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ÍNDICE

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO 1
PSICOLOGIA, UM CAMPO DE CONHECIMENTO
A SERVIÇO DA FELICIDADE HUMANA

Da pesquisa médica à teoria psicológica


Psicanálise, a sisuda teoria freudiana
Psicologia analítica, a abrangente escola junguiana
O behaviourismo e a possibilidade de comprovação científica
William James, uma abertura para o espiritual

CAPÍTULO 2
ASTROLOGIA, UMA CIÊNCIA MILENAR
A SERVIÇO DO CONHECIMENTO HUMANO

Desde os primórdios das civilizações


A importância dos símbolos astrológicos
O surgimento da Astrologia Humanista
O desenvolvimento da Astrologia Clínica
O trabalho astrológico em consultórios e laboratórios

CAPÍTULO 3
ASTROLOGIA E PSICOLOGIA,
UM FELIZ CASAMENTO

Vontade, esta característica humana


As diferentes vontades internas
A identificação dos desejos inconscientes
Progressões astrológicas: o futuro no presente
Sinastrias, onde dois ou mais são um só
O diagnóstico pessoal de personalidade

CAPÍTULO 4
O QUE É UMA ENTREVISTA DE ANÁLISE CLÍNICA DE CARTA ASTROLÓGICA
NATAL

Os dados básicos para a elaboração da carta natal


Há necessidade de uma entrevista inicial?
A participação do cliente
A importância de gravar as informações

CAPÍTULO 5
OS DIFERENTES ASPECTOS HUMANOS ANALISADOS ATRAVÉS DA
ASTROLOGIA

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O papel das pulsões no inconsciente humano
Os planetas, símbolos dos impulsos psíquicos básicos
Além de si mesmo, os outros
Os impulsos cósmicos e transpessoais
As "oitavas superiores" do psiquismo humano
As funções e modalidades da consciência

CAPÍTULO 6
ALGUNS PROBLEMAS DO COMPORTAMENTO HUMANO, ANALISADOS
ATRAVÉS DA ASTROLOGIA CLÍNICA

Traços estruturais de personalidade


Traços conjunturais de personalidade
Por que minha auto-estima vive tão abalada?
Assertividade: o que fazer para poder dizer não?
Como lidar bem com minha afetividade?
Às vezes me dá uma sensação de "burrice"...
Sou ou não uma pessoa criativa?
Minha sensualidade me satisfaz?
Por que o prazer sexual me dá culpa?
Espiritualidade: realidade ou ilusão?

CAPÍTULO 7
A NECESSIDADE DE TRABALHO POSTERIOR
À ANÁLISE CLÍNICA ASTROLÓGICA

A análise clínica, um momento terapêutico


Terapia, uma alternativa madura
Outras alternativas de ajuda pessoal

APÊNDICE 1
CARTAS INFANTIS: QUANDO A INFORMAÇÃO
CORRETA FACILITA O DESENVOLVIMENTO

APÊNDICE 2
EXEMPLOS REAIS DE ANÁLISE CLÍNICA
DE CARTAS ASTROLÓGICAS NATAIS

GLOSSÁRIO

BIBLIOGRAFIA

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INTRODUÇÃO
I
Talvez o mais antigo sistema divinatório e de descoberta de conhecimentos, a astrologia
sempre esteve a serviço da necessidade humana de saber: saber sobre si, saber sobre o
outro, saber sobre o mundo e saber sobre o futuro, esta dimensão que assusta a todos
pelo imprevisto que oferece.

Assim, por milênios a fio a astrologia foi parceira da Medicina, da Agricultura, da


Economia, da Política, da caça, da guerra, da religião e da arte do aconselhamento
pessoal em todas as culturas conhecidas.

É que num tempo em que os campos de estudo não eram tão separados entre si, como
veio acontecendo mais e mais na cultura ocidental a partir do Século XIX, e os cientistas
das mais várias especialidades mantinham a noção do Todo em tudo que estudavam,
sempre supondo que de alguma forma os inúmeros aspectos da Vida se associavam
entre si e se interinfluenciavam mutuamente, a astrologia era poderosa indicadora de
alternativas na tomada de decisões e importante instrumento de conhecimento do
"oculto", isto é, de tudo aquilo que não estava disponível à percepção imediata dos cinco
sentidos e do pensamento racional do ser humano, pois se partia do princípio de que tudo
o que se quer saber sobre o que ocorre na Terra já está disponível para informação nos
céus.

II
Desde há cerca de duzentos anos, porém, na mesma medida em que as ciências
contemporâneas se desenvolveram, particularmente na Europa e nos Estados Unidos da
América do Norte, a astrologia foi aos poucos relegada a segundo plano: afinal, o mundo
ocidental passou a desenvolver outro tipo de conhecimento, altamente atomizado,
especializado e engajado nas grandes estruturas produtivas, industriais e comerciais, que
a partir daí se organizaram.

As múltiplas especializações da Química, da Física, da Biologia, da Sociologia, da


História, da Geografia, da Economia e do Direito se desenvolveram, entrelaçando-se em
um sem-número de técnicas utilíssimas como a Medicina, a Engenharia, a Informática ou
a Astronomia, apenas para mencionar algumas das subespecializações necessárias à
enorme quantidade de atividades que caracterizam o mundo moderno.

Com isso, entretanto, nosso mundo se esqueceu de que, como já escreveu o teólogo
católico Teillard de Chardin, "até agora temos olhado a matéria como tal, isto é, de
acordo com suas qualidades e em qualquer volume dado, como se nos fosse possível
quebrar um fragmento e estudar a amostra separada do resto! Já é tempo de mostrar que
este processo não passa de um truque intelectual. Considerado em sua realidade física,
concreta (...) o universo não pode dividir-se mas, como uma espécie de 'átomo'
gigantesco, forma em sua totalidade ... o único verdadeiro indivisível (...)

Quanto mais extensa e profundamente penetramos na matéria, com métodos cada vez
mais poderosos, tanto mais nos confunde a interdependência das suas partes (...) Em
toda a nossa volta, até onde a vista alcança, o universo permanece uno, e só é realmente
possível um modo de considerá-lo, a saber, encarando-o como um todo, numa só peça".
3
Ou, segundo o físico Erwin Schroedinger, fundador da Mecânica Quântica, uma das
principais correntes da Física contemporânea, "por mais inconcebível que pareça à razão
comum, nós - e todos os outros seres conscientes como tais - somos tudo em tudo" (grifo
meu).

Mas como tais suposições contrariavam o que para a ciência dos Séculos XVII, XVIII e
XIX parecia ser "a verdadeira realidade", a qual sempre poderia ser mensurada para
conhecimento mais eficiente, os conjuntos de conhecimentos como os da astrologia
estavam fadados a permanecer como vestígios de um passado inculto, desinformado e
irracional - no mínimo, supersticioso e imaturo- do ser humano...

Entretanto, exatamente no século em que as ciências contemporâneas avançaram numa


velocidade até então inimaginável, aproximando o ser humano das distâncias
intergalácticas e levando-o ao mesmo tempo a visitar as regiões sub-atômicas, e
exatamente quando tudo parecia fazer crer que a astrologia desapareceria do conjunto de
recursos que o ser humano poderia continuar a utilizar em sua busca incansável de
conhecimentos, o que verificamos?

Ano a ano a astrologia mais e mais se fortalece, associada à Medicina, à Administração


de Empresas, à Agricultura, à Política, à Mineração e, como não poderia deixar de ser, à
Psicologia.

Afinal, se as razões mais profundas do comportamento de cada pessoa residem no


inconsciente da própria pessoa, como nós veremos no correr deste livro, e se mesmo com
as incontáveis conquistas científicas modernas é cada vez maior o número de pessoas
infelizes e descontentes consigo mesmas, nada mais natural do que todas as formas
possíveis de conhecimento serem aplicadas à busca do auto-entendimento pessoal e
interpessoal.

Porque, no fundo, todas as pessoas desejam uma só e mesma coisa, cada uma à sua
maneira e medida: ser feliz através da realização de seus potenciais pessoais e da
tentativa de superação de seus limites!

III
O que veremos aqui, então, é como a astrologia, especialmente quando associada à
Psicologia e às Ciências do Comportamento desenvolvidas no Século XX, pode realmente
oferecer preciosas informações para as pessoas que busquem tal tipo de recurso.

Veremos as diferentes modalidades de ajuda que se tornam possíveis com este


instrumento, veremos em quais conhecimentos científicos tal possibilidade se fundamenta
e, principalmente, veremos para quais aspectos íntimos e pessoais da vida de cada
indivíduo (afetividade, assertividade, sensualidade, sexualidade, criatividade,
intelectualidade e espiritualidade, entre outros) o precioso recurso da Astrologia Clínica se
oferece.

Este livro não foi escrito para especialistas em Psicologia, Medicina, Educação,
Economia, Administração de Empresas ou mesmo astrologia; contudo, aqueles que já têm
especialização em alguma área envolvida com a tarefa de ajudar o ser humano a se
desenvolver e a se realizar, como a Pedagogia, a Psicologia (Clínica, Educacional ou
Institucional), a Medicina (alopática, homeopática ou naturalista, em seus múltiplos ramos)

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e o Sacerdócio (de quaisquer religiões ou seitas), poderão encontrar aqui um recurso
precioso de aperfeiçoamento de suas atividades diárias.

Ao fim, o leitor interessado em aprofundar seus conhecimentos neste fascinante ramo do


conhecimento humano - a astrologia e, mais particularmente, a Astrologia Clínica, tema
central desta obra - encontrará um glossário e uma bibliografia auxiliar; vale a pena
avançar um pouco mais, pois o horizonte que assim se descortinará compensa
largamente os esforços para tanto!

Por fim, um agradecimento pessoal e público a quatro profissionais na delicada arte do


aconselhamento pessoal: pela ordem de surgimento e pelo imenso efeito positivo em
minha vida, Maria Thereza Albuquerque (psicoterapeuta), Malu (estudiosa do Tarô),
Heloísa Prada (intérprete de I Ching) e Walter Correa (astrólogo profissional).

Sem estas quatro pessoas, e sem os princípios que aprendi com meus pais (ou herdei
deles), pessoas de rara qualidade humana, muito pouco teria sido possível em minha
tarefa de me aperfeiçoar e me oferecer aos outros, quer como terapeuta, quer como
astrólogo, quer ainda como escritor.

Muito obrigado a eles e a todos que me ensinaram que valeria a pena acreditar em mim
mesmo.
Luiz Carlos Teixeira de Freitas

CAPÍTULO 1
PSICOLOGIA, UM CAMPO DE CONHECIMENTO A
SERVIÇO DA FELICIDADE HUMANA

Reza a tradição que no pórtico do santuário grego da ilha de Delfos, templo sagrado onde
os mortais eram recebidos para conhecer os vaticínios do deus Hélios (ou Apolo, para os
romanos) liam-se duas frases: "Conhece-te a ti mesmo" e "Nada em excesso".

Nelas, estampava-se a eterna questão que sempre desafia: "quem sou eu?".

Pois da resposta a esta pergunta inúmeras outras se seguem: o que posso fazer de mim
mesmo? como me equilibrar melhor? o que, na verdade, desejo para mim? de que tipo de
pessoa preciso? como me oferecer melhor a alguém? que futuro está em minhas mãos
construir, para mim e para os meus?

E assim por diante, pois tais indagações desafiaram homens e mulheres em todas as
épocas.

A psique humana, sede do todo - Em todos os momentos da história humana cogitou-se


sobre este aparentemente estranho componente humano que é a psique.

No Ocidente, sucessivamente, os gregos, os romanos, a cultura medieval italiana, a cultura


humanista francesa, alemã ou inglesa e a cultura contemporânea européia e norte-

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americana produziram vasto material teórico sobre a alma (psyché, em grego) e o
psiquismo humanos. No Extremo Oriente, sucessivas gerações de pensadores hindus
vedantas ou jainistas, chineses taoístas, nepaleses ou tibetanos budistas e japoneses
xintoístas compuseram belíssimos poemas épicos sobre a aventura que é conquistar o
próprio interior. Na África e no Oriente Médio, pensadores islâmicos e hebraicos
dedicaram sua vida a tentar entender o que se passa no interior humano e quais as
relações deste interior com o mundo que nos abriga a todos, a Mãe Terra.

E até em regiões inóspitas como o Ártico, xamãs siberianos tentam há milênios buscar as
mesmas respostas!

Mas foi apenas a partir dos Séculos XIX e XX que o estudo da mente humana e de suas
manifestações gradativamente passou a Ciência, com métodos próprios de investigação e
de explicação teórica; porque antes, em todas as culturas anteriormente conhecidas, a
Psicologia, a Religião, a Filosofia e diversos ramos da Medicina, como Neurologia e
Fisiologia, compunham um todo interligado e mutuamente dependente.

Só nos últimos 100 ou 150 anos é que os psicólogos definiram melhor seus objetos de
estudo (a psique humana, as formas humanas de comportamento e a consciência humana)
e afirmaram a independência da Psicologia como ciência em si; entretanto, muito do que o
conhecimento humano produziu e registrou em períodos passados veio até hoje
influenciando o conhecimento psicológico.

E nem poderia ser diferente, pois o ser humano é um fenômeno extremamente complexo e
que exige sempre uma abordagem muito vasta, mais vasta do que somente uma ciência -
seja qual for - conseguiria explicar.

DA PESQUISA MÉDICA À TEORIA PSICOLÓGICA

O início da moderna Psicologia repousa sobre o trabalho pioneiro do alemão Wilhelm


Wundt (1832-1920).

Embora tivesse se graduado em Medicina, apenas um ano após começar a clinicar afastou-
se do atendimento a clientes para lecionar Fisiologia e aos 42 anos de idade deu
verdadeira guinada em sua vida, assumindo uma cátedra de Filosofia em Zurique, na
Suíça.

Obteve tanto destaque neste papel, que logo depois foi chamado a ocupar uma cadeira na
Faculdade de Leipzig, na Alemanha, uma das mais importantes faculdades européias da
época.

O próprio Wundt acreditava que sua nomeação se devia ao fato de ter publicado em 1874
a sua obra Fundamentos da Psicologia Fisiológica, o primeiro ensaio que se registra na
história ocidental sobre Psicologia, embora já houvesse publicado outros livros desde os
trinta anos de idade (Contribuições para a Teoria da Percepção dos Sentidos, Compêndio de
Fisiologia Humana, Manual de Física Médica e Conferências sobre as Mentes dos Homens e dos
animais, por exemplo).

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No ano de 1896 Wundt lançou um Compêndio de Psicologia e de 1900 a 1920, ano de sua
morte, lançou seis grossos volumes sobre Psicologia Social (psicologia da arte, da
linguagem, do direito, da religião e da ética), numa coletânea intitulada Volkerpsychologie
(Psicologia do Povo).

Já naquela época Wilhelm Wundt concebia a Psicologia como a "ciência da consciência",


um campo do conhecimento humano a ser desenvolvido de forma rigorosamente lógica e
sistemática; e, em sua visão pessoal, a base da consciência estaria no cérebro, órgão com
múltiplas especializações para as funções da linguagem, da escrita, da atenção, de
percepção, da sensação e da associação, entre outras. Sua concepção do psiquismo foi
muito influenciada pelas noções médicas da época, levando seu laboratório experimental
em Leipzig a se tornar um centro mundial de pesquisas em Psicologia e a atrair estudantes
de todos os países da Europa, todos empenhados em quantificar fisiológica e
biologicamente o psiquismo humano.

Mas não era apenas na cidade alemã de Leipzig que a Psicologia moderna era gestada: por
toda a Europa o assunto fervia!

Em 1874, Franz Brentano (1838-1917), ex-sacerdote e professor de Filosofia em Viena,


lançava A psicologia do ponto de vista empírico, obra na qual sustentava a idéia de ser um
erro acreditar que a Psicologia fosse exclusivamente fisiológica (tendo sido professor de
Freud, Brentano deixaria neste uma profunda impressão, ajudando mais tarde a compor o
cenário inicial de desenvolvimento da psicanálise).

Em 1883, Carl Stumpf (1848-1936), docente da Universidade de Berlim, lançava


Tonpsychologie, uma obra sobre a psicologia da audição e da percepção espacial; Georg
Elias Müller (1850-1934), fisiologista e filósofo da Universidade de Göttingen, desenvolvia
estudos sobre Psicofisiologia e Psicofísica; o fisiólogo Edwald Hering (1834-1918)
pesquisava em Praga, na Tchecoeslováquia, a memória e a psicologia das cores; neste
mesmo país, o físico e matemático Ernst Mach publicava inúmeras pesquisas
experimentais sobre a psicologia da visão, da audição, da percepção espacial e do sentido
do tempo, editando em 1886 a obra A análise das sensações.

Ao mesmo tempo, Hermann Ebbinghaus (1850-1909), professor em Berlim e Breslau,


desenvolvia os primeiros testes de inteligência de que se tem notícia, o inglês James Ward
(1843-1925) fundava na Universidade de Cambridge um laboratório de Psicologia
Experimental, publicando seu primeiro artigo em 1886 na Enciclopaedia Britannica, e seu
conterrâneo William McDougall (1871-1938) estudava os sentimentos e os instintos
humanos, interessando-se principalmente por características emocionais adquiridas e
transmitidas geneticamente (uma noção só pesquisada de forma mais profunda no correr
do Século XX).

A lista de estudiosos e especialistas que colaboraram com o início da Psicologia moderna,


enfim, é imensa, mas nada se compara ao trabalho monumental de quatro gigantes do
pensamento contemporâneo: o tcheco Sigmund Freud (1856-1939), o suíço Carl Gustav
Jung (1875-1961) e os norte-americanos John B. Watson (1878-1958) e William James
(1842-1910).

PSICANÁLISE, A SISUDA ESCOLA FREUDIANA


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Embora não mais importante do que tudo o que havia sido conquistado anteriormente, já
que a Ciência humana caminha naturalmente pela acumulação de conhecimentos e pelo
aumento da capacidade do Homem de interferir na realidade em seu próprio proveito, foi
graças à psicanálise que a Psicologia muito rapidamente conquistou popularidade.

Tendo sido ao mesmo tempo, desde o seu começo, uma teoria da personalidade, uma filosofia
sobre a natureza humana e um conjunto de procedimentos psicoterapêuticos com vistas a aliviar ou
suprimir distúrbios mentais, a psicanálise influiu poderosamente em inúmeros outros
campos de conhecimento e o gênio que concebeu seus princípios fundamentais foi o
médico neurologista tcheco Sigmund Freud.

Em Viena, Áustria, ele iniciara sua carreira profissional como neurologista clínico, mas
fizera alguns cursos sobre Psiquiatria e tivera assim aumentado seu interesse pela relação
entre problemas orgânicos e sintomas mentais; desta forma, em 1885, graças a uma bolsa
de estudos, tornou-se aluno de Jean Martin Charcot (1825-1893), chefe da clínica
neurológica no hospício feminino parisiense de La Salpêtrière; ali, Freud consolidou a
hipótese que os distúrbios emocionais tinham causa no próprio psiquismo e não na esfera
do corpo (contra a Psiquiatria da época, dominada pela idéia organicista de que os
sintomas psiquiátricos eram causados por problemas cerebrais, de ordem neurológica).

Freud ficara muito impressionado com a metodologia de Charcot, o qual usava a hipnose
para eliminar distúrbios de comportamento em suas pacientes e levara de volta a Viena as
teorias recém-desenvolvidas (como Charcot só trabalhava com mulheres, cunhou-se o
termo "histeria" - do grego hystéra, útero - como se os distúrbios de comportamento fossem
problema afeito exclusivamente às mulheres, o que não é verdade); lá chegando,
enfrentando o conservadorismo da Medicina Psiquiátrica e Neurológica austríaca,
publicou em 1895, junto com o médico Josef Breuer (1842-1925), amigo de longa data, seu
primeiro livro, Estudos sobre a histeria, considerado o ponto de partida formal da
psicanálise.

Tendo como núcleo de sua teoria a noção de que o ser humano retém na memória
inconsciente marcas emocionais derivadas de seus primeiros contatos com a sexualidade,
as quais passam a interferir em todas as esferas futuras de sua vida, Freud desenvolveu
uma imensa obra dedicada a estudar e descrever os mecanismos de formação das
neuroses e a apresentar diferentes procedimentos clínicos para remover as seqüelas que
tais marcas emocionais produzem: entre elas, como ferramentas básicas do atendimento
clínico, o método da associação de idéias e o da interpretação dos sonhos, até hoje
utilizados na maior parte das clínicas psicológicas do mundo inteiro.

Já no início de sua obra, seguindo noções que vinham de fontes tão distintas como o
filósofo grego Platão (Séc. VI a.C.) ou o matemático e filósofo Gottfried Leibnitz (1646-
1716 d.C.), Freud acreditava que a vida psíquica do ser humano consiste em duas partes
distintas, o consciente e o inconsciente: a parte consciente, pequena e insignificante, seria
apenas um aspecto da personalidade total, ao passo que o inconsciente, vasto e poderoso,
continha o conjunto forças que agem por trás de todos os padrões de comportamento de
uma pessoa.

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Assim, para ele, a maior parte dos "enganos" ou "esquecimentos" casuais que as pessoas
cometem no dia-a-dia devem-se a idéias e desejos reprimidos no seu próprio inconsciente,
que pressionam por se manifestar conscientemente e escapam através destes lapsos.

Com o passar do tempo e o avançar das pesquisas, entretanto, esta simples distinção
dupla foi abandonada por Freud, em favor de uma tripla estrutura psíquica: id, ego e
superego, instâncias sempre envolvidas com a necessidade de obter prazer sexual e evitar o
desprazer que a tensão sexual não descarregada propicia; nesta noção, ele foi
profundamente influenciado pelo hedonismo, corrente de pensamento que marcara o clima
intelectual dos Séculos XVIII e XIX e que em sua essência defendia a idéia de que o ser
humano se esforça por obter o prazer e evitar a dor (como ele mesmo expôs em 1920 em
seu livro Além do princípio do prazer).

Na sua formulação final, que o acompanharia por toda a vida, Freud ensinava que o id
corresponde à parcela mais primitiva e menos acessível da personalidade, consistindo nos
impulsos sexuais primários e em outras tendências instintivas do ser humano; o ego, por
sua vez, seria o mediador entre o id e o mundo externo, ao qual todo ser humano está
submetido, e o núcleo de ligação entre todos os processos psíquicos; o superego, por fim,
representaria o conjunto inconsciente de padrões de conduta e de comportamento que
cada ser humano carrega dentro de si mesmo, sempre derivado dos padrões de controle
que seu pai e sua mãe praticavam em sua primeira infância.

Assim, o objetivo central da psicanálise, enquanto técnica a serviço do reequilíbrio


emocional e da eliminação ou atenuação de sintomas mentais, seria o de remover tensões
internas entre os desejos do id, reprimidos no inconsciente, e conscientizar as "proibições"
exercidas pelo superego, através da elaboração racional (egóica, isto é, no ego) de todo
conteúdo existente no inconsciente, fonte de tensão e conflito.

Para isto facilita-se ao indivíduo a associação de idéias, com o que aquilo que era
inconsciente vai se tornando consciente, e analisa-se os seus sonhos, momentos nos quais o
material inconsciente não aceito ainda pela consciência pode se manifestar em toda sua
intensidade.

PSICOLOGIA ANALÍTICA, A ABRANGENTE ESCOLA JUNGUIANA

Mas em 1912, o que no início parecia vir a ser um prolongamento da psicanálise mostrou-
se o surgimento de uma nova escola de pensamento psicológico, ela também, por sua vez,
uma mescla de teoria de personalidade, de filosofia sobre a natureza humana e de um
conjunto de técnicas de atendimento psicoterapêutico: a Psicologia Analítica, escola
fundada pelo médico psiquiatra suíço Carl Gustav Jung.

Em 1900 Jung tornara-se médico residente na Clínica Psiquiátrica Burghölzli, em Zurique,


Suíça, então um dos mais avançados centros psiquiátricos da Europa. Em 1902 foi estudar
em Paris com Pierre Janet (sucessor de Jean Martin Charcot, com quem Freud trabalhara
anos antes no La Salpêtrière) e em 1904 montou em Zurique um laboratório de clínica
psiquiátrica, desenvolvendo um teste de associação de palavras para diagnóstico de
distúrbios mentais.

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Em 1905, por fim, dois anos antes de conhecer Freud, tornou-se professor em psiquiatria
na Universidade de Zurique e médico efetivo na Clínica Psiquiátrica Burghölzli. Logo
depois, a despeito das fortes críticas que os meios acadêmicos e científicos faziam ao
trabalho de Freud, Jung convenceu-se de seu valor e lhe enviou um exemplar de seu
primeiro livro, A psicologia da Dementia Precox ("demência precoce" foi o primeiro nome
dado à esquizofrenia), razão pela qual Freud o convidou a ir a Viena visitá-lo.

O encontro foi tão intenso que se conta que nesta primeira vez os dois pioneiros
conversaram treze horas seguidas, sem interrupção!

Passou a haver troca regular de correspondência entre os dois, em 1909 Jung acompanhou
Freud aos Estados Unidos, onde ambos proferiram conferências, e Freud chegou a
acreditar que Jung seria seu sucessor natural na psicanálise; entretanto, o psiquiatra suíço
foi se afastando cada vez mais dos dois núcleos centrais da teoria psicanalítica - a noção de
que a energia sexual seria o motor de toda a vida humana e a idéia de que as causas da
repressão inconsciente eram exclusivamente derivadas de traumas sexuais.

O rompimento inevitável entre os dois se deu em 1912, quando Jung publicou seu livro
Símbolos da Transformação e apresentou a libido como uma energia psíquica generalizada e
não apenas de ordem sexual, embora também a serviço da sexualidade, expressando-se
em todas as atividades do indivíduo mas dependendo de qual fosse a mais importante
atividade a cada momento. Um ano antes Jung tinha sido eleito primeiro presidente da
Associação Psicanalítica Internacional, mas a partir daí as vidas dos dois pesquisadores e
clínicos nunca mais se encontrariam.

Jung foi marcadamente influenciado pelo trabalho freudiano sobre os sonhos, vistos
também por ele como um poderoso recurso de análise e reconstrução sistematizada do
inconsciente, para eliminar distúrbios emocionais; entretanto, Jung hipotetizou e
pesquisou a existência de camadas de memórias inconscientes não derivadas da
experiência pessoal do indivíduo, às quais deu o nome de inconsciente coletivo, com o que
a visão do inconsciente humano sofreu uma profunda alteração.

Jung comprovou que os seres humanos herdam, junto com suas características físicas,
dados de memória emocional, especialmente as emoções derivadas de experiências
comuns a todas as pessoas desde o surgimento da espécie humana na face da Terra; a
partir deste conceito pôde-se entender então a ocorrência de temas extremamente
análogos na mitologia e nas lendas populares mais diferentes: seriam variadas
manifestações dos arquétipos, termo que Jung utilizou para definir as "estruturas psíquicas
de base" que fazem parte do inconsciente da espécie humana e não apenas de uma pessoa
ou de um conjunto específico de pessoas (quer agrupadas por raças, culturas ou
sociedades).

De acordo com Jung, são os arquétipos que estruturam tanto as fantasias individuais quanto as
mitologias dos povos e tais arquétipos teriam se formado no psiquismo humano pelo
acúmulo das mesmas experiências primordiais vividas por todos os seres humanos que já
existiram: nascimento, vida, morte, amamentação, cópula, agressão, medo, atração sexual
etc.

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Em outras palavras, à medida que milhares de milhares de seres humanos vieram
atravessando experiências primordiais análogas no correr da existência de nossa espécie,
todas com forte conteúdo emocional, tais experiências foram deixando resíduos
emocionais inconscientes passíveis de ser transmitidos de pessoa a pessoa geneticamente.

Isto explicaria a ocorrência de lendas populares ou de relatos mitológicos extremamente


análogos (em sua estrutura) em povos de regiões muito distantes no espaço e no tempo,
assim como explicaria a ocorrência de fantasias individuais também extremamente
análogas às estruturas destes mesmos mitos e lendas, independentemente de seu
conhecimento anterior por quem está fantasiando ou sonhando.

É que, na visão junguiana, o inconsciente não é composto apenas por elementos


reprimidos da consciência, como na visão freudiana, mas por elementos deste tipo e por
outros que ainda nunca estiveram conscientes, verdadeiros potenciais psíquicos.

Assim, caberia ao ego ser o centro da consciência, à sombra o papel de centro do


inconsciente pessoal (este, sim, composto por material algum dia reprimido pela pessoa
dentro de si mesma, dada a dificuldade de aceitá-lo como seu), à persona a função de
"inter-face" entre a pessoa e o mundo externo (como ela se vê e, portanto, como ela tenta se
mostrar) e ao self o papel de organizador da personalidade global e ao inconsciente
coletivo o papel de gerador de energia psíquica primária, através dos arquétipos.

Além disto, todo ser humano carregaria no próprio psiquismo vestígios do sexo oposto,
como também se dá fisiologicamente (todos temos hormônios masculinos e femininos e
vestígios de órgãos genitais do sexo oposto), dando origem à anima no homem e ao animus
na mulher (instâncias que têm como função servir de ponto de convergência para todo
material psíquico que não se adapta à auto-imagem feminina ou masculina da pessoa,
derivada de seu próprio sexo biológico).

Neste sentido, o modelo junguiano aponta a psique como um sistema global e complexo, no
qual todos os seus componentes são parte de um só e mesmo todo, o self arquetípico manifestado
naquela pessoa, atirando-se à tarefa de realizar aspectos distintos deste mesmo self: assim,
o ego, a sombra, o animus ou a anima e a persona são apenas manifestações do mesmo projeto
psíquico global, o daquela pessoa em particular, devendo ser vividos ao máximo em todas
as suas potencialidades de forma integrada e não dever sua manifestação final ao
abafamento ou à exclusão desta ou daquela instância, seja sombra, ego, animus/anima ou
persona.

Para Jung, o ego se desenvolve à medida que cada conteúdo (apenas desconhecido até
então ou mesmo reprimido no inconsciente) é integrado na consciência, ao passo que o self
se desenvolve à medida que consciente e inconsciente se unem de forma integrada e sem
pressupor a eliminação de nenhuma das duas instâncias (ao contrário da visão freudiana,
que propunha a "eliminação do inconsciente" através de sua integração com o consciente);
porque se é o consciente que pode dirigir o ser humano em suas ações no mundo exterior, é o
inconsciente que pode fornecer a ele material sempre novo e abundante sobre o mundo exterior e si
mesmo, o próprio mundo interno.

Desta maneira, o ego não é o centro da personalidade total, mas apenas uma das muitas
instâncias que coexistem dentro da psique e a conformam; além disso, se de acordo com
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Jung todo ser humano possui uma tendência inata para a individuação, isto é, tornar-se o
que é realmente, é o trabalho consciente sobre o eixo ego-self que dá condições à pessoa de
integrar o ego, a persona, a sombra, o animus/anima e outros arquétipos num todo articulado
e coerente.

Para isto, primeiro desnuda-se a persona, isto é, dissolve-se a "máscara" que o indivíduo -
sem o saber conscientemente! - utiliza no dia-a-dia, convencendo-se de ser apenas como se vê;
em segundo lugar, leva-se o indivíduo ao confronto com suas características pessoais
escondidas na sombra, para sua aceitação, integração e diminuição de sua influência
inconsciente (tudo o que é inconsciente atua sem que a pessoa possa controlá-lo); em terceiro
lugar, facilita-se ao indivíduo o confronto com sua anima (se homem) ou seu animus (se
mulher), para a integração de capacidades humanas não aceitas ou integradas ainda pelo
próprio indivíduo pelo simples fato de não estarem adaptadas à sua auto-imagem e aos
valores culturais do seu entorno cultural; por fim, facilita-se o desenvolvimento do self,
tornando-o o ponto central de referência da psique, dando unidade à psique e integrando
tanto o material consciente quanto o inconsciente.

O BEHAVIOURISMO E A COMPROVAÇÃO CIENTÍFICA

Toda esta produção teórica, porém, montada sobre intensa prática clínica (e isto para nem
mencionar outras escolas de psicologia, como a psicologia da Gestalt, a psicologia
individual de Alfred Adler e a Psicologia do Destino, de Lipot Szondi), teria corrido o
risco de não receber status de conhecimento científico se não fosse a Psicologia
Comportamental inaugurada pelo norte-americano John B. Watson entre 1903 e 1908.

Graduado em Filosofia aos 21 anos, Watson se pós-graduou em Chicago e passou a se


interessar por Psicologia e Neurologia; além disto, começou a estudar Biologia e Fisiologia.
Em 1908 passou de instrutor-doutor em Chicago a professor-assistente na Universidade
Johns Hopkins, em Nova Iorque.

Pela primeira vez expressou publicamente sua concepção sobre psicologia e


comportamento na Universidade de Yale, no ano de 1908, voltando a falar sobre o assunto
na Universidade de Colúmbia em 1912; em 1913 publicou seu primeiro artigo sobre o tema
e no ano seguinte lançou o livro Comportamento: Uma introdução à psicologia comparada.

Estavam lançadas as bases da Psicologia Comportamental (ou behaviourista, do inglês


behaviour, "comportamento"), teoria que defende a não-importância de se conhecer o
inconsciente humano, já que todos os comportamentos são decorrentes de respostas
previamente condicionadas por estímulos determinados provenientes do exterior da
pessoa.

Em outras palavras, o Behaviourismo defende a noção de que não é necessário conhecer


quais conflitos existem no interior de uma pessoa para resolver seus problemas de má
adaptação ao mundo externo e às suas próprias necessidades pessoais: uma observação
treinada é o suficiente para definir quais respostas estão condicionadas (mesmo que de
forma "negativa" para os objetivos do indivíduo) e, portanto, basta proceder a um
descondicionamento de respostas aos estímulos para eliminar os problemas que estejam se
manifestando.

12
Esta teoria ganhou enorme popularidade a partir do trabalho complementar do psicólogo
norte-americano Burrhus Frederik Skinner (1904 - ), o qual expôs ao grande público as
noções básicas da Psicologia Comportamental através de um romance, Walden Two (1948),
e de uma obra de divulgação científica, O mito da liberdade (1971); para a comunidade
científica, organizou os princípios desta escola de Psicologia através dos livros O
comportamento de organismos (1938), Ciência e comportamento humano (1953), Cumulative
Record (1959, 1961 e 1972) e Tecnologia do Ensinamento (1968).

Mas a principal contribuição da teoria comportamental à psicologia moderna, além de um


sem-número de técnicas terapêuticas e de ampla utilização no âmbito da psicologia social
e de massas, foi o desenvolvimento de metodologia específica para mensurar em termos
científicos o comportamento humano e comprovar que é possível proceder a alterações
neste mesmo comportamento sempre que desejado.

VEJA BEM: É POSSÍVEL PROCEDER A ALTERAÇÕES NO COMPORTAMENTO


HUMANO, DESDE QUE DESEJADO!

É que até então a Psicologia não havia se desligado da Filosofia ou das Ciências Médicas,
conforme os critérios que predominavam na classificação científica da cultura ocidental,
fazendo com que o pensamento acadêmico da época ainda afirmasse a existência apenas
de determinantes orgânicos sobre o comportamento humano e levando o estudo da
Psicologia a ser uma subespecialização da Medicina ou da Filosofia!

Em outras palavras, foi a Psicologia Comportamental que permitiu à Psicologia moderna


comprovar a existência de causas emocionais, não derivadas de alterações neurológicas ou
fisiológicas, para alterações do comportamento humano.

WILLIAM JAMES, UMA ABERTURA PARA O ESPIRITUAL

Isto foi fundamental para que a Psicologia, liberta das correntes que a aprisionavam a
outros campos de conhecimento científico, pudesse retomar sua verdadeira origem: o
estudo da consciência e das funções mentais e emocionais como elo de ligação entre a
pessoa e o mundo que a cerca e entre a psique da pessoa e seus outros componentes
internos.

É que à medida que a Psicologia viera se envolvendo mais e mais com a psicanálise - que
oferece a possibilidade de um entendimento racional do que se passa no psiquismo
humano - e com o Behaviourismo - que permite uma descrição milimétrica de como é o
que acontece no comportamento humano -, deixou-se na obscuridão a pioneira obra do
norte-americano William James (1842-1910), desenvolvida na viragem do século passado.

Para se ter uma idéia da riqueza teórica que por tanto tempo ficou esquecida - só
recentemente as moderníssimas Psicologias transpessoais desenvolveram conceitos
análogos aos daquele Patriarca da Psicologia -, basta lembrar que seus escritos
anteciparam o Behaviourismo de Skinner, a psicologia da Gestalt, a psicologia existencial e
o conceito de si-mesmo do psicólogo humanista norte-americano Carl Rogers, aquisições
dos últimos 50 anos apenas!

13
Seus principais trabalhos, Os princípios da psicologia (1890), As variedades da experiência
religiosa (1902) e Pragmatismo - Um novo nome para algumas formas velhas de pensar (1907)
levantaram questões que cada vez mais se colocam no centro exato das discussões
psicológicas e filosóficas dos finais deste segundo milênio.

Químico e anatomista por Harvard, graduou-se em medicina em 1869 e durante oito anos
lecionou Fisiologia e Anatomia, vindo posteriormente a lecionar Psicologia e Filosofia;
acreditando que a Psicologia deve se dedicar "à descrição e explanação de estados de
consciência como tais" (em suas próprias palavras), foi o terceiro presidente da Associação
Norte-americana de Psicologia (1894-1895) e lutou de forma ativa pelo estabelecimento da
Psicologia como disciplina independente da Neurologia e da Filosofia.

Escreveu sobre todos os aspectos da psicologia humana, do funcionamento cerebral ao


êxtase religioso, da percepção espacial à mediunidade psíquica; considerando que a
Psicologia não era ainda uma ciência madura, com conhecimento suficiente para elaborar
leis consistentes sobre as percepções, as sensações ou a natureza essencial da consciência,
ele não via problema algum em formular conceitos que por vezes contradissessem a si
mesmo.

Mas o mais rico no pensamento de William James não foi a multiplicidade de opiniões de
que ele era capaz ou a impressionante erudição que detinha, nem o fato de talvez ter sido
o primeiro a se antecipar à psicanálise ao afirmar que bloqueios da energia emocional
poderiam conduzir à "enfermidade emocional" (como naquele tempo se dizia): o mais rico foi
sua teorização de formas diferenciadas de consciência, que se substituem umas às outras
no correr dos diferentes instantes da vida do indivíduo, levando-o a se conscientizar da
realidade através de múltiplas formas simultaneamente, mas, por dar mais ou menos
valor a esta ou àquela forma de acordo com a cultura em que vive, perdendo a consciência
da multiplicidade possível de formas de consciência.

Conceitos como estes só passaram a ser desenvolvidos na Psicologia contemporânea a


partir dos anos 60 do nosso Século, quando começaram a se esboçar no Estado norte-
americano da Califórnia as hoje chamadas Psicologias transpessoais!

Afinal, como diz Charles Tart, psiquiatra norte-americano e um dos pioneiros no estudo
laboratorial de estados alterados de consciência, "uma das dificuldades para muitos cientistas
em aceitar a existência da percepção extra-sensorial (e os estados alterados de consciência) é que ela
não faz sentido em termos do que conhecemos sobre o universo físico; não temos nenhuma teoria
compreensiva, nenhum bom modelo ou tipo de explicação generalizadamente aceita do fenômeno"
(parênteses meus).

Obviamente a época de William James não poderia aceitar com facilidade afirmações que
mais pareciam retiradas da produção de um pensador religioso do que do trabalho de um
pesquisador em psicologia: "de minha experiência... uma conclusão estabelecida emerge... há um
continuum de consciência cósmica contra o qual nossa consciência individual apenas constrói
cercas acidentais e dentro do qual nossas várias mentes mergulham como se dentro de um mar-mãe
ou reservatório".

Tais conceitos só muito recentemente - a partir do trabalho de pesquisadores como


Abraham Maslow, Andrew Weil, Antony Sutich, Claudio Naranjo, Charles Tart, Daniel

14
Walsh, James Fadiman, Ken Wilber, Ram Dass, Richard Pryce e Stanislav Grof, entre
muitos outros - passaram a fazer parte das noções teóricas da Psicologia ocidental, mas
têm estado cada vez mais presentes no espírito científico de nossa época.

Até experiências psicodélicas (como o contemporâneo uso deliberado de LSD-25,


maconha, ayahuasca, peiote, mescalina, cogumelos e outras substâncias psicoativas) para
estudo das diferentes formas de consciência possíveis ao ser humano William James fez: a
partir das experiências vividas com o uso de óxido nitroso, uma das primeiras substâncias
psicoativas usadas em pesquisa psicológica, ele afirmava que "nossa consciência normal em
vigília (...) nada mais é senão um tipo especial de consciência, enquanto que por toda ela, separada
pela mais transparente das cortinas, repousam formas de consciência inteiramente diferentes".

Desta forma, emergindo dos fins do Século XIX para se ver espelhado nas mais recentes
produções da teoria psicológica do Século XX, agora com todo o aparato tecnológico
desenvolvido para a realização de experiências conduzidas cientificamente e com os
conceitos vindos de outras áreas recentes do conhecimento humano, como a física
quântica e a engenharia genética, William James oferece a ponte para o grande salto de
qualidade para a espécie humana nesta ante-véspera do ano 2000: o viver simultâneo na
consciência mais comum, vital à preservação da espécie e de cada ser humano em
particular, e na consciência cósmica, vital à abolição de uma série imensa de problemas
emocionais e orgânicos que afligem o ser humano.

CAPÍTULO 2
ASTROLOGIA, UMA CIÊNCIA MILENAR A SERVIÇO DO
CONHECIMENTO HUMANO

A percepção intuitiva da existência de uma consciência cósmica e de padrões mais amplos


de influência sobre as realidades e consciências individuais, aliás, é o que fez o ser
humano desde sempre se sentir participante de uma ordem maior do que a percebida nos
seus domínios imediatos.

Observando, catalogando, analisando e registrando milhares de vezes a ocorrência


encadeada de fenômenos naturais e descobrindo, assim, uma intrincada ligação entre estes
fenômenos e os acontecimentos banais ou fundamentais de sua vida, o ser humano
sempre reverenciou respeitosamente a força dos elementos e a seqüência dos eventos
como indícios (ou causas) do que se passava ou estava por lhe acontecer.

Percebeu que no maturar lento e gradual, momento a momento, ciclo a ciclo, das etapas da
criação e de suas espécies vivas, parece residir um plano misterioso que se desdobra: cada
semente aponta o próximo fruto, em cujo interior estarão depositados os detalhes da
semente seguinte. Pré-definindo, assim, as condições dentro das quais a vida, em cada
uma de suas múltiplas manifestações, se dará no futuro breve, mediato e longínquo; e
determinando, através das tendências de cada momento, o provável processo de
desdobramento de cada potencial em realidade.

Tendências, esta a chave do futuro, disponível no presente!


15
Tendências, a informação fundamental para qualquer entendimento mais amplo da
realidade e mesmo sua previsão!

DESDE OS PRIMÓRDIOS DA CIVILIZAÇÃO...

Em todas as épocas o ser humano buscou em seu entorno sinais indicadores do presente
ainda desconhecido e do futuro a se manifestar, tentando descobrir as tendências de cada
situação; mais ainda, durante toda a sua história o ser humano tentou participar
diretamente do curso dos acontecimentos, buscando influir diretamente em sua
ocorrência.

Pinturas rupestres em cavernas pré-históricas sugerem tentativas de facilitar ações de caça


e guerra antes mesmo das presas ou rivais terem sido avistados; rituais milenares
preservados até hoje nas ilhas do Pacífico Sul e em regiões centrais da África apontam a
intenção de influenciar o curso dos acontecimentos naturais e humanos; registros inscritos
ou esculpidos em construções megalíticas como as ruínas das civilizações babilônica,
egípcia, asteca, pré-incaica e mongólica comprovam a busca de alternativas para superar a
fragilidade assustadora frente a qualquer imprevisto ameaçador; complexos sistemas
preditivos foram concebidos e desenvolvidos por povos das mais distintas culturas e
origens, sempre buscando antecipar-se aos eventos e proteger-se de inconvenientes.

As práticas divinatórias - de "serviço aos deuses", visando obter seus favores - assumiram
todas as formas possíveis, dependendo da cultura que as produzia: sementes, pedras,
folhas, animais, objetos, substâncias químicas, instrumentos musicais e de percussão,
cantos, hinos e cantochões, fumaças e fumigações, peças de artesanato, obras de arte e até
mesmo excrementos podiam ser utilizados, desde que realizassem a ponte esperada entre
o sagrado e o profano, isto é, "persuadissem" os deuses a informar ao ser humano quais
ocorrências estavam se abatendo sobre ele ou estavam por se verificar.

Para tanto, a humanidade sacralizou gatos, escaravelhos, peixes e serpentes, utilizou


sementes, inscreveu caracteres, criou objetos de madeira, metal, cerâmica ou vidro,
desenvolveu artefatos têxteis, queimou ervas aromáticas, venerou pedras esculpidas,
folhas ou vísceras e até mesmo concebeu intricadas práticas ritualísticas, combinando
dança, música e cantos, para seduzir e perscrutar os deuses, deles tentando obter
informação, a sempre preciosa informação sobre a realidade concreta.

Basta lembrar que o herói grego Prometeu nunca foi perdoado pelos deuses do Olimpo,
após sua tentativa (bem sucedida) de roubar o fogo dos céus e distribuí-lo entre os
homens, ampliando-lhes a consciência e aumentando-lhes o poder sobre o futuro!

Porque sempre se tratou de obter informação, informação que ampliasse o conhecimento


humano e aumentasse sua possibilidade de sobrevivência e de construção de felicidade
para si e para os seus.

Com a leitura de folhas de coca, como nas práticas andinas desde tempos pré-incaicos;
através do jogo de varetas ou de moedas, como no milenar I Ching chinês; jogando
pedrinhas cobertas de inscrições, como nas runas célticas; analisando demoradamente a
simbologia de cartas, como no medieval Tarot de Marseille; ou apenas observando as
estrelas e registrando o cadenciado movimento dos astros no firmamento, como na
16
astrologia, o ser humano buscou sempre encontrar condições para sobreviver e se
organizar em meio ao aparente caos da realidade.

A IMPORTÂNCIA DOS SÍMBOLOS MÁGICOS

Mas de todos os recursos "mágicos" criados pela humanidade, a astrologia sempre foi o
mais encontradiço: todas as culturas, independente de sua localização geográfica,
condições climáticas e grau de desenvolvimento comercial, agrícola ou artesanal, tiveram
algum nível de prática astrológica.

Por uma simples razão: como diz o ditado popular, o sol nasce para todos!

Isto é: em todas as latitudes e longitudes e em todas as épocas o ser humano teve sobre si o
céu e os astros, em sua inexorável mas ritmada mutação; gradativamente, no suceder de
incontáveis gerações, nexos de "coincidência" foram observados e registrados, permitindo
o acúmulo de informações sobre padrões que tendiam a se repetir, independentemente
das condições que parecessem predominar.

A cada vez que um certo astro, planeta ou estrela, executava um movimento nos céus,
determinada ocorrência era observada na Terra; a cada vez que uma certa combinação de
astros "lá" se dava, determinada sucessão de acontecimentos "aqui" se produzia.

Sempre fazendo supor a existência de algum nível de "ligação" entre os corpos celestes -
"com toda certeza divinos!" - e os acontecimentos mais vitais ou comezinhos do ser
humano e de sua vida.

Fragmentos de tábuas de barro cozido encontrados no que hoje corresponde ao Oriente


Médio indicam que sumérios, hititas, caldeus e babilônios já praticavam a "leitura" dos
astros e ousavam interpretar o significado de seus movimentos há pelo menos vinte
milênios; calendários em pedra polida encontrados pelos conquistadores espanhóis na
costa pacífica da América do Sul e nas regiões da América Central apontam ocorrência
semelhante; registros milenares em sânscrito atestam que a prática da astrologia já era
desenvolvida nas primeiras civilizações do sub-continente hindu; e tradições até hoje
mantidas pelo sufismo árabe (o misticismo islâmico) ou pela kaballah hebraica não fazem
outra coisa senão sinalizar a mesma realidade.

Todavia, para todos estes povos - e até mesmo para o pensamento europeu da Idade
Média, berço da cultura ocidental - tratava-se, todo o tempo, apenas de saber com
antecipação o que já se supunha predestinado a acontecer. Nada mais havia a fazer senão
vergar-se à impiedosa força do destino, que em seu movimento supostamente circular
obrigava todos os seres a acontecimentos independentes de suas vontades individuais.

Muitos dos antropólogos que se detiveram a estudar manifestações humanas como a


magia e a religião ensinam que o que distingue uma da outra é a suposição central da magia no
sentido de se poder interferir ativamente na realidade, ao passo que a religião se caracteriza por uma
atitude contemplativa frente a uma realidade tida como imutável.

(Neste sentido, em termos históricos, a Ciência é "filha" da magia, e não da religião, pois a
busca incessante de conhecimentos, atributo central da atitude científica, nada mais visa

17
senão aumentar a capacidade humana de interferir no real! E não para outra coisa é que
tantos sistemas de conhecimento divinatório, também chamados de Ciências Arcanas - do
latim arcanu, "mistério" -, foram também desenvolvidos...)

Mas o que poderia o ser humano de priscas eras supor, senão o fato de que os movimentos
celestes provocavam os acontecimentos terrestres e humanos? Afinal, neles não viviam
deuses?

Poderiam nossos antepassados crer em outra coisa senão em uma suposta força causal
possuída pelos movimentos celestes? Num mundo pré-científico, no qual nada se sabia de
eletromagnetismo, "buracos negros", força nuclear forte ou fraca, partículas subatômicas,
fusão nuclear ou mesmo Física, Química e Psicologia, poderiam os homens e mulheres
daquelas épocas conceber outra possibilidade que não a da predestinação e da influência
direta dos astros sobre o destino de cada ser vivo?

E não estou falando apenas de homens que viviam na barbárie ou em estágios um pouco
mais elevados de civilizações já existentes: o astrólogo Jean Baptiste Morin de
Villefranche (1583-1656), que serviu ao Cardeal de Richelieu e a toda a corte de Paris no
Século XVII, a Cidade-Luz, editou uma extensa obra (L'Astrologie gauloise) cujo título
principal era Teoria da determinação ativa dos corpos celestes, o que não deixa dúvidas sobre a
suposição até então predominante.

Mesmo a astrologia que se praticou na Europa a partir do Século XIX foi fortemente
marcada por estas noções deterministas: influenciadas pela produção teórica de Helena
Petrovna Blavatsky, fundadora e líder do movimento político-espiritualista da Teosofia, e
pelas noções reencarnatórias que o pensamento hinduísta desenvolvera no correr de
séculos no sub-continente indiano, Alice Bayley e Annie Besant desenvolveram uma
astrologia fortemente alicerçada na idéia de que tudo o que ocorria na vida de uma pessoa
era sempre "carma" do passado sendo cumprido nesta vida, num infindável "acerto
cósmico de contas".

Esta mesma veia reencarnacionista se espraiou pelo trabalho de astrólogos adeptos do


Espiritismo, movimento espiritualista com colorações próprias desenvolvido a partir do
trabalho de Allan Kardec, pseudônimo do francês Hippolyte Leon Denizard Rivail, que
em 1856 publicara O livro dos espíritos e dera início a este movimento.

Assim, pouco restava a fazer além de conviver com um fatalismo imobilista: num primeiro
momento, as condições humanas foram vistas como meras decorrências da vontade de
deuses encarnados nos astros, os quais deveriam ser aplacados em sua ira ou satisfeitos
em seus desejos; num momento seguinte, estas mesmas condições passaram a ser vistas
como nada mais senão etapas de um longo trabalho multissecular de purgação, alma a
alma, de "más ações" algum dia praticadas.

Pior ainda: ainda hoje, em pleno final do segundo milênio, ainda há quem afirme que os
planetas "atuam energeticamente" sobre a ocorrência dos fatos e o desenrolar dos
processos, misturando noções da Física apreendidas superficialmente com superstições de
um passado já distante. Sem sequer cogitar sobre o fato de que os "planetas" utilizados pela
astrologia em sua busca de conhecimentos correspondem apenas a recursos simbólicos, meramente
simbólicos, transitando por pontos imaginários do espaço, tais pessoas continuam se supondo à
18
mercê de forças maiores do que elas e situadas fora de si mesmas, contra as quais nada se
pode fazer...

Como, então, devolver ao ser humano a possibilidade de crer que pode interferir
ativamente em seu próprio destino e nas condições de vida que ele mesmo vem
produzindo, em suas escolhas, ações e atitudes?

O SURGIMENTO DA ASTROLOGIA HUMANISTA

Por volta do ano de 1930 a resposta começou a ser dada, através do trabalho pioneiro do
pintor, escritor, músico e astrólogo parisiense (mas radicado norte-americano) Dane
Rudhyar.

Profundamente influenciado pela produção teórica da Psicologia dos começos deste


século, a qual pela primeira vez na cultura ocidental hipotetizava a existência de camadas
inconscientes na psique humana e demonstrava que tais camadas eram as verdadeiras
determinantes da conduta individual (como vimos no capítulo anterior), Rudhyar lançou em
1936 seu livro A astrologia da personalidade e nele propôs o que chamou de Astrologia
humanista ou astrologia centrada na pessoa, contrapondo-se ao que era, até então, astrologia
centrada nos eventos.

(É ele mesmo quem nos relata, em seu livro Da Astrologia humanista à astrologia
Transpessoal, de 1982, três anos antes de seu falecimento: "só me familiarizei
completamente com as idéias de Jung no verão de 1933, enquanto estava no rancho da sra.
Garland, no Novo México, onde li todas as suas obras então traduzidas. Imediatamente
me ocorreu que poderia desenvolver uma série de conexões entre os conceitos de Jung e um tipo
reformulado de astrologia".)

Ora, cogitava ele nos idos dos '30, se as ações de uma pessoa atendem sempre a necessidades
profundas sentidas por ela e originárias de seu próprio inconsciente, mesmo que tais necessidades a
venham obrigando a fazer "escolhas" ou a praticar ações que a infelicitem, a astrologia deveria ser
utilizada para facilitar a descoberta destas necessidades profundas, devolvendo ao indivíduo as
condições necessárias para realizar escolhas conscientes mais adequadas entre as múltiplas
alternativas de cada momento.

Em outras palavras, a astrologia deveria servir como recurso para devolver ao ser humano a
possibilidade de exercer seu livre arbítrio a partir do entendimento de quais conteúdos inconscientes
efetivamente dirigem o seu comportamento a cada momento e por toda a vida!

Se até então o foco de atenção da astrologia se voltava aos eventos que ocorriam na vida
de uma pessoa de modo aparentemente independente de sua vontade, como se havia
acreditado desde sempre, apenas o entendimento da existência de desejos inconscientes como
origem de tais eventos poderia inverter o foco tradicional de interesse da astrologia e servir de
instrumento realmente útil na detecção e desmobilização destes desejos.

Desejos?, perguntaria alguém, ao pensar em "desejo de ser infeliz", "desejo de morrer",


"desejo de fracassar" e assim por diante. Sim, desejos!, não de ser infeliz, fracassar ou até
mesmo morrer, mas desejos de outro tipo que, ao se manifestarem, provocam atitudes ou
escolhas que levam à infelicidade, ao fracasso ou até à morte!

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Rudhyar já sabia, pois a Psicologia o comprovara, que quanto mais inconsciente for um certo
conteúdo psíquico, mais compulsiva será sua eventual manifestação externa; afinal, se compete ao
ego coordenar as ações necessárias para a satisfação do conjunto das necessidades de uma
pessoa a cada instante de sua vida, um conteúdo inconsciente que escape ao controle do
ego pode se manifestar de modo não integrado com os outros conteúdos da consciência
(julgamentos, deduções, dados de memória, novas informações etc.) e assumir
manifestação independente, muitas vezes até mesmo determinando o conjunto global de
comportamentos da pessoa.

Estes movimentos autônomos da psique, como os denomina a Psicologia contemporânea, são


conhecidos popularmente como "aquele impulso que me veio de dentro e me levou a fazer
o que eu fiz, mesmo não querendo!".

Sempre a serviço de desejos inconscientes retidos na memória desde a infância, como


veremos no correr deste livro, os quais podem ser diagnosticados pela astrologia e
trabalhados clinicamente.

O DESENVOLVIMENTO DA ASTROLOGIA CLÍNICA

O trabalho de Dane Rudhyar foi inovador e representou uma guinada de 180 graus no
pensamento astrológico ocidental contemporâneo; neste sentido, assim como havíamos
tido no correr da história filósofos que produziram teoria psicológica, sempre dentro de
seu momento histórico e a partir dos conhecimentos de sua época, Dane Rudhyar
construiu uma nova abordagem filosófica da astrologia a partir dos conhecimentos
psicológicos de seu momento histórico, dando-lhe uma dimensão até então inexistente.

A partir daquele instante a astrologia passava a possuir um modelo teórico central em torno do
qual organizar todas as informações que enriquecessem sua possibilidade de dar ao homem
explicações coerentes sobre si mesmo: o conjunto simbólico registrado numa carta astrológica natal
indica a estrutura e a dinâmica básicas do sistema ao qual esta carta se refere e, portanto, aponta
suas principais tendências.

Então, pôde-se deixar de supor que os "planetas" ali indicados causavam o que estava
prognosticado para a existência daquele sistema (seja pessoa, empresa, país etc.), pois, ao
contrário, apenas indicam as tendências do que ocorreria com aquele sistema em função
de sua estrutura e de sua dinâmica próprias.

Conseqüentemente - e no que diz respeito a um indivíduo, âmbito exclusivo de


preocupação da Astrologia Clínica -, se fosse alterada a estrutura ou a dinâmica do sistema
inconsciente de uma pessoa, seriam também alteradas as tendências daquele sistema pessoal e suas
formas de comportamento, sempre a partir do confronto com os dados inequívocos de sua
realidade humana (pessoal, familiar e social) e da opção responsável pelas várias atitudes
de que é capaz.

Com isto, abalava-se o imobilismo e o fatalismo que por tantos séculos imperara na
astrologia ocidental, abrindo a possibilidade de o ser humano, ao ter conhecimento
consciente da estrutura e da dinâmica de seu próprio psiquismo, através da carta
astrológica natal, interferir produtivamente em sua realidade interna inconsciente, a
principal determinante de seu comportamento.
20
Muitos passaram a ser, então, os bioquímicos, neurologistas, psicólogos, psiquiatras e
profissionais de outras áreas que colaboraram com o desenvolvimento da moderna
Astrologia Clínica, cada vez mais voltada ao diagnóstico e à compreensão das razões
internas do comportamento de uma pessoa e menos voltada a simplesmente apontar os
tipos de acontecimentos que esta pessoa viveria em determinados momentos de sua vida.

Alexander Ruperti, André Barbault, Betty Lundsted, Geoffrey Dean, Gregory Szanto,
Jeff Mayo, Howard Sasportas, Karen Hamaker-Zondag, Liz Greene, Michel Gauquelin,
Noel Til, Robert C. Jansky, Robert Hand e Stephen Arroyo foram alguns dos
matemáticos, psicólogos, bioquímicos, pedagogos e médicos que vieram enriquecendo
esta nova possibilidade do pensamento astrológico, desde Dane Rudhyar.

Com isto, até o trabalho de astrólogos tradicionais, como Alan Leo e Charles Carter, entre
muitos outros, pôde ser retomado e enriquecido, agora sob novas luzes.

O TRABALHO EM CONSULTÓRIOS

Com uma sensível vantagem, fruto da ciência do Século XX: agora, as noções tradicionais -
e principalmente as novas descobertas da astrologia - podiam ser checadas em consultório
ou laboratório, para aferição de veracidade e ajuste de procedimentos, visando a seu
constante aperfeiçoamento.

Afinal, se uma teoria não se ajusta à realidade, é a teoria que deve ser alterada, pois com
certeza ela apresenta distorções conceituais, falsas premissas ou inverdades.

Assim, por exemplo, velhos axiomas astrológicos sobre a relação entre os símbolos
astrológicos e certas funções corporais ou perfis de personalidade puderam passar a ser
minuciosamente submetidos à verificação; para tanto, bioquímicos como Robert C. Jansky
foram aos microscópios e tubos de ensaio e verificaram a veracidade daquelas suposições.
Ao mesmo tempo, outros axiomas astrológicos prognosticavam disfunções orgânicas (de
fundo emocional) em certos casos; psicólogos como Liz Greene ou Howard Sasportas e
matemáticos estatísticos como Stephen Arroyo ou Robert Hand puderam verificar em
consultório ou através de métodos psicométricos, apoiados na moderna informática, a
veracidade daquelas afirmações.

Em outros casos, o tratamento de distúrbios emocionais ou mesmo orgânicos mostrou


sensível ganho de eficiência com a utilização da astrologia como técnica auxiliar de
diagnóstico, como o próprio Jung relata em alguns de seus ensaios.

E pouco a pouco se comprovou a extrema utilidade da ferramenta astrológica no


diagnóstico das condições internas que determinam certas tendências pessoais, sejam elas
comportamentais e de base psicoemocional, sejam elas somáticas e de base orgânica; boa
parte de tais conquistas se deve a atividades em outras áreas de pesquisa científica, como
Genética, Endocrinologia, Fisiologia Celular, Neurobioquímica, Psicobioquímica e demais
áreas de estudo, que vieram enriquecendo sobremaneira o patrimônio de informações
clínicas da moderna astrologia.

Agora, contando com instrumental poderoso de investigação, estudo, análise e registro de


dados, inexistente anos atrás: computadores de avançada geração, moderníssimos
21
laboratórios de exames, consultórios de atendimento médico ou psicológico, técnicas
diagnósticas muito sofisticadas e fácil disseminação ou intercâmbio de informações entre
cientistas de diferentes países, para consolidação de conhecimentos.

Para que a astrologia gradativamente ofereça mais e mais recursos de informação à


ciência, atuando como vigorosa ferramenta de ampliação da possibilidade humana de interferir
produtivamente em si mesma e na realidade que a cerca.

Alterações que, enfim, se tornam facilitadas pelo diagnóstico da estrutura e da dinâmica


global de sua personalidade: com este diagnóstico, a pessoa e um eventual terapeuta (se for esta a
sua escolha, como veremos no capítulo 7 deste livro) sabem de antemão "o quê e onde mexer", de
forma a poder trabalhar com maior eficácia para que se recobre o equilíbrio algum dia comprometido
e se escape aos ciclos viciosos que sempre tolhem as possibilidades de escolha pessoal.

CAPÍTULO 3
ASTROLOGIA E PSICOLOGIA, UM FELIZ E NATURAL
CASAMENTO
Porque, em última instância, o que se passa no inconsciente de alguém determina sempre como
esta pessoa lidará consigo mesma e com as situações de vida nas quais estiver envolvida ou em
relação às quais estiver disposta a se envolver.

Esta noção, somente tornada possível após o surgimento do estudo sistemático da


realidade emocional, dentro da Psicologia, inverteu radicalmente a visão que até então se
tinha do ser humano e de suas manifestações de vontade, colocando em questão o que se
pode chamar de determinismo e de livre arbítrio.

Com a constatação definitiva de haver instâncias inconscientes que determinam o


comportamento, de base emocional e em geral mais poderosas do que as "escolhas",
"conclusões" ou "decisões" praticadas conscientemente, evidenciou-se a necessidade de
desvendar e interferir no cenário inconsciente para devolver a cada indivíduo uma
autonomia maior sobre as próprias ações - muitas delas motivadas por paixões, medos,
raivas ou ressentimentos, mesmo quando a pessoa se diz estar isenta de tais emoções ou
sentimentos ao tomar decisões.

Mas como saber exatamente o que se passa no inconsciente de alguém, se a própria pessoa
o desconhece?

Se, em outras palavras, o conteúdo inconsciente é inconsciente para ela mesma?

E mais ainda: como definir o que é uma tendência natural ou um comportamento


condicionado?

O que determina e o que, por outro lado, afirma o livre arbítrio?

VONTADE, ESTA CARACTERÍSTICA HUMANA

22
Ora, o que diferencia o ser humano de outras espécies terrestres é, acima de tudo, a
possibilidade que ele tem de direcionar sua vontade pessoal.

Em outras palavras, a possibilidade de estabelecer para si mesmo um objetivo, reunir os


elementos necessários para atingi-lo, mobilizar-se neste sentido e, todo o tempo, checar
para ver se os resultados obtidos passo a passo não o estão na verdade distanciando do
objetivo almejado.

Assim, "vontade" é igual a "desejo existente + objetivo visado + recursos necessários para o
atingimento + direcionamento de ações + avaliação de resultados".

Colocado assim, parece fácil e simples; entretanto, observado mais de perto, vê-se que tal
traço distintivo da espécie humana requer um nível de especialização de funções altamente
sofisticado, que foi desenvolvido com o passar de muitos milênios e de inúmeras espécies vivas!

Requer perceber um desejo, assumir este desejo, definir qual objetivo o satisfaz, avaliar a
situação, reunir as condições necessárias para atingi-lo, colocar em ação toda uma série
encadeada de esforços, avaliar constantemente o que está sendo obtido e, sempre que
preciso, alterar o sentido inicial ou a intensidade de cada ação, "corrigindo a rota" rumo ao
alvo.

Entretanto, todos nós temos desejos conscientes e inconscientes ao mesmo tempo, muitas
vezes contraditórios e por vezes até mesmo irreconciliáveis: sabe quando você diz que está
com uma determinada "vontade" mas se pega fazendo exatamente o contrário?

Pois é, é disto que estou falando...

E aí, como falar de vontade?

Melhor colocando, de qual vontade falar, na verdade?

Por séculos o ser humano discutiu esta questão; os filósofos gregos escreveram tratados e
mais tratados sobre o assunto, inúmeros foram os escritores europeus dos Séculos XVII,
XVIII e XIX que teorizaram a respeito, religiões inteiras se estruturaram com base neste
tema e até há bem pouco tempo se acreditava que "basta querer para conseguir".

Mas a prática mostra que não é bem assim!

AS DIFERENTES VONTADES INTERNAS

Porque de nada adianta desejar alguma coisa conscientemente se inconscientemente se


quer o contrário: mais forte que o desejo consciente, já que está fora da consciência e é,
assim, autônomo, o desejo inconsciente se intromete, toma conta, obriga a ação e se impõe.

Com certeza, você já ouviu a frase "querer é poder!".

Pois é, este ideal voluntarista, que predominou por muitos séculos no pensamento
ocidental, faz todo mundo acreditar que quem não consegue o que quer (pouco importa o que
seja) não quis o suficiente ou estava enganado ao dizer que o queria.

23
Até que Freud e os primeiros psicólogos, desde os fins do século passado, demonstraram
que sob o nível da vontade consciente residem instâncias psíquicas inconscientes com
força suficiente para inverter o rumo das coisas sem que a própria pessoa o perceba; são os
desejos inconscientes, atuando como vontade interior e "roubando" da vontade consciente
o papel de principal definidora das formas de comportamento do indivíduo,
independente de seu nível social ou cultural, faixa etária e sexo.

E se a psicologia freudiana demonstrou que mais poderoso do que o consciente é o


inconsciente pessoal, a psicologia junguiana foi mais fundo e comprovou que sob o
inconsciente pessoal quem domina mesmo é o inconsciente coletivo, uma somatória de
conteúdos inconscientes que fazem parte da espécie humana e estão presentes em todo
indivíduo!

Então, o ser humano pôde entender que é "duplamente determinado", muitas vezes até
mesmo contra seus desejos conscientes: mais superficialmente por seu inconsciente
pessoal; mais profundamente ainda, por seu inconsciente coletivo.

Um outro pesquisador da primeira metade deste Século, todavia, o geneticista húngaro


Lipot Szondi , verificou a existência de uma "camada" intermediária no inconsciente
humano, entre o pessoal e o coletivo, derivada de material genético transmitido
familiarmente e compondo o que ele chamou de "inconsciente familiar".

Szondi comprovou, após mais de trinta anos de estudos em laboratórios de pesquisa


genética, que existe a transmissão, de pais para filhos, de "memórias emocionais"
derivadas de problemas fundamentais não resolvidos; segundo ele, todas as pessoas são
também impelidas por conteúdos inconscientes resultantes de conflitos emocionais algum dia
vividos por seus antepassados e não inteiramente resolvidos até o momento, razão pela qual foram
transmitidos para as gerações futuras: assim, submetidas a "pulsões ancestrais" que atuam
inconscientemente, as pessoas "buscariam" determinados tipos de experiência de vida para
tentar resolver certos tipos de conflitos emocionais que seus ancestrais não puderam ou
não conseguiram resolver na própria vida.

Como falar, então, de "vontade pessoal", se foi-se comprovando que toda pessoa atua
sempre motivada por conteúdos psíquicos situados em quatro níveis simultâneos, três
deles inconscientes (pessoal, familiar e coletivo) e apenas um consciente (a vontade
racional)?

(Para quem estranhe a afirmativa da existência de "genes de memória", dois exemplos:


quem já não ouviu falar do netinho que possui "manias idênticas" às do avô, por exemplo,
sendo que este já estava morto quando o garotinho nasceu? E quem estranha que um
músico tenha filhos ou netos também músicos, "passando adiante" o seu dom?)

Como falar com mais segurança, então, sobre o tipo de desejo que move uma pessoa?

Qual objetivo ela terá, afinal, se provavelmente nem ela conhece a totalidade de suas
razões inconscientes, sempre determinantes de seu comportamento individual?

24
Sinceramente você conhece alguma mulher que queira conscientemente só encontrar
homens que sejam brutos no trato com ela? Na verdade você conhece algum homem que
só deseje não dar certo no emprego?

O que, então, faz com que aquela mulher termine apenas com homens agressivos e que
este homem só encontre serviços nos quais não se adapta bem ou não se sente feliz?

Certamente desejos inconscientes, como a Psicologia moderna bem o sabe, que


encaminham a ambos para escolhas bem distintas das que acreditam fazer!

A IDENTIFICAÇÃO DOS DESEJOS INCONSCIENTES

Exatamente para isto, seguindo de perto a Psicologia contemporânea, a astrologia tem


muito a oferecer ao ser humano: a análise clínica de uma carta astrológica natal oferece a
possibilidade de se descrever em detalhes a estrutura e a dinâmica de um inconsciente
humano e, portanto, identificar quais desejos e inclinações inconscientes ali habitam e
quais deles (ou com qual intensidade) são conflitantes com os desejos e inclinações
conscientes da pessoa.

Em outras palavras: definir quais motivações básicas residem em um inconsciente, vigorosas a


ponto de poder interferir no comportamento de uma pessoa e até mesmo fazê-la se comportar contra
a própria vontade consciente.

Podendo ser utilizada como instrumento de diagnóstico (do grego dia, "através de", e
gnosis, "conhecimento") da personalidade global de uma pessoa em qualquer época e
independente de sua idade, sexo ou nível cultural, a Astrologia Clínica permite não só a
realização de diagnósticos de personalidade - através da interpretação de cartas
astrológicas natais -, para definição de características pessoais, potenciais existentes e
bloqueios emocionais instalados, como também uma profunda compreensão do que
realmente motiva uma pessoa em seus relacionamentos, sejam eles familiares, afetivos,
sociais e mesmo profissionais ou societários - através de recursos especializados como as
sinastrias e as análises de mapas compostos (que veremos adiante em detalhes).

Mas a Astrologia Clínica oferece outro grande recurso de compreensão do que ocorre na
vida de uma pessoa: a possibilidade de definir previamente, muitas vezes com meses ou
até com anos de antecedência, como estará o seu psiquismo se comportando e o que a
estará mobilizando em determinada época de sua vida.

Este trabalho, mais popularmente conhecido como "previsões", recebe o nome técnico
genérico de progressões e pode ser efetuado de diferentes formas ou com o concurso de
diferentes técnicas, dependendo da metodologia empregada pelo astrólogo profissional
que o realiza ("progressões diretas", "trânsitos", "revoluções solares ou lunares",
"progressões por arcos reversos" etc.).

Para sua melhor compreensão, vejamos uma a uma estas alternativas de diagnóstico e
aconselhamento astrológico clínico.

PROGRESSÕES ASTROLÓGICAS: O FUTURO NO PRESENTE

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Quanto à interpretação de cartas astrológicas natais, veremos este tópico ao fim deste
capítulo, já que este será o assunto principal de todo o restante do livro e então o abordarei
em detalhes; entretanto, para compreender o que sejam as progressões, é necessário
retomar alguns dos conceitos básicos discutidos até aqui.

Vistas superficialmente, as progressões parecem apenas exercícios de "adivinhação" ou


futurologia sobre a vida de alguém, numa tentativa de prognosticar o que lhe estará
acontecendo em determinada época e permitindo-o se prevenir contra eventuais
infortúnios - ou, se for o caso, preparar-se para aproveitar ao máximo a "sorte" futura!

Um misto de astrologia de almanaque e cartomancia barata...

Uma observação mais aprofundada, porém, apontará o fato de que por trás de cada
acontecimento da vida de uma pessoa reside o misterioso fato de que o seu inconsciente, de um modo
ou de outro, "colabora": a pessoa atrai ou é atraída pelo evento, numa "teia mágica" (apenas porque
mal entendida) de causas e efeitos. A sabedoria popular sabe disto à exaustão, e nos ensina
com afirmações do tipo "ele procurou o azar", "ele construiu o destino com as próprias
mãos" e "no fundo, no fundo, era isto o que ele queria...".

O que as progressões apontam, então? Com a análise de uma Carta natal astrológica e a
identificação da dinâmica básica do inconsciente daquela certa pessoa, e a partir da
verificação de como a sua Carta natal se combinará com as cartas de instantes futuros no
correr do tempo (através do contínuo movimento dos planetas nos céus), o astrólogo
profissional é capaz de prognosticar quais conteúdos inconscientes estarão mais ou menos
ativados num certo período da vida da pessoa e, portanto, quais eventos ela estará mais fortemente
inclinada a viver naquele mesmo período, já que tais tipos de acontecimentos permitirão que aqueles
conteúdos inconscientes sejam manifestados.

Por exemplo, imagine que a carta astrológica natal de alguém indique a existência de
muita raiva inconsciente, originária de certos processos vividos por esta pessoa na infância
e nunca melhor resolvidos; quando o astrólogo "progride" a Carta natal e percebe que os
conteúdos inconscientes ligados a esta raiva estarão mais emergentes num determinado
período, ele poderá interpretar esta "progressão" sinalizando à pessoa a necessidade de
mais atenção consigo mesma naquela época específica, enquanto a tal raiva não for melhor
trabalhada, pois ela estará mais violenta ou irritadiça, propensa a brigas ou discussões sem
razão aparente e inclinada a se envolver com situações de conflito ou até mesmo a
provocá-las. Superficialmente, a pessoa estará "sujeita" a certos tipos de ocorrência, mas na
verdade ela as estará buscando como pretexto para descarregar a tensão que a
agressividade interna não resolvida produz!

Sabe aquela estória do "parecia que estava querendo caso..."?

Ou, em outro exemplo, suponha que uma carta astrológica natal indique que em certa
época a pessoa estará mais facilmente iludida sobre a natureza real de seus sentimentos,
pela vigorosa emergência de conflitos afetivos inconscientes; o astrólogo profissional
aconselhará seu cliente no sentido de não tomar decisões afetivas drásticas naquele
determinado intervalo de tempo (casar-se, se separar ou ter filhos, por exemplos), pois

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passado aquele momento o que parecia decisão racional poderá se mostrar apenas
confusão emocional ou necessidade de suprir velhas carências nunca satisfeitas.

E, num exemplo ainda mais trágico, suponhamos que a análise clínica de outra carta
astrológica natal indica que em certo momento da vida de uma pessoa uma determinada
estrutura inconsciente que a predisponha ao consumo de bebidas ou drogas, associada a
uma forte inclinação a depressões profundas, em função de episódios de infância ou em
decorrência de herança familiar, estará mais ativado; de posse destas informações, e numa
delicada linguagem acessível ao cliente, o astrólogo profissional sugerirá (eventualmente
até mesmo enfatizará, em casos extremos como este,) a muito grande necessidade de a
pessoa se manter afastada, ao menos naquele período específico, de bebidas, drogas ou
produtos farmacológicos de efeito psicoemocional, pois a chance de ocorrer uma overdose
como tentativa inconsciente de suicídio é grande.

Obviamente, uma progressão de carta astrológica natal também pode ser muito útil para
identificar aspectos felicitadores: épocas de alargada capacidade pessoal de gerar empatia,
épocas mais propícias para investimentos financeiros (por maior sagacidade comercial ou
melhor capacidade de avaliação objetiva de situações), época de sex-appeal mais
emergente (por intensa canalização de libido a serviço da sexualidade), época de melhor
desempenho intelectual (por aumento da capacidade de estabelecer conexões entre
informações distintas) etc.

Não importa qual, se conflitivo ou harmonizado, todos os conteúdos inconscientes do psiquismo


humano estão sempre em constante movimento, querendo emergir para a consciência e ser
integrados; neste movimento incessante e autônomo, independente dos objetivos conscientes do
indivíduo, o inconsciente leva a pessoa a produzir ou a selecionar determinados eventos externos,
como forma de viver experiências emocionais análogas ao conteúdo inconsciente que então está
buscando expressão e forma.

Deste modo, o que as progressões astrológicas oferecem é a possibilidade de conhecer


antecipadamente a qualidade a intensidade dos conteúdos que emergirão a cada fase da
vida de um psiquismo e como fazer de cada um destes momentos uma oportunidade de
crescimento e integração pessoais.

SINASTRIAS, ONDE DOIS OU MAIS SÃO UM SÓ

Já o recurso das sinastrias, ou mesmo o dos mapas compostos (também conhecidos como
composites, uma técnica mais recente e menos tradicional, embora bastante eficaz),
permite ao astrólogo profissional identificar as razões reais das relações entre pessoas,
para quaisquer finalidades (sócios comerciais, relações afetivo-amorosas, casamento,
relações de amizade, sociedades de ocasião, partilha de interesses comuns etc.), como
forma de orientar os envolvidos sobre como lidar consigo mesmos e com os parceiros,
visando evitar os tão comuns erros de julgamento e de avaliação em parcerias.

Quem já não fez uma sociedade com o melhor amigo para logo após perceber que teria
sido melhor continuarem apenas amigos?

Quem já não se envolveu afetivamente, às vezes até mesmo assumindo pesados


compromissos pessoais ou sociais, para algum tempo depois descobrir que na verdade

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aquela relação nunca deixara de ser apenas uma grande amizade, sem os outros
condimentos próprios de uma relação homem/mulher?

Ou, ao contrário, quem não rompeu num ímpeto uma relação amorosa para perceber,
tempos depois, que teria sido feliz com aquela pessoa - e apenas não soubera administrar
um momento mais difícil da relação?

Quem não contratou um funcionário ou subordinado, através de uma análise de currículo


ou após uma curta entrevista, para descobrir em seguida que não suportava trabalhar ao
lado daquela pessoa, pois com ela "o trabalho não rendia"?

As situações são inúmeras, os participantes são os mais diversos, mas a regra é uma só:
nunca sabemos, realmente, o que se passa no inconsciente de quem está envolvido numa relação
pessoal e o que determina efetivamente esta relação, seja ela afetiva, societária, de amizade, de
trabalho ou de interesses compartilhados temporariamente.

Por isto nossos antepassados nos ensinavam que "para conhecer alguém é preciso comer
uma saca de sal ao seu lado"...

Ora, não desanime, nem tanto!

Um bom trabalho sinástrico aponta as reais razões que determinam o estabelecimento de


uma certa relação e, mais ainda, qual as tendências mais prováveis daquela relação, a
curto, médio e longo prazos, dadas as características das pessoas envolvidas e o que cada
uma provoca na outra sem mesmo o saber.

É que as verdadeiras razões de qualquer relacionamento são aquelas que se dão entre os
inconscientes envolvidos, de acordo com os desejos inconscientes ali existentes e explicitados pelas
cartas astrológicas natais individuais; analisando a combinação das cartas astrológicas natais das
pessoas envolvidas, então, o astrólogo profissional pode afirmar com segurança o que realmente as
atrai ou as repele entre si, o que as mantém juntas ou tende a afastá-las, o que cada uma encontrará
de mais difícil no convívio com a outra e quais os potenciais daquela relação específica que podem
ser despertados e melhor desenvolvidos.

E como fazer isto, durante a relação!

E se vale a pena efetivar, manter ou romper a relação, na verdade, após uma análise dos
benefícios e desgastes mais prováveis, dadas as tendências ali verificadas e que, com
grande probabilidade, se manifestarão com o correr do tempo.

Sempre dentro do perfil ou tipo de relação que está se dando ou por se dar; afinal, relações
comerciais, societárias, empregatícias, afetivas ou apenas de envolvimento passageiro ("de
ocasião") têm contornos próprios e requisitos específicos. Isto tudo é levado em
consideração pelo astrólogo profissional no seu trabalho sinástrico, pois ele sabe que deve
interpretar as cartas envolvidas de acordo com a intenção de seu cliente (ou clientes): trata-
se de relação onde é essencial haver tesão e harmonia no convívio, como em um
casamento? ou só se quer "cabeças que encaixem", como entre parceiros de trabalho
intelectual? há objetivos análogos e confiança mútua, que é o que se espera

28
fundamentalmente de uma sociedade, ou basta haver concordância temporária e
específica de interesses, como numa "sociedade de ocasião"?

De posse destas informações, então, os envolvidos podem tomar as decisões que mais de
perto atendam às suas reais necessidades e intenções.

O DIAGNÓSTICO PESSOAL DE PERSONALIDADE

Por fim, dentro das alternativas de atendimento astrológico oferecidas pela Astrologia
Clínica, temos a análise clínica de uma Carta natal astrológica, assunto sobre o qual nos
estenderemos por todo o restante deste livro mas que merece aqui uma rápida descrição.

Todas as pessoas, ao nascer, já carregam em seu inconsciente determinados estilos


fundamentais de comportamento psicoemocional, os quais compõem o seu tipo psicológico: são
aqueles modos básicos de lidar com as diferentes situações da vida, decorrentes de
material geneticamente disposto e tão diferentes de pessoa a pessoa que muitas vezes
levam até mesmo dois irmãos a ser antagonicamente opostos em muitos aspectos desde
bebês; em meu trabalho pessoal, eu denomino tais estilos fundamentais, altamente
individualizados, traços estruturais de personalidade (porque provêem das estruturas
psicoemocionais mais profundas).

Há um outro tipo de traço de personalidade, todavia, que não deriva diretamente do tipo
psicológico individual e, sim, das características predominantes do meio ambiente daquela
pessoa durante sua primeira infância e dos sentimentos que o contato com tais
características do meio ambiente produziu; estes traços, a despeito de eu denominá-los
traços conjunturais de personalidade (porque decorrem da conjuntura ambiental atravessada
pela criança), têm tanta "força" quanto os traços estruturais na determinação do seu futuro
comportamento global.

É que, por terem se estabelecido muito precocemente, tais traços marcam o conjunto global de
comportamentos da pessoa, estabelecendo um perfil e determinando a forma de relacionamento dos
outros com ela, com o que eles são constantemente reforçados.

Tais traços conjunturais de personalidade derivam do contato direto com três fontes
fundamentais de estímulos presentes no meio ambiente infantil: uma figura masculina
predominante (em geral o pai mas, por vezes, um avô, o padrasto, um tio, um irmão bem
mais velho etc.), uma figura feminina predominante (em geral a mãe mas, por vezes, uma
avó, a madrasta, uma tia, uma irmã muito mais velha etc.) e o modelo básico de relação
vivenciado pelo pai e pela mãe entre si e de cada um com a criança no correr da sua primeira
infância.

Será do percebido pela criança nestas três fontes, principalmente do ponto de vista
emocional e de comportamento manifesto (o que interessa é como eles se comportam e o que
realmente sentem, e não o que dizem pensar, desejar ou estar sentindo!), que a criança construirá
modelos inconscientes de comportamento.

Porque a criança absorve a carga emocional de cada situação vivida por ela e introjeta em
seu inconsciente estas cargas, acompanhadas de memórias inconscientes dos tipos de
comportamento que ocorriam à sua volta quando tais vivências se produziam. Em outras

29
palavras, "guarda" no inconsciente a memória de que "papai" ou "mamãe" se
comportavam de tal ou qual forma frente a tal ou qual situação e se sentiam de tal ou qual
maneira em tal ou qual ocasião; com estas memórias inconscientes condicionando suas
formas de comportamento, futuramente a criança se comportará de forma análoga
(porque condicionada) frente a situações também análogas, mesmo sem saber o que a está
levando a se comportar daquela maneira!

Agindo, pensando e sentindo de forma a reviver o mesmo tipo de sentimentos que viveu quando
criança, num movimento que Freud chamou de compulsão à repetição, o adulto termina
prisioneiro de algumas poucas e determinadas possibilidades de resposta ou de
comportamento: é que tais matrizes inconscientes permearão daí por diante todas as suas
situações de vida, do desempenho sexual às formas de convívio, da atuação intelectual à
manifestação de assertividade, das preferências afetivas à vivência de sua criatividade, da
inclinação por esta ou aquela atividade religiosa à forma como se relaciona com o próprio
corpo, e assim por diante, obrigando-o a agir, sentir ou pensar sempre de forma rígida,
mesmo quando uma análise mais madura indica a necessidade de mudança...

Vejamos apenas alguns exemplos, apenas para fixar melhor estes conceitos.

Pense na criança que cresceu em um ambiente no qual o pai manifestava uma profunda
depressão pessoal, enquanto a mãe se dispunha a se sacrificar por ele, embora reclamando
por isto e se mostrando infeliz: se menino, esta criança futuramente tenderá à depressão e
a sentir-se incapaz de auto-sustentação em momentos de maior tensão pessoal, buscando
parceiras "capazes de qualquer coisa" para ajudá-lo, mas sempre reclamando e se sentindo
infelizes; se menina, esta criança futuramente se inclinará a buscar parceiros que dela
precisem "desesperadamente" todo o tempo, nem que para isto ela tenha de abrir mão de
seus mais valiosos projetos pessoais, numa postura martirizada que só a infelicita mas a
impede de alterar objetivamente a realidade.

Pense na criança que cresceu em um ambiente no qual, ao contrário, o pai atravessava


uma fase de vigorosa expansão pessoal, mas tratava sua mulher como mera servidora de
seus desejos e não como companheira de crescimento: se menino, esta criança futuramente
tenderá a buscar parceiras sobre as quais impor todo o tempo sua vontade, mesmo nos
momentos de maior tranqüilidade e segurança pelos quais atravesse; se menina, esta
criança futuramente tenderá a buscar parceiros que tenham um vigoroso movimento de
expansão pessoal, embora a mantendo à margem deste processo e apenas utilizando-a
como "servidora".

Pense na criança que cresceu em um ambiente no qual o pai era "possuído" por constantes
e profundos sentimentos de ser capaz de qualquer realização, obrigando todos os
familiares a se sacrificar por todo projeto que ele tivesse em mente: se menino,
futuramente esta criança acreditará ser capaz de arrostar qualquer desafio, mesmo quando
existam evidências reais de fracasso, pouco se importando se em sua "luta" arrasta todos
os familiares a uma vida de constantes imprevistos e sobressaltos; se menina, futuramente
esta criança buscará "heróis vencedores" que sempre tenham em mente "projetos
espetaculares", mesmo que ela tenha de com frequência abrir mão de suas próprias
necessidades e desejos para "segurar a barra".

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Ou pense na criança que cresceu em um ambiente no qual a mãe era presa constante de
medos fantasiosos, ao mesmo tempo em que tinha acessos obsessivos de limpeza e, com
isto, atraía a ira do marido, que nunca podia estar à vontade em casa: se menino,
futuramente esta criança buscará parceiras ansiosas e medrosas, ao mesmo tempo que
compulsivamente dedicadas a limpar e arrumar tudo o que estiver à sua volta, não o
deixando em paz e nunca lhe permitindo maior liberdade doméstica; se menina,
futuramente esta criança buscará parceiros que desarrumem com frequência o que ela está
sempre limpando e arrumando, ao mesmo tempo em que será presa de verdadeiro pânico
com as crianças ou o próprio companheiro, roubando-lhes qualquer possibilidade de
espaço pessoal.

Tais situações, tão comuns, são apenas alguns retratos superficiais e parciais dos inúmeros
padrões que se estabelecem no inconsciente de uma criança durante sua primeira infância
(zero a quatro anos de idade) e passam a estabelecer daí por diante as suas formas de
comportamento.

Porque todas as esferas da vida individual são decididas de antemão (quando comparadas
às decisões conscientes, mais superficiais) pelo conjunto de forças e imagens dispostas no
inconsciente; e por isto uma pessoa não obtém mudanças verdadeiras ou duradouras em
seu comportamento (sexual, sensual, intelectual, afetivo, assertivo, criativo, familiar,
profissional ou até mesmo espiritual) se ela não processar alterações profundas nestas
disposições inconscientes, as suas reais matrizes de comportamento.

Alterações que, enfim, se tornam facilitadas pelo diagnóstico da estrutura e da dinâmica


global de sua personalidade: com este diagnóstico, a pessoa e um eventual terapeuta (se for esta a
sua escolha, como veremos no capítulo 7 deste livro) sabem de antemão "o quê e onde mexer", de
forma a poder trabalhar com maior eficácia para que se recobre o equilíbrio algum dia comprometido
e se escape aos ciclos viciosos que sempre tolhem as possibilidades de escolha pessoal.

CAPÍTULO 4
O QUE É UMA ENTREVISTA DE ANÁLISE CLÍNICA DE
CARTA NATAL ASTROLÓGICA
Todo o conhecimento astrológico e psicológico detido pelo astrólogo é colocado em ação
simultânea no momento exato da entrevista de análise clínica astrológica.

OS MÚLTIPLOS SÍMBOLOS DA ASTROLOGIA

Planetas, Casas, Aspectos angulares entre os planetas e eventualmente outros símbolos


específicos, como Lilith, Quíron ou Roda da Fortuna, combinam-se para oferecer ao
astrólogo que domina teorias psicológicas e do comportamento humano um vasto e
profundo quadro de referenciais sobre a personalidade global da pessoa que está à sua
frente.

Iniciada a entrevista de análise clínica, cliente e astrólogo profissional ficarão juntos por
um tempo que varia bastante de caso para caso e de astrólogo para astrólogo, mas que
quase nunca dura menos do que duas a três horas; durante este período, num encontro
31
que pode receber o nome de "entrevista astrológica clínica de devolução" ou "entrevista
devolutiva astrológica clínica", o astrólogo profissional exporá ao cliente o que sua carta
natal astrológica indica sobre os processos de constituição de seu modelo inconsciente
global e de como a estrutura e a dinâmica básica deste modelo vêm determinando suas
opções de vida.

Numa interpretação astrológica que parte do princípio de que quase todas (senão todas) as
"escolhas" que uma pessoa faz no seu dia-a-dia decorrem de padrões implantados precocemente em
seu próprio psiquismo, motivo pelo qual este inconsciente é que deverá ser desvelado e trabalhado
pela própria pessoa para obter modificações efetivas em seu comportamento habitual, o astrólogo e o
cliente vão discutindo as informações que a carta astrológica natal oferece e o que fazer a partir de
cada uma delas.

Mas como se chega a este momento, o da entrevista de devolução da análise clínica de


uma carta astrológica natal - ou, como é mais comumente chamada, a "leitura do mapa
natal"?

OS DADOS PARA A ELABORAÇÃO DA CARTA NATAL

Tudo começa quando o cliente fornece ao astrólogo os dados básicos para a elaboração de
sua carta astrológica natal: data completa, local (cidade) e horário de seu nascimento; não
há necessidade de informar se houve horário de verão no dia do nascimento (e se
recomenda que o horário seja informado de acordo com a hora oficial em vigor naquela
data, isto é, sem correção alguma), pois há tabelas específicas para o cálculo astrológico
que informam ao astrólogo profissional se é necessário proceder à correção.

Um aspecto, todavia, costuma desafiar muita gente: a precisão do horário de nascimento.


Muitos são aqueles que têm sérias dúvidas sobre o horário real em que nasceram, pelas
mais variadas razões. Assim, o mais confiável, em geral, na ausência de uma ficha
hospitalar de parto, é o registro de nascimento; em sua ausência, o depoimento da mãe ou
do pai, de uma parteira ou mesmo de parentes.

Mas a questão central - será que a interpretação de um mapa é confiável, mesmo com um
horário impreciso de nascimento? - merece resposta afirmativa: para a análise clínica de
cartas astrológicas natais, a precisão absoluta do horário de nascimento não é tão necessária assim!

E se entende: como na maior parte dos casos a hora de nascimento é sempre o único dado
natal do qual pode não haver certeza (já que raras pessoas têm dúvidas sobre a data ou
local de nascimento), a astrologia contemporânea veio desenvolvendo técnicas para tentar
extrair o máximo possível de informações de uma carta astrológica natal sem depender
tanto deste fator; assim, a localização dos planetas nos signos e os aspectos formados entre
si pelos diversos planetas, os quais estão muito pouco sujeitos à variação do horário de
nascimento, passaram a merecer uma grande atenção.

Desta maneira, e pelo menos em minha prática pessoal, 80% a 90% das informações que uma
carta astrológica natal oferece não dependem da precisão absoluta do horário de nascimento do
cliente, exceto nos casos em que a variação for muito grande; nestes casos, então, quando a
provável variação for significativa (a certidão de nascimento não registra hora alguma, por
exemplo, e a mãe só recorda que o parto se deu no correr do período da manhã), o cliente

32
pode solicitar um ajuste da hora natal, fornecendo antecipadamente ao astrólogo a hora
mais aproximada possível de nascimento e a data de alguns dos principais acontecimentos
de sua vida (o nascimento de um filho, a morte de alguém próximo, uma intervenção
cirúrgica, uma grande viagem, um incidente marcante, o casamento ou a separação
judicial, o início ou o rompimento formal de uma sociedade comercial etc.); de posse
destes dados e do horário mais aproximado possível do nascimento da pessoa, o astrólogo
profissional corrigirá com exatidão o seu horário natal, definindo qual horário de
nascimento (exato em minutos) indicaria a ocorrência de tais fatos nas épocas mesmas em
que elas se deram.

Cabe uma observação, contudo, no que diz respeito a outras práticas astrológicas, como a
das sinastrias e mapas compostos, para análise de relações, e a das previsões, sejam por
trânsitos, progressões ou outras técnicas auxiliares (mencionadas atrás, no capítulo 3). Em
tais casos, a precisão do horário costuma ser crucial, razão pela qual para estes trabalhos
deve-se estar seguro da hora exata de nascimento.

HÁ NECESSIDADE DE UMA ENTREVISTA INICIAL?

Não, nem sempre este procedimento é necessário.

Variando bastante de astrólogo para astrólogo, por vezes marca-se uma entrevista inicial
de anamnese (do grego anamnesis, de an, "com intensidade", e mnéme, "memória"), isto é,
de coleta de informações da pessoa que será atendida, num procedimento extremamente
semelhante ao da primeira consulta feita com um médico ou especialista, para a
identificação dos problemas e queixas do cliente.

Nesta entrevista o astrólogo delimita quais problemas vêm afligindo a pessoa, quais
aspectos de sua vida mais prendem sua atenção naquele momento, quais dificuldades ou
oportunidades a vêm desafiando e como certos aspectos de sua vida pessoal têm se dado;
de posse destas informações e dos dados natais do cliente, o astrólogo então calcula a carta
astrológica natal e se debruça na análise dos aspectos clínicos da carta que jogarão luz
sobre as queixas trazidas pela própria pessoa, discutindo-as então numa sessão seguinte e
aconselhando-a sobre os problemas levantados na anamnese.

Em outros casos, o astrólogo simplesmente calcula a carta astrológica natal e recebe o


cliente numa hora marcada, para numa entrevista devolutiva só, com nunca menos de
duas a três horas de duração, apresentar-lhe o conjunto global de informações que a carta
oferece, no que diz respeito aos múltiplos aspectos de sua vida. Nesta ocasião, então, o
cliente pode - ou não - expor ao astrólogo quais questões o estão desafiando mais de perto
e solicitar um esclarecimento específico sobre elas; nestes casos, porém, a massa de
informações oferecida costuma ser tão volumosa e envolve ao mesmo tempo tantos
aspectos diferentes da vida do cliente - vida familiar, vida profissional, sexualidade,
intelectualidade, espiritualidade, afetividade, assertividade, sensualidade e criatividade
artística ou conceitual, entre outros -, que muitas das questões que afligiam o cliente
terminam respondidas sem nem ter sido formuladas.

Há também astrólogos que atendem num esquema de "hora corrida", cobrando um preço
determinado por hora de trabalho e ficando à disposição do cliente quanto tempo este
queira, até se esgotarem as questões; este procedimento, todavia, por óbvias razões só
33
deve ser adotado por quem procure o profissional com uma relação precisa de assuntos a
discutir, evitando perdas desnecessárias de tempo e custos demasiadamente elevados de
atendimento.

Minha posição pessoal tem sido a de que o astrólogo clínico, para a interpretação de uma
carta astrológica natal, deve atender numa só vez o seu cliente, cabendo-lhe definir
previamente um esquema de apresentação ampla dos dados, suficientemente estruturado
para cobrir em duas ou três horas de trabalho intenso a totalidade de informações a
transmitir e discutir.

(Como eu entendo que a psique de uma pessoa é um sistema global, onde todos os seus
componentes e dados se interligam de forma coesa, só sendo possível uma visão
abrangente dela e de suas características parciais se se traça um retrato "de corpo inteiro",
não poderia ser diferente minha escolha profissional.)

Evidentemente, mesmo trabalhando desta forma, o astrólogo se põe à disposição do


cliente para, em ocasião futura e se necessário, responder a questões específicas: detalhes
que passaram desapercebidos pelo cliente, dúvidas que surgiram após a entrevista,
alguma interrelação de informações que não ficou suficientemente clara no momento e até
questões que o cliente poderia ter levantado mas, por ter se dispersado
momentaneamente, não o fez.

A PARTICIPAÇÃO DO CLIENTE

É que o cliente pode e deve participar de todos os momentos da entrevista devolutiva;


afinal, ninguém melhor do que ele sabe o que tem vivido, quais são os seus objetivos e
com quais características pessoais ele tem se empenhado rumo à felicidade.

É frequente que, perplexo pela riqueza de informações que a interpretação de uma carta
astrológica natal oferece, o cliente emudeça, hesite em intervir, não manifeste senão
opiniões vagas e perca, assim, uma preciosa oportunidade de aprofundar as questões à
medida que elas vão sendo colocadas.

Por outro lado, muitas vezes também o cliente nada diz, cético ou desconfiado,
acreditando que se emitir opiniões ou der mais informações sobre o que está sendo
discutido "facilitará" o trabalho do astrólogo e ficará na dúvida se o que ouviu "é verdade"
ou apenas "dedução esperta" do que ele mesmo contou.

Ora, assim como compete ao astrólogo tentar estabelecer um clima o mais facilitador
possível, pois o peso emocional do que ali será discutido se torna de mais fácil convívio se
há empatia ou ao menos respeito, compete ao cliente tentar superar o primeiro impacto e
integrar-se o máximo que consiga na entrevista; inclusive, tentar desarmar-se de atitudes
internas de descrença e de necessidade de "submeter o astrólogo à prova". O astrólogo
profissional não está ali "adivinhando", ele está simplesmente deduzindo o que um conjunto de
símbolos astrológicos lhe informa com segurança, razão pela qual nada se altera se o cliente
"acredita" ou não no que a interpretação da carta natal oferece; seu papel é o de apresentar um
quadro de referenciais de personalidade, esclarecer dúvidas e, assim, facilitar o trabalho futuro do
cliente em si mesmo!

34
Tal integração entre astrólogo e cliente, quando ocorre, costuma enriquecer sobremaneira
o trabalho de atendimento e aconselhamento, pois ambos então se empenham em cada
questão levantada, num verdadeiro "trabalho de parceria".

Evidentemente o astrólogo profissional já sabe que tipo de pessoa estará à sua frente (por
exemplo, se se trata de alguém calado ou loquaz, se é pessoa excessivamente resistente à
discussão de seus aspectos emocionais mais delicados, se é de inteligência rápida ou mais
lentificada e se é agressivo ou pacato) e, portanto, como tenderá a transcorrer a entrevista;
além disto, o astrólogo também possui condições para predefinir as tendências principais
daquele encontro pessoal, graças às técnicas de sinastria que utiliza automaticamente
quando analisa a carta astrológica natal de alguém e a compara com a sua própria,
conhecida por ele à exaustão.

Ambas as possibilidades, então, o ajudam sobremaneira a estabelecer um clima favorável


ao transcorrer positivo da entrevista, o que não retira a importância da participação do
cliente. Deixando de se limitar a mero participante passivo e assumindo postura mais
ativa, o cliente só terá a ganhar: portanto, que ele questione o astrólogo, aprofunde
questões, levante aspectos diferentes do que esteja sendo mencionado, submeta a análise
rigorosa tudo o que lhe está sendo dito - em outras palavras, participe!

Inúmeras vezes o astrólogo perguntará se foi claro ou se o cliente o entendeu; tal atitude,
menos do que descrença na capacidade de compreensão do cliente, é forma de o astrólogo
sondar sobre a existência de dúvidas ou a necessidade de maior esclarecimento do que
está sendo discutido. Pois ele sabe que o cliente, em parte aturdido pela quantidade de
informações e pelas conclusões ou sentimentos que as mesmas suscitam, e em parte
temeroso de "se abrir" com um estranho, em geral hesita em colocar dúvidas, pedir
maiores esclarecimentos ou até mesmo discordar do que esteja sendo dito, quer por
alguma má formulação do astrólogo, quer por percepção seletiva do cliente sobre si
mesmo.

A IMPORTÂNCIA DE GRAVAR AS INFORMAÇÕES

Aliás, é exatamente pelo volume de informações que uma entrevista de análise clínica de
carta astrológica natal oferece, e pelo conteúdo fortemente emocional ou sentimental da
maior parte das mesmas, que todas as entrevistas de aconselhamento astrológico são
gravadas em áudio; após a entrevista, o cliente leva consigo as fitas (e às vezes a própria
carta desenhada ou impressa, para ele uma mera curiosidade), podendo voltar a ouvi-las,
apresentá-las a alguém de sua confiança ou até mesmo utilizar seu conteúdo em terapias e
outras atividades de ajuda pessoal (como veremos no capítulo 7).

Vários são os fatores que obrigam esta gravação, para que as informações não se percam e
nem sejam posteriormente distorcidas pelo cliente, quando perderiam toda a utilidade.
Em primeiro lugar, as capacidades humanas de "percepção seletiva" e de "retenção
seletiva": todos nós percebemos apenas aquilo que de alguma forma nos atrai, ao mesmo
tempo em que só retemos na memória consciente o que de alguma forma nos parece
importante.

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Como dizia William James, que conhecemos em nosso primeiro capítulo, a consciência é
seletiva e "está sempre mais interessada em uma parte de seu objeto do que em outra e recebe,
rejeita ou escolhe durante todo o tempo que pensa".

Esta é a razão do tão comum "estava na minha cara e eu não vi!"...

Ao mesmo tempo, a memória humana tem uma limitada capacidade de retenção, quer no
que diz respeito à quantidade do que precisa ser retido, quer pela antigüidade do material
que deveria estar retido; assim, muito da entrevista devolutiva de análise clínica
astrológica poderia simplesmente ser olvidado.

Além de tudo, o ser humano tende a distorcer sua memória ao sabor de sentimentos e
emoções.

Por tudo isto, e muitas vezes até porque uma compreensão mais alargada das informações
oferecidas exigirá do cliente momentos futuros de reflexão (num profundo trabalho
interior), cada tema debatido pelo astrólogo profissional com o cliente deve ficar
registrado.

A partir deste material, no correr do qual o cliente provavelmente terá o mais longo e
completo conjunto informativo sobre si mesmo que já pôde ter na vida, é que tem início o
seu processo de tomada de decisões pessoais, afetivas e profissionais.

Porque não compete ao astrólogo, nem a nenhum profissional de aconselhamento, definir ao cliente
o que este deverá fazer em relação ao que quer que seja; ao contrário, compete a qualquer
profissional de aconselhamento, como também ao astrólogo clínico, apresentar dados, seguir
raciocínios, oferecer alternativas de análise e acompanhar respeitosamente a tomada de decisões que
será feita pelo próprio cliente.

CAPÍTULO 5
OS DIFERENTES ASPECTOS HUMANOS ANALISADOS
ATRAVÉS DA ASTROLOGIA
Mas o quê, em verdade, o astrólogo profissional oferece de informações ao seu cliente
durante a entrevista devolutiva de análise clínica de sua carta astrológica natal?

O quê, na verdade, pode ser tão rico a ponto de levar alguém a tomar profundas decisões
sobre a própria vida e as formas de comportamento que vem adotando, como ocorre com
quase todo mundo que tem sua carta astrológica natal analisada de forma clínica?

Para discutirmos a partir daqui, então, alguns dos diferentes aspectos humanos que
podem (e devem) ser trabalhados durante a análise clínica de uma carta astrológica natal,
terei que expor um pouco do que apresentei em maiores detalhes em meu livro O
simbolismo astrológico e a psique humana.

É que apenas um entendimento alargado da variedade de pulsões do inconsciente


humano e de como elas se mesclam em cada psique individual, determinando toda a vida

36
da pessoa, permitirá perceber porque a experiência de ter sua carta astrológica natal
analisada pode ser tão rica e tão transformadora para alguém.

O PAPEL DAS PULSÕES NO INCONSCIENTE HUMANO

Dizia Freud que para o psicanalista "não existe nada insignificante, arbitrário ou casual nas
manifestações psíquicas, (vendo sempre) um motivo suficiente em toda parte, onde habitualmente
ninguém pensa nisto; (o psicanalista até aceita a existência de) causas múltiplas para o mesmo
efeito, enquanto nossa necessidade causal, que supomos inata, se satisfaz plenamente com uma
única causa psíquica" (parênteses meus).

O que ele queria dizer com isto?

A afirmação, de 1910, na terceira das Cinco lições de psicanálise, pertence aos primórdios da
Psicologia Contemporânea e assumia a hipótese, comprovada com o passar do tempo, de
que o psiquismo atua sempre a partir de inúmeros objetivos simultâneos, razão pela qual o
comportamento humano nunca é decorrente de uma causa só, seja ela qual for e esteja ou não a
pessoa consciente da totalidade dos motivos que impulsionam seu comportamento.

Isto ocorre porque o psiquismo está todo o tempo empenhado em satisfazer desejos
(conscientes ou inconscientes) do indivíduo, tidos por si mesmo (consciente ou
inconscientemente) como a melhor resposta a cada situação de vida; assim, da mesma
forma que os diferentes instintos atuam para atender às necessidades associadas mais
diretamente à esfera somática (ou corporal) do organismo e da espécie, como alimentar-se,
manter-se a salvo de destruição física, proteger a prole e reproduzir-se, as pulsões atuam
no psiquismo de forma a satisfazer desejos ou necessidades de ordem psíquica e
emocional.

São manifestações das pulsões, entre outras, os comportamentos rumo à busca de prazer,
de convívio social, de expressão da própria vontade (ou desejo), de afeto (corporal ou
não), de exposição ao meio de produtos mentais (conceitos, idéias, opiniões etc.) e de
vivência dos fenômenos ainda chamados "espirituais" em nossa cultura, sejam os
religiosos, sejam os derivados de percepções extra-sensoriais, como veremos adiante.

E o que tem isto a ver com a astrologia?

O que tem a ver Marte, Lua, Escorpião, Áries, Saturno, Vênus ou qualquer outro símbolo
astrológico com isto tudo?

É que com o passar dos séculos os principais tipos de comportamento humano induzidos
pelas pulsões psíquicas foram descritos na astrologia através de seus símbolos, mesmo que
muito tempo atrás não se soubesse nada disto, dada a muito recente sistematização da
Psicologia; os homens mais antigos só tinham como elementos básicos de suas concepções
os fenômenos que eles observavam nos indivíduos e pouco a pouco foram relacionando os
símbolos astrológicos com as formas de comportamento percebidas, sem saber que
estavam, na verdade, apontando a existência de causas inconscientes por trás de cada ação
ou reação percebida e a múltipla combinação possível entre todas as pulsões existentes.

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Como sabemos hoje em dia, também através de Freud (em sua Primeira lição de psicanálise),
que "num mesmo indivíduo são possíveis vários agrupamentos mentais que podem ficar mais ou
menos independentes, sem que um 'nada saiba' do outro e que podem alternar-se entre si em sua
emersão na consciência", ocasião na qual determinam as formas manifestas de
comportamento ou as formas internas de pensar e sentir do indivíduo, serão os principais
impulsos psíquicos básicos que discutiremos ao falar de Sol, Lua, Marte, Mercúrio, Vênus,
Júpiter, Saturno, Urano, Netuno, Plutão e todas as possíveis combinações entre eles, os
planetas, ou elas, as pulsões.

OS PLANETAS, SÍMBOLOS DE IMPULSOS PSÍQUICOS

O Sol simboliza numa carta astrológica natal o padrão global de estruturação de ego da
pessoa, isto é, daquela instância que é o centro da consciência e serve como ponto central
de referência na psique para a organização de todos os recursos disponíveis ao
atingimento dos objetivos e à satisfação dos desejos do indivíduo.

Assim, compete ao ego de uma pessoa coordenar o conjunto de suas atividades psíquicas
em quaisquer momentos da vida, mantendo a noção individual de identidade desta
pessoa (noção de Eu) e possibilitando a tentativa organizada de satisfação dos seus desejos
e necessidades; em outras palavras, o Sol (ariano, taurino, geminiano, canceriano etc.)
indica o padrão global de resposta do ego da pessoa a eventos exteriores e vivências
internas (emoções, sentimentos, conclusões, lembranças etc.), de acordo com
predisposições inatas.

Ao mesmo tempo, o Sol indica o "caminho" a ser seguido no trabalho de integração das
outras instâncias do psiquismo (como vimos atrás, a sombra, a persona e o animus ou a
anima), por mais distintas que estas instâncias pareçam ser, pois harmonização,
organização de si mesmo e integração internas são impulsos psíquicos cujo símbolo é o
Sol; por isto cada signo (o que determina um signo é a colocação do Sol no Zodíaco no
momento exato do nascimento) apresenta uma forma básica própria de lidar com a realidade
externa e interna, independentemente da variação nos detalhes de como isto é feito.

Já a Lua simboliza numa carta astrológica natal o padrão básico de vivência emocional
instintiva, também variável de pessoa para pessoa, dependendo do signo onde a Lua está
colocada (e dos aspectos que apresenta), com o qual a vivência consciente do indivíduo se
combina para que o todo psíquico possa se manifestar a cada momento da vida.

(Aspectos são determinados ângulos geométricos estabelecidos entre um planeta e outros


planetas ou entre um planeta e os pontos principais da Carta natal astrológica.)

A Lua informa muito tanto sobre a natureza emocional genuína quanto sobre os padrões
condicionados de resposta emocional que a pessoa desenvolveu no correr da primeira
infância (indicando até, muitas vezes, o conjunto de experiências emocionais intra-uterinas
que a criança atravessou e, de alguma forma, a modelaram emocionalmente).

O terceiro planeta no Zodíaco, Mercúrio, simboliza para o astrólogo clínico o conjunto de


funções humanas associadas às atividades de pensar, refletir, analisar e trocar informações
com o meio ambiente.

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Simboliza, na verdade, o impulso básico humano no sentido destas atividades; porque,
segundo a psicóloga junguiana norte-americana Maria Esther Harding, "em conseqüência
da premência em considerar as experiências vividas, submetê-las aos 'olhos da mente' e
transmiti-las a outros, os primitivos instintos humanos (e somente no caso dos humanos)
foram submetidos a certo grau de mudança, tendo sido, em alguma extensão, privados de
seus mecanismos involuntários. Gradualmente foram se subordinando às necessidades da
mente, em vez de permanecer eternamente atrelados à não-psique, isto é, à vida animal".

Este comportamento psíquico no sentido de absorver intelectualmente as experiências,


processá-las racionalmente, descrevê-las através de algum código de comunicação e
transmiti-las aos outros ou a si mesma (como quando a pessoa fala consigo, tentando
entender melhor alguma coisa), é próprio das funções que Mercúrio simboliza numa carta
astrológica natal.

Vênus já nos oferece outra dimensão da experiência humana, qual seja a de estabelecer
valores afetivos (e mesmo estéticos) para os fenômenos vivenciados e de receber ou
expressar afetos, isto é, esta valoração. Quando alguém diz "disto eu gosto" ou "aquilo me
incomoda", está estabelecendo, a partir do que experimenta como sentimento, um valor
afetivo (ou mesmo estético) para os eventos, pessoas e objetos de que se cerca, quer
expressando ou não o que sente.

Três observações cabem aqui:


a. Quando a Psicologia se refere a "afeto", não está falando obrigatoriamente de "querer
bem": este é apenas um tipo de vivência afetiva! Odiar, temer ou desejar, entre muitos
outros, também são vivências afetivas.
b. Quando a Psicologia se refere a "objeto", não está mencionando especificamente um
objeto inanimado; objeto é o que permite a uma pulsão atingir seu alvo, isto é, satisfazer-
se, seja ele uma pessoa, um animal, uma circunstância, um objeto inanimado e até mesmo
um dado imaginário da realidade.
c. Quando eu afirmei acima que a pessoa pode expressar ou não seu afeto, isto não quer
dizer que ela só possa fazê-lo através de suas funções "mercuriais", isto é, pensando,
entendendo e falando do que sente; ao contrário, vivências afetivas espontâneas podem e
devem ser transmitidas ou percebidas através do corpo e dos gestos, utilizando-se os
sentidos envolvidos com o toque e com os movimentos corporais. Tais manifestações de
sensualidade (do latim sensuale, "relativo aos sentidos", e por isto não confundir com
sexualidade!) são "terreno de Vênus" numa carta astrológica natal.

Por fim, quanto às funções envolvidas com a sexualidade e a sensualidade humanas,


Vênus informa o padrão global de organização, numa pessoa, dos aspectos "passivos" de
sua sexualidade e sensualidade (presentes em homens e mulheres igualmente, embora
variando em grau de pessoa para pessoa): o desejo de ser desejada por seu objeto de afeto,
donde as funções psíquicas que Vênus simboliza estarem diretamente ligadas à sedução
ou às ações que objetivam tornar a pessoa mais atraente.

Já Marte, neste aspecto específico, simboliza o pólo "ativo" da sensualidade e da


sexualidade humanas, pois indica sempre o impulso de conquista do objeto desejado; ao
mesmo tempo, simboliza também numa carta astrológica natal o impulso básico de
manifestação de si mesmo no mundo exterior (assertividade) e de se envolver direta e
pessoalmente com qualquer experiência de vida.
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Como os impulsos sexuais e de conquista do objeto de desejo derivam da mesma fonte
instintiva, chamada pulsão sexo-agressiva, vontade e sexo andam juntas no psiquismo
humano e numa carta astrológica natal. É que um poderoso impulso de se afirmar no mundo
exterior reside na psique; este impulso, nos primeiros anos de vida, manifesta-se em uma de
suas duas "especializações" distintas, a assertividade: é quando a criança tenta impor ao
meio ambiente os seus desejos e vontades, buscando afirmar-se no mundo. Um pouco
adiante, por volta dos quatro anos (e mais ardentemente na puberdade e na adolescência),
este mesmo impulso manifesta sua segunda "especialização": o impulso sexual de
conquista do objeto de desejo, sendo este objeto, em geral, quem parece prometer a
satisfação da descarga de tensão sexual.

Por tudo isto Marte indica em uma carta astrológica natal o padrão global de manifestação
da assertividade e do impulso ativo sexual, enquanto características humanas que
permitem a interferência do indivíduo no meio ambiente e na própria vida.

ALÉM DE SI MESMO, OS OUTROS

Mas se na evolução da nossa espécie tais impulsos foram se estabelecendo como


características do psiquismo humano, foi também se tornando obrigatório o
"balanceamento" entre nossas necessidades individuais (fundamentais à sobrevivência de
cada pessoa) e grupais (vitais à preservação da espécie).

Afinal, o ser humano é um ser gregário e desde sempre viveu comunitária ou socialmente,
razão pela qual o convívio harmonioso com os outros é um dado vital ao seu psiquismo.

(Harmonia, entendida como a convivência equilibrada e produtiva de diferenças, e não como uma
utópica inexistência de conflitos; aliás, a palavra equilíbrio vem do latim eqüi e librium,
"pesos iguais", e pressupõe a existência de algum nível de tensão entre diferenças.)

Do convívio social e das pressões individuais decorrentes deste convívio brotaram os


impulsos internos de busca de justiça, de normatizar a realidade, de estabelecer inter-
relações entre as partes e o todo e de construir explicações lógicas para estas mesmas inter-
relações: nasciam com isto os impulsos internos para a religião, a filosofia, o direito e, mais
modernamente, os "conhecimentos superiores", de espectro mais amplo de conhecimentos.

(Por falar em religião, assunto ao qual voltaremos mais tarde em detalhes, cabe aqui
lembrar Carl G. Jung: "a propensão espiritual aparece na psique também como uma força que
urge, às vezes até mesmo como paixão genuína: não deriva de nenhuma outra pulsão, sendo em si
um princípio sui generis".)

Este conjunto de impulsos é simbolizado numa carta astrológica natal por Júpiter; não
fossem tais atividades psíquicas, as manifestações da pulsão sexo-agressiva (simbolizada
por Marte) dificilmente seriam canalizadas adequadamente ou submetidas a dogmas,
tabus, convenções e códigos de conduta, necessários, todos, à vivência e sobrevivência
grupal.

Júpiter também simboliza o impulso básico de ampliar o espaço de experiências de vida,


ou "horizonte pessoal", razão pela qual este planeta se "associa" aos movimentos de
magnificação das coisas e dos processos através de longas viagens externas (largos
40
deslocamentos da pessoa pela superfície terrestre) e internas (aprofundamentos
especulativos e filosóficos), sempre como forma de ampliar o universo de referências
básicas de vida.

Mas nesta mesma faixa de experiências surgiu também, com o passar do tempo, outro
poderoso impulso interno, qual seja o de privilegiar a realidade objetiva das coisas e dos
processos, visando impedir que o indivíduo alargasse desmedidamente o seu próprio ego:
simbolizado na carta astrológica natal por Saturno, esta instância psíquica representa o
superego e seu conjunto de funções de contato com a realidade objetiva das limitações
internas e externas vividas.

Cabe lembrar aqui que superego é expressão criada por Freud para nomear a instância
psíquica inconsciente que bloqueia ou censura na própria pessoa certas formas de
comportamento e a admissão consciente de determinadas vivências internas pessoais,
consideradas erradas, injustas ou não-éticas de acordo com o conjunto de padrões de
comportamento absorvido durante a infância. Esta instância, sempre atuando no
inconsciente como representante de uma natureza superior que deve ser respeitada quase
a qualquer preço, é extremamente útil e necessária ao desenvolvimento adequado do ego,
pois é o "teste da realidade" através de constante aprendizado, o que só se consegue com
paciência, tempo e experiência (significados tradicionalmente associados a Saturno).

Afinal, o ego, em seu processo de formação a partir dos impulsos informes do inconsciente,
sempre se expõe a incontáveis riscos de dissolução frente a impulsos energeticamente mais
fortes (porque afetivamente mais carregados); daí o surgimento de mecanismos de
proteção como o superego, através das defesas e das regras proibitivas internas, permitindo
ao ego se estruturar gradualmente e se opor sempre que necessário aos impulsos
inconscientes mais profundos, que só "buscam" sua própria satisfação e exatamente por
isto ameaçam a sobrevivência e a harmonia do todo psíquico.

OS IMPULSOS CÓSMICOS OU TRANSPESSOAIS

Além do indivíduo e do grupo, todavia, há uma dimensão de mundo que atrai a alma
humana - ou psyché, como a chamavam os gregos - com verdadeiro poder de fascínio e
sedução: a dimensão da Mente Impessoal, da Afetividade Impessoal e do Poder Impessoal,
características do divino que habita em cada um de nós.

Lembra o Budismo mahayana, uma das principais correntes do Zen-Budismo, que o estágio
de desenvolvimento do Homem de Conhecimento Normal é atingido pelo conhecimento da
realidade, mas o estágio do Homem de Conhecimento Superior é obtido apenas pela
transcendência desta mesma realidade; esta transcendência, então, só é possível para o
psiquismo humano através dos impulsos inconscientes simbolizados numa carta
astrológica natal por Urano, Netuno e Plutão, os três planetas "exteriores" ou
"transpessoais", impulsos estes próprios das camadas psíquicas mais profundas e, por tal
razão, ainda informes e não pessoalizados.

Algo deve ser comentado aqui sobre transpessoalidade, porém, antes que falemos mais
detidamente destes planetas e dos impulsos vitais que simbolizam no psiquismo humano.

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As dimensões transpessoais apontadas por Urano, Netuno e Plutão são aquelas que se
aproximam de possibilidades humanas até há bem pouco tempo sugeridas apenas pelas
religiões ou pelas práticas espirituais: são os elos de ligação do psiquismo individual com
a dimensão universal da Vida e ao mesmo tempo com todas as formas de manifestação
desta mesma vida, estejam ou não ao alcance dos sentidos mais comuns como audição,
tato, visão, paladar, olfato e cinestesia (do grego kinesiseisthesis, de kinesis, "movimento", e
eisthesis, "sentido"; "o sentido do movimento" em geral atua nas articulações e tem por
função informar ao corpo a posição de seus componentes no espaço em todos os
momentos; este sentido é o que permite a você tocar o próprio nariz ou queixo com os
olhos fechados, "sabendo" onde está sua mão e dedo a cada instante).

Estes impulsos, os transpessoais, atuam de forma a permitir ao psiquismo entrar em


contato com dimensões da realidade que não são perceptíveis ou descritíveis com nossas
noções mais comuns de tempo e espaço, pois tempo, espaço e matéria, como os
conhecemos, são convenções do nosso ego e não realidades únicas em si, como a física
moderna não se cansa de demonstrar e veremos adiante; da mesma forma, a noção de
individualidade que temos, como entidades separadas de todo o resto, é mera ilusão em
níveis além daqueles do ego, já que é função do ego pessoalizar tudo com o que se conecta,
através das funções egóicas representadas ou simbolizadas pelos planetas "pessoais" que
vimos atrás: Sol, Lua, Mercúrio, Vênus e Marte (e, certa medida, Júpiter e Saturno).

Por isto, lembrando apenas que as Psicologias transpessoais buscam ultrapassar esta
fantasia de separatividade que o ego humano mantém, veja o que diz o psicólogo norte-
americano Abraham Maslow sobre a possibilidade de fusão com o Todo, em seu livro The
farther reaches of human nature: "Há agora menos diferenciação entre o mundo e a pessoa...
Esta se torna um eu ampliado... Identificar o que há de mais elevado no próprio ser com os
valores supremos do mundo exterior significa, ao menos em alguma medida, uma fusão
com o que não é o próprio ser".

Para esta identificação com o Todo - mais possível para alguns, menos possível para outros,
segundo sua disposição psíquica inata - existem os impulsos psíquicos transpessoais: graças à
sua atuação, o indivíduo supera os limites da identidade egóica e "mergulha" num mar de
indiferenciada participação no Todo, um Todo que é para o ego, num mesmo e só
momento, aqui, lá e acolá, ontem, hoje e amanhã.

Porque, apenas recordando que Freud descreveu este estado de indiferenciação como
"sentimento oceânico" (embora o apontasse como um estágio imaturo do desenvolvimento
psíquico), transcrevo aqui o psicólogo norte-americano Ken Wilber, um dos mais
importantes teóricos das Psicologias transpessoais: "para onde quer que olhemos na
natureza... não vemos senão totalidades. E não apenas totalidades, mas totalidades
hierárquicas: cada uma delas é parte de um todo maior, que também é parte de um todo ainda mais
amplo... Além disso, o universo tende a produzir totalidades de nível cada vez maior, cada vez mais
abrangentes e mais organizadas. Esse processo cósmico geral não é senão a evolução... Como a
mente ou psique humana é um aspecto do cosmos, seria de esperar que encontrássemos na própria
psique o mesmo arranjo hierárquico de 'totalidades no interior de totalidades', da mais simples e
rudimentar à mais complexa e abrangente. De modo geral, esta é exatamente a descoberta da
psicologia moderna... Assim, numa aproximação geral, podemos concluir que a psique - tal como o
cosmos - é multinivelada (pluridimensional), composta de todos, de unidades e de integrações de
ordem sucessivamente mais elevada".
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Ora, se os impulsos psíquicos que vimos até aqui, simbolizados pelo Sol, pela Lua e por
Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno, só permitem ao ser humano apreender as
dimensões da realidade mais afins ao seu ego, sempre unidimensional e limitado, e há
dimensões ainda desconhecidas de realidade, como as ciências contemporâneas
comprovam a cada instante, outras funções haveriam de existir para permitir a vivência
destas outras dimensões da realidade que nos cerca, alimenta e faz viver.

Tais funções existem graças aos impulsos psíquicos transpessoais, dos quais falaremos ao
discutir Urano, Netuno e Plutão.

AS "OITAVAS" SUPERIORES DO PSIQUISMO HUMANO

Tradicionalmente, Urano, Netuno e Plutão foram considerados as "oitavas superiores" de


Mercúrio, Vênus e Marte, respectivamente. Mas o que isto quer dizer?

Em música, uma nota "oitavada" é estruturalmente a mesma nota (isto é, mantém a mesma
relação proporcional entre a freqüência e o comprimento de suas ondas) mas vibra em
uma freqüência muito mais alta. Como exemplo, um "lá" de oitava mais alta parece aos
ouvidos humanos um som mais agudo do que um "lá" de oitava mais baixa, isto é, as
ondas sonoras que o "lá" oitavado produz vibram com uma freqüência maior e produzem
no ouvido humano uma sensação auditiva que chamamos de "mais aguda" ou "menos
grave".

Assim, se Mercúrio simboliza as funções humanas de percepção intelectual da realidade,


de capacidade de pensamento sobre ela e de transmissão aos outros dos diferentes
produtos mentais (impressões, conclusões, idéias etc.), Urano simboliza a capacidade de
executar as mesmas tarefas num nível transpessoal: o impulso mercurial, de pensamento
voltado a particularidades, processos e minúcias, encontra uma finalidade e uma
abrangência maiores ao se transformar em "pensamento uraniano", superando então os
limites convencionais do mundo material, que para o ego são sempre dependentes das
quatro dimensões por ele definidas como altura, largura, comprimento e tempo.

Urano simboliza a capacidade humana de ter flashes de intuição que desafiam abertamente
os conceitos tradicionais de espaço e tempo, estando na raiz da percepção intuitiva de
existir "algo mais" no Universo do que apenas os fenômenos acessíveis aos órgãos
sensoriais mais comuns (e seus "prolongamentos artificiais", como os instrumentos
científicos criados pelo ser humano para aumentar a sua capacidade sensorial).

Não por outra razão Urano esteve desde sempre associado à magia, ao "estudo do oculto"
e à paranormalidade que se manifesta através de efeitos objetivos (telecinesia, ou
produção de efeitos físicos à distância, tiptologia, ou produção de ruídos à distância,
desmaterialização e rematerialização etc.).

Da mesma forma, Netuno é "a oitava mais alta de Vênus". Isto é, neste penúltimo planeta
encontramos o símbolo do impulso transpessoal humano de valorização afetiva impessoal ou
transpessoal, existente em todo psiquismo: desta forma, receptividade, senso estético,
imaginação criativa (o "instinto do belo") e afetividade são "atributos venusianos" que se
expandem para limites impessoais em Netuno, como se a psique, em seus estratos mais
profundos, ansiasse por reviver o estado indiferenciado de emoções e sentimentos que ao
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mesmo tempo caracteriza o início da vida - a fase intra-uterina ou, para os espiritualistas, a
fase espiritual pré-incorporação - e permite ao indivíduo viver tal estado no seio da
coletividade como um todo.

Netuno simboliza também as funções psíquicas que permitem ao ser humano a


experiência de fenômenos paranormais de efeito subjetivo (telepatia, ou comunicação à
distância, precognição, ou conhecimento antecipado de fatos e eventos, premonições etc.),
assim como parece estar relacionado diretamente com as manifestações mais vigorosas de
devoção espiritual.

Tais "atributos", os uranianos e os netuninos, ou as funções de Mente Impessoal e Afetividade


Impessoal, devem ser acessíveis ao consciente pessoal apenas à medida que o ego vá se
estruturando; se não for assim, as funções egóicas de pessoalização, fundamentais para
um pleno e produtivo contato com a realidade (ao nível que o ego trabalha), se
comprometem, dando margem ao que conhecemos como surtos de esquizofrenia ou
episódios psicóticos, dada a força destes impulsos e a invasão descontrolada dos
conteúdos que eles mobilizam no campo da consciência.

Caso, contudo, a emersão e a plena vivência destes impulsos se dê em um campo de


consciência estabelecido e mantido estruturado pelo ego e superego (Sol e Saturno), torna-se
possível ultrapassar o ego sem destroçá-lo e viver o que atualmente se chama de estados
alterados de consciência, que operam em níveis mais elevados de energia psíquica do que o
estado comum egóico de consciência, levando o ego a se fundir com o Todo sem que com
isto o ego se desestruture ou tenha sua função pessoal e individualizadora comprometida.

Mas ainda há um outro desafio, que merece todo o cuidado possível: o contato mais pleno
do ego com os impulsos psíquicos que provêem do inconsciente coletivo (e se mantêm fora
do campo de consciência graças a barreiras e defesas internas como o superego) permite
também contatar um imenso "complexo de poder" de base fortemente instintiva,
necessário para vitalizar a psique como um todo e dar ao ser humano condições de se
manifestar ativa e assertivamente no mundo exterior.

Este "complexo de poder" nada mais é senão a quantidade de energia instintiva que está à
disposição da psique para seu trabalho de estruturação do conjunto de suas instâncias e
funções, também chamada "libido", que é sempre uma energia indiferenciada de base
instintiva e, por isto, se manifesta como Poder Impessoal.

(Aliás, um dos principais motivos do rompimento entre Freud e Jung foi a insistência de Freud em
atribuir à libido a função exclusiva de energia a serviço da sexualidade, quando Jung a entendia
como energia a serviço do conjunto global das necessidades psíquicas, sendo orientada internamente
de acordo com as prioridades do próprio psiquismo.)

Descrito tradicionalmente como a "oitava superior de Marte", Plutão simboliza este


impulso totalmente impessoal que reside nos estratos mais profundos do psiquismo
humano: um complexo de poder atávico, indiferenciado e irrevogável, tanto quanto o era,
na mitologia grega, Hades, o deus do mundo subterrâneo (Plutão, para os romanos). Basta
lembrar que nem seus irmãos míticos - Zeus (Júpiter, para os romanos) e Poseidon, ou
Posídon (Netuno, para os romanos) - desafiavam sua palavra, já que Hades (Plutão)
representava a força que vigora no mundo das trevas do inconsciente Primordial e é mais
44
poderosa até do que a de Zeus, Deus da Luz, da superfície da Terra e das realizações
humanas.

Em outras palavras, e tentando resumir este misterioso impulso da psique, totalmente


mergulhado no inconsciente coletivo e além das possibilidades de plena compreensão pelo
ego, o Poder Impessoal que Plutão simboliza é aquele impulso necessário para vitalizar a
psique como um todo e mantê-la ativa no processo de individuação, isto é, de a pessoa
poder vir a ser o que realmente é, além dos processos de condicionamento a que tenha
sido submetida desde a concepção.

O risco, todavia, é o ego ter tal poder impessoal contaminando suas funções pessoais,
identificando-se com ele e julgando-se seu "dono" ou "portador", ocasião na qual a pessoa
"enlouquece" ou "é possuída" e acredita "ter" os poderes ali pressentidos: aí então, atuando
sob o comando de um ego estilhaçado por um impulso impessoal, o indivíduo atua como
se fosse Herói, Mago, Seguidor, Demônio, Salvador, A Grande Vítima, Redentor ou outra
imagem arquetípica qualquer, dependendo de qual impulso ou conteúdo transpessoal
contaminou seu ego, despersonalizando-se e perdendo a possibilidade de evoluir
ordenadamente, ao se deixar ofuscar por este poder ao invés de ser por ele fortalecido.

Entretanto, Plutão também representa a Fênix, o pássaro mitológico (egípcio) que todos os
dias reconstruía seu ninho apenas para vê-lo se consumir (e a ela também!) pelos raios do
sol do dia seguinte: graças a esta energia infindável residente nas suas camadas mais
profundas e coletivas, a psique individual pode destruir formas velhas e adotar formas
novas, se necessário implodindo estruturas inteiras para que o ego atue a partir de novas e
(até então) insuspeitadas possibilidades.

De certa maneira, Plutão simboliza também a figura de Satanael, ou Satã, o mais bonito dos
anjos, filho de Deus e irmão gêmeo de Emmanuel, que ao desafiar o Homem a questionar as Leis
Divinas o impele a maiores valores, frutos da descoberta que é sempre filha do conflito entre opostos.

Este "poder plutônico" é o impulso vital que, das mais profundas instâncias inconscientes,
impele a psique como um todo a um movimento sem fim de morte e renascimento, em
transição e adaptação constantes, através da integração de todos os seus componentes,
sejam instâncias, sejam conteúdos, num todo orgânico vibrante e mutável.

Mas que, ao "contaminar" as funções pessoalizadoras do ego (por fazer na carta astrológica
natal aspectos com os planetas "pessoais"), atribui a estas funções as dimensões ou
atributos de Mente, sentimento ou Poder Impessoal que na verdade elas não têm.

Quando a astrologia tradicional afirmava que os planetas exteriores ou transpessoais


(Urano, Netuno e Plutão) não tinham importância alguma na interpretação de uma carta
astrológica natal, posto estarem ligados às necessidades de gerações inteiras e não a um
indivíduo determinado, isto pertencia a um tempo em que nada se conhecia sobre o
inconsciente profundo ou sobre as instâncias, pulsões e funções do psiquismo; hoje, ao
contrário, se sabe que tais planetas são muito importantes, especialmente se eles estão em
contato direto com os planetas pessoais na carta astrológica natal, por simbolizarem
funções egóicas de alguma forma alteradas por conteúdos e impulsos muito mais
profundos e potentes, que devem ter encaminhamento adequado pelo indivíduo (muitas
destas situações veremos adiante).
45
Antes, entretanto, de vermos como tais pulsões, funções e conteúdos inconscientes se
mesclam na prática, definindo a estrutura e a dinâmica do inconsciente de uma pessoa em
particular, vejamos outras duas categorias do psiquismo, as funções e as modalidades da
consciência.

AS FUNÇÕES E AS MODALIDADES DA CONSCIÊNCIA

São de quatro tipos e duas modalidades as funções da consciência humana - as quais, como
seu nome já o diz, servem para permitir que a consciência humana se exerça sobre os
dados da realidade disponível.

Porque nenhum dado da realidade parece ter para alguém uma importância genuína,
enquanto não estiver na sua consciência!

De um lado, temos as funções intuição, sensação, pensamento e sentimento; de outro, as


modalidades Introversão e Extroversão.

Elas são independentes umas das outras, não se convertem entre si (uma não se torna
outra ou vice-versa) e nenhuma delas é mais importante do que outra, pois todas são
apenas formas diferentes de utilização da energia psíquica no trabalho de alargar o campo
egóico de consciência.

Como exemplo, pense em audição, visão e paladar: tais modalidades da experiência


sensorial são funções independentes umas das outras, não se convertem entre si e
nenhuma é mais importante do que outra; cada uma tem seu papel, embora todas
dependam da mesma fonte de energia, a libido.

Assim também com as funções da consciência, que atuam no contato entre o ego e a
realidade externa ou interna (eventos, objetos, outras pessoas e circunstâncias) ou entre a
realidade interna da pessoa (os diferentes estados de todo o composto psicossomático, tais
como emoções, sensações corporais, pensamentos etc.).

Vejamos, então, as primeiras.

Toda pessoa tenta se orientar conscientemente na vida de acordo com aquilo de que toma
conhecimento.

Para isto,
1. ela tem sensações: percebe a existência de algo, através dos sentidos;
2. ela pensa: define para si mesma o que foi percebido, compondo um "quadro mental da
realidade";
3. ela tem sentimentos: valoriza o percebido e o pensado, atribuindo-lhe valores afetivos
(bom ou mau, agradável ou desagradável etc.) e se dispondo a aceitar ou rejeitar o sentido
ou pensado;
4. ela intui: percebe, através dos detalhes do percebido, para qual direção o fato ou
acontecimento se orienta.

46
As funções sensação e intuição são irracionais, isto é, não dependem de julgamento algum e
trabalham apenas com o que está dado à percepção; já as funções sentimento e pensamento
são racionais, pois avaliam e julgam o que está dado à consciência.

Duas observações:
1. A intuição de que se fala aqui, dentro da visão junguiana da psique humana, nada tem a
ver com "percepção paranormal da realidade", como já vimos ao discutir rapidamente
Urano e Netuno; ao contrário, diz respeito a uma função da consciência que existe em
todas as psiques e, de certo modo, às vezes mais, às vezes menos, está disponível para
todas as pessoas, tendo por objetivo emprestar sentido às minúcias, entrelinhas ou
detalhes do que está sendo percebido.
2. Quando as pessoas falam em sentir, indistintamente se referem tanto à função sensação
("eu sinto que está quente") quanto à função sentimento ("eu me sinto bem com ele"); isto
exigirá que neste livro eu tenha de parecer repetitivo algumas vezes, ao discutir o
psiquismo inconsciente, explicitando se estou me referindo ao "sentir da sensação" ou ao
"sentir do sentimento"...

Como já dito antes, nenhuma destas funções é mais importante do que outra e todos os
seres humanos as utilizam todo o tempo em sua apreensão consciente da realidade; o que
varia, isto sim, de pessoa para pessoa, dependendo de sua carga genética, é a combinação
destas funções em cada psiquismo individual, levando o indivíduo a utilizar
predominantemente uma ou outra em seu dia-a-dia, de acordo com seu próprio tipo
psicológico.

Por fim, vejamos as duas modalidades da consciência, a Introversão e a Extroversão - apenas


recordando que, para a Psicologia, extroversão não significa ser "alegre, divertido, falante,
piadista ou brincalhão", como supõe o senso comum, nem introversão significa ser
"tímido, quieto, pouco expansivo ou reservado".

A energia psíquica posta à disposição da consciência se movimenta com mais


naturalidade, dependendo do tipo psicológico da pessoa, na direção da realidade externa
ou da sua própria realidade interna, tornando-a uma pessoa respectivamente extrovertida
ou introvertida.

Dito de outra forma, dependendo de sua carga genética o indivíduo tende a perceber o que está à
própria volta (a realidade externa) com mais facilidade, se for predominantemente extrovertido; pela
mesma razão, se for predominantemente introvertido, ele "naturalmente" dará mais atenção ao que
percebe dentro de si mesmo.

Usando uma metáfora óptica, é como se o extrovertido tivesse um "periscópio mais


potente do que o endoscópio", ao passo que com o introvertido dá-se o inverso, levando
um e outro a privilegiar - por perceber com mais facilidade ou maior clareza - os dados
disponíveis em um ou outro nível de realidade, a externa ou a interna...

Analisado isto tudo, então, vejamos o que uma entrevista de análise clínica de carta
astrológica natal oferece a quem dela se vale como recurso de diagnóstico de
personalidade, de auto-conhecimento e de alteração de formas pessoais de
comportamento tidas pelo próprio indivíduo como inadequadas ou indesejáveis.

47
CAPÍTULO 6
ALGUNS PROBLEMAS DO COMPORTAMENTO
HUMANO, ANALISADOS ATRAVÉS DA
ASTROLOGIA CLÍNICA
Diferentes astrólogos profissionais praticam distintas estratégias devolutivas, em geral
desenvolvidas e aprimoradas no correr da vida e alteradas sempre que assim se mostrar
necessário.

Mas como o momento da entrevista devolutiva clínica também depende sempre do seu
próprio perfil individual, o profissional imprime características pessoais à forma como
conduz a entrevista - mais rápido ou mais lentificado, mais metafórico ou mais objetivo,
mais intenso ou mais suave na abordagem, mais aberto ou mais refratário a questões
levantadas pelo cliente e assim por diante; assim, só posso aqui expor principalmente
minha forma pessoal de conduzir uma entrevista devolutiva de análise clínica de carta
astrológica natal, para que você tenha uma idéia de como é a dinâmica de um momento
como este e qual tipo de discussão pode se estabelecer.

Como já expliquei atrás, no capítulo 4, eu me coloco entre aqueles profissionais que


estruturam a entrevista devolutiva de forma a transmitir ao cliente, de uma vez só, o
máximo possível de informações que sua carta astrológica natal permita perceber, de
modo a que ele possa "se trabalhar" da forma mais vasta e profunda possível a partir de
nosso encontro, quer através de uma relação de ajuda psicoterapêutica, quer com o
concurso de outras técnicas auxiliares de integração psicoemocional.

Assim, desde o início de minhas atividades - e com base em técnicas de estruturação de


entrevistas devolutivas psicodiagnósticas -, optei por distribuir o conjunto integral de
informações oferecidas pela carta astrológica natal em dois blocos distintos encadeados,
para passo a passo discuti-las com o cliente: traços estruturais de personalidade (aqueles que
dependem diretamente de sua herança genética) e traços conjunturais de personalidade
(aqueles que passaram a vigorar em seu inconsciente a partir de pressões modelares
exercidas pelo meio ambiente, a sua "conjuntura de primeira infância").

Dos traços conjunturais de personalidade, acredito ser importante definir quais foram
absorvidos da figura feminina predominante no meio ambiente e quais foram introjetados
a partir da figura masculina predominante no meio ambiente (em geral mãe e pai, embora
possa ter havido a influência de avós ou avôs, tias ou tios, irmãs ou irmãos mais velhos,
madrasta ou padrasto etc.), para que o cliente, então, de posse de tais dados, possa
compreender de quais situações se originam inúmeros de seus comportamentos
compulsivos, afastando-o da possibilidade de exercer os seus potenciais pessoais e viver
suas próprias características.

Esta separação entre traços estruturais e conjunturais de personalidade é apenas um


recurso didático-explicativo, na verdade, para que o cliente perceba a forma diferente de
lidar com cada um destes tipos de traço em seu próprio psiquismo, pois na prática do dia-
a-dia o conjunto global de sua estrutura e dinâmica de personalidade será atuada e
vivenciada de modo conjunto, "embolado".
48
Entretanto, com tal noção ele já poderá perceber que nem tudo o que via como um "jeitão
de ser" é genuinamente seu; muito mais do que imagina foi absorvido do meio ambiente e
pode ser "retreinado"...

O que ele fará, após a entrevista, é de sua decisão exclusiva; entretanto, ele terá, a partir daí, um
precioso material sobre o qual trabalhar, visando um conjunto mais harmonioso (para consigo
mesmo) de formas de comportamento externo e interno.

(Embora seja minha firme impressão de que toda análise clínica de carta astrológica natal
deva ser seguida de algum tipo de trabalho terapêutico de auto-integração, dada a
profundidade e a complexidade das modificações que se mostrarão necessárias na
estrutura e dinâmica do seu inconsciente, esta é sempre uma decisão que só a ele
pertence.)

E antes de vermos em detalhes o que virá adiante, cabe registrar o seguinte:


1. Conjunção, Sextil, Trígono, Quadratura, Quincúncio e Oposição são ângulos
geométricos formados entre elementos de uma mesma carta astrológica;
2. Os signos podem ser de Fogo, Terra, Ar e Água, pois estes são, Elementos
tradicionalmente associados a eles, e Cardeais, Fixos ou Mutáveis, conforme sua Modalidade;
3. Os signos, além disto, podem ser yin ou yang, conforme sua Polaridade

Assim, embora este não seja um livro de formação teórica para astrólogos, eu não poderia
deixar de utilizar este jargão nas explicações que se seguem.

TRAÇOS ESTRUTURAIS DE PERSONALIDADE

Os traços estruturais da personalidade global compõem o que pode ser chamado tipo
psicológico e merecem, por parte da pessoa, um minucioso trabalho de "gerenciamento"
ou "administração" de suas formas de manifestação.

Isto é: já que tais traços estarão sempre presentes no psiquismo daquele indivíduo, pois
fazem parte de sua estrutura psíquica mais profunda e não são em si positivos nem
negativos, o desafio é aprender a lidar com suas formas de manifestação de modo mais
adequado do que até então.

Imagine alguém que nasça portador de um psiquismo naturalmente mais extrovertido do


que introvertido (mais planetas acima do que abaixo do Horizonte de sua carta astrológica
natal); esta pessoa deve ser reforçada a prestar mais atenção aos seus conteúdos internos,
pois facilmente percebe o que está no meio ambiente e crê estar de posse de todos os
dados necessários para uma correta avaliação da situação, sem perceber com clareza o que
lhe anda "por dentro" em sentimentos, pensamentos e sensações. Já alguém
predominantemente introvertido atua ao contrário: lidando com situações objetivas
principalmente a partir do que identifica em seu próprio mundo interior, dada a maior
facilidade em dirigir a consciência para o seu campo de referenciais internos, com
freqüência exagera ou diminui a importância real do objeto ou do evento externo por mal
perceber o que está ocorrendo no meio ambiente.

Pode ser alguém predominantemente intuitivo (muitos planetas em signos de Fogo):


então, percebendo com extrema facilidade o que os outros querem ou sentem, crê que
49
todos têm a mesma facilidade de percepção e poucas vezes fala de si mesmo. Esta pessoa
deverá ser reforçada a dizer de si à exaustão, correndo o risco de parecer óbvia - pois, pelo
menos, terá então a certeza de o outro estar ciente do que lhe passa por dentro! Mas se for
uma pessoa com a função intuição pouco desenvolvida, terá de ser reforçada a não
demandar tão excessivamente (como provavelmente vem fazendo...) repetidas
manifestações explícitas de carinho, consideração ou respeito por parte do meio ambiente,
pois provavelmente ela é que não consegue perceber com facilidade e julga não recebê-las.

Pode ser alguém com predominância de função sensação (muitos planetas em signos de
Terra) e, dada a facilidade com que se conecta com os próprios núcleos internos de
estabilidade, deverá ser reforçada a rever a posição freqüente de "auto-suficiência
presumida" que a faz abrir mão de aspectos mais difíceis da realidade para "não ter de
engolir sapos". "Eu não preciso disto", é sua afirmação constante, ao contrário de quem
tem esta função pouco acessível à consciência: este segundo caso indica alguém que crê
necessitar tanto de pontos externos de suposta estabilidade (conta bancária, emprego,
rotinas do dia-a-dia, certa relação pessoal etc.), que acredita que se desequilibrará se abrir
mão deles, mesmo quando não a satisfaçam.

Ou talvez seja uma pessoa com predominância da função pensamento (muitos planetas em
signos de Ar) e tenha uma extrema facilidade de transformar em raciocínios tudo com o
que se envolve; se por um lado isto costuma apontar o autodidata por excelência, em geral
sugere a necessidade de aprender a utilizar mais vezes as outras funções da consciência
(até porque a função pensamento é excessivamente valorizada em nossa cultura...). Se,
entretanto, a pessoa tiver escasso acesso a esta função da consciência, o que por si só
muitas vezes gera uma vaga "sensação de burrice", ela deve ser reforçada a avaliar mais
objetivamente o seu desempenho intelectual, pois pode estar se considerando menos
competente do que realmente é.

E pode também ser um indivíduo que tenha enorme facilidade de se conectar com o
mundo através de sua função sentimento (muitos planetas em signos de água): com
freqüência ele acredita estar tão à mercê dos próprios sentimentos, que prefere manter-se à
distância de situações de forte envolvimento emocional! Mas se a carta astrológica natal
oferecer indicativos de uma dificuldade maior em se conscientizar dos próprios
sentimentos, ele deve ser reforçado a não entrar em situações nas quais a "emoção forte" é
o único suposto benefício: é que ele preferirá tal tipo de situação, pois um sentimento
intenso pode ser percebido com muito mais clareza, seja agradável ou desagradável... e
mesmo quando nada mais a situação tenha a lhe oferecer!

Da mesma forma, mas de modo acentuado, a pessoa poderá apresentar em sua carta
astrológica natal o que é chamado um Grande Trígono, seja ele de Fogo, Terra, Ar ou Água
(um triângulo eqüilátero formado por três ou mais planetas localizados em signos de um
mesmo Elemento e que mantêm entre si respectivas relações angulares de 120o): isto
indicará no psiquismo do indivíduo uma marcada predominância da função simbolizada
por aquele Elemento (Fogo/intuição, Terra/sensação, Ar/pensamento e Água/sentimento),
merecendo uma breve discussão e um aprendizado sobre como atuar na vida também a
partir das outras funções da consciência.

A carta astrológica natal pode indicar um acúmulo de planetas em signos Cardeais e


apontará uma pessoa para quem uma alta taxa de desgaste físico-muscular é fundamental
50
todo o tempo, dada a facilidade de reposição de energias a serviço das atividades
orgânicas e mentais: tão mais ela tenha um dia-a-dia sedentário, mais ela se sentirá
tensionada, irrascível e impaciente, pronta para explodir; se o acúmulo for de planetas em
signos Fixos, um estável núcleo interno de autocentramento se transformará com
facilidade em obstinação e teimosia, merecendo minuciosa avaliação quando necessário; e
se o acúmulo for de planetas em signos Mutáveis, uma natural inclinação a se envolver em
tarefas partilhadas facilmente inclinará a pessoa a freqüentemente aceitar tarefas que são
dos outros, com base num impulsivo "pode deixar que eu faço...".

Por fim, o balanceamento yin e yang da carta astrológica natal (quantidade de planetas em
signos yin e yang, bem como a localização, por signo, do Sol, da Lua e do Ascendente)
indicará ao astrólogo clínico a natural inclinação da pessoa em privilegiar na vida as
funções do hemisfério cerebral direito ou do esquerdo, responsáveis, respectivamente,
pelas "funções yin" e "funções yang" da psique. É que todos os seres humanos possuem
ambos os tipos de função em seu psiquismo (que prefiro denominar yin ou yang e não
"femininas" ou "masculinas", pois não se trata de posição sexista) e depende da maior
inclinação natural em utilizar um ou outro agrupamento de funções o fato de a pessoa
(independente de seu sexo biológico) ser mais "feminina" ou mais "masculina" em sua
forma geral de lidar com a vida e consigo.

Este é um aspecto fundamental a discutir com o cliente, quando necessário, já que nossa
cultura exige de homens e mulheres papéis sociais excessivamente rígidos e diferenciados,
podendo provocar severas dificuldades de construção de auto-imagem positiva em quem
se diferenciar naturalmente das atitudes e dos papéis sociais esperados de seu sexo
biológico (porque definidos culturalmente).

Para ilustrar melhor, veja o quadro abaixo, no qual estão indicadas algumas das principais
funções yin e yang do psiquismo humano, apenas recordando que elas são opostas e
complementares entre si e habitam todo psiquismo, tanto em homens quanto em
mulheres:

Funções yin Funções yang


Raciocínio intuitivo analógico Raciocínio lógico-dedutivo
Desejo de manter o conquistado Desejo de conquistar
Síntese por analogias Separação por diferenças
Receptividade centrípeta Assertividade centrífuga
Valorização emocional Valorização conceitual
Predomínio do concreto Predomínio do abstrato

Imagine, então, por exemplo, um homem que possua uma carta astrológica natal "mais"
yin do que a média dos homens de seu meio ambiente cultural: ele se mostrará desde bebê
bem mais emocional, mais intuitivo e mais sentimental do que o modelo masculino de sua
cultura, podendo acreditar-se afeminado ou inseguro de sua própria masculinidade; em
contrapartida, suponha uma mulher que apresente uma carta astrológica natal "mais" yang
do que o modelo feminino valorizado por seu meio ambiente cultural: desde bebê ela se
mostrará mais racional, mais "agressiva" e mais lógica do que o modelo feminino de sua
cultura, podendo acreditar-se masculinizada ou pouco feminil.
51
Casos como estes, se não bem entendidos e aceitos internamente, podem levar a pessoa ao
comprometimento de sua auto-imagem e até mesmo a severos desequilíbrios hormonais,
com pesados problemas de hipófise, tireóide e gônadas (componentes básicas do sistema
endócrino envolvido com a produção de hormônios masculinos e femininos e com a
definição de traços sexuais secundários como a distribuição de pelagem ou de massa
corporal e o timbre de voz, entre outros).

TRAÇOS CONJUNTURAIS DE PERSONALIDADE

Já os traços conjunturais da personalidade global, sempre derivados de modelos


precocemente apresentados pelo meio ambiente à criança, devem merecer outra estratégia
de resolução: ao invés de apenas aprender a "gerenciar" ou "administrar" uma real
característica pessoal, o indivíduo deve se dispor a se "reprogramar" emocionalmente,
gradativamente desmobilizando as matrizes inconscientes de comportamento que foram
condicionadas pelos modelos feminino, masculino e relacional atuados em sua casa natal.

Porque tais matrizes sempre afetam o desempenho global do indivíduo, cobrando um alto
preço em praticamente todas as áreas de atividade pessoal, da afetividade à
espiritualidade, da manifestação criativa à sensualidade, do desempenho intelectual a uma
vivência mais plena e prazenteira da sexualidade.

Retomemos o raciocínio que explica a origem das matrizes inconscientes de


comportamento de uma pessoa: nascida com inclinação natural a determinadas formas
básicas de comportamento, devido a seu tipo psicológico altamente individualizado (todos
os seres humanos, por mais diferentes que pareçam, portam traços básicos análogos de
constituição psicossomática, característicos da espécie), a criança imediatamente passa a
conviver com um determinado modelo de "pai" e de "mãe", fruto de como ambos estão
naquele momento de sua vida, da qualidade de sua inter-relação pessoal e do tipo de
relação que mantêm com a criança.

Será do percebido no comportamento global paterno e materno que a criança estruturará aquilo que
a Psicologia chama de imago materna e imago paterna, as imagens parentais básicas formadas
durante o período infantil, associadas às emoções e sentimentos da infância e posteriormente
reprimidas no inconsciente.

Muitas vezes desenvolvidas dentro de um ambiente - pouco importa o que mãe e pai
afirmem sobre "franqueza", "honestidade", "educação infantil" e "vida familiar" - como
belamente o reproduz o psiquiatra inglês R.D.Laing em seu livro Laços:
"Eles estão jogando o jogo deles.
Eles estão jogando de não jogar um jogo.
Se eu lhes mostrar que os vejo tal qual eles estão,
quebrarei as regras do seu jogo
e receberei a sua punição.
O que eu devo, pois, é jogar o jogo deles,
o jogo de não ver o jogo que eles jogam".

Mais adiante, iniciada a sua socialização (escola, amiguinhos de folguedo, parentes de


idade análoga, companheiros de interesses etc.), a criança estará vivendo experiências que
farão ressoar as memórias emocionais da primeira infância, "reafirmando-as" e

52
acreditando que "sempre será assim"; gradativamente nela se instala um certo fatalismo
imobilista, pois sem o saber a pessoa selecionará, dentro do conjunto geral de situações
possíveis no meio ambiente, aquelas que mais de perto ecoem as cenas da primeira
infância (no que diz respeito ao conteúdo emocional e sentimental lá vivido), tentando
compulsivamente reviver tipos de emoção e sentimento análogos aos que eram vividos na
casa original.

Se a criança é uma menina, quando adulta utilizará o conteúdo de sua imago materna para
modelar inconscientemente a própria auto-imagem, utilizando o conteúdo de sua imago
paterna para pré-definir o tipo de homens de que se aproximará e o tipo de relações que
terá com eles; se for menino, dar-se-á o inverso.

Desta forma, garante-se a reprodutibilidade das mesmas experiências emocionais básicas...

A única forma de romper este ciclo vicioso ("eu-atraio-situações-que-me- produzem-


sentimentos-parecidos-com-os-vividos-na-minha-casa-de-infância, -como-forma-de-eu-me-
certificar-de-que-a-realidade-natural-é-esta,-com-isto -me-reforçando-a-buscar-mais-uma-vez-
situações-com-este-contorno-por-toda- a-minha-vida,-mesmo-que-eu-me-diga-não-querer!") é
reviver as emoções e sentimentos originalmente vivenciados e, desta forma, se livrar das
cargas emocionais e afetivas que atuam compulsivamente a partir do inconsciente,
roubando da pessoa o controle consciente sobre o seu próprio comportamento.

Para isto, o indivíduo praticamente não tem outra alternativa a não ser realizar algum tipo
de trabalho de auto-conhecimento e modificação interna, visando identificar quais
modelos de comportamento lhe foram apresentados (as formas de pensar, sentir, querer e
agir) e, destes, quais conscientemente deseja manter em sua vida atual; então, e visando
responder a algumas das principais questões que a pessoa vem se fazendo, a análise
clínica de sua carta astrológica é recurso precioso.

Veremos a seguir algumas destas principais questões - dentre muitas -, as quais, de uma
ou de outra maneira, afetam diferentemente inúmeras pessoas e abalam vigorosamente
sua real possibilidade de ser feliz.

Este livro não pretende ser um "manual de interpretação" de cartas astrológicas natais,
mas bem pouco eu poderia dizer se não lançasse mão do simbolismo astrológico; agora, as
noções que vimos atrás - o significado simbólico dos planetas e dos aspectos, bem como
princípios de teoria psicológica - poderão ter para você uma significação mais ampla, à
medida que situações humanas comuns como as que veremos a seguir puderem ser
identificadas.

Peço a você também que recorde um conceito básico de Psicologia tantas vezes
mencionado até aqui: nenhum fenômeno psíquico tem uma origem única, nenhum
comportamento humano é motivado por uma causa apenas! Da mesma maneira, nenhum aspecto da
dinâmica ou da estrutura de personalidade identificado por uma carta astrológica natal deriva de
apenas um, e só um, de seus componentes.

Por esta razão a análise clínica de uma carta astrológica natal deve contemplar sempre a
totalidade da carta, já que os exemplos de situações possíveis que veremos a seguir podem

53
ser reforçados ou atenuados por outros dados da mesma carta, que o astrólogo clínico
identificará e analisará num amplo contexto.

Devo salientar que, para não me estender demais, deliberadamente não discuti neste livro
o significado dos Signos, das Casas astrológicas e de outros símbolos também presentes em
uma carta astrológica natal: tais significados são fundamentais para uma análise acurada e
profissional astrológica, mas para isto você terá de estudar - e bastante!

POR QUE MINHA AUTO-ESTIMA VIVE TÃO ABALADA?

Não são poucas as pessoas que se queixam de uma sensação vaga e imprecisa de abalo de
auto-estima, mesmo quando são bem sucedidas em seus múltiplos papéis; isto em geral as
coloca numa roda-viva de necessidade de se afirmar, por mais que tenham sucesso, não
lhes permitindo descanso nem momentos de relaxamento maior.

Quando, por exemplo, em uma carta astrológica natal o Sol da pessoa recebe uma
Conjunção, Quadratura ou oposição de Saturno, desenvolve-se dentro dela, desde a
primeira infância, uma pesada sensação de estar fazendo algo errado ou censurável pelo
simples fato de existir; este dado também nos informa que provavelmente o pai desta
criança exigia dela um rígido desempenho global, na mesma medida em que fora dele
exigido, não dando à criança oportunidade de desenvolver uma postura interna de
otimismo e crença na vida e em si mesma.

Como resultado, estruturou-se nela um vigoroso superego, razão pela qual no futuro,
mesmo quando pudesse ou desejasse, sempre carregaria a pesada sensação de "estar sendo
vigiada" e poder ser alvo, a qualquer momento, de pesadas acusações de incapacidade (as
Casas astrológicas envolvidas relatarão em detalhes a intensidade da cobrança e as áreas de
atividade mais diretamente penalizadas).

Outras vezes, esta sensação de auto-estima abalada provém de outra história: se a carta da
pessoa mostrar uma Quadratura entre Marte e Lua, pode-se ter verificado uma pesada
rejeição materna à gravidez e, como conseqüência, desde a fase intra-uterina a criança foi
obrigada a conviver com pesados sentimentos de rejeição pelo simples fato de existir. Pior
ainda se esta mesma carta apresentar uma Quadratura ou oposição entre Plutão e Marte:
muito provavelmente a mãe tentou um aborto ou ao menos desejou ardentemente efetivá-
lo, instalando no psiquismo do feto pesadas ameaças de morte, além dos sentimentos de
rejeição.

Outra carta astrológica natal poderia mostrar o Sol recebendo uma Quadratura de Marte,
num cenário doméstico (indicado por outros dados) no qual o pai não está feliz consigo
mesmo; se é carta de uma mulher, muito provavelmente este pai desejava um filho e
rejeitava pesadamente a filha "pela simples razão dela ser mulher"!

Aliás, se a carta astrológica natal é de uma mulher, quaisquer "ataques" à Lua ou a Vênus
(quadraturas e oposições de Marte, Saturno, Júpiter e Urano, ou Lua e Vênus em
Quadratura ou oposição entre si) abalam vigorosamente sua noção interior de
feminilidade e, por conseqüência, sua auto-estima (posto que ela se identifica
externamente como mulher mas internamente não confia em si mesma); por sua vez, se a

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carta é de um homem, quaisquer "ataques" contra o Sol, Marte e mesmo Júpiter podem
instalar sentimentos análogos em relação à própria masculinidade.

Isto para não falar de sentimentos derivados da pressão do meio contra a vivência de
algum dos traços estruturais de personalidade que vimos no início deste capítulo: por
exemplo, imagine uma menina que desde cedo se perceba "mais moleque" do que suas
amiguinhas e, graças a isto, já que nossa cultura não aceita que uma menina tenha
comportamento mais "guerreiro", julgue-se incompetente em sua feminilidade. Ou um
homem que desde garoto se recuse a jogos de maior agressividade e seja repetidamente
acusado de "frescura" ou "bichice"... Ambos poderão desenvolver pesados sentimentos de
inadequação sexual, atuados através da homossexualidade ou através do exagero
compensatório de seus papéis sociais femininos e masculinos, respectivamente.

Por vezes, basta que a pessoa tenha se identificado em demasia com a figura parental do
mesmo sexo e, caso a carta astrológica natal nos garanta, tal figura tenha sido uma
"perdedora": muito provavelmente, quando adulto este indivíduo carregará pesados
sentimentos de ser também um perdedor!

As situações são inúmeras, as causas são sempre complexas e não se esgotam em um ou


outro aspecto apenas da carta astrológica natal; o importante, na verdade, é que você
poderá entender as razões de tais sentimentos e, de posse deste conhecimento, trabalhar
no sentido de alterar o conjunto de memórias inconscientes que os mantêm.

ASSERTIVIDADE: O QUE FAZER PARA PODER DIZER NÃO?

Esta é outra questão central para muita gente: a dificuldade em fazer valer a própria
opinião, dizendo sim quando tenha vontade ou negando se assim lhe parecer adequado.

Voltemos à noção de assertividade que vimos no capítulo anterior e tentemos entender o


que provavelmente se passa com esta pessoa, pois nem sempre se trata de alguém que faz
o "jogo do bonzinho", como se supõe...

Toda criança, desde os primeiros dias de sua vida, busca manifestar ao meio ambiente
seus desejos pessoais mais íntimos, sejam eles quais forem; desta maneira, exercita a
própria assertividade, afirmando para os outros o que quer ou não, num treino da futura
força de vontadevontade: à medida que se manifesta abertamente para o meio ambiente e
percebe os efeitos desta manifestação, sendo aceita ou não e sendo punida ou
recompensada, ela vai aprendendo a lidar com a própria força de vontade, aos poucos
desenvolvendo um sistema de auto-regulação e vindo a se tornar o que costumamos
chamar um adulto equilibrado e "firme".

Entretanto, se desde pequena sua possibilidade de manifestação assertiva é barrada, quer


através de pressão excessiva do meio, quer em função de punições que receba em demasia,
esta criança vai como que se acovardando, presa da suposição interna de nunca ser
conveniente expor-se e a seus desejos.

Obviamente isto produz na criança pesados sentimentos de raiva - em última instância,


sempre derivados de manifestações de si mesma que não puderam se expressar - e, por
isto, quando tem oportunidade ou a pressão interna se torna insuportável, ela estoura em

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manifestações de agressividade incontida: "agora-que-eu-posso,-eu-vou-e-mando!", "eu-já-
disse-que-eu-quero-e-pronto-e-acabou!", "eu-quero-assim-e -como-é-assim-que-eu-quero,-
é-assim-que-vai-ser!".

Passando a daí por diante manifestar um perfil que não poucas vezes eu costumo chamar
de "gangorra de passividade-pancadaria": com freqüência e inexplicavelmente hesita em
se manifestar, mesmo quando é preciso ou tem todo o direito, para em outros instantes dar
vazas à própria assertividade em manifestações desproporcionais de afirmação de si
mesma (crueldade impositiva, agressões físicas desnecessárias, voluntarismo infantilizado,
desavenças constantes etc.).

Não que a criança precise crescer num mundo onde não haja limites à sua vontade ou
desejos; aliás, isto mais adoece que ajuda, na verdade! O necessário é que o meio ambiente
seja equilibrado no estabelecimento de limites à possibilidade dela se manifestar,
ajudando-a a lidar adequadamente com a própria assertividade e gradativamente
levando-a a estabelecer regras adequadas de convívio entre si mesma e os outros.

Mas basta um Marte em Capricórnio, por exemplo, ou uma Conjunção, Quadratura ou


oposição de Saturno a Marte para que a carta astrológica natal de uma pessoa possa nos
apontar uma primeira infância onde as suas manifestações de assertividade eram sempre
pesadamente contidas, eventualmente até mesmo punidas com excessivo rigor
(quadraturas e oposições) , fazendo com que a criança se intimidasse e retivesse no
inconsciente a suposição de que toda figura de autoridade está contra ela, em princípio...
Futuramente, o convívio com pais, professores, chefes, autoridades e superiores de
qualquer natureza se transforma em pesado conflito, pois sua suposição inconsciente é a
de que "tentarão mais uma vez, como tantas, bloquear sua iniciativa, força de vontade e
busca de satisfação de desejos".

Por falar em iniciativa, este quadro piora muito se esta mesma carta astrológica natal
mostrar um Ascendente ou Sol em áries ou um Marte ou Áries proeminente: arrojo e
iniciativa, traços naturais e profundos de seu psiquismo, provavelmente foram desde cedo
excessivamente abafados, merecendo um delicado trabalho futuro de liberação e recobro
de espontaneidade para uma mais fácil atuação em situações que exijam manifestação de
si mesma e de sua vontade.

Não nos esqueçamos de que, num caso como este, e em outros tantos, a regra continua
válida: presa da suposição de que toda figura de autoridade impedirá sua manifestação de
vontade própria, a pessoa termina agindo de forma a produzir este comportamento nas
pessoas que a rodeiam ou a atrair para seu convívio pessoas que tenham este perfil
impositivo - para mais uma vez reviver os profundos ressentimentos que guarda em seu
inconsciente desde a infância e se certificar de que a única forma de garantir espaço no
mundo é a "pancadaria".

Outras vezes, todavia, a dificuldade maior está em assumir e expor sentimentos, estejam
eles de acordo ou não com a outra pessoa com quem se relacione; é o caso de alguém que
sente dificuldade em manifestar amor ou compreensão, mesmo em situações nas quais tal
expressão é desejada e até esperada! Aí, temos outro desenho interno, o qual não
necessariamente indica um comprometimento de assertividade; tanto é assim que, em

56
situações de baixa tonalidade emocional, esta pessoa se afirma com facilidade e claramente
expõe o que deseja, pensa ou quer, na defesa de seus projetos e espaço pessoal.

Casos como estes costumam derivar muito mais da existência de impedimentos na


primeira infância contra a espontaneidade emocional da criança, levando-a futuramente a
ponderar em demasia a manifestação de todo sentimento ou emoção - muitas vezes a
ponto de até mesmo perder contato consciente com eles e viver com freqüência o que
poderia ser chamado de indiferenciação emocional: "o que estou vivendo agora? será afeto
ou tesão? raiva ou medo? indiferença ou cautela?".

Da mesma forma como com a assertividade, a criança necessita expor ao meio suas
diferentes vivências internas emocionais ou sentimentais, para reconhecer-se a si própria
através de suas emoções ou sentimentos expostos e, ao mesmo tempo, estabelecer laços
afetivos com os que a rodeiam; se o meio ambiente à sua volta, porém, é demasiadamente
impeditivo de suas manifestações emocionais, às vezes por uma moral excessivamente
estreita, sentida como hostil, outras vezes pela dificuldade dos adultos de expressarem
livremente as próprias emoções, sentindo-se desafiados pela naturalidade infantil e se
mostrando, então, refratários, a criança desde muito pequena aprende que não deve expor
espontaneamente o que sente: medo, alegria, tristeza, ansiedade ou outro natural
sentimento qualquer.

Ela se recolhe dentro de si mesma, no máximo extravasa com seus brinquedos, irmãos ou
coleguinhas e futuramente, quando não houver mais brinquedos ou a troca de emoções
com outras pessoas se tornar "responsável" demais (por envolver papéis sociais adultos),
ela gradativamente perderá contato com os próprios sentimentos; instala-se nela um perfil
melancólico e depressivo, descrente da possibilidade de ser feliz emocionalmente e
superado apenas em momentos onde "fortes emoções" (geralmente as "proibidas")
parecem lhe devolver a alegria de viver.

Quase sempre este quadro é encontrado na primeira infância de uma pessoa cuja carta
astrológica natal apresente uma Lua em Capricórnio ou um Saturno em qualquer aspecto
com a Lua (a força dos bloqueios originais dependerá do aspecto observado): a casa
privilegiava o dever ("primeiro o dever, depois o prazer"), punia ou pelo menos impedia
as manifestações emocionais infantis mais espontâneas ("comporte-se desta forma!", "você
não deve sentir isto..." ou "uma criança boazinha não reage assim!") e atuava de forma a
manter sob severo controle quase qualquer possibilidade da criança de reagir segundo
suas próprias emoções ou sentimentos.

Se a carta astrológica natal apresentar uma Quadratura ou oposição de Marte à Lua, quase
certamente a agressão física (às vezes sádica, se também houver aspectos de Urano
envolvidos) acompanhava este quadro geral de impedimentos à livre emocionalidade
infantil; e se Mercúrio estiver oposto ou quadrado à Lua, quase com certeza a criança era
pesadamente levada a nem manifestar verbalmente o que sentia (lavar sua boca com sabão
ou passar pimenta na sua língua são típicas manifestações cruéis desta última
possibilidade).

Vários podem ser os indicativos astrológicos de tal quadro de bloqueio emocional em


função das experiências de primeira infância, levando a pessoa a buscar parceiros ou
parceiras (para as mais diferentes relações) que apresentem o que é chamado pela
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Psicologia de forte labilidade emocional (do latim labile, transitório, passageiro, instável):
oscilação excessiva nas próprias manifestações emocionais, tendência a "ver dramas em
tudo" e exageros freqüentes em reações, como única forma de viver a intensa
emocionalidade que está bloqueada no inconsciente e precisa de estímulo externo para ser
liberada.

À medida que esta pessoa possa reviver as cenas primárias (as cenas de primeira infância)
que estiveram ligadas aos bloqueios emocionais e, assim, se livre das memórias
desagradáveis associadas a estes momentos, ela recupera a possibilidade de manifestar
mais livremente o que sente e ser, portanto, mais espontânea emocionalmente; isto é um
trabalho que dificilmente chega a seu término sem ajuda especializada (terapia, por
exemplo), dada a delicadeza dos aspectos envolvidos, mas deve ser encarada, por quem
sinta tal dificuldade, como tarefa central na reconstrução de si mesmo.

COMO LIDAR BEM COM MINHA AFETIVIDADE?

Estabelecer e manter relações afetivas é atribuição psíquica ligada ao que Vênus simboliza;
então, todo comprometimento de Vênus em carta astrológica natal de uma pessoa nos
indicará dificuldades em viver ou manifestar a própria afetividade.

Imagine uma criança cuja mãe manifestava uma acentuada labilidade na manutenção de
laços afetivos: alternava amigos com a mesma facilidade com que trocava de roupa,
oscilava excessivamente nas suas formas de manifestar afeto para familiares ou mesmo
para a criança, eventualmente apresentava diferentes e seguidos parceiros afetivos com o
correr do tempo e assim por diante; provavelmente esta criança cresceu com a mensagem
inconscientemente gravada de que o "normal" é ser oscilante demais em seus próprios
laços afetivos ou que o ideal é viver seus afetos como num carrossel de cavalinhos: sobe
um, desce outro, desce um, sobre outro, numa interminável, repetitiva e desgastante
melodia...

Este é o quadro mais possível, se na carta astrológica natal de uma mulher vemos uma
Quadratura entre Júpiter e Vênus, ou entre Vênus e Urano, mas se outra carta feminina
nos mostrar o Sol conjunto a Vênus, ou mesmo Vênus em Libra e em algum aspecto com o
Sol, o quadro é outro e totalmente distinto: esta segunda mulher provavelmente sente uma
necessidade tão intensa de ser satisfeita afetivamente, dada a excessiva prática de sedução
paterna recebida na primeira infância (por ser a primeira filha, por terminar sendo o
instrumento do pai de produzir ciúmes na mãe ou por haver uma genuína atração afetiva
ou mesmo sensual entre pai e filha, entre muitas situações possíveis), que por mais que
receba afeto nunca se encontra satisfeita.

Vênus em oposição ou Quadratura com Marte já pode nos indicar uma pessoa com forte
tendência de buscar parceiros sexuais que não atendam às suas necessidades afetivas, pelo
fato de o lar de primeira infância estar sempre absorvido em pesados sentimentos de
insatisfação afetiva; como conseqüência, a pessoa buscará freqüentemente quem não a
satisfaça, como pretexto para reviver o que muito cedo sofreu.

Já um homem cuja Vênus receba um forte aspecto de Netuno idealiza a tal ponto a
imagem de mulher, sempre buscando afetos de "dimensões cósmicas" (pelo "atributo
netunino emprestado" à sua imagem inconsciente feminina), que mulher alguma estará à
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altura do que ele julga necessitar! Em geral, tal quadro decorre da imagem excessivamente
idealizada de mulher que a mãe desta criança impingia no lar de primeira infância (muitas
vezes até como forma de escamotear aspectos de si mesma tidas por ela como
inaceitáveis), nem que para isto ela se enganasse (ou mentisse) com freqüência;
futuramente, este homem tenderia a buscar mulheres com claros traços de "atriz engajada
numa personagem sedutora" (quer mentirosas, quer somente enganadas sobre si próprias,
mas sempre muito mais voltadas a desempenhar papéis do que ser si mesmas), as quais
serão responsabilizadas por ele pela constante insatisfação afetiva sentida.

E se a Vênus da pessoa sofre uma Quadratura ou oposição de Saturno na carta astrológica


natal, o que podemos inferir de sua primeira infância é um quadro doméstico no qual
repetidas vezes a criança foi afastada de seus objetos de afeto (a boneca predileta que ficou
velha e foi jogada fora, um cachorrinho que sujava o carpete e por isto foi mandado
embora, o travesseiro que a acompanhava desde muito pequena e foi dado ao filho da
empregada ou até mesmo os amigos que mudavam ou a deixavam e nunca mais
apareciam); ao mesmo tempo, vemos um lar marcado por profundos sentimentos de
desconfiança afetiva, quer por ciúmes excessivos de lado a lado, quer por efetivos
episódios de traição de confiança afetiva.

Como resultado, desenvolveu-se um adulto com intenso sentimento de que "gostar é o


primeiro passo para perder", razão pela qual inclina-se a não se envolver afetivamente de
forma genuína (tentando poupar-se, assim, da dor de uma perda, que fará ecoar em seu
inconsciente as marcas das inúmeras perdas havidas) ou, perigosamente, a se envolver
afetivamente apenas com situações, objetos ou pessoas que "está na cara, serão perdidas".

Este tipo de carta astrológica natal costuma indicar com freqüência o indivíduo que exige
excessivas garantias afetivas mas não oferece nenhuma, ao mesmo tempo em que sofre de
profunda carência: qualquer afeto recebido nunca é vivido como afeto verdadeiro, dada a
massa de suspeitas, e por isso nunca sente estar vivendo uma relação genuína ou
duradoura - mesmo quando isto é possível! Obviamente, ele atrai ou é atraído por pessoas
que mantenham tal estado de coisas, junto às quais o pesado sentimento de dúvida, a
dolorida insatisfação afetiva e a quase total impossibilidade de confiança apenas são
reforçados.

ÀS VEZES ME DÁ UMA "SENSAÇÃO DE BURRICE"...

Já esta questão - a qual, por não "doer emocionalmente", muitas vezes passa relativamente
desapercebida - vem de outro tipo de cenário doméstico.

(Não nos esqueçamos, porém, de que todos estes problemas podem coexistir
simultaneamente em uma mesma pessoa, não sendo mutuamente exclusivos entre si nem
próprios de situações vividas apenas por homens ou por mulheres ou só apenas por
indivíduos de um determinado estrato social.)

Você deve se lembrar que vimos anteriormente o conjunto de atividades intelectivas, ou


aquilo que Jung chamava de "instinto de reflexão", como uma característica típica da
espécie humana; este instinto está na base do surgimento do sistema intelectual-cognitivo
de qualquer pessoa, responsável por sua possibilidade de conceber alternativas

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mentalmente, atribuir-lhes valores lógicos distintos e trabalhar para viabilizá-las (ou evitá-
las).

Sem a capacidade de pensamento, a qual em última instância é papel deste sistema, nada
do que o ser humano já realizou teria sido possível; provavelmente nem teria havido
vivência grupal com o grau de sofisticação que o ser humano apresenta, quando
comparado às outras espécies, pois a troca de informações foi fundamental para isto se
dar.

Pois bem; quando durante a primeira infância o meio ambiente se abate sobre a
possibilidade de a criança utilizar adequada e espontaneamente o seu sistema intelectual-
cognitivo, responsável por apreender racionalmente o que ocorre à sua volta, cogitar,
expor verbalmente ao meio as dúvidas e conclusões que tenha e, das respostas obtidas,
tornar a pensar sobre o mundo e as questões que este mundo provoca, o adulto que
emerge deste cenário costuma carregar pesadas dúvidas sobre a própria competência
intelectual, manifestadas futuramente em inexplicáveis lacunas de conhecimentos (os
"brancos de memória"), freqüentes dúvidas sobre a qualidade ou validade de qualquer
produto mental seu ou mesmo comportamentos muito oscilantes entre fases de estudo
compulsivo (tidas como "típicas de um c.d.f.") e momentos de grande desinteresse por
qualquer aprendizado.

Para exemplificar, imagine uma criança crescendo numa casa onde vê pouca, ou nenhuma,
possibilidade de se exercitar intelectualmente; isto não depende do nível de escolaridade
dos adultos da casa, mas, sim, do grau de receptividade que eles manifestem aos
pensamentos da criança. Ela pergunta, conclui, levanta questões e desafia as opiniões dos
adultos: se for bem aceita, dentro dos limites de seu ainda pequeno conjunto de
referenciais de mundo, se sente reforçada a continuar perguntando e afirmando, buscando
alargar estes referenciais; sendo mal aceita, contudo, aos poucos vai abandonando as
atitudes de expor o próprio pensamento, visando evitar as humilhações e o sentimento de
não ter importância que são produzidos por reações como "criança só pensa bobagem!",
"você nunca sabe o que diz!", "criança não conversa com gente grande!" e até mesmo "não
fique falando sem parar, isto incomoda a gente".

Em geral, a carta astrológica natal de uma pessoa que com freqüência é vítima de pesados
"sentimentos de burrice" (nem que habilmente mascarados em excessiva loquacidade)
indica alguma ligação entre Saturno e Mercúrio, dependendo do aspecto assinalado o grau
de dificuldade futura em se sentir (ou mesmo ser) inteligente. É que toda forma de livre-
pensar da criança foi seguida de algum tipo de punição ou desconsideração, o que a fez
fugir constantemente deste tipo de experiência e mais tarde pagar o preço da dúvida sobre
as próprias capacidades intelectivas - sempre assimiladoras do meio ambiente e
expositoras de si mesma ao meio.

Futuramente, sem conhecer as razões de tais comportamentos, ela se sente


inexoravelmente atraída por pessoas cultas e inteligentes (e às vezes nem o são, tanto
assim...), embora em meio a estas mesmas pessoas sinta uma imensa timidez em expor o
que pensa ou levantar questões; afirma-se pouco à vontade para lidar com questões mais
abstratas, dizendo preferir os aspectos práticos da existência, embora inveje
profundamente quem consegue se desenvolver intelectualmente; torna-se tagarela "por
compensação", visando esconder dos outros o profundo sentimento de "burrice" que a
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abate, ao mesmo tempo em que desenvolve um comportamento freqüentemente chamado
de "duas caras", dada a dificuldade em manter qualquer opinião quando é desafiada a
fazê-lo.

Além disto, como decorrência destas experiências de primeira infância, muito


provavelmente esta pessoa - e isto vale para homens ou mulheres, já que ser inteligente
não é atributo de um sexo específico - se comporta com os outros como se não fosse nunca
entendida, mesmo quando isto não ocorre, sendo ríspida ou dogmática em demasia em
suas opiniões, "para impedir que rejeitem a priori o que ela tem a dizer"... Graças a isto
reproduz situações que confirmam suas suposições inconscientes moldadas quando
criança, dificultando a comunicação com os outros mas os acusando pesadamente por isto.

Desbloqueando os sentimentos doloridos que estiveram por muito tempo ligados ao ato
ou ao fato de se expressar, esta pessoa poderá resgatar uma maior tranqüilidade em se
comunicar com os outros e em expor idéias, ampliando sua possibilidade de convívio e de
crescimento pessoal.

SOU OU NÃO UMA PESSOA CRIATIVA?

Nossa cultura há muito tempo tenta nos convencer de que criatividade é somente a
manifestação de "absoluta originalidade", em geral mais diretamente ligada a alguma área
artística específica (pintura, escultura, música, dança, literatura, cinema, fotografia, teatro
etc.), com isto garantindo que ninguém tente criar a própria vida!

O dominicano e pensador italiano Giordano Bruno, por exemplo, foi queimado pela Santa
Inquisição em fevereiro de 1600 por denominar o ser humano de homus homini faber, isto é,
o ser que se faz a si mesmo: com isto, ele contrariava o pensamento da Igreja Católica no
sentido de que o homem havia sido feito por Deus e, por isto, não poderia nunca
transformar a si mesmo.

ANTES DE PROSSEGUIR A LEITURA, PENSE UM POUCO NO QUE VOCÊ


ACABOU DE LER...
VOCÊ CONSEGUE IMAGINAR QUANTO DE CRIATIVIDADE HUMANA JÁ SE
DESPERDIÇOU EM NOME DE ATITUDES COMO ESTA???

É que em todas as épocas, e através das mais variadas formas, tentou-se limitar a
criatividade humana por uma única e simples razão: o indivíduo criativo termina sempre
por expor sua própria maneira de ser e agir no mundo, afastando-se em alguma medida
do que o grupo acha adequado e conveniente; assim, para manter estável e previsível
qualquer estado de coisas, como forma de melhor controlá-lo, as manifestações de
criatividade pessoal sempre tiveram de ser impedidas ou, no mínimo, vigiadas.

Acontece que a criança, assim como a essência humana, não tem qualquer compromisso
natural com o estabelecido ou sistematizado pelo outro ou pelo coletivo; desta forma, ela
busca (re)construir o mundo à sua própria maneira e vontade, segundo suas necessidades
e inclinações individuais, sempre que possa. Para isto, tenta redispor os elementos do
mundo, rearranjá-los em nova forma, descobrir novas funções para os objetos já existentes
e até mesmo revirar-lhes as entranhas, à busca de compreensão do porquê das coisas.

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Ela desmonta brinquedos, investiga processos, fabrica utensílios, renomeia objetos e
monta novos cenários com coisas velhas do dia-a-dia, participando ativamente de alguma
(re)construção do mundo; além disto, quando é naturalmente dotada de alguma
capacidade artística específica, ela toca, pinta, desenha, esculpe, escreve ou compõe.

Se bem aceita, desenvolve um "saudável espírito inventivo", motor de toda descoberta


original e iniciativa vital à possibilidade de criar alternativas; se mal aceita ou punida por
isto, ela recua em seu impulso criador e inventivo e se transforma em "rebelde" ou
"sonhadora", única forma socialmente definida para manter-se inovando.

Só que criar sempre implica estar à busca do novo, sempre algo ainda não manifesto e
além do já convencionado.

Uma tênue promessa vislumbrada no futuro mas desejada agora mesmo.

Um "futurível", ou "possível no futuro", mas sempre um futuro que se presentifica na


criação da própria coisa, fato ou ato.

Criar, em suma, é refazer a vida, a si mesmo e ao outro, a partir da percepção (ou do


desejo) de algo que pode ser diferente do que aqui - ou ali - está.

Para esta possibilidade servem os impulsos transpessoais da psique humana, sempre


voltados a um momento além do presente, a um lugar distante do aqui ou a uma forma
distinta da existente, como vimos em Urano, Netuno e Plutão. Assim, quando uma pessoa
apresenta em sua carta astrológica natal aspectos destes planetas com seus planetas
pessoais, saiba sempre que algum projeto verdadeiramente criativo está em curso dentro
dela (mesmo que ela não saiba ou tenha sido reprimida em suas primeiras tentativas de
"fazer diferente").

E o que sua carta mostra, sobre as condições de primeira infância?

Sua criatividade foi bem aceita? Ou ela era obrigada a manietar a busca do novo para
evitar as punições que se sucederiam a qualquer inovação? Papai manejava bem seu
próprio impulso criador, ou de tanto inventar mais complicava do que equilibrava a vida
familiar e com isto ensinava à criança que não se deve criar de forma produtiva? Mamãe
aceitava que os outros, ou ela mesma, fossem criativos, ou vivia resmungando contra
qualquer "novidade"?

A carta astrológica natal de uma pessoa nos mostra um Sextil entre Marte e Netuno? Ou
um Trígono entre Vênus e Urano?

Ou ainda Netuno em Trígono com Vênus e ao mesmo tempo com o Sol? Estes são apenas
alguns exemplos, mas certamente esta pessoa é genuinamente criativa e necessita de apoio
até mesmo em suas reais vocações artísticas (as Casas Astrológicas e os signos envolvidos
indicarão a especialidade da manifestação criativa artística, da fotografia à redação, da
pintura à poesia, do raciocínio inventivo à vocação para dança).

Mas se sua carta também indica um Saturno em Quadratura com Sol ou uma Lua em
oposição com Marte, saiba que muito provavelmente a criatividade da criança foi

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pessimamente aceita: ela foi acusada de devaneadora ou de "rebelde", inclinando-se na
adolescência ou fase adulta à bebida ou ao consumo de drogas, tentando através do
"porrinho" suavizar o contato com uma realidade sentida como extremamente
desagradável desde cedo.

Outra carta astrológica natal indica um Sextil entre Vênus e Mercúrio ou um Trígono entre
este e Plutão? Esta pessoa certamente tem reais vocações para redação de textos em geral
e, se ainda receber um aspecto de Netuno, talvez para poesia, romance e ficção (torno a
lembrar que as Casas Astrológicas e o resto da carta terminarão de compor o quadro geral,
como sempre).

Netuno está em Conjunção com a Lua em Casa V? Seguramente esta é uma pessoa com
raros dotes dramatúrgicos, destas de marcar uma geração de produção teatral!

O Sol e o Mercúrio de um homem estão em Sextil com seu Urano, ao mesmo tempo em
que este planeta faz Trígono com Saturno? Provavelmente ele tem raros dotes de
genialidade administrativa ou mesmo para engenharia mecânica e de projetos,
dependendo dos outros dados que a Carta natal ofereça à análise clínica.

E pode se tratar de um Sextil ou Trígono entre o Marte e o Mercúrio de uma mulher: com
bastante certeza ela consegue por rapidamente em prática o que intelectualmente concebe,
de forma produtiva.

Mas se Mercúrio e Urano estão em Conjunção, Quadratura ou oposição na carta


astrológica natal de uma pessoa, o que poderia ter sido uma mente genialmente intuitiva
terminou por ser excessivamente dispersa e improdutiva, dado o padrão acentuado de
verbalização excessivamente difusa que prevalecia na casa de primeira infância, onde
todos falavam de tudo ao mesmo tempo; esta pessoa terá de aprender a se concentrar
(para isto existem exercícios específicos), desenvolvendo a habilidade de manter-se atenta,
antes de utilizar produtiva e constantemente sua inteligência superdotada e muito rápida.

Assim como, se Netuno está em Quadratura ou oposição com Mercúrio, o padrão


intelectual global do indivíduo foi sempre demasiadamente distante da realidade objetiva
do dia-a-dia; enquanto ela não aprender a canalizar a estupenda criatividade verbal e
imagética que possui para atividades realmente produtivas, este "desligamento da
realidade" permanecerá.

São estruturas psíquicas potenciais como estas, simbolizadas na carta astrológica natal do
indivíduo, as mesmas que muitas vezes são abafadas na casa de primeira infância em
nome de uma rigidez ou de um ideal profissional almejado pela família; como resultado,
no meio da vida a pessoa dá uma guinada profissional e ninguém entende nada, ou a
pessoa passa a vida inteira infeliz em sua "escolha" de carreira.

Se ser criativo é construir o próprio conjunto de alternativas, a pergunta que sempre fica
no Ar quando se discute esta questão é: você tentou?

Gostaria de tentar?

63
Ou você sempre foi cúmplice da castração praticada contra sua própria criatividade, em
nome da conformidade, do bem-estar geral e da (falsa) aceitação pelos outros?

MINHA SENSUALIDADE ME SATISFAZ?

Sensualidade deriva do latim sensuale, "relativo aos sentidos", e em termos de vivência


psíquica diz respeito às experiências de prazer e bem-estar obtidas através dos sentidos:
olfato, audição, tato, visão, paladar e cinestesia. O termo, assim, não tem a ver
obrigatoriamente com sexualidade ou genitalidade, como muita gente pensa, a despeito da
sensualidade ter um papel bastante ativo no exercício da sexualidade.

São vivências sensuais o prazer produzido por um aroma especial, o sentimento induzido
pelo som de uma certa melodia, a sensação produzida por um leve roçar de mãos no
dorso, o deleite provocado pela visão de uma cena de rara beleza, a satisfação sentida com
o sabor de um bom quitute ou até mesmo o bem-estar produzido por um vagaroso
espreguiçamento; mas como tais experiências não raras vezes invadem o terreno da
sexualidade, não por outra razão os amantes de todas as épocas sempre revestiram suas
situações amorosas com os mais diversos odores, sabores, cores, músicas e experiências
táteis ou de movimentos.

Na astrologia, o símbolo central de sensualidade é o planeta Vênus e, assim, a situação


geral deste planeta na carta astrológica natal (colocação por signo e Casa Astrológica, e
aspectos que faz) será examinada pelo astrólogo clínico para entender como a pessoa lida
(e foi ensinada a lidar) com a própria sensualidade.

Com isso voltamos ao princípio psicológico geral: além da forma natural de um certo
psiquismo lidar com cada uma de suas potencialidades, o meio ambiente sempre influi na
forma geral em que esta potencialidade se manifestará, através de condicionamentos.
Assim, para exemplificar, uma pessoa nascida com Vênus em Touro (signo de Terra)
possui como dado natural uma vigorosa sensualidade corporal, a qual se manifesta desde
muito cedo; já uma outra, nascida com Vênus em Gêmeos (signo de Ar), terá sua
sensualidade muito mais voltada para experiências estéticas de contemplação.

Entretanto, se o indivíduo teve sua sensualidade pesadamente restringida pelo meio


ambiente, como um Saturno em Quadratura com Vênus nos indicaria - ao apontar um lar
original no qual as manifestações físicas de carinho e prazer, como dar colo, abraçar, ficar
de mãos dadas, praticar afagos mútuos ou fazer cafuné eram proibidas, vigiadas ou
"deixadas para o momento certo" -, qualquer situação futura de sensualidade trará à tona a
massa interna de proibições inconscientes e gerará um grande mal-estar ou desconforto,
manifestando-se em atitudes refratárias e de desconfiança excessiva, também tidas como
frígidas (anorgasmia é conseqüência encontradiça em mulheres com este perfil).

Mas poderia ser o pai a lidar mal com a sensualidade, fosse a sua própria, fosse a de
mulheres sobre as quais tinha controle: um Saturno em oposição a Vênus na carta
astrológica natal de uma pessoa não poucas vezes nos indica um pai sufocando
pesadamente todas as manifestações de sensualidade em casa, através de censuras e
restrições excessivas ao uso de saias curtas, decotes, cosméticos, jóias ou adereços,
inclusive de posturas corporais e expressões gestuais ou verbais. Se esta pessoa é uma
mulher, provavelmente no futuro ela terá acentuada dificuldade em lidar bem com a
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própria sensualidade, reprimindo-a ou a exagerando (como forma inconsciente de garantir
aos outros e a si mesma não ter problemas nesta esfera), e atraindo para seu convívio
homens que não lidam bem com a própria sensualidade e reproduzem as atitudes
sufocantes de seu primeiro modelo masculino; se esta pessoa é um homem, todavia,
deverá seguir de perto os passos do próprio pai, aproximando-se de mulheres fortemente
sensuais para poder abafá-las com pesadas proibições, em nome de ciúmes ou
desconfiança exagerada.

Já um Marte em Quadratura ou oposição com Vênus, em outra carta, nos sugere que esta
pessoa "coleciona" parceiros que a insatisfazem sensual ou sexualmente: se o prazer sexual
existe, não há prazer sensual e vice-versa. É que ambas as necessidades internamente se
opõem, em função de marcas emocionais da primeira infância (um dos pais, ou ambos, a
Carta natal definirá sempre, não gostava da própria sexualidade ou da vida sexual que
tinha), e sua única "opção", enquanto não rever o próprio inconsciente, é terminar
encontrando parceiros com este perfil.

Nos casos específicos de mulheres, o eventual desconforto inconsciente com a própria


sensualidade poderá inclusive ter drásticas conseqüências: uma carta astrológica natal
feminina na qual se veja a Lua em Quadratura com Vênus indica um psiquismo
inconsciente no qual habitam profundos ressentimentos contra o fato de ser mulher e, por
isto, atua sobre o organismo, expondo-o excessivamente a problemas na área ginecológica
e no sistema reprodutivo; cólicas menstruais demasiadamente doloridas, oscilação
freqüente na periodicidade da menstruação, severos desequilíbrios hormonais no ciclo
hipofisário-gonádico, grande vulnerabilidade a invasões bacterianas e fúngicas na vagina
ou colo do útero, facilidade de desenvolver cistos e tumores na região (especialmente se
houver um Plutão envolvido neste aspecto) e propensão inconsciente para histerectomias
e remoções ovarianas, especialmente na menopausa.

Já um homem com este aspecto em carta astrológica natal tenderá a se envolver


marcadamente com mulheres com tais problemas orgânicos - de clara base emocional,
aliás, como muitas disfunções.

Finalmente, entre infinitos casos, dada a possibilidade de arranjos múltiplos do psiquismo


individual, pode se tratar apenas de uma "voracidade sensual" que não encontra satisfação
nas práticas mais comuns de troca de carinho e afago. Uma pessoa que tenha em sua carta
astrológica natal Netuno em Conjunção, Quadratura ou oposição com sua Vênus, por
exemplo, certamente exige do meio ambiente uma satisfação sensual excessiva, muitas
vezes portando o perfil da "sedutora compulsiva" ou do "sedutor sempre insatisfeito". Este
aspecto, quando ocorre, costuma indicar ao astrólogo clínico a existência de um imenso e
genuíno potencial estético e de fantasias conjugado com as necessidades sensuais da
pessoa, ao mesmo tempo em que um meio ambiente infantil no qual muita culpa foi
agregada ao exercício de uma sensualidade mais liberada (como as fantasias da pessoa
sempre a fizeram desejar); enquanto este indivíduo não lidar com a culpa que sente em
liberar suas fantasias, buscando parceiros mais "ousados" ou com sensualidade mais
exuberante, ao mesmo tempo em que canalize para funções estético-criativas artísticas o
"potencial netunino" que possui, o quadro de constante insatisfação sensual se manterá.

POR QUE O PRAZER SEXUAL ME DÁ CULPA?

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Já o comprometimento do prazer sexual - por impossibilidade de vivê-lo ou somente culpa
que o atenua - pode ou não derivar de algum comprometimento da sensualidade; verdade
que em muitos casos basta uma Vênus mal-colocada na carta astrológica natal, como
vimos acima, para apontar severas dificuldades da pessoa em viver a própria sexualidade,
dada a proibição inconsciente interna contra os aspectos sensuais vitais a um mais pleno
prazer sexual.

Contudo, em muitos casos pode se tratar de fenômeno distinto, mais diretamente ligado a
outros aspectos da história do indivíduo.

Você se recorda quando discutimos a existência da pulsão sexo-agressiva, frisando que


uma de suas especializações, a assertiva, leva a pessoa a manifestar a sua própria vontade
e que a outra, a sexual, a permite manifestar seu impulso de conquista do objeto de desejo
(no caso, um parceiro sexual desejado ou o próprio prazer)?

Pois é: uma criança que desde sempre é pesadamente impedida de manifestar sua
assertividade, termina apresentando fortes bloqueios contra sua sexualidade mais ativa;
então, basta o meio ambiente ter induzido intensos sentimentos de culpa ou inadequação
no inconsciente da criança em relação a manifestações da vontade pessoal, para
futuramente ela se ver com freqüência privada de potência sexual (se homem) ou prazer
sexual (se mulher).

Imagine uma Carta natal astrológica na qual haja uma Quadratura entre Marte e Lua; o
meio ambiente infantil desta pessoa quase com certeza impunha uma severa separação
entre bem-estar emocional e sexualidade (tais os conflitos entre sexualidade e
amorosidade vividos por um dos pais), levando a pessoa a futuramente sentir-se infeliz
quando vive sua própria sexualidade ou a não conseguir ter prazer com quem a acolhe
amorosamente.

Se esta dinâmica está instalada no psiquismo inconsciente de uma mulher, provavelmente


desde sua adolescência ela só encontra parceiros que eram gentis, amorosos e acolhedores,
mas não satisfaziam suas genuínas necessidades sexuais; ou, ao contrário, terminava só se
envolvendo com "garanhões", verdadeiros atletas do sexo, mas incapazes (ou
incompetentes) em oferecer-lhe apoio emocional e carinho genuínos; como resultado,
como poder viver plenamente o prazer que sua sexualidade poderia oferecer-lhe, dada a
infelicidade emocional que sempre acompanhava o sexo? Já se se trata de um homem com
este dado, seguramente ele vem atraindo para seu convívio mulheres com dinâmica
análoga à sua imago feminina, como forma inconsciente de reviver o já presenciado na
casa de primeira infância.

Outras vezes a carta astrológica natal indica um homem tão apegado afetivamente à mãe
que não se permite viver a própria sexualidade com alguma mulher (caso clássico e já até
caricato de um forte complexo de Édipo, muitas vezes explicitado em Carta natal
masculina por Vênus em Conjunção com a Lua ou com Marte); e em outros casos a
dificuldade pode derivar diretamente do clima excessivamente culposo em relação à
sexualidade, o qual vigorava na infância e a Carta natal desvendará.

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Neste sentido, suponha uma casa na qual o pai manifestava uma religiosidade extrema,
mantendo uma estrutura moral excessivamente estreita, daquelas que "vê pecado até em
bundinha de bebê" (provável fruto da grande dificuldade em lidar de forma adequada
com a própria sexualidade, a qual terminava também por "extravasar" através de um
comportamento sedutor e licencioso fora das vistas públicas). Provavelmente uma filha
não podia andar de roupas íntimas em casa, todas as namoradas de um filho seriam
taxadas de prostitutas e em cada esquina do mundo o pecado estaria à espera: como suas
crianças poderiam futuramente, quando adultas, viver a própria sexualidade sem culpa?

Este quadro é bastante possível, por exemplo, numa carta astrológica natal com Sol e
Vênus conjuntos, ambos em Quadratura com Netuno; ou com Marte e Netuno conjuntos,
ambos em oposição ao Sol.

Dados que o astrólogo clínico verá e, dentro do conjunto global de símbolos que a carta
astrológica natal oferece, apresentará ao seu cliente e trabalhará com ele (ou ela),
enfatizando a necessidade de um bom processo de reavaliação interna para se livrar da
culpa e readquirir a possibilidade de viver mais plenamente o próprio prazer sexual.

ESPIRITUALIDADE: REALIDADE OU ILUSÃO?

Antes de entrarmos neste delicado - e por vezes espinhoso - assunto que é o da


espiritualidade, deixe-me explicar o que quero dizer com tal termo.

E, para isto, começarei por dizer o que não é espiritualidade, no sentido em que eu a
entendo aqui.

Não estou mencionando a religiosidade beata barata, que se basta em rituais litúrgicos
sem nenhum significado interior; não se trata de nenhum conjunto rígido de normas
morais ou de comportamento e convivência, como se algumas fossem mais corretas ou
sagradas do que outras; não significa despersonalização fanatizada, em nome de seja lá o
que for; não decorre de algum desequilíbrio emocional, como se crê alhures ("o prazer que
Regina encontra na igreja é fruto de sua neurose" ou "o que leva Roberto a meditar é a
vontade de fugir") e menos ainda diz respeito a alguma reação de revolta contra algum
estado de coisas, "que não anda muito bem...".

Ao contrário, falo da possibilidade humana de superar os limites do ego e de sua


percepção sempre parcial da realidade, permitindo-se mergulhar na vivência de outro tipo
de pensamentos, sensações e sentimentos e superar a insegurança que se dá pela
suposição de sermos isolados, cada um de nós, em sua "pequena concha de objetos" -
utilizando expressão do estudioso da comunicação Umberto Eco, para se referir ao
pequeno mundo que cada um constrói em torno de si e para si, a partir apenas do que
percebe e valoriza.

De acordo com William James, que vimos no início deste livro, uma "coisa" na consciência
é sempre um produto do "reparar nisto e ignorar aquilo"; em outras palavras, nossa
atenção, desde o início de nossos dias de vida terrestre, destaca partes do todo em que
vivemos e lhes atribui uma existência tida como separada, descontínua, com um certo
valor específico.

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Porque, como ensina o psicólogo norte-americano Ken Wilber, "a única maneira que tem o
pensamento de lidar com estes pedacinhos de atenção restrita é arrumá-los numa ordem
linear. Claro está que se o mundo for cortado num número vasto de fatiazinhas, essas
fatias não poderão ser engolidas ao mesmo tempo (...) Como toda gente sabe, não
podemos sequer pensar em duas ou três 'coisas' ao mesmo tempo sem sermos jogados
numa confusão paralisante; e, assim, com a finalidade de introduzir alguma medida de
coerência e ordem, o processo do pensamento, com a ajuda da memória, estende esses
pedaços separados de atenção ao longo de uma linha que ele cria com esse propósito,
quase da mesma maneira com que estas palavras estão arrumadas em 'linhas
tipográficas'".

"Em outras palavras - continua ele -, o tempo nada mais é do que a maneira sucessiva de
que se vale o pensamento para encarar o mundo. Mas pelo fato de vermos habitualmente
a natureza deste modo linear, sucessivo e temporal, logo chegamos à manifesta 'conclusão'
de que a natureza segue numa linha, do passado para o futuro, da causa para o efeito, do
antes para o depois, do ontem para amanhã - ignorando completamente o fato que a
suposta linearidade da natureza é, toda ela, um produto da maneira com que a
encaramos".

Todas, absolutamente todas, as idéias religiosas de todas as épocas e em todas as regiões


do mundo afirmaram coisa parecida, quer falassem explicitamente ou não de deus,
exigindo um tipo de compreensão que desafia o ego e indicando que a Realidade - não a
"que veremos um dia, após a morte", mas a da qual fazemos parte neste exato momento -
está além de todas as nossas definições pelo simples fato de conter em si mesma o
passado, o presente e o futuro, o ontem, o hoje e o amanhã, "todas as coisas ao mesmo
tempo" e "coisa nenhuma em si".

Diz o pensamento budista, por exemplo, que no Dharmadhatu, ou Reino da Realidade,


"cada coisa inclui simultaneamente todas as coisas em perfeita completação, sem a menor
deficiência ou omissão, em todos os momentos. Ver um objeto, portanto, é ver todos os
objetos, e vice-versa"; em sentido análogo, o teólogo italiano São Tomás de Aquino (1225-
1274) lembrou que "Deus não se move de maneira alguma e, portanto, não pode ser
medido pelo tempo; tampouco existe 'antes ou depois' nem já não existe depois de haver
existido, nem pode ser encontrado n'Ele nenhuma sucessão... mas tem a totalidade da sua
existência simultaneamente; e essa é a natureza da realidade".

Porque todas as "coisas" e todos os processos da vida, na realidade e para o inconsciente


mais profundo, ainda não pessoalizado, ocorrem sempre no agora absoluto.

Dentre vários cientistas contemporâneos, ensina o físico Erwin Schroedinger que "o
presente é a única coisa que não tem fim" e que, "por mais inconcebível que pareça à razão
comum, nós - e todos os outros seres conscientes como tais - somos tudo em tudo. Daí que
a nossa vida, a vida que estamos vivendo, não seja apenas um fragmento da existência
inteira mas, em certo sentido, o todo"; e o dominicano Meister Eckhart escreveu no Século
XIII que "falar sobre o mundo como tendo sido feito por Deus amanhã ou ontem seria
disparatar. Deus faz o mundo e faz todas as coisas neste presente agora".

Além disto, ao nível da realidade última, o que chamamos de realidade não tem forma
definida, não possui identidade própria e não se contrapõe a nada porque não há "alguma
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verdade" a contrapor: é, como Jung descreve o self (o arquétipo totalizador da psique e
portador da totalidade desta mesma psique), um "complexio oppositorum", isto é, um
complexo formado de oposições e paradoxos que não se excluem nem se completam,
embora convivam e vivam juntos, já que são, cada um e todos, a mesma e única realidade
multimanifestada.

Após o ego se constituir é que "fatias" desta realidade absoluta se tornam entidades
supostamente individualizadas, graças aos "pedaços de atenção" a que William e Wilber
aludiam acima; por isto, sempre se disse que a única forma de efetivamente conhecer o
"reino espiritual" é superar a impressão da existência de coisas particularizadas.

Santo Agostinho (354-430) declarou que "se qualquer um, vendo Deus, concebe alguma
coisa em sua mente, isso não é Deus, mas um dos efeitos de Deus"; neste sentido, também
temos o Êxodo, no Velho Testamento: "Não farás para ti imagem de escultura, nem
semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas
debaixo da terra"; Jesus Cristo, no Evangelho de São Tomé, afirmou: "Eu sou a Luz que
está acima de todos eles, Eu sou o Todo, o Todo veio de Mim e o Todo chegou a Mim.
Racha um pedaço de pau, Eu estou ali; ergue a pedra e ali Me encontrarás". O Katha
Upanishad, texto sagrado Vedanta hindu, diz que "o Espírito, conquanto Uno, assume
novas formas no que quer que viva. Ele está dentro de tudo e também está fora... Há um
Soberano, o Espírito que está em todas as coisas, que transmuda Sua forma em muitas.
Somente os sábios que O vêem em suas almas conhecem esta alegria".

Uma alegria - ou regozijo, como a chama a teologia católica - que permite ao indivíduo
ultrapassar os limites estreitos de sua personalidade individual, sem abandoná-la
entretanto, fundindo-se no todo do qual sempre fez parte; esta personalidade individual é
fundamental à manifestação do todo, e só por isto existe, mas deve e pode ser
transcendida, para vivências numa dimensão psíquica em que sua existência se relativiza.

Na esteira desta hipótese, o filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.) afirmava que "se o
antes e o depois estão ambos no mesmo Agora, então o que aconteceu há dez mil anos
seria simultâneo com o que está acontecendo hoje, e nada seria antes ou depois de
qualquer outra coisa... Nesse caso, tudo estaria em qualquer coisa, e o universo num grão
de painço, só porque o grão de painço e o universo existem ambos no mesmo tempo".

Noção também retomada pela ciência atual: de acordo com o físico sir James Jeans, "os
fenômenos podem ser indivíduos carregando existências separadas no espaço e no tempo,
enquanto na realidade mais profunda, além do espaço e do tempo, podemos todos ser
membros de um corpo".

Então, lembrando que esta aparente separatividade pode ser transposta, o pensador hindu
Ramana Maharshi nos consola: "Na verdade não existe razão para seres desgraçado e
infeliz. Tu mesmo impuseste limitações à tua natureza de Ser infinito, e depois choras por
seres uma criatura finita. Eis por que digo: conhece que és realmente o Ser infinito, puro, o
Eu absoluto. És sempre esse Eu e nada senão esse Eu. Por conseguinte, nunca poderás
realmente ignorar o Eu, tua ignorância é mera ignorância formal".

Obviamente, tal possibilidade humana requer trabalho, e bastante trabalho, pois as


barreiras do ego contra sua superação são muito resistentes: ele gradativamente deve
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alargar suas fronteiras internas, a ponto de abrigar em si mesmo uma realidade que na
verdade o supera.

E para tanto, como nos recorda o Sutra Lankavatara, um dos textos principais do Budismo
Zen, "por meio da fala podemos entrar na verdade, mas as palavras não são a verdade. A
verdade é a compreensão de si mesmo experimentada interiormente pelos sábios através
de sua introvisão não-dual (separativa) e não pertence ao domínio das palavras, da
dualidade ou do intelecto" (parênteses meus).

Porque, de acordo com o teólogo cristão Paul Tillich, "no limiar dos mais fundos e últimos
abismos depara-se-nos a revelação de que a nossa experiência está contida nas
profundezas da própria vida Divina. Mas nesse ponto reina o silêncio, pois nenhuma
linguagem e nenhum conceito humano podem expressar tal experiência".

Entende-se, então, porque tal experiência só é possível através das funções transpessoais
da psique, simbolizadas em uma carta astrológica natal por Urano, Netuno e Plutão, as
únicas funções psíquicas que nos permitem ultrapassar os limites das convenções
pessoalizadas de pensamento, sentimento e poder do ego e nos permitem atuar dentro de
um nível de consciência que abarca a todos os outros num verdadeiro espectro de níveis
de realidade.

Um nível de consciência que, na visão otimistamente realista de Ken Wilber, "não é difícil
de descobrir nem está sepultado no fundo da psique. Ao contrário, está muito próximo,
muito perto e sempre-presente. Pois a Mente não é, de forma alguma, diferente de nós,
que seguramos este livro na mão. Num sentido muito especial, com efeito, Mente é o que,
neste momento, lê esta página".

"Vejamos agora - nos convida ele em seu livro O espectro da consciência - se conseguimos
desenredar o sentido especial de tudo isto".

Urano, como já vimos, é a "oitava superior" de Mercúrio e, assim, simboliza a capacidade


da psique humana de pensar a realidade além da forma comum e dos modos habituais do
ego: o "pensamento uraniano" é composto de flashes de intuição que resumem em
conceitos condensados conclusões às quais chegaríamos apenas lentamente com as
funções egóicas (se chegássemos!) e, portanto, está na base de traços de genialidade
atemporal. Esta função é a que permite ao indivíduo conceber realisticamente a
possibilidade de pertencer a todo o universo, presente, passado e futuro, independente de
sua manifestação neste aqui particularizado, ao mesmo tempo em que permite a vivência
de um acentuado sentimento de uniqueness, palavra em inglês que, mal traduzida,
significa "com a qualidade de ser único" dentro deste mesmo universo.

Por isto Urano, a Mente Impessoal, também indica sempre a busca de modelos totalmente
originais de realidade, seja ela qual for (conceitual, sexual, afetiva, relacional etc.).

Quando Urano faz aspectos com planetas pessoais, imprime fortemente estas qualidades
às funções egóicas por eles simbolizadas. Assim, se uma carta astrológica natal nos mostra
Mercúrio em Quadratura com Urano, a pessoa apresenta um padrão extremamente rápido
de pensamento, o que a leva a freqüentemente dispersar-se, mal concluir frases e
dificilmente terminar um raciocínio, "pois já está um pouco à frente do que pensava
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naquele momento"; como conseqüência, manifesta-se todo o tempo ansiosa e pode até
mesmo carregar pesadas dúvidas sobre sua instabilidade mental ou sobre sua
produtividade intelectual, já que raras vezes percebe o início, o meio e o fim dos próprios
processos de pensamento.

À medida que canalize adequadamente esta função, através de exercícios de plena atenção
(concentração prolongada do foco mental e visual em objetos pequenos, seja uma chama
de vela, um copo de água ou um ponto pintado na parede) e de atividades regulares que
requerem concentração (modelagem cerâmica, montagem de jogos ou miniaturas etc.), e se
disponha a checar a veracidade de cada insight que tenha, a pessoa gradativamente
suaviza este padrão de velocidade excessiva em tudo que pensa ou fala, podendo utilizar
de forma criativa o imenso poder intelectual (fortemente intuitivo) que possui.

Já um Urano em oposição com Marte, em outra carta astrológica natal, nos aponta uma
compulsiva necessidade de ser original em todas as manifestações de sexualidade e de
força de vontade, razão pela qual muito provavelmente esta pessoa carrega uma raiva
descomunal acumulada em seu inconsciente: raros são os lares que permitem à criança ser
efetivamente original, especialmente no nível de originalidade que Urano simboliza, e não
por esta razão tal tipo de aspecto Urano/Marte com freqüência se encontra na carta natal
de psicopatas (se confirmado por outros dados): impedido de manifestar seu desejo sexual
ou sua vontade pessoal, e compelido pela função transpessoal uraniana a ultrapassar as
barreiras do superego, o indivíduo desrespeita os mais mínimos limites da realidade do
outro, impondo-se do jeito que der!

Esta pessoa deverá gradativamente "se autorizar" a manifestar a própria raiva, até mesmo
em circuitos marciais, bem como a genialidade criativa conceitual que em muitos casos
possui (se outros dados da carta astrológica natal confirmarem tal possibilidade); ao
mesmo tempo, deverá se permitir superar os limites convencionais de moral e
comportamento associados à sexualidade, pois em todo envolvimento sexual estará
inclinado a manifestar-se criativamente: novas posições, horários e locais incomuns,
alternância ou simultaneidade de parceiros etc.

O segundo planeta transpessoal, Netuno, nos indica a possibilidade humana de viver


sentimentos de forma absolutamente impessoal, muitas vezes abrindo mão das próprias
necessidades pessoais ou atribuindo a algo ou alguém o poder "romântico" de gerar tais
sentimentos. É que Netuno representa o princípio de relacionamento ou valorização
afetiva impessoal ou transpessoal, derivado do sentimento indistinto de todas as coisas
terem um valor afetivo intrínseco pelo simples fato de pertencerem a um todo muito
maior do que o abrangido pelos valores pessoais humanos.

Quando Netuno, o Sentimento Impessoal, faz oposição com a Lua na carta astrológica
natal de um homem, por exemplo, ele tende a atribuir a qualquer mulher com quem se
envolva contornos excessivamente romantizados, o que o faz se afastar dos seus reais
atributos pessoais (bons ou maus); como conseqüência, a vida se torna um suceder de
ilusões e desilusões, tal como as estórias de trovadores nos relatam, iniciado com a mãe
(primeira figura feminina externa) e prosseguindo com namoradas, amigas, primas etc.
Este homem terá de trabalhar arduamente no sentido de abandonar tais fantasias, à custa
da perda de ilusões e do (para ele) dolorido contato com a realidade, para evitar que tal
possibilidade se transforme em causa necessária e suficiente de pesados ressentimentos
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por constantes "mentiras" na esfera amorosa: preso de sua suposição inconsciente, ele vê
em qualquer mulher o que deseja e, depois, a acusa de tê-lo enganado (o mesmo raciocínio
pode ser aplicado em Netuno/Sol, na carta astrológica de uma mulher).

Já Netuno em Conjunção com Mercúrio nos indica uma pessoa com rara capacidade de
percepção paranormal da realidade, fundindo-se afetivamente com os outros a ponto de
realmente "saber os seus pensamentos" - e muitas vezes se confundido por não identificar
quem está pensando o quê em dado momento, se ele ou o outro! Tais pessoas com
freqüência acreditam ouvir vozes e até mesmo (a Carta natal nos indicará esta
possibilidade) ver cenas, em manifestações ainda tidas em nossa cultura como "loucura"
ou indício de forte desequilíbrio emocional.

Já Netuno em Conjunção, Quadratura ou oposição com Marte costuma atribuir à pessoa a


característica de insaciabilidade sexual, (ninfomania nas mulheres, satirismo nos homens).
Tal insaciabilidade, fruto da busca inconsciente de vivências de afetividade transpessoal
em experiências sexuais, com freqüência leva o indivíduo à dificuldade em se estabilizar
afetivamente, caso o parceiro não apresente disponibilidade sexual equivalente.

(Quando, no Hinduísmo, a escola ioga tântrica preconiza o desenvolvimento da


sexualidade como uma fórmula espiritual de contato com a divindadedivindade no
momento do orgasmo - não concebida e nem aceita pela consciência coletiva ocidental,
fortemente impregnada da moral restritiva jesuítica -, é do "uso" desta função transpessoal
que se fala.)

De qualquer forma, Netuno "empresta" às funções simbolizadas pelos planetas pessoais


características (sempre coletivas) de forte imaginação criativa estética e grande
receptividade sentimental afetiva; desta forma, o indivíduo que apresenta aspectos deste
planeta sobre seus planetas pessoais deve ser instado a expandir sua possibilidade pessoal
de viver afetos em limites máximos, como única forma de deixar de esperar que outras
pessoas lhe ofereçam tal possibilidade. Tal expansão, entretanto, costuma escapar aos
limites mais estreitos de uma relação pessoal (salvo raríssimos casos) e deve então ser
buscada em outras atividades: artes plásticas, música, teatro, dança, romance, poesia,
práticas espirituais etc.

Finalmente, o último planeta transpessoal que se vê num Zodíaco: Plutão. Como vimos
atrás, a "oitava superior" de Marte nos indica o poder máximo da psique de criar e recriar
a si mesma, neste ato criando e recriando o mundo (ao menos, o mundo que constrói para
si), vindo dos estratos mais profundos do inconsciente e atuando de forma avassaladora
sobre todos os demais impulsos humanos.

Quando Plutão, símbolo deste Poder Impessoal, faz aspectos com os planetas pessoais de
um indivíduo, com facilidade esta pessoa pode se deixar convencer de que tal poder
pertence a ela; posto que o poder é uma das contingências da existência e toda vida é
profundamente marcada por momentos em que o poder pessoal deve se manifestar na
defesa do espaço, da vontade e do desejo do indivíduo, em tais momentos o poder
impessoal arquetípico simbolizado por Plutão pode contaminar esferas mais pessoalizadas
e atribuir-lhes uma dimensão não raras vezes dilatada ao absurdo.

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Imagine uma carta astrológica natal que apresente o Sol em aspecto com Plutão: em todos
os momentos da vida em que tal pessoa tiver de fazer valer sua própria identidade, este
poder poderá assumir o controle sobre o seu comportamento; evidentemente, o tipo de
aspecto existente e os demais dados da carta natal mostrarão ao astrólogo clínico o quanto
esta pessoa tem resistido a esta dinâmica e em que medida tal poder tem-lhe sido
efetivamente útil.

Porque quando se trata de aspectos mais desafiadores, podemos ter pela frente uma
pessoa com marcados traços paranóico-persecutórios (vendo uma ameaça em cada
esquina ou um conspirador em toda pessoa, dada a atribuição de contornos míticos às
pessoas com as quais se relaciona, como sempre acontece com uma função transpessoal
que contamina o ego), um acentuado perfil de megalomania (momentos de "delírio de
poder", nos quais a pessoa acredita ser capaz de enfrentar qualquer desafio) ou mesmo
uma violência impositiva de suas vontades, da qual ela raramente tem controle.

Apenas para citar alguns exemplos, e mais uma vez recordando que um só dado nunca é
suficiente para informar a totalidade do perfil psicológico de alguém, aspectos de Plutão
com Vênus costumam indicar um modelo inconsciente de envolvimento afetivo obsessivo,
aspectos com Marte podem sugerir uma assertividade e sexualidade não poucas vezes
maiores do que a estrutura egóica e superegóica da pessoa está disposta a assumir,
aspectos de Plutão com Lua em geral apontam um núcleo amoroso ciumento e
manipulador (para melhor controle do objeto amoroso) e aspectos de Plutão com o Sol
muitas vezes assinalam a existência de forte carisma pessoal, derivado de um
"magnetismo hipnotizador" capaz de arrastar multidões por uma causa - ou ao desespero.

Mas Plutão é vital para que a possibilidade de "morte" seja uma constante na vida da
pessoa que tem este planeta realçado em sua carta astrológica natal: não a morte "física", a
dissolução do aglomerado molecular a que nós nos habituamos chamar de "corpo", mas a
morte do atual estágio de vida, rumo a um estágio mais "energizado" ainda, como no caso
da lagarta que "morre" para virar borboleta!

Assim como os estágios de larva e casulo têm de ser abandonados, na vida da borboleta,
no ser humano o ego tem de ser transcendido através de sua "morte", ocasião na qual as
velhas formas de personalidade podem ser abandonadas, em proveito do crescimento
global da psique e da atualização de potenciais que sempre lá estiveram e apenas não
tinham espaço ou possibilidade de manifestação.

A isto muitas filosofias e escolas religiosas aludem quando mencionam, sugerem ou


enfatizam a "morte do ego": mas veja!, não se trata de dissolução do ego, o que para a
psique seria o colapso total, mas sua transcendência e superação, quando o ego volta a ser
apenas mais um dos componentes deste estranho fenômeno que é a mente humana, forma
individualizada de manifestação da mente universal.

Por isto os principais momentos de manifestação de conflitos entre o Poder Impessoal


(envolvido com a regeneração integral da psique) e o Poder Pessoal (envolvido apenas
com os objetivos da personalidade) são sempre vividos pela pessoa como depressão
profunda (para a psique individual, sempre um sintoma de morte): se o ego estiver
estruturado para viver estes embates de forma produtiva, o que aconteceu torna-se claro e
seu significado, óbvio, levando a pessoa a alterar profundamente seu comportamento e a
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forma pela qual vê a vida e nela atua; se não for este o caso, porém, a pessoa lamenta o
sucedido e não faz disto um degrau a mais em sua evolução interna.

Nos piores casos, aqueles nos quais o ego já apresentava uma estruturação precária, a
pessoa pode até mesmo ter sua estrutura psíquica global estilhaçada pelos impulsos que
lhe vêm de dentro e, como se diz, "enlouquecer"; daí a afirmação das Psicologias
transpessoais de que os episódios de psicose ou esquizofrenia são "acidentes de percurso"
no processo interno de integração psicoemocional.

Urano, Netuno e Plutão representam funções fundamentais à psique como um todo, no


caminho do desenvolvimento humano, a despeito de oferecerem pesados desafios à
sobrevivência do ego - ou, ao menos, do ego como este ego vinha se vendo até então!

Caso a vivência destas funções seja possível, o indivíduo é jogado num mundo muito mais
vasto, muito mais profundo e muito mais acolhedor do que até então pudera conhecer;
entretanto, todo cuidado é pouco, dada a qualidade e a intensidade dos poderes - da
Mente Impessoal, do Sentimento Impessoal ou do Poder Impessoal - com o qual se estará
convivendo.

Neste ponto, são preciosas as palavras de Liz Greene, psicóloga junguiana e astróloga
inglesa: "os atalhos para qualquer estágio de consciência raramente dão certo, porque a
sensibilidade é muito aguçada (...) É uma corda tensa, muito delicada... O mundo das
forças arquetípicas pode conter a hoste angélica, mas também contém a horda demoníaca".

Hordas, estas, que fazem parte da realidade como ela é, embora nem sempre estejam na
realidade vislumbrada pelo ego; sua vivência, entretanto, é a única maneira de superar a
suposta separatividade que nos afeta a tantos de nós no Mundo-Terra, parte apenas do
universo total.

Porque, como conclui Liz Greene em seu livro Saturno, "se o indivíduo está disposto a
explorar não apenas o mundo da sua própria psique pessoal, mas também o mundo mais
vasto do inconsciente coletivo, ele pode começar não apenas a se integrar dentro de si
mesmo, como também a vivenciar a totalidade do grupo, do qual é uma parte".

CAPÍTULO 7
A NECESSIDADE DE TRABALHO POSTERIOR À
ANÁLISE ASTROLÓGICA CLÍNICA
Como vimos até aqui, o cenário inconsciente interno de uma pessoa se desvenda através
da análise clínica de sua carta astrológica natal; este fato, se por um lado torna o processo
interior mais compreensível pelo próprio indivíduo, diminuindo sua sensação de
"infelicidade fatalista" e alargando sua possibilidade de interferir positivamente nas
formas de comportamento que até então vinham dominando sua vida, ao mesmo tempo
costuma instalar na pessoa um processo de busca urgente de alternativas de solução
efetiva aos problemas ali apontados.

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Por esta razão não são poucos os clientes que imediatamente após a análise clínica de sua
carta astrológica natal solicitam ao astrólogo que os atendeu ou a outros profissionais que
eventualmente conheçam (fonoaudiólogos, homeopatas, médicos alopatas, pedagogos,
psicólogos psiquiatras e sacerdotes, entre muitos), alguma sugestão de encaminhamento
terapêutico: tendo identificado em si mesmo as causas inconscientes de tantas de suas
formas de comportamento, inclusive as tidas por ele como inadequadas, e tendo percebido
- talvez pela primeira vez - que pode interferir neste processo para diminuir a
compulsividade de suas reações frente à vida, o indivíduo vai à busca de solução aos
problemas que vinha sentindo e agora percebe e compreende num cenário dinâmico que
tem origem em sua própria infância.

A ANÁLISE CLÍNICA, UM MOMENTO TERAPÊUTICO

Porque a entrevista devolutiva clínica da carta astrológica natal, longe de ser apenas um
momento de discussão meramente intelectualizada de dados e informações sobre uma
pessoa e sua história de vida, é um momento de intensa emocionalidade, graças à vigorosa
intervenção clínica que o ato de interpretação astrológica pratica na vida desta mesma
pessoa: à medida que o cliente vai recebendo as informações que a carta astrológica natal
oferece através do astrólogo profissional, podendo participar ativamente do processo de
desvelamento de si mesmo através de perguntas, depoimentos e intervenções das mais
diferentes naturezas, ele é levado a uma profunda reflexão sobre o que até aquele
momento tem feito de sua própria vida: o que obteve frente ao que quis, o que viveu
frente ao que desejava, as razões de suas inadequações ou problemas pessoais e a
confirmação da existência de potenciais até então mal-percebidos mas sempre sentidos
como verdadeiros.

Mais ainda: o cliente é obrigado a se confrontar com o fato inegável de ter sido ele mesmo,
até então e de certa forma, cúmplice involuntário de seus próprios problemas, já que
residem em sua vontade inconsciente quase todas as razões profundas de sua infelicidade;
em outras palavras, tem sido a sua própria força interna inconsciente a responsável direta
pelos problemas que o têm abatido, mesmo que antes isto não fosse reconhecido
conscientemente!

Assim, já que é a própria vontade o que tem motivado suas opções de infelicidade, o que
lhe cabe é inverter a direção desta mesma força rumo ao que lhe pareça um conjunto mais
felicitador de formas de comportamento - com a inegável vantagem, agora, de conhecer
tais razões inconscientes, entender o processo que lhes deu origem e vislumbrar a
possibilidade de inverter este estado geral de coisas, desde que queira e para tal objetivo
trabalhe.

Para isto - e neste aspecto a entrevista devolutiva clínica de uma carta astrológica natal
deve ser suficientemente clara - o emaranhado de suas matrizes inconscientes de
comportamento deve ser deslindado, as massas emocionais que ainda dão sustento a este
emaranhado devem ser liberadas, as memórias e os desejos inconscientes que ali sempre
estiveram devem ser questionados, assumidos ou abandonados, e muitos dos velhos
hábitos de comportamento terão de ser alterados.

Num conjunto de tarefas que não é nada fácil, pois o psiquismo é profundamente
conservador e resistente a mudanças, o que na maior parte dos casos obriga o
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acompanhamento de um profissional experiente na delicada tarefa de participar do
crescimento de pessoas; tal profissional, seja ele um terapeuta, um aconselhador ou até
mesmo um mestre espiritual, serve então de "companheiro de viagem" da pessoa em seu
caminho rumo a si mesma e a seus verdadeiros valores pessoais - em geral abandonados,
abafados ou negados no correr da vida inteira, o que tem sido a razão real de sua
infelicidade.

TERAPIA, UMA ALTERNATIVA MADURA

Inegavelmente, a busca de ajuda através de uma relação psicoterapêutica de ajuda é


recurso utilíssimo após a análise clínica de uma carta astrológica natal, já que muitas das
matrizes inconscientes que esta análise identificar só poderão ser dissolvidas através de
um vigoroso trabalho terapêutico especializado, devolvendo ao indivíduo um controle
maior sobre os próprios processos inconscientes, na medida em que forem integrados ao
seu ego impulsos, desejos, memórias emocionais e conflitos instalados desde a infância.

Não cabe neste livro uma discussão aprofundada sobre as razões que levam alguém a
buscar ajuda psicoterapêutica, nem sobre as muitas e distintas alternativas de terapia
existentes, razão pela qual sugiro, aos interessados em alargar suas informações sobre o
tema, a leitura de meu livro Por que fazer terapia?; nesta obra, discuto em pormenores, em
linguagem e num enfoque dirigido ao público leigo, as características, as limitações e as
atribuições de um processo psicoterapêutico de ajuda, bem como as razões que em geral
levam as pessoas a procurá-lo e o que tal tipo de processo realmente oferece a quem o
busca.

Entretanto, deve ser dito aqui que uma relação psicoterapêutica de ajuda é alternativa
madura também para quem, através da análise clínica de sua carta astrológica natal, se
determinou a alterar a própria dinâmica inconsciente e, como conseqüência, as formas de
comportamento que vem até então adotando no dia-a-dia!

Infelizmente são muitos os astrólogos profissionais que duvidam da eficácia de tal


alternativa, por acreditarem ingenuamente em um "determinismo astrológico" e suporem
que o que está demonstrado em uma carta astrológica natal não poderá ser alterado; em
outras palavras, que o que está predestinado a uma pessoa será fatalmente vivido por ela,
sem que se possa fazer algo para alterar este cenário de vida inteira. Tal tipo de suposição
vem sendo ano a ano derrubado em todos os principais centros de pesquisa psicológica e
astrológica do mundo inteiro, principalmente nos Estados Unidos da América do Norte,
Inglaterra e Alemanha, à medida que as Ciências do Comportamento oferecem
informações e técnicas aos astrólogos e estes se dedicam a pesquisar seriamente a
possibilidade de junção entre a astrologia e a Psicologia, superando velhas suposições e
rígidos preconceitos muitas vezes disfarçados em "fé".

(Aliás, quanta ignorância ou teimosia se esconde atrás desta velha e desrespeitada palavra,
não é mesmo?)

E, da mesma forma, são muitos os psicólogos, psiquiatras e demais profissionais e/ou


pesquisadores do comportamento humano que ignoram o papel que a Astrologia Clínica
pode ter como instrumento confiável na tarefa de diagnosticar a dinâmica inconsciente de
um indivíduo, facilitando a definição dos procedimentos necessários para a alteração das
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formas de comportamento tidas pelos próprios pacientes como inadequadas para si
mesmos. Por esta razão, não poucas vezes o paciente de um psicólogo ou psiquiatra deseja
levar a seu conhecimento as informações obtidas através da análise clínica de sua carta
astrológica natal e se depara com afirmações dogmatizadas que insistem em descrer em tal
conteúdo sem nem ao menos tomar conhecimento dele; efetivamente tal atitude é no
mínimo um desrespeito ao próprio paciente e serve apenas para esgarçar a relação de
confiança entre ele e o profissional: afinal, o paciente tem a mais profunda certeza íntima
da veracidade do que lhe foi dito e não aceita que o profissional que o acompanha nem ao
menos se disponha a discutir com ele este material!

De qualquer modo, a despeito das limitações de lado a lado, já que é assim mesmo que a
Ciência sempre caminhou, a cada dia cresce mais o número de clientes de astrólogos
profissionais que buscam ajuda posterior através de terapeutas das mais diferentes linhas
e métodos de trabalho, assim como também constantemente aumenta o total de pacientes
de terapeutas que buscam a análise clínica de sua carta astrológica natal como um
instrumento poderoso a mais para facilitar e favorecer seu crescimento pessoal.

Caso o indivíduo já esteja fazendo terapia, ou vá iniciar a seguir, e seja sua a escolha de
levar ao terapeuta as informações obtidas na análise clínica de sua carta astrológica natal,
deverá ser discutido com o profissional que o acompanha (ou acompanhará) como isto
deverá ser feito: o paciente ouvirá a seu lado, duas ou três sessões a fio, o conteúdo
integral das fitas de áudio? ou o paciente deverá transcrever as fitas e ambos trabalharem
a partir desta transcrição? será mais proveitoso ouvir um pouco a cada sessão de terapia,
utilizando a maior parte do tempo para trabalhar o que estiver emergindo naquele
momento da vida do paciente? ou o paciente deverá apenas fazer um relato verbal,
condensado, do que a ele pareceu o mais importante na entrevista devolutiva clínica
astrológica?

Cada caso é um caso e deve ser discutido entre paciente e terapeuta, para buscarem a
melhor alternativa de trabalho conjunto.

OUTRAS ALTERNATIVAS DE AJUDA PESSOAL

Entretanto, não são apenas as formas clássicas de psicoterapia que se oferecem aos clientes
que desejam se trabalhar após a entrevista devolutiva clínica de sua carta astrológica natal,
mesmo porque há aspectos da vida humana que não se desenvolvem apenas através de
psicoterapia; especialmente neste fim de Século, no qual as mais variadas alternativas de
intervenção curativa estão à disposição de quem delas necessite, prometendo equilíbrio
pessoal e maior integração interna, tais alternativas se oferecem praticamente em qualquer
esquina.

Todavia, e esta é minha posição pessoal, tais alternativas devem ser encaradas, na maioria
dos casos, como alternativas para-terapêuticas, isto é, práticas a ser desenvolvidas
paralelamente a um eficaz processo de ajuda psicoterapêutica. Porque, para nem
mencionar as dificuldades pessoais que não são resolvidas com tais alternativas, no correr
de tais atividades muito material emocional antigo virá à tona e necessitará, portanto, de
um sólido encaminhamento produtivo no sentido de libertar o indivíduo de seus mais
antigos condicionamentos emocionais.

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Para problemas localizados na esfera corporal, por exemplo, muitas vezes decorrentes de
dificuldades afetivas e manifestados através de limitações à própria sensualidade, recursos
como biodança e exercícios de laboratórios dramáticos costumam se oferecer como
excelentes:

Biodança - técnica desenvolvida na década de '70 pelo chileno Rolando Toro e


gradativamente aperfeiçoada em vários centros internacionais de pesquisa
psicoemocional, a biodança leva grupos heterogêneos de 15 a 20 pessoas a viver
intensamente a própria emocionalidade e afetividade através de exercícios desenvolvidos
com o auxílio de melodias variadas e a prática de diferentes posturas corporais; assim,
através de sessões semanais com cerca de duas horas de duração, durante as quais pouco
se fala mas muito se sente e se atua, cada participante vê facilitada sua possibilidade de
vivência interna e manifestação externa de raiva, medo, amor e sexualidade, nas mais
variadas intensidades, através de exercícios da própria sensualidade e afetividade.
Vivenciando e atuando suas emoções, e vendo os outros integrantes do grupo fazendo o
mesmo, cada participante gradativamente recobra a possibilidade de conviver mais
facilmente com a própria emocionalidade.

Laboratórios dramáticos - sem nenhuma abordagem teórica exclusiva, os centros de


estudo e prática dramatúrgica montam e oferecem laboratórios teatrais com técnicas
desenvolvidas pelos grandes dramaturgos e diretores de teatro (Brecht, Grotovsky,
Stanislavsky e outros) e muitas vezes até mesmo mescladas com técnicas extraídas de
teorias e práticas de Psicologia Clínica, visando facilitar aos integrantes destes laboratórios
uma vivência mais plena, interna e exteriorizada ao mesmo tempo, das emoções básicas e
suas nuances. Em geral também vividos por grupos heterogêneos (quanto a sexo e idade),
tais laboratórios dramáticos facilitam aos indivíduos um contato maior com a própria
expressividade sensual e com emoções e desejos muitas vezes abafados no próprio
inconsciente.

Para potenciais mal desenvolvidos ou dificuldades de manifestação de criatividade


artística, há inúmeras possibilidades de intervenção para-terapêutica, visando devolver ao
indivíduo uma mais fácil expressão de suas próprias possibilidades pessoais de auto-
realização criativa: escolas de pintura ou de artes plásticas, prática doméstica de
artesanato, exposição constante a música ou artes cênicas (com ou sem prática, inclusive),
cursos de desenvolvimento de criatividade ("liberação do hemisfério direito", "dissolução
de bloqueios à auto-expressão" ou "work-shops criativos", entre outros) e cursos específicos
de redação ou oratória.

Para dificuldades de manifestação de assertividade ou raiva, tem se mostrado muito útil a


prática de artes marciais das mais diferentes naturezas: Tae-kwon-dô, Kung-fu, Jiu-jitsu, Ju-
dô, boxe (ocidental ou tailandês), caratê, Ai-ki-dô, Ken-dô, capoeira, "full-contact", esgrima e
tiro-ao-alvo, entre outras alternativas.

Para problemas os mais diversos que, embora de origem emocional, terminam por
comprometer o funcionamento orgânico, costuma ser bastante útil, além das diversas
especialidades clínicas já desenvolvidas pela Medicina alopática contemporânea, a busca
de homeopatia, de ervas medicinais, de práticas curativas orientais (Do-in, Shiatsu, Tui-ná e
Moxabustão), de acupuntura e da ainda recente utilização de Florais de Bach (para não
mencionar os usos experimentais de cristais, cromoterapia etc.).
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Finalmente, para os aspectos individuais envolvidos com o desenvolvimento de
espiritualidade (termo de ainda difícil compreensão entre nós), várias são as alternativas a
sugerir:
a. dependendo do nível intelectual e cultural do cliente, e de sua disposição para tanto, a
leitura de clássicos espirituais: os Sutras ou Upanixades hindus, os principais textos sufis
islâmicos, a produção religiosa medieval de Meister Eckhart (dominicano execrado pela
Igreja católica por seus textos genuinamente espiritualizados), do religioso católico San
Juan de La Cruz ou da mística cristã Santa Tereza D'Ávila, as Eneadas de Plotino (um dos
discípulos do filósofo grego Platão), os títulos ocidentalizados sobre o Zen-Budismo
Mahayana (do japonês Daisetz T.Suzuki) ou sobre o Budismo Theravada (de vários
autores), a Bíblia judeu-cristã (Antigo e Novo Testamento, além dos Evangelhos e seus
Anexos), a produção teológica de Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, certos tratados
cabalísticos judaicos da linha hassídica, O Livro dos Espíritos e outros títulos espíritas de
Allan Kardec, o texto original do I Ching taoísta (em sua versão do sinólogo alemão
Richard Wilhelm) e o clássico Tao Te C'hing, de Lao-Tzu (ou Lao-Tsé), as obras teosóficas
de Helena P. Blavatsky (1831-1891), estudos de mitologia comparada e obras de História
ou Antropologia das Religiões.

Podem também ser indicados, nestes casos, títulos que envolvam a discussão da
espiritualidade tradicional com algumas das mais recentes conquistas da Psicologia
Contemporânea e da Física Moderna, notadamente as noções e práticas desenvolvidas
dentro das abordagens junguianas ou neo-junguianas e sob o amplo guarda-chuva
conceitual das Psicologias transpessoais (ver bibliografia selecionada ao fim deste livro);

b. a prática espiritual em Academias de Ioga ou de Tai-c'hi-chuan, Centros de Dharma


Budista Tibetano, núcleos espíritas e academias de estudos ecléticos de Filosofia e
Espiritualidade, para desenvolvimento gradual dos conhecimentos e das possibilidades
pessoais de vivência religiosa e/ou espiritual;

c. o estudo de Ciências Arcanas (do latim arcanu, "mistério") como o Tarô, a Cabala, a
Numerologia e a própria astrologia, além da Filosofia Clássica e da história da evolução
das crenças e idéias religiosas, como a desenvolvida pelo antropólogo húngaro Mircea
Eliade;

d. e a aproximação com grupos de estudo, prática e pesquisa de fenômenos de


paranormalidade (telepatia, psicocinesia, premonições, clarividência e clariaudiência),
dentro ou fora de alguma abordagem religiosa.

Em relação a este aspecto, o da espiritualidade, creio necessário deixar aqui uma posição
pessoal: a meu ver, uma relação de ajuda psicoterapêutica é sempre, mesmo que isto não se
explicite, a "ante-sala da espiritualidade"! À medida que o indivíduo mergulha em si mesmo,
à busca de solução para seus conflitos pessoais mais íntimos, pouco a pouco se depara com
questões desta natureza dispostas nas camadas do seu psiquismo mais profundo; assim,
tanto terapeutas das mais variadas especialidades quanto astrólogos clínicos profissionais
devem estar preparados para oferecer a seus pacientes e clientes um bom
encaminhamento às questões suscitadas pelo espiritual a partir do próprio trabalho
terapêutico ou astrológico clínico.

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Não por outra razão o psicólogo inglês James Hillman, um dos fundamentais expoentes
neo-junguianos de nossa época, afirmava que o objetivo fundamental da Psicologia "não é
curar nem ensinar, mas despertar e engendrar a alma".

Obviamente, este despertamento e engendramento "da alma" tem de ser respeitoso e


silencioso, pois já houve quem afirmasse que "Deus acorda baixinho as almas": o barulho,
a gritaria, a imposição, a argumentação radical, a obstinação e o "zelo excessivo pelo
destino dos outros" é próprio do ego inflamado por um poder que não é dele mas que
reside no psiquismo mais profundo e original do ser humano.

Este poder, que é o poder de rejuvenescimento da psique como um todo, sempre visando
um novo ser humano, atua a partir de dentro do próprio indivíduo e deve ser despertado
e respeitosamente atraído para o ego.

Para isto a Astrologia Clínica oferece um instrumental ímpar, que opera sempre pela
contemplação racional de si mesmo através do que a carta astrológica natal informa em
seu riquíssimo conjunto simbólico; mas o trabalho de alteração emocional do cenário
interno (e de suas manifestações externas) deverá ser realizado com a ajuda da Psicologia
Clínica, cujas múltiplas técnicas e corpos teóricos buscam facilitar mais e mais ao ser
humano esta tarefa.

Razão pela qual pode e deve ser utilizada por todos aqueles que procuram a si mesmos
em meio às suas próprias dificuldades, características e possibilidades pessoais, vítimas de
suas circunstâncias de primeira infância e de todos os acontecimentos vividos desde
aquela época longínqua, os quais em geral obscureceram a real pessoa que mora no
indivíduo.

Uma pessoa que, se aprofunda suas raízes no fecundo solo de si mesmo, descobre que sua
copa se abre mais e mais para a vida absoluta.

A esta pessoa, talvez você que me lê agora, uma lembrança: Meister Eckhart escreveu em
plena Idade Média que "nada importa muito se não se trata de descobrir em nós o Absoluto".

Creia que ele tinha razão.

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APÊNDICE 1

CARTAS INFANTIS:
QUANDO A INFORMAÇÃO ADEQUADA FACILITA A
EDUCAÇÃO
Uma das atividades mais fascinantes do dia-a-dia profissional do astrólogo clínico é o
atendimento de pais para fazer a análise clínica da carta astrológica natal de um de seus
filhos: pai e mãe ali reunidos, conversando sobre o psiquismo e as futuras inclinações
pessoais de uma criança de dias, meses ou apenas alguns poucos anos de idade, visando
utilizar estas informações para aprimorar o processo de educação daquele pequeno ser
para a vida - e, assim, auxiliá-lo preciosamente na tarefa de se constituir um adulto feliz!

Por este motivo, a despeito de tal atendimento ser pouco comum (dado o
desconhecimento desta possibilidade pelos pais em geral e a muitas vezes falta de
coragem dos pais de se encarar frente a frente e assumir suas responsabilidades de forma
mais plena, já que a situação pessoal de cada um será profundamente discutida ao se
analisar o psiquismo da criança), este livro não poderia deixar de mencionar tal fecunda
possibilidade da Astrologia Clínica.

FILTROS DE LEITURA VERSUS SINCRONICIDADE

Vimos atrás que todos nós nascemos com determinados "filtros de leitura" já determinados
pela nossa constituição psíquica original, razão pela qual apreendemos o mundo sempre
parcialmente, deixando-nos marcar mais profundamente por certas categorias de eventos
e até mesmo passando incólumes através de outras.

Em outras palavras, todos fazemos uma pré-seleção do que nos é dado como estímulo externo
desde bebês muito novos (na verdade, desde fetos) e por isto, de certa forma, participamos
ativamente da construção do nosso próprio mundo: de tudo o que efetivamente nos é oferecido
pelo mundo exterior, selecionamos de acordo com nossa estrutura psicoemocional mais
profunda o que vamos utilizar como referenciais básicos de vida durante a construção
inconsciente de nossos modelos de mundo, quase independentemente do que no futuro
nos ensinarem ser certo ou errado, elogiável ou censurável, feio ou bonito e assim por
diante.

Munidos apenas com este conceito, que se comprova verdadeiro na prática do dia-a-dia, já
poderíamos estabelecer o conjunto de valores centrais que nortearão inconscientemente
uma pessoa em sua vida futura: sabendo como ela filtrou a percepção da realidade em sua
primeira infância, e conhecendo os modelos inconscientes que daí por diante foram por ela
estruturados, modelos estes que a partir "de dentro" orientariam todas as suas formas de
comportamento, podemos predefinir para quais experiências básicas de vida esta pessoa -
hoje criança, amanhã adulto - será impulsionada em sua vida cotidiana.

Entretanto, além dos filtros de leitura com que a criança já nasce dotada, o meio ambiente termina
por reforçar as imagens inconscientemente selecionadas por ela, atuando de forma a validá-las e a
consolidar seus efeitos sobre o psiquismo da criança.

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Alguém poderia indagar: não será a criança que "induz" os adultos à sua volta a tais
formas de comportamento, "desejosa" de ver reafirmada sua expectativa inconsciente nela
instalada? Sim, é possível, como tantas vezes se nota, mas esta real possibilidade não
explica tudo!

Como a criança "faria" o pai ser alcoólatra, por mais que esperasse isto, quando sua carta
astrológica natal indica uma figura masculina introjetada com tais características na
primeira infância? Como a criança "faria" a mãe ser melancólica e depressiva, por mais que
atuasse no sentido de induzir tal comportamento, quando sua carta astrológica natal
indica uma figura feminina introjetada com tais características na primeira infância? Como
a criança "levaria" pai e mãe a viverem uma certa dinâmica de relação - pai "ausente
omisso" e "mãe dominadora- abandonada", por exemplo -, por mais que atuasse no
sentido de favorecer o estabelecimento de tal estado de coisas, quando sua carta
astrológica natal indica um modelo introjetado de relação pai/mãe com tais características
na primeira infância?

Não, certamente a existência de filtros de leitura de mundo na criança e de expectativas


inconscientes nela existentes em relação ao mundo externo não explica tudo; obviamente a
carta astrológica natal também aponta muitos dos dados objetivos de realidade externa que
sincronicamente a criança estará vivendo, por mais que não tenha a mais mínima chance de
provocar ativamente a sua manifestação.

A PREDISPOSIÇÃO E O MEIO AMBIENTE

É com estes dois dados básicos que o astrólogo clínico analisará a carta astrológica natal de
uma criança: de um lado, identificando com quais filtros de leitura a criança foi dotada e, de outro,
identificando para os pais as muito prováveis formas de comportamento que durante a primeira
infância da criança eles mesmos apresentarão (mesmo que no momento da análise não creiam
provável tal possibilidade), de certa forma reforçando - ou não - o que tais filtros por si sós
apreenderiam e reteriam.

Ambos os conjuntos disponíveis de informação compõem o cenário geral que define já na


infância o perfil global da criança e suas inclinações inconscientes de comportamento, bem
como prepara o futuro adulto e predispõe as suas futuras manifestações comportamentais:
será cordato ou violento? será disperso ou com boa capacidade de concentração?
necessitará de constante dispêndio de energia muscular ou viverá bem em um modelo
mais sedentário de vida? como lidará com sua sexualidade? o que em criança parece
teimosia será a futura persistência do adulto ou somente um marcado traço inato de
obstinação? ele atuará naturalmente a própria intelectualidade? qual sua verdadeira
vocação profissional? necessitará orientação religiosa e espiritual? como lidará com a auto-
imagem? como desenvolverá a auto-estima? como atuará sua sensualidade?

Nesta ampla discussão, pai e mãe poderão ter uma visão a priori da futura pessoa que ali
está se engendrando e compreender o papel conjunto que desempenharão a herança
psicoemocional da criança e a influência modelar do meio ambiente, através das formas de
comportamento emocional adotadas pelos pais consigo mesmos, praticadas entre si e manifestadas
em seu convívio com ela.

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Obviamente, se parte da seleção dos estímulos do meio se dará pela predisposição
psicoemocional inconsciente herdada da criança, em certa medida os pais pouco terão a
fazer no sentido de impedir a formação de determinados modelos inconscientes ou de
propiciar a construção de outros, tidos por eles como respectivamente inadequados ou
adequados, de acordo com seus valores pessoais; tal dinâmica é praticamente inevitável, já
que pai e mãe sempre trazem para o casamento e para a educação de suas crianças as
marcas do tipo de história que tiveram, além de seus próprios traços pessoais.

Por esta razão, até certo ponto não se pode falar de "culpas" ou de "escolhas erradas" por
parte deles no processo até então adotado de educação de seus filhos. Afinal, já que
também foram condicionados por seus próprios inconscientes e lidaram com a situação da
forma como puderam, o que mais poderiam fazer além ou diferentemente do que já
fizeram?

O trabalho possível, porém, a partir da análise clínica da carta astrológica natal de um


filho, será o de reforçar a possibilidade efetiva da criança de ver favorecidos os verdadeiros
potenciais e atenuado o cenário interno já instalado que predisporá suas futuras características, de
forma a minimizar os eventuais conflitos que se manifestarão em suas formas de viver a vida; ao
mesmo tempo, este trabalho ajudará os pais a se preparar para a utilidade real de um
possível trabalho futuro (ludoterapêutico ou psicopedagógico) de ajuda à criança ainda
enquanto criança ou adolescente, não deixando apenas para a sua vida adulta o trabalho
de reconstrução interna do que tenha que ser trabalhado para permitir uma harmonia
interna maior.

Porque o meio ambiente de primeira infância pode ter uma influência extremamente
favorável à futura possibilidade da criança de lidar melhor com suas próprias
características - mesmo que elas não agradem os pais ou destoem das expectativas deles! -, desde
que os pais se disponham a isto; não é tarefa fácil, mas ao menos oferece a certeza de se
estar caminhando no sentido correto, isto é, efetivamente de acordo com aquilo que fará a
hoje criança, amanhã adulta, uma pessoa mais feliz e bem integrada.

Afinal, se não se pode alterar a herança genética, pode-se ajudar a criança a trabalhar melhor com
ela e a se construir produtivamente a partir de si mesma!

AS EXPECTATIVAS SOBRE A CRIANÇA

Nas expectativas depositadas pelos pais em seus filhos (às vezes para resgate dos próprios
sonhos nunca realizados, outras vezes apenas de acordo com modelos valorados pela
família ou pela sociedade) reside sempre uma das chaves das futuras inadequações de
uma criança: "papai" espera que seu filho seja de uma certa maneira, "mamãe" deseja vê-lo
se comportando assim ou assado, todos atuam de forma a pressioná-lo e ninguém se lembra
de indagar o que a própria criança gostaria de estar sendo e fazendo ou como gostaria de estar se
sentindo em cada aspecto da vida com o qual se vê envolvida, de acordo com suas próprias
características pessoais.

(Quem não se lembra de já ter tido certeza de que tal ou qual escolha ou reação lhe parecia
a melhor, tendo sido obrigado a se comportar de outra forma em nome do que papai ou
mamãe achavam "adequado"?)

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Porque pais e mães sempre assumem a tarefa de criar seus filhos a partir de modelos
preconcebidos e definidos desde há muito tempo, seguros de que tais modelos são os mais
acertados e devem ser implantados a contento - sob pena de eles mesmos, pai e mãe, se
sentirem (ou serem acusados de) incompetentes e falhos em seu papel.

Tais modelos, em geral vindos da própria infância de cada um deles (aprendidos em casa ou
desenvolvidos contra o que era vivido em casa, mas sempre tendo por referência o próprio processo
de educação algum dia vivenciado e não o momento atual em que se está educando uma criança),
terminam por se constituir em garrotes e balizas rígidas da criatividade do próprio filho
ou filha e das manifestações de sua própria identidade pessoal, a qual sempre deriva das
suas inclinações inconscientes individuais profundas, independente do que o meio
considere aceitável, desejável ou elogiável.

Por isto o trabalho de análise clínica da carta astrológica natal de uma criança requer dos pais uma
sólida disposição de lidar com as próprias expectativas e até mesmo vê-las frustradas, desde que para
o bem efetivo da criança. Os pais podem ter de abandonar seu desejo de ver o filho formado
médico, por exemplo, se sua carta astrológica natal indicar uma sólida vocação para
tarefas literárias; ou, por outro lado, podem se ver obrigados a abandonar a expectativa de
sua filha tocar piano, se a carta astrológica natal desta criança não indicar nenhuma
existência de potenciais criativos musicais.

Estes são exemplos muito simples e superficiais, pois a análise clínica da carta astrológica
natal de uma criança leva os pais a reflexões bem mais profundas: à medida que se desvela os
reais sentimentos e as formas dominantes de comportamento que os pais estão vivendo durante a
primeira infância da criança, pai e mãe se vêem obrigados a assumir a insatisfação sexual
que estejam tendo, a violência que por vezes um ou outra manifestem em sua relação
interpessoal, o eventual sentimento de não ter importância nenhuma frente ao outro, as
prováveis imposições desta ou daquele sobre a vontade do outro, os jogos de controle e
contra-controle que dominem a cena doméstica, as diferenças pessoais talvez até então não
assumidas claramente e assim por diante.

As principais características individuais vividas pelo casal, assumidas ou não de forma


explícita, se desvelam com o trabalho de análise clínica da carta astrológica natal de sua
criança, pois elas compõem o cenário ambiental a partir do qual aquela criança estará
construindo seus modelos inconscientes, futuras matrizes de comportamento; e isto
termina por obrigar os pais a refletir sobre seus próprios problemas e inadequações, em
proveito de sua criança e de si mesmos.

O QUE FAZER APÓS A CARTA DA CRIANÇA?

O fato de pai e mãe se verem mutuamente expostos de uma forma que até então não houvera,
momento no qual o que cada um realmente está vivendo na relação se explicita, os leva a profundas
reflexões sobre a vida conjunta, sobre os desejos e necessidades de cada um e sobre o real papel que
estão exercendo sobre seus filhos.

Mais ainda: este momento, iniciado com a longa discussão da carta astrológica natal da
criança e da relação conjugal ali denunciada (base parcial dos conteúdos psíquicos daquela
criança), leva pai e mãe a poderem discutir com mais propriedade aspectos de si mesmos e

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da relação que sempre foram deixados "sob o tapete" ou "para um momento mais
adequado".

Por esta razão muitos astrólogos profissionais não atendem, para a análise clínica da carta
astrológica natal de uma criança, apenas um dos pais (exceto no caso de casais separados,
quando em geral quem encomenda o trabalho é quem tem a guarda da criança): permitir
que apenas um tenha acesso a esta realidade, a própria e a do parceiro, seria uma violação da
privacidade daquele que não está presente!

Por questões éticas, então, e também visando um melhor encaminhamento das discussões
e atitudes que tenham de se dar em prol da criança (o motivo alegado daquele encontro), é
necessário que pai e mãe estejam lado a lado neste delicado momento - nem que seja para se
defrontar com aspectos da relação, de seus modelos educacionais e de si mesmos que não consigam
admitir ou lidar com mais facilidade.

O que a prática costuma indicar é que ambos, a partir daí e de acordo com suas
características e disponibilidades pessoais, iniciam uma cuidadosa tomada de posição em
relação a si mesmos e ao parceiro, além de aprofundarem as discussões sobre sua própria
criança! O quê e em qual medida cada um pode fazer pelo bem-estar de ambos e da
criança? do quê e em que medida cada um está disposto a abrir mão para o bem-estar e o
desenvolvimento da relação e da criança? até que ponto cada um ou ambos são capazes de
se ajudar mutuamente, rumo a objetivos que satisfaçam a cada um? até que ponto cada um
está disposto a lidar objetivamente com as reais diferenças entre o que até então diziam
estar acontecendo e o que realmente ocorre, como a carta astrológica natal de sua criança
claramente o indica?

Após este trabalho, muitas vezes se instala no casal a necessidade de buscar ajuda
especializada, quer em nível das individualidades envolvidas (porque pai ou mãe vêem
denunciada uma realidade pessoal antes nunca admitida ou sequer percebida), quer no
que diz respeito exclusivamente à criança; pouco importa, contudo, o que se vá buscar,
pois o fundamental é que o cenário emocional daquele núcleo familiar fica exposto e
passível, então, de mudanças profundas.

Porque, à medida que pai e mãe passam a ter preciosas informações sobre sua criança, sobre si
mesmos e sobre os laços inconscientes que condicionam aquela realidade, podem orientar
produtivamente tarefas maduras de lidar com a realidade objetiva e subjetiva da família e preparar
para si mesmos um futuro mais felicitador, além de ajudar a criança a se desenvolver mais
plenamente, de acordo com suas reais e próprias características psicoemocionais.

85
APÊNDICE 2
EXEMPLOS DE ANÁLISE CLÍNICA
DE CARTAS ASTROLÓGICAS NATAIS
I
INTRODUÇÃO
1. As análises clínicas que a seguir você verá mostrarão de forma resumida o conjunto de
informações que é possível extrair de uma carta natal, durante uma entrevista devolutiva
astrológica clínica.

São cartas natais reais e apenas omito, por razões éticas, a identidade das duas pessoas
analisadas aqui.

Evidentemente o resultado global da entrevista devolutiva "ao vivo" é sempre muito mais
rico do que qualquer apresentação por escrito, pois a contínua participação do cliente
sempre enriquece o trabalho - quer interrompendo para solicitar mais detalhes, quer
dando depoimentos ilustrativos de uma dada passagem, quer ainda manifestando alguma
discrepância entre o que sente ou reconhece e o que está lhe sendo dito: a cada momento
da entrevista, cliente e astrólogo são duas pessoas em interação dinâmica, intermediadas
pelo material de diagnóstico, agindo, reagindo e nutrindo um ao outro durante todo o
encontro.

2. Cada carta natal é extremamente singular - como cada psique também o é; portanto,
nada mais ingênuo do que supor que qualquer interpretação astrológica clínica discutirá
conteúdos e dinâmicas inconscientes sempre iguais.
Todavia, talvez você identifique parte (ou aspectos) das análises clínicas que serão
apresentadas aqui com algum processo de vida ou forma de comportamento já
vivenciados por você ou presenciados na história de alguém; não esqueça, então, de que
alguns dos componentes a ser aqui discutidos poderão fazer parte de outras psiques, já que ninguém
é absolutamente original em suas características pessoais, mas a mescla com outros conteúdos
inconscientes, de qualidade e intensidade diferentes, é que dará um retrato global sumamente
diferenciado de indivíduo para indivíduo.

3. Caso você conheça muito pouco de astrologia (ou até mesmo não conheça nada),
seguem abaixo os símbolos astrológicos mais comuns para você poder identificá-los nas
cartas natais deste Apêndice (Signos, Planetas, Asc para o Ascendente, FC para o Fundo do
Céu, Dsc para o Descendente e MC para o Meio do Céu.
Além disto, veja a Tabela de aspectos astrológicos, ou ângulos geométricos, existentes entre
os componentes da carta, e no correr das interpretações eu destacarei em negrito os
símbolos envolvidos com cada conteúdo e dinâmica inconsciente identificados:

86
Signos
Áries Libra
Touro Escorpião
Gêmeos Sagitário

Câncer Capricórnio

Leão Aquário

Virgem Peixes

Planetas

Sol Júpiter

Lua Saturno

Mercúrio Urano

Vênus Netuno

Marte Plutão

Aspectos
Conjunção 00o (+/-10o)
Sextil 60o (+/-06o)
Quadratura 90o (+/-10o)
Trígono 120o (+/-10o)
Quincúncio 150o (+/-05o)
Oposição 180o (+/-10o)

4. Por fim, uma ressalva: todo conteúdo presente no psiquismo se associa a outros conteúdos ou
dinâmicas e sempre, de alguma forma e com intensidade variável, se manifesta através de alguma
forma de comportamento, mesmo que compulsivo e contrário às intenções conscientes da pessoa (tão
mais inconsciente esteja). Assim, tanto ao mencionar traços pessoais dos indivíduos
analisados adiante, quanto ao discutir as formas de comportamento de seus pais no lar de
primeira infância, não estou emitindo julgamento algum de valor ou de caráter, pois não
compete ao diagnosticista, bem como ao terapeuta ou aconselhador, opinar sobre o valor
moral deste ou daquele comportamento.
Trata-se, isto sim, de identificar um cenário inconsciente de desejos e intenções, e as
formas compulsivas de comportamento dele decorrentes, para devolver à pessoa a
87
possibilidade de alterar o que lhe pareça necessário em si mesma. Neste sentido, cabe aqui
lembrar um conceito do filósofo francês Jean Paul Sartre: "pouco importa o que fizeram de nós;
o que realmente importa é o que fazemos do que fizeram de nós"
II
A ANÁLISE CLÍNICA DE UMA CARTA ASTROLÓGICA
NATAL FEMININA

1. Trata-se de mulher nascida em Fortaleza, às 14:00 do dia 05 de maio de 1962.

2. Do ponto de vista estrutural, isto é, começando pelos traços de comportamento


determinados por conteúdos próprios de sua estrutura psíquica básica inconsciente, esta mulher é
pessoa fortemente inclinada a racionalizar tudo aquilo com o que se envolve, dada a
predominância de sua função pensamento (quatro planetas em signos de Ar); se este traço
indica um perfil marcadamente autodidata, baseado em evidente superdotação intelectual
(Quadratura Urano e Mercúrio), com grande facilidade de aprendizado, ampla curiosidade
mas extrema dificuldade em se adaptar a tarefas intelectuais que não a agradem, ao
mesmo tempo é marcante sua necessidade de aprender a lidar com o mundo através das
outras funções da consciência.

Pessoa marcadamente extrovertida (sete planetas no Hemisfério Norte da carta), com


facilidade percebe os dados do meio ambiente que a rodeia e deixa na obscuridão o que se
lhe passa por dentro, ignorando sua realidade emocional e sentimental; deverá aprender a
prestar mais atenção consciente ao próprio interior, através de práticas de auto-
conhecimento e auto-integração, visando diminuir este descompasso e escapar ao pesado
desconhecimento de si mesma a que desde muito cedo se impôs.

Apresentando genuína vocação para o desempenho de tarefas partilhadas (cinco planetas


em signos Mutáveis), com excessiva facilidade assume responsabilidades e papéis que não
lhe competem, cobrindo-se de culpas por não conseguir cumpri-las todas; como, além
88
disso, é pessoa com grande necessidade orgânica de reposição e descanso, dada a
facilidade de se estressar (apenas um planeta em signo Cardeal), com muita freqüência se
esgota e termina culpando os outros por tal ocorrência.

Apresenta intensos traços de paranormalidade mas extremo medo de viver tal


possibilidade (Sol em Casa VIII, oposto a Netuno), devendo canalizá-la através de grupos
de estudo e prática espiritual, ocasião em que também poderá satisfazer a necessidade de
aproximação com sistemas filosóficos e espirituais mais organizados e estruturados
(Júpiter em Trígono com Netuno) e com material diretamente ligado às áreas do
conhecimento esotérico e/ou psicológico profundo (Sol em Casa VIII, oposto a Netuno
que rege a Casa VII).

É portadora de extrema facilidade de articulação de linguagem, quer escrita, quer verbal


(Mercúrio em Gêmeos, em Conjunção com Vênus), devendo encaminhar-se
profissionalmente para áreas de intercâmbio de comunicação ou cultural (Meio do Céu em
Gêmeos, Ascendente em Virgem, ambos os signos regidos por Mercúrio); tal facilidade, se
treinada, sugere o que poderá vir a ser uma redatora prolífica (mal treinada, porém,
aponta a tagarela!); e, em virtude de seu extremo potencial criativo e muito forte
capacidade imaginativa (Sol oposto a Netuno), poderá também dedicar-se à criação de
contos, crônicas e historietas de suspense e ficção psicológica (Cúspide da Casa XII em
Leão, regido pelo Sol, e Netuno em Escorpião, signo que rege sua Casa III).

É mulher fortemente sexualizada, assim como de temperamento mais impulsivo e


arrojado também nestas áreas (Marte em Áries e na Casa VII, sendo Áries a Cúspide da
Casa VIII), tendo sido entretanto submetida a pesado controle de sensualidade e
sexualidade, como veremos adiante (Saturno em Trígono com Vênus, Sextil com Marte e
Sol em Touro); desta forma, à medida que elimine de seu inconsciente as marcas de uma
primeira infância impeditiva de uma auto-imagem feminina mais segura de si, deverá
emergir uma intensa busca de prazer sexual e de auto-realização (Saturno em Casa V).

3. Nascida em uma casa centralizada pela figura materna (Sol em Touro, Lua e Vênus
conjuntas e em Quadratura com Plutão) e tendo por modelo masculino um pai ausente,
omisso e provavelmente alcoólatra (Netuno oposto ao Sol e em Quadratura a Saturno), esta
mulher desde muito cedo sofreu a influência de uma atmosfera restritiva de qualquer
manifestação pessoal de identidade (Sol em Quadratura com Saturno e em Casa V).

O lar sofria intensamente, dada a insegurança produzida pelo comportamento paterno, o


que fez com que a criança desenvolvesse um profundo hábito de estar "sempre alerta",
impondo-se uma rigidez protetora (Sol em Quadratura com Saturno) e desenvolvendo
pesados ressentimentos contra quaisquer figuras masculinas ou de autoridade.

Por seu lado, a mãe desta menina impunha severo controle sobre todas as suas reações
emocionais espontâneas (Sol em Touro e Lua em Quadratura com Plutão), vindo até a
desenvolver, durante a fase de puberdade e adolescência, uma intensa competição feminil
com a filha (provavelmente, por não admitir outra mulher dentro de casa, mecanismo
comprovável por reações adversas contra empregadas, faxineiras, amigas da filha etc.);
desta forma, aos poucos a criança foi aprendendo a não expor sua própria feminilidade,
quer através de afetos, quer através de manifestações sensuais e de sedução, abalando a
própria auto-estima como mulher.
89
Suas manifestações intelectuais espontâneas desde cedo foram impedidas ou no mínimo
não incentivadas (Saturno em Trígono com Mercúrio), embora de forma branda, o
suficiente para instilar-lhe insegurança em manifestar os resultados do próprio
pensamento; como conseqüência, desenvolveu-se uma funda necessidade de afirmar as
próprias opiniões (Saturno na Casa V, em signo de Ar e em Quadratura com Sol), inda
mais por se tratar de criança superdotada intelectualmente (Mercúrio em Gêmeos,
Mercúrio em Quadratura com Urano e quatro planetas em signos de Ar) , o que
futuramente a levaria a uma pequena disponibilidade em aceitar idéias e opiniões alheias
com facilidade.

O lar desde cedo se revelou preenchido de poderosas fantasias de traição amorosa e


afetiva (Plutão em Quadratura com Lua e Vênus, Saturno em Trígono com Vênus), bem
como de mentiras (Sol em oposição a Netuno), o que gradativamente desenhou na criança
o que futuramente se manifestaria como uma profunda desconfiança em relação a quase
qualquer pessoa.

Intensamente impedida de manifestar sua originalidade e criatividade (Saturno em Casa


V), principal forma da criança afirmar-se no meio ambiente, já que assim se afastaria dos
rígidos modelos de identidade impostos pelos pais e principalmente pela mãe (Sol em
Touro, em Quadratura com Saturno), esta mulher desenvolveu uma intensíssima
necessidade de auto-afirmação, enquanto "alguém que merece ser aceita
incondicionalmente", o que futuramente a levaria a não acreditar que alguém pudesse
amá-la ou dela gostar exatamente como ela é; ao mesmo tempo, em decorrência deste tipo
de pressão ambiental, futuramente ela pressionaria duramente todas as pessoas com quem
viesse a se envolver, visando obter esta aceitação quase que a qualquer preço, nem que
tivesse de abrir mão de si mesma e de seus direitos pessoais para tanto.

"Não consigo imaginar que alguém não goste de mim!": eis uma frase constante em suas
fantasias.

Caso esta pessoa não se disponha a trabalhar as marcas emocionais de memória


decorrentes desta estrutura doméstica de primeira infância, dificilmente conseguirá
assumir a própria identidade pessoal, já não bastasse a excessiva ligação amorosa com a
mãe e com sua maneira de proceder! (Lua em Conjunção com Vênus e Mercúrio, sendo
este último o regente do Ascendente e do Meio do Céu), sem conseguir manifestar-se de
forma criativa no mundo externo; será necessário identificar e rever emocionalmente os
muitos e pesados momentos em que a excessiva cobrança de desempenho a impedia de
viver sua naturalidade e a forte emocionalidade de que é portadora (Plutão em Quadratura
com Lua), para que ela possa se livrar do medo de ser o que é, da insegurança em ser
mulher e dos fortes mecanismos de auto-cobrança e cobrança excessiva dos outros (como
forma inconsciente de vingança contra os pais).

Graças a estas estruturas inconscientemente dispostas pelo meio ambiente, esta carta
astrológica natal sugere inclusive a ocorrência de fantasias (senão mesmo
comportamentos) homossexuais, não por escolha mas, sim, por compulsão: de um lado,
uma figura masculina excessivamente aversiva, a despeito de personagem central de
vigorosas fantasias eróticas da menina-moça (Sol na Casa VIII, oposto a Netuno em
Escorpião) ; de outro, uma figura feminina controladora ao extremo e sobre a qual houve
um depósito excessivo de amorosidade; ao meio, uma mulher profundamente insegura
90
sobre a própria identidade, ao mesmo tempo em que se percebe fortemente sexualizada e
sequiosa de afeto e carinho.

4. Quanto à figura masculina predominante no ambiente de primeira infância, o mínimo


que se pode dizer é que esta mulher não dispõe de dados seguros sobre que tipo de
homem seu pai era: dada a alta taxa de omissão dele (Sol em Touro, Sol em Quadratura
com Saturno e Sol oposto a Netuno), e pelo fato de ser um verdadeiro "camaleão" no que
diz respeito ao próprio comportamento (Sol em oposição a Netuno), este pai apresentava
um perfil que em geral sugere a necessidade de uma minuciosa "pesquisa familiar": como
ele era, na verdade? como se comportava? qual a origem de seus problemas reais? o que o
levava a mentir tanto, a beber ou eventualmente a se embriagar? terá ele tido iniciativas
sexuais com a própria filha? o que ele fazia com seu dinheiro, já que a Carta natal de sua
filha o mostra como um perdulário? mantinha um segundo lar? ele viajava com
freqüência? com que fim?

Toda e qualquer pesquisa familiar - e para isto ela poderá utilizar o grande potencial de
repórter- investigadora que possui (Ascendente em Virgem, tendo o Ascendente e o Meio do
Céu regidos por Mercúrio que está em Gêmeos) - poderá fornecer dados preciosos sobre
este homem, já que informação alguma que ela tenha sobre o próprio pai é digna de
crédito (quer pelo próprio comportamento paterno, quer pelas práticas maternas de
controle).

À medida que descubra e entenda melhor o comportamento real do pai, e desta forma
possa trabalhar o profundo ressentimento que carrega contra ele (Sol em Quadratura com
Saturno), a despeito de ter sempre lamentado profundamente o quão "perdedor" o pai era
(Sol em Touro, em Quadratura com Saturno e em oposição a Netuno), esta mulher poderá
compreender melhor os homens dos quais se aproxima, bem como romper o ciclo vicioso
que a tem levado a buscar homens indefinidos e inseguros (Sol em oposição a Netuno)
como companheiros para quaisquer relações - sempre "vítimas" à procura de uma
"salvadora" e eventualmente até mesmo homossexuais, como uma forma a mais dela
referendar o que supõe ser a sua própria homossexualidade e como modo de se afastar de
homens efetivamente viris, sempre produtores de forte desconfiança e aversão.

Sem dúvida esta mulher herdou do pai (e de ambos os lados de seu clã, tanto o paterno
quanto o materno) uma propensão à drogadicção (Sol na Casa VIII, regente da Casa XII,
em oposição a Netuno na Casa II, com o regente da Casa VIII conjunto à Lua e em
Quadratura com Plutão), razão pela qual se faz prudente que controle o consumo de
drogas, bebidas e remédios em geral, dada a facilidade de estabelecer dependência ou
mesmo sofrer uma overdose; por outro lado, o depósito inconsciente de erotismo sobre o
pai foi tão pronunciado (Sol em Casa VIII e Marte em Áries na Casa VII), podendo até
mesmo derivar de iniciativas sensuais e sexuais paternas contra a filha, que haverá uma
intensa resistência a qualquer trabalho mais aprofundado das seqüelas que o convívio com
este homem deixou em seu psiquismo.

Isto, se por um lado explicaria uma eventual suposição de "só ser necessário" trabalhar a
mãe e a péssima relação com ela, por outro informaria a um bom terapeuta a real
dimensão dos conflitos subjacentes em relação ao pai.

5. Porque, independentemente de quais conflitos hajam por ser trabalhados em relação à


91
figura masculina - e não são poucos! -, o principal desafio desta mulher é a figura materna,
a partir da qual construiu a própria auto-imagem: mulher ambiciosa (Sol em Touro), tanto
materialmente quanto de poder e controle (Lua e Vênus conjuntas, em Quadratura com
Plutão), a mãe não deu o menor espaço para que sua criança pudesse desenvolver
identidade pessoal e consolidar sua feminilidade (Sol em Touro, em Quadratura com
Saturno na Casa V).

Pessoa profundamente insegura enquanto mulher e até mesmo revoltada contra a própria
feminilidade ("é um horror ser mulher!), a mãe apresentava uma profunda dificuldade de
contatar-se produtivamente com a própria realidade biológica básica e com sua
feminilidade (Júpiter em Quadratura com Lua e com Vênus); desta forma, sentia-se
insegura como mãe, como companheira e como mulher capaz de ser desejada, competindo
pesadamente com a filha neste sentido.

Envolvia-se principalmente com o desempenho de papéis sociais de convívio (Júpiter em


Quadratura com Vênus), com freqüência se afastando das próprias emoções e sentimentos
(Júpiter em Quadratura com Lua) em prol do bom desempenho social.

Pessoa com pronunciada labilidade emocional (Urano em Quadratura com Lua), seu
estado de espírito era sempre uma surpresa - por vezes extremamente desagradável, dado
o fato de em meio às violentas explosões emocionais que manifestava, como conseqüência
de constante contenção da manifestação de emoções (Lua em Quadratura com Plutão) mas
precário controle emocional (Lua em Conjunção com Mercúrio), atuar com excessiva
crueldade impositiva ou violenta contra a filha.

Entretanto, a figura materna sempre pareceu aos olhos desta mulher poderosa demais...
Profundamente contaminada por material arquetípico (Plutão em Quadratura com Lua), a
imagem percebida da mãe sempre atribuiu a ela um poder demasiado e, portanto,
irrevogável; desta forma, como a menina poderia algum dia ter se oposto à sua vontade e
desejo?

Ao mesmo tempo, fizesse o que fizesse a mãe contra a criança, houve um excessivo
depósito amoroso na figura materna (Lua em Conjunção com Vênus e com o regente do
Ascendente e do Meio do Céu), identificável pela ligação simbiótica futura entre as duas e
mantida pela filha mesmo contra a vontade.

Obviamente esta Carta natal aponta uma dupla vinculação amor-ódio extremada (Lua em
Conjunção com Vênus e em Quadratura com Plutão), base de futuros e intensos sentimentos
de culpa na filha ao trabalhar a imagem materna e as seqüelas emocionais que deste
convívio ficaram contra a sua feminilidade e identidade pessoal.

Outro ponto a destacar era o conjunto de práticas manipulatórias de controle que a mãe
utilizava em geral - inclusive contra a filha (Júpiter em Quadratura com a Lua e em oposição
com Plutão). Tendo sido uma mãe que se sentia ameaçada por qualquer manifestação
espontânea emocional ou de individualidade, ela castraria qualquer vontade da criança
(Lua em Quadratura com Plutão) se necessário fosse para conter sua extrema
voluntariosidade; esta carta inclusive indica a mãe "agourenta" (Lua em Quadratura com
Plutão), aquela que, como "último recurso", amargamente roga pragas: "você vai ver que
não vai dar certo!".
92
Como resultado, esta mulher busca compulsivamente controlar toda e qualquer relação
pessoal com a qual se envolve, através de posturas "martirizadas" de sofrimento e dor
(Júpiter em Peixes, em oposição com Plutão), impedindo manifestações mais espontâneas
de si mesma e dos outros por acreditar que poderá perder o controle e ver tudo
destrutivamente ir à deriva (Plutão em Casa XII); tal compulsão está na base das paixões
obsessivas que desenvolve (Vênus em Quadratura com Plutão), marcadas por fortes
fantasias de traição mas dominadas por forte anseio de fidelidade (Vênus em Trígono com
Saturno).

Portadora de vigorosa sexualidade, como eu já disse (Sol na Casa VIII e Marte em Áries,
em Sextil com Vênus e em Sextil com Saturno), e detentora de forte sex-appeal, esta
mulher com freqüência e compulsivamente utiliza pesadas táticas de sedução sensual
(Plutão em Quadratura com Vênus) para obter o que mais deseja: aceitação enquanto
pessoa e afeto incondicional (Saturno em Casa V). Sem perceber, contudo, que tal
estratégia não garante aceitação incondicional e, ao contrário, só a mantém numa roda-
viva de desempenho supostamente mantenedor de segurança, enquanto não questionar
este quadro geral e não tomar medidas no sentido de alterar o que nele está disposto, não
conseguirá tranqüilidade ou sentir-se feliz.

6. Deverá desenvolver o potencial de superdotação intelectual que possui, de base


fortemente intuitiva (Urano em Quadratura com Mercúrio) mas com excelente capacidade
potencial de metodização do pensamento (Saturno em Trígono com Mercúrio); para isto,
todavia, será preciso disciplinar-se através de exercícios de concentração de atenção, posto
que o meio ambiente de primeira infância foi excessivamente indisciplinador de suas
possibilidades de pensamento (Urano em Quadratura com Mercúrio) e está na base de sua
extrema dispersividade (Mercúrio em Gêmeos e em Quadratura com Urano).

Ao mesmo tempo, poderá canalizar para áreas de atividades política o poder carismático
que possui (Sol em Trígono com Plutão), ocasiões em que poderá estar exercendo o poder
impessoal que busca contaminar sua esfera mais pessoal de relacionamentos (Plutão em
Quadratura com Lua, Vênus e Mercúrio e oposição com Júpiter) e terá, então, um espaço
coletivo onde se exercer; tais atividades não necessariamente têm de ser de política
partidária, até porque esta mulher se daria melhor numa posição de "eminência parda"
(Sol em Casa VIII, em Trígono com Plutão em Casa XII), podendo se dar através de
associações de classe, participação ativa em condomínios ou consórcios de interesse,
organizações de bairro ou de pais e mestres etc.

Por fim, se puder transformar o vigoroso movimento interno que carrega de controlar
ferreamente toda e cada palavra que pronuncia (Plutão em Quadratura com Mercúrio),
vindo da mãe, assim como sua tendência conspiratória e secretiva, poderá realizar-se
como poderosa oradora ou copy-desk (preparadora de originais, em editoras e redações
de jornais e revistas, cuja função é melhorar o texto dos outros).

Para tudo isto, entretanto, deverá realizar um profundo trabalho de resgate das
lembranças de primeira infância que ficaram emocionalmente incrustadas no seu próprio
inconsciente e a têm afastado de si mesma.

93
Um trabalho que dificilmente chegará a bom termo sem uma abordagem terapêutica
profissional.

III
A ANÁLISE CLÍNICA DE UMA CARTA ASTROLÓGICA
NATAL MASCULINA

1. Trata-se de um homem nascido em São Paulo, às 04:20 do dia 10 de dezembro de 1956.

2. Estruturalmente falando, isto é, como comportamentos derivados de seu tipo


psicológico natural, é um homem extremamente intuitivo, o que o leva a perceber com
facilidade o que aqueles que o rodeiam desejam ou pensam (quatro planetas em signos de
Fogo); isto, se por um lado faz dele alguém que "saca os outros" com rapidez, o leva a crer
que todos tenham a mesma capacidade e o impede de expor mais a si mesmo e aos seus
desejos.

À medida em que se treine em se mostrar mais vezes, mesmo quando creia já ter sido
entendido, para se certificar de que o outro - seja quem for - está realmente ciente do que
se lhe passa "por dentro", verá diminuir em muito o número de vezes em que se
decepciona por crer que o outro o percebeu mas fez por não levá-lo em consideração,
quando na verdade foi ele quem não se mostrou e, por isto, não foi percebido...

Assim como na carta natal feminina que vimos logo atrás, este homem também manifesta
vigorosa inclinação à partilha de si mesmo em tarefas (cinco planetas em signos Mutáveis),
com intensa dificuldade em dizer não quando solicitado a ajudar; em seu caso, todavia, em
virtude de ocorrências perinatais e de primeira infância (que veremos adiante), instalou-se
uma pesada crise de assertividade (Saturno conjunto ao Ascendente, na Casa I). Desta
forma, para ele é mais necessário ainda aprender a selecionar as vezes em que assumirá

94
tarefas que não as suas, para evitar a muito freqüente exploração, pelos outros, de sua
solicitude compulsiva.

Dada a dificuldade de contato consciente com sua função pensamento (nenhum planeta em
signo de Ar), em geral este homem não acredita no próprio potencial intelectual, a
despeito de possuir marcados traços de genialidade conceitual (Marte em Trígono com
Urano, Mercúrio em Sextil com Netuno e em Trígono com Plutão); à medida em que se
disponha a submeter o resultado de seus processos lógico-dedutivos (esta é a mais natural
forma de elaboração de suas conclusões, como seu Mercúrio em Capricórnio nos informa)
à avaliação de outros a quem respeite, poderá desenvolver uma maior segurança interna
em relação à própria intelectualidade.

Não fosse a pesada crise de assertividade instalada, efetivamente seria um self-starter, isto
é, uma pessoa que "faz as coisas andarem por sua própria iniciativa" (sete planetas no
hemisfério oriental); assim, manifesta-se somente como alguém inclinado em demasia a
impor seu ritmo pessoal em tudo com o que se envolve, devendo canalizar tal inclinação
natural para os momentos em que dele se espere iniciativa e deixando de exigir de quem o
cerca que acompanhe o seu ritmo - razão pela qual tantas vezes se vê sozinho, ao passo
que quem havia se proposto a acompanhá-lo foi deixado para trás...

É homem portador de sólida inclinação natural para assuntos legais (Sol e Ascendente em
Sagitário) e espetacular vocação para atividades de administração e planejamento
(Saturno em Trígono com Urano), devendo orientar sua carreira de forma a ocupar um
posto de comando ferreamente exercido (Plutão em Casa X e Saturno em Conjunção com o
Ascendente) - a despeito da extrema hesitação em fazê-lo adequadamente, como também
veremos adiante.

A naturalmente intensa preocupação com ética e justiça, aliada à busca incansável de


oportunidades nas quais fazer valer seu ideal (seja este qual for!), devem ser refreadas ou
mais produtivamente canalizadas, visando obter um melhor equilíbrio com o dia-a-dia
concreto (Grande Trígono de Fogo); do contrário, este homem terminará pagando o preço
de quem está sempre um palmo acima da realidade ou um passo à frente de seu momento.

3. Nascido em uma casa na qual o pai pontificava como "líder admirável e de sucesso", a
despeito de pouco se envolver com a dinâmica doméstica (Sol em Sagitário e Saturno em
Quadratura com a Lua), este homem cresceu aprendendo que as mulheres existem para
servir ao homem... Desta maneira, não pôde aprender a estruturar relações de verdadeiro
companheirismo com mulheres com as quais mais tarde viesse a se envolver.

Ferrenho admirador do pai, o qual via como uma pessoa de "inegável sucesso e valor",
este homem cresceu com dificuldades em manter relacionamentos pessoais mais
verdadeiros, já que ninguém é perfeito todo o tempo nem defende com unhas e dentes a
verdade a cada instante, feito "paladino da justiça" (Sol em Sagitário, na Casa I); assim,
passou a ocultar sob um exterior brincalhão e otimista uma profunda descrença na
possibilidade de ser feliz e conseguir realizar seus próprios sonhos, senão à custa de
abandonar seus mais profundos valores pessoais.

Ao mesmo tempo, foi criado sob o rígido mandamento paterno de sempre dizer a
verdade, razão pela qual tornou-se compulsivamente "mais realista do que o rei", mesmo
95
quando termina agindo de forma inadequada ou rude no exercício da franqueza (Sol e
Ascendente em Sagitário); deverá rever, portanto, a pressão que o seu meio ambiente
exerceu neste sentido, para reobter um pouco mais de diplomacia, uma qualidade sempre
essencial no trato com as outras pessoas e que não tem de, necessariamente, se dar pelo
comprometimento da lealdade e verdade (para ele, valores sempre fundamentais).

Seu lar de primeira infância foi, sem dúvida, excessivamente rígido no controle da
espontaneidade emocional da criança (Saturno em Quadratura com a Lua), submetendo-a
a um severo processo de abafamento. "Primeiro o dever, depois o prazer - e se não houver
prazer não tem problema, desde que se tenha cumprido o dever!", era o lema central
daquela casa, levando este homem a um pesado controle futuro de qualquer manifestação
emocional ou sentimental, razão principal da melancolia constantemente sentida e do
dolorido sentimento advindo do fato de não vislumbrar perspectivas emocionais
felicitadoras para sua vida (Saturno em Quadratura com a Lua).

Por esta razão oscila pesadamente entre momentos de extrema emocionalidade (quando
"elas escapam" ao controle) e de indiferenciação emocional (quando "elas se submetem" a
um rígido processo de justificação interna), ocasiões nas quais sente grande dificuldade
em identificar qual vivência emocional o está atravessando, inclina-se vigorosamente a
buscar para relações mais próximas mulheres de alta instabilidade emocional, como
pretexto para viver projetivamente a própria e intensa emocionalidade mal admitida.

Criança ativa e agitada (Marte em Áries e em Trígono com Urano), desde cedo foi bastante
reprimido em suas manifestações de vontade (Saturno em Trígono com Marte e com
Urano), com o que gradativamente desenvolveu um padrão de respostas oscilantes
("passividade-pancadaria") nos momentos em que se fazia necessária a defesa de seus
direitos: assim, quando adulto, ou hesita em demasia, não reagindo e adiando para o
momento em que lhe pareça mais adequado lutar pelo próprio espaço, ou se vê preso de
ímpetos de forte imposição de vontade, atuados de forma por vezes até mesmo cruel.

Para alterar este padrão, terá de rever os muitos momentos de infância em que se via
obrigado a abrir mão de sua natural força de vontade e (imensa) criatividade infantil, bem
como trabalhar a brutal raiva que lhe fervia no peito nestes momentos, obrigado a se
sufocar para agradar ao pai idealizado ou para respeitar o sofrimento da mãe martirizada
e sofredora (a qual veremos adiante).

Esta carta natal nos informa que o pai e a mãe deste homem viviam como cão-e-gato, ou
água-e-azeite, não conseguindo superar suas diferenças pessoais irreconciliáveis ( e Lua
em Quadratura) e mantendo-se juntos apenas por conveniência ou interesses
compartilhados. Com isso, cristalizou-se no inconsciente da criança a suposição de que
homens e mulheres são sempre opostos em seus valores centrais, ou de base, com o que se
inclinaria futuramente a buscar como companheiras apenas aquelas mulheres com as
quais tivesse desentendimentos irreconciliáveis , mas junto às quais permaneceria como
forma inconsciente de reproduzir o cenário doméstico no qual crescera.

4. O pai deste homem, além de proclamar aos quatro ventos e o tempo todo "a inegável
superioridade masculina" (Sol em Sagitário), oferecendo à criança um modelo macho-man
incontrastável, abafava a mãe em todo desejo que ela tivesse (Saturno em Quadratura com
a Lua). Isto é: não apenas defendia esta suposta superioridade, como a praticava de forma
96
cruel sobre a esposa, para não perder o controle sobre a situação (Saturno em Quadratura
com Plutão)! Bastava a esposa manifestar alguma vontade, fosse qual fosse, bastava tentar
expor alguma vivência emocional mais profunda e genuína, e este homem a abafava de
modo absoluto.

A um ponto que se poderia dizer que seu motivo central de viver era abafar o feminino
através de pesadas táticas de desvalorização e desconsideração de tudo o que viesse da
mulher!

Em grande parte, este comportamento paterno se devia ao fato do pai não lidar
adequadamente com a própria emocionalidade, embriagado por si mesmo que estava em
sua "viagem masculina" de conquistas e mais conquistas pelo mundo e oferecendo assim,
ao filho, um modelo vigoroso de abafamento do feminino. Futuramente, sua criança não
aceitaria em si mesmo as emoções que o tomassem (Saturno em Quadratura com a Lua),
abafando-as e a toda mulher com quem viesse a conviver, reproduzindo minuciosamente
o perfil paterno.

Aliás, o modelo paterno que se vê nesta carta foi tão idealizado que dificilmente este
homem conseguirá aceitar a idéia de trabalhar o que lhe veio do pai, afirmando só ser
necessário resolver os problemas que lhe vieram da mãe - assim como os problemas que
"elas" criam em sua vida! Além disto, a imagem do pai foi percebida através de um filtro
arquetípico distorcedor (Saturno em Quadratura com Plutão), atribuindo-lhe um poder
supostamente incontrastável.

É que admitir a imensa raiva que lhe vinha quando o pai se abatia com fúria sobre ele e
seus arroubos de criatividade rebelde (Marte na Casa V em Trígono com Urano na Casa
IX), momentos nos quais a criança tinha ímpetos de morte contra o pai mas se recolhia
temeroso de mais violência ainda (Marte oposto a Júpiter, regente do signo onde estão o
Sol e o Ascendente), parece tarefa intransponível para este homem, tal a culpa que lhe vem
ao admitir conscientemente tais sentimentos.

Em sua vida adulta, não poucas vezes este homem terminaria se cercando de mulheres
sobre as quais exercer tal férreo abafamento, expondo sua raiva quando contrariado e
eventualmente até mesmo as agredindo fisicamente.

5. Porque a mãe apresentava um pano de fundo emocional de intenso masoquismo


(Vênus em Escorpião), como "querendo ser rejeitada", razão pela qual adotava
constantemente a postura de mártir sofredora de quem pouco ou nada pode fazer por si
própria (Lua em Peixes) e "autorizava" este comportamento paterno.

Aliás, com muita probabilidade, apenas estes traços do psiquismo materno já nos explicam
o que levava esta mulher a permanecer ao lado de um homem (o marido), numa relação
que a negava constantemente e só a deprimia.

Este homem, portanto, teve por modelo feminino uma mulher melancólica, entristecida,
limitada por uma moral comportamental estreita (Lua em Quadratura com Saturno), mas
que nada fazia por alterar este estado de coisas, presa que estava de sua necessidade
inconsciente de envolver-se em relações afetivas que só a fizessem sofrer (Vênus em

97
Escorpião) ou dentro das quais pudesse atuar como a mártir que sofre em silêncio e
guarda muito ressentimento em seu coração (Lua em Peixes).

E o pior, para aumentar esta imutabilidade, é que a mãe gostava genuinamente de si


mesma (Lua em Trígono com Vênus) e era uma mulher portadora de forte emocionalidade
(Lua e Vênus em signos de Água), o que levaria este homem (mais do que em outros
casos, onde já se busca um modelo feminino que ressoe a mãe) a futuramente se
aproximar e se envolver apenas com mulheres com um perfil análogo!

Como a mãe utilizava com freqüência a tática da culpa para controlá-lo, expondo sua dor e
lamentando ter-se sacrificado tanto para criá-lo (Lua em Peixes, em Casa IV), entende-se
que futuramente este homem teria imensa culpa em acusá-la fosse do que fosse e a outras
mulheres também, por mais que as agredisse e abafasse continuadamente, culpando-as
pelo "desequilíbrio emocional" que manifestava nestas horas ou negando-se a aceitar
qualquer tipo de apoio emocional, temeroso de ser pesadamente cobrado depois.

6. Entretanto, trabalhar a relação havida com a mãe e o modelo introjetado a partir do pai,
neste caso, será apenas meia tarefa: sem dúvida, poder se conscientizar da pesada rejeição
amorosa sentida já intra-uterinamente (Saturno em Quadratura com a Lua) será um
importante passo, mas enquanto este homem não puder reviver as marcas deixadas em
seu psiquismo pelo tipo de parto que teve, não conseguirá alterar a crise de assertividade
que tanto o abate.

É que sua carta astrológica natal nos informa claramente que o parto da criança foi
prolongado e sofrido, muito provavelmente pélvico (com os pés voltados para o colo
uterino, bloqueando a própria saída), como a indicar a decisão, ainda ao nível fetal, de não
se expor ao mundo (Saturno em Conjunção com o Ascendente, na Casa I)!

(Aqueles que estranharem tal afirmação, saibam que o feto, pouco antes do início dos
movimentos expulsórios uterinos, deflagra o processo de seu próprio nascimento através
de estímulos químicos descarregados no sangue materno pelo cordão umbilical;
experiências já realizadas com mamíferos superiores em laboratórios, dos quais se
extirpou ainda no útero determinada zona cerebral, comprovam que sem o estímulo do
feto o trabalho de parto não tem início.)

Como resultado, daí por diante todo e qualquer "começo" - mesmo que a iniciativa seja
apenas o reinício de algo já executado um milhar de vezes - passou a parecer
excessivamente perigoso para este homem, levando-o a procrastinar decisões e a evitar a
tomada de atitudes.

A criança gradativamente construiu uma concha protetora de si mesma contra o mundo,


quer o interno - as emoções -, quer o externo - os eventos - (Saturno em Quadratura com a
Lua e Saturno na Casa I, em Conjunção com o Ascendente), dificultando ao extremo o
abandono de máscaras através das quais lidar com a vida; assim, por trás de seu aparente
otimismo e "segurança masculina" (Ascendente em Sagitário), sempre se escondeu uma
timidez assustadora, uma insegurança defensiva e um conjunto de manobras destinadas a
controlar o mais perfeitamente possível o meio ambiente suposto como ameaçador.

98
Seu grau de desconfiança é máximo e de auto-confiança é mínimo, por mais que aparente
estar sempre no controle de tudo e de todos; "encalha" na vida feito barca que bate num
banco de areia, vendo o fluxo da vida passar ao lado mas não conseguindo (e nem
tentando, é verdade) chegar a nenhuma das margens.

É que se pede alguma coisa à vida o faz preso da certeza íntima de já ser um derrotado,
"pois nada receberá"; e, desta forma, garante nada receber, reafirmando sua certeza íntima!

À medida que se disponha a utilizar produtivamente a própria força de vontade, poderosa


(Marte em Áries) e disciplinada (Saturno na Casa I), num corajoso trabalho de desmonte
das seqüelas que lhe advieram de tais experiências intra-uterinas, perinatais e de primeira
infância, poderá inverter integralmente a roda de sua existência, abrindo-se mais
plenamente à vida que se agita fora e às emoções que o vivificam a partir de dentro.

Para isto, terá de expor e trabalhar a imensa massa de raiva que carrega em si mesmo, pois
as marcas emocionais de tal contenção de si mesmo com freqüência se manifestam através
de uma língua ferina, tornando-o excessivamente agressivo em suas manifestações verbais
(Mercúrio em Quadratura com Marte).

Aí sim, esgotada esta raiva que torna sua grande rapidez mental (Marte em Quadratura
com Mercúrio) muitas vezes um empecilho no convívio com os outros, poderá colocar a
serviço próprio a boa capacidade de organização burocrática que detém (Mercúrio em
Capricórnio), o genial potencial conceitual que possui (Marte na Casa V em Trígono com
Urano na Casa IX, Saturno em Trígono com Urano e um Grande Trígono de Fogo
formado por Marte, Urano e Saturno), bem como a natural dotação para cargos de mando
e poder exercidos a serviço do coletivo (Plutão em Casa X, em Virgem).

Ao mesmo tempo, poderá aprender a utilizar produtivamente sua boa capacidade de


direcionamento de força de vontade (Saturno em Trígono com Marte e Marte em Trígono
com o Ascendente) e a vocação judiciosa que detém (Sol em Sagitário e Ascendente conjunto
a Saturno neste mesmo signo), transformando-se em um benfazejo orientador e juiz de
pessoas: para isto poderá colaborar seu traço naturalmente compassivo (Lua em Peixes),
após o abandono do excesso martirizado que a mãe lhe transmitiu.

99
GLOSSÁRIO
Para facilitar ao leitor um entendimento mais rápido deste e de outros livros que
ofereçam um enfoque psicológico à Astrologia, julguei oportuno incluir aqui um
pequenino glossário dos termos mais comuns em tal tipo de literatura.

O assunto é extremamente vasto e a riqueza de símbolos utilizados tanto na Psicologia


quanto na Astrologia não poderia ser exposta em sua totalidade neste glossário; assim,
para aqueles que desejarem enriquecer sua massa de informações sobre o assunto, sugiro
a busca de maior literatura específica sobre ambas estas áreas de conhecimento.

No correr deste glossário, todos os termos em negrito remetem a um verbete próprio, que
pode ser consultado para melhor entendimento.

A
Afetividade - Conjunto de fenômenos psíquicos manifestados sob a forma de emoções ou
sentimentos e acompanhados da impressão de prazer ou dor, satisfação ou insatisfação, agrado ou
desagrado, alegria ou tristeza etc.

Afeto - A ressonância emocional de alguma experiência marcante.

Água - Um dos quatro elementos do Zodíaco, característico dos signos de Câncer, Escorpião e
Peixes; numa carta astrológica natal, simboliza uma das funções da consciência, o Sentimento.

Anima - Componente feminino inconsciente do psiquismo humano e núcleo arquetípico da imagem


inconsciente feminina.

Animus - Instância inconsciente do psiquismo humano e núcleo arquetípico da imagem


inconsciente masculina.

Aquário - Décimo-primeiro signo do Zodíaco, co-regido por Urano e Saturno.

Áries - Primeiro signo do Zodíaco, regido por Marte.

Ar - Um dos quatro elementos do Zodíaco, característico dos signos de Gêmeos, Libra e Aquário;
numa carta astrológica natal, simboliza uma das funções da consciência, o Pensamento.

Arquétipo - Representação, no inconsciente coletivo, de alguma experiência arcaica da experiência


humana, isto é, de alguma daquelas experiências que todos os seres humanos, em todas as épocas e
lugares, já viveram; por isto, é sempre uma imagem coletiva em sua intensidade e atributos.

Ascendente - Signo que "ascendia" no horizonte do local de nascimento da pessoa no momento


exato de seu nascimento; em termos psicológicos, um dos símbolos astrológicos fundamentais para
se definir a estrutura arquetípica de persona de alguém; cúspide da primeira Casa Astrológica do
Zodíaco.

100
Aspecto - Relação angular existente entre dois planetas na carta astrológica natal; para a Astrologia,
apenas determinados ângulos têm maior importância na interpretação da carta, como os de 0o, 60o,
90o, 120o, 150o e 180o.

Astrologia - Do grego astrología, corpo de conhecimentos que estuda a estrutura e a dinâmica dos
mais variados fenômenos a partir da relação simbólica verificada entre um fenômeno e a disposição
dos astros no cosmos no momento exato do início de sua manifestação na superfície terrestre

Astrologia clínica - Especialização da Astrologia Humanista, que utiliza princípios de prática


diagnóstica desenvolvidos a partir de conhecimentos psicológicos e biomédicos, visando facilitar
encaminhamentos terapêuticos nas mais diferentes especialidades.

Astrologia humanista - Escola de estudo da Astrologia desenvolvida a partir do trabalho do


francês radicado norte-americano Dane Rudhyar, o qual abandonou o princípio tradicional de
privilegiar os eventos "previstos pelos movimentos dos astros" e passou a analisar a pessoa que
"atraía ou produzia" os eventos. Com isto, ele abalou os postulados deterministas que até então
prevaleciam e deu início à associação da Astrologia com a Psicologia.

Astronomia - Do grego astronomía, ciência que estuda os fenômenos cósmicos, a constituição e o


movimento dos astros; até o Século XVII, a Astronomia e a Astrologia compunham uma mesma
ciência, tendo-se separado a partir daí.

Balança (ou Libra) - Sétimo signo do Zodíaco, regido por Vênus.

Behaviourismo - Escola de Psicologia que segue os princípios teóricos e de prática


psicoterapêutica desenvolvidos por vários psicólogos, dos quais um dos mais conhecidos é o norte-
americano Bhurrus Frederik Skinner.

Bramanismo - Organização religiosa, política e social hindu dos brâmanes, voltada à utilização
litúrgica dos ensinamentos védicos.

Budismo - Sistema ético e filosófico-religioso fundado na Índia pelo príncipe Siddharta Gautama
(563-438 a.C.), o qual ensina que pela conquista do mais alto conhecimento se escapa do ciclo
reencarnatório e se chega ao nirvana. Por volta do Século III separaram-se os dois ramos distintos
do budismo, o hinayana e o mahayana: ao passo que o hinayana, também chamado "Pequeno
Veículo", espalhado pelo Sul da Ásia, se caracterizou por manter a ortodoxia na busca do nirvana,
o mahayana, também chamado "Grande Veículo", espalhado pelo Norte da Ásia, se caracterizou
pela consideração de que, a despeito do nirvana ser a meta final, o sábio deveria por compaixão
adiá-la, dedicando-se a ensinar aos outros o caminho da salvação.

Câncer (ou Caranguejo) - Quinto signo do Zodíaco, regido pela Lua.

Capricórnio - Décimo signo do Zodíaco, regido por Saturno.

Casa Astrológica - Cada uma das doze divisões do Zodíaco, contadas a partir do Ascendente, e que
simbolizam áreas específicas de experiência vital da pessoa portadora da carta astrológica natal.

101
Cardeal - Uma das Modalidades dos signos do Zodíaco, caracteriza os signos de Áries, Câncer,
Libra e Capricórnio.

Carta natal - Também chamada tema natal, mapa natal ou horóscopo de nascimento, é a carta
astrológica que corresponde ao momento exato do surgimento, na superfície terrestre, de um ser
vivo, evento ou fenômeno.

Complexo - Conjunto inconsciente de idéias e sentimentos, agrupados em torno de um núcleo


emocional específico e com poder de manifestação autônoma em relação ao conjunto de desejos
conscientes.

Composite - Sistema especial de sinastria, no qual a partir de duas ou mais cartas astrológicas
natais se compõe uma carta única e, a partir desta, analisa-se as compatibilidades e
incompatibilidades entre as pessoas envolvidas, bem como a tendência da relação pessoal mantida
por elas, simbolizada por esta carta única composta.

Conjunção - Relação angular de 0o entre dois planetas em uma carta astrológica natal.

Cúspide - Grau exato de início de cada uma das Casas Astrológicas em uma carta astrológica natal.

Descendente - Cúspide da sétima Casa Astrológica do Zodíaco, oposta ao Ascendente.

Devolutiva - Entrevista realizada entre o especialista e o cliente, para que este seja informado do
diagnóstico ou prescrição terapêutica realizada pelo especialista, em qualquer especialidade clínica.

Eclíptica - Faixa imaginária que circunda a Terra, correspondente ao movimento aparente do Sol e
dividida em segmentos iguais que são os doze Signos do Zodíaco.

Efemérides - Tabelas especiais que indicam a posição zodiacal de cada planeta em todos os
momentos de um dado período (mês, ano, década ou mesmo século).

Ego - Instância psíquica, verdadeiro centro da consciência, cuja função é regular e coordenar o
conjunto de ações entre a pessoa e o meio ambiente e entre as diferentes instâncias psíquicas do
indivíduo.

Escorpião - Oitavo signo do Zodíaco, co-regido por Plutão e Marte.

Fixo - Uma das Modalidades dos signos do Zodíaco, caracteriza os signos de Touro, Leão,
Escorpião e Aquário.

Fogo - Um dos elementos do Zodíaco, característico dos signos de Áries, Leão e Sagitário; numa
carta astrológica natal, simboliza uma das funções da consciência, a Intuição.

Fundo do Céu - Cúspide da quarta Casa Astrológica do Zodíaco.

G
102
Gêmeos - Terceiro signo do Zodíaco, regido por Mercúrio.

Hades - Deus grego do mundo subterrâneo e das almas dos mortos, denominado Plutão pela
mitologia romana.

Hinduísmo - Religião atual da maioria dos povos hindus, resultante de uma evolução multissecular
do vedismo e do bramanismo. Dentro do hinduísmo, destacam-se oito escolas religiosas e
filosóficas principais, seis delas ortodoxas (niaia, vaisésica, sânquiá, ioga, mimansa e vedanta) e
duas heterodoxas (budismo e jainismo).

Horóscopo - Do grego horóskopos (de hóra, momento, e skópein, ver), a carta astrológica natal de
uma pessoa, evento ou fenômeno, indicadora de sua dinâmica interna e de suas tendências.

Horizonte - Eixo entre Ascendente e Descendente, que divide uma carta astrológica natal em
Hemisfério Sul (começo da Casa I até o fim da Casa VI) e Hemisfério Norte (começo da Casa VII
até o fim da Casa XII).

Imago - Termo criado por Jung e referente ao conjunto de representações arquetípicas inconscientes
do pai (imago paterna) ou da mãe (imago materna), que predefine o relacionamento entre a criança
e os genitores.

Inconsciente - Todo conteúdo psíquico (lembranças ou funções) desconhecido pela própria pessoa
que o possui em seu psiquismo.

Inconsciente coletivo - Estrato mais profundo do psiquismo individual, comum a toda a espécie
humana, e de onde os arquétipos engendram todos os tipos de modelos psíquicos inconscientes mais
superficiais.

Inconsciente familiar - Todo conteúdo psíquico inconsciente cuja origem é devida aos conflitos
emocionais vividos por ancestrais e incorporados à herança genética da família.

Inconsciente pessoal - Todo conteúdo psíquico inconsciente cuja origem é devida aos processos
vividos pela própria pessoa, desde a fase pré-uterina.

Instância (psíquica) - Não se pode falar de estruturas psíquicas, posto que até onde se sabe a
psique não tem divisões físicas ou sequer neurológicas entre seus diversos componentes; assim, o
termo instância designa um determinado dinamismo psíquico, com atribuições específicas e origem
também específica, independente de sua localização na estrutura neurológica cerebral. Como
exemplos, a instância do ego e do superego, dentro da Psicanálise, ou da persona, do animus, da
anima e da sombra, dentro da Psicologia Analítica.

Intuição - Uma das quatro funções da consciência, cujo papel é perceber o significado implícito de
cada objeto de atenção que entre no campo da consciência, visando apreender sua tendência geral
de desenvolvimento.

103
Jainismo - Escola filosófico-religiosa heterodoxa hindu, criada no Século VI a.C. por Maavira e
caracterizada pela aceitação da doutrina do carma e pela oposição ao sistema de castas defendido
pelo bramanismo.

Júpiter - Corpo celeste utilizado pela Astrologia para simbolizar os impulsos de justiça, legislação,
filosofia e religiosidade no psiquismo humano.

Leão - Quinto signo do Zodíaco, regido pelo Sol.

Libra (ou Balança) - Sétimo signo do Zodíaco, regido por Vênus.

Lua - Corpo celeste utilizado pela Astrologia para simbolizar o núcleo emocional básico de alguém
em uma carta astrológica natal.

Marte - Corpo celeste utilizado pela Astrologia para simbolizar o núcleo central da sexualidade
ativa e da força de vontade de uma pessoa, em uma carta astrológica natal.

Meio do Céu - Cúspide da décima Casa Astrológica do Zodíaco e um dos símbolos fundamentais
da carta astrológica natal, juntamente com o Ascendente, para definir a estrutura arquetípica de
persona de alguém.

Mercúrio - Corpo celeste utilizado pela Astrologia para simbolizar o impulso humano básico do
pensamento ou, como Jung o chama, o "instinto de reflexão".

Mutável - Uma das Modalidades dos signos do Zodíaco, caracteriza os signos de Gêmeos, Virgem,
Sagitário e Peixes.

Netuno - Corpo celeste utilizado pela Astrologia para simbolizar os impulsos de afetividade
transpessoal existentes no psiquismo humano.

Nirvana - Do sânscrito nirvâna, "extinção". No Budismo, é o estado de ausência total de


sofrimento, de paz e plenitude, a que se chega pela realização da sabedoria.

Oposição - Relação angular de 180o entre dois planetas na carta astrológica natal.

Orbe - Variação possível na relação angular verificada entre dois planetas (um trígono, por
exemplo, pode aceitar uma orbe de até 10o, isto é, pode ir de 110o a 130o); esta variação é um dos
assuntos mais controvertidos na Astrologia, dependendo da metodologia e do astrólogo profissional
os valores atribuídos às orbes possíveis para conjunções, sextis, quadraturas, trígonos e oposições.

Peixes - Décimo-segundo signo do Zodíaco, co-regido por Netuno e Júpiter.

104
Pensamento - Uma das quatro funções da consciência, cujo papel é aplicar raciocínios sobre cada
objeto de atenção que entre no campo da consciência, visando identificar o que é.

Persona - Instância psíquica inconsciente cuja função é servir de interface entre o indivíduo e o
meio ambiente e entre o inconsciente e o consciente da pessoa.

Planeta - Termo utilizado pela Astrologia para se referir indistintamente aos dez principais corpos
celestes de uma carta astrológica natal: pela ordem utilizada na Astrologia, Sol, Lua, Mercúrio,
Vênus, Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno e Plutão.

Plutão - Corpo celeste utilizado pela Astrologia para simbolizar os impulsos de poder transpessoal
existentes no psiquismo humano.

Psicanálise - Escola de Psicologia que segue as linhas teóricas e de prática psicoterapêutica criadas
por Sigmund Freud e alguns de seus principais discípulos ou seguidores, como Melanie Klein e
Jacques Lacan.

Psicologia Analítica - Escola de Psicologia que segue as linhas teóricas e de prática


psicoterapêutica criadas por Carl Gustav Jung e alguns de seus principais discípulos ou seguidores,
como Marie-Louise von Franz e James Hillman.

Progressão - Uma das técnicas básicas para o estabelecimento de tendências futuras de um sistema,
na qual se toma cada dia das Efemérides como se fosse um ano, para o cálculo do movimento dos
planetas e, pelos aspectos verificados com os dados da carta astrológica natal, analisa-se a relação
simbólica como seu conjunto de tendências.

Pulsão - Para diferenciar os impulsos psíquicos dos instintos, os quais são sempre comportamentos
hereditariamente fixados e predeterminados, Freud cunhou o termo pulsão ao se referir às
"exigências de trabalho impostas ao aparelho psíquico", visando satisfazer desejos ou atingir
objetivos necessários à descarga das tensões que residem no aparelho psíquico.

Quadratura - Relação angular de 90o entre dois planetas na carta astrológica natal.

Quincúncio - Relação angular de 150o entre dois planetas na carta astrológica natal.

Regência - De acordo com a Astrologia tradicional, determinação de um planeta sobre determinado


signo, atribuindo-lhe "qualidades" específicas; na Astrologia Clínica, de base psicológica, a
regência planetária simboliza a predominância de certas pulsões ou impulsos psíquicos básicos nos
diferentes signos, de acordo com o planeta que os rege e indica esta predominância.

Revolução solar - Sistema de identificação das tendências inconscientes de uma pessoa em


determinado período, baseado no cálculo de uma nova carta astrológica referente ao momento exato
em que o Sol volta a estar no grau exato em que estava no momento de nascimento da pessoa.

Sagitário - Nono signo do Zodíaco, regido por Júpiter.

105
Saturno - Corpo celeste utilizado pela Astrologia para simbolizar o núcleo estrutural da instância
do superego de alguém, em sua carta astrológica natal.

Self - Arquétipo central e organizador de toda a psique.

Sensação - Uma das quatro funções da consciência, cujo papel é permitir a percepção consciente ,
através das sensações corporais, de como é cada objeto de atenção que entre no campo da
consciência.

Sentimento - Uma das quatro funções da consciência, cujo papel é valorar afetivamente cada objeto
de atenção que entre no campo da consciência, visando estabelecer sua importância afetiva.

Sensualidade - Vivência psíquica derivada das experiências de prazer e bem-estar obtidas através
dos sentidos (visão, audição, tato, paladar, olfato e cinestesia).

Sextil - Relação angular de 60o entre dois planetas na carta astrológica natal.

Sexualidade - Em uma definição apenas fisiológica, sexualidade é o instinto que tem por objeto um
parceiro do sexo oposto e por alvo a união dos órgãos sexuais, visando a reprodução da espécie; em
uma visão psicológica, porém, sexualidade é todo um conjunto de atividades que, além disto, visam
obter prazer com a descarga de libido através da satisfação da pulsão sexual.

Sinastria - Análise comparativa entre duas ou mais cartas astrológicas natais, para verificação de
compatibilidades e incompatibilidades entre as pessoas ali simbolizadas, bem como das tendências
verificadas na relação pessoal entre elas.

Sol - Corpo celeste utilizado pela Astrologia para simbolizar o núcleo básico da instância do ego de
alguém em uma carta astrológica natal.

Sombra - Instância central do inconsciente pessoal, composta também por características pessoais
que o indivíduo não aceita em si mesmo.

Sufi - Adepto do sufismo, pensamento místico islâmico que sustenta ser o espírito humano uma
emanação do divino, ao qual tenta se reintegrar.

Superego - Instância psíquica inconsciente cuja função é reprimir ações, reações, pensamentos e
sentimentos tidos como inadequados pela estrutura moral que envolveu a criança na primeira
infância.

Terra - Um dos elementos do Zodíaco, característico dos signos de Touro, Virgem e Capricórnio;
numa carta astrológica natal, simboliza uma das funções da consciência, a Sensação.

Touro - Segundo signo do Zodíaco, regido por Vênus.

Trânsito - Movimento realizado constantemente pelos planetas em seu percurso zodiacal,


estabelecendo relações angulares com os planetas da carta astrológica natal e permitindo, assim,
identificar as tendências do sistema ali simbolizado em cada determinado período.

Transpessoais - Impulsos ou funções psíquicas que englobam e superam as funções e impulsos de


pessoalização do psiquismo; funções que permitem ao psiquismo humano relacionar-se com o Todo

106
que o rodeia, através de mecanismos de percepção que desafiam os conceitos tradicionais de
espaço, tempo e matéria.

Trígono - Relação angular de 120o entre dois planetas na carta astrológica natal.

Urano - Corpo celeste utilizado pela Astrologia para simbolizar os impulsos de pensamento
transpessoal existentes no psiquismo humano.

Upanishads - Textos filosófico-religiosos hindus compostos entre os Séculos VIII e IV a.C. e


anexados aos Vedas.

Vedanta - Escola filosófico-religiosa ortodoxa do pensamento hindu que afirma a unidade essencial
de todas as coisas e principalmente busca atingir a moksa (em sânscrito, "liberação"), um estado de
perfeição liberto de paixões e de inquietude que é o resultado e a função específica do
conhecimento verdadeiro.

Vedas - Conjunto de textos sagrados que constituem o fundamento da tradição filosófico-religiosa


bramânica e hinduísta da Índia

Vedismo - Forma inicial da religião hindu, desenvolvida em torno dos Vedas.

Vênus - Corpo celeste utilizado pela Astrologia para simbolizar o modelo central de sensualidade e
sexualidade passiva no psiquismo de uma pessoa.

Virgem - Sexto signo do Zodíaco, regido por Mercúrio.

Zodíaco - Do grego odiakós e kyklos, "círculo dos animaizinhos". Faixa da esfera celeste, dividida
em 12 seções de 30o, habitualmente designadas como Signos, alguns dos quais não correspondem às
constelações apontadas pelas convenções da Astronomia.

107
BIBLIOGRAFIA
Para aqueles que quiserem um aprofundamento maior e mais enriquecedor nas áreas da
Astrologia, da Astrologia Clínica e da Psicologia, estruturei esta sucinta bibliografia.

Ela está dividida em três seções (Psicologia, Astrologia e Áreas correlatas), dada a
abrangência do tema que este livro tratou.

A terceira seção (Áreas correlatas) é indispensável para quem queira compreender um


pouco melhor a alma humana e suas vicissitudes, as quais foram por muitos séculos
estudadas por homens e mulheres sob uma complexa mescla de Ciências Naturais,
Filosofia, Medicina e Religião.

I
PSICOLOGIA
Assagioli, Roberto. - Psicossíntese - Manual de princípios e técnicas. São Paulo, Editora Cultrix,
1982.

Assumpção, Maria L.T. - Estruturação da entrevista psicológica.São Paulo, Editora Atlas, 1977.

Benjamim, Alfred - A entrevista de ajuda. São Paulo, Livraria Martins Fontes Editora, 1978.

Bleger, José - Temas de psicologia - Entrevista e grupos. São Paulo, Livraria Martins Fontes
Editora, 1980.

Bolen, Jean S. - A sincronicidade e o Tao. São Paulo, Editora Cultrix, 1988.

Fadiman, James e Frager, Robert. - Teorias da personalidade. São Paulo, Editora Harbra, 1986.

Franz, Marie-Louise v. - Alquimia - Introdução ao Simbolismo e à Psicologia. São Paulo, Editora


Cultrix, 1985.

Franz, Marie-Louise v. - Adivinhação e sincronicidade. São Paulo, Editora Cultrix, 1985.

Freud, Sigmund - Psicopatologia da vida cotidiana. Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1969.

Freud, Sigmund - Cinco lições de psicanálise. Rio de Janeiro, Imago Editora, 1973.

Freud, Sigmund - Os casos clínicos. Rio de Janeiro, Imago Editora, 1974.

Freud, Sigmund - Além do princípio do prazer. Rio de Janeiro, Imago Editora, 1975.

Freud, Sigmund - Projeto para uma psicologia científica. Rio de Janeiro, Imago Editora, 1975.

Freud, Sigmund - Inibições, sintomas e ansiedade. Rio de Janeiro, Imago Editora, 1976.

Fromm, Erich - Analisis de la destructividad humana. Buenos Aires, Siglo Veintiuno, 1975.
108
Fromm, Erich, e outros - Zen-budismo e psicanálise. São Paulo, Editora Cultrix, 1976.

Fromm, Erich - O medo à liberdade. Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1980.

Grof, Stanislav - Além do cérebro. São Paulo, Editora McGraw-Hill, 1988.

Grof, Stanislav e Grof, Christina (orgs.) - Emergência espiritual - Crise e transformação pessoal.
São Paulo, Editora Cultrix, 1992.

Jacobi, Jolande. - Complexo, arquétipo, símbolo. São Paulo, Editora Cultrix, 1985.

James, William - As variedades da experiência religiosa - Um estudo sobre a natureza humana. São
Paulo, Editora Cultrix, 1991.

Jung, Carl G. - Tipos psicologicos. Buenos Aires, Editorial Sudamericana, 1972.

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Nichols, Sallie - Jung e o Tarô. São Paulo, Editora Cultrix, 1988

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