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A violência doméstica contra idosos nas áreas de abrangência

TEMAS LIVRES FREE THEMES


do Programa Saúde da Família de Niterói (RJ, Brasil)

The domestic violence against the elderly


within the Family Health Program of Niterói (RJ, Brazil)

Paulo Cavalcante Apratto Júnior 1


Cláudia Leite de Moraes 1

Abstract This article investigates the magnitude Resumo Este artigo investiga a magnitude e as
and characteristics of violence against the eldery características da violência contra idosos no do-
by trusted people at Ilha da Conceição, Niterói – micílio por pessoas de confiança no bairro da Ilha
RJ registered at the Family Health Program. A da Conceição, em Niterói (RJ), adscritos ao Pro-
domestic survey interviewed 343 individuals with grama Saúde da Família. Através de um inquérito
60 years or more, selected by a simple random sam- domiciliar, foram entrevistados 343 indivíduos com
ple. To identify the violence it was used the Con- 60 anos ou mais, selecionados por amostragem alea-
flict Tactics Scales. Information about identifica- tória simples. Para identificação de violência usou-
tion, demographics and socio-economics charac- se a Escala Tática de Conflitos. As informações
teristics were obtained using the National Health sobre identificação, características demográficas
Interview Survey. The Mini-Mental State Exam- e socioeconômicas foram obtidas pela Pesquisa
ination was used to evaluate mental health. In Nacional por Amostra de Domicílio. Avaliou-se a
order to evaluate the functional capacity, the saúde mental pelo Miniexame do Estado Mental.
Health Assessment Questionnaire was used. In cases Para avaliação da capacidade funcional, usou-se
of alcohol suspicion among men, it was used the o Health Assessment Questionnaire. Quanto à sus-
instrument CAGE. To female elder or caregivers, peita de uso de álcool pelos homens, utilizou-se o
the TWEAK instrument was used. 43% reported instrumento CAGE; para a idosa ou cuidadora, o
at least one episode of psychological violence. Phys- instrumento TWEAK. 43% relataram pelo menos
ical violence was reported by 9,6% of the inter- um episódio de violência psicológica. A violência
viewed, 6,1% reported serious physical violence física foi relatada por 9,6% dos entrevistados; 6,1%
in this period. The prevalence of different modal- referiram ocorrência de violência física grave nes-
ities of violence was higher among the youngest se período. A prevalência das diversas modalidades
individuals, with higher scholarity, among those de violência foi maior entre os mais novos, com
who have one of the pathologies that characterize maior escolaridade, entre os que apresentam uma
the elderly as having a vulnerability (depression das patologias que caracterizam o idoso como ten-
and / or urinary incontinence / fecal and / or dia- do uma vulnerabilidade (depressão e/ou inconti-
1
Fundação Municipal de betes and / or rheumatism) and those living with nência urinária/fecal e/ou diabetes e/ou reuma-
Saúde de Niterói (RJ). Av. the greatest number of individuals. tismo) e entre os que moram com maior número
Ernani do Amaral Peixoto
Key words Domestic violence, Prevalence, Aging de indivíduos.
169, Centro. 24020-070
Niterói RJ. Palavras-chave Violência doméstica, Prevalência,
aprattoporto@terra.com.br Envelhecimento
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Apratto Júnior PC, Moraes CL

Introdução sérias dificuldades socioeconômicas para um


grande segmento populacional, o preconceito
O envelhecimento populacional no mundo é um contra o envelhecimento e o culto à juventude,
dos maiores desafios contemporâneos da Saúde fatores reconhecidamente favorecedores da dis-
Pública. Esse fenômeno ocorreu inicialmente em seminação da violência, fazem crer que o proble-
países desenvolvidos, mas, recentemente, os paí- ma seja bastante frequente, tornando de grande
ses em desenvolvimento mostram o envelheci- relevância no país a temática violência praticada
mento da população de forma mais acentuada1. contra os gerontes.
No Brasil, o número de idosos passou de três Grande parte das situações ainda sofre uma
milhões, em 1960, para sete milhões em 1975 e 14 invisibilidade de origem social. Destaca-se nessa
milhões em 2002. Estima-se que alcançará 34 invisibilidade a difusão da ideia de que a violên-
milhões em 2020, levando o país ao sexto lugar cia é um problema privado, que só pode ser re-
no ranking mundial de países com maior núme- solvido pelos envolvidos. Ademais, as escolas
ro de pessoas nessa faixa etária2. Muitas são as formadoras de profissionais da saúde ainda não
dificuldades enfrentadas pelos idosos, algumas os preparam para o manejo de casos de violên-
decorrentes da fragilidade e da vulnerabilidade cia, contribuindo para sua não detecção. Como
fisiológica dessa faixa etária, que os tornam víti- muitas vezes a violência é cometida por pessoas
mas em potencial de várias mazelas sociais, den- de sua confiança, o idoso não se dispõe a relatar
tre as quais a crescente violência observada em facilmente os episódios de vitimização que sofre,
nossos dias3. dificultando ainda mais a identificação da situa-
Inicialmente, a violência contra os idosos era ção. Além disso, a falta de instrumentos para
vista como uma questão familiar, permanecen- detecção, bem como de um arsenal resolutivo
do reservada e escondida até a metade do século para o enfrentamento do problema, faz com que
XX. Representa, hoje, um grande desafio para o os profissionais de saúde compactuem com essa
setor de saúde, atingindo todas as classes sociais invisibilidade9-11.
e provocando, além de óbitos, traumas físicos e A Organização Pan-Americana da Saúde con-
emocionais de grande magnitude que criam uma sidera que o setor saúde deve ajudar a buscar
demanda por serviços e programas de saúde mais soluções e aplicações de medidas preventivas e de
adequados. Por essa razão, é fundamental que controle de todas as formas de violência nesse
os profissionais da área coloquem em pauta esse grupo populacional. Nesse contexto, a estratégia
problema antigo, porém de baixa visibilidade, Saúde da Família pode ter um enorme potencial
enfocando-o como prioridade na agenda de di- para construir estratégias de prevenção, detec-
agnóstico situacional e estabelecendo políticas ção precoce e acompanhamento de famílias em
para seu enfrentamento4. Dentre as várias for- situação de violência. Os profissionais que estão
mas de violência que acometem a população ido- inseridos nas comunidades, empenhados em
sa, destacam-se os maus-tratos e a negligência propostas de educação em saúde com o objetivo
cometidos no âmbito familiar e institucional – de contribuir para a transformação social, po-
merecendo, portanto, maior atenção de toda a dem ser efetivos agentes para o conhecimento e a
sociedade civil. intervenção nessa problemática da violência pra-
A violência é um problema mundial, comple- ticada contra idosos.
xo, enraizado em dimensões culturais, que pos- Infelizmente, a escassez de estudos sobre o
sibilita diferentes abordagens e definições, o que tema impede que se tenha uma visão mais acura-
traz dificuldade para estudos comparativos e vi- da da magnitude e caracterização do problema,
sões globais sobre sua magnitude5. A multiplici- dificultando um planejamento de ações efetivas
dade e a falta de integração das fontes de infor- para seu enfrentamento imediato.
mação e as altas taxas de sub-registro também Visando expandir o conhecimento sobre a
são desafios a serem superados visando a esti- situação no âmbito populacional, este artigo tem
mativas mais fidedignas6-8. Apesar dessas difi- como objetivo estimar a prevalência da violência
culdades, estudos internacionais têm sugerido psicológica e violência física contra o idoso numa
que a violência contra o idoso tenha prevalências população de baixa renda assistida pelo Progra-
mais altas do que muitas patologias alvos de pro- ma Médico de Família da cidade de Niterói (RJ).
gramas de controle em todo o mundo4,6-8. Como objetivo secundário, pretende-se avaliar a
No Brasil, ainda não se tem ideia da preva- prevalência do evento em diferentes subgrupos
lência do problema. No entanto, as característi- populacionais de acordo com características so-
cas da sociedade brasileira atual, tais como as ciodemográficas e de saúde do idoso e de sua
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família, contribuindo para um diagnóstico situ- População-alvo/fonte
acional que forneça subsídios para o enfrenta-
mento do problema. Considerando a escassez de A população-alvo do estudo é composta pelo
pesquisas na área e a participação cada vez maior conjunto de indivíduos com 60 anos ou mais, não
dos programas de Saúde da Família no Sistema institucionalizados, residentes em áreas urbanas
Único de Saúde (SUS) em todo o Brasil, preten- cobertas pelo Programa Médico de Família do
de-se que os frutos deste estudo não se restrin- município de Niterói, Rio de Janeiro. Atualmente,
jam às equipes que participaram da pesquisa, mas o PMF atingiu 30% de cobertura de sua popula-
que possam servir como ponto de partida para ção e 150 mil pessoas já foram cadastradas em 33
o conjunto de profissionais de saúde compro- áreas consideradas de desenvolvido risco social,
metidos com a promoção da saúde desse grupo com delineamentos na saúde e econômico.
populacional, convergindo com a promoção do Como população fonte, optou-se pela clien-
envelhecimento ativo, caracterizado pela expe- tela de indivíduos dessa faixa etária, residentes e
riência positiva de longevidade do indivíduo. adscritos ao módulo do Programa Saúde da Fa-
mília (PSF) no bairro da Ilha da Conceição (Nite-
rói). Segundo dados do Sistema de Informação
Métodos de Atenção Básica (SIAB), em setembro de 2006
esse grupo era composto por 754 indivíduos14.
Contexto do estudo
Tamanho e estratégia de seleção
O bairro da Ilha da Conceição localiza-se no da amostra do estudo
interior da baía de Guanabara. Este é atualmente
o principal polo metalúrgico naval e abriga tam- A constituição da amostra foi feita a partir de
bém parte da indústria pesqueira de Niterói. De uma malha amostral formada por todos os ido-
acordo com o censo realizado em 2006, a popu- sos das microáreas 24, 25, 26, 27, 28 e 29, que
lação do bairro compreende cerca de 6.500 habi- compõem a área do Programa Médico de Famí-
tantes. Apresenta grande percentual de idosos, lia do Módulo Ilha da Conceição, através de uma
sendo um dos bairros do município que apre- seleção aleatória simples dos idosos nos diversos
sentam alto índice de envelhecimento12,13. setores do bairro. O tamanho amostral foi defi-
Para fins de cadastramento e acompanha- nido considerando-se a população fonte (754), a
mento das famílias pelas equipes do PMF, o bair- prevalência esperada de violência ao idoso de
ro foi dividido em seis microáreas denominadas 40%15 e um erro de mais ou menos 5%16. Com
de setores 24, 25, 26, 27, 28 e 29. O processo de base nesses critérios, o tamanho amostral míni-
cadastramento incluiu até 250 famílias em cada mo previsto foi de 327 gerontes moradores da
setor, respeitando-se um número total máximo Ilha da Conceição. Os critérios de inclusão no
de 1.300 pessoas. Atualmente, o módulo contém estudo foram: ter idade superior a 60 anos de
seis equipes, o que permite uma cobertura de idade na época da entrevista e concordar em par-
100% do bairro pelo programa. ticipar da pesquisa, assinando o termo de con-
A territorialização é um dos pressupostos sentimento.
básicos do trabalho do PMF, por isso a Ilha da
Conceiçãa foi dividido nas seis microáreas deno- Coleta de dados
minadas de setores 24, 25, 26, 27, 28 e 29. O ca-
dastro contabilizou por setor até 250 famílias, Os dados foram colhidos através da realiza-
totalizando no máximo 1.300 pessoas. Atualmen- ção de entrevistas face a face, realizadas preferen-
te este módulo contém seis equipes (duplas de cialmente no domicílio, entre março e julho de
médicos e auxiliares de enfermagem), sendo todo 2006, mediante aplicação de questionário estru-
o bairro adscrito e atendido pelo PMF. turado. As entrevistas foram conduzidas por uma
equipe de alunas do 7º e do 8º períodos da Facul-
Desenho dade de Serviço Social da Universidade Federal
Fluminense (UFF), após treinamento visando à
Trata-se de um estudo transversal de base padronização da abordagem e aplicação correta
populacional, desenvolvido na Estratégia Saúde do questionário, supervisionadas por um dos
da Família no Módulo de Saúde Célia Sanchez, autores (PCAJ). Os idosos foram entrevistados
no bairro da Ilha da Conceição, localizado na ci- de forma individualizada, após contato inicial
dade de Niterói, Estado do Rio de Janeiro, Brasil. com uma entrevistadora, preservando-se a pri-
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Apratto Júnior PC, Moraes CL

vacidade das entrevistadas e mantendo-se sua doenças e agravos não transmissíveis18. Além dis-
identidade sob sigilo. so, houve a inclusão de patologias que não cons-
Visando reduzir as taxas de não resposta, au- tavam da versão original, por terem alta preva-
mentar a aceitabilidade do instrumento e a vali- lência em idosos do nosso meio e, possivelmen-
dade das informações como um todo, alguns cui- te, estarem associadas à violência.
dados especiais na condução das entrevistas fo- Para caracterização dos idosos de acordo com
ram tomados. Montou-se um esquema de su- o seu grau de vulnerabilidade decorrente de suas
pervisão de campo que previa um apoio para o comorbidades, foram criadas duas variáveis (vul-
entrevistado e a entrevistadora nos casos agudos nerabilidade 1 e 2) que agregavam os indivíduos
de violência ou em situações de risco, e o encami- que apresentavam as doenças: depressão e/ou
nhamento e acolhimento pelo módulo de Saúde incontinência urinária e/ou diabetes e/ou reuma-
da Família da área dos idosos que fossem identi- tismo; e as doenças: depressão e/ou incontinên-
ficados como vítimas de violência ou em situa- cia urinaria ou fecal e ou demência/problemas de
ções de vulnerabilidade. A utilização de entrevis- memória e ou/ reumatismo, respectivamente.
tadoras com formação na graduação em serviço A saúde mental foi avaliada através do Mini-
social, assim como o treinamento contínuo, ca- exame do Estado Mental (MEEM)19. O MEEM é
pacitando para uma abordagem acolhedora e fa- composto por trinta itens, com subtestes que
cilitadora da revelação das informações mais ín- avaliam orientação espaço-temporal, memória
timas, foi outra estratégia empregada para au- imediata, evocação, memória procedimento e lin-
mentar a qualidade das informações da pesquisa. guagem. Usado isoladamente ou incorporado a
instrumentos mais amplos, permite a avaliação
Instrumentos de aferição da pesquisa da função cognitiva e rastreamento de quadros
(avaliação) demenciais20,21. Tem sido utilizado em ambientes
clínicos, para a detecção de declínio cognitivo,
O instrumento de coleta de dados foi com- para o seguimento de quadros demenciais e no
posto por módulos de questionários já testados monitoramento de resposta ao tratamento. Des-
e validados em estudos anteriores realizados no de sua criação, suas características psicométricas
Brasil e módulos elaborados especificamente têm sido avaliadas, tanto na sua versão original
para a pesquisa. Sua estruturação baseou-se na quanto pelas inúmeras traduções/adaptações
avaliação multidimensional do idoso. O questio- para várias línguas e países. Para melhorar a
nário final apresentou seis módulos: sociodemo- qualidade das informações, nas situações em que
gráfico, utilização de serviços de saúde, saúde fí- o idoso apresentava escore do MEEM inferior a
sica, saúde mental, capacidade funcional, além 14 (idosos com menos de quatro anos de estu-
do questionário de caracterização da violência. do) e 18 pontos (idosos com quatro anos ou
Os primeiros módulos do questionário fo- mais), a entrevista era realizada com seu princi-
ram compostos por questões relativas à caracte- pal cuidador. Seguindo orientação de Almeida20,
rização sociodemográfica do entrevistado, dei- considerou-se como um caso suspeito de demên-
xando as questões potencialmente constrange- cia aqueles indivíduos que tivessem MEEM < 19
doras para momento posterior, quando já se ti- (idosos com menos de quatro anos de estudo) e
nha estabelecido uma relação positiva entre o < 23 pontos (os demais).
entrevistador e os idosos entrevistados no domi- Para avaliação da capacidade funcional do
cílio. O primeiro módulo continha dados de iden- idoso, utilizou-se o Health Assessment Questio-
tificação que compreendiam características de- nnaire (HAQ), em razão de suas excelentes pro-
mográficas básicas, tais como idade, número de priedades psicométricas22. Foi originalmente de-
filhos, coabitação, naturalidade, cor/raça e esta- senhado para a avaliação clínica de pacientes adul-
do civil, além de informações sobre indicadores tos com artropatias, mas tem sido utilizado
socioeconômicos: escolaridade, ocupação e pos- numa ampla gama de ambientes de pesquisa para
se de utensílios domésticos. avaliação de cuidado. A dimensão de incapaci-
Para a captação das variáveis demográficas, dade é composta por vinte questões que abor-
utilizou-se o questionário da Pesquisa Nacional dam o grau de dificuldade dos idosos em desen-
por Amostragem de Domicílio17. Para a coleta volver atividades da vida diária na última sema-
das informações sobre a saúde física do idoso, na, a saber: vestir-se e arrumar-se, levantar-se,
foram utilizadas as questões do instrumento alimentar-se, caminhar, realizar atividades de hi-
empregado no inquérito domiciliar sobre com- giene, alcançar e realizar atividades fora do do-
portamento de risco e morbidade referida de micílio. Cada item tem um escore de quatro pon-
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tos, variando de “sem dificuldade alguma” até A pesquisa foi autorizada pela Secretaria
“incapaz de realizar”. O escore mais alto em cada Municipal de Saúde do município e aprovada pelo
um dos oito componentes é somado para for- Núcleo de Educação Permanente (NEPE) do Polo
mar um total (0-24). Este total é dividido por de Capacitação em Saúde da Família da Funda-
oito para dar um escore de 0-3, que representa o ção Municipal de Saúde de Niterói, uma vez que
índice de incapacidade funcional do idoso. respeitou os princípios éticos contidos na Decla-
Para uma apreciação inicial, foram conside- ração de Helsinque e a Resolução no196/1996 do
rados autossuficientes os idosos que apresenta- Conselho Nacional de Ética em Pesquisa, obede-
vam escores de 0 a 0,5; idosos que tinham difi- cendo às normas e diretrizes regulamentadoras
culdades leves com pontuação de 0,5 a 1,25, ca- das pesquisas envolvendo seres humanos, neste
pazes de realizar suas AVDS, e indivíduos com caso os idosos.
dificuldades importantes, possuindo incapacida-
de grave, sendo ainda autossuficientes aqueles
com pontuação variando de 1,25-2,0. O paciente Resultados
com escores de 2,0 a 3,0 pode ser classificado
como possuindo incapacidade grave23. Foram entrevistados 343 idosos (38,2% homens
Para avaliar a suspeita de uso abusivo de ál- e 62,1% mulheres). Como pode ser visto na Ta-
cool pelo idoso do sexo masculino, foi utilizado bela 1, a maioria dos idosos entrevistados apre-
o instrumento CAGE (Cut-down; Annoyed; sentava entre 60 e 70 anos. Em relação à cor da
Guilty & Eye-opener, considerando-se um resul- pele, a maior parte dos respondentes se identifi-
tado positivo para ele quando duas ou mais per- cou com a cor negra/mulato. Com relação à si-
guntas obtêm a resposta afirmativa24. Para a ido- tuação conjugal, grande parte dos entrevistados
sa ou cuidadora, utilizou-se a versão nacional do referiu ser casado, havendo também um contin-
instrumento TWEAK25-26, considerando-se como gente razoável de viúvos.
um caso suspeito de “uso inadequado” de álcool
as mulheres que responderam positivamente a
duas ou mais questões. Tabela 1. Características sociodemográficas da população estudada,
Para identificação da violência contra o ido- PMF, Ilha da Conceição, Niterói, RJ, em 2006.
so, utilizou-se a versão nacional das Escalas Tá- Características sociodemográficas n Prevalência (IC 95%)
ticas de Conflitos (Conflict Tactics Scales –
Sexo
CTS1)27,28. Este instrumento é composto por 19
Masculino 130 37,9 (32,7 – 43,1)
itens que abordam a utilização de diferentes táti- Feminino 213 62,1 (56,9 – 67,3)
cas para a resolução de conflitos entre pessoas Faixa etária
íntimas, a saber: argumentação, agressão verbal, 60 – 70 194 56,6 (51,3 – 61,8)
violência física não abusiva e violência física abu- 71 – 80 123 35,9 (30,8 – 41,0)
siva. Foram considerados caso positivo de vio- > 80 26 7,6 (4,8 – 10,4)
lência psicológica e física os idosos que referiram Cor/Raça
ter sido vítimas de pelo menos um dos itens que Branca 165 48,1 (42,8 – 53,4)
compõem as subescalas aplicadas nos idosos re- Negro & Mulatos 178 51,9 (46,6 – 57,2)
sidentes na Ilha da Conceição. Estado Civil
Casado 171 49,8 (44,5 – 55,2)
Processamento/análise dos dados Viúvo 111 32,4 (27,4 – 37,3)
Outros 61 17,8 (13,7 - 21,9)
Escolaridade
A entrada de dados e o controle de qualidade
Até 4 série 262 76,4 (71,9 – 80,9)
foram realizados utilizando-se o programa Epi
De 5 a 8 série 54 15,7 (11,9 - 19.6)
Info™ 3.3.214. O programa STATA v.9.2 foi usa- Maior que 8 série 27 7,8 (5,0 – 10,7)
do para o processamento e análise de dados. Es- Numero de moradores do domicílio
timaram-se a prevalência da violência física e psi- Mora sozinho 76 22,2 (17,7 – 26,6)
cológica e seus respectivos intervalos de confian- Mora com uma outra pessoa 107 30,9 (26,0 – 35,8)
ça a 95% na população total entrevistada e nos Mora com duas ou mais pessoas 160 46,6 (41,3 – 51,9)
vários subgrupos criados a partir das caracterís- Profissão
ticas sociodemográficas estudadas. Para avalia- Do lar 115 33,5 (28,5 – 38,6)
ção da heterogeneidade das proporções nos Outros 228 66,5 (61,5 – 71,5)
subgrupos, utilizou-se o teste Qui-quadrado. Situação previdenciária
Assumiu-se uma distribuição binomial para a Aposentado 199 60,7 (55,4 – 66,0)
estimação dos intervalos de confiança. Não aposentado 129 39,3 (34,1 – 44,6)
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A amostra congregou idosos de baixa escola- demência. Com relação à capacidade funcional,
ridade, na medida em que 76,4% dos respon- observou-se que a maioria dos idosos entrevis-
dentes relataram ter tido quatro anos ou menos tados foi considerada autossuficiente, situação
de estudo, enquanto apenas cerca de 8,0% referi- confirmada pela baixa prevalência de idosos que
ram ter escolaridade maior que a 8ª série. Quan- necessitavam de cuidadores para ajudá-los a de-
to à composição doméstica, observa-se um gran- sempenhar as tarefas do dia a dia.
de contingente de idosos morando sozinho ou A Tabela 3 apresenta a situação da população
com apenas mais uma pessoa. A maioria refere de estudo em relação à prevalência das diferentes
ter uma profissão, mas ser atualmente beneficiá- formas de violência doméstica. Como pode ser
rio da Previdência Social. observado, 43,2% relataram ter sofrido pelo
A Tabela 2 apresenta a situação de saúde dos menos um episódio de violência psicológica no
idosos entrevistados. A grande maioria refere ter ano anterior à entrevista. A violência física de
a presença de pelo menos uma patologia, sendo qualquer gravidade foi relatada por cerca de 10%
a hipertensão arterial a principal morbidade re- dos entrevistados, enquanto 6,1% dos idosos
ferida (72,6%; IC 95%: 67,7 – 77,4). Cerca de 10% referiram a ocorrência de violência física grave
dos idosos do sexo masculino foram considera- nesse período.
dos positivos para o uso inadequado de álcool. A Tabela 4 apresenta a prevalência das diver-
No entanto, nenhuma das idosas foi identificada sas formas de violência nos diferentes subgru-
com tal situação. pos populacionais. Como pode ser observado,
Constatou-se que cerca de 20% dos idosos de modo geral a prevalência das diversas moda-
foram considerados suspeitos de um quadro de lidades de violência foi maior entre os mais no-

Tabela 2. Morbidade referida e agravos identificados na população estudada, PMF, Ilha da Conceição,
Niterói, RJ, em 2006.
Morbidades n Prevalência (IC 95%)
Morbidades referidas
Hipertensão arterial 238 72,6 (67,7 – 77,4)
Reumatismo 137 44,5 (38,9 – 50,1)
Doença cardíaca 68 22,1 (17,4 – 26,7)
Diabetes mellitus 57 18,6 (14,2 – 22,9)
Demência 52 17,1 (12,8 – 21,3)
Depressão 49 16,2 (12,0 – 20,4)
Acidente vascular cerebral (AVC) 24 7,9 (4,9 – 11,0)
Incontinência urinaria/fecal 23 7,6 (4,6 – 10,6)
DPOC (enfisema pulmonar) 10 3,3 (1,3 - 5,3)
Concomitância dos agravos
Relato de pelo menos uma das patologias acima 292 85,1 (81,3 – 88,9)
Relato de três ou mais das patologias acima 107 31,2 (26,3 – 36,1)
Concomitância de patologias específicas a
Vulnerabilidade 1 175 51,0 (45,7 – 56,3)
Vulnerabilidade 2 190 55,4 (50,1 – 60,7)
Suspeição de abuso de álcool b 39 11,4 (8,0 – 14,7)
Suspeita de demência (MEEM positivo) c 68 19,8 (15,6 – 24,1)
Presença de cuidador 72 21,0 (16,7 – 25,3)
Suspeita de incapacidade funcional d
Autossuficientes 245 71,4 (66,6 – 76,2)
Dificuldades leves 54 15,7 (11,9 – 19,6)
Dificuldades importantes 27 7,8 (5,0 - 10.7)
Incapacidade 17 5,0 (2,6 – 7,3)
Legenda: a) Vulnerabilidade 1: refere depressão e/ou incontinência urinária e/ou diabetes e/ou reumatismo; Vulnerabilidade 2:
refere depressão e/ou incontinência urinária ou fecal e/ou demência/problema de memória e/ou reumatismo (artrose);
b) Consideraram-se casos suspeitos os idosos que tivessem dois ou mais itens positivos no instrumento CAGE; c)
Consideraram-se positivos os idosos que tivessem MEEM < 19 para aqueles com menos de quatro anos de estudo e < do que 23
pontos entre aqueles com quatro anos ou mais de estudo; d) Consideraram-se autossuficientes os que apresentavam escores de 0 a
0,5 com dificuldade leves com pontuação de 0,5 a 1,25, capazes de realizar suas AVDS e idosos com alterações importantes
possuindo incapacidade grave, porém ainda autossuficientes, com pontuação variando de 1,25-2,0.
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vos, com maior escolaridade, entre os que apre- Tabela 3. Prevalência das diferentes formas de
sentam pelo menos uma das patologias que ca- violência doméstica contra os idosos, PMF, Ilha da
racterizam o idoso com tendo uma vulnerabili- Conceição, Niterói, RJ, em 2006.
dade (depressão e/ou incontinência urinária/fe-
Tipos de violência n Prevalência (IC 95%)
cal e/ou diabetes e/ou reumatismo e/ou diabe-
tes) e entre os que moram com maior número de Violência psicológica 148 43,2 (37,9 – 48,4)
indivíduos. Percebem-se algumas particularida- Violência física grave 21 6,1 (3,6 – 8,7)
des ao se apreciar o perfil de ocorrência de cada Violência física total 33 9,6 (6,5 – 12,8)

Tabela 4. Prevalência de violência doméstica psicológica e física em diferentes subgrupos da população


adscrita ao PSF, PMF, Ilha da Conceição, Niterói, RJ em 2006.
Características Violência Violência física Violência
sociodemográficas e de saúde psicológica % grave % física total %

Faixa etária
60 – 70 46,4 8,8 13,4
71 – 80 42,3 3,3 5,7
> 80 23,1 0,0 0,0
0,077
p-valor 0,055 0,017
Cor/Raça
46,1
Negro & mulatos 7,3 11,2
40,0
Branca 0,257 4,8 7,9
p-valor 0,343 0,292
Sexo 46,5
Feminino 37,7 5,6 9,9
Masculino 0,111 6,9 9,2
p-valor 0,629 0,848
Profissão 53,0
Do lar 38,2 5,2 12,2
Outros 0,009 6,6 8,3
p-valor 0,620 0,255
Estado civil 45,6
Casado 36,9 8,8 12,9
Viúvo 47,5 2,7 4,5
Outros 0,266 4,9 9,8
p-valor 0,105 0,067
41,8
Escolaridade
59,3
Até sete anos de estudo 4,6 8,0
0,082
Oito anos ou mais 14,8 18,5
p-valor 41,6 0,026 0,068
Nº. de moradores 61,5
Até 5 pessoas 0,049 5,0 8,8
6 ou mais 19,2 19,2
p-valor 50,3 0,003 0,084
Vulnerabilidade 1 35,7
Positivo 0,006 8,6 12,0
Negativo 3,6 7,1
p-valor 51,0 0,053 0,127
Vulnerabilidade 2 33,3
Positivo 0,001 9,4 13,2
Negativo 2,0 5,2
p-valor 28,2 0,004 0,013
Suspeição de abuso de álcool 45,1
0,045
Positivo 6,6 9,5
Negativo 2,3 10,3
p-valor 0,325 0,886
2990
Apratto Júnior PC, Moraes CL

tipo de violência isoladamente. Enquanto é níti- Niterói. Considerando todo o país, os dados di-
da a maior prevalência de violência psicológica vulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
entre os que se referiram como “do lar” no mo- Estatística (IBGE) relativos ao ano de 1996 esti-
mento da entrevista e entre os que não foram mavam que aproximadamente 41% das mulhe-
identificados como suspeitos de abuso de álcool, res idosas e 37% dos homens eram analfabetos,
não se pode afirmar que a violência física seja parcelas provavelmente bem menores do que as
mais frequente nesses subgrupos. Já ao se avali- estimadas para esta amostra se considerarmos a
arem as diferenças entre as prevalências de vio- proporção de idosos com menos de 4 anos de
lência física total e grave, ainda que com certa escolaridade34. A menor escolaridade da amos-
ressalva devido à menor significância estatística, tra vis-à-vis ao conjunto dos idosos da cidade
é possível perceber que entre os casados o pro- fica evidente ao se compararem os achados do
blema parece ser bem mais freqüente. estudo aos divulgados pelo IBGE para o ano de
2004, que estimavam uma média de anos de es-
tudos da população maior de 60 anos de 8,2 anos,
Discussão bastante superior à estimada para a população
do estudo14.
O envelhecimento acelerado da população brasi- O perfil de saúde dos idosos também é bas-
leira vem sendo apontado por diversos auto- tante peculiar, na medida em que indica uma
res1,2,29,30. Nesse contexto, a promoção de um população que tem grande autonomia, apesar
envelhecimento saudável se apresenta como um de acumular diferentes morbidades e ter uma alta
dos grandes desafios da sociedade em geral e prevalência de casos suspeitos de demência. A
particularmente do setor saúde neste século que manutenção da autonomia por boa parte dos
se inicia. Dentre os grandes empecilhos à saúde idosos também é descrita por outros autores que
do idoso, a violência vem sendo cada vez mais vêm trabalhando com a população dessa faixa
colocada em pauta, particularmente a que acor- etária. Independentemente de suas comorbida-
re no âmbito familiar, já que, segundo alguns des, a maior parte dos idosos tem sua autono-
autores, 90% dos casos de maus-tratos e negli- mia e independência preservadas1,2,35,36.
gência contra as pessoas acima de 60 anos ocor- A alta prevalência de casos suspeitos de de-
rem nos lares ou em instituições asilares6,8,31,32. mência também merece discussão. Infelizmente,
No Brasil e particularmente no estado do Rio os estudos populacionais sobre o tema são es-
de Janeiro, os estudos sobre o tema são ainda cassos tanto no Brasil como em outros países
muito incipientes, impedindo estimativas mais em desenvolvimento, não havendo ainda estima-
concretas sobre a magnitude do problema. No tivas precisas da sua incidência e prevalência37,38.
melhor do conhecimento dos autores, este é o Diante dessa limitação, atualmente a prevalência
primeiro inquérito populacional realizado no de pessoas com demência nos países em desen-
estado que estima a prevalência de violência do- volvimento é estimada a partir dos parâmetros
méstica contra o idoso não institucionalizado. obtidos nos países desenvolvidos, girando em
Dessa forma, apesar de ter sido realizado em uma torno de 3%. Dessa forma, é preciso ressaltar
área específica de Niterói, espera-se que os resul- que o instrumento utilizado no estudo é apenas
tados da pesquisa contribuam para a divulgação uma ferramenta de rastreamento e não diagnós-
do tema e ampliem a discussão sobre como in- tica. Somente a partir do encaminhamento dos
tervir visando ao seu enfrentamento. idosos positivos ao PMF para uma investigação
O perfil sociodemográfico da população en- diagnóstica mais sensível e específica seria possí-
trevistada é, de modo geral, semelhante ao de vel estimar a real prevalência do problema.
outros estudos que envolveram as parcelas me- A heterogeneidade existente no que diz res-
nos favorecidas dos idosos brasileiros1,2,33. A ne- peito aos conceitos relativos à violência impõe
cessidade de restrição da capacidade de generali- que qualquer comparação de resultados entre
zação dos achados às comunidades de alto risco estudos deva ser feita com cautela. As diferentes
social e econômico é reforçada quando se focali- definições conceituais e operacionais, bem como
zam suas características em termos de escolari- os instrumentos de coleta de dados utilizados
dade. Ao se analisar o perfil educacional da po- para a identificação das situações de violência,
pulação estudada, observa-se que esta tem um também tornam complexa a tarefa de compara-
grau de escolaridade que parece ser bastante in- ção externa. Ainda assim, vale confrontar as pre-
ferior ao estimado para o Brasil como um todo e valências encontradas neste estudo com aquelas
mesmo para o conjunto de idosos da cidade de de outros países e regiões brasileiras, desde que
2991

Ciência & Saúde Coletiva, 15(6):2983-2995, 2010


consideradas as particularidades metodológicas sente pesquisa, por questões de eficiência estatís-
e as diferenças culturais. tica, optou-se por estudar essas patologias em
A prevalência de diversos tipos de violência conjunto. De acordo com os achados, parece que
variou no estudo entre 43,2% (violência psicoló- aqui a situação não é diferente, já que a violência
gica) a 6,1% (violência física grave). Tais estima- (de qualquer gravidade) esteve associada ao rela-
tivas são bastante semelhantes às encontradas to de pelo menos uma dessas morbidades.
em alguns estudos realizados nos Estados Uni- Dentre as várias hipóteses postuladas para
dos e no Canadá, que estimam uma prevalência justificar a maior ocorrência da violência contra
de maus-tratos físicos em 10% para toda a po- os idosos entre aqueles com certas patologias, a
pulação idosa39-41. Mostra-se, no entanto, bem perda da autonomia física e cognitiva – que gera
inferior a outras pesquisas norte-americanas, que a necessidade de outra pessoa para realização das
apontam prevalências de 36% e 81% de abuso atividades diárias e instrumentais, criando, con-
físico e abuso psicológico no ano anterior à en- sequentemente, subordinação – parece ter lugar
trevista, respectivamente42. Em outra pesquisa de destaque entre os pesquisadores8,50,51. Já ou-
recente, estimou-se que mais de dois milhões de tros autores sugerem que os agravos sejam de-
idosos sejam anualmente vítimas de abuso nos correntes da violência sofrida e não fatores pro-
Estados Unidos43. pensores do evento52. Neste estudo não se evi-
Como descrito, a maior prevalência de abu- denciou maior prevalência das várias formas de
so psicológico vis-à-vis aos demais encontrada violência entre os idosos com maior dependên-
na população de estudo também é relatada em cia, o que questiona ambas as hipóteses. Porém,
outros estudos42-44. Diante da alta magnitude do devido à restrição de um estudo transversal, cuja
problema e das consequências nefastas desse tipo análise de dados explorou apenas a distribuição
de violência à saúde do idoso, vários autores têm dos eventos de acordo com cada uma das variá-
enfatizado a necessidade de encarar o problema veis de interesse isoladamente, não se pode des-
como uma grave forma de agressão, que neces- cartar a possibilidade de a semelhança entre as
sita de ações de enfrentamento imediato nesse prevalências do problema nos subgrupos serem
grupo populacional. decorrentes de distribuições desiguais de outras
A frequência da violência física nos diferentes variáveis envolvidas no processo. Para compre-
subgrupos populacionais também merece dis- ender o papel da dependência funcional na ocor-
cussão. Os resultados deste estudo corroboram rência de violências aos idosos, seria interessante
alguns achados de estudos anteriores e contradi- que estudos futuros, utilizando os procedimen-
zem outros. De acordo com a literatura sobre o tos indicados para se avaliarem associações cau-
tema, esperava-se que as diversas formas de vio- sais, fossem desenvolvidos.
lência fossem mais frequentes entre os idosos mais Outro ponto que merece discussão diz res-
velhos, com menor escolaridade, que morassem peito às prevalências das várias formas de vio-
em lares com maior número de indivíduos, casa- lência entre os idosos com suspeita de abuso de
dos, com comprometimento da saúde física e álcool. Vários estudos ressaltam a forte associa-
mental, com algum grau de incapacidade funcio- ção entre maus-tratos aos velhos e dependência
nal e que fizessem uso abusivo do álcool5,9,45,46. De química do idoso ou de seu cuidador5,39,53. No
fato, entre os idosos entrevistados, de modo ge- presente estudo, não só não se observou maior
ral, a prevalência do problema foi mais elevada frequência da violência física entre os idosos sus-
entre os de escolaridade baixa, com maior nú- peitos de abuso de álcool, como a violência psi-
mero de filhos e entre os que apresentavam cer- cológica foi mais frequente exatamente entre os
tas patologias. Porém, não foram observadas que não foram identificados como tal. Apesar de
diferenças estatisticamente significativas entre as não se ter informações suficientes para se tirar
prevalências das várias formas de violência nos conclusões sobre esse achado, é possível postu-
demais subgrupos estudados. lar algumas hipóteses explicativas para o ocorri-
Com relação à saúde física e mental, vários do. Uma das possibilidades aventadas diz respei-
autores vêm indicando que os idosos com histó- to ao grau de adequação dos instrumentos de
ria de maus-tratos apresentam maior prevalên- suspeição de abuso de álcool utilizados no estu-
cia de demência, depressão e problemas reuma- do. Tanto o CAGE como o TWEAK foram origi-
tológicos do que aqueles que não foram vitimiza- nalmente propostos para utilização entre homens
dos47,48. Em estudo brasileiro realizado no estado e mulheres jovens e adultas, não sendo especifi-
de São Paulo, a associação entre maus-tratos e camente desenhados para a detecção do uso ina-
essas patologias também foi apontada49. Na pre- dequado de bebidas alcoólicas por idosos. Tais
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Apratto Júnior PC, Moraes CL

questionários são formados por itens que, em por ter sido desenvolvido focalizando outras fai-
sua maioria, se baseiam na desaprovação social xas etárias, a utilização do instrumento não per-
e do próprio indivíduo sobre seu consumo de mitiu que se avaliasse a ocorrência de situações
bebidas alcoólicas. Em razão do senso comum de negligência, abandono e abuso econômico, que
de que os indivíduos idosos não devem consu- vêm sendo enfatizados na literatura internacio-
mir qualquer quantidade de bebida alcoólica de- nal como importantes facetas da violência do-
vido às suas comorbidades e ingesta de medica- méstica ao idoso.
mentos, é possível que muitos dos idosos tenham Outra lacuna a ser preenchida em estudos fu-
respondido positivamente às questões sem que turos diz respeito à coleta de informações com
isto corresponda a uma situação de fato abusi- outros indivíduos que convivam com o idoso em
va. Dessa forma, haveria uma má classificação seu ambiente doméstico. Estudos internacionais
dos idosos positivos devido à baixa especificida- vêm chamando a atenção para a necessidade de
de do instrumento, o que reduz a qualidade da incorporação da entrevista aos cuidadores na de-
informação como um todo, inviabilizando uma tecção de situações de risco potencial para a vio-
apreciação mais robusta. lência ao idoso5,6,45. A entrevista de acompanhan-
Outras limitações metodológicas também tes presentes na maior parte das vezes no conví-
devem ser apontadas e debatidas. Apesar de as vio com o idoso pode complementar a informa-
estimativas de vitimização por maus-tratos se- ção conseguida através da avaliação das próprias
rem elevadas, o que se percebe no contexto clínico vítimas em potencial55. Infelizmente, por questões
é que a situação frequentemente não é revelada operacionais, exceto em situações graves de défi-
pelo idoso, seus familiares ou cuidadores. Apesar cits cognitivos, as informações sobre violência
de ser expressivo o número de idosos que sofrem foram apreendidas apenas através da entrevista
todos os tipos de maus-tratos, na maior parte com o próprio idoso, o que também pode ter
das vezes estes se calam, por medo de represália diminuído a sensibilidade do processo de detec-
da própria família e/ou cuidador, ou mesmo por ção das situações de vitimização da violência.
desinformação. Dessa forma, é possível imaginar Diante da relevância do problema e da escas-
que, apesar do esforço realizado com vistas à ga- sez de estudos em nosso meio, torna-se funda-
rantia da qualidade das informações na detecção mental a ampliação dos programas de investiga-
das situações de violência, as estimativas apresen- ção nessa área, visando ao detalhamento das ca-
tadas possam estar subestimadas. racterísticas e contextos de ocorrência do proble-
Visando diminuir a limitação, optou-se pela ma para o planejamento de ações efetivas para
formação de uma equipe de entrevistadoras aco- seu enfrentamento. No âmbito clínico, é nítida e
lhedora e bem treinada, além da utilização de um urgente a necessidade da inclusão dessa temática
questionário multidimensional, o que pode ter nas escolas de formação de profissionais de saú-
criado uma atmosfera de confiança entre entre- de e a discussão do tema nos serviços de saúde.
vistador-entrevistado, facilitando o relato das O abuso em idosos vem em múltiplas formas,
experiências pessoais mais íntimas e a revelação cujas consequências frequentemente se sobre-
de situações de violência que, de outra forma, põem e se confundem com sinais e sintomas re-
passariam despercebidas. Outro ponto impor- lacionados a diversas patologias prevalentes nessa
tante é que, embora se tenha utilizado a CTS, que faixa etária. Dessa forma, é fundamental um
é um instrumento estruturado já validado em olhar aguçado e sistematizado que permita le-
outros contextos para a identificação das situa- vantar a suspeita, confirmar o abuso nesse gru-
ções de violência, foram encontrados poucos es- po de idosos.
tudos que a tenham usado especificamente em Na perspectiva dos profissionais do Progra-
idosos. De concepção mais antiga, a CTS foi, ori- ma Saúde da Família, para realizar uma investi-
ginalmente, criada para avaliar violência íntima gação, um diagnóstico médico de abuso em ido-
em indivíduos mais jovens. Não surpreende que, sos é um marco exitoso, pois qualquer possibili-
mesmo sendo bastante utilizada no Brasil, sua dade de simplificar, fortalecer ou otimizar o pro-
adaptação tenha-se dado em ambiente de vio- cesso de identificação é desejável. Linguagem com-
lência focalizando faixas etárias aquém dos 60 partilhada com os velhos acerca de suas vivên-
anos52. Nesse contexto, não se sabe exatamente a cias, respeitando a complexidade da situação, va-
validade do instrumento na detecção das situa- lorizando e respeitando os sofrimentos decor-
ções de violência física entre indivíduos dessa fai- rentes da violência, parece ser um bom canal para
xa etária, o que faz indagar se as estimativas da uma atuação baseada na promoção da saúde e
pesquisa não estariam subestimadas. Ademais, prevenção da violência. Além das ações de pro-
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Ciência & Saúde Coletiva, 15(6):2983-2995, 2010


moção e prevenção primária, a Estratégia Saúde Conclusão
da Família deve ter lugar de destaque nas pro-
postas que visem à atuação dos serviços de saú- Os resultados deste estudo justificam o desen-
de, tanto na detecção precoce do problema como volvimento de novas pesquisas sobre o tema,
na interrupção de uma situação já instalada. A como também a necessidade de se discutirem
participação de agentes de saúde na formação políticas públicas, responsabilidade social e dig-
das equipes também favorece ações que visem à nidade no envelhecimento, para que valha a pena
identificação de idosos em situação de violência, viver mais, num contexto em que é cada vez mai-
na medida em que os agentes realizam visitas or a expectativa de vida dos idosos. Dessa ma-
domiciliares com frequência, podendo ter acesso neira, cabe agora conscientizar a sociedade da
às situações que não aparecem nas consultas de necessidade de se estabelecerem ações que repri-
rotina nas unidades de saúde. Ademais, sua ori- mam a violência ao idoso. Outra questão central
gem na comunidade permite, muitas vezes, a sus- diz respeito à necessidade de se aperfeiçoar ainda
peição de situações que passariam despercebidas mais os profissionais de saúde que assistem essa
pelos serviços. significativa parcela da população.
A opção pela abordagem familiar em contra- Os profissionais da área da saúde tendem a
posição à individual é outro trunfo das equipes subestimar a importância da violência familiar,
de Saúde da Família, tanto na prevenção como sendo ainda muito precária a detecção de casos
na detecção precoce da violência ao idoso. A in- em serviços de atenção primária, como o Pro-
clusão dos familiares cuidadores/acompanhan- grama Médico de Família, quando se leva em
tes nas ações de saúde facilita o processo, já que a conta a elevada frequência do evento e as opor-
saúde e as circunstâncias de vida dos cuidadores tunidades das equipes em suspeitar que este este-
estão, com frequência, intimamente ligadas àque- ja ocorrendo. Do mesmo modo, os serviços de
las das vítimas. Desta forma, a experiência clínica saúde têm o dever de constituir-se como um lo-
sugere que o reconhecimento da díade cuidador- cal de acolhimento e elaboração de projetos de
idoso e a intervenção direta nesse relacionamen- apoio contra a violência. Infelizmente, ainda são
to oferecem possibilidades concretas de se que- poucos os serviços preparados e organizados
brar um eventual ciclo de violência em curso55. A para atender aos casos de violência ao idoso.
legislação existente, como Estatuto do Idoso, A complexidade que envolve a questão da vi-
Política Nacional de Redução de Acidentes e Vio- olência ao idoso, no âmbito do Programa Médi-
lências do Ministério da Saúde, Plano de Ação de co de Família, exige ações capazes de dar conta
Enfrentamento da Violência contra a Pessoa Ido- das inúmeras demandas apresentadas, na pers-
sa, mostra a abertura do Brasil para a busca de pectiva de atenção integral à saúde do idoso.
soluções. Para que a violência contra a velhice
desapareça, é necessário o engajamento de toda
a sociedade, que precisa reconhecer a importân-
cia do tema e sua magnitude.

Colaboradores

PC Apratto Júnior e CL Moraes participaram


igualmente de todas as etapas da elaboração do
artigo.
2994
Apratto Júnior PC, Moraes CL

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