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Processo Civil
Parte Geral
Regentes: Professora Doutora Maria Prazeres Beleza e Doutora Rita Faria Lynce
1º Semestre 2018/2019
Direito de ação civil: ter o direito de ação é ter o poder de recorrer ao tribunal para
apreciar se devem ou não ser tomadas as providências desejadas por quem invoca.
Exemplos:
- Condenação do devedor (medidas coercivas - penhor, etc.);
- Sentença de declaração de liquidação ou de inexistência da dívida;
- Pedido de anulação do testamento ou de fixação do sentido de uma cláusula
do testamento;
- Pedir a anulação da deliberação;
- Pedido para impedir a sociedade de executar uma deliberação.
Ninguém pode reconstituir pela sua própria força os direitos que consideram
seus. O Estado ao proibir a justiça privada e reservar para si o monopólio da
administração da justiça e da resolução de litígios, obriga-se a manter um sistema que
permita resolver esses mesmos litígios – tribunais e organização judiciária.
É um instrumento de aplicação do direito civil. Por isso, muitas vezes se diz que
o PC deveria ser neutro em relação ao Direito Civil, por se dizer que muitas das vezes o
resultado de certas ações serem resultado de motivos ou por razões processuais.
Seja qual for o critério de distinção entre direito público e privado, os autores
entendem o processo civil como um ramo de direito público, mesmo atendendo ao
Esta visão implica que se seja capaz, caso a caso, de distinguir a relação
processual da relação substantiva que está subjacente ou justifica o início dessa ação.
Há regras específicas da relação processual e vícios próprios. O mesmo se verifica no
direito substantivo.
Que medidas posso pedir a tribunal? Se eu pedir ao tribunal que dê uma ordem
ao devedor para que pague o que deve e o condene, instauro uma ação de condenação.
Condições exigidas pela lei de processo para que a relação processual se tenha
como regularmente constituída e para que o tribunal possa passar à questão de mérito,
relação substantiva por detrás de qualquer ação.
Marcha do Processo
Imagina-se aqui o desenrolar de uma ação e vê-se o que se passa desde o seu
início até que esta termina.
Analisa-se aqui uma decisão proferida depois de um certo ato e os seus efeitos.
O efeito próprio de uma decisão judicial punitiva é o de caso julgado. Importa perceber
o que isso significa.
Eu posso ter ficado vencida na decisão que foi tomada e achar que o tribunal
aplicou mal o direito. Aí posso querer interpor recurso, para isso existem regras. A
matéria de recurso não faz parte desta cadeira anual.
Também não faz parte do programa a matéria da execução. Uma ação executiva
serva para o Estado, em concreto o tribunal, apreender e vender os bens do devedor e
vender pelo preço a que o credor tinha direito. A ação executiva pretende satisfazer
materialmente o autor da ação.
O mesmo acontece com o processo de trabalho, com remissão para o CPC nos
casos não expressamente previstos do CT ou CPT.
Contudo, há outra razão. Na CRP e CPC há uma regra segundo a qual a todo o
direito corresponde uma ação. Há casos em que não se prevê qual o direito aplicável ao
exercício de determinados direitos de ação. Não se encontra, pois, nenhuma adjetivação
prevista para um determinado direito, por exemplo. Onde saber qual o tribunal
competente?
4. Normas internacionais.
Desvantagem:
a) O tribunal não está lá para aquilo que as partes querem, mas também sofrem
em consequências disso: autorresponsabilidade das partes. Sofrem as
consequências das insuficiências do processo.
2. Princípio do inquisitório
A partir do momento em que uma das partes requeira que o tribunal resolva o
conflito, o juiz deve ter os poderes necessário para resolver o conflito: investigar o que
se passou na busca da verdade formal/processual.
1. Início do Processo
O CPC de 1886 era puramente dispositivo. Exemplo de um caso: uma das partes
queria suspender o processo, mas a outra parte não – como não havia acordo, o juiz não
podia suspender; uma das partes então começou a ler um requerimento e o juiz,
inevitavelmente, teve que suspender o julgamento para o dia seguinte.
Concretizações legais
O artigo 3º, nº1, 1ª parte do CPC deixa claro que a instauração do nosso processo
é dispositiva.
Isto contraria o processo penal, onde a maioria são direitos indisponíveis, onde
estão bens de interesse público subjacentes.
2. Na Marcha Subsequente
Uma vez iniciado o processo, cabe ao juiz o impulso subsequente desse processo
(princípio do inquisitório). O juiz tem o ónus de diligenciar para que o processo não pare,
Quem tem o poder de definir o objeto do processo (pedido e causa de pedir – o efeito
pretendido pelo autor; fundamento que o autor apresenta ao tribunal para fazer aquele
pedido)?
Remissões: do 5, nº1º para o 609º do CPC; do artigo 552º, nº2 alíneas d) e e) para
o 609º do CPC
Os artigos 3º, nº1 + 552º, nº1 alínea e) + 609º do CPC referem, claramente, que
compete ao autor (ou ao réu reconvinte) identificar o pedido na ação e, mais do que
isso, o juiz fica limitado pelo pedido formulado pelo autor. A sentença não pode
condenar em quantidade superior ou em objeto diverso do que se pedir.
Uma petição inicial em que falte um pedido é uma petição inicial inédita, dando
origem à absolvição do réu na instância, fazendo com que o processo não continue.
De acordo com o artigo 5º, nº 1 do CPC, a causa de pedir deve também ser
formulada pelo autor.
4. Alegação de factos
Quem define os factos de que o tribunal se pode servir para julgar a causa?
Artigo 5º, nº1 do CPC, quanto aos factos: às partes cabe alegar os factos
principais da causa, isto é, os que integram a causa de pedir e os que fundam as exceções
(princípio do dispositivo).
O juiz não pode usar factos de essência privada. Contudo, se o juiz se aperceber
que há factos de natureza probatória que sejam importantes para o desenrolar do
processo, pode usá-los. A possibilidade ou impossibilidade de o juiz usar factos
independentemente de terem sido alegados, depende da função que os factos tenham
na ação.
Os factos instrumentais são aqueles que não carecem de alegação e, por isso,
são oficiosamente considerados na decisão de facto. Podem ser probatórios ou
acessórios. Os probatórios são os que servem de base a uma dedução através da qual o
juiz chega à realidade do facto principal. Os acessórios são aqueles que permitem ou
vedam ao juiz tirar da realidade dos factos probatórios a conclusão acerca da realidade
dos factos principais.
Os factos de que o tribunal tem conhecimento por virtude do exercício das suas
funções, previstos no artigo 412º, nº2 do CPC, na verdade correspondem a uma
manifestação do princípio geral da eficácia do caso julgado (artigo 619º, nº1) ou do valor
extra processual das provas (artigo 421º do CPC).
Quem deve alegar os factos é o autor. Ao juiz seria difícil alegar e provar os
factos.
Concluindo, apesar de a nossa prova de facto ser de matriz dispositiva têm sido
introduzidas mais nuances, fazendo-nos ver que tem existido uma tendência forte de
cariz inquisitória.
5. Matéria de prova
o Valor dos Meios de Prova – forma como o juiz aprecia a validade de cada
meio de prova trazido pelas partes. Há sistemas jurídicos em que tal decisão
é deixada à livre apreciação do juiz (modelo inquisitório), enquanto que há
Artigo 411º do CPC: o juiz pode usar certas provas, apesar de não terem sido
alegadas. Depende do valor das provas: num sistema inquisitório, as provas não têm um
valor pré-definido.
Concretizações legais
Na iniciativa probatória:
O juiz tem liberdade de recolha da prova relativamente aos factos que é lícito
conhecer – artigo 411º do CPC - princípio do inquisitório.
Se o juiz não tivesse liberdade na recolha de prova o processo, seria apenas uma
liberdade formal e não material.
Assim, a livre apreciação não vigora assim para todos meios de prova, havendo
um sistema misto.
6. Negócios processuais
Pode ainda o autor (ou o réu reconvinte – réu que faz uma reconvenção) desistir
da instância.
Opinião da Professora Maria dos Prazeres Beleza: quanto aos pontos essenciais
dos negócios processuais, o sistema português é dispositivo.
Concretizações legais
O nosso artigo 1º do CPC assentou numa filosofia muito mais liberal, onde o
principal papel era atribuído às partes, em que o juiz era um terceiro neutro: o juiz
apenas podia considerar passivamente o pedido e o que era trazido pelas partes,
julgando numa perspetiva puramente formal.
Com o passar do tempo, foram-se atribuindo cada vez mais poderes ao juiz para
que de uma justiça mais formal se passasse para uma justiça mais material, dando ao
juiz um papel mais interventivo. Isso permite buscar mais ativamente a verdade material
do que se passou. Mais se afirma que assim o processo deixa de ser constituído por
matéria formal.
3. Princípio da cooperação
São conflitos que geralmente versam sobre direitos disponíveis. Há que traçar
limites entre o que é e o que não é desejável à parte em matéria de cooperação. Artigo
542º alínea c) do CPC – pode ser condenado como litigante de má-fé, no caso de a parte
ter violado estes deveres e não cooperado contra a parte, na medida do razoável.
Artigo 417º do CPC: existem consequências para aqueles que não cooperem na
descoberta da verdade:
a) possibilidade de a parte não cooperante ser condenada como litigante de má-
fé (artigo 542º, nº 2, alínea c) do CPC)
b) artigo 417º do CPC, condenação em multa: pode ser um terceiro
c) artigo 417º do CPC: o juiz pode apreciar livremente essa atitude para efeitos de
prova dos factos – p.e A morreu e deixou um testamento que está na posse de
um dos herdeiros; um dos outros herdeiros quer instaurar uma ação de
anulação, mas não está na posse do testamento e então pede ao outro herdeiro
4. Princípio do contraditório
Artigo 20º da CRP e consagrado na CEDH: exige que ambas as partes tenham a
possibilidade de manifestar de igual forma o seu ponto de vista – direito de se defender
e de apresentar a sua prova de verificação dos factos; possibilidade de controlar a
atividade da outra parte (colocar em causa aquela prova ou de contra interrogar aquela
testemunha).
O princípio do contraditório exige, pelo menos, que nenhuma ação seja decidida
contra alguém sem que essa pessoa tenha tido a oportunidade de se defender – artigo
3º do CPC.
Uma vez que são urgentes e visam evitar que a decisão seja inútil, pode acontecer
que o réu não seja ouvido antes da providência cautelar. Contudo, o princípio do
contraditório é apenas adiado: o réu vai poder ser ouvidas só depois de p.e o arresto ser
efetuado.
Por exemplo, os pais não podem vender bens a um dos filhos sem a autorização
dos outros filhos. Um dos pais vende o bem a um dos filhos e sabe que os outros não
vão deixar, então vão simular uma ação de reivindicação dizendo que o bem pertence
aos pais e não aos filhos e os pais vão fazer a ação de maneira que percam a ação e o
réu é absolvido do pedido. Isto conduz a que, apesar de a ação ter um efeito meramente
processual, está a reconhecer que o bem é dos filhos e não dos pais. A ação não pode
servir como instrumento para simular algo que não se pode atingir (não lhes era
permitido) no direito substantivo – viola a função do processo.
O juiz pode sempre intervir nestes casos – pode tomar uma decisão que contrarie
as regras processuais.
Esta nomenclatura foi dada pelo professor Castro Mendes. Fala-se desta
submissão para chamar à atenção da importância instrumental que o processo tem
relativamente ao direito substantivo. O processo não deve ser uma via para alcançar o
que o direito substantivo não permite obter. Existe uma relação de instrumentalidade
entre o processo e o direito substantivo.
Artigo 612º do CPC – quando o juiz verificar e se aperceber que a ação é simulada
porque não assenta em nenhum litígio real ou se aperceber que as partes tentam
defraudar exigências da lei, o juiz tem todos os poderes e meios necessários para evitar
que tal aconteça. A lei não diz quais são, depende do caso concreto.
Existe uma série de regras afastadas quando está em causa uma relação
indisponível. Não se podem transformar relações substantivas indisponíveis em relações
disponíveis. Não se pode transformar um direito instrumental e adjetivo processual
numa forma de contornar as exigências e objetivos pelo direito substantivo: direito civil
ou comercial.
Antigamente, era a lei que estabelecia de forma rígida qual a forma do processo
e dos atos do processo e o juiz obedecia, sob pena de nulidade processual.
Artigo 547º do CPC - aqui vem consagrada a regra de que é o juiz que deve
determinar a forma e conteúdo de cada um dos atos, caso a caso. Isto tem a vantagem
de permitir que a tramitação e forma de cada ato seja mais adequada a cada caso
concreto, ao objeto discutido em cada ação.
Exprime a ideia de que não se devem fazer ações por razões puramente
processuais: o fundamental é a verdade material e a justiça, pelo que, dentro do
possível, o processo deve servir como instrumento do direito substantivo e não o
contrário.
Há, contudo, vários exemplos de casos em que, se eu não respeito certas regras
de processo, esse desrespeito terá consequências na relação substantiva.
O silêncio do réu significa que ele reconhece os factos alegados pelo autor. Se o
réu não cumprir as regras estabelecidas pela lei de processo isso traz consequências na
Esta prevalência do fundo sobre a forma foi tratada pelo tribunal constitucional.
São julgadas inconstitucionais muitas regras de processo dizendo que a vantagem não é
julgada pela regra de processo. A lei de processo não deve impor ónus
desproporcionados em relação aos que o processo tem.
Artigo 193º do CPC – tem por detrás uma decisão de um tribunal superior. Há
certos casos mais evidentes ou simples em que pode existir uma decisão individual.
8. Princípio da preclusão
O processo pode ou não ser organizado segundo esta lógica, podendo ser mais
ou menos preclusivo, permissivo até ao momento em que posso alegar matéria de facto.
Factos supervenientes – a lei de processo não é alheia às mudanças que o processo pode
sofrer. A supervivência de facto é uma limitação de razoabilidade ao princípio da
preclusão.
Exemplos: artigos 130º e 131º do CPC - não é permitido praticar atos inúteis.
Ou porque se segue a lei ou porque se segue a lei com as alterações que o juiz
determinou, desde que o autor dá início ao processo há um encadeamento de atos para
chegar à melhor solução possível daquela causa.
Deve haver mecanismos para que a justiça que venha a ser proferida seja uma
sentença útil para a parte que tem razão.
3. Tipos de ações
– Declarativas e executivas;
b) Ações declarativas (as que vamos estudar): a lei não diz diretamente a
finalidade, mas distingue três modalidades consoante a natureza, tipo ou o
fim. Em função disso, conseguimos construir uma noção genérica face à ação
executiva. O que eu quero é que o tribunal diga o direito do caso; o juiz
apenas reconhece o direito e dá a ordem. Não há a satisfação material do
direito, o tribunal limita-se a dizer o direito do caso, qual a consequência que
o direito objetivo retira perante os factos provados e a pretensão do autor.
a) Ações de condenação: Artigo 10º, nº3 alínea a) do CPC. São as ações mais
frequentes. A finalidade própria é verificar se (1) o direito invocado pelo autor
existe ou não, (2) se foi ou não foi violado; (3) dar uma ordem ao réu (sujeito
passivo) no sentido de que ele realize a prestação correspondente ao direito
invocado pelo autor e que o tribunal concluiu que tinha sido violado – são estes
três momentos.
Se se chegar à conclusão de que o autor é titular do direito e que este foi violado,
então o juiz irá proferir a sentença que leva à realização do direito de que o autor é
titular.
Artigo 557º do CPC: Prestações Periódicas - quando o réu deixa de realizar uma
das prestações, a lei permite condenar o devedor ao pagamento das prestações que ele
não pagou e de prestações futuras. A lei parte do princípio que se o devedor deixou de
pagar que também não pague todas as dívidas que já se venderam.
Artigo 557º, nº 2 do CC: Despejo – quando o credor consegue provar que terá
grande prejuízo se não lhe for entregue imediatamente o prédio, ele poderá obter
condenação para o futuro. O artigo fala ainda nos casos semelhantes: o autor prova
perante o Tribunal de que tem um prejuízo relevante se não tiver uma sentença para
executar os casos semelhantes ao despejo resultantes de um contrato de arrendamento
(exemplo: comodato onde o réu detém algo que é do autor).
Artigo 610º do CPC - O direito existe, mas não foi ainda violado. Contudo, por
razões de economia processual, mais vale condenar o devedor a pagar num momento
próprio do que estar a absolver o réu e obrigar o autor a pedir uma ação depois de ter
passado o prazo. Isto para casos em que o direito do autor existe, mas ainda não for
exigível ao réu.
b) Ações constitutivas: o autor não pede ao tribunal uma ordem, mas sim que o
tribunal autorize uma modificação na ordem jurídica, na esfera jurídica de ambas
as partes. O tribunal vai verificar se o direito invocado pelo autor existe (integra
a vontade do autor) e autoriza uma modificação na esfera jurídica das partes
Implicam reconhecer que os tribunais podem exercer uma função (que já não é
a de compor um litígio) em que apenas podem declarar ou reconhecer que um
determinado direito existe ou não existe ou que um determinado facto se verificou não
se verificou.
Este tipo de ações não tem nenhuma repercussão na marcha do processo (desde
que se dá o início do processo, até que ele acaba), mas sim nas ações executivas.
Qualquer ação de simples apreciação pode ter força de caso julgado numa ação
de condenação ou constitutiva se for o direito ou facto reconhecido que está em causa
(se a questão for uma questão prévia).
Por exemplo, numa ação de condenação é necessário que um direito tenha sido
violado. Numa ação de simples apreciação não é necessária a violação de um direito.
Nas ações executivas autor é o exequente; ele quer mais que a satisfação do seu
direito; a finalidade com que instauro o processo executivo influencia a marcha do
processo.
Artigo 2º, nº 2 do CPC: a todo o direito corresponde o direito a uma ação adequada a
corresponder; artigos 362º e 409º do CPC.
Nota: Todas as situações que não encontram resposta nas providências cautelares
especificadas serão reguladas pelos processos cautelares comuns (artigo 362º, nº 3 do
CPC).
No entanto, pode a ação principal não estar ainda pendente, desde que o
requerente da providência cautelar a instaure no prazo de 30 dias, após declarada a
sentença.
Nota importante:
Exceção da natureza instrumental que só surgiu em 2013.
Artigos 369º e seguintes.
Isto não vale para todas as providências cautelares, mas em certos casos
(especialmente adequado às providências antecipatórias) as partes podem pedir ao
tribunal que decrete a providência e inverta o contencioso (decisão por parte do juiz).
Efeito: dispensar o requerente do ónus de propor a ação definitiva, sob pena de caducar
a providência. Contudo, cria-se um ónus contra o requerido de (num determinado
prazo) vir propor a ação definitiva para discutir, contrariar e dizer que o direito do autor
não existe. O ónus da ação definitiva passou do requerente para o requerido.
Crítica: figura pouco usada porque se discute, uma vez decretada a providência cautelar
e invertido o contencioso, quem é que vai ter o ónus da ação da prova na ação principal
instaurada pelo requerido. Será o requerente ou a outra parte? Porque numa ação
principal normal, quem tem o ónus de prova (p.e. de restituição da posse) é o autor,
aquele que se quer fazer da posse. Contudo, como houve inversão, foi o requerido que
foi autor da ação principal e não é ele que se quer fazer valer da posse. Esta dúvida não
é irrelevante, porque se entendermos que é o requerente, não lhe serve de nada que
seja o requerido a ter que instaurar a ação principal, porque ele vai na mesma ter que
fazer a prova que fez na ação principal.
Logo, a ação principal continua a ter interesse para o requerente porque quer,
além da suspensão, a demolição. Assim, a inversão do contencioso não é o que ele quer,
porque quer mais que a providência cautelar.
Conclusão:
As partes apresentam uma série de factos que devem ser objeto de prova. Há
factos que ficam por provar. Há muitas situações em que há factos necessários à decisão
da causa que ficam por provar. O que é que o juiz faz, sabendo-se que não se pode deixar
de julgar a causa? O juiz não pode deixar de julgar uma causa alegando dúvida insanável
sobre matéria de facto.
A lei tem de dar ao tribunal um critério ara ultrapassar essas questões: repartição
entre as partes do ónus da prova. Se a parte onerada com a prova não fizer prova, o juiz
irá julgar contra ela.
A lei portuguesa tem uma repartição abstrata dos ónus da prova – artigos 342º
e seguintes do CPC. Aqui sabe-se quais os factos cujo ónus da prova cabe ao autor e os
que cabe ao réu.
Artigo 362º do CPC: cláusula atípica, aberta: o juiz pode decretar qualquer providência
cautelar.
Quando alguém foi desapossado com violência da coisa que possuía (esbulho
com violência). Tenho de provar a posse, tenho de provar o esbulho e o tribunal
determina a restituição do bem sem ouvir a parte contrária. Do ponto de vista
doutrinário, diz-se que isto não é propriamente uma providência cautelar, dado que
estas se destinam a acautelar a violação de um direito, quando essa já ocorreu.
Se eu tiver algo e for desapossada sem violência posso recorrer aos meios
comuns.
Quando os sócios dizem que as deliberações são contrárias aos estatutos e, como
tal, são inválidos. Declaração de anulação ou nulidade de uma declaração social.
3. Alimentos provisórios:
Associada a uma ação principal de alimentos e que visa suprir uma providência
especial do requerente, razão pela qual a responsabilidade do requerente dos alimentos
provisórios é mais ténue – artigo 387º do CPC. Só responde se tiver de má fé.
Ação da qual pode resultar, a título definitivo, o direito a alimentos por parte do
requerente. O direito a alimentos resulta normalmente da lei e resulta de ações de
natureza familiar, podendo resultar de um contrato.
Fixa-se uma pensão mensal provisória que pode depois cessar ou ser substituída
por uma pensão a título definitivo.
Artigos 388º e seguintes do CPC – remissão para o artigo 496º do Código Civil.
5. Arresto:
Nota: A penhora também é uma apreensão judicial de bens. Contudo, faz-se numa ação
executiva e coloca os bens numa situação de disponibilidade. A penhora faz uma
apreensão dos bens para que se possa pagar ao credor.
7. Arrolamento:
Artigo 409º, nº3 do CPC: nas ações de divórcio, o requerente do divórcio está
dispensado de provar o risco da lesão ou perigo da demora, porque se presume que há
sempre prejuízo.
Como sabemos qual a forma de processo adequada à ação que vou propor? Em
teoria a resposta pode resultar da lei, de determinação do juiz ou acordo das partes.
Contudo, há casos em que, dado o baixo valor do processo, utiliza-se outra forma
- podem existir em legislação extravagante + artigos 878º a 1081º do CPC. Quando está
em causa uma situação de cumprimento de obrigação pecuniária é aplicável, desde que
esteja determinado valor em causa, o DL 269/98.
Processo executivo:
Para as ações executivas, passaram a existir quatro formas de processo executivo
– artigo 550º, nº 4 do CPC.
Há casos em que a lei permite começar diretamente pela ação executiva, sem
passar pela ação declarativa. Artigo 10º, nº 5 do CPC: para instaurar uma ação executiva
(que se destina a satisfação material do interesse do autor) preciso de ter um título
executivo.
Ações executivas não servem para definir direito, pois pressupõem já a existência
de direito. São uma sucessão de atos materiais destinados à satisfação do direito do
o Artigo 535º, nº 2 do CPC: a lei acha mais normal que quem tem título executivo
comece pela ação executiva. Contudo, não é obrigatório começar pela ação
executiva. Se tiver título posso escolher qual das ações quero fazer primeiro.
Porém, no artigo 535º, nº2 alínea c) do CPC, o que sucede é que se optar por
começar pela ação declarativa é ganhar a ação, mas pagar as custas do processo
(desvio ao geral porque normalmente quem ganha não paga custas). A lei
reconhece que pode ter interesse em ter uma sentença para depois executar
porque é o título executivo mais forte.
São as condições processuais que têm de estar verificadas para que o tribunal
possa conhecer do mérito da causa, da questão substantiva. A titularidade do direito de
ação não é suficiente para que o juiz imediatamente possa conhecer daquela questão
devido aos pressupostos que têm de estar reunidos.
O juiz tem de absolver o réu da instância. O juiz não está a dizer que o autor não
tem razão, mas sim que não estão reunidas as condições para conhecer o fundo do
litígio.
Têm de ser as partes, nomeadamente o réu, a vir alegar que falta um pressuposto
ou pode ser um juiz, se se aperceber pode oficiosamente, a conhecer da existência da
exceção dilatória?
A relação processual não está nas mãos das partes. O juiz deve conhecer
oficiosamente da falta de um processo processual e providenciar pela sua sanação
(poder/dever do juiz de gestão processual – 6º, nº2 do CPC). Contudo, há casos em que
só pode convidar as partes a sanar a falta.
Força de caso julgado material: artigo 619º do CPC – fica a ter força obrigatória
dentro do processo e fora dele.
Força de caso julgado formal: artigo 621º do CPC – só tem força obrigatória
dentro do processo. Ou seja, fora daquele processo não vincula mais nenhum juiz. Por
exemplo, se o juiz disser que uma daquelas partes é ilegítima para aquela ação, isso não
significa que o autor não possa propor uma ação igualzinha, contra o mesmo réu, e que
outro juiz considere a parte legítima.
Então para que serve a força de caso julgado formal? É por razão de disciplina
processual; o mesmo juiz não pode tomar uma decisão num momento no processo e
depois tomar uma decisão contrária no mesmo processo.
Fase do saneamento:
- Despacho pré-saneador: juiz convida as partes a sanar a falta;
- Despacho saneador: o juiz pode sanar. Artigo 595º do CPC
O juiz, em regra, não tem qualquer intervenção na parte dos articulados. Porém,
nos procedimentos cautelares há casos excecionais em que ainda existem os despachos
liminares. Artigos 591º, nº1 + 226º, nº4 do CPC. Antes da reforma de 95/96 havia o
despacho liminar em que, elaborada a petição inicial, esta era entregue ao juiz que
5. Recurso
As decisões sobre a falta pressupostos são recorríveis uma vez que são decisões
de forma?
Não deixam de ser decisões judiciais pelo que, por regra, desde que verificados
certos requisitos, são recorríveis da mesma forma como as decisões de mérito. Desde
2007 não há diferença no recurso.
Partes: aqueles que estão em juízo e que têm a titularidade efetiva do direito
invocado/objeto de discussão, quer do lado ativo (autor que se arroga da titularidade
do direito), quer do lado passivo (réu contra quem é arrogada a titularidade do direito).
2. Personalidade judiciária
É aquela herança que já está aberta porque já faleceu o proprietário dos bens,
mas que ainda não foi aceite nem declarada vaga para o Estado (artigo 2046º do CC). É
um património autónomo que tem um regime especial de responsabilidade por dívidas
(que pode ser mais ou menos perfeito).
Até que a herança seja distribuída aos herdeiros pode demorar um longo período
de tempo. O credor não pode ficar à espera eternamente até que a herança seja aceite
para cobrar a sua dívida.
Embora a herança jacente não tenha personalidade jurídica, pode ser instaurada
contra ela uma ação. Ou seja, ainda que não exista titular da herança, o credor pode
demandar a herança jacente. Sendo condenada, o administrador da herança jacente
(que não se confunde com o seu titular) tem de retirar dela o crédito.
Diz-se, então, que o artigo 13º não consagra uma verdadeira extensão da
personalidade judiciária, mas uma forma de representação da pessoa coletiva. Em rigor,
apesar de o CPC permitir esta espécie de ficção, quem de facto é parte na ação é a
pessoa coletiva e, portanto, quer a ação seja ganha pelo autor quer não, os efeitos da
sentença repercutem-se na pessoa coletiva no seu todo (e não só na sucursal, agência,
filial, delegação ou representação).
O que acontece se, numa determinada ação, o juiz conclui que está presente
como réu/ autor alguém que não possui personalidade judiciária?
Nos termos do artigo 6º, nº2 do CPC, que consagra o poder-dever de gestão
processual, o juiz tem o dever de tentar sanar a falta de um pressuposto processual. Não
deve decidir-se pela consequência da falta de um pressuposto processual (absolvição da
instância) sem antes tentar sanar a existência da exceção dilatória.
Pode o juiz tentar sanar a falta de personalidade judiciária de uma das partes?
Isto porque nem toda a falta de pressupostos processuais é sanável. Em regra, este
pressuposto não é sanável.
Contudo, o juiz não pode fazer isso, devido ao princípio do dispositivo (artigo 5º,
nº1 do CPC), quer na vertente da iniciação da ação, como na da identificação do objeto
do litígio. Isto não cabe ao juiz.
As partes são necessariamente identificadas pelo autor e não pode o juiz, por
sua livre iniciativa, identificar outra parte no litígio. Substituir uma parte por outra seria
violar o princípio do dispositivo.
O artigo 278º, nº1, alínea c) do CPC refere-se à situação em que o juiz entenda
que alguma das partes é destituída de personalidade judiciária. Nem precisava de estar
enunciado especificamente, visto que qualquer exceção dilatória dá lugar, como regra,
à absolvição da instância (a não ser nos casos do 14º em que o juiz possa sanar a exceção
dilatória).
Consiste na suscetibilidade de estar, por si só, em juízo (artigo 15º, nº1 do CPC).
Ou seja, tem por base e medida da capacidade de exercício de direitos (artigo 15º, nº2
do CPC).
Menoridade
O artigo 127º do CC prevê uma série de atos que o menor pode praticar pessoal
e livremente. Se isto é assim no plano do direito substantivo, então em qualquer ação
em que esteja a ser discutida a titularidade de um bem que o menor com mais de 16
anos adquiriu através do produto do seu trabalho, este pode ser parte na ação sem estar
representado.
Por exemplo, menor é autor de ação de reivindicação. Se perde a ação, ainda que
o bem lhe pertencesse no plano substantivo, perde a titularidade do mesmo para o réu.
Coisa que não poderia fazer no direito substantivo ao abrigo das normas do CC.
Se o efeito é algo que o menor não poderia praticar de acordo com o direito
substantivo, então tem de estar necessariamente representando em juízo.
Artigos 16º, nº2 e nº3 do CPC sublinham que ambos os pais têm de estar em juízo
a representar o menor e que ambos têm de ser citados. Não basta um, contrariamente
ao que sucede em diversos casos de Direito da Família, em que se presume o acordo do
outro progenitor.
Interdição
Aplica-se, com as devidas adaptações, o que foi dito quanto aos menores. Com
a exceção de que o meio de suprimento não é o poder paternal, mas a tutela.
Inabilitação
É menos grave, uma vez que há situações para as quais os inabilitados têm
capacidade de exercício enquanto que, em geral, os interditos e os menores não a têm.
Incapazes de facto
O Ministério Público tem, entre as suas atribuições, a defesa dos interesses dos
incapazes. Pode estar em juízo representando o próprio incapaz ou, mesmo quando
esteja a ser representado, o MP pode intervir para saber se os interesses do incapaz
estão a ser prosseguidos. Ou seja, o Ministério Público pode intervir como parte
acessória.
Nas ações o Estado é representado, em regra, pelo Ministério Público (artigo 24º
do CPC).
A pessoa coletiva pode ser parte. Mas é algo de especial, porque, do ponto de
vista orgânico e natural, não pode estar presente em juízo. Assim, diz-se que as pessoas
coletivas dispõem de um mecanismo de representação processual, ainda que não haja
incapacidade legal de exercício. Encontra-se no artigo 25º do CPC. Estabelece as formas
de representação das pessoas coletivas: regra geral, os administradores da pessoa
coletiva são quem a representa.
Nota:
Há uma outra situação relacionada com a personalidade judiciária que carece de
representação, ainda que, em rigor, não se fale de incapacidade judiciária em sentido
restrito. Entidades a quem foi atribuída personalidade judiciária sem terem
personalidade jurídica, não têm capacidade de exercício. Tal seria limitador do objetivo
que o legislador quis prosseguir com o artigo 12º do CPC.
O que sucede nas situações em que se verifique que uma das partes não tem
capacidade judiciária e não está representado ou assessorado por quem deva ser?
O artigo 6º, nº2 do CPC diz que o juiz deve conhecer oficiosamente a falta de
pressupostos processuais suscetíveis de sanação. A capacidade é suscetível de sanação.
A matéria de pressupostos processuais é, em regra, de conhecimento oficioso. Como?
Artigo 27º do CPC.
Artigo 27º, nº2: eles são chamados (representantes e curador) a intervir. Como
são chamados a intervir? O juiz pede à secretaria judicial que mande ou citar ou notificar
os representantes ou curador.
E se não ratificarem? Artigo 27º, nº2 do CPC, fica sem efeito aquilo que o autor
incapaz praticou no processo até àquela data.
Se for o réu a não ratificar: fica sem efeito a contestação. Isto significa o quê?
Absolvição da instância? Não, porque não faria sentido, assim ninguém iria ratificar
porque era favorável ao réu. Assim, do lado do réu o regime tem de ser diferente. A
consequência nunca dá origem à absolvição da instância. O que acontece é aquilo que
prevê o artigo 27, nº2 do CPC, última parte: decorrem novamente os prazos para
apresentar uma nova contestação pelos representantes. Se os representantes
apresentarem fica sanada a incapacidade.
Sempre que o réu seja incapaz, a não contestação não tem efeitos tão gravosos
como teria – a admissão. Assim, o processo continua sem contestação, mas isso não
significa que os factos são dados como alegados, mas sim que o autor tem que provar
que são verdade. É assim para não prejudicar o incapaz pelos atos dos representantes
legais.
Se for o autor a não ratificar: se fica sem efeito a petição inicial que não foi
ratificada significa que a ação perde o seu objeto pelo que desaparece o ato que deu
origem aquela ação. Assim, o juiz tem que absolver o réu da instância.
3. Patrocínio judiciário
Quando a lei impõe que a parte esteja representada por advogado isso não
significa uma certa incapacidade judiciária? Não! Não há nenhum caso de incapacidade
judiciária.
Porquê que o patrocínio judiciário é obrigatório? Já que este exige um custo acrescido
para as partes ou até para o Estado.
Por falta de conhecimento técnicos jurídicos, desde logo. Uma das vantagens é
a competência técnica, mas há outra razão que tem a ver com a objetividade na defesa
dos assuntos. Uma parte que litiga em causa própria nunca será tão objetiva como um
advogado que litiga interesses alheios. Mesmo os advogados, só em casos excecionais é
que podem litigar em causa própria.
Outra razão tem a ver com o uso mais racional da máquina da justiça, evita que
o juiz perca tempo com o que não interessa.
Sob que forma é que deve ser celebrado este contrato de mandato?
Artigo 43º do CPC – o mandato judicial pode ser celebrado de várias formas.
Alínea a) por instrumento público ou documento particular.
Alínea b) por declaração verbal da parte no auto de qualquer diligência que se
pratique no processo.
Por exemplo, há uma parte que vai a juízo sem ter advogado, o juiz chama a
atenção que ele tem direito a patrocínio judiciário, há outro advogado na sala que aceita
o patrocínio e pode ser celebrado o contrato de mandato logo ali, desde que fique
registo no auto da audiência.
Há outro poder que está inserido nos poderes gerais, mas que o CPC regula à
parte – poder de confissão dos factos (artigo 46º do CPC). Este artigo vem dizer-nos que
o advogado pode confessar os factos, mas dá poder ao mandante para voltar atrás com
essa confissão, desde que a parte contrária ainda não tenha aceite aquela confissão.
Em que casos é obrigatório o patrocínio judiciário?
Alínea b) – as ações que são sempre objeto de recurso (ver artigo 629º, nº2 e 3
do CPC). É obrigatória a constituição de advogado independentemente do valor da ação.
Ainda antes disso, o juiz teve tentar sanar a falta de patrocínio judicial.
4. Legitimidade
É necessário, para que o juiz possa julgar a ação, que as partes sejam legítimas.
Ser parte legítima é ter uma relação direta com o objeto do litígio.
Legitimidade singular
O artigo 30º, nº3 do CPC dá-nos o critério mais seguro. Partes legítimas são os
sujeitos da relação controvertida que está a ser discutida naquela ação em concreto.
Tem de haver necessariamente uma relação direta das partes com a relação em litígio.
A doutrina divide-se:
a) José Alberto dos Reis (Escola de Lisboa): o réu (intermediário) não devia ser
considerado parte ilegítima porque ser parte legítima significa ser sujeito da
relação efetivamente existente. Se estiver assente que o réu foi intermediário, a
discussão não deve ser feita com ele, mas com o vendedor (a empresa
espanhola). Pelo que o réu (intermediário) devia ser absolvido da instância. O
Professor entendia que a função específica da legitimidade era garantir a
utilidade social do mérito de causa – só se resolve efetivamente um litígio se
estiver em juízo o verdadeiro comprador e o vendedor. Só há decisões de mérito
quando as sentenças possam resolver o litígio. O juiz tinha de primeiro perceber
o que tinha acontecido, para aferir quem eram as partes legítimas.
2. Professor José Alberto dos Reis: esta posição também tem vantagens:
a. Utilidade social das sentenças de mérito. A teoria de aferir a legitimidade
com base na relação material efetivamente existente – evita que o juiz
tivesse de proferir uma sentença de mérito inútil. Para quê que serve
absolver o réu do pedido se ele nem era parte da relação jurídica? Em
rigor não faz sentido proferir uma sentença de mérito para alguém que
não foi parte da relação jurídica.
O artigo 30º, nº3 do CPC diz que são considerados titulares do interesse
relevante para o efeito da legitimidade os sujeitos da relação controvertida tal como
configurada pelo autor. Esta posição facilita a tarefa do juiz quando tenta sanar. Se se
Para ter legitimidade, o nº1 vem dizer que é preciso ter interesse direto, seja na
procedência ou na improcedência. No nº2 há coincidência entre o interesse na
procedência ou improcedência que é necessário para se ser réu.
Este artigo arruma as partes autor e réu tendo em conta quem beneficia com a
procedência da ação e quem é prejudicado com a procedência da ação – não posso
demandar um réu e querer que ele tenha o mesmo efeito favorável que eu.
Críticas:
• Torna rara a situação de ilegitimidade.
• Para aferir a ilegitimidade ou legitimidade não é preciso atender à prova ou à
defesa, porque só interessa a relação tal como é descrita pelo autor.
Nota:
O critério do interesse direto não serve para a defesa judicial dos interesses
difusos – artigo 31º do CPC. São interesses de que são titulares os membros de um
grupo, mas que são insuscetíveis de interesse individual – por exemplo, o ambiente.
b) Ação de condenação passiva: pessoa que está a violar e que se prevê que vá
violar.
f) Ações executivas: tem de ter sempre um título executivo, prova que se considera
suficiente para se passar uma ação executiva. Remissão do artigo 30º para o 53º
do CPC, onde está uma regra que faz sentido tendo em conta a ideia de que
obriga a ter um título executivo para iniciar uma execução. A regra é de que o
credor e o devedor serão partes se figurarem no título executivo.
Legitimidade plural
Assim, distinguimos:
Coligação
Tenho de aferir quais são os requisitos para que os autores se possam juntar, ou
os réus se possam juntar. Tem de haver alguma relação entre as relações materiais
controvertidas para que o legislador permita que estejam conjuntamente em juízo.
Exemplo: Imagine-se que foi celebrado um negócio de compra e venda. Contra um dos
réus propõe-se uma ação de invalidação do contrato e contra um segundo réu pede-se
o cumprimento de uma obrigação decorrente desse contrato. Contra o segundo réu não
se pode pedir uma obrigação decorrente da validade do contrato se, na primeira ação,
se pede a destruição do contrato. Não se podem formular 2 pedidos contra 2 réus em
que há́ uma incompatibilidade substantiva.
Aqui já́ faz sentido abordar o tema acima referido, pois já́ se coloca a questão de
saber se todos os que estão presentes na ação são titulares daquela situação material
controvertida (qual a sua relação com o objeto do litigio), ou seja, se são partes
legítimas.
É aqui importante a redação do artigo 32º, nº1 do CPC — “Se a relação material
controvertida respeitar a várias pessoas, a ação respetiva pode ser proposta por todos
ou contra todos os interessados; mas, se a lei ou o negócio for omisso, a ação pode
também ser proposta por um só ou contra um só dos interessados, devendo o tribunal,
nesse caso, conhecer apenas da respetiva quota-parte do interesse ou da
responsabilidade, ainda que o pedido abranja a totalidade.”
Como vemos, não se pode dizer, sem mais, que o litisconsórcio voluntário é a
regra. Isto porque só estar presente um sujeito na ação quando a relação jurídica diz
respeito a todos não pode significar que depois a sentença os afete a todos. Só estão
vinculados pelos efeitos da decisão e da sentença os que estão em juízo. O juiz só pode
conhecer da quota parte do interesse do sujeito que está em juízo e não pode tomar
decisões que abranjam os sujeitos das outras partes na relação, mesmo que o sujeito
em juízo venha pedir a condenação na totalidade.
Artigo 33º, nº1 do CPC. O legislador exige a presença de várias partes na ação,
sob pena de ilegitimidade. Exemplos:
Nestes casos o credor exerce os direitos de conteúdo patrimonial do seu devedor. Numa
situação de sub-rogação judicial, o credor tem de demandar o devedor e o terceiro sob
quem está a exercer o direito de conteúdo patrimonial (há um credor e devedor
originário).
• Artigo 34º do CPC “Ações que têm de ser propostas por ambos ou contra ambos
os cônjuges”
Nas ações de preferência, o que acontece é que aquele que vê o seu direito de
preferência violado instaura uma ação para que o Tribunal o substituía ao terceiro
adquirente. Esta é uma ação constitutiva porque corresponde ao exercício de um direito
potestativo — o exercício do direito de preferência judicialmente implica a produção de
efeitos jurídicos contra a parte independentemente da sua vontade.
Antigamente, antes de 97, na redação do artigo em causa, havia uma passagem que
dizia o seguinte: “... nos 15 dias seguintes ao despacho que ordene a citação dos réus...”.
Isto fazia que a doutrina interpretasse que esta era uma forma indireta de exigir a
presença dos dois e considerava-se que era um litisconsórcio legal.
Artigo 33º, nº1 do CPC. A lei não impõe que estejam em juízo todos os
interessados, mas há uma convenção que impõe a intervenção de todos os interessados.
A convenção tem de ter desenhado a relação substantiva de tal forma que seja
necessário a intervenção de todos: não são válidas convenções que, desligadas do plano
substantivo, exijam apenas a intervenção das partes no plano processual. Ou seja, tem
de haver uma convenção a nível substantivo e não meramente processual. Motivo: o
direito de ação é indisponível.
Apenas pode haver uma cláusula que diga que o credor pode exigir o seu direito
de todos em conjunto (dívida conjunta) quer substantivamente quer processualmente,
porque não pode ter apenas efeitos processuais já que seria uma limitação inadmissível
e inconstitucional do direito de ação. No caso da dívida conjunta, para poder exigir a
totalidade da dívida, substantivamente exige-se que todos tenham de estar presentes
na ação pois cada um apenas pode ser demandado da quota parte que lhe cabe. Por
isso, faz sentido que, aqui, tanto processualmente e substantivamente estejam todos
presentes.
Artigos 33º, nº2 e nº3 do CPC. Quando da natureza da relação jurídica levada a
tribunal resulte que é preciso a intervenção de todos os sujeitos para que a decisão de
mérito da decisão proferida produza o seu efeito normal.
Produzir efeito útil normal significa que a decisão possa ser definitiva e exequível,
ainda que apenas em relação à quota parte dos interessados.
O prédio é do A, B e C. A quer dividir o prédio, mas não chega a acordo e intenta ação
de divisão de coisa comum (todos têm direito a isso) e o problema é saber se tem de
propor a ação contra B e C ou só contra o B.
Vamos começar por tratar este caso como voluntário porque é a regra e vamos ver se
as duas ações separadas (sem que estejam todos em juízo) com soluções diferentes, são
exequíveis. Regulam definitivamente a situação das partes em juízo, apesar de não
poder produzir efeitos contra as partes que não estão em juízo porque a sentença não
pode atingir os direitos das partes que não estão em juízo (princípio do contraditório).
C fugiu para o Brasil. Vamos ver se serve, porque se servir é voluntário, se não é
necessário.
A intenta ação contra B, assim juiz só pode conhecer de 2/3 do prédio – da parte de A e
da parte de B. Entretanto, C chega do Brasil e não gostou, C não tem de respeitar a
divisão feita na 1º ação e C intenta ação contra A.
Como não há caso julgado (juiz da segunda ação não tem que respeitar a sentença
proferida na primeira ação porque C não foi parte), então o juiz pode fazer uma divisão
da coisa em 3. Ou seja: as ações chocam, porque dividem de forma diferente.
Imaginemos que alguém quer que, judicialmente, o juiz constitua uma servidão de
passagem pelo prédio vizinho porque é a única forma que tem de aceder à via pública.
Assim, esta constituição só pode exercer o seu efeito útil normal se estiverem presentes
todos os vizinhos. É preciso perceber se o direito pode ser dividido em quotas partes.
Senhora A morreu, não tinha herdeiros legitimários e fez um testamento na qual deixava
todos os seus bens a B (nora). A senhora A tinha dois sobrinhos vivos (C e D).
Problema: C propôs uma ação contra B, dizendo que A quando fez o testamento estava
com incapacidade acidental, que anula o testamento – as sobrinhas herdariam se não
houvesse testamento, eram herdeiros legítimas.
Do lado ativo, tinha de estar em juízo C e D, que eram ambas as beneficiárias da ação de
anulação do testamento e a ser procedente valeria para todo o testamento?
MPB - Elas na prática são exequíveis porque o testamento vai-se dividir entre B e C –
mas o STJ diz que é necessário porque é a única forma de conhecer a invalidade do
testamento, porque não é esse o critério que está no nº3.
Antunes Varela e Manuel de Andrade concordam com MPB, que acham que não é
necessário.
O artigo 33º do CPC não pretende garantir a unidade de julgados, mas sim que cada
decisão pode ser definitivamente exequível. Apesar disso, a jurisprudência na
interpretação deste tipo de litisconsórcio é mais exigente que a doutrina e considera
que, sempre que há um risco de contradição das decisões, deve exigir-se que estejam
todos presentes em juízo para evitar a contradição de julgados.
O artigo 33º do CPC é mais restrito pois fala apenas da exequibilidade porque a regra é
o litisconsórcio voluntário e o necessário irá dificultar o exercício do direto de ação. O
litisconsórcio só será necessário se for mesmo necessário à exequibilidade das decisões,
nos termos do artigo 33º do CPC.
O que nos perguntamos não é se as partes podem; porque poder, podem, dado
que são sujeitos da relação controvertida — assim, têm liberdade para propor uma ação
em conjunto, e se um deles que não esteve desde o princípio na ação, quiser intervir ao
lado dos autores, pode fazê-lo. Aqui, o que importa verdadeiramente é saber se só se
consegue uma sentença de mérito se estiverem em juízo todos os potenciais
beneficiários da anulação do testamento.
Por isso, o exercício mental que é preciso fazer, é o de imaginar que há decisões
diferentes entre interessados diferentes é de ver se estas são todas suscetíveis de serem
executadas.
A ilegitimidade singular é insanável, não obstante o artigo 6º, nº2 do CPC, porque
implicaria substituir as partes em juízo, que era violador do princípio dispositivo.
Quanto à ilegitimidade plural (sempre que não estão em juízo todas as partes
que deveriam estar devido à lei, convenção ou natureza da relação jurídica), é possível
sanar a ilegitimidade plural, mas só pode ser feita à custa da intervenção das partes que
Conclusão:
Porque é que a lei admite esta intervenção que tanto pode ser admitida pelo
autor ou pelo réu? Tem de haver uma boa razão que justifique que o autor tenha de
aceitar que pessoas que ele não demandou ou pessoas com as quais não quis litigar
possam intervir numa ação pendente.
A intervenção de terceiras pessoas pode ser também provocada (uma das partes
iniciais chamou o 3º a intervir) como pode ser espontânea (o próprio terceiro teve
conhecimento da ação e quis intervir).
Que interesses é que justificam que terceiras pessoas intervenham numa ação
pendente? (artigo 311º e seguintes do CPC)
Exemplo artigo 316º do CPC — regula o meio processual adequado à sanação de uma
situação de ilegitimidade por preterição de litisconsórcio necessário. Intervenção
principal, o terceiro que intervém fica com um estatuto semelhante ao das partes
originárias numa ação. Neste artigo, prevê-se que o autor, confrontado com uma
situação de preterição de litisconsórcio necessário, convoque a intervenção em juízo da
pessoa que falta. Isto porque é o autor que tem interesse em sanar o pressuposto,
porque, caso contrário, há absolvição do réu da instância.
Nota: Até à reforma de 95/96 não estava expressamente previsto o meio processual de
sanação da preterição do litisconsórcio necessário.
Normalmente, quem tem interesse numa ação a estender o caso julgado a terceiros é o
réu que quer chamar outros que com ele devam ser conjuntamente condenados (o caso
mais comum é para efeitos do direito de regresso).
Há casos, muito bem delineados na lei, em que a lei tutela interesses de terceiras
pessoas a intervir numa ação pendente.
Quando desde o princípio podia ter havido uma situação de litisconsórcio, essa
situação pode aparecer pela intervenção de terceiras pessoas numa ação pendente.
Essa intervenção pode ser por iniciativa do terceiro ou por chamamento das
partes (tanto vale para o litisconsórcio necessário como para o voluntário). A parte que
intervém como principal tem um estatuto equivalente ao das partes em juízo.
Não é o mesmo que uma intervenção como parte principal, por isso, esta
intervenção está limitada à diferença de estatuto. Pode ser:
Tem vindo a ser restringido o âmbito de aplicação deste mecanismo porque muitas
vezes são invocados direitos de regresso em cadeia o que provoca um grande
prolongamento da situação em Tribunal.
Exemplo: A é subarrendatário de uma casa e sabe que foi proposta uma ação de despejo
contra o arrendatário. O subarrendatário não tem legitimidade para ser parte na ação
de despejo porque o interesse de A é meramente dependente pois a subsistência do
contrato de subarrendamento depende da subsistência do contrato de arrendamento.
Mas, de qualquer das formas, há um interesse de que a lei não seja julgada procedente
Exemplo: A propõe uma ação para o pagamento de uma dívida e B está disposto a pagar.
No entanto, B sabe que há um terceiro que acha que é o verdadeiro credor. Tendo em
conta que, “quem paga mal, paga duas vezes”, B tem o direito de provocar a intervenção
de terceiro para ter a certeza de a quem é que paga a dívida.
Foi incluída, em 95, na figura da oposição, porque também tem uma ideia de um
terceiro que vem defender uma situação contrária à das partes na ação onde foi
decretada aquela medida judicial.
1. Intervenção principal
a. Espontânea
b. Provocada
2. Intervenção acessória
a. Provocada
b. Do ministério público
c. Assistência
3. Oposição
a. Embargo de terceiro
Necessidade que o autor tem de recorrer a juízo. Eu posso ser titular de um certo
direito e ter legitimidade, mas porque não há nenhum perigo quanto à consistência do
direito, eu não tenho nenhum interesse em agir.
O caso deste artigo é o único caso em que a lei exige o interesse de agir, que a
posição do autor seja uma tal que a lei admite.
- Alínea c), do nº2 do artigo 535º do CPC - pode acontecer que o credor de uma
determinada obrigação tenha um título com manifesta força executiva e, todavia, em
vez de começar pela ação executiva, vai começar por uma ação declarativa de
condenação. Para instaurar uma ação executiva tenho de ter um título executivo
(documento que prova a existência de uma obrigação). O título executivo, por
excelência, é a sentença condenatória. Claro que este artigo não vale quando o título é
uma sentença condenatória porque seria apenas repetir a ação (não se vai julgar a
mesma coisa). Vale para os títulos executivos extrajudiciais. Este artigo permite começar
pela ação declarativa, estou a usar uma ação que não é necessária. Mas então porquê
que a lei permite optar por uma via ou por outra? É uma preferência do credor: é mais
fácil executar uma sentença do que um título executivo que não tem por detrás um
processo judicial. O credor pode escolher, mas mesmo que ganhe vai pagar as custas.
- Nº3 do artigo 610º do CPC – poder que o juiz tem a utilizar na altura da
sentença. Não vale a pena estar a deitar fora um processo que decorreu tal e qual, mais
vale aproveitá-lo. Quando decorrer o prazo, então o credor pode passar logo à
condenação. A razão de ser deste preceito é o princípio da economia processual. Num
caso destes o autor ganha, mas paga as custas.
- Em relação ao artigo 535º, nº2 alínea c) do CPC, Antunes Varela diz que, ainda
assim, há interesse em agir por parte do autor que recorre à ação declarativa. Um título
executivo extrajudicial tem uma força probatória menor e, portanto, uma ação
executiva com base num título executivo extrajudicial será sempre muito mais
demorada do que se o autor tiver uma sentença com um título executivo. Assim, pode-
se vislumbrar um interesse do autor em instaurar na mesma a ação declarativa.
Nota em aula prática: artigo 729º do CPC VS artigo 731º do CPC — Da comparação destes
artigos, temos que, em relação a uma execução com base num título extrajudicial, se
podem alegar todos os fundamentos presentes no artigo 729º e ainda quaisquer outros
que possam ser invocados como defesa no processo de declaração. Isto porque, numa
sentença judicial, nos termos do princípio da preclusão, tudo o que era para ser
invocado já devia ter sido.
O título do artigo 535º do CPC não é uma sentença porque, se fosse, a ação declarativa
não poderia ser conhecida, seria invocada a força de caso julgado. Este é um título
extrajudicial relativamente ao qual se podem invocar todos os fundamentos do artigo
731º do CPC — por isso é que isto não significa que o interesse em agir não seja um
pressuposto processual. Se se invocar o título executivo, a outra parte pode invocar uma
série de fundamentos bem mais abrangentes, por isso, é preferível invocar uma ação
declarativa pois os fundamentos que lhe podem ser opostos são muito menores.
Nota em aula prática: Note-se que o artigo 610º aparece regulado na fase da sentença,
o que permite esta interpretação. Se, na fase de saneamento, o juiz se apercebe que a
dívida não está vencida, pode absolver o réu da instância — pode ser conhecido
oficiosamente pelo juiz por este ser um pressuposto processual (artigo 578º do CPC). Se
apenas no fim se apercebe disto, ou seja, na fase da sentença, por uma razão de
economia processual, o tribunal condena na prestação para o futuro!
Como se afere o interesse em agir em abstrato, ou seja, como se sabe se numa ação
existe, ou não, interesse me agir?
A opção do direito processual e do nosso legislador foi a de estabelecer esta regra, sem
prejuízo de algumas situações (como as providências cautelares, por exemplo, e outras
ações inibitórias) em que em certos casos concretos se admite o recurso a Tribunal para
evitar violação do direito. No entanto, estes são casos meramente excecionais.
Exemplo: Se, por hipótese, A intentasse contra B, com quem celebrou um contrato, uma
ação em que pretendia a condenação deste no pagamento do preço para o futuro,
quando ainda não tinha passado o prazo estabelecido para o seu pagamento, B será
absolvido da instância com fundamento em falta do interesse em agir.
A regra é que nas ações de condenação, o interesse em agir se afere pela violação do
direito, mas há situações em que o legislador permite que, ainda que não haja violação
de direito, que o autor possa ter interesse em agir na instauração de uma ação. Essas
situações são:
O artigo 557º, nº1 do CPC permite que o autor peça a condenação do réu nas
prestações vincendas quando estejam em causa prestações periódicas e uma delas seja
violada. Basta o incumprimento de uma das prestações periódicas e o autor tem
interesse em agir para pedir a condenação do pagamento não só daquela que foi violada
O nº1 parece dizer que o autor pode propor uma ação de condenação para o
pagamento da prestação e, se esta ainda não for exigível (se o prazo ainda não tiver
decorrido), mesmo assim, o juiz pode condenar o réu na prestação futura.
Aparentemente, pareceria haver uma falta do interesse em agir e o juiz absolveria o réu
da instância. Mas aqui permite-se que o juiz condene para o futuro apesar de não haver
interesse em agir pois ainda não houve violação do direito.
Ratio:
- Um dos requisitos do 610º, nº1 é que o réu conteste a existência da obrigação.
Ou seja, existe algum interesse em agir porque o réu põe em causa a existência da
- Para além disso, um outro argumento que justifique este 610º, nº1 é o
considerar-se que este artigo se aplica na fase da sentença por razões de economia
processual. Ou seja, se o juiz apenas na fase da sentença percebe que a obrigação não
é exigível, então faz sentido que por economia processual condene na mesma o réu.
b) Ações constitutivas: está em causa o exercício judicial de um direito
potestativo e, nestas circunstâncias, temos de distinguir vários tipos de
direitos potestativos (já que nem todos são exercidos da mesma forma).
Uma incerteza objetiva é aquela que é gerada por elementos exteriores (a sua origem
não pode vir de dúvidas do sujeito do titular do direito).
7. Competência
Pode acontecer que certo litígio, pelos seus elementos subjetivos e objetivos,
tenha uma relação com outra ordem, além da portuguesa. Mais concretamente, a
Quando é que os Tribunais Portugueses têm competência para julgar um litígio com
ligação com outra ordem jurídica?
3. Normas de direito interno (artigos 62º e 63º do CPC – estas regras significam
que a nossa lei portuguesa considera que há litígio que tem conexão suficiente
com a nossa ordem jurídica)
1. Regulamentos Europeus
Nesta altura, esta era uma Convenção Internacional com duas partes: a primeira
era relativa às regras de competência internacional comuns aos estados-membros e a
segunda relativa ao reconhecimento das sentenças estrangeiras. Em 1989, Portugal
aderiu a esta Convenção.
A. Regra geral (artigo 4º) — que se aplica residualmente quando o objeto ou a ação
que se quer propor não é abrangida por nenhuma regra especial.
B. Regras especiais (artigos 7º e seguintes)
C. Competências exclusivas (artigo 24º)
D. Caso especial (artigo 26º)
E. Pactos de Jurisdição (artigo 25º)
O que acontece nestes casos é que: estas regras só são aplicáveis se o réu for
domiciliado num estado europeu.
Neste artigo lê-se que, se houver uma ação na qual estão em causa direitos reais
sobre imóveis, são exclusivamente competentes os tribunais do Estado do local do
imóvel.
Daqui decorre que não se pode ir propor uma ação no Estado onde o réu é
domiciliado. Tal significa que só estes são competentes e que, consequentemente, só as
suas sentenças serão reconhecidas nos demais estados-membros.
Este artigo prevê que, se o autor instaurar uma ação num estado-membro X e se
o réu comparecer e não suscitar a questão da incompetência internacional, esse tribunal
do estado-membro onde tiver sido proposta a ação torna-se competente (se não estiver
em causa uma das regras de competência exclusiva).
Se estiverem em causa litígios, por exemplo, com a Suíça que não envolvam
situações de competências exclusivas, aplica-se a Convenção de Lugano que vincula a
Suíça (cujas regras são praticamente iguais à da Convenção de Bruxelas).
Nota: número 3 do artigo 80º do CPC. O artigo 80º é a regra geral para as ações em que
o réu é uma pessoa singular. Pode acontecer que o réu não tenha domicílio, então o
Imaginemos que estamos perante uma ação que versa sobre uma matéria que não está
abrangida pelo regulamento. Sendo assim, recorrem-se às regras dos artigos 70º e ss.
do CPC.
Ou seja, o legislador estabelece que sempre que existam vários elementos de conexão
com várias ordens e um desses elementos for com o território português e se, de acordo
com o artigo 80º e seguintes, esse elemento for o relevante, é o tribunal português o
competente.
Nunca se aplica a alínea a) sozinha, tem-se sempre de ir aos artigos 70º e seguintes. e
demonstrar que os tribunais portugueses são competentes — conjugar 62º, alínea a) do
CPC + artigos 70º e seguintes do CPC.
Exemplo: Acidente de viação tinha ocorrido num sítio e o contrato de seguro tinha sido
celebrado noutro. Os tribunais disseram que bastava o seguro tivesse sido celebrado em
Portugal para isso trazer a competência para os tribunais portugueses apesar de o
acidente ter ocorrido fora.
Se o litígio se situar fora do âmbito da UE, está fora do âmbito de qualquer regulamento.
Este princípio teve a sua origem num tempo em que a competência internacional não
era disciplinada por instrumentos internacionais — cada Estado tinha as suas regras de
competência internacional. Podia haver situações em que as regras dos vários Estados
envolvidos não permitissem descobrir o tribunal competente e o litígio ficava sem
possibilidade de ser resolvido.
Se, pelo “jogo” das regras de competência se chegar à conclusão de que o litígio fica sem
possibilidade de resolução, os tribunais portugueses são competentes desde que haja
um elemento de conexão com a ordem jurídica portuguesa suficientemente forte para
justificar que os tribunais portugueses julguem.
Estas regras podem ser alteradas através de convenção das partes (artigo 94º do
CPC que exclui os casos de competência exclusiva).
1. Critério da matéria
A razão de ser deste critério é a vantagem de especialização. Não se espera que alguém
que é juiz e tenha uma formação jurídica e esteja habilitado para decidir sobre todas as
matérias. Há, assim, uma melhor prossecução da justiça, por meio da especialização dos
tribunais.
Existe uma especialização em função da matéria e daqui resulta uma ordem dos
tribunais, desde logo prevista do artigo 209º da CRP:
a) Tribunal Constitucional
b) Tribunais Administrativos e Fiscais
c) Tribunal de Contas
d) Tribunais Judiciais: competência subsidiária/residual face aos demais
tribunais de outras ordens. A sua competência delimita-se pela negativa.
Devido à competência residual dos Tribunais Judiciais, a primeira coisa que tem de se
fazer quando queremos saber qual é o tribunal competente em função da matéria é ir
ver se é da competência do Tribunal Constitucional; do Tribunal de Contas ou dos
Tribunais Administrativos e Fiscais. Se não for de nenhum, automaticamente esta
competência é dos tribunais judiciais.
Esta conclusão da competência residual dos tribunais judiciais resulta legalmente do
artigo 211º, nº1 da CRP que nos diz que os tribunais comuns são comuns em matéria
civil e criminal e exercem jurisdição em todas as áreas não atribuídas a outras ordens
jurisdicionais.
Para saber, dentro dos tribunais judiciais, qual o tribunal competente, temos de ir à
LOSJ. Como a competência dos tribunais judiciais é uma competência residual, a LOSJ
dedica-se sobretudo à sua competência.
o Passo 1: O primeiro artigo onde temos de ir dentro da LOSJ é o artigo 40º, nº1 e
2 (que repete o que está na CRP, no artigo 211º, e no artigo 64º do CPC), ou seja,
os tribunais judiciais têm competência para as causas que não sejam atribuídas
a outra ordem jurisdicional.
A secção cível presente no artigo 81º, nº2 é também residual relativamente às outras
todas. Por isso, se a competência couber a um Tribunal de Comarca Normal, temos de
ver se o litígio cabe na lista das secções especializadas. Se não couber, então, a
competência é da Secção Cível que é a secção residual em relação às outras todas.
2. Concluindo-se que é um tribunal judicial, temos de ver dentro destes se é uma matéria
que cabe (1) dentro da competência dos Tribunais de Competência Territorial Alargada
ou (2) nos Tribunais de Comarca. (40º, nº2 + 83º da Lei de Organização do Sistema
Judiciário) Se a resposta for este último ...
2. Critério da hierarquia
Existe uma hierarquia para permitir que uma decisão possa ser revista ou reapreciada
pela Relação e pelo Supremo. Claro que a possibilidade depende de uma série de
aspetos que já vimos (valor da ação, alçada do tribunal que se recorre).
Há casos excecionais em que se pode instaurar a ação num tribunal superior e em que
não se tem de começar pelos tribunais de comarca. Estas situações são duas:
- Estes conflitos são resolvidos pelo tribunal de menor categoria que exerça
jurisdição sobre as entidades em conflito. Se o conflito é entre o Tribunal da Relação e
da 1ª Instância, então tem de ser resolvido pelo presidente do tribunal de 1ª Instância.
A regra, presente nos estatutos dos magistrados artigo 5º, é que os magistrados
não podem ser responsabilizados pelas ações que praticam no exercício das suas
funções. No entanto, o Estado pode ser responsabilizado, em circunstâncias excecionais.
Posteriormente, o Estado tem o direito de regresso contra esse magistrado, verificados
os requisitos. Logo, quando falamos nestas ações, falamos no direito de regresso (não
da indemnização em si).
Todas as causas têm um determinado valor, os critérios dessa atribuição do valor estão
no CPC, nos artigos 296º e seguintes.
De acordo com o critério do valor, temos a distinção entre dois tipos de juízos cíveis:
a) Juízos Centrais Cíveis – têm competência para ações de valor superior a 50 mil
euros e que seguem a forma de processos declarativa comum.
b) Juízos Locais Cíveis - têm competência para julgar todas as outras ações:
declarativas comuns de valor igual ou inferior a 50 mil euros e as que seguem a
forma de processo especial.
4. Critério do território
Para saber quais são as freguesias que a Comarca ocupa, tenho de ir aos anexos da LOSJ
– mas isto não basta! Para saber qual o tribunal competente, tenho de ver elemento
relevante da ação e comparar com o mapa da Comarca.
Como sei qual é o elemento relevante da ação? Artigos 70º e seguintes do CPC.
Temos regras especiais; quando a ação não caia em nenhum dos casos há uma
regra comum.
A regra comum, presente nos artigos 80º e 81º da CPC, é que o tribunal
competente é o do domicílio do réu ou da sede da pessoa coletiva. Motivo: proteção do
réu, proximidade. O autor escolhe os termos e momento da ação, pelo que o réu tem
um período curto para organizar a sua defesa, correndo sempre o risco de ver uma
decisão contra ele.
Artigo 70º, nº1 CPC – ações devem ser propostas no tribunal da localização dos
bens. Isto não significa que sempre que esteja em causa um direito sobre um imóvel se
aplique o artigo 70º. É aplicável quando objeto imediato da ação é um bem imóvel.
Contudo, vamos imaginar uma ação de anulação de um contrato de compra e venda de
um bem imóvel, a maioria da doutrina entende que quando o bem imóvel é apenas
objeto mediato da ação, não se justifica aplicar a regra do artigo 70º. Isto porque a razão
de ser de aplicar a regra especial reside numa razão de maior facilidade de prova.
Artigo 82º, nº1 do CPC - aplica-se aos casos de pluralidade de réus sendo
aplicável a regra geral — é competente o tribunal do local onde são domiciliados a
maioria dos réus ou, se for igual o número nos diferentes domicílios, cabe ao autor
escolher entre qualquer um deles.
Artigo 80º, nº2 do CPC - Diz que o autor escolhe o Tribunal onde propõe a ação
se cumular pedidos para cuja apreciação sejam territorialmente competentes diversos
tribunais, a não ser que, para algum desses pedidos, haja regras de competência
territorial imperativas pois, nesse caso, estas últimas prevalecem. Exemplo: Se para um
caso era competente o tribunal do facto ilícito, artigo 71º, nº2 (regra imperativa) e, para
outro caso, era competente o tribunal do domicílio do réu, prevalece a regra imperativa.
Artigo 80º, nº3 do CPC - Diz que, sem prejuízo das regras imperativas, pode
acontecer que o autor tenha feito, nos vários pedidos, uma distinção entre os pedidos
principais e pedidos subsidiários (no caso de os principais não procederem). Aí o que
acontece é que a ação deve ser proposta no tribunal competente para a apreciação do
pedido principal.
Nota: Pactos de competência
Do nº1 resulta que as únicas regras de competência interna que podem ser
alteradas pelo pacto de competência são as de natureza territorial. Mesmo dentro das
regras de competência territorial ainda há umas que são imperativas – as que estão no
artigo 104º do CPC.
Extensão da competência
Artigos 91º a 93º do CPC: há casos em que há várias questões que se apresentam
a um tribunal que é competente para uma e não para outras, então o legislador estende
a competência do tribunal.
Aquelas das quais depende o conhecimento pelo autor da causa principal (exemplo:
pedido de indemnização com fundamento em crime). Há aqui questão prejudicial à
condenação do réu no pagamento da indemnização.
Contudo, a suspensão fica sem efeito se a ação não for exercida por um mês ou se parar
por negligência das partes. Nesse caso, o juiz decidirá a ação.
O juiz da causa principal tem competência para conhecer questão principal, ainda que
não fosse da competência. A sua decisão não tem efeito fora daquela ação – não serve
como caso julgado para condenar réu a cumprir uma pena.
Uma reconvenção é um pedido formulado pelo réu contra o autor (espécie de contra-
ataque do réu contra o autor). O réu passa a ser autor e vice-versa.
Em que medida é que o tribunal competente para o pedido do autor é competente para
conhecer pedido do réu?
O pedido reconvencional só pode ser formulado se o tribunal para o pedido do autor for
absolutamente competente para o pedido do réu.
a. Internacional
i. Regulamentos e Convenções (regulamento de Bruxelas)
ii. Regras de direito interno (artigos 62º e 63º do CPC)
iii. Pactos de jurisdição
b. Interna
Matéria: temos dois níveis de competência em razão da matéria.
Hierarquia
1. STJ
2. Relação
3. 1ª Instância
1. Tribunal Constitucional
2. Tribunal de Contas
3. Tribunais Administrativos e Fiscais
4. Tribunais Judiciais
a. Supremo Tribunal de Justiça
b. Tribunais da Relação (são 5, hoje em dia)
c. Tribunais de 1ª Instância
i. Tribunais de competência territorial alargada (por exemplo:
propriedade intelectual, concorrência...)
ii. Tribunais de Comarca
1. Juízos Cíveis
a. Juízo Central Cível
b. Juízo Local Cível
2. Juízos de Competência Especializada
Regime da incompetência
1. Incompetência absoluta: resulta do 97º, nº1 que a regra é que pode ser arguida
pelas partes e deve ser suscitada oficiosamente pelo tribunal.
Motivo: ambas implicam a violação de um acordo e não de uma norma legal. Se o autor
violou essa convenção e o réu não vem arguir, então, tacitamente acaba por existir uma
revogação do acordo entre as partes pelo que deve considerar-se uma manifestação da
autonomia privada e liberdade contratual em que o tribunal não deve intervir.
Exceções:
a) A incompetência em razão do valor deve ser de conhecimento oficioso, artigo
104º, nº2
b) Há certos casos de conhecimento territorial (a única que sobra) que são de
conhecimento oficioso – lista do artigo 104º.
1. Incompetência absoluta: artigo 97º, nº1 do CPC. É de tal maneira grave que, até
ao trânsito em julgado da decisão, a incompetência absoluta pode ser suscitada.
2. Incompetência relativa: artigo 103º, nº1 do CPC. Uma vez que a regra é a de só
poder ser arguida pelo réu, é ate à contestação.
Nos casos que pode ser conhecida oficiosamente, pode ser até ao despacho saneador
(artigo 103º, nº3 do CPC), ou se não houver lugar a ele, até ao momento do 1º despacho
que o juiz profira depois dos articulados.
2. Incompetência relativa: artigo 104º, nº3 do CPC. Uma vez que tem de ser
suscitada pelo réu até à contestação, esta só pode ser conhecida até ao
despacho saneador ou, não havendo, até ao 1º despacho que o juiz profira.
Efeitos da incompetência
1. Incompetência absoluta: artigo 100º do CPC. Não tem valor fora dos processos
em que o tribunal a julga (força de caso julgado formal). Se o tribunal se
considera materialmente incompetente, o autor quiser insistir na ação e propor
uma ação a seguir, pode apanhar outro juiz que não está vinculado da decisão
anterior.
2. Incompetência relativa: artigo 105º, nº4 do CPC. Não é recorrível, apenas pode
ser impugnada por reclamação para o Presidente do Tribunal superior ao que
decidiu da incompetência.
c) Os julgados de paz
Lei de 2001 que foi alterada e republicada através da Lei 54/2013, de 31 de julho.
- Se as partes não conseguiram chegar a acordo, a causa vai ser conduzida e julgada por
um juiz.
A noção de tribunais arbitrais é-nos dada pela negativa: os tribunais arbitrais não
se integram em nenhuma ordem de tribunais estaduais, não são compostos por juízes
de carreira.
Requisitos: artigo 2º
Deve-se fazer uma remissão do artigo 39º do CPC para o artigo 4º do CC.
É importante relembrar que os árbitros não são representantes das partes. Estes
devem ser independentes, mas tal não significa que as partes não possam escolher
árbitros de confiança do ponto de vista técnico.
Se uma das partes entender que há violação de algum dos princípios básicos
impostos pela Jurisdição Arbitral, o artigo 46º determina que se possa pedir a anulação
da decisão arbitral que é pedida diretamente no Tribunal da Relação, Tribunal este que
não aprecia o fundo da questão apenas vê se os princípios estão observados ou não.
e) Mediação
Mediadores são facilitadores, ou seja, são pessoas que tentam a fazer com que
duas partes em litígio, por elas próprias, cheguem a um acordo. Não promovem a
conciliação e, muito menos, decidem. Apenas tendam criar as condições para que as
partes cheguem a acordo.
Esta significa que as partes estão predispostas a tentar chegar a acordo e, se esta
for celebrada na decorrência de uma ação, a ação suspende-se (não há absolvição da
instância) e espera-se até saber se as partes chegaram, ou não, a acordo. Se não
chegarem a acordo dentro do prazo fixado, a ação continua.
Notas:
‣ Ainda, no CPC, nos termos do 273º (remissão para a lei de 29/2013), faz-se uma
referência à mediação.
‣ Nos termos do artigo 9º, em certas circunstâncias, as partes podem obter uma
conciliação num sistema público e, nesse caso, pode ele próprio ter força executiva.
Nota: Para o direito português, a existência de direito estrangeiro, é como se fosse uma
questão de facto.
As provas podem ter dupla função, pois estas não servem apenas para ser
utilizadas em Tribunal. Pode-se ter de fazer prova da constituição desse direito extra-
judicialmente.
Quando a discussão atua em processo (em juízo), fazer prova significa convencer
o tribunal. Contudo, existem diferentes graus.
Para dar um facto como comprovado, o grau que é preciso para uma Providência
Cautelar é um grau de convicção menor do que aquele que é exigido para uma ação
- Prova posterior à instrução: tal como consta do artigo 607º, nº1 do CPC — se,
encerrada a instrução, o juiz for a julgar a matéria de facto e chegar a conclusão de que
precisa de mais provas volta atrás à Audiência e produzem-se novas provas.
- Prova anterior à instrução: artigos 419º e 420º do CPC. Exemplo: A quer propor
uma ação contra B por ter o receio de que este lhe venha a propor, por sua vez, uma
ação e, por isso, querer chamar determinada pessoa como testemunha ou recolher
determinado vestígio para efeitos de indemnização. Nesses casos, A poderia pedir,
antecipadamente, a produção destas provas, alegando que aquela testemunha iria para
fora do país (podendo ser por isso difícil futuramente obter o seu depoimento naquela
ação) ou pode pedir a realização da perícia do vestígio (sob pena de este poder
desaparecer e de a prova ser perdida).
Sabemos que quem comanda o processo é o juiz, contudo, ainda assim, temos
de ver como é que tal se passa na matéria de prova.
Em matéria de prova, o princípio dominante é o princípio do inquisitório, por
força da importância da busca pela verdade material.
O artigo 411º do CPC diz-nos que o juiz tem iniciativa probatória, ou seja, o juiz
não está limitado pelas provas oferecidas pelas partes, podendo determinar
oficiosamente a produção de determinados meios de prova.
No entanto, temos de ter atenção à parte final do mesmo artigo. O juiz pode
ordenar a produção de prova “quanto aos factos de que lhe é lícito conhecer”, assim
sendo, o juiz está sempre limitado aos factos alegados pelas partes.
O ónus da prova são as regras que servem para determinar contra quem o juiz
deve julgar em caso de dúvida sobre a verificação de um determinado facto. Estas regras
têm um significado distinto consoante estejamos num sistema do tipo dispositivo ou do
tipo inquisitório. Como já vimos, o nosso sistema, assumidamente, em matéria de prova,
é do tipo inquisitório.
Este facto influência as regras do ónus da prova na medida em que o facto de o
juiz ter iniciativa probatória alivia as partes de um sistema de ónus da prova que poderia
ser muito pesado. Num sistema jurídico em que o juiz não tenha qualquer possibilidade
de iniciativa probatória, se cada uma das partes não provar os factos que lhes
competem, necessariamente terá a ação julgada contra si.
Quando o juiz auxilia as partes na produção da prova, ainda que cada parte não
prove os factos cujo ónus da prova lhe competia, isso não significa necessariamente,
que a ação seja julgada contra ela.
Por isso se diz que, no nosso sistema de prova em que o juiz tem a iniciativa, não
há bem um sistema de ónus da prova — isto porque não é bem rigoroso dizer que cada
parte tem o ónus de provar determinado facto sob pena de a decisão ser contra si. O
papel ativo do juiz interfere dentro deste equilíbrio por poder oficiosamente determinar
a prova desses factos cujo ónus competia a uma determinada parte. Por isso, se o juiz é
um agente auxiliar da produção de prova. Só no fim da acao se poderá saber se aquele
facto fiocu provado ou não, mesmo que a parte que o ónus de prova não o tenha
provado.
O artigo 345º do CC. trata das regras aplicáveis à admissibilidade, ou não, das
convenções relativas à prova. Como regra, nos termos deste artigo, estas convenções
são nulas, salvo se observarem determinados requisitos.
A regra da nulidade das convenções é uma manifestação do princípio do
inquisitório pois, se vigorasse aqui o princípio do dispositivo, à autonomia das partes
poderia caber a alteração dessas regras relativas à prova.
O julgador julga de acordo com a sua livre convicção em relação a cada prova,
regra geral. Estamos, aqui, a falar de uma convicção subjetiva.
Este princípio não resulta diretamente de nenhum preceito, mas acaba por
resultar das regras da sequência da prova produzida em audiência — destas regras
resulta que a prova é produzida ou diretamente em audiência ou perante o juiz.
Nota: Este princípio nada tem a ver com a questão do registo escrito ou gravado
da prova (garantia acrescida ao princípio da imediação e da oralidade).
O juiz deve tomar em consideração todos os meios de prova que são trazidos ao
processo, independentemente de terem sido trazidos pelas partes a quem os
aproveitam.
Ocorre essencialmente através da prova testemunhal pois, muitas vezes, as
testemunhas, fortuitamente, podem dizer alguma coisa que aproveita à parte contrária.
Este princípio permite que se possa utilizar um meio de prova produzido noutra
ação, numa ação posterior, verificados certos requisitos. São uma espécie de provas
constituendas num determinado processo (dado que, em relação às provas constituídas,
não há problema nenhum).
Exemplo: Pode consistir em aproveitar uma determinada confissão feita noutro
processo (não dispensa o exercício de certas garantias como a do exercício do
contraditório).
Tal não significa que o juiz da segunda ação tenha de considerar também como
provados os mesmos factos que o juiz da primeira ação considerou em função daquelas
provas. O princípio da livre apreciação das provas mantém-se: o juiz da segunda ação
pode considerar que aquele testemunho não é suficiente para considerar o facto
provado. O valor extra processual das provas não significa valor processual da convicção
do juiz da primeira ação.
a) O ónus da prova
Muitas vezes há factos necessários para a resolução dos conflitos que ficam por
provar, ou seja, a prova não é concludente e o Tribunal não sabe se os factos ocorreram
— não ficam não provadas, mas não se alcança nenhuma certeza.
Em Processo Civil, o juiz não pode deixar de julgar alegando que dúvida sobre a
matéria de facto tal como consta do artigo 8º do CC. A dúvida não é justificação para
não julgar. Se a lei impede o Juiz de se recusar a julgar o mérito, por não saber se o facto
que é importante ocorreu ou não, a lei tem de dar ao juiz um critério de decisão para
ultrapassar as situações de dúvida irremovível.
Antes de julgar, há uma fase destinada à produção de prova para que o tribunal
saiba se os factos ocorreram ou não. Quando o juiz se depara com uma situação de
dúvida irremovível/insanável, surge a questão de saber como deve proceder.
Antigamente, tínhamos um sistema deste tipo e, por isso, havia uma associação
necessária entre a parte fazer a prova e o facto que lhe interessa ser dado como provado
Aqui, as regras sobre ónus da prova não são propriamente regras de prova, mas
sim regras de decisão. Ter o ónus da prova num sistema destes significa correr-se o risco
da falta de prova. Vê-se objetivamente se o facto está ou não provado. Se não estiver,
o juiz irá julgar contra a parte onerada. A lógica é a de saber a quem é que o facto
aproveita; mesmo num sistema objetivo a parte tem o incentivo a fazer prova dos factos
cujo ónus da prova lhes incumbe (por lhes serem favoráveis), mas na realidade não há
essa associação necessária.
Quando há factos que são provados por iniciativa do juiz, hão de beneficiar uma
das partes. Por as regras do ónus da prova serem em sentido objetivo, tal não torna
desnecessário as regras que repartem numa ação o ónus da prova dos factos que
interessam na causa porque, em situação de dúvida, o juiz tem de saber contra quem é
que decide!
A lei portuguesa, nos termos do artigo 342º do CC, tomou como ponto de
referência o direito que está a ser discutido e depois distingue os factos constitutivos
dos factos impeditivos, modificativos ou extintivos desse direito. A repartição do ónus
da prova é feita, então, na seguinte forma:
- Quem invoca um direito tem o ónus de provar os factos constitutivos desse
direito (artigo 342º, nº1 do CC).
- Aquele contra quem esse direito é invocado tem o ónus da prova dos factos
impeditivos, modificativos ou extintivos.
Exemplo 1:
A alega que celebrou com o B (réu) um contrato de compra e pede que o réu seja
condenado a pagar o respetivo preço. B defende-se alegando a incapacidade de
exercício e que, sendo incapaz, o contrato deve ser invalidado. O juiz não sabe se o facto
em que se traduz essa incapacidade é, em si mesmo, controvertido. Se estiver em causa
uma incapacidade de facto temos de saber se a pessoa no momento em que celebrou o
contrato estava ou não incapacitada de facto. Nestes casos, contra quem é que o Juiz
julga?
2. Por outro lado, também podemos dizer que a normalidade é que não haja
situações deste tipo de incapacidade. Tem de se ver a incapacidade de facto como um
facto impeditivo do direito do autor. Aí, se construirmos o raciocínio desta forma, julga-
se contra o Réu.
Teoria da norma
Esta teoria olha à forma como são construídas as normas de direito substantivo
aplicadas ao litígio e à forma como se relacionam umas com as outras. As regras do ónus
da prova não têm a ver com a decisão de mérito. Cada uma das partes tem o ónus de
provar os factos que integram a previsão da norma que lhe é favorável.
Exemplo 1:
A propõe uma ação contra B dizendo que celebrou contrato de mútuo com B e
que B não devolveu o dinheiro emprestado no prazo combinado. Se B vier dizer que não
foi celebrado nenhum contrato de mútuo, a dúvida do Tribunal é saber se houve ou não
Exemplo 2:
Formulando o mesmo exemplo de outra forma, se o réu disser que é verdade
que lhe foi emprestado dinheiro por A, mas que passou o prazo de prescrição, a dúvida
agora está no decurso do prazo. O que o juiz não sabe é se passou ou não o prazo de
prescrição. Assim, temos de conjugar as normas sobre mútuo com as de prescrição. Está
provado o facto que interessa ao autor, mas não está provado o decurso do prazo de
prescrição. Assim, o juiz não aplica as normas que estabelecem as consequências da
prescrição. O juiz julga contra o réu.
Exemplo 3:
Voltando a reformular o problema, se A vier alegar que o prazo de prescrição de
20 anos já passou, mas que interpelou o réu para cumprir há vários anos, o prazo de
prescrição interrompeu-se. Agora, a dúvida encontra-se em o juiz saber se houve, ou
não, a tal interpelação que interrompeu o prazo de prescrição. Se o facto não for
provado pelo autor, o juiz julga contra este.
Exemplo 4:
Numa ação de responsabilidade civil extracontratual, a regra geral está no artigo
483º do CC e os pressupostos são: a culpa; o nexo de causalidade; a ilícitude e o dano.
Se ficarem por provar os factos que serviriam para ver se houve a verificação de algum
destes pressupostos, o juiz julga contra a parte a quem aproveita a aplicação do artigo
483º, ou seja, contra o lesado. Em regra, na responsabilidade civil extracontratual, é o
lesado que tem o ónus de provar todos os pressupostos e, na falta de prova de algum
desses pressupostos, o juiz absolve o réu.
Exemplo: Imagine-se que A vendeu uma coisa ao réu e o juiz condena este último
a pagar o preço. Suponhamos que o réu diz que foi criada uma condição nos seguintes
termos: os efeitos da compra e venda só se produziam se ocorresse um determinado
facto (condição suspensiva). Temos duas possibilidades: a de não ter sido feita a prova
de que foi acordada esta condição, ou que o facto determinante da condição suspensiva
tenha ocorrido.
Uma coisa é provar que foi convencionada uma condição ou um termo e outra é
provar que o facto em que se traduz essa condição ocorreu.
O artigo 343º, nº3 do CC reparte a prova entre uma e outra parte consoante a
condição é suspensiva ou resolutiva. O que está aqui resolvido é como é que se reparte
o ónus da prova sobre a verificação ou não do facto.
MPB diz que quando o réu invoca a existência de uma cláusula destas, recai sobre
ele o ónus da prova.
Há vários motivos para o juiz decidir pela inversão do ónus da prova. Estes casos
estão no artigo 344º do CC:
1. Existência de uma presunção legal – uma presunção (artigo 349º do CC) é uma
ilação que a lei (ou o julgador) tira de um facto conhecido para afirmar um facto
desconhecido. Estas presunções podem ser legais ou judiciais: a diferença é que as legais
se verificam quando seja a própria lei que cria este nexo presuntivo entre o facto
conhecido e o facto desconhecido; a presunção judicial ocorre quando é o julgador que,
através da experiência e do senso comum, deduz um facto desconhecido. Neste caso,
só a lei pode inverter o ónus da prova! A lei cria presunções para aliviar da prova do
facto desconhecido (porque é mais fácil provar o facto conhecido e, daí, tirar uma
ilação).
4. Todos os casos de inversão legal – casos em que a lei retire o ónus da prova a
uma das partes e o transfira para a outra parte. Por exemplo, artigo 343º, nº1, nas ações
de simples apreciação negativa é o réu que tem o ónus da prova.
Por exemplo, contrato de compra e venda de um imóvel para o qual a lei exige escritura
pública. É normal que em todos os contratos formais esse apenas possa ser provado
através desse documento (isto resulta do artigo 364º do CC).
Este artigo prevê dois tipos de forma exigida para o negócio jurídico: formalidades ad
substantiam (no nº1 são exigidas como condição de validade substantiva do negócio) ad
probationem (no nº2 são exigidas para a prova da declaração negocial).
No caso do número 1 aquele negócio apenas pode ser provado através daquela forma
documental exigida para a forma do negócio. No número 2 o legislador é menos
exigente: permite que a forma seja substituída em juízo por confissão expressa, judicial
ou extrajudicial, desde que conste de documento de superior ou igual valor probatório.
2. Nos casos em que um facto esteja provado por meio de prova com força
probatória especial, para contrariar a prova deste facto, tenho de usar um meio de prova
de valor igual ou superior.
3. Há certos meios de prova em concreto que têm requisitos especiais para a sua
admissibilidade. Por exemplo, a confissão não é admissível quando estejam em causa
direitos indisponíveis.
Embora a regra seja a de livre apreciação pelo juiz, há exceções. Há casos em que
certos meios de prova têm um valor tabelado, o que foge à livre apreciação do juiz. O
julgador aprecia livremente, exceto quando a lei processual atribua certo valor
probatória certos meios de prova em especial.
1. Força probatória bastante – artigo 346º do CC. Estes meios de prova são
capazes de criar no espírito do julgador a convicção de existência do facto. Tenho de
perguntar “O que é que a outra parte pode fazer para destruir este meio de prova?” –
basta fazer a contraprova. Basta criar no espírito do julgador a dúvida sobre a existência
do facto.
2. Força probatória plena – artigo 347º do CC. Só pode ser contrariada por um
meio de prova que mostre não ser verdadeiro o facto que dela for objeto. Não basta
uma simples contraprova (criar a dúvida no espírito do julgador). É preciso provar o
contrário através de um meio de prova de força igual ou superior.
A lei portuguesa não admite convenções que alterem o valor dos meios de prova
(este é imperativo).
a) Prova documental
O que é um documento?
Os documentos são meios de prova particularmente seguros.
Para efeitos da lei portuguesa, no artigo 362º do Código Civil, há dois elementos
que têm de estar presentes para que um meio de prova possa ser considerado
documento:
- Meio de prova elaborado intencionalmente para representar uma pessoa, uma
coisa ou um facto (intenção representativa intencional)
- Tem de ser elaborado por um Homem (elaboração humana)
Não obstante a lei portuguesa adotar este conceito amplo de documento (que
inclui documentos escritos e não escritos), a verdade é que força probatória especial é
conferida apenas aos documentos escritos.
1. Documentos autênticos
Dizer que “as declarações valem o que valerem” também significa que não
abrange o pagamento do preço, mas abrange a emissão da declaração confessória de
que o credor declara que já recebeu o preço. As declarações cuja emissão ficou
plenamente provada porque o notário disse no documento que as declarações foram
feitas, valem o que valerem. Não estamos a atentar contra a força probatória da
escritura. A razão de ser da distinção que o artigo 371º faz para efeitos de valor
probatório é a razão de ciência.
Provada a autoria vamos ao artigo 376º do CC. Têm força probatória plena as
declarações que constam do documento. Se as declarações referirem a factos, só ficam
plenamente provados os factos desfavoráveis ao interesse do declarante.
A explicação do artigo é que a primeira coisa que se faz é ver a reação da parte contrária,
porque o autor pode reconhecer expressa ou tacitamente que o documento foi assinado
por ele. Caso o autor não reconheça, valem as regras gerais do ónus da prova. Ou seja,
eu que junto o documento, vou ter de provar que foi o credor que assinou aquele
documento, apesar de ele o negar.
Provada a autoria vamos ao artigo 376º. Têm força probatória plena as declarações que
constam do documento. Se as declarações referirem a factos, só ficam plenamente
provados os factos desfavoráveis.
No entanto, há duas exceções a esta regra: artigo 380º e 381º do CC. Situações
em que os documentos não estão assinados porque representam um tipo de escritos
que não costumam estar assinados (não é um caso de falta de assinatura).
Tipos de confissão: consoante a forma que revestem (artigos 355º e seguintes do CC)
Requisitos da confissão
Nota: patrocínio judiciário – a confissão só pode existir se houver mandato com poderes
especiais. Contudo, há uma exceção no artigo 46º do CPC (confissões feitas nos
articulados – que a parte pode retificar ou retirar, enquanto a parte contrária não as
tiver aceitado especificamente)
2. Que dizem respeito aos factos confessados: artigo 354º do CC. A confissão não é
eficaz:
a. Quando recaia sobre factos cujo reconhecimento a lei não admite;
b. Quando recaia sobre direitos indisponíveis;
c. Quando recaia sobre factos impossíveis ou notoriamente inexistentes
Destas duas regras retiramos que, embora o artigo 358º, nº1 do CC diga que tem força
probatória plena (bastava provar o contrário para destruir a sua força probatória), a
verdade é que para destruir a confissão não basta provar o contrário – é preciso provar
que houve um vício da vontade na minha confissão.
b) Confissão judicial não escrita – artigo 358º, nº4 do CC. Força probatória
bastante
Já o artigo 358º, nº2, 2ª parte do CC diz-nos que quando é feita à parte contrária
tem força plena.
d) Confissão extrajudicial não escrita – artigo 358º, nº3 do CC. Tem força
probatória bastante.
- Princípio da irretratabilidade (artigo 465º, nº1 do CPC): não pode ser retirada
depois de ser produzida
A lei portuguesa, diferentemente do que acontece com outras leis, não prevê a
possibilidade de o juiz proceder ao interrogatório da parte. Além disso, não permite que
a parte seja indicada como testemunha.
Este regime diz-nos que a parte se pode propor a depor sobre certos factos na
audiência. São factos dos quais tenha conhecimento pessoal ou nos quais tenha
intervindo.
Naquilo que é mais importante a lei remete para o depoimento de parte. Tem
de indicar quais os factos que se propõe a prestar depoimento.
Pode ser determinada oficiosamente pelo juiz? Ou tem de ser requerida? Temos
de conjugar o artigo 466º do CPC com o princípio geral da lei portuguesa que concede
iniciativa probatória ao juiz.
Para a Professora era mais simples a parte poder ser testemunha, este meio é
apenas para atingir esse fim.
d. Prova pericial
- A prova pericial tanto serve para obter a perceção como a apreciação do perito
sobre certo facto VS a prova testemunhal só pode ter por objeto a perceção que a
testemunha teve sobre determinado facto
O artigo 389º do CC diz-nos que o valor da prova pericial está sujeito à livre
apreciação (meio de prova bastante).
Porquê que é assim se o juiz não tem os conhecimentos que são precisos? O juiz
é o perito dos peritos, é o juiz que decide. O que os peritos fazem é apresentar um
relatório com os factos sobre os quais a prova pericial incidiu. Assim, o juiz tem o poder
de controlar a fundamentação apresentada e, em função dessa fundamentação, o juiz
pode apreciar livremente.
Não incide sobre o litígio em geral. O requerente tem de indicar quais são as
questões sobre as quais quer que o perito se pronuncie.
Faz-se uma prova pericial e as partes têm o direito de requerer uma segunda
perícia, justificando o porquê de acharem que a primeira não foi bem feita. Seja como
for, a segunda perícia não substituiu a primeira. Ficam ambas no processo e o juiz decide
qual vai usar.
Coloca-se o juiz perante a prova. O que se quer através desta prova que é
livremente apreciada pelo juiz, é obter uma perceção direta dos factos, a aprovar pelo
próprio juiz.
O valor probatório está sujeito à livre apreciação do juiz. Era possível a inspeção
judicial, mas não se justifica o juiz deslocar-se e, assim, determina uma pessoa com
particular credibilidade para verificar a situação.
g. Prova testemunhal
O que é uma testemunha? Pessoa que não é parte na causa (nem seu
representante) que é chamada ao processo para narrar as perceções que teve sobre
factos passados.
Qualquer pessoa tem capacidade para depor (artigo 495º) – só tem de ter
capacidade para se pronunciar sobre o facto que está em causa. Todavia a lei prevê
impedimentos e recusas legítimas a depor.
Vigora o princípio de cooperação no que respeita a prova, que vale para as partes
e para terceiros. Eu não posso recusar-me a depor como testemunha, salvo se ocorrer
alguma destas hipóteses em que a testemunha pode ou deve recusa-se: artigo 497º do
CPC.
Pode recusar-se a depor quando não é exigível que a testemunha deponha com
verdade. Por exemplo, quando tem uma relação de intimidade.
c. Lei exige documento escrito como requisito de prova: artigo 364º, nº2 do
CC. Só podemos substituir o documento em falta por documento igual ou
confissão expressa.
2. Hierarquia dos meios de prova: não posso usar um meio de prova de valor
probatório inferior para destruir um de valor probatório superior
A prova testemunhal isoladamente considerada não pode ser usada para prova
do acordo simulatório.
Se lermos o 394º, nº2 a resposta parece ser não. Contudo, podemos fazer uma
interpretação restritiva do artigo 394º, nº2 do CC: há uma doutrina que admite a prova
Artigo 395º do CC: para os factos extintivos das obrigações (cuja fonte recaia no
artigo 393º e 394º) valem os mesmos factos previstos antes.
- Produção antecipada de prova: artigo 419º do CPC. Por exemplo, se sei que vou
precisar de uma testemunha que está com uma doença terminal, peço
antecipadamente que o depoimento seja prestado.
- Depoimentos por escrito: artigo 518º + artigo 519º do CPC. Nos nossos tribunais
continua a prevalecer o princípio da oralidade, apesar de haver a possibilidade de
depoimentos por escrito. Há domínios em que, cada vez mais, há depoimentos por
escrito em detrimento do depoimento oral. Por exemplo, na arbitragem é frequente isto
acontecer. O depoimento por escrito tem a vantagem de ser mais direto e de ser
exatamente aquilo que a parte quer provar. Na arbitragem o que costuma acontecer é
a testemunha ser chamada para esclarecer alguma parte do depoimento.
Artigo 604º, nº8 do CPC – introduzido em 2013. Podem ser ouvidas testemunhas
em simultâneo, com autorização do juiz. Regra geral, em primeiro lugar são ouvidas as
testemunhas do autor e, em seguida, as do réu, apesar de poder ser alterada a ordem.
Uma vez na sala de audiência para prestar depoimento (artigo 513º + 459º do
CPC) o juiz irá pedir para a pessoa prestar o juramento.
Por exemplo, o CEO da sociedade autora da ação não pode ser ouvido na ação. Pode
depor como parte, mas não testemunha.
Artigo 514º do CPC – suscitar o incidente de impugnação que impede que a testemunha
deponha. Se a testemunha não confessar que não pode ser testemunha, o advogado
pode ainda provar que a testemunha está, de facto, vinculada (artigo 515º do CPC).
Quero por em causa a credibilidade que aquela testemunha deve ter em tribunal. Afetar
razão de ciência: prende-se com a fonte do conhecimento dos factos (ver também 516º,
nº1). Afetar a fé que a testemunha merece: atacar a testemunha em si mesma (por
exemplo, uma testemunha que mente me tribunal). Este incidente deduz-se quando o
interrogatório termina (inquirição e instâncias).
A solução mais fácil passa por normas transitórias – que são aplicadas durante o
intervalo de tempo entre o antigo e novo regime. Contudo, há muitas circunstâncias em
que o legislador não regula a sucessão de leis.
Artigo 12º do CC. No processo civil não existe uma norma geral que regule a
aplicação no tempo.
Jurisprudência e doutrina: uma nova lei processual que entre em vigor deve
aplicar-se às ações futuras e às ações pendentes relativamente a atos futuros que sejam
praticados no âmbito dessas ações – princípio da aplicação imediata.
A razão de ser desta regra é estarmos perante normas de direito público, logo
devem prevalecer os interesses públicos relativamente às expetativas das partes. Por
outro lado, outra razão é a de estarmos perante um direito adjetivo, instrumental e, por
isso, deve ser neutro relativamente aos direitos substantivos (se assim é, não há
expetativas das partes a acautelar).