Depois que os meios de comunicação tornaram possíveis as transmissões de voz e de
imagem ao vivo, a tecnologia se esforçou ainda mais para enganar as distâncias de tempo e espaço. Preocupado em aumentar a agilidade na tomada de decisões e a produtividade dos serviços, o homem não somente criou, mas também deu incrível importância para a Tecnologia da Informação. Não é à toa que hoje estamos vivendo o que chamamos Era da Informação, na qual computadores pessoais, cabos de fibra óptica, celulares e sistemas nos mantêm informados de diversos modos. Dentre esses meios, a internet é o lugar por excelência dos acontecimentos em tempo real, porque está submetida às grandes velocidades de conexão e, conseqüentemente, a resultados de atualização mais rápidos. No final dos anos 90, a conectividade dial-up se tornou obsoleta e mesmo as máquinas, desde então, foram se tornando obsoletas. Na verdade, muitos produtos eletrônicos já chegam ao mercado na condição de ultrapassados. É o século da velocidade. Vivemos num tempo em que o consumo define não apenas um status social, mas uma característica pessoal: estar por dentro e à frente do mundo. Estamos interessados demasiada e intensamente pelo futuro, porque queremos o novo, o atual, o inovador. Estatísticas, previsões e estimativas proliferam pelos jornais, pelas revistas, pelos estudos científicos. Parece que estamos mais preocupados em consumir os acontecimentos previamente do que propriamente o acontecimento em si, em seu tempo de duração e ocorrência. E se a era da informação esteve baseada num apelo maior à velocidade na forma de um desejo técnico, é o desejo humano que ultrapassa a velocidade. A neurose pelo acesso mais rápido, pela via mais expressa, pelo celular de maior alcance, pelo fast-food mais fast se espalhou mundo afora e adentro. Pouco a pouco tudo tem se tornado supérfluo, volátil, consumível, previsível. Casamentos, relacionamentos, práticas afetivas. Amizades, encontros, namoros e relações sexuais podem ser virtuais. Sem contato, rápidos, desconhecidos. O mínimo de informação é exigido para a mais veloz conexão de imagens, de webcams, de corpos. No entanto, a intimidade é uma ilusão, uma virtualidade. Assim como as máquinas, os relacionamentos se tornam obsoletos e, depois de consumidos até o possível, são descartáveis. A velocidade esgota rapidamente o desejo. Quanto mais velozes, mais furiosos pelo novo, pela notícia de amanhã, por outro rosto. Visão pessimista? Talvez não. As previsões quase sempre indicam que todo crescimento desenfreado é negativo. A prova disso no mundo afetivo é que o amor se tornou prospectivo, as cartas de amor, um prospecto. Estamos, então, nos encontrando a qual velocidade de conexão? Banda larga ou dial up? Se há uma filosofia de contraposição às refeições rápidas, tal como o movimento slow food, por que não pensar em algo para outro tipo de devoração, dessas que mordem a polpa suculenta do coração? Que o mundo viva (de novo) o slow love.
MARKENDORF, Marcio. A velocidade do mundo. O ESTADO, Florianópolis, p. 04, 09