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II Série • N.

º 164 • 3€
Julho/Agosto/Setembro 2018

Diretor
Carlos Mineiro Aires

Diretor-adjunto
Carlos Alberto Loureiro

a engenharia portuguesa em revista

ENGENHARIA
NAVAL E OCEÂNICA

EM FOCO PRIMEIRO PLANO CRÓNICA


Fernando de Almeida Santos Carlos Mineiro Aires QUATRO CORES
Vice-presidente Nacional Bastonário NÃO CHEGAM!
da Ordem dos Engenheiros da Ordem dos Engenheiros

“A Engenharia não tem fronteiras” Manutenção e observação


de infraestruturas e instalações
Uma exigência nacional
Nesta Edição
5 Editorial 10 Primeiro Plano
Engenharia Naval e Oceânica  Manutenção e observação
de infraestruturas e instalações
6 Em Foco
“A Engenharia não tem fronteiras”
Entrevista a Fernando de Almeida Santos,
12 Notícias
Vice-presidente Nacional da Ordem dos Engenheiros 16 Regiões

33 Tema de Capa ENGENHARIA NAVAL E OCEÂNICA


34 Engenharia Naval e Oceânica em Portugal Estudo de Caso
38 O desígnio da Economia do Mar e a expressão
da construção naval 50 LISNAVE
40 Economia marítima inteligente: Passado, presente e futuro
o papel da Engenharia e da Ordem dos Engenheiros
44 Domínios de intervenção do Engenheiro Naval, 52 WEST SEA
empregabilidade e Actos de Engenharia: Percorrendo o seu caminho
quadro actual e perspectivas futuras na indústria naval
46 Engenharia Naval e Oceânica no Técnico
48 Legislação da especialidade, regulação e o papel
das sociedades classificadoras

52 Colégios 90 Opinião
A energia elétrica no Horizonte 2020-2030
82 Comunicação
Engenharia CIVIL 93 Ação Disciplinar
A gestão patrimonial das infraestruturas rodoviárias
94 Legislação
da Argélia
95 Crónica
86 Análise Quatro cores não chegam!
A reengenharia aeroportuária à medida de Lisboa – Hub
Alverca longo curso e Portela médio curso 98 Em Memória

Redação e Produção Gabinete de Comunicação da Ordem dos Engenheiros • gabinete.comunicacao@oep.pt


II SÉRIE N.º 164 – JULHO / AGOSTO / SETEMBRO 2018
Sede Av. António Augusto de Aguiar, 3 D – 1069-030 Lisboa • Tel. 213 132 600 • Fax 213 524 630
Região Norte Rua Rodrigues Sampaio, 123 – 4000-425 Porto • Tel. 222 071 300 • Fax 222 002 876
Propriedade Ordem dos Engenheiros
Diretor Carlos Mineiro Aires Região Centro Rua Antero de Quental, 107 – 3000-032 Coimbra • Tel. 239 855 190 • Fax 239 823 267
Diretor-adjunto Carlos Almeida Loureiro Região Sul Av. António Augusto de Aguiar, 3 D – 1069-030 Lisboa • Tel. 213 132 600 • Fax 213 132 690
Conselho Editorial Região dos Açores Largo de Camões, 23 – 9500-304 Ponta Delgada • Tel. 296 628 018 • Fax 296 628 019
Paulo Ribeirinho Soares, Luis Filipe Cameira Ferreira, Gonçalo Manuel Fernandes Perestrelo, Teresa Burguete, Manuel Fernando Região da Madeira Rua Conde Carvalhal, 23 – 9060-011 Funchal • Tel. 291 742 502 • Fax 291 743 479
Ribeiro Pereira, Tiago Alexandre Rosado Santos, Maria João Oliveira de Barros Henriques, Miguel Castro Neto, Luis Rochartre,
Coordenação Geral Marta Parrado • Redação Nuno Miguel Tomás (CPJ 6152)
Luis Gil, Ricardo Magalhães Machado, Lisete Calado Epifâneo, Pedro Mêda, Armando da Silva Afonso, Jorge Grade Mendes,
Ligação aos Colégios e Especializações Alice Freitas
Pedro Jardim Fernandes, Paulo Botelho Moniz
Impressão Lidergraf - Artes Gráficas, S.A. • Rua do Galhano, 15 • 4480-089 Vila do Conde • Portugal
Edição Ordem dos Engenheiros Publicação Bimestral • Tiragem 37.000 exemplares
Av. António Augusto de Aguiar, 3 D – 1069-030 Lisboa • Tel. 213 132 600 • Fax 213 524 630 • ingenium@oep.pt Registo no ICS n.º 105659 • NIPC 504 238 175 • API 4074 • Depósito Legal n.º 2679/86 • ISSN 0870-5968

Presidentes dos Conselhos Nacionais de Colégios


Bastonário Carlos Mineiro Aires Paulo Ribeirinho Soares (Civil), Jorge Marçal Liça (Eletrotécnica), Aires Barbosa Ferreira (Mecânica), Carlos Caxaria (Geológica
Vice-presidentes Nacionais Carlos Almeida Loureiro, Fernando de Almeida Santos e Minas), Luís Pereira de Araújo (Química e Biológica), Pedro Ponte (Naval), Teresa Sá Pereira (Geográfica), Miguel de Castro
Neto (Agronómica), António Sousa de Macedo (Florestal), António Dimas (Materiais), Ricardo Machado (Informática),
Conselho Diretivo Nacional António de Albuquerque (Ambiente).
Carlos Mineiro Aires (Bastonário), Carlos Almeida Loureiro (Vice-presidente Nacional), Fernando de Almeida Santos (Vice-presidente
Nacional), Joaquim Poças Martins (Presidente CDRN), Carlos Duarte Neves (Secretário CDRN), Armando Silva Afonso (Presidente Região Norte – Conselho Diretivo Joaquim Poças Martins (Presidente), José Lima Freitas (Vice-presidente), Carlos Duarte
CDRC), Isabel Pestana da Lança (Secretária CDRC), Jorge Grade Mendes (Presidente em Exercício CDRS), Neves (Secretário), Pedro Mêda Magalhães (Tesoureiro) • Vogais Rosa Vaz da Costa, José Marques Aranha, Pilar Machado
Maria Helena Kol (Secretária CDRS), Pedro Jardim Fernandes (Presidente CDRM), Paulo Botelho Moniz (Presidente CDRA). Região Centro – Conselho Diretivo Armando Silva Afonso (Presidente), Altino Loureiro (Vice-presidente), Isabel Pestana
Conselho de Admissão e Qualificação da Lança (Secretária), Maria Emília Homem (Tesoureira) • Vogais Elisa Almeida, Álvaro Saraiva, Pedro Silva Monteiro
Hipólito de Sousa (Civil), Celestino Quaresma (Civil), António Machado e Moura (Eletrotécnica), Teresa Correia de Barros Região Sul – Conselho Diretivo Jorge Grade Mendes (Presidente em Exercício), Maria Helena Kol (Secretária),
(Eletrotécnica), Álvaro Rodrigues (Mecânica), Rui de Brito (Mecânica), Júlio Ferreira e Silva (Geológica e Minas), Paulo Caetano Arnaldo Pêgo (Tesoureiro) • Vogais Maria Filomena de Jesus Ferreira, Arménio de Figueiredo, Gil Manana
(Geológica e Minas), Luís Guimarães Almeida (Química e Biológica), João Pereira Gomes (Química e Biológica), Carlos Guedes
Região da Madeira – Conselho Diretivo Pedro Jardim Fernandes (Presidente), Amílcar Gonçalves (Vice-presidente)
Soares (Naval), Jorge Beirão Reis (Naval), José Pereira Gonçalves (Geográfica), João Agria Torres (Geográfica), Pedro de Castro Rego
Rui Dias Velosa (Secretário), Nélia Sequeira de Sousa (Tesoureira) • Vogais José Branco, Manuel Sousa Filipe, Sara Olim Marote
(Agronómica), Vicente de Seixas e Sousa (Agronómica), Pedro Ochôa de Carvalho (Florestal), José Ferreira de Castro (Florestal),
Rosa Miranda (Materiais), Rogério Colaço (Materiais), Luís Amaral (Informática), Vasco Amaral (Informática), António Guerreiro Região dos Açores – Conselho Diretivo Paulo Botelho Moniz (Presidente), André Cabral (Vice-presidente), José Silva Brum
de Brito (Ambiente), Leonor Amaral (Ambiente). (Secretário), Manuel Gil Lobão (Tesoureiro) • Vogais Teresa Soares Costa, Bruno Melo Cardoso, Manuel Francisco Sousa

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ORDEM
DOS
ENGENHEIROS

Estação de São Bento - Porto

DIA
NACIONAL
DO ENGENHEIRO
2018
SAVE THE DATE
24 E 25 DE NOVEMBRO
PORTO
INFORMAÇÕES E INSCRIÇÕES EM
WWW.DNE2018.ORDEMENGENHEIROS.PT
Carlos Mineiro Aires
Diretor

EDITORIAL

Engenharia Naval e Oceânica


P
ortugal é um país com uma forte ligação ao mar, de natureza em franco desenvolvimento e com imprevisível potencial de cres-
histórica e económica, o que lhe permitiu ser pioneiro no cimento.
que hoje se designa por globalização.
Desenvolvimentos tecnológicos irão permitir uma nova abordagem
Agora, com a ambição de poder vir a estender a sua plataforma no setor, como a operação de navios autónomos, de plataformas
continental, muito para além das águas territoriais das regiões dos tecnológicas portuárias, de novas soluções para propulsão mais
Açores e da Madeira, o que poderá criar uma nova e até aqui im- limpa e eficiente sob o ponto de vista de eficiência energética, etc.,
pensável dimensão geográfica, é da maior oportunidade a abor- mas também significativas alterações nas vertentes mais tradicio-
dagem ao incontornável papel da Engenharia Naval e Oceânica, e nais, como a pesca e o turismo.
das demais especialidades ligadas às intervenções no espaço ma-
rítimo, áreas em que muito se espera da atuação da Engenharia e Nascemos e crescemos com o mar à nossa frente, sendo que a ri-
dos engenheiros. queza que o mesmo gera em todas as áreas económicas conexas
não é despicienda e carece da devida atenção. Neste contexto de
Embora não nos possamos propriamente orgulhar dos desenvolvi- esperança num futuro diferente e melhor, é com preocupação que
mentos setoriais das últimas décadas, onde, por razões que todos a Ordem dos Engenheiros vê a reduzida apetência de candidatos
conhecemos mas que nos custam a aceitar, assistimos ao desman- para cursos de Engenharia Naval, cuja oferta já por si é reduzida, o
telamento da nossa indústria naval e da frota comercial e pesqueira, que tem condicionado o número destes imprescindíveis engenheiros.
seria injusto não assinalar o que de positivo tem sido feito e as apostas
políticas, em boa parte bem conseguidas, no desenvolvimento da Finalmente, recordo que no próximo dia 24 de novembro celebra-
capacidade portuária e do aumento da nossa competitividade. remos, na cidade do Porto, mais um Dia Nacional do Engenheiro,
Por outro lado, entrámos numa época de grandes desafios, desde que pretendemos que constitua uma oportunidade de união e de
logo forçados pelas perspetivas de uma nova economia do mar, já reconhecimento do mérito dos nossos pares.

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EM FOCO

profissão mudaria; e viu diferenciada, pela


primeira vez, as competências de intervenção
no exercício de Engenharia através do re-
conhecimento pleno a engenheiros seniores.
Nesta altura, já a OE trabalhava afincada-
mente na definição dos Atos de Engenharia.
Foi um processo demorado, atendendo às
várias Especialidades existentes, bem assim
como à determinação do que eram atos
próprios ou partilhados de uma ou mais Es-
pecialidades. Também há que considerar
que muitos Atos de Engenharia não são ex-
clusivos de engenheiros. Em 2015, a OE,
depois de dez anos de trabalho intenso,
conseguiu chegar a um exaustivo documento
final que fez publicar no Diário da República
Eng. Fernando de Almeida Santos como Regulamento dos Atos de Engenharia.
Vice-presidente Nacional da Ordem dos Engenheiros
A definição dos Atos de Engenharia foi o
primeiro grande passo da OE na questão dos

EM FOCO assuntos profissionais. Reforço a questão do


primeiro grande passo, pois sem esse passo
não seria possível adiantar os objetivos tra-
“A Engenharia çados para aquilo que entendemos serem
necessidades da OE no que concerne ao

não tem fronteiras” exercício profissional dos engenheiros.

Qual a próxima etapa?


A Ordem dos Engenheiros tem em desenvolvimento um complexo processo de Va- A próxima etapa deste processo é aquela que
lorização Profissional do Engenheiro, materializado num conjunto de ações que visam chamamos de Hierarquização de Compe-
atingir a certificação curricular dos profissionais de Engenharia, aquilo que Fernando tências. Não é mais que a graduação dos
de Almeida Santos, Vice-presidente Nacional, considera “o topo da pirâmide profis- Atos de Engenharia. Está a ser desenvolvido
sional”. Nesta entrevista com o responsável pelos Assuntos Profissionais e pelos As- um trabalho técnico coordenado pelo Con-
suntos Internacionais da Ordem, falamos de Atos de Engenharia, Hierarquização de selho Coordenador de Colégios, em con-
Competências, Valorização Profissional, Associativismo e Internacionalização. junto com as Especialidades e com o apoio
do Gabinete de Assuntos Profissionais, no
Por Nuno Miguel Tomás Quero dizer com isto que não havia dife- sentido de, através de níveis de complexi-
Fotos Ateliê Sérgio Garcia rença de reconhecimento de um profissional, dade dos Atos de Engenharia, da função ou
fosse ele um recém-Engenheiro ou um En- tipo dos atos e dos diferentes níveis, graus e
A primeira fase associada aos Atos de En- genheiro no final da sua vida ativa. A OE es- capacidades do Membro [percurso profis-
genharia, perseguida durante muitos anos tava mais centrada na colocação de um crivo sional], se conseguir determinar em cada
pela Ordem dos Engenheiros (OE), está à entrada, diferenciando praticamente apenas momento que competência profissional cabe
concluída: a publicação do Regulamento admissões oriundas de cursos de Engenharia a cada dimensão do profissional. Este tra-
que enquadra os mesmos. Resumidamente, acreditados por si mesma, através de um balho está em fase de conclusão e a OE pre-
quais os próximos passos relativamente a processo de excelência e muito bem gizado, tende fazer aprovar na sua última Assembleia
esta matéria? mas que, uma vez entrado o Membro, ficava de Representantes deste ano o Regulamento
Quando iniciei funções como dirigente da com plenos direitos de reconhecimento uni- da Hierarquização de Competências, para
OE, há uns anos, detetei uma lacuna enorme versal de Atos de Engenharia no exercício posterior publicação em Diário da República.
na dimensão dos assuntos relativos ao exer- da sua profissão. Com a definição da Hierarquização de Com-
cício da profissão de Engenheiro. O funda- petências [segundo patamar] através dos Atos
mento da OE deveria ser a profissão e não O que mudou entretanto? de Engenharia [primeiro patamar], fica a OE
o era. Apesar de ter já à época boas valên- Desde então a OE foi mudando o paradigma. em condições de emanar qualquer decla-
cias de apoio à profissão, eram claramente Percebeu, na década de 2000, com a criação ração de reconhecimento de exercício pro-
insuficientes para as obrigações e potencia- da Agência de Avaliação e Acreditação do fissional baseado em Atos de Engenharia,
lidades desta Associação Profissional. A OE Ensino Superior, pelo Estado, que essa não sejam regulados ou não, e ainda de forma
reconhecia aos seus Membros o exercício era a sua função, embora seja sempre cha- diferenciada pelo percurso profissional de
profissional de atos legalmente regulados, mada a pronunciar-se; percebeu que com cada Engenheiro. Este era o desafio para este
indiferenciadamente do percurso profissional. o “Processo de Bolonha” o paradigma da mandato e estamos a ponto de concluí-lo.

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EM FOCO

Uma boa parcela do mercado de trabalho, desempenho do Membro através de uma sional. Esta situação vai ser revista? Há a
na área da Engenharia, não exige inscrição solução que permita equidade e credibili- intenção de criar novas Especialidades/
na OE para efeitos de exercício profissional. dade interna e externa. Colégios?
O que pode/deve a OE fazer em relação a Esse problema está identificado há muito.
esta situação? Que reações espera obter e quais os obje- Face ao que estava por fazer, sabíamos que
De facto, a maioria dos alunos que conclui tivos dessa ferramenta? não conseguiríamos resolver tudo num
cursos superiores de Engenharia não se Estou certo que vai ter uma grande acei- mandato. Como tal, estabelecemos priori-
sente obrigada a inscrever na OE. A minha tação. Com este terceiro patamar conse- dades. Este assunto, quer por obrigar a um
leitura sobre isso tem a ver com o facto de guido, a OE fica em condições de partir para ajustamento do Estatuto, recém-promul-
a maioria dos Atos de Engenharia não serem o seu último patamar na dimensão dos as- gado, quer por obrigar a uma reflexão in-
legalmente regulados, a exemplo de outras suntos profissionais, que é o da criação do terna profunda, ficou desde logo assumido,
profissões. Não faz sentido um profissional Curriculum Vitae Certificado. Não é mais quando tomámos posse para este mandato,
exercer Medicina sem ser Médico ou um que o chancelar do Curriculum Vitae do que só se debateria num segundo mandato,
profissional exercer Advocacia sem ser Ad- Engenheiro, que o próprio, através da pla- se tal se verificar. É um dos assuntos cen-
vogado, mas ainda há quem entenda que é taforma acessível no Sistema de Valorização trais a entrar na ordem do dia a partir de
possível exercerem-se Atos de Engenharia do Engenheiro, vai consubstanciando com 2019. Será um debate apaixonante e tenso.
sem se ser Engenheiro. as suas atividades profissionais. O epílogo Mexerá com muitas questões. Certamente
A OE tem vindo a tentar corrigir este forte deste processo é o de convencer o “mer- que terão de ser criadas novas Especiali-
desajuste. Tem-no feito a dois níveis: pri- cado” – público e privado – que quando dades. O conhecimento tem aumentado
meiro, externamente, nas instâncias próprias exige um Curriculum Vitae para um con- exponencialmente e a Engenharia é o pilar
do Estado. Com a publicação do novo Es- curso, proposta ou execução, o exija chan- desse conhecimento. Por tal, também é
tatuto da OE, Lei n.º 123/2015, de 2 de se- celado pela OE. Ao estar desenvolvido e ao evolutiva. A OE tem que ter mecanismos de
tembro, ficou claro que só podem ser exer- ser imutável no momento, assegura a sua flexibilidade que permitam o acompanha-
cidos Atos de Engenharia por engenheiros. credibilidade e obedece ao preceito de exer- mento deste ritmo de aparecimento de
Já era claro no anterior Estatuto que só é cício profissional do Engenheiro defendido novas áreas de Engenharia. Já tem uma es-
Engenheiro quem está reconhecido como pela OE, que é o da confiança pública. Com tratégia para lançar esse debate e quer ver
tal pela OE. O reconhecimento do título estas dinâmicas, em muitos casos, a ins- este assunto ajustado até final de 2021. Pro-
profissional é uma delegação de compe- crição na OE passar-se-á a fazer por defeito vavelmente haverá o desdobramento de
tências do Estado Português às Ordens Pro- e vontade própria, sendo a não inscrição Colégios e Especialidades, mas para já não
fissionais. Ficou também definido no novo residual ou apenas para quem não pretende estamos em condições de aprofundar de-
Estatuto que os profissionais da Função Pú- exercer Engenharia. talhes, pois é um assunto que terá muitos
blica que exercem Atos de Engenharia têm intervenientes.
obrigatoriamente que estar inscritos na OE. Apesar de alguns casos isolados, o próprio
É de referir, e há ainda quem não entenda Estado, na maioria das situações, não cumpre Como enquadrar profissionais altamente
isto, que habilitação académica é diferente com o que acaba de referir. O que tem feito valorizados pelo mercado, no seio da OE,
de qualificação profissional. A primeira cabe a OE para acabar com esta situação? nomeadamente, e a título de exemplo, nas
às Escolas e a segunda às Ordens Profissio- A Lei n.º 123/2015, de 2 de setembro, o Es- áreas da Engenharia Biomédica, Aeroespa-
nais, sempre sob a alçada do Estado. tatuto, é relativamente recente. Até lá não cial, Alimentar e Gestão Industrial, entre
Em segundo lugar, internamente, tornando havia essa imposição. A OE tem vindo a outras?
a OE mais apelativa do ponto de vista pro- sensibilizar as instituições e empresas pú- São potenciais possíveis novas Especiali-
fissional. Independentemente do reconhe- blicas cujos profissionais pratiquem Atos de dades de Engenharia e cuja resolução se
cimento do exercício profissional de atos Engenharia para que estes se inscrevam na enquadra no processo de ajustamento ma-
legalmente regulados, entendemos que o Ordem, pois passou a ser obrigatório o re- tricial técnico que a OE quer levar a efeito.
profissional Engenheiro deve ser reconhe- conhecimento desses engenheiros que antes Trata-se de um dos objetivos primordiais da
cido e valorizado por qualquer ato que se entendiam diretamente reconhecidos OE já a partir de 2019.
exerça. Assim sendo, depois da definição pelo Estado. De uma maneira geral, esta
dos Atos de Engenharia e depois da defi- abordagem da OE tem tido sucesso, em- As competências podem/devem ser espe-
nição da Hierarquização de Competências, bora haja sempre algumas resistências. É cificadas tendo em conta os níveis de for-
queremos consolidar até 2021 um Sistema uma questão de tempo até que tudo vá fi- mação E1, E2, etc.? Qual a lógica que deve
de Valorização do Engenheiro, que está em cando resolvido como deve estar. reger e guiar esta definição?
aplicação de experiência-piloto e que visa Não tenho dúvidas que à partida, ou à en-
registar toda a atividade do Engenheiro ao Os Atos de Engenharia estão definidos por trada, conforme se lhe queira chamar, as
longo da vida, seja ela de experiência, exer- Especialidade, mas temos hoje muitos pro- competências de um Engenheiro E1 e de
cício específico, formação, gestão, envol- fissionais de Engenharia, no ativo e recém- um Engenheiro E2 devem ser diferentes. São
vimento social ou com a OE e ainda con- -licenciados, que não se enquadram nos percursos académicos diferentes que, com
templando os preceitos éticos e disciplinares. Colégios que a OE oferece e que por isso diferentes habilitações, geram qualificações
A ideia é criar um sistema de creditação do não se inscrevem nesta Associação Profis- profissionais diferentes. Aquilo que a OE está

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EM FOCO

a ultimar relativamente à Hierarquização de Estando o SIGOE – Sistema Integrado de tende que a presença dos engenheiros por-
Competências determinará essa diferen- Gestão de Membros da OE a entrar em ve- tugueses é importante. Desde logo privile-
ciação. A lógica que a Ordem adotou para locidade de cruzeiro, para quando pode- giamos os países que falam o nosso idioma,
a diferenciação de competências tem a ver remos contar com a implementação, de o Português. Depois, por ser um mercado
com a complexidade, dimensão ou tipo do facto, dessa ferramenta? natural, os principais países que falam Cas-
Ato de Engenharia. Salvo exceções de tipos A ferramenta VALORE, do ponto de vista in- telhano. Para além disso, trabalhamos também
de trabalho ou atos que possam ser per si formático, está pronta e em aplicação como acordos que permitam proximidade institu-
complexos, o Engenheiro E1, quando possa experiência-piloto. O VALORE acopla no SIGOE cional ou mais-valias para o Engenheiro por-
à partida praticar Atos de Engenharia, estes e foi pensado como aplicação complementar. tuguês. Tudo isto, sempre num contexto de
serão de complexidade menor que aqueles Os Membros que fazem parte dos órgãos es- parceria e reciprocidade.
que já poderão, nas mesmas circunstâncias, colhidos para a experiência-piloto poderão
ser reconhecidos ao Engenheiro E2. Isso não interagir com a plataforma de imediato. É de Internacionalmente, no mundo global que
invalida que ao longo do percurso profis- adesão facultativa. O início da aplicação efe- hoje vivemos, qual o papel que está reser-
sional de cada um, E1 ou E2, a aceleração tiva do VALORE está previsto para o início de vado ao Associativismo, nomeadamente o
de reconhecimento de competências ad- 2020 e a generalização da sua aplicação está de cariz profissional? Qual o posiciona-
quiridas não possa ser mais acentuada num prevista para o início de 2022. mento da OE relativamente a esta questão?
ou noutro. A OE, no contexto europeu e até no contexto
Uma das prioridades do presente mandato mundial, é um caso à parte e quase exclusivo
De que forma esta problemática se cruza tem sido a aposta no estreitamento de re- de associativismo profissional. É uma asso-
com a valorização profissional do Membro? lações, já formalizadas, com Associações ciação gremial, mas está organizada congre-
Ao serem estabelecidos os Atos de Enge- Profissionais congéneres, mas também na gando todas as áreas de Engenharia. É a en-
nharia e respetiva graduação dos mesmos, aproximação e constituição de novos acordos tidade nacional competente para a outorga
e em função da prática de Engenharia com e protocolos de reciprocidade. Porquê? do título profissional de Engenheiro, assim
registos e evidências, fica garantida a evo- A Engenharia não tem fronteiras. Este é o como é a autoridade para o reconhecimento
lução e consubstanciação curricular do En- lema da OE. Além disso, o Engenheiro é um do exercício profissional de Engenheiro. O
genheiro. Assim, pode o Membro ir passando recurso estratégico determinante. Por ciclos seu Estatuto é Lei. Não há paralelismo inter-
os vários graus profissionais ao longo da sua económicos, torna-se necessária a mobili- nacional que congregue estas quatro valên-
vida de Engenheiro. Com isso também po- dade de engenheiros. Em alguns períodos é cias que a OE detém. No máximo conhecem-
derá ver o reconhecimento para o exercício importante o “escoamento” de engenheiros -se exemplos que congreguem até três destas
de Atos de Engenharia aumentado, como portugueses para outros países, se possível valências. Esta situação é invejável pois dá à
é, por exemplo, a passagem a Engenheiro num contexto de internacionalização que OE uma intervenção e dimensão extrema-
Sénior. Na maior parte dos casos, o Enge- beneficie as empresas portuguesas. Noutros mente interessantes no contexto interna-
nheiro E1 e o Engenheiro E2 farão percursos períodos, é importante a “recetividade” a en- cional. É essa uma das principais razões para
profissionais diferenciados, mas sempre com genheiros de outros países, como aparen- que, atualmente, a Engenharia portuguesa
as mesmas condições e possibilidades de temente será o ciclo que se avizinha se se presida ao World Council of Civil Engineers,
evolução. confirmar que, em quantidade, a Engenharia Conselho das Associações Profissionais de
O Sistema de Valorização do Engenheiro ao portuguesa poderá vir a não ser suficiente Engenheiros Civis dos Países de Língua Por-
longo da sua vida profissional, apelidado de para os desafios que Portugal terá a curto tuguesa e Castelhana, Federação Europeia
VALORE, está em fase terminal de desen- prazo. Realço que o Engenheiro português de Associações Nacionais de Engenheiros,
volvimento e contempla a valorização cri- é muito completo. Temos um excelente en- ou vice-presida à Federação de Associações
teriosa da experiência, do exercício profis- sino de Engenharia, o que, associado à ca- de Engenheiros de Língua Portuguesa. Também
sional detalhado através de emanação de pacidade inata de resolver problemas, de a OE tem vindo a ter um protagonismo cres-
declarações, a passagem de grau, a formação iniciativa e de proatividade, liderança e ap- cente na Federação Mundial de Organizações
contínua ao longo da vida, a intervenção tidão para falar outros idiomas, faz com que de Engenheiros. Claramente que este posi-
social do Engenheiro, a sua interação com o Engenheiro português se mova com faci- cionamento internacional da Ordem tem
a OE, bem assim como a sua dimensão pro- lidade internacionalmente. beneficiado direta ou indiretamente os en-
fissional no ensino ou liderança de outros Tendo estas premissas e oportunidades pre- genheiros portugueses, nas negociações e
engenheiros, sem deixar de contemplar os sentes, a OE, como Associação Profissional, representações que se têm conseguido de
preceitos éticos e disciplinares. Naturalmente não poderia deixar de estar empenhada em uma forma global ou específica.
que o ponto de partida de entrada na OE potenciar essa mobilidade e o reconheci-
será importante na diferenciação e poste- mento internacional do Engenheiro portu- A internacionalização da Engenharia lusó-
riormente na evolução da valorização do guês. Tem-no feito através da integração de fona, não apenas portuguesa, é já uma rea-
percurso profissional. Para os que já estão federações internacionais de engenheiros, lidade? Cabe à OE encabeçar este movi-
na OE, a entrada no sistema VALORE será mas também de forma bilateral, fomentando mento?
facultativa e terá um enquadramento ade- a consumação de acordos de reconheci- A OE, juntamente com as associações pro-
quado ao percurso e antiguidade do Membro mento bilateral de engenheiros, com asso- fissionais congéneres do Brasil, Macau, An-
enquanto Engenheiro. ciações congéneres de países onde se en- gola, Moçambique, Cabo Verde e São Tomé

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EM FOCO

e Príncipe, criaram a Federação das Associa- e à Engenharia portuguesa, assim como a


ções de Engenheiros de Língua Portuguesa. toda a Sociedade, através de uma forma de
Atualmente é presidida pelo Brasil. Para além atuação que será pioneira, pois em nenhum
desta Federação, a OE tem estabelecidos outro local encontramos algo semelhante
protocolos de reciprocidade com cada uma no que concerne à Engenharia mundial. A
destas associações congéneres, os quais nível das relações internacionais, da forma
funcionam de forma exemplar. Para a OE, o que definimos a estratégia, acredito que não
importante é privilegiar a língua portuguesa só continuaremos como reforçaremos a
que é falada por cerca de 300 milhões de nossa dimensão internacional na Engenharia.
pessoas, sendo o terceiro idioma mais im-
portante do Mundo, falado como “língua A nível de governance da própria instituição,
mãe” em mais que um só país. Esta realidade quais os maiores desafios que a Ordem tem
proporciona grandes oportunidades para a pela frente?
Engenharia de língua portuguesa. A mobili- Além daqueles que estão em curso, os maiores
dade reconhecida e permitida com esta pre- desafios para os próximos anos são o de co-
sença portuguesa é universal e é um verda- locar a Engenharia a “falar a uma só voz” a
deiro contributo diplomático e económico nível nacional e adequar os órgãos internos
que a OE garante a Portugal, substituindo-se da OE à evolução que a Engenharia tem tido
muitas vezes ao Estado Português nessa e continuará a ter. Deixámos esses desafios
função. Queremos, naturalmente, envolver para o próximo mandato. Primeiro, tínhamos
a Guiné Bissau e Timor Leste, estando para que fazer outros “trabalhos de casa”, nomea-
tal a desenvolver contactos para que sejam damente naquilo que concerne a assuntos
criadas as respetivas organizações locais e de administração interna e de adequação da
que as mesmas sejam envolvidas na FAELP, OE às obrigações oriundas da aplicação da
conseguindo assim o pleno dos países ou alteração do Estatuto em 2015. Essa pasta
territórios de língua oficial portuguesa. ficou com o Bastonário e foi brilhantemente
resolvida. Não foi fácil, pois a OE é uma es-
Nesta fase, quais os critérios subjacentes trutura muito complexa. Aliás, dos objetivos
ao reforço dos acordos já existentes? E que aos quais nos propusemos, praticamente fi-
outros protocolos estão previstos? zemos o pleno. Há sempre coisas a fazer e
A OE, nestes últimos três anos, de forma sempre assuntos a melhorar, mas penso que
mais relevante do que estabelecer novos fissional de Engenheiro é reconhecida, de não podíamos estar mais satisfeitos. Aquilo
acordos, tem vindo a privilegiar a sofisticação uma maneira geral, em todo o mundo anglo- que ainda não foi feito é o que encaixa num
e o detalhe dos já existentes. Cada realidade -saxónico. Será mais uma vitória da Enge- programa de seis anos e será feito. Ainda
de cada associação congénere de cada país nharia portuguesa. vamos a menos de metade desse prazo e já
é diferente, o que implica o estudo aprofun- praticamente concluímos aquilo a que nos
dado das compatibilidades bilaterais. Fazer Tendo em conta as pastas que tem a seu propusemos à exceção do que estrategica-
um acordo com um Colégio de Engenheiros cargo na estrutura da Ordem, quais os de- mente ficou pensado para a segunda metade
da vizinha Espanha é completamente dife- safios que a OE enfrentará nos próximos desse período.
rente de fazer um acordo com a Confede- cinco anos?
ração de Engenheiros do Brasil. Cada espe- Comigo ficaram os Assuntos Profissionais e A Ordem é um player com o qual a Socie-
cificidade e acompanhamento administrativo os Assuntos Internacionais, mas realço que dade pode contar? A intervenção pública
requer um processo diferenciado. Foi por nunca em exclusividade, pois o Conselho e influência social e política da Ordem têm
isso que apostámos em aprofundar os acordos Diretivo Nacional atua em conjunto de forma tido efeitos práticos?
bilaterais que já tínhamos. colegial. Ainda assim, naquilo que de forma Claramente que sim. Mas sempre o foi.
Fora da órbita de países de língua portuguesa mais próxima toca na minha intervenção, Nestes últimos tempos a intervenção da OE,
ou castelhana, assinámos acordos bilaterais sou defensor que a centralidade da OE são através da intervenção do Bastonário na
com o KIVI, nossa congénere holandesa, e sempre os Assuntos Profissionais, pelo que Comunicação Social, acentuou-se. Isso é
estamos a ultimar a preparação de um acordo defenderei ativamente esta premissa. Penso fruto de um trabalho discreto, mas ativo, de
de reconhecimento mútuo com o Enginee- que se conseguirmos consumar aquilo que contínua ligação da Ordem aos problemas
ring Council, do Reino Unido, a ser assinado estamos a desenvolver quanto aos patamares da Engenharia. A tónica tem sido a de não
ainda este ano. A importância destes dois profissionais, até se chegar ao Curriculum deixar nenhum assunto de interesse da En-
últimos prende-se com a possibilidade de Vitae Certificado do Engenheiro e ser-se re- genharia por atender. É um trabalho des-
se conseguir um paralelismo entre o Enge- conhecido como entidade competente para gastante, mas gratificante. Estamos a con-
nheiro Sénior reconhecido pela OE e o Char- o reconhecimento da prática do exercício tribuir para o desenvolvimento da Engenharia
tered Engineer reconhecido pelo Enginee- para todos os Atos de Engenharia, estaremos portuguesa e os resultados, francamente
ring Council e pelo KIVI, cuja carteira pro- a dar um grande contributo aos engenheiros positivos, estão à vista.

Julho/Agosto/Setembro 2018 INGeNIUM • 9


Primeiro Plano

Manutenção e observação
de infraestruturas e instalações
Uma exigência nacional
dura, por vezes a faca entra no músculo e pois foi um pouco de Portugal que também
até no próprio osso, como, por exemplo, foi consumido pelas chamas.
está à vista em resultado de supostas pou- No essencial, estas facilidades de acesso à
panças nos contratos de manutenção da informação deixaram de ser exigências ab-
rodovia. surdas e de respostas morosas para pas-
Carlos Mineiro Aires Embora cientes das limitações e dos cons- sarem a ser direitos dos cidadãos, a quem
Bastonário da Ordem dos Engenheiros trangimentos financeiros de um país pobre deve ser garantido fácil e imediato acesso
como o nosso, os contribuintes e quem nos às mesmas.
visita têm de ter a certeza de que a obser- Todavia, se por um lado temos excelentes
vação, manutenção e conservação das in- exemplos nestes domínios, outros existem
fraestruturas ou dos produtos que estas ori- em que a opacidade ou a falta de informação
ginam são realizadas nas melhores condi- não constituem boas práticas, sobretudo

D
urante as últimas décadas, mediante ções e que podem estar tranquilos no que porque não estamos perante segredos de
o acesso que teve a fundos comu- toca à sua utilização, nas mais diferentes Estado.
nitários, Portugal construiu um inu- formas e objetivos a que se destinam. Na verdade, quando a informação não é
sitado número de infraestruturas, edifícios A postura dos estados modernos e as pla- facultada ao público, mesmo que incipiente
e instalações destinados aos mais diversos taformas tecnológicas vieram permitir e fa- e tratada de uma forma acessível que qual-
usos, entre as quais as rodoviárias serão cilitar o acesso à informação, um direito quer cidadão possa interpretar, passa a ser
talvez a face mais visível, tendo, por isso, constitucional dos cidadãos e uma obrigação legítimo que se duvide da sua existência, o
saído do estado de atraso estrutural e edu- do próprio Estado, pelo que, através da in- que ninguém pode levar a mal.
cacional que já aceitávamos como crónico. ternet, a sua consulta costuma ser disponi- É, assim, por esta razão que assistimos a
Hoje somos um País dotado de excelentes bilizada nos sites das instituições, das enti- frequentes alaridos mediáticos sempre que
infraestruturas em praticamente todos os dades empresariais públicas e privadas, mu- alguma suspeita é levantada, porque, na dú-
domínios, desde as básicas às tecnológicas, nicípios, etc., o que permite facilmente vida, a desconfiança instala-se.
temos indicadores que rivalizam com os aceder ao que procuramos. Acresce que deixar de manter, conservar e
países mais desenvolvidos e uma nova ge- Assim, à semelhança da informação meteo- renovar os ativos que ainda estamos a pagar,
ração que, graças à qualidade do nosso en- rológica que cautelarmente buscamos antes admitindo que os mesmos se deteriorem e
sino, é altamente competente e, por isso, de sair de casa ou de irmos para qualquer assegurem em más condições, ou deixem
cobiçada. destino longínquo, também temos o direito mesmo de exercer, as suas funções, também
Também não será novidade que tivemos de de ter acesso à qualidade da água da praia, são atitudes inaceitáveis.
endividar-nos para a construção de toda do rio ou da barragem onde nos iremos ba- Sendo a Engenharia uma profissão de con-
esta nova solução infraestrutural, pois os nhar, da água que iremos beber em diversos fiança pública, não se nos oferecem dúvidas
fundos comunitários sempre exigiram o concelhos ao longo da viagem, à qualidade sobre o papel dos engenheiros no estabe-
complemento nacional que, segundo me do ar em hospitais e recintos coletivos, e ao lecimento, implementação e acompanha-
recordo, implicou um esforço financeiro estado de conservação e segurança dos mento de planos de observação, manu-
que começou em 5%, mas que, no final, meios e infraestruturas que utilizaremos nas tenção, conservação e renovação de in-
chegou a 90% do investimento, ou até mais. deslocações. fraestruturas e de todas as demais instala-
Isto para recordar que as novas infraestru- No caso, por exemplo, de um internamento ções passíveis de colocarem em risco a
turas foram apoiadas pela União Europeia, hospitalar, também temos o direito de não segurança de pessoas e bens.
mas também pelo nosso endividamento ter receio de que iremos ser vítimas de uma Porque as há e não são poucas…
coletivo, o que nos obriga a termos de saber qualquer outra causa, como os surtos de A par da transparência na informação e no
cuidar delas, bem como das que já existiam. legionela, e não só, cujo controle deve obe- acreditar de que tudo está a ser feito devi-
Por isso, a sua observação e manutenção e, decer a exigentes especificações e obriga- damente, os contribuintes também ficarão
nos casos em que se justifica, a monitori- ções. cientes de que os empregos gerados, desde
zação dos seus objetivos (como é o caso da Conforme alertámos, também seria muito que dignamente remunerados, constituem
água para consumo humano e tratamento oportuno que a segurança dos nossos mu- uma boa aplicação dos seus impostos, po-
de efluentes), são exigências imperiosas. seus fosse urgentemente escrutinada, a fim dendo confiar que o Estado tudo faz e de-
Mais recentemente também ficou demons- de ficarmos tranquilos de que a tragédia do monstra que garante segurança e cuida dos
trado que quando se pretende tirar a gor- Rio de Janeiro não possa voltar a acontecer, ativos coletivos.

10 • INGeNIUM Julho/Agosto/Setembro 2018


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Notícias

Carlos Mineiro Aires tomou posse como Presidente do WCCE

O s novos membros do Comité Executivo


do World Council of Civil Engineers
(WCCE) tomaram posse na 13.ª Assembleia
viles de Costa Rica. Carlos Mineiro Aires já havia
sido eleito, por unanimidade, futuro Presidente
do WCCE, na 10.ª Assembleia Geral, realizada
Geral, que decorreu em setembro, em Sucre, em 18 de setembro de 2015, em Victoria Falls,
na Bolívia. A partir de então, compete a Carlos no Zimbabué, que teve lugar durante a UNESCO
Mineiro Aires, Bastonário da Ordem dos Enge- Africa Engineering Week 2015.
nheiros de Portugal, presidir aos destinos do O WCCE dispõe de um modelo de governação
WCCE, até 2021. o futuro Presidente (President Elect), Jorge E. que assenta num board composto pelo Pre-
Para além do Presidente, cuja participação na Abramian, do Consejo Profesional de Ingeniería sidente, Presidente Eleito e pelo Presidente
Assembleia Geral decorreu a partir de Portugal, Civil da Argentina (CPIC), e o Tesoureiro, Oscar cessante, com vista a evitar hiatos nos cargos
por não ter podido estar presente, foram eleitos Sanchez Zúñiga, do Colegio de Ingenieros Ci- de liderança. •

Dia Nacional do Engenheiro 2018 António Brito


é o novo Presidente
O Porto é a cidade eleita para acolher o
Dia Nacional do Engenheiro de 2018,
que decorre a 24 e 25 de novembro.
do ISA

O
O programa é integrado pela Assembleia Magna, Eng. António Brito,
que terá lugar no auditório da Sede da Região A noite fica por conta da Estação de São Bento, Membro Eleito
Norte desta Associação Profissional, e pela onde será servido o Jantar do Dia Nacional do pertencente ao Con-
Sessão Solene, reservada para a Fundação Eng. Engenheiro. Programa e restantes informações selho de Admissão e
António de Almeida, num momento de ho- disponíveis em breve no Portal do Engenheiro, Qualificação da Ordem
menagem aos engenheiros portugueses. em www.ordemengenheiros.pt • dos Engenheiros (OE),
representando o Colégio de Engenharia do
Seguro de Responsabilidade Civil Profissional Ambiente, assume o cargo de Presidente do
Instituto Superior de Agronomia (ISA).

A A Ordem dos Engenheiros contratou,


desde 1 de julho de 2018, serviços de
“Seguro de Responsabilidade Civil Profissional”,
1.000,00 por sinistro e anuidade para cada
membro efetivo, com inscrição em vigor,
mesmo que não tenha solicitado a emissão
A OE congratula o novo Presidente do ISA,
enaltecendo todo o seu trabalho e dedicação,
tanto na sua carreira profissional, com a pre-
cujo objeto é a garantia da responsabilidade de declaração para o exercício profissional da
sidência de uma das mais relevantes Escolas
civil do Segurado (Membros da OE) decorrente atividade. No âmbito territorial, a Responsabi-
Superiores de Engenharia, como Membro da
do exercício da sua profissão de Engenheiro. lidade Civil Exploração aplica-se a Portugal
OE, sendo um dos mais disponíveis e partici-
De acordo com as Condições Gerais da Apó- Continental e Regiões Autónomas dos Açores
pantes Membros Eleitos. •
lice, a Seguradora (Ageas) garante o pagamento e da Madeira, e as restantes Garantias têm
das indemnizações que legalmente sejam abrangência em todo o mundo, exceto nos
exigíveis ao Segurado, em consequência de EUA e Canadá. Para além dos € 50.000,00, a Engenharias
danos patrimoniais causados a clientes e ou OE e a Seguradora negociaram condições
a terceiros, desde que resultem de atos ou vantajosas para o reforço de capital, que po- lideraram no
omissões cometidos durante o exercício da derá ser efetuado a partir dos € 50.000,00 e acesso ao Ensino
atividade de engenheiro. O capital seguro é até € 1.000.000,00, bastando para isso con-
de € 50.000,00 por sinistro e anuidade para tactar as Linhas Exclusivas para Engenheiros Superior
cada membro efetivo da OE que solicite a da Ageas Seguros.
emissão de declaração para o exercício pro-
fissional da atividade junto da OE, e de €
Consulte todas as condições em:
www.ordemengenheiros.pt/pt/seguro-rcp •
S eguindo a tendência dos últimos anos, os
cursos de Engenharia voltaram a liderar as
notas de admissão ao Ensino Superior, nomea-
damente os ligados às novas áreas tecnológicas
António Adão da Fonseca distinguido (Engenharia Física Tecnológica e Bioengenharia),
com Prémio Mundial de Engenharia Civil a par da Engenharia Aeroespacial, Engenharia
nhecimento pela relevância dos seus projetos Biomédica e Engenharia e Gestão Industrial,
para o bem-estar social e pela sua carreira de num cenário em que, cada vez mais, a Medi-
Engenheiro Civil em benefício da Sociedade. cina perde terreno, não havendo nenhum curso
A candidatura de António Adão da Fonseca, de Medicina entre os cinco com notas de in-
apresentada pela Ordem dos Engenheiros de gresso mais elevadas. •
Portugal (OE), e a consequente atribuição re-

O Excellence Award for Civil Engineering


do WCCE (Conselho Mundial dos Enge-
nheiros Civis) foi atribuído este ano ao Eng.
presentam, para o premiado, “o reconheci-
mento geral dos engenheiros e da Engenharia
portuguesa.
Estruturas pela OE, tendo liderado projetos
como a Ponte Infante Dom Henrique, no Porto,
a Ponte Pedro e Inês, em Coimbra, e o Pavi-
António Adão da Fonseca durante a 13.ª As- Adão da Fonseca é um dos mais reconhecidos lhão do Conhecimento, em Lisboa, entre
sembleia Geral daquele Conselho, em reco- engenheiros civis portugueses, Especialista em muitos outros. •

12 • INGeNIUM Julho/Agosto/Setembro 2018


Notícias

Equiparação licenciatura pré-Bolonha


a mestrado pós-Bolonha | Promessa não cumprida

A Ordem dos Engenheiros (OE) tomou conhecimento, através da


Comunicação Social, do que o Governo ainda não lhe transmitiu
oficialmente, enquanto Associação Profissional que promoveu a neces-
no auditório desta Ordem, perante uma plateia preenchida e com trans-
missão online, onde anunciou a decisão do Governo de legislar no sen-
tido de ser garantida a equiparação dos graus de Licenciados Pré-Bolonha
sidade de uma alteração legislativa relativamente à equiparação das li- aos atuais graus de Mestrado, o que foi recebido com júbilo pelos en-
cenciaturas pré-Bolonha aos atuais mestrados pós-Bolonha. O Governo genheiros abrangidos e teve grande eco na Comunicação Social. Na
não cumpriu, assim, a promessa que o Ministro da Ciência, Tecnologia sequência, o Bastonário solicitou e foi recebido em audiência pelo MCTES,
e Ensino Superior (MCTES) fez publicamente no dia 15 de março de 2018, tendo sido criadas novas expectativas. A OE aguarda os resultados. •

Publicado diploma que cria o CSOP


N o dia 4 de setembro foi publicado o De-
creto Regulamentar n.º 8/2018 que cria o
Conselho Superior de Obras Públicas (CSOP),
e investimentos conexos”, mas, “apesar deste
desígnio, a sua composição orgânica não
previu uma participação proporcional ou uma
de financiamento, problemas da contratação
e execução de obras e de custos da operação
e manutenção e, sobretudo, de análise de risco
cuja missão consiste em coadjuvar o Governo suficiente representação dos engenheiros e inerentes aos grandes investimentos e obras
na tomada de decisões sobre os programas de da Engenharia, o que merece ser repensado”. públicas”.
investimento e projetos de grande relevância, Das sugestões apresentadas, regista-se o facto Tal como consta do Parecer que emitiu, a OE
definindo a sua estrutura, competência e fun- de o diploma passar a impor uma limitação de defende que, sendo verdade que os enge-
cionamento. Tal como consta do Preâmbulo, mandatos para o Presidente, o que não ocorria nheiros foram, embora de forma difusa, con-
a Ordem dos Engenheiros (OE) foi ouvida, tendo na versão inicial e mereceu o reparo da OE. templados nesta possibilidade, tal não retira a
remetido o seu Parecer em 31 de julho de 2018. A composição do Conselho Permanente foi avaliação da OE em relação ao verdadeiro
Da análise feita ao diploma, resulta que não mantida, apesar de a OE ter alertado para o papel que a Engenharia deve ser chamada a
foram acatadas as sugestões e críticas feitas facto de se registar “a falta de profissionais de prestar neste “renovado” CSOP.
pela OE à versão que circulou para auscul- Engenharia, com visões independentes e que No essencial, este renovado CSOP não deu a
tação, nomeadamente o facto de se tratar de sejam conhecedores de processos de seleção, devida dimensão ao papel dos engenheiros e
“um órgão cuja atuação vai ser fundamental- avaliação custo/benefício, planeamento, en- da Engenharia, pelo que as expectativas da OE
mente direcionada para áreas de Engenharia quadramentos, opções, soluções e quadros foram goradas. •

Criação do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional


OE manifestou a sua posição discordante face à Resolução do Conselho de Ministros n.º 103/2018

A Ordem dos Engenheiros (OE) manifestou junto do Primeiro-ministro


a sua posição face à Resolução do Conselho de Ministros n.º
103/2018, que cria o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e
e nutricional se existirem géneros alimentícios e bebidas resultantes de
processos de transformação contemplados pelas Engenharia Química,
Engenharia Agronómica e Engenharia Alimentar; os engenheiros e a
Nutricional (CONSANP), não integrando a OE no elenco de entidades Engenharia são fundamentais para a investigação e pesquisa científica
participantes. A Ordem declara que tal omissão só se poderá tratar de no âmbito dos agroalimentos, só podendo existir uma visão integrada
um erro, passível de correção, uma vez que a Especialização em En- das matérias relativas à segurança alimentar e nutricional com a inter-
genharia Alimentar da OE tem assumido, cada vez mais, uma maior venção dos profissionais representados por esta Ordem. Desta forma,
relevância na economia e na investigação científica no âmbito dos a OE enviou uma carta ao Primeiro-ministro, através da qual demonstra
agroalimentos; só existe alimentação adequada, segurança alimentar a sua posição e pedindo a rápida correção desta omissão. •

OE alerta autoridades portuguesas


para necessidade de vistorias aos museus nacionais
A Ordem dos Engenheiros (OE) lamenta profundamente o grave
incêndio que afetou o Museu Nacional da Universidade Federal
do Rio de Janeiro que, para além de ter destruído um edifício classifi-
e preservação do património cultural nacional que se encontram, entre
os seus Membros, os maiores especialistas de segurança contra in-
cêndios.
cado com mais de 200 anos, símbolo da relação histórica entre Por- Neste contexto, e no sentido de prevenir situações de perda irreparável
tugal e o Brasil, consumiu um importantíssimo acervo composto por de património cultural nacional, a OE entende ser sua função alertar
mais de vinte milhões de peças, algumas das quais parte integrante do as entidades públicas responsáveis para a necessidade de vistorias pe-
património cultural comum dos dois países. riódicas a todos os edifícios que alberguem acervos históricos ou que,
Por entender que os engenheiros e a Engenharia não se podem alhear eles próprios, constituam património simbólico da nossa História.
do seu papel e missão social, bem como por ser atribuição desta As- A Engenharia tem soluções que permitem prevenir e mitigar situações
sociação Profissional prestar colaboração com todas as instituições semelhantes à que afetou o Museu Nacional da Universidade Federal
públicas e privadas sempre e quando estiverem em causa matérias do Rio de Janeiro, pelo que a OE manifesta publicamente a sua dis-
relacionadas com o interesse público, como é o caso, vem a OE es- ponibilidade para colaborar com as autoridades portuguesas no de-
clarecer as entidades responsáveis pelo acompanhamento, manutenção senvolvimento e planeamento das mesmas. •

Julho/Agosto/Setembro 2018 INGeNIUM • 13


Notícias

Assembleia da República recomenda ao Governo


que estude e apresente normas que assegurem
a verificação da resistência sísmica dos edifícios

O Diário da República publicou, a 31 de agosto, uma Resolução da


Assembleia da República, através da qual este órgão recomenda
ao Governo que estude e apresente normas que assegurem a verifi-
do nível resistência sísmica determinado por regulamentação, quando
são realizadas obras em edifícios com mais de 30 anos, sujeitas ou não
a licenciamento municipal.”
cação da resistência sísmica dos edifícios em que são realizadas obras,
conforme o Ponto 2 da Resolução da Assembleia da República n.º Com esta recomendação, o Parlamento finalmente atendeu aos su-
280/2018, nos termos que seguem: cessivos apelos e alertas que a OE tem apresentado à Assembleia da
”Introduza no ordenamento jurídico a obrigatoriedade de comprovação República, ao Governo e em debates públicos. •

Projeto de aceleração da internacionalização


da Engenharia portuguesa
A s conclusões formais extraídas da confe-
rência dedicada à ”Internacionalização da
Engenharia Portuguesa”, organizada pela PRO-
de um grupo de trabalho, que elaborará um
documento que reúna a visão, as oportuni-
dades e uma estratégia que permita acelerar
FORUM, e que juntou, em Lisboa, os principais a internacionalização da Engenharia portuguesa
stakeholders técnicos, económicos e diplo- no horizonte 2030.
máticos, preveem o desenvolvimento de um O grupo de trabalho será constituído por re-
projeto de aceleração da internacionalização presentantes indicados pela PROFORUM, pela
da Engenharia portuguesa. nharia Portuguesa (CEIEP), liderado pela PRO- AICEP e pela OE e será presidido por uma
O projeto pressupõe a criação de um Conselho FORUM, em conjunto com a Ordem dos En- personalidade que reúna o consenso entre as
Estratégico de Internacionalização da Enge- genheiros (OE) e a AICEP, bem como a criação três entidades referidas. •

Engenheiros de Portugal, Carlos Loureiro,


Engenheiros da Lusofonia debateram apresentou as principais recomendações ema-
alterações climáticas em Maputo nadas do coletivo de engenheiros participantes
nas sessões, sendo de destacar a necessidade
de potenciar a resiliência das populações, dos
territórios e das infraestruturas, integrando a
sustentabilidade como base fundamental de
desenvolvimento e evoluindo para modelos
de economia circular. A par deste trabalho
haverá que promover a aprovação e a imple-
mentação, em cada País, de estratégias espe-

A cidade de Maputo, em Moçambique, re-


cebeu, entre 12 e 14 de setembro, o 3.º
Congresso de Engenheiros de Língua Portu-
Governadora da Cidade de Maputo e da Em-
baixadora de Portugal em Moçambique. Pre-
sentes estiveram, igualmente, várias comitivas
cíficas de prevenção e mitigação dos impactos
das alterações climáticas.
Ficou consensualizado que, neste processo,
guesa, que teve como tema central as ”Alte- das Associações Profissionais que representam a intervenção dos engenheiros é inevitável,
rações Climáticas”, e a reunião da Assembleia- os engenheiros do espaço lusófono (Portugal, tanto nas atividades de monitorização e de
-geral da Federação de Engenheiros de Língua Brasil, Moçambique, Angola, Cabo Verde, interpretação de dados, como ao nível do
Portuguesa (FAELP). Macau, São Tomé e Príncipe), bem como re- planeamento e projeto. A Assembleia-geral da
O Congresso contou com a participação do presentantes de empresas moçambicanas e FAELP foi realizada a 13 de setembro, tendo
Ministro da Ciência, Tecnologia, Ensino Supe- portuguesas a operar naquele País. ficado marcada pela adesão de São Tomé e
rior e Ensino Politécnico de Moçambique, da O Vice-presidente Nacional da Ordem dos Príncipe e do CONFEA, do Brasil. •

Constituição do Comité Ibérico de Engenheiros de Minas


para os Recursos Naturais e Reservas Minerais

D ando seguimento ao acordo assinado


entre a Ordem dos Engenheiros (OE) e o
Consejo Superior de Colegios de Ingenieros
da acreditação de engenheiros de minas es-
panhóis e portugueses como “pessoas com-
petentes” de acordo com o padrão PERC (Pan
de Minas de España (CSCIM), em janeiro de European Reserves & Resources Reporting
2017, foi agora constituído formalmente o Co- Committee) e outros padrões CRIRSCO.
mité Ibérico de Engenheiros de Minas para os A reunião entre as duas comitivas, lideradas
Recursos Naturais e Reservas Minerais (IMEB), pelo Bastonário da OE e pelo Presidente do
bem como definidos os termos regulamentares CSCIM, decorreu na sede da OE, em Lisboa. •

14 • INGeNIUM Julho/Agosto/Setembro 2018


Notícias

OE rejeita proposta do Grupo Parlamentar do PCP


Alargamento, até à Classe 9, do quadro de competências reconhecido
aos arquitetos na direção de obra e direção de fiscalização de obra

A Ordem dos Engenheiros (OE) manifestou junto do Presidente do


Grupo Parlamentar do PCP a sua posição relativamente à proposta
apresentada por aquele Partido sobre a possibilidade de alargamento,
como é o caso dos ”Edifícios até à Classe 9 de obra”, bem como nos
”Edifícios até à Classe 6 de obra”.
Admitir que os arquitetos possam substituir os engenheiros em funções
até à classe 9, do quadro de competências reconhecido aos arquitetos de tamanha responsabilidade e para as quais não tiveram formação
na direção de obra e direção de fiscalização de obra, procedendo à adequada, o que a experiência nunca lhes poderá conferir, indepen-
terceira alteração à Lei n.º 31/2009, de 3 de julho. Deverá considerar- dentemente de terem ou não dez anos de atividade profissional, é
-se que uma obra até à Classe 9, e as de classe mais elevada, são so- contribuir para aumentar a confusão já instalada e para a destruição
bretudo obras de Engenharia de grande dimensão e responsabilidade, do que resta da já débil fronteira que tem e deveria existir entre a ati-
sendo que algumas delas até requerem engenheiros especialmente vidade destas duas profissões complementares e indissociáveis.
qualificados. Essa indiscutível demarcação deve, pois, ser imperiosa a bem da defesa
A referida proposta atenta contra o âmbito do exercício da profissão das empresas, dos interesses dos consumidores e dos interesses e
de Engenheiro e dos atos que são da sua competência exclusiva, en- prestígio destas profissões.
quanto únicos técnicos dotados de conhecimento e de formação su- Desta mensagem deu a OE conhecimento ao Presidente da Assembleia
perior adequada para exercerem funções de direção de obra e direção da República, Grupos Parlamentares, à Associação Portuguesa de Pro-
de fiscalização de obra, sobretudo em obras de dimensão apreciável jectistas e Consultores e à Ordem dos Engenheiros Técnicos. •

ocasião, uma conferência dedicada ao tema


OE recebeu CONFEA em encontro bilateral
“Engenharia de Segurança – Portugal-Brasil”,
distribuída por sessões plenárias e seis sessões
paralelas, onde foram debatidas as diferentes
áreas de intervenção da Engenharia de Segu-
rança, nomeadamente na construção, ao nível
da segurança contra incêndios, a segurança
ativa e vigilância, rodoviária, na proteção civil,
no trabalho, e o papel das associações pro-

A Ordem dos Engenheiros de Portugal (OE)


recebeu, no mês de julho, o Conselho
Federal de Engenharia e Agronomia do Brasil
brasileira a Portugal, foi organizada uma sessão
conjunta de esclarecimento aos Membros de
ambas as Associações Profissionais sobre a
fissionais na Engenharia de Segurança e qua-
lificações. Intervieram nas sessões engenheiros
especialistas em Engenharia de Segurança,
(CONFEA) para o encontro bilateral de acom- realidade do exercício da profissão em cada portugueses e brasileiros, nomeadamente
panhamento do protocolo de reciprocidade um destes países, cuja condução competiu elementos da Especialização em Engenharia
firmado entre a OE e o CONFEA, que acontece ao Bastonário português, Carlos Mineiro Aires, de Segurança da OE, bem como represen-
anualmente e que este ano teve lugar em e ao Presidente do CONFEA, Joel Krüger. tantes de empresas e entidades diretamente
Lisboa. No âmbito da deslocação da comitiva Foi, igualmente, organizada, nesta mesma relacionadas com esta área. •

OE estabelece acordo de reciprocidade


com congénere de São Tomé e Príncipe

D ando continuidade à aproximação que a


Ordem dos Engenheiros (OE) tem vindo
a promover junto das associações profissionais
dos títulos profissionais dos engenheiros ins-
critos na outra associação profissional, para
efeitos do exercício, em regime de estrita
que representam os engenheiros do mundo igualdade e reciprocidade, tanto em Portugal A cerimónia foi testemunhada pelos Vice-
da Lusofonia, foi assinado a 18 de julho, na como em São Tomé e Príncipe, das atividades -presidentes Nacionais da OE e pela comitiva
sede nacional em Lisboa, um protocolo de profissionais que lhes são próprias e comuns. do CONFEA – Conselho Federal de Engenharia
cooperação e reciprocidade entre a OE e a Na ocasião, o Bastonário português regozijou- e Agronomia do Brasil presente em Portugal
Ordem dos Engenheiros e Arquitectos de São -se com a concretização de mais uma etapa para o encontro bilateral de acompanhamento
Tomé e Príncipe. na união e na mobilidade em que se tem em- do termo de reciprocidade que também com
É objetivo deste protocolo apoiar e facilitar o penhado entre os engenheiros de língua por- aquela associação a Ordem de Portugal tem
processo de acreditação e reconhecimento tuguesa. em vigor. •

OE+AcCEdE – Novas ações de formação cialista REFA. O OE+AcCEdE, criado em 2014,


tem por objetivo garantir a qualidade da oferta
com início previsto para outubro formativa ao longo da vida destinada aos en-

S ão 14 as novas ações de formação cujo


início está previsto para outubro, com es-
pecial incidência nas áreas de ITED, Redes
Prediais de Águas e Esgotos, Redes de Gás,
Gestão de Resíduos, AVAC, BIM, Modelação e
Análise de Peças em 2D e 3D, Técnico Espe-
genheiros.
www.ordemengenheiros.pt/pt/a-ordem/ad-
missao-e-qualificacao/formacao-continua •

Julho/Agosto/Setembro 2018 INGeNIUM • 15


REGIÕES

Região NORTE
Sede Porto Delegações distritais
Rua Rodrigues Sampaio, 123 – 4000-425 Porto Braga • Bragança
Tel. 222 071 300 – Fax 222 002 876 Viana do Castelo • Vila Real
E-mail geral@oern.pt

www.oern.pt

Sessões Técnicas para Engenheiros Civis


com mais de 700 participantes
Mais de mil inscritos, dos quais cerca de 700
frequentaram as 14 sessões do 1.º Ciclo de
Sessões Técnicas para Engenheiros Civis, or-
ganizado pelo Colégio de Engenharia Civil da
Região Norte da Ordem dos Engenheiros (OE).
“Com este Ciclo de Sessões Técnicas que-
ríamos proporcionar formação em áreas emer-
gentes da Engenharia Civil”, começa por ex-
plicar Bento Aires, Coordenador do Colégio
Regional Norte de Engenharia Civil da OE,
acrescentando ainda que “estas sessões foram
pensadas para decorrer em formato de mó- Recordamos os temas deste 1.º Ciclo: Cons-
dulos gratuitos e em horários compatíveis com “Conseguimos aumentar a capacitação dos trução 4.0 – Casos práticos; BIM: uma visão
as atividades profissionais e/ou académicas nossos profissionais e atrair público mais jovem prática internacional; Eficiência energética no
dos nossos Membros. Queríamos fazer uma que chegou agora à Ordem e que pode, desta combate às alterações climáticas; Eficiência
antevisão do futuro da profissão e penso que forma, não só continuar e incrementar a sua energética; Segurança contra incêndio: pro-
conseguimos.” formação, como estar em contacto com pro- blemáticas associadas à conceção e construção
Este 1.º Ciclo de Sessões Técnicas para Enge- fissionais mais experientes. Tudo isto foi de- de edifícios; Acústica na construção; A norma
nheiros Civis teve o objetivo basilar de dispo- terminante para o sucesso desta ação e por ISO 45001:2018 – Gestão da segurança e saúde
nibilizar aos Membros conteúdos úteis e di- isso entendemos que o resultado é muito no trabalho; Procedimentos para a inspeção e
versificados que pudessem configurar uma positivo”, conclui Bento Aires, anunciando, diagnóstico de edifícios existentes; BIM: legis-
mais-valia na atividade profissional diária. O desde já, que algumas das sessões irão dar lação comunitária e internacional; nZEB – Edi-
resultado foi cabal, com centenas de partici- lugar a ações de formação e que está já a ser fícios com necessidades quase nulas de energia;
pantes de diferentes áreas da Engenharia, in- preparado um 2.º Ciclo de Sessões Técnicas Desafios à elaboração e implementação das
cluindo um número significativo de recém- para Engenheiros Civis cuja data será anun- medidas de autoproteção; Prevenção e con-
-licenciados e estudantes. ciada brevemente. trolo da doença dos legionários. •

Braga discute Construções em Madeira


A 5.ª Sessão “Construções em Madeira” de-
correu a 11 julho, em Braga. Mais uma vez, a
adesão foi total reafirmando o enorme sucesso
que tem sido esta iniciativa conjunta da De-
legação Distrital de Braga da Região Norte da
Ordem dos Engenheiros, da Universidade do
Minho e da Secção Regional Norte da Ordem tinuar a atrair profissionais de várias áreas. A 5.ª Sessão, subordinada à problemática “Detalhes
dos Arquitetos. Construtivos em Edifícios em Madeira”, esteve a cargo da empresa RothoBlaas que, entre muitos
Registaram-se mais de 600 participantes nestas outros temas, apresentou dados dos sistemas de fixação, sistemas de controlo de humidade e
primeiras cinco sessões, que prometem con- sistemas de abatimento acústico. •

Sessões técnicas com elevada participação


As Delegações Distritais de Braga, Viana do Castelo e Vila Real, e também a sede da Região Norte da
Ordem dos Engenheiros, no Porto, acolheram diversas sessões técnicas e de esclarecimento aos Mem-
bros, tendo registado elevada participação e interesse. •

16 • INGeNIUM Julho/Agosto/Setembro 2018


REGIÕES

Região NORTE

As grandes entrevistas de Engenharia


A ENGENHARIA ESTÁ BEM ENTREGUE COM INÊS MIROTO
Aqui, no Reino Unido, as empresas são muito focadas em dar formação
aos seus engenheiros. Nos dois meses que estou aqui já tive uma for-
mação em Frankfurt e no final do mês terei outra. Existe uma panóplia
de formações e cursos que estão à nossa disposição de forma a me-
lhorarmos certas skills, algo que acho muito positivo. Aqui os enge-
nheiros são bastante valorizados a todos os níveis, quer em termos de
conhecimentos e soft skills, quer em termos monetários. Em compa-
ração com Portugal sinto que aqui existe uma maior valorização da
profissão, quer em termos salariais, quer em termos formativos, sendo
que esse é um dos principais motivos que faz com que cada vez mais
jovens com o meu tipo de formação escolham emigrar. Sentem que
o seu trabalho em Portugal não é minimamente valorizado. Era exata-
mente o que eu sentia quando estava em Portugal, que por muito que
me esforçasse e que fosse a melhor profissional, nunca seria devida-
“O meu pai é engenheiro mecânico e sempre disse que no ano dele mente reconhecida. Acho que as empresas do nosso País devem olhar
apenas existiam duas mulheres.” Hoje são mais, é verdade, e Inês para a vaga de emigração qualificada e tentar perceber qual é a melhor
Miroto é uma delas. Quase foi economista, mas rendeu-se à versa- forma de reter os jovens no nosso País.
tilidade da Engenharia. Depois da Colep, da Unicer e da Farfech
seguiu o caminho de terras de Sua Majestade e é na Fedex, no Reino A Engenharia continua a ser uma profissão de homens? Porquê?
Unido, que agora assume o novo desafio da Engenharia. Com 25 Desde sempre que houve esse estigma, o meu pai é engenheiro me-
anos, Inês é a entrevistada das Grandes Entrevistas de Engenharia cânico e sempre disse que no ano dele apenas existiam duas mulheres.
da Região Norte da Ordem dos Engenheiros. No entanto, na atualidade não considero que seja uma profissão apenas
de homens. Acho que cada vez mais esse estigma se vem dissipando,
cada vez há mais mulheres a escolherem a Engenharia como profissão.
Para quem não a conhece, fale-nos um pouco do seu percurso pro-
fissional para podermos contextualizar. A nova geração de engenheiros não tem medo de arriscar e trabalhar
Comecei o meu percurso profissional na Colep. Foi uma experiência fora do País. Recomenda uma experiência internacional? Porquê?
muito enriquecedora em termos de conhecimento e de perceção do Tendo em conta a minha experiência, aconselho vivamente uma ex-
mundo profissional. Depois exerci periência internacional, não só
funções de planeamento da pro- pelas razões já mencionadas, mas
cura na Unicer para o mercado também para terem uma visão mais
externo. Por último, antes de abraçar aberta relativamente ao mundo de
o desafio de mudar de país e inte- trabalho. A forma como a Enge-
grar a FedEx, exerci funções de nharia é exercida em Portugal ou
workforce forecast planning, na num outro sítio é diferente, assim
Farfetch. Ali fazia análise dos mer- como as abordagens aos problemas
cados nos quais a Farfetch existe e soluções. Sinto que trabalhar
e planeava a quantidade de agentes numa diferente realidade da que
que seriam necessários de forma estava habituada me faz ser mais
a satisfazer as necessidades dos aberta à mudança e ter uma outra
clientes. Foram empresas que me abordagem em tudo.
enriqueceram enquanto pessoa e
enquanto profissional. Sendo empresas de ramos muito distintos acho Qual acha ser ou qual deveria ser o papel da Ordem do Engenheiros
que adquiri soft skills e um know-how bastante interessantes. na vida profissional dos engenheiros?
Em primeiro lugar, acho que a Ordem dos Engenheiros deveria pro-
Já tinha pensado antes em trabalhar fora de Portugal? mover a ligação entre as faculdades e as empresas, tanto em termos
Durante o curso sempre disse que não ficaria em Portugal, no entanto, de palestras, estágios, como promover formações e encontros de forma
com o decorrer da vida, foram surgindo boas oportunidades em Por- a criar uma network para os engenheiros.
tugal e fui ficando, por um acaso do destino surgiu esta oportunidade
e decidi que era a altura de aceitá-la. Há Engenharia em tudo o que há?
Definitivamente. A Engenharia encontra-se em tudo, no mundo real e
Que tipo de acompanhamento tem um Engenheiro a trabalhar em virtual. A Engenharia encontra soluções para os problemas e como tal
Reino Unido? Que lições podemos tirar? estará sempre presente em todas as situações e ocasiões. •

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REGIÕES

Região CENTRO
Sede Coimbra Delegações distritais
Rua Antero de Quental, 107 – 3000-032 Coimbra Aveiro • Castelo Branco
Tel. 239 855 190 – Fax 239 823 267 Guarda • Leiria • Viseu
E-mail correio@centro.oep.pt

www.ordemengenheiros.pt/pt/a-ordem/centro

XX Encontro Regional do Engenheiro da Região Centro

mando da Silva Afonso, e do Bastonário da OE,


Eng. Carlos Mineiro Aires. Foram distinguidos
jovens engenheiros pelos seus estágios de ad-
missão à Ordem e homenageados os Membros
da Região Centro com 25 anos de inscrição e
os novos Membros Seniores. Nesta sessão foi
ainda proferida a palestra “História e construção
de instrumentos de corda”, pelo Eng. Joaquim
Capela, a que se seguiu um momento musical
com a atuação da Orquestra Viola Beiroa.
Da parte da tarde, e após um almoço de con-
vívio, decorreu o programa social do Encontro,

Numa organização conjunta do Conselho Di-


retivo da Região Centro da Ordem dos Enge-
nheiros e da Delegação Distrital de Castelo
Branco, com o apoio da Câmara Municipal de
Castelo Branco, realizou-se no dia 26 de maio
o XX Encontro do Engenheiro da Região Centro.
As celebrações do Encontro decorreram na Presidente da Câmara Municipal de Castelo com a realização de visitas ao Museu do Bor-
cidade de Castelo Branco e as atividades ti- Branco, Dr. Luís Correia, do Delegado Distrital dado e ao Museu Cargaleiro, terminando as
veram início, pela manhã, com uma sessão de Castelo Branco, Eng. António Teodósio, do atividades com um sunset drink na Herdade
protocolar com intervenções institucionais do Presidente da Região Centro da OE, Eng. Ar- do Regato. •

Visita Técnica à Ecodeal


A Delegação Distrital de Leiria organizou, no dia 29 de junho, uma visita técnica à Eco-
deal. Localizada na Carregueira, a Ecodeal – Gestão Integral de Resíduos Industriais, S.A.
é uma empresa que atua na área do ambiente, designadamente em gestão de resíduos.
Foi inaugurada a 4 de junho de 2008, o investimento total ascende, hoje, a 25 milhões
de euros e tem uma capacidade de tratamento de resíduos de cerca de 200.000 t/ano.
Entre 2008 e 2016 foram construídas mais duas células do aterro, respetivamente a
célula 4 e célula 2, já que a exploração do aterro é uma exploração faseada.
Esta visita enquadrou-se no ciclo de visitas técnicas que a Delegação de Leiria da Ordem
dos Engenheiros tem vindo a organizar a empresas e entidades do distrito. •

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REGIÕES

Região CENTRO

Sessão “Construção e Inovação


em Sistema Plastbau”
O Colégio de Engenharia Civil da Região Centro realizou, no dia 18 de
julho, uma sessão técnica subordinada ao tema “Construção e inovação
em sistema Plastbau”, onde foi apresentada uma gama de novos sis-
temas e métodos de construção, desenvolvidos em Itália, que permitem
aumentar a eficiência e a qualidade na construção em geral. •

CISPEE 2018
A Ordem dos Engenheiros, através do Delegado Adjunto de Aveiro, Eng. Pedro Fonseca,
participou, com uma intervenção na mesa redonda inicial, na CISPEE 2018 – 3.ª Con-
ferência Internacional da Sociedade Portuguesa de Educação em Engenharia, que de-
correu na Universidade de Aveiro de 27 a 29 de junho.
Esta Conferência pretendeu proporcionar aos participantes a oportunidade de se en-
volverem não apenas na investigação da temática da Educação em Engenharia, mas
também participarem numa série de debates abertos, discussão e decisão sobre o papel
do Ensino Superior (e do Professor) nas sociedades atuais e futuras. •

Visita Técnica ao Biocant Park constitui o núcleo do parque, desenvolvendo


um vasto conjunto de atividades de I&D, dispõe
de um quadro próprio de investigadores e de
unidades laboratoriais dotadas de tecnologia
de ponta, com uma forte componente de au-
tomação, em condições ímpares.
A introdução à visita foi feita pela Diretora de
Inovação daquela unidade, Joana Branco, com
uma apresentação sobre a evolução e pers-
petiva geral do parque tecnológico. Seguiram-
Os Colégios Regionais de Engenharia Química Municipal de Cantanhede e do Centro de Neu- -se visitas a entidades de referência na área
e Biológica das Regiões Centro e Sul da Ordem rociências e Biologia Celular da Universidade da biotecnologia, como a Crioestaminal, a
dos Engenheiros realizaram em parceria, no de Coimbra, é o primeiro parque de biotecno- CBRA Genomics e o UC-Biotech.
dia 27 de junho, uma visita técnica ao Biocant logia em Portugal cujo objetivo é patrocinar, Antes do almoço que precedeu a visita técnica,
Park – Centro de Inovação em Biotecnologia, desenvolver e aplicar o conhecimento avan- houve uma passagem pela Adega Cooperativa
localizado em Cantanhede. çado na área das ciências da vida, apoiando de Cantanhede, onde os engenheiros ficaram
O Biocant Park, concretizado através de um iniciativas empresariais de elevado potencial. a conhecer as especificidades do método tra-
arrojado investimento por parte da Câmara O Centro de Inovação em Biotecnologia, que dicional de fabrico de espumantes. •

Economia Circular e Gestão Colaborativa de Resíduos


O Centro para a Ecologia Industrial da Universidade de Coimbra, jun- works and Strategies, que tiveram lugar nas instalações do Departa-
tamente com a FCT NOVA, a CEIFAcoop, a Câmara Municipal de Leiria, mento de Engenharia Mecânica da Universidade de Coimbra.
e com apoio da Região Centro da Ordem dos Engenheiros (OE), no No dia 25 de junho realizou-se a “Conferência Nacional em Economia
âmbito do “Ano OE das Alterações Climáticas”, levaram a cabo duas Circular e Gestão Colaborativa de Resíduos: a experiência do projeto
iniciativas integradas no projeto europeu H2020 UrbanWINS – Urban UrbanWINS” e no dia 26 de junho teve lugar o “Encontro Internacional
Metabolism Accounts for Building Waste Management Innovative Net- em Economia Circular e Gestão de Resíduos”. •

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REGIÕES

Região CENTRO

Atuações do Chorus Ingenium


O Coro dos Engenheiros da Região Centro, Chorus Ingenium, realizou
nos meses de junho e julho as seguintes atuações:
› 24 de junho: espetáculo na Igreja Matriz de Ançã, integrado no Mês
da Cultura, Saúde e Desporto de Ançã 2018. Participou também o
Coro Nossa Senhora do Ó e o Grupo Polifónico Municipal de Tábua;
› 29 de junho: espetáculo de encerramento do ano da Escola de Mú-
sica Scherzo, realizado na Escola Superior de Enfermagem;
› 4 de julho: Feira das Associações integrada nas Festas da Cidade e
da Rainha Santa, na Porta de Barbacã (próximo do Arco de Almedina);
› 11 de julho: Café Santa Cruz, em Coimbra.

O Chorus Ingenium é acompanhado pela pianista Inês Gomes e diri-


gido pelo Maestro Augusto Mesquita. •

“Mondego: Passado, Presente e Futuro”


No âmbito da iniciativa “2018 – Ano OE das
Alterações Climáticas”, o Conselho Diretivo
Nacional da Ordem dos Engenheiros (OE) e o
Conselho Diretivo da Região Centro da OE,
em estreita colaboração com a Comissão de
Especialização em Hidráulica e Recursos Hí-
dricos, realizaram, nos dias 22 e 23 de junho,
em Coimbra, um simpósio dedicado ao tema eventos extremos, tais como cheias e secas. venção de vários especialistas nesta temática.
“Mondego: Passado, Presente e Futuro no Os anos de 2016 e 2017 foram exemplos sig- No dia 23 as atividades incluíram a descida do
Contexto das Alterações Climáticas”. nificativos de anos muito pluviosos e também rio Mondego em canoa (de Penacova até
Em Portugal, as estimativas apontam para que muito secos, com uma expressão muito mar- Coimbra) e uma visita técnica ao Aproveita-
as alterações climáticas se traduzam num cada na região centro do País. mento Hidroagrícola do Baixo Mondego e ao
agravar da intensidade e da frequência de Neste âmbito, sendo o Mondego o maior rio Porto da Figueira da Foz. •
integralmente português, o simpósio contri-
buiu para a sensibilização para a importância
destes desafios e de como a atividade dos
engenheiros pode contribuir para os ultrapassar
ou, pelo menos, para os mitigar.
No dia 22 de junho realizaram-se, na sede da
Região Centro, sessões técnicas com a inter-

Caminhada pela Rota dos Coentrais


A Delegação Distrital de Leiria realizou no dia
17 de junho uma caminhada seguida de al-
moço convívio. Esta caminhada foi efetuada
na Rota dos Coentrais, que passa por Coentral
Grande, Coentral do Fojo, Ponte de Pedra e
Coentral da Luz, terminando na Ribeira de
Quelhas, o local mais emblemático da região
devido às suas cascatas de grande beleza. •

Seminário “Comportamento ao Fogo de Edifícios”


Com o apoio da Delegação Distrital de Leiria dados temas como a classificação dos materiais
da Ordem dos Engenheiros realizou-se, no dia e a resistência ao fogo dos elementos de cons-
14 de junho, na Escola Superior de Tecnologia trução na aplicação do RJ-SCIE, os desenvol-
e Gestão do Instituto Politécnico de Leiria, o vimentos recentes no cálculo e proteção ao
Seminário “Comportamento ao Fogo de Edifí- fogo de estruturas metálicas, de betão e de
cios”, onde participaram vários especialistas na madeira, e a problemática da segurança contra
área do comportamento ao fogo. Foram abor- incêndio em núcleos urbanos antigos. •

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REGIÕES

Região CENTRO

Seminário “Instalações de Carregamento de Veículos Elétricos”


No âmbito do programa de Formação Contínua Estratégica da Região Centro, o Co-
légio Regional de Engenharia Eletrotécnica promoveu a realização, no dia 13 de junho,
de um seminário técnico sobre “Instalações de Carregamento de Veículos Elétricos”.
Os veículos elétricos serão os veículos preferenciais de transporte a utilizar num futuro
próximo. Para o carregamento das baterias de acumuladores são necessárias instala-
ções e pontos de carregamento específicos, que deverão
obedecer a regras de segurança adequadas, incluindo as
RTIEBT. Neste âmbito, o seminário teve como objetivos dar
a conhecer, enquadrar e aplicar as regras técnicas e eletro-
técnicas, no âmbito da conceção, projeto, execução e exploração de instalações elé-
tricas de baixa tensão destinadas ao carregamento de veículos elétricos. •

Projeto Engine4F: conferência de encerramento


No dia 7 de junho teve lugar nas instalações da Escola Profissional de
Aveiro a conferência de encerramento do projeto europeu “Erasmus+
| Engine4F”, onde a Região Centro participou através da Delegação
Distrital de Aveiro. Este projeto, que teve início em setembro de 2015,
envolveu dez parceiros de seis países europeus. Em Portugal, para além
da Ordem dos Engenheiros (OE), participaram a Associação para a
Educação e Valorização da Região de Aveiro e a Universidade de Aveiro.
As atividades realizadas visaram promover as STEM junto de alunos do
oitavo e nono ano de seis escolas do distrito de Aveiro. Neste âmbito,
a Ordem promoveu, ao longo do período de duração do projeto, a
realização de 22 palestas, visitas a empresas, sessões de esclarecimento No dia 8 de junho os representantes dos vários parceiros do projeto
e sensibilização para a Engenharia e a profissão de Engenheiro e co- foram recebidos em Coimbra, na sede da Região Centro da OE, pelo
locou 34 contributos na plataforma VLE associada ao projeto. Presidente do Conselho Diretivo, Eng. Armando da Silva Afonso. •

A Emergência da Eficiência Hídrica

Numa organização conjunta do Instituto Poli- mano que afetaram Viseu no período de seca de recursos hídricos/eficiência hídrica. Para o
técnico de Viseu, da Ordem dos Engenheiros extrema prolongada de 2017, Viseu e a região efeito, a conferência contou com a intervenção
(OE) e da Câmara Municipal de Viseu, realizou- envolvente configuraram um lugar adequado de várias personalidades regionais e nacionais,
-se, no dia 6 de junho, no Solar do Vinho do à discussão da gestão dos recursos hídricos intervenientes e decisores, no plano técnico,
Dão, em Viseu, a “Conferência Anual sobre Al- neste contexto. O programa da conferência científico e político, estando a OE representada
terações Climáticas – A Emergência da Eficiência abordou as alterações climáticas, os impactes com intervenções do Bastonário, do Presidente
Hídrica”, uma iniciativa integrada no âmbito do globais e locais nos recursos hídricos e as me- da Região Centro, da Secretária do Conselho
“Ano OE das Alterações Climáticas”. Com os didas adotadas para 2018 e anos seguintes, Diretivo da Região Centro e do Delegado Dis-
problemas de falta de água para consumo hu- nomeadamente no que se refere à “nova” gestão trital Adjunto de Viseu. •

Curso de Building Information Modelling


Organizado pela Universidade do Minho, Instituto Superior Técnico e Universidade
do Porto, teve lugar uma nova edição do curso de BIM – Building Information
Modelling, que decorreu entre abril e junho no Instituto Politécnico de Leiria. Para
esta edição, juntou-se à comissão organizadora a Delegação Distrital de Leiria da
Ordem dos Engenheiros.
O curso destinou-se a empresas/profissionais e estudantes interessados na imple-
mentação de metodologias colaborativas BIM nos processos produtivos da indús-
tria AEC – Arquitetura, Engenharia e Construção. •

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REGIÕES

Região CENTRO

Prova Comentada de Vinhos


No dia 29 de maio decorreu, na sede regional da Ordem, em Coimbra,
uma prova comentada de vinhos espumantes DOP Bairrada e IGP Beira
Atlântico, antecedida de uma breve apresentação da Região Vitivinícola
da Bairrada, em concreto, no respeitante à produção de espumantes.
A sessão pretendeu dar a conhecer as diferentes tipologias de vinhos
espumantes que são criados naquela região vitivinícola demarcada,
onde nascem mais de 60% dos espumantes portugueses. A prova foi

conduzida pelo enólogo Eng. José Carvalheira, da Estação Vitivinícola


da Bairrada, a instituição onde em 1890 se iniciou a produção, em
Portugal, deste tipo de produto vínico, e incluiu espumantes prove-
nientes de castas distintas, brancas e tintas, elaborados por mais que
uma metodologia produtiva, com tempos de maturação diferenciados
e de vários produtores. •

Conferência
“Prevenção e Proteção da Floresta Contra Incêndios”
da OE, Eng. Armando da Silva Afonso, a que
se seguiram as intervenções da Presidente da
CCDRC, Prof.ª Ana Abrunhosa, e do Eng. José
de Jesus Gaspar, Vogal do Colégio Nacional
de Engenharia Florestal da OE.
Num segundo bloco intervieram a Entidade
Gestora de ZIF – Solo-Vivo, o Eng. Enrique
Ferreira – que efetuou a apresentação de
exemplo de infraestruturas de DFCI do tipo
“Ponto de Água para Defesa da Floresta Contra
Incêndios por Meios Terrestres” – e os técnicos
Enquadrada no orçamento participativo da maio, uma conferência sobre “Prevenção e da ANPC, Carlos Cruz e João Lucas, que apre-
Região Centro da Ordem dos Engenheiros Proteção da Floresta Contra Incêndios – Exis- sentaram o programa “Aldeia Segura e Pessoas
(OE) e no programa de atividades do “Ano OE tência de Pontos de Água”. Seguras”.
da Alterações Climáticas”, realizou-se, na sede A sessão de abertura foi presidida pelo Presi- Após as apresentações seguiu-se um período
da Região Centro, em Coimbra, no dia 23 de dente do Conselho Diretivo da Região Centro de debate. •

Visita à Ria Blades/PowerBlades


No âmbito do programa “2018 – Ano OE das
Alterações Climáticas”, o Colégio Regional de
Engenharia do Ambiente e a Delegação Dis-
trital de Aveiro da Ordem dos Engenheiros
(OE) promoveram uma visita técnica à Ria
Blades/PowerBlades, empresa situada em
Vagos, no distrito de Aveiro, que se dedica à
produção e comercialização de pás de rotor
para aerogeradores, fabricação de equipa-
mentos e componentes para aerogeradores
e para outros equipamentos destinados à pro-
dução de energias de fonte renovável. •

• Visita Técnica às Instalações de Armazenagem Subterrânea de Gás Natural


Iniciativas Regionais do Carriço » ver notícia da Região » SUL

22 • INGeNIUM Julho/Agosto/Setembro 2018


REGIÕES

Região SUL
Sede Lisboa Delegações distritais
Av. Ant. Augusto de Aguiar, 3D – 1069-030 Lisboa Évora • Faro
Tel. 213 132 600 – Fax 213 132 690 Portalegre • Santarém
E-mail secretaria@sul.oep.pt

www.ordemengenheiros.pt/pt/a-ordem/sul

Engenheiro Civil integra Agência Espacial Europeia


Paulo Silva, Membro Efetivo do Colégio de Engenharia Civil vidade como engenheiro civil em Portugal e a nível inter-
da Região Sul, foi recentemente integrado no Departa- nacional, em projetos como a construção da Barragem do
mento de Qualidade da Agência Espacial Europeia, onde Baixo Sabor e do IC33, a edificação da maior estação de
vai estar envolvido no planeamento e na execução do bombagem do Mundo em Abu Dhabi e a construção das
Programa Espacial Europeu. O português de 45 anos, infraestruturas inerentes à preparação do Mundial 2020,
nascido e criado em Sesimbra, tem desenvolvido a sua ati- na qual atuou como consultor do Governo do Qatar. •

Engenheiro Eletrotécnico premiado


com bolsa “China Three Gorges”
João Graça Gomes, Membro agregado ao O Eng. Graça Gomes é assim premiado pela
Colégio de Engenharia Eletrotécnica da Região segunda vez, dado que, em 2017, foi o ven-
Sul, foi premiado com a bolsa de estudos cedor do Melhor Estágio do Colégio de En-
“China Three Gorges”, que resulta de uma genharia Eletrotécnica da Ordem, com o tra-
parceria entre a Universidade de Lisboa e a balho “Cenarização do Sistema Elétrico 100%
China Three Gorges Corporation com o ob- Renovável em Portugal Continental”. lege, podendo vir a contribuir para o desen-
jetivo de estimular os antigos estudantes da- Com esta bolsa de estudos, João Graça Gomes volvimento de novas centrais elétricas reno-
quela Universidade a prosseguirem os estudos poderá ingressar no mestrado em Energia de váveis em Portugal e para a definição de po-
em universidades chinesas. Baixo Carbono no China-UK Low Carbon Col- líticas energéticas ambiciosas. •

Premiado do PIJE ganha prémio internacional de inovação


Henrique Manuel Borges Miranda, engenheiro agregado ao pavimentação rodoviária em condições de pluviosidade.
Colégio de Engenharia Civil da Região Sul, foi galardoado No ano passado, o Professor Adjunto do Instituto Superior
com um prémio internacional de inovação, atribuído pela de Engenharia de Lisboa já tinha recebido o terceiro lugar
Sacyr Construcción – grupo empresarial global do setor do Prémio Inovação Jovem Engenheiro 2016 (PIJE) pelo
da construção – e pela Ennomotive – hub espanhola para desenvolvimento, durante o doutoramento, de uma pa-
a inovação em Engenharia. tente de formulação da mistura betuminosa do tipo Stone
O prémio, de seis mil euros, é fruto de um desafio lançado Mastic Asphalt.
pela Sacyr, sediada em Madrid, aos engenheiros civis de todo Com esta nova solução de pavimentação, Henrique Miranda dá
Mundo e aceite por 35 engenheiros de dez países, com vista à es- um valioso contributo para a divulgação e o engrandecimento da
colha da melhor solução para uma nova tecnologia inovadora para Engenharia portuguesa a nível internacional. •

Visita Técnica às Instalações de Armazenagem Subterrânea


de Gás Natural do Carriço
No dia 10 de julho realizou-se uma visita técnica às Instalações de Ar-
mazenagem Subterrânea de Gás Natural do Carriço (no Pombal), or-
ganizada em parceria pelos Colégios Regionais Centro e Sul de Enge-
nharia Mecânica da Ordem dos Engenheiros.

A comitiva de 29 engenheiros foi recebida pelo responsável da insta-


lação, Eng. Lemos Pinto, que efetuou uma apresentação detalhada do
projeto e da operação da infraestrutura, incluindo os aspetos de segu-
rança relacionados com o processo. Seguiu-se a visita às instalações
de superfície, estação de compressão, redução, secagem e medição
de gás natural e a uma das cabeças das cavernas, finda a qual teve lugar
um almoço na Praia de Pedrógão. •

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REGIÕES

Região SUL

Apresentação do “Projeto TEJO” em Santarém


A Delegação Distrital de Santarém promoveu, no dia 5 de julho, uma existentes, nomeadamente, no Sorraia, Lezíria Grande, Carril, Alvega,
conferência para apresentação do “Projeto TEJO – Aproveitamento Cela, Alvorninha, Sobrena, Óbidos e Liz. Em simultâneo, o projeto pre-
Hidráulico de Fins Múltiplos do Tejo e Oeste”, tendo como oradores tende resolver problemas atuais do rio e criar novas valências.
Miguel Campilho, administrador da empresa Lagoalva, e Jorge Vitorino Com a sua implementação prevê-se que seja atingida quase o dobro
Froes, engenheiro agrónomo, numa ação que contou com a presença da área que o Alqueva irá regar, destacando a criação de um espelho
de 30 Membros. de água contínuo através da construção de seis açudes, até quatro
Com um investimento de 4,5 milhões de euros, o projeto em causa metros de altura, entre Abrantes e Lisboa, com escada passa-peixes e
pretende equipar com um sistema de rega uma área que poderá ir até mini-hídricas que vão tornar o Tejo navegável, e com estações eleva-
aos 300 mil hectares nos próximos 30 anos, dos quais 240 mil no Ri- tórias que vão permitir bombar a água para as encostas da Lezíria e
batejo, 40 mil na região Oeste e 20 mil em Setúbal, integrando e mo- também da zona Oeste.
dernizando, caso os mesmos o pretendam, os regadios coletivos já No final da sessão houve lugar a um período de debate. •

Delegação de Évora na Feira de São João


A Delegação Distrital de Évora esteve presente, de 22 de junho a 1 de julho, na Feira de
São João, este ano com o tema “Évora pela Paz – 100 Anos de Armistício”.
Durante os dez dias da exposição, o atendimento foi realizado no stand da Delegação,
com um número considerável de interessados relativamente às condições de admissão
e atividades da Ordem. Foi notória uma procura crescente por parte de membros e não
membros, nomeadamente de cidadãos estrangeiros, de informação ao abrigo dos diversos
protocolos internacionais que a Ordem celebrou com associações e instituições de vários
países. •

Faro promove convívio


com prova de vinhos
A Delegação Distrital de Faro levou a cabo, no dia 5 de julho, um con-
vívio entre os seus Membros com prova de vinhos brancos da região do
Algarve. A iniciativa contou com elevada participação, uma oportunidade
para acolher os Membros na sede, promover uma agradável confrater-
nização e aprender um pouco sobre a tecnologia do vinho. •

Jantar-debate “O curso de Engenharia Biológica do IST”


O curso de Engenharia Biológica do Instituto Biológica do IST, na sua apresentação “Enge-
Superior Técnico (IST) celebra em 2018 o seu nharia Biológica: curso e percursos”.
20.º aniversário, motivo pelo qual o Colégio Com base nos casos reais da vida profissional
Regional Sul de Engenharia Química e Bioló- dos Engenheiros Sérgio Ribeiro, CEO e cofun-
gica promoveu, a 26 de junho, um jantar-de- dador da Planetiers, Luís Costa, Chief Opera-
bate no restaurante da Região Sul, em Lisboa. tions Manager da A4F-Algae for Future, e Ra-
A atividade visou dar a conhecer o departa- quel Fortunato, CEO da GenIbet Biopharma-
mento e o curso de Bioengenharia do IST, bem ceuticals, o evento permitiu confirmar o po-
como a sua evolução ao longo destas duas de Engenharia Biológica. Este tema foi abor- tencial dos engenheiros biológicos formados
décadas como centro de conhecimento téc- dado pelo Professor Miguel Prazeres, Coor- pelo IST como agentes de mudança e progresso
nico e científico e como gerador de técnicos denador do mestrado integrado em Engenharia na economia. •

Convívio entre Membros


no Portugal-Irão
A Delegação Distrital de Faro promoveu, no dia 25 de junho, um con-
vívio entre Membros para visionar a seleção nacional de futebol na
última partida da fase de grupos do Mundial da Rússia, no jogo contra
a seleção do Irão, o qual culminou bem, com o apuramento de Por-
tugal para os oitavos de final. •

Julho/Agosto/Setembro 2018 INGeNIUM • 25


REGIÕES

Região SUL

2.º Workshop de QGIS


Através de uma iniciativa conjunta do Conselho Regional Sul do Co-
légio de Engenharia Geográfica e da Comissão de Coordenação da
Especialização em Sistemas de Informação Geográfica decorreu, na
sede da Região Sul, em Lisboa, nos dias 18 e 19 de junho, o 2.º Workshop
de Quantum GIS (QGIS).
Esta formação enquadra-se na temática da informação geoespacial,
tecnologias de informação e suas aplicações práticas. Os participantes plementar conhecimentos adquiridos, solidificar os conceitos e as
tiveram a oportunidade de utilizar as ferramentas disponíveis no soft- metodologias usadas, promover novas experiências e transmitir co-
ware QGIS, com o objetivo de abordar a produção e atualização de nhecimentos práticos na utilização do QGIS aplicado a situações reais,
cartografia de risco a aplicar no processo de revisão ou atualização dos no ano em que o Conselho Diretivo Nacional decretou 2018 como o
Planos Diretores Municipais. O workshop permitiu igualmente com- “Ano OE das Alterações Climáticas”. •

Engenheiros à descoberta da alma do vinho alentejano


A mais recente visita técnica do Colégio Regional engenheiros foram explorar o espólio vitivinícola
de Engenharia Agronómica teve por destino a que os arqueólogos puseram a descoberto e
pitoresca povoação de Vila Alva (distrito de Beja), conhecer o mestre talheiro António Rocha, que
cujas raízes remontam à época romana e onde no século XXI teve a genial ideia de construir
ainda persistem vinhas centenárias. Com a maior um forno romano, com a intenção de recuperar
vila romana da Península Ibérica ali ao lado, os a milenar tradição da produção de talhas. •

Visita técnica à IKEA Alfragide


A 22 de maio realizou-se uma visita técnica à central fotovoltaica de
produção de energia da loja da IKEA, em Alfragide, organizada pelo
Conselho Regional Sul do Colégio de Engenharia Eletrotécnica.
Meia centena de engenheiros participaram na visita, tendo sido rece-
bidos por Paulo Rodrigues, Facility Manager da IKEA Portugal, respon-
sável por coordenar as atividades de manutenção das cinco lojas IKEA
no País, promover a eficiência energética e a utilização de energias
renováveis.
A visita começou com a apresentação das características do projeto e
da estratégia de sustentabilidade energética da IKEA. Foram salientados
diversos aspetos, tais como o facto de a performance da central foto-
voltaica, que iniciou o seu funcionamento em junho de 2016, estar a
corresponder com as estimativas de projeto e que o investimento foi
feito na íntegra com capitais próprios da IKEA. Foram abordados também
todos os passos relacionados com licenciamento, inspeções e apro- Por fim, o grupo visitou as instalações físicas da central e da IKEA, si-
vações da central. tuadas na cobertura do edifício. •

Visita do Prémio Camões 2018


A Região Sul recebeu, a 12 de junho, a ilustre visita do escritor
cabo-verdiano Germano Almeida, vencedor do Prémio Camões
2018. É autor de obras como “A ilha fantástica”, “Os dois irmãos”
e “O testamento do Sr. Napumoceno da Silva Araújo”, as duas
últimas já adaptadas para cinema e traduzidas em países como
Itália, França, Alemanha, Suécia, Noruega e Dinamarca. •

26 • INGeNIUM Julho/Agosto/Setembro 2018


REGIÕES

Região SUL

Visita Técnica à Reserva Natural do Paul do Boquilobo

A 26 de maio, a Delegação Distrital de Santarém, tares, integrando as freguesias da Golegã e com os terrenos mais férteis do País, a agri-
com a colaboração do Instituto de Conservação Torres Novas e, por pouco, não atingiu a margem cultura continua a desempenhar um papel
da Natureza e Florestas, promoveu uma visita do rio Alviela no concelho de Santarém. essencial para a economia.
técnica à Reserva Natural do Boquilobo. No Centro de Interpretação, localizado na “A visita teve como objetivo proporcionar aos
Situada na confluência dos rios Almonda, Al- Quinta do Paul, os participantes ficaram a saber participantes a oportunidade de constatar in
viela e Tejo, a Reserva Natural abarca uma área que, desde 1981, a Reserva Natural do Paul do loco o contributo da Reserva para a conservação
de 817 hectares, pertencente às Quintas da Boquilobo passou a integrar a rede mundial dos valores naturais, favorecendo a conservação
Broa, de Mato Miranda e do Paul, tendo o Es- de Reservas da Biosfera da UNESCO, tendo da paisagem, dos ecossistemas e das espécies,
tado adquirido cerca de 180 hectares de ter- sido a primeira área portuguesa a integrar a fomentando o equilíbrio entre a natureza e o
renos onde se localiza a área de proteção total rede, classificação esta que está para o patri- desenvolvimento social, cultural e económico,
da reserva. Já a Reserva da Bioesfera abrange mónio natural como a classificação da UNESCO promovendo o desenvolvimento sustentável”,
uma área muito maior, superior a 2.000 hec- está para o património cultural. Nesta área, afirmou o Delegado Distrital Rui Barreiro. •

Apresentação do Projeto BIM


A Delegação de Faro, com o apoio do Conselho Diretivo da Região
Sul, levou a cabo, no dia 8 de junho, uma apresentação técnica sobre
BIM – Building Information Modelling. A apresentação, que teve como
orador o Eng. Tadeu Silva, da TopInformatica, proporcionou aos 22
participantes informação útil à implementação desta ferramenta nas
suas atividades de projeto e de obra. •

Luís Rochartre nomeado


Diretor-executivo da Forest Solutions
O Eng. Luís Rochartre, Coordenador do Conselho Regional Sul do Colégio de Engenharia Florestal,
foi nomeado, em maio, Diretor-executivo da Forest Solutions, grupo empresarial dedicado à gestão
florestal, com sede em Genebra (Suíça).
A exercer funções desde 1 de junho, Rochartre definiu como sua principal missão “apoiar a gestão
sustentável das florestas e a expansão dos mercados para produtos florestais responsáveis, garan-
tindo o crescimento e a vitalidade dos recursos florestais atuais e para as gerações futuras”. •

Faro apoia “Portugal Steel”


A Delegação Distrital de Faro e o Conselho Diretivo da Região Sul apoiaram o seminário
“Portugal Steel”, ocorrido a 25 de maio, no Campus da Penha da Universidade do Algarve.
O evento, que contou com apresentações técnicas das empresas Diversteel, Ferpinta,
Protecna e DNC Técnica, foi promovido pela Associação Portuguesa de Construção Me-
tálica e Mista, em parceria com o Instituto Superior de Engenharia da Universidade do Al-
garve, no intuito de divulgar e promover a construção metálica e mista no País. •

Iniciativas Regionais • Visita Técnica ao Biocant Park » ver notícia da Região » CENTRO

Julho/Agosto/Setembro 2018 INGeNIUM • 27


REGIÕES

Região SUL

O Prémio Inovação Jovem Engenheiro (PIJE) é uma


iniciativa promovida e financiada anualmente pela
Região Sul da Ordem dos Engenheiros que visa
galardoar trabalhos de Engenharia, elaborados por
jovens licenciados em Engenharia com idade até
35 anos, Membros Estagiários ou Efetivos, inscritos
em qualquer uma das Regiões da OE, tendo âmbito
nacional e contribuindo sustentadamente para
a inovação no setor. Os prémios PIJE 2017,
edição mais recente, foram entregues a 12 de maio,
na sessão solene das celebrações do Dia Regional
do Engenheiro 2018. Fomos conhecer melhor
os vencedores.

João Sarrico
1.º Prémio (ex-aequo)
“Projeto, Fabrico e Teste de um Motor Elétrico de Alta Performance
para um Veículo de Competição Formula Student”

Considera possível a implementação prática


do seu projeto a médio prazo?
Fale-nos um pouco de si… Sim, a grande vertente prática de construção
Sou um jovem mestre em Engenharia Eletro- e validação de um motor elétrico protótipo
técnica e de Computadores, pelo Instituto teve como principal objetivo a sua integração
Superior Técnico, e nutro uma grande paixão a curto prazo num carro. Será feita uma nova
por carros e pela natureza. Atualmente vivo versão aplicando as lições aprendidas durante
em Inglaterra, onde trabalho para a Jaguar o desenvolvimento do protótipo, com o ob-
Land Rover no desenvolvimento de motores jetivo de o integrar no próximo carro da equipa.
elétricos para a frota híbrida e elétrica. Nos A médio prazo, o objetivo passa por imple-
meus tempos livres pratico futebol e ando de mentar estratégias de controlo inovadoras,
bicicleta, o que me dá tranquilidade e bem- que se tornará possível com o desenvolvimento
-estar físico. de um outro projeto, onde serão construídos
Jovem, engenheiro, inovador e premiado. O os inversores responsáveis pelo controlo de
Como é que a Engenharia entrou na sua vida? que representa para si esta combinação? potência dos motores elétricos.
Os meus avós, os meus pais, os meus tios e Este prémio é um grande prestígio, que muito
primos são, na sua maioria, engenheiros. Por me honra, sobretudo quando vejo a grande Uma mensagem aos jovens engenheiros.
a minha mãe ser engenheira no Laboratório qualidade dos trabalhos dos meus colegas Em primeiro lugar, acreditar que é sempre
Nacional de Engenharia Civil, frequentei o engenheiros que foram distinguidos. O PIJE possível ultrapassar as adversidades e encarar
infantário de lá até aos cinco anos de idade. traduz bem o talento que existe hoje em dia os resultados menos bons como uma apren-
Com o meu pai, engenheiro mecânico, aprendi no ramo da Engenharia. Tendo a oportunidade dizagem e como um desafio para procurar
a gostar de motores, de carros e de motas. A de trabalhar fora do País, é com muito orgulho mais e melhores soluções.
entrada no Técnico acabou por ser um passo que vejo que, de facto, os jovens engenheiros Em segundo lugar, confiar que, com trabalho
natural, se bem que na altura estava indeciso portugueses conseguem sempre destacar-se e perseverança, os resultados sempre apa-
entre a Engenharia Mecânica e a Engenharia nas mais diversas áreas. É ainda notória a recem.
Eletrotécnica. Acabou por ser a segunda a qualidade da investigação realizada nas facul- Acima de tudo ter uma atitude otimista, querer
vingar. Mais tarde descobri a existência da dades portuguesas, assim como é admirável sempre aprender mais, com humildade, ter
equipa da Formula Student, a Fórmula 1 uni- a performance dos nossos jovens estudantes paixão em tudo o que se faz e… acreditar (e
versitária. de Engenharia em competições internacionais. investir) no trabalho em equipa. •

28 • INGeNIUM Julho/Agosto/Setembro 2018


REGIÕES

Região SUL

Pedro Montenegro
1.º Prémio (ex-aequo)
“Metodologia para a Análise da Segurança de Circulação de Comboios
Sobre Pontes”

eu e a minha mulher Erica temos tido a com- práticos da Engenharia. Prova disso foi a con-
panhia do nosso filho Gil! tratação por parte da empresa Institute Gy-
prostroymost para analisar a segurança de
Fale-nos um pouco de si… Como é que a Engenharia entrou na sua vida? circulação de comboios sobre futuras pontes
Nasci no Porto, há 33 anos, mas vivi em Pa- Desde pequeno que adorava legos… Talvez de alta velocidade da Rússia. No entanto, o
redes até terminar o curso de Engenharia Civil tenha sido um ponto de partida para a Enge- programa desenvolvido carece ainda de al-
na Faculdade de Engenharia da Universidade nharia Civil. Mais tarde, já no Secundário, tinha gumas melhorias, que poderão ser levadas a
do Porto (FEUP), em 2008. Nesse ano mudei- um gosto especial pela Física, o que me fez cabo num futuro próximo. Além disso, há boas
-me para o Porto. Antes de começar o dou- optar pelo ramo da Engenharia Civil. As saídas perspetivas para continuar a trabalhar com
toramento, em 2010, na FEUP, em Engenharia profissionais na altura davam ainda boas pers- essa empresa, com vista a desenvolver novas
Ferroviária, trabalhei dois anos na empresa petivas de futuro. análises de segurança.
Adão da Fonseca Engenheiros Consultores
(AdF). Em 2013, fiz um estágio em Tóquio, no Jovem, engenheiro, inovador e premiado. O Uma mensagem aos jovens engenheiros.
âmbito do meu doutoramento que viria a que representa para si esta combinação? Apesar da crise que afetou a área da Enge-
terminar em 2015. Voltei à AdF nesse mesmo Esta distinção foi o incentivo adicional que nharia Civil entre 2009 e 2015, o mercado está
ano, onde desde então trabalho como enge- precisava para continuar a desenvolver o pro- de novo a florescer, dando boas perspetivas
nheiro projetista de estruturas de pontes e jeto iniciado durante o doutoramento. Foi o de futuro, tanto na vertente mais prática, como
edifícios. Em simultâneo, trabalho como in- reconhecimento por parte de engenheiros na de investigação.
vestigador externo da FEUP, onde tenho vindo credenciados que um trabalho de investigação Têm vindo a aumentar as oportunidades de
a desenvolver projetos internacionais na área pode ter aplicabilidade prática e interesse por investigação nas instituições académicas, o
da segurança de circulação ferroviária. À parte parte da indústria. que pode vir a ser um forte impulsionador da
da vida profissional, tenho um interesse muito economia num futuro próximo. Penso que a
grande na corrida… Não sendo um profissional, Considera possível a implementação prática Engenharia continua a ser um ramo funda-
tento participar no máximo de provas possí- do seu projeto a médio prazo? mental para o desenvolvimento das sociedades
veis por ano, tendo já concluído três mara- Felizmente, uma das partes interessantes da e que nunca esgotará, por muitas crises que
tonas. Sempre que posso, e tenho tempo, minha candidatura foi o facto de o meu tra- venham a suceder num futuro que se espera
tento viajar, sendo que nos últimos dois anos balho já estar a ser aplicado em problemas longínquo. •

Carlos Serra
3.º Prémio
“Betão Digital – Modelos de Partículas para a Previsão do Comportamento
do Betão. Uma Aplicação ao Betão de Barragens”

âmbito do trabalho que tenho vindo a desen- Como é que a Engenharia entrou na sua vida?
volver no LNEC. Antes disso, estive dois anos No nono ano estive dividido entre a Engenharia
Fale-nos um pouco de si… a fazer projeto de pontes e viadutos numa e a Arquitetura. Dois fatores fizeram-me decidir
O meu nome é Carlos Serra, tenho 35 anos empresa privada. pela Engenharia Civil: o meu gosto e aptidão
e sou engenheiro civil. Trabalho no Departa- Nos últimos sete anos tenho desempenhado pelas ciências e matemáticas e o facto de o
mento de Barragens de Betão do Laboratório funções de Professor Assistente da disciplina perfil de artes não estar disponível na escola
Nacional de Engenharia Civil (LNEC) como de Projeto de Edifícios, na Universidade Lu- que frequentava. Apesar do gosto que continuo
bolseiro de pós-doutoramento. Nos últimos sófona de Humanidades e Tecnologias, em a ter pela Arquitetura, acho que a opção de ser
anos estive dedicado ao doutoramento, no Lisboa (em tempo parcial). Engenheiro foi bastante mais acertada, na me-

Julho/Agosto/Setembro 2018 INGeNIUM • 29


REGIÕES

Região SUL

dida em que dá uma visão assertiva de reso- Penso que todos os candidatos ao prémio mero de ensaios e dar um apoio importante
lução dos problemas do dia-a-dia. acreditam na possibilidade de aplicação prá- na tomada de decisões sobre, por exemplo,
tica do seu projeto. Os projetos e as ideias o dimensionamento do betão, o faseamento
Jovem, engenheiro, inovador e premiado. O vivem e alimentam-se dessa crença. Em re- construtivo, o impacto de diferentes opções
que representa para si esta combinação? lação ao meu projeto, considero que a utili- de reabilitação, entre outros.
Representa uma validação de todo o trabalho zação de modelos de partículas para a previsão
e de toda a dedicação. Mostra também que do comportamento do betão apresenta grandes Uma mensagem aos jovens engenheiros.
a Região Sul da Ordem dos Engenheiros, ao potencialidades que poderão acrescentar valor Quando uma vez questionei alguém bem-
destacar os trabalhos dos Membros mais jo- à análise e interpretação do comportamento -sucedido o que tinha feito para alcançar os
vens, está a dar-lhes visibilidade e a mostrar do betão, dando apoio à execução dos en- seus objetivos, a resposta foi: “Trabalho, tra-
que existem grandes mais-valias nas suas saios de caraterização e a estudos específicos balho, trabalho...”. Eu acrescento: “Discutam
ideias e na sua capacidade de trabalho. para avaliação de cenários de deterioração as vossas ideias com colegas, amigos e fami-
ao longo do tempo. A médio prazo, ferra- liares mesmo que não sejam da mesma área.
Considera possível a implementação prática mentas de previsão do comportamento do Deste modo, vão crescer com uma visão muito
do seu projeto a médio prazo? betão bem calibradas poderão reduzir o nú- mais alargada da Engenharia.” •

João Zeferino
Menção Honrosa
“Otimização Aplicada à Distribuição dos Dispositivos Aéreos
de Combate a Incêndios Florestais”

construção de cidades. A opção por me li- dito que a sua implementação é possível a
cenciar em Engenharia Civil era a mais óbvia. curto prazo. Trata-se de um modelo de apoio
Fale-nos um pouco de si… Hoje continuo a procurar soluções ótimas à decisão baseado em otimização matemática
Sou natural de Coimbra, onde fiz todo o meu aplicando o conhecimento científico a dife- que garante soluções que só poderão me-
percurso académico, tendo-me licenciado rentes tipos de problemas. lhorar as decisões existentes. As restrições
em Engenharia Civil em 2005, obtendo pos- que podem ser usadas nesse modelo permitem
teriormente o grau de doutorado em 2012. Jovem, engenheiro, inovador e premiado. O responder a qualquer pretensão do tomador
Sou, desde aí, docente na Faculdade de Ciên- que representa para si esta combinação? de decisão.
cias e Tecnologia da Universidade de Coimbra. É uma combinação interessante e gostava de
Sou ambicioso e determinado, mas aprecio acreditar que são quatro componentes dura- Uma mensagem aos jovens engenheiros.
igualmente desfrutar da vida e aproveitar o douras e indissociáveis. Infelizmente pouco A todos os engenheiros a mensagem que
tempo com a família. posso fazer relativamente à primeira, a não deixo é que procurem sempre aprender em
ser manter a dedicação e ambição nas res- todos os dias da vossa vida, mesmo quando
Como é que a Engenharia entrou na sua vida? tantes de forma a preservar um espírito jovem. já não forem jovens. É estando na fronteira
Sempre gostei do conhecimento e de solu- do conhecimento que a qualquer momento
cionar problemas aplicando o conhecimento. Considera possível a implementação prática podemos criar algo novo e inovador, contri-
Quando era mais jovem também passei muitas do seu projeto a médio prazo? buindo assim, não só, para a realização pes-
horas a jogar computador, mas no meu caso Sim, a aplicabilidade prática está demonstrada soal e profissional, mas essencialmente para
eram essencialmente jogos de simulação de no estudo de caso que foi apresentado. Acre- o bem comum. •

30 • INGeNIUM Julho/Agosto/Setembro 2018


REGIÕES

Região da MADEIRA
Sede Funchal
Rua Conde Carvalhal, 23 – 9060-011 Funchal
Tel. 291 742 502 – Fax 291 743 479
E-mail madeira@madeira.oep.pt

www.ordemengenheiros.pt/pt/a-ordem/madeira

Qualificação de Auditores de Sistemas de Gestão de Energia


O Colégio Regional de Engenharia Mecânica organiza a Ação de For- às 12h30 e das 14h00 às 17h30. Os objetivos gerais do curso e o pro-
mação “Qualificação de Auditores de Sistemas de Gestão de Energia grama da formação podem ser consultados no Portal do Engenheiro.
– ISO 50001”, iniciativa promovida em parceria com o ISQ – Instituto Face à natureza da formação, o número de inscrições será limitado a
de Soldadura e Qualidade. A formação realiza-se no auditório da sede 15 formandos, ficando a realização do curso condicionada à existência
regional, nos dias 8, 9, 10, 15, 16 e 17 de novembro de 2018, das 9h30 de pelo menos 12 inscritos. •

A Engenharia na adaptação às alterações climáticas


No âmbito da programação do “Ano OE das Alterações Climáticas”, a
Região da Madeira da Ordem dos Engenheiros (OE) organizou, no dia
6 de julho, no auditório do Museu “Casa da Luz”, a conferência “O papel
da Engenharia na adaptação às alterações climáticas”, como forma de
debater a evidente agudização dos desequilíbrios e consequentes mu-
danças climáticas que se têm vindo a constatar a nível global, ao longo
das últimas décadas, com causas sobretudo antropogénicas, mas
também naturais, e face à relevância que alguns destes fenómenos,
com particular destaque para as aluviões, os incêndios, as secas e as
alterações morfológicas do litoral, têm assumido em Portugal e parti-
cularmente na Região Autónoma da Madeira, nos últimos tempos.
Nesta conferência foram apresentados temas que permitiram eviden- climáticas, bem como o papel das soluções tecnológicas na garantia
ciar o papel da Engenharia e dos engenheiros no acompanhamento, de um futuro mais sustentável. As apresentações estão disponíveis para
mitigação e adaptações necessárias às consequências das alterações consulta no Portal do Engenheiro. •

Gestão Técnica Centralizada


A sede regional recebeu no dia 4 de julho a Tarde de Engenharia “Gestão
Técnica Centralizada – Enquadramento, implementação e desafios
para o futuro”, iniciativa organizada pelo Conselho Regional do Colégio
de Engenharia Mecânica. Foi orador o Eng. Francisco Pombas, Presi-
dente da Comissão de Sistemas de Gestão Técnica em Edifícios, inte-
grada na Associação Portuguesa da Indústria de Refrigeração e Ar
Condicionado, e Delegado-adjunto na Delegação Distrital de Santarém
da Ordem dos Engenheiros (OE).
Foram apresentados e debatidos os seguintes temas: Alterações cli-
máticas e o desafio da neutralidade carbónica; Enquadramento nor-
mativo europeu e legislação em Portugal; Conceção e implementação
de um Sistema de Gestão Técnica; Condução e manutenção dos Sis-
temas de Gestão Técnica; Desafios para um futuro enquadrado pela
4.ª revolução industrial. portância do tema, tendo contado com a participação de Membros
A realização desta conferência, no âmbito do “2018 – Ano OE das Al- dos Colégios de Engenharia Civil, Eletrotécnica, Informática e Mecânica.
terações Climáticas”, demonstrou a transversalidade, atualidade e im- A apresentação está disponível no Portal do Engenheiro. •

Julho/Agosto/Setembro 2018 INGeNIUM • 31


REGIÕES

Região MADEIRA

Visita Técnica à Estação de Radar n.º 4


A Região da Madeira, através do Colégio Regional de Engenharia Ele- O Colégio Regional foi recebido pelo Comandante da Estação, Tenente-
trotécnica, realizou uma visita técnica à Estação de Radar n.º 4 da Força -coronel Sérgio Cruz, e toda a sua equipa, tendo ficado a conhecer a
Aérea, situada no Pico do Areeiro. A visita decorreu no dia 25 de junho importância deste equipamento no controlo do espaço aéreo e de na-
e contou com a presença de cerca de 20 participantes. vegação marítima em redor da Ilha da Madeira, bem como a sua inte-
gração com equipamentos congéneres nacionais para cobertura com-
pleta do território nacional e respetiva zona económica exclusiva. •

Esta iniciativa permitiu adquirir conhecimento sobre a Estação de Radar


n.º 4, parte integrante e fundamental do projeto de extensão do “Sis-
tema de Comando e Controlo Aéreo de Portugal” ao Arquipélago da
Madeira. Foram visitadas todas as valências do edifício, respetivos equi-
pamentos suporte e abordadas, em particular, as características técnicas
do sistema de radar.

Região dos AÇORES


Sede Ponta Delgada
Largo de Camões, 23 – 9500-304 Ponta Delgada – S. Miguel – Açores
Tel. 296 628 018 – Fax 296 628 019
E-mail geral.acores@acores.oep.pt

www.ordemengenheiros.pt/pt/a-ordem/acores

A arte na Engenharia que constitui o reflexo do modo de ver, de sentir e de comunicar. Em


setembro a exposição fica a cargo da Associação de Fotógrafos Ama-
Entre setembro e novembro, a sede da Região dos Açores da Ordem dores dos Açores e em outubro o fotógrafo João Freitas expõe até ao
dos Engenheiros acolhe duas exposições de fotografia. O olhar artístico final do mês. A entrada é gratuita e o local suficientemente aprazível
e único de cada fotógrafo materializa-se no conjunto de fotografias para um minuto de pausa no início ou fim do dia. •

“Reserva Agrícola Regional” em discussão


Com início marcado para 4 de outubro, a Região dos Açores da Ordem serva agrícola. As sessões foram pensadas com o objetivo de clarificar
dos Engenheiros organiza quatro sessões de esclarecimento, uma por a legislação em vigor e a sua aplicabilidade em contexto real. A coor-
mês, dedicadas ao amplo e complexo tema da “Reserva Agrícola Re- denação ficará a cargo de juristas especializados na área e nesta te-
gional: a legislação, o licenciamento e a construção”. mática em particular.
Estas sessões serão particularmente interessantes para Membros que As sessões terão lugar no auditório da sede regional, em período pós-
desenvolvam atividade no setor agrícola mas também para os que de- -laboral, com início às 18h30. As inscrições podem ser efetuadas através
sejam encetar projetos turísticos relevantes, inseridos em zona de re- do e-mail geral.acores@acores.oep.pt •

Novas regalias para Membros a empresa Fácil, que prevê descontos entre 10% e 35% em diversos
produtos e serviços. Na área de Mobiliário e Casa, a empresa Orpheu
Sempre com o intuito de estender aos Membros da Ordem dos Enge- Decor oferece aos Membros da Ordem descontos de 15% em toda a
nheiros (OE) um conjunto de benefícios e de vantagens na compra ou gama de artigos que disponibiliza online. Já a empresa Salgo, dedicada
no usufruto de serviços prestados por empresas sediadas na Região, a exclusivamente à venda de produtos online, garante 5% de desconto
Região dos Açores da OE aproveitou a altura mais tranquila do ano aos Membros da Ordem que recorram aos seus serviços.
para estabelecer novas parcerias com empresas locais que, tendo de- Todas as parcerias encontram-se publicadas no Portal do Engenheiro,
monstrado interesse recíproco, fazem agora parte da rede de parceiros em www.ordemengenheiros.pt, e podem também ser consultadas
da Ordem. No setor da Construção foi celebrado um protocolo com junto dos serviços administrativos da Região. •

32 • INGeNIUM Julho/Agosto/Setembro 2018


TEMA DE CAPA
ENGENHARIA
NAVAL
E OCEÂNICA

34 Engenharia Naval 40 Economia marítima 46 Engenharia Naval


e Oceânica em Portugal inteligente: e Oceânica no Técnico
Enquadramento histórico, o papel da Engenharia Carlos Guedes Soares
património marítimo, social, e da ordem dos engenheiros
Professor Distinto
económico e político Pedro Ponte do Instituto Superior Técnico
Victor Gonçalves de Brito Presidente do Colégio Nacional Membro Conselheiro
Engenheiro Naval de Engenharia Naval da Ordem dos Engenheiros
da Ordem dos Engenheiros
Membro do Conselho de Admissão
38 O desígnio da economia e Qualificação da Ordem dos Engenheiros
do mar e a expressão 44 Domínios de Intervenção
da construção do Engenheiro Naval,
Empregabilidade
48 Legislação da Especialidade,
e reparação naval Regulação e o papel das
e Actos de Engenharia: Sociedades Classificadoras
António Nogueira Leite
quadro actual
Presidente da Fórum Oceano – Associação Paulo Viana
e perspectivas futuras
da Economia do Mar Engenheiro Naval
Francisco Cunha Salvado
Professor Catedrático da NovaSBE Inspetor e Diretor da DNVGL Portugal
Vogal do Colégio Nacional
de Engenharia Naval
da Ordem dos Engenheiros

50 ESTUDO DE CASO 52 ESTUDO DE CASO

Lisnave West Sea


Passado, presente e futuro Percorrendo o seu caminho
Peter Luijckx na indústria naval
Managing Director André Queiroz
Lisnave, Estaleiros Navais S.A. Engenheiro • Diretor Técnico e de Projeto
António Jardim
Engenheiro • Diretor de Planeamento

Julho/Agosto/Setembro 2018 INGeNIUM • 33


Tema de Capa ENGENHARIA NAVAL E OCEÂNICA

Engenharia Naval e Oceânica


em Portugal
Enquadramento histórico, património
marítimo, social, económico e político
o que permite sinergias na obtenção de so- tasse a designação de Engenharia Oceânica,
luções para os problemas que os enge- nomeadamente em alguns países mais avan-
nheiros têm que enfrentar. çados nos conhecimentos específicos ne-
Aliás, sendo a Engenharia Naval orientada cessários para gerar soluções para essas
para incidir em bens transaccionáveis ou, situações. Essa designação foi-se generali-
Victor Gonçalves de Brito como por vezes se refere, sendo uma “En- zando, na medida em que em certos as-
Engenheiro Naval genharia de síntese”, está habituada a inte- pectos a eficácia do ensino e da aprendi-
ragir e incorporar soluções e sistemas estu- zagem para praticar Actos de Engenharia
dados e produzidos por outros sectores tec- nessas situações oceânicas prescinde de
nológicos e outras áreas do conhecimento, alguns conhecimentos ministrados nos

A
Engenharia Naval foi admitida como mesmo fora do grupo das Engenharias. cursos de Engenharia Naval de índole mais
Especialidade da Ordem dos Enge- Desde sempre a Engenharia Naval centrou clássica.
nheiros (OE) por resolução da As- a sua intervenção nos meios aquáticos des- A característica iminentemente internacional
sembleia Geral extraordinária realizada em tinados ao transporte de pessoas e bens, ao da Engenharia Naval manifesta-se no fun-
29 de Janeiro de 1941, onde também foi exercício da autoridade do Estado, à pesca, cionamento da Organização Marítima In-
criada a Secção de Engenharia Naval. Tornou- à cartografia dos mares e à investigação ternacional/International Maritime Organi-
-se a sexta Especialidade, juntando-se às científica e aos meios necessários à insta- zation (OMI/IMO) e das Sociedades de Clas-
cinco fundadoras: Civil, Electrotécnica, Me- lação de cabos submarinos, dragagens e sificação.
cânica, Minas e Químico-Industrial. outras recolhas de inertes que exijam navios A IMO é uma agência especializada da ONU,
ou barcaças, e as embarcações auxiliares, responsável pela segurança e protecção
Os conhecimentos científicos e o como sejam os rebocadores e as embarca- (safey & security) do transporte marítimo e
desenvolvimento das tecnologias ções de apoio (serviços portuários, fiscali- pela prevenção de poluição marítima e at-
inerentes à Engenharia Naval. zação, socorro a náufragos, serviços de pi- mosférica causada pelos navios; a sua prin-
A introdução da Engenharia lotagem, etc.). cipal função é a criação de um quadro re-
Oceânica Ao longo dos tempos, em particular nos úl- gulador na indústria do transporte marítimo
timos três quartéis, cresceu em ritmo acele- que seja equilibrado e eficaz, para ser uni-
A Engenharia Naval é o ramo de Engenharia rado a importância da náutica de recreio e versalmente aceite e implementado. O re-
que tem como foco principal a concepção, de competição, o turismo fluvial e marítimo, sultado último da acção da IMO são as Con-
a construção e manutenção de navios, em- costeiro e oceânico, a prospecção e extracção venções Internacionais que, não vinculando
barcações e outras estruturas flutuantes, de hidrocarbonetos de origem fóssil em todos os tipos de navios, acabam por ser
independentemente da área de operação fundos marítimos a cada vez maior profun- um referencial para os tipos de navios não
desses meios. didade, a identificação e avaliação do poten- abrangidos.
As áreas do conhecimento que integram os cial de aproveitamento de outros recursos As Sociedades de Classificação são organi-
fundamentos e o domínio de aplicação da vivos e não vivos, as diversas formas de apro- zações não-governamentais que estabe-
Engenharia Naval e as vertentes de actuação veitamento de energias renováveis, etc. lecem e mantêm normas técnicas (desig-
profissional estão bem detalhadas no portal A complexidade e especialização necessá- nadas por regras de classificação) para a
da OE, no enunciado dos domínios de in- rias para desenvolver soluções eficazes e construção e operação de navios e de es-
tervenção do Engenheiro Naval, no local eficientes para o aproveitamento de recursos truturas offshore; certificam que a cons-
dedicado ao respectivo Colégio e Especia- marítimos recentemente identificados como trução está conforme com normas relevantes
lidade. Do mesmo modo, o conjunto dos tendo interesse estratégico, quer sejam flu- para a utilização dos mesmos e conduzem
Actos próprios do Engenheiro Naval, apro- tuantes, quer sejam localizados nos fundos inspecções periódicas durante a vida útil dos
vados em 2015, detalham o âmbito de ac- oceânicos profundos e os recursos ener- navios para assegurar a continuidade com
tuação específica do Engenheiro. géticos igualmente a grandes profundidades, a conformidade fixada previamente. Além
A abordagem das correspondentes áreas que requerem veículos submarinos autó- das regras, as Sociedades de Classificação,
científicas de base e as aplicações tecnoló- nomos ou de comando directo, com ou graças à capacidade técnica que detêm,
gicas desenvolvidas têm, em certos aspectos, sem capacidade de manipulação robótica, produzem todo um conjunto adicional de
afinidades com outras áreas de Engenharia, levaram a que há cerca de 50 anos se adop- informação técnica de grande relevância

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ENGENHARIA NAVAL E OCEÂNICA Tema de Capa

para o exercício profissional da Engenharia uma relação de vantagem mútua entre as redução da intervenção dos profissionais de
aplicada aos navios e outras estruturas flu- actividades económicas ligadas aos navios Engenharia Naval, a despeito do relevante
tuantes. A quase totalidade dos navios em e ao mar e a Engenharia Naval endógena. desempenho de alguns estaleiros, entre os
tráfego internacional é classificada, nomea- Mas a realidade nacional demonstra que as quais se cita a Lisnave, o Arsenal do Alfeite
damente porque tal classificação condiciona referidas potenciais vantagens não são su- e os Estaleiro Navais de Viana do Castelo,
o montante dos prémios de seguro e res- ficientes para dinamizar o crescimento eco- este último até ao início do século XXI.
pectivas condições contratuais. nómico, os benefícios do emprego qualifi- Ao contrário das centenas de navios de pesca
cado no sector marítimo e o crescimento que foram maioritariamente projectados e
Breve cronologia da situação dos efectivos de profissionais ligados às ac- construídos em Portugal, grande parte dos
da Engenharia Naval em Portugal tividades de Engenharia centrada nos navios navios mercantes decorrentes desse pro-
e meios afins. grama de apetrechamento nacional foi ad-
A limitação do espaço e o propósito do pre- Efectivamente, depois de um período de quirida no estrangeiro; no entanto, há que
sente artigo não permitem uma apreciação crescimento da frota mercante, consequência relevar a participação dos engenheiros navais
pormenorizada da evolução da Engenharia da publicação do Despacho do Ministro da e de outras especialidades, pretendendo-se
Naval ao longo dos tempos, contudo existe Marinha n.º 100, de 10 de Agosto de 1945, nesta oportunidade salientar a intervenção
uma convicção forte que se tem mantido: e do crescimento das diversas frotas de na- profissional do actual Decano da Especiali-
Portugal é um país marítimo com um ex- vios de pesca, consoante as técnicas de dade de Engenharia Naval, o Membro Con-
tenso litoral no território continental e detém pesca e os locais de operação, que teve o selheiro Rogério de Oliveira, que a par de
uma localização geográfica e condições seu auge na década de sessenta do século outras complexas e muito relevantes funções
meteorológicas muito favoráveis ao desen- passado, ocorreu uma gradual redução da profissionais ao serviço da Marinha projectou
volvimento da economia do mar e de uma actividade, com cessação de empresas ar- um número significativo de navios de diversos
indústria naval robustas, aliadas ao corres- madoras e consequente abate de navios, tipos, entre eles o mítico “Funchal” e, com
pondente crescimento de emprego qualifi- que mais de 50 anos depois ainda não foi impacto no período áureo das carreiras para
cado. Nos países marítimos, em regra, existe possível suster e que teve claros efeitos na o Brasil e para África, o paquete “Príncipe

Julho/Agosto/Setembro 2018 INGeNIUM • 35


Tema de Capa ENGENHARIA NAVAL E OCEÂNICA

Perfeito”. No âmbito militar projectou as Cor- O segundo elemento refere-se à ausência alternativa será a celebração posterior de
vetas “João Coutinho” e “Baptista de Andrade” de regulamentação profissional na área do concessões onde os benefícios nacionais
e, mais recentemente, projectou as réplicas projecto, construção, legalização de cons- se cingirão à cobrança de rendas.
das Caravelas “Bartolomeu Dias”, “Boa Espe- truções importadas, etc. Ao longo de de- Em concreto, as expectativas de desenvol-
rança” e “Vera Cruz” e da Nau Quinhentista zenas de anos foi usada a argumentação de vimento da Engenharia Naval em Portugal
“Vila do Conde”. que, a existir regulamentação, a inexistência estão associadas a:
de efectivos suficientes com a referida qua- › Implantação ou crescimento local das
A situação e as expectativas lificação académica em Engenharia Naval diversas indústrias de produção, manu-
da Engenharia Naval levaria a um bloqueio da actividade… tenção ou assistência a navios, embarca-
Em 2007 a Ordem dos Engenheiros en- ções e plataformas offshore, estas últimas
A Engenharia Naval, como todas as outras tregou ao membro do Governo com a tu- que venham a operar nas vastas áreas de
Especialidades, é um recurso estratégico ao tela do assunto uma proposta de regula- interesse nacional;
serviço do todo nacional, designadamente mentação profissional para o projecto e › Retoma da Marinha de Comércio – Ar-
nas vertentes económica e social – mas por construção de navios, que teve trabalho madores nacionais, aproveitando as anun-
si própria não tem condições nem lhe com- posterior de melhoria, de adaptação legis- ciadas alterações no regime fiscal (ton-
pete mobilizar os investidores privados e lativa e pareceres de diversas entidades; ao nage tax e redução de impostos e de en-
capitalizar as empresas; do mesmo modo que se sabe, até ao presente não foi con- cargos da segurança social sobre o tra-
não tem tido canais de acesso eficazes para cretizada. balho dos marítimos);
sensibilizar as instituições políticas para o O terceiro elemento, de natureza institu- › Incremento dos serviços de Engenharia
que considera serem as melhores políticas cional e com muito maior impacto, refere- (gabinetes de projecto, Sociedades de
públicas que produzam dinamização das -se às alterações políticas ocorridas em Classificação, assistência técnica, consul-
actividades ligadas ao mar e à indústria naval, Portugal em 1974, ao processo de desco- toria, peritagem, inspecção), em linha
em particular em matéria de defesa da con- lonização que se seguiu, à crise social, eco- com o aumento da procura nacional, in-
corrência, obtenção de investimento directo nómica e financeira ocorrida no final da cluindo a prestação de serviços ao MAR
estrangeiro e de apoio à internacionalização. década de setenta e início da década de – Registo Internacional de Navios da Ma-
Do passado, citam-se três factores que se oitenta do século XX e, finalmente, às con- deira;
considera terem sido importantes para não sequências da entrada na CEE, implicando › Incremento da Internacionalização da
se progredir como se desejaria. alterações nas regras da economia e um actividade, em resultado da credibilidade
Primeiro, refere-se o erro nacional de só excessivo foco na Europa dos “fundos so- reforçada com o aumento da actividade
muito tardiamente, em 1976, se ter iniciado ciais, estruturais e da coesão”, com o País a nacional;
o ensino superior da Engenharia Naval, curso “virar as costas ao Atlântico”. › Progressiva constituição de um cluster
que só em 1981 foi integrado no Instituto Entretanto, com a Expo 98 iniciou-se o dis- marítimo.
Superior Técnico, coincidindo esse início curso nacional de “reconciliação” com a
com as consequências de uma crise petro- vertente Atlântica que desde então se man- Os desafios futuros serão sobretudo rela-
lífera que na Europa afectou de modo irre- teve em contínuo, com os Governos a rea- cionados com a continuação da minimização
versível as respectivas economia do trans- firmarem periodicamente a importância es- dos actuais problemas ambientais, os pro-
porte marítimo e a indústria naval. A inexis- tratégica do mar, mas sem mudanças reais blemas de segurança específicos dos navios
tência, em Portugal, de formação superior significativas, nem políticas públicas, nem de grande dimensão (em particular navios
dedicada a esta Especialidade condicionou investimentos produtivos, salvo no que aos de cruzeiros oceânicos e navios porta-con-
o desenvolvimento da própria profissão, portos diz respeito. tentores), a eficiência energética, os novos
quer na vertente de projecto de Engenharia, É frequentemente afirmada a importância combustíveis e novos tipos de geradores de
quer no correspondente sector industrial – expectável dos recursos emergentes asso- energia a bordo (com células de combus-
construção e reparação, quer ainda em todas ciados ao alargamento da extensão da pla- tível), a viabilização de navios autónomos e
as funções do Estado em matéria de regu- taforma mas, enquanto se espera, continua a implementação de soluções materiais e
lamentação e de regulação das actividades a não haver qualquer plano de identificação de natureza organizacional tendentes à re-
económicas relativas à obtenção e de mo- concreta de novos recursos na Zona Eco- dução dos custos de produção e de manu-
nitorização da vida útil de embarcações, em nómica Exclusiva, ela própria com uma ex- tenção de navios, para se manterem con-
matérias de segurança, de funcionalidade, tensão significativa e possivelmente incor- correnciais com outros meios de transporte
etc. Na ausência de profissionais de Enge- porando recursos marinhos semelhantes alternativos para as mesmas funções. Outros
nharia devidamente preparados, determi- aos da extensão da aludida plataforma. desafios certamente aparecerão, nomeada-
nados cargos técnicos, seja em organiza- Com um plano nacional orientado para a mente em resultado da necessidade de subs-
ções do Estado, seja em empresas, foram acção, a Engenharia Naval e outras Espe- tituição de materiais tornados indisponíveis,
ocupados por outros profissionais de outros cialidades poderiam dar um contributo forte excessivamente onerosos ou reconhecidos
sectores, com os inconvenientes que se na inventariação dos recursos e na imple- como perigosos.
pode imaginar. Uma comparação com o mentação de tecnologias experimentais de
que ocorreu no país vizinho poderá dar nota aproveitamento sustentável desses mesmos Nota: o autor escreve segundo a ortografia
das diferenças e das consequências. recursos. Sem essa actuação concertada, a anterior ao Acordo de 1990.

36 • INGeNIUM Julho/Agosto/Setembro 2018


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Tema de Capa ENGENHARIA NAVAL E OCEÂNICA

O desígnio da economia do mar


e a expressão da construção
e reparação naval
económica do “Mar Português” ainda bas- utilização de tecnologia, especializando-se
tante limitada. Os números são eloquentes. em novos segmentos mais lucrativos, como
Em 2016 havia 177.000 empregos ligados à o dos navios de cruzeiros, os ferries, os
economia do mar em Portugal (fonte: An- mega-iates e as plataformas para exploração
nual Economic Report on the EU Blue Eco- de recursos naturais. A reestruturação dos
António Nogueira Leite nomy 2018), um incremento de 22.000 face estaleiros europeus levou a uma importante
Presidente da Fórum Oceano – Associação a 2009. Desse total, 75% referiam-se ao tu- queda do emprego desde o final da década
da Economia do Mar rismo de mar e 22% à pesca e à apanha de passada, especialmente na Alemanha, Po-
Professor Catedrático da NovaSBE marisco. A actividade portuária representava lónia e Espanha. Os últimos resultados mos-
2%, o transporte marítimo 0,7% e a cons- tram que os esforços começam a ganhar
trução e reparação navais apenas 1,9%. A relevância, com a melhoria recente dos in-
actividade de exploração de recursos ener- dicadores de rendibilidade do sector. O valor

E
m boa parte dos últimos 40 anos, géticos no mar (essencialmente prospecção acrescentado cresceu 11% entre 2009 e 2016,
Portugal virou as costas ao mar, as- e exploração de petróleo e gás natural) não enquanto o emprego se reduziu 15%, espe-
sistindo-se ao desmantelamento de tinha qualquer expressão, ainda que para o lhando a profunda reestruturação de que o
um conjunto de estruturas empresariais conjunto dos países com frente de mar na sector foi alvo. Os lucros agregados antes
consolidadas ao longo de décadas, algumas União Europeia representasse 1,7% do em- de impostos atingiram os 2,3 mil milhões de
com um passado de relevância fora das prego da economia do mar do conjunto euros, quase mais 50% do que em 2009.
nossas fronteiras. Este processo conduziu destes países. Embora registando um cres- O sector em Portugal também se reestru-
a uma perda do conhecimento e know-how cimento de 27% desde 2009, o Valor Acres- turou, procurou novos mercados e segmentos
acumulados durante as décadas precedentes, centado Bruto da economia do mar ainda e estará em melhor forma do que o que se
assim como à erosão e mesmo desapare- representa apenas pouco mais de 3,5% do achava possível no auge da crise, em 2011/12.
cimento de muitas das capacidades e com- total da economia. Com uma produtividade Contudo, é ainda relativamente pequeno e
petências dos recursos humanos afectos a em linha com a média do sector, o turismo não suficientemente capitalizado para os de-
actividades da economia do mar. de mar representa 3/4 do valor criado, contra safios que se perspectivam no médio prazo.
Como já referi em escritos anteriores, esta apenas 16% da pesca, função da muito baixa Para que o sector ganhe competitividade
perda de competências e capacidades, produtividade do sector. carece ainda de investimentos relevantes,
mesmo nas actividades mais tradicionais, A construção e reparação navais perderam mesmo tendo em conta apenas a base ins-
onde se incluem a construção e a reparação cerca de 1.000 trabalhadores entre 2009 e talada. Porém, havendo capital, o desafio de
navais, levou a que se chegasse ao início do 2016, tendo actualmente uma força de tra- crescer num ambiente crescentemente exi-
presente século com pouco mais do que balho de cerca de 3.300. Contudo, o seu gente, onde as capacidades relevantes são
uma mera afinidade emocional num con- valor acrescentado manteve-se relativa- cada vez mais sofisticadas, e garantindo o
texto em que a larguíssima maioria dos mente estável, passando de 107 milhões de acesso às tecnologias mais eficientes, não é
agentes económicos nacionais não tem euros em 2009 para 109 milhões em 2016. impossível. Implica, isso sim, uma aposta
praticamente qualquer interação económica Porém, a evolução ao longo do período re- consistente e persistente de todos os actores
com o nosso mar e o enorme potencial que gistou alterações relevantes, tendo atingido relevantes, no sector, a montante e até a ju-
este encerra. Tal não significava o desapa- um mínimo de apenas 66 milhões em 2012. sante. Para tal, espera-se estabilidade das
recimento das actividades ligadas ao mar, De qualquer modo, a dimensão do subsector políticas públicas para o sector e a capaci-
mas antes que estas se tinham reconfigu- é modesta, quer face à sua expressão em dade de estabelecer parcerias mutuamente
rado a uma expressão muito inferior à que décadas anteriores, quer quando compa- vantajosas, incluindo com clientes, de modo
tinham em décadas anteriores. rada com os pesos correspondentes em a assegurar a procura que justifique os in-
No início deste século, a conjugação das outras economias da União Europeia. vestimentos que são necessários se mate-
vontades de vários agentes, quer políticos, Para o conjunto da União Europeia há que rialize. O sector tem hoje oportunidades que
quer empresariais e mesmo académicos, destacar a reconversão de muitos dos esta- não se vislumbravam há cinco ou seis anos.
trouxe a temática da economia do mar de leiros, incluindo os maiores, reduzindo a Saibamos todos aproveitá-las.
novo para a agenda política e mediática. In- sobre-capacidade notória existente na dé-
felizmente, tem-se falado muito mais do que cada anterior. Os estaleiros têm vindo a Nota: o autor escreve segundo a ortografia
aquilo que se tem realizado, sendo a expressão apostar na sua reconversão e mais intensa anterior ao Acordo de 1990.

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Economia marítima inteligente:


o papel da Engenharia
e da ordem dos engenheiros
Crescimento económico derão condicionar a futura necessidade de
e necessidades de navios navios e, naturalmente, as suas dimensões
principais, nomeadamente: as alianças entre
Os navios e os portos marítimos são con- operadores de transporte marítimo, a futura
siderados ativos essenciais e determinantes arquitetura da Rota da Seda – One Belt One
Pedro Ponte na manutenção dos nossos atuais padrões Road, a eventual abertura do canal da Ni-
Presidente do Colégio Nacional de vida. Esta consideração corporiza-se com carágua, a evolução dos acordos de livre-
de Engenharia Naval mais consistência quando constatamos que -comércio Ásia-Pacífico, de Parceria Tran-
da Ordem dos Engenheiros
anualmente passam por estas complexas satlântica de Comércio e o TTIP – Transa-
infraestruturas mais de 90% das nossas trocas tlantic Trade and Investment Partnership, a
comerciais mundiais. abertura da rota do Ártico, entre outras.
Apesar de desempenharem um papel vital Independentemente da incerteza quanto à
como catalisadores económicos, os navios evolução das características dos navios do
e os portos não são entidades isoladas dum futuro, a escala de um mega porta conten-
contexto global e até inclusivamente das tores (22.000 TEU´s – Twenty-foot Equiva-
regiões onde desenvolvem as respetivas lent Unit) exige a coordenação e o sincro-
operações. Por força da crescente neces- nismo de muitos atores diferentes. Tem im-
Introdução sidade de trocas comerciais e da maximi- plicações ao longo da comunidade logístico-
A indústria do Shipping 4.0 zação dos efeitos de escala, assistimos a um -portuária e obriga à intervenção de múltiplas
admirável contínuo crescendo das dimen- autoridades com competências e atribuições.
O setor das tecnologias marítimas e oceâ- sões e capacidades de transporte dos navios Os mais recentes “Port Community Systems”,
nicas abrange todas as empresas envolvidas porta contentores, vide Figura 1, cujas con- de acordo com a arquitetura modular E-
na conceção, construção, manutenção e sequências acarretam um vasto conjunto -MARITIME, funcionam como placas gira-
reparação de todos os tipos de navios e ou- de adaptações estruturais e processuais nos tórias de informação estruturada, podem
tras estruturas marítimas, incluindo toda a portos e ao longo das respetivas cadeias integrar cartas de navegação eletrónicas,
cadeia de abastecimento de sistemas, equi- logísticas. posição dos navios, nível das marés, velo-
pamentos e serviços, contando com o apoio Subsistem indefinições relativas aos múlti- cidade e direção das correntes, estado dos
de instituições de investigação e de ensino. plos fatores da geopolítica mundial que po- postos de atracação nos terminais portuá-
A eficiência deste setor influi fortemente rios, altura das pontes, locais de trabalhos
sobre o desenvolvimento da Humanidade; de construção e outras atividades em curso
segundo as Nações Unidas, impacta dire- no porto. Esta informação provém de di-
tamente sobre 15 dos 17 Objetivos de De- versos sistemas independentes, sendo in-
senvolvimento Sustentável. O Shipping 4.0 tegrada em sistemas georreferenciados, in-
já é uma realidade atual e afigura-se como cluindo a possibilidade de utilizar diversos
uma excelente oportunidade perante al- gadgets para introduzir ou receber infor-
gumas indefinições para as quais urge pre- mação atualizada adicional no sistema (por
parar respostas dinâmicas e eficientes. exemplo, óculos de realidade virtual per-
mitem ajudar nas manobras dos navios ou
na localização de determinado contentor,
por exemplo, com mercadorias “perigosas”).
Em alguns casos introduziram-se sensores
de localização em diversos equipamentos,
como gruas flutuantes, comboios e veículos
de transporte terreste, de modo a gerir estes
recursos de forma mais eficiente e a pro-
Figura 1 A
 capacidade de transporte do maior
mover a sincromodalidade. Adicionalmente,
navio porta contentores cresceu
1200% em 50 anos podem ser instalados sensores de tempera-

40 • INGeNIUM Julho/Agosto/Setembro 2018


ENGENHARIA NAVAL E OCEÂNICA Tema de Capa

tura, direção e força de vento, qualidade do num conjunto de tecnologias mais direcio- Um ecossistema de inovação
ar, qualidade da água, por forma a obter in- nadas para os navios e para os portos, tais e de empreendedorismo como
formação em tempo real destes parâmetros como automação, descarbonização das instrumento de competitividade
na área portuária e medir a pegada carbónica. operações, eletrificação dos transportes, do maior porto europeu
De uma forma muito simplista, podemos produção aditiva – 3D, entre outras, para se
imaginar dois canais paralelos, um digital manter competitiva e resiliente. Roterdão, o maior porto europeu em vo-
(Data), que precede a chegada do navio e De acordo com a McKinsey, estima-se que lume de mercadorias (450 milhões ton/ano),
das suas mercadorias, o qual permite “pre- mais de 11 triliões de dólares podem ser ge- pretende ser o porto mais inteligente do
parar os meios e desenvolver as formali- rados conectando o mundo físico e digital Mundo. Para manter essa posição de lide-
dades” para a chegada física do navio e seu até 2025. Com a computação em cloud rança, aposta claramente na inovação e no
conteúdo. A digitalização a montante e a cada vez mais disseminada, a demanda por empreendedorismo como instrumentos de
jusante da referida escala pode e segura- soluções inovadoras e orientadas por “Big competitividade e de concretização da tran-
mente será incomensuravelmente mais Data” para tarefas correntes está a crescer sição energética, de promoção de eficiência,
complexa; por exemplo, já existem unidades rapidamente. de sustentabilidade, de redução de custos,
fabris que, em face das suas encomendas A importância deste tema conduziu o Fórum descarbonização dos seus processos logís-
e da consequente produção, injetam dire- Económico Mundial a refletir sobre a quarta tico-portuários. Vide www.portofrotterdam.
tamente reservas de espaços a bordo dos revolução industrial aplicada ao setor da lo- com/innovationhub.
navios de determinadas linhas. gística e dos transportes marítimos. Grandes
A conhecida plataforma de comércio eletró- desafios geram naturalmente oportunidades Trabalhar em rede para manter
nico Alibaba desenvolveu uma parceria com transversais para o setor das tecnologias um passo à frente e investir
a Dinamarquesa MAERSK na qual promovem marítimas e para todo um amplo espetro no setor portuário do futuro
uma partilha direta de informação, que per- de outras indústrias, onde a integração entre
mite reduzir elos da cadeia logís- As empresas que se concentram em sus-
tica, reservar espaços para conten- tentabilidade e tecnologia encontram nos
tores, reduzir custos e fornecer portos amplas oportunidades de cresci-
informação rigorosa ao comprador mento. O Fundo do Porto de Roterdão dá
quanto ao tempo de entrega. O E- aos seus investidores a oportunidade de
-commerce a interagir diretamente moldar a economia portuária do futuro e
com a logística e consequente- realizar as suas metas comerciais e de sus-
mente a influenciar as frequências tentabilidade. Conjuntamente com o mu-
e as dimensões dos navios a alocar nicípio, com a comunidade portuária e com
a determinada rota comercial. as universidades desenvolveram quatro ini-
Em resposta ao exigido reforço de Figura 3 Os marcos das diferentes revoluções industriais ciativas de aceleração de negócios cujos
segurança e de eficiência logística, e o desconhecimento da plenitude resultados não deixam ninguém indiferente.
da abrangência dos CPS
a Indústria do Shipping 4.0 tem- Fonte: World Economic Forum
-se revestido de uma “camada di-
gital” suportada num intrincado mosaico o mundo físico e mundo digital ocorra de
tecnológico de Inteligência Artificial, “Blo- um modo fluido e síncrono, através dos
ckchain”, Máquinas Cognitivas, Internet das chamados sistemas de produção ciberfísicos
Coisas (IoT – Internet of Things), mas também (CPS – Cyber-Phisical Systems).

Figura 4 M
 anufatura aditiva, primeira impressão
em 3D de um hélice
https://www.portofrotterdam.com/en/news-and-
press-releases/ramlab-prints-first-ships-propeller

Outra importante iniciativa prende-se com


o lançamento do “BlockLab”, um esforço
conjunto entre o Município de Roterdão e
a autoridade portuária para investigar o po-
tencial do blockchain na organização da
logística portuária e dos fluxos de carga de
forma mais eficiente. A consequência prá-
tica desta tecnologia traduz-se em algo
Figura 2 Alguns dos principais vetores suporte ao Shipping 4.0 inovador e disruptivo:

Julho/Agosto/Setembro 2018 INGeNIUM • 41


Tema de Capa ENGENHARIA NAVAL E OCEÂNICA

“Pela primeira vez, passa a existir uma Constata-se, com muito interesse, que passa dos processos, criadoras de um ecossistema
forma de um usuário da Internet transferir a vigorar a noção de que os portos portu- potencialmente propenso ao surgimento
uma propriedade digital para outro usuário gueses podem beneficiar e simultaneamente de softwares inovadores capacitadores de
da Internet, de modo que a transferência estimular a inovação e o empreendedorismo melhor excelência operacional.
seja garantida como segura e protegida. tecnológico.
Todos sabem que a transferência ocorreu Shipping 4.0 Applications
e ninguém pode contestar a legitimidade Criação de um hub portuário acelerador de Ship System
Operation Improve
Design Design
da transferência.” negócios com capacidade para atrair o in-
vestimento e apoiar a internacionalização Shipping 4.0 Information Infrastructure
As consequências desse avanço são difíceis da economia portuguesa; pilar que se sub- International standards

de quantificar, mas obviamente aporta mais divide em objetivos e metas muito concretas
Figura 6 Campos de aplicação do Shipping 4.0
“integridade, transparência, interoperabili- e desafiantes:
dade e segurança às trocas comerciais in- › Aumentar o volume de negócios e o grau Seguramente, a presente estratégia e estes
ternacionais, beneficiando empresas de de especialização da indústria naval – au- projetos de ITS – Intelligent Transport Sys-
todas as dimensões”. mentar em 50% o volume de negócios tems and Services irão trazer novos desafios,
da indústria naval; mas, acima de tudo, novas oportunidades
A dinâmica de inovação › Incentivar a inovação e modernização do para as empresas e para os profissionais.
nos portos portugueses setor (formação, I&D e tecnologia); Em Portugal, na EMSA – Agência de Segu-
› Criar plataformas de aceleração tecno- rança Marítima Europeia, está a ser desen-
A Resolução do Conselho de Ministros n.º lógica nos portos para novos negócios volvida a European Maritime Single Window
175/2017, de 24 de novembro de 2017, nas indústrias avançadas do mar – Au- – EMSW que irá testar o E-Manifest, a inte-
aprovou a Estratégia para o Aumento da mentar em 50% o volume de negócios ração com o safeseanet e rever a arquite-
Competitividade Portuária no horizonte das atividades conexas/transversais. tura modular do E-Maritime.
2016-2026, a qual refere o seguinte:

Safety Security National Logistic


Port Ship
“…O setor do mar constitui uma aposta Environment Single
applications applications
Chain
Risk Management Windows applications
de futuro, onde a melhoria das condições
Administrations domain Business domain
e infraestruturas portuárias é absolutamente
A2A, A2B, B2A B2B
vital, dotando o País de infraestruturas
e-maritime Reference Applications
capazes de rentabilizar os ativos existentes
e os fundos europeus disponíveis. O sistema
portuário nacional tem de estar preparado Os portos comerciais do Continente, para
para aproveitar as novas oportunidades, além do foco no “core” do seu modelo de
incluindo as decorrentes da alteração das negócio (excelência operacional na movi-
rotas do tráfego marítimo global associadas mentação de carga e passageiros), têm
ao alargamento do Canal do Panamá…”. adaptado a sua atividade às novas realidades
do comércio marítimo e do setor naval, al-
Neste sentido, e com o desígnio de afir- bergando a instalação de novas áreas de
mação do sistema portuário como um hub negócio, como a digitalização das opera-
fundamental para a internacionalização da ções, instalações fabris de energias renová-
economia portuguesa, define-se uma visão veis oceânicas ou a construção de compo-
estratégica assente em três pilares funda- nentes para navios especializados. Com
mentais: efeito, está em curso um conjunto de mu-
danças tecnológicas, regulatórias e econó-
micas geradoras de desafios de desenvol-
vimento e de novas oportunidades para Uma visão para 2025
atração de investimento privado para os Oportunidades em marcha
portos portugueses. Entre as diversas ten-
dências de mudança é de destacar, no do- O setor das tecnologias marítimas tem um
mínio da digitalização, o pioneirismo da rede interesse crescente em aproveitar o poten-
portuária na introdução do paradigma “In- cial económico dos mares e dos oceanos
dústria 4.0” – Digitalização e automação de uma forma sustentável. A energia eólica
das operações –, com a implementação marítima, a energia oceânica, a aquicultura,
das iniciativas da Janela Única Portuária a mineração subaquática, o abastecimento
(JUP), Fatura Única Portuária (FUP) e Janela elétrico a navios por fontes renováveis e re-
Única Logística (JUL), as quais irão lançar generativas, são disso apenas alguns exem-
Figura 5 Representação dos três pilares da visão
estratégica para os portos portugueses dinâmicas de digitalização e de integração plos.

42 • INGeNIUM Julho/Agosto/Setembro 2018


ENGENHARIA NAVAL E OCEÂNICA Tema de Capa

É expectável que uma das maiores mudanças


no Shipping seja a forma como os navios
serão alimentados. A frota mundial poderá
contar com uma gama mais ampla de com-
bustíveis e novas soluções de propulsão.
A eficiência energética dos navios e das res-
petivas cadeias logísticas também será per-
tinente para a sua competitividade. Neste
complexo e dinâmico exercício global de
promoção de sustentabilidade logístico-por-
tuária, torna-se cada vez mais relevante re-
pensar o mix energético, introduzindo gra-
dativamente a geração energética por recurso
a fontes renováveis, ao aproveitamento das
forças regenerativas ao longo de toda a ca-
deia logística, no fundo ao conceito de Har-
vest Energy, i.e., a captura de qualquer delta
energético dever ser perspetivada, principal-
mente face à meta vinculativa de 32% de em 2025. Contudo, embora sejam espe- considerados conservadores, requer profis-
energia de fontes renováveis para 2030, e rados navios totalmente automatizados a sionais com formação sólida em diferentes
que pode ser revista em alta até 2023, esta- entrar no mercado em 2025, ainda existem áreas da Engenharia, que permitam enfrentar
belecida pela União Europeia. barreiras regulamentares a impedir a ope- desafios complexos de forma integrada e
Iniciou-se recentemente o projeto da cons- ração de navios autónomos em águas in- complementar.
trução do primeiro ferry do Mundo, HySeas ternacionais, limitando a sua aplicação a Também na dimensão oceânica, a Ordem
III, alimentado exclusivamente a hidrogénio águas do País e do transporte marítimo de dos Engenheiros, a casa da Engenharia por-
produzido por recurso à geração eólica. curta distância no futuro mais imediato. tuguesa, agrega profissionais imprescindí-
A introdução de navegação autónoma e de veis, competentes e capazes, preocupados
novos recursos energéticos para propulsão com as melhores soluções técnicas susten-
irão alterar profundamente os atuais mo- táveis, geradoras de emprego e de riqueza.
delos de negócio. Urge aproveitar as oportunidades e o poder
que ainda temos para rumar à Quarta Re-
Conclusões volução Industrial – Shipping 4.0 e direcioná-
-la para um futuro que reflita os nossos ob-
Num país onde 97% do seu território é mar, jetivos e os nossos valores comuns.
o setor das tecnologias marítimas e oceâ- No final, tudo se resume a pessoas e valores.
Alguns navios, como ferries e embarcações nicas terá que forçosamente afirmar-se com Precisamos moldar um futuro que funcione
costeiras, já são alimentados completamente firmeza. para todos nós, colocando as pessoas em
ou em grande parte por eletricidade gerada O País não capitalizará a sua maior riqueza primeiro lugar e capacitando-as para lidar
em fontes renováveis. se não possuir embarcações, equipamentos, com os desafios decorrentes desta fantástica
Portos chineses e europeus já operam sis- conhecimento e pessoas capazes para con- indústria que movimenta 90% de tudo.
temas automatizados para carga e descarga cretizar este desígnio nacional.
de contentores. Os primeiros protótipos de As plataformas de aceleração tecnológica
navios autónomos já estão próximos e di- dos portos – rede portuária de novos ne-
ferentes tipos de navios serão entregues gócios e competências nas indústrias avan-
com capacidades de operação autónoma çadas do mar, contemplam um amplo es-
petro de clusters que importam materializar:
› Energias renováveis offshore;
› Navios especializados;
› Green Shipping;
› Engenharia e robótica offshore;
› Portos digitais;
› Green Port;
› Reparação naval, náutica de recreio.

Torna-se cada vez mais evidente que a de-


sejada economia do conhecimento, “Know-
ledge-based economy”, mesmo em setores

Julho/Agosto/Setembro 2018 INGeNIUM • 43


Tema de Capa ENGENHARIA NAVAL E OCEÂNICA

Domínios de Intervenção
do Engenheiro Naval, Empregabilidade
e Actos de Engenharia
quadro actual e perspectivas futuras
sistemas de armas. Tem alojamentos, cozi- bração e ruído, sobrevivência em situação
nhas, messes, refeitórios, espaços técnicos, de avaria e também, por vezes pouco valo-
de lazer, gabinetes, oficinas, paióis e espaços rizada mas fundamental, a capacidade de o
de carga. Tem meios de segurança contra navio ser operado em condições aceitáveis
alagamento e incêndio, etc. Os requisitos a de conforto, segurança e eficácia. De facto,
Francisco Cunha Salvado que obedecem estes sistemas são muitas o enjoo reduz consideravelmente a eficácia
Vogal do Colégio Nacional vezes conflituantes entre si e a sua harmo- da acção dos tripulantes, aspecto que é,
de Engenharia Naval nização requer aturada coordenação e par- contudo, passível de previsão e análise, pois
da Ordem dos Engenheiros
ticular esforço de integração e síntese, par- este desagradável fenómeno tem expressão
ticularmente na fase de projecto, sendo a estatística em função das acelerações e am-
formação em Engenharia Naval muito focada plitudes do movimento do navio.
na busca de sínteses optimizadas desta Cabe, pois, ao Engenheiro Naval, por força

A
s especificidades da utilização de amalgama de requisitos em que inúmeros da sua formação, a preferência na coorde-
sistemas de engenharia, na superfície sistemas competem entre si pelas margens nação de equipas de projecto, de construção
ou sub-superfície do mar, requerem disponíveis de espaço, acesso, peso e energia. ou de fiscalização, multidisciplinares. Esta
do Engenheiro Naval um conjunto de co- Em cada uma destas áreas existem outros característica abre, também, ao Engenheiro
nhecimentos que, embora utilizem as mesmas especialistas com conhecimentos especí- Naval, um amplo leque de empregabilidade
disciplinas científicas de outros ramos da ficos nos respectivos sistemas (engenheiros como gestor de projectos industriais com-
engenharia (nomeadamente, estruturas, me- mecânicos, electrotécnicos ou de teleco- plexos, mesmo em áreas não directamente
cânica de fluídos, materiais, electricidade, municações e electrónica). Contudo, apenas relacionáveis com a construção naval.
etc.), têm de ser organizados em torno das o Engenheiro Naval conseguirá analisar e Contudo, o mercado da Engenharia Naval
particularidades do ambiente em que tais compreender, e em última análise decidir, deixou de se centrar apenas no projecto e
veículos marítimos irão ser utilizados. De sobre o efeito individual ou combinado que construção de navios e o Engenheiro Naval
facto, um navio compreende muitos sis- as soluções técnicas adoptadas para cada passou a estar envolvido noutras actividades,
temas mecânicos, eléctricos e electrónicos. um dos sistemas irão ter no desempenho em funções de gestão técnica, comercial,
Tem máquinas térmicas, hidráulicas e/ou do veículo marítimo. É a sua área de espe- manutenção, investigação e consultoria. O
eléctricas. Tem sistemas de produção e dis- cialidade a análise e síntese do veículo ma- seu sector de actividade, que tradicional-
tribuição de energia que podem ser de alta, rítimo em termos das suas características mente tem sido o estaleiro naval, inclui hoje,
média ou baixa tensão. Tem sistemas hi- hidrostáticas e hidrodinâmicas e de estabi- também, empresas ligadas à concepção e
dráulicos e pneumáticos, redes de fluídos e lidade, das suas características de resistência construção, ou comercialização e instalação
HVAC, e sistemas de tratamento de resíduos. e propulsão, das suas características de re- de sistemas marítimos, sociedades classifi-
Tem sistemas de informação, automação, sistência e integridade estrutural, de com- cadoras, universidades, gabinetes de pro-
comunicações, sensores e, por vezes também, portamento no mar, manobrabilidade, vi- jecto e de consultoria, centros de investi-
gação ligados ao mar, portos e operadores
portuários, armadores, seguradoras e, na-
turalmente, as organizações públicas res-
ponsáveis pela regulação, inspecção e cer-
tificação de navios ou outros veículos ma-
rítimos e sistemas afectos ao transporte
marítimo, ou à exploração dos recursos do
mar, ou à defesa e exercício da autoridade
do Estado no mar, ou ao seu uso para fins
científicos, culturais, lúdicos e de lazer ou
desporto.
No projecto, encontramo-lo como con-
sultor independente, colaborador do esta-
Os estaleiros são ainda um destino preferencial para o Engenheiro Naval leiro, colaborador ou representante do ar-

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ENGENHARIA NAVAL E OCEÂNICA Tema de Capa

Economia do Mar, para o que obras como


“O Hypercluster do Mar”, a Estratégia Na-
cional para o Mar, o pedido de Extensão da
Plataforma Continental, as diversas visões
sectoriais e empresariais que têm vindo a
ser publicadas sobre o “Blue Growth” em
Portugal, se têm constituído como referên-
cias estruturantes no desígnio estratégico
nacional que tem o mar como fulcro. Os
engenheiros navais deverão estar atentos e
participativos em todas as oportunidades
de inovação e investimento no mar, pelos
desafios profissionais que daí poderão advir.
Uma intensificação do uso do mar originará
uma demanda significativa de navios e ou-
tros veículos marítimos desenhados para
O projecto e a construção naval têm ainda muito espaço para a inovação fins diversos e específicos, quer na coluna
de água, quer na exploração dos seus fundos,
mador, inspector por parte do Estado de ponsabilidade técnica, já que se lida com alguns deles incorporando soluções inova-
bandeira ou de Sociedade Classificadora ou vidas humanas. Esta questão tem sido ob- doras, desafiando a criatividade e a solidez
ainda como perito de alguma seguradora. jecto de um longo processo de análise e técnica e científica dos engenheiros navais.
Na fase da construção poderá ser director reflexão, no seio da Ordem dos Engenheiros, O ambiente marinho e costeiro é outra área
do projecto, coordenador de área funcional, encontrando-se neste momento uma pro- de crescente importância que tem suscitado
responsável ou colaborador de área tecno- posta de regulamentação da profissão do nova regulamentação e novas soluções mi-
lógica, responsável pela qualidade ou pelo Engenheiro Naval submetida à tutela e aguar- tigadoras das emissões e descargas po-
apoio logístico. Poderá ser responsável pela dando a competente decisão política. Trata- luentes oriundas de navios e tem também
especificação e aquisição de materiais e sis- -se de definir as qualificações necessárias estimulado o aparecimento de novas solu-
temas e processos de recepção qualitativa para a práctica de determinados Actos de ções energéticas (o uso do gás natural como
(análises laboratoriais, provas, etc.). Na fase Engenharia (definição dos graus de com- combustível, por exemplo). Novas áreas de
pós-entrega poderá ser responsável pela petência e capacidade) e ao mesmo tempo estudo e inovação se abrem, pois, aos en-
gestão da garantia, processos logísticos e definir os mecanismos de accionamento genheiros navais.
manutenção, nomeadamente como supe- judicial em caso de incumprimento ou dolo A exploração de recursos vivos constitui
rintendente de navio ou de frota. Nos or- na observância da legislação aplicável ao outra área de crescente inovação, nomea-
ganismos de direcção técnica da Marinha, projecto, construção e reparação naval (de- damente através da procura de embarca-
os engenheiros navais estudam, avaliam e finição dos graus de responsabilidade e san- ções especificamente optimizadas para a
participam no planeamento e preparação cionamento). Os Actos de Engenharia estão recolha, processamento e transporte de al-
de todas as intervenções no navio, ao longo tipificados no Regulamento n.º 420/2015, gumas dessas espécies.
do seu ciclo de vida, nomeadamente no publicado no Diário da República, 2.ª Série, A interface entre os portos e os navios está
estabelecimento dos requisitos de operação, n.º 134, de 20 de Julho de 2015. também em evolução, buscando-se cons-
estudos de viabilidade, projecto, fiscalização Nos últimos anos tem-se intensificado através tantemente novos processos de operação
da construção, integração do navio na es- de iniciativas públicas, académicas e por portuária, reduzindo tempos e custos. Também
quadra, sustentação logística e abate. iniciativa de instituições diversas da socie- aí o Engenheiro Naval poderá contribuir de-
Naturalmente tão diverso conjunto de ap- dade civil, um movimento em prol de uma cisivamente, como o especialista, por ex-
tidões e funções coloca questões de res- estratégia de desenvolvimento centrada na celência, do navio e da sua interface, com
a infraestrutura portuária que com ele inte-
rage mais directamente.
Esta breve navegação sobre as saídas pro-
fissionais, presentes e futuras, do Engenheiro
Naval, não se esgota no que ficou exposto
mas espera-se que possa contribuir para
uma reflexão sobre a profissão e o seu en-
quadramento nos novos desafios que se
colocam ao crescimento da nossa eco-
nomia.

A aquicultura é uma das novas áreas que deverá suscitar a criatividade e capacidade de inovação do Nota: o autor escreve segundo a ortografia
Engenheiro Naval anterior ao Acordo de 1990.

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Tema de Capa ENGENHARIA NAVAL E OCEÂNICA

Engenharia Naval
e Oceânica no Técnico

ao fundo do mar, quer flutuando com an- ligado ao processo de fabricação em esta-
coragem, são mais o âmbito da Engenharia leiros navais e daí as suas ligações à Enge-
Oceânica. Como facilmente se compreende, nharia Mecânica de onde o seu fundador
o conjunto de matérias que são necessárias era originário.
para o estudo de qualquer dos tipos de ob- Em 1988 fez-se uma reestruturação curri-
jetos é basicamente o mesmo pelo que esta cular que deu mais ênfase aos aspetos de
Carlos Guedes Soares
é uma área científica clara que faz todo o projeto, como é tradicional em cursos de
Professor Distinto
do Instituto Superior Técnico sentido ser tratada em conjunto. Engenharia e a designação do curso passou
Membro Conselheiro Foi realmente esta evidência, associada com a Engenharia Naval.
da Ordem dos Engenheiros
a expansão das atividades de exploração Em 1998 houve uma nova reestruturação
Membro do Conselho de Admissão
e Qualificação da Ordem dos Engenheiros
dos recursos oceânicos, que tem levado as curricular que refletiu as alterações operadas
universidades de praticamente todos os a nível mundial em que a atividade da indús-
países onde se ministra este tipo de ensino tria de construção e reparação naval se re-

F
inalmente, o curso de Engenharia Naval a evoluir a sua formação e a sua designação duziu na Europa e se transferiu para países
e Oceânica chegou a ser reconhecido para esta forma mais abrangente, à qual o asiáticos. Em consequência, a atividade pro-
formalmente em Portugal. A evolução Instituto Superior Técnico (IST) também fissional dos engenheiros navais deixou de
de Engenharia Naval para Engenharia Naval aderiu a partir do ano letivo de 2017/18. ser dominada pelas atividades fabris e a ati-
e Oceânica tem vindo a ocorrer em todo o A designação já estava adotada há algum vidade ligada ao transporte marítimo tomou
Mundo e Portugal é um dos países que se tempo no Centro de Engenharia e Tecno- um maior peso relativo, pois as economias
tem atrasado nesta atualização, o que de logia Naval e Oceânica (CENTEC) e já há europeias tornaram-se ainda mais depen-
certo modo também se entende pois o curso cerca de 30 anos que se desenvolve ativi- dentes do transporte marítimo, que passou
também é relativamente recente, somente dade de investigação nestes domínios, in- a incluir em maior medida os bens de con-
com cerca de 40 anos de existência enquanto clusivamente em consórcios internacionais sumos fabricados no Oriente. A reestrutu-
noutros países há tradições muito mais longas. envolvendo empresas do setor. Esta ativi- ração curricular de 1998 respondeu a esta
A Engenharia Naval e Oceânica trata dos dade serviu em parte para a elaboração de realidade criando um ramo do curso dedi-
objetos que operam no mar, desde a sua teses de mestrado e doutoramento e, por- cado ao Transporte Marítimo e Portos, no
fase de conceção, projeto e construção, até tanto, tem contribuído para a formação qual se trata de aspetos de logística e eco-
às fases de planeamento de operação, ma- avançada neste domínio, apesar de não estar nomia ligados a esta atividade. Este ramo
nutenção e reparação. Os veículos que têm refletido na designação dos graus atribuídos. veio aumentar as interfaces com a Enge-
propulsão e têm a característica de veículos, O curso de Engenharia Naval iniciou-se no nharia Civil, que tradicionalmente trata dos
quer navios, quer submarinos, são o âmbito, IST no ano letivo de 1980/81 por uma ini- outros meios de transporte que comple-
por excelência, da Engenharia Naval. Os ob- ciativa muito louvável do Prof. Luciano Faria. mentam o transporte marítimo no transporte
jetos que não têm propulsão e que, portanto, Nessa altura tinha a designação de Enge- multimodal. O curso tradicional ficou então
estão relativamente estacionários, quer fixos nheiro de Construção Naval, estava muito no ramo de Projeto e Construção Naval.

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ENGENHARIA NAVAL E OCEÂNICA Tema de Capa

Mais tarde houve a adaptação do curso ao preenchido pelos diplomados do IST, as- de Shanghai, que há muitos anos tem vindo
processo de Bolonha, mas isso não trouxe sistiu-se a uma importante componente de a ordenar as universidades nas várias áreas
qualquer alteração no âmbito do curso, a diplomados portugueses que optaram por científicas e que tratava a área de Engenharia
qual só ocorreu em 2017 com a criação de trabalhar nestas empresas no estrangeiro. globalmente, iniciou em 2017 a separação
um novo ramo de Sistemas Oceânicos e, si- Noruega, Holanda, Dinamarca, Alemanha e das áreas de Engenharia por especialidades
multaneamente, com a alteração da desig- Reino Unido tornaram-se destinos de muitos e apresentou um ranking específico para a
nação dos três ciclos de estudos para Enge- engenheiros navais portugueses, que têm Engenharia Naval e Oceânica.
nharia Naval e Oceânica. A oportunidade de feito carreira nessas empresas e já atingiram Tanto no ranking de 2017 como no de 2018,
criação deste novo ramo deveu-se ao inte- posições de gestão e intervenção técnica o IST (agora a Universidade de Lisboa) man-
resse crescente da Galp por atividades de de nível intermédio nas mesmas. Esta evo- teve-se em segundo lugar na Europa, de-
exploração de petróleo e gás em mar aberto lução de um número apreciável de diplo- pois da Universidade de Trondheim. No en-
a nível internacional, nomeadamente no Brasil mados do IST, quer em Portugal, quer no tanto, desde 2008 tem-se assistido a um
e Moçambique, entre outros. Esta atividade estrangeiro, documenta de forma convin- crescente desempenho das universidades
de crescente importância nesta empresa cente a boa preparação com que concluem chinesas, em resultado de um esforço sis-
levou à necessidade de engenheiros prepa- os seus cursos. temático do Governo chinês de apoiar a
rados para esta atividade e foi com o apoio Para além da qualidade dos diplomados que investigação dos domínios associados à ex-
da Galp, através de bolsas de estudo, que se produzem, os cursos das várias universidades ploração dos recursos do mar e da diferente
iniciou este novo ramo no IST e que levou à tornam-se conhecidos internacionalmente dimensão dos corpos docentes das univer-
formalização da Engenharia Naval e Oceâ- e ganham a sua reputação pela qualidade sidades chinesas, que nesta área científica
nica como uma área de formação e, por- do trabalho de investigação que produzem, chegam a ter cerca de uma ordem de gran-
tanto, como uma área científica específica, o qual reflete de forma direta a qualidade do deza mais do que o IST e algumas univer-
como já existe há muito tempo em vários corpo docente e indiretamente a qualidade sidades europeias. Assim, em 2017 o pri-
outros países. Tem-se assistido também à e atualidade do ensino ministrado. Esta re- meiro lugar foi de uma universidade chinesa
criação em Portugal de escritórios de impor- putação internacional reflete-se no número ficando Portugal em terceiro lugar e em
tantes empresas multinacionais de projeto e de alunos internacionais que procuram o 2018 Portugal passou para quarto trocando
consultoria ligados à área do petróleo e gás, curso e nos rankings internacionais das uni- com uma universidade chinesa que era a
o que abriu também mais uma porta para a versidades nas respetivas áreas científicas. quarta em 2017.
contratação dos graduados deste ramo. O atual curso de Engenharia Naval e Oceâ- Portanto, a Universidade de Lisboa (o ranking
Genericamente, pode dizer-se que a for- nica tem já de há muitos anos um núme- é feito por universidades) nestes dois anos
mação ministrada pelo IST nesta área tem ro significativo de alunos estrangeiros que tem ficado em lugar de grande destaque na
sido excelente, o que se pode concluir por vêm fazer intercâmbio ao abrigo do pro- área científica de Engenharia Naval e Oceâ-
diferentes tipos de observações. As primeiras grama Erasmus para países europeus e de nica, o que foi o melhor resultado de todas
gerações de engenheiros navais do IST já outros programas bilaterais para outros países. as áreas científicas de universidades portu-
chegaram a várias posições de responsabi- O número de alunos de intercâmbio no guesas no Ranking de Shanghai. Estudos
lidade em diversos domínios e empresas na- mestrado tem sido cerca de 100% a 150% subsequentes das publicações indexadas na
cionais, incluindo estaleiros navais, sociedades dos alunos matriculados no curso do IST, o “Web of Science” nas áreas de “Marine and
de classificação, armadores da Marinha Mer- que é provavelmente a maior percentagem Ocean Engineering” mostraram que cerca
cante, portos, empresas de consultoria e de entre todos os cursos do Técnico. de 87% das publicações da Universidade de
projeto e Administração Pública. A nível de rankings internacionais baseados Lisboa, nos últimos cinco anos, neste do-
Acontece que, com a globalização, as em- na quantidade e qualidade da produção cien- mínio, foram produzidas pelo CENTEC. Alar-
presas têm vindo a aumentar de dimensão tifica, o primeiro que foi conhecido foi um gando o período aos últimos 35 anos essa
e a tornarem-se internacionais e as sedes promovido pela Noruega em 2014, abran- percentagem é de 79%, mostrando que a
das maiores empresas do setor não se en- gendo o período de 2008/12, no qual a Uni- situação tem sido sustentada e melhorada
contram em Portugal. Por isso, apesar da versidade Técnica de Lisboa apareceu em ao longo do tempo.
continuada existência de emprego em Por- segundo lugar logo a seguir à Universidade Pode-se, pois, concluir que a área científica
tugal que não conseguia ser totalmente de Trondheim. Mais recentemente, o Ranking de Engenharia Naval e Oceânica, embora
formalmente só tenha sido criada nos cursos
do IST em 2017, está muito saudável e muito
prestigiada a nível internacional. Torna-se
agora necessário que a seu tempo o Co-
légio de Engenharia Naval da Ordem dos
Engenheiros também atualize a sua desig-
nação para Engenharia Naval e Oceânica,
seguindo aliás os nossos colegas espanhóis
que já em 2012 alteraram, por Decreto Real,
a sua titulação profissional para “Ingenieros
Navales y Oceanicos”.

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Tema de Capa ENGENHARIA NAVAL E OCEÂNICA

Legislação da Especialidade,
Regulação e o papel das
Sociedades Classificadoras
lamentos da IMO, tendo vindo a sofrer atua- navios existentes e de conseguir estabelecer
lizações regulares desde a data da sua pu- níveis de risco aceitáveis para as segura-
blicação inicial. doras, vindo daí a o termo classificadora.
A EMSA é uma agência europeia que tem Cada uma destas organizações foi desen-
como missão assistir a Comissão Europeia volvendo regulamentos específicos, inicial-
Paulo Viana
na implementação e monitorização da legis- mente de forma empírica, sendo gradual-
Engenheiro Naval lação europeia aplicável a vários assuntos; mente substituídos por métodos científicos,
Inspetor e Diretor da DNVGL Portugal entre eles podem ser destacados a cons- sobretudo a partir da década de cinquenta
trução, manutenção e a inspeção de navios do século passado.
comerciais, a certificação de equipamentos É importante clarificar que a regulamen-
marítimos e a proteção dos navios. Executa tação da IMO atrás referida abrange muitos
auditorias aos Estados-membros para veri- temas relacionados com a construção e

A
operação, construção e reparação ficar a implementação da legislação europeia. operação de navios, mas existem alguns
de navios de comércio é uma ativi- As Administrações de cada Estado repre- assuntos, como seja a resistência estrutural,
dade muito antiga e que tem vido a sentam a autoridade desse Estado e aplicam em que só existem os regulamentos desen-
ser sujeita à aplicação de regulamentos, a legislação em vigor nas suas águas terri- volvidos pelas Sociedades Classificadoras.
normalmente em resultado de grandes de- toriais e nos navios que arvoram a sua Ban- Apesar de existirem mais de 50 Sociedades
sastres. O caráter reativo da regulamentação deira. São também responsáveis pelas ins-
tem dado lugar, sobretudo desde a última peções realizadas a navios de bandeiras es-
década do século passado, a uma atitude trangeiras quando chegam aos seus portos
preventiva, com regulamentos baseados em (Port State Control).
análises de risco. Enquanto nas atividades Por sua vez, existem organizações que
de extração e transporte de hidrocarbonetos agrupam vários países e que têm por obje-
(Oil and Gas) existem muitos regulamentos tivo harmonizar os sistemas de inspeção
de base, em que cada caso é um caso tendo nos portos dos Estados-membros por forma
em conta a especificidade de cada insta- a eliminar a operação de navio sub-standard,
lação, na marinha de comércio os regula- como é o caso do Paris MoU, do qual Por-
mentos são prescritivos, com regras bem tugal faz parte juntamente com 26 outros
definidas. Estados.
Para se poder entender como funciona este Devido à limitação de recursos das Admi-
mercado é importante conhecer as orga- nistrações é comum haver delegação de
nizações que estão por trás destes regula- funções nas Sociedades Classificadoras,
mentos, como se aplicam e quem fiscaliza utilizando-se a rede internacional destas
a sua aplicação. organizações para inspecionar os navios nos
A IMO (Organização Marítima Internacional) locais ondem exercem a sua atividade. Esta
é uma agência das Nações Unidas respon- delegação é feita com base em regulamentos
sável pela segurança, proteção e prevenção emitidos pela IMO e por sua vez tanto a IMO
da poluição no mar e estabelece os regu- como a União Europeia têm instrumentos
lamentos internacionais para a indústria ma- para avaliar as Sociedades Classificadoras
rítima. Estes regulamentos abrangem o pro- de forma a que estas possam ser aceites
jeto, construção, equipamentos, tripulações, como Organizações Reconhecidas.
operação e abate de navios, de forma a as- As Sociedades Classificadoras são organi-
segurar um nível de segurança aceitável, o zações que podem ou não ter fins lucrativos
respeito ao meio ambiente, a eficiência e que, de uma forma geral, têm como ob-
energética e a proteção da indústria marí- jetivos a proteção da vida humana, da pro-
tima. A Solas (Salvaguarda da Vida Humana priedade e do meio ambiente.
no Mar) foi o resultado direto do afunda- Estas organizações tiveram origem no sé-
mento do Titanic e é um dos vários regu- culo XVIII, com a necessidade de avaliar os

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ENGENHARIA NAVAL E OCEÂNICA Tema de Capa

Classificadoras, só 12 estão reconhecidas de forma faseada a navios que já existiam como a Escola Náutica Infante D. Henrique.
pela Comissão Europeia. na altura em que ela foi publicada. Além Continuando com o aspeto operacional do
Por sua vez, as Sociedades Classificadoras disso, muitos navios operam pelo mundo navio, e tendo em conta que é necessária
criaram uma associação para promover a fora, e em águas de outros países, que podem uma estrutura de apoio em terra, o ISM (In-
harmonização dos seus regulamentos e para impor legislação diferente daquela imposta ternational Safety Management, Capítulo IX
garantir um patamar mínimo de qualidade, pela Administração da Bandeira onde o navio da Solas) veio impor a cada empresa o es-
publicando interpretações de regulamentos está registado. tabelecimento dos seus requisitos de com-
da IMO, promovendo a utilização de regu- Sabendo que a maioria dos acidentes é cau- petência por forma a garantir a segurança
lamentação comum e realizando auditorias sada pelo fator humano, é importante vermos dos navios que opera, sendo sujeita a audi-
de controlo aos seus membros. Esta asso- o que tem sido feito para a formação das torias regulares por parte da Administração
ciação é a IACS e integra 12 Sociedades. pessoas envolvidas nesta atividade. da(s) Bandeira(s) dos seus navios.
Em Portugal, a DGRM – Direção Geral de Começando pelas organizações já descritas, Quanto ao projeto, construção e modifi-
Recursos Naturais, Segurança e Serviços a abordagem é bastante uniforme, sendo cação (tipicamente alterações ou conver-
Marítimos tem a responsabilidade de admi- necessário que cada organização garanta a sões), o assunto não tem uma abordagem
nistrar o registo e a regulação da Bandeira competência dos seus empregados tendo homogénea. Para todos os efeitos, a Admi-
Portuguesa, de acordo com os standards em conta um sistema formal de requisitos nistração da Bandeira onde o navio está re-
internacionais de segurança, de proteção de conhecimentos, treino, certificação in- gistado tem a responsabilidade final, mas
das instalações portuárias e navios, da pre- terna e avaliação periódica. essa responsabilidade pode ser partilhada
venção da poluição dos oceanos, de qua- Para as tripulações, que fazem a condução mediante a delegação de funções, tal como
lificação dos marítimos e do controlo do (incluindo as operações de carga e descarga) já foi referido. Havendo um acordo entre
tráfego marítimo na costa e portos. e a manutenção dos navios, existem regu- uma Administração e uma Organização Re-
Como se pode ver, a estrutura da legislação lamentos internacionais (STCW – Interna- conhecida, e tendo esta a responsabilidade
marítima é bastante complexa, sobretudo tional Convention on Standards of Training, da verificação de um projeto ou construção,
tendo em conta que a legislação emitida Certification and Watchkeeping for Seafarers) fechamos o sistema, pois a Organização
pela IMO não é adotada por todos os países que definem os padrões de formação ne- Reconhecida tem de garantir a competência
e que essa legislação tem de ser aplicada cessários, sendo esta dada por organizações das pessoas envolvidas. No entanto, no caso
de haver um projeto submetido à Adminis-
tração por uma empresa ou pessoa indivi-
dual, não há, em muitos casos, nada que
garanta que quem fez esse projeto, ou que
esteja a seguir uma construção, tem a com-
petência para o fazer.
A forma de lidar com esta questão tem tido
abordagens diferentes por parte das Admi-
nistrações: algumas obrigam a que se envolva
uma Organização Reconhecida no processo,
mesmo que o navio ou objeto flutuante não
seja classificado, outras obrigam a que existam
responsáveis que tenham qualificações re-
conhecidas ou utilizam uma autorregulação
de mercado mediante a exigência de garan-
tias de responsabilidade civil (seguros), que
em geral só são concedidas a quem possa
provar a sua competência mediante um es-
quema reconhecido nesse país.
Em Portugal, para projetar um navio, a le-
gislação apenas exige que o projeto da ins-
talação elétrica seja assinado por um enge-
nheiro eletrotécnico, não havendo requisitos
para as questões relativas à estrutura e à
estabilidade, que são elementos primários
na segurança do navio. A Ordem dos En-
genheiros tem estado ativa neste aspeto,
com uma proposta de legislação, feita há já
vários anos, mas que até agora não recebeu
a atenção necessária por parte das entidades
competentes.

Julho/Agosto/Setembro 2018 INGeNIUM • 49


Tema de Capa Estudo de Caso

Estudo de Caso

Lisnave
Passado, presente e futuro

A
origem da Lisnave remonta a 1937, ano em Peter Luijckx Durante o período de restruturação foi efetuada,
que o Grupo CUF tomou de concessão a Managing Director em junho de 2000, uma operação de MBO, na se-
exploração do Estaleiro da Rocha do Conde Lisnave, Estaleiros Navais S.A. quência da qual foi desenvolvida, pelos novos acio-
de Óbidos, situado na margem norte do estuário nistas, uma série de ações estruturantes orientadas
do Tejo, em Lisboa. O sucesso deste projeto, que à recuperação e sustentabilidade da empresa.
no final dos anos cinquenta se encontrava já saturado, levou à ne- A vertente de Infraestruturas deste plano, incluindo obras de be-
cessidade de construir novas instalações que pudessem incluir neficiação e melhoramento do estaleiro da Mitrena, a construção
docas de maiores dimensões. de duas ETAR e a construção do Hydrolift (único no Mundo), com-
É neste contexto que em setembro de 1961 é criada a Lisnave – posto por três docas para navios tipo Panamax, foi concluída no
Estaleiros Navais de Lisboa, empresa virada para o mercado global final de 2000.
e que tinha como primeira missão a construção, na margem sul do Este processo de recuperação, em implementação desde a segunda
Tejo, de um novo estaleiro – a Margueira, provido com instalações metade do ano 2000 e no âmbito do qual a Lisnave encerrou de-
para receber navios de grande porte. finitivamente o estaleiro da Margueira, transferindo e concentrando
Na sequência do grande sucesso do estaleiro da Margueira, inau- toda a sua atividade no renovado estaleiro da Mitrena, tem vindo a
gurado em 1967, e da grande expectativa de novas oportunidades demonstrar a adequação das medidas empreendidas, designada-
que adviriam do encerramento, neste mesmo ano, do canal do Suez, mente através da inversão de um ciclo de muitos anos consecu-
é decidida a criação de uma nova empresa e a construção de um tivos de resultados de exploração negativos e da consequente ro-
novo estaleiro, cujo centro de formação iniciou atividade em 1973, tura financeira, para resultados positivos, com expressão relevante,
a Setenave – Estaleiros Navais de Setúbal, construído na Mitrena, que deixam antever um novo horizonte de futuro para a Lisnave e
em Setúbal, vocacionado para a atividade de construção naval. para a continuação desta indústria em Portugal.
Em meados de 1997, na sequência de repetidas dificuldades de na- A Lisnave, com seis docas secas com uma capacidade de até 700.000
tureza financeira e do insucesso de um primeiro plano de reestru- toneladas brutas, as suas inúmeras oficinas, sete cais com um com-
turação que, em 1993, envolveu a Lisnave, a Setenave e a Solisnor, primento total de 1.400m, 20 guindastes móveis com capacidade
foi iniciada a implementação de um vasto plano de reestruturação até 100 toneladas e um pórtico (localizado por cima das docas 20
que incluía uma vertente de Infraestruturas e uma vertente de Re- e 21) de 500 toneladas, disponibiliza infraestruturas de primeira ca-
cursos Humanos, a desenvolver até 2007 e que previa, ainda, o tegoria para qualquer tipo de manutenção e reparação naval ou
abandono do estaleiro da Margueira e a concentração de todas as conversão.
atividades da Lisnave no estaleiro da Mitrena. A implementação A mais-valia da localização do estaleiro, bem como a qualidade e
deste novo plano, que envolveu a criação ex-novo, em julho de diversidade das infraestruturas associadas à reconhecida qualidade
1997, da atual Lisnave, Estaleiros Navais S.A., veio a ser desenvolvida da mão-de-obra e competência técnica, constituem vantagens
desde esta data. competitivas que colocam a Lisnave na linha da frente dos esta-

50 • INGeNIUM Julho/Agosto/Setembro 2018


Estudo de Caso Tema de Capa

leiros de manutenção e reparação naval na Europa e no Mundo. A formação é realizada nas instalações da Lisnave e na escola de
Presentemente, a Lisnave está centrada e continuamente ocupada formação gerida pela Solisform, que desenvolveu, em conjunto
com projetos de manutenção e reparação naval, mantendo ele- com a Lisnave, programas ajustados às necessidades específicas
vadas expectativas relativamente às oportunidades que são espe- da atividade. As ações de formação centram-se na componente
radas da implementação dos inúmeros projetos de montagem de técnica sem esquecer a formação e desenvolvimento de capaci-
equipamento e modificações aos sistemas dos navios mercantes, dades humanas.
para permitir o cumprimento da regulamentação internacional A Lisnave recruta ainda, anualmente, cinco a dez jovens engenheiros
emanada pela OMI, relativamente ao tratamento de águas de lastro para as suas equipas de gestão de projetos, que recebem formação
e no futuro também em relação adequada e que se pretende ve-
à redução de CO2, NOx e SOx. nham a ser a base da futura
Durante o ano, as docas da Mi- equipa de gestão da empresa.
trena estão ocupadas com na- O propósito dos processos de
vios oriundos de todo o Mundo, recrutamento é garantir o futuro
a grande maioria de clientes re- da empresa com pessoal quali-
gulares. A qualidade da mão-de- ficado, competente e motivado,
-obra e a relação qualidade-preço pois os colaboradores da Lisnave
são uma das vantagens diferen- são a espinha dorsal da organi-
ciadoras que contribui para o zação.
retorno de muitos clientes à Lis- O que a reparação naval repre-
nave e a Portugal. sentará para Portugal e para a
A manutenção naval caracteriza- Europa no futuro é uma incer-
-se pela flutuação das cargas de teza. O mercado da manutenção
trabalho nos diferentes setores e reparação naval depende do
que a atividade envolve, condi- desenvolvimento das rotas de
cionada pelo tipo de navio e pelo transporte marítimo mundial,
tipo de trabalho. Pode afirmar-se que há necessidade de até 2.000 que em si dependem do crescimento e das constantes mudanças
trabalhadores por dia. Um terço deste efetivo é empregado pela Lis- da economia mundial.
nave e por empresas associadas, sendo os restantes originários de Mas estes não são os únicos desafios que se adivinham para o fu-
prestadores de serviços e empresas parceiras. turo. Identifica-se, num horizonte próximo, um aumento de regu-
A gestão deste efetivo, que exige mão-de-obra qualificada e pre- lamentação relativa a regras de proteção ambiental, saúde e segu-
parada para enfrentar diferentes tipos de trabalho todos os dias, rança no trabalho, entre outras, oriunda de várias autoridades e
requer um nível elevado de capacidade técnica e de gestão. Todos organizações internacionais com impacto significativo nas opera-
os navios são diferentes e todos os projetos têm requisitos distintos, ções dos estaleiros de reparação naval.
o que requer um ajustamento constante das operações. Muito embora as regulamentações internacionais pretendam ser
Para conseguir cumprir com as elevadas expectativas dos clientes, universais, a consciência ambiental e aplicação destes regulamentos
cada projeto é gerido por uma equipa dedicada de gestores de não é a mesma em todas as regiões e países do globo.
projeto, enquanto os gestores dos diferentes setores produtivos, O maior fator de risco na indústria global é o desequilíbrio entre os
mecânica, caldeiraria, tubagens, eletricidade, tratamento de super- países europeus e os países em desenvolvimento no que respeita
fície, pintura, etc., gerem os efetivos próprios e externos e garantem à legislação laboral, legislação de saúde e segurança no trabalho e
o cumprimento dos requisitos de qualidade. o consequente impacto do cumprimento das regras mais restrin-
Esta matriz de gestão funcional assegura a gestão dos projetos de gentes no custo da mão-de-obra. Os países em desenvolvimento
acordo com os níveis de satisfação dos clientes desejados, ao procuram constantemente áreas de negócio onde podem com-
mesmo tempo que permite a manutenção das capacidades de petir agressivamente e a reparação e manutenção naval é um dos
gestão e transmissão de conhecimento necessários aos diferentes setores de atividade onde o crescimento da competição é quase
setores produtivos. diário.
A flexibilidade e capacidade de adaptação às mudanças constantes Num futuro próximo há mercado, em quantidade, suficiente para
dos projetos são altamente apreciadas pelos clientes. permitir a continuação do sucesso da Lisnave registado nas últimas
O tempo é um fator fundamental para os clientes, que pretendem duas décadas.
ter o navio fora de serviço o menor número de dias possível. Assim, Mas, neste contexto de crescente agressividade e concorrência, há
os estaleiros de reparação naval necessitam de operar 365 dias por riscos acrescidos de carência de recursos humanos para responder
ano e 24 horas por dia. A Lisnave necessita de ter trabalhadores às necessidades deste mercado. Contudo, embora sejam já visíveis
dos diferentes setores a trabalhar durante todos os dias do ano, o dificuldades no recrutamento de pessoal operário e técnico para
que requer um significativo esforço dos trabalhadores e das suas uma indústria de mão-de-obra intensiva, exigente e pesada como
famílias. esta, a Lisnave acredita que a estratégia de formação e rejuvenes-
Cada ano, a Lisnave recruta cerca de 40 a 50 colaboradores da re- cimento que tem vindo a prosseguir vai permitir-lhe assegurar os
gião de Setúbal para ações de formação específica, de entre os recursos necessários à continuação do seu sucesso.
quais recruta os mais aptos para integrarem a sua força produtiva. A Lisnave está a preparar-se para conquistar o futuro.

Julho/Agosto/Setembro 2018 INGeNIUM • 51


Tema de Capa Estudo de Caso

Estudo de Caso

West Sea
Percorrendo o seu caminho
na indústria naval

A
West Sea teve a sua génese no ano de 2013, André Queiroz mais importante ainda na gestão do capital humano
na sequência do processo de subconcessão, Engenheiro da antiga empresa Estaleiros Navais de Viana do
ao grupo Martifer, das instalações dos Esta- Diretor Técnico e de Projeto Castelo, capital este com a experiência e o conhe-
leiros Navais de Viana do Castelo. O renascer da cimento essenciais para dar continuidade às ativi-
construção e da reparação naval, em Viana do Cas- António Jardim dades de construção e reparação naval.
telo, deve-se em primeira mão ao espírito empreen- Engenheiro Depois deste primeiro navio de rio, o Viking Osfrid,
dedor do Engenheiro Carlos Martins, líder e Presi- Diretor de Planeamento mais cinco construções do mesmo tipo (entenda-
dente do grupo Martifer. -se como conceções distintas mas destinadas a
O início da atividade da construção naval, na West operar na mesma área) foram contratualizadas e
Sea, foi marcado pela assinatura do navio-hotel Vi- entregues a dois diferentes armadores/operadores.
king Osfrid em dezembro de 2014. O Viking Osfrid
é uma embarcação operada pela empresa Douro
Azul para exploração turística no rio Douro, com
cerca de 80 metros de comprimento, 53 camarotes
de passageiros e 15 para tripulantes, provida de dois
propulsores azimutais acoplados a dois motores
diesel a quatro tempos, sobrealimentados, com
aproximadamente 440 kW, e ainda um propulsor
axial de proa de aproximadamente 300 kW, também
acoplado a um propulsor diesel. Esta configuração
permite ao navio atingir uma velocidade máxima de
11 nós em águas calmas. O Viking Osfrid foi en-
tregue no prazo contratualmente previsto e com
resultados positivos. Estava alcançado o primeiro Intervalados com a construção dos navios de rio,
desafio do recém-criado estaleiro. foram contratualizados em junho de 2015 dois na-
Este facto muito se deve ao investimento feito pelo vios de patrulha oceânica para a Marinha de Guerra
grupo Martifer na reabilitação dos meios operacio- Portuguesa. Estes dois navios batizados de NRP
nais dos antigos Estaleiros Navais de Viana do Cas- Sines e NRP Setúbal, embarcações tecnologica-
telo (mais de oito milhões de euros até à data) e mente muito exigentes, vieram obrigar a West Sea

52 • INGeNIUM Julho/Agosto/Setembro 2018


Estudo de Caso Tema de Capa

a um reforço do capital humano, tanto qualitativo como quantita- mestre de 2019. Este conceito foi a plataforma de lançamento para
tivo, e ao estabelecimento de parcerias com empresas de áreas o desenvolvimento de um sistema de propulsão totalmente elé-
tecnológicas específicas (a título de exemplo refira-se a EDISOFT trico, sem recurso a qualquer tipo de equipamento de combustão.
– empresa portuguesa de tecnologia de hardware e soft­ware), tor- É ainda um desafio não materializado em nenhuma construção,
nando a gestão deste contrato num novo desafio para uma tão atendendo ao campo inovador e pioneiro onde a legislação apli-
jovem empresa. Os NRP Sines e NRP Setúbal são navios da mesma cável é muito escassa, mas será com certeza uma realidade num
classe dos NRP Viana do Castelo e NRP Figueira da Foz, construídos futuro próximo.
pelos antigos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, com diversas
alterações das especificações requeridas pela Armada Portuguesa
e ainda com diferentes equipamentos alterados, de modo a serem
colmatadas diversas obsolescências inevitáveis num mercado tão
competitivo como é o da construção naval. O NRP Sines foi en-
tregue à Marinha de Guerra Portuguesa no passado mês de julho,
pronto para iniciar o desempenho das missões para o qual foi con-
cebido. O segundo navio, o NRP Setúbal, tem data de entrega pre-
vista para o final deste ano.
Enquanto seguia em bom ritmo a construção dos navios de pa-
trulha oceânica e dos navios de rio, a West Sea ainda construiu e
entregou uma porta flutuante com cerca de 42 metros de com-
primento, 6,5 metros de altura e 2,5 metros de profundidade, des-
tinada a equipar uma doca seca nos estaleiros militares de Saint Completando a carteira de encomendas atual, a West Sea encontra-
Nazaire, em França. Obra esta muito específica, com diversos de- -se a finalizar a construção de mais um navio de turismo. Esta cons-
safios para a área produtiva. trução foi concebida para realizar especificamente cruzeiros no
Ártico ou Amazónia, podendo operar ainda em qualquer outra zona
do Mundo. É a construção de maior porte realizada até à data pela
West Sea (cerca de 126 metros de comprimento, 200 passageiros
e 111 tripulantes) com uma especificidade única, atendendo ao tipo
de áreas onde irá operar (condições ambientais extremas e regu-
lamentações aplicáveis muito díspares e diversas) e conceito muito
feito à medida do cliente (Mystic Cruises). A propulsão do navio é
também resultado de um conceito muito evoluído. O navio possui
dois motores diesel acoplados a dois alternadores que também
operam como motores elétricos e um motor diesel auxiliar aco-
plado a dois alternadores. A instalação propulsora está acoplada a
duas linhas de veios com passo controlável. O navio tem ainda dois
propulsores axiais horizontais a ré e dois verticais a vante, ambos
operados eletricamente. A gestão de energia permite a partilha dos
dois alternadores/motores, dos propulsores axiais, do consumo de
todo o navio, mantendo o regime de rotação dos motores diesel
no ponto ótimo de eficiência atendendo à carga solicitada. Este
Ainda em paralelo com as construções anteriormente referidas, a navio tem data de entrega prevista no final do presente ano.
West Sea construiu e entregou uma draga de 1.000 m3, tipo “split Para fazer face a esta carteira de encomendas, a West Sea conta
hooper”, para um armador português, projeto igualmente desa- atualmente com 345 trabalhadores, dos quais 155 dos extintos Es-
fiante atendendo à especificidade do navio: zona de operação com taleiros Navais de Viana do Castelo. Para além destes colaboradores
limitações muito restritivas no calado, boca, comprimento e altura efetivos, desenvolvem atividade, diariamente e em média, mais de
(rio Douro) e ainda operação em mar aberto. Deve ainda referir-se 700 trabalhadores indiretos de subempreiteiros adstritos à atividade
a completa inexistência de tradição de construção deste tipo de de construção, manutenção e reparação naval, fazendo dos esta-
navios em Portugal. leiros de Viana do Castelo uma das mais importantes unidades do
Atualmente, a West Sea tem “entre mãos” a construção de mais setor na Península Ibérica.
três navios-hotel para operar no rio Douro, sendo que dois deles Nos três anos de atividade da West Sea foram ainda intervencio-
têm todo o sistema de propulsão totalmente reformulado. O novo nados 158 navios (reparados ou reconvertidos).
desafio contratualizado passou por desenhar um sistema de pro- No curto prazo estão previstos novos investimentos. Uma nova
pulsão híbrido, constituído por propulsão mecânica e elétrica com doca de 200 metros de comprimento, num investimento de 11 mi-
recurso a baterias. Este conceito permitirá a operação do navio em lhões de euros, e a dragagem, em parceria com a Administração
áreas muito mais sensíveis, com um nível de conforto acrescen- do Porto do Douro e Leixões e Viana do Castelo (APDL), do canal
tado e melhor rendimento total da instalação de produção de de acesso. Estes investimentos irão permitir que navios de maior
energia. Os navios têm data prevista de entrega no primeiro tri- calado possam ser reparados ou construídos na West Sea.

Julho/Agosto/Setembro 2018 INGeNIUM • 53


Colégios

Especialidades e Especializações Verticais

Engenharia CIVIL .................................................................................................... 54 Engenharia NAVAL ................................................................................................ 65


Especialização em Hidráulica e Recursos Hídricos ............... 59 Engenharia GEOGRÁFICA ............................................................................. 65
Engenharia ELETROTÉCNICA ................................................................... 59 Engenharia AGRONÓMICA .......................................................................... 68
Engenharia MECÂNICA .................................................................................... 61 Engenharia FLORESTAL ................................................................................... 70
Engenharia GEOLÓGICA E DE MINAS .............................................. 62 Engenharia de MATERIAIS ............................................................................ 70
Engenharia QUÍMICA E BIOLÓGICA .................................................. 64 Engenharia do AMBIENTE ............................................................................ 72

Especializações HORIZONTAIS
Especialização em

ENGENHARIA AERONÁUTICA ............................................................... 74 GEOTECNIA ................................................................................................................ 78


ENGENHARIA ALIMENTAR .......................................................................... 75 SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA ............................. 79
ENGENHARIA DE CLIMATIZAÇÃO ...................................................... 76 TRANSPORTES E VIAS DE COMUNICAÇÃO ............................. 80
ENGENHARIA DE REFRIGERAÇÃO ..................................................... 78

Especialidades e Especializações Verticais

Colégio Nacional de
Engenharia Civil
Paulo Ribeirinho Soares › p@ribeirinhosoares.pt

Encontro Nacional de Engenharia Civil 2018

O Colégio Nacional de Engenharia Civil,


atento e preocupado com os atuais e
novos desafios que se colocam ao setor da
os exemplos da ASCE – American Society of
Civil Engineers, avaliar a redução de seis para
três anos da formação obrigatória para o
contando com a presença de um corpo de
oradores de referência. O Bastonário esteve
presente na sessão de abertura. O Eng. Luis
construção, organizou, no dia 22 de junho acesso ao estatuto de Engenheiro, e seus Valente de Oliveira, palestrante convidado,
de 2018, na Universidade de Aveiro, o En- efeitos, em contraciclo com outras organi- apresentou uma reflexão sobre o tema “O
contro Nacional de Engenharia Civil 2018, zações de referência, reconhecer que a for- que é ser Engenheiro no século XXI”, que
sob o tema “Novos Desafios para a Enge- mação académica e a regulação profissional adiante se reproduz.
nharia Civil”. Todos os presentes reconhe- estão relacionadas e a correspondência ade-
ceram a importância da área de conhecimento quada é fator de confiança pública. Os desafios da transformação
mais antiga, com maior representação na Com este Encontro, o Colégio procurou digital no sector da engenharia
Ordem dos Engenheiros, em que a maior divulgar e debater os novos desafios e as e da construção
parte dos seus atos são regulados, a Enge- novas responsabilidades que se colocam à
nharia Civil. Este Encontro procurou olhar Engenharia Civil no âmbito da Construção O Eng. Koen Vermeltfoort, responsável pela
essencialmente para o futuro e identificar o 4.0, 5.0 e mesmo na 6.0, apresentar o tra- McKinsey’s Capital Projects & Infrastructure
state of art da profissão de Engenheiro Civil balho que tem sido desenvolvido no âmbito Practice na Europa, na sua palestra intitu-
em Portugal, analisar comparativamente com da digitalização e automação da construção, lada “Os Desafios da Transformação Digital

54 • INGeNIUM Julho/Agosto/Setembro 2018


Colégios

no Setor da Engenharia e da Construção”, e António Matos de Almeida, que analisou aplicações práticas desde a realidade virtual,
focou a importância do setor da construção as ameaças e oportunidades quês e colocam passando pela realidade aumentada até à
para a economia e identificou a tecnologia à Engenharia Civil. Ao Dr. Diogo Duarte realidade mista. Desde as aplicações de si-
como a alavanca principal para o aumento Campos, que interveio em representação mulação de ambientes até exemplos de in-
da produtividade do setor que, contraria- da PLMJ Advogados, coube refletir sobre o tegração da informação com o ambiente
mente aos outros setores industriais, sofreu tema “Digitalização versus a Responsabili- construído, a audiência pode constatar o
um decréscimo de cerca de 6% de 2006 a dade dos Intervenientes”. grau de evolução destas aplicações, no-
2015. Esta diminuição de produtividade re- meadamente na indústria da Arquitetura,
sulta do facto de se tratar de um dos setores Integração dos trabalhadores Engenharia e Construção.
que regista os mais baixos níveis de digita- de primeira linha em aplicações No debate que se seguiu às apresentações
lização, de investimento em I&D e em IT. informáticas e realidade mista foram apresentados argumentos que con-
Como solução para inverter esta situação, aplicada à gestão da construção correram para a consciência coletiva da
apontou o investimento na digitalização, inevitabilidade da digitalização na indústria
nas metodologias de trabalho colaborativo, Para o final deste intenso dia de reflexão e da construção, tendo sido feitas várias re-
que permitem a gestão fiável de informação partilha sobre o Futuro da Engenharia Civil, ferências ao BIM como um dos exemplos
ao longo de todo o ciclo de vida de um ficaram reservadas as sessões de aplicação da transformação digital que o setor está a
Projeto, sendo a metodologia BIM – Buil- prática das tecnologias de Informação com implementar. Também se concluiu que a
ding Information Modeling, uma das que influência direta na indústria da Construção. colaboração e a comunicação entre equipas
contribuirá para se atingir um desenvolvi- A cargo do Eng. António Maia, Engenheiro têm vindo a integrar os mais recentes de-
mento inteligente do setor. Informático pela FEUP, em representação senvolvimentos tecnológicos, estando cada
A transformação digital é, assim, imperativa da Claranet, esteve a abordagem à “Inte- vez mais alicerçadas na interoperabilidade
para o setor e não uma opção. gração dos trabalhadores de primeira linha e necessidade de intercâmbio aberto entre
A designada quarta revolução industrial está em aplicações informáticas”. O orador iden- diferentes sistemas.
considerada como a maior revolução tec- tificou o desafio que se coloca na integração Por último, foram lançadas algumas ques-
nológica de sempre. Constitui, através da deste tipo de trabalhadores nas aplicações tões importantes, revelando que muito ainda
informatização dos processos produtivos, digitais de uma organização e realçou a im- está por discutir em relação a este futuro
uma evolução dos sistemas produtivos in- portância de diagnosticar necessidades e próximo: a crescente presença no dia-a-dia
dustriais, o que garante benefícios ao nível culturas antes de se desenvolver qualquer do Big Data e das análises que daí podem
da redução de custos, de energia, do au- aplicação. O desenvolvimento de compe- advir; a questão da perenidade do digital; a
mento da segurança e da qualidade, e da tências e a capacitação dos colaboradores, temática dos direitos de propriedade e au-
melhoria da eficiência dos processos. A in- bem como a gestão do risco inerente à di- toria dos modelos; as implicações que a
dústria 5.0 pretende colocar tudo isso ao gitalização dos processos, surge como cru- inteligência artificial vai trazer ao setor, foram
serviço do homem, posicionando o ser hu- cial. Por último, António Maia identificou algumas delas.
mano no centro da inovação e transfor- como relevante a necessidade de medir e A Ordem dos Engenheiros, através do seu
mação tecnológica para melhorar a sua valorar os benefícios obtidos com estas im- Colégio de Engenharia Civil, agradece às
qualidade de vida, cabendo aos Engenheiros plementações, nomeadamente elencando empresas e demais organizações patroci-
Civis um papel preponderante nesta Revo- as principais melhorias que daí advêm, como nadoras e apoiantes deste Encontro, no-
lução Industrial. seja o aumento da produtividade. meadamente à McKinsey’s Capital Projects
Foram igualmente oradores os Engenheiros Seguidamente, o Eng. Luis Agrellos, Enge- & Infrastructure, ao Laboratório Nacional de
Carlos Pina, Presidente do Laboratório Na- nheiro Eletrotécnico e de Computadores Engenharia Civil, à PLMJ, Claranet, à Geoma,
cional de Engenharia Civil (LNEC), cuja in- também pela FEUP, em representação da à Mota-Engil, à Sanjose e à Lúcios.
tervenção sumariou a contribuição do La- GEMA, apresentou uma visão sobre a “Rea- Na área dos media, os agradecimentos são
boratório no apoio à decisão da adminis- lidade mista aplicada à gestão da construção”. dirigidos ao Jornal de Negócios e à Rádio
tração central para as grandes obras públicas; O orador percorreu o estado da arte das Renascença.

Julho/Agosto/Setembro 2018 INGeNIUM • 55


Colégios

O QUE É SER ENGENHEIRO NO SÉCULO XXI


O Futuro da Engenharia Civil. Novos Desafios para a Construção.
Os Desafios para a Engenharia Civil. A Formação dos Engenheiros
Luís Valente de Oliveira construção apoiar-se em teorias ou quase- riais do que desde os tempos pré-histó-
Medalha de Ouro -teorias que deram explicação e consis- ricos até àquela data! Há mesmo alguns
da Ordem dos Engenheiros tência às formas de actuar. Foram-se aban- profissionais que correm o risco de perder
donando as regras ditadas pela prática para o pé se, durante algum tempo, não acom-
adoptar processos assentes em encadea- panharem o surgimento dos novos ma-
mentos lógicos organizados em estruturas teriais que importam ao seu sector. Não
racionais que explicavam e, sobretudo, que é que haja substituições radicais sistemá-
davam segurança para se ir sendo cada ticas. Sucede mais correntemente ir ha-
vez mais ousado. vendo melhorias incrementais que acabam
Era certo que, tanto os conhecimentos por introduzir, na prática, mudanças per-
como os esquemas teóricos que os es- manentes tanto nos conteúdos como nos
truturavam, iam experimentando evolu- processos. E isso reclama adaptação per-
ções que invalidavam as formas anteriores manente dos profissionais.
de abordar as questões. Mas era sobre eles Se há afirmação que não será invalidada
Transcrição da Palestra que se davam os novos passos. Hoje sa- é a da necessidade da formação perma-
realizada no Encontro Nacional bemos que a Lei de Hooke não se aplica nente de todos os profissionais em geral
de Engenharia Civil. da mesma forma para todo o espectro do e dos Engenheiros em particular, face ao
comportamento de um dado material. ritmo a que se está a passar a mudança.
Se há coisa que se pode afirmar, com cer- Mas dificilmente se pode apontar uma É para fazer face a esta que se tem de focar
teza, é que os desafios irão variar conti- regra mais frutífera! Ela permitiu explicar a formação no robustecimento de cada
nuamente, tendo a formação dos futuros e dar segurança a muitas aplicações prá- uma para, por sua conta e risco, se ir adap-
engenheiros de evoluir em consonância ticas, ao mesmo tempo que suscitou in- tando às novas circunstâncias, sem ter ne-
com eles e com os meios postos à sua vestigações que alargaram o campo dos nhuma certeza acerca dos contornos pre-
disposição para lhes dar resposta. conhecimentos, proporcionando avanços cisos do futuro. Este irá sendo conformado
em muitas direcções, incluindo aquelas pela descoberta, a passo acelerado, de
Pode-se dizer que foi isso que aconteceu que invalidariam, em parte, a própria lei. novos conhecimentos, mas também pela
ao longo dos tempos, tendo os formandos Mas o progresso é assim mesmo! Dão-se introdução de novas formas de proceder.
e os formadores sabido adaptar-se à evo- passos sempre promissores até que surge Sucede, ainda, que no caso dos Enge-
lução. A diferença é que o período de um novo que põe em causa toda a teoria nheiros, além daqueles dois tipos de mu-
evolução era medido em séculos e, de- construída, substituindo-a por outra que danças há uma terceira que tem a ver com
pois, em décadas, sendo no nosso tempo também será válida, enquanto não surgir a evolução na carreira de cada um.
processado em permanência. a seguinte.
Isto no campo dos conhecimentos. Se olharmos à nossa volta, vemos que um
Admiramos hoje o comando técnico com Colega que começou a sua actividade
que os romanos fizeram aquedutos, es- Mas os Engenheiros actuam sempre sobre num estaleiro foi sendo progressivamente
tradas ou grandes construções. Apesar das a realidade, e isso reclama não somente responsabilizado por novas tarefas, em
muitas pesquisas feitas, ainda estão guar- conhecimentos que têm de ser actuali- poucos anos passando a coordenar equipas
dados alguns dos segredos dos constru- zados, mas também atitudes e comporta- de trabalho maiores e mais variadas até
tores de catedrais. A Idade Média teve a mentos que devem ser adaptados às cir- acabar por se sentar na mesa de um con-
sua revolução tecnológica com maiores cunstâncias sempre mutantes do quadro selho onde, além da sua colaboração es-
repercussões do que se pode supor. Mas em que operam. pecífica, tem de aprender a entender a
o grande salto começou no século XVIII, linguagem dos gestores ou dos financeiros,
para ter lugar de forma muito expressiva No domínio da actualização dos conhe- dos especialistas da conquista de novos
durante a Revolução Industrial do século cimentos, nos nossos dias, o instrumento mercados ou da situação política destes...
XIX. Apareceram, então, novos materiais e com mais profundas implicações é, segu- Noutros casos, o Colega principiante co-
uma nova forma de teorizar e organizar ramente, a informática. Mas mesmo no meçou por ser responsável pelo cálculo
os conhecimentos, cruzando os avanços campo dos materiais, as mudanças são de estruturas, rapidamente passando a ter
conseguidos na matemática, na física e na constantes. Por volta de 1980, os espe- de acompanhar no terreno o que pro-
química em muitas pequenas conquistas cialistas costumavam dizer que até ao fim jectou no seu gabinete e a ter de incor-
tecnológicas que permitiram à arte da do século seriam inventados mais mate- porar no seu projecto o resultado das ob-

56 • INGeNIUM Julho/Agosto/Setembro 2018


Colégios

servações que foi fazendo da sua exe- sociações voluntárias de solidariedade pelo Mundo e como os outros vão resol-
cução; esta última exige dele dotes de social, a frequência de museus e galerias vendo os seus próprios problemas. Isso
observação que tem de passar a articular e todas as outras formas possíveis de abrir representa um dos caminhos para, com
com as suas capacidades de cálculo. Mas horizontes são necessárias para inserir um espírito crítico, olhar para as soluções para
a evolução natural da sua carreira vai, se- jovem no seu espaço e no seu tempo. cuja formulação contribui. Estou a referir-
guramente, reclamar dele capacidades de -me, naturalmente, à parte da estrutura
coordenação de uma equipa e de interli- Potencialmente, um Engenheiro terá de social que tem responsabilidades dirigentes
gação quer com outras que são respon- liderar uma grande ou uma pequena equipa. e que, através da sua acção, enquadra a
sáveis por valências distintas de um dado A Engenharia não é um a profissão de me- sociedade no seu funcionamento global.
Empreendimento, quer com profissionais ditação mas de acção. Por isso é esta que
de outros sectores com os quais terá de deve ser treinada a escalas próprias às di- Todavia, em meu entender, isso não é bas-
se articular para o levar a bom termo. versas idades dos educandos. tante. Num tempo em que a mudança re-
presenta a regra, ajuda muito conhecer o
As exigências irão sendo tanto maiores Acresce que não se conhecem os con- passado e compreender a forma como as
quanto o profissional subir na carreira. tornos dessa acção. Sabe-se que a auto- pessoas e os grupos evoluíram ao longo
Mesmo para aqueles que permanecem mação que começou há quase cinquenta da História. Em primeiro lugar, porque se
num dado patamar as coisas mudam, anos está em crescendo, esperando-se observam invariantes nos comportamentos
porque à sua volta tudo muda. Para aqueles que metade dos postos de trabalho hoje que convém conhecer para se ser capaz
que ascendem no seu percurso profis- existentes seja anulada por recurso a má- de avaliar a elasticidade dos mesmos. Há
sional, as coisas mudam duplamente. quinas, e que muitas das competências povos que, por diversas razões, são mais
Por isso, além dos conhecimentos com principais do futuro não sejam as que hoje abertos em relação a essa mudança e ou-
que os formandos têm de ser profusa- conhecemos. tros que a aceitam com dificuldade. Assis-
mente alimentados e que podem respeitar timos, todos os dias, a manifestações de
a saberes concretos ou, pelo menos, à Por tudo isso se deve apostar no robus- rigidez nas ideias e na acção para as quais
forma de os obter se deles vier a neces- tecimento emocional, na capacidade para convém procurar a explicação. A previsão
sitar, eles têm de adquirir outras capaci- enfrentar a mudança, no gosto por re- dos comportamentos futuros é uma tarefa
dades que lhes assegurem versatilidade e solver problemas complexos, na prática difícil e arriscada que, por isso, reclama a
confiança para enfrentar a novidade e os do trabalho de equipa e na liderança de busca de explicações que nos ajudem a
desafios permanentes que vão constituir grupos de composição variada. compreender primeiro para, de seguida,
a regra na sua vida futura. fundamentarmos a acção. Ora, para isso,
Esta formação de partida terá de ser acom- o conhecimento da História importa muito.
Sublinho a importância da confiança em panhada por outra com carácter perma-
si próprio para resolver os problemas que nente que irá durar toda a vida activa. Esta Pode parecer estranho que eu sublinhe
surgirem. Ela é dada, naturalmente, pelo poderá ser dada pelas Faculdades, onde este aspecto quando abordo a formação
comando dos conhecimentos necessá- se deve aprender a voltar, pela Ordem dos dos Engenheiros que irão trabaIhar no fu-
rios, mas também pela capacidade de Engenheiros e por numerosas instituições turo, depois de acentuar que o que os es-
analisar e criticar a questão que tem para que, devidamente alertadas para as ne- pera é a mudança permanente. Mas é exac-
resolver e pela sua capacidade de orga- cessidades que surgirem, organizem ac- tamente por isso que o faço! Quando se
nização da resposta. ções diversas de actualização ou mesmo impõe tentar perceber para poder prever,
de abordagens de sectores completamente o conhecimento do que aconteceu antes
De um Engenheiro espera-se que ele seja novos para os formandos. de nós, ajudará a definir barreiras para es-
capaz de dissecar uma questão mais ou tabelecer os caminhos que nos parecem
menos complicada e de definir com sen- Essas acções, obrigatoriamente de natu- praticáveis. A elasticidade dos comporta-
tido operacional a resposta que ela reclama, reza limitada no tempo, não dispensam mentos é, na maior parte das situações,
tudo enquadrado por um clima de incer- que os profissionais sejam cidadãos da muito menor do que a mudança reclama.
teza, porque é esta a situação corrente. sua época, informados acerca dos pro- Por isso se deve ter uma grande informação
blemas do mundo e das suas regiões e acerca do que aconteceu antes de nós,
Todas estas capacidades não se adquirem populações. Nos nossos dias, é possível para poder avaliar a capacidade de mu-
somente na Faculdade. Quando se lá chega distinguir o grau de inserção de cada um, dança e aproveitar o potencial para evoluir
já se deve ir dotado com muitas delas. conforme a sua vivência na Sociedade em que as sociedades contêm.
Tudo tem de começar muito mais cedo e que está. As pessoas com obrigação de Os resultados do jogo não estão definidos
não é só na escola que se conquistam. A liderança, como sucede correntemente à partida. Os vencedores não são neces-
prática de um desporto, a integração num com os Engenheiros, têm de possuir um sariamente os que sabem mais matemática
coro ou numa orquestra, a pertença a as- espírito cosmopolita, sabendo o que vai ou os que viajaram mais.

Julho/Agosto/Setembro 2018 INGeNIUM • 57


Colégios

Isso também conta, obviamente, mas os assim, preciso estar atento em relação aos fundamental da sua formação. É esse o
desafios a que teremos de responder re- campos onde, dentro do sector, é prati- caso do Ambiente. A importância que as
clamam a articulação de muitas outras cável uma injecção mais intensa das so- questões ligadas à preservação dos ecos-
capacidades que têm a ver com a forma luções próprias da “inteligência artificial”, sistemas assumiram, bem como o impacto
como se apreende a realidade que nos começando por ver onde é que elas pro- ambiental de todas as obras, fazem com
cerca e com a facilidade com que se de- duziram resultados visíveis noutros sec- que este domínio não possa ser esquecido
finem e organizam as respostas que damos tores e desenvolvendo instrumentos ade- na formação dos Engenheiros. Todos serão
aos problemas que se põem. quados à Engenharia e à Construção. Isto confrontados, seguramente, com questões
Estando, assim, vincado que a formação não significa mais do que explorar as po- ligadas a esta área.
dos futuros Engenheiros não pode ser ex- tencialidades da digitalização, tentando
clusivamente técnica mas antes enqua- generalizar aos sectores menos avançados Continuaremos a assistir a desenvolvi-
drada numa perspectiva global acerca do o que já é corrente nos mais propensos à mentos tecnológicos em todos os sec-
funcionamento da Sociedade, é certo que inovação que são, geralmente, os mais tores, desde a ciência dos materiais até à
no campo da tecnologia há demasiadas recentes. digitalização dos processos. Não é pos-
coisas a passarem-se que reclamam muita sível, obviamente, estar a par de todas as
atenção. Como disse há pouco, a situação corrente evoluções que ocorrem, tantas e tão va-
na carreira de um Engenheiro leva alguns riadas elas são. Os seus promotores en-
O sector da Engenharia e Construção pesa deles a assumir responsabilidades de gestão carregar-se-ão, contudo, de chamar a
muito no Mundo. Há estimativas de que nas empresas em que se integram. Por atenção para a importância das suas des-
ele valha mais de 10 biliões de dólares, isso, devem ser sensibilizados desde o cobertas ou dos produtos ou processos
permanecendo um diferencial manifesto início para a importância de saber que que põem no mercado. É preciso, porém,
entre o grau de digitalização dos clientes sorte de instituições elas são e como fun- assegurar que os recém-formados saem
e o próprio sector, verificando-se que há cionam, para seguir ao longo da vida nu- da Escola despertos para a necessidade
um largo campo para progresso deste úl- merosas acções de formação, corrente- de se manterem actualizados no campo
timo, que vai desde a pré-fabricação até mente curtas mas indispensáveis para que em que sucede terem-se especializado.
à fase de operação e, mesmo, da gestão. eles passem a dominar campos tão áridos Essa abertura é indispensável para que a
como a contabilidade e outros tão sensí- inovação adquira as dimensões de um
A redução de custos está, naturalmente, veis como a gestão de pessoal. Esta va- movimento.
presente como objectivo a alcançar. Mas, riedade faz, contudo, parte da panóplia
sucede, estar a dar-se muito mais atenção de sectores que um gestor de Engenharia Como se vê, os desafios que se põem à
ao domínio do risco que vai do associado e Construção tem de dominar. formação dos Engenheiros nem são poucos
directamente à construção (riscos sísmicos Alguns deles chegarão ao topo dessas nem pequenos. Há, obviamente, que fazer
ou tornados e outras catástrofes naturais) empresas. E, aí, a tomada de decisões, a sempre selecções, nunca abrandando em
até ao risco económico e financeiro do agilidade e o fundamento com que o matéria de exigência da qualidade. Uma
próprio empreendimento e, mesmo, até fazem, a arte de comunicar porque o fi- coisa é certa: a formação tem de ser feita
ao risco político de realizar este em de- zeram desse modo e a capacidade para ao longo da vida. Sempre! A isso nos leva
terminado país ou com certos parceiros. congregar a vontade dos órgãos colegiais o ritmo frenético a que se passa inovação
Tudo isso é susceptível de avaliação prévia, em volta de uma determinada solução tecnológica. Mas a evolução tem também
sendo hoje possível precavermo-nos me- contam muito. A capacidade de liderança outras dimensões: ela é feita por homens,
lhor contra muitos possíveis acidentes ou é, para essas posições, muito importante. e destina-se sempre a melhorar a sorte
contra decisões insuficientemente funda- Mas ela pode ser potenciada por via da dos seus semelhantes, com respeito pela
mentadas. Não é difícil, hoje, melhorar as racionalização dos factores que contri- Natureza e pelos altos valores da civili-
previsões neste domínio. E, por isso, será buem para o seu exercício competente; zação em que nos inserimos. Por isso os
natural que cresça muito a atenção dada muitos dirão que se trata de uma capaci- futuros Engenheiros – que irão ter posi-
às muitas formas de risco com que os En- dade inata; em todos os casos, conhecer ções sempre destacadas na vida colectiva
genheiros têm de lidar. Isso terá se de re- e racionalizar o uso dos seus instrumentos – têm de ir para o terreno munidos com
flectir, naturalmente, na sua formação. próprios contribuirá sempre para agilizar conhecimentos suficientes para os tornar
um processo que é sempre crítico para as autónomos nas suas formas de pensar e
Coisa semelhante se passa no domínio da empresas. de actuar e com o sentido da responsa-
“inteligência artificial”, que se tornou cor- Nem todos os campos podem ser objecto bilidade social que as suas funções im-
rente em muitas indústrias mas que pode de acções formais de preparação num plicam.
avançar muito mais no sector da cons- curso inicial de introdução a uma profissão.
trução, que ainda experimenta o peso de Há sensibilizações que têm de ocorrer de
ter sido dos primeiros a desenvolver-se e, modo complementar para muitos, sendo Nota: o autor escreve segundo a ortografia
por isso, ser afectado pela tradição. É, certo que para alguns representará o tronco anterior ao Acordo de 1990.

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Colégios

Colégio Nacional de Engenharia Civil

• Sessões Técnicas para Engenheiro Civis com mais de 700 participantes » ver secção Regiões » NORTE
Iniciativas Regionais
• Sessão “Construção e Inovação em Sistema Plastbau” » ver secção Regiões » CENTRO

Civil
Colégio Nacional de Especialização em
Engenharia Hidráulica e Recursos Hídricos

Iniciativas Regionais • “Mondego: Passado, Presente e Futuro” » ver secção Regiões » CENTRO

Especialidades e Especializações Verticais

Colégio Nacional de
Engenharia Eletrotécnica
Luis Filipe Cameira Ferreira › luis.cameiraferreira@gmail.com

O R&D Nester e a “subestação do futuro”

e foi desenvolvida uma metodologia de en-


saios inovadora, a co-simulação, que con-
siste na simulação simultânea do sistema
de energia e da rede de comunicações da
subestação.
O projeto está agora na fase de demons-
tração, durante um período alargado, numa
subestação da rede portuguesa onde o sis-
tema PAC desenvolvido será colocado em
paralelo com o existente, permitindo a sua
validação, nomeadamente em situações de
defeitos no sistema elétrico.
O projeto tem dado origem a vários artigos
publicados em revistas científicas da espe-
cialidade e tem sido divulgado em confe-

O R&D Nester é um centro de investi-


gação da REN, com mais de uma de-
zena de investigadores, que tem como ob-
mento e integração dos equipamentos ele-
trónicos e de normas internacionais que
facilitam a comunicação entre estes dispo-
rências internacionais. Irá ser apresentado
na sessão bianual do CIGRÉ, em Paris, um
evento mundial de referência na área de
jetivo estudar soluções inovadoras na área sitivos. redes elétricas.
da energia, como por exemplo, as Smart Um dos aspetos inovadores desta nova ar- Com esta pesquisa, pretende-se dar passos
Grids por meio da digitalização do sistema quitetura é a existência de redundância para para um sistema elétrico mais eficiente,
de energia. todas as funções do sistema PAC e o de- fiável, seguro e flexível, melhor preparado
Na digitalização das subestações de trans- senvolvimento de algoritmos de autorrecu- para as mudanças que estão a ocorrer no
porte de energia, o R&D Nester decidiu de- peração, que permitem que o sistema man- setor, tirando partido de tecnologias, no-
senvolver uma nova geração de arquitetura tenha a sua integridade sem qualquer inter- meadamente digitais, que vão estando dis-
de sistemas PAC (proteção, automação e venção humana. Para execução de uma poníveis.
controlo), o denominado projeto “Subes- prova de conceito, foi construído um labo-
tação do Futuro”. O objetivo é tirar partido ratório com capacidade de simulação em • Para mais informações:
do aumento da capacidade de processa- tempo real, utilizando equipamentos reais, http://rdnester.com/pt-PT/lab

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Colégios

Colégio Nacional de Engenharia ELETROTÉNICA

Jornadas da Ligação EDP Distribuição 2018 apresentam


nova versão do manual de ligações e portal para profissionais
buição Digital, nomeadamente a App e as
áreas reservadas para clientes, autarquias e
profissionais. Este projeto tem como pre-
missa a total transparência dos processos
trocados com a EDP Distribuição, forne-
cendo feedback permanente e agilizando a
comunicação com os seus stakeholders e
a concretização dos seus diversos pedidos.
Tudo isso mantendo a conhecida proximi-
dade à realidade local, quer ao nível das au-

A s Jornadas de Ligação 2018 passaram


pelo Porto, Coimbra, Évora e Lisboa,
tendo alcançado uma plateia de cerca de
Energia e Geologia, Ordem dos Engenheiros
e colaboradores da EDP Distribuição. Para
além de lançar a nova versão do manual de
tarquias, quer ao nível dos clientes.
Para saber mais sobre os temas abordados
nas Jornadas da Ligação aceda a https://
800 participantes, entre técnicos respon- ligações, discutiram-se os desafios dos pro- www.edpdistribuicao.pt/pt/infocenter/no-
sáveis, projetistas, autarquias, operadores fissionais do setor. ticias/2018 e descarregue a app da EDP Dis-
de redes em baixa tensão, Direção Geral de Foi ainda apresentado o projeto EDP Distri- tribuição na Play Store e Apple Store.

Colégio Nacional de Engenharia ELETROTÉNICA

DL 96/2017:
“O Termo de Responsabilidade pela Execução
de Instalações Elétricas de Serviço particular
para efeitos de Realização de Obra” foi retificado

A Ordem dos Engenheiros continua a acom-


panhar a atividade do DL 96/2017, tendo
transmitido à Direção Geral de Energia e Geo-
regime jurídico do urbanismo e edificação,
previsto no Decreto-Lei n.º 555/99, de 16 de
dezembro (RJUE). Neste seguimento, a DGEG
sáveis, no âmbito da articulação com o RJEU
para os atos relacionados com as instalações
elétricas de serviço particular nos casos em
logia que se verificavam dificuldades de ope- publicou um despacho que estabelece o mo- que as mesmas dispensem projeto elétrico e
racionalização do artigo 31.º do Decreto-Lei delo de termo de responsabilidade aplicável para os efeitos previstos na alínea ii), da alínea
n.º 96/2017, que estabelece a articulação o às entidades instaladoras e técnicos respon- a) do artigo 31.º do DL 96/2017.

Colégio Nacional de Engenharia ELETROTÉNICA

Siemens Portugal investe cinco milhões


para impulsionar digitalização no País
No âmbito de um encontro sobre digitali- Durante o encontro, foram expostas diversas
zação no passado dia 21 de junho, em que tecnologias envolvidas na digitalização, seja
estiveram presentes diversas entidades, entre das redes elétricas, dos edifícios, da mobi-
as quais a Secretária de Estado da Indústria, lidade ou indústria, com demonstrações,
Ana Teresa Lehmann, e onde também a entre outras, de impressão 3D e realidade
Ordem dos Engenheiros se fez representar, aumentada, com destaque para as aplica-
a empresa anunciou a intenção de investir, ções sobre a sua plataforma Mindsphere
nos próximos dois anos, cinco milhões de para IoT.
euros em projetos de investigação e desen- A empresa enfatizou ainda a sua intenção digitais para a indústria e no desenvolvimento
volvimento para impulsionar a digitalização de continuar a apostar na criação de es- dos laboratórios de aplicações para edifícios
nas áreas da energia e mobilidade. paços de experimentação das tecnologias inteligentes.

60 • INGeNIUM Julho/Agosto/Setembro 2018


Colégios

Colégio Nacional de Engenharia ELETROTÉNICA

Mercado liberalizado de energia elétrica continua a crescer


S egundo a Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos, o mer-
cado liberalizado de eletricidade registou em maio um cresci-
mento de 12 mil clientes face a Abril, cifrando-se em 5,027 milhões
mentar, representando 85% do consumo total do segmento face aos
83% registados em maio de 2017. Quanto às quotas de mercado, a
EDP Comercial manteve a sua posição como principal operador no
de clientes. Face a igual mês do ano passado, o mercado liberalizado mercado livre em número de clientes (82%) e em termos de con-
cresceu 3,6%, representando atualmente 81% do número total de sumo (42%). A Endesa mantém a sua liderança no segmento de
clientes e 94% do consumo registado em território nacional. A to- clientes industriais (29%), reforçando a sua quota em 0,4 pontos per-
talidade dos grandes consumidores está praticamente toda no mer- centuais (p.p), enquanto a Iberdrola (33%) mantém a liderança no
cado livre, enquanto a percentagem de domésticos continua a au- segmento dos grandes consumidores com um ganho de 0,2 p.p.

Colégio Nacional de Engenharia ELETROTÉNICA

Laboratório Vivo para a Descarbonização de Almada


Um projeto inovador, de economia circular, que inclui a conceção e implementação
de uma instalação piloto de um pavimento solar fotovoltaico

C ofinanciado pelo Fundo Ambiental, o


Programa Laboratórios Vivos para a
Descarbonização (LVpD) surge na sequência
cilhas. Este Laboratório Vivo pretende ser
não só uma montra de soluções e tecnolo-
gias de baixo carbono que possam ser repli-
tivo à recolha seletiva de resíduos orgânicos
no LVpD e áreas envolventes, a disponibili-
zação de informação em tempo real sobre
da assinatura dos Acordos de Paris em 2015, cadas em outras cidades do País e do Mundo, os modos e horários dos transportes públicos
por Portugal, onde foram estabelecidas metas como um espaço privilegiado para analisar que servem a zona (CACILHAS GO) e a pro-
ambiciosas a nível local e nacional, para re- e discutir o papel da economia circular, das dução local e descentralizada de energia em
dução das emissões de carbono resultantes cidades e das pessoas no processo de des- ambiente urbano utilizando um pavimento
das atividades humanas até 2050. carbonização. No LVpD Almada propõe-se solar fotovoltaico, que será o primeiro a ser
Almada foi uma das 12 cidades portuguesas testar e concretizar um conjunto de ações concebido e instalado a nível nacional (CA-
selecionadas para implementar um LVpD, inovadoras: a criação de um minicentro de CILHAS WATT).
tendo para o efeito escolhido a Rua Cândido logística urbana (centro FAROL), que possa Esta aposta de Almada insere-se na sua Es-
dos Reis, em Cacilhas, que reúne condições atenuar os problemas derivados das opera- tratégia Local para as Alterações Climáticas,
ideais por ser uma zona pedonal e ciclável e ções de cargas e descargas e mitigar os con- e resulta de uma parceria entre a Câmara
concentrar usos residenciais, comércio e di- flitos nesta via pedonal de elevada procura, Municipal de Almada com a Agência Muni-
versidade de modos de transporte, dada a a criação de uma moeda local (GARUM) que cipal de Energia de Almada, AGENEAL, e a
proximidade ao interface multimodal de Ca- promova a atividade económica e o incen- Lasting Values.

• Seminário “Instalações de Carregamento de Veículos Elétricos” » ver secção Regiões » CENTRO


Iniciativas Regionais • Visita técnica à IKEA Alfragide » ver secção Regiões » SUL
• Visita Técnica à Estação de Radar n.º 4 » ver secção Regiões » MADEIRA

Especialidades e Especializações Verticais

Colégio Nacional de
Engenharia Mecânica
Gonçalo Manuel Fernandes Perestrelo › gfperestrelo@gmail.com

ASME’s International Mechanical Engineering O ASME International Mechanical Engi-


neering Congress and Exposition realiza-
Congress and Exposition (IMECE) se anualmente e é uma conferência de en-
genharia mecânica interdisciplinar. O IMECE
pretende desempenhar um papel significa-
tivo no estímulo à inovação, desde as simples
descobertas até às aplicações mais com-
plexas. O Congresso reúne engenheiros,

Julho/Agosto/Setembro 2018 INGeNIUM • 61


Colégios

académicos, cientistas e técnicos de todas as disciplinas com os A próxima edição do ASME realizar-se entre 9 e 15 de novembro,
propósitos de explorar soluções para os desafios globais e para o em Pittsburgh, Pensilvânia, nos Estados Unidos da América.
avanço da excelência da Engenharia em todo o Mundo. • Mais informações disponíveis em: www.asme.org/events/imece

Colégio Nacional de Engenharia MECÂNICA

VIII International Conference on Forest Fire Research


A 8.ª Conferência Internacional sobre Investigação em Incêndios
Florestais irá decorrer em Coimbra, entre os dias 9 a 16 de no-
vembro de 2018. À semelhança das edições anteriores, a organi-
zação está a cargo do Centro de Estudos de Incêndios Industriais
(CEIF) da Associação para o Desenvolvimento da Aerodinâmica
Industrial (ADAI) da Universidade de Coimbra.
Este evento pretende efetuar uma atualização sobre os desenvol- e alterações climáticas, deteção e monitorização do incêndio, de-
vimentos da tecnologia e da ciência no domínio dos incêndios flo- teção remota, comportamento e gestão do incêndio, grandes in-
restais e dar uma oportunidade para promover a cooperação da cêndios, segurança contra incêndio, aspetos económicos, ecologia
gestão e investigação nestas áreas. do incêndio e avaliação e gestão de áreas ardidas.
De entre os diversos temas que serão abordados durante a confe- Adicionalmente, serão ainda organizados dois cursos, de curta du-
rência, referem-se os relacionados com os fatores humanos e ins- ração, relacionados com os temas da conferência.
titucionais, a gestão florestal e prevenção de incêndio, incêndios
na interface urbana-rural, avaliação do risco de incêndio florestal • Mais informações disponíveis em: www.adai.pt/icffr

• Visita Técnica às Instal. de Armazenagem Subterrânea de Gás Natural do Carriço » ver secção Regiões » SUL
Iniciativas Regionais • Qualificação de Auditores de Sistemas de Gestão de Energia » ver secção Regiões » MADEIRA
• Gestão Técnica Centralizada » ver secção Regiões » MADEIRA

Especialidades e Especializações Verticais

Colégio Nacional de
Engenharia Geológica e de Minas
Teresa Burguete › teresa.burguete@gmail.com

Revisão da legislação no setor dos produtos explosivos


A legislação portuguesa no setor dos produtos explosivos requer
conformidade com as diretivas europeias. No sentido de obter
essa harmonização, foi criado, pelo despacho n.º 1600/2018, um
trariando a atual dispersão normativa, tendo em vista a constituição
de um regime jurídico de mais fácil compreensão e interpretação.
A coordenação do grupo de trabalho é assegurada pelo Departa-
grupo de trabalho com representantes das seguintes áreas gover- mento de Armas e Explosivos da PSP (DAE) que, no âmbito da con-
nativas: Defesa Nacional, Polícia de Segurança Pública, Guarda Na- sulta a outras entidades, prevista neste despacho, convidou a Asso-
cional Republicana, Justiça, Economia, Ambiente e Mar. Este grupo ciação Portuguesa de Estudos e Engenharia de Explosivos (AP3E) e
tem como missão (1) atualizar as normas de enquadramento de a Associação Nacional da Indústria Extractiva e Transformadora
importação, distribuição, comercialização e uso de explosivos e ar- (ANIET) a darem o seu contributo nesta matéria. No dia 4 de Julho
tigos pirotécnicos, (2) adequar as normas nacionais ao quadro nor- de 2018, foi promovida uma discussão no Laboratório Nacional de
mativo europeu em vigor, (3) rever os procedimentos de licencia- Engenharia Civil (LNEC), tendo reunido stakeholders da indústria,
mento e controle das atividades em que há recurso a explosivos e academia e outras entidades, entre as quais o Colégio de Engenharia
artigos pirotécnicos, introduzindo medidas que visem a desburo- Geológica e de Minas. O tema desta sessão foi o sistema de for-
cratização e a modernização dos procedimentos (4), harmonizar mação de operadores de explosivos, tendo os presentes participado
nomenclaturas, regras e procedimentos previstos nos distintos di- de forma muito ativa e de onde resultaram contributos sólidos para
plomas legais e (5) integrar os diferentes instrumentos legais, con- elaboração de documento a apresentar à DAE.

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Colégios

Colégio Nacional de Engenharia GEOLÓGICA E DE MINAS

A exploração de hidrocarbonetos em Portugal


D epois de diversas décadas de prospeção
e pesquisa de hidrocarbonetos em Por-
tugal no onshore e no offshore, em 2001,
ao projeto, o Estado procedeu à caducidade
dos respetivos contratos.
Quer Portugal queira quer não, o futuro
tivos, devendo estes ser sempre minimi-
zados. As tomadas de decisão nos períodos
de transição devem assentar no conheci-
após um acordo com uma empresa de geo- aponta para a necessidade de consumo de mento sólido e não em emoções pouco
física norueguesa que permitiu ao Estado ter hidrocarbonetos pelo menos ao longo dos informadas, quer estas sejam pró ou contra,
disponível cerca de 30.000km de linhas sís- próximos 80 anos. Hoje, cerca de 75% das caso contrário comprometem a qualidade
micas 2D, foi lançado um concurso inter- nossas necessidades energéticas são im- de vida atual e futura.
nacional para atribuição de concessões para portadas (esmagadoramente em hidrocar- No âmbito da iniciativa “2018 – Ano OE das
a prospeção, pesquisa e exploração de hi- bonetos), pelo que é necessário que se faça Alterações Climáticas”, o Colégio Nacional
drocarbonetos em Portugal. Desse concurso uma reflexão séria quanto ao aproveitamento de Engenharia Geológica e de Minas irá pro-
resultaram dois pedidos de concessão, cujos do nosso potencial em recursos endógenos, mover, no dia 23 de outubro, na sede da
contratos, por razões de ordem diversa, só não só de hidrocarbonetos, mas também Ordem dos Engenheiros, uma discussão
foram assinados em 2011. Porém, por razões na exploração de recursos minerais metá- sobre o tema da exploração de hidrocar-
certamente não atribuídas ao interesse pú- licos e não-metálicos. Não nos podemos bonetos. Pretende dar-se voz a todas as
blico e à economia nacional, e já depois de esquecer que as matérias-primas são ne- opiniões, com o objetivo de obter partici-
efetuados vultuosos investimentos em pros- cessárias à sobrevivência e ao bem-estar da pações que promovam o conhecimento e
peção, nomeadamente em sísmica 3D, e por espécie humana e que o seu aproveitamento elucidem a opinião pública de forma trans-
força de posições ambientalistas contrárias acarreta sempre impactes positivos e nega- parente.

Colégio Nacional de Engenharia GEOLÓGICA E DE MINAS

Lítio de Portugal para a Europa para a revolução da eletrificação dos transportes e dos setores da
energia. Contudo, as boas práticas de sustentabilidade que suportam

E m 27 de junho de 2018 ocorreu em Bruxelas um seminário de-


dicado às questões do lítio em Portugal. O objetivo foi discutir
a relevância deste metal para a Europa e como Portugal pode con-
o paradigma da economia circular, fazem com que a Europa tenha
que olhar para toda a cadeia de valor no âmbito do ciclo de vida
do lítio.
tribuir para a sua valorização. Assim, torna-se necessário mais investigação e pesquisa de forma
Sendo que a tendência atual é de promover a utilização de baterias a melhorar os processos atuais pois, segundo alguns estudos (e.g.
elétricas em que o principal componente é o lítio e, tendo o nosso estudo de 2012 da “Science for Environment Policy” publicado pela
território um potencial geológico interessante deste metal estraté- União Europeia) as baterias de lítio são menos “verdes” do que ou-
gico, ficou claro que Portugal pode contribuir de forma relevante tros tipos de baterias disponíveis.

Colégio Nacional de Engenharia GEOLÓGICA E DE MINAS

PRÉMIO AP3E da Ordem dos Engenheiros e, por unanimi-


dade, decidiu atribuir o prémio a Catarina de
Alcântara Luz, antiga aluna do Mestrado em
Engenharia Geológica e de Minas do Instituto
Superior Técnico (IST), pela tese intitulada
“Contribuição para o desenvolvimento de
novos modelos de previsão das amplitudes
de vibrações produzidas por detonações em
maciços rochosos”. Segue-se o resumo da
tese de dissertação:
“A crescente utilização de substâncias ex- modelos clássicos, por exemplo Ambraseys

A Associação Portuguesa de Estudos e


Engenharia de Explosivos (AP3E) pro-
move a cada dois anos a atribuição de um
plosivas em obras, tanto de caráter civil,
como de caráter mineiro, conduziu à ne-
cessidade de formulação de novos modelos
& Hendron (1968) ou Johnson (1971), con-
tinua a ser muito comum. No entanto, apesar
da preponderância das variáveis carga má-
prémio de melhor tese de mestrado a alunos de previsão das amplitudes de vibração, que xima de explosivo por retardo e distância
de ensino superior em Portugal. O júri tem apresentam maior precisão. Apesar de já da detonação ao ponto de monitorização,
sempre contado com a participação do Co- existirem diversas abordagens mais com- outras variáveis também se revelam essen-
légio de Engenharia Geológica e de Minas. plexas e com coeficientes de determinação ciais nesta previsão. Recorrendo aos mo-
Este ano, o júri reuniu em 7 de maio na sede bastante mais apelativos, a recorrência aos delos da bibliografia usualmente utilizados,

Julho/Agosto/Setembro 2018 INGeNIUM • 63


Colégios

à regressão linear múltipla com a introdução detonação de substâncias explosivas, para O modelo selecionado apresenta um coe-
de variáveis quantitativas e qualitativas, este escavação do maciço rochoso granítico, na ficiente de determinação de 0,914, supe-
estudo pretende determinar, aplicando uma obra de construção do Túnel de Águas rando o dobro daquele que, para o mesmo
metodologia de proposta e validação de Santas, no Porto. conjunto de dados, é oferecido pelo mo-
modelos matemáticos candidatos, aquele A modelação foi desenvolvida através de al- delo de Johnson (1971).”
que se afigura como o mais adequado a um goritmos desenvolvidos em MATLAB sobre A cerimónia oficial de entrega do prémio
conjunto de dados obtidos na monitorização um conjunto de 1188 observações, que advêm ocorreu em 8 de junho, no Laboratório Na-
das vibrações nos terrenos, produzidas pela da monitorização de 203 desmontes. cional de Engenharia Civil (LNEC).

Especialidades e Especializações Verticais

Colégio Nacional de
Engenharia Química e Biológica
Manuel Fernando Ribeiro Pereira › fpereira@fe.up.pt

Simbiose industrial ajuda a reduzir as emissões de carbono e o desperdício


industrial é usado como energia noutras unidades. Desta forma, o
Imagem: adaptada do site da BASF

conceito Verbund ajudou a economizar cerca de 19,0 milhões de


MWh em 2016, o que corresponde a 3,8 milhões de toneladas mé-
tricas de CO2 libertadas para o meio ambiente.
As turbinas a gás e a vapor nas unidades de produção de energia
e vapor de ciclo combinado da BASF permitiram que a empresa

A simbiose industrial é uma maneira eficiente para as indústrias


de utilização intensiva de energia e materiais pouparem re-
cursos, na medida em que as empresas trabalham juntas para usar
atendesse a cerca de 70% da sua necessidade de eletricidade. Em
comparação com métodos separados de geração de vapor e ele-
tricidade, a empresa economizou 14,0 milhões de MWh de com-
os resíduos ou subprodutos de um processo de produção como bustíveis fósseis e evitou 2,8 milhões de toneladas de emissões de
matéria-prima para outro. carbono em 2016.
Por exemplo, a BASF usa o conceito Verbund – a interligação in-
teligente de unidades de produção, fluxos de energia e infraestru- • Fonte: Cefic, mais informações sobre o conceito Verbund em: https://www.
turas. O calor residual do processo de produção de uma unidade basf.com/en/company/about-us/strategy-and-organization/verbund.html

Colégio Nacional de Engenharia QUÍMICA E BIOLÓGICA

IChemE publica um número especial para assinalar o 30.º aniversário do


incidente de Piper Alpha
T he Institution of Chemical Engineers (IChemE) publicou um
número especial do Loss Prevention Bulletin, para assinalar os
30 anos decorridos sobre a explosão da plataforma petrolífera Piper
Alpha.
Em 6 de julho de 1988, a plataforma petrolífera do Mar do Norte,
Piper Alpha, explodiu. Foi considerado o maior desastre em uni- um total de 108 recomendações para mudanças nos processos de
dades de exploração de petróleo offshore do mundo, do qual re- segurança na exploração petrolífera do Mar do Norte.
sultaram 167 mortos e 61 sobreviventes gravemente feridos. Para A edição especial do Loss Prevention Bulletin examina retrospeti-
além das graves perdas humanas, 10 % da produção de petróleo vamente as recomendações do inquérito e a evolução da legis-
do Reino Unido foi afetada, levando a perdas financeiras de apro- lação. Além disso, o Professor Stephen Richardson, Professor Emé-
ximadamente £2 biliões. rito de Engenharia Química no Imperial College de Londres, e Fiona
O número especial do Loss Prevention Bulletin: Piper Alpha Disaster Macleod, Presidente do Painel de Prevenção de Danos do IChemE,
– 30th Anniversary explora as lições aprendidas com o incidente, publicaram um artigo conjunto no boletim intitulado “Piper Alpha
com base no inquérito público resultante liderado por Lord William – What have we learned?”. O artigo explora o incidente com mais
Cullen. O inquérito durou 180 dias, tendo o relatório sido publicado detalhes e refere quais as lições que ainda podem ser aprendidas
em novembro de 1990. Este inquérito criticou os procedimentos hoje. Este artigo está disponível em www.icheme.org/~/media/Do-
de manutenção e segurança “inadequados” da Piper Alpha e fez cuments/LPB/LPB261_pg03.pdf.

64 • INGeNIUM Julho/Agosto/Setembro 2018


Colégios

Colégio Nacional de Engenharia QUÍMICA E BIOLÓGICA

• Visita Técnica ao Biocant Park » ver secção Regiões » CENTRO


Iniciativas Regionais
• Jantar-debate “O curso de Engenharia Biológica do IST” » ver secção Regiões » SUL

Especialidades e Especializações Verticais

Colégio Nacional de
Engenharia Naval
Tiago Alexandre Rosado Santos › t.tiago.santos@gmail.com

Navio patrulha oceânico NRP Sines entregue à Marinha Portuguesa


N o dia 6 de julho do corrente ano foi
realizada a cerimónia protocolar da
assinatura, pela Marinha Portuguesa, do Auto
de Recepção Provisória, alteração ao estado
de armamento e entrega do Comando do
NRP Sines, o terceiro navio Patrulha Oceâ-
nico da classe Viana do Castelo e o primeiro
a ser entregue pelos estaleiros navais West
Sea. Seguir-se-á o NRP Setúbal no final do
ano. Interessa ressalvar o facto, muito pouco Almirante Calado, a chefiar a delegação de
frequente mesmo em estaleiros de refe- oficiais generais e oficiais superiores de di-
rência, de que a entrega do navio se efetuou ferentes áreas funcionais ligadas à operação
sem atrasos em relação ao previsto contra- e sustentação da esquadra. O consórcio
tualmente, o que, naturalmente, é motivo West Sea – Edisoft fez-se representar pelo
de satisfação para a empresa e para a Ma- Eng. Carlos Martins, principal acionista do
rinha, dada a conhecida carência de meios grupo Martifer, o qual compreende os es-
navais com estas características. O contrato taleiros da West Sea, e o Presidente da Co-
para a construção dos dois NPO Sines e missão Executiva (CEO) da Martifer SGPS,
Setúbal teve a sua assinatura em setembro Eng. Pedro Duarte, o Administrador da West de elementos do sexo feminino, é coman-
de 2015, tendo-se iniciado a construção no Sea, Dr. Vitor Figueiredo, e o Administrador dado pela Capitão-tenente Mónica Martins.
primeiro trimestre de 2016. da Thales/Edisoft, Eng. João Araújo. À comandante e respetiva guarnição, a Ordem
A Marinha foi representada ao mais alto nível, O navio, que curiosamente conta na sua dos Engenheiros deseja os maiores sucessos
com o Chefe do Estado-maior da Armada, guarnição com uma elevada percentagem e “águas safas e ventos de feição”

Especialidades e Especializações Verticais

Colégio Nacional de
Engenharia Geográfica
Maria João Oliveira de Barros Henriques › mjoaoh@gmail.com

de a colocar à beira da morte e provocar


Apontamento histórico uma invasão do exército Franco sob o co-
A Grande viagem dos Visigodos (parte V) mando de Childeberto I. Os Francos derro-
taram os Visigodos em Narbonne e apos-
João Casaca os Visigodos das investidas dos Francos e saram-se da rainha Clotilde. Em 531, Ama-
Engenheiro Geógrafo, instalar o seu neto Amalarico no trono (511 larico foi assassinado numa igreja em Bar-
Membro Conselheiro da OE a 531). Teodorico ficou regente do reino celona e a nobreza Visigoda elegeu o nobre
Visigodo até à sua morte em 526, altura em Ostrogodo Têudis para seu rei (531 a 548).

E m 510 AD, Teodorico o Grande enviou


um exército Ostrogodo para a Hispânia,
liderado pelo nobre Têudis, para proteger
que Amalarico assumiu o governo pleno do
reino Visigodo. Casado com Clotilde, irmã
do rei Clóvis, Amalarico maltratava-a a ponto
Durante o seu reinado, Têudis esforçou-se
por conciliar o Cristianismo Ariano dos Vi-
sigodos com o Cristianismo Trinitário da

Julho/Agosto/Setembro 2018 INGeNIUM • 65


Colégios

reconquistou o Norte de África aos Vândalos (533), a Itália aos Os-


trogodos (535 a 554) e aproveitou a sua intervenção na Hispânia
(552) para se apropriar de um território que ia do Algarve a Valência,
com capital em Cartagena, que designou por Spania.
Quando Atanagildo faleceu (567), devido a causas naturais, os Vi-
sigodos elegeram como rei Liuva (567 a 572), que associou ao trono
o seu irmão Leovigildo (568 a 586). Liuva, em Narbonne, governava
a Septimânia, que defendeu de diversos ataques dos Francos, en-
quanto Leovigildo, em Toledo, era responsável pela Hispânia. Leo-
vigildo conquistou Córdova (572) aos Bizantinos e reduziu a Spania
a uma faixa costeira (ver Figura) que veio a ser totalmente conquis-
tada em 625, no reinado de Suintila (621 a 631).
Com base no antigo código de Eurico, Leovigildo fez publicar um
código civil que contemplava toda a população da Hispânia, aca-
bando com a proibição de casamentos mistos (entre godos e não
godos), etc. Também promoveu a construção da cidade real de
Recópolis (desaparecida) a Leste de Toledo (ver Figura).
A Hispânia e a Spania no reinado de Leovigildo
Leovigildo tinha dois filhos, Hermenegildo e Recaredo, e entregou
população da Hispânia. Em 531, mudou a corte de Barcelona para a Hermenegildo o governo da Bética. Entretanto, Hermenegildo
Mérida. Em 541, teve que enfrentar os Francos, que invadiram a converteu-se ao Cristianismo Trinitário e entrou em conflito com
Hispânia, assolaram o vale do Ebro e puseram cerco a Saragoça. O o pai, que era Cristão Ariano. Aliado ao rei Suevo Miro, também
cerco foi levantado e os Francos repelidos pelo exército Visigodo Cristão Trinitário, Hermenegildo foi derrotado e aprisionado pelo
sob o comando do duque Teudiselo que veio a suceder a Têudis pai numa batalha onde o rei Suevo foi morto. Hermenegildo foi
quando este foi assassinado em 548. posteriormente morto na prisão e o reino Suevo, até aí indepen-
O Ostrogodo Teudiselo (548 e 549) foi assassinado em 549 por dente, foi anexado (585) pelos Visigodos.
uma fação que promoveu a ascensão ao poder do nobre Visigodo O reino Visigodo atingiu, em 585 (ver Figura), uma configuração
Agila (549 a 554), que substituiu o poder “tolerante” dos Ostrogodos geográfica próxima daquela que os Mouros encontraram quando
pelo poder “radical” dos Visigodos. Entretanto, o nobre Visigodo invadiram a Hispânia em 711. Derrotado o rei Rodrigo nas margens
Atanagildo, partidário da linha “tolerante”, liderou uma revolta ba- do Guadalete, os muçulmanos tomaram rapidamente conta da
seada nas províncias do Sul (Bética). Perante um certo impasse na Hispânia. No entanto, um pequeno núcleo de guerreiros Visigodos
guerra civil resultante, Atanagildo pediu ajuda aos Bizantinos que, liderados por Pelágio, primo do rei Rodrigo, resistiu nas serranias
estabelecidos no Norte de África, enviaram um exército para a His- das Astúrias. Desse núcleo de guerreiros, veio a nascer o reino das
pânia comandado pelo magíster militum Libério (552). Com o apoio Astúrias, depois Leão. Podemos considerar o reino das Astúrias
dos Bizantinos, Atanagildo conseguiu enfraquecer Agila que, refu- como descendente do reino Visigodo e, com mais generalidade,
giado em Mérida, acabou por ser assassinado pelos seus partidários podemos ver as raízes de Portugal no antigo reino Suevo.
que apoiaram a eleição de Atanagildo como novo rei dos Visigodos.
Atanagildo (554 a 567), que deslocou a corte para Toledo (554), O Apontamento Histórico do n.º 162 da INGENIUM não foi publicado na
cedo percebeu que o preço a pagar pela ajuda dos Bizantinos ia íntegra. Poderá aceder ao artigo completo na página de Apontamentos
ser muito elevado. Com efeito, o imperador do Oriente Justiniano Históricos do Colégio de Eng. Geográfica em: www.ordemengenheiros.pt/
(527 a 565) pretendia reconstituir o império Romano do Ocidente, pt/a-ordem/colegios-e-especialidades/geografica/apontamentos-historicos

Colégio Nacional de Engenharia GEOGRÁFICA

IX Conferência Nacional de Cartografia e Geodesia


Institut National de l’Information Géogra-
phique et Forestière (IGN), França. É atual-
mente o Vice-presidente da Associação In-
ternacional de Geodesia. A sua principal
contribuição para a geodesia espacial é a

A IX CNCG, subordinada ao tema “Infor-


mação Geoespacial na era 4.0 para um
planeta em mudança”, realiza-se nos pró-
A Conferência conta, entre outros, com a
presença de três keynote speakers: Zuheir
Altamimi, See Lian Ong e Alan Muse, reco-
melhoria contínua na determinação do
Quadro de Referência Terrestre Internacional
(ITRF). O ITRF é a estrutura metrológica que
ximos dias 25 e 26 de outubro de 2018, na nhecidos especialistas nas suas áreas de in- se tornou essencial para aplicações em ciên-
Academia Militar (Aquartelamento da Ama- teresse. cias da Terra e para navegação por satélite.
dora). Zuheir Altamimi é Diretor de Pesquisa do Nos últimos 35 anos, Altamimi tem traba-

66 • INGeNIUM Julho/Agosto/Setembro 2018


Colégios

lhado constantemente para melhorar a pre- do Standard Setting Committee (SSC) da gestão de projetos e de custos na área da
cisão da realização do ITRF: a sua origem, International Construction Measurement construção de grandes empreendimentos.
escala e orientação e a evolução temporal Standard (ICMS), uma iniciativa apoiada pelo Membro do RICS, integra também grupos
desses parâmetros definidores. Está também Fundo Monetário Internacional, pelo Banco de estudo estabelecidos pelo Governo bri-
profundamente envolvido na iniciativa das Mundial e pela Comissão Europeia. A sua tânico na área da construção, sendo de
Nações Unidas sobre o Quadro de Refe- atividade tem sido desenvolvida quer no destacar o grupo para o desenvolvimento
rência Geodésico Global para o Desenvol- setor público, na área de obras públicas, do protocolo BIM.
vimento Sustentável. quer, posteriormente, no privado, nas áreas A Conferência contará com uma sessão or-
See Lian Ong foi Presidente do Royal Insti- de gestão dos custos do projeto e de obra, ganizada pelo grupo português de Jovens
tution of Chartered Surveyors (RICS) entre fiscalização, avaliações, etc. Engenheiros Geógrafos integrados na FIG
2011 e 2012, tendo sido o primeiro cidadão Alan Muse tem mais de 30 anos de expe- Young Surveyors Network, que se espera
não britânico a ser eleito para este cargo. riência na área da construção, das quais 15 ser muito estimulante e entusiasmante para
Especialista em BIM, é atualmente Presidente como Diretor, tendo-se especializado na os jovens participantes.

Colégio Nacional de Engenharia GEOGRÁFICA

Congresso da FIG 2018


O Congresso da FIG decorreu em Istambul, na Turquia, entre 6
e 11 de maio. Foi organizado conjuntamente pela FIG e pelo
Turkish Chamber of Survey and Cadastre Engineers, sob o lema
“Embracing our smart world where the continents connect: Enhan-
cing the geospatial maturity of societies“. Na Assembleia Geral da
FIG, que ocorreu nos dias 6 e 11, foi eleito o novo Presidente, Ru-
dolf Steiger, e dois Vice-presidentes, Diane Dumashie e Jixian Zhang,
assim como os Presidentes das Comissões Técnicas.
Rudolf Steiger é Professor de Surveying Engineering e Vice-presi-
dente da University of Applied Sciences Bochum, Alemanha, foi
Vice-presidente da FIG desde 2011 e anteriormente Presidente da
Comissão 5 “Positioning and Measurement”. Presidentes das Comissões para o período 2019-2022: Winnie Shiu (C1),
David Mitchell (C2), Hartmut Müller (C3), Dan Roman (C5), Maria João
Todos os eleitos exercerão a sua atividade no quadriénio 2019- Henriques (C6), Marije Louwsma (C8), Melissa Harrington (Young
2022. No último dia da Assembleia, os membros escolheram também Surveyors), Ben Elder (C9), Diane Dumashie (representante do Conselho)
o local de realização do Congresso de 2022. A proposta vencedora
foi apresentada pelo South African Geomatics Institute, que pro- O Congresso, de elevado nível técnico, focou-se muito na trans-
punha a Cidade do Cabo. formação do papel atual do Surveyor, num mundo cada vez mais
Maria João Henriques, Vogal do Colégio de Engenharia Geográfica, complexo e em permanente mudança, nas oportunidades dos
apresentou candidatura à presidência da Comissão 6, ”Engineering emergentes desenvolvimentos tecnológicos e no posicionamento
Surveys”, tendo sido eleita, o que muito prestigia a Ordem dos En- fulcral que a informação geoespacial tem, por um lado, na decisão
genheiros e o Colégio de Engenharia Geográfica. ao mais alto nível político, e, por outro, na concretização dos ob-
jetivos da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.

Transcrevem-se extratos, pela sua relevância, do discurso de aber-


tura da Presidente Chryssy Potsiou:
“The vision of FIG is of a modern and sustainable surveying profes-
sion in support of society, environment and economy by providing
O próximo Conselho: Presidente Eleito Rudolf Staiger, Vice-presidente (VP) innovative, reliable and best practice solutions to our rapidly
eleito Jixian Zhang, a Presidente da FIG, Chryssy Potsiou, VP Orhan Ercan,
VP eleita Diane Dumashie e VP Mikael Lilje changing and complex world, acting with integrity and confidence

Julho/Agosto/Setembro 2018 INGeNIUM • 67


Colégios

about the usefulness of surveying, and translating these words into


action.”
“Our mission: to deliver more benefit, more transparency, more
safety, more environmental quality, more growth, more fairness,
more education, more gender equality, more efficiency in govern-
ance of urban and rural areas….more freedom”.
“The geospacial transformation of the society supports:
› transportation,
› property markets, access to credit mechanisms
› construction, city modeling, monitoring
› fair taxation, disaster recovery, humanitarian support
› agriculture water management,..
We cannot measure or monitor sustainability and growth without
Reunião de elementos do Colégio de Engenharia Geográfica no último dia
the intelligent use of evidence-based geospatial data”. da Conferência Young Surveyors Network com John Hohol, fundador
deste grupo
Destacam-se, ainda, os eventos que anteciparam o Congresso,
como o workshop “Reference Frame in Practice”, o seminário BIM a sublinhar a abrangência e a mobilização conseguida junto de vá-
e a Conferência Young Surveyors Network (YSN). rios profissionais da comunidade, seniores e juniores, convidados
Esta última, que decorreu nos dias 5 e 6 de maio, contou com a a debater questões que afetam este grupo profissional.
participação de quatro jovens do Colégio de Engenharia Geográ-
fica, apoiados pela Ordem dos Engenheiros. Os Jovens Engenheiros • Informação sobre o Congresso disponível em http://fig.net/fig2018
Portugueses têm-se destacado pela sua entusiástica participação • Comunicações disponíveis em www.fig.net/resources/proceedings/
e envolvimento na organização da Conferência. Deste evento há fig_proceedings/fig2018/techprog.htm

Iniciativas Regionais • 2.º Workshop de QGIS » ver secção Regiões » SUL

Especialidades e Especializações Verticais

Colégio Nacional de
Engenharia AGRONÓMICA
Miguel Castro Neto › mneto@novaims.unl.pt

Elaboração de Projetos de Investimento Agrícola


Tomada de Posição / Proposta da Ordem dos Engenheiros

N a sequência da tomada de posição


conjunta das empresas de consultoria1
e face ao seu preocupante teor, da respon-
promova um processo de acreditação dos
consultores, de forma a minimizar eventuais
erros ou lacunas a eles imputáveis, e que
desde que inscritos nesta Ordem Profis-
sional.
Efetivamente, de acordo com a Lei n.º
sabilidade dos signatários, em representação sempre surgem neste tipo de procedimentos, 123/2015, de 2 de setembro, que publica o
de empresas de consultoria com atividade propôs ao IFAP (em carta dirigida pelo Bas- Estatuto da Ordem dos Engenheiros, a atri-
reconhecida nestas áreas, a Ordem dos En- tonário da OE ao Presidente do IFAP no buição do título, o seu uso e o exercício da
genheiros (OE) encarou com extrema preo- passado dia 10/7/2018) que passe a ser ne- profissão de engenheiro dependem de ins-
cupação as questões que aí foram levantadas, cessária e exigida a figura de um (ou mais) crição como membro efetivo da Ordem,
nomeadamente as de natureza comporta- técnico responsável pela elaboração dos seja de forma liberal ou por conta de ou-
mental e profissional. projetos e pela coordenação das inerentes trem, e independentemente do setor pú-
Neste contexto e no sentido de obviar estas ações. blico, privado, cooperativo ou social em que
situações, a OE, de forma colaborante e Mais, para a OE a solução deste alegado a atividade seja exercida (art.º 6.º).
aproveitando a oportunidade agora criada problema passa por ter em conta o facto Resulta, assim, claro e inequívoco que a Lei
pela sugestão deixada pelas empresas de de que esses técnicos responsáveis já existem impõe que todos os que exercem a profissão
consultoria para que o Instituto de Finan- no enquadramento legal em vigor, ou seja, de engenheiro, isto é, que praticam Atos de
ciamento da Agricultura e Pescas, I.P. (IFAP) os engenheiros com formação adequada, Engenharia, têm de ter inscrição ativa/válida

1 P
 ublicada, entre outros locais, no AGROPORTAL a 29 de junho, sob o título “IFAP acusa beneficiários de má-fé e de falta de transparência” e que pode ser consultada
em: https://www.agroportal.pt/ifap-acusa-beneficiarios-de-ma-fe-e-de-falta-de-transparencia/

68 • INGeNIUM Julho/Agosto/Setembro 2018


Colégios

como membros efetivos da Ordem dos En- genharia por Especialidade da Ordem dos designadamente na área de Engenharia
genheiros. Engenheiros. Agronómica (por exemplo, a assinatura e
Os referidos Atos de Engenharia constam Assim, os Atos praticados pelos engenheiros responsabilidade por projetos de investi-
da legislação e também do Regulamento das empresas consultoras, do IFAP e das mento agrícola), obrigam a inscrição na
n.º 420/2015, de 20 de julho – Atos de En- Direções Regionais de Agricultura e Pescas, Ordem dos Engenheiros.

Colégio Nacional de Engenharia AGRONÓMICA

No segundo painel foram abordadas algumas


tendências dos desenvolvimentos atuais e
SMART FARMING futuros que a Engenharia Agronómica está
Soluções de Agricultura Inteligente no Combate às Alterações Climáticas a ter, nomeadamente com a denominada
agricultura inteligente, numa intervenção
de enquadramento efetuada pelo Eng. André
Barriguinha (Agri-Ciência, Consultores de
Engenharia, Lda.), que deu conta da evo-
lução acelerada a que assistimos no campo
das tecnologias de informação e da gestão
de informação no setor agrícola, a que se
seguiu a Internet das Coisas com o Eng.
Francisco Manso, da Trigger Systems, uma
Auditório da Sede da Ordem dos Engenheiros, Lisboa | 25 de junho | 14:30 startup liderada por um engenheiro agró-
nomo que tem vindo a desenvolver um tra-

N o passado dia 25 de junho e no con-


texto do ano dedicado às Alterações
Climáticas pela Ordem dos Engenheiros
que se seguiu. Ainda neste painel, abor-
dámos de forma transversal a questão do
regadio, uma área particularmente relevante
balho muito interessante neste campo.
Olhando para novas oportunidades, tivemos
ainda uma interessante e dinâmica apresen-
(OE), o Conselho Nacional de Engenharia no contexto das alterações climáticas, com tação sobre agricultura urbana a cargo de
Agronómica organizou um seminário visando as intervenções do Eng. José Núncio, Pre- João Henriques, da BioVivos, e a encerrar
promover o debate da digitalização da agri- sidente de Federação de Regantes de Por- olhámos para a realidade aumentada e a
cultura e o papel que este processo pode tugal (FENAREG) e do Eng. José Pedro Sa- forma como esta poderá também ser utili-
desempenhar no combate às referidas al- lema, Presidente da Empresa de Desenvol- zada no contexto da agricultura inteligente
terações climáticas. vimento e Infra-Estruturas do Alqueva (EDIA). com uma apresentação de Luis Martins da
Ao longo de uma tarde foi possível, num Estas duas intervenções cobriram a forma IT People.
primeiro painel, conhecer os desafios e a as como este setor encara as alterações cli- Como conclusão do seminário e para além
oportunidades que as diferentes fileiras do máticas e o que já está a ser feito para lidar da oportunidade e pertinência do tema, de-
setor enfrentam, nomeadamente com in- com as mesmas. bater a agricultura inteligente é, neste mo-
tervenções iniciais abordando a pecuária Deste primeiro conjunto de intervenções mento, extremamente relevante num mo-
com o Eng. Divanildo Monteiro (UTAD), a resultou clara a importância das alterações mento em que se aponta para uma aposta
viticultura com o Eng. Carlos Lopes (ISA) e climáticas para o setor agrícola, mas também clara da Comissão Europeia no financia-
a horto-fruticultura com o Presidente da de que forma é possível hoje adotar estra- mento da investigação nesta área.
Federação Nacional das Organizações de tégias de “agricultura” inteligente para não
Produtores de Frutas e Hortícolas (FNOP), apenas promover a mitigação e adaptações As apresentações efetuadas no seminário estão
Domingos Santos. Este conjunto de inter- às alterações climáticas, mas também de- disponíveis para serem descarregadas na página
venções efetuado por profundos conhece- senvolver uma atividade agrícola mais efi- do evento no sítio web da Ordem dos Engenheiros
dores da matéria permitiu efetuar um sólido ciente e sustentável, tirando partido das (www.ordemengenheiros.pt/pt/centro-de-infor-
enquadramento que alicerçou a discussão tecnologias e da gestão de informação. macao/dossiers)

Colégio Nacional de Engenharia AGRONÓMICA

Engenharia Agronómica no Facebook


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Iniciativas Regionais • Engenheiros à descoberta da alma do vinho alentejano » ver secção Regiões » SUL

Julho/Agosto/Setembro 2018 INGeNIUM • 69


Colégios

Especialidades e Especializações Verticais

Colégio Nacional de
Engenharia Florestal
Luis Rochartre › lrochartre@hotmail.com

Iniciativas Regionais • Luís Rochartre nomeado Diretor-executivo da Forest Solutions » ver secção Regiões » SUL

Especialidades e Especializações Verticais

Colégio Nacional de
Engenharia de Materiais
Luis Gil › luis.gil@dgeg.pt

Grafeno foi transformado em material supercondutor de eletricidade


U ma equipa de cientistas britânicos con- adequadas, o grafeno podia alcançar uma

DR
seguiu transformar o grafeno num ma- transição para a supercondução. Verificou-
terial supercondutor de correntes elétricas. -se que colocar o grafeno sobre um metal
Combinando o grafeno com uma substância pode alterar dramaticamente as suas pro-
composta por cério e praseodímio (PCCO), priedades e fazer com que se comporte de
conseguiram obter a passagem de corrente um modo inesperado.
elétrica sem resistência, o que poderá ha- O grafeno é formado por uma única camada
bilitar o novo material a ser usado em com- de átomos e destaca-se pela dureza, trans-
putadores quânticos de alta velocidade. tivamente como um supercondutor. parência e flexibilidade, justificando o inves-
Num estudo publicado na “Nature Commu- Até agora tinham sido registadas proprie- timento de cerca 500 milhões de dólares
nications”, os responsáveis pela experiência dades similares à supercondução unindo o que a Comissão Europeia destinou à sua
descrevem que a propriedade supercondu- grafeno a outros metais, uma técnica que, investigação até 2023.
tora foi ativada apenas quando os dois ele- no entanto, não demonstrava que o próprio
mentos se combinaram. A investigação su- material estivesse a transmitir eletricidade • http://observador.pt/2017/02/02/novo-mate-
gere que o PCCO “desperta” certas proprie- sem resistência. rial-que-reage-a-luz-promete-janelas-e-pai-
dades intrínsecas do grafeno, que atua efe- Já tinha sido provado que, sob as condições neis-solares-inovadores

Colégio Nacional de Engenharia DE MATERIAIS

Novo material reage à luz prometendo janelas


e painéis solares inovadores

J anelas que mantêm edifícios e automó-


veis frescos em dias de calor ou painéis
solares três vezes mais eficientes são pos-
deixando passar outros. Segundo os res-
ponsáveis da universidade que apresentam
o novo material, já há materiais que absorvem
síveis aplicações para um novo material fino, a luz mas são volumosos ou partem quando como janelas. A nova tecnologia ainda está
flexível e que absorve a luz, desenvolvido dobrados. E também não podem ser con- em fase de desenvolvimento, continuando
na Universidade da Califórnia. trolados para absorver apenas um determi- as equipas a trabalhar para explorar dife-
O material, concebido por engenheiros da nado tipo de comprimento de onda. rentes materiais e geometrias, para desen-
universidade, em San Diego, é descrito como Recorrendo a tecnologia de nanopartículas, volver absorvedores de grande espectro que
“absorvente de largo espectro de frequên- uma equipa liderada pelos professores Zhaowei trabalham em diferentes comprimentos de
cias” e bloqueia muito mais luz infraver- Liu e Donald Sirbuly, da Escola de Engenharia ondas de luz.
melha, sendo capaz de absorver luz inci- da Universidade de San Diego, criou o novo
dindo de qualquer ângulo e, teoricamente, material fino, flexível e ajustável. • http://www.farolcomunitario.com.br/cien-
pode ser adaptado para absorver tipos es- O material poderá ser aplicado a qualquer cia_000_0885-nanotubos-de-carbono-em-es-
pecíficos de onda do espectro luminoso, tipo de substrato e em grandes superfícies, truturas-aeroespaciais.php

70 • INGeNIUM Julho/Agosto/Setembro 2018


Colégios

Colégio Nacional de Engenharia DE MATERIAIS

Nanotubos de carbono em estruturas aeroespaciais


minimizar os danos causados por um even- (UFRN) e do ABC (UFABC), demonstrou que
tual choque de partículas nessas estruturas, nanotubos de carbono – folhas de grafeno
os engenheiros têm procurado materiais enroladas de modo a formar uma peça ci-
que sejam, ao mesmo tempo, leves, flexíveis líndrica como um canudo de refrigerante
e resistentes aos impactos causados por com diâmetro equivalente à bilionésima
projéteis de alta velocidade. parte do metro – podem ser uma solução
Um estudo realizado por investigadores da para tornar as estruturas aeroespaciais mais

O s satélites e as naves espaciais estão


sob o risco constante de serem atin-
gidos por projéteis destrutivos, como mi-
Rice University em Houston, nos Estados
Unidos, em colaboração com colegas da
Universidade Estadual de Campinas (Uni-
resistentes.

• http://zap.aeiou.pt/o-material-mais-duro-do
crometeoritos e detritos orbitais. A fim de camp) e as Federais do Rio Grande do Norte -universo-e-um-solido-esponjoso-150211

Colégio Nacional de Engenharia DE MATERIAIS

O material mais duro do Universo é um sólido esponjoso


U m engenheiro da Universidade da Ca-
lifórnia, em Santa Bárbara, criou o me-
tamaterial mais leve e mais resistente do
camente, espaço vazio, consegue ser ex-
tremamente leve apesar da sua resiliência
– por isso é descrito como “a espuma mais
Universo. Chamado Isomax, o novo produto eficiente no Universo”.
é uma espuma rígida que resulta da repe- O próximo passo para a equipa de cientistas
tição de formas geométricas. é investigar o potencial deste metamaterial
Jonathan Berger criou o Isomax em 2015, no mundo real. Uma análise experimental
quando estava à procura de um material vai permitir testar a resiliência física do Isomax
com a maior rigidez possível. Em vez de no laboratório, e os cientistas estão a tentar
combinar vários químicos, o cientista de- que torna este material tão rígido teorica- arranjar maneira para que a estrutura seja
cidiu projetar um material com uma ferra- mente é a combinação de duas formas bá- fabricada de forma rápida e barata.
menta muito mais básica: a geometria. sicas – um triângulo e uma cruz. A geome- Uma vez fabricado, os especialistas preveem
A ideia era criar uma espécie de estrutura tria do Isomax faz com que seja extrema- que o Isomax possa ser usado em tudo,
celular 3D repetitiva – como um favo de mente rígido em todas as direções. desde estruturas aeroespaciais, automóveis
mel – com uma densidade extremamente De acordo com os especialistas, o novo e até em móveis que possam ser mais fá-
baixa e com a máxima resistência possível. material é composto por várias pirâmides ceis de deslocar. Será também um excelente
Agora, de acordo com o estudo publicado reforçadas por paredes, que são perfeitas isolante térmico e um ótimo isolador so-
na “Nature”, a equipa de Berger reforçou a para resistir a forças de esmagamento per- noro.
ideia inicial com novos cálculos, e concluiu pendiculares. Já as formas piramidais for-
que a estrutura geométrica do Isomax atinge necem estabilidade e resistem às forças de • http://zap.aeiou.pt/novo-mineral-converte-si-
os limites de rigidez elástica. direções opostas. multaneamente-luz-solar-calor-e-movimento
O Isomax ainda não foi fabricado, mas o E, como a maior parte do Isomax é, basi- -em-electricidade-150592

Colégio Nacional de Engenharia DE MATERIAIS

Novo mineral converte simultaneamente luz


solar, calor e movimento em eletricidade
U m novo mineral com propriedades in-
críveis foi descoberto por cientistas da
Universidade de Oulu, na Finlândia.
O novo mineral faz parte da família pero-
vskita, mineral supercondutor capaz de ab-
sorver a luz em quase todos os compri-
Trata-se de um material com propriedades mentos de onda visíveis, o que permite
de um cristal, batizado provisoriamente com captar com grande eficiência e menores
o nome de KBNNO, e que é capaz de trans- custos a energia solar para produção de
formar, simultaneamente, luz solar, calor e eletricidade – sendo já considerado o fu-
energia cinética em eletricidade. turo da tecnologia fotovoltaica. Um exemplar de mineral da família perovskita

Julho/Agosto/Setembro 2018 INGeNIUM • 71


Colégios

A descoberta do KBNNO acende uma nova célula do material consegue gerar energia KBNNO é inferior, quando comparada com
esperança no rol dos recursos renováveis, suficiente para as necessidades de uma casa. a de outros perovskitas, como as células
já que pode ser uma maneira alternativa de A notícia torna-se ainda mais interessante solares usadas nos painéis fotovoltaicos.
gerar energia elétrica para carregar smart­ devido a uma peculiaridade do material, que Mas, segundo a equipa de cientistas, é pos-
phones, tablets e notebooks. é capaz de converter três fontes de energia sível que com uma modificação na com-
De acordo com os autores do estudo, pu- ao mesmo tempo em eletricidade. posição do material, o seu potencial de gerar
blicado na “Applied Physics Letters”, uma A eficiência da energia elétrica gerada pelo mais energia seja aumentado.

Especialidades e Especializações Verticais

Colégio Nacional de
Engenharia do Ambiente
Lisete Calado Epifâneo › lisete.epifaneo@estsetubal.ips.pt

civil. Catarina Albuquerque já estava ligada à


Parceria da ONU sobre “Água e Saneamento parceria da ONU sobre “Sanitation and Water

para Todos” vai ser chefiada por portuguesa for All”, para a qual tinha sido convidada há
três anos como Diretora Executiva, depois

A portuguesa Catarina Albuquerque pre-


side desde setembro à parceria da ONU
sobre “Água e Saneamento para Todos”. Pre-
de ter sido a primeira relatora especial da
ONU para a defesa do direito à água potável
e ao saneamento. Pela sua mão, as Nações
tende aumentar o financiamento para o setor Unidas reconheceram a água e o saneamento
e dar melhor uso aos investimentos, para como direitos universais. Na entrevista que
que, em 2030, não exista ninguém no Planeta deu à Agência Lusa, referiu que a inquieta a
sem acesso a água e saneamento de quali- existência de milhares de pessoas sem acesso
dade e com dignidade. De acordo com a sua economia, cuja operação e manutenção a água em países do oriente, dando o exemplo
nova responsável por aquela parceria, há se tornam depois economicamente insus- da China ou da Índia, e de África, mas também
países que têm feito empréstimos para cons- tentáveis. Esta parceria da ONU junta países a preocupam os sem-abrigo em Lisboa, as
truir sistemas desadequados de águas e sa- desenvolvidos e em desenvolvimento, doa- comunidades ciganas na Europa de Leste,
neamento, por vezes incompatíveis com a dores, agências multilaterais e a Sociedade os requerentes de asilo e os refugiados.

Colégio Nacional de Engenharia DO AMBIENTE

AHRESP lança campanha para redução de plásticos


O s europeus geram, anualmente, 25 milhões de toneladas de
resíduos de plástico, sendo 30% recolhidas para reciclagem.
Os plásticos constituem 85% do lixo encontrado nas praias de todo
› Influenciar a comunidade a ter hábitos de consumo com menos
impacto negativo no ambiente, através de ações que apelem a
comportamentos responsáveis;
o mundo (fonte: https://www.portugal2020.pt/Portal2020/primei- › Incluir, através do canal HORECA, atitudes sustentáveis e de pre-
ra-estrategia-europeia-para-residuos-de-materiais-plasticos). Os servação do ambiente;
microplásticos podem entrar na cadeia alimentar, sendo ainda des- › Criar uma consciência ambiental que promova a utilização de
conhecidas as suas implicações na saúde pública. alternativas à louça descartável, através da intervenção direta nos
“Menos Plástico, Mais Ambiente” é uma campanha de sensibilização restaurantes e em grandes polos de atração da comunidade;
nacional, de iniciativa da Associação da Hotelaria, Restauração e Si- › Garantir a separação de embalagens de plástico, quebrando di-
milares de Portugal (AHRESP), cofinanciada pelo Fundo Ambiental ficuldades como a distância ao ecoponto e a indisponibilidade
do Ministério do Ambiente, que visa contribuir para a redução da de equipamentos para a separação no estabelecimento;
produção de resíduos de plástico, sobretudo os plásticos de base › Premiar atitudes sustentáveis através de uma rede de restaurantes
fóssil, associados a produtos descartáveis. Esta campanha surge no que atuam em defesa do ambiente;
âmbito da primeira estratégia europeia para os plásticos lançada no › Dotar o canal HORECA de maior conhecimento em termos de
início de 2018 no quadro do Pacote da Economia Circular da Co- hábitos de separação, motivos que impedem a separação e al-
missão Europeia (PAEC) e está em conformidade com os 17 Objetivos ternativas e impactos face à eliminação da louça descartável;
de Desenvolvimento Sustentável que compõem a Agenda 2030, pro- › Dar continuidade ao trabalho iniciado pela AHRESP, em 2011,
grama adotado em 2015 numa cimeira da ONU que visa o desen- com o lançamento do Guia de Boas Práticas Ambientais.
volvimento económico, social e ambiental à escala global até 2030.
A iniciativa “Menos Plástico, Mais Ambiente” tem os seguintes ob- • Mais informações disponíveis em
jetivos: https://menosplasticomaisambiente.pt

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Colégios

Colégio Nacional de Engenharia DO AMBIENTE

Cimeira Climate Change Leadership realizou-se no Porto


A Cimeira Climate Change Leadership
Porto, que se realizou no dia 6 de julho,
proporcionou uma convergência de conhe-
participou num dos debates do evento,
tendo defendido que, com o Acordo de
Paris, ainda será possível ter os países em
cimento, sabedoria e inspiração, reunindo torno de uma agenda comum contra as al-
alguns dos principais cientistas e autoridades terações climáticas.
do Mundo sobre mudanças climáticas e o Na Cimeira participaram ainda, como ora-
ambiente. Foram abordados vários temas dores, entre outros, Mohan Munasinghe,
no domínio das alterações climáticas e as ex-Vice-presidente do Painel Intergoverna-
melhores formas de mitigar os seus efeitos mental para as Alterações Climáticas (IPCC) retora-geral na UNESCO entre 2009 e 2017;
e de adotar políticas de responsabilidade da ONU, Prémio Nobel da Paz em 2007 e e Juan Verde, Presidente da Advanced Lea-
ambiental no Planeta. um dos maiores especialistas mundiais na dership Foundation (ALF), uma das entidades
O ex-Presidente americano, Barack Obama, área de sustentabilidade; Irina Bokova, Di- organizadoras.

Colégio Nacional de Engenharia DO AMBIENTE

Lisboa vai ser a Capital Verde Europeia em 2020

Fonte: CM Lisboa
A cidade de Lisboa ganhou o Prémio Ca-
pital Verde da Europa para 2020. O título
do European Green Leaf 2019 vai para as
cidadãos na sua transformação para se tornar
mais verde. A cidade tem recebido vários
prémios internacionais, em especial na área
cidades de Cornellà de Llobregat (Espanha) do turismo, e tem transformado alguns de-
e Horst aan de Maas (Holanda). Estes títulos safios ambientais em oportunidades de ne-
de prestígio foram concedidos pelo Comis- gócio e emprego.
sário da UE para o Meio Ambiente, Assuntos O júri do prémio sentiu que Lisboa, que ini-
Marítimos e Pesca, Karmenu Vella, numa ciou a sua jornada rumo à sustentabilidade cançar uma redução de 50% nas emissões
cerimónia em Nijmegen (Holanda), que é a durante o período de crise económica, pode de CO2 (2002-14), reduzindo o consumo
atual Capital Verde da Europa. Para além ser uma inspiração para um modelo de ci- de energia em 23% e o consumo de água
deste título, Lisboa recebe um prémio fi- dade onde a sustentabilidade e o cresci- em 17%, de 2007 a 2013;
nanceiro de 350 mil euros da Comissão mento económico andam de mãos dadas. › Tem uma visão clara para a mobilidade
Europeia para o seu ano de capital verde. O painel de peritos destacou que Lisboa é urbana sustentável, com medidas para
As principais preocupações do Comissário particularmente forte no domínio do uso restringir o uso de carros e priorizar o ci-
Karmenu Vella relacionam-se com a sus- sustentável dos solos, mobilidade urbana clismo, o transporte público e a caminhada.
tentabilidade urbana, a mitigação dos efeitos sustentável (transportes), crescimento verde Em 2017, Lisboa lançou um esquema de
das mudanças climáticas, o consumo ex- e inovação ecológica, adaptação às altera- compartilhamento de bicicletas, com bi-
cessivo de bens que geram resíduos, como ções climáticas e gestão de resíduos, no- cicletas elétricas que compreendem dois
o plástico, e a perda de biodiversidade, en- meadamente: terços da frota, para incentivar o ciclismo
tendendo que Lisboa tem tomado iniciativas › Foi a primeira capital na Europa a assinar nas partes mais montanhosas da cidade;
de boas práticas de gestão ambiental, bom o Novo Pacto de Autarcas para Mudanças › Possui uma das maiores redes de pontos
planeamento urbano e de envolvimento dos Climáticas e Energia em 2016, após al- de carregamento de veículos elétricos do
Mundo e 39% da frota municipal de carros
Fonte: CM Lisboa

é elétrica;
› Cerca de 93% das pessoas vivem a menos
de 300m de um serviço de transporte
público frequente;
› Cerca de 76% das pessoas vivem a menos
de 300m de áreas verdes urbanas;
› Tem um forte compromisso com o uso
sustentável da terra, com enfoque parti-
cular no estabelecimento de infraestrutura
verde, ou redes conectadas de espaços
verdes, para neutralizar os efeitos das mu-
danças climáticas, como secas, calor ex-
Veículos Elétricos para a Limpeza Urbana tremo e enchentes tempestuosas.

Julho/Agosto/Setembro 2018 INGeNIUM • 73


Colégios

Colégio Nacional de Engenharia DO AMBIENTE

Bruxelas propõe medidas para tornar mais fácil alternativo de água fiável. Ao tornar viáveis
as águas residuais, as novas regras contri-
e segura a reutilização da água para fins agrícolas buem igualmente para reduzir custos eco-
nómicos e ambientais ligados à criação de

A Comissão Europeia apresentou, a 28 novas origens de água.

Fonte: http://vozdocampo.pt
de maio, novas regras para incentivar O regulamento proposto pela Comissão visa
e facilitar a reutilização da água para irri- atenuar a escassez de água em toda a UE, no
gação agrícola na União Europeia (UE). As contexto da adaptação às alterações climá-
novas regras ajudarão os agricultores a fa- ticas, garantindo a segurança das ART desti-
zerem o melhor uso possível das águas re- nadas à irrigação agrícola e protegendo os
siduais tratadas, atenuando a escassez de cidadãos e o ambiente. A proposta agora
água e protegendo ao mesmo tempo o apresentada faz parte do programa de tra-
ambiente e os consumidores. O Comissário balho da Comissão para 2018, na sequência
Karmenu Vella, responsável pelo Ambiente, do plano de ação para a economia circular,
Assuntos Marítimos e Pescas, considera que e novas regras para que o público tenha e completa o atual quadro jurídico da UE
esta proposta beneficiará os agricultores, acesso a informação sobre práticas de reu- sobre a água e os géneros alimentícios. A Co-
que terão acesso a uma fonte sustentável tilização da água nos Estados-membros. missão Europeia estima que seria necessário
de água para irrigação, os consumidores, A percentagem de reutilização e ART na UE um investimento de, pelo menos, 700 milhões
que saberão que os produtos que consomem está atualmente muito abaixo do seu po- de euros para aumentar o volume de efluentes
são seguros, e as entidades gestoras de ser- tencial, não obstante o facto de o impacto reutilizados na UE, permitindo passar dos
viços de água, que terão novas oportuni- ambiental e a energia necessária para a ex- atuais 1,1 mil milhões de m3/ano para 6,6 mil
dades e negócio. tração e o transporte de água doce ser muito milhões de m3/ano. O custo para o utilizador
A nova Diretiva estabelece requisitos mí- mais elevado. Um terço do território da UE poderia ser inferior a 0,50 €/m3.
nimos para a reutilização das águas residuais sofre de stresse hídrico durante todo o ano
tratadas (ART) provenientes de estações de e a escassez de água continua a ser uma › Mais informação pode ser consultada em:
tratamento de águas residuais (ETAR) ur- preocupação importante para muitos Es- - http://ec.europa.eu/environment/water/pdf/
banas, abrangendo parâmetros microbio- tados-membros. Cada vez mais se verificam water_reuse_regulation.pdf
lógicos e requisitos para os controlos de padrões meteorológicos imprevisíveis, in- - http://ec.europa.eu/environment/water/pdf/
rotina e de validação de qualidade. O esta- cluindo secas graves, que podem ter con- water_reuse_regulation_impact_assessment.pdf
belecimento de requisitos mínimos tem por sequências negativas para a quantidade e a - http://ec.europa.eu/environment/water/pdf/
objetivo garantir que a água é reutilizada de qualidade dos recursos de água doce. As water_reuse_regulation_impact_assessment_
acordo com as novas regras de segurança novas regras pretendem garantir que se fará summary.pdf
para a irrigação. A Comissão propõe também um melhor uso das ART provenientes de - http://ec.europa.eu/environment/pdf/28-05-
uma gestão de riscos da reutilização de ART ETAR urbanas, garantindo um abastecimento 2018_water_reuse_memo.pdf

Iniciativas Regionais • Visita à Ria Blades/PowerBlades » ver secção Regiões » CENTRO

Especializações Horizontais

Especialização em Engenharia AERONÁUTICA


Alice Freitas › aafreitas@oep.pt

4.º Encontro de Operadores Aeronáuticos


A gestão de risco na óptica da segurança de voo

N o passado dia 12 de junho, a Comissão da Especialização em


Engenharia Aeronáutica da Ordem dos Engenheiros (OE) or-
ganizou o 4.º Encontro de Operadores Aeronáuticos para abordar
Babcockinternational, a EuroAtlantic, a Hifly, a NETJETS, a Portu-
gália Airlines, a SATA, a Azores Airlines, a TAP Air Portugal, a White
Airlines e ainda o GPIAAF e a colaboração do Dr. Jerónimo Coelho
o tema da Gestão do Risco na perspetiva da Segurança de Voo. dos Santos e o Comandante Manuel Freitas.
Trata-se de uma iniciativa com caráter semestral e que envolve a O tema em discussão é um dos quatro pilares do sistema de gestão

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Colégios

Risk Classification) para a segurança operacional, como se analisam


(Safety Risk Assessement) e ainda se mitigam, de modo a manter
os níveis de segurança a responder às exigências regulamentares.
Os participantes discutiram entre si os métodos que são usados
(reativo, ativo e proativo), bem como a forma como são formulados
procedimentos específicos como é o caso da matriz de risco (Risk
Tolerability Matrix).
A partilha de experiência, bem como a possibilidade de observar
como é que cada operador realiza uma tarefa decisiva para a ma-
nutenção dos níveis de segurança operacional (aspeto que tem
da segurança operacional (Safety Management System), tendo ser- impacto na qualidade percebida dos passageiros, no negócio, bem
vido para partilha de experiências, bem como das metodologias de como no desempenho da manutenção e da pilotagem), constitui
desenvolvimento do respetivo processo no seio das várias entidades uma oportunidade única que a todos enriquece, ao mesmo tempo
operadoras de meios aéreos. que favorece a proximidade entre todos os intervenientes – numa
Nesta abordagem, os participantes realizaram apresentações sobre lógica de interação em rede.
o modelo organizativo e operacional sobre a forma como concre- Uma vez mais, os operadores aeronáuticos decidiram pela conti-
tizam no dia-a-dia a Gestão do Risco na ótica da Segurança de Voo. nuidade deste tipo de encontros técnicos, com o patrocínio da OE,
Houve assim oportunidade para observar como é feita a recolha prevendo-se que o próximo mantenha a periodicidade e seja su-
de dados, como se definem e caracterizam os riscos (ERC – Event bordinado à discussão do tema da Gestão da Fadiga.

Especializações Horizontais

Especialização em Engenharia ALIMENTAR


Alice Freitas › aafreitas@oep.pt

Visita Técnica à Frulact e Chocolates Imperial

A Especialização em Engenharia Alimentar


da Ordem dos Engenheiros, em cola-
boração com a FIPA, realizou no dia 22 de
maio uma Visita Técnica às empresas Frulact
e Chocolates Imperial, na zona norte do País. Pilar Morais e Sílvia Azevedo, que nos rece-
beram e ofereceram, muito gentilmente,
um ótimo almoço.
servir os mercados europeu (Portugal, Es- Fundada em 1932, a Imperial posiciona-se
panha, França, Luxemburgo, Suíça), do norte como a maior fabri-
de África (Marrocos, Argélia e Tunísia) e do cante nacional de cho-
médio-oriente (Líbia, Egito, Arábia Saudita, colates, detentora das
Emirados Árabes, Irão e Israel). Foram visi- principais marcas do
tados os laboratórios de Desenvolvimento setor – Jubileu, Re-
e Inovação de Produto e de Investigação e gina, Pintarolas, Pan-
Tecnologia. Agradecemos às Engenheiras tagruel e Allegro. A
A Frulact é um grupo empresarial que atua empresa tem vindo a
no setor das agroindústrias frutícolas. A sua desenvolver e a consolidar a sua posição
atividade principal é a da indústria de pre- internacional, pela introdução e comercia-
parados de fruta com destino à utilização lização das suas marcas em diferentes mer-
das indústrias dos laticínios, da pastelaria cados, estando presente em mais de 50
industrial, dos gelados e das bebidas. Desde países nos cinco continentes. Fomos rece-
1987, está hoje presente industrialmente bidos pela Eng.ª Sofia Vieira da Silva, Res-
com fábricas em cinco países: Portugal, ponsável de I&D, tendo sido possível visitar
França, Marrocos, Argélia e Tunísia, para a fábrica e laboratórios da empresa.

Julho/Agosto/Setembro 2018 INGeNIUM • 75


Colégios

Especialização em Engenharia ALIMENTAR

A Mulher na Engenharia

N o âmbito da política de promoção da


Diversidade de Género na Ordem dos
Engenheiros (OE), foi recentemente criado
no seio da nossa Associação Profissional o
Grupo Mulheres Engenheiras.
Na sequência da Conferência da Interna- exercício da profissão de Engenheira em A Mulher na Engenharia e as Alterações Cli-
tional Network Women Engineers and Scien- cargos de maior visibilidade. máticas (COP24, Polónia), Levar a Engenharia
tists (INWES – Europa), realizada a 9 e 10 de Neste contexto, assinalou-se, pela primeira às Meninas (França, Elles bougent); A Mulher
março na OE, um pequeno grupo de co- vez, o Dia Internacional da Mulher na En- na Engenharia e o Desperdício Alimentar; A
legas inscreveu-se na INWES – Lídia San- genharia, a 23 de junho, com um jantar na Mulher nas Tecnologias de Informação e
tiago (Química e Alimentar), Dina Dimas OE onde estiveram presentes cerca de 30 Comunicação (Women Empowerment and
(Naval), Cristina Machado (Civil), Maria João colegas e para o qual foi convidada a Pro- ICT Programme); Fontes de Financiamento/
Oliveira (Eletrotécnica) e Rosário Lourenço fessora Sara Falcão Casaca, do ISEG, para Meios.
(Agronómica), tendo sido iniciados encon- falar sobre a Igualdade de Género. Neste A 16 de julho foi recebido na OE, com uma
tros de Mulheres na Engenharia. jantar foram debatidos projetos a desen- Mesa Redonda – Women on ICT, um grupo
Este Grupo de Mulheres Engenheiras propõe- volver pelas Mulheres na Engenharia, à se- de mulheres do Ministério da Mulher e da
-se dinamizar a adesão de licenciadas em melhança do que está a acontecer por todo Criança, do Bangladesh, no âmbito do Women
Engenharia à OE, bem como aumentar a o Mundo, tais como: Igualdade de Género Empowerment and ICT Tecnologies, tendo
diversidade de género dentro da OE, por (México); Concurso de ideias a realizar (Tu- sido realizada uma visita ao Instituto Supe-
Colégios e Especializações, potenciando o nísia); Levar a Engenharia às escolas (Suíça); rior de Engenharia de Lisboa.

• Sessão Técnica “Gestão de Risco em Segurança Alimentar” » ver Especialização em Engenharia de Climatização

Especializações Horizontais

Especialização em Engenharia DE CLIMATIZAÇÃO


Alice Freitas › aafreitas@oep.pt

8.ª EDIÇÃO DO PRÉMIO AVAC

A Comissão de Especialização em Enge-


nharia de Climatização da Ordem dos
Engenheiros (OE) promove a 8.ª edição do
competição internacional de estudantes de
climatização orga­ni­zada em moldes seme-
lhantes ao concurso nacional pela REHVA
concurso nacional para atribuição de um (Federação Europeia das Associações de
prémio ao melhor trabalho de fim de curso Engenheiros de AVAC), a decorrer durante
(projeto individual ou tese de mestrado) na a assembleia da REHVA que terá lugar em
área de sistemas de Aquecimento, Ventilação Bucareste, na Roménia, em maio de 2019.
e Ar Condicionado (AVAC), realizado nos es- O vencedor da competição internacional
tabelecimentos de Ensino Superior nacionais terá ainda a possibilidade de se candidatar
com os seus ciclos de estudos acreditados. posteriormente ao prémio mundial também
Podem concorrer alunos que tenham con- organizado pela REHVA.
cluído os seus trabalhos entre 1 de novembro Os concorrentes deverão enviar a sua can-
de 2017 e 31 de outubro de 2018 em esta- didatura para o Gabinete de Assuntos Pro-
belecimentos de Ensino Superior portu- fissionais da OE, em Lisboa, até 28 de feve- › Mais informações disponíveis no Portal do En-
gueses. Os trabalhos devem enquadrar-se reiro de 2019. À data da submissão a con- genheiro em www.ordemengenheiros.pt/fotos/
em temáticas de AVAC. curso, os candidatos devem ser Membros editor2/cdn/especializacoes/8_premio_avac_
O vencedor representará Portugal numa Estudantes, Estagiários ou Efetivos da OE. regulamento.pdf

76 • INGeNIUM Julho/Agosto/Setembro 2018


Colégios

Especialização em Engenharia de CLIMATIZAÇÃO

Sessão Técnica “Gestão de Risco em Segurança Alimentar”

A s Especializações em Engenharia Ali-


mentar, Engenharia de Climatização e
Engenharia de Refrigeração da Ordem dos
OE, teve a seu cargo o encerramento desta
sessão de abertura e boas vindas, tendo
desde logo enaltecido a iniciativa desta rea-
Na terceira parte foram abordados temas
como a Qualidade Ambiental dos Espaços
Climatizados, a cargo do Eng. Serafin Graña,
Engenheiros (OE) realizaram conjuntamente lização conjunta levada a efeito pelas três a Qualidade Alimentar em Sistemas de Re-
uma Sessão Técnica, no dia 18 de junho, Especializações, inédita na OE. Seguiu-se a frigeração, a cargo do Eng. Pimenta Borges,
dedicada à temática “Gestão de Risco em segunda parte que teve como oradores con- e Notas Históricas sobre a Indústria Portu-
Segurança Alimentar”. vidados a Eng.ª Cristina Belo Correia, do guesa do Frio, pelo Eng. António Granjeia.
A abertura da sessão esteve a cargo da Eng.ª Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo No encerramento da conferência, os Coor-
Lídia Santiago, Coordenadora da Especiali- Jorge, que apresentou o tema “Segurança denadores das Especializações agradeceram
zação em Engenharia Alimentar, a que se Alimentar para mais Saúde”, e a Eng.ª Teresa aos oradores convidados e a todos os pre-
seguiram o Eng. Serafin Graña, Coordenador Rajado Branco, da SGS Portugal, que apre- sentes a disponibilidade e as valiosas con-
da Especialização em Engenharia de Clima- sentou o tema “Modos de Produção – Modo tribuições durante o debate.
tização, e o Eng. Pimenta Borges, Coorde- de Produção Biológico”. Após as apresen-
nador da Especialização em Engenharia de tações seguiu-se um vivo debate entre os › As apresentações estão disponíveis no Portal da
Refrigeração. O Eng. Carlos Loureiro, na oradores e a assistência, composta por cerca OE, em www.ordemengenheiros.pt/pt/centro-
qualidade de Vice-presidente Nacional da de meia centena de pessoas. de-informacao/dossiers

Especialização em Engenharia de CLIMATIZAÇÃO

Conferência conjunta OE | REHVA | ASHRAE


A Especialização em Engenharia de Cli-
matização realizou, em colaboração
com a Secção Portuguesa da REHVA e a
ções baseadas na física e análise de CFD –
Computer Fluid Dinamics. O Dr. Kishor Khankari
tem vários anos de experiência no forneci-
ASHRAE Portugal Chapter, uma conferência mento de soluções AVAC otimizadas para
no dia 24 de maio sobre “Gestão do Fluxo uma ampla variedade de aplicações, envol-
de Ar em Unidades de Saúde / Air Flow Ma- vendo aplicações de Engenharia, nomeada-
nagement for Healthcare Facilities (AIA and mente energia eólica no exterior, dispersão
GBIC approved)”. de plumas, ventilação de deslocamento, ven-
A abertura da sessão esteve a cargo do Eng. tilação natural, aquecimento e arrefecimento
Serafin Graña, na qualidade de Coordenador radiantes, qualidade do ar interior e otimi-
da Especialização de Engenharia de Clima- zação do conforto térmico para espaços e
tização da OE, ASHRAE Portugal Chapter salas de prestação de cuidados de saúde,
Treasurer e Regional Vice Chair – Chapter salas de operação, salas limpas, centros de
Technology Transfer – ASHRAE Region XIV dados e demais espaços de serviços. Desen-
(Europe), tendo começado por dar as boas volveu uma tecnologia patenteada de de-
vindas ao orador convidado e agradecer o senho de banda de vento de sistemas de
ter prontamente aceitado o convite para montagem de exaustores, bem como várias
estar presente e reunir com os membros do Foi orador convidado, Kishor Khankari, Ph. ferramentas de software analíticas, utilizadas
Capítulo Português. Seguiu-se a apresen- D., Fellow and ASHRAE Distinguished Lec- regularmente por engenheiros de projeto
tação do orador, a cargo do Eng. Carlos turer, Presidente e proprietário da AnSight numa grande variedade de empresas, in-
Gabriel Farto, na qualidade de ASHRAE Por- LLC em Ann Arbor. A AnSight disponibiliza cluindo as da indústria de AVAC, as instala-
tugal Chapter Transfer Technology Chair. soluções de Engenharia através de simula- ções críticas e as indústrias de transportes.

Julho/Agosto/Setembro 2018 INGeNIUM • 77


Colégios

É um especialista notável em CFD, douto- vice. É ex-Presidente do Capítulo da ASHRAE de Renovação de Ar”. Na presente confe-
rado pela Universidade de Minnesota e tem em Detroit, ex-Presidente do Comité Téc- rência abordou os seguintes temas: Sistemas
regularmente publicado artigos em várias nico da ASHRAE TC9.11 – Espaços Limpos, de Ventilação em Blocos Operatórios Hos-
revistas técnicas e comerciais. O Dr. Khankari e Presidente do Comité de Administração pitalares1 e Dinâmica do Fluxo de Ar em
fez mais de 60 apresentações em todo o de Pesquisa a nível nacional. Atualmente Quartos de Pacientes2.
Mundo sobre temas relacionados com con- está a liderar um novo Grupo de Trabalho Seguiu-se um vivo e longo debate com a
ceção, projeto e otimização de sistemas de Multidisciplinar sobre a temática de “Taxas assistência.
AVAC. Também tem participado em confe-
rências técnicas e reuniões profissionais. É 1 ASHRAE Journal May 2018, Part I: https://technologyportal.ashrae.org/Journal/ArticleDetail/1966
1 ASHRAE Journal June 2018, Part II: https://technologyportal.ashrae.org/Journal/ArticleDetail/1975
membro da ASHRAE tendo recebido o prémio
2 REHVA Journal October 2017: https://www.rehva.eu/publications-and-resources/rehva-journal/2017/052017/
ASHRAE Distinguished and Exceptional Ser- airflow-dynamics-of-a-patient-room.html

Especializações Horizontais

Especialização em Engenharia DE REFRIGERAÇÃO


Alice Freitas › aafreitas@oep.pt

• Sessão Técnica “Gestão de Risco em Segurança Alimentar” » Ver Especialização em Engenharia de Climatização

Especializações Horizontais

Especialização em GEOTECNIA
Alice Freitas › aafreitas@oep.pt

Seminário “Proteção Costeira – Contributos da Engenharia Geotécnica”


N o âmbito da iniciativa “2018 – Ano OE das Alterações Climáticas”,
a Comissão de Especialização em Geotecnia da Ordem dos
Engenheiros (OE) organizou no dia 9 de julho, no auditório da sede
nacional da OE, em Lisboa, um seminário intitulado “Proteção Cos-
teira – Contributos da Engenharia Geotécnica”. Nesta iniciativa, que
contou com cerca de 90 participantes, abordaram-se aspetos rela-
cionados com a erosão costeira em Portugal e com a contribuição
da Engenharia Geotécnica para as obras de proteção do litoral.

Especialização em GEOTECNIA

Obras de Engenharia Geotécnica Portuguesa


no Mundo – Obras Marítimas e Portuárias
N o passado dia 17 de maio a Especiali-
zação em Geotecnia realizou mais uma
conferência do ciclo intitulado “Obras de
Ordem dos Engenheiros, em Lisboa, e foi
dedicada ao tema das “Obras Marítimas e
Portuárias”. Foram apresentados trabalhos
Engenharia Geotécnica Portuguesa no Mundo”. de projetistas e empresas portuguesas, nas
Esta iniciativa, que contou com cerca de 70 áreas de projeto e construção de obras geo-
participantes, teve lugar no auditório da técnicas, em vários países do Mundo.

78 • INGeNIUM Julho/Agosto/Setembro 2018


Colégios

Especializações Horizontais

Especialização em SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA


Alice Freitas › aafreitas@oep.pt

15.º Encontro de Utilizadores Esri Portugal Informação Geográfica (SIG) em Portugal e


que contou, em 2016, com mais de 1.200
participantes. Estando o EUE focado no su-
cesso dos utilizadores ArcGIS e na divulgação
dos projetos mais relevantes e significativos
desenvolvidos no mercado nacional e in-
ternacional dos SIG com recurso à Plata-
forma ArcGIS, o Encontro contará com cerca
de 40 apresentações distribuídas por sete
sessões em paralelo, constituindo um evento

A Esri Portugal organiza o 15.º Encontro


de Utilizadores Esri Portugal – EUE 2018,
que decorrerá no dia 25 de outubro, no PT
Meeting Center, no Parque das Nações, em
Lisboa. Trata-se da maior reunião anual da
comunidade de utilizadores de Sistemas de
de referência na área dos SIG.
› Mais informações disponíveis em
www.eue.esriportugal.pt

Especialização em sistemas de informação geográfica

Conferência INSPIRE 2018


E ntre 18 e 21 de setembro, a Comissão Europeia, a Holanda e a
Bélgica deram as boas-vindas à edição de 2018 da conferência
INSPIRE, que teve lugar em Antuérpia, na Bélgica.
O Acordo de Paris sobre as Alterações Climáticas incentiva a tran-
sição energética no Mundo. Os princípios da economia circular,
nos quais os resíduos são considerados recursos, são cada vez mais mental da Diretiva INSPIRE: a partilha, sem obstruções, de dados e
incorporados nas políticas locais. Entretanto, administrações, ins- informações geoespaciais a todos os níveis governamentais e fron-
tituições de pesquisa, curiosos e cidadãos, são envolvidos na mo- teiriços.
nitorização do meio ambiente em que vivem e que têm de cuidar. › Mais informações sobre estes temas disponíveis em
Como interface destes diferentes atores, reside um bem funda- https://inspire.ec.europa.eu/conference2018

Especialização em sistemas de informação geográfica

Alterações Climáticas – A transformação


digital na gestão resiliente de sistemas

R ealizou-se no passado dia 25 de maio,


no Laboratório Nacional de Engenharia
Civil, em Lisboa, o VI Fórum de Partilha de
Experiências e Divulgação de Boas Práticas
da AQUASIS.
Tendo como tema enquadrador “Alterações
Climáticas – A transformação digital na
gestão resiliente de sistemas”, o Fórum reuniu
cerca de 400 participantes, representando
126 organismos, repartidos por 58 entidades
gestoras, a operar nas áreas do abasteci-
mento de água e saneamento de águas re-
siduais, 50 empresas do setor e 18 institui-
ções/universidades.

Julho/Agosto/Setembro 2018 INGeNIUM • 79


Colégios

O programa contou com a participação de sintonia com as restantes intervenções, o últimos tempos, em particular no que se
moderadores e oradores de excelência, na- responsável da OE caracterizou a temática refere à forma de projetar e pensar, incluindo
cionais e estrangeiros, entre os quais o Se- como um problema de Engenharia, com- a utilização, quer de novas ferramentas e
cretário de Estado do Ambiente, Eng. Carlos petindo a esta a Transformação Digital, no plataformas que se ligam entre si, quer de
Martins, e o Bastonário da Ordem dos En- sentido da sua adaptação às Alterações Cli- soluções limpas e amigas do ambiente, sa-
genheiros (OE), Eng. Carlos Mineiro Aires. máticas. lientando a capacidade da Engenharia, das
Na sua intervenção, o Bastonário começou Aliar a adaptação à eficiência foi outra das instituições e das empresas portuguesas
por recordar o XXI Congresso da OE, reali- preocupações e prioridades evidenciadas para enfrentar os novos desafios. Por fim,
zado em novembro de 2017, que foi dedi- na intervenção de Mineiro Aires. Destacou destacou o desafio da gestão de ativos, no
cado à Engenharia e à Transformação Di- a eficiência material como uma das eficiên- que toca às infraestruturas, que carecem de
gital, e o facto de a OE ter declarado 2018 cias que vai ser tema da OE para o ano de um adequado programa de manutenção
como o Ano das Alterações Climáticas, 2019. Fez ainda referência à mudança de que preserve o elevado investimento feito
temas comuns ao VI Fórum AQUASIS. Em paradigma na Engenharia, já verificada nos pelo País.

Iniciativas Regionais • 2.º Workshop de QGIS » ver secção Regiões » SUL

Especializações Horizontais

Especialização em Transportes e Vias de Comunicação


Alice Freitas › aafreitas@oep.pt

Tecnologia dos veículos e mobilidade sustentável


Painel 2 – Propulsão Térmica de Ciclos Otto e Diesel

A Especialização em Transportes e Vias de Comunicação da


Ordem dos Engenheiros (OE) prosseguiu com os eventos sobre
o presente e o futuro das propulsões e combustíveis para os veí-
O Painel 1, dedicado à Eletromobilidade Híbrida e a Baterias, ocorreu
a 10 de janeiro de, enquanto o Painel 2, respeitante à Propulsão
Térmica de Ciclos Otto e Diesel, teve lugar a 22 de maio de 2018.
culos rodoviários (pesados e ligeiros), com particular ênfase nas O Painel 3, que abordará a Eletromobilidade – Célula de Combus-
inovações e desenvolvimentos tecnológicos recentes e no futuro tível a H2, está previsto para 8 de novembro próximo.
próximo. Esta temática constitui uma das vertentes com contri- O Painel 2 teve a contribuição de um fabricante de veículos pe-
buição relevante face aos grandes desafios do Setor dos Transportes, sados, de um comercializador de gás natural, de um instalador de
na perspetiva de uma atividade de transporte cada vez mais sus- postos de abastecimento de gás natural, assim como de um im-
tentável. portador de diversas marcas de veículos ligeiros. As apresentações,
Para o efeito, a Comissão concebeu três painéis no intuito de abordar cujos conteúdos foram criteriosa e previamente definidos entre as
as múltiplas tecnologias atualmente disponíveis, com relevância empresas e a Especialização, procuraram abordar as tecnologias
técnico-económica e comercial. subjacentes na linha dos objetivos enunciados.

80 • INGeNIUM Julho/Agosto/Setembro 2018


Colégios

referência e com vasta experiência na construção e operação de


infraestruturas de gases combustíveis. Para além de considerações
e questões sobre a comercialização do gás natural em Portugal,
foram analisados os aspetos técnicos relevantes das instalações de
abastecimento rápido de gás natural – comprimido e liquefeito: os
equipamentos, componentes e esquemas de funcionamento; os
critérios e parâmetros de seleção a ter em conta pelos operadores;
os custos de investimento e de exploração; as questões de segu-
rança; os prós e contras dos diversos tipos de instalações; e a le-
gislação em vigor.
Na segunda parte do evento, a MAN Truck & Bus apresentou uma
comunicação sobre os veículos pesados de propulsão térmica de
Ciclo Diesel, nomeadamente os autocarros e camiões MAN Euro
VI. Em termos de perspetiva futura, esta tecnologia, podendo uti-
lizar diversos combustíveis – fósseis/biocombustíveis, continuará
a constituir um bom compromisso entre a exigência de rentabili-
dade, a eficiência energética e o impacte ambiental.
Por fim, a SIVA – Sociedade de Importação de Veículos Automóveis,
que distribui as marcas Volkswagen, Audi, Bentley, Lamborghini e
Skoda, evidenciou as alterações tecnológicas, em curso, nos veículos
ligeiros de propulsão térmica de Ciclos Otto e Diesel, particularmente
as configurações tipo adotadas, pelos fabricantes, para os sistemas
de tratamento de gases de escape (com particular ênfase para o
Diesel, objeto de alterações significativas), para cumprimento da
norma europeia Euro 6d, com novos testes de homologação: WLTP
(teste em banco de ensaios, substituindo o anterior teste NEDC, res-
peitante ao consumo de combustível/emissões CO2 e às emissões
poluentes) e o RDE (teste complementar, em circulação real, de
emissões poluentes). Com estes novos testes de homologação
obtêm-se valores mais próximos dos reais; por outro lado, as diversas
opções de equipamentos/tecnologias passam a ter efeito nas emis-
sões de CO2 e, por isso, para o mesmo modelo, haverá várias taxas
de CO2 em função das opções escolhidas pelo cliente.
Foram também mencionados diversos desenvolvimentos e inova-
ções em curso, que concorrem para a redução do consumo de
combustível, sendo de salientar, a título de exemplo, a gestão de
carga das baterias convencionais e a progressiva eletrificação (de
componentes) e hibridização dos veículos (sistema de 48V de re-
cuperação de energia na desaceleração/travagem, com funções
A primeira comunicação, acerca dos veículos pesados de propulsão boost, coasting e start/stop, entre outras).
térmica de Ciclo Otto a gás natural, esteve a cargo da MAN Truck Com uma oferta de veículos ligeiros cada vez mais diversificada,
& Bus, uma das principais empresas europeias no fabrico de veí- com diferentes combustíveis e propulsões, são previsíveis, a curto
culos comerciais e de motores térmicos, assim como no forneci- prazo, alterações nas quotas de mercado na Europa e em Portugal:
mento de serviços de transporte de passageiros e de mercadorias. aumento gradual da quota dos híbridos e elétricos a baterias e in-
A MAN abordou os desenvolvimentos mais recentes nos sistemas versão da repartição dos veículos de propulsão térmica, com os de
de combustível, de diagnóstico a bordo (OBD) e de tratamento de Ciclo Otto a gasolina a recuperar progressivamente a sua tradicional
gases de escape, assim como a questão da melhoria da eficiência quota de mercado, por via de uma quebra dos veículos de Ciclo
energética, quer nos autocarros MAN Euro VI a gás natural com- Diesel, especialmente nos segmentos mais baixos (uma das razões
primido (GNC), quer nos camiões MAN Euro VI a GNC – com ar- é o aumento nos custos, decorrentes das alterações para cumpri-
mazenamento a GNC ou a gás natural liquefeito (GNL). Foi feita mento dos limites Euro 6d).
uma reflexão sobre o futuro da propulsão térmica a gás natural no Seguiu-se um período de debate, em que foram analisadas e dis-
transporte rodoviário, tendo presente que é uma tecnologia com cutidas diversas questões colocadas pelos presentes.
viabilidade técnica e maturidade comprovadas e que o gás natural O moderador do Painel, após fazer uma síntese conclusiva dos as-
é uma energia alternativa ao petróleo e disponível em quantidade. suntos abordados, convidou os participantes a visualizar dois veículos
A Infraestrutura e as Instalações de Abastecimento rápido de gás ligeiros de nova geração, Euro 6d, em exposição no exterior da sede
natural constituiu o tema apresentado conjuntamente pela GalpE- da OE: um deles de Ciclo Otto a gasolina (VW T-Roc) e o outro de
nergia, como comercializador de gás, e pela PRF – empresa de Ciclo Diesel (Volvo XC 40 – Carro do Ano 2018 em Portugal).

Julho/Agosto/Setembro 2018 INGeNIUM • 81


Comunicação Engenharia Civil

A Gestão Patrimonial
das Infraestruturas Rodoviárias da Argélia
Apoio através de um projeto de geminação com França e Portugal
financiado pela União Europeia

António Lemonde de Macedo


LNEC/Ministério do Planeamento e das Infraestruturas – Chefe de Projeto, Portugal • Membro da Comissão de Especialização em Transportes
e Vias de Comunicação da Ordem dos Engenheiros • almacedo@lnec.pt
Abdennour Boudjenoun
CTTP/Ministère des Travaux Publics et des Transports – Chefe de Projeto, Argélia, 2016-2017 • abd.boudjenoun@gmail.com
Jean Leveque
Ministère de l’Environnement, de l’Énergie et de la Mer – Chefe de Projeto, França • jeanleveque92@gmail.com
Jean-Paul Fideli
Ministère de l’Environnement de l’Énergie et de la Mer – Conselheiro Residente da Geminação, França • jumelage.dz20@gmail.com
Amar Ifticene
CTTP/Ministère des Travaux Publics et des Transports – Homólogo do Conselheiro Residente, Argélia • ifticene_amar@yahoo.fr

Resumo Abstract
Está em curso um projeto de geminação a cargo de um consórcio Asset Management of Road Infrastructures in Algeria
franco-português, ao abrigo do Acordo de Associação Argélia-UE, Support given by a twinning project with France and Portugal
que tem por objetivo prestar apoio ao Organisme National de financed by the EU
Contrôle Technique des Travaux Publiques (CTTP) argelino na A twinning project, developed by a french-portuguese consortium,
implementação de um sistema de suporte à decisão para a gestão under the Algeria-EU Association Agreement is under way, aiming
da rede de estradas nacionais e das obras de arte rodoviárias. Neste at assisting Organisme National de Contrôle Technique des Travaux
artigo pretende-se dar a conhecer sumariamente os principais Publiques (CTTP) on the implementation of a decision support
aspetos desta interessante cooperação científica e técnica internacional, system for the management of national roads and bridges. This
em que Portugal é representado pelo Laboratório Nacional de article is intended to provide a brief presentation of the main aspects
Engenharia Civil (LNEC). of this interesting international cooperation, in which Portugal is
represented by the National Laboratory for Civil Engineering (LNEC).

1. INTRODUÇÃO e meios de intervenção em matéria de sistemas de apoio à decisão


para a gestão da rede de estradas e obras de arte, visando a atuação
A construção de infraestruturas rodoviárias constitui uma das prio- ao longo do tempo sobre estas infraestruturas rodoviárias.
ridades da política de desenvolvimento do território da Argélia, O parceiro francês é o Ministère de l’Environnement, de l’Energie
como forma de o Estado responder à procura de mobilidade por et de la Mer, através de organismos tutelados, com destaque para
parte das populações, em rápido crescimento, e de transporte e o Centre d’Études et d’Expertise sur les Risques, l’Environnement,
fornecimento de grandes volumes de mercadorias através do País la Mobilité et l’Aménagement (CEREMA). O parceiro português é o
no seu todo. Acresce que o património rodoviário existente, sendo Ministério do Planeamento e das Infraestruturas, através do Labo-
fruto de várias décadas de investimento, representa já um ativo ex- ratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC).
tremamente importante, colocando-se, portanto, com crescente
acuidade, a questão do conhecimento do estado de conservação 2. A ARGÉLIA E A SUA REDE RODOVIÁRIA
destas infraestruturas e sua preservação a níveis adequados.
Os custos, ou melhor, os sobrecustos, decorrentes da ausência de A Argélia ocupa um território muito vasto, o maior do continente
uma adequada política de conservação representam um fator que africano, com cerca de 2,4 milhões de km2, e a sua população atinge
é indispensável ter em conta na gestão dos dinheiros públicos. os 41,3 milhões de habitantes, apresentando uma elevada taxa de
Neste contexto, no seio da administração argelina, o Organismo crescimento anual (2,2%), com predominância dos escalões etários
Nacional de Controlo Técnico das Obras Públicas (CTTP), do Mi- jovens. A distribuição da população é muito desigual, concentrando-
nistério das Obras Públicas e dos Transportes, está a desenvolver, -se, com elevadas densidades, numa faixa da ordem dos 200 km
com o apoio de um projeto de parceria com França e Portugal, ao de largura ao longo da costa mediterrânica, onde se situam as prin-
abrigo de um acordo de associação patrocinado pela União Euro- cipais cidades e a capital Argel, em cuja área metropolitana vivem
peia (UE), as condições para deter os necessários conhecimentos cerca de oito milhões de habitantes.

82 • INGeNIUM Julho/Agosto/Setembro 2018


Comunicação Engenharia Civil

O parque automóvel deste País ultrapassa os seis milhões de veí- e a indicação de soluções pertinentes para a sua conservação.
culos. Os números associados aos acidentes rodoviários são ex- No CTTP foi criada, no âmbito do projeto de geminação, uma base
tremamente elevados, pese embora algum decréscimo nos últimos de dados relativa aos principais elementos que constituem o refe-
anos. O Centro Nacional de Prevenção e Segurança Rodoviária rido património rodoviário. Os dados sobre as estradas e obras de
contabilizou, só no primeiro semestre de 2017, 12.358 acidentes arte permitem identificá-las e caracterizá-las fisicamente, e, sobre-
rodoviários, de que resultaram 1.695 mortos e 17.715 feridos1; va- tudo, descrever com exatidão o seu estado de conservação e nível
lores que pecarão por defeito. de qualidade. A base de dados foi concebida de modo a ser evo-
De acordo com os dados do Ministério das Obras Públicas e dos lutiva, o que implica atualizações periódicas. Esta dimensão pres-
Transportes2, a rede rodoviária argelina tem uma extensão total da supõe um trabalho importante, que requer o estabelecimento de
ordem dos 114.000 km, dividida por estradas nacionais, com 29.573 uma organização geral com incidência em diversos outros órgãos
km, estradas e caminhos das 48 províncias (Wilayas), com 24.109 da administração argelina (ministérios, agências, administração
km, e caminhos comunais, com 60.420 km. As autoestradas, que local), cobrindo a totalidade do território, com a clara definição de
se incluem no primeiro grupo, perfazem cerca de 2.500 km. Nesta atribuições, e, se necessária, a criação de novas competências. Em
rede contam-se 4.815 obras de arte rodoviárias. consequência, o CTTP está a examinar com a Direção Geral das
O Plano Diretor de Estradas e Autoestradas 2005-2025 tem cons- Infraestruturas diferentes soluções possíveis para organizar a re-
tituído a referência para o desenvolvimento da rede rodoviária na- colha generalizada e sistemática de dados fiáveis na rede rodoviária.
cional a curto, médio e longo prazo. Nele está contemplada a cons- Caberá ao CTTP explorar a informação recolhida, em especial
trução da autoestrada este-oeste com 1.216 km (2×3 vias), quase acompanhar a evolução das degradações, para efeitos de análises
concluída, e o projeto da autoestrada dos altos planaltos, sensivel- comparativas e para, finalmente, deduzir quais as prioridades téc-
mente paralela à primeira no interior da faixa litoral atrás referida, nicas de intervenções e, portanto, de investimento. As decisões fi-
bem como vários eixos de penetração norte-sul. nais quanto a despesas públicas caberão, evidentemente, ao mi-
nistério da tutela, que é responsável pelas estratégias que asseguram
a aplicação de políticas ao nível nacional. Mas essas decisões pas-
sarão a ser tomadas com o apoio de informações, análises e pro-
postas técnicas mais fiáveis, exaustivas, objetivas e, portanto, mais
rigorosas do que até agora.

Figura 1 Mapa da Argélia com as principais ligações rodoviárias Figura 2 Vista das instalações do CTTP em Argel

4. UMA FRUTUOSA PARCERIA COM FRANÇA E PORTUGAL,


3. O INCREMENTO DAS CAPACIDADES DO ORGANISMO ENQUADRADA E FINANCIADA PELA UNIÃO EUROPEIA
NACIONAL DE CONTROLO TÉCNICO DAS OBRAS PÚBLICAS
ARGELINO – CTTP Atualmente, o Governo argelino considera que, para além do de-
senvolvimento de redes rodoviárias estruturantes, e para fazer face
O CTTP, organismo público, tutelado pelo Ministério das Obras Pú- a densidades de tráfego cada vez maiores, deverá dirigir as suas
blicas e dos Transportes da Argélia, adotou uma dinâmica própria ações no sentido da aplicação de políticas de conservação efi-
tendo em vista incrementar o seu nível de competências, com o cientes. Em conformidade, o seu plano estratégico com o horizonte
intuito de se posicionar como um serviço de referência no domínio de 2025 incluiu o reforço da atividade de conservação rodoviária.
da conservação do património rodoviário, capaz de facultar à sua A Argélia não deixará de investir, mas a importância de gerir efi-
administração central uma sólida capacidade técnica especializada, cientemente a manutenção do património construído passou a ser
permitindo-lhe realizar o diagnóstico do estado da rede rodoviária uma prioridade.

1 Centre National de Prévention et Sécurité Routière (www.algerie360.com/tag/cnpsr)


2 Ministère des Travaux Publics et des Transports (www.mtp.gov.dz/fr/permalink/3937.html)

Julho/Agosto/Setembro 2018 INGeNIUM • 83


Comunicação Engenharia Civil

Esta política governamental encontrou eco no estabelecimento de tação junto dos outros parceiros, quer do seu Departamento de
parcerias com a UE e traduziu-se, no quadro do “Acordo de Asso- Estruturas.
ciação” com a Argélia, pela implementação de programas de tra- O LNEC conta com o apoio da Infraestruturas de Portugal, IP, en-
balho comuns, recorrendo a instrumentos diversos, entre os quais tidade responsável pela gestão da rede rodoviária nacional, nomea-
o de “Projeto de Geminação”. damente na organização de visitas de estudo a Portugal dos téc-
nicos do CTTP envolvidos no projeto, previstas no programa de
ações. No caso da visita relacionada com a componente de tráfego
e pesagem de veículos, contou-se igualmente com a colaboração
da Brisa Autoestradas de Portugal e da Guarda Nacional Republi-
O recurso aos projetos de geminação constitui uma oportunidade cana, através da sua Unidade Nacional de Trânsito.
para a consultoria avançada e a transferência de conhecimentos
entre os países europeus e os países beneficiários, designadamente
países africanos da orla mediterrânica. Permitem reunir competên-
cias do setor público dos Estados-membros da UE e desses países,
de forma a obterem-se resultados concretos do reforço das ativi-
dades de cooperação técnica. Os beneficiários são não só institui-
ções públicas, como é o CTTP, mas também vários outros tipos de
organismos. Deste modo, estão em curso na Argélia uma quinzena
de projetos de geminação, em diferentes domínios, como os da jus-
tiça, da energia, da indústria e dos transportes, para só citar alguns.
No que respeita à geminação em causa – Projeto DZ20 – esta
apoia o CTTP há quase dois anos (a sua operacionalização teve
início a 3 de janeiro de 2016) na implementação de sistemas de
apoio à decisão para a gestão da rede de estradas e das obras de
arte rodoviárias. O diálogo e a cooperação encetados neste âm-
bito, entre a UE e a Argélia, têm obviamente em consideração as
Figura 3 Equipamento embarcado em veículo de recolha de dados para o
prioridades dadas pelo Governo argelino à preservação do seu pa- sistema de gestão de pavimentos da Infraestruturas de Portugal
trimónio de infraestruturas rodoviárias.
A atribuição pela UE de um montante de 1,6 milhões de euros para 6. NOTA CONCLUSIVA
o projeto permite mobilizar cerca de 40 especialistas franceses e
portugueses, cujas missões de apoio ao CTTP devem contribuir No estádio atual de desenvolvimento do projeto, os alicerces da
decisivamente para a implantação de métodos de gestão rodoviária construção da base de dados estão de pé. Ao mesmo tempo, foram
apropriados, de acordo com as melhores práticas atuais. Com efeito, adquiridas pelos técnicos do CTTP competências e o domínio de
as respetivas intervenções conjuntas, ao longo do período que já boas práticas no diagnóstico do estado dos pavimentos e das obras
decorreu, têm sido determinantes para o avanço dos trabalhos, es- de arte. Dominam-se também os procedimentos definidos para as
truturados em torno de três grandes temas (resultados), liderados, contagens do tráfego, em termos quer organizacionais, quer da
cada um, por um responsável argelino e por outro do consórcio utilização de equipamentos. Detém-se já um conhecimento bas-
França-Portugal. Esses temas correspondem a três objetivos prin- tante completo sobre as implicações relativas aos problemas co-
cipais, a saber: locados pelas sobrecargas dos veículos pesados. Esta aquisição de
1. Uma base de dados rodoviários como suporte a um sistema de conhecimentos e de experiências deverá, daqui para a frente, ser
apoio à gestão da conservação dos pavimentos; aproveitada e valorizada através da adequada inserção das missões
2. Uma base de dados e uma organização fiável das atividades do CTTP na cadeia de funcionamento da administração argelina.
conducentes à gestão das obras de arte rodoviárias; Os trabalhos já realizados e em curso são prometedores e é ma-
3. Um dispositivo de contagem do tráfego no conjunto da rede de nifesta a vontade de atingir com sucesso os objetivos por parte dos
estradas nacionais, acompanhado do domínio técnico da questão parceiros envolvidos. O intercâmbio tecnológico inerente a um
da pesagem de veículos pesados. projeto desta natureza decorre num ambiente de grande respeito
mútuo. Os resultados que se vão obtendo, suportados por ensaios
5. A PARTICIPAÇÃO PORTUGUESA NO PROJETO numa extensão de trechos piloto selecionados e numa amostra
representativa das obras de arte, são objeto de validação por parte
O ponto de contacto nacional para os projetos de geminação da da direção do organismo beneficiário argelino, em estreita ligação
UE em que Portugal participa encontra-se sediado no Ministério com a sua tutela.
dos Negócios Estrangeiros. Prevê-se que o projeto fique concluído no decurso de 2018, sem
No caso do presente projeto, a participação portuguesa é assegu- prejuízo de se desenvolverem ações de acompanhamento e cola-
rada pelo LNEC, que está sob a tutela do Ministério do Planeamento boração futuras, o que, no que respeita a Portugal, se enquadra, no-
e das Infraestruturas. Para o efeito, este Laboratório mobilizou uma meadamente, na política de cooperação com os países do Mediter-
equipa de investigadores, quer do seu Departamento de Trans- râneo Ocidental, bem como na missão do LNEC neste âmbito, con-
portes, o qual assegura a coordenação das tarefas e a represen- tando com o apoio institucional da Infraestruturas de Portugal.

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Análise

Análise

A reengenharia aeroportuária
à medida de Lisboa
Hub Alverca longo curso e Portela médio curso

Nota da Redação
Seguindo políticas editoriais, o presente artigo foi publicado a pedido do seu autor por se entender que pode constituir um contributo
interessante no âmbito da discussão de uma solução aeroportuária para Lisboa e uma vez que o recurso a Alverca sempre foi
descartado por se basear no traçado e orientação atuais da pista aí existente.
Assinala-se que a solução enferma de importantes omissões de diversa natureza e que carecem de aprofundamento, nomeadamente
de natureza técnica e ambiental, e pressupõe a ocupação do Mouchão da Póvoa, uma ilha fluvial com 1200 ha, onde se desenvolve
atividade agrícola e pecuária e com elevado interesse para a avifauna e para a proteção da natureza, com elevados impactes que
não foram considerados.

N
o presente artigo é apresentada uma pro- pista de orientação 03-21 em Alverca, paralela à
posta autónoma e independente que pista principal da Portela, o que representa uma
promove Lisboa como hub interconti- situação nunca antes analisada e da qual resultam
nental e capaz de rapidamente resolver o presente significativos benefícios técnicos, económicos e
obstáculo aeroportuário ao crescimento turístico ambientais para Portugal.
de Portugal, sem comprometer a segurança, a José Joaquim
competitividade e a sustentabilidade no horizonte Proença Furtado O enquadramento contratual da concessão
da concessão aeroportuária, prevista até 2062. Engenheiro Civil ANA-Vinci no que respeita ao NAL
Consultor e Assessor (novo aeroporto de Lisboa)
da Presidência da APPLA –
É, assim, intenção contextualizar a proposta re- – Associação dos Pilotos
dutora da concessionária ANA-Vinci que dispersa Portugueses de Linha Aérea A concessão ANA-Vinci, com prazo até 2062, es-
o tráfego aéreo do atual hub por dois aeródromos tipula “gatilhos” para despoletar o processo NAL
desligados, evidenciar a respetiva insuficiência em Alcochete, dando abertura a uma proposta
face à potencial procura (até 55 milhões de pas- alternativa da concessionária desde que obser-
sageiros) e clarificar que os seus malefícios para vadas as especificações mínimas do anexo XVI do
a população não são uma “inevitabilidade”, pois será aqui apresen- contrato, onde, nomeadamente, se estabelece que, para além de
tada uma alternativa inovadora que assenta na criação de uma nova menos onerosa e mais eficiente, deve: corresponder a um hub com
transferência direta entre terminais e capacidade inicial de 90-95
movimentos por hora mediante o funcionamento de um par de
pistas paralelas independentes ≈ 4.000 m / 4 taxiways, proporcio-
nando um sistema de usabilidade ≥ 95%. Este hub deverá estar pre-
parado para potencial terceira e quarta pistas com operação se-
gregada, ter conexão ferroviária nacional e suburbana e ter manu-
tenção de aeronaves.

A urgência nacional do aumento da capacidade aeroportuária de


Lisboa não é resolvida com medida intercalar “Portela pista 03-21
+ Montijo pista 01-19” que volume de tráfego em 2016/2017 já
confirmou ser de vida curta

O galopante crescimento turístico fez disparar o processo NAL mais


 ar de pistas paralelas 03-21 do autor (azul) versus
Figura 1 P
pistas analisadas por Eurocontrol/NAV (vermelho e verde) cedo do que o esperado. Dada a impossibilidade material de, no

86 • INGeNIUM Julho/Agosto/Setembro 2018


Análise

curto prazo, construir de raiz um aeroporto intercontinental com civilizacionais europeus, obrigando a profunda e dispendiosa reor-
“desminagem” preliminar do Campo de Tiro de Alcochete, a que ganização militar e ficando esgotado em poucos anos.
acresce a demorada e onerosa travessia do mais largo estuário eu-
ropeu, a concessionária propôs, ao arrepio das condições técnicas Revisitar as bases aéreas à luz dos requisitos traçados
do anexo XVI do contrato de concessão, uma medida intercalar pela reengenharia
para alguns anos. Esta medida pressupõe operar duas pistas de-
pendentes, uma na Portela e uma na base aérea do Montijo, com O avizinhar da sobrelotação do aeroporto de Lisboa foi a razão
a capacidade total de 64-68 movimentos por hora, manter o longo- para, em 2016, se ter avançado com um estudo para a capital, re-
-curso/transferência na Portela à custa do encerramento da pista visitando as bases aéreas à luz do primado estratégico de manter
17-35 windshear (expediente para obter alguns stands de aviões), Lisboa como hub uno (massa crítica), assegurar a sua sustentabili-
e estabelecer na base aérea uma plataforma para uso civil com dade a longo prazo, o que tanto supõe atender os requisitos téc-
acessibilidade por autocarro até à estação fluvial (percurso de 4 km) nicos da concessão como as práticas ambientais dos aeroportos
e por barco até Lisboa (percurso de 13 km). É, assim, uma solução europeus (convivência com cidade) e, ainda, ser a solução de rá-
provisória com uma capacidade significativamente mais fraca que pida implementação, tudo isto requerendo:
a contratualmente prevista. 1. Ser um hub com transferência entre terminais até 10-15 minutos
através de um trem automático de elevada cadência;
O Relatório elaborado pela Autoridade Nacional para a Aviação Civil 2. Dispor de um par de pistas paralelas independentes com ex-
(ANAC) e pela Roland Berger prevê que Lisboa atinja os 22 milhões tensão ≥ 3.700 m, a que acrescenta eventual terceira pista se-
de passageiros em 2020 e que chegue aos 30 milhões em 2023/2024, gregada como segurança;
sendo que “assumindo a transferência LCC para Montijo a partir de 3. Desviar o longo curso da cidade, ficando só o médio curso e
2020, Portela apenas atingirá 30 M PAX em 2035”. com horário reduzido, eliminando os voos noturnos;
4. Reduzir o ruído e melhorar a segurança (safety) da Portela, através
Porém, em apenas dois anos o boom turístico ultrapassou a esti- do recuo do ponto de aterragem pelo lado sul (o de sobrevoo
mativa, tendo atingido os 26,7 milhões de passageiros em 2017, da cidade) em 1.000 m para dentro do perímetro;
sendo que as revisões atualizadas apontam para cerca de 40 mi- 5. Usabilidade ≥ 95% mediante duas pistas por aeródromo:
lhões de passageiros em 2023/2024 se não houver estrangulamento • Portela: Pista 03-21 + Pista 17-35 (prevenção de ocorrência
aeroportuário. Ora, se nessa altura se desviarem 9-10 milhões de windshear presente e futura);
passageiros para o Montijo, ainda ficam na Portela 30 milhões (em • Complementar: uma das pistas com orientação 03-21 fazendo
2024), o que antecipa em mais de 10 anos a previsão da ANAC- par com Portela;
-Roland Berger (30 milhões em 2035). 6. Conexão ferroviária, com utilização do metropolitano e dos per-
cursos suburbanos e nacionais dos comboios;
O imperativo nacional de uma nova solução é a razão 7. Não depender de atravessamentos do Tejo ou de mudanças
da reengenharia aeroportuária proposta para Lisboa operacionais de natureza militar.

As restrições ao investimento público numa nova travessia do Tejo, Apenas a base-depósito Alverca tinha condições para satisfazer
junto com o modelo de privatização da ANA, dificultam, no hori- todos os requisitos impostos, circunscrevendo-se o desafio à criação
zonte da concessão, a construção do aeroporto em Alcochete. Isto de uma nova pista de orientação 03-21. Observando mais em por-
verifica-se quer ele comece com duas pistas, como está estabele- menor, constatava-se que as pistas 03-21 e 04-22 eram “quase”
cido, quer com uma pista, pois mesmo o custo desta variante re- paralelas (pistas que entre si formam um ângulo ≤ 15º) e que não
presenta mais de dois terços do total de investimento devido à es- havia impedimento habitacional do lado exterior à pista existente.
pecificidade da implantação, que exige que a terraplenagem seja
feita na globalidade com a desminagem preliminar do terreno e a Era, assim, possível avançar um pouco sobre o plano de água, à
construção de um novo campo de tiro. Paralelamente, há a con- imagem do que fez a maioria dos aeroportos à beira de água quando
siderar o facto da enorme distância a Lisboa exigir logo no arranque foi necessária uma nova pista, como é o caso recente da quinta
operacional de Alcochete o funcionamento de uma ligação ferro- pista do maior aeroporto de Xangai.
viária por via de uma nova ponte que atravesse o Tejo.
Inovadora pista Alverca 03-21 enformando um par de pistas
Por outro lado, a solução proposta pela ANA-Vinci iria colocar a paralelas independentes com Alverca 03-21
população de Lisboa a viver sob permanente stress aeronáutico até
2062, uma vez que prevê que, na infraestrutura da Portela, cuja A compatibilização de Alverca-Portela foi sempre avaliada com o
aproximação à pista sobrevoa toda a cidade (situação única na Eu- conjunto existente [uma pista 04-22 + um taxiway], assentando a
ropa), devem ser feitos os mesmos 48 movimentos por hora que originalidade da reengenharia numa nova pista de orientação 03-21
a pista do recordista aeroporto de Gatwick (que não é hub) faz, mas e transfigurando o que existe em duplo taxiway, um deles pista-
a 40 Km da cidade e com aproximações sobre o campo. Em sín- -reserva. Alverca fica com um sistema igual a Gatwick (Londres),
tese, um novo aeroporto em Alcochete com duas pistas ou com mas de escala superior, em que a pista principal seria operacional-
uma pista será inviável por muitos anos. Por outro lado, a solução mente independente da Portela, com capacidade conjunta de 90
minimalista da concessionária é intolerável segundo os padrões a 95 movimentos por hora.

Julho/Agosto/Setembro 2018 INGeNIUM • 87


Análise

A área entre as duas pistas não é necessária do ponto de vista nacional –, em troço quadruplicado, possibilita a utilização de car-
aeroportuário, mantendo-se assim a passagem de água pela Cala Norte.
ruagens suburbanas e nacionais, bem como a ligação direta ao nú-
Cada taxiway da nova pista terá um curto viaduto, perfazendo estes uma cleo turístico (baixa pombalina e terminal de cruzeiros), ficando,
extensão total de 800 m (em Macau a extensão total de viaduto é 2.500
deste modo, não só toda a área metropolitana de Lisboa ligada por
e em Tóquio-Haneda é 1.300)
ferrovia, como também o resto do País.

Hub Alverca/Portela proporciona receitas extra que cobrem


o seu custo (não altera taxas aeroportuárias)

Situação presente
Os passageiros de companhias low cost, sejam nacionais ou tu-
ristas, que tenham como destino a cidade de Lisboa, a sua área
metropolitana ou o restante País, podem hoje chegar ou sair da
Portela por metro, no que é igual a Madrid e Barcelona.

Aproveita reparação dos diques-mouchão pelo Estado


Provisório Montijo
(entre verões de 2018 e 2019)
A taxa aeroportuária terá de refletir a redução do conforto (mais
A inovação de transformar duas plataformas desligadas num só mudanças), o aumento do tempo e os custos mais elevados na
aeroporto com dois terminais cria as condições para melhorar deslocação. Como tal, o Montijo deverá ter em média um abati-
sustentabilidade de um aeródromo citadino na Portela mento de 7 a 10 € por passageiro em relação à Portela.

Por um lado, a proximidade de Alverca à Portela e a localização de Hub Alverca-Portela


ambas na mesma margem do rio, possibilitam a interligação das duas Trata-se de um aeroporto uno, deslocando-se os passageiros entre
plataformas por um trem automático dedicado à semelhança dos terminais por trem dedicado, beneficiando de poder chegar/sair
grandes hubs e, por outro, a área do expandido perímetro de Alverca por quatro conexões ferroviárias, pelo que a taxa se manterá uni-
e a desafogada aproximação aérea dá oportunidade a que se desvie forme, verificando-se, em “grandes números”, que só por esta via
o longo curso, transferindo-o para a nova pista. Será, assim, possível existirá um diferencial de receita suplementar ≥ 3.000 M€ de hub
um downsizing da Portela para tráfego até médio curso, em sintonia Alverca-Portela comparada com Montijo.
com a prática dos outros aeroportos citadinos europeus que, no
máximo, farão até 10 milhões de passageiros de médio curso no final A decisão de avançar com hub Alverca longo curso e Portela médio
de 2018 (Milão-Linate). Isto permitiria manter a pista Portela 17-35 curso pode ser tomada até final de 2018
windshear e salvaguardar, em segurança, a usabilidade ≥ 95% no fu-
turo incerto de convivência com extremadas alterações climáticas O inovador hub dual tem um extraordinário impacto mas é de
(extrapolar o passado não mais é garantia). Permitiria, igualmente, grande simplicidade concetual. Já foi globalmente apresentado
reduzir o nível de ruído e o horário operacional, bem como melhorar (estruturação, layout Alverca, sistema de quatro pistas/duas torres
a segurança dos habitantes de Lisboa, colocando todos os critérios de controlo, trem automático, conjunto de acessibilidades, mon-
dentro dos parâmetros europeus de sustentabilidade. tagem económico-financeira) há mais de um ano à ANA-Vinci e às
entidades públicas competentes, pelo que a avaliação entretanto
Hub Alverca-Portela terá conetividade ferroviária feita pelos organismos, os avantajados benefícios económicos, a
ao nível de Paris e Londres significativa melhoria ambiental quando comparado com a solução
com Montijo e a recuperação do tempo perdido levam a que a de-
A porta para a Linha do Norte – a espinha dorsal da rede ferroviária cisão positiva possa ser rapidamente tomada.

Hub Alverca-Portela poupa mais de 6.000 M€ de investimento direto

PISTAS Custo Estado Custo ANA Total


Solução Aquisição Terreno Acessibilidade
Local Extensão (m) Total (m) (M€) (M€) (M€)
Montijo Portela 3.700 Mudança BA Est. Fluvial / Frota barcos
6.100 350 650** 1.000
Provisório Montijo 2.400 Novo C. Tiro Canal navegação
TTT rodoferroviária
3.700 2.200 +
Alcochete 7.400 “Desminagem” Ramal m. Sul × 6.700
3.700 4.500*
Túnel redoviário m. Norte
3.700
Portela
Alverca 2.400 Tem “porta” para L. Norte
Sem mudanças
e 3.700 15.050 Suburbano + Nacional + × 1.200 1.200
Alverca operacionais
Portela 3.100 Ligação direta
Montijo 2.150

* Relatório ANAC-Roland Berger avalia custo NAL em 5.400 M€ sem acessibilidade ** Indicação ANA

88 • INGeNIUM Julho/Agosto/Setembro 2018


Análise

Em Alverca, o primeiro aumento de capacidade aeroportuária iii) Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) de hub Alverca longo
de Lisboa será logo no primeiro trimestre de 2020 curso e Portela médio curso
O impacte sobre a natureza e os habitantes é inferior ao da so-
A Portela tem capacidade aérea disponível, mas capacidade de solo lução da concessionária por, entre outros motivos, desviar as
esgotada por causa do défice de infraestrutura (só um taxiway que grandes aeronaves da cidade para aproximações sobre planos
corta a pista principal) e pela gritante falta de stands de aviões. Al- de água em Alverca, reduzir o horário operacional na Portela e
verca fornecerá os stands que faltam à Portela e beneficiará da melhorar a segurança (safety) global. No capítulo AAE, os be-
gestão comum das duas infraestruturas para preencher a disponi- nefícios são claros e transparentes, por exemplo, o hub dual
bilidade aérea em aberto, encaixando 25.000 movimentos/ano, o está do lado do Tejo com mais de 90% das origens/destino, ma-
que significa 3-3,5 milhões de passageiros, o que é suficiente para ximiza o uso da ferrovia nas deslocações, não altera as infraes-
absorver o crescimento de Lisboa em mais dois anos enquanto se truturas militares operacionais e mantém o uso do campo de
acaba a nova pista. tiro aéreo de Alcochete (tem certificação ambiental).
A aprovação global da solução hub será mais rápida que a “pro-
Na primeira fase de Alverca, fundamentalmente melhora-se a visória-definitiva” da concessionária, dado o associado risco e
infraestrutura que já existe (sem impacto ambiental), ficando o terminal de
passageiros com dimensão igual ao do aeroporto de Beja (edifício 4.500 prejuízos ambientais-económicos desta última, bem como a
m2/14 stands/900 lugares de estacionamento) e a OGMA encarregar-se-á demorada discussão das respetivas medidas de mitigação, an-
da manutenção dos aviões.
tevendo-se a conclusão do processo de certificação de Alverca
A beneficiação poderá avançar com celeridade por ser integralmente até ao final do primeiro trimestre de 2019.
financiada pela concessionária.

iv) Rentabilizar a intervenção no mouchão da Póvoa de St.ª Iria/


Cala norte que decorre entre os verões de 2018 e 2019
A concessionária e tutela foram informadas com grande ante-
cedência do interesse em compatibilizar tecnicamente a inter-
venção no mouchão (rebentamento dos diques no inverno an-
terior), com a que será feita no âmbito da nova pista de Alverca
de modo a maximizar sinergias entre ambas.

v) 
Construção de “retenção ribeirinha + consolidação de aterro +
estrutura da pista”
Este conjunto integrado será iniciado em julho de 2019 e estará
concluído até ao final de 2020, subindo então a capacidade no
início de 2021 para 7 milhões de passageiros.

No final de 2022 o hub Alverca/Portela começará a operar


em plena capacidade
Estação ferroviária encostada a armazém base

O layout e a conceção geral do projeto serão decididos até março/


Em Alverca, a nova pista 03-21 independente assegura, abril de 2019, seguidos da respetiva elaboração. Os trabalhos das
per si, 48 movimentos por hora e entrará em operação novas instalações – que se concentram na desocupada área entre
no início de 2021 a pista existente e a Linha do Norte – arrancarão também em julho
de 2019, entrando em operação o terminal “full service” em janeiro
i) Estudos da compatibilização fluvial de 2023, enformando o hub nessa altura de uma capacidade global
A Cala Norte continua, mantendo-se inalterada a hidrodinâmica de 45 milhões de passageiros, que irá posteriormente aumentando
fluvial. Os estudos para a retenção ribeirinha serão concluídos à medida das necessidades até 55-60.
até maio de 2019.
Hub Alverca/Portela será tão ou mais competitivo
ii) Estudos da consolidação da plataforma da nova pista de 3.700 m que Madrid/Barajas e Barcelona/El Pratt
Face à tipologia dos solos existentes, aponta-se para a solução
GEC (Geotextile Encased Columns), que tem vindo a ser em- Os três aeroportos terão capacidade ≥ 90-95 movimentos por hora,
pregue na Europa desde os anos noventa, por coincidência estarão localizados até 12 km do centro (Lisboa até menos com a
também aplicada em Hamburgo no caso de terreno conquis- Portela), não terão portagem até ao centro e apresentarão ligação
tado ao rio Elba para construção da mega fábrica Airbus (o quín- ferroviária através do metro e comboios suburbanos. Mas só Lisboa
tuplo da dimensão das OGMA) sobre solos muito moles. É de terá comboios nacionais a parar no próprio aeroporto e a mais-
rápida execução (ver descrição gráfica disponível na Internet), -valia de uma ligação direta por comboio ao centro como hoje,
o material de enchimento provém do rio adjacente e os estudos por exemplo, Londres tem.
para definição da malha geométrica das colunas serão con-
cluídos até maio de 2019. Informações detalhadas disponíveis no Website joseproencafurtado.com

Julho/Agosto/Setembro 2018 INGeNIUM • 89


OPINIÃO

opinião

A ENERGIA ELÉTRICA
NO HORIZONTE 2020-2030

O
setor da energia elétrica tem sofrido nos As sociedades modernas são também cada vez mais
últimos anos alterações significativas, umas exigentes em termos de sustentabilidade ambiental,
decorrentes da evolução tecnológica, ou- pelo que a produção de energia elétrica exige a es-
tras decorrentes de preocupações ambientais e colha de formas de produção eficientes, de baixo
outras, ainda, decorrentes dos hábitos e tendências custo e de reduzido impacto ambiental. Por isso há
sociais que influenciam a procura. Por estas razões, João Gomes de Aguiar um movimento crescente da sociedade e da indús-
Engenheiro Eletrotécnico
será conveniente fazer uma breve abordagem à tria para o uso de energias renováveis e para o aban-
Consultor para a área
evolução da sociedade, às caraterísticas da procura de Energia dono progressivo dos combustíveis fósseis.
de energia elétrica e das diferentes fontes utilizadas Ex-Administrador A energia elétrica é a forma mais eficiente, segura,
na sua produção, para podermos traçar algumas de empresas do Grupo EDP fácil de utilizar e menos poluente de uso de energia,
linhas estruturantes do caminho a seguir. seja na indústria, nos transportes e nas atividades
domésticas, pelo que a escolha das formas de pro-
1. A Sociedade e a Energia dução e das fontes de utilização de energia primária
utilizadas reveste-se de primordial importância para
As sociedades atuais, cujo funcionamento assenta atingir todos estes objetivos.
no uso intensivo da energia, seja para assegurar as A satisfação da procura de energia elétrica, asso-
atividades produtivas, seja para a mobilidade das ciada à necessidade de redução de emissões dos
mercadorias e dos cidadãos, seja para as atividades gases de efeito de estufa que provocam as altera-
domésticas, dependem fortemente do seu forne- ções climáticas, tem impulsionado a adoção de
cimento regular, contínuo, eficiente e a preços com- medidas de eficiência energética, nomeadamente
petitivos. a construção de equipamentos elétricos mais efi-

90 • INGeNIUM Julho/Agosto/Setembro 2018


OPINIÃO

cientes, mas também a promoção do uso racional de energia, ga- das energias renováveis têm vindo a tornar atrativa a sua instalação
rantindo os fornecimentos necessários ao conforto doméstico e ao nível dos consumidores individuais, nas redes de baixa tensão.
ao setor produtivo, da forma mais eficiente. A possibilidade de instalação de equipamentos de produção para
Paralelamente, tem-se assistido a uma transferência de consumos autoconsumo, com possibilidades de venda de excedentes à rede,
de energia de combustíveis fósseis para energia elétrica, particu- torna esta produção local mais atrativa. Os consumidores tornam-
larmente na indústria e nos transportes, substituindo equipamentos -se, assim, também produtores.
industriais e veículos de combustão por equipamentos e veículos
elétricos. Esta tendência deverá acentuar-se no futuro, por razões 3. O futuro no horizonte 2030
ambientais e de eficiência.
Para antever a evolução futura do mercado de energia, e da forma
2. A emergência das energias renováveis mais eficiente e sustentável para a sua produção, é preciso res-
ponder a algumas questões fundamentais, a saber:
O desenvolvimento tecnológico atingido pelas sociedades mo-
dernas tem permitido a produção de energia elétrica a partir de 1) Qual a tendência de evolução dos consumos na próxima dé-
diversas fontes, renováveis e não renováveis, o que se traduz no cada? Depois de uma década de estagnação, a tendência é para a
aproveitamento dos recursos disponíveis onde eles existem, mor- manutenção nos níveis atuais ou crescimento? Qual a influência
mente aqueles que são mais vantajosos económica e ambiental- das políticas de eficiência energética nos consumos?
mente. Os mais utilizados em Portugal são os seguintes: Pelas caraterísticas e vantagens associadas ao uso da energia elé-
› Energia termoelétrica, produzida a partir de carvão, por ser mais trica temos razões para crer que, apesar das melhorias de eficiência,
abundante e mais barato, e de gás natural, por ser o que permite a tendência de crescimento da procura vai continuar, devido so-
uma produção mais eficiente e com menor nível de emissões. bretudo à melhoria das condições económicas e à conversão de
Em Portugal existem duas centrais a carvão (Sines e Pego I), com consumos de outras formas de energia.
uma potência total de 1.756 MW, e quatro centrais a gás natural
(Tapada do Outeiro, Ribatejo, Lares e Pego II), com uma potência 2) Tendo em conta o provável encerramento das centrais a carvão
total de 4.608 MW. na década de 20-30, o sistema elétrico conseguirá garantir a sa-
› Fontes de energia renovável, onde se incluem as energias hi- tisfação da procura apenas com energias renováveis? As atuais
droelétrica, eólica, solar, biomassa e dos oceanos. A energia hi- centrais de ciclo combinado a gás natural (CCGT) serão suficientes
droelétrica é utilizada em Portugal desde meados do século pas- para fazer a reserva de capacidade? Ou precisa de nova produção
sado, tendo sido a base da eletrificação do País, enquanto a de base com novas CCGT?
energia eólica e a solar tiveram um forte desenvolvimento desde Mesmo com uma forte penetração de produção de origem solar,
o início do século atual, graças ao desenvolvimento tecnológico em centrais fotovoltaicas, tendo em conta a sua dependência da
e ao apoio de que beneficiaram. O crescente aumento da pro- insolação e a intermitência da energia eólica, dificilmente o sistema
dução de energia eólica e solar fez descer fortemente o preço elétrico subsistirá sem nova produção de base térmica.
dos equipamentos de produção (aerogeradores e painéis foto-
voltaicos), fazendo com que os custos de produção se apro- 3) O aprofundamento do mercado europeu de energia será sufi-
ximem cada vez mais dos custos de produção convencional, ciente para responder a eventuais carências de produção de um
sendo possível ir reduzindo os apoios de que beneficiaram no Estado-membro, como Portugal? O reforço das interligações entre
início. As energias renováveis estão fortemente dependentes das Portugal, Espanha e França será suficiente para garantir as neces-
condições climatéricas – a energia hidroelétrica dependente da sidades de importação numa situação de carência?
pluviosidade, a eólica dependente do regime de ventos, de grande O mercado europeu de energia começou a ser construído há cerca
variabilidade local e temporal, e a fotovoltaica dependente da de 20 anos e apesar de ter registado evoluções positivas no sen-
incidência de luz solar. Estas condições fazem com que estas tido de uma maior integração, através da criação de mercados re-
energias apresentem intermitências horária, diária, mensal e anual, gionais, de construção de novas interligações, de maior comércio
não podendo por si só garantir o fornecimento regular exigido. transfronteiriço de energia, de maior partilha de informação e de
Assim, o sistema elétrico tem de dispor de reserva de capacidade maior cooperação, ele não é ainda suficientemente fluido para res-
de produção que possa entrar rapidamente em operação. ponder a situações de carência de energia num país ou região, não
tendo ainda sido submetido a provas reais, pelo que devemos ser
Vivemos, pois, com um sistema em que o Estado, devido ao inte- conservadores e procurar manter a autossuficiência energética.
resse em promover energias limpas, cuja tecnologia era inicialmente
mais cara, teve de assegurar preços garantidos à produção de 4) A emergência da armazenagem de energia elétrica em baterias,
origem renovável, através do mecanismo conhecido por “Feed-In a preços mais competitivos, em complemento das formas de ar-
tariffs”, bem como de garantir níveis de rentabilidade adequados às mazenagem tradicional, permitirá acumular energia de produção
centrais de reserva a gás natural, quando estas não são chamadas renovável, produzida em horas de forte produção e recuperá-la
a produzir, através do mecanismo de “Garantia de Potência”. De em horas de baixa produção? A energia acumulada em baterias de
outro modo, os consumidores corriam o risco de ter falhas de abas- veículos elétricos poderá ter um impacto significativo na acumu-
tecimento ou de pagar sobrecustos em épocas de crise. lação de energia, se gerida de forma eficaz?
A miniaturização dos equipamentos e o abaixamento dos custos Acreditamos que o preço das baterias vai baixar e permitir o seu

Julho/Agosto/Setembro 2018 INGeNIUM • 91


OPINIÃO

uso em termos económicos na armazenagem de energia, tal como zação do sistema, influenciando a procura, mas também as formas
acreditamos numa forte penetração dos veículos elétricos e na de produção descentralizada, a carga dos veículos elétricos, o ar-
gestão da carga das baterias pelo sistema elétrico de forma posi- mazenamento e a gestão das redes elétricas.
tiva, embora os seus ritmos sejam difíceis de prever. Ao nível da produção manter-se-á a tendência de maior penetração
das energias renováveis, em particular da fotovoltaica, da eólica e
5) Estarão os consumidores disponíveis para aceitar interrupções da biomassa, quer a nível local, quer em sistemas de produção cen-
de fornecimento? tralizada. Com elevada probabilidade, em função do crescimento
Os esforços feitos nos últimos anos no sentido do aumento da efi- da procura, esta produção precisa das atuais centrais térmicas como
ciência no consumo e de modular a procura de energia através dos reserva de potência e, provavelmente, de mais unidades de ciclo
preços têm dado sinais positivos. No entanto, pela importância que combinado a gás natural, após a saída do carvão.
a energia elétrica assume nos dias de hoje, em todas as atividades As interligações internacionais, o armazenamento em baterias de
humanas, não acreditamos que os consumidores aceitem pacifi- baixo custo e os veículos elétricos, pelas implicações positivas que
camente interrupções de fornecimento de âmbito significativo. O têm na gestão do sistema e na sua otimização, visando a redução
mecanismo de interruptibilidade tem funcionado para unidades dos custos para os consumidores, não poderão deixar de ser incen-
industriais com possibilidades de modulação da carga, embora nos tivadas. Também o desenvolvimento de sistemas inteligentes, ba-
últimos anos, devido à recessão económica, se tenha verificado seados em redes de telecomunicações e de inteligência artificial,
uma estagnação dos consumos, que gerou excedentes de capa- colocados ao serviço das cidades e da gestão das redes elétricas,
cidade, com reduzido recurso àquele mecanismo. terão um forte impacto na gestão energética e na vida dos cidadãos.
Os mercados grossistas, puramente baseados em bolsas de energia,
6) A capacidade de investimento das famílias e das empresas vai têm revelado algumas debilidades, ora porque os preços marginais
aumentar de modo a que possam investir na produção local de não remuneram adequadamente o investimento, ora porque os
energia e, assim, reduzir as necessidades de produção centralizada? preços podem atingir picos incomportáveis em épocas de carência
Há um crescente interesse por parte de muitos consumidores na de oferta, com riscos de abastecimento, pelo que os Estados têm
instalação de unidades de produção para autoconsumo e em uni- vindo a ter necessidade de intervir em situações pontuais através
dades de pequena produção para venda à rede, mas as dificuldades de medidas fora dos mecanismos de mercado. Uma dessas me-
de financiamento e de garantias de retorno não provocaram ainda didas é o lançamento de concursos para unidades de produção
um forte incremento. centralizada, para as diferentes tecnologias, induzindo a concor-
rência na fase de construção, de acordo com modelos de planea-
4. Os caminhos a seguir mento da oferta.
A liberalização do mercado de retalho veio criar oportunidades de
No domínio da energia, tal como em muitos outros da vida mo- negócio para os comercializadores, com a prestação de serviços
derna, há cada vez menos certezas e cada vez mais incertezas, o associados à venda de energia, mercado que tenderá a desenvolver-
que obriga a fazer o caminho à medida que se vai caminhando. -se nas áreas de produção local de energia, na mobilidade elétrica
Para tal situação, o País e as empresas precisam de dispor de indi- e na eficiência energética, entre outros. Contudo, importa também
cadores adequados sobre a evolução do sistema, e de sistemas de defender os consumidores menos informados sobre eventuais riscos
planeamento que permitam uma gestão ótima do sistema, e uma associados às tarifas praticadas e aos novos produtos comerciali-
visão integrada do sistema energético. zados. A existência de simuladores tarifários, de tarifas de referência
Também os sistemas de gestão e de modulação da procura pas- indexadas ao mercado grossista e da tarifa social são mecanismos
sarão a desempenhar um papel cada vez mais relevante na otimi- a desenvolver e garantir pelas instituições públicas.

92 • INGeNIUM Julho/Agosto/Setembro 2018


Ação Disciplinar

Ação Disciplinar
Apresenta-se o resumo
de um acórdão proferido
pelo Conselho Jurisdicional
da Ordem dos Engenheiros
que confirma a decisão
de Arquivamento do Conselho
Disciplinar da Região Sul.

RELATÓRIO falta de indícios de violação de qualquer o Regulamento Disciplinar n.º 1126/2016,


norma deontológica por parte da Partici- de 30 de dezembro (v. art.º 63.º), mas o Re-
A 2 de junho de 2016 deu entrada no Con- pada, foi determinado o arquivamento dos gulamento Disciplinar n.º 30/2003, de 18
selho Disciplinar da Região Sul da Ordem autos. de julho, cujo art.º 57.º manda aplicar sub-
dos Engenheiros uma participação apresen- Inconformado com a decisão de arquiva- sidiariamente, em matéria processual, o Có-
tada por XXX, contra a Eng.ª XXX, pelo facto mento, o Participante apresentou recurso digo de Processo Penal, desde logo o dis-
de esta última, na qualidade de Chefe da para o Conselho Jurisdicional, com vista à posto no art.º 374.º no que respeita aos
Divisão Municipal de Fiscalização dos Ser- “anulação do Despacho de Arquivamento requisitos da decisão e respetiva fundamen-
viços Municipalizados de uma determinada do CDRS e a condenação da Participada”, tação e quanto ao preceituado no art.º 412.º,
entidade, ser a principal responsável por alegando que os factos apurados foram n.º 1, ao dispor que são as conclusões do
atos – que qualifica de ilegalidades – pro- simplesmente os produzidos pela Partici- recurso que delimitam o seu âmbito de co-
vocados na propriedade do Participante. pada e rematando a motivação com a se- nhecimento.
Alegou, fundamentalmente, o Participante guinte única conclusão: Ora, a conclusão única apresentada pelo
que, no início de 2013, a referida entidade, Recorrente limita-se a qualificar (de forma
no decurso de obras municipais de sanea- “Do exposto resulta que é inaceitável a forma no mínimo deselegante) de leviana a atuação
mento, implementou um coletor de esgoto leviana como o CDRS tratou este caso, per- do Conselho Disciplinar da Região Sul e a
doméstico sem que, na elaboração do res- mitindo que a Participada apresentasse falsas invocar como norma violada o art.º 143.º,
petivo projeto, fosse considerada a locali- declarações e sem que o CDRS tenha pro- n.º 1, do Estatuto da Ordem dos Engenheiros.
zação das fossas séticas existentes, mor- curado escrutinar essas declarações, levando Sob a epígrafe de “deveres do engenheiro
mente na propriedade do Participante, e à sua conclusão de que «não se vislumbram no exercício da profissão” dispõe esse pre-
colocou um coletor no interior da proprie- indícios de violação por parte da Eng.ª Par- ceito que “o engenheiro, na sua atividade
dade sem autorização do proprietário, onde ticipada, de aspetos de natureza deontoló- profissional deve pugnar pelo prestígio da
fizeram estaleiro e provocaram danos, como gica». Pelo contrário, pensamos que no- profissão e impor-se pelo valor da sua co-
destruição de vedação e remoção de parte meadamente a Participada violou o disposto laboração e por uma conduta irrepreensível,
de sebe, destruição do leito de um caminho no n.º 1 do art.º 143.º do Estatuto da OE”. usando sempre de boa-fé, lealdade e isenção,
particular, remoção de lancis e destruição quer atuando individualmente, quer coleti-
de um sistema de rega gota-a-gota, tendo, FUNDAMENTAÇÃO vamente”.
por esse motivo, a Participada violado os Ora, a olhar à própria participação, toda a
deveres profissionais consignados nos nú- A decisão recorrida foi parca na enumeração conduta aí descrita no que respeita à forma
meros 4 e 5 do art.º 141.º e 1 e 7 do art.º dos factos provados com relevância para a como decorreu a projeção e execução dos
143.º do Estatuto da Ordem dos Engenheiros, decisão. trabalhos de drenagem das águas domés-
aprovado pelo Decreto-lei n.º 119/92, de Ainda assim, ao corroborar o entendimento ticas do imóvel do Recorrente visa a própria
30 de junho, alterado e republicado pela Lei do relator (“parecer”), que se louvou nos entidade, que não a Recorrida, a quem não
n.º 123/2015, de 2 de setembro. documentos integrantes da participação e são imputados, muito menos demonstrados,
Ouvida a Participada, esta negou qualquer no organograma da entidade, cuja Diretora- concretos factos cuja violação ponha em
intervenção no projeto correspondente à -delegada e os serviços jurídicos “foram so- causa o prestígio da profissão ou irrepreen-
obra que, de resto, foi elaborado por enti- beranos” no tratamento da situação, cor- sibilidade de conduta, violação de boa-fé,
dade privada e pelo qual responde a Dire- responde, pelo mínimo, às exigências de lealdade ou isenção, ou violação de qual-
tora-delegada da referida enquanto alto fundamentação reclamadas por qualquer quer outro dever profissional.
dirigente e não a respetiva chefe de divisão, decisão para concluir pela falta de factos
mera chefia intermédia, e cuja obra não bastantes suscetíveis de indiciação de vio- DECISÃO
acompanhou, nem lhe foram transmitidas lação de qualquer dever profissional por
irregularidades. parte da Participada. Face ao exposto, decidiu o Conselho Juris-
Por acórdão do Conselho Disciplinar da Re- Ao presente processo, porque iniciado antes dicional negar provimento ao recurso e con-
gião Sul de 23 de novembro de 2016, e por de 31 de dezembro de 2016, não é aplicável firmar a decisão recorrida.

Julho/Agosto/Setembro 2018 INGeNIUM • 93


Legislação

Legislação
ERSE ALARGA PODERES
DE REGULAÇÃO

Decreto-Lei n.º 57-A/2018


AMBIENTE Adoção pela Assembleia da República das inicia- Diário da República n.º 134/2018,
tivas europeias consideradas prioritárias para efeito 1.º Suplemento, Série I de 2018-07-13
Decreto n.º 16/2018 de escrutínio, no âmbito do Programa de Trabalho Altera os Estatutos da Entidade Reguladora dos
Diário da República n.º 107/2018, da Comissão Europeia para 2018. Serviços Energéticos, alargando a regulação aos
Série I de 2018-06-05 setores do gás de petróleo liquefeito em todas as
Aprova a Emenda ao Protocolo de Montreal, rela- COMBATE A PRAGAS E A DOENÇAS suas categorias, dos combustíveis derivados do
tivo às Substâncias que Empobrecem a Camada PECUÁRIAS, ORGANISMOS PREJUDICIAIS petróleo e dos biocombustíveis.
de Ozono, adotada em Quigali, em 15 de outubro AOS VEGETAIS E EXAME DE PLANTAS,
de 2016. TRANSPORTE DE MERCADORIAS PERIGOSAS, HABITAÇÃO
PROTEÇÃO DE TRABALHADORES EXPOSTOS
Decreto-Lei n.º 39/2018 A AGENTES QUÍMICOS, SEGURANÇA Decreto-Lei n.º 37/2018
Diário da República n.º 111/2018, NA PRODUÇÃO DE EXPLOSIVOS Diário da República n.º 106/2018,
Série I de 2018-06-11 E UTILIZAÇÃO DE CÁDMIO Série I de 2018-06-04
Estabelece o regime da prevenção e controlo das Cria o 1.º Direito – Programa de Apoio ao Acesso
emissões de poluentes para o ar, e transpõe a Di- Decreto-Lei n.º 41/2018 à Habitação.
retiva (UE) 2015/2193. Diário da República n.º 111/2018,
Série I de 2018-06-11 Portaria n.º 167/2018
Decreto n.º 19/2018 Transpõe diversas diretivas de adaptação ao pro- Diário da República n.º 112/2018,
Diário da República n.º 124/2018, gresso técnico em matéria de combate a pragas e Série I de 2018-06-12
Série I de 2018-06-29 a doenças pecuárias, organismos prejudiciais aos Regulamenta o Decreto-Lei n.º 29/2018, de 4 de
Aprova a alteração do texto e dos anexos II a IX e vegetais e exame de plantas, transporte de mer- maio, que estabelece o Porta de Entrada – Pro-
o aditamento dos anexos X e XI ao Protocolo à cadorias perigosas, proteção de trabalhadores ex- grama de Apoio ao Alojamento Urgente.
Convenção de 1979 sobre a Poluição Atmosférica postos a agentes químicos, segurança na produção
Transfronteiriça a Longa Distância relativo à Re- de explosivos e utilização de cádmio em LED. Lei n.º 30/2018
dução da Acidificação, da Eutrofização e do Ozono Diário da República n.º 135/2018,
Troposférico, adotados em Genebra, em 4 de maio DIREITO DA CONCORRÊNCIA Série I de 2018-07-16
de 2012. Regime extraordinário e transitório para proteção
Lei n.º 23/2018 de pessoas idosas ou com deficiência que sejam
Resolução do Conselho de Ministros n.º 91/2018 Diário da República n.º 107/2018, arrendatárias e residam no mesmo locado há mais
Diário da República n.º 135/2018, Série I de 2018-06-05 de 15 anos.
Série I de 2018-07-16 Direito a indemnização por infração ao direito da
Aprova o Plano de Ação Tejo Limpo. concorrência, transpõe a Diretiva 2014/104/UE, do SEGURANÇA SOCIAL
Parlamento Europeu e do Conselho, de 26 de no-
ARQUITETURA. ALGUNS ENGENHEIROS vembro de 2014, relativa a certas regras que regem Decreto-Lei n.º 53/2018
VOLTAM A PODER EXERCER ARQUITETURA as ações de indemnização no âmbito do direito Diário da República n.º 125/2018,
nacional por infração às disposições do direito da Série I de 2018-07-02
Lei n.º 25/2018 concorrência dos Estados-Membros e da União Altera os regimes jurídicos de proteção social nas
Diário da República n.º 113/2018, Europeia, e procede à primeira alteração à Lei n.º eventualidades de doença, desemprego e paren-
Série I de 2018-06-14 19/2012, de 8 de maio, que aprova o novo regime talidade.
Procede à segunda alteração da Lei n.º 31/2009, jurídico da concorrência, e à quarta alteração à Lei
de 3 de julho, que aprova o regime jurídico que n.º 62/2013, de 26 de agosto, Lei de Organização Decreto Regulamentar n.º 6/2018
estabelece a qualificação profissional exigível aos do Sistema Judiciário. Diário da República n.º 125/2018,
técnicos responsáveis pela elaboração e subscrição Série I de 2018-07-02
de projetos, pela fiscalização de obra e pela direção EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO Altera a regulamentação do Código dos Regimes
de obra, que não esteja sujeita a legislação espe- Contributivos do Sistema Previdencial de Segu-
cial, e os deveres que lhes são aplicáveis, e à pri- Resolução do Conselho de Ministros n.º 94/2018 rança Social.
meira alteração à Lei n.º 41/2015, de 3 de junho, Diário da República n.º 135/2018,
que estabelece o regime jurídico aplicável ao exer- Série I de 2018-07-16 URBANIZAÇÃO E EDIFICAÇÃO
cício da atividade da construção. Aprova o documento de orientação da Estratégia
Nacional de Educação para o Desenvolvimento Portaria n.º 193/2018
ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA 2018-2022. Diário da República n.º 127/2018,
ADOTA PROGRAMA DE TRABALHO Série I de 2018-07-04
DA COMISSÃO EUROPEIA EMBARCAÇÕES E MARÍTIMOS Regula a integração do sistema informático que
suporta os procedimentos do regime jurídico da
Resolução da Assembleia da República Decreto-Lei n.º 43/2018 urbanização e da edificação com o Balcão do Em-
n.º 139/2018 Diário da República n.º 115/2018, preendedor.
Diário da República n.º 118/2018, Série I de 2018-06-18
Série I de 2018-06-21 Cria o Sistema Nacional de Embarcações e Marí- DIPLOMAS REGIONAIS – MADEIRA
timos.
Resolução da Assembleia Legislativa da Região
ENCARGOS CRIADOS PELA LEGISLAÇÃO Autónoma da Madeira n.º 17/2018/M
Diário da República n.º 112/2018,
Informações detalhadas sobre estes
Resolução do Conselho de Ministros n.º 74/2018 Série I de 2018-06-12
e outros diplomas legais podem
Diário da República n.º 110/2018, Apresenta à Assembleia da República a Proposta de
ser consultadas em
Série I de 2018-06-08 Lei que procede à primeira alteração da Lei n.º 40/96,
www.ordemengenheiros.pt/pt/
/centro-de-informacao/legislacao Estabelece como definitivo o modelo de avaliação de 31 de agosto, que regula a audição dos órgãos
prévia de impacto legislativo «Custa Quanto?». de governo próprio das Regiões Autónomas.

94 • INGeNIUM Julho/Agosto/Setembro 2018


Crónica

Crónica Jorge Buescu


Professor na Faculdade de Ciências
da Universidade de Lisboa
jsbuescu@fc.ul.pt

QUATRO CORES
NÃO CHEGAM!
A
ubrey D. N. J. de Grey é uma perso-
nagem extremamente original. De-
dica-se profissionalmente à geron-
tologia biomédica, tendo vasta obra publicada
e sendo editor da principal publicação cien-
tífica da área. O seu trabalho de investigação
concentra-se na questão de a medicina
regenerativa poder atrasar de forma eficaz
o processo de envelhecimento. Trabalha no
desenvolvimento daquilo a que chama SENS
(“Strategies for Engineered Negligible Senes-
cence”), conjunto de métodos para rejuve-
nescer o corpo humano a nível celular. De
Grey afirma que a maior parte da ciência
fundamental necessária para desenvolver Figura 1 Aubrey de Grey

uma medicina anti-envelhecimento já existe


e que a ciência está muito à frente do finan- O autor destas linhas não sabe responder a científica de surpresa. A moral da história é
ciamento. É co-fundador da Fundação SENS, esta pergunta. Contudo, Aubrey de Grey que, mesmo numa área tão esotérica como
onde é Director do Serviço de Ciência. tornou-se recentemente uma sensação na a Matemática, ainda hoje há espaço para
Com as suas opiniões fortes e a sua barba comunidade científica, não devido à sua contribuições significativas de amadores
comprida, ela própria digna de um matu- actividade profissional mas sim a um hobby: inteligentes e dedicados.
salém, de Grey assegura-nos que o processo a Matemática. Esta história parece boa demais para ser ver-
de envelhecimento pode ser parado e os A história de Aubrey de Grey parece irreal. dade, assemelhando-se a uma daquelas
seres humanos, talvez na nossa própria ge- Um amador curioso, isolado, começa a re- lendas urbanas que se propagam acritica-
ração, poderão viver até aos mil anos. mexer num problema em aberto, no qual mente nas redes sociais. Faz, portanto, todo
Tudo isto fornece uma imagem algo excên- os matemáticos profissionais ficaram blo- o sentido a pergunta: foi isto o que acon-
trica, o que nos pode levar a pôr em questão queados durante mais de 60 anos. Traba- teceu de facto?
a credibilidade científica de Aubrey de Grey. lhando nele nos seus tempos livres, descobre Foi exactamente isto.
Até que ponto as suas ideias devem ser le- em poucas semanas um resultado muito Comecemos pelo princípio. Aubrey de Grey
vadas a sério? significativo, apanhando toda a comunidade é um entusiasta de jogos de tabuleiro, em

Julho/Agosto/Setembro 2018 INGeNIUM • 95


Crónica

particular do Othello. Foi por esta influência guesa na área da Matemática, editada pela construção de um grafo com dez vértices.
que se começou a interessar pela área da Sociedade Portuguesa de Matemática). Em O leitor pode divertir-se a verificar que a co-
Matemática Discreta, conhecida como Teoria 1960, um artigo do excepcional divulgador loração do grafo de Golomb exige quatro
de Grafos. Um grafo é um objecto mate- Martin Gardner na Scientific American trouxe cores. A consequência é a mesma: o número
mático muito simples: um conjunto de o problema de Hadwiger-Nelson à luz do cromático do plano é pelo menos 4.
pontos (vértices) unidos por arestas. A Teoria grande público. Quanto a uma resposta, ela
de Grafos é o estudo sistemático de pro- é desconhecida: o problema do número
priedades destes objectos. cromático do plano permanece em aberto
Desengane-se o leitor se pensa que, tra- até hoje.
tando de objectos aparentemente tão ele- Em 1961, os irmãos William e Leo Moser
mentares, a Teoria de Grafos é simples. Pelo provaram que o número cromático do plano
contrário, a situação é semelhante à da (CNP) é maior ou igual do que 4. Fizeram-
Teoria de Números: sendo os objectos e a -no encontrando uma construção geomé-
estrutura muito simples, podemos formular trica de um grafo que, nas condições do
perguntas elementares mas cuja resposta problema, exige quatro cores para ser co-
pode demorar séculos a ser dada, sendo lorido. Esse grafo é conhecido como fuso
diabolicamente complexa (caso do Teorema de Moser (devido à aparência pontiaguda do
de Fermat) ou simplesmente desconhecida triângulo interno) e apresenta-se com os Figura 3 O grafo de Golomb

(caso da Conjectura de Goldbach: será ver- vértices por colorir (Figura 2).
dade que um inteiro par maior do que 2 é Em sentido inverso, será que conseguimos
soma de dois primos?). encontrar um limite superior para o número
A situação na Teoria de Grafos é semelhante: cromático do plano? A resposta é sim: pode
é possível formular problemas, num certo fazer-se uma pavimentação regular do plano
sentido, naturais e de expressão elementar. com azulejos hexagonais, usando no má-
A complexidade, profundidade, ou sequer ximo sete cores, por forma a satisfazer a
existência de respostas é, contudo, toda condição do problema de Hadwiger-Nelson.
uma outra questão. Essa construção, aparentemente devida ao
O problema a que Aubrey de Grey se dedicou, matemático John Isbell, representa-se na
para “descontrair do trabalho a sério”, nas Figura 4.
suas palavras, nas férias de Natal de 2017, é
conhecido como problema de Hadwiger- Figura 2 O fuso de Moser
-Nelson e formula-se de modo desconcer-
tantemente simples. Pense num plano. Qual No fuso de Moser todas as arestas têm o
é o número mínimo de cores necessárias para mesmo comprimento (que se toma como
pintar o plano por forma a que, escolhendo 1); os vértices unidos por arestas têm pois
um conjunto qualquer de pontos do plano, de ter cor diferente. Vamos mostrar que este
nenhum par de pontos que distem uma uni- grafo exige quatro cores para ser colorido.
dade esteja colorido da mesma cor? Suponhamos que o tentamos começar a
Este problema, conhecido como o Número colorir partindo do vértice superior, pintando-
Cromático do Plano, parece desesperada- -o com a cor 1. Como este está ligado a dois
mente vago nesta formulação geométrica, vértices no losango do lado esquerdo, e
pois podemos escolher os pontos de forma estes entre si, estes têm de ser pintados com
arbitrária. No entanto, como só estamos in- cores 2 e 3. Voltamos então à cor 1 para
teressados em impor a condição sobre as pintar o vértice inferior do lado esquerdo, Figura 4 P
 avimentação de Hadwiger-Nelson
cores a pares de pontos que distem uma usando apenas três cores. O problema é que com sete cores

unidade, podemos simplesmente tomar o este procedimento força exactamente a


nosso conjunto de pontos unindo com uma mesmo distribuição de cores no losango do Tomando o diâmetro de cada hexágono
aresta aqueles que a verifiquem. Traduzimos lado direito, pelo que os dois vértices infe- como sendo ligeiramente inferior a 1 veri-
assim o problema geométrico num problema riores ficam pintados ambos com a cor 1. ficamos que dois pontos da mesma cor não
sobre grafos. Mas eles estão ligados entre si, pelo que não podem distar exactamente uma unidade:
O problema de Hadwiger-Nelson foi for- podem ter a mesma cor. Esta contradição se estiverem no mesmo hexágono estão
mulado pela primeira vez pelo matemático mostra que o fuso de Moser exige quatro demasiado próximos e se estiverem em he-
Edward Nelson, em 1950, então na flor dos cores para ser colorido. Basta agora embebê- xágonos diferentes da mesma cor estão
seus 18 anos. É uma generalização de um -lo no plano para concluir que o número demasiado longe. Conclusão: sete cores
resultado anterior de Hugo Hadwiger (curio- cromático do plano é maior ou igual a 4. são suficientes para resolver o problema de
samente publicado em 1945 na Portugaliae Sensivelmente na mesma altura, o matemá- Hadwiger-Nelson.
Mathematica, única revista científica portu- tico Solomon Golomb elaborou uma outra Portanto, o número cromático é maior ou

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Crónica

lançou a Terence Tao, medalha Fields e um


dos mais universalistas matemáticos do
Mundo, o desafio de criar um projecto Poly-
math em torno deste problema. Tao aceitou,
propôs o projecto a Timothy Gowers (ad-
ministrador do Polymath e também ele me-
dalha Fields) e o projecto tornou-se activo
a 10 de Abril de 2018. Pouco depois, Dustin
Mixos, da Ohio State University, e o seu co-
laborador Boris Alexeev, construíram um
grafo com 1.577 vértices. Pouco depois,
Martin Heule, um virtuoso cientista da com-
putação, da Universidade do Texas, foi ba-
tendo sucessivamente os seus próprios re-
cordes: construiu um exemplo com 874
vértices em 14 de Abril, baixando depois
sucessivamente o resultado para 826, 803,
633 e 610 vértices. O recorde do Mundo
está neste momento nas suas mãos: trata-
-se de um grafo com 533 vértices e 2.722
arestas, criado em 18 de Maio de 2018 (Fi-
gura 5).
Como se vê desta enxurrada de avanços
sucessivos, Aubrey de Grey teve um papel
extraordinário: um amador isolado, para
Figura 5 Grafo de Heule: 533 vértices, 2.722 arestas
“descontrair do trabalho a sério”, não só
realizou o primeiro avanço em mais de meio
igual do que 4 e menor ou igual do que 7. cores foi um avanço notável neste problema; século num problema matemático extre-
E assim ficou a situação durante mais de 60 mas a Matemática não pára e os matemá- mamente delicado, como reacendeu o in-
anos: não se registou rigorosamente ne- ticos estão sempre em busca de formas de teresse da comunidade científica no próprio
nhum progresso. melhorar e refinar os seus resultados. Será problema, catalisando uma sucessão de
Até surgir Aubrey de Grey. A 8 de Abril de possível construir grafos mais pequenos descobertas que não se sabe onde podem
2017 ele coloca no repositório de artigos com número cromático 5? Qual será o nú- acabar – talvez mesmo na resolução final
científicos de livre acesso arXiv (nos dias de mero mínimo de vértices de um tal grafo? do problema.
hoje a referência mundial para artigos de É bem possível que a descoberta de um Tudo isto apanhou a comunidade matemá-
Matemática e Física, quer antes, quer depois grafo com o número mínimo de vértices tica completamente de surpresa. Como diz
de publicação) um artigo cujo título diz tudo: seja relevante para investigação futura: foi Timothy Gowers, “é muito pouco frequente
“The chromatic number of the plane is at o que aconteceu com o fuso de Moser, que um matemático amador resolver um pro-
least 5”. serviu de bloco de construção do grafo de blema matemático famoso; ainda menos
O leitor mais curioso é cordialmente con- de Grey. Talvez, além do resultado em si, frequente é esse amador ser conhecido do
vidado a fazer o download; este artigo de esteja lançada a base para a resolução do grande público por razões completamente
11 páginas é de leitura cristalina. O objectivo problema de Hadwiger-Nelson. diferentes”.
é simplesmente construir um grafo que exija O Polymath (https://polymathprojects.org) A reacção de Aubrey de Grey a tudo isto é
cinco cores para coloração. De Grey baseia é um projecto de investigação matemática de uma simplicidade comovente. “Tive muita
a sua construção em delicadas concatena- colaborativa na Internet, já discutido nestas sorte. Não é todos os dias que alguém con-
ções tomando como bloco de construção páginas, em que um problema é formulado segue contribuir para resolver um problema
básico o fuso de Moser, construindo um e todos os matemáticos são cordialmente matemático em aberto há 60 anos. Eu tenho
grafo monstruoso com 20.425 vértices que convidados a contribuir construtivamente agora 55, pelo que é improvável que volte
não pode ser colorido com quatro cores. A em estilo blog. Muitas vezes, os projectos a acontecer”.
partir deste consegue construir um exemplo Polymath florescem em direcções que nin- Mas nunca se sabe: se de Grey tiver também
muito menor, com 1.581 vértices. Finalmente, guém poderia individualmente prever e des- razão sobre a possibilidade de os seres hu-
com assistência de um computador, verifica cobrem resultados genuinamente novos, manos viverem até aos mil anos, ainda terá
que o grafo assim construído não pode de acabando como publicações científicas. muito tempo para repetir a proeza.
facto ser colorido com quatro cores. Con- “Polymath” é, em 2018, já autor de quatro
clusão: o número cromático do plano é, artigos científicos.
pelo menos, 5. De Grey, que já tinha contribuído ele pró- Nota: o autor escreve segundo a ortografia
A descoberta de um grafo que exige cinco prio para anteriores projectos Polymath, anterior ao Acordo de 1990.

Julho/Agosto/Setembro 2018 INGeNIUM • 97


EM MEMÓRIA

Em Memória
Os resumos biográficos dos Membros da Ordem dos Engenheiros falecidos são publicados na secção “Em Memória”, de acordo com o
espaço disponível em cada uma das edições da “INGENIUM” e respeitando a sua ordem de receção junto dos Serviços Institucionais da
Ordem. Agradecemos, assim, a compreensão das famílias e dos leitores pela eventual dilação na sua publicação.
Igualmente, solicita-se, e agradece-se, que futuras comunicações a este respeito sejam dirigidas à Ordem dos Engenheiros através do
e-mail rolanda.correia@oep.pt e/ou ingenium@oep.pt

António Raúl Eira Leitão 1941-2017


Engenheiro Civil inscrito na Ordem em 1970. (1985/86), para a reforma do Quadro Legal e Institucional da Gestão da
Licenciou-se em Engenharia Civil, em 1965, no IST, e fez cursos de es- Água (2000/2002) e para a organização e operacionalização da Gestão
pecialização pelo LNEC em Betão Armado e Pré-Esforçado, Geologia dos Recursos Hídricos (2014/2015). Na APRH (1979/99), presidiu à Co-
da Engenharia e Gestão de Recursos Humanos (1970/77). Fez ainda o missão Diretiva (1979/82), ao Conselho Geral (1982/88) e à Comissão
Curso Integrado de Gestão de Empresas pelo IPE (1981). Iniciou atividade Especializada de Hidroenergia (1994/99). Dirigiu vários trabalhos, de que
como engenheiro consultor, sobretudo nos domínios da avaliação e se destacam o projeto das infraestruturas e edificações sociais do Centro
utilização de recursos hídricos, obras hidráulicas fluviais, controlo da Urbano de Cahora-Bassa (1969/71), o Plano Geral de Política da Água
poluição e saneamento básico (1966/93). Foi gestor da Hidrotécnica – Bacia Hidrográfica do Rio Douro (1977/85), o Inventário de Energia
Portuguesa (1971/75 e 1982/88) e fundador e gestor de empresas de Hídrica em Portugal (1980/81) e o Estudo de Mais-valia Agrícola do Em-
produção de energias renováveis, Hidroerg-Projetos Energéticos, Lda. preendimento Hidráulico de Fins Múltiplos de Alqueva (1986/88). Foi
(desde 1989), e suas associadas – Lusiterg, Atberg, Edberg e Ruiverg. Foi autor de mais de uma centena de comunicações sobre matérias no
Subsecretário de Estado das Obras Públicas no IV Governo Provisório âmbito do planeamento, gestão e utilização integrada de recursos hí-
(1975). No Conselho Nacional da Água (1995/2013) foi o seu primeiro dricos e da produção de eletricidade a partir de fontes renováveis. No
Secretário-geral e foi também o relator coordenador nos pareceres plano associativo ocupou diversos cargos dirigentes em inúmeras as-
sobre o Plano Nacional da Água e sobre a Lei da Água. Coordenou di- sociações. Foi agraciado com o grau de Comendador da Ordem Na-
versos grupos de trabalho para a reformulação da orgânica do Ambiente cional do Infante D. Henrique (2006) e recebeu o Prémio Carreira da
(1979), da orgânica de Gestão dos Recursos Hídricos em Portugal Fundação AIP (2014).

Cândida José Carraça Cigarra 1973-2018


Engenheira Eletrotécnica inscrita na Ordem em 1998.
Licenciou-se em Engenharia Eletrotécnica, em 1996, no Instituto Supe- suporte e acompanhamento de clientes preferenciais, pela formação
rior Técnico. Iniciou a sua atividade profissional como responsável pelo de novos CSM em Portugal e contribuiu ativamente para o desenvolvi-
atendimento de clientes e monitorização da rede de dados e internet mento de processos entre a área comercial e a área de Costumer Ser-
na Global One (1996/98), tendo também desempenhado as funções de vice Excellence (1999/2004), na Equant/Global One, tendo ainda de-
Internet Enginner (1998). Foi responsável pela área de Internet, pelo sempenhado as funções de Customer Service Manager (2004-2016).

Carlos Gonçalo dos Reis Ângelo 1935-2017


Engenheiro Civil inscrito na Ordem em 1990.
Licenciou-se em Engenharia Civil, em 1988, no IST. Logo pós a con- da Foz, Leixões, Faro, Funchal, Ponta Delgada, Carregado, Douro, Alhandra,
clusão, no Instituto Industrial de Lisboa (atual ISEL), do bacharelato em Maceira, Seixal (Siderurgia Nacional), Sines, Loulé, etc. De salientar ainda
Engenharia Civil e Minas (1961), iniciou a sua atividade profissional, es- as diversas estruturas, também de sua autoria, no estrangeiro, como por
tagiando nas Minas da Panasqueira. Exerceu a atividade de engenheiro exemplo nos EUA (General Dynamics), barragem da Matala (Angola),
projetista na MAGUE S.A.R.L. (1961/91), tendo efetuado numerosos an- barragem de Cahora Bassa (Moçambique), Bordéus, Bahrain, Brasil e
teprojetos e projetos, e desempenhou funções de coordenação de Canal de Suez. Em 1992 colaborou na SOTAG – Sociedade Técnica de
montagens e assistência técnica às obras fornecidas. Destas, destacam- Água, Lda., realizando projetos de infraestruturas de hidráulica e sanea-
se centenas de projetos de estruturas de guindastes portuários e de mento urbano. Um dos seus últimos trabalhos foi o projeto do monu-
estaleiro, pontes e pórticos rolantes, correias transportadoras, existentes mento “Asa dos Bons Ventos”, em colaboração com o Eng.º Painho,
em diversos pontos do País, nomeadamente no porto de Lisboa, Almada segundo a escultura do artista Augusto Cid, existente na sua cidade
(Lisnave), Setúbal, Mitrena (Setenave), Viana do Castelo, Aveiro, Figueira Natal, em Macau.

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