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C onvivência F amiliar e
C omunitária
S
SEEG
GUUN
NDDO
OBBO
OLLE
ETTIIM
M
Reitor
Prof. Dr. José Fernando Ferreira Costa
Pró-Reitor de Graduação
Prof. Dr. Marcelo Knobel
Pró-Reitor de Pesquisa
Prof. Dr. Ronaldo Aloise Pilli
Pró-Reitora de Pós-Graduação
Profa. Dra. Euclides de Mesquita Neto
Imagem da Capa
Noelia Patrícia dos Santos
2
1. INTRODUÇÃO
Há mais de vinte anos, o marco legal que trata de infância e juventude no Brasil vem
sendo aprimorado a partir da doutrina de proteção total, fruto de lutas do movimento
social em prol da defesa de direitos de crianças e adolescentes. Já a Constituição Federal
promulgada em 1988 refletia muitas conquistas destes movimentos. O direito das crianças
e adolescentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização,
à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária
como uma absoluta prioridade da família, comunidade e Estado (art. 227), o direito à
proteção especial (art. 227 § 3º), a punição severa do abuso, violência e exploração
sexual da criança e do adolescente (art. 227 §4º), o reconhecimento de filhos havidos ou
não fora da relação do casamento (art. 227 § 6º) e o dever dos pais assistirem, criarem e
educarem os filhos menores (art. 229) são exemplos dos avanços conquistados nesta
ocasião.
Em 1990, o Estatuto da Criança e Adolescente traz novos parâmetros para o trato com
este segmento da sociedade. O ECA se pauta pela Doutrina da Proteção Integral, que
torna o Estado e a sociedade responsáveis pela proteção da criança e do adolescente.
Esta é uma mudança radical nas ações públicas, que deixam de tratar as crianças e
adolescentes como seres que podem sofrer qualquer tipo de intervenção para serem
“corrigidos” na sua conduta. A partir de 1990, as crianças e adolescentes passam a ser
vistos como sujeitos de direitos e deveres. Segundo o Plano Nacional de Promoção,
Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e
Comunitária:
“O fato de terem direitos significa que são beneficiários de obrigações por parte de
terceiros: a família, a sociedade e o Estado” (CONANDA/CNAS, 2006: 26)
3
Em 2006, o CONANDA e o CNAS produzem o Plano Nacional de Promoção, Proteção e
Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária
(PNCFC). A importância da Convivência Familiar e Comunitária foi ganhando peso à
medida que estudos de psicologia do desenvolvimento humano comprovaram
cientificamente a necessidade de uma convivência familiar e comunitária para o
desenvolvimento da criança e do adolescente (Bowlby; 1990; Spitz, 1998).
Para o ano de 2009, a meta estabelecida foi a realização de uma pesquisa que
levantasse a situação dos abrigos existentes na Região Metropolitana de Campinas
(PMC), com o objetivo de levantar informações sobre a adequação das instituições de
acolhimento destes municípios aos princípios, diretrizes e eixos do PNCFC. Dada a
4
escassez de informações sobre estes serviços – faltam informações sobre a estrutura, os
recursos humanos, o público atendido, os recursos financeiros investidos, entre outras –
torna-se difícil pensar em políticas públicas de reordenamento da ação das entidades.
Tomar parte destas discussões sem uma base mais objetiva de informações sobre os
abrigos pode levar à definição de Planos e Políticas que estejam muito desconectados
com a realidade dos serviços prestados – situação esta que levaria inevitavelmente ao
fracasso destes Planos e Políticas Públicas.
Esta ameaça não é pequena, haja vista a dificuldade de reunir mesmo algumas
informações básicas sobre os serviços de acolhimento institucional na região. Os dados
disponíveis no Governo Estadual indicam a existência de 25 abrigos na região,
desconhecendo os abrigos de Artur Nogueira, Jaguariúna (este abrigo é atribuído ao
Município de Santo Antonio da Posse), Monte Mor e Pedreira. Segundo este
levantamento, Americana teria apenas 2 abrigos, e não 5 como efetivamente há.
Um segundo limite é decorrente do fato da pesquisa ter sido realizada com técnicos (na
maioria das vezes assistentes sociais) responsáveis pelo abrigo, que falam em nome da
entidade. Como os abrigos são apenas um dos atores que compõem o Sistema de
Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente e muitas perguntas tratam da relação
entre os diversos atores, temos apenas uma visão parcial destas questões. Haverá
questões referentes à relação com Conselhos Tutelares, Poder Judiciário, Famílias e
mesmo com os usuários, porém nenhum destes outros atores foi entrevistado para
apresentar sua perspectiva sobre estas questões.
5
Dada a diversidade de atores, uma pesquisa que abarcasse todas as perspectivas
envolvidas necessita de um tamanho (tempo, estrutura) muito maior do que a disponível.
Também aqui fica a necessidade de novas pesquisas que ampliem o conhecimento sobre
a rede de proteção à criança e ao adolescente.
Por fim, nas respostas que tratam sobre as atividades dos abrigos, a abordagem adotada
foi meramente quantitativa. Tratou-se de saber quais atividades eram realizadas, sem
entrar no mérito da qualidade das mesmas. Para esta avaliação seria importante
acompanhar as atividades de perto, por um tempo relativamente longo – o que também
estava fora das possibilidades da equipe de pesquisa.
A pesquisa deu forma a três textos para discussão. O primeiro trata do perfil das crianças
e adolescentes abrigados na RMC, sempre tendo em vista as orientações do PNCFC. Ele
é uma versão ampliada do texto deste boletim, discutindo os motivos e o tempo de
abrigamento, bem como os procedimentos de desabrigamento. O segundo texto discute
os recursos humanos, físicos e financeiros das entidades. E o último traz um apanhado
das ações desenvolvidas pelos abrigos no sentido de garantir o direito de seus usuários à
convivência familiar e comunitária. Todos os três textos podem ser acessados
gratuitamente no site do NEPP (www.nepp.unicamp.br).
Os dados da pesquisa da RMC serão comparados, sempre que possível, com outros dois
levantamentos realizados sobre o tema. O primeiro é o já citado “Levantamento Nacional
dos Abrigos para Crianças e Adolescentes da Rede de Serviço de Ação Continuada”,
realizado pelo IPEA mediante solicitação do CONANDA. Esta pesquisa enviou
questionários para 589 abrigos de todo Brasil e é, até o momento, o mais recente retrato
da situação nacional, apesar dos limites da pesquisa (Silva, 2004). O segundo
levantamento que servirá de parâmetro para a análise da situação da RMC foi publicado
sob o nome de “Reordenamento de abrigos infanto-juvenis da cidade de São Paulo”, e foi
publicada pela Secretaria Municipal de Assistência Social do município de São Paulo em
2004. A pesquisa foi realizada por meio de uma parceria entre a SAS/SP, o Núcleo de
Estudos e Pesquisas sobre a Criança e o Adolescente da PUC-SP, a Associação de
Assistentes Sociais e Psicólogos do tribunal de Justiça do Estado de São Paulo e a
Fundação ORSA (SAS, 2004).
6
1.3. Abrigos para crianças e adolescentes
Apesar dos abrigos serem parte integrante de uma rede de apoio a crianças e
adolescentes vítimas de violação de seus direitos, muitos estudos apontam aspectos
bastante negativos destas instituições. Weber e Kossobudzki (1996) pesquisaram 1.350
crianças encaminhadas para instituições de acolhimento e concluíram que a longa
permanência nestas instituições acentua a tendência a uma ruptura definitiva de vínculos
com a família de origem. Outros aspectos negativos comumente destacados são o caráter
de segregação social que a dinâmica do abrigo pode promover, a dificuldade das crianças
e adolescentes constituírem um padrão de apego seguro, a limitação da noção de
intimidade, prejuízo no desenvolvimento físico, mental e emocional de crianças e
adolescentes institucionalizados (Cavalcante, Magalhães e Ponte, 2007b).
Trata-se, portanto, de uma medida de proteção que deve, efetivamente, ser adotada
apenas em casos extremos e de maneira provisória e temporária, pois traz uma série de
danos ao desenvolvimento de crianças e adolescentes. Estes danos eram potencializados
quando os abrigos que adotavam o modelo de “instituição total”1, como, por exemplo, as
instituições gerenciadas pela FUNABEM nos anos 70 e 80. No estado de São Paulo, a
FEBEM gerenciava grandes unidades que, após a promulgação do ECA, passaram a ser
desativadas em prol de unidades de abrigamento menores.
1
O termo Instituição total foi utilizado inicialmente em 1961 para indicar instituições nas quais os indivíduos
internados eram proibidos de sair de suas dependências, devendo ali realizar todas as suas atividades e troca
afetivas e comunicacionais (CONANDA/CNAS, 2006).
7
Assim, o número de entidades de abrigamento cresceu bastante a partir dos anos 90 no
estado de São Paulo, apesar do número de crianças e adolescentes abrigados ter se
mantido. No “Levantamento Nacional dos Abrigos para Crianças e Adolescentes da Rede
de Serviço de Ação Continuada2”, realizado pelo IPEA em 2003, foi registrado que o
“Estado de São Paulo concentra mais de um terço (36,3%) dos abrigos cadastrados (...)”.
(Silva, 2004: 33).
A instituição oficial da RMC, entretanto, veio apenas em maio de 2000, por meio da Lei
Complementar Estadual nº 870. Segundo esta lei, fazem parte da RMC os seguintes
municípios: Americana; Artur Nogueira; Campinas; Cosmópolis; Engenheiro Coelho;
Holambra; Vinhedo; Hortolândia; Indaiatuba; Itatiba; Jaguariúna; Monte Mor; Nova
Odessa; Paulínia; Pedreira; Santa Bárbara d’Oeste; Santo Antonio da Posse; Sumaré;
Valinhos.
2
A Rede SAC/Abrigos para Crianças e Adolescentes é composta por 589 estabelecimentos que compõem a
rede de abrigos que recebem recursos do Governo Federal.
8
Tabela 1
Proporção da Proporção da
população com população com menos
Município menos de 18 anos Município de 18 anos
Americana 28,96% Monte Mor 35,99%
Artur Nogueira 34,15% Nova Odessa 31,41%
Campinas 29,34% Paulínia 32,28%
Cosmópolis 32,94% Pedreira 31,02%
Engenheiro Coelho 34,91% Santa Bárbara D'Oeste 31,92%
Holambra 31,65% Santo Antonio da Posse 33,17%
Hortolândia 36,57% Sumaré 34,90%
Indaiatuba 32,40% Valinhos 28,90%
Itatiba 31,56% Vinhedo 30,49%
Jaguariúna 31,98% Total RMC 31,10%
Fonte: IBGE, Resultados da Amostra do Censo Demográfico 2000 - Malha municipal digital do Brasil: situação
em 2001. Rio de Janeiro: IBGE, 2004.
NOTA: Informações de acordo com a Divisão Territorial vigente em 01.01.2001.
Dois municípios da RMC, a saber, Santo Antonio da Posse e Holambra, não possuem
abrigos localizados em seus territórios. Estes municípios se articularam com o abrigo de
Jaguariúna, que acaba funcionando como um “abrigo regional”, com crianças e
adolescentes dos três municípios. Vale destacar, também, o caso do Município de
Valinhos, que teve uma de suas duas instituições fechadas para adequações e passou a
encaminhar crianças para um abrigo em Jundiaí, município que fica a 30 Km de distância
da cidade onde residem as famílias.
3
Não foi realizada pesquisa junto à Cidade dos Meninos, de Campinas. Ao longo dos 40 dias em que durou a
pesquisa de campo, a equipe da pesquisa tentou conseguir autorização junto aos dirigentes do abrigo para
realizar a entrevista. Não houve, entretanto, uma resposta do abrigo no sentido de autorizar a entrevista, o que
acabou por excluir a entidade desta pesquisa.
9
Esta atitude dos atores do sistema de garantia dos direitos de crianças e adolescentes no
nível municipal (Poder Judiciário, Conselhos, Poder Executivo, Abrigos) é bastante
complicada, pois dificulta bastante a manutenção dos vínculos do usuário com a família
de origem – dada a necessidade de deslocamento da família para realizar visitas em
outros municípios – e dificulta, também, o trabalho de fortalecimento da família que
deveria ser realizado pelos técnicos da instituição de acolhimento.
Tabela 2
Crianças e Nº médio de
Abrigos Adolescentes abrigados por
Município (A) % Abrigados (B) % entidade (B/A)
Americana 5 17,8 109 16,0 21,8
Artur Nogueira 1 3,5 13 1,9 13
Campinas* 6 21,4 201 29,6 33,5
Cosmópolis 1 3,5 13 1,9 13
Engenheiro Coelho 1 3,5 12 1,7 12
Hortolândia 1 3,5 30 4,4 30
Indaiatuba 2 7,1 35 5,1 17,5
Itatiba 1 3,5 45 6,6 45
Jaguariúna** 1 3,5 61 8,9 61
Monte Mor 1 3,5 16 2,3 16
Nova Odessa 1 3,5 6 0,8 6
Paulínia 1 3,5 36 5,3 36
Pedreira 1 3,5 11 1,6 11
Santa Bárbara
D'Oeste 2 7,1 54 7,9 27
Sumaré 1 3,5 16 2,3 16
Valinhos*** 1 3,5 10 1,4 10
Vinhedo 1 3,5 11 1,6 11
TOTAL 28 100 679 100 24,25
Fonte: NEPP, Pesquisa de Campo, março de 2009.
* Em Campinas não está computado o abrigo Cidade dos Meninos.
** O abrigo localizado em Jaguariúna atende também a crianças de Holambra e Santo Antonio da Posse
*** Crianças de Valinhos também são encaminhados para um outro abrigo no Município de Jundiaí.
Vale destacar que a recusa do abrigo Cidade dos Meninos em participar da pesquisa,
apesar das insistentes tentativas realizadas pela equipe, representa uma perda
10
significativa de informações. O primeiro motivo é ligado ao tamanho do abrigo, o maior em
funcionamento na região, com cerca de 250 crianças e adolescentes abrigados4. Este
número é superior ao total de abrigados em todas as demais instituições da cidade de
Campinas ou de em qualquer outro município da região. Trata-se, portanto, da maior
instituição de abrigamento da RMC. O segundo motivo é o fato desta ser uma das poucas
instituições da RMC que ainda atuam dentro da lógica de uma Instituição Total, o que lhe
imprime uma característica específica. Infelizmente, apesar dos recorrentes pedidos de
entrevista, os responsáveis pelo abrigo acharam por bem não receber nossa equipe de
pesquisadores externos.
4
Segundo dados levantados no Plano Municipal de Assistência Social do Município de Campinas, 2008.
5
Desde 2005, os municípios precisam apresentar ao Governo Estadual um Plano Municipal de Assistência
Social com objetivo de se habilitar para o estabelecimento do Convênio Único, que regulamenta o repasse de
verbas estaduais para os municípios.
6
A Região Administrativa de Campinas é formada por 44 municípios, dentre os quais estão todos os 19 que
formam a Região Metropolitana de Campinas.
7
Estas 28 unidades correspondem a 27 abrigos (o Convívio Aparecida, de Campinas, tem duas unidades) da
região, sem contar com o Abrigo Cidade dos Meninos, também de Campinas, que não aceitou participar da
pesquisa.
11
abrigamento. Este grupo estava distribuído de maneira muito uniforme no que diz respeito
à faixa etária e ao sexo. Do total, 50,07% são do sexo masculino e 49,93% pertencem ao
sexo feminino, conforme vemos no Gráfico 1.
Gráfico 1
80
73
70 70 70
68
70 65
60
58 57
60
51
50
40
30
22
20 15
10
0
0 a 3 anos 4 a 6 anos 7 a 9 anos 10 a 12 anos 13 a 15 anos 16 e 17 anos
Masculino Feminino
Fonte: NEPP, Pesquisa de Campo, março de 2009.
Com relação à distribuição por faixa etária, o Gráfico mostra uma grande homogeneidade,
com a maioria das faixas etárias sendo responsáveis por algo em torno de 20% do total
de crianças e adolescentes abrigados (130 a 140 crianças ou adolescentes) – apenas as
faixas etária de 13 a 15 anos (com 108 abrigados, ou15,9% do total) e de 16 e 17 anos
(com 37 adolescentes abrigados, ou 5,4% do total) apresentam uma proporção um pouco
menor.
12
Com relação à razão de sexos da população de crianças e adolescentes abrigada8,
observamos uma diferença de resultado frente aos dados coletados pela pesquisa do
IPEA/CONANDA realizada em 20049. Na pesquisa da Rede SAC, foi observado que em
todos os grupos etários o número de meninos abrigados é maior do que o de meninas –
ou seja, a razão de sexos é maior do que 1. Além disto, esta razão aumentava conforme
aumentava a idade das crianças e adolescentes abrigados, alcançando a razão de 2
meninos para cada menina na faixa etária entre 16 e 18 anos.
8
Razão de sexos é a relação entre as populações masculina e feminina.
9
Ver Silva (coord.), 2004.
10
Levantar os motivos desta discrepância ficou fora do escopo desta pesquisa.
13
Gráfico 2
Razão de sexos entre crianças e adolescentes abrigados, segundo faixa etária, Brasil
(Rede SAC), Município de São Paulo e RMC, 2003-2009.
2,5
Razão: Meninos/Meninas
2,0
1,5
1,0
0,5
-
0 a 3 anos 4 a 6 anos 7 a 9 anos 10 a 12 anos 13 a 15 anos 16 e 17 anos
Fonte: IPEA/DISOC, Levantamento nacional dos abrigos para crianças e adolescentes da Rede SAC, 2003;
SAS, 2004; NEPP, Pesquisa de Campo, março de 2009.
Este perfil médio de sexo e idade das crianças e adolescentes abrigados na Região
Metropolitana de Campinas, porém, não reflete as diferenças observadas entre os abrigos
individualmente. Dentre as 28 unidades pesquisadas na região, três atendiam
exclusivamente meninos e outras três atendiam apenas a meninas. Isto equivale a dizer
que 21,4% do total de abrigos separa as crianças em função do sexo. Há também onze
entidades que fazem restrição à idade dos abrigados.
14
“Crianças e adolescentes com vínculos de parentesco (irmãos, primos, etc.) não
devem ser separados ao serem encaminhados para o serviço de acolhimento,
salvo se isso for contrário ao seu desejo ou interesses ou se houver claro risco de
abuso, tendo em vista o melhor interesse da criança e do adolescente”
(CONANDA/CNAS, 2009: 46).
Deve-se destacar, positivamente, que 43% dos abrigos da região adotam a prática de não
separar grupos de irmãos, apesar de dois abrigos com esta política já terem sido
obrigados a recorrer a este expediente em virtude de falta de vagas.
Tabela 3
Motivos que levam o abrigo a separar grupos de irmãos, segundo número de abrigo que
os adotam, RMC, 2009.
Número de abrigos %
Falta de Vaga no Abrigo 4 14,29%
Um dos irmãos está fora da faixa etária atendida 11 39,29%
Um dos irmãos não é do sexo atendido 6 21,43%
Incompatibilidade com o grupo abrigado ou com os monitores 4 14,29%
Não separa irmãos 12 42,86%
Fonte: NEPP, Pesquisa de Campo, março de 2009.
Obs: O somatório das respostas supera 100% pois era possível assinalar mais de uma resposta.
15
Esta situação merece uma reflexão, haja visto que as 679 crianças e adolescentes que se
encontravam abrigadas no mês da pesquisa eram provenientes de 387 famílias, o que
leva a uma média de 1,75 criança ou adolescente por família. Em sete abrigos este
número é superior a 2 crianças ou adolescentes abrigados por família. Trata-se, portanto,
de um considerável número de grupos de irmãos – que pelo PNCFC deve ter seus
vínculos familiares mantidos.
11
Ambas as pesquisas coletaram as informações sobre raça e cor num questionário respondido por um
responsável pela instituição, que atribuiu as raças/cores dos usuários. Esta forma é diferente da utilizada no
Censo Demográfico do IBGE, onde se considera a cor/raça que o cidadão atribui a si próprio.
16
Gráfico 3
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Branca Preta Parda Amarela Indígena
Fonte: IPEA/DISOC, Levantamento nacional dos abrigos para crianças e adolescentes da Rede SAC, 2003;
SAS, 2004; NEPP, Pesquisa de Campo, março de 2009.
17
Tabela 4
18
Gráfico 4
Distribuição dos abrigos, segundo número de usuários por equipamento, RMC, 2009.
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
1 a 10 11 a 20 21 a 30 31 a 40 41 a 50 51 a 60 Mais de
60
No município de São Paulo, foi observado que 57,3% dos abrigos tinham capacidade de
abrigamento inferior a 20 crianças e/ou adolescentes, portanto, de acordo com o
estipulado no Guia de Orientações do CONANDA/CNAS. Menos de 43% dos abrigos
teriam uma capacidade de lotação superior ao recomendado.
19
favorecer a privacidade, a interação das crianças/adolescentes e a exploração do
ambiente. (...) Recomenda-se que, em cada quarto sejam acolhidas até 4 (quatro)
crianças/adolescentes. Esse número não deverá ser superior a 6 (seis)
crianças/adolescentes por quarto” (página 11).
Além do óbvio desafio que manter um espaço físico que tenha um padrão semelhante a
uma residência quando se deve providenciar um refeitório ou um quarto de estudos para
um número elevado de crianças e adolescentes, há uma determinação objetiva sobre o
número de crianças/adolescentes alojados no mesmo quarto. No caso da Região
Metropolitana de Campinas, em 50% dos abrigos há um máximo de 4 crianças ou
adolescentes por quarto, em média, e 35,7% dos abrigos acolhem, em média, entre
quatro e seis abrigados por quarto. E 14,3% dos abrigos mantêm uma relação superior a
seis crianças/adolescente por quarto.
No caso das instituições de maior porte (isto é, aquelas com mais de 20 crianças ou
adolescentes abrigados), não houve nenhum caso em que se superou a marca de seis
crianças/adolescentes por quarto, porém todas aquelas que acolhem mais de 40 usuários
ficaram com uma média entre quatro e seis usuários por quarto – acima do recomendável,
porém abaixo do limite máximo estabelecido no Guia.
3. CONCLUSÃO
20
Apesar desta política de separação de alguns abrigos, não há grupo (sexo ou faixa
etária) que seja mais atendido pelas medidas de acolhimento institucional. Nisto, a
experiência da RMC se aproxima do observado no Município de São Paulo (SAS,
2004) e se afasta do observado para a Rede SAC nacional (Silva, 2004);
O tamanho dos abrigos deve ser amplamente discutido, pois mais da metade das
instituições da região ultrapassam o limite estabelecido pelo Guia de Orientações
do CONANDA e CNAS (2008). Esta discussão, porém, não deve ficar restrita aos
abrigos, já que estes são o desaguadouro de problemas acumulados por outros
atores do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e Adolescente. Deve-se
pensar onde seriam abrigadas as crianças e adolescentes que excedem o número
máximo permitido em cada instituição – o que obriga ao Poder Executivo Municipal
a organizar uma rede mais difusa; o que obriga ao Conselho Tutelar e ao Poder
Judiciário a interromper o encaminhamento de crianças e adolescentes para
abrigos que já tenham atingido o número de 20 atendimentos; o que obriga a
todos os envolvidos a discutir alternativas, inclusive Programas de Famílias
Acolhedoras, Repúblicas para jovens e Casa-Lares, opções que, na região, só
existem no Município de Campinas;
4. BIBLIOGRAFIA
21
NEPP
Linhas de Pesquisa
22
O que é Observatório de Convivência Familiar e Comunitária
Estas informações ajudam a criar uma perspectiva crítica em parcela da população ou dos
profissionais envolvidos com o tema do observatório. E são determinantes para discutir e desenhar
políticas públicas para o setor. Para isto, a disseminação das informações e das produções
analíticas é decisiva.
José Roberto Rus Perez – Coordenador do NEPP e Professor Doutor da Faculdade de Educação
23
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
24