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Instituto de Física
Ingrid Hammes
Niterói
2016
H224 Hammes, Ingrid.
Produção de grafeno com poucas camadas a partir de filmes
de carbono amorfo sobre substratos isolantes a temperatura
ambiente / Ingrid Hammes; orientador: Yutao Xing. –- Niterói,
2016.
89 p. : il.
CDD 621
Ingrid Hammes
Niterói
2016
Comissão Julgadora:
Prof. Dr.
Yutao Xing (Orientador)
Instituto de Física-UFF
Prof. Dr.
Marcelo Huguenin Maia da Costa
Departamento de Física, PUC-Rio
Prof. Dr.
João Paulo Sinnecker
CBPF
Prof. Dr.
Antonio Tavares da Costa Junior
Instituto de Física-UFF
Prof. Dr.
Pedro Paulo de Mello Venezuela
Instituto de Física-UFF
Agradecimentos
Inicialmente, gostaria de agradecer aos meus pais, Vera e Luciano, que me forneceram
toda a base para que eu pudesse chegar neste dia tão importante, além de sempre me
motivarem e me encherem de amor.
Agradeço também ao me orientador, Yutao Xing, e ao meu co-orientador, Dante
Franceschini, pelas discussões preciosas e ensinamentos diários.
Ao meu noivo, Ary, pelo amor, apoio e por sempre me fazer ver a vida de forma
mais leve.
Aos meus tios, Batis e Átila, que me acolhem como uma filha e contribuem com
conselhos valiosos.
Agradeço ainda aos meus irmãos, Hingo e Karin, por todo incentivo e carinho.
Não poderia deixar de agradecer aos meus amigos, de Petrópolis e de Niterói, por
sempre estarem dispostos a ouvir meus desabafos, por me emprestarem seus ombros e
pelas inúmeras ajudas de maneira indireta nesta tese.
À Capes, pelo suporte financeiro.
Resumo
The most used methods for the production of graphene, such as chemical vapor
deposition (CVD), require the use of a metallic substrate such as Cu or Ni. The use
of graphene over insulating or semiconductor substrates requires the transfer of the
produced graphene. An alternative is to obtain graphene directly from solid carbon
sources as thin films. The purpose of this thesis was to study the production of graphene
from amorphous carbon by high power pulsed laser irradiation or by heat treatment in
an inert atmosphere.
The laser irradiation study was done using Nd:YAG lasers 532 and 1064 nm wave-
length, with a few nanoseconds pulse duration. The films studied in this case were
obtained with varying thickness, by pulsed laser deposition of graphite target in high
vacuum on quartz and glass substrates. The irradiation resulted in increased ��2 carbon
fraction and recrystallization of film regions , as evidenced by Raman spectroscopy and
transmission electron microscopy . In some cases materials are obtained wit Raman
spectra typical of few layer graphene.
The heat treatment study was carried out in a quartz tubular furnace in flowing Ar at
temperatures up to 1050°C. The hydrogenated amorphous carbon films studied in this
process were obtained from Plasma Enhanced Chemical Vapor Deposition (PECVD)
over ���2 /�� and Si substrates. The heat treated 10 nm thick films on ���2 /��
resulted in increased C fraction of ��2 as shown by Raman spectroscopy , but without
any evidence of recrystallization. In the case of films deposited over Si, 700°C treated,
it was observed by Raman spectroscopy, XPS, SEM and EDS, that carbon film diffused
into the Si substrate.
5.1 Espectros Raman dos filmes a-C:H sobre Si com espessuras (a) 5 nm, (b)
10 nm, (c) 50 nm. Em destaque estão os ajustes gaussianos das bandas
D e G. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
5.2 (a) Relação �� /�� , (b) Largura da banda G e (c) Posição da banda G,
em função do tempo de deposição. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
5.3 Espectro de XPS para C1s para filmes de a-C:H com espessuras de 5
nm, 10 nm e 50nm. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
5.4 Espectro Raman para filmes de a-C:H com espessuras de 10 nm e 50 nm
depois do tratamento térmico a 700°C. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
5.5 Espectro survey de XPS para filmes de a-C:H antes (linhas pretas) e
depois do tratamento térmico a 700°C (linhas vermelhas) com espessuras
de (a) 5 nm, (b) 10 nm e (c) 50 nm . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
5.6 Espectro de XPS para C1s para filmes de a-C:H com espessuras de 5
nm, 10 nm e 50nm depois de submetidos a tratamento térmico a 700°C. 62
5.7 Imagens de MEV da seção tranversal do substrato de Si puro com (a) de-
tector de elétrons secundários, (b) detector de elétrons retroespalhados,
e para a amostra de 100 nm de espessura depois do tratamento térmico
com (c) detector de elétrons secundários e (d) detector de elétrons re-
troespalhados. A linha vermelha em (d) mostra a posição da linha de
varredura do EDS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
5.8 Mapeamento de elementos por EDS para (a) carbono e (b) silício. (c)
Imagem de EDS em camadas para mostrar a distribuição espacial dos
elementos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
5.9 (a) Posição da linha de varredura do EDS das amostras apresentadas na
figura 5.7(c). (b) Distribuição dos elementos para C e Si . . . . . . . . 65
5.10 Espectro Raman do filme a-C:H sobre ���2 /Si com 10 nm de espessura. 66
5.11 Espectro Raman dos filmes a-C:H sobre ���2 /Si tratados termicamente. 67
5.12 (a) Relação entre áreas das bandas D e G, (b) Largura da banda G,
(c) I(D)/I(G), (d) Posição da banda G, em função da temperatura de
aquecimento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
5.13 Espectros de XPS para C1s para (a) filme como depositado, a-C:H/Si�2 /Si,
(b) filme após tratamento térmico a 400°C por 1 hora (c) filme após tra-
tamento térmico a 500°C por 1 hora, (d) filme após tratamento térmico
a 700°C por 1 hora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
Lista de Tabelas
1 Introdução 1
2 Conceitos fundamentais 3
2.1 Formas cristalinas do Carbono . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
2.2 Filmes de carbono amorfo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2.2.1 Carbono amorfo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2.2.2 Carbono amorfo hidrogenado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
2.3 Grafeno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2.3.1 Métodos para produção de grafeno . . . . . . . . . . . . . . . . 7
3 Procedimentos Experimentais 10
3.1 Preparação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
3.1.1 Preparação dos Substratos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
3.2 Deposição de filmes finos de carbono . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
3.2.1 Calibração da taxa de deposição . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
3.2.2 Tratamentos dos filmes de carbono . . . . . . . . . . . . . . . . 14
3.3 Caracterização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
3.3.1 Espectroscopia Raman . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
3.3.2 Espectroscopia de Fotoelétrons excitados por raios-X . . . . . . 21
3.3.3 Microscopia Eletrônica de Varredura . . . . . . . . . . . . . . . 24
3.3.4 Microscopia Eletrônica de Transmissão . . . . . . . . . . . . . . 25
6 Conclusões e perspectivas 70
Referências Bibliográficas 72
Capítulo 1
Introdução
Os nanomateriais à base carbono com hibridização ��2 têm sido muito estudados,
desde a descoberta dos fulerenos e nanotubos de carbono [3, 4]. Mais recentemente, o
grafeno tem atraído especial atenção, tendo os pesquisadores pioneiros em seu estudo
recebido, em 2010, o prêmio Nobel de Física. Este material, essencialmente bidimensio-
nal, é constituído por átomos de carbono ��2 dispostos em arranjo hexagonal sobre o
plano. Este arranjo de átomos é conhecido há muito tempo como constituinte do grafite
cristalino, o qual é composto por camadas de grafeno empilhadas, as quais interagem
entre si apenas através de forças de Van der Valls. Apesar do conhecimento implícito
do grafeno, sua obtenção de forma isolada é relativamente recente [5], realizada através
da esfoliação recorrente de grafite cristalino por meio de fita adesiva. Desta forma pude-
ram ser estudadas suas interessantes propriedades: resistência a altas correntes elétricas,
presença do efeito Hall quântico, o movimento dos elétrons em grandes distâncias entre
outras [5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12]. A maior parte das aplicações do grafeno estão vinculadas
a sua capacidade de integração em circuitos eletrônicos.
A consecução das aplicações pretendidas para o grafeno, especialmente na eletrônica,
depende de sua fabricação reprodutível, com a cobertura de grandes áreas. Isto foi
conseguido primeiramente através da deposição química em fase vapor (CVD), processo
que se baseia na reação a alta temperatura de uma fonte gasosa de carbono (por exemplo
metano) largamente diluído em hidrogênio, sobre uma superfície metálica (cobre ou
níquel) [13, 14, 15]. Nesta técnica, há a necessidade de transferir-se o grafeno obtido
para a superfície, como por exemplo Si�2 ou Si, por meio de sua aderência a um filme
de PMMA, e dissolução ácida do substrato metálico.
Foram também propostas algumas rotas para produção de grafeno a partir de fontes
sólidas. Uma delas [16], com pontos de contato com a técnica CVD, é o tratamento
térmico de filmes de carbono amorfo, depositados sobre folhas de cobre, a altas tempe-
raturas (da ordem de 1000°C) em presença de gás hidrogênio. Desta forma obtém-se
grafeno monocamada sobre a folha de cobre, o qual pode ser transferido para outras
Capítulo 1. Introdução 2
Conceitos fundamentais
• Hibridização ��3 - ocorre quando as quatro ligações são do tipo à (ligações fortes).
É o tipo de hibridização que aparece no diamante e em alguns filmes de carbono
amorfo, principalmente do tipo hidrogenado.
Figura 2.2: Estruturas do grafite e do diamante que possuem hibridizações ��2 e ��3 ,
respectivamente.
Capítulo 2. Conceitos fundamentais 5
Figura 2.3: Diagrama de fases ternário para carbono amorfo. Os três cantos correspon-
dem à diamante, grafite e hidrocarbonetos, respectivamente [1].
2.3 Grafeno
O grafite é constituído por camadas planas de átomos de carbono com hibridização
�� organizado em anéis ordenados. O conjunto desses anéis forma estruturas bidimen-
2
sionais conhecidas como grafeno, figura 2.5, que se sobrepõem entre si por ligações
covalentes, formando uma rede infinita do tipo hexagonal [7].
Dispersão do grafite
O grafeno pode ser preparado em fase líquida, e isso nos permite aumentar a escala
de produção para obter uma quantidade bem maior de grafeno. O método mais simples
Capítulo 2. Conceitos fundamentais 8
Crescimento epitaxial
Grafeno pode ser preparado por aquecimento e resfriamento de um cristal de SiC [29].
De uma maneira geral, grafeno única camada ou bi-camada se formam na superfície de
Si do cristal, enquanto que grafeno com poucas camadas cresce na superfície de C [30].
Os resultados dependem fortemente dos parâmetros utilizados como temperatura, taxa
de aquecimento ou pressão. Caso a temperatura e a pressão sejam muito altas pode
ocorrer a síntese de nanotubos ao invés de grafeno. A grafitização do SiC foi descoberta
em 1955, mas era considerada um efeito secundário indesejável ao invés de um método
de preparação de grafeno [31].
O processo de retirada do grafeno formado da superfície de SiC não é tão simples,
sendo assim, há uma variação nesse método bastante utilizada que facilita essa retirada.
O método consiste em utilizar uma fina camada de níquel, que possui uma estrutura
de rede similar a do grafeno, sobre o SiC. Com o aquecimento, os átomos de C difun-
dem através da camada de Ni e formam grafeno ou camadas de grafite na superfície,
dependendo da taxa de aquecimento. Dessa forma, fica mais fácil de retirar o grafeno
do susbtrato.
O grafeno produzido por este método não é perfeitamente homogêneo por apresentar
defeitos e contornos de grão, uma vez que o crescimento do grafeno começa em locais
diferentes do cristal simultaneamente e esses pedaços vão se juntando. A qualidade do
grafeno não é tão boa quanto ao produzido por esfoliação e o tamanho é limitado pelo
tamanho do cristal utilizado.
elétrica ou térmica. Para produzir grafeno por este método, colocamos um filme de
Ni exposto a uma mistura de �2 , ��4 e �� numa temperatura de aproximadamente
1000°C [14]. O metano se decompõe na superfície, o hidrogênio evapora e o carbono se
difunde para dentro do Ni. Quando a temperatura decresce, a solubilidade do C em Ni
também decresce, e o átomos de C se difundem na superfície do Ni formando grafeno.
O número de camadas produzidas depende da espessura do Ni utilizado e, dessa forma,
pode ser controlada.
Essas camadas de grafeno podem ser transferidas com ajuda de um polímero, que
será anexado à parte superior do grafeno. Depois da retirada do Ni, o grafeno pode ser
colocado no substrato desejado e o suporte polimérico é retirado. Com esse método,
várias camadas de grafeno podem ser empilhadas a fim de diminuir a resistência.
Utilizando cobre ao invés de níquel como substrato de crescimento, ocorre formação
de grafeno única camada, com menos de 5% de grafeno com poucas camadas, que não
crescem mais com o tempo [32]. Esse comportamento é supostamente causado pela
baixa solubilidade do carbono em Cu. O grafeno produzido por este método pode ter
grandes dimensões e ser produzido em grande quantidade, mas não possui tanta pureza
[13]. Além disso, como este método já é bastante usado nas indústrias, há um maior
controle nos resultados desejados porém, ainda existe a necessidade de transferência do
grafeno.
Analisando as principais técnicas já conhecidas para a produção de grafeno, per-
cebemos que todas necessitam de um catalisador ou da transferência do grafeno para
substratos isolantes. O nosso objetivo é estudar a obtenção de grafeno diretamente
a partir de filmes de carbono amorfo, sem o uso de catalisadores e sobre substratos
isolantes.
Capítulo 3
Procedimentos Experimentais
3.1 Preparação
O processo de preparação das amostras pode ser resumido em duas etapas: prepara-
ção dos substratos e deposição dos filmes de carbono. Para os dois tipos de filmes finos
de carbono utilizamos o mesmo método para preparação dos substratos, a diferença se
dá na síntese.
O método de ablação por laser pulsado (PLD) é uma técnica de fabricação de filmes
finos usando um feixe de laser pulsado de alta potência para bombardear um ou mais
alvos, de substâncias diferentes, sob uma certa pressão de vácuo [33]. A substância do
alvo atingido pelo laser é vaporizada, formando uma pluma, que é depositada como
um filme fino sobre o substrato. Essa técnica foi usada pela primeira vez por Smith
e Turner em 1965 [34] para a preparação de filmes finos dielétricos e semicondutores.
Desde então, essa técnica têm sido otimizada, investigada e usada para a produção de
diferentes materiais.
Um sistema de PLD típico possui uma configuração experimental como mostrada
na figura 3.1. Ele consiste de um laser externo focalizado para dentro de uma câmara
de vácuo, onde se encontra o suporte para os alvos, que é giratório, e o suporte para o
substrato, posicionado simetricamente oposto ao alvo.
Figura 3.1: Esquema da montagem experimental para deposição por laser pulsado.
O sistema de vácuo do PLD é composto por uma bomba mecânica e uma bomba
turbo-molecular, fazendo com que a pressão dentro da câmara possa chegar até 3.10−7
mbar. A distância entre o alvo e o substrato é um parâmetro importante porque altera
significativamente a eficiência da ablação, e fica na faixa de 3 a 5 cm. Quando o
feixe de laser bombardeia o alvo, o aumento local de temperatura causa a vaporização
Capítulo 3. Procedimentos Experimentais 12
Figura 3.2: Foto da montagem experimental para ablação por laser pulsado do Labora-
tório de Filmes Finos da UFF.
ligado à Terra. Faz-se vácuo na câmara a uma pressão de 10−5 Torr e em seguida abre-se
o fluxo de gás desejado. A rádio frequência (r.f.) é a responsável por produzir o plasma
entre os eletrodos. Esse plasma é gerado por colisões dos elétrons acelerados por um
campo de r.f. com os átomos e/ou moléculas da atmosfera precursora, provocando novas
ionizações através de diversas reações envolvendo elétrons, íons, moléculas e radicais
neutros.
A maior mobilidade dos elétrons com relação aos íons no plasma dá origem ao
aparecimento de uma região chamada de bainha, perto dos eletrodos, e que apresenta
um excesso de íons. Assim, as bainhas agem como diodos, de modo que os eletrodos
adquirem tensões de autopolarização iguais ao pico de tensão de rádio frequência. O
eletrodo onde está o substrato torna-se mais negativo em relação ao outro eletrodo.
As bainhas de tensão negativa aceleram os íons positivos, propiciando o bombardeio
necessário para a formação da ligação ��3 .
Os filmes de a-C:H foram depositados na câmara de rf-PECVD do Laboratório de
Filmes Finos da UFF, utilizando um sistema de deposição como o da figura 3.4. Usamos
substratos de silício (��) e de Si�2 /Si, atmosfera de metano com pressão na câmara de
7.10−2 mbar (50 mTorr), e self-bias de -300 V.
o laser. Quando o substrato fica mais distante do alvo, o filme fica mais homogêneo,
porém a taxa de deposição cai drasticamente, por isso não colocamos o substrato muito
longe do alvo. Ao montar o substrato na posição, colocamos fita kapton fina para gerar
degraus na amostra depois da deposição.
Utilizando um laser com comprimento de onda Ú = 1064 nm, com máxima frequência
de repetição dos pulsos de 10 Hz, cada pulso com duração de 7 ns, e potência máxima
de 200 mJ, realizamos deposições de carbono com duração de 20 minutos. Um tempo
longo de deposição foi realizado para obtermos um filme mais grosso a fim de minimizar
o erro durante a medição da espessura com perfilômetro. Depois da deposição realizada,
retiramos as fitas kapton e formam-se vários degraus no filme de carbono. Com a
amostra obtida, foi realizada uma sequência de medidas sistemáticas com o perfilômetro,
no LABNANO no CBPF, e como resultado obtivemos a taxa de deposição de 16
nm/min.
A taxa de deposição de PECVD foi medida a partir do mesmo método, e obtivemos
a taxa de 10 nm/min.
Alguns autores usaram tratamento com laser nos filmes finos DLC com o objetivo
de texturizar e otimizar as suas propriedades tribológicas [36, 37]. Porém, a maior
parte desses estudos da texturização causada pelo laser são a nível micrométrico, e não
reportam o efeito causado nos filmes em escala nanométrica, tampouco as mudanças
estruturais ocorridas. Sendo assim, nosso objetivo foi modificar e caracterizar esses
filmes que sofreram bombardeamento com laser, e buscar a formação de grafeno com
poucas camadas nas amostras.
O procedimento consiste em utilizar os filmes de carbono amorfo que foram depo-
sitados por PLD, e bombardeá-los com um laser de alta potência. Para realizar tal
processo, foram usados dois lasers, ambos de Nd:Yag, porém com comprimentos de
onda diferentes: um verde com 532 nm e outro infravermelho com 1064 nm. A energia
máxima por pulso do laser verde é de 130 mJ e cada pulso tem duração de 4 ns, já para o
laser infravermelho a energia máxima por pulso é de 197 mJ e a duração de cada pulso é
de 7 ns. As tabelas com as energias por pulso de cada um dos lasers estão abaixo 3.1 e 3.2
O filme de carbono amorfo depositado é colocado num suporte que pode ser trans-
ladado a pequenas distâncias. Dessa forma, colocamos o laser a uma distância de
aproximadamente 50 cm e damos pulsos únicos com potências diferentes sobre o filme
(em ar) a fim de estudar a modificação estrutural ocorrida.
Tratamento térmico
Os filmes finos a base de carbono são usados para uma série de aplicações, como
revestimentos resistentes à agua, anti-corrosivos, entre muitos outros [1]. Sabemos que as
propriedades dos filmes de carbono hidrogenados dependem fortemente da quantidade
de hidrogênio presente e, quando submetemos esse filmes a tratamento térmico pode
ocorrer a evaporação do hidrogênio e, sendo assim, ocorreria uma grafitização da camada
Capítulo 3. Procedimentos Experimentais 16
superior desses filmes. Portanto, além de usar o tratamento com laser pulsado, também
realizamos tratamento térmico nos filmes a fim de obter a formação de grafeno com
poucas camadas.
Em busca dessa mudança na estrutura dos nossos filmes, realizamos o tratamento
térmico a diferentes temperaturas usando um forno tubular horizontal (INTI - T1200/H)
do Laboratório de Filmes Finos da UFF, mostrado na figura 3.5.
O forno utilizado neste trabalho tem um tubo de quartzo com entrada para diferentes
gases, como metano, acetileno, argônio, hidrogênio, etc. A temperatura máxima que este
alcança é de 1200°C, e possui uma taxa de aquecimento lenta, da ordem de 10°C/min.
Os tratamentos realizados neste trabalho foram feitos com temperaturas variáveis, mas
todos sob atmosfera de argônio, para evitar a oxidação das amostras.
Depois das etapas de preparação e tratamento, as amostras foram caracterizadas
com diferentes técnicas e, a seguir vamos apresentar um breve resumo sobre cada uma
Capítulo 3. Procedimentos Experimentais 17
delas.
3.3 Caracterização
Neste capítulo são descritos os métodos experimentais usados para caracterizar as
amostras preparadas. Foram utilizadas técnicas espectroscópicas, como a espectroscopia
Raman e a espectroscopia de fotoelétrons excitados por raios-X a fim de determinar
o tipo de estrutura cristalina, a hibridização do carbono e a composição química dos
filmes de carbono estudados. Também foram utilizadas técnicas de microscopia eletrô-
nica, como a microscopia eletrônica de varredura (MEV) e a microscopia eletrônica
de transmissão (MET), que utilizam um feixe de elétrons altamente energéticos para
analisar a morfologia em escala micro e nanométrica. Estas técnicas são capazes de gerar
imagens de alta resolução, além de fazer a identificação dos elementos componentes das
estruturas estudadas. Faremos uma breve introdução a estes métodos e as aplicações
nas amostras estudadas neste trabalho.
Espalhamento Raman
�� = �� ± �� � �� = �� ± �, (3.1)
1
Ö= , (3.2)
�(�q /�B � )−1
onde �� é a constante de Boltzmann e T é a temperatura.
A probabilidade para os processos Stokes (S) e anti-Stokes (AS) diferem porque
no primeiro, o sistema vai de Ö para Ö + 1, enquanto ocorre o contrário no processo
anti-Stokes. Utilizando a simetria de inversão temporal, os elementos de matriz para o
processo Stokes e anti-Stokes são os mesmos, e a razão entre as intensidades (�� , ��� )
para um fônon é dada por:
�� Ö+1
∝ = �(�q /�B � ) . (3.3)
��� Ö
A relação acima só pode ser aplicada quando a energia do fóton incidente no processo
Stokes é igual à energia do fóton espalhado no processo anti-Stokes. Mas em processos
Raman não ressonantes, as energias possuem valores bem próximos e essa aproximação
não gera problemas.
Como o sinal Stokes é bem mais forte que o anti-Stokes, geralmente, resultados
experimentais se baseiam somente no processo Stokes.
A descrição quântica do espalhamento Raman pode ser feita usando a teoria da
perturbação dependente do tempo e a regra de ouro de Fermi. Detalhes deste cálculo
são apresentados no apêndice A.
Para nossos estudos vamos analisar os picos D, G e 2D que são sensíveis o sufici-
ente para nos fornecer informações sobre as semelhanças e diferenças entre as nossas
amostras e estruturas conhecidas de carbono.
Banda G
A banda G, presente em todos os materiais grafíticos com hibridização ��2 , está
relacionada com o modo de vibração de extensão das ligações carbono-carbono. Devido
à forte ligação C-C e à pequena massa do carbono, essa banda tem alta frequência nos
materiais grafíticos, ≈ 1580��−1 , de tal forma que pequenas perturbações à æ� são
mensuráveis. A banda G é altamente sensível a efeitos de tensão nas nanoestruturas de
carbono ��2 e, portanto, pode ser usada para analisar alterações na estrutura geométrica
dos materiais estudados.
Capítulo 3. Procedimentos Experimentais 21
Banda D
Essa banda representa o modo vibracional induzido pelos defeitos da zona de con-
torno e está relacionada com um processo de ressonância dupla. Esta banda é diferente
pelo fato de sofrer uma mudança na sua frequência quando variamos a energia do laser
incidente, ou seja, ela é uma banda dispersiva (processo de ressonância dupla) [39]. A
banda D é usada para caracterizar a concentração de defeitos; uma pequena linha D é
interpretada como indicativo de boa qualidade da amostra.
Para quantificar a desordem no grafeno usamos a razão entre as intensidades das
bandas D e G, �� /�� .
Banda 2D
A banda 2D (2500 − 2800��−1 ), característica dos materiais grafíticos, é originada de
um processo de segunda ordem relacionado à dois fônons próximos ao ponto K do
grafeno, acionado por um processo de ressonância dupla que acaba fazendo com que
a mesma apresente uma forte dependência com a energia do laser de excitação, o que
não é usual em espalhamento Raman. Esse comportamento causa uma forte dependên-
cia dessa banda com perturbações das estruturas eletrônica e vibracional do grafeno,
tornando-a uma excelente sonda para o mesmo.
Instrumentação
Neste trabalho foi utilizado o espectrômetro Raman Witec - alpha 300, que pertence
ao Centro de Caracterização Avançado para Indústria do Petróleo (CAIPE) localizado
na UFF, e está mostrado nas figuras 3.8 e 3.9.
Este equipamento possui dois comprimentos de onda disponíveis: 532 nm e 633 nm,
além de lentes com resoluções de 200X, 500X e 1000X.
Figura 3.9: Lasers que compõem o espectrômetro Raman. O laser que está em primeiro
plano na foto é o que possui comprimento de onda de 532 nm e o laser que está em
segundo plano é o de 633 nm.
de uma faixa de energias cinéticas. Os picos aparecem no espectro por causa dos átomos
emitindo elétrons numa certa energia característica. As energias e as intensidades dos
picos fotoeletrônicos permitem a identificação e quantificação de todos os elementos
da superfície da amostra (exceto hidrogênio). Em função da estrutura de bandas ser
individual e diferente para cada elemento químico, cada um dos elementos químicos terá
um espectro XPS único e diferente dos demais, podendo os espectros serem facilmente
utilizados para identificar a presença ou não de um dado elemento na superfície da
amostra, como se fosse uma impressão digital.
Como o XPS não é capaz de detectar hidrogênio, ele não é frequentemente usado
na análise de filmes de carbono, entretanto, pelo fato desta técnica conseguir revelar
a energia de ligação dos átomos de carbono e discernir as hibridizações ��2 e ��3 , se
torna um método bastante poderoso para analisar a estrutura dos filmes de carbono
amorfo sem causar danos excessivos ao material [41].
Instrumentação
Os espectros de XPS, que serão mostrados neste trabalho, foram obtidos usando o
equipamento Thermo Scientific ESCALAB 250XI mostrado na figura 3.11. As medidas
foram realizadas a temperatura ambiente com radiação monocromática Al KÐ (energia
de 1486.6 eV), e a pressão interna na câmara era de 6.10−9 mbar.
Inicialmente fazemos uma varredura de survey que nos dá informação sobre quais
elementos químicos estão presentes nas amostras e qual a porcentagem de cada um
deles. Feito isso, continuamos com varreduras nas regiões específicas dos elementos
procurados para obter um quadro completo dos estados químicos e eletrônicos destes
elementos. Para as amostras depositadas nesse trabalho, analisamos os espectros do C
e O.
A região C1s é a mais proeminente nas amostras aqui estudadas e fica entre 280
e 295 eV de energia de ligação. Analisando a forma e o número de picos nessa região,
obtemos informações sobre os tipos de ligação que os átomos de carbono fazem entre
Capítulo 3. Procedimentos Experimentais 24
O MEV está equipado com uma fonte de emissão por campo (FEG, field emission gun)
com voltagem de aceleração que pode variar entre 100 V e 30 kV, o que permite analisar
amostras muito diferentes. A resolução do MEV chega a 1.8 nm com aumento de um
milhão de vezes. O equipamento possui detectores de elétrons secundários, módulos de
STEM e EDS. O EDS possui um detector de SDD (silicon drift detector) que pode
coletar o sinal de raio-X com alta velocidade, chegando até 50 mil contagens/segundo.
A vantagem de utilizar o MEV neste trabalho é a capacidade de fazer imagens em
áreas de tamanhos distintos, e poder comparar as mudanças morfológicas mais sutis
que ocorrem nas amostras, depois de certos procedimentos, com alta resolução. Porém
para obtermos informações em escala atômica, o MEV não possui resolução suficiente,
então foi necessária a utilização do microscópio eletrônico de transmissão.
Como discutido no capítulo 1, o laser pode ser usado para modificar a estrutura
cristalina dos materiais de carbono. O tratamento a laser já foi usado na indústria
eletrônica e fotônica desde os anos 1980 [42], devido à possibilidade de induzir modifi-
cações em semicondutores homogêneos, como Si e Ge, e em filmes finos semicondutores.
Os pulsos de laser nos fornecem a possibilidade de altas taxas de aquecimento nos
pontos específicos irradiados da amostra. Esse fluxo rápido de energia faz com que seja
possível ocorrer alterações na estrutura cristalina estudada.
O objetivo deste capítulo é analisar as mudanças que ocorrem na estrutura cristalina
dos filmes de carbono amorfo (a-C) quando os irradiamos com laser pulsado, com
diferentes comprimentos de onda e densidades de energia, além de buscar em quais
condições pode ocorrer a grafitização local nesses filmes e a formação de nanoestruturas
cristalinas induzidas pelo laser.
destes.
Realizamos a espectroscopia Raman com laser incidente de 532 nm de comprimento
de onda. Os filmes sintetizados, antes de sofrerem qualquer tipo de tratamento, apresen-
taram um espectro típico de filmes de carbono amorfo com as bandas D e G sobrepostas,
como mostrado na figura 4.1. Os filmes também se mostraram bastante homogêneos,
com o mesmo espectro em diferentes posições do filme.
Figura 4.1: Espectro Raman dos filmes de carbono amorfo como depositados com
espessuras de 10 e 16 nm.
Os espectros mostram uma ampla estrutura assimétrica larga, com um pico rela-
tivamente estreito em 1540 ��−1 (banda G) e uma banda mais larga em 1350 ��−1
(banda D). A região com sinal proeminente antes de 1000 ��−1 é o espectro referente
ao substrato de quartzo, que aparece devido ao fato dos filmes serem transparentes.
A banda G, para materiais de carbono, é resultado das vibrações de pares de sítios
��2 . A existência da banda G nos nossos filmes indica a presença de anéis aromáticos na
estrutura, mas de diferentes ordens, e anéis hexagonais distorcidos. A presença da banda
D está relacionada com a distribuição de diferentes ordens e dimensões, e, analisando a
sua altura e posição, concluímos que nossos filmes a-C possuem uma desordem alta com
anéis de diferentes tamanhos. Para as espessuras de filme depositadas neste trabalho,
não há variação significativa entre os espectros Raman como depositados, sendo assim
vamos apresentar somente os espectros de algumas amostras.
Como sabemos, o carbono amorfo não é um estado de equilíbrio, e a razão pela qual
o filme preparado pelo PLD é amorfo é a seguinte: apesar de cada pulso do laser liberar
apenas 0,2 J, a duração de cada pulso é somente 7 ns e isso resulta numa potência do
laser muito alta, da ordem de 30 MW. Quando o laser libera energia na superfície do
alvo de carbono, ele aquece a superfície a uma temperatura bem alta num curto período
de tempo e os átomos de carbono serão bombardeados e formarão um plasma de átomos
de C próximo à superfície do alvo. Como a pressão no interior do plasma é alta e todo
o sistema está em alto vácuo, o plasma de C se consome muito rapidamente e, como
Capítulo 4. Modificação de estrutura cristalina... 29
resultado, a temperatura do plasma cai numa taxa bem alta e este já se encontra frio
quando alcança a superfície do substrato. Além disso, o substrato está em temperatura
ambiente, e os átomos de C depositados nele não possuem energia térmica suficiente
para atingir um estado de equilíbrio e, como resultado, obtemos filmes de carbono
amorfo.
Analisamos a estrutura atômica do filme de carbono amorfo como depositado com
o MET. A amostra para o MET é uma seção transversal de um filme depositado que
foi preparado com FIB de modelo TESCAN Lyra 3 do LABNANO no CBPF. A figura
4.2 mostra a imagem do filme de carbono como depositado.
Figura 4.2: Imagem MET do filme de carbono como depositado mostrando a microes-
tutura amorfa.
A partir da figura 4.2 observamos que os átomos de carbono não possuem orde-
namento de longo alcance, o que é uma característica dos materiais amorfos, e este
resultado confirma a observação realizada através dos espectros Raman, de que há
muita desordem na estrutura e anéis de diferentes tamanhos.
Os filmes de carbono com espessuras diferentes foram tratados com laser verde e
infravermelho e os resultados serão discutidos a seguir.
entre 0,1 e 130 mJ. Os filmes a-C foram posicionados a uma distância de 50 cm do
laser e foram efetuados bombardeios de um único pulso variando a energia incidente.
Ao irradiarmos os filmes com energias muito baixas, abaixo de 3 mJ por pulso, a
radiação não era suficiente para realizar qualquer alteração nos filmes e os resultados de
caracterização eram iguais aos dos filmes a-C antes do tratamento. Para energias mais
altas, era possível ver alterações nas amostras a olho nu, e com facilidade determinar a
área atingida pelo laser. Vamos descrever agora a caracterização das áreas dos filmes
de a-C atingidas pelo laser.
Espectro Raman
Após o tratamento com laser verde, já era perceptível a olho nu que havia uma
diferença relevante na textura do filme entre as regiões central e da borda do ponto
bombardeado, causada pelo comportamento gaussiano do laser incidente que possui
menor energia nas bordas dessa gaussiana. Nesse caso, estudamos as diferentes regiões
(centro e borda) das amostras. Nas figuras 4.3, 4.4 e 4.5 estão plotados os espectros
Raman das diferentes regiões para diferentes energias do laser incidente.
Nas figuras 4.3(a) e 4.3(b) apresentamos os espectros Raman das regiões de borda e
central, respectivamente, da amostra tratada com a mais baixa energia mostrada aqui,
4 mJ. Em ambos os espectros a região da banda 2D é bastante larga, e a principal
diferença entre eles está na região entre 1000 e 1800 ��−1 . A região de borda, onde
ocorreu menor incidência de energia, já sofreu alterações quando comparada ao espectro
original; as bandas D e G estão separadas e possuem intensidades próximas, e as suas
posições e larguras indicam que ainda há bastante desordem mas ocorreu a grafitização
da estrutura (maior concentração de carbono ��2 ). Nessa região de borda irradiada pelo
laser, a superfície do filme foi modificada, mas ainda é uma estrutura sem ordenamento
atômico. A região central apresenta um espectro, figura 4.3(b), semelhante ao da região
de borda, com as bandas D e G mais separadas e a banda D com intensidade maior
que a G.
Capítulo 4. Modificação de estrutura cristalina... 31
espectros Raman na região de borda, figura 4.5 (a), e na região central, figura 4.5 (b).
Na borda, onde a energia é menor, o laser alterou a estrutura do filme formando carbono
vítreo, que ainda é um material desordenado. No centro do ponto bombardeado, as
bandas D e G ainda estão separadas, mas ocorreu uma diminuição na intensidade da
banda D e alargamento da banda 2D.
Olhando para os espectros de regiões de borda para essa faixa de energias per-
cebemos que com o aumento da energia do laser não houve variação na posição da
banda G, significando que não ocorreu alteração nas ligações entre C-C ��2 . A razão
�� /�� variou somente para a amostra de 26 mJ, e a razão �� /�2� aumentou com a
energia. A razão �� /�2� está relacionada com o número de camadas de grafeno [43], e
aumenta rapidamente com o número de camadas, o que é mais um indício de que com
o tratamento do laser produzimos grafeno com poucas camadas.
A partir dos resultados de espectroscopia Raman, podemos concluir que nessa faixa
de energias mais baixas ocorre modificação estrutural tanto na região de borda quanto
na região central. Comparando nossos espectros com os encontrados na literatura [44],
chegamos a conclusão de que obtivemos o espectro de grafeno com poucas camadas.
Para energias mais baixas que 4 mJ, não ocorreu nenhuma modificação na amostra
após o tratamento com laser e o espectro Raman do filme permaneceu como o original.
Isso ocorre pois a energia do laser não era suficiente para realizar qualquer alteração
Capítulo 4. Modificação de estrutura cristalina... 33
na amostra.
O mecanismo para a formação do grafeno com poucas camadas é bastante simples
de ser compreendido: quando o laser interage com o filme de C, a energia do laser é
suficiente para quebrar as ligações químicas entre os átomos de C e, como estamos
utilizando um material isolante como substrato, a taxa de resfriamento é relativamente
lenta quando comparamos ao processo de deposição dos filmes. Nesse caso, os átomos
de C têm tempo para formar um estado de equilíbrio, que nesse caso é o grafeno
com poucas camadas. Em outras palavras, o filme a-C está num estado meta estável,
entretanto, existe uma barreira de potencial bem alta entre os estados meta estável e o
estado estável. Quando o laser irradia a superfície do filme, este transmite energia aos
átomos de C para transpor a barreira e formar grafeno com poucas camadas.
Agora precisamos entender as diferenças entre as regiões central e de borda. Como a
energia do laser possui uma distribuição gaussiana, este libera mais energia no centro do
que nas bordas. Então, esperamos que na região central o filme de C cristalize de forma
mais efetiva do que nas bordas, como observado na faixa de energias mais baixas, entre
7 e 32 mJ. Entretanto, há outra faixa de energias onde há melhor cristalização na borda
do que no centro, o que não era esperado antes do experimento, como mostrado na
figura 4.6. Na região de borda dessa figura, observamos espectros de grafeno com poucas
camadas, onde a amostra de 59 mJ apresentou o espectro com pico 2D mais estreito
e intenso. A fim de compreender essa observação, devemos levar em consideração a
evaporação dos átomos de C. Sabemos que durante a interação entre o laser e o filme
ocorrem dois efeitos diferentes: o primeiro é que os fótons podem quebrar as ligações
químicas entre os átomos de C e deixá-los se rearranjar, outro efeito é que se a energia
Capítulo 4. Modificação de estrutura cristalina... 34
for muito alta, vai evaporar os átomos de C que formam a superfície do filme , assim
como quando o laser atinge a superfície do alvo durante a deposição com PLD. Então,
podemos interpretar a observação experimental da seguinte forma: quando a energia é
baixa, a energia no centro do ponto é apenas suficiente para quebrar as ligações dos
átomos de C, mas não há energia para evaporar os átomos de C. Por outro lado, nas
bordas, a energia é bem menor que na região central. Se no centro a energia só foi
suficiente para quebrar as ligações do C, na borda não haverá energia suficiente para
fazer o mesmo, então, quando usamos menores energias do laser, o centro cristaliza
mais que as bordas. Quando usamos energias mais altas, a energia no centro será mais
do que a necessária para quebrar as ligações do C e o efeito de evaporação dominará o
processo. Assim, a maior parte da energia no centro será absorvida pelos átomos de C
que serão evaporados do filme e, só terá uma pequena parcela de energia restante para
modificar a estrutura cristalina dos filmes.
Modificação de morfologia
A partir dos espectros Raman, pudemos observar que a amostra é bem diferente nas
regiões de centro e borda. Essas amostras foram analisadas no MEV após o tratamento
com laser, a fim de estudarmos as mudanças ocorridas na morfologia a partir de imagens
em escala micro e nanométrica das mesmas. As imagens estão agrupadas pelas diferentes
energias do laser incidente.
Capítulo 4. Modificação de estrutura cristalina... 35
Figura 4.7: Imagem das diferentes regiões do filme de 16 nm de C sobre quartzo, tratado
com laser verde com 26 mJ de energia: (a) no centro, (b) na parte descolada na borda,
(c) aumento na estrutura descolada e (d) região abaixo da estrutura descolada.
Analisando as imagens 4.7(a) e 4.7(b) das amostras tratadas com energia de 26 mJ,
podemos ver claramente a mudança na estrutura quando comparamos as regiões de
borda com as regiões centrais como já foi comentado na análise dos espectros Raman. A
região central da amostra tratada apresenta uma rede micrométrica organizada, porém
com muitos defeitos causados pela ablação com laser, e ocorreu também a formação de
muitas nanopartículas. A rede micrométrica é resultado da evaporação não homogênea
dos átomos de C provenientes da superfície dos filmes e as nanopartículas podem ser um
sub resíduo do carbono após a evaporação. A região de borda mostra um menor efeito
de evaporação, o filme ainda está conectado contendo alguns buracos, e apresenta uma
morfologia mais irregular com "emaranhados"de rede bastante distorcida. Essas imagens
ratificam as conclusões tiradas a partir do Raman e nos permitem ver a morfologia com
clareza. Os resultados confirmam nossa observação de que o laser produz dois efeitos
diferentes nos filmes: evaporação e recristalização. As figuras 4.7(c) e 4.7(d) são imagens
das estruturas formadas depois do tratamento entre as regiões de borda e central com
maior aumento, e podemos ver que essas estruturas também possuem muitos buracos
na sua rede. Essa estrutura apresenta uma grande área superficial e pode ser usada
Capítulo 4. Modificação de estrutura cristalina... 36
Figura 4.8: Imagem das diferentes regiões (a) no centro e (b) na borda do filme de 16
nm de C sobre quartzo, tratada com laser verde com 19 mJ de energia.
Para a amostra tratada com energia de 19 mJ, a imagem MEV referente à região
central, 4.8(a) é muito semelhante à tratada com 26 mJ na borda, com uma rede
micrométrica cheia de defeitos, porém menos quebrada que a região central da amostra
de 26 mJ. Na figura ao lado, 4.8(b) temos a imagem da borda, onde notamos uma rede
mais organizada que a do filme original amorfo, e com bem menos buracos que a região
central. Os resultados de MEV confirmam nossas observações a partir dos espectros
Raman que a região central é bem diferente das bordas. Os resultados mostram que
a morfologia tem uma forte dependência com a densidade de energia na superfície
também. Somente energias de laser apropriadas resultam num efeito de recristalização
do filme a-C.
Figura 4.9: Imagem das diferentes regiões (a) da borda e (b) local onde ocorreu uma
quebra no filme de 16 nm de C sobre quartzo, tratada com laser verde com 12 mJ de
energia.
Para uma energia ainda mais baixa, 12 mJ, a diferença é maior. A primeira figura,
4.9(a), foi tirada num local de interface entre a borda e a região central, que apresenta
Capítulo 4. Modificação de estrutura cristalina... 37
morfologia semelhante à mostrada na figura 4.8(b), mas foi obtida com um menor
aumento para que fosse possível mostrar a textura que aparece nessa interface. É uma
estrutura que lembra ondas que vão ficando cada vez menos intensas ao se aproximar
da borda. Na figura 4.9(b) temos a imagem de uma região quebrada da amostra, onde
vemos novamente uma rede cheia de buracos causados pelo laser. Entretanto, a partir
dessa amostra não pudemos encontrar nanoestruturas formadas após a evaporação dos
átomos de C, como nanopartículas, etc.
A imagem 4.10 foi tirada num local onde o filme sofreu rupturas, descolou do
substrato e acabou se enrolando. Com o contraste, podemos ver ao fundo (região preta)
o substrato. Comparando a visão geral das três amostras, tratadas com a faixa de
energias mais alta, o filme de C na região central foi destruído pelo laser e formaram-se
diferentes tipos de nanoestruturas. Com o decréscimo da energia do laser, o filme fica
cada vez menos destruído.
A partir do estudo com MEV podemos concluir que a irradiação do laser danifica
severamente a amostra. Isso ocorre devido à intensa radiação que foi transmitida, por
difusão térmica, através das camadas do filme causando esses efeitos. A morfologia
da região central das amostras é bem diferente da região de borda, e tal fenômeno é
induzido pela diferença na densidade de energia do spot do laser.
recristalização dos filmes de carbono. Fizemos análises com MET de uma amostra
tratada e discutiremos os resultados em seguida.
Figura 4.11: (a) Imagem de MET de uma primeira região do filme a-C com espessura
de 16 nm tratado com energia de laser 50 mJ. Inserção da FFT referente à imagem.
(b) Imagem de MET da mesma região com uma resolução maior. Inserção da FFT
referente à imagem.
A análise no MET requer uma preparação da amostra mais delicada e precisa, pois
precisamos colocar um pedaço da nossa amostra sobre uma grade especial sem carbono
para o microscópio. O filme de 16 nm tratado com laser cuja energia era de 50 mJ por
pulso sofreu uma ablação tão energética que parte do filme se descolou e levantou do
substrato de quartzo. Colocamos então parte dessa amostra que se descolou sobre a
grade a fim de analisar as imagens produzidas pelo MET.
As figuras 4.11 e 4.12 mostram imagens de regiões diferentes da estrutura em
escala nanométrica, e as inserções em cada figura mostram as transformadas rápidas
de Fourier (FFT) obtidas das imagens. Na figura 4.11(a) percebemos que ocorreu uma
nanocristalização no filme com orientações aleatórias e a inserção de FFT confirma isso,
pois o círculo homogêneo significa que não há orientação preferencial dos cristais e, na
figura 4.11(b), que possui maior aumento, podemos observar os nanocristais com mais
clareza. Na figura 4.12(a) observamos uma textura na superfície do filme homogênea
onde podemos encontrar estruturas hexagonais na imagem, e a inserção do FFT confirma
que existe uma orientação preferencial dos cristais a partir do semi círculo formado.
As diferenças da orientação nas figuras 4.11 e 4.12 podem ocorrer devido ao gradiente
de energia do spot do laser. No centro deste a energia é mais homogênea que na borda e
além disso, a densidade de energia possui um valor bem alto até chegar a zero na borda
da área tratada. A energia térmica se propaga para o substrato ou para o ar, que é
sempre perpendicular à superfície do filme. Na borda, entretanto, a energia térmica pode
Capítulo 4. Modificação de estrutura cristalina... 39
Figura 4.12: (a) Imagem de MET de uma segunda região do filme a-C com espessura
16 nm tratado com energia de laser 50 mJ. Inserção da FFT referente à imagem. (b)
Imagem de MET da mesma região com uma resolução maior. Inserção da FFT referente
à imagem.
banda D intensa significa que há muitos defeitos na estrutura do grafeno com poucas
camadas. A banda D pode ser resultado dos contronos de grão da amostra tratada. As
estruturas cristalinas aleatórias e com textura são devido, provavelmente, às diferenças
na densidade de energia do laser e nas diferentes formas de dispersão da energia térmica
também.
Figura 4.13: Espectros Raman da região central dos pontos tratados pelo laser verde
com energias: (a) 38 mJ, (b) 32 mJ, (c) 26 mJ, (d) 19 mJ.
picos 2D nos espectros de borda são mais estreitos que os da região central, independente
da energia do do laser, o que é bem diferente do que ocorreu com a amostra de 16 nm.
A posiçao da banda G sofreu um desvio da ordem de 50 ��−1 para a direita, quando
comparamos tais espectros com os do filme orginal e a razão I(D)/I(G) aumentou para
valores da ordem de 1.2 a 1.4, indicando que ocorreu a nanocristalização dos filmes para
essa faixa de energias do tratamento com laser. Notamos que mesmo para os valores de
energia do laser mais baixos, ocorreu a cristalização do carbono mas com uma banda D
com intensidade alta, porém com menor largura, indicando que os anéis aromáticos são
de menor tamanho (poucos anéis maiores que 6 átomos) mas que há muitos defeitos
nas amostras. A medida que aumentamos a energia do pulso de laser, continuamos com
o perfil de camada de carbono cristalina porém ocorreu a diminuição da intensidade da
banda D, e da razão I(D)/I(G), ou seja, a desordem diminuiu nesse processo.
O pico 2D sofreu um aumento de intensidade e diminuição na largura, mas ainda é
menor quando comparado à banda G. A banda 2D dos nossos filmes é uma superposição
de 2 gaussianas, indicando a interação dos átomos ��2 entre as camadas.
Capítulo 4. Modificação de estrutura cristalina... 42
Figura 4.14: Espectros Raman da região de borda dos pontos tratados pelo laser verde
com energias: (a) 44 mJ, (b) 38 mJ, (c), 26 mJ, (d) 19 mJ.
A medida que traçamos uma varredura em linha reta, notamos a evolução das
mudanças ocorridas, que passam por uma situação intermediária onde houve a nano-
cristalização do grafite, até a borda da região, onde aparecem espectros de grafeno
multi-camadas. O filmes após o tratamento com laser verde apresentaram um espectro
Raman com características de grafeno com poucas camadas mas com muitos defeitos,
que podem ser explicados pelo fato do tratamento ter sido realizado em ar a temperatura
ambiente e de forma rápida e brusca.
Agora precisamos entender as diferenças entre as regiões central e de borda, e entre
as amostras de 10 nm e 16 nm. Para as amostras com 10 nm de espessura, todos os
espectros Raman apresentam uma banda 2D mais estreita nas bordas do que no centro,
Capítulo 4. Modificação de estrutura cristalina... 43
entretanto as amostras de 16 nm não mostram esse mesmo efeito; para as energias mais
altas a banda 2D é mais estreita nas regiões de borda e para as energias mais baixas,
a região central apresenta pico 2D mais intenso. Como sabemos, o laser produz dois
efeitos: primeiro quebra as ligações químicas entre os átomos de C e depois, evapora
os átomos. Para as amostras de 16 nm, isso depende da densidade de energia liberada
para a amostra. Quando a energia é muito alta, o processo de evaporação domina na
região central. Com a diminuição da energia, a recristalização substituirá a evaporação
nesse processo dominante. Nesse caso, observamos os resultados para as amostras de
16 nm como descrito acima. Mas nas amostras de 10 nm, parece que na região central
o processo de evaporação sempre domina e os espectros Raman ficam muito parecidos
com os do filme antes do tratamento. Na borda, o laser possui menos energia e não
tem energia suficiente para evaporar os átomos de C, e como resultado, o processo de
recristalização é mais importante. Isso também pode explicar o resultado da varredura
de linha desde o centro até a borda que realizamos, que mostra um filme como o original
na região central pois quase toda a energia foi usada para evaporar os átomos de carbono,
em seguida carbono vítreo devido aos resíduos que ficaram após a evaporação e por
último o grafeno com poucas camadas, onde a energia do laser não foi suficiente para
evaporar os átomos de carbono mas apenas para induzir a recristalização.
As duas amostras são iguais, exceto pelas diferença nas espessuras, e foram tratadas
com as mesmas energias do laser. Então, os diferentes resultados estão relacionados
com a diferença na espessura. Imaginamos que o laser pôde evaporar uma fina camada
de átomos de C da superfície do filme. Para as amostras mais grossas (16 nm), após a
evaporação da camada superior de C, ainda há carbono suficiente abaixo e a energia
restante vai causar a recristalização desses átomos de C. Essa é a razão pela qual no
centro da amostra de 16 nm observamos picos 2D bem estreitos. Entretanto, para as
amostras mais finas (10 nm), depois da evaporaçao dos átomos de C não há muitas
camadas restantes abaixo, uma vez que só há espessura para algumas camadas de
carbono (uma camada corresponde a 0,34 nm). Além disso, os átomos de carbono
restantes podem não ser mais capazes de formar uma camada contínua, nesse caso, as
amostras de 10 nm não apresentam um pico 2D estreito na região central do ponto
tratado.
Quando aumentamos a energia do laser incidente acima de 50 mJ, ocorreu a vapo-
rização quase que total do filme e somente na borda restou um pouco de filme, com
espectros similares aos mostrados na figura 4.13, sem nenhuma mudança estrututal
notória. Isso confirma nossa observação de que para as amostras de 10 nm, a evaporação
é sempre importante na região central.
A fim de provar a observação feita acima, analisamos também essas amostras de 10
nm no MEV e os resultados serão mostrados em seguida.
Capítulo 4. Modificação de estrutura cristalina... 44
Modificação de morfologia
Na figura 4.15(a) vemos uma imagem das diferentes texturas que o filme apresenta
após sofrer o tratamento com o laser de energia 44 mJ, sendo que na região mais a
esquerda ocorreu a vaporização dos átomos e, portanto, vemos uma estrutura homogênea
como no filme antes de ser tratado. Mas na parte mais clara dessa mesma figura vemos
estruturas diferentes. Na região mais interna da borda, destacada na figura 4.15(b),
aparecem "pedaços"da rede parecidos com flocos pois a potência do laser ainda era bem
alta. No meio da borda, como mostra a figura 4.15(c) vemos uma rede com muitos
buracos que é uma região onde a potência do laser já era um pouco menor. E por último,
na região mais externa da borda, mostrada na figura 4.15(d), aparecem pequenas bolhas
onde a energia incidente apresentou um melhor para essa amostra.
Capítulo 4. Modificação de estrutura cristalina... 45
Nesses locais onde houve mudanças na morfologia que obtivemos os espectros Raman
com estrutura de grafeno com poucas camadas, o que significa que a energia do laser foi
capaz de induzir a recristalização das amostras. No MEV temos imagens com um grande
aumento e conseguimos ver essas diferenças na estrutura da borda de maneira clara, mas
o mesmo não acontece com o espectrômetro Raman, onde temos um aumento limitado
para o microscópio óptico, e por analisar regiões maiores, temos o mesmo espectro para
esses locais.
Para as amostras tratadas com laser cuja energia era entre 32 mJ e 44 mJ, as
imagens obtidas no MEV retratam regiões muito parecidas entre si, e todas mostram
as variações de morfologia sofridas pelos filmes nas diferentes regiões de incidência do
laser, como podemos ver nas figuras 4.15, 4.16 e 4.17. As imagens mostram as redes
com buracos gerados pela forte intensidade do laser, ou seja, são redes cristalinas com
muitos defeitos. Este resultado fortalece a observação da alta intensidade da banda
D nos espectros Raman desses filmes. A região onde não podemos observar redes e
buracos também possuem muitos defeitos, que podem ser vistos pela imagem de MET
Capítulo 4. Modificação de estrutura cristalina... 46
uma espécie de levantamento das camadas de carbono formando uma superfície com
ondulações como podemos ver nas figuras 4.18(a) e 4.19(a). Esse fenômeno ocorreu
na região de borda do ponto de ablação, onde as energias são mais baixas devido
ao comportamento gaussiano do laser. Esse fenômeno indica que tais energias foram
suficientes para modificar a morfologia e a estrutura da amostra.
As figuras 4.18(b) e 4.19(b) mostram uma imagem com aumento maior de regiões das
figuras 4.18(a) e 4.19(a). Há muitos buracos na rede, causados pelo laser, evidenciando
que é um estrutura cheia de defeitos, o que está de acordo com a banda D bastante
proeminente nos espectros Raman dessas amostras.
Mesmo para as energias mais baixas, em torno de 20 mJ por pulso, podemos observar
as mudanças na morfologia e na estrutura das amostras. As imagens de MEV acima
mostram uma rede mais organizada que a dos filmes originais, concordando com os
espectros Raman que mostraram a cristalização dessas amostras.
Capítulo 4. Modificação de estrutura cristalina... 48
Figura 4.20: Espectros Raman para amostra com gradiente de espessura. (a) Espessura
menor que 1 nm, (b) ≈ 2 nm, (c) ≈ 3 nm, (d) 5 nm
do tratamento com laser está fortemente relacionado com a espessura original dos filmes.
Para espessuras de filmes menores obtemos grafeno com um menor número de camadas.
Vale ressaltar que nem para a espessura de ≈ 1 nm obtivemos grafeno monocamada.
Figura 4.21: Espectro Raman do filme a-C de 48 nm de espessura sobre vidro como
depositado.
óptico pudemos ver duas regiões bem distintas na amostra, uma no centro do ponto
bombardeado e a outra nas bordas desse ponto. Sendo assim, analisamos as amostras
para cada uma das regiões citadas.
Na região central das amostras obtivemos espectros Raman parecidos com o do
filme original, com a permanência do pico bem largo entre 2400 e 3100 ��−1 , mas com
uma banda D mais larga e a banda G com um shift de 30 ��−1 para a direita. Isso nos
leva a concluir que há mais anéis aromáticos na estrutura e que houve uma diminuição
na amorfização dos átomos ��2 , ou seja, uma diminuição na desordem. Analisando o
espectro Raman da região de borda de cada ponto bombardeado com laser infravermelho
(1064 nm), notamos uma mudança significativa entre os espectros tratados e o espectro
do filme como depositado.
Na amostra que sofreu tratamento com a maior energia do laser obtivemos espectros
na borda, figura 4.22(a), idênticos aos espectros da região central. A energia envolvida
era alta o suficente, tanto no centro quanto nas bordas, para vaporizar os átomos
das camadas mais superiores do filme e alterar muito pouco a estrutura das camadas
mais internas. Assim, nosso espectro Raman retratou a estrutura dessas camadas que
permeneceram aderidas ao substrato.
Para os demais valores de energia incidente analisados, mostrados nas figuras 4.22(b)-
(e), obtivemos espectros bem diferentes do filme original, com as bandas D e G separadas,
a banda D com menor largura, a banda G mais à direita ainda (1580 ��−1 ), e a banda
2D aparece um pouco larga. Isso nos permite concluir que ocorreu a cristalização na
região de borda com uma grande diminuição na desordem dos átomos e anéis aromáticos
Capítulo 4. Modificação de estrutura cristalina... 51
Figura 4.22: Espectros Raman da região de borda dos pontos bombardeados com laser
infravermelho, do filme de 48 nm de espessura sobre substrato de vidro: (a) 197 mJ,
(b) 168 mJ, (c) 131 mJ, (d) 105 mJ, (e) 34 mJ
Figura 4.23: Imagem das diferentes regiões do filme de 48 nm de C sobre vidro, tratado
com laser infravermelho com energia de 34 mJ.
com mais clareza, o filme de carbono se quebrou em filamentos bem pequenos e estes
filamentos formaram uma rede.
Com o aumento da energia do laser de 34 mJ para 105 mJ, ainda podemos observar
filmes de C descolados, entretanto o filme tratado apresenta nanopartículas aglomeradas,
como podemos ver na figura 4.24. O tamanho dessas partículas é menor que 100 nm.
Com a energia do laser ainda maior, podemos observar paredes formadas de na-
nopartículas e até mesmo no substrato ainda há muitas nanopartículas restantes. Em
algumas regiões formou-se nano barras, como mostrado na figura 4.25(b).
Com a energia mais alta, as partículas mudaram de um formato irregular para
um formato esférico, que é como a ressolidificação do carbono líquido. É interessante
notar que, no resíduo que ficou no substrato formaram nano pilares homogêneos, com
orientação perpendicular à superfície.
A partir destes resultados podemos reparar que o laser infravermelho modifica menos
a estrutura cristalina dos filmes de C mas altera bastante a sua morfologia, até mesmo
com a maior potência do laser. Acreditamos que isso pode ocorrer devido à baixa energia
Capítulo 4. Modificação de estrutura cristalina... 53
Figura 4.24: Imagem das diferentes regiões do filme de 48 nm de C sobre vidro, tratado
com laser infravermelho com energia de 105 mJ.
Figura 4.25: Imagem das diferentes regiões do filme de 48 nm de C sobre vidro, tratado
com laser infravermelho com energia de 131 mJ.
Figura 4.26: Imagem das diferentes regiões do filme de 48 nm de C sobre vidro, tratado
com laser infravermelho com energia de 197 mJ.
Capítulo 5
Figura 5.1: Espectros Raman dos filmes a-C:H sobre Si com espessuras (a) 5 nm, (b)
10 nm, (c) 50 nm. Em destaque estão os ajustes gaussianos das bandas D e G.
Figura 5.2: (a) Relação �� /�� , (b) Largura da banda G e (c) Posição da banda G, em
função do tempo de deposição.
método de deposição utilizado neste trabalho, além dos radicais de carbono incidentes
na superfície, há ions rápidos incidindo também, e estes penetram um pouco na camada
superficial de Si, gerando uma interface muito fina, mas que pode ser importante na
formação do espectro de Raman da amostra de 5 nm. Estes resultados estão de acordo
com o aumento da fotoluminescência à medida que a espessura decresce, provavelmente
induzida pelo confinamento dos elétrons Þ por causa da difusão em átomos de C ��3
hidrogenados [47].
Analisamos as amostras com o XPS e realizamos varreduras de survey, e para os
elementos C, O e Si em todas as amostras, com diferentes espessuras. Os resultados de
XPS, para o carbono (C1s), para os filmes de a-C:H com três espessuras diferentes: 5
nm, 10 nm e 50 nm estão plotados na figura 5.3. O filme de 5 nm, figura 5.3(a) apresenta
um pico de maior intensidade e assimétrico em torno de 285 eV, que indica pela posição
que há uma concentração considerável de carbono ��3 na amostra, mas que, por sua
assimetria, há uma concentração maior de carbono com ligações ��2 . A medida que a
espessura aumenta, o espectro XPS dos filmes, figuras 5.3(b) e (c), sofrem um desvio
para a esquerda, de forma que o máximo do pico aparece na posição 284,5 eV e mantêm
sua assimetria. Podemos concluir então, que os nossos espectros apresentam filmes
cada vez mais grafíticos na superfície com o aumento da espessura, até que apresentem
Capítulo 5. Efeitos de tratamento térmico... 59
Figura 5.3: Espectro de XPS para C1s para filmes de a-C:H com espessuras de 5 nm,
10 nm e 50nm.
A figura 5.5 mostra os espectros survey de XPS para as amostras de a-C:H sobre
Si, para diferentes espessuras, como depositadas (linhas pretas) e aquecidas a 700°C
(linhas vermelhas). Na amostra com espessura de 5 nm, figura 5.5(a), os picos de Si2p e
O1s estão presentes tanto na amostra como depositada quanto na amostra aquecida, e
isto ocorre porque os fotoelétrons de Si2p e O1s conseguem escapar da amostra, devido
a pequena espessura do filme. Mas o pico de C1s fica muito menos intenso após o
tratamento térmico.
Para as amostras com espessuras de 10 nm, figura 5.5(b), e de 50 nm, figura 5.5(c),
há uma grande diferença entre os espectros antes e depois do tratamento térmico.
Nas amostras como depositadas o pico Si2p não é visível, aparecendo apenas os picos
C1s e O1s, este último relativamente pequeno. Após o tratamento térmico, o pico Si2p
aparece e o pico O1s é mais intenso, enquanto que o pico C1s diminui consideravelmente
a intensidade, quase desaparecendo no espectro survey. Em todos os espectros da figura
5.5, o pico Si2p não assinalado se refere ao Si�2 nativo do substrato.
Analisando separadamente o pico C1s, notamos uma mudança na forma das curvas,
como podemos ver na figura 5.6, surgindo um aumento significativo no número de
contagens na região em torno de 288 eV o que significa que ocorreu um aumento na
quantidade de ligações de carbono com oxigênio (C-O e C=O). Os espectros de O1s
também sofreram alterações depois do tratamento térmico, ocorrendo a desorção da
componente que está fortemente relacionada à concentração de hidroxilas, situada em
532,7 eV no espectro XPS. Com o aquecimento observamos que há uma migração do
oxigênio para a superfície do filme. O comportamento foi semelhante para os filmes
de todas as espessuras. Os resultados mostram que ainda há carbono na superfície da
amostra. Juntamente com os resultados de Raman das amostras tratadas termicamente,
Capítulo 5. Efeitos de tratamento térmico... 61
Figura 5.5: Espectro survey de XPS para filmes de a-C:H antes (linhas pretas) e depois
do tratamento térmico a 700°C (linhas vermelhas) com espessuras de (a) 5 nm, (b) 10
nm e (c) 50 nm .
podemos concluir que a ausência dos picos de C nos espectros Raman é, principalmente,
devido à reação do C com o Si ou à difusão do C na rede de Si. Isso é bastante razoável,
uma vez que a faixa de temperaturas usada neste trabalho não alcança o ponto de fusão
do C e, sendo assim, não ocorreria a evaporação dos átomos de C. Também sabemos
da literatura que é fácil de acontecer a difusão dos átomos de C na rede do Si porque
o diâmetro do átomo de C é bem pequeno e, além disso, pode formar SiC sob altas
temperaturas.
A fim de confirmar nossa conclusão, estudamos a seção transversal das amostras
tratadas termicamente com o microscópio eletrônico de varredura e os resultados estão
na figura 5.7. A preparação da amostra foi a seguinte: cortamos um pedaço da amostra
tratada perpendicular à borda do filme de carbono e à região sem filme no topo
(substrato de Si), que estava abaixo da fita kapton durante a deposição. Assim temos
duas diferentes regiões na seção transversal da mesma amostra. Então montamos nossa
amostra sobre o porta amostras do MEV a fim de estudar a seção transversal e comparar
as diferenças entre as duas regiões.
A figura 5.7(a) mostra a imagem da seção transversal do Si puro a partir de elétrons
secundários. Escolhemos uma seção transversal não plana apenas para fornecer um
melhor contraste à imagem e para focalizar o feixe com mais facilidade. A partir dessa
Capítulo 5. Efeitos de tratamento térmico... 62
Figura 5.6: Espectro de XPS para C1s para filmes de a-C:H com espessuras de 5 nm,
10 nm e 50nm depois de submetidos a tratamento térmico a 700°C.
figura podemos ver que não há nada sobre a superfície do substrato de Si pela topografia
de contraste como esperávamos. A imagem de elétrons retroespalhados, que pode nos
fornecer contraste de número atômico, está apresentada na figura 5.7(b). Esta imagem
também confirma que o substrato de Si é bem homogêneo e que não há nada sobre o
mesmo.
A seção transversal da amostra com filme de carbono na superfície é muito diferente.
A partir da imagem por elétrons secundários, figura 5.7(c), vemos que é bem parecido
com o substrato. A partir do ponto quebrado não vemos nada que indique interface
entre filme de C e substrato de Si. Todas as texturas formadas durante a quebra da
amostra mostram um substrato de Si contínuo. Entretanto, a imagem por elétrons
retroespalhados na figura 5.7(d) mostra um contraste claro de uma camada diferente
na superfície do substrato de Si. Sabemos que átomos pesados espalham mais elétrons
do que átomos leves e, como resultado, a região onde há mais átomos pesados é mais
clara. Concluímos que há uma camada mais leve que o Si na superfície do substrato.
Para confirmar que a camada superior contém átomos de carbono, fizemos mapea-
mento elementar da amostra para observar a distribuição bidimensional dos elementos
Capítulo 5. Efeitos de tratamento térmico... 63
Figura 5.7: Imagens de MEV da seção tranversal do substrato de Si puro com (a)
detector de elétrons secundários, (b) detector de elétrons retroespalhados, e para a
amostra de 100 nm de espessura depois do tratamento térmico com (c) detector de
elétrons secundários e (d) detector de elétrons retroespalhados. A linha vermelha em
(d) mostra a posição da linha de varredura do EDS.
Figura 5.8: Mapeamento de elementos por EDS para (a) carbono e (b) silício. (c)
Imagem de EDS em camadas para mostrar a distribuição espacial dos elementos.
superfície do substrato de Si, há realmente alguns átomos de carbono mas quando o feixe
está varrendo a região fora da amostra, pode obter alguma informação da superfície,
nesse caso os átomos de carbono. Por isso que observamos essa forma para a curva de
C. A curva de Si entretanto, continua aumentando até o fim, mas na região de camadas
ricas em C ela cresce muito mais rapidamente do que no recém quebrado substrato de
Si puro.
Considerando que a resolução espacial do detector EDS do MEV é de 100 nm ∼
1 Ûm, que a camada de carbono tem uma espessura de 100 nm e que os átomos de
carbono são leves, não podemos dar uma conclusão quantitativa sobre a razão entre os
átomos de C e Si. Entretanto, podemos fornecer uma estimativa qualitativa de que o
filme de carbono não desapareceu após o tratamento térmico apesar do espectro Raman
não detectar o sinal do carbono. O resultado de EDS suporta fortemente a conclusão
de que os átomos de C se difundem para dentro do substrato de Si.
O objetivo original desse capítulo era estudar a camada superficial dos filmes de
a-C:H e nossos resultados nos levam a uma interpretação que não está coerente com
uma top layer de grafeno em filmes de carbono amorfo hidrogenado sobre Si antes do
Capítulo 5. Efeitos de tratamento térmico... 65
Figura 5.9: (a) Posição da linha de varredura do EDS das amostras apresentadas na
figura 5.7(c). (b) Distribuição dos elementos para C e Si
Figura 5.10: Espectro Raman do filme a-C:H sobre ���2 /Si com 10 nm de espessura.
Figura 5.11: Espectro Raman dos filmes a-C:H sobre ���2 /Si tratados termicamente.
Figura 5.12: (a) Relação entre áreas das bandas D e G, (b) Largura da banda G, (c)
I(D)/I(G), (d) Posição da banda G, em função da temperatura de aquecimento.
desloca para a esquerda, chegando até 284,6 eV, e mantém seu caráter assimétrico,
figuras 5.13(b), (c) e (d), o que indica que a concentração de carbono ��2 aumenta
significativamente na superfície da amostra enquanto que a concentração de carbono
��3 diminui drasticamente.
A concentração de átomos de oxigênio ligados a átomos de C, na superfície, também é
reduzida com o aumento da temperatura. Observamos isso pela largura a meia altura dos
picos de C1s, e pelo número de contagens para o O1s, que diminuem consideravelmente a
medida que a temperatura do tratamento cresce. Na região do C1s não aparece nenhum
pico referente a ligação entre C e Si, o que indica que a colocação de uma camada
de óxido sobre o Si foi bem sucedida. Os resultados da análise de XPS concordam
com os resultados obtidos pela espectroscopia Raman no sentido de que ocorreu a
nanocristalização da amostra e uma diminuição na desordem estrutural.
Em resumo, o estudo do filme de carbono sobre Si e Si�2 /Si antes e depois do
tratamento térmico mostra que não ocoreu a formação de uma top layer de grafeno na
superfície do filme de carbono amorfo hidrogenado. Com o substrato de Si, depois do
tratamento, os átomos de C se difundiram na rede de Si ou formaram SiC. O tratamento
Capítulo 5. Efeitos de tratamento térmico... 69
Figura 5.13: Espectros de XPS para C1s para (a) filme como depositado, a-C:H/Si�2 /Si,
(b) filme após tratamento térmico a 400°C por 1 hora (c) filme após tratamento térmico
a 500°C por 1 hora, (d) filme após tratamento térmico a 700°C por 1 hora
térmico não ajudou a formação de grafeno como o efeito do laser reportado no capítulo
4.
Capítulo 6
Conclusões e perspectivas
Neste trabalho estudamos (1) os efeitos da irradiação por laser pulsado de alta
potência de filmes de carbono amorfo depositados por laser pulsado sobre substratos de
quartzo e vidro e; (2) os efeitos de tratamento térmico sobre filmes de carbono amorfo
hidrogenado depositados por plasma sobre substratos de ���2 /�� e ��.
No que se refere ao tratamento com laser, foi observado, por espectroscopia Raman
que, após a irradiação, ocorre um forte aumento da fração de carbono ��2 , como evi-
denciado pelas alterações nas bandas D e G (posição, largura e razão de intensidades),
e o aumento do ordenamento atômico, como evidenciado pelo grande reforço observado
nas bandas 2D e D+G. Em algumas amostras estudadas o espectro Raman obtido é
típico de grafeno nanocristalino de poucas camadas. Vale ressaltar que neste processo
não foram utilizados catalisadores nem substrato metálico, na obtenção de grafeno de
poucas camadas.
A recristalização decorrente da irradiação do filme é não homogênea, e pode acon-
tecer mais próxima ao centro ou à borda do spot do laser, dependendo da energia do
pulso de laser e da espessura do filme de carbono. Este efeito é devido à competição
entre os processos de vaporização e recristalização, que parece depender da densidade
de energia absorvida.
As imagens de Microscopia Eletrônica de Transmissão confirmam a recristalização
dos filmes de carbono amorfo após o tratamento com laser, evidenciada pela espec-
troscopia Raman. Além disso, observamos que parte da amostra possui nanocristais
orientados aleatoriamente e outra parte possui textura. Isto pode ser explicado pela
dispersão da energia térmica após a irradiação com laser.
Modificando o comprimento de onda do laser, nesse caso de verde para infraverme-
lho, ocorreram muitas mudanças na microestrtura dos filmes tratados. Uma variação
da rede de filamentos de carbono a filmes granulares, paredes de partículas, nanopar-
tículas separadas e até nanopilares foram observados com energias de laser diferentes.
A cristalização dos filmes amorfos de C não foi tão boa quanto às amostras tratadas
Capítulo 6. Conclusões e perspectivas 71
com laser verde, o que indica que a energia dos fótons desempenha um papel mais
importante no processo de cristalização dos filmes do que a potência do laser. Entre-
tanto, potências diferentes do laser modificam mais a morfologia das amostras do que
a estrutura cristalina.
No que se refere aos efeitos do tratamento térmico sobre filmes finos de carbono
amorfo hidrogenado pudemos observar que no caso dos filmes de 10 nm de espessura
depositados sobre substrato de ���2 /��, apesar dos espectros de Raman indicarem um
forte aumento na fração de átomos de carbono ��2 , como indicado pelas alterações nas
bandas D e G (posição, largura e razão de intensidades), nenhuma alteração significativa
no ordenamento atômico foi evidenciada na região das bandas 2D e D+G. Ou seja, não
houve transição para estruturas grafíticas.
Em função do grande potencial em aplicações nanotecnológicas que sistemas desse
tipo oferecem, pretendemos dar continuidade aos estudos realizando mais experimentos
para complementar os resultados aqui apresentados e resolver alguns problemas ainda
existentes neste trabalho.
Os principais problemas são a grande densidade de defeitos, como observado por
espectroscopia Raman e microscopia eletrônica, e a delaminação do filme após o trata-
mento. Para isto a investigação deverá ser estendida a outros comprimentos de onda
(incluindo ultravioleta), e reduzindo a fluência (energia/área) do feixe por meio de
expansor óptico.
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