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A RT I G O ORIGINAL

Estudo sobre adesão: fatores intervenientes na dieta hipocalórica de


coronariopatas internados em um hospital público de São Paulo
Adherence study: intervenient factors in hipocaloric diet of hospitalized coronary heart disease patients in a
public hospital in São Paulo
Estudio sobre adhesión: factores interferentes en la dieta hipocalórica de pacientes con patologías coronarias
internados en un hospital público en São Paulo

Bianca Masuchelli Chimenti¹, M L M Bruno², M Nakasato³, M Isosaki4

Resumo Abstract
As pesquisas demonstram que os pacientes com doenças crônicas The studies demonstrate that the patients with chronic diseases
apresentam baixa adesão à dieta. A perda de peso pode contri- have low adherence to diet. The loss weight can contribute for a
buir para um melhor prognóstico. Este estudo teve como objeti- better prognostic. The objective of this study is to identify the
vo identificar os fatores que interferem na adesão ao tratamento factors that interfere in the diet compliance and characterize the
dietético e caracterizar o grupo estudado. Realizou-se entrevista studied group. It was applied a single interview and nutritional
única e avaliação do estado nutricional com 22 pacientes status evaluation of 22 coronary heart diseases patients. The
coronariopatas. O estado nutricional prevalente foi obesidade. prevalent nutritional status was obesity. Approximately 95,7%
Aproximadamente 95,7% dos entrevistados afirmaram que a of the interviewed patients affirmed that diet can prevent
dieta pode prevenir complicações decorrentes da obesidade e complications in consequence of obesity and 78,3% had followed
78,3% já haviam realizado dieta hipocalórica. Dentre os fatores a hipocaloric diet. In the positive factors for diet realization, 47%
favoráveis para a realização da dieta, 47% mencionaram a im- mentioned the conscientious importance about the health problem.
portância da conscientização do problema de saúde. Por outro Besides, 46% considered the change in the food habits as the
lado, 46,1% consideraram a mudança do hábito alimentar como highest difficulty found. Although the results allowed analyzing
a maior dificuldade encontrada. Embora os resultados tenham the factors that interfere in the hipocaloric diet adherence, other
permitido uma análise dos fatores intervenientes na adesão à dieta questions remain to be elucidated concerning the real reasons
hipocalórica, ainda restam questões a serem esclarecidas sobre os about the difficulty of changing food behavior. (Rev Bras Nutr
motivos reais da dificuldade de mudar o comportamento alimen- Clin 2006; 21(3):204-10)
tar. (Rev Bras Nutr Clin 2006; 21(3):204-10) KEYWORDS: adherence, diet, coronary disease.
UNITERMOS: adesão, dieta, coronariopatia.

Resumen
Los estudios demuestran que los pacientes con enfermedades crónicas presentan baja adhesión a la dieta. La perdida de peso puede
contribuir para una mejor prognosis. Este estudio tuvo como objetivo identificar los factores que interfieren en la adhesión al tratamiento
dietético y caracterizar al grupo estudiado. Se realizó entrevista única y análisis del estado nutricional con 22 pacientes con patologías
coronarias. El estado nutricional prevalente fue la obesidad. Aproximadamente 95,7% de los entrevistados afirmaron que la dieta
puede prevenir complicaciones relativas a la obesidad y 78,3% ya habían realizado dieta hipocalórica. Entre los factores favorables
para la realización de la dieta, 47% mencionaron la importancia de concienciación del problema de salud. Por otro lado, 46,1%
consideran el cambio de hábito alimentar como la mayor dificultad encontrada. A pesar de los resultados hayan permitido un análisis
de los factores intervinientes en la adhesión a la dieta hipocalórica, todavía restan dudas a ser aclaradas sobre los motivos reales de
la dificultad de cambiar el comportamiento alimentar. (Rev Bras Nutr Clin 2006; 21(3):204-10)
UNITÉRMINOS: adhesión, dieta, patología coronária.

1.Nutricionista do Serviço de Nutrição e Dietética do Instituto do Coração HC FMUSP. 2.Nutricionista do Serviço de Nutrição e Dietética do Instituto do Coração HC FMUSP.
3.Nutricionista chefe do Serviço de Nutrição e Dietética do Instituto do Coração HC FMUSP. 4.Diretora do Serviço de Nutrição e Dietética do Instituto do Coração HC FMUSP.
Serviço de Nutrição e Dietética - Instituto do Coração – InCor
Hospital das Clínicas – Faculdade de Medicina – Universidade de São Paulo – HC FMUSP - R. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 44, Cerqueira César. CEP: 05403-000
Endereço para correspondência: Bianca Masuchelli Chimenti - R. Alves Guimarães, 518 apto 33, Cerqueira César, São Paulo – S.P. - CEP 05410-000
E-mail: bianca.chimenti@incor.usp.br / biancanut21@yahoo.com.br
Submissão: 4 de junho de 2006
Aceito para publicação: 4 de setembro de 2006

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Introdução não adesão aos regimes dietéticos pelos pacientes de alto


risco, e algumas explicações são sugeridas: dificuldade de
A adesão pode ser definida como extensão do compor- alterar preferências por carne e produtos ricos em gordura;
tamento individual (administração de medicamentos, segui- recomendações dietéticas geralmente requerem mudanças
mento de orientações dietéticas, mudanças de estilo de drásticas no planejamento alimentar; hábitos alimentares e
vida), correspondendo e concordando com as recomenda- métodos de cocção inadequados. Estes fatores citados po-
ções de um profissional da saúde 1. dem ser interpretados como intervenções restritivas e asso-
As relações terapêuticas efetivas são caracterizadas por ciados à baixa qualidade de vida. Além disso, o senso de
uma atmosfera em que alternativas são exploradas, acordos auto-eficácia, como por exemplo, sentimento de incapaci-
são estabelecidos, o tratamento é negociado e discutido e o dade para mudar a dieta habitual, ou um forte senso de
seguimento é planejado 1. invulnerabilidade ou fatalismo, podem atenuar a adesão 8,10.
Não existe ainda uma medida padrão para se estabele- Em geral, estratégias para aumentar a adesão às mudan-
cer a adesão. Entretanto, utiliza-se o questionamento dire- ças dietéticas incluem educação, motivação, características
to ao paciente e avaliação subjetiva do comportamento comportamentais e interações interpessoais 4.
individual 1,2. As estratégias visam a motivação individual para que
Estima-se que as taxas de não adesão aos diversos trata- ocorra mudança dos hábitos alimentares, envolvendo supe-
mentos terapêuticos sejam elevadas, o que indica que os ração das expectativas e um auto conhecimento sobre as
pacientes encontram diversas dificuldades para seguir as habilidades em realizar modificações no estilo de vida 4.
orientações e prescrições 3.
A conseqüência da baixa adesão às terapias de longo Objetivos
prazo é o agravamento do problema orgânico e a elevação
dos custos do sistema de saúde. Estes fatos são observados em Este estudo teve como objetivo identificar a experiên-
todas as situações onde a auto-administração ou auto- cia com dieta e os fatores que interferiram na adesão a di-
controle do tratamento é necessário 1. eta hipocalórica realizada pelos pacientes coronariopatas
No caso de doenças crônicas, a baixa adesão pode pre- com excesso de peso.
judicar a evolução clínica e levar a complicações de saúde. Além disso, caracterizar a população do estudo quanto
Em países desenvolvidos, as taxas de adesão aos tratamen- ao: estado nutricional atual, exames bioquímicos e consu-
tos terapêuticos correspondem a 50% do total, acarretando mo alimentar.
no aumento de tais doenças 1,3.
No caso da terapia nutricional, a adesão à dieta englo- Metodologia
ba mudanças no comportamento alimentar, e estas podem
variar de acordo com o objetivo do tratamento, como por O estudo contou com a participação de 22 indivíduos
exemplo, a perda ou ganho de peso, redução do sal, redução de ambos os sexos, acima dos 20 anos e de qualquer nível de
da gordura 4. escolaridade. Foram selecionados todos os pacientes com
Um estudo realizado na Inglaterra mostrou que a mai- excesso de peso e com diagnóstico principal de insuficiên-
or causa de morte neste país são as doenças cardiovasculares, cia coronária, internados para tratamento cirúrgico ou não,
e estas apresentam uma forte relação com os hábitos alimen- na Unidade de Internação Geral de um hospital público em
tares. Este fato já foi evidenciado por estudos anteriores, e São Paulo – S.P.
comprovou-se a grande influência do fator dietético na A pesquisa constou de entrevista única com os partici-
prevenção de doenças crônicas 5. pantes, no prazo máximo de 48 horas após a internação. Para
A terapia nutricional é reconhecida pela American a entrevista foi utilizado impresso pré-elaborado.
Heart Association (AHA) e o National Cholesterol Os pacientes foram esclarecidos sobre os objetivos do
Education Program (NCEP) como método de prevenção e estudo, e foram solicitados a assinar um termo de consenti-
tratamento da doença cardiovascular 6,7. mento.
Algumas evidências sugerem a melhoria do estilo de A obtenção de informações como dados pessoais
vida, incluindo o abandono do tabagismo, dieta, exercício (nome, idade, RG, estado civil, nível de escolaridade), di-
físico, suporte social, como estratégia de reduzir os riscos de agnóstico principal, presença de diabetes melito (DM), de
doenças do coração 7. Conseqüentemente, a modificação do hipertensão arterial sistêmica (HAS) e de dislipidemias
comportamento em benefício à redução da incidência da (DLP), foi feita nos prontuários dos pacientes no momen-
morbidade e mortalidade, obtém grande prioridade nos tra- to anterior à entrevista. Foi verificado também o tempo de
balhos de intervenção de saúde pública. Contudo, é obser- diagnóstico das patologias. Quando as informações não
vada com freqüência a dificuldade dos indivíduos em mo- constavam no prontuário, estas eram questionadas aos pa-
dificar os hábitos inadequados 8. cientes e registradas como referidas por estes.
Apesar das evidências comprovarem a redução do Na entrevista foi realizada anamnese alimentar, cujo
colesterol plasmático em decorrência a prática de dieta com modelo empregado teve como base o que é usado pelo SND-
baixa concentração de gordura, sabe-se que a adesão às res- InCor adaptado de Burke 11. Nesta etapa, os pacientes foram
trições dietéticas é baixa 8,9. questionados quanto aos hábitos alimentares anteriores à
Levanta-se a questão em um estudo sobre as causas da internação. Estes deveriam relatar um dia alimentar habi-
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tual, incluindo o fracionamento da dieta e a descrição de- de fibras e colesterol.


talhada das características e quantidades de cada alimento. Após a coleta dos dados e análise das dietas, estes foram
Em seguida, foram elucidadas questões sobre experiên- tabulados e submetidos à avaliação estatística, com o auxí-
cias anteriores com dietas orientadas ou não por profissio- lio do programa Excel e Intercooled STATA – Versão 6.0
nais da saúde, elaboradas para melhor compreensão do com- (STATA Corporation EUA), e para melhor análise das
portamento alimentar do paciente. Este questionário foi particularidades, o grupo foi divido de acordo com o sexo.
aplicado somente para os pacientes que relataram a realiza- A análise descritiva das variáveis foi realizada através
ção de dieta pelo menos 1 vez na vida. de proporções e medidas de tendência central e dispersão.
Os dados bioquímicos atuais foram obtidos nos prontu- Posteriormente, na análise inferencial, utilizou-se o teste
ário. Utilizou-se também, o sistema de informática hospita- estatístico qui quadrado a fim de verificar possíveis associ-
lar, que compreende programas de rede interna de consul- ações.
ta multi-profissional aos prontuários eletrônicos e situações
dos pacientes e leitos. Resultados
Os dados antropométricos foram obtidos com o uso de
instrumentos próprios pela entrevistadora, utilizando-se o Os resultados estão sumarizados nas tabelas e gráficos a
método de pesagem corporal, medição da altura e circunfe- seguir.
rência da cintura.
A análise nutricional dos inquéritos alimentares foi Discussão
realizada pelo programa Virtual Nutri® Versão 1.0 for
Windows, 1996. Este programa forneceu informações como A amostra do estudo compreendeu 22 indivíduos, sen-
cálculo do valor calórico das dietas, quantidade e porcen- do que 36,4% eram do sexo feminino e 63,6% do sexo
tagem de macronutrientes (carboidrato, lipídeo, proteína), masculino. Predominou a baixa escolaridade (1º grau in-

Tabela 1 - Caracterização dos indivíduos estudados

Características dos pacientes Grupo feminino (n=8) Grupo masculino (n=14) Total (n=22)
Idade (anos) 63,4±6,3 57,4±8,1 58,8±7,6
Escolaridade %
1ºgrau incompleto 27,3 13,7 40,9
1ºgrau completo 4,5 4,5 9,0
2ºgrau incompleto 4,5 4,5
2ºgrau completo 27,4 27,4
3ºgrau incompleto
3ºgrau completo 18,2 18,2
Estado Civil %
Casado 27,4 50,1 77,5
Solteiro 4,5 4,5
Divorciado 4,5 4,5 9,0
Viúvo 4,5 9,0
Peso (Kg) 78±12,4 87,5±9,9 86,2±11,4
IMC (Kg/m²) 31,2±4,1 30±2,95 30,8±3,1
Estado Nutricional %
Eutrofia - - -
Sobrepeso 37,5 42,9 40,2
Obesidade 62,5 57,1 59,8
Circunferência da Cintura %
Adequada 12,5 14,3 13,4
Inadequada 87,5 85,7 86,6
Co-Morbidades %
DM 62,5 42,9 52,7
HAS 87,5 64,3 75,9
DLP 87,5 42,9 65,2
DLP – Col 87,5 42,9 65,2
DLP - Hipertrig 37,5 21,4 29,5

Tabela 2 - Dados Bioquímicos dos indivíduos estudados

Média/DP Glicemia(mg/dl) Colesterol Total(mg/dl) LDL-c (mg/dl) HDL-c(mg/dl) Triglicérides (mg/dl)


Feminino 161,4±66,5 197,6±36,1 123,4±33,8 41,8±14,6 161,2±29,5
Masculino 112,8±21,8 170±26,6 101,8±32,7 39,3±19,1 150,4±72,7
Valores preconizados < 110 < 200 <100 >40 <150
National Cholesterol Education Program 2001
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Tabela 3 - Cálculo nutricional do inquérito alimentar

Média/DP Feminino Masculino Recomendação


Adequação % 95,4±48,4 111,8±41 90 - 110
Proteína % 15,8±4,4 22±7,3 ~15
CHO % 44,4±11,2 43,9±12,2 50 - 60
Lipídeo % 39,8±11,3 34,8±9,4 25 - 35
Fibras (g) 13,1±6,6 17,8±8,7 20 - 30
Col (mg) 143,2±74,1 386,6±190,69 < 200
National Cholesterol Education Program 2001

Tabela 4 - Características do questionário aplicado

Grupo Grupo Gráfico 1 - Adequação da dieta por faixa etária


Características feminino masculino Total
% % %
Obter saúde e emagrecer 100 93,3 95,6
Fez dieta 100 66,7 78,3
Orientação médica 50 40 44,4
Orientação nutricionista 37,5 10 22,2
Conta própria 12,5 50 33,3
Estímulo familiar 75 70 72,2
Tomou medicamento 25 10 16,7

Tabela 5 - Características das dietas hipocalóricas já realizadas

Características Mulheres Homens


(%) (%)
Redução da quantidade dos alimentos 75 - Gráfico 2 - Adequação da dieta por classificação do estado nutricional
Redução da quantidade de alimentos ricos - 60 pelo IMC
em gordura, carnes gordas, sal e doces

obesidade, e em seguida, sobrepeso. Por outro lado, avalian-


Tabela 6 - Fatores estimuladores para a realização da dieta do-se o predomínio dos diferentes níveis de classe
nutricional, é possível observar que o grupo feminino apre-
Fatores Total %
Conscientização 47 senta, proporcionalmente, índices maiores de obesidade.
Estímulo Médico 23,5 Além disso, uma parcela considerável dos pacientes apre-
Desconforto com a obesidade 11,8 sentou a medida da circunferência da cintura alterada. Este
Estímulo familiar 5,9 dado equivale a números semelhantes para o sexo femini-
Orientação nutricional – empresa 5,9 no e masculino.
Mudança não radical dos hábitos alimentares 5,9 Cerca de 52,7% dos indivíduos apresentava diabetes
Total 100
melito (DM), 75,9% hipertensão arterial sistêmica (HAS),
65,2% dislipidemia (DLP).
Tabela 7 - Fatores limitantes para a realização da dieta Os dados bioquímicos possibilitaram complementar o
diagnóstico e a avaliação do estado nutricional (Tabela 2).
Fatores Total % Como é possível observar, a amostra feminina apresen-
Mudança do hábito alimentar 46,1
tou a média da glicemia sérica com acentuada alteração,
Trabalhar fora de casa 7,7
Ansiedade e Nervoso 7,7
comparando-se com os valores limítrofes. A média dos
Desconforto físico 7,7 valores de triglicérides e do LDL-c também estavam acima
Não compreensão das orientações 7,7 das metas lipídicas preconizadas pelo NCEP 2001. De acor-
Hiperfagia 7,7 do com a mesma referência, apenas o Colesterol total e o
Dificuldade Econômica 7,7 HDL-c apresentaram-se adequados. O alto valor de glicemia
Falta de vontade para emagrecer 7,7 está correlacionado com os elevados índices de DM neste
Total 100
grupo, ocorrendo o mesmo com os valores de triglicérides.
A amostra masculina apresentou a média da glicemia
completo) e casados. A história médica de todos os indiví- acima do valor preconizado. Já o nível de triglicérides mé-
duos era semelhante, já que todos possuíam coronariopatias, dio apresentou-se no limite superior, enquanto que o
e em sua maioria, sobrepeso e obesidade. Decidiu-se dividir colesterol total se enquadrou dentro da recomendação. O
de acordo com o sexo para a análise de algumas variáveis, LDL-c estava muito próximo ao limite recomendado, suge-
e a caracterização de cada grupo (Tabela 1). rindo uma maior atenção a este dado, enquanto que o HDL-
O estado nutricional mais prevalente na amostra foi c também se apresentou abaixo do valor considerado ideal.
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Estudos recentes demonstram a redução dos riscos de relação a este tema. Apesar do número da amostra ser pe-
eventos cardíacos maiores e o infarto do miocárdio em indi- queno, apresenta-se relevante às questões sobre adesão à
víduos coronariopatas submetidos à terapia de redução de dieta.
LDL-c. As duas maiores modalidades para este tipo de tera- Aproximadamente 95,6% deste grupo afirmaram que a
pia são as mudanças do estilo de vida e administração de dieta está relacionada à saúde e pode prevenir complicações
medicamentos. Dentre as mudanças do estilo de vida, pode- decorrentes da obesidade (Tabela 4).
se ressaltar o tratamento dietético, que visa o fornecimento Os indivíduos que já haviam realizado dieta no perío-
de quantidades ideais de macro e micronutrientes, com quan- do anterior a internação, foram questionados quanto os
tidades adequadas de gordura saturada e colesterol, contribu- responsáveis pela orientação nutricional. Esta questão apre-
indo assim, para a adequação do estado nutricional12. sentou os seguintes resultados: 66% da amostra haviam sido
Apesar do inquérito alimentar constar de apenas 1 dia, orientados por profissionais da área da saúde sendo que 22%
o cálculo dietético permitiu a análise da composição das eram nutricionistas e 44% médicos, e o restante realizou por
dietas, facilitando assim, a identificação do consumo ali- conta própria. Este dado é muito importante, pois pode
mentar destes indivíduos (Tabela 3). Sabe-se que é freqüen- contribuir para o esclarecimento de algumas dúvidas sobre
te a subestimação dos relatos, o que acaba interferindo na adesão à dieta. Segundo a literatura, quando os indivíduos
acurácia dos resultados. Além disso, este método pode limi- são orientados por profissionais especializados, os índices de
tar a obtenção de informações completas sobre os hábitos adesão se tornam maiores1, e conseqüentemente, ocorre
individuais, isto porque, o consumo alimentar varia consi- melhoria do estado nutricional, o que não é possível obser-
deravelmente, de um dia para o outro. Mesmo assim, é o var nesta amostra, pois prevalece a obesidade. Entretanto,
mais empregado para a avaliação dos hábitos individuais. este dado indica que a orientação não é suficiente para o
Podemos observar segundo este cálculo que a amostra cumprimento das recomendações e seguimento do trata-
feminina apresentou índices de adequação de energia que se mento dietético.
enquadram dentro da recomendação, enquanto que a amos- É importante ressaltar que a orientação dietética deve
tra masculina apresentou índices superiores ao preconizado. estar inserida dentro de um contexto de educação nutri-
Avaliando a adequação da dieta de acordo com a faixa cional. Sua eficiência está vinculada ao processo de apren-
etária da amostra total (Gráfico 1), é possível observar que dizagem através do planejamento pedagógico 14. O mesmo
apenas a faixa de 60 a 69 anos apresentou índice de adequa- autor coloca em questão os princípios da antropóloga
ção considerado ideal, enquanto que as faixas de 40 a 49 e Margareth Mead que recomenda aos nutrólogos que se pre-
50 a 59 anos apresentaram índices superiores ao recomen- ocupem muito mais em saber como mudam os hábitos ali-
dado. Por outro lado, a faixa de 70 a 80 anos se enquadrou mentares do que em descobrir técnicas para mudá-los, pois
abaixo da recomendação. É possível concluir que estes da- é fato evidente que estes se alteram e que existem fenôme-
dos quando comparados com a classificação por sexo, não nos sociais que determinam tais mudanças.
são evidenciados nesse aspecto. Dentro da amostra que realizou dieta, 72% receberam
De acordo com o Gráfico 2 é possível observar que o estímulo da família. Este estímulo corresponde à compreen-
cruzamento entre as faixas de IMC correspondentes ao es- são do cônjuge em relação às restrições dietéticas, e a cola-
tado de sobrepeso e obesidade, e a adequação da dieta boração deste e dos outros familiares perante a oferta dos
mostrou índices ideais de consumo energético para ambas alimentos. Alguns estudos comprovam que este tipo de
classificações. Entretanto, este dado também não eviden- estímulo é fundamental para que o paciente acolha as reco-
ciou as diferenças observadas na classificação por faixa mendações e as pratique, contribuindo, portanto, para a
etária. elevação do índice de adesão. Como conseqüência, os há-
Considerando as recomendações de macronutrientes, bitos familiares podem ser melhorados, possibilitando o
observa-se que a amostra feminina apresenta dietas seguimento do tratamento dietético. Por outro lado, quan-
normoprotéicas, hiperlipídicas e hipoglicídicas, portanto, do a família não colabora, pode prejudicar e desmotivar o
não balanceadas. Por sua vez, a amostra masculina apresenta indivíduo, interferindo no sucesso da dieta.
dietas hiperprotéicas, normolipídicas e hipoglicídas, tam- Os indivíduos foram questionados também quanto o uso
bém consideradas não balanceadas. de medicamentos com finalidade de emagrecimento. Den-
Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia 2001, a tre a amostra, aproximadamente 17% referiram o uso de
recomendação de ingestão de fibra alimentar total para pelo menos uma vez na vida. Os medicamentos utilizados
adultos é de 20 a 30g/dia, sendo em torno de 25% (6g) de não foram pesquisados, mas sabe-se, que a eficácia da mai-
fibra solúvel 13. Contudo, ambos os grupos apresentaram a oria destes não é comprovada. Isto ocorre, pois existem
média do consumo insuficiente. muitos efeitos colaterais e, sobretudo, a perda de peso não
O consumo de colesterol dietético pelo grupo femini- é mantida, o que reforça ainda mais, a necessidade de ree-
no apresentou-se abaixo da quantidade limite de ingestão, ducação alimentar para o sucesso do tratamento 15.
considerado, portanto, adequado. Já o grupo masculino A reeducação alimentar consiste em um ato de ensinar,
apresentou um consumo excessivo. que está intimamente relacionado com a intervenção em
Com a aplicação do questionário aos indivíduos que já vidas humanas, entendendo-a como representação de fato-
haviam realizado dieta pelo menos uma vez na vida (78,3% res psicológicos e culturais. No entanto, a alimentação
da amostra), foi possível avaliar o conhecimento destes em compreende um universo de significados, de forma que, nela
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o homem se expressa psicológica e culturalmente16. exemplo: dificuldade de alterar preferências por carnes e
Os relatos permitiram avaliar as diferenças dos tipos de produtos ricos em gorduras; recomendações dietéticas geral-
dietas realizadas pelo grupo feminino e masculino (Tabela mente requerem mudanças drásticas no planejamento ali-
5). O primeiro grupo, em sua maioria, referiu a diminuição mentar; hábitos alimentares e métodos de cocção inadequa-
da quantidade de alimentos como base da dieta (75%). Já dos. Estes fatores geralmente são interpretados como inter-
o segundo grupo, ressaltou a diminuição e a restrição de venções radicais e associados à baixa qualidade de vida 10.
alimentos ricos em gordura, como por exemplo, carnes Os aspectos que influenciam a adesão de um paciente
gordas, e também, sal e doces (60%). Este fato comprova a a uma prescrição dietética e sua motivação para adotar um
valorização do grupo masculino por alimentos ricos em padrão desejável de comportamento alimentar, devem ser
proteínas e gorduras saturadas. Além disso, alguns estudos analisados como um conjunto de características relaciona-
demonstram maiores índices de doenças coronárias em das ao profissional, paciente, qualidade da relação profissi-
homens, fortemente influenciado pelo estilo de vida, o que onal-paciente, prescrição, aspectos organizacionais, pesso-
engloba dieta hipercalórica, rica em gordura saturada e ais, ambientais e físicos do serviço ou clínica e ambiente
colesterol. Além disso, outras características foram externo ao serviço 18.
elucidadas, como por exemplo: substituição do açúcar por Considerando que os programas de intervenção
adoçante e de alguns alimentos por frutas e verduras; elimi- nutricional e as teorias que os fundamentam, necessitam de
nação de ovo, queijos amarelos e frituras. adaptação às características locais para atingirem as neces-
Dentre os fatores mais favoráveis para a realização da sidades específicas da população, contudo, a identificação
dieta, 47% dos pacientes mencionaram a importância da desses fatores pode ser proveitosa ao desenvolvimento de
conscientização do problema de saúde como estímulo para estratégias que influenciam a mudança comportamental 18.
seguir o tratamento. Também foram mencionados: estímulo Se, por um lado, a educação nutricional está vinculada
médico; desconforto com a obesidade; estímulo familiar; ao embasamento teórico e modelos de motivação apropri-
orientação nutricional recebida na empresa em que traba- ados para conduzir à prática numa determinada situação, por
lha; mudança não radical dos hábitos alimentares (Tabela outro, só o treinamento de habilidades das técnicas
6). cognitivas não seria suficiente. É preciso integrar os mode-
Como a educação nutricional muitas vezes se dá em los para aplicá-los no contexto organizacional, ambiental e
uma situação de crise na qual o indivíduo é surpreendido por pessoal 18.
uma doença, cabe também dimensionar o papel da doença
no contexto da vida 14. Conclusões
Morais 1989, reportando-se a Merlean Ponty diz que “o
corpo é o berço de todas as nossas significações”, e cita Observou-se que a amostra estudada, ao contrário do
Heidegger quando afirma que “é na crise que o pensamen- que é referido em literatura, não respondeu positivamente
to se agiganta”. Na mesma linha de pensamento Berlinger ao estímulo familiar, consumindo dieta normo e não
1988, diz que é com as doenças “que se toma consciência do hipocalórica, o que contribuiu para manutenção do peso
próprio corpo” 17. excessivo detectado. A resistência para mudar hábitos ali-
Por outro lado, 46,1% dos indivíduos consideraram a mentares, parece ter contribuído para a não adesão à dieta.
mudança do hábito alimentar como a maior dificuldade Observou-se que o agravamento da coronariopatia, respon-
encontrada para seguir o tratamento dietético. Dentre os sável pela internação hospitalar, gerou uma conscientização
outros fatores referidos, pode-se citar: trabalhar fora de casa tardia da relação entre dieta e saúde.
e comer na rua; ansiedade e nervosismo; desconforto físico Embora os resultados tenham permitido a caracteriza-
devido às restrições alimentares; não compreensão das ori- ção deste grupo e uma análise dos fatores intervenientes na
entações dietéticas; hiperfagia; dificuldade econômica e adesão à dieta hipocalórica, ainda restam questões a serem
falta de vontade para emagrecer (Tabela 7). esclarecidas sobre os motivos reais da dificuldade de mudar
Existem alguns fatores que podem contribuir para a não o comportamento alimentar. Baseando-se na caracterização
adesão ao tratamento. Dentre estes, existem alguns referi- da população levantada por este estudo, é possível a elabo-
dos indiretamente pelos pacientes no momento do ração de um instrumento com questões mais específicas, não
questionamento sobre o tipo de dieta já realizada, como por tão abrangentes, que permitam informações mais objetivas.

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