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Marcelo Paiva

Comunicação e Linguagem

1ª Edição

Brasília/DF - 2018
Autor
Marcelo Paiva

Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e
Editoração
Sumário
Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa.......................................................................................................4

Introdução...............................................................................................................................................................................6

Aula 1
Comunicação....................................................................................................................................................................7

Aula 2
Interpretação de texto............................................................................................................................................... 23

Aula 3
Coerência........................................................................................................................................................................ 40

Aula 4
Coesão............................................................................................................................................................................. 54

Aula 5
Tipologia textual......................................................................................................................................................... 67

Aula 6
Produção textual.......................................................................................................................................................... 85

Referências.........................................................................................................................................................................103
Organização do Caderno de
Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos,
de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com
questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável.
Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras
e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de
Estudos e Pesquisa.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

Cuidado

Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o
aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado.

Importante

Indicado para ressaltar trechos importantes do texto.

Observe a Lei

Conjunto de normas que dispõem sobre determinada matéria, ou seja, ela é origem,
a fonte primária sobre um determinado assunto.

4
Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa
e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio.
É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus
sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas
conclusões.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Posicionamento do autor

Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o
aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado.

5
Introdução
Seja bem-vindo(a) ao módulo de Comunicação e Linguagem!

O conteúdo foi dividido em tópicos específicos a fim de facilitar a compreensão de assunto tão
importante em nossa vida pessoal, social e profissional. Abordaremos de forma bem objetiva e
prática os temas mais importantes relacionados à comunicação, ao discurso, à interpretação e
produção textual. O enfoque será sempre o aprendizado relevante em atividades acadêmicas e
profissionais para que você possa melhorar cada vez mais a sua capacidade de observar como
a boa comunicação é essencial para o sucesso em todas as áreas desejadas.

Diversos estudos indicam que a capacidade de se comunicar com eficácia é essencial ao


aprimoramento de competências. A deficiência comunicativa, por sua vez, compromete o
desempenho em praticamente todos os setores de nossa existência. Por isso, este módulo será
tão útil.

Espero que, ao final do estudo, você se sinta mais confiante e fortalecido(a) para usar a comunicação
a seu favor e compreender textos com mais profundidade em diferentes modalidades e diferentes
áreas do conhecimento e do mercado de trabalho.

Objetivos

»» Despertar o interesse do participante no estudo detalhado da comunicação com ênfase


na interpretação e produção textual.

»» Aprofundar o conhecimento de características essenciais ao bom uso da linguagem em


atividades acadêmicas e profissionais.

»» Detalhar o estudo da análise textual com a identificação da ideia principal e das ideias
secundárias.

»» Observar a intencionalidade no texto e suas ideias explícitas e implícitas.

»» Conceituar diferentes modalidades textuais.

»» Dominar os aspectos relacionados à coerência e à coesão textual.

6
Comunicação
Aula
1
Introdução

A comunicação é o assunto principal de nossa primeira aula e será estudada durante todo o
módulo. Abordaremos seu conceito e, principalmente, sua importância em nossa vida pessoal
e social. Ministro cursos de graduação, pós-graduação, mestrado e corporativos há muitos anos
e observo a necessidade de nos prepararmos para interpretar adequadamente os conceitos
apresentados para desenvolvermos capacidades mais amplas em nossa vida profissional.

Espero que você se sinta estimulado(a) a participar de todos os módulos do curso com mais
interesse com base nos tópicos desenvolvidos neste primeiro módulo! Ele será de muita
importância para a compreensão mais detalhada do conteúdo de todos os outros módulos do
curso.

Objetivos

»» Identificar diferentes possibilidades de comunicação.

»» Reconhecer diferentes níveis de linguagem.

»» Compreender a importância da boa comunicação.

»» Dominar o conceito de discurso e intencionalidade.

»» Introduzir aspectos relevantes da interpretação textual.

Conceito

Comunicação é a forma como trocamos informações, sentimentos, experiências em nossa vida.


Fazemos isso por meio de palavras, gestos, expressões corporais, desenhos etc. A comunicação
faz parte de nosso dia a dia e é essencial à vida pessoal, social e profissional. Basicamente, o ato
de se comunicar ocorre entre um emissor e receptor.

7
AULA 1 • Comunicação

Emissor é quem inicia o processo da comunicação (geralmente por meio de uma fala ou de um
texto escrito), e receptor é quem recebe a informação (quem ouve ou lê). Na ilustração anterior,
o homem sem bigode fala (emissor), e o homem com bigode ouve (receptor). A comunicação,
no entanto, pode ocorrer de diversas outras formas. O emissor pode ser um sinal de trânsito,
uma música, um programa de televisão.

Algumas vezes, somos o emissor e outras vezes somos o receptor. Se nós dois estivermos
conversando por horas, serei o emissor, quando falo; e você, o receptor. Quando você fala, você
passa a ser emissor e eu, receptor.

A comunicação permite o aprendizado de novos assuntos e torna nossa vida mais ampla. Assim,
é importante nos comunicarmos bem para sermos pessoas cada vez melhores em nossa vida e
em nossa profissão.

Atenção

A comunicação é essencial à vida humana e à vida social. Tudo que aprendemos ocorre por causa da comunicação.

Aprender a se comunicar significa criar condições de aprender mais e se tornar melhor pessoa,
como cidadão e como profissional.

Ao saber se comunicar mais adequadamente, aprenderemos de forma mais profunda assuntos


importantes e seremos mais competentes com novas oportunidades em nossa vida. É justamente
por meio da comunicação e da dedicação que nos tornamos pessoas melhores e podemos trocar
experiências, sentimentos e conhecimentos.

Para refletir

A palavra distingue homens e animais. A linguagem distingue as nações entre si. Não se sabe de onde é o homem
antes que ele tenha falado. Desta forma, temos a certeza de que sem a linguagem não haveria meios de estabelecer
relações, pactos, interpretações. A história talvez não existiria, assim como não existiria o próprio processo de
comunicação. Desde que o homem foi reconhecido por um outro ser sensível e semelhante a si próprio, o desejo e a
necessidade de comunicar seus pensamentos fizeram-no buscar meios para isto.

Rousseau

O escritor e professor Mário Persona estudou durante anos a importância da comunicação na


atividade profissional e afirma:

A boa comunicação é ferramenta essencial para qualquer profissional. E isso não


só para obter benefícios diretos para sua carreira, mas até para desempenhar

8
Comunicação • AULA 1

seu papel na função que exerce. Há pessoas com uma excelente bagagem que
não conseguem passar para uma posição de gerência por absoluta falta de
comunicação. Como poderão dirigir pessoas se não sabem como transmitir a
elas o que desejam, suas metas, diretrizes e expectativas de desempenho?

Mas, para o profissional, o papel da comunicação começa bem antes de sua


atuação numa determinada função, começa na hora de conseguir um emprego ou
um contrato para prestar um serviço ou fornecer um produto. Sem essa habilidade
ele já sai em desvantagem em relação aos seus concorrentes. E quando falo de
comunicação, trata-se de comunicação integral que envolve fala, escrita, postura
e até mesmo suas atitudes, crenças e valores. O ser humano é um verdadeiro
objeto de comunicação multimídia e deixa sua influência por onde passa pelo
que ele é, além daquilo que diz ou escreve.

Dependendo da situação ele poderá precisar de maior ou menor habilidade na


fala ou na escrita, por exemplo. Hoje a universidade dá grande importância à
capacidade de escrever do aluno, mas o que o mercado exige dele é justamente
uma capacidade maior de comunicação oral. Será que algum curso já pensou
em preparar seus alunos para falar? (PERSONA, s. d).

Saber se comunicar adequadamente é considerada, por diversas empresas especializadas em


carreiras profissionais, como uma das principais competências necessárias a ser adquirida por
todo trabalhador. A Catho é uma das maiores empresas do Brasil na prestação de serviços para
colocação de profissionais no mercado de trabalho e afirma que cada vez mais os especialistas
de todas as áreas de atividade profissional procuram melhorar a forma de comunicação para
obter o emprego desejado ou melhorar sua situação no trabalho.

Posicionamento do autor

Você já pensou como seria a sua vida sem a comunicação?

O termo comunicação (latim communis, communicare) significa tornar comum, partilhar, repartir,
distribuir. O ser humano não é o único ser na natureza a transmitir ou receber informações,
experiências ou sentimentos. A comunicação está presente em toda forma de vida e ocorre
em grande parte de maneira não perceptível a nossa atenção. Uma pessoa pode dizer que está
calma (comunicação consciente) e, ao mesmo tempo, manter uma postura que revela tensão
(comunicação inconsciente). Trata-se de comunicação não verbal (estudaremos o assunto daqui
a pouco).

A evolução da vida está plena de comunicação. Durante décadas, apenas áreas relacionadas
à linguagem, à sociologia ou à psicologia se interessavam de forma pragmática pelo estudo

9
AULA 1 • Comunicação

da comunicação. Atualmente, a situação mudou bastante. Observamos a administração, a


neurociência e diversas outras áreas da investigação científica e acadêmica intensificarem seus
estudos no assunto.

Comunicação verbal e comunicação não verbal

A comunicação não se limita apenas a linguagem escrita ou oral por meio de um código
linguístico padronizado e usado por um grupo de pessoas. Trata-se de processo mais amplo, e
o uso de idiomas revela apenas parte do ato de transmitir ideias, experiências ou sentimentos.
Limitar o estudo da teoria da comunicação a processos unicamente linguísticos é certamente
a forma mais rudimentar de reduzir o conhecimento possível sobre o tema no ser humano e
na natureza.

A mãe com o filho de meses ao colo se comunica sem o uso de idiomas convencionais. Animais e
aves possuem código específico de proteção mútua e direcionamento em grandes movimentações
pelo planeta.

Geralmente, o universo acadêmico procura ensinar o conteúdo da teoria da comunicação em seu


processo unicamente linguístico. Isso ocorre principalmente porque os cursos que oferecem a
disciplina estão relacionados à comunicação de massa ou ao estudo do idioma. Sem dúvida, tal
conhecimento e estudo são fundamentais e importantes. No entanto, outras áreas se beneficiam
de pesquisas sobre causas e consequências do processo comunicativo e isso tem ocorrido em
diversos países.

O pesquisador americano Mehrabian concluiu que, durante uma conversa, a transmissão


de uma informação entre pessoas ocorre em média 55% por meio de linguagem corporal,
38% por meio da voz e apenas 7% por meio das palavras empregadas. Observe que mais da
metade da comunicação ocorre por meio de processos quase sempre involuntários e não
intencionais.

O estudo acadêmico define linguagem verbal como aquela que ocorre por meio da escrita ou da
fala e linguagem não verbal é aquela que ocorre por meio de imagens, símbolos, postura, gestos,
música, pintura, desenhos etc.

Elementos da comunicação

Para entendermos como a comunicação ocorre, vamos dividi-la em seis elementos consagrados
no estudo da teoria da comunicação. Observe a ilustração e a explicação a seguir.

10
Comunicação • AULA 1

Figura 1.

Emissor ou remetente: quem envia a mensagem (pessoa, televisão, rádio, placa de trânsito,
cartazes).

»» Receptor ou destinatário: quem recebe a mensagem.

»» Mensagem: palavras ou símbolos usados na comunicação.

»» Canal: meio pelo qual a mensagem é transmitida. O canal pode ser um livro, um disco etc.

»» Código: sinais compreendidos tanto pelo emissor quanto pelo receptor. Pode ser verbal
(palavras faladas ou escritas) ou não verbal (sinais de trânsito, expressão facial).

»» Referente ou contexto: assunto a que a mensagem se refere.

Observe exemplo do processo de comunicação. Lucas envia mensagem eletrônica a seu irmão
Paulo para informar que ainda está no trabalho.

Paulo, Não poderei sair agora, pois ainda estou no trabalho.

Abraços.

Lucas.

Observe os elementos da comunicação presentes na mensagem enviada.

Emissor: Lucas.

Receptor: Paulo.

11
AULA 1 • Comunicação

Mensagem: palavras escolhidas e escritas.

Código: língua portuguesa.

Canal: linguagem escrita.

Referente: o assunto da mensagem (não poderei sair, pois ainda estou no trabalho).

Outro exemplo de comunicação é quando assistimos a uma publicidade na televisão. Imagine que
você está sentado na sala de sua casa e vê na televisão anúncio com Galvão Bueno anunciando
a próxima partida da seleção brasileira. Vamos analisar os elementos da comunicação.

Emissor: Galvão Bueno.

Receptor: você.

Mensagem: palavras pronunciadas no anúncio.

Código: língua portuguesa.

Canal: linguagem sonora e visual.

Referente: o assunto da mensagem (a próxima partida da seleção brasileira).

O ato de comunicar pode ser verbal (por meio de palavras) ou não verbal (por meio de desenhos
ou símbolos). Quando uma pessoa fala ou escreve para outra pessoa, ela usa palavras. Assim,
a comunicação é verbal. Quando uma pessoa abraça outra pessoa sem dizer palavra alguma.
Apenas um abraço gostoso. A comunicação ocorre de forma não verbal.

Linguagem verbal

A linguagem verbal, assim, é o uso de um código (língua escrita ou oral) formado por signos
linguísticos responsáveis pela representação de ideias. A relação entre o significante (palavra)
e o significado (ideia) é o conceito básico da comunicação verbal. Ao usarmos a palavra “casa”
(significante), as pessoas que dominam o idioma português a associam à imagem de uma
construção que serve de moradia (significado).

Linguagem não verbal

A linguagem não verbal está muito presente em nossa forma de comunicação. Apesar de
não falarmos nada, podemos expressar com o corpo, por exemplo, várias informações.
Geralmente, a linguagem não verbal complementa ou reforça a linguagem verbal. Outras vezes,
percebe-se conflito na transmissão de informação verbal e não verbal. Uma pessoa pode responder
verbalmente que não está com frio e você perceber que ela está tremendo na noite gelada.

12
Comunicação • AULA 1

Observe duas situações diferentes de comunicação para diferenciarmos com clareza linguagem
verbal e linguagem não verbal.

Um rapaz encontra a namorada e diz “eu te amo!”. Ele usou comunicação verbal (palavras).
Ela se sente amada e entendeu o que ele quis comunicar.

No outro dia, o rapaz encontra novamente a namorada e dá um beijo e um abraço carinhoso sem
dizer palavra alguma. Agora, ele empregou comunicação não verbal. Ela também se sente amada
e entendeu o que ele quis comunicar. Mesmo sem usar palavra alguma, houve comunicação.

Os elementos da comunicação (emissor, receptor, mensagem) estão presentes tanto na


comunicação verbal quanto na comunicação não verbal.

Atenção

O ser humano é naturalmente comunicativo. É justamente a comunicação que aumenta o desenvolvimento de todos
nós e nos tornamos melhores como pessoa em nosso dia a dia e em nossas atividades profissionais.

Ruídos na comunicação

Diversos fatores podem prejudicar ou mesmo impedir a comunicação. São os chamados ruídos
ou barreiras. Eles atrapalham e devem ser evitados. Uma pessoa que não transmite a mensagem
com clareza prejudica o entendimento do receptor. Por sua vez, se o receptor não estiver
atento, a mensagem certamente não será compreendida também. Tudo aquilo que perturba a
comunicação é um ruído. A compreensão inadequada de uma mensagem muitas vezes provoca
atitudes inadequadas.

Deve-se evitar falhas na comunicação. Assim, ao falar ou escrever, procure ser claro(a). Ao ouvir
ou ler, procure estar atento(a) e saber se entendeu perfeitamente a mensagem recebida. Caso
haja dúvida, não se deve ter vergonha de perguntar.

Os ruídos são falhas que impedem a perfeita compreensão por parte do receptor. Eles podem
ocorrer por aspectos físicos (barulhos altos próximos ao emissor ou falta de luz para boa leitura),
fisiológicos (dor de cabeça, problemas auditivos ou visuais), psicológicos (divagação, preocupação
com outros assuntos etc.) ou semânticos (o texto é exageradamente técnico ou ambíguo, por
exemplo).

Os ruídos devem ser evitados para o sucesso da comunicação. O rebuscamento, por exemplo,
é um ruído muito comum em textos jurídicos. O uso exagerado de termos técnicos em diversas
reuniões de administradores pode comprometer o entendimento de participantes que não
conhecem expressões tão específicas. São muitos os casos em que devemos ter atenção para
nos comunicarmos com eficiência.

13
AULA 1 • Comunicação

Linguagem, língua e fala

Linguagem

Linguagem é a expressão de nossa comunicação. Ela ocorre por meio de palavras faladas ou
escritas, por meio de sinais de trânsito, por meio de gestos etc. O termo linguagem passou a ser
empregado para indicar forma de comunicar informações, experiências ou sentimentos por meio
de códigos linguísticos. O termo linguagem também é usado em diversas outras áreas: informática
(símbolos, palavras e regras que processam instruções e etapas a serem desenvolvidas pelos
computadores), lógica (símbolos em enunciados formados por axiomas e regras específicas),
psicologia (linguagem consciente e linguagem inconsciente) etc.

As últimas décadas ampliaram imensamente o conhecimento sobre a relação entre linguagem e


cérebro. A neurolinguística afirma que o crescimento do cérebro (principalmente o córtex) está
relacionado com o surgimento da linguagem no ser humano. Cientistas defendem que uma das
principais características do homem em relação aos demais seres da natureza é justamente a
capacidade de elaborar códigos linguísticos para se comunicar.

Funções da linguagem

As funções da linguagem indicam a intenção do emissor ao usar a comunicação. Elas se dividem


em seis tipos.

Função referencial ou denotativa: a intenção do autor é enfatizar a informação transmitida.


É o caso, por exemplo, de uma notícia de jornal, de um relatório, de um aviso de feriado no local
de trabalho.

Função emotiva ou expressiva: a intenção do autor é transmitir suas emoções e desejos.


A comunicação se volta para o próprio autor. Uma mãe, ao falar sobre a saudade que sente de
seu filho, é um bom exemplo.

Função conativa ou apelativa: a intenção do autor é convencer ou influenciar o receptor. A


comunicação geralmente usa verbos no imperativo. Observe exemplos assim: “Beba coca-cola!”,
“você tem que fazer assim!”, “não faça aquilo!”. A publicidade é um bom exemplo de função
conativa.

Função metalinguística: a intenção do autor é explicar o sentido de palavras, expressões ou


a forma de construção do próprio texto. O objetivo é abordar a própria língua empregada.
O dicionário é exemplo desta função. Ao pesquisar um termo, você encontra o significado. Poemas
que explicam como fazer poema também são exemplos.

14
Comunicação • AULA 1

Função fática: a intenção do autor é destacar ou testar o canal da comunicação. Você já deve ter
observado que quase todas as pessoas costumam repetir expressões ao falarem: “tá”, “tudo bem”,
“assim”, “tá entendendo”. São, na verdade, recursos para testar o canal. Ao atender ao telefone,
dizemos “alô”. Temos aí outro exemplo de função fática.

Função poética: a intenção do autor é destacar a própria mensagem. Um poema, por exemplo,
possui rima, sonoridade e tantos recursos que o tornam bonito. Além da informação, a literatura
procura destacar a forma como se transmite. Isso é função poética. Outro exemplo é a letra de
uma música e muitas campanhas de publicidade.

Língua

São os termos com significados e regras que permitem a comunicação. Por exemplo, empregamos
a língua portuguesa para nos expressarmos no Brasil. Os argentinos usam o espanhol. Os ingleses
usam o inglês. Cada povo possui uma língua para se comunicar.

Fala

É a forma como cada pessoa usa a língua. Embora João, Pedro, José, Maria, Paula e tantas outras
pessoas usem a língua portuguesa para falar, cada um faz de uma maneira própria. A fala é o uso
da língua que cada um de nós fazemos.

Língua oral e língua escrita

Falar e escrever são duas formas de nos comunicarmos. Há diferenças entre elas. Ao falar, somos
mais espontâneos e despreocupados. Ao escrever, ficamos mais atentos e procuramos palavras
mais bonitas e corretas.

Basta você imaginar que está conversando com um grande amigo (linguagem oral) ou escrevendo
uma carta para o patrão (linguagem escrita). A diferença é grande algumas vezes.

Para refletir

Há momento em que usamos a linguagem oral e há momentos em que usamos a linguagem escrita. Saber usá-las de
forma adequada é muito importante na profissão e na vida social.

15
AULA 1 • Comunicação

Níveis de linguagem

A linguagem pode ser classificada em relação a seu contexto social e cultural. Certamente, você
não escreveria da mesma forma um texto para um adulto e para uma criança. São pessoas com
capacidade de entendimento diferente. Também o seu texto deve ser diferente para cada um
deles. É necessário, assim, preocupar-se e muito com quem receberá o seu texto. Veja, a seguir,
os diferentes níveis.

Linguagem formal, culta ou padrão: utilizam-na as classes intelectuais da sociedade, mais na


forma escrita e, menos, na oral. É de uso nos meios diplomáticos e científicos; nos discursos e
sermões; nos tratados jurídicos e nas sessões do tribunal. O vocabulário é rico e são observadas
as normas gramaticais em sua plenitude.

O Supremo Tribunal Federal determinou o bloqueio imediato dos bens de todos os diretores
envolvidos no escândalo do Banco do Brasil. A priori, a instituição deverá prestar contas dos
gastos de seis diretorias que foram aliciadas por meio de propina para a liberação de verbas a
agências publicitárias.

Linguagem coloquial, oral ou informal: utilizada pelas pessoas que falam e/ou escrevem com
mais espontaneidade. É a linguagem do rádio, da televisão, meios de comunicação de massa, tanto
na forma oral quanto na escrita. O emprego do vocabulário da língua comum e da obediência às
disposições gramaticais é relativo, permitindo-se até mesmo construções próprias da linguagem
oral. Observe um texto coloquial.

Brother, dentro dessa nova edição do Concurso 500 testes tem tudo para que minha prova role na
maior. Só de português são mais de 800 questões. Ah, tem uma lista de livros e dicas para todos
ficarem por dentro do que é moleza que caiu na prova. Vou encarar este estudo.

Linguagem regional: empregada em determinadas regiões com expressões e construções


próprias.

Linguagem técnica: empregada em casos específicos de determinadas profissões e áreas de


estudo. Assim, temos a redação oficial, a linguagem acadêmica, a linguagem jurídica, a linguagem
médica etc.

Para refletir

O escritor Rubens Alves nos ensina que a leitura nos leva por mundos que nunca existiram nem existirão. É desse
mundo diferente, estranho ao nosso, que passamos a ver o mundo em que vivemos de outra forma.

16
Comunicação • AULA 1

Texto

O termo “texto” vem do latim texere com o sentido de tecer, construir. O particípio passado textus
era empregado para indicar a maneira de tecer e, mais tarde, a estrutura. No século XIV, passou
a ter dois sentidos: tecelagem ou estruturação de palavras. Quase todas as línguas ocidentais
mantiveram relação com a origem da palavra: text (inglês), texte (francês), testo (italiano), texto
(espanhol), text (catalão), text (alemão).

Assim, o sentido original do termo estava relacionado a tecido. Importante destacar que vários
termos relacionados ao ato de escrever também se referem ao ato de tecer. Podemos citar, por
exemplo, que da mesma forma que os fios do tecido não aparecem soltos em uma roupa, também
as palavras se agrupam para formar um texto. O termo “linha”, por exemplo, vem do latim linea
com o sentido de fio de linho (tecido). Da mesma forma que os fios se agrupam para formar o
tecido e a roupa, as palavras se unem para organizar frases e parágrafos. Texto pressupõe interação
entre emissor e receptor:

emissor – texto – receptor

O interesse pelo texto como objeto de estudo gerou vários trabalhos importantes de teóricos da
linguística textual, que percorreram fases diversas, cujas características principais eram transpor
os limites da frase descontextualizada da gramática tradicional e ainda incluir os relevantes
papéis do autor e do leitor na construção de textos.

Há diferença entre redação e texto. O uso do termo redação é muito comum no ensino médio e em
provas. Isso ocorre desde a edição do Decreto 79.298, em 24 de fevereiro de 1977, que determinou
a inclusão obrigatória da redação nas provas públicas do atual ensino médio e vestibulares.
Com isso, perdeu-se a noção mais completa do termo “texto”. A preocupação passou apenas a
fazer um trabalho escrito para aprovação de um professor ou banca.

Fazer uma redação passou a significar um conjunto de parágrafos – em alguns casos apenas
períodos – organizados em torno de uma ideia com coerência, coesão, objetividade, clareza
e correção gramatical. O interesse é observar a capacidade de defender uma abordagem com
argumentos que embasam adequadamente.

Texto, no entanto, envolve um conceito mais amplo. Ele abrange a ideia de que a pessoa não
apenas busca se comunicar, mas também apresentar uma ideia coerente, coesa, clara. Em alguns
casos, o texto procura persuadir com a ideia transmitida. Escrever um texto, assim, não é apenas
se preocupar em transmitir uma ideia com correção gramatical e organização textual. Fazer um
texto é convencer o leitor ou ouvinte de sua ideia e influenciá-lo com o discurso apresentado.

O escritor e pesquisador italiano Umberto Eco, em sua obra Conceito de Texto, analisa a noção de
texto como fundamental para se entender o processo de comunicação. Fazer uso competente da

17
AULA 1 • Comunicação

língua é a capacidade de ler e produzir adequadamente textos diversos, produzidos em situações


diferentes e sobre diferentes temas. Pensar em texto é pensar em nossa vida diária. Sempre
estamos envolvidos em leituras, escritas, observações e análise. Quantas decisões importantes
não dependem, única e exclusivamente, de uma boa leitura ou redação de texto?

Elaine Brito Souza, doutora em Literatura Brasileira, faz o seguinte esclarecimento sobre texto.

Você já se perguntou o que é, de fato, um texto? Geralmente, entendemos o


texto como um conjunto de frases, ou seja, algo que foi feito para ser lido. Mas
a definição de texto não é tão simples quanto parece.

Imagine, por exemplo, que você está lendo um livro e, de repente, encontra em
uma página qualquer um papel com a palavra “madeira”. Ora, certamente você
ficará intrigado ou simplesmente não dará importância a isso.

Agora, vamos imaginar outra situação: você está no meio de uma floresta e ouve
alguém gritar: “Madeira!”. Bem, se você pretende preservar sua vida, sua reação
imediata é sair correndo. Isso acontece porque a situação em que você se encontra
levou-o a interpretar o grito como um sinal de alerta.

A partir desses exemplos simples, podemos chegar a algumas conclusões


importantes:

1o - os textos não são apenas escritos, eles também podem ser orais;

2o - os textos não são simples amontoados de palavras ou frases, ou seja, eles


precisam fazer sentido.

Na segunda situação, uma única palavra foi capaz de transmitir uma mensagem
de sentido completo, por isso ela pode ser considerada um texto. Mas o que leva
um texto a fazer sentido? Isso depende de alguns fatores, como o contexto e o
conhecimento de mundo.

Contexto

O contexto pode ser explícito, quando é expresso por palavras (o texto em


que se encontra a frase ou a frase em que se encontra a palavra), ou implícito,
quando está embutido na situação em que o texto é produzido. Logo, a simples
mudança de contexto faz com que a palavra “madeira” seja interpretada de
maneiras diferentes. Na primeira situação, embora a palavra esteja dentro de
um livro, ela está totalmente fora de contexto, por isso não produz sentido
algum (SOUZA, s.d).

18
Comunicação • AULA 1

Para refletir

A professora Maria Lúcia Mexias Simon (2014) demonstrou, no I Simpósio de Estudos Filológicos e Linguísticos,
promovido na UERJ, a importância dos conceitos na construção de um texto dividida em tópicos relevantes para a
compreensão do assunto da seguinte forma.

A noção de texto é central na linguística textual e na teoria do texto, abrangendo realizações tanto orais quanto
escritas, que tenham a extensão mínima de dois signos lingüísticos, sendo que a situação pode assumir o lugar de
um dos signos como em “Socorro!”. (STAMMERJOHANN, 1975). Para a construção de um texto é necessária a junção
de vários fatores que dizem respeito tanto aos aspectos formais como as relações sintático-semânticas, quanto às
relações entre o texto e os elementos que o circundam: falante, ouvinte, situação (pragmática).

Um texto bem construído e, naturalmente, bem interpretado, vai apresentar aquilo que Beaugrande e Dressier
chamam de textualidade, conjunto de características que fazem, de um texto, e não uma sequência de frases. Esses
autores apontam sete aspectos que são responsáveis pela textualidade de um texto bem constituído:

»» Fatores linguísticos: coesão, coerência, intertextualidade.

»» Fatores extralínguísticos: intencionalidade, aceitabilidade, informatividade, situacionalidade.

»» Coerência: é o aspecto que assume os conceitos e as relações subtextuais em um nível ideativo. A coerência é
responsável pelo sentido do texto, envolvendo fatores lógico-semânticos e cognitivos, já que a interpretabilidade
do texto depende do conhecimento partilhado entre os interlocutores. Um texto é coerente quando compatível
com o conhecimento de mundo do receptor. Observar a coerência é interessante, porque permite perceber que um
texto não existe em si mesmo, mas, sim, se constrói na relação emissor-receptor-mundo.

»» Coesão: é a manifestação linguística da coerência. Provém da forma como as relações lógico-semânticas do


texto são expressas na superfície textual. Assim, a coesão de um texto é verificada mediante a análise de seus
mecanismos lexicais e gramaticais de construção (…).

»» Intertextualidade: concerne aos fatores que tornam a interpretação de um texto dependente da interpretação de
outros. Cada texto constrói-se não isoladamente, mas em relação a outro já dito, do qual abstrai alguns aspectos
para dar-lhes outra feição. O contexto de um texto também pode ser outros textos com os quais se relaciona

»» Intencionalidade: refere-se ao esforço do produtor do texto em construir uma comunicação eficiente, capaz de
satisfazer os objetivos de ambos os interlocutores. Quer dizer, o texto produzido deverá ser compatível com as
intenções comunicativas de quem o produz.

»» Aceitabilidade: o texto produzido também deverá ser compatível com a expectativa do receptor em colocar-
se diante de um texto coerente, coeso, útil e relevante. O contrato de cooperação estabelecido pelo produtor e
pelo receptor permite que a comunicação apresente falhas de quantidade e de qualidade, sem que haja vazios
comunicativos. Isso se dá porque o receptor esforça-se em compreender os textos produzidos.

»» Informatividade: é a medida na qual as ocorrências de um texto são esperadas ou não, conhecidas ou não, pelo
receptor. Um discurso menos previsível tem mais informatividade. Sua recepção é mais trabalhosa, porém mais
interessante, envolvente. O excesso de informatividade pode ser rejeitado pelo receptor, que não poderá processá-
lo. O ideal é que o texto se mantenha num nível mediano de informatividade, que fale de informações que tragam
novidades, mas que venham ligadas a dados conhecidos.

»» Situacionalidade: é a adequação do texto a uma situação comunicativa, ao contexto. Note-se que a situação
orienta o sentido do discurso, tanto na sua produção como na sua interpretação. Por isso, muitas vezes, menos
coeso e, aparentemente, menos claro pode funcionar melhor em determinadas situações do que outro de
configuração mais completa. É importante notar que a situação comunicativa interfere na produção do texto,
assim como este tem reflexos sobre toda a situação, já que o texto não é um simples reflexo do mundo real. O
homem serve de mediador, com suas crenças e ideias, recriando a situação. O mesmo objeto é descrito por duas
pessoas distintamente, pois elas o encaram de modo diverso. Muitos linguistas têm-se preocupado em desenvolver
cada um dos fatores citados, ressaltando sua importância na construção dos textos.

19
AULA 1 • Comunicação

Discurso e intencionalidade

O termo intenção (latim intensio, de in + tendere) originalmente apresentava o sentido apenas


de esforço, alongamento, estender. Na língua portuguesa, passou a ter a representação com “ç”
com o sentido de propósito.

O discurso reflete muito a intenção do emissor no processo da comunicação. A todo momento


observamos que o ato de se expressar carrega em si toda uma intencionalidade no enunciado.
Ao pedir algo, usamos um tom de voz. Ao exigir algo, o tom geralmente já passa a ser outro.
A escolha de palavras, do momento adequado e tantas escolhas para obtermos o desejado,
apresenta o estudo desta lição.

Campanhas eleitorais mostram o candidato em visitas a comunidades pobres com diversas


promessas e aparência de realmente desejar ajudar a população. A verdadeira intenção de quase
todos os candidatos, na verdade, é apenas conseguir o voto desejado. Facilmente, observamos a
intenção na política, no marketing, no trabalho etc. Ela está presente, no entanto, em praticamente
todos os momentos em que nos comunicamos ou nos propomos a realizar algo.

A comunicação não é feita apenas por palavras soltas que se juntam para dar um significado.
A intenção do autor ao escolher palavras em determinado contexto produz o texto. O objetivo
do autor deve ser levado em consideração para compreendermos o processo da comunicação.
É a intenção do autor ao escolher palavras com um determinado objetivo que cria o sentido
textual.

Há diferentes formas de nos comunicarmos. São várias as leituras possíveis de um texto. Podemos
transmitir a mesma informação de formas tão diferentes quantas forem nossas intenções com o
texto. Assim, o texto possui um discurso, que é a intenção do autor com o próprio texto. Há uma
disciplina no estudo da comunicação chamada “Análise do Discurso”, que estuda justamente a
intenção presente em toda comunicação por meio da linguagem empregada. Devemos sempre
estar atentos a isso. Diversas áreas do conhecimento se interessam pelo assunto (sociologia,
psicologia, psicanálise, direito, história, administração), pois a compreensão da intencionalidade
de um texto é fundamental.

O estudo da intenção do autor recebe o nome de análise do discurso. As palavras, dependendo


do contexto em que são empregadas, transmitem informações explícitas e implícitas. O texto não
deve ser analisado apenas na expressão sintática e semântica dos vocábulos. Há uma intenção
por parte do autor que muitas vezes não se mostra claramente.

Saber interpretar adequadamente essas intenções do discurso em suas diversidades é uma


técnica que interessa a diversos profissionais e acadêmicos. Assim, a análise de discurso (mais
conhecida com AD nos meios acadêmicos relacionados à linguagem) apresenta-se como uma
disciplina cada vez mais presente no cenário das ciências humanas.

20
Comunicação • AULA 1

Patrick Charaudeau (2002), no prefácio de seu livro Linguagem e Discurso, afirma que a linguagem
é própria do homem. Ele explica que é a linguagem que permite ao homem pensar e agir. Pois
não há ação sem pensamento, nem pensamento sem linguagem. É também a linguagem que
permite ao homem viver em sociedade. Sem a linguagem, ele não saberia como entrar em
contato com os outros, como estabelecer vínculos psicológicos e sociais com esse outro que é,
ao mesmo tempo, semelhante e diferente. Da mesma forma, ele não saberia como constituir
comunidades de indivíduos em torno de um desejo de viver juntos. A linguagem talvez seja o
primeiro poder do homem.

Observe o texto a seguir para diferenciar aspectos explícitos e implícitos em um simples comentário
de Alexandre sobre o atraso da colega de trabalho Patrícia.

»» Primeiro comentário: Patrícia chegou no horário para a reunião.

»» Segundo comentário: Patrícia não chegou atrasada hoje para a reunião.

Os dois comentários apresentam a mesma informação: Patrícia chegou no horário para a


reunião (ideia explícita). O segundo comentário, no entanto, intenciona também expressar certa
crítica aos atrasos anteriores de Patrícia (ideia implícita). Isso é justamente o discurso, ou seja,
a intencionalidade do autor.

Um texto deve ser analisado em seu contexto para se chegar à intenção real do conteúdo.
Para isso, o receptor (leitor ou ouvinte) precisa dominar os aspectos gramaticais e semânticos
do texto, além de observar detalhadamente o contexto apresentado pelo autor. Um estudante
de graduação compreenderá melhor um texto apresentado pelo professor se dominar conceitos
relacionados à sua área de atuação e abordados no texto indicado pelo professor.

O contexto é a moldura textual e envolve elementos tanto da realidade do autor quanto do


receptor — e a análise destes elementos ajuda a determinar o sentido. A interpretação de um
texto deve, de imediato, saber que há um autor, um sujeito com determinada identidade social
e histórica e, a partir disto, situar o discurso como compartilhando desta identidade.

A contextualização de um discurso envolve relações culturais, sociais, econômicas, políticas,


sexuais, etárias. Não basta interpretar o significado literal dos vocábulos em uma estrutura
sintática. O contexto molda a comunicação com variantes diversas.

O engenheiro e estudioso de comunicação na internet Radames Manosso (2017) afirma que


há um princípio bastante disseminado que supõe a conformidade entre o que se expressa e o
que se comunica. Quando ele não se verifica, causa estranhamento, desconfiança, reprovação.
Por esse princípio, não é aceitável que uma notícia triste seja dada com o semblante sugerindo
felicidade ou vice-versa, ou seja, a entoação e os gestos devem estar de acordo com o que suscita
a mensagem do discurso.

21
AULA 1 • Comunicação

A intenção do autor por meio da comunicação é o grande sucesso do humor. Observe o exemplo
a seguir.

Dois políticos famosos se encontraram em Brasília depois de escapar de mais uma CPI:

– Antenor, há quanto tempo! Vamos tomar alguma coisa!

– Vamos. De quem?

O leitor ou ouvinte logo percebe que a comunicação envolve todo o contexto em como os políticos
são considerados por grande parte da população brasileira. A graça está em compreender o que
está além do que está escrito literalmente e observar a intenção implícita do autor.

A compreensão adequada de um texto envolve saber ler e interpretar adequadamente o discurso


do autor. Ler adequadamente é mais do que ser capaz apenas de entender o significado das
palavras. O bom leitor é aquele que aprende a “enxergar” o conteúdo e a intencionalidade e não
apenas se preocupar com ortografia, sintaxe e estrutura textual. É preciso compreender o assunto
principal, suas causas e consequências, críticas, argumentações, polissemias, ambiguidades,
ironias etc. Ler adequadamente é sempre resultado da consideração de dois tipos de fatores: os
propriamente linguísticos e os contextuais.

Sintetizando

Vimos até agora:

»» Conceitos de comunicação, linguagem, texto e discurso.

»» Exemplos de linguagem verbal e não verbal.

»» Ruídos da comunicação.

»» Aspectos importantes sobre a intenção do autor no texto.

22
Interpretação de texto
Aula
2
Introdução

Este módulo objetiva aprofundar seus conhecimentos relacionados à interpretação de texto.


Assim, abordaremos conceito, características, qualidades e defeitos do texto para nos tornarmos
capazes de interpretar com competência e profundidade.

O conteúdo foi elaborado de forma didática a explorar cada tópico de forma específica e necessária
ao nosso estudo. Observamos a análise de diferentes textos em situações diversas.

Objetivos
»» Desenvolver a capacidade de interpretar adequadamente diferentes modelos de texto.

»» Perceber os principais erros que provocam análise equivocada de um texto.

»» Identificar ideia central e ideia secundária.

»» Identificar ideias explícitas e implícitas.

Conceito de interpretação de texto

A palavra interpretar vem do latim interpretare e significa explicar, comentar ou aclarar o sentido
dos signos ou símbolos. Tal vocábulo corresponde ao grego analysis, que tem o sentido de
decompor um todo em suas partes, sem decompor o todo, para compreendê-lo melhor.

Interpretar um texto é compreendê-lo, penetrá-lo em sua essência, observar qual é a ideia


principal, quais são as ideias secundárias que comprovam a ideia do autor e outros aspectos
relevantes para o entendimento pleno.

Saber ler adequadamente

Ler adequadamente é mais do que ser capaz de entender as palavras ou combinações de frases
ordenadas. Deve-se aprender a “enxergar” o texto como um todo e, principalmente, a real

23
AULA 2 • Interpretação de texto

intenção do autor. Ler adequadamente é resultado da consideração de dois tipos de fatores:


os propriamente linguísticos e os contextuais. Como já vimos, o texto apresenta uma intenção
comunicativa (discurso) dentro de um contexto organizado com características que lhe são
próprias e que estudaremos nesta aula.

A importância da leitura

Sabemos que ler faz bem. Trata-se de uma frase que ouvimos durante toda a vida. No entanto,
também ouvimos que o brasileiro lê pouco. Isso é uma verdade relativa. Boa parte da população
brasileira lê muito e apresenta índices comparáveis aos países do primeiro mundo. No entanto,
por diversas causas, parte significativa da população não tem condições ou acesso a livros ou a
internet (muitos sequer têm acesso à educação básica).

Ao compararmos estudos internacionais, o Brasil não tem apresentado bons resultados no tópico
de leitura. O exame Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) mede o nível educacional
de jovens de 15 anos por meio de provas de Leitura, Matemática e Ciências em diversos países
do mundo. O exame é realizado a cada três anos pela OCDE (Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico), entidade formada por governos de trinta países que têm como
princípios a democracia e a economia de mercado. Países não membros da OCDE também podem
participar do Pisa, como é o caso do Brasil, convidado pela terceira vez consecutiva.

O objetivo principal do Pisa é produzir indicadores que contribuam, dentro e fora dos países
participantes, para a discussão da qualidade da educação básica e que possam subsidiar políticas
nacionais de melhoria da educação. Na prova de leitura, o Brasil ficou entre os doze piores
países, com uma média de 407, bem abaixo da média de 493 da OCDE. Isso demonstra que há
necessidade de um esforço conjunto para aprendermos a ler, pois a leitura é de importância
fundamental na vida de todos nós.

A origem latina da palavra ler é legere, que significa recolher, apanhar, escolher, captar com os
olhos. Não há necessidade de ser especialista para saber que a leitura amplia a capacidade de
aprendermos e nos aperfeiçoarmos. Interpretar um texto é justamente criarmos mecanismos
para compreendermos o conteúdo intencional presente no conjunto de palavras reunidas pelo
autor. Para isso, precisamos observar características de um texto.

Ler faz bem para o cérebro

A ciência cada vez mais explica como a leitura melhora o funcionamento do cérebro e da própria
vida do leitor. Pesquisas indicam que a leitura melhora o funcionamento do cérebro, estimula a
criatividade, desenvolve senso crítico e promove a empatia. Quatro são as características mais
perceptíveis como consequência da boa leitura.

24
Interpretação de texto • AULA 2

»» Funcionamento do cérebro: o ato de ler estimula conexões neurais e faz com que o
cérebro funcione melhor. O cérebro não apenas compreende o conteúdo como vivencia os
eventos lidos. A prática da leitura evita diversas doenças no envelhecimento relacionadas
ao funcionamento cerebral.

»» Estimulação da criatividade: além de estar mais informado(a) e instruído(a), a leitura


estimula áreas cerebrais responsáveis pela criatividade e possibilita que o(a) leitor(a)
encontre soluções mais rapidamente para problemas cotidianos.

»» Desenvolvimento de senso crítico: a prática da leitura torna a pessoa mais analítica


e questionadora. Ela passa a ter opinião sobre diversos assuntos e dificilmente será
conduzida por argumentos superficiais em uma conversa ou debate. A capacidade
de pensar amplia, sua capacidade de analisar e a leitura promove uma pessoa mais
participativa em diversos assuntos.

»» Promoção da empatia: ser empático é a capacidade de compreender e se solidarizar


racional e emocionalmente com o outro. Estudos indicam que a leitura amplia a visão
do(a) leitor(a) e o(a) torna mais sensível ao outro. O(A) leitor(a) é capaz de entender
melhor o ser humano em suas experiências e sentimentos.

Erros de leitura

Extrapolar

Trata-se de um erro muito comum. Ocorre quando o autor sai do contexto, acrescentando ideias
que não estão presentes. A interpretação fica comprometida. Frequentemente, relacionamos
fatos reais a outros contextos.

Reduzir

Trata-se de um erro oposto à extrapolação. Ocorre quando se dá atenção apenas a uma parte
ou aspecto do texto, esquecendo a totalidade do contexto. Destaca-se, desse modo, apenas um
fato ou uma relação que pode ser verdadeira, porém insuficiente se for levado em consideração
o conjunto das ideias.

Contradizer

Ocorre quando se chega a uma conclusão que se opõe ao texto. Associam-se


ideias que, embora no texto, não se relacionam entre si.

25
AULA 2 • Interpretação de texto

Características de um texto para boa interpretação

Unidade

Um texto só pode ser considerado como tal se possuir uma unidade de entendimento. A simples
expressão não caracteriza o texto em si. A origem do termo “texto” está relacionada a “novelo”, ou
seja, um emaranhado de assuntos. Assim, todo o texto perpassa uma ideia maior desenvolvida
em partes. Observe como isso se dá no texto a seguir.

Destruir a natureza é a forma mais fácil de o homem se aniquilar da face da terra.


Dizimar certas espécies de animais, por exemplo, interfere na cadeia alimentar,
causando desequilíbrios que produzirão a extinção de seres essenciais à harmonia
do planeta. Jogando diariamente toneladas de produtos químicos poluentes, o
ser humano causa a destruição do meio ambiente.

Perceba que o texto anterior está dividido em três períodos, cada um com uma ideia específica.
No entanto, o tema principal é a destruição do meio ambiente. Aí está a unidade. Bom texto
apresenta um assunto principal que perpassa todos os parágrafos.

Clareza

Inúmeras são as vezes em que a má redação compromete o entendimento. O texto claro é aquele
que não permite dificuldade de entendimento. A compreensão deve ser imediata. Observe trecho
de circular produzida pelo Banco Central do Brasil com falta de clareza.

Os parentes consanguíneos de um dos cônjuges são parentes por afinidade


do outro; os parentes por afinidade de um dos cônjuges não são parentes
do outro cônjuge; são também parentes por afinidade da pessoa, além dos
parentes consanguíneos de seu cônjuge, os cônjuges de seus próprios parentes
consanguíneos (BACEN, 1965).

O rebuscamento também compromete o entendimento. Observe texto recebido pelo Superior


Tribunal Militar.

O alcândor Conselho Especial de Justiça, na sua apostura irrepreensível, foi


correto e acendrado no seu decisório. É certo que o Ministério Público tem o seu
lambel largo no exercício do poder de denunciar. Mas nenhum lambel o levaria a
pouso cinéreo se houvesse acolitado o pronunciamento absolutório dos nobres
alvarizes de primeira instância (ARRUDÃO, 2005).

Coerência

Coerência é a lógica presente no conteúdo. Ela envolve o texto como um todo de forma que o
leitor considere as ideias razoáveis e possíveis. Observe exemplo de texto incoerente.

26
Interpretação de texto • AULA 2

Brasília é a melhor cidade do Brasil. A qualidade de vida apresenta dados que se


destacam no cenário nacional: baixa criminalidade, alto poder aquisitivo e boas
opções de lazer. Também o clima propicia agradáveis dias durante o ano inteiro.
Infelizmente, muitas pessoas que moram aqui reclamam dos preços cobrados
nos aluguéis de apartamentos apertados.

O parágrafo aborda inicialmente uma visão positiva em relação à cidade e, no final, explora uma
ideia contrária à ideia principal.

Observe agora texto coerente com ideias que se relacionam de forma lógica.

A União Europeia completa 50 anos como a mais bem-sucedida experiência de


integração regional do planeta. Quando a Guerra Fria começava a mergulhar
Estados Unidos e União Soviética numa era de autossuficiência e competição, os
europeus concretizavam sua aposta na cooperação como diferencial para enfrentar
desafios do século 21. Os problemas do bloco são vários, mas os benefícios
inegáveis dão a outros países duas importantes lições sobre desenvolvimento.

Coesão

A coesão é o tijolo que une as partes de um texto. Geralmente, ela ocorre com conectivos (portanto,
porque, pois, conquanto etc.). Assim, o texto coeso é aquele em que as palavras, as orações, os
períodos e os parágrafos estão interligados e coerentemente dispostos. Observe alguns elementos
de coesão (estudaremos a coesão detalhadamente mais à frente).

Conjunção: Meu irmão estudou muito, portanto passou.

Pronome relativo: O estudante que estudou passou.

Perífrase, antonomásia, epítetos: ocorre com o uso de um termo ou expressão que se relaciona
à ideia anteriormente apresentada.

Brasília é uma cidade muito boa. A capital do Brasil apresenta uma qualidade de vida que se
destaca em todo o Brasil.

Nominalização: um substantivo é empregado no sentido de um verbo já usado.

Meu irmão estudou a noite inteira. O estudo o encheu de esperança.

Pronomes: tipo de coesão muito empregado.

Isabela e Rosa chegaram. Esta tem 29 anos; aquela, 4.

Numerais: eles podem se relacionar a outras ideias no texto.

O deputado afirmou duas coisas: a primeira era que não iria renunciar. A segunda, que tudo era
mentira.

27
AULA 2 • Interpretação de texto

Advérbios: também os advérbios podem retomar ou antecipar ideias.

Morarei em Portugal. Lá, conhecerei uma linda mulher.

Repetição de parte do nome próprio: para não repetir o nome inteiro, recorre-se a uma parte
que faça referência.

Li Machado de Assis ontem. Machado é realmente sensacional.

Aspectos semânticos

A semântica é o estudo do significado das palavras. Ao ler um texto com a palavra “carro”, você logo
pensa no objeto que conhecemos por carro. A semântica é justamente a relação entre o termo e
a imagem ou significado que o termo produz em cada um de nós. Quando você escuta um termo
desconhecido, não há significado algum. Uma pessoa que domina diversos significados é muitas
vezes considerada culta. A leitura é muito importante por isso. As pessoas cultas geralmente
entendem de forma mais rápida os textos e sabem se comunicar melhor. Procure ler sempre.
Caso não saiba o significado de um termo, procure no dicionário.

Denotação: palavra empregada em seu sentido de dicionário, sentido real. A palavra “livro”, por
exemplo, apresenta como sentido real a imagem de um objeto com capa, folhas e texto. Esse é o
sentido real. Ao usarmos o termo “janela”, pensamos em um objeto na parede que abre e fecha.
Esse é o sentido real.

Observe termos com sentido real.

Comprei uma joia para minha namorada.

A rainha da Inglaterra tem 80 anos.

Conotação: palavra empregada em sentido figurado. Significa que o termo empregado não está
sendo entendido no sentido real, mas por meio de uma associação com o sentido real. Se alguém
diz que você é joia, ele associa as qualidades de uma joia a você. Se eu me refiro a minha esposa por
“rainha da minha vida”, certamente ela sabe que não é uma rainha de verdade. O termo “rainha”
foi empregado em sentido figurado, ou seja, eu demonstro que ela apresenta características de
uma rainha para mim. Observe exemplos de sentido figurado.

A fazenda é um paraíso.

Isabela é uma joia de pessoa.

Paula é a rainha de minha casa.

28
Interpretação de texto • AULA 2

Lucas é um gênio em matemática.

Palavras sinônimas: termos com significados semelhantes: próximo e perto; bonito e lindo,
longe e distante.

Palavras antônimas: termos com significados contrários: perto e longe; bonito e feio; bom e ruim.

Palavras homônimas: palavras que possuem som e/ou grafia idênticos. Cela (substantivo), sela
(verbo); sessão (horário) e seção (departamento).

Palavras parônimas: palavras parecidas, mas com significados diferentes.

Comprimento e cumprimento

Descrição e discrição

Neologismo: palavra nova na língua.

Mensalão, valerioduto, sexonhei.

Polissemia: palavras que apresentam mais de um sentido na frase. Um termo polissêmico é


aquele que apresenta mais de um significado. Observe o termo “vela”. O termo pode representar
o objeto de cera que acendemos para evitar a escuridão e também pode indicar um objeto que
usamos em alguns barcos que se movimentam com a força do vento.

Outro exemplo é o termo “manga”. Pode-se entender a fruta, uma parte da camisa e, em alguns
lugares do Brasil, pode representar também um grupo de amigos.

Ideia principal e ideias secundárias

Um bom texto apresenta uma ideia principal e outras que comprovam, exemplificam ou ampliam
(secundárias). Todas as ideias devem estar organizadas em torno de uma ideia central. Observe
o exemplo a seguir.

Ao cuidar do gado, o peão monta e governa os cavalos sem maltratá-los. O modo


de tratar o cavalo parece rude, mas o vaqueiro jamais é cruel. Ele sabe como o
animal foi domado, conhece as qualidades e defeitos do animal, sabe onde,
quando e quanto exigir do cavalo. O vaqueiro aprendeu que paciência e muitos
exercícios são os principais meios para se obter sucesso na lida com os cavalos,
e que não se pode exigir mais do que é preciso.

Logo no início, o autor procura enfatizar a ideia que abordará no parágrafo. Após a ideia principal,
seguem as ideias secundárias que exemplificam a primeira ideia.

Ideia principal: o peão trata os cavalos sem maltratá-los.

29
AULA 2 • Interpretação de texto

Ideias secundárias:

a. o modo de tratar pode parecer rude, mas o vaqueiro jamais e cruel;

b. ele conhece as qualidades e defeitos do animal;

c. paciência e muitos exercícios são necessários para obter sucesso na lida com os cavalos.

Assim, o texto apresenta uma unidade entre a ideia principal e as ideias secundárias.

Observe outro exemplo.

A distribuição de renda no Brasil é injusta. Embora a renda média dos brasileiros


seja estimada em R$ 3.000,00 por mês, a maioria do povo ganha menos, enquanto
uma minoria ganha dezenas ou centenas de vezes mais, conforme informação do
IBGE. A maioria dos trabalhadores ganha o salário mínimo e em alguns lugares do
Brasil há trabalhadores que recebem metade do salário mínimo. Dividindo essa
pequena quantia por uma família onde há crianças e mulheres, o trabalhador
não consegue pagar nem a alimentação. A diferença entre o pouco que muitos
ganham e o muito que poucos ganham prova que a distribuição de renda em
nosso país é injusta.

Ideia central: a distribuição de renda no Brasil é injusta.

Ideias secundárias: “a maioria do povo ganha pouco” e “o salário de muitos não consegue pagar
nem os alimentos”.

As ideias secundárias ajudam o autor a comprovar a ideia central.

O primeiro cuidado ao interpretar é identificar o assunto principal do texto.

O que realmente o autor quis transmitir com o texto?

Qual ideia o texto expressa?

Geralmente, a ideia principal aparece logo no início.

Vamos ler o parágrafo a seguir e identificar a ideia principal.

O estudo constante é fundamental para o homem se tornar cada vez melhor


em sua atividade profissional. Ao estudar, a pessoa aprende novas formas de
trabalhar, a importância de seu trabalho para todo o planeta e como fazer melhor
o que já faz.

Para você, qual é a ideia principal do texto?

Se você respondeu algo relacionado à importância do estudo para o trabalhador, acertou em cheio.

30
Interpretação de texto • AULA 2

Leia o texto a seguir para entendermos bem o assunto.

O Ministério Público Federal em Mato Grosso recomendou ao Instituto de Defesa


Agropecuária (Indea) que não autorize a importação e a aplicação de agrotóxicos
que contenham o ingrediente Benzoato de Emamectina para o combate à lagarta
helicoverpa armigera.

“Os estudos científicos comprovam que essa substância é extremamente tóxica


ao organismo do ser humano”, explica o procurador da República Felipe Bogado.
Segundo ele, existem outras medidas que podem ser adotadas para o controle
da helicoverpa armigera. “Por ser uma ação extremamente agressiva, o uso de
agrotóxicos não pode ser considerado o único modo para impedir a proliferação
de pragas, pois existem inúmeras outras medidas que podem ser adotadas.
A Embrapa tem desenvolvido um trabalho de informação aos produtores rurais
sobre essas medidas alternativas”, afirma o procurador da República.
Fonte: A Tribuna de Mato Grosso, 25 de janeiro de 2014.

Após a leitura, qual é a ideia principal do texto?

Se você respondeu que a ideia principal é o “Ministério Público Federal recomenda que a
importação e a aplicação de agrotóxicos que contêm Benzoato de Emamectina sejam proibidas”
acertou. Todos os demais componentes do texto acrescentam informações para comprovar a
ideia principal.

Ao analisar um texto, observaremos que os vocábulos, frases e parágrafos estão relacionados a


uma intenção do autor em transmitir uma determinada ideia. Isso se chama unidade. Todo o
texto se relaciona a uma unidade, a uma ideia principal.

Peço a você ler o quadrinho a seguir. Vamos interpretar a mensagem.

Figura 2.

Fonte: https://www.google.pt.portugues.

31
AULA 2 • Interpretação de texto

Qual a mensagem principal que o autor do desenho desejou transmitir?

Observe que a moça fala bem inglês, espanhol, francês, italiano e alemão. No entanto, ela não
domina o próprio idioma português. A intenção do autor é indicar que muitas vezes a pessoa
procura emprego à espera de que apenas o conhecimento de outros idiomas seja o importante,
mas não sabe falar português corretamente. Isso pode comprometer o interesse de quem contrata.

Observe o texto a seguir.

A Receita Federal brasileira vai iniciar um processo de integração com o fisco


de diversos países para combater fraudes fiscais que ocorrem nas operações
comerciais feitas entre empresas.

Isso ocorre porque as empresas conseguem fraudar o fisco realizando operações


de compra e venda com preços que não correspondem ao valor real dos produtos
ou serviços negociados. A nota fiscal aparece geralmente com valor inferior ao
que deveria realmente constar. Agindo assim, a empresa vende seu produto por
um preço muito baixo e demonstra superficialmente uma operação não lucrativa
e, portanto, sem incidência de imposto de renda.

Outro recurso a ser combatido é o uso de paraísos fiscais para obter vantagens e
isenções tributárias para evitar o pagamento de impostos. A venda é intermediada
por uma empresa localizada em um paraíso fiscal, que recoloca o preço em seu
patamar real e conclui a venda ao real comprador. O lucro realizado por essa
empresa retorna ao exportador sem ônus fiscal.

Vamos analisar qual a ideia principal do texto e quais são as ideias secundárias. Em sua opinião,
qual é a ideia principal? Quais ideias sustentam a ideia principal?

Ideia principal:

Você observará que a intenção principal do autor é informar que a Receita Federal brasileira
iniciará processo de integração com o fisco de diversos países para combater fraudes fiscais
(ideia principal).

Ideias secundárias:

O segundo e o terceiro parágrafo justificam a ideia principal com exemplos claros de como
ocorrem as fraudes (ideias secundárias).

Geralmente, no texto dissertativo, a ideia principal aparece logo no início; e as ideias secundárias,
nos demais parágrafos. Isso não ocorre sempre, mas é bem comum o texto estar assim
estruturado.

32
Interpretação de texto • AULA 2

Observe outro exemplo.

Não, senhores, não pode mais

A explosão das denúncias de assédio sexual e as novas condutas pautadas pelo


feminismo fazem empresas vetar caronas, beijinhos e outras interações entre
homens e mulheres.

Os códigos de conduta entre os sexos estão passando por uma transformação


radical, impulsionada pela explosão das denúncias de assédio e pela crescente
afirmação feminina. E há gente confusa com isso – em particular, homens
criados no tempo em que era aceitável virar a cabeça diante da passagem de um
derrière feminino. Mas, ei, isso também não pode mais? Não, senhores, não pode.
O mundo não apenas mudou – mudou rapidamente. Daí o fato de muitos homens
reagirem com perplexidade aos olhares de repressão provocados por algo que
eles sempre fizeram e que ninguém antes lhes havia dito que não podiam fazer.

Como costuma acontecer em momentos de grandes e velozes transformações,


as novas regras ainda não estão claras para todo mundo. O que “pode” e o que
“não pode” se embaralham, a depender do ambiente e dos protagonistas da ação.
Gestos como abrir a porta para uma mulher, por exemplo, uma manifestação de
cavalheirismo para a maioria, já podem parecer ofensivos para algumas mulheres,
que enxergam ali um galanteio indevido (…).

Segundo o Conselho Nacional de Justiça, 88% das ações de assédio sexual em


2016 se deram na esfera trabalhista. O assédio, evidentemente, pertence a uma
categoria bem diferente da que abrange carona e beijo no rosto. No país, o assédio
é crime previsto no Código Penal desde 2001.
REVISTA VEJA. São Paulo, edição 2564, ano 51, 10 de janeiro de 2018.

Vamos analisar com atenção o texto anterior.

Em sua opinião, em qual opção a seguir temos o resumo da ideia principal do texto?

a. As regras não ficam claras em momentos de grandes transformações.

b. O Conselho Nacional de Justiça afirma que 88% das ações de assédio se deram na esfera
trabalhista.

c. O que “pode” e o que “não pode” ainda estão embaralhados.

d. Empresas estão alterando suas regras como vetar algumas interações entre homens e
mulheres por causa da transformação radical nos códigos de conduta promovida pelas
denúncias de assédio sexual.

e. Os homens ainda estão confusos sobre como devem agir para evitar o assédio sexual
no ambiente de trabalho.

33
AULA 2 • Interpretação de texto

Você observará que a intenção principal do autor do texto como ideia principal é mostrar que
empresas estão adotando nova postura por causa das denúncias de assédio sexual. Assim, a letra
“d” será a opção a ser indicada. As demais opções apresentam ideia presentes no texto como
ideias secundárias relacionadas com a ideia principal.

Ideias explícitas e ideias implícitas

Outra preocupação ao analisar um texto é observar a existência ou não de ideias explícitas (a


interpretação está realmente escrita no texto) e ideias implícitas (a interpretação não está escrita,
mas o autor desejou expressar outras ideias de forma indireta).

Interpretação explícita

Geralmente, a primeira interpretação envolve a observação de ideias explícitas apresentadas pelo


autor. Vamos procurar analisar qual a ideia explícita do texto a seguir que podemos interpretar
com certeza.

A televisão procura atender ao gosto da população. Assim, não propõe programas novos educativos
e com mais cultura. Por isso, encontramos tantos programas sem graça e sem conteúdo.

Qual opção, em sua opinião, apresenta interpretação explícita do texto anterior?

a. porque se dirige a um público sem cultura e pouco inteligente, a televisão não se preocupa
com a qualidade de seus programas.

b. a televisão não se preocupa em melhorar o nível de seus programas, pois o público não
é sério.

c. a televisão tem interesse em manter o público sem educação e sem cultura.

d. a televisão está interessada em produzir programas novos, pois o público tem interesse
por isso.

e. o gosto do público acaba definindo os conteúdos apresentados pela televisão.

A primeira frase do texto afirma que a televisão procura atender ao gosto da população. Assim,
podemos afirmar que apenas a letra “e” apresenta interpretação explícita, pois a ideia presente
na letra “e” é a mesma da primeira oração do texto.

Vamos analisar outro texto agora. Peço para você ler e indicar qual opção apresenta ideia explícita.

Os principais problemas da agricultura brasileira referem-se muito mais à forma


como é feita a modernização das técnicas de plantio e colheita do que à resistência
dos agricultores que não usam muita tecnologia no campo.

34
Interpretação de texto • AULA 2

De acordo com o texto, qual opção apresenta ideia explícita?

a. a modernização de técnicas deve alcançar o Brasil inteiro.

b. os problemas da agricultura são causados pelos agricultores que não usam tecnologia.

c. os problemas da agricultura ocorrem pela forma como é feita a modernização e não por
causa dos agricultores que não usam tecnologia.

d. os agricultores recusam-se a adotar a modernização.

e. os problemas da agricultura ocorrem no momento do plantio e da colheita.

O autor afirma que os problemas da agricultura ocorrem mais pela forma como é feita a
modernização do que pela resistência dos agricultores que não usam tecnologia. Assim, a única
opção com interpretação explícita é a letra “c”.

Algumas vezes, a informação apresentada é contaminada pela nossa opinião sobre o assunto. Isso
deve ser evitado para não extrapolar ou reduzir o conteúdo real do texto recebido. Ideia explícita
é aquela presente no texto. A nossa opinião sobre a ideia explícita é outro assunto a ser estudado.

Interpretação implícita

A interpretação implícita exige mais atenção do leitor ou do ouvinte. O autor não transmite
literalmente a ideia desejada. Ele apresenta ideias que podem provocar no receptor interpretações
dedutivas ou indutivas.

A interpretação de ideias implícitas merece mais atenção. Observe o texto a seguir para entendermos
bem o assunto.

Li que a espécie humana é um sucesso sem igual na natureza. Nenhuma outra


com uma proporção parecida de peso e volume se iguala à nossa em termos
de sobrevivência. E tudo se deve à agricultura. Como controlamos a produção
do nosso próprio alimento, somos a primeira espécie na história do planeta a
poder viver fora de seu lugar de nascimento. Isso nos permitiu andar pelo mundo
e conhecer novas pessoas e isso nos salvou da extinção. Bichos de tamanho
equivalente não conseguiram sucesso assim. É por isso que não temos mudado
muito, mas também não desaparecemos (VERÍSSIMO, 2001).

Peço a você refletir e observar quais construções a seguir apresentam interpretações implícitas
do texto (não estão escritas pelo autor, mas podemos considerar adequadas).

I. Mede-se o sucesso pela capacidade de sobrevivência.

II. Se a espécie humana tivesse outro peso e volume com certeza não teria sobrevivido.

III. Viver fora do lugar de nascimento depende da capacidade de criar o próprio alimento.

35
AULA 2 • Interpretação de texto

IV. O tamanho de outros bichos impediu que eles andassem pelo mundo.

V. A história da espécie humana poderia ser outra se não houvesse agricultura.

VI. As grandes mudanças que ocorrem no homem permitiram que ele sobrevivesse.

Podemos observar que as construções I, III e V apresentam ideias implícitas. As demais construções
(II, IV, VI) podem ou não ser verdadeiras, mas não encontramos embasamento no texto para
afirmar.

Vamos observar agora outro texto para tentar encontrar interpretação explícita e interpretação
implícita.

Monteiro Lobato foi o primeiro brasileiro a adaptar a história de Peter Pan. Dona Benta conta à
turma do Sítio do Picapau Amarelo as aventuras de Peter Pan, que ficou conhecido em livro no
Brasil antes da Disney fazer filmes nos Estados Unidos.

Qual opção a seguir apresenta ideia explícita?

a. Monteiro Lobato nasceu no Rio de Janeiro.

b. Monteiro Lobato não gostava do Brasil.

c. Monteiro Lobato era amigo do proprietário da Disney.

d. Monteiro Lobato adaptou a história de Peter Pan antes de qualquer outro brasileiro.

e. Monteiro Lobato tinha admiração pela Disney.

A única opção que apresenta ideia explícita é a letra “d”, pois está literalmente escrito no texto a
informação de que Monteiro Lobato foi o primeiro brasileiro a adaptar a história de Peter Pan.
As demais construções não podem ser retiradas do texto, pois não há informações sobre isso.

Agora, vamos encontrar opção que apresenta ideia implícita do mesmo texto.

a. Monteiro Lobato trabalhava na Disney e fez filmes nos Estados Unidos.

b. Dona Benta era esposa de Monteiro Lobato.

c. Monteiro Lobato era escritor brasileiro.

d. Peter Pan era filho de Dona Benta.

e. Peter Pan morou no Sítio do Picapau Amarelo.

A única opção que apresenta ideia implícita é a letra “c”, pois há referência de que Monteiro
Lobato fez a adaptação da história e ela foi publicada em livro antes de se transformar em filme

36
Interpretação de texto • AULA 2

nos Estados Unidos. As demais opções podem ser verdadeiras ou não, mas não há referências
explícitas ou implícitas para que possamos afirmar isso.

Vamos estudar um pouco o pensamento dedutivo e o pensamento indutivo. A relação entre lógica
e comunicação é a capacidade de observar a validade de uma abordagem ou análise por meio
de proposições e conclusões. O silogismo desenvolvido por Aristóteles (duas premissas e uma
conclusão) é exemplo comum de lógica de argumentação. Observe exemplo clássico de silogismo.

»» Premissa 1: Todo homem é mortal.

»» Premissa 2: Sócrates é homem.

»» Conclusão: Logo, Sócrates é mortal.

A característica básica do silogismo é apresentar duas premissas declarativas e chegar a uma


conclusão válida. Há diversos estudos sobre o silogismo. Como nosso interesse é relacionar a
lógica à interpretação, enfatizaremos os tópicos relevantes para nosso estudo.

A lógica observa racionalmente o argumento das proposições e as considera válidas ou inválidas.


Diversas áreas da ciência e da filosofia são fortemente influenciadas por essa análise.

Lógica aristotélica

Aristóteles é considerado o filósofo que melhor sistematizou o estudo da lógica. Sabe-se que,
antes dele, na própria Grécia, outros filósofos já ensinavam estruturas semelhantes. Aristóteles,
no entanto, desenvolveu a teoria lógica de forma mais abrangente e coerente. Cientistas e
pensadores questionaram em diversos momentos a lógica aristotélica (FREGE, G., ano; RUSSEL,
B., ano; KANT, ano) , porém, ainda hoje, consideram a lógica formal de Aristóteles a que apresenta
resultados mais notáveis.

Os textos do filósofo sobre o tema aparecem em seis obras conhecidas como Organon. Aristóteles
afirmava que um termo (componente básico da proposição) não deve ser considerado como
verdadeiro ou falso. A ideia de “premissa” (latim protasis) indicava sentença com afirmação ou
negação. As premissas eram apresentadas em sentenças.

Sentenças

Sentenças podem ser construções linguísticas com intenção apenas de expressar algo. Observe
exemplos.

Bom dia!

Você está bem?

37
AULA 2 • Interpretação de texto

Nas construções acima, não temos uma proposição. Assim, passaremos a tratar por frase ou
construção linguística.

As sentenças que apresentam proposição são aquelas em que se pode considerar como válida
ou inválida. Observe exemplos.

O Brasil é o melhor país do mundo.

Todo brasileiro gosta de futebol.

Vários são os argumentos que possibilitam a ideia do silogismo e a boa interpretação de um texto.

Argumento categórico

Os brasileiros falam português.

Lucas é brasileiro.

Lucas fala português.

Argumento disjuntivo

Qualquer pessoa é honesta ou desonesta.

Isabela é honesta.

Logo, Isabela não é desonesta.

Argumento condicional

Se hoje é segunda-feira, eu trabalho.

Hoje é segunda-feira.

Logo, hoje eu trabalho.

Argumento dedutivo

Todos os homens são mortais.

Ricardo é homem.

Ricardo é mortal.

Argumento indutivo

Segunda-feira, Pedro chegou atrasado.

Terça-feira, Pedro chegou atrasado.

Quarta-feira, Pedro chegou atrasado.

Quinta-feira, Pedro chegará atrasado.

38
Interpretação de texto • AULA 2

Silogismo

Jogamos futebol no sábado ou no domingo.

Não jogamos no sábado.

Então, jogaremos no domingo.

No texto a seguir, observe as ideias explícitas e as ideias implícitas.

A preocupação com o assédio sexual é, apesar de todos os exageros, uma expressão


do respeito que nós, mulheres, adquirimos nos últimos anos. Não aceitamos
mais passivamente abusos sexuais, estupro, nada. Não admitimos mais ser
vítimas no trabalho, na escola ou em qualquer outro lugar. Mas não podemos
concentrar toda a nossa energia em aspectos que são sintomas, e não causas da
desigualdade contra a qual lutamos.

Ao ler o texto, indique qual opção apresenta ideia implícita.

a. Houve, por parte das mulheres, entre as quais a autora se inclui, um momento de
aceitação passiva de injustiças.

b. O poder público tem demonstrado respeito pelo problema do assédio sexual.

c. O assédio sexual é a causa da desigualdade entre homens e mulheres.

d. As mulheres não admitem mais serem vítimas no trabalho, na escola ou em qualquer


outro lugar.

Você observará claramente que as letras “b” e “c” não apresentam ideias presentes no texto
(nem de forma explícita nem de forma implícita). A letra “d” apresenta ideia explícita, pois está
literalmente escrito no texto. Apenas a letra “a” indica ideia implícita do texto. Não está escrito,
mas podemos retirar a informação do texto por dedução.

Sintetizando

Vimos até agora:

»» Conceitos de interpretação de texto.

»» Características de um texto para facilitar sua compreensão.

»» Ideia principal e ideias secundárias.

»» Ideias explícitas e ideias implícitas.

39
Aula
Coerência 3
Introdução

A coerência textual consiste na necessidade do texto possuir um sentido lógico e compreensível.


Rege-se por princípios básicos da ordenação lógica de ideias. A interpretação e a produção de
textos dependem muito da coerência do conteúdo para ser útil a quem lê ou ouve.

Destacaremos na aula os principais tópicos relacionados à coerência e aos seus princípios


fundamentais: princípio da não contradição (as ideias devem apresentar sentido lógico) e
princípio da relevância (as ideias devem ser interessantes para o receptor).

Objetivos

»» Conceituar coerência e sua importância na comunicação.

»» Aprofundar o domínio dos tipos de coerência.

»» Demonstrar como os conectivos são fundamentais para boa coerência.

Introdução à coerência

Grande parte de nosso material didático foi elaborado por Vicente Martins, mestre em educação
brasileira pela UFC, professor da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), em Sobral, Ceará.
Ao analisar diversos materiais, considerei sua abordagem sobre o assunto bem sintetizada e
fundamentada.

A coerência e a coesão contribuem para conferir textualidade a um conjunto de enunciados. Assim,


a coerência, manifestada em grande parte no nível macrotextual, é o resultado da possibilidade
de se estabelecer alguma forma de unidade ou relação entre os elementos do texto. E a coesão,
manifestada no nível microtextual, refere-se ao modo como os vocábulos se ligam dentro de
uma sequência.

40
Coerência • AULA 3

Ao analisar esses mecanismos, mostramos, por meio de exemplos, as formas em que podem ocorrer.
Ao mesmo tempo, procuramos fazer com que os usuários saibam empregar adequadamente
cada mecanismo não só para depreender o sentido de um texto, como para produzir textos com
sentido, estabelecendo uma continuidade entre as partes, de modo a instaurar entre elas uma
unidade, ou seja, a coerência.

É importante também lembrar que a coesão pode auxiliar no estabelecimento da coerência,


embora, às vezes, a coesão nem sempre se manifeste explicitamente por meio de marcas
linguísticas, o que faz concluir que pode haver textos coerentes mesmo que não tenham coesão
explícita.

Este tema será, portanto, desenvolvido com o objetivo de mostrar aos usuários da língua que:

Mais importante que conhecer os conceitos de coerência e coesão é saber de que


maneira esses fenômenos contribuem para tornar um texto inteligível;

A coerência (conectividade conceitual) e a coesão (conectividade sequencial) são


requisitos fundamentais para a elaboração de qualquer tipo de texto;

Enquanto a coerência se fundamenta na continuidade de sentidos, a coesão


pode-se apresentar por meio de marcas linguísticas, observadas na gramática
ou no léxico;

É necessário perceber como coerência e coesão se completam no processo de


produção e compreensão do texto.

Coerência

No nosso dia a dia, são comuns comentários do tipo:

Isto não tem coerência.


Esta frase não tem coerência.
O seu texto está incoerente.

O que leva as pessoas a fazerem tais observações, provavelmente, é o fato de perceberem que,
por algum motivo, escapa a elas o entendimento de uma frase ou de todo o texto.

Coerência está, pois, ligada à compreensão, à possibilidade de interpretação daquilo que se


diz ou escreve. Assim, a coerência é decorrente do sentido contido no texto, para quem ouve ou
lê. Uma simples frase, um texto de jornal, uma obra literária (romance, novela, poema...), uma
conversa animada, o discurso de um político ou do operário, um livro, uma canção..., enfim,
qualquer comunicação, independentemente de sua extensão, precisa ter sentido, isto é, precisa
ter coerência.

41
AULA 3 • Coerência

A coerência depende de uma série de fatores, entre os quais vale ressaltar:

O conhecimento do mundo e o grau em que este conhecimento deve ser ou é


compartilhado pelos interlocutores;

O domínio das regras que norteiam a língua – isso vai possibilitar as várias
combinações dos elementos linguísticos;

Os próprios interlocutores, considerando a situação em que se encontram, as


suas intenções de comunicação, suas crenças, a função comunicativa do texto.

Portanto, a coerência estabelece-se numa situação comunicativa; ela é a responsável pelo sentido
que um texto deve ter quando partilhado por esses usuários, entre os quais existe um acordo
preestabelecido, que pressupõe limites partilhados por eles e um domínio comum da língua.

A coerência se manifesta nas diversas camadas da organização do texto. Ela tem uma dimensão
semântica – caracteriza-se por uma interdependência semântica entre os elementos constituintes
do texto. Tem principalmente uma dimensão pragmática – é fundamental, no estabelecimento
da coerência, o nosso conhecimento de mundo, e esse conhecimento é acumulado ao longo de
nossa existência, de maneira ordenada.

Ainda com respeito ao conhecimento partilhado de mundo, devemos dizer que a ele se acrescentam
as informações novas. Se estas forem muito numerosas, o texto pode-se tornar incoerente devido
à não familiaridade do ouvinte/leitor com essa massa desconhecida de informações. É isto que
acontece, por exemplo, quando lemos um texto muito técnico, de uma área na qual somos leigos.

Na verdade, quando dizemos que um texto é incoerente, precisamos esclarecer que motivos
nos levaram a afirmar isso. Ele pode ser incoerente em uma determinada situação porque
quem o produziu não soube adequá-lo ao receptor, não valorizou suficientemente a questão da
comunicabilidade, não obedeceu ao código linguístico, enfim, não levou em conta o fato de que
a coerência está diretamente ligada à possibilidade de se estabelecer um sentido para o texto.

Embora nosso objetivo não seja teorizar em demasia o conceito de coerência,


achamos necessário retomar algumas afirmações feitas por Koch e Travaglia
(1989), como pontos de partida para o trabalho com textos que se segue:
“A coerência é profunda, subjacente à superfície textual, não linear, não marcada
explicitamente na estrutura de superfície. [...] Ela tem a ver com a produção do
texto, à medida que quem o faz quer que seja entendido por seu interlocutor. [...]
A coerência diz respeito ao modo como os elementos subjacentes à superfície
textual vêm a constituir, na mente dos interlocutores, uma configuração veiculadora
de sentidos. [...] A coerência, portanto, longe de constituir mera qualidade ou
propriedade do texto, é resultado de uma construção feita pelos interlocutores,
numa situação de interação dada pela atuação conjunta de uma série de fatores
de ordem cognitiva, situacional, sociocultural e interacional” (PEAD).

42
Coerência • AULA 3

Observe o grupo de frases abaixo, consideradas do ponto de vista estritamente referencial.

O homem construiu uma casa na floresta.


O pássaro fez o ninho.
O lenhador derrubou a árvore.
O trabalhador acompanhou o noticiário criticamente.
As árvores estão plantadas no deserto.
A árvore está grávida.

Podemos notar que as quatro primeiras não oferecem qualquer problema de compreensão.
Dizemos, então, que elas têm coerência. Já não ocorre o mesmo em relação às duas últimas.
Em As árvores estão plantadas no deserto, há duas ideias opostas, uma contrária a outra. Em A
árvore está grávida, há uma restrição na combinatória ser vegetal + grávida, o que não ocorre
em A mulher está grávida, em que temos a combinatória possível ser racional + grávida.

Examinemos agora as frases:

»» O pássaro voa.

»» O homem voa.

A frase a tem um grau de aceitação maior do que a frase b, que depende de uma complementação
para esclarecer qual o meio utilizado pelo homem para voar – O homem voa de asa-delta, por
exemplo. A combinação de homem com voa tem outras significações no plano da conotação:
O homem sonha, o homem delira, o homem anda rápido. Neste plano, muitas outras combinações
são possíveis:

»» As nuvens estão prenhes de chuva.

»» Sua boca cuspia desaforos.

Observe os três pares que se seguem:

a. Todo mundo destrói a natureza menos eu.

b. Todo mundo destrói a natureza menos todo mundo.

a. Todo mundo viu o mico-leão, mas eu não.

b. Todo mundo viu o mico-leão, mas eu não ouvi o sabiá cantar.

a. Apesar de estar derrubando muitas árvores, a floresta sobrevive.

b. Apesar de estar derrubando muitas árvores, a floresta não tem muitas árvores.

As frases de letra a de cada par são facilmente compreendidas, têm coerência; as frases de letra
b de cada par apresentam problema de compreensão.

43
AULA 3 • Coerência

1 a) Todo mundo destrói a natureza O vocábulo menos indica exclusão de uma parte do grupo, portanto, neste
menos eu. caso, pode ser combinado com o pronome eu.
Há uma restrição, porque o vocábulo menos indica exclusão de uma parte
1 b)Todo mundo destrói a natureza
do grupo, portanto, neste caso, não pode ser combinado com todo mundo,
menos todo mundo.
que indica o grupo inteiro.
2 a)Todo mundo viu o mico-leão, mas Mas introduz uma ideia oposta, que é perfeitamente aceitável, porque todo
eu não. mundo se diferencia de eu.
Mas introduz uma ideia oposta, que é inaceitável porque o conteúdo da
2 b) Todo mundo viu o mico-leão, mas ideia introduzida por mas não é o contrário da ideia anterior. Assim, a
eu não ouvi o sabiá cantar. primeira parte Todo mundo viu o mico-leão não pode ser combinada com
eu não ouvi o sabiá cantar por intermédio do vocábulo mas.
3 a) Apesar de estar derrubando muitas O uso de apesar de pressupõe a presença de ideias contrárias, qualquer
árvores, a floresta sobrevive. que seja a ordem: negativa/positiva, positiva/negativa.
3 b) Apesar de estar derrubando muitas O uso de apesar de pressupõe a presença de ideias contrárias, qualquer
árvores, a floresta não tem muitas que seja a ordem: negativa/positiva, positiva/negativa. Daí a incoerência da
árvores. frase b, em que ocorrem duas negativas simultâneas.

Essas observações mostram que a coerência de uma frase, de um texto, não se define apenas
pelo modo como elementos linguísticos se combinam; depende também do conhecimento do
mundo partilhado por emissor e receptor, bem como do tipo de texto em questão. Podemos ainda
dizer que, nas frases de letra b, os elementos de coesão não foram usados de forma adequada,
por isso não contribuíram para estabelecer a coerência.

Observe o que se segue.

Assim como milhões de brasileiros, os habitantes da Mata Atlântica estão sentindo


na pele os efeitos da crise econômica. As verbas são curtas, a fiscalização é pouca,
e, com isso, as leis de proteção nem sempre são respeitadas. Resultado: mesmo
sendo uma das mais importantes florestas tropicais do mundo – portanto,
essencial à sobrevivência do planeta –, pouco a pouco a Mata Atlântica vai
desaparecendo do mapa.

O trecho mostra as dificuldades sentidas pelos habitantes da Mata Atlântica como consequência
da crise econômica. O sentido do texto é viabilizado pela combinação dos elementos presentes
numa progressão harmoniosa. Veja como este sentido vai sendo construído a partir da ocorrência
de vocábulos relacionados entre si. Por exemplo:

Milhões de brasileiros Mundo Curta


Habitantes Planeta Pouca
Mapa
Mata Atlântica Importante Proteção
Florestas tropicais Essencial Sobrevivência
Verbo E Portanto (conectores)
Fiscalização Com isso
Lei

Observe finalmente:

Se está difícil sobreviver aí na cidade, imagine aqui.

44
Coerência • AULA 3

Numa primeira leitura, esta mensagem parece vaga: aqui aponta para várias possibilidades de
significação, entretanto, cada uma delas claramente se opõe à “cidade”. Mas, se situarmos esta
frase como introdutória ao texto sobre a Mata Atlântica, o sentido fica mais explícito, sobretudo
se a frase for acompanhada da imagem de um habitante da Mata Atlântica.

Tipos de coerência

Em obra na qual discutem as estratégias cognitivas de compreensão do discurso, Van Dijk e


Kintsch (1983) falam de coerência local e de coerência global. Enquanto a primeira se refere
a partes do texto, a segunda se refere ao texto como um todo. Embora já tenha sido dito
anteriormente que a coerência diz respeito à intenção comunicativa do emissor, interagindo,
de maneira cooperativa, com o seu interlocutor, acontece de, em um mesmo texto, ocorrerem
partes ou passagens com problemas de incoerências – incoerências locais no caso – que acabam
por perturbar a compreensão daquela passagem. A presença de uma incoerência local pode
não prejudicar a compreensão do texto, mas, é claro que assim não será, se houver um grande
número de problemas desse tipo.

Ainda na obra citada, os autores apontam alguns tipos de coerências, a saber: coerência semântica,
coerência sintática, coerência estilística, coerência pragmática.

Coerência semântica

Refere-se à relação entre os significados dos elementos das frases em sequência; a incoerência
aparece quando esses sentidos não combinam, ou quando são contraditórios. Exemplos:

... ouvem-se vozes exaltadas para onde acorreram muitos fotógrafos e telegrafistas
para registrarem o fato.

O uso do vocábulo telegrafista é inadequado neste contexto, pois o fato que causa
espanto será documentado por fotógrafos e, talvez, por cronistas, que, depois,
poderão escrever uma crônica sobre ele, mas certamente telegrafistas não são
espectadores comuns nessas circunstâncias.

Ao lado deste, há um outro problema, de ordem sintática: trata-se do emprego


de “para onde”, que teria “vozes exaltadas” como referente, o que não é possível,
porque esse referente não contém ideia de lugar, implícita no pronome relativo
onde.

Cabe ainda uma observação quanto ao tempo verbal de ouvem-se e acorreram,


presente e pretérito perfeito, respectivamente. Seria mais adequado que os dois
verbos estivessem no mesmo tempo.

45
AULA 3 • Coerência

O governo principalmente não corresponde de uma maneira correta em relação


ao nível de condições que para muitos seriam uma decisão óbvia.

Nesta frase, há duas incoerências semânticas. A primeira decorre do uso


inadequado de corresponder – corresponder em relação ao nível – que poderia
ser substituído por responder, mas, mesmo assim, o complemento teria que ser
modificado, para resolver o problema da incoerência sintática – corresponder
a (alguma coisa). A segunda está na expressão nível de condições. O vocábulo
nível é desnecessário, podendo-se dizer simplesmente em relação às condições.

Educação, problema universal que por direito todo indivíduo deve ter acesso.

A inadequação, parece-nos, deve-se ao fato de não ficar claro qual é o antecedente


do pronome que. Da maneira como foi escrita a frase, o antecedente é problema
universal, e, neste caso, a incoerência semântica está na não combinação entre os
sentidos de ter acesso e problema. Um problema precisa ser resolvido, solucionado,
mas não ser alcançado, que é o sentido de ter acesso. É muito mais provável que
o autor desta frase tenha pensado que todo indivíduo deve ter acesso à educação,
mas, da forma como ordenou as palavras, causou ambiguidade com relação ao
antecedente do que.

Ainda dentro desse tipo de coerência, lembramos que o pouco domínio do sentido dos vocábulos
e das restrições combinatórias pode também gerar frases com problemas de compreensão, como
as que se seguem:

O jardim que circula a casa estava maltratado.

Entramos em um círculo de mudanças.

O rei quis obter as luxúrias que sua posição oferecia.

... sendo este o dominador comum das mudanças.

O Brasil é um país em alta rotatividade.

O que existe é um apontamento dos erros do vestibular.

A televisão transmite lazer.

Não deu asas ao pensamento, obviamente com medo de aferir a opinião dos outros.

Isto acontece quando você está batendo uma conversa informal.

O quarto era o maior ambiente do barraco.

Minhas suspeitas se atrapalham.

O sol deixa um rastro de cor reflexada na água.

46
Coerência • AULA 3

A audiência no Maracanã é grande quando jogam Vasco e Flamengo.

... vencendo a oscilação que repousava em sua mente.

Jamais fui a uma igreja seja ela de qual raça ou costume.

O tempo nos proporciona muitos sacrifícios.

O armário estava desarrumado, com as gavetas afogadas de tantas roupas


dispersivas.

Coerência sintática

Refere-se aos meios sintáticos usados para expressar a coerência semântica: conectivos, pronomes
etc. Exemplos:

Então as pessoas que têm condições procuram mesmo o ensino particular. Onde
há métodos, equipamentos e até professores melhores.

A coerência deste período poderia ser recuperada se duas alterações fossem


feitas. A primeira seria a troca do relativo onde, específico de lugar, para no
qual ou em que (ensino particular, no qual/em que há métodos ...), e a segunda
seria a substituição do ponto por vírgula, de maneira que a oração relativa não
ocorresse como uma oração completa e independente da anterior. Teríamos
a seguinte oração, sem problemas de compreensão: Então as pessoas que têm
condições procuram mesmo o ensino particular, no qual há equipamentos e até
professores melhores.

Na verdade, essa falta de leitura, de escrever, seja porque tudo já vem pronto,
mastigado para uma boa compreensão, não precisando pensar.

Há, nesta frase, vários problemas que prejudicam a sua coerência. O primeiro
é o não paralelismo entre leitura (nome) e escrever (verbo); seria desejável,
por exemplo, dizer falta de ler, de escrever, ou falta de leitura, falta de treino
de escrita. Depois foi empregada a conjunção seja, que geralmente se usa para
apresentar mais de uma alternativa: seja porque tudo já vem pronto, seja porque
não há estímulo por parte dos professores; usada isoladamente, ela perde o seu
sentido alternativo. Talvez o autor estivesse querendo dizer seja porque tudo já
vem mastigado; a elipse da conjunção na segunda expressão foi inadequada.
Percebemos, ainda, que o sujeito essa falta de leitura acabou não se juntando a
nenhum predicado, e a frase ficou fragmentada. Por último, não foi explicitado
o termo que pode preencher essa função.

O papel preponderante da escola, que seria de formar e informar, principalmente


crianças e adultos, hoje não está alcançando esse objetivo.

47
AULA 3 • Coerência

Esta frase apresenta o seguinte problema: ela é longa demais, por isso o predicado,
muito distante do sujeito, acaba discordando dele, não gramaticalmente, mas pela
inadequação do vocabulário. Pode-se dizer que há um cruzamento na estrutura
da frase, o que causa uma incoerência sintática.

O papel da escola não está alcançando esse objetivo.


X
A escola não está sendo cumprido.

(As frases usadas como exemplos foram produzidas por alunos recém-ingressos na universidade).

Coerência estilística

Percebemos, pelos exemplos citados abaixo, que esse tipo de coerência não chega, na verdade,
a perturbar a interpretabilidade de um texto; é uma noção relacionada à mistura de registros
linguísticos. É desejável que quem escreve ou lê se mantenha num estilo relativamente uniforme.
Entretanto, a alternância de registros pode ser, por outro lado, um recurso estilístico.

Leia este poema de Manuel Bandeira:

Teresa, se algum sujeito bancar o

sentimental em cima de você

e te jurar uma paixão do tamanho de um

bonde

Se ele chorar

Se ele ajoelhar

Se ele se rasgar todo

Não acredita não Teresa

É lágrima de cinema

É tapeação

Mentira

CAI FORA

O autor procede como se estivesse falando, aconselhando alguém, advertindo sobre uma possível
“cantada”. Há mistura de tratamento (tu/você), mistura de registros, pois o autor utiliza várias
expressões da língua oral, como “do tamanho de um bonde”, “se ele se rasgar todo”, “cai fora”,
ao mesmo tempo em que emprega o futuro do subjuntivo, tempo mais comum num registro
mais cuidado.

48
Coerência • AULA 3

Agora leia este trecho, extraído de uma aula gravada:

... isso aí é um conceitozinho um pouco maior, é que nós sabemos que os cloretos,
por decoreba, aquele negócio que eu falei, os cloretos e prata, chumbo são
insolúveis, todos os outros cloretos são solúveis. Agora pergunto: aquilo lá não
é uma cascata muito grande? Quando a gente agora está por dentro do assunto?
O que o cara quer dizer com solúveis, muito solúveis, pouco solúveis? Apenas
um conceito relativo. AgCl é considerado insolúvel porque o que fica de AgCl é
um troço tão irrisório que a gente não considera ... Entendeu qual é a jogada? O
que tem na solução daqueles íons não vai atrapalhar ninguém. Você pode comer
quilos desse troço que a prata não vai te perturbar.

(Corpus do Projeto NURC/RJ – UFRJ – Informante: homem, 31 anos, professor de química numa aula
para o terceiro ano do Ensino Médio.)

Nesta exposição, chamada, dentro do corpus do projeto, de elocução formal, o professor emprega
uma grande variação de registro, movendo-se todo o tempo entre o formal, para explicar o
conceito de solubilidade, e o informal, servindo-se de gírias (troço, cascata, estar por dentro,
jogada, decoreba, cara), talvez com o objetivo de tornar a explicação menos pesada e a exposição
mais interessante para os alunos, aproximando-se deles ao usar essa maneira de falar. Portanto,
nesta passagem, a mistura de registros, sem causar incoerência, pode ter uma causa objetiva.

Coerência pragmática

Refere-se ao texto visto como uma sequência de atos de fala. Para haver coerência nesta sequência,
é preciso que os atos de fala se realizem de forma apropriada, isto é, cada interlocutor, na sua vez
de falar, deve conjugar o seu discurso ao do seu ouvinte. Quando uma pessoa faz uma pergunta
a outra, a resposta pode-se manifestar por meio de uma afirmação, de outra pergunta, de uma
promessa, de uma negação. Qualquer uma dessas sequências seria considerada coerente. Por
outro lado, se o interlocutor não responder, virar as costas e sair andando, começar a cantar,
ou mesmo dizer algo totalmente desconectado do tema da pergunta, essas sequências seriam
consideradas incoerentes. Exemplo:

a. Você pode me dizer onde fica a Rua Alice?

b. O ônibus está muito atrasado hoje.

Piadas podem ser elaboradas a partir de incoerências como no exemplo:

No balcão da companhia aérea, o viajante perguntou a atendente:

– A senhorita pode me dizer quanto tempo dura o voo do Rio a Lisboa?

– Um momentinho.

– Muito obrigado.

49
AULA 3 • Coerência

Para quem fez a pergunta, não pareceu nem um pouco incoerente a resposta obtida. Entretanto,
a frase de B não é a resposta, é simplesmente um pedido de tempo para depois dar atenção ao
interlocutor A. Nós é que percebemos a incoerência da sequência e tomamos o conjunto como
uma piada.

Há ainda incoerências geradas a partir da desobediência a articulações de conteúdo. Se você


ouvir a frase Meu irmão é filho único pode pensar que quem a pronunciou desconhece o sentido
dos vocábulos usados, pois a sequência contém uma contradição. O sentido de irmão inclui o
fato de que esse indivíduo tem, pelo menos, uma irmã ou irmão.

Como último exemplo observe esta frase, ouvida recentemente em um programa de televisão:
“Me inclui fora dessa”. Parece que o emissor não conhece o sentido do verbo incluir, que
certamente não pode ocorrer combinado com fora. Ou então, usa expressamente o advérbio
fora para explicar sua intenção de não ser incluído em algum projeto.

Texto e coerência

A coerência e a coesão ocorrem nos diversos tipos de texto. Lembramos que cada tipo de texto
tem sua estrutura própria, por isso os mecanismos de coerência e de coesão também vão se
manifestar de forma diferente na superfície linguística, conforme se trate de um texto narrativo,
descritivo ou dissertativo-argumentativo.

No texto narrativo, a coerência existe em função, sobretudo, da ordenação temporal. Tomemos


como exemplo o conhecido poema A pesca, de Affonso Romano de Sant’Anna, em que não há
elementos coesivos. No entanto, há coerência em razão de uma sequência temporal depreendida
não só da ordem em que foram colocados os substantivos, mas da escolha de vocábulos de
campos semânticos relacionados à pesca.

A pesca
o anil a garganta
o anzol a âncora
o azul o peixe
o silêncio a boca
o tempo o arranco
o peixe o rasgão
a agulha aberta a água
vertical aberta a chaga
mergulha aberto o anzol
a água aquelíneo
a linha ágil-claro
a espuma estabanado
o tempo o peixe
a âncora a areia
o peixe o sol

50
Coerência • AULA 3

azul
anzol boca
anil
isca rasgão
material peixe mar areia
“agulha” chaga
sol
linha garganta
mergulha

A história infantil A Casa Sonolenta (WOOD, 1999), um texto narrativo e descritivo, é mais um
bom exemplo de como a sequência é fundamental para que se estabeleça a coerência textual.

A Casa Sonolenta
Era uma vez Em cima desse cachorro tinha um gato
uma casa sonolenta um gato ressonando,
onde todos viviam dormindo em cima de um cachorro cochilando,
Nessa casa em cima de um menino sonhando,
tinha uma cama em cima de uma avó roncando,
uma cama aconchegante, numa cama aconchegante,
numa casa sonolenta, numa casa sonolenta,
onde todos viviam dormindo. onde todos viviam dormindo.
Nessa cama Em cima desse gato
tinha uma avó, tinha um rato,
uma avó roncando, um rato dormitando,
numa cama aconchegante, em cima de um gato ressonando,
numa casa sonolenta, em cima de um cachorro cochilando,
onde todos viviam dormindo. em cima de um menino sonhando,
Em cima dessa avó em cima de uma avó roncando,
tinha um menino, numa cama aconchegante,
um menino sonhando, numa casa sonolenta,
em cima de uma avó roncando, onde todos viviam dormindo.
numa cama aconchegante, E em cima desse rato
numa casa sonolenta, tinha uma pulga...
onde todos viviam dormindo. Será possível?
Em cima desse menino Uma pulga acordada,
tinha um cachorro, que picou o rato,
um cachorro cochilando, que assustou o gato,
em cima de um menino sonhando, que arranhou o cachorro,
em cima de uma avó roncando, que caiu sobre o menino,
numa cama aconchegante, que deu um susto na avó,
numa casa sonolenta, que quebrou a cama,
onde todos viviam dormindo. numa casa sonolenta,
onde ninguém mais estava dormindo.

51
AULA 3 • Coerência

A história estrutura-se com base em dois momentos:

1o momento – todos estão dormindo.

2o momento – todos acordam, cada um, por sua vez, movidos pela ação da pulga.

A coerência, na primeira parte, se dá pela escolha de vocábulos do campo semântico de dormir


– cama, sonolenta, aconchegante, roncando, sonhando, ressonando, dormitando, cochilando.
Não houve repetição de nenhum verbo, e cada um deles foi combinado coerentemente com
cada habitante da casa. O caráter descritivo desta parte se apoia em adjetivos (caracterizando os
seres inanimados) e verbos no gerúndio e pretérito imperfeito (atribuídos aos seres animados).

A segunda parte do texto apresenta a mudança desencadeada a partir da picada da pulga. Os


verbos estão no pretérito perfeito, marcando a ação finalizada.

Casa sonolenta Casa acordada


dormindo picou
roncando assustou
sonhando arranhou
ressonando caiu
cochilando deu
viviam quebrou
tinha

Lembramos, ainda, o título do conto de Carlos Drummond de Andrade – “Flor, telefone, moça”.
Os três vocábulos juntos, aparentemente, não constituem título coerente para um conto.
No entanto, a coerência advém do próprio conto, que se resume na seguinte história: uma moça,
que tinha o costume de passear no cemitério, um dia, com um gesto distraído, arrancou uma
flor de um túmulo, machucou-a com as mãos e depois jogou-a fora. A partir daí, passa a receber
insistentes telefonemas feitos por uma voz que reclama de volta a sua flor. A família se envolve,
tentando uma solução para os telefonemas que, a cada dia, deixam a moça mais nervosa e sem
apetite. O caso termina em tragédia. A moça, sem ânimo para coisa alguma, acaba definhando
e morrendo. Nunca mais houve telefonemas. Apenas os fatos narrados no conto justificam a
ordem em que os vocábulos foram organizados no título.

No texto descritivo, a coerência estabelece-se, sobretudo, por uma ordenação espacial. Quem
descreve, procura percorrer os detalhes daquilo que descreve, seja uma pessoa, seja um cenário,
seja um objeto, obedecendo a uma sequência, com a finalidade de auxiliar o(a) leitor(a)/ouvinte
a compor o todo a partir dessas informações parciais. No trecho abaixo, extraído de Vidas Secas,
temos uma série de atos que, se alterada, prejudica a coerência do texto.

(Sinhá Vitória) Agachou-se, atiçou o fogo, apanhou uma brasa com a colher,
acendeu o cachimbo, pôs-se a chupar o canudo de taquari cheio de sarro. Jogo
longe uma cusparada, que passou por cima da janela e foi cair no terreiro.

52
Coerência • AULA 3

Preparou-se para cuspir novamente. Por uma extravagante associação, relacionou


esse ato com a lembrança da cama. Se o cuspo alcançasse o terreiro, a cama
seria comprada antes do fim do ano. Encheu a boca de saliva, inclinou-se – e
não conseguiu o que esperava. Fez várias tentativas, inutilmente. O resultado foi
secar a garganta. Ergueu-se desapontada. Besteira, aquilo não valia.

Aproximou-se do canto onde o pote se erguia numa forquilha de três pontas,


bebeu um caneco de água. Água salobra (RAMOS, G., 1969).

Com respeito a essa ordenação das informações num texto descritivo, é interessante assinalar que
a ordem em que são percebidos os objetos ou os componentes de uma cena pode determinar a
organização linear das sequências usadas para descrevê-los, como no parágrafo abaixo:

O homem estava sentado num tamborete rústico, com os joelhos cruzados e a


cabeça baixa. À sua direita havia uma mesinha de desarmar, entulhada de lápis
de vários tipos e cores, folhas de papel em branco, borrachas, tesoura e um pouco
de estopa. Havia ainda uma tabuleta em cima da pequena mesa, apoiando-se na
pilastra onde estavam expostos seus trabalhos: fotografias coloridas de grandes
personalidades e caricaturas também de grandes personalidades (PIROLI, 1998).

Entretanto, isto pode não acontecer, ou seja, a ordenação é feita a partir da seleção das informações
julgadas relevantes, como no texto abaixo:

A cerimônia esteve muito concorrida. Presidiu o Presidente da República, que


fez o discurso inaugural. Foi preciso esperar meia hora pelo Primeiro Ministro,
que chegou, como sempre, atrasado e sorridente.

No texto dissertativo-argumentativo, é muito importante para a coerência a ordenação


lógica das ideias. As possibilidades de correlacionar os argumentos decorrem dos operadores
lógico-discursivos empregados. Há conectores específicos para se expressar as diferentes
articulações sintáticas – causa, finalidade, conclusão, condição etc. – e eles devem ser usados
adequadamente, de acordo com a relação que se quer exprimir ao desenvolver uma argumentação.
É ainda muito importante, com respeito à coesão, uma combinação cuidadosa dos tempos
verbais empregados.

Sintetizando

Vimos até agora:

»» Como a coerência é essencial à manutenção da lógica do texto.

»» Exemplos de coerência em diversos tipos de situações textuais.

»» Como o domínio adequado do sentido dos conectivos é importante para transmitir a ideia desejada.

»» Casos práticos de textos coerentes e incoerentes.

53
Aula
Coesão 4
Introdução

A coesão é responsável por criar uma rede de ligação entre palavras e ideias dentro do texto.
Assunto de grande importância a quem deseja interpretar e produzir textos com clareza,
objetividade, correção e adequação. Geralmente, ela ocorre com conectivos (portanto, porque,
pois, conquanto etc.), mas observaremos na aula que também substantivos, numerais e pronomes
exercem a função coesiva.

Objetivos

»» Demonstrar como os elementos coesivos são fundamentais para boa comunicação.

»» Detalhar as diferentes formas de coesão.

»» Exemplificar as qualidades e os defeitos dos elementos coesivos quando bem ou mal


empregados.

Introdução à coesão

São muitos os autores que têm publicado estudos sobre coerência e coesão. Apoiados nos
trabalhos de Koch (1997), Platão e Fiorin (1998) e Marcuschi (1983), apresentamos algumas
considerações sobre o conceito de coesão com o objetivo de mostrar a presença e a importância
desse fenômeno na produção e interpretação dos textos.

Koch (1997) conceitua a coesão como “o fenômeno que diz respeito ao modo como os elementos
linguísticos presentes na superfície textual se encontram interligados, por meio de recursos
também linguísticos, formando sequências veiculadoras de sentido”. Para Platão e Fiorin (1996),
a coesão textual “é a ligação, a relação, a conexão entre as palavras, expressões ou frases do texto”.
A coesão é, segundo Suárez Abreu (1990), “o encadeamento semântico que produz a textualidade;
trata-se de uma maneira de recuperar, em uma sentença B, um termo presente em uma sentença
A”. Daí a necessidade de haver concordância entre o termo da sentença A e o termo que o retoma

54
Coesão • AULA 4

na sentença B. Finalmente, Marcuschi (1983) assim define os fatores de coesão: “são aqueles que
dão conta da sequenciação superficial do texto, isto é, os mecanismos formais de uma língua
que permitem estabelecer, entre os elementos linguísticos do texto, relações de sentido”.

A coesão pode ser observada tanto em enunciados mais simples quanto em enunciados mais
complexos. Observe:

Mulheres de três gerações enfrentam o preconceito e revelam suas experiências.

Elas resolveram falar. Quebrando o muro de silêncio, oito dezenas de mulheres


decidiram contar como aconteceu o fato que marcou suas vidas.

Do alto de sua ignorância, os seres humanos costumam achar que dominam a


terra e todos os outros seres vivos.

Nesses exemplos, temos os pronomes suas e que retomando mulheres de três gerações e o
fato, respectivamente; os pronomes elas e sua antecipam oito dezenas de mulheres e os seres
humanos, respectivamente. Estes são apenas alguns mecanismos de coesão, mas existem muitos
outros, como veremos mais adiante.

Vejamos agora a coesão num período mais complexo:

Os amigos que me restam são da data mais recente; todos os amigos foram
estudar a geologia dos campos-santos. Quanto às amigas, algumas datam de
quinze anos, outras de menos, e quase todas crêem na mocidade. Duas ou três
fariam crer nela aos outros, mas a língua que falam obriga muita vez a consultar
os dicionários, e tal frequência é cansativa (ASSIS, 1998).

Observemos os elementos de coesão presentes neste texto:

No primeiro período, temos o pronome que remetendo a amigos, que é o sujeito dos verbos
restam e são, daí a concordância, em pessoa e número, entre eles. Do mesmo modo, amigos é
o sujeito de foram, na oração seguinte; todos e os se relacionam a amigos.

Já no segundo período, em que o autor discorre sobre as amigas, os pronomes algumas, outras,
todas remetem a amigas; os numerais duas, três também remetem a amigas, que, por sua vez, é
o sujeito de datam, creem, fariam, falam; nela retoma a expressão na mocidade, evitando sua
repetição; que representa a língua. E, para retomar muita vez, o autor usou a expressão sinônima
tal frequência.

Esses fatos representam mecanismos de coesão, assinalando relações entre os vocábulos


do texto. Outros mecanismos marcam a relação de sentido entre os enunciados. Assim, os
vocábulos mas (mas a língua que falam), e (e quase todos creem na mocidade, e tal frequência
é cansativa) assinalam relação de contraste ou de oposição e de adição de argumentos ou ideias,

55
AULA 4 • Coesão

respectivamente. Dessa maneira, por meio dos elementos de coesão, o texto vai sendo “tecido”,
vai sendo construído.

A respeito do conceito de coesão, autores como Halliday e Hasan (1976), em obra clássica sobre
coesão textual, que tem servido de base para grande número de estudos sobre o assunto, afirmam
que a coesão é condição necessária, mas não suficiente, para que se crie um texto. Na verdade,
para que um conjunto de vocábulos, expressões, frases seja considerado um texto, é preciso haver
relações de sentido entra essas unidades (coerência) e um encadeamento linear das unidades
linguísticas presentes no texto (coesão). Mas essa afirmativa não é categórica nem definitiva,
por algumas razões. Uma delas é que podemos ter conjuntos linguísticos destituídos de elos
coesivos que, no entanto, são considerados textos porque são coerentes, isto é, apresentam uma
continuidade semântica, como vimos no texto “Circuito Fechado”, de Ricardo Ramos.

Um outro bom exemplo da possibilidade de haver texto, porque há coerência, sem elos coesivos
explicitados linguisticamente, é o texto do escritor cearense Mino, em que só existem verbos.

Como se conjuga um empresário

Acordou. Levantou-se. Aprontou-se. Lavou-se. Barbeou-se. Enxugou-se.


Perfumou-se. Lanchou. Escovou. Abraçou. Beijou. Saiu. Entrou. Cumprimentou.
Orientou. Controlou. Advertiu. Chegou. Desceu. Subiu. Entrou. Cumprimentou.
Assentou-se. Preparou-se. Examinou. Leu. Convocou. Leu. Comentou.
Interrompeu. Leu. Despachou. Conferiu. Vendeu. Vendeu. Ganhou. Ganhou.
Ganhou. Lucrou. Lucrou. Lucrou. Lesou. Explorou. Escondeu. Burlou.
Safou-se. Comprou. Vendeu. Assinou. Sacou. Depositou. Depositou. Depositou.
Associou-se. Vendeu-se. Entregou. Sacou. Depositou. Despachou. Repreendeu.
Suspendeu. Demitiu. Negou. Explorou. Desconfiou. Vigiou. Ordenou. Telefonou.
Despachou. Esperou. Chegou. Vendeu. Lucrou. Lesou. Demitiu. Convocou.
Elogiou. Bolinou. Estimulou. Beijou. Convidou. Saiu. Chegou. Despiu-se.
Abraçou. Deitou-se. Mexeu. Gemeu. Fungou. Babou. Antecipou. Frustrou.
Virou-se. Relaxou-se. Envergonhou-se. Presenteou. Saiu. Despiu-se. Dirigiu-se.
Chegou. Beijou. Negou. Lamentou. Justificou-se. Dormiu. Roncou. Sonhou.
Sobressaltou-se. Acordou. Preocupou-se. Temeu. Suou. Ansiou. Tentou.
Despertou. Insistiu. Irritou-se. Temeu. Levantou. Apanhou. Rasgou. Engoliu.
Bebeu. Rasgou. Engoliu. Bebeu. Dormiu. Dormiu. Dormiu. Acordou.
Levantou-se. Aprontou-se ...

Neste texto, a coerência é depreendida da sequência ordenada dos verbos com os quais o autor
mostra o dia a dia de um empresário. Verbos como lesou, burlou, explorou, safou-se... transmitem
um julgamento de valor do autor do texto em relação à figura de um empresário.

Podemos constatar que “Como se conjuga um empresário” não precisou de elementos coesivos
para ser considerado um texto. Por outro lado, elos coesivos não são suficientes para garantir a
coerência de um texto. É o caso do exemplo a seguir.

56
Coesão • AULA 4

As janelas da casa foram pintadas de azul, mas os pedreiros estão almoçando.


A água da piscina parece limpa, entretanto foi tratada com cloro. A vista que
tenho da casa é muito agradável.

Finalizando, vale dizer que, embora a coesão não seja condição suficiente para que enunciados se
constituam em textos, são os elementos coesivos que dão a eles maior legibilidade e evidenciam
as relações entre seus diversos componentes. A coerência em textos didáticos, expositivos,
jornalísticos depende da utilização explícita de elementos coesores.

Mecanismos de coesão
São variadas as maneiras como os diversos autores descrevem e classificam os mecanismos de
coesão. Consideramos que é necessário perceber como esses mecanismos estão presentes no
texto (quando estão) e de que maneira contribuem para sua tecitura, sua organização.

Todos os processos de sequencialização que asseguram (ou tornam recuperável)


uma ligação linguística significativa entre os elementos que ocorrem na superfície
textual podem ser encarados como instrumentos de coesão (MATEUS, 1983).

Coesão gramatical

Faz-se por meio das concordâncias nominais e verbais, da ordem dos vocábulos, dos conectores, dos
pronomes pessoais de terceira pessoa (retos e oblíquos), pronomes possessivos, demonstrativos,
indefinidos, interrogativos, relativos, diversos tipos de numerais, advérbios (aqui, ali, lá, aí),
artigos definidos, de expressões de valor temporal.

De acordo com o quadro antes apresentado, passamos a ver separadamente cada um dos tipos
de conexão gramatical, a saber: frásica, interfrásica, temporal e referencial.

Coesão frásica

Este tipo de coesão estabelece uma ligação significativa entre os componentes da frase, com base
na concordância entre o nome e seus determinantes, entre o sujeito e o verbo, entre o sujeito e
seus predicadores, na ordem dos vocábulos na oração, na regência nominal e verbal. Exemplos:

Florianópolis tem praias para todos os gostos, desertas, agitadas, com ondas, sem ondas, rústicas,
sofisticadas.

Concordância nominal
Praias desertas, agitadas, rústicas, sofisticadas
(subst.) (adjetivos)

57
AULA 4 • Coesão

Todos Os Gostos
(pron.) (artigo) (substantivo)

Concordância verbal
Florianópolis tem
(sujeito) (verbo)

A voz de Elza Soares é um patrimônio da música brasileira. Rascante, oclusiva, suingada, é algo
que poucas cantoras, no mundo inteiro, têm.

Concordância nominal
voz rascante, oclusiva, suingada
poucas cantoras
música brasileira
mundo inteiro

Concordância verbal
voz é cantoras têm

Com respeito à ordem dos vocábulos na oração, deslocamentos de vocábulos ou expressões


dentro da oração podem levar a diferentes interpretações de um mesmo enunciado. Observe
estas frases:

O barão admirava a bailarina que dançava com um olhar lânguido.

A expressão com um olhar lânguido, devido à posição em que foi colocada, causa ambiguidade,
pois tanto pode se referir ao barão como à bailarina. Para deixar claro um ou outro sentido, é
preciso alterar a ordem dos vocábulos.

O barão, com um olhar lânguido, admirava a bailarina que dançava.


O barão admirava a bailarina que, com um olhar lânguido, dançava.

A moto em que ele estava passeando lentamente saiu da estrada.

A análise deste período mostra que ele é formado de duas orações: A moto saiu da estrada
e em que ele estava passeando. A qual das duas, no entanto, se liga o advérbio lentamente?
Da forma como foi colocado, pode se ligar a qualquer uma das orações. Para evitar a ambiguidade,
recorremos a uma mudança na ordem dos vocábulos. Poderíamos ter, então:

A moto em que lentamente ele estava passeando saiu da estrada.


A moto em que ele estava passeando saiu lentamente da estrada.

58
Coesão • AULA 4

Também em relação à regência verbal, a coesão pode ficar prejudicada se não forem tomados
alguns cuidados. Há verbos que mudam de sentido conforme a regência, isto é, conforme a
relação que estabelecem com o seu complemento.

Por exemplo, o verbo assistir é usado com a preposição a quando significa ser espectador, estar
presente, presenciar. Exemplo: A cidade inteira assistiu ao desfile das escolas de samba. Entretanto,
na linguagem coloquial, este verbo é usado sem a preposição. Por isso, com frequência, temos
frases como: Ainda não assisti o filme que foi premiado no festival, ou, A peça que assisti ontem
foi muito bem montada (ao invés de a que assisti).

No sentido de acompanhar, ajudar, prestar assistência, socorrer, usa-se com proposição ou não.
Observe: O médico assistiu ao doente durante toda a noite. Os Anjos do Asfalto assistiram as
vítimas do acidente.

No que diz respeito à regência nominal, há também casos em que os enunciados podem se
prestar a mais de uma interpretação. Se dissermos A liquidação da Mesbla foi realizada no fim
do verão, podemos entender que a Mesbla foi liquidada, foi vendida ou que a Mesbla promoveu
uma liquidação de seus produtos. Isso acontece porque o nome liquidação está acompanhado
de um outro termo (da Mesbla). Dependendo do sentido que queremos dar à frase, podemos
reescrevê-la de duas maneiras:

A Mesbla foi liquidada no fim do verão.


A Mesbla promoveu uma liquidação no fim do verão.

Coesão interfrásica

Designa os variados tipos de interdependência semântica existentes entre as frases na superfície


textual. Essas relações são expressas pelos conectores ou operadores discursivos. É necessário,
portanto, usar o conector adequado à relação que queremos expressar. Seguem exemplos dos
diferentes tipos de conectores que podemos empregar:

As baleias que acabam de chegar ao Brasil saíram da Antártida há pouco mais de


um mês. No banco de Abrolhos, uma faixa com cerca de 500 quilômetros de água
rasa e cálida, entre o Espírito Santo e a Bahia, as baleias encontram as condições
ideais para acasalar, parir e amamentar. As primeiras a chegar são as mães, que
ainda amamentam os filhotes nascidos há um ano. Elas têm pressa, porque é
difícil conciliar amamentação e viagem, já que um filhote tem necessidade de
mamar cerca de 100 litros de leite por dia para atingir a média ideal de aumento
de peso: 35 quilos por semana. Depois, vêm os machos, as fêmeas sem filhote e,
por último, as grávidas. Ao todo, são cerca de 1000 baleias que chegam a Abrolhos
todos os anos. Já foram dezenas de milhares na época do descobrimento, quando

59
AULA 4 • Coesão

estacionavam em vários pontos da costa brasileira. Em 1576, Pero de Magalhães


Gândavo registrou ter visto centenas delas na baía de Guanabara.

Como suas glândulas mamárias são internas, ela espirra o leite na água.

Ao longo dos meses, porém, a música vai sofrendo pequenas mudanças, até que,
depois de cinco anos, é completamente diferente da original.

A baleia vem devagar, afunda a cabeça, ergue o corpanzil em forma de arco e


desaparece um instante. Sua cauda, então, ressurge gloriosa sobre a água como
se fosse uma enorme borboleta molhada. A coreografia dura segundos, porém
tão grande é a baleia que parece um balé em câmara lenta.

Tão grande quanto as baleias é a sua discrição. Nunca um ser humanopresenciou


uma cópula de jubartes, mas sabe-se que seu intercurso é muito rápido, dura
apenas alguns segundos.

A jubarte é engenhosa na hora de se alimentar. Como sua comida costuma ficar


na superfície, ela mergulha e nada em volta dos peixes, soltando bolhas de água.
Ao subir, as bolhas concentram o alimento num círculo. Em seguida, a baleia
abocanha tudo, elimina a água pelo canto da boca e usa a língua como uma
canaleta a fim de jogar o que interessa goela adentro (VEJA, 1997).

Conectores: E (exemplos a, d, f) – liga termos ou argumentos.Porque (exemplo a), já que (exemplo


a), como (exemplos b, f) – introduzem uma explicação ou justificativa.

Para (exemplos a, i), a fim de (exemplo f) – indicam uma finalidade. Porém (exemplos c, d), mas
(e), embora (g), no entanto (h) – indicam uma contraposição.

Como (exemplo d), tão ... que (exemplo d), tão ... quanto (exemplo e) – indicam uma comparação

Portanto (h) – evidencia uma conclusão.

Depois (a), por último (a), quando (a), já (a), ao longo dos meses (c), depois de cinco anos (c), em
seguida (f), até que (c) – servem para explicar a ordem dos fatos, para encadear os acontecimentos.
Então (d) – operador que serve para dar continuidade ao texto. Se (exemplo i) – indica uma
forma de condicionar uma proposição a outra. Não só ... mas também (exemplo i) – serve
para mostrar uma soma de argumentos. Na verdade (exemplo j) – expressa uma generalização,
uma amplificação. Ou (exemplo j) – apresenta um disjunção argumentativa, uma alternativa.
Por exemplo (exemplo m) – serve para especificar o que foi dito antes. Também (exemplo n) –
operador para reforçar mais um argumento apresentado.

Ainda dentro da coesão interfrásica, existe o processo de justaposição em que a coesão se dá em


função da sequência do texto, da ordem em que as informações, as proposições e os argumentos
vão sendo apresentados. Quando isso acontece, ainda que os operadores não tenham sido

60
Coesão • AULA 4

explicitados, eles são depreendidos da relação que está implícita entre as partes da frase. O trecho
abaixo é um exemplo de justaposição.

Foi em cabarés e mesas de bar que Di Cavalcanti fez amigos, conquistou mulheres,
foi apresentado a medalhões das artes e da política. Nos anos 20, trocou o Rio por
longas temporadas em São Paulo; em seguida foi para Paris. Acabou conhecendo
Picasso, Matisse e Braque nos cafés de Montparnasse. Di Cavalcanti era irreverente
demais e calculista de menos em relação aos famosos e poderosos. Quando se
irritava com alguém, não media palavras. Teve um inimigo na vida. O também
pintor Cândido Portinari. A briga entre ambos começou nos anos 40. Jamais se
reconciliaram. Portinari não tocava publicamente no nome de Di (VEJA, 1997).

Há, neste trecho, apenas uma coesão interfrásica explicitada: trata-se da oração “Quando se
irritava com alguém, não media palavras”. Os demais possíveis conectores são indicados por
ponto e ponto e vírgula.

Coesão temporal

Uma sequência só se apresenta coesa e coerente quando a ordem dos enunciados estiver de
acordo com aquilo que sabemos ser possível de ocorrer no universo a que o texto se refere, ou
no qual o texto se insere. Se essa ordenação temporal não satisfizer essas condições, o texto
apresentará problemas no seu sentido. A coesão temporal é assegurada pelo emprego adequado
dos tempos verbais, obedecendo a uma sequência plausível, ao uso de advérbios que ajudam a
situar o leitor no tempo (são, de certa forma, os conectores temporais). Exemplos:

A dita Era da Televisão é, relativamente, nova. Embora os princípios técnicos


de base sobre os quais repousa a transmissão televisual já estivessem em
experimentação entre 1908 e 1914, nos Estados Unidos, no decorrer de pesquisas
sobre a amplificação eletrônica, somente na década de vinte chegou-se ao
tubo catódico, principal peça do aparelho de tevê. Após várias experiências por
sociedades eletrônicas, tiveram início, em 1939, as transmissões regulares entre
Nova Iorque e Chicago - mas quase não havia aparelhos particulares. A guerra
impôs um hiato às experiências. A ascensão vertiginosa do novo veículo deu-se
após 1945. No Brasil, a despeito de algumas experiências pioneiras de laboratório
(Roquete Pinto chegou a interessar-se pela transmissão da imagem), a tevê só
foi mesmo implantada em setembro de 1950, com a inauguração do Canal 3
(TV Tupi), por Assis Chateaubriand. Nesse mesmo ano, nos Estados Unidos, já
havia cerca de cem estações, servindo a doze milhões de aparelhos. Existem hoje
mais de 50 canais em funcionamento, em todo o território brasileiro, e perto de
4 milhões de aparelhos receptores [dados de 1971] (SODRÉ, M., 1971).

Temos, neste parágrafo, a apresentação da trajetória da televisão no Brasil, e o que contribui para
a clareza desta trajetória é a sequência coerente das datas: entre 1908 e 1914, na década de 1920,

61
AULA 4 • Coesão

em 1939, Após várias experiências por sociedades eletrônicas, (época da) guerra, após 1945, em
setembro de 1950, nesse mesmo ano, hoje.

Embora o assunto neste tópico seja a coesão temporal, vale a pena mostrar também a ordenação
espacial que acompanha as diversas épocas apontadas no parágrafo: nos Estados Unidos, entre
Nova Iorque e Chicago, no Brasil, em todo o território brasileiro.

Coesão referencial – neste tipo de coesão, um componente da superfície textual faz referência a
outro componente, que, é claro, já ocorreu antes. Para esta referência são largamente empregados
os pronomes pessoais de terceira pessoa (retos e oblíquos), pronomes possessivos, demonstrativos,
indefinidos, interrogativos, relativos, diversos tipos de numerais, advérbios (aqui, ali, lá, aí),
artigos. Exemplos:

Durante o período da amamentação, a mãe ensina os segredos da sobrevivência


ao filhote e é arremedada por ele. A baleiona salta, o filhote a imita. Ela bate a
cauda, ele também o faz.

Ela, a – retomam o termo baleiona, que, por sua vez, substitui o vocábulo mãe.

Ele – retoma o termo filhote.

Ele também o faz – o retoma as ações de saltar, bater, que a mãe pratica.

Madre Teresa de Calcutá que, em 1979, ganhou o Prêmio Nobel da Paz por
seu trabalho com os destituídos do mundo, estava triste na semana passada.
Perdera uma amiga, a princesa Diana. Além disso, seus problemas de saúde
agravaram-se. Instalada em uma cadeira de rodas, ela mantinha-se, como sempre,
na ativa. Já que não podia ir a Londres, pretendia participar, no sábado, de um
ato em memória da princesa, em Calcutá, onde morava há quase setenta anos.
Na noite de sexta-feira, seu médico foi chamado às pressas. Não adiantou. Aos
87 anos, Madre Teresa perdeu a batalha entre seu organismo debilitado e frágil
e sua vontade de ferro e morreu vítima de ataque cardíaco. O Papa João Paulo
II declarou-se “sentido e entristecido”. Madre Teresa e o Papa tinham grande
afinidade.

Que, seu, seus, ela, sua referem-se a Madre Teresa.

Princesa retoma a expressão princesa Diana.

Papa retoma a expressão Papa João Paulo II.

Onde refere-se à cidade de Calcutá.

Há ainda outros elementos de coesão (Além disso, já que) que introduzem,


respectivamente, um acréscimo ao que já fora dito e uma justificativa.

62
Coesão • AULA 4

Em Abrolhos, as jubartes fazem a maior esbórnia. Elas se reúnem em grupos


de três a oito animais, sempre com uma única fêmea no comando. É ela, por
exemplo, que determina a velocidade e a direção a seguir. Os machos vão atrás,
na expectativa de ver se a fêmea cai na rede, com o perdão do trocadilho, e aceita
copular. Como há mais machos que fêmeas, elas copulam com vários deles para
ter certeza de que engravidarão.

Neste exemplo, ocorre um tipo bastante comum de referência – a anafórica.


Os pronomes elas (que retoma jubartes), ela (que retoma fêmea), elas (que se
refere a fêmeas) e deles (que se refere a machos) ocorrem depois dos nomes que
representam.

Ele foi o único sobrevivente do acidente que matou a princesa, mas o guarda-
costas não se lembra de nada.

Elas estão divididas entre a criação dos filhos e o desenvolvimento profissional,


por isso, muitas vezes, as mulheres precisam fazer escolhas difíceis.

Nas letras d, e temos o que se chama uma referência catafórica. Isto acontece
porque os pronomes Ele e Elas, que se referem, respectivamente, a guarda-costas
e mulheres aparecem antes do nome que retomam.

A expedição de Vasco da Gama reunia o melhor que Portugal podia oferecer em


tecnologia náutica. Dispunha das mais avançadas cartas de navegação e levava
pilotos experientes.

Temos neste período uma referência por elipse. O sujeito dos verbos dispunha e levava é
A expedição de Vasco da Gama, que não é retomada pelo pronome correspondente ela, mas
por elipse, isto é, a concordância do verbo – 3ª pessoa do singular do pretérito imperfeito do
indicativo – é que indica a referência.

Existe, ainda, a possibilidade de uma ideia inteira ser retomada por um pronome, como acontece
nas frases a seguir:

Todos os detalhes sobre a vida das jubartes são resultado de anos de observação
de pesquisadores apaixonados pelo objeto de estudo. Trabalhos como esse vêm
alcançando bons resultados.

O pronome esse retoma toda a sequência anterior.

Se ninguém tomar uma providência, haverá um desastre sem precedentes na


Amazônia brasileira. Ainda há tempo de evitá-lo.

O pronome lo se refere ao desastre sem precedentes citado antes.

A lei é um absurdo do começo ao fim. Primeiro, porque permite aos moradores da


superquadra isolar uma área pública, não permitindo que os demais habitantes

63
AULA 4 • Coesão

transitem por ali. Segundo, o projeto não repassa aos moradores o custo disso,
ou seja, a responsabilidade pela coleta de lixo, pelos serviços de água e luz e pela
instalação de telefones. Pelo contrário, a taxa de limpeza pública seria reduzida
para os moradores. Além disso, a aprovação do texto foi obtida mediante emprego
de argumentos falsos.

Esse texto apresenta diferentes tipo de elementos de coesão.

Ali – faz referência a área pública, anteriormente citada.

Disso – retoma o que é considerado um absurdo dentro da nova lei. Ao mesmo


tempo, disso é explicado a partir do operador ou seja.

Ou seja, pelo contrário – conectores que introduzem uma retificação, uma


correção.

Além disso – conector que tem por função acrescentar mais um argumento ao
que está sendo discutido.

Primeiro e segundo – estes conectores indicam a ordem dos argumentos, dos


assuntos.

Coesão lexical

Neste tipo de coesão, usamos termos que retomam vocábulos ou expressões que já ocorreram,
porque existem entre eles traços semânticos semelhantes, até mesmo opostos. Dentro da coesão
lexical, podemos distinguir a reiteração e a substituição.

Por reiteração entendemos a repetição de expressões linguísticas; neste caso,


existe identidade de traços semânticos. Este recurso é, em geral, bastante usado
nas propagandas, com o objetivo de fazer o ouvinte/leitor reter o nome e as
qualidades do que é anunciado. Observe, os exemplos a seguir. Veja quantas
vezes é repetido o nome da refinaria.

Em 1937, quando a Ipiranga foi fundada, muitos afirmavam que seria difícil uma
refinaria brasileira dar certo.

Quando a Ipiranga começou a produzir querosene de padrão internacional,


muitos afirmavam, também, que dificilmente isso seria possível.

Quando a Ipiranga comprou as multinacionais Gulf Oil e Atlantic, muitos disseram


que isso era incomum.

E, a cada passo que a Ipiranga deu nesses anos todos, nunca faltaram previsões
que indicavam outra direção.

64
Coesão • AULA 4

Quem poderia imaginar que, a partir de uma refinaria como aquela, a Ipiranga
se transformaria numa das principais empresas do país, com 5.600 postos de
abastecimento anual de 5,4 bilhões de dólares?

E, que além de tudo, está preparada para o futuro?

É que, além de ousadia, a Ipiranga teve sorte: a gente estava tão ocupado
trabalhando que nunca sobrou muito tempo para prestar atenção em profecias
(VEJA, 1997).

Outro exemplo de coesão lexical:

A história de Porto Belo envolve invasão de aventureiros espanhóis, aventureiros


ingleses e aventureiros franceses, que procuraram portos naturais, portos seguros
para proteger suas embarcações de tempestades (JORNAL DO BRASIL, 1993).

A substituição é mais ampla, pois pode se efetuar por meio da sinonímia, da antonímia, da
hiperonímia, da hiponímia.

Sinonímia

Pelo jeito, só Clinton insiste no isolamento de Cuba. João Paulo II decidiu visitar em janeiro a
Ilha da Fantasia.

Os termos assinalados têm o mesmo referente. Entretanto, é preciso esclarecer que, neste caso,
há um julgamento de valor na substituição de Cuba por Ilha da Fantasia, numa alusão a lugar
onde não há seriedade.

Antonímia

Agora, os termos destacados apresentam sentidos opostos. Observe.

Gelada no inverno, a praia de Garopaba oferece no verão uma das mais belas paisagens
catarinenses.

Hiperonímia e hiponímia

Por hiperonímia, temos o caso em que a primeira expressão mantém com a segunda uma relação
de todo-parte ou classe-elemento. Por hiponímia, designamos o caso inverso: a primeira expressão
mantém com a segunda uma relação de parte-todo ou elemento-classe. Em outras palavras,
essas substituições ocorrem quando um termo mais geral – o hiperônimo – é substituído por
um termo menos geral – o hipônimo, ou vice-versa.

65
AULA 4 • Coesão

Hiperônimos Hipônimos
(termos mais gerais) (termos mais específicos)
Baleias Jubartes
Animais Jubartes
Cetáceos Baleias
Artesanato Renda de bilro
Litoral norte Praia, ilha, enseada
Instrumentos Pá, picareta, foice, enxada

Sintetizando

Vimos até agora:

»» Como a coesão relaciona ideias no texto de forma adequada.

»» Diversas formas de coesão e o uso adequado de pronomes para evitar ambiguidade.

»» Substantivos, pronomes, numerais, conjunções exercem a função de unir ideias e criar unidade no texto.

66
Tipologia textual
Aula
5
Introdução

A aula abordará os diferentes tipos e estruturas de texto consagrados pelos especialistas em todo
o mundo. Isso facilitará no momento da interpretação e da produção. Abordaremos com teoria
e exemplos práticos dos principais modelos que nos interessam em nosso curso.

Objetivos

»» Reconhecer diferentes modalidades textuais.

»» Estimular a prática de interpretação e produção de textos formais e informais.

»» Identificar a estrutura adequada para textos técnicos.

»» Dominar a estrutura de diferentes modelos de argumentação.

Tipologia textual

Para refletir

A todo o momento nos deparamos com vários textos, sejam eles verbais e não verbais. Em todos há a presença do
discurso, isto é, a ideia intrínseca, a essência daquilo que está sendo transmitido entre os interlocutores.

Esses interlocutores são as peças principais em um diálogo ou em um texto escrito, pois nunca escrevemos para nós
mesmos, nem mesmo falamos sozinhos.

É de fundamental importância sabermos classificar os textos dos quais travamos convivência no nosso dia a dia. Para
isso, precisamos saber que existem tipos textuais e gêneros textuais.

Comumente relatamos sobre um acontecimento, um fato presenciado ou ocorrido conosco, expomos nossa opinião
sobre determinado assunto, ou descrevemos algum lugar pelo qual visitamos, e ainda, fazemos um retrato verbal
sobre alguém que acabamos de conhecer ou ver.

É exatamente nessas situações corriqueiras que classificamos os nossos textos naquela tradicional tipologia:
Narração, descrição e dissertação.

67
AULA 5 • Tipologia textual

Para melhor exemplificarmos o que foi dito, tomamos como exemplo um editorial, no qual o autor expõe seu ponto
de vista sobre determinado assunto, uma descrição de um ambiente e um texto literário escrito em prosa.

Em se tratando de gêneros textuais, a situação não é diferente, pois se conceituam como gêneros textuais as diversas
situações sociocomunicativas que participam da nossa vida em sociedade. Como exemplo, temos: uma receita
culinária, um e-mail, uma reportagem, uma monografia, e assim por diante. Respectivamente, tais textos classificar-
se-iam como: instrucional, correspondência pessoal (em meio eletrônico), texto do ramo jornalístico e, por último,
um texto de cunho científico.

Mas como toda escrita perfaz-se de uma técnica para compô-la, é extremamente importante que saibamos a maneira
correta de produzir esta gama de textos. À medida que a praticamos, vamos nos aperfeiçoando mais e mais na sua
performance estrutural.

DUARTE, Vânia Maria do Nascimento. “Tipologia textual”. Brasil Escola.

Dissertação

Trata-se de um discurso lógico que apresenta uma tese (a ideia principal), argumentação
(comprovação com fatos que justificam a ideia do autor) e a conclusão. Dissertar pressupõe
sempre conhecimento sobre o assunto. Observe exemplo de dissertação.

O Brasil é o melhor lugar do mundo para se viver. Vários são os motivos para
essa afirmação: população simpática, clima agradável, o país não se envolve
em guerras. Assim, o Brasil se torna destino de estrangeiros em busca de um
lugar ideal.

Estrutura do texto dissertativo acima:

»» Introdução: O Brasil é o melhor lugar do mundo para se viver.

»» Argumento: os motivos (população, clima etc.)

»» Conclusão: estrangeiros escolhem o Brasil para viver.

»» Você percebeu que a dissertação se divide em três partes.

»» Introdução: apresenta a ideia inicial (uma afirmação ou opinião).

»» Argumentação: comprova a ideia inicial.

»» Conclusão: conclui o pensamento.

Introdução

Modelo de texto dissertativo acerca do tema “A posição social da


mulher de hoje”

Ao contrário de algumas teses predominantes até bem pouco tempo, a maioria das sociedades
de hoje já começam a reconhecer a não existência de distinção alguma entre homens e mulheres.

68
Tipologia textual • AULA 5

Não há diferença de caráter intelectual ou de qualquer outro tipo que permita considerar aqueles
superiores a estas.

Argumentação

Com efeito, o passar do tempo está a mostrar a participação ativa das mulheres em inúmeras
atividades. Até nas áreas antes exclusivamente masculinas, elas estão presentes, inclusive em
posições de comando. Estão no comércio, nas indústrias, predominam no magistério e destacam-
se nas artes. No tocante à economia e à política, a cada dia que passa, estão vencendo obstáculos,
preconceitos e ocupando mais espaços.

Cabe ressaltar que essa participação não pode nem deve ser analisada apenas pelo prisma
quantitativo. Convém observar o progressivo crescimento da participação feminina em detrimento
dos muitos anos em que não tinham espaço na sociedade brasileira e mundial.

Conclusão

Muitos preconceitos foram ultrapassados, mas muitos ainda perduram e emperram essa revolução
de costumes. A igualdade de oportunidades ainda não se efetivou por completo, sobretudo no
mercado de trabalho. Tomando-se por base o crescimento qualitativo da representatividade
feminina, é uma questão de tempo a conquista da real equiparação entre os seres humanos,
sem distinções de sexo.

Vamos analisar juntos o texto dissertativo a seguir.

A importância da língua estrangeira

Com o avanço da globalização tornou-se indispensável o conhecimento de saber


falar um segundo idioma, a fim de ter uma boa comunicação com o mundo.

O fenômeno da súbita globalização do mundo e da consequente necessidade de


uma linguagem eficiente de comunicação é um fato que não depende de nele
acreditarmos ou não. Sendo assim, aprender um segundo idioma tornou uma
necessidade básica para profissionais de diversas áreas e para aqueles que se
preparam para ingressar em um mercado de trabalho cada vez mais competitivo
e exigente. O domínio de outro idioma significa crescimento, desenvolvimento
e, acima de tudo, melhores condições de acompanhar as rápidas mudanças que
vêm ocorrendo nesse novo e tecnológico século.

Essa dimensão está ligada às estratégias de aprendizagem do sujeito –- aprender


a aprender –- e é reconhecida como recurso de significado que está ligado ao
conhecimento esquemático que torna possível a interação no processo discursivo:
tanto na fala quanto na escrita.

69
AULA 5 • Tipologia textual

A crescente internacionalização dos mercados levou as nações a adotarem o uso


de uma segunda língua. Considerando a importância econômica do Brasil como
país em desenvolvimento, dominar uma língua estrangeira tornou sinônimo de
sobrevivência e integração global.

O aprendizado dela abre as portas para o desenvolvimento pessoal,


profissional e cultural. O mercado atualmente considera um requisito
básico no momento da contratação que o candidato domine uma segunda
língua. Muitas vezes o conhecimento dela significa um salário até 70% maior
(PEDROSO, 2010).

Podemos observar que o autor demonstra a importância do conhecimento da língua estrangeira


(abordagem ou tese) por meio de ideias argumentativas (linguagem eficiente no mundo
globalizado, requisito para o mercado de trabalho, estratégia de aprendizado, internacionalização
dos mercados etc.).

Descrição

Descrever é apresentar aspectos físicos ou psicológicos. Consiste em retratar os pormenores de


um referente. Descreve bem uma situação quem é capaz de recriar imagens sensoriais na mente
do leitor. Observe textos descritivos.

Texto I

Por cima da moldura da porta há uma chapa metálica comprida e estreita,


revestida de esmalte. Sobre um fundo branco, as letras negras dizem Conservatória
Geral do Registro Civil. O esmalte está rachado e esboicelado em alguns pontos.
A porta é antiga, a última camada de pintura castanha está a descascar-se,
os veios da madeira, à vista, lembram uma pele estriada. Há cinco janelas na
fachada. Mal se cruza o limiar, sente-se o cheiro de papel velho. É certo que não
passa um dia sem que entrem papéis novos na Conservatória, dos indivíduos
de sexo masculino e de sexo feminino que lá fora vão nascendo, mas o cheiro
nunca chega a mudar, em primeiro lugar porque o destino de todo papel novo,
logo à saída da fábrica, é começar envelhecer, em segundo lugar porque, mais
habitualmente no papel velho, mas muitas vezes no papel novo, não passa um
dia sem que se escrevam causas de falecimento e respectivos locais e datas,
cada um construindo com seus cheiros próprios, nem sempre ofensivos das
mucosas olfactivas, como o demonstram certos eflúvios aromáticos que de vez
em quando, subtilmente, perpassam na atmosfera da Conservatória Geral e que
os narizes mais finos identificam como um perfume composto de metade rosa
e metade crisântemo.
SARAMAGO, José. Todos os nomes. São Paulo: Cia. das Letras, 1997, p.11.

70
Tipologia textual • AULA 5

Texto II

Bossa nova – Movimento de música popular brasileira, iniciado em 1958, no


Rio de Janeiro, no sentido de renovar a forma rítmica, harmônica e melódica da
música popular da época e com nítida influência do jazz. Apareceu pela primeira
vez num long-play de Elizeth Cardoso, com o acompanhamento de João Gilberto
ao violão. A forma sincopada de acentuar os contratempos, utilizando acordes
dissonantes de passagem, que Gilberto usou nas músicas Chega de saudade e
Outra vez, tornou-se a marca registrada da bossa nova. Essa maneira de tocar
deve muito às características da música Rapaz de bem (1953), de Johnny Alf.
Antonio Carlos Jobim e Vinícius de Morais, Sérgio Mendes e o Tamba Trio foram
outros expoentes do movimento. A divulgação do novo gênero se deveu a um
grupo de jovens que organizava shows para estudantes, entre eles Carlos Lira,
Ronaldo Bôscoli, Nara Leão e Roberto Menescal.
Nova Enciclopédia FOLHA, 1996, pp. 126-7.

Narração

O texto narrativo envolve tempo e ação. O principal é mudar o tempo no texto. É contar uma
história sobre algo que aconteceu com lugar, tempo e pessoas. Observe um texto narrativo de
Manuel Bandeira.

Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade. Conheceu Maria Elvira


na Lapa – prostituída, com sífilis, dermite nos dedos, uma aliança empenhada
e os dentes em petição de miséria. Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a
num sobrado no Estácio, pagou médico, dentista, manicura... Dava tudo quanto
ela queria.

Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado.


Misael não queria escândalo. Podia dar uma surra, um tiro, uma facada.
Não fez nada disso: mudou de casa. Viveram três anos assim. Toda vez que Maria
Elvira arranjava um namorado, Misael mudava de casa. Os amantes moraram
no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria, Ramos... Por fim na Rua da
Constituição, onde Misael, privado de sentidos e de inteligência, matou-a com
seis tiros, e a polícia foi encontrá-la em decúbito dorsal, vestida de organdi azul.
BANDEIRA, Manuel. Estrela da Manhã. Círculo do livro: São Paulo,1963.

Como se pode perceber, o texto narrativo apresenta algumas características no enredo: apresentação,
complicação, clímax, desfecho.

Observe outro texto narrativo.

Subi a escada com cautela, para não ser ouvido do mestre, e cheguei a tempo;
ele entrou na sala três ou quatro minutos depois. Entrou com o ar manso do

71
AULA 5 • Tipologia textual

costume, em chinelas de cordovão, com a jaqueta de brim lavada e desbotada,


calça branca e tesa e grande colarinho caído. Chamava-se Policarpo e tinha
perto de cinquenta anos ou mais. Uma vez sentado, extraiu da jaqueta a boceta
de rapé e o lenço vermelho, pô-los na gaveta; depois relanceou os olhos pela
sala. Os meninos, que se conservaram de pé durante a entrada dele, tornaram a
sentar-se. Tudo estava em ordem; começaram os trabalhos.
ASSIS, Machado de. Conto de escola. In: Seus trinta melhores contos. Rio de Janeiro: Nova
Aguilar, 2008.

O texto narrativo geralmente apresenta discursos de personagens. Tais discursos podem ser
divididos em direto, indireto ou indireto-livre.

Direto

O narrador reproduz a fala da personagem por meio das palavras exatas pronunciadas. Não há
interferência do autor na transcrição e ela é feita diretamente. Observe exemplos.

Exemplo 1:

Ele afirmou: “Não sei se conseguirei!”

Exemplo 2:

Deixou a moça falar, desejosa de desprender-se de suas preocupações e embalar-


se ao rumor dessa voz que ouvia, sem compreender. Sabia que a viúva conversava
acerca do baile; mas não acompanhava o que ela dizia. De repente, porém,
interrompeu-a:

- Que tal achou a Amaralzinha, D. Firmina?

A velha fez semblante de recordar-se.

- A Amaralzinha?... É aquela moça toda de azul?

- Com espigas de prata nos cabelos e nos apanhados da saia; simples e de muito
bom gosto.

- Lembra-me. É uma menina bem galante! afirmou a viúva.

- E bem-educada. Dizem que toca piano perfeitamente, e que tem uma voz
muito agradável.

- Mas não costuma aparecer na sociedade. É a primeira vez que a encontramos;


não me lembro de a ter visto antes.

- Foi a primeira vez!

72
Tipologia textual • AULA 5

Pronunciando estas palavras, a moça parecia de novo sentir sua alma refranger-se
atraída imperiosamente por esse pensamento recôndito que a absorvia.
ALENCAR, José de, Senhora. 34. ed. 2ª imp. São Paulo: Editora Ática, 2000.

Indireto

O narrador usa suas palavras para reproduzir uma fala de outrem. Geralmente, é escrito em
terceira pessoa. O autor do texto transcreve os discursos de forma indireta (com suas palavras e
não exatamente as do personagem).

Exemplo 1:

Ele afirmou que não sabe se conseguirá.

Exemplo 2:

Elisiário confessou que estava com sono.

Indireto-livre

O narrador produz um texto em que retira propositadamente o conectivo, provocando um


elo psicológico no discurso. A fala da personagem (que seria um discurso direto mantém suas
características diretas) é desenvolvida como parte do texto narrativo do narrador e não da própria
personagem.

Exemplo 1:

Ele afirmou que não era cachorro. Quem ele pensa que é? Quem ele pensa que sou?

Exemplo 2:

Aperto o copo na mão. Quando Lorena sacode a bola de vidro a neve sobe tão
leve. Rodopia flutuante e depois vai caindo no telhado, na cerca e na menininha
de capuz vermelho. Então ela sacode de novo. ‘Assim tenho neve o ano inteiro’.
Mas por que neve o ano inteiro? Onde é que tem neve aqui? Acha lindo a neve.
Uma enjoada. Trinco a pedra de gelo nos dentes.
(Lygia Fagundes Telles, As Meninas.)

Exemplo 3:

Quincas Borba calou-se de exausto, e sentou-se ofegante. Rubião acudiu, levando-


lhe água e pedindo que se deitasse para descansar; mas o enfermo após alguns
minutos, respondeu que não era nada. Perdera o costume de fazer discursos é
o que era.
(Machado de Assis, Quincas Borba.)

73
AULA 5 • Tipologia textual

Gêneros textuais

O estudo dos gêneros textuais procura identificar estruturas linguísticas de textos em situações
diversas. De acordo com a estrutura e com a finalidade, os especialistas classificaram os textos
em gêneros textuais. Destacamos que um mesmo texto pode apresentar diversos gêneros ao
mesmo tempo. Geralmente, um gênero se destaca em relação aos demais, de acordo com o
interesse do autor.

O objetivo do autor é de muita importância para estabelecer a comunicação desejada e apresentar


características básicas dos gêneros textuais. Assim, o editorial de um jornal possuirá características
diferentes de um romance, por exemplo.

Conhecimento essencial é a diferença entre prosa e poesia.

Prosa é o texto escrito em períodos e parágrafos (dissertação, narração ou descrição). Não há


preocupação com a versificação, rimas ou ritmo. O termo prosa tem origem na ideia de texto
em linha reta. Observe exemplo de prosa.

Provavelmente você já ouviu histórias dos seus pais ou avós sobre como era a
escola no início do século 20. Professores severos, senhores do conhecimento,
armados com palmatória, réguas de madeira e punhados de milho, usados para
castigar alunos indisciplinados ou que não conseguiam aprender. O mestre falava;
os alunos anotavam. Quem tinha memória afiada para recitar a tabuada, e não
raciocínio crítico, ganhava nota alta e elogios. As engrenagens desse modelo
atravessaram décadas e, aqui e ali, ainda se veem resquícios do seu funcionamento.
Felizmente, uma jovem de 26 anos – a internet – tem sido a principal aliada de
empreendedores dispostos a banir esse padrão caduco e instaurar uma nova
ordem no ensino, muito mais afiada com as necessidades do século 21.
REVISTA PEGN. São Paulo, edição 343, de agosto de 2017.

Poesia, por sua vez, é o texto escrito com preocupação com a versificação, rimas e ritmo. Observe
exemplo de poesia.

Vou-me Embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada

Lá sou amigo do rei

Lá tenho a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada

74
Tipologia textual • AULA 5

Aqui eu não sou feliz

Lá a existência é uma aventura

De tal modo inconsequente

Que Joana a Louca de Espanha

Rainha e falsa demente

Vem a ser contraparente

Da nora que nunca tive

E como farei ginástica

Andarei de bicicleta

Montarei em burro brabo

Subirei no pau-de-sebo

Tomarei banhos de mar!

E quando estiver cansado

Deito na beira do rio

Mando chamar a mãe-d’água

Pra me contar as histórias

Que no tempo de eu menino

Rosa vinha me contar

Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo

É outra civilização

Tem um processo seguro

De impedir a concepção

Tem telefone automático

Tem alcaloide à vontade

Tem prostitutas bonitas

75
AULA 5 • Tipologia textual

Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste

Mas triste de não ter jeito

Quando de noite me der

Vontade de me matar

— Lá sou amigo do rei —

Terei a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada.


Manuel Bandeira. Libertinagem. Nova Fronteira: Rio de Janeiro, 1974.

Agora, podemos mostrar os principais gêneros textuais.

Romance

Possui um núcleo principal, mas outras tramas se desenvolvem também. É um texto longo, tanto
na quantidade de acontecimentos narrados quanto no tempo em que se desenrola o enredo.

Novela

Narrativa menos longa que o romance e se utiliza de menos enredos paralelos.

Conto

Narrativa curta. O tempo em que se passa é reduzido e contém poucas personagens que existem
em função de um núcleo.

Crônica

Por vezes é confundida com o conto. A diferença básica entre os dois é que a crônica narra fatos
do dia a dia, relata o cotidiano das pessoas, situações que presenciamos e já até prevemos o
desenrolar dos fatos.

Fábula

Semelhante a um conto em sua extensão e estrutura narrativa. O diferencial se dá, principalmente,


no objetivo do texto, que é o de dar algum ensinamento, uma moral. Outra diferença é que as

76
Tipologia textual • AULA 5

personagens são animais, mas com características de comportamento e socialização semelhantes


às dos seres humanos.

Parábola

Versão da fábula com personagens humanas. O objetivo é o mesmo, o de ensinar algo. Para isso
são utilizadas situações do dia a dia das pessoas.

Apólogo

Semelhante à fábula e à parábola, mas pode se utilizar das mais diversas e alegóricas personagens:
animadas ou inanimadas, reais ou fantásticas, humanas ou não. Da mesma forma que as outras
duas, ilustra uma lição de sabedoria.

Anedota

Tipo de texto produzido com o objetivo de motivar o riso. É geralmente breve e depende de
fatores como entonação, capacidade oratória do intérprete e até representação. Nota-se então
que o gênero se produz na maioria das vezes na linguagem oral, sendo que pode ocorrer também
em linguagem escrita.

Lenda

História fictícia a respeito de personagens ou lugares reais; sendo assim, a realidade dos fatos
e a fantasia estão diretamente ligadas. A lenda é sustentada por meio da oralidade, torna-se
conhecida e só depois é registrada por meio da escrita. O autor, portanto é o tempo, o povo e a
cultura. Normalmente fala de personagens conhecidas, santas ou revolucionárias.

Editorial

Textos de uma publicação periódica em que o conteúdo expressa a opinião da empresa, da direção
ou da equipe de redação, sem a obrigação de se ater a nenhuma imparcialidade ou objetividade.
Geralmente, grandes jornais reservam um espaço predeterminado para os editoriais em duas
ou mais colunas logo nas primeiras páginas internas.

Notícia

A notícia apresenta características descritivas e narrativas de determinado fato ou acontecimento


com informações sobre quem, onde, o que, quando, por que e como.

77
AULA 5 • Tipologia textual

Reportagem

A reportagem é gênero textual do jornalismo com características mais dissertativas com enfoque
expositivo. Seu objetivo é informar por meio de linguagem denotativa e de forma mais detalhada
do que a simples notícia.

Entrevista

Gênero textual em que se reproduz o diálogo entre pelo menos duas pessoas com enfoque em
assuntos específicos. A entrevista ocorre no jornalismo, no pedido de emprego e em outras
situações em que haja necessidade do diálogo com objetivos específicos. Geralmente, há um
entrevistador e um entrevistado. Assim, não basta apenas a reprodução do diálogo. Alguém faz
perguntas e o outro responde.

Texto literário e não literário

A classificação como literário ou não depende do objetivo principal do autor. A preocupação


com a comunicação de dados objetivos, conhecimentos científicos, notícias determina um texto
não literário. É o caso do jornalismo, das revistas semanais, das teses acadêmicas, das receitas,
do conteúdo que aprendemos em diversas matérias escolares. A função referencial predomina
no texto não literário.

Já o texto literário não tem essa função nem esse compromisso com a realidade exterior: é
expressão da realidade interior e subjetiva de seu autor. São textos escritos para emocionar, que
utilizam a linguagem poética. Função emotiva e poética predominam no texto literário. Exemplos
de texto literário são o romance, o poema, o conto, a novela.

Texto literário de Machado de Assis em poesia.

Círculo Vicioso

Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:

- Quem me dera que fosse aquela loura estrela,

que arde no eterno azul, como uma eterna vela!

Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:

- Pudesse eu copiar o transparente lume,

que, da grega coluna á gótica janela,

contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela!

78
Tipologia textual • AULA 5

Mas a lua, fitando o sol, com azedume:

- Misera! tivesse eu aquela enorme, aquela

claridade imortal, que toda a luz resume!

Mas o sol, inclinando a rutila capela:

- Pesa-me esta brilhante aureola de nume...

Enfara-me esta azul e desmedida umbela...

Porque não nasci eu um simples vaga-lume?

Texto literário de Machado de Assis em prosa do livro Memórias Póstumas de Brás Cubas.

Talvez espante ao leitor a franqueza com que lhe exponho e realço a minha
mediocridade; advirta que a franqueza é a primeira virtude de um defunto.
Na vida, o olhar da opinião, o contraste dos interesses, a luta das cobiças obrigam a
gente a calar os trapos velhos, a disfarçar os rasgões e os remendos, a não estender
ao mundo as revelações que faz à consciência; e o melhor da obrigação é quando,
a força de embaçar os outros, embaça-se um homem a si mesmo, porque em tal
caso poupa-se o vexame, que é uma sensação penosa e a hipocrisia, que é um
vício hediondo. Mas, na morte, que diferença! que desabafo! que liberdade! Como
a gente pode sacudir fora a capa, deitar ao fosso as lentejoulas, despregar-se,
despintar-se, desafeitar-se, confessar lisamente o que foi e o que deixou de ser!
Porque, em suma, já não há vizinhos, nem amigos, nem inimigos, nem conhecidos,
nem estranhos; não há platéia. O olhar da opinião, esse olhar agudo e judicial,
perde a virtude, logo que pisamos o território da morte; não digo que ele se não
estenda para cá, e nos não examine e julgue; mas a nós é que não se nos dá do
exame nem do julgamento. Senhores vivos, não há nada tão incomensurável
como o desdém dos finados (ASSIS, 1982).

Texto não literário publicado na revista Exame.

Disrupção: nova palavras de ordem

Negócios que não nasceram digitais precisam se transformar para ter relevância
na vida dos consumidores. Afinal, a utilização de dados, suportada por tecnologias
como big data, mobilidade e cloud computing, permite que as empresas
compreendam melhor a jornada dos clientes, com todas as suas etapas de
interação, para promover melhorias e até se antecipar às suas necessidades.
E é isso o que o consumidor espera. Não basta ser bem atendido. É preciso ser
surpreendido.

Nesse cenário, negócios inovadores estão um passo à frente. Quem não nasceu
digital precisa repensar suas atividades e mapear o que deve ser feito em todas
as áreas para atender às novas demandas dos consumidores.

79
AULA 5 • Tipologia textual

“Não existe roteiro único para isso”, diz Marcello Miguel, diretor executivo de
marketing e negócios da Embratel. “Os casos bem-sucedidos, no entanto, têm em
comum uma estrutura eficiente e integrada de telecomunicações, TI, mobilidade,
nuvem e segurança da informação”, informa. É o essencial para que a empresa
suporte todas as demandas de conectividade, processe em tempo real o imenso
volume de informações e entregue dados para o usuário final onde quer que ele
esteja.
REVISTA EXAME. Edição 1145, de 13 de setembro de 2017.

Estilos

Estilística (do alemão Stilistik, pelo francês stylistique) é o ramo da linguística que estuda
os recursos de expressão de uma determinada língua. Estudam-se, assim, as características
que promovem sugestões e emoções no receptor da comunicação. Alguns estudiosos
consideram-na uma parte da gramática.

A estilística surgiu como estudo próprio em princípios do século XX, por meio das propostas
feitas pelo alemão Karl Vossler e pelo suíço Ferdinand de Saussure, com base em conhecimentos
clássicos, como a retórica ensinada pelos gregos.

Textos técnicos

Texto técnico é a modelo direcionado para área específica de atuação com necessidade de
linguagem objetiva e estrutura predefinida. São exemplos de documentos técnicos: parecer,
relatório, decisão judicial, trabalho acadêmico, laudo etc.

Ser competente para produzir texto técnico depende de dedicação constante. Observação aos
detalhes e prática promovem melhora significativa no ato de redigir. Nosso objetivo, assim, é que
você adquira capacidade de expressar com competência ideias em textos organizados, objetivos,
claros e corretos gramaticalmente.

Texto técnico pode ser informativo (comunicado, por exemplo) ou argumentativo (parecer,
decisão judicial, trabalho científico etc.) A argumentação visa persuadir o leitor acerca de uma
posição. Quanto mais polêmico for o assunto em questão, mais dará margem à abordagem
argumentativa. Pode ocorrer desde o início quando se defende uma tese ou também apresentar
os aspectos favoráveis e desfavoráveis posicionando-se apenas na conclusão. Agostinho Dias
Carneiro afirma que “argumentar é um processo que apresenta dois aspectos: o primeiro ligado
à razão, supõe ordenar ideias, justificá-las e relacioná-las; o segundo, referente à paixão, busca
capturar o ouvinte, seduzi-lo e persuadi-lo”.

80
Tipologia textual • AULA 5

Os argumentos devem promover credibilidade. Com a busca de argumentos por autoridade e


provas concretas o texto caminha para direção coerente, precisa e persuasiva.

Othon M. Garcia afirma que “na argumentação, além de dissertar, procuramos formar a opinião
do leitor ou a do ouvinte, tentando convencê-lo de que a razão está conosco”, isto é, a verdade.
Argumentar é, em última análise, convencer ou tentar convencer mediante a apresentação de
razões em face da evidência das provas e à luz de um raciocínio lógico e consistente.

Linguagem técnica

O Manual de Redação e Padronização de Atos Oficiais do Ministério Público Federal recomenda


que a estrutura de texto técnico seja dividida em três partes: introdução, desenvolvimento e
conclusão.

A sequência do texto deve atender a uma ordenação lógica, levando o(a) leitor(a) a compreender
todas as considerações formuladas e induzindo-o(a) à conclusão, que deve constituir o fecho
do documento. Antes de iniciar a redação do texto, é recomendável elaborar um roteiro básico
com todos os assuntos que deverão ser incorporados, preparando-se, portanto, a itemização
geral do documento.

A parte textual dos documentos técnicos deve conter as seguintes seções:

»» Introdução: parte em que se identifica a autoridade que efetuou a solicitação, se justifica


o motivo ou necessidade do trabalho e na qual cada assunto é apresentado como um
todo, sem detalhes. Também deve ser informada, caso necessário, a metodologia de
trabalho ou análise utilizada.

»» Desenvolvimento: parte mais extensa, que visa descrever a análise ou estudo,


levantamentos realizados, metodologias empregadas e técnicas utilizadas, assim
como os resultados da leitura crítica dos documentos ou o que foi visto/registrado
durante o evento. Nesta seção, devem ser esclarecidas as dúvidas ou respondidos
os questionamentos da autoridade que demandou a atividade técnica. Esta
parte deve ser itemizada caso a caso, podendo conter um, dois ou vários itens de
desenvolvimento/análise e receber os títulos apropriados.

»» Conclusão: parte integrante de pareceres e laudos que consiste na comunicação, de


forma sintética, dos resultados obtidos, ressaltando o seu alcance ou suas consequências.
Também pode apresentar sugestões de ações a serem adotadas.

Observe a linguagem e a estrutura no trecho citado a seguir de parte do relatório técnico de


Gestão Ambiental da Companhia Energética Rio das Antas.

81
AULA 5 • Tipologia textual

Este Relatório de Meio Ambiente descreve o andamento das atividades ambientais no período
de julho a setembro de 2006, compreendendo as atividades ambientais do canteiro de obras
e a implementação dos programas do Projeto Básico Ambiental, apresentados em quatro
capítulos:

I. Gerenciamento Ambiental

II. Programas do Meio Físico

›› Monitoramento das Condições Climatológicas: executado pela Universidade de Santa


Maria/FATEC, sob a coordenação do Prof. Osvaldo Moraes.

›› Monitoramento das Águas Subterrâneas: executado pelas empresas Ambiental Projetos


de Meio Ambiente, sob a coordenação do geólogo Denis Wolf, e Laborquímica, sob
a coordenação do eng. químico José Carlos Bignetti.

›› Monitoramento Limnológico e da Qualidade da Água: executado pela empresa


Laborquímica, sob a coordenação do eng. químico José Carlos Bignetti; no que se
refere à coleta e análise da água, e pela FAURGS, sob a coordenação do Prof. Albano
Schwarzbold na interpretação dos resultados.

›› Recuperação de Áreas Degradadas: executado pela empresa construtora, sob a


supervisão e acompanhamento da Ceran e ABG Engenharia Ambiental.

›› Investigação Minerária: executado pela Ceran.

›› Monitoramento Sismográfico: executado pela empresa AFC Geofísica, sob a


coordenação do geólogo Antônio Flávio Costa.

›› Monitoramento Hidrossedimentológico: executado pela empresa Socioambiental


Consultores Associados, sob a coordenação do engenheiro Ricardo Müller Arcari.

III. Programas do Meio Biótico

›› Monitoramento e Resgate da Ictiofauna: executado pela empresa Limnobios, sob a


coordenação do Prof. Ângelo Agostinho.

›› Salvamento, Resgate e Monitoramento da Fauna: executado pela empresa Biolaw


Consultoria Ambiental, sob a coordenação do biólogo Adriano Cunha.

›› Salvamento, Resgate e Monitoramento da Flora: executado pela empresa ABG


Engenharia Ambiental, sob a coordenação do eng. Alexandre Bugin.

›› Controle da Proliferação de Macrófitas, executado pela FAURGS, sob a coordenação


do Prof. Albano Schwarzbold;

82
Tipologia textual • AULA 5

IV. Programas do Meio Antrópico

›› Remanejamento da população: executado pela Ceran.

›› Monitoramento da população atingida: executado pela Ceran.

›› Monitoramento da Saúde Pública: executado pela Universidade de Santa


Maria/FATEC, sob a coordenação dos Profs. Carla Bender Kotzian e Sandro Santos.

›› Educação Ambiental: executado pela Ceran.

›› Comunicação Social: executado pela Ceran.

›› Gestão dos Reservatórios: executado pela Ceran e ABG Engenharia Ambiental.

›› Apoio à População Migrante: executado pela empresa construtora Camargo Corrêa,


sob a supervisão da Ceran.

›› Redimensionamento e Relocação da Infraestrutura: executado pela Ceran.

Texto publicitário

A publicidade cresce a cada dia e nos envolve de todos os lados. A função do texto publicitário é
convencer o potencial cliente a adquirir o melhor produto. É muito comum o uso de linguagem
verbal e não verbal na linguagem publicitária em vídeo e o uso de ideias explícitas e implícitas
em todos os formatos de publicidade.

O texto publicitário geralmente se apoia muito na imagem. Observe o exemplo a seguir de


publicidade.

Figura 3.

Fonte: <http://1.bp.blogspot.com/_G0HDtQr7vFo/SigZ1f2FZSI/AAAAAAAAAD0/YycupSVv4X8/s400/aurelio.jpg>.

O texto publicitário deve ser capaz de despertar o interesse do leitor a fim de realizar ou adquirir
algo. O objetivo implícito do texto publicitário é sempre estimular o receptor a fazer algo.
Não se trata apenas de informar. A persuasão é necessária em toda a propaganda.

83
AULA 5 • Tipologia textual

Texto expositivo

No texto expositivo, o autor se preocupa em demonstrar que conhece o assunto. Não se deseja
abordar um posicionamento direto. Diversos autores não consideram o texto expositivo no
estudo da argumentação. No entanto, em muitos casos, a exposição revela por si só a intenção
de demonstrar ideia sobre o assunto. Observe exemplos a seguir.

Os três poderes da República são o Executivo, exercido pelo Presidente da


República, auxiliado pelos Ministros de Estado; o Legislativo, exercido pelo
Congresso Nacional, que se compõe da Câmara dos Deputados e do Senado
Federal; e o Judiciário, do qual fazem parte o Supremo Tribunal Federal, o
Conselho Nacional de Justiça, o Superior Tribunal de Justiça, os Tribunais Regionais
Federais, os Tribunais do Trabalho, os Tribunais Eleitorais, os Tribunais Militares
e os Tribunais dos Estados e do Distrito Federal e Territórios.

Observe como a wikipedia define administração pública.

A administração pública (ou gestão pública) se define como o poder de gestão


do Estado, no qual inclui o poder de legislar e tributar, fiscalizar e regulamentar,
através de seus órgãos e outras instituições; visando sempre a um serviço público
efetivo. A administração se define através de um âmbito institucional-legal,
baseada na Constituição, leis e regulamentos. Originou-se na França, no fim
do século XVIII, mas só se consagrou como ramo autônomo do direito com o
desenvolvimento do Estado de Direito. Teve como base os conceitos de serviço
público, autoridade, poder público e especialidade de jurisdição.

Os princípios norteadores da administração pública e do próprio direito


administrativo foram os da separação das autoridades administrativas e judiciária;
da legalidade; da responsabilidade do poder público; e, decisões executórias
dos atos jurídicos, emitidos unilateralmente. As decisões executórias conferem
privilégios à administração pública, contrapondo-se ao ideal de igualdade
perante a lei. Essas prerrogativas e privilégios que lhe são outorgadas, permitem-
lhe assegurar a supremacia do interessepúblico sobre o particular. Contudo, é
importante que decorra da lei o fundamento para as decisões administrativas.
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Administra%C3%A7%C3%A3o_p%C3%Bablica>. Acesso
em 7 de janeiro de 2018.

Sintetizando

Vimos até agora:

»» Diferentes estruturas textuais de dissertação, descrição e narração.

»» Conceito e modelos de prosa e de poesia.

»» Definição de diversos gêneros textuais.

»» Linguagem técnica, linguagem publicitária, linguagem expositiva.

84
Produção textual
Aula
6
Introdução

Estudamos a importância da comunicação e como podemos melhorar nossa capacidade de


interpretar textos. Agora chegou o momento de produzirmos textos com eficiência e de forma
adequada. Sabemos que existem diferentes tipos de textos e diferentes estilos para se escrever.
Levaremos isso em consideração em nosso estudo. Cada pessoa possui características próprias
ao produzir um texto. No entanto, há qualidades específicas e comprovadas que tornam a
comunicação textual mais eficiente. É justamente o que abordaremos agora.

Espero que você observe na aula como podemos melhorar nossa capacidade de produzir texto
melhores de acordo com a situação.

Objetivos

»» Despertar o interesse em produzir texto de forma eficiente.

»» Reconhecer que o leitor deve ser levado em consideração durante toda a produção textual.

»» Identificar estilos que tornam o texto mais claro, coerente, objetivo e correto.

Para refletir

Não tenhas medo das palavras grandes, pois se referem a pequenas coisas.

Para o que é grande os nomes são pequenos:

assim a vida e a morte, a paz e a guerra, a noite, o dia, a fé, o amor e o lar.

Aprende a usar, com grandeza, as palavras pequenas.

Verás como é difícil fazê-lo, mas conseguirás dizer o que queres dizer.

Entretanto, quando não souberes o que queres dizer,

usa palavras grandes, que geralmente servem para enganar os pequenos.

Arthur Kudner.

85
AULA 6 • Produção textual

Competência textual

O domínio da produção de texto depende inicialmente em saber se expressar de forma adequada.


A Língua Portuguesa, de vocabulário extenso e gramática complexa, permite ampla variação
linguística. Expressar-se bem não significa texto rebuscado ou incompreensível. Pode-se afirmar
que deve ser justamente o contrário. Assim, nossa primeira preocupação é apresentar qualidades
fundamentais ao texto adequado.

Clareza

Habilidade de transpor com exatidão uma ideia ou pensamento. O texto deve ser claro de tal
forma que não permita interpretação equivocada ou demorada pelo leitor. A compreensão
deve ser imediata. É importante usar vocabulário acessível, redigir orações na ordem direta,
utilizar períodos curtos e eliminar o emprego excessivo de adjetivos. Deve-se excluir da escrita
ambiguidade, obscuridade ou rebuscamento.

O texto claro pressupõe o uso de sintaxe correta e de vocabulário ao alcance do leitor. Seguem
recomendações para obtenção de clareza:

a. releia o texto várias vezes para assegurar-se de que está claro;

b. empregue a linguagem técnica apenas em situações que a exijam e tenha o cuidado


de explicitá-la em comunicações a outros órgãos ou em expedientes voltados para os
cidadãos;

c. certifique-se de que as conjunções realmente estabeleçam as relações sintáticas


desejadas; no entanto, evite o uso excessivo de orações subordinadas, pois períodos
muito subdivididos dificultam o entendimento;

d. utilize palavras e expressões em outro idioma apenas quando forem indispensáveis, em


razão de serem designações ou expressões de uso já consagrado ou de não terem exata
tradução. Nesse caso, grafe-as em itálico.

Concisão

Consiste em informar o máximo em um mínimo de palavras. No entanto, contenção de palavras


não significa contenção de pensamentos. Por essa razão, não se devem eliminar fragmentos
essenciais do texto com o objetivo de reduzir-lhe o tamanho. Os itens que nada acrescentam ao
que já foi dito é que necessitam ser eliminados. Mais que curtas e claras, as expressões empregadas
devem ser precisas. Para redigir um texto conciso, é fundamental ter conhecimento do assunto
sobre o qual se escreve. Seguem recomendações:

86
Produção textual • AULA 6

a. revise o texto e retire palavras inúteis, repetições desnecessárias, desmedida adjetivação


e períodos extensos e emaranhados. Não acumule pormenores irrelevantes.

b. dispense, sempre que possível, os verbos auxiliares, em especial ser, ter e haver, pois a
recorrência constante a eles torna a redação monótona, cansativa;

›› o secretário-geral irá proporcionar (proporcionará) aos servidores (...).

c. prefira palavras breves. Entre duas palavras opte pela de menor extensão.

d. dispense, nas datas, os substantivos dia, mês e ano:

›› no dia 12 de janeiro (em 12 de janeiro);

›› no mês de fevereiro (em fevereiro);

›› no ano de 2018 (em 2018).

e. Troque a locução verbo + substantivo pelo verbo:

›› fazer uma viagem (viajar);

›› fazer uma redação (redigir);

›› pôr as ideias em ordem (ordenar as ideias);

›› pôr moedas em circulação (emitir moedas).

f. Use aposto em lugar de oração apositiva:

›› Inadequado: O contrato previa a construção da ponte em um ano, que era prazo mais
do que suficiente.

›› Adequado: O contrato previa a construção da ponte em um ano, prazo mais do que


suficiente.

g. Empregue particípio para reduzir orações:

›› Inadequado: Agora que expliquei o título, passo a escrever o texto.

›› Adequado: Explicado o título, passo a escrever o texto.

h. Elimine, sempre que possível, os artigos indefinidos um e uma:

›› Dante quer (um) inquérito rigoroso e rápido.

›› Timor-Leste se torna (uma) terra de ninguém.

›› A cultura da paz é (uma) iniciativa coletiva.

87
AULA 6 • Produção textual

Coerência e coesão

Coerência é ordenar e concatenar ideias de maneira lógica com objetivo de obter clareza e
unidade de sentido no texto. A organização lógica busca apresentar e relacionar, principalmente,
fatos relevantes, sequência cronológica, estrutura argumentativa (dedutiva ou indutiva). Coesão
é apresentar relação adequada entre orações, períodos e parágrafos por meio de conectivos e
termos que retomem ou antecipem ideias.

Correção gramatical

A utilização do padrão formal ou informal de linguagem depende da intenção do autor e do


público com quem se comunica. No meio acadêmico e profissional, recomenda-se sempre
buscar texto correto em sua sintaxe, claro em seu significado, coerente e coeso em sua estrutura,
elegante em seu estilo. Ser culto não é ser rebuscado. As incorreções gramaticais desmerecem o
autor. É comum encontrar textos com verdadeiras acrobacias linguísticas e desprezível conteúdo.
Seguem recomendações:

a. estude as regras gramaticais do idioma;

b. domine o sentido exato de expressões e vocábulos empregados em textos técnicos;

c. evite coloquialismo, gírias, sentido figurado em texto formal;

d. prefira palavras simples quando for possível;

e. adote a ordem direta da frase, por ser a que conduz mais facilmente o leitor à essência
da mensagem.

Objetividade

A objetividade consiste em ir diretamente ao assunto, sem rodeios e divagações. Para ser objetivo,
é necessário escrever apenas as palavras imprescindíveis à compreensão do assunto. Redigir com
objetividade é evidenciar a ideia central a ser transmitida e usar vocabulário de sentido exato,
com referencial preciso, para facilitar a compreensão do leitor. Observe exemplo de texto com
falta de objetividade retirado de revista de grande circulação:

Texto subjetivo

Investigar as causas principais que fizeram desabrochar no meu espírito durante


os anos tão distantes da infância que não voltam mais e da qual poucos
traços guardo na memória, já que tantos anos se escoaram, a vocação para a
Engenharia é tarefa que pelas razões expostas, me é praticamente impossível
e, ouso acrescentar que, mesmo para um psicólogo acostumado a investigar
as profundezas da mente humana, essa pesquisa seria sobremodo árdua para
não dizer impossível.

88
Produção textual • AULA 6

Texto objetivo

Investigar as causas principais que, na infância, despertaram em mim


vocação para a Engenharia é tarefa praticamente impossível, mesmo para
um psicólogo.

Como produzir texto objetivo:

a. use frases curtas e evite intercalações excessivas ou inversões desnecessárias.

›› Inadequado: O maior país da América Latina – apesar de ainda desconhecer seu


potencial imenso – parece ter encontrado o caminho do progresso tão esperado pela
população.

›› Adequado: O Brasil parece ter encontrado o caminho do progresso.

b. elimine os adjetivos que não contribuam para a clareza do pensamento.

›› Inadequado: A maravilhosa cidade de Brasília, capital do Brasil, representará nosso


imenso país.

›› Adequado: Brasília representará o Brasil.

c. corte os advérbios ou as locuções adverbiais dispensáveis.

›› Inadequado: Desde sempre e nos dias de hoje, há necessidade de estudo.

›› Adequado: Há necessidade de estudo sempre.

d. seja econômico no emprego de pronomes pessoais, pronomes possessivos e pronomes


indefinidos. Evite, por exemplo, um tal, um outro, um certo, um determinado, pois
termos indefinidos juntos não contribuem para maior clareza; ao contrário, tornam o
texto obscuro.

›› Inadequado: Um tribunal de São Paulo produziu um parecer contrário.

›› Adequado: Tribunal de São Paulo produziu parecer contrário.

e. restrinja o uso de conjunções e de pronomes relativos (que, qual, cujo).

›› Inadequado: O processo que foi arquivado e que apresentava informações que eram
relevantes.

›› Adequado: O processo arquivado apresentava informações relevantes.

f. não use expressões irrelevantes, pois tornam o texto artificial.

›› Inadequado: O Maracanã, que fica no Rio de Janeiro, foi reformado.

›› Adequado: O Maracanã foi reformado.

89
AULA 6 • Produção textual

g. evite figuras de linguagem, frases ambíguas.

›› Inadequado: O tribunal é fogo para decidir.

›› Adequado: O tribunal é criterioso para decidir.

h. se puder optar, escolha a voz ativa.

›› Inadequado: O relatório foi produzido pela diretoria.

›› Adequado: A diretoria produziu o relatório.

i. não externe opiniões subjetivas, reúna fatos e fundamentos lógicos;

j. use palavras específicas, pertinentes ao assunto.

Uso adequada da palavra

O texto deve ser de entendimento fácil e imediato. É desaconselhável empregar palavras ou


expressões que produzam dúvidas ou pouco empregadas em nosso vocabulário. Observe exemplos
de termos a serem evitados.

Aborígine (índio, indígena)


Aceder (concordar)
Aditar (acrescentar)
Adjacência (vizinhança)
Alcaide (prefeito)
Alhures (em outro lugar)
Alocução (discurso curto)
Amplexo (abraço)
Beneplácito (consentimento)
Bisar (repetir)
Bojo de, no (junto com)
Bordejar (andar ao redor)
Consentâneo (adequado, apropriado)
Data natalícia (aniversário)
Declinar (de convite,recusar, resistir)
Edil (vereador)
Escuso (escondido, suspeito)
Esmaecido (sem cor, desbotado)
Fazer colocação (argumentar, opinar)
Hodierno (atual)

90
Produção textual • AULA 6

Ilibado (sem mancha)


Impoluto (sem mancha)
Inaudito (incrível)
Incauto (imprudente)
Inquirir (perguntar)
Interregno (intervalo)
Intrépido (corajoso)
Jaez (qualidade, espécie)
Judicioso (sensato)
Loquaz (eloquente)
Múnus (função, cargo)
Nababo (milionário)
Perfunctório (superficial)
Pernóstico (pretensioso, pedante)
Porfia (disputa, debate)
Prócer (pessoa importante)
Refrega (luta)
Reprimenda (repreensão)
Trêfego (irrequieto, astuto, manhoso)

Sentido denotativo e conotativo

Se o texto for direcionado para um ambiente acadêmico ou profissional, é importante usar o


sentido denotativo. Observe a diferença entre denotação e conotação.

»» Sentido denotativo: é o uso de um termo em seu sentido primeiro, real, do dicionário. Ao


pensarmos em joia, logo nos vem ao pensamento uma pedra preciosa ou algo semelhante.

»» Sentido conotativo: é o uso de um termo em seu sentido figurado. Ao caracterizar alguém


como uma pessoa “joia”, houve uma transferência de sentido facilmente compreensível,
mas inadequada para um concurso.

Evite também palavras que possam apresentar polissemia (vários sentidos no contexto),
neologismos (criações artísticas ou inovadoras), arcaísmos (palavras em desuso) ou gírias. Nossa
preocupação é apresentar uma ideia de forma clara e não produzir um texto literário.

Para refletir

Escrever é ter coisas para dizer (Darcy Ribeiro).

91
AULA 6 • Produção textual

Defeitos a serem evitados

Nosso assunto agora é evitar defeitos que comprometem a expressão e, assim, a fundamentação.

Prolixidade

É importante que se eliminem as expressões supérfluas e os pormenores excessivos. Muitas vezes,


o autor acredita que, escrevendo bastante, utilizando frases de efeito, tornará o texto mais rico.
Na verdade, isso só atrapalha. Elimine as ideias sem importância, as repetições, os exemplos
demasiados, os adjetivos supérfluos.

Pleonasmo

Repetição de termos que, em certos casos, têm emprego legítimo, para conferir à expressão mais
força, mais vigor, ou mesmo por questão de clareza. Na frase Conheça-te a ti mesmo, atribuída
a Sócrates, a redundância (te = a ti) produz inegável efeito retórico. À exceção desses casos, o
pleonasmo constitui vício inadequado em textos dissertativos.

Observe exemplo na expressão “nem tampouco”. O termo “tampouco” já tem sentido negativo e
equivale a também não. O emprego da segunda negativa (nem) é, portanto, redundante. Observe
lista de pleonasmos a serem evitados.

Acordo amigável

Apenas tão só / apenas tão somente

Compartilhar com

Criar novos cargos

Deferimento favorável

Detalhe minucioso

Elo de ligação

E nem

Encarar de frente

Erário público

Exceder em muito

Expectativa futura

Experiência anterior

92
Produção textual • AULA 6

Exultar de alegria, de felicidade

Fato verídico

Frequentar constantemente

Ganhar grátis

Há dois anos atrás

Habitat natural

Outra alternativa

Panorama geral

Peculiaridade própria

Planejar antecipadamente

Prever antes / antecipadamente

Prosseguir adiante

Reincidir novamente

Repetir de novo / outra vez

Superávit positivo

Supracitado acima / anteriormente

Surpresa inesperada

Todos foram unânimes

Tornar a repetir

Totalmente lotado

Frases feitas

Os lugares-comuns e os clichês demonstram falha de estilo e linguagem limitada.

Porque o futuro é de todos nós.

Devemos unir nossos esforços.

Fechar com chave de ouro.

A nível de

93
AULA 6 • Produção textual

Chegar a um denominador comum

Deixar a desejar

Estourar como uma bomba

Fortuna incalculável

Inserido no contexto

Levantar a cabeça e partir para outra

A esperança é a última que morre.

Os jovens são o futuro da nação

Falta de paralelismo

Quando se coordenam elementos (substantivos, adjetivos, advérbios, orações), é necessário que


eles apresentem estrutura gramatical idêntica. Observe:

»» Inadequado: Procuravam-se soluções para satisfazer os operários e que agradassem aos


empresários.

»» Adequado: Procuravam-se soluções para satisfazer os operários e agradar aos empresários.

»» Inadequado: As cidades paulistas e as cidades do Paraná apresentam muitas afinidades.

»» Adequado: As cidades paulistas e as paranaenses apresentam muitas afinidades.

»» Inadequado: Ocorrem distúrbios devido à revolta dos estudantes e porque não atenderam
suas reivindicações.

»» Adequado: Ocorrem distúrbios devido à revolta dos estudantes e ao não atendimento de


suas reivindicações.

Queísmo

O uso reiterado do “que” pode constituir erro de estilo e prejudicar a clareza do texto. Observe
exemplos a serem evitados.

O jornalista que redigiu a reportagem que apareceu no jornal receberá o prêmio que todos
desejavam.

Você tem que ter uma letra que todos possam entender o que está escrito.

O diretor afirmou que o relatório que foi escrito denuncia que tudo foi feito errado.

94
Produção textual • AULA 6

Os amigos que ouvem o programa que você produz dizem que as notícias que você comenta
são falsas.

Ambiguidade

Ambiguidade, na frase, é a obscuridade de sentido. Frases ambíguas permitem duas ou mais


interpretações diferentes, devendo, por isso, ser evitadas em textos que devem primar pela clareza
e precisão, como é o caso dos textos legais e dos expedientes administrativos. (A ambiguidade é
precioso recurso expressivo na linguagem poética, no humorismo e na publicidade.)

A seguir, construções com sentido ambíguo:

»» Ambíguo: O Deputado discutiu com o Presidente da Comissão o seu descontentamento


com a aprovação do projeto.

»» Claro: O Deputado, descontente com a aprovação do projeto, discutiu o assunto com o


Presidente da Comissão.

»» Claro: O Deputado discutiu com o Presidente da Comissão o descontentamento deste com


a aprovação do projeto.

»» Ambíguo: O Líder comunicou ao Deputado que ele está liberado para apoiar a matéria.

»» Claro: Liberado para apoiar a matéria, o Líder comunicou o fato ao Deputado.

»» Claro: O Líder liberou o Deputado para apoiar a matéria.

Cacófato

Cacófato é o som desagradável ou palavra obscena que resulta da combinação de sílabas de palavras
vizinhas. Deve, na medida do possível e do razoável, ser evitado, sobretudo quando demasiado
flagrante e grosseiro. Não cabe, no entanto, suprimir da língua combinações corriqueiras, como
da Nação, por cada, por razões etc.

Exemplos de cacófatos (e de como evitá-los): Ele havia dado tudo de si à frente da Comissão.
(Ele tinha dado...)

Ela tinha previsto tudo o que está ocorrendo. (Ela havia...) Uma minha parente foi quem teve a
ideia. (Uma parente minha...)

Palavras genéricas

Algumas palavras não expressam sentido único e, por isso, devem ser evitadas. É o caso de “coisa”,
que pode assumir diversas interpretações. Também alguns verbos apresentam sentido genérico
e normalmente são muito empregados em linguagem oral. Procure usar o verbo com o sentido

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AULA 6 • Produção textual

denotativo específico. Observe alguns verbos que devem ser evitados em sentido genérico em
texto mais formais.

Fazer

Ele fez uma fossa (ele construiu uma fossa).

Ele fez um quadro bonito (ele pintou um quadro bonito).

Ela fez o trajeto determinado (ele percorreu o trajeto determinado).

Eu faço Administração (eu estudo Administração).

Eu fiz uma redação ótima (eu escrevi uma redação ótima).

Pôr

Ela precisa pôr uma palavra a mais (ela precisa incluir uma palavra a mais).

Ele pôs o verbo no singular (ele conjugou o verbo no singular).

Ponha a roupa no armário (guarde a roupa no armário).

Todos põem dinheiro no banco (todos depositam o dinheiro no banco).

Ter

Todos na sala têm boa reputação (todos na sala possuem boa reputação).

Ele tem dor de cabeça (ele está com dor de cabeça).

Ela tem dois metros de altura (ela mede dois metros).

Ela tem sessenta quilos (ela pesa sessenta quilos).

A construção do período

A apresentação de abordagens e fundamentos depende de construções claras, coerentes e objetivas


de períodos linguísticos. O pensamento e a linguagem devem apresentar relação perfeita para
que o argumento possa ser bem compreendido. Assim, abordaremos etapas para que se possa
elaborar períodos adequados no texto argumentativo.

Procure sempre frases curtas. Uma, duas ou no máximo três orações por período. A frase curta
tem diversas vantagens: torna o texto mais claro, objetivo e com menor número de erros. Períodos

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Produção textual • AULA 6

longos geralmente estão associados a ideias incertas e facilitam falhas na compreensão.


Seguem recomendações para um bom período.

Seja direto ao apresentar a ideia

O texto abaixo apresenta a primeira falha de um período: falta objetividade. O autor escreveu de
tal forma que o leitor tem dificuldade para entender o sentido exato.

É indispensável que se conheça o critério que se adotou para que sejam corrigidas
as provas que se realizaram ontem, a fim de que se tomem as providências
que forem julgadas necessárias, onde procuraremos solucionar os problemas
que podem decorrer daquilo que for considerado obscuro, desde que de difícil
solução, no entanto, duvidosos.

Procure usar a ordem direta (sujeito-verbo-complemento)

A ordem direta facilita o entendimento. Certamente, você não a usará em todos os períodos. Em
alguns momentos, é importante intercalar uma ideia ou antecipar um adjunto adverbial, por
exemplo. No entanto, procure escrever em ordem direta, principalmente no início do parágrafo.

Evite iniciar a redação com: “Nos dias de hoje...”; “Atualmente...”; “No Brasil...”. Evite também
oração intercalada logo no início: “O governo – como todos sabem – demonstra insegurança...”.

Prefira voz ativa

As construções em voz ativa demonstram que o sujeito é o agente da ação e dão firmeza ao
pensamento.

»» Adequado: O governo adotou a medida.

»» Inadequado: A medida foi adotada pelo governo.

»» Adequado: O cidadão deve combater a violência.

»» Inadequado: A violência deve ser combatida pelo cidadão.

Você deve usar voz passiva quando o sujeito paciente é mais importante do que o agente da
passiva.

»» Adequado: O Congresso foi invadido por manifestantes.

»» Inadequado: Manifestantes invadiram o Congresso.

»» Adequado: O Supremo decidiu o assunto.

»» Inadequado: O assunto foi decidido pelo Supremo.

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AULA 6 • Produção textual

Construa seu texto com afirmativas

Apresente sua ideia com afirmativas sobre o tema. Diga o que é. Não o que não é.

»» Inadequado: Ele não acredita que o ministro chegue a tempo.

»» Adequado: Ele duvida que o ministro chegue a tempo.

»» Inadequado: O presidente diz que não fará alterações na política econômica.

»» Adequado: O presidente nega alterações na política econômica.

Evite gerúndio

Você consegue substituir o gerúndio por ponto em quase todas as situações. Observe o exemplo
a seguir:

Funcionários contratados pela empresa poderão cursar universidade no segundo


semestre, podendo, se forem estudiosos, concluir o curso em quatro anos, fazendo
em seguida um curso de pós-graduação.

Use até três verbos para formar seu período

O período longo é o principal erro em redação. Acredito que com prática e dedicação você
perceberá como ele impede o bom texto. Observe o exemplo com período longo:

Mesmo fervidas diariamente, as lentes de contato gelatinosas ficam impregnadas


de sujeira, o que pode até causar conjuntivite, mas, desde o começo do ano, os
míopes da Califórnia podem resolver o problema jogando as lentes no lixo pois
lá acabam de ser lançadas lentes descartáveis que custam apenas 2,5 dólares
cada, que só em julho estarão disponíveis no Brasil.

Se você quiser praticar períodos curtos e com poucos verbos, peço para reescrever o texto a seguir
(ele está com período longo e ideias misturadas).

Não tem sido fácil a vida do assalariado nesses últimos dez anos, pois toda vez
que o governo precisa arrecadar mais, a primeira vítima é sempre o contribuinte
pessoa física: basta aumentar o Imposto de Renda na fonte que no mês seguinte
o dinheiro cai no cofre do Tesouro, mas, de tanto sofrer nas garras do leão, o
assalariado despertou a sensibilidade do Congresso Nacional uma vez que, na
semana passada, o governo, pressionado pela Frente Parlamentar de Defesa
do Contribuinte, resolveu reduzir a carga tributária sobre os assalariados, sob
a ameaça de ver o pacote fiscal enviado no final do ano passado ser rejeitado
pelo Congresso.

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Produção textual • AULA 6

A construção do parágrafo

A ideia e o texto devem seguir um processo de elaboração consistente e progressivo. Uma boa
redação pede planejamento, organização. Escrever um texto não significa apenas preencher o
papel com frases soltas. Escrever pressupõe uma série de operações anteriores.

A professora Sabrina Vilarinho ensina a importância de observar a estrutura do parágrafo em


cada parte do texto argumentativo.

Clareza e objetividade na abordagem inicial

A clareza depende, antes de tudo, da apresentação do pensamento objetivo. Se não conhecemos o


assunto abordado, conseguiremos no máximo comunicar nossa incompetência. Ao iniciar o texto,
procure ir direto ao assunto. A abordagem inicial é de muita importância para o entendimento
do assunto a ser tratado. Evite iniciar o texto com informações vagas e meramente informativas.
Logo no primeiro período, já apresente a sua ideia principal, a sua tese, a sua abordagem sobre
o assunto da redação.

Conteúdo argumentativo adequado

A argumentação deve sempre fundamentar de maneira clara e convincente as ideias apresentadas.


Os argumentos devem ser coerentes e de fácil compreensão. A boa estrutura de um parágrafo
pede que os períodos estejam voltados a um objetivo principal. Ao sair do parágrafo introdutório,
deve-se acrescentar novas informações baseadas em argumentos sólidos e coerentes. A coerência
é a manutenção da mesma referência escolhida pelo candidato no parágrafo inicial (a abordagem).
Todas as partes do texto devem estar relacionadas a ela. Isso torna o texto claro e compreensível.

Unidade coerente e coesa entre as ideias

Bom texto expressa boa relação entre as ideias. Observe que uma boa comunicação é aquela em
que o receptor reconhece com facilidade o assunto tratado e o posicionamento do emissor. Para
tal, o primeiro passo para uma boa redação é a unidade entre as ideias. Todas as ideias devem
estar relacionadas a um foco principal, a uma intenção do comunicador.

Observe exemplo de parágrafo adequado.

O mundo globalizado estimula a industrialização e provoca consequências


irrecuperáveis ao planeta e à sociedade. O desenvolvimento econômico industrial
proporciona em curto prazo a obtenção de recursos para financiar o progresso
e a qualidade de vida melhor para seus habitantes. No entanto, o crescente
ritmo desorganizado de industrialização provoca danos ao meio ambiente
quecomprometem nosso futuro.

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AULA 6 • Produção textual

Observamos que o primeiro período apresenta a abordagem e os demais detalham a ideia


principal. Os períodos apresentam ordem direta, poucas orações, clareza, coerência, objetividade
e correção gramatical.

Um bom parágrafo apresenta unidade e coerência entre os períodos. Isso é muito importante.
Observe outro exemplo.

O corpo humano divide-se em três partes: cabeça, tronco e membros. A cabeça


é a mais importante de todas, pois contém o cérebro e os principais órgãos do
sentido. O tronco aloja o coração, os pulmões, o estômago, os intestinos, os
rins, o fígado e o pâncreas. Finalmente, os membros, que podem ser superiores
(braços e mãos) e inferiores (pernas e pés).

Como você percebeu, a ideia central está totalmente relacionada com as ideias dos demais
períodos. É um parágrafo com unidade em que os períodos se completam. Os períodos devem se
auxiliar e, mesmo apresentando ideias independentes, devem manter uma relação bem próxima.

Relação entre parágrafos

O texto argumentativo deve apresentar cuidados no uso da palavra, da construção do período,


da relação entre os períodos no parágrafo. Agora, abordaremos a relação entre os parágrafos.
De forma geral, a principal recomendação é que cada parágrafo apresenta apenas uma ideia
principal. Observe texto de Rui Barbosa (1999).

A política afina o espírito humano, educa os povos no conhecimento de si mesmos,


desenvolve nos indivíduos a atividade, a coragem, a nobreza, a previsão, a energia,
apura, eleva o merecimento.

Não é esse jogo da intriga, da inveja e da incapacidade, a que entre nós se deu
a alcunha de politicagem. Esta palavra não traduz ainda todo o desprezo do
objeto significado. Não há dúvida que rima bem com ladroagem. Mas não tem
o mesmo vigor de expressão que os seus consoantes. Quem lhe dará com o
batismo adequado? Politiquice? Politicaria? Politicalha? Neste último, sim, o
sufixo pejorativo queima como um ferrete, e desperta ao ouvido uma consonância
elucidativa.

Política e politicalha não se confundem, não se parecem, não se relacionam uma


com a outra. Antes se negam, se excluem, se repulsam mutuamente. A política é
a arte de gerir o Estado, segundo princípios definidos, regras morais, leis escritas,
ou tradições respeitáveis. A politicalha é a indústria de explorar o benefício de
interesses pessoais.

O texto está dividido em três parágrafos e há relação coerente entre eles. Cada parágrafo apresenta
uma ideia principal relacionada com a ideia que perpassa todo o texto.

Observe duas estruturas muito empregadas em textos dissertativos formais.

100
Produção textual • AULA 6

Modelo A

Modelo básico muito aprendido durante os anos escolares e acadêmicos. O primeiro introduz
a ideia e apresenta dois fundamentos que serão desenvolvidos nos parágrafos argumentativos.
Logo após vem a conclusão.

A decisão do governo em negociar aumento de salário com os controladores de voo


por causa da paralisação nos aeroportos abre um precedente perigoso para o bom
funcionamento de serviços essenciais à população. Outras categorias podem ser
sentir no direito de agir da mesma forma para exigir suas reivindicações. Também
a hierarquia em órgãos – como a Aeronáutica – que asseguram a estabilidade é
comprometida com atitudes precipitadas.

Diversos sindicatos ameaçam organizar greve em busca de melhores salários. É o


caso dos agentes e delegados da Polícia Federal. A classe, que já suspendeu suas
atividades por 24 horas na semana passada, se mobiliza para recorrer à operação
padrão ou mesmo paralisação total caso não obtenha reajuste salarial. Ao se dar
conta das consequências do acerto com os controladores, o governo enfraquece
seu poder de punição e compromete a segurança de setores fundamentais.

Outro fato de relevante importância é o respeito às normas estabelecidas para o bom funcionamento
das instituições. As forças armadas consideram qualquer movimento grevista por parte de seus
membros – como é o caso dos controladores de voo – como motim e julgam os participantes por
legislação penal militar própria. Não cabe ao governo interferir da forma como fez. Tal atitude
enfraquece a autoridade militar diante de sargentos, tenentes e tantos outros militares que
esboçam movimentos civis.

A prudência nos orienta que o governo deve conduzir situações com mais rigor e respeito.
Se houve falhas anteriores aos fatos, essas devem ser solucionadas com diálogo e negociação.
Determinados serviços não podem ser paralisados em hipótese alguma, como é o caso dos
controladores de voo, da assistência médico-hospitalar e da segurança.

Modelo B

O segundo modelo apresenta estrutura em que há preocupação em apresentar a abordagem no


parágrafo inicial e desenvolvê-la com progressividade de um parágrafo para o outro. Nesse caso,
deve-se tomar o cuidado de não fugir do tema abordado inicialmente.

O resultado da Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização (Prova ABC)


não surpreende, mas preocupa – e muito. Ao testar os alunos do 3o ano do ensino
básico, série em que deveriam ter completado o período inicial da aprendizagem
regular, o exame demonstra que as deficiências vêm da base e vão se agravando
à medida que a criança avança nos estudos.

101
AULA 6 • Produção textual

Nas duas disciplinas mais importantes, os resultados impressionam. Em


matemática, 57% dos estudantes são incapazes de fazer contas de adição e
subtração. Tampouco sabem ver as horas em relógio digital. Em português, 43%
não correspondem às expectativas – ler e entender textos simples e dominar as
regras básicas da escrita.

A análise dos números comprova a manutenção de velhos desníveis. O


desempenho da escola pública mostrou-se inferior ao das particulares em 41,7
pontos percentuais (as instituições privadas alcançaram média de 74,3%, contra
32,6% das mantidas pelo governo). Observa-se, também, diferença regional
marcante em relação ao desempenho dos alunos entre Sul e Sudeste, de um lado,
e Norte e Nordeste, de outro.

O Brasil, é verdade, apresenta melhoras nos indicadores educacionais, mas o


processo tem-se revelado lento, incapaz de acompanhar o dinamismo exigido pela
era da internet e da globalização. Impõe-se não só diminuir o descompasso na
aprendizagem em relação à capacidade de aprendizado, mas também equilibrar
todas as regiões do país.

Sintetizando

Vimos até agora:

»» Competência textual para produzir bons textos.

»» Defeitos a serem evitados no momento de se expressar.

»» Características do bom período e do bom parágrafo.

»» Estruturas de textos dissertativos.

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