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São Paulo
2017
APRESENTAÇÃO
Este trabalho apresentará edições diplomáticas, crítica e modernizada de uma cantiga de amor
atribuída a Fernão Velho, trovador de origem incerta, talvez portuguesa, talvez galega. A composição da
cantiga data provavelmente do terceiro quartel do século XIII. Seu primeiro verso, em versão modernizada,
lê-se “A maior coita que eu vi sofrer”, e ela aparece em três cancioneiros: no Cancioneiro da Ajuda (cantiga
de número 260), no Cancioneiro da Vaticana (número 49) e no Cancioneiro da Biblioteca Nacional (número
437). Ela pode ser acessada nas edições mecânicas dos três cancioneiros no link:
http://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=428&pv=sim
A abreviação referente a cada cancioneiro será: “A” para Cancioneiro da Ajuda, “B” para
Cancioneiro da Biblioteca Nacional, e “V” para Cancioneiro da Vaticana.
Para as edições diplomáticas, foram adotados os sinais mais próximos possíveis àqueles grafados nos
Cancioneiros. Assim, o subscrito na letra indica letra cortada (como na abreviação de “per” na 12ª linha do
manuscrito B), o travessão sobre a letra indica o traço sobre a letra (como na abreviação de “que” na 1ª linha
do manuscrito B), o sinal “9” indica o grafo semelhante que abrevia “os” (ver, por exemplo, a 4ª linha do
manuscrito B).
De mais difícil semelhança na transcrição foram: a grafia específica do “s” que aparece na
abreviação de “deus” no manuscrito B, transcrita por “s᷈”, a abreviação de “ser” em “servir”, na linha 9ª do
mesmo manuscrito, transcrita por “s”, e a transcrição dos sinais sobre e sob a letra “a” na abreviação de
“gracir” na ª linha do manuscrito V, transcritos “ã”. No manuscrito B, a letra grega “Г” transcreve o sinal
semelhante que indica o estribilho. Nesse mesmo manuscrito há palavras não identificadas acima e abaixo
da cantiga, que não foram transcritas, e uma mancha no final da 6ª linha, cuja interferência, acredito, foi
possível driblar (e por isso não está indicada na edição diplomática). No manuscrito A faltam algumas
maiúsculas (linhas 4, 7, 12 e 16), e na 6ª linha falta uma letra “o” em “mundo”, que talvez tenha sumido pela
ação do tempo e não foi transcrita por respeito à fonte. O manuscrito V é o que mais apresenta interferência
do verso do folio, mas nada que impeça a identificação total do texto. A estrofação foi mantida conforme
pareceu respeitar os manuscritos, atenção especial sendo dada ao espaçamento dos versos iniciais no
manuscrito A e à falta de espaçamento entre a 6ª e 7ª linhas no manuscrito V.
Para a edição crítica, preferi deixar o aparato crítico na frente de cada verso, pois acredito que assim
a consulta é mais fácil. Quando o aparato não coube na mesma linha, sua continuação na linha de baixo está
indicada pelo colchete “[“. Na nota de rodapé encontram-se informações adicionais e justificativas quanto às
decisões tomadas na edição.
A edição modernizada levou em consideração tanto o sentido original do texto como também sua
métrica e sonoridade. Sendo assim, como toda tradução poética, encontrou algumas dificuldades em adaptar
as diferenças linguísticas às medidas formais. Mesmo assim, acredito que o conteúdo da cantiga permaneceu
bastante próximo ao original.
2
EDIÇÃO DIPLOMÁTICA
VERSÃO CANCIONEIRO DA AJUDA (A 260)
nostro sennor.
3
EDIÇÃO DIPLOMÁTICA
VERSÃO CANCIONEIRO DA BIBLIOTECA NACIONAL (B 437)
4
EDIÇÃO DIPLOMÁTICA
VERSÃO CANCIONEIRO DA VATICANA (V 49)
5
EDIÇÃO CRÍTICA
A maior coita que eu vi sofrer A Amaior / soffrer. #B mayor coyta / vj #V mayor coyta
d’amor a null’ome des’que naçi A naçi. eu mia #V anullome
eu mha sofro e já que est assi A – soffro / ia / assi. meus ami #B ia #V ia
meos amigos assi veja prazer A – gos assi ueia prazer. radese a #B ueia #V meo amigo /
5 Gradesc’a deos que me faz a mayor A – deus / maẏor. coita #B quemj / amayor #V quemi [ueia
coita do mundo aver por mha senhor A – do mund[o] / mia sennor. [ / amayor
E ben tenh’eu que faço gran razon A – ben tenneu #B tenhai / (não há gran) / razo #V razo᷄
da mayor coita muit’a deus graçir A maẏor #B coyta / (não há muita) #V maior coyta / (não
que m’el da per mha senhor que servir A mia señor [ há muita)
10 ei mentr’eu viver mui de coraçon B ey mentri coraço #V ey mentrí / coraçó
Gradesc’a deos que me faz a mayor A Gradese a / maẏor #B que – #V que –
coita do mundo aver por mha senhor A (não há) #B (não há) #V (não há)
Pois que mha faz aver pola A mia #B Poys / pola melhor #V quemha / así pola melhor
20 melhor dona de quantas fez A mellor. / fez ; #B – dona / fez nostro senhor #V – dona /
nostro senhor. A sennor #B (não há) #V (não há) [fez nostro
[senhor.
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No aparato crítico, o travessão indica começo ou fim de verso; isto é, onde há travessão não há nada
escrito. Esse recurso foi importante para indicar as versificações diferentes de cada manuscrito.
Notar que a pontuação (em geral suprimida, para evitar confusão e rarear intervenções
modernizantes), os apóstrofes, o “já” na terceira linha e o “veja” na quarta linha são acréscimos do editor,
para facilitar a leitura, bem como o afastamento do estribilho. As pontuações originais, quando há, estão
indicadas no aparato crítico. Por atenção dada à métrica, foram mantidas as inclusões de “gran” e “muita”
respectivamente nos versos 7 e 8, e foi escolhida a versificação da última estrofe. Para dar melhor ideia da
cantiga, escolhi repetir o estribilho em todas as estrofes, e não apenas indicá-lo, como feito em todos os
manuscritos considerados. A grafia das palavras foi padronizada, dando privilégio a formas mais
semelhantes às modernas (como em “me” ao inv s de “mi” ou “mj”, “senhor” ao inv s de “sennor”, ou
“coita” ao inv s de “coyta” etc.), sempre se atendo às possibilidades oferecidas pelos manuscritos. As
abreviações também foram substituídas pelas palavras correspondentes, para facilitar a leitura, e tais
abreviações (por exemplo “pr”, “q” ou “9”) não estão indicadas no aparato crítico.
6
TRADUÇÃO DA CANTIGA EM LÍNGUA PORTUGUESA ATUAL