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6 Historia das cvs das idelas eigiosas ‘Trata-se simplesmente de ndo perder de vista a unidade profunda eindivisivel da historia do descoberta recente, ainda pouco assimilada. No dltimo capitulo do volume 1H, apreciaremos sua importincia para 0 Bainds rnesse capitulo final, quando discutirmos as crises provocadas pelos mestres mo ~ desde Marx e Nietasche até Freud - eas contribuigbes traridas pela antropologia, «historia das religides, a fenomenologia € a nova hhermenéutica, que estaremos em condigées dejulgar a tnica, mas impoctante, cringao religiosa do mundo ocidental modern. Trata-s¢ da derradeira etapa da dessacralizasio. O processo apresenta um interesse considerdvel para 0 historiador das religiSes; ele ilustra, na verdade, a perfeita camuflagem do “sagrado’, mais precisamente sua identificacao ao “profano”, "Em meio século de trabalho, muito aprendi com meus mestres, colegas © cestudantes. Por todos, mortes ou vivos, nutro 0 mais sincero reconhecimento. ‘Agradeco também & senhora Michel Fromentoux e aos senbores. Jean-Luc Bencziglio e Jean-Luc Pidow ue se deram ao trabalho de rever o texto “deste primeito volume. Como todos os meus outros trabalhos desde 1950, este livro nao teria sido concluido sem a presenga, 0 carinho ea dedicagao de ‘minha mulher. Com slegrise gratido, inscrevo o nome dela na dedicat6ri desta que seri provavelmente a minha tiltima contribuigdo a urna disci {que nas é cara Mircea Butane ‘Universidade de Chicago NOTAS. 14 M. Blade, La Nostale des origines, 7s 2 Ibid. ps. 1. No COMEGO.., COMPORTAMENTOS MAGICO-RELIGIOSOS DOS PALEANTROPIDEOS 4. Orientatio. Ferramentas para fazer ferramentas. ‘A*domesticagao” do fogo [Apesar de sua importincla para a compreensio do fendmeno reigioso, no aqui o problema da “hominizagao”. Baste lembrar que a pos- | marca a superacio da condicio dos primatas. $6 podemos nos 2 gragas & postura vertical que 0 espago Eorganizado nama estrutura inacessivel as pré-homfnidas: em quatro di- recBes horizontaisprojetadas a partir de um cixo central ‘alt'/“baixo", Em dutros terms, oespaco deixa-se organizar em volta do corpo hunano come se ele se estendesse 3 frente, atris, & direta, & esquerda, em cima e embaixo. a partir dessa experigncia origindria~ sentir-se“langado” no meio de uma cextensio aparentemente ilimitada, desconhecida, ameacadora ~ que se ela = com efcito, nio se pode viver por desorientagao. Essa experiéncia do lica a importancia das divisbes “zemplares dos teritios, das aglomeracBes e das habitagdes,¢ © seu simbolismo cosmologico (cf. $12)” ‘Uma diferenca igualmente decisiva em rclagio ao modo de vida dos pri- ‘atas é esclarecida pelo uso das ferramentes. Os paleantropideos nao s6 se server das ferramentas, mas sio ainda cepazes de fabricé-las. E verdade que certos macacos empregam objetos como se fossem “ferramentas’, e conhe- ‘cemos até casos em que eles as fabricam. Mas os paleantropideos produzem, tlkm disco, “ferramentas para fazer ferramentas”. Alias, o uso que do as fer- ramentas € muito mals complexo; guardam-nas bem perto para que delas se ppossam servirno futuro. Em resumo, oemprego da ferramenta nao est liml- ‘boram os diferentes meios de ori ‘muito tempo na vertigem provocada ‘oan mala coniiente dose valor “ersten” aexprincia do epaso orienta rer a homem das sociedadesmoderas v 8 striata evengase das ideas reliiosas tado a uma situagéo particular on a um momento especifco, como acontece com os macacos Convém ainda explicar que as ferramentas nao prolongam os 6rgios do corpo. As mais antigas pedras que conhecemos foram trabalhadas para de- sempenhar uma funcio que néo estava prefigurada na estrutura do corpo hu- logia nio implicam ur desenvolvimento semelha ‘que 0 extraordinario progresso da tecnologia nos dois se traduziu em um desenvolvimento comparivel da ‘ocidental. Por outro lado, como jé se abservou, “toda inovagéo comportava uum perigo de morte coletiva” (André Varagnac). O imobilismo tecnolégico assegurava a sobrevivéncia dos paleentropideos. A “domesticagio” do fogo, isto &, a possibilidade de produzi-o, conser- viclo etransporté-lo, assinala, poderiamos dizer, a separacio definitiva dos paleantropfdeos em relagio aos seus antecessores zool6gicos. O mais antigo “documento” que atesta a utilizagSo do fogo data de Chu-ku-tien (cerca de ~ 600,000), mas & provavel que a “domestic antes e em varios sitios. E bom lembrar esses poucos fatos bem conhecidos para q de vista, 20 ler as andlises que se seguira da dos nossos contemporineos. Mas é necessirio compreender os termos i- tensidade e amplido no seu sentido mais forte e dramatico. Pois o homem 60 produto final de uma decisio tomada “no comeco do tempo": a de matar para poder viver De fato, os hominidas conseguiram superar os seus “ancestrais"transfor- ‘mando-se em carnivoros, Durante dois milhdes de anos, aproximadamente, 0s paleantropideos viveram dg caca: os frutos, as raizes, os moluscos et recolhidos por mulheres e crangas,eram insuficientes para assegurara sobre- ‘vivéncia da espécie. A caca determinou a divisio do trabalho de acordo com ‘© sexo, reforgando assim a “hominizagao"; entre os carnivaros, ¢em todo.o mundo animal, essa diferenga nao existe. ‘Mas a incessante perseguigao e morte da prese acabaram por criar um sistema de relagdes sui generis entre 0 cagador ¢ 08 enimais abatidos. Volta- remos oportunamente a esse problema, Lembremos por enquanto que a lidariedade mistica” entre o cacador e suas presas érevelada pelo préprio ato No comer » «de maar; 0 sangue derramado & em todos os aspectos semelhante ao sangue yhumano. Em titima instincia, a“solidariedade mistice” com a presa revela 0 potentesco entre as sociedades humanase o muundo animal, Abater o animal le, 0 domesticado equivale a um “sacrificio" em que as is Convém explicar que todas essas concepgbes se as tltimas fases do processo de “hominizacio”, Elas das, revalorizadas, camufladas - milénios apés fo desaparecimento das civilizagbes paleoliticas. 2. A“opacidade” dos documentos pré-historicos Se os paleantropideos sio considerados “homens completos’, deduz-se que possulam também certo mimero de crengas ¢ praticavam determinados ritos. Pois, conforme lembramos, a experiéncia do sagrado constitui um clemento na estrutura da consciéncia, Em outros termos, se lembrarmos @ ‘questo a “religiosidade” ou da “ndo religiosidade” dos homens pré-histéri os, incumbe aos partidarios da “ndo religiosidade” dar provas em apoio de ‘sua hipétese.£ provivel que teoria da “nao religiosidade dos paleantropideos tenmha se imposto na época do evolucionismo, quando se acabavam de des- cobrir as analogias com os primatas. Tata-se, porém, de um mal-entendido, rio € a estrutura anatémico-osteol6gice dos , sem divide, & dos primatas), mas suas obras; € ‘se nao praticamente impossivel, determinar 608 pesquisadares nio entregaram os pon- tos; pois resta certo suimero de “documentos-testemunhos” sobre a vida dos paleantropideos, ¢ espera-se chegar um dia a decifrar-Ihes 0 significado rel ‘gi0s0, Em outras palavras, espera-se que esses “documentos” sejam suscetivels de constituir uma “linguagem”, exatamente como, gragas ao génio de Freud, as ctiagoes do inconsciente, até entdo tidas por absurdas ou sem sentido ~ so- nnhos, devaneios, fantasias ete. -, revelaram a vigéncia de ums “linguagem” extremamente preciosa para 0 conhecimento do hemem. qual era seu contetido, Entretam Astigudad moditerinea ago wanimaie também homens ia daserengase das ideiasriligiosas [Na verdade, os “documentos” sio bastante numerosos, mas “opacos” ¢ ‘pouco variados; ossadas humanas, sobretudo crinios,ferramentas de pedra, ‘Pigmentos (em primeiro lugar, « ocra vermelha, « hematita) diversos obje- tos encontrados nos timulos. E apenas a partir do paleolitico recente que ispomos de gravuras e pintutas rupestres, seixos pintados ¢ estatuetas de ‘0550 ¢ de pedra, Fin certos casos — sepulturas, obras de arte - € nos limites ‘que vamos examiner, estamos pelo menos seguros de ume intencionalidede “religiosa’. Mas a matoria dos “documentos” anteriores ao aurignaciano (30.000), vale dizer, as ferramentas ov utensilios, nada revelam além do seuvalor utiitario, Gentretanto inconcebivel que as ferramentas nfo tenham sido investidas de certa sacralidade e ndo tenham inspirado intimeros episidios mitol6gicos. ‘As primeiras descobertas tecnolégicas a transformago da pedra em ins- trumentos de ataque e de defese, 0 dominio do fogo ~ nao s6 asseguraram @ sobrevivéncia eo desenvolvimento da espécie humana; produziram também todo um universo de valores mitico-religiosos, eincitaram e nutriram a ima- ‘ginagéo criadora, Basta examinar o papel das ferramentas na vida religiosa e ‘na mitologia dos primitivos que ainda permanecem no estigio da caca e da pesca. O valor magico-religioso de uma arma - de madeira, pedra, metal ~ sobrevive ainda entre as popalagées rurais europeias, e nio somente no seu folclore. Nao é nossa intengao examinar aqui as cratofanias eas hierofanias da pedra, das rochas e dos seixos:o leitor encontrara exemplos atinentes a esse tema num dos capitulos do nosso Traité d'histoire des religions. Foi principalmente o “dominio da distincia", conquistado gragas& ar- ‘ma-projétil, que susciton incontaveis crences, mitos e lendas. Lembremos as mitologias articuladas em torno das lancas que se cravam na absbada celeste e permitem que se ascenda ao Céu, ov as flechas que voam através ‘das nuvens, traspassam 0s deménios, ou formam uma corrente até o Céu ete ‘Teriamos de evocar pelo menos algumas das crengas e mitologias das ferra- ‘mentas, em primeiro lugar das armas, para melhor aquilatarmos tudo 0 que as pedras trabalhadas dos paleantropideos jé néo nos podem: comunicar. A “opacidade semantica” desses documentos préhist6ricos nao constitu’ uma singularidade. Todo documento, mesmo contemporineo, é“espiritualmente ‘opaco” enquanto nao conseguimos decifré-lo, ntegrando-o em um sistema de signiticagées. ‘Um ferramenta, pré-historica ou contempordnea, sé pode revelar sua intencionalidade tecnolégica: tudo aquilo que seu produtor ou seus possui- dores pensaram, sentiram, sonharam, imaginaram, esperaram em relagio a ela nos escapa, Mas cumpre-nos pelo menos tentar “imaginar” os valores No comes jo materiais das ferramentas pré-historicas. Do contrério, essa opaci ‘Semintica pode impor-nos uma compreenso inteiramente erronea da ria da cultura. Corremos, por exemplo, 0 risco de confundir o aparecime: dde ama exenca com a data em que ela & claramente atestada pela primeira Yer Quando, na Idade dos Metais,certas tradigbes aludem a “segredos de dficio” relacionados com o trabalho nas minas, a metalurgia ¢ fabricagio ddas armas, seria imprudente acreditar que se trata de uma invengo sem pre ‘edente, pois essas tradigdes prolongam, pelo menos em parte, uma heranga da Idade da Pedra. Por cerca de dois milhes de anos, os paleantroptdeos viveram princi- palmente da cage, da pesca e da coleta. Mas es primeiras dégicas referentes ao universoreligoso do cagador paleolitico remontam & arte rupestre franco-cantébrica (~30.000), E mais, e examinarmos as cren- ‘Gas € 08 comportamentos religiosos dos povos cagadores contemporaneos, perceberemos a impossibilidade quase total de demonstrar a existéncia ow ‘2 auséncia de crengas semelhantes entre os paleantropideos. Os cacadores, primitives? consideram que os animais edo semelhantes aos homens, embora ppossuam poderes sobrenaturais; creem que o homem pode transfor ‘animal e vice-versa; que as almas dos mortos podem penetrar nos a finalmente, que existem relagies misteriosas entre uma pessoa e um dererminado (0 que se conhecia outrore pelo nome de nagualisme). Quanto aos seressobrenaturas atestados nas religides dos cagadores, ‘companheiros oa 0s “spirits guardies"teriomorfos, as divindades do simulteneamente a gaya € 08 ca- rate aquilo de que necessta pars se al desperdicado; 0s ossos, especialmente o crénio, tem um valor 1 travel (provavelmente por se aceditar que eles encerram a “alma” ou “vida ddo animal, e que é a partir do esqueleto que o senhor das feras fard crescer 4s por que 0 ctinio e 08 oss0s longos sio expostos sobre serlos povos, envia-se a alma do animal morto para a sua “pitria esp (co “festival do uso” dos ainos € existe também o costume de oferecer aos seres supremos umm pedago de cada Tpigoronmente aplicida ere metodo leara 3 stuar ex i-22.0 cont germnios dat da sa public pels lemos Grimm 2 atria das crengas¢ das idelas aligiosas x abatido a sua primeira caga, lambuza com sangue as paredes de tas dessas crengas e ceriménias podem ser identificadas nos do- ‘cumentos arqueolégicos de que dispomos? Quando muito, as oferendas dos «tanios e dos ossos longos. Nunca se insistiré o bastante sobre a riqueza e ‘complexidade da ideologiareligiosa dos povos cagadores —e sobre a impossi- bilidade quase absoluta de provar ou negar sua existéncia entre os paleantro- pideos. Como jé se repetiu muitas vezes: as crengas e as idelas nao so fossi- lizaveis, Alguns cientstes tm portanto preferido nade dizer sobre as ideies as crengas dos paleantropideos, em ver de reconstitu-las com o auxilio de comparagées com as civilizagdes dos cagadores. Essa posicao metodologica radical ndo est isenta de perigo. Deixar em branco uma enorme parte da his- ‘6ria do espirito humano acarreta 0 risco de encorajar aideia de que durante todo esse tempo a atividade espiritual se limitava a conservagao e8 transmis sho da tecnologia. Ora, uma opiniso como esta nio s6é errénea, mas também nefasta para o conhe ludens, sapiens e religi ituir suas crengas ¢ priticasreligiosas, devemos pelo menos indicar certas analogias suscetiveis de esclarecé-las de maneira indireta, wento do homem. © Homo faber era igualmente homo Jd que no podemos re 3. Significagdes simbélicas das sepulturas (Os “documentos” mals antigos e numerosos slo, evidentemente, as assadas. A partir do musteriano (--70.000-50.000) podemos falar com absoluta certeza ‘em sepulturas, Mas encontramos cranios e mandi _muito mais antigos, como por exemplo em Chu-ku- 9.000), ¢ sua presenga levantou problemas, Uma vez que ios podia se explicar por lembraram o costume, ivas, de conservar os seus deslocamentos. sta. taram esses fatos como uma prova de canibalismo ~ ¢i- tual ou profano. Fol assim que A.C. Blanc explicou.a mutilagfo de urn cxinio neandertalense, encontrado numa gruta do monte Circe: o homem teria sido batido por um golpe que Ihe partira a érbita dreita, em seguida se teria Nocomeco. 3 largado ootficio occipital para extrairo cérebro ¢comé-Ioritualmente, Mas essa explicagio tampouco fol unanimemente aceita* "A erenca numa vida post mortem parece demonstrada, desde os tempos ais recuados, pla utilizacio da ocra vermelha,substituto stual do singue, ¢ portanto “simbolo” da vida. O costume de salpicar os cadaveres com ocra Guniversalmente dfundido, no tempo e no espaco, desde Chu-ku-tien até a ‘costa ocidental da Europa, na Africa até o cabo da Boa Esperanga, na Austré- fie, na "Tasmania e na América, até a Terra do Fogo. Quanto a0 sentido reli sgioso das sepulturas, ele foi alvo de acirradas controvérsias. Néo se pode du- ‘ida de que a inumagdo dos mortos devia ter uma justifcativa, mas qual? "Antes de mais nada, convém ni esquecer que “o abandono puro e simples ddo corpo nos matagais, {bramento, o servir de alimento as aves, 8 fuga precipitada da habitagio al a de ideias sobre a vida depois da morte"? A fortorl a crenga na imortalidade é ‘confirmada pelas sepulturas; de outra forma, ndo se compreenderia 0 trabalho tempregado para enterrar 0s corpos. Essa imortalidade podia ser exclusiva ‘mente “espritua!”, isto é, concebida como uma pés-existéncia da alma, crenga ‘orroborada pela eparigao dos mortos nos sonhos. Mas certassepalturas tam- ‘bém podem ser interpretadas como uma precaugdo contra o eventual retorno do morto; nesses casos, os cadaveres eram dobrados¢ talvez amarrados, Por outro lado, nada impede que @ posigio curvada do morto, longe de denunciar fo medo de "cadaveres vivos” (medo atestado em alguns povos),signifique, ‘0 contravio, a esperanga de um “renascimento”; conhecem-se, na verdade, ‘varios casos de inumagio intencional em posigao fetal Entre os melhores exemplos de. citemos a de Teshik Tash, no Usbequistio (uma crianga rodeada por uma iguarnigao de chifres de cabritos-monteses); a da Chapelle-aux-Saints, no departamento de Corttze (na vala onde repousava 0 cospo encontr ‘varias ferramentas de silex e pedagos de ocra vermelhat): a de Perrassie, na Dordonla (diversos témulos em monticulos com deptsitos de ferramentas de io de uma gruta do monte Carmelo, com tenticidade eo significado das oferendas to ou de objetos depositados nos timalos;o exemplo mais familiar € 0 do cranio feminino do Mas-<'Azil, com olhos postigos,colocado sobre uma ‘mandibula e uma gathada de rena? ‘No paleofitico superior @ pritica da inumacio parece generalizar-se. Os corpos, salpicados com ocra vermelhe, si enterrados em valas onde se encon- trou certa quantidade de objetos de adorno (conchas, penduricalhos, colar). E provavel que os crinios e as ossadas de animals descobertos a0 lado dos 24 istiria das renga das iets reliiosas ‘amulos sejam restos de refeigdesrituais ou até de oferendas. Leroi-Gourhan, isto é, 0s objetos pessoais dos defuntos, © problema é importante; a presenga de tais objetos no 56 a crenca ntuma Sobrevivencia pessoal, mas também a certeza de que o morto continuaré sua atividade especifica no outro mundo. Ideias ura, De qualquer modo, o mesmo autor reconhece « autenticidade de urn tirmulo aurignaciano na Liga, onde o esqueleto ¢ acompanhedo de quatro desses ‘bjetos misteriosos denominados “bastes de comando"? Portanto, pelo me- ‘os certos timulos indicam de forma indiseutivel « erensa na continuagao post mortert de uma atividade particular? [Em sama, pode-se concluir que as sepulturas confirmam a crenga na {imortalidade (j assinalada pela utilizagéo da ocra vermelha) e trazem alguns esclarecimentos suplementares: enterros orientados para leste, marcendo @ intengZo de tornar o destino da alma solidério com o curso do Sol, portanto a esperanga de um “renascimento”, isto ¢, de uma pés-existéncia num outro ‘mundo; crenga na continuagio da atividade especifca; certo ritos funerérios, Indicados pelas oferendas de objetos de adorno e restos de refeigdes. Basta, porém, examinar a inumaco num povo arcaico dos nossos dias para nos darmos conta da riqueza e profundidade do simbolismo religioso implicado numa cerimdnia aparentemente tio simples. Reichel-Dolmatoff fer uma descricao bastante minuciosa do sepaltamento de urna jover, em 1966, entre os indios kogi ribo de lingua chibcha, que habitaa Sierra Nevada des. ta, na Colémbia.!" Apés ter escolhide o local da cova, o xama ‘mdm executa uma série de gestos rituais e declare: “Aqui éa aldeia da morte; aqui €a case cerimonial da morte; aqui éo itero, Vou abrir casa. A casa esté fechada, eeu vou abrica” A seguir, anuncia: “A casa estéaberta.” Indica aos, hhomens o lugar onde devem cavar « cove ¢retia-se. A morta esté envolta por ‘um pano branco e seu pai cose a mortalha. Durante todo esse tempo, a mae €aav6 entoam uma cancio lenta, quase sem palavras. No fundo do tiimulo, ‘colocam-se pequenas pedras verdes, conchinhas ¢a sambé de um gastrépode, Em seguida, o xama tents inutilmente ergucr 0 corpo, dando a que ele € pesado demais;s6 na nona tentativa é que consegue faz8-o, O corpo 6 depositado com a cabesa voltada paralestee “fecha-sea casa" sto é,cobre-se de terra a cova, Seguem-se outros movimentos rituais em torno do timulo, ¢ finalmente todos se retiram. A ceri * Convém explicar que otros ents julgam gee omimero dos “documents” steaks en- contradot an tmlor muito malor. No comege. s ‘Como observa Reichel-Dolmatoff, quando um arquedlogo do futuro es- cavat o timulo, sé encontrar’ um esqueleto com a cabeca voltada pars leste f-algumas pedras ¢ conchas. Os ritose sobretudo a ideologia religiosa impi- cada nio sio mais “recuperdveis” por esses restos." Alls, mesmio para um observador estrangeiro contemporineo que ignore a religito dos kogi,o sim bolismo da ceriménia permanecers inacessivel. Pos, como escreve Reichel- Dolunatof,trata-se da “verbalizagio” do cemitétio como “aldeia da morte “casa cerimonial da morte"; ea Verbalizagio da cova como “casa” e “i (6 que explica a posict fetal do corpo, detado sobre o lado dei da verbalizagio das oferendas como “alimentos pars a morte’ pelo ritual da “abertura”¢ do“fechamento” da “casa-tero”. A puriicagio final pela cireun- valacio ritual encerraa cerimdnia. Por outro lado, os kogiidentficam o mundo ~itero da mie universal - a cada aldeia, a cada casa de culto, ada habitacao e a cada timulo. Ao levantar nove vezes o cadéver, 0 xamé assinala o retorno do corpo ao seu estado fetal, ppercorrendo, em sentido inverso, os nove meses da gestacio ‘césmico, Ademais, as oferendas, “ sentido sexual {nos mitos, sonhos. simboliza, entre 0s kogi, 0 ato sex “semente” que fertiliza a mie, As conchinhas so carregadas de un simbo~ tismo bastante complexo, que no é apenas sexual: elas representam os mem- bros vivos da familia, ao passo que a sambi de gestrépode s ‘poso” da morta, pois, 0 obj chegasse a0 outro mand, “pedi ‘um rapaz da tribo* ‘Terminamos aqui anilise do simbclismo retigioso contido num enterro ogi. Mas convém frisar que, aberdado unicamente em nivel arqueolégico, esse simbolismo nos é tio inacessvel quanto o de uma sepultura paleolitics, Ea ‘modalidade particular dos documentos arquecldgices que {as “mensagens” que ees sio suscetiveis de transmit, B necessério nunca per- der de vista este fato quando nos virmos diante da pobreza eda opacidade de nnossas fontes ‘on menos desonticdo ante das observes de ReickeL Dol andi obrevve sings na Europ oietal onde osrapzes 26 5 rengas religiosas 4, Acontrovérsia em torno dos depésitos de ossadas Os depésitos de ossadas dos ursos das cavernas, descobertos nos Alpes ¢ em regides circunvizinhas, constituem os “documentos” mais numerosos,¢ tam josas do tiltimo periodo espécie de caixote de peda. De 1923 a 1925, Bichler explorou outra gruts, a ‘Wildenmannlisloch; achou varios crinios de ursos desprovidos de mandibu- Jas, com ossos longos colocados entre ees. Descobertas similares foram feitas por outros historiadores da pré-his- . ena Petershoehle, na Francénia, onde K. Hoermann descobrit «ranios de ursos em nichos situedos a 1.20m do solo. Da mesma forma, em 1950, K. Ehrenberg enconirou na Salzofenhoehle (Alpes austriacos)tréscri- nos de ursos alojados em nichos naturals da parede e unidos a ossoslongos, orientados de leste para oeste. oferenda consistia justemente na exposiio, sobre pltaformas, do crinio e dos ‘ssos longos do animal fereciam.se & divindade o cérebro eo tutano do animal, isto &, as partes mais apreciadas pelo cagador. Ess interpretago foi aceita, entre outros, por Wilhelm Schmidt e W. Kopperss para esses etndlogos, era a prova de que os cagadores de ursos das cavernas do timo periodo inter- slacidrio acreditavam num ser supremo ou num senbor das feas. Outros autores compararam os dep6sitos de cranios ao culto do urso tal como & ot foi atéo século XIX - praticedo no hemisfério norte; culto com- Porta a conservacio do crinio e dos oss0s longos do urso abatido, para que © senor das feras possa ressuscité-1o no ano seguinte. Karl Meuli via somente ‘uma forma especial da “inumagEo dos animais’ por ele considerada o mais igo rito de caga, Para o cientista suigo, esse rio evidenciava uma relacio eta entre o cagador e 0 animal cacado; 0 primeiro inumava 05 restos do animal a fim de possbilitar a sua reencarnagio. Nenbum ser divino estava sdas essas interpretacoes foram discutidasee criticadas por um pesquise- dor de Basileta, RE. Koby, para quem muitos 108" de erdnios s4o obra do acaso e dos proprios ursos, 20 circularem e remexerem entre as ossadas. No come. a ite de acordo com essa critica radical: pedra, agrupados perto das paredes ou suuspensos nos nichos e rodeados por assos longos, explicam.se por fatos geo- Jbeicos e pelo comportamento dos préprios ursos. Essa critica intencional- dade dos “depésitos” parece convincente, tanto mais que as primeiras escava- ‘Bes das cavernas deixavam muito s desejar. No entanto, seria surpreendente ‘que o mesmo tipo de “depésito se encontrasse em imimeras grutas, mesmo ‘em nichos colocados a mais de um metro de altura, Aliés, Leroi-Gourhan reconhece que “a intervengio humana & provével em alguns casos"* Seja como fora interpretacio dos dep6sitos como oferendas aseres supre- mos foi abandonada, mesmo pelos partidarios de W. Sch Em estudo recente sobte os sacrificios entre 0s pale ‘Maringer chegou as seguintes conclusdes: 2) no pale Chucku-tien, Lehr sacrificios nio sio atestados, 2) 0s documentos rachenloch, Petershoehle etc.) prestam-se a diversas 6 sacrificios aos seres sobre- Lerot-Gourhan declarou-se i ‘9g crinins encerrados em “csi Como era de se esperar, o pesquisador vé-se diante da auséncia de documentos irrefutiveis ou da opacidade seméntica de documentos cuja au tenticidade parece assegurada. A “atividade espiitual” dos paleantropideos ~ como, aids, a dos “povos primitivos” hoj existentes ~ dtxava tragosfriges Como exempio salitio, podemos invocar os arguments de Koby e Leroi Gourhan conta sa propria conlusio; os fatos geoligicos eo comportamento dos ursos das cavernas sio suficientes para explicar a auséncia de depésitos rituais. Quanto b opacdade semantica dos depésitos de ossadas cuja inten- uestiondve,encontram-separalelos entre os cagadoresérticos mo, 0 depésito nda passa da expressio de uma intencionalidade a8 significagbes especificas desse ato se tornam acessives & informagdes comunicadas pelos membros das respectivas socie- dades. Aprendemos eventualmente se 0 crinios ¢ 08 0380s longos represen- tam oferendas a um ser supremo ou ao senhor das feras, ou 6e, a0 contrétio, silo conservados porque existe a esperanca de que serdo recobertos de carne. ‘Mesmo esta ultima crenca & suscetivel de diversas interpretagdes: 0 animal “renasce” gragas ao senor das feras, ow “alma” que reside nos os508, Ou, finalmente, gragas ao fato de cagador Ihe ter assegurado uma “sepultura” (para evtar que os osss sejam devorados por cies). 8 Histvia das renga eds Idelas eigiosas Devemos sempre levar em conta 2 multiplicidade das interpretagdes pos- siveis de um documento cujaintencionalidade magico-religiosa é plausi Mas, por outro lado, cumpre no esquecer que, sejam quais forem as dife- ‘engas entre 0s cagadores rticos e os paleoliticos, todos partlham a mesma ‘economia ¢ muito provavelmente a mesma ideologia religiosa especificas das civilizagbes da caga. Consequentemente, a comparacio dos documentos pré- histéricos com 0s fatos etnolbgico: Propés-se interpretar dentro dessa perspectiva a descoberta, na Silésa, de um crinio f6ssil de um jovem urso pardo, pertencente a um nivel do au- rignaciano antigo: enquanto os incisivos e os caninos tinham sido serrados 1 limados, os molares ainda estavam em excelentes condigdes. W. Koppers cevocou o “festival do urso” entre os giliaks dailha Sacalina e os ainos da ilha, Ieso: antes de abaterem o jovem urso, os participants da ceriménia cortamn- Ihe os caninos e 0s incisivos com uma espécie de serra, para que o animal no posse mais feri-los.* E como, durante a mesma cerimdnia, as criangas crivam de flechas 0 urs0 amarrado, interpretaram-se no mesmo sentido certas gravuras murais da grata dos Trés Irméos, que mostram ursos atingidos por flechas e pedras e que parecer voritar uma onda de sangue." Mas tals cenas admitem diversas interpretagées. Aimportancia de uma idela religiosa arcaica € também confirmada por sua capacidade de “sobreviver” em épocas posteriores. Assim, acrenga de que ‘animal pode renascer a partir dos ossos € encontrada emt um mimero con- siderivel de culturas2* F esse 0 motivo pelo qual se proibe quebrar os ossos dos animais cuja carne acaba de ser comida. Trata-se de uma ideia peculiar as civilizagoes de cacadores e pastores, mas que Sobreviveu er religiges € mitologias mais complexas. Um exerplo bastante conhecido €0 dos bodes de ‘Thor degolados e comidos & noite; mas o deus ressuscitava no dia seguinte «partir dos 08805." E igualmente célebre wina visio de Ezequiel (373-85): 0 profeta foi transportado para “um vale cheio de ossos”e, abedecendo a ordem do Senor, disselhes: (ss0s secos, our & palavza do Fterno. E diz 0 Senhor, 0 Btermo,a esses ossos: “Bu you introdusir em vos oespitito, viveres... Eporel sobre vésnervos efaret crescer carnes sobre wis, ¢ sabre vos estenderei pele.” E ouviu-se um frémito, seguido de um estrordo, «os oss se chegaram Uns para os outros. Othe, els que vieram,cobre ais ostos,miisculose carnes para revesti-los. “Trat-s de um tol mito mportantera sla do uso envlada como mensagelo somes A ivndade roetora para assegurar 020 das uturascaadas No comegan. 29 5.As pinturas rupestres: imagens ou simbolos? 0s documentos figurativos mais importantes e mais numerosos foram for- necidos pela exploragio das grutas decoras pporgdo da Europa ocidental c central, na Rassia até 0 meridional exceto uma grata com (© que surpreende & primeira vista é a “extraordindria unidade do conteddo artistico: 0 sentido aparente das imagens no parece ter variado de ~30.000 a ~ 9.000 antes da nossa era, fe permanece idéntico nas Astrias ¢ &s margens do Dom” Segundo Leroi- Goushan, trata-se da difusio por cde um mesmo sistema ideobgico, principalmente aquele que marca a ‘Como as pinturas se encontram muito longe da ent conclufram queas grutas sio uma espécie de santuério, Por outro lado, muitas ddessas cevernas eram inabitiveis, eas dificuldedes de acesso reforcavam seu ‘cardter numinoso. Para chegar diante das paredes ornamentadas,é necessirio percorrer centenas de metros, como no caso das grutas de Niaux ou dos Trés Inmmaos. A grata de Cabrerets constitui um verdadeiro abirinto e exige virias horas de visita, Em Lascaus, ingressa-se ne galeria inferior ~ onde se encontra ‘uma das obres-primas de arte pal através de um pogo de 6,gom de profundidede. A intencionalidade dessas obras pintadas ou gravadas parece indiscutivel Para interpreté-las, a mai ria dos exploradores tem recorrido a par certas comparagtes nfo eram convincentes, sobretudo quando se procurava “completar” o documento paleolitico a fim de torné-1o mais parecido com ura documento einogréfico andlogo. Apesar disso, tais explicagdes imprudentes “Tém-se interpretado ursos, ledes € 0 fiechas, ou as modelagens de argila en presentando ledes ¢ um urso com perfuragdes redondas e profundas, como or eaabeleer a ronclogia€a nofologis das obees de ete pales, ood) que se segue ino, cten de 350001400) cora un el guise ao pero tard [ectca de ~s.oee) (Lero-Gourhan, Les Réigons de laprihistire.84) Fo tiria das eengase das idetas religions provas da "may denominar a“iniciagio” dos adolescentes Explicou-se uma cena da gruta dos Tiés Irmios como a representacao de um dangarino com mascara de bisio e tocando um instrument que poderia ser uma flauta, A interpreiagio parece vilida, uma vez que se conhecem, na atte paleolitica, cerca de 55 representagGes de homens vestidos com peles, muitas vezes em postura de danga."® Trata-se, aliés, de um comportamento ritual especifico dos povos cacadores contemporsineos. © abade Breuil celebrizou o “grande magico” da gruta dos Trés Irmdos, sgravura esculpida na parede e medindo 73cm de altura. O deseaho de Breuil ‘mostra-o com uma cabeca de cervo com grandes galhadas, mas com cara de coruja, orethas de Tobo e barba de camurge. Os seus bragos terminam em pa- ‘S6 05 membros inferiores, a de ura figura humana. todos os elementos cuida- dosamente descritos por Breui que certos detalhes se tenham deteriorado desde a descoberta da gravura (por exemplo,a segunda galhada), mas nio est excluida a hipdtese de o abade Breuil ter executado mal seu de- senho. Tal como o vemos nas fotografiasrecentes, o “grande magico” é menos, ‘impressionante. Entretanto, pode ser interpretado como um senhor das feras mite em Lourdes, pode-se distinguir um homem envolto em pele de cervo, com cauda de cavalo e guarnecido de armagées de cervo. ‘Também célebre, nilo menos controvertida, ¢ a famosa composigao descoberta em Lascaux, numa galeria inferior da caverna, de xdo 05 chifres para No cometon. 2 diante do bisio sacrifcado, enquanto sua alma viajaria no elém. O pisaro ‘vara, motivo espectfico ao xamanismo siberiano, seria 0 seu esplrito ‘egundo Kirchner, a sessio” era realizada a fim de que o xama se “Tirgisse, em &xtase, para perto dos deuses e Ihes pedisse a béncio, isto, 0 sucesso da cagada, O mesmo autor considera que 0s misteriosos “bastées de comando” sao baquetas de tembor. Se essa interpretacio fosse aceita,iss0 significaria que os fiticeiros paleoliticos ulizavam tambores comparavels 0s dos xamas siberianos.* ‘A explicagdo de Kirchner tem sido debatide, € ndo temos competéncia Ia. Entretanto, parece assegurada a existéncia de certo tipo de “xa tnanismo” na époce paleolitica. Por um lado, 0 xemanismo domina ainda em ‘nossos dias aidecloga religiosa dos cagadores e dos que vivem do pastoreio. Por outro lado, a experiéncia extética em si, como fenémeno original, éconstirativa {da condicdo humana: néo se pode imaginar uma época em que @ homer no “conhasse mio tivesse devancios e ndo entrasse em “transe’ perda de conseincia aque se interpretaya como uma viagem da alma ao além, © que se modificava € tnudava com as diferentes formas de cultura ede reigiso eras interpretagio ea ‘alorizago da experiéncia extitica Jé que o universoespiritual dos paleoiticos era dominado peas relagées de ondem “mistica” entre o homem ¢ o animal, no {dificil adivinhar as fangbes de um especialista do éxtase. ise relocionaram também com o xamanismno os desenhos chamados raios X*, isto 6, que mostram 0 esqueleto e os 6rgaos internos do animal. “Tais desenbos,atestados na Franga durante 0 magdaleniano (~13.000-6.000) cena Noruega entre ~ 6,000-2.000, encontrara-se na Sibéria oriental, entre csquimés, na América (entre os odjibwa, os pueblos etc), mas também na dia, na Malisia, na Nova Guiné e na Austrélia norte-ocidental?” E uma arte specifica as culturas de cacadores, mas 2 ideologia religiosa que a impregna éxaménica, Com efeito 36 0 xam, geacas 4 visio sobrenatural que possul, & capaz de "ver seu proprio esqueleto”* Em outros termos, cle € capaz de pe- netrar até na oigem da vida animal, o elemento ésseo. Que se tratava de uma experiéncia fundamental para determinado tipo de "mistica” prov-o, entre utras coisas, o fato de ainda ser cultivada n0 budismo tibetano, 6.Apresenca feminina “A descoberta de figuras femininas no tiltimo perfodo glactrio evantou proble- ‘mas que continuam a ser discutidos, Sua 0 é bastante extensa, do st- doeste da Franga a lago Baical, na Sibéra, eda Ilia setentrional ato Reno. As » istria das venga e das ideas religiosas estatuetas, de sem a ascm de altura, sio esculpidas em peda, 0ss0 ou marfim. ‘Muito impropriamente, deram-Iheso nome de “Vénus’ sendo.as mais célebres as“Venus" de Lespuges, de Willendorf (Austria) e de Lanssel (Dordonha)* No lentanto, gracas sobretudo & precisto das escavagdes, sio mai ppesas descobertas em Gagarino e Mezina, na Ucrinia. Ela p de habitacio e, portanto, parecem estar relacionadas com &religido doméstica. Encontearam-se em Gagarino, proximas das paredes da habitagfo, sis estatue- tas esculpidas em osso de mamute. Sio talhadas de maneira simples, com um abdomen de proporgies exageradas ea cabega desprovide de tragos. ‘As pegas descobertas em Mezina sio fortemente esilizadas;algumas de las podem ser interpretadas como formas femininas reduidas a elementos sgeométricos (esse tipo é atestado em outras partes da Europa central) outras diferentes desenhos geométricos, entre outros a sudstica. Pare explicar sua josa, Hancar lembrou que certastribos de cagadores da antropomérfcas de madeira, denominadas dzuli, Nas tribos onde as dzuli sto femininas, esses “idolos” da qual, presame-se, descendem todos os membros da tribo: elas protegem as familias e as habitagGes, e, por ocasiao do retorno das grandes cagadas, recebem oferendas de gris de cereas € gordura. Ainda mais significativa foi a descoberta feta por Gerasimov em Mal's, ‘uso masculino), ea da esquerda pertencente ds mulheres; as estatuetas femini nas provém exclusivamente dessa segdo. As suas homélogas na parte mas lina representam péssaros, mas algumyas foram interpretadas como falos. E impossivel determinar a funcao religiosa dessas estatuetas. Pode-se su dessa linguagem simbdlica desde a lizando a anélise topogratica eestal de que as figuras (formas, rostos et plo, a imagem do bisio possui o mesmo valor ~ “fetninino” - que as “feridas” (ou outros sinais geométricos. Observou em seguida que existe uma conexio No comeco. Zs res macho-fémea, por exemple, bisio (feminine) ¢ cavalo (mas- “Decifrada” luz deste simbolismo, « caverna revela-e um mundo organizado e carregado de significagdes. Para Leroi-Gourhan nao hé divida de quea caverna éum santustio e de que as plaquetas de pedra ow as estatutas constituem “santuérios portiteis”, tendo a mesma estrutura simblica que as grutas ornamentais, Entretanto, ‘esse autor admite queasintese que ele julga ter feconstituido nao nos ensina 4 linguagem da religiio paleolitica. O método que utiliza tmpede-o de reco- rnhecer os “acontecimentos” evocados em certas pinturas rupestres, Na célebre “cena” de Lascaux, interpretad por outros pesquisadores como um acidente de caga on uma sesso xaminica, Leroi-Gourhan s6 vé um pssaro perten- cente a determinado “grupo topografico” e que “equivale simbolicamente 20 thomem ou ao rinoceronte que, justamente, so os seus vizinhos chegados">* ‘fora aproximagdo de simbolos de valor sexual diferente (e que talver ex- prima a importincia religiosa concedida a essa comaplementaridade), tudo 0 ‘que Leroi-Gouthan pode adiantar tema extremamente complenoe ric do que até entio se havia imaginado”*” ‘A teoria de Leroi-Gourhan foi criticada de diferentes angulos. Foi-the Imente censurada certa inconsisténcia nas suas “Iituras” das figuras 0 fato de cle nio haver relacionado os ritos efetuados nas cavernas ‘com o sistema simbélico que acabava de estabelecer2* Seja como for, contri bbuicio de Lerol-Gourhan ¢ importante; ele demonstrou a unidade estilistica ‘deoligica da arte paleolitica, e esclareceu a complementaridade dos valores josos camuflados sob o sinal “masculino” ¢ “feminino”. Um simbolismo andlogo caracterizava a “aldeia” de Mal'ta, com as suas metades bem distin- tas destinadas aos dois sexos. Os sistemas que implicam a complementari- ‘i indantes nas ‘¢ vamos encontré-los também nas religides arcaicas. provivel que esse principio de complementaridade fosse invocado ao mesmo tempo para organizar o mundo e para explicaro mistério da sua criagioe da sua regeneragio periédicas. to mais rico e muito mais complexo 7. Ritos, pensamento e imaginacao entre os cacadores paleoliticos ‘As recentes descobertas da peleontologia tém em comum o fato de recuarem sempre para mais longe no tempo os “comegos” do homem e da culturs. O hhomem revele-se mals antigo, ea sua atividade psicomental mais complexa u Histria das rengase das ideas raigiosas do que se acteditava hé apenas alguns decénios. Recentemente, Alexander ‘Marshak pode demonstrar a existéncia, no paleotitico superior, de um sistema simbélico de notagBes do tempo, baseado na observacio das fases lunares. Essas notaghes, que 0 autor denom factored”, isto & acumuladas ininterruptamente durante um longo periodo, permitem a suposigao de que certas ceriménias sazonais ou periédicas eram fixadas com muita antecedén- ‘ia, como acontece em nossos dias entre os siberianos € 0s indios da América do Norte, Esse “sistema” de notagbes conserwou-s por thais de 25 mil anos, do iano precoce ao magdaleniane tardio. Segundo Marshak, a esrita, ica e o calendério propriamente dito, ue fazem seu aparecimento nes primeiras eivilizagbes,referem-se provavelmente ao simbolismo que im- _pregna o “sistema” de notagGes utilizado durante o paleolitco.”” ‘O que quer que se pense sobre a teoria geral de Marshak a tespeito do desenvolvimento da civilizagao, permanece o fato de que o ciclo lunar jé era analisado, niemorizado e utilizado com finalidades praticas cerca de 15 mil anos antes da descoberta da agricultura. Compreende-se entio melhor o papel considerdvel da Lua nas mitologias arcaices e sobretudo 0 fato de o simbo- lismo lunar haver integrado num nico € mesmo “sistema” realidades tio diversas quanto a mulher, a8 Sguas, a vegetacdo, a serpente,« fertilidade, a ‘morte, o“renascimento” etc.” ‘Ao analisar os meandros gravados em objetos ou pintados nas paredes das ‘caverns, Marshak concluiu que esses desenhos constituem um ‘sistema’, pols apresentam uma sucessio e exprimem uma intencionalidade, Essa estrutura 38 atestada nos desenhos gravados sobre um oss0 exumado em Pech de ’Azé (Dordonba) e pertencente 20 nivel do acheuliano (cerca de ~135.000), isto €, pelo menos 100 mil anos antes dos meandros do paleolitico superior. Aléma disso, os meandros sio tragados em torno de desenthos de enimais ¢ sobre cles, indicando certo ritual (‘ato individual de participa¢ic”, como 0 deno- ‘mina Marshal). dificil precisar-Ihes o sentido, mas, apartir de determinado ‘momento (por exemplo, o desenho de Petersfeld, Baden), os meandros so apresentados em “rimnning angles” e acompanhados de peixes. Nesse c#30, 0 simbolismo aquatico ¢ evident. Entretanito, segundo o autor, no se trata sim. plesmente de uma “imagem” da agua; os infimeros tragos deixados pelos de- dos e por diversas ferramentas denotam “um ato individual de participacdo” em que o simbolismo ou a mitologia equaticos exerciam seu papel.” TA Marshak “The Meander asa Sten. O autor lg quea radio dos meandros nose densa No comes, as Tais anilises confirmam a fungao ritual dos sinais e das figuras paleo- liticas, Parece agora evidente que essas imagens esses simbolos se referem a certas “his to é, a acontecimentos relacionados com as est ‘0 habitos do animal cagado, a sexualidade, a morte, os poderes ‘de alguns seres sobrenaturais¢ de certas personagens (“especialistas do sa- ‘grado”), Podemos considerar as representacées paleoliticas como um cbdigo ‘que significa ao mesmo tempo 0 valor simibslco (portant das imagens e sua funsio nas ceriménias referentes adivinhar sua importancia nas praticas “Tanto mais que varios desses “sistemas” si dades de cagadores. ‘Como observamos anteriormente (cf. 54) ¢ possivel “reconstituir” certos aspectos das religides da pré-histora considerando os ritos eas crencas espect- ficas dos cacadores pri [Ni se trata apenas de “paralelos etnogeificos”, snétodo que, com maior ou menor sucesto foi aplicado pos todos os pesquiss- dores, com excegio de Leroi-Gourhan e de Laming-Emperair* Mas,levando-se em conta todas a diferengas que separam uma cultura pré-historica de uma cultura primitiva, podem-se nao obstante circunscrever certas configuragées, fundamentais. De fat, virias cvilizagées arcaicas, bseadas na caca, ne pesca cena coleta, sobrevivem recentemente ma do eciimeno (na Terra do na Africa, entre os hotentotes € 08 anos, na zona dtica, na AUs- ‘ou nas grants lorestastropicais (s pigmeus bambutes ete). Apesar 6 Historia das crengas das ideas eeligisas | observamos, o éxtase de tipo xaminico parece atestado no paelitico Iss0 implica, por ump lado, a crenga numa “alma” capaz de abandonar 0 corpo e de -isjrlivremente no mundo;e, po outro lado, a convieg de que, nessa Viagem, alma pode encontrar certos sees sobre-humanos e pedir hes ajuda ou bén- ‘40. 0 &xtase xamanico implica, além disso, a possibilidade de “possur’ isto &, de penetrar os corpos das humanos, etambérn de "ser possuido” pela alma de ‘um morto ou de um animal, ou ainda por um espitito ou por um deus. Para evocar outro exemplo, a separagio dos sexos (cf. $6) perma supor a existencia de ritos secretos reservados aos homens ¢ emo apenigio dos grupos slo revelados aos adolescentes por intermédio do: autores acreditaram ter encontrado a prova desse tipo de iniciaco ma gruta ‘de Montespan, mas a interpretagio foi contestada. Entretanto, 0 arcaismo dos ritos iniciatrios ¢ indubitivel. As analogias entre varias cerimonias atestadas ‘nas extremidades do ectimeno (Austrdlia, América do Sule do Norte)” teste- ‘munham uma tradicio comum desenvolvida jé.n0 paleolitico. No que se refere & “danga circular” de Montespan (Geja qual fora inter- pretagao dos tragos deixados pelos pés dos jovens no solo argiloso da grute), ‘Curt Sachs néo duvida de que essa coreogratia ritual fosse conhecida pelos paleoliticas.” Ora, a danga circular é extremmamente difundids (em toda a TFurdsie, na Europa oriental, na Metanésiayentre os indios da California ec). Ela é praticada em tode parte pelos cagadores, seja para apaziguar a alma do gio da caga.® Em ambos os. a dos cacadores paleliticos & presa deixa presumir certo ntimero de “segredos do oficio” exclusivos dos ho- mens; ora, “segredos” semelhantes sfo comunicados aos adolescentes através das iniciagies a circular ilustra admiravelmente a perssténcia dos ritos ecrengas ppré-histricos nas culturasarcaicas contemporiness. Vamos encontrar ou- tros exemplos. Lembremos, por enquanto, que certas pinturas rupestres do rmacigo do Hoggar e do Tassili puderam ser “decifradas” gragas a um mi iniciatorio dos pastotes peiles, mito comunicado por um erudito do Mall 10 africanista Germaine Dieterlen, que o publicou, Por seu turno, H. von Sicard, em monografia dedicada a Luwe e aos seus anélogos onomésticos, chegou & conclusio de que esse deus afticano representa a mais entiga crenca religiosa dos cagadores euro-afticanos, numa época que o lent como sendo anterior a~8.000."* No comer. » Em resumo, parece plausivelafirmar que determinado mimero de mitos ra familiar s populagées paleoliticas,em primero lugar os mitos cosmogé- nicos e 0s mites de origem (a origer do homem, da presa, da morte etc). Para ddarmos apenas um exemplo, um mito cosmoginico Pde em cena as iguas pric ‘mordiais¢ 0 Criador, antropernorfo ou com a forma de um animal aquitico, que desce a0 fundo do oceano para trazer a matéria necessria&criagéo do ‘mundo. A enorme difuséo dessa cosmogoniae sua estrutura arcaicaindicam tuma tradicio herdada da mai Shistria* Da mesma forma, mites, lendase sitos relacionados oo asas,as plumas de aves de rapina, gui, falco) so universalmente atestados, desde a Austria e@ América do S slo solidéios as experi permitido supor a existent ur da experiéncia fundament est6 organizado 0 espago, J6em 1914, W. Gaerte tinha recolhido uma grande

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