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A PESQUISA HISTÓRICO-EDUCACIONAL SOBRE AS INSTITUIÇÕES

EDUCACIONAIS BRASILEIRAS: REFLEXÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS

Décio Gatti Júnior1

Trata-se da comunicação das reflexões teóricas realizadas a partir do percurso traçado

em investigação coletiva no âmbito da História da Educação, especificamente, na área da

História das Instituições Educacionais, no período de 1994 a 2000, acerca dos processos de

constituição e desenvolvimento das Instituições de Educação primária e secundária, na região

do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, no período de 1880 a 1960.

O recorte espacial restringiu o âmbito da investigação, inicialmente, as cidades de

Uberlândia, Uberaba e Araguari, motivado tanto pelas dificuldades do grupo de pesquisa em

manter sua atuação investigativa em cidades mais distantes de Uberlândia como pela

centralidade que estas cidades possuem nesta região. Ficaram de fora, por enquanto, cidades

importantes como Araxá, Patos de Minas, Patrocínio, etc.

Quanto a delimitação temporal, optou-se por iniciar em 1880, época do surgimento das

primeiras escolas nestas cidades e mesmo na região e finalizar em 1960, época do boom

quantitativo do número de escolas e da explosão do número de alunos nas escolas já

existentes, dada as dificuldades de trabalhar com um leque tão ampliado de instituições novas

que, nesse momento, interessam menos que o estudo sobre aquelas fundadas no final do séc.

XIX.

Desse modo, é reforçado nosso objetivo geral de, por meio da análise particular das

instituições de ensino mais antigas destas cidades, aprender o complexo processo de

1
Doutor em Educação: História e Filosofia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Professor de História da Educação do Centro Universitário do Triângulo e da Universidade Federal de
Uberlândia.
constituição do ensino escolar na região e, sobretudo das representações sociais construídas

em torno desse processo de escolarização.

Nas últimas décadas, a pesquisa histórica passou por um intenso processo de

renovação teórico-metodológico, no qual vem sendo valorizada a utilização tanto dos aportes

teóricos oriundos do campo da História quanto das evidências, sendo que estas não se limitam

mais aos documentos escritos, mas abarcam fontes orais, iconográficas, etc.

Nesse sentido, o processo de construção de interpretação acerca da vida das

Instituições Educacionais beneficia-se, sobretudo dos avanços significativos dos estudos sobre

representações sociais, cultura escolar, elite, trabalho, grupos e classe sociais, bem como da

constituição de tradições historiográficas mais sólidas no campos da História Oral, História da

Imprensa, História do Pensamento Educacional, História das Idéias, etc.

Para a elaboração dessa reflexão teórica foram consultadas diversas fontes de

informação, tais como: a ainda pequena bibliografia nacional e internacional sobre o assunto,

seja por meio da leitura de textos mais teóricos ou mesmo resultados de investigações sobre a

temática instituições educacionais publicados em forma de livro. Além disso, é importante

ressaltar que foram utilizados os resultados já alcançados em pesquisa nesse campo temático

provenientes das investigações realizadas pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em História e

Historiografia da Educação do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade

Federal de Uberlândia, que é coordenado por cinco doutores da área de História da Educação,

com a inclusão de diversos bolsistas de iniciação científica, aperfeiçoamento e mestrandos, ao

longo dos últimos seis anos.

As inovações paradigmáticas, leia-se, de procedimentos investigativos no campo da

História, impactaram sobre a produção da História da Educação, que se desvencilhou, nos

últimos anos, da influência abstrato-filosófica, dos clérigos que ocupavam a cena acadêmica
desta área de conhecimento e da influência macro-estrutural, operada pela Sociologia de base

economiscista.

A História da Educação que, no Brasil, nasceu de "mãos dadas" com a Pedagogia,

finalmente, posiciona-se, pelo menos, do ponto de vista paradigmático, na órbita da História e

não mais da Educação. Sinal desse processo de mudança é o fato da Associação Nacional de

História, em 1997, ter aprovado a criação de um Grupo de Trabalho dedicado à temática,

mesmo que um grupo de trabalho da mesma natureza já exista há muitos anos entre os

educadores em sua principal reunião anual, na ANPEd.

De certo modo, há um afastamento da produção proveniente do campo História da

Educação do caráter prescritivo e justificador de antes e um redirecionamento no caminho da

elaboração de interpretações sobre o passado educacional brasileiro em sua concretude,

mediante consulta a uma série enorme de fontes primárias e secundárias que não mais apenas

a legislação educacional.

Há um duplo movimento que tem beneficiado esse processo de inovação

paradigmático e conseqüentemente temático no âmbito da História da Educação. De um lado

o afluxo de pesquisadores qualificados (entre os quais estão muitos historiadores) para as

diversas regiões brasileiras, que não estavam interessados em desenvolver pesquisas

ancoradas nos grandes centros, mas sim, estudos voltados para à temática regional.

Por outro lado, estes mesmos pesquisadores - historiadores ou não - estavam sob o

impacto das novas tendências da pesquisa histórica, nas quais as especificidades e

singularidades regionais, ou mesmo, locais, passaram a ser consideradas como importantes

objetos de estudo e, mais, são pesquisadores que promovem suas investigações sobre o

passado apropriando-se de um corte eminentemente histórico, abandonando, deste modo, as

imposições advindas, primeiro, do campo filosófico, em que prevalecia a concepção de que o


pensamento educacional se sobrepunha à própria realidade da educação e, em segundo, do

campo sociológico, já caracterizado acima.

A orientação teórica presente atualmente defende que o processo de construção de


interpretações sobre o passado se faz no diálogo necessário entre nossas idéias e concepções e
os indícios que conseguimos agrupar para corroborar nossas assertivas.

Nesse sentido, a História das Instituições Educacionais almeja dar conta dos vários

atores envolvidos no processo educativo, investigando aquilo que se passa no interior das

escolas, gerando um conhecimento mais aprofundado destes espaços sociais destinados aos

processos de ensino e de aprendizagem. Parece-nos que a ênfase dada às análises mais

sistêmicas cedeu lugar às análises que privilegiam uma visão mais profunda dos espaços

sociais destinados aos processos de ensino-aprendizagem.

Nesse sentido, Justino Magalhães defende que

Compreender e explicar a existência histórica de uma instituição


educativa é, sem deixar de integrá-la na realidade mais ampla que
é o sistema educativo, contextualizá-la, implicando-a no quadro de
evolução de uma comunidade e de uma região, é por fim
sistematizar e (re)escrever-lhe o itinerário de vida na sua
multidimensionalidade, conferindo um sentido histórico. 2

De fato, o que convencionamos chamar de História das Instituições Educacionais, tem

ocupado cada vez mais espaço no cenário da pesquisa histórico-educacional, envolvendo uma

série de pesquisadores.

No Brasil, ainda que com diversas dificuldades, devido à inexistência de repertórios de

fontes organizados, alguns historiadores e educadores têm-se lançado à tarefa de historiar a

educação escolar brasileira, através da construção de interpretações acerca das principais

instituições educativas espalhadas pelas diversas regiões brasileiras3.

2
Justino MAGALHÃES. Contributo para a História das Instituições Educativas - entre a memória e o
arquivo. Universidade do Minho (mimeo.), p. 2.
3
Dentre os principais autores brasileiros podemos destacar: Ester BUFFA e Paolo NOSELLA. Scholla
Mater: A Antiga Escola Normal - São Carlos, 1911-1933 e Industrialização e Educação: A Escola Profissional
de São Carlos, 1932 - 1971, Universidade Federal de São Carlos (ambos no prelo). E numa perspectiva um
pouco diferente podemos citar também o texto de Gilberto Luiz ALVES. O Pensamento Burguês no Seminário
de Olinda - 1800-1836. Ibitinga, SP. Humanidades. 1993. Há que se mencionar também a pesquisa de Elizete
De modo geral, tanto as interpretações construídas por pesquisadores estrangeiros,

quanto por brasileiros, têm seguido um roteiro de pesquisa bastante similar, em que se

destacam preocupações com:

- os processos de criação e de desenvolvimento (ciclo de vida) das instituições


educativas;
- a configuração e as mudanças ocorridas na arquitetura do prédio escolar;
- os processos de conservação e mudança do perfil dos docentes;
- os processos de conservação e mudança do perfil dos alunos;
- as formas de configuração e transformação do saber veiculado nestas
instituições de ensino, etc.

Desta forma, busca-se a apreensão daqueles elementos que conferem identidade à

instituição educacional, ou seja, daquilo que lhe confere um sentido único no cenário social

do qual fez ou ainda faz parte, mesmo que ela tenha se transformado no decorrer dos tempos.

Em um texto sobre historiografia brasileira o historiador Carlos Guilherme Mota

entende que, enquanto a História do Brasil caminhava, nos anos setenta, em direção a

constituir-se enquanto Ciência da História, a História da Educação tomava o caminho inverso,

o de converter-se em uma disciplina de caráter utilitário e atendendo a objetivos de interpretar

e explicar os processos históricos objetivos, visando obter justificativas para o presente4. Se

levarmos em conta a data do referido escrito poderemos aquilatar a gravidade da afirmação.

A professora Mirian Jorge Warde, depois de proceder uma avaliação parcial dos

trabalhos de pós-graduação na área de Educação, afirma que parcela considerável destes

escritos dedicava espaço à História da Educação através da utilização de fontes secundárias,

com a predominância dos estudos antecedentes, isto é, a História é chamada para justificar

algo.

Silva Passos, A Educação das Virgens: um estudo do cotidiano do Colégio Nossa Senhora das Mercês, da
cidade de Salvador, BA, noticiada pela Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, 75(179-180-
181):301-306, jan./dez. 1994.
4
Carlos Guilherme MOTA. A historiografia brasileira nos últimos quarenta anos: tentativa de avaliação
crítica. Debate e Crítica. 5: 11-26. São Paulo. Mar. 1975.
Segundo ela, os pesquisadores recuavam para períodos históricos passados com o

objetivo de mostrar que o presente tem o contorno atual devido ao fato de o passado ter sido o

que foi. Em período mais recente, um pequeno número de trabalhos de pós-graduação (8%)

dedica-se integralmente ao estudo histórico da Educação Brasileira. Estes debruçam-se sobre

temas estruturais e desencadeiam uma crítica corrosiva de conceitos, categorias,

personalidades. Coincide a emergência desses trabalhos com a incidência de menor número

de títulos referidos à História da Educação.5

Dermeval Saviani, em artigo publicado nos anos 70, entende que a Educação ficaria

subsumida no termo História (em História da Educação), enfatizando que essa História não

estaria melhor caracterizada uma vez que seria uma mescla de acontecimentos gerais com

desfiar de doutrinas pedagógicas descontextualizadas e seu programa (enquanto disciplina

curricular) traria um ecletismo de tal ordem que trata desde as instituições educacionais e

doutrinas pedagógicas do período clássico até a época contemporânea. Propunha, o referido

autor, uma saída para o impasse: os docentes deveriam propor seminários e grupos de estudos

que permitissem superar a mesmice até então vigente.6

A produção de textos de História da Educação nos anos 1980 parece ter sido

influenciada pelos textos acima referidos, em que pese ter diminuído em quantidade, em

termos qualitativos houve ganhos substantivos.

Os anos noventa parecem apontar para a necessidade dos pesquisadores, se não

abandonar, ao menos minimizar, as análises de fontes secundárias para centrar a pesquisa

diretamente sobre as fontes primárias, na descoberta ou mesmo geração de documentos e de

objetos para a História da Educação.

5
Mirian Jorge WARDE. Contribuição da história para a Educação. Em Aberto.. 9 (47): 3-11, Brasília. jul.-
set. 1990. p. 9-10.
6
Dermeval SAVIANI. Função do Ensino de Filosofia da Educação e de História da Educação. In: Educação:
do senso comum à consciência filosófica. 5ª Ed. São Paulo. Cortez. 1985.
Assim sendo, a criação de núcleos dedicados à atividade de “garimpar” a matéria-

prima da pesquisa num locus privilegiado por ser onde ocorre o fenômeno educativo, qual

seja, as instituições educacionais, parece-nos muito promissora.

Percebe-se, por fim, que a pesquisa histórico-educacional beneficiou-se muito da

renovação historiográfica recente, sofisticando suas ferramentas de trabalho e ampliando seu

leque temático. Neste sentido, há uma série de procedimentos historiográficos que vem se

tornando comuns no trato das instituições educacionais, estabelecendo, dessa forma,

condições mais favoráveis para o entendimento dos processos de escolarização vivenciados

no país.

Referências Bibliográficas

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Ibitinga. SP. Humanidades. 1993.
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