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Cr.

AMD ow

Capitulo4

Capitulo 5
de no interior ea um mesmopovo;finalmente, o aperfeigoamento real
BESS. e fecundadaspelas dos
do homem’. Idéias que, através dos “idedlogos’,
escoceses, reapareceriamnos historiadores franceses da restauracao

A INVENCAO DO PROGRESSO

ento ilustrado sobre a historia


Paralelamente 4 evolugao do pensam cidade e coe-
mas com suficiente especifi
e com este mantendo contatos, e-
separado,est4 a formacao, na Gra-Br
réncia para exigir um tratamento
entada por uma concepgao global do
tanha, de uma visdo da histéria ori
m a amadurecé-la datam do século
progresso. As tendéncias que levara
pria historiografia britanica, que ti-
XVII. Procedem, por um lado,da pro 54-1618) aven-
s de Walter Raleig h (15
nha sido de pouca relevancia ante
dnia de Virginia, homemde ciéncia,
tureiro, amante real, fundador da col -
cutado a pedido do embaixador espa
historiador e poeta, que morreu exe ada de encarcera-
oduto de uma déc
nhol — e sua Histéria do mundo, “pr va com a criagao do
mento na Torre de Londres’, um relato que come¢a
,
s de Cristo. Era, em muitos sentidos
mundo ¢ acabava no ano 130 ante
ia e apresentava a divina providén-
uma obra tradicional, que seguia a Bibl
tecimentos. Porém,Raleigh — que ti
cia como a primeira causa dos acon
realizava experiéncias quimicas na
nha umagrandeafeigao pela ciéncia
ade de dar uma base racional a his-
prisdo — estava consciente da necessid
do o contexto global do providen-
téria, Contribuiu para isso, completan hu-
as “causas segundas’,estritamente
cialismo com umaatengaoespecial do mun -
ntos concretos. Histéria
manas, que explicariam os aco) zfecime o n e /
Fayard, 1988 (sobre ae va o fato de que teve uma duizia de
edi-
i
44 BADINT) EER,Elisab eth;i BADINTER, Robert. Condoreet. Paris: do foi um livro influente, como pro
ero muito maior doque as obr as de
‘quuisse, p.p. 589-595);
0 Esquisse, i d'umtableau historhjue des progres
589-595); CONDORCET, Esquisse goes durante © século XVII (um num
delesprit
o humain, Edigao Prior e B Belaval. al, Paris, 1970, ¢+ citagioad da Wael
Parist Vrin, Vrin, 1970, poe
“décima épo ante, encontramos William Camden
Shakespeare). Em uma linha semelh
Capt® A byald prope

(1551-1623), autot de umestudo de topografia antiga, Britannia, e dos © movimento renovadorfortemente influenciado pela leitura de
Annales rerum Anglicarum regnante Elizabetha, cronica do reinadodeIsa~ Mcito, que era admirado pelo seurealismopolitico, tornou possivela li-
bel I quese afastava dos usosretéricos do humanismo e apresentava uma hertagdo da histéria do jugo do providencialismo sem necessidade de
narra¢ao pontual e documentada. Camdenfoi, além disso, quem patroc romper comareligiao = 0 que obstaculizaria 0 avango do conhecimento
nou a primeira catedra de histéria de Oxford.’ historico -, ao estabelecer uma diferenga entre as causas primeiras gerais,
Mais importanteseria 0 estimulo proporcionado por Francis Bacon (leterminantes das grandes linhas do destino humano e que podiam ser
(1561-1626), “tedrico e escritor de histéria”. Numa concep¢ao global do deixada: ‘40 da providéncia, e as segundas,de carter terreno, que bas-
campo da ciéncia entendida como um instrumento para 0 progresso hu- tariamparaa explicacao dos acontecimentos “ordindrios”. Por outro lado,
mano,insistiu na importancia de desenvolver o estudo da histéria, com- levaria a associar a histéria, considerada comociéncia para a investigacao
pletandoos trés campostradicionais da histéria natural, civil e eclesisti- da “sociedadecivil’, as ciéncias da natureza.
ca com um quarto,dedicado a descrever“o estado geral do saber” — uma Mas 0 impulso transformador mais importante surgiu, sem duvida
histéria das ciéncias e das artes —, ao mesmo tempo quepedia,e nisso se alguma, das comog6essociais vividas na Inglaterra na “guerracivil ¢ na re-
observa a importancia politica que-lhe outorgava, que s¢ escrevesse uma volugao”. No transcurso de cinqtienta anos, todosos principios da ordem
“historia moderna” quefizesse que a ilha da Gra-Bretanha, “unida agora social foram postos em cheque; ao mesmo tempo que a fundamentagio re-
numa monarquia para o futuro, estivésse também unida numahistéria no ligiosa e os posicionamentos mais radicais apareceram pela primeira vez a
quese refere ao tempopassado”(isto é, uma“historia britanica” que favo- luz publica. Os puritanos radicais liam, na Biblia, mensagens revoluciond-
recesse a assimilagao da Escécia, recentemente agregadaa Inglaterra). Nos rias e, nas paginasde Isafas e de Ezequiel, encontravam estimulos para des-
ultimos anos de sua vida,distante daslides politicas, escreveu Histéria do truir um mundo corrompido.OsJevellers ou “niveladores” queriam uma
reinado do rei Henrique VII, uma narrativa emformade anais das realiza- nagio de pequenosproprietarioslivres. Os. diggers pediam a reparticao da
g6es dorei, objetiva em seus-julgamentos e baseada sobretudo em fontes terra, j4 que defendiam através de Gerrard Winstanley (1609 — depois de
de segunda mio, em queutilizava a caracterizacao psicolégica do sobera- 1660), que os proprietarios de terra tinham se apropriado da mesma pela
no para estabelecer os motivos de suas a¢ées e que foi qualificada como violéncia e usurpacao: “o poder de cercar a terra e possui-la como proprie-
“umabiografia politica, ao mesmo tempo que umahistéria pragmitica, dadefoi criado por vossos antepassados mediantea espada” (coerentes com
um estudo nao somente das ages, mas dapolitica e da arte de governar”” estas idéias, estabeleceram umacol6nia agricola comunitaria). Os ranters
nado apenas negavam a propriedade privada mas também Lawrence Clark-
1 LEVINE,Joseph M. Huimanism and history. Origins of modern English historio- son (1615 depois de 1667) sustentava que a. almaera mortal, que 0 céu es-
graphy. Ithaca: Cornell University Press, 1987; WOOLE, D. R. The Idea ofhistory in tava na terra, que o juizo final ocorre na consciéncia dos homense que o
early Stuart England. Erudition, and the light oftruthfrom the accession ofJames I to pecado é umainyencaodas classes dominantes; umadoutrina parecida a de
the civil war. Toronto: University of Toronto Press, 1990 (citagao da p. 45; sobre
Camden, p. 115-125); e, principalmente, Ralegh: science, history, and politics. In:
HILL,Christopher, Intellectual origins of the English revolution revisited. Oxford: Idea ofprogress,Ars historica, Baconthe historian’, p. 203-220; HILL, Christopher.
ClarendonPress, 1997. p, 118-200. i Francis Bacon and the parlamentarians. In: . Intellectual origins of the
2 BACON,Francis. The advancement oflearning. London: Dent, 1978. p. 69-82 (cita- English revolution revisited. Oxford: Clarendon Press, 1997. p. 77-117; TINCKLER,
6e5 das p. 69 ¢ 75-76) e The history ofthe reign ofKing Henry VIL. Edigao de Brian J. B, Bacon andhistory. ELTONEN,Markku (Ed.). The Cambridge companion
Vickers. Cambridge: Cambridge University Press, 1998. ZAGORIN,Pérez. Francis to Bacon. Cambridge: Cambridge University Press, 1996. p. 232-259; CROMBIE,A.
Bacon. Princeton: Princeton University Press, 1998, especialmente “History: The C. Styles ofscientific thinking in the europeantradition. London: Duckworth, 1994.
TH, p. 1572-1586. :

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Spit A fiivvige sho prngreaye

Lodowick Muggleton e seus dinciputos, que a conservaram oculta durante bastardo” ¢ a classe de empresarios mercantis, vol para os grandes ne
mais de Weventos anos (O Uline muggletoniino conhecido morreu em gocios do comércio exterior, a expansdo colonial e o financiamento da
1979), Nao somente as camadas populares participaram nos moyimentos guerra. A alianca garantia o controle do governoreal, limitando os recur
(Winstanley era um comereiante de tecidos arruinado e Clarkson, umal- sos ao que era votado anualmenteno parlamento e criando uma adminis
lalate), Intelectuais da categoria de Locke, Newton e Milton compartilha- tragao burocratica que gerenciava de fato.a maior parte do dinheiro, Sobre
ram as idéias religiosas antitrinitarias radicais e o ultimo deles, concreta- as bases, assentar-se-ia o duplo processo da chamada“revolugaofinan
mente, defendeu publicamente alegitimidade do regicidio e aceitou a pos- ceira” e da expansao comercial, elementosessenciais do crescimento eco
sibilidade de que as mudangas sociais levassem a “um mundotranstorna- ndmicobritanico.'
do’, antes dele terminar, uma vez vencida a revolugao, “cego em Gaza, no A nova ordem social e a nova estrutura do estado necessitavam de
Mmoinho com os escravos, acorrentado sob 0jugofilisteu”? umanoyalegitimacao, quej4 naopodia ser a das monarquias absolutas as
Derrotadaa revolugao, nao foi facil recompora situacao e restabe- sentadas nodireito divino — entre outras razdes porque tinha que respon
lecer alguma formade consensosocial. Nao se pode voltar 4 monarquia der as demandas de uma sociedade onde a abundante difusao de informa
absoluta, mas 0 novo regime, baseado no compromisso da revolugao de Ges sobre os acontecimentos da guerracivil havia criado umaopiniao pil
1688, permitiu alcangas, sem aparéncia de subyersao nemrecurso 4 mobi- blica e hdbitos de discussao politica que exigiam argumentosracionais
lizagdo das massas, objetivos semelhantes aos que almejara conseguirini- mas queestaria baseadanaidéia de que a sociedadecivil teria sido funda
ciulmente, em1641; um sistema politico representative — que Hume des- da por meio de um contrato estabelecido entre os membros e o poder so
creveu como: “umprincipe hereditario, uma nobreza sem vassalos e um berano. Em torno destateoria,seria articulada uma novavisio do mundo;
povo quevotaatravés de representantes”—, controladopela alianga entre a uma tarefa em queciéncia e histéria atuaram intimamenteassociadas,
uristocracia agraria capitalista que eliminara os obstaculos do “feudalismo A ciéncia cumpriria, em primeiro lugar, a fungao de explicar um
cosmode criacao divina, dominado, porém, pela atuagao de “segundas
5 Sobre os grupos radicais nos anos da reyolugao, € necessario let as obras de Chris- causas”: um mundofisico ordenado¢ regulado porleis que tinha paralelo
topherHill, comesando por The world turned upside down. Radical ideas during the
English revolution. London:Temple Smith, 1972, continuando com The English Bi-
ble and the seventeenth-centuty revolution. London:Allens Lane, 1993, Milton and 4 No paragrafo obseryo exatamenteas conclusdes do grandelivro de BRENNER, Ro.
the English revolution (1977), The experience ofdefeat. Milton and some contempo- bert. Merchants and revolution. Commercial change,political conflict, and London’
raries, London: Bookmarks, 1994, etc. A citacao de Winstanley€ de The law offree- overseas trade. Cambridge: Cambridge University Press, 1993. No referente i reli
domandother writings. Ed. de C. Hill. Harmorids Worth: Penguin, 1973. p. 99. (So- gio entre o novosistemapolitico e 0 desenvolvimento dos mercados, ROOT, Hil
bre Winstanley, 0 livro classico de David W. Petegrosky, Leftwing democracy in the ton L. The fountain ofprivilege. Politicalfoundations of markets in old regime }
inglish civil war, reeditado em 1999 porSandpiper books). Os textos de Milton em ce and England, Berkeley: University of California Press, 1994, e CARRUTHERS,
Prosewritings. London:Dent, 1974 e emPolitical writings. Ed. de Martin Dzelzainis. Bruce G, City ofcapital. Politics and markets in the Englishfinancial revolution. Prin
Cambridge: Cambridge University Press, 1991; uma citacdo de Samson agonistes, ceton: Princeton UniversityPress, 1999.
versos 42 e 43. Sobre Muggleton e seus discfpulos, THOMPSON,E. P. Witness 5. Osprincipios da monarquiade direito divino, defendidos por RobertFilmer,
‘against the Beast. New York: ‘The New Press, 1993. p. 65-105 ¢ LAMONT,William. triarch and other writings. Cambridge: Cambridge University Press, 1991, seriat
Puritanismand historical controversy. London: University College, 1996. p. 27-40, justamente o objeto contra o qualLocke se dirigiria no primeiro de seu’ dois tri)
etc, Seria necessirio, naturalmente, falar também dos “quakers’, mas sua evolugao tados sobre 0 governo.Sobre a formacao de uma opinido publica e o nascimento
é muito mais complesa, SMITH, Nigel. Literature and revolution in England, 1640- de umacultura democratica, ZARET,Davis.Origins of democratic culture. Pritting,
1660. New Hayen:Yale University Press 1994. p. 336-355, sobre 0 estudo da histé- petitions, and the public sphere in early-modern England, Princeton: Princeton Uni-
ria no século XVII como meio para entender as complexidades do presente. versity Press, 2000.

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Cpt9 A invade prvgnvaa

na sociedadecivil, Newton construiu um modeloracional do univ ) re= A nova sociedadenecessitaya de um modelo explicative que, por um
yido por un Deus-relojoeiro e controlado porleis, no qual “o mundo na- lado, se expressasse emtermos de governo representativo nascido da revo:
tural inteiro, que consiste nos céus e naterra, significa 0 mundopolitico lugio de 1688 e, por outro, que associasse o interesse com a consciéncia,
inteiro, que consiste nos tronos e no poyo”® tornando possivel estabelecer a base de “confianga” — de “trust” = sem a
Osfilésofo: ociais, por sua vez, fundamentariam esta imagem glo- qualseria impossivel o funcionamento do mundodos negécios. Quemela
bal e ordenada da sociedade. Thomas Hobbes (1588-1679), que traduzira borou a fundamentagaohistérica do contrato social de acordo com estes
lucidides para oinglés, recorreu a umainterpretagao da origem histérica termos foi John Locke (1632-1704), possuidorde umsaber amploe diver:
das sociedades humanas para dar umaversdo dos fundamentos do contra- sificado, quese interessavapela ciéncia experimental (colaboraria com Ro
to social em Decive (1642) e Leviata (1651), e sustentar que, antes da so- bert Boyle na Royal Society), e escreveu sobre a teoria do conhecimento (a
ciedadecivil, havia““uma guerra de todos os homens contra todos os ho- qual dedicaria o Ensaio sobre 0 entendimento humano), sobre temas econd
inens” ¢ que, a fim de preservaras vidas,eles tiveramqueaceitara realiza- micos, sobrereligiao (Cartas sobrea tolerancia), sobre educagao (propunha
(io de pactos, cedendo o governo a umpodersupremo queera, no quediz queseensinasse umtipode histéria que ajudasse a entenderas origens da
fespeilo ao conjunto da “cidade”, o mesmo quea cabeca é em relagdo ao sociedadecivil, emvez datradicional que explicavaosfeitos dos conquista
corpo. A fria racionalidade “geométrica” de Hobbesfaria que 0 senso co- dores, “que, na maiorparte, sao os grandescarniceiros da humanidade” ye
ium se escandalizasse frente a uma teoria que afirmava que a sociedade sobrepolit emconseqiiéncia dos lagos comos “whigs”, o que o obrigou
1 dominadapelo egoismo e que quase todas as regras eram conven- ‘a se exilar na Holanda de 1683 a 1689, fugindo da persegui¢ao de CarlosII.
cionais. Enquanto isso, alguns dos herdeiros radicais da revolugao inter- O mais importante, do pontodevista do historiador, sao justamente oses
pretaram a obra deste homem,quefalava da prépria morte como de “um critos politicos: os Deis tratados sobre 0 governo (1690); em especial o se
yrandesalto na escuridao’, em termos de uma proposta libertadora (um gundo, em quesustenta que os homens viviam em paz no estado de natu-
estudioso contemporaneo qualificou Leviata como “a maiordas utopias reza, mas aceitaram submeteras liberdades a um podersuperior a fim de
tevolucionarias inglesas”).’ proteger as propriedades justificadas como fruto do trabalho —,e afirma
quea finalidade maxima dos homensaoreunir-se em estadose sujeitar-se
6 JACOB, M. C. The newtonians and the English revolution, 1689-1720. Hassocks: a um governo — que nao é, em Locke, um poder absolute, mas controlado
Harvester Press, 1976. p. 14; HILL, C.Sir Isaac Newton andhis society. In: bs pelos representantes do povo — é“a de ceyepata os bens”.*
Change and continuity in seventeenth-saysEngland. Ed. rev. New Haven: Yale
University Press, 1991. p. 251-277.
? Sobre a idéia de contrato social, ATGER, Frédéric. Essai sur Phistoire des doctrines 8 LOCKE,John. Two treatises of government. Editados porPeter Laslett. Cambridge:
du contratsocial. Paris: Alcan, 1906.'T. Hobbes, Leviathan, cap. 13 (uso a edicao de Cambridge University Press, 1970; The educational writings ofJohn Locke. Bdigao de
Hardmonsworth: Penguin, 1968, comestudo preliminar de C. B. Macpherson); De James L. Axtell, Cambridge: Cambridge UniversityPress, 1968; Ensayo sobre el evt-
cive, I, 12 € VI, 19 (uso HOBBES, T. Man and citizen, Edigdo de Bernard Gert. In- tendimento humano.Ed. de S. Rabade. Madrid: Editora Nacional, 1980; Lettresur la
dianapolis: Hackett, 1991). © personagem, um homem que viveu marcado pelo tolerance, Ed.bilingiie da primeira “carta”. Paris: PUR, 1965; MACPHERSON, C.B.
medo — entre outros, o de ser julgado poratefsmo — é descrito muito bem em ‘The political theory ofpossessive individualism: Hobbesto Locke. Oxford: Oxford Uni-
MARTINICH.A. P. Hobbes. A biography. Cambridge: Cambridge University Press, versity Press, 1962; APPLEBY, Joyce Oldham. Economic thought and ideology in se-
1999 (com uma breve mas excelente sintese bibliografica nas p. 359-361). venteenth-century England. Princeton: Princeton University Press, 1980. p. 220-241
STRAUSS, Leo. Thepolitical philosophy of Hobbes. Chicago: University of Chicago (sobre a intervengao em quest6es monetédrias), etc. Sobre a ética dos comerciantes,
Press, 1963 (ed. Original, 1936); LAMONT,William. Puritanismand historical con- GRASSBY, Richard. The business community ofseventeenth-century England. Cam-
troversy. London: University College, 1996. p. 96-101, bridge: Cambridge University Press, 1995. p. 297-301 (“Interest and conscience”).

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caypituly 9 A (aynina ilo prtgruisn

Ao estabelecer os principios de umaveracidadesocial, a nov: Clarendon, umaversao “tory” dos acontecimentos,escrita com elegdncia
cit experimental também contribuiu para assentar a confianga na manu- classica, publicada nos inicios do século XVIIL, trinta anos dep da mor-
lengilo dos compromissos, ao mesmo tempoquetransmitia credibilidade te do autor. Em meadosdo século XVIII,“os ingleses — diz Philip Hicks
(historia, induzinde sar critérios de verificagao e uma légica proxi- ha mais de dois séculos queixavam-se da pouca qualidade de seuslivros de
ma A util ada pelos pesquisadores. “Quehistéria e histéria natural com- historia.”
partilhem o nome, é mais do que umacidentelingiiistico. No século XVII, O auténtico fundadordotipo de histéria que respondia as necessi
historia’ significava umarelagao verdadeira de fatos: qualquer tipo de fa- dades da nova sociedade seria David Hume (1711-1776). Boa parte dos
los, fisicos, biolégicos, sociais ou ‘histéricos,” A associacao entre ciéncia e que a aperfeigoaram eram escoceses comoele, que fizeram da visio do
historia nao se estabeleceu apenas em termosda adocao comumde méto- progresso “umahistoriografia de concilacao com a Gra-Bretanha’, queser
«log “de observagaode fatos e de fendmenos quese associavam a verdade e via para identificar a situacdo presente como uma fase superior de desen
‘certeza moral’, mas, também, porqueos cultores de ambos os campos do volvimentopolitico, se comparada com a de um passadolocaldeat SO, 0
wiber tinhamclareza de sua responsabilidade ‘no estabelecimento de um que acabaria, no caso de Hume,levando-o a dedicar-se somente da histé
Novo consensosocial.? ria da Inglaterra e, nao, da Gra-Bretanha."
lntretanto,a historia custou muito a encontrar um Newton.Aspri- Nascido numa familia escocesa da pequena nobreza,de escassafor:
ieiras formulagées histéricas escritas do ponto de vista dos “whigs”, ven- tuna, David Hume estudou primeiro na Universidade de Edimburgo,
cedores da revolugao de 1688, nao respondiam as expectativas que Locke Comonaoqueria seguir a carreira de Direito que a familia lhe destinara,se
expressara ao falar de uma disciplina que ajudasse a entender a sociedade pés a-estudarpor conta prépria, vivendo com modéstia e muita sobrieda
civil, pois se limitavam, como 9 casq de Paul Rapin-Thoyras — um hugue- de. Mudaria depois para Bristol, indo trabalhar com comerciantes, mas “em
notefrancés exilado, autor de umahistéria da Inglaterra muitolida na pri- poucos meses achei aquela ocupagao totalmente inadequada para mim’.
meira metade do século XVIII -, a umapropaganda politica partidériaele- Foi, entao, para Franca para prosseguir os estudos; ali residiu de 1734 a
mentar, baseada no mito da existéncia de uma antiga constituicao anterior 1737, € escreveu 0 Tratado da natureza humana, publicado em 1738 quan-
o"dominio normando’, queteria sido recuperada pelos “whigs”. Em con- do retornou a Londres, O livro e outros dois posteriores, Investigagao sobre
o conhecimento humano (1749) e Investigacao sobre os principios da moral
\1uste, lemos a Histéria da rebelido e guerras civis da Inglaterra, do conde de
(1751), deram-lhe fama de ateu ¢ de materialista. Por outro lado,os Discur-
sos, cuja primeira parte apareceu em 1742 e uma segunda, Discursos politi-
9 Este é um tema complexo que requereria urnaexposi¢ao muito mais matizada. A
aqui apresentada deriva, em grande medida, de SHAPIN,Steven. A social history of
truth, Civility and science in seventeenth-century England. Chicago: Chicago Univer- 10 HICKS,Philip. Neoclassical history and English culture, From Clarendon to Hume,
sity Press, 1996; de EAMON,William. Science and the secrets of nature. Princeton: London:Macmillan, 1996.
Princeton University Press, 1994. p. 341-350 (emque se fala da “histéria dos ofi- 11 Sobreesta visio, que nao somente favorecia a conciliagao com a Gra-Bretanha, mas
cios” organizada pela Royal Society) e de SHAPIRO,Barbara J. Probability and cer- reordenava o passado em fungao de um futuro comum, PITTOCK,Murry G. H.
lainty in seventeenth-century England. A study of the relationship between natural Inventing andresisting Britain. Cultural identities in Britain andIreland, 1685-1789.
science, religion, history, law, and literature. Princeton: Princeton University Press, London: Macmillan, 1997. p. 140-145, nuanga as formulagdes de Linda Colley em
1983 (citag6es das p. 120 e 161). Nao se pode esquecer, nao obstante, a persisténcia Britons. Forging the nation, (1707-1837). HILL, C. The NormanYoke,In: i
de aspectos relacionados com a alquimia, a astrologia, etc., encontrados em New- Puritanism and revolution, London: Mercury Books, 1962. p. 50-122 (o comple-
ton, mas também emBoyle, segundo PRINCIP, Lawrence M. Theaspiring adept. mento, com 0 mesmotitulo, em HILL,C.Intellectual origins ofthe English revolu-
Robert Boyle and his alchemichal quest. Princeton: Princeton University Press, 1998. tion revisited. Oxford: ClarendonPress, 1997. p. 361-365).

150. 151
Capita A Avivai hyrwyan

cos, em 1751, foram bem recebidos pelopublico, Pagsou dois anos acompa menos preocupado pela vida do que eu mesinto no momento”. Em 1776,
nhando 0 generalSaint Clai nas cortes deViena¢ deTrim,tendo, depois, pode assistir & publicagdéo da obra maximado discipulo e amigo Adam
{racassado natentativa de obter umacatedra universitaria defilosofia mo: Smith e leu o primeiro volume do Decline andfall de Gibbon, a quem yi
ral em Edimburgo, em conseqiiéncia da reprovagao de suas obras (em sitou emLondres, depois de The hayerescrito umacarta de elogio pelo li
1755, a igreja escocesa o quis excomungar, mas os moderados conseguiram vro 0 que, segundo Gibbon,“pagava-me por dez anos de trabalho”. Mor:
eviti-lo; Humeescreveria numacarta: “A ultima assembléia dedicou-se ao reu como “morre umsantolaico” em25 de agosto de 1776. Muitos escan
neu caso, Nao propuseram me queimar porque nado podem, mas queriam dalizaram-se por este desenlace, pois supunha-se que os incrédulos de
ine entregara Satanase acredito queisto, sim, podem fazé-lo”). Conseguiu, viam morrer em meio a tormentos. A publicagao do texto Minha vida,
enlio, que 0 nomeassem diretor da biblioteca dos advogados de Edimbur- acompanhadopor umacarta de Adam Smith, provocouindignacao. John
oO que, com30,000 volumes, era considerada como uma das melhores da son acreditava que a serenidade de Humeera fingida e Boswell, que duvi
!vopa, o que lhe proporcionou os materiais e a tranqiiilidade quelhe per- daya dela, acabou encontrando umasolucao oito anos mais tarde: sonha
mitiviam escrever a obra mais ambiciosa, a Histéria da Inglaterra, que teve ra que tinha descoberto um didrio secreto no qual Humedizia que, embo-
inuis dlesete edigdes em vida'do autor, convertendo-se na visio do passado ra a vaidade o levara a publicarlivros céticos e infiéis, no fundo, era um
inglés mais lida durante um século (com mais de cento e setenta e cinco homemcristéo e muito piedoso.”
edigoes), até a publicagao da de Macaulay. Ele proprio diré que o dinheiro Naobra histérica, Hume tomaria T4cito como modelo deestilo ¢
«jue os livreiros lhe pagavam, excedendo tudo o que vira até entdo, o fez Maaquiavele Sarpi, como de método. Mas uma de suas contribuigdes mais
tio somente independente, mas opulento”. fecundasprocedia de um autorradical e de uma obraescrita na perspec
Deixou 0 cargo de bibliotecdrio em 1757, mudou-se de novo para a tiva dos anos da revolucao: em Océana (1656) James Harrington (1611
1¢a, como secretario do lord Hertford na embaixadabritanica,ficando 1677) apresentara o modelo dé um governo republicano (que influenciou
ali de 1763 a 1767,ja famoso pelosescritos e em contato com osilustra- posteriormente os primeiro texts constitucionais norte-americanos), a0
dos. Em 1769, voltou para Edimburgo “muito rico (recebia mil libras ao mesmo tempo que propunha umavisao determinista da historia que con-
sno), sadio, apesar de afetado pelos anos, com a perspectiva de desfrutar
largamente de bem-estar e de contemplar o crescimento de minha reputa-
12 MOSSNER;Ernest Campbell. Thelife of David Hume. 2nded. Oxford: Clarendon
yo”. A autobiografia explica a mudanga stibita que se produziu entao: “Na Press, 1980; NORTON, DavisFate. The Cambridge companion to Hume. Cambrid
primavera de 1775, tive um problema noventre, que a principio nao me ge: Cambridge University Press, 1993; ROSS, Ian Simpson.Thelife ofAdamSmith,
alarmou mas quese conyerteu desde entao,comofiquei sabendo, em mor- Oxford: ClarendonPress, 1995. p. 289-304 (“Dialogue with a dying man”). A auto-
biografia —’My own life”~ ea carta de Smith a Strahan que a acompanha podem
(al e incuravel. Espero que agora terei um fim rapido. Sofri pouca dor pelo ser vistas na edicao de The history ofEngland que é citada a seguir, I, p. XXVII-XL.
mal e, o que é mais raro, naotive, apesar da grandeindisposicaofisica, mo- Empregaram-se as seguintes edigdes de outras obras: Tratado dela naturaleza hii-
mento algumde abatimento deespirito. A tal ponto que,se tivesse que es- mana.Ed,de Félix Duque. Madrid: Editora Nacional, 1977. 2 v. (contém também.
a “Autobiografia”); Investigacié sobre Venteniment humd. Barcelona: Laia, 1982; The
colher um momento da vida que desejasse voltar a viver, mesentiria ten- natural history of religion, Dialogues concerning natural religion. Ed. D, A. Wayne
tadoa escolhereste ultimo. Sinto 0 mesmo entusiasmo que sempretive Colyere J. Valdimir Price. Oxford: Clarendon Press, 1976 (sobre a complicadahis-
peloestudo e a mesmaalegria de estar em companhia de outros. Conside- téria da publicagao deste texto pdstumo,veja-se ATTANASIO,Alessandra. La reli-
gione come corruzione della moralita ¢ della societa. MicroMega, 3/96, p. 215-238).
ro, além disso, que um homem desessenta e cinco anos, ao morrer, nao faz Prescinde-se da abundante bibliografia sobre Humevisto fragmentariamente
mais do que economizar uns anos a mais de doengas(...). E dificil estar (comofilésofo, economista,etc.).

153
Cayinila 9

sideriva que a natureza do governo dependia “da balanga do dominio ou (udo isso parece extremamente Util para o estimulo das artes, industria ¢
da propriedade” ~ um conceito queinclufa nado somenteaterra, mas “o div suligio, Se fossem suprimidas de repente, quantos males pio acontece
hheiro € outros objetos parecidos”— entre os diversos grupos sociais; uma tam a todo tipo de negdcios ¢trabalhos! Que multidio de familias pere
divisto eqtiitativa da terra, por exemplo, corresponderia a umarepublica. ceria imediatamente de necessidade e de fome! Nao parece provavel que
Humeenriqueceu e desenvolyeu a visto em alguns textos de Discursos nenhuma outra instituigao possa preencher o vazio das noyas invengoes.”
onde, pela primeira vez, o modeloda sucessao de fases da histéria huma Nessas formulag6es encontra-se o essencial da visio que vé no de
na, ligada ao desenvolvimento econémico queseria o motor do progresso, senvolvimento do mercado 6 motorpr cipal docresc nento econor
foi formulado. A prime fase da histéria foi a da selvageria, na qualos ho- (Smith'o enriqueceria, introduzindo, comoexplicagao, as conseqiéncias
mens se dedicavamsomente a caga e a pesca. Dai, passou-se a outra, em progressivas da divisao social do trabalho que a extensaodo trabalho tor
«ue cresceramdesigualmente a agricultura e as manufaturas: uma econo- nava possivel) e os primeiros rudimentosda teoria dos quatro estagios,
mia de base agraria, semelhante 4 que dominava na maior parte da Euro- que Adam Smith tambémcompletaria sem esquecer de reconhecer adivi
jui do século XVIII Nesta sociedade, o desenvolvimento econdémicobasea da quetinha com o mestre."
va-se na divisio do trabalho e na articulacao do mercado. Numaprimeira A fama de historiador de Hume, no entanto, baseava-se num livro
elupa, a articulagao era interna,limitada ao intercambio entre os exceden- hoje esquecido: a Histéria da Inglaterra. Comegou, em 1754, publicando a
imponesese os produtos das manufaturaslocais. Logo,entretanto, o parte quese referia aos dois primeiros Stuart; dois anos mais tarde, langou
comércioexterior e 0 gosto pelo luxo desenvolveriam a producao indus- a que abrangia da morte de Carlos I 4 revolucado de 1688; em 1759, a que
(vial. A atrag&o por produtos novos, trazidos de outrds paises pelo comér- se dedicavaa dina tia dos Tudor e, em 1762,finalmente, completou a obra
cio de longa distancia estimulou os poderosos a consumi-los; os grandes com 0principio, que ia da invasao de Julio César a 1485 (se bem que con
lucros proporcionados poreste trafico’fizeram que outros comerciantes tinuou revisando-a até a morte). O objetivo fundamental era explicar 0
entrassem na concorréncia e, finalmente, porque havia uma grande de- periodo queia da ascensao ao trono de Henrique VIII a 1689. Ao final da
manda, a industria local imitou estes produtos importados. Este padrao obra, aofalar do triunfo da glorious revolution e do adyento da nova dinas
serve a Humepara explicar o progresso humanoe permite, por exemplo, tia, Humeexpésas razoes politicas quetivera para escreyer0 livro de uma
queele critique os que acreditavam quea terra estivera mais densamente man¢ira mais objetiva'do queaté entao haviam feito os propagandistas da
povoada na antiguidade do que nopresente, argumentandoque, ja que as causa “whig”, que desqualificavam osinimigos“tories”. A busca de um con
manufaturas e 0 comércio nao eram tao florescentes no passado,disso se senso exigia uma visdo mais equilibrada, que também levasse em conta ay
deveria deduzir que também a agricultura, necessdria para a subsisténcia — raz6es pelas quais os perdedores haviamatuado:“os extremo devemser
humana e condicionante do tamanhoda populagao,estivesse mais atrasa- evitados em todas as coisas e, mesmo que ninguém possa satisfazer duas
da, O raciocinio terminara com um ato de fé na capacidade de progresso
que o novo mundodo comércio oferecia: 13. As idéias de Hume encontram-senosdois ensaios “Ofcommerce” e “Of the popu
“Todas as coisas que nos tiltimos tempos foram descobertas ou lousness of ancientnations”, em HUME,Davis. Essays, moral, political andliterary.
aperfeigoadas, por acaso nao contribuiram para facilitar a subsisténcia dos London: Longmans, 1912.1, p.287-299 e 381-443 (citacdo dasp. 412-413), WOOT.
homense, comisso, a sua propagagdo e crescimento? Nossa habilidade nas
‘TON,Davis. David Hume“thehistorian”. In; NORTON,Davis Fate. The Cambrid
‘ge companionto Hume, Cambridge: Cambridge University Press, 1993. p. 281-312,
artes mecanicas, 0 descobrimento de novos mundos que tanto aumentou Tive que usar Oceana em umaversao fancesa (Paris: Belin, 1995) —citagiio day p.
© comércio,o estabelecimento dos correios ¢ 0 uso dasletras de cambio: 232-233-, que contém também o extenso estudo que J. G. A. Pocok escreveu para
‘Thepolitical works ofHarrington(Cambridge, 1977).

res
apitile A inven da pryreny

facgoes Opostas com opinides moderadas, é nelas, provavelmente, que se As concepgoes daescola escocesa, que encontram em Hume ¢ Adam
encontra a verdade”. Smith as elaboragdes mais completas, surgem de um meio mais amplo,
Apesarda abundancia decitagées de fontes nas notas de rodapé (nao, onde outros autore: izeram contribuicoese, principalmente, colaboraram
as tinha colocado nos primeiros volumes, mas acrescentou ao revisd-los), para sua difusio. E o caso de Adam Ferguson (1723-1816), sucessor de
esta claro que, em Hume, predominao fildsofo social sobre 0 erudito: a sua Humecomoresponsavel pela biblioteca dos advogados, que foi nomeado
histori , como a de Smith, é aquilo que Dugald Stewart chamara “historia professorde filosofia moral na Universidade de Edimburgo em 1759, lin.
tedrica ou conjectural”Introduz apéndices analiticos sobreasleis, as ins- 1767, publicou o Ensaio sobre a hist6ria da sociedadecivil, onde a transigio
lituigdes, os costumes ou a economia de uma época; explica o estabeleci- da barbarieacivilizagao é condi nada pelo processo de divisao do traba
mento do feudalismopelo fato de que “a autoridade é naturalmente com- lho ea propriedade privadae as instituigdes do governo aparecem relacio
panheira da propriedade”e critica duramentea ignorancia dos tempos me- nadas com0sestagios de crescimento econémico: era um livro que tocava
dievais, quando “em todasas escolas predominava a loucura, nao menos emtemasde interesse do momento de forma simples e compre el, al
que emtodasasigrejas”. Discute longamente a Carta Magna nocapitulo XI, cangando,por isso, um éxito de publico consideravel (o que nao aconters
ondeafirma que“a distribuicdo igualitaria da justica e o livre uso da pro- ria, em 1783, com a Histéria da ascensao e queda da reptiblica romana)’
priedade(...) sao os dois grandes objetos pelos quais os homensinstituiram William Robertson (1721-1793) publicou, em 1769, a Histéria do impera
a sociedadepolitica”. Nao mostra, logicamente, simpatia algumapelos re- dor Carlos V, que comegava com umaextensa introdugao — “Visao do pro
beldes igualitarios de 1381: “Seriam tao grandes os inconvenientes advin- gresso da sociedade na Europa” — que mostrava a semelhangada“situayio
dos da abolicao das classes e privilégios, que nao tardariam emse aperce- politica” das tribos indigenas da América do Norte coma dos antigos po
ber, voltandoas coisas muito rapido a tomar o curso ordinario”. vos germanicose afirmava que “a mente humana, quandose encontra na
A parte politicamente mais importante é a dedicada ao século XVII, mesmasituacao, nas idades mais distantes e nos paises mais longinquos,
especialmente a quese refere aos 46 anos que vao doinicio da “guerra ci- assumira a mesmaformae se destacar4 pelos mesmos costumes’. Com 0
vil” a revolugdo de 1688 e que ocupa, em extensdo, uma quarta parte do to- texto, e com a inacabada Histéria da América, Robertsonfoi o exportador
tal da obra. Hume, apesar de sé opor 4 condenacao sistematica dos Stuarts
¢ pedir aos vencedores que tenham respeito “pelos adeptos da antiga cons- 533-534,I, p. 203, p. 333-334;Il, p. 293, p. 518-5255 IV, p. 354-355 e VI, p. 531. Uma
tituigdo”, nao considera inconyeniente reconhecer os beneficios obtidos excelente andlise desta historia, em O'BRIEN,Karen. Narratives of Enlightenment,
com a nova constituicdo, produto da revolucao, concluindo:“Assim é que Cosmopolitan history from Voltaire to Gibbon. Cambridge: Cambridge University
podemosafirmar, sem exagero algum, que nés, nesta ilha, temos desfruta- © Press, 1997. p. 56-92, também HICKS,Philip. Neo-classical history and English cultw
re... London: Macmillan, 1996. p. 170-209 e POCOCK, J. G. A. Barbarism andreli
do desde entao, se nao do melhorsistema de governo, ao menosdosistema ‘gion, Cambridge: Cambridge University Press, 1999.II. Narratives ofcivil govern:
de liberdade mais amplo que a humanidadejamais conheceu’."* ‘ment, p. 199-257. Extraido dotexto de Dugald Stewart de BROADIE, Alexander, THe
Scottish Enlightenment. An anthology. Edinburgh: Canongate, 1997. p. 670-674.
16 FERGUSON,A. Essay on thehistory ofcivil society. Ed, Duncan Forbes. Edinburgh:
14. Sobre o significadoreal da denominagao“histéria conjectural”, POOVEY, Mary. A Edinburgh University Press, 1966. Utilize também The correspondence of Adam
history ofthe modernfact. Problems ofKnowledgein the sciences ofwealthand society. Ferguson, publicada por Vincenzo Merolle (London: Pickering, 1995. 2 v.), com
Chicago: The University of Chicago Press, 1998. p. 214-263. umaexcelente ¢ extensa introdugao biografica de Jane B, Fagg. Pocock (Barbarism
15 HUME,David. The history ofEnglandfromthe invasion ofJulius Cesar t0 the reyolu- and religion, 11, p. 330-365) opinaque Ferguson compartilha a teoria dos quatro es-
tion in 1688. Indianapolis: Liberty Classics, 19837 6 v. (reproduza edicao de 1778 tégios com Smith ouMillar, mas que nao extraira deles, sendo préprio e original
com as tiltimas correcdes de Hume). $40 feitas citagdes diretas ouindiretas de VI, p. uso que fazia dela.

156. 157
Capitile 1 divert i prainne

da teoria dos quatro estagios. Teve uméxito consideravel na Europa, em- econdmico j4 apontada em Hume, masqueele acaba por concretizar na cha
boa nao se possa dizer que entiqueceu.o que Humee Smith escreveram.” madateoria dos quatro estagios que mostra quatroetapas sdcio-econdmicas
Adam Smith (1723-1790) € 0 continuador mais direto de Hume. sucessivas da evolucao humana, cada uma das quais bas ando-se em win
Nascido na Escécia, de familia distinta mas nao rica, estudou em Glasgow “modo de subsisténcia”particular:caga, pecuaria, agricultura e comércio, Aos
¢ em Oxford, tendo iniciado muito cedo uma vida dedicada a educagao na diversos estagios, correspondem diferentes formas de organizagaosocial ¢ (li
universidade de Glasgow, ondeentraria em contato com os grupos burgue- ferentes instituigdes sobre a propriedadee 0 governo,sendo quecada um de
ses ligados ao comércio e a industrializacao nascente — parte dos avancos na les permite fazer afirmagéesgerais sobre 0 estado dos costumes e da moral, 0
maquina de vapor de Watt foram realizados justamente enquantotrabalha- excedentesocial, o sistema legal, a diviséo do trabalho, etc.”
va nesta universidade com pessoas relacionadas com Smith. A publicacao, Partindo de uma concepg¢ao que vé 0 curso da histéria como a a
em 1759, de A teoria dos sentimentos morais Ihe deu renomee justifica 0 fato censao da barbirie ao capitalismo, estabelece um programapara o pleno
de ter sido escolhido para acompanhar umjovem nobre numaviagem de desenvolvimento deste — no contexto do liberalismo econémico, com 11
formagao ao estrangeiro, ao longo da qual conheceu Voltaire, Turgot ¢ sistemapolitico que garantisse 0 respeito pela propriedadeprivada com
Quesnay. Devoltaa Inglaterra,retirou-sea terra natal de Kirkcaldy e traba- a promessa explicita de um futuro de prosperidade para todos. Tais ele
lhou de 1767 a 1776 naredacao de A riqueza das nagées, cumprindo,assim, um complexode idéias que foram dominantes como ni)
mentos formam
umaparte do programaquehavia exposto aofim de A téoria dos sentimen-
cleo central.do pensamento sécio-econdmico de nosso mundo,ainda se
los morais, quando escreveu que “em outro estudo procurarei explicar os
mantendo, embora corrompidoe pervertido, no neoliberalismoatual.
principios gerais do direito e do estado, as grandes mudangas que ocorre-
ramnos diversos periodos e etapas da sociedade, nao somente no que diz
respeito a justica, mas no quese refere a’ administracao,as finangas publi- 19 A biografia preferencialmente considerada é a de ROSS, Ian Simpson. ‘Thelift of
AdamSmith, Oxford: Clarendon Press, 1995; Complementarmente CAMPBILI,
cas, 4 defesa e tudo o mais quese insere nio ambito legislativo”." R. Hy SKINNER,A. S. Adarn Smith. London: Croom Helm, 1982; HONT, Istvatiy
Em riqueza das nagoes, Smith sintetizou a concepcao “whig”de so- IGNATIEEF, Michael (Ed.). Wealth andvirtue, The shaping ofpolitical economyin
ciedade, em que a defesa da propriedade aparece como fundamentoda or- the Scottish enlightenment. Cambridge: Cambridge University Press, 1983; JONI,
Peter; SKINNER, A. S. Adam Smith reviewed. Edinburgh: Edinburgh University
dem civil, com as idéias historicas de Humee a fisica social de Montesquieu. Press, 1992; WILSON,Thomas; SKINNER, AndrewS. (Ed.). The market and(he
Propds, comocentro da constru¢ao, uma concepcao do progresso de carater staté, Essays in honourofAdam Smith. Oxford: Clarendon Press, 1976. Sobre a ela
boragio da teoria dos quatro estagios, considerou-se fundamentalmente Ronald
Meeks Smith, Marx and after, “Targotandthe “FourStages” Theory”, em Historyof
17 Os textos pragmaticos de Robertson emTheprogress ofsociety in Europe. A histori- Political Economy, 111, 1971, n. 1, p. 9-27e, principalmente; Social science andtheiy
cal outline fromthe subversion ofthe Roman empire to the beginning ofthe sixteenth noble savage. Cambridge: Cambridge University Press, 1976. Os “apontamentos” de
century.Ed. Felix Gilbert. Chicago: Chicago University Press, 1972. p. 154. Campo- estudantes que permitiram aprofundar nosso conhecimento do pensamentohisté-
manesofereceu a Robertson o ingresso na Academia de Historia espanhola, Que rico de Smith podem ser lidos em SMITH, Adam.Lecciones de jurisprudencia, lil.
Robertsonfoi pouco mais que um plagidtio o sustenta Ronald Meek em SMITH, de Alfonso Ruiz Miguel. Madrid: Centro de Estudos Constitucionais, 1996. Schum:
Ronald M. Marx and after: Ten essays in the developmentofeconomic thought. Lon- peter diria que “A riqueza das nacoes nao contém umas6 idéia analitica, principio
don: Chapmanand Hall, 1977. p. 28. Opiniao mais favordvel em O’BRIEN,Karen. ou metodo que fosse inteiramente novo em 1776” (History of Econornic Analysis,
Narratives ofEnlightenment. Cambridge: Cambridge University Press, 1997. p. 93- London;Allen and Unwin, 1963. p. 184) e-a mesmaacusagao de falta de originall-
166 e em POCOCK,J. G. A. Barbarism and religion, Cambridge: Cambridge dade aparece mais recentemente em RASHID,Salim, The myth of Adam Smith.
University Press, 1999, I, p. 258-329. Cheltenham: Edward Elgar, 1998, 0 que revela uma escassa compreensio do caril-
18 La teoria de los sentimientos morales, parte VI, seco 4. Utilizo obra na traducio cas- ter coletive da obrada ilustracao escocesa, por umladoe, do fato que livro de
telhana de Carlos Rodriguez Braun. Madrid:Alianga, 1997 (a citacio na p. 595). Smith nao é somente, nem principalmente, umtratado de andlise econdmica,

158 159
Capirlo A vninqae il p

Um trago fundamental dessa visdo da evolugaosocial, sendo prova- cada tima das etapas de crescimento econdmico & mostrar — recuperando
velmente o queas segurouseu éxito, é o de havereliminadotodaa referén- Harrington através de Hume— queas instituigdes politicas estado, em ltt
¢ 1s Lransformagoes politicas que aparecem,entao, como simples conse- ma instancia, ligadas a divisao da propriedade.
qliéncias do processo de desenvolvimento econémico: nas palavras de O modelo evolutivo de Smith, completa o de Hume nas etapas fi
Ross, a natureza revoluciondria do livro consistia em mostrar que “a con- nais. No inicio, os homens eramcagadores-coletores, comoastribos nati
corréncia e 0 mecanismo de mercado tendem,em determinadas condigoes vas norte-americanas,e viviam igualitariamente. Ao transformareny-se ent
historicas, a melhorar a sorte da humanidade, sem elaborarrefinamentos pastores, comoos tartaros ou os arabes, comecou a desigualdade day vi
abstratos numaconstitui¢ao politica. Ao reduzir 0 motor da mudanga quezas (“para cada homem muito rico deve haver ao menos quinhentow
social 4 economia, A riqueza das nagdes proclamava“o fim dahistéria’, ne- pobres”) e a autoridade e a subordinacao foram introduzida 08 ICON NE:
gava legitimidade ao enfrentamentosocial e a luta politica, condenando cessitavam que houvesse governo para preservar seus bens ¢ 08 MenonI
porantecipagao os caminhos que a revolucao francesa seguiria. A teoria cos se associavam eles para seremajudadosa defenderos seus, Dewla fine
dos quatroestigios teria, nos tempos confusos que se aproximavam, uma pecuaria, passou-se 4 agricola, em meio a qual apareceua diferenya enti¢
fungao profundamente contra-revoluciondria. A obra de Smith seria ado- agricultura-~manufatura, criando-se um mercado queseria incrementado
tadapelos representantes dos velhos regimes em crise, os quais se propu- pelo comércio internacional. Na Europa,o desejo de luxoporparte dos 4
serama usd-la comoreceituario para as minimas adaptag6es politicas que nhoreslevou aosacrificio dos meios queutilizavam para defender a auto
necessitavam para que, em esséncia, tudo continuasse como antes. (Nas ridade, dando lugara umarevolucao“silenciosa e insensivel” que acabou
cortes de Cadiz, por exemplo, um deputado reacionério catalio, Dou, ad- liquidando o feudalismo.Estabelece-se, entao, o sistema mercantil, que li
vertia ao inquisidor de Barcelona, eleito deputado para uma proximale- de garantir a riqueza a todas as camadas da sociedade e ha de ampliar a
gislatura, que o que devia fazer para atuar nas cortes com eficacia era “universal opuléncia” da Europa para todo o mundo.Smith introduy, nes
aprender bem 0 castelhano e estudar Adam Smith, a quem Toreno chama- te ponto, as idéias sobre a importancia do mercado,esclarecendo que
va “o papa da economia politica’> prosperidade nascida do comércio somente permanecerd asseguradase
A anilise de Smith, desde o primeiro momento, tem uma dimensao uma parte doscapitais forem investidos na terra e na ampliacao da capa
histérica, com a proposta da relagao que existe entre a divisao do trabalho cidade produtiva, pois, de outro modo, quandoas coisas forem mal, os ca
¢ a extensao do mercado. O esquemaeyvolutiyo aparece com toda a forga pitais comerciais tenderaoa fugir, como aconteceu nas cidades da Hansa
noterceirolivro, “Sobre o diferente progresso da opuléncia em diferentes (Smith nao estava ainda consciente das mudangas que seriam introduzi-
nag6es” e no extenso primeiro capitulo do quintolivro, onde a andlise dos dasna estrutura do mercadopela revolucdoindustrial, quandoesta fez que
gastos do governo em defesa, justica, obras ptiblicas ¢ educacao lhe permi- o inyestimento em equipamentostivesse um papel semelhante ao quecle,
te examinarde que maneira 0 desenvolvimento doestadose relaciona com em suaanilise, destinara ao desenvolvimento agricola).”

20 ROSS, Jan Simpson.Thelife ofAdamSmith. Oxford: ClarendonPress, 1995. p. 364. 22. An inquiry in to the nature and causes of the wealthof nations foi usado na quarta
21. PALYI, Melchior. Theintroduction of Adam Smith on the continent. In; CLARK, edicio (London: Strachan, 1786. 3 y.), da qual sao’feitas as citagoes, e na tradugio.
John Maurice et al. AdamSmith, 1778-1926, New York: Augustus M.Kelley, 1966 castelhanada edicao de Glasgow, preparada por Campbell e Skinner (Vilassar: Oi-
(reimpressao de umaobra publicada por The Adam SmithLibrary em 1928). p. Kos-Tau, 1988. 2 v.). O modelo historico forma um esqueleto, da obra, de modo
180-233. (A carta de Douao inquisidor Lléser se encontra no Arquivo do’Caste- que, em imuitas partes, a andlise se organiza emfungao da teoria dos quatro esti-
lo de Papiol). gios. O citado nestes parigrafos provém principalmente dos capitulos | e 3 do pri-

160 161
Capitulo 8 A vnwigil old progrope

Depois da publicagao de A riqueza das nagées, Smith pretendia de livros que encontrava nas biblioteca oinfluenciaram mais do que as au
dicar-se er amenteahistéria e escrever duas grandes obras: uma“teoria ¢ las Jue assistiu por pouco tempo,pois ofato de que se convertera ao cato
histria dalei e do governo” (que era o que faltava para completar 0 pro- licismo fez que o pai o enviasse a Lausanneparaser educado por um pas
grama de trabalho que anunciara em A ‘teoria dos sentimentos morais) e tor calvinista, o que lhe possibilitou receber uma preparagao solida e am
uma“hist6riafilos6fica dos diferentes ramosda literatura, da filosofia, da pla queincluiaaleitura dos classicoslatinose gregos, a daliteratura histo
poesia e da eloqiiéncia”. Foi nomeado,entretanto, encarregado das adua- rica da época ea de tedricos como Locke, Montesquieu, Humeou Voltai
nas da Escécia, 0 que determinou que, nostltimos anos de vida,fizesse re (regressou, porém, logo ao anglicanismo, mantendo,desde enti, ui
poucacoisa no terrenointelectual, introduzindo apenas, melhoriasnas se- atitudecética a respeito da relig’ e dasigrejas). De 1763 a 1765, fez a via
gundae terceira edigdes de A riqueza das nagées.”* a em pela Europa que era parte da educag4o dos jovens ingleses de cliyae
Neste mesmo “annusmirabilis’ de 1776 — 0 ano da morte de Hume alta. Foi no transcurso da viagem, aos vinte e sete anos de idade, que teve
¢ da publicagao de A riqueza das nagoes, da declaragao de independéncia a idéia de sua grande obra. Na autobiografia nosdiz: “Foi em Romi, em 15
dos Estados Unidos da América (ondeera feita a afirmacao solene de “que de outubro de 1764, meditandoentre as ruinas do Capitdlio, enquanto o¥
todos os homens foram criados iguais”) e da queda de Turgot na Franga, frades-descalcos cantavam as vésperas no templo de Jupiter, que me yelo,
sign. ‘ando uma novaetapa no caminho em dire¢cao'a Revolucao-, apa- pela primeira vez, a imaginacao a idéia de escrever a decadéncia ¢ queda
receu © primeiro volumeda grande obra em que Gibbon estudou a Deca- da cidade”.
déncia e queda do império romano. A morte do pai, em 1770, o tornou independentefinanceiramentt
Edward Gibbon (1737-1794) era de familia abastada, o que lhe per- emboranaorico. A situagao melhorou ainda mais aosereleito membro do
mitiu dedicar-se ao estudo sem demasiadas preocupagoes. Perdeu a mae parlamento em 1774 e obter alguns recursosadicionais de fungoes publi
aos dez anos e viveu, desde entao, dedicado em grandeparte a leitura, até cas. Comegou a escrever em 1774, sendo que o primeiro volume de Decu
que, aos quatorze anos, o pai decidiu envia-lo a estudar em Oxford.Ali, os déncia e queda do império romano apareceu em 1776, com umatiragem de
mil exemplares (0 dobro de A riqueza das nagoes, publicada ao mesmo
tempo e pelo mesmo editor). O éxito foi imediato a ponto de, em pouco
meirolivro (na edicao citada, I, p. 6-19 ¢ 26-33), do conjunto do terceiro livro ~e
emespecial do capitulo 4 (II, p. 117-137), onde se descreve “a silenciosa e insensi- tempo, se esgotarem trés edigoes. “Meu livro — disse Gibbon — estava em
vel atuacao do comércio exterior e das manufaturas” (p. 125) —, dolivro IV, capi- todas as mesas e em quase todas as comodas”. Osoutros cinco volumes da
tulo 7, 3* parte (II, p. 400-485), onde afirma que os descobrimentos da América ¢ obra sairiam até 1788, continuando relato até a queda do Império do
da rota da India pelo Cabo de Boa Esperancaelevaram o sistema mercantil a um
grau de esplendore de gloria jamais alcancado,e do primeiro capitulo do livro V Oriente. Gibbon, que se convertera num homemrico e famoso,péde vol-
(IN,p. 44-241) ondese analisam as formas que 0 estado toma nas diversas fases tar a Suica, onde viveu até pouco antes da morte. O éxito do livro se deve,
* do desenvolvimento econdmico,através dosgastos com defesa, justica, obras pu- em boaparte, a sua qualidade comoescritor. Porém, 0 que o fez perdurar
blicas e educacao.
23 ROSS, Ian Simpson. The life ofAdam Smith. Oxford: ClarendonPress, 1995. p. 305, €0 fato deter sido o primeiro que conseguiu reunir as concepg6es tedri-
360-361 e 405. Do que pensavafazernoterreno da historia legal, temos os aponta- cas dosfilésofos sociais do século XVIII, como Montesquieu ou Hume,
mentosde classe dos estudantes, publicados com titulo de Leccioites sobre juris- com 0 tipo de trabalho cientffico que os eruditos do século XVII defen-
prudencia (existe umaversao castelhana,citada anteriormente, e umaparcial, pu-
blicada em Granada: Comares, 1995), Smith expusera suasidéias sobre a historia e
diam, comose pode ver na abundancia e na riqueza das notasde rodapé,
os historiadores em Lessonson rethoric andbelles lettres, de janeiro de 1763. Um historiador da antiguidade como Moses Finley disse que o livro é “a

162 163
Capitulo

primeira historia moderna de qualquer periodo da antiguidade(e possi- Oy segundo eterceiro volumes, quelevariam o relato até o fin do
velmente a primeira histéria tout court).™ iImpeério do Ocidente, apareceram em 1781. Depois, passariam sete anos
A recuperagaodo trabalho erudito era menosprezado por Humee pe- ate jue, em 1788, saissem, de umas6 vez, os trés volum finais, dedicados
los enciclopedistas franceses. Ao falar das primeiras fases da histéria humana, v elapa queia de 476 aoséculo XY. Escritos com umritmo mais ripido e
Rousseau dit ‘comecemospordescartar todos os fatos” — era consciente com um enfoquemais “universal”, neles, prestava atengao tanto as heresias
em Gibbone vinha seguramente do conhecimento das fontes hist6ricas an- COMO aos povos naocristaos que deveriam interferir na hi ada Huro:
tigas e do fato de que a erudicao deveria lhe servir de base para exercer0 tipo pa. A obrase transformara de umahistoria do império romanono inicio,
de critica que queria fazer. Admirava Hume, mas considerava que a Histéria em “uma historia do mundoescrita numaescala euro-asiatica’, que anali
da Inglaterra era “superficial”. Nao podia tampouco aderir a simplicidade saya 0 novo mundo medieval dominadopelos barbarose pela igre)
com que Montesquieu havia abordado o tema da decadéncia dos romanos, Osprime s conflitos surgiram com o primeiro volume. Noscap!
embora compartilhasse com ele a idéia de separar as “causas gerais” que ope- tulos 15 e 16, a0 ocupar-se dacristianizacao do império, anunciou que ob
ram nos dominios dos costumes, dareligido e de tudo o que diz respeito ao jetivava fazé-lo comimparcialidade: “O tedlogo pode permitit-se a agi
dominio daopiniao, das “causas particulares” dos acontecimentos.” clavel tarefa de descrevera religiaotal e como desceu do céu, adornada com
1 pureza nativa, Uma tarefa muito mais melancélica impoe-se ao historia
dor. Devedescobrir a inevitavel mistura de erros e corrupgao queela con
endopublicadona atualidade umestudo muito ambicioso sobre Gibbon¢ sua ~
a, situando-a nalinha de desenvolvimento da histéria dos escoceses —J. A. Po- trai numalongaresidéncia na terra, em meio.a umaraga degeneradade He
cock, Barbarismandreligion. Até o momento de escrever esta nota, apareceram os res” (os ataques de queseria objeto pela formulacio, o obrigaram a publi
volumes I (The enlightenments of Edward Gibbon, 1737-1764) e II (Narrative ofci- car, em 1789, umaReivindicagao de algumas passagensnos capitulos quince
vil government), ambos publicados por Cambridge University Press em 1999; na
medida em que a obra est ainda inacabada ~ 0 volumeII chega até 0 momento da ¢ dezesseis da “histéria da decadéncia e queda do império romano”).
redacaoinicial de Decline andfall -, nao foi possivel extrair dela todo proveito. livro contém,de vez em quando, separatas sobre instituigoes, gover
Umaresenha dos volumes, FURBANK,P. N. Epic making. New York Review of noou economia que recordam os “apéndicesanaliticos” da Histéria da Ingla
Books, p. 57-59, 30 Nov. 2000. Empregou-se também PORTER,Roy. Gibbon. Making
history. London: Phoenix, 1995; BARIDON,Michel. Edward Gibbonet le mythe de terra de Hume. Mostraa influéncia da escola escocesa em muitas ocaside
Rome. Histoire et idéologie au siecle des lursiéres, Lille: Université de Lille IH, 1975. 2 como quando,ao falar dos hunos, os compara com ostartaros da época ¢ faz,
vs GIBBON,E. Autobiography. London: Everyman's Library, 1932; McKITTERICK umestudo dos condicionamentosdavidapastoril (dieta, habitagao,ativida
Rs QUINAULT, Roland (Ed.), Edward Gibbonand empire. Cambridge: Cambridge
University Press, 1997; FINLEY, M.I. Ancient slavery and modern ideology. London: des), 0 que 0 leva a concluir que “a influéncia da alimentagao ou do clima,
Chatto and Windus, 1980, p. 21-22; TURNBULL,Paul. The supposedinfidelity of que em umestagio mais avancadoda sociedade se interrompe ou se ameni
Edward Gibbon.Historical Journal, 25, p. 23-41, 1982; POCOCK,J. A. Was he one of za em virtude de muitas causas morais, contribui poderosamente para for
them?LondonReview ofBooks, 23, p. 20-21, Fev. 1995; e Gibbon's “Decline andfall” mar e para manter o cardter nacional dos barbaros”. O erro de Gibbon, a0
andthe world view ofthelate Enlightenment. In: Virtue, commerce and history.
Cambridge: Cambridge University Press, 1985. p. 143-156. atribuir aos barbaros do ocidente um género de vida pastoril, procedejusta-
25 GHOSH,Peter. The conception of Gibbon’s History. MCKITTERICK,R.; QUI- menteporter sido demasiadamentefiel ao esquema dos quatro estagios.”
NAULT, Roland (Bd.). Edward Gibbon and empire. Cambridge: Cambridge
University Press, 1997. p. 271-316, mostra-nos que Gibbon expésa idéia numapri-
meira obra Essai sur l'étude de la litterature, escrita em 1758-1761(sobre isto, PO 26 POCOCK,J. G.A. Barbarismand religion. Cambridge: Cambridge University Press,
COCK,J. G. A. Barbarism andreligion. Cambridge: Cambridge University Press, 1999.II, p. 397-402,
1999. I, p. 208-239), Esta claro que, emboraa idéia geral proceda de Montesquieu, 27 BROWN, S. Gibbon, Hodgkin and the invaders ofItaly. In: MCKITTERICK,Ry
Gibbon a desenyolveu ¢ a levoua pratica. © trabalho de Ghosh é uma das melho- QUINAULT, Roland (Ed.). Gibbon and empire. Cambridge: Cambridge University
res anilises de conjunto da obra de Gibbon. Press, [1997]. p. 137-161 (sobre isto p. 138).

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Cupitulo 8 A veut it jvtiane

Uma das caracteristicas mais notaveis da obra é 0 modo com que, A segunda parte da obra muda, come dissemos, o enfoque, que ja
ao final do terceiro volume, depois de haver explicado a queda do império nao estcentrado na cidade dé Roma, mas dedica amplo espago aos povos
romano do ocidente, Gibbon consegue encaixar a visdo tradicional da de- mugulmanos ¢ aos mongdis, tendo seus momentos culminantes no estu
cadéncia no contexto geral da historia do progresso: as “observacdes ge- do das cruzadas, que the permite outra elaboragao emtermos de umahis
rais” que seguemo capitulo 38 sustentam que, apesar das ascensdes e de- loria do progresso. Gibbon naoaceita a visao simplista de Robertson que
cadéne s dos impérios, os homens foram progredindo do selvagem pri- via nas proprias cruzadas umadas causas do avango da Europa ocidental,
mitivo“pri ado deleis,artes, idéias e quase de linguagem”até “mandarso- O Unico aspecto em queelas Ihe parecem benéficas é 0 de haver contribui
bre os animais,fertilizar a terra, atravessar 0 oceano e medir os céus”(sao, do para arruinaras grandes familias feudais, ajudandoa liquidar 0si
como se-vé, os quatro estagios). O progresso foi irregular e diverso e, em de submissao dos camponeses, “sustentado pelas manhas doclero e pelas
muitos momentos, foram vistos retrocessos que parecem pé-lo emi perigo. espadas dos barées”. A ruina obrigou-osa fazerconcess6ese, assim,“a con
Masa experiéncia global da histéria mostraque “nenhum povo, a menos flagragao que destruiu as arvores altas e estéreis do bosque arejou e deu es
que a face da natureza se modifique,voltara a cair na barbarie original”. pago a vegetacao das plantas menorese nutritivas do solo”. No quese refe
Porque ha avangos devidosa individuos geniais— como os poetas ou 0sfi- re aos efeitos diretos, Gibbon aduzia um argumento “a moda de Hume’,
losofos — outros, que sao obra dos gruposilustrados da sociedade — como que mostra o fundo eurocéntrico da doutrina: os europeusocidentais (0%
os dalei e da politica, das artes, das ciéncias e do comércio —, e outros, fi- “Jatinos”) eram, naquele momento, inferiorés aos gregos de Bizdncioe aos
nalmente, mais elementares, porém mais decisivos para a vida dos ho- arabes, possuindo, porém “uma energia peculiar de carater, um espirito
mens, que se difundemno conjunto da coletividade e sdo conservados na ativo e de imitagao, desconhecidos dosrivais mais refinados que, por sua
pratica social. vez, se encontravam numestado estaciondrio ou retrégrado”. A relagio
“Cada povo,cada familia, cada individuo ha de possuir sempre a ha- comos poyosdo Oriente abriu os olhos dos europeus e os fez progredir no
bilidade e a inclinagao para perpetuar 0 uso do fogo e dos metais; a pro- comércio e nas manufaturas, o que,-junto a destruicao da sujeicao feudal,
pagagao e o servico dos animais domésticos; os métodosde caca e de pes- os levaria a “avangos sucessivose a atual superioridade”. Nao custa muito
ca; os rudimentos da navega¢ao; o cultivo imperfeito do trigo’e outros situar a andlise no modelohist6rico smithiano.*
‘dos nutritivos, e a simples pratica dos oficios mecanicos.” O fato do livro acabar de uma forma um tanto abrupta, com uma
O génioindividualou os avangos dos grupos mais ilustrados podem visao da cidade de Romano século XV — um retorno as mesmasruinas do
desaparecer, como aconteceu com as leis e os palacios de Roma; “mas ha Capitolio em que afirmara havertido a idéia de escrever uma obra a que
plantas que sobrevivem-a tempestade e langam umaraiz perene no solo se dedicara cerca de vinte anos da vida — e com considera¢ées sobre as cau-
mais desfavoravel”, O uso da foice para ceifar a colheita manteve-se e de- sas da destruicaofisica da cidade sem uma auténtica conclusao, pode ex-
sapareceram os costumes barbarosdas tribositdlicas primitivas. Sao estas
artes basicas,ligadas a subsisténcia do homem, que formam o auténtico
28 Utilizei The history of the decline and fall of the Romanempire na excelente edigio
motor do progresso humano.Difundidas pelo comércio, pela guerra ou a de Davis Womersley. London:Penguin, 1995. 3 v. A citacdo sobre cristianismo é
pregacao religiosa, estenderam-se por toda a terra “e jamais poderao ser de I, cap. 15 (nesta edicao, I, p. 446); sobre a barbarie pastoril, I, cap. 26 (I, p. 1025);
perdidas”. “Podemos chegar 4 agradavel conclusao de que cada idade do as “observagdes gerais” sobre o fim do Império do Ocidénte estao emII, cap. 38
(IL,p. 508-516, os textos citados em p. 515-516); sobre os muculmanos, V, caps. 51
mundo aumentou,¢ ainda continua aumentando,a riqueza real, a felici- € 52; sobre os mongéis, VI, caps. 64 e 65; sobre as cruzadas, VI, cap.61 (as citacoes
dade, o saber talvez a virtude da espécie humana.” em Ill, p. 725-728).

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Capito § A hivonyie do progrena

plicar os ataques de que foi objeto por parte dos detratores, que nao en- Sense, obra que teve umarecepgaoentusiasta na América = é possivel que
tenderam qual e 1 sua intengao real. Uma anilise recente de Decadéncia e a leitura do manuscrito haja contribuido para tornar Franklin indepen
queda do império romano, realizado por um grupode especialistas no es- dentista ¢ que 0 texto impresso tenhafeito Washingtondecidir-se ¢ pas.
tudo de diversas épocas — ninguém seria capaz hoje de cobrir com compe- souraj lamente a Europa, ondefoi lida e traduzida amplamente. Paine
(éncia o amplo campohistérico de que se ocupou Gibbon— revela-nos os dizia as coisas que era necessario dizer naquele momento, comelogiiéncia
vieses de visdo e as insuficiéncias especificas, masindica, também,a enor- e clareza. Atacava a monarquia como um regime despéticoeii acional;
meinfluéncia que teve. Influéncia, por um lado, no desenvolvimento da “Mais vale, para a sociedade, um homemhonrado que todos 0s rufio HOO
historiografia posterior — Guizot, que traduziu Gibbonaofrancés, ensinouw roados que tenham vivido”(frase que Fidel Castro citou aoserjulgado
a Fustel de Coulanges, o qualporsua vez foi mestre de Ferdinando Lot,etc. pelo assalto ao quartel de Moncada). Observaya,¢ foi o primeiro a faze lo,
¢ também na formagao do projeto imperial britanico: Winston Chur- umaclara distincao entre “sociedadecivil” e “estado”, até entao considera
chill, lendo Gibbon aos vinte anos, no quartel de Bangalore, haveria de dos sindnimos. O agrupamentolegitimo era a “sociedadecivil”, enquanto
sentir-se duplamenteidentificado, comopolitico e comohistoriador, com 0 governo ou o estado nao eram mais que delegagoes de poder feilas por
o homemque, muito antes da Revolucao, discutindo em Paris com Mably, ela. Em conseqiiéncia, Paine propunhaqueas colonias americanasse Wii
condenava“a loucura sobre os direitos e a igualdade natural do homem’, sem numasociedadecivil em escala continental e que esta se oulory
como tambémo fez mais adiante, sobre umarevolugao que, com 0 confis- um governorepresentativo. Era o principio da autodeterminagio, formu
co dos bens do clero, “ataca a raiz de toda propriedade”.” lado pela primeira vez como umdireito da sociedadecivil.
Em 1776,entretanto, foi publicado outro livro que nao é menciona- Em 1787, Paine foi a Franca e, em 1790, voltaria a Inglaterra onde,
do nos estudossobrea historiografia, mas que teria uma grande transcen- para responderaos ataques de Butke contra a revolugao francesa, publi
déncia na histéria real da época: Senso comum (Common sense) de Tom cou, em 1791, primeira parte de Osdireitos do homem, queteria umase
Paine (1737-1809). gunda'parte, escrita em1792. Se, na primeira, defendia a Revolucao, nase
Nascido no mesmo ano que Gibbon, mas de umafamilia pobre de gundatratava dos principiosgerais da politica, retomando os raciocinios
Thetford, Paine educou-se na medidadas possibilidades. Como 0 desco- ea linguagem dovelho radicalismoinglés do século XVII para denunciar
nhecimento dolatim e de outraslinguas impedia-lhe 0 acesso ao mundo o engano do governo formal, sustentar que “quanto maisperfeita sejaa ci
literario, teve que comegartrabalhando comoaprendiz de confec¢ao de es- vilizagao, menosnecessidade tem de governo”e reinterpretar a historia day
partilhos. Aos dezenove anos, embarcou com um corsario, trabalhando, origens doestado, nao comoa de um contrato social, mas como a da agio
mais tarde, como arrecadadorde impostos. Perdendo o posto de trabalho violenta de bandos de depredadores que tinham se impostoas coletiyida
porter escrito um documento em favor dos funcionarios, imigrou para a despela forca.”
América em 1774, com umacarta de recomenda¢ao de Benjamin Fran- O futuro imediato, no entanto, nao ia na linha das idéias de Paine,
klin. Ali, comegou a envolver-se em politica e, em 1776, publicou Common Oshistoriadores escoceses haviam triunfado plenamente e conseguiriam
impor, ao conjunto do mundocivilizado, uma visio evolutiva da historia
organizada em funcao de um motor econdmico, que apresentaria o desen-
29. Anthony Bryer, “Gibbonandthe later byzantine empires” (citacao da p. 107, mo-
dificada, porque Guizot nao somente editou, mas tambémtraduziu Gibbon) e
QUINAULT,Roland. Winston.Churchill and Gibbon,In: MCKITTERICK,R QUI-
NAULT, Roland (Ed.). Edward Gibbon and empire. Cambridge: Cambridge 30 KEANE, John, Tom Paine. A political life. London: Bloomsbury, 1996. As citagdes
University Press, 1997. p. 317-332.
sao de Commonsense ¢ de Rights of man, Il, caps. 1 € 2.

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168
eau

volvimento do capitalismo “liberal” como o ponto maxine aleangado pela Capitulo 6


humanidadee, em conseqiiéncia, situaria todos os povos ¢ todas as civiliza
es dentro de um esquema tinico de progre so, justificando, com isso, 0
dominio imperialista dos europeus e de seus descendentes transatlinticos
sobre o resto da espécie humana e apresentando a exploragdo colonial
como uma missio humanit a de educagao: “o fardo do homem branco”.
As conseqiléncias do consenso nao somente gerariam conseqiién
cias nefastas para a parte da humanidade que, a partir de entao,seria con
REVOLUGAO E RESTAURAGAO
lerada “subdesenvolvida’, mas, também,para o proprio mundo “ayanga>
do’" Ao definir comoprogressivo tudo 0 que conduz aocapitalismo e¢ 4
industrializagao fabril, esta viséo da histéria desqualificava qualquerfor:
ma alternativa de organizagdo comoretrégrada ou invidvel (utdpica). Ao
eliminar, por outrolado,a politica como elemento ativo de transformagio, Um dosproblemas que se apresentaramaos homens que viverany a
ape entando-a como umasimples conseqiiéncia da evolugaosocial deter grande comogao revolucionaria iniciada na Franga em 1789foi o de inter
minadapelo grau de desenvolvimento econdémico'- ou, no maximo, como pretar.a experiéncia comas explicagdes globais do desenvolvimento social
um condicionamento da evolucaosocial — e alicercar a esperanga em uma quealgunsilustrados, de quem se sentiam discipulos, haviam claborado.
espécie de mecanismode progresso invencivel que acabaria melhorando a Como ostec scoceses, admitiam que,aos distintos graus de desen
condigao humana, fossem quais fossem as circunstancias pontuais produ- volvimento econémico, correspondiam determinadas formas deorganiza
vidas, enyenenouas fontes do radicalismo revolucionario. O proprios ao da sociedade. Porém, puderam perceber, pelo ocorrido na Franga, que
cialismo acabou acreditando que o objetivo era chegar a umaetapa supe- as mudangas nao se produzem sempre espontaneamente,pois forcas $0
rior de industrializagao, traindo as esperangas de transformagaosocial que cl is dominantes da velha etapa de organizacaoresistem emceder0 poder,
© fizeramnascer. Ainda hoje, quandoja se passaram mais de duzentos anos Desta maneira, pode-se chegar a um momento em que as mudangas ne
da data crucial de 1776, nao noslibertamhosda carga destes erros e conti- cessarias para manter aberta a via do progresso exijam o uso daforga: que
nuamos pagandoas conseqiiéncias.
o caminho da evolugao social deva ser desbloqueado mediante umaagiio
politica violenta.
O mais inovadordos pensadores que iniciaramesta linha de andli
se foi Antoine Barnave (1761-1793), filho de um adyogado de Grenoble ¢
deputado na Assembleia constituinte, que foi condenado a mortepelotri-
bunal revolucionario de Paris, acusado de conspirar com os aliados dorei
a fim de moderar a marcha da revolugao. Barnaye, que havia crescido no
meio da atividade industrial e da prosperidade do Delfinado, escreveu em
1792, um anoantes de morrer na guilhotina, algumas anotacdes que nilo
31 Para umavisio critica dosefeitos do modelo smithiano, destaca-se PERELMAN, seriam publicadas até 1843. Nelas acrescentou uma noya dimensaopoliti-
Michael. The invention of capitalism, Classical political economy and the secret his-
tory ofprimitive accumulation. Durkham: Duke University Press, 2000. ca a teoria dos quatro estdgios. Pensando que, como os escoceses, ao grat

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