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14/01/2020 Evolução Histórica das Relações Internacionais - Da Era Moderna ao Entre-Guerras

Evolução Histórica das Relações Internacionais - Da Era


Moderna ao Entre-Guerras

Site: Instituto Legislativo Brasileiro - ILB Impresso por: Tarsila Oliveira


Curso: Relações Internacionais: Teoria e História - Turma 1 Data: terça, 14 jan 2020, 20:29
Evolução Histórica das Relações Internacionais - Da Era Moderna
Livro:
ao Entre-Guerras

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14/01/2020 Evolução Histórica das Relações Internacionais - Da Era Moderna ao Entre-Guerras

Descrição

MÓDULO II - EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS - DA


ERA MODERNA AO ENTRE-GUERRA

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Sumário

Módulo II - Evolução Histórica das Relações Internacionais - Da Era Moderna ao Entre-Guerras

Unidade 1 - As Relações Internacionais na Era Moderna


Pág. 2 - A Sociedade Europeia da Era Moderna
Pág. 3 - A Sociedade Europeia da Era Moderna
Pág. 4 - A Sociedade Europeia da Era Moderna
Pág. 5 - A Sociedade Europeia da Era Moderna
Pág. 6 - A Sociedade Europeia da Era Moderna
Pág. 7 - A Sociedade Europeia da Era Moderna
Pág. 8 - A Sociedade Europeia da Era Moderna
Pág. 9 - A Sociedade Europeia na Era Moderna
Pág. 10 - A Sociedade Europeia na Era Moderna
Pág. 11 - A Sociedade Europeia na Era Moderna
Pág. 12 - A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648)
Pág. 13 - A Guerra dos Trinta Anos ( 1618-1648)
Pág. 14 - A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648)
Pág. 15 - A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648)
Pág. 16 - A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648)
Pág. 17 - A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648)

Unidade 2 - A Nova Ordem Internacional do Século XIX


Pág. 2 - A Nova Internacional do Século XIX - Antecedentes
Pág. 3 - A Nova Ordem Internacional do Século XIX - Antecedentes
Pág. 4 - A nova Ordem Internacional do Século XIX - Antecedentes
Pág. 5 - A Nova Ordem Internacional do Século XIX - Antecedentes
Pág. 6 - A Nova Ordem Internacional do Século XIX - Antecedentes
Pág. 7 - A Nova Ordem Internacional do Século XIX - Antecedentes
Pág. 8 - A Nova Ordem Internacional do Século XIX - Antecedentes
Pág. 9 - A Nova Ordem Internacional do Século XIX - Antecedentes
Pág. 10 - A Nova Ordem Internacional do Século XIX - Antecedentes
Pág. 11 - A Nova Ordem Internacional do Século XIX - Antecedentes
Pág. 12 - A Nova Ordem Internacional do Século XIX - Antecedentes
Pág. 13 - Antecedentes
Pág. 14 - Antecedentes
Pág. 15 - Antecedentes
Pág. 16 - Antecedentes
Pág. 17 - Antecedentes
Pág. 18 - Antecedentes
Pág. 19 - Antecedentes
Pág. 20 - Antecedentes
Pág. 21 - Conclusão

Unidade 3 - A I Guerra Mundial e os Entre-Guerras


Pág. 2 - A I Guerra Mundial
Pág. 3 - A I Guerra Mundial
Pág. 4 - A I Guerra Mundial
Pág. 5 - A I Guerra Mundial
Pág. 6 - A I Guerra Mundial
Pág. 7 - A I Guerra Mundial
Pág. 8 - A I Guerra Mundial
Pág. 9 - A I Guerra Mundial
Pág. 10 - A I Guerra Mundial
Pág. 11 - A I Guerra Mundial
Pág. 12 - A I Guerra Mundial
Pág. 13 - O Entre-Guerras e a Nova Ordem Internacional
Pág. 14 - O Entre-Guerras e a Nova Ordem Internacional
Pág. 15 - O Entre-Guerras e a Nova Ordem Internacional
Pág. 16 - O Entre-Guerras e a Nova Ordem Internacional
Pág. 17 - O Entre-Guerras e a Nova Ordem Internacional
Pág. 18 - O Entre-Guerras e a Nova Ordem Internacional
Pág. 19 - O Entre-Guerras e a Nova Ordem Internacional
Pág. 20 - O Entre-Guerras e a Nova Ordem Internacional
Pág. 21 - O Entre-Guerras e a Nova Ordem Internacional
Pág. 22 - O Entre-Guerras e a Nova Ordem Internacional
Pág. 23 - O Entre-Guerras e a Nova Ordem Internacional
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Pág. 24 - O Entre-Guerras e a Nova Ordem Internacional


Pág. 25 - O Entre-Guerras e a Nova Ordem Internacional
Pág. 26 - O Entre-Guerras e a Nova Ordem Internacional
Pág. 27 - O Entre-Guerras e a Nova Ordem Internacional

Exercícios de Fixação - Módulo II

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Módulo II - Evolução Histórica das Relações Internacionais - Da Era Moderna


ao Entre-Guerras

Unidade 1 - As Relações Internacionais na Era Moderna


Unidade 2 - A Nova Ordem Internacional do Século XIX
Unidade 3 - A Primeira Guerra Mundial e o Entre-Guerras

Esta aula apresenta um panorama histórico das Relações Internacionais. Assista com atenção!

Era Moderna

Duração: 9min13

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Unidade 1 - As Relações Internacionais na Era Moderna

Ao término desta unidade, o aluno deverá ser capaz de identificar os principais


aspectos da evolução histórica da Sociedade Internacional, do início da Idade
Moderna (século XV) ao fim das Guerras Napoleônicas (século XIX). Deverá,
portanto, estar apto a discorrer sobre:
• As grandes navegações;
• As lutas entre católicos e prostetantes;
• A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648);
• A paz de Westfália(1648) e
• Europa no século XVIII e a ascensão da França como Potência hegemônica.

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Pág. 2 - A Sociedade Europeia da Era Moderna

O período que vai do ano 1000 até 1800 corresponde à transição do feudalismo para o capitalismo. Nesse período, a sociedade europeia feudal – rural,
fragmentada no nível nacional, unida pela religião e marcada pelos vínculos de vassalagem – transformou-se em outra completamente distinta, a
sociedade capitalista. Nesta, o importante era a vida urbana, influenciada pelas transações comerciais e fundada nas relações de trabalho assalariado.

Quatro acontecimentos são especialmente importantes nesse processo: o Renascimento, as


Grandes Navegações, o advento dos Estados nacionais absolutistas e a Reforma.

O Renascimento

Marvin Perry observa que “o termo Renascimento foi cunhado em referência à tentativa de artistas e filósofos de recuperar e aplicar a antiga erudição
e modelos da Grécia e de Roma”. O movimento surgiu na Itália, aproximadamente em 1350 e se estendeu até meados do século XVII. Não surgiu na
Itália por acidente. No século XIV, ela era a região mais dinâmica da Europa: inúmeros centros comerciais, como Gênova, Veneza, Florença e Milão se
desenvolviam com vigor. Essas cidades italianas dominavam o comércio com o Oriente e, com isso, destacavam-se no contexto europeu como
Potências comerciais e, algumas vezes, militares.

O período é um ponto de inflexão. Os contemporâneos tinham a percepção de que davam início a um novo tempo. Tanto é assim que, para se
diferenciarem, criaram o termo “Idade Média” para se referirem aos seus predecessores.

O Renascimento é especialmente marcado pelas mudanças ocorridas nas artes – destacadamente na pintura, escultura e arquitetura – e nas ciências.
Na Idade Média, as artes tinham o propósito fundamental de servir à religião cristã, vinculando-se, muitas vezes, às determinações da Igreja. Na
Renascença, o importante era a valorização do ser humano: tinha-se o antropocentrismo renascentista se contrapondo ao teocentrismo da Igreja de
Roma.

Essa percepção antropocêntrica de mundo não significa, todavia, que houvesse uma rejeição à religião. Sem se afastarem da religião, os renascentistas
admitiam considerar o homem, obra máxima da Criação divina, o centro de suas atenções.

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Pág. 3 - A Sociedade Europeia da Era Moderna

O Renascimento (cont.)

E o Renascimento não ocorreu apenas nas Artes. A Ciência, da mesma forma, foi afetada pelas investigações de Copérnico, Kepler e Galileu. Copérnico,
por exemplo, foi o criador da teoria heliocêntrica, que estabelecia o Sol como o centro do universo. Isso era uma revolução, porque tirava da Terra a
primazia sobre os demais corpos celestes.

O Mapa 1 ilustra o desenvolvimento do Humanismo na Europa e a expansão renascentista da Itália para todo o continente.

Mapa 1: O Humanismo e a Renascença na Europa


(Séculos XV e XVII)

Fonte :http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ma/matm30.html

Interessante notar nos círculos vermelhos e verdes os principais pontos de florescimento do Renascimento na Itália e em toda a Europa,
respectivamente. O quadrado rosa marca o local do surgimento da imprensa, e os principais focos artísticos estão assinalados pelos pontos negros, de
fato, importantes cidades europeias. Já as setas representam a difusão do renascimento italiano.

                                                                                                     

Sugerimos pesquisa mais aprofundada a respeito da importância do


Renascimento na formação da sociedade europeia. Uma fonte importante é A
Evolução da Sociedade Internacional, de Adam Watson (Brasília: Editora UnB,
2004).

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Pág. 4 - A Sociedade Europeia da Era Moderna

As Grandes Navegações

As Grandes Navegações, iniciadas no final do século XV, são um marco na evolução histórica da Sociedade Internacional. Por meio delas, os europeus
aventuram-se além dos limites tradicionais de seu continente e, de maneira generalizada, lançam-se pelos oceanos e seguem para os “quatro cantos
do mundo”, entrando em contato com as sociedades asiática, africana e americana como nunca ocorrera antes. Com as Grandes Navegações, tem
início um processo que culminaria na hegemonia europeia no mundo e na supremacia da chamada “civilização ocidental” sobre outros povos – muitas
vezes, com resultados fatais para as civilizações não europeias.

As Grandes Navegações podem ser consideradas o primeiro processo de globalização da era moderna. Com elas, o comércio internacional se
desenvolveu e foram estabelecidos vínculos entre as diversas sociedades internacionais que existiam na época. Ademais, graças ao estabelecimento
dos vínculos mercantilistas com o Novo Mundo – as Américas –, com a África e com o Extremo Oriente, a Europa se desenvolveu, o modelo capitalista
se estruturou, e os Estados-nações europeus se tornaram Grandes Potências. Chegou-se ao ponto em que os conflitos entre os Estados europeus
repercutiam pelo planeta.

Três fatores levaram às Grandes Navegações do século XV e seguintes. O primeiro foi o surgimento de um vívido interesse pelas vantagens que
poderiam ser obtidas por meio do comércio. Para alcançarem a Europa, os produtos do Oriente ou da África subsaariana passavam por uma quantidade
significativa de intermediários. Tal fato encarecia substancialmente os produtos tão desejados pelos europeus, como cravo, canela, pimenta, gengibre,
noz-moscada, seda ou porcelana. A Economia, como força profunda, impulsionaria os europeus para as Grandes Navegações.

Em segundo lugar, havia que se considerar a escassez de metais preciosos na Europa. Sem eles, era muito mais difícil a compra de bens da Ásia ou da
África. Isso também dificultava o desenvolvimento das relações comerciais e, consequentemente, das relações sociais e políticas entre as diversas
regiões da Europa.

Em terceiro lugar, o século XV foi um momento de grandes melhorias na construção de navios, nos conhecimentos geográficos e nas habilidades
navais. Nesse sentido, a tecnologia passou a ser outra força profunda a produzir mudanças na conduta dos Atores internacionais do período. Vale
lembrar que o conhecimento, tanto de construção de embarcações quanto de técnicas de navegação, era considerado um bem de extremo valor e cuja
proteção era questão de Estado, fundamental para países como Portugal e Espanha.

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Pág. 5 - A Sociedade Europeia da Era Moderna

As Grandes Navegações (cont.)

Foram os portugueses que primeiro se lançaram em busca de novas rotas de comércio, desafiando não só a realidade do desconhecido oceano, mas
também as ideias e temores do desconhecido gerados pelo imaginário medieval. Apesar dos custos e dos riscos altíssimos, as viagens compensavam
pelos também altíssimos lucros obtidos. As viagens geravam, muitas vezes, lucros de até 6.000%.

Os lucros serviam, pois, de motor que levava às incursões no litoral da África e à posterior circum-navegação desse continente, bem como às viagens
até a Índia e à “descoberta”, pelos europeus, da América. E não tardou para que os europeus – primeiro, os portugueses e espanhóis e, depois,
holandeses, franceses e ingleses – instalassem feitorias em locais da Ásia, África e América, que, posteriormente, se transformaram em colônias.

O Mapa 2 ilustra os impérios coloniais português (em vermelho) e espanhol (em verde) em seu apogeu. Destaque-se a linha divisória do mundo
estabelecida por Portugal e Espanha pelo Tratado de Tordesilhas (1494), por meio do qual, com o assentimento do Papa, os dois Estados católicos
buscavam legitimar seus direitos sobre as terras “descobertas”. Claro que nem os povos que viviam nessas terras e nem os demais monarcas europeus
foram consultados, de modo que rapidamente Inglaterra, França e Holanda questionariam essa hegemonia luso-espanhola, inclusive com a irônica
requisição do “testamento de Adão” que garantira aos ibéricos a herança do mundo.

Mapa 2: Impérios Coloniais do Século XV (Portugal e Espanha)

Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ma/matm36.html

O fato é que logo as principais potências europeias se lançariam em busca de novas terras e novas rotas, e uma nova era se iniciaria nas
relações internacionais.

Como observa Perry (1999, p. 280), “num desenvolvimento sem precedentes, uma pequena parte do globo, a Europa ocidental, tornara-se
a senhora das vias marítimas, dona de muitas terras em todo o mundo e o banqueiro e recebedor de lucros numa economia mundial que
começava a despontar”. O pequeno continente dava sinais de seu poder e da dominação que exerceria nos séculos seguintes sobre povos e
impérios de todo o globo.

Sugerimos a leitura da obra de Paul Kennedy (1991), Ascensão e Queda das Grandes
Potências, em que o autor comenta, entre outras coisas, como os povos de um
continente fragmentado, com sociedades atrasadas em relação a outras
sociedades do planeta, conseguem se lançar nos oceanos e conquistar o mundo e
as sociedades mais prósperas e desenvolvidas.

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Pág. 6 - A Sociedade Europeia da Era Moderna

As Grandes Navegações (cont.)

Os efeitos para as outras regiões do mundo foram profundos: populações inteiras – especialmente nas Américas – foram dizimadas; outras tantas,
particularmente na África, foram reduzidas à condição de escravas; plantas, animais e doenças foram espalhadas pelos quatro cantos do mundo, e,
principalmente, dava-se início a um tipo de economia global nunca antes visto. São forças profundas que merecem atenção: a tecnologia, dado o
aprimoramento das capacidades bélicas dos europeus e a religião, uma vez que, junto com os conquistadores, iam os catequizadores e a ideia de
“obrigação” que tinham os europeus de “difundir o cristianismo aos povos mais atrasados” (missões).

O Mapa 3 ilustra a época das grandes navegações e da expansão europeia. A partir das terras conhecidas pelos europeus na Idade Média (trecho em
laranja), há a expansão por terra – com as viagens de Marco Pólo que apresentaram a Europa ao Império Chinês – e por mar – graças a intrépidos
navegadores como Cristóvão Colombo (que descobriu a América), Vasco da Gama (o qual, ao dobrar o “Cabo das Tormentas”, passando a chamá-lo de “Cabo
da Boa Esperança”, estabeleceu a rota marítima para as Índias, garantindo a Portugal a hegemonia no comércio com a Ásia) e Fernando de Magalhães (primeira viagem ao
redor do mundo – apesar de ele mesmo ter morrido no caminho) –, e um Novo Mundo surge diante do europeu renascentista. Cite-se ainda as viagens do inglês Jean
Cabot, que em 1497 chega à Nova Inglaterra, e do francês Jacques Cartier, que em 1534 chega à foz do rio São Lourenço e “toma as terras do Canadá para a Coroa
Francesa”. O mapa revela as terras conhecidas pelos europeus no fim do século XVI (em amarelo).

Mapa 3: As Grandes Navegações e as “Descobertas” Européias

Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ma/matm34.html

Para melhor compreender o significado das grandes navegações e seu impacto nas relações
internacionais dos séculos XV e XVI, um filme interessante é 1492: A Conquista do Paraíso, de
Ridley Scott. Para saber mais sobre o filme, veja o resumo e o contexto histórico na internet.

Leia também o texto As Grandes Navegações .

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Pág. 7 - A Sociedade Europeia da Era Moderna

O Advento do Estado Absolutista

A partir do século XIII, ocorreu na Europa o fenômeno do fortalecimento do rei e da monarquia. Por intermédio de guerras, alianças e casamentos, os
reis se fortaleceram e foram decisivos nos processos de construção dos Estados nacionais europeus. Os Estados nacionais se formaram, então, como
uma cunha entre o poder local da nobreza e das cidades e o poder universal da Igreja. Alguns, como Espanha, França e Inglaterra, foram bem
sucedidos. Outros, como Itália e Alemanha, não conseguiram constituir-se em unidades nacionais até a última metade do século XIX.

O Mapa 4 revela a divisão da Europa no século XIII.

Mapa 4: A Europa no Século XIII

Fonte: http://perso.wanadoo.fr/alain.houot/index.html

No processo de fortalecimento da monarquia, foi importante a criação de algumas instituições. A primeira delas foi a do imposto nacional, que se
diferenciava da cobrança de tributos feita pelos senhores feudais. Enquanto esta se fundava nas relações pessoais de vassalagem, o imposto moderno
baseava-se na ideia de que a contribuição era feita para a construção de um bem comum.

A segunda importante instituição foi a de exércitos nacionais. Se, antes, os reis dependiam das relações pessoais com a nobreza, pois precisavam dos
senhores feudais e de seus exércitos particulares, agora tinham uma força militar própria, mantida com os novos impostos arrecadados.

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Pág. 8 - A Sociedade Europeia da Era Moderna

O Advento do Estado Absolutista (cont.)

O terceiro aspecto importante para o desenvolvimento do Estado absolutista foi a criação de uma administração civil ligada ou ao rei ou ao Estado.
Dessa forma, o soberano se desligava das relações particulares com a nobreza para poder governar. Ademais, tinha-se aí o embrião do que seria a
burocracia estatal, essencial para o governo dos Estados modernos.
                                                                          

Uma obra importante sobre o Absolutismo é "Linhagens do Estado


Absolutista", de Perry Anderson.

Os Estados absolutistas eram, pois, Estados em que o poder se encontrava concentrado, em razão das
instituições como o sistema tributário, o exército nacional e a administração pública, nas mãos do rei. A figura do
Estado se fundia com a do soberano. Daí as palavras atribuídas a Luís XIV, soberano absolutista francês: “L’Etat
c’est moi!” (“o Estado sou eu!”).

Importante considerar, também, a preocupação dos Estados absolutistas com a economia nacional,
especialmente com o comércio. Essa preocupação se dava, porque visava à arrecadação de fundos,
especialmente sob a forma de metais preciosos e impostos. Nesse sentido, uma nova classe, cada vez mais
próxima do soberano, se estruturou: a burguesia. Era formada pelos comerciantes e outros profissionais liberais
das cidades que ganhavam força frente à nobreza ao contribuir para o financiamento do Estado moderno.

Por fim, o aparecimento dos estados absolutistas provocou grande mudança no sistema internacional. Hélio
Jaguaribe (2001, p. 481) observa que “o século XVII se caracterizou na Europa pela emergência de grandes
potências, contrastando com o mundo do Renascimento, quando as cidades-estado da Itália desempenhavam os
principais papéis na arena internacional, cercadas por países potencialmente poderosos, como a França, a
Espanha e a Inglaterra, que, no entanto, viviam em condições medievais. No princípio do século XVII, esses
países tinham conseguido em grande parte alcançar sua integração nacional, e começavam a ter um papel
internacional importante."

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Pág. 9 - A Sociedade Europeia na Era Moderna

A Reforma (cont.)

No ano de 529, a Academia de Platão, em Atenas, fora fechada. Em um decreto desse ano, o imperador romano Justiniano manifestou-se contra a
filosofia, iniciando uma acomodação do desenvolvimento cultural em direção à Igreja. No mesmo ano, é fundada a Ordem dos Beneditinos, a primeira
grande ordem religiosa. Dali em diante, os mosteiros passariam a deter o monopólio da educação, da reflexão e da meditação. Na Idade Média, teve
plena vigência o clássico ensinamento de Agostinho: “é necessário compreender para crer e crer para compreender”.

No século XVI, iniciou-se um amplo movimento de reforma religiosa, que marcou o fim do monopólio religioso da Igreja Católica Romana sobre a
Europa Ocidental. Esse movimento afetaria definitivamente a política, a economia, a cultura, a sociedade, enfim, as relações de poder no cenário
europeu e mundial.

Até a Reforma, além do monopólio sobre a fé da cristandade, a Igreja Católica tinha um domínio cultural, político, econômico e espiritual único. Cada
aspecto da vida era rigidamente controlado. A força do Papa, o Bispo de Roma, tanto política quanto religiosa, sobre a Europa Ocidental era tamanha
que, no século XIII, a Igreja podia proclamar que cada pessoa, praticamente em toda a Europa Ocidental, tinha fé em Deus de acordo com sua
doutrina e seus sacramentos.

Esse controle, no entanto, acabou por se voltar contra a própria instituição. Como observa Perry (1999, p. 231), “obstruído pela riqueza, viciado no
poder internacional e protegendo seus próprios interesses, o clero, do papa abaixo, tornou-se alvo de um bombardeio de críticas.”. De um lado,
criticava-se a supremacia da Igreja sobre os reis. De outro, a corrupção, o nepotismo, a busca de riqueza pessoal por parte dos bispos e do papa, o
relaxamento do cumprimento das obrigações espirituais e a venda de indulgências. Inúmeros cristãos passaram a criticar abertamente as práticas da
Igreja e do clero. O mais famoso e mais importante crítico da Igreja foi o monge Martinho Lutero.

A Reforma se iniciou em 1517, com as críticas de Lutero à venda de indulgências. Indulgências eram obras que os cristãos faziam, em vida, para
reduzir o seu tempo, após a morte, no purgatório. A maior parte dessas obras era constituída de doações à Igreja. Lutero questionava a validade moral
da venda de indulgência e a possibilidade de que elas poderiam redimir o homem pecador. Lutero defendia que o homem, apesar de ser
intrinsecamente condenado pelo pecado original, poderia obter a redenção por meio da fé, do arrependimento pessoal, do arrependimento pelos
pecados e pela confiança na piedade de Deus.

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Pág. 10 - A Sociedade Europeia na Era Moderna

A Reforma (cont.)
Aspecto importante das teses de Lutero repousa no fato de que o monge propunha, em última instância, a dispensa da necessidade da própria Igreja
para que o homem tivesse sua religiosidade e seu contato com o Criador. As consequências da doutrina luterana ultrapassavam a esfera religiosa, pois
ameaçavam a dominação político-ideológica que a Igreja de Roma exercia sobre os reinos europeus e seus soberanos.

Lutero, ao contrário de outros que atacaram a Igreja, obteve proteção da aristocracia europeia. Mais especificamente, foi
protegido por Frederico, príncipe da Saxônia, na Alemanha. Posteriormente, Lutero deixou claro que não desejava de forma
alguma ser uma ameaça à autoridade política dos príncipes alemães. Além disso, declarou que o bom cristão era aquele que
obedecia às leis e à ordem.

De fato, Martinho Lutero obteve a simpatia de príncipes e de cidades em toda a Alemanha. As razões foram simples. Ao se
desqualificar a Igreja Católica, abria-se a possibilidade de confisco das terras desta pelos príncipes e nobres e do fim dos
pesados tributos que a ela eram pagos. Além disso, os príncipes alemães sentiam-se livres para resistir ao Sacro Império
Romano, do católico Carlos V. Este, pressionado por ameaças externas – a França, a oeste, e os turcos, a leste – acabou por
assinar a Paz de Augsburgo, em 1555. Esse acordo basicamente definiu que cada príncipe poderia determinar a religião de
seus súditos.

Filme indicado: Lutero, de Eric Till, conta a história do monge alemão que se
rebelou contra o abuso de poder na Igreja Católica há 500 anos. Trata-se de filme
interessante para auxiliar na compreensão da Reforma e da Contrarreforma.

As 95 teses de Lutero que abalaram a Europa renascentista estão disponíveis em um sitio


interessante: a Revista Espaço Acadêmico. Veja, também, a biografia do monge.

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Pág. 11 - A Sociedade Europeia na Era Moderna

Reforma (cont.)

No Mapa 5, temos a Europa no século XVI, dividida entre os diferentes grupos de protestantes (em verde) – calvinistas, luteranos e anglicanos –,
católicos fiéis a Roma (em rosa) e ortodoxos (em laranja). Cite-se ainda a constante pressão do Império Otomano, baluarte do mundo islâmico e um
Ator muito relevante no cenário europeu da época. Claro que as disputas da cristandade centravam-se em católicos x protestantes, mas alianças com
Constantinopla muitas vezes eram consideradas.

Mapa 5: A Europa à Época da Reforma: a Divisão da Cristandade

Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ma/matm32.html

É importante observar que o descontentamento com a Igreja era grande em boa parte da Europa. O protestantismo, não só da linha luterana,
espalhou-se com muita rapidez por todo o norte do continente. A reação católica, a Contrarreforma, deu-se sob diversas formas. A primeira delas foi
no campo da atuação religiosa. Como observa Perry (1999, p. 242), “a princípio, a energia para a reforma veio do clero comum, bem como de leigos
como Inácio de Loyola”. Loyola foi o fundador da famosa Companhia de Jesus. Como fora treinado como soldado, ele organizou os jesuítas de forma
rígida e altamente disciplinada.

A Contrarreforma também enfatizava a pregação, a reconversão dos que se afastaram da Igreja, a construção de templos, a censura, a perseguição a
protestantes e a outros hereges. Também é importante ressaltar que a Igreja, por intermédio do Concílio de Trento, de 1545 a1563, modificou ou
eliminou muito dos pontos criticados pelos protestantes, como, por exemplo, a venda de indulgências. Por outro lado, o Concílio não fez nenhuma
concessão ao protestantismo.

A Reforma significou o enfraquecimento da Igreja e o consequente fortalecimento dos Estados. Além disso, a Europa se viu dividida em duas: uma
protestante, no norte, e outra católica, no sul do continente. Essa tensão permaneceria e seria especialmente sentida no século seguinte.

De fato, as disputas entre católicos e protestantes teriam um importante reflexo nas relações internacionais europeias durante mais de dois séculos,
em especial porque estavam associadas também às rivalidades entre as Potências europeias. Do ponto de vista das relações internacionais, os novos
Estados protestantes aliavam-se para se contrapor à dominação hegemônica da Igreja e de seu principal defensor político, a dinastia dos Habsburgos,
o grandehegemon europeu, que tinha um império que englobava a Espanha e a Áustria. Essas rivalidades religiosas e políticas culminariam na Guerra
dos Trinta Anos.

Os conflitos entre católicos e protestantes marcaram a Europa por dois séculos, e seus efeitos
alcançam nossos dias. Um filme muito interessante para se compreender o período é A Rainha
Margot, de Patrice Chéreau. Veja o resumo e o contexto histórico do filme.

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Pág. 12 - A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648)

A Guerra dos Trinta Anos, de 1618 a 1648, primeiro grande conflito armado dos tempos modernos, envolveu grande parte da Europa. Essa grande
confrontação do século XVII poria termo ao período de um século de disputas entre católicos e protestantes e daria início a um novo sistema europeu
de relações internacionais cujos fundamentos alcançariam o século XXI.

O sistema internacional no século XVII foi marcado inicialmente pela preponderância da Espanha. Seus concorrentes, porém, não tardaram a ocupar o
seu lugar de destaque. A França surgiu como um país importante enquanto a Inglaterra preparou o terreno, especialmente nas últimas décadas do
século, para se tornar hegemônica no século seguinte. A perda da hegemonia espanhola esteve ligada a vários fatores. Jaguaribe (2001, p. 486)
observa que a decadência espanhola “resultou da combinação de quatro causas principais: certas debilidades institucionais; estruturas sociais
predatórias; compromissos ideológicos utópicos; e a adoção de políticas equivocadas”

Importante lembrar que a Espanha, católica, era a potência hegemônica no início do século XVII. O domínio de Felipe III (1598-1621) abrangia toda a
Península Ibérica, as colônias da América, incluindo o Brasil, o sul da Itália, Milão, ilhas no Mediterrâneo, Filipinas e enclaves na África.

Especialmente equivocada foi a decisão espanhola de ser defensora da fé católica. Isso não apenas fez ressurgir, em grau muito maior, as guerras
religiosas do século anterior, mas também levou a Espanha a perder a sua condição de principal potência do continente europeu.

O século XVII, ressalta Jaguaribe (2001, p. 485), "foi marcado pelos conflitos religiosos mais agudos já ocorrido no ocidente. Herdados do século
precedente, eles culminaram na Guerra dos Trinta Anos (1618-1648)", que foi, pois a tentativa militar dos católicos de conter o protestantismo.

O Mapa 6 ilustra a Europa em 1600, dividida entre reinos católicos e protestantes.

Mapa 6: A Europa em 1600

Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ancien_R/ancienr7.html

Antes de entrarmos diretamente na Guerra dos Trinta Anos, convém um rápido parêntese. Em 1556, o Imperador Carlos V, após ter assinado a Paz de
Augsburgo, abdicou e dividiu em dois os seus domínios: de um lado, a Espanha, Países Baixos, colônias americanas e Itália ficaram para seu filho
Felipe II (no mapa, em laranja); de outro, a Áustria, que ficou com seu irmão Fernando (em amarelo). Com isso, a família Habsburgo ficou dividida em
dois ramos, ambos católicos e, frequentemente, aliados.

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Pág. 13 - A Guerra dos Trinta Anos ( 1618-1648)

A Guerra

A chamada Guerra dos Trinta Anos começou em 1618 como conflito religioso entre
católicos e protestantes na Boêmia e adquiriu caráter político em torno das contradições
entre Estados territoriais e principados. Envolveu a Alemanha, Áustria, Hungria, Espanha,
Holanda, Dinamarca, França e Suécia.

Importante para o início da Guerra dos Trinta Anos foi a ascensão de Fernando II ao trono
austríaco, em 1619. Na época, Fernando II, imperador do Sacro Império Romano-
Germânico era também rei da Boêmia. Os rebeldes negaram-lhe esse título e
entronizaram o príncipe eleitor calvinista Frederico do Palatinado. Segundo Perry (1999,
p. 266):

A Guerra dos Trinta Anos começou quando os boêmios (...) tentaram colocar
no seu trono um rei protestante. Os Habsburgos austríacos e espanhóis
reagiram, mandando um exército ao reino da Boêmia; de súbito, todo o
império foi forçado a tomar partido dentro de linhas religiosas. A Boêmia sofreu
uma devastação quase inimaginável: três quartos de suas cidades foram
saqueadas e queimadas e sua aristocracia foi praticamente exterminada.

O resultado foi o envolvimento de outros príncipes protestantes. O mais importante deles


na primeira fase da Guerra, que vai até 1632, foi o rei da Suécia, Gustavo Adolfo, morto em batalha naquele ano. A possibilidade de paz entre
Fernando II e os príncipes alemães leva à cena um novo Ator, a França, preocupada com a excessiva força que poderia ter a Áustria.

Sob o comando do cardeal Richelieu, a França, apesar de católica como os austríacos, posicionou-se contra estes. Primeiramente, de forma encoberta,
depois de maneira ostensiva. Richelieu estava convencido de que a continuidade da França como grande poder internacional dependia da guerra contra
os Habsburgos. Assim, a França financiava ou apoiava todos os que se opusessem ao domínio austríaco ou espanhol, ou, quando necessário,
guerreavam diretamente contra eles. A França, aliás, derrotou o até então imbatível exército espanhol na batalha de Rocroy, em 1643. Para a
Espanha, o custo dessa derrota foi altíssimo, pois significou o fim da invencibilidade de seu poderoso exército e a vida de 15 mil soldados.

A maneira como Richelieu se portou politicamente influenciaria o sistema internacional pelos próximos séculos. Richelieu criou ou ajudou a criar
conceitos como o de “razão de estado” e “equilíbrio de poder”. Henry Kissinger (1999, p. 60) analisa que “de início, ele [Richelieu] queria impedir a
dominação dos Habsburgos sobre a Europa, mas ao final deixou um legado que por dois séculos provocou seus sucessores a tentarem o primado
francês na Europa. Do fracasso dessas tentativas, brotou o equilíbrio de poder, primeiro como um fato da vida, depois como forma de organizar
relações internacionais (...). Quando a guerra terminou, em 1648, a Europa Central fora devastada e a Alemanha perdera quase um terço de sua
população. No tumulto desse conflito trágico, o cardeal Richelieu enxertou o princípio da raison d´état (razão de estado) na política externa francesa,
princípio que os outros estados europeus adotaram nos cem anos seguintes”.

Convém reproduzir mais algumas das conclusões de Kissinger (1999, p. 63): “o objetivo de Richelieu era romper o que ele considerava o cerco da
França, exaurir os Habsburgos e impedir a emergência de uma grande potência nas fronteiras da França – especialmente na fronteira alemã. Seu único
critério para alianças era que elas atendessem aos interesses da França, aplicado primeiramente aos estados protestantes, mais tarde até ao Império
Otomano muçulmano”.

Assim, a conduta da França reflete a maneira racional e pragmática como as grandes Potências atuam no cenário internacional. Apesar de católica, a
França não hesitou em aliar-se aos protestantes para se contrapor à hegemonia espanhola. Essa conduta garantiria o fortalecimento da França nos
anos seguintes, de modo que, com o fim da guerra e o declínio do poder espanhol, o Estado francês assumiria o papel de nova Potência hegemônica no
continente.

A Guerra dos Trinta Anos chegaria a termo por meio da Paz de Westfália (1648), e uma Nova Ordem seria estabelecida no cenário europeu e,
consequentemente, nas relações internacionais da Era Moderna.

Leia mais sobre a Guerra dos Trinta Anos acessando o sítio “Vultos e episódios da Época
Moderna”.

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Pág. 14 - A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648)

A Paz de Westfália (1648)


A paz foi alcançada porque a guerra, após as suas várias fases, se mostrou impossível de ser vencida de maneira efetiva. Segundo Jaguaribe (2001, p.
483), “se foi possível chegar finalmente a um acordo negociado, depois de disputas ferozes, isso se deveu à incapacidade dos Atores em conflito de
impor pela força os seus respectivos dogmas”.

O primeiro dos tratados, assinado em janeiro de 1648, pôs fim à guerra entre Espanha e Holanda. Em outubro do mesmo ano, pressionada por seus
aliados alemães, a Espanha também selou a paz com os franceses.

Os tratados de Westfália significaram o fim das ambições dos Habsburgos austríacos e espanhóis e a vitória da política externa francesa, iniciada com
Richelieu. Os franceses, além de acabarem com as pretensões dos seus adversários, ainda tiveram algumas importantes conquistas territoriais. O
fantasma de uma Alemanha unificada, ameaça à França pelo leste, manteve-se afastado por duzentos anos.

Carpentier e Lebrun (1993, p. 229) anotam que a Europa era “politicamente muito diferente da de 1560 ou 1600. A Casa da Áustria já não era um
perigo para a paz europeia. (...) A Espanha, enfraquecida e amputada, já se não contava entre as potências de primeira plana. A Inglaterra, saída do
isolamento em que havia ficado a seguir à guerra civil (...), as Províncias Unidas [Holanda], independentes e aumentadas, a Suécia, dominadora do
Báltico, eram já grandes potências (...). O facto essencial era, todavia, a situação de preponderância adquirida pela França. O reino (...) não só era
mais vasto e mais bem defendido como também dispunha de uma clientela em que se contavam quase todos os países europeus. De resto, o prestígio
intelectual e artístico da França não cessava de crescer. Começara a era da preponderância francesa na Europa”.

No Mapa 7, pode-se perceber a nova configuração de poder no continente europeu, com destaque para as fronteiras nacionais e os limites assegurados
pelo Tratado de Westfália. A maior parte dessas fronteiras acabaria modificada nos séculos seguintes.

Mapa 7: A Europa em 1648

Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ancien_R/ancienr9.html

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Pág. 15 - A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648)

O Legado de Westfália

Importante sublinhar que o Tratado de Westfália marca o fim de cento e cinquenta anos de conflito entre os nascentes Estados europeus e o fim das
ambições dos Habsburgos. Nasce, então, um novo tipo de Sistema Internacional, cujos Atores eram, essencialmente, os Estados. Além disso, a
história posterior da Europa caracterizar-se-ia pelo princípio da anti-hegemonia, isto é, os Estados agiriam no sentido de evitar que um se tornasse a
potência hegemônica (balanço de poder). O Tratado de Westfália, assim, foi responsável por grandes mudanças no sistema internacional europeu. Ao
contrário de boa parte dos acordos e pactos que eram firmados anteriormente, ele não serviu apenas para pôr fim a um conflito, mas também para
tornar o Estado o principal Ator das relações internacionais. Além disso, os Estados, independentemente do tamanho, se viram como iguais e
participantes de um mesmo Sistema Internacional.

Trata-se de um momento histórico fundamental para as Relações Internacionais. O Tratado de Westfália, de 1648, inaugurou uma nova fase na história
política daquele continente, propiciando o triunfo da igualdade jurídica dos Estados, com o que ficaram estabelecidas sólidas bases para uma
regulamentação internacional mínima. Essa igualdade jurídica elevou os Estados ao patamar de únicos Atores nas políticas internacionais, eliminando o
poder da Igreja nas relações entre os mesmos e conferindo aos mais diversos Estados o direito de escolher seu próprio caminho econômico, político ou
religioso. Ficou, então, consagrado o modelo da soberania externa absoluta, tendo início uma ordem internacional protagonizada por Atores com poder
supremo dentro de fronteiras territoriais estabelecidas. Mais tarde, os contratualistas (Locke, Rousseau) e, em 1789, a Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão, trariam os elementos caracterizadores da soberania que seriam adotados por várias Constituições: unidade, indivisibilidade,
inalienabilidade e imprescritibilidade.

Importante também sublinhar que o primeiro ponto em que os diplomatas em Westfália acordaram foi que as três confissões religiosas dominantes no
Sacro Império (o catolicismo, o luteranismo e o calvinismo) seriam consideradas iguais. Revogava-se, assim, a disposição anterior nesse assunto,
firmada pela Paz de Augsburgo, em 1555, que dizia que o povo tinha que seguir a religião do seu príncipe (cuius regios, eius religio). Isso não só abria
uma brecha no despotismo como abria caminho para a concepção de tolerância religiosa, que, no século seguinte, se tornaria bandeira dos iluministas,
como John Locke e Voltaire. Além disso, a nova doutrina da Razão de Estado, extraída das experiências provocadas pela Guerra dos Trinta Anos,
exposta e defendida pelo Cardeal Richelieu, defendia que um reino tem interesses permanentes que o colocam acima das motivações religiosas. O
antigo sistema medieval, que depositava a autoridade suprema no Império e no Papado, dando-lhes direito de intervenção nos assuntos internos dos
reinos e principados, foi substituído pelo conceito de soberania de Estado, inaugurando-se um novo sistema em que os Estados têm direitos iguais
baseados numa ordem constituída por tratados e pela sujeição à lei internacional.

Essa situação político-jurídica perdura até os nossos dias, apesar de haver hoje, particularmente da parte dos EUA, um forte movimento supranacional
intervencionista, com o objetivo de suspender as garantias de privacidade de qualquer Estado frente a uma situação de emergência ou de flagrante
violação dos direitos humanos.

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Pág. 16 - A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648)

A Nova Ordem Internacional a partir de Westfália

A história europeia após o tratado de Westfália é a contínua busca, por parte da França, de obtenção da hegemonia europeia e a resistência, por parte
dos demais Atores europeus, a esse intento. Na busca desses objetivos, imperam as relações pragmáticas e as alianças de ocasião. No século que se
seguiu à Paz de Westfália, “a raison d’état [razão de estado] passou a ser o princípio orientador da diplomacia europeia”, registra Kissinger (1999, p.
66).
                                                                                   
O período pode ser divido em três fases:

A primeira vai de 1648 a 1740 e é de preponderância francesa. A Áustria recuou de suas pretensões na Alemanha e conquistou, gradativamente,
vastas regiões ao longo do rio Danúbio. A Espanha lentamente se retirava do papel de potência de primeira ordem. A Inglaterra, a partir da Revolução
Gloriosa, de 1688, tornou-se uma monarquia em que o Parlamento tinha papel preponderante. A França, especialmente sob Luís XIV “esforçou-se (...)
por reforçar o absolutismo monárquico em França e por impor, mais ou menos diretamente, a sua lei à Europa. Falhou, porém, nesta sua última
pretensão perante a coligação dos Estados europeus – enquanto, na Europa Central e Oriental, a Prússia começava a salientar-se, e Pedro, o Grande,
procurava conseguir que a Rússia saísse do seu isolamento” (CARPENTIER; LEBRUN, 1993, p. 233).

Essa Europa do início do século XVIII encontra-se no Mapa, veja:

Mapa 8: A Europa no Início do Século XVIII

Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ancien_R/ancienr11.html

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Pág. 17 - A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648)

A Nova Ordem Internacional a partir de Westfália (cont.)


A segunda fase vai de 1740 a 1792 e se caracteriza pela preponderância marítima da Inglaterra e pelo equilíbrio das potências continentais. “A luta, no
mar e nas colônias, entre a Inglaterra – onde, a despeito das tendências de poder pessoal de Jorge III, prosseguia a evolução para o regime
parlamentar – e a França – onde o absolutismo de Luís XV e Luís XVI enfrentava dificuldades cada vez maiores – veio a dar a vantagem à Inglaterra,
que se tornou a primeira potência mundial graças à sua superioridade marítima e ao avanço resultante dos começos da revolução industrial. Na Europa
Central e Oriental, a Prússia de Frederico II, a Áustria de Maria Teresa e José II e a Rússia de Isabel e de Catarina II eram concorrentes entre si, mas
equilibravam-se e chegaram a acordo para crescer à custa do Império Otomano e da Polônia, que foi totalmente desmembrada” (CARPENTIER;
LEBRUN, 1993, p. 247).

O último período vai de 1792 a 1815 e se caracteriza por ser o momento do apogeu e do fracasso do projeto de uma Europa francesa. “Entre 1789 e
1815, a Europa respirou ao ritmo da França. A ‘Grande Nação’ impôs-se, primeiro, pela força das ideias e, depois, pela das armas. De 1792 até 1815, a
guerra opôs permanentemente a França às monarquias europeias. Napoleão Bonaparte, herdeiro dessa guerra, tentou construir uma Europa
Continental francesa. Mas a obstinação britânica, que inspirava e financiava as diversas coligações das coroas, acabaria por vencer o Grande Império.
A França foi, então, vítima não só dos reis como também dos povos, cujos sentimentos ajudara a despertar” (CARPENTIER; LEBRUN, 1993, p. 277).

Sob o prisma das Relações Internacionais, convém observar a importância da Potência hegemônica em um sistema e o
grau de influência sobre os outros Atores. Na Nova Ordem estabelecida a partir de Westfália, a França ascendeu à
condição de Potência hegemônica, que havia sido da Espanha sob os Habsburgos. O século que se seguiu à Guerra dos
Trinta Anos foi um século francês, no qual a sociedade internacional era influenciada pela sociedade francesa. Daí a
expansão do Iluminismo pela Europa e Américas, os costumes e até o idioma francês influenciando outros povos ou
gerando reações nacionalistas, como ocorre hoje com a língua inglesa e o american way of life.

Assim, o sistema passou a gravitar em torno da França. Essa ordem começou a ruir quando se modificou o equilíbrio de
poder no continente, em virtude de transformações radicais no interior do hegemon. A maior dessas transformações foi a
Revolução Francesa, que abalou a estrutura de poder no interior da Potência hegemônica e acabou repercutindo em todo
o continente – chegando inclusive ao Novo Mundo – com as guerras napoleônicas.

Mais um livro útil como referência sobre o período a partir de uma perspectiva de
Relações Internacionais, além do já sugerido anteriormente - “Ascensão e Queda
das Grandes Potências", de Paul Kennedy -, é "Diplomacia", de Henry Kissinger.

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Unidade 2 - A Nova Ordem Internacional do Século XIX

Ao concluir o estudo desta Unidade, o aluno deverá ser capaz de discorrer sobre os
principais aspectos das relações internacionais do século XIX, particularmente
sobre:
• Os antecedentes da Nova Ordem do século XIX: a Revolução Francesa e as
Guerras Napoleônicas;
• O congresso de Viena (1815) e o Concerto Europeu;
• As Revoluções do século XIX;
• os nacionalismos e as unificações da Itália e da Alemanha;
• a ascensão da Alemanha unificada como Grande Potência;
• o neocolonialismo;
• os novos atores entre as Grandes Potências fora da Europa;
• Estado-nação.

                                                                         

Bom estudo! Não se esqueça de fazer anotações, de abordar com


comprometimento os exercícios de fixação oferecidos e de,
sempre que possível, realizar atividades propostas para tornar o curso mais
dinâmico: filmes, livros, links na Internet.

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Pág. 2 - A Nova Internacional do Século XIX - Antecedentes

A Revolução Francesa

A Revolução Francesa (1789) foi um evento que marcou profundamente a sociedade europeia. Inspirada pelos ideais
iluministas e liderada pela burguesia com apoio popular, a Revolução tinha por lema "Liberdade, Igualdade,
Fraternidade" e ressonou em todo o mundo, da Europa ao continente americano, pondo abaixo regimes absolutistas e
ascendendo os valores burgueses. Foi marco e referência para grandes transformações sociais e políticas que
aconteceriam pelo mundo nos séculos seguintes.

O Mapa 9 apresenta a configuração política da Europa à época da Revolução Francesa. Note-se como a França
Revolucionária estava cercada pelas potências absolutistas defensoras do Antigo Regime. Apesar disso, os ideais
revolucionários se expandiriam para muito além das fronteiras do Reino da França.

Mapa 9: A Europa à época da Revolução Francesa

Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/ancien_R/ancienr13.html

Registre-se que essa ressonância da Revolução Francesa foi tanto prática quanto simbólica. A Revolução foi marcante por ter atingido a principal
monarquia europeia e o maior e mais populoso país europeu (se excluída a Rússia). De fato, as transformações que marcariam a Europa e a civilização
ocidental no século XIX seriam influenciadas diretamente por aquelas mudanças ocorridas no âmbito doméstico da França, então a Potência
hegemônica no continente. Nesse sentido, podemos perceber como transformações nas Grandes Potências acabam afetando todo o sistema
internacional, proporcionalmente ao grau de poder dessa Potência.

Exemplo disso são as mudanças ocorridas nos EUA após o 11 de setembro de 2001 e seus efeitos
em todo o globo.

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Pág. 3 - A Nova Ordem Internacional do Século XIX - Antecedentes

Revolução Francesa (cont.)

Assim, para os defensores da ordem, a Revolução era perigosa, porque retirava os alicerces Denominou-se Antigo Regime à ordem
do Antigo Regime. A título de exemplo, foi apenas em 1789 que, pela primeira vez na história da estabelecida na Idade Moderna na
França, uma Assembleia Nacional foi eleita e aboliu o feudalismo e seus privilégios. Além disso, qual a monarquia absolutista
também naquele ano, a Bastilha, o símbolo do poder real, foi tomada de assalto, palácios foram conjugou-se com as principais forças
saqueados e revoltas ocorreram no campo, com os camponeses se sublevando e questionando, de políticas da sociedade: por meio do
maneira praticamente inédita no país, o modelo de servidão estabelecido pelo sistema feudal. Mercantilismo, a monarquia aliou-se à
Como se não bastasse, uma Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão foi proclamada como burguesia e ao mesmo tempo
preparativo para uma Constituição, e a Igreja foi subordinada ao Estado. Eram mudanças que manteve-se unida à nobreza e ao alto
afetavam o cerne de uma ordem doméstica tradicional e que acabariam afetando as estruturas da clero, concedendo privilégios a esses
ordem internacional que tinha a França como principal protagonista. dois últimos grupos, muitas vezes em
detrimento da burguesia e sempre às
custas dos impostos cobrados do
povo.

Não tardou, pois, a reação. As Potências Europeias promoveram ataques contra o território francês na tentativa de
restabelecer o trono de Luís XVI e o Antigo Regime (vide Mapa 10 – em roxo, a ofensiva dos países da coalizão). As
cabeças coroadas da Europa não poderiam arriscar que um de seus membros mais importantes fosse derrubado por um
levante popular.

Nesse contexto, Luís XVI tentou fugir para o exterior. Preso no meio do caminho, foi levado de volta a Paris e guilhotinado.
A República foi proclamada, e a França se viu, externamente, em um estado quase permanente de guerra. Internamente,
a Revolução mergulhou no Terror – aproximadamente 40 mil pessoas morreram – e na luta entre as diversas facções.
Após um período de contrarrevolução e de agravamento dos conflitos internos, o poder passou para as mãos dos generais.
Um deles, Napoleão Bonaparte, assumiu o controle do governo em novembro de 1799.

Mapa 10: A Revolução Ameaçada (1792-1794)

Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/Rev_Emp/revemp3.html

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Pág. 4 - A nova Ordem Internacional do Século XIX - Antecedentes

Napoleão Bonaparte

Napoleão, “na verdade, pertencia à tradição do despotismo esclarecido do


século XVIII. Da mesma maneira que os déspotas reformadores, admirava a
uniformidade e a eficiência administrativas, era avesso ao feudalismo, à
perseguição religiosa e à desigualdade civil e defendia a regulamentação
governamental na indústria e no comércio” (PERRY, 1999, p. 339).

Apesar de não se identificar com o republicanismo e com a democracia das


fases mais radicais da Revolução, Bonaparte era visto, pelos demais países
europeus como seu continuador. Isso se deu, em grande parte, porque o
general corso estendeu, “com diferentes graus de determinação e sucesso,
(...) as reformas da Revolução a outras terras. Seus funcionários instituíram o
Código Napoleônico, organizaram um serviço civil efetivo, abriram carreiras de talento e nivelaram os encargos tributários. Além de abolir a servidão,
os pagamentos senhoriais e as cortes da nobreza, eliminaram os tribunais clericais, fomentaram a liberdade religiosa, autorizaram o casamento civil,
exigiram que se concedessem direitos civis aos judeus e combateram a interferência do clero na autoridade secular. (...) Napoleão dera início a uma
revolução social de amplitude europeia, que atacou os privilégios da aristocracia e do clero – que se referiam a ele como o ‘jacobino coroado’ – e
beneficiou a burguesia” (PERRY, 1999, p. 344).

Vejamos como se deu a influência das ideias e das novas instituições, segundo Duroselle (1976, p. 8):

- As zonas “assimiladas”, anexadas ao território do grande Império, ou efetivamente vassalas (reino da Itália): aí, os direitos
feudais foram suprimidos, a igualdade estabelecida perante a lei, o código napoleônico adotado e a administração calcada sobre
a da França.

- As zonas de “influência”, onde a anexação foi indireta, mas o Antigo Regime foi eliminado pelas autoridades francesas. É o
caso da maior parte da Alemanha entre o Reno e o Elba, do Grão-Ducado de Varsóvia, do Reino da Sicília e do Reino de Nápoles.

- As zonas de “resistência positiva”, essencialmente a Prússia, onde os dirigentes (...) calcularam que o melhor meio de
encerrar a luta contra a França era pôr em prática extensas reformas sociais (abolição da servidão e dos direitos feudais).

- As zonas de “resistência passiva”, essencialmente a Áustria e a Rússia, onde a luta contra a França não se fez acompanhar
de nenhuma reforma profunda: o sistema senhorial foi mantido na Áustria, a servidão e o Tchin (nobreza ligada à função pública)
na Rússia.

Enfim, a Inglaterra, depois de 1800 chamada de “Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda”, que, por um lado, jamais havia sido
conquistada e, por outro, já possuía um regime suficientemente liberal para que tivesse a tentação ardente de imitar a França.

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Pág. 5 - A Nova Ordem Internacional do Século XIX - Antecedentes

Napoleão Bonaparte (cont.)


Portanto, a Era Napoleônica foi marcada por uma série de conflitos armados ocorridos entre 1799 e 1815, quando a França enfrentou várias alianças
de Potências europeias. O principal motivo das campanhas francesas, após 1789, era defender e difundir os ideais da Revolução Francesa, mas, com a
ascensão de Napoleão, o objetivo passou a ser a expansão da influência e do território franceses. O império napoleônico chegou a dominar parte
significativa daEuropa. Napoleão sonhava com uma Europa em que, sob a hegemonia francesa, não houvesse mais espaço para as estruturas
absolutistas do Antigo Regime. Nessas regiões, as sementes dos ideais revolucionários de 1789 foram plantadas e germinariam nas décadas seguintes.
Para a contenção do expansionismo francês, foram necessárias várias coalizões das Grandes Potências.

No Mapa, pode-se ter a ideia da dimensão do Império Napoleônico em seu apogeu (em verde).

Mapa 11: O Império Napoleônico em seu Apogeu (1810-1811):

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Pág. 6 - A Nova Ordem Internacional do Século XIX - Antecedentes

Napoleão Bonaparte (cont.)


Em 1812, Napoleão conduziu uma campanha vitoriosa contra os russos chegando até Moscou. Entretanto, a vitória logo se converteu em grande
derrota. Os russos simplesmente abandonaram Moscou, depois de destruir os campos cultivados e de incendiar a cidade. Sem abrigo ou provisões, o
exército francês, enfrentando o rigoroso inverno, foi obrigado a deixar a Rússia sob o intenso fogo do exército russo, perdendo aproximadamente 95%
dos cerca de 600 mil homens que participaram da desastrosa campanha.

Aproveitando-se do enfraquecimento de Napoleão, Áustria, Prússia, Rússia, Inglaterra e Suécia formaram a 6.ª Coalizão e declararam guerra à França.
Napoleão derrotou os exércitos da Rússia e da Prússia, enquanto os exércitos franceses estavam sendo derrotados na Península Ibérica por forças
espanholas e inglesas. Após a Batalha de Leipzig, a Batalha das Nações, em 1813, os exércitos de Napoleão abandonaram os principados alemães. A
rebelião contra o império se estendeu à Itália, Bélgica e Holanda.

Em 1814, um grande exército da 6.ª Coalizão invadiu a França e ocupou Paris. Napoleão, obrigado a renunciar, foi exilado na Ilha de Elba (próxima da
Córsega, sua terra natal), e a monarquia francesa restaurada com Luís XVIII, irmão de Luís XVI. Os membros da Coalizão reuniram-se, então,
no Congresso de Viena para restaurar as monarquias na Europa.

No entanto, enquanto era traçado o novo mapa europeu, em março de 1815, Napoleão fugiu de Elba, voltou à França, e iniciou a formação de um novo
exército. O rei enviou uma guarnição de soldados para prendê-lo, mas estes aderiram a Napoleão. Luís XVIII fugiu para a Bélgica.

Contra Napoleão foi rapidamente formada uma 7.a Coalizão, composta por Inglaterra, Áustria,
Prússia e Rússia. Sem tempo para preparar um exército, Bonaparte enfrentou novos combates,
mas foi derrotado definitivamente naBatalha de Waterloo (18 de junho de 1815). Napoleão foi
então mantido prisioneiro na Ilha de Santa Helena, no Atlântico Sul, onde morreu em 1821. Luís
XVIII reassumiu o trono francês com o apoio do Congresso de Viena. Chegaram ao fim as
Guerras Napoleônicas.

Apesar da derrota definitiva em 1815, as ações de Napoleão e os ideais revolucionários


atingiram, de forma irreversível, o Antigo Regime em boa parte da Europa e aceleraram o
processo de modernização do continente. Seus efeitos alcançaram o continente americano,
repercutindo nos processos de independência de toda a América Latina e nos princípios jurídicos
e políticos que regeriam os novos governos na região. O mundo passou, portanto, por grandes
transformações em virtude da Era Napoleônica. As relações internacionais nunca mais seriam como antes.

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Pág. 7 - A Nova Ordem Internacional do Século XIX - Antecedentes

O Congresso de Viena (1815) e o Concerto Europeu

O fim das guerras napoleônicas marcou o início de um sistema internacional baseado no equilíbrio de poder entre as Potências europeias que durou
cem anos, até a Primeira Guerra Mundial. Foi o mais longo período de paz da história da Europa ou, pelo menos, o período em que não houve nenhuma
guerra que envolvesse, de forma generalizada, as Potências europeias. Durante 40 anos, isto é, entre o Congresso de Viena e a Guerra da Crimeia
(1854), não houve uma guerra sequer entre as grandes Potências e, nos 60 anos seguintes, exceto pela Guerra Franco-Prussiana de 1871, nenhum
conflito importante ocorreu.

O Congresso de Viena foi marcado pelo medo e pelas lembranças trazidas pelos 25 anos anteriores. Os homens que reconstruíram o mapa da Europa
em 1815 o fizeram preocupados em evitar que a ordem sofresse novos abalos. Apesar de todos os negociadores serem adversários da Revolução,
estavam perfeitamente conscientes de que a Europa de 1815 não poderia voltar a ser aquela de 1792. Não obstante, estavam determinados a evitar
novas catástrofes. Para isso, seriam utilizados dois princípios: o da legitimidade e o do equilíbrio europeu. Nas palavras de Duroselle (1976, p. 4):

Primeiro, restabelecer a ‘legitimidade’ dos soberanos. Mas ‘na ordem das combinações legítimas, ligar-se de
preferência àquelas que podem com maior eficácia concorrer para o estabelecimento e conservação de um
verdadeiro equilíbrio’. Serão, então, utilizados com flexibilidade e em proveito dos grandes Estados os dois
princípios, um moral e jurídico, o da legitimidade, outro, puramente prático, o do equilíbrio europeu.

Como resultado dos debates de Viena, o mapa da Europa sofreu alterações importantes que refletiam a nova configuração de poder estabelecida pelas
Grandes Potências. A Alemanha, por exemplo, passou de 300 Estados para 38 (comparar o Mapa 12 com o Mapa 11).

Um fato, porém, não pode ser deixado de lado. Na conformação do novo sistema de equilíbrio europeu, a França continuava a grande preocupação.
Sua condição hegemônica tinha sido excessivamente danosa para as outras Potências europeias. O Congresso
de Viena foi realizado sob o signo de se evitar que ela ameaçasse novamente o resto do continente.

Dois tratados pós-Congresso de Viena merecem destaque. O primeiro é o Tratado da Santa Aliança, firmado
entre o Czar da Rússia, o Imperador da Áustria e o Rei da Prússia, em 26 de setembro de 1815. O segundo é
o tratado conhecido como o da Quádrupla Aliança, entre os Quatro Grandes (Inglaterra, Rússia, Áustria e
Prússia) em 20 de novembro de 1815.

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Pág. 8 - A Nova Ordem Internacional do Século XIX - Antecedentes

O Congresso de Viena (1815) e o Concerto Europeu


O Tratado da Santa Aliança estabelecia a restauração na Europa da ordem religiosa e monárquica, fundamento do Antigo Regime que a Revolução
Francesa quis derrubar. Fundando-se no mundo cristão, excluía o sultão otomano, apesar de o Czar desejar que o sistema abarcasse a França e a
Espanha. Segundo Duroselle (1976, p. 5), “a ‘Santa Aliança’, produto dos sonhos do Czar tinha pouca consistência, e que a verdadeira realidade era a
Quádrupla Aliança, assinada secretamente a 20 de novembro de 1815 entre a Rússia, a Inglaterra, a Áustria e a Prússia, contra a França.”

Mapa 12: O Congresso de Viena (1815)

 
Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/xix/xix1.html

Até 1830, o equilíbrio europeu foi assegurado graças aos entendimentos entre Inglaterra, Rússia, Áustria e Prússia – os “Quatro Grandes” – e à
estabilização política da França. Como resultado de habilidosa diplomacia, já em 1818 os franceses conseguiram associar-se à política de garantia da
ordem na Europa. Estava estruturado o Concerto Europeu, por meio do qual as Grandes Potências europeias conduziriam o continente por décadas. O
equilíbrio de forças entre Inglaterra, Rússia, Áustria, Prússia e França garantia a estabilidade, uma vez que nenhum desses Estados ou qualquer outro
país europeu era suficientemente poderoso para enfrentar sozinho uma coalizão formada pelos demais. Assim, estabelecia-se um verdadeiro consórcio
entre as Grandes Potências europeias, que lhes permitiu projetar seu poder sobre toda a Europa e pelo mundo. O século XIX seria o século da Paz na
Europa e da hegemonia europeia sobre todo o planeta.

A partir de 1815, a ação dos países europeus intensificou-se em escala mundial. A Inglaterra, por exemplo, divulgava mais e mais o liberalismo político
e econômico, e a expansão desses ideais liberais foi um dos objetivos da política externa inglesa no século XIX, pela qual os britânicos atuaram, direta
ou indiretamente, na independência das colônias espanholas e portuguesas na América e na organização dessas novas nações americanas. Da mesma
forma, os russos cada vez mais se preocupavam com a decadência e o fatiamento territorial do Império Otomano. Isso explica, em grande parte, a
concorrência e a inimizade que iriam marcar as relações entre Inglaterra e Rússia em boa parte do século XIX.

A Europa que emergiu do Congresso Viena estava ansiosa pela eliminação dos traços da Revolução Francesa. Era uma Europa legitimista, clerical,
desigual, aristocrática e, principalmente, reacionária.

Importante registrar, no entanto, que o fantasma de 1789 não desapareceu. Intelectuais, trabalhadores, liberais, democratas, burgueses estavam
descontentes com o restabelecimento do Antigo Regime. Sob diversos matizes ideológicos, o século XIX testemunhou um longo desenrolar de
revoluções.

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O Século das Revoluções

A Europa pós-Congresso de Viena foi marcada pelo equilíbrio de poder entre os Estados europeus, o que permitia certa estabilidade no cenário
internacional. Apesar desse quadro de tranquilidade, o século XIX foi tempo de revoluções tanto políticas quanto econômicas.

Politicamente, houve três grandes ondas revolucionárias: 1820, 1830 e 1848. O período entre 1817 e 1850 foi época de crise econômica e baixa de
preços, ou seja, período de grande tensão. As grandes ondas revolucionárias de 1830 e 1848, bem como as investidas contrarrevolucionárias, estão
indicadas nos Mapas 13 a 15.

A onda revolucionária de 1830 marca a derrota definitiva dos aristocratas pelo poder burguês na Europa Ocidental e o triunfo do liberalismo moderado.
Propagou-se o sistema parlamentar (com inspiração no modelo britânico) de qualificação por propriedade (voto censitário) sob monarquias
constitucionais.

No Mapa 13, as estrelas em amarelo apontam as insurreições, as setas pretas a propagação da onda revolucionária, e as setas vermelhas os
movimentos de repressão dessa onda.

Mapa 13: As revoluções de 1830

Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/xix/xix4.html

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Pág. 10 - A Nova Ordem Internacional do Século XIX - Antecedentes

O Século das Revoluções


A França era o ponto de irradiação, dada a classe média liberal e radical que se formara com o movimento jacobino na época da Revolução Francesa.
Em 1830, também já era possível notar o aparecimento de uma classe operária como uma força política autoconsciente e independente, que começava
a reunir os jacobinos mais extremados. Já em 1848, a agitação popular tornava-se contrária à classe média liberal (o “perigo vermelho”).

No Mapa 14, as setas vermelhas indicam a difusão da nova onda revolucionária francesa e, as setas verdes, a difusão da onda austríaca. As estrelas
vermelhas e verdes apontam os centros revolucionários.

Mapa 14: As Revoluções de 1848

Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/xix/xix5.html

Os radicais ficaram desapontados com o fracasso dos franceses em desempenhar o papel de libertadores internacionais. Esse desapontamento, junto
com o crescente nacionalismo da década de 1830 e a nova consciência das diferenças nos aspectos revolucionários de cada país, despedaçou o
internacionalismo unificado (centrado na França) a que os revolucionários tinham aspirado durante a Restauração (o pós-1815). Em 1848, as nações
de fato se sublevaram separadamente.

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Pág. 11 - A Nova Ordem Internacional do Século XIX - Antecedentes

O Século das Revoluções


Os radicais, os republicanos e os novos movimentos proletários se retiraram da aliança com os liberais, dado que o liberalismo moderado se tornara
hostil em razão do seu maior medo, a república social e democrática (em oposição à monarquia constitucional), a qual era, nesse momento,
o slogan da esquerda.

No Mapa abaixo, os quadrados indicam os centros de contrarrevolução e as setas o movimento da contrarrevolução.

Mapa 15: A Contrarrevolução de 1848

Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/xix/xix6.html

De uma forma geral, as revoluções de 1848 foram revoluções sociais de trabalhadores pobres. Quando se viram diante da revolução “vermelha”
(ameaça à propriedade), os moderados liberais e os conservadores se uniram. Os trabalhadores ficaram isolados diante da união de forças
conservadoras e ex-moderadas aliadas ao velho regime. Com essa aliança, os regimes conservadores restaurados estavam preparados para fazer
concessões ao liberalismo econômico. A década de 1850 viria a ser, de fato, um período de liberalização sistemática: fim da legislação de guildas e
liberdade para se praticar qualquer forma de comércio; fim do severo controle estatal sobre a mineração; realização de uma série de tratados de livre-
comércio etc. Nesse momento, a burguesia deixava de ser uma força revolucionária.

Esses fatos abriram o caminho para a Revolução Industrial a partir da segunda metade do século XIX (vários autores se referem a ela como “Segunda
Revolução Industrial”, para distingui-la do avanço industrial no século XVIII). Com a retirada da nobreza e a diversificação das formas de se fazer
dinheiro (início da chamada haute finance – conjugação dos capitais comercial e financeiro), as décadas de 1850 e 1860 foram prósperas e capazes de
incorporar os cidadãos instruídos ao mercado de trabalho.
 

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Pág. 12 - A Nova Ordem Internacional do Século XIX - Antecedentes

O Século das Revoluções


De 1850 até pelo menos 1873, o tempo foi de prosperidade. Como observa Duroselle (1976, p. 21), a prosperidade, “interrompida por alguns recessos,
rompe o ímpeto revolucionário. Este só voltará a ressurgir na França em 1869 aproximadamente. Com um nível de vida momentaneamente acrescido,
as massas toleram mais facilmente o jugo, se tiverem a impressão de que o poder favorece a expansão.”

Napoleão III (1808-1873) foi o criador do Segundo


Em termos gerais, em 1850, a ameaça revolucionária estava Império francês na metade do século XIX. Governou
encerrada. Os partidários da ordem estabelecida saíram entre 1852 e 1870, até sua derrota na Guerra Franco-
vitoriosos. Em parte, o fracasso revolucionário de 1848 se Prussiana. Carlos Luís Napoleão Bonaparte era
deveu ao “perigo vermelho”. Na França, Napoleão sobrinho de Napoleão I. Eleito presidente da nova
III ascendeu ao poder, criando o II Império. República Francesa, deu um golpe de estado em 1851,
que lhe permitiu assumir poderes ditatoriais e
transformar a Segunda República no Segundo Império.
A outra grande revolução europeia foi de natureza Entre as ações de política externa de Napoleão III
estão a intervenção na Guerra da Crimeia, o apoio ao
econômica, como já referido, com a Revolução Industrial.
Piemonte nas guerras que enfrentou como
Após 1850, a economia europeia se expandiu com rapidez.
consequência da unificação italiana e a promoção e
Novas máquinas e novas tecnologias apareceram por toda instalação de um efêmero Império no México, na
parte. pessoa de seu sobrinho, Maximiliano da Áustria. Em
1870, por ocasião da Guerra Franco-Prussiana, a
derrota do Exército francês na batalha de Sedan
provocou o aprisionamento do Imperador, cujo regime
foi derrotado.

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Pág. 13 - Antecedentes

O Século das Revoluções (cont.)

A Revolução Industrial modificou toda a sociedade europeia. Se na sociedade pré-industrial do século


XVIII a agricultura ainda era o centro das atividades humanas, no século XIX a vida se deslocava
progressivamente para as cidades e para as indústrias. Simultaneamente, o poder, a influência e os
valores da aristocracia perderam força. Em seu lugar, ganharam importância o dinheiro e a capacidade
individual. A modernização da sociedade colaborou, também, para a progressiva universalização do voto
e para a secularização da sociedade. Por fim, a tecnologia ampliou a diferença entre o Ocidente e as
demais regiões do mundo.

O Mapa 16 ilustra a Europa do século XIX sob plena efervescência da revolução industrial. O mapa destaca as minas de carvão (em marrom), em torno
das quais se desenvolveram centros siderúrgicos (em vermelho) e industriais (em roxo). Também na base da revolução industrial estava a indústria
têxtil, cujos centros são destacados em azul. O mapa registra, ainda, as principais cidades industriais e os centros financeiros (quadrados verdes).

Mapa 16: A Europa Industrial no Século XIX

Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/xix/xix3.html

Procure se informar mais sobre a Revolução Industrial, processo que alterou definitivamente os
rumos da História e a partir do qual as relações internacionais seriam redefinidas, com o poder se
concentrando cada vez mais nas nações ditas "industrializadas".

Um livro interessante sobre o século XIX e a Revolução Industrial é Germinal, de Émile Zola.
Amplamente considerada a obra máxima de Émile Zola, Germinal (1885) elevou a estética e
a descrição naturalistas a um novo patamar de realismo e crueza. O romance é minucioso ao
descrever as condições de vida subumanas de uma comunidade de trabalhadores de uma
mina de carvão na França. Após ter contato com ideias socialistas que circulavam pela
classe operária europeia, os mineradores retratados na obra revoltam-se contra a opressão e
organizam uma greve geral, exigindo condições de vida e trabalho mais favoráveis. A
manifestação é reprimida e neutralizada, entretanto permanece viva a esperança de luta e
conquista.

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Pág. 14 - Antecedentes

Divisão da Europa – Nacionalidade X Legitimidade

A Europa de 1815 foi construída sobre o princípio de que era essencial preservar o continente de uma possível ameaça francesa. Assim, no redesenho
do mapa continental, o princípio da nacionalidade fora deixado em segundo plano. Nem por isso, no entanto, inexistia a afirmação da nacionalidade.

O nacionalismo foi um dos filhos das ondas revolucionárias da primeira metade do século XIX. O nacionalismo se propagou a partir da classe média e
teve nas escolas e nas universidades seus grandes defensores. Vários movimentos nacionalistas jovens começaram a se espalhar a partir das
revoluções de 1830: a Jovem Itália, a Jovem Polônia, a Jovem Suíça, a Jovem Alemanha, a Jovem França e a Jovem Irlanda.

Parte da onda nacionalista vinha dos escombros do Império O Império Otomano existiu aproximadamente
Otomano, o qual, nas palavras do Czar, era o ancião enfermo de 1300 a 1922 e, no período de maior
da Europa. extensão territorial, abrangeu três
continentes: da Hungria, ao norte, até Aden,
Progressivamente, o Império Otomano foi perdendo terras ao sul, e da Argélia, a oeste, até a fronteira
para austríacos, russos e para nações que iam surgindo de iraniana, a leste, embora centrado na região
suas fraquezas. A primeira delas foi a Grécia, cuja da atual Turquia. Por meio do Estado vassalo
independência foi tema de preocupação durante toda a do janato da Crimeia, o poder otomano
década de 1820. Finalmente independente em 1830, serviu também se expandiu na Ucrânia e no sul da
como exemplo para muitos outros: a Sérvia, alguns anos Rússia. Seu nome deriva de seu fundador, o
depois, conquistava autonomia, e, em 1856, Romênia e guerreiro muçulmano turco Osman (ou
Bulgária se tornaram independentes. Utman I Gazi), que fundou a dinastia que
governou o império durante sua história.

No restante da Europa, no entanto, apenas a Bélgica se tornou independente da Holanda, em 1830. Para isso, assumiu o caráter de nação neutra, com
aval das Grandes Potências. A neutralidade belga, garantida pela Grã-Bretanha, seria violada em 1914 pelo avanço alemão contra a França e
contribuiria para que Londres declarasse guerra a Berlim.

Outras tentativas de independência no continente europeu fracassaram. A Polônia não conseguiu a autonomia diante da Rússia (1830), e a Hungria
alcançou uma semi-independência em relação à Áustria (1867). Dos movimentos nacionais de afirmação, os mais importantes foram os da Itália e da
Alemanha, países que se unificaram a partir da segunda metade do século. De fato, a unificação da Itália e, sobretudo, a da Alemanha, seriam
acontecimentos importantes para alterar o equilíbrio de poder na Europa estabelecido pelo Concerto Europeu, e afetariam diretamente as relações
internacionais do período, culminando nos processos que levaram à I Guerra Mundial.

Os processos de unificação da Itália e da Alemanha podem ser percebidos no Mapa 17 (a


seguir).

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Pág. 15 - Antecedentes

A Unificação da Itália

A unificação da Itália foi resultado de uma habilidosa política externa e Camillo Benso, conde de Cavour (1810-
do aproveitamento das oportunidades quando elas surgiram. O artífice 1861), político italiano, foi Presidente do
desse processo foi Cavour, primeiro-ministro do Estado do Piemonte Conselho em 1852. Aliou-se a Napoleão III
(norte da península itálica). Ele conseguiu, graças às alianças com contra a Áustria, porém este firmou a paz em
Napoleão III, um aliado contra os austríacos que ocupavam o norte da 1859 sem consultá-lo. Cavour demitiu-se
quando Victor Emanuel II, Rei da Sardenha,
Itália. A sua primeira vitória se deu em 1858. Em troca da cessão da
aceitou as condições do Imperador francês.
cidade de Nice e da região de Saboia, Cavour obteve a promessa de
No início de 1860, ajudou Giuseppe Garibaldi
auxílio da França ao Piemonte em uma eventual guerra deste contra a na conquista do Reino das Duas Sicílias.
Áustria. Por ocasião do conflito, entretanto, a ajuda francesa seria Conseguiu a proclamação do Reino da Itália
menor do que o esperado, e Napoleão III, receoso das possíveis em17 de março de 1861 e de Vítor Emanuel
implicações que uma aliança contra a Áustria poderia ter, acabou II como seu primeiro soberano.
retirando seu apoio antes do esperado. Mesmo assim, o Piemonte se viu
vencedor e aumentou seu território com a conquista da Lombardia.

Mapa 17: Unificação da Itália e da Alemanha no Século XIX

Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/xix/xix7.html

Posteriormente, pequenos Estados italianos – Parma, Módena, Toscana e Romanha – votaram pela união com o Piemonte. Com as conquistas do sul da
península, foi proclamado o reino da Itália, em 1861. Faltavam, porém, a cidade de Roma e o Vêneto. Só em 1866 La Vénétie foi incorporada, como
recompensa pelo apoio dos italianos aos prussianos durante a guerra contra a Áustria. Roma, por fim, foi ocupada em 1870, quando os franceses
retiraram os seus soldados da cidade em razão da Guerra Franco-Prussiana. Com a anexação de Roma e dos Estados Papais, estava consolidada a
unificação da Península Itálica sob uma única autoridade: o Reino da Itália.

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Pág. 16 - Antecedentes

A Unificação da Alemanha

Não seria temerário afirmar que a unificação da Alemanha, ocorrida em 1871, foi, após o Congresso de Viena, o evento mais importante da política
internacional do século XIX. A unificação alemã provocou o desmoronamento dos fundamentos do equilíbrio internacional surgidos em 1815 e levou a
política internacional ao retorno às lutas irrestritas do século XVIII. Ademais, seus efeitos estariam diretamente relacionados com eventos marcantes
do século seguinte, como a I e a II Guerras Mundiais, a Guerra Fria e a integração europeia.

O principal temor dos franceses do século XVII era a unificação alemã. Richelieu, por exemplo, via na Alemanha unificada uma ameaça potencialmente
mais perigosa para a França. A unificação, entretanto, somente foi possível porque a Prússia conseguiu, ao longo de 150 anos, construir um Estado
forte o bastante para que pudesse, no fim do século XIX, almejar a preponderância entre os Estados alemães.

Otto von Bismarck (1815-1898), o


Também não se pode esquecer a ação deBismarck, primeiro-ministro “Chanceler de Ferro”, foi o grande artífice e
prussiano que soube, por meio de uma política interna autoritária e primeiro chanceler do segundo império
uma política externa cuidadosa e pragmática, unificar a Alemanha. A alemão. Seu pai era um latifundiário de
maneira racional, pragmática e calculada como Bismarck conduziu a origem nobre, e sua mãe pertencia à
política alemã ficou conhecida como Realpolitik. burguesia. Em sua personalidade, fundiam-se
a sutileza intelectual e o provincianismo da
Assim, externamente, o Chanceler prussiano foi bem-sucedido em três aristocracia conservadora. Entrou na política
guerras. Junto com a Áustria, atacou e conquistou territórios da em 1847. Como delegado da primeira Dieta
Dinamarca, em 1864. Dois anos depois, a luta pelos espólios dessa prussiana, destacou-se como um dos mais
conquista fez com que os austríacos declarassem guerra à Prússia. férreos conservadores. Quando eclodiu a
Vencedores, os prussianos conseguiram afastar a Áustria dos assuntos Revolução de 1848, foi para Berlim e pediu
alemães. Continuando com a sua Realpolitik e derrotada a Áustria, que o rei Frederico Guilherme IV reprimisse a
Bismarck conquistou territórios e forçou os Estados alemães menores sublevação. Seu conselho não foi levado em
a se aliarem a ele. consideração, mas sua lealdade foi
recompensada ao ser nomeado
Em 1871, sabedor de sua vantagem militar, Bismarck provocou os representante prussiano na Confederação
franceses. Estes declararam guerra e foram rapidamente derrotados. Germânica, a liga dos 39 estados alemães,
Como vitória, Bismarck conseguiu o apoio suficiente de que em 1851. Passou a ser embaixador na Rússia
necessitava para que os outros Estados alemães aceitassem integrar- em 1859 e foi designado para a França em
se à Prússia, formando o Império Alemão, ou Segundo Reich 1862. Designado Chanceler prussiano no
mesmo ano, procedeu com uma série de
reformas internas e deu início à
suaRealpolitik, que garantiria a vitória sobre
Grandes Potências europeias, como a Áustria
e a França, e conduziria à unificação alemã.
Em 1890, desentendeu-se com o Kaiser (ou
Imperador) em virtude do direcionamento da
Política Externa do Reich, sendo demitido e
deixando a vida pública.

Depois da unificação, a Alemanha desenvolveu-se de maneira significativa, sobretudo nas áreas industrial e militar. Em três décadas, o país já se
mostrava a principal Potência do continente em desenvolvimento industrial e tecnológico, superando a França. Ademais, com uma intensa política de
construção naval, logo as marinhas mercante e de guerra alemãs ameaçavam a hegemonia britânica no mundo.
 
Na virada do século, os alemães já deixavam claro que desejavam ocupar seu lugar de destaque entre as Grandes Potências, sendo fundamental para
isso o estabelecimento de um império colonial e a conquista de novos mercados pelo planeta. Entretanto, as pretensões do Reich acabariam chocando-
se com os interesses das Grandes Potências tradicionais – em especial, Grã-Bretanha e França –, o que levaria a Europa à Primeira Guerra Mundial, em
agosto de 1914.

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Pág. 17 - Antecedentes

Expansão colonial

Outro aspecto importante da Sociedade Internacional do século XIX é a nova expansão colonial. Durante todo o século, mas sobretudo em sua segunda
metade, desenvolveu-se um processo de conquistas europeias sobre a África e Ásia, denominado Neocolonialismo. Na virada do século, praticamente
todo o continente africano, à exceção da Etiópia e da Libéria, estava sob jugo das Potências europeias como parte de seus impérios coloniais.

O Neocolonialismo foi a principal expressão do Nacionalismo e do Imperialismo, este último a forma assumida pelo capitalismo a partir da Segunda
Revolução Industrial, segundo os globalistas.

Os defensores do Estado-nação entendiam o Estado como progressista (capaz de desenvolver uma economia, tecnologia, organização burocrática e
força militar viáveis), ou seja, precisava ser pelo menos territorialmente grande. Para a sociedade burguesa moderna, liberal e progressista, a unidade
estatal natural deveria ser extensa, daí o decorrente expansionismo colonial. O padrão de programa nacional do século XX seria diferente: Estado
totalmente independente, homogêneo territorial e linguisticamente, laico e provavelmente republicano/parlamentar.

O sionismo, que refundaria o Estado de Israel, seguiria esse padrão: tomar o território, inventar
uma língua e laicizar as estruturas de um povo cuja unidade histórica havia sido apenas a prática
de uma religião comum.

A concepção nacionalista de Estado do século XIX se casou perfeitamente com os objetivos capitalistas. O domínio das Potências europeias sobre povos
dos outros continentes não foi apenas econômico, mas também militar, político e social, impondo à força um novo modelo de organização do trabalho
que pudesse garantir, principalmente, a obtenção de matéria-prima para as indústrias europeias. À violência militar e à exploração do trabalho somam-
se as imposições sociais, incluindo a disseminação do cristianismo entre os povos nativos, num processo de aculturação, sob a justificativa de que se
estaria levando os valores ocidentais da “civilização” aos povos primitivos. Era o “ideal civilizador do homem
branco”.

Nesse processo mercantil-civilizador, a África foi conquistada e dividida, o mesmo acontecendo com parte da
Ásia. Impérios tradicionais como a China sucumbiram à hegemonia europeia. O mundo nunca se mostrara tão
eurocêntrico, e as nações europeias efetivamente eram as protagonistas das relações internacionais. O
planeta como um todo tornou-se o tabuleiro do jogo de poder entre as Potências europeias.

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Pág. 18 - Antecedentes

Expansão Colonial (cont.)


Paralelamente ao fornecimento de matéria-prima pelas colônias, os europeus buscavam mercados consumidores para seus produtos em outras partes
do mundo, por exemplo, no continente americano. E esses mercados eram disputados pelas Grandes Potências.

A partir da segunda metade do século XIX, portanto, as preocupações europeias se tornaram mundiais. As rivalidades se projetavam nos outros
continentes. “O século XIX é extraordinariamente dinâmico: vai assistir-se à expansão da Europa pelo mundo, tanto pela ação política dos seus
Estados, pelos fluxos migratórios, pelo escoamento das suas economias, como pela sua influência civilizadora.” (PELLISTRANDI, 2000, p. 115). As
Grandes Potências europeias cuidavam de estabelecer seus impérios coloniais subjugando os povos dos outros continentes, particularmente da Ásia e
da África. O quadro de 1914, conforme ilustra o Mapa 18, seria de um mundo partilhado entre as Potências Europeias, com a Grã-Bretanha e França
detentoras dos maiores impérios coloniais.
Mapa 18: Impérios Coloniais em 1914

Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/xix/xix8.html

Especialmente importante é o Congresso de Berlim, em 1885. As razões políticas do imperialismo de final do século XIX eram tão importantes quanto
as razões econômicas. Para as nações recém-unificadas – Itália e Alemanha – a obtenção de territórios na África e na Ásia significava prestígio e
autorreconhecimento. Para a França, profundamente traumatizada após a derrota de 1871 (na Guerra Franco-Prussiana), as conquistas coloniais eram
um meio de readquirir respeito.

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Pág. 19 - Antecedentes

As novas Potências – Estados Unidos da América e Japão

A segunda metade do século XIX vê também o aparecimento de dois Atores importantes no jogo político internacional: Estados Unidos da América
(EUA) e Japão.

Os EUA começaram a se projetar como Potência após a violenta Guerra Civil, travada para impedir a separação dos estados do sul do país. Pouco
antes, os norte-americanos haviam consolidado o seu processo de expansão colonial às expensas do México. Além disso, em 1867, compraram da
Rússia o Alasca e, após derrotarem a Espanha, em 1898, adquiriram Porto Rico, Filipinas e um virtual controle sobre Cuba. Da mesma forma, o Oceano
Pacífico tornava-se uma área de projeção de poder dos EUA.

Internamente, os EUA iniciaram um vigoroso processo de industrialização graças a um mercado interno crescente, a uma estrutura tarifária
protecionista para afastar a concorrência estrangeira, a uma estrutura estável de comércio e ao grande número de inovações tecnológicas. Em 1914,
às vésperas da I Guerra Mundial, o país já era, de longe, a principal Potência industrial do planeta.

Sobre a situação dos EUA frente a outras potências na virada do século, vide Paul Kennedy, op.cit.

O Japão é outro exemplo de rápido crescimento econômico. Até 1854, mantivera-se fechado ao exterior. Nesse ano, uma esquadra norte-americana
forçou o país a abrir-se e aceitar o comércio com o exterior. “Decidido a preservar a independência do país, um grupo de samurais (...) tomou o
governo. A Restauração Meiji de 1867, como ficou conhecido esse episódio, devolveu o poder ao imperador” (PERRY, 1999, p. 473).

Inspirado por uma forte ideologia nacionalista, o governo Meiji iniciou um importante conjunto de reformas: os privilégios sociais foram eliminados, o
serviço militar obrigatório foi implantado, uma Constituição foi elaborada, e passou a existir parlamento. Além disso, a economia foi rapidamente
modernizada. Fábricas foram instaladas, tecnologia europeia foi comprada, ferrovias, portos, estradas e telégrafos instalados. Em menos de 20 anos, o
novo poder japonês dava sinais de existência: em 1894, derrotava a China, e, em 1905, a Rússia.

Na Guerra Russo-Japonesa (1904-1905), pela primeira vez na era moderna uma Potência do
Oriente derrotava um poderoso Estado europeu.

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Pág. 20 - Antecedentes

O Estado-nação

O Estado-nação é o resultado moderno da experiência de formação e construção do Estado desde Westfália e pressupõe a formação propriamente dita
de uma burocracia (no sentido de separação dos meios administrativos dos patrimônios particulares dos agentes da administração). Testemunhou-se
um processo de racionalização da atividade estatal. A relação entre poder político e território sofreu uma revolução, com uma completa transformação
das relações do poder político central com as múltiplas tradições locais – o estabelecimento de uma única lei, uma única língua, uma única política
fiscal e preceitos políticos uniformes para todo um território.

Havia razões políticas e econômicas por trás desse processo. De um lado, a necessidade de um contrato social voltado para a “coisa pública”, em que
os “objetivos públicos” deixariam de ter nos corpos estamentais de privilégios os intermediários da ação político-administrativa estatal; e, de outro, a
necessidade de facilitar a circulação dos bens num território, através da redução, simplificação e uniformização do sistema tributário (com a superação
da fragmentação legislativa e do patrimonialismo fiscal), e de estimular o equilíbrio entre as regiões de um Estado e o aumento das trocas inter-
regionais.

Uma das consequências desse processo foi a anulação sistemática das tradições locais de vários povos; ou seja, a partir das várias identidades dever-
se-ia inventar uma identidade nacional que integrasse a população em novos referenciais de pertencimento, de associação. Assim, os vários Estados
buscaram constituir internamente suas nações. A mesma demanda conjuntural ocorria nas grandes massas territoriais e étnicas do centro-leste
europeu (Império Prussiano, Império Austro-Húngaro e Império Russo). Todos passaram a buscar pelo caráter de sua nação e a igualmente se
perguntar se de várias nações era possível formar um espírito comum. Enfim, construir um Estado-nação significou, do século XIX ao XX, não apenas
desenvolver uma economia e uma organização econômico-político-militar viável, mas também agrupar vários grupos sociais localmente circunscritos
com suas línguas, tradições, costumes e leis próprias num grande agrupamento social politicamente representado e juridicamente nivelado por um
Estado laico regido por um conjunto geral de leis soberanas – a Constituição.

Estados constitucionais e não constitucionais aprenderam a avaliar a força política que era a capacidade de apelar para seus súditos na base da
nacionalidade (o Czar da Rússia não apenas baseava seu governo nos princípios da autocracia e da ortodoxia como passou a apelar aos russos como
russos na década de 1880). A escola primária passou a ser o meio de se ensinar às crianças a serem bons súditos e cidadãos. Os Estados criaram
nações, ou seja, o patriotismo nacional, e cidadãos linguística e administrativamente homogeneizados (a Itália usou a escola e o serviço militar para
fazer italianos, os EUA tornaram o conhecimento da língua inglesa condição para a cidadania americana, a Rússia tentou dar à língua russa o
monopólio da educação, com o fim de “russificar” as nacionalidades menores). Esse processo auxiliava a definir as nacionalidades excluídas da
nacionalidade oficial, que, caso contrário, poderiam vir a oferecer resistência e a se refugiar em algum partido socialista.

Esse era o pano de fundo para um século “de extremos”, o século XX, em que os principais Atores internacionais se confrontariam numa intensidade
nunca antes vista na história da Sociedade Internacional.

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Pág. 21 - Conclusão

O período de 1815 a 1914, quando comparado aos séculos anteriores e ao século


XX, foi de relativa paz para a Europa. Excetuando-se a Guerra da Crimeia (1854),
não existiram grandes conflitos entre as principais potências. O sistema de
equilíbrio de poder estabelecido no Congresso de Viena mostrou-se bastante
bem-sucedido e só foi desarticulado a partir do momento em que Bismarck
conseguiu unificar a Alemanha.

Após 1871 e especialmente após 1890, a Europa viveu tempos de incerteza. A


guerra voltou a ser considerada alternativa cada vez mais provável. França e
Alemanha não poderiam se reconciliar por causa da Alsácia-Lorena, território que a
primeira perdera para a segunda na Guerra Franco-Prussiana de 1870-1871. França
e Inglaterra estavam envolvidas em um grande processo de divisão colonial na
África. A Inglaterra e a Rússia, por causa da Índia e da Ásia Central, encontravamse
em permanente estado de tensão. Na Ásia, uma nova Potência surgia: o Japão.
Além disso, a mais complexa das áreas de conflito não pode ser esquecida: os
Bálcãs. Ali, os interesses contraditórios de Áustria-Hungria, Rússia, Sérvia e
Império Otomano fomentavam uma rivalidade crescente. Uma disputa de poder
daria início à I Guerra Mundial (1914-1918), que, por sua vez, poria fim à “Era dos
Impérios”.

A Era dos Impérios, de Eric Hobsbawm (Rio de Janeiro: Paz e Terra,


1988), é obra fundamental para a compreensão do período que antecede
a I Guerra Mundial e no qual se consolida a hegemonia europeia no
mundo.

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Unidade 3 - A I Guerra Mundial e os Entre-Guerras

Ao final desta unidade, o aluno deverá ser capaz de:


• identificar os principais fatos que levaram à deflagração da I Guerra Mundial;
• descrever a dinâmica de desenvolvimento da I Guerra Mundial;
• explicar a relação entre o Congresso de Versalhes e o estabelecimento de uma
nova ordem internacional;
• deliminar o estabelecimento da Crise de 1929.

Esperamos que você tenha um excelente aproveitamento em


seus estudos!

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Pág. 2 - A I Guerra Mundial

Para muitos estudiosos das relações internacionais, o século XX não se inicia em 1901, mas em 1914, com a deflagração do maior de todos os conflitos
que o mundo presenciara até então: a I Guerra Mundial. Durante muito tempo chamado de a Grande Guerra, esse conflito, que durou de 1914 a 1918,
iniciou-se na Europa e acabou envolvendo outras nações do globo, inclusive novas Potências emergentes que não pertenciam ao continente europeu,
com destaque para os EUA e o Japão.

Nunca se havia tido um conflito tão destrutivo e arrasador


como a I Guerra Mundial. Trata-se do primeiro grande
confronto internacional da era industrial. Foi maciço o uso
das ferrovias, e “os caminhões se tornaram tão
importantes quanto os cavalos no abastecimento de
soldados no campo” (ROBERTS, 2002, p. 681). Pela
primeira vez, foram empregados de maneira efetiva novos
equipamentos de combate, como o avião e o tanque de
guerra. Também foram utilizados, por ambos os lados em
luta, gases letais, responsáveis por milhares de baixas.

http://www.brasilescola.com/

Ao final do conflito, o sistema internacional mudaria definitivamente. A Europa sofreria intensa destruição, os impérios coloniais começariam a ruir, e a
hegemonia europeia no mundo daria seus últimos suspiros. A Sociedade Internacional se apresentaria ainda mais complexa e com novos Atores não
europeus a ditar suas regras. A Belle Époque seria apenas nostalgia.
 

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Pág. 3 - A I Guerra Mundial

Causas da Grande Guerra

Crise e incerteza. Esses eram os sentimentos que dominavam a Europa após 1890. Essa data não é
aleatória. É o ano em que Bismarck deixa de ser o Chanceler alemão. Bismarck sabia muito bem o que Convém lembrar que a França
queria: manter a França permanentemente enfraquecida e sem chances de revanche, além de afastada havia sido derrotada na Guerra
das preocupações territoriais. Seus sucessores, especialmente o KaiserGuilherme II, não tinham planos Franco-Prussiana, duas décadas
nesse sentido, ou, se os tinham, eram confusos, erráticos e provocativos. A isso se somava o fato de antes.
que cada país europeu tinha a sua lista de reivindicações. Entre outras consequências,
havia perdido o território da
A França não esquecia a perda da Alsácia-Lorena para a Alemanha. Tal fato era o motor do nacionalismo Alsácia-Lorena para os alemães.
francês. Além disso, preocupada em recuperar prestígio, a França lançou-se, com todas as suas forças, As décadas que se seguiram à
na corrida colonial. derrota francesa foram marcadas
por um profundo sentimento
A Rússia buscava expandir-se na Ásia Central, no Extremo Oriente e nos Bálcãs. Como resultado dessa revanchista, pela baixa estima
política, atritou-se com os ingleses na disputa pelo Afeganistão, com o Japão (guerra em 1905), e francesa e pelo desejo de ver a
permanecia em constante estado de tensão com os austríacos e com os otomanos pela hegemonia da Alemanha subjugada a qualquer
península balcânica. custo.

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Pág. 4 - A I Guerra Mundial

Causas da Grande Guerra


Os britânicos, por sua vez, temiam as ambições russas na Ásia Central e as pretensões coloniais francesas na África. Passaram, também, a temer cada
vez mais os alemães, principalmente depois que estes ensejaram uma política de construção naval em 1897. Além disso, a Alemanha unificada
revelou-se formidável concorrente econômica, superando os ingleses em áreas como química, siderurgia e energia, mostrando-se, por fim, a partir da
queda de Bismarck, mais e mais interessada em estabelecer um império colonial e disputar espaço com outros países europeus na África e Ásia.

A Áustria-Hungria era percebida, assim como a Rússia e o Império Otomano, como a Potência decadente da Sociedade Europeia. Cercados por todos os
lados, os austríacos tinham interesses conflitantes com os russos e com os eslavos da península balcânica. Além disso, sendo um país multiétnico, o
Império Austro-Húngaro defrontava-se com crescentes pressões domésticas das minorias internas que desejavam maior autonomia. Cada vez mais, a
Áustria-Hungria sustentava sua segurança no apoio da Alemanha. Tratados de não agressão e assistência recíproca foram celebrados entre os dois
Estados germânicos nos anos anteriores à I Guerra Mundial.

O temor de Bismarck de ver a Alemanha ameaçada nos fronts oriental e ocidental tornou-se realidade, em grande parte, em virtude da política externa
de Guilherme II. Preocupado em mostrar-se forte e influente, mas sem a habilidade política de Bismarck, o Kaiser acabou atraindo para si muitos
inimigos. Grã-Bretanha, França e Rússia se aliaram, principalmente, para fazer frente ao poderio alemão.

Para agravar a situação, as políticas governamentais nas Potências europeias eram ditadas por ânimos nacionalistas e não havia nenhuma instituição
internacional que pudesse mediar conflitos. O Congresso de Viena há muito deixara de ter importância e nada de significativo surgira em seu lugar. É
verdade que existia, desde 1899, a Corte Internacional de Justiça de Haia. Infelizmente, no entanto, ela se mostrou ineficaz. A paz anterior a 1914 era
obtida pelas ameaças mútuas, e não pelas decisões da Corte de Haia. A guerra, por sua vez, era articulada por meio de alianças secretas entre as
Potências: era a diplomacia secreta que marcava as relações internacionais da Europa até a I Guerra Mundial.

Acrescente-se a isso o recrudescimento dos discursos nacionalistas, como o pan-germanismo e o pan-eslavismo, que pregavam a reunião dos povos de
etnia germânica e eslava, respectivamente, em uma só nação, ou a coalizão dos Estados de uma mesma etnia contra ameaças de Estados de outras.
Esses movimentos também questionavam a existência de impérios multiétnicos como o Otomano, o Austro-Húngaro e mesmo o Russo, e defendiam a
independência dos povos sob o jugo de Viena, Constantinopla e São Petersburgo. Outra forma de nacionalismo era o francês, com forte viés
revanchista contra a Alemanha e desejoso de recuperar a “grandeza da França”. As minorias nacionais como se encontravam na Europa de 1914
podem ser vistas no Mapa 19.

Mapa 19: A Europa de 1914 – Minorias Étnicas

Ainda sobre a Grande Guerra, indica-se Coronel Redl, de István Szabó,


que mostra o funcionamento do exército austro-húngaro às vésperas da
Primeira Guerra.
Preste atenção no modo como a organização militar se fundava em
valores como tradição e separação em classes.

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Pág. 5 - A I Guerra Mundial

Causas da Grande Guerra


Assim, as relações internacionais às vésperas da I Guerra Mundial eram marcadas pela disputa entre as Grandes Potências por mercados e pelo
interesse das novas Potências, em especial a Alemanha e a Itália, de possuírem impérios coloniais e de se equipararem às principais Potências coloniais
europeias. Também caracterizava as relações internacionais anteriores à Grande Guerra uma significativa corrida armamentista entre os principais
Atores europeus, com rivalidades que afloravam entre eles e refletiam-se em um sistema de alianças estabelecidas, na maior parte das vezes, por
meio da diplomacia secreta.

As diferenças entre as Potências eram, ademais, significativas. Na arena europeia havia novas Potências, como a Alemanha e a Itália, que desejavam
ampliar seu poder e tinham interesses conflitantes com as Grandes Potências tradicionais e ainda poderosas Grã-Bretanha e França, que buscavam
manter-se na liderança da Sociedade Internacional a qualquer custo. Havia, ainda, os grandes impérios em decadência – o Império Russo, o Império
Austro-Húngaro e o Império Otomano – que, em virtude das dificuldades domésticas, em especial dos movimentos nacionalistas separatistas em seu
interior, viam-se enfraquecidos demais para permanecerem, ainda durante muito tempo, em condição de igualdade com a Grã-Bretanha, a França e a
Alemanha.

No início do século XX, a estrutura do Concerto Europeu fora definitivamente substituída pela política de alianças. De um lado, ainda sob a articulação
de Bismarck, as chamadas Potências Centrais – Alemanha e Áustria – assinaram com a Itália, em 1882, o Tratado da Tríplice Aliança, que dava a cada
parte garantia de assistência das demais em caso de ataque por uma Potência externa. Como resposta à Tríplice Aliança, franceses, britânicos e russos
constituíram a Tríplice Entente, a qual reuniria as Potências aliadas na Grande Guerra.

A Europa, antes de 1914, viu-se, pois, em uma série de crises. Após sobreviver a duas ou três realmente graves, o assassinato do Arquiduque
Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austro-húngaro, foi o estopim que deu início ao conflito.

A Áustria considerou o assassinato a oportunidade ideal para resolver, de forma definitiva, os problemas com a Sérvia. Sob a alegação de que o
governo sérvio era responsável pelo assassinato, fez uma série de exigências. Em suas exigências, os austríacos contavam com o apoio irrestrito
do Kaiser alemão.

Sobre o conflito... Em 28 de junho de 1914, o arquiduque Francisco Ferdinando e sua esposa


foram assassinados por um nacionalista sérvio quando visitavam a cidade de Sarajevo, que se
encontrava em uma região conturbada do Império Austro-Húngaro.

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Pág. 6 - A I Guerra Mundial

Causas da Grande Guerra

A Sérvia, por sua vez, como país eslavo, acreditava que contaria com o apoio da Rússia. Como em um dominó, o sistema de alianças fez com que a
guerra entre austríacos e sérvios atingisse, também, alemães e russos. Estes últimos, graças a outra aliança, atraíram para o conflito os franceses. Os
ingleses entraram na guerra para defender a Bélgica, país que fora invadido pelos alemães. Assim, um sistema de alianças rígido e um sistema de
mobilização militar conduziram os europeus para a Guerra. De um lado, estavam Inglaterra, França, Rússia e Sérvia. De outro, Alemanha e Áustria-
Hungria. Durante o desenrolar do conflito, muitos outros países se envolveriam. O Mapa 20 retrata essas alianças às vésperas da I Guerra Mundial

Mapa 20 : A Europa de 1914 – As Alianças

Fonte: http://www.geografiaparatodos.com.br/index.php?pag=mapastematicos

Sobre a Guerra: As hostilidades se iniciaram quando, diante da ineficácia das gestões diplomáticas, a Áustria declarou guerra à Sérvia, em 28 de julho
de 1914. A Rússia, aliada dos sérvios, mobilizou-se contra a Áustria, e a Alemanha, aliada do Império Austro-Húngaro, declarou guerra à Rússia em
1.º de agosto. As tropas alemãs cruzaram a fronteira de Luxemburgo, em 2 de agosto, e, no dia seguinte, 3 de agosto, a Alemanha declarou guerra à
França, a qual era aliada da Rússia. O governo britânico declarou guerra à Alemanha no dia 4 de agosto, em virtude de os alemães terem violado a
neutralidade belga, da qual os ingleses eram garantes. A Itália permaneceria neutra até 23 de maio de 1915, quando, então, declarou guerra à
Áustria-Hungria. O Japão declarou guerra à Alemanha em 23 de agosto de 1914 e, em 6 de abril de 1917, os Estados Unidos fizeram o mesmo.

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Pág. 7 - A I Guerra Mundial

A Guerra

Inicialmente, os que iam para o front acreditavam que a guerra terminaria em poucas semanas. Não é falso dizer que os soldados, de ambos os lados,
iam para a guerra entusiasmados pelo fervor nacionalista, acreditando que alcançariam vitória fácil e rápida. Infelizmente, no entanto, o conflito
acabou por ser longo e penoso.

As operações militares na Europa se desenvolveram em três frentes: a ocidental ou franco-belga, a oriental ou russa e a meridional ou sérvia.
Posteriormente, surgiriam novas zonas de combate, com a intervenção do Império Otomano, da Itália e da Bulgária.

Durante décadas, cada um dos países fez planos detalhados. Os alemães, por exemplo, tinham o famoso Plano Schlieffen. Elaborado pelo general
Schlieffen, previa o pior cenário possível: uma guerra em dois fronts – um contra a França, outro contra a Rússia. Para o sucesso do plano, era
necessária uma rápida vitória contra os franceses, para, depois, vencer a Rússia. Temerário, arriscado e de difícil execução, o plano acabou por
fracassar. A almejada rápida vitória contra os franceses acabou transformando-se na estática guerra de trincheiras, que durou a maior parte dos
quatro anos de conflito.

Os russos assumiram a ofensiva, na frente oriental, no início da guerra, mas foram detidos pelos exércitos austríacos e alemães. Em 1915, as
Potências Centrais haviam conseguido expulsar os russos da Polônia e da Lituânia e tinham tomado todas as fortalezas limítrofes da Rússia, que ficou
sem condições de empreender ações importantes por falta de homens e de suprimentos. O fracasso na guerra contribuiria para o aumento da crise
político-institucional interna da Rússia, que culminaria na deposição do czar, no estabelecimento de um governo republicano e na revolução
bolchevique de outubro de 1917.

O Império Otomano entrou na guerra em 29 de outubro de 1914, ao lado dos alemães e austríacos. Os turcos iniciaram a invasão da zona russa da
cordilheira do Cáucaso em dezembro. O governo russo pediu auxílio aos britânicos, que tentaram tomar o Estreito de Dardanelos. Porém, a Campanha
de Gallípoli, como ficou conhecida a ação, resultou em fracasso total para as tropas aliadas, que foram tenazmente derrotadas pelos turcos.
 

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Pág. 8 - A I Guerra Mundial

A Guerra
Nos Bálcãs, em 1915, os austríacos, com apoio dos búlgaros, conseguiram derrotar e ocupar a Sérvia. Eclodiram duas lutas na região em 1916: o
ataque conjunto de sérvios e italianos às forças búlgaras e alemãs e uma ofensiva aliada sobre a Macedônia.

O triunfo obtido pelos alemães contra os russos e sérvios, em 1915, deu-lhes condições de concentrarem suas operações na frente ocidental.
Desencadearam a batalha de Verdun em 21 de fevereiro, mas não conseguiram conquistar esta cidade devido à contraofensiva do general francês
Henri Philippe Pétain. Os aliados contra-atacaram, por sua vez, na batalha do Somme, iniciada em 1º de julho e na qual os britânicos usaram pela
primeira vez carros de combate modernos. Os franceses empreenderam nova ofensiva em outubro, restabelecendo a situação que existia antes de
fevereiro. Todos esses movimentos podem ser vistos no Mapa 21.
Mapa 21 : A Guerra em Agosto de 1914

Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/guerre14_18/gun7.html

Essas batalhas de 1916 já revelavam quão assustadoramente mortífera seria a Grande Guerra: nos cinco meses da batalha de Verdun, “os exércitos
franceses e alemães sofreram mais de seiscentas mil baixas (mortos, feridos e desaparecidos) e, no primeiro dia da batalha do Somme (...), o exército
britânico (...) teve vinte mil mortos e quase quarenta mil feridos. No monumento em Thiepval, dedicado aos soldados britânicos mortos em pouco mais
de um ano em Somme, há mais de setenta mil nomes, exclusivamente daqueles cujos corpos nunca foram encontrados” (ROBERTS, 2002, p. 682).

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Pág. 9 - A I Guerra Mundial

A Guerra
A guerra continuaria estática. Os exércitos dos dois lados acabaram fincando posições que se manteriam por meses. A guerra de trincheiras, com
homens com lama até o pescoço, enfiados em valas imundas e sujeitos a doenças, como cólera e tifo, e a ataques da artilharia inimiga, alguns
empregando gases letais, seria uma traumática realidade quotidiana pela qual a Grande Guerra seria lembrada. Nesse sentido, a I Guerra Mundial seria
distinta de todas as que a precederam e, de fato, também dos conflitos seguintes, nos quais a guerra dinâmica, de velocidade, seria a regra. Em
resumo, nos primeiros três anos que se seguiram a 1914, poucas conquistas houve por parte de ambos os lados além daquelas obtidas nos primeiros
meses da guerra.

1917: Grandes Mudanças

Em 1917, os aliados tiveram um revés: a Rússia saiu da guerra. Em março daquele ano, uma revolução culminou na implantação de um governo
provisório e na abdicação do Czar Nicolau II. Em novembro (outubro no calendário russo), uma nova revolução, liderada pelos bolcheviques, derrubou
o governo provisório e tomou o poder. As autoridades russas propuseram à Alemanha a cessação das hostilidades. Representantes da Rússia, Áustria e
Alemanha assinaram o armistício em 15 de dezembro, cessando, assim, a luta na frente oriental. Os alemães puderam redirecionar suas forças para
o front ocidental.

Se saíra vitoriosa contra a Rússia, a Alemanha fracassara em seu intento de provocar a rendição da Grã-Bretanha por meio da destruição da frota
aliada. Em janeiro de 1917, aAlemanha declarava guerra submarina generalizada e anunciava que afundaria qualquer embarcação que encontrasse em
uma vasta área do Atlântico Norte, considerada zona de guerra, não importando se fosse navio de guerra, mercante ou de passageiros. Com isso,
muitas embarcações foram torpedeadas, causando milhares de baixas, inclusive entre civis de países neutros, como os EUA e o Brasil.

A política de neutralidade norte-americana mudou com a guerra submarina promovida pelos alemães. Em 3 de fevereiro de 1917, os EUA romperam
relações diplomáticas com a Alemanha, declarando-lhe guerra em 6 de abril. Uma força expedicionária foi enviada para a Europa. A sorte mudara
novamente na direção dos aliados.

Outro filme muito interessante é O Batalhão Perdido, de Russell Mulcahy (EUA, 2001, 92 min),
que conta a história real de um batalhão norte-americano que se perde no meio das linhas alemãs
durante a I Guerra Mundial.

Várias nações latino-americanas, entre elas o Peru, o Brasil e a Bolívia, apoiariam a ação dos EUA. O afundamento de alguns navios levou o Brasil, em
26 de outubro de 1917, a participar da guerra, enviando uma divisão naval em apoio aos aliados. Aviadores brasileiros participaram do patrulhamento
do Atlântico, navios do Lóide Brasileiro transportaram tropas norte-americanas para a Europa, e uma missão médica foi enviada para a França.

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Pág. 10 - A I Guerra Mundial

1918: o fim da carnificina


 
Apesar da entrada dos EUA no conflito, os primeiros meses de 1918 não foram favoráveis às Potências aliadas. O Mapa 22 ilustra a disposição das
forças no início de 1918 (comparar com o Mapa 21). Em 3 de março, a Rússia assinou o Tratado de Brest-Litovsk, com o qual punha oficialmente um
fim à guerra com os Impérios Centrais. Em 7 de maio, a Romênia, derrotada, assinou o Tratado de Bucareste com a Áustria-Hungria e a Alemanha, às
quais cedia diversos territórios.

Mapa 21: A Guerra em Agosto de 1914 Mapa 22 - A Grande Guerra em 1918    

Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/guerre14_18/gun8.html

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Pág. 11 - A I Guerra Mundial

1918: o fim da carnificina (cont.)


Em 1918, no entanto, a luta nos Bálcãs foi catastrófica para os Impérios Centrais. Uma força de cerca de 700.000 soldados aliados iniciou uma grande
ofensiva contra as tropas alemãs, austríacas e búlgaras na Sérvia. Os búlgaros, derrotados, assinaram um armistício. Além disso, os aliados obteriam a
vitória definitiva na frente italiana entre outubro e novembro. A comoção da derrota provocou rebeliões revolucionárias no Império Austro-Húngaro,
que se viu obrigado a assinar um armistício em 3 de novembro. O Imperador Carlos I abdicou oito dias depois, e, em 12 de novembro, foi proclamada
a República da Áustria.

A frente turca também caiu. As forças britânicas tomaram o Líbano e a Síria, ocupando Damasco e outros pontos estratégicos. A Marinha francesa, por
sua vez, ocupou Beirute, e o governo otomano solicitou um armistício.

Depois da paz em separado com a Rússia, a Alemanha tentou uma ofensiva final contra a França. Nesse momento derradeiro, porém, os alemães
tiveram que enfrentar as recém-chegadas tropas americanas. Cansados e com parcos recursos materiais, os germânicos fracassaram em seus ataques
finais. Depois de quatro anos, a exaustão atingiu todos os países combatentes, enquanto os EUA acabavam de entrar no conflito. Em fins de 1918, os
principais aliados da Alemanha – Áustria-Hungria, Turquia e Bulgária – pararam definitivamente de lutar. Áustria-Hungria e Turquia simplesmente se
desmancharam depois de quatro anos de combate.

A Alemanha, sob pressões internas e externas, pediu a paz. O Kaiser Guilherme II abdicou, e o país se transformou em república. A Alemanha, ao
contrário de seus aliados, não se desintegrou, e o armistício foi feito antes que o seu território fosse invadido. Isso teria grandes implicações simbólicas
posteriormente.

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Pág. 12 - A I Guerra Mundial

O saldo da Grande Guerra

O saldo da guerra foi a morte de mais de 8 milhões de pessoas. Outras 10 milhões de pessoas ficaram inválidas. Economicamente, o trauma foi
profundo. A França gastou 30% da riqueza nacional, e a Inglaterra, 22%. A produção industrial caiu entre 30% e 40%. Além disso, enormes dívidas
foram contraídas para pagar a guerra. Nunca o mundo assistira a uma hecatombe de tamanhas proporções, com tantas baixas, tantos mutilados e
tanta destruição.

Sob a ótica das relações internacionais, a Grande Guerra provocou mudanças profundas no equilíbrio de poder no mundo. Os velhos impérios, que
foram protagonistas da política entre as nações nos quatro séculos anteriores, desaparecem. O II Reich chega a termo, e uma frágil democracia é
estabelecida na Alemanha, que continuava como Ator de destaque no cenário europeu e cuja recuperação influenciaria definitivamente os destinos da
Europa e o sistema internacional. Grã-Bretanha e França, apesar de vencedoras da Grande Guerra, foram obrigadas a admitir que uma nova
configuração de poder seria estabelecida, com dois Atores não europeus tremendamente importantes, o Japão e a nova Potência que se afirmava, os
EUA.

Terminado o conflito, que deveria ter sido rápido e fácil, a Europa estava em situação lamentável e não mais teria forças para estar à frente da
Sociedade Internacional. Os EUA já deveriam ser consultados sobre os destinos do sistema internacional, e, no Oriente, o Japão avocava sua parcela
de influência. E essas transformações estavam apenas começando... O mundo já dava sinais de deixar de ser eurocêntrico. A Primeira Guerra Mundial
foi a grande tragédia europeia.

A Grande Guerra foi um evento marcante na história da humanidade e deu início


ao século XX. Há muitas obras a respeito. Sugere-se, para leitura inicial, o livro de
John Keegan, História Ilustrada da I Guerra Mundial (Ediouro). Os livros de John
Keegan são indicados para os que se interessam por história militar.
Também sobre a realidade da Grande Guerra, sugere-se a leitura de Nada de Novo
no Front, de Erich Maria Remarque (Porto Alegre, L&PM, 2004). Trata-se de um
romance histórico, contado por alguém que viveu a dura realidade da guerra e foi
considerado, no pós-guerra, uma obra-prima da literatura pacifista mundial.
Baseado no livro, foi feito o filme de mesmo nome (All Quiet on the Western Front,
Lewis Milestone, 1930), também um clássico do gênero.

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Pág. 13 - O Entre-Guerras e a Nova Ordem Internacional

A Conferência de Paris, O Tratado de Versalhes e o Advento de uma Nova Ordem Internacional

Em janeiro de 1919, 25 países se reuniram em Paris para as conversações de paz. Os derrotados e a Rússia, entretanto, não participaram dos debates.

Os norte-americanos, guiados pelo idealismo do Presidente Woodrow Wilson, desejavam a criação da Sociedade de Nações, entidade que pudesse
resolver amigavelmente as questões internacionais. Também conhecida como Liga das Nações, essa organização internacional deveria servir de foro
onde os Estados poderiam resolver suas animosidades sem recorrer à guerra, que deveria ser definitivamente banida das relações internacionais. A paz
seria assegurada por meio de um mecanismo de segurança coletiva, e o direito internacional, a autodeterminação e a democracia deveriam prevalecer
nas relações entre os povos. Esses valores, que constituiriam o norte moral para a conduta dos Estados, seriam fomentados pelas instituições então
criadas, como a Liga das Nações e a Corte Internacional de Justiça (denominada à época Corte Permanente de Justiça Internacional).

Grã-Bretanha e França, todavia, buscavam defender seus interesses de forma mais incisiva e pragmática. Os franceses desejavam a reintegração da
Alsácia-Lorena a seu território, o desarmamento alemão e o pagamento de indenizações de guerra. Os ingleses, por sua vez, queriam o controle sobre
a frota e sobre as colônias alemãs. Eram posições antagônicas aos anseios estadunidenses e refletiam o realismo da política internacional europeia do
século XIX.

O Tratado de Versalhes, principal convenção de paz da Grande Guerra, continha termos bastante duros para os vencidos. A Alemanha perdeu vários
territórios e todas as suas possessões coloniais. Além da Alsácia-Lorena, devolvida para a França, perdeu territórios para a Lituânia e, principalmente,
para a Polônia. Como resultado das perdas territoriais para esta última, a Alemanha foi fisicamente dividida, com a Polônia separando a Prússia
Oriental do restante do país. Tinha-se aí um dos motivos que fomentaram o nacionalismo e o revanchismo alemães no Entre-Guerras (1919-1939).

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Pág. 14 - O Entre-Guerras e a Nova Ordem Internacional

A Conferência de Paris, O Tratado de Versalhes e o Advento de uma Nova Ordem Internacional (cont.)

Militarmente, a Alemanha foi desarmada. O exército foi reduzido para 100 mil homens e 4 mil oficiais. Não mais teria marinha, aviação, tanques ou
artilharia pesada. Também não poderia fabricar material bélico. Por fim, o país se viu obrigado a pagar uma grande indenização financeira para
os vencedores. Para se ter ideia da indenização que a Alemanha se viu obrigada a pagar, o valor acordado era tão expressivo que seria pago em
parcelas que só acabariam no início da década de 1980. Claro que esse pagamento não se daria como previsto...

Outros tratados de paz foram firmados entre 1919 e 1923. Como resultado, inúmeros países surgiram da desintegração do Império Austro-Húngaro, do
Império Otomano e do Império Russo: Finlândia, Letônia, Estônia, Lituânia, Polônia, Tchecoslováquia, Hungria e Iugoslávia. Um novo mapa político da
Europa era desenhado, com novas nações constituídas do esfacelamento das colchas de retalho étnicas, que eram os citados velhos impérios.

O Mapa 23 ilustra a nova configuração política europeia do pós-I Guerra (em amarelo, os novos Estados).

Mapa 23: A Europa em 1924

Fonte: http://perso.numericable.fr/alhouot/alain.houot/Hist/guerre14_18/gun12.html

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Pág. 15 - O Entre-Guerras e a Nova Ordem Internacional

Uma Nova Ordem Internacional

A Europa que saía da guerra era bastante diferente daquela que a iniciara. De certo modo, o impacto da I Guerra para algumas nações europeias foi
ainda maior do que o da II Guerra Mundial. Sangrada e traumatizada, a Europa não conseguiu se recuperar por meio dos Tratados de Paz. Ao contrário
de uma paz duradoura, conseguiu-se, apenas, por intermédio de tratados impiedosos, deixar os alemães desejosos de uma revanche. Diferentemente
do Congresso de Viena (1815), que fora um exemplo de como se obter a paz, Versalhes foi a expressão de raiva dos vencedores. O resultado é que,
vinte anos depois, eclodiria outra guerra mundial.

Novas Potências não europeias: EUA e Japão

Quais foram os verdadeiros vencedores da I Guerra Mundial? França e Grã-Bretanha saíram em frangalhos do conflito. Perderam milhões de vidas e
tiveram uma geração inteira traumatizada. Perderam recursos industriais, econômicos e financeiros. Para ganhar a guerra, tiveram que se aliar e se
endividar junto aos EUA. Estes, se já eram um país importante antes de 1914, tornaram-se, após o fim da guerra, a principal Potência mundial.
Inegável que a vitória das Potências ocidentais só foi possível porque os norte-americanos enviaram um contingente significativo para a França a partir
de 1917. Os EUA foram o fiel da balança na Grande Guerra: não apenas impediram que as ofensivas alemãs fossem bem-sucedidas como também
mostraram para os alemães que a continuidade da guerra era inútil.

O Japão, mesmo com papel secundário na I Guerra Mundial, soube tirar proveito do enfraquecimento das Potências europeias. Conseguiu ocupar as
possessões alemãs na China e na Oceania. Além disso, como se envolvera apenas marginalmente no conflito, encontrava-se pronto para as suas
aventuras militares nas décadas de 1920 e 1930 e, posteriormente, na II Guerra Mundial.

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Pág. 16 - O Entre-Guerras e a Nova Ordem Internacional

Idealismo na política internacional e a Liga das Nações

A Grande Guerra havia sido demasiadamente traumática. Nunca o mundo presenciara tanta carnificina e destruição em um conflito entre “nações
civilizadas”. Os europeus, que haviam comemorado o início do ansiado conflito, concluíram-no exaustos e dispostos a fazer daquela a derradeira
guerra.

O sentimento mundial e, sobretudo, europeu, ao fim da Grande Guerra, era de que não se poderia mais tolerar que os povos se dizimassem em um
conflito armado, e que a Sociedade Internacional deveria empreender todos os esforços no intento de garantir um mundo pacífico e regido pelo Direito,
e não pela força.

O presidente estadunidense Woodrow Wilson foi o idealizador do programa de construção de uma nova ordem internacional chamado Quatorze Pontos.
Esse programa, apresentado para a Conferência de Paris, previa um acordo de paz sem anexações territoriais ou indenizações de guerra e baseava-se
no princípio da autodeterminação dos povos, isto é, cada nacionalidade teria direito de ter a própria independência, caso, por exemplo, da Hungria,
Polônia e Sérvia. Além disso, o programa wilsoniano previa a criação de uma Sociedade das Nações, para assegurar que o mundo não entrasse
novamente em guerra.

A Sociedade das Nações, ou Liga das Nações, foi fundada em 28 de abril de 1919. Apesar das pretensões de Wilson, ela acabou sendo bastante
limitada. Um Conselho Permanente, formado por Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, Japão e Itália, serviria como árbitro nas questões
internacionais. Caso não fosse bem-sucedido, a Assembleia Geral, composta por todos os membros, poderia votar sanções morais, econômicas ou
militares.

Para fins práticos, os efeitos trazidos pelo advento da Sociedade das Nações foram desprezíveis. Como exercia, na realidade, pouco poder, quando
votava algum tipo de sanção ou de agravo, o país atingido simplesmente se retirava da Liga. Ademais, a organização já começara enfraquecida, pois a
principal Potência mundial e pátria do seu idealizador, os EUA, acabaram não aderindo à Liga, por decisão do Congresso norte-americano.

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Pág. 17 - O Entre-Guerras e a Nova Ordem Internacional

A Revolução Russa

A Revolução Russa foi um dos eventos mais importantes do século XX, tal como fora a Revolução Francesa no século XVIII. Surgiu da derrota para o
Japão em 1905 (em que disputou o território da Manchúria), dos escombros da I Guerra Mundial, da disseminação das ideias socialistas e
revolucionárias geradas no século XIX e da incapacidade do governo czarista de ouvir os anseios populares.

A entrada russa na Grande Guerra, tal como ocorrera em outros países, fora celebrada pelo povo. O governo de São Petersburgo imaginava que a
superioridade numérica da Rússia em homens seria suficiente para derrotar os alemães. Isso não se mostrou verdadeiro. Apesar de estar em
inferioridade numérica, a Alemanha soube lidar com a incompetência militar e com os problemas logísticos russos. As derrotas militares não tardaram a
surgir e, rapidamente, transformaram-se em desastres. Além disso, a guerra pressionou, de modo exagerado, a economia russa: os camponeses foram
retirados de suas terras para lutar no front, empresas e indústrias faliram, a inflação corroía o poder de compra e não havia comida suficiente para
abastecer as principais cidades. Em fins de 1916, a Rússia czarista estava à beira do colapso.

Lênin conseguiu retornar do


Apesar disso, o Czar Nicolau II, preso aos compromissos de guerra com a França e com a Grã-Bretanha, exílio e chegar à Rússia para
não dava sinais de que desistiria do conflito. Pressionado, abdicou em março de 1917. O governo passou promover a Revolução graças
às mãos de um governo moderado sob o comando de Alexander Kerenski. Entretanto, o novo governo ao auxílio dos alemães,
não eliminou o principal problema do país: a guerra. Em outubro do mesmo ano, Lênin, líder bolchevista particularmente dos serviços
que retornara do exílio, preparou a tomada do poder. Kerenski, abandonado pelo exército, fugiu. Lênin de inteligência do Kaiser, com
assumiu então o governo os quais o líder bolchevista
comprometeu-se a pôr fim à
participação de seu país na
guerra assim que tomasse o
poder.

A Revolução Russa e o Stalinismo são o pano de fundo dos filmes Dr. Jivago e Reds, de Warren
Beatty. Confira!

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Pág. 18 - O Entre-Guerras e a Nova Ordem Internacional

A Revolução Russa (cont.)

Os bolchevistas eram guiados pelas ideias de Karl Marx e Friedrich Engels, pensadores comunistas do século XIX. Assim, tinham o objetivo de, uma vez
tomado o poder, realizar profundas mudanças na sociedade. De acordo com Marx, a história se funda na luta de classes, e essa seria superada pela
classe mais revolucionária e vanguardista, o proletariado. A contribuição de Lênin para a política do século XX foi a seguinte: a revolução seria feita
através da condução e organização do disciplinado partido de vanguarda de revolucionários profissionais. A revolução de 1905 mostrara uma burguesia
russa politicamente fraca; a Constituição liberal-burguesa formulada era muito restrita, e o czarismo tornara a se implantar. Para uma revolução sem
burguesia, o partido conduziria a classe operária com o apoio do campesinato, ansioso por terras.

As repercussões de uma revolução russa seriam mais amplas que as de 1789. A simples extensão física e a plurinacionalidade de um império que ia do
Pacífico à fronteira alemã significava que sua queda afetaria um número muito maior de países, em dois continentes, que a de um Estado marginal ou
isolado na Europa ou na Ásia.

Uma das primeiras medidas de Lênin foi a retirada da Rússia da guerra. Por meio do armistício de Brest-Litovsk, entregou parte importante do
território e dos recursos industriais e econômicos russos na Europa para os alemães em troca da paz. Mesmo arriscado, foi um lance bem-sucedido.
Junto com isso, implantou um regime de partido único apoiado em uma poderosa polícia política, a Tcheka, e no Exército. Depois de três anos de
sangrenta guerra civil, inclusive com a invasão do território russo por forças estrangeiras, a vitória e o controle do país foram definitivamente
alcançados.

Dos escombros do império dos czares surgiu um novo país, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), primeira nação do mundo sob um
regime marxista e que se tornaria a única Potência do planeta capaz de rivalizar com os EUA. O governo revolucionário enfrentaria ainda grandes crises
políticas e econômicas, mas conseguiria superar esses obstáculos e retomar o processo de industrialização e de crescimento iniciado pela Rússia
czarista. Entretanto, essas transformações acarretariam a morte de milhões de pessoas, não só em virtude da insuficiência de alimentos, mas também
por causa de decisões desastrosas da política econômica – tomadas por burocratas do Partido Comunista – e, ainda, como resultado de perseguições e
expurgos contra toda e qualquer pessoa suspeita de ser contrária ao regime. Nesse contexto, a figura de Josef Stalin, que assumiu o poder após a
morte de Lênin, em 1924, e governou ditatorialmente a URSS até a sua própria morte, em 1953, teve um papel central.
 

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Pág. 19 - O Entre-Guerras e a Nova Ordem Internacional

A Crise de 1929

Com o fim da Primeira Guerra Mundial, os EUA se tornaram a principal Potência econômica do mundo. A década de

1920 foi um tempo de grande crescimento econômico. Empolgados com a possibilidade de lucro rápido, milhares de pessoas se puseram a investir na
Bolsa de Valores, inclusive comprando ações a crédito. Esse movimento de especulação fez com que os preços das ações fossem muito maiores do que
elas realmente valiam.

Em outubro de 1929, a “bolha” da Bolsa explodiu. Em poucas semanas, bilhões de dólares evaporaram. Empresas reduziram a produção, milhões de
trabalhadores ficaram desempregados, agricultores tiveram que entregar as suas terras para os bancos, e centenas de bancos fecharam as portas. O
índice de produção estadunidense, que era de 100 em 1929, caiu, em pouco tempo, para 60.

Externamente, os efeitos da crise também foram devastadores. Como sempre ocorre, problemas na principal Potência repercutem rapidamente no
restante do sistema internacional. Desemprego, inflação e quebra de empresas atingiram praticamente todos os outros países do mundo, à exceção da
União Soviética, que não dependia do sistema econômico internacional por ter sido isolada pelas Potências, em virtude da Revolução de 1917 e do
estabelecimento do regime comunista.

Saiba mais sobre a crise de 1929.

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Pág. 20 - O Entre-Guerras e a Nova Ordem Internacional

Fascismo e Nazismo

Após a I Guerra Mundial, a Europa foi tomada por uma onda de radicalização política. Regimes totalitários, à esquerda e à direita, apareceram por todo
o continente. Os antigos regimes liberais foram, pouco a pouco, substituídos por regimes onde imperava a força. E isso ocorreu com o apoio popular,
que, em diversos países, manifestou descrédito na democracia.

Após 1916, o constitucionalismo liberal e a democracia representativa batem em retirada, embora restaurados após 1945. Em 1939, os únicos dentre
os 27 Estados europeus que podiam ser descritos como democracias parlamentares eram: Reino Unido, Estado Livre da Irlanda, França, Bélgica, Suíça,
Holanda e os quatro escandinavos. Todos eles, salvo o Reino Unido, a Irlanda, a Suécia e a Suíça, logo desapareceriam temporariamente em virtude de
ocupação ou de aliança com a Alemanha nazista.

O Tratado de Versalhes comprometeu as chances de recuperar a estabilidade capitalista da Alemanha e, portanto, da Europa, em bases liberais.

O comunismo, que já havia alcançado o poder na Rússia por ocasião da Revolução de 1917, apresentava-se, para muitos europeus, como a saída da
esquerda. À direita, foi o fascismo que surgiu como o grande adversário dos regimes democráticos.

A Itália é o primeiro país em que um regime fascista estabeleceu-se e adquiriu importância. Benito Mussolini, antigo militante socialista, catalisou em
torno de si toda a insatisfação do povo italiano com o resultado da I Guerra Mundial. Os italianos pouco poderiam comemorar dos resultados da Grande
Guerra. Apesar de oficialmente vitoriosos, as baixas em vidas foram altíssimas. Além disso, a Itália não conseguiu obter o prestígio que há tanto tempo
desejava. Para as outras potências europeias, a Itália ainda era uma nação de segunda categoria.

Também não se pode esquecer que a Itália chegou à década de 1920 em grave crise econômica: o desemprego grassava, empresas quebravam, a
inflação era alta e os trabalhadores perdiam renda. Tratava-se de cenário bastante propício a soluções autoritárias. Mussolini aproveitou-se da
oportunidade. Em 1921, fundou o Partido Fascista e, em 1922, realizou a Marcha sobre Roma, dizendo-se defensor da ordem contra o caos e a
anarquia. Inicialmente, o discurso fascista manteve um aspecto de normalidade, mas, em 1925, os fascistas tomaram, definitivamente, o poder.

Sobre as questões relacionadas ao totalitarismo e ao autoritarismo da


Europa, vide Mark Mazower, O continente sombrio: a Europa do século
XX (São Paulo:Companhia das Letras, 2001). Obra teórica fundamental a
respeito é Origens do Totalitarismo, de Hannah Arendt (São Paulo:
Companhia das Letras, 1989).

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Pág. 21 - O Entre-Guerras e a Nova Ordem Internacional

Fascismo e Nazismo (cont.)

O Fascismo italiano, copiado depois por muitos outros países, tinha entre seus princípios:

a existência do Estado autoritário, baseado na figura do chefe (ou líder) e no partido único

a preponderância do coletivo – ou das massas – sobre o indivíduo;

o Estado como o árbitro nas relações entre patrões e empregados;

a exaltação da guerra e da grandeza nacional.

Muitos outros países adotaram regimes similares ao italiano ou inspirados nele: Espanha, Portugal, Polônia, Hungria, Iugoslávia, Grécia, Bulgária,
Lituânia, Estônia, Letônia e Áustria, para citar os Estados europeus. Até no Brasil, em 1937, com o Estado Novo de Getúlio Vargas, foi estabelecido um
regime fortemente influenciado pelas ideias fascistas.

Não obstante, o fascismo não seria a opção mais autoritária de direita no Entre-Guerras. Em 1933, chegava ao poder na Alemanha o principal discípulo
das ideias de Mussolini: Adolf Hitler. O novo líder alemão conseguiu não apenas superá-lo como radicalizar mais ainda a ideologia fascista: estabelecia-
se o nacional-socialismo na Alemanha.

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Pág. 22 - O Entre-Guerras e a Nova Ordem Internacional

As origens do nazismo

O nacional-socialismo, ou nazismo, como é também chamado, surgiu em meio à crise da década de 1920 e encontrou nos problemas da Alemanha e
do mundo no pós-I Guerra Mundial as razões de seu fortalecimento. A primeira dessas razões é o perene revanchismo alemão oriundo da derrota e das
imposições dos vencedores da I Guerra Mundial.

Simbolicamente, os alemães não se sentiam derrotados, porque o território alemão não fora invadido em 1918. Ademais, quando os combates foram
suspensos por meio de um armistício – e não de uma capitulação –, parecia haver um equilíbrio entre os lados combatentes, pois ambos estavam
exauridos. A culpa para o armistício era jogada sobre as costas do poder civil, os “entreguistas”, particularmente os socialistas que negociaram o
armistício, supostos responsáveis pelo fracasso.

Em segundo lugar, as condições do Tratado de Versalhes para a Alemanha foram muito mais duras do que o Presidente Wilson sugerira. Os alemães
foram declarados culpados pela guerra, obrigados a pagar uma reparação gigantesca e impedidos de ter um exército de tamanho compatível com a
realidade de uma Potência.

Por fim, as crises econômicas da década de 20 – primeiro, em 1923, quando o país passou pela hiperinflação, depois, em 1929, resultado da quebra da
Bolsa de Nova York – se mostraram fundamentais para criar um caldo simbólico de ódio e rancor. Razões econômicas que repercutiram em
movimentos sociais questionaram a frágil democracia da República de Weimar, como foi denominado o regime alemão em sua breve experiência
democrática (1919-1933).

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Pág. 23 - O Entre-Guerras e a Nova Ordem Internacional

As origens do nazismo (cont.)


Aos ingredientes do fascismo, os nazistas juntaram o racismo – especialmente contra judeus, eslavos e ciganos. Também aprofundaram o
autoritarismo fascista, ao resumirem o Estado a um chefe único, o Führer: alicerçava-se um Estado totalitário, que só encontraria congênere na URSS
stalinista.

Os nazistas eram, simultaneamente, antimarxistas e anticapitalistas: o marxismo, para os nazistas, seria obra dos judeus, e o capitalismo, por sua vez,
era desigual e individualista. Ademais, defendiam um sistema de partido único, hierarquizado e presente em todas as etapas da vida do indivíduo – o
indivíduo não existia fora do partido –, e pregavam um nacionalismo levado às últimas consequências.

No pós-I Guerra Mundial, o nacionalismo foi definitivamente incorporado pela direita política. Desde o final do século XIX que as organizações de massa
do nacionalismo alemão desviaram-se do liberalismo herdado de 1848 para uma postura militarista, agressiva e antissemita. No Entre-Guerras,
ganhava ainda mais força um novo movimento político baseado no chauvinismo, na xenofobia e na idealização da expansão nacional, na conquista e no
próprio ato da guerra. Tal nacionalismo passou a atrair as classes médias frustradas, os antiliberais e os antissocialistas.

Uma vez no poder, alcançado por meio de eleições democráticas, os nazistas iniciaram profundas reformas: instituíram um modelo de partido único,
dominaram o Judiciário, estabeleceram a censura, promoveram expurgos no serviço público e nas universidades e criaram os campos de concentração,
para onde eram enviados os elementos indesejados. Também conseguiram o rápido rearmamento do Exército. Ao lado dessas ações práticas, os
nazistas agiram com muita força no campo simbólico. Uma palavra resume esse processo: propaganda.

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Pág. 24 - O Entre-Guerras e a Nova Ordem Internacional

A Guerra Civil Espanhola (1936-1939)

Episódio marcante do Entre-Guerras foi a Guerra Civil Espanhola (1936-1939). O conflito foi caracterizado pelo confronto entre as grandes correntes
ideológicas da época e nele lutaram voluntários de diversas partes do mundo, inclusive do Brasil.

Após a queda da ditadura de Primo de Rivera, em 1930, o rei da Espanha Afonso XII tentou restabelecer um
governo constitucional. Entretanto, as eleições de 1931 acabaram com as pretensões monarquistas: o rei foi
exilado e a República proclamada. Apesar das resistências, a República espanhola mostrou-se democrática e,
em 1936, ganhou as eleições a Frente Popular, composta por anarquistas, comunistas, socialistas e radicais. O
novo governo apoiou as reivindicações dos movimentos operários e camponeses, e os trabalhadores
começaram a ocupar as fábricas e a invadir terras.

O assassinato do líder monarquista Calvo Sotelo por forças anarquistas, em 13 de julho de 1936, serviu de
justificativa para o levante militar liderado pelo general Francisco Franco, a partir do Marrocos espanhol. Para
fazer frente à revolta do Exército, o governo republicano recorreu a milícias, armando os populares. Em dois
meses, as tropas de Franco já dominavam metade do território espanhol. Entretanto, a guerra se prolongaria
por três anos, constituindo-se em um confronto sangrento e generalizado.

Enquanto os nacionalistas, liderados por Franco, tinham apoio de setores conservadores, como o Exército e parte do clero católico, e das províncias
ocidentais do país, os republicanos contavam com a Força Aérea e a Marinha, com os trabalhadores, a pequena burguesia radical e parte do
campesinato. Contavam os republicanos também com as regiões industriais que ocupavam o triângulo Madri-Valência-Barcelona. Bascos e catalães
apoiavam a República.

Em 1938, os franquistas conseguiram isolar a Catalunha de Madri. Barcelona capitulou em janeiro de 1939 e Madri em março do mesmo ano. Em 1º de
abril de 1939, acabou a sangrenta guerra que dividira a Espanha, deixara cerca de 500.000 mortos e 450.000 exilados. Estabeleceu-se um governo de
índole fascista, liderado por Franco, e que perduraria por quase quatro décadas.

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A Guerra Civil Espanhola (1936-1939)

Economicamente, a guerra civil deixou a Espanha em uma situação catastrófica. A renda per
capita só recuperaria os níveis de 1936 em meados da década de 1950. A malha industrial
espanhola foi destruída, e o país voltou à condição de economia eminentemente agrária. A
infraestrutura foi muito danificada, a Espanha gastou todas as suas reservas e a dívida externa
cresceu.

Com o fim da guerra, o governo de Franco instaurou uma ditadura de direita, simpática aos países
do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Esse regime se manteria até a morte de Franco, em 1975,
quando então a monarquia seria restabelecida, e o país iniciaria um processo de redemocratização.

No que concerne às relações internacionais, a Guerra Civil Espanhola foi um conflito que repercutiu
muito além da Península Ibérica: com a participação das Potências – Alemanha e Itália apoiando
Franco e URSS auxiliando os republicanos – e dos grupos de voluntários de diversas
nacionalidades, o conflito adquiriu um caráter internacional e extremamente ideológico.

Também sobre o Entre-Guerras, assista ao filme Tempos Modernos, de Charles Chaplin, um


clássico que ilustra o impacto da Segunda Revolução Industrial sobre a vida humana. Trata-se do
último filme mudo de Chaplin, que focaliza a vida urbana nos Estados Unidos nos anos 30,
imediatamente após a crise de 1929, quando a depressão econômica atingiu toda a sociedade
norte-americana, levando grande parte da população ao desemprego e à fome. Leia a
sinopse do filme!

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A Guerra Civil Espanhola (1936-1939) (cont.)


A guerra na Espanha foi o prelúdio da nuvem negra que se abateria sobre a Europa e o mundo a partir de 1939. Nela as ideologias se confrontaram, os
regimes autoritários puderam mostrar seu poder e testar sua máquina de guerra, e as democracias deixaram claro o misto de desinteresse e
impotência para lidar com temas que envolviam o risco de abalo da “segurança coletiva”.

Toda a extensão da tragédia causada pela Guerra Civil Espanhola pode ser constatada pela reportagem do The Times, de 28 de abril de 1937, da qual
extraímos o seguinte trecho:

“Guernica, a mais antiga cidade dos bascos, centro de suas tradições culturais, foi completamente destruída ontem à tarde
por um reide aéreo dos revoltosos. O bombardeio dessa cidade aberta, muito atrás das linhas de combate, durou três horas
e quinze minutos, durante as quais uma poderosa esquadra aérea alemã, composta de bombardeiros Junker e Heinkel, e
caças Heinkel, não parava de despejar sobre a cidade bombas de1000 libras e, calcula-se, mais de 3000 projéteis
incendiários de 2 libras, de lumínio. Ao mesmo tempo, os caças mergulhavam sobre a cidade para metralhar a parte da
população civil refugiada nos campos(...).”

Quadro-manifesto retratado por Pablo Picasso - Guernica

A Guerra Civil Espanhola é o pano de fundo do filme Por Quem os Sinos Dobram, de Sam Wood
(EUA, 1943, 159 min), estrelado por Ingrid Bergman e Gary Cooper.

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O III Reich e os antecedentes da II Guerra Mundial

Nos três anos que se seguiram à nomeação de Adolf Hitler Chanceler da Alemanha, em 30 de janeiro de 1933, o governo nacional-socialista promoveu
transformações que rapidamente reconduziram o país ao seleto clube das Grandes Potências. Em 1936, o III Reich, como ficou conhecida a Alemanha
nazista, já era uma das maiores economias do mundo: havia reduzido o desemprego em 40% já em 1934; inúmeras obras públicas estavam sendo
feitas, e a indústria retomara sua força, de modo que o país já se mostrava internacionalmente competitivo. Como aconteceu na União Soviética, é
inegável que a opção totalitária reergueu o país.

Recuperada do ponto de vista doméstico, a Alemanha se lançaria em uma nova empreitada de política externa. Como sempre prometera, Hitler
desejava conduzir os alemães à retomada do orgulho nacional, por meio do repúdio às imposições estabelecidas pelo Tratado de Versalhes e da busca
do “espaço vital” a leste, indispensável para a sobrevivência do III Reich. Com ações calculadas que jogavam com a capacidade de reação das Grandes
Potências, a Alemanha foi, aos poucos, derrubando cada imposição do acordo de paz de 1919 e anexando novos territórios ao Reich.

Grã-Bretanha e França, ainda traumatizadas pelos efeitos da Primeira Guerra, evitaram agir para impedir o avanço da política externa nazista. Era a
política do apaziguamento, da paz a qualquer preço, que se fez ao custo da entrega da Áustria e da Tchecoslováquia para a Alemanha. Havia também a
expectativa, por parte das democracias europeias, de que, em seu avanço para o leste, logo o III Reich se chocaria com a URSS. Assim, Grã-Bretanha
e França contavam com o conflito entre os dois grandes Estados totalitários, o que seria para elas demasiadamente interessante.

Vide “A Política Exterior do III Reich: Algumas Reflexões”, de


Joanisval Brito Gonçalves. In: Albene Menezes e Mercedes Kothe (orgs.).
Brasil e Alemanha, 1827-1997, Perspectivas Históricas, 170 anos da
assinatura do 1º Tratado de Comércio e Navegação. Brasília: Thesaurus,
1997.

Entretanto, Londres e Paris não consideraram o improvável: em agosto de 1939, Alemanha e URSS assinaram um tratado de não agressão. Para
desespero das democracias ocidentais, os dois inimigos figadais aliavam-se. Estava pronto o quadro que levaria à Segunda Guerra Mundial.

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Exercícios de Fixação - Módulo II

Parabéns! Você chegou ao final do Módulo II de estudo do curso Relações Internacionais - Teoria e História.

Como parte do processo de aprendizagem, sugerimos que você faça uma releitura do mesmo e resolva os Exercícios de Fixação. O resultado
não influenciará na sua nota final, mas servirá como oportunidade de avaliar o seu domínio do conteúdo. Lembramos ainda que a plataforma
de ensino faz a correção imediata das suas respostas!

Para ter acesso aos Exercícios de Fixação, clique aqui.

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