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Organização da Sociedade Civil em Benefício da Memória Nacional presidencia@arqvive.org
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documentos de diversas configurações que testemunham as atividades exercidas pelo órgão no cumprimento de
suas funções. O documento que deve ser custodiado de forma permanente é aquele que em determinado mo-
mento do ciclo de sua vida supera o caráter operacional, excede a própria funcionalidade, a causa primeira de
sua existência e a própria usabilidade ao adquirir uma dimensão que ultrapassa o valor jurídico-administrativo
original. Em síntese, o documento arquivístico permanente possui um valor cultural, científico, histórico, ao
tempo que mantém, para sempre, ainda que de distintas formas seu inato caráter probatório.
arquivo transforma-se numa matéria prima para o processamento informacional e para a aquisição de conhe-
cimento. Em outras palavras, de uma fase ativa e intermediária passa ao seu auge, ao ser transmitido e recebido
como patrimônio, iniciando sua fase reativa, ou seja, na dupla função de capital informacional e recurso me-
morialístico, o documento de arquivo, principalmente ao final de seu ciclo, é aquele que reforça e promove a
Observa-se cotidianamente que uma parte considerável do patrimônio documental sob responsabilida-
de da administração pública está exposta a uma série de situações que configura, fatalmente, um risco de perda
imediata e irreversível. Isto é, boa parte da memória da administração pública que, ao fim e ao cabo, conforma
a própria memória social, está conscientemente esquecida, putrefazendo-se nos locais mais absurdos imaginá-
veis das edificações públicas. Infelizmente, este cenário de irresponsabilidades e descaso com a sociedade não é
pontual; ele se replica, banalizado -com raríssimas exceções- nos âmbitos municipal, estadual e nacional.
As inteligíveis razões desse funesto panorama são encontradas na ausência ou omissão das legislações
efeito conjugado de todos estes fatores citados e aliados, talvez, à profunda e arraigada visão extrativista, que se
fundou, em parte, no próprio processo civilizatório brasileiro e é continuada de forma mesquinha e ignóbil por
O patrimônio arquivístico está em risco, por um lado, porque as administrações públicas oferecem
muito menos que a mínima atenção aos arquivos. Muitas vezes, intencionalmente. E, por outro, porque os
arquivos públicos e os sistemas de arquivos ainda não possuem a capacidade técnica, financeira e política de
implementar políticas arquivísticas e não há atualmente alguma instituição que se encarregue de fiscalizar esse
patrimônio que é, sem dúvida, um complexo capital memorialístico e informacional. Ainda, a própria sociedade
civil não está atenta ao valor dos documentos de arquivo, além daqueles que pontual e individualmente assegu-
ram seus direitos. Talvez um organismo público como o responsável pelo controle das contas públicas, como os
Tribunais de Contas, juntamente com o Conselho Nacional de Arquivos, os arquivos públicos, as associações
profissionais, as universidades, a sociedade civil organizada, as Assembléias Legislativas e outros atores relacio-
nados devessem se engajar na reflexão conjunta de encontrar soluções emergenciais e esboçar um planejamento
Primeiramente, talvez, deve-se refletir sobre o papel de cada uma dessas instituições na demanda ur-
gente de proteção desse patrimônio cultural, a fim de desenhar um plano emergencial de sensibilização e cons-
cientização dos sujeitos sociais que albergam arquivos de interesse público, ao tempo em que sejam redigidas ou
revisadas leis e normativas para, logo em seguida, prover, por meio de orientações técnicas e metodológicas (e a
mínima capacitação de seus recursos humanos), formas factíveis de proteção dos conjuntos documentais. Além,
obviamente, do reforço dos meios de fiscalização. Em verdade, o primeiro passo é esse: cada equipamento da
administração pública deve ser orientado a assumir sua responsabilidade, sob rigorosa penalização.
O patrimônio documental arquivístico (ou simplesmente cultural, se tratado de forma mais abrangen-
te) é um testemunho tangível da experiência humana em sociedade. Ele existe de forma interconecta e interde-
pendente em inúmeros contextos, notadamente, com outras configurações documentais como objetos (em sua
maioria documentos museológicos), impressos (em sua maioria documentos bibliográficos) e também junto ao
patrimônio intangível, às manifestações folclóricas, lingüísticas e o conhecimento tradicional que acabam por
materializar-se, configurando novos documentos. Vulgarmente, a expressão patrimônio cultural evoca quase
ou mesmo os objetos contidos nos museus. A noção de patrimônio cultural ainda inclui produtos culturais
diversos, como determinados ecossistemas, ambientes naturais, sítios arqueológicos etc. Assim, vale lembrar
que todas essas formas patrimoniais derivam, têm origem e/ou originam (ou coexistem) com os documentos
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tradicionalmente considerados arquivísticos. Gaba-se da restauração de prédios históricos (como as belas edi-
ficações da UFRGS, por exemplo), mas de que valem os continentes restaurados se não temos seus conteúdos?
O contexto de apreciação e entendimento de qualquer obra é ressaltada com a inserção em seu contexto e com
a conectividade de variados documentos que foram espontaneamente criados para o desenvolvimento de tal
obra. Sejam considerados de arquivo, de bibliotecas, de museus, eles são bens materiais (ou imateriais), patri-
mônio cultural. Assim sendo, o documento de arquivo deve ser considerado como um recurso polivalente que
necessita ser estimado e receber um tratamento sério, adequado, por meio do corpus teórico e metodológico da
ciência arquivística. E, sempre, desde a produção, para que se garanta, desde seu princípio, seus valores e funções
Para tanto, com todo o disposto acima, observa-se que as iniciativas, do próprio poder público e/ou
da sociedade civil organizada, devem buscar, de forma sinérgica e globalizada, afora a promoção do debate, a
geração de instrumentos de ação para que instituições-chave sejam peças multiplicadoras e responsáveis pelos
um recenseamento do patrimônio documental que merece ser protegido. Talvez, inicialmente, naquelas insti-
O patrimônio arquivístico consiste em documentos das mais variadas configurações, suportes e forma-
tos, sendo os mais comuns os documentos textuais, mapas, desenhos arquitetônicos, fotografias, microfilmes,
filmes, vídeos, registros de áudio, entre outros, tanto em meio analógico como digital. A real importância desses
documentos -sempre é bom ser redundante- vem do fato de que eles afirmam a identidade coletiva e represen-
tam, em suas possibilidades semânticas, cada contemporâneo seu, permitindo conhecer a cultura e a realização
da construção histórica.
Os documentos que um dia auxiliaram a determinar atos políticos ou foram prova de determinadas
ações civis ou, ainda, aqueles documentos que testemunham decisões, julgamentos, avaliações, os que descrevem
os fazeres e procedimentos da vida em sociedade ou os direitos e deveres dos cidadãos, são todos documentos
que facilmente podem extrapolar o interesse pessoal, local e geracional. São heranças que devem ser protegidas
e seguramente disponibilizadas às gerações que ainda estão por vir. Ou seja, os documentos aparentemente ba-
nais, administrativos, de hoje, podem ser a relíquia histórica, uma peça fundamental para se entender o processo
social ou um agente para (re) projetar, reformar, aperfeiçoar o processo civilizatório em um amanhã qualquer.
Dentro da administração pública estadual, por exemplo, particularmente creio que a responsabilidade pela
proteção da documentação deveria estar eqüitativamente compartida entre atores públicos que tivessem como
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- a responsabilidade pelo estabelecimento de políticas de gestão documental;
- a responsabilidade pela fiscalização das condições de guarda e acesso dos arquivos permanentes.
Parece natural pensar que, entre os órgãos do Estado, os que melhor se adaptam a estas tarefas, sejam
as seguintes instituições: o Arquivo Público Estadual, o Tribunal de Contas do Estado, a Secretaria de Admi-
nistração e o Ministério Público. Provavelmente deveria estar sob o encargo da Direção do Arquivo Público
mento dos programas de gestão documental. Apenas um órgão composto por profissionais graduados em
ciências da Informação, especificamente arquivistas, tem a capacidade técnica para desempenhar tal função.
O Tribunal de Contas poderia fiscalizar a execução das políticas e orientações para a gestão dos docu-
em sua fase ativa e semi-ativa. É importante que todos os administradores reconheçam o valor da conservação
dos documentos e da gestão da informação arquivística nos processos de tomada de decisão governamental e na
prestação de contas e serviços. A implementação de uma política de gestão documental não pode obviamente
deixar de focalizar de forma privilegiada os meios eletrônicos como meio habitual de criar e administrar as
informações governamentais -incluindo os sistemas e demais recursos periféricos-, impondo políticas diferen-
ciadas quanto ao ciclo de vida, a autenticidade, integridade, clareza, permanência, etc. Assim sendo, reitero, é
E, claro, é bom lembrar que deve-se respeito à legislação, em especial, à Lei n° 8.159, de 8/01/1991,
que dispõe sobre a política nacional de arquivos públicos e privados, detalha questões de preservação e acesso,
tais como as encerradas no artigo 1°: “É dever do poder público a gestão documental e a proteção especial a
e como elementos de prova e informação.”, bem como no artigo 25: “Ficará sujeito à responsabilidade penal,
civil e administrativa, na forma da legislação em vigor, aquele que desfigurar ou destruir documentos de valor
Embora pareçam óbvias as razões da obrigação de salvaguarda da documentação pública, há uma pa-
ralisia geral nas engrenagens públicas em relação ao tema. Sabe-se que uma correta gestão de documentos é
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excelente para os cofres, essencial para a modernização da administração e sua adequação às necessidades da
chamada sociedade da informação, do conhecimento, ou como denomina ironicamente Alfons Cornellà, “so-
ciedade da infoxicação”.
Apesar de todo cenário real ser catastrófico, há dentro dos governos boas iniciativas em relação ao tema
- como o trabalho desenvolvido pela equipe do Arquivo Público do Estado, os esforços do Arquivo Histórico
de Porto Alegre Moysés Vellinho, do Arquivo Municipal de Caxias do Sul e do Tribunal de Contas do Estado,
apenas para citar alguma instituições. Isto posto, é imprescindível a mudança de postura frente à documenta-
ção pública (ou de interesse público), a sua preservação, ao conceito de acesso e ao uso dos bens arquivísticos.
Presidente