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Mais de trezentos anos de escravidão, do século XVI até o final do século XIX, como
instituição legal, social e econômica, que determinou o estilo de vida do Brasil colônia e
depois até um ano antes da República, representam uma realidade fundamental para se
compreender as desigualdades raciais no país e o aprofundamento da hierarquização dos
direitos e da própria definição de humanidade, do humano associado a direitos e das escalas
de valor social da pessoa atribuídas na nação. Responsável pelo maior translado humano da
história, de várias partes de um continente para um só país - entre 5 e 3,6 milhões (*) de
africanos foram importados para o Brasil - a escravidão gestou estruturas, relações sociais e
econômicas, valores e conceitos , visão de mundo que inclui visão de Estado, que tinha por
meta sua permanência, sobrevivência e sobrevida, e a manutenção dos privilégios, também
estratificados, resultantes.
Como marco simbólico dessa nova postura histórica está sendo construído um espaço físico
de grande dimensão para a aglutinação e difusão da cultura negra, antiga reivindicação dos
movimentos negros , da população acadêmica e dos educadores. Trata-se do Centro
Nacional de Informação e Rerefência da Cultura Negra, que integra as ações da Fundação
Cultural Palmares no marco do V Centenário do Descobrimento do Brasil e inclui bancos
de dados, imagem e som para coletar e difundir dados sobre a história e cultura dos povos
negros. Como parte do projeto está sendo realizada a coleta e a recuperação de documentos
históricos no Brasil e no exterior. A partir de ações do Ministério das Relações Exteriores,
vários governos têm apoiado o trabalho dos pesquisadores brasileiros e estrangeiros
envolvidos. Está sendo realizado o mapeamento, a sistematização e a difusão da produção
cultural afro-brasileira.
Estão sendo financiadas de forma direta, ou viabilizadas através das leis de incentivo, obras
de produtores culturais negros, de modo que sua participação no mercado cultural nacional
e internacional seja potencializada.
Estão sendo implantados projetos de intercâmbio com países africanos e outros onde o tema
do multiculturalismo seja relevante de forma a se ampliar conceitos dos aspectos positivos
da diversidade e consolidar a participação de artistas e produtores culturais afro-brasileiros
nos novos mercados internacionais.
A estabilização da economia vivenciada pelo país permite, de forma mais objetiva, através
da análise dos indicativos sócio-econômicos, a conclusão de que o crescimento da
economia precisa considerar as desigualdades históricas de gênero e étnicas, para que se
materialize em crescimento nacional. Por isso, se outrora havia o medo atrasado ( gestado
na escravidão) de que o tratamento das desigualdades raciais poderia ser um fator de
fragmentação nacional, hoje há a compreensão de que nossa consolidação como nação
emergente depende da criação de mobilidade para os negros, segmento humano que
representa uma parcela extremamente significativa da população e que, imobilizado pelas
desigualdades deixa de produzir e consumir riqueza.
Há muito o que fazer, mas muitas têm sido as vitórias à medida que o governo e seus
agentes respeitam o vigor e a responsabilidade histórica dos movimentos sociais negros e
suas lideranças, ao contrário de submetê-los ao assassinato político, tão freqüentemente
praticado na história da humanidade.
O lamento negro pode, na terra Brasilis, ser o canto nostálgico do longo e sofrido caminhar
histórico, introdutório do som vitorioso dos tambores que celebram o processo democrático
dinâmico, de construção digna da igualdade, sem mitos, mas a partir dos esforços
solidários.
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Bibliografia Consultada:
• COSTA, Emília Viotti. "The Myth of Racial Democracy: A Legacy of the Empire",
em seu The Brazilian Empire: Myths and Histories (Chicago, 1985);
• SKIDMORE, Thomas E.. "Race and Class in Brazil: Historical Perspectives", em
Pierre-Michel Fontaine, ed., Race Class and Power in Brazil (Los Angeles, 1985);
• CONRAD, Robert E.. Children of God’s Fire: A Documentary History of Black
Slavery in Brazil (Princeton, 1983);
• FREYRE, Gilberto. "A propósito de preconceito de raça no Brasil". O Estado de
São Paulo (25 de junho de 1969);
• FREYRE, Gilberto. "Brasileiro – sua cor?". Folha de Saõ Paulo (5 de dezembro de
1979);
• FERNANDES, O negro no mundo dos brancos;
• BASTIDE, Roger. "The Development of Race Relations in Brazil", em Guy Hunter,
ed., Industrialisation and Race Relations: A Symposium (Londres, 1965);
• HASENBALG, Carlos. Discriminação e desigualdades raciais no Brasil (Rio de
Janeiro, 1979);
• AZEVEDO, Célia Maria Mariho de Azevedo. Onda Negra, medo branco: O negro
no imaginário das elites – século XIX (Rio de Janeiro, 1987);