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Jornais, boas notícias

O papel era e segue sendo apenas uma plataforma para levar informação ao
consumidor

ASCÂNIO SELEME

13/02/2020 - 00:00

https://oglobo.globo.com/opiniao/jornais-boas-noticias-24245571

Você chamaria de louca uma pessoa que, em fevereiro de 2009,


lhe sugerisse investir em jornal. Claro, o mundo estava no auge da
crise financeira global iniciada em setembro do ano anterior. Além
disso, e principalmente, a internet já se incorporara
definitivamente à paisagem e o Facebook transformava-se num
gigante, aproximando-se do seu primeiro bilhão de usuários. Os
anunciantes estavam debandando dos jornais e migrando para as
plataformas digitais. Os leitores passaram a ter uma urgência até
pouco tempo antes desconhecida e começaram a achar que as
informações que colhiam de graça no Face e na internet lhes
bastariam. Diante disso, obviamente você não colocaria um
centavo do seu dinheiro em jornal.

O valor dos grandes jornais havia chegado ao fundo do poço.


Todos encolheram com sucessivos cortes de pessoal, outros foram
vendidos a preços ultrajantes, e muitos desapareceram. No dia 1º
de fevereiro de 2009, cada ação do “The New York Times” (NYT),
o maior jornal do mundo, era cotada a US$ 4,13 na Bolsa de Nova
York, resultado mais baixo de um mergulho iniciado em 2004,
quando a tormenta por que passaria a mídia impressa começava a
produzir os seus primeiros relâmpagos. A onda era sair do papel e
correr para a internet, fazer blogs, construir perfis digitais, buscar
relevância fora do velho mundo analógico.

Com o tempo, fazendo inúmeros ajustes no negócio e nas


redações, dominando a tecnologia digital para oferecer notícias e
análises em tempo real, e como sempre dispondo de informação
confiável, os grandes jornais foram se reconstruindo, se
reerguendo, estabilizando suas contas e aos poucos
reconquistando valor. Em 11 anos, as ações do “New York Times”
subiram 924%, e cada uma valia ontem US$ 38,78. Se você tivesse
ouvido aquele louco em 2009 e investido US$ 100 mil em ações
do NYT, teria agora mais de U$ 900 mil.

Pouquíssimos papéis renderam tanto. Para se visualizar melhor


este resultado, basta dizer que as ações do NYT aumentaram mais
do que as da Renner, da Ambev e da Klabin, que cresceram
respectivamente 923%, 677% e 621% de 2010 a 2020. Se você
comparar com fundos de investimento, vai parecer jogo de
amadores contra profissionais. O Icatu rendeu 286%, o Paribas
deu 257%, e o fundo do Banco do Brasil RF LP pagou 225% sobre
o capital dos seus investidores. Quem diria? Houve quem
comparasse jornais com carroças, que desapareceram depois da
invenção do automóvel. Era um engano.

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E um negócio que todos davam como terminal voltou a florescer.
As pessoas confundiram os jornais com uma indústria de papel. O
papel era e segue sendo apenas uma plataforma para levar
informação ao consumidor. Hoje, todas as outras plataformas
digitais alavancam os veículos profissionais que produzem
jornalismo profissional. E isso tem enorme valor, como
comprovam os números do NYT. Mais do que notícia e análise em
texto, os jornais produzem conteúdo em todos os formatos
disponíveis, em áudio, podcast e vídeo.

No Brasil e no exterior são os jornais nos seus formatos digitais


que pautam o resto da imprensa. Seus produtos são os melhores
do mercado. E agora oferecem conteúdos também para entreter,
além de informar. Uma coluna escrita por leitores do NYT
chamada “Modern Love”, que tem o objetivo exclusivo de entreter
com curtas histórias de amor escritas pelos seus leitores, em
pouco tempo transformou-se num sucesso. No ano passado,
“Modern Love” virou uma série da Netflix.

Alguém pode dizer que o exemplo do NYT não reflete a realidade


da maioria por se tratar de um jornal mundial, lido em
praticamente todos os países. É verdade. Mas também é verdade
que os grandes jornalões brasileiros voltam aos poucos a ver seus
índices crescer. A carteira digital do GLOBO, segundo matéria
publicada em janeiro, aumentou 154% em três anos, e o jornal tem
hoje mais de 330 mil assinantes que pagam para consumir seu
conteúdo. Em meados dos anos 2000, sem a ameaça da internet, o
objetivo do GLOBO era chegar a 500 mil assinaturas. Nada mal.
Há muito chão para percorrer, mas não dá para negar que há boas
notícias no ar para os jornais.

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