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MINISTÉRIO DA EDUCAÇAO

'

/ ANAIS

DA

BIBLIOTEGA NACI0NAL

no

RIO DB
JANEÍIRO

PUBLICADOS SOB A ADMINISTRAÇÃO

DO

DIRETOR

RODOLFO GARCIA

Litterarum seu librorum


negotium concludimus hominis
esse vitam.

(Philobiblion, Cap. XVI).,

1942

VOLUME LXIV

SUMÁRIO ,

Dr. Vicente Chermont de Miranda — Estudos sôbre o

Nhêcngatú. Rodolfo Garcia —• Exotismos franceses origi-

nários da Língua Tupi. •— Rodolfo Garcia .— Nomes de

Tupi. — A-s cartas do P• David Fáy


parentesco na Língua
e a sua biografia —• Tradução do húngaro e do latim, por
Paulo Ronai .f— A Biblioteca Nacional em 1942. Relatório-
da Diretoria.

1944

IMPRENSA NACIONAL
RIO OB JANEIRO — BRASIL
ESTUDOS SÔBRE O NHÊENGATÚ

PELO

DR. VICENTE CHERMONT DE MIRANDA


. Viccntc Chcrmont dc Miranda

17 1849 — F. 9 maio 1907


julho
EXPLICAÇÃO

Os Anais da Biblioteca Nacional, desde os seus


primeiros

volumes, têm aberto suas a estudos referentes à Lin-


páginas

americana, especialmente à Lingüística brasileira. Uma


guística

indicação sumária mostrará a relevância desse material, sem-

apreciado autoridades competentes. Tem-se, assim,


pre por

Etimologias brasilicas, A. do Vale Cabral (volumes II e


por
III); Conquista Espiritual do Paraguai, do Padre Antônio

Ruiz de Montoya, traduzida do Guarani e acompanhada de

um esboço do Abanhêen, Dr. Baptista Caetano de Al-


pelo

meida Nogueira (volume VI); Vocabulário Guarani da Con~

Espiritual do Paraguai, mesmo tradutor (volume


quista pelo
Vil); Bibliografia da Língua Tupi ou Guarani, A. do
por

Vale Cabral (volume VIII); Dicionário Brasileiro,


pelo

Dr. Antonio de Macedo Soares (volume XIII); Po-


Joaquim

randuba Amazonense, ou Kochyma uára Poranduba, Dr.


pelo J.

Barbosa Rodrigues XIV); Vocabulário indígena,


(volume pelo

mesmo autor (volume XV); Vocabulário indígena (Comple-

mento da Poranduba Amazonense) mesmo autor (vo-


pelo

lume XVI); Yríerre, o Stammvater dos índios May as,


pelo

Dr. Rodolfo R. Schuller XXX); e Notas sobre a


(volume

língua do Brasil, ou Tupi moderno do Amazonas,


geral pelo

Charles Fred. Hartt LI). Poucas


professor (volume publica-

ções nacionais apresentar melhor e maior folha de


poderão

serviços nesse de estudos, entre os figuram na


gênero quais

os de Baptista Caetano, considerados


primeira plana justamente

como clássicos da Filologia americana.

Seguindo a orientação traçada Anais, sua atual di-


pelos

reção, neles inseriu as Notas de Hartt, oferece neste vo-


que já
lume mais uma contribuição lingüística, a a «eu
qual, juízo,

não desmerece das anteriores em importância científica e em

riqueza de ensinamentos, e talvês mesmo, de alguma sorte, as

supere à oportunidade, aparece no momento em


quanto porque
há, evidentemente, nos meios educativos do vivo in-
que país,
— 8 —

íerêsse essa ordem de conhecimentos, demonstrado na


por

criação de cadeiras de Língua Tupi em institutos superiores de

ensino e em trabalhos sôbre a matéria.


publicados

Trata-se agora dos Estudos sôbre o Nhêengatú, da au-

toria do Dr. Vicente Chermont de Miranda, os Anais


que

acolhem com a certeza de serviço à cul-


que prestam grande

tura nacional. Pela razão exposta em outro lugar


publicam-
se apenas as duas compreendem o
primeiras partes, que que
se intitular a estrutura do idioma e seu estudo com-
poderia

parado com os dialetos afins, a e o Nhêengatú na


primeira,
fauna amazônica, a segunda.

O Dr. Vicente Chermont de Miranda, estudou in~


que
loco e diuturnamente os índios da região do baixo Amazonas,

muito bem dominava seu linguajar; reunindo a isso especial

cultura das ciências naturais, estava certo excelentemente


por
aparelhado explicar e interpretar as da
para peculiaridades
fauna e da flora daquela vasta zona através de suas deno-

minações bárbaras. As etimologias dos nomes de animais,


que
são as de trata esta dos Estudos, têm sempre em
que parte
conta, em sua dedução, os caracteres biológicos e congêneres,

lhes deram origem. O saber dar nome aos bois foi em


que

todos os tempos louvada dos índios, considerados


qualidade

bons observadores da natureza desde os viajantes


primeiros
com êles travaram conhecimento. Nesse o
que particular,
Dr. Vicente Chermont de Miranda amplia, corrige e retifica

noções ilustres, de Martius a Theodoro


que predecessores

Sampaio, divulgaram em conhecidos tratados, aceitos


por quan-
tos vieram depois, e talvez não devam fôrça
que prevalecer por
das razões o autor apresenta, sem embargos da autoridade
que

daqueles mestres consagrados. Nas lições do sábio


paraense
muito há aprender. Os cultores da Lingüística brasílica
que
terão neste trabalho subsídios excelentes seus estudos e
para

pesquisas.

Resta agradecer ao Sr. Dr. P. Chermont de Miranda,

eminente escritor, a magnífica doação fêz à Biblioteca Na-


que
cional dos manuscritos de seu digno como ainda a bela
pai,
notícia bio-bibliográfica da direção dos Anais,
que, por pedido
acedeu em escrever ilustrar esta
para publicação.

Biblioteca Nacional, maio de 1943. —


Rodolfo Garcia,

diretor.
NOTÍCIA BIOBIBLIOGRÁFICA SÔBRE O

DR. VICENTE CHERMONT DE MIRANDA

Descendente, lado materno, de nobre linhagem de


pelo

soldados do Meio-Dia da França, expatriada desta efeito


por

da revogação do Édito de Nantes, e, seu de


por progenitor,

antiquíssima estirpe da indômita Cantábria espanhola, o autor

destes Estudos, orfanado em tenra idade, no Pará, sua terra

natal, foi enviado a estudar a Lisboa, seu tio e tutor An-


por

tônio de Lacerda Chermont, Visconde de Ararí.

Na capital fez seu curso de humanidade, ad~


portuguêsa

sólida cultura clássica, ao depois sempre aprimorada


quirindo

e atualizada. Concluída essa fase de sua instrução, esteve em

Paris, de onde, não conseguindo ingressar na École Centrale,

a nào ser como simples ouvinte, se a Bélgica, em


passou para

cuja Universidade de Gand se diplomou em engenharia in-

dustrial, voltando em seguida ao Brasil.

Antes disso, e formado, contraiu núpcias com uma


já jo-

vem holandesa, Carolina Maria Magdalena Van Gyselaar,

à família da nobreza neerlandesa. Desse consórcio


pertencente

nasceram-lhe três filhos, de nomes. Antônio Pedro, Leonie

Clementina, ao depois Baroneza von Tautphõeus, e Pedro An-

tônio, subscreve este à sua memória.


que preito

De volta à terra de seu nascimento, dedicou-se, de início,

à administração do engenho de açúcar Aproaga, situado à

margem do rio Capim, Herdara dos Antônio


que pais, José

de Miranda e Inês de Lacerda Chermont»de Miranda. Ex-

tinguira-se, a esse tempo, na então Província do Pará,


porém,

o do explendor nas lavouras tropicais, a enrique-


período que

cera anteriormente, e mui decadente se encontrava, ali, a in-

dústria açucareira. Pauco depois, esse motivo, Vicente


por

Chermont de Miranda deu fim à sua atividade industrial,


pas-

sanáê a residir em Belém, capital da Província. Dali, vê-


por

zes várias, se atirou a longas e árduas de explora-


jornadas
— 10 —

ção aos sertões devassando-lhes as selvas e rios en-


paraenses,

cachoeirados, até então desconhecidos. E assim, levado


quase

acentuado ao estudo da natureza, subiu com fins


por pendor

científicos o curso do Trombetas, Erepecurú, Cuminã, Tapajós,

Alto Capim, etc., cujos levantamentos realizou, nos trechos

êle Contribuiu essa forma torná-los


por percorridos. por para
conhecidos, enriquecendo a corografia com dados de es-
pátria
crupulosa exatidão.

Dessas viagens deixou cujos elementos foram


plantas,
incorporados à certa do Estado do Pará e, ao
geográfica

depois, aproveitados Repartição da Carta Geográfica,


pela

da organização, esta, do Mapa do Brasil, ao co-


quando por

memorar-se o centenário da nossa Independência. O Museu

Goeldi fez litografar o levantamento do rio Capim, acres-

centando-lhe interessantes dados botânicos.

Figura de relevo social e com acentuada


político, proje-

ção, Vicente Chermont de Miranda, militou, como seus maiores

brasileiros, nas fileiras do Partido Liberal, de foi um dos


que

chefes, ao lado de Carneiro da Gama Malcher e do Con-


José

selheiro Tito Franco de Almeida, ao tempo do Império. Nessa

época foi deputado e, com o falecimento de Gama


provincial

Malcher, substituiu este como intendente (prefeito) da capi-

fral. Em tal função dedicou sua melhor atenção ao saneamento

da cidade na condizente com a engenharia sanitária,


parte

notadamente meio da drenagem da cidade e seus ar-


por geral
redores. Implantada a República no País, chefiou o Partido

Republicano Democrata, formado maioria do ex-


pela grande
tinto Partido Liberal, com da Gama
juntamente José Joaquim

e Silva, Américo Marques de Santa Rosa e o coronel Frede-

rico Augusto da Gama e Costa. Pouco depois, tal era o


pres-
tigio de o seu apoio resoluto e firme ao
que gozava, que

Dr. Leite Chermont, do


Justo primeiro governador provisório

Estado, embora seu adversário impediu a subversão


político,
'
da ordem neste, consolidando a autoridade daquele
gover-
nante e evitando-lhe a deposição, no momento tramada
pela

oficialidade da federal de Belém.


guarnição

Caudilho destemeroso, duas vêzes levantou e armou


por
fortes contingentes Da contra o então
populares. primeira,

capitão de fragata Duarte Huet Barcelar Pinto Guedes, a

esse tempo segundo do Pará. Rèagiu,


governador provisório
nessa ocasião, com energia e desassombro, opondo a fôrça
cm defesa dos seus amigos do município de São Do-
políticos

mingos da Bôa-Vista e fazendo rechassar expedições milita-

res enviadas ao rio Capim oprimir seus correligionários.


para
De tal fato resultaram-lhe a e exílio fóra do País,
prisão para
não obstante os têrmos da firmada
pacificação pelo governo
local, se comprometera à concessão da imediata e com-
que

anistia. Esta, só sobreveio muito mais tarde e


pleta porém,
decisão do Congresso Nacional, voltando em seguida
por

Chermont de Miranda à Pátria. Da vez seguinte, o movi-

mento revolucionário, ele organizado, o foi em acordo


por
com os oficiais da flotilha do Amazonas, e tinha articulação

com a revolta da Armada, chefiada almirantes Custódio


pelos

de Melo e Saldanha da Gama, na capital da República.

Malograda a intentona, logo em seu início,


quando já
constitucional do Estado o Dr. Lauro Sodré, não
governador

teve êsse outro levante maiores conseqüências, o


para que,

justiça lhe seja feita, muito influiu o espírito moderado desse

ilustre embora as circunstâncias o


patrício, graves que pais
atravessava efeito da luta armada o convulsionava.
por que

Quando, fim, Vicente Chermont de Miranda se afas-


por

tou da atividade fê-lo cercado de invulgar


política-partidária,

estima e respeito lhe sua límpida


públicos, que grangearam
vida e marcada de integridade de
pública privada, profunda
caráter, realçada uma coragem sempre demons-
por pessoal
trada nas horas a terra lhe foi
graves por que passara que

berço.

Daí diante, recolhido a ostracismo voluntário, de-


por
dicou-se ao estudo das ciências naturais e à lingüística. Pes-

infatigável da natureza, foi o descobridor da exis-


quisador

íência, na Amazônia, do Lepidosiren e do Phrea-


paradoxa
tobius cisternarum, famosas e raríssimas espécies ictiológi-

cas então desconhecidas entre nós e cujos reduzidos exem-

plares enriquecem, ao as coleções do Museu Goeldi.


presente,
Desse instituto, tempo -diretores,
ao dos seus mais notáveis

os cientistas suíços Emilio Augusto Goeldi e Huber,


Jacques
foi destacado cooperador, enriquecendo-lhe o
já patrimônio
científico, colaborando assiduamente no respectivo Boletim,

lhe constitue os anais. Além de numerosos


que preciosos
artigos, na A Província do Pará, de foi dos
publicados que
distintos colaboradores, deixou vários trabalhos de livraria

sobre a fauna, a flora e a corografia amazônicas,


particular-
— 12 —

mente relativos à ilha do Marajó. Destacam-se entre estes

os seguintes :

Marajó —
Estudos sobre seu solo, seus animais e

suas plantas (1894);

Glossário
Paraense, ou coleção de vocábulos
peculia-
res à Amazônia e especialmente à ilha de Marajó (1905),

nomenclatura de notável valor filológico dos têrmos e das

expressões à Amazônia, freqüentemente citada nos


peculiares

modernos dicionários brasileiros; e



Campos de Marajó e sua Flora, considerada do de
ponto
vista ¦—
pastoril (1907) obra anotada sábio botânico
pelo
Huber, então diretor do Museu Goeldi, e editada
Jaques por
este, em separata de seu Boletim, já depois do falecimento do

autor. Êsse livro ainda é lido como o mais completo e minuciso

estudo das plantas forrageiras do Brasil.

Ao falecer, em 1907, aos 57 anos de


prematuramente,
idade, tinha Vicente Chermont de Miranda em um
preparo
vasto trabalho a respeito do Nhêengatú ou Tupi boreal, abran-

sua literatura, a fauna, a flora e a corografia amazô-


gendo

nicas. Surpreendeu-o infelizmente a morte concluíra


quando
apenas as duas dessa obra considerável, fi-
primeiras partes

cando as restantes em notas numerosíssimas. Por êsse motivo

somente êsse material ao ser sob os


pode presente publicado
auspícios da Biblioteca Nacional do Rio de em seus
Janeiro,
Anais.

Sôbre o valor dessa obra opinará com autoridade o meu

distinto amigo Dr. Rodolfo Garcia, a deixo consignada


quem
nestas a à nímia com se in-
palavras gratidão gentileza que
cumbiu da correção cuidadosa das de composição,
provas que
a caligrafia, de difícil decifração, de meu só tornava aces-
pai,
sível à competência do tupinólogo eminente, é, sem favor,
que
o culto dêste trabalho. Tal circunstância explica a
prefaciador

tardia divulgação dêste escrito, nas do repo-


páginas precioso
sitório de dados científicos e de documentos históricos, são
que
aqueles Anais atualizados Dr. Rodolfo Garcia,
gloriosos, pelo
num esforço ingente e meritório, assás encomiado.
jamais

Ao concluir, impÕe-se-me assinalar seu caráter


que, pelo
sem aliado a um espírito liberal e cultíssimo, Vicente
jaça,

Chermont de Miranda a distinção no trato so-


personificava
ciai, conjugando a tais do homem fino
predicados, próprios
e educado, extrema bondade e singeleza com os humil-
para
— 13 —

des. Tratava-os com carinho e simplicidade, os


que punha
logo à vontade. Aos escravos mostrava-se tão bon-
próprios
doso, dêle não se afastaram ao serem libertos Lei
que pela
Áurea. Permaneceram ao seu serviço enquanto viveu, e, de-

de morto, influência do tratamento recebido do an-


pois por

Cigo senhor muitos se conservaram até se finarem, enca-



necidos e inválidos, com os seus filhos.

Devo-lhe eu, além do ser físico, a formação es-


própria

piritual, a na fase da educação no lar,


princípio processada
ao depois completada no convívio afetuoso em ao mesmo
que,
tempo e amigo, me foi êle o experimentado na traje-
pai guia
tória da vida. Sejam-lhe estas linhas a homenagem à sua me-

mória a expressão intensa da minha infinita


querida, gratidão
e dorida saudade filial.

Rio, 21 de abril de 1942.

P. Chermont de Miranda.
INTRODUÇÃO

A significação dos nomes indígenas é assunto


geográficos

tem vivamente interessado os cientistas. De todos os Es-


que

tados brasileiros são os dois do extremo Norte, Pará e Ama-

zonas, os mais conservaram na designação dos rios, dos


que

igarapés, das ilhas, das serras, dos lagos, as denominações já

existentes no começo da colonização, e também os procu-


que

raram na língua as vozes com apelidaram as suas


geral que

cidades, as suas vilas, os seus sítios, ou os saltos dos seus en-

cachoeirados Procedendo a esses estudos etimológi-


paranás.

cos, verificámos na sua totalidade, essas


que, quase provêm

designações de nomes.de ou de animais,


geográficas plantas

tornando-se esse motivo necessário, tudo, or-


por primeiro que

uma lista dêsses nomes, com suas variantes e corrupté-


ganizar

Ias, constituírem a base sôbre a assenta a etimologia


por qual

dêsses vocábulos.

Foi êsse4o caminho seguido insigne Martius, na sua


pelo

importante obra sôbre os nomes tupínicos das e dos


plantas

animais, a a terceira relativa às denomi-


qual precedeu parte

nações Êsses três trabalhos têm título :


geográficas. por

NOMINA PLANTARUM IN LÍNGUA TUPI

NOMINA ANIMALIUM IN LÍNGUA TUPI

NOMINA ALIQUOT, LOCORUM IN LÍNGUA TUPI

Paramos, então, com os trabalhos encetados, a fim de edi-

ficar êsses dois alicerces essenciais da nossa obra,


primeiros

será composta de cinco :


que partes

A trata da fonética nhêengatú, da dos


primeira gênese

nomes dos animais, e de algumas das causas concorreram


que

o insucesso dos trabalhos etimológicos dos tupinistas


para

mais conspícuos. A segunda ocupa-se dos nomes dos


parte

animais. A terceira dos nomes das A dos no-


plantas. quarta

mes corográficos da Amazônia. A finalmente, será


quinta,

constituída um ensaio crítico da literatura tupi, no


por qual

serão analisadas as obras de Couto de Magalhães, de Costa


— 16 —

Aguiar, de Barbosa Rodrigues, e o dicionário da Chresto-

matia, do Dr. Ernesto Ferreira França, o Anônimo de 1795.

o da Paranduba maranhense e o manuscrito existente na bi~

blioteca do Museu Goeldi; sendo os três em nhêen-


primeiros

e os demais em abanhêenga.
gatú

O estudo das origens das nossas designações


geográ-

ficas tem sido tratado diversos tupinistas de nota, mas,


por

o saibamos, ainda nenhum a êle se dedicou.


que paraense

Entre os sulistas fulguram os nomes de Freire Alemão, de

Braz da C. Rubim, Frei Francisco dos Prazeres Maranhão,

Cândido e Mendes d'Almeida, Baptista Caetano de


João

Almeida Nogueira, Couto de Magalhães, Barbosa Rodri-

Theodoro Sampaio. Entre os estrangeiros com maior


gues,

brilho resplandecem vultos da envergadura de Carl Fred.

Phil. von Martius, Richard F. Burton, Charles Fred. Hartt,

Hermann von Ihering, Emilio A. Goeldi, os com mais


quais
"menos
ou contribuíram enriquecer o repertó-
proficiência para

rio etimológico brasileiro.

Não o filólogo ir muito longe na análise dos


precisa

têrmos verificar não só a lín-


geográficos paraenses para que

tupi monopolizou essas designações em dos no-


gua prejuízo

mes lusitanos, como ainda conservou êsses vocábulos


quase

sem alteração. Dá-se mesmo neste nosso Estado um fenômeno

curioso: nos tempos após a ocupação, os


primeiros portugue-

ses estropiavam os têrmos indígenas, mudando ou acrescen-

tando letras; mas no seguinte, muitos desses vocá-


período

bulos, alterados, corrompidos, voltaram à sua


primitiva pureza.

Êsse fáto deve-se à mistiçagem; do cruzamento


provavelmente

dos brancos com as índias, cruzamento favorecido coroa


pela

resultou numerosa mameluca, a in-


portuguesa, prole qual, pela

fluência materna, obrigou o branco a tupinica-


pronunciar

mente os têrmos êle barbarizados.


já por

O leitor encontrará com certa surpresa alguns nomes aba-

nhêengas, como Abaeté, Camburupi, Cotijuba, designando

lugares nas imediações da capital do Estado; mas a história

vem em nosso auxílio nos dizer os co-


para que primeiros

lonizadores do Pará foram mamelucos, e índios


portugueses,

mansos vindos do Maranhão, extremo limite norte do tupi

austral. Êles deram denominações nesse dialeto a diversas

localidades, algumas das ainda mas o ele-


quais perduram,
mento nhêengatú absorvendo
preponderante posteriormente,
— 17 —

êsse núcleo colonizador, deu a essas localidades,


pequeno

de novo, nomes nhêengatús, ou imprimiu-lhes o


puramente

cunho nhêengatú, eliminando os sons b e neles introduzidos


g

companheiros de Caldeira Castello Branco.


pelos

Além dos nomes indígenas de animais usados atualmente

inserimos na Parte II todos aqueles colher nos


que podemos

dicionários antigos, como também muitos dos os naturalistas


que

escreveram nas suas obras relativas aos animais do Brasil; de-

vemos isso avisar o leitor êsses-últimos nomes se acham


por que

em número tão alterados, tão corrompidos, nos foi


grande que

impossível repô-los na sua tupínica. Quanto


pureza podemos

corrigimos essa errata, mas os ainda ficam barbarizados


que

darão muito fazer àqueles se aplicarem às etimologias


que que

dos vocábulos oriundos da lingua


geral.

Provavelmente, darão os cientistas com alguns nomes ci-

entíficos, não corresponderão com os vulgares. Não tendo


que

estudos de zoologia suficientes, achamo-nos não vezes


poucas

embaraçados ante a numerosa sinonímia desses nomes dados

naturalistas, mais aumentarem a


pelos que para perplexidade

dos leigos, como nós, trocaram os nomes indígenas de diver-

sos animais, como exemplo o do maguarí, Ciconia cocoi,


por

êste corrutéla de socpki, como o do cauauá, apelidaram


que

Ciconia maguarí, etc.

Resta-nos dar ama informação sobre uma obra freqüen-

temente citada na Parte II. Entre os livros


preciosos postos

à nossa disposição Sr. Dr. Emilio Goeldi, de


pelo professor

falamos no Capítulo III 2.n, relativos à língua tupi, o


que §

mais valioso foi sem dúvida o Dicionário


português-tupi,

manuscrito sem nome do autor, designaremos Voca-


que por

bulário do Museu Goeldi. E' obra de um


jesuíta português,

mais ou menos do começo do XVIII séculò e elaborado no

Rio de O original existe na Torre do Tombo, em


Janeiro.

Portugal, uma cópia na Biblioteca Nacional da Capital fe~

deral, sendo o exemplar do nosso Museu cópia desta cópia,

mas, tirada idônea e conscienciosa, erros


por pessoa poucos

conta. Na Parte V trataremos dêste inestimável lexicon,


que

bem merecia dos uma imediata impressão sob


poderes públicos

as vistas de um filólogo abalizado. Temo-lo como o melhor

e o mais completo dicionário do tupi austral, utilíssimo àqueles

se dedicam aos estudos etimológicos da onomatologia tu-


que

pinica.

120.92!) 1<\ 2
PARTE PRIMEIRA

CAPÍTULO I

A FONAÇÃO NHÉENGATÚ

i
§

As numerosas tríbus de origem tupi, outrora estabeleci-

das no vale amazônico, davam à língua eles falada o nome


por

nhêengatú, de nhêenga, fala, linguagem, e catú, boa; os

indígenas da mesma raça, o sul do de-


que povoavam pais,

signavam a sua termo abanhêenga, de abá, homem, e


pelo

nhêenga, fala. Os filólogos aceitaram estes dois vocábulos

designar os dois dialetos, nos se cindiu a língua


para quais

tupi: o nhêengatú ou tupi equatorial, e o abanhêenga ou o

tupi austral. A diferença entre os dois é considerável


quanto

à importante vocabulário, é nula


pronúncia, pouco quanto'ao

em relação às formas .A diferença lexicológica,


gramaticais.

contudo, entre êsses dois ramos da língua, tão extensamente

espalhada um vasto território, não é tão insignificante,


por

como nos alguns tupinistas, e mais sensível


querem persuadir

ainda é a separa o tupi do não obstante afirmar


que guarani,

o contrário o insigne Baptista Caetano de Al-


guaraniólogo

meida Nogueira.


a) Nos seus Apontamentos sôbt.e o abanhêenga, esse
"Os
autor diz vocábulos usados tupis e não
que: por por gua-

ranis e vice-versa são e ser enumerados. Em


poucos podem

dependem das condições climatéricas e em


geral geográficas

viviam, faziam variar os modos de vida; exem-


que que por

nomes de das costas do Brasil seriam natural-


pio, peixes

mente desconhecidos no Paraguai. Afora deste mais um ou

outro vocábulo diferente, como seja texag, ver em


guarani,

tepiac, em tupi; uruguassú, sapucaia, e mais".


galinha, poucos

O nhêengatú todas as vogais e nasais co~


possue puras

nhecidas em e mais a vogai repre-


português, gutural que

sentaremos
pelo y.
19 —

Das consoantes emprega as seguintes, b, k, t,


puras p, g,

e das consoantes nasais; mb, nd, ng, m, n, nh. Só usa o r bran-

do, como arara, carará, mesmo no começo das


quando pa-

lavras, como em rupi, rurú, rirí; as sibilantes ser lhe são des-

conhecidas, mas lhe é familiar o som ciciante representado

c antecedendo e e i, s antes de a, de o, ou de a.
pelo pelos

A chiante ch ou x é vulgar, não a representada


porém

letra /. Faltam-lhe, as consoantes d, v, l,


pela portanto, f, j,

z, r duro e sibilante. Com a falta de oito consoantes, con-

tando o e b, expelidos totalmente do tupi equatorial,


g guase
não admira essa de têrmos compostos somente de
quantidade

vogais, mais afins dos sons emitidos irracionais do


pelos que

de uma nobre expressão do humano. As conso-


pensamento

antes são a ossatura de uma língua; sem elas tornam-se as

como interjeição como o bal-


palavras justapostas, primeiro

buciar da infância. Com uma linguagem desta ordem não

o selvagem da animalidade em vivia


podia passar quase que

a vida intelectual, apanágio do homem civilizado. A


para

sendo instrumento do no nhêengatú, ti-


palavra, pensamento,

nham os autoctones um instrumento rude, tosco, rom-


pesado,

bo, os impossibilitava de dar uma fôrma mais intelectual


que

ao trabalho de seus cérebros: diz-me o falas, dir-te-ei


que

tú és, ç mais verdadeiro do o célebre aforismo
quem que

de Brillat-Savarin.

b)— Theodoro Sampaio não tem razão, afirma,


quando que
o tupi não o s sibilado, mas sim o 5 chiado; os exemplos
posue
sinunga e sipó ele invocados, nada Se uns dizem
por provam.
chipó a maioria icipó. O exímio tupinólogo,
pronuncia por

certo, não dirá chiri, ichica, chi, coarachi, iachi, mas


pronun-
ciará tupinicamente conosco ciri, icica — resina, seiva, ci —!

mãe, coaraci — sol, iaci lua. Nós fazemos distinção

entre o som sibilante: cascas, vascas, cascais; o ciciante:


paz,

sussurro, ciúme, seita, sítio; e o chiante: chita, chupar, machiche.

Examinemos essas consoantes cada uma de si.


per

§ 2

— —
B

O som labial b é raro em nhêengatú; nas nas


palavras

o abanhêenga o tem intercalado, o índio amazônico o


quais

substitue um u, ex.: apiaua, apiaba,. homem,


por peua-peba,
— 20 —

chato, ipaua-ipaba, lago, caua-caba, vespa, suaca-sobaia, cau-

da, curucaua-curucaba, dádiva, íe-


garganta, potaua-potaba,
rtaua-tendaba, lugar, rede de dormir, igas~
quissaua-quissaba,
sapaua-igassapaba, etc. Mesmo no começo das
ponte, pala-
vras é trivial essa substituição: uauassú-babassú, Attalea

speciosa, uerá-berá, relampago, uêuê-bêbê, voar, uacaua~

hacaba, Oenocarpus bacaba, etc. Os termos começados b


por
são tão raros, Barbosa Rodrigues, no seu recente Voca-
que
bulário indígena, somente trás bubuia e um Composto.

É o uso do botoque, tembetára, tivesse dado


possível que
origem a esse metaplasma. Aos doze ou treze anos, lhe
quando
apareciam nos seios os embriões das lactíferas, o
glandulas
curumin sofria a operação do tembecuára, buraco do beiço,

feito com um osso de veado. O tucháua, ou chefe da


pontudo
maloca, sentado sobre um banco, de cedro, assistia
geralmente
ato, verificando *o
ao se' o operador furava beiço na altura

apropriada, nem muito baixo nem muito em cima. Nesse ori-

fício introduziam uma haste lisa, descascada, sempre de


quase
rn an i v a , da de um lápis. À medida o buraco
grossura que
se alargava, aumentavam o calibre do botoque, até em in-
que,
divíduos erados, maduros, o beiço inferior, tembé, disforme-

mente espichado, chegava a cair sôbre o sem o bár-


peito, que
baro naturalmente unir os dois beiçôs; usavam então
pudesse

de um tembetá de madeira leve, mas mesmo assim eram for-

çados, se fechar a bôca, a lever o beiço inferior com


queriam'
a mão até encostá-lo ao superior.

O mbetára, no começo era ornato, tomou, entre os


que
índios Tembés, enormes com o fim de dar-lhes
proporções

hõrrenda e feroz catadura amedrontar os inimigos. Um


para
índio Tembé, Antonio Peua, tucháua de uma maloca,
pequena
no rio Capim, aniquilada varíola, contou-nos
pela que, quando
mocinho, conheceu alguns da sua nação, cujo tembecuára era

íâo largo enfiavam êle a cabeça, circulando-a então


que por

a fina faixa labial na altura da nuca! A dos beiços ne-


junção
cessária para a do b, não ser efetuada, tor-
pronúncia podendo
nou-se a fala desses selvagens indistinta, trocavam certos

sons, alteravam a fonação de outros, e afinal o


que provinha
da impossibilidade uso do enorme mefára, nos
pelo guefreiros
da tribu, tornou-se ambos os sexos, ou simiesco
geral para por
espírito de imitação, ou moda. Nota-se, todavia,
por que,
mesmo nas tribus sem botoque, o som b é difícil de ser emi-

\
— 21 —

tido. Um amanagé sangue, nos foi dado


puro que quando

contava anos, até agora com os seus vinte e seis, ,es~


quatorze
"banana"
do idioma materno, dizendo fica-se em dú-
quecido

vida se se ouve manana ou mbanana. Os índios amanagés

nunca usaram de tembetára.

Como essa do b u o nhêengatú a sua-


permuta pelo perdeu

vidade do abanhêenga, imitando em algumas o som


palavras

do ladrar do cão, como em uiaua, seneatta, barba,


guaiaba,

icuire, novamente, iauáu, fugir, iaué, assim, etc.

§ 3

D —

O d não existe. Nas tupini-


puro palavras portuguesas

zadas carência de termo equivalente, usam os ín-


que, por

dios, substituem-no r; saurú, sábado, sorára, soldado,


pelo

camatára, camarada, cunhava, cunhado; êste último suplan-

tòu o vocábulo castiço em algumas tribus. Estamos neste

em desacordo com o Luiz Figueira, admite


ponto padre que

o d labio-dentalsem nasalação; mas escudado na


puramente

opinião não menos autorizada de Anchieta e baseado na fo-

nética do nhêengatú moderno, em no


persistimos pensar^que

começo das em abanhêenga, nunca se d,


palavras pronuncia

mas sim nd, e em nhêengatú, repelindo-se o son d,


que, pro-
fere-se nê.

"escolhido
Theodoro Sampaio verte machado dgi :
por

(diz êle) o local a lavoura, derrubavam-lhe as árvores


para
de maior, vulto, empregando-se êsse fim o machado de
para
ou dgi". O som dj não é tupi, como «também
pedra ji podemos

afirmar que essa- asserçâo de derrubadas a machado de


pedra
constitue uma das muitas crenças falsas, absurdas,
pueris, que

entre os civilizados correm sobre os usos, os costumes, a vida

do nosso indígena; mas na Parte V trataremos detidamente

dêste assunto aqui descabido.

§ 4
V ,

Nd —

I
O nd é encontrado, sem freqüência, em algu-
posto que

mas como iandi, óleo, iandú, aranha, cuandú, man~


palavras,

dioca, etc.
pindoba,
— 22 —

Nos raros casos em o nd é inicial no abanhêenga, o


que

tupi equatorial só faz ouvir o n : nhê-nê, tu, ndayé-ynayé-

inaié, inagé.

5
§
"

_ _
F

A semi-labial é absolutamente desconhecida em tupi;


[

tôda a contém, como Afuá, Tefé, é espúria. Por


palavra que

esse motivo não merece louvor o respeito descabido do Dr. Er-

nesto Ferreira França erros do copista, deixando essa


pelos

letra em diversos termos, se acham estropiados na sua


que

Chrestomatia; tocandira, tucandêra, por


/olandira por faira

taira, filho, taracuá, tracuá, etc.


faracuá por

6
§

— —
G

Em como também em abanhêenga, a gutural


guarani, g

é de uso freqüente, no no meio das


quer princípio, quer pala-

vras; mas isso não acontece em nhêengatú, no se en-


qual,

contrado, estar certo foi eufonia, acrescen-


pode-se que por

tado branco. Assim temos no Sul no Norte uatá,


pelo guatá,

andar, ave,
yuassú-uassú, grande, guirá-uirá, guirapá-uirapá,

arco, uaimi, velha, barreira,


guaibí- guatapiranga-uarapiranga,

barranco, pe-
guarabá-uavauá, peixe-boi, gurupema-urupema,-

neira, crivo, morador, etc. O mesmo acontece


guára-uára,

o se acha, nos dialetos do Sul, no meio do vocá-


quando g

bulo: megaan~meuan, careta, mácula, tagoá-tauá, amarelo,

caraguatà-carauatá, no Sul; miguá-miauà-, mergulhão,


gravatá

uruguá-uruá, caracol, maguari-


paranaguá-parauá, papagaio,

mauari, Ciconia cocoi. Se tivesse refletido nesta particulari-

dade do tupi amazônico não teria interpretado tão errada-

mente Martius a origem de Araguari, de Guajará, de Gu-

rupá, de Araguaia, nem Theodoro Sampaio a de Guamá, de

Arapari, de Araguáia. Esta obra tão


(Guarapari) preciosa

acha-se muitos erros — mais de


desvalorizada pelos quinhen-
•— negligente
tos uma cópia descuidada e uma revisão
que

deixaram imprimir; é o vocabulário mais incorreto existe


que

em tupi. O menos inçado destes êrros tipográficos é o Dicio-

nário anônimo de 1795, edição Platzmann, mas ainda assim,

encontram-se cerca de cento e vinte, dos 12 imputáveis


quais

ao autor e o resto ao copista e revisor.

H
_ 23 —

§ ^

J -

É o raríssimo; tão raro bem se afirmar


jota que pode
"nun-
não existir. O Dicionário anônimo de 1795 ensina
que

ca o i é tão rigorosamente consoante fira a vogai como


que

g; entre vogais é consoante duplex, como neste verbo aiar

tomo; onde o i faz o mesmo som o nosso verbo cair


que (pá-

II). O Marcos Antonio — Chrestomatia, do


gina padre

Dr. E. F. França, na —
Paié feiticeiro, adverte que
palavra

em tupi é raramente o i rasgado; os tupinambás apenas têm

algum i rasgado, o mesmo se acha diante do u.


quando

Em nhêengatú não há exceção: em todas as nas


palavras,

o branco, suavizar o encontro de muitas vogais,


quais para

o índio diz i: cão;


pronuncia j jaguara-iauara, juruna-iuruna,

macaco de boca íavary~iauari (Astrocarium javary),


preta; ja~

caré-iacaré; , fugir; , lontra;


jabáo-iauáu jaguacaca~iauacáca

árvore frutífera, ajurú-aiurú, etc.


guajará-oaiará, papagaio,
"To-
A falta do foi Faria notada nos seguintes termos:
j por

dos os vocábulos nesta língua se escrevem sem as seguintes

ietras: — — — — —
F L S V Z."
J

§ 8

L —

O tupi ignora-o. Um vocábulo, no existe o som l,


qual

tem noventa e nove cento de não ser tupi.


probabilidades por

Aqueles afirmando o contrário, o dão como de origem


que,
indígena com um r l, não têm observado a negação do
pelo

tapuio essa líquida. Se tivesse isso em mente Theodoro


por

Sampaio não derivaria de iarapa, nem dado a mame-


jalapa
luco uma origem sul - americana. A intercalação de um l em

palavra
tupi, como em solinaria, suinara - suindara, ou a
per-
"Solimões"-sorimau,
muta do r brando /, como em é de
pelo

uma raridade tal na Amazônia, esses casos se


que podem

contar nos dedos de uma só mão. Nas


palavras portuguesas,

adotadas tupi, onde o L existe, se não é eliminado sim-


pelo

plesmente como em cnièra, colher, substituem-no n como


pelo

em naranda, laranja, ou r: muratú - mulato, chiróra - ce-


pelo

roula, também se traduz calça. Dessa repugnância


que por

invencível da língua L trataram Veríssimo,


geral pelo já José
— 24 —

nas Cenas da vida amazônica, e o Capitão Richard Burton nos

Highlands o[ Bcazil. Êste último refere ter ouvido de um ba-

charel, deputado certamente mameluco, estrera


provincial,
d'atva, estrela dalva, como o diz ter ouvido
por primeiro pro-
nunciar Escola novmav diplomados Es-
por professores pela
cola normal.

Cabe aqui ainda uma censura ao Dr. E. F. França


por
ter deixado imprimir, na sua Chrestomatia, onde o
palavras
intruso l se estropiando-as, algumas a de ser
pavoneia ponto
impossível reconstrui-las na sua como:
quase primitiva pureza,


folandyra tucandyra, tucandera, aikitningol, aiki~
por por
tingoc, açacalar, nailo-catú intio catú, achacoso; agualem
por
aguacem, achar, talybar tacyba formiga, aleopiará
por por por
aceopiará, anheloaib - recé, anhecoaib - recê,
paladar, por pa-
decer interior, etc.
pena

§ 9

M —

O m, no fim dos vocábulos, não dá a essa sílaba final o

desagradável som nasal, como na nossa língua materna. No


"e
dic. anônimo de 1795 já essa regra se acha escrita : se

ha de exprimir apertando os beiços" .

10
§

N —

No fim de uma como o m em tam-


palavra pronuncia-se

bém, além,
porém.

§ H

— Nh —

O som semi-nasal nh ser enconlrado


palato-lingual pode
no começo de uma ou outra nhonté, nhãhã,
palavra-.nftaron,

mas comumente nos termos em o o escreve, o nh-


que guarani

êengatú ou suprimí-lo, como em nhaué-iaué, nharucang


prefere
— arucanga, costela, ou — —
sugstituí-lo v.nhã hãhá ias-
por

sana, nhandi — andi, —


jassanan, óleo, nhaquyran iaquytana,

cigarra, nhemondiá —
iemondiára, menstruação, nhotymiotym,

enterrar, nhatiú — iatiú, —


plantar, mosquito, nhmime iumime,

esconder.
4

25 —

§ 11 a.

_ __
p

Nota-se nesta tão língua uma instabilidade


primitiva

curiosa nos sons das labiais e b e das semi-labiais mb, m,


p
da resulta o uso indiferentemente, ora de uma ora de
qual

outra destas consoantes, e isto em uma mesma Pa-


palavra.
rece o índio hesita em fixar de um modo as
que permanente
tateando êsses sons sem firmá-los definitivamente;
palavras,

com a sua linguagem ainda das suas origens não deci-


perto
diu a exata de certos termos, nos se
qual pronúncia quais
mostra ela dúbia, empregando sem motivo aparente ora o
p,
ora o b, ora o m ou o mb. Vemos assim usar indiferentemente

— — —
madeira, myryguy byryguy, mytanga
ymirá ybyrá,
— — —
butanga, memy memby, flauta, miguá mbiguá
pitanga
— — —
biguá, mergulhão, meiú mbeiú, beyú, beijú, motim

camarão, — —
potim, moranduba, moranga
poranduba puran-
formoso, mereba —
ga, chaga, mbo-pó-pú, mão,
pereba, po-
— — —
tyra flor, muranquê, trabalho, boia
potura, puranquê
— — —
mboia moia muia, cobra, mbatui matui, massarico,
pa-
nema —
manema, infeliz, etc. etc.

§ 12

Q -

Sendo o K desusado em substituimo-Io


português pelo

seguido de e ou i : muquem,
qu, quando puqueca, piquira, pi-
. riquito; se o soa como em empregamos o c : cuati-
qu quadro
araucuan, cuati, etc.
purú,

§ 13

R —

Mesmo no começo das é brando como em rahú,


palavras
lupana rangaua, etc.

§ j

U —

O dissémos. relativamente à troca das letras b,


que p,

mb, m, também tem aplicação ao s e ao t. Diversas


palavras

começadas t em abanhêenga e em nhêengatú


por paraense
— 26 —

mudam em nhêengatú amazônico o t em s: terena - serena,

lamber, taconha-saconha, tomatiá-somatiá.

§ 15.

T —

Alguns autores, como Couto de Magalhães e Pedro L.

Simpson, fazem certa confusão nas começando


palavras que

í, mudam em composição'êsse t em r, dando-os como co-


por

meçados r, realmente o som inicial é a dental t.


por quando

No Selvagem encontram-se alguns destes equívocos como no

Opúsculo da Gramática brasileira, onde o seu autor dá ranha

como transformação aférese de tanha, dente. Os exemplos


por

não faltam: acutiranha, saranha, etc.


piranha,

§ 16.

U —

Muitas o abanhêenga com o som


palavras que pronuncia

aberto ó ou ô, o nhêengatú u : mboia muia, cobra.
profere
- mão, arapossô-arapossú, Contudo convém
pó pú, picapau.

notar essa transformação se dá mais nas tribus do Estado


que

do Amazonas do nas do nosso.


que

§ 17-

„ v —

Falta-lhe este som, como lhe falta o seu conexo O


/.

abanhêenga em algumas regiões sóe usá-lo melindre, na


por

frase dos lexicologistas missionários, em certas em


palavras

vez de b : at?á abá; todavia, constituiu


por parece-nos que

isso uma inovação à descoberta do Brasil, imi-


posterior pela

tação dessa semi-labial ouviam os índios dos


que portugueses.

§ 18.

_ Y —

A da vogai Y, tão escrupulosamente


pronúncia gutural

observada nos dicionários antigos, é substituída hodierna-

mente em diversas i e em outras u : am-


palavras pelo pelo
— — —
byra-ambura, cadáver, flor,
potyra putura, yby ytiy
— 27 —

— ficar,
icuy, terra, Mytaú Mutuú, Domingo, pytá-puitá,
— — frecha, etc.
uyba uuba uyua,

§ 19.

— —
z

Em tupi não existe, mas é usado em alguns dialetos dessa

língua. Os tembés ainda existentes no rio Capim, dizem :

Tezu teiú, lagarto. ,


por

Anguzá anguiá, rato.


por

Zaquirana iaquirana, cigarra.


por

Zauara-hú iauára-assú, onça.


por

Zapucâ-cuzã sapucaia-cunhan,
por galinha.

POLITONGOS

A ausência de oito .consoantes, sobretudo a eliminação

do b e do do meio das um acúmulo de vo~


g, palavras, produz

tal, dificulta ao branco a de muitos vo-


gais que pronúncia

cábulos, nos essas vogais, entrechocando-se, produzem


quais

horripilantes cacofonias, mais com o uivar de féras


parecidas

do sons emitidos criaturas humanas.


que por
Alguns exemplos farão melhor apreciar este defeito ca-

do nhêengatá.
pitai

Ditongos. São vulgaríssimos: cua, cintura, meio, iára,

dono, senhor, saissú, amar, caá, mato, folha, aápe, lá,


planta,

nhaâ, esse, de anzol, uatá, caminhar, supiá,


pinaytyê, pescador

ovo, coração, cuára, cova, buraco, uivá, ave.


pyá,

Tritongos. Também são encontrados a cada itiaca,


passo:

céu, cáua, vespa, chato, acâüéca, caveira, mucaua, espin-


peua,

alto, arvore, fruta,


garda, yuaté, yua, yuá, ygavtipaua, porto,

ferida, chaga, amutaua, bigode, barbatana, apycaua,


pereua,

assento, banco, cadeira, teiupaúa, cabana, tejupar, mangaua.

Tetratongos. A de vogais não é nada raro:


junção quatro

iauára, cão, suaia, cauda, uauaca, circularmente, ao redor,

uêuê, voar, uauyrú, rato, ayua, ruim, semeyua, margem, lito-

ral, uyua, frecha, caáuy, anil, iacumãyua,


piloto.
— 28 —

Pentatongos. Podem ser citados: aioioca, nome de uma

cutiuia, cutia, caudada, ciriuaia, cauauá, mieuaire, re-


planta,

tuyuyú, iauaú, fugir, seneuaua, barba, iuyua, salsa-


planta,

parrilha, quiuáua, pente.

Hexatongos. Até o enfileiramento de seis vogais sonoras

se encontra em: iauêuêra, arraia, uaiáua, oiuiuauti,


guaiaba,

ele se encontra. No rio Capim cresce uma chamada


planta

atualmente ariariua, alguns velhos ainda


que pronunciam

ayuayua; iauéiaué, assim mesmo, contém oito e nas duas frases

seguintes o leitor contar número ainda superior : O


poderá

cauauá fugio cauauá oiauauane.

ruim —
A é fruto uaiaua ayua.
guaiaba yuá

CAPÍTULO II

A ORIGEM DOS NOMES DE ANIMAIS

§ 1

As línguas noS seus dois estádios, o de mono-


primeiros

sílabismo e o de aglutinação, na onomatopéia a de-


procuram

signação de muitos vocábulos facilmente reconhecíveis. A

língua é assás na imitação dos sons


portuguesa pobre produ-

zidos na natureza; talvez se achar no seu último


por já período

de as onomatopáicas terão
perfeição palavras primitivamente

a antiga semelhança imitativa. Não assim o tupi


perdido que,

estando no começo do segundo cópia


período, possue grande

de expressões de origem imitativa.

Na representação de um som acontece que


pela palavra

essa onomatopéia em uma língua difere completamente do

termo onomatopáico em outra língua esse mesmo som.


para

Um ruído nós neo-latinos traduzimos uma palavra


que por

onomatopáica, o tupi repreesnta outra de fonação total'


por

mente diversa, mas imitativa também. Compare-se ferver,

òorbulhar com neles se encontrará a idéia das


pupare, que

bolhas arrebentam à superfície de um líquido em ebulição,


que

e extensão da agitação desordenada da água em cachão


por

nos saltos e cachoeiras. Bater, arrebentar, trovão,


gotejar,

açoutar, estrondo, não são mais imitativos do :


que petec,

tupan, tyquyr, nupart, frigir é onomatopáico como


popoc, pú;
— 29 —

também o é como cororong; zigue-zague,


piriric, gargarejar,

como timan-timan, rasgar, como mussaruc, como


palpitar,

tyctyc, onda, como inchar (inflare), como


yapenong, pungá,

cansaço, cancon, mas em todas estas o mesmo sentido


palavras

não é determinado mesmo som.


pelo

Na nomenclatura dos animais a onomatopéia constituiu-se

a fonte, na o selvagem expressões para enri-


qual procurou

o seu então minguado vocabulário. Efetivamente, os


quecer

nomes dos seres viventes têm origem:


por principal

1— A imitação do seu canto ou voz.

2." — Qualquer da sua aparência exterior,


predicado

como a côr total, ou a de uma só do corpo.


parte

3.° — As dimensões, o tamanho, as ou a con-


proporções

formação de do indivíduo.
qualquer pa-rte

4." — Uma biológica do animal própria-


particularidade

mente, ou do seu habitáculo, ou de sua alimen-

tação, ou ainda da sua nidificação.

5." — A sua semelhança aparência, côr,


pela pela pelos

hábitos com um animal conhecido e nomeado.


§ 2

v
Na imitação do canto encontrou o tupi o nome das se-

aves : acauan, acuraua, anacan, atancnan, araponga,


guintes

urapapá, arára, ati-ati, cancan, cavacará, carocaró, cururió,

chincoan, curà, curica, curicáca, matui, matinta-


jacurutú,

matiu-tiu, murucututú,
pêrê, pintauan, pipira, quirirú, quiri-

soco, suiriri, tanguruparà, tem-tem, téu-téu, urú, urubú


quiri,
— utú, etc., etc.
chê-chê, sococoi,

Poucos são os mamíferos devem o seu nome à ono-


que

matopéia; somente ser citados a cujo


podem preguiça, grito

agudo, angustioso, valeu-lhe o nome de ay-ay; a cabra que


não
"veado
conheciam, denominaram o faz mé", suassumé; o
que

vocábulo chauim imita o desse macaquinho; o roedor


guincho

toron tem um se traduzir seu nome.


grito que pode pelo

Diversos batráquios são conhecidos imitação da voz


pela
fazem ouvir : cururú, cutaca, tataca, iué ou jué.
que

Alguns insetos também são nomeados onomotopéia


pela

dó seu canto: tanànã, do seu vôo estrepitoso: biuium, do ruido

ameaçador, embravecidos: capú-capii, receberam a sua


quando
— 30 —

designação. Ao rápido zum-zum do seu vôo o beija-flor o ser

chamado uainumbi.

Um animal tem algumas vezes diferentes nomes,


posto

todos onomatopáicos; isso de serem desconheci-


que provém

das as labiais, as as dentais aos irracionais, menos


guturais,
"Psittacidae",
aos enxertando nós na imitação de suas vozes

esses sons eles não emitem. Assim o Pitangus sulfuratus


que

dizer Pintãuan ao tupinambá, Bem te vi, Triste vida


parece

ao a ave noturna o índio, no Norte,


português; que para pro~

fere distintamente Uacuraua, no sul diz Bacuráu ou Tion-

tion, e também ao ouvido do lusitano Ta-


parece pronunciar

baco bom ou Sebastião; o tapuio amazônico ouve o Dyplopte-

rus naevius repetir longo espaço o seu tristonho Matinta-


por

enquanto no Sul indivíduos da mesma raça, falando a


pêrê,

mesmo linguagem, ouvem Sacicerêrê. Muitas vezes, sob a es-

fronde dos da floresta, nos igapós, durante as


pessa gigantes

horas mais cálidas do dia, repercute a voz clara e forte do La-

thria cinevacea, cujo nome onomatopáico no Baixo-Capim é

Qucurió, diferente do nome Coió-Coió, o conhecem


pelo qual

os índios no Alto-Capim e ainda dessemelhante de Coui-coui-ó

ou Temtem imitativos usados em algumas localidades.


pium,

Êstes exemplos fazem nos ver é sobretudo na acen-


que
tuação das sílabas, de acordo com as notas mais ou menos

prolongadas da voz dos animais, reside a onomatopéia:


que

as consoantes desses nomes são antes acessórios os tor-


que
nam mais harmoniosos.

§3 .

A coloração deu motivo à formação de diversos nomes

compostos. Os adjetivos iaquira, verde, iú-juba, tauà-tagoá,

amarelo, ui-obi, azul, e úna, negro, escuro,


pichúna pre*to, pi-

canga e encarnado, tuira e cinzento,


pitanga pitanga, pardo,

barrento, turvo, tinga e muvutinga branco, alvo,


pitinga, pinima

sarapintado, verzicolor, variegado, são encontrados uns


paráua,
mais outros menos, sobretudo em nomes de aves e de umas
peixes,

vezes diferençar variedades ou espécies de um mesmo


para gê~

nero, outras vezes designar distintos. Os exem-


para gêneros

são numerosíssimos, de entre êles citaremos:


pios paca-tinga

acuti-tinga, acuti*pivanga, mutuca-pichum, mutu~


paca-piranga,

ca-paváua, iauti-piranga, iauti~tinga, chauim-


jaguapitanga,

jacu-tinga, auirú-cari~iu, arara-pitanga, atavuna, ai-


pichuna,
— 31 —

inambé-paráua, inambé-ui, inambú-tuita, iuruti-piran-


pichuna,

meru-ui, mociqui-piranga, mutnm-pinima,


ga, pacú~pichuna,

sauiá-tinga, sauiá-
piranha~tinga, pivanha-piranga, piranhuna,
suassú-tinga, suassú-piranga, arirú-iú, aritauá, uivauna,
pichuna,

saí, uiratinga, caua-iú, etc.


pirabutanga, pirapitinga, pirauna,

A côr somente de uma do corpo serviu nomear o


parte para

Yuruna ou Caipuzú, o Yurupitanga, a Mutuca-acamitanga,

o Tiê-apoti-juba, a Boiacuaiú, o Acãmutanga, o Yuratim, etc.

§ 4

Com os assú, u, miri, i,


qualificativos grande, pequeno,

chichi, diferençar os animais de uma mes-


pequeno, puderam

ma família de maior ou menor estatura: mucuca~chichú, ta-

manduá-assú, tamanduá-i, soe oi, airuassú, andirá-assú, ararí.

íanaraci, iauacacai, aimiri, sucuriú, maricá-assú, caracarai, etc.

Com os adjetivos apára, torto, curvo, antqn, duro, rijo,

acica, cortado, troncho, nema, fétido, comprido, alto,


pucú,

formoso, aiua, ruim, chato, été, verdadeiro,


puvanga, peua,

formaram diversos vocábulos expressivos, como tatu-apára,

aperema, acacú-antan, boiacica, cambeua, ceuipeua,


piraiua,

(piraiba), suassú-
piranema, pirapuai, pirapema, potiri-peua,

apara, —
suassú-été, iauara-été, taciua-rema, tatupeua, uauiru

acyca, uirapeua, etc.

As dimensões exageradas das deve o Phcynus lu~


pernas

natus o nome de iandú-pocambucú, aranha de dedos compridos,

como causa das suas mãos achatadas, à feição dos


por pai-
mípedes, recebeu a Lutva brasiliensis, no Sul, a designação

de iagoapópéba, onça de mão chata.

§ 5

Uma particularidade biológica a de-


qualquer1 peculiar
terminado animal facilita-lhe a sua designação, como o
para
cauteloso acuti, o arisco o necrófago urubú,
para pacú, para

o elétrico o a
para puraquê, para grunhidor piracutá, para
maracamboia, a savanicola capiuáva,
premonitória para para
a melivora irára, o voluteante urubú-ieréua, o xilo-
para para
biótico iapeussá, o tagarela aiurú, o cuatí, o
para para pichana,
a uaturá-saua, a tatucáua, etc.
§ 6

Com o adjetivo rana formaram alguns termos seme-


pela
lhança lhes ter o animal assim denominado com
que pareceu

outro mais conhecido: surucucurana, su~


jacaré-rana, quirana,
assurana, taturana; mas é sobretudo, nos nomes de
plantas que
esta é empregada. No Glossário demos rana
palavra paraense
"semelhante", "que
como sufixo, significando se na
parece",
Parte II, na suassuarana tratamos detidamente deste
palavra
vocábulo.

7
§

A sinonímia nós dada os animais conhecidos


por para
mais de um nome facilita um estudo curioso: a feição mais
por

característica de um animal, em tupi, algumas tribus di-


para
fere daquela mais deu na vista de outros ramos dessa
que

mesma família. Tomemos como exemplo os nomes da lontra:

lagoassú, ou e
jagoacacá jagoacacáca, jagoapopeba, jagoas-
sabussú, contraído em sabussú. Todos comparam-na ao Ca-

nis-brasiliensis, ou a onça, mas uns a corporatura foi o


para
mais se salientou: cão outros na voz encontraram
que grande;
a comparação mais adaptada: cão cáca ou cacáca; no
que grita,
Sul foi a mão chata, com os dedos unidos uma membrana
por
como a do mais despertou a atenção do índio: cão
pato, que
de mão chata; outros ainda também no Sul, viram sobretudo

a bem fornida de longos: a c. d. saba


pelagem pêlos peluda

pêlo e ussú.

CAPÍTULO III

Causas dos érros nas etimologias geográficas da amazõnia

DADOS PELOS TUPINISTAS DO SUL

"E'
bom não adíitar sem mais estudos tôdas

estas etimologias." — Veríssimo.


José

§ 1

O leitor verificará no decorrer dêstes estudos, recu-


que
samos número de etimologias dadas tupinistas,
grande por
aliás de saber e talento. Não nos fóra do nosso
grande parece
estudar aqui sucintamente as causas das resultou
quadro quais
a deficiência dessas etimologias.
— 33 —

Essas causas são devidas em sua maioria :

1.° — Ao conhecimento tinham do dialeto-


pouco que

nhêengatú.

2.° — Ao incriterioso de o indí-


preconceito possuir

uma cerebração igual, senão superior, a da


gena

raça branca.

3.° — À errada colocação das no possessivo.


palavras
- —
4.° À má colocação do adjetivo.

'vocábulos.
5.° — À inexata acepção dada aos

6.° — Ao desprêzo do acento tônico.

IGNORANCIA DO NHÊENGATÚ

A falta de conhecimento do dialeto nhêengatú trans-

em mais de uma das etimologias dadas sábios


parece pelos

do Sul. Mais adiante demonstraremos


guaraniólogos que,

desconhecerem o vocábulo Y não significa rio, nos


por que

deram êles muitas etimologias falsas. Aqui apontaremos uma

outra e abanhêenga, enseada, desconhe-


palavra guarani guá,

cida em tupi equatorial, à os tupinistas apresentam


qual

como radical de diversos têrmos nhêengatús. Guá


geográficos

também, na do tupi austral, sabaá, e soá,


pátria pronunciado,

diz-se sauá entre os índios da Amazônia; mas sabaá, soá,


guá,

sauá são ramos de uma mesma árvore, todos de um


provera

mesmo tronco. Êsse termo em uma designação coro-


perdura

no rio Capim, onde, abaixo do engenho Aproa-


gráfica pouco

existe um lago e as ruínas* de um engenho cha-


ga, pequeno

mado Sauá; êsse sítio acha-se numa curva do rio,


parte que

forma enseada. Não sabendo os tupinistas, aos nos


quais
'
referimos, tem sauá equivalente aqui no Norte,
que guá por

tomaram diversos nomes de localidades da Nhêengaturetama,

como compostos, nos entrava êste espúrio: Ara-


quais guá

Guamá, Guajará.
guari,

Na origem de Paranaguá, Martius, ignorando até a

significação do abanhêenga em vez de decom-


genuína guá,

em enseada do mar, traduzi-lo por


pô-lo parctná~guá, preferiu

o mar eis aqui; eis o Oceano; Martius é tido


paraná-coaé,

como um dos raros homens de ciência bem conheciam o


que

tupi, cujos trabalhos na espécie, são com considerados


justiça

um tesouro na lingüística americana. Nestes têrmos o erudito

Dr. Theodoro Sampaio, um dos mais notáveis vultos da ci-

120.929 F- 3
— 34 —

ência brasileira, tornando-se o interprete do sentimento


geral

conhecimentos tupínicos do egrégio bávaro, consagra-


pelos

lhe a reputação. Mas nessas duas categóricas afirmativas: ter

o sábio alemão conhecido a fundo a língua tupi, e constitui-

rem seus trabalhos um tesouro na lingüística americana, muito

há rebater; um dêsses conceitos laudatórios não vai sem


que

o outro, mas ambos estão longe da verdade, ou mais explicita-

mente ambos são contrários à verdade.

A reputação de Martius como abalizado tupinista, Como


"um
dos raros homèns de ciência bem conheciam o tupi",
que
acha-se escorada três obras :
por

1.° — O seu trabalho sobre os nomes em tipi das


plantas,

dos animais, e de diversas localidades, trabalho


precioso pôsto

que eivado de senões, do dissemõis antes, e com o


qual já qual
teve o seu autor o mérito de ser o iniciador da onoma-
grande

tologia brasílica.

2.° — Quanto ao seu vocabulário nhêengatú, é êle uma

mescla indigesta de nhêengatú, de abanhêenga, de tupi con-

temporâneo e de tupi arcaico, com algumas espúrias,


palavras
sem valor nenhum lingüístico. Comparando-o ao consciencioso

Vocabulário indígena de Barbosa Rodrigues, em nhêengatú

moderno, mostra tão enorme inferioridade, tão deplorável ca-

rência de um conhecimento mesmo superficial desse dialeto,


"dicionário
ninguém consultar esse de tupi vulgar"
que pode
com
proveito.
"bem
Para aquilatar-se do Martius conhecia o
quanto
"não
o tupi carece a nu as suas traduções erradas, como
pôr
"Tempus "obscurus, "por
matutins" a, um
por piassayéf pi-
"canus, "cochlear",

tuna ossú, a, um" tuguyr,
por (tuyra)
"apontar
etc., etc.; basta o fato seguinte: Os índios
por poóca,

dificilmente empregam um substantivo em absoluto, fazem-no

sempre acompanhar de um ce, meu, nê,


pronome possessivo:
teu, iauê, nosso. Assim, se lhes como se chama
perguntarem

boca, dirão ce-iatú, minha boca, ou iané-iarú, nossa bôca.

Martius, ouvindo-lhes essas frases, não deu isso, o


por que
mostra ignorância até dos as
pronomes possessivos, primeiras

se aprende de uma língua. Eis o nessa es-


palavras que que
cora da sua usurpada reputação de insigne tupinista se
pode
"Cilium",
ler: inandê-reçá-çaba, —
tradução literal dos
pêlos
"Corpus",
nossos olhos: —
pestanas. ce-reíé, trad. meu corpo.
— 35 —

"Crus", "Fra-

ce~retuma (ce-retiman) trad. minha
perna.
"Frons",
ter", simung, — trad. meu irmão. ce-ruá —
(ce-mu)
"Supercilium",
— —
trad. meu rosto. ce-reçá trad.
pecanga,
"Oculus",
minhas sobrancelhas. sersa, barbarismo, ce-
pôr
"Cubitus",siu>a
ressá, meu ôlho. sawa,
penna palavras que

têm ares de tupi da Angola. Cotovelo atualmente diz-es


"quebra
do braço" iyuá~penas~saua; o barbarismo de Martius


corrigido escreve-se ce~yuá~penassaua, trad. meu cotovelo.

Êstes exemplos frisam bem o conhecimento ele


pouco que pos-

suía do nhêengatú. Vejamos agora se a sua erudição era

mais sólida em abanhêenga, analizando rapidamente a sua

obra tupi, o dicionário tupi-portug. alemão em tupi antigo.

O sábio alenj.ão aproveitou um manuscrito tupi-português,


que

data mais ou menos do meado do século XVIII, e copiou-o,

acrescentando alguns nomes de animais, de e diversos


plantas
"tanga", "ma-
vocábulos, entre os alguns espúrios, como
quais
loca", ao termos castiços dá-los êle
passo que perfeitamente

como espúrios; nesse caso está typoí, a de o traduzir


que além
"camisa
incorretamente sem manga" afirma ser da
por palavra
língua moxa ou chiquita; também tianha, tido
gadanho, por

êle como lusitanismo, é tupi, encontrado nos dicionários


puro

da língua como também em Montoya.


geral,

Quando êle se afasta da cópia textual é escrever um


para

contrasenso; assim no manuscrito original é vertido


py por pé
"não
e acesso, Martius acrescenta com a mão" se
por que

traduzir inti-pó-irumo.
pode por
"aleijado",
No manuscrito lê-se iapav, o sábio botânico

— sem reconhe-
corrigindo escreve iapar aleijado dos braços,

cer isso seria traduzido iyuá-apàra, como aleijado dos


que por

como aleijado das o cetiman-


pés por py-apára, pernas, por

apara, apara adjetivo, significa torto, e extensão


pois que por

aleijado.
"ca-
No manuscrito vê-se suassumé, como significando

bra", mas o a mal feito, fez com Martius o to-


primeiro que

masse um o e com toda a seriedade em vez de cabra es-


por
"cobra"
creveu ! A seguinte do manuscrito é suas~
palavra

sumé-apyaba; apyaba significa homem e também macho.

Apyaba e cunhan servem ao tupi como os termos macho e

fêmea em distinguir os suassumé-


português para gêneros:

cunhan, cabra; suassumé apyaba, bode; mas aí ainda o copista

não fêz a do e bem feita, de modo êsse e


perna que podia
- 36 —

"homem.de
confundir-se com um o e eis o ciência tão
que que

bem conhecia com a o de um sábio alemão


tupi,
gravidade que
"bodo",
realmente era, copiou traduzindo~o etimològicamente
"cobra-homem, "bodo"
i-e, bodo"; e a esse seu neologismo
por

deu a significação de Lamantin, Kuhfisch, metamor-


peixe-boi,

foseando suaséumé~apyabar bode, em boi, uarauá !


peixe

Sobaia corresponde ao nosso nhêengatú suacá, cauda,

rabo; acyca, cortado, sobaia~acyca, traduzido no Marajó pelo


"rabicho",
termo correto significa em clás-
pouco português
"descaudado", "der-
sico e ém linguagem ultramarina
popular

rabado",'que é vocábulo eqüivalente dado manuscrito.


pelo

No dicionário triglota foi vertido causa do a imperfeito em


por
"derribado", "niedergeworfen", "umgestürzt".
E assim de

muitos outros erros crassos uma medianamente


que pessoa

tupi-iára não cometeria, fica a mediocridade do


provada

cabedal tupínico do celebre cientista bávaro, a cuja


penúria

devem ser atribuídas as muitas etimologias absurdas êle


por

publicadas.

O manuscrito, do se aproveitou Martius o seu


qual para

dicionário triglota, tem uma história bem interessante aqui


que

contada. Quando se estava imprimindo o Glossário


pode'ser já

no ano (1906), o
paraense que publicamos passado professor

Dr. Emilio Goeldi, o ilustre naturalista fundador do nosso

Museu de etnografia e de história natural, à nbssa dispo-


pôs

sição a sua rica biblioteca tupi se vinha tarde auxi-


que, para

liar-nos nesse opúsculo, não deixava de ser-nos útil nos es-

tudos etimológicos com os nos ocupamos. Entre as obras


quais

nos foram então emprestadas, foram os Glossaria língua-


que

rum brasiliensittm uma das mais interêsse nos inspirou, e


que
das em lugar merecendo mais de-
que primeiro percorremos,
tida atenção o dicionário tupi-português-alemão de 31
págs.
a 97. Aí lemos com surpresa uma nota à palavra ygarapé
"Hoje
concebida nestes termos : dá-se êste nome só aos es-

teiros ou rios especialmente àqueles só são vo-


pequenos, que
lumosos com a subida da maré". Nada mais inexato do
que
esta definição, mais estranheza causa fato de ter
que pelo per-
corrido o seu autor a vasta Aitíazônia desde o litoral atlântico

até às fronteiras onde êle forçosamente deveria


peruanas, por
ter ouvido dar o nome de igarapé aos afluentes menores dos

rios e aos riachos, onde a influência das marés não se


grandes

faz sentir. Algum tempo depois encetamos a leitura do dicio-


- 37 —

nário de frei Francisco de Nossa Senhora dos Prazeres,


que

faz da Poranduba maranhense, composta de uma histó-


parte

ria do Maranhão, de uma descrição dos animais e das


plantas

maranhense e desse vocabulário tupi-português. Neste último,

também como nota à mesma deparamos com


palavra ygarapé,

o trecho transcrito do dicionário de Martius. Esta estra-


nha coincidência aguçou a nossa curiosidade, incitando-nos a

comparar os dois textos, comparação da resultou a


qual prova

de ser o trabalho do botânico alemão uma cópia do dicionário

da Poranduba, obra de um frade, fei Onofre, a


qual jazia

sepultada, sob as espessas camadas de claustral nas


poeira,

estantes da livraria do convento de Santo Antônio, no Mara-

nhão, de onde frei Francisco de Nossa Senhora dos Prazeres

o foi desenterrar, corrigindo-o e aumentando-o no Pará,


onde residiu.

Nas duas últimas da Poranduba um


páginas pequeno

artigo do Dr. César Augusto Marques explica esse mistério.

Conta ele • em 1843 Francisco Adolfo de Varnhagen


que

oferecera ao Intituto Histórico e Geográfico Brasileiro um

manuscrito com a denominação de Poranduba mara-


precioso

nhense, ou Relação histórica da do Maranhão em


província
se dá notícia dos sucessos mais célebres nesta tem
que que
acontecido desde o seu descobrimento até o ano de 1820, como

também das suas naturais, etc., etc., com


principais produções
um mapa da mesma Francisco de Nossa
província por [rei
Senhora dos Prazeres. Francisco Adolfo de Varnhagen não

havia sido mais do o intermediário entre o autor e o Ins-


que

tituto Histórico. Passados alguns anos Gonçalves Dias, sócio

dessa ilustre corporação, extraiu uma cópia do inestimável ma-

nuscrito, a lhe serviu o seu dicionário tupi-portu-


qual para

guês em 1858. Pouco tempo depois desapareceu o


publicado

donativo de frei Francisco da biblioteca do Instituto. Em 1876

o Dr. César Marques, não o encontrou, mas


procurando-o,
não diz êle nesse seu artigo se havia dado antes falta
já pela
do manuscrito em então, indagando veio a saber
qyestão; que
"possuía
o coronel Francisco Manoel da Cunha uma
Júnior
cópia, lhe custara trezentos mil réis a o
que pagos quem pos-
suía, de cavalheiro", recusou
porém preso por juramento
denunciar o escrúpuloso detentor do manuscrito ori-
pouco

ginal.
— 38 —

Resta apurar o manuscrito foi às mãos de


qual que parar
Martius: se o original ou uma cópia dó mesmo. O autógrafo

da Poranduba foi furtado da biblioteca do Instituto entre 1852

e 1855;, isso se verifica do seguinte trecho de Martius, escrito


"ainda
em 1862: não tinham aparecido dicionários de
(os
Gonçalves Dias, e da Cheestomatía do Dr. Ernesto Ferreira

França) eu, em 1855, a imprimir o


quando principiei presente
volume, cuja conclusão outras ocupações foi retardada"
por

(pãg. XIII).

A cópia comprada coronel Cunha inter-


pelo Júnior, por
médio do seu sócio César Marqües, foi oferecida ao Instituto,

a fêz no tomo LIV de sua importantíssima


que publicar

Revista, tantos documentos tem salvado do


que preciosos
esquecimento; mas essa saiu inçada de erros, ou
publicação

não houvesse uma cuidadosa revisão das ou


porque provas,

então, mais provàvelmente, a cópia Cunha Júnior já


porque

o estivesse. A ausência desses erros no vocabulário de Mar-

tius faz supor êles não existiam no manuscrito, do


que qual

se serviu. Na Parte V voltaremos a tratar deste assunto, apre-

. sentando argumentos favoráveis à hipótese de ter sido o


pró-

original subtraído- o foi às mãos do ilustre bá-


prio que parar

varo, certo ignorava a sua criminosa


que por procedência.

3
§

INTELIGÊNCIA DOS ÍNDIOS

Os mamelucos tinham interesse em fazer crer


grande

como no vigor físico, êles não eram na inteligência infe-


que,

riores ao branco; isso traçavam das faculdades intelectuais


por

do índio um lisonjeiro, dotando-o de um es-


quadro grande

de observaçãp, de um raciocínio bem e lógico.


pírito ponderado

Essa tese bem recebida, foi auxiliada


poderosamente pelos je-

suitas fundar na América do Sul um futuroso


que, querendo

império teocrático, conservar a língua tupi com ex-


pretendiam

clusão da e ofereciam o selvagem como a antítese


portuguesa

do colono europeu: este cheio de vícios, brutal, dado somente

aos materiais, aquele soberanamente bom e inteligente.


gozos

Homens de talento, transviando-se, aceitaram ingênuairíente

essas exagerações tão fervorosa e brilhantemente


patrocinadas
— 39 —

por poetas, como Gonçalves Dias, e romancistas, como


por J.
de Alencar, exagerações em obras de imaginação,
permitidas
mas indignas de figurar em trabalhos científicos. Alguns fi-

lólogos, encarecendo êsses dotés espirituais tão falazmente ou-

torgados a êsses homens no corpo e crianças no intelecto,


que
são os bárbaros habitantes das nossas matas, reconheceram

ainda nêles uma faculdade de sintetizar, certamente não


que
conheceu o branco na idade da
pedra.

Está agora em moda, como um sentimentalismo


piegas

à nossa raça, elevar às nuvens a língua tupi; todos os


peculiar

tupinistas, tanjto antigos como modernos, extasiam-se ante a


"língua "delicadeza,
suave, elegante, copiosa", ante a sua faci-

lidade, suavidade, cópia e elegância", chegando a aberração

ao de comparecerem-na na à na
ponto perfeição grega, quando

verdade é ela de uma desoladora logo se trata


pobreza que

de exprimir conceito moral, da


qualquer qualquer predicado

alma. A linguagem, como expressão do revela


pensamento,

as aptidões, as faculdades cerebrais dos a falam; esse


que por

motivo os tapuios não ter o mesmo desenvolvimento da


podiam

inteligência o seu conquistador, de de uma língua


que posse já

herdada dos cultos romanos, com a sua invejável riqueza e

aptidão exprimir os sentimentos os mais elevados, cogi-


para

tações as mais filosóficas à humanidade é dado conhecer.


que

Mas todos os esforços desses homens superiores não


po-

dem esconder a dura realidade: o nosso indígena é intelecto

embotado que na meSma estagnação imemorial, tão incapaz


jaz

de uma concepção elevada como inapto a do concreto


passar

ao abstrato. A esse errado sobre os dotes intelectuais


juízo

dos bárbaros autóctones devem os filólogos diversas etimo-

logias inexatas, como a de Marajó, o tapamar, o anteparo

marítimo, como. a de Guamá, vale reúne, envçlve ou


que
"bacia
cerca", como a de Guajará reúne, recolhe, lugar
que

de confluência" ! Um autor, citado Theodoro Sampaio,


por
chegou a o índio com conhecimentos astronômicos,
gratificar
"lugar
fazendo Guaratinguetá significar onde o sol chega e

volta, ou muda de curso; coaracy, sol, tinga, branco e oafá.

andar, tirou êle essa tradução transcendental!


— 40 —

* .

§ 4

DO POSSESSIVO

"El
de se haze al
genitivo possessión poniendo principio
lo luego lo Assim se exprime Mon-
que possee y posseido".

toya e depois dele todos os até Couto de Ma-


gramáticos
"O
diz: de se conhece
galhães, que genitivo possessão por-

que a cousa é ao como no inglês".


possuída posposta possuidor
Esta regra da língua tupi-guarani é invariável e constante; os

exemplos são jmmerosos: itacurussâ, cruz de iauraté-


pedra;
lago da onça, iauarembé, beiço de cão, uirupari~pindá,
pa.ua

anzol do diabo, suasupipóra, rasto de veado, tapyira-co, roça

de anta, iacarecanga, cabeça de mucura-caá, erva de


jacaré,
mucura, macacaquiuáua, de macaco, árvore
pente puraqueyua,
de cararapó, de carará. Esquecendo êsse
puraqué, garra pre-
ceito alguns tupinistas extraviam-se em traduções
gramatical

incorretas, oferecem como frases castiças da língua


que geral.

Martius traz caaurubú como significando erva de urubú,

composto de e caminho de caissára, c, d.


pipira, pé pira, peixe,
caá mato e c. d. iá-mari, fruta da árvore marí,
jussáca, jamari,

c. d. iára, senhor, do campo. Barbosa Rodrigues


jaraguá, guá
"Euterpe "uá,
também deu-nos assahy, oleacea", c. d.,
para
fruto, hahy, avezinha dêste nome". Vide esta na
palavra
Parte III.

§ 5

COLOCAÇÃO DOS ADJETIVOS

A colocação do adjetivo não é arbitrária; o indígena


"O
põe-no sempre depois do substantivo. adjetivo, escreve

Magalhães —
Couto de segue o substantivo". Centenas de

nomes de de animais, de localidades aí estão a afir-


plantas,
"Carapa
mar a invariabilidade dessa regra: iandivoba,
guya-
nensis", aperema, anaueta, bacaba, arapichi, assacú,
pucú,
barajuba, tauerá, curuá-panema, miritiapina, su-
paupuranga,
muuma apara, sem
guajara-assú, jacaré-purú, ypomonga, que
isso incomode em excesso alguns tupinistas* fazendo
que

pouco caso dessa exigência do tupi, dão etimologias, nas


quais
o o substantivo. Assim vemos Theodoro
qualificativo precede

Sampaio decompor atapú em atã-pú, forte soar,, em


pataguá
apara, torto, leito, surubí em sttrú, liso, bí, .Acre,
quát pêlo.
corr. de aquiry em aquyr-y, verde rio. Vem aqui a propósito
— 41 —

desta última apontar uma causa de numerosas etimologias

inexatas de tupinistas do Sul. Teimam êles em dar a em


y,
nhêengatú, a significação do rio, acepção absolutamente
que
não Em significar água e também rio,
possui. guarani y pode
mas cá no Norte só tem a acepção de água; o i, êsse i
que
tão freqüentemente se vê no fim de certos nomes de igarapés,
"zito"
é um diminuitivo eqüivalente ao nosso ou
postfixo
"zinho".

Ná Pocandaba maranhense frei Francisco dos Prazeres


"um
Maranhão diz bem claramente 1 ao substantivo
que junto
faz o seu diminuitivo." Contra esta regra insurge-se Martius,
"rio
dando a Iavary a significação de dos fujões",
jabáo-r-y;
a sarapohy : rio ou água do caranguejo redondo, c. d. se ri,

caranguejo, apuam, redondo, água. Theodoro Sampaio tem


yr
número de etimologias deste Até a origem
grande quilate.
de Araguary despercebida, sendo corr. de
passou-lhe pois
arauaxy, sardinha, êle o decompõe em aragua~r~y, rio do

vale ou baixada dos ! O mais curioso é desço-


papagaios que,
nhecendo em arabery uma corr. de atauary ou de sua var.

arauiry, fá-lo significar rio'das baratas: at&bé-r-y. Rio diz-se

em tupi equatorial; em documentos antigos lêm-se nomes


paraná

como Getyca~paraná, rio das batatas, araraparaná, rio das

araras, miritiparaná, rio. dos miritizeiros, uruáparaná, rio .dos

caracós, rio das Aos rios de menores


quiinha-paraná, pimentas.

dimensões chamavam igarapé. O difere; além de rio


guarani y,
exprime —
pela palavra embó, ou o nós desig-
y yacanga que

namos igarapé.
por

A colocação do adjetivo é um escolho sobre o todos


qual
os tupinistas notáveis têm ido bater; não admira isso
por que
o autor do Glossário com a sua mediocridade, ti-
paraense,
vesse também errado na etimologia do vocábulo carantuan,

antepondo caran a tuan.

§6

O ACENTO TÔNICO

Alguns tupinistas, indo mais longe ainda vereda


pela
das incongruências, chegam a mudar o acento tônico de uma

palavra, isso lhes favorece o sestro etimológico: dois


quando
termos homófonos, diferindo somente a acentuação,
quanto
— 42 —

êles são absolutamente eqüivalentes. O mais useiro neste


para

desprezo acento tônico é o ilustre • Martius, tira


pelo que

Maricá, lago no Sul, de marica, barriga, deriva Gua-


que
"isto-é
de cuá, e iára senhor, M),
jará, pintado (acrescenta

homens oferece ave e apáre, volta como


pintados"; que guara,

origem de Guarapary habitante, como a fonte


(Arapary); póra

de onde dinjana Aporá, serra no Estado da Bahia, decon-


que

araponga, em e Macapá em macacayba. Th.


põe guirá-pungá

Sampaio também em algumas das suas etimologias,


prestidigita

com o acento como em êle extrai


predominante, guaraná, que
L"guá~raná
de com o coco, semelhante ao coquilho"
parecido

torcendo, recurvando o adj. rana até transformá-lo em raná.

Baptista Caetano mesmo, o reverenciado autor de um ma-

dicionário dizendo ser freqüente a abreviação


gistral guarani,

da final acentuada, oferece como exemplo mucama, derivado,


"quae
segundo êle de mucamby mammam lac-
praebet, quae
"altrix,
tat", significando nutrix" . Não o erudito
podia guara-

niólogo ser mais infeliz na escolha do seu exemplo descabido;

mas, a regra falsa, o exemplo descabido era inevitável. Mu-

camby, c. d. mú, fazer e camby, leite, não significa ama de


"nutrix, "lactere";
leite, altrix", mas sim amamentar, ama de

leite", lactat", traduz-se mucambyssára, c. d mucam-


quae por

by e sára, substantiva os verbos, eqüivalendo ao


postfixo que

nosso sufixo dor, dôra. Mucamby e mucambysara são vocá-

bulos triviais encontrados nos dicionários. O dic. anônimo de

1795 traz mucamby, na Chrestomathia do Dr. E. F. França

vem mucambyssára. A verdadeira etimologia de mucama, que


"Glossário
em seguida transcrevemos, demo-la no
paraense"».

Mucama, s. f. Têrmo sulista. Nas Scenas da vida ama-

zônica, à 24, o meu amigo Veríssimo diz ser con-


pág. José

trovertida a origem destas uns venha do


palavras; querem que

tupi, outras a dão como africana. Incontestàvelmente é ela

americana; vem de mú, fazer e .cama, seios. Significa


(camb)
'despontam,
etimològicamente mulher cujos seios sé desen-

volvem, nubil. Primitivamente dizia-se mucamba, mais se


que

aproxima ainda do tupi. O termo africano equivalente é mum-

banda, outróra usado na Bahia e em Pernambuco. O tupi mu-

cama corresponde ao Montoya traduz


guarani ycam, que por
"tiene "sus
já es moça".
pechos", pechos",
— 43 —

§7

ACEPÇÃO POS VOCÁBULOS

O valor das não é respeitado; a cada


genuíno palavras

vê-se um têrmo torcido, mutilado dar-se-lhe o


passo para

som almejado, com o fim de aproximá-lo à fôrça do vocábulo

com o se identificá-lo. Outra licença êsses


qual pretende que,

filólogos tomam é de darem aos termos, isso lhes con-


quando

vém, significarão nunca tiveram. Com este meio de es-


que

e de encolher facilita-se na verdade a solução de eti-


pichar

mologias difíceis, mas faz-se cabedal da


pouco probidade,

seriedade científica, sem a os estudos etimológicos des-


qual

cambam a fantazia descabelada.


para

Enveredando êste caminho errado Martius faz


por guará

significar ave, cuá, colher, ará, ave, lugar,


pintado, póoca, pé,

cupí, formigueiro, mame, lugar, caminha,


pé, que guá, pelo

campo, lugar, lugar, ava, etc. Richard Burton


pupé, ypé, pai,
"as
dá a a significação de senhor, dono : a desinence
guará

means lord, or master". Barbosa Rodrigues também


guará

conta no seu bom número destas interpretações arris-


passivo

cadas, como ò agarra a bonito, cará.


jacitara, que gente, parú,
ave, taú, etc. Theodoro Sampaio inçou o seu esplên-
grande,

dido trabalho com estes defeitos, vertendo miúdo,


peba por

inferior, apecú, trilha longa, arabé, bezouro, escaravelho, cai,

chorar, arapiranga, arrebol bêbê, fétido,


pairante, panema,

guará, ave, mú, negro, escuro, azulado, bú, um,


preto, preto,

ú, corú, roça, rupár lugar, sítto, eflúvios


preto, gorup, ybitu,
da terra, nuvens, iará, agarrar, iurú, apodre-
pescoço, puba,
cido, nhoe, extrair, tapar, etc. Baptista
yó, precedente, yó,
Caetano usa igualmente em larga escala dêste meio de vencer

dificuldades.

Temos em Couto de Magalhães um réu do mesmo


^nda
delito : Itaipava é um têrmo usado nos rios encachoeirados,

nos designa os trechos onde o leito, todo de


quais pedra,
é tão raso ,que decímetros de água o cobrem; também
poucos

dão êste nome às nas fica apenas uma rasa e


partes quais
estreita torrente, com o resto do rio, em tôda a sua largura

de lagedo descoberto. Esta correntemente empregada


palavra
nas' relações de viagem e exploração é dada autor do
pelo
"água
Selvagem como composta de itá~y~pabe, traduz
que por
"que
que corre sôbre itá, água e
pedras", pedra, y, peba
— 44 —

corre sobre", significação esta nova e inédita nós. A


para

verdadeira origem de itaipava é mais simples, sendo ligeira

corrutela, como é, de itaupaba, composto de .itá, e


pedra,

upaba, lugar, ou lugar de


pedras, pedregal.

Upaba^tupaba, substantivo oriundo do. verbo irregular

tuba, estar deitado, e sinônimo de tendaba, nhêengatú, em

composição renaua, substantivo verbal também derivado de

um verbo muito irregular cena, estar sentado; agora usa-se

indiferentemente de ambos, mas algumas dezenas de anos

atráz como se verificar no Vocábulárío do Museu


pode

Goeldi a sinonímia' não era completa: tendaba exprimia o lu-

onde uma ou uma cousa estava sentada e tupaba,


gar pessoa

nhêengatú, o lugar onde estava deitada; somente ambaba é que

hoje, como outróra, significa lugar onde uma oü


pessoa

objeto inanimado se acha em essa no


pé; palavra perdura

nome Curussambába, contraída em Cucussambá,


geográfico

em alguns lugares, composto de cutussá, cruz, ambaba, er-

guida.
Êste upaba-upaua forma algúns termos compostos como

c. d. água e upaba, lugar, lugar de água, lago,


ypaba~ypaua, y,

como acangupaba, almofada, literalmeíite lugar de reclinar a*,

cabeça. Em igarupaba, cuja tradução literal é lugar,


paradeiro

de canoas, significa encoradouro; com êste nome existe


porto,

uma no Estado de Santa Catarina, levemente al-


povoação

terado em, Martius: Gatopaba, e não obstante ser um subs-

tantivo trivial em em abanheênga como


guarani, ygarupaba,
"tão
também em nhêengatú igarupaua, Martius, bem co-
que
"catoába,
nhecia o tupi" achou a sua origem em árvore da

família das Bignonaceas e tudo ou lugar cheio de caro-


pabe,

beiras, carobal" !

Razão de sobra tem Theodoro Sampaio em aconselhar


"de
a reserva mais cautelosa em decidir-se na-
guardar pela

de um vocábulo duvidoso, não raro os in-


cionalidade porque

terpretadores se deixam de verdadeira obsessão, que-


possuir

rendo ver vocábulos tupis em espúria, se lhes


quanta palavra

apresenta com estrutura aparentemente brasílica". Realmente,

alguns filólogos deixam-se apoderar de uma espécie de logo-

mania, vendo têrmos tupínicos em cuja fonação lhes


palavras

está dando seguro da sua nacionalidade estran-


passaporte
Diversos vocábulos africanos, sempre sonoros nos
geira. quais

os d e os dão mais vigor às nasais, como bedengo, camon-


g
— 45 —

dongo, munguzá, mandinga, têm


quilombo, quimgombó, gambá,
encontrado etimologistas lhes fornecer diploma de bra-
para

sílicos. Os têrmos agalegados, mostram em cada


próprios que

sílaba a sua origem lusitana, são apresentados como de estirpe

tupi: tabúa. Como exemplo desta mania tupi-


queixada, paul,
"Jurumenha",
nizante cita o filólogo baiano vila do Piauí,
que

Martius interpreta como tupi, composto de abóbora,


jurumum,

e meeng, dar, é o nome de um lugarejo alentejano.


quando
"Mecejana"
de Alencar, citado mesmo autor, deriva
José pelo
é o nome de uma vila do Alentejo, do tupi mo~cejar~ana.
que

Podia também o autor de Tupi na Geografia Nacional ter ci~


"mondim,
tado localidade outróra existente à margem es-

querda do igarapé-grande, bem na foz, onde hoje se acha o

farol de Soure, a em 1789 continha duzentos habitantes


qual

todos índios, é o nome de duas vilas em Portugal, no


que
"mundéo",
entanto Martius encontrou a sua origem em
que

armadilha apanhar e í/ água" ! Theodoro


para peixe (sic)
"Boim",
Sampaio também claudicou no
gratificando povoação
rio Tapajoz, com uma origem tupi, mais não é do
quando que
o nome de uma de almas
povoação portuguêsa quatrocentas
"Jalapa",
na do Douro, e fazendo cidade
província provir
mexicana, em cujos arrabaldes é vulgar a
planta purgativa,
"o
à deu o seu nome, de iarápa, é se colher ou
qual que para

para se tirar".
PARTE SEGUNDA

O NHÊENGATÚ

NA
^

FAUNA AMAZÔNICA

"Os
nomes zoológicos estão intimamente li-

gados com os caracteres orgânicos e biológicos dos

ànimais a que se referem." — H. von Ihering.


ABREVIATURAS

Abanh. Abanhêenga

Adj. Adjetivo

Bapt. Caet. Baptista Caetano d'AImeida

Nogueira '

corr. corrutela

contr. contração

c. d. composto de

E. G. Dr. Emílio A. Goeldi


prof.

etim. etimologia

G. Dias Gonçalves Dias

Gloss. paraense
par. Glossário

Guar. Guarani

Mac. Soar. Macedo Soares

Mart. Martius

Mont. Montoya

nhêeng. nhêengafcú

n-t. norte-tupi

onom. onomatopéia

onomat. onomatopaico

part. particípio

Sin. Sinônimo

s-t. sul-tupi

s. m. substantivo masculino

s. f. substantivo feminino

T. S. Theodoro Sampaio

120.929 F. 4
- 50 —

var. variante

voe. vocábulo

Voe. do M. Vocabulário do Museu Goeldi

V. Vide

von Iher. Dr. von Ihering


prof.
PARTE SEGUNDA

O NHÊENGATÜ NA FAUNA AMAZÔNICA

abá . Vide Auá.

abacatujaba? Peixe Voe. do M. G. Segundo


galo.

Mart. é o Zeus vomer dos naturalistas; var. de Marcgrav,

abacatuaia. #

aca. Chifre, corno, Veneno de


ponta, pontudo. plantas

e de certos animais.
peçonha

acanga, var. acang. Cabeça. Contr. em cã em alguns

voes. compostos.

acangussú, s. m. composto de acanga-ussú. Cabeçudo.


"manchas
Variedade da onça Felis onca, ria as
pintada, qual

são chegadas umas às outras, formando rosetas e


pequenas

imperfeitas". E. G.

acãmutanga. Andcoglossa Du[resnii: Sin. iauá, aiu-


"fácil
rúété-cú. Espécie de de reconhecer-se
papagaio pela
região amarela tem diante dos olhos, as faces azues e a
que
anterior da cabeça vermelha." E. G. Mart decompõe-no
parte
"aca.
em e moteryc, esculpir, ou então em cama,
galho gravar,

mama, e tanga crista". Nas Aves dò Brasil de E. G. vem a

forma bastante alterada acumutanga. Acãmutanga de


provem

acanga e mutang, var. de vermelho. Vide


pytanga, pitanga.

acará, s. m. Mais correto uacará, Garça.


guar. guarará.

Vide uacará.

acará e seus compostos. Vide uacará.

acari. Vide uacari.

acãuan, var. macauan, incorretamente


guar.:macãguã,
escrito macaguá alguns autores. Acauan, Herpetotheres
por

cachinans. Onom. do seu monótono trissilábico canto. Bapt.


— —
52

"acab,
Caetano uma etimologia mais complicada: bri-
prefere

faz no ocabac o ocawác) e ainda o outro


gar, part. (donde

explicam o nome; na fôrma macaguá


part. yacahar, que pode

ser contr. de mboi-acá-hav, aquele briga com as cobras".


que

ACARA-AyA, Peixe cão. Voe. do M. G.

acuraua. s. m. var. uacuráua. No Sul bacurau, Tion-

tion, Sebastião e Tabaco-bom. Nome dado a diversos Capri-

mulgidae: Hydropsatis climacocereus, Tschud. Podager na-

cunda, Nyctidromus albicolüs, Gm. Onom. Os índios


por-
nunciam uacuraua.

acuti . Cutia. De acuti, esperar,*acautelar-se, espreitar.

G.-Dias diz terem os índios dado este nome à cutia como se

dissessem cauteloso, como vai ante De fato,


quem pé pé.

este belo roedor costuma a


caminhar no mato com cautela, vi-
"a
Bapt. Caet. : de cur-ti, modo de
gilante. propõe gente,
comer ou tragar, com as dianteiras".
patas

aCUTI-piranga. Cutia vermelha. Dasyprocta croconota.

acutipurú. Cuatipurú. Em Portugal esquilo, harda.


"o
Sciurus aestuans. Segundo Mart. significa mora em
que
habitação alheia", tomando o botânico bávaro com a acep-
purú

ção de emprestar, mas essa etimologia não ser a verda-


pode
deira. Êste voe. deve ter outra significação, como também em

uirapuru., ao todos os outros obedecem e ser-


passarinho, qual
vem; como em tajapmú, espécie de tajá, traz a felicidade
que
ao vai à com um dessa na sua
pescador que pesca pé planta

canoa. Algmas denominações têm ainda êste


geográficas

: Caipurú, lago no Trombetas, lacarépurú, lagos no


purú
Curuá. Além da significação mais usual de emprestar,
purú
também dizer tomar empréstimo e usar. Em
quer por guar.,
segundo Mont., significa ave se sustenta de
guyrá-purú que
caça. No Sul o cuatipurú recebeu a denominação espúria de
"cachinguelê".

ACUTI-TINGA. Cutia cinzenta. Dasyprocta


fulginosa.

acyca. Pedaço, côto, tronco, cortado, atorado. Encon-

trado em Boiacyca. Uairúcyca, beijú-cyca, suaiacyca, etc.

aia ou uaia. Subst. Como terminação de com-


palavras
é contr. de ruaia-suaia s-t.
soaia-sobaia, tuguay-
postas guar.
"sus
huguay, cauda, rabo. Em taiassú-aia, domesticus", não

significa manso ou de como T. S., mas sim


porco papada, quer
— 53 —

taiassú, caudado. O mesmo em cutiuaia, e em tatuaia. O fi-

lólogo baiano confundiu este uaia com o s-t. aia ay,


guar. papo

de ave, papada de do homem, equivalente ao


porco, garganta

curucaua nhêengatú.

AiAyA. Espécie de coruja. Voe. cio M. G.

aiaiá ayayá. Colhereira. Platalea ayauá. Pernalta


guar.

de côr rosea e bico espatuliforme.

airú. V. uauirú.

AlURA. s-t. ajúra, ayur. Pescoço.


guar.

aiurepy. Cachaço, toutiço.

aiurú, s-t ajurú, aytirú. Nome dos


guar. genérico pa~
mais especialmente do Androglossa aestiva, também
pagáios,

chamado ou verdadeiro, espécie de


papagaio grego, papagáio
"a,
papagáio de encontros vermelhos. C. d. homem, iutú,
gente,
boca", Mac. Soar. Equivalente mais ou menos ao nome cientí-
"ajur~ú,
fico androglossa, língua humana. T. S.
propõe pes-
coço escuro", dizendo indicar uma casta de mas urra,
papagáio;
escuro, mais contraído fique, em composição,
preto, por que
sempre a nasalação, mesmo em como se
guarda guar., pode
verificar no nome de um veado de negro,
pescoço guassú~
anhurun, c. d. ayur-un, transformando-se em composição ayur

em anhur.

aiurú-apára. Androglossa ochocephala. Papagáio ama-

zônico.

aiurú-assú . Papagáio moleiro. Androglossa


farinosa.
"maior
Sin. aiurà-chó. Denominado assú índios ser a
pelos por
"moleiro"
espécie do Brasil' e sô-
pelos portugueses, porque,
bre uma dorsal verde-escura, desde a nuca en-
plumagem pelos
contros e lados do corpo, os numerosos salpicos brancos fa-

zem de farinha.
parecer polvilhado

aiurú-curáu. T. S., aceitando a opinião de Martius,

dá este nome ao A. Amazônica como significando


papagáio
maldizente. Não é no Pará conhecida a nossa vulgar curica

por esta denominação. Quer-nos o ajurú~curáu


parecer que

de T. S. é corr. do ayurú-querêu, espécie de


guar. pequeno

papagáio. a menos não seja corr. de curá, nome onomat.


que
dado a A. aestiva algumas tribus. Em curá e não
por guar.
curáu significa zombar, escarnecer.
— —
54

aiurú-curica. Androglossa amazônica. Papagáio de

encontros verdes. Sin., segundo E. G., aiurú curica. Mart.

traduz curica ronco; parece-nos antes é voz onom.


por que

deste loquaz membro da família dos Psittacidae; o seu


grito

habitual é curi-cacá, curi-cácá.

AIURÚ-CURMÚ, s-t. ajurú-curi-juba. Por este nome é tam-

bém conhecido o A. amazônica, c. d. aiurú, curi, iú-juba,


pa-

curica amarelo.
pagáio

ajurú-ETÉ-CÚ . Não decifrar a última sílaba


podemos

dêste nome, dado E. G. como sin. de lauá.


por

aiurÚmboia. Sin. de Parauamboia, c. d. aiurú-mboia.

ambuá . ambuá. Imbuá. Myriapode.


guar.

amerecyma. Espécie de lagarto. Voe. do M. G. Gym-

nophtalmus Merr. Mart. decompõe-no em


quadrilineatus,
"
ameiva-ryrú-eyma, i. e., ameiva sem inchado".
pescoço

amoré, s. m., var. aymoré. Amblyopus Bronssonetii.

Pequeno de águas salobras ou salgadas, mui


peixe procurado
"moreia
isca. Diz o Voe. do M. G. é do mar da
para que

feição de e sem escamas, se criam e vivem


peixe, preta que
nos mangues, dentro nas covas dos caranguejos". Na Vigia

diferenciam três de amoré: amoré-assú, amoré-


qualidades

antan, e amoré do buraco do caranguejo, tem a repu-


que

tação de sustentar-se desses crustáceos.

amutáua, var. mutaua, s. t. amotaba, ambotá.


guar.

Bigode, barbatana.

anacan, s. m. Ara severa. Sin. Maracanan-assú. Voz

onom.

anacan, s. m. Sin. Uanaquiá, Hiá. Deroptyus aceipi-

trinus.

anagé, s. m. var. usada no Sul. V. Inaié.

"Nome
anambé, s. m. amazônico a maioria das es-
para

da família dos Cotingides". E. G. V. a var. inambe


pécies

mais usada.

anapú. V. Uanapú.

andirá, s. m. var. Anirá, mbopi. Morcego. Em


guar.

andirá é o nome de uma ave.


guar.

andirá-assú, s. m. Grande morcego frugívoro.


— 55 —

anguyá, s. m. No rio Capim, rato arruivado;


pequeno

em significa ratazana.
guar.

anguyá-yaguá. Em conhecem este nome o


guar. por

furão, c. d .anguyá-iagoára, cão rateiro.

anguyá-i. Espécie de rato do mato.


pequeno

anhanga, var. aíanga. anhang. c. segundo Mart.


guar,

de anga, alma e correr. Em significa diabo, de-


ynham guar.
mônio; em tupi fantasma, visagem, duende, alma do outro

mundo. Como segundo componente em inambú-anhanga, su-

assu-aianga.

anhanga-tlama . Em tembé é o nome da Matintapêrê.

Tiama, flauta, apito. Em tupi tiama, significa espirrar.


gaita,

anhuma, var. anhyma. Sin. Cauimtaú. Palamedea cor-


"corr.
nuta. Inexata é a etim. T. S. — êle
proposta por diz

de nhã~um, ave não se admitir iuráguirá,
preta", pode que
ave, se corrompesse em nhã. Em nhêengatú temos uma ave

preta, a uirauna, corr. em no Sul, e em também


grauna guar.

esse voe. composto não sofreu tamanha alteração, existe


pois
um com o nome de undussú, c. d. ave,
pássaro guyra guyrá,
hun
preto, guassú grande.

anhupóca. Chauna chavavia. Nome em Cuyabá do


pás-
saro chamado no Rio Grande do Sul Tahan, c. d. anhuma-

póca. '

anicãuera, s. f. Xiphorhamphus Peixe dágua


falcirostris.

doce abundante nos lagos do rio Capim. Anicãuéra


parece
corr. de uaim-cauéra uaymi-cãuéra, osso de velha. Os ín-
por

dios Antan, adj. var. santan, tantan.


pronunciam yamcã-uéra,
Duro, rijo, coriáceo, forte, têso.

anú, s. m. Crotophaga anú, anú. Pequeno


guar. pássaro
do campo e das capoeirinhas.
preto

anú-coróca. Crotophaga major, anú-guassú. Sin.


guar.
"anu-guassú,
anú-coroya". E. G.Êste coroya não será corr.

de coróca ? Coróca ou curóca, decrépito, caduco. V. Gloss.

par. Mereceu esse nome seu canto. O anú-coróca, em


pelo

bandos margens dos igarapés, um som


pelas produz prolon-
mas alto, com o falar dos velhos,
gado, pouco parecido que
falta de dentes e sobretudo devido à decrepitude
por já

emitem sons indistintos como resmungando.


que
- 56 —

anuiá, anujá. Peixe dágua doce.

apAÍ, s. f. Apahy. Dendvocygna viduata, L. Espécie de

marreca. Sin. ereré.

apaiari, s. m. Hydrogenus ocellatus. Peixe dá-


pequeno

doce no Marajó.
gua

apára . var. iapára, iapar. adj. Torto, arqueado, ex-


por

tensão aleijado. Entra na composição de algumas :


palavras

tatuapáva, cajú-apáva, sumahum-apáta, aningapára, etc.

apê . Concha de marisco; casco dos


qualquer quelônios.

apeCON, s. t. Apecü, apecum, cum. Língua.


guar.

apereá. Preá. Cavia apereá. Espécie de sauiá. T. S.


"apé-reá,
tira-o de mora no caminho". Caminho diz-se
que pé

e não apé, tanto em tupi, como em Reá nos é desconhe-


guar.
"que
cido com a acepção de mora", vertida em nhêeng. e em

aban. uára-yguáva, ou
por por póva-ipóra.

aperema. Nicoria Sin. cam-pinima, c. d.


punctularia.
acanga, causa dos riscos e na cabeça
pinima, por pintas que

tem. Pequeno dos tabocais e várzeas alagadas,


quelônio

cujo nome se compõe de apê, casco, nema, fétido. Realmente,

o casco deste saboroso tem, na interseção do


pequeno jaboti

com o dorsal, um cheiro desagradável, desaparece


peitoral que

conservado algum tempo em cativeiro.


quando por

APESSÁ, var. apyssá ou apyssacuára, ouvido.

apetooma. Sin. acangatooma, ou acanga~tuuma; tooma,

miolo de cousa. Miolos, cérebro.


qualquer

apuriquí. Espécie de macaco da noite. Parece var.

de byryquy.

apyáua, var. apgáua, apygáua, s-t. apyaba, abá.


guar.

Indígena adulto, macho. Serve designar os machos dos


para

animais : suassumé apyaua, bode, suassumé-cunhan, cabra :

sapucaia-apyaua, sapucaia-cunhan,
galo, galinha.
"Formigas
aquÊqué. ruivas comem as
pequenas, que

e criam somente em cima da terra". Voe. do M. G.


plantas

Parece ser sin. da no Pará conhecemos macú. Guar.


que por

aquêquê.

aquini. Peixinho de compridos ferrões, incomestível


pela

sua exiguidade; é encontrado nos lagos do Marajó.


— 57 —

aquiqui, s. m. Nome dado certas tribus de raça tupi


por

à entre outras a dos tembés e a dos oyampys.


guariba preta;

aracairú, s. m. No Amazonas, segundo Barb. Rod.,

uairacairú. Pequeno e encarnado caranguejo dos igapós

centrais e margens avarzeadas arenosas dos igarapés.

aracú. Sin. aracú~tinga. Leporinus Peixinho


[redericii.

fluvial. Em aracú é o nome de uma ave.


guar.

arãcuan, s. t. e aracuan. A atual, tanto


guar. pronúncia

dos índios como dos luso-brasileiros, é arancuan, Ortalis aran-

cu&n, Spix. É sem dúvida a onom. do seu canto, mas Mart.

de uirá, ave, de variegadas côres


quer que provenha guá,

arancuan-acaupiranga. Ortalis motmot, L., c. d. acan-

ga~piranga.

aracú-antan. Leporinus Muüieri. Sin. Arari~pirá, c. d.

aracú-antan, rijo.

aramanaia, s. f. s~t.aramanday. Espécie de bezouros.

aramassá, s. m. Solea maculipinnis. Espécie de linguado

amazônico.

arapaima, s. f. Sudis Sin,


gigas. pirarucu.

arapapá. Canchroma cochlearia. Mart. decompõe-no em

uirá, ave, e colher. É engraçado o engano.em caiu


poóca, que

êste tupinista; além da impossibilidade da transformação de


"colher" "co~
em tomou êle o verbo dos dic.
poóca papá, por
lher" subst. Colher, sin. de apanhar, se apanha com
quando
a mão objeto, diz-se c. d. mão, e óca, mo-
qualquer poóca, pó,
derno uca, tirar, extrair, arrancar. Colhér era um instrumento

não o indígena; substituí-la usava, no Norte,


que possuia para

cuias alongadas e no Sul empregavam conchas de


pequenas
moluscos, do itan, sobretudo. A no Sul usa-
ybyra-pecê, que
"mexer
vam os índios os seus vinhos e mingáus", era
para

mais uma espátula de madeira do uma colher


que propriamente
com a forma lhe damos. Colhér, cochlear, traduz-se
que por
cuiêra, transparente corr. do voe.
português.

araponga, s. f .Chasmorhynchus nudicolis. T. S. decom-


"ara-ponga,
em sôa, estridente,
põe-no papagáio que papagáio
alterando-se às vezes em uraponga e Carece re-
guiraponga".
tificar esta etim.; a forma correta nhêeng. é uirapong, a s-t.

e a c. d. uirá-guirá, ave, e
guiraponga, guar. guyra~pon, pong
t

— 58 —

onom. do seu canto. Pong-ponga é tupí-guar.


palavra que

imita o som do sino, ou o um caldeirão, em cujo


que produz
"sonido
fundo se bate, de cosa hueca" na frase de Mont.

Esta alterada em é encontrada em mu-


palavra ponga, punga,

termo trivial na Amazônia. V. Gloss. Mart.


punga, par.
"o
diz nome tupi significa escrófulas, struma, c. d. uira-
que

o da ave com o canto incha".


punga, porque pescoço

araparú, c.-m, Chiromachaerus Piprídeo


gutturosa.

amazônico.

arapassÚ, s. m. var. arapassô. Picapau. Nome dado em

às avezinhas da família dos Picariae, no rio Capim


geral que

é somente aplicado ao iríàior de penacho encarnado.


picapáu
"Aves
Em nota à 343 nas do Brasil", E. G., referindo-se
pág.

à confusão o vulgo atualmente estabelece entre os Piei-


que

deos, verdadeiros e os Dendrocolaptides, diz que


picapáus,
"segundo
também na língua tupi. se dava essa confu-
parece

são, as Arapacô e Arapassú empregam-se igual-


pois palavras

mente Picides e Dendrocolaptides". Temos que


para para

dêsses dois termos, arapacô mais não é senão arapassô escrito

escrito com um c sem cedilha. Arapassô e arapassú designam

as mesmas aves; a terminação ó mais usual no abanh. e a em u

no nhêeg.

arapeua, s. f. Pequeno algo semelhante ao


passarinho

bemte-ví de curtas, ao na Vigia dão êste nome,


pernas qual

c. d. uirá-peua.

"yra,
arapuá. Corr. de Espécie de abelha, c. d.
yrapuá.

mel, apuam, redondo, ninho redondo de abelhas", T. S. Em

tembé arapuá significa veado, existindo um Tabanus conhe-

cido arapuá- mutuca.


por
"Tartaruga
arapyca, s. f. de cabeça vermelha
pequena

do Rio Negro". Barb. Rod.


própria

arara, s. f. Nome de diversos Conuridae. Cremos ser

onom. do desta formosa ave; em ará contr.


grito gutural guar,

de arara. Rich. Burton e T. S. não têm razão em afirmar que

arara é o aumentativo de ará. O termo castiço tupi é arara e

nos compostos, nos êle entra, nunca a sua terceira


quais perde

sílaba; assim, ainda hoje dizemos: arara-cuára. aráraimbiú.

ararúna, arary, ararandeua, ararambóia, araracanga, arara-

tim, araratucapy, etc.


— 59 —

ARAMBOIA. Xiphos araramboia. Pequena cobra vermelha,

arboricola, c. d. arára-m&óía.
peçonhenta,

ararapiranga . Arara encarnada. Sittace coccinea. Sin.

Arari, Araracanga.

arari —
Arary. Sittace caerulea no Alto Amazonas,

Canindé, na região costeira do Norte.

ararica, s. f. Sittace militaris. Espécie de arara.

ararú, s. m. Pequeno caranguejo encarnado, comestível,

do rio Guamá.

araruna, s. f. Sittace hyacinthina, c. d. avata~una.

arassari, s. m. Nome de diversos Rhamphastidae, me-

nores os tucanos, entre os se citam os seguintes :


que quais
Pteroglossus ar assar P. Baillenii, P. Wiedii, P.
y, pluricinctus,
P. castanotus, P. Beauharnessii.

arataiassÚ, s. m. Sin. de arapapá, Mart. explica êste

nome, decompondo-o em aratú, caranguejo, significando


yassú,

ave come caranguejos. ArataiassÚ é corr. de uirátaiassú;


que

os índios dizem indiferentemente uirátaiassú ou taiassú-uirá.

V. esta última cuja significação difere.


palavra,

aratinga, s. f."No Amazonas todas as espécies de Co-

nurus (periquitos) apresentam mais côr verde do


que que

amarela são conhecidos êste nome". E. G.


por

aratú, s. m. Espécie de caranguejo vermelho do mangai.

Voe. do M. G.

arauá, s. m. Conurus
pavua.

arauary, s. m. Pellona Pequeno co-


/lavipinnis. peixe

nhecido atualmente nome de sardinha. É seja


peio possível que

var. de Araurí.

arauto, s. m. s-t. araguató. Mycetes ursinus. Espécie

de macaco.

arauauá, s. m. s-t. araguaguá, e arauabá. Espadarte.

Peixe do mar também encontrado na contra costa do Marajó.

arauê, s. m. s-t- e arabê. Barata. Periplaneta ame-


guar.

ricana. Os franceses das Antilhas dão a êste inseto o nome de

ravet, cuja estirpe é arabê.

arauiri, s. m. Chalcinus auritus. Sin. Piraba, sardinha

e var. de arauari. Em Mart. está escrito ara-


provàvelmente
— 60 —

"arabê-r-y,
beri, araveri, e aravari. C. de baratinha, ou rio

das baratas". T. S.

arimaiá. Rato cinzento do Alto-Capim.

arinairí, s. f. var. Nari-nari. Arraia desprovida


grande

de ferrão.

arirámba, s. f. Ceryle amazona, C. torquata, C. ameri-

cana. Ave ribeirinha no sul é designada nome de


que pelo
"Martim-pescador", "Martin-pecheur".
tradução do francês

Segundo o Príncipe de Wied, citado E. G., o nome


por pri-

mitivo dos arirambas no litoral do Norte era iaguacati; Nat-

terer citado mesmo naturalista, dá uariramaXomo o nome


pelo

na língua
genérico geral.

ariranha, s. f. Nas obras antigas encontra-se êste nome

como o da Lutva brasiliensis, mas em nhêeng. usual chamam-

na iauacáca.

ARIRÚ-IÚ, s. m. Avezinha com o bemtevi,


parecida porém

menor, de amarelo, iú, ao impropriamente dão o


peito qual

nome de Pintauan. É vulgar margens dos igarapés e


pelas

lagos; sustenta-se de insetos, e camarões miúdos.


piquiras

aritauá, s. m. Gymnomystax mclanicterus. Linda ave-

zinha dos campos marajoáras, de e amarela,


plumagem preta

esta última côr. Temos ouvido ar/-


predominando pronunciar

tauá, aratauá, e iritauá, c. d. uirátauá.

arú, s. m. Pipa americana. Espécie de sapo.

aruaim, s. m. Caramujo.

arunan, s. m. Osteoglossus bicirhosum. Peixe do Ma-

rajó.

arumará . Nome em Pernambuco do Psarocolius uni-

color.

ASSANÃ, s. m. Cresciscus cayennensis, Bodd.

assú, var. ussú, uassú, s-t. e Em compo-


guar. guassú.

sição contrai-se algumas vezes em ú,


grande.

atangará, s. m. Uirapurú. Pipra leucocilla, L.

atangará-tinga . Manacus manacus, L.

atiati, s. m. Gaivota. Larus atricilla. Sin. atingassú.

Var. do Voe. do M. G. anti~anti. Parecem onom. do seu

chilrear. Em ave branca.


guar. guyratin,
— 61 —

"grajáo"
atimiri, s. m. O Voe. do M. G. verte-o
por

(Grajaú?), dizendo ser do mar.


passaro

atobá, s. m. Sula
fusca.

ATUÁ, s. Nuca.

áua, s-t. ába, a, cabelo.


guar.

auá, abá. Em nhêeng. a sua significação


guar. perdeu
de homem, com o interrogativo, a acep-
guardando, pronome

ção de ? só ou mais vulgarmente em composição com


quem

tahá; comtudo algumas tribus, a dos tembés, exemplo,


por
usam do auá como sin. de apyáua.

auará, s. m. var. agoará, avará. Raposa, Cànis brasi-

liensis. Sin. usado no Sul. laguá-pytanga, aguará. Se-


guar.
E. G. é igualmente o nome do Lycalopex vetulus.
gundo

auará-assú, s. m. s-t. agoará-goassú, aguará~guas~


guar.
sú, Lobo. Chrysocion E. G. dá como sin. em
jubatus. guar.

jaguaperí e
jaguáraguassú.

auiú, s. m. var. auajú. Arius oncina.

aviú, s. m. Provável corr. de uanaviú, os documen-


que
tos antigos ainda dão como anaviú. Minúsculo camarão abun-

dante no Baixo-Tocantins.

ay~ay ou ay. Preguiça. Onom.

ay-assÚ. Preguiça real. Choloepus didactylus.

ay-ibi-reté. Prequiça de bentinho. Bradypus marmoratus.

aymaré. V. amocé.

ay-miry . Bradypus cuculliger.

ay-pichuna. Preguiça Bradypus torquatus.


preta.

ay-cáua. Espécie de vespa.

ayua, adj. s-t. ayba. Ruim, máu, componente em tatua-

yua, pirayua.

ayúra. V. aiuva.

bacacú. No Rio Negro designa a Xipholena


pampadora.

bacacú-pichuna . Xipholena lamellipennis. Pronúncia

mais usual uacacú.


- 62 —

bacú. Peixe de das costas e estuários. Parece


pele,

achar-se alterado em naturalistas. Talvez seja o


pacú pelos

Doras dorsalis, abundante no contra-costa do Marajó.

baiacÚ, var. mamaiacú, Tetcodon


goabaiacú. psittacus.
"
Peixe venenoso. Corr. de mbaé-acú, cousa bicho
quente,

T. S. A var. é do Voe. do M. G.,


quente". goabaiacú que
"Peixe
a traduz coelho". No Pará a usual é
por pronúncia

baiacú.

barecumbé-cú. Pimelodus bu[onius. Alguns escrevem

Bcecumbucú. As três últimas sílabas decompõem-se em acan-

cabeça comprida.
ga-mbucú,

bari, s. m. var. ubari. Hemiodus notatus. Pequeno


peixe

fluvial.

bairari. Zenaida maculata. No sul nome de uma espécie

de
pomba.

batuira do campo. Tringoides bartramia.

berú, var. de merú.

biribirí. Leporinus nigrotaeniatus. Peixe dágua doce.

biuium. Espécie de bezouro. Talvez o mesmo o £o-


que

de Mart.
/o/m

boia, var. mboia, moia, mucá. Cobra, serpente. Temerá-


"boa
riamente afirma T. S. corr. de boia, é especialmente
que

usado designar a Não em tupi. Com o termo


para gyboia".
"Boa
de história natural em constrictor", de acordo; como
pa-
lavra francesa ainda; mas nessa língua Littré dá-lhe uma ori-

latina. V. Gyboia.
gem
"Mãe-de-sauba",
boiacyca, s. f. Cobra conhecida
por

ser freqüentemente encontrada nos ninhos desta formiga.


por

A boiacyca é de uniforme de cabo a rabo; daí o seu


grossura

nome: acyca, coto, troncho, como se uma fina


pedaço, parte

usual nos outros ofídios tivesse sido separada.

boicuaiÚ, s. m. Papa-sapo. Cobra amarelada na metade

e cinzenta na anterior, c. d. boia-cuá-iú, cobra me-


posterior
tade amarela.

boitataná, s. f. Grande ofídio adulto, mede cerca


que,

de 2,50 m, não
peçonhenta.

boitininga, s.f. Cascavel, aguaí. No Rio Capim,


guar.

onde não se encontra essa terrível cobra Crotalus horridus,


— 63 —

dão o nome de Boitininga a uma serpente


parda, peçonhenta.
Sin. mavacamboia. Segundo Anchieta, citado T. S., c. d.
por
mboia-cyninga, cobra ressonante, cobra chocalhante". Em

nhéeng., tining significa seco e talvez seja o nome relativo ao

maracá terminal de contextura córnea, como uma bagem de

feijão sêca, no chocalham os secudida.


qual grãos quando

boiuna, s. f. Cobra de um a dois metros, preta-azulada


no dorso e amarela no ventre. Têm-na os índios
por peço-
nhenta; c. d. boia-una.

boiussú. Cobra c. d. boia-ussú.


grande,

burujajara. Diversas aves do Thamnophilus,


gênero
como o T. Leachi, o T. sevevu$, o T. ambiguus, o T. naevius,

o T. ruficapillus. Usado no Sul.

byryquy. Buriquim. Eriodes arachnoides, var. muryquí,

mas os naturalistas deram este nome ao E. hypoxanthus, re~

servando aquele ao E. arachnoides.

cabecê, s. f. Espécie de caua. Voe. do M. G.

CABURÉ, s. m. É a forma aban. do nosso termo cauré,

mas êste designa um rapineiro diurno, e aquele, diversas co-

rujas. O Caburé de orelha, Pisovhina choliba crucigra, Spix;

Caburé do sul, Glaucidium Temm. etc.


pumilum,

cai. Macaco. Cai-assú, espécie maior.

caípuzú, s. m. Sin. de iuruna entre os tembés, c. d. cái,

macaco, mão, zú» corr. de iú, amarela. Não foi só os


pó, para
tembés a côr dos das mãos constituiu a feição mais
que pêlos
desse símio; os aracuajús também deram ao
golpeante juruna
o nome de capuschy.

CAIACANGA, S. f. Polvo. VoC. do M. G.

cama ou Camb. Seios, ubere, mama. Camapuam, seios

duros, camapirera, seios caídos,


pontudos; pendentes.

cambeua. Sin. tamautá cambeua. Espécie de tamuatá

de cabeça chata: acanga-peua.

Cambí, subst. Camby, leite.


guar.

camburupí, s. m. Sin. de usado no Ceará e


pirapema,
no Maranhão, var, camurupy.
— —
64

CAMOCICA. No rio São Francisco e em Goiaz assim

chamam ao Cervus nanus.

camondongo, s. m. Mus musculus. Têrmo sulista desço-


"ratazana".
nhecido na Amazônia, onde se diz Sua etim. é

incontestàvelmente africana.

CAMURIM, s. m. Centropomus undecimalis. Peixe do


,
mar.

CANAMOCO, s. m. Peixe das cachoeiras do Trombetas.

Será tupi ?

cancan, s. m. Ibycter americanus, Bodd. Onom. Ave

social da mata sempre nos mais altos das


que pousa galhos

árvores.
grandes

candirú, s. m. Cetopsis spec.« Peixinho voraz.

candirú-assú, s. m. Cetopsis spec. Idem.

cangatá, s. m. Arius luniscutis. Sin. Guryjuba, iuru-

Peixe do litoral.
pitanga.

cangoera, var. mais usual cãuéra. Osso, caveira.

caninana, s. f. var. caninamboia, iacartinã. Co-


guar.

bra reputada Sin.


peçonhenta. pepéua.
"Corr.
canindé, s. m. canindé. de can-ndê ane-
guar.

retinto, tisnado, escuro". T. S. Teriam os índios mi-


grado,

moseado com o epíteto de anegrado, retinto ou tisnado uma

ave, a Sittace. Parece-nos arapapá, c. d. uirá e onom.


papá

do seu composto de duas notas de cada vez, unisonas,


grasno,

roucas.

capitari, s. m. O macho da tartaruga amazônica. Po-

docnemis expansa. Em alguns lugares também assim desig-

nam o macho do traçajã.

Capiuára, s. £. Hydrochoerus capybara, c. d. caapii,

capim, herva, e uára, comedor, aquele se alimenta de


que

capim; outros seja uára, aban. habitante,


querem que ygoára,

morador, aquele vive nas capiybara, e ca-


que pastagens; guar.

piybá.

capororoca, s. f. Cygnus coscoroba. Gisne branco. Pato

arminho. Informa E. G. a voz dessa ave corresponde bem


que

ao seu nome.

caráca. Corr. do têrmo cráca, crustáceo do


português

dos Balanidae.
gênero
— 65 —

"Corr.
CARACARÁ. Polyborus brasiliensis. de catàe, o

arranhador, o arranha-arranha". T. S. Parece-nos antes

onom. A sua voz habitual ser comparada a um cra-cra-


pode

era, rapidamente E. G. compara com exa-


pronunciada, que
"som
tidão ao se ràpidamente uma vara
que produz passando

de ferro de um
pelas grades jardim"

CARACARÁ-i. Milvago chima-chima. Vieil. Atualmente

começam os mestiços a corromper êste voe. dizendo cacarahy.

Sin. cavacará branco, chimango, no Sul. Éste último


pela
fonação não tupi.
parece

caracará-una. Caracará Ibycter


preto. [ormosus.
Sin. Uracaçú; corr. de uirá-guassú.

carachué, s. m. No Sul sabiá. Cor», de uirá,


passaro
chué, chorão, Barb. Rod. A .transformação de uirá em cará

é improvável, mas a de iaccô em chué não o é; todavia, a de-

formação do voe., no entra êste verbo iaceõ, não toma a


qual
forma chué, mas sim ció-chió, como em aritassioia e em caá-

iachió. Em algumas regiões iaceó iachió. Di-


pronuncia-se
versas aves cantoras respondem esse nome: Merula
por pha-
eapygia, M. M.
gymnophtalmus, fumigata.

caraí. Nyctipithecus vociferans, Spix. Espécie de ma-

caco.

caraiá, carayá. Sin. em aban. de carajá.


guar. guariba:

caramurú . Em localidades da região amazônica designa

a Lepidosiren no litoral atlântico era o nome de um


paradoxa;

cuja espécie não está bem averiguada, e o Voe. do


peixe, que
"moréa "lampreia".
M\ G. traduz do mar", e
por por

caranatú, s. m. Pimelodus notatus. Peixe.

carapanã. Nome são conhecidos diversos culi-


pelo qual
"Corr.
cideos na Amazônia. de carapánan, o arcado, o encur-

vado, o arco espesso". T. S. Não atinar com a se-


podemos
melhança tem um carapanã com um arco espesso. Uira-
que
corr. de não tomará em nhêeng. a forma
pára, ybyrá-apára,
carapá. Arqueado, encurvado, dizemos apára, ou mas
parim,
não uirapára. V. apára.

capú-capú . Espécie de caua. Seu nome capú-capú imita

o ruído faz, assanhada e sôbre o ninho


que quando pousada

um do de uma árvore.
que, por pedúnculó, pende galho

120.929 F. 5
— 66 —

carapicú. Nome no Sul, segundo A. de Miranda Ri-

beiro, do Eucinostomus
pseudogula.

Carará. Plotus anhinga. Sin. Biguátinga (Miuátinga).

Miuá na região costeira do Norte. O sobrenome anhinga é

aquele Marcgrav traz como tupi.


que

carauatá-assú . Peixe do Alto-Capim.

carauatá-i . Espécie menor, também do Alto-Capim, tal-

vez seja o Auchenipterus nodosus. corr. em cavatai.

caratá-i. Auchenipterus¦ nodosus.

caripi, s. m. Gavião
piscivoro.

CARIPIRÁ. Tachypetes aquila. Sin. no Sul Grapirá, corr.

de caripirá. No Sul tem ainda as denominações de Tesoura,

Alcatraz, Grande, Fragata.


João

cariacÚ. Veado malhado. Termo desusado no Pará.

"Contr.
caron. Carão. de ou e una, ave
guará guyrá,

Mart. O Aramus scolopaceus tem uma voz muito


preta". que

se com o nome é conhecido.


parece pelo qual

CARUMBÉ. No Capim a mestiça chama Ca-


população
cumbé à Testudo tabulata, cujas escamas dos mem-
jabotí,

bros são amarelas; mas os índios tembés designam êsse


por
nome a Testudo carbonaria, os semicivilizados tratam
que
iaboti-piranga ou jabuti tucuman. Em carumbé é
por guar.

um aquático.
quelônio

cassaroba. V. Picassuróba.

cáua, s. f. s-t. caba, cab, vespa.


guar.

CÁUA—iú, s. f. Cáua de môlho. Espécie ama-


pequena,

rela, iú, a comida moquiada ou cozida,


que prêa já preparada:

caindo freqüentemente no caldo causa da sua voracidade;


por

daí o seu nome Já três vezes, no rio Capim,


português. por

vimos negros comendo levarem à boca distraídos de


pedaços

carne ou de nos estava uma destas cáuas,


pirarucu, quais

talhando o seu bocado; introduzidas na boca, ferravam na

língua, inchava enormente.


que

Bauachi, s. m. No Alto Amazonas, segundo Barb. Rod.,

cauichí. Esponja dágua doce se cria nos


pronuncia-se que
— 67 —

troncos submersos, e em contacto com a forte


que pele produz

É vulgar nos lagos do Alto-Capim.


prurido.

cauan. Em Minas, sin. de Urubutinga.

cauarú, s-t. cabarú, cabayú. Cavalo, cuja corr. é.


guar.

Êste têrmo, adotado tapuio, a repugnância do


pelo prova

nhêeng. b,
pelo

cauarú-cunhan. Égua.

cauarÚ-rapiaeyma ou Cauacú-tiraroneyma, cavalo cas-

trado. No caso rapiá~sapiá-eyma, sem testículos; no


primeiro

segundo tiaron-eyma, sem ereção.

cauauá, s. m. Ciconia magoary. Sin., segundo E. G.,

nos sertões tapucaja. A cauauã não é cor-


jaburú, pronúncia

reta.

cauimtaú, sin. do aban. anhuma. Para Mart., c. d.


" "in
acanga-ità-áca", capite lápis cornu". Êste taú final
pa~
rece-nos afim do último componente de urutaú. Veris-
José

simo escreveu cametaú, dando-o como onom. A cauiw.-


grafia

taú é de E. G.

cauré. Falco albigul&ris. O equivalente aban. é caburé,

mas no sul em voe. designa diversas corujas. Sobre o se


que

toma no Pará ninho deste destemido


pelo gavião pode-se
"A
ler com interesse o artigo do E. G., lenda ama-
professor

zônica de Cauré". Boi. do Mus. Goeldi, vol. 4.°, 430.


pág.

CAVACUÉ.Ándroglossa diademata. Habita o Rio-Negro,

segundo E. G.

cenecoyra, ,var. icuyra, Sin.


guelras. piracuracáua.

CENEUAUA, s-t. tinoaba, tenoaba, tcndeuaba. Barba.

"Centola,
ceriuaia, var. cerigoia, espécie de caranguejo

vermelho" . Voe. do M. G. Provável corr. de ciriuaia.


grande

ceui, var. chibui, s-t. ceboi, ceboi. Lombriga, jni-


guar.-
nhoca. sin. do Voe. do M. G. s&poajabaya.

ceui-peua. Sanguesuga, i. e. lombriga chata.

chauim, s. m. Var. sauim, saguim. Talvez onom. do

desse macaquinho.
guincho

chauim-pichuna . Midas ursulus.

CHAU1M-TINGA. Hepale argentata.


— 68 —

chimburé. Schizodon
fasciatus.

chincuan. Piaya minuta, Vieill. P. cayana, L., Coc-

cyzus melancoryphys. Onom.

ciecié. Espécie de caranguejo. Voe. do M. G.

CIRI. Ciry. Espécie de caranguejo.

ciriri. Var. uiriri, suirivi, avesinha, cujo nome é a


guar.

imitação do seu chilrar.

coemin cabarú. Sin. Tié-tinga, Será corr. de


prebichin.

cavalo de velha? Cissopis major.


guacymã-cabarü,

coió. No Rio de assim designam o voador


Janeiro peixe

Cephalacanthus volitans. A. de Miranda Ribeiro.

oió-coió. V. cucutió.

CONAPÚ. Méro. Epinephelus itaiara, Licht.

condurú. A íemea do caranguejo do mangai, cujo ma-

cho, ussá, o trivial caranguejo, é um dos moluscos mais apre-

ciados
pelos paraenses.

coró-coró, s. m. Ave, Phimosus nudifrons. Onom.

COROCOTÉO. Ampelio cuculatus, var.corocoré.

CÓROCOTURÚ. Ibycter acter. Gavião


preto.

cotipema. Espécie de camarão mede cerca de


que quinze

centímetros, corr. de e
poti perna.

coyu-coyu . Nome dado a diversos do


papagainhos gê-

nero Psittacula; cuyú-cuyú. Sin. parauá-í.


guar.

cuachinin. Procyon cancrivorus, s-t. Se-


guachinin.

E. G. sin. de c. d. iaguara^acanga-
gundo jaguacámpeba,
"corr.
cão de cabeça chata. T. S. diz ser de
peba, guára-'

chini, cão saltitante", não tem êsse


pulador, qualidade que

animal.

cuandú. cuim. Cuertdu C. melanurus,


guar. prehensibis,

C. insidiosus. Sin. s. t. cuim e cui. Os índios chamam cuandú-

assú ao de espinhos avermelhados, e cuandú-í, aquele os


que

tem brancacentos.

CUATÁ. Atteles Macaco.


paniscus.

cuatá-tinga. A. variegatus, Idem.


"vem
cuatí. Nasua socialis. Segundo G. Dias de cuá,

cintura, e tim, focinho, chamando-se assim êsse animal


por
— 69 —

"cua-ti
dormir com o nariz na cintura". T. S. riscado,
prefere

lanhado, o traz riscos ou sulcos". De tal modo


punçado, que

êsse autor altera algumas vezes os termos da língua


geral,
difícil se torna aprofundar a sua opinião. Neste caso
que

está Será coatiára? Em dá-lhe ele


quá. paraguá, papagáio,

a acepção de bico (tim em nhêeng.) . Nós no Marajó usa-

mos correntemente do adj. arassá, c. d. aoba-rassá de-


para
dignar o sôbre uma côr laranja ou alvaçã tem riscos
gado que
verticais essa sim, o filólogo baiano
pretos; palavra, poderia
"o
verter traz riscos ou sulcos"; mas ?
por que quatí

cuatí-mundé . Nasua solitaria. Espécie maior o


que pre-
cedente e mais rara. Não compreendemos o motivo
por que
o tupi de mundé este cuatí, a menos
qualificou grande que,
esta não tenha outra acepção do aquela todos
palavra que que
nós conhecemos: armadilha caça. No Sul êsse termo
para
acha-se corrompido em mundéo.

CUATÍ-YRA. Grande abelha.

cuchiú. Pithecia chiropotes. Macaco.

cucurió, s. m. Latharia cinerea, Vieill. Ave dos iga-

rapós, cujo nome é onom. No Baixo-Capim curu-


pronunciam
rijó. Sin. coió-coió, coui-coui e temtempiúm.

cuim . Equivalente aban. de cuandú.

cuiubí. Cajubim. Pipile cajubi.

CURIangú. Nyctidromus Espécie de uacuráua.


guianensis.
Onom. Sin. no Sul Ibyáu.

CURICA, ou curic, s. f. Androglossa amazônica. Papagáio.

V. Auirá-curi. Segundo E. G. é também conhecido


por
cuvica o Pionopsittacus Barrabandi, Kuhl.

curimatá, Prochilodus- reticulatus.


guar. quyrymbatá.
No Sul corr. em crumatan cnrimatan, curumatá, corimatá. O

guar. compôr-se de e mbatá


quyrymbatá parece quyryguty,
terminação encontrada em tamuatá.

CURÁ. No Maranhão e em algumas tribus dão


paraenses

este nome onom. à Androglossa aestiva.

cuiú-cuiú. Dorasniger. Peixe.

cunauarú. Batráquio arborícola. Aceitam alguns tupi-

nistas a sua origem de cunhã-arú, se a sua voz


por parecer

com a da mulher, mas essa semelhança não existe. Êste curioso


_ 70 —

e conhecido animal, como meio de defesa, contra


pouco projeta
os o um líquido inodoro bastante cáustico, o
que perseguem

qual em contacto com a uma bolha e a nú a


pele produz põe
derme; êste líquido ser ejeculado a uma distância de um
pode

metro. Dizem ainda os índios o breu do cunauarú,


que pro-

vém de uma secreção visguenta sua Essa


produzida pela pele.
matéria secretada, solidificando-se, adquire um cheiro especial

e é empregada como remédio índios, em defumação, e


pelos
na de feitiços e sortilégios
preparação pelos pardos.

CUPACÍ. Pequeno búzio.

"cupim-yra,
CUPIRA. Trigona cupira, c. d. ninho de

abelhas ou mel de cupim", von Iher. Var. da Par. mar.

Cupineira cupíeira. Pensamos o nome da cupíneira


por que
ou cupira de utilizar ela suas colméias os ni-
provém para
nhos de cupim abandonados.

CURÚ. Qualquer coisa saliente, é curú :


protuberante,
A borbulha —
ou vesicula curiba. O torrão de terra dura ou

antes o —-
pedregulho itacurú, donde o nosso termo luso-

brasileiro tacurúa. V. Gloss. As escamas


par. protuberantes
do —
dorso do curú. Curucurú significa rugoso.
jacaté-assú

A colina, o outeiro — curú; ex. laguaracurú, Maecurú,

serras em Monte Alegre.

"Espécie
curuá. de abelha." Talvez c. d. curú-ei, Von

Iher.

curuá. Cotinga caerulea. Avezinha.


curió tuyra. Oryzoborus torridus. Sin. bras. Avi-

nhado. Bico de furo. Papa-at roz.

CURICÁCA. Geronticus albicollis. Pernalta.

CURUATÁ-PINIMA. Bonito. Peixe do Atlântico.

"curú-
curupira. Gênio habita as florestas, c. d.
que

o sarnento, o coberto de feridas" . T. S. Não nos


pira, parece
verdadeira esta etimologia. O índio não representa êste ente

mitológico nem curubento nem Os missionários deram


pirento.
o curupira como um diabo, o está longe da verdade. Não
que
será uma reminiscência dos contos ouvidos na sua infância
que
fizeram o erudito tupinólogo dar ao curupira o equivalente do
"ti-
epíteto afrontoso tem o demo entre os católicos, o
que

nhoso" ? Barb. Rod. também lhe dá a significação de le-


"o
proso,, e ainda a de vem à roça ou no mato".
que que jaz
— 71 —

Poranduba Amazonense. Von Iher. é de curupí-ára,


partidário

dono da lepra.

"
curupíreira. Abelha de Pernambuco, c. d. curupi-eyra,

mel do diabo", Von Iher.

cururú. Espécie de sapo. Onom. Também curam —»

corôvong, catavang, significa rancor.

cururú-i. Espécie menor a


que precedente.

cururú-iú. Sapo de dorso amarelo-escuro.

cutimboia. Cobra não c. d. acuti-mboia.


peçonhenta,

CUTÁCA, var. catáca, tatáca. Espécie de rã. Onom.

cutipuru-i. Passarinho insetívoro, c. d. acutí-puru-i.

Sin. sulista Cambachirra. Coroia. Troglodytes minusculus,

Naum.

cutiuaia, c. d. acuti-uaia suaia, cauda; cutia cau-


por

dada. Dasyprocta acuchy.

cuti-yra, c. d. acuti~yra, abelha avermelhada.

EÁ. Nyctipithecus Azarae. Macaco da noite.

eréré, var. irerê, aréré, Dendrocygna viduata. Espécie

de marreca.

gainambé. Chasmorhynchus niveus-. Segundo E. G. nome

usado no Amazonas, talvez sin. do no Capim conhecemos


que

Inambé-assú.
por

gambá . Mephitis suffocans. Sin. Iritataca, Cangambá,

Maritataca, Em segundo E. G.
yaguaritaca. guar., jaguaré,
deve escrever-se contr. de Mont.
que yaguá~ré, yagua-rema.
"mbicurê,
traz zorrilo, hiède", sin. do termo dado
que provável

E. G., decompondo—se também em mbicurema. O voe.


por

Gambá é africano. O tupi dirá como o iaguarema, cão


guar.

fedorento.

gigó . Gallithrix melanochus. Êste têrmo não tem a con-

sonância tupi.

goabayacugoára . Var. Peixe Voe.


goapetugoá. porco.
do M. G. No Rio de informa A. de Miranda Ribeiro
Janeiro

o Monacanthus hispidus, L., é conhecido Peixe-porco.


que por
"Formiga
GOAjú. advinha a chuva ou sái antes dela
que

em multidão a buscar baratas e outros e bichos". Voe.


grande

do Museu Goeldi.

goaragoassú. Charéu. Voe. do M. G. Parece var, de

guyry-guassú.
"Outra
goaraym. espécie mais de charéu.
pequena

Voe. do M. G. Não será erro de cópia ?


por goaracyma

guabirú . Vide Uauirú.

guaiá, s. m. O Voe. do M. G. escreve definin-


goajá,
"Caranguejo
d0'0 : do mar se esconde sob as
que pedras".
"guayá-
guaiamum. s. m. Espécie de caranguejo, c. d.

mü, o caranguejo negro-escuro, azulado." T. S. A brilhante

desse autor metamorfoseou una, em extraordi-


pena preto,

nárias e surpreendentes variantes : em anhuma, um, em


preto,

em mü, em urubú, bú, em ajurú, ú,


goaiamum, preto, preto,

preto.
"Caranguejo
guanumy. do mato". Voe. do M. G.
grande

Parece var. de
guaiamum.

guará.íbis rubra. Rich. Burton a seguinte


perpetrou
"yg,
etim.: água, ará, ou dágua". Esta
papagáio, papagáio
"Contr.
outra menos absurda é da lavra de Mart.: de
pouco

variegado, e ave.
guá, guirá>

GUARUNDi - PRETO. Tachyphonus coronatus.

guirá. Vide uirá.

guiraheencatú . Canário da terra. Sycalis c. d.


flaveola,

e nhêengatú, bem falante. O tupi correto é


guirá, guiranhê~
engatú. Vide uira-rú-nhêengatá.

guirá-pereá. Informa E. G. esse era o nome da


que

Calliste c. fr.
fiava. guirá-apereá.

guiratinguetÉ-assú, Cygnus
guar. guyratú-été-guassú.

coscoroba. Cisne todo branco. Sin. Caparoroça.

guiraundi. Stephanophorus coeruleus, corr. de


guarundi.

guyrá, var. de
guirá.
"Preto
guyraguy. de cabeça branca". Voe. do M. G. E

seja o Lcucorterpes candidus dos ornitólogos.


possível que

guyrá-oby. Gralha. Voe. do M. G., c. d.


guyrá-oby.
Vide-uy.
— 73 —

"Bagre
guyri. branco do mar". Voe. do M. G.

guyri-iú. Gurijuba, s-t.


guyvi-juba.

guyri-tinga. Bagre branco. Aruis rugispinnus.

GYBOIA. Giboa. Boa constrictov. Bapt. Caet. diz


provir
"yi-boy,
de ou de corr. de cobra dágua". Não
yí-boi, yi-boi,

é o indígena desse a cobra terrestre, o


possível que giboia,

nome de cobra dágua; essa denominação dá-la-ia ele de


pre-

ferência à sucurijú, Eunectes murinus, vive na água. O


que
"As
Voe. do M. G. diz: são dágua, su-
que grandíssimas:

curijú. As maiores do mato, menores as


que primeiras: gy-

boia". Pode-se ainda objetar a essa etim. o fáto de não toma-

rem um inicial as tupis começadas água,


g palavras por y,

adaptadas brasileiros igapó, igarapé, igarité,


quando pelos

iára ou uiára, itinga, ipiranga, ipomonga, itú, icica. Há equí-

voco da de T. S. em dar curiyú como o equivalente


parte

tupí-guar. de o trecho citado do Voe. do M. G. isso


giboia;

o tupi. Para Rich. Burton, tira a sua origem


prova para giboia
'ji
de ou machado, e boia, cobra, se supunha se
gi, porque que

arremessava como um machado". T. 2.°, 120.


pág.

i. Sin. de miri. Pequeno. Serve de diminutivo.


postfixo
"
iacamí . Psophia crepitarts, c. d. Y-acã-mi; o tem a
que
"y~acan~mii,
cabeça T. S. a move a cabeça, a
pequena". que
mesureira". Bapt. Caet. Nenhuma das duas satisfaz.

iacamí-iú. Iacamin de costas côr de ubim sêco, Psophià

ochroptera.

iacamí-cupetinga. Iacamin de costas brancas. P. leu-

coptera.

iacamí-cupetinga. P. creptans. O mais comum no Pará.

iacami-una. P. obscura.

iacamaciri. Segundo E. G., ter sido o nome dos


parece

Gallenlides em tupi da região costeira do Norte, no tempo de

Marcgrav.
"ya-caré,,
iacaré . T. S. derivava de o é encurvado
que

ou sinuoso; ou de o olha torto ou de banda,


y-echa-caré, que

ou ainda de iaguá~ré, a féra de outro Nas duas


gênero". pri-

meiras há de carê a nasalação final


pouca probabilidade perder
>- —
74

caré; à última, é logo arriscado ver-


para pronunciar-se quanto
ter iaguá = iaguára féra, sendo duvidoso o selvagem
por que
"onça
chamasse ao de outro Sin. No Alto-
jacaré: gênero".

Amazonas Gaudú.

iacaré-assÚ. Caiman niger, iacaré. Algumas tri-


guar.

bus designam esse crocodiliano nome de iacaré-curucurú


pelo

causa das suas escamas ósseas curú.


por protuberantes:

iacaré-tinga . Caiman sclerops. Espécie menor a


que

precedente.

iacarérana . Grande lagarto aquático

iacina, s. f. Inseto alado da família das Libélulas.

iacú, iacú.
guar.

iacú-assú . Penelope Spix. Em nhêeng. o adj.


jacucáca.

mais usual entre os tupis.


jacareatú, pronúncia
iacuruarú. lacruarú. No dic. anonim. de 1795 lê-se

iacú significa desconfiado, astuto, arisco, versuto. Bapt. Caet.


"y-a-cú,
diz de o come o come ou traga
provir que grãos, que
frutas". Pelo dialeto n-t. é impossível dar-lhe essa origem.

iacucáca, iacucag. Espécie de


guar. jacú.

iacú-peua. Penelope Marail. Variedade de Vide


jacú.

peua.

iacú-pema ou P. supetciliaris.
pemba.

iacú-piranga. P. É a espécie existente no Ma-


pileata.
rajó.

iacú-tinga . Iacú, cinzento-escuro, com brancas,


pintas

iacu-petin. No rio Capim dão-lhe também o nome de


guar.

iacú-pitinga.

iacundá .• Crenicichla obtusirostris. Peixe dos igarapés

de águas límpidas.

IACUNDÁ-ASSÚ. C. Sin. coroa,


johanna. jacundá-tinga, j.

j. j. tótó.
pitanga,

iacuruchí. Dvacoena Lacertilio aquático.


guianerisis.

iacurutú . Bubo cvassirostris. Espécie de coruja. Onom.

O equivalente nhacnrutú designa a Strix nhacurutú,


guar.

talvez sin. do nome científico.


primeiro
— 75 —

iagoapopeba . Nome da lontra no sul, segundo Voe. do

M. G., c. d. iaguára-pó-peba, cão ou onça de mão chata.

iagoá-pytanga . Termo aban, sin. do nhêeng. auará, c. d.

iaguára-pytanga, cão cinzento.

iandaia . É a fôrma s-t.; em nhêeng. ianaia, Periquito de

cabeça amarela, ao alguns autores denominam. Ajurú~ju*


qual

ba ou contraindo aiurú-acan-iú, Conurus Se-


pyrocephalus.
E. G. em nhêeng. tem como sin. Cacaué, c. d.
gundo
"nhand-ái,
correndo só, o corredor" ! T. S. Poder-se-á iden-

tificar o s-t. com o nhendái ?


jandaia guar.

iandú, s-t. e nhandú, nhandú, aranha. Em


jandú guar.

a Ema, Rhea americana, é homônimo da aranha.


guar.

indú-assú. Aranha caranguejeira.

indú-pocambucú. Phrynus lurtatus, c. d. dedo,


poacanga,

e comprido.
pucú,

INDÚ-TINGA. Aranha de corpo mas


pequeno, pernilonga,

com uma malha branca na superior do tórax; vive nos


parte

troncos e é tida como Encontrada no rio


podres peçonhenta.

Ararandeua.

iandiá. Pimelodus Mulleri. Peixe dágua doce. T. S.


"yundi,
traz a var. lundiá e decompõe-na em espinhal, barbas,

espinhos, e á cabeça; o tem a cabeça cheia de es-


jundiá que

ou barbas" !
pinhos

iapacaní . Êste nome não indica o mesmo


pássaro por

todo o Brasil; no Sul responde êste nome corr.


por pelos

naturalistas em iu-napacanirt o esplendido Spizaeornatus. Marc-

escreveu em Pernambuco, dá êste nome ao Dona-


grav, que

cobus atricapillus; no rio Capim assim chamam um


pequeno

gavião pedrês.

iapegoá . Centopeia, corr. de


provável japeussá.

iapeussÁ. Escorpião. Algumas tribus designam êste


por

nome a centopeia, reservando o de iauajira ao escorpião. Em

significa tanto o escorpião como a centopeia, c. d. iapê-


guar.

ussá, de iapeá-icpeá-iepeaba-iepeaua, lenha e ussá caranguejo,

ou caranguejo da lenha, semelhança das dianteiras


pela patas

do escorpião com as unhas dos caranguejos, e ser na lenha,


por

na madeira caída, mais ou menos carcomida, usualmente


que

habita êste arachnídeo.


peçonhento
— 76 —

iapii. Iapiim. Cassicus Sin. chechéü,


persicus. japui, ja~

pujuba.
"ya-pú,
iapú, iapú, c. d. o rumoreja, ou faz
guar. que
ruído, o T. S. Aqui tem a acepção de rumore-
gritador". pú
como rumorejar também faz o mesmo autor significar
jar,

Iapum e Iapú têm o mesmo rad. iapí, a terminação i e u


purú.

são: o um dimin. e o segundo um aument. Iapí, tem


primeiro
"tocar
diversas significações, entre as a de flauta.'
quais gaita,
O habitual de ambas estas aves é assás com o
grito parecido

som, agudo num e noutro, de uma clarineta. Parece-


grave
"o
nos, etimoíògicamente ser traduzido to-
pois, que pode por

cador de e miry.
gaita-assú

iapecuéra, var. apêcuéra. Casca dorsal dos quelônios,

c. d. apêcuéra, o casco tirado.


propriamente já

IAPÚ-ASSÚ. Gymnostinops bifasciatus, Spix.

iapuruchitá. V. Puruchitá.
"Porco
iapurutêrê. do mato dentes
que, pela grandeza,
e fereza, dizem ser os mesmos da Europa". Voe. do M. G.

IAQUIRANA, var. iuquirana, nhaquyvan. Cigarra.


guar.

iaquiranhamboia . Espécie de cigarra o vulgo, sem


que

razão, tem como muito c. d. iaquirana-mboia.


peçonhenta,

iararaca, Bothrops atrox. Cobra das mais


guar. yarará.
"
c. d. o colhe ou agarra envene-
peçonhentas; yará~ag, que

nando, ou vulgarmente, o tem bote venenoso". T. S.


que

Nesta etim. o autor amplia a acepção de dando-lhe


yará,
significações não lhe competem; não significa nem agarrar
que

nem bote. Mont., aliás tão completo, traduz-lo torcer,


por

colhêr, recolher, colher água.

iaraqui, Prochilodus binolatus. Peixe amazônico.

iaratitá. Larvas de bezouros.

iarauá, s-t. igaragoá, var. n-t. iaguarauá. Peixe-boi.

Mais usada é a var. uaraaá.

iarauira, Doras costatus. Sin. de no Alto Ta-


quiriquiri

pajoz.
"y-assã-nã,
iassanÃ, s. m. Parra jacana, c. d. o
que grita

forte, o tem intenso". T. S. Dificilmente se


que grito pode

dar esta etim. em nhêeng.; nesse dialeto seria necessário que

sacemo se contraísse em assa e rtã mudasse de significação.


iatitá, s. m. Sin. de uruá.
guar. jatitá.

iatiú, s-t. nhatium, nhatiú. Espécie de ca-


jatiú, guar.

raparia.

iatiuóca, var. iatiuca, iateuca, s-t. var.


jatibóca, jace~

buca, iatebú. Carrapato. Nome dos Ixodes.


guar.

iaturana, Chalceus taeniatus. Peixe fluvial.

iauacáca. Lontra. Lutra brasiliensis, s-t. e


jaguacáca

c. d. iauára-cáca, sendo o último


jaguacacáca, guar. guairacá,

componente a imitação da voz deste animal.

iauacáca-i. Espécie de lontra menor a


que precedente.

iauá, Sin. acãmatartga, aiurú-été-cú. Androglossa Du~

Vide acãmutanga.
fresnii.

iauajira, s-t. Escorpião, rabo torto.


jagoàjira.

iauara, s-t. O nome excelência dos


jaguára. por gran-

des felinos.e dos Canidas. O não o adotou, como o fez


port.

a francês: mas entra na composição de diversos voes.:


jaguar,

Iauaratipua, Pirajaura, 1aguar ar Iauaruna, etc. Atualmente


y,
iauára, cão, iauraté, onça.

iauarary, aguarari c. d. iauara-r-i. Cão, cachorro.


guar.

iauaruna, var. iauarapichuna, var. iauaratépichuna. Ti-

onça de negra.
gre, pelagem

iauara-quiyua, s-t. jagoára-quyba. Pulga. Traduz-se


"Piolho
literalmente de cão".
por

iauara-pinima, iaguá-pyní. Tem êste nome uma


guar.
"amarela
variedade da Felis onca : e negra, manchas reunidas

em anéis" . E. G.

iaguá-tirica . Felis L. Têrmo s-t.


pardalis,

IAUÊUÉRA, s-t. Arraia. Trygon.


guar. yabeby, jabebyra,

O Vov. do M. G. traz os nomes de diversas espécies ou

variedades deste nari-nari, nari~nari~pi~


peixe: jabety-tinga,

nima, Êste último eqüivale ao nhêeng. iero.ua, virar-


jereba.

se, voltar, esponjar-se, e refere-se ao fáto de deixar


pairar,

na areia das a arraia uma depressão de maior ou menor


praias
diâmetro, como o fazem certas aves, como a e alguns
galinha

inambús, se espojam em lugar Esta arráia


quando poeirento.

a aiereba de Marcgrav, citado Mart. é a Trygon


jereba, por

Aiereba, de Müller. Não terá o nome dêste iauêuêra,


peixe
— 78 —

relação com o seu modo de nadar, ondulando os


prolonga-
mentos laterais do seu corpo, com movimentos alternativos

de baixo cima, à imitação do vôo dos uêuê ?.


para passaros:

iauti, var. iabuti, s-t. Cágado, nome de diversos


jabuti.
"
c. d. o come animal de
quelônios, ya~u~tir que pouco, pouco
"yy-abú-tí,
comer". T. S., C. d. o tem fôlego tenaz ou
que

persistente". Bapt. Caet. Tu não é tupi; ter muito


pouco,
fôlego traduzem os índios Sendo a
por pytú-pucú. palavra
do dialeto tupi e não não terem cabi-
jaboty guar., parece
mento as opiniões destes dois ilustres tupinistas. Pensamos

de iapoty, amarrar. O encontrado


provir jabuty jabuty pelo
caçador ser transportado às costas, é amarrado com uma
para

envira, inteira do casco inferior e


que passa pela parte por
baixo das é assim cheg^ à taba: amarrado.
pernas; que

IAUTI-CARUMBÉ. Testudo tabulata. No Baixo-Capim é

a variedade, cujas escamas das são amarelas. Segundo


pernas
Silva Coutinho, citado E. G., é também conhecido este
por

jabuty por jabuty-tinga.

IAUTJ-APEREMA. Vide apetema.

iauti-matamatá . Vide matamatá.

iauti-piranga, ou iauti-tucuman. Testado carbonacio.

Aquêle, cujas escamas são de um encarnado vivo. O


jabuty,
na época da reprodução, à nome dado à fêmea,
junto jabota,
emite sons fortes, com o do socó-boi, e esse
parecido grasno
epitalâmio rouquenho repercute-se ao longe mata.
pela

iati-paróróca . Pequena espécie de cágado terrestre.

iauti-tinga . Os índios fazem diferença entre este e as

outras variedades.

iauyrú, iábytú, s-t. Iaburú. Tantalus lo-


guar. jabyrú.
"ya-abirú,
culatur, c. d. a é repleta ou inchada, alusão
que

ao da ave desse nome, isto é T. S. O


grande papo papuda".
marajoára, do temos visto centenas, não tem
jaburu quaí papo

saliente, nem relativamente maior do o da do ma-


que garça,

do socó-boi, não é ser di~


guary, papudo; parece, portanto,
ferente do sulista. O nome do dá lugar a uma
jaburu jaburu
deplorável confusão designar três aves diferentes,
por posto

todas da mesma família das Ciconidae: nos rios do sertão


que

tem a Mycteria americana êste nome, no sul e em outras re-

do centro conhecem a Ciconia maguary, en-


giões por jaburu
— 79 —

nós na ilha do Marajó reservamo-lo somente ao


quanto que

Tantalus loculatoc, conhecendo a Mycteria americana


por
Tuyuyú e a Ciconia maguary Cauauá. Sin. brasileiros:
por

Passarão, Cabeça de
pedra.

ibybóca, var. etimològicamente mais correto.


ybybóca,
Cobra coral.

iáua, var. caua, s-t. caba. Gordura, banha. Tapyra-

icaua, manteiga de vaca.

icurê. Sin. s-t. de tapiryra-caapóra, anta.

icototú. Gorgulho.

iety-michira, var. dada Marcgrav: aypi~michira.


por

Peixe, cujo nome segundo o Voe. do M. G., é Bodião,


port.,

c. d. ietica~iutica, batata doce, ou c. d. aypi, macachêra, e mi-

chira, assada. Custa a compreender a razão destas denomi-

nações a êste do oceano.


peixe

inaié, s-t. inagé, e inayé, var. anagé. Astut


guar. yndayé.
magnirostris. Espécie de falcão, também conhecido, no Sul,

Carijó.
por

inambé, var. anambé. Phaenicocercus carnifex, L. Sin.

uirá-tatá, Saurá (aracy-uirá) E. G. O nome de uirâ-tatá


por

ser vermelho, côr de fogo.

inambé-assú. O canto desta ave com o da


parece-se
araponga. Não afirmar êste do Alto
podemos que pássaro
Capim seja o mesmo Inambé-assú dos naturalistas, Gymnode-

rus L. Sin. de inambé-pitiú.


foetidus,

inambé-paráua, var. com brancas.


parda, pintas

inambé-tinga, var. de azas brancas em corpo azul-

metálico. Xipholena lamellipennis. Sin. Baeacú Aza


preto.
branca.

inambé-una. Querula cruenta, Bodd.

inambÉ-uy. Espécie toda azul, uyr s-t., oby, toby,


guar.

azul. Cotinga cotinga, L.

inambú . Nome de diversos Tinamidae de vôo


galináceos

pesado e ruidoso. No sul, segundo T. S., também


pronunciam
"y-nam-bú,
inhambú, c. d. o corre surdindo
guar. ynambú, que

ou emergindo, ou o levanta o vôo rumorejando". T. S.


que
— 80 —

Realmente o inambú tem um vôo bastante estrepitoso, mas

vôo, voar em e em aban. bêbê, em nhêeng. uêuê, está


guar.

longe de nam, significa correr. Bapt. Caet. fornece-nos


que
"
outra etim. ainda mais inverosimil: o se le-
y-am-bur, que

vanta a o nunca acontece com das es-


prumo"; que qualquer

de inambús, cujo vôo é muito oblíquo; fogem num vôo


pécies

rasteiro, barulhento mais longe no chão.


para pousar

inambÚ-assÚ. Sin. inambü-ton ou tona. O maior de to-

dos, raro, Talvez seja o Crypturus obsoletus dos na—


pedrez,
turalistas.

inambú-acãmytang. Espécie da várzea, acã-


pequena

my-tanga, de cabeça encarnada.

inambú-aianga. Assás Pelo seu assobio lú~


pequeno.

deram-lhe este nome. Crypturus variegatus. E. G. dá


gubre

como sin. Chororão, Inambu-puranga e de 1 nambú-Saracaira.

Sua carne é saborosíssima.

inambú-péua. Espécie vulgar. Vide


peua.

inambÚ-miry. Crypturus tataupa.

inam bú-saracaira . Inambú-r elogio.

inambú-tuyra. Inambú, cuja cinzenta deixa


plumagem

nas mãos um da mesma côr. É ser o


pó provável ynambú-

aquyá, tupi sujo dos No Sul, informa E. G., dão-


quia, guar.

lhe o nome inambú~sujo. Talvez seja o Crypturus cinereus dos

ornitólogos, e nesse caso sin. de inambú-coá e de inambú-'

pichuna.

ipéca, Pato. Mart. dá a a signifi-


guar. ypeg. goabirú

ficação de uaiurú.
pato.Vide

ipéca. Cairina moschata. Pato bravo. Pato de Cayena

ou Pato castelhano. Sarkidiornis carunculata, Licht.

ipecú . Nome dos mais especialmente


genérico picapáus,

do maior de encarnado, Campephilus robustus;


penacho guar.

ipecü.

ipecu-acã-mirá. Segundo E. G., o Coephocus lineatus.

L., mas supomos este acã, contr. de acanga e mirá


que que

está mira contr. e var. de miranga É o


por por piranga. pi-

ca-páu de cabeça vermelha.

ipecú-i-pinima . Celeus undatus, L., c. d. ipécú-i-pinima..


— 81 —

ipicú-miry. Melanerpes cruentatus, Bodd.

ipecú-tauá . Picapáu amarelo, Crocomorphus


flavus,

Müller.

iPEcú-TERÊRÊ. Pequeno Voe. do M. G.


picapáu pardo.

IPEQUI, var. Podoa surinamensis, c. d. ipeca-i.


pequi.

ipequi. Heliornis Bodd.


fulica,

irerê . Dendrocygna vidnata. E. G. var. ereré.

ira. Mel, abelha, abelha eirú, mel ei-reté, sendo


guar.

eirú contração do tupi. Vide


yra-ruba yra-maya.

irara.
Galictis barbara. No Sul sin.
jaguá~pé (jaguara-
"yra-ra",
C. de o colhe mel, o lambe mel, o
peba), que pa~
"yara-ra, "yra_uara">
T. S. senhor do mel". E. G. co-
pa-mel.
"papa-mel"
medor de mel, do a designação sulista talvez
qual

seja a tradução literal. Na etim. dada T. S. o último com-


por

ra será contr. de iará ? Iará significará lamber ?


ponente papar,

Vide iararaca.

"yara-
irachim. Trígona hellerí. Espécie de abelha, c. d.

ckaim, ninho de abelha crespo", Von Iher.

'
iremboi. Espécie deabelha: c. d. ira-mboaci, mel
que
"arombou,
faz dôr". Nogueira; corr. de abelha faz tre~
que

mer". Bapt. Caet. Não será antes c. d. A forma-


yra-mboia?

ção é regular, como em iaqtiirana-mboia, tariira-mboia, arara-

mboia, cutimboia.
parauá-mboia,

iricica . Arius nuchalis, A.


pleurops.

iriri, var. iryry, reri, riri, tambá, ostra.


yryry, guar.

iriri-assú . Espécie de ostra


grande.

iriri-peua. Idem, menor.

. iriri-tinga. Outra espécie de ostra.

iritinga ., Arius
prosps.

issá, var. ussá, ussá, caranguejo.


guar.

isauba, var. No Norte o é mais usado;


yssauba. primeiro

issá. Sauba.
guar.

ISSOCA, var. sassoca, hassog. Larva de in-


guar. yssog,

seto, verme. O não emprega indiferentemente e


guar. yssog

120.929 f. e
«

— —
82

hassog. Para a larva em usa quando determina


geral yssog,

a espécie usa hassog. O mesmo acontece em tupi com o ter-

mo equivalente issoca e sassoca ou tassoca, ex. soó-rassoca,

bicho, larvas da varejeira, literalmente vérmes da carne.

itan . Concha. Molusco. Das válvulas deste animal usa-

vam os à de colher, daí a sua acepção de colher


guaranis guisa

nesse dialeto. No litoral assim chamavam, segundo o Voe. do

M. G., os mexilhões, designando os dágua doce, me-


grandes

nores itan-mirí.
por

itapema, var. tapema. Gavião-tesoura. Nauclerus


fur~

catus.

itatina. Girino, larva do carapanã, aó vulgar-


qual
"cabeça
mente chamam de
prego".

itui, :s.m. Cavapus Sternarchus albifrons, Ster-


fasciatus,

nopygus satapó. Peixes d'agua doce, toby.


guar.

itui-tui . Massarico. Parece-nos onom. Chatadrius

Azarae.

'
iú, adj. s-t. Amarelo. No Sul corrompem este
juba.

voe. mudando-lhe o acento tônico da a segunda


primeira para

sílaba; em vez de dizendo itajubá, itajuba, ouro,


jubá juba, por

tui~apoti~jubá tui-apo ti~juba.


por

iuá . Braço, s-t. ou jybá.


gybá

IUÉ.. No Sul Rã. Hyla venulosa, H. rubra, Den-


gia.

drobàtes tictoria, var. iui. No Capim iué não é sin. de iui;

iué designa um sapo e iui, uma rã. No Maranhão a cor.


gia

também vingou, como se ler na Por. mar., dando a


pode que
"atualmente
var. adverte em nota: e não mais
jui, gia jui".

iuÉ-ASSÚ. Espécie maior.

iué-papeua . Espécie de rã, c. d. iué-pó-peua.

iupará. Cercoleytes caudivovulus.

iUPARÁ-YRa. Abelha avermelhada faz o ninho nos


que

buracos das árvores..

iupiti, ou iupatim. Segundo Mart., citado Prof.


pelo
"animal
E. G., significa sustem ou carrega sua cria:
que
'mucura-chichi".
iepoi"taina, dando-o os tupis à Esta etim. é

inexata; iopoi não significa suster ou carregar, mas sim dar

de comer, alimentar, sustentar. Isso mesmo repete o sábio


— 83 —

alemão no seu vocabulário tupí-port. alemão: iepoi, alimentar,

sustentar, cevar"; o seu erro dimana de ter tomado sustentar

no sentido de segurar, carregar, em vez de aceitá-lo com a

acepção de nutrir. Para evitar ambigüidades bem fez o P. Mar-


"iopoi,
cos Antonio (Chrestomathia), escrevendo: sustentar
"iepoi,
com comer". O dic anon. de 1795, também é explícito;

dar de comer". No Capim os índios dão esse nome ao


jupurá.

IUQUIRI, var. iuquêrê. Pavão. Eurypiga helíos.

iurará . Sin. uirará-assu, iurará-tinga. Podocnemis ex-

Tartaruga..
pansa.

iuratim. Pequeno c. d. aiura-tinga;


picapáu, pescoço
branco.

iurú, s~t. iurú. Bôca.


jurú, guar.

iurueba, var. Papagáio caboclo. Androglossa


jurueca.

vinacea.

"uirú~pó-ari,
iurupari. Diabo, demônio literalmetne bõ-

ca~mão-sôbre, tirar da bôca". Couto de Mag. Bapt. Caet.


"ser
traduz-lo vem à nossa rede, isto é ao lugar onde
por que
"iurú~porim,
dormimos". T. S. bôca-torta". Ne-
preconiza

nhuma delas merece aceitação; anhang.


guar.

iurupari-quiuáua . Em algumas tribus contr. em iuru-

Centopeia. Sin. ambuá-assú, c. d. iurupari e


pari-guiá, qui-
bába^quiuaua-quiá,
pente.

iurupari-pampé. Geophagus Daemon. Será con.


pampé
de unha do diabo ?
poapen,

iuruna, var. iurú~pichuna. Sin. iurupari. Macaco de

boca Chrysothrix sciurea, c. d. iurú-una.


preto.

iurupiranga. Arius rugispinnis. Sin. Bagre branco, c. d.

iurú-piranga.

iurutí, Nome dado a diversos Columbidae


guar. yeruti.
"de
yeruti ou nome comum as em tupi,
yuruti, para pombas
c. d. iurú-tí, branco". T. S. Se o filólogo baiano
pescoço
traduz —
iurú como traduzirá bôca? signifi-
por pescoço que
cação dará a aiura~ajura, ayuayur ? A nasalação do
guar.
tim-tinga não desaparece e isso o ilustre tupinista
pode .obser-
var na encontrada no Voe. do M. G. o ver-
palavra juratim
"pescoço
dadeiro branco".
— —
84

iuruti-été. Leptoptila rufaxila.

iuruti-piranga . Avermelhada de bico encarnado da

mata.

iuruviara. Virco chivi, Vieill.

MACACA. Macaco.

macaca-iandú . Aranha arborícola, listada de amarelo e

Macaca-iandú ser muito ágil, de um


preto. por pulando ga~
lho outro a distância como os símios.
para grande

macavoana, var. macavaria. Sin. aiurú~catinga, no Ara-

ararinha. Sittace modesta.


guaia,

macarauá. Passarinho dos campos e roças.

macú, s. f. Formiga ruiva com a samba,


parecida que,

como esta, danifica as mas cujo ninho


plantas, pouco profundo
é fácil de destruir.

macucáua. Espécie de inambú do Amazonas. Tinamus

solitárias. Segundo Mart. dizer cor da va-


quer plumagem
"colar
riedade, c. d. macaca e macaca significando
goá, plu-
marum"; não conhecemos, notando-se ainda o acento tô-
que
nico é na e não na última sílaba, var. s-tmacucáva,
penúltima

macucágua.

macurú. Bucco teçtus, Bodd. Bucco hyperhgnchus.

Haverá alguma relação entre o nome deste e o ma-


pássaro
curú indígena ? Veríssimo descreve o macurú nos se-
José

termos: um balanço formado dois círculos de
guintes por
talas, ou madeira flexível, separados um um do
grossas palmo
outro, e ligados cordas o suspendem do tecto, onde
por que
xieixam as crianças na infância entregues, a si
primeira pró-
Os dois arcos são revestidos de sendo o debaixo
prias. pano,
forrado de modo a a criança fique assentada com as
que perni-
nhas A esta definição acrescentamos: a corda
pendentes".

suspende o macurú acha-se atada à de uma vara


que pontâ
flexível horizontalmente, cuja extremidade oposta é
posta

solidamente amarrada a um càibro, ficando o macurú tão

do solo baste a criança toque com


perto quanto par^ que
os isso acontece o aparelho em movi-
pés; quando- põe-se
mento, balançando-se docemente os lados, e fie-
para pela
xibilidade da vara, no sentido vertical também.
— —
85

maipure. Periquito de cabeça Pionites metano*


preta,

cephalus, L. ,

maitaca . Pionus menstruus, L., mbaitá.


guar.

maiui, var. meiuí, s-t. Andorinha, Progne tapera, L, Tal-

vez onom.

maiuira; Amblyopus Broussonetii. Peixe do mangai. Sin.

Amoté.

mamaiacú. Tetcodon var. baiacú,


psittacus, goabaiacú.

mamangáua, s. f. Espécie de bezouro. Em São Paulo

mamangaba, é a forma aban., designa, segundo Von Iher.


que
"mandá
uma abelha do Bombus, c. d. ou má-
grande gênero

nhaua e ib ou ibó flexa". Êste bezouro sóe brocar as


pontas

dos cáibros dentro da madeira depositar seus ovos,


para por

ser sua larva xylophaga. No rio Capim os índios dizem tam-

bém uamangaba e mamangaba. O seu vôo um sonoro


produz
e forte zumbido.

mamelucq. O do branco com índia. O Vis-


produto

conde de Porto Seguro, na sua Historia Geral do Brasil, diz

na metrópole chamavam mamelucos aos filhos de


que por-

tuguês e de moura, no século XV, antes da descoberta da

América. Vem do árabe mamluc, de malaca, T. S.


pp. possuir.

tira-o de mamã-ruca, o de mistura, o mestiço".


que procede

mandá-aqui ou mandaguai. Espécie de abelha, c. d.

mandá, e aguai, cascavel e maracá de cascavel em Pro-


guar.

vàvelmente a sua é e dolorosa, comparan-


picada peçonhenta

do-a êsse motivo o índio à maracamboia.


por

mandá-guassú . Espécie de abelha do Sul.

"mandá
mandassaia. Espécie de abelha, c. d. e sái,

esperto vivo", Von Iher. Vide Saí.

mandii, s. m. idêntico. Pimelodus altipinnis. Peixe


guar.

de família dos Siluridae.

mandii-pinima. Pimelodus ornatus. Peixe.

mandii-tinga. Pimelodus ornatus. Peixe.

mandori, mondori. Nome de uma abelha Von


guar que
Iher. origina de mandá e ori, alegre".

mandubé. Ageniosus brevifilis. Peixe fluvial.


— 86 —

mangangá, s. ta. Diz-nos Alípio de M. Ribeiro ser o

nome de um : o Scorpaena brasiliensis.


peixe
*
mapapá, 772. Hypophthalmus edentatus. Peixe do Baixo

Tocantins.

maquissapa, s. m. Ateies variegatus. Macaco.

Maracaiá-assú. Felis Maracajá-assú. Sin. no


pardalis.

Sul
jagoá-tivica.

MARACAIÁ-MIRI. Felis macrura.

, MARACA5Á-UNA, Felis Ma
yaguarundi, guar.yaguarundi.

racajá- preto.

maramboia, s. f. Crotalus horridus. Cascavel. Sin. no Sul

boitininga, cT d. maracá~mboia, cobra de maracá. Ainda hoje

no Marajó o chocalho dessa cobra tem o nome de maracá.

maracanan, s. m. S.ittace severa, S. maracanan, Conu-


"
rus leucaphtalmas. C. d. maracá-nart, semelhante ao maracá,

imita o maracá" ! T. S. Semelhança não


que que passa pela

mente de quem ouve o ou o estridente deste pas-


pairar grito

saro, tão vulgar aqui nas Dunas.

maracanan-assú, Sin Anacan.

maranhon, s. m. Phoerticopterus ruber, e P. ignipalliatus.

Ganso do Norte, Flamingo. Pensamos a etim. do nome


que

do Estado vizinho Sul deve ser no desta ave".


pelo procurada
"Conhecem
o Flamingo também na costa do Maranhão, onde

o designa com a denominação local de Maranhão". E. G.*


povo

maracoany, s.m. Espécie de caranguejo trivial na


"can~
Vigia e litoral atlântico. .O Voe. do M. G. define-o

ranguejo maior de todos e da boca maior o corpo.


que

marapatÁ; s. m. Atualmente em algumas localidades

corr. em mapatâ. Espécie de tainha, cujas escamas se


pare-

cem com as do curimatá.

marica, s-t. tighê, var. teghê, barriga, ventre.

marica-assú, s.m. Macaco barrigudo, segundo o natu-

ralista Alex. Rod. Ferreira.

marimbondo, s. m. Voe. desconhecido na Amazônia, sin.

— mas familiarizado os sons


de cáua cabâ, vespa, é com
quem

da língua tupi sente logo a extranheza dessa espúria,


palavra

sem a menor dúvida. Não-obstante a sua origem africana.


— 87 —

Bapt. Caet. fá-lo de mertí, mosca flecha, ou


provir ybon que

fere como flecha". O tupi frechar diztnhebon, var. nhy-


para

bon; a fôrma é
ybon guar.

mariguí-una. Mavnim do Mato. Voe. do M. G.

maruim, var. marimi, mavigui, mariuí. Êste último é

assás usado aborígenes, mbarigui, s-t, mariguu


pelos guar.
"mosquito
Pequeno inseto sanguivoro conhecido no Sul
por

pólvora". Diz-se de merú~~i.Marigui é a estirpe do


provir

francês mavingouin. m

matamatá, s. m. Da reduplicação
Çhelys fimbriata.
"matá,
de na língua aruan, tribu outróra habitara
pele que
o Marajó". E. G. Parece-nos, contudo, esta etim. sujeita

à controvérsia. O Matamatá, ao os índios chamam


qual
iauty-muta-mutá, ou iauty~mytá~mytà> no seu casco dorsal,

tem uns altibàixos regularmente dispostos,


que pareceram
ao indígena algo semelhante ao ondeado do cipó matamatá,

e causa dessa aparência lhe deram o nome é


por pelo qual
conhecido. O termo é tupi e usado em tôda a Tupiretama,

ao Sul e ao Norte do Amazonas. A castiça


grande pronúncia
é mytá-mytà, reduplicação de mytá, degrau,
palanque, girau
tosco; mas o índio atualmente dizer mutá-mutá e os
prefere
civilizados matamatá. Vide mutá no Glos.
par.

matiron. Matirão. Nycticorax violaceus. Pernalta mara-

joense.

matintapêre . Dyplopterus rtaevius. Avezinha


que passa

por agoureira. O nome imita o tristonho canto. S-t. Sací-ce-

rêrê, corr. muitos em matintapereira. Sendo o nome onom.


por
não se aceitar a etim. citada Veríssimo : matin-
pode por J.
"matin
uatá-perêrê, anda na não nos
gritando", qual perèrê pa-
rece ser traduzível O melancólico canto do matin-
por gritar.

ta~pê~rê compõe-se de cinco notas, como de cinco sílabas o

nome; ora, contando-se sete nas três desa-


palavras propostas,
a onomatopéia.
parece

matui . Massarico. Himantopus nigricolis.

matuitui, var. ituitui. Massarico Onom.


pequeno.

maturiÁ, s. m. Cigana. Opisthocomus- cristatus.

matupíri, s. m. Tetragonopterus Pequeno


fasciãtus.
dágua doce. No baixo Capim alguns erradamente fazem
peixe

êste termo sin. de


piquira.
— 88 —

mauari, s. m. maguavi, mbaguari, ave, Ardea


guar.

cocoi, L. Pela fal^ da cedilha socoi transformou-se em um

novo voe. cocoi.

maubatará. Sin. Choca. Diversos Focmicaroides assim

são chamados, como o Thamnophilus Lich., o T.


palliktus,
simplex, Sclater, o T. doliatus, L.

merú, var. mberú, berú, mberú. Mosca.


guar.

MERÚ-RAYRA. Bichos de vareja, c. d. merú-íayra, filhos

de mosca.

merú-uy, s-t. merú-obf. Varejeira. Lucilia macelaria.

Literalmente mosca azul.

merú-yra. Abelha cinzenta


pequena.

minhoca. Aulete dá esta como mas


palavra portuguesa,
"minhoc,
T. S. ver sua origem tupi em ou em mi-nhog;
quer

o que é extraído, arrancado ou tirado". O segundo compo-

nente em tupi escreve —


se ococa iooca, og var. nhêeng.
guar.
iuoca, nunca nhoc.

minicó. Põe-mesa. Inseto da família dos Mantidae. Sin.

abanh. caájára, c. d. caá, folhagem, herva, e iára, senhor,

dono, no Voe. do M. G. se acha vertido têrmo ul-


que pelo
"Louva "põe-mesa"
tramarino a Deus". O nome origina-se

dos tempos coloniais hábito tinham os criados es-


pelo que

cravos de serviram à mesa conservando-se em torno déla du~

rante as refeições dos senhores, imóveis, de braços cruzados,

imitando a das anteriores do minicó.


posição patas

miuá, s-t. megoá ou migoá ou ainda mbiguá e biguá guar.

mbiguá. Mergulhão. Phalacrocorax brasiliensis.

minuá, s. m. Espécie de uruá.

mociquy, s. m. Alforreca, medusa, caravela de Guiné.

mociquy-tinga. Variedade branca da medusa.

mociquy-piranga. Varedade vermelha da alforreca.


"mo-coó
mocó, s. m. Cavia rupestris, c. d. ou ma-coó.

bicho roe, animal roedor". É de T. S., mas não


que poderá

ser aceita sem alguma explicação mais. Roer em caraz,


guar.

em tupi suú-suú; mo ou ma com essa acepção nos é desço-*

nhecida em tupi. Bicho, animal, em ambos os dialetos é soo

e não coõ. Vide Socó. Mocó é têrmo trivial na Amazônia,

com acepção mui diferente. Vide Gloss.


porém par.
— 89 —

mombuca. Espécie de abelha. No Capim


pronunciam
"furando".
imombuca. Significa, segundo Von Iher.,

mopeteca. Var. murupeteca significa tor-


pumumbuca
cer. Espécie de formiga, c. de mu~peteca,
provàvdmente por
bater as mandibulas um ruido ou estálido,
produzindo quando

assanhada. Não a conhecendo, não sinão aventar a


podemos
hipótese.

moquirana, s. f. Chatos, ladros. Sin.


piolhos quyuarana,
contr. em
quyvana.

moquirana-rayra . Lendas de chatos, rayra - tayra, fi-

lhos.

morossoca, s. f. A Por. mar. escreve merussoca, e

assim aJguns índios ainda Faria dá uma etim.


pronunciam.
citamos no Gloss. em contradição com merú-soc.
que par.
"mosca
traduzivel
por pungente".

mucuim, s-t. mucuy. No Rio Grande do Sul dizem

micuim, Ácaro minúsculo encarnado.

muriqui, var. de byryquy.

murucututú, s. m. Espécie de coruja, cujo nome é

onom. Pulsatrix
perspiciílata.

murutucú, s. m. E. G. diz êste nome é


que genérico
no Amazonas coruja Strigides. Na nossa
para qualquer
opinião o murutucú é onomatopaico e s^n. de
quadrisílabo ja-
curutú. Bubo crassirostris.

mussuan, s. m. Cinosternon scorpioides. Pequeno


que-
lônio dos mondongos.

MUSSUM, s. m. Engystomo marmoratus. Peixe angui-

forme vive nos lagos e rêgos atolentos.


que

mutuca, s. f. No Sul botuca, mbutü. Tavão, mos-


"mo-íuca, guar.
cardo, c. d. a ou aguilhôa, a
que perfura perfu-
rante ou T. S.; cutuc, aguilhoar, ferretear, com
picante", picar,
o mú reforça a expressão; da sílaba
pref. pela queda primeira
do segundo componente : mutue.

mutuca-assú. Mutuca de cavalo. De todas a maior.

mutuca-miry. Mutuca em tudo semelhante à supra,

menos no tamanho.
— 90 —

mutuca-can-mytang .. Cinzenta de cabeça vermelha,

acanga-pytartga.

MUTUCA-PICHUNA. Bijogó. Pequena com as


preta pontas
"bijocó",
das azas brancas. O têrmo é conhecido no
pelo qual

baixo-Capim, africano fonação.


parece pela

mutuca-paráua . Cinzenta com listas brancas no ab-

domen.

mutuca-pirú. Pequena, avermelhada. Dão-lhe êste

nome, seus tegumentos moles, sem consistência, a fa-


porque

zem fàcilmente esborrachar-se com leve :


qualquer pressão

moderno; antigo,
pirú, pirung pisar.

mutum-assú. Crax carunculata. No Sul mutum de as-

sobio ou mutum de fava.

'
MUTUM-ÉTÉ, Mitua mitü, L. 1

MUTUM-PINIM. Crax
fasciolata.

mutum-pirí. Sin. mutum-cuarapiranga, sin. bras. mutum

da várzea.

mutum-puranga. Crax alector.

myacypirá. Peixe voador. Sin. Pirauêuê.

mycura, mbycú. No Sul sariguêia. Didelphis mar~


guar.

supialis. Em aban., encontra-se a myquyra, o au-


palavra que

tor do Voe. do M. G. traduz rabadilha, especificando:


por
"rabadilha
como de É também signifi-
galinha." possível que

casse o saco marsupial.

mycura-chichi . Didelphis cuica, e D. cinerea. No Sul

cuica. Vide chichú no Gloss.


par.

MYRYQUY. Eriodes hypoxanthus, var. de byryquy.

MYRYQUYNAN. Nyctipithecus trivirgatus.

nambí. Orelha, Nambieyma ou Nambicyca, sem orelhas,

troncho. Vide nambi no Gloss.


par.

NARiNARi, s. f. var. arinari. Arraia, desprovida de ferrão.


— 91 —

nema, adj. var. neme, inema. Fedorento, fétido. Em

composição mudar o n em r; alho


pode ybarema, ybaremassú,

cebola, apurema, etc.


ybyrarema,
#
nhandú. Vide iandú.

nhandú. Sin. ema, churi : Rhea americana. É termo

sulista.

"Mosquitos
nhetinga. açodem às feridas". Voe.
que

do Museu Goeldi.

"Mosquitos
nhetinga-rurú. como de vinho". Voe.

do Museu Goeldi.

nhuapupÉ. Perdiz. Voe. do M. G. Rhynchotus ru-

Parece voe. muito alterado, c. d. nhür campo âpú


fescens.

corr. de inambú, contr. de inambú rasteiro do campo,


pé, peba:

> O

oame, muà. Vagalume, var. uame.


guar.

oby. Vide uy

OIQUY-ratã. Peixe-rei. Voe. do M. G. Rata parece

corr. de rantan, *tantan aban., correspondente ao antan


por

nhêeng.

paca> Coelogenis Os índios diferen-


guar. pag. paca.
ciam a cinzenta da avermelhada. T. S
pacatinga, pacapiranga,
"pag,
dá-lhe como otfgem: o é vivo, ágil, corredor". Se
que

o erudito baiano tivesse aquinhoado à cutia esses


predicados
não teria errado, mas à ! Êste roedor noturno não é nem
paca
vivo, nem ágil. nem corredor. Basta vê-lo verificar é
para que
inteligente, e correndo depressa cança.
pesado, pouco que

Pac, significa acordar, despertar, mas em tupi não


guar. pag,
tem a acepção de esperto, vivo, finório, lhe damos em
que
Não é em acordar, o tupi foi buscar essa
português. pac, que

acepção, mas sim em dormir: sem dormir,


quéra, quereyma,
significa esperto, vivo.

pacamon . Pacamão. Batrachus surinamensis. Êste


peixe
tem a de delir-se facilmente cozido, mong,
propriedade quando
moderno mongui, isso freqüentemente de mu-
por preparam-no

Vide esta no Gloss.


gica. palavra par.
— 92 —

"corr.
pacú, de rápido, veloz no co-
guar. pacú, pag-ú,
mer, é o fluvial Prochilodus argenteus". T. S. O
peixe pacú
Myletes rhomboidalis, é um chato, arredon-
paraense, peixe

dado, se alimenta de vegetais, motivo de não


que precisar

comer rápida e sofregamente. Habita águas tranqüilas de


pe-

correnteza. Sin.
quena pacú-tinga, pacú-peua.

pacú-assú. Sin. Assim denominam no al-


pacú-pichiuna.
to-Capim um escuro, com os lados vermelhos» cresce
peixe que

até 40 centímetros.

pacÚ-tuí . Myletes discoides. Outra espécie- de


pacú.

paíé-yra. Abelha c. d. abelha.


preta, paié-pagé, yra,

panãme. Borboleta, mariposa, var.


panãpanã, panãma,

guar. pana, panambí.

panãme-ussÚ. Grande borboleta da mata.

"pi-
parati. Tainha, Mugil incilis. T. S. deriva-o de

rá~ti", branco". O erudito tupinista esqueceu a na-


peixe que
salação da sílada de tinga sempre e o
primeira perdura, que
voe. composto se conserva sem contrair-se, tanto no
piratinga
Norte como no Sul. Vide Piratinga.

paratiquÊra. Pratiquèra. Tainhas miúdas em enor-


que
mes cardumes sobem, no verão, rio Pará. Será contr.
pelo
de 1
parati-piquy

paraua, adj. Pintado, listado, versicolor, variegado. Pa-

eáua existe em aban. com a forma e em


pavábo, guar. parab,
Mart., no seu Voe., dá o têrmo mas esquece a s-t. No
guar.
dic. anonymo de 1795 lemos esta com à reduplicação:
palavra
"Côres
diversas,
jepatáparábo.

PARAUÁ, e s-t. Em mas


guar. paraguá. geral papagáio,
no Capim os índios reservam êste nome ao aiurú~~assú sò-

mente.

paraua-i. Papagainho. Pionus Müller.


fuscus,

PARAUACÚ. Pithecia hirsuta.

parauamboia. Cobra verde; arboricola, c. d.


peçonhenta,
sua côr fê-la assim
parauá-mboia,
^denominar.

pariri . Geotrygon montana, L. Sin. iuruti-piranga.

parú. Pepcilus L. O Voe. do M. G. verte êste voe.


parú,
"Peixe
por enxada".
patatiua . Patativa. Avezinha contora. Spermophüa

plúmbea.

paturi. Anas viduata. Corr. de


potiri.

pauchi. Crax tuberosa, Mutum Espécie exis-


pauchiz.
tente no Baixo Amazonas, no distrito de Óbidos.

"Ave
pavÓ . Pyroderus scutatus : e negra de
grande pes-

coço anterior e brilhantemente vermelho". E. G. Não


peito

afirmar ser tupi esta


podemos palavra.
"palmipede
pecay. Segundo Barb. Rod.: do igapó do

Podiceps, canta mui alto". Provàvelmente c. d.


gênero que

ipeca-i.

peitica. Maria é dia. Empidonomus: varias.

pema, var. Sin. de


pemba. peua.

pepeua. Sin. de Caninana.

pequi. Anas dominica. Espécie de c. d. ipeca-i.


pato,

pepó, var. Aza.


pepá. guar. pepó.

péua, aban. adj. chato, Em


peba, guar. peb, plano.
composição se o subst. o acaba em vogai nasal,
que precede

muda o em mb. Péua tem ainda a significação de rasteiro,


p
baixo; aos animais de curtas e isso de
pernas por pequena
altura também classificam os índios de
péua: potiri-péua,
A algmas aves, como o inambú-péua, igual-
jagoapéba.

mente, vêem o caçador se agacham


porque quando quietos

e com a sua côr se confunde com a da folhagem seca,


pas~
sam algumas vêzes desapercebidos. Péua significa ainda raso,

como em Puampé e Puampezinho, ilhas na costa do


pequenas
Marajó, c. d. apuam, var. de ilha, e rasa; esta
ypáu, péua,
acepção é igualmente encontrada em c. d.
ygapeba, ygára-pe-
ba,
jangada.

¦ piaba. Curimatus vittatus. Peixe. É voe. aban.

peypycõia. Espécie de bezouro. Talvez seja êste nome

referente ao caturra. largo espaço a cópula,


que prolonga poj

dai o cõia ou conha, juntos, unidos.


gêmeos, pegados,

piassoca, s-t. aguapeassoca, aguapeassog, Mart.


guar. que
"ave
traduz no auapé saltitaiíte. Piassoca é corr. de
por

auapeassoca. Os naturalistas dão a êste o nome de


pássaro

Parra mas no Pará damos o nome de a uma


jassanã, jassanan

ave diferente.
— 94 —

• piáu, Sardinha. Peixe do Salgado, deu


guar. ypíau, que
o seu nome ao Piauí

•picapára.
Heliornis Sin., segundo o Príncipe zu
[ulica.
Wied, de ipequi. C. d. ipeca-apára.

picassu, var. c. d. apycassú.


pecassú, picui-assú, guar.
Pomba torquaz. Columba speciosa. torquatus,
O latim
colar,
"torquaz",
alterou-se, o em
passando para port. primeiramente
"trocaz", "trocai",
depois em e fim em é como
por que pro-

nunciam no Pará. Tem a torquaz êste nome es-


pomba pela

de colar dé côr violeta no


pécie pescoço.'

picassú-roba, apycassií-ró. Pomba amargosa. E. G.


guar.

diz ser no Sul aplicado êste nome à Chloroenas infuscata, mas

a verdadeira é a Chloroenas rufina, na


que picassú~roba que
Bahia é designada voe. corr. O
pelo pucassú. qualificativo
de ter realmente a sua carne um leve sabor amargo.
provém

Nos tratados de história natural vê-se no Sul o nome da


que

amargosa se acha estropiado em cassaroba e em saroba,


pomba

picassú-tinga . Espécie de
pomba.

pichana, Gato de beliscar, ar~


guar. pichan. picharia,
ranhar.

pichuna, adj. Preto, negro, escuro, tenebroso.

picui, Pomba em
guar. pycui. geral.

picui-i. Rola. Chamaepelia L.


passerina,

picui~péua . Peristera cinerea.

pindauna. Ouriços do mar. Animal da classe dos Echi-

nodermas, da ordem dos Echinideos, c. d.


pindá-una.

pintauan, s-t. Bemtevi. Pitangas sulfaratus.


pintaguan.

Onom. Vide arirú-iú. Os naturalistas do aban.


pintaguan,
estropiando-o, tiraram dois têrmos científicos designar
para

alguns bemtevis: Pitangus bellicosus, e Megarhynchus


pitan-
O segundo Mart., citado E. G., tem ainda
gua. pintauan, por

em tupi o nome de tachuri, também onomatopaico, mas


que

o botânico bávaro derivar de tachi, formiga, e xuú, mor-


quer
der, etim. cuja responsabilidade bem fez E. G. em declinar, ci~

tando o seu autor. Sin. No Sul Triste-mda.

pipira, s. f. Rhamphocoelus L. Avezinha fru-


jacapa,

Onom.
gívora.

pipira-una. Tachyphonus melalenans, Sclater.


— 95 —

pitauan-assÚ. Pintaguan-guassú dos naturalistas. iWe-

L.
garhynchus pitangua,

piquyr, Piquira. Boaná, miúdos.


guar. piquyr. peixinhos

piraba . Chalcinus auritus. Sin. arauiry ? Sardinha. Pa-

rece-nos este nome sé refere a outra espécie de sardinha


que

do mar, diferente da arauiry. Perto de Salinas na costa do

Atlântico existe uma com o nome de Pirabas, sendo


povoação

esse voe. desconhecido nos rios de água doce.

pirabutanga . Chalceus Orbignyanus, c. d.


pirá-pytanga,
cuja var. é butanga.

píracaá. Monocitvhus Peixe.


polyacanthus.

piracatinga . Pimelodus c. d. Peixe.


pati, pirá~catinga.

piracambeua. Vide cambeua.

piracutá . Corvina c. d. cutáca, var. de


grunicus, pirá,
catáca, ranger, coaxar.

pira-japé-au A. Mais correto Pirá-japeáua. Platystoma-

tichthis stureo. Êste também é conhecido Peixe-le-


peixe por

nha. C. d. iapeáua-iapeaba, var. iepeáua-iepeaba,


guar. yepeab,
lenha se origina de iepêe, termo em em aban. e
que que guar.,

em nhêeng. significa aquentar ao sol ou ao fogo. Em nhêeng.

moderno o têrmo acha-se contraído em iepeá. A


pronúncia po~

atual é
pular pirapeuáua.

pirahyba ou c. d. Bagrus reticulatus.


pirayua, pirá-ayua.

piramutaba, s. f. Platystoma Vaillanti, Bagrus


piramutá.

A nhêeng. é c. d. amvtaua~amu-
pronúncia piramutaua, pirá,
'longas
taba, bigode, barbatana. Deve o seu nome às barba-

tanas tem. *
que

pirambucú. Platystoma tigrinum, c. d. e as-


pirá-pucú

sim deveria ser a sílaba final de não


pronunciado, porque pirá

é nasal. Mart. é sin. de curimatá.


pensa que pirapucú
<

piramiuna. Dourado. Peixe.

piranambú. Piranampus typus, Blecker. C. d.


pirá-

inambú.

piranhe, var. ipiranhe. Piranha, s. f. Serrasalmo,


piraya«

Sin. O aban. diz e também


piranhe-piranga. piranhe piráya,

sin. aproveitado no nome científico.


— 96 —

piranhe-mapará . Serrasalmo denticulaíus.

piranhe-tinga. Piranha branca. Serrasalmo rhombeus.

piracauara. Cetáceo do dos Delphinidae, entre


grupo

os. o boto branco, Inia amazônica e o tucuchy, Steno tu~


quais

cuchi, c. d.
pirá-iauára, peixe-jaguar

piramiuna, Dourado. Peixe do Atlântico.

piranema. Marcgrav diz ser um do mar; mas no


peixe

rio Guajará, não longe do igarapé Iandiá, encontra-se outro

riacho com o nome de Piranema, c. d.


pequeno pirá-nema.

Piranhuna, c. d. Piranha É a mesma


piranhe-una. preta.

envelhecendo atinge 26 cm. de compri-


piranhe~piranga que

mento e a côr rubra do ventrç adquire uma colora-


perdendo

ção escura sarapintada de


prateado.

piranga, adj. var. mirang, encarnado, ver-


pirang, piran,
melho, rubro. Sin.
pitanga.

pirapitinga . Chalceus opalinus, c. d. acin-


pirá-pitinga,
zentado.

pirapema, Megalops thrissoides. Peixe do mar e dos

estuários. No inverno vagueiam campos baixos do Ma-


pelos
rajó, ficando alguns nos lagos; c. d
pequenos pirá, perna-

pemba.

pirapôco. Xiphostoma ocellatum. Corr. do


provável pi-
ra~pucú.

PIRAPUCÚ. Xiphostoma Quvieri.

pirarára . Sihirus Assim denominado tei


pirarára. por
a carne amarelo-avermelhada.

pirarucu . Sudis Diz-se de


gigas. provir pirá-urucú, por
causa das encarnadas o ornam.
pintas que

piratapioca . Peixe fluvial, c. d.


pirá-typyoc.

pirarupiá. Ovos, c. d. supiá, ovo.


pirá,

piratinga . Dourado, c. d. Bagrus reticulatus


pirá-tinga.

e Piratinga Rousseani.

pirarucuboia. Nome em alguns lugares da Lepidosiren

Sin. tariiramboia, caramurú.


paradoxa.

pirauêuê, s-t. Peixe voador. Exocoetus vo~


pirabêbê.

litans, c. d. voar.
pirá-uêuê,
— 97 —

pirauna. Méro; c. d.
pivh-una.

pirayssóca . Lula do mar, siba. Voe. do M. G.

pirêra. Pele, escama, casca, casco, couro.

piragoai. Búzio Voe. do M. G.


pequeno.

piriquita. Periquito. Nome de diversos Co-


pequenos

nuridae.

piriquitaruaiú. Periquito rei. Conurus aureus; c. d.

Tuásuá^tobá, cara, iú, amarela.

pitanga, adj. var. mytanga, mutanga,


pytanga, putanga,
butanga. A atual é com o a final muito
pronúncia pitanga,
breve. Em algumas regiões significa cinzento, fosco,
pardo,
trigueiro, sendo essa a acepção dada Marcos An-
pelo padre
tonio (Chrestomathia) e Voe. do M. G.; em outras
pelo
significa vermelho, encarnado, sin. neste caso de e
picanga,
naquele de tuyra o substitue no Pará. T. S. dá a este adj,
que

a acepção somente de o não é exato. Em alguns


pitanga, que
do território aban. cumulava ambas estas sig-
pontos pytanga
nificações, como se verifica do Voe. do M. G., no
qual pardo,
moreno, côr tira a vermelho, são traduzidos
que por pytanga.

pitinga, adj. Turvo, barrento. Para certas tríbus o nome

do Amazonas era Pavanapitynga, segundo o dic. anônimo de

1*795, nome incriteriosamente Mart. decompõe em


que paraná,
rio, caminho, tinga, claro, limpo. Parece-nos
pé que pitynga
era a primitiva dêsse adj. Comparando
pronúncia pitynga,
turvo, barrento, com cinzento, vê-se um é var,
pitanga, que
do outro. Um dos raros casos em o tupi se transformou
que y
em a na língua.
própria

pium, s. m. Inseto hematófago mui Mart. de-


pequeno.
riva-o de
pim, picar.

PÓ. Mão, var.


garra. pú.

poacang . Dedos de mão; c. d.


pó-acang.

pòacangussú. Dedo
polegar.

poruti . Cypselus squamutus. Espécie de andorinhão.

poti, var. moti, motim. Camarão.


potim,

potiquyquyya. Lagosta, Voe. do M. G.

potim-assÚ, Lagosta, lagostim.


guar. potim-guassú.

120.929 F. 7
— 98 —

potiri. Marreca comum, marreca do, Marajó. Dendro<¦

cygna antumnális.

potirí-guassú. No Sul nome do


ganso.

potiri-peua. Dendrocygna Estamos em dúvida


fulva.

sobre a ave à os índios davam este nome; é


qual possível que
com ele designassem' a marreca-toicinho.
pernicurta,

PUCÚ, adj. Comprido, longo, extenso,_alto. Em aban.,

se diga abá~pucú, homem alto, se trata de


posto que quando

seres inanimados emprega-se nheêng. ex.


ybaté yuaté; yba-
árvore alta, o não acontece em n-t., ex. miritipuaK
ybaté, que

ananerapuaí, etc. Sendo nasal a sílaba antecedente,


genipapuat,

em composição muda o em mb.


p

É bem Taubaté, cidade cujo nome


provável que paulista
"taba-été,
é derivado etimologistas de vila,
pelos povoação

considerável", T. S., de itá, e alta;


provenha pedra ybaté,
afirmá-lo, seria necessário conhecer a to-
para poder porém,

dessa cidade, celebrizada recente convênio, afim


pografia pelo
de saber se existe ou se existiu aí algum rochdo conspícuo. A

permuta do pelo u é vulgar, não só o termo


y quando passa

como também no tupi mesmo. A etim.


para português, pro-
tupinólogo baiano não explica o acréscimo do u. Em
posta pelo
nhêeng. vila considerável ou cidade diz-se mairy; em aban.
"cidade"
tabeté. Vide na Chrestomathia, na essa-palavra
qual
se acha vertida tabaussú, tabetei.
por por

puragoacarê. Búzio Voe. do M. G. Parece


pequeno.

corr. de afim do já citado


pirogoá-carê, pirigoá-i.

puranga, adj. var. moranga, motan. Formoso,


puran,
belo, lindo, saboroso, delicioso.

paraquÉ. Gymnotus electricus. Mart. fá-lo de


provir

bater, cutucar, o não ser exato. A sensação


puruc, que pode

de entorpecimento do choque elétrico deste é tão dife-


peixe
rente da ação de cutucar, de bater nos obriga a recusar
que

a opinião do insigne companheiro de Spix. Puraqué significa

cotovelo e também a sensação se transmite ao longo do


que

antebraço até ao se comprime, friccionando, um


pulso, quando

nervo ou tendão entre as apófises do cúbito e do húmero. A

impressão recebida essa fricção imita um o choque


por pouco
do
puraquê.

puruam. Umbigo, idêntico.


guar.
— 99 —

puruchitá, s. m. Espécie de caracol. Outróra pronun-

ciava-se iapuruchitá, é a encontrada no Dic. anô-


que grafia

nimo de 1795.

PY, mby; aban. byr


guar. py, pé.

pyacang. Dedo do pé.

pyá, mbyá, coração.


guar. pyá,

pyá-bebuia, var. Pulmões, bofes.


pyá-bubuia, pyá-bubui.

QUERÊ-QUERÉ. Chaetodon striatus.

quero-quero. Vide Téutéu.

quirirú. Octopterix No Sul conhecem-no anu-


guira. por

branco. Dizem os naturalistas os tupis do norte o deno-


que

minaram fato de eri-


guirá-acangatára, provàvelmente pelo

çar as da cabeça em certas ocasiões. O nome é onom.


penas

Sin. no Sul
piririguá.

Quiriquiri, s. m. Tinnunculus sparverius. Gavião


pe-

Segundo E. G. onom. Sin. bras. Gavião de rapina.


queno.

QUYRANA. Lêndea, c. d. Sin. do Voe. do


quyua-rana.

M. G. cor. de e rayra-tayra, filho.


quy-bayra, quyba,

quyua, aban. Piolho.


quyba, queyba.

quyuarana . Chatos, ladros. Aban.


piolhos quyba-rana.

QUiú, var. oquiú s-t., oquigú. Grilo,


guar. yquyyú.

quessequissi. Conurus solstialis* Espécie de


periquito.

quijuba. Sin. de corr. de


guarajuba, guaruba, guyra-

juba.

QUISSAUA, var. Rede de dormir, dormitório.


quissaba.
Sin. maquêra. Neste, a terminação e naquele, o radical
quêva,
dormir : O Voe. do M. G. traz Pypoirãna como
quéra~saua.

significando rede de dormir; supomos erro de cópia


que por
Pypoirãna está Typoirana, c. d. typoi, rana. Vide tipoia
por

no Gloss.
par.

rahÚ . Larvas de insetos se alimentam de madeira


que

e os índios comem. Voe. do M. G.


podre que
— 100 —

rana ou adj. Sempre empregado como suf. em


ytfyia„
nomes de animais ou singnifica semelhante, se
plantas; que

e também eqüivale a agreste, bravo, silvestre, selvático,


parece,

vê na Chrestomathia : Cousa brava •— Esta


como se
yrana.

acepção transparece em redemoinho, sorvedouro,


ycuarana,

caldeirão, c. d. Mart. não sem razão também


ycúára, yrana.

fá-lo significar bastardo, espúrio. No rio Capim os índios dão

vulgarmente a êste adj. a significação de agreste, incomestível;

ex.: uá~yrana, fruta não se come.


que

reriapynha . Cráca, caráca no Pará. Crus-


pronunciado

táceo vulgar em todo o litoral; c. d. rerí, ostra e apynha, têrmo

se encontra ainda em tatá-apynha, carvão.


que

reripeba. Lapas, ostras. Voe. do M. G. c. d. reri-

ostra chata.
peba,
ripina. Harpagus bidentatus. Não afirmar ser
podemos

a sua origem tupi.

sabiá. Nome no Sul do Carachué, haabiá.


guar.

sabaá-cica. Triclaria cyanogastra. Espécie de maitaca

vê-se •
do Sul. Nas Aves do Brasil, de E. G., também co
que
nhecem esta ave nome de arassuá~i~ava. É
pelo possível que

êste voe. seja corr. de txirá-suaia-oby, ave de cauda azul. O


"côr
trecho do mesmo E. G.: verde, só no meio do
geral que

abdômen é interrompida uma malha violeta, e aos


por grande

remígios e a da cauda azues", isso faz supor. A corr.


ponta

de oby em obá~avâ é
possível.

sabiá-piranga. Turdus rufiventris.

sabiá—poca. T. crotopezus. T. albicollis.

sabiá-una . T. haabiárü.
flavipes, guar.

sabiá-piry. Mimus lividus.

saburá. A de as abêlhas armazenam


provisão polen que
sustento dos filhos; teborá, heborá.
para guar.
"cão
sabussú. O dic. do P. Marcos Antonio
para
dágua, dá-nos dois têrmos : c. d. iaguara assú,
jaguassú,

cão grande, e sabussú, c. d. saba assú, subenten-


pêlo, grande,
dido iauara-sabtxssú. A lontra tem nomes diversos, dos
quais

a não ser ariranha, dado naturalistas, os demais são


pelos pa-
lavras compostas, nas o voe. iaguara, é o com-
quais principal
— 101 —

• iaguassú, cão
ponente ; grande, iaguassabussú ,cão de
pêlo

peludo, felpudo; iagoapopeba, cão de mão espalmada,


grande,

taguacáca, cão faz cácáca.


que

sachicanga. Serrasalmo humeralis. Peixe fluvial.

sacoaritá. Caramujo. Parece corr. de sacuraritá.

sacuraguassú. Molusco maior o


que precedente.

sacurauna. Espécie de búzio.

saíra, sahira. Diversas espécies do Calliste tem


gênero
este nome no Sul.

saira-sapucaia. Caliste medanota, E. G.

sairára, s. m. Cebus c. d. sauim-arára.


gracilis,

saimirim, s. m. c. d. sauim-miri.

saitauÁ . Cebus c. d. sauim~tauá.


flavus,

saity, haity ninho.


guar.

sambaqui, var. tambaquy. Espécie de molusco. Os mon-

tões de conchas existem no litoral também são conhecidos


que
setenambi, c. d. tambá, Bapt. Caet.
por quy.

sahui-caratinga. Hapale leucocephala. Parece têrmo

c. d. cara e do tupi tinga. Êste macaquinho tem a cabeça


port.

branca.

say . Sahy. Diversas avezinhas da família dos Coere-

bidae, de azul, entre as sobres-


plumagem geralmente quais
sáem a C. cyanea, e a C. cyanocephala. T. S. dá-lhe como

origem sa-i olhos etim. também


(cessé-i) pequenos, que pes-
em
sauim dando-lhe olhos como
pega (saguim), pequenos
"o
equivalente a é espérto, vivo, ágil", exatamente a sig-
que
"pag,
nificação aplica ao nome da o é vivo,
que paca: que
esperto, ágil". Em nhêeng, say, decompor-se em
poderia
sáua-uy, aban. saba-oby, azul.
plumagem

say-assú. Sahy-assú. Tanagra otnata. Espécie maior.

say-assú-tuyra . Tanagra
palmarum.

sanharan. Espécie de abelha. Trigona amalthea, de

nharon, bravo, feroz.

sapiá . Testículos, hapiá, tapiá.


guar.

sapucaia . Galo, acrescentando-se-lhe apyaua


galinha,
denominar aquele, e cunhan esta. Primitivamente
para para
— 102 —

deram os índios a estas aves o nome de uitá-sapucaia, o


pás-
saro ou o subseqüentemente encurta-
que grita, gritador^ que
ram, dizendo somente sapucaia, uruguassú.
guar.

sapucaia-miri. Pinto, franguinho.

SAPUCAIA-ROCA. Galinheiro, c. d. sapucaia, oca, casa.

sapupema. Gasíeropelecus sternicla.

sapecuára, s. f. Nome vulgar de um molusco da família

dos Sepiadae, do oceano e entra estuário do rio Pará


que pelo
até a Vigia.

saqui . Pithecia leucocephala.

saracura. Aramide chiricota. Ave vulgaríssima nos tesos

do Marajó. T. S. fornece-nos este voe. uma etim. mais


para
"corr.,
duvidosa: diz êle, de tara-cura, tara-sara, espiga,
que

milho, cura o engole ou traga, o come milho" . Não consta


que

esta aramidae mostre avidez milho, ou


que grande pelo que
devaste milharais,
os o autóctono se lembrasse de
para que
"o
denominá-lo come milho". Em cativeiro é omnivora, tanto

come o milho como arroz, o o verme


peixe como a carne, como
"Aprecia
a farinha dágua. mesmo muito o alimento animal;

come baratas, tôda sorte de vermes, de carne, cabeças


pedaços

e tripas de , como obsrva E. G. Em estado bravio
peixe'

não consta as roças nelas aproveitar o milho.


que procure para
Sara-hara-tára, termo tupi-guar. significa espiga em em
geral,
algumas tribus especifica a espiga de milho, mas o
cereal, o
"o
diz-se auaty-abaty; deveria, significar en-
grão, portanto,

espigas", se em tupi cura fosse engulir.


gole

SARANHA, s. f. Qynodon vulpinus. Peixe dágua doce,

cujos dentes tanha-ranha, caninos são enormes. Sin. andirá-

morcego, causa do ruido faz a


pirá, peixe por que pequena

o imita o mui rápido e repetido


profundidade, qual guincho
dos dentro dos seus dormitórios.
quiropteros, quando

SARAPÓ. Carapus Peixe colubriforme dos rios


fasciatus.
"sará~pó,
e lagos, c. d. desprende mão, ou escapa ou es-
que

correga da mão". T. S.

sarabiana. Cichla temensis. Peixe do Rio Negro.

sarasará . Aelurichthys Peixe.


grenovii.

sarará, s. m. Pequeno crustáceo decápode dos rios dá-

salobra e dos mangais. Em aban. é conhecido sarará


gua por
— 103 —

"borboleta
um inseto alado segundo T. S. é a vôa
que, que

entorno da luz".

Sarará-peua. Pequeno caranguejo avermelhado, maior

o antecedente, é alvacento. Abunda na Vigia.


que que

sarigueibejú. No Voe. do M. G. diz-se ser o nome das


"martas
de se forram os roupões, certo bicho dágua. Pa-
que

rece ser a Macura-chicfií aquática.

sassoca, hassog, tassog. Sin. Larvas da


guar. yasoca.

Lucilia macellana, larvas de bezouros. Estas últi-


gorgulho,

mas têm ainda o nome de iepeá~sassoca, se alimentarem


por

da madeira sêca, sin. de iepeá, lenha,


ybyrá-sassoca. ybyrá,

madeira.

SAUÁ. Tetragonopterus argenteus. Peixe do Amazonas.

SÁUA, aban. sába. Penas, cabelo, hab.


pêlo, guar.

SAUBA, cor. de
yssauba.

SAUIM, var. chauim. Nome dado a diversos macaquinhos,

T. S. ensina sauim é corr. de sâi, olhos o e


que pequenos, que
esperto, vivo, agil, a mesma origem êle encontrada
por para
sahy. A mais usual nos sertões é chauim, nos
pronúncia que

parece imitar o seu


guincho.

SAUIM-ASSÚ. Callithrix
personatus.

sauim-miri . Hapale
peniculata.

sauim-pjranga. Midas Rosalia.

sauim-una. Midas ursulus.

SAUIÁ, s. m. aban. sabujá, savijá, saviá, ou ainda seguyá.

O olvido da cedilha em deu lugar ao voe. científico


çaviá

cavia, é conhecido êste rato comestível. Cavia


pelo qual

Spixi, e Cavia rupestris. Os índios discriminam três espécies:

• Pequeno, cinzento, côr de ferrugem.


sauiá-i.

sauiá-pichuna. Escuro, caudado.

SAUIÁ-TINGA. Bragado, isto é, com o ventre branco.

SCHATO-ARANA. Chalceus Hilarii, Kner. Cor. de


jatua-
rana. Kner era alemão: os. desta raça não
podem pronunciar
"Ja
o schaMart. Glossaria
jota: pronunciatur germanice
linguarum brasiliensium, 454. Â 29 da mesma obra
pág. pág.
— 104 —

"wird
êste autor ensina o wie ein mildes sch im
que jota:

Deutschen gesprochen".

SENEMÚ, sinimú, senemby, senembú, senemué ou sinimbú.

Camaleão. Iguaria taberculata.

serenambi, sernamby. Com as válvulas dêste molusco


"cal
a cal conhecida sernamby". Mendes
prepara-se por J.

d'Almeida tira-o de ciri-ambii de círi, apartar, separar e umbié,

lado, costado". Não será antes c. d. ciri~namby?

seriema . Dicholaphus cristatus.

SEVI, var. sovi. Gavião Ictinea


pomba. plúmbea.
"soô-có,
socó, s. m. T. S. decompõe êste termo em bicho

se arrima, ave se sustenta ou se apoia em um só*',


que que pé
afirmando ser ele comum as Não sabemos se em
pernaítas.
São Paulo socó é voe. abranja as aqui, no Pará,
que parnaltas;
cabe êste nome a uma somente de uma das dezenove
parte

famílias de se compõe a ordem dos a das Ar-


que pernaítas:

deidae. Desta as ostentam uma bicôlor, sobre


que plumagem

um fundo avermelhado, ou listas anegradas, recebem


pintas
com exclusão de outra ave o nome de socó, compre-
qualquer

endendo os Botaurus e Tigrisoma : socó-boir socó~pi~


gêneros

nima, socoby. O têrmo soeó-6oi é voz híbrida composta do

tupi soco e do boi; designa o Tigrisoma btasiliense, cujo


port.

é comparável ao mugido bovino. Soó é voe. só de-


grasno que

signa os O índio não tem, como nós em


quadrupedes. port.
"animal",
na uma expressão ser aplicada a
palavra que possa
todos os seres viventes, desde a vigorosa e corpulenta anta até

ao mais ínfimo e imperceptível mucuim: às aves chama


quase
uifá, aos tem ainda teiú, tapurú, boias, issoca, e
peixes pirá,
outros nomear os lacertílios, as lagartas, as cobras, os
para

vermes, etc. Pelo Voe. do M. G. ainda verificar


pode-se que
o tupi restringiu mais a acepção de 500, designando com êle
"Soo,
apenas os quadrupedes com os se alimentava:
quais

animal, se come". A mesma restrição se de-


quadrupede, que

da diferença faz o P. Marcos Antonio entre


preende que
"animal: "animal
soo" e se não come: soõ-ayua". A có
que

também deu o distinto tupinólogo acepção esse voe. não


que

tem. Significa em sustentar, apoiar, arrimar, escorar,


guar.:

sem a esdrúxula restrição do só. O seu equivalente nhêeng.


pé,
é iococ. O nome dêste bicho do faz ouvir,
provém grasno que
vôa espantado, e esta origem onom. tem o consenso
quando
— 105 —

aqui no Norte, como também no Sul, na Po-


geral pois que,

randuba maranhense se lê: Canta o seu nome com voz baixa,

e vagarosa.
grossa

sôcôcôi. Passarinho da telha. Afirmam os indígenas


que

o nome imita o seu canto. É uma avezinha insetívora, côr de

ferrugem, com miúdas


pintinhas.

socoi. Socohy. Sin. socó-miri. Butorides virescens, L.

soô, var. soo. Animal carne.


quadrupede,

SOOGUAGRA. Prochilodus vimboides.

sororóca . Peixe do Atlântico, o Voe. do M. G.


que
"cavalinhos
traduz ou sardas".
por

souá . No baixo Madeira, segundo Natterer, assim cha-

mam ao Mesomys spinosus. É corr. de sauia.


patente

suá, var. tuá, aban. tobá. Cara, face.

suaia, s-t. sobaia ou soaia, tuguay. Cauda, rabo.


guar.

suaiacyca, c. d. suaia-acyca. Rabo cortado, derrabado,

descaudado, no Marajó dizemos rabicho.


que

suassú. Veado. A origem desta tem dado


palavra que

fazer aos etimologistas; não menos de diferentes opi-


quatro

niões se encontram, sem nenhuma delas seja satisfatória.


que
"
Alex. Rod. Ferreira suá-assú,
propôs primeiramente: por

ter o veado a cabeça comprida e testa". O mesmo


grande

naturalista achou depois outra lhe mais


que pareceu provável
"suú,
e G. Dias, no seai dic.: mas-
que patrocinando, publicou

tigar, suú-suú vale tanto como ruminante". A forma


guar.

e' a aban. suguassú ou cyguassú demonstram o


guassú que.

segundo componente é o ad). uassú-guassú, a


prejudicando

hipótese do célebre naturalista brasileiro. Veio em seguida

Barb. Rod., cessá-assu, olhos T. S.


preconrsando grandes".

finalmente soô-assú, animal Como se vê


prefere grande".
nenhuma destas etims. explica a forma aban. cyguassú,
que

nos a menos corruta e talvez decompor-


parece que poderia

se em cy, mãe e O Voe. do M. G. escreve cyguassú,


guassú.

como também o P. Barcos Antonio.

'.
suassú-apára. Blastocerus Veado campeiro,
paludosus

guar. guassu~i.

suassÚ-été, Coassus rufus. Veado vermelho. Sin. suas-

sú-piranga, suassú-pitinga,
guar. guassú-pytan.
— 106 —

suassú-anhanga. Veado anhanga ou aianga. Deram-

lhe este nome causa do seu lúgubre; sua carne es-


por grito

é tida nociva.
ponjosa por

suassurana, sussuarana. Felis con-


guar. guassúarart,
"puma", "cuguar".
color. Sin. da literatura zoologica C. d.

suassú~arana. Comparando-se a forma tupi com a ve~


guar.
rifica-se a identidade do último componente aran-arana. Há

alguma improbabilidade em o termo, sendo rana, como


que

até hoje era admitido, o tivesse lhe acrescentado um


guar.

som a mais no começo, êsse dialeto se achava em


quando já
mais adiantado de aglutinação, tendendo antes
período para
contrair as do alongá-las. Mart. traz a var.
palavras que por

suassuerana; deste arana ou erana o P, Marcos Antonio for-


"yrana,
nece-nos ainda uma outra var.: cousa brava" e com

acepção perdura em redemoinho, caldeirão, sorve-


ycuarana,
douro, c. d. cova dágua, e brava, in-
ycuava, poço, yrana,
domita. O vero voe. tupi é suassúarana, como ainda agora

dizem os índios, do nós luso-brasileiros sincopámos o


qual

a sussuarana. Pensamos a forma


primeiro pronunciando que

primitiva dêste adj. rana tão usado em composição:


guaiaba-

rana, narumarana, iaquirana,


piquiarana, quyrana, jacarerana,

uacapurana, etc. é arana~yrana, contr. rana, significando


semelhante, se bastardo, espúrio, bravo,


que parece, pseudo,

agreste, selvático.

suassú-birá. Veado caatingueiro. Cervus simplicicor-

nis. É seja o dos


possível que guassú-abará guar.

SUASSÚ-TINGA. Veado branco;


guar. guassú~ti.

SUASSUMÉ, cabará. Cabra, suassú com a voz onom.


guar.

do berro ao caprino. Aban. suguassumé, cyçuas-


peculiar gado

sumé. Para T. S. significa veado introduzido, importado:

assumé.

suassúpucú. Veado
galheiro.

sucuri. No litoral, segundo o Voe. do M. G., significa

tubarão. Nos rios dágua doce dão êste nome ao Eunectes mu-

rinus, vulgarmente conhecido sucuriú, sucurijá : sucuri


por
T. S. origina-o de"suú-curi, o morde ligeiro, o
grande. que

atira o bote apressado". Para Rich. Burton de


que provém

suú e curi ou curú roncar: alusão ao seu sibilo. Temos matado


— 107 —

muitas cobras desta espécie nesta fazenda Dunas, onde abun-

dam algumas na extensa a cacete depois de embrave-


praia,

cidas e longo trecho,


perseguidas por quando procuravam

a beira dágua, mas ainda não as ouvimos sibilar. Se sibilai

e roncar fossem sin., restaria a dificuldade de fazer aceitar

curi-curú com a acepção de carang, de amby ou de cuvurú, que

são os equivalentes de roncar em tupí.

suynara. Solinacia. s-t. suindára. Espécie de coruja.

Strix No Sul coruja de igreja, coruja branca das


perlata.
torres.

suhi, var. tuhi, s-t. tuguy. Sangue.

suiriri, var. uiriri. Ciriry.Muscicapa suiriri. Onom.

suiriri. O nome científico é de acordo com E. G„ 7>

rannus melancholicus. Vieill., sendo sin. em Minas Titiri, no

Paraguai chururi-acapitá; este churucú var. de suiriri e


parece

acapitá corr. de acãpità, acanga-pytanga.

supiá, hupiá. Ovo.


guar.

supiá-tacacá, aban. supiá-tinga, supiá-ayguê. Cia-


guar.
ra de ovo.

surubi. Surubim. Platystoma suru-bi.


[asciatum, guar.

Peixe de dos rios límpidos, da família dos Siluridae.


pele,
"surú-bi,
Bapt. Caet. lisa ou de escorregar: nome
propõe: pele

dos bagres". No Pará só três são co-


genérico peixes peixes

nhecidos este nome: o Platystoma dos natura-


por fasciatum
listas e mais dois. Não desapercebido ao
pode passar quanto

valor das em sarapó T. S. traduz sara escor-


palavras que por
regar, e neste Bapt. Caet. dá essa acepção a surú. Em tupi

moderno escorregar diz-se cyryc ou cinca, cyryryc ou ciriric,

se escorrega com o A objeção, a


quando pé pycyryc. porém,

mais contra esta etim. é se surú significasse liso ou


grave» que

escorregar, se bí é corr. de escorregadia seria


pi, pele; pele

bi-surú, ser contrário à índole tupi a colocação do subsl.


por

em seguida ao adj. Mart. tira-o de soryb, alegre, contente.


"jurú-bi,
T. S. opina boca fechada".
por

SURUBI-CAPARARI. Platystoma corruscarts.

surubÍ-mena. Platystoma sturco, mena-marido.

suruanan. Chelone Midas. Tartaruga do Atlântico,

desova nas do litoral.


que praias
— 108 —

surucuá, surucuá. Pharomactus Pás-


guar. pavoninus.
saro da mata.

SURUCUÁ-TATÁ, Tvogon melanurus.

SURUCUÁ-MARICATAUÁ. Trogon viridis, c. d. marica-tauá.

surucucu. Bathvops surucucú. Cobra das mais


peço-
"
nhentas. Sin. Surucucú-assú. Para Mart., c. d. sururú-coco,

ou cotyg, virando-se de um outro lado" .


para

surucucurana, s. f. Ofídio tão como o antece-


perigoso
dente. Sin. surucucú-pytanga, surucucú-piranga.

sururÚ . Marisco conhecido nome de mexilhão, es-


pelo
crito serurú no Voe. do M. G.

SURORINA, s. f. Crypturus Sin. Tururi, turiri.


pileatus.

supi. Mionectes oleaginus. Passarinho da mata.

"Larvas
taburaá . se criam nos caroços das frutas
que
das e os índios comem" . Voe. do M. G.
palmeiras que

tacyua, s-t. tacybâ, tahy ou tacy. Formiga.


guar.

TACYUA-RETAMA. Formigueiro.

tacyua-tatá. Formiga de fogo.

tacuára. Galo do mato. Prionites ruficapillus. Ave do

alto Amazonas.

taiassú. Dicotyles labiatus, tayassú. Porco do


guar.
mato. No sul À este voe. Bapt. Caet. dá
queixada. queixada
"corr.
uma etim. de o corta ou talha, do
qiychar, que porco
mato", como se não fosse
queixada palavra portuguesa,
oriunda de cüja estirpe latina, capus, é conhecida.
queixo,
"tayá-ú,
Mart. decompõe tiassú em roedor, de tajá,
quebrador
Colocasia esculenta, ser afeiçoado aos bulbos dessa
por

T. S. aproxima-se mais da verdade, dando-o como


planta".
"corr.
de tanha-assú, o dente taiassú
grande", pois que pode
ter como origem: ou tai-tanha-sanha, e assú, dentes
grandes,
fortes, ou então tiiy, moderno sayua~sajuba-tayua, aban. ia-

mandíbula, e o mesmo adj. assú. Pendemos


jyba, queixada

para esta última e os colonizadores


pensamos que primeiros
traduziram literalmente o termo tupi taiassú, o
para port. quei-
xatia depois ficou simplificado em
grande, que queixada.
— 109 —

taiassÚ-aia, aban. taiassú-goiaia, contr. de taiassú~uaiat

uaia saaia, s-t. soaia ou sobaia, cauda, rabo. Nome dado


por

ao doméstico, significando taiassú de cauda,


porco provido

taiassú caudado. Vide aia.

taiassÚ-rayra. Leitão. Tayra, filho.

taiassú-uirá . Ave semelhante ao cujo nome


jacú-peua,

é devido a bater o bico, imitando o ruído o taiassú


que produz

batendo os dentes. É encontrado no alto-Capim. No Rio -

Branco assim chamam ao Neomorphus nos


geoffroyi, que pa~.

rece ser diferente. Sin. acãnatic ?

tahã. Sin. Anhúpoca em Cuyabá. Cheuna chavaria. Es-

de camitaú. Tahã é voz onom.


pécie

taititÚ. Dicotyles torquatus. Sin. taiassü-caapóra, c. d.

caá-póra, silvestre, nemoricola. Erradamente dizem caetetú

no Sul. Em taytetú, neste dialeto tay, dentes, tâyti,


guar.

dentes fortes, Rich. Burton aceitou a da seguinte


paternidade
"caethé,
etim.: mato e suú, soo, mudado, eufonia o s
por por

em t; literalmente animal, caça do mato?, Bapt. Caet. decom-

em tãi e tú, o bate os dentes.


põe-no que

tamacuaré, s. m. Enyalius spec. Pequeno lagarto cin-

zento, muda de côr Bap. Caet. tira-o de


que quando quer.
"tambacuaré,
almlscar, feitiço, amavio, filtro".

tamacuaricaua, s. f. corr. de tamacuaté-caua. Caua,

cujo ninho comprido é colado ao tronco das arvores.

tamanduá-assú. Tamanduá bandeira. Myrmecophaga


"corr.
tamanduá, de tã~menduá, o caçador de
jabata, guar.

formiga". T. S.

tamanduá-arichy. Tamanduá-colete, cuguaré, T.


guar.
tetradactila.

tamanduá-i, idêntico. Cyclotorus didactylus.


guar.

tamarú. Espécie de camarão escuro, trivial na Vigia.

tamatiá. Cancvoma cochilaria no Brasil central,


portanto
"alterado
sin. de arapapá. Capito maculatus na Amazônia; de

tamatiãi, o tem tem bico de Bapt. Caet. Vide


que gancho".
Tabaco no Gloss.
par.

tambá, tambá. Molusco bivalve, mexilhão. Tem


guar.

outra significação, foi dada no Gloss.


que par.
— 110 —

tambaqui . Myletes spec., aff. bidens. Peixe amazônico,

do diferenciam duas o tambaqui-suaia-pi-


qual qualidades:

ranga, e o tambaqui-suaia esta escura, aquela com a


pichuna,

caudal encarnada; ambas abundantes na contra costa do


parte

Marajó. É essa diferença na coloração seja de-


possível que

vida ao sexo.

tamuatá, s. m. Callichthys littoralis, var. tamboatá. Na


"quando
Povanduba maranhense firma-se lhe falta água
que

no lago, vai rolando terra até a achar". Esta crença não


por

só do branco; o indígena ainda hoje afirma essa fan-


provém

tástica locomoção do tamuatá, tem dado origem a etims.


que
"caá-mboatá,
inaceitáveis. Para T. S. é corr. de o anda
que
"ca~car,
ou caminha no mato". Mac. Soares escama,
prefere

mbô, faz, atá, andar". Andar não é mboatá, mas sim


que

no Sul, e uatá, no Norte. O nome deste


guatá, peixe pro-

nuncia-se tamuatá no Pará, e tamboatá em alguns lugares do

Amazonas. Camboatá é corr. sulista, como o é caetetú. Ca-

car, não é tupi; car, termo segundo Bap. Caet., entra


guar.,

em diversas compostas, significar codea,


palavras podendo

escama; mas Mont., aliás tão completo, não o dá.

É completamente falsa a crença de caminhar em seco êste

O tamuatá abunda no Marajó; aí nos lagos e regos


peixe.

atolentos, seu elemento favorito, cresce, engorda, sendo con-

siderado, com razão, como um dos melhores do mato,


peixes

delicado sabor da sua carne amarelada, sem É


pelo pitiú.

o único amazônico faz um verdadeiro ninho de fõ-


peixe que

lhas de capim seco de fôrma mais ou menos de um ninho de

convexo exteriormente e côncavo na interna;


pássaro, parte

êstes ninhos flutuam com a côncava baio e aí se


parte para

acham os ovos. É fácil encontrá-los nos campos bai-


grudados

xos e nos mondongos da Ilha criadora, logo no começo da es-

tação dele se encontra uma escuma


pluviosa, porque perto

branca talvez o esperma fecundante do macho.


persistente,

Sob o ninho encontra-se sempre um tamuatá vigiando a pos-

tura, afirmando o das fezendas ser o tamuatá-apyáua.


pessoal

O Callichthys littoralis é um dos raros emite sons


peixes que

fóra dágua.
quando

Para demonstrar o êrro de observação relativo à


pro-

em terra do tamuatá, citaremos o seguinte fáto : Em


gressão

1902, na nossa fazenda Boavsta, a trinta metros da casa na

oriental do têso, onde o solo é baixo e atolento, fi-


parte já
— 111 —

zemos excavar uma rampa, destinada a ao


proporcionar gado

manso um bebedouro durante o longo verão marajoára.


perto,

Essa excavação ter e oito metros


poderia quarenta quadrados

de superfície e um metro e vinte centímetros de


profundidade

média. No ano seguinte, em setembro, o começou a


pessoal

retirar daí a sua alimentação, mas em outubro o


peixe para já

recusava beber dessa água estar de tijuco e


gado por grossa

fétida. Os em demasiada, revolvendo a


peixes quantidade

lama do fundo, tornavam-na impotável. Depois de alguns


por

dias ter-se retirado muito com um sem re~


peixe grande pussá

sultado sensível, reunimos o das três fazendas e durante


pessoal

um dia, a balde, esgotou-se a rampa da água mui lodosa pri-

meiramente, e no fim de enorme de lodo. Com este


quantidade

retirou-se ao mesmo tempo cêrca de vinte alqueires de peixe:

tatiitas, tamuatás, sobretudo dêstes últimos. De todo


jejús,

ês!se somente aproveitar cêrca da décima


peixe poude-se

o resto foi atirado em torno da rampa entre dois cír-


parte,

culos concêntricos, o menor a três e o maior a nove metros de

distância dela e aí ficou até o dia seguinte, serviu


quando

aterrar um velho. Essas centenas de tamuatás ati-


para poço

rados ao redor da rampa à distância sur


pequena pulavam

como o fazem os outros fóra do seu


place, peixes quando

elemento, mas não andavam, nem lograram voltar à rampa tão

Como viver fóra dágua, se conservados ao


próxima. podem

abrigo do sol longo tempo, manhã do dia seguinte


por pela

eram encontrados ainda vivos ?

Deu lugar a crer-se este curioso anda em terra,


que peixe

o fáto de no começo das chuvas ser êle encontrado lá onde dias

antes o solo se achava resequido e deserto; mas isto explica-se

facilidade com eles nadam em lugar onde existe um


pela que

fio dágua; basta ter êle uma ou duas de


pequeno polegadas

de noite ou mesmo de dia durante a


profundidade para que

chuva, os tamuatás meio nadando, meio se arrastando, se mu-

dam novas moradas. Se a chuva, séca o reguinho


para pára

minúsculo não havendo mais comunicação entre o lugar onde

estavam e o onde se acham, acreditam os observadores


ponto

superficiais os tamuatás andaram êsse trecho en-


que por já

xuto. Quem vê o tamanho compreende suas escamas não


que

lhes a sobre o solo. Os tamuatás,


podem permitir progressão

cozidos ou muquiados de uma


quando gosam particularidade

curiosa: suas escamas, solidamente imbricadas, despregam-se


— 112 —

facilmente do corpo sem desagregar-se, como o faria uma cou-

raça inteiriça, cuja aparência tem.

Em Bapt. Caet. encontra-se tambatá com a siginficação

de duro, áspera, felpas, talvez tivesse sido


pêlo penugem que

aplicada às escamas duras dêste A terminação mata-


peixe.

mbatá aparece em curimatá,


guar. quyrimbatá.

tamatá-cambeua . V. Cambéua.

tamuaco. Nome da Saranha em Mato Grosso.

tanajura. Espécie de formiga do rio


Japurá.

tanãnã, s. m. Cigarra habita a margem direita do


que
rio Trombetas, e é desconhecida na margem oposta.
que

Onom.

tangará. Paroaria Cardeal.


gularis.

tangurúpará, s. m. Monasa nigra. Avezinha da mata,

de negra e bico encarnado. Onom.


plumagem

tanha, var. sanha. tãy. Dente.


guar.

taoca, taó. Espécie de formiga.


guar.

tapêrâ. Andorinha maior a meitii, azul ferrete com


que
o ventre arruivado; nidifica nos barrancos ou nas margens

abarrancadas.

taperussú. Segundo E. G. assim chamaram no Sul à

Chaetura zonaria, também conhecida andorinhão, c. d


por
tapêrâ-us-sú.

tapayuna, var. tapiyuna, c. d. tapiya e una. Negro, guar.


tapanhun.

tapiai . Tapiahy. A maior formiga da Amazônia,


preta,
solitária, insetívora, de contextura externa chitinosa, muito

dura.

tapiti. Coelho. Lepus brasiliensis, tapyyti.


guar.

tapiti-guassú . Nome dado Tupis do Sul ao burro,


pelos

tapyiti~guassú, e mboricá, êste último corr. de


guar. provável

burrico.

tapiyra . Nome anteriormente à conquista da anta, Ta-

americanus, e do XVI século em diante ao bovino. Para


pitus

os diferençar dizem tapiyrété, anta verdadeira, ou tapiyra

caáuára, anta nemorícola ao animal indígena, em mbo-


guar.

repi, e tapié e ao ruminante importado, tapiyra e tapiyrussú.


— 113 —

Os amoldaram à sua mbáca o voe. caste-


guars. pronúncia

lhano vaca.

tapiyrapyaua . Touro,
garrote.

TAPIYRACUNHAN . Vaca.

tapiyrarapiaeyma . Boi, c. d. tapiyra-sapià-eyma.

tapiucaua-piranga . Espécie de tapiucaua arruivada.

tapiacanga . Formiga de cabeça volumosa, ruiva, corpo

mandíbulas fortes e aceradas, morde a cortar a


pardacento,

Parece ser a mesma a os brasileiros chamam Den-


pele. que

te-de-ca o.

tapicoin, var. typycoin. Ninho de termitos feito de

terra endurecida, typycõe. Vide Gloss.


guar. par.

tapicurú, var. tapecurú. Geranticus cayanensis. Sin.

Carauria. Segundo Mart. é usada no Brasil oriental,


palavra

tapecurú. Desta ave o nome do rio Maranhense


guar. provém
ítapicurú, outróra era conhecido Tapicurú~guassú,
que por

como se ler no Voe. do M. G. Os etimologistas


pode querem
"itá-pecurú,
seja c. d. lage fragmentada, meuda,
que pedra

seixos, calhaus, ou de itá-pecú~~r~ú, rio da comprida,


pedra

ou da longa ou rio dos lageados extensos". T. S.


penha

tapurú, var. taperú, lagarta, a larva de certas borbo-

letas e bezouros. Sin. aban.


yssoca.

taquiry . Ave ribeirinha, cinzenta sarapintada.


pequena,
Nycticorax tayazu-guirá. Êste tão abundante nos
pássaro
igarapés da Contra-costa do Marajó, enquanto novo é co-

nhecido taquiry, adulto toma o nome de taiassú, como in-


por

forma E. G.

tarã. Geronticus oxycercus. Onom. No Guaporé de-

nominado Trombeteiro.

taracaiá. Tracajá. Podocnemis unifilis. Pequena tar-

taruga fluvial. Em tarecayeá é o nome de um cágado


guar.

ou terrestre.
quelônio

taracanga, s. f. Lagartixa freqüentemente meneia


que
a cabeça de cima baixo: var. tiricanga, nos
para que parece
mais correto: tyric, desviar-se, mesmo rad. o tyr,
que guar.
"cousa
levantada" e o s-t. ityc, mover-se.
que

taracuá. Tracuá. Formiga.

tarauyra, var. tarayra, s-t. taraguyra, taragui.


guar.

120.929 F. 8
— 114 —

Tralhoto Tetraphtalmus. É também o nome de uma lagartixa

com a var. terayra do dic. anônimo de 1795.

taracutinga. Outra formiga também de ferrão. Voe.

do Museu Goeldi.

tarapopéua, var. tarapopé. Osga.

taraú. Ibys oxycercus, Spix. Provável corr. de Taran.

nome onomatopaico dos íbis ou Geronticus oxycercus.

taiira . Tatira, tarêy. Macrodon trahira, M. inter-


guar.

medius. Peixe vorás dágua doce.

tariíramboia . Um dos nomes é conhecida


pelos quais
a Lepodosiren Em tarêmboia, designar
paradoxa. guar. parece
"vivara
êste ao Mont. alcunha de no mata".
peixe, qual que

tariira-pichuna. Tarira Erythrinus unitaeniatus.


preta.

tariaquêra . Carcharis Êste voe. ter


porosus. parece
formação idêntica à de talvez, c. d. tarura-pyquyr.
paratiquêra;

tarassanga. Espécie de formiga de ferrão. Voe. do M.G.

TASSOCA, var. sassoca, sin. merú-rayra. tassog. Bi-


guar.
chos da varejeira.

tataeyra . Espécie de abelha, c. d. tatá, fogo e abe-


yra,
lha.Sua é bastante dolorosa.
picada

tatÊra. Andorinha do mato, Chelidoptera tenebrosa.


"Negro
ardósia de castasol azulada, barriga amarelo-ferru-

rabadilha e uropígio brancos" E. G. T ater a


gem, parece-nos

corr. de tapera.
"ta-tú.
tatú. Guar. tatú. Nome dos Dasypodides. C. d.

o casco encorpado ou denso". Bap. Caet.; ou ía-fú, o


que

come formiga". E. G.

tatú-ayua, ou ayba. Tatú-china. Tatú de rabo mole.

Xenurus ayua, ruim.


gymnurus;

tatú-pÉua. Dasypus setosus.

tatú-été. Tatú verdadeiro. Tatusia novemvinctus.

tatú-apára. Tatú bola. Dasypus conurus, ou tricinctus.

tatú-cáua, s. f. Espécie de caua, das maiores e das mais

seu ninho imita abaulado o casco dor-


peçonhentas; que pelo

sal do tatú é construído sôbre os troncos das árvores à


pe-

altura do solo.
quena
— 115 —

tatuí. Paquinha. Em ultramarino Ralo. Inseto or-


port.
tóptero vive sob a terra, c. d. tatú-i.
que

tataca, var. de catáca.

taturana, taturã. Espécie de caua.


guar.

tauató, s-t. e taguató. Espécie de Urubu-


guar. gavião.

tinga-brasiliensis.

tauató-i. Espécie menor.

tauatÓ-pinima . Astur
pectoralis.

tauá, subs. Barro amarelo. Parece engano o P.


que por
Figueira dá a este voe. a acepção de barro vermelho, em
que
nhêeng. moderno dizemos curt.

tauá, adj. aban. tagoá. Amarelo. Sin. iú-, s-t. juba.

tavúa. Papacacáu. Amazona aestiva. A consonância deste

termo não nos tupi. E. G. dá-lo nas Aves do Brasil.


parece

teiú, s-t. tejú, teyú. Lagarto.


guar.

teiúnhan. Espécie de lagartixa. Voe. do M. G., c. d.

teiú-nhana, lagarto corredor ?

teiúryquira . Lagarto verde, c. d. teiú-iaquira.

tembé. Beiço inferior. Existe uma tribu


presentemente

da família tupi no Gurupi e.no rio Capim, bastante


grande já
reduzida, mas outróra com êste nome, a ainda
pujante qual
na segunda metade do século usava do botoque.
passado,
Provém-lhe o nome dêsse repugnante e horrendo enfeite: tem-

bé-assú, beiçudo, encurtado com o tempo em tembé.

tembetára, var. temetára, tembetá, mbetára, metára.

Pedra, osso, madeira, resina translúcida, os botucudos


que
usavam no beiço inferior. T. S. dá tembetá e metára como

voes. diferentes na significação e na etim.; dessa opinião di-

vergimos: encontra-se a origem destas em tembé,


palavras
beiço inferior e atara, znfeite, adorno, significando ornato do

beiço. O segundo componente também se acha em acan-

gatára,, c. d. acartga, atara, enfeite da cabeça. As etims. de


"Tembetá,
T. S. são: corr. de tembè-itá, do beixo".
pedra
"Metára,
corr. mbetára, o orna, aformosêa, ou faz bo-
que

nito, objeto de ornato o selvagem". Aformosear, fazer


para

bonito diz-se mupuranga.

teicóareyma. Espécie de caranguejo. Voe. do M.G.


téutéu, s. m. Vanellus cayannensis. O seu nome imita o

seu de alarma. Sin. no Sul Quéro-quéro; segundo Azara,


grito

Terú~terú.

teÚ. Sin. Tequi, Toin-toiri. É o nome, em São Paulo,

segundo Mart. citado E. G., do Chamaezosa ochroleuca.


por
Formicaride.

TESSÁ, var. cessá. Ôlho.

tepoti, var. tiputi Escremento,.bosta, fezes.

tico-tico. Maria-é-dia. Zonotrichia


pileata.

temtem . Tachyphonus surinamus.

TEMTEM-CURICÁCA. Euphonia cayana.

temtem-coroado. Temtem do Espírito Santo. Coereba

caerulea. Sin. Guaratã, Aves do Brasil de E. G.

TEMTEM-ÉTÉ. Euphonia víolacea.

TIÉ-GUASSÚ-PAROÁRA, Paroaria cucullata.

tié-iú . Canário, c. d. tié~iú~juba.

tié-piranga . Algumas avezinhas dos Pyranga e


gêneros

Rhamphocoelus, diz-nos E. Gv tinham este nome entre os

tupis. No Rio Tié~sanguef em Pernambuco Tié-sangue de boi.

tié-tinga. Cissopis leveriana. Sin. dado E. G.


por

Pcebichim, Coemin-cabarú, talvez corr. de


guaymin-cábarú,

cavalo de velha.

tiété. Euphonia violacea. Sin. de Temtem-été, Gatu-

rama, Teitú, c. d. tiê-été.

tim . Nariz, bico, focinho, tym.


guar.

TIMBYRA. Vide tumbyra.

timburé. Leporinus Peixe dágua doce.


[asciatis.

tinga, adj. Branco, claro, alvo. Sin. murutinga. Vulgar

em compostas, algumas das indicam animais


palavras quais

nada têm de branco, como iauti-tinga. No Sul


que pacatinga,
o aban. cojitráe-o em tin algumas vêzes.

tiriba. Pyrrhura Spix. Espécie de


perlata, periquito.

tiririca . Leporinus striatus.

tiúba. Espécie de abelha.

"Espécie
tiubú. de cameleão verde". Barb. Rod. Pro-

vàvelmente corr. de teiú-oby, lagarto verde.


— 117 —

tobarana . Salminus Cuvierii. Peixe.

ton, ou tona. A maior espécie de inambú. O inambú-ton

tem ainda o nome de inambú-assú em algumas tribus.

toró, ou toron, var. tórra na Mechiana. Pequeno roedor

noturno, arborícola, cujo nome é onom. Segundo informa E.

G., algumas tribus do Amazonas costumam suas


preparar

trombetas de alarma, chamadas toró, com a da cauda do


pele

Loncheres armatus, rato espinhento de cauda comprida.


grande

trinta-réis. Sterna antillavum. Será corr. de tirintarê ?

tubi, Tubuna, Tujuba, Tubiba. Como ensina Von Iher.,

c. d. tuba, abrev. de ei~ruba, do compo-


pela queda primeiro

nente, ei-yra; ficando o segundo isolado reassume o seu le-

som inicial de t. Os segundos componentes são respec-


gítimo

tivamente: una, iú-juba,ayua-ayba. Vide estes


i, adjs. Em
guar.
"de
tub, é o nome la abeja maestra". Mont.

tucana, tucan. Tucano. Rhamphastidae. O Rham-


guar.

toco tem o nome de Tucanassú, c. d. tu~cana~assú, o


phastus
tucano de amarelo tucan-iú. Dão ainda aos diferentes
papo

tucanos as designações de tucan~potiá~uí, tucan-potiá-piranga,

tucan-potiá-tinga, mas esses nomes são tra-


parece-nos que já

duções dos equivalentes Bap. Caet. tira êste voe.


portugueses.
"ti-cang,
de bico ósseo". Não é o indígena con-
provável que

fundisse o lindo córneo envólucro, tão leve, tão delicado, semi-

translúcido do bico deste com o osso, substância com


pássaro

a nada se a nasalação de tim, também teria


qual parece; pouca

de desaparecer. T. S. deriva-a de tu~quan, bico


probabilidade

sobrepuja, exagerado. Em tupi bico tim, é francamente


que

nasal como e se o índio o considerasse sob


já ponderamos,

esse de vista diria, Timbucú, bico com-


ponto provávelmente,

Não obstante a competência dos seus autores, nenhuma


prido.

destas duas etims. deve ser aceita.

tucanGHÊRA, var. tucandêva, tucandyra. Tocandêra.

Duas espécies são comuns nas matas e nas capoeiras, na terra

firme e na várzea: a tucanghêra-assú, e a tucanghêca-


preta,

ruiva.
piranga,

tucandêra-cáua . Caua ruiva, de dolorosíssima.


picada

tucuchi. Tucuchy. Steno tucuchy. Espécie de boto.

tucura. Gafanhoto. Pay-tucura, frade.


— 118 —

tucunaré. Cichla ocellaris. Peixe amazônco.

tucunaré-tinga. Cichla temensis. Id.

TUI. Em tupi nome de um Brotogerys tui, em


períquito.

de um
guar. papagaio.

TUHAPUTIJUBÁ. Conurus aureus. E. G., Aves do Brasil.

Deve ser
tui~iapu.ti~ju.ba, com o acento na c. d. tui-
penúltima,
"tui "O
iapoti-juba, de vínculo amarelo", iapoti, vinculo.
que

o torna imediatamente conhecido é a fronte laranja-carregada

e o largo anel da mesma côr lhe rodeia os olhos". E. G.


que

tui-été. Siri. Tui-tirica. No Sul Cutapado, Psittacula

passerina.

TUi-JUBA-BERABA. Sin. Iuparaba. Brotoerys-xanthop-

tera, c. d. tui-juba, amarelo, beraba, resplandecente.

tui-apára. Brotogerys apára.

tui-maitaca . Pionopsittacus
pileatus.

timbyra, var, tymbyra, tumbura. Bicho do Tunga


pé.

Sin: tunga, tung.


penetrans. guar.

tunga. Pulga, bicho do Sin. Tumbyra.


pé.

turÚ. Teredo navalis. Crustáceo xylófago danifica


que

a madeira dentro dágua salgada ou salobra. Sin. Turuyguêra.

turucué, var. tururué. Synallaxis ruficapilla e S. mor-

nata.

turunumbú. Grandes mexilhões sarapintados. Voe.

doM.G.

TUIUIÚ, tuyuyú. Mycteria americana. A maior


guar.

da Amazônia: azas corpo branco, na


pernalta pretas, pescoço

superior inplume, mostrando a negra no meio desta,


parte péle,

vermelha, fazendo espécie de volumosa formi-


péle gravata,
"dão
dável bico Etim. Azara, citado T. S., diz
preto. por que

êste nome a esse habitar ps brejais, tuyu, tuju-


pássaro por

co, amarelo". Denominaram, segundo êsse autor,


yú, pois,
"tujuco-amarelo"
os indígenas a êsse agigantado pássaro por

viver nos lamaçais, como se isso despertar a atenção


pudesse

dêsses selvagens, viam o diariamente vemos nós:


que que

serem os lagos e rêgos atolentos, onde abundam o os


peixe,

todos os e aves ictiófagos:


procurados por pernaltas jáburús,

maguaris, colhereiros, socos, Tujuco amarelo


guarás, garças.
— 119 —

é exquisitice; o tujuco é sempre escuro, é o barro meio


pois

diluído misturado com ceirta de humus o ene-


quantidade que
"tu-ti,
Bapt. Caet. deriva-o de bico, e muito
grece. yú~yú
amarelo". Tuiuiú de bico amarelo deve ser ave de
genuína ga-

binete; nos nossos campos marajoãras é variedade não


que
existe.

O Príncipe Max. de Neuwied informa em algumas


que
do Brasil, tuiú é o nome da Rhea americana. Sin. E. G.
partes
refere nos rios do interior o chamam
que grandes jaburu, /a-
bírú, e no Mato Grosso é conhecido
juburú~moleque, que por
Tuiuiú de cabeça vermelha. No Marajó reservamos o nome

de ao Tantalus loculator.
jaburú
tuyra, adj. Pardo, cinzento, bruno. O Dic. anônimo de
"pó" "pó
1795 dá tibuyra, corr. de tubyra, de alguma
para já
cousa"; em tubyr cinza. O Figueira o e Voe.
guar. pó, padre
do M. G. trazem tubyra, o do b, ao
qual pela queda peculiar
nhêeng. fica com o som atual desta correntemente
palavra
empregada na linguagem amazônica. V. Gloss.
popular par.

u, var, de ussú. Em composição somente como au-


post-
mentativo.

UACARÁ. Sin. uiratinga. Garça. Ardea leuce, e A. can-

didissima;
guar. guacará.

UACARÁ. Diversos dágua doce e límpida têm este


peixes
nome. Entre os brasileiros o u inicial. Chactobranchus
perdeu
robustus.

uacará-uassÚ . Lobatus somnolentus.

uatará-acaupichuna Garça branca: de cabeça, acan-

Pterodius
ga, preta, pichuna, pileatus.

UACARÁ-PEUA. Mesoriauta insignis. Sin, uacarápinacha-

ma, anzol, chama, linha. Peixe.


pina,

uacará-pichuna . Tetragonopterus abramus.

uacarÁ-tinga . Heros coryphaenoides. Peixe.

uacará-bararáo . Heros amphiacanthoides.

uacará-paráua . Sin. uacará-bereré. Heros


[estivus.
Peixe do alto-Amazonas. Alguns naturalistas escrevem
pa-
rágua, enquanto outros escrevem Não conhe-
que paraguá.
— 120 —

cendo êste não formar uma opinião motivada.


peixe podemos

E. G., colocando-se ao lado de Heckel, viu o Heros


que [es-
tivus no Rio Negro, ortográfa água
par (paráua) pintado,
e não
paraguá, papagaio.

UACARi. Acari. Plecostoma bicirrhosus. Siluride de águas

lodosas.

UACARi-CAClMBA, Loricaria cataphacta. lem.

uacari, s. m. Brachiurus auacary. Macaco.

UAINUMBI, aban. mainumby. Beija-


guainumby, guar.
flôr. As duas silabas finais ser a imitação do zumbido
parecem
faz voando. As onom. da nossa língua materna
que palavras
zum-zum, zunir, zumbido, zumbir, zumbar, também
procuram,
como o numby tupi, imitar o ruído com as azas fazem cer-
que

tos insetos e esta avícula. T. S. extraí-la de


pensa poder
"guay-u-omby,
indivíduo verde, aquele é de côr verde ou
que
azul"; mas verde em nhêeng., diz-se iaquyra ou aquyva, em

s-t. oby e em hoby, sem o mb nasal em nenhum destes


guar.

dialetos. Os índios confundem, é verdade, o azul com o verde;

dificilmente se fazê-los diferençar essas duas cõras;


pode

o nhêeng., contudo, determina o verde iaquyra.


pela palavra
reservando uy-ui, s-t. oby o azul, em algumas tribus
para que
se diz ainda suiquyta, voe. c. d. ui, azul, e aquyva, verde.
(s)

uai. Peixinho das cabeceiras dos igarapés do alto-Capim,

esguio e c. d. uá-i.
pintado,

UAME. Vagalume, muã.


pirilampo, guar.

uanti, var. de fim. Bico.

uanapÚ, s-t. Espécie de Uma tribu indí-


goanapú. pato.
conhecida êste nome habitava o rio Anapú, ao
gena por qual
Mart. deu uma das etims. mais extravagantes conhecemos.
que

UAMANGÁ-i. Espécie de mamangaua


pequena.

UANÃNÃ. Marrecão. Chenalupex Spix.


jubatus,

uanãnã-i. Nettium brasiliertse. Ananahy.

uanaquiá. Sin. Hiá, e no Rio Negro Ariacan, Deropylus


"Gosta
accipitrinus. Onom. das matas ralas
principalmente

e baixas, nas o seu melancólico, soa


quais grito prolongado,

hiá-hia", E. G.
— 121 —

uapussá. Pithecia monachus. Macaco.

uára, s-t. Morador, habitante.


goára, ygoára.

uaracú . Vide aracú.

uaracapema, s-t. Dourado.


goacacapema.

uarachi, s-t. Dourado.


goavachi.

uarauá, s-t. var. iarauá, s-t. igaragoá,


goarabá, goara~

Peixe-boi. Manutus americanus, M. inunguis.


goá.
"guahur~
uariua . Guariba, Barbado. Bapt. Caet.
propõe

ib, o chefe, o dos berradores, ou cantores, sem lem-


principal

brar-se o voe. é tupi e não


que guar.

uariua-iú, ou uariiú, Guariba vermelha. Alouata seni-

cuias.

uariua-pichuna. Guariba Alouata Belzebut. Sin.


preta.

aquiqui.

uarapucú, s-t. Cavala. Cybium


goarapucú, guarapecú.

cavala, var. nh-êeng. uarapecú.

uatapú, var. uatapy, s-t. oatapycy,


guatapy, guar. gua~
tapy. Búzio serve de buzina. T. S., servindo-se
grande que
"atã~pú,
da corr. atapú, diz ser c. d. forte soar, resonante; é o

nome de uma buzina dos do Norte, feitas de um


jangadeiros

búzio ou caramujo. Etim. inexata, mais de um


grande por
motivo.

UATUCUPÁ, s-t. var. Corvina.


goatucupá, guatucupaba.

uatucupá-pichuna. Espécie de
pescado.

uatucupá-pucú . Pescado do mar.

uaturá-cáua. Grande cáua, cujo ninho, colado ao tronco

das árvores, tem certa semelhança com um uaturá. Vide atará

no Gloss.
par.

uauirú, var. uairú. Mus decumanus. Yá, corr. em airú,

arurú, s-t. Suas espécies são :


guar. goabirú.

uaiurú-assú. Rato
grande.

uauirÚ-í. Rato
pequeno.

uauirú-cyca . Rato descaudado, c. d. uauirú-acyca.

UBARi. Bary. Hemiodus notatus. Peixe.


— 122 —

UÉUA. Xiphoshamphus Peixe.


falcatus.

UiRÁ, s-t. idem. Ave,


guyrá, guar. pássaro.

uirá-iú. Guarajuba, dos zoologos. Periquito amarelo

Conurus c. d. uirá-iú, ave amarela.


guarouba,

uirapuru. Passarinho da mata. Pipra rubricapilla, P.

opalizans, P. natterii. Sin. uirá-miry. Cirrhopipra delicaudi.

Spix.

uirá-mombucú. Cephalopterus ornatus ."De alta escova

da fronte e longas E. G.
que pende pregas.na garganta".

uirá-assú . Gavião, s-t.


guyrá-guassú.

UIRÁ-assÚ. Thrasaètus harpygia. No sul corr. em urassú.

Gavião real, aguia. Sin. uirá-uassú-été.

uira-hu-cotin . E. G. traz êste voe. como o nome tembé


"Gavião-péga-macaco".
do Sendo o tembé um dialéeto afim

do nhêeng. neste deveria ele uirá-assú-cotinga,


pronunciar-se

Spizaètus tyrannus\.

uirá-hu-nheengetá. Taenioptera nengetá. Neste voe.

bastante alterado, nhêengaetá nheng-tára, cantar.


por

uirá-tinga. Garça real. Ardea egretta.

UIRÁ-TINGA-MIRI. Garça Ardea candidissima.


pequena.

UIRAUNA. Irauna, no Sul Cassidix oryzivora.


graúna.

UiRiRi, var. suiriri, suiriti. Ciriry.


guar.

uirauna-tintinga. Irauna de bico branco. Amblycerus

solitarius.

uirÁ-piana . Galbula viridis, Urogalba


paradisea.

uirá-assú-uruauára. Gavião de uruá, Rosthranus .so-

ciális.

una, adj. Sin. Preto, negro, escuro.


pichuna.

URA, s-t. ura, ur. No Sul berne. Dermatobia spec.


guar.

var.

URACASSÚ. Caracará Ibycter


preto. formosus; provável

coar.
— 123 —

urú, s. m. s-t. e urú. Odontophorus


guar. guyanensis.
Onomatopaico. No Sul Corcovado. Uma espécie maior
pouco
"Ca-
Odontophorus dentatus, habita o Sul, onde o chamam

poeira".

URUÁ, uruguá. Caracol.


guar.

urubu, s. m. Nome dado a abutres; urubú.


quatro guar
Pelo Voe. do M. G. vê-se no Rio de nos
que Janeiro, pri-
meiros tempos da colonização, deram ao urubú o nome de
"minhoto"
. A etim. T. S. não condiz com o seu
proposta por

conhecimento da língua O tupí-iára


profundo geral. provecto
"Uru~bú,
baiano de a a ave negra.
pensa provir galinha preta,
Como o nome deste vulturide existia antes a
já que galinha,
animal exótico, tivesse sido introduzida na América,
poremos
"galinha
à essa tradução arriscada de mesmo
parte preta",
em urúguassú e não urú significava O
porque guar. galinha.
urú, Odontophorus dos naturalistas, é um
guyanensis pássaro

vulgaríssimo nas nossas matas e capoeiras


gregário, paraenses,
cujo nome é onom., canta ao romper de aurora e à tardinha.
"Paxarillo
Mont. descreve-o nestes termos: de hechura de
gal-
lina". llruguassú, termo desconhecido no Pará, é O
guar.
"Un
autor supracitado, dele diz: su semejança lo
paxaro y por
"ave
han trasladado à Ias Traduzir uru~bú oor ne-
gallinas".

não é menos disparatado; ave uirá-guyrá não se trans-


gra",

forma em urú; lábios dos ou


passando pelos portugueses pelos

beiços dos mestiços, alterar em ará, irá, urá; no Sul


pode

corrompem-no algumas vezes, mas nunca


pronunciando guará

adquire a de urú. Una~un, é adj., francamente


pronúncia preto
nasal, e essa nasalação sempre a conserva; basta
para prová-lo
citar os equivalentes de ave negra em tupi : uirá-una,
pro-
nunciando atualmente irauna, no Norte e no Sul, Cas-
granna
"guyra
sidix oryzivora, e o undussú, negro", na
guar. pajaroto
frase de Mont., corr. de contr. em ussú.
guyrá-un-guassú

Mart., caindo no mesmo erro T. S., deri-


que pretende
vá-lo de urú ave, uú, comer, significando ave voraz, uirâ,

tiára. Como no Paraguai Bapt Caet.


pronnunciam yrybá,
"yi-robú",
supõe ter a sua origem em exalar sujo ou
podre".
Para nós a etim. desta deve ser em ú-tybú,
palavra procurada
ú comer, devorar, tybú, em composição ribú, cadáver, a mu-

dança do em ú não é nada rara entre os indígenas:


y gutural

tymbyra-tumbura,
petyma-petum, pytanga~putanga, potyra-
etc. Tybú, significando cadáver, corpo morto, caiu em
potura,
— 124 —

desuso, substituído como foi teonguéra-teonbuérâ, e ambyra,


por

amyra, ambura, ficando alterado em tuby, na língua e


já geral,
"sepulcro
em tuby no dialeto com a acepção de sepulcro:
guar.

dei está enterrado", como se exprime Mont., mas


que já

conservou a significação de cadáver na frase tuby-coára, tuby,

cadáver, cuára, cova, o Marcos Antonio verte


que padre por
"Cova
de morto". O guar. um derivado de tyby-tuby-
guardou

tybú no termo tubi, nojo, asco, náusea, vontade de vomitar, cuja

relação com o cheiro nauseoso do cadáver ou o sabor da carne

em decomposição não escapará aos filólogos. O Voe. do M.

G. fornece-nos também dois voes. compostos, nos trans-


quais

a acepção de cadáver; Sepulcro: Tybyguapaba, Ty-


parece

byurú, corr, de upaba, V. urú, vasilha, receptáculo.


guapabat

URUBÚ-CHÊCHÊ. Urubú-chenchem. Cathartes


foetens.

Tem na onom, a sua razão de ser: é o destes abutres,


grasno

sobretudo em torno de um cadáver, disputando uns


quando

com os outros lhe arrancam. Ainda no século


pedaços que

na cidade do Pará, se cortava à escovinha


passado, quando

os cabelos de um menino, os outros caçoando, cantavam-lhe:


"Urubú'chêchê
— te — Orelhas te deixou".
Quem pelou

URUBÚ-IEREUA. Urubú-jereua. No Sul, Uereua,


jereba.

virar-se, esponjar-se, virar. Êste utubú, é voa-


pairar, grande

dor, leva horas voluteando à altura com uma


pairando, grande

incomparável. Sin. urubu-apitaua, Cathartes aura.


perícia

urubú-rei. Gypagus Em segundo Azara,


papa. guar.,

urubú-rubichá, corr. naturalistas em c. d.


pelos yriburú-ixá,

urubu, tubichab, chefe, correspondente ao nosso


principal,

tuibichab, chefe correspondente ao nosso tuichaua,


principal,

nhêeng., e ao aban. tubichaba. É em s-t. fosse


provável que

os traduziram urubú-rei ?
urubú-rubichaba que portugueses por
"Seu
aspecto sobranceiro e a maneira imperiosa com se
que

sabe impor ao respeito dos outros Urubus, fazem-no verda-

deiro Rex vulturum" E. G.

urubú-tinga, s. m. Cathartes urubutinga.

URUBÚ-TINGA-CAUPI. Leucopternis caupi. Gavião vaqueiro.

URUBÚ-PARAUÁ, s. m. s-t.
urubú-pataguá. Gypopsittacus
"de
vulturinus. Pionide do Amazonas cabeça calva e
preta,

com fita amarela no E. G. Sin. Piri-piri, Periquito


pescoço"

d'anta.
— 125 —

urucuriá, urucureá nas Aves do Brasil se


guar. que

acha escrito urucucéa. No Sul designa a Noctua cunicularia,


"Caburé
à também conhecem do Campo". E. G. No
qual por

Norte especifica uma coruja, cujo nome científico ignoramos.

URUGUASSÚ. Em
guar. galinha.

uruiurára. Algumas tribus conhecem este nome a


por

onça ter como as do uni.


pintada, por pintas

urumutum, s. m. Nothocrax urumutu.

URUSSÚ. Espécie de abelha corr. de c. d.


grande, yrussú,

yra-uassú.

urutaurana. Sin. Gavião de Spizaètus tyran-


penacho,

nus. Será urutáu-rana ?

URUTAi. Sin. urutaú, urutauí, urutaú. Nyctibius


guar.
"iurú,
Para Barb. Rod., c. d. bôca, tahy
grandis. grande".

A atual é urutahy. Seu nome traduz-se coruja


grafia por
"Mochuelo"
agoureira, c. d. iyty, Mont. verte e
guar. que por

taú, duende, fantasma. O seu canto extraordinário valeu-lhe

essa denominação. O componente urú é ainda encon-


primeiro

trado na urucuriá, espécie de coruja, Mart.,


palavra que

sempre infeliz, decompõe em ave e infra, abaixo!


guirá, guirbo,

Veríssimo traz uirá-taú-i, fantasma. Esta


pequeno pássaro pa-

lavra taú vem em Figueira, mas composta: tagoaiba, fantasma

c. d. tagô-taú, fantasma, ayba, ruim, maligno. É


provável que

taú tivesse algumas tribus a tay.


por pronúncia

urutauí. Outra espécie. Nyctibius jamaicencis.

urutauí-yra. Espécie de abelha.

urutú. Segundo Von Iher., cobra venenosa. O Vov. do

M. G. assim designa um bagre amarelo do mar.

"Espécie
urutú-eira. de abelha", Von Iher.

ussá, var. Yssá, Caranguejo. No litoral designa o vulgar

caranguejo do mangai, no sertão um crustáceo também de-

capode das cabeceiras dos igarapés.


pequeno
"O
utú . Udú. Momotus brasiliensis. Onom. seu brado,

um dos mais notáveis animais do Brasil". E. G. Êste


gritos

autor dá com sin. Yeruva.

uy, adj. aban., oby, toby, hoby. Em nhêeng. signi-


guar.

fica azul, em s~t. e em indiferentemente verde ou azul.


guar.
— 126 —

Algumas tribus usam do voe. suiquyxa, c. d. (s) uy~aquyra.

azul-verde. Parece-nos Putribú, antiga de


que povoação perto

Sorocaba, T. S. diz de e fonte, a fonte


que provir potyra, ybú,

das flores, origina-se antes de e oby, verde ou azul; a


potyra

Apoteroby usada em documentos anticos isso fez supôr.


grafia

ybyra. Peixe serra. Voe. do M. G.

yghigiau. Voe. do M. G. Noitevó, var. Ave


ybyau.

noturna.

YPERÚ, var. ipertí. Tubarão. Sin. Sucuri.

ypyua, adj, var. aban. var. Mole.


pyú, piú, puba, pub.

Sin. membeca. Das frutas amadurecendo não mudam de


que

côr, mas amarelecem, diz-se significando então maduro.


ypyua,
T. S. não tem razão em traduzir mandiópuba, a nossa mamo-

caypyua, apodrecida, confundindo com iuca-iuuca


por puba

ou com o seu composto tuyuc. A mandioca de môlho,


posta

fermenta, mas não apodrece; fica mole, facilitando a mão de


"farinha
obra na fabricação da dágua". Vide esta no
palavra

Gloss. 115. Mesmo em significa mole e


par. pág. guar. pyú

não Barb. Rod. também deu essa má tradução a


podre. puba.

yra, var. ira Mel, abelha.

yra-mya. Abelha. Segundo Von Iher., c. d. mel, e

maya, vigiar, espiar, mas não nos esta etim. exata. A


parece

língua tupi designa as abelhas em algumas regiões


por yra-

maya; o dic. anônimo de 1795 e a Poranduba maranhense dão

em outros, dizem o Voe. do M.G.


yra-maya; yra-ruba (tuba),

e a Chrestomathia do Dr. França assim traduzem o nome dêste


"mãe
inseto. No caso significa do mel", no segundo,
primeiro
"pai
o do mel".

yrapuam. Espécie de abelha. Seu nome, segundo Von


"ninho
Iher. significa de abelha redondo". Nogueira traduz
"abelha
levantada", etim. rejeitada von Iher.
por por

yraretama. Colmeia, eirêtama, c. d.


guar. yra-retama-

tetama.

yra-ruba. Vide
yra-maya.

yrapichuna. Abelha
preta.
— 127 —

yratinga. Abelha cinzenta


grande.
"yrá-ussú,
yrussÚ, c. d. mel von Iher. Não será
grande"

antes abelha ?
grande

yssauba, var. issauba. Sauba. O chama sauba


guar. yssá

e ao seu abdomem comestível c. d.


yssaú, yssá-ú.
"Elevação
yssaubé. de terra entorno dos buracos das

saúbas, terra excavam e deitam entorno


produzida pela que

dessas saídas". Voe. do M. G.


RODOLFO GARCIA

EXOTISMOS FRANCESES ORIGINÁRIOS

DA LÍNGUA TUPI

120.929 F. 9
EXPLICAÇÃO

Que de mots des langues celtique et gernianique


nous auroient conserve Jules-César et Tacite, si ies

productions des pays septentrionaux visités par les


Romains, avoient differé autant d?s productions de
l ltalie et de 1'Espagne que de celles de 1'Amérique
équinoxiale.

Alexandre de Humboldt — Voyagc aux Régions


Êquinoxialcs, III, 340, Porís, 1817.

É fato sabido as línguas americanas em alta escala


que

contribuíram o desenvolvimento do idioma dos descobri-


para
dores ou conquistadores do Novo Mundo.

As narrativas de viagens do século XVI e do se-


parte

guinte, encerrando as singularidades (para empregar a apro-

expressão da época) notadas na Fauna e na Flora das


priada

terras novamente achadas, estão inçadas dos termos designa-

tivos dos animais, e mais objetos até então desconhe-


plantas

cidos, os autores viam e descreviam vez.


que pela primeira

O Tupi foi dos maiores contribuintes nesse saqueio ope-

rado civilização ocidental, o se explica circuns-


pela que pela
tância de os falavam a língua depois assim
que povos, que
chamada, eram os ocupantes da extensão mais considerável do

litoral sul-americano e foram os a entrar em con-


primeiros
tacto ou em choque com os navegantes e traficantes europeus, »

os franceses em magna
parte.

Dos livros de viagens aqueles termos, mais ou


passaram
menos alterados, a literatura científica, a linguagem
para para
corrente, e daí os dicionários, incorporados ao
para patrimô-
nio idiomático de cada Sofreram naturalmente modi-
povo.
ficação de acordo com a organização dos indi-
gráfica, glótica
víduos os receberam; mas essa alteração não é tanta
que que
a um exame mais atento se não denuncie a origem da pala-
vra e lhe não a identificação
permita quanto possível perfeita.

Não é de estranhar de Hans Staden Anthony


que para
Knivet, um alemão, outro inglês, as diferenças de
grafia para
— 132 —

as mesmas brasílicas registraram sejam mais sen-


palavras que

síveis, ao entre franceses, como André Thevet


passo que,

de Léry, Claude d'Abbeville e Yves d'Evreux, há de no-


Jean

tar-se relativa homogeneidade de escrita. Mesmo assim, existe

nesse alguma discordância em seus livros respecti-


particular

vos. Para exemplo, considerados aqui apenas os autores fran-

ceses, tome-se de seus escritos o conhcido vocábulo ibirapi-

tanga, nome tupi da Caesalpinia echinata, e ver-se-á


que para

Thevet é oraboutan, Léry araboutan, d'Abbeville


para para

ouyrapouitan, e d'Evreux Observar-


para ybouyra-pouitan.

se-á a diferença de entre os dois não


que grafia primeiros

é mais do a ocorre entre os dois últimos;


pronunciada que que

mas há levar-se em conta estes foram compartes na


que que

missão maranhense, sendo o livro de um complemento do li-

vro do outro, além de ambos tiveram uma fonte comum


que

de informações, em Des Vaux e em David Mi-


provadamente

com os se acharam na sua chamada França Equi-


gan, quais

noxial. E considere-se Thevet e Léry se referem a tribus


que

do Sul, enquanto d Abbeville e d'Evreux se reportam às do

Norte; em seus escritos, isso mesmo, é natural


por que pre-

valeçam certas influências dialetais, aparecem não só no


que

vocábulo como em muitíssimos outros.


proposto,

Nos autores franceses, são os interessam ao caso


que que

os vocábulos tupis vêem transcritos em fôrma


presente, pu-

ramente francesa ou afrancesada, algumas vêzes arbitrária e

caprichosa. A tarefa de sua restauração é fácil, rela-


gráfica

tivamente, atendida à equivalência de som entre êles e seus

correspondentes no Tupi dos catequistas ibéricos.

Tem-se assim, modo: eu, ei, u, ouyh, nos autores


grosso

franceses, valendo i ou nos autores ou bra-


por y portugueses

sileiros; au, oi ou oy e ou, correspondendo da mesma forma

e respectivamente a ou, oa e u. Os demais sons não apresentam

diferenças maiores. Conhecida a correspondência fonética,

também é fácil estabelecer a equivalência entre os respectivos

temas. Assim, tem-se nos ouâ, ou uá,


primeiros por guá pre-

fixo; nos segundos; oui ou ouy, ap ou aue


por gui, prefixo;
= t>), aba, sufixo nominal; ouassou ou oussou,
(u por por

açú ou uçú, sufixo aumentativo; mi vi, miry, i ou


guaçú, y,

mirim, t ou im, sufixo diminutivo; été etê, sufivo de


por por
— 133 —

superioridade; ran rana, sufixo de semelhança; eum


por por

eima, sufixo de negação; segundo u — v) e


peuue (o pem,

e chato, catou catú, bom; éen


por péba perna, plano; por por

eêm, doce; rup róba, amargo, amargoso; teuue se-


por (o

u = v), tiba, sufixo indica abundância ou


gundo por que fre-

qüência de alguma cousa, correspondente ao latim etum e ao

aí, e aparece comumente nos topônimos, expri-


português que

mindo o ubi; endaue = endaba,


(u v) lugar, sítio,
por pouso,

etc. Os de cõr, como vêm transcritos nos auto-


qualificativos

res franceses, alteração oferecem; tem-se aí:


pouca piran,

ou ou vermelho; tin
pouytan poytan, por pitanga pitanga,

tinga, branco; iou, ou iouue segundo u =


por youp (o v),

ou amarelo; aubouyh ou aubouih, obí,


por yú, jú júba, por

azul ou verde; on un ou una, negro; ou


por pinim pynim, por

pinima, pintado, pontuado, salpicado de O meta-


pontos.

mb é freqüente nos escritos franceses: os vocá-


plasma pouco

bulos o deveriam conter, ora se apresentam com b, ou


que

com m. O mesmo se nota com relação a nd, ora leva uma,


que

ora outra letra. A articulação b vem sempre mudada


quase

em v (u) e às vêzes em o l vale r muito branco; o c


p; por

chiante vem com ch; o nh é substituído


grupo geralmente

o inicial, vem de nasal,


par gn; p quando precedido gama

muda-Se em m, etc.

Passando dessas vistas sumàriamente, aos vo-


partículas,

cábulos elas formados, tem-se, conforme suas categorias:


por

a) para as denominações vegetais, mais abundam


que

nos autores citados:ouyra ou ouita e oua, ibivá e suas


por

corrutelas, árvore, caa e ca, caá, erva, mato;


pau; por planta,

vue árvore em vua fruto; ove õu oue


por yba, geral; por ybá,

óba, folha.
por

b) para os nomes de animais: só animal em


por çoó,

o bicho, a caça; boy mbói, cobra, e acara ou


geral, por pira
cara, de ou couro, na fôrma, ou de escama,
peixe pele primeira

na segunda, e acará ou cará; ouyra, ave,


por pirá pássaro,

ara, dos Psittacídeos, ará; ourou, dos Galiná-


por guirá; por
¦ceos,
por urú; arou arú ou sapo; berou ou merou,
por guarú,

mberú, mosca; eyre, eira ou ira, abelha, mel; oussa,


por por

uçá, caranguejo; uss-a içá, formiga, etc.


por por
— 134 —

Em relação aos nomes de instrumentos, utensílios e ou-

tros, bastante variados em razão da complexidade dos objetos

designavam ou ainda designam, nem isso se torna


que por

mais difícil sua identificação, de acordo com os radicais acima

expostos. Para exemplos dessa classe de nomes ser ci-


podem

tados nas duas formas em aparecem: boucan


que (mockaein,

Hans Staden) moquem, assar carne ou


por grelha para peixe,

extensão a carne ou couy, cúia, va-


por própria peixe; por

silha; ourou urú, cesto; ou


por panacon, por panacum panacú.
cesto oblongo; saco de couro, ou
grande, patoua, por patuá,
anzol; aparêlho
pano; pinda por pindà, pouyssa por puçá,
de tabacouva, tapacuvá, ligas, ou axor-
pescar; por jarreteiras,

cas feitas de fios de algodão, usavam as donzelas núbeis,


que

etc., sem contar muitos outros com a mesma


que permaneceram

no francês e no Aliás, em
grafia português. grande parte,

êsses termos se acham incorporados ao léxico luso-brasileiro,

ou recolhido aos tupis.


glossários

Não é demais observar numerosas america-


que palavras

nas de outra não o Tupi, aparecem nas rela-


procedência que

ções de viagens referentes ao Brasil e chegaram mesmo a


pe-

netrar no dicionário brasileiro. Nesse sentido o contingente das

línguas das Grandes Antilhas, onde aportaram os


primeiro

descobridores, é dos mais copiosos. Segundo Humboldt,

Voyage aux Régions Êquinoxiales, III, 338/339, Paris,


ps.

1817, ser apontados, como de interesse a Botânica


podem para

descritiva, os vocábulos seguintes; ahi (Capsicum baccatum);

batata (Convolvulus batatas); bihao (Heliconia bihai); cai-

mito caimito); cahoba Mahago-


(Chrysophyllum (Swietenia

ni); a casabi ou-cassat»e não se usa senão o


palavra para pão

feito das raízes da Manihot; o nome da foi assim


planta juca

ouvido Américo Vespucci na costa de Paria, Lettera a Sa-


por

derini; age ou ajes alata); copei (Clusia alba);


(Dioscorea

officinale); Pyrefe-
guyacan (Guajacum guajaba; (Psidium

rum); muricata); mani hypo-


guanavano (Anona (Arachis
"(Inga
laurina); henequen (Agave antillarum,
goea); guama

A. americana), originàriamente uma erva, com a segundo


qual,

as narrativas dos viajantes, os haitianos cortavam


primitivos

os metais, hoje todo fio resistente; hicaco (Chrysobolanus

iaco); maghei ou maguei americana, e Lucuma mam-


(Agave

mosa); mahiz ou maiz mays); mangle man-


(Zea (Rhizophora
— 135 —

(Cereus ceiba (Bombax ceiba); tuna


gle); pitahaja pitahaya);

tuna); ainda nomes relativos à Fauna, como hicotea


(Opuntia

(Chelonio); iguana (Lacerta iguana); manati (Manatus ame-

ricanus ou australis); nigua hoje Tunga,


(Pulex, penetrans);

cocujo de vagalume (Eclater noctilucus); nomes de


(espécie

utensílios, instrumentos e outros, como hamaca (leito pensil.

rede); barbacoa formado de sobre forquêtas,


(girau paus para

secar carnes e tassalhos de animais, as folhas do mate, etc.);

cariei ou buhio redonda, cabana); chicha ou tschischa


(casa

(bebida fermentada); maçaria ou maça de madeira


(porrête

da Guilielma macana); tabaco


pesada, geralmente palmeira

(não a erva, mas o canudo de se serviam aspirar


que para

a fumaça do tabaco); cacique etc. Outras


(chefe), palavras

americanas, não originárias da língua do Haiti, mas vozes

árabes assimiladas ao castelhano, ainda hoje se usam na

América espanhola, exemplo; caiman (crocodilo)


por piragua

(embarcação); (Carica); aguacate (Persea); tarabita


papaja

(aparelho de transporte entre as margens de um rio);


páramo

(campo deserto, raso, aberto a todos os ventos, nos


planaltos

das montanhas); e mais banana (Musas), da língua Mbaiá,

do Grande Chaco; arepa de torta ou feito de


(espécie pão

milho); curiava (canoa alongada); (peça da vesti-


guayuco

menta); tutuma da Crescentia cujete, ou vaso lí-


(fruto para

quido); e inúmeras outras


palavras.

* *

Arrolando neste ensaio os exotismos franceses


principais

têm origem no tupi, estabelecer, de confor-


que procurou-se

midade com a lição dos antigos autores, a época de sua incor-

ao léxico francês, e, a da sua ad-


poração quando possível,

missão Academia Francesa. Para isso foram utilizadas


pela

as oito edições do Dicionário da Academia, o de Boiste,


que

é o verdadeiro francês, como o Charles


pan-lexicon qualificou

Nodier, e mais os de Bescherelle, de Littré e de Hatzfeld e

Darmestetter. Algumas dessas não foram registradas


palavras

nos dicionários; figuram, no entanto, nos tratados de Laet,


Marcgrav e outros, com fóros na ciência, e essa
Piso, por

razão foram incluídas aqui.

O a seguir não ser completo; encerra,


glossário pretende

em todo caso, a maioria dos termos mais importantes do gê-

nero, numa tentativa não tem


que precedentes.
BIBLIOGRAFIA

André Thevet — Les / / Singulari - / / tez de la Franc - / / ce Antarctique,

av - / / fremenf nommée Amerique: ü de / /


plusieurs Terres & Isles de- / /
couvertes de nostre / / temps. / / Par F. André Thevet, natif d'Angoulesme / /.
A Paris, / / chez li?s heritiers de Maurice de la Poste, au Closs / / Bruneau, à
íenseigne S. Claude /
privilege /du Roy
1557.|"Primeira e raríssima
/ /Avec
edição desconhecida dos bibliógrafos", — Carlos Rodrigues, Bibliotheca
quase ].
Brasiliense, n." 2.358. Dos livros de Thevet, aproveita-se aqui apenas êste, porque
a Cosmographie Universelle (Paris, 1575), na parte americana, repete com pouca
diferença as- Singularitez. Do Ms. desse autor, na Biblioteca Nacional de Paris, iné-

dito, a Biblioteca Nacional do Rio


Janeiro de a cópia que pertenceu a Eduardo
possue
Prado, autenticada Barão do Rio-Branco) . — Citação: Thfâvet, fls.
pelo

de Léry — Histoire / / d'un Voyage / / fait en la Terre / / dv Bresil.


Jean
avtre / / ment dite Amerique, etc. A la Rochelle. Pour Antoine Chuppin. M. D.
LXXVII (1578). Primeira edição raríssima. C:t.: Lery. ps.

Claude d Abbeville — Histoire I / de la Mission / / des Pcres Capucins / /


en 1'Islc dc Maragnan et I I ferres circonuoisines, etc. A Paris. De 1'Imprimerie
de François Huby, rue St. Jacques, à la Bible d'Or, 1614. Cit., Abbeville, fs.

Yves d Evreux — Suitte de íHistoire des Choses mémerables advenues en


plus
Maragnan ès années de 1613 & 1614. — Leipig & Paris, 1864. Cit.: Evreux, ps.

— Noiweau Monde, ou Deseription des Indes. Leyde,


)ean de Laet Histoire du
1640. Cit.: Laet, ps.

Guilielmo Piso — De Medicina Brasiliensi (Amsterdam, 1648, Cit.:Piso, ps.

Georgio Marcgrav — Historia Rerum Naturalium Brasiliae (Amsterdam, 1648).


Qt.: Marcgrav, ps.

Buffon — Histoire Naturelle des Oiseaux. À Paris. De 1'Imprimerie Royale, 30

volumes, 1771-1786. Cit.: Buffon, Oiseaux, vols. e ps.

Buffon — Oeuvres complètes suivies de la Classtfication comparée de Cuvier,


Lesson, etc. Nouvelle édition revue M. Richard. — 6 vulumes. — Paris, 1838.
par
— Cit.: Buffon, Oeuures, vols., ps.

Carl Friedrich Phil. von Martius —¦ Beitrâge zur Ethnographie Amerika's zumul
Bcasilien. Leipzig, 1867. Cit. Martius, Ethnographie, ps.

Carl Friedrich Phil. von Martius •— Beitrâge zur Sprachenkunde Àmerika's zumal
Brasiliens. Leipzig, 1867. Cit.: Martius, Sprachenkunde, ps.

George Friederici — Die Schiffahrt der Indianer. Stuttgart, 1907. Cit. : Friederici,
Schiffahrt, ps.

George Friederici — Hilfswõrterbuch für den Amerikanisten. Halle (Saale), 1926.


Cit.: Friederici, Hilfsivõrterbuch, ps.

George Friederici — Lehnwòrter exotischer Herkunft in europãischen Spracher,.


in Zeitschift für [ranzõsische Sprache und Literatur, Bd. LVIII, Hest 3.4 (ps. 135-

155) Jena und Leipzig, 1934. Cit.: Friederici, Lehnwòrter, ps.

Boiste Dictionnaire Universel dc la Langue Française. -ç- 15." ed., Paris, 1866.
— 138 —

Bescherelle — Dictionnaire National, ou Dictionnaire Universel de la Langm


Française. — 12.* ed., Paris, 1867.

Littré <— Dictionnaire de la Langue Française. — Paris, 1878.

Hatzfeld £> DarmesteCsr. •— Dictionnaire Général de la Laágue Française du


commecement du XVIII siècle nos — Paris, 1895-1900.
jusquà jours.

Dictionnaire de VAcadémie Française — Edições de 1694. 1718, 1740, 1762,


1798, 1835, 1878, 1932-35, — oito ao todo, são apareceram até agora
que quantas

Outros autores e obras, ocasionalmente citados, sê-lo-ão in-extenso.


139 —

GLOSSÁRIO

abati, milho mays, L.) .


{Zea

Thevet, 46, auaty; Léry, 142, auati; Abbeville, 207,

auatty; Marcgrav, 19, abati Brasiliensibus. Note-se

v, — Diz-se ubati,
o u vale que é b. ainda
que por

ubatim.

acajou, acajú, caju, fruto do cajueiro (Anacardium occi-

dentale, L.) .

Thevet, 120 e Léry, 205, acatou; Abbeville, 217;

Evreux, 162: Laet, 492, acatou e caiou; Piso, 57,

acaju; Marcgrav, 94, acaiu, vulgo cajú.

Boiste confunde a anacardeácea com a cedrelácea,

cuja madeira se emprega na marcenaria. Besche-


"Les
relle diz : Brésiliens comptent leur âge
par
'acajou,
les noix d et n'oublient d'en serrer une
pas

chaque année". Littré e Darmesteter; admitido no

Dicionário da Academia em 1835. Para Rodolfo

Dalgado, Glossário Luso-Asiático, s. v., o vocábulo

é brasileiro, acajú no tupi.

Derivado :

acaiouyer.

acaiouyer, veja acajou.

a c a r a , acará, cará, fluvial .


peixe (Cichlidas)

Léry, 186, 188; Abbeville, 247; Marcgrav, 168.

Boiste, du Brésil, connu.


poisson peu
Derivados:

acara-bouten.

acara-miri.

acara~oussou.

acara-pep.

a c ar a, Veja cara (Dioscorea).


— 140 —

acariçobe, acariçoba, umbelifera (Hydrocotyle


planta

barbarossa, Cham.) .

Piso, 90, acariçoba, à Lusitanis erva do capitaort

appellatur. Martius, Sprachenkunde, 384, acariçoba.

Boiste, acaricoba.

No Brasil é mais conhecido o nome de erva de ca-

pitão.

a c o u c h i, veja agoutin.

acouti, veja agoutin.

agami, ave crepitans, L.).


jacami, jacamim, (Psophia

Boiste, Bescherelle, Littré, Darmesteter e Dicioná-

rio da Academia; Webster, Dictionary : agami, tupi

jacami. Foi Buffon, Oiseaux, V, 204, intro-


quem
duziu o nome agami na literatura científica.

Sinônimos :

jacami.

jacamim.

agouti, veja agoutin.

agoutin, agòuti, acouchi, acouti, cutia, roedor


(Dasy-

aguti, L.) .
procta

Thevet, 62 v., agoutin; Lery, 155, agouti; Abbe-

ville, 96, v., e Evreux, 44, agouti; Laet, 484, acuti

ou agouti; Marcgrav, 224: Aguti, vel Acuti Bra-

siliensibus, vulgo corructe cotia vocatur. Buffon,

CEuvres, III, 258, agouti.

Boiste, Bescherelle, Littré e Dicionário da Academia.

No Brasil a fôrma cutia e nas repúblicas


prevaleceu

acuti e aguti.
platinas

Sinônimos :

acouchi.

acouti.

agouti.

a i, desdentado da família dos Bradypodídeos


preguiça, (Bra-

dypus tridactylus, L.) .

Thevet, 99 v., haüt ou haüthi; Léry, 156, hay; Laet,

487, hay; Marcgrav, 221 : Ai Brasiliensibus, Lusi-

tanis Priguiza.. .

Boiste consigna ai ou hai, diferencia, sem razão,


que

de unau (Choloepus didactylus, L.), o


porque pri-
— 141 —

meiro tem rabo, do o último é certo é


que privado:

ambas as espécies são descaudadas. No Brasil


que

o nome apenas na sinonímia amazônica,


prevalece

designar o macho tem na nuca uma malha


para que
vermelho-alaranjada, atravessada uma listra,
por

semelhante a um escapulário ou bentinho, de onde o

apelido aí de bentinho. Littré, ai.

ai ourou, ajurú, ajerú ave (Amazona aestiva,


jurú, jerú,

L., e espécies afins).

Thevet, 93, aiuroub; Léry, 172, aiourou; Abbeville,

234 v„ iuruue; Laet, 490.

ai aipim aypi, Pohl) .


pi, (Manihot

Léry, 132, aypi; Laet, 499; Piso, 52; Marcgrav.

274, aypi.

a i r i, (Astrocaryum ayri, Mart.) .


palmeira

Thevet, 72, háiri; Léry, 201, àivi; Laet, 496, ayri.

Boiste.

a o u a , cabana, rancho,
j p pouso.

Abbeville, 63, v., e Evreux, 19, aioupaue.

Rochefort, Histoire Naturelle et Movale des Isles

Antilles, II, 668, Lyon,


1667, atribue a ajoupa ori-
"un
caraiba, significando appenty, un couvert
gem

ou un auvent". No Tupi existe o equivalente

teyupab, deu tejupaba ou tejupá. No contacto


que

das duas línguas, seria a


qual primeira possuidora

do termo, não é fácil de decidir.

Bernardin de Saint-Pierre, Paul et Virginie, 85,


"Oh
Paris, 1843: ! non, dit Paul; ne te
je quitterai

Si la nuit nous surprend dans ces bois,


pas. j'allu-

merai du feu, un tu en mangeras


j'abattrai palmiste;

le chou, et farai avec ses feuilles un ajoupa


je pour

te mettre à 1'abri".

Bescherelle, Littré e Darmesteter.

Sinônimos :

tejupá.

tejupaba.

amoco, mocó, roedor rupestris, Wied).


(Kerodon

Abbeville, 251 v., Laet, 556. Mocó, mais usado.


— 142 —

a n a n a s , bromeliácea sativa, Lindl.) .


(Ananassa

Thevet, 89, nana; Léry, 120, ananas; Abbeville, 227

v., ananas; Laet, 499, anana;-Piso, 87 : Anana, aliis

nana.

Boiste, Bescherelle e Littré dão à origem


palavra

mas o último, no Suplemento ao Dicioná-


peruana;

rio, corrige brasileira a do nome,


para procedência

o Darmesteter confirma, apoiando-se em The-


que

vet, op. et loc. cit.

anda, andá, árvore euforbiácea (Joannesia Pcinceps, Vell.),

hoje mais conhecida com o aumentativo açú.

Laet, 495; Piso, 72; Marcgrav, 110.

Boiste.

a n d i r a , andirá, morcego (Chiropteros) .

Abbeville, 240, andheura; Evreux, 249, endura;

Laet, 554, andheura; Martius, Ethnographie, 415.

and ira, árvore leguminosa, o mesmo angelim (Ma-


que

chaerium heteroptenim, Fr. Ali.) .

Marcgrav, 100.

Boiste.

anon, anum, anú, ani, L.) .


pássaro (Crotophaga

Thevet, 94, annon; Léry, 175, Marcgrav, 193,


panou;

ani Brasiliensibus. Buffon, Oiseaux, VI, 478.

a e r e a , apereá, roedor (Cavia aperea, L.) .


p preá,

Marcgrav, 223, aperea Brasiliensibus.

Boiste.

Preá, mais usado.

aputé-juba, aureus, Gm.) .


psitac'deo (Conorus

Marcgrav, 206.

Boiste.

Também se chama tui-aputejuba.

a u i u i, nome de ave desconhecida.


q q

Laet, 486.

Boiste, oiseau criard du Brésil.

ara, nome dos de longa cauda


genérico psitac'deos grandes,

e bela
plumagem.

Foi assinalado Américo Vespucci, na


primeiro por

Lettera a Soderini in facsimile from the


(Reprinted

rare original of Florence, 1505-6, London, Bernard


— 143 —

Quaritch, 1893).

Thevet, 47, v., e Léry, 170, arat.

Boiste, ara ou aras, e hara; Bescherelle e Littré,


para

a é abreviação de ataraca, nome tupi


quem palavra

do Darmesteter entrou na língua fran-


papagaio; para

cesa no século XVIII, Buffon lhe deu fóros


quando

científicos. Admitido no Dicionário da Academia

em 1835.

araboutan, veja ibirapitanga.

Boiste.

araçari, nome comum às aves da família dos Rhamphasti-

deos, menores os tucanos.


que

Abbeville, 238, arasary,

Boiste, aracaci.

a r a i n a n , ave spinosa L.) .


g jaçanã, (Parra jacana,

Léry, 168, arignan; Abbeville, araignan.

Boiste, Bescherelle
jacana; jacane.

ar atou, aratú, crustáceo braquiuro (Áratus M.


pisoni,

Edw.).

Abbeville, 248; Laet, 510.

a ti, ave cirrhocephalus, Vieill.) .


(Larus

Abbeville, 214, aty.

a t i n a c u , atingaçú, ave (Piaya cayana, L.) .


g

Marcgrav, 216, atingacu camucu. Buffon, Oiseaux,

VI, 371.

b a c o b a , bacova, veja
pacoba.
Piso, 75.

bacova, veja
pacoba.

b e u , bejú, espécie de filhó de tapioca ou massa de man-


j

dioca, cozido em fôrno.

Piso, 53; Marcgrav, 274; Martius, Ethnographie,

499.

b o i c i n i n a , serpente da família dos Viperídeos


g (Crotalus

terrificus, Daud.).

Laet, 488, boycininga; Piso, 41, boicininga,


quem
Cascavel & Tangedor Hispani nominant.

O mesmo boiquira.
que

b o i u i r a , veja boicininga.
q
Boiste, espèce de serpent à sonnettes.

boucan, moquem, de assar na labareda,


grelha pau para

ou tostar a carne ou essa


peixe, que passava por

operação.

Léry, 153; Hans Staden, Véritable Histoire (tradu-

francesa de 1837), 196, mokaen e mockaein;


ção

Abbeville, 249; Evreux, 168; Laet, 508, boucan ou

mocae; Marcgrav, 273, mocae.

Littré dá à caraiba; mas Ro~


palavra procedência

chefort, Histoire Naturelle et Morale des Isles An-


"gril
tilles, II, 669, Lyon, 1667, consigna de
youla,

bois, d'autres sauvages appellent boucan" .


que

Boiste, Bescherelle; admitido no Dicionário da Aca-

demia em 1835.

Derivados :

boucanage.

boucané.

boucaner.

boucanerie.

boucanier.

boucanièvç de vida desordenada) .


(mulher

boucanage, veja boucan.

boucané, veja baucan.

boucaner, veja boucan.

boucanerie, veja boucan.

boucanier, veja boucan.

boucanière, veja boucan.

buriti, veja muriti.

b u t u c a , veja mutuca.

butun, veja
petun.

Littré.

c a b i o u , cabiú, condimento serve adubar a comida,


que para

assado ou e é feito com o suco espesso


guizado, que
da mandioca.

Boiste e Littré.

Variante :

capiou.

caboré, veja cabure.

cabure, caburé, ave (Glaucidium brasilianum, Gm.).

Abbeville, 233, kauouré; Marcgrav, 212, cabure

Brasiliensibus.

Boiste.

Variante :

caboré.

cai, caí, nome dos Cébidas.


genérico pequenos

Léry, 163, cay; Abbeville, 252 v., e Laet, 486, idem.

camurupi, camurupim, peixe de mar (Megalops thris-

soides, BI. et Sch.) .

Léry, 186, kamouroupouy; Abbeville, 244, cammou~

roupouy; Laet, 506, camurupi.

c a n i b a , veja canibale.

c a n i b a le , caniba, cariba, caribe ou caraiba, nomes


por

se designavam os selvagens antropófagos, ha-


que

bitantes das ilhas Antilhas, de Colombo, em


quem

sua viagem, recebeu de


primeira graves queixas

dos inermes Aruaques, cujas mulheres rou-


parte

bavam em assaltos à terra firme,


prometendo pro-

vidências dos reis de — Navarrete,


Castela, Colec-

Viajes, I, 1858). —
ciort de los 263, (Madrid, Pe-

trus Martyr, Opus Epistolarum, 80/81


(Amster-
"Canibales
dam, 1670, Elzevir), escreve: sive Ca-

ribes — Leonardo
et Canibalicum Reginam". de

Argensola, Primera Parte de los Anales de Aragon,


"...
567, (Zaragosa, 1891) : los Caribes . .. ainsi

se llaman en Ias índias los Selvajes, comen carne


que
humana, como Grécia — Ra-
en Antropophagos".

belais, Pantagruel, 89, Paris, ed. Flammarion, refe-


"les
re-se a enraigez Putherbes, Briffaulx, Caphars,

Chattemiltes, Canibales, et aultres monstres diffor-

mes —
et contrafaicts en despit de la Nature." Mon-

taigne, Essais, I, 253/271, Paris, 1872, descreve lon-

dos — Karl den


gamente os costumes Canibales von

120.929 F. 10
— 146

Steinen, Die Bakáiri Sprache, IX, Leipzig, 1892,


ps.

opina a fôrma legítima do nome seria caraiba, e


que
"estran-
nãb caribe, e seu significado o
paxece.ser
— Rodolfo Lenz, Dicionário Etimolójico
geiro".

de Ias vocês chilenas derivadas de lenguas indijenas

americanas, n, 146 de Chile, 1904), é de


(Santiago
^
a denominação viria de erro dos desço-
pafecer que

bridores, ouvindo aos índios o nome caraiba,


que

acreditavam eles assim se chamassem,


que quando

aos recem-chegados, aos forasteiros, era daquele


que

modo denominavam.

Boiste, Bescherelle e Littré; admitido no Dicionário

da Academia em 1762.

Derivado :

canibalisme, antropofagia.

Sinônimos :

caniba.

caraiba.

cariba.

caribe.

canibalisme, veja canibale.

canidé, canindé, ave araraúna, L.).


(.Ara

Thevet,-81 v., carinde; Léry, 171, canidé; Abbeville,

234, idem.

Boiste, bleu d Amérique.


perroquet

caouin, cauim, sorda fermentada de cajú, os índios


que

e bebiam ocasião de suas festas ;


preparavam por

extensão, a beberagem fermentada de milho. O


por

vocábulo, significando vinho ou a festa deter-


que

minava, tem larga distribuição na América do Sul :

mas é incontestàvelmente de origem tupi, de acajú

ou çajú..

Thevet, 46, cahouin; Léry, caouin; Abbeville, 261,

e Evreux, 42, idem.

Littré, caoi.

Derivados :

caouinage.

caouiné.

caouiner.

caouinage ,veja caouin.


— 147 —

caouiné, veja caouin.

(/aouiner, veja caouin.

capibara, capivara, roedor (Hydrochoerus capybara,

Erxl).

Abbeville, 248 v., capyyuare; Laet, 212, capyguara;

Marcgrav, 230, capybara Brasiliensibus, Potcus est

fluviatilis.

Littré, capivard., dado como um dos nomes da ca-

biai, é a cobaia, ou da índia (Cavia


que porquinho

cobaia, L.) •

capio.u, veja cabiou.

Para Boiste é a mandioca. «


própria

cara, cará, nome comum a diversas espécies de


planta,

Dioscoreas.

Abbeville. 229; Laet, 553; Piso, 93; Marcgrav, 29.

O mesmo acara.
que

caracara, caracará, ave de rapina (Milgavo chimachima,

Vieill.) .

Abbeville, 233, kavakata; Marcgrav, 211, cavacara

¦
Brasiliensibus, Gaviaon Lusitanis. Buffon, Oiseaux,

II. 407.

Boiste, Littré, Darmesteter.

caraguata, caraguatá, bromeliácea (Bromelia


gravatá,

kavatas, L.) .

Abbeville, 228, karaouàta; Laet, 502, caraguata, 552,

karouta; Piso, 111, e Marcgrav, 37, idem.

Boiste, carata; Littré e Darmesteter, karata.%

c a r a i b a , veja canibale.

caramemoa, cariminguá, espécie de feito de fo-


paneiro

lhas de palmeira.

Léry, 157, carameno; Abbeville, 283, idem.

caramourou, caramurú, moréia, de mar da família


peixe

dos Muraenídeos. Foi apelido de Diogo Álvares,

entre os tupinambás da Bahia.

Abbeville, 246.

cara carapirá, ave aquila, L.) .


pira, garapirá, (Fregata

Abbeville, 241 v., kary-pyra; Laet, 511, caripira.


— 148 —

c a r b e t, casa lugar de reuniões, o dos


pública, parlamento

índios.

Abbeville, 57 v.; Evreux, 55. Rochefort, Histoire

Nàturelle et Morale des Isles Antilles, II, 668, Lyon,

1667, karbet.
^

Boiste, Bescherelle, Littré e Darmesteter; admitido

no Dicionário da Academia em 1835.

Por analogia, espécie de hangar abrigar embar-


para

cações. Nos Diálogos das Grandezas do Brasil (Diá-

logo 6.°) ocorre carpe com idêntica acepção de

carbet.

cariam, sariam, seriema, ave (Microdactylus cristatus, L.).

Abbeville, 242, saliam; Laet, 554, salian; Marcgrav,

203, cariama, em vez de çariama.

Boiste e Bescherelle, cariame.

c a r i b a , veja canibale.

caribe, veja canibale.

cariman, massa de mandioca


puba.

Abbeville, 305, cayman; Evreux, 22; Piso, carima.

cherembabe, carimbabo.

Léry, 173, cherimbaué; Abbeville, 293, kerembaue.

c i o , cipó, liana, sarmentosa e trepadeira.


p planta

Piso, 113; Marcgrav, 14, icipo Brasiliensibus, cujus

multae sunt species. Martius, Sprachenkunde, 406.

sipó, sepó, Friederici, Hilfswòrterbuch,


çepó, çipú.

31. O termo era corrente em 1549, como se vê no


mandado de 21 de dezembro daquele ano,


para
• se em resgate certa se
que pagasse quantia, que
dispendeu em agulhas, cipós e varas, e em outras

cousas a cêrca da cidade do Salvador, Docu-


para

mentos Históricos, vol. XXXVII, 57, Rio, 1937.


ps.

ci eme, ciporema, árvore americana, L.) .


por (Sèguieria

Boiste, ciporème; arbre du Brésil, ème, espèce d'ail.

coati, cuati, roedor socialis, Wied.) .


(Nasua

Thevet, 95 v., coaty; Lery 166, coaty; Laet, 486,

cuati. Buffon, CEuvres, III, 257.

Boiste, Littré.

coendou, coandú, cuandú ou roedor


quandú, (Coendu

villosus, L.) .
— —
149

Abbeville, 249 v.; Laet, 556; Marcgrav, 233, cuandu

Brasiliensibus, Ouriço Cachiero Lusitanis. Buffori,

CEuvres, III 520. • i

copahy, copaíba, árvore leguminosa


(Copaifera.o[ficinalis,

e outras espécies), de cujo caule, por incisão,


Jacq.,

se extrai o óleo bem conhecido em medicina.

Léry 201, copa-ii; Laet, 494, cupayba; Piso, 56,

copaiba.

Bescherelle, Littré e Darmesteter; admitido no Di~

cionário da Academia em 1762.

Derivado :

copayer.

c o a e r , veja copahy.
p y

c o u i, cuia, vasilha feita de metade do do fruto da


pericarpo

cueira (Crescentia cujete, L.) .

Léry, 308'couí; Abbeville, 272, couy; Evreux, 142,

cui; Martius, Ethnographie, 715, cuia.

Boiste, couir enveloppe du fruit de calebassier, vi-

dée; Littré.

coumarou, cumaru, árvore (Dipterix odorata


(Aubl.)

Willd.).

Abbeville, 226, coumarou.

Boiste, Littré, Darmesteter.

coureman, curimã, (Mugil curema, Cuv. et Vai.).


peixe
Léry, 185, kourema; Abbeville, 244 v., coureman;

Marcgrav, 181, curema Brasiliensibus, species Tai-

nha & crassa.


grandis

couricaca, curicaca, ave (Thimosus nudifrons, Spix).

Marcgrav, 191, curicaca Brasiliensibus. Buffon.

Oiseaux, IV, 134.

Boiste.

courourou, cururú, nome se conhecem duas es-


por que

de batráquios: Ceratophrys dorsatus, Neuw.


pécies1

(Brasil oriental) e Pipa cururu, Spix (Amazonas).

Abbeville, 253 v.; Piso, 46.

Boiste, curucu.

curucui, ave desconhecida.

Marcgrav, 211, curucui Brasiliensibus.

Boiste; Littré, couroucou.


I

— 150 —

fernambouc, brasil, ou pau-brasil (Caesal-


pernambuco,

echinata, Lamk.) .
pinia
Abbeville, 76 v., nom de lieu;
passim, [ernamboury,

Evreux, 65, idem.


passim,

A desses autores induz à hipóse de o


grafia que

vocábulo se derive de Fernam e bourg,


(Fernando),

cidade, castelo; entretanto, é nome


povoação, genui-

namente tupi, e desde cedo aparece,, mais ou menos

alterado, nas cartas e nas relações dos


geográficas

viajantes, designar não só a terra, como a essên-


para

cia vegetal ali abundava, e de onde era expor-


que

tada: bois de Fernambouc, rnetonimia, Fernam-


por

bouc, o lugar
pelo produto.

Boiste; Bescherelle: bois de Brésil, pro-


[ernambouc,

.à la teinture, et vient de la de Fer-


pre qui province

nambouc.

árvore americana, L.) .


genipapo, (Genipa
genipa,
Thevet, 59, Léry, 113, idem; Abbeville,
genipatt

219, iunipap; Evreux, 212, iunipape; Piso, ianipapa.

Boiste, Littré,
janipa, janipaba; genipa.

Derivado :

génipayer.

veja
génipayer, genipa.

serpente constrictor, h.) .


giboia, (Boa

253 v., iouboy; Laeí:, 488, ou


Abbeville, giboya

iaboia; Piso, 41.


jiboya.

Boiste, Littré.
giboya;

abóbora (Cucurbitáceas).
giraumon, girimú, giramum,

Abbeville, 52, v., Laet, 552, idem.


gyromon;

de Saint-Pierre, Paul et Virginie, 58,


Bernardin
"II
1843: semait du mil et du mais dans
Paris, petit

médiocres, un de froment dans les


les endroits peu

terres, du riz dans les fonds marécageux; et,


bonnes

des des courges et


au des roches, giraumons,
pied

des concombres, se à
qui plaisent y grimper."
Bescherelle, Littré e Darmesteter; admitido no Di~

cionário da Academia em 1762.

nome de uma casta de símios (Micetes).


goariba, guariba,
Abbeville, 252, ottàrine; Laet, 486,
goariba.
Boiste, ouarine, espèce de sapajou.

crustáceo braquiuro
gouaiamon, guiamú, guòiamum,

(Cavdisoma Latr.) .
guhumi,
Abbeville, 248, ouégnomoin, é também o nome
que

de uma constelação de várias estrelas na astrono-

mia dos tupis do Maranhão. Laet, 510,


guainumu;
Marcgrav, 185, Brasiliensibus : câncer
guanhwni
terrestris. Martius, Sprachenkunde, 450,
guanhumi.

nome comum aos Troquilídeos


gouambuch, guainumbi,

(Beija-flores) .

Thevet, 94; Léry, 176; Abbeville, 239 v,, ouénom-

bouyh; Laet, 490, Marcgrav, 107, não


guaynomby;

distinguiu os colibrís dos e a to-


pássaros-mcscas,

dos chamou indiferentemente Brasiliensi-


guainumbi
bus. Buffon, Oiseaux. VII, 33.

Boiste.

guira-aperea, guirapereá, ave (Tanagra L.).


fiava,
Marcgrav, 202.

ave (Nemosia L.) .


guira-beraba, guira-berába, guira,
Marcgrav, 212, beraba Brasiliensibus;
guira guacu
Buffon, Oiseaux, VI, 570,
quira-beraba.

ave [Guira
guira-cantara, guira-acangatára, guira,
Gm.) .

Marcgrav, 202, acangatara. Buffon, Oiseaux,


guira
VI, 371.

guira-nheengetá, ave (Taenioptera


guira-nheegeta,
negeta, L.) .

Laet, 40, Marcgrac, 209. Buffon.


guiranheangeta;

Otseaux, V. 181.

guira-panga, guira-ponga, araponga (Chasmorhynchus

rtudicollis, Vieill.) .

Laet, 491, ou Marcgrav, 201,


guira puriga girapoiga;
Brasiliensibus. Buffon, Oiseaux, V, 177.
guira punga
Boiste, cotinga du Brésil.
— 152 —

ave (Caprimulgus torqua-


guaira-querea, guiraquereá,

tus, L.) .

Marcgrav, 202; Buffon, Oiseaux, VI, 570.

ave climazura, Vieill.) .


guirarou, guiraró, (Flavicola

Marcgrav, 209. Buffon, Oiseaux, V, 181.

veja urupema. .
gurupcma,

veja urupema.
gurupemba,

h e t i c h , batata (Batatas edulis, De-Cand.) .


jetica,

Thevet, 52 v.; Léry, 224; Abbeville, 228,


yeteuch;

Laet, 553, hetich ou Marcgrav, 16, ietica


yeteuch;

Brasiliensibus, Lusitanís Batata. Martius, Sprachen-

kunde, 418.

Baiste. 0

i a c o n d a , nhacundá, de água doce (Ci-


jaconda, peixe

childas) .

Abbeville, 247, Laet, 555, idem.


yaconda;

i a c o u , ave (Penelopidas) .
jacú,

Léry, 169; Abbeville, 236 v.; Buffon, Oiseaux,

II, 403.

Boiste,
yacon.

Derivados :

iacou-ouassou.

iacoupen.

iacoutin.

iacou-ouassou, veja iacou.

iacoupen, veja iacou.

iacoutin, veja iacou.

i a i, ave cela, L.) .


p japí, japim, (Cassicus

Abbeville, 69 v., iapy.

Boiste, confundindo-o com (ja~


yapu (japi), yapon

é outra ave.
pú), que

i a o n , ave decumanus, Pall.) .


p japú, (Ostinops

Abbeville, 237 v.; Laet, 490, Buffon, Oiseaux,


yapu;
— 153 —

III, 255,
yapon.
Boiste,
yapon,

i b i a r a , ibiára, cobra de duas cabeças (Amphisbaena) .

Piso, 42; Marcgrav, 239, ibyava Brasiliensibus.

Boiste, ibare ou ibijare'.

i b i b o c a , cobra cobrai (Elaps) .

Marcgrav.. 240.

Boiste, Bescherelle, Littré; admitido no Dicionário

da Academia em 1835.

i b i a u , ibijaú, ave (Nyctidromus albicollis, Gm.) .


j
Marcgrav, 195, ibijau Brasiliensibus, Noitibo Lusi-

tanis. Buffon, Oiseaux, VI, 572.

Segundo a lenda, o come terra, com outros no-


que

mes, como engoulevent, tette-chèvre, crapaud-volant.

Boiste, Bescherelle; admitido no Dicionário da Aca-

demia em 1835.

i b i r a c o a , ibiracoá, espécie de cobra.

Piso, 43, ibiracoa Brasiliensibus.

Boiste.

ibirapitanga, brasil (Caesalpinia echinata,


pau-brasil,

Lamk.) .

Thevet, 116, oraboutan; Léry, 194, araboutan; Ab-

bville, 183, ouyrapouitan; Evreux, 54,


ybouyra-

pouitan.

Bescherelle e Littré, ibirapitanga.

í c i c a , resina, vegetal.
goma
Thevet, 59 v., usub; Marcgrav, 98, icica.

ieropary, o demônio incubo, um da mito-


jurupari, gênio

logia tupi..

Abbeville, 70, et Evreux, 37 et


passim; passim,

Laet, 475, inrupari (quiçá iurupary); Mar-


giropary;
tius, Ethnographie, 468,
jurupari.

i e t i n a , nhitinga, mosquito (Culex) .


g
Abbeville, 255 v., Laet, 489, ou*ge-
yetingue; yetin

tinga; Marcgrav, 257, ietinga.

i a r a , canoa ligeira.
g
Léry, 229; Abbeville, 187, augare.
ygat;

i n u b i a , buzina, flauta dos índios.

Léry, 227.
— 154 —

O nome decorre, segundo Batista Caetano (Aponta-

méritos sobre o Abaneênga, in Ensaios de Sciencia,

I, 38, Rio, 1876), de êrro de do tupi mimby,


grafia

escrito mybu e também mubu, se tornou inubie


que

e inubia, os adotaram e celebraram.


que poetas

ipecacuana, ipecacuanha, da família das Rubiá~


planta

ceas (Psychotria ipecacuana, Mull. Àrg,).

Laet, 501, igpccaya ou Piso, 95, ipecacua-


piguaya;
nha; Marcgrav, 17, ipecacoanha.

Boiste, Littré, Darmesteter, ipecacuana.

i e c u , ipecú, nome comum às aves da família dos Picídeos


p

(Pica-paus) .

Marcgrav,-207, ipecu Brasiliensibus, corta Lu-


pao
-
sitanis.

i e r u , iperú, nome tupi do tubarão Pleurotre-


p (Seláquios

mados) .

Thevet, 133, houperou; Marcgrav, 172, iperu Bra-

silienibus, tiberon vel tubaron Lusitanis.

irara, mamífero barbara, L.


papa-mal, (Tayra

Thevet, 98 v., heirat; Laet, 486, hirara.

Boiste.

iri, ayri, Mart.) .


palme:'ra (Astrocaryum

Thevet, 115 v., Léry, 200, idem.


yri;
O mesmo airi.
que

jabebirète, ou ráia-licha, de
jabebiretê, jabiretê, peixe
mar (Dasyatis) .

Marcgrav, 175.

Boiste.

a b i r o u , ave (Mycteria mycteria, Licht. ) .


j jabirú, jaburu,

Abbeville, 242, iauourou; Marcgrav, 201. A des~

crição feita esse autor, do e do tuiuiú, ou


# por jabirú
nhanduapoa 200 e 201), não concorda com as
(ps.

figuras respectivas, foram trocadas na tipografia.


que

O fato induziu em êrro a Linneu, cujas descrições

específicas se basearam, as aves brasileiras na


para
obra de Marcgrav. Buffon, Oiseaux, VIII, 136.

Boiste, Littré.
— 155 —

a c a m i , ave, veja agrami.


j

a c a m i m , ave, veja agami.


j

vçja araignan.
jacana, jaçanã,

Marcgrav, 190,
jacana.

Bescherelle,
jacane.

O nome ficou alterado nesse, como em muitos outros

nomes brasileiros, ausência do no latim.


pela ç

árvore de madeira negra


jacaranda, jacarandá, preciosa

(Machaecium spc.).

Abbeville, 223, Laet, 496, iacavanda.


yacaranda;
Boiste, bois de Indes.

jacaré, crocodilo (Emydosáurios) .


jacaré,
"Ils
Thevet, 62/62 v.; [os selvagens do Cabo-Frio]

le nomment en leur langue acareabsou, ô sont


plus

ceux du Nil." Léry, 157, iacaré; Laet,


grandes que
512, iacare; Piso, 43, Marcgrav, 242, iacare.
jacaré;

Boiste e Bescherelle, Littré,


jacaret; jacara.

ave (Volatinia L.). Serra-


jacarini, jacarina, jacarina,
serra, sãltador.

Marcgrav, 210, iacarini; Buffon, Oiseaux, V, 42.

Bescherelle e Littré.

a c u r u t u , ave magellaniçus, Gm.) .


j jurucutú, (Bubo

Abbeville, 240, ioucouroutou; Marcgrav, 199, iacu-

rutu Brasiliensibus, Bufo Lusitanis.

Littré,
jucurutu.

nome dos Felideos americanos, o Felis


jaguar, genérico
onca, L.) .

Léry, 162, ianou-are; Abbeville, 251 v., iariouàre, e


"estoille.
317, iaouàre, . . c est à dire chien", a es-

trêla da tarde, ou Vesper. Laet 556, ianouare;

Marcgrav, 235: iaguara Brasiliensibus, nobis Tigris,

Lusitanis Onca. Buffon, CEuvres, III, 293, tratando


"Les
desse animal, escreve: en aient
premiers qui
donné une description détaillée, sont Pison et Marc-

ils l'ont appellé au lieu de-


grave; jaguara, janoüara,

étoit nom en langue . ." —


qui son brasilienne. o
que
é retificar-se. Friederici, Lehnwõrtcr, 138/139.
para

Boiste, Bescherelle, Littré e Darmesteter; admitido

no Dicionário da Academia de 1835.


a n d a i a , nhandaia, .
j psitacideo (Conucus)
"certame
Abbeville, 318, estoille
yanday, yenday,
laquelle tout rouge. . . lors le Soleil se
paroist que
couche" . Marcgrav, 206, iendaya; Buffon, Oiseaux,

VII, 210,
jendaya.

a n d i r o b a , veja nanditobe.
j

japacani, japacanim, ave (Donacobius atricapillus, L.) .

Marcgrav, 212, Brasiliensibus. Buffon.


japacani
Óiseaux, III 230.

jararaca, serpente da família dos Viperídeos


(Bothrops),
Thevet, 132 v., Laet, 488, iararaca; Piso, 42.
gerará;
K

k a r a t a , veja caraguata.

Darmesteter.

maguari, ave (Euxenura maguari, Gm.) .

Abbeville, 241, maouàrip; Marcgrav, 204, maguari

Brasiliensibus; Buffon, Oiseaux, VIII, 133.

maman-pian, veja
pian.

mandubi, mendubim, amendoim. (Arachis hypogoea, L.).

Léry, 216, manobi; Abbeville, 229 v., mandouy; Laet,

503, manobi ou mandubi; Marcgrav, 41, mandubi.

manioc, mandioca (Manihot utilissima, Pohl) .

Thevet, 49, manihot; Léry, 132; Laet, 494, man-

dioca; Piso, 52/55, a história da Marc-


planta;
55.
grav,

Boiste, manioc; Littré, manihot e manioc; Darmes-

teter; admitido no Dicionário da Academia em 1762.

Variante :

manioca.

manioca, veja manioc.

man mangaiba, fruto e árvore speciosa,


gaba, (Hancornia

Gomez).

Abbeville, 218 v.; Laet, 492; Piso, 67; Marcgrav, 121.

maraca, marâcá, instrumento músico indígena.

Pigafetta, in Ramusio, Delle navigationi et viaggi, 1,


— 157 —

408 v. 1554), itanimaraca. Léry, 118, ma-


(Venetia,

raca; Abbeville, 300; Evreux, 44.

margaia, maracajá, carniceiro (Felis L.).


pardalis,
Abbeville, 251 v.

Boiste, Littré, Darmesteter; admitido no Dicionário

da Academia em 1835, margay.

margana, maracanã, (Ara maracana, Vieill.).


psitacídeo,

Léry, 174; Abbeville, 234 v.; Marcgrav, 207, ma-

racana.

m a r i k i n a , veja mirikina.

maringouin, marigoui,, marui ou marium. diptero hema-

tófago matuim, Lutz) .


(Culiàoides

Abbeville, 255, marigouy e maringouin; Evreux.

185, maringoin; Laet, 489, mariguy; Piso, marigui.

Bescherelle e Littré consignaram a fôrma marin-

os entomologistas franceses vinham ado-


gouin, que

tando desde Macquart, Histoire Naturelle des in-

sects à Buffon), I, 13, Paris, 1834; Dar-


(Suite

mesteter; admitido no Dicionário da Academia

em 1718.

ma ripa, maripá, maripa, Mart.).


palmeira (Attalea

Boiste.

mère-pian, veja
pian.

metara, veja tembetá.

Abbeville, 182.

miá, veja
pian.

m i n a u , feita de espécie de farinha, de


g papa qualquer

amido, fécula, etc.

Léry, 134, mingant; Hans Staden, Véritable His~

toire, 256 francesa de 1837), ouviu e


(tradução

escreveu mingau; Abbeville, 67 v., e Evreux, 12,

migan; Laet, 499, mingaou, ou mingau; Piso, 54,

mingau Brasiliensibus.

mirikina, miriquina, espécie de símio tri~


(Nyctipithecus

virgatus, Spix) .

Abbeville, 252 v.

Boiste, marikina.

m i t ú , veja muton.
mocacoua, macucagoá, macucáu, ave adsper~
' (Crypturus

sus, Spix). »

Léry, 169, mocacoua; Abbeville, 237, macoucaouã;

Marcgrav, 213, macucagua Brasiliensibus.

m o c oi, mocó, veja amoco.

moutouc, mutuca, diptero braquícero (Tabanus).

Abbeville, 253.

Variante:

butuca.

mucura, marsúpio (Didelphis).

Abbeville, 55 v. .

m u r i t i , (Mauritia vinifera, Mart.) •


palmeira

Abbeville, 185 v., meurouty.

Littré, murity.

Variante :

buriti.

murucuja, maracujá, nome das Passifloras.


genérico
Abbeville, 183, margouyàue, e 220, margoyà; Mate-

70, 71, murucuya.


grav,

Boiste, murucuca, espèce de Fleur de la Passion,

en Amérique, à fruit delicieux.

m u t o n , mutú, mutum, mitu, nome das aves da


genérico
família dos Cracídeos.

Léry, 169, mouton; Laet, 491, mutu, 553, moyton

ou mouton.

Variantes :

mitú:

mutú.

mutum.

mutú, veja muton.

mutum, veja muton.

N.

nambou, nambú, nhambú, inhambú, ave da família dos

Tinamídeos (Crypturus).

Léry, 169, 170, Abbeville, 273, nambou.


ynambou;
Derivados :
namboa-miri.

nambou-ouassou.

nambou-mirim, veja nambou.

nambou-oussou, veja nambou.

nana, veja ananas.

Boiste.

nandirobe, nhandiroba, cucurbitácea


jandiroba, planta

(Feuillea trilobata, L.) .

Laet, 502, iandiroba; Martius, Sprachenkunde, 402.

Boiste.

n h a n d i r o b a , veja nandirobe.

nhandou, nhandú, nandú, a ema americana, L.).


(Rhea

Abbeville, 242, Laet, 557, idem; Marc-


yandou;
190, nhanduguacu Brasiliensibus, ema Lusitanis.
grav,

Littré, nandu ou nandou.

nhatiun, mosquito .
(Culex)

Marcgrav, 257, nhatiu,


yatiun.

oca, da família das Oxalidáceas (Oxalis tuberosa,


planta

Molina), cujos tubérculos são comestíveis no Brasil.

Laet, 322; Friederici, Hilfswõterbuch, 71, atribue

étimo a essa o não é impro-


quéchua palavra, que

vável.

Boiste, Littré.

oraboutan, veja ibirapitanga.

o r o e m a , veja urupema.
p

ouangou, angú, farinha de mandioca, milho ou arroz, co-

zida em água fervente.

Piso, 54, angu.

Não é certa a origem dessa se é brasileira


palavra,

ou africana/tupi ou angolense.

Boiste.

ouara, ave ruber, L.) .


guará, (Eudocimus

Léry, 186, ouara; Abbeville, 240 v., ouara; Laet,

511, Marcgrav, 203, Brasiliensibus.


guara; guara
ouara, de mar .
guará, peixe (Carangideos)

Léry, 186, ouara; Abbeville, 245, ouara; Laet, 553.

ouara.

ouara, carniceiro (Canis Dems.).


guará, jubatus,

Abbeville, 183 v., ouara.'

ouicou, uíqui, tiqui, tiquira, aguardente de mandioca.

Varnhagen, História Geral do Brasil, III, 205,

3.B ed.

Boiste, Littré.

ourou, urú, cesto ou bolsa com tampa, cofo.

Abbeville, 283, ouru, Martius, Sprachenkunde, 95.

ourou, urú nome comum a várias do


perdizes gênero

Odontophorus.

Abbeville, 238; Laet, 491, uru.

ouroubou, urubu, o corvo (Cathártidas) .

Abbeville, 316 v.; Marcgrav, 207, urubu Braáiliensi-

bus. Para os índios do Maranhão era também uma

constelação em forma de coração,

ouyra-ouassou, uiraçú, nome comum a duas


guirá-açú,

espécies de Falconídeos : Thrasaètus harpya, L., e

Morphus Daud. Na Amazônia, uraçú.


guianensis,

Abbeville, 232 v.; Evreux, 203, ouira-ouassou.

Boiste.

ouyrapouitan, veja ibirapitanga.

a c a , roedor L.) .
p (Coelogenys paca,
Léry, 156, ou Abbeville, 96 v.,
pag pague; pac;
Evreux, 61, 136, Laet, 484,
pac, paque; paca.
Boiste, Littré e Darmesteter.
paca;

a c o b a , banana (Musa L., Musa sa-


p pacova, paradisíaca,
L., e Musa rosacea, .
pientium, Jacq.)

Thevet, 61, erro de imprensa, re-


pacona, quiçá por

na edição de 1558, 60; Léry, 205;


produzido ps.
Laet, 497, Marcgrav, 137, idem;
paco; pacoba;

Martius, Sprachenkunde, 423.

Derivados :

pacoaire.

re.
paquoe
— 161 —

a c o a i r e , bananeira, veja
p pacoba.

Thevet, 61, Léry, 225, Marc-


paquouere; pacoaire;

137,
grav, pacoeira.

eroca, musácea (Alpinia


paços pacoba-sororóca, planta

.
paco~seroca, Jacq.)

Marcgrav, 48, Paco~Seroca Brasiliensibus. Martius,

Spcachenkunde, 402.

Boiste,
pacoseroca.

a c o v a, banana, veja
p pacoba.

a c u , spec.) .
p pacú, peixe (Myletes

Martius, Sprachenkunde, 78, 466.

a é, o médico, o curandeiro, o feiticeiro, o


p g pajé, payé,

mestre artífice, magister artium, o


profeta.

Thevet, 65, Léry, 332, e Abbeville, 132,


pagé;

Evreux, 31, e 104, Martius, Ethno-


pagi, pagy;
76,
gvaphie, pajé, piaché, piacche.

O nome aparece escrito e até


paye, piaye piache,

como se vê acima, e de outros modos ainda; na se-

escrever —
maneira de bastou que por
gunda piaye,

êrro de impressão se mudasse o em tornar-


y g para

se de onde o cujos cantos tanto que


piage, piagar
— Conf. Ba-
fazer deram aos literatos e romancistas.

tisca Caetano, Apontamentos sobre o Abaneênga, in

Ensaios de Sciencia, 1, 38, Rio, 1876.

a n a c o n , cesto oblongo, de fundo oval,


p panacú, panacum,

espécie de canastra.

Abbeville, 319. Na astronomia dos índios do Ma-

ranhão era uma constelação em fôrma de um longo

Marcgrav, 272,
paneiro. panacu.

O têrmo ocorre na real de 12 de fevereiro


provisão

de 1557, os e irmãos da Compa-


para que padres

nhia de estantes nas do Brasil, tives-


Jesus, partes

sem seu mantimento, cada um e em cada mês,


para
de mandioca, e um alqueire de ar-
quatro panacus
—• Históricos, vol. XXXV,
roz ... Documentos

429, Rio de 1937.


ps. Janeiro,

bananeira, veja
paquoere, pacoba.

albula, L.) .
parati, peixe (Mugil

Léry, 185; Abbeville, 244 v.; Laet, 555, ou


paraty

120.929 F. 11
— 162 —

Marcgrav, 181, Brasiliensibus, Lusi-


parati; parati
tanis Tainha.

bairiri, ave auriculata, Des Murs).


pariri, (Zenaida

Boiste,
piriri.

a r o a r a, tié-guaçú-paroara, ave cuculata, Lath.).


p (Paroaria

Marcgrav, 214, tije-guacu Brasiliensibus;


paroara
Buffon, Oiseaux, IV, 203, fundado na denominação

de Marcgrav, segundo a tije ou tié não


qual passa
de nome ou é adjetivo,
genérico, guacu guaçú que
significa adotou ou como
grande, paroare paroara
denominação específica. Tié é nome do ca-
genérico
nário na língua tupi,

parou, parú, marítimo (Petrilus Cuv.) .


peixe paru,
Abbeville, 245 v,, Marcgrav, 144, Bra-
parou; paru
siliensibus.

Boiste.

patoua, patuá, bolsa de couro, caixa, baláio, cesto, etc.

Abbeville, 283 v., Marcgrav, 272,


patoua; patigua.

i, veja taissou.
pecar

Boiste, Littré, Darmesteter.

pegassou, picaçú, ave (Columba Vieill.).


plúmbea,
Léry, 170, Abbeville, 242, v.,
pegassou; piçassou.

petun, tabaco, solanácea (Nicotiana tabacum, L.) .


planta

Thevet, 60; Léry, 212; Abbeville, 304; Evreux,

110; Marcgrav, 274. —


JaY veu une herbe,
qu'ils

[os selvagens] appellent de la hauteur de


petun,
consolida major, dont iis succent le et tirent la
jus
fumee, et avec celle herbe sustenir la faim
peuvent
huict ou neuf iours". — Primeira carta de Nicolas

Barré, de 23 de de 1556, sôbre a navegação


julho

do cavaleiro de Villegaignon —
Paul Gaffarel, His-

toire du Brésil Français, 379, Paris, 1878. —


Mar-

tius, Sprachenkunde, 424.

Boiste e Bescherelle; Littré e Darmesteter dão o

termo como caído em desuso; admitido no Dicioná~

rio da Academia em 1878; na 8.a edição (1832-35),

figura como antigo nome do tabaco; mas no Baixo-

bretão ainda vigora sob a fôrma de butun


(Littré).
No Tupi-guarani dos catequistas ibéricos o equiva-

lete de é ou nome da
petun pety peíím, genérico
— 163 —

. Nicotiana e de outras empregadas em fu~


plantas

mar; é tomar tabaco, vulgo corrente


petyar pitar,

no vocabulário brasileiro.

Derivados :

petuner.

petunia.

fumar ou tabaco; veja


petuner,' petun petun
Boiste, Bescherelle, Littré, Darmesteter e Dicionário

da Academia.

comum nos franceses,


petunia, planta jardins pertencente

a um da América do Sul (Petunia cumin~


gênero

da família das Solanáceas; veja


giana), petun.
Boiste, Bescherelle, Littré, Darmesteter e Dicionário

da Academia.

pian, a doença da bouba.

Thevet, 86 v./87, foi o a descre-


pians, primeiro
"...
vê-la : elle de maleuersa-
prouienne quelque
tion, comme de trop frequenter charnellemêt 1'hôme

avec la femme, attendu ce est fort luxu-


que peuple
rieux, chamei, & brutal, les femmes spe-
plus que

cialement, car elles cherchent & tous


prattiquent

moyens à emouuoir les hommes au deduit. Qui me

fait & dire estre vraysemblabe telle


penser plus que

. maladie n'estre autre chose ceste belle verolle


que
auiourdhuy tant commune en nostre Europe, laquelle

fausement on attribue aux François, comme siles au-

tres n'y éstoient aucunemêt subiets: de maniere que

maintenant les estrangers 1'appelent mal Frãçois.

Chacun sçait cõbièn veritablemêt elle luxurie en la

France, mais nõ moins autrepart; & 1'ont


prise pre~

mierement à vn voyage à Naples, ou 1'auoyent


portée

Espagnols de" ces isles occidentales; car


quelques

fussent decouvertes & subiettes a


parauãt qu'elles
1'Espagnol, ne fut onc mentinon, non seulemêt par

deça, mais aussi ne en Grece, ne autre de 1'Asie, &

Afrique. Et me souvient avoir ouy reciter ce


propos

à defunct mõsieur Sylvius, medicin des


quelquefois

doctes de nostre têps. Pourtant seroit à mon


plus

iugement mieux seant & raisonnable 1'appeler


plus
mal Espagnol, ayant de la son origine 1'egard
pour

du de deça, car en François est


pais qu'autrement:
— 164 —•

appellée verole, le souvent, selon le


pource que plus

temps & les cõplexions elle se manifeste au dehors


à la pustules, lon appelle veroles."
peau par que

Léry, 203, 232, Evreux, 119/120, obser-


pians; piari,

vando a doença excedia em dor e nojo, sem ne-


que

nhuma comparação, ao mal de Nápoles, e era bem

feito assim fosse, o cometiam


que porque pecado que

os Franceses com as índias merecia essa viva


pu-
"Quae
nição; Laet, 497, Piso, 43:
pians; quidam

lues huic regioni est Endemia, et Bubas ab Hispanis,

atque Miá Brasilianis appellatuj:."

Boiste, epian e Bescherelle, ibidem; Littré re-


pian;

como nome dado na América a uma doença


gistra

caracterizada erupção cutânea seguida de tubér-


por

culos esponjosos de superfície mère-pian


granulosa;

ou maman~pian é o tubérculo maior do os ou-


que

tros, toma a fôrma de úlcera sem


que profunda,

fungosidades, de onde escorre matéria


purulenta.

Quanto ao étimo, Littré aponta o inglês o es-


pian,

e epian. Mas o vocábulo é legítima-


panhol pian

mente tupi, de á, excrescer, segundo Baptista


pi pele,

Caetano, Vocabulário da Conquista, 374. Foi admi-

tido no Dicionário da Academia em 1762, e


penetrou

no léxico científico como têrmo de medicina.

Derivados :

mère-pian.

maman-pian.

i a s s a v a , (Attalea
p piassaba, piassava, palmeira funifera,

Mart.) .

Littré define como uma espécie de do Brasil


palmeira

e da Venezuela, cujas fibras servem na Inglaterra

a fabricação de cestos.
para

anzol.
pinda, pindá, t

Abbeville, 307 v.

(Attalea compta. Mart.).


pindo, pindoba, palmeira

Léry, 229, Abbeville, 66; Evreux, 5,3.


pindo;

veja
pindoba, pindo.

i n d o v a , veja
p pindo.
— 165 —

i e r i, espécie de cresce nos alagadi-


p p periperi, junco que

riparia, Ness.).
ços (Malacochaete

Léry, 192, Martius, Sprachenkunder, 82;


piperis;
Friederici, Hilfswõrterbuch, 80.

(Pygocentrus) .
piran, piranha, peixe

Abbeville, 247, Laet, 555, idem; Marcgrav,


pyrain;
164, & Brasiliensibus.
piraya piranha

i r a o n , de mar morio, Licht.).


p piraúna, peixe (Epinephelus

Thevet, 136 v., Abbeville, 246 v.,


pirauene; pyra-on.

de mar (Megalops thrissoi-


pirapeme, pirapema, peixe

des, BI. et Sch.).

E' o camurupi, do Maranhão o Sul.


próprio para

Boiste, evidente erro de tipografia, d


pirapède, por

m, na última sílaba. -

barco de selvagens, feito de


pirogue, piroga, geralmente

um tronco de árvore excavado; embarcação mo-

nóxila.

Friederici, Schiffahrt, 28/30, 46, 63/69.

Boiste, Bescherelle, Littré e Darmesteter; admitido

no Dicionário da Academia em 1762. Para Littré

é vocábulo caraiba; mas Batista Caetano, Vocabu-

lário da Conquista Espiritual, 382, opina sua


pela

origem tupi.

macaréu, fenômeno de maré, se faz sentir


pororoca, que

na época das sizigias, em alguns rios do Pará e do

Maranhão.

Boiste,' Littré.

o u i s s a, ou rede
p puçá pussá, para pescar.

Abbeville, 37 v.

r e a, veja aperea.
p ptreá,


Q

carnívoro (Procyon cancrivorus, L.).


quachi, guaxinim,
Boiste.

ave (Cotinga cineta, Kuhl.),


quereiva, quirurá,

Laet, 491, Buffon, Oiseaux, V, 168.


quereiua;

talvez cutiaiá, espécie menor de cutia {Dasy~


quouiya,

procta.)

Boiste, agouti d Amérique S.


_ 166 —

ravet, barata (Blattideos).

De atabê, é o nome tupi da barata.


que próprio
Para Boiste é inseto das Antilhas, naturalizado em

França; Bescherelle, —
nome vulgar da barata

da América; Littré, —
(blatte) nome vulgar da

barata (cancvelas) .

roçou, veja roucou.

r o u c o u , roçou, urucú, árvore orellana,


(Bixa L.).

Abbeville, 208 v., roucou; Evreux, 112, tocou.

Boiste, utucu; Bescherelle, Littré e Darmesteter; ad-

mitido no Dicionário da Academia em 1762. Na lín-

caraiba anoto, e àchiote no México.


gua

Derivado :

roucouyer.

roucouyer, veja roucou.

s a o u i n , saguim ou sagüi, nome dos


g genérico pequenos

símios de família dos Hapalídeos.

O animal foi conhecido na Europa desde os


primei-
ros anos do descobrimento. Da carga da nau Bretôa,

esteve no Brasil em 1511, vários


que participavam
ou çagoyns; veja Revista do Instituto His~
çagoys

tórico, tomo XXIV, 108/109 Uma carta


(1861).

datada de 19 de novembro de 1533, do capitão

Johan de Moncheau a Madame de Lisle, de Calais,

refere seu almirante, cje regresso ao Brasil, o


que
"deux
encarregára de com Sagouins. . .
presenteá-la
ne mangent & nois ou aman-
que que pommes petites
des..." — Calendar State Papers: Henry VIII,

vol. VIII, n. 1439 — The Lisle Papers (Cópia fo-

tográfica no Arquivo do Itamaratí) —- Clément


.

Marot, cirado de câmara de Francisco I, rei de

França, na epístola de Fripelipes a Sagon (1537),


CEuvres, I, 557, Haya, 1731, faz menção do animal:
"Zon
dessus 1'cçil, zon sur le
groin,
— 167 —

Zon sur Je dos du Sagouin,

Zon sur 1'Asne de Balaan. .

Thevet, 103 v., sagouin; Léry, 164, idem; Abbe-

ville, 252 v., sagouy.

Boiste, Bescherelle, Littré e Darmesteter; admitido

no Dicionário da Acadamia em 1835.

sai, espécie de símio


pequeno (Cebus gracilis).

Martius, Sprachenkund.e, 473.

Boiste, sai.

saimini, espécie de símio auvita, L.).


pequeno (Hapale

Boiste.

s a m b a u i, termo da linguagem antropológica americana,


q

designar os montes de conchas de ostras e de


para

outros moluscos no litoral brasileiro, os em


quais
são depósitos naturais e em feitos
parte parte pelos
aborígenes dos restos de cozinha.

Friederici, Hilfswõrterbuch, 87.

s a a o u , sapajú, símio L.),


p j pequeno (Cebus flavus,

Abbeville, 252 v., sapajou; Evreux, 212, idem.

Boiste, Littré e Darmesteter, sapajou; admitido no

Dicionário da Academia em 1762.

Na literatura francesa o nome apareceu em uma

teatral — le Naufrage
Sapajou, ou des Singes,
peça

de um certo Frédéric du Petit-Mèré (1785-1827),

representada no teatro da Gaité, em 3 de agosto de

1825 (Paris, Bezou, 1826), escrita naturalmente


por

encomenda bem satirizar o Brasil e os bra-


paga para

sileiros, então mal vistos Petit-


pelos portugueses.

Mèré, nesse usou o de Monckey.


peça, pseudônimo
— Conf. M. Les Supercheries littéraires
J. Quérard,

devoilées, II, 1182, Paris, 1870.

sapé, espécie de (Saccharum sapé, St. Hil.) .


gramínea

Marcgrav, 2, iacape Brasilianis.

saracura, nome comum a diversas aves da família dos

Ralídeos.

Laet, 511, caracura (leia çaracura).

sarigoy, veja satigue.


168 —

sarigue, sariguê, marsúpio .


(Didelphis)

O animal foi conhecido na Europa desde 1500.

Vicente Yanez Pinzon apanhou na costa de Paria

e levou a Espanha, onde foi mostrada a Fer-


para
nando e Isabel, uma sariguê fêmea, com seus filho-

tes na bolsa, lhes serve de —


que berço. Grinaeus,

Novus Orbis, cap. CXIII, Milão, 1519, assim relata


"...
o fato; Uno de tali animali insienme con
questi
son figlioli fo de Sibilia a Granata a li Sere-
portato

nissime Re. Tamen in nave morite i figlioli, et el

in Spagna: li si morti forono visti de


grande quali
molte et diverse — Florian, Fables, 60,
persone." ps.
Paris, 1811, exaltou o instinto maternal da sariguê

na moralidade de uma de suas fábulas:


"Souviens
toi du sarigue, imite-le, mon fils,
"L'asile
le sür est le sein d'une mère."
plus
Lèry, 156, sarigoy; Laet, 485, carague (leia çara-

gue); Marcgrav, 22, sariguêsarigueia.

Boiste , Bescherelle, Littré e Darmesteter; admitido

no Dicionário da Ac'ademia em 1835.

Sinônimos :

sarigueia.

saruê,

sarigoy.

sarigueia, veja sarigue.

saruê, veja sarigue.

sauia, sauiá, roedor . Rato de es-


pequeno (Proechimys)

pinho.

Abbeville, 251 v.; Laet, 556.

senemb i, lagarto tuberculata, Laur.) . Também


(Iguaria

chamado sinimbú.

Abbeville, 248 v., senemboy; Marcgrav, 23, senembi

Brasiliensibus, nobis Iguaria, cameliaon Lusitanis

falso.

simarouba, simaruba, árvore versicolor. St.


(Simaruba

Hil.).

Boiste, Darmesteter.

souassou, suaçú, denominação do veado em


guazú, geral
Tupi.
— 169 —

Léry, 155, seouassou; Abbeville, 249, souassou; Laet,

484, citando Lery, diz em vez de seoussou, deve


que
ser cuacu (leia çuaçu). ,

*
tabacoura, tapacurá, ligas, como nas
jarreteiras, postas
donzelas núbeis entre os tupis.

Abbeville, 274; Marcgrav, 269, tapa cura.

tacapé, tacape, espada ou massa de madeira


pesada.

Léry, 222.

tacouare, taquara, nome das Bambusáceas e


genérico
Arundináceas.

Abbeville, 106, tecouàre, e 289, tacouârt; Laet, 503,

tucuaca.

t ai as sou, taiaçú, ungulado tovquatus, Cuv.).


(Dicotyles

Caitetú.

Léry, 155; Abbeville, 249, tayassou; Marcgrav, 229,

tajucu Brasiliensibus, Porcus est silvestris.

Boiste, tajucu.

Também chamado na literatura científica.


pecari

t a o b e , tajoba, taioba, aroideácea de folhas comes-


j planta

tiveis violaceum, Schott.) .


(Xanthosoma

Piso, 95, tajaoba; Marcgrav, 35, idem.

Boiste, tayoue, tajoba, chou caraíbe.

tamandua, tamanduá, veja tamanoiv.

Boiste.

tamanoir, tamanduá, nome comum a três espécies de

desdentados da família dos Mirmecofagídeos.

Abbeville, 249 v., tamandouà; Laet, 556, tamandoua.

Boiste, Littré e Darmesteter; admitido no Dicionário

da Academia em 1878.

t a m a t i a , tamatiá, ave cochilaria, L.) .


(Cancroma

Abbeville, 241, tamantian; Marcgrav, 208. Buffon,

Oiseaux, VII, 424.

Boiste.

t a m o a t a , tamboata, tamuatá, nome dos cascudos


peixes
de água doce da família dos Callichthyídeos.
170 —

Thevet, 48, tamouhata; Léry, 188, tamoua.-ata; Ab~

beville, 247, tamoata; Laet, 511, tamouata ou ta-

moutiata; Marcgrav, 151, tamoata Bras.liensibus,

Lusitanis soldido [por soldado) armatus.


quia

Soldado é ainda hoje o nome vulgar desse no


peixe
Ceará.

tangara, tangará, ave, nome de diversos Piprídeos, (es-

pecialmente aplicado à Chiroxiphia caudata, Sw,) .

Laet, 491, tangara; Marcgrav, 214. Para Buffon,

Oiseaux, V, 3, o vocábulo é brasileiro, e os nomen-

clatores o adotaram todas as espécies com-


para que

o Ao Dr. Emilio A. Goeldi, As Aves


põem gênero.

do Brasil, 622, Rio de 1894,


Janeiro, parece que

Linneu se serviu da indígena tangará


palavra para
formar o nome do Tanagra, com ligeira in-
gênero

versão de letras.

Boiste, Bescherelle, Littré e Darmesteter; admitido

no Dicionário da Academia em 1835.

tapera, taperá, andorinha (Progne) .

Marcgrav, 205, tapera Brasiliensibus, Andorinha Lu-

sitanis. Buffon, Oiseaux, VII, 330.

t a e t i, tapiti, roedor Brasiliensis, Briss.) .


p (Lepus

Léry, 156, tapiti; Abbeville, 251, tapity, é tam-


que
bém o nome de uma constelação do hemisfério aus-

trai; talvez a da Lebre. Laet, 487, tapati.

Boiste, tapeti, tapiti.

t a i o c a , sedimento da farinha de mandioca.


p
Piso, 54, tipioca; Marcgrav, 67, tipioja, tipiaca; Mar-

tius, Ethnographie, 493, tapioca, typyocca.

Boiste; Littré, tapioca ou tapioka Darmesteter; admi-

tido no Dicionário da Academia em 1835.

t a i r , a anta, ungulado americanas, Briss.) .


p (Tapirus

As informações sobre êsse animal chega-


primeiras
ram a Europa fins de 1510, e desde o ano se-
pelos

Petrus Martyr, Décadas, II, liv. 9, fez dele


guinte

uma descrição mais ou menos exata.

Thevet, 96, tapihire; Léry, 151, tapiroussou; Marc-

229.
grav,

Do naturalista Roulin é a Memoire servir a


pour

Yhistoire du Tapir, Paris, 1835, com três estam-


V

- 171 —

"le
: esse autor cit., 71), mot
pas para (op. ps.

de Tapir est devenu en français le nom du


genre,

et il faut aux espèces des noms les distinguent."


qui
— friderici Lehnwòrter, 139/140.

Boiste, Bescherelle, Littré e Darmesteter; admi-

tido no Dicionário da Academia desde 1798.

t a i t i , veja tapeti.
p

t a o u i, tapuia, o índio não era tupi.


p que

Abbeville, 131; Evreux, 30; Martius, Ethnographie,

50, 150, 170; Friderici, Hilswõrterbuch, 92.

t a r a b é , ave da família dos Psittacídéos (Amazona vinacea,

Kuhl.) .

Marcgrav, 207, tarabe Brasiliensibus.

Boiste, Littré.

t a t o u , tatú, nome dos desdentados da família dos


genético
Dasypodídeos.

Thevet, 103 v., tattou; Léry, 156, tatou\ Abbeville,

96 v.; Laet, 485, tatu; Marcgrav, 231.

Boiste, Bescherelle, Littré e Darmesteter; admitido

no Dicionário da Academia em 1798.

t e i o u, tejú, lacertilio (Tupinambis).

Léry, 158, touou; Evreux, 177, tojou; Marcgrav, te-

juguacu.

t e u á , veja ajoupa.
j p

t e m b e t a , tembetá, botoque do lábio inferior, ou


pedra

adorno de outro material os índios usavam no


que
lábio inferior; metára.

Evreux, 115; Friederici, Hilfswõrterbuch, 93.

ticum, veja tucum.

t i é , nome do canário na língua tupi.


genérico

Buffon, Oiseaux, V, 141, tijé.

Conf.
paroara.

tieté, ave Lath.) .


(Euphonia pectoralis,
Marcgrav, 212, teitei Brasiliensibus, etiam vo-
quam

cant Guiranhegeta & Gurandi. Buffon, Oiseaux, V.

44, téité.

timbo, timbó, vegetal ictiotóxico cupana, H. B.


(Paullinia

et K., Paullinia L. ).
pinnata,
- 172 —

Abbeville, 120 v.; Laet, 502; Piso, 115, Friederici,

Hilfswòrterbuch, 94.

Boiste, tue-poisson, Jiane du Brésil.

tinamus, nome Iatinizado do tupi inhambú


genérico para

os constituem a família dos Tinamí-


galináceos que

deos, essencialmente brasileira.

Boiste, tinanmous, oiseaux gallinacés.

t i i o c a , veja tapioca.
p

t i o i, tipóia, espécie de charpa em as mulheres índias


p que

traziam oá filhos ao colo; aparêlho sustentar


para

um braço doente; vestido de mulher, camisa sem

mangas, etc.

Abbeville, 184 v., tupoy; Laet, 477, tupóia; Mar-

tius, Ethnogcaphie, 438, tipoya; Friederici, Hilfswõr-

terbuch, 94/95.

tirica, tui-tirica, ave L.).


psitacídea (Psittacula passerina,

Marcgrav, 206.

Boiste e Littré, tirica.

t o c u m , veja tucum.

topinambou, tupinambá, tribu indígena do Brasil, aliada

aos franceses contra os


portugueses.

O vocábulo no léxico francês via das


penetrou por

relações dos antigos viajantes, como sinônimo de in-

divíduo ignorante,
grosseiro.

Boiste, Littré, topinamboux, e Darmesteter com a

anotação de vieilli.

topinambour, o antecedente), da família


(veja planta

das Compostas (Helianthus tuberosus, L.), e tam-

bém o tubérculo alimentar essa


que produz planta.

Boiste, Littré, Darmesteter.

t o u c a n , tucano, nome comum a diversas aves da família

dos Rhamphastídeos.

Thevet, 91; Léry, 175; Abbeville, 237 v.; Laet, 491,

tucana; Marcgrav, 217: Tucana, sive toucan Brasi-

liensibus. E' também o nome de uma constelação do

hemistério austral, adotado astrônomo Bayer, em


pelo

seu mapa celeste (circa 1603) .

Boiste, Bescherelle, Littré, Darmesteter; admitido

da Academia desde 1762. •


no Dicionário
— 173 —

t o u i n , tui, tuim, nome dos Psittacídeos


genérico pequenos

(Brotogerys) .

A nau Bretôa, 1511, carregou do Brasil vários toys


— Conf.
ou toyns. Revista do Instituto Histórico,

tomo XXIV, 108/109 (1861).


ps.
Abbeville, 235, touin; Evreu.x, 136, idem; Marcgrav,

206, tui; Buffon, Oiseaux VII, 224, toai.

Boiste.

t o u y o u , tuiuiú, ave (Tantalus americanas, L.) .

Abbeville, 241 v." touiouiouch; Marcgrav, 200, dá a

figura dessa ave trocada do Buffon,


pela jabirú.
Oiseaux, II, 49.

Boiste, Bescherelle e Littré, reportando-se a


jabirou.

tucum, (Astrocaryum tucuma, Mart.) .


palmeira

Abbeville, 222, e Evreux, 137, toucon.

Sinônimos :

ticum.

tocum.

tucumá.

tucuman.

tucumá, veja tucum.

tucuman, veja tucum.

tui-aputejuba, veja aputé-juba.

t u n a , nígua, bicho de Na sistemática zoológica é nome


g pé.

de um substituiu o Sarcopsylla : Tunga


gênero, que

penetrans-.
Thevet, 90, tom-, Léry, 181, ton; Hans Staden, His-

toire véritable (tradução francesa de 1837), 311,


ps.
attun; Abbeville, 256, ton; Evreux» 113, thon; Laet,

489, tonga; Piso, 38: Minutissimos vermiculos Lusi-

tanis Bicho, Brasiliensibus Tunga, haec terra nutrít.

Marcgrav, 249.

Boiste e Bescherelle, tunga.

tupinambis, nome abrange os la-


genérico que grandes

outrora enquadrados no Salvator.


gartos, gênero
Boiste, tupinambis, lézard d'Amérique.

tyroqui, tareroqui, leguminosa occiden-


planta (Cassia

tális, L.) .

Laet, 502, tyroqui ou tareroqui.

Boiste, tyroqui, du Brésil.


plante
— 174 —

uba, ubá, espécie de canoa feita da casca inteiriça de árvore.

Friederici, Schiffahrt, 40.

u b a t i, veja abati.

u b a t i m , veja abati.

u n a u , nome da (Choloepus didactylus, L.)


preguiça grande

Abbeville, 252; Laet, 556, Marcgrav, 222.

Caiu em desuso na nomenclatura zoológica brasi-

leira, mas conservou-se na francesa.

Boiste, Bescherelle, Darmesteter e Littré, diz ser


que
"nom
indigène se trouvant dans une Relation [a

Histoire, de Claude d'Abbeville, citada] de la mis-

sion des capucins à 1'íle de Maranhão, voi-


pères

sine de Rio de . Admitido no Dicio-
Janeiro.

ário da Academia em 1835.

upec, ipeca, selvagem vituata, L.) .


pato (Anas

Léry, 169, upec; Abbeville, 139, vpec; Laet, 554,

upec.

u r a e m a , veja urupema.
p

urucu, urucú, veja coucou.

Piso, 63; Martius, Ethnographie, 716/717; Friede-

rici, Hilfswòrterbuch, 100.

Boiste.

urupema, feita de taquara ou de cana brava.


peneira

Marcgrav, 67, 272; Friederici, Hilfswòrterbuch, 100.

Sinônimos :

urupema.

oropema.

gurupema.

gurupemba.

yacon, veja tacou.

Boiste.

yandou, veja nhandou.


— 175 —

y a o c , nome de uma espécie de marsúpio va~


p (Chiconectes

riegatus), abundante na região das Guianas brasi-

leira e francesa.

yapon, veja iapou.

Bofste.

ybouyra-pouitan, veja ibirapitanga,


RODOLFO GARCIA

NOMES DE PARENTESCO EM

LÍNGUA TUPÍ

120.929 F. 1*
EXPLICAÇÃO

Frei Vicente do Salvador, louvando a língua dos indíge-

nas em sua História do Brasil, foi observou a


quem primeiro

copiosidade de seus termos distinguir os diversos


para graus

de
parentesco:

linguage mui compendioso, e de alguns vocábulos mais

abundante o nosso nós a todos os ir-


que portuguez, porque

mãos chamamos irmãos, e a todos os tios, tios, mas elles ao

irmão mais velho chamam de uma maneira, aos mais de outra;

o tio irmão do tem um nome, e o tio irmão da mãe outro, e


pai

alguns vocábulos têm de não usam senão as fêmeas, e


que

outros não servem senão aos machos".


que (1)

A observação demais restrita. Para exprimir


peca por

tôda a verdade do fato, deveria referir-se não só ao


português,

mas à dos idiomas cultos; teria de estender-se


generalidade

não apenas à linguagem dos índios com o autor tratou,


quem

mas à maior das línguas conhecidas da América.


parte

Existe realmente, nesse nas chamadas línguas


particular,

de flexão, maior vocabular do nas línguas ameri-


pobreza que

canas, cuja evolução morfológica estacionou na fase da agiu-

tinação. Naquelas a simples desinência basta, na maioria dos

casos, mostrar as várias de ou


para gradações parentesco

aliança; nestas há de recorrer-se a radicais diferentes,


quando

se tem de determinar a exata do indivíduo sobre as


posição

coordenadas familiares. A indicação de sexo, a diferença de

idade, o de consangüinidade ou de aliança, a circunstân-


grau

cia serem vivos ou mortos os todas essas modali-


parentes,

dades se expressam termos e não variações


por próprios, por

flexionais, ou complicadas, como acontece nos


por perifrases

idiomas cultos. É de ver não se no estado atual


que pretende,

dos conhecimentos lingüísticos do continente, o


generalizar

conceito a todas as linguas americanas. O sábio Raoul de La

(1) Frei Vicente do Salvador — História do Brasil, 53, 3." edição.


págs.
— 180 —

Grasserie, em comunicação à Sociedade dos Americanistas de

Paris, chamou há tempos a atenção dos etnólogos esse


para
caso curioso, tratando das línguas da família Salish, da Co-

lumbia britânica, em cinco dialetos distintos Nessa inte-


(2).

ressante nota oferece o autor excelente modelo o exame


para
da o servir o estudo dos nomes de
questão, qual pode para
no tupí-guaraní, é historicamente o mais
parentesco grupo que
importante da etnografia brasileira. Não é tarefa difícil,
por-
os levados necessidade da cate-
que primeiros jesuítas, pela

os casos de confissionário, os impedimentos do matri-


quése,

mônio, tiveram de esmiuçar o assunto, e che-


principalmente,

a formar catálogos dequeles nomes, aos


garam que juntaram

catecismos de doutrina cristã, entre os ocupa o


quais primeiro
lugar o Caíecísmo Brasilico do Padre Antônio de Araújo,

emendado em segunda impressão Padre Bartolomeu de


pelo

Leam.

Do Padre de Anchieta é a Informação dos casa-


Joseph

menfos dos indios do Brasil, Varnhagen descobriu na Bi-


que

blioteca Eborense e em 1846 na Revista do Instituto


publicou

Histórico, na as relações de sexo, de consangüinidade e


qual
de afinidade aparecem explicadas.
perfeitamente

As de Anchieta e de Luiz Figueira, o Diccio-


gramáticas

nario Brasiliano e Portuguez e o Vocbulario da Conquista Es

de Baptista Caetano de Almeida Nogueira, fornecem


piritual,
igualmente sobre o tema indicações valiosas, são aproveita-
que
das no a seguir. Sobretudo vai ser o Catálogo dos,
glossário

nomes de há entre os Brasis do Padre Araújo


parentesco que
— o mais completo existe no — o roteiro
que gênero principal
dêste estudo.

A forma dos nomes é a desse Catalogo se


grafica que

aproxima da de Figueira e se afasta da de Anchieta, como se

faz notar nos respectivos lugares. Isso, aliás, não altera essen-

cialmente a feição'das são reconhecíveis sem


palavras, que

maior dificuldade.

OBRAS CITADAS

Catecismo Brasilico de Doutrina Christã, com o Ceremo-

nial dos Sacramentos, dos mais actos Parochiaes. Composto

(2) Raoul de La Grasserie — Renseignements sur les noms de parenté dans

plusières langues américaines, in Journal de la Société des Américanistes de Paris,


N. S., t. II, n. 2. págs. 322 e 338, Paris, 1905.
— 181 —

Padres Doutos da Companhia de aperfeiçoado, &


por Jesus,

dado a luz Padre Antonio de Araújo, da mesma Compa-


pelo

nhia. Emendado nesta segunda impressão Padre Bertho-


pelo

lameu de Leam, da mesma Companhia, Lisboa. Na Officina

de Miguel Deslandes. M. DC. LXXXVI. Com tôdas as

licenças necessarias. — Edição fascimilar Platzmann.


por Júlio

Leipzig, B.G. Teubner. 1898. — Ás 267/274 trás o


ps.

Catalogo dos nomes de há entre os Brasis.


parentesco que

Arte de Grammatica da Lingua mais usada na costa do

Brasil. Feita de Anchieta, da Companhia


pelo padre Joseph

de Iesv. — Com licença do Ordinário &\ do Prepósito Geral

de Companhia de Iesv. ¦— Em Coimbra Antonio de Mariz.


por
1595.

Arte de Grammatica da Lingua Brasilica do Luiz Fi-


p.

Theologo da Companhia de Lisboa. Na Offi-


gueira, Jesus.

cina de Miguel Deslandes. Na Rua da Figueira. Anno 1687.

Com tôdas as licenças necessárias .

Informação dos casamentos dos índios do Brasil,


pelo pa-

dre d'Anchieta. ¦— trimestral de Historia e Geo-


José Revista

ou do Instituto Histórico e Geographico Brasi-


graphia, Jornal

leiro, tomo VII, 254/262. Rio de 1846.


ps. Janeiro,

Diccionario Portuguez e Brasiliano. Lisboa, na Officina

Patriarcal. Anno M.DCC.XCV. Com licença. Segunda

Platzmann, Leipzig, B.G. Teubner, 1896.


parte por Júlio

Batista Caetano de'Almeida Nogueira. Vocabulário das


"Conquista
usadas traductor da Espi-
palavras guaranis pelo

ritualdo Padre A. Ruiz de Montoya. — Anais de Bibliotheca

Nacional do Rio de vol. VII, Rio de Tipo-


Janeiro, Janeiro,

Nacional, 1879.
graphia
GLOSSÁRIO

abá , homem, o homem, o ser humano; ho-


gente, pessoa;

mem, macho. — Batista Caetano, Vocabulário, 15.

a b a í b a , namorado, mas não em má Nde raiyra abai-


parte.

ba, o namorado de vossa tua) filha. — Araújo,


(aliás

Catecismo, 267.

acy , cortado, separado; irmão: xe a cy, me


pedaço, porção,

nasce me nasceu Usa-se vulgarmente


pegado, junto.

irmão e irmã carnal uterinos,


pelo

acycoêra usado acy, com o sufixo de


(mais que pretérito
coêra), foi cortado, separado: irmão e irmã ut
que
supra.

a í, minha mãe: usa-se nesse sentido, sem necessidade do


pos-

sessivo xe, assim ai eiori, vinde cá minha mãe.

Araújo. Catecismo, 268.

aixé, tia, irmã ou do xe aixé: assim chamava o


prima pai;
varão e a femea á irmã ou do seu Araújo,
prima pai.
Catecismo, 268.

a i x ô , veja tayxô, é sogra do homem. — Diccionario


que

Brasiliano, 89.

a mu, da mulher, irmã da fêmea. Diccionario Brasi-


prima

lianor 90.

a n â m a De ar vê-se ser
parente, parentela. pegar, yar
com o assim como ha no — ro
pegado, prefixo:

não será extranho n — r em rar. Batista


pref.,

Caetano, Vocabulário, 33.

anâmaçába, Diccionario Brasiliano, 90.


parentesco.

anâçama - etá, Diccionario Brasiliano,


parentela. 90.

apyába, homem, varão, macho de animal. De


qualquer

apy ab cortar: circunciso, aquele tem


prepúcio, que
testículos. Batista Caetano, Vocabulário, 40.

a r i a , avó, mãe do ou da mãe.


y pai
— —
184

cambyçára, ama cria, ama de leite,


que

cemericô-potaçába, esposado. Diccionacio Brasi-

liano. 99,

c e m ü , o mesmo mü.
que

cenondê-goára, antecessor, Diccionario


primogênito.

Brasiliano, 100.

cenondê-goára-etá, antepassados. Diccionario

Brasiliano, 101.

coaracy , sogro da mulher. Diccionario Brasiliano, 101.

c ô i a , utriusque sexus. De côi irmanar, igualar, em-


gêmeos

ser Batista Caetano, Vocabulario, 74


parelhar, par.

O mesmo côigoêra, levando êste o sufixo de


que

pretérito,

côigoêra, veja côia.

namorado; o mesmo ixugoâraiy. Fi~


çuguaraiy, que

Arte, 73.
gueira,

cunha, mulher, fêmea.

cunhã-coára-eyma. veja cunhã-tem.

cunhãiba, namorada, mas não em má


parte,

cunhã-imêna-momoxicára, mulher adúltera.

Diccionario Brasiliano, 104.

cunhã-memby ra , sobrinha do homem,

cunhã-mêna, afinidade,
parenta por

cunhã-mendaçára, mulher casada. Diccionario Brasi-

siliano, 105.

cunhã-mendaçára-ey ma , mulher solteira. Dic-

cionário Brasiliano, 105.

cunhã-mucú, moça donzela. Diccionario Brasiliano, 105.

— Veja cunhã-tem.

cunhã-tém, mulher tenra, moça donzela. O mesmo


que

cunhã-mucú e cunhã-coaára-eyma.

cy, mãe natural do varão e da fêmea; mãe, fonte, origem

manancial, xe-cy, tenho mãe. Figueira, Arte, 67.

cymêna, do varão e da fêmea, marido da mãe.


padrasto

De cy mãe, mêna marido,

c u i r a , tia, irmã menor da mãe do homem. De cyy


y y q

tia, tenra. Batista Caetano, Vocabulario, 93.


quira

c r a , tia, irmã de mãe da femea e do varão, e também


y y

madrasta

ietipemêna, marido da sobrinha do varão, ser ca-


por

sado com filha de sua irmã, ou com do varão.


prima
6

— 185 —

seja filha de sua tia. — Os índios respeitavam


que

as filhas dos irmãos, ás chamavam filhas, e


quais

nessa conta as tinham. Assim explica Anchieta.


"
Informação, 259: . . .rteqtie as conhe-
fornicarie
cem, têm si o verdadeiro
porque para que parentesco

vem dos são os agentes; e


por parte pais, que que
as mães não são mais uns sacos, em respeito dos
que

pais, em se criam as crianças. .


que

i e t i é r a , sobrinha do varão, filha de sua irmã, ou


p pri-
ma do varão, filha de sua tia. — Delas usavam os
"E
índios ad copulam, sem nenhum esta
pejo. por
causa os as casam agora com seus tios, ir-
padres

mãos das mães, se as são contesntes,


partes pelo po-
der têm de dispensar com êles, o até ago-
que qual

ra se não fez com sobrinho filho de irmão, nem ain-

da em outros mais afastados vem li-


gráus que pela
nha dos entre os índios se tem isto
pais, porque por

muito estranho" — Anchieta, Infofrmação, 160.

imêna-potaçába , esposada, noiva. Diccionario Brasi-

liano, 109.

kevira, veja kibyra.


'uterino,
k b r a , irmão ou da fêmea somente. Dic-
y y primo
cionario Brasiliano, 119, kevira.

kybykyra, irmão, ou mais moço da fêmea,


primo porém
mais moço não só a seu respeito, senão de todos os

mais irmãos,

marãnôgára,
parente, parentela.
mayangába, madrinha do macho, e fêmea. Diccionario

Brasiliano, 121.

membycunhã, sobrinha da fêmea, se é filha de


qualquer

de suas irmãs. Também significa a enteada da

da fêmea.

membyra, filho ou filha natural da fêmea; filho em rela-

ção à mulher: xe membyra, o de mim. Ba-


gerado

tista Caetano, Vocabulário, 265. Pelo uso


passou

a ser também o afilhado de da fêmea, ou a afi-


pia

lhada. Comp. membyra-angába.

membyra-angába, enteado ou enteada, e depois da

catequese o afilhado ou afilhada. Literalmente fi-

ou imagem do filho,
gura

membyra-taycê, sobrinho da fêmea.


»

— 186 —

membyraty, nora da fêmea, mulher de seu filho ou so-

brinho; ajuntada ao filho. Batista Caetano, Voca-


'diz
bulátio, 265. Também se membytaty.

membytaty, veja membyraty.

mêna, marido legítimo da mulher.

mendaçába, casamento. Diccionario Brasiliano, 123.

mendaçára , casado, casada. Diccionario Brasiliano, 123.

mendaçárayma, solteira. Diccionario Brasiliano, 123.

mendúba, do marido, sogro da fêmea; menúba, An-


pai

chieta, Arte, 90.

mendy, sogra da fêmea, mãe do marido,

mendyrâma, noivo, noiva, o vai casar,


que

menibyra, cunhado da fêmea, irmão mais moço de seu

marido,

menúba, veja menduba.

m ü , aliado, coligado, aparentado; tanto significa parentesco,

como a da mesma Veja cemü.


pessoa geração.

nhemôia, comborça da fêmea, manceba de seu marido;

duas ou mais mulheres de um só homem; comborços,

os homens co-habitam com a mesma mulher.


que

Batista Caetano, Vocabulário, 330.

de homem e mulher. Diccionario


payangába, padrinho

Brasiliano, 143.

ê n a , sobrinho da fêmea, filho de seu irmão,


p g primeiro

, mulher do sobrinho da mulher,


pêngaty

e ü m a , da fêmea, marido de sua filha, ou de sua


p genro

sobrinha.

i r a t , manceba de homem.
p y qualquer

cunhado da fêmea, marido de sua irmã mais


pykyymêna,

moça, ou da ou sobrinha mais moça da fêmea,


prima

irmã mais moça da fêmea, ou sua ou so-


pykyyra, prima

brinha mais moças em idade,

t a i m ê n a , do varão, ou o marido da sobrinha do


y genro

varão, filha de seu irmão, ou marido da filha do


primo

varão.

t a i r a , filha do varão, ou sobrinha do varão, ou de seu


y

irmão, ou de seu Figueira, Arte, 75.


primo.

tamuya, veja tayia.

t a m i a , veja tayia.
y

tamyipagoâma, antepassados, assim do homem como

da mulher; xeramyipagoâma, meus avós, Araújo,


— 187 —

Catecismo, 271; aico xeramyia recóbo, vivo


pólos

costumes de meus avós, Figueira, Arte, 7.

t a t i ú b a , sogro do homem. Batista Caetano, Vocabulá-

rio, 489. Também tatúba e tatuúba.

t a t ú b a , veja tatiúba.

tatuúba, veja tatiúba. Anchieta, Arte, 13.

t a t , nora, mulher do ilho. Batista Caetano, Vocabulário,


y

489.

t a c ê , da ou nação da fêmea;
y parente geração, parente

varão relação à mulher). Batista Caetano, •


(em

Vocabulário, 475.

t a i a , avô varão do varão e da fêmea. Anchieta, Arte, 13,


y

tamuya; Figueira, Arte, 75, t&myia.

tayra, filho natural-do irmão; sobrinho, filho do irmão ou

do varão; xeryir, tenho sobrinhos


primo por parte

minhas irmãs. Figueira, Arte, 38. — A segunda

da Santíssima Trindade. Baptista Caetano,


pessoa

Vocabulário, 490.

tayra-angàba, enteado, afilhado do


posteriormente

homem.

tayraty, nora do varão, ou a mulher de seu sobrinho filho

de irmão. O mesmo taytaty.

tayrypy, filho Batista Caetano,


primeiro, primogênito.

Vocabulário, 476.

taytaty, veja tayraty.

t a x ô , sogra do varão. Anchieta, Arte, 13.


y

tayyamêna, do homem; ainda tayycamêna. Ba-


genro

tista Caetano, Vocabulário, 491.

tayycamêna, veja tayyamêna.

tayymêna, marido da filha, homem). Baptista


genro (do

Caetano, Vocabulário, 491.

teindira, veja tendyra.

t e k r a , veja tykyyra.
y y

temiarirô, neto ou neta fêmea,

temiminô, neto ou neta do varão.

temirecô, a mulher legítima do varão; literalmente, aquilo

se tem, o é tido, conduzido, mantido. Batista


que que

Caetano, Vocabulário, 506. — Assim também cha-

mavam os índios as contrárias tomavam na


que guer-

ra, com as se amancebavam; do mesmo modo se


quais
— —
188

denominavam as mancebas índias dos


portugueses,

e com este título lh'as davam os e irmãos àque-


pais

les iam a resgatar às suas terras,


que

temirecõ-etê, uxor vera. Escreveu Anchieta, Infor-


"...
maçào, 258: creio tomaram nome) dos
que (o

lhes (aos índios) dar a enten-


padres, que queriam

der a do matrimônio, e é a mulher


perpetuidade qual

legítima, deste vocábulo etê, dizer


porque que quer

legítimo, usam êles nas cousas naturaes da sua

terra. . ."

temirecô-membyra, filho da mulher legítima,

temir ecô-pykyra, cunhada no varão, irmã mais moça

de sua mulher.

temirecô-ykêra, cunhada do varão,. irmã mais velha

de sua mulher.

t e n d r a , irmã ou do varão. Anchieta. Arte, 15,


y prima

teindiva, irmã.

t i b i r a , veja tybyra.

t i u é r a , veja tykêra.
q

t i u i i r a , veja tykyyra.
q

t o a á b a , compadre e comadre de
ç pia.

tobaiára, cunhado do varão, o irmão ou de sua


primo

mulher. Também significa contrário,

tuba, natural, assim do macho, como da fêmea. Com ,o


pai

mesmo nome também significam o tio do varão, ou

seja o irmão ou de seu ou o tio irmão ou


primo pai,

da fêmea; e seu Figueira, Arte, 67,


primo pai pai.

xerúba, meu mudado o t em r na composição,


pai,

t u b a t , madrasta, companheira do
y pai.

tubetá, os avós, os antepassados, os ascendentes,


pais,

t u b e t ê , verdadeiro, legítimo.
pai

tubeymbae, sem órfão de Batista Caetano,


pai, pai.

Vocabulário, 539.

t u t i r a , veja tutyra.

tutyra, tio irmão da mãe, ou da mãe, assim do va~


primo

rão como da fêmea; também os filhos da irmã cha-

mam o mesmo aos filhos de seu tio irmão de sua mãe

utriusque sexus. Literalmente, para Batista Cae-

tano, Vocabulário, 546, tutyra devia ser tio


paterno,

O mesmo tubyra. Figueira, Arte, 77, tutira.


que
— 189 —

t u t r a i , e em Ba-
y primo, prima, primos parentes geral.

tista Caetano, Vocabulário, 54ó.

tybykyra , irmão mais moço de todos tem o varão, o


que

caçula.

t b r a , irmão mais moço do varão. Anchieta, Arte, 13,


y y

irmão menor.

tykemêna, cunhado da fêmea, marido da irmã mais ve-

lha; também marido da ou da sobrinha da fê~


prima

mea, estas mais velhas em idade do ela. Veja


que

ukei-mêna.

t k ê r a , irmã mais velha da fêmea; a da fêmea, se é


y prima

mais velha. Anchieta, Arte, 13, tiquéra, irmã maior

da fêmea; Figueira, Arte, 75, idem.

t k r a , irmão mais velho do varão? do varão mais


y y y primo

velho êle, se é filho de-irmão de seu Tam-


que pai.

bém tekyyra. — Anchieta, Arte, 13, tiquiira, irmão

maior.

tykyyraty, cunhada do varão, mulher de seu


primeira

irmão mais velho,

ukei, cunhada da fêmea, mulher de seu irmão ou filho


primo,

do tio materno; também as mulheres de dois irmãos

assim se chamam entre si.

ukei-mêna, o marido da cunhada da fêmea, ou seja o

irmão casado de seu marido; e a mulher do


porque

é ukei (como se disse), ukei-mêna é também


primo

o da fêmea, sendo casado, e filho do tio ma-


primo

terno da fêmea. Veja tykemêna.

o a i r é , sobrinho, filhos uns dos outros. Batista Caetano,


y

Vocabulário, 593.

sobrinho, filho da irmã do varão; também o filho


yra, primo

da tia, ou do tio irmão do do varão;


pai juntamente

o tio filho da avó do varão. Também se toma


pelo

enteado do varão,

r a t , a mulher dos a saber: mulher do sobri-


y y precedentes,

nho do varão, ou do filho do tio, ou do tio


primo

filho da avó do varão.

0
AS CARTAS DO P. D A VID FÁY

E A SUA BIOGRAFIA

CONTRIBUIÇÃO PARA A HISTÓRIA DAS MISSÕES

JESUÍTICAS NO BRASIL NO SÉCULO XVIII

PAULO RÓNAI :
E' desnecessário insistir sobre a importância das missões

nos séculos seguintes ao descobrimento


jesuíticas primeiros

do Brasil. Páginas essenciais da história da civilização brasi-

leira encontram-se nos anais de tais missões. As reminiscên-

cias, os memoriais e as cartas dos missionários contêm


jesuítas

um tesouro de informes valiosos não somente no tocante à ca-

tequese dos índios, como também no diz respeito ao foi-


que

clore, à à história natural e à evolução étnica e


geografia, po-

lítiç3 do Brasil.

Entre os das missões havia homens de todas as


jesuítas

nacionalidades européias. Necessariamente devia haver, entre

êles, húngaros, visto o importante o reino de Santo


papel que

Estêvão, católico desde o ano de nosso milênio,


país primeiro

nunca deixou de desempenhar na Igreja. Sem dúvida, a


pri-

mazia da religião romana ficou aí sèriamente ameaçada


pelo

arremêsso da Reforma nos séculos XVI e XVII, mas,


graças

ao ímpeto da Contra-Reforma, a fé católica retomou


poderoso

entre as confissões da Hungria o lugar, até hoje


primeiro que

conserva. Pois na ofensiva da Contra-Reforma, desencadeada

desde o do século XVII, relevante coube aos


princípio papel

Aguerridos na luta contra calvinistas, luteranos e


jesuítas.

socinianos, seus inimigos munidos de todas as armas


Jemíveis

da teologia e às vêzes do deviam êles considerar em-


poder,

relativamente fácil a catequese de selvagens.


prêsa

A de húngaros na obra das missões não é,


participação

aliás, uma simples hipótese. Vários estudos, cuja essência

resumimos em recente artigo foram estampados em língua


(1),

magiar, em diversas da Hungria. Nossas


publicações pes-

nos encontrar na biblioteca arquiepiscopal


quisas permitiram

da cidade da Kalocsa a biografia manuscrita em latim dum

desses missionários húngaros trabalharam no Maranhão, o


que

David Fáy, escrita dois de seus companheiros,


padre por

como também um folheto raro, em estão reproduzidas


que

três cartas húngaras do missionário, conservadas no


próprio

arquivo arquiepiscopal da cidade de Eger. Certo, as biblio^

120.929 P. 13
— 194 —

tecas e arquivos da Hungria abrangem, além destes documen-

tos, muito material valioso concernente à vida dos compa-

nheiros de Fáy; será esperar o fim da


preciso, porém, guerra

atual, na Europa, liberta das trevas do ódio e da des-


quando

truição nazistas, se restabelecerem as condições indispensáveis

a objetivas, feitas à luz da ciência.


pesquisas

A biografia ou antes elogio do P. David Fáy foi escrita

vários anos depois de sua morte dois membros da Com-


por

panhia, com um duplo fim. Além de a memória de


perpetuar
um confrade eminente, os autores segundo sua
pretenderam,

declaração, fornecer argumentos seja conce-


própria para que
dida a seu defunto amigo a coroa de mártir. Por isso dão

especial destaque aos elementos apropriados a


que julgam

êsse fim. Tais elementos se lhes ofereceram acaso ria


por
mocidade e nos últimos anos de vida do P. David, isto é, os

anos a sua morada no Brasil e os a ela


que precederam que

sucederam. Na mocidade, apresentaram-se três motivos de

certa maneira milagrosos: a conversão do


pai protestante, que

levou o filho menor também ao catolicismo; a inesperada re-

velação da vocação de David; afinal a imprevista conversão

da mãe calvinista, muitas vêzes inutilmente tentada filho.


pelo

Por outro lado, os últimos anos de David Fáy, nas


passados
"eram
de Pombal, e a sua morte cristã, aos olhos dos
prisões

biógrafos outras tantas credenciais dum mártir. Eis uma das

razões o elogio contém referências tão breves à ativi-


por que

dade do P. David no Maranhão. Um dos coautores, aliás,

foi testemunha da mocidade de Fáy na Hungria; outro, de

seus últimos anos e da sua morte em Portugal; nenhum dêles

o assistira no trabalho da catequese no Brasil, senão durante

breves dias. Por tal coincidência, a biografia em aprêço talvez

ofereça à história do Brasil contribuição menos importante do

que se esperar. Mesmo assim, apresenta o relatório


poderia

autêntico de um dos numerosos conflitos entre os e o


jesuítas

e aponta as acusações levantadas contra


govêrno pombalino,
êsses últimos no diz respeito ao seu contacto com os indí-
que

O amador de relíquias históricas não deixará de ler


genas.

com interêsse os demais capítulos da biografia, cuja


primeira
"caça
oferece a narração duma de almas",
parte palpitante

uma das mil batalhas oferecidas Contra-Reforma ao


pela pro-

testantismo vitorioso. Ali, há o desenho curioso e


quase pito-
resco duma época assinala o fim das de religião.
que guerras
— 195 —

A discussão, as armas da dialética, começam a substituir os

meios violentos dos séculos anteriores; mas o leitor, após tantas

testemunham a extinção do fanatismo atávico,


páginas que

inesperadamente dá com uma em o autor, embora


que piedoso
dé modo velado, acusa da morte duma neófita os mé-
jovem
dicos e os farmacêuticos da cidade de Debrancen,
protestantes
"Roma
a calvinista". Não menos estranha ao
pode parecer
leitor a outra explicação dá o biográfo acerca
profano que
desse falecimento, ele atribuído ao êxito das
prematuro por

do P. Fáy, cunhado da morta, teria implorado


preces que para

ela um fim rápido, afim de não ficasse exposta às habili-


que

dades dos de sua antiga religião.


pastores

Em verdade, a biografia revela da


pouco personalidade
do biografado: só nos últimos capítulos, relativos ao seu cati-

veiro, encontramos, além de traços convencionais da hagio-

algumas feições individuais dessa' figura


grafia, pálida que
comove constância de sua fé, isenta de toda é
pela qualquer
dúvida, e humildade desarmadora opõe aos sofri-
pela que
mentos da
prisão.

O historiador de costumes lerá com interêsse as elegias,

sonetos, epitáfios e décimas, cheios de acrósticos e trocadilhos,

dum mau-gôsto caracteristicamente barroco, acrescentados à

biografia autores. Piedosa e fielmente eles copiaram


pelos

todas essas homenagens, escritas num idioma, o


português,
completamente desconhecido e exótico um leitor hún-
para

garo e que devia ainda m$is em destaque, com seus acen-


pôr

tos misteriosos, as virtudes do mártir.

O nihil obstat" no fim do elogio mostra êste era


que
destinado à
publicação.

Merecem especial atenção as menções feitas nos capí-

tulos XXIV e XXV do manuscrito a duas obras de


polêmica,
capazes de melhor esclarecer, se forem encontradas, êsse ca-

da história das missões Trata-se dum libelo


pítulo jesuíticas.
antijesuítico, redigido em sob o título de
português Relação

abreviada, cujo autor anônimo expunha as acusações feitas

contra o P. Fáy, e duma réplica latina deste último, se


que
esforçava defender a atividade das missões, numa verda-
por

deira apologia.

Do mesmo foram conservadas três cartas húngaras,


padre

escritas a membros de sua família, uma de Lisboa e duas do


— 196 —

Maranhão, tôdas de 1753. Por conseguinte, apenas do


prin-

cípio da estada de David Fáy no Brasil é


que possuímos

informações diretas. Desta vez ainda, foi-nos conservada a

menos interessante, as cartas ulteriores de Fáy, se


parte pois

as houve, deviam conter muito mais valiosos. As


pormenores

cartas conservadas demonstram o autor, sem as


que possuir

dum observador excepcional e ainda menos de um


prendas

sintetizador, transmitir informes exatos e minu-


procurava

ciosos a respeito de tudo o o rodeava na sua nova


que pátria.

Em todo o caso, suas impressões sobre as


primeiras plantas,

os animais, a comida, os índios, não são desprovidas de in-

terêsse.

Destas cartas, a figura do missionário avulta natural-

mente muito mais humana do do elogio. Conhecemo-lo


que

muito ligado à família e à mãe; meticuloso


particularmente

nas descrições, cauteloso na escolha de termos, receoso de

expressões cruas; acessível a certos temores humanos,


prin-

cipalmente o do mar, natural num filho das dei-


planícies;

xando transparecer às vezes uma de vaidade


pequena ponta

mundana, exemplo relata suas com a


quando por palestras

Rainha-mãe; despertando real simpatia com a confissão de

suas misérias materiais e com a ingenuidade infantil


quase que

manifesta em certos trechos. Com mais algumas cartas, vê-lo-

íamos ainda mais vivo, ainda mais homem; mesmo assim, adi-

vinhamo-lo simples e boa, bem mais autêntica e viva


pessoa

do o santo algo convencional do elogio.


que

Entre a biografia e as cartas, reproduzimos a introdução

acompanhou estas no folheto onde foram


que publicadas pela

vez. O seu interêsse consiste nos dados


primeira principal

biográficos de Fáy, aliás nem sempre concordas com os do

elogio.

Procuramos traduzir com a maior fidelidade o elogio, a

introdução e as cartas, o do latim, as outras do


primeiro

húngaro. Quisemos conservar o estilo solene, eclesiástico e

empolado da biografia, como também a feição cerimoniosa,

tautológica e ingênua das cartas. Várias vêzes, con-


para

servar o sabor destas últimas, em vez de recorrer aos equi-

valentes restringimo-nos simplesmente a verter


portugueses,

certas locuções idiomáticas, da língua húngara na-


próprias
"Senhora
época, assim as contínuas apóstrofes à mi-
guela
/

__ 197 —

"por
nha Doce Mãe", o emprego freqüente da conjunção isso"

sem necessidade lógica, etc.

Grifamos no trabalho as frases ou


presente palavras,

trechos no texto latino estão escritos em ortuguês ou tupi,


que

como também tôda tupi ou latina do texto


palavra portuguesa,

húngaro das cartas e da sua introdução.

Cumpre-nos fim o dever aprazível de agradecer sin-


por

ceramente a nosso ilustre amigo Aurélio Buarque de Ho-


prof.
landa ter revisto o das três versões com seu
por português

cuidado habitual, ao nosso modesto trabalho o au~


prestando

xílio de sua incontestável autoridade, e ao R. P. Augusto

Magne, S. eminente mestre de filologia clássica e moderna,


J.,

com extrema cortesia resolver várias dúvidas nossas


que quis

acerca da interpretação do texto latino.


ELOGIO PÓSTUMO DO P. DAVID ALUÍSIO FÁY,

DA COMPANHIA DE EM 12 DE
JESÜS^FALECIDO

DE 1767 NO CÁRCERE DO FORTE SÃO


JANEIRO

À FOZ DO TEJO. (1)


JULIÃO,

COM ACRÉSCIMO DE VÁRIOS EPITAFIOS

PREFÁCIO

A todos os Padres mui religiosos em Cristo

que lerem êste Elogio póstumo saúdam os padres

José Kayling e Anselmo Eckart.

No tempo em a Deus, Senhor da vida e da morte,


que

aprouve libertar o P. David Fáy, nosso diletíssimo irmão em

Cristo, dos vínculos não somente do cárcere, como também do

corpo, eu tinha começado uma carta dirigida ao P. Kayling,


à acrescentei um relatório sucinto do óbito da-


qual precoce

havia muito e, no entanto,


quele padre, previsto pouquíssimo

aguardado no dia em ocorreu seu feliz dêste


que passamento

mundo. Na mesma carta ao P. Kayling redigisse, se


pedi que

fazer coisa muito a mim, a todos os sócios e


queria grata prin-

cipalmente aos amigos do defunto, um elogio segundo o cos-

tume nas da Germãnia, contando


generalizado províncias por-

menorizadamente sobretudo a conversão milagrosa à fé orto-

doxa da ilustre mãe do P. David. Acedeu logo o P. Kayling ao

meu e em tempo redigiu o obra dig-


pedido pouco panegírico,

níssima tanto do autor como daquele cujas virtudes tão mere-

cidamente Ao mesmo tempo, com


proclamava. persuadiu-me

doçura e insistência a continuasse o elogio, acrescentando


que

o faltava e coroando tôda a narração de um


que porventura

epílogo. Por isso, visto tal obra serve maior


que para glória

(1) O manuscrito original encontra-se na biblioteca arquiepiscopal de Kalocsa,


Hungria. Dêste manuscrito a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro possue agora
uma cópia fotostática. .
— 200 —

de Deus, ornamento da fé católica, honra das tanto


províncias

da Áustria do Maranhão, decoro da Companhia tôda


quanto

e, afina], estima invulgar da do P. David, acompanhai


pessoa

de vosso habitual favor o nosso trabalho empreendido ca-


por
ridade, vivei em boa saúde e não cesseis de rezar vivos e
pelos
mortos.
pelos

Assim, confiado na benevolência dos leitores, transcre-

verei com fiel a história da vida davídica, segundo me


pena

foi relatada P, Kayling, companheiro de estudos, durante


pelo

dois anos, do deíunto, e seu sócio até em terras


padre predileto
do Maranhão, remotíssimas dos confins da Hungria. Dividí-a,

maior comodidade dos leitores, em o


para parágrafos, primeiro
dos aqui
quais principia.

I. NASCIMENTO DO P. DAVID E A ADMIRÁVEL PROVIDÊNCIA

DE DEUS A SEU RESPEITO DESDE MENINO.

Nasceu o P. David Fáy no castelo de sua família, situado

numa localidade chamada Fáy, do nome da família, na diocese

de Eger, do condado de Abauj, na Hungria Superior. Teve

por pai Estêvão Fáy, senhor desse castelo e das terras a êle

e mãe Catarina Borsi Veio à luz em


pertencentes, por (1).

1722, no dia 8 de fevereiro. Ambos os eram heterodoxos,


pais
causa da sua nobreza, e tão dedicados a Cal-
poderosos por
vino destinaram este entre sete filhos e
que quadrigênito qua-

tro filhas, antes mesmo de nascido, a ser um dia uma coluna

da sua seita. Efetivamente o de David e N. Bartzay, outro


pai
calvinista, tendo observado o seu dogma não só-
prosélito que
mente não tinha rogresso em tôda a Hungria, como até regredia

cada vez mais, derivar isto do fato de não


julgaram quase
haver, entre os ministrinhos Hungria afora,
que prègavam pela
nenhum de origem nobre e ilustre. Os tais sacerdotes nem co-

nheciam bem o em razão da sua


próprio pseudo-evangelho,
absoluta falta de cultura, conseqüência natural da
quase po-
breza da e viam-se, isso, desprezados de seus
plebe, por pró-

acólitos. Por deliberação comum, decidiram os dois se-


prios

nhores, estando suas esposas ambas na iminência de dar à

luz, no caso em ambos viessem a ter filhos varões,


que pôr-
"lhes, respectivamente, os nomes de David e e mandá-
Jônatas,

(1) João Foltin, o autor da introdução às cartas do P. Fáy, que damos a se-
não concorda com o elogio no
guir, que diz respeito ao nome dos pais.
— 201 —

4os, crescidos, a Inglaterra, afim de se instruírem


quando para

em toda a espécie de sabedoria. Igualmente resolveram não

nenhum que os filhos voltassem um dia


poupar gasto para

à como eminentes e da dou~


pátria pregadores perfeitíssimos

trina heterodoxa, aos não mais faltariam nem a nobreza


quais

da linhagem, nem os recursos conseguirem a autoridade


para

necessária de seu ministério. Mas fúteis são os desígnios


quão

humanos, ante a vontade do Senhor! A Bartzay, com efeito,

não nasceu nenhum iqas sim uma fiJhinha, arrebatada


Jônates,

da sagrada fonte ao céu, ali implorar a Deus tornasse vã


para

e destruísse a esperança nutrida Fáy a respeito de seu fi-


por

lho David. Destruíu-a realmente; enquanto David cresce e

bebe, néscio, com os elementos do saber, a


primeiros peste

dos erros .pelos seus acólitos


paternos, preparada preceptores

de Calvino, e atinge, se bem me lembro, o décimo ano, Deus

misericordioso deita sôbre êle um olhar favorável e, junta-

mente com o retira-o das trevas a luz, em virtude da


pai, para

vocação admirável tinha o menino adorar a Provi-


que para

dência. Nada dizer aqui de tal vocação seria crime e ofensa

não à única religião salvadora.


pequena

II. NOTÁVEL CONVERSÃO DO PAI DE DAVID A FÉ CATÓLICA,

Estava acaso o senhor Estêvão Fáy em viagem


por para

Pozsony (cidade mais conhecida fora da Hungria nome


pelo

de Presburgo), afim de tomar no Conselho Real, de


parte que

era membro, entre Buda e Pest, atravessando o Da-


quando,

núbio numa volátil de maquinismo maior


ponte (espécie que

navio de foi cumprimentado um reli-


qualquer guerra), por

conjo vira, um Hiberno de


gioso praguense jamais (tal gênero

franciscanos é completamente desconhecido na Hungria) .

Acreditando o monge lhe esmola, abriu a bolsa


que pedisse

com a oferta de algum cobre, evitar outro


para, qualquer
colóquio com o sacerdote católico romano; aquele,
porém,
recusando a esmola oferecida, disse :

—É outra coisa ardentemente a vossa senhoria


que peço
ilustre, a saber: folhear ligeiramente êste livro.
queira

Com isto, apresentou-lhe um livro, o outro tomou e


que

examinou era o Controversiarum compendium, de Ro-
[idei
berto Bellarmino ~ devolvê-lo irritação.
para com
— 202 —

«— Porque me impõe esta couve —' disse —


(1) que já
li mais de uma vez e sempre com fastio ?

No entanto o monge insistentemente recebesse


pediu-lhe

o brinde, o conservasse e tornasse a lê-lo repetidas vezes,

com a alma mais do antes a entender


porém predisposta que
e a seguir a verdade; nem deixar de modificar a sua
podia
opinião acerca de uma obra ditada Deus e escrita a
por para
salvação das almas, etc.

Verificou-se, depois, ter-se escondido um anjo bom sob o

hábito do frade; „^ste desaparecera de tal modo não obs-


que,

tante a diligência das nada foi saber depois


pesquisas, possível
a seu respeito.

Seja como fôr, o senhor Estêvão Fáy, livrar-se da


para
urbanidade daquele homem e importuno, aceitou o libelo
piedoso
e lê lio. Efetivamente, não esqueceu essa ;
prometeu promessa
como viajava sozinho no carro, começa a lê-lo matar o
para
tempo; de vez em o depõe, retoma-o, lê, medita. Lati-
quando

mamente turvado celestial, entra a lutar consigo


pela graça
mesmo, e medita sobre a religião católica, sentindo esta
para
uma atração cada vez mais veemente. Para falar muito ?
que
Chega a Pozsony; conversa com os magnatas da igreja,
prin-
cipalmente o conde Erdõdi, então bispo de Eger; instrue-se

mais amplamente a respeito da verdade; afinal, confessa-se

vencido e, tendo a alma homologese


purificado por geral,
a-pesar-da dissuasão dos acatólicos, de seus
principalmente
depõe nas mãos do arcebispo de Strigonium o
parentes, (2),

príncipe Eszterházi, em de multidão de fidal-


presença grande
sei se o Imperador Carlos VI, Rei da Hungria, tam-
gos (não

bém assistiu à cerimônia), uma vez dito o sacramento, a sua

de fé católica segundo a fórmula tridentina. Pode-se


profissão

fàcilmente imaginar a alegria de todos os católicos e a sua es-

de uma conversão tão ilustre lhes traria muitos


perança que
outros fidalgos, criados na heresia.No entanto, nenhum dos

irmãos de Estêvão, ou fôsse, renegou a Cal-


quem quer que

vino, eu saiba, em tôda a região, até à do P. David


que partida
as índias. Não mais constranger os dois filhos
para podendo

adultos e o senhor Ladislau Fáy, atualmente vis-


primogênito,

(1) "Couve", em latim cramben. Usa o francês de metáfora parecida ao cha-


mar um mau jornal de feuille de choti ?

(2) "Strigonium". Em húngaro: Esztergom.


— 203 —

conde de dois condados, naquela altura ligado a uma es-


herética, Estevão Fáy reduziu-os à Igreja suavemente,


posa
logo lhe foi aos outros filhos, confiou-os
que possível; quanto

aos cuidados dos nossos em diferentes lugares.

III. VOCAÇÃO DO P. DAVID A COMPANHIA DE JESÚS, EM QUE


ENTRA, DEPOIS DE ACABADOS OS ESTUDOS DE RETÓRICA.

Entretanto, David foi imbuído de boas artes no Seminário

Mariano de Tirnávia Tendo aprendido os


(J). já primeiros

elementos da língua latina nas escolas heterodoxas, começou

na nossa os estudos a da classe média de com


partir gramática,

o intuito, ao aliás, o resultado respondeu


qual, perfeitamente,

de merecer um lugar entre os Enquanto seguia com


primeiros.

empenho o curso de retórica, comunicou aos se sentia


pais que

chamado à Companhia de Tal notícia não


Jesús. por pouco
os matou. O embora fôsse católico, criava os filhos
pai, já

o século, e não a de religioso cos-


para para profissão (como

tumam fazê-lo certos fidalgos húngaros aos se dá o nome


quais

de . Afinal obteve David licença dele em


puritanos) parte por

suas súplicas, em à intervenção dalguns


próprias parte graças
homens eminentes, e calcando aos a afeição da mãe heré-
pés

tica, sempre oposta ao apressou-se a levar o vexilo de


projeto,

Cristo; entrou no Tirocínio de Viena em 9 de novembro de

1736. No dia 13 do mesmo mês, isto é, na festa de Santo Es-

tanislau (que escolhera como seu na vida religiosa),


protótipo

vestiu o hábito da Companhia.

IV. NOVIÇO DA COMPANHIA DE VOLTA DAVID AS HU-


JESÚS.
MANIDADES, ESTUDA A FILOSOFIA E TORNA-SE MESTRE

DAS CLASSES INFERIORES.

De como se mostrou durante os dois anos de estudo nessa

escola de virtudes, constitue luminoso testemunho o resto de

sua vida até à morte, vida conhecida de muitos aqui residentes,

aos invoco, e conspícua tantas virtudes, cujo funda-


quais por
mento assenta na casa da Saído do Tirocínio,
provação (2).

foi cultivar a Szakolca (pequena cidade húngara, confinante

com a Morávia) musas menos austeras, sem nada afrouxar do

seu fervor ou dos exercícios dos noviços.


primitivo próprios

(1) "Tirnavia". Em húngaro: Nagyszombat.

(2) Casa da provação, isto é, do noviciado.


— 204 —

só obediência moderava. Depois estudou em


que pela própria

Tirnávia, durante três anos, a filosofia, disciplina em


que

sempre mereceu os maiores de seus superiores e de


gabos

todos os árbitros imparciais. Encarregado de ensinar as cíasses

inferiores, lecionou no curso inferior, em Sopron, e


gramática,

no curso médio em Taurinum e em Tirnávia.


(1), poesia

Nesta última cidade um opúsculo, dedicado, segundo


publicou

a aos novos bacharéis em filosofia, no celebrava


praxe, qual
em versos elegíacos, aliás tersíssimos, a régia índole de II,
José

então de sete anos de idade. Por toda deixou


parte grandes

Saüdades em alunos seus; não menos desejoso de


professor

inspirar a virtude do aplicado ao ensino das letras, tornou


que
os seus discípulos, até os menos dóceis, admiràvelmente fie-

xíveis à disciplina.

V. O P. DAVID, FEITO SACERDOTE NO FIM DO SEGUNDO ANO

DE ESTUDOS TEOLÓGIÇOS. ESFORÇA-SE POR CONVERTER

A MAE À RELIGIÃO VERDADEIRA.

Talvez causa das insistências dos desejosos


por parentes,
de verem o seu David depressa iniciado no sacerdócio, como se

assim aumentasse a esperança da conversão da mãe, não en-

sinou David mais de três anos. Enviado depois a Viena ma-

triculado no curso de teologia, acabou a custo o ano,


primeiro

afetada lhe foi a saúde uma espécie de tísica,


que por que
ainda não se revelava inteiramente. Assim, talvez cedendo

aos conselhos dos médicos e às dos trans-


preces parentes,

Cassóvia (2), na Hungria Superior, e ali ter-


portou para

minou os três anos restantes de teologia. E sob aquêle céu

(pois o castelo de Fáy dista apenas seis horas


quase pátrio

dali) foi aos recuperando a saúde, não tão cedo,


poucos

porém, que não se tivesse de recear a sua morte antes de êle

receber as ordens sacras. Eis segundo a vontade dos


porque,
superiores, ao concluir o segundo ano, foi feito sacerdote.

Celebrou a missa entre os seus, embora hete-


primeira que,
rodoxos, atenderam em número ao convite.
grande

Assistiam dois da nossa ordem, reünidos ao


padres
P. David tentar a conversão, se não de vários hóspedes
para

convidados à solenidade, menos da mãe de seu confrade.


pelo

(1) "Taurinum". Em húngaro: Zimony.

(2) "Cassovia". Em húngaro: Kassa.


— 205 —

conhecido virtude e sabedoria. Essa senhora, aliás in-


pela

testemunhara várias vezes simpatia e hospitalidade àque-


gênua,

les dos nossos de aquelas bandas, foranz


que, passagem por

visitá-la; mas çteclinara de tôda e acerca dos


qualquer palestra
dogmas da Fé. Conheci eu mesmo os tios de David,
pessoas

mui urbanas em tudo não tangia à sua seita. Desde a


que que

respeito desta última fôsse feita a mais leve menção, entravam

a defendê-la com nímio fervor. Assim, nessa nova oportuni-

dade frustrou-se igualmente a esperança de sua conversão.

VI. MORRE O PAI DO P. DAVID, QUE NESSÂ OCASIAO TENTA

DE NOVO A CONVERSÃO DA MAE.

Isto, menos admirável, entre tôda


porém, parece pois

aquela assistência de homens e mulheres, não houve


parentes,

nenhum outro católico exceto o séhhor Estêvão e seus filhos,

irmãos e irmãs de David. Mais teimosa mostrou-se ela no de-

curso de mais ou menos três meses, Estêvão, mori-


quando
bundo, mandava vir David com o deão de teologia. Nessa

altura o filho nada descuidou afastar a mãe do


piedoso para

erro e dar, assim, um consolo supremo ao O mo-


pai. próprio
ribundo, enquanto não os sentidos, chamou-a a
perdera junto
si e, em de todos os filhos, derramavam lágrimas,
presença que

com voz débil a conjurou e suplicou-lhe, última vez,


pela que
o acreditasse em tal momento: não havia salvação fora da

Igreja Romana, etc. Nada conseguiu além de lágrimas


porém,

estéreis da esposa, lhe deplorava a morte iminente. Talvez


que

o P. David tivesse com olhos secos as honras fúnebres


prestado
devidas ao se mitigar a dor consolo
pai, pudesse própria pelo

da conversão da mãe; mas como esta na sua he-


permanecesse
resia, tornou a Cassóvia com olhos ainda úmidos, afim de ali

continuar o terceiro ano de teologia. Tivera entretanto termi-

nado o segundo no Internato dos Fidalgos como sócio do re-

e dos internos, honrado e sobretudo


gente prefeito querido
todos eles em razão de suas egrégias virtudes e da can-
por

dura de seus costumes.

VII. o P. DAVID CANDIDATO ÀS MISSÕES DAS ÍNDIAS.

Experimentando contínua melhora na saúde, sentiu con-

firmar-se a sua vocação às Índias e voltou a escrever


para
Roma, de nenhum modo desviado uma recusa,
por primeira
nem mesmo tôda a sua esperança des-
quando podia parecer
— 206 —

feita, sendo êle igualmente excetuado do número dos indípetas

o P. Ladislau Orosz (2), da Província


(1) que procurador

Paraguaia, reunia na Província de Áustria com beneplácito

do nosso mui R. P. Francisco Retz, depois' se trans-


para

ferirem a diversas Missões da América Hispânica. Foi a um

só tempo manifestamos o nosso desejo (áem nada saber


que

um do outro) ao mesmo da companhia, eu


general preposto

êle terceira vez. Recebemos a resposta


pela primeira, pela

simultâneamente. Vim a saber a minha esperança ia


quase que
'isto
ser cumprida com efeito, no mesmo ano,
pròximamente (e,

é, em 1748, fui designado com o P. Francisco Xavier Haller

mas o decidiu eu ficasse na Hungria à es-


(3), provincial que

de outra resposta a meu respeito), enquanto êle foi infor-


pera

mado de devia renunciar de vez a tal esperança. Como


que gos-

tava do P. Fáy, confiei-lhe a resposta


particularmente primeiro

recebera; ao êle também me comunicou a sua, tão in-


que que

sorte alegre minha. Quase


quieto pela própria quanto pela

acabei ter maior certeza da vocação dêle do da minha,


por qu£

em vista do desejo veemente David manifestava de muito


que

sofrer afim de conduzir a mãe ao caminho da salvação,


quando

estivesse longe dela, nada conseguira enquanto estivera


pois

na Afirmava, não desanimaria;


perto pátria. porém, que pois

se a Divina Providência fôsse servida de mudar a sentença do

nosso mui R. P., êste acabaria, cedo ou tarde, escutar os


por

seus votos. Que isto era um vaticínio, demonstraram-no os

acontecimentos dois anos mais tarde, eu ainda seguia


quando

o curso de teologia, ao êle, tendo-o concluído, o


passo que já

coroara do maior êxito, após a defesa de uma tese de


pública

teologia.

VJII. O P. DAVID, ENTRANDO NO ANO DA TERCEIRA PROVA,


MOSTRA-SE OPERÁRIO INDEFESSO.

Depois de ter concluído completamente os trabalhos es-

colares, no fim de 1750 a Escola de Afetos de


partiu para

Neosolium (é uma cidade mineira, com de cobre,


(4) jazidas

(1) "Indípetas". Neologismo do autor, feito à semelhança, por exemplo, de


"centrípeta".
Designa aqueles que vão às índias.

(2) Cf. nosso artigo citado sobre Viajantes húngaros no Brasil.

(3) Ibid.

(4) "Neosolium". Em húngaro: Besztercebánya Escola de Afetos, isto é, a


terceira provação.
\

— 207 —

na Hungria) afim de ser submetido à terceira Embora


prova.
devesse obter isenção dos exercícios obrigatórios du~
parcial
rante semanas ou mesmo 30 dias, sem interrupção, como
quatro

também do desempenho de missões durante tôda a Quaresma,

não de nenhum favor e obteve como


quis gozar particular:
nem de uma nem de outra vez se viu acometido
prêmio que por

qualquer enfermidade corporal. Quem dizer o reSul-


poderia
tado de suas aplicações nos dois ditos de exercícios,
gêneros
se ele mesmo sempre esconder com habilidade admi-
procurava

rável tudo o lhe valer louvores? Sei apenas


que pudesse que
descreveu com diligente todas as meditações e conside-
pena

rações das semanas, registrando seus e ins-


quatro propósitos

pirações, e mais tarde, mesmo durante a viagem terrestre e


que

marítima, costumava reler essas anotações. Quando, depois,

na tempestade da lhe foi confiscado tudo o


perseguição, que

possuía, nenhuma outra sentiu tanto, eu,


perda penso quanto
a do seu livrinho de apontamentos. No diz respeito ao
que

desempenho das missões, afirmar o P. David deixou


posso que
indeléveis saüdades de si nos como operário in-
párocos, que

cansável aliviou de muitos trabalhos, e no edificou


povo, que
meio das missões evangélicas. Depois da Páscoa voltou
por

ao seu ascetério de Neosolium, rico de despojos arrancados ao

inferno e de uma ceifa úbere, feita nos campos do Senhor.

Ficou em Neosolium até o fim do ano da terceira


prova,

quando, após oito dias de exercício, se transferiu outro


para
lugar em conformidade às leis da obediência.

IX. O P. DAVID, PROFESSOR DAS LÍNGUAS HEBRAICA E CAL-


DAICA, MISSIONÁRIO CASTRENSE, CONCIONADOR E CATE-
QUISTA.

Tal obediência, aliás, não lhe era de todo suave,


pois o

fêz voltar aos encargos escolares, sobremodo evi~


que quisera
tar; nem fácil, com o manto filosófico de doutor da Uni-
pois,
versidade, impôs-lhe ensinar uma disciplina da nada tinha
qual
anteriormente estudado a não ser as noções; assim
primeiras e

teve de estudar e ensinar, a um tempo, as línguas hebraica e

caldaica, e isto num colégio de onde saíra apenas um ano antes.

No entanto acolheu com esta difícil tarefa, agravada


prazer
duas outras cheias de fadigas apostólicas. Com efeito,
por

além das aulas e dos trabalhos acessórios, foi-lhe confiado o

cuidado de assistir aos exercícios aristotélicos e teológicos e


— 208 —

neles intervir com freqüentes argumentações na legião de Vetés

(uma legião de infantaria entre os húngaros), na de


qualidade
missionário estacionário castrense fixo. Além disso, falou à as-

sembléia húngara, no nosso templo, tôdas as sextas-feiras de

Quaresma. Demais, durante o m^smo sagrado do


período

jejum, ele, nos outros dias, fazer exortações


grande quis pelo
menos aos seus catequizandos, e escolheu tal fim, com
para
licença dos superiores, a igreja das Religiosas de Santa Ür-

sula. É coisa admirável um homem não robusto,


que pelo
contrário de saúde frágil, se tenha devotado a tantas tarefas

e as desempenhasse tão bem como se outras não tivera.

Todos os então morávamos no Colégio de Cassóvia com


que

o P. David, observamo-lo com íntimo obrar em tudo se-


gozo

o exemplo do apóstolo, como se fora um filho de


gundo gêmeo
Nosso Santo Pai: ora assistia aos doentes e moribundos no

hospital militar (tive ocasião de auxiliá-lo duas vezes ness«

tarefa causa de dois doentes cuja língua ele ignorava),


por

ora consolava os nos cárceres; intercedia em favor


presos já

dos acusados, mendigava esmolas os com


já para pobres gran-

de indústria, sem, se tornar importuno e incomodativo;


porém,

os magistrados militares, os cidadãos ricos, os fi-


procurava

dalgos; ouvia os nos tribunais sagrados do nosso


penitentes

templo; combatia do sacro os vícios, e exortava os


púlpito
ouvintes às virtudes não somente nas sextas-feiras de Qua

resma, como também no domingo de cada mês, e em


primeiro
tôdas as festas da Beata Virgem Maria e nas outras soleni-

dades do ano; na cadeira, desfazia os nó's das línguas he-

braica e caldaica, as mãos dos discípulos na formação


guiava

das letras, ensinava-lhes a leitura e a compreensão das Escri-

turas.

X. O P. DAVID, DESTINADO ÀS MISSÕES INDICAS, DIZENDO O

DERRADEIRO ADEUS À CASA PATERNA E EXORTANDO COM

VEEMÊNCIA A MÃE E OS CUNHADOS A ABJURAREM A SUA

HERESIA, OFERECE A DEUS A SUA PEREGRINAÇÃO AS ÍNDIAS

E OS SEUS LABORES APOSTÓLíCOS EM PROL DA CONVER-


SAO DOS PARENTES.

Em meio a tais ocupações chegou-lhe em 13 de maio de

1752 a ordem inesperada do nosso mui R. P. Visconde


para
ir ter às índias. Fui nomeado sócio dêle e saímos de
juntos

Cassóvia no dia 16 daquele mês, ignorando a regiões ul-


que

tramarinas seríamos chamados. Nem devíamos sabê-lo senão


— 209 —

em Gênova uma nova carta, dada em Roma, ao P.


por José

Celle. Tivemos de viajar através da da família Fáy.


jurisdição

O P. David de muita arte e eloqüência impedir


precisava para

os seus de intervirem aos superiores afim de ser revo-


junto

a ordem o enviava fora da ou frustrada a


gada que pátria,

sua viagem mesmo meios não louváveis (de fato, ex~


por que

? o
cesso não inspira o amor dos consanguíneos ) No entanto

irmão mais velho, senhor Ladislau Fáy, esforçou-se,


quanto

moderar a dor e a dos outros, sobretudo da


pôde, por própria

mãe. Demais, como é católico zelosíssimo ter re-


(afirmava já

servado vinte mil florins fundar uma casa da Companhia


para

em Miskolc, cidade dos ditos pensou


principal protestantes),

talvez lhe fôsse oferecida céu aquela oportunidade


que pelo

de converter ou a mãe ou um dos tios. Por"isso, convocou-os

de seus respectivos segundo o costume daquela gente,


prédios,

a um lugar chamado Emõd. uma aldeia de muitos habitan-


tes, residência do emérito Antônio Fáy, de hussardos,


general

seu irmão mais antes de David; há ali uma igreja


próximo,

bela, mas usurpada calvinistas. O católico, in-


pelos pároco

troduzido senhor da aldeia, tem um sacelo na casa


pelo própria

os habitantes até então se converteram ao ca-


para poucos que

tolicismo e os adventícios) . Pois, como digo, convidou


para

todos os irmãos e cunhados a Emõd, afim de ali dizerem o

derradeiro adeus a David. Nessa ocasião, êle, de-


pensava

viam-se empenhar todas as forças a mãe


para que presente

nos tinha acompanhado desde o castelo de Fáy, como


(que

nos acompanhara também desde Miskolc o reverendíssimo

senhor Francisco Fáy, irmão menor mais de David,


próximo

agora cônego de Nagyvárad) acabasse ceder às


por preces

unidas de todos os filhos, e às de David,


principalmente pres-

tes a nunca mais voltar. Fáy também nos


partir para João

causou um atraso de alguns dias, enquanto mandava vir de

Debrecen a sua esposa calvinista (embora mala-posta,


por

isto é, a condução mais rápida), na esperança de talvez


que

em semelhante ocasião renegaria os seus erros. Nada,


porém,

foi conseguido, nem com ela, nem com a mãe. A velha se-

nhora, toda apegada a uma Bíblia tinha e explicava a


que que

seu modo, saída, além disso, dalguma tipografia calvinista, mal

escutava o bom conselho; embora ouvisse o a reverência


que

do filho lhe ousava sugerir, a cada mudava de assunto,


passo

como se estivesse ocupada de outra coisa. Quanto à cunhada,

120.929 F. 14
— —
210

embora moça submissa e de bom caráter, apenas uma


percebeu

sôbre a Fé, recusou tôda e resposta e ficou


palavra qualquer

mais muda do um do Euxino, apesar de ser


que peixe ponto

boa em outro assunto. Havia, também


palestrado^ qualquer

um tio, de nome Américo, mais sexagenário, ao nem


que qual

tàcitamente se devia exortar, ao insinuarmos mesmo de


pois

leve discussão em torno dos dogmas, logo se enfu-


qualquer

recia. Parecia então mais aconselhável conversar com ele sô-

bre assuntos indiferentes, ainda religiosos. Passamos ali


que

as festas de Pentecostes. Então a mãe, mandando todos os

católicos adiante a casa do foi sozinha, à nossa


pároco, quase

revelia, ao oratório de sua seita.

Chegou o dia do último adeus. Depois de almoço lau-

. tíssimo, o P. David, a retomar comigo o caminho,


já pronto

na de todos, de curvados, a exortar


pôs-se, presença joelhos

a mãe meio duma oração tão vigorosa e cheia de reve-


por
rência e amor filial, nenhum dos homens ali
que presentes

conseguiu conter as lágrimas. mesmo, embora de com-


(Eu

difícil, não me impedir de chorar.) Entre outros,


punção pude

o motivo da sua às índias,


principal peregrinação proclamava

com sentimento! ninguém duvidar de


(e quanto podia que

era ele falava, mas naquela hora era inspirado


quem que quan-

to dizia), era o desejo de, seus em terra e


por padecimentos

no mar, ofereCer-se todo em holocausto a Deus, afim de assim

alcançar a da conversão da sua mãe. Acabado o dis-


graça

curso, todos ali, calados, atônitos, esperando


permaneceram

algo de eu mesmo considerava aquele momento favo-


grande;

rável à resipiscência da mãe de tal filho, fazendo suas últimas

súplicas. Porém esta, tornada a si da sua aflição, com a voz

entrecortada de lágrimas e soluços, assim falou :

— Meu filho, deixa-me ir a Deus outra via não a


por que

tua; nenhuma nos desvia da salvação eterna; vai com Deus,

e recebe a bênção de tua mãe, não há-de viver muito após


que

a tua
partida.

Querendo dizer mais, faltou-lhe o ânimo, foi con-


pelo que

duzida dentro de casa. Subimos ao carro


para puxado por

seis cavalos do senhor Ladislau, nos acompanhou até


que

Muda, não devendo nós revermos nem a ele nem aos outros

senão na eternidade. Depois, veio-nos visitar à hospedaria

o senhor Fáy, de algumas tropas colocadás na


Jorge prefeito

casa dos inválidos, atualmente do Presídio de


governador
Szeged. Preveniu-me o P. David de não travasse ne-
que
nhuma discussão com aquele seu tio. Ambos cuidamos de

assim proceder, mas êle, acólito de Calvino, a exaltar


pôs-se

a doutrina deste* lançando sarcasmos contra a invocação dos

santos. O P. David, na mesma moeda, mas de


pagando-lhe
maneira conveniente a um religioso sendo muito
(não perito
na língua húngara, tive de calar-me, visto aquêle militar
que
fingiu não conhecer a língua latina), e sabendo êle teria
que
rejeitado os livros dos macabeus, do Apocalipse, etc., recor-

dou trechos de Isaías e apropriados ao caso.


Jeremias, Job,
Doeu sobremodo ao P. David o fato de ter-lhe escapado

sem êxito a oportunidade, tão excelente de sua


que julgara,
da Embora atormentado intimamente e dese-
partida pátria.

tornar-se uma oferenda em de seus irmãos, tios e


jando prol
mãe, contra tôda confiou Deus misericor-
probabilidade que
dioso não toleraria fosse inteiramente frustrado no seu
prin-
cipal intuito o sacrifício de sua tão longínqua
peregrinação
e tão Patenteou-se bem cedo era bem fun-
perigosa. quanto
dada tal esperança.

XI. O P. DAVID, TRANSFERIDO PARA VIENA, NA ÁUSTRIA, VEM

A SABER DA CONVERSÃO DA CUNHADA, FALECIDA POUCO


TEMPO DEPOIS DE SUA SAÍDA.

Apenas fomos chegados a Viena, na Áustria, em 4 de

de 1752, recebeu David uma carta de seu irmão


junho João.
Segundo esta, a cunhada se mantivera muda ao
(aquela que
ouvir explicação a respeito da fé salvadora), logo
qualquer

após a despedida, voltou Debrecen, metrópole dos re-


para
formados, isto é, dos sequazes de Calvino na Hungria; ali

não deixou de no cunhado as índias;


pensar partido para
ficou agitada com a lembrança do êle, no ato de
que partir,
lhe havia dito, e o marido repetira, com fervor ainda
que
maior, e não suportando a de Deus
que graça permanecesse
mais tempo frustrada, afinal abjurou os
por publicamente
dogmas de Calvino no meio daquela nação acatólica
(pois
a cidade de Debrecen conta cem mil habitantes
possivelmente
adultos dos há apenas uns cem católicos entre a nobreza.
quais

Os são das escolas sendo os nossos, re-


párocos padres pias,
comendados Carlos VI constrangeu a cidade a
por quando

admitir também a igreja católica, repelidos.)


pertinazmente

Eis o fruto do sacrifício, um fruto não simples; e


primeiro
212

talvez se deva atribuir às dele o fato de a moça,


preces pouco
tempo depois da sua de fé verdadeira, haver falecido,
profissão
antes malícia lhe modificar o entendi-
que qualquer pudesse
mento. Era aliás muito e de uma compleição
jovem que pre-
dizia vida longa; mas não sei doença leve a acometeu
que
e extinguiu dentro de um mês aproximadamente. Confesso ter

eu em várias causas, não há em Debrecen,


pensado pois que
eu saiba, nenhum cirurgião, nem médico, nem farmacêutico ca-

tólico. Mas não esmiuçar coisas escapam à minha


quero que

alçada, e atribuir ao zêlo de David também a


prefiro prema-
tura de sua cunhada o céu.
passagem para

XII. O P. DAVID VEM A SABER, NO MARANHÃO. PELA CARTA DO


P. MIGUEL MELZER, DA PROFISSÃO DE FÉ VERDADEIRA

FEITA PELA MAE MORIBUNDA.

Poucos meses depois seguiu a mãe, mas o filho não foi

informado da conversão dela senão no Maranhão, em 1754,

duas cartas eu mesmo li e vou relatar a seguir,


por que que
se não literalmente não tenho a memória tão fiel),
(pois pelo
menos de modo substancial no diz respeito ao nosso
que pre-
sente assunto. A foi escrita P. Miguel Melzer,
primeira pelo
cuja mãe é casada com Ladislau e a irmã com Antonio Fáy,

irmãos de David.

Se bem me lembro, foi a êle os filhos de D. Ca-


próprio que

tarina Borsi chamaram a assistir a mãe moribunda, em com-

do de teologia P. Biró, cumpria


panhia professor Jorge que
então o seu terceiro ano de magistério em Cassóvia, onde eu

naquele tempo estudava filosofia.


"Reverendo
P. David em Cristo !

Não muito tempo após a de vossa reverendíssima.


partida
a senhora vossa mãe adoeceu; talvez fôsse a velhice,
própria
talvez a dor da de seu David, ou outra razão,
perda qualquer

a acometera; em todo caso, temia-se ,a doença fôsse


que que

mortal, antes mesmo viesse a sê-lo. Logo acudiu o se-


que
nhor Ladislau, nosso acólito, e não mais se afastou da cabe-

ceira da doente, receando com tôda a razão em sua au-


que,
sência, não houvesse ninguém apartar os cunhados heré-
para

ticos e os ministrinhos de Calvino a doente


principalmente que
de certo chamaria. Graças à autoridade a to-
que possue junto
dos, conseguiu conjurar ambos os Além disso, chamou
perigos.

em tempo, de Cassóvia, o deão P. Biró,


Jorge professor pri-
— 213 —

mário de teologia, sugerisse à enferma o Deus


para que que
lhe inspirasse. Nada foi omitido. Êle mesmo, com os irmãos,

as irmãs e os católicos, rodeou a cama da doente, a


parentes

orém, não estava ainda a morrer, como Todos


qual, parecia.

lhe imploraram acreditasse ser a fé romana, na o


que qual

marido morrera e os filhos viviam, o caminho indubitável da

salvação, não existindo nenhum outro. Ela, todavia, em certos

instantes de enfraquecimento nada respondeu a isto; depois,

com firmeza, mandou sair a todos, exceto minha mãe, o senhor

Ladislau e, motivos de cortesia, o hóspede. Êste,


por padre

a coisa devia ser confiada somente a Deus,


pensando que

exortou a todos de casa a continuamente rezassem, o


que que
fizeram vários dias, sucedendo-se uns aos outros no sacelo
por

do castelo. Entretanto, o P. continuou a desempenhar


Jorge

o seu à cabeceira do leito. A um dado momento, enlan-


papel

a doente no sono: então o co-


guescida, pareceu pegar padre
locou baixo do travesseiro, à revelia da senhora, uma ima-
por

da Beata Virgem Maria; convoca a família e manda-a


gem
rezar e confiar no da magna da Hungria.
patrocínio padroeira

(1) A enferma dormiu muito suavemente; despertou depois de

uma hora ou mais e :


perguntou


Que foi colocastes sob a minha cabeça ? Sinto-me
que
tão leve, tão livre de moléstia !
qualquer

Aproveitando a ocasião, respondeu êle :


—¦ Fui eu' à revelia de vossa senhoria, lhe coloquei
que,
sob a cabeça uma imagem da Deípara, salvação dos enfermos.

De maneira, vossa senhoria acredita ela é a ver-


qualquer que
dadeira mãe de Deus? De certo vossa senhoria começa a

experimentar o ela a seu Filho Divino, etc.
que pode junto
Assim a exortou o obsecraram-na os filhos e os
padre;

parentes católicos; ela a imagem, tomou-a nas mãos, co-


pediu
meçou a venerá-la e a beijá-la.

Para continuar ? enquanto o tirou


quê padre, que pro-
veito de todas as circunstâncias, lhe estava sempre ao lado, ela

primeiro confessou espontaneamente, diante da imagem da

Virgem si só extingue tôdas as heresias, detestava


que por que
o seu êrro, e depois, mandou sair todos afora o
pediu perdão;
único hóspede. Quem relatar a alegria de todos
padre poderia
os filhos e filhas ao ouvir esta ordem ? Obedeceram logo. Então

"magna
(1) A padroeira da Hungria" c a Virgem Maria.
— 214 —

um dia inteiro tratou, com o confessor, da da


profissão pública

fé, do recebimento dos sacramentos segundo o rito católico,


*
numa unicamente de sua salvação. Mas como as
palavra,

forças da doente nada de seguro, o em


prometessem padre,

vista da boa vontade dela, começou a exortá-la à confissão

auricular e animá-la a renegar a heresia enquanto estivesse

oom os sentidos sãos. Destarte não se dizer depois,


poderia

como às vêzes acontece, a agonia a fizera delirar e não


que

soubera o fazia. Obedeceu em tudo, e com a ajuda do


que

fez resenha das culpas de tôda a vida como


padre penitente.

Absolvida, desejou viesse a família tôda e outras teste-


que

munhas da sua sincera confissão, até mesmo os cunhados he-

réticos. vendo de se tratava, desapare-


(Êstes, porém, que

ceram sem demora.) Proclamou a todos os ter con-


presentes

cebido a intenção de abraçar a fé romana não apenas então,

mas havia um ano (isto é, vossa reverendíssima


quase quando

chegou ao termo da sua viagem) . Diferira a realização de tal

intento, do que estava sinceramente arrependida; mas, afinai,

confessava-o morrer no seio da única


publicamente, querendo

religião salvadora. Logo depois, recitou a fórmula tridentina

e embora tivesse a voz enfraquecida, dili-


predita pelo padre,

todos a distintamente. Depois, foi-


genciou que percebessem
-lhe dado tempo escrever seu testamento e
para preparar-se

a tomar no dia seguinte, e última vez, o Santís-


pela primeira

simo Corpo do Senhor.

Daqui diante, não tenho lembrança certa; parece-me,


por

todavia, o contou haver ela morrido antes do al-


que padre

vorecer, e não tomar o viático senão por


portanto podendo

ardentíssimo desejo.'

XIII. RECEBE O P. DAVID, NO MARANHÃO. OUTRA CARTA, ES-


CRITA PELO PADRE TIBORTZ SÔBRE O MESMO ASSUNTO.

A outra carta, escrita P. Tibortz, outrora colega do


pelo

P. David no magistério, era deste teor :


"Reverendo
em Cristo 1
padre

Fui informado, outros mensageiros, da conversão


já por

de vossa mãe e do seu óbito católico, como também da morte

de Gabriel, irmão de V. Revma., criado durante cinco anos

no Colégio Teresiano, em Viena, com esperanças do


grandes

Reino, infelizmente demais cedo cortadas, e foi cha-


por que

mado há de Ágria, do estudo do direito pátrio que


pouco (1)

"Agria".
(1) Em húngaro: Eger.

r
ali começara, ao consórcio dos anjos, seus costumes sempre
que

lembravam. Não avivar com mais a vossa


quero, pois, palavras

dor, mas vou comunicar-vos algo há-de aliviá-la muitís-


que

simo, e até na Hungria sabem. Quero


que poucas pessoas

dizer a adesão da senhora tão defunta


que piedosamente

acs católicos não data apenas das vésperas de sua morte.

Naquela altura, ela apenas repetiu o muito


publicamente que

tempo antes fizera, sendo eu testemunha única. Vossa reve-

rendíssima saiu de entre nós no mês de maio do ano 1752.

Pelo fim deste ano, mandado à Transilvânia ali ensinar


para

a filosofia moral em Claudiópolis, (1) embora não me fôsse

atravessar a terra natal de V. R., fi-lo cortesia,


preciso por

também cumprimentar a senhora e consolá-la na sua


querendo

tristeza causada de um filho e o óbito


pela partida prematuro

de outro. Recebido, como sempre todos os nossos, com huma-

nidade, fui mais feliz os a senhora


que precedentes, porque

não semente ouviu sem constrangimento uma alusão minha a

coisas da única fé verdadeira, como também continuou, ela

mesma, a falar de tais coisas. Fiz o me de minha


que pareceu

obrigação; e tão desagradei, fiquei retido mais dois


pouco que

dias como hóspede, aliás com meu. Deu-me


grande prazer

a senhora abundantíssima recompensa, confiando aos meus ou-

vidos uma confissão de toda a sua vida e a súa firme


geral

decisão de a fé (que ocultamente a


professar já professava

mim, no sacro tribunal, sem outra testem unha)


publicamente

e em de todos. Acrescentou ainda enquanto


presença que por

não convinha fazer tal motivos nada


profissão por justos (em

fúteis). Entretanto, segredo, causa dos seus,


pedia-me por

eram e entre os em tõda a linhagem, não


que poderosos, quais,

havia um católico sequer, etc."

Nestas duas cartas bastante, eu, o


patenteia-se penso

fruto com o P. David, de memória, foi servir às Mis-


que pia

sões Indicas. Suponho os seus nove anos de exílio e a


que
sua morte diante do Senhor trouxeram igualmente
preciosa já
a luz da verdade a algum tio ou outro seu; tanto mais
parente
conseguirão agora no céu, onde êie está cercado da Iáurea do

martírio. Porque duvidaríamos disto? A Igreja Católica a



outorgou até a alguns voltando do exílio, faleceram em
que,

na sua cama, foi o caso de Santo Eusébio de Ver-


paz que

cella e de São Félix, de Nola, na de


presbítero
^antevéspera

"Claudiópolis'.
(1) Em húngaro: Kolozsvár.
cujo dia o P. David expirou; negaríamos, então, tal
porque
coroa àquele tão duro exílio e morreu no cár-
que padeceu,
cere, tudo isto uma causa indubitavelmente é das re~
por que

queridas martírio ? Confesso ter-me ocorrido não fazer


pelo

nenhum sufrágio tal defunto, acredito, se tanto


por que para
bastasse a minha autoridade só, ter morrido como mártir; antes

ia os seus Sufrágios a Deus, a cuja devia


pedir junto presença
conduzí-lo seu santo libertador, Aluísio, logo após a morte,

poupando-lhe demora nas chamas expiatórias,


qualquer graça
esta resgatada aquele ano lhe acrescentara a vida,
por (1) que
e tôda esta, na cama da doença, daí sair
por passada para
apurado como o ouro da fornalha. Aqui vem-me vontade de

fim ao trabalho, nada mais me fôra Começa


por pois pedido.
a tomar-me o cansaço e a minha mão fatigada recusa o ser-

viço. Contarei, brevemente o ainda me sobra.


porém, que

XIV. AS OBRAS DE CARIDADE PRESTADAS PELO P. DAVID, DU-


RANTE A VIAGEM PARA GÊNOVA, A UM COMPANHEIRO
DOENTE.

A viagem através da Estíria, Carniola, Dalmácia, Ve -

nezas e Insubria, até Gênova, favoreceu admiràvelmente o

David, embora tivesse de recear o sol da canícula e a


padre

água, bebida saiubre sobretudo na Itália desde a


pouco (pois

meninice nunca bebera vinho e só começou a tomar um


pouco
em Lisboa, atendendo ao conselho de merecidamen-
padres que
te venerava). A viagem, correu-lhe bem, e não somente
pois,

no diz respeito à saúde, visto lhe ofereceu muitas oca-


que que

siões de se vencer heroicamente e de exercer a sua caridade

com um sócio doente, o P. Henrique Hoffmayer. Todas


para

estas ocasiões, aproveitou-as ele com avidez, deixando-me

apenas uma Nas hospedadas, noites


pequena parte. passava
em claro à cabeceira do enfermo, arrumava-lhe a cama com

solicitude; causa de calores às vêzes intoleráveis,


quando, por

era continuar a viagem durante a noite e repousar du-


preciso

rante o dia, o P. David considerou a de seu repouso


perda
uma vantagem extraordinária, o tempo a
quando podia passar
êle destinado à cabeceira do P. Henrique, a caçar moscas (uma

verdadeira no trecho da Lombardia) .


praga, principalmente

Nunca se lhe ouviu uma nunca foi visto impaciente, a


queixa,
não ser advertido mim com insistência afim de
quando por

ser menos da saúde, ou impaciente-


pródigo própria quando

(1) Cf. o capítulo XXXXÍX.


— 217 —

mente repelido P. Henrique, não vê-lo


pelo próprio que queria

baixar-se até a imundície no exercício dos deveres da caridade.

XV. O P. DAVID, ANTES DE COMEÇAR A VIAGEM MARÍTIMA,

CONSAGRA OITO DIAS DE EXERCÍCIOS AO NOSSO SANTO

PADROEIRO.

Apenas chegou a Gênova, P. David cumpriu com


grande

fervor os exercícios de oito dias ao nosso santa


padroeiro, que

não fazer antes do comêço da viagem e eu e


pudéramos que

o P. Henrique adiamos até nossa chegada a Lisboa. Fê-los

com edificação dos da Casa Professa, os em vão


padres quais

dissuadí-lo alegando os calores veementíssimos da-


procuraram
mês em meados de agosto). Replicou-lhes
quele (estava-se já

não confiar-se ao mar sem ter cumprido essa sua


que queria

ascese anual, e desejava rezar um mais, antes de chegar


pouco

o tempo em nada fazer causa dos incômodos


que poderia por

do mar e do fastio do estômago. Teria sido um ver-


próprio

dadeiro se não também oração ótima e su-


profeta, julgasse

ficiente o seu esforço de a com


para perfeição paciência

suportaria, logo depois, os achaques do corpo. Durante os


que

doze dias de viagem (feliz no tocante à brevidade, mas


peri-

causa do número de tempestades de Gênova


gosa por grande

a Lisboa, entre 15 e 28 de outubro) ficou ao leito,


pregado

mas não sentia senão uma coisa, isto é, não ne-


poder prestar

nhum serviço a dos companheiros.


qualquer

XVI. O P. DAVID, TENDO PASSADO SETE MESES EM LISBOA,

VÊ-SE PÔSTO À TESTA DA NAU DA REAL MISSÃO.

Nada lembro a respeito dos sete meses no


que passamos

Colégio de Santo Antônio, o Grande. Com o P. David resi-

diam alguns dos nossos ali moram. O P. Francisco de


que

Cordes o teve companheiro cotidiano de seus pas-


por quase

seios e dar amplo testemunho de suas múltiplas virtudes.


pode

Nem é eu recorde a nossa navegação até o Mara-


preciso que

nhão. Vimos com nossos olhos, e todos observamos, a ex-

trema amabilidade do superior com o P. David. Posso


para

invocar as testemunhas mais dignas de confiança, como os

Martim Schwartz e Anselmo Eckart e todos os no-


padres

viços, aos ainda inflama, após tantos anos, a lembrança


quais

de sua virtude. Daqueles estudantes, em número de onze,


po-

deria dizer-se com Nenhum deles se


grande prazer: perdeu:

na atual tempestade, todos tiveram somenos


generosamente por

o exílio a sua vocação.


que
— 218 —

XVII. O P. DAVID, CHEGADO AO MARANHÃO, MOSTRA-SE OPE-

RÁRIO ZELOSO DA CASA DE TAPUITAPERA, DESTINADA

A FUTURO COLÉGIO.

Chegamos ao Maranhão em 16 de de 1753. Logo


julho

depois da festa de nosso santo (1) fomos mandados


padroeiro

em convalescença e férias; o P. David, ao contrário, apenas

decorridos oito dias de repouso seguiu Tapuitapera, a


para

exercer os trabalhos dos operários da Companhia.


próprios

Embora ficasse apenas três meses naquela casa, deixou em

todos uma lembraça bendita e duradoura, e nenhum outro

nome senão os de Santinho e Santo de Deus. Mereceu-os

seu trabalho assíduo no Sacro Tribunal, e


principalmente pelo

modo suave com tratava os e lhe atraiu


pelo que penitentes, que

toda aquela cidade (atualmente tão a


grande quanto própria

cidade do Maranhão) . Como ainda não tivesse da


prática

lusitana, falou vez aos confrades de


prègação pela primeira

sodalício das almas do na igreja no dia


purgatório, paroquial,

de todos os fiéis defuntos. A curiosidade encheu de ouvintes

o templo, embora muito amplo, até o vestíbulo; os ouvintes,

sentiam encher-se a alma duma admiração ainda maior


porém,

ao orador, fervente oração em das almas


que pronunciou prol

livrar das chamas do Eu mesmo ouvi lembrar


por purgatório.

e exaltar com merecidos louvores êste zêlo até


por pessoas que

uma só vez o tinham ouvido do voltei a morar


púlpito, quando

na mesma casa, então em transformada em colégio.


já parte

Uma vez empreendeu uma navegação de dois dias até a um

daquela casa, chamado Pivicuma, afim de um


prédio preparar

tapuia doente o caminho da eternidade. Como nada


para quase
entendesse ainda da língua brasílica, durante a viagem
própria

a estudá-la, com zêlo apostólico, meio de certas


pôs-se por

anotações manuscritas feitas estudo daquele idioma e dum


pelo

catecismo impresso, e tirou todo o bastante


proveito para que

o moribundo sair desta vida cheio de consolação.


pudesse

De nenhum modo omitir o aconteceu ao P. David


posso que

antes lhe fôsse anunciado o óbito da senhora sua mãe.


que

Certo di£ estava deitado em sua rêde (é a cama habitual dos

americanos) súbito uma agitação desta.


quando percebeu
Levanta a cabeça; olha todos os lados afim de ver se havia
para

alguém de algum modo excità-lo a


por perto que pretendesse

levantar-se; mas a-pesar-de olhar tôda tanto da rêde


por parte,

"nosso
(1) O dia de padroeiro" é 31 de julho
de fora dela, ninguém vê. Notou, o dia, e bem
quanto porém,

lhe vem à mente aquêle aviso súbito e ignoto


prestes que po-

deria ser o sinal da morte dalgum amigo ou seu.


parente

Depois de alguns meses, chegam cartas da Europa anun-

ciando-lhe a morte da mãe naquele dia). Nos Atos


(acontecida
"Asseverava
dos Apóstolos, cap. 12 ou 15, lê-se: assim
que

era. E êles diziam: deve ser o seu Anjo."

XVIII. O P. DAVID MISSIONÁRIO APOSTÓLICO NA ALDEIA DE

SÃO JOSÊ.

Transferido a aldeia à São dera o nome,


para qual José

distante três léguas do Maranhão, na de missionário,


qualidade

civilizou durante cerca de um ano e meio o lugar lhe fôra


que

destinado: e foi missionário irrepreensível sob todos os


pontos
de vista, como se deve ser entre neófitos. Eu mesmo vi com

estes olhos (numa ocasião em o visitei e com êle estive uns


que

oito dias, esperando o colégio a vinda do


que preparasse, para

visitador R. P. Francisco Toledo, o barco eu viera


que pro-

curar), vi, como digo, e fiquei espantado de ver, a afluência

ao dêle não só da ínfima dos índios e dos negros,


pé plebe
como também de muitos europeus ali vieram, em
que peregri-

nação, de várias léguas de distância; vi a igreja cheia de


povo

nos domingos e feriados, como também muitos res-


penitentes

taurados sacra comunhão. Mas o me causou a maior


pela que

admiração, e até me encheu de foi ver o P.


perplexidade,
David, livre do olhar de censor, dentro da
qualquer própria

casa, seguir o mesmo regime de vida a disciplina mais


que

severa dos colégios íostuma recomendar. Nada omitia das

orações matinais, dos exames de conciência e dos outros exer-

cícios espirituais, a tal às vêzes lhes consagrava


ponto que
horas inteiras. Ao meu é isto louvor não
parecer, pequeno:

assim, nas almas acostumadas a uma virtude sólida, mesmo

alongadas da vigilância dos superiores e do temor da


quando

correção, continua a imperar só a lei íntima da caridade.

XIX. ENQUANTO SE ACHA À TESTA DA CASA DE MARACÚ, V)

P. DAVID ESTENDE O SEU ZÊLO A TÔDA A VIZINHANÇA.

Depois foi ao coadjutor administrava os


preposto que

bens e em Maracú. Em meses recolheu


propriedades poucos

ali muitos frutos espirituais, o invoco o testemunho


para que

da me convidou a escrever um elogio do defunto, o


pessoa que

P. Romone, morava então numa aldeia cha-


José que próxima,
— 220 —

mada igualmente Maracú a cidade chamada Vila de


(hoje

Viana, deserta, tendo os índios regressado às suas matas), ou-

trora uma das missões do Maranhão. Por isso não


principais
há nada de eu deva dizer aqui a tal respeito.
particular que

Omito a estação de um ano fêz em Pindaré; não falo da


que
começada redução dos amanajoses; nada refiro da bela inicia-

tiva frustrada inferno invejoso, nem da acusação foi


pelo que
causa do exílio mais tarde lhe infligiram, nem afinal de
que

tudo o lhe aconteceu depois. Com efeito, e vossa reveren-


que

díssima e outros melhor o sabem do eu. Assim, com sua


que
vênia, retiro a mão cansada do trabalho empreendi
que por
de vossa reverendíssima força têm sobre
proposta (tamanha

mim os desejos dum tal amigo). Tratei-o, não se-


porém,
o mérito do assunto, mas conforme à estreiteza do meu
gundo

engenho. Peço como recompensa do meu trabalho uma lem-

brança nas santas a Deus.


preces
JOSEPHUS KAYLING.

Agora chega a vez de Anselmo Eckart extrair de sua

pena extremamente modesta os recentes e os antigos aconteci-

mentos. O tempo lhe manda cumprir as


próprio promessas
feitas ao P. Kayling e obedecer às ordens deste último, con-

tando em ordem cronológica os e claros feitos do P.


grandes
David até a sua morte; destarte, ao seguinte.
passo, parágrafo

XX. O P. DAVID TRABALHA ANIMOSAMENTE NA MISSÃO DE


CARARA PARA A REDUÇÃO DOS AMANAJOSES.

Tendo feito os votos solenes na igreja do Colégio


quatro
do Maranhão em 13 de abril de 1755, ligado mais estreita-

mente à Companhia, foi mandado à Missão de Carara afim

de aliviar em a,carga do P. Nepomuceno


parte João Szluha,

ali residente. É uma aldeia situada à margem do rio Pindaré,

talvez a mais importante das Missões do Maranhão, freqüen-

tada outrora uma multidão de neófitos


por grande (perten-
centes a uma nação de nome Aqui o P. David
guajararas).
encontrou vastíssimo campo difundir, o
para plenamente que
sempre almejara, o seu zelo ardente, e observar exata-
para
mente aquela do nosso santo Inácio no
palavra padroeiro ato
"Andai
de enviar ao trabalho seus sócios apostólicos: e acen-

dei tudo". Entretanto, ao fogo sagrado em ardia todo


que o

seu ser, administrava um alimento cotidiano sob a forma dos

sacros exercícios, nunca deixava de cumprir,


que procedendo
— 221 —

ao mesmo tempo a uma obra de mortificação contínua. Ao

acabar o seu exame vespertino (como soube


pessoalmente por

êle), maltratando-se a si com azorrague,


piedosamente próprio
reduzia o corpo à servidão, temendo, como o apóstolo, ficar

incluído em o número dos réprobos, enquanto aos ou-


prègava

tros a das virtudes. Desejoso de o Reino de


prática propagar
Cristo e, ao mesmo tempo, del-Rei Fidelíssimo, resolveu
pro-
curar os bárbaros, atraí-los à vida civilizada e fundar uma

nova missão. Efetivamente, não longe da Missão de Carara há

várias nações ainda na noite cega de sua êle


gentilidade, que

a de todas as suas forças, conduzir ao lume da


queria, poder

fé verdadeira. Entre elas uma se distingue, conhecida


pelo
nome antigo de amanajoses, menos áspera assim na índole

como na côr, a se com a dos europeus, superior a


qual parece
todos os índios nos distritos do Maranhão e do Pará ainda
que
vivem de maneira silvestre. Pois o zelosíssimo caçador de

almas vivamente desejava entrar em contacto com êles, e a

Deus aprouve ouvir os seus votos. Os amanajoses, convidados

a uma comparecem; fàcilmente subscrevem aos


palestra, pedi-
dos eficazes do P. David, os exorta a se deixarem intro-
que
duzir na liberdade dos filhos de Deus; nem se recusam a

prestar homenagem a sua majestade fidelíssima; apenas exce-

tuam os serviços devem ser aos lusitanos, e aos


que prestados
todos os neófitos das outras missões, dos 15 aos 40 anos
quais

de idade, estavam constrangidos. Os amanajoses en-


queriam,
tão, de uma imunidade desfrutam os índios
gozar que guaja-
um outrora lhes concedera a sereníssima
jaras, privilégio que

rainha Maria Ana, austríaca, de memória


gloriosíssima, que
naqueles anos reinava, intermédio do P. Francisco Wolff,
por
de memória, antigo missionário cararense, da de
pia província
Boêmia. Além disso, estabeleceram outras condições e
prome-
teram sair de sua terra natal se elas fossem observadas. Tô-

das estas condições, no entanto, se referiam ao era


ponto que
o principal das negociações, isto é, a isenção dos serviços. O

escuta as condições amanajoses; nada


padre propostas pelos
com êles, como depois alguns homens mal inten-
porém pactua

cionados o fizeram acreditar ao Entretanto não


povo. poupa
nem esforços nem livrar do cativeiro do demônio
gastos para

tantas almas, resgatadas com o sacrifício do sangue Divino.

se lugar a construção da nova aldeia; se


Já procura para já

um campo espaçoso; se semeiam as


prepara já plantas que

deviam dar farinha brasileira durante um ano aos neófítos;


— 222 —

se constrói uma casa. Assim uma bastante foi


já porta grande

aberta disseminar o Evangelho da leí verdadeira; mas,


para

ai! um inimigo vem fechá-la e um sufoca a boa


joio péssimo

semente.

XXI. O P. DAVID É CHAMADO OUTRA VEZ AO MARANHÃO

PARA LECIONAR TEOLOGIA AOS NOSSOS.

Acabrunhado esses trabalhos imensos, assaltou-o uma


pos

febre maligna; mas depois se lhe restabeleceu a saúde, e sarou

cumprir ainda muitas façanhas, a de Deus e


para para glória

muito então continuou a obra encetada relativa


para padecei:;

aos amanajoses levá-la a um êxito feliz. Êsses índios,


para

atraídos em afabilidade inata do P. David, em


parte pela

vários apropriados a captar os corações


parte por presentes

humanos, uns instrumentos de ferro, mais uma


principalmente

vez vieram à aldeia de Carara. A colheita madura,


já parecia

em tempo de ser submetida à foice. Mas a esperança dos

frutos úberes, tantas sementes foi en-


que prometia, primeiro

fraquecida discursos dalguns maus conselheiros, emis-


pelos

sários do diabo. Depois, em seguida ao desferido si-


golpe

multâneamente contra os coisa não


pastores (os quais, que

se referir sem lágrimas, foram forçados a abandonar a


pode

durante tantos anos lhes estivera confiada), todas


grei que

as ovelhas foram dispersadas; voltaram às suas covas na

floresta; na dos lobos. 1757 foi o ano tão


permaneceram goela

funesto causou a todas as missões da vice-província do


(que

Maranhão estragos mui difícil será reparar) em o


que que

P. David foi nomeado a cadeira de teologia, afim de


para

ensinar os nossos, discípulos ouviam embasbacados um


que

mestre tão
perspicaz.

XXII. O P. DAVID CONSTRANGIDO AO EXÍLIO PELO GOVERNA-

DOR DO PARÁ.

desde certo tempo o eminente de teologia


Já professor

desempenhava as funções lhe foram confiadas, com grande


que

tanto seu como da companhia; eis senão vem


proveito, quando

uma carta, escrita ordem de Francisco Xavier de Men-


por

donça Furtado, do Pará, ordenando o extermínio


governador

do P. David. Após a expulsão de três sócios, em 1755,


já por

obra da corte de Lisboa, e de dois outros no ano seguinte, o

mesmo supremo das do Maranhão e do


pretor prefeituras
— 223 —

Pará obtivera del-rei faculdade ampla exterminar todos


para

os religiosos dignos de exílio. Todos os confra-


que julgasse

des se espantaram com o exílio imposto ao P. David, e mais

ainda com a causa deste exílio. Quando o R. P. Francisco

de Toledo, visitador e vice-provincial. voltou do Pará ao Ma-

ranhão, a viagem da Missão de Caeté ao


já preparado para

Pará, li um bilhete mandado ao P. visitador,


pelo governador

no se bem me lembro, se fazia esta ao P. David:


qual, pergunta
"Com
autoridade aceitara êle os amanajoses em condições
que

tão iníquas e a coroa lusitana?" Em resposta,


perigosas para

o P. David redigiu uma carta ao P. Bento da Fonseca,


pro-

curador-geral da vice-província do Maranhão, em Lisboa,

em expôs fiel e brilhantemente tudo o acontecera no


que que

tocante à referida tentativa de redução de bárbaros, afim de

o P. Benedito explicasse a sua majestade fidelíssima as


que

condições aquela nação e ao mesmo tempo os


propostas por

decretos reais, sob o regime de Pedro II, de fe~


publicados

licíssima memória, num livro intitulado Regimento das Mis-

sões. Nessa obra está explicado de maneira eloqüente


que

os missionários devem ouvir e aceitar os índios em


quaisquer

condições, contanto sair das florestas e abraçar


que queiram

a santa lei de Nosso Senhor Cristo. Uma cópia desta


Jesús

carta, não sei via, foi dar às mãos do


por que governador.

Pois isto era um crime novo, até ali inaudito, um delito tão

só se castigar com o exílio: isto é, o


grande que podia que

P. David ouvira os e as condições dos amanajoses; que


pactos
os comunicara ao P. da Fonseca, etc. O dêste mundo
galardão

consiste em transformar em veneno, obra de aranhas, o


por

suco espremido das flores, de onde as abelhas tiram seu mel;

com vitupério, em vez de louvores merecidos; com-


pagar

os benefícios más ações. Então o P. David


pensar por podia
"Impugnado
dizer: sem crime (para citar as de Santo
palavras

Ambrósio sobre o Psalmo 118), impugnado como nocivo, em-

bora em tal ação eu merecesse louvores."

XXIII. EXILADO. O P. DAVID VÊ-SE DEPORTADO PARA LISBOA

COM QUATRO COMPANHEIROS EXILADOS.

Veio afinal o dia de 28 de novembro, em foi mandado


que

embarcar num navio mercante com outros sócios, igual-


quatro

mente relegados isto é, os Toledo,


pelo governador, padres

vice-provincial e visitador, da Rocha, reitor do Colégio


José

do Maranhão, Luiz de Oliveira, ültimamente das


procurador
— 224 —

missões e Antonio Moreira, morto em maio de 1760


paraenses,

na cidade e fortaleza de Almeida, vítima dos sofrimentos do

ergástulo, sem a consolação de qualquer companheiro de ca-

tiveiro. Êsses cinco exilados ser merecidamente incluí-


podem
dos em o número daqueles afortunados dos outrora disse
quais
"Bem-aventurados
o nosso Salvador: sereis, vos inju-
quando

riarem, e vos e disserem todo o mal contra vós,


perseguirem,

mentindo, meu respeito. E vos separarem, e expro-


por quando

brarem, e rejeitarem o vosso nome, como um mal." O P. David,

durante aquela viagem, além dos incômodos comuns a todos

os navegantes, os com muito ânimo, sempre


padeceu próprios

obrigado a estar de cama em razão da extrema fraqueza do

corpo. Antes aparecessem as ilhas submetidas ao domínio


que
lusitano, a nau trouxera os do Maranhão
que padres juntou-se

ao nosso navio de (que do Pará acompanhado


guerra partira

de outros navios, ditos mercantes) com outra embarcação,


que
a seguia. Ali vim a saber o P. David estava ao
que pregado
•leito,
acometido sua enfermidade, e encontrei ocasião fa-
pela
vorável de o consolar, meio de uma carta.
por

XXIV. DESEMBARCADO. O P. DAVID PARTE PARA O EXÍLIO

COM QUATRO SÓCIOS DO MARAHNÃO E DEZ DO PARÁ.

Decorridos dois meses e meio de luta com as ondas


peri-

do mar, chegou ao Tejo em 12 de fevereiro de 1758.


gosas

Depois de uma demora de dias, após o almoço


quase quatro

foi transportado à onde diversos carros esperavam os


praia, já
exilados. Subiam dois a dois a cada carro. Na mesma tarde,

expulsos da cidade, em Sacavém, cidade da Ex-


pernoitamos
tremadura lusitana. Tive companheiro de carro o P. David
por
num caminho bastante difícil, tendo o cocheiro deixado virar

o carro duas ou três vezes. Além de suas devoções habituais,

não eram o P. David venerava de um culto


que poucas, par-
ticular ao divino Nepomuceno, de bom nome da
João patrono

Companhia de Durante aquela viagem êsse culto au-


Jesús.
mentou ainda, num libelo satírico, intitulado Relação
quando

abreviada, leu era acusado não dum delito mas


que qualquer,

dum crime sobremodo atroz, o de lesa-majestade. O


gover-

nador do Pará mandara imprimir naquela infame sátira um

trecho da carta escrita P. David ao P, Fonseca sobre a


pelo
tentativa de redução dos amanajoses, carta havia inter-
que

ceptado. Tivera obrado muito melhor se divulgasse a carta na

íntegra, o sentido dela é completamente diferente. Mas


pois
— 225 —

é um costume daqueles utilizar declarações


pseudo-políticos

mutiladas contra caluniar, induzindo em êrro,


quem querem

assim, leitor ignorante, ou, pelo menos, tornando-o


çio perplexo

e menos benévolo com aqueles são caluniados. Foi


para que

destinado o P. David, de à residência chamada Pe-


primeiro,

droso, subordinado ao Colégio de Coimbra; mas enquanto

descansávamos na cidade de Leiria, veio uma carta do R.

P. Henrique, de Portugal, a determi-


João provincial qual

nava, além de outras modificações, o P. David rumasse em


que

direitura à residência de Roriz, situada entre Porto e Braga.

XXV. O P. DAVID É TRANSPORTADO A RESIDÊNCIA DE RORIZ,


LUGAR DE SEU EXÍLIO.

No mês de março do ano supradito chegou ao lugar


que

lhe a obediência, isto é, à residencia de Roriz,


prescrevera per-

tencente ao Colégio de Braga, com seu sócio o P. Luiz Ál-

vares, antrando no caminho da eternidade em 16 de no-


que,

vembro de 1765, tem igualmente terminada a sua carreira.


É admirável cedo começaram a estimar ali o P. David


quão

tantos até então não o conheciam, e como outros sócios,


que

aquela residência, atraídos seus costumes


passando por pelos

suaves, em outros lugares a sua fama.


propalaram preclara

Embora ali de repouso absoluto, não


pudesse gozar pois
exercia nenhum ofício da Companhia, não descansava de todo.

Pelo contrário, empreendeu um trabalho dificílimo, honra


para
da nossa ordem, a reconquista do bom nome de
para que qual-
religioso deve sobremodo cuidar, e apagamento da
quer para

mancha com os caluniadores sujaram os


que principalmente
da América. Com efeito, escreveu em idioma latino
jesuítas

uma obra insigne, digna do autor, merecedora de


plenamente

e apropriada a tapar a bôca, afinal, aos calunia-


publicação

dores e aos mentirosos. Nem mesmo naquela solidão lhe es-

oferecer-se às nossas autoridades servir à Com-


queceu para

em região do mundo, onde se es-


panhia qualquer pudesse
da sua atividade maior Deus. A êsse
perar proveito para
respeito me escreveu uma carta, a mim então vivia exi-
que
lado na residência de São Félix, vulgo São Fino, da
perto
Galícia. Nessa carta, cheia de espírito apostólico, me fêz cia-

ramente entender não somente o seu zêlo não se apagara,


que
senão também estava a irromper em chamas, tanto
que prestes
fôsse Acrescentou mesmo se a corte lhe
que possível. que,
concedesse licença sair da Lusitânia, de nenhum modo
para

120.929 F. 15
— 226 —

voltar aos ares mas desejava ardentemente


queria pátrios,

ser mandado às missões espanholas. Evidentemente não


que-

ria, uma vez as mãos ao arado, olhar trás. Prefe-


postas para

ria tornar-se o mais apto ao Reino de Deus, sofre


possível que

a força e os violentos arrebatam.


que

XXVI. COM APARATO MILITAR VÊ-SE O P. DAVID CONDUZIDO

AO COLÉGIO DO PÔRTO E SEPARADO DE TODOS OS

COMPANHEIROS.

Durante a noite de 15 16 de fevereiro de 1759


para

a todos os domicílios da lusitana, de tal


(fatal quase província

maneira a sua memória nunca se há-de apagar) é a resi-


que

dência rodeada de soldados, e no dia seguinte um funcionário

real, ordem da administração do Pôrto, faz sair todos os


por

com tanta rapidez o P. David é constrangido a


padres, que

abandonar não somente todos os seus bens, como


pequenos

igualmente o breviário e o rosário, às mãos dos


próprio per-

turbadores. Apenas entrou no colégio, logo foi encerrado num

com dois soldados a a Ali


quarto, guardar porta. permaneceu

até 12 de março, recebeu ordem de se transferir a uma


quando

das classes. Para esta lembrasse o aspecto mais triste de


que

uma obscura, fecharam-lhe tôdas as apenas


prisão janelas,

deixando uma abertura uma luz


pequena pela qual penetrava

fraca. Ali ficou sozinho; mas, em vez de se afligir, alegrou-se

à idéia de fôra considerado digno de sofrer, pela


que glória

de Deus, o desprezo, a ignomínia, a de tudo o tinha


perda que

e, demais, a sujidade do cárcere. Mesmo naquele cativeiro

encontrou, seu discurso agradável, favor da de to-


pelo parte

dos, de um dos o vinha visitá-lo.


principalmente guardas, qual

cada vez estava de atalaia; assistia-lhe ao almoço e


que jantar:

consolava-o; contava-lhe várias coisas; e até fêz esforços junto

à corte de Lisboa ver se conseguia devolver o P. David


para

à antiga liberdade. Êste último abrandou o fastio do ergástulo

-
meio de orações contínuas e de leitura, sobretudo cia his
por

tória da Companhia escrita P. lendo-a, compa-


pelo Juvêncio;

rava as suas tribulações, das se com o apóstolo,


quais gloriava

com aquelas outrora tanto mártires da Inglaterra


que gloriosos

detidos nas cavernas subterrâneas de Londres.


padeceram,

Como aquela escola olhasse a um nossò templo, era-lhe de

consolo ouvir tocar órgão ou cantar missa. No


grande pe~

ríodo da Páscoa obteve o favor de assistir ao ofício


particular
227

sacrossanto numa das classes algum carmelita,


(celebrado por

chamado da cidade, assim ficasse impossível todo e


para que

comércio com os nossos moravam no colégio).


qualquer que

Assistiram apenas três outros da vice-província do


padres

Maranhão, igualmente cativos, chegou o momento de


quando

tomar o angélico.
pão

XXVII. NO CÁRCERE DO COLÉGIO DO PÔRTO, O P. DAVID ES-

PONTÂNEAMENTE SE INFLIGE NOVOS CASTIGOS.

Não se contentando com as lúgubres trevas do ergástulo

e a sujidade molesta este trazia consigo, macerou de novos


que

tormentos um corpo bastante extenuado, mortificando-se


com cilício e açoite. Foram tão veementes os


piedosamente

os soldados estavam de diante da


golpes, que que guarda
"Ai
se encheram de admiração, exclamando: de nós!
porta

Que não faz este conseguir a salvação


padre penitente para

eterna !" Com efeito, o reino dos céus sofre a fôrça e os vio-

lentos arrebatam-no. Em verdade, o nosso inocente cativo


po-
"Assim
deria dizer com o apóstolo das luto
grande gentes:

eu, não fustigando apenas o ar, mas castigando o meu corpo e

reduzindo-o à servidão." Continuou êste severo modo de viver

durante oito meses, isto é, de 12 de março a 11 de novembro,

constrangido a deixar aquele cárcere, foi deportado


quando,

outro.
para

XXVIII. O P. DAVID É CONDUZIDO DO CÁRCERE DO PÔRTO

PARA O DE ALMEIDA.

Teve onze companheiros em tal viagem, seis


provindos

do Colégio do Pôrto, e cinco da de Braga, che-


prisão que

à cidade supradita em 8 de novembro. Era um do-


garam

mingo. Chegamos ao da cidade ali forma o rio


pôrto que

Douro (nascido nos confins da Arragônia e desemboca


que

no mar Atlântico dum castelo vizinho, São de Foz)*


perto João

de manhã, com o céu chuvoso como se chorasse nosso novo


por

cativeiro, e com soldados cercando de todos os lados a liteira

em viajávamos. Ali o rio, embora não-muito largo, é ex-


que

tremamente rápido: na véspera, 18 deviam cruza-


pessoas que
-lo num naufrágio mui triste. O P. David através-
pereceram

sou o Douro aos onze cativos com mais sorte, reservado


junto
1 — —
228

suportar ainda mais Deus. Os cativos, conduzidos à


para por

margem do rio soldados^ de infantaria, eram esperados


por já

cavaleiros de armadura ligeira, vulgo dragões. A dispo-


por

sição daquela fúnebre era a seguinte: o cavaleiro


procissão que

os outros, levava o cetro da seguiam-no sol-


precedia justiça;

dados, atrás dos nós avançávamos entre èspadas desem-


quais

bainhadas; fechava o desfile o funcionário real, único trans-

num carro. Todos os dias ressoava o toque de trom-


portado

beta?» Efetivamente, costumava-se dar meio de trombeta o


por

sinal continuar a viagem, e êsse sinal reünia tôda


para por

multidões de a ver um tão insólito de espe-


parte povo gênero

táculo. No dia oitavo daquela almoçamos


peregrinação juntos

última vez na cidade de Pinhel, da de Trás-os-


pela província
-Montes. Nesse dia celebra-se a festa da consagração da Ba-

sílica dos Santíssimos Apóstolos Pedro e Paulo. Por isso o

P. David, enquanto na cidade de Pinhel recitava as horas ca-

nônicas, aplicou oportunamente a si e a seus sócios estas


pa-

lavras do hino Coelestis urbs : aos
Jerusalém graças golpes

do escopro salubre e a muitíssimas as rochas,


pancadas que

martelo do artífice, constroem este edifício."


polidas pelo

XXIX. NO NOVO ERGASTULO; O P. DAVID EXPERIMENTA ESTAS


"MUITÍSSIMAS
PANCADAS" LOGO NA PRIMEIRA NOITE.

Apenas introduzido no cárcere, fecham-se de novo as

Esperam-no três soldados, com o maior rigor es-


portas. que

tudo o trouxera. Confiscam todo o dinheiro,


quadrinham que

todo o ferro, o em houvesse algo de


principalmente papel que

escrito, e tinteiros. Aquêles esfomeados não se atêm a


penas

todos os apetrechos de viagem. Era despir o


pesquisar preciso

cíngulo da veste religiosa. Examinam-se as bolsas do manto e

das calças. O relicário dependurado ao tinha


pescoço, que

reflexo de é roubado. Quê! Um dos carcereiros


prata, que

se chamam segundos, despojando-se de todo o pudor, pai-

o corpo nu, manuseia-o, a ver se encontra


pa-lhe pesquisa-o

ouro ou escondida sob a Afinal, soldados


prata pele. quatro

esperavam às reviram os leitos


que junto portas já preparados

um colchão de coberto de um só lençol),


(formados por palha,

lançam-nos diversas deixam-nos depois


para partes, juntos

num montão. Mas é esta a vossa hora, assim outrora falou

Cristo aos vieram a e o das trevas.


que prendê-lo, poder
229

XXX. O P. DAVID SOFRE MUITO POR CAUSA DA ASPERHZA F

INCLEMÊNCIA DO LUGAR.

Agora direi algo a respeito do cárcere de Almeida. O

edifício era um cujo andar inferior conduzia aos cár-


quartel

ceres destinados aos Havia ali, 21 cubículos


jesuítas. para

outros tantos cada um fechado três A


padres, por portas. pri-

meira era a antiga do cubículo militar, cuja su-


porta parte
tinha um buraco de uma se
perior provido portinhola que

abrir e fechar à semelhança de uma mas


podia janelinha, que.

maior segurança, estava munida de dois vínculos de ferro,


por

aproximadamente de dedos de largura. A esta


quatro parte

velha acrescentava-se outra fora, feita de de ma-


por grades

deira. Além disso, afim de impedir vista da


qualquer praça,
levantou-se um muro de tal comprimento abrangia todas
que
aquelas Em cima deste muro colocaram uma espécie
prisões.
de caniço, maior ornamento, mas também diminuir
para para

a luz; com efeito, a claridade chegava aos através


presos

desses caniços dispostos em forma de arco. Na cerca de


pedra,

ou seja, no muro, deixaram espaço 21 Cada uma


para portas.

olhava as duas entradas de um cárcete; mas um


para para que

cativo não falar com outro, separaram cada cubículo


pudesse

do vizinho meio de de cimento ligadas ao muro


por paredes

longitudinal. Cada vez se abriam as lá estavam


que portas,
três soldados, cada um levando a sua caixa de 21 chaves, de

modo sempre eram necessárias 63 chaves. Além do


que pre-

sídio de noite e de dia, outras rondas


permanente, passavam

dia e noite fiscalizar os Durante a estação hi-


para guardas.

bernal a temperatura era frigidíssima. No mês de abril via-se

a torre coberta de abundante camada de neve. O


pavimento

era revestido de lajedo. Havia uma lareira, mas construída

do muro, onde os ventos, lutando entre si, uivavam fre-


perto

A levantada recentemente no ergástulo


qüentemente. parede

era tão úmida até erva brotava dela.


que

XXXI. O P. DAVID, VIVENDO UNICAMENTE PARA DEUS, OFE-

RECE ILUSTRE EXEMPLO AO PRÓXIMO.

Transformando, como o rei e mártir São Hermenegildo, o

seu cárcere em ascetério, além da mortificação cotidiana, não

deixou o seu espírito descansar da oração. À oração sucedia

a leitura, à leitura a oração. Enquanto o meu cárcere era vi-

zinho do seu, vêzes não me ressoaram aos ouvidos,


quantas

dia e noite, as como também os suspiros levanta-


jaculatórias
— 230 —

dos ao céu essa retida nos buracos daquela


por pomba pedra,

daquela caverna ! Um dos traziam a comida


guardas que (era

um entrando um dia no cárcere, estas


galego), pronunciou
"É "Gabo
terrível êste lugar!" Outra vez disse:
palavras:

a aqui tendes." Sem dúvida, a muda


paciência que paciência

é o testemunho mais eloqüente da verdadeira virtude em meio

à adversidade, em face de Deus e dos homens.

XXXII. O P. DAVID, EMBORA POBRE, EXERCE AS OBRAS CHA-

MADAS CORPORAIS DA MISERICÓRDIA.

Durante os dois anos em Almeida, acon-


que passamos

teceu recebemos ambos uma vez, reciprocamente, a confis-


que

são do outro. Esta indulgência, não fôra consentida


porém,

como consolação mútua dos aflitos, mas comodi-


padres por

dade dos carcereiros, não tivessem de es-


próprios para que

demais. Pois naquela ocasião o P. David foi no


perar pôsto

meu cárcere : e veio a saber, mim, faltava


quando por que

do meu lençol, ofereceu-me com a maior liberalidade


pa(rte

uma das suas camisas, me cobrir honesta-


para que pudesse

mente, cumprindo, assim, uma tradição de Tobias,


que, pôsto

em cativeiro, não abandonou o caminho da verdade, a tal

com seus irmãos igualmente cativos tudo


ponto que partilhou

o obter. Pôde êle realmente dizer com o vatc


que pudera
"Porque
hussítico (1): desde a minha meninice cresceu comigo

a minha misericórdia, e do ventre de minha mãe saiu comigo.

Quando vi um mísero, não tinha vestido e um


porque pobre

sem cobertura." (2)

XXXIII. O P. DAVID SOFRE OUTRA RIGOROSÍSSIMA PERQUISI-

ÇAO DAS RELÍQUIAS DE SUA POBREZA.

Nas calendas de dezembro de 1761, fora do tempo desti-

nado à abertura das entram com ímpeto alguns carce-


portas,

reiros e sacodem tôda a mobília; arrebatam os livros, consola-

única daquela triste solidão; deixam apenas o livro das


ção

Horas Canônicas, mas só depois de terem arrancado dele as

imagens e as de limpo, em nada estava im-


páginas papel que

No mesmo dia foram restituídos a catorze compa-


presso.

nheiros de cativeiro os seus breviários, confiscados em 19 de

outubro de modo durante dias não


precedente, que quarenta

(1) "Vate hussitico", isto ê, o profeta Job, de Huss.

(2) O período está incompleto, no original.


— 231 -

lhes foi recitar as horas canônicas. Ainda um


possível possuo

livrinho ao P. David. Foi feito a devoção


que pertenceu para

de nove semanas ou dias de São João Nepomuceno, impresso

em Viena d'Áustria na Tipografia Kalivoda: conservo-o em

lembrança de meu benfeitor.


perpétua

XXXIV. O P. DAVID É DEPORTADO PARA O PROPUGNÁCULO

DE SAO JULIAO.

Em 28 de de 1762, às sete horas da manhã, fora


janeiro

da esperança e expectativa de todos, entram dois carcereiros

e convidam o P. David a dentro de


preparar-se para partir

uma hora. Teve seis companheiros entre os nossos, cativos da

mesma Rodeados soldados dt cavalaria, montam


prisão. por

em burros de selas os dependurados,


providos péssimas, pés

sem estribos. Assim a equitação era molestíssima. Ao fim de

dia, entraram numa hospedaria de entre duas filas


província,

de soldados mantiveram o afastado dêles. No dia


que povo

seguinte chegam de Coimbra liteiras, meio de comunicação

mais cômodo: sem elas, enfraquecidos como se achavam

horríveis burros, não teriam No dia


pelos podido prosseguir.

9 de fevereiro entraram em Lisboa com uma lua esplêndida, de

modo ver tudo e ser vistos de todos. Dali conti-


que podiam

nuaram a viagem até uma fortaleza, chamada


pequena Jun-

distante uma boa hora de Lisboa; mas como nesse


queira,

lugar não cabiam mais cativos, tiveram de na


pernoitar prisão

de Belém, entre ladrões e salteadores; no dia seguinte


pública

tornaram-se moradores do forte de São


Julião.

XXXV. O P. DAVID É ENCARCERADO NUM ERGÁSTULO ES-

TREITO E TENEBROSO. »

Ao entrar da rua, descem-se vários degraus e


penetra-se

num recinto ao longo duma sala comprida e abobadada, si-

tuada em baixo dos dos soldados. Depois tôdas


quartos que

as aberturas do recinto (chamadas clarabóias, através das

entra a luz) foram tapadas, entrou cerca de meio-dia


quais

um oficial com uma lâmpadazinha acesa. Abre-se, e logo de-

se fecha, a do cárcere. Quão deforme, he-


pois porta quão

diondo, horrível o espetáculo feriu os^oíhos! Ta-


quão que

teando com as mãos, explorando o lugar onde estava, o P.

David acabou atingir a cama de madeira devia ser-


por que

vir-lhe de leito e de cadeira. Ficou sentado mais de uma


— 232 —

hora naquelas trevas, na sombra da morte. Trouxeram uma

candeia de sebo. Consumida esta, retornou a noite, inimiga

de todos. Espantaram-se até os carcereiros de Almeida


que
acompanharam o (pois imaginavam a sua li-
padre próxima
bertação e a dos companheiros) ao vê-lo atirado do
purga-
tório no inferno.

XXXVI. O P. DAVID, TRANSFERIDO DA PRIMEIRA ESPELUNCA

PARA UMA CAVERNA AMPLA, OBRA MUITO E SOFRE


AINDA MAIS.

Na noite o dia 4 de março, rebentou uma


que precedeu

tempestade muito forte e uma chuva tão copíosa


que, pelo
arco do ergástulo, isto é, uma do teto abobadado,
parte pri-

meiro caíram alguns e depois verdadeiro aguaceiro,


pingos,

molhou todos os utensílios. O nadava em


que pavimento
água. Dois companheiros vizinhos experimentaram o mesmo

dilúvio. Batem à até os do cárcere vêm


porta, que guardas
auxiliá-los. A inundação era tamanha, água abundante
que

corria em todo o recinto em redor do cárcere, e era


preciso
caminhar sobre especialmente colocadas. Eu,
pranchas que
fui vizinho do P. David tanto no cárcere de Almeida
quanto
no cfè São tornei-me aqui sócio de suas tribulações.
Julião,

As deste novo antro, acabadas alguns dias antes,


paredes
estavam ainda tão úmidas, ao tocá-las com a mão, os
que,

vestígios dos dedos ficavam visíveis. Veio também o


prefeito
do cárcere, ver êsse cataclismo deucaliõnico. Quis ele
para

que ali menos alguns dias, até as


permanecêssemos pelo que

paredes das nossas cavernas secassem; mas o ho-


primeiras

mem e Deus dispõe. Entretanto ficamos naquele


põe palácio
subterrâneo, ao se descia um^ escada de 23 degraus,
qual por

perto da noáfea Quem descrever em estilo bas-


porta. poderia
tante triste o horror, as misérias, e toda espécie de calamida-

des? Que de nosso ser não era exposta às vexações mais


parte

molestas ? Tinha-se de fazer tudo à luz trêmula duma lâm-

pada fumegante, dia e noite. A contínua dos tím-


pulsação
foi a nossa música de todos os dias, agradável.
panos pouco
O latido horrível dos cães, à noite, durava mui-
principalmente
tas horas e roubava o sono aos cativos. Nada digo a respeito

do intolerável calor de verão, contra o tivemos de lutar;


qual
nem das mordeduras dos mosquitos encheram tôda a habi-
que
tação ; nem das úmidas faziam as vezes de
pranchas que
leitos e estragaram o sono em vez de favorecê-lo. Assim,
que
todos os objetos, os feitos de lã ou de couro,
principalmente

apodreceram. Demais, durante o inverno e as chuvas,


por
causa da imensa de águas sujas desciam da
quantidade que

escada, o ficava tão emporcalhado de lôdo não


pavimento que
era caminhar de firme, ficando os sapatos
possível pé pegados
ao chão. A despeito desta inesgotável ceifa de moléstias cada

vez mais numerosas, o P. David não diminuía seu zelo, se-

as do apóstolo das e, com


guindo pègadas grande gentes,
"Tornei-me
ele, dizendo: enfermo os
pôde gloriar-se para
enfermos . . . tudo todos." Cada vez lhe era
para que pos-
sível algum serviço aos sócios e companheiros de ca-
prestar

tiveiro ou a de fora, a fa-


qualquer pessoa prontificava-se
zê-lo. Convidado um a executar-lhe al-
por porta-bandeira

figuras abraçou logo com ambas as mãos


gumas geométricas,
êste trabalho, difícil, como afirmam, e, em várias semanas de

labor, realizou a tarefa outrem, de


cumprindo assim as
pala-

vras do mantuano: abelhas, assim fazeis vosso
profeta

mel outros." Não se envergonhou de descer das artes li-


para

berais às mecânicas; até se alegrava sobremodo se conseguia

consertar camisas, lenços, fitas femorais noite. Uma ver,


pela
empreendendo em meu favor um trabalho de alfaiate, fêz uma

batina inteira segundo a usam os Admirável o ânimo


jesuítas.
e hílare com acudia aos enfermos, sempre de
pronto que joe-
lhos dobrados, como se nos doentes visse o Cristo.
próprio
Em 1766, três cativos de nacionalidade do
quando gálica
forte de São foram libertos, sentiu incrível Que
Julião prazer.
mais ? Ofereceu-se a si mesmo a Deus em sacrifício e holo-

causto, contanto sua morte impetrasse a liberdade de


que pela
todos os seus sócios sofriam durante tantos anos naquelas
que
catacumbas.

XXXVII. O P. DAVID, ACOMETIDO POR DOENÇA MORTAL, PRE-


PARA-SE PARA O FIM.

Ocupado destes obséquios cotidianos de caridade he-

róica com o e atento sem interrupção ao


para próximo, próprio
aperfeiçoamento espiritual, não semente em idade,
progredia

como também em sabedoria e diante de Deus e dos


graça
homens, avançando de virtude em virtude. Eis,
porém, que
em abril de 1764 sentiu tal enfraquecimento de suas forças,

começou logo depois a usar remédios, em


que parte pres-
critos cirurgião do castelo, em oferecidos ao en-
pelo parte
fêrmo caridade do P. Koffler, outrora
pela João proto-médico
na Cochinchina. Então se a morte, embora
preparou para

nunca se tivesse esquecido de à futura feli? saída


preparar-se

desta vida, observando até ao fim estas palavras do apóstolo:


"Morro
todos os dias." Por isso mesmo, afim de obter o úl-

timo momento duma morte feliz, do depende a eterni-


qual

dade, constantemente recita as ao eminentíssimo


preces que

cardeal João Batista Ptolomeu, da Companhia de se


Jesús,

tornaram familiares uso cotidiano. Aos mensais


por patronos

que lhe caíam sorte invoca todos os dias, inter-


por para que

cedam em favor dele no momento da morte. Por meio de con-*

fissões; freqüentes apaga da sua alma todas-as nódoas', até as

mais leves. Como. todos os remédios nada adiantaram, con-

tinuou a sofrer dum mal intestino, uma tosse atroz, e chegou

em de vida às calendas de outubro de 1769. Desper-


perigo

tado um catarro mortal, tão dificilmente respirou se


por que

acreditou morresse dentro em minutos. Destarte, de-


poucos

de recitado o sacrifício da missa, recebe o sacro viáticci


pois

vez. Todo aquele dia foi êle consagrado a


pela primeira por

orações contínuas a Deus, à Deípara, aos santos. Falou


pouco,
e às vêzes incoerentemente, a febre
pois perigosa perturbara-
-lhe sobremodo a cabeça. Nos dias seguintes voltou a sereni-

dade da cabeça, começou a respirar com mais facilidade: tinha

escapado a um manifesto de morte.


perigo

XXXVIII. o P. DAVID, DUAS VÊZES MORIBUNDO, ATRIBUE O

SEU RESTABELECIMENTO A SÃO LUIZ, COM MUITA

RAZÃO.

Antes de se restaurar angélico, a sua con-


pelo pão pôs

fiança, depois de Deus, em São Luiz; tomou uma farinha


pro-

digiosamente acrescida obra deste santo, e em


por poucos

dias sentiu sua febre diminuir. Compreendeu o an-


que jovem

foi o libertara das da morte. Não somente


gélico quem garras

êle, como também outros, as na


principalmente pessoas peritas

arte médica, assim. Ao ser visitado duas vêzes


julgaram pelo

P. Koffler, este, após exame do e de todo o aspecto do


pulso

rosto, não apresentava senão a imagem viva da morte, de-


que

clarou considerando as forças da natureza, o P. David


que,

não tinha mais muito tempo viver, e convidou-o frater-


para

namente a o ingresso na casa da eternidade.


preparar-se para

Decorreu aquêle mês fatal de outubro até ao fim. Chega o dia

26 de novembro, do mesmo ano, e sarara não sem milagre


quem

vê-se outra vez levado às da morte. Por isso, se-


portas pela
— 235 —

vez, farinha luisiana e toma-a com inteira con-


gunda pede-me

fiança. Em honra dêsse santo faz um voto a Deus, e volta

mais uma vez à vida, não sem admiração de todos. Ficou es-

tupefato o cirurgião, depois declarou várias vezes ignorar


que
como o P. David ainda viver, os remédios *
podia pois que
usava não eram capazes de reduzir tão cedo uma doença

tão Até o P. Koffler, òtimamente conhecia o es-


grave. que

tado interno do doente, não hesitou em afirmar estava


que
a atestar, sob sua de sacerdote, aquela
pronto palavra que
cura repentina tinha algo de Seja então louvado
prodigioso.
Deus em seus santos e no- taumaturgo de nosso século, São

Luiz. Desde então, o doente duas vezes redivivo votou ao seu

Angélico Patrono, a cuja intercessão, como o


publicamente
devia a vida, veneração, e
proclamava, própria particular
trazia dependurada ao dia e noite, a farinha do santo,
pescoço,
suas relíquias, recebera do P. Luiz Maria Dugad, trans-
que

mitidas da de Lião, e em seu ícone; instituiu


província para
todos os dias devoções luisianas; reiterou cotidianamente os

agradecimentos ao seu salvador. O P. Luiz e seu compa-

nheiro, o P. Kayling, desejaram igualmente visitar o P.


José
David, de souberam duas vezes ressuscitara da
quem que já
morte; saüdá-lo, abraçá-lo e felicitá-lo cordialmente
quiseram

saúde readquirida. Felicitaram-no, saudaram-no, abraça-


pela

ram-no em 27 de de 1766. Mas, ai ! foi a última vez


janeiro
neste mundo, só vê-lo de novo no outro, sob
pois poderão
traços eternos. O P. Dugad exprimir a alegria de sua
quis
alma, e o consolo dá o culto luisiano, meio dum tes-
que por
temunho compondo um novo ofício, escrevendo novas
público,
ladainhas, acrescentando um novo hino à maior de São
glória
Luiz. Além disso, compôs outro hino mais breve,
preceden-
do-o deste título :

AÇÃO DE GRAÇAS A SAO LUIZ PELA SAÚDE RESTABELECIDA

DO AMIGO (1)
"Enternecem-se
as nossas e, arrancas
preces, piedoso,
duas vêzes às da morte o nosso companheiro David,
garras
duas vêzes acometeram a tosse atroz e a febre :
que

Recebe, benigno, as e os cânticos eucarísticos


pois, graças
dos louvores oferecemos como servos, de coração ao
que grato

generoso Senhor."

(1) O original está em estrofes asclepiadéias.


— 236 —

O mesmo obsecra depois ao P. David, com muito


pouco

empenho, se lembre dêle nos seis sacros exercícios domi-


que

nicais dedica ao seu angélico e acrescenta os


que patrono;
-versos seguintes:

A SÃO LUIZ, POR TER RESTAURADO A SAÚDE DO AMIGO ( 1 )


"Eis
David salvo duas vezes teu socorro, ó Gon-
que, por

zaga, duas vezes se suplicante, diante de teus altares.


prostra,

Agora êle dedica o dia sagrado ao culto do Senhor,


que

ver duas e três vezes a ti também venera de coração


podes que

grato.

Assim antecipa as honras sólitas de tua festa, agradece-te

e novos brindes.
pede-te

Em deste cliente nos é igualmente caro a nós,


prol que

teus outros clientes, ó Gonzaga, nós também oferecemos votos

e fazemos
preces.

Termina o começastes: restitue, com a vida, o vigor


que

a David: e assim nos voltará, a nós, a vida com o vigor."

Demais, o P. David cumpriu uma ordem dada outrora ao

P. José Spinelli, S. (o de filosofia no Co-


J. qual, professor

légio de Palermo, sarou mão taumaturga do Divino Luiz


pela

não sem autêntico milagre) mesmo Santo, isto é, em


pelo que

lembrança do benefício recebido tomasse dali diante o nome


por

de Luiz, se lembrar da lhe fôra concedida,


para graça que

cada vez o chamassem. Não tomou, o P. David o


que porém,

nome de Luiz senão depois da confirmação do P. de


provincial

Lusitânia.

XXXVIII. O P. DAVID, VIVENDO SANTAMENTE AINDA UM ANO


MAIS. MORRE SANTAMENTE.
?

Qual vida, tal morte. Quem sempre mostrara a todos,

seus costumes angélicos, um exemplo brilhante, depois da


por

adoção do nome do angélico esforçou-se ainda mais,


jovem

como exemplo seu benigno salvador, o médico


propondo-se

celeste; e demonstrar-lhe maior benefício


para gratidão pelo

obtido, fêz a festa de Luiz de seis domingos de


preceder

devoções; cumpriu o voto concebido em sua honra; com

diversos exercícios cotidianos de a Deus


piedade, glorifícou

no seu santo, tendo experimentado, o muitos com-


que

(3) O original está em dísticos elegíacos.


— 237 —

pela sua cura, que obter muitas e


preenderam para grandes

é eficacíssima a veneração de São Luiz, o como


graças qual,

esperamos, impetrou a sua morte igualmente


piedosamente

feliz. Cerca do fim de começou a de novo as


junho, perder
forças, abaladas várias doenças de
progressivamente por que
foi acometido. Acabou entrar em funda A
por prostração.

diarréia com em 1765 lutara durante vários meses,


que já

voltou no ano seguinte (causando, entre fortíssimas dores

intestinais, repetidas disenterias), em conseqüência do afrou-

xamento das fibras. Vieram-lhe misturados de sangue fre-

escarros, e, além duma febre lenta também o


qüentes que

consumia, uma tosse veementíssima havia algum tempo


(que

lhe ocupara todo o dilacerou-lhe de tal modo a


peito) gar-
mal conseguia comer e ainda mais dificilmente be-
ganta que

ber, da água escoava-se narinas.


pois grande parte pelas

Bem assim, se aproximava do sepulcro a lar-


percebeu, que

Com efeito, ao abandonar a rede americana de


gos passos.

se utilizara durante mais de um ano e ao


que preparar para
si um leito novo, europeu, declarou aprestava o seu leito
que
mortuário. Repetidas vezes revelou suas culpas no sacro tri-

bunal; várias horas na contemplação dos santos; do-


passou

brava as sem se esquecer de outras orações


jaculatórias, que

aprendera de cor, esperando a morte e a companhia de Cristo.


"Oh
Ouví-o suspirar : ! chegarei e aparecerei diante
quando

de tuas faces, ó Senhor ! Maria, mãe de e misericórdia,


graça
do inimigo e recebe-me na hora da morte !" No dia
protege-me

8 de de 1761 foi confortado terceira vez com o


janeiro pela

dos fortes, subir ao monte Santo onde des-


pão para poder

cansa o homem de mãos inocentes e limpo de coraçã^ Dois

dias antes de morrer, referiu-me ter implorado a venia de

Inácio nosso S. ter levado uma vida tão tíbia em


patriarca por

tantos anos na Companhia. Em sua humil-


passados grande

dade, o nosso Luiz acabou se convencer de tudo o


por que que

até então obrara não era nada. No domingo seguinte, isto é, a

11 de ao almoço vomitava a carne e recusou todo o


janeiro,

convidado fora Deus ao do Cordeiro.


jantar, que já por jantar

Pouco antes das onze horas da noite água lustrai.


pediu-me

Quando o aspergi com esta, comunicou-me não ter ainda ter-

minado naquele dia todas as cpstumava recitar em


preces que

honra de São Luiz. Depois, água morna beber;


pediu-me para
— — era
mas a água escoou-lhe narinas. Então disse
pelas
— 238 —

vontade de Deus ele não bebesse, mas se contentasse de


que

umedecer apenas a bôca. Ergueu-se da cama, sentou-se e


pro-
"Amanhã,
nunciou estas ao me
palavras: que parece, poderei
receber a extrema-unção." Voltou a deitar-se e adormeceu

suavemente, aprestando-se a morte. Uma hora depois de


para
"Eis
meia-noite ouviu-se um vem o noivo! Vinde ao en-
grito:

contro dêle!" Percebeu-se um suspiro único. Açodem os com-

a ver se alguma coisa. Mas não deu resposta,


panheiros pedia
nem dar, tinha devolvido o espírito ao Criador,
podia porque já

desligado dos vínculos da carne. Parecia antes adormecido

morto, com as mãos colocadas em cruz sobre o


que peito,

afim de testemunhar mesmo depois de morto o desejava


que

vivo, isto é, finar-se com a cruz e na cruz, segundo o


quando

exemplo do nosso Salvador. Rezadas as habituais da


preces
igreja após a saída das almas, o F. Koffler, em nome de todos,

rezou missa de réquiem falecido Luiz, morrera mais


pelo que

cheio de obras de dias, seguir o Cordeiro no céu, por


que para

onde andasse. A separação dessa alma santa operou-


quer que
-se no dia à oitava da Epifânia Manifesta-
precedente (1).

mente, os três Santos Reis ele invocara todos os dias entre


que

outros santos, dos moribundos,para obter boa morte,


patronos

conduziram o seu cliente à contemplação da espécie da divina

alteza, impetrando êle a coroa da e impondo-lhe


para justiça

nà cabeça a láurea do martírio.

XL A ESTIMA VOTADA AO P. DAVID APÓS A SUA MORTE.

O cadáver, aspergido de água lustrai, é estendido de

maneira tão honesta Batem à


quanto possível. porta, pelas

sete hgés. Entra o capitão. Admira o tenha desa-


que padre

de entre os vivos e manifesta o seu pesar. Chama


pareciS já

três Êstes, com o auxílio do capitão e do cha-


gatos-pingados.

veiro, após a oração habitual, transportam o defunto o


para

cárcere em após a sua chegada a este lugar, três


que passara,

semanas. Pelas dez horas da noite o corpo é confiado à terra

na igreja do onde, com outros tomba-


presídio, quinze que já

ram vítimas de morte espera, fôr com-


gloriosa, para quando

o número dos irmãos a vingança divina do sangue


pleto (2),

santo, clama de sob o altar. Contou no dia seguinte o ca-


que

de morreram naquele lugar, o corpo de


pitão que, quantos

(1) "O dia .precedente à oitava", mais exatamente o último dia da oitava da
Epifânia, isto é, 13 de janeiro.
(2) "O número dos irmãos", isto é, dos cristãos.
ninguém tão flexível, de maneira se lhe
permanecera que

pudessem mover a cabeça, mãos, e outros membros


pés por
todos os lados. Tal fato merece admiração tanto maior

o cadáver ficara exposto durante 20 horas ao


quanto quase
ar, então muito frio. O P. Luiz, melhor atrair do alto a
para

si a de Deus, baixara-se com humildade me-


graça profunda
lhor todos os outros; mas à medida se adiantara no
que que
desprêzo de si mesmo, Deus o trazia mais dos olhos e
perto
da veneração de cada um. Assim o P. Francisco de Cordes,

da do não somente es-


procurador-geral província Japão, que
timara o P. Luiz, mas o tinha em afeição como a filho,
pai
demonstrando-lhe solicitude, nos três
paternal principalmente
últimos anos de sua doença, escreveu-me em carta de 12 de
"Dou
à V. Ra. o de um companheiro
janeiro: pezame perder
de tantos annos e tão santo etc." Confessou, além disso,
que
não recitar o ofício dos finados sem lhe corressem
pudera que
abundantes lágrimas. O P. Bento da Fonseca, demons-
para
trar a afeição em sempre tivera o P. Luiz, mesmo depois
que

da morte deste último, redigir breve elogio de defunto,


quis
"Foy
terminou estas conduzido da sepuU
que por palavras:

tura dos vivos a dos mortos da do São Gião,


para freguezia
onde e donde resuscitará como cremos
jaz glorioso, piamente
no da sua santa vida. Requiescat in
fundados justo juízo pace,
Amen." O P. Aluísio Álvares, da do Brasil, ben-
província
feitor insigne do P. Luiz, assim na vida como na morte, ex-
"Lembrei-me
deste modo em carta me escreveu:
prime-se que
da sua alma, levou as missas, e levaria mais, se
porque quatro
não injuriava a um martyr, e tal martyr tão
julgasse, purgado,
como neste O P. Martim Schwartz, da
foi purgatório." pro-
víncia da Germânia Superior também, como e
(o qual pobre
modesto, fazia a opinião mais humilde de si mesmo, mas há-de
"Possa
entrar um dia no céu como rico), assim escreve: mbr-

rer a minha alma da morte deste e assim morra,


justo; para que

é necessário leve uma vida diferente da até agora levou."


que

Por sua vez, o P. Graff, da do Reno Inferior,


Jaime província

não o menor dos amigos do P. Luiz, escreve nestes termos:


"Devemos
afligir-nos de o P. Fáy tenha morrido na flor
que

da idade; mas também alegrar-nos ter ele, cheio de mé-


por

ritos, trocado, segundo esperamos, este ergástulo estreitíssimo

amplíssimo do céu. . ." Muito me alegrou uma


pelo palácio

frase do capitão em declara êle lhe dos


que que pedira perdão
— 240 —

incômodos tinha causado, antes de voar ao céu. Ó Deus


que

bendito, eis até os nossos adversários em alta


que proclamam

voz falecermos da morte dos nós fomos difamados


justos, que

do mundo como incorrigíveis. O mesmo


pelas quatro partes

carcereiro em nossa ausência cumprira o ditado: Louva


que

depois da morte, manifestou, também em nossa a sua


presença,

estima ao P. Luiz; se o P. Fáy tinha deixado


perguntando-me

alguma cesta e recebendo de mim a resposta êle era não


que
"Pois
apenas mas mísero, afirmou: mais rico será êle
pobre,

todos nós, visto um tesouro o ladrão não


que que possue que

rouba, nem os vermes roem, e não lhe há-de faltar nos


que

céus." Passo em silêncio sobre outros, numerosos,


que poderia

invocar como testemunhas das minhas asserções, não tor-


por

nar demais longa esta narração, abusando da do


paciência

leitor benévolo. Mas não fim a esta oração fúnebre


posso pôr

sem no sepulcro do P. Luiz, é e será os


gravar que glorioso,

epitáfios seguintes. O se nos apresenta é dum


que primeiro

excelente: o P. Manuel Francisco,


panegirista pròcurador-ge-

ral da de Gea :
província

A SAUDOSA MEMÓRIA DO V. PADRE

DAVI D FAY

EPITÁPHIO

aqui sem assombro dirá ?)


Jaz (quem

O muito illustre Fay nomeado

Pello seu obrar tão afamado

Como a o diz, e cantara.


fama

Aos muito devera,


pays par filho

Maz o a hum destes comparado


que fez

He tanto mais sublime, e elevado

Que escrito nos Annaes assombrara.

Callete não dar


poderemos filhos

Aos equevalente, vantajozo


pays

Foy o Fay lhes soube despensar.


que

Ôbteve de Deos, e alcançar


pude

Feito Missionário
fervorozo

A sua May a Heresia abjurar.

Teve o P. Luiz outro insigne e não in-


panegirista poeta

ferior ao o P. de Pina, reitor do Colégio de


precedente: João
— 241 —

Braga, em Lusitânia, em soube tudo re-


que poucas palavras

sumir.

PARA DESPERTAR A MEMÓRIA DO

BOM P. LUIZ FAY

Depois de ter vivido sepultado

Em obscura tempo comprido


prisão

Acredor de sepulcro mais luzido

aqui de Loyola hum Filho amado.


Jaz

Deolhe Fay berço, e nome, nome herdado

Dos avos esclarecido.


gentilitio

Nas letras em Viena bem


polido.

As Missioens lhe levarão todo agrado.

Foy de tractavel, e de cera,


gênio

De muy claro, e excellente.


juizo

As virtudes amou, como devera,

Muito devoto, e
pobre, penitente.

Viveu morreo como vivera


justo,

E vivera no ceo eternamente.

O P. Manuel Ribeiro, da vice-presidência do Maranhão,

confirmar a excelência dêsses versos, e, servindo~se do


quis

engenho de é dotado, escreveu o segundo


preclaro que poema,
utilizando as rimas do :
poeta precedente

SONETO

Vive Fay, ainda sepultado,


quando

Por morrer em vida tempo comprido.

Deolhe a natureza berço luzido;

A o deo homem amado:


graça justo; [elo

Doque daquella teve bem herdado

Com esta thesoro esclarecido :


fez

A mesma o lustroso e
que fez polido,

O rico com lhe roubar o agrado:


fez

Esta o todos branda cera


fez para

De bom molde, ou de virtude excellente :

A como devera,
graça quiz pagar,

Com lhe dar tudo;


pobre, penitente
Viveo; a morte diz, bem vivera:
que

Quem assim morre, vive eternamente.

í 20.929 F. 16
242

Outro não fica atrás de ninguém, o P. Paulo


poeta que

Ferreira, da de Lusitânia, enalteceu até ao céu o


província

P, Luiz, conhecera e venerara em terra, isto é, no Colé-


que

de Santo Antonio, em Lisboa, como exímio de


gio professor
teologia.

EPITAPHIO PARA A SEPULTURA

DO M. R. P. LUIZ FAY

SONETO

Em virtudes e em sangue esclarecido ,

Aqui sepultado o viandante


jaz

Hum tal Heroe de Fé tão revelante

Que sublimar abatido.


pella [oi

Por viver de si esquecido


proprio

Novo mundo buscou, no constante


qual

Qual sol, luzes diffundira, e brilhante

Em tumulo acabara mais luzido.

Porem da Providencia destino,


foy

Que acabasse aqui nestes horrores;

Porque o ouro se apura, se he


fino

Com chamas; e com ellas se apurou

De tal sorte, em claros resplendores


que

Triunfante as estrellas se elevou.

Esforçou-se o P. Joaquim de Carvalho, da vice-província

do Maranhão, alcançar os com iguais,


por precedentes passos

e com argúcia e erudição não menores aludiu ao nome e cog-

nome do defunto, tecendo-lhe uma teia muito sutil.

A SAUDOSA MEMÓRIA DO V. PADRE LUIZ FAY

SONETO

Fay, david e deixou a vidda.


que [oi,

De Aloysio o nome tomar


quiz

A soube innocente imitar


quem

Como em tanta lida.


penitente
— 243 —

Sua virtude era conhecida :

Era no seu obrar


flexível

Doque ao enterrar
[oy prêmio

Nelle a advertida.
flexibilidade

Fòy Fay, Afy, Yfa e também Fya

E tendo as suas linhas bem lançado

Somente em aquelle Deos confia

Que o
podia fazer predestinado.

Nem outro algum mais tribunal temia

Que aquelle, em se bem delgado.


que fia

Ocupa lugar último em ordem, não no diz res-


porém que

à elegância dos versos e à sua sublimidade, o P. Teo-


peito

doro da Cruz, da vice-província do Maranhão, aco-


que quis

modar o seu estilo, se chama de ligado, ao tor-


que período
nado ilustre estrela outrora os Santos
pela que perceberam

Reis (o abrange o dia do óbito do P: David Fay) .


qual

AO ILUSTRE P. DAVID FAY, FALECIDO NO

OITAVARIO DOS S. S. REYS

DÉCIMA

Da David sahio;
patria

As costas ao mundo deo,

Por ser de Deos, não seo.


foy

Trabalho nenhum
fugio.

Seus intentos conseguio;

A Bellem com os Reys chegou;

Boa Estrella o
goiou.

Tendo a Deus offertas dado;

Por caminho melhorado,

A Patria com os Reys voltou.

A estes seis homens laureados se um sétimo, igual-


juntou
mente digno de láurea, aliás, lhe oferecemos sob forma
que, já

de anagrama :

LAURUS IN TE

isto é, o P. laurentius Karlen, da ,do Reno In-


província

ferior, o afim de testemunhar a sua afeição ao defunto,


qual,

escreveu o sepulcro de Luiz, num estilo como de David,


para
— 244 —

e a chamamos de lapidar, um epitáfio sem metro, cujo


que

texto é o seguinte :

Eis Viandante !

Aqui sempre esteve de


jaz quem pé

Diante de Deus

E assim estará eternamente.

Não acredites morto há-de viver nos séculos !


quem

Não viu a Morte, expirou dormindo.


pois

Assim, apenas adormeceu no Senhor

Sôbre sempre velou.


que

A Morte não se atreveu a agredí-lo de novo enquanto velava,

Pois foi desiludida uma vez, falhando o


já golpe.

Assim, êle ainda em vida, espontaneamente morreu


que,

Para a Morte, o Mundo e a Carne,

Sendo sepultado vivo

Saiu de ambos os seus cárceres imerecidos,

Nascido a liberdade
para

E eternamente vivedouro

Para si, Deus e os Sócios.

Vale.

Pode-se imprimir. — Matias Retaller, censor de livros do cabido de Nagyvárad.


INTRODUÇÃO ÀS CARTAS DO MISSIONÁRIO

DAVID LUIZ FÁY

Por

Foltin (1)
João

No suplemento de Páscoa do corrente ano deste


jornal
"Missioná-
saiu um artigo de Debrecenes (3), intitulado
(2)

rios húngaros", despertou merecido interêsse. O autor


que

faz-nos conhecer o nome de vários missionários húngaros do

século à Companhia de Lem-


passado (4), pertencentes Jesús.

bra entre eles David Fáy, de alma bela, o depois de ter


qual,

desenvolvido atividade de missionário durante cinco anos na

América, especialmente nas colônias brasileiras de Portugal,

caiu, com outros membros da ordem, vítima da fúria selva-

de Pombal, tão cruel injusta, acabando a nobre


gem quanto

vida em Lisboa, na de São (5).


prisão Julião

É desse David Fáy eu tenho a sorte de conservar


que

entre meus como relíquia três cartas escritas


papéis, preciosa,

em língua húngara, uma das êle mandara de Lisboa, e


quais

(1) Esta introdução encontra-se sem título nas páginas 3-8 do folheto húngaro
Fáy Dávid multszàzadi hittécitõ levelei Amccikából. Kõzli Foltin János. (Cartas de
América do missionário David Fáy,do século passado, publicadas por João Foltin),
impresso em Budapeste em 1890 pela tipografia Kunyadi Mátyáfi. Como se con-
clue do próprio texto, o divulgador foi pároco da cidade de Miskolc, na Hungria.

"Êste jornal". Algum periódico católico que atualmente não nos é possível
(2)
identificar. A alusão indica terem sido as cartas publicadas primeiro no citado pe-
riódíco e depois era separata, isto c, no folheto cuja tradução aqui damos por extenso.

(3) Debrecenes é pseudônimo latino e significa : habitante de Debrecen. Tal-


vez o artigo dêsse autor contenha, a respeito dos missionários húngaros no Brasil,
dados não divulgados em outros estudos; infelizmente, como acima dissemos, por en-

quanto é impossivel obtê-lo.

(4) "Do século passado", isto é, do século XVII.

(5) Cf. Bangha. Magyar jezsuiták Pombal bòttõrciben (Jesuitas húngaros nas

prisões de Pombal). Budapeste, 1937, ed. Pázmány Péter Társaság.


duas da América, à mãe viúva, tinha deixado viva na Hun-
que

e ao irmão mais velho, de nome Ladislau.


gria,

De de tais cartas, acolhi com alvoroço o referido


posse

artigo, desde certo tempo andava na


pois pensando publicação

dessas três cartas em algum de tendências


periódico pátrio,

católicas, afim de torná-las acessíveis ao O


grande público.

valioso estudo de Debrecenes transformou tal intuito em ato,

e ao mesmo tempo dispensou-me de tôda e incerteza


qualquer

na escolha do órgão em devia efetuar a esta


que publicação:

só ser feita no em o nome do missionário


podia periódico que
David Fáy fôra mencionado vez.
pela primeira

Talvez seja desnecessário explicar a


porque publicação

das cartas em apreço me oportuna.


pareceu

Afirma Debrecenes ter sido levado a escrever o seu ar-

tigo fato de muitas acreditarem a Hungria


pelo pessoas que

não tenha dado à humanidade nenhum missionário no decurso

dos séculos
passados.

Se realmente existem de um modo tão


pessoas que pensam

errado, as cartas de David Fáy convencê-las do con-


podem

trário da maneira mais evidente. Com efeito, nelas ele não se

apresenta apenas a si na de missionário, mas


próprio qualidade

revela o nome de outro missionário húngaro, até agora desço-

nhecido, Szluha Em outros das cartas, faz


João (1). pontos

alusão uma vez a dezesseis, em outra ocasião a dezessete outros

indivíduos, sem nomeá-los, o acompanharam à América,


que
igualmente como missionários. Não é impossível entre
que,

esses, tenha havido outros húngaros além daqueles cujos no-

mes temos a sorte de conhecer ao ensaio de Debrecenes.


graças
Destarte as cartas de David Fáy real impor-
possuem
tância no diz respeito à história da civilização, e isso é
que por

darmo-las à luz. Acaso não deve enaltecer a nossa


justíssimo

conciência de o conhecimento dum ato não é


patriotas que

lícito ignorarmos, isto é, também outrora, especialmente


que
em meados do século houve entre nossos
passado, patrícios

homens ilustres, os desejosos de o maior bem


quais, promover
— —
da humanidade a das idéias cristãs tomaram
propagação

entre outras tarefas, no trabalho de civilização


parte, grande

das Américas e na fundação da sua vida social hodierna, ba-

seada nos da religião cristã ?


princípios

(1) Cf. o parágrafo XX do precedente Elogio, e nosso artigo citado sôbre


Viajantes húngaros no Brasil.
— 247 —

Por outro lado, as cartas de Fáy, não destinadas ao pú~

blico, estão ipso isentas de todo artifício e nos apresen-


facto

tam nas côres mais nítidas a da sua índole e os


generosidade

altos dotes do seu caráter. Revelam-nos estas despretensiosas

os sentimentos sublimes e as fi-


manifestações preocupações

lantrópicas inspiraram aqueles varões de alma heróica nâ


que

carreira rodeada de mil livremente escolheram.


perigos que

Não tinham desejo mais fervente o de servir à causa santa


que

de Deus e a expansão da igreja do Cristo entre os


promover
espalhando entre eles a luz do Evangelho. Tais
povos pagãos,

desejos e sentimentos são aliás mais de uma vez expressos

Fáy nas três cartas conservadas.


pelo próprio

Outro motivo, não desprezível, a das


para publicação

mesmas, foi o ensejo de completarmos os dados biográficos de

Fáy, comunicados Debrecenes.


por

Cumpre observar, aqui, um irmão digno do ilustre


que

varão, de nome Francisco foi de Miskolc e, as-


(1), pároco

sim, meu os Anais da minha paróquia


predecessor; portanto

também fornecem alguns dados a respeito da vida desses dois

irmãos, eminentes servidores da Igreja. Aproveitando esses

dados, como também os tive ensejo de coligir, há alguns


que

anos, no arquivo do ramo de Emõd da família Fáy, con-


posso

firmar a maior das afirmações feitas Debrecenes
parte por

Eckart — a respeito da família de David Fáy.


baseado em (2)

Assim, entre outros dados, confirmar êle nasceu


posso que

no lugarejo de Fáj, do condado de Abauj, de


pais protestan-

tes, nomeadamente Gabriel Fáy e Susana Koos e a


(3), que

conversão da família é devida em à influência do conde


parte

Gabriel Erdõdy, bispo de Eger, na sua extensa diocese


que

foi campeão incansável da Contra-Reforma, chamado, isso


por

(1) Francisco Fáy, pároco arcediago de Miskolc, mais tarde cônego de Nagy-
várad, por vários feitos jnsignes tornou igualmente respeitado o nome de Fáy. Assim
em Felsõ-Gagy, no condado de Abauj, onde sua família possue propriedades, retomou
aos protestantes a igreja católica e fundou, junto a esta, uma paróquia. Na diocese
de Nagyvárad foi benfeitor liberal da igreja de Furta, e a Miskolc teve a maior parte
na fundação do Asilo da Velhice Desamparada, que ainda existe. (Nota de /. Foltin).

(2) Eckart, um dos coautores do Elogio. O pároco Foltin pretenda basear-se


em parte em Debrecenes, o qual, segundo afirma, seguiu Eckart. Em todo caso, Foltin
discorda de Eckart no que diz respeito ao nome dos pais de David, como mostra o
simples confronto deste trecho com o parágrafo I do elogio.

(3) Iván Nagy, à página 131 do vol. III de seu Magyarország Csaiádai {Fa-
mílias da Hungria), dá erradamente, como nome da esposa de Gabriel Fáy, o de Su-
sana Diószeghy, os documentos do arquivo familiar concordam no nome de
pois
Susana Koos. (Nota de J. Foltin.) Notemos
que os autores do Elogio dão como

pais Estêvão Fáy e Catarina Borsi (parágrafo I).


— 246 —

mesmo, nos anais mencionados da minha de após-


já paróquia,

tolo zeloso do condado de Borsod. Foi efetivamente o seu

desvelo converteu, além da família Fáy, as famílias Bük


que

e Dõry.

Quem abandonou a religião foi o


primeiro protestante pai

do nosso David. Aconteceu isto, segundo interessante depoí-

mento dos Anais da minha durante uma sua


paróquia, perma-

nência em Viena. Está fora de dúvida simultá-


(1) quase que

neamente se achava ali o conde Gabriel Erdõdy, bispo de

Eger.

Entretanto, conforme leio nos Anais citados, a esposa, que

ficara em casa, sonhou o marido se tornara católico. Por


que

isso, depois do regresso do marido, observou atentamente se

ele se benzia antes ou depois do almoço. Tendo


percebido
"Então
uma vez sim, falou-lhe nestes termos: eu sonhei
que

certo: em Viena vossa mercê tornou-se Ao o


papista," que
"Sim,
esposo deu a seguinte resposta: — minha alma, tornei-

^me me tinha convencido no coração. Nem


papista, porque por

isso tens de te agitar ou comover, eu nunca hei-de abor-


pois

recer-te, nem te constranger, sequer com uma a abra-


palavra,

a mesma fé." Efetivamente, segundo as minhas fontes, o


çar

marido morreu antes a esposa se tivesse recolhido ao seio


que

da nossa igreja.

A conversão da mãe estava reservada Providência


pela

Divina ao filho David, a cujo respeito os mesmos Anais con-


"Celebtis
têm a referência seguinte: in ordine suo." O
fuit

eminente religioso, embora tivesse resolvido tomar na


parte

catequese de não teve descanso; embora an-


povos pagãos,

siasse alcançar o rumo se não se separou da


que propôs, pá-

tria (2), enquanto não teve certeza de a mãe era


que própria
ovelha da Igreja cuja e estava
por glória propagação pronto

a sacrificar até a vida.

Tal desejo não ficou frustrado, segundo sempre as


pois,
mesmas fontes, a mãe acabou obedecer à doutrinação do
por
filho (3), recolhendo-se ao seio da Igreja Católica, depondo,

(1) "Durante sua -permanência em Viena..,". Este dado contradiz o pará-


contrário ao Elogio, parágrafo XII.

(2) "Não ss separou da pátria, enquanto não teve certeza..." Dado igual-

mente contrário ao Elogio, parágrafo XII.


"Versão
(3) "A mãe acabou por obedecer à doutrinação do filho... contradita

pelos parágrafos XII e XIII do Elogio.


— 249 —

com todo o fervor de alma, a sua de fé entre as mãos


profissão

do filho, e recebendo das mesmas o da vida


pão pela primeira

vez.

Segundo os meus dados, contrariamente aos de


portanto,

Debrecenes, o de nosso David não'vivia, ele se


pai já quando

despediu da afim de se transferir a América. Isso


pátria para

ressalta, aliás, das cartas mandadas do continente


próprias

longínquo à mãe sozinha.

Para falarmos, afinal, das mesmas,


pormenorizadamente,

considerando a sua apresentação, observarei em


primeiro geral

estão escritas em forte de membrana in-[ólio, cora


que papel
letra bonita e ordenada, em linhas espessas, com cui-
grande

dado e esmero. Embora escritas há cento e trinta e sete anos,

as cartas se acham em bom estado de conservação, principal^

mente a de Lisboa, mui legível. As duas outras, mandadas da

América, são de leitura menos fácil; o efeito da longa viagem

marítima é nelas manifesto. O destas, embora igual ao


papel

da molhou-se de tal modo a tinta se dissolveu,


precedente, que
e, infiltrando-se, atingiu o avêsso; demais, o apresenta-se
papel
ao longo de várias dobras, onde também a leitura
quebrado

é difícil.

As três cartas datam igualmente de 1753, ano da


partida
da Europa e da chegada à América. O autor, inadver-
por
tência, deixou de datar a ao cotejá-la com as duas
primeira;

outras, conclue-se, fàcilmente, deve ter sido escrita


porém, que
em Lisboa, aí dia 25 do mesmo mês.
pelo

Em razão de seu conteúdo, essas cartas ser incluí-


podem
das com mais na categoria das cartas de viagem.
justeza

Com efeito, na o autor comunica à mãe a sua


primeira
feliz chegada a Lisboa, relatando depois as experiências e

observações feitas na corte real.

Na segunda refere a de Lisboa. Sob forma de


já partida

jornal, conta a viagem marítima, bastante monótona. Narra,

também, a chegada ao Novo Mundo e as experiências reali-

zadas no breve de dois meses.


período

Na terceira carta, dirigida, na do irmão Ladislau,


pessoa
a todos os seus continua a descrição das observa-
parentes,

ções feitas na América, em segundo êle mesmo observa,


parte,

ter contar aos referidos


para que parentes.

A linguagem das cartas, se consideramos


particularmente

o estado da nossa língua no século e se as conferimos


passado
— 250 —

com outros literários da mesma época, é bastante


produtos
fluente e vernácula, embora de vez em demonstre
pura, quando
na construção influência latina.

Não deixar de observar as cartas foram con-


posso que

servadas no arquivo do ramo de Emõd da família Fáy .


(1)
É também mister salientar, com a maior as
gratidão, que pos-
suo, e à benevolência duma se-
portanto posso publicar, graças
nhora da família, a condessa Szilárd Péchy, em solteira Sara

Fáy, conhecida em amplos círculos, de alma culta e


pessoa

sentimentos religiosos.
profundamente

Tanto basta à de introdução às referidas cartas,


guisa que
reproduzimos a seguir em cópia literal.

(I) Atualmente as cartas se encontram no arquivo arquiepiscopal da cidade dê


Eger.
III

CARTAS DO DAVID ALUíSIO FÁY


JESUÍTA

1.

Louvado seja Cristo! (1) Com sincera obediência


Jesús

ofereço todos os meus à senhora minha doce mãe.


préstimos

No nono dia deste mês recebi humildemente a carta desde

muito tempo desejada da senhora minha doce mãe, beijando

com amor filial os traços de suas maternas mãos. Agradeço,

antes de tudo, o maternal amor me testemunha a senhora


que

minha doce mãe e a alegria demonstra ter eu chegado


que por

aqui em na verdade, somente agora viemos a saber


paz; por que

lance tínhamos havendo o nosso capitão vendido


passado, pois,

aqui o navio, os três mercaclpres lisboetas o compraram


que

tiveram de em consertos mais de seis mil florins e ainda


gastar

hão-de mais dois mil. Estão agora muito arre-


gastar quase

de tê-lo comprado, as de baixo e


pendidos pois partes princi-

os lados eram de madeira úmida, tanto ao le-


palmente que

vantar as tábuas e ao visitar as de dentro com ma-


partes

chados e furadores, as vigas desfizeram-se em


grandes pó.

De certo, se algum vento contrário se tivesse levantado, sem

dúvida alguma teria eu encontrado meu ataúde nos vaga^

lhoes do mar; mas embora êste durante dois ou três dias es-

tivesse mui entumecido e bravo, à misericórdia de


graças

Deus majestoso tivemos tal vento melhor não se


que podia

desejar.

No tocante a mim, ao comêço não temi o mar


quanto

agora o temo, cada vez me ocorre o devermos


que próxima-

mente a nossa sorte às ondas marinhas. Contudo, te-


jogar

nho inteira confiança na clemência de Deus infinitamente

(1) O texto húngaro das cartas, cuio original se encontra no arquivo arquie-

piscopal de Eger. Hungria, foi publicado nas páginas 8-36 do folheto referido na nota
I da precedente Introdução.
— 252 —

bondoso, esperando me auxílio completado de sua


prestará
santa afim de eu, vaso frágil e
graça, que possa pequenino,
levar a cabo a tairefa a lhe aprouve designar-me.
para qual

Nada há neste mundo a tais me mover, a


que perigos possa
não ser o amor de Deus magno e da senhora minha doce

mãe (1). Queria Deus majestoso consiga eu realizar meu

mãe Queira Deus majestoso consiga eu realizar meus dias


(1).

em júbilo. Quanto à bênção da senhora minha doce mãe,

agradeço-lha de coração humilde, desejando com amor filial,

e almejando com férvidos votos, eterna alegria nós no


para
céu onde ninguém nos tira o nosso regozijo, uma
glorioso,

vez neste mundo efêmero não mais terei a sorte de me ale-


que

com a vista da senhora minha doce mãe.


grar

Agradeço também com humildade filial à senhora minha

doce mãe o ter-se lembrado de mim e haver-me auxiliado com

algum dinheiro; acho-me com efeito em tal indigência, ape-


que
nas me atrevo a escrever uma cartazinha; é verdade daqui
que
em diante hei-de escrever com mais atrevimento, a se-
pois
nhora minha doce mãe me ajudar. As lembranças do
quer
senhor Ladislau meu irmão, igualmente as recebo com
grati-
dão fraterna e confio na dêle. Verdadeiramente
promessa
escrever não dia sem repetidamente me
posso que passa que
lembre da senhora minha doce mãe e de meus caros e amorosos

irmãos. Se a senhora minha doce mãe ajudar-me com


quiser
alguma coisa, é só mandar a Miguel Melczer sua
para que
mercê de Viena a faça enviar cambium aqui, apud
per para

Procuratorem Genecalem Provinciae Sinensis, ou Maragno-

nensis.

A nossa ainda é coisa duvidosa, embora sua ma-


partida

tivesse designado desde fevereiro os navios deviam


jestade que
mas o tempo ainda não é certo. Três naus de e
partir, guerra
seis navios mercantes hão-de ir, as todas, nossa
primeiras, para
defesa contra os africanos e também transportar
pagãos para
a destinada à América, nelas cabe mais o
gente pois gente;
navio mercante em nos iremos a dezesseis, chama-se Di-
que

viria Providencia.

(1) Como vimos no Elogio, o P. Fáy partiu para a América na esperança de


que Deus ia recompensar o seu zêlo convertendo em sua ausência a mãe calvinista.
Assim se compreende que entre os motivos de sua decisão inclua o amor à mãe, que,
em outras circunstâncias, o teria antes impedido de
partir.
— 253 —

A aonde nós vamos é ainda distante se-


província quase

tecentas léguas; em cinqüenta dias, se tivermos vento bom,

a alcançaremos; mas se os doze dias de viagem


provavelmente
marítima foram tão fastidiosos e terríveis, embora várias vezes

tivéssemos entrevisto a terra, como hão-de ser esses cinqüenta

dias, não veremos absolutamente nada, senão céu e


quando

água, até chegarmos !

Mede a léguas de comprimento e se-


província quinhentas

tenta de largura; a maior é todavia e selva-


parte paganismo

o a habita é forte e não de todo


jaria; povo que grande, prêto,

antes vermelho.

Ultimamente uma tribu tornou-se cristã; chama-se Game-

Ias; os homens dessa tribu também não são e são, até,


pretos,

tão bonitos os europeus. A é muito


quase quanto província

boa, abunda em tudo, exceto em mas em vez de trigo há


pão;

uma espécie de raiz, chamada Mandioca, dentro cheia de


por
farinha, com a se faz o dizem os a experimenta-
qual pão; que

ram é boa e uma vez acostumada a ela, a di-


que que, gente

ficilmente se acostuma depois ao Nasce ali tôda sorte de


pão.

frutas, o Arianas, do rio chamado


principalmente perto grande
Fluvius Amazonum ou, na sua língua, Pará, isto é, mar,
por

causa do tamanho. A laranja é tão embora das


gostosa, que,
laranjas européias sejam as daqui as melhores, são muito esti-

madas as laranjas de lá, e desejadas, são maiores e


porque
mais doces as Pois nós aqui como sobremesa
que portuguesas.

usamos laranja, está amadurecendo.


porque já

Relataria mais amplamente à senhora minha doce mãe o

ouvi contar sobre a nossa de além-mar, mas na


que província

verdade tenho vontade de escrever sobre coisas


pouca que

não si, fui várias vezes desiludido; se a Deus nosso


pois já

Senhor Majestoso aprouver transportar-nos acolá, em a


paz.

senhora minha doce mãe ter minhas notícias sem falta,


poderá

em ou fevereiro eu, ainda venha a


janeiro próximo; pois que

viver de esmolas, nunca me hei-de esquecer de meus deveres

filiais.

Aqui, sejam dadas a Deus, estou de boa saúde;


graças

o ar daqui é mui do não há melhor


principesco, que prova

esta; nas ruas todas as sujidades imagináveis e


que jogam

com respeito diante da senhora minha doce mãe)


(falando

até animais mortos; no entanto nenhuma mudança má se


pro-

duz no ar. A cidade é terrivelmente situada na maior


grande,
- 254 —

em montes. O é muito em razão


parte poviléu pobre, porque,
de sua não se ocupa em nada; os artífices
grande preguiça,

são na maioria de estranhos e aqui enriquecem fácil-


países

mente; o rio Tejo, no em deságua no mar, está


ponto que

cheio de navios contando os navios num ano en-


grandes; que
tram e saem, teremos dez dia; donde sé coligir
quase por pode
rico é o comércio: não acredito na Europa haja outro
quão que
igual.
pôrto

Com S.M. a rainha viúva falei duas vezes; não saü-


damos ainda S. M., mas antes de iremos ao beijamão.


partir

Com o irmão menor de seu o senhor infante Dom Manuel,


pai,
almocei há dias.
quatro
estou conversando em língua lusitana e isso
Já (1), por

acabei tecer relações com alguns senhores; êles me inco-


por

modam bastante, tanto tenho de falar da Hungria, de S. M. a

rainha ,e das últimas valeram aos húngaros, aqui,


guerras, que

magna diz-se desta vez realmente foram êles


glória; que que

ajudaram S.M. (2).

S. M. a nossa rainha está também em e


grande glória
lembrança, nas rodas femininas. Às vezes não
principalmente

deixar de rir das me fazem; exemplo,


posso perguntas que por

se a rainha tem . . e outras As mu-


jardim, granja. parecidas.
lheres andam sem touca e frisam os cabelos, como agora os ra-

em nosso Todos andam vestidos de


pazes país. preto, pois

aqui não é lícito levar ou ouro de na


prata qualquer gênero

vestimenta, exceto aos soldados e ádvenas; S. M. também

veste sêda
pura.

No dia 18 de fevereiro um navio com de-


pereceu grande

sastre: estava desde três dias fora, em alto mar, sem poder

entrar no causa do vento contrário; depois disso,


pôrto por

tendo virado o vento, houve nevoeiro sobre o mar todo,


grande

tanto não se ver os dois fortes à entrada do


que podiam pôrto

(um Castram S. outro Bugio)-, o capitão não


Julianni, pelo que

entrar de nenhum modo; o mestre, dizem Pila-


quis porém que

tus, divergiu dele, tanto o capitão acabou consentir em


que por

entrar; mas apenas vieram as velas, o vento levou a nau


para

(1) Isto é: cm português. Lusitânia é antigo nome histórico do atual Por-


tugal e provém, como se sabe, de Augusto. (Nota de J. Foltin).

(2) Aqui o nosso epistológrafo lembra Maria Teresa, rainha da Hungria, e a

guerra de sete anos que ela com vária fortuna conduziu, mas levou a cabo com resul-
tado favorável. (Nota do mesmo.)
— 255 —

Bugio, onde há bancos de areia entre rochedos, com


grandes

os o navio veio a abalroar-se; o capitão o


quais percebeu pe-

rigo e ordenou ao mestre virasse as velas, afim de saírem


que

antes do sendo iminente o aquêle,


quanto pôrto, perigo; porém,

ia repetindo não havia nenhum, várias vezes


que perigo que

ali estivera e bem conhecia o rumo; mal acabou estas palavras,

o barco chocou-se segunda vez de encontro aos bancos


pela

de areia; volta o capitão a se o lance,


perguntar-lhe percebe
"Senhor
responde: — vossa
ao o mestre capitão, ajude-se
que
—"Deus
mercê como exclama o capitão:
puder"; poderoso,

então todos estamos Apenas terminou tais


perdidos!" pala-

vras, o navio, com o afundaram 140 homens e


parte-se qual

26 mulheres com tôda a mercância. Cinco achando-se


pessoas,

do forte, nadaram até os bancos de areia e os rochedos;


perto

duas delas, no entanto, causa do medo e do cansaço, logo


por

morreram; as três outras salvaram-se acolhidas em barcas de

e, trazidas à cidade, relataram o acontecido. 25


pescadores

barris de vinho cozido, e as cartas, deram à costa, mais a es-

mola enviada a um estudante, trinta ducados, com


pobre

maravilha de todos.
grande

Houve outro desastre em 24 de março. Preparava-se a

de um navio com rumo a Gênova; haviam carregado


partida

nele mercancias, entre as demais; mas, sendo noite, os


pólvora
tripulantes foram a cidade, deixando a bordo dois rapa-
para

zelhos tomar conta; os não tendo cuidado do fogo,


para quais,
não se sabe como, a estourou, fêz um lado do
pólvora partir-se

navio, a água entrou e a émbarcação foi a Dela nada


pique.

mais vi senão o topo dos dois mastros mais altos; mas este

barco será tirado da água talvez na semana vindoura.

No dia 25 de abril v^j sair a Frota Brasileira, 30 barcos

Pernambuco, dali Rio-de-Janeiro [sic].


para para

Além disso, nenhuma outra notícia dar à senhora


posso

minha doce mãe, mas antes de informá-la-ei, conforme


partir,

ao meu dever. Quando a senhora minha doce mãe me es-

crever, é só endereçar a carta como fêz outro dia o senhor

Ladislau, meu irmão. Com isso, recomendando-me à lem-

brança e mercê da senhora minha doce mãe com humildade

filial, fico até à morte da senhora minha doce mãe filho obe-

diente David Fáy, missionário S.


J.

Posescrito. Saudações fraternas, nomeadamente aos se-

nhores Ladislau, Antônio, meus irmãos, à senhora Maria,


João,
— 256 —

minha irmã, ao senhor Francisco, meu irmão menor, a meus

cunhados Traím, às senhoras minhas tias e aos santinhos, às

senhoras Elisabete e Helena, minhas sobrinhas, ao senhor Ga-

briel, meu sobrinho, à senhora Clara, minha sobrinha, ao se-

nhor Cristóvão, meu sobrinho.

2.

Louvado seja Cristo. Com sincera obediência filial


Jesus
ofereço meus todos à senhora minha doce mãe.
préstimos

Chegado aqui em à clemência infinita de


paz, graças

Deus, informo, segundo meu dever filial, a senhora minha doce

mãe a respeito de minha viagem e meu estado atual, e antes

de tudo o mais beijo suas maternas mãos com humildade

filial, desejando de todo o coração esta carta a encontre


que

em saúde
perfeita.
Antes de termos saído de Lisboa, dezessete missionários,

fomos admitidos, segundo o costume, ao beijamão de S. M.

el-rei; depois, recebidos S. M. a rainha; afinal, S. M.


por por
a rainha-mãe, com tive a sorte de conversar cinco vê-
quem
zes; ainda desta, dignou-se falar conosco um de hora,
quarto
e entre outras coisas ao P. era o
perguntou procurador quem
superior ou chefe da viagem, e o com forte corar
procurador,
de minhas faces, nomeou-me a mim, diante de S. M.; curvei

os S. M., e S. M. me retribuiu a saüdação in-


joelhos para

clinando a cabeia; depois, no decurso da conversa, deu-nos

constantemente o título de reverendíssimo.


padre
Despedindo-nos, de convinha, e tendo
pois, quem pre-
todas as nossas mercâncias, no dia de
parado primeiro junho,
cerca das duas horas, embarcamos em nosso navio, tinha o
que
nome de Divina Providênciaf e cerca das horas levan-
quatro
tamos âncoras e lançamos as velas ao vento, mas a viagem

apenas durou duas horas, não tendo alguns navios con~


pois
cluído os aprestos naquele dia, apenas duas lé-
progredimos

isso diante da torre de Belém se chama uma


guas; por (assim
de Lisboa), lançamos uma âncora e descansamos em
parte paz.
No dia dois de levantou-se vento contrário,
junho pelo
os navios não sair; mas S. M., enviando num
que quiseram

pequeno esquife real Marchio de Àlagrete, deu ordem de ou

sairmos ou os mercadores ficarem em Lisboa o ano todo. Por

isso, vida ou morte, levantamos a âncora e empur-


partimos
rados lá e cá, os 40 navios ao mesmo tempo; S. M«
para para
— 257 —

em com seus irmãos e tôda a fidalguia, veio de


pessoa, quase

cavalo à beira-mar assistir à saída; na verdade, não se


para

encontra facilmente outra diversão tão bela como a de veí

muitas naves no mar; não dá outra impressão senão a de

outros tantos castelos remando no mar,


principalmente quan-

do as velas todas estão desfraldadas.

Partimos, cêrca das horas, e, sendo o nosso


pois, quatro

navio bom corredor, logo se meteu das naus reais ar-


perto

madas afim de, andando diante dos outros navios mercantes,

ficar longe do visto como, dois barcos se


perigo, quando

chocam, de certo hão-de ao meio, tal é a força do


partir-se

vento se lança nas velas; contudo, embora


quando primeiros,
estávamos bem receosos de o vento, soprava muito
que que
fraco, de súbito, enquanto nos achasse-
parasse justamente

mos no meio dos rochedos; o nosso capitão,


pelo que joannes

de Sylva Ledo, fês aprestar cinco âncoras


para qualquer
eventualidade, o vento naquele lugar, o re-
porque, parando

moinho contínuo do mar os barcos nos rochedos


precipita

e os Mas, a Deus, apenas fomos chegando


pulveriza. graças
ao alto mar, o vento começou a crescer e, depois de nos ter

sido contrário, tomou-nos costas e dentro de meia hora


pelas

nos livrou de todo; perigo.

Ao sairmos, os navios armados dispararam oito tiros de

canhão, saüdando o forte de São como à de des-


Julião guisa
ao o forte saüdou a todos os navios armados e
pedida; que

aos demais com 7 tiros de canhão como dar votos de feliz


para
viagem, e assim nos despedimos sempre de Lisboa e de
para

tôda a Europa. Dê-lhes ventura Deus Nosso Senhor, segundo

sua vontade, em tudo. Tôda a noite avançamos bem, mas ao

amanhecer um navio ficara atrás; isso a


percebemos que por
nau capitania advertiu-nos com três tiros de canhão vol-
para
tarmos; assim, virando as velas, de dia o caminho
perdemos

que fizéramos de noite, mas o navio nos alcançou às nove

horas, aproximadamente.

Apenas entramos no mar alto, logo me senti mal, e dois

dias estive de cama, e comigo todos os demais; razão


por que,
embora fôsse domingo, não dizer a santa missa.
pudemos

No dia 4 de todos os navios iam com vento bom,


junho

mas os se dirigiam o Brasil em direção da água do


que para
rio de aos nos foram deixando; entretanto,
Janeiro, poucos

de fraqueza; mas à noite tomar uma


padecíamos já pudemos

120.929 F. 17
— —
258

sopazinha; os navios cumprimentando-se uns aos


passeavam

outros, e ouvimos canhoneio o dia todo, usando os navios


quase

tal modo de saüdação.

No dia 5 de nós também cobramos alento e levan-


junho

tamo-nos de cama. Por isso fizemos matar um carneiro e al-

remediarmos a fome de dois dias. Graças


gumas galinhas para

sejam dadas a Deus, durante a viagem tôda tivemos co-


que

mer, e nesse não experimentamos falta nenhuma, mas


ponto

a água acabou tornar-se muito má, o remediámos coro


por que

caldo de limão. Leváramos conosco, a viagem, mil limões


para

e mil laranjas, mas nos últimos dias se tinham aca-


quatro já

bado. Tivemos vento bom o dia todo, sem aproveitá-lo


poder

como desejávamos, um dos nossos navios, estando com


porque

muita carga, avançava a custo, e as naus armadas não o


quise-

ram abandonar; estávamos da África e aquele mar


pois perto

é temível causa dos barcos do turco


por pagão.

À tarde, achando-se todos de boa saúde, depois das cinco

horas, todos nós, e os marujos' com o capitão, em voz alta re-

citamos o rosário e cantamos as Ladainhas de Loreto em

honra da Virgem Bem-Aventurada, feliz viagem, e


pedindo

rogasse nós ao seu amoroso Filho; depois do


que por quê,

houve cristã, e assim ficou sendo daí em diante, todos


prática

os dias, até o último.

No dia 6 de dia de São Norberto, eu disse a santa


junho,

missa em intenção do senhor Norberto Jabróczki, meu cunha-

do, e à mesa bebemos à sua saúde. Naquele dia abordaram-

-nos dois navios, um do capitão Cardoso, e outro de nome

Neptunus, nos se estávamos de boa saúde


que perguntaram

e como viajávamos. À noite todos os navios tiveram de


parar

à ordem da nau capitânia, transmitida tiros de canhão, e


por

esperar dias causa dum barco atrasado, espera


quinze por que

durou até 22 de
junho.

Cerca das nove horas de 7 de junho, nosso


querendo, por

lado, retribuir a homenagem, fomos saüdar a nau ca-


primeiro

cumprimentando o capitão, alguns de nossos bons co-


pitânia,

nhecidos, e, afinal, os na véspera nos vieram saüdar.


que

Pelas 11 horas de 8 de a nau capitânia fêz dis- •


junho

três canhões e içar a bandeira branca; logo depois, os


parar

dois outros navios armados fizeram o mesmo, ao todos


que
"Terra
— — significando havia
bradaram: !Terra !" terra
que

isso o capitão mandou subir um marinheiro ao


próxima; por
— 259 —

tôpo do mastro examinar terra seria; o


grande para que qual,
logo reconhecendo, disse era a ilha de Porto Santo; à noi-
que

tinha todos a bem.


percebemos

9 de As coisas vão como no dia


junho. precedente.

10 de dia de Pentecostes. Passamo-lo todo em


junho,

exercícios de sendo o mesmo dia aniversário de S.


piedade;

M. el-rei, as naus armadas ornaram-se de tôda a espécie de

estandartes; os demais navios içaram todas as bandeiras


gran-

des, e doze horas as três naus reais soltaram 24 tiros de


pelas

canhão cada uma, os navios mercantes 6 cada um. Às


quatro
horas a nau capiânia deu mais três tiros de canhão, e vimos a

ilha da Madeira.

11 de Cêrca das nove horas o vento nos aban-


junho.

donou, e isso estivemos com mêdo de os navios se cho-


por que

cassem; mas isso durou apenas uma hora, e começou a soprar

um vento bom. Depois disso até vinte e dois de con-


junho

tinuamos na mesma, não havendo nenhuma novidade dife-

rente.

22 de Aborrecidos com a longa espera a


junho. que

fomos constrangidos causa de um navio atrasado, dois


por

barcos licença à nau capitania continuar se-


pediram para

o seu desejo. Tendo observado o capitão ao meio-dia


gundo

havíamos alcançado a altura das ilhas Canárias e


que que,

estávamos livres do dos bárbaros, chamou


portanto, perigo

um tiro de canhão os dois barcos e. segundo seu desejo,


por

deu licença continuarem; estes com alguns tiros de ca-


para

nhão se despediram, diante do o nosso capitão desfraldou


que

logo as velas, e dentro de três horas atingimos os dois barcos;

em seguida, as naus reais, disparando 12 tiros de canhão cada

uma, e dois outros navios mercantes, nos ultrapassaram; en-

tretanto os nossos três barcos continuaram até o fim;


juntos

os dois outros, se ter ido mais depressa, ter-nos-iam


pudessem

de certo abandonado, ao nós tivemos de esperar


passo que por

eles várias vêzes.

23 de Com ótimo vento muito bem;


junho. progredimos

do mesmo modo nos dias 24, 25, 26 e 27.

24 de dia de São eu disse missa em do


junho, João, prol
senhor meu irmão, e à mesa bebemos à saúde dêle.
João
— 260 —

28 de Fomos infelizes, de manhãzinha um


junho. porque

chegando-se ao nosso navio, roubou 12 libras de


grande peixe,

carne de nossa mergulhadas no mar (1) e à vista


propriedade

de todos, ao longo do navio, as ia mostrando; é


passeando

certo os marinheiros lançaram logo um chuço atrás dele,


que

mas debalde, tem a como ferro; teríamos um,


pois pele pegado

se não houvesse o anzol de ferro. Chama-se


quebrado grande

tal Tubarão. Há neste mar uma multidão indizível de


peixe

vimo-los constantemente, e os marujos apanharam


peixes;

muitos, sobretudo de um barbudo isso se chama


peixe que por

Há outros também, como exemplo um


judeu. peixinhos por

branco, o
pequeno peixe qual, quando perseguido pelos peixes

voa; alguns voaram dentro do nosso navio; têm


grandes, para

asas às dos
parecidas gafanhotos.

O dia 27 de dia de São Ladislau, consagramo-lo


junho,

com santa missa ao senhor Ladislau meu irmão, como fizé-


ramos com o dia 13 de dia de Santo Antônio, consa-


junho,

ao senhor Antônio, meu irmão, e à mesa bebemos


grando-o

em honra deles.

A 29 de estivemos em es-
junho, grande perigo, porque,

tando todas as nossas velas desferradas, com muito vento, nos

apanhou repentino furacão, e se com tôda a e trabalho


pressa

não as tivessem colhido, o vento nos teria levado dire-


penoso

tamente o fundo do mar, sem de naufrágio. Não


para precisão

decorreu um de hora, estávamos fora de Aqui


quarto perigo.

muitas borrascas, calmarias, ventos contrários amofinaram-nos

dias inteiros, de maneira não avançamos mais de 4


quatro que

léguas; mas obtendo em 3 de vento bom, viajamos regu-


julho
larmente '10 de
até
julho.

Nesse dia começamos a ver areias da América espalhadas

cima do mar, chamadas lençóis, e


por grandes pequenos, porque

semelham lençóis estendidos cima do mar. O mar também,


por

até então ser de côr azul, era verde, isto é, verda-


que parecia já

deiramente côr de mar, o logo nos encheu de medo,


que por-
naqueles lugares a água não tem bastante e
que profundidade

em certas não mede mais de duas braças. Quando al-


partes

navio chega ali, todos despedir-se deste mundo.


gum por podem

(1) Provàvelmente a carne estaria mergulhada no mar. pendente duma corda,

para efeito de conservação.


— 261 —

Cresceu nosso mêdo também fato de o mar subir além


pelo

do comum e soprar vento forte, tanto durante cinco dias


que

nem dizer missa causa da grande agitação.


pudemos por

Muitos voltaram a adoecer, vagalhões


grandes passaram poi

cima do navio; nós outros dia e noite rezamos sem e mer-


parar

no mar as santas relíquias, e, com tôda a certeza,


gulhamos

vimos o mar acalmar-se, enquanto nós, nos afastarmos


para

cada vez mais do de noite nos apartámos sempre da


peirigo,

terra; assim navegamos até 14 de dia feliz em vi-


julho, que

mos vez a terra da América, isto é, um montículo


pela primeira

o daqui chama de Itacolumim, dizer criança de


que povo quer

Sendo, de tardinha, não ousamos e


pedra. porém, progredir,

lançamos as âncoras; à clemência de Deus,


graças particular

o mar se tinha calmado e o vento de modo


justamente parara,

descansar a noite tôda, exatamente como se esti-


que pudemos

véssemos sobre rio tranqüilo.


qualquer

No dia 15 de alçando as âncoras, rumo


julho, partimos

ao Maranhão. Chegados às horas, com alegria,


quatro grande

a um lugarejo de nome São Marcos, lançamos âncoras outra

vez, e termo à viagem, dando a Deus Majes-


pusemos graças

toso nos ter, vigiando sôbre nós com magna misericórdia,


por

livrado de maiores,protegido nos defron-


perigos perigos já

tados e realizarmos um desejo concebido havia tan-


permitido

tos anos. Não entrar na cidade, mas logo deitamos


pudemos

ao mar um esquife e eu escrevi uma carta ao nosso P. reitor

nos enviar alguém bem conhecesse os caminhos do


para que

do Maranhão.
pôrto

Tornando o esquife ao alvofecer do dia seguinte, trouxe

um sarraceno, ficou no navio dez dias, isto é, enquanto


que

não houvesse vento bom os navios entrarem no


para porto.
Mas às dez horas o nosso P. enviou-nos a
provincial própria

barca com dois RR. e, depois do almoço, colocando


padres

os nossos leitos e a nós mesmos na barca, às e meia


quatro

chegamos ao lugar desejado, durante dois


pensando quase

dias estarmos ainda no mar; o chão todo sacudido


parecia-nos

ondas, e só a custo caminhar direito.


pelas pudemos

O colégio todo, vindo ao nosso encontro até à beira-mar,

cumprimentou-nos com todo o amor e alegrou-se da nossa feliz

chegada. Depois, em bela ordem, entramos na cidade e no

colégio, dirigindo-nos ali logo à igreja, dando a Deus


graças
misericordioso todas as tomadas em nosso
por providências
— 262 —

benefício, c outrossim seu auxílio nos manter no


pedindo para
ofício o lhe foi servido eleger-nos e mandar-nos,
para qual
tornar agradável tôda a nossa atividade em sua santa
pre-
Sença, afim de nós, vasos frágeis, também seu
por proclamar
nome sublime, aumentar a santa igreja-mãe e esclarecer os

pagãos errantes nas trevas. Tal foi o voto comum de todos

nós; tendo eu, obrigação bem sabida é


porém, particular, que
da senhora minha doce mãe, não a esquecera, como, em ver-

dade o digo, nada faço sem dela me lembre; também digo


que
cada vez me ocorre aquela obrigação, imploro com
que que

ferventes a Deus infinitamente misericordioso ouça


preces que

minhas súplicas e me console nestas minhas misérias e vida

amarga neste mundo. Tal foi e tal há-de ser o meu


pedido
enquanto viver, e o fito de todos os meus atos.

Ao acabarmos as nossas aliviar de certo modo


preces, para
nossa viagem, trouxeram-nos logo muitas e belas frutas
penosa

americanas e néctares saborosos, com um cheio de água


pote

e farinha de é aqui o nosso Assim chegamos a


pau, que pão.

esta daquém-mar, almejada havia muito, a respeito


província

da não duvido a senhora minha doce mãe ouvir


qual que queira

algo; isso descrevo o vi em dois meses; es-'


por que poderia

crever mais, se tivesse mais dentro do mas


penetrado país,

até aqui a minha morada foi do mar. No mês de de-


perto

zembro hei-de ir mais dentro, mas não sei ainda o rumo.

-mas
Por isso o Maranhão é uma ilha bela, não muito

com 6 léguas de extensão e 5 de largura; abrange


girande,

uma cidade, de nome Maranhão, e ou cinco aldeias.


quatro

Os moradores da cidade são todos lusitanos, exceto os cria-

dos e as criadas, são ou sarracenos da África ou naturais


que

daqui. Os sarracenos são servos, comprados a alto às


prêço,

vezes cento e cinqüenta, duzentos, até trezentos florins;


por

eles e seus descendentes são escravos os descenden-


perpétuos,

tes, nem todos, mas só aqueles são filhos de escra-


porém, que

va; um escravo sarraceno casa com mulher livre, os


quando
filhos também são livres; um homem livre casa com
quando

escrava, os filhos são escravos Destes se compõe


perpétuos.

tôda a servidão, não é muito


que grande.

De nenhum modo é lícito sujeitar o daqui a


povo qualquer

serviço; isso, afim de ficarem isentos de serviço, é


por proí-

bido contratá-los mesmo um dia sem licença do missio-


por

nário; a este respeito anualmente S. M. manda ordens


quase
— 263 —

a todo o transe a liberdade


os governadores protejam
para que

Nas aldeias só habitam índios, os desta


dos índios. porém

cristãos. Aqui não há mas no in~


ilha são todos já pagãos,

do existe ainda uma multicfão enorme deles.


terior país

de carne o abunda, mas vinho e não


Em matéria país pão

há uma espécie de raiz o


se encontram; em vez do pão que

mandioca, os lusitanos de farinha de


daqui chama de
povo
A raiz tem forma de rabanete ou de ce-
e com
pau, justeza.
dentro, fora; a interna,
noura, branca por preta por parte

nã© é cozida, é veneno mas a casca é antídoto;


enquanto puro,

a come crua, mas com a casca, não faz mal


isso a
por quem

Descascam-na bem, e espremem o suco em saquinhos


nenhum.

feitos da casca; mas tal suco deve ser


compridos, adrede

em cochos e, depois de deixá-lo ali mais


recolhem-no
guardado;
noite, entornam o líquido. Tal suco é ve-
um dia e uma puro

rês ventura o bebe, de certo morre. A


neno; se alguma por

de ser dela espremido o suco, é colocada em


farinha, depois

em baixo destas faz-se um bom fogo, e assim


caldeiras;
grandes
com colheres, e é este o
cozem a farinha, padejando-a grandes

tocante à segunda farinha, sedimento do suco espre-


No
pão.
raiz, expõem-na à luz do sol secar e co-
mido da para
primeira

da maneira dita; ambas são brancas, mas a


zem-na depois já

é como a neve, e serve somente ser comida pura


segunda para

ou, ainda, com mel de cana, e é


como tempero, preparam-na

como a sêmola.

A farinha, isto é, o comem-no com colher;


primeira pão,

não o uso, apenas, assim dizer, o e como


eu ainda por petisco,

só. Tenho ainda, é verdade, um bocado de seco da-


carne pão

do navio, mas o saboreio apenas de vez em à


quele quando,

estou com muita fome. Se tivesse


de pospasto, quando
guisa

de dinheiro, teria comprado uns dois barris de fari-


um pouco

nha de trigo ou de macarrão, comer às vezes um bolozi-


para

ou uma fogaça mas, enquanto, tudo isto outro re-


nho ; por

médio não tem senão resignada. Diz-se aquêles


paciência que

estão acostumados ao daqui, nem lhes ocorre desejar


que pão

de trigo.
pão

A carne é de vaca, carneiro, veado e A forma


javalí.

dêste último é como em nosso é menor, tem o um-


país, porém

bigo nas costas, e uma carne bem branca, diferente, mas mui

saborosa.
— 264 —

Bem diverso animal é o de nome Paca; eu ainda não a vi,

mas dizem-na coisa Há também outros animais,


principesca.
como ex. a Anta, semelhante ao cavalo, com a cabeça muito
p.

parecida à deste; tem crina, mas muito como se


pequena,
fôsse cortada artificialmente, unha bifurcada, castanho;
pêlo
vi uma delas, não viva, mas cortada em os
quatro partes, que
índios mataram com seis flechas, mas não a experimentei,
por-

que deve menos durante um dia exposta ao


permanecer pelo
sol ficar boa, e eu tinha Foi na localidade de
para pressa.
nome Pivicuma vi esse animal.
que

Onças, há tantas, nem a metade seria e


que precisa (1),

isso é medonho na floresta; comumente,


por passear quando
alguém floresta, as árvores a
percebem que passa pela galgam

furto e em cima da Quando me dirigi a Piricuma


pulam gente.

através de duas espessas florestas de tive de ir uma


palmeira,
légua de e em todo o caminho levamos espingarda na
pé,

mão. É verdade se a leva um cão, a onça neste


que, gente pula
último e deixa o homem; um europeu vai com
passar quando
um homem daqui ela em cima deste e deixa aquêle ir-se
pula

embora em um homem daqui com um sar-


paz; quando passa
raceno, ela mata o sarraceno.

Há outros animais belos, menores, mui semelhantes


porém
à onça, mas não fazem mal nenhum e fogem da Tar-
gente.
tarugas, há muitas, e médias. As
pequenas, grandes gran-
des não se comem; só se lhes aproveita a casca, é ven-
que
dida muito cara, 46 escudos de Maria libra Quanto
por (2).
às médias, o fígado delas não é cozido, mas a3sado; um ho-

mem fartar com um fígado.


pode-se

Pássaros, encontram-se de todas as espécies, não can-

tadores, mas de aspecto tão belo é vê-los;


que prazer gaios

de tôdas as côres, repetem tudo o ouvem; o


que que que
há de estranho é nem lhes talham a língua : é como ma-
que
deira, e no entanto aprendem tudo.

Outro me agrada chama-se


pássaro que particularmente

Guará; é vermelho como veludo e enfeita a como se es-


praia
tivesse encoberta de belo veludo vermelho; a carne tem o sabor

da do selvagem. Há muitos de espécies diversíssimas,


pato

alguns lembram, no aspecto ou no sabor, as-galinholas.


que

(1) "Onças, há tantas, que nem a metade seria precisa". Expressão de caráter

pilhérico e popular, ainda hoje usada em húngaro para exprimir abundância de coisas
más.

(2) "Escudo dc Maria". Moeda em que se cunhava a imagem de Maria.


— 265 —

Aves das espécies européias, ainda não vi, a não ser a co~

ruja. A respeito de não escrever muito,


peixes posso pois

moro do mar aqui há e não são muito


perto (1): poucos peixes,

bons.

Frutas, há bastantes. A mim, sobretudo me agrada o

Ananás, de há vi um dêles em
que grande quantidade. Já

Nagy,szombat, mas nem de longe era como estes, atingem


que

o tamanho dè um melão médio. Fazem com ele um licor,


que

é bebida Há aqui- um fruto [segue uma


principesca. por pala~

vra ilegível], muito louvado; eu ainda não o vi, só co-


porque

meça a florescer no mês vem; a árvore é com a


que parecida

cerejeira, ou antes, com a mas é Pelo con-


ginjeira, pequena.

trário, saboreio todos os dias a fruta chamada Pacova,


porque

dura o ano todo; a árvore é como o milho, maior, com


porém

folhas muito compridas e da largura de dois o


quase palmos;

sabugo é como um cacho, todos os lados; tem a


pende para

forma daqueles cornozinhos feitos pevide não


pelos padeiros;

tem; tirando-lhe a folha, a é tenra, come-se toda e tem


polpa

de morango.
gosto

Há muita-s outras frutas, sobretudo laranjas, superam


que
até as de Portugal; os limões não usamo-los em vez
prestam,
de vinagre. Algodão, cravo, café, mel de cana, cacau, baü-

nilha, chocolate, e outras coisas assim, há bastante.


pimenta
Da cana faz-se mel, como também açúcar; ainda não vi como

se faz o açúcar. O mel não é mais do água espremida da


que
cana meio duma esta água é cozida até se
por prensa: que
torne amarela e espessa.

Seria mim muito mais agradável houvesse ai-


para que
hortaliças; há falta absoluta delas: tivesse eu
gumas porém
trazido umas sementes, e seriam agora de
grande proveito.
Tenho ainda sementes de salsa e de salada, me deu em
que
Szeged a senhora Ladislau Fáy, minha cunhada: Deus a

abençoe tal esmola, real e verdadeiramente o foi. No


por que
meio de tudo isto, vivemos em tal aperto, ó senhora minha doce

mãe, há semanas não como senão carne de vaca sêca


que

ao sol, verdadeiramente é como lasca de madeira, e um


que

de frutas, comer muito não é aconselhável, a tal


pouco pois

ponto um triz não adoeci. A carne não se res-


que por pode
causa do calor, a não ser depois de bem
guardar por grande
sêca. Na floresta encontrar comida, mas onde
poder-se-ia

(1) Frase irônica, seguramente.


— —
266

há e chumbo ? Há é certo, mas


pólvora grande quantidade,

não nos dão de


graça.

Peço licença à senhora minha doce mãe na


para pôr

carta escrever ao senhor meu irmão Ladislau o ainda


por que

me falta dizer, tenho obrigação de visitar igualmente


pois

com carta o senhor meu doce irmão e sua família, sabendo

a carta vai dar às mãos de suas mercês intermédio


que por

da senhora minha doce mãe. Por isso, beijo, finalmente, as

maternas mãos da senhora minha doce mãe, com humilde


peço

coração filial sua bênção materna e recomendo-me à fiel lem-

brança da senhora minha doce mãe, ficando até a morte da se-

nhora minha doce mãe. — Tapuitapera, na América, 12 de

setembro 1853. Filho obediente David Fáy, missionário S. J.

Posescrito. Peço desculpas humildes à senhora minha doce mãe

ousar enviar às suas mãos carta suja (í); tê-la-ia copiado


por

se, tendo os navios, não tivesse medo de as minhas


pressa que

cartas não acabassem ficar aqui.


por

3.

Louvado seja Cristo. Ofereço meus préstimos


Jesus

cheios de verdadeiro afeto fraternal ao senhor meu doce

irmão.

Na carta dirigida à senhora minha doce mãe descrevi

minha viagem marítima e algumas coisas aqui existentes; mas

como nela não fiz menção nenhuma de certas coisas, e tam-

bém desejo nesta carta destinada ao senhor meu


porque que

doce irmão houvesse igualmente novidades, atrevo-me a in-

comodar o senhor meu doce irmão com esta nova carta e a

demonstrar assim minha natural e fraternal fidelidade, espe-

rando o senhor meu doce irmão e todos os seus (sendo


que

destinada a carta a todos, escrever a cada


presente porque

um é impossível causa dos elevados), como tam-


por gastos

bém os senhores meus doces irmãos e cunhados e as senho-

ras minhas doces irmãs e cunhadas, não desprezarão tal

anúncio do amor cordial de seu irmão errante,


pobre que

outro testemunho dar não


pôde.

Por isso, chegados aqui em a 15 de e desem-


paz julho

barcados a 16, como relatei na carta redigida à senhora minha

(1) Estas palavras são ditadas ao nosso epistológrafo exclusivamente pelo


temo amor filialà mãe querida, pois, além de alguns riscos insignificantes, não se
encontra na carta nenhum vestígio de sujeira. {Nota de J. Foltin.)
— 267 —

doce mãe, três semanas descansamos todos nós. No


quase

terceiro dia, o R. P. com um leito,


provincial presenteou-me
isto é, uma rede feita de fio de algodão: é, aqui, a cama de

tôda a coisa boa, logo a se acostuma, e


gente, que gente

bem adaptada ao calor daqui. Dependuram-no em dois


gran-

des ou em duas árvores, e logo o leito está em


pregos pronto,

lugar, mesmo no caminho; é o maior bem dos índios,


qualquer

e o mais
precioso.

No dia de agosto recebemos nossas instruções.


primeiro

Eu fui mandado, ter-me oferecido espontaneamente


por para

isso, entre uma de nome barbados. Saíram eles da fio-


gente

resta há uns vinte anos, mas continuam terríveis, e não


podem

despir a selvajaria, as mulheres; estas,


principalmente quando

dão à luz, imediatamente examinam a sua e, achando-a


prole

feia, matam-na ato contínuo; isso o missionário deve cui-


por

dar de estar seja evitar a morte dos recém-nas-


presente, para

cidos, seja impedir morram sem batismo.


para que

Os homens, como as mulheres, as orelhas, de


perfuram

modo se olhar através delas, alargam o furo, e


que pode
enfiam nele coroas de fõlha de milho, ou
grandes palmeira,
de outra ou ainda coroas de ervas servirem de
planta, para

brincos. Quando se lhes dar outros brincos, de


quer prata
exemplo, não dizendo tais brincos são bo-
por gostam, que
nitos e convém aos lusitanos, mas não a eles. Acostumam-

-se dificilmente ao vestuário; o toleram


os homens um
pouco,
as mulheres de nenhum modo; afinal, depois de muitas admoes-

tações e muita saem da choupana ou


persuasão, quando

quando um missionário vai visitá-los, cobrem-se de algumas

folhas e com isso o vestido de está


gala pronto.

Com vidros e dourados, fiz uns brincos, e


pintalgados

em um fio; um homem do Maranhão viu um deles e


pu-los

não me deixou em enquanto não lho dei; disse com muita


paz

alegria ia levá-lo à mulher; talvez esta ninharia lhes


que

agrade; tenho material bastante, confeccionar até mi-


posso
lhares dêsses brincos. A daqui, e os índios em
gente geral,
não conhecem mais do os objetos de
presentes gratos que
ferro, nomeadamente machados, facas e Os índios
porretes.
não são nem amarelos, mas variam entre o e o
pretos, preto
amarelo, e são bem feios. Da igreja ainda não muito,
gostam
e num dia da semana, um dêles vem assistir à missa
quando,
— 268 —

ou a outro serviço divino, logo depois vai o missio-


procurar
"Pai,
nário, dizendo: — ter eu vindo à igreja."
paga-me por

Sem serem não dão sequer um aliás a retribui-


pagos, passo;

não é muito um anzol, uma agulha de coser, um


ção grande:

bocado de mel ou outras nicas do mesmo às vezes,


gênero;

até essas bagatelas nos faltam; há-de fazer, em


porém, que

tal caso, o do missionário ? Não acha outra coisa senão


pobre

farinha de
pau.

O há de mais nesse é não admitem


que grave povo que

nenhum castigo. O missionário castigar


precedente, querendo

uma criança alguma travessura, bateu-lhe na mão; logo a


por

aldeia inteira se sublevou e voltar à floresta; teve


quiseram

bastante fazer apaziguá-los. Era o meio desses


que para para

eu devia ir; não sei o R. P. teve


gentios que porque provincial

tal confiança na minha modesta Eu também, é ver-


pessoa.

dade, a sua me enviasse à missão mais


pedira paternidade

houvesse; no entanto, não sei razão mo-


penosa que por que

dificou depois a sua ordem. Houve aqui, nesta altura, alguns

daquele fí-los chamar, abracei-os, e beijei-os um após


povo;

outro, ao eles, sorrindo, me apertaram contra o e


que peito,

os sabiam a língua dos lusitano;s começaram a conversar


que

comigo. Se vossas mercês tivessem estado ter-se-


presente,
-iam divertido comigo: em tempo, tomaram-me afeição e
pouco

ensinar-me em breve a língua.


prometeram própria

Quando souberam da minha mudança, vieram-me


pro-

curar, com aparato, e disseram-me desgosto tal


grande quanto

mudança lhes causara, todos de mim, e pe-


porque gostavam

diram-me fôsse viver com eles, senão neste ano, me-


que pelo

nos no vindouro; afinal, em vez de despedida, pediram-me

anéis e fumo, e eu dei-os a todos eles.

Agora até o dia 12 de dezembro servirei aos portugueses

em Tapuitapera, uma vila bem Esta signi-


grande. palavra

fica na nossa língua, isto é, na brasileira, lugarejo


que per-

tencera aos tapuios mas não lhes mais. Tapai signi-


pertence

fica bárbaro; isso se alguém dá tal nome ao daqui,


por povo

não embora êles nos dêem o mesmo nome a nós outros


gostam,

somos brancos, mas não lusitanos: mas acrescentam ao


que

nome a tirtga, significa branco, donde Tapuiringa


palavra que

isto é, bárbaro branco.


[sic],
— 269 —

Aos lusitanos chamam, mais honestamente, de caraíbas,

o também significa branco, mas a tem origem


que palavra

mais elevada, vem de caraibebé, significa anjo.


pois que

No entanto mais de nós e sabem distinguir entre


gostam
nós e os lusitanos. Um índio veio ao Maranhão, da aldeia

de Pindaré; estando todos nós no do P. Szluha,


quarto João
veio ter conosco, abraçou-nos e disse a cada um de nós:

Tapuitinga katu, Tapuitinga katu, isto é: o bárbaro branco

é bom, o bárbaro branco é bom, rindo e de alegria.


pulando

Uma semana após a minha chegada tive a sorte de visitar

uma aldeia de índios. Havia entre eles muitos doentes, coita-

dinhos, e não encontraram ninguém os ajudasse naquele


que

extremo; isso vieram implorar-nos; embora não soubesse


por

ainda a língua, valí-me do catecismo em língua lusitana e

brasileira, auxiliei como melhor aquêles desamparados;


pude

até batizei uma criança de dias: este foi o


quinze primeiro
fruto da minha missão na América.

O caminho, tive de ora mar ou rio numa


percorrê-lo por

canoa, ora através das florestas, a As florestas


pequena pé..

que eu vi são muito belas. São constituídas sobretudo de


pai-
meiras, mas há também número de outras árvores.
grande

Geralmente as árvores aqui são magníficas, vermelhas, azues,

amarelas, Um homem hçnesto me com


pretas. presenteou

uma vara de de côr verdoenga: esfregada com


pau, pano,
fica brilhante o vidro; construção acham-se muitas
qual para
madeiras, cada mais bela, tôdas de lavra difícil causa
qual por

da dureza; mesma razão, ardem dificilmente, e não há


pela

de as casas de madeira se com facilidade,


perigo que queimem

a menos se fizesse um fogo ao delas. A melhor


que grande pé

madeira o trabalho é o cedro, ser duradouro e mole.


para por

Há uma árvore, de nome Kisi cujo fruto é


(leia-se: quixi),
sabão. Há outra árvore bem dá um fruto de
grande que que
se fazem chícaras, copos, e outros vasos da mesma es-
pratos
na realidade é cucúrbita, mas é muito bonito, enquanto
pécie:

da árvore, uma melancia; os índios sabem


pende qual pintá-la

com muita arte.

Para onde serei mandado depois da minha atual estada,

ainda não sei dizê-lo. Por enquanto, estou designado ir


para

à aldeia de Macaen, a chamam aqui terrestre,


que paraíso

mas tenho certeza de não ir lá antes de mais ou menos


quase
seis meses, esperamos um bispo de Lisboa,
porque governador
— 270 —

visto ambos (os dois bispos anteriores) morreram em três


que

semanas. A dita aldeia chama-se terrestre


paraíso porque,
tendo um chão bom e fértil em tudo, campos e florestas
possue

excelentes. Existe ali, um lago bem


particularmente, grande;
como agora, no verão, os riachos e torrentes da região seca-

ram, todos os animais se encontram ali de manhã e de noite

matar a sede. Estando de canoa, é um observar


para prazer
aquela variada multidão de bichos.

Aqui a variação das estações consiste em verão e in-

verno; na verdade, o tempo é igual o ano todo, como na

Hungria costuma ser nos meses de no inverno,


junho; porém,
chove todos os dias; no verão, de noite e de dia não
quase

o vento, enquanto não há chuva.


pára

Não tenho mais o comunicar a vossa mercê senão


que
uma notícia certamente os deixará alegres conosco
que por
causa do acréscimo da santa igreja-mãe, a saber : dois
que
foram retirados da floresta e estão construindo
povos povoa-
dos. O chama-se Ivaví e está distante daqui 400
primeiro
léguas húngaras; o segundo, Cavava, ou, em lusitano, Game-

Ias, causa dos enormes beiços; êles fendem os beiços


por

quando crianças, atravessam-lhes um redondo e alar-


pauzinho
todos os anos, até obtêm a forma duma colher
gam-nos que
de daquelas servem tirar a coalhada. Não seria,
pau, que para

aliás, um feio; as mulheres não deturpam os beiços, só


povo

os homens. Tendo êles muitos inimigos, recorreram aos lusi-

tanos os defendessem; isso, foi-lhes mandado


para que por

pelo um comissário, acompanhado nosso


governador pelo pro-
vincial e dois e fizeram aliança com êles, segundo
padreís, pe-
diram. Êsse aos lusitanos o defendessem dos
povo pediu que

inimigos; nós, nosso lado, saísse da fio-


por pedimos-lhe que
resta, morasse numa aldeia e adotasse a doutrina; ambos os

foram aceitos.
pedidos

Portanto o P. celebrou missa santa, durante


provincial
a os soldados, tinham ido com o comissário, des-
qual que
carregaram as armas, como de costume. Ouvindo isto
pela
vez, aquela selvagem teve um susto terrível e,
primeira gente
como costumam em nosso as reses, correu aqui e
país por por
ali, com berros e Depois de voltar, examina-
grandes pavor.
ram as espingardas e admiraram viesse delas tamanho ba-
que
rulho; aproximaram-se, das armas, com muito tremor,
porém,
— 271 —

e os soldados dispararam uma segunda vez, de novo


quando

se dispersaram correndo.

Tendo acabado o P. a missa santa, aproximou-


provincial
-se deles o P. com a língua têm uma fala
provincial (eles par-

ticular, diferente de todas as outras, e não entendem a língua

isto é, cabacca.) Estando o P. Provinical com a cabeça


geral,
coberta, o começou a admirar-lhe o chapéu; rodearam o
povo

P. tiraram-lhe o chapéu com habilidade, de-


provincial, grande

experimentaram-no, uns após outros, homens e mulheres,


pois

nas cabeças, a rir e a de alegria. O P.


próprias pondo-se gritar

se dos raios do sol, aqui são


provincial, para precaver que

muito nocivos, cobriu a cabeça com o lenço, à falta de outra

coisa; mas o lenço também agradou muito aos bárbaros e fi-

zeram com o lenço o tinham feito com o chapéu. Que se


que

devia fazer ? O P. deu-lhes chapéu e lenço, e os


provincial

dois religiosos tiveram de agir do mesmo modo.

Contudo, esse conhece uma arte talvez


povo que possa
servir a vossas mercês. Não comem carne crua, mas
quando

matam algum animal, cavam um fosso na terra, fazem fogo,

tiram o carvão da madeira metade


provindo queimada, põem

baixo, metade cima do animal, e recobrem-no de terra:


por por

dentro de meia hora ou menos, fica bem assado. Tendo

aprendido os nossos tal envolvem a carne em


processo, papel

ou em folhas verdes, ao#fogo, e depois, como os


passam-na

índios, cobrem-na de fogo e depois de terra. Dizem


primeiro

é excelente. Mas os bárbaros não o animal, nem


que pelam

mesmo o limpam; apenas o ao fogo tal é.


põem qual

Êsse compõe-se de cinco isto é, de cinco


povo povoados,

moram em diversas florestas. Um dêles está


grupos, que já

morando numa aldeia, e esperamos encontrar os outros


quatro

(é preciso, porém, procurá-los muito nas selvas e nos montes)

e reuni-los ao Mas recentemente foram encontra-


primeiro.
dos dois de natureza muito bela e boa. A cada hora,
povos,

saem missionários à dêles, e é a sorte caia


procura possível que
em mim. Queira Deus nosso Senhor Todo-Poderoso eu
que
trabalhar entre os o aliás, no futuro, não
possa pagãos, que,
deixará de acontecer. Quanto ao mais, seja feita a vontade

de sua majestade santa; temos obrigação de a


proporcionar
todos o reino de Deus, e temos trabalhado bastante, mesmo

com os maus cristãos.


— 272 —

Não sei o narrar ainda. Futuramente também, cada


que

vez vierem barcos, a vossas mercês informá-los


que prometo

de tudo. Possa eu ter a sorte de, não ver vossas


podendo

mercês em observar ao menos, sua letra,


pessoa, pela que
ainda não caí completamente de sua memória; é verdade
que

se esquecem fàcilmente os ausentes, mas eu, embora imerecida-

mente, senti sempre tanta fraternidade em vossas mercês,


que

nisso nem devo Se tivesse meio, oferecer-lhes-ia, à


pensar.

senhora minha doce mãe como também a vossas mercês, al-

raridades brasileiras, mas dificilmente o creio


gumas possível.

Até Viena talvez mandar alguma coisa, não


pudesse porém

seria sem é no entanto, daqui a cinco ou


gastos; possível, que

seis anos tenha ensejo de fazê-lo; de certo, não hei-de des-

nenhuma oportunidade.
prezar

Afinal, verem os europeus língua bela nos é


para que

aprender agora, transcrevo aqui o


preciso padre-nosso, que
nós costumamos transcrever segundo a língua lusitana, mas

desta vez o faço segundo a húngara vossas


pronúncia para

mercês lerem bem :

Ore rub Übáküpe tokoár imoète-püramo nde réra tojko

tour nde Reino: Tonyemonyang nd remimotara übü-peüba-

küpe nyemonyánga iabé ore rembiu araiabióndára eimeény koti

orébe, ndenyito ore angaipába reszé orébe, ore reredo memo-

aszia szupé orenyiró iabe, Ore-moár ukár-üme-iepé tentaszao

ore mbue aiba szui. Amen.


pupé, püszüro~te-iepé

Com isto termino a minha carta, ao senhor


já pedindo

meu doce irmão me faça a caridade de mandar copiar esta

carta e a dirigi à senhora minha doce mãe, enviá-las


que para

aos senhores meus irmãos e aos senhores meus cunhados Nor-

berto e Amerigo Foglár, e, se houver um terceiro, a


Jabroczky

êle também, e às senhoras minhas doces cunha-


prinicipalmente

das. Copiá-las-ia mas faltou-me tempo, tendo


pessoalmente,
ocupações incessantes nos serviços espirituais, e também temi

o excessivo; isso tôdas as bênçãos celestes e terres-


gasto por

tres de Deus nosso Senhor sejam com vossas mercês, ut sic

transeam super bona temporalia, ut non amittamus aeterna.

Humildemente cumprimento a senhora minha doce cunhada,

como também os santinhos, o Chico, o Alberto, as xduas

Marias, a Aninha, a Cunegundes, e o Tésai, de cujo outro

nome não me lembro. Recomendando-me à lembrança e ao

amor fraternal de vossas mercês, subscrevo-me, até à morte,


— 273 —

do senhor meu doce irmão e de vossas mercês, em Tapui-

tapera, na América, Ano 1753, die 16 Septembris, afetuoso

— David Fáy, S. missionário


servidor, irmão e cunhado J.

maranhense.

P. S. Se vossas mercês escrever-me, redijam


quizerem

assim o endereço: Rdo. Patri in Xto. Patri Davidi Fáy, e

Soct. Iesu, Vice-Provinciae Maranhão missionário. Commen-

datur R. P. Procuratori Generali. Província Maragnonensis.

Ulyssipondin Coll. S. Antonii.

Peço, a vossas1 mercês com muita humildade


porém, quei-

ram escrever em fraco, de modo não muito,


papel que pese

senão às vêzes devem ser até florins uma


pagos quatro por

carta.

120.929 F. 1S
A BIBLIOTECA NACIONAL EM 1942

RELATÓRIO

ao
que

EXMO. SR. DR. GUSTAVO CAPANEMA

Ministro da Educação e Saúde

apresentou em fevereiro de 1943

O diretor

RODOLFO AUGUSTO DE AMORIM GARCIA


Ministério da Educação e Saúde. — Biblioteca Nacional.

— — Fevereiro 1943.
Rio de D. F. de
Janeiro,

Senhor ministro :

Em observância da alínea 27 do art. 9.° do regulamento

da circular G - 288, de 10 de
desta repartição, e nos termos

novembro de 1936, tenho a honra de apresentar a V. Ex. o

relatório das ocorrências verificadas e atividades realizadas

durante o de 1 de a 31 de dezembro do ano


período janeiro

findo, dos serviços a cargo da Bibliotéca Nacional.


próximo
PESSOAL

Admissões

Armando Sampaio de Matos, admitido como diarista a

de 20 de abril.
partir
Ismael Calvet Corrêa, admitido como diarista a
partir

de 18 de setembro.

Ângelo Damásio dos Santos, admitido como diarista a

de 23 de outubro.
partir

Apresentações

Octavio Calasans Rodrigues, bibliotecário classe I, apre-

sentou-se a 21 de setembro, ter regressado dos Estados


por
Unidos, onde se achava fazendo um curso de especialização.

Vera Barbosa de Oliveira, bibilotecário-auxiliar classe

G, ter regressado, em outubro, dos Estados Unidos, onde


por

se achava fazendo um curso de especialização.

Curso de especialização

Maria Antonieta de Mesquita Barros, bibilotecário-au-

xiliar classe F, designada em agosto fazer um curso de


para

especialização nos Estados Unidos.

Designações

Emmanuel Eduardo Gaudie Ley, bibliotecário classe L,

chefe da l.a Seção, fazer da comissão encarregada


para parte

de elaborar o Código Brasileiro de Catalogação de Biblio-

técas.

Pedro Rodrigues da Cunha, bibliotecário classe com


J,

exercício na 4.a Seção, lecionar a cadeira de bibliografia


para

do 2.° ano do curso de biblioteconomia, durante o impedimento

do bibliotecário classe L, Emmanuel Eduardo Gaudie Ley.

Vera Barbosa de Oliveira, bibliotecária auxiliar classe G,

designada representante do Ministério da Educação, na


para
/

„ 280 —

comissão encarregada de elaborar o Código Brasileiro de Ca-

talogação de Bibliotecas.

Waldemar de Carvalho Costa, servente classe E, desig-

nado exercer a função de chefe de em 12 de


para portaria,

setembro.

Dispensas

de Oliveira, servente classe C, dispensado a


José pedido,

em 11 de setembro, da função de chefe de


gratificada por-

taria.

Maria da Penha Haddock Lobo de Affonseca, bibliote-

cário classe I, dispensado a da atribuição de repre-


pedido,

sentante do Ministério da Educação, na comissão encarre-

de elaborar o Código Brasileiro de Catalogação de


gada

Bibliotécas.

Elogios

Asgal de Medeiros, bibliotecário auxiliar classe H, elo-

inestimáveis serviços à Bibliotéca, com


giado pelos prestados
rara dedicação e comprovada eficiência.

Francisco, servente classe E, elogiado assidui-


José pela
dade, zelo e boa vontade demonstrados serviços durante
pelos
o impedimento do chefe de licenciado trata-
portaria, para
mento de saúde.

Arthur Ferreira Braga, trabalhador classe D, elo-


José

bons serviços e a bôa vontade demonstrados nas


giado pelos

arrumações e modificações feitas nas diversas Seções,


por
ocasião das obras realizadas nesta Biblioteca.

Aposentadorias

Pedro Alvares Coutinho, bibliotecário classe aposen-


J,

tado decreto de 24 de março.


por

Asgal de Medeiros, bibliotecário auxiliar classe H, apo-

sentado decreto de 31 de março.


por

Arthur Dias, servente classe E, aposentado decreto


por
de 11 de novembro.

Exoneração N

Evilásio Alves Maia, servente extranumerario diarista,

dispensado em 6 de maio, ter aceitado outra função


por pú-
blica.
— 281 —

Licenças

Victor Léo Rõmer, servente classe D, licenciado nos


pe-

ríodos de 19 de dezembro de 1941 a 18 de março de 1942 e

de 19 de março a 18
junho.

Américo Rodrigues da «Silva, servente classe B, licen-

ciado no de 13 de outubro de 1941 a 12 de de


período janeiro
1942, em
prorrogação.

Alzira Cabral Barreira Cravo, bibliotecário auxiliar classe

G, licenciado um ano, em na forma do ar-


por prorrogação,
tigo 165, do decreto-Lei 1.713, de 28 de outubro de 1939.

Arcilio de Moura Estevão assistente de ensino


Júnior,
XV, licenciado 15 dias tratamento de saúde, a
por para partir
de 23 de
junho.

Regina Maldonado d'Eça, dactilógrafo classe G, licen-

ciado 10 dias tratamento de saúde, a de 26


por para partir
de
junho.

Eustachio Carmo, bibliotecário auxiliar classe H, licen-

ciado 10 dias tratamento de saúde, a de 1S


por para partir
de
junho.

Jurema da Costa Araújo, dactilógrafo classe G, licen-

ciado 20 dias tratamento de saúde, a de 21


por para partir
de
julho.

Antonio de Souza, servente classe D, licenciado 7


por
dias tratamento de saúde, a de 7 de
para partir julho.

Waldemar de Carvalho Costa, servente classe E, li-

cenciado 30 dias tratamento de saúde, a de


por para partir
25 de outubro.

Rodolfo Júlio Ferreira Filho, servente classe C, licen-

ciado 8 dias tratamento de saúde, a de 17


por para partir
de outubro.

Francisco Waldemar Veiga, servente classe C, licen-

ciado 8 dias tratamento de saúde, a de 23 de


por para partir
outubro.

Manoel Affonso Braga, bibliotecário auxiliar classe F,

licenciado tratamento de saúde, no de 2 a 24


para período
de dezembro.

Rafael Lopes Ferraz, servente classe C, licenciado


para
tratamento de saúde, 32 «dias, no 28 de no-
por período de

vembro a 29 de dezembro.
— —
282

Nomeações

Maria Regina do Vale, Acyl de Medeiros, Alice dos

Reis Príncipe, Marilia Socci Cabral, Eunice Socci Cabral,

Nidia Dantas e Nadir Teixeira de Castro, nomeados


para

exercer, interinamente, as funções de bibliotecário auxiliar

classe E, decreto de 10 de fevreiro d 1942.


por

Octavio da Silva Ramos, Paulo de Leão, Evilásio Alves

Maia, Manoel Rodrigues Fernandes Filho, Mirco Peter,

Ademar Mota dos Santos Wilson Gallart de Menezes, Nilo

de Oliveira Santos, Waldir Camara, Maria das Do-


Joaquim

res da Silva Azevedo e \Valker Calvet Corrêa, serventes

interinos, admitidos como extranumerários diaristas a


partir
de 2 de fevereiro do corrente ano.

Flora de Araújo Whitehurst, nomeado exer-


Jorge para

cer interinamente as funções de bibliotecário auxiliar classe E,

decreto de 10 de fevereiro.
por

Promoções

Manoel Rodrigues da Silva, servente classe D,


promovido

a classe E, da mesma carreira, decreto de 31 de de-


para por

zembro de 1941.

Antonio do Nascimento, Benjamin Constant Fer-


Júlio

reira e Antonio de Souza, serventes classe C,


promovidos para

a classe D, da mesma carreira, decreto de 31 de dezem-


por

bro de 1941. •

de Carvalho, servente classe B,


José promovido para

a classe C, da mesma carreira, decreto de 31 de de-


por

zembro de 1941.

Luiz Gonzaga de Siqueira Cavalcanti, bibliotecário classe

I, a classe decreto de 25 de agosto.


promovido para J, por
Bernardino Carioca e Maria da Silva Reis, biblio-
José

tecários auxiliares classe F, a classe G,


promovidos para por

decreto de 26 de agosto.

Rodolfo Ferreira Filho, servente classe B,Npromo-


Júlio

vido a classe C, decreto de 28 de agosto.


para por

Celuta de Hannequim Gomes, bibliotecário auxiliar

classe G, merecimento a classe H,


promovido por para poi

decreto de 31 de dezembro.

Manoel Affonso Braga, bibliotecário auxiliar classe P.

antigüidade a classe G, decreto de 31


promovido por para por

de dezembro.
— 283 —

Remoções

da Costa Araújo, dactilógrafo classe G, removido


Jurema

da Divisão do Pessoal a Bibliotéca Nacional, de-


para por

creto de 3 de fevereiro.

Gonçalves, escriturário classe F, removido do Ins-


José

tituto do Livro a Bibliotéca Nacional, ofício 4374,


para por

de 2 de
julho.

Carlos Pinto dos Santos, servente classe C, removido

o Serviço de Comunicações, decreto de 22 de de-


para por
zembro.

Designação de serviço interno

Álvaro Freitas dos Santos, bibliotecário auxiliar classe

H, responder serviço noturno de consulta


para pelo pública,
em 6 de fevereiro.

Maria Antonieta de Magalhães Requião, bibliotecário au-

xiliar classe E, servir como secretário ad hoc no Curso


para

de Biblioteconomia, em 6 de março.

Cecilia Helena Roxo Wagley, bibliotecário auxiliar classe

G, organizar o serviço de referência anexo à l.a seção,


para

tendo como ajudantes os bibliotecários auxiliares classe E,

Maria Antonieta de Magalhães Requião, Acyl de Medeiros

e Nadir Teixeira de Castro.

Gonçalves, escriturário classe F, servir na 1.*


José para
seção, turma da noite, removido do Instituto do Livro
para

esta repartição, em 2 de
julho.

Dispensa de
funções

Marilia Alencar Roxo, bibliotecário auxiliar, classe E,

do serviço de secretário ad hoc do Curso de Biblioteconomia.

Waldir Camara, diarista, ter sido nomeado


Joaquim por
outro cargo, em 24 de agosto.
para

Vaz de Siqueira Cavalcanti, diarista, dispen-


João José

sado a em 5 de outubro.
pedido,

Elogio

Américo Rodrigues da Silva, servente classe E, elogiado

ter encontrado um relógio de níquel com corrente e feito


por

entrega ao seu respectivo dono.


— 284 —

Férias

Sem o serviço, os funcionários desta Re-


prejuízo para

as férias regulamentares, de a de-


partição, gozaram janeiro

zembro, em diversas turmas.

DIREITOS AUTORAIS

Foram lavrados, da literária


para garantia propriedade

e científica, de acordo com a lei vigente, 127 termos de re-

de números 6.484 a 6.611, assim se classificam :


gisto que

Poesias • .. 1
Teatro. . 14
Diversos . 76
Direito, . 1
Didáticos 35

127

Requereram registo 129 autores e editores proprietários.

SERVIÇO DE PERMUTAÇÕES INTERNACIONAIS

Durante o ano findo manteve o serviço de


permutações
internacionais o intercâmbio bibliográfico com 87 bibliotécas

estrangeiras e 107 bibliotécas e repartições nacionais.

Foram extraídas 112 várias remessas, sendo


guias para

94 as bibliotécas nacionais e destinatários do in-


guias para

terior do constando de 441 159 cartas, 2 ofícios


país, postais,

e 470 amarrados com 1 .171 na importância de seis-


pacotes,
centos e vinte e seis cruzeiros e noventa centavos $ ... .
(Cr

626,90) e 18 aquisição de selos na importância de


guias para

mil, e cincoenta e sete cruzeiros e vinte


quatro quatrocentos

centavos (Cr $ 4.457.,20), remessa às bibliotécas es-


para

trangeiras Pan Americana) e destinatários do in-


(Convenção

terior do de 29 8 cartas e 1 .744 com


país postais, pacotes
25.042 exemplares de
publicações.

Além das remetidas via foram en-


publicações por postal,

tregues à Secretaria da Bibliotéca, 71 com 777


publicações
exemplares diversos.
para
Entraram efeito de lei e foram registados, 90
por pu-

blicações em 72.462 exemplares, dos Ministérios


procedentes
e diversas repartições.

Entraram e foram registados 16 de


pacotes publicações

procedentes: 11 do Japão e 5 da Suíça.


— 285 —

CONTRIBUIÇÃO LEGAL

Entraram no ano de 1942, contribuição legal 11.445


por

obras em 13.199 volumes, 1.540 musicais e 32.956


peças

exemplares de e revistas.
jornais

* *

CONSULTA PÚBLICA

Durante o ano de 1942 obtiveram na Secretaria cartões

de freqüência 3.310 leitores.

Consultaram os vários salões de leitura 57.420 leitores,

conforme se verifica do seguinte demonstrativo.


quadro

1"V 2 #~ 4'"- SALA D? TOTAL


MESES : 3
SEcgAO sEcgxo SEcgAO SEcgAO estudos

Janeiro 2.232 48 49 1.213 428 3.970


Fevereiro 2.003 93 67 989 392 3.544
Margo 2.460 79 61 1.409 315 4.324
Abril 2.907 35 72 1.264 423 4.701
Maio 3.811 365 73 1.343 412 6.004
Junho 3.887 327 32 1.509 416 6.171
Julho 3.267 414 80 1.074 316 5.151
Ag6sto 2.999 79 16 843 410 4.347
Setembro 3.152 55 12 862 638 4.719
Outubro 3.013 281 60 872 565 4.791 ,
Novembro 3.242 278 80 1.136 538 5.274
Dezembro 2.714 211 110 927 462 4.424

TOTAIS 35.687 2.265 712 13.441 5.315 57.420

A Biblioteca funcionou durante 354 dias.

* *
— 286 —

CLASSES E LiNGUAS obras volumes

Obras gerais 815 998


Fiiosofia 4.232 4.597
Religiao 1.058 1.160
Sociologia 5.643 6.198
Filologia 7.601 8.413
CiSncias naturais 17.720 19.522
CiSncias aplicadas 15.126 16.771
Belas Artes 1.215 1.337
Literature 19.700 21.746
Hist6ria e Geografia 10.009 11.288

BBASIL

497
Obras gerais 442
Agricultura e Zootecnia 536 588
Politica, Administragao e Legisla^ao 4.095 4.536
Com6rcio, Inddstria e Comunica-joes 1.472 1.655
Corografia, Viagens e Sociografia 1.287 . 1.412
Educaijao e AssistSncia 549 606
Literatura e Belas Artes 9.155 9.860
Hist6ria e Biografia 4.483 5.014

SOMA 105.138 116.198

Sendo em:

Alemao 582 651


Espanhol 4.311 4.937
Frances 16.630 18.906
Ingles 4.105 4.652
Portugues 78.401 85.802
Outras linguas 1.109 1.250

'
SOMA 105.138 116.198

Consultaries: 35.687
Observances |
— 287 —

A segunda seção foi freqüentada 2.256


(manuscritos) por
le.tores, consultaram 92.403 documentos, sendo 611 có-
que

dices contendo 53.457 documentos e 38.946 manuscritos avul-

sos, bem como 256 obras de referência em 333 volumes e

2.460 impressos avulsos num total de 2.795


peças.

Tanto os códices como os manuscritos avulsos eram es-

critos nas seguintes línguas :

Códices documentos Avulsos Total


N: de

Afemão. 2 2
Espanhol. 20 5.942 1.603 7.545
Francês. 6 6 49 55
Guarani. 1 1 3 4
Latim. . 2 2 2
Português 582 47.506 37.289 84.795

611 53.457 38.946 92.403

As obras de referência eram impressas nas seguintes

línguas :

Espanhol. 173 179


Francês. 128 137 137
Inglês. 16 17 17
Latim. . 2.287 2.288
Partuguês 108 172 172

256 333 2.460 2.793

Quanto aos assuntos, assim se classificam os códices

consultados.

N.° de

Classes e linguas Codices documentos Avulsos

Administra^ao. . 85 19.935 166


Autdgrafos. . * 12
Bahia (Estado) <¦— 1
Bibliografia —
Biografia e docs, biograficos 14 1.584 4.768
Botanica 20 284 —
Brasil em geral 41 1.041 —
Coldnia do Sacramento <— •— 6
Corografia do Brasil 205 10
Direito —
Epistografia 15 2.249 242
— 288 —

N.° de
Classes e línguas Códices documentos Avulsos

Espirito Santo 17
Estados Unidos -— ¦—
Estatistica <¦— 1
Farmacologia —
Genealogia 52 6.913 5
Geografia —
Goiaz 20 1.713 14
Historia do Brasil 155 8.105 30.750
Historia Natural 72 >—
Historia de Portugal 101 —
Imprensa 3
Inventarios .—

Jesuitas 86 606
Limites 44 2.474 432
Linguistica *—
Maranhao 10 812 9
Marinha <— 9
Mato Grosso 12 1
Medicina •—
Meteorologia 351 —
Minas 105 —
Miisica .— 211
Nobiliarquia e Heraldica 19 626 2
Ordzns Honorificas 84 16
Para 16
Paraguai 2.429 857
Pernambuco 7 751 1
Poesla 555 1
Politica 555 1
Portugal 10 211 3
Religiao 140 —
Rio Grande do Sul 209 54
Rio da Prata 812 584
Santa Catarina 108 —
Sao Paulo (Estado) 162 14
Sergipe 95 57
Sesmarias 315 —
Teatro 1
Viagens 15 248 33

Total 611 53.457 38.946

Línguas

Alemão 2
Espanhol 20 5.942 1.603
Francês 49
Guarani 3
Latim .. 2-
Português 582 47.506 37.289

Total. 611 53.457 ~38.946


Obras impresas Obras Volumes Avulsos

Anais 23 •—
Bibliografia 14 32
Cronologia 11 11 .—
Genealogia —
Historia do Brasil 30 •—
Linguistica —
Paleontologia 221 244 2.460

Total 256 333 2.460

Linguas

Espanhol 173
Frances 128 137 •—
Ingles 16 17 •—
Latim 2.287
Portugues 188 172 —

Total. 256 333 2.460

A terceira seção (estampas e cartas foi fre-


geográficas)

726 leitores, manusearam 902 estampas


qüentada por que

avulsas e 974 coleções com 77.335 Consultaram 529


peças.

mapas avulsos, 177 atlas com 17.430 cartas, 233 avulsos e

143 obras especiais em 22 volumes, assim classificados quanto

aos idiomas :

Português 31 obras em 46 volumes


"
Francês 56 89
"
Italiano 2! 21
"
Inglês 15 27
"
Alemão 14 24
"
Espanhol 6 11

" "
143 225

A seção (jornais e revistas) foi freqüentada


quarta por

13.440 leitores consultaram 22.892 volumes e 203.551


que

avulsos, assim discriminados aos assuntos :


quanto

Almanaques 1.040
Anais 1.518

Jornais 10.305 e 189.977 avulsos


Leis, decretos, decisões, etc 3.888
Mensagens. . 929
Relatórios . 1.353
Revistas 3.860 e 13.574

" "
22.892 203.551
Quanto ao idiomas assim se classificam :

Alemão. . 88
Francês . 929
Espanhol. 77
Holandês. 7
Inglês. . 177
Italiano. . 96
Português. 21.507

22.892

* *

SALA DE REFERÊNCIA

Durante o ano foram consultadas as seguintes obras :

História e biografia 140


Dicionário e biografia 200
Enciclopédias gerais 467
Dicionários de línguas e bi-língues 711
Bibliografia e obras de biblioteconomia. 144
Dicionário de línguas e bi-íinguas 711
Catálogos 10
Coleções. . 18
Atlas 6
Obras requisitadas dos andares para consulta 382

ENCADERNAÇÃO

Foram encadernados oficinas da Imprensa


pelas gráficas

Nacional, 4.262 volumes de obras diversas.

Devido à dificuldade no serviço de encadernação de

e revistas oficinas da Imprensa Nacional, esta


jornais pelas

Bibliotéca solicitou ofício n°. 79, de 24 de março,


por provi-

dências à Divisão do Material, no sentido de serem encader-

nados os e revistas concorrência tendo


jornais por pública,

sido encarregada desse serviço a firma L. G. Costa & Cia.,

desta Capital. Nestas condições foram encadernados 1.344

volumes de e revistas.
jornais

DOAÇÕES

Durante o ano de 1942, recebeu a Bibliotéca Na<5ional as

seguintes doações de livros :

Do Dr. A. Batista Pereira, ilustre escritor e bibliófilo, um

exemplar das Declamationes, de Marcus Fabius Quintilianus,

apud Simonen Colinaeum, Paris 1542, in~4.°.


— 291 —

Êsse livro contem as declamações maiores do


(19) grande

orador romano. Simon de Colines livreiro e im-


(Colinet),

francês, nascido em fins do século XV e falecido em


pressor
1546, colaborador, sócio e sucessor de Henri Estienne, e mes-

tre do célebre Robert Estienne, seu enteado, trabalhou de

1521 a 1546. Cerca de 700 obras saídas de suas oficinas,

testemunham sua habilidade e competência. Seguiu a técnica

dos Aldos, imprimindo livros de formato


pequeno (n-16),

acessíveis à bolsa do Empregou o itálico no texto,


povo.

criou novos caracteres aperfeiçoou o romano e aboliu


gregos,
o Foi amigo e colaborador de Geoffroy Tory. Le-
gótico.

trado, latinista, sua casa era o de reünião dos eruditos


ponto

cujas obras imprimia.


parisienses,

A dádiva do Dr. Batista Pereira tem sido devidamente

apreciada.

Entre as doações recebidas merece especial menção o le-

feito'pelo ilustre e saudoso escritor Stefan Zweig, de


gado

uma de tipográficas de Honoré* Balzac, com


página provas
inúmeras emendas e correções letra do romancista.
por grande

Êsse legado veio acompanhado uma carta escrita em


por

francês ao diretor da Biblioteca Nacional.

De S. Exia. o Sr. Presidente da República, 541 obrais

em 630 volumes.

De S. Excia. o Sr. ministro da Educação, 59 volumes

de obras diversas.

Do Sr. Dr. Duron, secretário da Delegação de


Jorge

Honduras na 3.a Conferência dos Chanceleres Americanos,

10 obras em 10 voJum'es.

Do Observátório Nacional, uma obra em 23 volumes.

Do Sr. comandante Francisco da Rocha, 36 números


J.

da revista americana Life.

Do Sr. Dr. Cândido de Campos, 377 números do


jornal

A Notícia.

Do Sr. Professor Melo e Souza, 3 obras em 3 volumes.

Do Sr. Dr. Álvaro Bomilcar, 4 números da revista

Brasílea.

Do Sr. Dr.Alberto Rangel, uma obra.

Do Sr. General Tasso Fragoso, uma obra.

Do Sr. Antônio de Souza Pinto, Exposição do Li-


pela

vro Português, 60 obras em 62 volumes.

120.929 F. ia —
292

CATALOGAÇÃO

No correr do ano, foram extraídas 4.034 fichas de au-

tores e de assuntos, os catálogos das diferentes seções,


para

sendo todas elas colocadas nos respectivos fichários à dispo-

sição do
público.

SECRETARIA

Além do registo de direitos autorais e do serviço de


per-

mutações internacionais, expediu a Secretaria às diversas se-

634 sendo 460 de contribuição legal, 16 de com-


çÕes guias,
62 de doações, 30 de internacional e 3 de trans-
pra, permuta

ferência.

Quanto à correspondência expedida constou de 318 ofi-

cios, 89 cartas, 81 de recolhimento de renda à Tesou-


guias
raria Geral do Ministério da Educação e Saúde, 22
portarias,

34 editais, 120 comunicações aos e foram extraídas


jornais

180 certidões, sendo 127 de direitos autorais, 25 de teôr e 2S

de relatório.

Incumbiu-se de todo o seu expediente, dando andamento

aos vários folhas de fôlha de auxílio


processos, pagamento,

fardamento do subalterno e das


para pessoal processamento

diversas faturas.

O secretário recebeu durante o ano dois adeantamentos

de cem mil cruzeiros (Cr $ 100.000,00) cada um, sendo

um em 9 de março e outrç em 8 de outubro, aquisição


para

de livros ; em 8 de dezembro mil e cruzeiros


quinhentos

(Cr$ 1.500,00), despesas miúdas e


para ,de pronto paga-

mento. Desse último foi aplicada apenas a de seis-


quantia

centos e oitenta e cruzeiros e 40 centavos (Cr 0 ... .


quatro

648.40), tendo sido recolhido o saldo de oitocentos e


quinze

cruzeiros e sessenta sentavos (Cr $ 815.60) .

Recolheu à Tesouraria Geral do Ministério da Educação

e Saúde, a importância total de vinte e dois mil, setecentos e

cincoenta e dois cruzeiros é oitenta centavos (Cr

22.752,80), em 81 de números 1 a 81, de acordo com


guias
Bibliotéca Anexo IV —
a rubrica 142, Renda da Nacional, n.°

Diversas Rendas — do decreto-lei n." 3.960 de 19 de dezem-

bro de 1941.
— 293 —

CURSO DE BIBLIOTECONOMIA

Durante o ano findo o curso de biblioteconomia funcio-

nou com toda a regularidade. As aulas começaram a 8 de abril

e foram encerradas a 30 de novembro o ano e


para primeiro
a 23 de dezembro o segundo ano.
para

Lecionaram as cadeiras de consta o curso,


quatro que
os Srs. bibliotecários Emmanuel Eduardo Gaudie Ley até
ju-
nho e a de 24 de Pedro Rodrigues da Cunha, a
partir junho

cadeira de bibliografia; Carlos Moreira Guimarães, a


João

cadeira de história literária com aplicação à bibilografia; Ba-

charel Bartholo da Silva, a cadeira de e di-


José paleografia

e .Floriano Bicudo Teixeira, a cadeira de iconografia


plomática

e cartografia.

Matricularam-se no 1.° ano, 170 alunos, a saber :

¦— Maria Sophia Carneira de Souza Bezerra

— Myrthes de Souza Ferreira

— Beatriz Helena Moreira Leite Pinto

— Malvina Kraiser

— Laura Barreiros de Carvalho

— Elza de Andrade
Janeiro

— Clarisse Altwegg

— Nelly Kaminitz

— Gíauce Martins do Pilar

10 ¦— Elyanna Rocha de Niemeyer

11 — Maria da Gloria de Sant Anna

12 — Maria Laura Ribeiro

13 — Marina de Oliveira Guimarães

14 — Emilia Regina Falcão

16 — Amalia Marco

17 ¦— Nina Duarte

18 — Maria Luiza Nesi de Freitas Lima

19 — Orsely Guimarães Ferreira

20 — Ugytassy de Pinho e Benevides

21 — Guiomar de Mattos Goulart

22 — Nice Miranda Santos.

23 — Annette Mary Clarkson

24 — Mario Camarinha da Silva

25 — Paulo de Carvalho Armando

26 — Maria Magdalena Lopes Damásio

27 — Gloria Carmen Dannemann


— 294 —

28 — Aline Medina Silva

29 — Maria Regina Behring Coimbra

30 — Maria Lúcia Behring Coimbra

31 — Heloísa Behring

32 — Marina Bahia de Azevedo

33 — Yolanda Ferreira Carneiro

34 — Sênia Sampaio

35 — Cecília Raineri de Magalhães Machado

36 — Yara de Goes Ferreira

37 — Lúcia Maria Vianna Machado

38 — Solon de Albuquerque Maranhão


José

39 — Luiz Alberto Magalhães Pegado

40 ¦— Lêda Maria Nogueira

41 — Natalina da Cunha

42 — Anna Leopoldina Batista Rodrigues

43 •— Regina Maria Meirelles de Castro Lima

44 — Ruth Maria de Araújo Carvalho

45 —¦ Evaristo Martins de Araújo

46 — Lúcia Laport

47 — Sylvia de Vasconcellos

48 — Maria Laura da Cunha

49 — Marilia Torres de Mello

50 — Marina Botelho
Junqueira
51 — Anna Espinar Assaf

52 — Maria Eugenia Gonçalves de Andrade

53 — Ivete de é Lima
Jambo

54 — Ondina Lopes Ribeiro

55 — Nilze Pinto Sobral

56 — Nilze de Souza

57 — Maristella de Mendonça

58 -— Aida Monteiro Furtado

59 — Dulce da Fonseca Fernandes da Cunha

60 — Maria. da Fonseca Peyon

61 — Maria Consuêlo de Messias

62 — Nilza Pinheiro Guida

64 — Maria Ailza Franco

65 — Maria de Lourdes dá Costa e Silva Castro

66 — Edda Multedo

67 ¦— Eunice de Barros

68 — Cylda Marques de Souza

69 — Maria de Lourdes de Abreu Lima Raposo


1

— 295 —

70 — Geraldo Rodrigues
Jose

71 — Iracema Gentil Pacheco

72 — Maria Alice Ferraz e Silva

73 — Paulina Celina Albrecht

74 — Marina Amaral Gomes Brandao

75 — Lygia Marques dos Santos

76 — Fira Sirota

77 — Lygia da Cruz Debize

78 •— Alice Doris Bacellar Kostenbader

79 ¦— Maria de Lourdes Barreira da Fonseca

80 — Dulce Dantas

81 — Alda Oliveira Pires

82 -— Lea Pinna

83 — Dagmar Esteves Dias

84 — Iza Gerheim Parizzi

85 — Maria Thereza Miranda de Loyola

86 — Damares Bacelar dos Santos

87 — Maria Thereza Lage de Souza

88 — Maria Belia da Costa

89 — Maria Carmelita da Gouveia Rego

90 — Maria de Lourdes Ribeiro de Castro

91 — Luiza Gulkis

92 — Mafia da Penha da Fonseca Costa

93 — Maria Amelia Porto Migueis

94 — Neuza Pinto do Nascimento

95 •— Wanda Carneiro Martins

96 — Lucia de Almeida

97 — Pais de Melo
Jose

98 — Aurea Gentil Pacheco

99 — Dulce Moreira

100 — Marilda Vianna

101 — Neuza dos Santos de Freitas Guimaraes

102 — Helen Palhano Pain

103 — Maria Vaz Saroldi


Jose

104 — Marieta March

105 — Isadora Mariz

106 — Vera Botelho Orestes

107 — Maria de Lourdes Borda

108 — Maria das Neves Niederauer Tavares Cavalcanti

109 — Wilma Arantes de Mattos

110 — Heloisa Isaacson Carneiro Felippe


— 296 —

111 — Maria Aparecida Hachiya

112 — Carmen de Andrade Botelho

113 — Satiye Hachiya

114 — Iná de Almeida Drumond

115 — Amaury Burlamaqui Dias

116 — Sylvia Constant Andrade Fraenkel

117 — Maria Pariz de Castro

118 — Stella Xavier de Brito

119 — Mary Alice de Rezende Noronha de Carvalho

120 — Geza Guimarães Villano

121 — Musa cie Moraes Coutinho

122 ¦— Myrian Gurjão de Mello

123 — Neuza Marques de Oliveira

124 — Alice Maron Gedeon

125 — Sylvia Reis

126 — Guiomar Esteves Dias

127 — Nelie Figueira

128 — Frederico Teixeira Filhç

129 — Elsa Flores Behring

130 — Yvette Pitanguy Pinheiro Chagas

131 — Ilka da Costa Paiva

132 — Lia Flores Behring

133 — Abigail Teixeira de Sá Campos

134 — Alice Tolomei

135 — Nilza Santos

136 — Carlos Alberto Belford Vieira

137 — Rebeka Tiomy

138 — Nicia de Oliveira Lima

139 — Neréa Vianna de Carvalho

140 — Waldyr Camara


Joaquim

141 — Adelaide Vaccani Levy

142 — Niobe Bessa Gonçalves

143 — Marilda Louzada Mello de Lima

144 — Sônia Maria Pereira Rego

145 — Alba Esperança Ribeiro de Cerqueira Lima

146 — Margarida Rinelli de Almeida

147 — Yedda Vianna

148 — Tuba Scheiva Schneider

149 — Wanda Gonçalves Arruda

150 -— Nylma Thereza de Salles Vellosó

151 — Maria Cecilia Quintanilha de Sá


— 297 —

152 — Wanda Pereira da Costa

153 — Edinéa Simões dos Reis

154 — Maria de Lourdes Caçador Stahel

155 — Rita Levy Touriel

156 — Aydéa Costa

157 — Affonso Ligorio de Souza Pinto

158 — Jurema Ferreira de Castilho

159 — Olga dos Santos Luzes

160 — Regina Helena Halfeld Magalhães

161 ¦— Nilza da Costa e Souza

162 — Helena Palmeira

163 -—- Echiel Meilman

164 — Milena de Oliveira Coutinho

165 — Clarinda Gonzaga de Siqueira Cavalcanti

166 — Magnolia Guimarães

167 — Maria Luiza de Souza Mello

168 — Lygia de Lacerda Portocarrero

169 — Lêda Nascimento Cumplido

170 — Noronha Santos.


José

Desses 170 alunos somente 100 se submeteram aos exames

de época das duas cadeiras do 1.° ano, sendo apro-


primeira

vados com as seguintes médias :

NOMES MÉDIAS

1 — Orsely Guimarães Fererira 10


— Maria Carmelita de Gouveia Rego 9
— Marina Botelho Junqueira 9
— Elyanna Rocha de Niemeyer 9
Maria Sophia Carneiro de Souza Bezerra 9
Regina Helena Halfeld Magalhães 9
Maria Lúcia Behring Coimbra 9
Neuza dos Santos de Freitas Guimarães 9
Neuza Pinto do Nascimento
9
10 Myrthes de Souza Ferreira.. 9
11 Heloisa Behring 9
12 Maria de Lourdes Ribeiro de Castro 9
13 Maria Thereza Lage de Souza 9
14 Maria de Lourdes Borba 9
15 — Maria Pariz de Castro 9
16 Maria da Penha da Fonseca Costa 8
17 Marilda Vianna 8
18 Maria Regina Behring Coimbra 8
19 Ruth Maria de Araújo Carvalho 8
20 Nilze Pinto Sobral 8
21 Léa Pinna 8
22 Sênia Sampaio 7
23 Aida Monteiro Furtado 8
24 .— Nylma Thereza de S. Velloso 7
25 Satiyé Hachiya 7
— 298 —

NOMES MÉDIAS

26 — Maria Laura da Cunha 7


27 — Iza Gerheim Parizzi 7
28 — Maria Laura Ribeiro 7
29 — Sylvia Constant de Andrade Fraenkel 7
30 — Aline Medina Silva 7
31 — Nellie Figueira 7
32 — Carmen de Andrade Botelho 7
33 — Maria Alice Rezende Noronha de Carvalho 7
34 — Solon José de Albuquerque Maranhão 7
35 — Dulce da Fonseca Fernandes da Cunha . 7
36 — Yvete de Jambo e Lima 7
37 — Maria Luiza Nesi de Freitas Lima 7
38 — Ugytassy de Pinho e Benevides 7
39 .— Maria Eugenia Gonçalves de Andrade 7
40 Malvina Kraizer 6
41 — Natalina da Cunha 6
42 — Nelly Kaminitz 6
43 — Guiomar Esteves Dias 6
44 — Helen Palhano Pain 6
45 — Ondina Lopes Ribeiro 6
46 — Alice Tolomei .6
47 — Beatriz Helena Moreira Leite Pinto 6
48 — Clarisse Altwegg 6
49 — Dagmar Esteves Dias 6
50 — Maria Amélia Porto Migueis 6
51 — Wanda Gonçalves Arruda 6
52 — Olga dos Santos Luzes 6
53 — Yeda Vianna 6
54 — Dulce Dantas 6
55 — Nilza Ferreira da Costa e Souza 6
56 — Arma Leopoldina Batista Rodrigues 6
57 — Eunice de Barros 6
58 — Maria Magnalena Lopes Damasio 6
59 — Margarida Rinelli de Almeida 6
60 — Annette Mary Clarkson 6
61 — Nilza Santos 6
62 — Sylvia Reis 6
63 — Adelaide Vaccani Levy 6
64 — Helena Palmeira 5
65 — Maria de Lourdes da Costa c Silva Castro 5
66 — Marilia Vasconcellos Torres de Mélo 5
67 — Ilka da Costa Paiva 5
68 — Musa de Moraes Coutinho 5
68 — Nilza Pinheiro Guida 5
70 — Rebeka Tiommy 5
71 — Sônia Maria Pereira Rego 5
72 — Lêda Maria Nogueira 5
73 — Alice Maron Gedeon 5
74 — Edinéa Simões dos Reis 5
75 — Glauce Martins do Pilar 5
— Wanda Pereira da Costa 5
J6
77 — Lêda Nascimento Cumplido 5
78 — Nilza de Souza 5
79 — Norma Mallet • 5
80 — Vera Botelho Orestes 5
81 — Yara de Góes Ferraz 5
82 Guimar de Mattos Goulart 5
83 — Nice Miranda Santos 5
84 — Lygia de Lacerda Portocarrero 5
— —
299

Não conseguiram a média exigida aprovação 15


para

alunos. Somente um,dos alunos inscritos não compareceu aos

exames.

Matricularam-se no 2." ano, 94 alunos, a saber :

— Miridan Paranaguá Zander

— Carmen Flora Cabral

— Elza Torquato Moreira

— Paulina Goffman

— Maria Thereza Sá Antunes

— Daisy Motta

— Cele;ste Ferraz de Magalhães

— Eliesita Garcia Romey

— Lêdda Maria Nunes Pires

10 — Maria da Gloria Corrêa Vallim

11 — Emilia Maria La Roque

12 — Maria Thereza Belfort

13 — Clotilde Belisario de Carvalho

14 — Lygia Mendes Camello

15 — Adelia Kauffman

16 — Yedda Berlink Rego Macedo

17 —- Ruth Martins

18 — Julia Godois Vianna

19 — Herminia Duarte Lisboa

20 — Lêda Reis

21 — Pérola Cardoso

22 — Antonieta Caiado
Jardim
23 — Otávio Regis Konder

24 — Annita Saraiva Ramiz Wright

25 — Maria da Piedade Bezerra Mergulhão

26 — Eny de Oliveira e Silva

27 — Leilah Maria Coimbra da Silva

28 — Maria Thereza de Mello e Souza

29 — Reis Fontes
José

30 — Lys Fontes Gonçalves

31 — Marilia Goulart Penteado

32 — Deoclecio Leite de Macedo

33 — Maura Heloisa Parente Napoleão

34 — Ester Moreira Lima

35 — Celita Alda Castello Branco

36 — Marilia Pedrosa
300 —

37 — Helena Maria da Costa Azevedo

38 — Helyette Célia Brant

39 — Carmen Vera Barcellos

40 — Salles
Jamille

41 — Marieta Polistchuck

42 — Arlette Campos

43 — Nelsina Pinheiro Curty

44 — Lena Ribeiro da Cunha

— Fleury Leite
54 Yedda

46 — Nilda Maria Portes Paixão

47 — Nadyr Fleury Nazareth

48 — Glaucia Guimarães Barreto

49 — Kléber Theophilo Ferreira

50 — Maria de Nazareth Moniz de Aragão

51 — Elza Machado da Silva

52 — Leda Faustino de Figueiredo

53 — Ercilia Baker de Andrade Botelho

54 — Marina Baker de Andrade Botelho

55 — Zilda Galhardo de Araújo

56 — Suzana Schmelzinguer

57 — Rode de Morais

58 — Yedda Maria Lavrador

59 — Heloi[sa de Barros

60 — Maria Luiza de Oliveira Lima

61 — Cacilda Jorge

62 — Rubens Saldanha

63 — Nilcéa Amabilia Rossi

64 — Guiomar Reis

65 — Hugo di Biase

66 — Helena Maria Costa Calvão

67 — Tarquinio Barbosa de Oliveira


José

68 — Nilza Dolores de Carvalho

69 — Hermance de Andrade Pinto

70 — Maria de Lourdes Cavalcanti Araújo

71 — Véra Oliveira da Silva

72 — Odette Senna de Oliveira

73 — Antonietta Vianna Castello Branco

74 — Maria Alice Azevedo

75 — Maria Helena Bastos

76 — Carolina Victoria Ceylão Pereira

77 — Antonio Lopes de Faria


— 301 —

78 — Alice Alves de Souza

79 — Nancy do Carmo Rosadas Speranza

80 — Helida Gonçalves

81 — Dulcy Melgaço Filgueiras

82 — Regina Magalhães Gomes

83 — Luiza Teixeira Ribeiro

84 — Yvonne Pinto Sobral

85 — Irene de Queiroz Monteiro

86 — Dulce Pedra

87 — Mary Socci Camelier

88 — Marcella Cheferino

89 — Yara Alvarenga

90 — Maria da Penha de Freitas Martins

91 — Fausto da Silva
Jesus

92 — Marietta Latorre

93 — Léo Bernardes

94 — Heloisa de Oliveira Vasconcellos

Desses 94 alunos, somente terminaram o çurso 18, sendo

considerados aprovados com as seguintes médias :

NOMES MÉDIAS

— Ercília Baker de Andrade Botelho 6


— Deoclécio Leite de Macedo 6
.— Hermance de Andrade Pinto 6
— Celeste Ferraz de Magalhães 6
5' — Marina Baker de Andrade Botelho 6
— Marilia Pedroza 5
.— Miridan Paranaguá Zander 5
— Lêda Reis 5
— Julia Godois Vianna 5
10 — Helena Maria da Costa Azevedo 5
11 ¦— Otavia Regis Konder 3
12 — Marilia Goulart Penteado 5
13 •— Celita Alda Castello Branco 5
14 .— Yedda Fleury Leite 5
15 — Esther Moreira Lima 5
16 .— Marietta Latorre 5
17 ¦— Carmen Flora Schnidlin Cabral 5
18 — Mary Socci Camalier 5

Só requereram exame 66 alunos.

Não compareceram aos exames de e diploma-


paleografia
tica 37 alunos e o de bibliografia 18.

Não conseguiram média a aprovação 11 alunos.


para
— 302 —.

Exame de 2.a época relativo ao ano letivo de 1941 .

NOMES MEDIA

— Maria Alice Azevedo 8


.— Hugo de Biasi 8
—• Nilza Dolores de Carvalho 7
Tarquinio José Barbosa de Oliveira - • • - 7
5 .— Luiza Teixeira Ribeiro 7
.— Yvone Pinto Sobral 6
— Irene de Queiroz Monteiro 6
Carolina Victoria Ceylão Pereira 6
~ Helida Gonçalves 6
10 — Helena Martins Costa Galvão 5
11 — Maria de Lourdes Cavalcanti Araújo 5
12 — Alice Alves de Souza 5
13 — Antonietta Vianna Castello Branco 5
14 Maria •
Helena Bastos 5
15 — Maria da Penha de Freitas Martins 5
16 — Nancy do Carmo Rosadas Speranza 5

Inscreveram^se aos exames do 2.° ano 27 alunos. Não

compareceram 3 alunos, não obtiveram média 7 e foram consi-

derados aprovados 17, a saber:

23 .— Alcides Dias de Souza 5


24 — Cléa de Mello 5
25 — Sylvio do Valle Amaral 5
26 — Clelia Ponce 5
27 —• Maria Elisa Pimenta Batista 5
28 — Maria de Lourdes Rodrigues de Almeida 5
29 — Maria Aparecida Bransford de Oliveira 5
30 .— Clara Maria Catta-Preta de Faria 5

31 — Maria de Pompeia Araújo 5

32 •— Diva de Souza Carvalho 5


33 — Yvonne Rasina 5
34 .— Antonio Traverso 5
35 — Véra Miranda Monteiro . •; 5

36 ¦— Zelia Gama de Miranda 5


37 .— Maria Amalia de Faria 5
38 .— Rosalina C. M. de Almeida Motta . 5
39 — Nelson Baptista - • • 5
Joaquim

Nota: A classificação dos alunos do 2.° ano, aprovados

em 2.a época, foi feita em continuação a dos alunos


que pas-

saram em l.a época.

O curso de biblioteconomia funcionou com a máxima re-

cumprindo resaltar o interesse e a bôa vontade de-


gularidade,

monstrados" bibliotecários lecionaram as respectivas


peleis que

cadeiras.
— 303 —

AQUISIÇÕES DE LIVROS

No ano de 1942, adquiriu esta Biblioteca a l.a seção


para

3.906 obras em 4.491 volumes, sendo contribuição legal


por

2.236 obras em 2.479 volumes; compra 736 obras em 937


por

volumes; doação 380 obras em 433 volumes;


por por permuta

internacional 554 obras em 642 volumes, além de 1.396 nú~

meros de músicas diversas.

Para a 2.:i seção entraram 10 códices e


(manuscritos)

14 manuscritos avulsos, sendo contribuição legal 5,


por por
doação 1 e compra 4; aos manuscritos, 13 entraram
por quanto
doação e 1 compra.
por por

? ?

Para a 3.a seção (estampas e cartas ad-


geográficas)
esta Biblioteca 524 ejstampas em 10 coleções iconogfá-
quiriu

ficas e 130 avulsas, sendo :


peças
Por compra 407
Por doação 116
Por contribuição legal • - 1

524

Distribuídas essas em relação aos arh's~


peças processos

ticos assim se classificam :

Litografias HO
Fotògravuras 73
Desenhos 103
Águas-fortes 23
Heliogravuras 50
Xilografias . 89
Tricornias. 40
Rotogravuras 6

524

Quanto à nacionalidade :

Brasileira 180
Estrangeiras 344

524

Entraram também a seção 92 obras em 103 volumes


para

com 12.868 ilustrações, foram adquiridas :


que

Por compra 76 obras em 87 vols. c/ .11.169 ilustrações


Por doação.. 13 obras em 13 vols. c/ 1.542 ilustrações
Por permuta 3 obras em 3 vols. c/ 157 ilustrações
92 103 c/ 12.868 ilustrações
— 304 —

Quanto à nacionalidade :

Brasileiras. . 8 obras em 13 vols. c/ 728 ilustrações

Eestrangeiras, 84 obras em 90 vols. c/ 12.148 ilustrações

92 103 c/ 12.863 ilustrações

OBRAS ESPECIAIS

Foram adquiridas 67 obras em 76 volumes.

Atendendo aos meios de aquisição :

Por compra 27 obras em 34 vols.

Por doação 28 obras em 30 vols.

Por contr. legal • 10 obras em 10 vols.

Por transferência 2 obras em 2 vols.

67 76

Em relação à nacionalidade:

Brasileiras 52 obras em 54 vols.

Estrangeiras 15 obras em 22 vols.

f>7 76

CARTAS GEOGRÁFICAS

Durante o ano foram adquiridas 61 avulsas e 12


peças

atlas com 465


peças.

Considerados os meiqs de aquisição :

AVULSAS

Por doação 3

Por 45
permuta
Por permuta 3

61

ATLAS

Por compra 2 atlas com 217 peças


" "
Por doação 5 156
90
Por contr. legal 3
" "
Por 2 2
permuta

12 465
— 305 —

Em relação à nacionalidade :

AVULSAS

Brasileiras. 20
Estrangeiras 41

61
ATLAS

Brasileiros. 8 atlas com 321 peças


" " "
Estrangeiros 4 144

" " "


12 465

Para a 4.a seção (jornais e revistas) entraram


jornais,

almanaques, mensagens, relatórios, leis, decretos e outras


pu-
blicações, tanto nacionais como estrangeiras, elevando-se o

número no correr do ano a 22.892 volumes e 203.551 avulsos.

? * *

PRINCIPAIS AQUISIÇÕES

De uma neta da Condessa de Itapagipe,


que foi dama do Paço Imperial e ca-
mareira-mÔT da Imperatriz D. Amélia, adquiriu esta Biblioteca parte do arquivo da-

quela dama, contendo preciosos documentos inéditos, como cartas de José Bonifácio,
D. Pedro I, de D. Amélia, da Marqueza de Aguiar, de Paulo Barbosa da Silva, do
Cônego Renato Boiret, do Marquês de Rezende, do Barão de Inhomirim, da Marqueza
de Queluz e de outras personalidades da época. São documentos de real interêsse
histórico, entre os quais se encontra a ordem de D. Pedro I, despedindo do Paço Maria
Graham, que era preceptora das princesas, e por ela referida, mas não transcrita,

porque o Imperador exigiu que lhe fosse devolvida, conforme consta da correspon-
dência de Maria Graham com a Imperatriz D. Leopoldina, publicada nos Anais da,
Bibliotéca, volume LX.
Outras aquisições devem ser mencionadas :
Voyages aux Indcs Australes, de André Thevet, — cópia do manuscrito ori-

ginaí e inédito da Bibliotéca Nacioonal de Paris. Êsse códice pertenceu à bibliotéca


de Eduardo Prado, e acha-se autenticado pelo Barão do Rio Branco.
.— Cartas do General I. de Abreu Lima, historiador escritas
J. pernambucano,
ao Barão de Guararapes e a sua filha Mariasinha, Recife, 1865 a 1869.
Carta do historiador Robert Southey, datada de 1 de fevereiro de 1812.
" I manoscritti di Leonardo da Vinci, delia Rcalle Biblioteca de Windsor.
Dell'Anatomia Togli B. — Publicati da Teodoro da Giovanni Piemati, con tra-
duzione in lingua francese. Torino, Roma e Viarengo, editori, 1901.
The literàry Wor/cs o/ Leonardo da Vinci. Compiled and edited from the
original manuscripts by Jean Paul Richter. Seccnd edition. London, New York,
Toront, Oxford Union •— University Press, 1939, 2 vols.
Pomponii Melae, De Orbis siti libri III. accuratissime emendati, una cum
commentariis Joach. Vadiani Helvetti castigai... Lutstiae Parisiorum, 1530, pet,
in foi.
George Arents. — Tobacco' Its histocy illustred by the books, manuscripts
and angravings. — New York. The Rosenbach Company, 1937, 3 vols.
-— Santiago Prampolini. .— Historia Universal de la Literatura. Buenos Aires,
1940-1941. 13 vols.
.— The Jewissh Encyclopedia. New York and London, Funk and Wagnalls
Company, 1901, 12 vols.
— 306 —

PUBLICAÇÕES

Das a cargo da Bibliotéca foram distribuídos


publicações

os volumes LXII e LXIII dos Anais, relativos aos anos de

1940 e 1941. O sumário do volume consta de uma


primeiro

Narrativa de viagem de um naturalista inglês ao Rio de


Ja~

miro é Minas Gerais de autoria descpnhecida,


(1833-1835),

consegui esclarecer como sendo de Charles Fox


que James

Banbury. É documento importante constitue um capitulo


que

inédito da história das explorações cientificas no Brasil. Cons-

tam ainda dêsse volume a Relação dos estudantes brasileiros

na Universidade de Coimbra de 1772 a 1872, em número de

1.242 brasileiros, figurando entre eles os vultos mais repre-

sentativos do Brasil fins do século XVIII e todo


por por quase

o subsequente, na na administração, na igreja, nas ei-


política,

ências e nas letras. Completa o volume um documento


qui-
nhentista de interesse histórico: Capítulos de Gabriel
grande

Soares de Sousa contra os residentes no Brasil


Jesuítas

(1592).

O volume LXIII compreende as Ordens do dia do Ge-

neral Barão de Caxias, comandante em chefe do Exército Na-

cional na Guerra dos Farrapos, de 1842 a 1845. São docu-

mentos inéditos, muito contribuem melhor conheci-


que para

mento da história daquele do na-


período glorioso passado
cional.

Dos Documentos Históricos foram os volumes


publicados

LIV, LV, LVI LVII e LVIII, continuam a série das


que pro-
visões, e alvarás de 1689 a 1699.
patentes

Essa desperta interesse entre os es-


publicação particular

tudiosos nacionais e estrangeiros.

Com a edição fac-similar, autorizada S. Ex. o Sr. mi-


por
nistro da Educação, do Catecismo da Doutrina Christã na

Língua Brasílica da Nação Kiriri, do Padre Luiz Vincencio

Mamiani, conforme a editio de Lisboa, 1698, a Bi-


princeps
bliotéca Nacional se desempenha de um compromisso tomado

seu antigo e egrégio diretor, Dr. B. F. Ramiz Galvão,


pelo

em 1877 a Arte de Gramática da Lingua Bra-


que publicando
sílica da Nação Kiriri, do mesmo autor, contava lhe su-
que

cedesse a reimpressão do mesmo Catecismo, livro talvez mais

raro do a Gramática, e inexistente na Bibliotéca. De fato,


que
— 30-7 —

dêsse cimélio apenas se conhece o exemplar do fundo


jesuítico
da Bibliotéca Nacionale Vittorio Emanuele, de Roma, do
qual
consegui a cópia fotográfica a edição fac-similar,
que permitiu

primorosamente executada nas oficinas da Imprensa Nacional.

O Catecismo do Padre Mamiani não é apenas uma curió-

sidade bibliográfica : é também a etnografia americana


para
um documento de alto será devidamente apre-
prestimo, que
ciado competentes.
pelos

EDIFÍCIO

O edifício da Bibliotéca uma


^ passou por pintura geral
interna e externamente, fazendo-se também os reparos de
que
necessitavam as cíaras-boias, vidraças e assoalhos.

Os serviços foram executados firma Zambrano, Cou-


pela
to ô Irmão.

PANÉIS E BAIXO-RELEVOS

Em 8 de dezembro foram inaugurados no hall da Biblio-

téca os dois ali ilustre norte-ame-


painéis pintados pelo pintor
ricano Sr. George Biddle, os encimam os dois baixos-
quars
relevos em bronze de sua esposa e escultora Helena Sardeau

Biddle. Essas notáveis obras de arte constituem uma expres-

siva oferta do dos Estados Unidos ao Brasil. A ceri-


governo
mônia da inauguração, S. Ex. o Sr. ministro da
presidida por
Educação, teve a do Sr. Embaixador Americano, do
presença

pintor, de altas autoridades, escritores e artistas.

* *

São estas, senhor ministro, as informações devo


que pres-
tar a vossa excelência ao dar conta das ocorrências verificadas

e dos serviços realizados nesta Bibliotéca durante o ano de

1942.

Saúde e Fraternidade.

O Diretor,

Rodolfo Garcia

Á Sua Excelência o Senhor Doutor Gustavo Capanema,

Digníssimo Ministro da Educação e Saúde.


1944

IMPRENSA NACIONAL
WO DE JANEIRO — BRASIL

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