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SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
2.ª edição
2009
© 2003-2009 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autoriza-
ção por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
D449s
2.ed.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-0265-8
A sociologia da educação....................................................... 33
Os primeiros grandes sociólogos:
a educação como tema e objeto de estudo..................................................................... 34
As teorias sociológicas e a educação.................................................................................. 43
Educação e família.................................................................... 63
As transformações da família................................................................................................. 64
Educação e família no Brasil................................................................................................... 70
A mudança social....................................................................151
Fatores que desencadeiam a mudança............................................................................154
A ação pedagógica e a mudança social...........................................................................157
A estratificação social............................................................169
Formas de estratificação social............................................................................................173
A educação e a estratificação social..................................................................................177
A mobilidade social................................................................189
Tipos de mobilidade social...................................................................................................190
Educação como fator de mobilidade social....................................................................193
Educação e desenvolvimento.............................................241
As desigualdades sociais e o subdesenvolvimento.....................................................245
Origens históricas do subdesenvolvimento...................................................................247
As desigualdades sociais e o papel transformador da educação...........................248
A profissão de professor.......................................................293
A questão da formação profissional..................................................................................295
O ofício de professor e seu papel na sociedade............................................................298
Gabarito......................................................................................329
Referências.................................................................................343
Anotações..................................................................................349
Apresentação
O que você espera dessa disciplina? Quais são suas expectativas em relação à so-
ciologia? No que a sociologia se aproxima da educação? Essas e outras perguntas
nos acompanharão a partir daqui.
Mas, antes disso, seria interessante esclarecer algumas questões que nortearão
nosso trabalho. Inicialmente, deve-se destacar que o que se apresenta aqui é uma
síntese dos temas mais relevantes da sociologia enquanto Ciência Social, preocu-
pada em tentar explicar a vida social e as questões relacionadas à vida do homem
em sociedade, em seus múltiplos aspectos. Não se pretendeu elaborar um manual
e muito menos um compêndio que pretendesse dar conta de todos os temas e/
ou conceitos relacionados a essa ciência. Optou-se por privilegiar alguns tópicos
que são considerados básicos e depois relacioná-los com a questão da educação.
A sociologia da educação tem como objetivo pesquisar e analisar a educação em
seus aspectos sociológicos, isto é, os fenômenos sociológicos.
O objetivo maior é procurar conhecer e analisar a inter-relação entre o homem, a
sociedade e a educação, à luz de diferentes teorias sociológicas, bem como das
práticas pedagógicas ratificadoras e/ou transformadoras dos contextos cultural,
social, político, econômico e ecológico.
A proposta é despertá-lo para discussões futuras a partir do embasamento teórico
que essa ciência oferece e, sempre que possível, trazer o debate para a realidade
educacional brasileira. Para tanto, sugere-se alguns textos de apoio, bem como
atividades para autoavaliação. Indicações de leituras complementares e filmes
acompanharão o texto-base, e são importantes para aprofundar algum assunto/
tema que se considere relevante.
Vale lembrar também que nada substitui a leitura dos próprios mestres, no caso
aqui, os “fundadores” da sociologia e da sociologia da educação. Portanto, não de-
sanime em buscar na própria fonte as respostas às suas inquietações. Vá em frente!
A disciplina pretende desenvolver módulos que possibilitem a compreensão
da constituição da realidade social e sua relação com a educação, por meio do
estudo de aspectos dos processos sociais presentes na produção e configuração
do sistema educacional. Assim, o livro está estruturado em 18 unidades, em que
se propõe uma discussão sobre a relação entre a sociologia e a educação, apresen-
tando as contribuições dos autores clássicos e sua percepção acerca das questões
relacionadas à educação (A Sociologia da Educação) e contextualizando a ciência
no Brasil (A Sociologia da Educação no Brasil).
A partir daí, tem-se a discussão de alguns temas/conceitos fundamentais para
a reflexão aqui proposta. Na unidade intitulada educação e família apresenta-se
uma síntese das transformações pelas quais passou a família ao longo do tempo
e sua importância quando se discute educação. Para tanto, também se faz ne-
cessário observar como o sentimento de infância surge e se modifica a partir do
que se tem, inclusive o surgimento dos colégios e novas visões da infância e da
juventude (concepções de infância e juventude).
A discussão sobre a escola à luz de alguns conceitos sociológicos compõe as
próximas unidades: a escola como instituição social, a escola e o controle social e a
escola e o desvio social. Em seguida, são abordados outros conceitos também im-
portantes para a sociologia da educação: a mudança social, a estratificação social,
a mobilidade social, educação e movimentos sociais e a educação e o Estado.
Finalmente, são apresentados alguns temas mais amplos que dizem respeito à rea-
lidade do país (educação e desenvolvimento, educação e cotidiano no Brasil e pro-
blemas da educação no Brasil), da escola e do professor (a profissão de professor),
além de chamar a atenção para questões que exigem muita reflexão por parte do
docente, no sentido de avaliar sua prática pedagógica (perspectivas da educação
no Brasil).
Vale ressaltar, enfim, que vivemos um momento privilegiado na história, uma vez
que a presença da sociologia no currículo está intimamente ligada à democratiza-
ção do acesso ao conhecimento científico, com vistas ao incremento da discussão
consciente, racional e bem fundamentada do educador na realidade social.
Bom trabalho!
Mas por que sempre que se fala em sociologia não falta quem per-
gunte para que ela serve? Por que não acontece o mesmo com a maioria
das outras ciências? A resposta está relacionada com a própria natureza
dessa ciência, que tem o homem em interação e a sociedade como objeto
de estudo. A questão que se coloca de imediato é por que isso se tornou
necessário? O que teria mudado tanto na vida do homem ou da sociedade
como um todo que demandariam a existência de uma nova ciência para
dar conta de explicar essas transformações? Assim, está feito o convite à
reflexão sobre a relação existente entre sociedade e educação a partir da
perspectiva sociológica.
Vamos procurar perceber quais são os valores sociais que definem os obje-
tivos da educação, do ensino e seus métodos, além de tentar estabelecer as re-
ações existentes entre a sociedade e o que se privilegia ensinar, e como isso é
feito no cotidiano da escola e fora dela, por outras instituições sociais – tais como
a família, por exemplo. É fundamental entendermos que os sistemas educacio-
nais relacionam-se com as instituições sociais e com as determinantes culturais
que regem a vida em sociedade.
O que é sociologia?
Podemos começar tentando esclarecer o que é a sociologia, lembrando que
os homens diferenciam-se dos animais por sua capacidade de se relacionar de
maneiras diferentes, incluindo a própria linguagem, código que lhe possibilita
comunicar-se com outros homens e, assim, tornar-se um ser social. E qual a im-
portância disso para nós? Esse é um dado fundamental para entendermos como
o homem biológico torna-se um ser social capaz de ter e produzir cultura – que
envolve a todos e modela nossa personalidade – e quando se internalizam regras
sociais, maneiras de ser, de pensar e de agir, transmitidas através do processo de
socialização. Laraia (1989, p. 46) nos diz que “o homem é o resultado do meio
cultural em que foi socializado”.
14
A sociologia e a educação
Istock photo.
O homem precisa compreender-se, compreender os outros e buscar respos-
tas para as perguntas que a vida lhe coloca, participando de forma diferente
de sua cultura. Ao fazer isso, está sempre produzindo cultura e internalizando
padrões e caracteres culturais. A cultura é dinâmica e opera de várias formas,
condicionando a visão de mundo do homem e interferindo no plano biológico.
Finalmente, é preciso destacar que a cultura é dinâmica e tem sua própria lógica
(Laraia, 1989). Tentar captar essa lógica é o começo para se fugir do etnocen-
trismo, que ignora as diferenças e a pluralidade cultural, como sendo algo que
deveria agregar e não separar os homens.
Vimos, então, que a sociologia é uma ciência e, como tal, deve ter uma base
teórico-metodológica que serve para estudar os fenômenos sociais, tentando
explicá-los e analisando os homens em suas relações de interdependência. Utili-
za-se de estratégias e técnica de pesquisa que lhe são próprias e que lhe garante
o caráter de cientificidade. Afinal, conforme nos diz Thiollent (1987, p. 21),
[...] sem investigação concreta, a sociologia não está longe de ser um discurso filosófico ou
político arbitrário. Por outro lado, sem problemática teórica, a sociologia é considerada apenas
como enquete e degenera em vulgar pesquisa de opinião ou em pesquisa administrativa
totalmente permeada pelo empirismo e pela ideologia a curto prazo dos utilizadores da
pesquisa. O uso de questionários e entrevistas não é sinônimo de empirismo quando estas
técnicas, consideradas como meio de captação de informação, a ser criticada, e não como
fins em si, são submetidas ao controle metodológico e subordinadas a uma verdadeira
preocupação de teoria sociológica.
15
Sociologia da Educação
Domínio público.
posta baseada em ideais como
liberdade, igualdade e fraternida-
de. Mesmo deixando muito a de-
sejar em relação a esses valores
revolucionários, atualmente não
se pode negar que o seu poder
transformador se concretizou
em várias regiões do mundo e re-
percutiu a ponto de mudar para
sempre a história do homem e da
sua vida em sociedade.
16
A sociologia e a educação
debatiam com a alta dos preços, as más colheitas, o êxodo rural em razão do
avanço das atividades têxteis, o descaso e o abandono. As graves repercussões
sociais e econômicas desse quadro foram a base que impulsionou os revolucio-
nários. Essa revolução ultrapassou os limites da França e seus ideais se estende-
ram por toda a Europa, ameaçando hierarquias e privilégios.
17
Sociologia da Educação
trabalho passa a ser visto e vivido de outra maneira, não mais como algo humi-
lhante, degradante ou “privilégio” dos escravos (tal como era visto na antiguidade)
ou dos servos (no mundo feudal). Adquire um caráter de atividade que dignifica e
qualifica o homem, podendo gerar lucro e riqueza.
Domínio público.
o trabalhador e o produto final do
seu trabalho, uma vez que o capitalis-
ta é quem passa a exercer o controle
técnico do processo de produção e a
deter os chamados meios de produção
(terra, ferramentas e instrumentos de
trabalho). O trabalhador tem “apenas” Mulheres trabalhando em indústria de whisky
sua força de trabalho e passa a vendê- em Louisville, Kentucky, EUA.
-la em troca de um salário, alienando-
-se do processo e perdendo a visão
Domínio público.
global da produção.
18
A sociologia e a educação
Do que vimos até agora, podemos concluir que o homem passa a ser o grande
objeto de estudo da nova ciência – num contexto que estava se tornando cada
vez mais racional e científico – em detrimento às análises baseadas nas explica-
ções e dogmas religiosos, filosóficos e do senso comum. Essa inquietude intelec-
tual estimulou e instigou a reflexão sobre o homem, a vida social e a sociedade
como objetos de estudo. Com nomes como Comte (“pai” da sociologia com sua
“física social”), Durkheim e Marx, a sociologia se consolida como ciência e abre
caminho para novas teorias e métodos que vão se constituindo à medida que
avançam as reflexões sobre os consensos, os conflitos e os problemas gerados
por essa sociedade capitalista e industrial – em suas múltiplas manifestações.
A sociologia da educação
e alguns conceitos básicos
E assim como existem várias culturas e várias sociedades, tem-se também mais
de uma sociologia. Dentre essas várias sociologias, a sociologia da educação – ci-
ência que investiga a escola enquanto instituição social, analisando os processos
sociais envolvidos – assim como as demais sociologias “especializadas”, têm como
base as teorias sociológicas. O que importa discutir, neste momento, é que todas
aquelas transformações vividas pela sociedade trouxeram novos temas para dis-
cussão no campo da educação – entendida aqui tal como Meksenas (2002, p. 19),
como o conjunto das várias “maneiras de transmitir e assegurar a outras pessoas
os conhecimentos de crenças, técnicas e hábitos que um grupo social já desen-
volveu a partir de suas experiências de sobrevivência”.
19
Sociologia da Educação
O conceito de classe social, por sua vez, relaciona-se com mobilidade social,
diferentemente da noção de estamentos3, que se baseavam em hierarquia e/ou
códigos de honra, muitos ligados à própria condição de nascimento. De acordo
com Vieira (1996, p. 58), as classes sociais
[...] organizam-se em camadas sociais fundadas na separação entre trabalhadores e proprietários
dos meios de produção, às vezes com consciência social correspondente às suas condições de
existência [...] e admitem mobilidade entre si, abrindo-se aos movimentos sociais e revelando
também conflitos, principalmente quanto à distribuição do poder entre elas, na disputa sobre
o domínio econômico, político e intelectual na sociedade industrial.
21
Sociologia da Educação
Toda essa discussão nos leva à necessidade de explicitar melhor o que vem
a ser socialização, fundamental para se entender o processo social e também o
processo educativo. A criança quando introjeta valores e regras a partir da família,
principal grupo de socialização, está se “capacitando” para a vida em sociedade,
garantindo inclusive a perpetuação do próprio grupo social (entendido como co-
letividade) e a formação da sua personalidade. A família é vista como um órgão
de controle social e agente da socialização na medida em que “regula grande
parte do comportamento de seus membros, impedindo ou procurando impedir
conduta que a sociedade considere condenável”(LENHARD, 1985, p. 115).
22
A sociologia e a educação
Texto complementar
A formação da sociologia
(BRASIL ESCOLA, 2009)
23
Sociologia da Educação
24
A sociologia e a educação
25
Sociologia da Educação
26
A sociologia e a educação
27
Sociologia da Educação
Dicas de estudo
Assista aos filmes indicados e reflita sobre eles.
Germinal
Mostra a realidade dos operários franceses nas minas de carvão, no final do
século XIX, convivendo com a fome, a miséria e as más condições de trabalho,
que acabam gerando conflitos e manifestações contra os patrões. O que aconte-
ce nessa mina é um retrato do que acontecia nas fábricas, em geral, nos primór-
dios da Revolução Industrial. Sem o amparo de uma rede de proteção social, os
trabalhadores eram expostos a todo tipo de exploração, em nome do alto lucro
dos capitalistas. Observe as mudanças que já aconteceram na realidade das fá-
bricas até os dias atuais.
Sugestões de leitura
BARREIRA, C. (Org.). A Sociologia no Tempo. São Paulo: Cortez, 2003.
CATANI, Afrânio Mendes. O que é Capitalismo? 23. ed. São Paulo: Brasiliense,
1986. (Coleção Primeiros Passos).
HOBSBAWM, Eric. A Era das Revoluções. 23. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
2007.
28
A sociologia e a educação
SANTOS, José Luiz dos. O que é Cultura? 5. ed. São Paulo: Brasiliense, 1986.
(Coleção Primeiros Passos).
Atividades
1. Procure escrever, em uma frase, o que você entende por sociologia, desta-
cando qual seria seu objetivo maior.
29
Sociologia da Educação
3. Pense na sua família e procure perceber como ela exerceu sua ação sociali-
zadora com você. Faça uma redação para contar como isso aconteceu e co-
mente com seus colegas para trocar experiências.
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A sociologia e a educação
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A sociologia da educação
34
A sociologia da educação
É claro que não iremos percorrer todo esse caminho, até porque não é esse o
objetivo dessa nossa rápida passagem pelo mundo dos fundamentos teóricos
da sociologia. Vamos somente apontar alguns aspectos centrais das obras dos
três grandes sociólogos – Durkheim, Marx e Weber –, lembrando que muitos
outros deram sua contribuição para a discussão dos fenômenos sociais ligados à
educação. Em outros momentos, retomaremos esses autores e apresentaremos
outros para uma melhor compreensão da educação.
Domínio público.
Sabemos que foi Auguste Comte (1798-1857) quem deu
o primeiro passo e a quem é atribuído o uso, pela primeira
vez, da palavra sociologia1. É de Comte também a preocu-
pação de dotar a sociologia de um método, preferencial-
mente alguma coisa bem parecida com os métodos usados
pelas ciências naturais, para que não restassem dúvidas
sobre o fato de ser ela uma ciência – a física social, como ele
a definia inicialmente. Auguste Comte.
1
Palavra como radical latino socio (sociedade) com o radical grego sofia (saber, conhecimento).
2
Intitulados A Divisão do Trabalho Social, As Regras do Método Sociológico e O Suicídio.
35
Sociologia da Educação
Domínio público.
Durkheim analisou as estruturas e instituições sociais,
bem como as relações entre o indivíduo e a sociedade, ana-
lisando as novas relações de poder que se configuravam na
Europa da sua época. A sociedade consumista que surgia e
o crescente individualismo preocupavam o autor, que via
aí uma forte possibilidade de desagregação social.
Èmile Durkheim.
Via a educação como um processo contínuo e como um
caminho em direção à ordem e à estabilidade, conforme determinados valores
éticos fossem passados. Refletir, conhecer e tentar explicar os processos da ação
educativa, sempre considerando sua evolução histórica, possibilitaria a tomada
de decisões que pudessem levar à transformação social.
Dizia também que a sociedade é mais do que a soma de seus membros e que,
portanto, deveriam ser analisadas suas interações e o sistema que daí se originaria.
Enfatiza em sua obra que o comportamento dos grupos sociais não pode ser redu-
zido ao comportamento dos indivíduos que fazem parte desse grupo.
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A sociologia da educação
37
Sociologia da Educação
Mais uma vez, o que se pode observar é que ao se analisar a educação, ou melhor,
pensá-la sociologicamente, a sociedade é pensada como um todo, uma vez que a
educação deve ser entendida como uma instituição social, portadora das mesmas
características que se pode encontrar na sociedade na qual está inserida.
Domínio público.
Outro teórico que muito contribuiu para o desenvolvi-
mento da sociologia e das teorias sociológicas foi Karl Marx
(1818-1883), que vê a sociedade como um todo composto
de várias partes, como a economia, a política e as ideias (a
cultura). Mas, para ele, a economia seria a base de toda a
organização social e as explicações para os fenômenos so-
ciais viriam do aprofundamento da análise econômica.
Karl Marx.
Marx pensou de forma crítica sobre o Estado, que de alguma forma legitima-
ria a apropriação por uma minoria dos meios de produção, com o objetivo de
explorar a força de trabalho do proletariado, classe que para Marx seria a classe
revolucionária. Mas, para tanto, a classe operária deveria conhecer a si mesma
em termos teóricos, ao mesmo tempo em que implementaria uma prática social
que seria reflexo dessas escolhas conscientes.
A noção de classe social é fundamental na análise que Marx faz dos proble-
mas oriundos, a seu ver, da nova ordem instaurada pelo capitalismo, pautada,
38
A sociologia da educação
39
Sociologia da Educação
Diante de tudo isso, não é difícil imaginar como Marx via o processo educati-
vo. Não acreditava na ideia de que a educação poderia ser a atividade que seria
capaz de promover por si mesma a transformação que a sociedade necessitaria.
Pelo contrário, segundo seu ponto de vista,
[...] a atividade do educador era parte do sistema e, portanto, não podia encaminhar a
superação efetiva do modo de produção entendido como um todo. O educador não deveria
nunca ser visto como um sujeito capaz de se sobrepor à sua sociedade e capaz de encaminhar
a revolução e a criação de um novo sistema.
A atividade do educador tem seus limites, porém, é atividade humana, é práxis. É intervenção
subjetiva na dinâmica pela qual a sociedade existe se transformando. Contribui, portanto, em
certa medida, para o fazer-se da história. (KONDER, 2002, p. 19-20)
Assim, apesar de não haver escrito sobre educação, Marx trouxe grande con-
tribuição para a sociologia da educação, principalmente por chamado a atenção
para o fato de que o homem é um ser social construído historicamente, sempre
que duvida de alguma coisa, que questiona o que parece já estar estabelecido.
Podemos pensar então que, segundo essa teoria, a educação é sempre uma
via de mão dupla: questiona-se tudo, discute-se, buscam-se novos caminhos, às
vezes passando pelo conflito de interesses. Suas análises da vida social e do
homem repercutem na educação na medida em que aponta para o importante
papel que o educador pode vir a desempenhar, caso esteja convencido da ne-
cessidade de sempre duvidar do ideal de sua prática pedagógica e de questionar
a sociedade na qual se insere (e da qual seus alunos e sua escola também fazem
parte). Caso contrário, a educação se torna “uma das mais importantes formas de
perpetuação da exploração de uma classe sobre a outra, utilizada pelo capitalis-
ta para disseminar a ideologia dominante, para inculcar no trabalhador o modo
burguês de ver o mundo” (RODRIGUES, 2001, p. 49).
Domínio público.
tempo, quando o capitalismo se consolida como modo de
produção, e travará um diálogo profundo com a obra de
Marx, de quem discordará em muitos pontos.
Sua sociologia compreensiva tem como premissa básica que para entender
a sociedade capitalista em seus sistemas sociais e intelectuais, seria necessário
compreender a ação do homem em interação.
41
Sociologia da Educação
do ser social, da cultura e da própria sociedade, sempre partindo de uma base teó-
rico-metodológica consistente. É o pioneiro nos estudos empíricos na sociologia.
Mais uma vez vale a pena recorrer a Vilela (2002, p. 90), quando a autora diz que
[...] o eixo da sociologia da educação de Weber está na demonstração de que através dos
sistemas escolares (e das práticas sociais no interior desses sistemas) se desenvolve um processo
peculiar de imposição dos caracteres dos grupos sociais e do poder estabelecido. [...] É possível
demonstrar como, através de processos de inculcação e legitimação de determinados tipos de
conduta e de certos bens culturais, se estabelece o processo de manutenção e reprodução dos
modelos reinantes na estrutura social.
Assim, o importante para Weber é entender como e por meio de que tipo de
relações sociais se mantém o modelo de sociedade e de que maneira os proces-
sos de dominação estruturariam a vida social. Considera que os valores cultiva-
dos pelo indivíduo dizem respeito ao seu lugar ideal na sociedade, à sua posição,
e não apenas ao fato de ser ou não possuidor dos meios de produção.
42
A sociologia da educação
Mas, talvez, a maior contribuição de Weber esteja no fato de que ele, por
meio de suas análises da escola, trouxe para a sociologia da educação novos
temas para serem discutidos, muitos deles ainda bastante atuais, especialmente
aqueles ligados com a questão da dominação e reprodução social.
43
Sociologia da Educação
Para Gramsci, por exemplo, a cultura seria o espaço no qual se travaria a luta
de classes e, portanto, seria por meio de uma revolução cultural que se pode-
ria mudar a estrutura da sociedade. Destaca, então, o papel fundamental que
a escola e os intelectuais exerceriam nesse processo, estratégias para que o su-
cesso pudesse ser alcançado. Essa escola, que chamou de única (e unitária do
ponto de vista do conhecimento) seria frequentada tanto por operários quanto
por intelectuais, todos recebendo uma formação profissional e a cultura clássi-
ca. Esse processo resultaria na formação do intelectual orgânico, comprometido
com sua classe social e com um saber (erudito e técnico-profissional).
Acreditava que somente dessa maneira não se teria mais a separação entre
trabalho intelectual e trabalho material, possibilitando que esse intelectual fosse
promotor da mobilização política que levaria à revolução cultural que, por sua
vez, transformaria a sociedade.
Quando esse processo não atinge seu objetivo, isto é, controlar os indivíduos,
“modelando-os” para a vida em sociedade, entraria em ação, segundo Althusser,
3
Ver algumas obras desses autores, em especial:
ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado. 10. ed. São Paulo: Graal, 2007.
_____. Sobre a Reprodução. Rio de Janeiro: Vozes, 1999.
GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.
_____. Intelectuais e a Organização da Cultura. São Paulo: Civilização Brasileira, 1989.
4
Maio de 1968 foi um momento de intensas transformações políticas, sociais e comportamentais que marcaram a segunda metade do século XX,
no Ocidente, e que atingem o auge quando as manifestações estudantis ocorridas nas universidades de Nanterre e Sorbonne, na França, reper-
cutem em diversas universidades de países da Europa e das Américas, ganhando uma dimensão ainda maior com a ampliação das revoltas para a
classe trabalhadora. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2008/maiode68/>. Acesso em: fev. 2009.
5
Ao lado da Igreja e de outras instituições sociais.
44
A sociologia da educação
Texto complementar
O caminho que se deve seguir na educação
(MULTIEDUCAÇÃO, 2009)
Walt Disney.
– Poderia me dizer, por – Oh, mas isso depen- – Não me importa mui- – Nesse caso, não im-
favor, qual o caminho de muito, minha cara to para onde. porta muito por onde
para eu sair daqui? menina, do lugar para você vá...
onde você quer ir...
45
Sociologia da Educação
No mundo de hoje, numa sociedade cada dia mais voltada para a tecno-
logia, em processo de mudança acelerado, é preciso refletir sobre se quere-
mos constituir sujeitos ativos, transformadores ou meros sujeitos passivos,
receptores de conhecimentos.
Cada professor terá que saber onde quer chegar. Sabendo o ponto de
chegada, fica mais fácil traçar o roteiro da viagem com os alunos.
Dicas de estudo
Navegue pelo site <http://www.textus-textos.com.br/sociologia.html>. Lá,
você encontrará uma área chamada Sociologia, com muitas dicas sobre arti-
gos, sites e revistas da área. Tem também a sessão voltada para educação. Vale
conferir!
46
A sociologia da educação
Sugestões de leitura
CARVALHO, Alonso Bezerra de; SILVA, Wilson Carlos Lima. Sociologia e Edu-
cação: leituras e interpretações. São Paulo: Avercamp, 2006.
PILETTI, Nelson. Sociologia da Educação. 18. ed. São Paulo: Ática, 2002.
Atividades
1. Tente apontar as diferenças entre Durkheim, Marx e Weber quanto à função
e o papel da educação na sociedade capitalista.
47
Sociologia da Educação
48
A sociologia da educação
49
A sociologia da educação no Brasil
Mas a mesma autora chama a atenção para o fato de que, além da divisão
social do trabalho, é preciso “que a organização da produção e da sociedade esteja
montada de forma a prevalecer uma hierarquia entre quem tem conhecimento e
poder e quem não tem” (p. 28). Essa questão é de fundamental importância para
se começar a pensar a sociologia da educação no Brasil – país marcado pela de-
sigualdade em vários níveis e de vários tipos, inclusive de oportunidades – onde
a opção histórica feita pelo Estado tem sido pelas camadas da sociedade mais
favorecidas economicamente, refletindo-se esse modelo de sociedade também
na escola e no processo educativo.
52
A sociologia da educação no Brasil
mais objetivas. A elite que surgia de outros segmentos da sociedade brasileira e que
tinha acesso à educação tentava assim manter seus privilégios. O contexto histórico
do final do século XVIII, especialmente após a Proclamação da República e primeiras
décadas do século XX, é marcado pelo colapso do modelo agroexportador, por uma
crescente urbanização, pela industrialização e por uma certa “desordem” social.
Acervo SEMUC.
MHIJB-SP.
Na busca por soluções para os problemas que apareciam nessa nova ordem,
a sociologia passa a fazer parte do currículo do Ensino Médio e Superior. Um
pouco mais tarde, é introduzida também nos cursos de formação de professores.
Várias reformas de ensino acontecem em pouco mais de 10 anos (entre 1925 e
1935). É por meio das faculdades de Pedagogia, após 1930, que passa a fazer
parte do currículo regular, como foi o caso da Faculdade de Educação da Univer-
sidade do Distrito Federal (1937), por Anísio Teixeira. Os cursos de Magistério e
Ensino Médio também ensinam a disciplina nesse momento, o que não se cons-
titui exatamente numa novidade, visto que a sociologia ainda associada à moral
já era ministrada em alguns cursos secundários, por volta de 1890. É preciso des-
tacar que nesse momento, e por algum tempo ainda, a educação não era o foco
dos estudos sociológicos.
53
Sociologia da Educação
Será na Universidade de São Paulo (USP) que, nos anos 1960, alguns cientis-
tas sociais começarão a efetivamente se interessar pelo tema educação, muitos
norteados pelo funcionalismo2, constituindo centros de estudos com o objetivo
1
Modelo de industrialização adotado pelo Brasil, caracterizado pela produção interna de itens que faziam parte da pauta de importações do país,
por conta das dificuldades externas para importá-los, de acordo também com a ideia de desenvolvimento que norteava as políticas econômicas
da época – o desenvolvimentismo.
2
Doutrina que concebe a sociedade como um sistema que deve estar em harmonia para “funcionar bem” e onde os conflitos são apenas uma etapa de
uma preparação para uma ordem cada vez maior. Busca relacionar um sistema normativo e a situação que seria definida por esse conjunto de restrições
estáveis e coerentes aos olhos daqueles que não desejam que alguma coisa mude na ordem social. É vista como uma teoria conservadora.
54
A sociologia da educação no Brasil
Com tudo isso, o que se pode notar é que ainda permanece uma certa distân-
cia entre os educadores e os sociólogos, tendo, inclusive, nos anos 1990, aumen-
tado o desinteresse pela sociologia da educação, apesar do esforço de muitos e
do fato de que a maioria dos problemas com os quais o Brasil se debatia há mais
de 30 anos permanecem. Apesar do inegável avanço e melhoria dos indicadores
sociais do país, amplamente divulgados pelo governo, ainda vivemos uma situa-
ção de profundas desigualdades sociais, decorrentes da absurda concentração
de renda e da falta de um projeto real de Reforma Agrária.
Texto complementar
57
Sociologia da Educação
predominando, por sua vez, ainda o saber erudito, voltado para os estudos
jurídicos.
58
A sociologia da educação no Brasil
Dicas de estudo
Central do Brasil, de Walter Salles Jr.
Sugestões de leitura
PAIXÃO, Lea Pinheiro. Sociologia da Educação: pesquisa e realidade brasi-
leira. Rio de Janeiro: Vozes.
59
Sociologia da Educação
Atividades
1. A partir do que aprendeu, qual a importância que você atribui à sociologia
da educação no Brasil?
60
A sociologia da educação no Brasil
61
Educação e família
As transformações da família
É no seio da família que tem início o que se chama de socialização primária, pro-
cesso por meio do qual se torna possível a assimilação por parte do indivíduo dos
valores, normas e até mesmo expectativas do seu grupo social. A atitude educado-
ra da família, por exemplo, está presente nas conversas, na alimentação, no tipo de
roupas usadas, nas formas de lazer, enfim, em todos os momentos de sociabilidade.
Diante disso, mais uma vez vale lembrar a importância da família e da escola
para a concretude da vida social e sua organização. É no contexto da aprendi-
zagem que socialização e educação se encontram, uma vez que, assim como
a família, a educação também é um “conjunto de padrões de comportamento
compartilhados pela sociedade e orientados para satisfação das necessida-
des do grupo [...] São aquelas que se referem aos padrões de comportamento
que orientam as pessoas na satisfação das suas necessidades sociais básicas”
(PESSOA, 1997, p. 52). A sociedade modela o indivíduo e esse, por sua vez, pode
1
Para entender esses conceitos, ver o trabalho de COSTA, Cristina. Sociologia. Introdução à ciência da sociedade. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2005.
A partir da página 385.
64
Educação e família
65
Sociologia da Educação
assim. A história mostra que a ideia de família e seus arranjos sofreram muitas e
profundas mudanças, o que gerou diversas práticas e representações.
Mesmo hoje, não seria prudente pensar apenas nessa estrutura familiar, uma
vez que o próprio Censo 20002 nos mostra novos arranjos desse grupo social que
se convencionou chamar de família3. Já não se pode pensar exclusivamente na
forma apresentada anteriormente, uma vez que o número de famílias compostas
apenas por mãe e filhos, ou pai e filhos, avós e netos, casais homossexuais, ou
mesmo pessoas vivendo sozinhas, podem também ser vistos como uma família.
Segundo Michael Anderson, a história da família pode ser feita segundo abor-
dagens diferentes: a psico-histórica (que o autor diz nem merecer ser considera-
da), a demográfica (a reconstituição de famílias), a abordagem dos sentimentos
(que busca compreender as modificações de significados de família) e a abor-
dagem da economia doméstica (cuja preocupação reside nos processos sociais
relacionados à organização da família como uma unidade de produção). Pelo
que se pode perceber, as três abordagens se completam e todas estão sujeitas
a críticas. Se você tiver interesse em aprofundar mais o tema, recorra às fontes
originais dos trabalhos de Ariès, Shorter, Stone e Flandrin, indicados ao final da
unidade, nas sugestões de leitura.
2
Para saber mais sobre esse tema e suas particularidades, ver Relatórios do Censo 2000, no site do IBGE <www.ibge.com.br>. Os censos demo-
gráficos são planejados para serem executados nos anos de finais zero, ou seja, a cada 10 anos. Dessa forma, o último censo realizado no Brasil foi
no ano 2000, sendo que o próximo será em 2010. No intervalo entre dois censos demográficos, realiza-se a contagem de população, que só foi
efetivamente realizada em 2007.
3
Ver SAYÃO, Roseli; GROPPA, Julio. Família: modos de usar. Campinas: Papirus, 2004. Os autores fazem uma crítica ao discurso prescritivo geralmen-
te dirigido aos pais e comentam os novos arranjos familiares vigentes na sociedade contemporânea.
4
O número de mulheres chefes de família em todo o Brasil cresceu de forma bem significativa entre 1993 e 2006. Segundo dados do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), divulgados em setembro de 2008, o Brasil contava em 2006 com 28,8% de famílias chefiadas por mulheres,
enquanto que há 15 anos esse número era de 19,7%. Assim, houve um aumento de 116%. Para saber mais sobre esses indicadores, consultar os
relatórios referentes à última contagem da população e outros documentos elaborados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e
pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/>.
66
Educação e família
Getty Images.
Domínio público.
67
Sociologia da Educação
Em linhas muito gerais, podemos dizer que foi a partir desse complexo de
funções que se construiu o ideal de família, hoje designada como tradicional.
68
Educação e família
Comstock Complete.
Uma variável bastante utilizada para analisar a formação das famílias antigas
dizia respeito à linha de descendência, que poderia ser matrilinear ou patrilinear.
Isso quer dizer que a figura central da organização familiar seria a da mãe ou a do
pai, determinando a forma de herança patrimonial. Mas, atualmente, esse tipo
de estudo vem sendo realizado sobretudo por antropólogos, junto às comuni-
dades tradicionais, onde esses traços ainda são relevantes para a organização
social dos grupos como um todo. Após a Revolução Industrial, o modelo que
predominou foi mesmo o da família nuclear patriarcal, que agrupava apenas
duas gerações num mesmo domicílio – pais e filhos.
69
Sociologia da Educação
Domínio público.
Domínio público.
Acervo da Fundação Gilberto Freyre.
70
Educação e família
Mas em seu trabalho a autora chama a atenção para o fato de que esse
modelo não se aplicaria às famílias de São Paulo e outras regiões do país, que
eram nucleares, compostas por estruturas mais simples e poucos integrantes,
com diferentes formas de organização familiar. Deve se observar que, segundo
a autora, “essas características da família paulista não chegaram a represen-
tar um sério rompimento na trama de relações paternalistas que ainda estão
presentes nessa sociedade, mesmo se desenrolando fora do âmbito familiar”
(1986, p. 40).
71
Sociologia da Educação
Texto complementar
Educação e família no terceiro milênio
(FAGUNDES; FRANCO, 2009)
[...] Felizmente, muito se pode fazer para ajudá-las a crescer com equilíbrio,
afastando-as da depressão, da criminalidade, do abandono e das drogas. Antes,
porém, é preciso compreender a realidade em que a criança cresce hoje.
Crianças de seis anos assistem aos seus coleguinhas serem atingidos por
balas perdidas em plena escola. Os sentimentos de segurança e de confiança,
que sempre as protegeram da realidade do mundo adulto, estão abalados.
Não é de se espantar que uma em cada sete crianças já tenha considerado a
ideia de suicídio.
72
Educação e família
A falta de compreensão quanto aos direitos e deveres de pais e filhos faz das
relações familiares uma disputa de energia em que o nós cede lugar ao eu.
73
Sociologia da Educação
3. Proteção, o direito que toda criança tem de ser resguardada – até dos
próprios pais.
74
Educação e família
Dicas de estudo
Consulte o site <http://www.ines.gov.br/paginas/revista/TEXTO2.htm> e leia
o artigo de Andreia Cristina Alves Pequeno, assistente social no INES5 intitula-
do Educação e Família: uma união fundamental? O texto trata de questões afins,
especialmente no que se refere à relação entre escola e família, destacando a
situação dos alunos surdos.
Sugestões de leitura
Todos esses trabalhos são interessantes para se conhecer melhor a traje-
tória do conceito de família e como esta se organizou ao longo do tempo,
em diferentes lugares do mundo.
SILVA, Maria Beatriz Nizza da. História da Família no Brasil Colonial. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1998.
Atividades
1. Indique um aspecto da família em nossa sociedade que tenha mudado sig-
nificativamente nos últimos tempos. Caracterize essa mudança. O que tem
chamado mais a sua atenção?
5
Instituto Nacional de Educação dos Surdos (INES).
75
Sociologia da Educação
Família (1986)
Tony Bellotto/Arnaldo Antunes
Família, família,
Papai, mamãe, titia,
Família, família,
Almoça junto todo dia,
Nunca perde essa mania.
Mas quando a filha quer fugir de casa
Precisa descolar um ganha-pão
Filha de família se não casa
Papai, mamãe, não dão nenhum tostão.
Família ê
76
Educação e família
Família á
Família.
Família, família,
Vovô, vovó, sobrinha.
Família, família,
Janta junto todo dia,
Nunca perde essa mania.
Mas quando o nenê fica doente
Procura uma farmácia de plantão
O choro do nenê é estridente
Assim não dá pra ver televisão.
Família ê
Família á
Família.
Família, família,
Cachorro, gato, galinha.
Família, família,
Vive junto todo dia,
Nunca perde essa mania.
A mãe morre de medo de barata
O pai vive com medo de ladrão
Jogaram inseticida pela casa
Botaram um cadeado no portão.
Família ê
Família á
Família.
77
Sociologia da Educação
78
Educação e família
79
Concepções de infância e juventude
82
Concepções de infância e juventude
Fala em paparicação (um sentimento superficial ligado à criança nos seus pri-
meiros anos de vida, quando ainda é “engraçadinha”) e a percepção da inocência
e fraqueza da infância.
Domínio público.
Ao longo de todo o seu texto, Ariès destaca que a infância era vista como um
período muito curto, durando apenas o tempo em que a criança era mais frágil.
Logo, era misturada aos adultos e passava a vivenciar as mesmas experiências que
eles. Toda a socialização da criança se dava dessa forma e a educação era garanti-
da pela aprendizagem na prática, isto é, a criança aprendia as coisas ajudando os
83
Sociologia da Educação
adultos a fazê-las. O amor podia existir, mas não era determinante nas relações da
família com a criança. Não impedia, por exemplo, que ela fosse mandada embora
para viver longe dos pais, muitas vezes para aprender um ofício.
Domínio público.
84
Concepções de infância e juventude
É nesse contexto que surgem os estudos de Henry Wallon, Jean Piaget ,Lev
Vygotsky e as teorias psicogenéticas. Apesar de explorarem o tema criança/in-
fância de maneiras diferentes, têm em comum o fato de chamarem a atenção
para a relação entre compreender o desenvolvimento da criança, como se dão
as mudanças biológicas e os processos mentais, e de que maneira tudo isso se
reflete na educação.
A busca da contensão dos impulsos e dos instintos por meio de uma rígida e,
por vezes, até cruel disciplina dá o tom do avanço do processo de escolarização.
Tem-se, também, uma nova percepção das idades, começando a haver então
uma separação das classes por faixa etária, procurando agrupar os alunos a partir
desse critério. Com um sistema disciplinar cada vez mais rigoroso, os colégios as-
sumem uma estrutura que em muito se aproxima da atual. Agora, a duração da
infância equivale à duração da escolaridade, que no fim do século XVIII chega a
quatro ou cinco anos. Os colégios passam a ser a moderna expressão de como se
deve tratar as crianças. Ao seu lado se tem os chamados manuais de boas maneiras
ou de civilidade, voltados para o público pueril, que visavam a apresentar as
normas de conduta que deveriam nortear os comportamentos das crianças no
mundo. Alguns desses manuais foram muito bem analisados, especialmente o de
Erasmo, por Norbert Elias em O Processo Civilizador, em que a história dos costu-
mes, focando seu interesse nas mudanças das regras sociais e no modo como o
indivíduo as percebia, gerando mudanças de comportamento e sentimentos. Uti-
lizando como fontes os livros de etiquetas e boas maneiras (editados entre o século
XIII até a década de 1930), o autor mostra que desde a Idade Média, quando o
controle das pulsões era bastante reduzido, até os nossos dias, as classes dirigen-
tes foram aos poucos sendo modeladas pela vida social e a espontaneidade deu
86
Concepções de infância e juventude
Nicolau Carissimo.
Escola Superior de Agricultura e Veterinária em Viçosa.
Mas antes disso, tem-se a contribuição de Jean-Jacques Rousseau (1712-
1778) para a discussão das concepções de infância e o surgimento dos colégios.
Domínio público.
nistas do século XVI rejeitavam com vigor a alter-
nativa escolar. Acreditavam que não se conhecia
a criança direito, não se sabia exatamente como
ela era, o que pensava e quais eram os seus limi-
tes. Diante disso, consideravam quase que uma
violência impor-lhe qualquer tipo de educação
formal. Seria uma agressão à sua natureza pura e
àquilo que se comentou – a ideia de insuficiência
ou do caráter incompleto da criança.
87
Sociologia da Educação
É necessário, contudo, prepará-la para o futuro. Isso porque ela tem uma enorme potencialidade,
não aproveitada imediatamente. A tarefa do educador consiste em reter pura e intacta essa
energia até o momento propício. Nesse sentido, é particularmente importante evitar a excitação
precoce da imaginação, porque esta pode tornar-se uma fonte de infelicidade futura. Outros
cuidados devem ser tomados com o mesmo objetivo e todos eles podem ser alcançados
ensinando-se a lição da utilidade das coisas, ou seja, desenvolvendo-se as faculdades da
criança. Apenas naquilo que possa depois ser-lhe útil.
A criança, de acordo com Rousseau, aprende por meio do exemplo, por pala-
vras e por práticas que observa nos adultos. Daí a necessidade dos pais se preo-
cuparem com as normas de civilidade e boas maneiras de seus filhos, que deve-
riam ser preparados para viver em sociedade e “ser civilizados”.
88
Concepções de infância e juventude
Finalmente, o que não se pode esquecer é que a infância deve ser entendi-
da como um tempo social, construído historicamente, de acordo com as condi-
ções materiais e culturais que caracterizam determinado tempo e espaço. Desse
modo, é possível haver diferentes concepções de criança, infância e juventude.
De acordo com as estruturas econômicas e sociais da época, surge uma ideia de
criança e do papel da educação.
Texto complementar
90
Concepções de infância e juventude
(ARIÈS, 1981; Snyders, 1984). [...] O que se passou historicamente para que
silenciassem as vozes das mulheres, das crianças, dos escravos, dos negros, da-
queles considerados loucos, das filósofas e poetas? Por que alguns textos são
reconhecidos e outros são desprezados? Falo não somente dos textos acadê-
micos, mas de outros textos expressos nas diferentes formas de linguagem.
[...] Será que eles têm relação com o que estamos vivendo, com a crise da
ciência moderna e pautada em uma razão universal, masculina e branca? Por
que tentamos resgatar essas vozes, seja nos escritos poéticos, na música, nas
pesquisas, nos espaços acadêmicos? Por que insistimos em ganhar tempo
num mundo que esfacelou nossas experiências e transformou nosso tempo
em coisa, em mercadoria? Por que hoje procuramos resgatar, em inúmeros
estudos, as culturas infantis, as concepções de infância, as vozes das crian-
ças, ou por que hoje falamos e escrevemos sobre pluralidades, relações de
gênero, em uma ciência menos andocêntrica? Essas, seguramente, são ques-
tões sem respostas definitivas. É tão somente nas caminhadas que vamos
construindo, nas pegadas que vamos deixando, nos rastros que assinalam
para novos horizontes que encontramos respostas, sem contudo tratarmos
de respostas homogeneizadoras.
[...] é possível recordar o que escreve Ariès (1981) acerca da Idade Média.
Os quadros e a iconografia da época demonstram que ser criança era algo
muito próximo e vinculado ao mundo dos adultos. Tratava-se de promis-
cuidade? Certamente que não. O que acontecia é que as noções de tempo
e espaço e as existências humanas se organizavam de formas distintas da
modernidade.
Na Europa (séculos XVI e XVII) e um ou dois séculos mais tarde (séculos
XIX e XX) na cidade do Rio de Janeiro (Abreu; Martinez, 1997), as ruas
estavam povoadas de crianças abandonadas, escravos, imigrantes pobres,
enfim, de uma massa de excluídos perambulando pelas ruas, cujos valores,
hábitos e comportamentos eram estranhos ao ideal burguês de sociedade.
Isso provocava um sentimento, qual seja o de moralizar os costumes, confi-
nar, regular essa população e evitar possíveis revoltas. Assim, o sentimento
de infância também surge no Brasil, com a necessidade de instrução e am-
pliação da escola de massas (Martinez, 1997). O ideal de moralização dos
costumes passava pela família burguesa e nuclear e centralizava na figura da
mãe e mulher a responsabilidade pela amamentação, pelos cuidados e edu-
cação das crianças. Nesse período, as condições de higiene eram péssimas e
91
Sociologia da Educação
92
Concepções de infância e juventude
E nem mesmo as lições diárias que a vida nos ensina e que fragilizam uma a
uma das nossas certezas, como peças de um jogo de dominó que vão se suce-
dendo, nos fazem compreender que a realidade é dinâmica e ainda sabemos
pouco sobre as crianças e suas culturas. É provável que elas saibam bem mais
sobre nós adultos/as, sobre as instituições que ajudamos a construir, embora
ainda não tenhamos parado para escutá-las, para compreender suas ideias
acerca das nossas pedagogias, ou sobre o que elas pensam de nós, das esco-
las infantis, das creches e pré-escolas, que criamos pensando nelas e nas suas
necessidades.
2
Utilizo a definição de ethos cultural, fundamentada em Bourdieu (1998), como um sistema de valores implícitos e interiorizados, que defi-
nem as atitudes face ao capital cultural e à instituição escolar.
93
Sociologia da Educação
94
Concepções de infância e juventude
Dicas de estudo
Para compensar você por seu esforço, que tal assistir a alguns filmes que, de
alguma forma, retratam o cotidiano infantil e a infância e vários momentos da
história? Escolha um (ou veja todos) e depois tente fazer uma síntese do que
pode perceber do universo infantil. Quais imagens da criança aparecem em cada
um deles? Elas são diferentes umas das outras?
Central do Brasil
A Vida é Bela
Nem um a Menos
A Princesinha
Sugestões de leituras
O processo histórico que instituiu uma nova concepção de criança, de
infância, de adolescência e de juventude pode ser analisado a partir de di-
versas abordagens. Assim, apresenta-se uma relação de algumas obras que
hoje são referência nessa área.
FREITAS, Marcos César de. História Social da Infância no Brasil. São Paulo:
Cortez, 2006.
FREITAS, Marcos Cezar de. (Org.). História Social da Infância no Brasil. São
Paulo: Cortez/USF, 1997.
DEL PRIORE, Mary. (Org). História das Crianças no Brasil. 2. ed. São Paulo:
Contexto, 2000.
95
Sociologia da Educação
Atividades
1. O conceito de família sofreu, ao longo do tempo, várias modificações, de acor-
do com as mudanças que ocorreram na sociedade. Sabe-se também que, mes-
mo sendo uma criação histórica e cultural, e não algo material, é um conceito
que se relaciona com a sociedade e sua estrutura econômica e política. O mes-
mo ocorre com a concepção de infância. Como se pode relacionar a ideia de
família moderna com as concepções de criança e infância da atualidade?
96
Concepções de infância e juventude
97
A escola como instituição social
Domínio público.
100
A escola como instituição social
Nesse microcosmo que reflete a sociedade como um todo, pode haver um mo-
vimento de revalorização da escola que juntamente com o professor torna-se nova-
mente um importante agente da socialização, buscando incentivar o trabalho em
equipe e mostrando o quanto pode ser bom que algumas regras (claras e coerentes,
obviamente) sejam seguidas, valorizando as relações interpessoais em contraparti-
da ao aumento do individualismo. Para tentar entender a escola e sua importância,
não só no processo de socialização, é preciso entendê-la como um espaço socio-
cultural, o que significa tentar percebê-la a partir de seus aspectos culturais. Sendo
uma instituição dinâmica, que se faz e refaz no dia a dia por intermédio dos sujeitos
envolvidos nesse processo (professores, alunos, direção, funcionários, comunidade
externa, pais e comunidade), não é possível desconsiderar que todos são sujeitos
sociais e históricos. Portanto, a escola é construída social e historicamente e não se
pode perder de vista a constante necessidade de resgatar o papel desses sujeitos.
1
Ver a obra de Ariès, Philippe. História Social da Criança e da Família. São Paulo, S.d.
101
Sociologia da Educação
Por esse caminho, o aluno passa a ser visto em sua totalidade, sendo entendido
na sua diferença, ou seja, trazendo-se a questão da diversidade como categoria de
análise importante. Trata-se de compreendê-lo, enquanto indivíduo que possui uma
historicidade, com visões de mundo, escalas de valores, sentimentos, emoções, de-
sejos, projetos, com lógicas de comportamentos e hábitos que lhe são próprios.
Comstock Complete.
102
A escola como instituição social
Sendo seu objetivo maior a formação do homem consciente2, por meio de uma
educação voltada para o desenvolvimento da autonomia intelectual, ao fortaleci-
mento do pensamento crítico e ao comportamento ético, entende-se que o aluno
precisa de liberdade para aprender. O respeito à individualidade é visto como fun-
damental para o bom andamento do processo de aprendizagem do aluno. Assim,
a vida organizacional da escola não deve ser vista de forma mecânica: todos devem
ser convidados e incentivados a participar do processo educativo.
103
Sociologia da Educação
3
Vale, se você puder, procurar nesse livro as características básicas de cada metáfora, para melhor compreender como avaliar a escola onde você
atua. De que tipo ela será?
104
A escola como instituição social
Wilson Dias-ABr.
Comstock Complete.
Roosewelt Pinheiro-ABr.
Algumas possibilidades
Partindo-se da premissa de que “[...] a cultura delineia [...] o caráter da organi-
zação” (MORGAN, 1996, p.121), e entendendo cultura como
[...] significado, compreensão e sentidos compartilhados [...] na verdade está sendo feita
uma referência ao processo de construção da realidade que permite às pessoas ver e
compreender eventos, ações, objetos, expressões e situações particulares de maneiras
distintas. ( p. 132)
105
Sociologia da Educação
Vale aqui trazer novamente a contribuição de Pozo (2000, p. 25), quando ela-
bora a noção de cultura destacando sua importância e a relação do educando
com todo o contexto escolar para seu processo de aprendizagem.
[...] nossos processos de aprendizagem, a forma como aprendemos, não são produtos apenas
de uma preparação genética especialmente eficaz, mas também, num círculo agradavelmente
vicioso, de nossa capacidade de aprendizagem. Graças à aprendizagem, incorporamos
a cultura, que, por sua vez, traz incorporadas novas formas de aprendizagem. [...] Nossa
aprendizagem responde não só a um desenho genético, mas principalmente a um desenho
cultural. Cada sociedade, cada cultura gera suas próprias formas de aprendizagem. Desse modo,
a aprendizagem da cultura acaba por levar a uma determinada cultura da aprendizagem. As
atividades de aprendizagem devem ser entendidas no contexto das demandas sociais que
as geram. Além de, em diferentes culturas se aprenderem coisas diferentes, as formas ou
processos de aprendizagem culturalmente relevantes também variam. A relação entre o
aprendiz e os materiais de aprendizagem está mediada por certas funções ou processos de
aprendizagem, que se derivam da organização social dessas atividades e das metas impostas
pelos instrutores ou professores.
106
A escola como instituição social
acabam por elucidar o que a escola é, enquanto limite e possibilidade, num diá-
logo ou conflito constante com a sua organização.
Texto complementar
107
Sociologia da Educação
Não é sem razão que a escola passou a ser vista como empresa, o estu-
dante veio a ser compreendido como cliente e os profissionais da educação
foram trazidos à equiparação a quaisquer outros trabalhadores da iniciativa
privada. O mote “o aluno está pagando, ele tem direito” evidencia essa ope-
ração que se encerra na ênfase ao mercado e na desfocalização da educação
como bem de cidadania. Direitos de cidadania implicam valorização do bem
comum, da coisa pública; direitos cuja gênese está no ato de pagar, levam ao
individualismo e à não valorização da convivialidade em processos de socia-
bilidade, os quais têm como coração os processos educacionais.
108
A escola como instituição social
Dicas de estudo
Para entender qual era a situação educacional do Brasil nos séculos XIX e XX, ver
quinto capítulo do livro de Regis de Morais, intitulado Cultura Brasileira e Educação.
Campinas: Papirus, 1989, em que o autor parte da seguinte questão: educação é
uma questão de cultura? Dá uma pista de sua trajetória para responder a essa per-
gunta, quando diz que “a educação que tivemos e temos se mostra uma consequên-
cia imediata das situações políticas e econômicas que tivemos e temos” (p. 91).
Sugestões de leitura
Estes autores apresentam uma retrospectiva histórica da escola e discu-
tem o seu papel enquanto instituição social. Além disso, analisam de forma
crítica o papel da sociologia da educação e da escola na sociedade.
109
Sociologia da Educação
VEIGA, Cynthia Greive; LOPES, Eliane Marta Teixeira. (Orgs.). 500 Anos de
Educação no Brasil. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.
Atividades
1. Explique por que a escola se tornou um importante objeto de estudo para a
sociologia.
110
A escola como instituição social
111
A escola e o controle social
Você já pensou como seria a sociedade se não houvesse normas e
regras baseadas nos valores aceitos e já consagrados por ela e que devem
ser seguidas por todos? Certamente seria difícil, ou até mesmo impossível,
pensar em socialização sem essas bases. É por isso que a própria socieda-
de cria mecanismos para coagir os indivíduos a se comportarem de acordo
com esses princípios estabelecidos. Espera-se que cada um desempenhe
seus papéis sociais. Quando isso não acontece, faz-se necessário algum
tipo de controle, que pode ser social ou individual.
Percebeu que tipo de relação está por trás do que se está discutindo?
Acertou! É uma relação de poder, na qual alguém que exerce o poder
impõe aos outros indivíduos o seu ponto de vista ou as suas regras. Mesmo
quando se está falando em sociedade, sempre há alguém que efetivamen-
te desempenha o papel de controlar os demais. Mas é interessante obser-
var que o controle social não tem um agente específico, pelo contrário,
pode acontecer de várias formas.
114
A escola e o controle social
1
Renato Cancian. Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/sociologia/controle-social.jhtm>. Acesso em: jan. 2009. Adaptado.
115
Sociologia da Educação
Uma das formas de controle social mais eficazes na atualidade são os meios
de comunicação de massa, especialmente a mídia eletrônica. Constituem-se em
importantes agentes de socialização, especialmente a partir das inovações tecno-
lógicas que trouxeram novos meios e formas de realizar a comunicação. Geram
transformações e orientam comportamentos sociais. O fornecimento de mode-
los de comportamento e de atitudes encontra nessa forma de comunicação um
agente de socialização. Para o bem e para o mal, digamos assim, a mídia de modo
geral contribui para consolidar uma sociedade pautada no consumismo, no ime-
diatismo, e na transmissão e debate de fatos importantes para a sociedade. Na
medida em que qualquer meio de comunicação seja utilizado para divulgar va-
lores considerados negativos para a coesão social, tais como consumismo exa-
cerbado (especialmente aquele voltado para as crianças e jovens), a violência, a
sexualização precoce, a competitividade desenfreada, enfim, os valores conside-
116
A escola e o controle social
Comstock Complete.
IESDE Brasil S.A.
117
Sociologia da Educação
Ainda de acordo com o autor, esse controle pode ser formal, exercido por
intermédio de leis, tribunais etc, de forma organizada e artificial, ou informal,
quando é natural e espontâneo, efetivando-se por meio de “instrumentos [...] os
costumes, a moda, a opinião pública, as palavras convencionais, a tradição, as
multidões. São, ainda, meios de controle informal: a cerimônia, a arte, a lisonja, a
bisbilhotice, a zombaria, o louvor etc” (p.119-120). Em muitos momentos, basta
que alguém seja alvo de zombaria ou do afastamento de seu grupo social para
que reveja determinado comportamento que foi considerado inadequado e,
portanto, fora dos padrões esperados.
118
A escola e o controle social
que lhe constituem. Assim, o exercício de cada um desses papéis traz consigo
uma série de obrigações.
É o caso do homem que é, ao mesmo tempo, filho, irmão, marido, pai, empre-
sário, amigo, membro de um clube etc. Ao se tornar pai, por exemplo, a socieda-
de espera dele um determinado tipo de comportamento: deverá prover, cuidar,
zelar, acarinhar e acompanhar a vida de seu filho em todos os momentos.
119
Sociologia da Educação
achar que deve ou precisa mudar. E o primeiro sinal de mudança poderá ser visto
já no seu comportamento.
Não se fala sempre que uma das melhores formas de saber se seu filho é um
usuário de drogas, por exemplo, é observar muito de perto o seu “comporta-
mento”? O que significa isso? Significa que o comportamento é uma maneira de
120
A escola e o controle social
121
Sociologia da Educação
cer, quando se fala em controle social. Num regime de exceção, torna-se ainda
mais intensa essa atuação, muitas vezes fazendo uso da força e da negação dos
direitos individuais do cidadão. Leia o quadro a seguir e depois veja a música.
Caetano chegou a ser vaiado, não conseguiu levar a música até o fim.
122
A escola e o controle social
É proibido proibir
Caetano Veloso
123
Sociologia da Educação
As vidraças, louças
Livros, sim…
E eu digo sim
E eu digo não ao não
E eu digo: É!
Proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir…
Para finalizar, é importante lembrar mais uma vez que o controle social se dá
por meio da socialização, das punições (sanções negativas) e das recompensas
(sanções positivas), sempre com o objetivo de levar as pessoas a se comporta-
rem de forma adequada, socialmente aprovada. Mas, para que isso ocorra, é ne-
cessário que as normas sejam explicitadas e aceitas pelos indivíduos; caso con-
trário, pode haver o risco de ocorrer desvios de comportamento apenas porque
algumas normas estavam implícitas, ou seja, não foram verbalizadas. Conforme
Vila Nova (1985, p. 54), “o poder de coerção das normas não depende, no en-
tanto, da sua explicitação verbal. Se isso ocorresse, as normas registradas nos
códigos legais seriam necessariamente mais fortes do que as normas consuetu-
dinárias, isto é, consagradas pelo costume”. Além disso, “o poder de coerção de
uma norma pode muito bem ser medido pelos sentimentos de culpa que sua
violação desencadeia no transgressor.”
Assim, para que o controle social seja eficaz, é fundamental que os indivíduos
acreditem nas normas e regras estabelecidas, que as interiorize sem pensar
em recompensas, elogios, compensações de qualquer tipo. Diante dessa ideia,
pode-se entender por que, por exemplo, tantos alunos se sentem injustiçados
quando sofrem algum tipo de punição na escola. Na maioria das vezes, ele nem
ao menos conhece o regimento escolar e, mesmo que em alguns casos até o
conheça, não participou de sua elaboração e deve apenas aceitar, preferencial-
mente sem muita discussão. Aí surgem os problemas.
124
A escola e o controle social
Texto complemetar
Sociedade do controle
(PEREIRA, 2009)
“Sorria, você está sendo filmado”. Já leu isso em algum lugar? Provavelmen-
te sim. A frase – e a nova realidade social que ela traz embutida – pode ser vista
como um retrato de nossa sociedade: a vida de cada um é exposta e contro-
lada, mas há certa alegria nisso. A disseminação de tecnologias como câme-
ras, celulares e internet permite um controle cada vez mais eficiente sobre os
indivíduos. Além disso, o público invade as fronteiras do privado. Vão desa-
parecendo os espaços indevassáveis, sejam físicos ou subjetivos. Ok, não dá
mais para se esconder, mas é um luxo abrir o Google e encontrar tudo.
125
Sociologia da Educação
126
A escola e o controle social
O Big Brother Brasil – reality show televisivo mais conhecido como BBB
– é um exemplo de como os valores das pessoas de fato mudaram. “É uma
grande ironia. Quem não é olhado vai para o paredão e é expulso. Ao con-
trário do que acontecia no sistema anterior de vigilância, em que as pesso-
as não queriam ser olhadas para se sentirem livres, agora quanto mais se é
olhado, mais se participa. O Orkut, site de relacionamento com mais acessos
no país, e os blogs são outros exemplos desse lado desejado da visibilidade.
Quem escreve ali é para ser lido, quer que os outros procurem informações a
seu respeito. Hoje, em vez de termos uma subjetividade interiorizada, temos
uma subjetividade coletiva”, diz Ieda.
127
Sociologia da Educação
Mas ela ressalta que não se pode colocar todas as tecnologias em um mesmo
patamar, em relação ao poder de vigilância e controle. Há vários tipos diferentes
de controle. “Os feitos por filmadoras e câmeras de vigilância, pela via da imagem,
são particulares. As câmeras estão cada vez mais presentes nos espaços públicos
e, no Brasil em particular, nas grandes cidades, câmeras de vigilância são postas
nos espaços privados. Isso obviamente leva a uma situação em que se tem cons-
tantemente a possibilidade de estar sendo visto. O maior problema social é que
se cria uma ideia de suspeição generalizada, como se todos fossem potencial-
mente suspeitos ou vítimas potenciais. Hoje existe uma espécie de vigilância
para todos. Qualquer um é vítima ou suspeito potencialmente”, analisa.
128
A escola e o controle social
toda parte, começa a criar hábitos pessoais que envolvem essa vigilância.
Um vigia o outro pelo Orkut, pelo celular, flagra imagens curiosas em espa-
ços públicos ou privados e as divulga pela internet. [...]
129
Sociologia da Educação
de vigilância e controle são mais eficientes quanto mais investem nos mo-
vimentos e na liberdade dos indivíduos. “Se não navego na internet, se não
compro nada, sou menos vigiada do que quem faz isso. O sistema capitaliza
a liberdade. No livro, instituía-se certo silêncio e imobilidade, como os siste-
mas de vigilância tradicionais – que confinam, cerceiam a liberdade. Hoje os
sistemas de vigilância dependem da liberdade e da mobilidade para conse-
guir informações”, finaliza Fernanda.
Dicas de estudo
Leia o livro ou assista ao filme 1984, de Michael Radford, uma adaptação do
livro de George Orwell. Melhor se puder fazer as duas coisas. Tente captar nessa
história algumas das ideias trabalhadas nesta unidade, especialmente o concei-
to de controle social. Veja a sinopse abaixo e bom trabalho!
(Disponível em <http://www.interfilmes.com/filme_20784_1984-(Nineteen.Eighty.
Four).html>. Acesso em: jan. 2009. Adaptado.)
130
A escola e o controle social
Sugestões de leitura
Leia o livro de Michael Foucault, intitulado Vigiar e Punir, para refletir sobre
o valor que a sociedade dá aos comportamentos dos seus membros e os re-
cursos dos quais dispõe para conter os desvios.
Atividades
1. Como se pode definir controle social?
131
A escola e o desvio social
134
A escola e o desvio social
Comportamentos desviantes
Mas, a essa altura, você não está se perguntando: o que seria um comporta-
mento desviante?
Em todas as sociedades são criados conjuntos de regras que deverão ser se-
guidas e, para garantir que isso ocorra, são criados também mecanismos de con-
trole e sanções para o caso de rompimento. Isso é o que definirá situações sociais
e que tipo de comportamentos são apropriados ou não para aquele grupo – a
ideia do que seja certo ou errado.
do como quem não se comporta da maneira esperada. Mas deve-se lembrar que
pode tratar-se apenas de um indivíduo que está tentando mudar, transformar a
sociedade em que vive.
O que pode variar bastante é a maneira como esse suposto marginal é visto
pela sociedade, isto é, o quanto seu comportamento é desviante. Isso dependerá
em grande parte da distância que se puder estabelecer entre o seu comporta-
mento e o de outras pessoas, supostamente bem ajustadas às normas e regras
sociais. Em alguns casos, basta apenas orientar o suposto infrator para que ele
deixe de apresentar o comportamento indesejado.
Quando se fala no papel do professor e das imagens que a sociedade faz dele
e que o mesmo tem de si, não se pode confiar que mudanças constantes não
sejam necessárias. Muitas vezes, a própria sociedade espera que ele promova
essas mudanças, começando por tentar adequar as condutas de seus alunos ao
meio em que vivem. Mas, para isso, é preciso duvidar sempre, não permitir que
valores, opiniões e práticas se cristalizem no dia a dia da sala de aula, sem que
sejam questionadas.
Ao longo da sua vida como docente, você já deve ter encontrado algum
colega e/ou um aluno que apresentasse um comportamento que foi con-
siderado desviante. Tente se lembrar do caso e reflita como tudo aconte-
ceu. Aquela pessoa tinha motivos para discordar? Como resolveu atuar para
mudar a situação que considerava injusta ou inaceitável? Você concordou
com ele na época?
137
Sociologia da Educação
Nessa linha, então, não se pode ignorar que ao ter que lidar com um compor-
tamento desviante, a sociedade de certa maneira está assumindo que falhou. Em
algum momento, ao longo do processo de socialização ou de controle social, im-
plementados por qualquer que seja o agente (família, escola, Igreja, Estado etc.),
o grupo e/ou a sociedade falharam em transmitir aos seus membros as diretrizes
para o convívio social. Especialmente a família perdeu muito da sua capacidade
de influenciar seus membros, no que se refere a adotar um determinado tipo de
comportamento. Como se viu, o que determina o limite do aceitável é a própria
cultura do grupo e os valores que a orientam. É por isso que se torna impres-
cindível que os componentes do grupo, os membros da sociedade, conheçam
esses valores. Caso contrário, poderão apresentar um comportamento que será
considerado desviante, sem entender muito bem por que isso aconteceu.
Na vida escolar recorre-se ao regimento para deixar claro aos alunos, desde o
primeiro dia, qual é o padrão de comportamento esperado, sob pena de vir a sofrer
com as consequências de um eventual comportamento inadequado. Nem sempre
eles concordam com todas as condutas que estão ali prescritas, mas no momen-
to em que efetivam a matrícula naquela instituição escolar, fica subentendido que
aceitaram as normas e regras da escola. Mas isso não significa que não questionará
ou até mesmo não infringirá algumas regras e normas estabelecidas pela institui-
ção, muitas vezes, com o objetivo de instigar a comunidade a discutir e analisar
melhor aquilo que está determinado como sendo o correto, o melhor para todos.
Todos quem ele pode questionar? Para a direção da escola? Para os pais? Para a
comunidade? Por quê? E para ele? Alguém o chamou anteriormente para se posi-
cionar e ouvir o seu ponto de vista a respeito do assunto? Agir em conformidade é
o resultado da aceitação e pode ser causada pela interação, o isolamento, a hierar-
quia, o controle social, a ideologia ou certos direitos adquiridos pelo indivíduo.
Mas isso não pode ser confundido com conformismo, que é a atitude de
quem se conforma com todas as situações sociais, incluídas as normas e regras
138
A escola e o desvio social
impostas, sem necessariamente pensar sobre elas. O fato de aceitar, sem maiores
questionamentos, os padrões de comportamentos impostos, pode ser um sinal
de alienação. Segundo Chauí (1984, p. 41),
[...] a alienação social é o desconhecimento das condições histórico-sociais concretas em que
vivemos, produzidas pela ação humana também sob o peso de outras condições históricas
anteriores e determinadas. Há uma dupla alienação: por um lado, os homens não se reconhecem
como agentes e autores da vida social com suas instituições, mas por outro lado, e ao mesmo
tempo, julgam-se indivíduos plenamente livres, capazes de mudar suas vidas individuais como
e quando quiserem, apesar das instituições sociais e das condições históricas. No primeiro
caso, não percebem que instituem a sociedade: no segundo caso, ignoram que a sociedade
instituída determina seus pensamentos e ações.
139
Sociologia da Educação
Talvez a fala de Pedro Demo (1981, p. 68) ajude a esclarecer a razão pela
qual se pode encontrar o desvio em todas as sociedades: “a pessoa humana, ao
nascer, não é chamada a criar, a inventar, mas a se adaptar. A pessoa socializada
é aquela que se comporta segundo os padrões normais da respectiva socieda-
de.” E adaptar-se, muitas vezes, pode significar viver em condições de constante
conflito com a ordem estabelecida para garantir apenas o direito de ser. Mais
uma vez, se coloca aqui a questão cultural, isto é, o que é preciso para o indiví-
duo para que ele possa ser o que é? Há vários processos que podem afetá-lo e à
própria personalidade coletiva, no âmbito daquilo que é denominado de com-
portamento desviante.
As pessoas que desenvolvem ideias novas nos campos da política, da ciência, da arte ou
outras áreas, são muitas vezes olhadas com suspeição ou hostilidade por aqueles que seguem
as normas ortodoxas. Por exemplo, os ideais políticos desenvolvidos durante a revolução
americana – liberdade individual e igualdade de oportunidades – depararam-se, na altura,
com a resistência feroz de muitos, embora hoje sejam universalmente aceitos.
140
A escola e o desvio social
Outra questão que diz respeito ao desvio é pensar quem irá ditar as normas e
regras que irão orientar a vida de determinado grupo social. Essa é certamente
uma relação de poder, uma vez que não basta determinar que seja aceitável/
correto/desejável em termos de comportamento social; é preciso também con-
seguir fazer com que os indivíduos sigam esse padrão estabelecido. E, de prefe-
rência, que façam isso sem maiores questionamentos.
Esse poder pode estar relacionado com diferenças de idade, sexo, etnia, con-
dição econômica, posicionamento político etc, que, na maioria das sociedades,
determina também a posição que o individuo ocupará na organização social.
141
Sociologia da Educação
Texto complementar
Michel Foucault:
um crítico da instituição escolar
Por meio de uma análise histórica inovadora, o filósofo francês viu na educa-
ção moderna atitudes de vigilância e adestramento do corpo e da mente
(REVISTA ESCOLA, 2008)
142
A escola e o desvio social
Disciplina e modernidade
Foucault concluiu, no entanto, que a concepção do homem como objeto
foi necessária na emergência e manutenção da Idade Moderna, porque dá às
instituições a possibilidade de modificar o corpo e a mente. Entre essas insti-
tuições se inclui a educação. O conceito definidor da modernidade, segundo
o francês, é a disciplina – um instrumento de dominação e controle desti-
nado a suprimir ou domesticar os comportamentos divergentes. Portanto,
ao mesmo tempo em que o Iluminismo consolidou um grande número de
instituições de assistência e proteção aos cidadãos – como família, hospitais,
prisões e escolas –, também inseriu nelas mecanismos que os controlam e
os mantêm na iminência da punição. Esses mecanismos formariam o que
Foucault chamou de tecnologia política, com poderes de manejar espaço,
tempo e registro de informações – tendo como elemento unificador a hie-
rarquia. “As sociedades modernas não são disciplinadas, mas disciplinares: o
que não significa que todos nós estejamos igual e irremediavelmente presos
às disciplinas”, diz Veiga-Neto.
143
Sociologia da Educação
ção. Foucault via na dinâmica entre diversas instituições e ideias uma teia
complexa, em que não se pode falar do conhecimento como causa ou efeito
de outros fenômenos. Para dar conta dessa complexidade, o pensador criou
o conceito de poder-conhecimento. Segundo ele, não há relação de poder
que não seja acompanhada da criação de saber e vice-versa. “Com base
nesse entendimento, podemos agir produtivamente contra aquilo que não
queremos ser e então ensaiar novas maneiras de ser e de organizar o mundo
em que vivemos”, explica Veiga-Neto.
Arqueologia do saber
A contestação e a revisão de conceitos operadas por Foucault criaram a
necessidade de refazer percursos históricos. Não é sobre os governos e as
nações que ele concentra seus estudos, mas sobre os sistemas prisionais, a
sexualidade, a loucura, a medicina etc.
144
A escola e o desvio social
145
Sociologia da Educação
Biografia
Michel Foucault nasceu em 1926 em Poitiers, no Sul da França, numa
rica família de médicos. Aos 20 anos, foi estudar psicologia e filosofia na
École Normale Superieure, em Paris, período de uma passagem relâmpago
pelo Partido Comunista. Obteve o diploma em psicopatologia em 1952,
passando a lecionar na Universidade de Lille. Dois anos depois, publicou o
primeiro livro, Doença Mental e Personalidade. Em 1961, defendeu na Uni-
versidade Sorbonne a tese que deu origem ao livro A História da Loucura.
Entre 1963 e 1977, integrou o conselho editorial da Revista Critique. Em
meados dos anos 1960, sua obra começou a repercutir fora dos círculos
acadêmicos. Lecionou entre 1968 e 1969 na Universidade de Vincennes e,
em seguida, assumiu a cadeira de História dos Sistemas de Pensamento no
Collège de France, alternando intensas pesquisas com longos períodos no
exterior. A partir dos anos 1970, militou no grupo de informações sobre
prisões. Entre suas principais obras estão História da Sexualidade e Vigiar e
Punir. Foucault morreu de Aids, em 1984.
146
A escola e o desvio social
Dicas de estudo
A dica apresenta a proposta de pensar a questão do desvio social sob duas
vertentes, a partir de alguns filmes. A primeira diz respeito à imagem ideal do
professor que é apresentada no cinema. Esse professor seria aquele que con-
seguiria de alguma forma “recuperar” seu(s) aluno(s) que em algum momento
apresentam comportamentos desviantes.
Para isso, poderia assistir aos seguintes filmes:
Ao Mestre com Carinho
Conrad
Corrente do Bem
Escritores da Liberdade
Vem Dançar
Para refletir sobre a forma como a sociedade e a escola podem reagir diante
de pessoas que em algum momento apresentem um comportamento visto
como desviante, veja O Bicho de Sete Cabeças.
Sugestões de leituras
BECKER, Howard S. Outsiders: estudos de sociologia do desvio. Rio de Janei-
ro: Zahar, 2008.
Site consultado:
<http://www.ipea.gov.br/sites/000/2/publicacoes/tds/td_1335.pdf>.
147
Sociologia da Educação
Atividades
1. Como você diferencia conformidade e conformismo? Dê dois exemplos para
explicar.
148
A escola e o desvio social
149
A mudança social
Talvez uma das capacidades mais fantásticas do ser humano seja a sua
possibilidade de mudar o próprio mundo segundo suas necessidades e/
ou interesses. A mudança social é aquela que resulta da ação humana, do
homem em interação social e que produz modificações ou transforma-
ções nas estruturas sociais, nas relações entre os indivíduos e, em última
instância, na mentalidade que orienta essa sociedade.
sociais, articulando-se enquanto ciência, sobretudo para dar conta das questões
teóricas que surgem em decorrência dessas mudanças.
Marx foi um dos teóricos que focou seus estudos na tentativa de compreen-
der e explicar a dinâmica dos mecanismos sociais que se apresentavam no con-
texto do processo de consolidação do capitalismo. Mas, a partir do momento em
que privilegiou o conflito social e a luta de classes como conceitos fundamen-
tais, via na revolução o único caminho para alterar as estruturas (especialmente
152
A mudança social
Além disso, deve-se considerar a ideologia que está por trás de determinada
transformação da sociedade, pois esse é um fator importante para a sociologia
analisar os processos de mudança social. De acordo com Vila Nova (1985, p. 111),
“os fatores ideológicos podem, entretanto, ser encontrados entre as causas rigo-
rosamente sociais de mudança da sociedade.”
153
Sociologia da Educação
Comstock Complete.
As mudanças sociais têm algumas características que poderiam ser resumidas
assim: devem ser permanentes; são sempre coletivas, uma vez que de alguma
maneira afetam todo o grupo social; costumam alterar a estrutura social; podem
mudar a história do grupo ou de toda a humanidade e reforçam o papel de sujei-
to da história do homem, já que ele é quem promove as transformações sociais
e, finalmente, podem ser localizadas e mapeadas no tempo.
154
A mudança social
Mas, nesse ponto, é importante lembrar que foi dito no início desta unidade,
quando se afirmou que as mudanças acontecem para atender a algum interesse
ou a uma necessidade da sociedade. Assim, quando o novo que se apresenta
após uma mudança social é interessante para o grupo social, certamente ele
encontra menos resistência, sendo aceito com mais facilidade. Mas é importante
saber que isso acontece quando o que está em jogo não é um aspecto estrutu-
rante da cultura do grupo. Nesse caso, a mudança será aceita com mais dificul-
dade ou até mesmo pode ser rejeitada.
155
Sociologia da Educação
Dentre as tantas transformações sociais que podem ser apontadas como ge-
radoras de mudança social se tem, por exemplo, o novo ritmo de trabalho da
sociedade industrial e a maior inserção da mulher no mercado de trabalho. Essas
são mudanças que efetivamente mudam o perfil da sociedade. Como já foi dito,
as inovações tecnológicas também são importantes, porque sempre trazem
outras formas de ver o mundo, novas formas de relações sociais, podendo inclu-
sive trazer consigo uma nova mentalidade que se traduzirá em novas maneiras
de organização social.
Mas não se pode esquecer que mudanças de mentalidade não só são mais di-
fíceis de acontecer, como demoram mais a aparecer. A dificuldade para aconte-
cer esse tipo de mudança se deve ao fato de que, dependendo do impacto que
porventura possa vir a gerar, acabará por encontrar a resistência. Muitas vezes,
não interessa para alguns indivíduos e/ou grupos que a sociedade mude.
Quando se fala em mudança social, não se deve pensar apenas nos fatores
de transformação como sendo alguma coisa sempre tranquila ou harmônica.
O conflito também tem um aspecto transformador, promotor de mudanças so-
ciais. E algumas vezes o conflito serve para prevenir outro conflito que poderia
ser ainda maior e causar mudanças indesejadas na sociedade.
156
A mudança social
Domínio público.
Um dos traços das sociedades modernas é sua capacidade de mudar e de
aceitar com mais facilidade as mudanças, algo que era difícil nas formas de orga-
nização mais antigas ou “primitivas”1 , mais resistentes às mudanças a qualquer
coisa que possa alterar o equilíbrio social. Nem todos gostam do novo ou do
desconhecido.
1
Cuidado com o uso dessa expressão, para que não dê uma ideia de superioridade de uma sociedade ou de uma cultura sobre a outra, uma vez
que não há como comparar coisas que são apenas diferentes.
157
Sociologia da Educação
ses dominantes, que tende a ser a hegemônica. Ainda de acordo com Oliveira
(2003b, p. 91), deve-se entender que “o papel reprodutor da educação reside
fundamentalmente em legitimar a escala de desigualdades com um argumento
‘natural’: a capacidade medida por meio do êxito escolar. Desse modo, o siste-
ma educativo reproduz as desigualdades existentes”(Grifo do autor). Considera,
então, que a educação será sempre um canal de reprodução da vida social, sem
condições de manter-se neutra diante da sociedade na qual se insere.
Querer formar cidadãos mais críticos demanda uma prática pedagógica coe-
rente com esse propósito de possibilitar à escola que se constitua num espaço
de criatividade, de produção de um conhecimento que venha a ser emancipa-
dor e forme indivíduos com consciência crítica. O papel do professor é funda-
mental nesse processo, uma vez que ele também deve ter essa consciência de
que pode ser sujeito social. Tedesco (2002, p. 24) chama a atenção para esse
fato: “acho que muitos professores defendem o objetivo de formar o cidadão
participativo, mas desconfio que a intenção não esteja acompanhada pela prá-
tica que leva a isso. Transmitir conhecimento é a base para o desenvolvimento
do espírito crítico. Não há oposição entre uma coisa e outra: um é decorrência
do outro”. E, ao favorecer o desenvolvimento da consciência crítica nos edu-
candos, a escola pode contribuir para formar sujeitos capazes de transformar a
sociedade em que vivem.
158
A mudança social
Estúdio Portfólio.
A escola, como outras instituições sociais é o reflexo da sociedade na qual
está inserida e sempre que ocorre uma mudança social ela também se modifica,
de maneira mais ou menos lenta. Ao procurar dar subsídios para que os educan-
dos possam lutar por sua cidadania, é possível que as mudanças possam acon-
tecer também a partir do processo educativo, opondo-se então a uma eventual
tendência conservadora da sociedade.
159
Sociologia da Educação
160
A mudança social
Texto complementar
A mudança social e seus processos
(PILETTI, 2006)
2
Ver mais sobre o assunto no livro de Lakatos.
161
Sociologia da Educação
162
A mudança social
Outros podem não concordar, achando que tais fatores prejudicam a convi-
vência humana e, portanto, não constituem progresso.
Descoberta
Invenção
163
Sociologia da Educação
Difusão
(PILETTI, Nelson. Sociologia da Educação. 18. ed. São Paulo: Ática, 2006, p.232-235.)
Dicas de estudo
Assista ao filme brasileiro chamado Nós que Aqui Estamos por Vós Espera-
mos, um documentário produzido em 1998 e dirigido por Marcelo Masagão.
Apresenta imagens de arquivos, extratos de documentários e de algumas
obras clássicas do cinema, faz uma retrospectiva das principais mudanças
que marcaram o século XX (desenvolvimento tecnológico, guerras, revolu-
ções, golpes, ditaduras, nacionalismos e movimentos sociais), retratando
com uma visão humanista tanto os personagens que entraram para a histó-
ria, como homens comuns que em seu cotidiano também fizeram a história
desse século.
164
A mudança social
Sugestões de leitura
BLAINEY, Geoffrey. Uma Breve História do Mundo. 2. ed. São Paulo: Funda-
mento, 2008.
HOBSBAWM, Eric. A Era das Revoluções: 1789-1848. 23. ed. São Paulo: Paz
e Terra, 2007.
Atividades
1. Defina o que vem a ser a mudança social e aponte o papel da sociologia nes-
se processo.
165
Sociologia da Educação
166
A mudança social
167
A estratificação social
Mas não foi sempre assim, porque as primeiras sociedades eram iguali-
tárias, sem uma organização social que lembrasse o que se vê nas socieda-
des da atualidade. Não havia estratificação ou normas e regras institucio-
nalizadas. A mudança começa a acontecer quando se efetiva a existência
da propriedade privada e a divisão social do trabalho, acontecimentos que
dão início a uma nova forma de organizar a vida e sociedade, com base na
posse ou não dos meios e bens de produção.
Sociologia da Educação
Em paralelo com esse processo acontece outro, que vai opor homens e mu-
lheres, sendo que a opressão masculina se materializa sobre a mulher e os demais
membros da família (outra ideia que aparece nesse contexto).
Essa concepção de uma nova ordem social baseada nesses princípios será o
fio condutor do ideário comunista e socialista, das constituições nacionais e da
universalização dos direitos.
Chegando até os dias atuais, essa também é a ideia que orienta o modo de
vida contemporâneo. Vários fatores contribuem para dinamizar esse processo,
tornando-o algo concreto para os indivíduos; a existência do processo eleitoral
baseado no voto universal, por exemplo, é uma das formas de fazer valer na prá-
tica o ideal de igualdade.
170
A estratificação social
Mas o que se observa é que mesmo num contexto em que as diferenças sejam
defendidas e desejáveis, em nome do multiculturalismo1, as hierarquias sociais
e, consequentemente, as desigualdades sociais, econômicas, étnicas, políticas,
culturais, religiosas, de gênero, sexuais, permanecem.
171
Sociologia da Educação
Ora, sendo os estratos sociais hierarquizados, implicam controle social. Por exemplo, há classes
controlantes ou dominantes e classes controladas ou dominadas. Na verdade, a estratificação
social não é senão, sobretudo, uma modalidade de controle social, sem prejuízo de ser
explicável também pelos processos de socialização e grupal.” (Souto, 1985, p.199).
172
A estratificação social
173
Sociologia da Educação
174
A estratificação social
sudras: casta mais baixa antes dos párias, são os encarregados do trabalho
braçal de produção e executores de trabalhos manuais pesados;
párias: casta composta pelos miseráveis da Índia, não têm direito a ne-
nhum privilégio e são considerados impuros e renegados pela estrutura,
formando a camada mais baixa da sociedade indiana.
Istock Photo.
Istock Photo.
3
Feudalismo: modo de produção que vigorou durante a Idade Média, principalmente na Europa Ocidental, pautado em relações de fidelidade, isto
é, em obrigações mútuas entre senhores feudais e servos.
175
Sociologia da Educação
o que não significava que tivesse algum tipo de privilégio e muito menos parti-
cipação na condução da vida do país. A possibilidade de ascensão social vertical
nesse sistema era mínima.
Domínio público.
A última forma de estratificação é aquela caracterizada pela sociedade de
classes, própria do sistema industrial-capitalista, produto da Revolução Indus-
trial e da Revolução Francesa. Da primeira em especial é que surge a classe que
se constituirá sujeito da história nesses dois processos: a burguesia.
Essa classe ascendeu rapidamente por conta dos ganhos conquistados com
a atividade comercial e buscou adquirir também prestígio social aliando-se aos
reis que governavam os nascentes Estados nacionais. Enquanto lhe interessou
essa aliança, soube tirar proveito e quando não ainda mais aos seus interesses,
soube mobilizar as camadas mais pobres da sociedade e promove as chamadas
revoluções burguesas, na França e na Inglaterra. Esse é um exemplo de mobili-
dade social conquistada através do poder econômico.
classe média: ou melhor, as classes médias, uma vez que hoje se pode en-
contrar uma hierarquização dentro do que se convencionou chamar de
classes médias. Sua composição também é bem variada (profissionais li-
berais, militares, servidores públicos etc.);
classe trabalhadora: formada por todos os indivíduos que têm apenas sua
força de trabalho e que constitui a maioria da população.
176
A estratificação social
Comstock Complete.
A sociedade apresenta também uma estratificação baseada em outros fato-
res, tais como cor da pele, religião ou em características ligadas à questão de
gênero (homem x mulher).
Mas o importante é saber que, seja qual for o tipo de estratificação que defina
a organização de uma sociedade, ela é sempre resultado de desigualdades. Além
disso, pode se estender por diversas áreas como, por exemplo, na diferença de
acesso aos direitos básicos do cidadão e oportunidades, ao mercado de traba-
lho, ao acesso à cultura, o lazer e à educação.
4
Em 2007 “o Brasil entrou no grupo de países de Alto Desenvolvimento Humano, depois de ultrapassar a barreira de 0,800 no Índice de Desen-
volvimento Humano (IDH), ocupando a 70.ª posição no ranking de 177 países. O país com maior IDH é a Islândia, seguida por Noruega e Austrália,
respectivamente, em segundo e terceiro lugares. Em último lugar na lista – 177.ª posição –, está Serra Leoa”. Disponível em: <http://planetasusten-
tavel.abril.co. shtml>. Acesso em: fev. 2009.
177
Sociologia da Educação
ampla para conseguir o mesmo resultado, num mercado e numa sociedade cada
vez mais competitivos. Principalmente em países como o Brasil, os critérios e códi-
gos definidores e sinalizadores das hierarquias e dos status se tornam complexos e
se pluralizam.
A escola é uma das instituições sociais que tem entre as suas funções o con-
trole social, exercido das mais diversas formas, dentro do sistema educacional.
Mais ou menos autoritária, a escola terá as características da sociedade na qual
se insere. Poderá ser mais ou menos democrática conforme seja do interesse das
classes dominantes dessa sociedade.
178
A estratificação social
Mas tudo isso só terá valor se houver o apoio de um professor preparado para
utilizar esses novos recursos e que possa orientar seus alunos nesse contexto
da cultura da mídia e da informação, na qual se percebe uma naturalização das
tecnologias e uma tecnologização da natureza. Sem isso, o que se terá é o acir-
ramento da competitividade que já marca a sociedade atual, quando os jovens
são bombardeados com ideias de investir em si mesmos como forma de serem
aceitos no mundo e, assim, poder ascender socialmente.
180
A estratificação social
Texto complementar
Estratificação social
Para falar em classes sociais no Brasil é preciso estabelecer primeiro os
critérios de classificação, os padrões que as possam definir. Numa sociedade
em que a escravidão ocupava lugar de destaque, a primeira classificação é
relativa ao trabalho, separando escravos e livres. A importância dessa classi-
ficação explica a aversão do brasileiro pelo trabalho braçal, servil, por ser o
critério fundamental na hierarquia social.
Falamos em subir. Subir para onde? – Para a classe dos privilegiados, que
exerciam influência na sociedade; a classe dos ricos. A propriedade, a riqueza,
era fator determinante na escala social; mas não era exclusivo. Havia pretos
181
Sociologia da Educação
ricos; não muitos, mas havia; e eles jamais fariam parte da classe alta, por lhes
faltar o outro elemento, o racial. Não é por acaso que, ao delinear-se a socieda-
de brasileira em formação, aparece o complexo do branqueamento, num país
em que os brancos puros eram tão pequena minoria. Cresce o complexo de ser
o brasileiro de raça inferior, que por muito tempo vai acompanhar os intelectu-
ais brasileiros.
182
A estratificação social
Maior dificuldade estava em definir quem era o povo. Num estudo de 1821,
do Conselheiro Silvestre Pinheiro Ferreira, poucos entravam na classificação
de povo: “o povo é uma classe, no Brasil, proporcionalmente muito menor
do que na Europa, porque tirada a classe dos escravos e libertos, quase todo
o resto se compõe de homens que receberam aquele grau de instrução que
nos outros países eleva certa classe acima do que se chama povo”.
Neste sentido povo, como disse, não existia. Podemos classificar como povo
a grande massa dos que não conseguiam os meios regulares de subsistência,
fossem livres, libertos ou escravos; aqueles que não eram considerados cidadãos
183
Sociologia da Educação
Dicas de estudo
Assista ao filme Gandhi, com o objetivo de ver como é a realidade de uma
sociedade estratificada num sistema de castas e sua influência no cotidiano do
país – a Índia.
184
A estratificação social
185
Sociologia da Educação
Sugestões de leituras
AGUIAR, Neuma. (Org.). Desigualdades Sociais, Redes de Sociabilidade e
Participação Política. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2007.
186
A estratificação social
Atividades
1. Conceitue estratificação social e aponte as formas como pode se organizar
uma sociedade socialmente hierarquizada.
187
A mobilidade social
190
A mobilidade social
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191
Sociologia da Educação
Quanto mais aberta e democrática for uma sociedade, mais facilidade de as-
censão social ela oferece aos indivíduos e grupos sociais. Entretanto, isso não
impede que as oportunidades não sejam iguais para todos, especialmente
quando se tratar de mobilidade vertical ascendente.
Quem já nasce numa posição social privilegiada tende a ter facilidade para mudar
de posição social de forma ascendente. Pode-se exemplificar com caso do indivíduo
oriundo da classe dominante social, política e economicamente em sua sociedade
e consegue não só ter acesso à educação de forma plena, como também exercer o
poder local por conta dos demais atributos – riqueza, educação, prestígio social.
1
Os três setores da atividade econômica de um país são aqueles que dinamizam a produção: o setor primário (a agricultura e o extrativismo), o
setor secundário (a indústria) e o setor terciário (comércio e serviços). A tendência no mundo atual é o crescimento do setor terciário na economia
mundial. No Brasil, por exemplo, esse setor já responde por mais de 55% da economia nacional.
192
A mobilidade social
Quando uma crise econômica assola o país a tendência que se observa é que
ocorre significativa queda no ritmo da mobilidade social. Desemprego, emprego
informal, queda da renda familiar, evasão escolar (em razão da necessidade que
todos os membros da família trabalhem) e outros problemas relacionados à falta
de estabilidade econômica acabam agravando a estratificação e dificultando a
mobilidade social. Essa situação pode comprometer a ascensão social de toda
uma geração, quando é afetada pela crise quando está no auge de sua capaci-
dade produtiva.
O resultado final desse processo é o aumento das desigualdades sociais. Num cír-
culo vicioso, quanto mais abaixo na pirâmide social o indivíduo se encontrar, mais di-
ficuldade enfrentará para ascender verticalmente e, consequentemente, as desigual-
dades se mantêm. Há também os casos daqueles momentos em que a mobilidade
social ocorre no interior de um grupo ou de uma sociedade; mas o que se verifica é
que muitos sobem pouco e poucos sobem muito, quadro que agrava ainda mais as
disparidades sociais. Quase sempre é o caso em que aqueles que já eram ricos ficam
ainda mais ricos, enquanto os pobres perdem ainda mais poder aquisitivo.
Para muitos indivíduos o sucesso pessoal, visto como uma boa situação fi-
nanceira e a possibilidade de ascensão social está ligado à educação. Segundo
Oliveira (2003a, p. 55-56), “nas sociedades capitalistas [...] o sucesso pessoal no
campo da educação tem sido a chave, para alguns, do êxito na vida social. Para
esses, cuja origem de classe é a classe média, um nível de renda mais elevado e
maior grau de prestígio social estão diretamente relacionados a um bom desem-
penho nos estudos”.
194
A mobilidade social
Mas não se pode negar que para haver possibilidade de ascensão social a
um maior número de indivíduos, é preciso que haja boas escolas no país, com
ensino de qualidade e voltado aos interesses do cidadão e não apenas do siste-
ma econômico da sociedade.
Além disso, a escola pode ter mais prestígio na sociedade de acordo com o
tipo de formação que ofereça. É interessante pensar sobre o que diz Pérsio Oli-
veira (2003a, p. 57) a esse respeito:
[...] embora exista para servir a sociedade, preparando os jovens em padrões aceitos, compete à
escola também ajudar na tarefa de seleção social, usando-se esse termo e sentido estritamente
neutro e sem quaisquer implicações de privilégio. As escolas não obtêm a consideração da
sociedade a que pertencem somente através dos próprios esforços, por mais importantes que
sejam. Muitas vezes, conquistam prestígio porque preparam os alunos para carreiras muito
procuradas e para as quais outras escolas não os preparam. Em outras palavras, a posição de
uma escola é, em parte, determinada pelas oportunidades de carreiras que oferece, de onde se
infere que sua função seletiva não é tão somente uma questão intelectual, pela qual se reúnem
em uma escola os alunos de um nível semelhante de capacidade, senão também uma questão
social e econômica.
Entre os autores que analisaram a educação e seu papel nas sociedades, Pierre
Bourdieu, particularmente, chamou a atenção para o fato de a educação poder se
constituir num mecanismo de reprodução social, isto é, de manter e até mesmo
legitimar as desigualdades sociais e de certa forma inviabilizar a mobilidade social.
195
Sociologia da Educação
Segundo ele, a camada dominante da sociedade impõe sua cultura aos demais
segmentos da população, que acabam internalizando esses valores e desvalori-
zando os seus, sem se dar conta disso. Ao valorizar os valores, crenças, estilos de
vida, hábitos e símbolos da camada dominante, a escola “legitima” essa cultura e
impõe esses valores às demais camadas da sociedade, o que Bourdieu chamou de
violência simbólica.
2
Conjunto de valores e símbolos que o indivíduo assume ou consome em decorrência do seu hábito, que é determinado pela posição social que
o indivíduo ocupa na sociedade e que o leva a pensar e agir de acordo com essas disposições.
196
A mobilidade social
Texto complementar
197
Sociologia da Educação
cada vez mais difícil. Que estímulo ele tem? As famílias então rebaixam seus
valores éticos, o que é uma enfermidade social muito grave.
Quadros - Nem sempre. Mas quem tem carteira assinada geralmente está
melhor.
ÉPOCA - E não há nenhum outro fator que possa influenciar nessa mobi-
lidade social?
198
A mobilidade social
Dicas de estudo
Você pode assistir a dois filmes que são bem representativos do processo de
mobilidade social, em dois recortes históricos diferentes. O primeiro é Maria An-
tonieta, que mostra as dificuldades da futura rainha da França para se adaptar
às exigências da opulenta corte francesa em Versalhes. O segundo é O Diário da
Princesa, que conta a história de uma estudante que levava uma vida comum,
igual à de tantas outras jovens da sua idade e de repente se vê às voltas com
uma avó que não conhecia. Ela vem lhe contar que é princesa e que precisa ser
preparada para assumir seu posto num distante país.
199
Sociologia da Educação
Sugestões de leitura
Para aprofundar seus estudos vale a pena ler um pouco mais sobre a so-
ciologia da educação de Pierre Bourdieu.
São analisadas as reflexões de Bourdieu sobre a relação entre herança familiar – sobre-
tudo a herança cultural – e desempenho escolar. Na segunda parte, são discutidas suas
teses sobre o papel da escola na reprodução e legitimação das desigualdades sociais.
Atividades
1. Pense sobre as afirmativas abaixo e responda:
200
A mobilidade social
2. Relacione o nível de instrução dos pais com a qualidade de ensino que é mi-
nistrada a seus filhos. Quem tem mais chances de mudar de posição social?
201
Educação e movimentos sociais
Karl Marx (1818-1883), por sua vez, considerava que os movimentos sociais serviriam
para designar a organização racional da classe trabalhadora em sindicatos e partidos
empenhados na transformação das relações capitalistas de produção.
Como mudar tudo isso? Certamente, lembrar mais uma vez de Marx e dizer,
como ele, que somente a revolução promovida pelo proletariado poderia acabar
com o capitalismo e estabelecer o socialismo, base do que deveria ser uma so-
ciedade igualitária. Movimentos sociais urbanos podem ser vistos como siste-
mas de práticas sociais que questionam a ordem estabelecida, a partir das con-
tradições específicas da problemática urbana, isto é, procuram dar uma resposta
a questões como falta de moradia, saúde, educação, lazer, cultura etc. Buscam
a transformação estrutural do sistema urbano e das estruturas sociais. Há, por
vezes, objetivos ligados ao desejo de mudança em relação ao equilíbrio de forças
entre classes, entre a sociedade civil e o poder constituído, ou seja, o Estado.
204
Educação e movimentos sociais
O que se pode notar é que os movimentos sociais são, em sua maioria, atos
de protesto; sob essa ótica, tanto poderá ser um movimento de classe quanto de
um grupo que tenha interesses muito diferentes.
Pode-se definir movimento social como sendo uma ação coletiva de caráter
contestador, no âmbito das relações sociais, cujo objetivo é a transformação ou
a preservação da ordem estabelecida na sociedade.
O foco do interesse dos sujeitos envolvidos nesse processo deixa de ser tanto
a ordem econômica ou os conflitos de classe, ainda que ambos não tenham de-
saparecido da sociedade, e passa a ser as reivindicações sociais. Os conflitos so-
ciais ligados à relação classes dominante X classe dominada de certa forma se
institucionalizaram e, com isso, tem-se outros temas postos em discussão. São
questões sociais mais relacionadas com aspectos culturais, tais como o movi-
mento feminista, estudantil, de homossexuais, de jovens e outros.
1
Vista por muitos autores como uma fase vivida pela sociedade ocidental, a partir dos anos 1970, para muitos vista como uma situação de crise,
momento em que os grandes sistemas filosóficos parecem perder representatividade. Teve reflexos em vários setores (arte, música, literatura etc.),
questionando paradigmas e representando uma nova era do capitalismo, gerando o que podemos chamar da sociedade Pós-Moderna.
205
Sociologia da Educação
anos 1970;
anos 1980;
anos 1990.
Esses movimentos podem ser analisados à luz de várias teorias, de acordo com
a concepção da natureza do real que cada um desses grupos tenha, a constituição
206
Educação e movimentos sociais
207
Sociologia da Educação
[...] a religião e o lazer dos pobres passam a ser vistos como lutas tácitas contra as injustiças das
oligarquias tradicionais e do capitalismo moderno.
A categoria de sujeito popular, para uns, e de ator social, para outros, passa a substituir a
categoria de classe social, bem como a de movimento popular e/ou de movimento social
substitui a luta de classe, significando que, em lugar da tomada revolucionária do poder, poder-
-se-ía pensar em transformações culturais e políticas substantivas a partir da cotidianidade
dos atores envolvidos. Buscou-se esse potencial em sujeitos múltiplos, seja nos movimentos
urbanos, nas comunidades eclesiais de base, nas lutas pela terra, moradia etc., nas mulheres,
nos ecologistas, nos grupos jovens, nos sindicatos, nos movimentos de defesa dos direitos
humanos e de defesa étnica, entre outros. (SCHERER-WARREN, 1993, p. 17)
A fase final, que começa no início dos anos 1990, traz a perspectiva dos cha-
mados “novos” movimentos sociais, com novos temas e enfoques e, ao mesmo
tempo, um questionamento em torno de um possível processo de desmobiliza-
ção, imobilismo ou até mesmo antimovimento. Isso poderia ser relacionado com
a modernidade (ou pós-modernidade, como já foi dito), as desigualdades sociais,
a pobreza e escalada da violência nos centros urbanos. Conforme Scherer-Warren
(1993, p. 22), as mudanças verificadas tanto na realidade dos países latino-ameri-
canos quanto de outros lugares do mundo, sobretudo nos países socialistas, expli-
cam por que “as modificações históricas conduzem ao repensar das teorias”.
Para alguns autores não se deveria mais trabalhar com a noção de que os mo-
vimentos sociais só poderiam ser conduzidos pelas classes, uma vez que a posição
dos indivíduos nas relações de produção “não determina, necessariamente, suas
outras posições com relação às questões ambientais, de direitos humanos etc.”
(DIMENSTEIN; RODRIGUES; GIANSANTI, 2008, p. 253). Esses autores preconizam a
adoção da categoria movimentos sociais “rompendo com a ideia de que a identi-
dade dos atores é determinada apenas pela estrutura social (camponeses, traba-
lhadores, burgueses)” e propondo que “os estudos dos novos movimentos sociais
considerem que a dimensão política da transformação da sociedade está presente
em toda prática social – não mais se restringindo à atuação da classe operária dos
sindicatos ou partidos políticos. Assim, com o advento dos novos movimentos so-
ciais, o enfoque nas classes perde importância para a cultura, que adquire papel
mais ativo na constituição de sujeitos históricos que agem coletivamente como
protagonistas da transformação social. Um resultado desse processo é que a or-
208
Educação e movimentos sociais
209
Sociologia da Educação
Como você vê, o tema “movimentos sociais” pode ser explosivo, porque na
maioria das vezes se estará tratando de questões no mínimo “mal resolvidas”, de
algum problema que permanece sem solução ou do que não foi tratado como
deveria ter sido.
210
Educação e movimentos sociais
Nesse sentido, pode-se dizer que os movimentos sociais não são necessaria-
mente um produto da ação educativa, muito embora possa encontrar no meio
educacional um terreno fértil para sua consolidação e/ou desenvolvimento.
211
Sociologia da Educação
Não se pode esquecer de que a maioria dos movimentos sociais, aos olhos
de quem está vendo o problema de fora, não passava de “agitação”, muitas vezes
por não captar a real dimensão das reivindicações do grupo. Entretanto, quase
sempre é o momento do despertar da consciência para a luta. Com mais calma e
maior racionalidade, começam a pensar como podem atingir seus objetivos.
Aos poucos, o movimento começa a elaborar suas táticas (que devem ser
eficientes para que não ocorram erros) e desenvolver estratégias de atuação.
Podem ser mais ou menos incisivas, mais ou menos democráticas e mais ou
212
Educação e movimentos sociais
menos violentas. Tudo dependerá da meta que venha a ser estabelecida para a
ação. No momento, é preciso avançar? Voltar atrás? Ceder? Conforme os objeti-
vos que querem alcançar, os movimentos podem mudar várias vezes sua tática
e ir adequando suas estratégias.
O envolvimento mais construtivo do cidadão se dá no nível da sua própria cidade e dos seus
entornos, na região onde cresceu, ao articular-se com pessoas que conhecem diretamente e
instituições concretas que fazem parte do seu cotidiano. Trata-se de fechar a imensa brecha
entre o conhecimento formal curricular e o mundo onde cada pessoa se desenvolve.
213
Sociologia da Educação
Texto complementar
Os Movimentos Sociais:
uma leitura sobre a produção teórica
(ABREU, 2009)
214
Educação e movimentos sociais
Eles tendem a criar seus próprios espaços e a politizar uma área especí-
fica das relações sociais, possibilitando pensar a sociedade e a política não
mais como estruturas ou ação do Estado, mas como cenário criado e recriado
pelas práticas de sujeitos em conflito (MIRANDA, 1997. p. 11).
215
Sociologia da Educação
A partir dos anos 1980, a produção teórica acerca dos movimentos sociais
busca novas linhas de abordagens capazes, segundo seus principais autores,
de formular interpretações que qualificassem esse tipo de ação coletiva e os
atores envolvidos nesses protestos e reivindicações.
216
Educação e movimentos sociais
217
Sociologia da Educação
218
Educação e movimentos sociais
Dicas de estudo
Assistam ao filme O Violino Vermelho. Ao contar a história de 300 anos de um
violino que se torna raro, é possível acompanhar a história da própria humani-
dade, em fatos e eventos marcantes, inclusive de mobilização popular, como a
Revoluções Francesa e Chinesa.
Sugestões de leituras
DOIMO, Ana Maria. A Vez e a Voz do Popular: movimentos sociais e partici-
pação política no Brasil pós-70. Rio de Janeiro: Relume-Dumará/Anpocs.
219
Sociologia da Educação
Atividades
1. Defina movimento social, caracterize-o de forma geral e explique seus prin-
cipais objetivos.
2. Leia a letra da música abaixo e busque nela algumas das ideias trabalhadas
no conteúdo.
Da lama ao caos
Chico Science e
Nação Zumbi
220
Educação e movimentos sociais
221
A educação e o Estado
Por outro lado, o que é ter poder? O que é poder? Poder é a oportunidade
que um indivíduo/uma instituição tem de realizar/impor a sua vontade sobre os
demais indivíduos e/ou grupos sociais. Para que o poder real e concreto se rea-
lize, exista, é necessário que seja legítimo ou legitimado, e isso pode acontecer
com o uso de força, violenta ou não.
Assim, no que diz respeito ao Estado, as pessoas que exercem o poder cons-
tituem o governo. Para Oliveira (2003a, p. 71),
[...] em virtude do seu legítimo (mas jamais completo) monopólio da força, o governo,
evidentemente, detém o poder supremo da sociedade. Ele reserva para si o direito de impor e de
obrigar. Dentro das fronteiras de um país, a força ou a anulação da força só é usada legitimamente
pelo Estado e em seu nome como, por exemplo, por policiais ou funcionários carcerários.
Qualquer outro uso ou ameaça de uso da força (por bandos criminosos ou soldados amotinados,
por exemplo) é ilegítimo e será suprimido, se possível, pelo Estado. Se ele não conseguir eliminar
a violência, perderá sua característica principal, deixará de existir.
Para que exista um Estado é preciso que haja um território (base física sobre a
qual exerce sua jurisdição), uma população (habitantes desse território) e, final-
mente, de um governo — pessoas que em nome do Estado exercerão o poder, a
partir de vários órgãos. (OLIVEIRA, 2003a, p. 71).
224
A educação e o Estado
E o Estado é “a nação com um governo” (p. 72). Isso porque pode haver uma
nação sem Estado, mas não é possível a existência do Estado sem uma nação. Um
exemplo de nação sem estado é o caso dos judeus, antes da criação do Estado
de Israel.
225
Sociologia da Educação
1
Conflitos árabes/israelenses, por exemplo, que têm suas bases na disputa entre palestinos e judeus. Israel é um país criado em 1948, pela ONU, que
abriga judeus de várias partes do mundo. Estava prevista também a criação do Estado palestino na Palestina. O Estado israelense se consolidou e foi
ampliando suas fronteiras, através de guerras e ocupações dos territórios da Palestina. Mas, até hoje, o Estado palestino não existe, o que aumenta
a tensão na região, inclusive com atentados terroristas e o não cumprimento de resoluções e acordos políticos. O processo de paz tem se mostrado
difícil, em razão do constante endurecimento das ações de ambas as partes.
226
A educação e o Estado
O Estado é uma das principais partes da estrutura social e também uma das mais
influentes sobre todo o andamento e a organização da sociedade. Tem importantes
funções internas e externas, ligadas à administração pública e relações internacio-
nais. Mas existem, ainda hoje, algumas sociedades sem Estado. É o caso de algumas
tribos/comunidades que vivem isoladas, ou quando não há uma fonte de poder
político legítimo, regulamentando e organizando a vida em sociedade. São grupos
que, falando de forma bem simples, ainda não sentiram necessidade ou não “deram
autorização” para que um indivíduo ou um grupo se constituísse como fonte de
poder. Ou apenas não reconhecem essa fonte de poder como legítima.
Alguns povos, devido a uma série de fatores, dominados por outros povos,
também podem ser analisados como sociedades sem Estado: os curdos do
Iraque, o povo checheno e, o mais conhecido, o povo palestino. Ou seja, a au-
sência de um poder político, legítimo ou legitimado pela coletividade, leva uma
sociedade ao “Estado Natural” ou a uma crise de conflitos políticos.
2
Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Soberania>. Acesso em: jan. 2009.
227
Sociologia da Educação
Oliveira (2003a, p. 74) diz que nas sociedades atuais, tanto em países desen-
volvidos quanto nos subdesenvolvidos, o Estado tem também a função de pro-
duzir bens e serviços, como os serviços sociais, por exemplo. Dentre esses servi-
ços, destaca-se a saúde e a educação. Sobretudo, a partir das últimas décadas do
século XX, o Estado assumiu que a promoção da ação educativa era fundamen-
tal para atender aos interesses do sistema industrial que domina as sociedades
capitalistas na atualidade.
Uma das formas mais efetivas de atuação do Estado se dá por meio da im-
plementação de políticas públicas na educação, muitas vezes direcionando o
processo educativo como um todo para o atendimento de seus próprios inte-
resses. Mas há outras formas concretas de intervenção do Estado na educação,
que acontecem pela manutenção propriamente dita das instituições escolares,
da concessão de bolsas e outras formas de créditos para educação e da norma-
tização do sistema educacional como um todo. Os projetos educativos são um
228
A educação e o Estado
exemplo desse fato. No caso do Brasil é possível notar uma forte participação do
Estado na educação, até como agente do processo educativo.
229
Sociologia da Educação
Domínio público.
Há, nesse momento, uma busca por uma formação mais especializada que
pudesse atender às necessidades de mão de obra nas fábricas. O grupo que ficou
conhecido como Escola Nova, por exemplo, propôs grandes transformações no
sistema educacional.
230
A educação e o Estado
De lá para cá, o que se tem visto é um misto de descaso com algumas inicia-
tivas interessantes, mais ou menos bem-sucedidas, de organizar o caos que se
instalou na educação brasileira, marcada pelo fracasso escolar, pela evasão, pela
repetência, pela má remuneração dos professores e, sobretudo, pelas péssimas
condições da escola pública.
Texto complementar
231
Sociologia da Educação
Nesta nova era mundial (Era Globalizada), na busca por novos mercados
e pela internacionalização da produção, faz-se necessário diminuir as fron-
teiras de Estados nacionais, flexibilizando-os, tornando-os, muitas vezes,
principalmente os países menos desenvolvidos, em meros consumidores de
produtos industriais e em fontes de matéria-prima e mão de obra barata.
[...]
232
A educação e o Estado
política. Os Estados nacionais, que por quase todo o século passado tinham
como um dos seus principais objetivos a promoção do bem-estar social
e econômico da nação e era um instrumento de defesa desta, foram se
enfraquecendo à medida que avançava o processo de globalização ou de
transnacionalização, reduzindo a proteção externa de suas economias,
adaptando-as com as economias mundiais e diminuindo a sua capacidade
de controlar os fluxos de pessoas, bens e capital. [...]
O Estado e a educação
233
Sociologia da Educação
234
A educação e o Estado
235
Sociologia da Educação
Considerações finais
[...] O papel do Estado deve ser claro em todo esse assunto: deve velar, por
exemplo, por impedir o crescimento desordenado das instituições privadas,
que buscam seu próprio lucro ao invés do desenvolvimento da nação, valori-
zando e investindo nas instituições públicas, propiciando seu fortalecimento
e crescimento no país, devendo também velar e controlar a qualidade dos
cursos em todas as instituições (tanto privadas quanto particulares).
236
A educação e o Estado
Dicas de estudo
Leia no site indicado o artigo de Aloísio Milani, intitulado A Caminho da Ci-
vilidade, em que o autor discute a educação enquanto um direito previsto na
Declaração dos Direitos Humanos. A propósito das comemorações dos 60 anos
da declaração, Milani chama a atenção para o que denominou de “dívida” que o
Brasil tem a cumprir.
REVISTA EDUCAÇÃO. Ed. 138. São Paulo: Segmento. 9 out. 2008. Disponível em:
<http://revistaeducacao.uol.com.br/textos.asp?codigo=12532>. Acesso em: fev.
2009. Adaptado.
Sugestões de leituras
PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi. (Org.). História da Cidadania. 4. ed.
São Paulo: Contexto, 2008.
Atividades
Para entender melhor o papel e as funções do Estado, responda às seguintes
questões:
237
Sociologia da Educação
238
A educação e o Estado
239
Educação e desenvolvimento
Mas o que são os chamados indicadores que definem quais são os países
subdesenvolvidos? Tem-se os indicadores econômicos e os indicadores sociais e
políticos. Segundo Oliveira (2003a, p. 94), apresenta uma das classificações dos
indicadores do subdesenvolvimento.
Indicadores vitais:
insuficiência alimentar;
1
Processo iniciado na segunda metade do século XX, que conduz à crescente integração das economias e das sociedades de vários países, em
relação à produção de mercadorias e serviços, aos mercados financeiros e à difusão de informações (OLIVEIRA, P. S. de. Introdução à Sociologia.
(São Paulo: Ática, 2008, p. 283.).
242
Educação e desenvolvimento
Indicadores econômicos:
problemas na agricultura;
problemas na indústria;
concentração de renda;
subemprego.
243
Sociologia da Educação
A riqueza de um país, expressa por seu Produto Interno Bruto (PIB), isto é, toda
a riqueza que é produzida, nem sempre corresponde ao resultado observado na
educação. Mas não se pode negar que o nível de escolaridade está intimamente
ligado ao grau de desenvolvimento econômico.
Casos como esses comprovam a tese de que a “riqueza de um país tem impli-
cação direta sobre o nível de escolaridade da população. [...] O país que quiser
ter um crescimento econômico em bases sólidas terá de contar com uma popu-
lação de elevado nível de instrução” (FERREIRA, 1993, p. 127).
244
Educação e desenvolvimento
As desigualdades sociais
e o subdesenvolvimento
A desigualdade existe em vários países do mundo, aliás, na maioria deles,
especialmente ao Sul da linha do Equador. O chamado Terceiro Mundo3, deno-
minado também de países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento – o Sul –,
congrega a maior parte da população mundial e também o maior número de
3
Hoje não se adota mais essa terminologia em razão do colapso do socialismo, ocorrido a partir de 1989, com a queda do Muro de Berlim e o
fim da União Soviética. O Primeiro Mundo era formado pelos países ricos, capitalistas, alinhados com os Estados Unidos; o Segundo Mundo seria
composto pelos países socialistas; e o Terceiro Mundo era constituído pelos demais, os países pobres, localizados em sua maioria nas Américas
(Central e do Sul), África e Ásia.
245
Sociologia da Educação
A Organização das Nações Unidas (ONU) criou, no final dos anos 1980, um
novo índice para avaliar o grau de desenvolvimento e a qualidade de vida das
populações dos países no mundo e comparando-os entre si, com o objetivo de
chamar a atenção para a necessidade de uma ação global para combater a po-
breza no mundo. O que se pode perceber é uma grande disparidade entre os
países, especialmente entre os do Norte e os do Sul do planeta. E mesmo entre
os subdesenvolvidos se pode encontrar grande diversidade, uma vez que a con-
centração de renda é maior em uns do que em outros. Esse tipo de classificação
é importante para que se possa estabelecer parâmetros para discutir o subde-
senvolvimento e buscar saídas para a situação.
246
Educação e desenvolvimento
Sabe-se que a educação sozinha não é e nem pode vir a ser promotora do
desenvolvimento, mas é imprescindível que cada um, educador ou não, cumpra
seu papel na busca de uma sociedade mais justa e, como afirma Sayão (In: CAR-
BONARA, 2004, p. 187, v.1),
lutar por justiça social exige que saiamos de nossas próprias necessidades, a fim de olhar para
o mundo que nos rodeia, a ponto de perceber que muito pode e deve ser feito, e que cada
um fazendo sua parte e assumindo sua responsabilidade muito pode mudar e muito pode
acontecer.
4
Aspecto do processo de colonização europeu, baseado na exploração dos recursos naturais dos países transformados em colônias, sem a preocu-
pação de estruturar a economia desses países para seu próprio benefício. O objetivo era única e exclusivamente enriquecer a Metrópole.
247
Sociologia da Educação
As desigualdades sociais
e o papel transformador da educação
Observando a produção intelectual e as discussões no âmbito governamen-
tal, nota-se um consenso acerca da importância de se investir em educação, não
só por seu papel de formação e preparação para o trabalho. A educação é funda-
mental também para a transformação de uma nação, no que diz respeito à ética,
ao trabalho e à educação em geral. Os países que priorizam essa questão, não
apenas apresentam economia frágil, como também exibem baixos indicadores
sociais e de qualidade de vida ruim.
248
Educação e desenvolvimento
5
Para saber mais sobre esses indicadores, consulte o site do MEC. Indicadores Demográficos e Educacionais. Disponível em: <http://portal.mec.gov.
br/index.php?option=com_content&view=article&id=12231:indicadores-demograficos-e-educacionais-&catid=114:sistemas-do-mec>. Consulte
também o site do IPEA para ter acesso aos dados que traçam um perfil da situação social do país. Brasil: o estado de uma ação. Estado, Crescimento
e Desenvolvimento. A Eficiência do Setor Público no Brasil. IPEA, 2007. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/sites/000/2/livros/Livro_estadona-
cao2007.pdf>.
249
Sociologia da Educação
capital social: compreende as estradas de rodagem e de ferro, navios, portos, armazéns e silos,
hospitais e serviços de saúde pública e sistema educativo;
Dessa forma, tem a escola, enquanto agência de educação, papel preponderante no processo de
desenvolvimento. Representa, ao mesmo tempo, com seu prédio, máquinas e equipamentos,
capital fixo e, com seus Recursos Humanos, capital humano, funcionando como importante
agente do desenvolvimento.
Finalmente, não se pode perder de vista que nada disso é possível sem que
haja uma preocupação em desenvolver nos educandos um espírito crítico e uma
consciência social que os leve a questionar a sociedade desigual e excludente,
ao mesmo tempo em que passem a exigir do Estado que esse cumpra com seu
papel de promotor de políticas voltadas para o desenvolvimento social e econô-
mico da sociedade.
Sem isso não há mudança social, mobilização que se reflita numa maior par-
ticipação política, enfim, melhoria da qualidade de vida da população. Compre-
ender a sociedade na qual a educação está inserida é essencial e contribui para
o exercício pleno da cidadania. Conhecer seus direitos e deveres é um começo
para exigir do Estado e da própria sociedade um compromisso maior com a pro-
moção do desenvolvimento social, que passa, como se viu, pela educação.
250
Educação e desenvolvimento
Texto complementar
Neste artigo pretendemos falar sobre os papéis que são atribuídos a edu-
cação escolar, da relação contraditória entre essa educação e necessidades
de desenvolvimento de um país. [...]
Introdução
Nesse momento de grandes transformações tecnológicas, vivemos uma
fase em que o conhecimento sistematizado é considerado a grande ferra-
menta para impulsionar as sociedades que pretendem estar na vanguarda
do desenvolvimento social e tecnológico, há uma disseminação de um dis-
curso que tenta demonstrar e provar a importância da educação escolar no
atual cenário mundial. É preciso refletir sobre os elementos que acompa-
nham esse discurso.
Educação e desenvolvimento,
um velho e “(re)novado” discurso
Esse discurso de aliar educação e desenvolvimento não é recente. Cunha
(1991) procura demonstrar que se trata de um discurso que tem um papel
ideológico. Ele cumpre a função de livrar o sistema capitalista de maiores crí-
ticas. Assim, segundo a ótica liberal, o sistema educacional teria um papel de
gerar oportunidades de ascensão social, garantindo a “igualdade de oportu-
nidades”. Diversos estudos demonstraram que esse discurso não se sustenta,
o desenvolvimento de uma nação se dá por um conjunto de fatores. A edu-
cação escolar não pode ser encarada como panaceia para todos os males.
Nóvoa (1998, p. 19-20), ilustra bem a insistência nesse discurso.
A história da escola sempre foi contada como a história do progresso. Por aqui passariam
os mais importantes esforços civilizacionais, a resolução de quase todos os problemas
sociais. De pouco valeram os avisos de Ortega y Gasset – e de tantos outros – dizendo
que esta análise parte de um erro fundamental, o de supor que as nações são grandes
251
Sociologia da Educação
porque a sua escola é boa: certamente que não há grandes nações sem boas escolas, mas
o mesmo deve dizer-se da sua política, da sua economia, da sua justiça, da sua saúde e de
mil coisas mais.
A escola cresceu nesta crença. E os professores acreditaram que lhes estava cometida a
missão de arautos do progresso. Contra tudo e contra todos, se preciso fosse [...].
252
Educação e desenvolvimento
Diante desse novo quadro, a escola passou a ser cobrada por mudanças
curriculares que fossem mais adequadas às novas necessidades. Neste sentido,
foram elaboradas várias reformas nos sistemas de ensino público. A preocupa-
ção era fazer com que a educação se voltasse para as necessidades da produção.
O Banco Mundial chegou a falar em “educar para produzir mais e melhor”. [...]
253
Sociologia da Educação
Considerações finais
[...] Não há novidades no que acabamos de falar, mas há espaço para o
aprofundamento dessa discussão, pois até hoje o que temos são experiên-
cias isoladas de algumas universidades, mas nada feito de forma sistematiza-
da, em nível nacional e como opção de política pública para a tão decantada
crise do sistema educacional. Como alerta final, vale a pena lembrar que não
dá para pensar no sistema educacional de forma isolada. Ele está atrelado a
um projeto de país que está inserido num sistema econômico internacional.
254
Educação e desenvolvimento
Dicas de estudo
Capitães de Areia
Cidade de Deus
Abril Despedaçado
Assistam aos filmes citados, eles são algumas das produções nacionais dos
últimos anos que mostram um pouco da realidade, da pobreza, desigualdades
sociais, omissão do Estado e exclusão no Brasil e seus reflexos no cotidiano dos
brasileiros.
Sugestões de leituras
DEMO, Pedro. Educação e Desenvolvimento. Mito e realidade de uma rela-
ção possível e fantasiosa. São Paulo: Papirus, 1999.
Além desse, Pedro Demo tem vários outros livros que discutem a educação
e a relação com o desenvolvimento do país, a questão da pobreza e outras
questões que dizem respeito ao direito à educação e o exercício da cidadania.
255
Sociologia da Educação
Atividades
1. Conceitue desenvolvimento econômico.
256
Educação e desenvolvimento
257
Educação e cotidiano no Brasil
No final dos anos 1980 tanto a sociologia quanto a história “dão voz” às
pessoas comuns, em atividades comuns, analisando as condições mate-
riais de existência, a partir da abordagem do cotidiano.
que se procura é a “compreensão” daquilo que não pode ser entendido dentro
de um certo discurso social e histórico. A alteridade passa a ser fundamental
para a interpretação histórica e sociológica: tem-se o paradigma da diferença. A
exclusão passa a ser vista sob um novo ponto de vista, que prioriza a análise das
práticas cotidianas dos grupos anônimos.
O resultado desse descaso foi que a maioria desses negros libertos torna-
ram-se mão de obra barata nos centros urbanos, muitas vezes caindo na mar-
ginalidade. O preconceito, que já era grande em relação á população negra, só
aumentou diante desse quadro.
260
Educação e cotidiano no Brasil
A democracia racial, por exemplo, não existe no Brasil e isso pode ser com-
provado analisando os indicadores sociais do país, especialmente aqueles rela-
cionados à educação e à remuneração salarial, não esquecendo as diferenças de
gênero (posição de homens e mulheres na estrutura produtiva) e as geográfi-
cas (as disparidades regionais, que fazem com que exista num mesmo país uma
região extremamente moderna ao lado de outra arcaica, onde ainda predomi-
nam traços da colonização).
261
Sociologia da Educação
Ainda que a trajetória da sociologia no Brasil tenha sido marcada pela institu-
cionalização na vida acadêmica, com forte presença nas universidades e centros
de pesquisas, nem sempre se voltou para as questões relativas à educação, par-
ticularmente durante o período que se estende do Golpe Militar até o início do
processo de redemocratização (a partir da segunda metade da década de 1980).
Isso não deixa de ser contraditório, uma vez que a ligação da sociologia com
a educação é, desde a sua origem, bastante estreita. Mas essa situação muda
quando os temas ligados à cultura e à diversidade cultural passam a fazer parte
do interesse da sociologia.
262
Educação e cotidiano no Brasil
cada vez mais importantes para se discutir as condições de vida de uma popu-
lação. Não existe uma cultura e nem a cultura. É disso que vai tratar o multicul-
turalismo. Nenhuma sociedade é homogênea e em razão disso sempre haverá
a relação com o “outro”. O que não se pode aceitar é que se trate a desigualdade
como sendo fruto de características físicas ou de diferenças econômicas, religio-
sas ou culturais.
Mas isso não impede que se veja os PCNs como um avanço na tentativa de so-
lucionar alguns dos grandes problemas do Brasil e da educação por meio de um
ensino de mais qualidade e comprometido com o exercício pleno da cidadania.
264
Educação e cotidiano no Brasil
265
Sociologia da Educação
Getty Images.
O cotidiano tem se mostrado um importante objeto de estudo por trazer à
tona questões que há muito demandam um tratamento teórico mais aprofun-
dado para ampliar a visão que se pode ter da realidade social. Diz respeito aos
sentimentos, pensamentos e ações do indivíduo no dia a dia.
266
Educação e cotidiano no Brasil
Dimenstein (1998, p. 15), falando sobre a questão das crianças que vivem nas
ruas no Brasil, propõe algumas perguntas, que ele mesmo responde. Segundo o
próprio autor, seu objetivo é mostrar como “funciona o motor de uma sociedade
que produz crianças de rua. É uma viagem pelas engrenagens do colapso social,
em que a infância é a maior vítima e a violência, uma consequência natural”.
Seguem duas importantes questões que ele propõe ao final do capítulo que dis-
cute educação:
1- Por que é tão importante investir em educação?
Porque a desinformação é um do males da sociedade brasileira. E não é apenas uma questão de
cidadania. A própria riqueza material do país depende do nível de instrução de sua população.
Além disso, numa democracia, precisamos saber escolher nossos representantes e nossos
governantes. Mas um povo desinformado não tem condições de optar corretamente.
2- Basta apenas investir em educação?
Não. Essa é uma outra visão simplista de nossos problemas econômicos, sociais e políticos. É
importantíssimo investir em educação. Mas é igualmente importante investir em alimentação,
habitação, saúde, saneamento básico. (DIMENSTEIN, 1998 p. 165)
O Brasil enfrenta esse cenário mundial como um de seus novos atores, sin-
tonizado com os sinais dos novos tempos. E diante disso não se pode deixar
de enfrentar os desafios postos pela realidade de desigualdade e exclusão que
marcam o cotidiano de milhões de brasileiros, que precisam da educação para
ter maiores e melhores oportunidades de se integrarem a esse sistema.
Texto complementar
267
Sociologia da Educação
“serem todos os homens iguais perante Deus”. Ora, este princípio era uma
declaração de importância fundamental para proteger os indígenas da ma-
tança indiscriminada praticada pelos espanhóis e portugueses; reconhecia,
assim, que os povos indígenas pertenciam à espécie humana e eram, portan-
to, portadores de uma alma. Nesse sentido, poderiam ser catequizados em
nome da verdade divina e da fé cristã e eram reconhecidos como humanos,
contrariamente às teses de outros teólogos que não reconheciam neles uma
condição humana, não sendo pecado escravizá-los nem exterminá-los.
a liberdade de ir e vir;
268
Educação e cotidiano no Brasil
Dicas de estudo
A partir da análise da letra da música Haiti, de Caetano Veloso e Gilberto Gil,
faça uma reflexão sobre a realidade brasileira e as desigualdades socioeconômi-
cas que caracterizam o cotidiano de milhares e brasileiros. Se possível faça isso
ao som a própria música.
Haiti
Caetano Veloso
Gilberto Gil
269
Sociologia da Educação
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui
270
Educação e cotidiano no Brasil
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui
Sugestões de leitura
HELLER, Agnes. O Cotidiano e a História. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989.
271
Sociologia da Educação
Atividades
1. Você conhece os PCNs? Conhece suas propostas? Explique o que são os PCNs
e apresente uma síntese das duas principais propostas.
272
Educação e cotidiano no Brasil
273
Problemas da educação no Brasil
Mas esse não é o único grave problema social que acomete o Brasil, e
a maior parte deles pode ser analisada a partir da premissa básica de que
são traços da colonização portuguesa que ainda se mantêm na estrutu-
ra social brasileira. Pode-se começar pensando na maneira como acon-
teceu a ocupação territorial do Brasil: as pessoas foram se concentrando
nas regiões litorâneas, no Nordeste e Sudeste, demorando um pouco mais
para ocupar as demais regiões do país. E o que isso significou? Resultou
num maior desenvolvimento de determinadas atividades econômicas e
da urbanização ao longo do litoral, gerando um “quase esquecimento” das
demais regiões.
Por outro lado, sempre houve no Brasil uma relação entre poder econô-
mico e poder político, que na prática se refletiu numa forma de adminis-
trar o país baseada na defesa dos interesses dos grupos dominantes, em
Sociologia da Educação
276
Problemas da educação no Brasil
Ainda segundo Kruppa (p. 127), “as condições sociais, civis e políticas para
a cidadania plena ainda não existem no Brasil; estão sendo conquistadas”. E é
inegável que a luta pela cidadania passa pela luta por uma escola de qualidade e
com professores que também não tenham negada a sua cidadania.
O fato de por muito tempo ter havido um entendimento por parte dos go-
vernos de que a prioridade deveria ser o desenvolvimento econômico e não o
desenvolvimento social, ligando a educação apenas à noção de progresso, fez
com que a população continuasse a sofrer com as disparidades regionais, com a
exclusão, com a diferença de oportunidades e com a desigualdade.
Entretanto, a educação deve ser vista sob um duplo aspecto: direito da popu-
lação e dever do Estado.
Deve-se observar que se razões externas, sociais e econômicas, têm contribuído para que a
escola falhe no processo de transmissão de conhecimentos e informações à população, há
mecanismos internos ao sistema escolar que reforçam ao invés de alterar esta situação. É o
caso das questões como: qualidade de ensino, gestão do sistema educacional, planejamento
educacional, currículo, avaliação, códigos disciplinares, jornada e nível salarial dos educadores e
funcionários, espaço físico escolar, material pedagógico e informações sobre o funcionamento
do sistema escolar, principalmente aquelas relativas ao uso dos recursos financeiros existentes
para a educação.” (KRUPPA, 1994, p. 83)
Para algumas pessoas prevalece a lógica de que apenas por meio da escola
a criança pode se tornar um indivíduo pleno, bem preparado, satisfeito e rea-
lizado com sua trajetória de vida. Rubem Alves1 mostra sua preocupação com
essa ideia que orienta alguns pais e professores: de que somente o fato de fre-
quentar a escola é suficiente para garantir um futuro feliz às crianças e que será
na escola que eles aprenderão tudo sobre a vida e sobre o que mais quiserem
saber. Dizendo isso, a ilusão de que os professores responderão todas as per-
guntas, permanece, durante muito tempo na cabeça das crianças. Sabendo-se
como funcionam as escolas e qual a filosofia que sustenta o processo educativo
de modo geral, sabe-se que não será assim; portanto, é quase que esperado o
desencanto e a frustração em relação à escola por parte do aluno.
Por essa razão é que se vem buscando, já há algum tempo, promover refor-
mas educacionais que levem a uma escola promotora da cidadania e menos
preocupada com a transmissão de conteúdos e preparação para o mundo do
trabalho. Formar cidadãos conscientes passa a ser o objetivo maior.
278
Problemas da educação no Brasil
Com medidas como essas se espera que a escola deixe de ser uma instituição
que ensina somente os conteúdos preestabelecidos pelos órgãos oficiais, por
meio de políticas públicas. Dessa maneira, muitos alunos, que vivem realidades
sociais diversas deixam de ser sistematicamente prejudicados. Ao contemplar
essa diversidade, a escola adquire sentido para os educandos, que trazem a sua
realidade para dentro da sala de aula.
O fracasso escolar:
uma tentativa de explicação
Uma das ideias mais difundidas quando se fala em educação e processo ensi-
no-aprendizagem é a que diz respeito ao fracasso escolar. Pelos mais diferentes
motivos, um aluno não consegue acompanhar o ritmo dos colegas e acaba “fi-
2
Assim que a Constituição de 1988 foi promulgada, teve início um debate em torno da necessidade de construção de um projeto de LDB que
contemplasse os interesses dos setores menos favorecidos da sociedade. O resultado foi a Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação – Lei 9.394/96,
a partir da qual o Ensino Fundamental e o Ensino Médio passaram a compor a Educação Básica, cuja finalidade é assegurar aos alunos sua formação
comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores.
279
Sociologia da Educação
cando para trás”, sem entender muito onde e/ou por que fracassou. Na maioria
das vezes, o fracasso escolar, que pode se refletir na repetência e/ou na evasão,
marca para sempre a vida desse aluno e o desestimula a continuar estudando.
Esse é um problema sério, mas torna-se mais dramático num país como o
Brasil, onde as condições geradas pelo subdesenvolvimento impõem a neces-
sidade de se buscar soluções para o problema. É nesse contexto que a sociolo-
gia da educação desempenha um papel fundamental na medida que possibilita
que se pense “sociologicamente” a questão do fracasso escolar, desmistificando
o problema. Empregando diferentes variáveis em suas análises e fazendo as de-
vidas relações entre elas, como, por exemplo, relacionar os maus desempenhos
escolares com o nível de renda das famílias dos estudantes é uma leitura da rea-
lidade que abre novas possibilidades na da busca por soluções.
Vale lembrar o que diz Pedro Demo (1985, p. 58-59) quando pensa o que é
educar. O autor começa fazendo uma pergunta.
“[...] educar é ciência ou é arte? Digo que educar é também ciência, mas é principalmente
arte. Por várias razões: porque não é produto, mas processo; porque não é só técnica, mas
principalmente criatividade; porque não é treinamento, mas autopromoção; porque não
é instrumentalização, mas formação. (...). Não se produz um educando de fora para dentro.
Não pode ser um produto da domesticação, do treinamento, a moldagem externa. Deve ser
consequência criativa de um processo de desenvolvimento das potencialidades, no qual o ator
fundamental é o educando, que se cria, não o educador, que é somente motivador.”
Essa ideia é compartilhada por Pozo (2002, p. 273), que diz que a função do
professor é ajudar os educandos a superarem suas dificuldades ao mesmo tempo
que vai se tornando dispensável quando seu aluno conduz sua aprendizagem.
280
Problemas da educação no Brasil
Um dos primeiros mitos que podem cair por terra (felizmente) é aquele que
relaciona o fracasso escolar ao nível de inteligência do educando. É uma pena
que nem sempre o próprio aluno perceba isso e acabe tendo um sentimento de
inferioridade diante do seu fracasso. A explicação sociológica explicita as verda-
deiras causas dos resultados ruins e retira da criança e do jovem o estigma da
“burrice”. É o que acontece com um aluno repetente ou que desiste de ir à escola
dizendo: “não vai dar certo mesmo, porque eu é que sou burro e não consigo
aprender nada.”
Uma das questões mais sérias nessa discussão sobre o fracasso escolar é a
que diz respeito à responsabilidade da família nesse insucesso. Lembre-se mais
uma vez que as condições sociais da família, seu capital cultural (formação esco-
lar, os livros que leu, os filmes a que assistiu etc.) determinam de alguma forma
a maneira como irão perceber a escolarização dos filhos. Podem dar maior ou
menor importância à vida escolar da criança e/ou do jovem a partir do valor que
derem à educação e do quanto perceberem no processo educativo uma forma
de ascensão social. A cobrança tende a aumentar de acordo com essas variáveis,
podendo, noutro extremo, nem acontecer. É o caso da família que não valoriza
281
Sociologia da Educação
E como lidar com isso? Tanto o Estado quanto a sociedade como um todo,
incluindo-se os professores, têm uma tarefa a cumprir no sentido de procurar
pensar ações que possam viabilizar o resgate daqueles que abandonaram a
escola e abrir as portas para os que ainda estão fora dela.
A partir dos anos 1960 Bourdieu discute a questão das desigualdades es-
colares e produz uma teoria que se tornou fundamental para a sociologia da
educação. Vai contestar a ideia consolidada naquele momento de que os indi-
víduos competiriam dentro do sistema de ensino, em condições iguais, e aque-
les que se destacassem por seus dons individuais avançariam por merecimento,
a progredir dentro da escola e, mais tarde, nas suas carreiras profissionais. Isso
possibilitaria que esses indivíduos ocupassem as posições superiores na hierar-
quia social. A escola seria, nessa perspectiva, uma instituição neutra, que teria a
função apenas de difundir um conhecimento racional e objetivo, selecionando
racionalmente, por meio de avaliações sistemáticas, “os melhores”.
282
Problemas da educação no Brasil
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Sociologia da Educação
Texto complementar
284
Problemas da educação no Brasil
285
Sociologia da Educação
286
Problemas da educação no Brasil
Por outro lado, os que defendem uma postura crítica entendem que a
sociedade como sendo essencialmente marcada pela divisão entre grupos
ou classes antagônicas que se relacionam à base da força, a qual se manifes-
ta fundamentalmente nas condições de produção da vida material. Nesse
quadro a marginalidade é entendida como um fenômeno inerente à própria
estrutura da sociedade (SAVIANI, 2003, p. 4).
287
Sociologia da Educação
A teoria da complexidade
e a educação contemporânea
Segundo Morin a sociedade contemporânea possui elementos diversifi-
cados e complexos, isto significa que o ensino precisa estar atento a comple-
xidade da vida contemporânea.
288
Problemas da educação no Brasil
Dicas de estudo
Filme: Linha de Passe
O filme se passa na cidade de São Paulo e conta a história de uma família – mãe
e quatro filhos, que lutam para sobreviver numa cidade com um cotidiano difícil.
A mãe, Cleuza, é empregada doméstica, cria os filhos sozinha, está grávida nova-
mente de mais um pai desconhecido e faz de tudo para manter o filhos longe da
violência e dentro da escola. O futebol e as transformações religiosas pelas quais
passa o Brasil, o exército de reserva de trabalhadores que alimenta a cidade, a ques-
tão da identidade e da ausência do pai são alguns dos temas tratados no filme.
Sugestões de leitura
ALVES, Rubem. Pinóquio às Avessas. São Paulo: Verus, 2005.
Livro voltado para o público infantil, mas que interessa a todos que se
interessem pela educação. O autor parte do clássico da Literatura Infantil
para fazer uma crítica à escola que só se preocupa em transmitir conteúdos e
se esquece que o aluno pode desenvolver-se por si mesmo. Formar alguém
289
Sociologia da Educação
Atividades
1. Explique de que maneira o grau de instrução dos membros da família pode
interferir no sucesso escolar dos filhos.
290
Problemas da educação no Brasil
291
A profissão de professor
294
A profissão de professor
Portanto, não se pode ver a educação como algo descolado da realidade. Pelo
contrário, o processo educativo só faz sentido quando possibilita a formação in-
tegral do indivíduo e deve ser entendido em sua dimensão política.
295
Sociologia da Educação
suas aulas, indica todos os caminhos e não desafia seus alunos, impede a cons-
trução do conhecimento. O professor deve criar condições necessárias para que
seus alunos caminhem sozinhos estabelecendo uma relação pautada no prazer
de ensinar e de aprender. Na medida em que a escola tem o papel de propiciar
o autoconhecimento e o enriquecimento do ser humano, questões como essa
precisam fazer parte da formação do professor!
O saber docente é plural, isto é, composto por vários outros saberes, resul-
tantes da experiência, da formação acadêmica propriamente dita e do senso
comum. A formação do professor deveria dar um destaque maior para o chama-
do saber da experiência, que é o saber crítico por excelência, uma vez que é uma
verdadeira síntese de tudo o que o professor aprende, ensina e vivencia. Nesse
sentido, seria interessante vincular a prática e a pesquisa à docência.
Num país como o Brasil, por exemplo, onde as desigualdades são tão grandes
e ainda não se conseguiu democratizar a educação, seria muito interessante se
o professor aprendesse a ser também pesquisador. Poderia tirar proveito do fato
de estar em contato direto com os atores que vivenciam o processo educativo
(alunos, pais, colegas professores, direção e funcionários da escola).
296
A profissão de professor
‘lógica’ institucional quanto das características a profissão como ainda da vida cotidiana
escolar. (PENIN, 1994, p. 26)
297
Sociologia da Educação
a discussão sobre o papel do professor só faz sentido num quadro teórico mais
amplo. É importante tentar perceber ainda que de forma sintética onde eles se
diferenciam.
Para Durkheim, a educação é um fator social e como tal pode ser estudada
sociologicamente, já que a realidade educacional possui uma natureza própria
e pode ser observada nas instituições pedagógicas. O sistema educacional pode
ser estudado por ser parte de um todo que é a sociedade, a qual se integra na
medida que ambos têm um fim comum que é a socialização do indivíduo. É uma
das instituições sociais e como tal é um produto histórico. A educação para ele
teria como um dos seus fins garantir uma certa homogeneidade entre os mem-
bros da sociedade para possibilitar a vida social. Segundo Tura (2002, p. 51), o
professor para Durkheim
[...] é um transmissor de saberes [...] valorizados e essenciais à continuidade societária. É um
agente da formação integral dos alunos e, por isso, tendo o domínio das disposições pessoais
para corresponder às exigências de seu tempo, pode criar as condições para as mudanças
sociais que se fizerem necessárias. Esta é a importante função social do mestre, de contribuição
essencial para a formação de futuros cidadãos.
Mas isso não significa que tenha diminuído o papel ou a importância do profes-
sor no processo educativo. Sobre essa questão Tedesco (2004, p. 96) afirma que
[...] é necessário ter em mente que a incorporação de ‘novas tecnologias’ não pretende
substituir as ‘velhas’ ou ‘convencionais’, que ainda são – e continuarão sendo – utilizadas. O
que se busca, na verdade, é complementar ambos os tipos de tecnologias a fim de tornar mais
eficazes os processo de ensino e a aprendizagem. Não há um recurso que responda a todas
as necessidades. Cada um tem características específicas que deverão ser avaliadas pelos
docentes na hora de selecionar os mais adequados para os estudantes para a consecução dos
objetivos educacionais, de acordo com suas condições e necessidades.
300
A profissão de professor
Hoje, num mundo globalizado, e num país com tantos contrastes como o
Brasil, a escola tem como função oferecer ao indivíduo a qualificação necessária
para o exercício da cidadania, deve ensiná-lo a aprender, acessar, processar e dar
sentido ao enorme volume de informação que recebe todos os dias, a resolver
problemas e trabalhar em grupo. Além disso, há também a necessidade de se
criar estratégias para que o sistema educativo possa atender as demandas da
sociedade do conhecimento.
Finalmente, para dar continuidade ao que vem sendo feito em termos de me-
lhorar a formação e as condições de trabalho dos professores, algumas medidas
são importantes. De forma mais ampla, o aumento dos incentivos destinados à
educação e, mais particularmente, à formação dos docentes, é importante para
diminuir a insatisfação do profissional com sua carreira.
301
Sociologia da Educação
Texto complementar
Os 10 não ditos ou a face
escondida da profissão docente
(PERRENOUD, 1999)
302
A profissão de professor
Por que não podem ser ditas publicamente? Por que os diversos aspectos
das práticas e da profissão docente não encontrariam uma justa contraparti-
da nas imagens públicas? [...]
303
Sociologia da Educação
I. Os não ditos
Aqui neste texto, o paradoxo da análise sociológica é tentar formular pu-
blicamente o que habitualmente não aparece nas imagens públicas. Para
entrar nessa matéria, o leitor é convidado a abandonar por um instante a
ficção do que seja um professor digno desse nome, que não conhece nem o
medo, nem a embriaguez do poder, nem a sedução, nem…
O saber tem ligação com a razão, pelo menos no absoluto. [...] Na vida co-
tidiana, servimo-nos do saber para agir, julgar, justificar, nos distinguir, con-
fundir o outro, fazê-lo ouvir a razão. O saber é uma fonte. A relação do saber
e o sentido dos saberes mantêm liames com a identidade, a imagem de si, a
inserção nas relações sociais, o itinerário pessoal ou familiar. [...]
Quem deve aprender o quê? Para essa questão, não há uma resposta
racional. Ao elitismo de uns opõe-se o igualitarismo de outros. Dispensar
304
A profissão de professor
305
Sociologia da Educação
Pelo excesso de racionalismo também se paga caro: isso leva todos a in-
terpretarem, sem interrupção, a comédia do domínio; a negarem o medo,
a dúvida, a fadiga, a saturação, a sedução, os prazeres narcisistas, o poder
etc. Contrariamente ao que imaginamos, a profissionalização da profissão
docente não equivale à sua racionalidade abusiva, mas, ao contrário, a uma
justa análise do que hoje, no exercício dessa profissão, está sob o controle de
conhecimentos profundos, de conhecimentos da experiência, de hábitos ou
de outras dimensões da pessoa. [...] Não é senão a esse preço que podere-
mos, em formação inicial ou continuada, trabalhar a partir das práticas reais
e nelas preparar verdadeiramente. [...]
306
A profissão de professor
instituição não entrar no jogo. Ora, a instituição é também tentada pelo mito
da racionalidade, enquanto não se pode compreender nada dos paradoxos
do trabalho pedagógico sem apresentar as contradições dos sistemas de-
mocráticos e das administrações públicas. Sabemos que estão em jogo as
verbas, a importância atribuída à equidade, às paixões que desencadeiam
a seleção, o que torna tentador para todos fingir que existem mais certe-
zas do que na realidade existem. Essa atitude coloca a escola, e com ela os
professores, numa expectativa irrealista e numa fuga curiosa para o futuro,
muito aproximada do discurso dos dirigentes políticos sobre o desemprego:
prometer para amanhã, contra toda realidade, os milagres que não podem
ser realizados hoje.
Dicas de estudo
Assista aos filmes indicados procurando ver em cada um deles o tipo de pro-
fessor que é retratado e qual é a sua proposta pedagógica.
Escritores da Liberdade
O filme conta a história de uma professora que percebe que seu trabalho
pode e deve ir além da sala de aula, e resolve incentivar seus alunos carentes e
problemáticos a superar a vida nas gangues e o sistema educacional, contando
suas histórias, com suas próprias palavras.
Gênio Indomável
O Sorriso de Monalisa
307
Sociologia da Educação
Sugestões de leitura
Estas são obras voltadas para o professor, propondo a discussão de vários
temas que fazem parte do seu cotidiano e da sua formação profissional.
Atividades
1. Comente o texto abaixo, dizendo se ele está correto ou incorreto, a partir do
que foi discutido nesta unidade. Justifique a sua resposta. Qual é hoje o real
papel do professor?
308
A profissão de professor
2. Comente por que alguns autores afirmam que o saber docente é um saber
diferenciado.
3. Hoje, mais do que nunca, se faz necessário conhecer um pouco mais da prá-
tica docente. As enormes exigências de atualização, as novas tecnologias, as
novas exigências da família, da escola e da sociedade em relação à formação
dos indivíduos colocam para o professor novas obrigações e habilidades.
Mas a realidade da maioria desses profissionais já é um desafio constante,
fora todas essas novas demandas. Aponte alguns dos problemas relaciona-
dos à profissão docente.
309
Perspectivas da educação no Brasil
Mas por que essa discussão sobre cultura quando a proposta desse texto é
discutir as perspectivas da educação no Brasil? Simplesmente porque hoje não
se pode pensar em educação, no Brasil ou fora daqui, sem considerar que se vive
um momento de intensas discussões sobre o papel da cultura e da diversidade
cultural na organização das sociedades e, por extensão, dos sistemas educativos.
Falando de um país como Brasil, faz-se ainda mais necessário discutir concei-
tos como diversidade cultural e multiculturalismo. Isso porque, historicamente,
a educação no país teve um caráter de bem social que não foi “tão social” assim,
uma vez que era privilégio de poucos. Em detrimento de muitos, pensou-se e se
articulou um sistema excludente que não tinha como objetivo a integração e a
igualdade de oportunidades como centro de orientação.
312
Perspectivas da educação no Brasil
Mas convém lembrar que, diante disso, muitas vezes os cidadãos e professores,
se defrontam com manifestações de resistência ao “outro”, o diferente de nós.
313
Sociologia da Educação
Assim, ainda de acordo com o autor (p. 89), é necessário analisar os “proces-
sos pelos quais as diferenças são produzidas através de relações de assimetria e
desigualdade”.
Até porque são essas relações de poder que estratificam e hierarquizam uma
sociedade, determinando quem pode e quem não pode ter o direito de exercer
a cidadania. Critérios como etnia/raça, religião, escolaridade, poder econômico,
314
Perspectivas da educação no Brasil
entre outros, são utilizados para promover essa distinção social que acaba por
gerar a exclusão e as desigualdades sociais. Tem-se, então, as chamadas mino-
rias, que nada mais são do que o conjunto dos cidadãos aos quais, por alguns
daqueles critérios, foram ou estão sendo negados direitos básicos como, por
exemplo, educação.
É preciso esclarecer o que se entende por minorias, já que se vai trabalhar com
questões que afetam de perto essas camadas da população que, na maioria das
vezes, são maioria em termos numéricos, demográficos, mas minorias quando
de direitos e acesso a bens e serviços sociais e culturais. Pelo contrário, pode-
-se estar fazendo referência a um grupo majoritário nesse sentido, mas que não
desfruta de sua cidadania de maneira plena ou é excluído da sociedade.
A questão da diversidade
cultural – o multiculturalismo
A humanidade sempre ganha com a troca de experiências entre as diferentes
culturas, com o intercâmbio em todos os setores da vida social. As conquistas e
invenções podem ser compartilhadas, com ganhos para todas as partes, assim
como também pode (e deve) ocorrer a simples troca de experiências de vida
entre as pessoas. Como se disse anteriormente, nenhuma cultura é estática e,
portanto, sempre há algo novo a ser partilhado.
A diversidade cultural é hoje um dos temas mais discutidos porque “os que
veem a diversidade das culturas tendem a minimizar ou a ocultar a unidade
humana; os que veem a unidade humana tendem a considerar como secundá-
ria a diversidade das culturas. Ao contrário, é apropriado conceber a unidade
que assegure e favoreça a diversidade, a diversidade que se inscreve na unidade”
(Morin, 2007, p. 57).
315
Sociologia da Educação
316
Perspectivas da educação no Brasil
A democratização da educação
A discussão em torno da diversidade cultural e do multiculturalismo permeia,
como se disse anteriormente, o processo educativo especialmente quando se
tem em vista pensar no que precisa ser feito para se promover uma educação
emancipatória, inclusiva, e democrática.
Uma vez que a diversidade cultural engloba as diferenças culturais que exis-
tem entre as pessoas e a maneira como as sociedades se organizam, deve ser
considerada essencial para a sobrevivência da própria humanidade, uma vez
que os conflitos gerados pelo não reconhecimento do valor dessas diferenças já
se mostraram incapazes de promover a união entre os povos. Pelo contrário, em
alguns casos o que se vê é exatamente a intolerância e a violência dela decor-
rente. Como mostrar às novas gerações que esse não é o melhor caminho para
a humanidade?
317
Sociologia da Educação
Vale lembrar da velha afirmação que diz “saber é poder.” Pode-se deduzir então
que o poder é também condição do saber e isso se expressa nas diferenças de
acesso à educação que se verifica em sociedades estratificadas e desiguais como
a sociedade brasileira. A educação precisa ser vista sob dois aspectos: como um
direito da população e como um dever do Estado. Em ambos os casos pode-se
notar a questão do poder, uma vez que nem a população está usufruindo do seu
direito, nem o Estado está fazendo a sua parte. O que se pode concluir disso?
Que o poder público se omitiu por muito tempo de suas responsabilidades e
que o cidadão não desfruta de sua cidadania plena. Na verdade, a escola tem
funcionado como uma instituição que tem confirmado a distribuição de renda e
de classe social no país. De acordo com Sônia Kruppa (1994, p. 85),
3
Ver Dicas de estudo.
318
Perspectivas da educação no Brasil
[...] a escola tem sido concluída por uma minoria. A maioria, de baixa renda, não consegue
terminá-la. Na verdade, a escola tem funcionado como uma instituição confirmadora da
distribuição de renda e de classe social: aos de maior renda, maior número de anos de estudo
e de cursos concluídos; aos de baixa renda, a evasão e a repetência somam-se ao trabalho
precoce, delineando um quadro já antigo: uns para pensar, outros para trabalhar.
Essa situação perversa não permite que o país avance em termos de de-
senvolvimento social e faz com que o processo de exclusão seja realimentado
diariamente.
Texto complementar
319
Sociologia da Educação
320
Perspectivas da educação no Brasil
3. As políticas multiculturais
Além do Canadá (desde 1982), vários países têm constituições multicultu-
rais: Austrália, África do Sul, Colômbia, Paraguai. Mas foram os EUA que, antes
de qualquer outro país, colocaram a luta contra a discriminação no centro de
suas preocupações. No prolongamento da luta dos afro-americanos por di-
reitos cívicos, militantes e intelectuais consideraram uma injustiça que as cul-
turas minoritárias não acedessem a um mesmo patamar de reconhecimento
do que a cultura dominante branca, saxônica e protestante. [...] O reconheci-
mento público das identidades coletivas resultou, por sua vez, de redes polí-
ticas voltadas para a consolidação da ideologia do “politicamente correto”.
321
Sociologia da Educação
4. Os limites do multiculturalismo
Para vários autores, o multiculturalismo aparece como um mal necessá-
rio. Discute-se muito como aperfeiçoar o sistema, limitando seus efeitos per-
versos e melhorando a vida dos atores sociais. Em alguns casos, o multicul-
turalismo provoca desprezo e indiferença, como acontece no Canadá entre
habitantes de língua francesa e os de língua inglesa. Nos EUA, essa militância
só fez acentuar as rivalidades étnicas. Ao denunciar seus adversários, tais po-
líticas terminam por estigmatizá-los e acabam, também, por dar uma dimen-
são étnica às relações sociais.
322
Perspectivas da educação no Brasil
5. Novas perspectivas
Não podemos analisar tudo em termos de culturas. A denúncia das dis-
criminações e as reivindicações pelo reconhecimento cultural parecem ter
se sobreposto à luta de classes e à denúncia da exploração socioeconômica
que caracterizaram a primeira metade do século na Europa, e na segunda
metade, no Brasil.
[...] É também a vontade de viver junto que funda uma cultura e per-
mite uma relativa homogeneidade social. Quando uma sociedade se diz
multirracial, ela se bate, igualmente, contra a desigualdade racial. Taylor,
por exemplo, definiu a democracia como a política do reconhecimento
do outro, logo, da diversidade. Mais adiante, o debate sobre o multicul-
turalismo obriga também a redefinir o conceito de cultura, sobretudo,
a alargá-lo para incluir um conjunto de diferenças comportamentais. As
culturas são menos feitas de tradição do que de representações constru-
ídas pela história, suscetíveis de mudanças tal como vemos nas reivindi-
cações de uns e outros.
323
Sociologia da Educação
[...] Considerar a cultura como algo que não é variável, julgar sobre diferen-
ças culturais é também marcar a cultura com um selo de autenticidade que
não existe e fixá-la num molde único. Uma saída possível seria considerar as
vantagens da mestiçagem cultural, esse poderoso fator de mudanças, de cria-
tividade e de invenção, e que não é objeto de nenhuma reivindicação. Mas o
que dizer de mulatos que, na Bahia e no Caribe, desprezam os negros?
Foi se apoiando em suas raízes culturais que a ação dos negros brasileiros
tomou a dimensão de um movimento social de massas. [...] Durante muitos
anos, os negros aceitaram a ilusão de que a mestiçagem poderia ser a solu-
ção para a discriminação racial, diluindo a cor em casamentos mistos. Mas a
questão da raça está também ligada à da posição social: quanto mais sobem
na escala social, mais os negros se tornam brancos.
Dicas de estudo
Que tal um pequeno festival de cinema sobre diversidade cultural, choque
cultural, multiculturalismo e intolerância racial?
324
Perspectivas da educação no Brasil
Mississipi em Chamas
Um Grito de Liberdade
Sete Anos no Tibet
Babel
O Último Samurai
Hotel Ruanda
Sugestões de leitura
Cada uma dessas indicações propõe uma discussão em torno do tema
cultura e seus desdobramentos: diversidade cultural, multiculturalismo,
identidade, por exemplo, todos temas que não podem ser deixados de lado,
quando se propõe pensar a educação na atualidade.
DA MATTA, Roberto. O que Faz o Brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 1991.
325
Sociologia da Educação
Atividades
1. Defina cultura, diversidade cultural e multiculturalismo.
Fora da ordem
Caetano Veloso
326
Perspectivas da educação no Brasil
327
Gabarito
A sociologia e a educação
1. A sociologia é a ciência que procura compreender e analisar o homem
em interação social, isto é, em sociedade, bem como as estruturas des-
sa sociedade, por meio de teorias e métodos específicos, com o obje-
tivo de manter ou transformar essa organização social.
A sociologia da educação
1. Os três autores têm visões bem diferenciadas e até mesmo antagôni-
cas sobre como tratar os fatos sociais e analisar as questões trazidas
pela consolidação do modo capitalista de produção.
Max Weber, assim como Marx, também não adotou a educação como seu
objeto de análise, mas deixou sua importante contribuição ao trazer ele-
mentos fundamentais para a compreensão do sistema escolar dentro da
burocratização típica da sociedade capitalista. Essa burocratização, apoiada
em elementos de dominação e controle, segundo ele, afetaria a instituição
escolar, garantindo a manutenção das estruturas sociais. Apresenta novos
temas para discussão e análise, muitos dos quais até hoje contemplados pela
sociologia da educação como, por exemplo, a questão da reprodução social.
Não vê a educação como o meio através do qual se daria a transformação
dessa sociedade – até porque esse não é a essência de sua sociologia, que
pretende mais compreender a sociedade do que transformá-la.
330
Gabarito
Educação e família
1. Um dos aspectos que chamam a atenção é a própria intensidade com que
a família brasileira vem mudando seu perfil, particularmente no que diz res-
peito à atuação da mulher e sua participação na renda familiar, até mesmo
sendo chefe de família. Como se viu, a cada ano aumenta mais o número
de famílias chefiadas por mulheres que trabalham e criam sozinhas os seus
filhos – e muitas vezes até os netos, todos em sua maioria dependentes da
sua renda. (os alunos podem apresentar outras respostas)
2. A música passa uma ideia da família nuclear modelo, formada por pai, mãe e
filhos, eventualmente com a presença de outros parentes, norteada por um
forte padrão moral, voltada para o aconchego proporcionado pela rotina. É
isso que garante a união e a mobilização de seus componentes sempre que
se faz necessário, em situações de emergência, por exemplo. O que se per-
cebe também é um sentimento de certo modo antagônico em relação à fa-
mília, ou seja, em alguns momentos pode ser alguma coisa muito boa e, em
outros, vir a ser algo que eventualmente aborrece, irrita e gera frustração.
331
Sociologia da Educação
2. Uma escola para ser vista como cultura deve se caracterizar pela cooperação,
interdependência, interesses e objetivos compartilhados e a ajuda mútua
entre os vários atores que nela atuam. Além disso, os significados devem ser
compartilhados e devem orientar a vida organizacional. Na verdade, o aluno
aprende a se conhecer e a se avaliar.
2. Uma vez que para se viver em sociedade é preciso que se respeite, que se obe-
deça a certas regras e normas, que se adote determinados padrões de com-
portamento que já são consagrados como sendo aqueles adequados e aceitos
como a maneira correta de conduta. Trata-se de saber o que é permitido ou
332
Gabarito
2. Em todas as sociedades são criados conjuntos de regras que deverão ser se-
guidas e, para garantir que isso ocorra, são criados também mecanismos de
controle e sanções para o caso de rompimento. Isso é o que definirá situa-
ções sociais e que tipo de comportamentos são apropriados ou não para
aquele grupo – a ideia do que seja certo ou errado.
A mudança social
1. A mudança social é aquela que resulta da ação humana, do homem em in-
teração social e que produz modificações ou transformações nas estruturas
sociais, nas relações entre os indivíduos e, em última instância, na mentalida-
de que orienta essa sociedade. O papel da sociologia é, através de suas várias
teorias explicativas, analisar essas mudanças, suas causas e os impactos que
geram na estrutura social, enfim, procurar entender como a sociedade vai se
construindo e reconstruindo por meio do processo de mudança social.
333
Sociologia da Educação
A estratificação social
1. Estratificação é um conjunto de posições hierarquizadas segundo o que a
sociedade considera importante, como poder, propriedade, riqueza ou pres-
tígio. Quando se fala em estratificação social se está falando da diferenciação
de forma hierárquica de indivíduos e grupos em posições (status), estamen-
tos ou classes. Os sistemas sociais mais conhecidos quando se fala em estra-
tificação são a escravidão, as castas e os Estados, que se constitui na divisão
da população por meio da lei, e a estratificação baseada nas diferenças de
classes sociais.
334
Gabarito
A mobilidade social
1. Trata-se de um círculo vicioso, segundo o qual se pode observar as desigual-
dades sociais e sua relação com a educação. Isso porque a realidade mostra
que não é mera coincidência que os indivíduos analfabetos sejam pobres.
Na verdade, não se pode “naturalizar” a desigualdade, é preciso perceber
que o analfabetismo está relacionado com a falta de oportunidades que os
indivíduos oriundos das camadas mais pobres da população têm no que se
refere ao acesso à educação. Assim, também não é aceitável pensar que por
serem pobres necessariamente serão analfabetos. São inúmeros os casos de
indivíduos que mudam sua realidade a partir do momento em que elegem a
educação como agente de mobilidade social.
2. Pesquisas mostram que quanto menor for o índice de escolaridade dos pais
e/ou da família, mais a educação é valorizada, por ser vista como o único
meio de mobilidade social. Assim, os pais costumam investir na educação de
seus filhos porque acreditam que dessa forma eles ocuparão uma posição
melhor que a sua na escala social.
3. A estratificação social de uma sociedade pode ser alterada por meio do pro-
cesso de mobilidade social, que consiste basicamente na mudança de posi-
ção social de um indivíduo ou grupo social no interior da escala social. Como
forma de compensar as desigualdades de renda e o pouco prestígio social, as
famílias mais pobres veem na educação a oportunidade que seus filhos têm
de “subir na vida”.
335
Sociologia da Educação
A educação e o Estado
1. O Brasil se organiza como uma República Federativa, isto é, é formado pela
associação de diversos Estados e um Distrito Federal (onde se situa Brasília),
sob um único governo federal, mas mantendo cada Estado membro certa au-
tonomia, tendo seus governos estaduais. A Constituição Federal é a lei máxima
que rege o país, embora cada estado tenha a sua Constituição Estadual, que
se submete àquela. Cada estado se divide em municípios que têm um gover-
no e um sistema legal próprios (que deve estar de acordo com a Constituição
Federal e Estadual). O Estado brasileiro se organiza em três poderes (Executivo,
Legislativo e Judiciário) e seu sistema de governo é presidencialista.
2. A Constituição Federal é a lei máxima do país e que rege os demais sistemas legais
do país. Nenhuma lei pode-se sobrepor a ela. Uma das características essenciais
do Estado é o poder, ou melhor, o poder de coerção. É esse poder que possibilita
ao Estado exercer o seu domínio sobre a vida dos cidadãos podendo, inclusive,
fazer uso da violência, sendo a instituição social que tem a exclusividade, o mo-
nopólio da violência legítima. Poder e autoridade são atributos próprios do Es-
tado que, por conta disso, se torna também um agente de controle social, uma
vez que pode regular as relações entre todos os indivíduos que compõem uma
sociedade. Uma de suas funções é estabelecer e garantir que as normas e regras
sociais sejam cumpridas pelos cidadãos.
Educação e desenvolvimento
1. O desenvolvimento econômico diz respeito ao processo sistemático de acu-
mulação de capital e à incorporação do progresso técnico ao trabalho, que
resulta no aumento da produtividade e/ou da renda per capita, que reflete
em aumento de salários e dos padrões de bem-estar da sociedade.
2. Antes de qualquer observação, é preciso deixar claro que não se pode con-
fundir o desenvolvimento econômico com desenvolvimento social e deixar
de considerar os indicadores sociais, tais como taxas de natalidade e de mor-
talidade, expectativa de vida, mortalidade infantil, taxa de analfabetismo e
outras. O desenvolvimento social implica em qualidade de vida para a popu-
lação, independentemente do desenvolvimento econômico. O país pode ser
uma grande economia e não ser desenvolvido socialmente. Sua população,
nesse caso, não desfruta dos direitos que deveriam ser assegurados pelo Es-
tado – como saúde, moradia, transporte, segurança e, é claro, educação.
O resultado desse descaso foi que a maioria desses negros libertos tornou-se
mão de obra barata nos centros urbanos, muitas vezes caindo na marginali-
dade. Na tentativa de corrigir esse erro histórico, surgem políticas afirmativas
que buscam criar condições de acesso à educação para os indivíduos e gru-
pos que, sob condições “normais” da sociedade, não conseguiriam chegar ao
Ensino Superior, como os afrodescendentes.
338
Gabarito
A profissão do professor
1. O texto está correto porque tradicionalmente o que se esperava do profes-
sor era que fosse o sujeito da transformação da realidade de seus alunos.
O papel do professor vem mudando ao longo do tempo mas, infelizmente,
alguns professores não percebem a sala de aula como um espaço diferencia-
do para a efetivação de relações e processos sociais. Estabelecem com seus
alunos uma relação linear, previsível, marcada pelo excesso de normas e re-
gras que devem ser seguidas (pelos alunos) e por um conjunto de princípios
dados pela instituição ou pelo próprio professor, sem questionamentos. Isso
se deve ao fato de que alguns professores veem seus alunos de forma ho-
mogênea, desconsiderando as diferenças e termos de interesses pessoais,
expectativas em relação à escola etc. Ao não considerarem as várias relações
e sentidos existentes na sala de aula, podem não se dar conta de que seu
papel não é apenas ensinar, transmitir conteúdos, mas também participar
ativamente do processo de socialização e construção do conhecimento dos
seus alunos. É preciso que haja no espaço da sala de aula espaço também
para a manifestação das individualidades, do conflito, da crise e das dúvidas.
E isso só acontece quando o professor se torna um interlocutor para seus
alunos e não apenas uma figura no exercício de sua autoridade.
2. O saber docente é plural, isto é, composto por vários outros saberes, resul-
tantes da experiência, da formação acadêmica propriamente dita e do senso
comum. A formação do professor deve dar um destaque maior para o cha-
mado saber da experiência, que é o saber crítico por excelência, uma vez
que é uma verdadeira síntese de tudo o que o professor aprende, ensina e
vivencia. Nesse sentido, seria interessante vincular a prática e a pesquisa à
docência. A sociedade e a escola são marcadas pela coexistência de múl-
tiplos saberes, que podem ser conhecidos e mais bem explorados a partir
do quanto se saiba mais sobre eles. Aí a pesquisa se mostra como um meio
através do qual se pode não só saber mais sobre esses saberes, mas também
incorporá--los à pratica educativa.
339
Sociologia da Educação
340
Referências
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dieu: as leituras de sua obra no campo educacional brasileiro. In: KONDER,
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LAKATOS, Eva Maria. Sociologia Geral. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1979.
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Anotações
Sociologia da Educação
350
Anotações
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