes não sejam vistos como demandatários de
ações que visem apenas garantir possibilidades de manutenção física, mas objetivem o desenvolvimento
pleno de sua cidadania [11]. Trata-se, portanto, da luta pela cidadania das crianças e adolescentes, através de
um sistema de garantia de direitos, que tem como norte o desenvolvimento integral das mesmas, através do
atendimento a todas as suas necessidades [11]. O cotidiano dessas crianças e desses adolescentes é marcado,
por inúmeras carências e privações, necessidades humanas que uma vez não atendidas trazem consequências
diretas no desenvolvimento das mesmas.

4. Conclusão
Historicamente, percebemos que os principais determinantes do trabalho infanto-juvenil, estão
relacionados à vulnerabilidade econômica das famílias, decorrentes das mudanças acarretadas pela
Revolução Industrial, principalmente no estilo de vida das famílias e no modo de produção trazido pela
mesma, que alterou toda a lógica do trabalho vigente até então. Outra questão que se apresenta como
determinante dessa expressão da questão social é o precário alcance das políticas públicas, que agravou-se
principalmente com a difusão das idéias neoliberais no Brasil. Em Ponta Grossa – Pr, a realidade do trabalho
infanto-juvenil, é permeada por esses dois determinantes, fato que foi evidenciado pelas narrativas dos
entrevistados. A vulnerabilidade econômica das famílias, a escassez de oferta de serviços oriundos das
políticas públicas do trabalho, educação e da assistência incapazes de atender toda a demanda de crianças e
adolescentes. A falta de garantia de direitos sociais, econômicos, culturais, políticos e civis, afetam
diretamente a população que sem condições de subsistir e sem as garantias de seus direitos desenvolvem
meios alternativos para sobreviver, porém em condições precárias e insalubres de trabalho.

Referências
[1] ALENCAR, Mônica, T. De A. Transformações econômicas e sociais no Brasil dos anos 1990 e
seu impacto no âmbito da família. In SALES, M. A.; MATOS, M. C. De; Leal M. C. (orgs.) Política
Social, Família e Juventude: Uma questão de direitos. Ed. Cortez, Rio de Janeiro, 2006;
[2] USCHINI, Cristina; SORJ, Bila. (Org.) Novos Olhares: mulheres e relações de gênero no Brasil. São
Paulo: Marco Zero. Fundação Carlos Chagas, 1994.
[3] CARVALHO, Maria C. B., Trabalho precoce: qualidade de vida, lazer, educação e cultura. Revista
Serviço Social e Sociedade. Ed. Cortez, nº55, ano 1997.
[4] COSTA, Lúcia C. (org.) Sociedade e Cidadania Desafios para o Século XXI. Ponta Grossa: Ed. Uepg,
2005.
[5] CRUZ, Ana T. Da. Mulheres Chefes de Família e suas Dificuldades ao Acesso a Moradia. Trabalho
de Conclusão do Curso de Serviço Social, Ponta Grossa, 2007.
[6] INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Dispõe sobre o trabalho infanto-
juvenil no Paraná, 2000. Disponível em www.ibge.com.br. Acessado em 23 de fevereiro de 2008.
[7] MOURA, E. B. B.; Infância Operária e Acidente de Trabalho em São Paulo; LIMA L. L. Da G. e
VENÂNCIO, P. R. O Abandono de Crianças Negras no Rio de Janeiro; MATTOSO, K. De Q. O
Filho da Escrava; MOTT L. Pedofilia e Pederastia no Brasil Antigo; in PRIORE, Mary Del (org.) A
História da criança no Brasil. Ed. Contexto, São Paulo, 1991.
[8] PLANO NACIONAL POR AMOSTRA DE DOMICILIO. Dispõe sobre dados do trabalho infanto-
juvenil no Brasil, 2006. Disponível em www.ibge.com.br. Acessado em 06 de abril de 2008.
[9] PLANO NACIONAL DE PREVENÇÃO E ERRADICAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL E
PROTEÇÃO AO TRABALHADOR ADOLESCENTE. Ministério do Trabalho e Emprego.
Secretaria de Inspeção do Trabalho, Brasília/DF, 2004;
[10] SILVA, Maria L. O., Adultização da Infância: o cotidiano das crianças trabalhadoras do mercado
Ver-o-peso, em Belém do Pará. Revista Serviço Social e Sociedade. Ed. Cortez, nº 69, ano 2002.
[11] SILVA, Maria L. De Oliveira e. O Estatuto da Criança e do Adolescente e o Código de
Menores: descontinuidades e continuidades. Revista Serviço Social e Sociedade. Ed. Cortez, São
Paulo, nº 83, 2005.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

[12] TEIXEIRA, Francisco J. OLIVEIRA, Manfredo Araújo de, (orgs) Neoliberalismo e reestruturação
produtiva – as novas determinações do mundo do trabalho. Ed. Cortez , São Paulo, 1996.
[13] THOMPSON, E. P. A Formação da Classe Operária. Ed. Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1987.
[14] WENDHAUSEN, Enimar J., Pensando os direitos humanos como formadores de capital social: O
trabalho infanto-juvenil na cultura de arroz no estado de Sergipe. Revista Serviço Social e Sociedade.
Ed. Cortez, nº 86, ano 2006.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

TRABALHO INFANTO JUVENIL NO TRÁFICO DE DROGAS: O PERFIL DOS


ADOLESCENTES ENVOLVIDOS NO TRÁFICO DE DROGAS NO MUNICÍPIO
DE PONTA GROSSA(PR) NO ANO DE 2009

Luana Deczka Barbosa1*;


Lenir Aparecida Mainardes da Silva²
1
Universidade Estadual de Ponta Grossa
² Universidade Estadual de Ponta Grossa
1. Introdução
O presente trabalho está fundamentado no projeto de iniciação científica, vinculado a linha de
Proteção Social e cidadania. A pesquisa visa discutir a necessidade de maior visibilidade à presença
de crianças e adolescentes no tráfico de drogas enquanto uma das piores formas de trabalho infantil.
O objetivo central nesta etapa de pesquisa foi realizar um perfil das crianças e adolescentes
envolvidas no tráfico de drogas no município de Ponta Grossa (PR), no ano de 2009.
O tráfico é uma atividade informal e ilegal que emprega grande número de jovens na sua
composição. Além de inseridos no trabalho infantil, a atividade no tráfico se apresenta como uma
das piores formas de trabalho infantil. Desde 2001 a Organização Internacional do Trabalho (OIT)
proíbe o trabalho de menores de 18 anos em atividades que se caracterizem como as piores formas
de trabalho infantil, ou seja, atividades que sejam perigosas, penosas, insalubres ou ilícitas, como é
o caso do tráfico de drogas. Segundo a Convenção 182 da Organização Internacional do Trabalho, a
expressão “piores formas de trabalho infantil” compreende:

a) todas as formas de escravidão ou práticas análogas à escravidão, como venda e tráfico


de crianças, sujeição por dívida, servidão, trabalho forçado ou compulsório, inclusive
recrutamento forçado ou compulsório de crianças para serem utilizadas em conflitos
armados;
b) utilização, demanda e oferta de criança para fins de prostituição, produção de material
pornográfico ou espetáculos pornográficos;
c) utilização, demanda e oferta de criança para atividades ilícitas, particularmente para
produção e tráfico de drogas conforme definidos nos tratados internacionais
pertinentes;
d) trabalhos que, por sua natureza ou circunstâncias em que são executadas, são
susceptíveis de prejudicar a saúde, a segurança e a moral da criança.

Para regulamentar a Convenção 182 no Brasil, foi aprovado o Decreto n° 6.481 de 12 de


junho de 2008. Este decreto aprova a Lista das Piores Formas de Trabalho Infantil no Brasil (Lista
TIP), e proíbe o trabalho de menores de 18 anos nas atividades descritas nesta lista.
Mesmo com a nova legislação, o trabalho no tráfico de drogas não é percebido como uma forma de
exploração da mão-de-obra infanto- juvenil, e as ações para o enfrentamento da questão são focadas
na punição do crime cometido, porém podemos observar que:

O tráfico, como uma indústria de drogas ilícitas, é uma forma de inserção ilegal destes
jovens no mundo do “trabalho”. Ainda mais, o desemprego estruturado acirrado pelo
processo de “globalização” dificulta o ingresso de jovens no mundo do trabalho legal. O
tráfico de drogas, como qualquer indústria, funciona sob a mesma lógica; desta forma os
“trabalhadores”, em todas as etapas de produção, são sacrificados, e passam idêntica
dominação e pelos sofrimentos advindos das condições sociais injustas reproduzidas na
sociedade (FEFFERMANN, 2006, p. 335).

A falta de ações que promovam a prevenção e proteção do trabalho infanto-juvenil dificulta


o enfrentamento da questão. Se tratando de um crime, as medidas de enfrentamento da problemática
do adolescente envolvido com o tráfico são focadas a medidas punitivas, são voltadas para o ato
infracional que estes jovens cometem. Chamadas de medidas sócioeducativas, estas medidas podem
ser a realização de tarefas pelos adolescentes dentro de instituições que não tenham por finalidade
lucro, ou até mesmo, em casos mais extremos a própria internação do indivíduo.

¹* Luana Deczka Barbosa: luanaddeczka@gmail.com


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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

2. Método
Para o alcance do objetivo proposto de traçar um perfil dos adolescentes envolvidos no tráfico de
drogas no Município de Ponta Grossa (PR), realizou-se o trabalho a partir dos processos da Delegacia do
Adolescente de Ponta Grossa Estado do Paraná.
No ano de 2009 a Delegacia deu abertura a 535 processos. Estes processos foram primeiramente
analisados a partir da Natureza da Infração, dado que consta na primeira página de cada processo. Foram
separados os processos em que na Natureza da Infração contasse: Porte de Drogas; Uso de Sustância
Entorpecente ou Psicotrópica e Tráfico de Drogas. Não se utilizou somente os processos que constavam na
Natureza da Infração Tráfico de Drogas devido ao fato de que somente no dia do julgamento é que realmente
será determinado pelo Juiz da Vara da Infância o ato infracional que o adolescente cometeu.
Após esta primeira seleção constatou-se que dos 535 processos, 59 eram por envolvimento de
adolescente com drogas. Estes 59 processos foram lidos e analisados chegando-se ao número de 29
processos que se caracterizavam por tráfico de drogas, e nestes 39 adolescentes estavam envolvidos.

3. Resultados e Discussão
Com relação aos processos, os dados colhidos apontam que a maior parte dos fatos, cerca de 33%
ocorreram no período da tarde, entre o meio dia e seis horas da tarde. A droga mais vendida foi o “crack”
aparecendo em 76,9% dos processos, seguido da venda conjunta com a maconha em 15,4% e a venda
da maconha separadamente apareceu em 7,7%. Nenhum outro tipo de droga apareceu nos processos
do ano de 2009, o baixo custo do crack e seu alto grau de dependência são fatores que indicam a
predominância desta droga nos processos. Segundo Fefferman (2006,p.74):

O crack surgiu no Brasil rm 1988, e em 1993 seu consumo tomou dimensões assustadoras.
O termo crack representa o ruído resultante da combustão quando a cocaína é aquecida com
água e bicarbonato de sódio, gerando “pedras”. [...] A velocidade com que se dá o efeito
pode ser um dos fatores responsáveis pelo alto grau de dependência. O crack surge como
um substituto das drogas injetáveis, por não ter risco comprovado de transmissão de HIV-
AIDS e ser mais barato que a cocaína.

Com a análise dos processos, foi possível observar que o lugar de maior incidência para pretensão
de venda da droga foi a Praça Barão do Rio Branco, localizado no centro da cidade de Ponta
Grossa, aparecendo em 30,8%, porém este dado não constava em 35,9 % dos processos.
Os dados dos adolescentes envolvidos apontaram que 77% deles são do sexo masculino e
23% do sexo feminino. Sobre o estado civil dos adolescentes 89,7% se declaravam solteiros. Sobre
a faixa etária dos adolescentes envolvidos, podemos verificar pelo gráfico:

Fig. 2 Gráfico da Idade dos Adolescentes

Os dados do I Seminário Nacional sobre as Piores Formas de Trabalho Infantil (2004)


afirmam que a média de idade de ingresso no tráfico de drogas no Brasil era de 15-16 anos em
1990, porém em 2000 essa média reduziu-se para 12-13 anos. Podemos observar pelo gráfico que
em Ponta Grossa 18% dos adolescentes envolvidos estão na faixa etária de 13-14 anos, porém a
grande maioria, 61%, são adolescentes na faixa de 16-17 anos, distando um pouco dos dados
nacionais.
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Grande parte dos adolescentes afirmam não estudarem, cerca de 51,3%, e o grau de
escolaridade se concentra no Ensino Fundamental Incompleto, com 46, 1%, porém em grande parte
dos processos está informação não constava (41 %). Os dados revelam também que 53,8% dos
adolescentes se declararam usuários de drogas. O “crack” aparece novamente, agora como sendo a
droga mais consumida pelos adolescentes, 52,4% dos usuários alegam utilizar a droga.

Fig. 3 Gráfico de Drogas utilizadas pelos Adolescentes que declaravam Usuários

Com este dado podemos identificar uma dificuldade em distinguir o usuário e o traficante de
crack, segundo Fefferman (2006,p.79): “[...] uma característica do tráfico do crack, em que
geralmente os pequenos traficantes, por serem usuários, utilizam parte do que deveriam vender,
criando um círculo vicioso, no qual parte do lucri é destinada ao consumo pessoal”.

4. Conclusão
Com primeira aproximação e análise dos dados foi possível perceber que há uma dificuldade
em determinar o ato infracional do adolescente, visto que há uma linha tênue entre a caracterização
de tráfico e porte de drogas, não há especificado em lei a quantidade se caracteriza o tráfico, isto é
determinado por vários fatores como a presença de dinheiro e objetos que indiquem o envolvimento
com o tráfico. Percebe-se também que muitos campos dos processos não são preenchidos com rigor,
deixando espaços em aberto, o que dificulta a análise dos dados. Os dados da pesquisa desvelam
ainda a necessidade de se acompanhar a tramitação dos processos, para conhecer o que de fato
aconteceu com estes adolescentes após a passagem pela delegacia.

Referências
BRASIL. Decreto Nº 6.481, de 12 de junho de 2008. Regulamenta os artigos 3o, alínea “d”, e 4o
da Convenção 182 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que trata da proibição das
piores formas de trabalho infantil e ação imediata para sua eliminação.
PARO, Denise. Adolescentes nas mãos do tráfico. Gazeta do Povo [online], Paraná 22 de
novembro de 2008. Disponível em:
<http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/vidaecidadania/conteudo.phtml?id=830563> acesso: 20 de
julho de 2009.
FEFFERMANN, Marisa. Vidas Arriscadas: O cotidiano dos jovens trabalhadores do tráfico.
Vozes, Rio de Janeiro, 2006.

I Seminário Nacional sobre as Piores Formas de Trabalho Infantil: Crianças no narcoplantio e


tráfico de drogas. Brasília, janeiro de 2004.

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UM PERFIL SÓCIO ECONÔMICO DOS ADOLESCENTES INSERIDOS NO


PROGRAMA NACIONAL DE INCLUSÃO DE JOVENS - PROJOVEM NO MUNICÍPIO
DE PONTA GROSSA-PR

Tammy Larissa Bodenberg Menezes Gomes1*;


Lenir Aparecida Mainardes da Silva2
1
Universidade Estadual de Ponta Grossa
2
Universidade Estadual de Ponta Grossa

1. Introdução
O presente trabalho de iniciação científica está vinculado à linha de pesquisa de Proteção Social e
Cidadania1. A pesquisa visa, a partir do perfil sócio-econômico dos adolescentes inseridos no Programa
Nacional de Inclusão de Jovens - Projovem em Ponta Grossa - PR. compreender o Projovem enquanto
política pública no município de Ponta Grossa – PR, bem como identificar as ações sócio educativas
desenvolvidas no âmbito deste programa. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –
IBGE (2004) a população brasileira conta com 34 milhões de jovens, onde 17 milhões deles não freqüentam
a escola, 11 milhões não concluíram o ensino médio e 1,2 milhões são analfabetos, em relação a gravidez na
adolescência, 7,3% das jovens no Brasil tem pelo menos um filho e após três anos de ter dado a luz 40 %
delas engravidam novamente [1]. Os dados mostram a vulnerabilidade que os jovens se inserem, ou seja,
risco frente ao desemprego, à precariedade do trabalho, à exclusão social, à situação de drogadição e a
precoce constituição familiar. A juventude ganhou maior destaque na década de 90, através de movimentos
juvenis, organismos internacionais, e gestores municipais que enfatizavam a singularidade da experiência
social desta geração de jovens, contudo, foi a fase da infância e adolescência que ganhou centralidade no
debate público ocorrendo mobilizações em torno do Estatuto da Criança e do Adolescente – lei nº 8.069,
portanto restrito a faixa etária de 0 a 18 anos. Aos jovens com idade superior a 18 anos, cabiam-lhes as
políticas públicas voltadas para a população em geral. A temática da juventude apresenta recente inclusão na
agenda política do Brasil e do mundo. Por motivos de ordem emergencial, as políticas públicas passaram a
incluir as questões relacionadas à juventude de forma mais consistente, uma vez que os jovens são os mais
atingidos pelas transformações no mundo do trabalho e pelas distintas formas de violência física e simbólica
que caracterizam o século XXI [2]. O Governo Federal passa a considerar a juventude como uma condição
social, e os jovens como sujeitos de direitos. A nova concepção de políticas públicas de juventude é norteada
por duas noções fundamentais: oferecer oportunidades e garantir direitos aos jovens para que possam
participar da construção da vida cidadã no Brasil. Dentre os diversos programas destinados à juventude, o
Programa Nacional de Inclusão de Jovens – Projovem criado pela lei 11.126 de junho de 2005, e
regulamentado pela lei 11.629 de junho de 2008, se apresenta como resposta á esta situação. Destina-se a
jovens de 15 a 29 anos, subdivididos a quatro modalidades: Projovem Urbano, Projovem Trabalhador,
Projovem Campo e Projovem Adolescente [3]. Neste trabalho delimitou-se o Projovem Adolescente, visto
ser o programa que está implantado no município de Ponta Grossa, o mesmo conta com um serviço sócio
educativo para jovens de 15 a17 anos que estejam freqüentando o ambiente escolar, sendo que esse é
entendido como sendo ações de cunho preventivo, que pressupõe um processo que possibilita ao sujeito se
conhecer como ser humano com potencialidades e possibilidades de desenvolvê-las mediante a apropriação
de informações e conhecimentos para a intervenção transformadora da realidade. Essas ações visam
assegurar a proteção social, a garantia de direitos, desenvolver o protagonismo juvenil, a autonomia e
cidadania; integrando esporte, cultura, trabalho, educação e saúde, que possuiu como meio norteador a
representação dos jovens com eles mesmos e com a sociedade.

2. Método
O município de Ponta Grossa, segundo dados do IBGE (2010) possui uma população estimada em
332.060 habitantes, contando com quatro Centros de Referência de Assistência Social – CRAS2 [4], sendo
*
Tammy Larissa Bodenberg Menezes Gomes: larissa_mgomes@hotmail.com
1
A linha de pesquisa possui como objetivo, fomentar a realização sistemática de pesquisas, a produção/publicação de
artigos científicos sobre os temas estudados, no âmbito da graduação e pós-graduação, a construção de um espaço
coletivo de investigação, reflexão, sistematização e produção de conhecimentos sobre a área da infância e adolescência,
bem como, de temas transversais às questões sociais que permeiam a realidade das famílias brasileiras.
2
Centro de Referência de Assistência Social é, segundo o Ministério de Desenvolvimento Social, uma unidade pública
estatal descentralizada da política de assistência social, responsável pela organização e oferta de serviços da proteção
social básica do Sistema Único de Assistência Social –SUAS nas áreas de vulnerabilidade e risco social dos municípios
e DF.
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

estes responsáveis pela gestão do Projovem. Para alcançar o objetivo de traçar um perfil sócio-econômico
dos jovens inseridos no Projovem no município de Ponta Grossa – PR , iniciamos aplicando questionários
nos três coletivos³ existentes no Centro de Referência de Assistência Social – CRAS 26 de outubro,
resultando em 61 jovens. A escolha do CRAS se deu pela maior abrangência do mesmo comparado aos
demais, atendendo a região mais vulnerável de Uvaranas. Segundo o cronograma fornecido pelo CRAS 26
de outubro, as atividades de cunho sócio educativo, planejadas para o decorrer deste ano estão
compreendidas em: apresentação artística, visitas em empresas que desenvolvam atividades de prevenção e
cuidados com o Meio Ambiente, tardes de oficinas de esporte e lazer, visitas em pontos turísticos, feira de
profissões, feira cultural e evento esportivo. Tem como base as orientações contidas nos oito cadernos do
Projovem Adolescente: Serviço Socioeducativo, utilizados como material de apoio.

3. Resultados e Discussão
Dos 61 jovens participantes do Programa foi possível observar que 51% são do sexo masculino e 49 %
do sexo feminino, o que nos permite afirmar que existe certa igualdade quanto a inserção de ambos os sexos
no Programa.
Gráf. 1 Idade dos Jovens.

De acordo com o gráfico 1, em relação a faixa etária embora o programa seja destinado à
adolescentes de 15 a17 anos, observa-se a presença de faixas etárias acima e abaixo da idade estipulada pelo
Programa. A predominância é na faixa etária dos 15 anos, onde neste campo 56% são do sexo feminino e
44% do sexo masculino. Observa-se que 3% possuem 13 anos, 12% possuem 14 anos, 44% possuem 15
anos, 20% possuem 16 anos, 16% possuem 17 anos, 3% possuem 18 anos e 2% possuem 30 anos.
Considerando o jovem como sujeito em desenvolvimento, o ciclo vital deste grupo apresenta demandas
diferenciadas. Neste sentido a Secretaria Nacional de Juventude, pontuada pelo IPEA, tem feito constantes
apelos para que os ministérios, no que se refere ao planejamento e execução das políticas públicas setoriais,
consideram as singularidades do público jovem, levando em conta suas estratificações etárias, de 15 a 17
anos, de 18 a 24 anos e de 25 a29 anos [5], visto que apenas tratar da juventude é muito amplo, requer
políticas setoriais direcionadas para cada faixa etária considerando a situação do jovem como um sujeito em
desenvolvimento, bem como reconhecendo que em cada em cada fase de desenvolvimento, seja da infância
ou juventude há necessidade que precisam ser consideradas seja, para o desenvolvimento físico, intelectual
ou afetivo.

Gráf.2 Estado Civil dos Jovens.

³ O coletivo é formado por um grupo de até 30 adolescentes correspondidos na faixa etária de 15 a 17 anos. O local
destes coletivos, geralmente são associações de moradores, e espaços cedidos pelas escolas da localidade.
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Os dados do gráfico 2, evidenciam que 90% delaram-se solteiros, 8% se declararam-se casados,


dentre estes três casos de 15 anos, um de 16 anos e um de 30 anos e 2 % se declararam vivendo em união
estável, dentre este um caso de 16 anos. Nos questionários não buscou-se comprovações cívis dos dados.
Existe uma significativa proporção de jovens que já constituiram a gestão de uma família, assuimindo
responsáblidades, de adulto ,o que ressalta ainda mais a desigualdade entre as responsabilidades a serem
assumidas na fase da joventude, uma vez que se apresenta demandas e necessidades diferentes.Esta
diferenças devem ser consideradas, na formatação das políticas públicas, de modo que os objetivos de
promover a garantir o bem-estar e a integraçãosocial dos jovens, sejam alcançados com equidade e
efetividade [5].

Gráf. 3 Escolaridade

De acordo com o gráfico 3 ,31% se declararam estar no Ensino Fundamental Incompleto, 11% no
Ensino Fundamental Completo, 56% no Ensino Médio Incompleto e 2% não estuda. Observa-se que este
ultimo dado refere-se a jovens na faixa de 30 anos e na faixa de 16 anos. A grande maioria ,ou seja 56%
deles se encontram inseridos na escolaridade que corresponde com a faixa etária predominante (15 a
17anos), contudo observa-se um pequeno porcentual 2%, de jovens que declararam não estar estudando,
contrariando requesito básico de inserção no programa.

Gráf. 4 Em relação a Atividade Laborativa

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Como observa-se no gráfico 4, que 61% deles declararam não desenvolver atividades laborativas e
39% declaram desenvolver algum tipo de atividade laborativa, dentre as apresentadas como opção nos
questionários, 34% são responsáveis pelos afazeres domésticos, em casa de vizinhos, parentes ou
conhecidos; 21% vendem mercadorias nas ruas; 7% ajudam na coleta demateriais reicláveis; 7% cuidam de
carros nas ruas; 7% trabalham em propriedade rural e 24% desenvolvem outro tipo de atividade não citada
no questionário. Todas atividades citadas apresentam algum tipo de desvantagem social, seja pela sua
natureza, seja pelo seu comprometimento físico ou emocional ou ainda pela falta da estabilidade. Os dados
nos fazem perceber que o jovem brasileiro hoje precisa, de um ambiente escolar que estimule o
desenvolvimento de suas habilidades, de modo a permitir sua inserção autônoma e com segurança nos vários
espaços da vida social – o trabalho, a vida comunitária, a cena política, a cidadania. Não basta apenas romper
o círculo vicioso entre inserções precárias, abandono da escola e desalento, que marcam a trajetória de parte
significativa deste segmento no mundo do trabalho; é necessário também promover condições que respeitem
as especificidades do trabalho juvenil, compatíveis com as outras dimensões relevantes desta e para esta
etapa de vida, com suas respectivas peculiaridades [5].

4. Conclusão
O programa é voltado para jovens de famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família, jovens
vinculados ou egressos de programas e serviços de proteção social e ainda jovens sob medidas de proteção
ou sócio-educativas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente. Portanto observa-se a partir dos
questionários, que os jovens inclusos no programa, são apenas de famílias beneficiárias do Programa Bolsa
Família, ou chegaram até o mesmo através de busca ativa nas escolas, a partir daí, fica claro a dificuldade
que o programa está encontrando de atingir todas as modalidades impostas na via de inclusão do programa.
Os dados evidenciam a necessidade de uma maior implantação de políticas públicas de atenção à Criança e
ao Adolescente, inclusive no que se refere à proteção ao trabalho e direito à profissionalização, visto que 39
% declararam exercer algum tipo de atividade laborativa. Existe uma grande dificuldade em se pensar
políticas públicas para a juventude, uma vez que não existe apenas uma faixa etária para este segmento, visto
que o Estatuto da Criança e do Adolescente define como adolescente, a faixa ateria de 15 a 18 anos de idade,
já o Plano Nacional da Juventude trabalha com a faixa etária de 15 a 29 anos, enquanto a UNESCO
considera de 16 a 25 anos.

Referências:

[1] IBGE; São Paulo, 2004. Disponível em:


http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/populacao_jovem_brasil/default.shtm. Acesso em 27
abril 2010.

[2] Guia de Políticas Públicas de Juventude. Brasília: Secretaria-Geral da Presidência da República, 2006.

[3] Cadernos Projovem Adolescente: Serviço Socioeducativo. 1. ed. Brasília: Ministério do


Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 2009.

[4] IBGE; São Paulo, 2010. Disponível em:


http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/estimativa2009/POP2009_DOU.pdf. Acesso em 29 de
junho de 2010.

[5] ANDRADE et al. Juventude e Políticas Sociais. Brasília : Ipea, 2009.

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A FOTOGRAMETRIA E A VRML1 COMO FORMAS VISUAIS DE PRESERVAÇÃO DAS


INFORMAÇÕES DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO

Lucas Figueiredo Baisch2


Universidade Federal de Santa Maria

Resumo
O presente artigo tem por objetivo apresentar a técnica da fotogrametria digital aplicada à
conservação de edificações consideradas patrimoniais. Através de fotografias de vários ângulos de uma
edificação é possível reconstruir ela no ambiente virtual, com possibilidade de interação com o objeto, na
linguagem de Virtual Reality Modeling Language (VRML).

1. Introdução
O presente artigo é uma parte da dissertação3 intitulada “Documentação e Visualização do
patrimônio arquitetônico no ambiente de web 2.0 com softwares livres”, desenvolvida pelo mesmo autor
deste artigo. Para melhor compreensão da proposta, faz-se necessário este contexto onde a técnica da
fotogrametria é trabalhada, uma vez que referida dissertação tem como objetivo discutir o problema da
preservação das informações do patrimônio arquitetônico. Para tanto, disserta-se sobre os campos da
arquivística, arquitetura, história, internet 2.0, redes sociais e da computação gráfica. Contextualizando
apenas no último, trabalhar com a representação gráfica significa se utilizar da técnica da fotogrametria como
o meio gráfico para se atingir o objetivo de salvaguardar as informações do patrimônio arquitetônico e terá
papel importante, pois vai ser o modo de visualização e interação entre homem-máquina. Portanto, o artigo
tem como objetivo a discussão de metodologia para a documentação e modelagem tridimensional de
patrimônio arquitetônico através da referida técnica e fornecer alguns caminhos para que a técnica não se
restrinja somente a ela mesma e ao universo da dissertação.

2. A fotogrametria
A fotogrametria é entendida como a ciência aplicada, a técnica e a arte de extrair de fotografias a
forma, as dimensões e a posição dos objetos nelas contidos (CERQUEIRA et al., 2003, p.2). Sua etimologia
grega ajuda compreender um pouco mais: photon = luz, graphos = descrição metron = medidas, ou seja, a
descrição de medidas através da luz (TOMMASELLI et al.,1999, p.1).
Sua aplicação na arquitetura é tão recente que ainda não existem obras bibliográficas sobre o assunto
e estão sendo estudadas e comparadas diversas técnicas, softwares e aplicações. A modelagem tridimensional
de edifícios históricos constitui um novo campo de conhecimento, que vêm atuando como uma importante
ferramenta para a representação do passado e do presente das cidades (CATTANI et al, 2008, p.1).
Na arquitetura patrimonial, a fotogrametria é utilizada como instrumento para recriação virtual em
duas e três dimensões do objeto estudado. Um dos recursos mais avançados para a criação de ambientes
virtuais interativos é a utilização da VRML (CERQUEIRA et al., 2003, p.7) com aplicações tanto em
personal computers quanto na internet. O modelo computacional gerado a partir da fotografia pode ser
documentado em escala, arquivado e publicado na internet independente do fim e dos formatos de arquivos e
softwares.

3. Resultados e Discussão
A modelagem tridimensional de edifícios, monumentos e espaços públicos de caráter histórico,
passíveis de preservação e tombamento é considerada um novo campo do conhecimento que interage entre
diversas áreas descritas acima. Como mostrado na Figura 1, a metodologia de um software que processa a
técnica de fotogrametria digital chamado PhotoModeler (WUTKE et al., 2005, p.2).
A técnica parte da tomada de no mínimo três registros fotográficos e no máximo quantas fotografias
for necessária para o melhor detalhamento da edificação. A partir dessas fotos, o software cria um sistema
cartesiano de pontos referenciados e é a partir destes pontos que é possível a medida e renderização do objeto
fotografado.

1
Virtual Reality Modeling Language, ou a tradução livre: Linguagem de Modelagem de Realidade Virtual
2
Autor Correspondente: lucas.baisch@gmail.com
3
Sob a orientação do prof. Dr. Daniel Flores, desenvolvida no Programa e Pós Graduação Profissionalizante
em Patrimônio Cultural da UFSM.
978
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Fig. 1 interface do software PhotoModeler Fig. 2: interface do plugin Cortona 3D


O Autor, 2010 O Autor, 2010

Avançando um pouco mais, fazendo a conexão web 2.0 com a fotogrametria, há mais possibilidades,
como a VRML, que é uma linguagem criada para oferecer um ambiente mais amigável na Internet. Incorpora
formas em 3D, cores e texturas e para produzir um “mundo virtual” onde o usuário pode andar e voar através
dele.Cerqueira. Para tanto é necessário a utilização de um plug-in em em qualquer browser. Um dos mais
utilizados é o Cortona 3D, com pode ser visto na figura 2. Nos botões abaixo do plugin se pode girar,
aproximar/afastar do objeto, entre outros comandos. Estes tipos de interações é uma característica da web 2.0
e necessária para que se tenha a atenção e interação do usuário.

4. Conclusão
Diante de um cenário preservacionista caótico, onde o patrimônio físico não é preservado, há, quem
sabe a alternativa menos desejada, mas necessária, que é a da preservação das informações referentes às
edificações. Em consonância com ao tempo e às facilidades de comunicação que temos, com uma ferramenta
poderosa, utiliza-se a internet como plataforma para a divulgação destas informações.
Como a web 2.0 é caracterizada pelo aperfeiçoamento da interação homem-máquina, com recursos
visuais mais elaborados que a web 1.0, é necessária se ter uma ferramenta para isso e a VRML é uma
alternativa que vem sendo utilizada e estudada há algum tempo. Para se produzir esta linguagem, a técnica da
fotogrametria é a alternativa mais rápida e fácil para se ter as informações visuais da edificação.

Referências
AMORIM, Dr.Arivaldo Leão de. DOCUMENTAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO DO
ESTADO DA BAHIA COM TECNOLOGIAS DIGITAIS. Seminário Computação gráfica: pesquisas e
projetos rumo à Educação Patrimonial, 2008. <http://www.
www.inf.ufpr.br/bsv05/simposio/pages/papers/arivaldo_leao_amorim.pdf>. Acesso em: 19 set. 2009.
CATTANI, Airton; ANTONIAZZI, Asdrubal; PEDONE, Jaqueline Viel Caberlon; STUMPP, Monika;
OSMAINSCHI, Ramon. CRIAÇÃO DE MODELOS VIRTUAIS PARA REGISTRO DO
PATRIMÔNIO HISTÓTICO: ESTUDO DE CASO COM SOFTWARES LIVRES. XIV Convención
Científica de Ingeniería y Arquitectura, Havana, 2008. <http://www.
cumincades.scix.net/data/works/att/sigradi2008_088.content.pdf>. Acesso em: 23 set. 2009.

CERQUEIRA, Rodrigo Wanderley de; SOUZA, Patrícia Paiva de; ARAÚJO, Rodrigo Lopes.
UTILIZAÇÃO DO SOFTWARE PHOTOMODELER NA CONSERVAÇÃO E RESTAURAÇÃO DE
MONUMENTOS. Ministério da Defesa, 2003. <http:// www.cartografia.org.br/xxi_cbc/106-F09.pdf>.
Acesso em: 19 set. 2009.

TOMMASELLI, Antonio Maria Garcia; SILVA, João Fernando Custódio da; HASEGAWA, Júlio Kyioshi;
GALO, Maurício; DAL POZ, Aluir Porfírio. FOTOGRAMETRIA: APLICAÇÕES A CURTA
DISTÂNCIA. Ministério da Defesa, 2003. <http:// www.cartografia.org.br/xxi_cbc/106-F09.pdf>. Acesso
em: 19 set. 2009.

WUTKE, Juliana Dias; FOSSE, Juliana Moulin; CENTENO, Jorge Antonio Silva. DOCUMENTAÇÃO E
MODELAGEM 3D DE PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO ATRAVÉS DO USO DE TÉCNICA DE
FOTOGRAMETRIA DE BAIXO CUSTO. IV Colóquio Brasileiro de Ciências Geodésicas, Curitiba,
2005. <http://www. people.ufpr.br/~centeno/publications/download/2005/36twutkefc.pdf>. Acesso em: 23
set. 2009.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO DO PEDAGOGO NO DESENVOLVIMENTO DO


PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM NAS ESCOLAS MUNICIPAIS DE
TELÊMACO BORBA

Renata Lopes da Silva1*; Gislaine Aparecida da Silva


Faculdade de Telêmaco Borba-FATEB

1. INTRODUÇÃO
Na contemporaneidade é possível analisar que a escola tem enfrentado grandes dificuldades para
desenvolver uma educação consistente, voltada para um enriquecimento humano pleno. Assim, o trabalho do
pedagogo se faz necessário e torna-se indispensável ao sistema de ensino, pois o mesmo atua em várias
instâncias da prática educativa. Desta forma, o presente trabalho que está sendo elaborado como parte
integrante do Trabalho de Conclusão de Curso no curso de Pedagogia na Faculdade de Telêmaco Borba-
FATEB, buscará resgatar o histórico do pedagogo em âmbito mundial, bem como tratará sobre a história do
pedagogo no Brasil, buscando compreender a importância deste profissional nas instituições escolares,
especificamente no município de Telêmaco Borba, no estado do Paraná.

2. MÉTODO

Ao longo desta pesquisa, temos feito um levantamento bibliográfico para revisitarmos as discussões já
realizadas em torno do profissional pedagogo. Uma análise crítica da produção bibliográfica já apresentada
possibilitando uma contribuição ao debate educacional. A produção bibliográfica levantada será
constantemente articulada com as mudanças no papel do estado, com as novas demandas educativas, com as
relações sociais que permeiam as definições escolares. Serão realizadas entrevistas com pedagogos e com
alunos, bem como uma análise documental das leis que vigoram para o curso em questão.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A história da humanidade está marcada por questões temporais, geográficas, biológicas e


cronológicas, onde cada etapa assume um papel fundamental em relação à compreensão da evolução do
homem e da pedagogia. Além disso, o pedagogo encontra, em cada esfera seu campo de atuação e a
aplicabilidade de seus conhecimentos, bem como a importância de seu papel enquanto agente mediador da
tomada de consciência social amplia-se na medida em que a sociedade evolui.
Dessa forma, por meio da reconstituição histórica da Pedagogia, pretende-se que, de alguma forma, conhecer
as diferentes sociedades e o que as mesmas refletem e propõem na educação. Segundo Libâneo (2000, p.
154) certamente a Pedagogia existe desde que houve necessidade de cuidar de crianças e de promover sua
inserção num contexto social.
Entende-se que apesar da pedagogia não ser institucionalizada, já era trabalhada em tempos remotos,
no período primitivo não existia educação na forma de escolas; o objetivo era ajustar a criança ao seu
ambiente físico e social, através da aquisição das experiências e os chefes de família eram os primeiros
professores e em seguida os sacerdotes.Com isso, nota-se que a educação acontecia de maneira não formal,
onde os conhecimentos somente eram repassados pela família e/ou pela igreja, não havia reflexão sobre os
assuntos.
Destacamos o período oriental, com o surgimento da escrita, a transição da sociedade primitiva para a
civilização, bem como o surgimento da cidade e do estado, e a educação era um meio de se manter a cultura
dominante. Assim como no período grego, considerado o berço da civilização, tendo como seus principais
representantes: Sócrates, Aristóteles e Platão, apresentando como princípio o desenvolvimento individual do
ser humano, a preparação para o desenvolvimento intelectual da personalidade e a cidadania, ideais pautados
na liberdade política e moral e no desenvolvimento intelectual.
Diante disso, percebe-se a educação já começa a se preocupar com o indivíduo, seu desenvolvimento
corporal, sendo um marco histórico a valorização da estrutura corporal. Neste contexto, o pedagogo era mero
acompanhante da criança, com o papel de controlar e estimular. No período romano, a educação dava ênfase
à formação moral e física como também o ideal de direitos e deveres. Nota-se um avanço quanto ao processo

1
* Professora Mestre em Educação; renata_lopesdasilva@hotmail.com
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

educativo do indivíduo, valorizando o papel do pedagogo e do mestre como responsável por uma educação
de qualidade, já que possuía maiores conhecimentos que os pais.
Durante o período medieval, o ponto de partida torna-se a doutrina da igreja católica, por meio de uma
educação conservadora, que fazia críticas a educação grega, considerada como liberal, e a educação romana
tida como fundamento à questão prática. Assim, nota-se que os modelos educativos e as práticas de
formação, surgiram por influencia do trabalho realizado pela igreja, onde a pedagogia se adequava as classes
sociais.
No Renascimento, ainda aqueles que detinham poder financeiro tinham “o privilégio” de estudar,
elegendo a razão como a principal forma pela qual o conhecimento seria alcançado, durante esse período
valorizava-se a matemática e as ciências da natureza, colaborando no desenvolvimento de novas técnicas de
proporção, bem como na pintura e escultura, buscando retratar a realidade, com o máximo de detalhes. De
acordo com Libâneo (2000, p. 154) a institucionalização da pedagogia ocorre com o início da modernidade,
por volta do século XVI. Assim, no século XVII, com uma grande transformação na sociedade, em relação a
família e a escola, se tornando centrais na formação dos indivíduos e na reprodução cultural, ideológica e
profissional. Neste período há ainda a separação entre a igreja católica e o Estado, com influencia da
consolidação da burguesia. Se destacam os pensadores: Pestalozzi, Herbat e Froebel.
Com esta forma de ensino, tem-se a valorização do ser, com suas características próprias, ensinando de
formas variadas, não um único conhecimento para as diversas idades, mas cada um com sua especificidade,
divididos por classes de idade, sempre utilizando uma disciplina constante e orgânica.
Libâneo (2000, p. 154) destaca que a pedagogia e toda a base do seu discurso teórico é fruto da modernidade,
achando-se ligada a acontecimentos cruciais como a Reforma, o Iluminismo, a Revolução Francesa, a
Industrialização e as idéias como a natureza humana universal, a autonomia do sujeito, a educabilidade
humana, a emancipação humana pela razão. E ainda afirma que “pertence ao século XVIII o
desenvolvimento da educação pública estatal, a educação para a cidadania, para a nacionalidade, a adoção do
princípio da educação universal, gratuita e obrigatória, a organização das escolas em torno da primazia da
razão universal que une os pensadores e indivíduos e dos povos”.
Há um grande avanço quanto ao acesso aos bancos escolares, pois até então, somente a elite tinha o
privilegio de adquirir conhecimentos historicamente acumulados. Para Libâneo (2000, p. 157) o século XIX
se distingue por mergulhar a teoria educacional mais a fundo na modernidade, inaugurando a cientificidade
da Pedagogia. O olhar sobre a pedagogia passa a ser reconhecida como um saber mais elaborado, recebendo
a influencia de Herbart, onde o saber se relaciona com a Filosofia e torna-se um saber cientifico, como
conhecimento metódico, sistematizado e unificado. Conforme Libâneo (2000, p. 157) Herbart dá um
importante passo na cimentação teórica da Pedagogia quando a institui sobre dois pilares: a Ética e a
Psicologia.
A ética envolve questões sobre os fins de toda a educação, que é o fim do supremo é a formação da
vontade por meio da instrução, já a psicologia propicia os meios da educação. Entretanto, no século XX,
Dewey faz críticas as ideias de Herbart, como ressalta Libâneo (2000, p. 157) para Dewey a idéia de
educação pela instrução é a formação do espírito por meio da matéria apresentada do exterior. Entretanto ele
próprio não deixa de preservar a herança iluminista. Assim, apesar de Dewey não aceitar as propostas de
Herbart, ele mesmo não conseguia se libertar totalmente, mas traz contribuições na medida em que destaca
que a escola, é tanto expressão da sociedade, e pode fazer com que a sociedade seja diferente, mais justa.
Segundo Libâneo (2000, p. 159) Paiva afirma que nos últimos dez anos, surge no meio acadêmico e
político uma versão nova e mais sofisticada da economia da educação, ao mesmo tempo que refluem as
análises sociológicas e políticas. Com isso, a educação assume um papel fundamental diante das mudanças
ocorridas na base produtiva, e com os efeitos da informatização, flexibilidade do processo produtivo,
reorganização do trabalho, precarização do emprego, alterações na composição do mercado de trabalho,
requalificação profissional, a educação necessita se adequar tendo que melhorar a qualificação do
trabalhador e valorização da escola.

4. CONCLUSÃO

Dessa forma, entende-se que a escola jamais é neutra, demonstrando sua ideologia por meio da
atuação dos professores, na maioria das vezes, a escola reproduz o processo tradicionalista onde as pessoas
das classes subordinadas devem ser submissas e obedientes, enquanto que as dominantes aprendem a
controlar e comandar. Isso ocorre de maneira natural, com a utilização de instrumentos seletivos, que
excluem os alunos menos favorecidos antes mesmo de atingirem os níveis onde aprenderiam as habilidades
dos dominantes.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Na análise de Saviani sobre as tendências pedagógicas e seus principais representantes é possível


notar que para Althusser, a escola contribui para a reprodução da sociedade capitalista ao transmitir através
das disciplinas, as ideologias que levam o indivíduo a ver os arranjos sociais existentes como bons e
desejáveis. Entretanto, Samuel Bowles e Herbert Gentis, estabelecem conexão entre a escola e produção.
Eles enfatizaram a aprendizagem por meio das relações sociais escolares, das atitudes para se qualificar
como um trabalhador subordinado ou como de alto nível das ocupações profissionais. Samuel Bowles e
Herbert Gentis, o funcionamento escolar contribui para esse processo, pois espelha as relações sociais
trabalhistas.
Diante deste contexto, as escolas destinadas aos trabalhadores subordinados acabam trabalhando
com base nas relações de receber ordens e obedecer. Por outro lado, as escolas destinadas a elite favorecem
as atitudes de comando e autonomia. Já, para Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron, a dinâmica da
representação social centra-se no de processo de reprodução cultural. É através da divulgação dos saberes
acadêmicos que a reprodução mais ampla da sociedade fica garantida e, tendo valor social, faz com que o
sujeito obtenha vantagens materiais se constituem como capital cultural.
Tanto a teoria da reprodução como das teorias críticas da sociedade, dando suporte teórico para se
fazer a crítica da educação do capitalismo e, particularmente, da concepção neopositivista de ciência e seus
reflexos na educação. Parte dos educadores que aderem a esse movimento também resiste fortemente à
existência de uma ciência pedagógica. Segundo alguns representantes dessas teorias, a pedagogia seria na
sociedade de classes o próprio modo de ser da ideologia dominante, já que a educação escolar atuaria como
reprodutora dos antagonismos de classes sociais. A teoria pedagógica é, então, esvaziada para dar lugar a
uma teoria sócio-política da educação. Essa orientação como bem lembra Libâneo, passa a nutrir boa parte
de produção dos intelectuais da área, principalmente filósofos e sociólogos da educação, que se dispuseram a
contribuir na formulação de propostas para os currículos de formação de educadores.
Por volta da década de 1980 algumas Faculdades de Educação, por influência de pesquisa, debates em
encontros e indicações do movimento nacional pela formação do educador, suspenderam ou suprimiram as
habilitações convencionas (Administração escolar, orientação escolar, supervisão escolar), para investir num
currículo centrado na formação de professores para as séries iniciais do ensino fundamental e do curso de
magistério. De acordo com Pimenta, a justificativa mais comum para essa medida foi e tem sido o
entendimento de que o parecer CFE 252/9, ao instituir as habilitações, estaria reproduzindo a ideologia
implícita na reforma universitária de 68, ou seja, estaria introduzindo na escola uma divisão do trabalho e o
controle segundo o modelo da administração capitalista, levando a fragmentação da pratica pedagógica.
A ideia seria de formar um novo professor capacitado inclusive para exercer função de direção,
supervisão etc. Por outro lado, há instituições de ensino superior que mantém o curso de pedagogia com as
características do parecer CFE 252/69, enquanto outras gostariam de fazer reformulações para retomar a
formação do pedagogo strictu sensu ou reconsideração dos tipos de habilitações. Em outras, ainda se
discutem a conveniência de se atribuir ao curso de pedagogia à tarefa especifica de formação do professor
para séries iniciais do ensino fundamental em nível superior.
Pode-se deduzir, entretanto, com base em alguns poucos estudos sobre inovações das instituições e
cursos de pedagogia, que o saldo dessas iniciativas é modesto, enquanto persistam problemas crônicos tais
como interminável questionamento da identidade da pedagogia e as ambigüidades quanto à natureza do
curso, sempre refletidos nos documentos legais. De acordo com Pimenta a ideia subjacente a essas
formulações é de que o referido fenômeno educativo é um relevante aspecto social. Ou seja, é um fato da
vida individual que pode ser descrito, explicado e até mesmo compreendido entre os demais aspectos.
O princípio de que a pedagogia, enquanto teoria da educação, tem uma importância incontestável na
orientação da prática educativa, está presente na argumentação de Libâneo de que a Pedagogia é a teoria, a
reflexão, sobre esse aspecto da realidade em suas relações com outros aspectos. Constitui-se, pois, com
campo de investigação específico cuja fonte é a própria prática educativa e os aportes teóricos providos pelas
demais ciências da educação e cuja tarefa é a compreensão, global e intencionalmente dirigida, dos
problemas educativos.
Contudo, segundo o referencial teórico que está sendo analisado, concluímos que a constituição
teórica da Pedagogia está marcada por momentos de complexidade e precariedade, onde é necessário que a
pedagogia seja considerada um campo do conhecimento que atua sobre e na educação, como meio facilitador
de interpretação e intervenção dos processos educativos que ocorrem na escola. Dessa forma, apesar de
muitas controvérsias em relação à manutenção ou extinção do curso, bem como da pertinência ou não de um
campo de estudo próprio, não havendo realmente uma área especifica de atuação do pedagogo, há muitos
estudos que ampliam o saber epistemológico enquanto campo de conhecimento, com o objeto de estudo
sendo a educação, para que por meio do aprimoramento da prática educativa, a escola tenha condições de

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

cumprir sua função transformadora e idealizadora dos conhecimentos científicos, com o intuito de formar
alunos críticos e participativos na sociedade.

REFERÊNCIAS

LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e Pedagogos para quê? São Paulo: Ed.Cortez, 2002.

PIMENTA, Selma Guarrido, Pedagogia, Ciência da Educação? Ed.Cortez, 2001.

ROMANELLI, O. de O.. História da educação no Brasil. 12. ed. Petrópolis: Vozes, 1990.

SAVIANI, Demerval, Sentido da Pedagogia e papel do Pedagogo, ANDE/ Revista da Associação Nacional
de Educação.nº 09,1985.

________. Escola e democracia. 30. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 1995.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

A LINGUAGEM DO LIXO NO ESPAÇO DA EDUCAÇÃO AMBEINTAL


ESCOLAR COMO CONSTRUTORA DO SENTIDO DE PERTENCER E HABITAR

Rosane Kohl Brustolin1*

Universidade de Caxias do Sul – UCS

1. Introdução
Diversos projetos relacionados à educação ambiental têm sido trabalhados nas escolas,
inclusive na forma de propostas interdisciplinares. Embora de incontestável importância, questiona-
se sua pertinência, enquanto possibilidades de estudo teóricos ou como práticas vivenciais
cotidianas, dada a pouca ressonância que, segundo se avalia, eles têm tido sobre as atitudes
concretas dos alunos em direção a uma consciência ambiental.
Questiona-se, então, as relações cognitivas entre a linguagem em educação ambiental, da forma
como trata a questão do lixo no espaço escolar, e o aprender o sentido de pertencer e habitar. Originado de
observações da pesquisadora, enquanto professora de ensino fundamental em Matemática e atuante em
educação ambiental (EA), esse problema delimita-se na questão do lixo por se tratar de elemento
fundamental nessa educação e constituir objeto de contradição entre as propostas de trabalho dos educadores
e as atitudes dos alunos, observadas pela ausência de compromisso e responsabilidade. Assim, seu objetivo
geral é construir conexões entre a forma como a linguagem em EA trata a questão do lixo e a cognição do
sentido de pertencer e habitar no aluno, verificando como a objetividade-sem-parênteses [6], presente na
linguagem dos educadores como elemento reificante [11], coordena ações de não pertencimento nos alunos
no tratamento do lixo. Observe-se que reificar significa tratar um sistema como se ele tivesse existência em
si mesmo. É fazer afirmações sobre os sistemas, mantendo-se numa postura objetivista de objetividade sem
parênteses, caminho explicativo no qual o observador não se pergunta pela origem de suas habilidades
cognitivas e as aceita como propriedades constitutivas suas [6]. A reificação constroi uma referência estática
do homem, de tudo que se vive e das relações sociais.
A crise ambiental que o Planeta atravessa perpassa os espaços de convivência humanos. A pesquisa
justifica-se, portanto, na necessidade de uma EA para o conviver, para o pertencer e para a responsabilidade
com a vida, aspectos preconizados na educação para a sustentabilidade, ecopedagogia [1]. Também os
Parâmetros Curriculares Nacionais contextualizam a EA na perspectiva sistêmica da interdependência dos
elementos que constituem a vida. Em termos de educação, evidencia-se a necessidade do trabalho
relacionado aos princípios da dignidade do ser humano, da co-responsabilidade com o meio ambiente, da
solidariedade e da equidade. Recomendam, como objetivo fundamental, que o aluno perceba-se integrante,
dependente e agente transformador do ambiente, identificando seus elementos e as interações entre eles,
contribuindo ativamente para a melhoria do meio ambiente [9].
O tema da pesquisa se contextualiza a partir do pensar humano desde a modernidade, que fundamenta
uma epistemologia própria dos saberes ambientais. Justifica-se essa linha de raciocínio dada a especificidade
sistêmica do problema: a questão do manejo do lixo no espaço escolar insere-se na EA; essa, por sua vez,
contextualiza-se numa sociedade historicamente construída no fazer e pensar humanos. Então, pensar o
contexto espaço-temporal no qual o problema do tratamento do lixo no espaço escolar emerge, pressupõe
pensar o contexto paradigmático, no sentido do caminhar histórico humano desde a modernidade, e
epistemológico, no sentido da construção do saber ambiental.

2. Método

1
rosanebrustolin@yahoo.com.br

*este resumo é um recorte do projeto de dissertação de Mestrado do Programa de Mestrado da Universidade de


Caxias do Sul, RS, orientado pela professora doutora Eliana Maria do Sacramento Soares.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

A presente proposta metodológica tem como princípio norteador construir possibilidades de


referenciar as conexões entre a linguagem do educador de EA e o fazer dos educandos ao lidarem com o lixo
no espaço escolar.
Dado o quadro teórico proposto para dialogar com o problema de pesquisa, propomos aplicar a
abordagem metodológica da escuta sensível em grupos focais. A pesquisa será realizada com alunos e
professores das séries iniciais e finais de diversas escolas da rede municipal de ensino fundamental de
Farroupilha (RS).
Após a realização dos grupos focais e a transcrição dos dados, procederemos à sua análise.
Referenciaremo-nos em dois conceitos-chave que se interrelacionam: o conceito de reificar [10,11] e o
conceito de objetividade sem parênteses[5-7] ambos a serem compreendidos a partir do paradigma do
pensamento sistêmico [11]. Eles serão os eixos de decodificação da linguagem dos educadores em EA, com
relação ao lixo no espaço escolar: como a linguagem dos educadores constrói nos alunos o sentido de habitar
[3] quando se percebe que suas atitudes contradizem o que é falado em EA nessas escolas.

3. Resultados e Discussão
Nos espaços da EA escolar até aqui observados constatam-se diversas atividades: coleta seletiva de
resíduos, estudos das mudanças que se verificam no planeta, cultivo de hortas, plantio de árvores. Contudo,
aquela que mais envolve os sujeitos é a relação vivencial do lixo no espaço escolar, seja pelo processo
educativo que o caracteriza no sentido conscientizador, seja pelo aspecto comercial da venda de material
reciclado, fato frequente nas escolas da rede municipal de ensino de Farroupilha. Diante dos estudos até aqui
realizados, verificam-se contradições entre o fazer pedagógico dos educadores e as atitudes decorrentes dos
alunos: eles demonstram pouco compromisso com a questão, como se não fizessem parte do lugar onde
vivem seu cotidiano escolar, como se não o habitassem. É possível que, nesse aspecto, se encontre,
justamente, a reificação na linguagem dos educadores, ao usarem termos referenciados no senso comum em
detrimento dos conceitos técnicos. Questiona-se, assim, até que ponto a passagem do senso comum até o
termo técnico possa prejudicar a EA com relação ao manejo do lixo.
Para Heidegger [3], habitar é salvar a Terra. Considera que salvar é deixar algo livre em seu
próprio vigor, deixar ser. É mais do que esgotá-la ou explorá-la. Traz, assim, uma aproximação com
o sentido ecológico do cuidado e da preservação, quando afirma que, possuí-la ou a ela se submeter,
pode ser um passo para a exploração ilimitada [3]. No sentido heideggeriano, para habitar, é preciso
que o aluno se vincule à sua realidade, conhecendo-a e interagindo em seu meio, rompendo com a
fragmentação pela visão sistêmica do meio-ambiente. É no processo de conhecer que o sujeito se modifica e
constrói a realidade.
A forma de explicar a realidade delimitada pelo paradigma cartesiano caracteriza-se pela
fragmentação, não contextualização e pela não inclusão do observador nos caminhos explicativos.
Denominada por Maturana [6] de caminho explicativo da realidade de objetividade sem parênteses,
através dela o observador age como se aquilo que afirma a respeito de um fenômeno ou objeto fosse
válido em função de sua referência independente desse objeto ou fenômeno, por ser a realidade, por
ser objetivo, por haver dados, medições externas ao observador que comprovem suas afirmações.
Então, o observador não se pergunta pela origem de suas habilidades cognitivas e as aceita como
suas propriedades constitutivas. Atua como se o que distingue existisse antes de sua distinção,
validando, assim, sua explicação. Sendo independente do agir do observador, toda verdade objetiva
é universal e válida para qualquer observador.
A lógica linear do conhecimento como objeto dado a priori, possível de ser transmitido por
um professor e assimilado pelos alunos, opõem-se à circularidade proposta pelo paradigma
sistêmico, da relação contextual de todos os fenômenos e da rede holística que constitui a vida no
Planeta. Consideramos que, construir o saber ambiental no sentido de um real acoplamento [6] do
educando com a realidade, poderá se constituir no conhecer vivencial, na pertinência, onde o sujeito
do conhecimento emerge junto com seu conhecer [8]. Para Maturana [8] viver é conhecer e
conhecer é viver.
A escola, habitualmente, trata apenas do aprender em processos formais. No entanto, a
abordagem teórica que propomos permite construir o saber ambiental na perspectiva sistêmica
ampla, que inclui o viver, o ser e o conhecer a partir do pertencimento, com aspectos conectados ao
acoplamento do educando ao seu espaço, na responsabilidade de participar da construção de um

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

futuro viável para sua espécie, para o Planeta e para a vida como um todo. Aí, a linguagem surge
como meio no qual esse acoplamento vai se dar, no conversar, ao constituir coordenações de
conduta nas quais o emocionar surge como aspecto da convivência [6]. A aprendizagem ocorre num
processo de transformação da realidade na convivência.
Os resultados obtidos serão avaliados, portanto, à luz da Biologia da Cognição de Maturana,
relacionando-os com a EA no aspecto amplo de educar para um futuro sustentável, como processo de viver
as relações da construção desse conhecimento com as práticas educativas. Na sua dimensão de autonomia,
cada ser humano é autor de seu próprio processo. Entretanto, são as relações que fazem o humano em seu
espaço vivencial e temporal. Enquanto ambiente relacional, o meio educacional constrói e facilita relações,
quando permite a cada sujeito viver sua autoria como ser, através de ambientes solidários, cooperativos,
construtivos.
O saber ambiental redimensiona, assim, os princípios epistemológicos da ciência moderna, rompe com
a dicotomia sujeito-objeto e, inserindo o sujeito no meio como co-construtor de sua realidade cotidiana no
verdadeiro sentido de pertencer, reapropria-se do conhecimento a partir de ser e estar no mundo, pelo saber
de cada indivíduo e de cada cultura [4].
Para Grün [2], é impossível desenvolver a EA no esquema tradicional da epistemologia
moderna que preserva a dicotomia sujeito/objeto. Nesse contexto, buscar o novo através de uma
nova visão de mundo, ir além da crise pela consciência de transformar, revolucionar e mudar
configuram o aporte de uma EA que possibilite a participação dos sujeitos na co-construção da
realidade.
Assim, espera-se que a metodologia da escuta sensível em grupos focais seja adequada para verificar a
hipótese que norteia a presente pesquisa: ao reificarem as falas, usando a objetividade sem parênteses, a
linguagem dos educadores, no contexto da EA, não permite que os alunos aprendam o sentido de pertencer e
habitar, pois não os perturba cognitivamente e, assim, não modifica seu comportamento com relação ao
tratamento do lixo no espaço escolar.

4. Conclusão
Dado o momento em que o projeto se encontra, e diante do que se espera descobrir ao longo da
pesquisa, consideramos que o aluno aprende o meio ambiente na relação vivencial do cotidiano escolar, no
acoplamento com seu meio. Segundo Unger (2001): “a experiência de estar no mundo, de morar, é a
experiência do entrar em relação com a alteridade, com o sagrado; é a relação com a terra, com os outros,
consigo, com o todo” [10].
Educar para a sustentabilidade potencializa o sentido de pertencer e habitar, no sentido de fazer parte,
encontrar em algum lugar o seu lugar, enfim, estar no aqui e no agora, habitando e morando. Então, pertencer
exige certa maneira de viver, dentro de compromissos de vida com o todo ao qual se pertence e do qual se
faz parte. Assim, educar para um futuro sustentável, através de propostas pedagógicas interdisciplinares em
EA que priorizem o estudo da relação do aluno com seu lugar, pode se constituir, portanto, numa mudança
de paradigma educacional: da educação fragmentada para a interdisciplinaridade na construção do
entendimento do contexto vivencial e da perturbação cognitiva do aluno, o que levará a um despertar da
consciência e redundará em ações efetivas de responsabilidade para com a preservação da vida sobre o
Planeta.

REFERÊNCIAS:

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GRÜN, Mauro. Ética e educação ambiental: a conexão necessária. Campinas, São Paulo: Papirus, 1996.

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Campinas, São Paulo: Papirus, 2002.

987
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

A MONITORIA COMO AUXÍLIO AO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM: UM


ESTUDO DE CASO NO CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS NA UNIVERSIDADE
FEDERAL DE SANTA CATARINA

Gabriela Cristina Pereira Nickel1*; Vladimir Arthur Fey, MSc.1; João Paulo de Oliveira Nunes, MSc.1; Maria
Denize Henrique Casagrande, Dra.1
1
Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC

1. Introdução
Vive-se num momento histórico, onde o processo de globalização acelera a busca pelo conhecimento e
o acesso a informações. Dentro desse contexto, o conhecimento aparece como o elemento principal para a
garantia de maior cidadania e também se torna elemento central diante das mudanças apresentadas pela
revolução tecnológica do último século [5].
Em meio a uma era de constantes mudanças, a necessidade de adquirir cada vez mais conhecimento
torna-se evidente. Sendo a educação uma das maneiras de se adquirir conhecimento, é possível perceber uma
correlação entre os dois. A educação pode ser considerada como uma das chaves para o sucesso profissional.
Na realidade, segundo Paulo Freire [4], a educação não seria necessária se o homem fosse um ser acabado. O
ser humano encontra-se num processo de busca constante, o que o faz descobrir-se como um ser inacabado.
Esta é, portanto a raiz da educação. Em todo processo de ensino, embora exista o papel do educador e
educando, na prática professores e alunos aprendem. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina
ao aprender. Não é possível desligar a docência da discência, visto que ambas se explicam [3].
Visto que, em muitos casos, o tempo das aulas não é suficiente para tirar dúvidas de todos os alunos,
bem como para resolver em detalhes alguns exercícios, foram criadas as atividades de monitoria. A Lei n.º
5.540, de 28.11.1968 [1], a qual, dentre outras coisas, fixa as normas de organização e funcionamento do
ensino superior, determina em seu artigo 41 que: “As universidades deverão criar as funções de monitor para
alunos do curso de graduação que se submeterem a provas específicas, nas quais demonstram capacidade de
desempenho em atividades técnico-didáticas de determinada disciplina”. Assim, a partir dessa Lei, foi criada
dentro das universidades, a atividade de monitoria, com o objetivo principal de instigar no aluno o desejo de
ingressar e seguir a carreira docente, bem como auxiliar os alunos com dúvidas.
Na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o programa de monitoria foi regulamentado em
1993, com a Resolução do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE) n.º 019, de 22 de Abril de 1993
[2]. Nesse programa, os alunos selecionados para serem monitores têm a oportunidade de atuar junto ao
professor, com o objetivo de auxiliá-lo nas suas atividades. Além disso, os monitores têm a possibilidade de
ampliar seu conhecimento na disciplina que monitoram e descobrir suas aptidões e habilidades na área do
ensino. Assim, a fim de investigar se a monitoria vem atingindo seus objetivos, formulou-se o seguinte
problema de pesquisa: Como a monitoria tem contribuído e auxiliado para o processo de ensino-
aprendizagem dos alunos do curso de Ciências Contábeis da Universidade Federal de Santa Catarina?
Portanto, o objetivo geral desse trabalho é analisar como a atividade de monitoria tem auxiliado na
aprendizagem dos seus usuários, bem como contribuído para agregar conhecimento e experiência aos alunos
que atuam como monitores.

2. Método
Para se chegar aos resultados pretendidos, foram aplicados questionários para dois grupos de pessoas.
Primeiramente, foram aplicados questionários para os alunos que atuaram como monitores durante o período
de 2004 a 2008. Depois, foram aplicados os questionários aos alunos que já utilizaram a monitoria em sua
trajetória acadêmica, e que atualmente estão cursando as disciplinas das fases concludentes do curso, sendo a
oitava fase, no período diurno, e a décima fase, no período noturno, tendo em vista que estes podiam
apresentar uma opinião sobre as necessidades da monitoria, que puderam ser percebidas ao longo do curso.
Para o cálculo da amostra, primeiramente foi obtida a população total. Fez-se um levantamento dos
alunos matriculados nas disciplinas pertencentes a oitava fase, do período diurno, e a 10ª, do período
noturno, a partir das listas de aproveitamento das respectivas disciplinas. Constatou-se uma população total
de cento e onze alunos. Obteve-se o valor da amostra a partir do SestatNet [6]. O cálculo da amostra
considerou 95% de probabilidade, e um erro amostral de 8%. Foi considerada uma estimativa a priori de
50%. Com isso, o valor obtido de amostra ideal foi de aproximadamente sessenta e quatro pessoas.
Quanto aos monitores, obteve-se junto ao CCN (Curso de Ciências Contábeis) a relação dos alunos
que atuaram como monitores durante o período. Considerando que muitos atuaram como monitores por mais

*
Autor Correspondente: gabi_pereira2406@hotmail.com
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

de um semestre, obteve-se um total de trinta e cinco alunos diferentes que atuaram como monitores entre
2004 e 2008. Os questionários direcionados aos monitores foram aplicados através do envio de email, devido
à dificuldade encontrada em conseguir contatá-los pessoalmente. Os endereços eletrônicos desses alunos
foram obtidos junto a Secretaria do CSE (Centro Sócio-Econômico), e o questionário foi enviado a todos
eles. Quanto aos questionários aplicados aos alunos, estes foram feitos pessoalmente.
Aos alunos, o questionário aplicado compunha-se de 10 questões, sendo que destas, 8 são de
múltipla escolha, e 2 são abertas. A resposta do aluno a primeira questão determinava quais questões deviam
ser respondidas em seguida. Para os alunos que responderam „Sim‟ a primeira questão, as questões a serem
respondidas eram as de 3 a 10. Para os alunos que responderam „Não‟, deveriam em seguida responder
apenas as questões 2, 8, 9, e 10.
O questionário aplicado aos monitores também é composto por 10 questões, sendo que destas, 9 são
de múltipla escolha. Nas 7 primeiras questões de múltipla escolha, acrescentou-se um espaço para descrever
ocorrências que por ora não estivessem expressas nas alternativas apresentadas. Nas 2 questões seguintes, foi
deixado um espaço para justificar uma resposta negativa. A última questão é aberta, abrindo espaço para o
monitor expressar sugestões ou críticas sobre a monitoria. Durante o período pesquisado, 35 alunos
diferentes atuaram como monitores. Destes, 21 (vinte e um) responderam ao e-mail. Após a obtenção das
respostas, deu-se início à análise dos questionários.
A fim de verificar se a monitoria atingiu o objetivo proposto, de instigar nos alunos o desejo pela
carreira docente, antes de responderem às 10 questões do questionário, perguntou-se qual a profissão atual,
caso o aluno não seja mais monitor. Percebeu-se que, dos 21 alunos pesquisados, 3 ainda atuam como
monitores, 3 são professores universitários, 2 assistentes financeiros, 4 tutores do ensino à distância, 1 é
bolsista da UFSC, 3 são bancários, 1 não está trabalhando no momento e 4 não responderam. Com isso,
embora não se possam fazer generalizações, é possível perceber que, dentre os alunos que responderam,
apenas 7 dos alunos que já atuaram como monitores, não exercem mais atividades relacionadas ao ensino.
Neste resumo não são apresentados os resultados referentes a cada uma das perguntas respondidas
pelos alunos e monitores. A análise completa está sendo submetida a congressos de Ciências Contábeis e
áreas afins, em forma de artigo científico. Contudo, a discussão a respeito dos resultados mais relevantes
obtidos com a pesquisa é realizada no tópico seguinte.

3. Resultados e Discussão
Após a análise feita dos questionários aplicados aos monitores e aos alunos, foi possível perceber que,
embora existam aspectos a serem melhorados, a monitoria tem contribuído para o processo de ensino-
aprendizagem dos alunos do curso de CCN, da UFSC. Conforme observado, os alunos e os monitores
pesquisados concordam que a monitoria é importante para auxiliar no aprendizado dos alunos. Dos que
utilizaram a monitoria, 92,31% vêem-na como importante e necessária para seu aprendizado. Entre os
monitores pesquisados, 63,64% acreditam que a monitoria contribui verdadeiramente para que o aluno
aprenda melhor o conteúdo lecionado pelo professor.
No que tange aos períodos do semestre em que a monitoria era mais procurada, 59,09% dos monitores
disseram ser nos períodos antecedentes as provas, enquanto que 38,46% dos alunos, afirmaram procurar mais
a monitoria ao final do semestre. No entanto, embora pareça haver divergências de opiniões, na realidade não
há, pois é ao final do semestre que são realizadas as últimas provas do semestre, bem como as provas de
recuperação.
Quanto à dificuldade encontrada por 48% dos monitores pesquisados em sanar as dúvidas dos alunos,
tal fato concorda com uma das sugestões dadas pelos alunos, onde 3,28% recomendaram que os monitores
tenham um conhecimento mais aprofundado da matéria que monitoram. Já em relação aos horários em que a
monitoria é oferecida, dentre os monitores, 25,71% disseram que esse é um dos aspectos que necessitam de
melhoria. Dos alunos que utilizaram a monitoria, 11,76% sugeriu a colocação de mais horários. E entre os
que não utilizaram, 29,51% solicitaram a existência de mais horários da monitoria, principalmente para os
alunos que estudam no período noturno.

4. Conclusão
Com a realização dessa pesquisa, foi possível verificar que a monitoria tem contribuído para o
processo de ensino-aprendizagem dos alunos que a utilizam. Embora poucos dos alunos pesquisados tenham
utilizado a monitoria, ainda assim a pesquisa permite concluir que a atividade de monitoria auxilia no
aprendizado dos alunos. Além disso, tal atividade tem contribuído para a formação acadêmica dos alunos que
atuam como monitores, agregando-lhes novos conhecimentos e experiências, bem como despertando neles o
desejo pela carreira docente, atingindo o objetivo para o qual a monitoria foi criada nas universidades.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Embora apenas alguns alunos tenham ingressado na carreira docente após atuarem como monitores, a
monitoria lhes proporciona uma amostra da atividade docente.
A partir da aplicação dos questionários aos alunos e monitores, foi possível detectar os aspectos em
que a atividade de monitoria necessita ser aprimorada. Para os alunos, estes aspectos envolvem a pouca
disponibilidade de horários, especialmente para os alunos que trabalham e estudam a noite; a necessidade de
um local adequado para a realização da mesma, maior divulgação da monitoria, aprofundamento do
conhecimento dos monitores, bem como suporte online. Já para os monitores, há a necessidade de
disponibilizar material didático adequado, não haver desvios de função dos monitores, oferecer monitoria
para mais disciplinas, além de um maior incentivo da parte dos professores aos alunos para que utilizem a
monitoria.
Ao observar que 80% dos alunos pesquisados não utilizaram a monitoria durante sua vida acadêmica,
é possível perceber a necessidade de haver alterações na forma como é realizada a atividade de monitoria.
Uma das sugestões apresentadas pelos alunos e monitores é a realização de exercícios extras, auxiliando os
alunos no melhor entendimento e aplicação da matéria, visando incentivá-los a procurarem mais os
monitores. No entanto, ainda assim a monitoria tem como um de seus pontos fortes, o fato de trazer
verdadeiras contribuições para a aprendizagem dos alunos, sendo caracterizada pelos alunos que a utilizam
como sendo de boa qualidade. Em relação aos monitores, a monitoria tem contribuído no sentido de agregar
novos conhecimentos e experiências.

Referências
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funcionamento do ensino superior e sua articulação com a escola média, e dá outras providências. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L5540.htm. Acesso em 26 de março de 2009.
[2] CEPE – Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão. Resolução nº 019, de 22 de abril de 1993. Disponível
em: <http://www.reitoria.ufsc.br/estagio/legislacao/RESOLUCAO%20N%2019%20CEPE%2093.doc>.
Acesso em: 20 de fev. de 2009.
[3] FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 37 ed. São Paulo: Paz e
Terra, 2008.
[4] FREIRE, P. Educação e mudança. 10. Ed, 79p. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.
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BEZERRA, M. J. S. Iniciação científica: uma metodologia de avaliação. Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio
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[6] SESTATNET. Ensino-Aprendizagem de Estatística na Web. Disponível em: http://www.sestatnet.ufsc.br/
index.php. Acesso em: 05 de março de 2009.

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1
A PESSOA IDOSA E SEU CONTEXTO: UM ESTUDO SOBRE A SITUAÇÃO DO IDOSO
NA CIDADE DE CRICIÚMA-SC

Diego Destro1; Silvana de Souza Policarpi; Teresinha Maria Gonçalves


Universidade do Extremo Sul Catarinense

1-INTRODUÇÃO

No mundo, em 2050, segundo IBGE (2000), 1/5 da população será de idosos. O crescimento dessa
população, em números absolutos e relativos, é um fenômeno mundial está ocorrendo a nível sem
precedentes. As projeções indicam que, em 2050 a população idosa será de 1.900 milhões de pessoas,
montante equivalente à população infantil de 0 á 14 anos de idade. Uma das explicações para esse fenômeno
é o aumento, verificado desde de 1950, de 19 anos na esperança de vida ao nascer em todo mundo. E,
segundo as projeções o número de pessoas com 100 anos ou mais aumentará quinze vezes, passando de 145
mil pessoas em 1999 passando para 2,2 milhões em 2050. Os centenários, no Brasil somavam 13.865 em
1981 e, já em 2000 chegam a 24.576 pessoas, ou seja, um aumento de 77%. São Paulo, segundo IBGE 2000,
tem o maior numero de pessoas com 100 anos ou mais (4.457), seguido pela Bahia (2.808), Minas Gerais
(2.765) e Rio de Janeiro (2.029).
No Brasil, 62,4% dos idosos são responsáveis pelos domicílios. É importante destacar que no
conjunto de domicílios brasileiros (44.795,101), 8.964,850 tinham idosos como responsáveis do contingente
total. No Brasil, uma pessoa é considerada idosa com 60 anos ou mais. Destaca-se ainda que a idade média
do idoso responsável pelo domicilio, em 2000, estava em torno de 69,4 anos, segundo IBGE (2000).
Em nosso estado, segundo a I Conferência Estadual dos Direitos da Pessoa Idosa do Estado de Santa
Catarina (2006) existem atualmente 500 mil idosos. Esse dado traz ao estado o desafio de enfrentar não
apenas o aumento da população idosa, nos próximos anos, como também o aumento da longevidade desta
população, sendo necessário e urgente que as políticas públicas se estruturem para garantir os seus direitos de
cidadania. O Brasil tem o desafio de garantir políticas públicas para idosos, segundo CAMACHO (s/d) essa
é a grande questão que se coloca para o nosso país uma vez que, segundo essa autora, a população idosa no
ano de 2020 aumentará de 15%.
Na região Carbonífera de Santa Catarina, segundo IBGE (2000), a população de idosos é de 24.662.
Essa mesma população em Criciúma, segundo essa fonte, é de 11.351. Sabemos que hoje (2010) essa
população é muito maior, trabalhamos com os dados de 2000 porque é o ano que está disponível no IBGE.
O projeto de lei de número 57 de 2003 e de nº 3.581 de 1997 da Câmara Federal e o parecer nº 1301
de 2003 do Senado Federal criam e promulgam o Estatuto do Idoso. Com 114 artigos estabelece os direitos
da pessoa idosa com 60 anos ou mais e a filosofia das políticas públicas para essa população. O artigo 3º
diz:” É obrigação da família,da comunidade, da sociedade e do poder público assegurar ao idoso, com
absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte,
ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e
comunitária.
Reconhecemos que é um grande avanço. No entanto é um instrumento. Para implementá-lo são
necessárias política públicas articuladas com todas as áreas da sociedade. Cabe as universidades um papel
fundamental na produção de pesquisas, programas publicações e formação de profissionais qualificados.
A questão do idoso em nosso país traz subjacente uma preocupação com políticas públicas
realmente efetivas. As direcionadas a outras faixas etárias como crianças, adolescentes e adultos, nas várias
esferas: saúde, educação, transporte, lazer, trabalho, habitação deixam muito a desejar. Hoje quando se fala
em idoso normalmente se pensa no idoso doente. Nos últimos anos desta década tem-se falado em um
profissional chamado cuidador de idoso. Percebemos que esse profissional é visto como um cuidador de um
doente.
Este Projeto de Pesquisa se propôs a discutir a questão da pessoa idosa, numa perspectiva
interdisciplinar vendo o idoso não só com limitações mas, também, com possibilidades. Acreditamos que
muitas pessoas, hoje, se aposentam com potencial de trabalho e experiência para levar uma vida digna e
saudável aos 80, 90 ou 100 anos. É neste foco que contextualizamos nossa discussão. A sociedade brasileira
de maneira geral, segundo OLIVEIRA E PANTAROLO (2009), desestimula a participação da pessoa idosa
nos processos socioeconômicos e culturais de produção, decisão e integração social. O processo desordenado
1
diegodestro@terra.com.br

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2
de desenvolvimento da sociedade de consumo gera problemas sociais graves e afeta sensivelmente a velhice.
Damergian (2001) traz essa preocupação ao destacar a grande a desigualdade social no Brasil e a ineficiência
das políticas publica de modo geral.
Como interromper um projeto de vida só porque a pessoa fez 60 anos ou se aposentou?
A autonomia de uma pessoa refere-se à capacidade de tomar decisões por si, e a independência
representa a capacidade da pessoa executar tarefas ou atividades sem o auxílio de outras pessoas. A pessoa
idosa tem possibilidades, mas também tem limitações e carece de cuidados para prevenir danos e promover
uma boa qualidade de vida. Barros (2000) apresenta uma tese de uma arquitetura para a terceira idade
falando de casa segura para promover a autonomia de locomoção.
Gonçalves (2002) ao pesquisar o espaço urbano pergunta se as cidades estão preparadas para receber
e proporcionar uma vida saudável para a população idosa. E vai mais além, propõe que a Psicologia
Ambiental e a Arquitetura façam uma parceria no sentido de criar espaços de moradia, convivência, lazer e
trabalho. Não basta pensar que a residência destinada ao idoso deve atender somente as normas exigidas pela
ABNT, que diz que banheiros devem conter barras de segurança e piso ante derrapante de modo que tal
usuário possa ter segurança física e autonomia. Mas é este o único local onde deverá ter autonomia? Sabendo
que a casa é o elo de ligação com a rua. Em que rua andará nosso idoso? São espaços de segurança e prazer
como afirma Jacobs? Por onde caminhará para manter uma vida saudável? Com quem conversará enquanto
sua família estiver ocupada com seus afazeres. E os que estão sozinhos conviverão com quem? Arquitetura
está ligada com o projeto de vida da pessoa na medida que sua função é criar espacialidades.
Quando falamos em espacialidades estamos nos referindo ao espaço das habitações e seu entorno, ao
espaço da cidade, aos espaços públicos. Quando falamos de idosos não nos remetemos somente à população
pobre, mas a todos dos diversos segmentos sociais. O projeto de vida de uma senhora agricultora ou dona de
casa certamente será diferente de um projeto de vida de uma professora ou de uma executiva aposentada, por
exemplo. Mas todos precisam de espaços de convívios, espaços democráticos onde as pessoas dos diversos
segmentos sociais possam conviver. Elali (1997) fala de suas experiências como arquiteta integrada com a
Psicologia Ambiental na promoção de políticas públicas de produção do espaço urbano com a preocupação
de que as espacialidades sejam fatores de qualidade de vida. Gonçalves, Destro e Souza,(2009) no estudo
das calçadas como espaços públicos também trabalham essa perspectiva.
Também é um fato que muitas pessoas deixam para fazer o que realmente gostam depois da
aposentadoria. Mas de que o elas gostam? Como vive o idoso pobre e o idoso de classe média? No Brasil? E
em Criciúma? Pergunta de difícil resposta porque não temos pesquisas sobre estes assuntos. Algumas coisas
importantes estão sendo feitas, como por exemplo, no estatuto do idoso.

2-MÉTODO

Esta pesquisa se caracteriza na modalidade qualitativa e o método utilizado foi a história de vida.
Como o próprio nome diz, é o estudo da vida de determinado sujeito ou grupo. É um método apropriado
e muito utilizado nas Ciências Sociais. Segundo Queiroz (1988), a história de vida encerra um conjunto de
depoimentos e, embora tenha sido o pesquisador a formular o tema, é o narrador que decide o que narrar. A
autora vê, na história de vida, uma ferramenta valiosa justamente porque se coloca no ponto no qual cruzam
vida individual e contexto social
Quem são estas pessoas? Como vivem? Qual seu projeto de vida? Por outro lado perguntamos às áreas
envolvidas nesse projeto: Arquitetura e Psicologia: quais contribuições que poderão dar para a formulação e
implementação de políticas publicam que considerem a pessoa idosa como produtiva e aptas para dar sua
contribuição social? Também perguntamos que contribuições darão essas pessoas com limitações físicas,
emocionais e sociais? Que poderá fazer por elas a Arquitetura e Psicologia?
2.1-Definição da amostra de pesquisa:A amostra da pesquisa foi composta por 10 sujeitos E três
categorias:
-05 sujeitos residentes em casas asilares
-03 sujeitos que freqüentam habitualmente praças e outros espaços públicos
-02 sujeitos que residem sozinhos em suas casas
Os critérios utilizados para a escolha dos sujeitos foi aleatório.

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3
O tamanho da amostra seguiu o critério da pesquisa qualitativa cuja representatividade não se dá
somente por critérios estatísticos mas pelo rigor metodológico e o aprofundamento da análise.
Os dados foram coletados por meio de entrevistas semi-estruturadas,visitas domiciliares, observação
sistemática e levantamento fotográfico para verificação do contexto espacial do idoso.

3. RESULTADO E DISCUSSÃO

Todos os idosos asilares relataram que possuíam casas e apartamentos onde moravam mas, como
precisam de cuidados os filhos, contra a vontade deles, os internaram no asilo. Experimentam sentimentos de
abandono e solidão e desejam voltar para casa. Verbalizaram que a vida no asilo é como se estivessem num
presídio. Ficam trancados o tempo todo. Só saem quando algum familiar os vem buscar, o que é muito raro.
Quanto aos idosos que moram sozinhos foi percebido uma situação de autonomia no sentido de
administrarem suas vidas:cuidam da casa, vão ao mercado, recebem amigos, familiares, deslocam-se pela
cidade usufruindo dos benefícios sociais que é concedido ao idoso como não pagamento de passagem de
ônibus, não enfrentar filas e outros...
Quanto aos idosos freqüentadores de espaços públicos foi observado que vão a esses espaços, na maioria
das vezes, para levar os netos à praça. Não foi percebido uma intenção de usufruírem daquele espaço para
benefício próprio. Na cidade de Criciúma há, na Praça Congresso e no Paço Municipal, academias ao ar
livre para os idosos fazerem exercícios e conviverem entre si. Estes não aceitaram dar entrevistas. Observa-
se algumas distorções como: pequeno número de idosos as freqüentam, somente os que moram no entorno.
Também foi observado a ausência de profissionais para orientá-los no uso dos aparelhos. Dessa forma se
conclui que as políticas sociais para a pessoa idosa devem prever ações para viabilizar a participação
facilitando o acesso.

4. CONCLUSÃO
O Estatuto do Idoso é uma grande conquista. No entanto é preciso garantir os direitos nele assinalados.
As políticas públicas devem caminhar no sentido de buscar soluções para que os idosos tenham uma vida
digna, condição esta, que em nossos levantamentos a campo não foi observada. Nos asilos, o total
abandono por parte de familiares e a falta de infra-estrutura desses abrigos. Os que moram sozinhos, a
solidão na maioria do tempo. O Estatuto do Idoso diz que é direito da pessoa idosa ter acesso a atividades
culturais, sociais, físicas, mentais e emocionais entendendo que uma liga a outra pois, o ser humano é único
em sua essência e não um ser fragmentado. Deve ser visto em todo seu contexto, contemplando o social,
físico e o mental. A condição apresentada das casas asilares é muito similar a um hospital, cercado de
paredes frias e sem vida, tornando-os sem identidade e dificultando uma relação afetiva entre o asilado e o
espaço externo em que está inserido. Essa constatação já havia sido feita por Jerônimo (2005) em sua
pesquisas sobre asilos.
Quando aos espaços públicos da cidade, nos deparamos com situações de desprezo com o idoso, desde
questões de acessibilidade e caminhabilidade e lugares de convívio nesses espaços. Concluímos que a
cidade não está preparada para receber esse contingente de pessoas idosas que as estimativas apontam. As
espacialidades para essa população desde a casa e seu entorno, as possibilidades de convívio social que os
deixassem menos dependentes de suas famílias até espaços públicos como calçadas, praças, parques e locais
de encontro devem ser pensadas, programadas e viabilizadas.

5. REFERÊNCIAS:

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OLIVEIRA, R.C. e PANTAROLO,R.S. Políticas Públicas e o Gestor da Educação na Universidade para


a Terceira Idade,Curitiba, IX Congresso Nacional de Educação- EDUCARE, 2009.

QUEIROZ, M.I. (1988) Relatos orais: do “indizível” ao “dizível”. In: VON SIMSON (org.) Experimentos
com Histórias de Vida: Itália-Brasil. São Paulo: Vértice.

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ANÁLISE DA APLICAÇÃO DO SOFTWARE SEPIADES PARA UM ACERVO


FOTOGRÁFICO

Rogério Rocha Ferreira*


1
Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução
Este trabalho propõe a aplicação do software SEPIADES (Safeguarding European Photographic
Images for Access Data Element Set) no acervo fotográfico do Avenida Tênis Clube (ATC) visando a
instrumentalização de um mecanismo de busca e acondicionamento apropriado para as fotografias digitais e
analógicas do acervo fotográfico do ATC.
Com a utilização de procedimentos técnicos, a pesquisa de estudo de caso foi utilizada, pois envolveu
o estudo profundo e exaustivo de objetos como fotografias e o software SEPIADES, permitindo o seu amplo
e detalhado conhecimento.
Isso exigiu uma revisão de conceitos e teorias arquivísticas, o entendimento da entidade, sua história,
estrutura e funcionamento, assim como, compreender o funcionamento do software, seus pontos positivos e
negativos, dos quais pode-se citar: (a) pontos positivos: open source (software livre), facilidade de se
observar a hierarquia, descrição multivível, diversidade dos campos para descrição, interface gráfica de fácil
compreensão pelo usuário final e gravação dos dados automaticamente; (b) pontos negativos: data e hora do
registro dos dados, campo status (aprovado ou não aprovado), OAI (Open Archives Initiative) encontra-se
em fase experimental, search (busca), imagem física (imagem thumbnail) de difícil visualização para
detalhes da fotografia e ausência da opção de impressão.

2. Metodologia Desenvolvimento de uma coleção fotográfica no Software SEPIADES


A busca por informações torna-se enfraquecida quando não se tem consciência da necessidade de
métodos de pesquisa e de uma ordem a ser seguida. A realização deste trabalho exigiu a utilização de alguns
meios para o levantamento de dados necessários.
Primeiramente, foi realizada a revisão bibliográfica em livros, materiais didáticos e trabalhos
desenvolvidos anteriormente por outros acadêmicos, o que auxiliou a fundamentação teórica deste trabalho.
Após esta etapa, partiu-se para o conhecimento do universo institucional, história e atividades ali
desenvolvidas, através da consulta a documentos da própria instituição e na observação direta do cotidiano
da mesma.
Com a utilização de procedimentos técnicos, a pesquisa de estudo de caso foi utilizada, pois envolveu
o estudo profundo e exaustivo de objetos como fotografias e o software SEPIADES, permitindo o seu amplo
e detalhado conhecimento.
Do ponto de vista da sua natureza, foi utilizada uma pesquisa aplicada, que objetivou gerar
conhecimentos práticos dirigidos à solução de problemas específicos, envolvendo verdades e interesses
locais.
Com a pesquisa qualitativa, os dados foram indutivamente analisados, sendo a abordagem do
problema a inexistência de um instrumento de busca e acondicionamento apropriado para as fotografias
digitais do acervo fotográfico do ATC.
A coleta de informações se deu com observação direta, mais especificamente no que diz respeito à
coleção fotográfica. Também foram obtidas informações sobre as necessidades e dificuldades quanto a
coleção, através de conversas e questionamentos informais com os funcionários da administração e
principalmente de relações públicas.
As conversas e respostas aos questionamentos informais, assim como a observação direta no acervo
fotográfico, permitiram analisar a situação em que se encontra a coleção e propor, a partir de então, a melhor
solução para ela, que no caso é a utilização de um software.

3. Desenvolvimento de uma coleção fotográfica no Software SEPIADES


O software SEPIADES possui funções de descrição multinível (árvore hierárquica); armazenamento
de registros em formato XML (eXtensible Markup Language); função de exportação de acordo com o
recomendado pelo mapeamento no relatório consultivo; implementação do Open Archives Initiative Protocol
for Metadata Harvesting (OAI-PMH), permitindo que os usuários possam compartilhar seus dados com
outras pessoas com o mínimo esforço e Open Source (código aberto – software livre) programados na
linguagem de programação Java e utilizando Java Runtime Environment (JRE) para sua execução, significa

*
Email: rogeomatico@yahoo.com.br
995
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que pode ser executado em GNU/Linux, MS Windows ou qualquer outro sistema operacional que possua a
JRE, permitindo a integração flexível com pacotes de softwares descritivos existentes.
A árvore hierárquica é uma das principais funções do SEPIADES, onde possui vários níveis. O nível
mais elevado dessa hierarquia é o instituto, com informações básicas como endereço, país e uma breve
descrição do instituto da coleção(s) devem ser incluídas neste nível. Essas informações podem ser relevantes,
por exemplo, se as informações são trocadas com outros institutos. Um instituto possui um ou mais
conjuntos (coleção, grupo, item).
O próximo nível é o da coleção, que é um grupo de objetos que foram reunidas por um indivíduo ou
organização. Cada coleção é constituída por uma ou mais agrupamentos, que é o próximo nível, o
agrupamento é um agregado de imagens físicas que poderia ser uma subdivisão de uma coleção ou de outro
agrupamento.
Cada coleção ou agrupamento é constituída por um ou mais itens (que são únicos), que será o último nível.
A seguir, é apresentado, passo-a-passo, a inserção dos dados no software SEPIADES.
Para todos os níveis, exceto para o nível instituto, há três abas, que representam as divisões:
1. Administração – elementos administrativos como: catalogador, data de entrada, etc.;
2. Proveniência – elementos sobre a história e antecedentes do instituto, aquisição, imagem física e imagem
visual;
3. Material – elementos sobre o conteúdo de forma física e do material.
A primeira etapa consiste em clicar em “add” para que seja possível colocar o nome da instituição
(Avenida Tênis Clube)
O programa apresenta uma tela para que seja possível colocar as informações referentes à instituição
conforme a norma ISO 8601 para o preenchimento dos dados.
O próximo passo será o nível da aquisição, onde seleciona-se a aba “acquisition” e, após, clica-se em “add”
(Departamento Administrativo).
Na próxima tela, deve-se informar os dados sobre a aquisição (Departamento Administrativo)
conforme a ISO 8601. Selecionando “Hierarchy”, clica-se em “add” e, na caixa, seleciona-se a aquisição e
“ok”.
Na próxima tela, será pedido o nome da coleção (Histórico) que será o nível de série/subsérie.
Na próxima tela, deve-se informar os dados sobre a coleção (Histórico) conforme a ISO 8601. Para
adicionar o nível do grupo|dossiê, primeiro deve-se selecionar o nível da coleção (Histórico dos ex-
presidentes), clicar em “add” e somente então aparecerá uma janela com as opções “grouping” e
“acquisition”. Foi selecionado “grouping” e o a opção “ok” (figura 1).
O próximo passo será dar nome ao grupo|dossiê (Galeria dos ex-presidentes) na janela que será
mostrada.
Depois de inserido o grupo|dossiê (Galeria dos ex-presidentes), deve-se selecioná-lo na janela, para
inserção dos dados referentes a ele.
Após a inserção dos dados, deve-se selecionar o grupo|dossiê (Galeria dos ex-presidentes), clicar em
“add” e somente então aparecerá uma janela com as opções “grouping” e “visual image”. Seleciona-se
“visual image” e a opção “ok”. Esta opção vai inserir na hierarquia o item documental (figura 1).
Depois de selecionado “visual image” na janela anterior, esta opção aparecerá na árvore de
hierarquia da próxima janela como “view images”. Selecionando-a aparecerá ao lado opções para inserção de
dados referentes a ela.
Depois de inserido os dados da “visual image”, deve-se clicar em “add” na parte inferior da janela
abaixo de “physical images” para que sejam colocados os dados da imagem física (figura 1).
Depois de inseridos os dados da “visual image” e da “physical images”, deve-se clicar em “upload
thumbnail” no canto inferior direito da janela. Então, através da janela que irá aparecer, seleciona-se a
imagem que pertence às informações e clica-se em “open” para adicionar a imagem. Com a imagem
selecionada então ela aparecerá no canto inferior direito da janela.
Para retornar a “visual image” basta clicar no ícone com as informações de descrição da imagem, no
canto inferior direito da janela. Se acaso deseje ir para “physical image”, basta selecionar o nome da
imagem.
Para consulta, basta selecionar a aba “search” e no campo que aparecerá digitar o que deseja
pesquisar. Para compartilhamento, há a opção OAI (Open Archives Initiative), que permite compartilhar
dados com outras pessoas com o mínimo esforço. Deve-se selecionar a aba “OAI” e “start server”.
Para ajuda, seleciona-se a aba “help” e as informações (em inglês) serão disponibilizadas abaixo.
Para uma ajuda mais específica basta clicar na opção desejada que automaticamente apareça uma janela com
informações (em inglês) sobre o item selecionado.

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4. Conclusão
Para um bom entendimento da situação da organização em que se encontra a instituição foi necessário
compreender o seu funcionamento, sua história, estrutura, funções e atividades desenvolvidas. Isso se deu
através do levantamento de dados em documentos administrativos, estatutos, regulamentos e no site do
clube. Entender uma instituição é tentar inserir-se o máximo possível nas suas rotinas e observar o seu
funcionamento, é fazer parte dela em todos os seus setores para analisar e não julgar a sua situação e
necessidades.
Com a observação e estudo do acervo, constatou-se que a utilização das fotografias se dá com mais
freqüência na realização de relatórios e clippings feitos pelos departamentos, principalmente pelo
departamento de divulgação e eventos e pelo departamento de esportes. O setor de relações públicas busca
assiduamente por fotografias para serem divulgadas em seus informativos ou em suas promoções de
divulgação dos eventos mais diversos possíveis.
Como o acervo é muito grande, com aproximadamente sete mil fotografias dos mais variados
tamanhos, além de negativos e slides, foi necessário que se delimitasse uma coleção para que a pesquisa
fosse realizada.
A coleção com melhores condições de acesso e com maior necessidade de tratamento foi a coleção dos
ex-presidentes que, conforme a organização da instituição, está inserida no Departamento Administrativo,
Série Organização e Funcionamento junto a Coleção dos ex-presidentes.
Através de pesquisa em atas pode-se constatar lacunas na relação dos ex-presidentes do ATC. Dos
quarenta e nove presidentes encontrados na verificação das atas, trinta e oito fazem parte da galeria dos ex-
presidentes, sendo que desses onze restantes, dez não havia fotografias na galeria e um no momento da
pesquisa era o presidente atual. Dos dez ex-presidentes que foram verificados nas atas, foi encontrada após
pesquisa nos dossiês dos sócios, apenas a fotografia de um ex-presidente e de alguns nem a documentação
foi encontrada.
Como algumas fotografias não estavam no formato digital, optou-se por digitalizar as mesmas com o
mesmo formato das que já haviam sido digitalizadas, sendo assim o formato do arquivo utilizado foi o JPEG.
O formato de arquivo JPEG foi estabelecido por ter algumas vantagens como praticamente todas as
câmeras digitais salvarem as fotos no formato JPEG e oferecer boa qualidade e muita rapidez de
processamento. Foi realizada, então, a digitalização das três fotografias que não haviam sido passadas do
formato de papel para o digital.
O aparelho utilizado foi uma multifuncional Hewlett-Packard (HP) modelo PSC1315 all-in-one e
software HP Image Zone versão 4.2. A resolução da imagem foi de 300 dots per inch (dpi) (em português
pontos por polegada (ppp)), que está diretamente relacionada a definição da imagem (fotografia), sendo que
quanto maior a resolução mais pontos teremos por polegada e conseqüentemente melhor será a nitidez da
imagem.
Para o estudo do software SEPIADES, o mesmo foi instalado em um computador particular, pois no
arquivo não havia computador.
O programa foi adquirido na página da web http://www.knaw.nl/ecpa/
sepia/workinggroups/wp5/download.html, também foi feito na mesma página o download do programa Java
Runtime Environment (JRE) que é necessário para o funcionamento do software SEPIADES.
Com o software instalado, pode-se enfim começar o seu estudo. Esse estudo foi basicamente através
de seus manuais que são bastante complexos e ao mesmo tempo completos.
A análise foi feita ao mesmo tempo em que foi realizada a coleta das informações descritivas das
fotografias digitais, já que as informações coletadas em atas em etapa anterior foi em relação a imagem
visual, ou seja, informações como: quem, quando, onde, gestão entre outras.
Na medida em que as informações descritivas foram sendo digitadas nos campos específicos do
software é que se pode perceber que o mesmo é extremamente detalhista, isto se deve a exigência dos
diferentes tipos de necessidades e dos diversos tipos de usuários que o software deve atender.
O software apresenta alguns pontos positivos e negativos que foram sendo observados durante a
inserção dos dados nos seus respectivos campos:
4. Pontos positivos:
4.1 Open source – software livre, permite sua aquisição sem custo algum;
4.2 Facilidade de se observar a hierarquia – isso facilita quando se tem diversos níveis e subníveis na
instituição;
4.3 Descrição multinível – a descrição se dá em todos os níveis da hierarquia: instituto (acervo da
entidade), aquisição (fundo), coleção (série ou subsérie), grupo/subgrupos (dossiê/processo) e item
único (item documental), este último se dividindo em imagem visual e imagem física.

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4.4 Diversidade dos campos para descrição – quanto mais campos apresentados mais informações
podem ser disponibilizadas para posterior consulta;
4.5 Interface – apesar de ser um software em outro idioma (inglês) possui fácil compreensão para sua
utilização pelo usuário final;
4.6 Gravação – na medida em que os dados vão sendo digitados são gravados automaticamente,
evitando-se assim perca de informações por motivos de troca de abas ou até desligamento acidental
do computador.
5. Pontos negativos:
5.1 Data e Hora – a data de registro é inserida manualmente. Ela deveria ser feita automaticamente para
evitar erros;
5.2 Status (aprovado ou não aprovado) – o status aparece sempre no início de todos os níveis como
Registration Data, o que indica aprovação da instituição. Esta aprovação é que vai indicar se o
mesmo será disponibilizado ao público (as informações). O ideal seria que a mesma fosse colocada
por último em todos os níveis, permitindo que a decisão sobre a aprovação ocorresse somente após a
inserção final dos dados;
5.3 OAI – encontra-se em fase experimental e deve ser configurado para poder ser utilizado;
5.4 Search (busca) – retorna inúmeros resultados desnecessários;
5.5 Imagem física – a imagem thumbnail apresenta-se muito pequena com dificuldade para observação
de detalhes da fotografia. Seria interessante haver uma opção para ampliação da imagem física, caso
houvesse necessidade de melhor observação da mesma;
5.6 Impressão – não possui uma opção de impressão dos dados, ou até mesmo de informações junto com
a imagem física, que muitas vezes é necessário.
Como o mesmo é um software livre fica mais acessível para que as falhas encontradas sejam
corrigidas ainda que o programa seja para descrição.

Referências
[1-4] AASBO, Kristin; GARCÍA, Isabel Ortega; ISOMURSU, Anne; JOHANSSON, Torsten; KLIJN,
Edwin. SEPIADES. Recommendations for cataloguing photographic collections: advisory report by
the SEPIA Working Group on Descriptive Models for Photographic Collections. (SEPIA). European
Commission on Preservation and Access. Amsterdam, 2003.
Disponível em: < http://www.knaw.nl/ecpa/publ/pdf/2710.pdf>. Acesso em: 21 ago. 2008.

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BIBLIOTECA DE REFERÊNCIA NEAB/UDESC: DISSEMINADO A HISTÓRIA E


CULTURA DOS AFRODESCENDENTES DE SANTA CATARINA.

Paulino de Jesus Francisco Cardoso1; Graziela dos Santos Lima2


1
Universidade do Estado de Santa Catarina
2
Universidade do Estado de Santa Catarina

1. Introdução
Vinculada ao Programa Memorial Antonieta de Barros, do Núcleo de Estudos Afro-
Brasileiros da UDESC, a Biblioteca de Referência NEAB/UDESC tem a função de fornecer
informações de maneira rápida e com eficiência, centrada na temática africana e afro-brasileira, na
perspectiva de atender a necessidade do usuário e disseminar informações através do acervo
disponível na biblioteca e das informações inseridas no portal multiculturalismo. Os públicos alvo
são membro da comunidade escolar, pesquisadores, gestores de políticas e defensores de direitos
humanos. Tem a finalidade de facilitar o acesso a informação de cunho histórico, educacional e
cultural, relativo à temática dos afrodescendentes em Santa Catarina. Constitui igualmente
instrumento de suporte às atividades de pesquisa, ensino e extensão desenvolvidas por professores,
estudantes e colaboradores do NEAB/UDESC; e auxilia as redes públicas de ensino no processo de
implementação da Lei 10.639/03. Neste trabalho será mencionada coleção África Brasil resultado
dos trabalhos científicos feitos pelos bolsistas, professores e pesquisadores associados.

2. Método
As atividades desenvolvidas foram: pesquisa bibliográfica, aquisições de livros,
disseminação da informação através do portal multiculturalismo e envio da coleção África Brasil
para os NEABs de todo Brasil, Bibliotecas das Universidades de Santa Catarina, municípios
parceiros e secretaria do desenvolvimento regional vinculada ao estado.

3. Resultados e Discussões
A biblioteca de referência atende ao público interessado nas questões que envolvam
populações africanas e afro-descendentes. O público correspondente são estudantes, professores/as,
pesquisadores/as e a comunidade em geral. Estão cadastrados na Biblioteca de Referência
aproximadamente 143 (cento e quarenta e três) usuários interessados na temática. Foram adquiridos
nos últimos anos aproximadamente 547 (quinhentos e quarenta sete) exemplares, sendo que boa
parte está na Biblioteca Central da Universidade do Estado de Santa Catarina-UDESC.

1
Professor doutor em História da Universidade do Estado de Santa Santa Catarina (UDESC), coordenador do projeto de
pesquisa “Experiências das populações de origem africana em Santa Catarina no pós-abolição: culturas políticas e
sociabilidades” desenvolvido pelo Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB/UDESC). E-mail:
paulino.cardoso@gmail.com
2
Graduanda da 6º fase do curso de Biblioteconomia da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC); bolsista
projeto de pesquisa do Núcleo de estudos Afro-Brasileiros NEAB/UDESC. E-mail: graziela.dsl@gmail .com.
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Livros adquiridos no inicio de 2010.

Parte do Acervo.

1000
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4. Conclusão
Finalizando, a expectativa da Biblioteca de Referencia NEAB/UDESC tem a intenção de se
consolidar sua posição de referência sobre a temática, de modo a construir junto ao Centro de
Memória um ambiente de pesquisa mais amplo, com maior número de exemplares de livros e
áudio-visuais e, principalmente, junto a este projeto. Disponibilizar cada vez mais documentos em
diferentes suportes (impressos, digitalizados, áudio, som) contribuindo no campo de pesquisas que
o NEAB tem construído ao longo destes anos.

Referência:

BARROS, Maria Helena Toledo Costa de. Disseminação da informação: entre a teoria e a prática.
Marília: s.n, 2003.

MIRANDA, Ana Claudia Carvalho de. Formação e desenvolvimento de coleções de biblioteca


especializadas. Inf. & Soc.: Est., João Pessoa, v.17, n.1, p.87-94, jan./abr., 2007. Disponível em:
http://www.ies.ufpb.br/ojs2/index.php/ies/article/view/463/1468

SILVA, Andréia Souza. O Memorial Antonieta de Barros como Veículo de Disseminação e


Produção da Informação. Trabalho de Conclusão de Curso – Centro de Ciências Humanas e da
Educação, Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, 2004.

SIMÃO, Maristela dos Santos. “ Lá vem o dia a di, lá vem a virge Maria. Agora e na hora de
nossa morte.”: A irmandade de nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos, em
Desterro (1860-1880). Trabalho de Conclusão de Curso- Centro de Humanas e da Educação,
Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, 2006.

1001
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

ESTUDO COMPARATIVO ENTRE CÉLULAS DE TESTE PARA ANÁLISE DO


COMPORTAMENTO TÉRMICO DA ESPUMA POLIURETANA DERIVADA DE ÓLEO
DE MAMONA PARA REAÇÃO FRENTE AO CALOR

Grace Tibério Cardoso1*; Salvador Claro Neto2; Osny P. Ferreira3


1
Interunidades em Ciência e Engenharia de Materiais – IFSC/IQSC/EESC - USP
2
Instituto de Química de São Carlos – IQSC - USP
3
Departamento de Arquitetura e Urbanismo – EESC - USP

1. Introdução
Para garantir o comportamento térmico desejado em cada ambiente, é preciso que os materiais
utilizados possuam as características adequadas para as quais são solicitados, atendendo entre outros fatores
às normas de segurança. Dentre as mais variadas aplicações de isolantes térmicos, os forros são os mais
utilizados, pois a cobertura das edificações é a responsável pela maior absorção de calor por radiação.
O forro constitui uma barreira que diminui o fluxo térmico originado pela insolação da cobertura e, deste
modo, protege os indivíduos no interior da instalação.
Este trabalho visa o estudo de uma espuma de poliuretana derivada do óleo de mamona para
aplicação como forro no incremento do comportamento térmico de sistemas de cobertura. Os forros são
recursos largamente utilizados como isolantes térmicos no Brasil por questões culturais, sendo disponíveis
em diversos modelos, porém a utilização da espuma poliuretana derivada de óleo de mamona é inédita e traz
as vantagens de ser um produto biodegradável e renovável.
O forro desenvolvido neste trabalho é constituído de placas de espuma poliuretana derivado de óleo de
mamona, sendo que estas seguiram as normas estabelecidas para espumas rígidas de poliuretana para
isolação térmica. Os estudos do comportamento térmico das placas foram realizados experimentalmente por
ensaios físico-químicos em laboratório e com a montagem do forro em células de teste com sistemas de
cobertura convencionais de telha fibrocimento.
O objetivo geral do trabalho é caracterizar o material espuma rígida de poliuretana derivada de óleo
de mamona e estudar o comportamento térmico desse material aplicado em forma de placas para conformar
um forro isolante térmico.

2. Método
Para o desenvolvimento deste trabalho o GQATP (Grupo de Química Analítica e Tecnologia de
Polímeros) desenvolveu 3 tipos de formulações de espuma PU derivada de óleo vegetal, onde foi avaliada a
densidade e a compactação de cada uma determinando assim a que teve melhor desempenho. Este estudo foi
feito em conjunto com o aperfeiçoamento do molde.
No estudo experimental de medições do comportamento térmico da espuma foi adotado um
equipamento composto por uma estação meteorológica automática CR 10X, Campbell Scientific, que, da
mesma forma, registra os dados das temperaturas superficiais (tsi) dos elementos construtivos de interesse
em cada célula de teste, localizadas no canteiro experimental do Laboratório de Construção Civil (LCC), do
Departamento de Arquitetura e Urbanismo, USP São Carlos. Os termopares foram colocados em cada célula
de teste em acordo com os elementos que compõem o sistema de cobertura de cada uma, pois a pesquisa
avalia o comportamento térmico da espuma poliuretana de óleo de mamona em estudo comparativo de
quatro sistemas de cobertura.
Desta maneira em cada célula de teste o termopar foi instalado de forma a registrar a temperatura
interna superficial do último elemento do sistema de cobertura, sendo:
 CÉLULA DE TESTE 01: nesta célula o sistema de cobertura é feito apenas com o telhado
de telhas fibrocimento, sem laje e forro. O termopar neste caso foi colocado na superfície
interna de uma das telhas.
 CÉLULA DE TESTE 02: o sitema de cobertura é formado pelo telahado de telhas
fibrocimento, e o forro composto por placas de espuma de poliuretana derivada de óleo de
mamona. Nesta célula, o termopar foi instalado na superfície interna à célula de uma placa
do forro.
 CÉLULA DE TESTE 03: neste caso o sistema de cobertura foi feito com telhado de telhas
fibrocimento e laje cerâmica concretada in loco. A laje sendo o último elemento presente
neste sistema de cobertura, recebeu o termopar em sua superfície interna.

*
Autor Correspondente: grace.cardoso@usp.br
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 CÉLULA DE TESTE 04: a célula P4 possue o sistema de cobertura mais completo, que é
composto pelo telhado de telhas fibrocimento, uma laje cerâmica concretada in loco e o forro
de placas de espuma de poliuretana derivada de óleo de mamona. Também nesta célula o
termopar foi colocado na superfície interna à célula de uma placa do forro.

3. Resultados e Discussão
O clima da região de São Carlos – SP, segundo a classificação de Koeppen [1], é uma transição entre
os tipos Cwai - Awi, entre um clima quente de inverno seco, que localmente vai de abril a setembro, e um
tropical com verão úmido e inverno seco. A estação seca estende-se de maio a setembro e é caracterizada por
apresentar pouca precipitação, baixa nebulosidade, baixa umidade relativa do ar, além de temperaturas
médias menores quando comparadas com a estação chuvosa. A estação chuvosa estende-se de outubro a abril
e apresenta temperaturas médias elevadas com precipitações abundantes e alta umidade relativa do ar. Na
estação seca, predomínio da massa de ar é a Tropical Atlântica e na estação chuvosa, há predomínio da
massa de ar Equatorial continental [2]. Em ambas as estações podem ocorrer invasões da massa de ar Polar
Atlântica [3]. A precipitação média anual é de 1.440 mm, predominando nos meses mais quentes. A
temperatura média compensada anual é de 26,82 ºC e a média das mínimas, 15,63 ºC. A umidade relativa
média anual do ar é de 75,6% [4].
Os dados coletados válidos são referentes ao ritmo climático de janeiro a abril. A escolha dos
episódios climáticos foi feita a partir da análise rítmica desse período e foi possível escolher um dia
representativo que possuísse as condições típicas de calor, como a radiação solar global máxima, ou seja, o
céu nesse dia se manteve claro, com reduzida presença de nuvens, tomando como referência os valores das
Normais Climatológicas de 1960 – 1991 [5].
O estudo do dia representativo permite a análise do comportamento térmico do elemento forro de
espuma poliuretana de óleo de mamona frente ao calor. O dia 09 de março de 2010 foi escolhido como dia
representativo das condições de calor que ocorrem na transição verão-outono.

TEMPERATURA SUPERFICIAL INTERNA ÚLTIMA


(DIA 09/03/2010)

39

37

35

33

31
Temperatura (°C)

01_TELHA
29 04_FORRO PU
1 02_FORRO PU
27
04_LAJE
25 03_LAJE

23

21

19

17

15
0

600

1200

1800

Hora

Fig.1: Gráfico de Temperaturas superficiais internas

1003
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

01 02 03 04
TELHA FORRO LAJE LAJE FORRO
θsi (°C) FIBROCIMENTO ESPUMA PU CERÂMICA CERÂMICA ESPUMA PU
35,61 28,78 26,02 29,72 28,94
máxima (14hs) (16h30min) (18h30min) (18h30min) (18hs)
16,58 17,56 20,87 19,23 18,61
mínima (7hs) (6h30min) (7h30min) (7h30min) (7h30min)
Fig.2: Tab. de Temperaturas superficiais internas

 CÉLULA DE TESTE 01 (cobertura de telhas de fibrocimento, sem laje e sem forro de PU):
A radiação sobre as telhas é transmitida ao interior em forma de calor, rapidamente, à
superfície inferior das telhas através da condução, devido à pouca inércia térmica
apresentada pelas telhas e pelo fato do material que as constitue não possuir propriedades
isolantes térmicas. Durante o período sem radiação solar o processo de perda de calor para o
exterior ocorre de maneira parecida ao que acontece no período diurno.
 CÉLULA DE TESTE 02 (cobertura de telhas de fibrocimento e forro de PU): Esse sistema
de cobertura foi construído de maneira a constituir um ático entre o telhado inclinado e o
forro de espuma de PU horizontal, paralelo ao piso. Dessa forma o calor é transmitido do
exterior ao interior e atinge a superfície interna do forro através de radiação, mas
principalmente pela convecção do ar que fica confinado no ático. O fato dessa célula de teste
possuir um ático, auxilia o forro de espuma de PU na isolação térmica. O gráfico 01 mostra
que existe uma diferença de 6,83°C entre a temperatura máxima atingida na célula 01
(35,61°C às 14h) e a atingida na célula 02 (28,78°C às 16h30). No período sem radiação
solar o forro consegue conter um pouco do calor existente internamente pelo fato da espuma
ser muito isolante, mas devido a sua pouca espessura, a inércia térmica é baixa.
 CÉLULA DE TESTE 03 (cobertura de telhas de fibrocimento e laje cerâmica concretada in
loco): A célula de teste 03 representa a tipologia de sistema de cobertura utilizada em grande
escala na construção civil. O telhado inclinado e a laje construída horizontalmente também
criaram um ático. Essa situação assemelha-se ao que acontece na célula 02; a importante
diferença é que a laje cerâmica não é bom isolante térmico, mas no caso apresenta maior
espessura que o forro de espuma, portanto, maior inércia térmica. Durante o dia, o
comportamento térmico da laje frente ao calor é melhor que o do forro de espuma de PU,
devido principalmente à inércia térmica da laje. No período sem a influência da radiação
solar esse comportamento é similar.
 CÉLULA DE TESTE 04 (cobertura de telhas de fibrocimento, laje cerâmica concretada in
loco e forro de PU): Neste caso a laje foi colocada num momento posterior à construção da
célula de teste, ou seja, a célula 04 foi reformada e adaptada ao projeto de pesquisa de
mestrado, dentro das possibilidades financeiras e de infraestrutura disponíveis no canteiro
experimental. Dessa forma, a laje foi feita acompanhanto a declividade do telhado, distante
deste 30 cm, conformando um colchão de ar. O forro de PU foi montado sobre a superfície
inferior da laje, sem distanciamento entre esses dois elementos. Comparando as temperaturas
superficiais internas dos forros de PU da célula 02 e 04 não existe uma diferença
considerável no valor que cada superfície atinge, a diferença está no tempo em que cada
superfície leva para atingir a temperatura máxima. Durante o período sem radiação solar o
comportamento térmico do sistema de cobertura da célula 04 consegue reter mais o calor
dentro do ambiente interior que o da célula 02, pois na célula 04 o calor precisa passar pelo
forro de PU, que é muito isolante, através da condução, chegar à laje cerâmica que possue
maior inércia térmica que o forro por causa de sua espessura, e por fim chegar às telhas
principalmente pela convecção do ar confinado no colchão de ar existente entre o telhado e a
laje.
Analisando os resultados obtidos nas quatro células de teste, verificou-se que a característica isolante
da espuma poliuretana do forro presente nas células de teste 02 e 04, reduz a entrada de calor durante o dia,
quando a radiação solar chega à máxima, e retém por mais tempo esse calor que chegou ao interior do
ambiente no período noturno. Outro fator que colabora na isolação térmica é o ático presente nas células 02 e
03. O ar confinado no interior do ático precisa ser aquecido para poder transmitir o calor através da

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

convecção. Esse processo de transmissão de calor requer mais tempo que o processo de condução de calor
através do material. O colchão de ar existente na célula 04 também auxilia a isolação térmica.
Comparando os resultados de 01 e 02 verifica-se que houve uma redução no valor da temperatura
máxima superficial do forro de PU de aproximadamente 6°C em relação à temperatura máxima superficial da
telha da célula 01.
Outra comparação pode ser feita entre as células 02 e 03. As duas possuem um ático que auxilia na
isolação térmica. A célula 03 obteve melhor desempenho térmico tanto durante o dia isolando o calor
transmitido do exterior para o interior da célula, quanto no período noturno, minimizando as perdas térmicas
no sentido interior-exterior. Esse fato deve-se a maior inércia térmica presente na laje cerâmica; o forro de
PU possui espessura de 3 cm, tamanho muito menor que a espessura da laje, o que acarreta menor inércia
térmica ao forro.

4. Conclusão
A conclusão mais relevante é que as propriedades de isolação térmica da espuma poliuretana
derivada de óleo de mamona são suficientes para minimizar os efeitos do calor durante o dia, período em que
a radiação solar chega ao valor máximo.
A utilização do forro de PU é uma alternativa à laje cerâmica, pois além da facilidade de instalação
(pode ser colocado após a construção do ambiente utilizando-se armação de madeira fixada à alvenaria para
apoiar as placas do forro), é economicamente mais viável, visto que para se construir uma laje são
necessários diferentes materiais e mão de obra especializada.
As análises feitas mostraram que o ático é um excelente isolante térmico, que aliado ao forro de PU
garante redução de entrada de calor do exterior para o interior do ambiente e durante o período noturno reduz
a perda térmica do interior para o exterior. Esses resultados aplicados ao diagrama de conforto deixam claro
que a utilização em conjunto do forro de PU e o ático conformam o melhor dispositivo para isolação térmica.

Fig.3: Diagrama de Conforto Humano (fonte: Instituto Nacional de Meteorologia – INMET/ World
Meteorological Organization – WMO)

Referências
[1] KOEPPEN, W. Climatologia. México: Fondo de Cultura Econômica. 1948.
[2] Serra, A. & Ratisbonna, L. Massas de ar da América do Sul. 1942.
[3] Tolentino, M.. Estudo crítico sobre o clima da região de São Carlos. São Carlos. 1967.
[4] Silva, L. A. da & Soares, J. J. Composição florística de um Fragmento de Floresta Estacional
Semidecídua no município de São Carlos – SP. Revista Árvore 27(5) 647-656. 2003.
[5] Normais Climatológicas (1961-1990). Ministério da Agricultura e Reforma Agrária, Secretaria Nacional
de Irrigação, Departamento Nacional de Meteorologia. Brasília-DF, 1992.

Agradecimentos
Agradecimentos ao CNPq, à FAPESP, ao GQATP/IQSC, ao Prof. Dr. Francisco Vecchia, ao Prof.
Dr. Osny Ferreira e à equipe de técnicos do LCC, aos amigos Marcos José e Marcos Pererira e demais
companheiros que muito contribuíram e contribuem para o desenvolvimento desse trabalho.

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ESTUDO DE TÉCNICA DE ESQUELETIZAÇÃO DE FOLHAS PARA APLICAÇÃO EM


PRODUTOS ARTESANAIS

Elisa Mayer Alves de Santana1*; Juliana Silveira Anselmo2


1
Universidade da Região de Joinville - UNIVILLE
2
Universidade da Região de Joinville - UNIVILLE

1. Introdução
Atualmente, tem-se tido uma grande aceitação de produtos “ecologicamente corretos” por um mercado
consumidor mais sensível às questões ambientais. Milhões de pessoas no mundo, em especial, comunidades
humildes em países subdesenvolvidos, sobrevivem da produção e processamento de matérias-primas
naturais. Dentro de uma perspectiva de conscientização ambiental tem-se o design como a atividade que liga
o tecnicamente possível com o ecologicamente necessário, e que faz surgir novas propostas que sejam social
e culturalmente apreciáveis [1].
A busca por agregar valor a produtos, fortalecendo e estimulando a identidade local, é um forte
impulsionador dos investimentos em design. Neste sentido, o curso de Design da Universidade da Região de
Joinville – UNIVILLE trabalha com projetos de pesquisa e extensão com vistas a estudar e repassar os
conhecimentos adquiridos à comunidade local quanto às potencialidades da região no que tange ao
desenvolvimento de produtos com matérias-primas naturais. Podem-se citar os projetos de extensão
“Amadurecer com Fibra”, executado do ano de 2009, cujo objetivo era proporcionar a um grupo de pessoas
de baixa renda o acesso a conhecimentos técnicos e estéticos para o desenvolvimento de produtos com fibra
de bananeira; e o “Ecosol” que em 2010 visa por meio de práticas conceituais e ferramentas projetuais do
design, repassar aos constituintes do Fórum de Economia Solidária da Região Norte Catarinense os subsídios
para a melhoria da qualidade e da valorização da produção artesanal da região.
O artesanato hoje é responsável por resgatar particularidades de uma determinada cultura e transportá-
las para um produto, em cujo desenvolvimento prevalece a habilidade manual e a possibilidade do seu agente
produtor – o artesão, intervir em cada peça individualmente [2].
Sob este ponto de vista iniciou-se um Projeto de Iniciação Científica com o intuito de estudar a
disponibilidade e aplicação de matérias-primas naturais para a valorização de produtos locais de
Joinville/SC, e este se voltou à pesquisa de técnicas de esqueletização de folhas para fins artesanais visando
apresentar tais informações aos participantes dos projetos de extensão desenvolvidos na universidade.
A esqueletização de folhas é um processo que ocorre espontaneamente na natureza através da ação de
larvas e insetos. Sua epiderme e a clorofila são retiradas, restando apenas uma estrutura delicada, semelhante
a uma renda, constituída pelas nervuras, que são vasos condutores de seiva. Nesta pesquisa procurou-se
acelerar o processo como possibilidade de aplicação em produtos artesanais com maior facilidade e
agilidade.
As técnicas de esqueletização são utilizadas por artesãos há centenas de anos. As folhas esqueletizadas
possuem uma aparência muito delicada, mas também são duráveis e flexíveis, o que permite uma série de
aplicações. Elas podem ser deixadas na cor natural, que apresenta tons terrosos e neutros ou podem também
ser tingidas nas mais diversas cores [3].
Apesar de antigas, essas técnicas são pouco utilizadas e estão, de certa forma, esquecidas. Este projeto,
portanto, procura resgatar o processo e proporcionar tal conhecimento para a comunidade com vista na
valorização de produtos locais, principalmente como elemento decorador.

2. Método
A pesquisa iniciou-se com uma ampla consulta a bibliografias sobre plantas produtoras de fibras e
produtos feitos com matérias-primas naturais. Foram consultados diversos artigos na internet, assim como
livros técnicos a respeito de plantas brasileiras e plantas exóticas e ornamentais no Brasil, entre outros [4, 5,
6]. Neste momento, verificou-se que as folhas esqueletizadas são uma opção de matéria-prima natural viável
na região, além de ser possível sua reprodução de maneira artificial.
Na seqüência, foram testadas técnicas de esqueletização a fim de identificar quais apresentavam os
melhores resultados [7, 8, 9]. Até então, a técnica de bicarbonato de sódio do sítio virtual quazen.com,
realizada com as folhas de Gardênia jasminóides (conhecida como jasmim-do-cabo, arbusto florífero
originário da China) foi a de melhor efeito [10].

*
Autor Correspondente: elisa.mas18@gmail.com
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3. Resultados e Discussão
As folhas de Gardênia jasminóides são aquecidas em uma panela com uma colher de chá de fermento,
outra de bicarbonato de sódio e água o suficiente para cobri-las. Após ferver, são deixadas em fogo baixo por
cerca de 30 minutos, até amolecerem (Figura 1). Quando mole o suficiente, retira-se a cutícula que as reveste
e a clorofila raspando a superfície da folha com um pincel, deixando apenas seus veios (Figura 2, 3 e 4).
Apesar de ainda não testado, tudo indica que a clorofila extraída pode ser usada como pigmento corante
natural, pois apresenta um forte tom de verde-escuro.

Fig. 1 Cozimento das folhas. Fig. 2 Retirada da cutícula.

Fig. 3 Limpeza da folha. Fig. 4 Folha esqueletizada.

Após devidamente “esqueletizadas” (Figura 5), as folhas podem ser descoloridas em solução de
hipoclorito (dois copos de água com uma colher de sopa de água sanitária), adquirindo um tom branco-
amarelado, e, posteriormente, tingidas da cor desejada (Figura 6). No caso, foi utilizado para fins
alimentícios na cor vermelho.

Fig. 5 Folha esqueletizada naturalmente. Fig. 6 Folhas esqueletizadas. Da esquerda para


direita: natural, descolorida, tingida.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Contudo, tal resultado só foi alcançado com folhas de jasmim-do-cabo, fato que restringe a produção
para fins artesanais. Foram realizados outros testes com as folhas de Bauhinia fortikata (Pata-de-vaca),
Persea americana (Abacateiro), Coffea sp (Cafeeiro) e Thunbergia erecta (Tumbérgia-arbustiva), mas não
se obteve um bom resultado, pois não foi possível retirar a cutícula ou porque ficaram muito moles com o
cozimento e se rasgaram ao serem limpas.

4. Conclusão
Apesar de a região de Joinville/SC possuir uma rica biodiversidade, poucas espécies de plantas são
exploradas, de maneira sustentável, para a aplicação em produtos artesanais, tanto como estrutura quanto
como reforço ou decoração. Nas pesquisas realizadas até então só se obteve resultados satisfatórios com
folhas de jasmim-do-cabo, portanto, ainda estão sendo estudadas outras técnicas e outras espécies de folhas
que possam ser esqueletizadas. Posteriormente, os conhecimentos adquiridos serão repassados á comunidade
através dos Projetos de Extensão da Universidade, pois entende-se que o uso desta técnica pode ser
trabalhada com facilidade pelos artesãos e ser aplicada em produtos proporcionando valor e qualidade
estética.

Referências
[1] ULLMANN, Christian. Ano Internacional das Fibras Naturais. Disponível em:
http://www.designbrasil.org.br/portal/artigos/exibir.jhtml?idArtigo=1372. Acesso em: 02 out. 2009.

[2] ANSELMO, Juliana Silveira; SILVA, Denise Abatti Kasper. O ergodesign como princípio para a
melhoria do ambiente de produção do papel reciclado artesanal: uma aplicação social. (Mestrado)
Saúde e Meio Ambiente. Universidade da Região de Joinville, 2009.

[3] SKELETONLEAVES (2010). Disponível em http://www.skeletonleaves.com.br. Acesso em: 1 jun. 2010.

[4] LORENZI, Harri et al. Árvores Exóticas no Brasil: madeireiras, ornamentais e aromáticas. Nova
Odessa, SP: Instituto Plantarum, 2003.

[5] __________________ Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas
do Brasil. Nova Odessa, SP: Instituto Plantarum, 1992.

[6] FAO. Discover Natural Fiber. Why Natural Fiber: A sustentable choice. Disponível em:
http://www.naturalfibres2009.org/en/iynf/sustainable.html. Acesso em: 11 out. 2009.

[7] DICAS DE ARTESANATO. Folhas Esqueletizadas. Disponível em:


http://www.dicasdeartesanato.com.br/ntc/default.asp?Cod=388. Acesso em 11 jun. 2010.

[8] HOME SCIENCE TOOLS (2010). Make a Skeleton Leave. Disponível em


http://www.hometrainingtools.com/article.asp?ai=1513&bhcd2=1272916133. Acesso em 3 mai. 2010.

[9]WIKI HOW. How to make Skeleton Leaves. Disponível em:


http://www.wikihow.com/Make-Skeleton-Leaves. Acesso em: 11 jun. 2010.

[10] QUAZEN (2010). How to make Skeleton Leaves. Disponível em:


http://quazen.com/recreation/crafts/how-to-make-skeleton-leaves. Acesso em: 3 mai. 2010.

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FILMES DE TEATRO: DO PALCO À TELA

Gabriela Pereira Fregoneis*


Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC

1. Introdução
O cinema por muitos anos utilizou a arte teatral como suporte para seu fazer artístico. Sergei
Eisenstein, Igmar Bergman, Orson Welles, dentre tantos outros diretores de cinema, construíram seus
alicerces a partir de suas vivências no universo do teatro. Porém, esta via não é de mão única, pois se sabe
que diretores teatrais também utilizaram e continuam utilizando o cinema para concretizar suas ideias.
Dentre eles pode-se destacar o francês Jacques Cocteau, pois é um artista que viveu uma fase polêmica entre
cinema e teatro, e foi sacudida, sobretudo pelos filmes shakespeareanos de Laurence Olivier. Cocteau fez de
„Les parents terribles‟, mais do que “A águias de duas cabeças‟, um filme teatral, sinceramente teatral, sem
hipocrisia de disfarçá-lo através do virtuosismo da câmera. Assim ele demonstrou que o teatro filmado
poderia ser um gênero cinematográfico legítimo e fecundo [1]. Uma questão surge quando relacionamos as
duas linguagens artísticas: o que pode ser feito no cinema e o que só pode ser feito com os meios do cinema?
Assim, este artigo introduz uma reflexão e levantamento de possíveis discussões acerca da fronteira
existente entre as duas linguagens artísticas – Teatro e Cinema – buscando uma análise entre os elementos
que configuram a cena nos Filmes de Teatro (termo usado pela professora e escritora francesa Béatrice
Picon-Vallin em seu livro Le Film de Thèâtre) [2].

2. Método
1. A metodologia aplicada no desenvolvimento desta pesquisa teve como ponto de partida o
levantamento de diretores e encenadores teatrais, no Brasil e no exterior, que realizaram Filmes de Teatro
como meio de divulgação de suas montagens via material concreto (dvd), podendo citar: Zé Celso (Hamlet,
As Bacantes, Boca de Ouro, Cacilda!, etc ), Antônio Araújo (BR3), Robert Wilson (Fábulas de La Fontaine
– apresentada na Commedie Française), Romeo Castelucci (A Tragédia Endogonídia), Ariane Mnouchkine
(Tambour su La Digue e Les Éphémères), Peter Brook (Marat/Sade e Tragédia de Hamlet), etc.
Realizado este levantamento vídeográfico e a posterior visualização destes materiais, foi necessário
focar o estudo no trabalho desenvolvido por um desses diretores, pois se trata de um campo de grande
abrangência e singularidade. Logo, a presente pesquisa de mestrado dedica sua análise aos Filmes de Teatro,
tendo como base a obra artística Tragédia de Hamlet (2002) de Peter Brook, pois o diretor trabalhou com a
exploração do “espaço vazio” e sua relação com o imaginário nas três áreas: cinema, teatro e filme de teatro.
Dando continuidade ao método de estudo, foi feito um levantamento bibliográfico sobre livros, dissertações,
teses e artigos que relacionassem teatro e cinema. Logo, este artigo irá refletir sobre dois aspectos essenciais
no estudo sobre os Filmes de Teatro: o olhar do espectador e a utilização de mídias como meio de extensão
teatral.

3. Resultados e Discussão
3.1 Olhar do espectador
O velho Heráclito observou que nenhum homem pode se banhar duas vezes no mesmo rio. De modo
semelhante, nenhum filme pode florescer sensivelmente de maneira igual tendo por base o mesmo grupo de
princípios em dois estágios diferentes de recepção. Assim, é necessário analisar o olhar subjetivo do
espectador dentro da visão fenomenológica da percepção, pois esta varia cada vez que este fenômeno de
interpretação (hermenêutica) e sensibilização se repete. Sobre este viés, é importante destacar a diferença
entre o momento “presente” no teatro e cinema. Objetivamente, o filme é um tributário do passado, mas de
um passado que se refaz cada vez que o filme é projetado na tela. Mesmo que sua ação decorra no presente,
esse presente só existiu de fato durante a filmagem, daí a aparente falsidade do presente cinematográfico,
„um presente virtual que é na realidade um passado‟ [3]. Já o presente no teatro é único, pois se constrói no
momento em que acontece a ação dos atores e sua relação e “presentificação” com o público.
Todavia, para que não aja uma interposição de juízo de valores sobre a recepção frente às duas
linguagens artísticas, é indubitavelmente necessário levantar um estudo sobre o olhar dos espectadores nas
respectivas artes. O diretor russo Sergei Eisenstein ressaltou que tanto no teatro como no cinema é
importante que, antes de qualquer coisa, uma obra de arte precisa ter uma estrutura de „pathos‟, para
provocar no espectador efeitos emocionais [4]. Eisenstein, em seu livro A Forma do Filme, destaca sua visão
sobre o reflexo da cena cinematográfica no corpo do espectador, buscando definir o que caracteriza o efeito

*
Autor Correspondente: gabiangelus@hotmail.com
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das várias formas de montagem sobre o complexo psicofisiológico da pessoa na ponta receptora sobre quatro
categorias. A primeira, a categoria métrica, é caracterizada por uma vigorosa força motivadora. É capaz de
impelir o espectador a reproduzir externamente a ação percebida. Chamei a segunda categoria de rítmica.
Também poderia ser chamada de emotiva-primitiva. Aqui o movimento é mais sutilmente calculado, porque
apesar da emoção ser também resultado do movimento, o movimento não é uma mudança externa
meramente primitiva. A terceira categoria - tonal – poderia ser chamada de emotiva melódica. Aqui o
movimento, que já deixou de ser uma simples mudança do segundo caso, passa distintamente para uma
vibração emotiva de uma ordem mais alta. A quarta categoria – um fluxo fresco de puro fisiologismo –
remete, com mais alto grau de intensificação pela força direta de motivação [5].
Lehmann contradiz a recepção presencial do teatro com a distanciada do cinema, pois defende que a
profundidade e a dimensão reduzidas da imagem televisiva pouco permitem uma percepção visual intensa.
Isso poderia reduzir à capacidade de aplicar libidinosamente à percepção visual, espacial, arquitetônica [6].

3.2 Utilização de mídias como meio de extensão teatral


Parte-se do princípio de que nem todo filme pode ser considerado uma obra artística em sua essência.
Não é pelo mero fato de se usar do cinema que se faz cinema - enquanto resultado de uma obra de arte. Isso
também se aplica ao teatro, porque não é o fato de usar recursos da arte teatral que se faz teatro. As duas
artes podem se utilizar de recursos específicos da área alheia sem, no entanto, descaracterizar sua estética e
seu conteúdo. É neste viés que a utilização de mídias pode nortear o trabalho teatral nos filmes de teatro, bem
como dar suporte para o teatro de imagens na era pós-dramática. John Jesurum define seus espetáculos como
teatro cinematográfico, pois para ele fazer teatro significa fazer filmes sem realmente rodá-los, podendo citar
a montagem Águas Brancas de 1986. Diálogos de filmes são transpostos com ligeiras modificações e o
princípio do corte é radicalizado [7].
André Bazin fez ver, em seu turno, que o palco é um espaço fechado, orientado somente no sentido de
sua direção interna, constituindo um microcosmo estético que se insere no universo. A tela de cinema, ao
contrário, é um espaço aberto, infinito, que substitui o universo em vez de se incluir dentro dele [8]. É
importante ressaltar que Bazin não levou em consideração a utilização de mídias na arte teatral, pois ela
expandiu o universo delimitado pelo espaço concreto do teatro com a inserção de novas tecnologias na cena,
proporcionando o advento do espaço virtual que transcende o físico.
O teatro, no decorrer da sua história, foi e continua sendo uma arte que se restringe a uma minoria,
pois se trata de uma limitação entre espaço e tempo disponíveis aos espectadores. Contudo, com o
surgimento dos Filmes de Teatro, tal aplicação se tornou legítima pelo fato de tornar acessível ao grande
público formas de espetáculos geralmente confinadas a uma minoria, rompendo com as barreiras geográficas
e culturais vigentes até então. É neste sentido que as mídias, mais especificamente o cinema, estão dando
suporte para a disseminação do fazer teatral.

4. Conclusão
Este artigo introduziu uma análise de caráter reflexivo sobre as fronteiras que permeiam a arte teatral e
cinematográfica, focando-se na recepção dos Filmes de Teatro por meio do espectador e da utilização de
mídias como suporte para a extensão teatral. Logo, a partir das ideias apresentadas aqui, é possível levantar
questionamentos e possíveis pesquisas acerca deste tema que está sendo utilizado com bastante freqüência na
atualidade artística.

Referências
[1] SILVEIRA, Walter da. Fronteiras do Cinema. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1966.p.162 e 163.
[2] VALLIN, Bèatrice Picon-.
[3] RITTNER, Maurício. Compreensão de Cinema. São Paulo: Buriti, 1965, p.38.
[4] WOLLEN, Peter. Signos e significação no cinema. Lisboa: Livros Horizonte, 1984, p.51.
[5] EISENSTEIN, Sergei. A Forma do Filme. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002, p.85.
[6] LEHMANN, Hans-Thies. Teatro pós-Dramático.São Paulo: Cosac Naify, 2007, p.148.
[7] Idem, p.193.
[8] RITTNER, Maurício. Compreensão de Cinema. São Paulo: Buriti, 1965, p.40.

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FORMAÇÃO DE PROFESSORES DAS ESCOLAS RURAIS: DESAFIOS E


PERSPECTIVAS PARA AS ALFABETIZADORAS DO RIO GRANDE DO SUL

Mariane Bolzan1; Julia Bolssoni Dolwitsch; Thaís Virgínea Borges Marchi; Helenise Sangoi Antunes²
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)

1. Introdução

O estudo que aqui propomos será esquematizado em forma de artigo trazendo as


contribuições de um projeto desenvolvido no Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Formação Inicial,
Continuada e Alfabetização (GEPFICA). O projeto ao qual faremos referência intitula-se
“Memórias e relatos autobiográficos de alfabetizadoras: um estudo sobre as cartilhas de
alfabetização nas escolas municipais rurais do Rio Grande do Sul/RS”, coordenado pela Profª Drª
Helenise Sangoi Antunes (PPGE/UFSM). Esse projeto tem sido referência em pesquisa no Rio
Grande do Sul, pois os seus resultados têm sido divulgados em eventos como ENDIPE (2010),
ANPED (2010), e outros eventos de Iniciação Científica do país.
O propósito dessa pesquisa é conhecer e compreender como se dá o processo formativo e a
carreira docente a partir da história de vida dos professores das escolas municipais rurais do RS.
Ver quais são os desafios enfrentados por eles e suas perspectivas de melhoras para a qualidade do
ensino do campo. Discutiremos nesse trabalho questões pertinente ás experiências anteriores á
formação docente, trajetória de vida, práticas educativas do professor perante uma turma em sala de
aula.

2. Metodologia

A metodologia dessa pesquisa está fundamentada numa abordagem qualitativa em estudos


realizados por Bogdan; Biklen (1994). A metodologia foi desenvolvida através dos relatos (auto)
biográficos orais para resgatar a história de vida das professoras, e entrevistas semi-estruturadas, no
intuito de aproximar os pesquisadores à realidade investigada.
Escolhemos o método oral para fazer com que as professoras sintam-se mais a vontade
relatando suas experiências docentes e seus processos formativos. Nesse sentido, pensamos que o
depoimento oral viabiliza transformar os objetos em sujeitos, contribuindo para compor uma
história mais rica, mais verdadeira, mais envolvente, por que a evidência oral consegue adentrar na
vida do sujeito investigado.
Para nos relatar sobre suas histórias de vida, os professores tiveram que aguçar a memória.
Segundo Antunes (2007), “a memória docente constitui-se numa forma de conhecer e auxiliar no
processo de formação inicial e continuada dos professores”. As velhas lembranças escolares, seja da
escola, do professor, dos colegas, é um aspecto que pode definir a escolha por tornar-se professor.
Nessa perspectiva, Guedes Pinto (2008, p. 18) aponta que

A memória pode ser apreendida como possibilidade, como outra possível interpretação e
que, dessa maneira, altera o passado e também o presente, pois permite novos significados
para o momento atual vivido.

1
Mariane Bolzan: marianeboolzan@yahoo.com.br
² Orientadora do trabalho, Adjunta do Departamento de Metodologia de Ensino da Universidade Federal de Santa
Maria, RS e Líder do Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Formação Inicial, Continuada e Alfabetização (GEPFICA),
Profª Drª Helenise Sangoi Antunes.

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Ao rememorar fatos passados, as professoras não se lembravam apenas de coisas ruins, mas
coisas que não aconteceram e que poderiam ter ocorrido. Em suas práticas educativas, hoje,
enquanto docentes podem resignificar aprendizagens aos seus alunos, pois a memória configura-se
como possibilidade de algo.
Estudar como se dá a formação do professor é o reconhecimento de seu papel e o
conhecimento de sua realidade que poderão favorecer a intervenção no seu desempenho. Através
dos relatos feitos pelos professores, constatamos que alguns têm uma lembrança negativa de sua
primeira professora, e em sua prática docente tentam não ser como essa professora foi para elas. Por
isso a função da memória merece destaque para que os professores possam refletir sobre sua prática
educativa. Estudos de Antunes (2005), apontam a relevância de investigações que promovam o
estudo sobre as lembranças escolares, inclusive para valorizar a imagem do professor e repensar os
processos formativos de professores.
Regina Leite Garcia (2003) contribui para uma percepção reflexiva frente aos depoimentos
que encontramos em nossa pesquisa. Para ela, a professora em seu exercício profissional possui
uma teoria construída durante sua formação inicial, mas que não necessariamente mantém essa
mesma teoria durante toda a sua prática docente.
Essa teoria será mudada quando estiverem atuando enquanto professoras em uma sala de
aula, freqüentando reuniões pedagógicas, em que ocorrem discussões acerca da educação. E ainda
podem se tornar pesquisadora, e
Ao se tornar pesquisadora vai se tornando capaz de encontrar/construir novas explicações
para os problemas que enfrenta no cotidiano. Aprende a ver com outros olhos, a escutar o
que antes não ouvia, a observar com atenção o que antes não percebia, a relacionar o que
antes não parecia ter qualquer relação, a testar suas intuições através de experimentos, a
registrar o que observa e experimenta, a ler teoricamente a sua própria prática [...] (LEITE,
2003, p. 21)

No relato dessa professora alfabetizadora de uma escola rural, constatamos que a atividade
de pesquisa está bastante presente no meio rural também, pois elas fazem uso de internet em casa, e
por serem desse meio não deixam de trazer coisas novas para seus alunos. O fato de serem alunos
de escolas rurais não tira o direito que estes têm de conhecer novas tecnologias e materiais
diferenciados, mesmo que não faça parte da realidade deles.
Nesse sentido dialogamos com Freire (1996), quando o autor diz que “não há ensino sem
pesquisa e pesquisa sem ensino, pois enquanto ensino, continuo buscando, reprocurando [...]
pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade”. É
importante o professor pesquisar para manter-se atualizado, procurando por métodos, atividades
inovadoras que chamem a atenção dos alunos, principalmente no ensino rural, em que as crianças
não têm acesso a computador, aparelho DVD, daí destacamos o quão interessante é o professor
trazer para as salas de aula atividades inovadoras, mas sempre adaptando à realidade do aluno do
meio rural. Nesse sentido, merece destaque o relato de uma professora alfabetizadora participante
da pesquisa quando questionada sobre como prepara suas aulas,

Eu pesquiso muito em cartilhas, revistas, internet, livros. Já cheguei á implementar uma


atividade com os alunos e não deu certo, isso foi bom pois mostra o quanto uma turma é
diferente da outra. Eu nunca digo para eles que a atividade não deu certo, eu guardo para
mim. Consulto atividades com minhas colegas que têm mais experiências com o 1º ano. Há
um distanciamento muito grande entre teoria e prática. (Relato de uma professora
alfabetizadora, 2010)

Através do relato da professora acima, percebemos o quão importante é a pesquisa, apesar


de às vezes procurarmos o que consideramos melhor para a turma, certa atividade pode não dar
certo, pois cada turma é singular. Isso indaga o professor a procurar o porquê de não ter dado certo,
fazendo-o refletir sobre sua prática educativa.

3. RESULTADOS PARCIAIS/DISCUSSÕES

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Como essa pesquisa ainda está em andamento, faremos aqui algumas discussões acerca da
formação de professores nas escolas municipais rurais do RS, assim como alguns resultados parciais
que obtivemos na realização temporária da pesquisa.
Através de alguns relatos autobiográficos de professores entrevistados constatamos que eles
têm uma parceria e apoio efetivo da Secretaria Municipal de Educação de sua cidade. Essa parceria
se da através de cursos de formação continuada, porém existe um problema a ser enfrentado, a
disponibilidade de tempo, pois alguns professores lecionam três vezes por semana durante o dia
todo, nos outros dias pela parte da tarde e não encontram tempo disponível para participar dessa
capacitação.
Questionadas se receberam formação especifica para trabalhar em escola rural, a grande
maioria disse que lhes foi informado apenas orientações gerais sobre a escola, realidade dos alunos
que vivem no campo, mas nada específico de como trabalhar com os alunos desse meio. A grande
maioria se diz em constante aprendizagem, não se considerando preparada totalmente, pois crêem
ser impossível essa preparação total, já que aprendem ao ensinar o aluno. Consideram-se,
entretanto, como muita vontade de trabalhar e fazer o melhor pelos alunos. Uma professora relatou
que sabe o que faz, e sabe que desempenha seu papel muito bem.
Nesse propósito, citamos Tardif (2002, p. 11), estudioso na área da formação profissional, o
qual pode nos auxiliar a entender as narrativas das professoras. Estudar as narrativas desses
professores foi possível através de elementos que compõem o trabalho docente do professor, “pois o
saber não é uma coisa que flutua no espaço: o saber dos professores é o saber deles e está
relacionado com a pessoa e a identidade deles, com sua experiência de vida e com sua história
profissional [...] (grifo do autor)”.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Consideramos que o ensino rural ainda é um desafio presente nas zonas rurais e isso está
fundamentado na falta de formação inicial e continuada que prepare os professores para atuar nesta
realidade tão distinta do meio urbano. Por não saber trabalhar de outro modo se não o como foi
alfabetizado, o professor acaba injetando esse método na sala de aula com seus alunos. A questão
preocupante é: Será que esses métodos estão sendo repensados para o ensino rural? Na maioria das
vezes isso até pode acontecer, mas deve-se considerar o rendimento e aproveitamento da turma no
processo de construção do conhecimento.
Contatamos que se deve ter um apoio mais efetivo por parte das Secretarias Municipais de
Educação das cidades no que concerne ao atendimento à essas professoras alfabetizadoras de
escolas rurais do RS. Esse atendimento poderia acontecer através de cursos de preparação para atuar
no meio rural, cursos de formação continuada sobre formação de professores.
A formação de professores deve levar em conta as histórias de vida dos seres humanos que
fazem parte de diversificados cenários educacionais. Para Nóvoa (1992), “cada professor
desempenha, simultaneamente, o papel de formador e de formando”.
Acreditamos ser de grande importância esse estudo referente à educação do campo, pois são
poucos os estudos e visibilidade que se tem dado à essa temática. Através desse artigo desejamos
procurar soluções e propiciar um momento de discussão acerca desse assunto que merece destaque
em função dos desafios que temos percebido.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Referências

ANTUNES, Helenise Sangoi. Relatos autobiográficos: uma possibilidade para refletir sobre as lembranças
escolares das alfabetizadoras. In: ___. Revista do Centro de Educação. Santa Maria, 2007.

BOGDAN, Robert C; BIKLEN, Sari Knopp. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à
teoria e aos métodos. 4. ed. Porto: Porto, 1994.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia - Saberes necessários `a prática educativa. São


Paulo, Brasil: Paz e Terra (Coleção Leitura), 1996.

GUEDES-Pinto, Ana Lúcia. Memórias de leitura e formação de professores/ Ana Lúcia


Guedes Pinto, Leila Cristina Borges da Silva, Geisa Genaro Gomes. – Campinas, SP:
Mercado das Letras, 2008. – (Coleção Gêneros e Formação).

NÓVOA, Antonio. Os professores e as Histórias da sua vida. In: NÓVOA. António (org.) Vidas
de Professores. Portugal: Porto Editora, 1992.

TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.

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FORMAÇÃO DOCENTE NA REDE REGULAR DE ENSINO FRENTE À PERSPECTIVA DA


EDUCAÇÃO INCLUSIVA

Alana Claudia Mohr¹; Fabiane Adela Tonetto Costas²; Liziane Batista de Souza³.
¹ ² ³ Universidade Federal de Santa Maria.

1. Introdução
A partir do paradigma da inclusão, o atendimento da educação especial deixa de ser um subsistema
paralelo que se encarrega de determinados alunos “ditos especiais”, passando a ser um conjunto de recursos
especiais a serviço da educação geral, em benefício de todos os alunos.
Esse tipo de educação ganha um caráter mais amplo, pois passa a fazer parte do sistema geral da
educação, não sendo mais um sistema educacional a parte da educação regular. Dessa forma, as escolas
passaram a se organizar de acordo com a legislação brasileira que prevê a regulamentação de salas de
recursos ou de apoio pedagógico especializado para atendimento de alunos incluídos, bem como de apoio ao
professor que atende estes alunos nas classes comuns. As escolas precisam mudar e, talvez, o maior desafio
seja levá-las a consciência da necessidade urgente de mudança. [1]
A escola deve ser um espaço inclusivo, mas para que isto aconteça são necessárias adaptações
curriculares, pois cada aluno é uma individualidade e cada um aprende de um jeito diferente por isso seria
necessário que o professor compreendesse o processo de cada um para aprender adaptando a sua
metodologia sempre que necessário. Assim, [1]

O espaço educacional escolar será inclusivo, não apenas pela presença


física dos sujeitos, como alunos e alunas; muito menos se sua
intencionalidade educativa estiver centrada no rendimento, no conteúdo
curricular ou em atividades de aprendizagem que não considerem as
diferenças individuais porque assume uma abordagem homogeneizadora.
(CARVALHO, 2008, p. 97).

O processo de ensino e aprendizagem deve ser proporcionado com qualidade a todos os alunos,
contemplando as necessidades de cada um e proporcionando o desenvolvimento integral de todos. Pois, a
escola deve configurar-se como um local da construção e reconstrução do conhecimento por parte de todos
que a formam, compreendendo tanto professores como alunos. Já que “não há docência sem discência, as
duas se explicam e seus sujeitos apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto,
um do outro” [2]. Por isso, é necessário que tanto alunos quanto professores estejam entrelaçados no
processo de ensino e aprendizagem.
O oferecimento de um apoio pedagógico aos docentes das classes comuns é relevante para a realização
de um trabalho em conjunto e que contemple o processo de ensino e aprendizagem do aluno, uma vez que,
muitos alegam não estarem “preparados” para atender os alunos com necessidades educacionais especiais,
cabendo ao educador especial colaborar para a prática educativa do professor na sala regular.
Com a chegada da inclusão na rede regular de ensino, é necessário que professores e educadores
especiais troquem idéias no seu fazer pedagógico em sala de aula. Pois, [3]

[...]Na formação continuada dos professores e o compartilhamento de saberes entre a


educação especial e a educação regular, como elementos fundamentais para a
efetivação da inclusão escolar dos alunos com necessidades especiais, prosseguimos
nossas reflexões, desta feita,acerca do dialogo, o qual consideramos ser além de um
recurso imprescindível para a composição de estratégias de apoio pedagógico em um
contexto educacional inclusivo.[...] (OLIVERIA, 2009, p 64 )

Neste sentido, percebe-se a relevância de estabelecer diálogos e proporcionar troca de saberes e


experiências entre os professores. Diante disso, foi desenvolvido o projeto “O Fazer Pedagógico Inclusivo
nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental”, no período de 2007 a 2009, em uma escola municipal de Ensino
Fundamental de Santa Maria que aderiu à proposta de inclusão de alunos com necessidades educacionais
especiais nas classes comuns de ensino. No entanto, a referida instituição vinha encontrando algumas
dificuldades que obstaculizavam tal processo, dentre elas: dificuldade quanto ao comprometimento e


Apresentador: lizi-souza@hotmail.com

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acompanhamento da vida escolar dos alunos por parte dos pais ou responsáveis; professores preocupados
com a educação, mas com pouca fundamentação teórica quanto aos aspectos pertinentes ao processo de
inclusão por ser este uma realidade recente na escola; excessiva demanda de alunos incluídos para
atendimento na sala de apoio pedagógico e classe comum.
Assim, pode-se perceber que a comunidade escolar era caracterizada, pela maioria de pais analfabetos,
e poucos com ensino fundamental incompleto. A situação profissional mostra que há uma grande população
de pais desempregados e os que possuem empregos exercem profissões diversas como: autônomos,
domésticas, pedreiros, catadores de lixo, serviços gerais e serventes.
Neste sentido, cabe ressaltar o contexto no qual os alunos e professores estão inseridos, sendo
necessária a realização de uma ação pedagógica que contemple e colabore no desenvolvimento integral do
aluno.

2. Método
Tendo como base as discussões teóricas e práticas e a avaliação realizada conjuntamente entre o
grupo de professores e pesquisadores no final do ano letivo de 2007, de 2008 e do primeiro semestre de
2009, foi proposto aos professores que permanecessem no projeto apenas aqueles que realmente tivessem
interesse, assim apenas cinco professores optaram por continuar no projeto no segundo semestre de 2009.
Durante este período de execução do projeto, foi proposto atividades de cunho teórico, enfocando
nas relações inter e intrapessoais que permeiam um sistema educacional, no qual durante a leitura conjunta
do texto os professores iam relatando como agiam em sala de aula com os alunos em diferentes
circunstâncias, revelando-se assim, uma rica troca de experiências, o que acarretou na criação e discussão de
distintas alternativas metodológicas para subsidiar o fazer inclusivo dos professores. E também foram
realizadas atividades de cunho prático, como a construção de um roteiro e produção de um vídeo enfocando
como estava se estabelecendo as relações interpessoais dentro da escola, de que forma se configurava o
processo ensino-aprendizagem dos alunos, bem como o processo avaliativo e inclusivo na escola, baseando-
se no documentário assistido pelo grupo, “Pro Dia Nascer Feliz”, que retrata, através de depoimentos, as
situações que professores e adolescentes brasileiros do Ensino Médio enfrentam na escola, envolvendo
preconceito, precariedade, violência e esperança.
No encontro posterior, após assistir ao documentário construído pelo grupo de professores, no qual
os professores relatavam no vídeo o quanto era bom trabalhar nesse espaço, e o quanto vinham se esforçando
para a efetivação da inclusão, mostrando apenas falas engrandecendo a escola, uma das pesquisadoras
questionou o grupo de professores acerca da real proposta da atividade, afirmando que, ao seguir o modelo
do documentário “Pro dia nascer feliz”, o que havia sido combinado era que, nesse vídeo deveriam estar
todas as angústias e dificuldades dos professores para com aquele sistema educacional, dando voz e vez
também aos alunos. Dificuldades estas, que vinham sendo discutidas no projeto ao longo de dois anos.
A proposta e realização destas atividades que contemplasse tanto a teoria quanto a prática tinham
como objetivo desenvolver ações que proporcionem a sensibilização, reflexão e a elaboração de diferentes
alternativas metodológicas que subsidiem o trabalho pedagógico inclusivo do professor pautado em uma
metodologia que segue a perspectiva da pesquisa-ação, no qual se buscou promover estudos pautados pelos
questionamentos advindos do grupo de professores e avaliar continuamente as ações desenvolvidas ao longo
dos encontros.
No encontro de dezembro, foi realizado o encerramento das atividades do projeto nessa escola
municipal, sendo que essa proposta passará a ser realizada em outra escola, que solicitou a realização do
projeto no ano de 2010, na busca de discussões acerca do fazer pedagógico inclusivo do professor e de
alternativas metodológicas que subsidiem esse trabalho docente.

3. Resultados e Discussão
Com base nas atividades propostas, o projeto teve como objetivo principal a pretensão de realizar um
trabalho que buscasse sensibilizar os professores dos anos iniciais do ensino fundamental para o processo de
inclusão escolar de alunos com necessidades educacionais especiais e proporcionar análises e reflexões da
ação docente junto aos alunos incluídos.
Neste sentido, a partir deste objetivo e das discussões advindas das atividades desenvolvidas no
decorrer do ano de 2009 e também, das avaliações realizadas pelos docentes que permaneceram no projeto,
pode-se perceber que a sensibilização, quanto aos processos de inclusão, está abrangendo principalmente
aqueles que aderiram à proposta de permanecer com as discussões no segundo semestre de 2009.
Assim, a partir da reflexão sobre o ano de 2009, observou-se que apesar das dificuldades enfrentadas,
os professores que optaram por se manter no grupo de discussões, obtiveram um maior envolvimento com a
proposta, havendo dessa forma, uma ampliação do conceito de inclusão para além dos alunos com alguma

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deficiência, passando a levar em consideração as significativas dificuldades e a exclusão social e econômica


em que seu alunado se encontra, compreendendo a relevância de o professor perceber e considerar a
bagagem cultural que o aluno carrega ao ingressar na escola.
Diante disso, pode-se discutir acerca de como trabalhar com as relações entre professor-aluno e aluno-
aluno de maneira a criar subsídios teórico-práticos para uma efetividade da aprendizagem dos mesmos,
redirecionando uma série de valores advindos do contexto de agressividade vigente na comunidade escolar,
permitindo a esse alunado uma significação de sua aprendizagem de forma que se sintam incluídos nesse
espaço educacional.
Deste modo, pode apontar-se um avanço por parte dos professores que permaneceram nas discussões,
em relação ao aspecto de sensibilização e comprometimento com a educação inclusiva e alunos incluídos,
atendendo nossos objetivos.
Considerando ainda, o objetivo de construir alternativas metodológicas que subsidiem o trabalho do
professor, pode-se dizer que, diferente dos anos de 2007 e 2008, no ano de 2009, poucas atividades práticas
foram desenvolvidas. Porém, trouxemos um aporte teórico, que suscitou muitas discussões, acerca da
importância das relações interpessoais entre professor e aluno, abrangendo temas como a confiança, o
respeito e as trocas de conhecimentos entre esses pares.
Essas discussões fizeram com que os professores relatassem qual a sua atitude perante os alunos, nas
mais diversas situações cotidianas. Sendo possível, dessa forma, traçar um viés, de trocas de experiências, a
fim de debater qual a melhor alternativa de trabalho em casos específicos, como o da desatenção, da
agressividade, da carência emocional, entre outros. Nesse sentido, foi perceptível por parte dos professores,
uma reflexão acerca da reestruturação de sua prática docente junto aos alunos incluídos.

4. Conclusão
A partir da análise das ações realizadas até então, acreditamos que, dentro do grupo de professores que
permaneceu no projeto, os objetivos referentes à sensibilização para a inclusão e a construção de novas
alternativas metodológicas que subsidiem o trabalho do docente nesse processo se concretizaram. Os
professores parecem ter ampliado o conceito de inclusão educacional, conseguindo relacioná-lo a sua
realidade escolar.
No entanto, consideramos oportuno, mais momentos de reflexão e análise, por parte dos professores
em geral, acerca da realidade educacional e inclusiva vigente na escola, direcionando dessa forma, um olhar
mais sensível às especificidades dos alunos, respeitando a diversidade presente nas turmas a fim de visualizar
os possíveis obstáculos ainda existentes para o sucesso da proposta da inclusão e elaboração de alternativas
de trabalho. Além disso, deve-se estabelecer debates a partir das próprias experiências individuais,
discutindo junto com os demais docentes, a fim de que se criem novos preceitos e formas de resolver
empecilhos em sala de aula que possam dificultar o processo ensino-aprendizagem nesse espaço educacional.
Como vinha sendo realizado até então, considera-se importante, os professores continuarem a por em
exercício momentos para a reflexão da prática pedagógica com vistas à construção de alternativas
metodológicas para a inclusão, uma vez que, esse tema ainda é recorrente na fala das profissionais que se
mantiveram presente nas discussões.
As ações realizadas na escola revelaram um campo que ainda necessita de apoio no que se refere aos
processos de inclusão e que tem se mostrado empenhado na busca desse apoio. Dessa forma, apesar de ser
oferecido um direcionamento desse projeto, para outra escola no ano de 2010, fica a certeza de que o
trabalho realizado até então, nessa Escola Municipal, inferiu diretamente na prática pedagógica de alguns
professores, que a partir de agora, terão a tarefa árdua de difundir esses preceitos discutidos, aos demais
profissionais a fim de que se efetivem os processos de uma educação inclusiva nesse espaço educacional.

Referências
[1] CARVALHO, Rosita Edler. Escola Inclusiva: A reorganização do trabalho pedagógico. Porto Alegre:
Mediação, 2008.

[2] FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e
Terra, 2007. 36 ed.

[3] OLIVEIRA, Luiza de Fátima Medeiros. Formação Docente na Escola Inclusiva: Dialogo como fio
Tecedor. Porto Alegre: Mediação, 2009.

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HOMENS VOGUE:
A CONSTRUÇÃO DO MASCULINO NA CONTEMPORANEIDADE

Mariana Gomes Santos*; Liliane Edira Ferreira Carvalho


Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)

1. Introdução
Influenciadas pelo sistema em que se inserem ao mesmo tempo em que o influenciam, pessoas vão aos
poucos construindo novas imagens sobre si e vão percebendo como essas imagens ecoam na imagem dos
outros. Nessa relação entre sujeitos, a questão da identidade se destaca. A forma como a moda age como
formatadora de sujeitos é de extrema importância para que se compreenda como ela pode ser útil na
definição de identidades ou identificações.
Neste artigo, fruto de um trabalho de conclusão de curso do bacharelado em Moda, a moda surge
como norteadora da principal questão a ser abordada, ou seja, de que forma ela auxilia os homens na criação
de uma nova imagem.
Sendo assunto de interesse escamoteado entre este público em épocas anteriores - pelo menos desde o
século XIX em que passou a ser tida como constituinte do mundo feminino - na ocasião de sua revalorização
atual óbvia no universo masculino a moda serve como indício de que algo mudou. Esse processo, de fato,
estende-se desde a segunda metade no século XX, alimentada pelos movimentos e estilos jovens que
passaram a ditar as tendências, mas encontra sua expressão mais massificada, inclusive com mídia
especializada, no início do século XXI.
Ao ser retomada como constituinte do mundo masculino após séculos de exclusão, a moda não só
representa a mudança de si mesma e de sua relação com o masculino, mas a mudança do próprio universo
masculino. Acredita-se que a construção de uma imagem externa, com base em elementos ligados à moda,
nada mais é do que o fruto de uma mudança interna, relacionada a tomada de uma nova consciência por parte
dos homens com relação a eles próprios. Assim, busca-se aqui perceber os discursos que a mídia impressa,
neste caso específico a revista Homem Vogue, emprega na construção das relações de identificação
masculina através da moda neste início do século XXI.

2. Método
A fim de compreender como essa imagem vem sendo construída, foram analisados 15 exemplares da
revista Homem Vogue, sendo que foi dada atenção especial à seção de moda. O modo como aparecem
informações relacionadas ao tema e o que é vinculado nesta mídia será útil não só para que se compreenda
como os homens vêem a moda nos dias de hoje e em que sentidos a reconhecem como familiar ao seu
mundo, mas para que se entenda os discursos de masculinidade relacionados a moda que a publicação traz
aos seus leitores. Por ser um veículo de comunicação, atribui-se à revista a capacidade e a possibilidade de
formar opiniões. Mas antes de partir para a análise de uma revista que representa tão detalhadamente o
universo de seus leitores, faz-se necessário deixar claro que, mesmo que haja um segmento para o qual a
revista é direcionada (público masculino), não se pode deixar de pensar que generalizações se fazem
perigosas: nem todos os homens se identificam com os conteúdos publicados neste veículo. Apesar disso,
uma leitura mais detida pode trazer à tona pistas sobre como o mundo masculino é representado nesta mídia
impressa.
Os exemplares analisados nesta pesquisa foram publicados entre os anos de 2005 a 2010, em um total
de 14 revistas. Trabalhou-se, assim, por amostragem, analisando uma média de 3 revistas por ano. Num
primeiro momento, fez-se uma análise geral das revistas, percebendo os padrões que configuram seu estilo.
Assim, embora existam diferenças com relação a seções, conteúdos e apresentação das edições, é possível
que se perceba que com o passar dos anos as edições publicadas preservam a identidade da revista. Nos
exemplares mais antigos, pode-se perceber algumas mudanças com relação aos mais recentes, e ao prestar
atenção nestas mudanças, têm-se a impressão de que a revista aposta em algumas fórmulas para chamar a
atenção do público leitor com base nas revistas femininas (muito mais antigas e numerosas com relação às
masculinas e que, de certa forma, vêm fazendo sucesso com as formas e ordem em que se apresentam), mas
tem a preocupação de estar cada vez mais sintonizada com os leitores a quem é realmente destinada,
buscando se encaixar ao que esperam os leitores de uma publicação desse tipo.
Buscando responder as questões aqui propostas, focou-se a análise das revistas na seção de Moda pois,
por se constituírem como sujeitos consumidores, os homens, através de tudo o que tomam como constituinte

*
Mariana Gomes Santos: mari_latim@yahoo.com.br

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de seu mundo, deixam transparecer informações a seu respeito. É possível perceber que fica definido, de
forma não muito incisiva, através de imagens de desfiles e textos, nas páginas da revista, o conceito de
tendência de moda. As propostas das grifes são mostradas aos leitores e defendidas pelos jornalistas de
moda, e mesmo as peças mais “estranhas” para o público masculino (como saias e bermudas-saia) têm seu
espaço garantido. Nesta parte da revista, tudo é informativo, sem que haja um juízo de valor sendo feito. Os
editores de moda responsáveis pela seção, Dudi Machado e Fabrizio Rolo, por serem ambos homens,
parecem imprimir credibilidade às informações que apresentam: embora ainda exista um certo preconceito
com relação aos homens que trabalham com moda, informações sobre o tema, vindas de homens, dão a
impressão de serem algo seguro, já que muito provavelmente os editores não dariam dicas que não fossem,
eles mesmos, utilizar. É como se os editores soubessem até onde pode ir a ousadia de um homem no que diz
respeito ao vestuário.
Apesar de a moda não ser representada somente pelas roupas, calçados e acessórios, mas por tudo o
que se relaciona a comportamentos, artes, consumo, principalmente no que se trata de novidades, há, nas
páginas reservadas ao tema uma preferência por artigos de vestuário. De certo modo esta é considerada uma
das formas mais eficientes e verdadeiras de se transmitir uma imagem individual ao mundo. Mesmo que seja
uma criação da mídia, a necessidade de aproximação da moda é uma realidade dos homens contemporâneos.
Embora ainda menor que o exercido sobre as mulheres, o fascínio dos homens parece ser proporcional ao
crescimento da popularidade da moda entre eles: quanto mais eles procuram por ela a fim de agregar valor à
sua aparência, mais aberta às novidades e mais ousada a moda se apresenta. O campo da moda, por tanto
tempo considerado “não natural” aos homens, passa a se naturalizar entre eles e exatamente por isso
transmite uma nova imagem de homem moderno: aquele que se preocupa com moda e que se utiliza dela
para ser visto como possuidor de tal modernidade.

3. Resultados e discussões
Através daquilo que escolhe com relação ao vestuário para a composição de sua imagem o indivíduo
transmite uma mensagem ao mundo. Os elementos utilizados nesta forma de comunicação (assim como
acontece em outras formas de comunicação) e que têm a função de transmitir mensagens, são os signos. Para
Saussurre, cada signo tem duas partes fundamentais: o significante, entendido como a parte física do signo e
que pode ser uma cor, um som, uma forma, etc. e o significado, entendido como os sentidos atribuídos ao
significados (apud BARNARD, 2003). Nessa lógica, toda e qualquer escolha relacionada ao vestuário pode
trazer consigo um valor agregado.
Os signos falam por si e podem significar coisas diferentes de acordo como e com o que se combinam.
Apesar de cada signo ser percebido de forma distinta por cada pessoa que entra em contato com ele, há por
trás dele uma idéia geral compartilhada por um grupo social. Uma vez que o significado e o significante se
relacionam graças a um acordo social, não cabe nenhum indivíduo querer agregar valores a determinados
significante de acordo com a sua vontade. Atrelado a cada significante existe um significado que faz parte do
imaginário dos indivíduos, que se utilizam dele para “ler” a mensagem que está sendo “escrita”. Desta forma,
quando se vê uma pessoa portando ou usando determinada peça de roupa, acessório, calçado ou qualquer
outro produto de moda, logo se faz uma idéia do que aquilo possa significar. Mesmo ignorando qual tenha
sido a idéia que esta pessoa tenha tentando passar, é possível que se crie uma idéia do que foi transmitido,
com base em um conhecimento prévio, compartilhado por determinado grupo social.
Se em algumas vezes a escolha destes objetos de moda é feita simplesmente com base no valor
agregado a eles, em outras a escolha se faz com base em pessoas que servem de “modelos” a serem seguidos
graças às imagens a que são vinculadas. Quando, por exemplo, alguém reconhecidamente famoso usa, para a
construção de sua imagem determinado objeto, agrega a ele um valor relacionado à sua personalidade. As
roupas, acessórios, aparelhos eletrônicos, enfim, todos os tipos de objetos de moda usados por celebridades,
estrelas do mundo da música, do cinema e dos esportes, milionários e todos aqueles que por um motivo ou
por outro têm sua vida invejada, transmitem ao mundo uma imagem à qual muitas pessoas querem estar
ligadas. Com relação, a análise da seção de Moda da revista Homem Vogue é especialmente interessante:
nela, a moda é apresentada aos leitores de forma menos conceitual, mais usual, mais real. São aí
apresentados looks prontos, em geral compostos de camisas, calças e paletós ou algo do gênero, como se
fossem fórmulas para o alcance do sucesso. Mas não para por aí: nesta “mini-seção”, os looks apresentados
estão sempre ligados a personalidades relacionadas ao mundo dos esportes, ao cinema e a vidas badaladas.
Atores famosos, esportistas e bon-vivants ilustram estas páginas como possuidores de um determinado status
que, se supõe, deve ser desejado. É como se a própria revista e as personalidades que a ilustram, com seus
estilos relacionados ao sucesso, sugerissem que o leitor de Homem Vogue, a fim de ser uma pessoa de
sucesso, devesse se vestir como tais personalidades. É como se a roupa tivesse o poder de transformar
homens comuns em personalidades reconhecidamente importantes no mundo da moda, do luxo e do status.

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Ao se pensar em tudo o que a moda foi e é hoje para os homens não é difícil pensar na importância,
para eles, de modelos a serem seguidos. Talvez graças à negação da moda e de tudo o que era relacionado a
ela que durante muito tempo foi imperante no que diz respeito ao masculino, os homens possam ter
desenvolvido um certo “receio” com relação ao lançamento de modas. O fato de a “mini-seção” da revista
que traz personalidades a serem seguidas no que diz respeito às roupas que usam estar presente em todos os
exemplares, sem que sua fórmula tenha sido modificada, ao longo de cinco anos (período no qual foram
publicados os números analisados) parece confirmar isso. Ao serem elegidas determinadas pessoas passíveis
de serem copiadas se torna permitido aos homens “estar na moda” através de fórmulas que já deram certo,
que já foram aceitas socialmente ao serem usadas pelas já mencionadas personalidades e que por isso já
podem ser utilizadas pelos homens comuns sem erros. Embora os trajes apresentados não apresentem nada
de incomum com relação aos utilizados normalmente pelos homens no seu dia-a-dia, essa relação dos trajes
com homens cuja imagem de alguma forma é valorizada vem acrescentar ainda mais valor às composições e
de certa forma dá aos leitores a oportunidade de poder fantasiar sobre uma vida que não lhes pertence, mas é
por eles desejada: a vida da personalidade que copiam. Mesmo não sendo garantia de sucesso, essa “tomada”
para si de certos signos relacionados às “estrelas” mostra que a pessoa que copia tenta agregar a si valores
atribuídos ao copiado. Principalmente através das roupas, o copiador busca uma aceitabilidade social, que
segundo Sant‟Anna (2007: 48), “corresponde ao grau de investimento realizado sobre a aparência,
constituindo esse esforço pessoal num capital, „capital-aparência-corporal‟”
Nas páginas da Homem Vogue destinadas à moda, há espaços distintos para moda comercial, “usável”
e moda conceitual. Enquanto os editoriais apresentam peças diferenciadas que compõem um determinado
estilo, sugerindo usos, no espaço destinado às tendências percebe-se que a preocupação com a moda
conceitual, lançada pelas grifes nos grandes desfiles internacionais não é superior à preocupação que a
revista tem com a moda “usável”. São apresentadas neste espaço da revista as últimas tendências e logo
aparecem “fórmulas” de como melhor utilizá-las. As chamadas “boas” combinações de roupas são
freqüentes como sugestão.
A partir do número 12 do ano 5, ano de 2006, ocorre uma modificação na seção de moda da revista: é
criada uma mini-seção em que aparecem looks prontos compostos por peças comerciais que são vinculados a
personalidades conhecidas. Entre estas personalidades, temos estrelas do esporte, bon-vivants e atores
famosos. Mesmo os trajes apresentados não tendo nada de muito diferente com relação aos trajes já
utilizados normalmente pelo público masculino, a associação de cada traje a uma personalidade consagrada,
além de contribuir com o fortalecimento da idéia que se faz da roupa como transmissora de determinada
mensagem, faz com que cada vez mais as pessoas que percebem essa associação desejem não só a roupa
usada por determinada pessoa, mas todos aqueles valores que são a ela atrelados. A fórmula é simples: se
uma pessoa famosa em torno de quem existe um universo simbólico constituído como capital veste
determinada roupa, qualquer pessoa, ao vestir a mesma roupa, terá formada em torno de si o mesmo discurso
simbólico. Coloca-se então o conceito de transferência de aura que, usado por Bourdieu (2008) para justificar
o consumo das grifes, pode ser entendido aqui como adequação do indivíduo a um capital simbólico pré-
existente que ele assume ao adotar um estilo ou grife legitimado pela cultura em que está inserido.
Entendendo a dinâmica da moda associada como discurso de atualização do homem do século XXI em
suas identificações, analisou-se as revistas Homem Vogue buscando reconhecer os discursos que permeiam
suas páginas. Entre os exemplares da revista Homem Vogue analisados, pôde-se ver que a partir do número
10 do ano 5 uma novidade surgiu na seção de moda. Trata-se de uma mini-seção em que são apresentados
looks relacionados ao estilo de uma personalidade famosa. Os estilos “alternativo”, “cool”, “moderno”,
“elegante”, “clean” e “clássico” são associados a Orlando Bloom, Brad Pitt, Jude Law, Adrien Brody,
George Clooney e Pierce Brosnan respectivamente. Christian Bale, Dermont Mulroney, Matt Dillon, Gael
Garcia Bernal, Príncipe Pavlos da Grécia e Keanu Reeves servem de referência em outra edição. Na edição
número 6 do ano 13 (2007) traz os looks “jovem”, “sedutor”, “clássico”, “desencanado”, “bom moço” e
“alternativo” fazem referência a Adam Brody, Olivier Martinez, James Blunt, Robert Downey JR, Brandon
Routh e Sacha Baron Cohen. Todas as seções de moda das revistas analisadas trazem personalidades
famosas. Não se pode deixar de levar em consideração que o fato de haver nesta mini-seção a comparação
explícita de personalidades a looks propostos é revelador. Apesar de terem mais liberdade para as escolhas
relativas ao vestuário, os homens parecem estar ainda atrelados à idéia de que moda é um assunto não
relacionado ao masculino. Se para as mulheres, que em geral sempre estiveram mais familiarizadas com os
artifícios relacionados ao vestir, o lançamento ou a assunção de determinado estilo é algo natural (que faz,
inclusive, com que se valorize entre elas o estilo único, o exclusivo), para os homens se trata de uma postura
que implica correr riscos. Assim, tomando para si modelos já consagrados como sinônimo de estilo,
elegância, jovialidade, modernidade, formalidade, entre outros conceitos (sempre reforçados e ligados a uma
personalidade reconhecida), o homem, no momento em que vê no modelo desejado uma possibilidade para si
próprio, deseja não só compartilhar com o outro sua roupa ou o seu estilo, mas todo um ideal de sucesso,
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poder, riqueza e popularidade que este outro, a estrela, representa. Essa adoração dos famosos a ponto de
fazer surgir o desejo de semelhança entre os que são diferentes não se baseia no racional, mas no emocional.
Além disso, pauta-se no que Bourdieu (2008) definiu como transferência de aura, considerando o capital
simbólico atrelado ao nome e estilo de alguém e legitimado pelo social como definidor deste ou daquele
atributo superior.
Ainda sobre os homens que servem como base para que outros possam criar seu estilo, pode-se
perceber que eles são valorizados não tanto pela beleza, mas pelo estilo que possuem, pelo que fazem e pelo
que têm. Enquanto em publicações destinadas às mulheres é possível que se perceba a valorização da beleza
pela beleza, nesta publicação, destinada aos homens, em pouquíssimos momentos ela é mencionada, e
quando isso acontece é de forma sutil. Entre vários homens apresentados como padrão a ser seguido, só duas
vezes as personalidades são homens reconhecidos por sua beleza, ou seja, têm a profissão de modelo. Como
na maioria dos casos os homens que têm sua imagem exposta para cópia são atores, é por esse motivo que
são valorizados. Aqueles que são herdeiros ou milionários têm reforçada a idéia de que possuem sucesso
financeiro e aqueles reconhecidos como aproveitadores da vida são celebrados por terem a oportunidade de
curtir tudo o que têm direito. Analisando mais profundamente essas questões pode-se chegar à conclusão de
que no fundo, estas são as aspirações masculinas. Sendo culturalmente construído, o homem pertencente à
sociedade ocidental atual parece ter interiorizada a idéia de ideal de vida baseada no tripé constituído pelo
sucesso financeiro, sucesso no trabalho e aproveitamento da vida (acrescente-se a isso a conquista
relacionada às mulheres). Ao se deparar com modelos que sugerem a ele a possibilidade de conquista desses
valores (ainda que vaga, uma vez que a roupa usada pelo indivíduo não garante a ele essa conquista), o
homem passa a ter seu desejo de consumo do modelo proposto fortalecido. A roupa se torna uma
possibilidade de alcance do sucesso.

4. Conclusão
A segurança entre os homens se faz presente no sentido de que a eles é oferecida uma fórmula para o
alcance do sucesso, baseada no visual e em tudo aquilo que ele remete. Não há, entretanto, ousadias
possíveis, mas sim o reforço de estilos já consagrados e legitimados por personalidades socialmente
influentes. Enfim, no reconhecimento dos valores atribuídos ao outro e que podem vir a ser atribuídos ao
sujeito quando da sua capacidade de tomar para si elementos constituintes da imagem desse outro, a
identidade masculina se constrói. A seriedade que desde muito tempo vem representando os homens através
de sua presença nos trajes vai aos poucos ganhando novas cores e pitadas de ousadia, que se naturalizam
quando encontram liberdade em sua aceitação por parte desses homens. Com a cópia desses elementos, que
denotam modernidade, as novidades referentes à moda vão sendo disseminadas e, apesar de lentamente, vão
se firmando junto ao imaginário masculino como naturais entre esse público. Assim, esse “novo” homem
alcança a plenitude de acesso ao reconhecimento de si através da moda porque reconhece, no fato de ser
sujeito, a possibilidade de se expressar através de toda e qualquer forma, um direito legitimado pelos heróis
modernos nas páginas das revistas.
Entende-se, então, que a revista Homem Vogue, como mídia formadora de opinião, tem o poder de
provocar os leitores a assumirem posturas mais ousadas ou mais conservadoras de acordo com o tipo de
informações que propõe e da forma como as propõe. Portanto, além de auxiliar na criação de um imaginário
masculino com relação à moda, em sua abordagem a revista passa uma imagem de si própria, representando
esse masculino. Baseada em modelos a serem seguidos, a seção de moda da revista Homem Vogue se
modifica com o passar do tempo, como era de se esperar, uma vez que representa um masculino que se
reconstrói constantemente. Na efetivação dessa reconstrução constante está a moda.

5. Referências
BARNARD, Malcolm. Moda e Comunicação. Rio de Janeiro: Rocco, 2003.
BOURDIEU, Pierre. A produção da crença: contribuição para uma economia dos bens simbólicos. São
Paulo: Zouk, 2006.
ECO, Umberto (org). Psicologia do vestir. Lisboa: Cooperativa Editora e Livreira Scarl, 1989.
LIPOVETSKY, Gilles. O império do efêmero: a moda e seu destino nas sociedades modernas. São Paulo:
Companhia das Letras, 1989
NOLASCO, Sócrates (org.). A desconstrução do masculino. Rio de Janeiro: Rocco, 1995.
SANT‟ANNA, Mara Rúbia. Teoria de moda: sociedade, imagem e consumo. São Paulo: Estação das Letras,
2007.

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Inovação, Responsabilidade, Sustentabilidade e Criatividade


Ricardo Libel Waldman
Centro Universitário Ritter do Reis
Pontifícia Universidade Católica do RS
Amanda Shüler Bertoni
Centro Universitário Ritter dos Resi

Palavras-chave: inovação, responsabilidade, sustentabilidade, criatividade


Key-words: innovation, responsibility, sustainability, creativity.

1 Introdução

Este trabalho, partindo do pressuposto de que a inovação mais produtiva para uma atividade
econômica é aquela que atinge mais aspectos do produto (em sentido amplo, incluindo serviços) e de seus
processos, procura incluir, neste contexto, as dimensões da responsabilidade e da sustentabilidade.
O método adotado é o dialético, no qual, discute-se um problema a partir do que é geralmente aceito
[1]1.
Na seção 2 é discutida a relação entre a inovação e o crescimento da produção, estando o âmbito da
inovação e o crescimento da produção em proporção direta, sendo que a inovação sustentável está indicando
colaborar para o aumento dos ganhos. Na seção 3, discute-se a responsabilidade do inovador na civilização
tecnológica. Na seção 4 relaciona-se a responsabilidade com a sustentabilidade. Na seção seguinte, analisam-
se algumas possibilidades de inovação sustentável. Na seção 6, refuta-se uma provável crítica ao argumento
desenvolvido neste trabalho já que aqui não é proposta a redução do consumo.

2 Inovação e crescimento de produção

A inovação tecnológica tem sido objeto dos mais amplos estudos. A razão para tanto é que ela é um
motor do desenvolvimento, do progresso, o qual tem sido entendido como crescimento da produção [9], o
dinheiro que se investe na inovação, especialmente de parte da iniciativa privada, a qual é normalmente
melhor sucedida nestes processos [11], é orientado pelas oportunidades de lucro do setor em que se inova[4].
Relevante quanto à teorização a respeito da inovação é que suas conclusões têm sido no sentido de
que os incentivos ao crescimento da produção não passam, simplesmente, por arranjos gerais, mas por
instituições que, embora sejam influenciadas pelo contexto global, precisam ser organizadas no âmbito local
e de acordo com o setor econômico em que se está procurando incentivar a inovação [3;11].
Ainda, quanto mais aspectos dos produtos e serviços forem inovadores, mais resultados, no que toca
aos ganhos econômicos, a inovação trará [15]. Pois bem, nossa proposta é que existem muito mais dimensões
em que produtos e serviços podem ser inovadores do que os modelos atuais supõem, os quais, se levados em
consideração, podem gerar produtos que satisfarão mais ao consumidor e, em consequencia, produzirão mais
lucro para a indústria. Estas dimensões relacionam-se à responsabilidade e à sustentabilidade [8;16]. Na
verdade, inovação, crescimento econômico e sustentabilidade são complementares [13]. Aliás, há estudo
demonstrando que as empresas que buscaram inovação pela sustentabilidade têm conseguido superar melhor
à crise financeira mundial, conseguindo manter e até mesmo aumentando o valor de suas ações no mercado
financeiro [7].

3 Inovação e responsabilidade

De acordo com [6], a civilização tecnológica, que se caracteriza por um domínio sem precedentes da
técnica, a qual pode colocar em risco a própria vida humana na Terra, tem por princípio ético fundamental a
responsabilidade. O progresso da técnica não redundou num aumento das certezas, pelo contrário: o avanço
do conhecimento científico e tecnológico tem levado a que cada vez tenhamos menos certezas [6;14]. Não é
razoável que, nestas condições, a inovação seja realizada sem o questionamento sobre seus efeitos para a
humanidade e o restante da natureza, sem assumir responsabilidade (JONAS [6], sem utilizar o termo
inovação).

1
As citações indiretas são indicadas por seu número nas referências ao fim do resumo, as citações diretas são indicadas
no corpo do texto.

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Os atuais modelos consideram o produto, seus processos de produção e o cliente [9]. Uma “teoria
útil da inovação” deveria explicar como é possível estimular a inovação que gere ganhos contínuos de
produtividade [11].
Os atuais modelos continuam a produzir externalidades que os consumidores suportam, mas que
estão cada vez menos dispostos a suportar. Uma destas, é o custo e a dificuldade logística de concertar e
descartar os produtos. Tais dificuldades são absorvidas pelos indivíduos e pelo meio ambiente, refletindo em
perda de qualidade de vida e numa série de riscos ambientais [9]. Ou seja, a inovação, geralmente, não é
responsável.

4 Inovação e sustentabilidade

Entretanto, o produto de interesse do cliente é, crescentemente, um produto sustentável [16]. O que é


um produto sustentável? É um produto cuja produção, i) consuma o menos possível recursos ambientais, ii) o
faça no tempo em que podem ser renovados pela natureza (quando forem renováveis), iii) que respeite os
direitos trabalhistas, e iv) que não cause sofrimento desnecessário aos animais; cujo uso contínuo seja
vantajoso (no sentido de saudável, útil e economicamente viável) para fornecedor e consumidor, e cujo
descarte seja simples, podendo ser reutilizado ou reciclado a um custo econômico, social e ambiental baixo,
causando crescimento local e estando aberto para análise crítica do público (neste sentido também CCCEN
apud POTTS, 2010).
O que leva a este tipo de produto pode são certos fundamentos, tais como políticas públicas
ambientais e para a inovação, capacitação técnica e surgimento de novos mercados, se as políticas foram
executadas em um contexto de parceria e com os recursos financeiros e humanos suficientes, teremos
melhorias nos ecossistemas com produtos sustentáveis [13].
É necessário um conjunto de fatores que favoreçam a criatividade, a qual segundo Gomes (2001, p.9)
é “o conjunto de fatores e processos, atitudes e comportamentos que estão presentes por meio da ilusão
(produto livremente fantasiável), da invenção (produto exclusivamente funcional) e da inovação (produto
plenamente realizável).” Esta criatividade ligada a fantasia faz parte de um pensamento divergente onde o
ente que realiza tal pensamento permite-se fugir do direcionamento pré-estabelecido e encontrar novas
conexões, diferentes das buscadas inicialmente. Com Munari (2008, p.11) vale referir que a criatividade não
significa improvisação sem método (...) a série de operações do método de projeto é formada de valores
objetivos que se tornam instrumentos de trabalho nas mãos do projetista criativo
A inovação será bem sucedida, podemos dizer, quando se dá também nos aspectos mencionados.
Adotando princípio responsabilidade como base ética para a ação na civilização tecnológica, devemos inovar
na atividade econômica de modo a permitir que fornecedor e consumidor exerçam as suas responsabilidades
de modo a tornar sustentável a atividade econômica e os ecossistemas dentro dos quais tal atividade se
realiza. Mas esta responsabilidade somente pode ser exercida com criatividade.
A identificação destes flancos de inovação passa pela visualização de duas formas de relação do ser
humano com o mundo: Eu-Tu e Eu-Isso [2]. No primeiro caso, o ser humano assume responsabilidade com
outro ser cuja existência ele encontra e, no segundo caso, ele domina um objeto para a satisfação de suas
necessidades. A atual teoria da inovação tem por base o segundo tipo de relação. O que se propõe neste
trabalho é uma inovação que considere, também, o primeiro.
Pois bem, a relação Eu-Tu ocorre com relação à natureza não humana, com relação ao ser humano e
com relação ao Eterno.
A idéia de natureza não humana implica no caráter de natureza do ser humano, que, neste sentido é
semelhante a todo restante da existência na Terra. A inovação pode ocorrer, neste aspecto, por produtos e
processos produtivos que não representem intervenções nos ecossistemas e ciclos naturais, que respeitem sua
qualidade, seu tempo, sua forma.
Na relação com outro ser humano, se pode inovar com uma preocupação em identificar verdadeiras
necessidades, ou mesmo desejos, e não criá-los. Produtos necessários e não necessidade de produtos.
Com relação ao Eterno, temos que a inovação deve permitir de forma contínua uma vida íntegra para
a Comunidade da Vida, incluindo atividade econômica nesta Comunidade, como elemento da vida humana, a
qual é interdependente do restante da natureza.

5 Mais serviços, menos produtos

Uma possibilidade de orientação para a atividade econômica, neste sentido, é que a inovação passe
por produtos que possam ser utilizados por longo tempo, mas que requeiram ou estimulem a utilização de

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serviços. Assim, ao invés de criar produtos que tendem a ficar obsoletos em curto prazo, pensar em produtos
que sirvam de plataforma para outros, ou para serviços.
Se um produto permanece em uso, não será necessário ir a natureza buscar mais matéria prima para
fabricar um novo produto que realizará a mesma função. Mas como a atividade econômica se manter e,
mesmo, se ampliar se não com novos produtos? Ora, com serviços relacionados aos produtos, por exemplo, a
assistência técnica, cursos para melhor utilização, oportunidades de lazer. Isso se o produto for vendido,
porque o serviço pode ser também viabilizar o uso do produto, o qual será possível para muitas pessoas,
repetidas vezes, reduzindo a necessidade de intervenção na natureza e de dar uma destinação adequada para
materiais que já não podem ser utilizados [16].
Estas são apenas algumas possibilidades a ser construídas e não estão disponíveis para todos os
setores, mesmo porque a inovação tecnológica radical [4], necessária para esta mudança, não é aceita em
todos os setores da mesma forma.

6 Uma possível crítica

Uma crítica, dentre as muitas possíveis, com relação ao argumento ora desenvolvido, seria a de que o
mesmo não questiona a busca pelo lucro, pelo crescimento da produtividade, não falando em redução de
consumo. Mas reduzir o consumo de quem? Com certeza, grande parcela da população mundial ainda
consome menos, inclusive alimentos, do que seria desejável. É preciso lhes dar acesso aos benefícios
trazidos pela ciência e tecnologia nos mais diversos setores. O ponto apenas é como este acesso será
construído, o que somente pode ser feito mediante inovação eis que a forma pela qual os “ricos”
beneficiaram-se e ainda beneficiam-se da civilização tecnológica não é sustentável.
Uma proposta interessante foi desenvolvida na Índia, quando os resíduos sólidos produzidos na
cidade são transformados em materiais de construção de baixo custo e boa qualidade que podem ser
utilizados para habitações populares [12].
Esta inovação decorrerá, como foi visto, de duas mudanças de paradigma, primeiro, no plano ético as
relações que os seres humanos estabelecem com o mundo não podem ser nem apenas, nem principalmente
Eu-Isso, mas também e fundamentalmente Eu-Tu, com o conseqüente respeito ao princípio responsabilidade
e, segundo, no plano técnico, o que deve ser vendido não é tanto um produto, mas um serviço.

7 Conclusão

A inovação sustentável encontrará consumidores e será lucrativa se for entendida a partir de um


paradigma de sustentabilidade na qual a integridade da Comunidade da Vida não é um elemento a competir
com outros, mas diretriz para que se pensem as necessidades sócio-econômicas de forma eficiente, isto é,
produtora de riqueza para todos.
Não é possível fazer uma proposta de inovação responsável sem considerar em quem ainda não
consome como precisa, então, não há problemas em continuar a pensar em aumento de produção, mas esta
precisa ser diferente da que vem sendo feita.
Esta mudança na produção pode ser resultado, em certo, sentido, do atual modelo, que considera a
relação direta entre inovação mais ampla e maiores resultados de produtividade.

Referências Bibliográficas

[1]ARISTÓTELES.(1973) Tópicos. São Paulo : Abril Cultural.


[2]BUBER, M.(1979) Eu e Tu. 2 ª Ed. São Paulo: Cortez & Moraes.
[3]COSTA, F. A. (2006). Arranjos e Sistemas Produtivos e Inovativos Locais – As Possibilidades do
Conceito na Constituição de um Sistema de Planejamento para a Amazônia, Revista Brasileira de Inovação,
5 (1): 77-98.
[4]DOSI, G. (2006). Technological Paradigms and Technological Trajectories, Revista Brasileira de
Inovação, 5 (1): 17-32.
[5]GOMES, Luiz Antônio Vidal de Negreiros.(2001) Criatividade: projeto, desenho, produto. Santa Maria:
Schds.
[6]JONAS, Hans (2006). O princípio responsabilidade: ensaio de uma ética para a civilização tecnológica.
Rio de Janeiro: PUC-RJ.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

[7]MAHLER, D.,BARKER, J.,BELSAND, L. e SCHULZ, O. (2010) “Green” Winners: the performance of


sustainability-focused companies during the financial crisis. Disponível em
<http://www.sustaincommworld.com/pdfs/ATKearney_Green_Winners.pdf>. Acesso em 17 de jul. de 2010.
[8]MANZINI, E. e VEZZOLI, C.(2005) O desenvolvimento de produtos sustentáveis: os requisitos
ambientais dos produtos industriais. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo.
[9]MARQUES, S.e TORRES, M. (2006) Inovação, Crescimento e Sustentabilidade, Revista da ESPM, 13
(4): 36-43.
[10]MUNARI, Bruno.(2008) Das coisas nascem coisas; trad. José Manuel de Vasconcelos; 2° Ed. São
Paulo: Martins Fontes, 2008.
[11]NELSON, R.R. e WINTER, S.G. (2004) In search of useful theory of innovation 3 (2): 243-281.
[12]PANDYA, Yatin. Indian Alchemy. Domus 911: (16-21).
[13]POTTS, Tavies. (2010) The natural advantage of regions: linking sustainability, innovation, and regional
development in Australia, Journal of Cleaner Production, 18: 713-725
[14]PRIGOGINE, Ilya. (1996) O fim das certezas: tempo, caos e as leis da natureza. São Paulo: UNESP.
[15]SAWHNEY, M; WOLCOTT, R.; ARRONIZ, I.(2007) As 12 dimensões da inovação, HSM Management
60 (1): 104-112.
[16]THACKARA, J. (2008) Plano B: O Design e as Alternativas Viáveis em um Mundo Complexo. São
Paulo: Saraiva.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

INSTIUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR EM SANTA CATARINA: CARACTERIZAÇÃO E


BREVE HISTÓRICO

Avelino Euclides da Silva Chimbulo1*; Elisangela Machado Rodrigues2; Dra Simone Meister Sommer
Biléssimo3- orientador
1
Universidade do Extremo Sul catarinense –– UNESC
2
Universidade do Extremo Sul catarinense –– UNESC
3
Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC

1. Introdução
O ensino em geral, e especificamente o ensino superior é um instrumento de extrema importância para
o desenvolvimento dos países. Num mundo amplamente globalizado e em constantes transformações torna-
se imprescindível avançar e desenvolver o ensino de modos a atender as exigências “naturais”, do ponto de
vista de competitividade, e artificiais – aquelas relacionadas aos órgãos internacionais com o intuito de
favorecer as grandes potências. Segundo Zainko e Gisi [1] os desafios contemporâneos exigem uma atenção
especial a educação superior. Quaisquer que sejam estes desafios, a necessidade que se tem hoje de se
produzir um ensino superior cada vez mais apurado é vital já que os mesmos se inserem no contexto das
transformações econômicas políticas e socioculturais em curso, no qual o conhecimento passa a ser
considerado fundamental para o desenvolvimento dos países. Assim, neste processo de tentativa de atender a
demanda por qualificações gerada surgem os diversos centros de ensino, destacando o papel das Instituições
de Ensino Superior – IES - que com uma capacidade maior de agregação de valor ao insumo - aluno –
concorrem entre si numa disputa que vem se tornando cada vez mais acirrada, onde a busca incessante por
um modelo de gestão eficiente constitui uma senão a principal meta a ser atingida.
Portanto, o objetivo desse trabalho, diante das transformações vivenciadas pela sociedade
contemporânea, é fazer uma análise sobre a situação atual em que se encontra o ensino superior
particularmente no Estado de Santa Catarina. Busca-se entender o funcionamento das IES no Estado,
caracterizando- as e analisando a sua evolução, procurando assim identificar fatores que expliquem as
condições que demarcam a educação superior em Santa Catarina de modos a entender o desenvolvimento do
Estado em relação às recomendações dos organismos competentes a nível Nacional e Internacional.

2. Método
De acordo com Richardson [2] “método científico é o caminho da ciência para chegar a determinado
fim ou objetivo, [...] metodologia são as regras estabelecidas para o método científico”. Esta pesquisa é de
caráter bibliográfico, tendo como base de estudo os acervos relacionados com o tema em análise, destacando
os relatórios do pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP. [3] A
pesquisa bibliográfica oferece meios de entendimento técnico ao leitor, desta forma, destaca-se por sua
abrangência totalmente ligada a literatura. A busca de informações realizada para formação deste trabalho foi
proporcionada através de pesquisa bibliográfica e com a ajuda de métodos e procedimentos de literatura.

3. Resultados e Discussão
As instituições de ensino superior variam e caracterizam-se de várias formas segundo as normas de
cada país. Segundo Biléssimo [4] para o Brasil os ingressantes a estas precisam ter concluído o ensino médio
ou equivalente e tenham sido classificados em processo seletivo. Segundo o DECRETO Nº 3.860, DE 9 DE
JULHO DE 2001 que Dispõe sobre a organização do ensino superior, a avaliação de cursos e instituições, e
dá outras providências, a classificação das IES no Brasil está feita da seguinte forma:
Quanto á sua natureza jurídica ou administração as instituições de ensino superior dividem-se em:
 Públicas (ou Estatais), mantidas por alguma esfera do poder público e podem ser:
o Civis: mantidas pela União (federal), por uma Unidade federativa (Estadual) ou
por um município (Municipal).
o Militares: mantidas pelas Forças Armadas ou por corporações militares, como
as polícias.
 Privadas: são mantidas por instituições que não são vinculadas ao Poder Público.
Podem ser:
o Comunitárias†: mantidas por entidades sem fins Lucrativos, podendo ser Laicas
(sem vínculo religioso) ou Confessionais (mantidas por instituições religiosas)

*
mykechimbas@hotmail.com

Na qual faz parte a instituição em que pertencemos.
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o Particulares em Sentido Estrito: instituídas e mantidas por uma ou mais pessoas


físicas ou jurídicas de direito privado, constituem-se em entidades co fins
lucrativos.
De acordo com à sua natureza ou organização acadêmica, as IES classificam-se em;
 Universidades cujas atividades - fim são o ensino‡, a pesquisa e a extensão em todas as
áreas do conhecimento humano.
 Centros Universitários (IESs pluri-curriculares caracterizadas pela excelência do ensino
oferecido).
 Institutos (são instituições de ensino em todas as áreas do conhecimento humano).
 Faculdades Integradas (são instituições de ensino com propostas curriculares em mais
de uma área do conhecimento, organizadas sob o mesmo comando e regimento comum,
não sendo obrigadas a desenvolver pesquisas.
 Faculdades (são instituições de ensino que não cobrem todas as áreas do conhecimento
humano)
 Escolas superiores (são instituições que oferecem um ou mais cursos de graduação em
uma área específica.
O ensino superior em Santa Catarina, semelhantemente ao Brasil, tem a sua origem relativamente
tardia. Enquanto no Brasil, de um modo geral, a disseminação das IES teve maior ímpeto a partir dos anos
1930, 1940, em Santa Catarina as primeiras IES foram criadas na década de 1950 quando o governo do
estado deu origem, em 1956, em Joinville, uma Faculdade de Engenharia, e, em 1963 e 1965,
respectivamente, a Faculdade de Educação e a Escola Superior de Administração e Gerência, ambas com
sede em Florianópolis, Neiva e Collaço [5]. Começava, assim, segundo os autores, a nascer à atual
Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC, cujos cursos, para o aluno, eram altamente subsidiados,
passando a ser gratuitos com o advento da Constituição Federal de 1988.
As fundações foram se desenvolvendo e evoluindo ao longo dos anos, atingindo uma magnitude tal
que muitas delas adquiriram o estatuto de universidade como o caso da Universidade do Extremo Sul
Catarinense (UNESC) – que é assim chamada desde 3 de Junho de 1997, antes denominada por Fundação
Educacional de Criciúma (FUCRI) [6]. Contudo, o aumento das fundações foi tão significativo que fez com
que em 1974 os presidentes das fundações criadas por lei municipal e da fundação criada pelo Estado
constituíssem a ACAFE – Associação Catarinense das Fundações Educacionais. De caráter comunitário, sem
fins lucrativos, as IES do sistema ACAFE buscam o desenvolvimento das microrregiões do Estado de Santa
Catarina, cumprindo sua função social, desenvolvem, sem ônus para os beneficiários, programas e projetos
de assistência à comunidade, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida, inclusão social e construção
da cidadania. Segundo a ACAFE [7], no ano de 2008 as IES comunitárias de Santa Catarina eram
responsáveis por mais de 129 mil alunos de Graduação matriculados, respondendo por aproximadamente
63% das matrículas de graduação presencial de SC, distribuídas por 59 cidades do estado.
Os resultados mostraram que . Na região Sul do Brasil o Estado é o que menos tem IES atrás de
Paraná e Rio Grande do Sul com 178 e 99 IES respectivamente, representando um total da região de 370 IES
ou 16.4% das IES do Brasil. Somente na região Sudestes estão concentradas quase 50% das IES do País.
Entre as 30 primeiras instituições quanto ao número de matrículas aparece somente uma IES do Estado de
Santa Catarina, a Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI na 28ª posição com 22.238 alunos matriculados
no ano de 2008 segundo o INEP. Ver tabela 1.
Segundo a tabela 1, observa-se que houve uma queda no número de IES em todas as regiões e
unidades em análise e inclusive no Brasil, de 2007 para 2008, exceto, coincidentemente, em Santa Catarina.
Segundo o relatório publicado pelo INEP, a diminuição do número de IES pode ser compreendida pela fusão
ou compra entre as instituições, fator que também vem sendo registrado. Não obstante Santa Catarina
apresentar um aumento ligeiro em 2008 em relação ao ano anterior é visível que no ano de 2006 o Estado
chegou a atingir o número máximo de 105IES, o que garantiu no período a segunda colocação na região à
frente do Rio Grande do Sul. É importante ressaltar aqui também que apesar da diminuição no geral de
números de IES, o mesmo não aconteceu com o número de matrículas com um aumento de 4,1% para o
Brasil e ligeiros 0,7% para Santa Catarina com valores absolutos de 55.950 e 56.321 matrículas feitas em
2007 e 2008 respectivamente segundo o censo superior 2008.

‡ 4
; Atividades de ensino deverão incluir programas de mestrado ou doutorado avaliados
positivamente pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior).
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

O número de cursos ofertados em Santa Catarina continua vem mantendo sua trajetória crescente. O
censo superior 2008 registrou 1.192 cursos nas IES do Estado, 4,1% a mais que no ano anterior, porém este
número está muito além dos valores dos outros dois Estados da região Sul, Paraná com 1.831 e Rio Grande
do Sul com 1.635, ambos com um crescimento na ordem dos 4.1% semelhantemente a Santa Catarina.
Entretanto, quando se observa especificamente os cursos tecnológicos, o cenário é bastante favorável ao
Estado, uma vez que os dados mostram que somente, em ordem decrescente, São Paulo, Rio de Janeiro,
Minas Gerais e Paraná, possuem mais cursos de educação tecnológica,o que demonstra que Santa Catarina
tem um avanço considerável no ramo da tecnologia, pois assume-se aqui que a distribuição de cursos
relacionados ao setor representa o desenvolvimento do Estado ou Regiões vizinhas neste respectivo
segmento da economia em termos de tecnologia. De fato, Santa Catarina é conhecido por ter uma indústria
com forte desenvolvimento tecnológico principalmente nos setores metal-mecânico e de produção de
softwares, o que de certa forma explica, por um lado, a tendência crescente em termos de oferta de cursos de
educação tecnológica.
Tab.1: Evolução do número de Instituições de Educação Superior nas regiões Sul e Sudeste –
Brasil – 2005 - 2008
UF 2005 2006 2007 2008

Brasil 2165 2270 2281 2252


SE 1051 1093 1095 1069
MG 311 319 319 308
ES 98 97 91 88
RJ 121 137 138 136
SP 521 540 547 537
S 370 387 375 370

PR 172 180 183 178


SC 99 105 92 93
RS 99 102 100 99

Fonte:INEP(2008)
4. Conclusão
Os resultados encontrados neste artigo evidenciam aspectos gerais e particulares que caracterizam o
ensino superior no Brasil e em Santa Catarina. Do ponto de vista geral pretende-se dizer que o ensino
superior no País teve a sua propagação relativamente tarde e de forma concentrada se analisados alguns
fatores específicos como o número de Instituições de Ensino Superior, em que somente na região Sudeste
estão concentradas aproximadamente 50%. Ainda de modo geral, observou-se que a educação no Brasil
esteve sempre atrelada a questões político-partidárias, ou seja, Governos mais liberais deram um rumo a
educação superior, privatizando-a e expandindo assim o número de vagas ofertadas, foi o caso das políticas
adotadas no início dos anos 1990 até princípios de 2000, e um Governo mais Social, digamos, que é o
Governo Lula, que implementou políticas mais sociais na educação e com isso ampliou consideravelmente a
oferta de ensino, com um aumento maior na ordem dos 2000 cursos ano no número de cursos ofertados, e
não tanto no número de IES que aumenta em um ritmo mais lento devido principalmente a questões
estratégicas como compra e fusões de instituições.
Do ponto de vista específico observa-se que em Santa Catarina o ensino superior sofreu algumas
metamorfoses intrínsecas. Se na década de 1960, época de maiores incentivos para a disseminação do ensino
superior no Estado, o ensino era predominantemente gratuito, o mesmo não acontece no presente. As
instituições privadas, semelhantemente aos demais estados dominam a oferta de ensino num Estado em que
somente 7 instituições são públicas e 86 são privadas entre particulares e comunitárias, totalizando assim no
ano de 2008 93 IES. Um fato importante é que as IES comunitárias são responsáveis por mais de 129 mil
alunos de Graduação matriculados, respondendo por aproximadamente 63% das matrículas de graduação
presencial de SC, distribuídas por 59 cidades do estado. Finalmente quanto aos cursos, nota-se que as
políticas de educação como a Lei Geral de Diretrizes e Bases assim como a Reforma Universitária dos
Governos nos últimos 15 anos surtiu efeito na medida em que aumentam consideravelmente o número de
cursos no Estado. Verificou-se também que Santa Catarina apresenta um bom histórico de cursos
tecnológicos, situando-se somente atrás de, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Portanto, o cenário da educação superior no Estado é dinâmico. As IES continuam crescendo, e a


evolução de um modo geral é positiva, pois além de mudanças quantitativas observa-se também uma relativa
tendência à mudanças qualitativas no que toca a boa participação no contexto Nacional na oferta de cursos
tecnológicos, denotando assim uma característica inovadora.

Referências
[1] ZAINKO, Maria Amélia Sabbag; GISI, Maria Lourdes (orgs). Poíticas e gestão da educação
superior. Curitiba: Champagnat; Florianópolis: Insular, 2002. 266 p.
[2] RICHARDSON, Roberto Jerry. Pesquisa social: métodos e técnicas. 3.ed. São Paulo: Atlas, 1999.
[3] BRASIL. INEP. Censo a Educação Superior 2008. Disponível em:
<http://www.inep.gov.br/imprensa/noticias/censo/superior/news09_05.htm>. Acesso em: 11 Dez. 2009.
[4] BILESSIMO, Simone Meister Sommer. Modelo de gestão do curso de tecnologia em cerâmica a
UNESC. 2007. X Tese (Doutorada em Engenharia de Produção). Universidade Federal de Santa
Catarina, Florianópolis.
[5] COLAÇO, Flávio Roberto; NEIVA, Cláudio Carneiro. O novo quadro da oferta do ensino superior
presencial de graduação em Santa Catarina. Educonsult. Disponível
em:<http://www.educonsult.com.br/sc/leis/mudancas_graduacao_sc.doc>. Acesso em: 15 Dez. 2009.
[6] UNESC – Universidade do Extremo Sul Catarinense. Histórico. Disponível em:
<http://www.unesc.net/aunesc/>. Acesso em: 17 Dez 2009.
[7] ACAFE – Associação Catarinense das Fundações Educacionais. Instituições do sistema ACAFE.
Disponível em: <http://www.acafe.org.br/new/index.php?endereco=ver_galeria.php&idgaleria=5.
Acesso em: 15 Dez. 2009.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

INTERAÇÃO ENTRE CRIANÇAS SURDAS E OUVINTES EM SALA DE AULA:


OBSERVAÇÕES PARA A CRIAÇÃO DE UM MATERIAL LÚDICO-EDUCATIVO

Juliana Gritens1*; Juliana Silveira Anselmo2; Ivan Luiz de Medeiros³; Rita Inês Petrycowski Peixe4
1
Universidade da Região de Joinville – UNIVILLE
2
Universidade da Região de Joinville – UNIVILLE
³ Universidade da Região de Joinville – UNIVILLE
4
Universidade da Região de Joinville – UNIVILLE

1. Introdução
O Brasil recebeu grande influência de tendências pedagógicas estrangeiras durante o processo de
desenvolvimento da educação dos surdos. Estas por sua vez, seguiam os moldes da educação de ouvintes, ou
seja, a imposição da oralidade, deixando de lado a identidade cultural dos alunos surdos. Porém, todos
precisam interagir em seu meio, tomar conhecimento de sua cultura, sua história e, através do convívio com
o outro formar sua identidade [1]. Para a pessoa com deficiência auditiva, a interação com o meio é de igual
importância para que ela possa construir sua identidade e sua visão do mundo. A grande mediadora dessas
interações e significações é a linguagem, apresentando-se assim a importância de sua aquisição, que para os
ouvintes é a língua portuguesa e para o surdo é a Língua Brasileira de Sinais – Libras [2,3].
Visto que, surdos e ouvintes não compartilham da mesma linguagem, surgem inúmeras dificuldades
para que ocorra diálogo entre as partes. É comum que em uma sala de aula, as crianças surdas tenham
dificuldade na escrita e leitura em português, e as ouvintes desconhecem a Libras, não desconsiderando que
alguns surdos também não possuem o domínio da Libras. Uma das alternativas para promover a
comunicação e expressão em sala de aula, é utilizar a atividade lúdica. Por meio de jogos é possível abrir
uma porta para o mundo social e para a cultura infantil, encontrando desta maneira uma rica possibilidade de
incentivar o seu desenvolvimento, trazendo assim, mais prazer e ludicidade à vida das crianças [4]. Entende-
se que é no contexto escolar que o surdo encontra a possibilidade de construir seu espaço, através do
convívio com outros surdos e professores especializados, já que em grande parte surdos são filhos de pais
ouvintes [5].
O jogo educativo surge como um complemento e um prolongamento da atividade escolar,
possibilitando um reforço do ensino. Porém, o que caracteriza se esses jogos sejam considerados educativos
não é tanto a motivação lúdica e sim os temas abordados por intermédios desses princípios [6]. A
possibilidade de trazer o jogo para dentro da escola é a oportunidade de pensar a educação numa perspectiva
criadora, autônoma, consciente.
Vale salientar que a aquisição da linguagem ocorre de forma espontânea tanto para ouvintes quanto
para surdos. Porém para os ouvintes ela acontece através do canal auditivo-oral, e para os surdos, pelo canal
viso-espacial [7,8]. Fazendo-se assim, necessário respeitar a identidade cultural de cada um.
Neste sentido, o presente resumo apresenta as primeiras observações quanto ao processo de interação
entre crianças surdas e ouvintes em sala de aula, realizadas pelo Projeto de Pesquisa DLIBRA da
Universidade da Região de Joinville – UNIVILLE, que tem como objetivo principal desenvolver materiais
lúdico-educativos para ensino e aprendizagem da linguagem de LIBRAS, por meio de metodologias e
ferramentas do design.
O design pode ser um referencial para a interlocução entre surdos e ouvintes, nos fazendo refletir
sobre a sua função social. Todo projeto de design possui uma dimensão social. Ainda que não explicite
compromissos sociais, emerge numa determinada sociedade e reflete sua cultura. Sua forma de atuação pode
ser bastante ampla e com impactos significativos na sociedade. Fala-se, portanto, do design social, que
colabora com ações voltadas para o desenvolvimento da sociedade, combinando tecnologias e materiais de
contextos sociais, e com a preocupação de satisfazer ou modificar seu entorno.

2. Metodologia
Após aprovação da pesquisa pelo Comitê de Ética da Instituição, foram aplicados Termos de
Consentimento Livre e Esclarecido junto à direção da escola, professores e responsáveis legais dos alunos,
antes do início das observações.
Para o desenvolvimento da pesquisa seguiu-se as seguintes etapas: 1) levantamento e revisão
bibliográfica de conteúdos sobre educação de surdos, aprendizagem da linguagem de Libras, interação
social, sistemas de comunicação e materiais lúdicos; 2) visitas para observações sistemáticas e análises de
atividades desenvolvidas nas turmas de 1ª série (apenas com alunos surdos com idade entre 5 e 7 anos), 4ª

*
Autor Correspondente: julianagritens@gmail.com
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

série (apenas com alunos surdos com idade entre 10 e 14 anos) e 5ª série (bilíngüe com idade entre 11 e 15
anos), de uma Escola de Ensino Fundamental de Joinville/SC; 3) análise dos aspectos levantados na revisão
bibliográfica e dos registros das inferências à escola; 4) verificação do estado da arte dos materiais lúdico-
educativos pertinentes ao ensino e aprendizagem de Libras.

3. Resultados e Discussões
Além da hora do intervalo, foram observadas as aulas das disciplinas de língua portuguesa,
matemática, artes, educação física e história, a fim de conhecer o cotidiano dos alunos, o seu processo de
aprendizagem, relacionamento entre colegas e perceber como acontece a interação entre aluno surdo e aluno
ouvinte. Realizou-se uma observação na 1º série, quatro em duas turmas de 4º série e duas em duas turmas
bilíngües de 5º série. A Escola não possui 2º série com alunos surdos e na 3º série as observações foram
adiadas para outro momento devido ao calendário escolar.
O intervalo tem a duração de 15 minutos, porém os alunos de 1° a 4° série saem 10 minutos antes das
outras séries por serem crianças menores, durante esses 10 minutos os alunos fazem o lanche servido pela
própria escola. Após lancharem as crianças aproveitam o pátio do colégio para brincarem de pega-pega,
corrida, pular corda e tênis de mesa. As brincadeiras são as mesmas tanto para alunos surdos como para
alunos ouvintes, porém as crianças brincam separadamente. Percebeu-se que os alunos surdos se comunicam
com outros colegas surdos de séries diversas, mas dificilmente se relacionam com colegas ouvintes da
própria sala.
A 1º série, neste caso apenas com alunos surdos, é onde acontece a apresentação da linguagem de
Libras para a criança surda, visto que a maioria delas tem o primeiro contato com o idioma apenas quando
entram na escola. A professora da turma é bilíngue e utiliza imagens para tornar possível um diálogo inicial
com seus alunos e promover o ensino do alfabeto datilológico (alfabeto em Libras) e sinais básicos. Com
esse método, atrai o olhar do aluno e concentra sua atenção. Os alunos são bastante curiosos e uma das
atividades em que mais demonstram interesse é a de colorir. Apresentam dificuldade na apreensão dos temas
trabalhados pela professora, por exemplo, em matemática falando sobre quantidade, e em português se
tratando de identificar o nome dos objetos e animais, em decorrência de não conhecerem toda a gama de
sinais em Libras, dificultando a compreensão do assunto.
Em um dos momentos de observações na turma da 4° série composta também apenas por alunos
surdos e professora bilíngüe, a professora desenvolveu uma atividade em que os alunos deveriam construir
frases com palavras retiradas de um texto já trabalhado com a classe. Uma dessas palavras era formiga e a
frase escrita por um dos alunos foi à seguinte: “eu gosto não formiga”, que significava “eu não gosto de
formiga”. É possível verificar claramente que o aluno estruturou sua frase da mesma forma como faz em
Libras. O que demonstra uma clara dificuldade de expressão do aluno surdo com a língua portuguesa.
Com a 5º série, a aula transcorre um pouco diferente. Surdos e ouvintes compartilham o mesmo
espaço, a mesma sala de aula e a professora vem acompanhada por uma intérprete. A professora explana o
assunto e a intérprete repassa as informações para os alunos surdos, através da linguagem de Libras. Nos dias
em que foram realizadas as observações, a professora não utilizou recurso visual como material de apoio
para auxilia em sua comunicação com os alunos e facilitar o entendimento e a apreensão da disciplina por
eles. A divisão em sala é muito clara, surdos ocupam uma metade da sala e ouvintes, a outra, o que acaba
limitando a interação entre eles. Um pequeno número de alunos ouvintes conhece superficialmente a
linguagem de Libras, e alguns alunos surdos conseguem utilizar a escrita em português, possibilitando-lhes
um diálogo, mesmo que restrito.

4. Conclusão
A partir dos resultados obtidos com as visitas para observação, verificou-se que a interação entre
alunos surdos e ouvintes acontece de forma limita, pois por não falarem o mesmo idioma acabam tendo
dificuldades em se comunicar. Tanto os alunos entre si, quanto o professor com os alunos. Em algumas
situações os professores têm dificuldade para compreender questionamentos de seus alunos surdos, por não
terem o domínio da Libras, o que acaba interferindo na compreensão da disciplina por parte do aluno.
Percebe-se assim, que o desenvolvimento de um material lúdico-educativo que trabalhe a identidade, a
autonomia, a criatividade e a atenção, faz-se de grande valia, podendo ser utilizado pelo professor como
ferramenta de comunicação, expressão, aprendizado e interação.
Após a identificação das principais características de aprendizagem e interação de crianças ouvintes e
surdas no ambiente de ensino, o projeto DLIBRA têm previsto em suas atividades a aplicação de entrevistas
semi-estruturadas com os professores; a sistematização e o desenvolvimento do material lúdico por meio da
aplicação de ferramentas projetuais do design; a produção do protótipo a partir das soluções obtidas; a
aplicação do material piloto junto aos alunos e os ajustes técnicos finais.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

Referências
[1] CAPORALI, S.A; DIZEU, L.C.T. A língua de sinais constituindo o surdo como sujeito. Educ. Soc.,
Campinas, vol. 26, n. 91, p. 583-597, Maio/Ago. 2005. Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br>
Acesso em jun. de 2010.

[2] GESUELI, Z.M. Linguagem e identidade: a surdez em questão. Educ. Soc., Campinas, vol. 27, n. 94, p.
277-292, jan./abr. 2006. Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br> Acesso em jun. de 2010.

[3] QUADROS, Ronice Muller de. O tradutor e intérprete de língua brasileira de sinais e língua
portuguesa. Brasília: MEC, 2004.

[4] FRIEDMANN, Adriana. Brincar: crescer e aprender - o resgate do jogo infantil. São Paulo: Moderna,
1996.

[5] PAULA, L.S.B de. Cultura escola, cultura surda e construção de identidades na escola. Educ. Soc.,
Campinas, vol. 26, n. 91, p. 565-582, Maio/Ago. 2005. Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br>
Acesso em jun. de 2010.

[6] BROUGÈRE, Gilles. Brinquedos e companhia. São Paulo: Cortez, 2004.

[7] MARQUES, Rodrigo Rosso. Surdo - aprendizagem e integração. Episteme (Tubarão), Tubarão (SC), v.
9, n. 26/27 , p. 175-187, mar./out. 2002.

[8] STROBEL, Karin. As imagens do outro sobre a cultura surda. 2. ed. rev. Florianópolis, SC: Editora da
UFSC, 2009.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

INTERDISCIPLINARIDADE E EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Mariane Eliza Weinert1; Vanessa Laís Verboski2*; Vinicius Rosa Nadolny3


1
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
2
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
3
Universidade Tecnológica Federal do Paraná

1. Introdução
Nos dias de hoje é comum ouvir a palavra Interdisciplinaridade, principalmente quando trata-se de sala
de aula.
A palavra interdisciplinaridade apresenta um rico campo de questionamento, produz novos saberes,
permitindo diferentes e novas formas de compreensão da realidade social. É essencial que os educadores
dominem sua área, mas que também saibam o que acontece no mundo a sua volta, e quando essas práticas do
mundo em si são trabalhadas em sala, é uma prática interdisciplinar.
Nos nossos dias é fundamental abordar assuntos como a educação ambiental nas salas de aulas. É isso
que pretendemos analisar: a importância da prática interdisciplinar e como podemos trabalhar a educação
ambiental com nossos alunos, sem depender de uma disciplina exata para isso.

2. Método
Falar de interdisciplinaridade no ensino é fazer relação sobre a interação entre disciplinas de
diferentes áreas e o ensino.
É difícil definir a palavra interdisciplinaridade, pois apresenta um rico campo de questionamentos.
Questionamentos esses que vêm desde a Grécia antiga, explorados no Brasil por Ivani Fazenda desde 1970.
[2]“É impossível a construção de uma única, absoluta e geral teoria da interdisciplinaridade, mas é necessária
a busca ou o desvelamento do percurso teórico pessoal de cada pesquisador que se aventurou a tratar de
questões desse tema”.
[3]A interdisciplinaridade não tem a obrigação e nem deve criar novas disciplinas, mas sim
complementar discussões atuais, em diferentes pontos de vistas.
É cada vez mais notória a complexidade do processo de transformação de um planeta não apenas cada
vez mais ameaçado, mas também diretamente afetado pelos riscos socioambientais e seus danos.
A essência da crise ambiental é a incerteza, e isto terá maior ou menor impacto de acordo com a forma
como a sociedade, levanta a questão da auto-limitação do desenvolvimento, assim como da tarefa de
redeterminar os padrões (de responsabilidade, segurança, controle, limitação do dano e distribuição das
conseqüências do dano) atingidos aquele momento, levando em conta as ameaças potenciais.
É por isso que a educação ambiental deve ser trabalhada em sala de aula, em todas as disciplinas, aqui
apresentamos opções de como trabalhar a educação ambiental nas disciplinas de Língua Estrangeira, Língua
Portuguesa e Geografia, quais são trabalhadas pelos autores do artigo.

3. Resultados e Discussão
[2]Na perspectiva escolar, a interdisciplinaridade não tem a pretensão de criar novas disciplinas ou
saberes, mas de utilizar os conhecimentos de várias disciplinas para resolver um problema concreto ou
compreender um fenômeno sob diferentes pontos de vista. Em suma, a interdisciplinaridade tem uma função
instrumental. Trata-se de recorrer a um saber útil e utilizável para responder as questões e aos problemas
sociais contemporâneos.
Seguindo essa linha de pensamento é fundamental trabalhar em diferentes disciplinas a educação
ambiental. Aqui temos uma proposta de como trabalhar a educação ambiental nas disciplinas de Língua
Estrangeira, Língua Portuguesa e Geografia.
As práticas educativas devem apontar para propostas pedagógicas centradas na mudança de hábitos,
atitudes e práticas sociais, desenvolvimento de competências, capacidade de avaliação e participação dos
educandos. Isto desafia a sociedade a elaborar novas formas de pensar.

*
Autor Correspondente: vane.verboski@gmail.com

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

[4]Esta reforma do pensamento permite a integração do contexto e do complexo, compreendendo as


interrelações, multidimensionalidades, dinâmicas que respeitem e assimilem a unidade e a diversidade,
baseadas em princípios éticos e no reconhecimento das diferenças.
A educação ambiental nas aulas de Língua Estrangeira, aqui no caso, Língua Espanhola, pode ser
trabalhada com leitura de textos, na qual o aluno estará conhecendo novas palavras e também estará trazendo
conhecimentos sobre o meio ambiente.
Em aulas de Língua Portuguesa, a educação pode ser trabalhada também com leitura de textos sobre
degradação ambiental, tecnologias, e também poderá produzir textos, e o professor pode ainda trabalhar com
leitura de rótulos de produtos, caixas de produtos, como caixas e manual de celulares, procurar informações
sobre a bateria, se trás informações de onde ela pode ser descartada, etv.
Nas aulas de Geografia, a educação ambiental pode aproveitar a brecha da disciplina que trabalha com
o meio ambiente, o professor pode fazer excursões ou uma simples visita ao lixão da cidade, lembrando que
o professor deve sempre instigar seus alunos para cobrarem um mundo melhor.
Vale ressaltar que a educação ambiental não é somente ensinar a não poluir, degradar o meio
ambiente, mas também ajudar o aluno a fazer escolhas saudáveis para sua vida e de seu planeta, observando
empresas que cooperam com o ambiente, produtos ecologicamente corretos, entres outros.
Uma mudança paradigmática implica uma mudança de percepção e de valores, e isto deve orientar de
maneira decisiva para formar as gerações atuais não somente para aceitar a incerteza e o futuro, mas para
gerar um pensamento complexo e aberto às indeterminações, às mudanças, à diversidade, à possibilidade de
construir e reconstruir num processo contínuo de novas leituras e interpretações, configurando novas
possibilidades de ação

4. Conclusão
Devido à constante preocupação com o meio ambiente em que vivemos, e por sabermos das práticas
interdisciplinares em sala de aula, buscamos todo o referencial teórico para realizar um projeto e trabalhar a
educação ambiental em parceria com algumas disciplinas. Pretende-se aplicar o projeto nas aulas de Língua
Estrangeira, Língua Portuguesa e Geografia, como apontado acima, no segundo semestre do ano de 2010.
Espera-se o melhor resultado possível, pois devido as grandes discussões que uma educação ambiental
de qualidade pode trazer, principalmente para um aluno que pode não ter sido educado ambientalmente.

Referências

[1]BECK, U. Risk Society. London: Sage Publications, 1994.

[2] BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais (Ensino Médio). Secretaria da Educação – Brasília:
MEC/SEF, 2000.

[3] FAZENDA, Ivani C. A. Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa. Campinas:


Papirus, 1994.

[4]MORIN, E. Ciência com consciência. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.

*
Autor Correspondente: vane.verboski@gmail.com

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

ITALIANIDADE E EDUCAÇÃO: ENTRELAÇANDO HISTÓRIAS E MEMÓRIAS

Éder Homem de Borba, Lúcio Kreutz (Orientador)


Universidade de Caxias do Sul

1. Introdução
A pesquisa realiza-se a partir de memórias transcritas de professores que lecionaram
entre 1910 e 1940, no período em que se estabeleceram as escolas étnicas na região de imigração
italiana de Caxias do Sul e seu entorno. Contempla as diferentes formas que constituíram o
processo de Educação da região na época. Não se restringe à educação em sala de aula, aborda
também a praticada no meio familiar, a partir dos costumes étnicos dos descendentes de italianos
que aqui viveram. A pesquisa delimita-se ao espaço geográfico das antigas colônias Conde D‟eu,
Dona Isabel, Caxias do Sul e Antônio Prado. A análise dos relatos da voz de professores que
viveram nesta determinada região leva a entender a função sociocultural assumido pelo professor na
sociedade da época. Buscando compreender esta sistematização da Educação, o trabalho apóia-se
nos conceitos de representação, cultura escolar, práticas e apropriações, centrais na história cultural,
especialmente em Roger Chartier. Na metodologia lança-se mão da memória oral, com depoimentos
colhidos e transcritos já na década de 1980, mas ainda não trabalhados em pesquisa. É importante
compreender a identidade cultural construída por esta gente no decorrer do tempo. Como resultado
da pesquisa destaca-se a questão da religiosidade presente na prática educacional, tanto familiar
como em sala de aula. Uma educação que buscava ensinar as coisas essenciais para a vida,
utilizando-se dos elementos do cotidiano dos alunos. A compreensão da educação no passado nos
leva a perceber melhor as transformações que estamos passando nos dias de hoje.

2. Método
Entendendo a memória como fonte documental lança-se mão da mesma, com
depoimentos colhidos e transcritos já na década de 1980, mas ainda não trabalhados em pesquisa.
Tomando a história oral como metodologia , inspirado em conceitos como cultura escolar (Julia,
2001), práticas e apropriações (Certeau, 1994) e representações (Chartier, 2004), analisa-se a voz
dos sujeitos entrevistados , o que possibilita o desenho de um tempo e de uma identidade cultural,
por meio de memórias de ex-professores.

3. Resultados e Discussão

Com os resultados alcançados até o momento, destaca-se a questão da religiosidade presente


na prática educacional, tanto familiar como em sala de aula. Trata-se de ensinar as coisas essenciais
para a vida, utilizando-se dos elementos do cotidiano dos alunos. Um aspecto essencial é a
tolerância e o uso freqüente do idioma materno (italiano), no processo educacional, constituindo-se
em características bastante central do processo identitário. Também se percebe a valorização do
lugar de origem dos antepassados. Nas décadas de 1920/30 houve maior atenção com a afirmação
da língua portuguesa e dos valores do civismo relacionados com a nova pátria. Buscamos
compreender quais são as representações presentes no processo identitário da imigração italiana,
aquilo que o faz ser reconhecido como pertencente à determinada cultura. Ao falar de
representações, podemos destacar “a representação inclui as práticas de significação e os sistemas
simbólicos por meio dos quais os significados são produzidos, posicionando-nos como sujeito. É
por meio dos significados produzidos pelas representações que damos sentidos à nossa experiência
e aquilo que somos (WOODWARD, 2000)”. A partir de tal contextualização queremos
compreender os significados que dão sentido a identidade cultural das Antigas Colônias de
imigrantes italianos. Partindo de identidade cultural como “Surgem de nosso „pertencimento‟ a
culturas étnicas, raciais, lingüísticas, religiosas e, acima de tudo, nacionais.”
Chama à atenção a valorização do lugar de origem de seus antepassados. A criação de uma
identidade cultural que era própria de determinado grupo, com suas representações que no processo
cultural, podemos destacar como estabelecendo identidades tanto individuais como coletivas. Pode-

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se levantar questões sobre o poder da representação e sobre como e por que alguns significados são
preferidos relativamente a outros.

4. Conclusão
A partir de memórias transcritas de professores que viveram nesta época e por meio
de autores que trataram deste mesmo tema, identidade cultura, podemos compreender como
gradativamente foi sendo formado a identidade cultural dos imigrantes italianos. São fatos que nos
fazem compreender como este processo ocorreu no decorrer do tempo. Na medida em que foi dando
forma ao processo identitário aos poucos também foi dando características que se destacaram como
próprias da identidade dos imigrantes que viveram nas Antigas Colônias italinas.

Referências

CERTEAU, Michel. A Invenção do cotidiano. Petrópolis: Vozes, 1994.


CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador. São Paulo: UNESP, 1999.
JULIA, Dominique. A cultura escolar como objeto histórico. Revista Brasileira de História
da Educação SBHE, Campinas, n. 1, p. 9-43, jan./jun. 2001.
HALL, Stuart e Woodward, Kathryn. Identidade e diferença. Petrópolis: Vozes, 2000.
HALL, Stuart. A identidade Cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro:DP&A Ed. 2006.
1

1
Éder Homem de Borba: ederhb@gmail.com
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JOGOS ELETRÔNICOS: UMA FERRAMENTA NA CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE


POLUIÇÃO SONORA

Tiago da Costa Vasconcellos1*; Stephan Paul2


1
Universidade Federal de Santa Maria
2
Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução
Com o crescimento dos grandes centros populacionais cresce também a emissão de poluentes no meio
ambiente. Hoje em dia nos deparamos com uma nova poluição que não pode ser vista, porém apenas sentida
devido à emissão de ruídos no ambiente a qual chamamos de poluição sonora. O ruído é uma ameaça
subestimada que pode causar uma série de problemas de curto e longo prazo da saúde. Surge então à
necessidade de conscientizar e educar as gerações futuras quanto ao controle de emissão de ruídos. Uma das
maneiras mais práticas para essa educação é aproveitarmos o fato do jovem passar uma grande parte do seu
tempo frente ao computador seja conectado ao mundo virtual ou então envolvido em jogos. Neste artigo
tratamos de aspectos relevantes que nos levaram a desenvolver um jogo virtual, eletrônico e educativo com o
qual se pode informar, educar e conscientizar os jovens sobre o ruído e poluição sonora.

2. O Ruído e a Poluição Sonora


Uma questão interessante a respeito do esclarecimento do conceito de poluição sonora é a distinção
entre som e ruído. O som, de forma geral, é o fenômeno acústico caracterizado pela vibração oscilatória das
partículas de um meio elástico. Estas oscilações podem ser causadas pela vibração de um corpo rígido e
podem se propagar dentro do meio elástico, dando origem à onda sonora. O ruído por sua vez é um
fenômeno de complexa definição, mas a princípio trata-se de um fenômeno psicológico, dado que o ruído é
uma percepção sonora não desejada, que invade o lar, o lazer ou o trabalho e que gera desconforto, mal-estar
e perda da produtividade e da saúde. A poluição sonora se dá através do ruído e é considerada uma das
formas mais graves de agressão ao homem e ao meio ambiente. Por sua vez a poluição sonora possui
características bastante peculiares que a diferenciam dos demais tipos de poluição. A forma de propagação
da poluição sonora é diferente dos demais tipos de poluição, pois não ocorre deslocamento permanente de
moléculas ou transferência de matéria e sim de energia. Esse é o tipo mais difuso de poluição, pois em
praticamente todos os lugares onde o ser humano habita ou interage existe alguma forma de emissão de
ruídos, sendo por isso mais difícil a identificação e o controle das fontes. Outra característica é que a
poluição sonora gera os seus efeitos, principalmente, na vizinhança das fontes de emissão, o que não ocorre
com a poluição atmosférica ou com a poluição hídrica cujos efeitos podem ser perceptíveis mesmo em
longas distâncias. Ainda outra característica é que a poluição sonora não deixa nenhuma espécie de resíduo
ou registro, de maneira a desaparecer quase imediatamente assim que a fonte emissora seja interrompida, a
não serem os efeitos acumulados no organismo humano.
É preciso destacar também que a poluição sonora é um fenômeno que comporta certa relativização, já
que cada indivíduo possui um grau determinado de sensibilidade auditiva. Obviamente essa relativização
existe somente até determinado limite, pois existem limites a partir dos quais todos os seres humanos estão
sujeitos a sofrer os efeitos maléficos da poluição sonora. Além do mais, o grau de sensibilidade à poluição
sonora poderá variar de acordo com a atividade que esteja sendo desenvolvida pelo indivíduo, posto que
estudar, meditar, pintar ou aprender a tocar um instrumento são atividades que requerem mais concentração e
conseqüentemente um maior silêncio.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde o limite de suporte do organismo humano aos níveis
de pressão sonora é de 65 dB(A), mas é a partir de 85dB(A) o sistema auditivo passa a estar realmente
comprometido. De qualquer forma, é importante destacar que o tempo de exposição é sempre uma variante
importante a ser considerada no que diz respeito aos efeitos da poluição sonora no ser humano.
No Brasil a poluição sonora tem crescido muito nas últimas décadas, principalmente nas maiores
aglomerações urbanas, causando gravíssimos prejuízos físicos e psicológicos aos seres humanos e abalando
o meio ambiente sonoro. A Resolução nº 001/90 do Conselho Nacional do Meio Ambiente, que adota os
padrões de qualidade determinados pela Associação Brasileira de Normas Técnicas, dispõe no seu item I que
a emissão de ruídos, em decorrência de quaisquer atividades industriais, comerciais, sociais ou
recreativas, obedecerá no interesse da saúde, do sossego público, aos padrões, critérios e diretrizes
estabelecidas nesta resolução e no item II estabelece que são prejudiciais à saúde e ao sossego público, para
os fins do item anterior os ruídos com níveis superiores aos considerados aceitáveis pela norma NBR 10.152.

*
tchevasco@hotmail.com
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Em pesquisa realizada recentemente a Organização Mundial de Saúde atestou o crescimento da


poluição sonora no Brasil, apontou o Brasil como uma futura nação de surdos e definiu que o combate à
poluição sonora deve ser uma das três prioridades ecológicas da próxima década, tendo em vista os
problemas que podem ser acarretados à saúde e à qualidade de vida da coletividade.

3. Jogos Educativos
A escolha por um jogo virtual levou em conta o fato de que no interagir com os jogos eletrônicos os
jovens podem ser criativos. Com o suporte da tecnologia eles inventam novas formas de vida e nesta nova
esfera de possibilidades os jogadores criam e destroem mundos, realizam desejos e constroem narrativas no
plano virtual. Os games são possibilidades de experimentar a criar novas formas de vida que orientem o
sujeito em suas as formas de amar, falar, agir, pensar, sentir, de se relacionar com o corpo, com o outro, com
a natureza, com o tempo e com o espaço. Pesquisas mostram também que os videogames podem ter efeitos
benéficos aos jovens, como desenvolvimento da coordenação visual e motora, além do espírito de equipe e
promoção de interação social. Os jogos podem distrair as pessoas, fazendo disso uma boa prática de lazer e
repouso. Há também jogos educativos que levam as pessoas um modo de aprendizagem diferente e dinâmica
A utilização de jogos educativos tende a melhorar o processo ensino-aprendizagem e proporcionar ao
aluno uma maneira lúdica de aprender. Conforme Silveira [1]: “... os jogos podem ser empregados em uma
variedade de propósitos dentro do contexto de aprendizado. Um dos usos básicos e muito importantes é a
possibilidade de construir-se a autoconfiança. Outro, é o incremento da motivação. (...) um método eficaz
que possibilita uma prática significativa daquilo que está sendo aprendido. Até mesmo o mais simplório dos
jogos pode ser empregado para proporcionar educação e praticar habilidades, conferindo destreza e
competência”. Os jogos educativos podem despertar no aluno: motivação, estimulo, curiosidade, interesse
em aprender (...) o aluno constrói seu conhecimento de maneira lúdica e prazerosa”. Os jogos educativos
vem sendo utilizados como forma de ensino em diversos sites distribuídos por toda a Internet. O poder do
jogo é tão grande que nenhuma ciência conseguiu explicar a fascinação que ele exerce sobre as pessoas.
Desse ponto de vista, a realidade virtual torna-se um ambiente onde os jogadores podem experimentar
emoções de amor, ódio, tristeza e alegria, sem que eles representem uma ameaça real. Neste “ambiente
facilitador” o jogador tem a “ilusão” [2] de que ele cria o objeto, experimentando a sensação de onipotência.
Tendo em vista que jogos educativos podem ajudar no processo ensino-aprendizagem, propôs-se
então criar um que trouxesse ao jovem o contexto de poluição sonora.
4. O Público Alvo do Jogo
O público alvo para o jogo educativo proposto no presente trabalho tem entre 14 e 17 anos, ou seja,
são os que cursam da 8º série do ensino fundamental até 3º ano do ensino médio. Sabe-se que os jovens desta
faixa etária passam, em média 27 horas por mês em frente ao computador. O lugar onde os jovens usam o
computador e teriam tempo e disponibilidade para jogar são as lan-houses, casas de jogos de computadores
conectados em rede. São poucos aqueles que nunca foram pelo menos uma vez em uma dessas casas. Os
mais assíduos comparecem, em média, três vezes por semana e passam duas horas e meia em frente ao
computador. As atrações são muitas, principalmente jogos [3].

5.O Jogo
O ambiente onde se passa o jogo é, inicialmente, em pequena cidade. Assim como na vida real, as
cidades têm um crescimento populacional, e assim surgem problemas no decorrer desse crescimento, como a
poluição sonora, fazendo com que as cidades necessitem de um replanejamento. A escolha por essa temática
tem como objetivo explorar a capacidade do jovem de tomar decisões rápidas explorando o seu raciocínio e
sua capacidade de resolver problemas, ou seja, aproximar sua vida real a este ambiente virtual do jogo.
Como toda cidade em crescimento, o cuidado com a qualidade de vida de sua população torna-se uma
questão primordial para os administradores e a ênfase deste jogo é fazer com que o jogador, no papel de
prefeito, deve focar na qualidade de vida, principalmente no controle da emissão de ruídos.
O nome do jogo Noisy City (Cidade do Ruído) usa a palavra “Noise”, termo inglês que remete a som
não harmônico, desagradável ou indesejado, ou seja, o ruído. O nome do jogo já prepara o jogador para se
deparar com uma cidade ruidosa e que necessita reorganizações e reparos no controle da poluição sonora.
O jogo deve permitir ao jogador a manipulação de modelos que representam parte do mundo, mais
especificamente a vida em comunidade, conforme o mostra o exemplo do jogo SIM CITY (Fig.1.)
A temática do jogo proposto para educação sobre poluição sonora consiste em administrar uma
cidade em constante crescimento, onde o jogador, no papel de prefeito, tem que controlar os níveis de
pressão sonora e assegurar que estes não extrapolem os valores estabelecidas nas normas do respectivo país.
Como referência usa-se as normas NBR 10.151, que dispõe sobre a avaliação do ruído em áreas habitadas,

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visando o conforto da comunidade, e NBR 10.152, que trata dos níveis de ruídos para conforto acústico,
estabelecendo os limites máximos a serem adotados em determinados locais.
Na cidade virtual o jogador se depara com problemas corriqueiros de uma cidade real onde existem
várias fontes de ruído, tais como, carros, construções, boates, indústrias e também com áreas habitadas, ou
então, instituições onde o cuidado com o ruído excessivo deve ser redobrado, tais como hospitais,
bibliotecas, museus e locais de recreação (Fig. 2). Este estilo de jogo usa o poder de organização e
administração do jovem, estimula também o jogador a raciocinar quanto às decisões tomadas e a
responsabilidade acerca dos efeitos de suas decisões sobre outras pessoas.
As ações tomadas pelo jogador são de reorganizar a cidade redistribuindo as atividades geradoras de
ruído, gerenciamento das atividades que vão surgindo no decorrer do tempo e fiscalizando se os ruídos
gerados pelas atividades são compatíveis com as normas em função da área onde as construções se
encontram.
Para suporte ao jogador, constam no jogo ferramentas como um fiscal da patrulha ambiental que vai
até a fonte de ruído com um medidor de pressão sonora. O fiscal da patrulha ambiental fará então a medição
e informará ao jogador, no papel de prefeito, o NPS encontrado e cabe ao jogador decidir se esta fonte se
encontra dentro das normas e qual a medida cabível para reduzir o NPS caso necessário. Quando as decisões
corretas são tomadas, de estímulo ao jogador, ele recebe recompensas em dinheiro para investir em
melhorias na sua cidade, caso contrário, suas decisões podem afetar negativamente na vida da população de
sua cidade fazendo com que as pessoas abandonem Noisy City ou então destituam o jogador da função de
prefeito.
Conforme o andamento do jogo, o nível de experiência pelo jogador é quantificado e o jogador, no
papel de prefeito adquire uma ferramenta nova, que é o Engenheiro Acústico. O engenheiro acústico é um
consultor opinando sobre as decisões que podem ser tomadas pelo prefeito. O Engenheiro Acústico informa
também sobre o uso de alguns materiais que podem ser usados em alguns estabelecimentos e reduzem a
emissão de ruído, ou então algumas mudanças na estrutura da cidade.

Fig. 1 Layout do Sim-City que serve de modelo para o jogo educativo

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Fig. 2 Centro urbano desenvolvido(Sim City).


4. Conclusão
Jogos eletrônicos certamente estão entre as melhores ferramentas para ajudar o processo de ensino-
aprendizagem quando formos trabalhar com jovens de ensino médio. A prova disso é que os jogos de
estratégia do estilo Sim City vem sendo sucesso dentro deste público, desde que foi lançada a primeira
versão Sim City, em 1989 até a mais recente em 2008, Sim City Creator. O grande sucesso deste jogo de
simulação após o seu lançamento fez com que diversas escolas dos EUA comprassem o jogo tamanho o seu
valor educacional [4].
Se a esses jogos forem aliados conceitos ligados à poluição sonora tais como ruído, frequência,
intensidade, nível de pressão sonora e também as legislações vigentes no país, certamente tem-se sucesso no
processo educação e conscientização sobre esta nova poluição.

5.Agradecimentos
Os autores agradecem à Universidade Federal de Santa Maria por apoiar e incentivar nosso projeto
através do Fundo de Incentivo a Extensão.

Referências
[1] SILVEIRA, R. S; BARONE, D. A. C. Jogos Educativos computadorizados utilizando a abordagem
de algoritmos genéticos. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Informática. Curso de
Pós-Graduação em Ciências da Computação. 1998.
[2] WINNICOTT, D. O brincar e a realidade . Imago, 1975
[3] “Prazeres Virtuais” Revista Veja edição especial.– Jovem, nº32. Editora Abril. Junho de 2004.
[4] WIKIPÉDIA. Wikipédia, a enciclopédia livre – Disponível em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Sim_city. Acesso em: 14 de julho de 2010.

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LEGISLAÇÃO SANITÁRIA COMO BARREIRA COMERCIAL ÀS EXPORTAÇÕES DE


CARNE BOVINA BRASILEIRA

Pâmela Cristina de Godoy1*; Gessuir Pigatto2;


1
Universidade Estadual Paulista – UNESP (Campus Tupã)
2
Universidade Estadual Paulista – UNESP (Campus Tupã)

1. Introdução
A incidência na Europa da encefalopatia espongiforme bovina – BSE, a partir de 1992, juntamente
com o foco de febre aftosa, em 2002, e os casos da vaca louca nos Estados Unidos e na Europa reduziram o
ritmo de abate e contribuíram para mudar a dinâmica do comércio internacional da carne bovina. Essas
transformações contribuíram para que o Brasil despontasse como grande exportador mundial, tornando-se
líder no mercado exportador de carne bovina em 2004.
A conquista de novos mercados vem contribuindo para absorver os crescentes aumentos de
produtividade que a cadeia como um todo está alcançando nos últimos anos, sendo que esse novo cenário
pode ser explicado pela maior adequação do rebanho brasileiro as normas sanitárias internacionais, pela
abertura de novos mercados, crescimento dos frigoríficos brasileiros no mercado externo, além dos
problemas sanitários enfrentados por outros países exportadores, tornando o Brasil um dos grandes
exportadores de carne bovina.
O agronegócio brasileiro experimenta seu maior período de expansão, uma vez que abrigar o maior
rebanho comercial do mundo, com um plantel estimado em 170 milhões de cabeças bovinas. Com uma
produção estimada em 9,8 milhões de toneladas de carne bovina, e com exportações de 1,5 milhões de
toneladas no ano de 2009, o país reforçou o seu papel de destaque no mercado. [6]
Apesar da significativa importância da cadeia da pecuária de corte brasileira, notam-se diversas
barreiras ao seu desenvolvimento, pautadas nos entraves institucionais, referentes à legislação, inspeção e
fiscalização sanitária.
A mudança nos comportamentos dos consumidores e das empresas em diversos países, como
conseqüência das alterações promovidas pelo processo de globalização da economia, que permitiu uma
maior integração dos mercados vem interferindo diretamente no mercado de produtos e serviços. Essas
mudanças promovem a necessidade de uma maior adaptação dos mercados, suprindo a demanda por
produtos padronizados e de melhor qualidade.
O novo padrão de mercado observado em diversas cadeias produtivas, entre elas a cadeia da pecuária
de corte brasileira, está promovendo um processo de mudanças - econômico, político, ambiental e sanitário -
para adaptar-se aos novos padrões exigidos pelo mercado nacional e internacional. O objetivo está na maior
produtividade e qualidade, uma vez que, nos últimos anos, praticamente em todo o mundo a cadeia da
pecuária vem se defrontando com reiterados problemas técnicos, sanitários e ambientais na produção,
industrialização e comercialização. [4]
As novas padronizações tendem a atender mercados de grande importância como os Estado Unidos,
principais consumidores, que consumiram em 2006 cerca de 13,23 milhões de toneladas equivalente-carcaça,
seguidos por União Européia e China. O Brasil ocupou o quarto lugar, com consumo de 6,80 milhões de
toneladas, sendo que a evolução do consumo de carne bovina vem acompanhando o crescimento
demográfico populacional. [5]
A pecuária de corte brasileira ocupa posição de destaque na economia e no comércio internacional.
Apesar de aproximadamente 80% da produção de carne bovina ser destinada ao mercado interno, o
crescimento expressivo das exportações nos últimos anos, tem contribuído para gerar os crescentes
superávits da balança comercial brasileira. [5]
Porém, nos últimos anos, alguns países importadores vêem impondo medidas restritivas a
comercialização da carne bovina. Para proteger seus mercados, os países utilizam diversos mecanismos que
dificultam o acesso de mercadorias importadas, conhecidas como barreiras comerciais, sendo a utilização de
tarifas a maneira mais usual. Contudo com as negociações internacionais sobre comércio, foram sendo
desenvolvidos novos artifícios para dificultar as importações, as chamadas barreiras não-tarifarias, em
especial as barreiras técnicas. [2]
As barreiras decorrentes das políticas protecionistas praticadas por alguns países podem ser
resumidas em barreiras tarifárias, relacionadas às tarifas de importação, barreiras não-tarifárias referentes a
restrições quantitativas, procedimentos alfandegários e as barreiras técnicas, que são regulamentos sanitários,
fito-sanitários e de saúde animal. No caso da cadeia da pecuária de corte, nota-se que as principais barreiras

*
Pâmela Cristina de Godoy – pamcgy@hotmail.com
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estão pautadas em medidas sanitárias e fito-sanitárias, além do que alguns países estabelecem cotas de
importação, como o mercado europeu, que adota as Cotas Hilton, GATT e A&B. [4]
O surto de febre aftosa que ocorreu, em outubro de 2005 no estado de Mato Grosso do Sul e no
Paraná, afetou as exportações brasileiras para países como Rússia, Chile e União Européia que fecharam seus
mercados para os Estados de MS, SP e PR. O problema da febre aftosa ainda impede que o Brasil exporte
carne bovina in natura para mercados consumidores expressivos, tais como, o Japão e os Estados Unidos,
que só importam carnes de países livres de febre aftosa sem vacinação. Já o mercado Europeu importa o
produto com base em cotas preestabelecidas e certificado de saúde pública emitidos pela própria União
Européia. [5]
As medidas restritivas impostas pelos países compradores de carne revelam o poder da autoridade
governamental de cada país, quando o tema é a proteção do consumidor, dos rebanhos e da produção em
seus mercados domésticos. Como exemplo da importância dessa segurança, a introdução do vírus da aftosa
no mercado americano representaria, em números de 2001, prejuízos na casa de US$ 3 bilhões para as
exportações americanas de carne bovina; além dos efeitos indiretos, estimados entre US$ 37 bilhões e US$
44 bilhões. [3]
O mercado internacional de carnes se concentra cada vez mais em questões ligadas à qualidade e
segurança do alimento, não como uma obrigação dos agentes, mas como um fator de consciência de que a
segurança do alimento é o item de maior diferenciação do produto. Desse modo, a prioridade da cadeia
pecuária de corte nacional é aliar a segurança do alimento à qualidade.
Dados os efeitos adversos que as aplicações de medidas técnicas e sanitárias podem gerar para o
comércio internacional, torna-se importante identificar os impactos que estas medidas têm apresentado para a
comercialização da carne bovina.

2. Método
O método utilizado foi o de pesquisa exploratória, realizando-se o levantamento das informações
pertinentes ao estudo, por meio de revisão bibliográfica. Nessa etapa, as informações necessárias para o
desenvolvimento do trabalho são resultado de dados secundários, obtidos junto a órgãos do governo,
associações de classe e outras entidades nacionais e internacionais que possuem condições de influenciar nas
regras que sustentam o Ambiente Institucional que cerca a Cadeia Agroindustrial da Pecuária de Corte. É
dado destaque para a legislação sanitária e as possíveis ações dos países importadores para frear o acesso do
produto brasileiro, com base nas falhas ao cumprimento da legislação sanitária, e o impacto promovido pelos
agentes econômicos ao longo da cadeia produtiva
A partir da identificação das principais variáveis institucionais que envolvem a cadeia da pecuária de
corte, é feito um acompanhamento, por meio de material secundário, de como essas variáveis se comportam
em relação ao desenvolvimento dos segmentos que compõem a cadeia, com destaque para o
desenvolvimento do mercado externo.
A idéia é identificar as variáveis/ fatores que se tornam entraves ao desenvolvimento desses agentes, e
conseqüentemente da cadeia; como se manifestam na cadeia produtiva, quem é o agente indutor e o agente
receptor (agente aonde o entrave possui maior influência).

3. Resultados e Discussão
Ações promovidas pelos países da União Européia, Canadá e Rússia demonstram como a legislação
sanitária tem sido utilizada freqüentemente como uma forma de inviabilizar as exportações brasileiras de
carne bovina. Em 2001, por exemplo, os governos dos Estados Unidos e do Canadá suspenderam as
importações de carne bovina brasileira, alegando que o Brasil não teria fornecido as informações solicitadas
sobre controle e possível incidência da doença da vaca louca nos rebanhos brasileiros.
Apesar de não ter sido constatado casos da doença no país, os canadenses insistiram que a medida
era necessária para garantir a segurança e integridade dos alimentos consumidos no país.
Ainda sobre os efeitos das legislações sanitárias impostas por países importadores, em 2004 a
Argentina suspendeu a importação de carne de animais suscetíveis à febre aftosa por causa da descoberta de
um foco da doença no Pará. Nesse ano, a Argentina foi o segundo país a suspender as compras de carne
brasileira desde a descoberta desse foco, sendo que a Rússia já havia interrompido as suas compras pelo
mesmo motivo. [1]
Em 2005, casos de febre aftosa no estado do Mato Grosso do Sul, provocaram a suspensão das
importações da carne bovina brasileira, sendo que Israel e África do Sul suspenderam as importações de todo
o país. No caso da União Européia, a decisão afetou apenas os estados de Mato Grosso do Sul, Paraná e São
Paulo. [4]

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Os países árabes, por sua vez, impõem menores exigências sanitárias à comercialização da carne,
sendo as maiores restrições de ordem religiosa e burocrática. As exportações brasileiras para esses países
vêm crescendo de forma expressiva nos últimos anos, o que demonstra que as barreiras não-tarifárias não são
grandes entraves para o comércio do produto. Por outro lado, o Japão só compra carne bovina in natura de
países classificados como livres de febre aftosa sem vacinação. Assim, estão proibidas as importações de
carne in natura, com osso ou desossada, bem como o sêmen de bovinos brasileiros. [5]
Mais recentemente, no ano de 2007, a Associação de Fazendeiros da Irlanda (IFA) solicitou à
Comissão Européia a total suspensão da importação de carne brasileira. Produtores europeus acusaram o
Brasil de não utilizar sistemas apropriados de identificação e marcação do rebanho. Essa deficiência,
segundo os irlandeses, impede o rastreamento de embarques e não dá garantias de que a carne seja
proveniente de uma zona livre de aftosa.
No final do ano, a União Européia restringiu as importações de carne bovina brasileira, alegando que
a decisão foi tomada com base nas conclusões de uma inspeção realizada no país em novembro pelo
departamento de Alimentação e Veterinária, responsável pelo controle sanitário no bloco. De acordo com a
missão uma série de graves e repetidas deficiências nos sistemas de saúde animal e rastreabilidade do Brasil
foram encontradas, sendo que a principal deficiência apontada pelos técnicos europeus diz respeito à
implementação do sistema brasileiro de rastreamento de gado, responsável por garantir que a carne enviada à
Europa não seja proveniente de zonas proibidas de vender para o bloco. A União Européia exige que todos
os animais destinados à exportação sejam incluídos nesse sistema.
Dessa forma, a imposição de barreiras referentes à legislação sanitária é de grande relevância no que
se diz respeito aos entraves ao desenvolvimento internacional da cadeia da pecuária de corte, uma vez que a
cada momento os mercados consumidores vêem se preocupando mais com a origem dos alimentos, evitando
assim possíveis contaminações.

4. Conclusão
A crescente preocupação com a qualidade e segurança dos alimentos vem tornando a carne bovina
brasileira alvo de constantes inspeções, referindo-se ao controle de doenças que atingem com maior
freqüência o rebanho, como a febre aftosa, brucelose, tuberculose, raiva bovina, salmonelose, sendo que a
febre aftosa caracteriza-se como uma das doenças que mais atinge o gado brasileiro porque é causada por um
vírus com alta capacidade de mutação e tem facilidade de transmissão, dificultando assim o controle dos
focos de contaminação.
Dessa forma, o rigoroso controle nas inspeções é essencial, uma vez que os surtos de febre aftosa em
algumas regiões do Brasil impedem que o país exporte carne bovina in natura para mercados consumidores
expressivos, tais como, o Japão e os Estados Unidos, que exercem forte influência mesmo que indiretamente
nas decisões de outros países. No mercado de carne bovina o maior ganho financeiro está na comercialização
de carne bovina in natura, formada pelos cortes nobres dos animais, enquanto que a carne industrializada
refere-se às partes do boi que possuem menor valor.

Referências
[1] GLYCERIO, C. Argentina Suspende Importação de Carne Brasileira. BBC Brasil. Brasília. 2004.
[2] INMETRO. Manual de Barreiras Técnicas às Exportações. Brasília. 2005. Disponível em:
<http://www.inmetro.gov.br/infotec/manualBarreiras.asp>. Acesso em: julho de 2008.
[3] MACHADO, R. Análise do Perfil das Restrições Comerciais à Carne Bovina nos Acordos SPS e
TBT. Piracicaba, 2007. Dissertação (Mestrado em Ciências) - Universidade de São Paulo – Escola Superior
de Agricultura “Luiz de Queiroz”.
[4] MEISTER, Luiz C.; MOURA, Altair D. de. Diagnóstico da Cadeia Produtiva Agroindustrial da
Bovinocultura de Corte do Estado de Mato Grosso. Cuiabá: FAMATO, 2007.
[5] SABADIN, C. O Comércio Internacional da Carne Bovina Brasileira e a Indústria Frigorífica
Exportadora. Mato Grosso do Sul, 2006. Dissertação (Mestrado em Agronegócios) – Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso do Sul, Universidade de Brasília, Brasília, Universidade Federal de
Goiás, Goiás.
[6] USDA. United States Department of Agriculture. Livestock and poultry: World markets and trade.
April, 2008. Disponível em: <http://www.fas.usda.gov/dlp/circular/2008/livestock_poultry_04-2008.pdf>.
Acesso em: julho de 2008.

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MESTRADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DA


UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA-PR:
UMA EXPERIÊNCIA INTERDISCIPLINAR

Márcia Sgarbieiro1*; Jussara Ayres Bourguignon2


1;2
Universidade Estadual de Ponta Grossa

1. Introdução
No presente trabalho faremos um resgate histórico do programa e mestrado em Ciências Sociais
Aplicadas da UEPG – Universidade Estadual de Ponta Grossa. Primeiramente escreveremos sobre a
iniciativa que deu origem ao programa de mestrado em Ciências Sociais Aplicadas da UEPG, eixos,
objetivos, linhas de pesquisa, área de concentração e disciplinas. O mestrado em Ciências Sociais Aplicadas
da UEPG é um mestrado interdisciplinar, então trataremos também acerca da interdisciplinaridade na
pesquisa.

2. Método
Para o presente trabalho, além da pesquisa bibliográfica, desenvolvemos uma pesquisa exploratória e
descritiva. Segundo Triviños (1987) a pesquisa do tipo exploratória permite ao investigador aumentar sua
experiência em torno de determinado problema. O pesquisador parte de uma hipótese e aprofunda seu estudo
de uma realidade específica, buscando antecedentes, maior conhecimentos para, depois, desenvolver uma
pesquisa descritiva ou experimental. O estudo exploratório nos ajudou a conhecer melhor o contexto do
programa de mestrado. Com relação ao estudo descritivo, Triviños (1987) escreve que o foco deste reside no
desejo de conhecer uma comunidade, suas características, sua população, seus problemas, escolas,
professores, Educação, valores, os problemas, as reformas curriculares, os métodos de ensino, etc. O autor dá
exemplos de dados importantes a serem colhidos no estudo descritivo.

3. Resultados e Discussão
O programa de mestrado interdisciplinar em Ciências Sociais Aplicadas da UEPG foi homologado
pelo CNE – Conselho Nacional de Educação – (Portaria MEC 524, DOU 30/04/2008 – Parecer CNE
33/2008, 29/04/2008) e atualmente possui conceito 3 na classificação da CAPES – Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. O programa é uma iniciativa que derivou de expectativas dos
Cursos de Administração, Comunicação Social – Jornalismo, Ciências Econômicas, Ciências Contábeis,
Direito, Serviço Social, do Setor de Ciências Sociais Aplicadas, bem como do Curso de História, do Setor de
Ciências Humanas, Letras e Artes. (MUNHOZ, 2005, p. 173, grifos nossos). Tais áreas de conhecimento
pensavam na “melhoria da capacitação dos professores”, também na “melhoria da qualidade de ensino e na
elevação do nível de desempenho dos profissionais”. Esta preocupação dos docentes das áreas citadas veio
ao encontro aos interesses da UEPG em trabalhar questões pertinentes à região de abrangência da
universidade.
Assim garantir a interdisciplinaridade tem sido uma das principais preocupações do programa e uma
das maiores exigências da CAPES.
Segundo CAPES (2001) o programa iniciou com as seguintes linhas de pesquisa: Estado, Direito e
Cidadania; Ideologia, Cultura, História e Sociedade; Trabalho, Ideologia, Tecnologia e Ciência; Políticas,
Planejamento e Gestão Institucional. Após processo de avaliação, passaram a ser três linhas: Estado, Direitos
e Políticas Públicas; História, Cultura e Cidadania; Sociedade: Desenvolvimento Urbano e Regional.
Atualmente são duas linhas de pesquisa: Estado, Direito e Políticas Públicas; História, Cultura e Cidadania.
O programa possuía em seu início três áreas de concentração: Sistemas Sociais e problemáticas
estruturais; Sociedade, Direito e Cidadania; Instituições Políticas e Políticas Públicas no Brasil. Segundo
CAPES (2002), para o ano de 2003 foram efetivadas alterações no curso, que passou a ter duas áreas de
concentração: Sociedade, Direito E Cidadania e Planejamento, Gestão E Desenvolvimento. Depois de muitas
discussões e avaliações, o programa passou a ter apenas uma área de concentração: Sociedade, Direito E
Cidadania.
O número grande de áreas de concentração e linhas de pesquisa, segundo CAPES (2001), era para
melhor acolher as diferentes temáticas que aparecem ao Programa, devido sua característica de
interdisciplinaridade. Mas houve um processo de amadurecimento do programa. No ano de 2009 tivemos
uma área de concentração e duas linhas de pesquisa.

*
Autor Correspondente: marcia.sgarbieiro@yahoo.com.br
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Quando aos objetivos do mestrado em Ciências Sociais Aplicadas da UEPG, CAPES (2001, p. 18)
escreve:

- formar mestres em Ciências Sociais Aplicadas, capazes de enfocar problemas


diversos numa perspectiva de totalidade, a partir das distintas competências
específicas conferidas pelas diferentes graduações; [...].
- concorrer para a existência e para a ampliação quantitativa e qualitativa de
uma massa crítica e incentivar a investigação relativamente às temáticas
compreendidas nas linhas de pesquisa contempladas pelo Curso, tanto através do
aprofundamento do saber científico especializado, como pelo estímulo às relações
interdisciplinares entre saberes particulares solidamente fundamentados;
- incentivar o desenvolvimento de mentalidade científica e profissional
crítica, em consonância com as tendências da época, onde o enfoque
interdisciplinar ganha destaque significativo;
- capacitar recursos humanos para uma prática científica, política e
tecnicamente capaz nas distintas competências específicas conferidas pelas
diferentes graduações, orientada para a melhoria da qualidade de vida na
sociedade; [...]. (grifos nossos).

Destacamos estes objetivos por ter como principal foco a interdisciplinaridade. Assim percebemos que
uma das principais preocupações do programa é garantir o enfoque interdisciplinar.
As práticas interdisciplinares implicam vários profissionais de várias áreas trabalhando com uma
problemática comum, “[...] promovendo mudanças estruturais, gerando reciprocidade, enriquecimento
mútuo, com uma tendência à horizontalização das relações de poder entre os campos implicados.”
(VASCONCELOS, 2004, p. 113).
Não confundindo com a multidisciplinaridade que envolvem saberes simultâneos, mas sem interação,
“[...] onde profissionais de diferentes áreas trabalham isoladamente, geralmente sem cooperação e troca de
informações entre si [...].” (VASCONCELOS, 2004, p. 113).
Para Severino (2006) a conceituação de interdisciplinaridade é uma tarefa inacabada pois ainda não se
consegue definir com precisão o que vem a ser essa vinculação, essa reciprocidade, essa interação, essa
comunidade de sentidos ou essa complementaridade entre as várias disciplinas.
Com relação à interdisciplinaridade na pós-graduação, a CAPES classificou, a partir de 1999, uma
área multidisciplinar que a partir de 2008 foi chamada de interdisciplinar.
Segundo CAPES (2009) o número crescente de pós-graduações com áreas diferenciadas exigiu um
sistema de avaliação que agregasse estas áreas, por isso a criação da área interdisciplinar. A concepção de
interdisciplinaridade da CAPES é diferenciada da concepção que encontramos em Vasconcelos (2004):

Entende-se por Interdisciplinaridade a convergência de duas ou mais áreas do


conhecimento, não pertencentes à mesma classe, que contribua para o avanço das
fronteiras da ciência e tecnologia, transfira métodos de uma área para outra,
gerando novos conhecimentos ou disciplinas e faça surgir um novo profissional
com um perfil distinto dos existentes, com formação básica sólida e integradora.
(CAPES, 2009, p. 6).

Na citação acima a CAPES coloca que a interdisciplinaridade faz “surgir um novo profissional com
um perfil distinto dos existentes”.
Fazenda (2001) também dá sua contribuição acerca da interdisciplinaridade. A autora escreve que esta
é uma nova atitude diante do conhecimento, de compreensão de aspectos ocultos do ato de apreender e dos
aparentemente expressos, colocando-os em questão.
A interdisciplinaridade trabalha vários olhares sobre um mesmo objeto. Por envolver diferentes
culturas profissionais (termo utilizado por Munhoz 2005) é assunto controverso. Minayo (2007) escreve sua
visão sobre o trabalho interdisciplinar, principalmente na análise dos problemas de saúde:

As possibilidades de contribuição da interação entre teorias e métodos para


análises de problemas de saúde provém, justamente, de suas diferenças. Por um
lado, se fundamentam na busca de compreensão em profundidade dos valores,
práticas, lógicas de ação, crenças, hábitos e atitudes de grupos e indivíduos sobre a

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saúde, a doença, as terapêuticas, as políticas, os programas e demais ações


protagonizadas pelos serviços de saúde. (p. 75, grifos da autora).

É justamente a diferença entre as áreas de conhecimento que gera a contribuição do trabalho


interdisciplinar. A autora continua sua reflexão:

Para a prática interdisciplinar, o exercício teórico disciplinar é tão fundamental


quanto o diálogo entre as diferentes áreas. Contudo, a articulação entre diferentes
campos de saber só é possível se passar por traduções das distintas lógicas e
critérios de cientificidade. (MINAYO, 2007, p. 75).

Munhoz e Oliveira Junior (2009, p. 17) alertam que existe uma “[...] relação não excludente entre
interdisciplinaridade e especialização”. Isto é, a interdisciplinaridade não exclui os conhecimentos
específicos de cada área.

Deve-se, assim, cultivar o diálogo entre interdisciplinaridade e especialização,


entre saberes distintos e entre representantes de um mesmo saber, com vistas ao
fortalecimento tanto do conjunto como das partes, para que estas, fortalecidas,
possam melhor contribuir no diálogo com a diferença. (MUNHOZ; OLIVEIRA
JUNIOR, 2009, p. 18).

O saber interdisciplinar não precisa necessariamente anular a especialização.


Estes autores escrevem sobre a relação da interdisciplinaridade e da pesquisa. Concordamos com os
autores quando estes escrevem que a análise da interdisciplinaridade ultrapassa o “[...] etnocentrismo para a
relação entre culturas profissionais diversas, frente a objetivos comuns conjuntamente definidos no processo
de conhecimento da realidade.” (MUNHOZ; OLIVEIRA JUNIOR, 2009, p. 11). A interdisciplinaridade na
pesquisa busca objetivos comuns entre as diferentes culturas profissionais.

[...] a operacionalização de pesquisas interdisciplinares sobre temas os mais


diversos compreende, inicialmente, o encontro multidisciplinar de profissionais e
de temas por eles trabalhados, a partir das distintas competências específicas
conferidas pelas diferentes graduações, porém com vistas a apreendê-los, analisá-
los (interpretá-los, explicá-los) como elementos de diferentes níveis de totalidade e
de complexidade. (MUNHOZ; OLIVEIRA JUNIOR, 2009, p. 21).

Para iniciar o trabalho interdisciplinar, é preciso o encontro de diferentes disciplinas, seus temas e
competências. Depois disso há uma junção destas disciplinas para então analisar e interpretar os objetos e
temas de pesquisa.
Como exemplo de interdisciplinaridade na pesquisa, Munhoz e Oliveira Junior (2009) citam o
Mestrado Interdisciplinar em Ciências Sociais Aplicadas da UEPG. Neste programa:

[...] a interdisciplinaridade é entendida, então, como superior à


multidisciplinaridade, porque procura ultrapassar a simples convivência entre
diversos saberes profissionais; busca a ampliação do olhar e da lógica de
pensamento frente à realidade [...]. (MUNHOZ; OLIVEIRA JUNIOR, 2009, p. 21-
22).

Para que haja este enfoque interdisciplinar no programa, vários fatores colaboram, “[...] tanto a partir
do conteúdo das disciplinas do Programa, da elaboração de textos em conjunto, bem como da compreensão
dos fenômenos em estudo como síntese de determinações de diferentes naturezas [...].” (MUNHOZ;
OLIVEIRA JUNIOR, 2009, p. 22).
Para que seja garantido o enfoque interdisciplinar no programa, a distribuição dos docentes também é
importante:

O processo de pesquisa dos mestrandos, que fundamenta a construção da


dissertação, conta com a orientação e a avaliação tanto de professores de áreas
afins aos temas tratados, com formação acadêmica igual ou similar à do
orientando, quanto de docentes de outras formações, possibilitando uma

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

diversidade de perspectivas de análise do mesmo objeto de estudo e, também, a


ampliação do olhar do estudioso em relação à importância do caráter contextual
dessa análise. (MUNHOZ; OLIVEIRA JUNIOR, 2009, p. 22).

Geralmente os orientadores são de áreas distintas dos mestrandos. Quando orientador e orientando são da
mesma área, o mestrando conta com um coorientador de área distinta à sua para garantir o olhar diferenciado
sobre seu objeto de pesquisa.

4. Conclusão
Pensamos que na trajetória do programa de Mestrado em Ciências Sociais Aplicadas da UEPG muito
se tem avançado para alcançar este caráter interdisciplinar.
No programa há um esforço de superação do traço multidisciplinar para o interdisciplinar na
composição das bancas, nas disciplinas, nas orientações e coorientações.
E para finalizar, lembramos que a pesquisa interdisciplinar acrescenta qualidade à formação de
profissionais de diferentes áreas de conhecimento. Esta formação multiplica-se, e muitos dos mestres em
Ciências Sociais Aplicadas que atuam em instituições de ensino públicas e privadas formam outros
profissionais com um enfoque interdisciplinar. Além disto, neste processo, estes mestres preparam novos
pesquisadores.

Referências
CAPES – Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Documento de área
2009: Interdisciplinar. Disponível em: www.capes.gov.br. Acesso em: 16 de dezembro de 2009.

_______. Memória de Pós-Graduação. Sistema de avaliação. Relatório. Ponta Grossa, 2001.

_______. Memória de Pós-Graduação. Sistema de avaliação. Relatório. Ponta Grossa, 2002.

FAZENDA, Ivani (org.). Dicionário em construção: interdisciplinaridade. São Paulo: Cortez, 2001.

MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 10 ed. São
Paulo: HUCITEC, 2007.

MUNHOZ, Divanir Eulália Naréssi. Um espaço para diálogo entre diferentes culturas profissionais: o
mestrado interdisciplinar em Ciências Sociais Aplicadas, da Universidade Estadual de Ponta Grossa/PR.
Revista de Estudos Criminais. Porto Alegre: PUC-RS, n. 18, p. 173-177, 2005.

_______; OLIVEIRA JUNIOR, Constantino Ribeiro de. Interdisciplinaridade e pesquisa. In:


BOURGUIGNON, Jussara Ayres (org.). Pesquisa Social: reflexões teóricas e metodológicas. Ponta Grossa:
TODAPALAVRA, 2009.

SEVERINO, Antônio Joaquim. Subsídios para uma reflexão sobre novos caminhos da interdisciplinaridade.
In: SÁ, Jeanete Liasch Martins de. Serviço Social e interdisciplinaridade: dos fundamentos filosóficos à
prática interdisciplinar no ensino, pesquisa e extensão. 5 ed. São Paulo: Cortez, 2006.

TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo. Introdução à pesquisa em Ciências Sociais: a pesquisa qualitativa em


educação. São Paulo: Atlas, 1987.

UEPG – Universidade Estadual de Ponta Grossa. Protocolo Geral. Regulamento do Programa de Pós-
Graduação Stricto Sensu Ciências Sociais Aplicadas. 2008.

VASCONCELOS, Eduardo Mourão. Complexidade e pesquisa interdisciplinar: epistemologia e


metodologia operativa. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 2004.

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O Estado da Arte do Trabalho Infanto-Juvenil nas Instituições de Ensino Superior da Região


Metropolitana de Porto Alegre/RS

Martina Pereira Gomes1


UFRGS

1. Introdução

A temática do trabalho infanto-juvenil(T.I.J) é objeto de análise da presente pesquisa, sendo parte


de um grupo maior, no qual analisamos este tema em um campo específico, a Grande Cruzeiro (periferia da
cidade Porto Alegre/RS), este é o lócus empírico do grupo. É esta empiria com a qual defrontamos a atual
pesquisa bibliográfica.
Esta pesquisa surge de uma necessidade objetiva, a constatação da pouca produção acadêmica a
cerca do T.I.J, num contexto brasileiro em que segundo dados da última PNAD 2006, contabiliza-se 1,4
milhão de crianças e adolescentes entre cinco e quatorze anos trabalhando. Dados que caracterizam a questão
do T.I,.J como uma ―chaga social‖, que ainda sob a leitura de dados oficiais localiza esta exploração da mão-
de-obra infanto-juvenil nas comunidades mais pobres dos grandes centros urbanos.
O ECA enquanto um marco regulatório sobre a infância e adolescência é enfático quando afirma
no seu Art. 4º que :
É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com
absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação,
ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária.

Assim justifica-se a opção que realizamos em ter como ano de inicio da pesquisa 1990, pois foi o
ano de promulgação do ECA( Estatuto da Criança e do Adolescente), representa o momento em que crianças
e adolescentes passam a ser sujeitos, logo, lhe são assegurados (em leis pelo menos) direitos. O T.I.J, visto
sob dados oficiais no RS, da PNAD 2006, indicam que mais de 320.000 crianças e adolescentes trabalham,
destes mais de 23% exercem algum tipo de atividade por mais de 40h semanais.
Fonseca (2010), reflete o T.I.J sobre a empiria da comunidade com a qual trabalhamos e afirma
que a mesma revela o local de trabalho destes sujeitos (―sem-direitos‖) muitas vezes como ―avião‖ do tráfico
de drogas, submetidos à exploração sexual e comercial, trabalhando na catação de lixo seco, inseridas no
trabalho domiciliar e doméstico, sendo estas formas ilegais, insalubres, penosas, perigosas e/ou invisíveis de
trabalho.
Nossa temática existindo na materialidade do cotidiano, como demonstramos acima com pesquisas
de campos e dados de órgãos oficiais do Estado Brasileiro, coube a nós dentro de nosso recorte realizar a
presente pesquisa para que pudéssemos identificar de que forma esta temática vem sendo abordada, ou não,
dentro da academia.

2. Método
A partir de uma construção do nosso núcleo de pesquisa (NIEPE-EJA tomando como
referência Kuenzer(1991), Hadad (1987), Ferreira (2000), define-se Estado da Arte como estratégia
metodológica de pesquisa — associando dados quantitativos e qualitativos — que permite produzir um
quadro de referência da produção acadêmica pela reescrita de resumos das produções analisadas, sobre uma
determinada temática num recorte de tempo e espaço. Visando desta forma reconhecer e analisar a produção
acadêmica, identificar temáticas e abordagens dominantes e emergentes, lacunas e campos inexplorados
abertos a futuras pesquisas, constituíram-se assim um estudo do tipo estado da arte.
A partir de Kuenzer (1991) inserimos algumas questões quanto a metodologia de pesquisa que
utilizamos, a autora em sua obra ―Educação e trabalho no Brasil – o estado da questão‖, uma das primeiras
produções realizadas com esta metodologia, traz elementos que nos auxiliam a compor a nossa justificativa
pela escolha do estado da arte.
Um aspecto, dentro outros, exposto por Kuenzer (1991) que dialoga com referida pesquisa do estado
da arte do trabalho infanto-juvenil é a consciência de que apesar da realização de grande exposição de
autores e idéias, não se pretende de forma alguma esgotar o tema em questão. Uma vez que o nosso tema,
assim como de Kuenzer na época, está sendo desenvolvido recentemente e que com certeza se faz como uma

1
E-mail: tina_sdq@hotmail.com. Estudante de Graduação de Pedagogia da Faculdade De Educação da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Bolsista de Iniciação Cientifica, órgão de fomento BIC/UFRGS,
no projeto desde 2008/02.
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

análise a categorização inicial. Nos dois trabalhos e que se pretende é tentar ―captar o movimento de
construção das idéias‖ sobre o tema, no painel brasileiro no caso dela e na RMPA no nosso, assim tendo
subsídios para a identificação de marcos teóricos mais relevantes.
Outra questão que nos aproxima de Kuenzer (1991) é entender o trabalho como principio educativo,
fundamentais, criativos, estruturante da vida do ser humano e lugar de produção de conhecimento.
Nosso recorte geopolítico justifica-se a partir de uma questão relevante nesta opção: há estudos que
apontam o sentido de representatividade das RMs em relações sociais geopoliticamente mais amplas. Nosso
recorte temporal é de 1990 (ano da promulgação do ECA) a 2008 (ano em que o ECA completa 18 anos).
Metodologias do tipo Estado da Arte partem de uma revisão bibliográfica, porém avançam até a (re)
escrita dos resumos com categorias discursivas comuns. Na etapa quantitativa da pesquisa, na qual
trabalhamos nos portais das Instituições de Ensino Superior da Região Metropolitana de Porto Alegre, com o
intuito de localizar as produções sobre a temática,sempre dentro dos nossos recortes, encontramos trinta e
seis obras. Ressaltando que as IES com as quais trabalhamos foram seis (PUCRS, ULBRA, UNIRITER,
UNILASALLE, UFRGS e UNISINOS), foram estas pois utilizamos o critério de trabalhar apenas com as
IES que tinham seu portal eletrônico cadastrados no INEP.
Entendendo a etapa quantitativa como critério de análise para o nosso trabalho, após a catalogação dos
dados, analisamos aspectos como: área do conhecimento, sub-área, tipo de produção e descritor utilizado.
Isto tudo com objetivo de identificar o lócus das produções.
Na segunda etapa quando partimos para a leitura dos resumos, realizamos uma segunda seleção das
obras que fariam parte da pesquisa, assim finalizamos com trinta e duas obras a serem lidas na sua
integralidade. Porém, ainda sob a mesma perspectiva metodológica, realizamos uma analise quantitativa e
posteriormente qualitativa das informações obtidas nos resumos. Discutimos e pudemos contextualizar a
cerca da temporalidade das obras, sobre os descritores utilizados, sobre os instrumentos, metodologias e
marco teóricos.
Nos encontramos na etapa de leitura ampla das obras, onde realizamos dois movimentos conjuntos: a
leitura integral e a produção de uma escrita de resumo amplo da obra que foi lida. Este resumo amplo tem
como objetivo auxiliar na produção final dos novos resumos com categorias discursivas em comum. Sendo a
etapa final, a divulgação do resultado desta pesquisa, para que possa alcançar o seu grande objetivo que é a
discussão dos resultados e o avanço das pesquisas na área.

3. Resultados e Discussão

Sobre a etapa metodológica que nos encontramos no atual momento, não temos nenhum resultado. Porém,
como já expusemos na metodologia, realizamos análises sobre dados quantitativos já obtidos na pesquisa, o
que fortalece o proseguimento do presente trabalho.
Apresentaremos as recentes discussões que fizemos em base ao quadro de analise quantitativa dos
resumos, salientando que a leitura de resumos é algo que impõe algumas dificuldades. Isto porque não há um
molde fixo para a produção dos mesmos, encontramos variantes informações e estruturação, dependendo do
ano, da instituição. Na fase de leitura de resumos da produções selecionadas propõe-se à análise dos
seguintes aspectos contidos ou não na leitura: ano, descritor, metodologia, instrumentos, marco teórico,
explicitação da empiria, objeto de pesquisa e conclusões. Porém aqui iremos reproduzir apenas as duas
principais discussões que foram sobre a análise do ano e sobre os descritores.
As obras que fazem parte desta pesquisa, foram produzidas no espaço temporal delimitado entre
1990(promulgação do ECA) e 2008 (ano em que o ECA completou18 anos), portanto o aspecto do ano em
que tais dissertações, teses, pesquisas, monografias e extensões foram publicadas foram analisados. O dado
do ano foi retirado do catálogo do sistema digital da biblioteca de origem da obra.Dentre as trinta e seis
produções encontradas na fase quantitativa da pesquisa, dez pertencem a década de noventa e vinte e seis do
ano 2000 a 2008.
A década de noventa : Foi em 13 de Julho de 1990, que o Estatuto da Criança e do Adolescente
virou uma lei, após embates da sociedade civil e lutas pela sua construção e implementação. O ECA impõe
ao Estado o papel de assegurar prioridade à criança e ao adolescente, sendo estes a partir deste momento
sujeitos de direitos, em todas às áreas fundamentais à sua vida (saúde, educação, lazer...), e este desafia o
Estado à adequar as políticas públicas ao fundo público. Ao referir-me ao conceito de sujeito de direito,
utilizo na perspectiva da orientação da Doutrina da Proteção Integral, que diz respeito à condição especial
das crianças e dos adolescentes frente aos direitos humanos, conforme segue:
Isto quer dizer que, além dos direitos fundamentais que todo cidadão comum goza, sob
manto constitucional republicano no Brasil, crianças e adolescentes, possuem direitos especiais por
sua condição peculiar de encontra-se em processo de desenvolvimento humano, social e político,
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etc. Por isso a necessidade de uma atenção prioritária por parte da família, da sociedade e do Estado
no conjunto das questões sociais de interesse público. Pg. 21

Em Porto Alegre (RS), cidade da referida pesquisa, segundo dados do Relatório de Indicadores
Sociais de Porto Alegre, Ano II, divulgado em 1999, houve uma redução generalizada da participação de
trabalhadores crianças e adolescentes, em idade escolar. Em 1990, entre mulheres e homens, somava-se um
total de 0,30% de jovens entre 10 a 14 anos empregados, já entre 15 e 17 anos subia para 2,83%. Já em 1996,
o que encontramos é uma situação alterada, na idade de 10 a 14 anos a porcentagem de trabalhadores cai para
0,10%,e de 15 a 17 anos 1,40%.
A década de 1990pode ser sintetizada, em meio a embates da sociedade civil, poder público, em
cumprir efetivamente o que o Estatuto se proponha, o esforço com políticas na área da educação tem
preferência para o combate a exploração infantil e a promoção dos sujeitos de direitos.
Anos 2000: Neste trabalho das trinta e seis obras selecionadas, vinte e seis foram produzidas entre
o ano 2000 e 2008, a seguir faço uma análise da conjuntura dos anos 2000 na área em relação ao ECA e ao
trabalho infanto-juvenil.
Para que possamos entender a consolidação na prática, ou não, do Estatuto da Criança e do
Adolescente é fundamental que caracterizemos o Estado neste período. A partir de 1973 com a crise do
Petróleo, Harvey (2004,2005) marca como inicio um processo de acumulação incessante do capital, que
nomeia como acumulação por despossessão, o fragmento a seguir define explicita com clareza este conceito:

....é uma nova forma de acumulação primitiva em que há roubo, porque se faz mediante
expropriação do fundo público – um fundo constituído para avançar no inverso da desigualdade
social. Golpe no fundo público quer na promoção de guerras, de falências fraudulentas, nas formas
de o Estado socorrer empresas falidas, nas privatizações, nas reformas do Estado. Todas essas são
formas de acumular capital, retirando posses da classe trabalhadora quer materialmente quer na
expropriação de direitos humanos, sociais e trabalhistas ...Pgs. 76/77

Sobre esta estruturação do Estado Brasileiro, em especifico, sob o nascer dos anos 2000 o que
vemos é muito o oposto do que dez anos de resolução do ECA deveriam refletir, sobre o olhar atento nas
ruas é possível verificar o grande contingente de crianças inseridas precocemente no mundo do trabalho.
Começamos a trabalhar com a expressão ―desemprego juvenil‖, dados oficiais começam a contabilizar
crianças com menos de 5 anos e classificá-las enquanto desempregadas, se não estiverem economicamente
ativa.
As já citadas políticas sociais, que surgem no lugar das políticas públicas, nos anos dois mil são
também políticas fundadas na focalização. Focalização, porque em nenhum momento são pensadas medidas
que atendam a problemas globais, de conjunto, e sim são políticas específicas a alguma situação mais
alarmante para aplicação imediata, totalmente descontínuas e que produzem sujeitos eternamente
dependentes de ações do Estado, o chamado assistencialismo. Dentro deste contexto temos 70% das
produções na região metropolitana de Porto Alegre, o que significa que houve um crescimento expressivo no
interesse sobre a temática do trabalho infanto-juvenil neste período.
Dentro deste contexto temos 70% das produções na região metropolitana de Porto Alegre, o que
significa que houve um crescimento expressivo no interesse sobre a temática do trabalho infanto-juvenil
neste período.
Sobre os descritores são palavras que utilizamos, para através delas encontrar produções que
tratem sobre a temática que desejamos, no nosso caso específico, o trabalho infanto-juvenil. Utilizamos estas
palavras nos portais eletrônicos das bibliotecas das seis IES inseridas na pesquisa, e na leitura dos resumos
identificamos quantos deles estão explícitos na escrita. Anteriormente, na parte quantitativa da pesquisa,
realizamos uma análise dos descritores utilizados para a localização das produções, e os que mais apareciam
foram por ordem: trabalho infantil; trabalho do menor e trabalho infanto-juvenil.
Nesta etapa, onde analisamos os dados quantitativos referentes aos resumos nos deparamos com a
mesma situação de utilização dos descritores, porém, em quantidades diferentes.
Nosso foco principal de análise, desde a primeira etapa, é para com a pertinência do descritore
trabalho do menor, expressão a qual, faz parte de um tempo anterior a nossa pesquisa. Visto que trabalhamos
a partir do marco legal, ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), que substitui o Código do Menor, e
conseqüentemente a expressão menor por criança e adolescente.

4. Conclusão
A pesquisa não está finalizada, logo não trabalhamos com conclusões finais, fechadas,
estaques.Mas apontamos caminhos que vão sendo traçados com os resultados e discussões que obtemos ao

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

longo de nosso trabalho. Com o auxílio de obras referências sobre a temática do T.I.J. conseguimos ler os
resumos de uma forma consistente, e iniciamos uma discussão teórico-política sobre a contradição, entre
marco legal(ECA), a realidade social(apreendida em nossas empirias do grupo de pesquisa e leitura de dados
estatísticos) e a produção acadêmica (objeto de nossa análise). Contradição, que toma no decorrer de nossa
pesquisa a forma de dois conceitos: menor e sujeito de direitos. Ainda Menor??
Por isso, que ao reconstituir historicamente o processo da transformação do menor em sujeito de
direitos, nos questionamos sobre a utilização da expressão menor nos resumos estudados. Sendo importante
ressaltar que dos seis resumos em que a expressão é usada, cinco são dos anos 2000, passados dez anos da
instauração do ECA. A questão é que no marco que trabalhamos, passados 18 anos, é possível verificar em
nossas empirias a dificuldade da implementação na prática do Estatuto, tanto no que concebe a políticas
escassas quanto ao trato a estes sujeitos pela Justiça comum.
E ao nos deparamos dentro da academia com este termo, realizamos a imediata relação com a
realidade de crianças e adolescentes que vivem ainda em seus cotidianos, julgamentos morais e são tratados
enquanto incapazes, sem alguma prioridade em seu atendimento, remetendo-os ao uma real vida de menor,
ainda no ano de 2010.

Referências

FONSECA, Laura Souza. Trabalho infanto-juvenil: concepções, contradições e práticas políticas.UFF,


Niterói, 2006.
______________________. O tempo infanto-juvenil: provocações desde o campo empírico. Porto Alegre,
2008.
______________________. Trabalho infanto-juvenil e formação humana: limites na potencia ontológica e
banalização do sujeito de direitos. Inédito. ANPED 2010
Relatório de Indicadores Sociais de Porto Alegre, ano II, Porto Alegre, Abril de 1999
FRIGOTTO, Gaudêncio. A dupla face do trabalho: criação e destruição da vida. IN: FRIGOTTO, Gaudêncio
e CIAVATTA, Maria (orgs). A experiência do trabalho e a educação básica.Rio de Janeiro: DP&A,2005, 2.
ED.
FERREIRA, Norma S. A. As pesquisas denominadas estado da arte. Educação e Sociedade ano XXIII, no
79, p. 257-272, Agosto/2002.
HADAD, Sérgio. Ensino supletivo no Brasil: o estado da arte. Brasília, INEP, 1987
KUENZER, Acácia. Educação e Trabalho no Brasil: o estado da questão. Brasília, INEP, 1991.
RIZZINI, Irene. O elogio do Científico – a construção do ―Menor‖ na Prática Jurídica. In: A criança no
Brasil hoje: desafio para o terceiro milênio. Rio de Janeiro: Editora Universitária Santa Úrsula, 1993.
Seminários Regionais promovidos pelo Fórum Nacional DCA em 2008. 18 anos do ECA, o olhar da
sociedade civil.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

O JORNAL IMPRESSO COMO APOIO PEDAGÓGICO NAS ESCOLAS MUNICIPAIS


DE PONTA GROSSA

Vanessa Kruchelski Huk1; Zeneida Alves de Assumpção2

Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG/PR)

1. Introdução

Na atual sociedade da informação, as mídias fazem parte do cotidiano dos alunos,


professores, comunidade escolar e demais cidadãos. Parece-nos, que a maioria das escolas
brasileiras reconhece tal realidade, quando aderem a projetos de educação mantidos por
empresas jornalísticas filiadas ou não, à Associação Nacional de Jornais (ANJ) e Associação
Nacional de Editores de Revistas (ANER) e outras. As escolas que participam desses projetos
já perceberam a relevância da mídia-educação ou a denominada educomunicação para com o
ensino-aprendizagem. Desprezar ou desconsiderar a utilização e o trabalho com os meios
midiáticos na sala de aula, envolvendo o contexto escolar, é ir para a contramão da
mundialização da cultura e da globalização da comunicação. Nesse aspecto, as mídias podem
colaborar com a educação escolar, com a construção de conhecimentos e desenvolvimento de
habilidades e competências, tais como: hábito de leitura; reflexão crítica; compreensão da
realidade; consciência crítica; atuação no coletivo. Nesse sentido, as escolas públicas municipais
de Ponta Grossa, no estado do Paraná, há dois anos vêm trabalhando em sala de aula, com o
Projeto Cultural “Vamos Ler”, proposto pelo Jornal da Manhã, em 2008. Essa pesquisa buscou
verificar de que forma o jornal impresso é trabalhado e, como a utilização dele, contribui para a
construção da crítica social dos alunos. Contemplou-se nessa Investigação as escolas municipais
pontagrossenses que utilizam apenas o Jornal da Manhã como apoio pedagógico, em sala de
aula.

2. Método

Os procedimentos metodológicos permearam as pesquisas: bibliográfica, qualitativa e


de campo, bem como, abordagem quantitativa, por meio da aplicação de questionários com
questões fechadas e semi-abertas, envolvendo o uso do jornal impresso em sala de aula. Optou-
se, pela não realização de sorteio aleatório, por tratar-se de um número pequeno de escolas que
participam do Projeto Cultural “Vamos Ler”, utilizando o jornal impresso em sala de aula.
Buscou, assim, aplicar questionário nas 27 escolas envolvidas, para que os resultados pudessem
ter mais eficácia e credibilidade. A aplicação do questionário foi direta. Pesquisador,
professores e gestores entraram em contato. O questionário aplicado aos professores que
ministram aulas para o 2º ano, do 2º ciclo, se diferenciou do questionário aplicado aos gestores
(diretores e pedagogos). Isso ocorreu porque os professores estão em contato direto com os
alunos em sala de aula. As questões relacionaram-se à aprendizagem com o uso do jornal. Aos
gestores foram direcionadas questões mais abrangentes sobre a relação do jornal impresso
dentro do espaço escolar. Apenas duas escolas se recusaram de participar dessa investigação (os
questionários foram devolvidos em branco).

3. Métodos e Discussão

Das 82 escolas municipais sob a responsabilidade da Secretaria de Educação de Ponta


Grossa (Paraná), 27 delas participam do Projeto “Vamos Ler”, mantido pelo Jornal da Manhã.
“Sobre o uso do jornal impresso como apoio pedagógico”: 82% consideram-no “ótimo” e 18%
acreditam ser um bom recurso pedagógico em sala de aula. Não houve resposta negativa nesse
quesito. Os pesquisados aceitam a inclusão do jornal em sala de aula como ferramenta
pedagógica. Os pesquisados reconhecem o valor dessa mídia no espaço escolar. “O trabalho

1
e-mail: vanessakhuk@hotmail.com

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com jornal impresso em sala de aula”: 91% consideram-no “fácil”; 4% acham difíceis e 5%, não
sabem, especialmente quando se trata em trabalhar com conteúdos da disciplina de Matemática..
“A escolha dos conteúdos do jornal que serão trabalhados em sala de aula”: 80% dos temas são
escolhidos em conjunto (professores, gestores e coordenadora do Projeto Cultural “Vamos
Ler”); 12%, pelos professores; 5¢ pelos alunos e 3% pela coordenadora (jornalista) do referido
Projeto, das escolas investigadas. Nesse ítem, apenas duas escolas pesquisadas consideram a
preferência do aluno na escolha de temas do jornal. A escolha de temas pelos alunos
proporciona segundo alguns professores, mais participação deles no processo ensino-
aprendizagem. Porém, professores das demais escolas desconsideram essa participação e não
permitem a interação dos alunos. Sentem-se ainda os detentores únicos do saber elaborado,
deixando de lado os desejos e preferências do alunado sobre a opção de temas do jornal
impresso a serem trabalhados (inclusive pelos próprios alunos) em sala de aula. A questão sobre
“assuntos mais trabalhados nas editorias do Jornal da Manhã”: aparecem: esporte, lazer e geral-
cidade, educação; política e cultura. Muitas escolas procuram atrelar os assuntos do jornal aos
conteúdos cognitivos ministrados em sala. No entanto, algumas escolas trabalham mais um
tema que outro. Dentre os temas indicados, os que mais sobressaem são esporte e educação.
Segundo a pesquisa, esses assuntos são os mais desejados pela criança, por despertarem maior
interesse e participação da classe. Eles são geralmente trabalhados em língua portuguesa e
produção de texto. “A interdisciplinaridade sobre os temas publicados pelo Jornal da Manhã”:
representa 75%. Ao utilizarem o jornal impresso em sala de aula, os professores elaboram
leituras, diálogos e debates sobre o assunto jornalístico. Posteriormente, buscam atrelar o
assunto aos conteúdos educacionais. Um exemplo é o uso de conteúdos sobre política para que
os alunos compreendam o que é certo e errado, direitos e deveres. As páginas de educação
também permitem que os alunos conheçam o que está acontecendo no ensino da cidade e o que
importante para eles. “Dentre as editorias trabalhadas em sala de aula”: nesse quesito existem
algumas dúvidas entre os professores sobre quais editoriais devem ser trabalhadas em sala de
aula. Muitos professores têm preferência por determinados tipos de textos, por acreditarem que
eles podem colaborar de forma mais significativa com o ensino-aprendizagem. Porém, os
formatos mais utilizados em sala de aula são reportagem e notícias. Alguns docentes conseguem
trabalhar também com classificados e publicidade. Os professores que aderiram ao Projeto
Cultural “Vamos Ler” e que utilizam o jornal impresso em sala de aula há mais tempo,
apresentam mais facilidade em lidar com o material jornalístico e conteúdos cognitivos,
interagindo com a turma de forma dinâmica. Finalmente no quesito: “contribuições do jornal
impresso em sala de aula”, destacam-se: desenvolvimento da oralidade/expressão; escrita;
leitura; participação; interesse nas aulas; assimilação e interpretação de conteúdos e criticidade.
Nesse aspecto, os professores afirmam que após a utilização do jornal impresso em sala de aula,
ocorreram melhorias significativas no aprendizado das crianças em relação à interação no
espaço escolar. De acordo com a pesquisa, para muitas crianças, o jornal no espaço escolar é o
único meio da criança conhecer a realidade da cidade de Ponta Grossa e de receber informação.
.

4. Conclusão

Os resultados da pesquisa demonstram que a participação no Projeto Cultural “Vamos


Ler” promovido pelo Jornal da Manhã, com a utilização desse jornal impresso diário em sala de
aula, é relevante para a educação escolar, especialmente, quando o professor domina essa mídia
e busca o desenvolvimento de atividades escolares nos diversos conteúdos cognitivos. O jornal
oportuniza, ainda, a interdisciplinaridade e facilita o ensino-aprendizagem mediante as editorias:
esporte; lazer, geral-cidade e outras. Percebe-se, ainda, que há aceitação do jornal impresso,
como ferramenta pedagógica, por parte de professores, gestores e alunos. Considerando o
contexto vivenciado pelas escolas investigadas, nota-se que o Projeto Cultural “Vamos Ler” tem
contribuído para o desenvolvimento do hábito de leitura, o que é fundamental para formar
sujeitos críticos já nas séries iniciais. Além disso, o desenvolvimento da criticidade faz com que
também observem a realidade de forma diferenciada, podendo interferir na mesma de maneira
positiva. O desenvolvimento do pensamento coletivo também permite a formação de valores

1053
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

éticos e morais. Nesse aspecto, o Projeto Cultural “Vamos Ler” e o uso do jornal impresso em
sala de aula (Jornal da Manhã) é visto pelos professores engajados, como enriquecedor. Para o
ensino-aprendizagem Segundo os professores, através do trabalho escolar com o jornal
impresso, todos entram em contato com a informação e, mais que isso, é possível atrelar as
informações jornalísticas no cotidiano escolar.

5. Referências:

CITELLI, Adilson. Comunicação e educação: a linguagem em movimento. S]ao Paulo:


SENAC, 2000.

FREINET, Célestin. O jornal escolar. Lisboa: Editorial Estampa. 1974

GONNET, Jacques. Educação e mídias. São Paulo: Editora Loyola, 2004.

GAIA, Rossana V. Educomunicação & mídias. Maceió: Edufal, 2001.

FARIA. Maria A. Como usar o jornal na sala de aula. São Paulo: Contexto, 1999.

KENSKI, Vani. Educação e tecnologias: o novo ritmo da informação. Campinas: Papirus,


2007.

MORAN, José M. Leitura dos meios de comunicação. São Paulo: Pancast, 1999.

PRETTO, Nelson. Escritos sobre educação, comunicação e cultura. Campinas: Papirus,


2008.

SCHAUM, Angela. Educomunicação: reflexões e principio. Rio de Janeiro: Mauad, 2002.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

O PAPEL DA MÍDIA COMO INSTRUMENTO DE EDUCAÇÃO E DE


FORMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA AMBIENTAL – ABORDAGENS NO
CONTEXTO DO ENSINO TÉCNICO E TECNLÓGICO
1
Teixeira, Fernando
Palavras chave: educomunicação, meios de comunicação,
RESUMO
Autores como BELLONI (2001); CITELLI (2004); PORTO (2001), SOARES (1999), ao discorrerem sobre
as relações que se processam entre os campos da comunicação e da educação, afirmam não ser mais
possível pensar os atuais modelos educacionais como atividades exclusivas das instituições escolares.
Segundo estes especialistas, novas perspectivas vem surgindo no campo da educação, tendo como
suporte as modernas tecnologias de informação e comunicação, que permitem, entre outras facilidades, o
acesso a informações instantâneas e globalizadas, permanentemente disponibilizadas pelos veículos de
comunicação de massa, em velocidades e quantidade cada vez maiores. PORTO et all (2001), argumenta
que a sociedade atual tem sido constantemente bombardeada por informações que chegam sob
diferentes apelos sensoriais, visuais, auditivos e emocionais. A cada dia torna-se mais evidente a
influência exercida pela mídia e pelas novas tecnologias, sobre as decisões e os rumos da sociedade. É
perceptível sua presença, modificando hábitos alterando valores, aproximando culturas, reconfigurando a
relação espaço-tempo.Todas essas alterações tem suscitado constantes debates, que buscam,
sobretudo, entender as implicações e os limites dessa complexa relação. Entretanto, quando esta
influencia se dá sob o espaço formal da educação, esta relação precisa ser ainda mais discutida e
aprofundada, como afirma LEITE (2000). Para esta autora, é preciso conhecer as praticas cotidianas
exercidas pela mídia, buscar referenciais teóricos que possam respaldá-las, refutá-las, desvalorizá-las,
ressignificá-las, mas não negá-las, pois isso seria inconseqüência ou devaneio acadêmico. O presente
trabalho tem por objetivo avaliar o papel dos meios de comunicação de massa como elementos
propulsores de processos formais de educação, identificando no âmbito do ensino profissionalizante,
como esta abordagem pode contribuir para a formação ou ampliação da consciência ambiental de
profissionais que atuam ou atuarão neste setor. Busca igualmente identificar, como professores e alunos
que desenvolvem suas atividades no contexto do ensino técnico e tecnológico, em cursos que possuam
eixos ou disciplinas relacionadas a educação e a gestão ambiental, vem se apropriando dos conteúdos
divulgados pelos veículos da mídia, afim de que subsidiem discussões acerca dos problemas ambientais,
principalmente os que são inerentes a sua atividade profissional. Além disso, discute as possibilidades e
as implicações de uma maior participação da mídia no debate de temas relacionados aos efeitos da
ciência e da tecnologia na sociedade, de modo particular os impactos que estes setores provocam ao
meio ambiente. O espaço educacional onde se desenvolve a pesquisa, ao longo de sua trajetória, tem
sido marcado pela rigidez de um processo educativo que procura formar profissionais aptos a atuarem em
um mercado de trabalho cada vez mais competitivo e exigente. Não obstante virem ocorrendo
transformações estruturais, didáticas e pedagógicas, as atuais práticas ainda desenvolvem-se em torno
de manuais que orientam as disciplinas e as ações que ali se processam. Entende-se que a incorporação
de novos valores e a abertura de novas práticas de ensino, que permitam inserções oriundas de espaços
não formais da educação, como a mídia, por exemplo, exigirá que se rompa com essa rigidez. Neste
sentido, visualiza-se que, para a formação de profissionais críticos, participativos e criativos, seja
necessário contar-se igualmente com professores abertos a estas novas oportunidades que se
evidenciam através das tecnologias de informação e comunicação e da utilização dos produtos midiáticos,
como fonte de debate e de acréscimos aos conteúdos necessários a formação técnica e tecnológica. Este
estudo visa identificar o papel desempenhado pela mídia no processo de formação e ampliação da
consciência ambiental quando de sua utilização no ensino profissionalizante. Num primeiro momento
foram analisados os depoimentos de professores que atuam nesta área, procurando-se avaliar suas
percepções quanto a presença e a influencia da mídia neste espaço formal da educação, de que forma
estes professores se utilizam da mídia em suas atividades acadêmicas e como visualizam a necessidade
de se estabelecer uma abordagem critica dos conteúdos midiáticos, quando de sua utilização em
atividades do ensino formal. A pesquisa está sendo realizada no IFSC – Instituto Federal de Educação
Ciência e Tecnologia de Santa Catarina, nos campi Florianópolis, Florianópolis-Continente, Jaraguá do
Sul e Joinville. Nestes campi foram selecionados os cursos técnicos e de tecnologia onde se

1
Doutorando do Programa de Pós-gradação em Educação Científica e Tecnológica da UFSC. Campus Universitário –
Trindade. Florianópolis. fernando@ifsc.edu.br

1055
I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010
2

desenvolvem disciplinas ou eixos temáticos que discutem os problemas ambientais e suas possíveis
soluções. No total foram identificados dezesseis cursos e dezenove disciplinas com as características
anteriormente relacionadas. Nestas dezenove disciplinas atuam dez professores. Optou-se por utilizar o
método qualitativo de pesquisa, por considerá-lo o mais apropriado quando se busca identificar questões
relacionadas à educação. Como instrumento de coleta de dados, foram desenvolvidas entrevistas semi-
estruturadas com os dez professores que atuam nestas disciplinas. As entrevistas foram dimensionadas
obedecendo alguns eixos de interesse. Os eixos de interesse que compõem este estudo ficaram divididos
desta forma: 1. papel da mídia na sociedade e na educação formal; 2. importância da mídia para
formação de uma consciência ambiental crítica;3.importância de materiais divulgados pela mídia como
suporte didático à discussão de questões ambientais no ensino profissionalizante, e 4. importância de
uma discussão crítica da mídia nos processos formais de educação. As entrevistas foram áudio gravadas
e realizadas no local de atuação dos professores. Após concluída esta etapa os dados foram transcritos,
sendo montadas planilhas onde foi possível fazer-se uma comparação dos diferentes posicionamentos
dos entrevistados, entre si e com os referenciais teóricos que discutem as possibilidades, os encontros e
os desencontros da relação mídia-eduação. Uma segunda etapa do trabalho está sendo elaborada. Nela
serão entrevistados alunos vinculados às disciplinas e aos professores que participaram desta primeira
etapa de pesquisa. Pretende-se desta forma estabelecer contrapontos com as questões levantadas pelos
professores pesquisados, entender como percebem a importância da utilização da mídia nos processos
formais de ensino e qual a preparação que recebem para que possam realizar uma leitura crítica da
mídia. As entrevistas com os dez professores selecionados para comporem esta pesquisa apontam para
algumas questões importantes: 1. Os profissionais envolvidos não conseguem fazer distinções claras
entre utilização de informações disponibilizadas pela mídia para fins educativos e leitura crítica da mídia.
2. Percebe-se que ainda não existe, por parte dos professores, uma adequada formação/educação, para
uma correta utilização dos recursos tecnológicos disponibilizados e principalmente para a realização de
uma leitura crítica das informações divulgadas pela grande mídia. 3. A pesquisa também aponta para a
necessidade da educomunicação ou educação para os meios, como alternativa ao despreparo que se
verifica no conjunto de professores entrevistados. Todas as questões levantadas pelos sujeitos de
pesquisa, quando confrontadas com os autores que tratam deste tema, nos levam a acreditar que
somente se conseguirá entender a importância da mídia para a formação de uma consciência ambiental
crítica, no âmbito do ensino técnico e tecnológico, na medida em que os diferentes atores que participam
do processo de ensino, se mostrarem suficientemente preparados para uma abordagem e uma avaliação
crítica da mídia. Uma preparação que passa não somente pela análise crítica dos conteúdos
disponibilizados, mas também pelo desenvolvimento e pela elaboração coletiva de produtos midiáticos
que expressem a construção de seus próprios conhecimentos.
REFERENCIAS
BELLONI, Maria Luiza. O que é Mídia-Educação. Campinas. SP. Ed. Autores Associados, 2001.
CITELLI, Adilson. Comunicação e Educação: A linguagem em Movimento. São Paulo: Editora
SENAC, 2004.
LEITE, Márcia. A influência da Mídia Educação. Revista Mídia e Educação, ano 2006, pag.1-6.
Disponível em http:www.redebrasil.tv.br/educação/artigos/artigo9.htm.
PORTO, Tânia Maria Speron. Educação para a mídia/Pedagogia da Comunicação: caminhos e
desafios. In: PENTEADO, Heloísa Dupas (org.). Pedagogia da Comunicação: teorias e práticas. São
Paulo. Editora Cortez, 2001.
SOARES, Ismar de Oliveira. Sociedade da Informação ou da Comunicação. São Paulo. Editora
Cidade, 1996.

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OFICINA DE TEATRO: UMA NOVA PROPOSTA DE TRABALHO EM


UM NÚCLEO DE APOIO AO ESTUDANTE UNIVERSITÁRIO

Ana Paula Bellochio Thones1*; Alana Cláudia Mohr2; Moira Poema Closs3
1
Universidade Federal de Santa Maria
2
Universidade Federal de Santa Maria
3
Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução
O presente artigo pretende abordar sobre uma oficina de teatro realizada em um núcleo
de apoio ao estudante universitário de uma Instituição de Ensino Superior, a qual não é
identificada nesse trabalho devido a questões de ética e sigilo. A oficina visa atingir objetivos
psicoterapêuticos, integrando os conhecimentos de Psicologia e de Artes Cênicas, permitindo ao
sujeito um trabalho sobre sua criatividade, socialização, sobre a consciência dos próprios
desejos; e, dessa maneira, pode auxiliar na elaboração de questões difíceis por que passam os
estudantes, visto a fase da adolescência que podem estar vivendo.
Isso porque essa fase pode ocasionar uma crise no adolescente que o faz passar por
mudanças em diversas instâncias, dentre elas seu meio familiar, estudantil e social, sendo que o
sujeito necessita e busca uma nova identidade perante si mesmo e os outros. [1]
Numa oficina de teatro, a possibilidade de “falar” se expande, pois pode se usar gestos e
movimentos do corpo, expressão da voz e da imaginação. Assim, a oficina de teatro oferece um
espaço para a criação de si. O integrante pode criar cenas em que manifesta suas questões, as
compartilhando com outros e lhes atribuindo novos significados. O que ele expressa e o modo
como o faz mostra muito do sujeito, que passa a se observar e a se conhecer melhor.
O trabalho desenvolvido aproxima-se muito do psicodrama, corrente criada por Jacob
Levy Moreno. A atividade psicodramática possibilita trabalhar com sonhos, dramatizações de
situações vividas no cotidiano e construção de histórias. A partir disso, o sujeito pode
experimentar diversos lugares em diferentes situações, sentindo como é visto no meio social,
tomando consciência de seus atos em sociedade e das maneiras que pode modificá-los. Assim,
tem oportunidade de promover mudanças e adquirir mais segurança nas suas relações sociais.[2]
No psicodrama, o sujeito pode recuperar a criatividade e a espontaneidade, se colocando
num processo de busca e de desejo. [2] Para entrar nesse processo, o psicodrama utiliza o jogo
teatral, que pode auxiliar o sujeito que se encontra impedido de realizar ou encontrar seus
desejos, já que mostra que ele tem capacidade de ir além do que imaginava, mostrando alcances
da sua personalidade que ele desconhecia. [3] Dessa forma, a dramatização permite algo além
da mera repetição de papéis, já que propicia a vivência de outros, possibilitando a tomada de
consciência sobre os que se vinha desempenhando durante a vida. [2]
O tratamento psicanalítico favorece muito o investimento do mundo psíquico em
detrimento da ação, adotando o recurso da posição deitada e da retirada do analista do campo de
visão do paciente. A ligação entre afetos e representações, a supressão de resistências e a
possibilidade de mudança são funções destinadas à palavra e não a atos. Moreno se opõe a essa
idéia, acreditando que as potencialidades humanas são reveladas pela ação, a partir de situações
diárias que observava e das relações que ocorrem no meio social. Porém, ainda que de formas
distintas, o método psicodramático e o da psicanálise não são antagônicos no que objetivam,
pois ambos pretendem reduzir a diferença entre o que o sujeito aparenta ser e a sua realidade
profunda. A psicanálise dá grande importância às significações simbólicas, desconsiderando
primeiramente os efeitos produzidos por aquilo que não se inscreve, que não se nomeia. [3]
Para a psicanálise lacaniana, essa impossibilidade de inscrição se refere ao registro do
real, que constitui o sujeito juntamente ao simbólico e ao imaginário. Essa aproximação do real,
esse contorno ao redor do vazio está relacionado ao alcance da arte e da criação que dela se
produz. Através desta organização em torno do vazio, existe uma chance de ocorrer uma
operação simbólica, já que o abismo real possui uma intersecção com o registro simbólico. [4]

*
Autora Correspondente: anabellochio@yahoo.com.br

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Assim, o psicodrama, que se aproxima de uma atividade artística cênica, já que faz uso de jogos
teatrais e dramatizações, pode ser um importante complemento para a psicanálise nesse sentido.
O psicodrama psicanalítico articula o psicodrama e a psicanálise, tendo em comum
princípios analíticos que visam à criação de um espaço no qual o sujeito possa reconstruir sua
história. A intervenção do corpo, o papel, o grupo e as ações pertencem ao campo da linguagem
e não são relacionadas apenas a expressões, mas a inscrições no plano simbólico. [5]
Além disso, a técnica do jogo proposta pelo psicodrama psicanalítico pode ser utilizada
com aqueles sujeitos cujo funcionamento psíquico e cujas dificuldades de verbalização mostram
que não é possível estabelecer o tratamento psicanalítico clássico. Esses sujeitos seriam
pacientes inibidos ou com mecanismos de condensação bastante notáveis. O jogo
psicodramático seria benéfico até mesmo para os pacientes que conseguem se exprimir
verbalmente com facilidade, já que proporciona um retorno à autenticidade de suas emoções que
podem estar dissociadas do que dizem. Ademais, o jogo proporciona um maior envolvimento
devido à exigência do corpo, o que favorece uma aproximação às fontes corporais. [3]
O trabalho psicodramático realizado por esta vertente trabalha com construções
imaginárias que o sujeito desconhece, mas passa a saber, mudando de posição e se reinserindo
em sua própria história. É importante propiciar cenas que marquem o lugar da falta, não apenas
um lugar que já é comum ao sujeito, para que haja verdadeiramente uma transformação. [5]
No grupo teatral, podem ser criadas cenas dramáticas que possibilitem o aparecimento
de conflitos, através de jogos teatrais, nos quais o sujeito pode expressar suas fantasias internas
por meio de movimentos, gestos, voz, fala, para um outro que os receberá e responderá a sua a
maneira. Desse modo, os papéis assumidos, a personagem que se usa cotidianamente, podem
aparecer e serem modulados. Quem dirige as dramatizações pode solicitar a mudança desses
papéis e observar os alcances da pessoa nessa nova tarefa. [2]
Assim, o trabalho desenvolvido é embasado nas idéias psicodramáticas descritas acima,
devido a suas aproximações com as pretensões da oficina, retirando as atividades propostas dos
exercícios e jogos teatrais utilizados no curso de Artes Cênicas da UFSM.

2. Metodologia
O funcionamento da oficina de teatro ocorre na forma de um grupo. Essa idéia parte do
fato de os participantes exporem seus conflitos uns para os outros. Uma relação de confiança e
respeito deve ser estabelecida para se trabalhar desse modo. Para constituir o grupo e dar início
à oficina, foi enviado um anúncio sobre a mesma por correio eletrônico a todos os alunos
inscritos no núcleo de apoio. Realizaram-se entrevistas individuais com os interessados em
participar a fim de verificar suas queixas. Outros estudantes, já atendidos pela coordenadora da
oficina e por outros profissionais foram indicados ao grupo devido à inibição, a qual determinou
inicialmente o público-alvo. A proposta do projeto é trabalhar com um grupo fechado e com o
número de 6 participantes, visto a possibilidade de realizar trabalhos em duplas e trios e a maior
facilidade de atender cada um. A duração dos encontros é de duas horas, uma vez por semana.
As atividades planejadas para a oficina são: o aquecimento, no qual os participantes
fazem leves alongamentos e aquecem as articulações a fim de se preparar para caminhar e correr
pela sala. Essa atividade prontifica o sujeito para a criação dramática, concentrando sua atenção
em si mesmo. Além disso, esse aquecimento liberta o estudante de tensões, liberando o corpo
para se movimentar. Para uma maior integração do grupo e concentração, aconselha-se a
atividade de passar a bola. Nesse exercício, um participante joga uma bola para outro, numa
caminhada ou corrida. Este dará um salto ao receber e a jogará para outro, e assim por diante,
contando os lances até 30, sem deixar a bola cair. Outro exercício indicado, que trabalha
atenção, escuta e prontidão, é o de alguém começar um movimento caminhando, correndo ou no
mesmo lugar, em qualquer nível, baixo, médio ou alto, e os outros imitarem. Depois, outro
inicia o seu movimento, de modo espontâneo, e assim por diante. Na dramatização, uma história
com início, meio e fim, será criada pelos participantes e dramatizada. Ela pode partir de um fato,
uma idéia, um sonho ou uma construção conjunta.
Por último, uma conversa sobre as percepções acerca da dramatização e um relato de
todo o processo é feito, no qual todos poderão falar. Ao fluir dos encontros, a dramatização será
priorizada e a coordenadora poderá interferir na cena, questionando uma ação, sugerindo mudá-

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la, trocando os papéis dos participantes. Isso será realizado quando o coordenador já tiver
observado suficientemente cada participante, oferecendo possíveis lugares para o sujeito se
reinserir na sua vida social, no seu meio familiar, no seu círculo de amigos, na sua história.
Sugere-se no primeiro dia, antes de iniciar as atividades, uma apresentação bem livre de
cada um, para que comecem a se conhecer e a se ambientar, bem como um contrato grupal.
Neste será combinado com os participantes sobre o número possível de faltas que
eventualmente podem ter. Será conversado sobre o sigilo e sobre a duração dos encontros.

3. Discussão e resultados
A intenção que se tinha com a proposta da oficina de teatro era, inicialmente, a de
proporcionar um espaço que pudesse acolher as demandas de alunos com dificuldades de se
expressar através da fala, os quais se julgavam tímidos. Esses alunos muitas vezes não se
sentiam amparados no atendimento individual e acabavam desistindo das sessões.
No entanto, devido ao receio em relação à oficina de muitos dos estudantes
encaminhados para o grupo (timidez para interagir com os outros, medo das dramatizações), a
proposta da oficina mudou quanto ao público-alvo, abrangendo os estudantes que buscaram
voluntariamente a oficina e que não apresentavam inibição. Dessa forma, a oficina foi formada
com 6 integrantes: 3 apresentavam queixas quanto à timidez e dificuldades com a comunicação
e os outros 3 não relataram problemas quanto a isso. Eles têm idade entre 19 e 22 anos. Três são
do sexo feminino e três do sexo masculino.
No primeiro dia, compareceram apenas dois integrantes, que foram encaminhados para
o grupo, os quais são chamados de A e B. A fim de não desmotivá-los, a oficina foi realizada
mesmo sem os outros. Foi informado a eles que os demais seriam contatados novamente. Na
sala da oficina, o contrato inicial foi feito e as apresentações de um para o outro.
Posteriormente, foi realizado o aquecimento, a caminhada e a corrida. Durante estas, ao som de
palmas eles pulavam ou sentavam. Foi solicitado que observassem o espaço, e o próprio foco.
Depois disso, foi realizada a atividade de passar a bola e em seguida a atividade de imitar o
movimento do outro. A pareceu mais animado com os exercícios e B pareceu mais cansado e
inibido. Por isso, foi optado por não dar início às dramatizações. Ao fim, foi questionado sobre
suas impressões. Eles disseram que gostaram da proposta e que conheceram atividades
diferentes. A disse que no início se sentiu tímido por não conhecer o colega e a coordenadora,
mas se sentiu melhor aos poucos. B disse que foi muito difícil se mostrar para o outro e se
sentiu tímido. Foi comunicado que este tinha sido o primeiro dia e aos poucos eles se
conheceriam e dividiriam o espaço com outras pessoas.
Na semana seguinte A e B não vieram. Compareceram à oficina outros três, sendo um
com queixa de timidez e dois com queixa de ansiedade. São chamados de C, D e E
respectivamente. Foi feito o procedimento da semana anterior. No momento da apresentação, D
disse que gosta de se relacionar com as pessoas, dividir seus problemas com os outros, E disse
que escolheu a oficina por ser algo diferente e gosta de experimentar coisas novas. C falou seu
nome, seu curso (parecendo desprezá-lo por ser técnico) e que buscou o atendimento por ser
tímido e isso prejudica suas relações. Escolheu o grupo por seu interesse pelas artes. D relatou
durante o processo estar se sentindo bem mais relaxado, e falou bastante durante os exercícios,
sendo solicitado que se concentrasse mais no que estava fazendo. Foi visível a melhora na
concentração dos três. C sorriu durante a corrida, parecendo se divertir. No exercício de passar a
bola pareceram resistentes, mas aos poucos começaram a jogar, olhando um para o outro.
Nesse dia foi realizada a dramatização. D foi o primeiro voluntário e dramatizou que
telefonava para uma amiga que não via há tempo e combinaram de se encontrar. Já E sentou e
falou sobre o desejo de trocar de curso, mas que teme a reação dos pais. C não quis ir ao palco
por não saber o que fazer. Foi solicitado que ele fosse ao palco e expressasse isso. C foi e
repetiu que não sabia o que fazer. Ao fim conversamos sobre a atividade. D e E disseram que as
idéias para o palco surgiram a partir do que sentiram no momento. Foi dito a C que ele
expressou o que estava sentindo, que não sabia o que fazer e simplesmente falou isso. D e E
valorizaram a atitude de C de conseguir ir até o palco.
No encontro seguinte, compareceu A, C e D. Após os exercícios, foi solicitado que eles
conversassem sobre o que surgiu no palco no encontro passado e elaborassem juntos uma

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dramatização englobando os temas. Eles decidiram dramatizar uma questão que identificaram
em comum: o preconceito. Apresentaram uma situação em que A era xingado na rua. Ele
revidou, dizendo que elas não podiam falar o que pensam. D disse que falaria o que pensa sim, é
seu direito. C ficou em silêncio. Eles finalizaram e montamos um círculo para discutir o
assunto. A e D contaram situações de preconceito passadas com colegas em sala de aula. C
estava mais calado, mas falou do preconceito que sofre por fazer um curso técnico. A disse que
já fez um e acredita que muita coisa já mudou, se sente mais valorizado e não se abate se
alguém faz algum comentário. D falou da importância dos cursos técnicos e de todas as
profissões, pois acredita que cada uma responde a uma função social, e C deveria se sentir
valorizado. Durante a conversa surgiu um outro assunto em comum, a dificuldade de apresentar
trabalhos acadêmicos, pois D se sente muito nervoso e C e A se sentem tímidos. Foi proposto
trazer esse tema para o próximo encontro e dramatizá-lo. Eles concordaram, mas somente D
compareceu, precisando ser cancelado. Os membros do grupo foram contatados para falar de
suas percepções sobre a proposta, a fim de melhorá-la.

4. Conclusão
O que se pode afirmar até o momento sobre a oficina é que, quanto à mudança do
público-alvo, de início pareceu interessante devido às diferentes formas de se comunicar. Os
integrantes poderiam estabelecer uma troca, à medida que identificassem outros modos de ser e
agir que demarcariam algo faltante a eles, promovendo um movimento subjetivo. Ou seja, a
dramatização favorece a vivência de outros papéis, permitindo a conscientização sobre os que se
exerce em diferentes contextos. No entanto, o que ocorreu foi uma reafirmação de seus lugares.
Quanto à inibição o que ocorre é uma inibição tanto da fala quanto do corpo que se
mostra através dela. Isso pode ter acarretado a desistência dos tímidos, pois eles teriam que
buscar essa desinibição através do corpo, do jogo teatral. A expressão de seus afetos poderia
estar despertando, mas esse movimento gerou uma resistência que os impediram de seguir. Por
outro lado, aqueles que não eram inibidos e se caracterizaram como ansiosos se beneficiaram
com o grupo, relatando se sentirem mais relaxados, mais dispostos, principalmente D. Isso
porque seus afetos estão bastante aflorados e se direcionam para outros fins.
Desse modo percebe-se que a oficina não está funcionando da forma em que se opera.
Algumas pequenas mudanças começaram a se estabelecer e talvez ao longo do processo elas
pudessem ser mais presentes. Porém, a resistência de alguns não tornou isso possível. Assim,
reformulações precisam ser feitas. O grupo pode ser aberto, assumindo mais um caráter de
oficina, proporcionando aos alunos um efeito terapêutico a cada encontro, e não ao longo do
processo. Ou ainda, todos integrantes podem apresentar a mesma queixa.

5. Referências

[1] ABERASTURY, Arminda; KNOBEL, Mauricio. Adolescência Normal. Porto Alegre:


Artes Médicas, 1981.

[2] GONÇALVES, C.S.; WOLFF, JR; ALMEIDA, W.C. Lições de psicodrama: introdução
ao pensamento de JL Moreno. São Paulo: Editora Ágora, 1998

[3] KESTEMBERG, E; JEAMMET, P. O Psicodrama Psicanalítico. Campinas, SP: Editora


Papirus, 1989

[4] LACAN, Jacques. O Seminário: livro 7- A Ética da Psicanálise (1959-1960) Rio de


Janeiro: Jorge Zahar, 1997.

[5] LEÃO, Mariza Ferreira. O psicodrama psicanalítico no atendimento de grupo de


adolescentes. In: Wilson Castelo de Almeida. (Org.). GRUPOS a proposta do psicodrama.
São Paulo: Ágora, 1999, v. , p. 157-164.

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PESQUISA EM BANCOS DE PATENTES: MONITORAMENTO TECNOLÓGICO COMO


FERRAMENTA METODOLÓGICA DE DESIGN

Matheus M. de Souza1*; Clariana M. Bordignon2; Caroline Müller3; Rosimeri F. Pichler4, Diego G. Testa5;
Fabiane6 V. Romano
1
Universidade Federal de Santa Maria
2
Universidade Federal de Santa Maria
3
Universidade Federal de Santa Maria
4
Universidade Federal de Santa Maria
5
Universidade Federal de Santa Maria
6
Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução
Hoje boa parte das soluções tecnológicas lançadas no mercado é divulgada em meios eletrônicos,
inclusive disponibilizada na web. Em parte isso se deve à recente universalização da internet, através da qual
o homem pôde adquirir conhecimentos antes considerados intangíveis.
Infelizmente isso implica a possibilidade de cópias não-autorizadas de quaisquer tipos de obras, de
artigos científicos a bens de consumo. Assim, todo profissional, especialmente o ligado à inovação, deve
preocupar-se com a integridade e autenticidade de seu trabalho e procurar protegê-lo por vias legais.
É essencial observar que os órgãos responsáveis pela proteção de criações intelectuais, como o INPI
(Instituto Nacional de Propriedade Industrial), também acumulam a função de bancos de dados, à medida
que não somente fornecem ferramentas para pesquisa de patentes e registros, como facilitam o acesso ao
conteúdo dos mesmos.
Desse modo, é possível acompanhar através dos bancos de patentes o surgimento de soluções que
podem ser exploradas no desenvolvimento de outros produtos. Ademais, o monitoramento traduz-se como
análise sincrônica ao evidenciar o conteúdo – o estado da técnica – da cultura material contemporânea.

2. Método
O intento do projeto de pesquisa foi progressivamente desenvolvido à medida que necessidades dos
acadêmicos, em relação ao assunto, foram identificadas. Como não havia e ainda não há amplo
conhecimento pelo corpo discente sobre a importância da propriedade intelectual, priorizou-se a construção
de um manual sintetizando os procedimentos legais para proteção de obras de design.
A metodologia empregada na pesquisa incluiu o estudo da bibliografia básica do tema, passando, mais
tarde, à análise do padrão de funcionamento das ferramentas de busca em diversos bancos de dados, tanto
nacionais quanto internacionais.
Examinando a relevância do conhecimento teórico implícito nessa prática, os pesquisadores decidiram
elaborar um artigo dissertando sobre a referida proposta de pesquisa. Seu conteúdo reflete a tentativa de
contribuir com as metodologias de projetação dos cursos de graduação, já que insere no projeto
informacional uma possibilidade muito pouco explorada pelos acadêmicos. Em suma, a possibilidade de
pesquisa junto a bancos de patentes e registros.

3. Resultados e Discussão
O Instituto Nacional de Propriedade Industrial é o órgão responsável por garantir a proteção da
propriedade intelectual de indivíduos e empresas. A propriedade intelectual oferece o instrumento legal que
protege a autoria da criação original, que legaliza a licença de uso ou cessão de alguns direitos e que inibe as
cópias ilegais de um objeto protegido [2].
Sendo admissível afirmar que o fortalecimento do design, enquanto agente propulsor do crescimento
econômico, é proporcional ao investimento realizado na proteção da propriedade intelectual, então as
ferramentas que materializam o supracitado progresso econômico devem ser discriminadas. Essas
ferramentas são as patentes e o registro de desenho industrial, responsáveis pelo estabelecimento e pela
manutenção da integridade das obras do design de produto.
A patente é um direito de propriedade conferido pelo Estado ao inventor, que permite, a este, dispor
livre e exclusivamente de um processo ou produto por um período limitado de tempo [5]. Dependendo de seu
teor e de seu grau de novidade, as patentes são classificadas como invenção ou modelo de utilidade. Para ser
patenteada como invenção, a obra de design não deve constar no estado da técnica – deve ser inédita – e deve

*
Matheus M. de Souza: thms@ymail.com
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

solucionar um problema técnico verificado. O modelo de utilidade, enquanto isso, provém de modificações
que, introduzidas na forma de um objeto existente, ocasionam melhorias de funcionamento.
O desenho industrial é uma alternativa para registros de design de produto, além de representar, em
termos de proteção legal, a intersecção com o design gráfico.
De acordo com o Artigo 95 da LPI: “Considera-se Desenho Industrial a forma
plástica ornamental de um objeto ou o conjunto ornamental de linhas e cores que possa ser
aplicado a um produto, proporcionando resultado visual novo e original na sua
configuração externa e que possa servir de fabricação industrial [2].
Até há poucos anos, o pesquisador buscava suas informações em livros, artigos, logo após, em Internet
e, hoje, com o estreitamento entre ciência e tecnologia, os bancos de patentes passam a ser fonte de pesquisa
[5]. É possível situar o “monitoramento e prospecção das áreas de conhecimento principais e correlatas” [3],
por conseguinte, na posição de pré-requisito para atividades de pesquisa e desenvolvimento efetuadas nas
universidades.
O cerne da questão proposta neste artigo encontra respaldo na seguinte explanação: o pouco
conhecimento, nas universidades, a respeito da existência e relevância das informações contidas nas patentes,
é um empecilho ao desenvolvimento econômico [4].
Nessa linha de raciocínio, as informações contidas nas patentes ajudam no ensino e
na pesquisa, permitem ao pesquisador saber o estado da técnica e ajudam o empresário da
indústria a encontrar a solução procurada ou saber que ela ainda não existe [4].
Crê-se que uma proposta metodológica de design baseada no monitoramento de novas tecnologias,
estas encontradas em bancos de patentes, é capaz de mais bem orientar a projetação de produtos por duas
razões. Primeiramente, ao analisar patentes e registros, os acadêmicos entram em contato com soluções
concebidas para problemas técnicos semelhantes ao seu, abreviando o tempo normalmente despendido na
busca de novas respostas. Em segundo lugar, os produtos projetados por meio desse método estariam mais
bem focados nas lacunas do mercado, tendo em vista o caráter indicativo dos bancos de patentes em termos
de soluções e tecnologias já existentes no estado da técnica.
De modo a incorporar o monitoramento ás metodologias de projeto de design, ele deve ser praticado
como instrumento de análise de mercado, ou seja, com o objetivo de reunir uma amostragem do universo de
um bem de consumo. Essa amostragem, para fins projetuais, funciona como importante referencial de
tecnologia e de forma – ambos elementos inerentes ao design, o que ratifica o emprego do monitoramento.
Também é oportuno o emprego desta metodologia de pesquisa como referencial criativo: em outras
palavras, como a possibilidade de absorver ideias e princípios que podem favorecer o próprio processo de
desenvolvimento dos estudantes.

4. Conclusão
A pesquisa, indubitavelmente, é a atividade central das universidades. Porque o monitoramento
colabora provendo embasamento às propostas de pesquisa e desenvolvimento, ele deve também,
consequentemente, tornar-se elemento central no meio acadêmico.
O monitoramento tecnológico não deve ser compreendido unicamente como varredura de
informações, mas sim como componente atrelado a rotinas de planejamento e aprendizado [1]. Trata-se,
sobretudo, uma forma de apreender o mercado de um produto – ponto de partida para a criação de bens de
consumo que, mesmo originais, servem-se de soluções e tecnologias já desenvolvidas pelo ser humano.
O montante de dados à disposição, até mesmo em bancos de dados internacionais, concorre como
estímulo à adoção do método de pesquisa exposto, uma vez que estudar inovações tecnológicas (incluindo as
estrangeiras) subsidiaria a atividade criativa de dezenas de profissionais e estudantes brasileiros.

Referências
[1] CARNEIRO, A. M.; BONACELLI, M. B.; CORDER, S.; ZACKIEWICZ, M.; REZENDE, A. S.;
TAME, P. Monitoramento Tecnológico: desafios para ir além do P&D. In: XII SEMINÁRIO LATINO-
IBEROAMERICANO DE GESTION TECNOLÓGICA. ALTEC, 2007. Disponível em:
<http://www.ige.unicamp.br/geopi/documentos/40511.pdf>. Acesso em: 25 mar. 2010.
[2] GUIMARÃES, Susana Serrão. Proteção legal do design. São Paulo: Limiar, 2005. p. 13; 26.
[3] ORTIZ, Lúcia Cunha; ORTIZ, Wilson Aires; SILVA, Sergio Luis. Ferramentas alternativas para
monitoramento e mapeamento automatizado do conhecimento. Ciência da Informação. v. 31, n. 3. Brasília,
set.-dez. 2002. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=
S0100-19652002000300007&script=sci_arttext&tlng=in>. Acesso em: 26 mar. 2010.
[4] PIMENTEL, Luiz Otávio; BARRAL, Welber. Direito de Propriedade Intelectual e Desenvolvimento. In:
Propriedade intelectual e desenvolvimento. Org.: Welber Barral; Luiz Otávio Pimentel. Florianópolis:
Fundação Boiteux, 2006. p. 11-34.
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[5] SCHNEIDER, Nádia. Guia prático de propriedade intelectual: para Universidades, Empresas e
Inventores. Santa Maria: UFSM, 2006. p. 14; 37.

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PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO DOCENTE EM RELAÇÃO À MATEMÁTICA DAS


SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Ademir Damazio¹; Fernanda Gava Hoepers²; Lucas Vieira Lemos³*


¹Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC
²Universidade do Extremo Sul Catarinense – PIBIC/UNESC
³Universidade do Extremo Sul Catarinense – PIBIC/CNPQ

1. Introdução

No contexto da formação inicial e continuada de professores que ensinam Matemática nas séries
iniciais do ensino fundamental, há pelo menos duas preocupações: a formação pedagógica que responde pela
parte didática que rege o ato de ensinar e a formação matemática que implica em aquisição do conhecimento
científico da referida disciplina. Pensamos como Fiorentini e Lorenzatto [1] entre outros, que a articulação
dessas duas especificidades de conhecimento, é condição mínima para o professor ensinar Matemática.
Entretanto, existem divergências de concepção de formação docente. Saviani [2] aponta dois modelos:
1) o “modelo dos conteúdos culturais-cognitivos”, que mantém o foco nos conteúdos de forma exclusiva, isto
é, fixa os estudos em áreas específicas; 2) o “modelo pedagógico-didático”, com ênfase à formação
pedagógica e abrange a educação em diversas óticas.
Ainda é pertinente a crítica de Baldino [3] ao discurso daqueles que estabelecem que a formação
especificamente em Matemática garante o sucesso da docência. Para o autor, esse posicionamento emudece a
aprendizagem, além disso, “constrói um silêncio específico em torno da gênese das estruturas cognitivas, o
que lhe permite supor um aluno ideal, pronto.” Em situação oposta, Druck [4] aponta as causas da pouca
cultura matemática do povo brasileiro: a superficialidade do domínio dos conteúdos matemáticos por parte
dos professores, o movimento da matemática moderna dos anos de 1970 e os modismos pedagógicos.
Para Damazio e Lemos [5] há professores que recorrem a métodos pedagógicos adquiridos, por
consequência das reflexões sobre a sua formação docente e a experiência em sala de aula. Contudo, na
expectativa de superar a carência de conhecimentos matemáticos, desprendem esforços na formulação de
recursos didático-pedagógicos, que geram dúvidas das suas possibilidades para a formação do pensamento
conceitual dos alunos.
Essas discussões têm preocupações com a qualidade da educação matemática dos estudantes, pois,
segundo D‟Ambrosio [6] tem o predomínio, a séculos, da concepção absolutista da matemática, que “gera
uma dinâmica de ensino em que os alunos devem acumular conhecimento”. Dessa forma, os
posicionamentos divergentes sobre o conteúdo dos cursos de formação de professor de Matemática, trazem
argumentos e contra-argumentos sobre a permanência ou não da concepção absolutista.
Assumimos o posicionamento da não dicotomia entre os conhecimentos pedagógicos e os
conhecimentos matemáticos na formação docente. Nesse foco, temos estudado as produções daqueles que
ensinam a Matemática no Ensino fundamental, com o princípio de que o professor ao estar diante de seus
alunos para proporcionar-lhes um processo de elaboração conceitual, não privilegia seus conhecimentos
matemáticos em detrimento dos pedagógicos. A situação que se apresenta, para ele, não dá margem para tal
dicotomização que requer um posicionamento a favor de um ou outro conhecimento. Na linguagem de
Leontiev [7], é possível dizer que o professor tem consciência de que sua atividade – docência – exige-lhe: a
execução de ações com vistas à aprendizagem matemática e determinação de operações para que os
estudantes se apropriem dos conhecimentos.
A teoria da atividade [7] é o contexto em que emergiu a questão a ser focada no presente texto, pois
temos como pressuposto de que as ações e suas correspondentes operações, estabelecidas pelo professor,
estão vinculadas a um motivo e a um fim que traduzem as reais intenções da atividade docente. Vale reportar
ao desenvolvimento histórico-social de ideários que fundamentaram a formação do professor, marcado pela
influência das políticas públicas, que interferem na atividade docente em Matemática.

2. Método

A metodologia da pesquisa foi voltada para três aspectos principais: 1) a produção do referencial
teórico no que diz respeito à formação da consciência do ser humano, com fundamento nas categorias da
abordagem histórico-cultural em sua especificidade a teoria da atividade quais sejam: fins, motivos, ações,
operações, entre outras; e um breve estudo sobre a evolução pedagógica no Brasil; 2) analise qualitativa de

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Lucas Vieira Lemos: lucasvieiralemos@hotmail.com
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entrevistas semi-estruturadas para particularidades de quinze professoras que ensinaram Matemática de 1ª a


4ª série do Ensino Fundamental, nas décadas de 1960 e 1970, com obediência para a questão diretriz (Qual o
contexto teórico das produções pedagógicas dessas professoras referentes ao ensino de Matemática?); 3)
divisão em duas categorias de análise das manifestações dos docentes: a presença do nível de consciência
comum e a ausência de consciência científica na atividade docente.

3. As criações da atividade docente dos professores

Com base na teoria da atividade, analisamos as produções docentes relacionadas às práticas


pedagógicas no ensino de primeira a quarta série, quando a formação profissional ainda era em nível de
Ensino Médio. Para tanto, focamos suas falas que traduzem experiências consideradas peculiares de cada
uma delas ou revelam acontecimentos que circundavam o ensino de Matemática nas séries iniciais do ensino
fundamental naquele momento da respectiva trajetória da docência. No que se refere à natureza dos
entendimentos expressos pelas professoras, nossas reflexões se centraram para categorias da teoria da
atividade que sintetizamos com as denominações: a presença do nível de consciência comum – com teor de
um discurso corrente sem expressar uma base teórica; e a ausência de consciência científica – por não
apresentarem argumentos fundamentados em pressupostos considerados científicos.
Nas falas, as professoras se referem ao passado e expressam dois fatores intervenientes das políticas
públicas na atividade docente. O primeiro diz respeito às influências em formato de lei que interfere
diretamente na sala de aula, consequentemente, atinge os objetivos da atividade das professoras e, também,
na atividade do aluno. Isso fica evidente em falas como:
Quando eu comecei dar aula, entrou aquela lei 5692, uma lei da educação que não
rodava mais, tinha promoção automática. Então com isso ninguém queria estudar
porque sabendo ou não seria promovido. Então a primeira coisa que eu tive que fazer
foi reverter essa ideia dos alunos e motivá-los. (PROF. LIA).
O segundo fator refere-se à habilitação das professoras que raramente tinham formação em Pedagogia,
o que as habilitavam para ensinar na Educação Infantil e de primeira a quarta série do Ensino Fundamental.
A gente não tinha preparo para trabalhar com essa situação de não reprovar o aluno.
(PROF. LORI)
O avanço progressivo foi coisa somente de Santa Catarina. Muitas pessoas até
gostavam dessas mudanças e consideravam uma novidade ou coisa moderna.
(PROF. ANA)
As mudanças a que se referem as professoras, advindas das políticas públicas, são anunciadoras de
dúvidas no que se refere ao motivo da atividade de estudo dos alunos que era a aprovação de uma série
escolar para a seguinte. Se a reprovação deixou de existir, a questão que se apresenta é: Qual o motivo que
levaria o aluno a estudar? Por sua vez, o motivo da atividade docente permanece o mesmo em face às
exigências estruturais das relações de trabalhos atuais. Estas estabelecem [8] como “motivo compreensível”
o salário e como “motivo eficaz” a aprendizagem do aluno.
Pelas falas, a lei ao reorganizar o sistema educacional deixava um vazio no que se refere à finalidade e
ao motivo da atividade pedagógica. Ensinar e aprender matemática para que? Esse estado de indecisão, para
uns (PROF. ROSE), ou de inovação, para outros (PROF. ANA), faz emergir ações ou tarefas, por parte das
professoras. Trata-se, pois, do surgimento de uma necessidade e o despertar de outro nível de consciência das
professoras, o que requereu a busca e o cumprimento de novas “tarefas” ou outras “ações e operações”, que
se explicitam nas falas que seguem:
A gente sempre tinha um contato, nunca ficava isolada, era sempre assim, todo
mundo ajudando. (PROF. SILVIA)
A gente se reunia pra ver as dificuldades, se precisava para mudar algum método que
o aluno ia entender melhor. (PROF. JOANA).
A reunião pedagógica era fora de horário de aula. A gente estudava, a gente
preparava todas as aulas, juntas. (PROF. TEREZA)
Os depoimentos traduzem o pressuposto de Davydov [9] de que as mudanças de condições para
realização de um objetivo, mesmo que ele não mude, modificam a tarefa. A Lei 5.692/71 desestabiliza as
tarefas executadas rotineiramente e concebidas como as únicas adequadas da atividade pedagógica e solicita
que os professores assumam novas posturas, o que os levam à busca de novas ações que, inicialmente,
ocorrem em nível do coletivo da escola. Esforçam-se em produzir novas operações para a tarefa de fazer com
que os alunos estudem, apesar da mudança de motivo ao dar-lhes o direito legal de aprovação em qualquer
circunstância de aprendizagem conceitual.

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3

Ensinar matemática para essas professoras não significa a atividade de ensino em si, mas se constitui
numa “ação” dela, pois se trata apenas de uma disciplina e não do processo educativo como um todo. Para
essa ação específica, elas se esforçaram em estabelecer operações, que consideram suas peculiaridades, para
que os alunos aprendam Matemática, independentemente do desaparecimento do motivo centrado no sistema
de avaliação da aprendizagem.
Essa necessidade premente desenvolve um nível de consciência comum, entre os professores daquele
momento histórico (proximidades dos anos 1970), porém sem o conhecimento da base teórica. As operações
desenvolvidas ocorreram com sustentação em saberes do dia-a-dia. Nas falas, são identificadas as
preocupações com uma diversidade de significados que expressam sentidos (opiniões) distintos sobre para
um mesmo objeto: aprender matemática.
A criança olhando e manuseando ela aprende. (PROF. ELIS).
Matemática é uma disciplina que tem que fixar, porque se não eles não aprendem
(PROF. CLEIDE).
Eu dava as aulas geralmente na base de desenhos. (PROF. LIA)
As manifestações revelam a visão e julgamento pessoal sobre o objeto, o motivo e o fim que
determinam a atividade de cada professor e, em particular, a aprendizagem da matemática, por parte dos
alunos. As falas de Elis e Lia traduzem uma concepção empírica tanto do processo de produção do
conhecimento matemático quanto de apropriação dos seus conceitos em situação escolar. O posicionamento
de Cleide transmite a concepção absolutista. Em termos epistemológicos, essas duas concepções se tornam
exclusividades nas criações didáticas, isto é, nas operações da ação de ensinar matemática.
Tinha aluno que não sabia diferenciar problema de multiplicar e dividir, então eu
dizia: Se o problema dá valor de uma coisa e quer saber de bastante, então a conta é
de multiplicar. E se o problema dá valor de muitos e quer saber de um, então
problema é de dividir. (PROF. LOURDES).
E veio os conjuntos como novidade. Então, ensinava aquele pouquinho que aprendia
pra eles. Às vezes, inventava alguma coisinha. Por exemplo, levava dois barbantes e
amarrava as pontas e ia colocando as peças ali dentro para eles saber se pertence ou
não pertence a um ou outro. (PROF. GRAÇA)
Um dia me caiu a ficha que eu poderia diminuir o tamanho da tabuada. Dizia para
eles: quando um dos dois números a ser multiplicado é o 1, então o resultado é
sempre o número que não é o 1. Daí partia para a tabuada do 2, então não precisava
começar do 2 x 1, mas do 2 x 2 e ia até o 2 x 9. Partia para a tabuada do 3, e começa
do 3 x 3, pois dizia para eles que 3 x 1 e 3 x 2 já sabiam. Ia para a tabuada do 4, e
começava do 4 x 4, porque os outros já tinham estudado nas tabuadas de antes. Então
vinha a tabuada de que só precisava decorar 5 x 5, em diante. Depois a do 6, que só
estudava do 6 x 6 em diante. Na do 7 era só 7 x 7, 7 x 8 e 7 x 9. Na do 8, só 8 x 8 e 8
x 9. A do 9, só ficava 9 x 9. (PROF. LORENA).
As crianças que entravam na escola não tinham habilidade com o lápis. Escrever os
numerais era muito difícil para alunos do primeiro ano. Eu fazia cartazes em folhas
de caderno de desenho dos grandes. O 1 aparecia no mastro de um barco, o dois no
pescoço de um ganso de lado, o três no contorno de um gato sentado de costas, o
quatro na planta de uma casa; umas coisas assim até o nove. (PROF. CLEUSA).
Passei na padaria, levei um bolo. Todos vão estar de aniversário. Eu levei um bolo
pra explicar pra eles o que era fração. (PROF. LORENA)
Tu tem que ter 5 vezes o 3, um grãozinho, montar, concreto. Isso até a quarta, depois
daí já não precisa mais. Eles tem que decorar mas eles tem que saber. (PROF.ROSE)
A concentração entre proposições de cunho absolutista e empírico pode ser entendida como uma
característica de processos de mudança ou instabilidade de motivos ou fins de uma atividade. Ou seja, como
algo que emerge das relações sociais e históricas, produzidas pelos homens. Assim, a visão absolutista foi
internalizada pelas professoras no processo particular de estudo e formação profissional (Curso Normal) que
coincidiu com o período de predomínio da “tendência formalista clássica” [10], até 1950.
Entretanto, com a mudança do sistema de avaliação permitido pela lei 5692/71, algumas professoras
buscam alternativas de operação que coincidem com princípios do movimento pragmatista da Educação -
Escola Nova. Esta se manifesta no ensino da Matemática como uma tendência, denominada por Fiorentini
[10] de “Empírico-Ativista” que se apresentava com lema do “aprender a aprender”. Observa-se que a base
empírica das criações pedagógicas – operações de ensino – também ocorre tanto para ensino de conteúdos
tanto da Matemática Clássica como da Matemática Moderna.

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A descaracterização de uma consciência científica leva as professoras a deslocar suas atenções para
alternativas didáticas com ênfase na “concretização” da Matemática, como forma de resolver os problemas
de aprendizagem dos alunos. É destacável que, independente do nível de consciência – científica ou não –
das professoras entrevistadas, a atividade de ensino era exercida com sentido e significações. Existia a
“vontade e emoção” [9] para planejar e cumprir tarefas a executar como forma de evitar que os alunos
deixassem de estudar matemática com a indefinição de motivos à atividade de aprendizagem, ocorrido com o
fim da reprovação. O comprometimento – desejo de educar – abriu a possibilidade das professoras
reconhecerem como fundamental o trabalho coletivo, bem como a tomada de consciência das suas limitações
para manter o “motivo eficaz” [8] da atividade pedagógica: a aprendizagem dos alunos.

4. Considerações Finais

Tendo como referência as falas das professoras algumas considerações e sínteses podem ser
elaboradas. O período histórico e pedagógico a que se refere o presente estudo foi marcado por um fator
determinante advindo de políticas públicas: a lei 5692/71, que levou as professoras ao entendimento de que
estabilidade didática de uma visão absolutista de Matemática e de ensino, até então predominante, fora
colocada em xeque. Impacta, também, o fim da reprovação de alunos – entendida como motivo da atividade
de estudo – com a adoção do sistema de avaliação por “avanço progressivo”.
Os dois fatores não desestabilizam o motivo, o fim e as ações da atividade de ensino (professoras) e
sim da atividade de aprendizagem (alunos). O motivo „profissional‟ das professoras continuava a ser o
salário e o „pedagógico‟ a aprendizagem dos alunos. Do mesmo modo, permanece a ação de ensinar
matemática. As mudanças requereram a busca de operações para o ensino dos conceitos matemáticos, ou
como dizem algumas professoras “um jeitinho novo de ensinar matemática”. As novas operações surgem no
debate fundamentado em experiências pessoais e do grupo de professores do qual fazem parte; o que
caracteriza um nível de consciência prática, em detrimento da formação de um nível de consciência
científica. Elas apresentam como característica predominante a função pragmática e uma base empírica, com
dupla finalidade: ilustrativa, como possibilidade de associar o conceito matemático a uma determinada
situação do cotidiano; macetes, para indicação de caminhos para memorização de algoritmos matemáticos.
As proposições das professoras se caracterizam pela articulação dos diversos componentes da estrutura
de qualquer atividade humana. Ou seja, pelo olhar da inovação, pelas emoções e vontade, pela cooperação e
o respeito às experiências docentes, pela busca de novos significados, sentidos e para a formação de um novo
motivo para os alunos estudarem Matemática.

Referências

[1]FIORENTINI, Dario; LORENZATO, Sergio. Investigação em Educação Matemática: percursos


teóricos e metodológicos. 2. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2007, 228 p.
[2]SAVIANI, Demerval. Formação de Professores: aspectos históricos e teóricos do problema no contexto
brasileiro. Revista Brasileira de Educação, Campinas (SP), Autores Associados, v. 14, nº. 40, pp. 143-155,
jan./abr. 2009
[3]BALDINO, Roberto Ribeiro. Ensino de Matemática ou Educação Matemática? In: Temas & Debates.
Rio Claro: UNESP, Sociedade Brasileira de Educação Matemática, ano IV, n.3, 51- 60, 1991.
[4]DRUCK, Suely. O Ensino da Matemática tem Solução? In: Revista de Divulgação Científica da SBPC:
Ciência Hoje. v. 38, n. 225, Abril/2006.
[5]DAMAZIO, Ademir; LEMOS, Lucas Vieira. Uma Leitura Histórico-Cultural do Desenvolvimento da
Memória dos Professores Sobre a Educação Matemática. Anais do III Simpósio Internacional IV Fórum
Nacional de Educação. Torres, RS, Ulbra, 2009.
[6]D‟AMBROSIO, Beatriz S. Formação de Professores de Matemática do século XXI: o Grande Desafio.
Pro-Posições, Campinas, v.4, n°1 [10], p. 35-41, mar/1993.
[7]LEONTIEV, Alexis. O desenvolvimento do psiquismo. São Paulo: Centauro, 2004, 356 p.
[8]_________. Uma Contribuição à Teoria do Desenvolvimento da Psique Infantil. In: Vigotski, Luria,
Leontiev. Linguagem, Desenvolvimento e Aprendizagem. São Paulo: Ícone, 2006.
[9]DAVIDOV, V.V. Uma nova abordagem para a investigação da estrutura e do conteúdo da atividade. In:
HEDEGARD, Mariane e JENSEN, Uffe Jull. Activity theory and social practice: cultural-
historical approaches. Aarhus (Dinamarca), Aarthus University Press, 1999. Tradução de José Carlos
Libâneo.
[10]FIORENTINI, Dario. Alguns Modos de Ver e Conceber o Ensino de Matemática no Brasil. Zetetiké.
Campinas: UNICAMP, ano 3, n. 4, 1-36, 1995.
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QUEM SOMOS NÓS? UM ESTUDO SOBRE IDENTIDADE E INDIVIDUALISMO NA


SOCIEDADE PÓS-MODERNA

Valdecir Babinski Júnior*; Liliane Edira Ferreira Carvalho


Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)

1. Introdução
Fato contemporaneamente inovador é reconhecer e discutir que o indivíduo pós-moderno está em
crise. Sua identidade fragmentada foi materializada com a desconstrução dos papéis sociais, que outrora
eram pré-determinados, com o pluralismo de possibilidades de encontrar o seu eu – e através dele encontrar
o outro, o grupo, a tribo. A moda de hoje, como instrumento social de massificação, descentraliza o sujeito,
desnorteia-o com a profusão de suas infinitas faculdades, oferece-lhe uma gama de variadas – e divergentes –
escolhas, desmitifica seu corpo e o transforma em objeto de identidade. Neste estudo será verificado, através
da análise de indivíduo e Moda, como ocorre este processo.

2. Método
Quem somos nós? Pergunta difícil que busca ser respondida neste artigo, fruto de projeto de pesquisa
elaborado na disciplina de História e Moda, no curso de bacharelado em Moda da UDESC. Através de
pesquisa bibliográfica, buscou-se aqui discutir a relação paradoxal que se estabeleceu entre individualidade e
massificação na sociedade contemporânea, tomando a Moda como espaço de manifestação destes diferentes
discursos e participante desse processo de identificação do indivíduo moderno. A acessibilidade, adquirida
pelo sujeito, a diferentes identidades, dificulta a percepção do que este realmente é. Tal conjuntura torna-o
filho primogênito de uma sociedade baseada no efêmero, na ambigüidade, na relativização do tempo/espaço,
no excesso de informação e imagem. Ela massifica o indivíduo, através de mecanismos fordistas de produção
de mentalidades bitoladas; paradoxalmente, cobra-lhe uma identidade autoral, usando de uma
individualização árida e agressiva.
O sujeito contemporâneo comprova – e vivencia – as peculiaridades de uma individualidade social
inédita, na qual o isolamento do indivíduo gera a autonomia do eu, e fomenta, assim, determinado
investimento em aparência e corpo como sede de significações. Essa nova individualidade relaciona-se com
a Moda a partir da premissa de que esta incita à sociedade a aparência (imagem) e o contato com o outro;
mediado através do vestuário.
O traje torna-se assim, uma segunda pele: nele estão os signos e códigos sociais através dos quais o
sujeito será identificado e se identificará. Consiste no veículo que fará frente à interação desse sujeito para
com o outro. E vale aqui lembrar que é no outro e no mundo que o cerca que o sujeito encontra referências
para reconhecer-se, ainda que parcialmente. A veste também fundamenta a identidade, corrobora-a através
da aparência e de seu sistema de símbolos; evoca-a e, contudo, a dissolve em meio à atual crise do “quem
somos nós”.

3. Moda e indivíduo: frivolidade e brevidade


A moda como sistema é que é inseparável do „individualismo‟ – em outras palavras, de
uma relativa liberdade deixada às pessoas para rejeitar, modular ou aceitar as novidades do
dia –, do princípio que permite aderir ou não aos cânones do momento (LIPOVETSKY,
2007: 43).

Na excentricidade da moda contemporânea encontram-se dissolvidos fragmentos e recortes de uma


sociedade que dignifica o presente social e ao mesmo tempo deprecia o passado, recente ou não. Movida pela
paixão ao efêmero, às novidades e ao fugaz, essa sociedade busca no espetáculo da ruptura com as doutrinas
de ontem, a fantasia estética – temporária e sazonal – que a moda lhe oferece em prerrogativas de frivolidade
e superficialidade. Porém, esse fenômeno, amplo e nitidamente evidente no ocidente, não consiste em fator
exclusivamente pós-moderno. Fora antes, característica advinda, segundo Lipovetsky (2007), do final da
Idade Média, do nascimento e desenvolvimento do ocidente moderno.
A pretensão social da moda foi, outrora, identificar os indivíduos, qualificar seu refinamento, seus
gostos, fomentando através do luxo e da ostentação – meramente decorativa e ornamental, por vezes nada
funcional – quando não partindo da própria vaidade humana como vetor do “parecer” exibicionista, uma
sociedade mundana, artificial, indiferente. Firmava, assim, a identidade do sujeito, garantindo-lhe – por meio
de signos e símbolos – um eu pré-determinado, mais coerente e até mesmo, utopicamente, mais unificado.

_________________________________________
* Valdecir Babinski Júnior: valde.jr@gmail.com / jubabinski@hotmail.com
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Hoje, contudo, a moda – principalmente quando combinada com a mídia – cumpre um papel contrário:
fornece ao indivíduo múltiplas opções de identidade, desconcertantes possibilidades de identificação e uma
pluralidade estética profusamente diversificada. Tendências e vanguardas surgem com a velocidade da
mídia, da comunicação, sendo selecionadas e absorvidas pela sociedade segundo sua necessidade de
reinventar-se continuamente. Ou seja, se antes ela confirmava a identidade do sujeito através dos códigos
sociais, agora usa dos mesmos para dar-lhe liberdade de escolha para que se possa, a partir da auto-
interpretação, encontrar sua identidade. O que de fato não acontece, pois na pós-modernidade não há uma
identidade pré-fixada, tampouco imóvel e inflexível à sociedade, ao outro, mas sim um infinito, um leque de
oportunidades de identificar-se. Isso gera uma ruptura, uma fragmentação do seu eu. Constitui-se um
mecanismo que ocorre a passos rápidos, de forma ainda mais difusa e plural.

O sujeito, previamente vivido como tendo uma identidade unificada e estável, está se
tornando fragmentado; composto não de uma única, mas de várias identidades, algumas
vezes contraditórias ou não-resolvidas. [...] O próprio processo de identificação, através do
qual nos projetamos em nossas identidades culturais, tornou-se mais provisório, variável e
problemático (HALL, 2006: 12).

Logo, a Moda não somente serve de instrumento social para o processo de identificação do sujeito,
mas lhe oferece incontáveis possibilidades de identificar-se, seja consigo ou dentro de um grupo ou tribo.
“Reeditada”, antes tida como frívola e fútil, hoje a moda é muito antes de uma forma de distinção
socioeconômica ou de qualquer outro conceito imediatista, o resultado de um processo ininterrupto da
expressão social pós-moderna.

3.1. Identidade fragmentária: sujeito, outro e nacional


Segundo Hall (2006), a identidade passa por três conceitos distintos, três momentos históricos
característicos e essenciais para a compreensão do indivíduo contemporâneo, a saber: o sujeito do
Iluminismo; o sujeito sociológico; e o sujeito pós-moderno (ou da cultura).
O primeiro baseia-se em uma concepção cartesiana do ser humano, centrado e unificado; racional e
consciente; individualista e masculino. Possui um centro constituído em seu núcleo interior. Enquanto o
segundo, o sujeito sociológico, consiste não mais na autonomia e auto-suficiência, mas na relação do eu com
o outro. É fundamentado nas interações sociais e em seus mais diferentes contextos, sem, no entanto, deixar
de manter seu núcleo interior. Já o terceiro sujeito, dito pós-moderno, pode apresentar incontáveis
identidades, algumas até mesmo conflitantes, contraditórias, mas sempre plurais.
Tendo em vista que o indivíduo da pós-modernidade constitui-se mediante a crise de identidade e a
fragmentação da mesma, uma vez que a sociedade lhe oferece infinitas variantes de “máscaras”, ele
confunde-se em meio às identidades e papéis sociais que desempenha (e/ou pode desempenhar). Sua crise se
dá pela abundância de opções e liberdade de escolha, permitindo expressar-se em conformidade com os
modernos arranjos sociais que lhe convier. Contudo, além de fomentar o individualismo, a sociedade
contemporânea gera o receio – frustrante – de não obter ou não sustentar, seguramente, a autonomia do eu.
O vestuário é então uma tentativa de unificar e esboçar uma identidade, pré-determinada até certo
ponto, para todo esse eu fragmentário. Isto é, através do traje o indivíduo pode ser identificado segundo
padrões, classificações socialmente pré-definidas, mesmo quando não é, na realidade de sua intimidade,
compatível com a imagem que está “vendendo” de si próprio. A essa teatralidade, instaurada e reafirmada na
Moda, que faz do indivíduo personagem do espetáculo social, como ator e espectador, Maffesoli (2006)
acrescenta o paradigma da socialidade. Na socialidade, o indivíduo representa papéis, seja
profissionalmente, na família ou nos grupos em que está inserido, cambiando figurinos conforme seus gostos
e intenções, porém simultaneamente ao jogo das identidades; assim, encarregando-se de garantir sua posição
nos diferentes momentos, enredos e peças daquilo que Maffesoli (2006) chama de teatro mundi.
Indubitavelmente está fundada a relação do eu com o outro, uma vez que ele não pode existir isolado,
por encontrar-se vinculado a uma comunidade através de vetores como cultura, comunicação e Moda. Nasce
então um tecido social baseado na reciprocidade com o outro.Não sendo aleatória, há uma socialidade
eletiva, ou seja, as redes sociais provenientes do tecido formado entre os personagens das interações, não-
reais, mascarados, dão-se por escolha dos próprios indivíduos através de pressupostos laços de solidariedade
e afeto. A identidade do sujeito diante do grupo é aceita pelos membros do mesmo a partir do momento em
que há uma dimensão afetiva, proveniente da identificação com o(s) outro(s), com a identidade que o outro
está representando (também). Há, dessa maneira, a desconstrução do individualismo face à valorização do
grupo, que na contemporaneidade, torna-se a expressão mais fiel da massa e de sua criatividade.

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A fragmentação da identidade pode ser evidenciada, ainda, como conseqüência da política de


identidades plurais, na qual preponderam: a identidade mestra, a de classe; a compreensão das identidades
como posições do sujeito, nem sempre condizentes e coerentes entre si; as lutas, conflitos e políticas de
diferença de classes; e as novas subjetividades que determinam recentes paradigmas para a identidade
quanto, por exemplo, a gênero, cor, orientação sexual, religião, geração, nacionalismos, regionalismos, tipo
físico, profissão, estado civil. Logo, a identidade se torna uma celebração móvel, e quando em meio ao
estigma da globalização, pode-se vê-la nas comunidades imaginadas, mediadas pela gigantesca gama de
opções do indivíduo segundo os papéis que lhe convêm colocar em conformidade com a imagem que se
queira transmitir, variando – às vezes absurdamente – em ocasião, circunstância e grupo.
Dessa maneira, o sujeito fragmenta-se pelo excesso de opções de identidade que pode assumir.
Identidades que são fomentadas e dissipadas pela moda através de seu caráter de massificação social, em
uma tentativa de individualizar determinadas características: classificar os indivíduos dentro de grupos e/ou
estereótipos padrões, com signos, símbolos, códigos e expressões sociais próprias. Contudo observa-se que a
configuração real consiste em uma mescla sócio-cultural de tamanha profusão que dificulta a identificação
do sujeito com a sua imagem precedente.

4. Considerações finais
Hoje, vivencia-se uma individualidade inédita. Em meio à massificação exacerbada, o sujeito busca
uma estabilidade (dúbia e paradoxal) por vezes intangível: quer diferenciar-se do todo, individualizar-se,
“customizar-se”, “personalizar-se”. O indivíduo quer tornar-se um, não mais um, e o faz de maneira
narcisista, seja para com seu corpo ou para com o outro. Ainda, busca engajar-se, identificar-se dentro de
pequenos grupos com interesses comuns (formados por membros com identidades, mesmo que meramente
representativas, coerentes umas com as outras), em um neotribalismo característico da pós-modernidade, no
qual prepondera o “estar-junto.”
Atento à forma, à aparência e a estética, o indivíduo contemporâneo localiza-se em uma sociedade na
qual proliferam a multiplicidade de valores heterogêneos e o multiculturalismo tribal, sem, entretanto, haver
definição precisa e separação didática entre os grupos e micro-grupos da profusa (e caótica) pós-
modernidade. A busca pela originalidade do eu consiste na forma mais objetiva da tentativa de distinção
pessoal e social que a sociedade incita em cada sujeito pós-moderno. Verifica-se a eterna procura do
indivíduo por encontrar-se como tal, e para saber quem é, faz-se necessário saber quem não é, logo, está dada
a origem da importância proveniente do outro.
A marca vem à pós-modernidade personalizar o indivíduo. Cria, assim, identidades para que ele
possa, de maneira própria, porém induzida, identificar-se em meio ao turbilhão de opções e possibilidades
que a sociedade lhe oferece. Como quem troca de roupa, a marca torna possível ao indivíduo a permuta
constante de identidades. E o corpo, cabe aqui mencionar, consiste no principal instrumento da marca – que
usa como artifício a sedução e o discurso imagético-político – na procura da afirmação do eu, da imagem do
“meu eu”, sendo ele, mesmo quando nu, um parâmetro de individualidade contemporânea. Eis então que o
vestuário cobre toda essa sede se significações que é o corpo, servindo-lhe, também, ao interesse das
interações sociais.
A identidade fragmentada do indivíduo pós-moderno concede à sociedade contemporânea uma
temporalidade inédita, expandindo a noção e o conceito de identificação do sujeito consigo mesmo e para
com o mundo a seu redor. A identidade é tida, agora, como um projeto relacional no qual o reconhecimento
mútuo tem papel primordial no cerne da construção da identidade do eu. Isto é, para que a identidade do
sujeito possa afirmar-se é preciso o reconhecimento do outro.
O indivíduo em crise não tem ciência de quem é exatamente, mas sabe que pode ser quem quiser, para
isso o sistema de moda oferece opções em larga escala: hoje punk; ontem vintage; amanhã kidadult.
Aparência e imagem nunca foram tão voláteis, flexíveis, superficiais. A moda tornou-se um instrumento de
massa potencialmente influente de transformação estética e psicológica, na mesma medida em que a
sociedade, profusamente mesclada, recrudesceu em sua pluralidade de identidades. E o indivíduo, sujeito
contemporâneo, desnorteado, confuso, nunca esteve tão cheio – ou tão carente de – identidade.

Referências bibliográficas
EMBACHER, Airton. Moda e Identidade: a construção de um estilo próprio. São Paulo: Editora Anhembi
Morumbi, 1999.
FRANKE, Gisele. Moda: consumismo e identidades. Monografia de graduação. Curso de graduação em
Moda – Habilitação em Estilismo. Universidade do Estado de Santa Catarina. Florianópolis, 2008.
Disponível em: http://www.pergamumweb.udesc.br/dados-bu/000000/00000000000A/00000A3A.pdf.
Acesso em: 5 de novembro de 2009.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11ª edição. Rio de Janeiro: DP&A Editora,
2006.
LIPOVETSKY, Gilles. O império do efêmero: a moda e seu destino nas sociedades modernas. 10ª
reimpressão. São Paulo: Editora Schwarcz Ltda, 2007.
MAFFESOLI, Michel. O tempo das tribos: o declínio do individualismo nas sociedades de massa. [Maria
de Lourdes Menezes] 4ª edição. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006.
MORELLI, Graziela. As marcas de moda: um estudo sobre o individualismo. Monografia de Pós-
Graduação Latu Sensu em Moda: Criação e Produção. Universidade do Estado de Santa Catarina.
Florianópolis, 2002.
VILLAÇA, Nízia. (org.) Nas fronteiras do contemporâneo: território, identidade, arte, moda, corpo e
mídia. Rio de Janeiro: Mauad, 2001.

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

REFLEXÕES A RESPEITO DA FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES

Ana Paula de Oliveira*; Amarildo Luiz Trevisan.


Universidade Federal de Santa Maria

1. Introdução
O presente trabalho tem como intenção refletir a respeito da formação dos professores, abrangendo a
inicial e, especialmente a continuada. Para tal foi realizada uma retrospectiva histórica do assunto na
educação brasileira, a partir do século XIX, e foram abordadas questões sobre a problemática no momento
atual.
O mundo está em constante transformação, o que se reflete na educação. O processo de mudança é tão
rápido que muitas vezes as escolas não conseguem acompanhá-lo no ritmo que deveriam. Faz-se necessário
pensar, então, de que maneira tais transformações estão afetando as escolas e como são abordados os temas
das atuais tendências educacionais pelos docentes e demais envolvidos na educação, a fim de descobrir se há
uma relação entre os problemas enfrentados na prática e os temas debatidos nos momentos de reflexão.
O interesse em abordar a Formação Continuada advém primeiramente da oportunidade de refletir
sobre o tema no Grupo de Pesquisa Formação Cultural, Hermenêutica e Educação (GPFORMA), coordenado
pelo Profº. Drº. Amarildo Luiz Trevisan na Universidade Federal de Santa Maria. Destas reflexões resultou o
interesse em relação ao modo como está conduzida tal formação pelos sistemas de ensino, o que gera
inúmeras polêmicas na área da educação. Como princípio, considera-se que a formação continuada é um
espaço de busca constante ao longo da vida profissional.
A pesquisa justifica-se quando considerado que o tema escolhido é atual e necessário para a atuação
do professor, constituindo um direito a ser respeitado. Tem como objetivo verificar como ocorre a formação
continuada de professores, através de oficinas ofertadas pelo projeto de Pesquisa intitulado “Mundo da Vida
e Racionalidade Docente: Perspectivas para o Processo Formativo do Professor no Mundo da Vida
Estetizado” desenvolvido na Escola Municipal de Ensino Fundamental Vicente Farencena, da cidade de
Santa Maria/RS.

2. Metodologia
Através de um suporte teórico apoiado em pesquisadores que tratam do tema, foram construídas idéias
sobre a formação inicial e continuada e abordados aspectos referentes ao professor reflexivo, seu vínculo
com a formação continuada, o que facilita a análise da prática e a busca de soluções para situações
problemáticas do cotidiano escolar.
Como dito anteriormente, para aproximar a teoria da prática foi realizado um estudo através de
observações realizadas nas oficinas pedagógicas desenvolvidas na Escola Municipal de Ensino Fundamental
Vicente Farencena. Essas oficinas são importantes espaços para o desenvolvimento da formação continuada
de professores e buscam auxiliar na renovação de métodos e processos de ensinar e aprender no interior das
instituições formativas, proporcionando aos educadores perspectivas didático-pedagógicas direcionadas à
formação discursiva da opinião pública dos sujeitos envolvidos, visando abordar hermeneuticamente os
padrões impostos pela estetização do mundo da vida.

3. Resultados e discussão
No cenário nacional percebe-se que professores formados há algum tempo adotam uma postura de
acomodação e deixam de lado a reflexão sobre sua prática. Contrariando essa posição, é fundamental a busca
dos professores pela formação continuada. Perrenoud (2002)[1] afirma que não adianta somente elevar o
nível de formação acadêmica para que ocorra a profissionalização do professor. O importante são as relações
que ocorrem com o saber, com a ação, com o pensamento, com a liberdade, com o risco e a responsabilidade.
Nesse sentido afirma:

O paradigma reflexivo é um emblema da profissionalização, entendida como um


poder dos professores sobre seu trabalho e sua organização, um poder não usurpado pela
fragilidade das práticas, mas abertamente assumido, com as correspondentes
responsabilidades. Essa forma de profissionalização, naturalmente, não pode se desenvolver
contra as instituições. Mas elas só se manifestarão se um crescente número de professores
assumir-se como profissional reflexivo e incomodar-se com a forma como as burocracias os
tratam; eles não devem reagir por meio do ressentimento nem dos protestos sindicais, mas
pela construção negociada do sistema educativo (PERRENOUD, 2002, p.216)

*
Ana Paula de Oliveira: anaapauladeoliveira@hotmail.com
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Tardiff (2002) [2] aponta um modelo de formação contínua em que, durante a carreira profissional, o
professor alterna as fases de trabalho com as de atualização. Desta maneira, a formação dos professores não
está limitada à oferecida pelas universidades. Trata-se, como diz o termo, de uma formação continuada que
segue a carreira docente.
Quando o professor reflete sobre sua prática e planeja juntamente com os outros professores da escola
as atividades curriculares, questionando propostas prontas, apresenta-se como um professor reflexivo. Schön
(1991) [3] considera que a teoria é insuficiente para orientar a prática docente. Para ele, o professor não deve
ser o especialista que aplica conhecimentos, mas um “prático reflexivo”, alguém que age e toma decisões a
partir da avaliação dos problemas que surgem no decorrer de seu trabalho em sala de aula. Tal prática, no seu
entender, deveria ser constantemente reelaborada em função de uma reflexão sobre a ação, que ocorre antes,
durante e depois da atuação do professor juntos aos seus alunos, tendo por objetivo superar as dificuldades
experenciadas no dia-a-dia.
Desta maneira, entende-se que a formação do professor não se dá em momentos distintos, primeiro a
formação teórica e depois a experiência prática, mas no diálogo entre eles. Ao refletir sobre a prática, o
professor desenvolve uma atividade investigativa que irá caracterizá-lo como produtor de conhecimentos
teóricos/práticos sobre o ensino, e não mais como um especialista técnico, que apenas produz estes
conhecimentos (SCHÖN, 1991).
Por esse motivo, a formação continuada não deve ser vista como um meio de acumulação dos
conhecimentos ou técnicas, mas como um trabalho reflexivo e crítico sobre as práticas de construção
permanente de sua identidade pessoal. Sendo assim, é fundamental que os próprios sistemas de ensino levem
em conta o conhecimento produzido por seus professores em suas práticas na sala de aula, reconhecendo as
experiências bem sucedidas e divulgando-as.

4. Conclusão
O Estado, ao desempenhar seu papel como ator principal na oferta e promoção da educação nos
diferentes níveis, está comprometido com a implementação de políticas educacionais que visem atender não
só as demandas da sociedade, mas também a qualidade dos sistemas de ensino. Nesse aspecto, um
compromisso relevante para a busca da qualidade reside na preocupação com a formação de professores,
ofertando uma sólida formação inicial e desenvolvendo programas que contemplem a formação continuada.
A formação continuada pode ser considerada uma questão polêmica uma vez que nem sempre as
propostas feitas por professores ou políticas educacionais são implementadas.
Os cursos de formação de professores, nos últimos tempos se multiplicaram e têm como principal
finalidade atender as demandas provenientes das transformações ocorridas na sociedade. Exige-se, hoje, dos
professores, novas competências para o exercício em sala de aula. Afirma-se que o profissional da educação
necessita acompanhar as mudanças, buscando o aperfeiçoamento necessário para enfrentar as transformações
do mundo globalizado e informatizado, porém, muitos são os limites e obstáculos para que tal afirmativa se
transforme em realidade.
Sabemos também que a formação do professor não se dá em momentos distintos, primeiro a formação
teórica e depois a experiência prática, mas no diálogo da prática com a teoria. Esse diálogo é proporcionado
por uma formação que acompanha o professor no decorrer de sua vida profissional, através da reflexão sobre
a ação que ocorre antes, durante e depois da atuação do professor junto aos seus alunos, tendo por objetivo
superar as dificuldades do dia-a-dia. Essa reflexão só é possível através da construção de uma postura
profissional e de ações de formação continuada, planejadas e sistematizadas a partir de propostas coletivas
que venham ao encontro das necessidades de atualização dos diferentes grupos de educadores.
Os docentes, em sua maioria, reconhecem a importância da formação continuada na vida profissional e
acreditam que através dela podem ocorrer mudanças, principalmente quando lhes possibilita a troca de
experiências e a busca de soluções coletivas para os inúmeros desafios da prática docente.
Constatamos que a parceria entre docentes e alunos de Instituições de Ensino Superior traz vantagens
a todos. A universidade estará desempenhando seu papel de contribuir com a comunidade onde está inserida,
através de uma melhoria na qualidade de ensino. Os alunos da universidade terão a oportunidade de
relacionar teorias que aprendem nas aulas com a prática da sala de aula, o que na maioria das vezes é feito
somente ao final do curso. E, finalmente, os docentes das escolas terão a oportunidade para exporem
preocupações em relação a sua prática, com a intenção de aperfeiçoá-la.
Este trabalho buscou a compreensão de um dos temas que ultimamente está sendo abordado com
primazia na educação, a formação continuada, que é vista por muitos como algo que deve ser oferecido por
algum órgão ou instituição. Na verdade, ela pode ser motivada pelo simples desejo de professores que
queiram quebrar as barreiras entre as salas de aula, estabelecendo diálogos, discutindo problemas,

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partilhando desejos e angústias. Através da troca com o outro, pelo professor que busque construir novos
conhecimentos, novas idéias e assim estar apto para transformar a realidade educacional que presenciamos.

Referências
[1] PERRENOUD, Philippe. A prática reflexiva no ofício de professor: profissionalização e razão
pedagógica. Porto Alegre: Artmed Editora, 2002.

[2] SCHÖN, Donald A. Formar Professores como profissionais reflexivos. In. NÓVOA, A. (coord). Os
Professores e sua Formação. Lisboa: Dom Quixote, 1991.

[3] TARDIFF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.

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REVESTIMENTO DE PAREDE: FLORAL DIFERENCIADO NA CRIAÇÃO DE UM


DESIGN TÊXTIL

Marcele Della Flora Cortes1

1. Introdução
As paredes em uma casa, atualmente, não servem somente para separar os ambientes ou para a
sustentação da estrutura de uma habitação, mas passaram a fazer parte da decoração dos ambientes.
Mais do que uma superfície branca, as paredes servem de suporte para desenhos e pinturas especiais,
não apenas para firmar quadros e gravuras, mas pátinas, esponjados, espatulado, escovado e texturas
entre outros. Todas estas técnicas há algum tempo, vem sendo muito utilizadas para realçar as paredes
das residências e de pontos comerciais. Aliadas a isto, encontramos também outras que, neste
momento, estão em maior evidência, como adesivos vinílicos, papéis, tecidos pintados à mão ou
serigrafados industrialmente, com estampas diversas que perpassam os florais, as listras, e os
geométricos, tudo para ser aderido ou trabalhado à parede.
Segundo Souza (2006, p. 03), “a estamparia pode ser definida como a criação de padrões
partindo de imagens e informações visuais”. Neste sentido, o estudo que deu origem a este artigo, teve
como referência as flores das abóboras, as características gráficas das folhas e texturas, assim como a
organicidade e todas as formas possíveis de expressão visual observáveis nas flores deste vegetal.
Junto a estas, as listras, devido a uma necessidade de equilíbrio e ainda por serem atuais no design de
interiores, também serviram de fonte de criação para o design têxtil, visando o revestimento de paredes
na decoração de interiores.

2. Método
O início da pesquisa se deu na busca de uma fundamentação teórica com subsídios em
bibliografias impressas, periódicos nacionais e disponíveis online. Esta investigação compreendeu
desde as listras e as flores de abóboras, os tipos de tecidos mais adequados para a aplicação do
revestimento a superfície, até uma abordagem sobre a evolução da estamparia na decoração de
interiores, abordando também uma investigação mercadológica sobre o tecido de revestimento para
parede.
Posteriormente, os estudos estenderam-se para o processo de criação, juntamente com a seleção
das referências. Foram coletadas imagens dos aspectos investigados em buscas online, visitas em lojas
especializadas em papéis e tecidos para revestimento de parede, além de registros fotográficos da flor
da abóbora e de suas folhas in natura, colhendo algumas amostras para estudos posteriores.
Após o levantamento das imagens, foram iniciados estudos com desenhos e colagens tendo
como referência a planta visando diversas possibilidades de interpretação. A investigação teve a
utilização de técnicas como: desenhos, aquarelados e colagens chegando a desconstrução da forma, o
que possibilitou a averiguação das flores, assim como suas folhas e galhos e possíveis elementos que
pudessem ser adicionados aos padrões que foram desenvolvidos e essenciais para a criação das redes e
rapports.

1
Marcelecortes@yahoo.com.br

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Fig. 1 Estudos das flores da abóbora

Com o desenvolvimento dos estudos, foi realizada uma seleção daqueles que ofereciam
melhores resultados visuais e logo foram levados ao software de computação gráfica para investigar
outras possibilidades de resolução do problema como rebatimentos da forma, tamanhos, cores,
buscando soluções de interesse a serem aplicadas como estampa utilizando a técnica de impressão
manual a quadro sobre o suporte têxtil: algodão cru. Entretanto, durante este processo, observou-se
que somente as flores não eram suficientes para a obtenção de padrões que satisfizessem o que se
vinha buscando e que quando inseridas listras a estes padrões, eles apresentavam uma melhor solução.
Portanto, foi assim que as listras passaram a fazer parte de uma das categorias de investigação deste
trabalho, o que para isso foi necessário uma retomada inicial, considerando a historicidade do tema,
para que este integrasse o todo da investigação.

3. Resultados e Discussão
Ao longo da história, o tecido listrado reuniu uma vasta quantidade de significados, sendo
difícil de ignorar as listras na decoração.
Segundo Pezzolo (2007, p.207) na Idade Média, quando as listras eram malvistas e destinadas
aos perturbadores da ordem, serviam para sinalizar os loucos e doentes contagiosos, para baní-los do
convívio com as demais pessoas. Assim, numa cultura onde o visível era primordial, e sendo a roupa o
suporte mais visível, lia-se nas barras contrastantes das listras um sentido diabólico.
A autora ainda afirma que no Renascimento2 as listras passaram a ser vistas com outros olhos,
apesar de “os códigos” ainda existirem, vieram as "boas" listras, significando festa, exotismo e
liberdade. Hoje, elas inspiram artistas, decoradores, fotógrafos e cineastas, e tanto na decoração quanto
na moda elas em geral não vêm sozinhas. Para que funcionem e assumam toda a força e o efeito, são
associadas a outras estruturas de superfície como o liso, o estampado, o xadrez ou o malhado.

Fig. 2 Listras em objetos na decoração

2
Renascimento- Período entre os séculos XV e XVI, onde a Europa passava por uma transformação artística e
científica centrada na existência humana, caracterizado pela retomada dos valores da cultura clássica.

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Ao chegar o período das luzes3 as listras viraram moda na decoração de interiores e estofados
na Europa. Entre 1900 e 1920, o olhar do decorador descobre que, ao revestir paredes poderiam criar
uma ilusão ao hambiente, podendo fazer um cômodo parecer mais alto ou amplo.
Atualmente tanto arquitetos quanto decoradores abusam das listras para quebrar a monotonia e
assim proporcionam maior harmonia aos ambientes. Podem ser orgânicas ou retas, características que
foram bem empregadas no decorrer dos estudos, sendo que quando utilizadas na horizontal estendem
as salas e na vertical tornam-as mais altas.
E esta era a idéia para a criação de uma estampa que fosse ao mesmo tempo nova, por se tratar
de um produto que esta tão em voga no momento, mas também alternativo em relação ao que já tem
no mercado.
Um clássico floral junto a listras numa só estampa, uma mescla que será apresentada a seguir
através de um dos padrões criados.
Cambuquira Tonal

Neste padrão a paleta foi limitada às cores específicas da abóbora Cambuquira e que aqui dá
nome ao padrão. Um amarelo bastante vivo que se acentua dentro de um cromatismo que não oferece
grande variação quanto à cor, mas possui diversas tonalidades. Em contraste com tons mais baixos
causam um efeito mais luminoso à peça. As formas das flores foram trabalhadas de maneira a manter
sua figura, ressaltando em alguns momentos apenas suas linhas onde estas ajudaram a compor a
imagem. As listras se apresentam mais irregulares, e as flores escolhidas que regem esse modelo,
partiram todos de estudos com a técnica da colagem.

Fig. 3 Rapport e rebatimento da estampa Cambuquira Tonal

3
Período das luzes- Uma corrente intelectual que também ficou conhecido por Iluminismo que fundamentava-se
no uso da razão.

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Fig. 4 Simulação de ambiente da estampa Cambuquira Tonal

4. Conclusão
A pesquisa que sucedeu este artigo foi desenvolvida no decorrer do curso de especialização
em Design para Estamparia (UFSM), tendo como objetivo criar uma proposta para revestimento de
parede para decoração de interiores. Uma alternativa não muito incomum, já que o objeto investigado
vem sendo bastante explorado no momento atual. Porém, o inusitado referencial utilizado na criação
das estampas, as flores das abóboras aliadas a listras, um padrão já muito empreendido na decoração
ao longo da história do design de interiores, transformou o caráter daquela pesquisa, num diferencial
em relação às opções que o mercado tem oferecido ao que se refere ao arranjo de ambientes internos.

Tanto a moda quanto a decoração tratam de estética, estilo e modo de vida. Na moda esse mix
acontece quando a criação de um designer se inspira nos tecidos de decoração para fazer a sua coleção.
No mundo da decoração o processo pode ser inverso. Por exemplo, as listras empregadas na presente
pesquisa, tão usadas atualmente na moda, podem estar em voga também no mundo da decoração, e de
uma unidade de estilo formar diferentes propostas em diferentes segmentos. Essa foi umas das
questões que refletiu na criação das estampas para os revestimentos de parede, ao serem inseridas
listras a outra categoria, as flores de abóboras.

Algumas dificuldades foram encontradas durante a execução das peças. Como a estampa foi
aplicada através da técnica manual de estamparia a quadros, o encaixe das listras ficou quase
impossível de não ser percebido. Mas no geral, o saldo alcançado pode ser considerado positivo. As
peças resultaram numa estética harmônica, leve, com linhas orgânicas que contrabalançam com a
geometricidade das listras, o que proporcionou as peças um equilíbrio de formas visual. Neste sentido,
não posso deixar de ressaltar a importância das formas e das cores para a criação dos padrões. Aliados
a outros, como o tamanho das formas e as listras, elementos responsáveis pela reação das pessoas em
relação à peça, foram fatores determinantes no momento da seleção dos padrões, pois a proposta era
conciliar formas orgânicas e geométricas, dentro de uma paleta de cores que não perdesse o
referencial, isto é, o cromatismo das flores de abóboras e seus adendos, ajustados as tendências na
decoração de interiores. Estas, entre muitas outras afirmações foram bastante reafirmadas, com
informações e pesquisas que auxiliaram para a fundamentação teórica desta pesquisa.

Portanto, aquela investigação alcançou os objetivos inicialmente propostos, pois os tecidos para
revestimentos de parede são hoje uma das muitas soluções em decoração de interiores, sejam elas
sofisticadas, românticas, despojadas, propõem elegância e charme ao ambiente, características que
foram buscadas e obtidas neste trabalho.

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Referências
CARPES, R.H. Variabilidade da produção de frutos de abobrinha italiana em função do manejo,
RS, 2006. 68f. Dissertação (Mestrado em Agronomia)- Universidade Federal de Santa Maria, Santa
Maria, 2006.
GUIMARÃES, Luciano. A cor como informação. São Paulo: Annablume, 1997.
TAMBINI, Michael. O design do século. São Paulo: Editora Ática, 1999.
PEZZOLO, Dinah Bueno. Tecidos: história, tramas, tipos e usos. São Paulo: Editora Senac, 2007.
SOUZA, Carla Farias. Entre coroas, terços e flores : redimensionando a Romaria da Medianeira
em uma proposta para estamparia têxtil. 2006.135fl. Monografia (Especialização em Design de
Superfície)- UFSM, Santa Maria, 2006.

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TEMPOS E ESPAÇOS DO BRINCAR: CONHECIMENTO, FORMAÇÃO E PRÁTICA DO


PROFESSOR NOS ANOS INICIAIS DO EF1

Ana Marieli dos Santos1*; Benedita de Almeida2


1
Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE
2
Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE

1. Introdução
Estudos de [1], [2] e [3] destacam a importância do brinquedo como elemento que constitui um processo
psicológico novo e humanizador na criança: a imaginação. Segundo os autores, o brincar é, realmente, um
instrumento pelo qual a criança adquire conhecimentos sobre o mundo, com ele se relaciona, aprende os papéis
sociais e desenvolve seu intelecto. Considerando sua real importância na constituição dos processos de
desenvolvimento e de aprendizagem, muitas pesquisas e diretrizes de políticas públicas têm evidenciado a
necessidade de um espaço/tempo reservado para a brincadeira na escola básica. Entre elas, as Orientações gerais
para o Ensino Fundamental de nove anos [4] argumentam que as crianças têm aguçadas as características da
imaginação, curiosidade, movimento, desejo de aprender e, também, uma forma privilegiada de conhecer o
mundo pelo brincar. No entanto, é necessário o conhecimento do professor para assegurar o desenvolvimento de
capacidades e potencialidades, como também, para instituir uma nova forma de ver a criança, como ela pensa,
sente e imagina o mundo, reconhecendo suas linguagens e especificidades [5].
A proposta deste texto é apresentar reflexões sobre o papel do brinquedo no desenvolvimento da criança,
bem como o conhecimento sobre a ludicidade na formação e prática de um grupo de professores egressos do
curso de Pedagogia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, campus de Francisco Beltrão, que atuam nos
anos iniciais do Ensino Fundamental, na rede pública municipal de ensino. O objetivo é compreender as
relações, desafios e contribuições, no processo de ensino-aprendizagem que os professores desenvolvem, das
circunstâncias e influências particulares do contexto em que escola se organiza.

2. Método
Desenvolvida na perspectiva dialética, a pesquisa constituiu-se em um estudo de caso, e os sujeitos
responderam questionários, para dar subsídios aos aspectos essenciais do objeto de estudo. Também foram
analisados os Projetos Políticos-pedagógicos do curso de Pedagogia. As leituras sobre a temática propiciaram
compreensões sobre o tema e fundamentaram a organização do questionário, cujo teste foi realizado com
profissional da educação atuante nas séries iniciais do Ensino Fundamental. A escolha dos sujeitos da pesquisa
foi feita com base na pesquisa do grupo RETLEE: Representações, Espaços, Tempos e Linguagens em
Experiências Educativas (em realização, com 27 egressos do período de 2002 a 2007 do curso de Pedagogia da
Unioeste). Para a presente pesquisa, foram selecionados 17 sujeitos, considerando sua disponibilidade de
participação. Os dados obtidos com as respostas foram organizados em eixos para análise, fundamentada na
perspectiva sócio-histórica do desenvolvimento humano e considerando a importância de tempo e espaço
destinados à brincadeira na prática pedagógica desse grupo de sujeitos, para contribuir à aquisição, pelas
crianças, dos conhecimentos produzidos humana e historicamente.

3. Resultados e Discussão
Apesar do reconhecimento da importância do brincar pelos professores, as informações da pesquisa
evidenciam contradições nas situações de brincadeiras realizadas e suas finalidades, por demonstrarem o brincar
ora para divertimento, ora para aprendizagem de conteúdos. Nota-se o brincar como um meio de ensino e
aprendizagem de conteúdos, na maioria das vezes usado com objetivos previamente definidos e apoiando-se
apenas em brinquedos e materiais. Nessa ótica, ocorre a diminuição das brincadeiras de jogo simbólico,
brincadeiras tradicionais, entre outras atividades potencializadoras do desenvolvimento, que são substituídas por
atividades com objetivos definidos. O Ensino Fundamental, ao ser entendido como espaço de escolarização

1
Trabalho resultado da Pesquisa de Iniciação Científica, desenvolvida no período de 2009-2010: SANTOS, Ana Marieli.
Brinquedo, práticas pedagógicas e formação de professores. PIBIC-UNIOESTE/FUNDAÇÃO ARAUCÁRIA, orientada
pela Profª. Drª. Benedita de Almeida.
*
anamarielisantos@yahoo.com.br
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destinado à aprendizagem de conteúdos, tem sua organização voltada para tal objetivo e reduz as brincadeiras
realizadas no espaço escolar e o tempo a elas destinado [6].
Esses elementos podem indicar a desconsideração, na prática pedagógica realmente efetivada, de
características importantes do brincar, evidenciada pelo predomínio do trabalho com os conteúdos matemática e
português, por exemplo, em relação à realização de brincadeira. Entre os dados analisados, a maioria dos
depoimentos dos professores aponta contribuições das brincadeiras para o desenvolvimento motor, lateralidade,
promoção do raciocínio, atenção, concentração, necessários para a aprendizagem, por exemplo, da alfabetização.
Ao direcionar o foco do brincar para as aprendizagens tradicionalmente consideradas escolares (alfabetização,
português, matemática etc.), ocorre um processo de didatização da brincadeira para exercitar e facilitar a
transmissão de conteúdos.
São dados importantes de pesquisa, pois, conforme aponta [7], ao considerar o brincar com uma
característica pedagógica, ou seja, o uso de brinquedos para ensinar conteúdos, ele deixa de ser uma brincadeira,
passando a ser uma atividade pedagógica. De modo semelhante, [8] define que o caráter pedagógico é definido
por espaços e meios pedagógicos que visam a criar êxito nos propósitos ao qual a brincadeira se destina; já a
atividade lúdica é definida pela autora pelo uso de jogos e brincadeiras sem fins previamente definidos. Desta
forma, para que seja de fato uma atividade lúdica não pode ser usada como um recurso pedagógico.
É importante destacar as implicações contextuais na organização escolar, pois os dados vêm
demonstrando que nem sempre é possível a organização de tempo e espaços que contemplem o brincar nas
instituições, pela falta de estrutura (espaços apropriados, organização da instituição), de recursos (materiais e
brinquedos), pela fragilidade na formação de professores, que resulta em dificuldades de planejamento e
organização do currículo. São importantes desafios informados pela pesquisa e que contribuem para dificultar o
desenvolvimento e a inserção do brincar nas práticas escolares.
Esses aspectos estão diretamente ligados ao conhecimento do professor sobre o brincar, em geral resultado
da formação adquirida para o exercício da prática pedagógica, e remetem à concepção de brincar que norteia a
ação docente. Ou seja, põem em destaque a importância da formação profissional e a relação da formação inicial
docente com o campo de atuação. É imprescindível que os professores compreendam a importância das
brincadeiras e suas contribuições para o desenvolvimento e aprendizagem das crianças, ao organizarem o
processo educativo. Para fazerem isso, no entanto, há que adquirirem condições tanto na formação inicial quanto
na continuada, pois todo o desenvolvimento do indivíduo se constitui, principalmente, nas interações com a
cultura e o meio social em que vive, e as formas culturais são internalizadas por ele ao longo de seu
desenvolvimento. Ou seja, é preciso aprender o papel do brinquedo no desenvolvimento humano para
potencializar suas contribuições na formação das crianças. Na análise do PPP do curso pelo qual os egressos
sujeitos da pesquisa se formaram há poucas manifestações sobre o brincar. Somente se encontram nas disciplinas
de Recreação e Arte na Educação Infantil e Recreação e Arte no Ensino Fundamental. Observe-se, portanto, que
a questão da forma de enfocar o brincar nos anos iniciais do Ensino Fundamental pode ter sua origem na própria
formação inicial do professor.
Vale destacar, ainda, as influências da dinâmica curricular da escola, que repercute sobre a própria
estrutura e funcionamento do sistema educativo, contextualizando a ação pedagógica do professor e
influenciando-a. Nesse sentido, as informações da pesquisa, confirmando estudos de [6-2], evidenciam que,
conforme a dinâmica curricular, a brincadeira assume uma organização cada vez mais restrita a horários e
espaços definidos; gradativamente, mudam-se os objetivos do brincar entre e durante a sequência dos anos
escolares.
Restringir o brinquedo simbólico, o tempo e espaço para brincadeiras e a realização das próprias
brincadeiras caracteriza um movimento contrário aos pressupostos que ressaltam as contribuições do brincar
para o desenvolvimento do pensamento consciente, do autocontrole e aprendizagem de papéis sociais e
submissão a regras culturais, como definem [2] e [1].

4. Conclusão
Ao investigar o conhecimento dos profissionais da educação sobre o significado do brinquedo, bem como
dos espaços garantidos para o desenvolvimento do brincar nas instituições escolares, a pesquisa evidenciou
informações relevantes para serem analisadas e aprofundadas. Ao mesmo tempo em que há um reconhecimento
do brincar para o desenvolvimento e a aprendizagem, as contradições evidenciadas ressaltam elementos
importantes para refletirmos sobre as atividades e práticas assumidas pelos professores perante o brincar, a
importância da formação dos professores e do conhecimento que norteia a prática pedagógica, sobre esse tema

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

tão importante na formação da infância humana, e sobre como esses conhecimentos foram tratados na formação
inicial. O brincar como um elemento importante da infância deve ser incluído nas atividades de formação inicial
e continuada de professores, pois apenas com o reconhecimento do que é o brinquedo e do seu papel no
desenvolvimento humano é que ele pode passar a ser reconhecido pelos professores na sua real importância. Nas
palavras de [6-2], “é brincando e pensando sobre o brincar que se adquire consciência sobre sua importância”.
Entendemos, portanto, que o trabalho pedagógico nos anos iniciais do Ensino Fundamental deve
incorporar o brinquedo ao seu cotidiano, deve promover condições, tempo e espaço para que as brincadeiras
possam ser realizadas, considerando sua importância no processo de desenvolvimento cognitivo, constituição de
conhecimentos e formação humana.

Referências

[1]. VIGOTSKI, Lev. S. A formação social da mente. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
[2]. LEONTIEV, Aléxis N. Os princípios psicológicos da brincadeira pré-escolar. In: VIGOTSKII, L.S; A.R.
LURIA. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone editora, 2001.
[3]. BENJAMIM, Walter. Reflexões: a criança, o brinquedo, a educação. São Paulo: Summus, 1984.
[4]. BRASIL. Ensino Fundamental de nove anos. Orientações gerais. Brasília: MEC/SEB, 2004.
[5]. KRAMER, Sonia: Pesquisando infância e educação: um encontro com Walter Benjamin. In: KRAMER,
Sonia, LEITE, Maria (Orgs.). Infância: fios e desafios da pesquisa. Campinas, São Paulo: Papirus, 1996.
[6]. KISHIMOTO, Tizuko Morchida. O jogo e a educação infantil. São Paulo: Pioneira, 1998.
[6-2]. KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Brinquedos e materiais pedagógicos nas escolas infantis. Educação e
Pesquisa, vol.27, n.2, pp. 229-245, 2001
[7]. WAJSKOP. Gisela. Brincar na pré-escola. São Paulo: Cortez, 2007.
[8]. MACHADO, Maria Lúcia de A. Educação infantil e sócio-interacionismo. In: OLIVEIRA, Zilma Ramos de.
Educação infantil: muitos olhares. São Paulo: Cortez, 2008.

Agradecimentos
Agradeço à Fundação Araucária e à Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Pró-Reitoria de Pesquisa
e Pós-Graduação, pela concessão da bolsa, à coordenação local do PIBIC, ao Campus de Francisco Beltrão e a
minha orientadora, pelo incentivo e realização da pesquisa.

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UM ETUDO SOBRE PESQUISAS QUE ABORDAM O ENSINO DE CIÊNCIAS DA


NATUREZA NOS NÍVEIS FUNDAMENTAL E MÉDIO

Volmir Von Dentz1*; Flavia Truccolo2


1
Professor do Instituto Federal de Santa Catarina - IFSC
2
Graduanda do curso de Licenciatura em Ciências da Natureza – Habilitação em Química - IFSC

1. Introdução
O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina (IF-SC), que já completou
seu primeiro centenário de atuação na educação tecnológica, recentemente, com a implantação dos cursos de
licenciatura em ciências da natureza (com habilitação em ciências para o ensino fundamental e física e
química para o ensino médio), iniciou sua inserção na formação de professores e na produção de
conhecimentos sobre o ensino de ciências, inclusive, no campus de São José, foi criado o grupo de pesquisa
“Educação em Ciências”, para discutir e pesquisar a temática.
Para Goergen (1986, p. 1), “sobretudo os jovens que iniciam suas atividades de pesquisa deveriam,
antes de mais nada, tomar conhecimento da nossa tradição na área da investigação educacional: quando
iniciou, quais as principais tendências, temas e métodos, quais o erros e acertos que ocorrem. Enfim, saber
até onde chegamos”. Considerando que somos “jovens” na área de Ensino de Ciências e que se trata de um
campo de estudos já consolidado no Brasil, pela atuação de vários pesquisadores e grupos de pesquisa, bem
como, pela produção de dissertações, teses, artigos científicos, livros, entre outros, justifica-se, então, a
necessidade de mapear essas produções.
O presente estudo tem por objetivo identificar os objetos de pesquisa, as metodologias e os
referenciais teóricos predominantes nas pesquisas que abordam o ensino de ciências nos níveis fundamental
e médio, realizadas entre os anos 2004 e 2008, nos Programas de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ensino de
Ciências e Educação Científica, da modalidade acadêmicos, dos Estados de Santa Catarina, Paraná e Rio
Grande do Sul, que disponibilizam as teses e dissertações que produzem em bancos de dados eletrônicos e
que podem ser acessados pela internet.
Considerando que nosso interesse é pelas pesquisas que tratam do ensino de ciências nos níveis
fundamental e médio, acreditamos que elas sejam encontradas prioritariamente nos Programas de Pós-
Graduação em Ensino de Ciências e em Educação Científica. Contudo, não descartamos a possibilidade de
existirem estudos sobre o tema nos Programas de Mestrado e Doutorado em Educação, que são muitos na
região sul. Assim, nosso estudo terá como prioridade os programas em Ensino de Ciências e em Educação
Científica. Quanto aos Programas em Educação, apenas indicamos a possibilidade para futuras pesquisas,
pois, inclusive alguns deles apresentam linhas de pesquisa voltadas ao ensino de ciências, o que evidencia a
possibilidade de existirem neles pesquisas sobre ensino de ciências em escolas de nível fundamental e médio.

2. Método
Para a realização da pesquisa inicialmente serão localizadas os resumos das teses e dissertações que
tratam do ensino de ciências nos níveis fundamental e médio, e que foram defendidas dentro do período e
região selecionados. O critério de seleção das teses e dissertações a serem analisadas será a ênfase dada por
elas aos aspectos relacionados ao ensino de ciências da natureza (física, química e biologia) nos níveis
fundamental e médio. Assim, um passo importante é verificar nos títulos, palavras-chaves e ficha
catalográfica se consta alguma referencia ao ensino de ciências. E, por fim, ler os resumos das dissertações e
teses encontradas a fim de obter os dados requeridos pela presente pesquisa.
A sistematização dos dados obtidos será descritiva e facilitada pela categorização das informações.
Além das categorias sugeridas pela leitura dos resumos das teses e dissertações, será necessário verificar
junto à bibliografia especializada, modelos de classificação no que se refere a tipos de pesquisa, objetos,
modelos teóricos, etc. na pesquisa em Ensino de Ciências.
Considera-se que desenvolver pesquisa sobre as pesquisas, na tentativa de mapear as produções
existentes e compreender o atual estado da arte, é importante para conhecermos as tendências presentes no
campo teórico investigado e ao mesmo tempo identificar temas e aportes teórico-metodológicos que pouco
ou nada são explorados em pesquisas.

3. Resultados e Discussão
Os Programas de Pós-Graduação considerados foram: Educação Científica e Tecnológica (UFSC),
Educação para a Ciência e a Matemática (UEM), Ensino de Ciências e Educação Matemática (UEL), Ensino

*
volmir@ifsc.edu.br
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

de Ciências e Matemática (ULBRA), Ensino de Física (UFRGS), Educação em Ciências e Matemática


(PUC/RS) e Educação em Ciências Química da Vida e Saúde (UFRGS).
Nesses programas, com exceção do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Física da UFRGS que
aborda exclusivamente o ensino de Física, além do ensino de Ciências da Natureza (Física, Química e
Biologia) propriamente ditas, são estudadas as temáticas relacionadas ao ensino nas áreas de Matemática,
Tecnologia e Saúde. Esse aspecto nos permitiu constatar o caráter interdisciplinar desses programas de
pesquisa.
Os referidos programas de pesquisa, além do aspecto que nos interessa no presente estudo, o ensino de
ciências da natureza nos níveis fundamental e médio, abordam ainda o ensino de ciências no nível superior
(com destaque para a formação de professores de ciências) e em espaços não formais (principalmente em
projetos de Educação Ambiental).
A divulgação das pesquisas que produzem, no entanto, ocorre de formas diversas. Alguns programas
não disponibilizam uma lista com os títulos dos trabalhos e nem divulgam os resumos na própria pagina de
internet, apenas remetem ao banco de teses e dissertações de sua biblioteca. Isso nos impediu de verificar
todos os títulos e resumos, ficamos com o que pudemos encontrar e não sabemos o quanto isso representa do
total e nem o que ficou de fora. Em outros casos, alguns poucos resumos não abrem e/ou apontam erro na
pagina, ou não estão disponíveis. Dos resumos acessados, muitos não informam todos os dados que
pretendíamos encontrar, principalmente em relação ao referencial teórico. Outros não são muito claros e/ou
específicos sobre o objeto pesquisado e/ou a metodologia usada. Esses casos nos apresentaram um obstáculo,
pois além do fato de que muitos programas priorizam a divulgação em suas paginas na internet apenas dos
resumos, também onde o acesso aos trabalhos completos seria possível, de nossa parte, ler os trabalhos na
integra seria inviável dentro de nossas possibilidades. Assim, no trabalho com os resumos estivemos sempre
acompanhados pela sensação de não estar compreendendo o trabalho na sua totalidade e, em muitos casos,
de não saber do que realmente trata a pesquisa.
É preciso considerar também o fato de nossa recente iniciação na área de Ensino de Ciências como um
bom motivo para certo desconforto e a sensação de que nossa leitura dos resumos não foi suficientemente
qualificada e cuidadosa, sobretudo na classificação dos trabalhos e nos agrupamentos em objetos de estudo,
metodologias e referencias teóricos comuns. Sabendo dessas limitações, nos propomos, além da leitura e
releitura dos resumos, uma postura de vigilância e atenção aos elementos característicos dos resumos, e
também fomos buscar junta a bibliografias especializadas em pesquisa na área de Ensino de Ciência uma
forma de treinar o olhar para uma leitura mais qualificada.
No período e região considerados, entre os resumos encontrados selecionamos 137 que descrevem
pesquisas relacionadas ao ensino de ciências (Física, Química e Biologia) nos níveis fundamental e médio.
Destes, sete são teses de doutorado e os demais são dissertações de mestrado. A Tabela 1 mostra as
dimensões do campo pesquisado, apresenta os Programas de Pó-Graduação considerados, as Instituições de
Ensino Superior a que estão vinculados, o período considerado em cada programa em função da
disponibilidade dos resumos em banco de dados eletrônicos aos quais tivemos acesso e, finalmente, a
quantidade de trabalhos e o tipo.

Programa de Pós-Graduação em: IES Período Quantidad/Tipo


Ensino de Ciências e Educação Matemática. UEL 2004 à 2008 25 Dissertações
Educação para a Ciência e a Matemática. UEM 2006 à 2008 19 Dissertações
Educação Científica e Tecnológica. UFSC 2006 à 2008 07 Teses
Educação Científica e Tecnológica. UFSC 2004 à 2008 32 Dissertações
Educação em Ciências: Química da Vida e Saúde. UFRGS 2007 à 2008 10 Dissertações
Ensino de Física. UFRGS 2008 à 2008 02 Dissertações
Ensino de Ciências e Matemática. ULBRA 2004 à 2008 12 Dissertações
Educação em Ciências e Matemática. PUC/RS 2005 à 2008 30 Dissertações

Tabela 1: Dimensões do campo pesquisado.

Dado o período analisado (2004-2008) e a região do país, no presente estudo, que considerou apenas
as pesquisas que abordam o ensino de ciências da natureza nas escolas de nível fundamental e médio, nos
impressiona a quantidade de trabalhos existentes sobre o tema. Contudo, dentro desse tema, além das
metodologias e dos referenciais teóricos utilizados, nos propomos verificar o quê exatamente os
pesquisadores consideram como objetos de estudos em suas pesquisas, como são feitos os recortes, o quê
eles querem compreender melhor e o quê eles conseguem ver como problema a ser investigado em relação
ao referido tema. Assim, conseguimos constatar que certos objetos são bastante pesquisados, enquanto outros
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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

bem pouco. Principalmente são priorizados estudos que tratam de pensar e conceber novas metodologias e
propostas didáticas de ensino e que fazem analise dos seus resultados em termos de melhorias na
aprendizagem dos alunos; estudos sobre o livro didático; sobre a utilização de temas geradores de relevância
social para o ensino numa perspectiva globalizante e interdisciplinar; sobre a forma como os professores
lidam com as concepções alternativas dos alunos e em compreender quais as suas implicações no ensino e na
aprendizagem; que investigam sobre o uso de atividades experimentais; sobre as concepções e práticas
pedagógicas dos professores; que propõem um ensino a partir de uma abordagem histórica e filosófica da
ciência; contemplam também a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCNs) e documentos oficiais tais como propostas curriculares estaduais e
municipais; outros que abordam a importância e as dificuldades em ensinar ciências nas séries iniciais do
ensino fundamental; as dificuldades em abordar a ciência contemporânea no ensino de ciências,
principalmente física moderna e contemporânea no ensino médio; o trabalho com projetos e
interdisciplinaridade e; a formação dos professores.
Ouros objetos com menos representatividade, como os que seguem em nossa lista, também são
pesquisados: a Educação Ambiental; a leitura e a escrita nas aulas de ciências; metodologias próprias da
EJA; avaliação escolar; conhecimentos cotidianos, escolares e científicos em Projetos Pedagógicos; as
concepções de Ciências de professores e alunos; resolução de problemas e uso de analogias como recurso
didático; aprendizagem de conceitos científicos por alunos surdos; uso da informatização no ensino;
utilização do lúdico; unidade de aprendizagem envolvendo saídas de campo, visita a museus de ciências; a
pesquisa dos alunos; grupos de estudo em oficinas de ciências; interação discursiva entre professores e
alunos; as concepções prévias (alternativas) de professores e suas implicações no ensino; os conceitos
relacionados à sexualidade humana nas aulas de ciências; padrões discursivos e a linguagem de professores
utilizada em sala de aula; a construção conceitual dos alunos; a expectativa dos alunos sobre o ensino de
física; a utilização de textos de divulgação científica (e de artigos científicos) e a produção do discurso
científico escolar; alfabetização científica; aprendizagem do campo conceitual associado à modelagem
científica em ambiente virtual; problemas e dificuldades de aprendizagem; a dimensão afetiva na
aprendizagem de conhecimentos científicos; a história das disciplinas escolares; análise de artigos escritos
pelos professores; a consideração moral pelos animais; a construção de sentidos sobre o meio ambiente;
contribuições do jornal escolar de ciências e de histórias em quadrinhos para a alfabetização científica;
representações sociais de conteúdos entre os professores; o ensino de ciências e suas tecnologias; a vida
profissional dos professores de ciências; análise de concepções alternativas presentes em revista de
divulgação científica; como os corpos (questão de gênero) são representados por professores das séries
iniciais do ensino fundamental; a monitoria como estratégia para o ensino de ciências no nível fundamental;
propostas de mudança curricular em ciências nas séries iniciais do Ensino Fundamental; e a estrutura familiar
e suas implicações na aprendizagem escolar.
Sobre as metodologias utilizadas observou-se que a grande maioria das pesquisas podem ser
denominadas como estudos de caso, com características empíricas, que relacionam dados quantitativos com
análises qualitativas. Para coleta de dados são priorizadas técnicas como entrevistas, questionários,
observações, gravações em áudio e vídeo, anotações em diário de campo. São desenvolvidas práticas
pedagógicas e de estudo para obtenção de dados que não estariam disponíveis nas condições naturais, utiliza-
se da observação participante, da pesquisa-ação e da pesquisa documental. As metodologias priorizam ainda
a análise de conteúdo, por exemplo, considerando produções escritas de alunos e professores, a análise dos
discursos e de documentos.
Constatamos a forte presença de bases teóricas que tem origem na psicologia, na lingüística, na
sociologia e na filosofia. Destaca-se, nesse sentido, desde a Sociologia e a Filosofia da Ciência, tal como os
estudos CTS, as epistemologias de Bachelard, Kuhn, Fleck, Lakatos, Laudan e Bunge. Passando pela
Psicologia, com as teorias da aprendizagem de Vygotsky, Ausubel, Piaget, entre outros. E pela Linguistica,
com a Análise do Discurso de linha francesa, a Teoria dos Campos Conceituais de Vergnaud, a obra de
Bardin, etc. Até a Pedagogia e Educação, com o educar pela pesquisa, a pedagogia de Freire, etc. E as
abordagens teóricas que tiveram suas origens mais ligadas a área de Ensino de Ciências, tais como a
Perspectiva da Alfabetização Científica, os referenciais de Charlot, Mortimer, Delizoicov, Angotti, o enfoque
Química Verde, a Didática das Ciências de linha francesa, etc.
As pesquisas na área de Ensino de Ciência em sua grande maioria investigam sobre aspectos
relacionados às relações humanas, mais precisamente as relações pedagógicas, e não exatamente sobre os
temas que são do âmbito das ciências propriamente ditas, o que as diferencia das pesquisas em ciências. Por
tratarem de investigações relativas a pessoas, suas convivências e, sobretudo, as relações pedagógicas, elas
buscam aporte nas ciências humanas. O domínio do conhecimento específico em química, física e biologia é
fundamental, mas não pode ser o único para a docência, uma vez que aprender a fazer ciência não significa

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I Congresso de Iniciação Científica de Pós-Graduação - Florianópolis (SC) - setembro 2010

dominar as práticas do ensino das ciências. É nesse sentido que podemos verificar a forte presença no campo
investigado de teorias oriundas de outras áreas.
Nesse trabalho, ainda que de modo principiante, pode-se dizer, conseguimos visualizar algumas
possibilidades de crítica e aprofundamento. Nesse sentido, apontamos para a questão de possíveis
colonialismos epistemológicos e para o cuidado que os professores e pesquisadores da área de Ensino de
Ciências devem ter para que seja mantida e ampliada uma relação de autonomia no diálogo com outras áreas
e disciplinas; para algumas tendências na pesquisa quanto aos seus objetos, metodologias e teorias; bem
como, e por outro lado, para questões que são pouco pesquisadas e outras que não são estudadas e para
aportes teórico-metodológicos que não são experimentados.
Finalmente, cabe destacar que a categorização e descrição dos objetos de pesquisa, das metodologias e
dos aportes teóricos, só foi possível graças a leitura de artigos científicos, de livros, de teses e dissertações,
alguns citados neste artigo, outros não, que nos informaram muito a respeito das principais tendências
presentes na pesquisa em Ensino de Ciências. Nesse sentido, destacamos três livros que foram muito
esclarecedores a esse respeito: “A pesquisa em ensino de Ciências no Brasil: alguns recortes” organizado por
Roberto Nardi (2007); “A pesquisa em ensino de ciências no Brasil e suas metodologias” organizado por
Flavia M. T. dos Santos e Ilena M. Greca (2007); e “Ensino de ciências: fundamentos e métodos”, escrito por
Demétrio Delizoicov, José A. Angotti e Marta M Pernambuco (2009). E ainda ressaltar que o presente estudo
nos possibilitou contato com um vasto material em pesquisas que deverá, é o que desejamos, ter
continuidade e desdobramentos através de nossas práticas de ensino e pesquisa.

4. Considerações Finais
A guiça de considerações finais, vale destacar que conseguimos identificar que existe um modo de
ser da pesquisa em Ensino de Ciências que valoriza sobretudo o estudo de novas metodologias e propostas
didáticas de ensino e a analise dos seus resultados em termos de melhorias na aprendizagem dos alunos, que
desenvolve estudos sobre o livro didático, que dá ênfase a utilização de temas geradores de relevância social
para o ensino numa perspectiva globalizante e interdisciplinar, que se preocupa com a forma como os
professores lidam com as concepções alternativas dos alunos e em compreender quais as suas implicações no
ensino e na aprendizagem, que investiga sobre o uso de atividades experimentais, as concepções e práticas
pedagógicas dos professores, que propõem um ensino a partir de uma abordagem histórica e filosófica da
ciência, entre muitos outros temas.
As metodologias de pesquisa, a nosso ver, são pouco diversificadas. Em sua maioria estudos de
casos e de características empíricas. Por outro lado, é visível a preocupação dos pesquisadores em produzir
conhecimento útil e que represente alguma resposta aos problemas que a prática pedagógica enfrenta
diariamente nas mais diversas salas de aula, onde são ensinadas as ciências da natureza. Em relação às
teorias presentes no campo observado, alertamos para a necessidade da produção de teorias próprias que
possam dar conta com maior propriedade das questões que são específicas do ensino em ciências. E,
conforme pudemos identificar, existe o esforço de muitos pesquisadores da área nesse sentido.
Finalmente, vale lembrar que resgatar as pesquisas desenvolvidas sobre o ensino de ciências nos
níveis fundamental e médio contribuiu para incorporar ao ensino e a pesquisa que se desenvolvem nos cursos
de licenciatura do IF-SC (em especial o no campus de São José, que tem como princípio norteador “educar
pela pesquisa”) um conjunto de experiências e reflexões desenvolvidas ao longo dos últimos anos por vários
professores pesquisadores que teorizam sobre a prática pedagógica nos referidos níveis de ensino e área do
conhecimento. Assim, essa iniciativa representa uma maneira de facilitar para que novos e melhores
resultados sejam alcançados em termos de ensino de ciências em nossa instituição.

Referências
DELIZOICOV, Demétrio; ANGOTTI, José A.; PERNAMBUCO, Marta M. Ensino de ciências:
fundamentos e métodos. 3ª Ed. São Paulo: Cortez, 2009.
GOERGEN, Pedro. A pesquisa educacional no Brasil: dificuldades, avanços e perspectivas. Em Aberto,
Brasília, ano 5, n. 31, p. 01-18, jul./set. 1986.
NARDI, Roberto (Org.). A pesquisa em ensino de Ciências no Brasil: alguns recortes. São Paulo: Escrituras
Editora, 2007.
SANTOS, Flavia M. T.; GRECA, Ilena M. (Org.). A pesquisa em ensino de ciências no Brasil e suas
metodologias. Ijuí: Ed. Uninuí, 2007.

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VIVÊNCIAS INSTRUMENTALIZADAS: INDIVIDUALISMO E IDENTIDADE


PROFISSIONAL DOS QUADROS SUPERIORES DE TI

Thays Wolfarth Mossi1*


1
UFRGS

1. Introdução
Os anos 90 caracterizam-se pela emergência de um novo espírito do capitalismo, marcado por uma
nova representação da empresa e do processo econômico. As empresas dividem-se em unidades autônomas,
cuja organização se dá por projetos, de forma a reduzir sua estrutura hierárquica. Trata-se de uma nova forma
de justificação do engajamento ao capitalismo: a cité par projets, que insere a ideologia de um mundo em
conexão, articulado em torno das noções de projeto e rede social. Nela, o valor dos sujeitos é medido por sua
capacidade de inserirem-se em redes, o que demanda disponibilidade a correr riscos, flexibilidade e
polivalência. Essa nova ideologia, definida pelos autores a partir da análise da literatura managerial, é
notadamente destinada aos quadros superiores, tendo em vista o papel de decisão que desempenham no cerne
de grandes empresas, de modo que ocupariam, a princípio, uma posição de grandeza privilegiada nesse
cenário [1].
Nesse sentido se estabelece que os quadros superiores (gerentes de diferentes níveis hierárquicos e
executivos) de empresas Tecnologia da Informação (TI) emblematizam o que é ser grande no novo espírito
do capitalismo. Por seu turno, a área de TI condensa em si as características do novo paradigma tecnológico
da sociedade da Informação [2], de onde deriva nosso interesse e sua especificidade. Os quadros superiores
são trabalhadores de confiança, cuja atividade consiste na construção de consensos. Definem-se, ainda, pelo
trabalho de mediação e enquadramento, de caráter intermediário e relacional: seu trabalho consiste em gerar
injunções contraditórias, interpretando, filtrando e traduzindo informações aos trabalhadores de execução, de
modo que as dimensões cognitiva e subjetiva do trabalho os colocam em constante tensão entre estes e os
interesses da empresa [3]. Por ocuparem tal posição de grandeza no capitalismo atual, os quadros superiores
de empresas de TI constituem objeto empírico privilegiado para se pensar um de seus paradoxos centrais,
objeto de reflexão teórica deste trabalho: o individualismo instrumentalizado. Nesse sentido, o objetivo deste
trabalho é o de compreender o processo de configuração da identidade profissional dos quadros superiores
de empresas de TI sob a lógica do novo espírito do capitalismo [1] e em que medida e de que forma um
processo de individuação qualitativa [4] revertido em norma da produção capitalista (in)estabiliza essa
configuração identitária.

2. Método
Para dar conta do objetivo proposto, foram realizadas, entre outubro de 2008 e outubro de 2009, 23
entrevistas com gerentes e executivos em seis empresas de TI em Porto Alegre e São Leopoldo, Rio Grande
do Sul. Destas, oito foram analisadas pela análise de enunciação [5]. O critério de escolha dessas oito
entrevistas foi o de o entrevistado trabalhar (como CLT ou Pessoa Jurídica) em empresa de TI com mais de
500 funcionários, ocupar posição gerencial, mas ter formação em curso superior de caráter técnico, ligado à
área de Tecnologia da Informação. Este critério corresponde à definição de quadro superior adotada neste
trabalho, qual seja, daquele mediador que transmite as diretrizes da empresa – através de sua posição
gerencial – aos trabalhadores de execução, traduzindo aquelas informações para uma linguagem técnica.
O número de entrevistas foi definido pela noção de corpus [5], com cuja constituição objetiva-se a
realização de entrevistas de modo que estas dêem conta da diversidade que pode ser encontrada
empiricamente, sendo que o número varia de acordo com os critérios de exaustividade, representatividade e
pertinência do material. Deste modo, com a realização de 23 entrevistas foi possível dar conta da diversidade
empírica no mercado de TI de Porto Alegre. E, dentre elas, as oito entrevistas selecionadas para análise em
profundidade respondem à regra da representatividade.
Com relação aos procedimentos de análise das oito entrevistas, foi feita uma análise em profundidade
– que se apóia numa concepção da comunicação como processo, e não como um dado [5] –, e uma leitura
transversal entre elas. A análise de profundidade seguiu as orientações da análise de enunciação sugerida por
Bardin [5], que prevê uma leitura lógica, seqüencial, e de estilo. A primeira tem por objetivo apreender a
lógica intrínseca que estrutura o discurso. Por seu turno, a seqüencial tem por objetivo salientar as rupturas, o
ritmo e a progressão do discurso e que elementos os introduzem. Já a de estilo busca perceber o que, por
exemplo, um discurso confuso ou controlado pode indicar. Com relação à transversalidade da análise,
realizou-se uma classificação temática, cujas categorias de análise foram: a) gestão da empregabilidade; b)

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gestão da mobilidade; c) engajamento ao trabalho; d) reconhecimento; e) relação com o trabalho. Cabe


ressaltar que as demais entrevistas foram utilizadas como apoio e meio de contextualizar a área de TI.

3. Resultados e Discussão
De acordo com Honneth [4], Boltanski e Chiapello [1] apontam o critério mais importante para definir
o capitalismo em sua configuração atual: a disposição dos sujeitos a se utilizarem de suas próprias
competências e recursos emocionais a serviço de projetos individualizados. Mas Honneth avança ao
trabalhar com um esquema paradoxal de análise das sociedades capitalistas, afirmando que, após a revolução
neoliberal, há um processo de instrumentalização das esferas não econômicas da ação pelo capitalismo
orientado por projetos. Nesse cenário, o individualismo romântico como representação dominante de si
significa que, no campo do trabalho, o emprego é concebido como uma experimentação de diferentes
identidades e formas de auto-realização, experimentação que é convertida em uma norma da produção
capitalista. Assim, dissipa-se o caráter emancipador do individualismo, mas mantém-se seu significado na
compreensão que os indivíduos fazem de si. Os sujeitos são exortados a seguir seus autênticos interesses no
contexto profissional, e o trabalho estruturado por projetos – como o dos quadros superiores de TI –
recompensa aqueles que se adaptam e se mostram aptos a reagirem de forma flexível a cada novo desafio.
Dessa forma, as contradições do capitalismo orientado por projetos contribuem de modo paradoxal para a
corrosão do potencial emancipador das normas e valores institucionalizados no período social-democrata.
Contudo, essas contradições deixam de ser percebidas como conseqüências do capitalismo, uma vez que os
sujeitos “aprenderam” – enquanto empreendedores de si mesmos – a assumirem a responsabilidade por seus
destinos, o que consiste em um dos paradoxos centrais da nossa época.
Propomos que a vivência desse paradoxo pelos quadros superiores de TI pode ser pensada a partir da
configuração de sua identidade profissional. Da mesma forma como Boltanski e Chiapello [1] apontam para
transformações de diferentes naturezas nas últimas décadas, Dubar [6] destaca que esses processos levam a
crises identitárias, pensadas como perturbações das relações relativamente estabilizadas entre os elementos
estruturantes da identificação, que colocam em cheque as formas identitárias anteriores. A identidade é
conceitualmente definida por sua reconstrução contínua e instabilidade relativa, formando-se através do
entrecruzamento de dois processos: o biográfico, no qual se constitui a identidade para si, e o relacional, no
qual se configura a identidade para o outro [7]. Fluidez que, para Dubar [6], se acentuaria com a situação de
crise identitária, uma vez que se configura, no cenário de crise, uma identidade individualista e problemática
como a única suscetível de reconhecimento. No entanto, se faz aqui uma apropriação crítica da perspectiva
de Dubar [6] – de que as identidades se configuram instáveis como o contexto no qual se constituem –: tendo
em vista que os quadros superiores de TI emblematizam o que é ser “grande” no novo espírito do capitalismo
[1], é possível dizer que sua identidade reflete a fluidez e a instabilidade do contexto social no qual se
constitui?
Assim, em oposição a esta idéia de Dubar [6] de que os aspectos de constante reconstrução e relativa
instabilidade da identidade se acentuariam em um cenário em processo de transformação e crescente
instabilidade, argumentamos que a identidade profissional dos quadros superiores de TI é estável, pois se
fundamenta no “eu”, o que se dá em duas dimensões. A primeira dimensão dessa estabilidade é que a
identidade se fortalece em relação ao contexto social instável, constituindo-se como um espaço de
estabilidade, no qual os sujeitos acabam por ancorar em si mesmos a vivência de um contexto fluído. A
segunda dimensão é que a identidade profissional dos quadros superiores de TI se configura estável como
suporte de uma relação com o trabalho “exigente”, que demanda um engajamento contínuo a projetos sempre
transitórios, a renovação e ampliação dos conhecimentos, o que implica em risco e em sua constante
reconstrução. Assim, a identidade profissional dos quadros superiores de TI se fundamenta no “eu” – tendo
em vista que o sujeito se coloca no centro de sua própria vida [4] – englobando e condensando essas
dimensões instáveis e em reconstrução contínua.
Neste sentido, se a identidade profissional dos quadros superiores de TI reflete aspectos do contexto
social no qual se constitui, são os aspectos do individualismo qualitativo instrumentalizado como forma de
legitimação das transformações sociais e fator da produção capitalista [4], que ainda assim fortaleceriam o
sujeito. Esses aspectos corroboram a identidade profissional calcada no “eu”, uma vez que ela é o ápice desse
individualismo.
O processo biográfico da configuração da identidade profissional consiste na gestão individualizada do
percurso profissional, onde cada trajetória pertence e é responsabilidade de cada sujeito. Aqui, são centrais
noções como as de empregabilidade e mobilidade (intra ou interfirmas), que caracterizam esse percurso
como um processo de experimentação de diferentes formas de auto-realização. A gestão da empregabilidade
e da mobilidade são vividas como caminho para a ascensão profissional, que os sujeitos constroem para si,
através de si mesmos, e nenhum suporte externo (como, por exemplo, CLT e plano de carreira) teria a

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mesma dinamicidade que eles têm ao fazê-lo. E, por isso, antes de servirem de base de apoio, são entraves ao
desenvolvimento experimental desse percurso. Essas são dimensões biográficas porque colocam as
trajetórias desses sujeitos como um processo de experimentação através do qual eles agregam valor a si
mesmos, fortalecendo-se. Mesmo que ao incorporarem o que é ser grande no novo espírito do capitalismo
essa individuação qualitativa seja revertida em fator da produção pelo capitalismo por projetos, é através dela
que os sujeitos se realizam e constroem suas chances de futuro, criando um valor específico e diferencial
para si mesmos, tornando-se moeda mais valorizada no mercado de trabalho. Essa individualização da gestão
dos percursos profissionais não é percebida pelos quadros superiores de TI como conseqüência do
capitalismo por projetos, uma vez que, enquanto empreendedores de si, assumem a responsabilidade de seus
destinos [4].
Por seu turno, o processo relacional da identidade profissional dos quadros superiores de TI é
constituído pela relação com o trabalho, que também agrega a vivência de individuação – processo de
diferenciação qualitativa dos indivíduos entre si – ao individualismo instrumentalizado. O engajamento ao
trabalho através do risco emblematiza a lógica de engajamento ao próprio capitalismo da cité par projets [1],
uma vez que marca como critério de uma relação positiva com o trabalho a disposição dos sujeitos a
colocarem seus recursos emocionais à disposição de projetos individualizados, institucionalizando o risco
como forma de reconhecimento. Assim, o ideal romântico de experimentação e auto-realização do
individualismo é integrado ao processo econômico como demanda de qualificação e competências [4]. Essa
exigência de risco posta pela relação com o trabalho é, no entanto, vivenciada positivamente pelos quadros
superiores de TI, como acúmulo de experiências profissionais diversificadas.

4. Conclusão
Os quadros superiores de TI, enquanto sujeitos do paradoxo do individualismo instrumentalizado,
forjam identidades estáveis e fortes de modo a abarcarem sua relação com o trabalho marcada pela exigência
de disposição a correr riscos, possibilitando uma vivência cotidiana menos problemática. Nesse sentido, a
identidade assume papel de resguardar o “eu” de toda a exigência e instabilidade da relação com o trabalho,
servindo como seu suporte. Portanto, garante ao sujeito sua auto-identificação com o aspecto mais estável
que é possível vislumbrar nesse cenário: ele mesmo. Ou seja, a identidade profissional dos quadros
superiores de TI é fundamentada no “eu”.
Propomos, enfim, que a gestão do percurso, a relação com o trabalho e estabilidade da identidade
refletem aspectos do individualismo qualitativo instrumentalizado. Ou seja, através delas os sujeitos se
colocam no centro de suas vidas, orientando essas dimensões para uma busca de auto-realização,
estabelecendo a si mesmos como ponto de partida, instrumento e finalidade desses processos. Nesse sentido,
o paradoxo do individualismo instrumentalizado se dá através da reversão de aspirações individuais de
sucesso – através das quais constitui-se o fortalecimento do “eu” – em injunções da produção capitalista
típica de um capitalismo orientado por projetos. A identidade fundamentada no “eu” coloca-nos diante de um
paradoxo vivenciado positivamente: ao mesmo tempo em que o indivíduo se fortalece através dela – pois
passa a perceber-se como senhor de seu destino profissional, aparentemente livre de coerções de caráter
social –, suas aspirações de sucesso e crescimento profissional são instrumentalizadas pelo capitalismo
enquanto fator e norma de sua produção.

Referências
[5] BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Lisboa : Edições 70, 2008.
[1] BOLTANSKI, Luc, CHIAPELLO, Eve. Le nouvel esprit du capitalisme. Paris : Gallimard, 1999.
[3] BOUFFARTIGUE, Paul. “La fonction d’encadrement”: de l’importance du travail dans l’étude cadres.
Colloque autour des travaux de Georges Benguigui: Encadrer, surveiller, inventer. Université de Paris X
Nanterre, 16 novembre, 2001.
[2] CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. v.1, 11 ed., São Paulo: Ed. Paz e Terra, 2008.
[6] DUBAR, Claude. La crise des identités: L’interprétation d’une mutation. Paris: Presses Universitaires de
France, 2000.
[7] _______. A Socialização: Construção das identidades sociais e profissionais. São Paulo: Martins Fontes,
2005.
[4] HONNETH, Axel. La société du mépris. Paris: La Découverte, 2006.

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