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Cultura, família e instituição hospitalar: o papel do psicólogo

Nicolas Bittencourt Cipolli

O estudo da família e suas configurações perpassa diversas áreas das


ciências humanas, encontrando na Psicanálise e na Antropologia seus maiores
representantes. Antropólogos como Levi-Strauss dedicaram-se a estabelecer
modelos explicativos capazes de reunir os componentes mínimos que configuram
uma família. Seus estudos abordavam a unidade elementar do parentesco, num
processo de desnaturalização da família, até então entendida como união biológica
pai-mãe e filho. A introdução do quarto elemento na tríade, o outro homem que se
relaciona com a mãe, podendo ser o irmão, por exemplo, estabelece um novo
entendimento da família enquanto fato cultural que pressupõe dois grupos: o que
recebe e o que fornece a mulher.
Para Lévi-Strauss, é através da troca de mulheres que se dá a combinação dos elementos
do parentesco. A constituição da família como fato cultural pressupõe a existência prévia de
dois grupos que se casam fora de seu próprio grupo, dois grupos exógamos. Isso significa o
reconhecimento de que o parentesco envolve relações além da relação de consangüinidade,
ou seja, relações de aliança também, de afinidade. Assim, rompe-se com a idéia do caráter
natural da família. A família não provém da unidade biológica, da mera reprodução. Constitui
uma aliança de grupos. (Sarti, 1992)
Por sua vez, a Psicanálise criada por Freud, apoiada na Antropologia da
época, e desenvolvida por Lacan compreende a família como meio de transmissão
de cultura (Lacan, 1938/2003a, p. 30) onde os membros da família respondem de
acordo com seus lugares na organização simbólica. Mãe e pai deixam de ser entes
fisicamente identificáveis e passam a ser entendidos enquanto função, inaugurando
um novo entendimento de família que é capaz de compreender as novas
configurações familiares do nosso século.
Qualquer pessoa pode exercer a função de pai ou de mãe e, assim, ser
capaz de transmitir cultura ao ser humano em desenvolvimento. A função de
privação (pai) ou falicização (mãe) pode ocorrer, inclusive, através de instituições.
Hospitais são exemplos de instituição onde isto ocorre. O sujeito doente
procura o hospital para solucionar um enigma instaurado no corpo. Tal como o
neurótico que procura o analista, o paciente hospitalar muitas vezes chega ao local
munido de uma resposta, um saber, sobre sua doença, mas um saber que não é
capaz de ser articulado, necessitando de alguém que possa traduzi-lo. Entregando
seu corpo ao saber do mestre, o sujeito abdica da autonomia e coloca-se à serviço
dos representantes de um saber que pretende reorientar suas funções vitais, tal
qual a criança diante da mãe na fase pré-edipiana.
Pode-se articular, por conseguinte, que o adoecer tratado aqui diz respeito a essa sujeição
da subjetividade ao monumento, à imersão da individualidade em processos de
institucionalização que implicam a destituição do sujeito como senhor de si. (Gomes e
Próchno, 2015, p. 787)
A família e acompanhantes surgem como expectadores da cena, tentando
compreender seu lugar nesta dinâmica invasiva e estressante, uma vez que não há
espaço para seu conhecimento, sua cultura, seu saber, sua singularidade na
relação médico-paciente. No hospital, encontrarão uma cultura até então
desconhecida, com suas regras, ritos, ordenamentos e obrigações. Diferente da
cultura familiar, a cultura hospitalar tem como característica o anonimato de seus
membros. Não existem subjetividades, existem representantes da instituição
desempenhando funções diante da doença e do tratamento.
No ambiente hospitalar as posições simbólicas de filiação entre membros da
família têm pouco ou nenhum valor prático. Para funcionários e médicos, não
importa quem vai acompanhar o paciente no leito. A família só recupera sua
autonomia quando a decisão sobre o futuro do paciente envolve dilemas:
desligamento de aparelhos em caso de morte cerebral; doação de órgãos do
recém-falecido; escolha entre perigosa cirurgia ou tratamento quimioterápico; etc.
Paciente e família sofrem a intervenção da função paterna, aquela que
separa, impossibilita a união e lança o sujeito no caminho do seu próprio - e
desconhecido - destino. Lançados no universo dos procedimentos, cirurgias,
exames e curativos, familiares e acompanhantes encontram-se desprovidos de
referenciais para seu próprio funcionamento. A falta de referência aliada à dúvida
sobre o diagnóstico, prognóstico e possibilidade de cura promove a emergência da
angústia, comprometendo a elaboração dos acontecimentos e fragilizando a
estabilidade emocional dos envolvidos. A presença de um profissional atento ao
lado da família desde a entrada no hospital até a chegada ao leito do internado,
fornecendo o mapa do labirinto hospitalar, apontando os atalhos, ensinando-os a
interpretar os sinais, favorece o tempo para a elaboração da angústia e elementos
para a compreensão da rotina.
Portanto, é de responsabilidade do psicólogo abrir o espaço para que os familiares elaborem
os sentimentos gerados pelo estado de tensão, oportunizando aparecimento de sentimentos
autênticos que se refletem em seu comportamento, pois ao ser incluído no atendimento
hospitalar (pelo psicólogo), a família pode aumentar suas condições psicológicas para dar
apoio ao paciente, passando a ele segurança, confiança e força. (Santos & Gomes, 2018)
A presença do psicólogo hospitalar como articulador da demanda da família
em direção à equipe e vice-versa é análoga ao do clínico diante do saber
inconsciente em relação à angústia do analisando. Assim como não cabe ao
psicólogo clínico apontar caminhos ao paciente, não cabe ao psicólogo hospitalar
alimentar esperanças e crenças dos familiares sobre o futuro do paciente internado.
Ao contrário, o papel do psicólogo consiste em oferecer seu corpo, sua escuta, sua
atenção e acolhimento ao dilema existencial dos envolvidos, para que possam
utilizar a cultura familiar - seus desejos, suas crenças, espiritualidade, brincadeiras -
em prol da recuperação do paciente. Munido da escuta analítica, o profissional
retifica e articula; conduz a transferência com vistas à motivação da família.

Bibliografia:
Sarti, Cynthia A. (1992). Contribuições da antropologia para o estudo da família. Em:
Psicol. USP v.3 n.1-2 São Paulo 1992. Disponível em:
<​http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-5177199200010
0007​> Acesso em: 20 de Janeiro de 2020
Gomes, D. R. G., & Próchno, C. C. S. C. (2015, setembro). O corpo-doente, o
hospital e a psicanálise: desdobramentos contemporâneos? Revista Saúde e
Sociedade, On Line, 26(3). Recuperado em 18 de novembro, 2015, de
http://www.scielo.br/pdf/sausoc/v24n3/0104-1290-sausoc-24-03-00780.pdf.
Lacan, J. (2003a). Os complexos familiares na formação do indivíduo. In J. Lacan.
Outros escritos (pp. 29-90). Rio de Janeiro: Zahar. (Originalmente publicado em
1938).
Santos, Jéssica R. R. B.; Gomes, Cássia A. (2018). Atuação do Psicólogo Hospitalar
frente às reações emocionais apresentadas por familiares de pacientes em unidade
de terapia intensiva em um hospital público do interior de Rondônia. Disponível em:
<​https://www.psicologia.pt/artigos/ver_artigo.php?atuacao-do-psicologo-hospitalar-fr
ente-as-reacoes-emocionais-apresentadas-por-familiares-de-pacientes-em-unidade-
de-terapia-intensiva-em-um-hospital-publico-do-interior-de-rondonia&codigo=A1245
&area=d5​> Acesso em 20 de Janeiro de 2020.

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