O viajante chega ao hotel que reservou com base em informações
genéricas obtida em publicações, internet, o próprio estabelecimento ou agência. Assustado, descobre que comprou gato por lebre. Instalações deficientes, serviços ultrajantes, localização sinistra, seja qual for a decepção, tudo porque não existe ainda no Brasil um sistema de classificação hoteleira isento, transparente e confiável, e que, a não ser por sorte, se ajuste às expectativas do hóspede. Se isto é lamentável em tempos normais, torna-se deplorável diante das iminentes Olimpíadas e Copa do Mundo.
O que fazer? Resgatar a velha conhecida avaliação dos hotéis por
estrelas? Inúmeras tentativas no passado sempre terminaram em fiasco. Culpe-se principalmente a leniência governamental, traduzida em afrouxamento de regras, e que acabou por desmoralizar modelos bem intencionados. Afinal, qual o hoteleiro com juízo que se deixa pousar de sacristão quando pode ser abonado como bispo? Foi assim que o antigo sistema naufragou sem deixar saudades. Mas se outras classificações oficiosas surgiram, o problema é carregaram na bagagem critérios questionáveis. Foi assim com guias independentes, que se por um lado ajudam, de outro mantêm os ingredientes do bolo longe dos olhos públicos. Ou a autoclassificação das unidades pelas próprias redes, que sobrecarregam nos elogios e fingem de míopes nos defeitos. Ou ainda sites de avaliação do consumidor, muitos patrocinados por agências on line, mas que vítimas do modelo democrático, abrigam hóspedes ressentidos por dores pessoais, quando não se tratam de concorrentes travestidos, que esculacham estabelecimentos de forma cruel. Se nada disto bastasse, o que falar das matérias de turismo de gente que visita hotéis através de convites “boca livre” para em seguida retribuir o carinho interessado do estabelecimento por elogios desmedidos?
A boa notícia é que os dias de amadorismo e improviso parecem
contados. A causa mortis foi o acesso à informação de qualidade na internet combinado ao poder de decisão cada dia maior do consumidor. Neste ambiente favorável, anuncia-se a séria intenção do governo brasileiro, reforçado por lei, de reclassificar os hotéis por tipo de estabelecimento e número de estrelas (de uma a cinco). Desta vez, promete o Ministério do Turismo, embasado em amplo estudo de consultoria especializada e processo de revisão de critérios com participação de todos os interessados, o Brasil vai ganhar um sistema estelar à prova de equívocos. Mas a decisão não nasce na unanimidade. Ácidos críticos, escaldados em experiências desastrosas do passado, temem pelo surgimento de mais um oneroso elefante branco estatal que na mesma velocidade engole verbas e expele burocracia, ponto de partida para uma viagem pelo suborno institucionalizado. Estes opositores citam os Estados Unidos, exceção do mundo, como país que abriu mão de classificações oficiais, e equilibra-se nas forças do mercado. Mas os defensores da classificação, que não são poucos, dizem que desta vez tudo será diferente. Estamos afinal na fronteira de uma nova leva de estrelas cadentes de vida curta, ou então das de primeira grandeza, que ajudarão a iluminar o universo hoteleiro? O tempo dirá.